Você está na página 1de 397

CÓD: OP-072OT-22

7908403528592

PM-CE
POLÍCIA MILITAR DO CEARÁ - PM-CE

Soldado
EDITAL N°001/2022 – SSPDS/AESP – SOLDADO PMCE,
DE 04 DE OUTUBRO DE 2022
• A Opção não está vinculada às organizadoras de Concurso Público. A aquisição do material não garante sua inscrição ou ingresso na
carreira pública,

• Sua apostila aborda os tópicos do Edital de forma prática e esquematizada,

• Dúvidas sobre matérias podem ser enviadas através do site: www.apostilasopção.com.br/contatos.php, com retorno do professor
no prazo de até 05 dias úteis.,

• É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila, de acordo com o Artigo 184 do Código Penal.

Apostilas Opção, a Opção certa para a sua realização.


ÍNDICE

Língua Portuguesa
1. Leitura, compreensão e interpretação de textos. Estruturação do texto e dos parágrafos. Articulação do texto: pronomes e
expressões referenciais, nexos, operadores sequenciais. .......................................................................................................... 7
2. Significação contextual de palavras e expressões. ..................................................................................................................... 16
3. Equivalência e transformação de estruturas. ............................................................................................................................. 16
4. Sintaxe: processos de coordenação e subordinação. ................................................................................................................. 17
5. Pontuação. .................................................................................................................................................................................. 19
6. Estrutura e formação de palavras. Funções das classes de palavras. Flexão nominal e verbal. Pronomes: emprego, formas de
tratamento e colocação. Emprego de tempos e modos verbais. ................................................................................................ 20
7. Concordância nominal e verbal. ................................................................................................................................................. 27
8. Regência nominal e verbal. ........................................................................................................................................................ 29
9. Ortografia oficial. ........................................................................................................................................................................ 30
10. Acentuação gráfica...................................................................................................................................................................... 30

Raciocínio Lógico-Matemático
1. Estrutura lógica de relações arbitrárias entre pessoas, lugares, objetos ou eventos fictícios; dedução de novas informações
das relações fornecidas e avaliação das condições usadas para estabelecer a estrutura daquelas relações. Compreensão e
análise da lógica de uma situação, utilizando as funções intelectuais: raciocínio verbal, raciocínio matemático, raciocínio
sequencial, orientação espacial e temporal, formação de conceitos, discriminação de elementos. .......................................... 41
2. Operações com conjuntos. ......................................................................................................................................................... 63
3. Raciocínio lógico envolvendo problemas aritméticos, geométricos e matriciais........................................................................ 72

Atualidades / História Do Ceará


1. Atualidades................................................................................................................................................................................. 75
2. Meio ambiente e sociedade: problemas, políticas públicas, organizações não governamentais, aspectos locais e aspectos 75
globais.........................................................................................................................................................................................
3. Descobertas e inovações científicas na atualidade e seus impactos na sociedade contemporânea.......................................... 84
4. Mundo Contemporâneo: elementos de política internacional e brasileira................................................................................ 89
5. cultura internacional e cultura brasileira (música, literatura, artes, arquitetura, rádio, cinema, teatro, jornais, revistas e 105
televisão)....................................................................................................................................................................................
6. Elementos de economia internacional contemporânea............................................................................................................. 120
7. panorama da economia brasileira................................................................................................................................................ 127
8. História do Ceará. O período colonial: a ocupação do território: disputas entre nativos e portugueses; acesso à terra: 133
sesmarias e a economia pecuária. O período imperial: o Ceará na Confederação do Equador; importância da economia do
algodão; a escravidão negra no Ceará. O Ceará e a “República Velha”: a política oligárquica: coronelismo e clientelismo;
movimentos sociais religiosos e “banditismo”; O período 1930/1964: o Ceará durante o Estado-Novo; repercussões da
redemocratização; “indústria da seca”: DNOCS e SUDENE. Os governos militares e o “novo” coronelismo; a “modernização
conservadora”. A “nova” República: os “governos das mudanças”..........................................................................................
ÍNDICE

Noções de Administração Pública / Ética No Serviço Público


1. Características básicas das organizações formais modernas: tipos de estrutura organizacional, natureza, finalidades e
critérios de departamentalização............................................................................................................................................... 161
2. Processo organizacional: planejamento, direção, comunicação, controle e avaliação. ............................................................. 163
3. Organização administrativa: centralização, descentralização, concentração e desconcentração; organização administrativa
da União; administração direta e indireta; agências executivas e reguladoras.......................................................................... 165
4. Gestão de processos................................................................................................................................................................... 168
5. Gestão de contratos................................................................................................................................................................... 170
6. Planejamento estratégico. ......................................................................................................................................................... 173
7. Princípios da Administração Pública. Inovações introduzidas pela Constituição de 1988: agências executivas; serviços
essencialmente públicos e serviços de utilidade pública; delegação de serviços públicos a terceiros; agências reguladoras;
convênios e consórcios............................................................................................................................................................... 175
8. Relações Humanas no Trabalho. ................................................................................................................................................ 188
9. Ética e cidadania. ........................................................................................................................................................................ 189
10. Lei de Improbidade Administrativa (lei 8.429/92) e suas alterações............................................................................................ 190

Noções De Direito Constitucional


1. Direitos e garantias fundamentais: direitos e deveres individuais e coletivos, direitos sociais e direitos políticos.................... 203
2. Organização do Estado: organização político-administrativa; União; Estados, Distrito Federal, Municípios e Territórios......... 212
3. Poder Legislativo: Congresso Nacional, Câmara dos Deputados, Senado Federal; parlamentares federais, estaduais e 218
municipais...................................................................................................................................................................................
4. Poder Executivo: atribuições do Presidente da República e dos Ministros de Estado.................................................................. 227
5. Poder Judiciário: disposições gerais e Conselho Nacional de Justiça (CNJ).................................................................................. 229
6. Funções essenciais à justiça: Ministério Público, advocacia e Defensorias Públicas.................................................................. 233
7. Das Forças Armadas. Da Segurança Pública................................................................................................................................ 237

Noções de Direitos Humanos


1. Conceito e fundamentação. ...................................................................................................................................................... 245
2. Direitos Humanos e responsabilidade do Estado. .................................................................................................................... 248
3. Direitos Humanos na CRFB/88. ................................................................................................................................................ 249
4. Política Nacional de Direitos Humanos. .................................................................................................................................... 250
5. Violências de gênero. ................................................................................................................................................................ 251
6. Violência doméstica. Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/16). ................................................................................................... 252
7. Racismo. Racismo institucional. ................................................................................................................................................ 258
8. Estatuto da Igualdade Racial. .................................................................................................................................................... 260
9. Estatuto da Pessoa com Deficiência. ......................................................................................................................................... 267
10. Direito das pessoas moradoras de favelas. ............................................................................................................................... 283
11. Direito das vítimas de violência de Estado. ............................................................................................................................... 284
12. Diversidade sexual. Direito das pessoas LGBTQIA+. Homofobia, discriminação por orientação sexual e identidade de gênero
e o crime de racismo. ................................................................................................................................................................ 285
13. Tortura. ...................................................................................................................................................................................... 287
14. As Garantias Judiciais e os direitos pré-processuais. ................................................................................................................ 288
15. Direito a não ser torturado. ...................................................................................................................................................... 289
ÍNDICE

16. População em situação de rua. Conceito e Princípios das Políticas Públicas. ........................................................................... 290
17. Recolhimento Compulsório....................................................................................................................................................... 291

Noções de Direito Penal Militar / Processo Penal Militar


1. Aplicação e especificidades da lei penal militar. .......................................................................................................................... 297
2. Crime. .......................................................................................................................................................................................... 299
3. Imputabilidade penal. ................................................................................................................................................................. 300
4. Concurso de agentes.................................................................................................................................................................... 301
5. Penas: aplicação da pena; suspensão condicional da pena; livramento condicional; penas acessórias; efeitos da
condenação................................................................................................................................................................................. 301
6. Medidas de segurança. ............................................................................................................................................................... 306
7. Ação penal................................................................................................................................................................................... 307
8. Extinção da punibilidade.............................................................................................................................................................. 307
9. Crimes militares em tempo de paz. Crimes propriamente militares e crimes impropriamente militares. ................................. 309
10. Crimes contra a pessoa................................................................................................................................................................ 314
11. Crimes contra o patrimônio......................................................................................................................................................... 318
12. Crimes contra a administração militar. ........................................................................................................................................ 321
13. Crimes em tempo de guerra........................................................................................................................................................ 324

Noções de Direito Penal


1. Aplicação da lei processual no tempo, no espaço e em relação às pessoas. Disposições preliminares do Código de Processo
Penal........................................................................................................................................................................................... 331
2. Inquérito policial......................................................................................................................................................................... 333
3. Ação penal. ................................................................................................................................................................................. 335
4. Prisão e liberdade provisória. Lei nº 7.960/1989 (prisão temporária)........................................................................................ 337
5. Processo e julgamento dos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos................................................................... 348
6. O habeas corpus e seu processo. ............................................................................................................................................... 349
7. Disposições constitucionais aplicáveis ao Direito Processual Penal........................................................................................... 351

Noções de Criminologia
1. O crime como fato social. ............................................................................................................................................................ 361
2. Instituições sociais relacionadas com o crime: as Polícias, o Poder Judiciário, o Ministério Público, os sistemas penitenciários
etc. ............................................................................................................................................................................................... 362
3. A extensão da criminalidade no mundo e no Brasil. .................................................................................................................... 362
4. O crime como fenômeno de massa: narcotráfico, terrorismo e crime organizado. ...................................................................... 365
5. O crime como fenômeno isolado: estudo do homicídio. ............................................................................................................ 367
6. Classificação de tipos criminosos: criminoso nato; criminoso ocasional; criminoso habitual ou profissional; criminoso
passional; criminoso alienado; criminoso menor (delinquência juvenil); a mulher criminosa.................................................... 368
7. As atividades repressivas, preventivas e educacionais para diminuir os índices de criminalidade............................................. 371
ÍNDICE

Segurança Pública
1. Direitos Humanos: desarmamento e combate aos preconceitos de gênero, étnico, racial, geracional, de orientação sexual
e de diversidade cultural.............................................................................................................................................................. 379
2. Criação e fortalecimento de redes sociais e comunitárias. ......................................................................................................... 380
3. Instituições de segurança pública e do sistema prisional. .......................................................................................................... 381
4. Enfrentamento do crime organizado e da corrupção policial. .................................................................................................... 390
5. Garantia do acesso à Justiça. ...................................................................................................................................................... 391
6. Valorização dos espaços públicos............................................................................................................................................... 392
7. Participação da sociedade civil.................................................................................................................................................... 392
8. Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI)...................................................................................... 393
LÍNGUA PORTUGUESA

Tipos textuais
LEITURA, COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEX- A tipologia textual se classifica a partir da estrutura e da finali-
TOS. ESTRUTURAÇÃO DO TEXTO E DOS PARÁGRAFOS. dade do texto, ou seja, está relacionada ao modo como o texto se
ARTICULAÇÃO DO TEXTO: PRONOMES E EXPRESSÕES apresenta. A partir de sua função, é possível estabelecer um padrão
REFERENCIAIS, NEXOS, OPERADORES SEQUENCIAIS específico para se fazer a enunciação.
Veja, no quadro abaixo, os principais tipos e suas característi-
Compreender e interpretar textos é essencial para que o obje- cas:
tivo de comunicação seja alcançado satisfatoriamente. Com isso, é
importante saber diferenciar os dois conceitos. Vale lembrar que o Apresenta um enredo, com ações e
texto pode ser verbal ou não-verbal, desde que tenha um sentido relações entre personagens, que ocorre
completo. em determinados espaço e tempo. É
A compreensão se relaciona ao entendimento de um texto e TEXTO NARRATIVO
contado por um narrador, e se estrutura
de sua proposta comunicativa, decodificando a mensagem explíci- da seguinte maneira: apresentação >
ta. Só depois de compreender o texto que é possível fazer a sua desenvolvimento > clímax > desfecho
interpretação.
A interpretação são as conclusões que chegamos a partir do Tem o objetivo de defender determinado
conteúdo do texto, isto é, ela se encontra para além daquilo que TEXTO ponto de vista, persuadindo o leitor a
está escrito ou mostrado. Assim, podemos dizer que a interpreta- DISSERTATIVO partir do uso de argumentos sólidos.
ção é subjetiva, contando com o conhecimento prévio e do reper- ARGUMENTATIVO Sua estrutura comum é: introdução >
tório do leitor. desenvolvimento > conclusão.
Dessa maneira, para compreender e interpretar bem um texto, Procura expor ideias, sem a necessidade
é necessário fazer a decodificação de códigos linguísticos e/ou vi- de defender algum ponto de vista. Para
suais, isto é, identificar figuras de linguagem, reconhecer o sentido isso, usa-se comparações, informações,
de conjunções e preposições, por exemplo, bem como identificar TEXTO EXPOSITIVO
definições, conceitualizações etc. A
expressões, gestos e cores quando se trata de imagens. estrutura segue a do texto dissertativo-
argumentativo.
Dicas práticas
Expõe acontecimentos, lugares, pessoas,
1. Faça um resumo (pode ser uma palavra, uma frase, um con-
de modo que sua finalidade é descrever,
ceito) sobre o assunto e os argumentos apresentados em cada pa-
TEXTO DESCRITIVO ou seja, caracterizar algo ou alguém. Com
rágrafo, tentando traçar a linha de raciocínio do texto. Se possível,
isso, é um texto rico em adjetivos e em
adicione também pensamentos e inferências próprias às anotações.
verbos de ligação.
2. Tenha sempre um dicionário ou uma ferramenta de busca
por perto, para poder procurar o significado de palavras desconhe- Oferece instruções, com o objetivo de
cidas. TEXTO INJUNTIVO orientar o leitor. Sua maior característica
3. Fique atento aos detalhes oferecidos pelo texto: dados, fon- são os verbos no modo imperativo.
te de referências e datas.
4. Sublinhe as informações importantes, separando fatos de
opiniões. Gêneros textuais
5. Perceba o enunciado das questões. De um modo geral, ques- A classificação dos gêneros textuais se dá a partir do reconhe-
tões que esperam compreensão do texto aparecem com as seguin- cimento de certos padrões estruturais que se constituem a partir
tes expressões: o autor afirma/sugere que...; segundo o texto...; de da função social do texto. No entanto, sua estrutura e seu estilo
acordo com o autor... Já as questões que esperam interpretação do não são tão limitados e definidos como ocorre na tipologia textual,
texto aparecem com as seguintes expressões: conclui-se do texto podendo se apresentar com uma grande diversidade. Além disso, o
que...; o texto permite deduzir que...; qual é a intenção do autor padrão também pode sofrer modificações ao longo do tempo, as-
quando afirma que... sim como a própria língua e a comunicação, no geral.
Alguns exemplos de gêneros textuais:
Tipologia Textual • Artigo
A partir da estrutura linguística, da função social e da finali- • Bilhete
dade de um texto, é possível identificar a qual tipo e gênero ele • Bula
pertence. Antes, é preciso entender a diferença entre essas duas • Carta
classificações. • Conto
• Crônica
• E-mail
• Lista
• Manual

7
LÍNGUA PORTUGUESA
• Notícia Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamente,
• Poema que C é igual a A.
• Propaganda Outro exemplo:
• Receita culinária
• Resenha Todo ruminante é um mamífero.
• Seminário A vaca é um ruminante.
Vale lembrar que é comum enquadrar os gêneros textuais em Logo, a vaca é um mamífero.
determinados tipos textuais. No entanto, nada impede que um tex-
to literário seja feito com a estruturação de uma receita culinária, Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão
por exemplo. Então, fique atento quanto às características, à finali- também será verdadeira.
dade e à função social de cada texto analisado. No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele,
a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-se
ARGUMENTAÇÃO mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plau-
sível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-se mais
O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma informa- confiável do que os concorrentes porque existe desde a chegada
ção a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem positiva da família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um
de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou inteligente, banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso, con-
ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja admitido como fiável. Embora não haja relação necessária entre a solidez de uma
verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argumentati-
o desejo de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele vo na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é provável
propõe. que se creia que um banco mais antigo seja mais confiável do que
Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação, todo outro fundado há dois ou três anos.
texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase
conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as
a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante enten-
tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pontos de der bem como eles funcionam.
vista defendidos. Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso
As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o auditó-
uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a rio, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto
veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse mais os argumentos estiverem de acordo com suas crenças, suas
acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocu- expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório
tor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomi-
que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio na. Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele considera
da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recur- positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência
sos de linguagem. associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos,
Para compreender claramente o que é um argumento, é bom essa associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol
voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., numa não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo
obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem de de um argumento está vinculado ao que é valorizado ou desvalori-
escolher entre duas ou mais coisas”. zado numa dada cultura.
Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma des-
vantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar. Tipos de Argumento
Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher entre duas
coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, pre- Já verificamos que qualquer recurso linguístico destinado a fa-
cisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argu- zer o interlocutor dar preferência à tese do enunciador é um argu-
mento pode então ser definido como qualquer recurso que torna mento. Exemplo:
uma coisa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no
domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer Argumento de Autoridade
que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais pos-
sível que a outra, mais desejável que a outra, é preferível à outra. É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhecidas
O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de pelo auditório como autoridades em certo domínio do saber, para
um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o servir de apoio àquilo que o enunciador está propondo. Esse recur-
enunciador está propondo. so produz dois efeitos distintos: revela o conhecimento do produtor
Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação. do texto a respeito do assunto de que está tratando; dá ao texto a
O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do texto
demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das pre- um amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente e ver-
missas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados dadeira. Exemplo:
admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não dependem de
crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas apenas do encadea- “A imaginação é mais importante do que o conhecimento.”
mento de premissas e conclusões.
Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento: Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. Para
ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há conhe-
A é igual a B. cimento. Nunca o inverso.
A é igual a C.
Então: C é igual a A.

8
LÍNGUA PORTUGUESA
Alex José Periscinoto. Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmente
In: Folha de S. Paulo, 30/8/1993, p. 5-2 aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que con-
correm para desqualificar o texto do ponto de vista lógico: fugir do
A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais impor- tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões que não se
tante do que o conhecimento. Para levar o auditório a aderir a ela, fundamentam nos dados apresentados, ilustrar afirmações gerais
o enunciador cita um dos mais célebres cientistas do mundo. Se com fatos inadequados, narrar um fato e dele extrair generalizações
um físico de renome mundial disse isso, então as pessoas devem indevidas.
acreditar que é verdade.
Argumento do Atributo
Argumento de Quantidade
É aquele que considera melhor o que tem propriedades típi-
É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior nú- cas daquilo que é mais valorizado socialmente, por exemplo, o mais
mero de pessoas, o que existe em maior número, o que tem maior raro é melhor que o comum, o que é mais refinado é melhor que o
duração, o que tem maior número de adeptos, etc. O fundamento que é mais grosseiro, etc.
desse tipo de argumento é que mais = melhor. A publicidade faz Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequência, ce-
largo uso do argumento de quantidade. lebridades recomendando prédios residenciais, produtos de beleza,
alimentos estéticos, etc., com base no fato de que o consumidor
Argumento do Consenso tende a associar o produto anunciado com atributos da celebrida-
de.
É uma variante do argumento de quantidade. Fundamenta-se Uma variante do argumento de atributo é o argumento da
em afirmações que, numa determinada época, são aceitas como competência linguística. A utilização da variante culta e formal da
verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a menos que o língua que o produtor do texto conhece a norma linguística social-
objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da ideia de mente mais valorizada e, por conseguinte, deve produzir um texto
que o consenso, mesmo que equivocado, corresponde ao indiscu- em que se pode confiar. Nesse sentido é que se diz que o modo de
tível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que não dizer dá confiabilidade ao que se diz.
desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, por exemplo, as Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado de saúde
afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido e de que de uma personalidade pública. Ele poderia fazê-lo das duas manei-
as condições de vida são piores nos países subdesenvolvidos. Ao ras indicadas abaixo, mas a primeira seria infinitamente mais ade-
confiar no consenso, porém, corre-se o risco de passar dos argu- quada para a persuasão do que a segunda, pois esta produziria certa
mentos válidos para os lugares comuns, os preconceitos e as frases estranheza e não criaria uma imagem de competência do médico:
carentes de qualquer base científica.
- Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levando em
Argumento de Existência conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe médica houve
por bem determinar o internamento do governador pelo período de
É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001.
aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas - Para conseguir fazer exames com mais cuidado e porque al-
provável, que é apenas possível. A sabedoria popular enuncia o ar- guns deles são barrapesada, a gente botou o governador no hospi-
gumento de existência no provérbio “Mais vale um pássaro na mão tal por três dias.
do que dois voando”.
Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas documentais Como dissemos antes, todo texto tem uma função argumen-
(fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas concre- tativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério, para ser
tas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica. Durante ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de comunicação
a invasão do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que o exérci- deseja-se influenciar alguém. Por mais neutro que pretenda ser, um
to americano era muito mais poderoso do que o iraquiano. Essa texto tem sempre uma orientação argumentativa.
afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas, poderia ser A orientação argumentativa é uma certa direção que o falante
vista como propagandística. No entanto, quando documentada pela traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao falar de um
comparação do número de canhões, de carros de combate, de na- homem público, pode ter a intenção de criticá-lo, de ridicularizá-lo
vios, etc., ganhava credibilidade. ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza.
O enunciador cria a orientação argumentativa de seu texto
Argumento quase lógico dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo certos episó-
dios e revelando outros, escolhendo determinadas palavras e não
É aquele que opera com base nas relações lógicas, como causa outras, etc. Veja:
e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. Esses raciocínios são
chamados quase lógicos porque, diversamente dos raciocínios lógi- “O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras troca-
cos, eles não pretendem estabelecer relações necessárias entre os vam abraços afetuosos.”
elementos, mas sim instituir relações prováveis, possíveis, plausí- O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que noras
veis. Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual a C”, “en- e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria escolhido esse
tão A é igual a C”, estabelece-se uma relação de identidade lógica. fato para ilustrar o clima da festa nem teria utilizado o termo até,
Entretanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu é meu amigo” que serve para incluir no argumento alguma coisa inesperada.
não se institui uma identidade lógica, mas uma identidade provável. Além dos defeitos de argumentação mencionados quando tra-
tamos de alguns tipos de argumentação, vamos citar outros:

9
LÍNGUA PORTUGUESA
- Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido tão am- Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitude argu-
plo, que serve de argumento para um ponto de vista e seu contrá- mentativa. A argumentação está presente em qualquer tipo de dis-
rio. São noções confusas, como paz, que, paradoxalmente, pode ser curso, porém, é no texto dissertativo que ela melhor se evidencia.
usada pelo agressor e pelo agredido. Essas palavras podem ter valor Para discutir um tema, para confrontar argumentos e posições,
positivo (paz, justiça, honestidade, democracia) ou vir carregadas é necessária a capacidade de conhecer outros pontos de vista e
de valor negativo (autoritarismo, degradação do meio ambiente, seus respectivos argumentos. Uma discussão impõe, muitas ve-
injustiça, corrupção). zes, a análise de argumentos opostos, antagônicos. Como sempre,
- Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derrubadas essa capacidade aprende-se com a prática. Um bom exercício para
por um único contra exemplo. Quando se diz “Todos os políticos são aprender a argumentar e contra-argumentar consiste em desenvol-
ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para destruir ver as seguintes habilidades:
o argumento. - argumentação: anotar todos os argumentos a favor de uma
- Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, fora do con- ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a posição total-
texto adequado, sem o significado apropriado, vulgarizando-as e mente contrária;
atribuindo-lhes uma significação subjetiva e grosseira. É o caso, por - contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate e quais os
exemplo, da frase “O imperialismo de certas indústrias não permite argumentos que essa pessoa imaginária possivelmente apresenta-
que outras crescam”, em que o termo imperialismo é descabido, ria contra a argumentação proposta;
uma vez que, a rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir - refutação: argumentos e razões contra a argumentação opos-
outros à sua dependência política e econômica”. ta.

A argumentação tem a finalidade de persuadir, portanto, ar-


A boa argumentação é aquela que está de acordo com a situa-
gumentar consiste em estabelecer relações para tirar conclusões
ção concreta do texto, que leva em conta os componentes envolvi-
válidas, como se procede no método dialético. O método dialético
dos na discussão (o tipo de pessoa a quem se dirige a comunicação,
não envolve apenas questões ideológicas, geradoras de polêmicas.
o assunto, etc). Trata-se de um método de investigação da realidade pelo estudo de
Convém ainda alertar que não se convence ninguém com mani- sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno em ques-
festações de sinceridade do autor (como eu, que não costumo men- tão e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade.
tir...) ou com declarações de certeza expressas em fórmulas feitas Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês, criou o mé-
(como estou certo, creio firmemente, é claro, é óbvio, é evidente, todo de raciocínio silogístico, baseado na dedução, que parte do
afirmo com toda a certeza, etc). Em vez de prometer, em seu texto, simples para o complexo. Para ele, verdade e evidência são a mes-
sinceridade e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador deve ma coisa, e pelo raciocínio torna-se possível chegar a conclusões
construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas quali- verdadeiras, desde que o assunto seja pesquisado em partes, co-
dades não se prometem, manifestam-se na ação. meçando-se pelas proposições mais simples até alcançar, por meio
A argumentação é a exploração de recursos para fazer parecer de deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio cartesiana,
verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, levar a pessoa a é fundamental determinar o problema, dividi-lo em partes, ordenar
que texto é endereçado a crer naquilo que ele diz. os conceitos, simplificando-os, enumerar todos os seus elementos
Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa um e determinar o lugar de cada um no conjunto da dedução.
ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação, que inclui A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental para a
a argumentação, questionamento, com o objetivo de persuadir. Ar- argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes propôs quatro
gumentar é o processo pelo qual se estabelecem relações para che- regras básicas que constituem um conjunto de reflexos vitais, uma
gar à conclusão, com base em premissas. Persuadir é um processo série de movimentos sucessivos e contínuos do espírito em busca
de convencimento, por meio da argumentação, no qual procura-se da verdade:
convencer os outros, de modo a influenciar seu pensamento e seu - evidência;
comportamento. - divisão ou análise;
A persuasão pode ser válida e não válida. Na persuasão váli- - ordem ou dedução;
da, expõem-se com clareza os fundamentos de uma ideia ou pro- - enumeração.
posição, e o interlocutor pode questionar cada passo do raciocínio
empregado na argumentação. A persuasão não válida apoia-se em A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a omissão
e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração pode quebrar o
argumentos subjetivos, apelos subliminares, chantagens sentimen-
encadeamento das ideias, indispensável para o processo dedutivo.
tais, com o emprego de “apelações”, como a inflexão de voz, a mí-
A forma de argumentação mais empregada na redação acadê-
mica e até o choro.
mica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras cartesianas, que
Alguns autores classificam a dissertação em duas modalidades,
contém três proposições: duas premissas, maior e menor, e a con-
expositiva e argumentativa. Esta, exige argumentação, razões a fa- clusão. As três proposições são encadeadas de tal forma, que a con-
vor e contra uma ideia, ao passo que a outra é informativa, apresen- clusão é deduzida da maior por intermédio da menor. A premissa
ta dados sem a intenção de convencer. Na verdade, a escolha dos maior deve ser universal, emprega todo, nenhum, pois alguns não
dados levantados, a maneira de expô-los no texto já revelam uma caracteriza a universalidade. Há dois métodos fundamentais de ra-
“tomada de posição”, a adoção de um ponto de vista na disserta- ciocínio: a dedução (silogística), que parte do geral para o particular,
ção, ainda que sem a apresentação explícita de argumentos. Desse e a indução, que vai do particular para o geral. A expressão formal
ponto de vista, a dissertação pode ser definida como discussão, de- do método dedutivo é o silogismo. A dedução é o caminho das con-
bate, questionamento, o que implica a liberdade de pensamento, a sequências, baseia-se em uma conexão descendente (do geral para
possibilidade de discordar ou concordar parcialmente. A liberdade o particular) que leva à conclusão. Segundo esse método, partin-
de questionar é fundamental, mas não é suficiente para organizar do-se de teorias gerais, de verdades universais, pode-se chegar à
um texto dissertativo. É necessária também a exposição dos fun- previsão ou determinação de fenômenos particulares. O percurso
damentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto de vista. do raciocínio vai da causa para o efeito. Exemplo:

10
LÍNGUA PORTUGUESA
Todo homem é mortal (premissa maior = geral, universal) Análise e síntese são dois processos opostos, mas interligados;
Fulano é homem (premissa menor = particular) a análise parte do todo para as partes, a síntese, das partes para o
Logo, Fulano é mortal (conclusão) todo. A análise precede a síntese, porém, de certo modo, uma de-
pende da outra. A análise decompõe o todo em partes, enquanto a
A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, baseia- síntese recompõe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém,
se em uma conexão ascendente, do particular para o geral. Nesse que o todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém
caso, as constatações particulares levam às leis gerais, ou seja, par- reunisse todas as peças de um relógio, não significa que reconstruiu
te de fatos particulares conhecidos para os fatos gerais, desconheci- o relógio, pois fez apenas um amontoado de partes. Só reconstruiria
dos. O percurso do raciocínio se faz do efeito para a causa. Exemplo: todo se as partes estivessem organizadas, devidamente combina-
O calor dilata o ferro (particular) das, seguida uma ordem de relações necessárias, funcionais, então,
O calor dilata o bronze (particular) o relógio estaria reconstruído.
O calor dilata o cobre (particular) Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo por
O ferro, o bronze, o cobre são metais meio da integração das partes, reunidas e relacionadas num con-
Logo, o calor dilata metais (geral, universal) junto. Toda síntese, por ser uma reconstrução, pressupõe a análise,
que é a decomposição. A análise, no entanto, exige uma decompo-
Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser válido sição organizada, é preciso saber como dividir o todo em partes. As
e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas premissas operações que se realizam na análise e na síntese podem ser assim
também o forem. Se há erro ou equívoco na apreciação dos fatos,
relacionadas:
pode-se partir de premissas verdadeiras para chegar a uma conclu-
são falsa. Tem-se, desse modo, o sofisma. Uma definição inexata,
Análise: penetrar, decompor, separar, dividir.
uma divisão incompleta, a ignorância da causa, a falsa analogia são
Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir.
algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe má fé, intenção
deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o sofisma não tem
essas intenções propositais, costuma-se chamar esse processo de A análise tem importância vital no processo de coleta de ideias
argumentação de paralogismo. Encontra-se um exemplo simples a respeito do tema proposto, de seu desdobramento e da criação
de sofisma no seguinte diálogo: de abordagens possíveis. A síntese também é importante na esco-
lha dos elementos que farão parte do texto.
- Você concorda que possui uma coisa que não perdeu? Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal ou in-
- Lógico, concordo. formal. A análise formal pode ser científica ou experimental; é ca-
- Você perdeu um brilhante de 40 quilates? racterística das ciências matemáticas, físico-naturais e experimen-
- Claro que não! tais. A análise informal é racional ou total, consiste em “discernir”
- Então você possui um brilhante de 40 quilates... por vários atos distintos da atenção os elementos constitutivos de
um todo, os diferentes caracteres de um objeto ou fenômeno.
Exemplos de sofismas: A análise decompõe o todo em partes, a classificação estabe-
lece as necessárias relações de dependência e hierarquia entre as
Dedução partes. Análise e classificação ligam-se intimamente, a ponto de se
Todo professor tem um diploma (geral, universal) confundir uma com a outra, contudo são procedimentos diversos:
Fulano tem um diploma (particular) análise é decomposição e classificação é hierarquisação.
Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa) Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e fenôme-
nos por suas diferenças e semelhanças; fora das ciências naturais, a
Indução classificação pode-se efetuar por meio de um processo mais ou me-
O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor. (particu- nos arbitrário, em que os caracteres comuns e diferenciadores são
lar) Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (particular) empregados de modo mais ou menos convencional. A classificação,
Rio de Janeiro e Taubaté são cidades. no reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens, gêneros e
Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. (geral espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas caracterís-
– conclusão falsa) ticas comuns e diferenciadoras. A classificação dos variados itens
integrantes de uma lista mais ou menos caótica é artificial.
Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão
Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, caminhão,
pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diploma são pro-
canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo, queijo, relógio,
fessores; nem todas as cidades têm uma estátua do Cristo Reden-
sabiá, torradeira.
tor. Comete-se erro quando se faz generalizações apressadas ou
infundadas. A “simples inspeção” é a ausência de análise ou análise
superficial dos fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, base- Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá.
ados nos sentimentos não ditados pela razão. Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo.
Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não fundamen- Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torradeira.
tais, que contribuem para a descoberta ou comprovação da verda- Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus.
de: análise, síntese, classificação e definição. Além desses, existem
outros métodos particulares de algumas ciências, que adaptam os Os elementos desta lista foram classificados por ordem alfabé-
processos de dedução e indução à natureza de uma realidade par- tica e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer critérios de
ticular. Pode-se afirmar que cada ciência tem seu método próprio classificação das ideias e argumentos, pela ordem de importância, é
demonstrativo, comparativo, histórico etc. A análise, a síntese, a uma habilidade indispensável para elaborar o desenvolvimento de
classificação a definição são chamadas métodos sistemáticos, por- uma redação. Tanto faz que a ordem seja crescente, do fato mais
que pela organização e ordenação das ideias visam sistematizar a importante para o menos importante, ou decrescente, primeiro
pesquisa. o menos importante e, no final, o impacto do mais importante; é

11
LÍNGUA PORTUGUESA
indispensável que haja uma lógica na classificação. A elaboração As definições dos dicionários de língua são feitas por meio de
do plano compreende a classificação das partes e subdivisões, ou paráfrases definitórias, ou seja, uma operação metalinguística que
seja, os elementos do plano devem obedecer a uma hierarquização. consiste em estabelecer uma relação de equivalência entre a pala-
(Garcia, 1973, p. 302304.) vra e seus significados.
Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo na in- A força do texto dissertativo está em sua fundamentação. Sem-
trodução, os termos e conceitos sejam definidos, pois, para expres- pre é fundamental procurar um porquê, uma razão verdadeira e
sar um questionamento, deve-se, de antemão, expor clara e racio- necessária. A verdade de um ponto de vista deve ser demonstrada
nalmente as posições assumidas e os argumentos que as justificam. com argumentos válidos. O ponto de vista mais lógico e racional do
É muito importante deixar claro o campo da discussão e a posição mundo não tem valor, se não estiver acompanhado de uma funda-
adotada, isto é, esclarecer não só o assunto, mas também os pontos mentação coerente e adequada.
de vista sobre ele.
A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da lingua- Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a lógica clás-
gem e consiste na enumeração das qualidades próprias de uma sica, que foram abordados anteriormente, auxiliam o julgamento
ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento conforme a da validade dos fatos. Às vezes, a argumentação é clara e pode reco-
espécie a que pertence, demonstra: a característica que o diferen- nhecer-se facilmente seus elementos e suas relações; outras vezes,
cia dos outros elementos dessa mesma espécie. as premissas e as conclusões organizam-se de modo livre, mistu-
Entre os vários processos de exposição de ideias, a definição rando-se na estrutura do argumento. Por isso, é preciso aprender a
é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito das ciências. A reconhecer os elementos que constituem um argumento: premis-
definição científica ou didática é denotativa, ou seja, atribui às pa- sas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar se tais elementos
lavras seu sentido usual ou consensual, enquanto a conotativa ou são verdadeiros ou falsos; em seguida, avaliar se o argumento está
metafórica emprega palavras de sentido figurado. Segundo a lógica expresso corretamente; se há coerência e adequação entre seus
tradicional aristotélica, a definição consta de três elementos: elementos, ou se há contradição. Para isso é que se aprende os pro-
- o termo a ser definido; cessos de raciocínio por dedução e por indução. Admitindo-se que
- o gênero ou espécie; raciocinar é relacionar, conclui-se que o argumento é um tipo espe-
- a diferença específica. cífico de relação entre as premissas e a conclusão.
Procedimentos Argumentativos: Constituem os procedimen-
O que distingue o termo definido de outros elementos da mes- tos argumentativos mais empregados para comprovar uma afirma-
ma espécie. Exemplo: ção: exemplificação, explicitação, enumeração, comparação.
Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista por meio
Na frase: O homem é um animal racional classifica-se: de exemplos, hierarquizar afirmações. São expressões comuns nes-
se tipo de procedimento: mais importante que, superior a, de maior
relevância que. Empregam-se também dados estatísticos, acompa-
nhados de expressões: considerando os dados; conforme os dados
apresentados. Faz-se a exemplificação, ainda, pela apresentação de
Elemento especie diferença causas e consequências, usando-se comumente as expressões: por-
a ser definido específica que, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, por causa de, em
virtude de, em vista de, por motivo de.
É muito comum formular definições de maneira defeituosa, Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo é expli-
por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o todo em par- car ou esclarecer os pontos de vista apresentados. Pode-se alcançar
tes. Esse tipo de definição é gramaticalmente incorreto; quando é esse objetivo pela definição, pelo testemunho e pela interpreta-
advérbio de tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é ção. Na explicitação por definição, empregam-se expressões como:
forma coloquial não adequada à redação acadêmica. Tão importan- quer dizer, denomina-se, chama-se, na verdade, isto é, haja vista,
te é saber formular uma definição, que se recorre a Garcia (1973, ou melhor; nos testemunhos são comuns as expressões: conforme,
p.306), para determinar os “requisitos da definição denotativa”. segundo, na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no
Para ser exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos: entender de, no pensamento de. A explicitação se faz também pela
- o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe em interpretação, em que são comuns as seguintes expressões: parece,
que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que ‘mesa’ está assim, desse ponto de vista.
realmente incluída) e não “mesa é um instrumento ou ferramenta Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma sequência de
ou instalação”; elementos que comprovam uma opinião, tais como a enumeração
- o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir todos de pormenores, de fatos, em uma sequência de tempo, em que são
os exemplos específicos da coisa definida, e suficientemente restrito frequentes as expressões: primeiro, segundo, por último, antes, de-
para que a diferença possa ser percebida sem dificuldade; pois, ainda, em seguida, então, presentemente, antigamente, de-
- deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em verdade, pois de, antes de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente,
definição, quando se diz que o “triângulo não é um prisma”; respectivamente. Na enumeração de fatos em uma sequência de
- deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não constitui espaço, empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí,
definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um homem” além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capital, no
não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem); interior, nas grandes cidades, no sul, no leste...
- deve ser breve (contida num só período). Quando a definição, Comparação: Analogia e contraste são as duas maneiras de
ou o que se pretenda como tal, é muito longa (séries de períodos ou se estabelecer a comparação, com a finalidade de comprovar uma
de parágrafos), chama-se explicação, e também definição expan- ideia ou opinião. Na analogia, são comuns as expressões: da mesma
dida;d forma, tal como, tanto quanto, assim como, igualmente. Para esta-
- deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o termo) + belecer contraste, empregam-se as expressões: mais que, menos
cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) + adjuntos (as que, melhor que, pior que.
diferenças).

12
LÍNGUA PORTUGUESA
Entre outros tipos de argumentos empregados para aumentar Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros possíveis para
o poder de persuasão de um texto dissertativo encontram-se: desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas ao
Argumento de autoridade: O saber notório de uma autoridade desenvolvimento de outros temas. Elege-se um tema, e, em segui-
reconhecida em certa área do conhecimento dá apoio a uma afir- da, sugerem-se os procedimentos que devem ser adotados para a
mação. Dessa maneira, procura-se trazer para o enunciado a credi- elaboração de um Plano de Redação.
bilidade da autoridade citada. Lembre-se que as citações literais no
corpo de um texto constituem argumentos de autoridade. Ao fazer Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos da evolução
uma citação, o enunciador situa os enunciados nela contidos na li- tecnológica
nha de raciocínio que ele considera mais adequada para explicar ou
justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento tem mais - Questionar o tema, transformá-lo em interrogação, responder
caráter confirmatório que comprobatório. a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o porquê da respos-
Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispensam expli- ta, justificar, criando um argumento básico;
cação ou comprovação, pois seu conteúdo é aceito como válido por - Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento básico e
consenso, pelo menos em determinado espaço sociocultural. Nesse construir uma contra-argumentação; pensar a forma de refutação
caso, incluem-se que poderia ser feita ao argumento básico e tentar desqualificá-la
- A declaração que expressa uma verdade universal (o homem, (rever tipos de argumentação);
mortal, aspira à imortalidade); - Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de ideias
- A declaração que é evidente por si mesma (caso dos postula- que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema (as ideias po-
dos e axiomas); dem ser listadas livremente ou organizadas como causa e consequ-
- Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de nature- ência);
za subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que a própria razão - Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e com o
desconhece); implica apreciação de ordem estética (gosto não se argumento básico;
discute); diz respeito a fé religiosa, aos dogmas (creio, ainda que - Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo as que
parece absurdo). poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias transformam-se em
argumentos auxiliares, que explicam e corroboram a ideia do argu-
Comprovação pela experiência ou observação: A verdade de mento básico;
um fato ou afirmação pode ser comprovada por meio de dados con- - Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando uma se-
cretos, estatísticos ou documentais. quência na apresentação das ideias selecionadas, obedecendo às
partes principais da estrutura do texto, que poderia ser mais ou
Comprovação pela fundamentação lógica: A comprovação se menos a seguinte:
realiza por meio de argumentos racionais, baseados na lógica: cau-
sa/efeito; consequência/causa; condição/ocorrência. Introdução

Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As declarações, - função social da ciência e da tecnologia;
julgamento, pronunciamentos, apreciações que expressam opini- - definições de ciência e tecnologia;
ões pessoais (não subjetivas) devem ter sua validade comprovada, - indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico.
e só os fatos provam. Em resumo toda afirmação ou juízo que ex-
presse uma opinião pessoal só terá validade se fundamentada na Desenvolvimento
evidência dos fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade
dos argumentos, porém, pode ser contestada por meio da contra- - apresentação de aspectos positivos e negativos do desenvol-
-argumentação ou refutação. São vários os processos de contra-ar- vimento tecnológico;
gumentação: - como o desenvolvimento científico-tecnológico modificou as
condições de vida no mundo atual;
Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação demons- - a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tecnologica-
trando o absurdo da consequência. Exemplo clássico é a contraar- mente desenvolvida e a dependência tecnológica dos países sub-
gumentação do cordeiro, na conhecida fábula “O lobo e o cordeiro”; desenvolvidos;
Refutação por exclusão: consiste em propor várias hipóteses - enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento social;
para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela que se julga ver- - comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida do pas-
dadeira; sado; apontar semelhanças e diferenças;
Desqualificação do argumento: atribui-se o argumento à opi- - analisar as condições atuais de vida nos grandes centros ur-
nião pessoal subjetiva do enunciador, restringindo-se a universali- banos;
dade da afirmação; - como se poderia usar a ciência e a tecnologia para humanizar
Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade: con- mais a sociedade.
siste em refutar um argumento empregando os testemunhos de
autoridade que contrariam a afirmação apresentada; Conclusão
Desqualificar dados concretos apresentados: consiste em de- - a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/consequ-
sautorizar dados reais, demonstrando que o enunciador baseou-se ências maléficas;
em dados corretos, mas tirou conclusões falsas ou inconsequentes. - síntese interpretativa dos argumentos e contra-argumentos
Por exemplo, se na argumentação afirmou-se, por meio de dados apresentados.
estatísticos, que “o controle demográfico produz o desenvolvimen-
to”, afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois baseia-se em Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano de reda-
uma relação de causa-feito difícil de ser comprovada. Para contraar- ção: é um dos possíveis.
gumentar, propõese uma relação inversa: “o desenvolvimento é que
gera o controle demográfico”.

13
LÍNGUA PORTUGUESA
Texto: Na leitura, é muito importante detectar os pressupostos, pois
eles são um recurso argumentativo que visa a levar o receptor a
“Neto ainda está longe de se igualar a qualquer um desses cra- aceitar a orientação argumentativa do emissor. Ao introduzir uma
ques (Rivelino, Ademir da Guia, Pedro Rocha e Pelé), mas ainda tem ideia sob a forma de pressuposto, o enunciador pretende transfor-
um longo caminho a trilhar (...).” mar seu interlocutor em cúmplice, pois a ideia implícita não é posta
Veja São Paulo, 26/12/1990, p. 15. em discussão, e todos os argumentos explícitos só contribuem para
confirmála. O pressusposto aprisiona o receptor no sistema de pen-
Esse texto diz explicitamente que: samento montado pelo enunciador.
- Rivelino, Ademir da Guia, Pedro Rocha e Pelé são craques; A demonstração disso pode ser feita com as “verdades incon-
- Neto não tem o mesmo nível desses craques; testáveis” que estão na base de muitos discursos políticos, como o
- Neto tem muito tempo de carreira pela frente. que segue:
O texto deixa implícito que:
- Existe a possibilidade de Neto um dia aproximar-se dos cra- “Quando o curso do rio São Francisco for mudado, será resolvi-
ques citados; do o problema da seca no Nordeste.”
- Esses craques são referência de alto nível em sua especialida- O enunciador estabelece o pressuposto de que é certa a mu-
de esportiva; dança do curso do São Francisco e, por consequência, a solução do
- Há uma oposição entre Neto e esses craques no que diz res- problema da seca no Nordeste. O diálogo não teria continuidade se
peito ao tempo disponível para evoluir. um interlocutor não admitisse ou colocasse sob suspeita essa cer-
Todos os textos transmitem explicitamente certas informações, teza. Em outros termos, haveria quebra da continuidade do diálogo
enquanto deixam outras implícitas. Por exemplo, o texto acima não se alguém interviesse com uma pergunta deste tipo:
explicita que existe a possibilidade de Neto se equiparar aos qua-
tro futebolistas, mas a inclusão do advérbio ainda estabelece esse “Mas quem disse que é certa a mudança do curso do rio?”
implícito. Não diz também com explicitude que há oposição entre
A aceitação do pressuposto estabelecido pelo emissor permite
Neto e os outros jogadores, sob o ponto de vista de contar com
levar adiante o debate; sua negação compromete o diálogo, uma
tempo para evoluir. A escolha do conector “mas” entre a segunda e
vez que destrói a base sobre a qual se constrói a argumentação, e
a primeira oração só é possível levando em conta esse dado implíci-
daí nenhum argumento tem mais importância ou razão de ser. Com
to. Como se vê, há mais significados num texto do que aqueles que
pressupostos distintos, o diálogo não é possível ou não tem sentido.
aparecem explícitos na sua superfície. Leitura proficiente é aquela A mesma pergunta, feita para pessoas diferentes, pode ser em-
capaz de depreender tanto um tipo de significado quanto o outro, baraçosa ou não, dependendo do que está pressuposto em cada
o que, em outras palavras, significa ler nas entrelinhas. Sem essa situação. Para alguém que não faz segredo sobre a mudança de
habilidade, o leitor passará por cima de significados importantes emprego, não causa o menor embaraço uma pergunta como esta:
ou, o que é bem pior, concordará com ideias e pontos de vista que
rejeitaria se os percebesse. “Como vai você no seu novo emprego?”
Os significados implícitos costumam ser classificados em duas
categorias: os pressupostos e os subentendidos. O efeito da mesma pergunta seria catastrófico se ela se diri-
Pressupostos: são ideias implícitas que estão implicadas logica- gisse a uma pessoa que conseguiu um segundo emprego e quer
mente no sentido de certas palavras ou expressões explicitadas na manter sigilo até decidir se abandona o anterior. O adjetivo novo
superfície da frase. Exemplo: estabelece o pressuposto de que o interrogado tem um emprego
diferente do anterior.
“André tornou-se um antitabagista convicto.”
Marcadores de Pressupostos
A informação explícita é que hoje André é um antitabagista
convicto. Do sentido do verbo tornar-se, que significa “vir a ser”, - Adjetivos ou palavras similares modificadoras do substantivo
decorre logicamente que antes André não era antitabagista convic- Julinha foi minha primeira filha.
to. Essa informação está pressuposta. Ninguém se torna algo que “Primeira” pressupõe que tenho outras filhas e que as outras
já era antes. Seria muito estranho dizer que a palmeira tornou-se nasceram depois de Julinha.
um vegetal. Destruíram a outra igreja do povoado.
“Outra” pressupõe a existência de pelo menos uma igreja além
“Eu ainda não conheço a Europa.” da usada como referência.
A informação explícita é que o enunciador não tem conheci-
mento do continente europeu. O advérbio ainda deixa pressuposta - Certos verbos
a possibilidade de ele um dia conhecê-la.
Renato continua doente.
As informações explícitas podem ser questionadas pelo recep-
O verbo “continua” indica que Renato já estava doente no mo-
tor, que pode ou não concordar com elas. Os pressupostos, porém,
mento anterior ao presente.
devem ser verdadeiros ou, pelo menos, admitidos como tais, por-
que esta é uma condição para garantir a continuidade do diálogo Nossos dicionários já aportuguesaram a palavrea copydesk.
e também para fornecer fundamento às afirmações explícitas. Isso O verbo “aportuguesar” estabelece o pressuposto de que copi-
significa que, se o pressuposto é falso, a informação explícita não desque não existia em português.
tem cabimento. Assim, por exemplo, se Maria não falta nunca a
aula nenhuma, não tem o menor sentido dizer “Até Maria compa-
receu à aula de hoje”. Até estabelece o pressuposto da inclusão de
um elemento inesperado.

14
LÍNGUA PORTUGUESA
- Certos advérbios “Você está querendo dizer que eu não merecia a promoção?”

A produção automobilística brasileira está totalmente nas Ora, o funcionário preterido, tendo recorrido a um subentendi-
mãos das multinacionais. do, poderia responder:
O advérbio totalmente pressupõe que não há no Brasil indús- “Absolutamente! Estou falando em termos gerais.”
tria automobilística nacional.
ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DO TEXTO E DOS PARÁ-
- Você conferiu o resultado da loteria? GRAFOS
- Hoje não.
A negação precedida de um advérbio de tempo de âmbito limi- São três os elementos essenciais para a composição de um tex-
tado estabelece o pressuposto de que apenas nesse intervalo (hoje) to: a introdução, o desenvolvimento e a conclusão. Vamos estudar
é que o interrogado não praticou o ato de conferir o resultado da cada uma de forma isolada a seguir:
loteria.
Introdução
- Orações adjetivas
É a apresentação direta e objetiva da ideia central do texto. A
Os brasileiros, que não se importam com a coletividade, só se introdução é caracterizada por ser o parágrafo inicial.
preocupam com seu bemestar e, por isso, jogam lixo na rua, fecham Desenvolvimento
os cruzamentos, etc.
O pressuposto é que “todos” os brasileiros não se importam Quando tratamos de estrutura, é a maior parte do texto. O
com a coletividade. desenvolvimento estabelece uma conexão entre a introdução e a
conclusão, pois é nesta parte que as ideias, argumentos e posicio-
Os brasileiros que não se importam com a coletividade só se namento do autor vão sendo formados e desenvolvidos com a fina-
preocupam com seu bemestar e, por isso, jogam lixo na rua, fecham lidade de dirigir a atenção do leitor para a conclusão.
os cruzamentos, etc. Em um bom desenvolvimento as ideias devem ser claras e ap-
Nesse caso, o pressuposto é outro: “alguns” brasileiros não se tas a fazer com que o leitor anteceda qual será a conclusão.
importam com a coletividade.
São três principais erros que podem ser cometidos na elabora-
No primeiro caso, a oração é explicativa; no segundo, é restriti- ção do desenvolvimento:
va. As explicativas pressupõem que o que elas expressam se refere à - Distanciar-se do texto em relação ao tema inicial.
totalidade dos elementos de um conjunto; as restritivas, que o que - Focar em apenas um tópico do tema e esquecer dos outros.
elas dizem concerne apenas a parte dos elementos de um conjun- - Falar sobre muitas informações e não conseguir organizá-las,
to. O produtor do texto escreverá uma restritiva ou uma explicativa dificultando a linha de compreensão do leitor.
segundo o pressuposto que quiser comunicar.
Conclusão
Subentendidos: são insinuações contidas em uma frase ou um
grupo de frases. Suponhamos que uma pessoa estivesse em visita Ponto final de todas as argumentações discorridas no desen-
à casa de outra num dia de frio glacial e que uma janela, por onde volvimento, ou seja, o encerramento do texto e dos questionamen-
entravam rajadas de vento, estivesse aberta. Se o visitante dissesse tos levantados pelo autor.
“Que frio terrível”, poderia estar insinuando que a janela deveria Ao fazermos a conclusão devemos evitar expressões como:
ser fechada. “Concluindo...”, “Em conclusão, ...”, “Como já dissemos antes...”.
Há uma diferença capital entre o pressuposto e o subentendi-
do. O primeiro é uma informação estabelecida como indiscutível Parágrafo
tanto para o emissor quanto para o receptor, uma vez que decorre
necessariamente do sentido de algum elemento linguístico coloca- Se caracteriza como um pequeno recuo em relação à margem
do na frase. Ele pode ser negado, mas o emissor coloca o implici- esquerda da folha. Conceitualmente, o parágrafo completo deve
tamente para que não o seja. Já o subentendido é de responsabi- conter introdução, desenvolvimento e conclusão.
lidade do receptor. O emissor pode esconder-se atrás do sentido - Introdução – apresentação da ideia principal, feita de maneira
literal das palavras e negar que tenha dito o que o receptor depre- sintética de acordo com os objetivos do autor.
endeu de suas palavras. Assim, no exemplo dado acima, se o dono - Desenvolvimento – ampliação do tópico frasal (introdução),
da casa disser que é muito pouco higiênico fechar todas as janelas, atribuído pelas ideias secundárias, a fim de reforçar e dar credibili-
o visitante pode dizer que também acha e que apenas constatou a dade na discussão.
intensidade do frio. - Conclusão – retomada da ideia central ligada aos pressupos-
O subentendido serve, muitas vezes, para o emissor proteger- tos citados no desenvolvimento, procurando arrematá-los.
se, para transmitir a informação que deseja dar a conhecer sem se
comprometer. Imaginemos, por exemplo, que um funcionário re- Exemplo de um parágrafo bem estruturado (com introdução,
cémpromovido numa empresa ouvisse de um colega o seguinte: desenvolvimento e conclusão):

“Competência e mérito continuam não valendo nada como cri- “Nesse contexto, é um grave erro a liberação da maconha.
tério de promoção nesta empresa...” Provocará de imediato violenta elevação do consumo. O Estado
perderá o precário controle que ainda exerce sobre as drogas psico-
Esse comentário talvez suscitasse esta suspeita: trópicas e nossas instituições de recuperação de viciados não terão
estrutura suficiente para atender à demanda. Enfim, viveremos o
caos. ”

15
LÍNGUA PORTUGUESA
(Alberto Corazza, Isto É, com adaptações) Formas variantes
São as palavras que permitem mais de uma grafia correta, sem
Elemento relacionador: Nesse contexto. que ocorra mudança no significado. Ex: loiro – louro / enfarte – in-
Tópico frasal: é um grave erro a liberação da maconha. farto / gatinhar – engatinhar.
Desenvolvimento: Provocará de imediato violenta elevação do
consumo. O Estado perderá o precário controle que ainda exerce Arcaísmo
sobre as drogas psicotrópicas e nossas instituições de recuperação São palavras antigas, que perderam o uso frequente ao longo
de viciados não terão estrutura suficiente para atender à demanda. do tempo, sendo substituídas por outras mais modernas, mas que
Conclusão: Enfim, viveremos o caos. ainda podem ser utilizadas. No entanto, ainda podem ser bastante
encontradas em livros antigos, principalmente. Ex: botica <—> far-
mácia / franquia <—> sinceridade.
SIGNIFICAÇÃO CONTEXTUAL DE PALAVRAS E EXPRES-
SÕES

Este é um estudo da semântica, que pretende classificar os EQUIVALÊNCIA E TRANSFORMAÇÃO DE ESTRUTURAS


sentidos das palavras, as suas relações de sentido entre si. Conheça
as principais relações e suas características: A equivalência e transformação de estruturas consiste em sa-
ber mudar uma sentença ou parte dela de modo a que fique grama-
Sinonímia e antonímia ticalmente correta. Poderíamos explicitar as regras morfológicas e
As palavras sinônimas são aquelas que apresentam significado sintáticas em linguagem natural. Um exemplo disso seria a seguinte
semelhante, estabelecendo relação de proximidade. Ex: inteligente definição de período: O período é composto por uma frase e opcio-
<—> esperto nalmente pela sua concatenação com outras frases em número in-
Já as palavras antônimas são aquelas que apresentam signifi- definido relacionadas duas a duas por sintagma conectivo. A defini-
cados opostos, estabelecendo uma relação de contrariedade. Ex: ção de regras sintáticas em linguagem natural tem suas vantagens.
forte <—> fraco
A Ordem dos Termos na Frase
Parônimos e homônimos
As palavras parônimas são aquelas que possuem grafia e pro- Há diferentes maneiras de se organizar gramaticalmente uma
núncia semelhantes, porém com significados distintos. frase. Tudo depende da necessidade ou da vontade do redator
Ex: cumprimento (saudação) X comprimento (extensão); tráfe- em manter o sentido, ou mantê-lo, porém, acrescentado ênfase a
go (trânsito) X tráfico (comércio ilegal). algum dos seus termos.Significa dizer que, ao escrever, podemos
As palavras homônimas são aquelas que possuem a mesma
fazer uma série de inversões e intercalações em nossas frases, con-
grafia e pronúncia, porém têm significados diferentes. Ex: rio (verbo
forme a nossa vontade e estilo. Tudo depende da maneira como
“rir”) X rio (curso d’água); manga (blusa) X manga (fruta).
queremos transmitir uma ideia, do nosso estilo.
As palavras homófonas são aquelas que possuem a mesma
Entre os sinais de pontuação, a vírgula é o mais usado e o que
pronúncia, mas com escrita e significado diferentes. Ex: cem (nu-
mais nos auxilia na organização de um período, pois facilita as boas
meral) X sem (falta); conserto (arrumar) X concerto (musical).
“sintaxes”, boas misturas, ou seja, a vírgula ajuda-nos a não “em-
As palavras homógrafas são aquelas que possuem escrita igual,
bolar” o sentido quando produzimos frases complexas. Com isto,
porém som e significado diferentes. Ex: colher (talher) X colher (ver-
“entregamos” frases bem organizadas aos nossos leitores.
bo); acerto (substantivo) X acerto (verbo).
O básico para a organização sintática das frases é a ordem di-
Polissemia e monossemia reta dos termos da oração. Os gramáticos estruturam tal ordem da
As palavras polissêmicas são aquelas que podem apresentar seguinte maneira:
mais de um significado, a depender do contexto em que ocorre a
frase. Ex: cabeça (parte do corpo humano; líder de um grupo). SUJEITO + VERBO + COMPLEMENTO VERBAL + CIRCUNSTÂN-
Já as palavras monossêmicas são aquelas apresentam apenas CIAS
um significado. Ex: eneágono (polígono de nove ângulos).
Nem todas as orações mantêm esta ordem e nem todas con-
Denotação e conotação têm todos estes elementos
Palavras com sentido denotativo são aquelas que apresentam
um sentido objetivo e literal. Ex:Está fazendo frio. / Pé da mulher. Paralelismo
Palavras com sentido conotativo são aquelas que apresentam
um sentido simbólico, figurado. Ex: Você me olha com frieza. / Pé Os paralelismos sintático e semântico se caracterizam pelas re-
da cadeira. lações de semelhança existente entre palavras e expressões que se
efetivam tanto de ordem morfológica (quando pertencem à mesma
Hiperonímia e hiponímia classe gramatical), sintática (quando há semelhança entre frases ou
Esta classificação diz respeito às relações hierárquicas de signi- orações) e semântica (quando há correspondência de sentido entre
ficado entre as palavras. os termos).
Desse modo, um hiperônimo é a palavra superior, isto é, que Casos recorrentes se manifestam no momento da escrita indi-
tem um sentido mais abrangente. Ex: Fruta é hiperônimo de limão. cando que houve a quebra destes recursos, tornando-se impercep-
Já o hipônimo é a palavra que tem o sentido mais restrito, por- tíveis aos olhos de quem a produz, interferindo de forma negativa
tanto, inferior, de modo que o hiperônimo engloba o hipônimo. Ex: na textualidade como um todo. Ampliando a noção sobre a correta
Limão é hipônimo de fruta. utilização destes recursos, analisemos alguns casos em que eles se
aplicam:

16
LÍNGUA PORTUGUESA
- não só... mas (como) também: tal construção confere-nos a Da reunião pela manhã, Lívia se esqueceu.
ideia de adição.
- Quanto mais... (tanto) mais: noção de progressão, podemos Os predicados se classificam em: predicado verbal (núcleo do
identificar a construção paralelística. predicado é um verbo que indica ação, podendo ser transitivo, in-
- Seja... Seja; Quer... Quer; Ora... Ora: ideia de alternância. transitivo ou de ligação); predicado nominal (núcleo da oração é
- Tanto... Quanto: ideia de adição, acrescida àquela de equiva- um nome, isto é, substantivo ou adjetivo); predicado verbo-nomi-
lência, constata-se a estrutura paralelística. nal (apresenta um predicativo do sujeito, além de uma ação mais
- Não... E não/nem: recurso empregado quando se quer atri- uma qualidade sua)
buir uma sequência negativa. As crianças brincaram no salão de festas.
- Por um lado... Por outro: referência a aspectos negativos e Mariana é inteligente.
positivos relacionados a um determinado fato. Os jogadores venceram a partida. Por isso, estavam felizes.
- Tempos verbais: concordância de sentido proferida pelos ver-
bos e seus respectivos tempos. Termos integrantes da oração
Os complementos verbais são classificados em objetos diretos
(não preposicionados) e objetos indiretos (preposicionado).
A menina que possui bolsa vermelha me cumprimentou.
SINTAXE: PROCESSOS DE COORDENAÇÃO E O cão precisa de carinho.
SUBORDINAÇÃO
Os complementos nominais podem ser substantivos, adjetivos
A sintaxe estuda o conjunto das relações que as palavras esta- ou advérbios.
belecem entre si. Dessa maneira, é preciso ficar atento aos enuncia- A mãe estava orgulhosa de seus filhos.
dos e suas unidades: frase, oração e período. Carlos tem inveja de Eduardo.
Frase é qualquer palavra ou conjunto de palavras ordenadas Bárbara caminhou vagarosamente pelo bosque.
que apresenta sentido completo em um contexto de comunicação
e interação verbal. A frase nominal é aquela que não contém verbo. Os agentes da passiva são os termos que tem a função de pra-
Já a frase verbal apresenta um ou mais verbos (locução verbal). ticar a ação expressa pelo verbo, quando este se encontra na voz
Oração é um enunciado organizado em torno de um único ver- passiva. Costumam estar acompanhados pelas preposições “por”
bo ou locução verbal, de modo que estes passam a ser o núcleo e “de”.
da oração. Assim, o predicativo é obrigatório, enquanto o sujeito é Os filhos foram motivo de orgulho da mãe.
opcional. Eduardo foi alvo de inveja de Carlos.
Período é uma unidade sintática, de modo que seu enuncia- O bosque foi caminhado vagarosamente por Bárbara.
do é organizado por uma oração (período simples) ou mais orações
(período composto). Eles são iniciados com letras maiúsculas e fina- Termos acessórios da oração
lizados com a pontuação adequada. Os termos acessórios não são necessários para dar sentido à
oração, funcionando como complementação da informação. Desse
Análise sintática modo, eles têm a função de caracterizar o sujeito, de determinar
A análise sintática serve para estudar a estrutura de um perío- o substantivo ou de exprimir circunstância, podendo ser adjunto
do e de suas orações. Os termos da oração se dividem entre: adverbial (modificam o verbo, adjetivo ou advérbio), adjunto adno-
• Essenciais (ou fundamentais): sujeito e predicado minal (especifica o substantivo, com função de adjetivo) e aposto
• Integrantes: completam o sentido (complementos verbais e (caracteriza o sujeito, especificando-o).
nominais, agentes da passiva) Os irmãos brigam muito.
• Acessórios: função secundária (adjuntos adnominais e adver- A brilhante aluna apresentou uma bela pesquisa à banca.
biais, apostos) Pelé, o rei do futebol, começou sua carreira no Santos.

Termos essenciais da oração Tipos de Orações


Os termos essenciais da oração são o sujeito e o predicado. Levando em consideração o que foi aprendido anteriormente
O sujeito é aquele sobre quem diz o resto da oração, enquanto o sobre oração, vamos aprender sobre os dois tipos de oração que
predicado é a parte que dá alguma informação sobre o sujeito, logo, existem na língua portuguesa: oração coordenada e oração subor-
onde o verbo está presente. dinada.

O sujeito é classificado em determinado (facilmente identificá- Orações coordenadas


vel, podendo ser simples, composto ou implícito) e indeterminado, São aquelas que não dependem sintaticamente uma da outra,
podendo, ainda, haver a oração sem sujeito (a mensagem se con- ligando-se apenas pelo sentido. Elas aparecem quando há um pe-
centra no verbo impessoal): ríodo composto, sendo conectadas por meio do uso de conjunções
Lúcio dormiu cedo. (sindéticas), ou por meio da vírgula (assindéticas).
Aluga-se casa para réveillon. No caso das orações coordenadas sindéticas, a classificação
Choveu bastante em janeiro. depende do sentido entre as orações, representado por um grupo
de conjunções adequadas:
Quando o sujeito aparece no início da oração, dá-se o nome de
sujeito direto. Se aparecer depois do predicado, é o caso de sujeito
inverso. Há, ainda, a possibilidade de o sujeito aparecer no meio
da oração:
Lívia se esqueceu da reunião pela manhã.
Esqueceu-se da reunião pela manhã, Lívia.

17
LÍNGUA PORTUGUESA

CLASSIFICAÇÃO CARACTERÍSTICAS CONJUNÇÕES


ADITIVAS Adição da ideia apresentada na oração anterior e, nem, também, bem como, não só, tanto...
Oposição à ideia apresentada na oração anterior
ADVERSATIVAS mas, porém, todavia, entretanto, contudo...
(inicia com vírgula)
Opção / alternância em relação à ideia apresentada
ALTERNATIVAS ou, já, ora, quer, seja...
na oração anterior
logo, pois, portanto, assim, por isso, com
CONCLUSIVAS Conclusão da ideia apresentada na oração anterior
isso...
EXPLICATIVAS Explicação da ideia apresentada na oração anterior que, porque, porquanto, pois, ou seja...

Orações subordinadas
São aquelas que dependem sintaticamente em relação à oração principal. Elas aparecem quando o período é composto por duas ou
mais orações.
A classificação das orações subordinadas se dá por meio de sua função: orações subordinadas substantivas, quando fazem o papel
de substantivo da oração; orações subordinadas adjetivas, quando modificam o substantivo, exercendo a função do adjetivo; orações
subordinadas adverbiais, quando modificam o advérbio.
Cada uma dessas sofre uma segunda classificação, como pode ser observado nos quadros abaixo.

SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS FUNÇÃO EXEMPLOS


Esse era meu receio: que ela não discursasse outra
APOSITIVA aposto
vez.
COMPLETIVA NOMINAL complemento nominal Tenho medo de que ela não discurse novamente.
OBJETIVA DIRETA objeto direto Ele me perguntou se ela discursaria outra vez.
OBJETIVA INDIRETA objeto indireto Necessito de que você discurse de novo.
PREDICATIVA predicativo Meu medo é que ela não discurse novamente.
SUBJETIVA sujeito É possível que ela discurse outra vez.

SUBORDINADAS
CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS
ADJETIVAS
Esclarece algum detalhe, adicionando uma in-
O candidato, que é do partido socialista, está
EXPLICATIVAS formação.
sendo atacado.
Aparece sempre separado por vírgulas.
Restringe e define o sujeito a que se refere.
As pessoas que são racistas precisam rever
RESTRITIVAS Não deve ser retirado sem alterar o sentido.
seus valores.
Não pode ser separado por vírgula.
Introduzidas por conjunções, pronomes e locu-
ções conjuntivas. Ele foi o primeiro presidente que se preocu-
DESENVOLVIDAS
Apresentam verbo nos modos indicativo ou pou com a fome no país.
subjuntivo.
Não são introduzidas por pronomes, conjun-
ções sou locuções conjuntivas. Assisti ao documentário denunciando a cor-
REDUZIDAS
Apresentam o verbo nos modos particípio, ge- rupção.
rúndio ou infinitivo

SUBORDINADAS ADVERBIAIS FUNÇÃO PRINCIPAIS CONJUNÇÕES


Ideia de causa, motivo, razão de
CAUSAIS porque, visto que, já que, como...
efeito
como, tanto quanto, (mais / menos) que, do
COMPARATIVAS Ideia de comparação
que...
CONCESSIVAS Ideia de contradição embora, ainda que, se bem que, mesmo...
caso, se, desde que, contanto que, a menos
CONDICIONAIS Ideia de condição
que...
CONFORMATIVAS Ideia de conformidade como, conforme, segundo...
CONSECUTIVAS Ideia de consequência De modo que, (tal / tão / tanto) que...

18
LÍNGUA PORTUGUESA

FINAIS Ideia de finalidade que, para que, a fim de que...


quanto mais / menos... mais /menos, à me-
PROPORCIONAIS Ideia de proporção
dida que, na medida em que, à proporção que...
TEMPORAIS Ideia de momento quando, depois que, logo que, antes que...

PONTUAÇÃO

Os sinais de pontuação são recursos gráficos que se encontram na linguagem escrita, e suas funções são demarcar unidades e sinalizar
limites de estruturas sintáticas. É também usado como um recurso estilístico, contribuindo para a coerência e a coesão dos textos.
São eles: o ponto (.), a vírgula (,), o ponto e vírgula (;), os dois pontos (:), o ponto de exclamação (!), o ponto de interrogação (?), as
reticências (...), as aspas (“”), os parênteses ( ( ) ), o travessão (—), a meia-risca (–), o apóstrofo (‘), o asterisco (*), o hífen (-), o colchetes
([]) e a barra (/).
Confira, no quadro a seguir, os principais sinais de pontuação e suas regras de uso.

SINAL NOME USO EXEMPLOS


Indicar final da frase declarativa Meu nome é Pedro.
. Ponto Separar períodos Fica mais. Ainda está cedo
Abreviar palavras Sra.
A princesa disse:
Iniciar fala de personagem
- Eu consigo sozinha.
Antes de aposto ou orações apositivas, enumerações
Esse é o problema da pandemia: as
: Dois-pontos ou sequência de palavras para resumir / explicar ideias
pessoas não respeitam a quarentena.
apresentadas anteriormente
Como diz o ditado: “olho por olho,
Antes de citação direta
dente por dente”.
Indicar hesitação
Sabe... não está sendo fácil...
... Reticências Interromper uma frase
Quem sabe depois...
Concluir com a intenção de estender a reflexão
Isolar palavras e datas A Semana de Arte Moderna (1922)
() Parênteses Frases intercaladas na função explicativa (podem Eu estava cansada (trabalhar e
substituir vírgula e travessão) estudar é puxado).
Indicar expressão de emoção Que absurdo!
Ponto de
! Final de frase imperativa Estude para a prova!
Exclamação
Após interjeição Ufa!
Ponto de
? Em perguntas diretas Que horas ela volta?
Interrogação
A professora disse:
Iniciar fala do personagem do discurso direto e indicar — Boas férias!
— Travessão mudança de interloculor no diálogo — Obrigado, professora.
Substituir vírgula em expressões ou frases explicativas O corona vírus — Covid-19 — ainda
está sendo estudado.

Vírgula
A vírgula é um sinal de pontuação com muitas funções, usada para marcar uma pausa no enunciado. Veja, a seguir, as principais regras
de uso obrigatório da vírgula.
• Separar termos coordenados: Fui à feira e comprei abacate, mamão, manga, morango e abacaxi.
• Separar aposto (termo explicativo): Belo Horizonte, capital mineira, só tem uma linha de metrô.
• Isolar vocativo: Boa tarde, Maria.
• Isolar expressões que indicam circunstâncias adverbiais (modo, lugar, tempo etc): Todos os moradores, calmamente, deixaram o
prédio.
• Isolar termos explicativos: A educação, a meu ver, é a solução de vários problemas sociais.
• Separar conjunções intercaladas, e antes dos conectivos “mas”, “porém”, “pois”, “contudo”, “logo”: A menina acordou cedo, mas não
conseguiu chegar a tempo na escola. Não explicou, porém, o motivo para a professora.
• Separar o conteúdo pleonástico: A ela, nada mais abala.

19
LÍNGUA PORTUGUESA
No caso da vírgula, é importante saber que, em alguns casos, ela não deve ser usada. Assim, não há vírgula para separar:

• Sujeito de predicado.
• Objeto de verbo.
• Adjunto adnominal de nome.
• Complemento nominal de nome.
• Predicativo do objeto do objeto.
• Oração principal da subordinada substantiva.
• Termos coordenados ligados por “e”, “ou”, “nem”.

ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE PALAVRAS. FUNÇÕES DAS CLASSES DE PALAVRAS. FLEXÃO NOMINAL E VERBAL. PRO-
NOMES: EMPREGO, FORMAS DE TRATAMENTO E COLOCAÇÃO. EMPREGO DE TEMPOS E MODOS VERBAIS

Classes de Palavras
Para entender sobre a estrutura das funções sintáticas, é preciso conhecer as classes de palavras, também conhecidas por classes
morfológicas. A gramática tradicional pressupõe 10 classes gramaticais de palavras, sendo elas: adjetivo, advérbio, artigo, conjunção, in-
terjeição, numeral, pronome, preposição, substantivo e verbo.
Veja, a seguir, as características principais de cada uma delas.

CLASSE CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS


Menina inteligente...
Expressar características, qualidades ou estado dos seres Roupa azul-marinho...
ADJETIVO
Sofre variação em número, gênero e grau Brincadeira de criança...
Povo brasileiro...
A ajuda chegou tarde.
Indica circunstância em que ocorre o fato verbal
ADVÉRBIO A mulher trabalha muito.
Não sofre variação
Ele dirigia mal.
Determina os substantivos (de modo definido ou inde- A galinha botou um ovo.
ARTIGO finido) Uma menina deixou a mochila no ôni-
Varia em gênero e número bus.
Liga ideias e sentenças (conhecida também como conec-
Não gosto de refrigerante nem de pizza.
CONJUNÇÃO tivos)
Eu vou para a praia ou para a cachoeira?
Não sofre variação
Exprime reações emotivas e sentimentos Ah! Que calor...
INTERJEIÇÃO
Não sofre variação Escapei por pouco, ufa!
Atribui quantidade e indica posição em alguma sequên-
Gostei muito do primeiro dia de aula.
NUMERAL cia
Três é a metade de seis.
Varia em gênero e número
Posso ajudar, senhora?
Ela me ajudou muito com o meu traba-
Acompanha, substitui ou faz referência ao substantivo
PRONOME lho.
Varia em gênero e número
Esta é a casa onde eu moro.
Que dia é hoje?
Relaciona dois termos de uma mesma oração Espero por você essa noite.
PREPOSIÇÃO
Não sofre variação Lucas gosta de tocar violão.
Nomeia objetos, pessoas, animais, alimentos, lugares
A menina jogou sua boneca no rio.
SUBSTANTIVO etc.
A matilha tinha muita coragem.
Flexionam em gênero, número e grau.
Indica ação, estado ou fenômenos da natureza Ana se exercita pela manhã.
Sofre variação de acordo com suas flexões de modo, Todos parecem meio bobos.
VERBO tempo, número, pessoa e voz. Chove muito em Manaus.
Verbos não significativos são chamados verbos de liga- A cidade é muito bonita quando vista do
ção alto.

Substantivo
Tipos de substantivos
Os substantivos podem ter diferentes classificações, de acordo com os conceitos apresentados abaixo:
• Comum: usado para nomear seres e objetos generalizados. Ex: mulher; gato; cidade...

20
LÍNGUA PORTUGUESA
• Próprio: geralmente escrito com letra maiúscula, serve para Novo Acordo Ortográfico
especificar e particularizar. Ex: Maria; Garfield; Belo Horizonte... De acordo com o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portugue-
• Coletivo: é um nome no singular que expressa ideia de plural, sa, as letras maiúsculas devem ser usadas em nomes próprios de
para designar grupos e conjuntos de seres ou objetos de uma mes- pessoas, lugares (cidades, estados, países, rios), animais, acidentes
ma espécie. Ex: matilha; enxame; cardume... geográficos, instituições, entidades, nomes astronômicos, de festas
• Concreto: nomeia algo que existe de modo independente de e festividades, em títulos de periódicos e em siglas, símbolos ou
outro ser (objetos, pessoas, animais, lugares etc.). Ex: menina; ca- abreviaturas.
chorro; praça... Já as letras minúsculas podem ser usadas em dias de semana,
• Abstrato: depende de um ser concreto para existir, designan- meses, estações do ano e em pontos cardeais.
do sentimentos, estados, qualidades, ações etc. Ex: saudade; sede; Existem, ainda, casos em que o uso de maiúscula ou minúscula
imaginação... é facultativo, como em título de livros, nomes de áreas do saber,
• Primitivo: substantivo que dá origem a outras palavras. Ex: disciplinas e matérias, palavras ligadas a alguma religião e em pala-
livro; água; noite... vras de categorização.
• Derivado: formado a partir de outra(s) palavra(s). Ex: pedrei-
ro; livraria; noturno... Adjetivo
• Simples: nomes formados por apenas uma palavra (um radi- Os adjetivos podem ser simples (vermelho) ou compostos (mal-
cal). Ex: casa; pessoa; cheiro... -educado); primitivos (alegre) ou derivados (tristonho). Eles podem
• Composto: nomes formados por mais de uma palavra (mais flexionar entre o feminino (estudiosa) e o masculino (engraçado), e
de um radical). Ex: passatempo; guarda-roupa; girassol... o singular (bonito) e o plural (bonitos).
Há, também, os adjetivos pátrios ou gentílicos, sendo aqueles
Flexão de gênero que indicam o local de origem de uma pessoa, ou seja, sua naciona-
lidade (brasileiro; mineiro).
Na língua portuguesa, todo substantivo é flexionado em um
É possível, ainda, que existam locuções adjetivas, isto é, conjun-
dos dois gêneros possíveis: feminino e masculino.
to de duas ou mais palavras usadas para caracterizar o substantivo.
O substantivo biforme é aquele que flexiona entre masculino
São formadas, em sua maioria, pela preposição DE + substantivo:
e feminino, mudando a desinência de gênero, isto é, geralmente
• de criança = infantil
o final da palavra sendo -o ou -a, respectivamente (Ex: menino / • de mãe = maternal
menina). Há, ainda, os que se diferenciam por meio da pronúncia / • de cabelo = capilar
acentuação (Ex: avô / avó), e aqueles em que há ausência ou pre-
sença de desinência (Ex: irmão / irmã; cantor / cantora). Variação de grau
O substantivo uniforme é aquele que possui apenas uma for- Os adjetivos podem se encontrar em grau normal (sem ênfa-
ma, independente do gênero, podendo ser diferenciados quanto ses), ou com intensidade, classificando-se entre comparativo e su-
ao gênero a partir da flexão de gênero no artigo ou adjetivo que o perlativo.
acompanha (Ex: a cadeira / o poste). Pode ser classificado em epi- • Normal: A Bruna é inteligente.
ceno (refere-se aos animais), sobrecomum (refere-se a pessoas) e • Comparativo de superioridade: A Bruna é mais inteligente
comum de dois gêneros (identificado por meio do artigo). que o Lucas.
É preciso ficar atento à mudança semântica que ocorre com • Comparativo de inferioridade: O Gustavo é menos inteligente
alguns substantivos quando usados no masculino ou no feminino, que a Bruna.
trazendo alguma especificidade em relação a ele. No exemplo o fru- • Comparativo de igualdade: A Bruna é tão inteligente quanto
to X a fruta temos significados diferentes: o primeiro diz respeito ao a Maria.
órgão que protege a semente dos alimentos, enquanto o segundo é • Superlativo relativo de superioridade: A Bruna é a mais inte-
o termo popular para um tipo específico de fruto. ligente da turma.
• Superlativo relativo de inferioridade: O Gustavo é o menos
Flexão de número inteligente da turma.
No português, é possível que o substantivo esteja no singu- • Superlativo absoluto analítico: A Bruna é muito inteligente.
lar, usado para designar apenas uma única coisa, pessoa, lugar • Superlativo absoluto sintético: A Bruna é inteligentíssima.
(Ex: bola; escada; casa) ou no plural, usado para designar maiores
quantidades (Ex: bolas; escadas; casas) — sendo este último repre- Adjetivos de relação
sentado, geralmente, com o acréscimo da letra S ao final da palavra. São chamados adjetivos de relação aqueles que não podem so-
Há, também, casos em que o substantivo não se altera, de frer variação de grau, uma vez que possui valor semântico objetivo,
isto é, não depende de uma impressão pessoal (subjetiva). Além
modo que o plural ou singular devem estar marcados a partir do
disso, eles aparecem após o substantivo, sendo formados por sufi-
contexto, pelo uso do artigo adequado (Ex: o lápis / os lápis).
xação de um substantivo (Ex: vinho do Chile = vinho chileno).
Variação de grau
Usada para marcar diferença na grandeza de um determinado
substantivo, a variação de grau pode ser classificada em aumenta-
tivo e diminutivo.
Quando acompanhados de um substantivo que indica grandeza
ou pequenez, é considerado analítico (Ex: menino grande / menino
pequeno).
Quando acrescentados sufixos indicadores de aumento ou di-
minuição, é considerado sintético (Ex: meninão / menininho).

21
LÍNGUA PORTUGUESA
Advérbio
Os advérbios são palavras que modificam um verbo, um adjetivo ou um outro advérbio. Eles se classificam de acordo com a tabela
abaixo:

CLASSIFICAÇÃO ADVÉRBIOS LOCUÇÕES ADVERBIAIS


DE MODO bem; mal; assim; melhor; depressa ao contrário; em detalhes
ontem; sempre; afinal; já; agora; doravante; pri- logo mais; em breve; mais tarde, nunca mais,
DE TEMPO
meiramente de noite
Ao redor de; em frente a; à esquerda; por per-
DE LUGAR aqui; acima; embaixo; longe; fora; embaixo; ali
to
DE INTENSIDADE muito; tão; demasiado; imenso; tanto; nada em excesso; de todos; muito menos
DE AFIRMAÇÃO sim, indubitavelmente; certo; decerto; deveras com certeza; de fato; sem dúvidas
DE NEGAÇÃO não; nunca; jamais; tampouco; nem nunca mais; de modo algum; de jeito nenhum
DE DÚVIDA Possivelmente; acaso; será; talvez; quiçá Quem sabe

Advérbios interrogativos
São os advérbios ou locuções adverbiais utilizadas para introduzir perguntas, podendo expressar circunstâncias de:
• Lugar: onde, aonde, de onde
• Tempo: quando
• Modo: como
• Causa: por que, por quê

Grau do advérbio
Os advérbios podem ser comparativos ou superlativos.
• Comparativo de igualdade: tão/tanto + advérbio + quanto
• Comparativo de superioridade: mais + advérbio + (do) que
• Comparativo de inferioridade: menos + advérbio + (do) que
• Superlativo analítico: muito cedo
• Superlativo sintético: cedíssimo

Curiosidades
Na linguagem coloquial, algumas variações do superlativo são aceitas, como o diminutivo (cedinho), o aumentativo (cedão) e o uso
de alguns prefixos (supercedo).
Existem advérbios que exprimem ideia de exclusão (somente; salvo; exclusivamente; apenas), inclusão (também; ainda; mesmo) e
ordem (ultimamente; depois; primeiramente).
Alguns advérbios, além de algumas preposições, aparecem sendo usados como uma palavra denotativa, acrescentando um sentido
próprio ao enunciado, podendo ser elas de inclusão (até, mesmo, inclusive); de exclusão (apenas, senão, salvo); de designação (eis); de
realce (cá, lá, só, é que); de retificação (aliás, ou melhor, isto é) e de situação (afinal, agora, então, e aí).

Pronomes
Os pronomes são palavras que fazem referência aos nomes, isto é, aos substantivos. Assim, dependendo de sua função no enunciado,
ele pode ser classificado da seguinte maneira:
• Pronomes pessoais: indicam as 3 pessoas do discurso, e podem ser retos (eu, tu, ele...) ou oblíquos (mim, me, te, nos, si...).
• Pronomes possessivos: indicam posse (meu, minha, sua, teu, nossos...)
• Pronomes demonstrativos: indicam localização de seres no tempo ou no espaço. (este, isso, essa, aquela, aquilo...)
• Pronomes interrogativos: auxiliam na formação de questionamentos (qual, quem, onde, quando, que, quantas...)
• Pronomes relativos: retomam o substantivo, substituindo-o na oração seguinte (que, quem, onde, cujo, o qual...)
• Pronomes indefinidos: substituem o substantivo de maneira imprecisa (alguma, nenhum, certa, vários, qualquer...)
• Pronomes de tratamento: empregados, geralmente, em situações formais (senhor, Vossa Majestade, Vossa Excelência, você...)

Colocação pronominal
Diz respeito ao conjunto de regras que indicam a posição do pronome oblíquo átono (me, te, se, nos, vos, lhe, lhes, o, a, os, as, lo, la,
no, na...) em relação ao verbo, podendo haver próclise (antes do verbo), ênclise (depois do verbo) ou mesóclise (no meio do verbo).
Veja, então, quais as principais situações para cada um deles:
• Próclise: expressões negativas; conjunções subordinativas; advérbios sem vírgula; pronomes indefinidos, relativos ou demonstrati-
vos; frases exclamativas ou que exprimem desejo; verbos no gerúndio antecedidos por “em”.
Nada me faria mais feliz.

• Ênclise: verbo no imperativo afirmativo; verbo no início da frase (não estando no futuro e nem no pretérito); verbo no gerúndio não
acompanhado por “em”; verbo no infinitivo pessoal.
Inscreveu-se no concurso para tentar realizar um sonho.

22
LÍNGUA PORTUGUESA
• Mesóclise: verbo no futuro iniciando uma oração.
Orgulhar-me-ei de meus alunos.

DICA: o pronome não deve aparecer no início de frases ou orações, nem após ponto-e-vírgula.

Verbos
Os verbos podem ser flexionados em três tempos: pretérito (passado), presente e futuro, de maneira que o pretérito e o futuro pos-
suem subdivisões.
Eles também se dividem em três flexões de modo: indicativo (certeza sobre o que é passado), subjuntivo (incerteza sobre o que é
passado) e imperativo (expressar ordem, pedido, comando).
• Tempos simples do modo indicativo: presente, pretérito perfeito, pretérito imperfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro do pre-
sente, futuro do pretérito.
• Tempos simples do modo subjuntivo: presente, pretérito imperfeito, futuro.

Os tempos verbais compostos são formados por um verbo auxiliar e um verbo principal, de modo que o verbo auxiliar sofre flexão em
tempo e pessoa, e o verbo principal permanece no particípio. Os verbos auxiliares mais utilizados são “ter” e “haver”.
• Tempos compostos do modo indicativo: pretérito perfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro do presente, futuro do pretérito.
• Tempos compostos do modo subjuntivo: pretérito perfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro.
As formas nominais do verbo são o infinitivo (dar, fazerem, aprender), o particípio (dado, feito, aprendido) e o gerúndio (dando, fa-
zendo, aprendendo). Eles podem ter função de verbo ou função de nome, atuando como substantivo (infinitivo), adjetivo (particípio) ou
advérbio (gerúndio).

Tipos de verbos
Os verbos se classificam de acordo com a sua flexão verbal. Desse modo, os verbos se dividem em:
Regulares: possuem regras fixas para a flexão (cantar, amar, vender, abrir...)
• Irregulares: possuem alterações nos radicais e nas terminações quando conjugados (medir, fazer, poder, haver...)
• Anômalos: possuem diferentes radicais quando conjugados (ser, ir...)
• Defectivos: não são conjugados em todas as pessoas verbais (falir, banir, colorir, adequar...)
• Impessoais: não apresentam sujeitos, sendo conjugados sempre na 3ª pessoa do singular (chover, nevar, escurecer, anoitecer...)
• Unipessoais: apesar de apresentarem sujeitos, são sempre conjugados na 3ª pessoa do singular ou do plural (latir, miar, custar,
acontecer...)
• Abundantes: possuem duas formas no particípio, uma regular e outra irregular (aceitar = aceito, aceitado)
• Pronominais: verbos conjugados com pronomes oblíquos átonos, indicando ação reflexiva (suicidar-se, queixar-se, sentar-se, pen-
tear-se...)
• Auxiliares: usados em tempos compostos ou em locuções verbais (ser, estar, ter, haver, ir...)
• Principais: transmitem totalidade da ação verbal por si próprios (comer, dançar, nascer, morrer, sorrir...)
• De ligação: indicam um estado, ligando uma característica ao sujeito (ser, estar, parecer, ficar, continuar...)

Vozes verbais
As vozes verbais indicam se o sujeito pratica ou recebe a ação, podendo ser três tipos diferentes:
• Voz ativa: sujeito é o agente da ação (Vi o pássaro)
• Voz passiva: sujeito sofre a ação (O pássaro foi visto)
• Voz reflexiva: sujeito pratica e sofre a ação (Vi-me no reflexo do lago)

Ao passar um discurso para a voz passiva, é comum utilizar a partícula apassivadora “se”, fazendo com o que o pronome seja equiva-
lente ao verbo “ser”.

Conjugação de verbos
Os tempos verbais são primitivos quando não derivam de outros tempos da língua portuguesa. Já os tempos verbais derivados são
aqueles que se originam a partir de verbos primitivos, de modo que suas conjugações seguem o mesmo padrão do verbo de origem.
• 1ª conjugação: verbos terminados em “-ar” (aproveitar, imaginar, jogar...)
• 2ª conjugação: verbos terminados em “-er” (beber, correr, erguer...)
• 3ª conjugação: verbos terminados em “-ir” (dormir, agir, ouvir...)

Confira os exemplos de conjugação apresentados abaixo:

23
LÍNGUA PORTUGUESA

Fonte: www.conjugação.com.br/verbo-lutar

24
LÍNGUA PORTUGUESA

Fonte: www.conjugação.com.br/verbo-impor

Preposições
As preposições são palavras invariáveis que servem para ligar dois termos da oração numa relação subordinada, e são divididas entre
essenciais (só funcionam como preposição) e acidentais (palavras de outras classes gramaticais que passam a funcionar como preposição
em determinadas sentenças).

25
LÍNGUA PORTUGUESA
Preposições essenciais: a, ante, após, de, com, em, contra, • Proporcionais: à medida que, ao passo que, à proporção que.
para, per, perante, por, até, desde, sobre, sobre, trás, sob, sem, en- • Temporais: quando, enquanto, agora.
tre.
Preposições acidentais: afora, como, conforme, consoante, du- Formação de Palavras
rante, exceto, mediante, menos, salvo, segundo, visto etc.
Locuções prepositivas: abaixo de, afim de, além de, à custa de, A formação de palavras se dá a partir de processos morfológi-
defronte a, a par de, perto de, por causa de, em que pese a etc. cos, de modo que as palavras se dividem entre:
• Palavras primitivas: são aquelas que não provêm de outra
Ao conectar os termos das orações, as preposições estabele- palavra. Ex: flor; pedra
cem uma relação semântica entre eles, podendo passar ideia de: • Palavras derivadas: são originadas a partir de outras pala-
• Causa: Morreu de câncer. vras. Ex: floricultura; pedrada
• Distância: Retorno a 3 quilômetros. • Palavra simples: são aquelas que possuem apenas um radi-
• Finalidade: A filha retornou para o enterro. cal (morfema que contém significado básico da palavra). Ex: cabelo;
• Instrumento: Ele cortou a foto com uma tesoura. azeite
• Modo: Os rebeldes eram colocados em fila. • Palavra composta: são aquelas que possuem dois ou mais
• Lugar: O vírus veio de Portugal. radicais. Ex: guarda-roupa; couve-flor
• Companhia: Ela saiu com a amiga. Entenda como ocorrem os principais processos de formação de
• Posse: O carro de Maria é novo. palavras:
• Meio: Viajou de trem.
Derivação
Combinações e contrações A formação se dá por derivação quando ocorre a partir de uma
Algumas preposições podem aparecer combinadas a outras pa- palavra simples ou de um único radical, juntando-se afixos.
lavras de duas maneiras: sem haver perda fonética (combinação) e • Derivação prefixal: adiciona-se um afixo anteriormente à pa-
havendo perda fonética (contração). lavra ou radical. Ex: antebraço (ante + braço) / infeliz (in + feliz)
• Combinação: ao, aos, aonde • Derivação sufixal: adiciona-se um afixo ao final da palavra ou
• Contração: de, dum, desta, neste, nisso radical. Ex: friorento (frio + ento) / guloso (gula + oso)
• Derivação parassintética: adiciona-se um afixo antes e outro
Conjunção depois da palavra ou radical. Ex: esfriar (es + frio + ar) / desgoverna-
As conjunções se subdividem de acordo com a relação estabe- do (des + governar + ado)
lecida entre as ideias e as orações. Por ter esse papel importante • Derivação regressiva (formação deverbal): reduz-se a pala-
de conexão, é uma classe de palavras que merece destaque, pois vra primitiva. Ex: boteco (botequim) / ataque (verbo “atacar”)
reconhecer o sentido de cada conjunção ajuda na compreensão e • Derivação imprópria (conversão): ocorre mudança na classe
interpretação de textos, além de ser um grande diferencial no mo- gramatical, logo, de sentido, da palavra primitiva. Ex: jantar (verbo
mento de redigir um texto. para substantivo) / Oliveira (substantivo comum para substantivo
Elas se dividem em duas opções: conjunções coordenativas e próprio – sobrenomes).
conjunções subordinativas.
Composição
Conjunções coordenativas A formação por composição ocorre quando uma nova palavra
As orações coordenadas não apresentam dependência sintáti- se origina da junção de duas ou mais palavras simples ou radicais.
ca entre si, servindo também para ligar termos que têm a mesma • Aglutinação: fusão de duas ou mais palavras simples, de
função gramatical. As conjunções coordenativas se subdividem em modo que ocorre supressão de fonemas, de modo que os elemen-
cinco grupos: tos formadores perdem sua identidade ortográfica e fonológica. Ex:
• Aditivas: e, nem, bem como. aguardente (água + ardente) / planalto (plano + alto)
• Adversativas: mas, porém, contudo. • Justaposição: fusão de duas ou mais palavras simples, man-
• Alternativas: ou, ora…ora, quer…quer. tendo a ortografia e a acentuação presente nos elementos forma-
• Conclusivas: logo, portanto, assim. dores. Em sua maioria, aparecem conectadas com hífen. Ex: beija-
• Explicativas: que, porque, porquanto. -flor / passatempo.

Conjunções subordinativas Abreviação


As orações subordinadas são aquelas em que há uma relação Quando a palavra é reduzida para apenas uma parte de sua
de dependência entre a oração principal e a oração subordinada. totalidade, passando a existir como uma palavra autônoma. Ex: foto
Desse modo, a conexão entre elas (bem como o efeito de sentido) (fotografia) / PUC (Pontifícia Universidade Católica).
se dá pelo uso da conjunção subordinada adequada.
Elas podem se classificar de dez maneiras diferentes: Hibridismo
• Integrantes: usadas para introduzir as orações subordinadas Quando há junção de palavras simples ou radicais advindos de
substantivas, definidas pelas palavras que e se. línguas distintas. Ex: sociologia (socio – latim + logia – grego) / binó-
• Causais: porque, que, como. culo (bi – grego + oculus – latim).
• Concessivas: embora, ainda que, se bem que.
• Condicionais: e, caso, desde que. Combinação
• Conformativas: conforme, segundo, consoante. Quando ocorre junção de partes de outras palavras simples ou
• Comparativas: como, tal como, assim como. radicais. Ex: portunhol (português + espanhol) / aborrecente (abor-
• Consecutivas: de forma que, de modo que, de sorte que. recer + adolescente).
• Finais: a fim de que, para que.

26
LÍNGUA PORTUGUESA
Intensificação
Quando há a criação de uma nova palavra a partir do alargamento do sufixo de uma palavra existente. Normalmente é feita adicionan-
do o sufixo -izar. Ex: inicializar (em vez de iniciar) / protocolizar (em vez de protocolar).

Neologismo
Quando novas palavras surgem devido à necessidade do falante em contextos específicos, podendo ser temporárias ou permanentes.
Existem três tipos principais de neologismos:
• Neologismo semântico: atribui-se novo significado a uma palavra já existente. Ex: amarelar (desistir) / mico (vergonha)
• Neologismo sintático: ocorre a combinação de elementos já existentes no léxico da língua. Ex: dar um bolo (não comparecer ao
compromisso) / dar a volta por cima (superar).
• Neologismo lexical: criação de uma nova palavra, que tem um novo conceito. Ex: deletar (apagar) / escanear (digitalizar)

Onomatopeia
Quando uma palavra é formada a partir da reprodução aproximada do seu som. Ex: atchim; zum-zum; tique-taque.

CONCORDÂNCIA NOMINAL E VERBAL

Concordância é o efeito gramatical causado por uma relação harmônica entre dois ou mais termos. Desse modo, ela pode ser verbal
— refere-se ao verbo em relação ao sujeito — ou nominal — refere-se ao substantivo e suas formas relacionadas.
• Concordância em gênero: flexão em masculino e feminino
• Concordância em número: flexão em singular e plural
• Concordância em pessoa: 1ª, 2ª e 3ª pessoa

Concordância nominal
Para que a concordância nominal esteja adequada, adjetivos, artigos, pronomes e numerais devem flexionar em número e gênero,
de acordo com o substantivo. Há algumas regras principais que ajudam na hora de empregar a concordância, mas é preciso estar atento,
também, aos casos específicos.
Quando há dois ou mais adjetivos para apenas um substantivo, o substantivo permanece no singular se houver um artigo entre os
adjetivos. Caso contrário, o substantivo deve estar no plural:
• A comida mexicana e a japonesa. / As comidas mexicana e japonesa.

Quando há dois ou mais substantivos para apenas um adjetivo, a concordância depende da posição de cada um deles. Se o adjetivo
vem antes dos substantivos, o adjetivo deve concordar com o substantivo mais próximo:
• Linda casa e bairro.

Se o adjetivo vem depois dos substantivos, ele pode concordar tanto com o substantivo mais próximo, ou com todos os substantivos
(sendo usado no plural):
• Casa e apartamento arrumado. / Apartamento e casa arrumada.
• Casa e apartamento arrumados. / Apartamento e casa arrumados.

Quando há a modificação de dois ou mais nomes próprios ou de parentesco, os adjetivos devem ser flexionados no plural:
• As talentosas Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles estão entre os melhores escritores brasileiros.

Quando o adjetivo assume função de predicativo de um sujeito ou objeto, ele deve ser flexionado no plural caso o sujeito ou objeto
seja ocupado por dois substantivos ou mais:
• O operário e sua família estavam preocupados com as consequências do acidente.

CASOS ESPECÍFICOS REGRA EXEMPLO


É PROIBIDO Deve concordar com o substantivo quando há
É proibida a entrada.
É PERMITIDO presença de um artigo. Se não houver essa determinação,
É proibido entrada.
É NECESSÁRIO deve permanecer no singular e no masculino.
Mulheres dizem “obrigada” Homens
OBRIGADO / OBRIGADA Deve concordar com a pessoa que fala.
dizem “obrigado”.
As bastantes crianças ficaram doentes
Quando tem função de adjetivo para um com a volta às aulas.
substantivo, concorda em número com o substantivo. Bastante criança ficou doente com a
BASTANTE
Quando tem função de advérbio, permanece volta às aulas.
invariável. O prefeito considerou bastante a respeito
da suspensão das aulas.
É sempre invariável, ou seja, a palavra “menas” não Havia menos mulheres que homens na
MENOS
existe na língua portuguesa. fila para a festa.

27
LÍNGUA PORTUGUESA

As crianças mesmas limparam a sala


MESMO Devem concordar em gênero e número com a depois da aula.
PRÓPRIO pessoa a que fazem referência. Eles próprios sugeriram o tema da
formatura.
Quando tem função de numeral adjetivo, deve
Adicione meia xícara de leite.
concordar com o substantivo.
MEIO / MEIA Manuela é meio artista, além de ser
Quando tem função de advérbio, modificando um
engenheira.
adjetivo, o termo é invariável.
Segue anexo o orçamento.
Seguem anexas as informações
Devem concordar com o substantivo a que se adicionais
ANEXO INCLUSO
referem. As professoras estão inclusas na greve.
O material está incluso no valor da
mensalidade.

Concordância verbal
Para que a concordância verbal esteja adequada, é preciso haver flexão do verbo em número e pessoa, a depender do sujeito com o
qual ele se relaciona.

Quando o sujeito composto é colocado anterior ao verbo, o verbo ficará no plural:


• A menina e seu irmão viajaram para a praia nas férias escolares.

Mas, se o sujeito composto aparece depois do verbo, o verbo pode tanto ficar no plural quanto concordar com o sujeito mais próximo:
• Discutiram marido e mulher. / Discutiu marido e mulher.

Se o sujeito composto for formado por pessoas gramaticais diferentes, o verbo deve ficar no plural e concordando com a pessoa que
tem prioridade, a nível gramatical — 1ª pessoa (eu, nós) tem prioridade em relação à 2ª (tu, vós); a 2ª tem prioridade em relação à 3ª (ele,
eles):
• Eu e vós vamos à festa.

Quando o sujeito apresenta uma expressão partitiva (sugere “parte de algo”), seguida de substantivo ou pronome no plural, o verbo
pode ficar tanto no singular quanto no plural:
• A maioria dos alunos não se preparou para o simulado. / A maioria dos alunos não se prepararam para o simulado.

Quando o sujeito apresenta uma porcentagem, deve concordar com o valor da expressão. No entanto, quanto seguida de um subs-
tantivo (expressão partitiva), o verbo poderá concordar tanto com o numeral quanto com o substantivo:
• 27% deixaram de ir às urnas ano passado. / 1% dos eleitores votou nulo / 1% dos eleitores votaram nulo.

Quando o sujeito apresenta alguma expressão que indique quantidade aproximada, o verbo concorda com o substantivo que segue
a expressão:
• Cerca de duzentas mil pessoas compareceram à manifestação. / Mais de um aluno ficou abaixo da média na prova.

Quando o sujeito é indeterminado, o verbo deve estar sempre na terceira pessoa do singular:
• Precisa-se de balconistas. / Precisa-se de balconista.

Quando o sujeito é coletivo, o verbo permanece no singular, concordando com o coletivo partitivo:
• A multidão delirou com a entrada triunfal dos artistas. / A matilha cansou depois de tanto puxar o trenó.

Quando não existe sujeito na oração, o verbo fica na terceira pessoa do singular (impessoal):
• Faz chuva hoje

Quando o pronome relativo “que” atua como sujeito, o verbo deverá concordar em número e pessoa com o termo da oração principal
ao qual o pronome faz referência:
• Foi Maria que arrumou a casa.

Quando o sujeito da oração é o pronome relativo “quem”, o verbo pode concordar tanto com o antecedente do pronome quanto com
o próprio nome, na 3ª pessoa do singular:
• Fui eu quem arrumei a casa. / Fui eu quem arrumou a casa.

Quando o pronome indefinido ou interrogativo, atuando como sujeito, estiver no singular, o verbo deve ficar na 3ª pessoa do singular:
• Nenhum de nós merece adoecer.

28
LÍNGUA PORTUGUESA
Quando houver um substantivo que apresenta forma plural, porém com sentido singular, o verbo deve permanecer no singular. Ex-
ceto caso o substantivo vier precedido por determinante:
• Férias é indispensável para qualquer pessoa. / Meus óculos sumiram.

REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL

A regência estuda as relações de concordâncias entre os termos que completam o sentido tanto dos verbos quanto dos nomes. Dessa
maneira, há uma relação entre o termo regente (principal) e o termo regido (complemento).
A regência está relacionada à transitividade do verbo ou do nome, isto é, sua complementação necessária, de modo que essa relação
é sempre intermediada com o uso adequado de alguma preposição.

Regência nominal
Na regência nominal, o termo regente é o nome, podendo ser um substantivo, um adjetivo ou um advérbio, e o termo regido é o
complemento nominal, que pode ser um substantivo, um pronome ou um numeral.
Vale lembrar que alguns nomes permitem mais de uma preposição. Veja no quadro abaixo as principais preposições e as palavras que
pedem seu complemento:

PREPOSIÇÃO NOMES
acessível; acostumado; adaptado; adequado; agradável; alusão; análogo; anterior; atento; benefício; comum;
A contrário; desfavorável; devoto; equivalente; fiel; grato; horror; idêntico; imune; indiferente; inferior; leal; necessário;
nocivo; obediente; paralelo; posterior; preferência; propenso; próximo; semelhante; sensível; útil; visível...
amante; amigo; capaz; certo; contemporâneo; convicto; cúmplice; descendente; destituído; devoto; diferente;
DE dotado; escasso; fácil; feliz; imbuído; impossível; incapaz; indigno; inimigo; inseparável; isento; junto; longe; medo;
natural; orgulhoso; passível; possível; seguro; suspeito; temeroso...
SOBRE opinião; discurso; discussão; dúvida; insistência; influência; informação; preponderante; proeminência; triunfo...
acostumado; amoroso; analogia; compatível; cuidadoso; descontente; generoso; impaciente; ingrato;
COM
intolerante; mal; misericordioso; ocupado; parecido; relacionado; satisfeito; severo; solícito; triste...
abundante; bacharel; constante; doutor; erudito; firme; hábil; incansável; inconstante; indeciso; morador;
EM
negligente; perito; prático; residente; versado...
atentado; blasfêmia; combate; conspiração; declaração; fúria; impotência; litígio; luta; protesto; reclamação;
CONTRA
representação...
PARA bom; mau; odioso; próprio; útil...

Regência verbal
Na regência verbal, o termo regente é o verbo, e o termo regido poderá ser tanto um objeto direto (não preposicionado) quanto um
objeto indireto (preposicionado), podendo ser caracterizado também por adjuntos adverbiais.
Com isso, temos que os verbos podem se classificar entre transitivos e intransitivos. É importante ressaltar que a transitividade do
verbo vai depender do seu contexto.

Verbos intransitivos: não exigem complemento, de modo que fazem sentido por si só. Em alguns casos, pode estar acompanhado
de um adjunto adverbial (modifica o verbo, indicando tempo, lugar, modo, intensidade etc.), que, por ser um termo acessório, pode ser
retirado da frase sem alterar sua estrutura sintática:
• Viajou para São Paulo. / Choveu forte ontem.

Verbos transitivos diretos: exigem complemento (objeto direto), sem preposição, para que o sentido do verbo esteja completo:
• A aluna entregou o trabalho. / A criança quer bolo.

Verbos transitivos indiretos: exigem complemento (objeto indireto), de modo que uma preposição é necessária para estabelecer o
sentido completo:
• Gostamos da viagem de férias. / O cidadão duvidou da campanha eleitoral.

Verbos transitivos diretos e indiretos: em algumas situações, o verbo precisa ser acompanhado de um objeto direto (sem preposição)
e de um objeto indireto (com preposição):
• Apresentou a dissertação à banca. / O menino ofereceu ajuda à senhora.

29
LÍNGUA PORTUGUESA

ORTOGRAFIA OFICIAL

A ortografia oficial diz respeito às regras gramaticais referentes à escrita correta das palavras. Para melhor entendê-las, é preciso ana-
lisar caso a caso. Lembre-se de que a melhor maneira de memorizar a ortografia correta de uma língua é por meio da leitura, que também
faz aumentar o vocabulário do leitor.
Neste capítulo serão abordadas regras para dúvidas frequentes entre os falantes do português. No entanto, é importante ressaltar que
existem inúmeras exceções para essas regras, portanto, fique atento!

Alfabeto
O primeiro passo para compreender a ortografia oficial é conhecer o alfabeto (os sinais gráficos e seus sons). No português, o alfabeto
se constitui 26 letras, divididas entre vogais (a, e, i, o, u) e consoantes (restante das letras).
Com o Novo Acordo Ortográfico, as consoantes K, W e Y foram reintroduzidas ao alfabeto oficial da língua portuguesa, de modo que
elas são usadas apenas em duas ocorrências: transcrição de nomes próprios e abreviaturas e símbolos de uso internacional.

Uso do “X”
Algumas dicas são relevantes para saber o momento de usar o X no lugar do CH:
• Depois das sílabas iniciais “me” e “en” (ex: mexerica; enxergar)
• Depois de ditongos (ex: caixa)
• Palavras de origem indígena ou africana (ex: abacaxi; orixá)

Uso do “S” ou “Z”


Algumas regras do uso do “S” com som de “Z” podem ser observadas:
• Depois de ditongos (ex: coisa)
• Em palavras derivadas cuja palavra primitiva já se usa o “S” (ex: casa > casinha)
• Nos sufixos “ês” e “esa”, ao indicarem nacionalidade, título ou origem. (ex: portuguesa)
• Nos sufixos formadores de adjetivos “ense”, “oso” e “osa” (ex: populoso)

Uso do “S”, “SS”, “Ç”


• “S” costuma aparecer entre uma vogal e uma consoante (ex: diversão)
• “SS” costuma aparecer entre duas vogais (ex: processo)
• “Ç” costuma aparecer em palavras estrangeiras que passaram pelo processo de aportuguesamento (ex: muçarela)

Os diferentes porquês

POR QUE Usado para fazer perguntas. Pode ser substituído por “por qual motivo”
PORQUE Usado em respostas e explicações. Pode ser substituído por “pois”
O “que” é acentuado quando aparece como a última palavra da frase, antes da pontuação final (interrogação,
POR QUÊ
exclamação, ponto final)
PORQUÊ É um substantivo, portanto costuma vir acompanhado de um artigo, numeral, adjetivo ou pronome

Parônimos e homônimos
As palavras parônimas são aquelas que possuem grafia e pronúncia semelhantes, porém com significados distintos.
Ex: cumprimento (saudação) X comprimento (extensão); tráfego (trânsito) X tráfico (comércio ilegal).
Já as palavras homônimas são aquelas que possuem a mesma grafia e pronúncia, porém têm significados diferentes. Ex: rio (verbo
“rir”) X rio (curso d’água); manga (blusa) X manga (fruta).

ACENTUAÇÃO GRÁFICA

A acentuação é uma das principais questões relacionadas à Ortografia Oficial, que merece um capítulo a parte. Os acentos utilizados
no português são: acento agudo (´); acento grave (`); acento circunflexo (^); cedilha (¸) e til (~).
Depois da reforma do Acordo Ortográfico, a trema foi excluída, de modo que ela só é utilizada na grafia de nomes e suas derivações
(ex: Müller, mülleriano).
Esses são sinais gráficos que servem para modificar o som de alguma letra, sendo importantes para marcar a sonoridade e a intensi-
dade das sílabas, e para diferenciar palavras que possuem a escrita semelhante.
A sílaba mais intensa da palavra é denominada sílaba tônica. A palavra pode ser classificada a partir da localização da sílaba tônica,
como mostrado abaixo:
• OXÍTONA: a última sílaba da palavra é a mais intensa. (Ex: café)
• PAROXÍTONA: a penúltima sílaba da palavra é a mais intensa. (Ex: automóvel)
• PROPAROXÍTONA: a antepenúltima sílaba da palavra é a mais intensa. (Ex: lâmpada)

30
LÍNGUA PORTUGUESA
As demais sílabas, pronunciadas de maneira mais sutil, são denominadas sílabas átonas.

Regras fundamentais

CLASSIFICAÇÃO REGRAS EXEMPLOS


• terminadas em A, E, O, EM, seguidas ou não do
cipó(s), pé(s), armazém
OXÍTONAS plural
respeitá-la, compô-lo, comprometê-los
• seguidas de -LO, -LA, -LOS, -LAS
• terminadas em I, IS, US, UM, UNS, L, N, X, PS, Ã,
ÃS, ÃO, ÃOS
táxi, lápis, vírus, fórum, cadáver, tórax, bíceps,
• ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido
PAROXÍTONAS ímã, órfão, órgãos, água, mágoa, pônei, ideia, geleia,
ou não do plural
paranoico, heroico
(OBS: Os ditongos “EI” e “OI” perderam o
acento com o Novo Acordo Ortográfico)
PROPAROXÍTONAS • todas são acentuadas cólica, analítico, jurídico, hipérbole, último, álibi

Regras especiais

REGRA EXEMPLOS
Acentua-se quando “I” e “U” tônicos formarem hiato com a vogal anterior, acompanhados ou não de saída, faísca, baú, país
“S”, desde que não sejam seguidos por “NH” feiura, Bocaiuva,
OBS: Não serão mais acentuados “I” e “U” tônicos formando hiato quando vierem depois de ditongo Sauipe
têm, obtêm, contêm,
Acentua-se a 3ª pessoa do plural do presente do indicativo dos verbos “TER” e “VIR” e seus compostos
vêm
Não são acentuados hiatos “OO” e “EE” leem, voo, enjoo
Não são acentuadas palavras homógrafas
pelo, pera, para
OBS: A forma verbal “PÔDE” é uma exceção

EXERCÍCIOS

1. (FMPA – MG)
Assinale o item em que a palavra destacada está incorretamente aplicada:
(A) Trouxeram-me um ramalhete de flores fragrantes.
(B) A justiça infligiu pena merecida aos desordeiros.
(C) Promoveram uma festa beneficiente para a creche.
(D) Devemos ser fieis aos cumprimentos do dever.
(E) A cessão de terras compete ao Estado.

2. (UEPB – 2010)
Um debate sobre a diversidade na escola reuniu alguns, dos maiores nomes da educação mundial na atualidade.

Carlos Alberto Torres


1
O tema da diversidade tem a ver com o tema identidade. Portanto, 2quando você discute diversidade, um tema que cabe muito no
3
pensamento pós-modernista, está discutindo o tema da 4diversidade não só em ideias contrapostas, mas também em 5identidades que
se mexem, que se juntam em uma só pessoa. E 6este é um processo de aprendizagem. Uma segunda afirmação é 7que a diversidade está
relacionada com a questão da educação 8e do poder. Se a diversidade fosse a simples descrição 9demográfica da realidade e a realidade
fosse uma boa articulação 10dessa descrição demográfica em termos de constante articulação 11democrática, você não sentiria muito a
presença do tema 12diversidade neste instante. Há o termo diversidade porque há 13uma diversidade que implica o uso e o abuso de poder,
de uma 14perspectiva ética, religiosa, de raça, de classe.
[…]

Rosa Maria Torres


15
O tema da diversidade, como tantos outros, hoje em dia, abre 16muitas versões possíveis de projeto educativo e de projeto 17político
e social. É uma bandeira pela qual temos que reivindicar, 18e pela qual temos reivindicado há muitos anos, a necessidade 19de reconhecer
que há distinções, grupos, valores distintos, e 20que a escola deve adequar-se às necessidades de cada grupo. 21Porém, o tema da diversi-
dade também pode dar lugar a uma 22série de coisas indesejadas.
[…]
Adaptado da Revista Pátio, Diversidade na educação: limites e possibilidades. Ano V, nº 20, fev./abr. 2002, p. 29.

31
LÍNGUA PORTUGUESA
Do enunciado “O tema da diversidade tem a ver com o tema Assinale a alternativa correta quanto ao uso adequado de ho-
identidade.” (ref. 1), pode-se inferir que mônimos e parônimos.
I – “Diversidade e identidade” fazem parte do mesmo campo (A) I e III.
semântico, sendo a palavra “identidade” considerada um hiperôni- (B) II e III.
mo, em relação à “diversidade”. (C) II apenas.
II – há uma relação de intercomplementariedade entre “diversi- (D) Todas incorretas.
dade e identidade”, em função do efeito de sentido que se instaura
no paradigma argumentativo do enunciado. 5. (UFMS – 2009)
III – a expressão “tem a ver” pode ser considerada de uso co- Leia o artigo abaixo, intitulado “Uma questão de tempo”, de
loquial e indica nesse contexto um vínculo temático entre “diversi- Miguel Sanches Neto, extraído da Revista Nova Escola Online, em
dade e identidade”. 30/09/08. Em seguida, responda.
Marque a alternativa abaixo que apresenta a(s) proposi- “Demorei para aprender ortografia. E essa aprendizagem con-
ção(ões) verdadeira(s). tou com a ajuda dos editores de texto, no computador. Quando eu
(A) I, apenas cometia uma infração, pequena ou grande, o programa grifava em
(B) II e III vermelho meu deslize. Fui assim me obrigando a escrever minima-
(C) III, apenas mente do jeito correto.
(D) II, apenas Mas de meu tempo de escola trago uma grande descoberta,
(E) I e II a do monstro ortográfico. O nome dele era Qüeqüi Güegüi. Sim,
esse animal existiu de fato. A professora de Português nos disse que
3. (UNIFOR CE – 2006) devíamos usar trema nas sílabas qüe, qüi, güe e güi quando o u é
Dia desses, por alguns momentos, a cidade parou. As televi- pronunciado. Fiquei com essa expressão tão sonora quanto enig-
sões hipnotizaram os espectadores que assistiram, sem piscar, ao mática na cabeça.
resgate de uma mãe e de uma filha. Seu automóvel caíra em um Quando meditava sobre algum problema terrível – pois na pré-
rio. Assisti ao evento em um local público. Ao acabar o noticiário, o -adolescência sempre temos problemas terríveis –, eu tentava me
silêncio em volta do aparelho se desfez e as pessoas retomaram as libertar da coisa repetindo em voz alta: “Qüeqüi Güegüi”. Se numa
suas ocupações habituais. Os celulares recomeçaram a tocar. Per- prova de Matemática eu não conseguia me lembrar de uma fórmu-
guntei-me: indiferença? Se tomarmos a definição ao pé da letra, la, lá vinham as palavras mágicas.
indiferença é sinônimo de desdém, de insensibilidade, de apatia e Um desses problemas terríveis, uma namorada, ouvindo minha
de negligência. Mas podemos considerá-la também uma forma de evocação, quis saber o que era esse tal de Qüeqüi Güegüi.
ceticismo e desinteresse, um “estado físico que não apresenta nada – Você nunca ouviu falar nele? – perguntei.
de particular”; enfim, explica o Aurélio, uma atitude de neutralida- – Ainda não fomos apresentados – ela disse.
de. – É o abominável monstro ortográfico – fiz uma falsa voz de
Conclusão? Impassíveis diante da emoção, imperturbáveis terror.
diante da paixão, imunes à angústia, vamos hoje burilando nossa – E ele faz o quê?
indiferença. Não nos indignamos mais! À distância de tudo, segui- – Atrapalha a gente na hora de escrever.
mos surdos ao barulho do mundo lá fora. Dos movimentos de mas- Ela riu e se desinteressou do assunto. Provavelmente não sabia
sa “quentes” (lembram-se do “Diretas Já”?) onde nos fundíamos na usar trema nem se lembrava da regrinha.
igualdade, passamos aos gestos frios, nos quais indiferença e dis- Aos poucos, eu me habituei a colocar as letras e os sinais no
tância são fenômenos inseparáveis. Neles, apesar de iguais, somos lugar certo. Como essa aprendizagem foi demorada, não sei se con-
estrangeiros ao destino de nossos semelhantes. […] seguirei escrever de outra forma – agora que teremos novas regras.
(Mary Del Priore. Histórias do cotidiano. São Paulo: Contexto, Por isso, peço desde já que perdoem meus futuros erros, que servi-
2001. p.68) rão ao menos para determinar minha idade.
– Esse aí é do tempo do trema.”
Dentre todos os sinônimos apresentados no texto para o vo-
cábulo indiferença, o que melhor se aplica a ele, considerando-se Assinale a alternativa correta.
o contexto, é (A) As expressões “monstro ortográfico” e “abominável mons-
(A) ceticismo. tro ortográfico” mantêm uma relação hiperonímica entre si.
(B) desdém. (B) Em “– Atrapalha a gente na hora de escrever”, conforme a
(C) apatia. norma culta do português, a palavra “gente” pode ser substitu-
(D) desinteresse. ída por “nós”.
(E) negligência. (C) A frase “Fui-me obrigando a escrever minimamente do jeito
correto”, o emprego do pronome oblíquo átono está correto de
4. (CASAN – 2015) Observe as sentenças. acordo com a norma culta da língua portuguesa.
I. Com medo do escuro, a criança ascendeu a luz. (D) De acordo com as explicações do autor, as palavras pregüiça
II. É melhor deixares a vida fluir num ritmo tranquilo. e tranqüilo não serão mais grafadas com o trema.
III. O tráfico nas grandes cidades torna-se cada dia mais difícil (E) A palavra “evocação” (3° parágrafo) pode ser substituída no
para os carros e os pedestres. texto por “recordação”, mas haverá alteração de sentido.

32
LÍNGUA PORTUGUESA
6. (FMU) Leia as expressões destacadas na seguinte passagem: (E) introduzir uma conclusão após os argumentos apresenta-
“E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa do tempero dos.
na salada – o meu jeito de querer bem.”
Tais expressões exercem, respectivamente, a função sintática 12. (IBFC – 2013) Leia as sentenças:
de:
(A) objeto indireto e aposto É preciso que ela se encante por mim!
(B) objeto indireto e predicativo do sujeito Chegou à conclusão de que saiu no prejuízo.
(C) complemento nominal e adjunto adverbial de modo
(D) complemento nominal e aposto Assinale abaixo a alternativa que classifica, correta e respecti-
(E) adjunto adnominal e adjunto adverbial de modo vamente, as orações subordinadas substantivas (O.S.S.) destacadas:
(A) O.S.S. objetiva direta e O.S.S. objetiva indireta.
7. (PUC-SP) Dê a função sintática do termo destacado em: “De- (B) O.S.S. subjetiva e O.S.S. completiva nominal
pressa esqueci o Quincas Borba”. (C) O.S.S. subjetiva e O.S.S. objetiva indireta.
(A) objeto direto (D) O.S.S. objetiva direta e O.S.S. completiva nominal.
(B) sujeito
(C) agente da passiva 13. (ADVISE-2013) Todos os enunciados abaixo correspondem
(D) adjunto adverbial a orações subordinadas substantivas, exceto:
(E) aposto (A) Espero sinceramente isto: que vocês não faltem mais.
(B) Desejo que ela volte.
8. (MACK-SP) Aponte a alternativa que expressa a função sintá- (C) Gostaria de que todos me apoiassem.
tica do termo destacado: “Parece enfermo, seu irmão”. (D) Tenho medo de que esses assessores me traiam.
(A) Sujeito (E) Os jogadores que foram convocados apresentaram-se on-
(B) Objeto direto tem.
(C) Predicativo do sujeito
(D) Adjunto adverbial 14. (PUC-SP) “Pode-se dizer que a tarefa é puramente formal.”
(E) Adjunto adnominal No texto acima temos uma oração destacada que é ________e
um “se” que é . ________.
9. (OSEC-SP) “Ninguém parecia disposto ao trabalho naquela (A) substantiva objetiva direta, partícula apassivadora
manhã de segunda-feira”. (B) substantiva predicativa, índice de indeterminação do sujeito
(A) Predicativo (C) relativa, pronome reflexivo
(B) Complemento nominal (D) substantiva subjetiva, partícula apassivadora
(C) Objeto indireto (E) adverbial consecutiva, índice de indeterminação do sujeito
(D) Adjunto adverbial
(E) Adjunto adnominal 15. (UEMG) “De repente chegou o dia dos meus setenta anos.
Fiquei entre surpresa e divertida, setenta, eu? Mas tudo parece
10. (MACK-SP) “Não se fazem motocicletas como antigamen- ter sido ontem! No século em que a maioria quer ter vinte anos
te”. O termo destacado funciona como: (trinta a gente ainda aguenta), eu estava fazendo setenta. Pior: du-
vidando disso, pois ainda escutava em mim as risadas da menina
(A) Objeto indireto
que queria correr nas lajes do pátio quando chovia, que pescava
(B) Objeto direto
lambaris com o pai no laguinho, que chorava em filme do Gordo e
(C) Adjunto adnominal
Magro, quando a mãe a levava à matinê. (Eu chorava alto com pena
(D) Vocativo
dos dois, a mãe ficava furiosa.)
(E) Sujeito
A menina que levava castigo na escola porque ria fora de hora,
porque se distraía olhando o céu e nuvens pela janela em lugar de
11. (UFRJ) Esparadrapo
prestar atenção, porque devagarinho empurrava o estojo de lápis
Há palavras que parecem exatamente o que querem dizer. “Es-
até a beira da mesa, e deixava cair com estrondo sabendo que os
paradrapo”, por exemplo. Quem quebrou a cara fica mesmo com meninos, mais que as meninas, se botariam de quatro catando lá-
cara de esparadrapo. No entanto, há outras, aliás de nobre sentido, pis, canetas, borracha – as tediosas regras de ordem e quietude se-
que parecem estar insinuando outra coisa. Por exemplo, “incuná- riam rompidas mais uma vez.
bulo*”. Fazendo a toda hora perguntas loucas, ela aborrecia os profes-
QUINTANA, Mário. Da preguiça como método de trabalho. Rio sores e divertia a turma: apenas porque não queria ser diferente,
de Janeiro, Globo. 1987. p. 83. queria ser amada, queria ser natural, não queria que soubessem
*Incunábulo: [do lat. Incunabulu; berço]. Adj. 1- Diz-se do livro que ela, doze anos, além de histórias em quadrinhos e novelinhas
impresso até o ano de 1500./ S.m. 2 – Começo, origem. açucaradas, lia teatro grego – sem entender – e achava emocionan-
te.
A locução “No entanto” tem importante papel na estrutura do (E até do futuro namorado, aos quinze anos, esconderia isso.)
texto. Sua função resume-se em: O meu aniversário: primeiro pensei numa grande celebração,
(A) ligar duas orações que querem dizer exatamente a mesma eu que sou avessa a badalações e gosto de grupos bem pequenos.
coisa. Mas pensei, setenta vale a pena! Afinal já é bastante tempo! Logo
(B) separar acontecimentos que se sucedem cronologicamen- me dei conta de que hoje setenta é quase banal, muita gente com
te. oitenta ainda está ativo e presente.
(C) ligar duas observações contrárias acerca do mesmo assun- Decidi apenas reunir filhos e amigos mais chegados (tarefa difí-
to. cil, escolher), e deixar aquela festona para outra década.”
(D) apresentar uma alternativa para a primeira ideia expressa. LUFT, 2014, p.104-105

33
LÍNGUA PORTUGUESA
Leia atentamente a oração destacada no período a seguir: 20. (IBGE) Indique a opção correta, no que se refere à concor-
“(...) pois ainda escutava em mim as risadas da menina que dância verbal, de acordo com a norma culta:
queria correr nas lajes do pátio (...)” (A) Haviam muitos candidatos esperando a hora da prova.
(B) Choveu pedaços de granizo na serra gaúcha.
Assinale a alternativa em que a oração em negrito e sublinhada (C) Faz muitos anos que a equipe do IBGE não vem aqui.
apresenta a mesma classificação sintática da destacada acima. (D) Bateu três horas quando o entrevistador chegou.
(A) “A menina que levava castigo na escola porque ria fora de (E) Fui eu que abriu a porta para o agente do censo.
hora (...)”
(B) “(...) e deixava cair com estrondo sabendo que os meninos, 21. (FUVEST – 2001) A única frase que NÃO apresenta desvio
mais que as meninas, se botariam de quatro catando lápis, ca- em relação à regência (nominal e verbal) recomendada pela norma
netas, borracha (...)” culta é:
(C) “(...) não queria que soubessem que ela (...)” (A) O governador insistia em afirmar que o assunto principal
(D) “Logo me dei conta de que hoje setenta é quase banal (...)” seria “as grandes questões nacionais”, com o que discordavam
líderes pefelistas.
16. (FUNRIO – 2012) “Todos querem que nós (B) Enquanto Cuba monopolizava as atenções de um clube, do
____________________.” qual nem sequer pediu para integrar, a situação dos outros pa-
íses passou despercebida.
Apenas uma das alternativas completa coerente e adequada- (C) Em busca da realização pessoal, profissionais escolhem a
mente a frase acima. Assinale-a. dedo aonde trabalhar, priorizando à empresas com atuação
(A) desfilando pelas passarelas internacionais. social.
(B) desista da ação contra aquele salafrário. (D) Uma família de sem-teto descobriu um sofá deixado por um
(C) estejamos prontos em breve para o trabalho. morador não muito consciente com a limpeza da cidade.
(D) recuperássemos a vaga de motorista da firma. (E) O roteiro do filme oferece uma versão de como consegui-
(E) tentamos aquele emprego novamente. mos um dia preferir a estrada à casa, a paixão e o sonho à regra,
a aventura à repetição.
17. (ITA - 1997) Assinale a opção que completa corretamente as
lacunas do texto a seguir: 22. (FUVEST) Assinale a alternativa que preenche corretamente
“Todas as amigas estavam _______________ ansiosas as lacunas correspondentes.
_______________ ler os jornais, pois foram informadas de que as A arma ___ se feriu desapareceu.
críticas foram ______________ indulgentes ______________ ra- Estas são as pessoas ___ lhe falei.
paz, o qual, embora tivesse mais aptidão _______________ ciên- Aqui está a foto ___ me referi.
cias exatas, demonstrava uma certa propensão _______________ Encontrei um amigo de infância ___ nome não me lembrava.
arte.” Passamos por uma fazenda ___ se criam búfalos.
(A) meio - para - bastante - para com o - para - para a
(B) muito - em - bastante - com o - nas - em (A) que, de que, à que, cujo, que.
(C) bastante - por - meias - ao - a - à (B) com que, que, a que, cujo qual, onde.
(D) meias - para - muito - pelo - em - por (C) com que, das quais, a que, de cujo, onde.
(E) bem - por - meio - para o - pelas – na (D) com a qual, de que, que, do qual, onde.
(E) que, cujas, as quais, do cujo, na cuja.
18. (Mackenzie) Há uma concordância inaceitável de acordo
com a gramática: 23. (FESP) Observe a regência verbal e assinale a opção falsa:
I - Os brasileiros somos todos eternos sonhadores. (A) Avisaram-no que chegaríamos logo.
II - Muito obrigadas! – disseram as moças. (B) Informei-lhe a nota obtida.
III - Sr. Deputado, V. Exa. Está enganada. (C) Os motoristas irresponsáveis, em geral, não obedecem aos
IV - A pobre senhora ficou meio confusa. sinais de trânsito.
V - São muito estudiosos os alunos e as alunas deste curso. (D) Há bastante tempo que assistimos em São Paulo.
(E) Muita gordura não implica saúde.
(A) em I e II
(B) apenas em IV 24. (IBGE) Assinale a opção em que todos os adjetivos devem
(C) apenas em III ser seguidos pela mesma preposição:
(D) em II, III e IV (A) ávido / bom / inconsequente
(E) apenas em II (B) indigno / odioso / perito
(C) leal / limpo / oneroso
19. (CESCEM–SP) Já ___ anos, ___ neste local árvores e flores. (D) orgulhoso / rico / sedento
Hoje, só ___ ervas daninhas. (E) oposto / pálido / sábio
(A) fazem, havia, existe
(B) fazem, havia, existe 25. (TRE-MG) Observe a regência dos verbos das frases reescri-
(C) fazem, haviam, existem tas nos itens a seguir:
(D) faz, havia, existem I - Chamaremos os inimigos de hipócritas. Chamaremos aos ini-
(E) faz, havia, existe migos de hipócritas;
II - Informei-lhe o meu desprezo por tudo. Informei-lhe do meu
desprezo por tudo;
III - O funcionário esqueceu o importante acontecimento. O
funcionário esqueceu-se do importante acontecimento.

34
LÍNGUA PORTUGUESA
A frase reescrita está com a regência correta em: 31. (VUNESP/2017 – TJ-SP) Assinale a alternativa em que todas
(A) I apenas as palavras estão corretamente grafadas, considerando-se as regras
(B) II apenas de acentuação da língua padrão.
(C) III apenas (A) Remígio era homem de carater, o que surpreendeu D. Firmi-
(D) I e III apenas na, que aceitou o matrimônio de sua filha.
(E) I, II e III (B) O consôlo de Fadinha foi ver que Remígio queria desposa-la
apesar de sua beleza ter ido embora depois da doença.
26. (INSTITUTO AOCP/2017 – EBSERH) Assinale a alternativa (C) Com a saúde de Fadinha comprometida, Remígio não con-
em que todas as palavras estão adequadamente grafadas. seguia se recompôr e viver tranquilo.
(A) Silhueta, entretenimento, autoestima. (D) Com o triúnfo do bem sobre o mal, Fadinha se recuperou,
(B) Rítimo, silueta, cérebro, entretenimento. Remígio resolveu pedí-la em casamento.
(C) Altoestima, entreterimento, memorização, silhueta. (E) Fadinha não tinha mágoa por não ser mais tão bela; agora,
(D) Célebro, ansiedade, auto-estima, ritmo. interessava-lhe viver no paraíso com Remígio.
(E) Memorização, anciedade, cérebro, ritmo.
32. (PUC-RJ) Aponte a opção em que as duas palavras são acen-
27. (ALTERNATIVE CONCURSOS/2016 – CÂMARA DE BANDEI- tuadas devido à mesma regra:
RANTES-SC) Algumas palavras são usadas no nosso cotidiano de (A) saí – dói
forma incorreta, ou seja, estão em desacordo com a norma culta (B) relógio – própria
padrão. Todas as alternativas abaixo apresentam palavras escritas (C) só – sóis
erroneamente, exceto em: (D) dá – custará
(A) Na bandeija estavam as xícaras antigas da vovó. (E) até – pé
(B) É um privilégio estar aqui hoje.
(C) Fiz a sombrancelha no salão novo da cidade. 33. (UEPG ADAPTADA) Sobre a acentuação gráfica das palavras
(D) A criança estava com desinteria. agradável, automóvel e possível, assinale o que for correto.
(E) O bebedoro da escola estava estragado. (A) Em razão de a letra L no final das palavras transferir a toni-
cidade para a última sílaba, é necessário que se marque grafi-
28. (SEDUC/SP – 2018) Preencha as lacunas das frases abaixo camente a sílaba tônica das paroxítonas terminadas em L, se
com “por que”, “porque”, “por quê” ou “porquê”. Depois, assinale a isso não fosse feito, poderiam ser lidas como palavras oxítonas.
alternativa que apresenta a ordem correta, de cima para baixo, de (B) São acentuadas porque são proparoxítonas terminadas em
classificação. L.
“____________ o céu é azul?” (C) São acentuadas porque são oxítonas terminadas em L.
“Meus pais chegaram atrasados, ____________ pegaram trân- (D) São acentuadas porque terminam em ditongo fonético –
sito pelo caminho.” eu.
“Gostaria muito de saber o ____________ de você ter faltado (E) São acentuadas porque são paroxítonas terminadas em L.
ao nosso encontro.”
“A Alemanha é considerada uma das grandes potências mun- 34. (IFAL – 2016 ADAPTADA) Quanto à acentuação das palavras,
diais. ____________?” assinale a afirmação verdadeira.
(A) Porque – porquê – por que – Por quê (A) A palavra “tendem” deveria ser acentuada graficamente,
(B) Porque – porquê – por que – Por quê como “também” e “porém”.
(C) Por que – porque – porquê – Por quê (B) As palavras “saíra”, “destruída” e “aí” acentuam-se pela
(D) Porquê – porque – por quê – Por que mesma razão.
(E) Por que – porque – por quê – Porquê (C) O nome “Luiz” deveria ser acentuado graficamente, pela
mesma razão que a palavra “país”.
29. (CEITEC – 2012) Os vocábulos Emergir e Imergir são parô- (D) Os vocábulos “é”, “já” e “só” recebem acento por constituí-
nimos: empregar um pelo outro acarreta grave confusão no que rem monossílabos tônicos fechados.
se quer expressar. Nas alternativas abaixo, só uma apresenta uma (E) Acentuam-se “simpática”, “centímetros”, “simbólica” por-
frase em que se respeita o devido sentido dos vocábulos, selecio- que todas as paroxítonas são acentuadas.
nando convenientemente o parônimo adequado à frase elaborada.
Assinale-a. 35. (MACKENZIE) Indique a alternativa em que nenhuma pala-
(A) A descoberta do plano de conquista era eminente. vra é acentuada graficamente:
(B) O infrator foi preso em flagrante. (A) lapis, canoa, abacaxi, jovens
(C) O candidato recebeu despensa das duas últimas provas. (B) ruim, sozinho, aquele, traiu
(D) O metal delatou ao ser submetido à alta temperatura. (C) saudade, onix, grau, orquídea
(E) Os culpados espiam suas culpas na prisão. (D) voo, legua, assim, tênis
(E) flores, açucar, album, virus
30. (FMU) Assinale a alternativa em que todas as palavras estão
grafadas corretamente.
(A) paralisar, pesquisar, ironizar, deslizar
(B) alteza, empreza, francesa, miudeza
(C) cuscus, chimpazé, encharcar, encher
(D) incenso, abcesso, obsessão, luxação
(E) chineza, marquês, garrucha, meretriz

35
LÍNGUA PORTUGUESA
36. (IFAL - 2011)

Parágrafo do Editorial “Nossas crianças, hoje”.

“Oportunamente serão divulgados os resultados de tão importante encontro, mas enquanto nordestinos e alagoanos sentimos na pele
e na alma a dor dos mais altos índices de sofrimento da infância mais pobre. Nosso Estado e nossa região padece de índices vergonhosos
no tocante à mortalidade infantil, à educação básica e tantos outros indicadores terríveis.” (Gazeta de Alagoas, seção Opinião, 12.10.2010)
O primeiro período desse parágrafo está corretamente pontuado na alternativa:
(A) “Oportunamente, serão divulgados os resultados de tão importante encontro, mas enquanto nordestinos e alagoanos, sentimos
na pele e na alma a dor dos mais altos índices de sofrimento da infância mais pobre.”
(B) “Oportunamente serão divulgados os resultados de tão importante encontro, mas enquanto nordestinos e alagoanos sentimos, na
pele e na alma, a dor dos mais altos índices de sofrimento da infância mais pobre.”
(C) “Oportunamente, serão divulgados os resultados de tão importante encontro, mas enquanto nordestinos e alagoanos, sentimos
na pele e na alma, a dor dos mais altos índices de sofrimento da infância mais pobre.”
(D) “Oportunamente serão divulgados os resultados de tão importante encontro, mas, enquanto nordestinos e alagoanos sentimos,
na pele e na alma a dor dos mais altos índices de sofrimento, da infância mais pobre.”
(E) “Oportunamente, serão divulgados os resultados de tão importante encontro, mas, enquanto nordestinos e alagoanos, sentimos,
na pele e na alma, a dor dos mais altos índices de sofrimento da infância mais pobre.”

37. (F.E. BAURU) Assinale a alternativa em que há erro de pontuação:


(A) Era do conhecimento de todos a hora da prova, mas, alguns se atrasaram.
(B) A hora da prova era do conhecimento de todos; alguns se atrasaram, porém.
(C) Todos conhecem a hora da prova; não se atrasem, pois.
(D) Todos conhecem a hora da prova, portanto não se atrasem.
(E) N.D.A

38. (VUNESP – 2020) Assinale a alternativa correta quanto à pontuação.


(A) Colaboradores da Universidade Federal do Paraná afirmaram: “Os cristais de urato podem provocar graves danos nas articulações.”.
(B) A prescrição de remédios e a adesão, ao tratamento, por parte dos pacientes são baixas.
(C) É uma inflamação, que desencadeia a crise de gota; diagnosticada a partir do reconhecimento de intensa dor, no local.
(D) A ausência de dor não pode ser motivo para a interrupção do tratamento conforme o editorial diz: – (é preciso que o doente confie
em seu médico).
(E) A qualidade de vida, do paciente, diminui pois a dor no local da inflamação é bastante intensa!

39. (ENEM – 2018)

Física com a boca


Por que nossa voz fica tremida ao falar na frente do ventilador?
Além de ventinho, o ventilador gera ondas sonoras. Quando você não tem mais o que fazer e fica falando na frente dele, as ondas da
voz se propagam na direção contrária às do ventilador. Davi Akkerman – presidente da Associação Brasileira para a Qualidade Acústica – diz
que isso causa o mismatch, nome bacana para o desencontro entre as ondas. “O vento também contribui para a distorção da voz, pelo fato
de ser uma vibração que influencia no som”, diz. Assim, o ruído do ventilador e a influência do vento na propagação das ondas contribuem
para distorcer sua bela voz.
Disponível em: http://super.abril.com.br. Acesso em: 30 jul. 2012 (adaptado).

Sinais de pontuação são símbolos gráficos usados para organizar a escrita e ajudar na compreensão da mensagem. No texto, o sentido
não é alterado em caso de substituição dos travessões por
(A) aspas, para colocar em destaque a informação seguinte
(B) vírgulas, para acrescentar uma caracterização de Davi Akkerman.
(C) reticências, para deixar subetendida a formação do especialista.
(D) dois-pontos, para acrescentar uma informação introduzida anteriormente.
(E) ponto e vírgula, para enumerar informações fundamentais para o desenvolvimento temático.

36
LÍNGUA PORTUGUESA
40. (FCC – 2020)

A supressão da vírgula altera o sentido da seguinte frase:


(A) O segundo é o “capitalismo de Estado”, que confia ao governo a tarefa de estabelecer a direção da economia.
(B) milhões prosperaram, à medida que empresas abriam mercados.
(C) Por fim, executivos e investidores começaram a reconhecer que seu sucesso em longo prazo está intimamente ligado ao de seus
clientes.
(D) De início, um novo indicador de “criação de valor compartilhado” deveria incluir metas ecológicas.
(E) Na verdade, esse deveria ser seu propósito definitivo.

41. (CESGRANRIO - RJ) As palavras esquartejar, desculpa e irreconhecível foram formadas, respectivamente, pelos processos de:
(A) sufixação - prefixação – parassíntese
(B) sufixação - derivação regressiva – prefixação
(C) composição por aglutinação - prefixação – sufixação
(D) parassíntese - derivação regressiva – prefixação
(E) parassíntese - derivação imprópria - parassíntese

42. (UFSC) Aponte a alternativa cujas palavras são respectivamente formadas por justaposição, aglutinação e parassíntese:
(A) varapau - girassol - enfaixar
(B) pontapé - anoitecer - ajoelhar
(C) maldizer - petróleo - embora
(D) vaivém - pontiagudo - enfurece
(E) penugem - plenilúnio - despedaça

37
LÍNGUA PORTUGUESA
43. (CESGRANRIO) Assinale a opção em que nem todas as pala- 47. (UFMG-ADAPTADA) As expressões em negrito correspon-
vras são de um mesmo radical: dem a um adjetivo, exceto em:
(A) noite, anoitecer, noitada (A) João Fanhoso anda amanhecendo sem entusiasmo.
(B) luz, luzeiro, alumiar (B) Demorava-se de propósito naquele complicado banho.
(C) incrível, crente, crer (C) Os bichos da terra fugiam em desabalada carreira.
(D) festa, festeiro, festejar (D) Noite fechada sobre aqueles ermos perdidos da caatinga
(E) riqueza, ricaço, enriquecer sem fim.
(E) E ainda me vem com essa conversa de homem da roça.
44. (FUVEST-SP) Foram formadas pelo mesmo processo as se-
guintes palavras: 48. (UMESP) Na frase “As negociações estariam meio abertas
(A) vendavais, naufrágios, polêmicas só depois de meio período de trabalho”, as palavras destacadas são,
(B) descompõem, desempregados, desejava respectivamente:
(C) estendendo, escritório, espírito (A) adjetivo, adjetivo
(D) quietação, sabonete, nadador (B) advérbio, advérbio
(E) religião, irmão, solidão (C) advérbio, adjetivo
(D) numeral, adjetivo
45. (FUVEST) Assinale a alternativa em que uma das palavras (E) numeral, advérbio
não é formada por prefixação:
(A) readquirir, predestinado, propor 49. (ITA-SP)
(B) irregular, amoral, demover Beber é mal, mas é muito bom.
(C) remeter, conter, antegozar (FERNANDES, Millôr. Mais! Folha de S. Paulo, 5 ago. 2001, p.
(D) irrestrito, antípoda, prever 28.)
(E) dever, deter, antever
A palavra “mal”, no caso específico da frase de Millôr, é:
46. (UNIFESP - 2015) Leia o seguinte texto: (A) adjetivo
Você conseguiria ficar 99 dias sem o Facebook? (B) substantivo
Uma organização não governamental holandesa está propondo (C) pronome
um desafio que muitos poderão considerar impossível: ficar 99 dias (D) advérbio
sem dar nem uma “olhadinha” no Facebook. O objetivo é medir o (E) preposição
grau de felicidade dos usuários longe da rede social.
O projeto também é uma resposta aos experimentos psicológi- 50. (PUC-SP) “É uma espécie... nova... completamente nova!
cos realizados pelo próprio Facebook. A diferença neste caso é que (Mas já) tem nome... Batizei-(a) logo... Vou-(lhe) mostrar...”. Sob o
o teste é completamente voluntário. Ironicamente, para poder par- ponto de vista morfológico, as palavras destacadas correspondem
ticipar, o usuário deve trocar a foto do perfil no Facebook e postar pela ordem, a:
um contador na rede social. (A) conjunção, preposição, artigo, pronome
Os pesquisadores irão avaliar o grau de satisfação e felicidade (B) advérbio, advérbio, pronome, pronome
dos participantes no 33º dia, no 66º e no último dia da abstinência. (C) conjunção, interjeição, artigo, advérbio
Os responsáveis apontam que os usuários do Facebook gastam (D) advérbio, advérbio, substantivo, pronome
em média 17 minutos por dia na rede social. Em 99 dias sem acesso, (E) conjunção, advérbio, pronome, pronome
a soma média seria equivalente a mais de 28 horas, 2que poderiam
ser utilizadas em “atividades emocionalmente mais realizadoras”.
(http://codigofonte.uol.com.br. Adaptado.) GABARITO
Após ler o texto acima, examine as passagens do primeiro pa-
rágrafo: “Uma organização não governamental holandesa está pro-
1 C
pondo um desafio” “O objetivo é medir o grau de felicidade dos
usuários longe da rede social.” 2 B
A utilização dos artigos destacados justifica-se em razão: 3 D
(A) da retomada de informações que podem ser facilmente de-
preendidas pelo contexto, sendo ambas equivalentes seman- 4 C
ticamente. 5 C
(B) de informações conhecidas, nas duas ocorrências, sendo
6 A
possível a troca dos artigos nos enunciados, pois isso não alte-
raria o sentido do texto. 7 D
(C) da generalização, no primeiro caso, com a introdução de 8 C
informação conhecida, e da especificação, no segundo, com
informação nova. 9 B
(D) da introdução de uma informação nova, no primeiro caso, 10 E
e da retomada de uma informação já conhecida, no segundo.
(E) de informações novas, nas duas ocorrências, motivo pelo 11 C
qual são introduzidas de forma mais generalizada 12 B
13 E
14 B

38
LÍNGUA PORTUGUESA

15 A ANOTAÇÕES
16 C
17 A ______________________________________________________
18 C ______________________________________________________
19 D
______________________________________________________
20 C
21 E ______________________________________________________

22 C ______________________________________________________
23 A
______________________________________________________
24 D
______________________________________________________
25 E
26 A ______________________________________________________
27 B ______________________________________________________
28 C
______________________________________________________
29 B
30 A ______________________________________________________

31 E ______________________________________________________
32 B ______________________________________________________
33 E
______________________________________________________
34 B
35 B ______________________________________________________
36 E ______________________________________________________
37 A
______________________________________________________
38 A
39 B ______________________________________________________

40 A ______________________________________________________
41 D ______________________________________________________
42 D
______________________________________________________
43 B
44 D ______________________________________________________
45 E ______________________________________________________
46 D
_____________________________________________________
47 B
_____________________________________________________
48 B
49 B ______________________________________________________
50 E ______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

39
LÍNGUA PORTUGUESA
______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

40
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO

RACIOCÍNIO VERBAL
ESTRUTURA LÓGICA DE RELAÇÕES ARBITRÁRIAS EN-
TRE PESSOAS, LUGARES, OBJETOS OU EVENTOS FIC- Avalia a capacidade de interpretar informação escrita e tirar
TÍCIOS; DEDUÇÃO DE NOVAS INFORMAÇÕES DAS RE- conclusões lógicas.
LAÇÕES FORNECIDAS E AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES Uma avaliação de raciocínio verbal é um tipo de análise de ha-
USADAS PARA ESTABELECER A ESTRUTURA DAQUELAS bilidade ou aptidão, que pode ser aplicada ao se candidatar a uma
RELAÇÕES. COMPREENSÃO E ANÁLISE DA LÓGICA DE vaga. Raciocínio verbal é parte da capacidade cognitiva ou inteli-
UMA SITUAÇÃO, UTILIZANDO AS FUNÇÕES INTELEC- gência geral; é a percepção, aquisição, organização e aplicação do
TUAIS: RACIOCÍNIO VERBAL, RACIOCÍNIO MATEMÁTI- conhecimento por meio da linguagem.
CO, RACIOCÍNIO SEQUENCIAL, ORIENTAÇÃO ESPACIAL Nos testes de raciocínio verbal, geralmente você recebe um
E TEMPORAL, FORMAÇÃO DE CONCEITOS, DISCRIMI- trecho com informações e precisa avaliar um conjunto de afirma-
NAÇÃO DE ELEMENTOS ções, selecionando uma das possíveis respostas:
A – Verdadeiro (A afirmação é uma consequência lógica das in-
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO formações ou opiniões contidas no trecho)
B – Falso (A afirmação é logicamente falsa, consideradas as in-
Este tipo de raciocínio testa sua habilidade de resolver proble- formações ou opiniões contidas no trecho)
mas matemáticos, e é uma forma de medir seu domínio das dife- C – Impossível dizer (Impossível determinar se a afirmação é
rentes áreas do estudo da Matemática: Aritmética, Álgebra, leitura verdadeira ou falsa sem mais informações)
de tabelas e gráficos, Probabilidade e Geometria etc. Essa parte
consiste nos seguintes conteúdos: ESTRUTURAS LÓGICAS
- Operação com conjuntos. Precisamos antes de tudo compreender o que são proposições.
- Cálculos com porcentagens. Chama-se proposição toda sentença declarativa à qual podemos
- Raciocínio lógico envolvendo problemas aritméticos, geomé- atribuir um dos valores lógicos: verdadeiro ou falso, nunca ambos.
tricos e matriciais. Trata-se, portanto, de uma sentença fechada.
- Geometria básica.
- Álgebra básica e sistemas lineares. Elas podem ser:
- Calendários. • Sentença aberta: quando não se pode atribuir um valor lógi-
- Numeração. co verdadeiro ou falso para ela (ou valorar a proposição!), portanto,
- Razões Especiais. não é considerada frase lógica. São consideradas sentenças abertas:
- Análise Combinatória e Probabilidade. - Frases interrogativas: Quando será prova? - Estudou ontem?
- Progressões Aritmética e Geométrica. – Fez Sol ontem?
- Frases exclamativas: Gol! – Que maravilhoso!
RACIOCÍNIO LÓGICO DEDUTIVO - Frase imperativas: Estude e leia com atenção. – Desligue a
televisão.
Este tipo de raciocínio está relacionado ao conteúdo Lógica de - Frases sem sentido lógico (expressões vagas, paradoxais, am-
Argumentação. bíguas, ...): “esta frase é falsa” (expressão paradoxal) – O cachorro
do meu vizinho morreu (expressão ambígua) – 2 + 5+ 1
ORIENTAÇÕES ESPACIAL E TEMPORAL
• Sentença fechada: quando a proposição admitir um ÚNICO
O raciocínio lógico espacial ou orientação espacial envolvem valor lógico, seja ele verdadeiro ou falso, nesse caso, será conside-
figuras, dados e palitos. O raciocínio lógico temporal ou orientação rada uma frase, proposição ou sentença lógica.
temporal envolve datas, calendário, ou seja, envolve o tempo.
O mais importante é praticar o máximo de questões que envol- Proposições simples e compostas
vam os conteúdos: • Proposições simples (ou atômicas): aquela que NÃO contém
- Lógica sequencial nenhuma outra proposição como parte integrante de si mesma. As
- Calendários proposições simples são designadas pelas letras latinas minúsculas
p,q,r, s..., chamadas letras proposicionais.

• Proposições compostas (ou moleculares ou estruturas lógi-


cas): aquela formada pela combinação de duas ou mais proposições
simples. As proposições compostas são designadas pelas letras lati-
nas maiúsculas P,Q,R, R..., também chamadas letras proposicionais.

41
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
ATENÇÃO: TODAS as proposições compostas são formadas por duas proposições simples.

Proposições Compostas – Conectivos


As proposições compostas são formadas por proposições simples ligadas por conectivos, aos quais formam um valor lógico, que po-
demos vê na tabela a seguir:

OPERAÇÃO CONECTIVO ESTRUTURA LÓGICA TABELA VERDADE

Negação ~ Não p

Conjunção ^ peq

Disjunção Inclusiva v p ou q

Disjunção Exclusiva v Ou p ou q

Condicional → Se p então q

Bicondicional ↔ p se e somente se q

42
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Em síntese temos a tabela verdade das proposições que facilitará na resolução de diversas questões

Exemplo:
(MEC – CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA OS POSTOS 9,10,11 E 16 – CESPE)

A figura acima apresenta as colunas iniciais de uma tabela-verdade, em que P, Q e R representam proposições lógicas, e V e F corres-
pondem, respectivamente, aos valores lógicos verdadeiro e falso.
Com base nessas informações e utilizando os conectivos lógicos usuais, julgue o item subsecutivo.
A última coluna da tabela-verdade referente à proposição lógica P v (Q↔R) quando representada na posição horizontal é igual a

( ) Certo
( ) Errado

Resolução:
P v (Q↔R), montando a tabela verdade temos:

R Q P [P v (Q ↔ R) ]
V V V V V V V V
V V F F V V V V
V F V V V F F V
V F F F F F F V
F V V V V V F F
F V F F F V F F
F F V V V F V F
F F F F V F V F

Resposta: Certo

43
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Proposição
Conjunto de palavras ou símbolos que expressam um pensamento ou uma ideia de sentido completo. Elas transmitem pensamentos,
isto é, afirmam fatos ou exprimem juízos que formamos a respeito de determinados conceitos ou entes.

Valores lógicos
São os valores atribuídos as proposições, podendo ser uma verdade, se a proposição é verdadeira (V), e uma falsidade, se a proposi-
ção é falsa (F). Designamos as letras V e F para abreviarmos os valores lógicos verdade e falsidade respectivamente.
Com isso temos alguns aximos da lógica:
– PRINCÍPIO DA NÃO CONTRADIÇÃO: uma proposição não pode ser verdadeira E falsa ao mesmo tempo.
– PRINCÍPIO DO TERCEIRO EXCLUÍDO: toda proposição OU é verdadeira OU é falsa, verificamos sempre um desses casos, NUNCA
existindo um terceiro caso.

“Toda proposição tem um, e somente um, dos valores, que são: V ou F.”

Classificação de uma proposição


Elas podem ser:
• Sentença aberta: quando não se pode atribuir um valor lógico verdadeiro ou falso para ela (ou valorar a proposição!), portanto, não
é considerada frase lógica. São consideradas sentenças abertas:
- Frases interrogativas: Quando será prova? - Estudou ontem? – Fez Sol ontem?
- Frases exclamativas: Gol! – Que maravilhoso!
- Frase imperativas: Estude e leia com atenção. – Desligue a televisão.
- Frases sem sentido lógico (expressões vagas, paradoxais, ambíguas, ...): “esta frase é falsa” (expressão paradoxal) – O cachorro do
meu vizinho morreu (expressão ambígua) – 2 + 5+ 1

• Sentença fechada: quando a proposição admitir um ÚNICO valor lógico, seja ele verdadeiro ou falso, nesse caso, será considerada
uma frase, proposição ou sentença lógica.

Proposições simples e compostas


• Proposições simples (ou atômicas): aquela que NÃO contém nenhuma outra proposição como parte integrante de si mesma. As
proposições simples são designadas pelas letras latinas minúsculas p,q,r, s..., chamadas letras proposicionais.
Exemplos
r: Thiago é careca.
s: Pedro é professor.

• Proposições compostas (ou moleculares ou estruturas lógicas): aquela formada pela combinação de duas ou mais proposições
simples. As proposições compostas são designadas pelas letras latinas maiúsculas P,Q,R, R..., também chamadas letras proposicionais.
Exemplo
P: Thiago é careca e Pedro é professor.

ATENÇÃO: TODAS as proposições compostas são formadas por duas proposições simples.

Exemplos:
1. (CESPE/UNB) Na lista de frases apresentadas a seguir:
– “A frase dentro destas aspas é uma mentira.”
– A expressão x + y é positiva.
– O valor de √4 + 3 = 7.
– Pelé marcou dez gols para a seleção brasileira.
– O que é isto?

Há exatamente:
(A) uma proposição;
(B) duas proposições;
(C) três proposições;
(D) quatro proposições;
(E) todas são proposições.

44
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Resolução:
Analisemos cada alternativa:
(A) “A frase dentro destas aspas é uma mentira”, não podemos atribuir valores lógicos a ela, logo não é uma sentença lógica.
(B) A expressão x + y é positiva, não temos como atribuir valores lógicos, logo não é sentença lógica.
(C) O valor de √4 + 3 = 7; é uma sentença lógica pois podemos atribuir valores lógicos, independente do resultado que tenhamos
(D) Pelé marcou dez gols para a seleção brasileira, também podemos atribuir valores lógicos (não estamos considerando a quantidade
certa de gols, apenas se podemos atribuir um valor de V ou F a sentença).
(E) O que é isto? - como vemos não podemos atribuir valores lógicos por se tratar de uma frase interrogativa.
Resposta: B.

Conectivos (conectores lógicos)


Para compôr novas proposições, definidas como composta, a partir de outras proposições simples, usam-se os conectivos. São eles:

OPERAÇÃO CONECTIVO ESTRUTURA LÓGICA TABELA VERDADE

Negação ~ Não p

Conjunção ^ peq

Disjunção Inclusiva v p ou q

Disjunção Exclusiva v Ou p ou q

Condicional → Se p então q

45
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO

Bicondicional ↔ p se e somente se q

Exemplo:
2. (PC/SP - Delegado de Polícia - VUNESP) Os conectivos ou operadores lógicos são palavras (da linguagem comum) ou símbolos (da
linguagem formal) utilizados para conectar proposições de acordo com regras formais preestabelecidas. Assinale a alternativa que apre-
senta exemplos de conjunção, negação e implicação, respectivamente.
(A) ¬ p, p v q, p ∧ q
(B) p ∧ q, ¬ p, p -> q
(C) p -> q, p v q, ¬ p
(D) p v p, p -> q, ¬ q
(E) p v q, ¬ q, p v q

Resolução:
A conjunção é um tipo de proposição composta e apresenta o conectivo “e”, e é representada pelo símbolo ∧. A negação é repre-
sentada pelo símbolo ~ou cantoneira (¬) e pode negar uma proposição simples (por exemplo: ¬ p ) ou composta. Já a implicação é uma
proposição composta do tipo condicional (Se, então) é representada pelo símbolo (→).
Resposta: B.

Tabela Verdade
Quando trabalhamos com as proposições compostas, determinamos o seu valor lógico partindo das proposições simples que a com-
põe. O valor lógico de qualquer proposição composta depende UNICAMENTE dos valores lógicos das proposições simples componentes,
ficando por eles UNIVOCAMENTE determinados.

• Número de linhas de uma Tabela Verdade: depende do número de proposições simples que a integram, sendo dado pelo seguinte
teorema:
“A tabela verdade de uma proposição composta com n* proposições simples componentes contém 2n linhas.”

Exemplo:
3. (CESPE/UNB) Se “A”, “B”, “C” e “D” forem proposições simples e distintas, então o número de linhas da tabela-verdade da propo-
sição (A → B) ↔ (C → D) será igual a:
(A) 2;
(B) 4;
(C) 8;
(D) 16;
(E) 32.

Resolução:
Veja que podemos aplicar a mesma linha do raciocínio acima, então teremos:
Número de linhas = 2n = 24 = 16 linhas.
Resposta D.

Conceitos de Tautologia , Contradição e Contigência


• Tautologia: possui todos os valores lógicos, da tabela verdade (última coluna), V (verdades).
Princípio da substituição: Seja P (p, q, r, ...) é uma tautologia, então P (P0; Q0; R0; ...) também é uma tautologia, quaisquer que sejam
as proposições P0, Q0, R0, ...

• Contradição: possui todos os valores lógicos, da tabela verdade (última coluna), F (falsidades). A contradição é a negação da Tauto-
logia e vice versa.
Princípio da substituição: Seja P (p, q, r, ...) é uma contradição, então P (P0; Q0; R0; ...) também é uma contradição, quaisquer que sejam
as proposições P0, Q0, R0, ...

• Contingência: possui valores lógicos V e F ,da tabela verdade (última coluna). Em outros termos a contingência é uma proposição
composta que não é tautologia e nem contradição.

46
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Exemplos:
4. (DPU – ANALISTA – CESPE) Um estudante de direito, com o objetivo de sistematizar o seu estudo, criou sua própria legenda, na qual
identificava, por letras, algumas afirmações relevantes quanto à disciplina estudada e as vinculava por meio de sentenças (proposições).
No seu vocabulário particular constava, por exemplo:
P: Cometeu o crime A.
Q: Cometeu o crime B.
R: Será punido, obrigatoriamente, com a pena de reclusão no regime fechado.
S: Poderá optar pelo pagamento de fiança.

Ao revisar seus escritos, o estudante, apesar de não recordar qual era o crime B, lembrou que ele era inafiançável.
Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o item que se segue.
A sentença (P→Q)↔((~Q)→(~P)) será sempre verdadeira, independentemente das valorações de P e Q como verdadeiras ou falsas.
( ) Certo
( ) Errado

Resolução:
Considerando P e Q como V.
(V→V) ↔ ((F)→(F))
(V) ↔ (V) = V
Considerando P e Q como F
(F→F) ↔ ((V)→(V))
(V) ↔ (V) = V
Então concluímos que a afirmação é verdadeira.
Resposta: Certo.

Equivalência
Duas ou mais proposições compostas são equivalentes, quando mesmo possuindo estruturas lógicas diferentes, apresentam a mesma
solução em suas respectivas tabelas verdade.
Se as proposições P(p,q,r,...) e Q(p,q,r,...) são ambas TAUTOLOGIAS, ou então, são CONTRADIÇÕES, então são EQUIVALENTES.

Exemplo:
5. (VUNESP/TJSP) Uma negação lógica para a afirmação “João é rico, ou Maria é pobre” é:
(A) Se João é rico, então Maria é pobre.
(B) João não é rico, e Maria não é pobre.
(C) João é rico, e Maria não é pobre.
(D) Se João não é rico, então Maria não é pobre.
(E) João não é rico, ou Maria não é pobre.

47
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Resolução:
Nesta questão, a proposição a ser negada trata-se da disjunção de duas proposições lógicas simples. Para tal, trocamos o conectivo por
“e” e negamos as proposições “João é rico” e “Maria é pobre”. Vejam como fica:

Resposta: B.

Leis de Morgan
Com elas:
– Negamos que duas dadas proposições são ao mesmo tempo verdadeiras equivalendo a afirmar que pelo menos uma é falsa
– Negamos que uma pelo menos de duas proposições é verdadeira equivalendo a afirmar que ambas são falsas.

ATENÇÃO
As Leis de Morgan exprimem que NEGAÇÃO CONJUNÇÃO em DISJUNÇÃO
transforma: DISJUNÇÃO em CONJUNÇÃO

CONECTIVOS
Para compôr novas proposições, definidas como composta, a partir de outras proposições simples, usam-se os conectivos.

OPERAÇÃO CONECTIVO ESTRUTURA LÓGICA EXEMPLOS


Negação ~ Não p A cadeira não é azul.
Conjunção ^ peq Fernando é médico e Nicolas é Engenheiro.
Disjunção Inclusiva v p ou q Fernando é médico ou Nicolas é Engenheiro.
Disjunção Exclusiva v Ou p ou q Ou Fernando é médico ou João é Engenheiro.
Condicional → Se p então q Se Fernando é médico então Nicolas é Engenheiro.
Bicondicional ↔ p se e somente se q Fernando é médico se e somente se Nicolas é Engenheiro.

Conectivo “não” (~)


Chamamos de negação de uma proposição representada por “não p” cujo valor lógico é verdade (V) quando p é falsa e falsidade (F)
quando p é verdadeira. Assim “não p” tem valor lógico oposto daquele de p. Pela tabela verdade temos:

Conectivo “e” (˄)


Se p e q são duas proposições, a proposição p ˄ q será chamada de conjunção. Para a conjunção, tem-se a seguinte tabela-verdade:

ATENÇÃO: Sentenças interligadas pelo conectivo “e” possuirão o valor verdadeiro somente quando todas as sentenças, ou argumen-
tos lógicos, tiverem valores verdadeiros.

48
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Conectivo “ou” (v)
Este inclusivo: Elisabete é bonita ou Elisabete é inteligente. (Nada impede que Elisabete seja bonita e inteligente).

Conectivo “ou” (v)


Este exclusivo: Elisabete é paulista ou Elisabete é carioca. (Se Elisabete é paulista, não será carioca e vice-versa).

• Mais sobre o Conectivo “ou”


– “inclusivo”(considera os dois casos)
– “exclusivo”(considera apenas um dos casos)

Exemplos:
R: Paulo é professor ou administrador
S: Maria é jovem ou idosa
No primeiro caso, o “ou” é inclusivo,pois pelo menos uma das proposições é verdadeira, podendo ser ambas.
No caso da segunda, o “ou” é exclusivo, pois somente uma das proposições poderá ser verdadeira

Ele pode ser “inclusivo”(considera os dois casos) ou “exclusivo”(considera apenas um dos casos)

Exemplo:
R: Paulo é professor ou administrador
S: Maria é jovem ou idosa

No primeiro caso, o “ou” é inclusivo,pois pelo menos uma das proposições é verdadeira, podendo ser ambas.
No caso da segunda, o “ou” é exclusivo, pois somente uma das proposições poderá ser verdadeiro

Conectivo “Se... então” (→)


Se p e q são duas proposições, a proposição p→q é chamada subjunção ou condicional. Considere a seguinte subjunção: “Se fizer sol,
então irei à praia”.
1. Podem ocorrer as situações:
2. Fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade)
3. Fez sol e não fui à praia. (Eu menti)
4. Não fez sol e não fui à praia. (Eu disse a verdade)
5. Não fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade, pois eu não disse o que faria se não fizesse sol. Assim, poderia ir ou não ir à praia).
Temos então sua tabela verdade:

49
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Observe que uma subjunção p→q somente será falsa quando a primeira proposição, p, for verdadeira e a segunda, q, for falsa.

Conectivo “Se e somente se” (↔)


Se p e q são duas proposições, a proposição p↔q1 é chamada bijunção ou bicondicional, que também pode ser lida como: “p é con-
dição necessária e suficiente para q” ou, ainda, “q é condição necessária e suficiente para p”.
Considere, agora, a seguinte bijunção: “Irei à praia se e somente se fizer sol”. Podem ocorrer as situações:
1. Fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade)
2. Fez sol e não fui à praia. (Eu menti)
3. Não fez sol e fui à praia. (Eu menti)
4. Não fez sol e não fui à praia. (Eu disse a verdade). Sua tabela verdade:

Observe que uma bicondicional só é verdadeira quando as proposições formadoras são ambas falsas ou ambas verdadeiras.

ATENÇÃO: O importante sobre os conectivos é ter em mente a tabela de cada um deles, para que assim você possa resolver qualquer
questão referente ao assunto.

Ordem de precedência dos conectivos:


O critério que especifica a ordem de avaliação dos conectivos ou operadores lógicos de uma expressão qualquer. A lógica matemática
prioriza as operações de acordo com a ordem listadas:

Em resumo:

Exemplo:
(PC/SP - DELEGADO DE POLÍCIA - VUNESP) Os conectivos ou operadores lógicos são palavras (da linguagem comum) ou símbolos (da
linguagem formal) utilizados para conectar proposições de acordo com regras formais preestabelecidas. Assinale a alternativa que apre-
senta exemplos de conjunção, negação e implicação, respectivamente.
(A) ¬ p, p v q, p ∧ q
(B) p ∧ q, ¬ p, p -> q
(C) p -> q, p v q, ¬ p
(D) p v p, p -> q, ¬ q
(E) p v q, ¬ q, p v q
Resolução:
A conjunção é um tipo de proposição composta e apresenta o conectivo “e”, e é representada pelo símbolo ∧. A negação é repre-
sentada pelo símbolo ~ou cantoneira (¬) e pode negar uma proposição simples (por exemplo: ¬ p ) ou composta. Já a implicação é uma
proposição composta do tipo condicional (Se, então) é representada pelo símbolo (→).
Resposta: B

50
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
CONTRADIÇÕES Observe:
São proposições compostas formadas por duas ou mais propo- - Toda proposição implica uma Tautologia:
sições onde seu valor lógico é sempre FALSO, independentemente
do valor lógico das proposições simples que a compõem. Vejamos:
A proposição: p ^ ~p é uma contradição, conforme mostra a sua
tabela-verdade:

- Somente uma contradição implica uma contradição:

Exemplo:
(PEC-FAZ) Conforme a teoria da lógica proposicional, a propo-
sição ~P ∧ P é:
(A) uma tautologia.
(B) equivalente à proposição ~p ∨ p.
(C) uma contradição.
(D) uma contingência.
(E) uma disjunção.
Propriedades
Resolução: • Reflexiva:
Montando a tabela teremos que: – P(p,q,r,...) ⇒ P(p,q,r,...)
– Uma proposição complexa implica ela mesma.
P ~p ~p ^p
• Transitiva:
V F F – Se P(p,q,r,...) ⇒ Q(p,q,r,...) e
V F F Q(p,q,r,...) ⇒ R(p,q,r,...), então
P(p,q,r,...) ⇒ R(p,q,r,...)
F V F
– Se P ⇒ Q e Q ⇒ R, então P ⇒ R
F V F
Regras de Inferência
Como todos os valores são Falsidades (F) logo estamos diante • Inferência é o ato ou processo de derivar conclusões lógicas
de uma CONTRADIÇÃO. de proposições conhecidas ou decididamente verdadeiras. Em ou-
Resposta: C tras palavras: é a obtenção de novas proposições a partir de propo-
sições verdadeiras já existentes.
A proposição P(p,q,r,...) implica logicamente a proposição Q(p,-
q,r,...) quando Q é verdadeira todas as vezes que P é verdadeira. Regras de Inferência obtidas da implicação lógica
Representamos a implicação com o símbolo “⇒”, simbolicamente
temos:

P(p,q,r,...) ⇒ Q(p,q,r,...).

ATENÇÃO: Os símbolos “→” e “⇒” são completamente distin-


tos. O primeiro (“→”) representa a condicional, que é um conec-
tivo. O segundo (“⇒”) representa a relação de implicação lógica
que pode ou não existir entre duas proposições. • Silogismo Disjuntivo

Exemplo:

51
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
• Modus Ponens A proposição “(p ↔ q) ^ p” implica a proposição “q”, pois a
condicional “(p ↔ q) ^ p → q” é tautológica.

Lógica de primeira ordem


Existem alguns tipos de argumentos que apresentam proposi-
ções com quantificadores. Numa proposição categórica, é impor-
tante que o sujeito se relacionar com o predicado de forma coeren-
te e que a proposição faça sentido, não importando se é verdadeira
ou falsa.

Vejamos algumas formas:


• Modus Tollens - Todo A é B.
- Nenhum A é B.
- Algum A é B.
- Algum A não é B.
Onde temos que A e B são os termos ou características dessas
proposições categóricas.

• Classificação de uma proposição categórica de acordo com


o tipo e a relação
Elas podem ser classificadas de acordo com dois critérios fun-
damentais: qualidade e extensão ou quantidade.

– Qualidade: O critério de qualidade classifica uma proposição


categórica em afirmativa ou negativa.
– Extensão: O critério de extensão ou quantidade classifica
uma proposição categórica em universal ou particular. A classifica-
ção dependerá do quantificador que é utilizado na proposição.
Tautologias e Implicação Lógica
• Teorema
P(p,q,r,..) ⇒ Q(p,q,r,...) se e somente se P(p,q,r,...) → Q(p,q,r,...)

Entre elas existem tipos e relações de acordo com a qualidade


e a extensão, classificam-se em quatro tipos, representados pelas
letras A, E, I e O.

• Universal afirmativa (Tipo A) – “TODO A é B”


Teremos duas possibilidades.

Observe que:
→ indica uma operação lógica entre as proposições. Ex.: das
proposições p e q, dá-se a nova proposição p → q.
⇒ indica uma relação. Ex.: estabelece que a condicional P →
Q é tautológica.

Inferências
• Regra do Silogismo Hipotético Tais proposições afirmam que o conjunto “A” está contido no
conjunto “B”, ou seja, que todo e qualquer elemento de “A” é tam-
bém elemento de “B”. Observe que “Toda A é B” é diferente de
“Todo B é A”.

• Universal negativa (Tipo E) – “NENHUM A é B”


Tais proposições afirmam que não há elementos em comum
Princípio da inconsistência entre os conjuntos “A” e “B”. Observe que “nenhum A é B” é o mes-
– Como “p ^ ~p → q” é tautológica, subsiste a implicação lógica mo que dizer “nenhum B é A”.
p ^ ~p ⇒ q Podemos representar esta universal negativa pelo seguinte dia-
– Assim, de uma contradição p ^ ~p se deduz qualquer propo- grama (A ∩ B = ø):
sição q.

52
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Em síntese:

• Particular afirmativa (Tipo I) - “ALGUM A é B”


Podemos ter 4 diferentes situações para representar esta pro-
posição:

Exemplos:
(DESENVOLVE/SP - CONTADOR - VUNESP) Alguns gatos não
são pardos, e aqueles que não são pardos miam alto.
Uma afirmação que corresponde a uma negação lógica da afir-
mação anterior é:
(A) Os gatos pardos miam alto ou todos os gatos não são par-
dos.
(B) Nenhum gato mia alto e todos os gatos são pardos.
(C) Todos os gatos são pardos ou os gatos que não são pardos
não miam alto.
Essas proposições Algum A é B estabelecem que o conjunto “A” (D) Todos os gatos que miam alto são pardos.
tem pelo menos um elemento em comum com o conjunto “B”. Con- (E) Qualquer animal que mia alto é gato e quase sempre ele é
tudo, quando dizemos que Algum A é B, presumimos que nem todo pardo.
A é B. Observe “Algum A é B” é o mesmo que “Algum B é A”.
Resolução:
• Particular negativa (Tipo O) - “ALGUM A não é B” Temos um quantificador particular (alguns) e uma proposição
Se a proposição Algum A não é B é verdadeira, temos as três do tipo conjunção (conectivo “e”). Pede-se a sua negação.
representações possíveis: O quantificador existencial “alguns” pode ser negado, seguindo
o esquema, pelos quantificadores universais (todos ou nenhum).
Logo, podemos descartar as alternativas A e E.
A negação de uma conjunção se faz através de uma disjunção,
em que trocaremos o conectivo “e” pelo conectivo “ou”. Descarta-
mos a alternativa B.
Vamos, então, fazer a negação da frase, não esquecendo de
que a relação que existe é: Algum A é B, deve ser trocado por: Todo
A é não B.
Todos os gatos que são pardos ou os gatos (aqueles) que não
são pardos NÃO miam alto.
Resposta: C

(CBM/RJ - CABO TÉCNICO EM ENFERMAGEM - ND) Dizer que a


afirmação “todos os professores é psicólogos” e falsa, do ponto de
Proposições nessa forma: Algum A não é B estabelecem que o vista lógico, equivale a dizer que a seguinte afirmação é verdadeira
conjunto “A” tem pelo menos um elemento que não pertence ao (A) Todos os não psicólogos são professores.
conjunto “B”. Observe que: Algum A não é B não significa o mesmo (B) Nenhum professor é psicólogo.
que Algum B não é A. (C) Nenhum psicólogo é professor.
(D) Pelo menos um psicólogo não é professor.
• Negação das Proposições Categóricas (E) Pelo menos um professor não é psicólogo.
Ao negarmos uma proposição categórica, devemos observar as
seguintes convenções de equivalência: Resolução:
– Ao negarmos uma proposição categórica universal geramos Se a afirmação é falsa a negação será verdadeira. Logo, a nega-
uma proposição categórica particular. ção de um quantificador universal categórico afirmativo se faz atra-
– Pela recíproca de uma negação, ao negarmos uma proposição vés de um quantificador existencial negativo. Logo teremos: Pelo
categórica particular geramos uma proposição categórica universal. menos um professor não é psicólogo.
– Negando uma proposição de natureza afirmativa geramos, Resposta: E
sempre, uma proposição de natureza negativa; e, pela recíproca,
negando uma proposição de natureza negativa geramos, sempre,
uma proposição de natureza afirmativa.

53
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
• Equivalência entre as proposições Vejamos a tabela abaixo as proposições categóricas:
Basta usar o triângulo a seguir e economizar um bom tempo na
resolução de questões. TIPO PREPOSIÇÃO DIAGRAMAS

TODO
A
AéB

Se um elemento pertence ao conjunto A,


então pertence também a B.

Exemplo:
(PC/PI - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL - UESPI) Qual a negação NENHUM
lógica da sentença “Todo número natural é maior do que ou igual E
AéB
a cinco”?
(A) Todo número natural é menor do que cinco. Existe pelo menos um elemento que
(B) Nenhum número natural é menor do que cinco. pertence a A, então não pertence a B, e
(C) Todo número natural é diferente de cinco. vice-versa.
(D) Existe um número natural que é menor do que cinco.
(E) Existe um número natural que é diferente de cinco.

Resolução:
Do enunciado temos um quantificador universal (Todo) e pede-
-se a sua negação.
O quantificador universal todos pode ser negado, seguindo o
esquema abaixo, pelo quantificador algum, pelo menos um, existe
ao menos um, etc. Não se nega um quantificador universal com To- Existe pelo menos um elemento co-
dos e Nenhum, que também são universais. mum aos conjuntos A e B.
Podemos ainda representar das seguin-
tes formas:
ALGUM
I
AéB

Portanto, já podemos descartar as alternativas que trazem


quantificadores universais (todo e nenhum). Descartamos as alter-
nativas A, B e C.
Seguindo, devemos negar o termo: “maior do que ou igual a
cinco”. Negaremos usando o termo “MENOR do que cinco”.
Obs.: maior ou igual a cinco (compreende o 5, 6, 7...) ao ser
negado passa a ser menor do que cinco (4, 3, 2,...).
Resposta: D

Diagramas lógicos
Os diagramas lógicos são usados na resolução de vários proble-
mas. É uma ferramenta para resolvermos problemas que envolvam
argumentos dedutivos, as quais as premissas deste argumento po-
dem ser formadas por proposições categóricas.

ATENÇÃO: É bom ter um conhecimento sobre conjuntos para


conseguir resolver questões que envolvam os diagramas lógicos.

54
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
- Existem teatros que não são cinemas

ALGUM
O - Algum teatro é casa de cultura
A NÃO é B

Perceba-se que, nesta sentença, a aten-


ção está sobre o(s) elemento (s) de A que
não são B (enquanto que, no “Algum A é
B”, a atenção estava sobre os que eram B,
ou seja, na intercessão).
Temos também no segundo caso, a dife-
rença entre conjuntos, que forma o con-
junto A - B

Exemplo: Visto que na primeira chegamos à conclusão que C = CC


(GDF–ANALISTA DE ATIVIDADES CULTURAIS ADMINISTRAÇÃO Segundo as afirmativas temos:
– IADES) Considere as proposições: “todo cinema é uma casa de (A) existem cinemas que não são teatros- Observando o último
cultura”, “existem teatros que não são cinemas” e “algum teatro é diagrama vimos que não é uma verdade, pois temos que existe
casa de cultura”. Logo, é correto afirmar que pelo menos um dos cinemas é considerado teatro.
(A) existem cinemas que não são teatros.
(B) existe teatro que não é casa de cultura.
(C) alguma casa de cultura que não é cinema é teatro.
(D) existe casa de cultura que não é cinema.
(E) todo teatro que não é casa de cultura não é cinema.

Resolução:
Vamos chamar de:
Cinema = C
Casa de Cultura = CC
Teatro = T
Analisando as proposições temos:
- Todo cinema é uma casa de cultura
(B) existe teatro que não é casa de cultura. – Errado, pelo mes-
mo princípio acima.
(C) alguma casa de cultura que não é cinema é teatro. – Errado,
a primeira proposição já nos afirma o contrário. O diagrama
nos afirma isso

55
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
(D) existe casa de cultura que não é cinema. – Errado, a justifi- ATENÇÃO: O que vale é a CONSTRUÇÃO, E NÃO O SEU CONTE-
cativa é observada no diagrama da alternativa anterior. ÚDO! Se a construção está perfeita, então o argumento é válido,
(E) todo teatro que não é casa de cultura não é cinema. – Cor- independentemente do conteúdo das premissas ou da conclusão!
reta, que podemos observar no diagrama abaixo, uma vez que
todo cinema é casa de cultura. Se o teatro não é casa de cultura • Como saber se um determinado argumento é mesmo váli-
também não é cinema. do?
Para se comprovar a validade de um argumento é utilizando
diagramas de conjuntos (diagramas de Venn). Trata-se de um mé-
todo muito útil e que será usado com frequência em questões que
pedem a verificação da validade de um argumento. Vejamos como
funciona, usando o exemplo acima. Quando se afirma, na premissa
P1, que “todos os homens são pássaros”, poderemos representar
essa frase da seguinte maneira:

Resposta: E

LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO
Chama-se argumento a afirmação de que um grupo de propo-
sições iniciais redunda em outra proposição final, que será conse-
quência das primeiras. Ou seja, argumento é a relação que associa
um conjunto de proposições P1, P2,... Pn , chamadas premissas do
argumento, a uma proposição Q, chamada de conclusão do argu-
mento.

Observem que todos os elementos do conjunto menor (ho-


mens) estão incluídos, ou seja, pertencem ao conjunto maior (dos
pássaros). E será sempre essa a representação gráfica da frase
“Todo A é B”. Dois círculos, um dentro do outro, estando o círculo
menor a representar o grupo de quem se segue à palavra TODO.
Na frase: “Nenhum pássaro é animal”. Observemos que a pa-
lavra-chave desta sentença é NENHUM. E a ideia que ela exprime é
de uma total dissociação entre os dois conjuntos.

Exemplo:
P1: Todos os cientistas são loucos.
P2: Martiniano é louco.
Q: Martiniano é um cientista.

O exemplo dado pode ser chamado de Silogismo (argumento


formado por duas premissas e a conclusão).
A respeito dos argumentos lógicos, estamos interessados em
verificar se eles são válidos ou inválidos! Então, passemos a enten-
der o que significa um argumento válido e um argumento inválido.
Será sempre assim a representação gráfica de uma sentença
Argumentos Válidos “Nenhum A é B”: dois conjuntos separados, sem nenhum ponto em
Dizemos que um argumento é válido (ou ainda legítimo ou bem comum.
construído), quando a sua conclusão é uma consequência obrigató- Tomemos agora as representações gráficas das duas premissas
ria do seu conjunto de premissas. vistas acima e as analisemos em conjunto. Teremos:

Exemplo:
O silogismo...
P1: Todos os homens são pássaros.
P2: Nenhum pássaro é animal.
Q: Portanto, nenhum homem é animal.

... está perfeitamente bem construído, sendo, portanto, um


argumento válido, muito embora a veracidade das premissas e da
conclusão sejam totalmente questionáveis.

56
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO

Comparando a conclusão do nosso argumento, temos:


NENHUM homem é animal – com o desenho das premissas
será que podemos dizer que esta conclusão é uma consequência Finalmente, passemos à análise da conclusão: “Patrícia não
necessária das premissas? Claro que sim! Observemos que o con- gosta de chocolate”. Ora, o que nos resta para sabermos se este ar-
junto dos homens está totalmente separado (total dissociação!) do gumento é válido ou não, é justamente confirmar se esse resultado
conjunto dos animais. Resultado: este é um argumento válido! (se esta conclusão) é necessariamente verdadeiro!
- É necessariamente verdadeiro que Patrícia não gosta de cho-
Argumentos Inválidos colate? Olhando para o desenho acima, respondemos que não!
Dizemos que um argumento é inválido – também denominado Pode ser que ela não goste de chocolate (caso esteja fora do círcu-
ilegítimo, mal construído, falacioso ou sofisma – quando a verdade lo), mas também pode ser que goste (caso esteja dentro do círculo)!
das premissas não é suficiente para garantir a verdade da conclu- Enfim, o argumento é inválido, pois as premissas não garantiram a
são. veracidade da conclusão!

Exemplo: Métodos para validação de um argumento


P1: Todas as crianças gostam de chocolate. Aprenderemos a seguir alguns diferentes métodos que nos
P2: Patrícia não é criança. possibilitarão afirmar se um argumento é válido ou não!
Q: Portanto, Patrícia não gosta de chocolate. 1º) Utilizando diagramas de conjuntos: esta forma é indicada
quando nas premissas do argumento aparecem as palavras TODO,
Este é um argumento inválido, falacioso, mal construído, pois ALGUM E NENHUM, ou os seus sinônimos: cada, existe um etc.
as premissas não garantem (não obrigam) a verdade da conclusão. 2º) Utilizando tabela-verdade: esta forma é mais indicada
Patrícia pode gostar de chocolate mesmo que não seja criança, pois quando não for possível resolver pelo primeiro método, o que ocor-
a primeira premissa não afirmou que somente as crianças gostam re quando nas premissas não aparecem as palavras todo, algum e
de chocolate. nenhum, mas sim, os conectivos “ou” , “e”, “” e “↔”. Baseia-se
Utilizando os diagramas de conjuntos para provar a validade na construção da tabela-verdade, destacando-se uma coluna para
do argumento anterior, provaremos, utilizando-nos do mesmo arti- cada premissa e outra para a conclusão. Este método tem a des-
fício, que o argumento em análise é inválido. Comecemos pela pri- vantagem de ser mais trabalhoso, principalmente quando envolve
meira premissa: “Todas as crianças gostam de chocolate”. várias proposições simples.
3º) Utilizando as operações lógicas com os conectivos e consi-
derando as premissas verdadeiras.
Por este método, fácil e rapidamente demonstraremos a vali-
dade de um argumento. Porém, só devemos utilizá-lo na impossibi-
lidade do primeiro método.
Iniciaremos aqui considerando as premissas como verdades.
Daí, por meio das operações lógicas com os conectivos, descobri-
remos o valor lógico da conclusão, que deverá resultar também em
verdade, para que o argumento seja considerado válido.
4º) Utilizando as operações lógicas com os conectivos, conside-
rando premissas verdadeiras e conclusão falsa.
É indicado este caminho quando notarmos que a aplicação do
terceiro método não possibilitará a descoberta do valor lógico da
conclusão de maneira direta, mas somente por meio de análises
Analisemos agora o que diz a segunda premissa: “Patrícia não é mais complicadas.
criança”. O que temos que fazer aqui é pegar o diagrama acima (da
primeira premissa) e nele indicar onde poderá estar localizada a Pa-
trícia, obedecendo ao que consta nesta segunda premissa. Vemos
facilmente que a Patrícia só não poderá estar dentro do círculo das
crianças. É a única restrição que faz a segunda premissa! Isto posto,
concluímos que Patrícia poderá estar em dois lugares distintos do
diagrama:
1º) Fora do conjunto maior;
2º) Dentro do conjunto maior. Vejamos:

57
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Em síntese: Resolução pelo 3º Método
Considerando as premissas verdadeiras e testando a conclusão
verdadeira. Teremos:
- 2ª Premissa) ~r é verdade. Logo: r é falsa!
- 1ª Premissa) (p ∧ q)r é verdade. Sabendo que r é falsa,
concluímos que (p ∧ q) tem que ser também falsa. E quando uma
conjunção (e) é falsa? Quando uma das premissas for falsa ou am-
bas forem falsas. Logo, não é possível determinamos os valores
lógicos de p e q. Apesar de inicialmente o 3º método se mostrar
adequado, por meio do mesmo, não poderemos determinar se o
argumento é ou NÃO VÁLIDO.

Resolução pelo 4º Método


Considerando a conclusão falsa e premissas verdadeiras. Tere-
mos:
- Conclusão) ~p v ~q é falso. Logo: p é verdadeiro e q é verda-
deiro!
Agora, passamos a testar as premissas, que são consideradas
verdadeiras! Teremos:
- 1ª Premissa) (p∧q)r é verdade. Sabendo que p e q são ver-
dadeiros, então a primeira parte da condicional acima também é
verdadeira. Daí resta que a segunda parte não pode ser falsa. Logo:
r é verdadeiro.
- 2ª Premissa) Sabendo que r é verdadeiro, teremos que ~r é
falso! Opa! A premissa deveria ser verdadeira, e não foi!
Exemplo:
Diga se o argumento abaixo é válido ou inválido: Neste caso, precisaríamos nos lembrar de que o teste, aqui no
4º método, é diferente do teste do 3º: não havendo a existência si-
(p ∧ q) → r multânea da conclusão falsa e premissas verdadeiras, teremos que
_____~r_______ o argumento é válido! Conclusão: o argumento é válido!
~p ∨ ~q
Exemplos:
Resolução: (DPU – AGENTE ADMINISTRATIVO – CESPE) Considere que as
-1ª Pergunta) O argumento apresenta as palavras todo, algum seguintes proposições sejam verdadeiras.
ou nenhum? • Quando chove, Maria não vai ao cinema.
A resposta é não! Logo, descartamos o 1º método e passamos • Quando Cláudio fica em casa, Maria vai ao cinema.
à pergunta seguinte. • Quando Cláudio sai de casa, não faz frio.
• Quando Fernando está estudando, não chove.
- 2ª Pergunta) O argumento contém no máximo duas proposi- • Durante a noite, faz frio.
ções simples?
A resposta também é não! Portanto, descartamos também o Tendo como referência as proposições apresentadas, julgue o
2º método. item subsecutivo.
- 3ª Pergunta) Há alguma das premissas que seja uma proposi- Se Maria foi ao cinema, então Fernando estava estudando.
ção simples ou uma conjunção? ( ) Certo
A resposta é sim! A segunda proposição é (~r). Podemos optar ( ) Errado
então pelo 3º método? Sim, perfeitamente! Mas caso queiramos
seguir adiante com uma próxima pergunta, teríamos: Resolução:
- 4ª Pergunta) A conclusão tem a forma de uma proposição A questão trata-se de lógica de argumentação, dadas as pre-
simples ou de uma disjunção ou de uma condicional? A resposta missas chegamos a uma conclusão. Enumerando as premissas:
também é sim! Nossa conclusão é uma disjunção! Ou seja, caso A = Chove
queiramos, poderemos utilizar, opcionalmente, o 4º método! B = Maria vai ao cinema
Vamos seguir os dois caminhos: resolveremos a questão pelo C = Cláudio fica em casa
3º e pelo 4º métodos. D = Faz frio
E = Fernando está estudando
F = É noite
A argumentação parte que a conclusão deve ser (V)
Lembramos a tabela verdade da condicional:

58
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO

A condicional só será F quando a 1ª for verdadeira e a 2ª falsa, utilizando isso temos:


O que se quer saber é: Se Maria foi ao cinema, então Fernando estava estudando. // B → ~E
Iniciando temos:
4º - Quando chove (F), Maria não vai ao cinema. (F) // A → ~B = V – para que o argumento seja válido temos que Quando chove tem
que ser F.
3º - Quando Cláudio fica em casa (V), Maria vai ao cinema (V). // C → B = V - para que o argumento seja válido temos que Maria vai
ao cinema tem que ser V.
2º - Quando Cláudio sai de casa(F), não faz frio (F). // ~C → ~D = V - para que o argumento seja válido temos que Quando Cláudio sai
de casa tem que ser F.
5º - Quando Fernando está estudando (V ou F), não chove (V). // E → ~A = V. – neste caso Quando Fernando está estudando pode ser
V ou F.
1º- Durante a noite(V), faz frio (V). // F → D = V

Logo nada podemos afirmar sobre a afirmação: Se Maria foi ao cinema (V), então Fernando estava estudando (V ou F); pois temos
dois valores lógicos para chegarmos à conclusão (V ou F).
Resposta: Errado

(PETROBRAS – TÉCNICO (A) DE EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO JÚNIOR – INFORMÁTICA – CESGRANRIO) Se Esmeralda é uma fada, então
Bongrado é um elfo. Se Bongrado é um elfo, então Monarca é um centauro. Se Monarca é um centauro, então Tristeza é uma bruxa.
Ora, sabe-se que Tristeza não é uma bruxa, logo
(A) Esmeralda é uma fada, e Bongrado não é um elfo.
(B) Esmeralda não é uma fada, e Monarca não é um centauro.
(C) Bongrado é um elfo, e Monarca é um centauro.
(D) Bongrado é um elfo, e Esmeralda é uma fada
(E) Monarca é um centauro, e Bongrado não é um elfo.

Resolução:
Vamos analisar cada frase partindo da afirmativa Trizteza não é bruxa, considerando ela como (V), precisamos ter como conclusão o
valor lógico (V), então:
(4) Se Esmeralda é uma fada(F), então Bongrado é um elfo (F) → V

(3) Se Bongrado é um elfo (F), então Monarca é um centauro (F) → V


(2) Se Monarca é um centauro(F), então Tristeza é uma bruxa(F) → V
(1) Tristeza não é uma bruxa (V)

Logo:
Temos que:
Esmeralda não é fada(V)
Bongrado não é elfo (V)
Monarca não é um centauro (V)

Como a conclusão parte da conjunção, o mesmo só será verdadeiro quando todas as afirmativas forem verdadeiras, logo, a única que
contém esse valor lógico é:
Esmeralda não é uma fada, e Monarca não é um centauro.
Resposta: B

59
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
LÓGICA MATEMÁTICA QUALITATIVA
Aqui veremos questões que envolvem correlação de elementos, pessoas e objetos fictícios, através de dados fornecidos. Vejamos o
passo a passo:

01. Três homens, Luís, Carlos e Paulo, são casados com Lúcia, Patrícia e Maria, mas não sabemos quem ê casado com quem. Eles tra-
balham com Engenharia, Advocacia e Medicina, mas também não sabemos quem faz o quê. Com base nas dicas abaixo, tente descobrir o
nome de cada marido, a profissão de cada um e o nome de suas esposas.
a) O médico é casado com Maria.
b) Paulo é advogado.
c) Patrícia não é casada com Paulo.
d) Carlos não é médico.

Vamos montar o passo a passo para que você possa compreender como chegar a conclusão da questão.
1º passo – vamos montar uma tabela para facilitar a visualização da resolução, a mesma deve conter as informações prestadas no
enunciado, nas quais podem ser divididas em três grupos: homens, esposas e profissões.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos
Luís
Paulo
Lúcia
Patrícia
Maria

Também criamos abaixo do nome dos homens, o nome das esposas.

2º passo – construir a tabela gabarito.


Essa tabela não servirá apenas como gabarito, mas em alguns casos ela é fundamental para que você enxergue informações que ficam
meio escondidas na tabela principal. Uma tabela complementa a outra, podendo até mesmo que você chegue a conclusões acerca dos
grupos e elementos.

HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS


Carlos
Luís
Paulo

3º passo preenchimento de nossa tabela, com as informações mais óbvias do problema, aquelas que não deixam margem a nenhuma
dúvida. Em nosso exemplo:
- O médico é casado com Maria: marque um “S” na tabela principal na célula comum a “Médico” e “Maria”, e um “N” nas demais
células referentes a esse “S”.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos
Luís
Paulo
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N

ATENÇÃO: se o médico é casado com Maria, ele NÃO PODE ser casado com Lúcia e Patrícia, então colocamos “N” no cruzamento
de Medicina e elas. E se Maria é casada com o médico, logo ela NÃO PODE ser casada com o engenheiro e nem com o advogado (logo
colocamos “N” no cruzamento do nome de Maria com essas profissões).
– Paulo é advogado: Vamos preencher as duas tabelas (tabela gabarito e tabela principal) agora.
– Patrícia não é casada com Paulo: Vamos preencher com “N” na tabela principal
– Carlos não é médico: preenchemos com um “N” na tabela principal a célula comum a Carlos e “médico”.

60
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N

Notamos aqui que Luís então é o médico, pois foi a célula que ficou em branco. Podemos também completar a tabela gabarito.
Novamente observamos uma célula vazia no cruzamento de Carlos com Engenharia. Marcamos um “S” nesta célula. E preenchemos
sua tabela gabarito.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N S N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N

HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS


Carlos Engenheiro
Luís Médico
Paulo Advogado

4º passo – após as anotações feitas na tabela principal e na tabela gabarito, vamos procurar informações que levem a novas conclu-
sões, que serão marcadas nessas tabelas.
Observe que Maria é esposa do médico, que se descobriu ser Luís, fato que poderia ser registrado na tabela-gabarito. Mas não vamos
fazer agora, pois essa conclusão só foi facilmente encontrada porque o problema que está sendo analisado é muito simples. Vamos con-
tinuar o raciocínio e fazer as marcações mais tarde. Além disso, sabemos que Patrícia não é casada com Paulo. Como Paulo é o advogado,
podemos concluir que Patrícia não é casada com o advogado.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N S N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N
Patrícia N N
Maria S N N

Verificamos, na tabela acima, que Patrícia tem de ser casada com o engenheiro, e Lúcia tem de ser casada com o advogado.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N S N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N N S
Patrícia N S N
Maria S N N

Concluímos, então, que Lúcia é casada com o advogado (que é Paulo), Patrícia é casada com o engenheiro (que e Carlos) e Maria é
casada com o médico (que é Luís).

61
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Preenchendo a tabela-gabarito, vemos que o problema está − Luiz não viajou para Fortaleza.
resolvido:
Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador
HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS Luiz N N N
Carlos Engenheiro Patrícia Arnaldo N N
Luís Médico Maria Mariana N N S N
Paulo Advogado Lúcia Paulo N N
Exemplo: Agora, completando o restante:
(TRT-9ª REGIÃO/PR – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINIS- Paulo viajou para Salvador, pois a nenhum dos três viajou. En-
TRATIVA – FCC) Luiz, Arnaldo, Mariana e Paulo viajaram em janeiro, tão, Arnaldo viajou para Fortaleza e Luiz para Goiânia
todos para diferentes cidades, que foram Fortaleza, Goiânia, Curi-
tiba e Salvador. Com relação às cidades para onde eles viajaram,
sabe-se que: Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador
− Luiz e Arnaldo não viajaram para Salvador; Luiz N S N N
− Mariana viajou para Curitiba;
Arnaldo S N N N
− Paulo não viajou para Goiânia;
− Luiz não viajou para Fortaleza. Mariana N N S N
Paulo N N N S
É correto concluir que, em janeiro,
(A) Paulo viajou para Fortaleza. Resposta: B
(B) Luiz viajou para Goiânia.
(C) Arnaldo viajou para Goiânia. Quantificador
(D) Mariana viajou para Salvador. É um termo utilizado para quantificar uma expressão. Os quan-
(E) Luiz viajou para Curitiba. tificadores são utilizados para transformar uma sentença aberta ou
proposição aberta em uma proposição lógica.
Resolução:
Vamos preencher a tabela:
− Luiz e Arnaldo não viajaram para Salvador; QUANTIFICADOR + SENTENÇA ABERTA = SENTENÇA FECHADA

Tipos de quantificadores
Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador
Luiz N • Quantificador universal (∀)
Arnaldo N O símbolo ∀ pode ser lido das seguintes formas:

Mariana
Paulo

− Mariana viajou para Curitiba;

Exemplo:
Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador Todo homem é mortal.
Luiz N N A conclusão dessa afirmação é: se você é homem, então será
Arnaldo N N mortal.
Na representação do diagrama lógico, seria:
Mariana N N S N
Paulo N

− Paulo não viajou para Goiânia;

Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador


Luiz N N
Arnaldo N N
ATENÇÃO: Todo homem é mortal, mas nem todo mortal é ho-
Mariana N N S N mem.
Paulo N N A frase “todo homem é mortal” possui as seguintes conclusões:
1ª) Algum mortal é homem ou algum homem é mortal.
2ª) Se José é homem, então José é mortal.

A forma “Todo A é B” pode ser escrita na forma: Se A então B.


A forma simbólica da expressão “Todo A é B” é a expressão (∀
(x) (A (x) → B).

62
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Observe que a palavra todo representa uma relação de inclusão Resolução:
de conjuntos, por isso está associada ao operador da condicional. A frase “Todo cavalo é um animal” possui as seguintes conclu-
sões:
Aplicando temos: – Algum animal é cavalo ou Algum cavalo é um animal.
x + 2 = 5 é uma sentença aberta. Agora, se escrevermos da for- – Se é cavalo, então é um animal.
ma ∀ (x) ∈ N / x + 2 = 5 ( lê-se: para todo pertencente a N temos x Nesse caso, nossa resposta é toda cabeça de cavalo é cabeça
+ 2 = 5), atribuindo qualquer valor a x a sentença será verdadeira? de animal, pois mantém a relação de “está contido” (segunda forma
A resposta é NÃO, pois depois de colocarmos o quantificador, de conclusão).
a frase passa a possuir sujeito e predicado definidos e podemos jul- Resposta: B
gar, logo, é uma proposição lógica.
(CESPE) Se R é o conjunto dos números reais, então a proposi-
• Quantificador existencial (∃) ção (∀ x) (x ∈ R) (∃ y) (y ∈ R) (x + y = x) é valorada como V.
O símbolo ∃ pode ser lido das seguintes formas:
Resolução:
Lemos: para todo x pertencente ao conjunto dos números reais
(R) existe um y pertencente ao conjunto dos números dos reais (R)
tal que x + y = x.
– 1º passo: observar os quantificadores.
X está relacionado com o quantificador universal, logo, todos
os valores de x devem satisfazer a propriedade.
Exemplo: Y está relacionado com o quantificador existencial, logo, é ne-
“Algum matemático é filósofo.” O diagrama lógico dessa frase cessário pelo menos um valor de x para satisfazer a propriedade.
é: – 2º passo: observar os conjuntos dos números dos elementos
x e y.
O elemento x pertence ao conjunto dos números reais.
O elemento y pertence ao conjunto os números reais.
– 3º passo: resolver a propriedade (x+ y = x).
A pergunta: existe algum valor real para y tal que x + y = x?
Existe sim! y = 0.
X + 0 = X.
Como existe pelo menos um valor para y e qualquer valor de
O quantificador existencial tem a função de elemento comum. x somado a 0 será igual a x, podemos concluir que o item está cor-
A palavra algum, do ponto de vista lógico, representa termos co- reto.
muns, por isso “Algum A é B” possui a seguinte forma simbólica: (∃ Resposta: CERTO
(x)) (A (x) ∧ B).

Aplicando temos: OPERAÇÕES COM CONJUNTOS


x + 2 = 5 é uma sentença aberta. Escrevendo da forma (∃ x) ∈
N / x + 2 = 5 (lê-se: existe pelo menos um x pertencente a N tal que x Conjunto dos números inteiros - z
+ 2 = 5), atribuindo um valor que, colocado no lugar de x, a sentença O conjunto dos números inteiros é a reunião do conjunto dos
será verdadeira? números naturais N = {0, 1, 2, 3, 4,..., n,...},(N C Z); o conjunto dos
A resposta é SIM, pois depois de colocarmos o quantificador, opostos dos números naturais e o zero. Representamos pela letra Z.
a frase passou a possuir sujeito e predicado definidos e podemos
julgar, logo, é uma proposição lógica.

ATENÇÃO:
– A palavra todo não permite inversão dos termos: “Todo A é B”
é diferente de “Todo B é A”.
– A palavra algum permite a inversão dos termos: “Algum A é
B” é a mesma coisa que “Algum B é A”.

Forma simbólica dos quantificadores


Todo A é B = (∀ (x) (A (x) → B).
Algum A é B = (∃ (x)) (A (x) ∧ B).
Nenhum A é B = (~ ∃ (x)) (A (x) ∧ B).
Algum A não é B= (∃ (x)) (A (x) ∧ ~ B).
N C Z (N está contido em Z)
Exemplos:
Todo cavalo é um animal. Logo,
(A) Toda cabeça de animal é cabeça de cavalo.
(B) Toda cabeça de cavalo é cabeça de animal.
(C) Todo animal é cavalo.
(D) Nenhum animal é cavalo.

63
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Subconjuntos:

SÍMBOLO REPRESENTAÇÃO DESCRIÇÃO


* Z* Conjunto dos números inteiros não nulos
+ Z+ Conjunto dos números inteiros não negativos
*e+ Z*+ Conjunto dos números inteiros positivos
- Z_ Conjunto dos números inteiros não positivos
*e- Z*_ Conjunto dos números inteiros negativos

Observamos nos números inteiros algumas características:


• Módulo: distância ou afastamento desse número até o zero, na reta numérica inteira. Representa-se o módulo por | |. O módulo de
qualquer número inteiro, diferente de zero, é sempre positivo.
• Números Opostos: dois números são opostos quando sua soma é zero. Isto significa que eles estão a mesma distância da origem
(zero).

Somando-se temos: (+4) + (-4) = (-4) + (+4) = 0

Operações
• Soma ou Adição: Associamos aos números inteiros positivos a ideia de ganhar e aos números inteiros negativos a ideia de perder.

ATENÇÃO: O sinal (+) antes do número positivo pode ser dispensado, mas o sinal (–) antes do número negativo nunca pode ser
dispensado.

• Subtração: empregamos quando precisamos tirar uma quantidade de outra quantidade; temos duas quantidades e queremos saber
quanto uma delas tem a mais que a outra; temos duas quantidades e queremos saber quanto falta a uma delas para atingir a outra. A
subtração é a operação inversa da adição. O sinal sempre será do maior número.

ATENÇÃO: todos parênteses, colchetes, chaves, números, ..., entre outros, precedidos de sinal negativo, tem o seu sinal invertido,
ou seja, é dado o seu oposto.
Exemplo:
(FUNDAÇÃO CASA – AGENTE EDUCACIONAL – VUNESP) Para zelar pelos jovens internados e orientá-los a respeito do uso adequado
dos materiais em geral e dos recursos utilizados em atividades educativas, bem como da preservação predial, realizou-se uma dinâmica
elencando “atitudes positivas” e “atitudes negativas”, no entendimento dos elementos do grupo. Solicitou-se que cada um classificasse
suas atitudes como positiva ou negativa, atribuindo (+4) pontos a cada atitude positiva e (-1) a cada atitude negativa. Se um jovem classi-
ficou como positiva apenas 20 das 50 atitudes anotadas, o total de pontos atribuídos foi
(A) 50.
(B) 45.
(C) 42.
(D) 36.
(E) 32.

Resolução:
50-20=30 atitudes negativas
20.4=80
30.(-1)=-30
80-30=50
Resposta: A

• Multiplicação: é uma adição de números/ fatores repetidos. Na multiplicação o produto dos números a e b, pode ser indicado por
a x b, a . b ou ainda ab sem nenhum sinal entre as letras.

64
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
• Divisão: a divisão exata de um número inteiro por outro nú- Conjunto dos números racionais – Q m
mero inteiro, diferente de zero, dividimos o módulo do dividendo Um número racional é o que pode ser escrito na forma n ,
pelo módulo do divisor. onde m e n são números inteiros, sendo que n deve ser diferente
de zero. Frequentemente usamos m/n para significar a divisão de
ATENÇÃO: m por n.
1) No conjunto Z, a divisão não é comutativa, não é associativa
e não tem a propriedade da existência do elemento neutro.
2) Não existe divisão por zero.
3) Zero dividido por qualquer número inteiro, diferente de zero,
é zero, pois o produto de qualquer número inteiro por zero é igual
a zero.

Na multiplicação e divisão de números inteiros é muito impor-


tante a REGRA DE SINAIS:

Sinais iguais (+) (+); (-) (-) = resultado sempre positivo.


Sinais diferentes (+) (-); (-) (+) = resultado sempre N C Z C Q (N está contido em Z que está contido em Q)
negativo.
Subconjuntos:
Exemplo:
(PREF.DE NITERÓI) Um estudante empilhou seus livros, obten-
do uma única pilha 52cm de altura. Sabendo que 8 desses livros SÍMBOLO REPRESENTAÇÃO DESCRIÇÃO
possui uma espessura de 2cm, e que os livros restantes possuem Conjunto dos números
* Q*
espessura de 3cm, o número de livros na pilha é: racionais não nulos
(A) 10 Conjunto dos números
(B) 15 + Q+
racionais não negativos
(C) 18
(D) 20 Conjunto dos números
*e+ Q*+
(E) 22 racionais positivos
Conjunto dos números
Resolução: - Q_
racionais não positivos
São 8 livros de 2 cm: 8.2 = 16 cm
Conjunto dos números
Como eu tenho 52 cm ao todo e os demais livros tem 3 cm, *e- Q*_
racionais negativos
temos:
52 - 16 = 36 cm de altura de livros de 3 cm
Representação decimal
36 : 3 = 12 livros de 3 cm
Podemos representar um número racional, escrito na forma de
O total de livros da pilha: 8 + 12 = 20 livros ao todo.
fração, em número decimal. Para isso temos duas maneiras possí-
Resposta: D
veis:
1º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula, um núme-
• Potenciação: A potência an do número inteiro a, é definida
ro finito de algarismos. Decimais Exatos:
como um produto de n fatores iguais. O número a é denominado a
base e o número n é o expoente.an = a x a x a x a x ... x a , a é multi-
plicado por a n vezes. Tenha em mente que: 2
= 0,4
– Toda potência de base positiva é um número inteiro positivo. 5
– Toda potência de base negativa e expoente par é um número
inteiro positivo.
2º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula, infinitos
– Toda potência de base negativa e expoente ímpar é um nú-
algarismos (nem todos nulos), repetindo-se periodicamente Deci-
mero inteiro negativo.
mais Periódicos ou Dízimas Periódicas:
Propriedades da Potenciação
1) Produtos de Potências com bases iguais: Conserva-se a base 1
= 0,333...
e somam-se os expoentes. (–a)3 . (–a)6 = (–a)3+6 = (–a)9 3
2) Quocientes de Potências com bases iguais: Conserva-se a
base e subtraem-se os expoentes. (-a)8 : (-a)6 = (-a)8 – 6 = (-a)2
Representação Fracionária
3) Potência de Potência: Conserva-se a base e multiplicam-se
É a operação inversa da anterior. Aqui temos duas maneiras
os expoentes. [(-a)5]2 = (-a)5 . 2 = (-a)10
possíveis:
4) Potência de expoente 1: É sempre igual à base. (-a)1 = -a e
(+a) = +a
1
1) Transformando o número decimal em uma fração numera-
5) Potência de expoente zero e base diferente de zero: É igual
dor é o número decimal sem a vírgula e o denominador é composto
a 1. (+a)0 = 1 e (–b)0 = 1
pelo numeral 1, seguido de tantos zeros quantas forem as casas de-
cimais do número decimal dado. Ex.:
0,035 = 35/1000

65
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
2) Através da fração geratriz. Aí temos o caso das dízimas periódicas que podem ser simples ou compostas.
– Simples: o seu período é composto por um mesmo número ou conjunto de números que se repeti infinitamente. Exemplos:

Procedimento: para transformarmos uma dízima periódica simples em fração basta utilizarmos o dígito 9 no denominador para cada
quantos dígitos tiver o período da dízima.

– Composta: quando a mesma apresenta um ante período que não se repete.

a)

Procedimento: para cada algarismo do período ainda se coloca um algarismo 9 no denominador. Mas, agora, para cada algarismo do
antiperíodo se coloca um algarismo zero, também no denominador.

b)

Procedimento: é o mesmo aplicado ao item “a”, acrescido na frente da parte inteira (fração mista), ao qual transformamos e obtemos
a fração geratriz.

66
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Exemplo:
(PREF. NITERÓI) Simplificando a expressão abaixo

Obtém-se :
ATENÇÃO: Na adição/subtração se o denominador for igual,
(A) ½ conserva-se os denominadores e efetua-se a operação apresen-
(B) 1 tada.
(C) 3/2
(D) 2 Exemplo:
(E) 3 (PREF. JUNDIAI/SP – AGENTE DE SERVIÇOS OPERACIONAIS
– MAKIYAMA) Na escola onde estudo, ¼ dos alunos tem a língua
Resolução: portuguesa como disciplina favorita, 9/20 têm a matemática como
favorita e os demais têm ciências como favorita. Sendo assim, qual
fração representa os alunos que têm ciências como disciplina favo-
rita?
(A) 1/4
(B) 3/10
(C) 2/9
(D) 4/5
(E) 3/2
Resposta: B
Resolução:
Caraterísticas dos números racionais Somando português e matemática:
O módulo e o número oposto são as mesmas dos números in-
teiros.

Inverso: dado um número racional a/b o inverso desse número


(a/b)–n, é a fração onde o numerador vira denominador e o denomi-
nador numerador (b/a)n.
O que resta gosta de ciências:

Resposta: B
Representação geométrica
• Multiplicação: como todo número racional é uma fração ou
pode ser escrito na forma de uma fração, definimos o produto de
dois números racionais a e c , da mesma forma que o produto de
b d
frações, através de:

Observa-se que entre dois inteiros consecutivos existem infini-


tos números racionais.

Operações
• Soma ou adição: como todo número racional é uma fração • Divisão: a divisão de dois números racionais p e q é a própria
ou pode ser escrito na forma de uma fração, definimos a adição operação de multiplicação do número p pelo inverso de q, isto é: p
entre os números racionais a e c , da mesma forma que a soma ÷ q = p × q-1
de frações, através de: b d

• Subtração: a subtração de dois números racionais p e q é a


própria operação de adição do número p com o oposto de q, isto é:
p – q = p + (–q)

67
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Exemplo: Expressões numéricas
(PM/SE – SOLDADO 3ªCLASSE – FUNCAB) Numa operação São todas sentenças matemáticas formadas por números, suas
policial de rotina, que abordou 800 pessoas, verificou-se que 3/4 operações (adições, subtrações, multiplicações, divisões, potencia-
dessas pessoas eram homens e 1/5 deles foram detidos. Já entre as ções e radiciações) e também por símbolos chamados de sinais de
mulheres abordadas, 1/8 foram detidas. associação, que podem aparecer em uma única expressão.
Qual o total de pessoas detidas nessa operação policial?
(A) 145 Procedimentos
(B) 185 1) Operações:
(C) 220 - Resolvermos primeiros as potenciações e/ou radiciações na
(D) 260 ordem que aparecem;
(E) 120 - Depois as multiplicações e/ou divisões;
- Por último as adições e/ou subtrações na ordem que apare-
Resolução: cem.

2) Símbolos:
- Primeiro, resolvemos os parênteses ( ), até acabarem os cál-
culos dentro dos parênteses,
-Depois os colchetes [ ];
- E por último as chaves { }.

ATENÇÃO:
– Quando o sinal de adição (+) anteceder um parêntese, col-
chetes ou chaves, deveremos eliminar o parêntese, o colchete ou
chaves, na ordem de resolução, reescrevendo os números internos
com os seus sinais originais.
– Quando o sinal de subtração (-) anteceder um parêntese, col-
chetes ou chaves, deveremos eliminar o parêntese, o colchete ou
chaves, na ordem de resolução, reescrevendo os números internos
com os seus sinais invertidos.
Resposta: A
Exemplo:
• Potenciação: é válido as propriedades aplicadas aos núme- (MANAUSPREV – ANALISTA PREVIDENCIÁRIO – ADMINISTRATI-
ros inteiros. Aqui destacaremos apenas as que se aplicam aos nú- VA – FCC) Considere as expressões numéricas, abaixo.
meros racionais. A = 1/2 + 1/4+ 1/8 + 1/16 + 1/32 e
B = 1/3 + 1/9 + 1/27 + 1/81 + 1/243
A) Toda potência com expoente negativo de um número racio-
nal diferente de zero é igual a outra potência que tem a base igual O valor, aproximado, da soma entre A e B é
ao inverso da base anterior e o expoente igual ao oposto do expo- (A) 2
ente anterior. (B) 3
(C) 1
(D) 2,5
(E) 1,5

Resolução:
Vamos resolver cada expressão separadamente:

B) Toda potência com expoente ímpar tem o mesmo sinal da


base.

C) Toda potência com expoente par é um número positivo.

Resposta: E

68
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Múltiplos Vale ressaltar a divisibilidade por 7: Um número é divisível por
Dizemos que um número é múltiplo de outro quando o primei- 7 quando o último algarismo do número, multiplicado por 2, subtra-
ro é resultado da multiplicação entre o segundo e algum número ído do número sem o algarismo, resulta em um número múltiplo de
natural e o segundo, nesse caso, é divisor do primeiro. O que sig- 7. Neste, o processo será repetido a fim de diminuir a quantidade
nifica que existem dois números, x e y, tal que x é múltiplo de y se de algarismos a serem analisados quanto à divisibilidade por 7.
existir algum número natural n tal que:
x = y·n Outros critérios
Divisibilidade por 12: Um número é divisível por 12 quando é
Se esse número existir, podemos dizer que y é um divisor de x e divisível por 3 e por 4 ao mesmo tempo.
podemos escrever: x = n/y Divisibilidade por 15: Um número é divisível por 15 quando é
divisível por 3 e por 5 ao mesmo tempo.
Observações:
1) Todo número natural é múltiplo de si mesmo. Fatoração numérica
2) Todo número natural é múltiplo de 1. Trata-se de decompor o número em fatores primos. Para de-
3) Todo número natural, diferente de zero, tem infinitos múl- compormos este número natural em fatores primos, dividimos o
tiplos. mesmo pelo seu menor divisor primo, após pegamos o quociente
4) O zero é múltiplo de qualquer número natural. e dividimos o pelo seu menor divisor, e assim sucessivamente até
5) Os múltiplos do número 2 são chamados de números pares, obtermos o quociente 1. O produto de todos os fatores primos re-
e a fórmula geral desses números é 2k (k ∈ N). Os demais são cha- presenta o número fatorado. Exemplo:
mados de números ímpares, e a fórmula geral desses números é 2k
+ 1 (k ∈ N).
6) O mesmo se aplica para os números inteiros, tendo k ∈ Z.

Critérios de divisibilidade
São regras práticas que nos possibilitam dizer se um número
é ou não divisível por outro, sem que seja necessário efetuarmos
a divisão.
No quadro abaixo temos um resumo de alguns dos critérios:

Divisores
Os divisores de um número n, é o conjunto formado por todos
os números que o dividem exatamente. Tomemos como exemplo o
número 12.

Um método para descobrimos os divisores é através da fato-


ração numérica. O número de divisores naturais é igual ao produto
dos expoentes dos fatores primos acrescidos de 1.
Logo o número de divisores de 12 são:

Para sabermos quais são esses 6 divisores basta pegarmos cada


fator da decomposição e seu respectivo expoente natural que varia
de zero até o expoente com o qual o fator se apresenta na decom-
posição do número natural.
(Fonte: https://www.guiadamatematica.com.br/criterios-de-divisi- 12 = 22 . 31 =
bilidade/ - reeditado) 22 = 20,21 e 22 ; 31 = 30 e 31, teremos:
20 . 30=1
20 . 31=3
21 . 30=2
21 . 31=2.3=6
22 . 31=4.3=12
22 . 30=4

69
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
O conjunto de divisores de 12 são: D (12)={1, 2, 3, 4, 6, 12}
A soma dos divisores é dada por: 1 + 2 + 3 + 4 + 6 + 12 = 28

Máximo divisor comum (MDC)


É o maior número que é divisor comum de todos os números dados. Para o cálculo do MDC usamos a decomposição em fatores pri-
mos. Procedemos da seguinte maneira:
Após decompor em fatores primos, o MDC é o produto dos FATORES COMUNS obtidos, cada um deles elevado ao seu MENOR EXPO-
ENTE.

Exemplo:
MDC (18,24,42) =

Observe que os fatores comuns entre eles são: 2 e 3, então pegamos os de menores expoentes: 2x3 = 6. Logo o Máximo Divisor Co-
mum entre 18,24 e 42 é 6.

Mínimo múltiplo comum (MMC)


É o menor número positivo que é múltiplo comum de todos os números dados. A técnica para acharmos é a mesma do MDC, apenas
com a seguinte ressalva:
O MMC é o produto dos FATORES COMUNS E NÃO-COMUNS, cada um deles elevado ao SEU MAIOR EXPOENTE.
Pegando o exemplo anterior, teríamos:
MMC (18,24,42) =
Fatores comuns e não-comuns= 2,3 e 7
Com maiores expoentes: 2³x3²x7 = 8x9x7 = 504. Logo o Mínimo Múltiplo Comum entre 18,24 e 42 é 504.

Temos ainda que o produto do MDC e MMC é dado por: MDC (A,B). MMC (A,B)= A.B

Os cálculos desse tipo de problemas, envolvem adições e subtrações, posteriormente as multiplicações e divisões. Depois os pro-
blemas são resolvidos com a utilização dos fundamentos algébricos, isto é, criamos equações matemáticas com valores desconhecidos
(letras). Observe algumas situações que podem ser descritas com utilização da álgebra.
É bom ter mente algumas situações que podemos encontrar:

70
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Exemplos: Resolução:
(PREF. GUARUJÁ/SP – SEDUC – PROFESSOR DE MATEMÁTICA – Chamemos o número de lâmpadas queimadas de ( Q ) e o nú-
CAIPIMES) Sobre 4 amigos, sabe-se que Clodoaldo é 5 centímetros mero de lâmpadas boas de ( B ). Assim:
mais alto que Mônica e 10 centímetros mais baixo que Andreia. Sa- B + Q = 360 , ou seja, B = 360 – Q ( I )
be-se também que Andreia é 3 centímetros mais alta que Doralice e
que Doralice não é mais baixa que Clodoaldo. Se Doralice tem 1,70
metros, então é verdade que Mônica tem, de altura: , ou seja, 7.Q = 2.B ( II )
(A) 1,52 metros.
(B) 1,58 metros. Substituindo a equação ( I ) na equação ( II ), temos:
(C) 1,54 metros. 7.Q = 2. (360 – Q)
(D) 1,56 metros. 7.Q = 720 – 2.Q
7.Q + 2.Q = 720
Resolução: 9.Q = 720
Escrevendo em forma de equações, temos: Q = 720 / 9
C = M + 0,05 ( I ) Q = 80 (queimadas)
C = A – 0,10 ( II ) Como 10 lâmpadas boas quebraram, temos:
A = D + 0,03 ( III ) Q’ = 80 + 10 = 90 e B’ = 360 – 90 = 270
D não é mais baixa que C
Se D = 1,70 , então:
( III ) A = 1,70 + 0,03 = 1,73
( II ) C = 1,73 – 0,10 = 1,63 Resposta: B
( I ) 1,63 = M + 0,05
M = 1,63 – 0,05 = 1,58 m Fração é todo número que pode ser escrito da seguinte forma
Resposta: B a/b, com b≠0. Sendo a o numerador e b o denominador. Uma fra-
ção é uma divisão em partes iguais. Observe a figura:
(CEFET – AUXILIAR EM ADMINISTRAÇÃO – CESGRANRIO) Em
três meses, Fernando depositou, ao todo, R$ 1.176,00 em sua ca-
derneta de poupança. Se, no segundo mês, ele depositou R$ 126,00
a mais do que no primeiro e, no terceiro mês, R$ 48,00 a menos do
que no segundo, qual foi o valor depositado no segundo mês?
(A) R$ 498,00
(B) R$ 450,00
(C) R$ 402,00 O numerador indica quantas partes tomamos do total que foi
(D) R$ 334,00 dividida a unidade.
(E) R$ 324,00 O denominador indica quantas partes iguais foi dividida a uni-
dade.
Resolução: Lê-se: um quarto.
Primeiro mês = x
Segundo mês = x + 126 Atenção:
Terceiro mês = x + 126 – 48 = x + 78 • Frações com denominadores de 1 a 10: meios, terços, quar-
Total = x + x + 126 + x + 78 = 1176 tos, quintos, sextos, sétimos, oitavos, nonos e décimos.
3.x = 1176 – 204 • Frações com denominadores potências de 10: décimos, cen-
x = 972 / 3 tésimos, milésimos, décimos de milésimos, centésimos de milési-
x = R$ 324,00 (1º mês) mos etc.
* No 2º mês: 324 + 126 = R$ 450,00 • Denominadores diferentes dos citados anteriormente:
Resposta: B Enuncia-se o numerador e, em seguida, o denominador seguido da
palavra “avos”.
(PREFEITURA MUNICIPAL DE RIBEIRÃO PRETO/SP – AGENTE
DE ADMINISTRAÇÃO – VUNESP) Uma loja de materiais elétricos Tipos de frações
testou um lote com 360 lâmpadas e constatou que a razão entre o – Frações Próprias: Numerador é menor que o denominador.
número de lâmpadas queimadas e o número de lâmpadas boas era Ex.: 7/15
2 / 7. Sabendo-se que, acidentalmente, 10 lâmpadas boas quebra- – Frações Impróprias: Numerador é maior ou igual ao denomi-
ram e que lâmpadas queimadas ou quebradas não podem ser ven- nador. Ex.: 6/7
didas, então a razão entre o número de lâmpadas que não podem – Frações aparentes: Numerador é múltiplo do denominador.
ser vendidas e o número de lâmpadas boas passou a ser de As mesmas pertencem também ao grupo das frações impróprias.
(A) 1 / 4. Ex.: 6/3
(B) 1 / 3. – Frações mistas: Números compostos de uma parte inteira e
(C) 2 / 5. outra fracionária. Podemos transformar uma fração imprópria na
(D) 1 / 2. forma mista e vice e versa. Ex.: 1 1/12 (um inteiro e um doze avos)
(E) 2 / 3. – Frações equivalentes: Duas ou mais frações que apresentam
a mesma parte da unidade. Ex.: 2/4 = 1/2
– Frações irredutíveis: Frações onde o numerador e o denomi-
nador são primos entre si. Ex.: 5/11 ;

71
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Operações com frações
(E)
• Adição e Subtração
Com mesmo denominador: Conserva-se o denominador e so-
ma-se ou subtrai-se os numeradores. Resolução:
Se cada garrafa contém X litros de suco, e eu tenho 3 garrafas,
então o total será de 3X litros de suco. Precisamos dividir essa quan-
tidade de suco (em litros) para 5 pessoas, logo teremos:

Com denominadores diferentes: é necessário reduzir ao mes-


mo denominador através do MMC entre os denominadores. Usa-
mos tanto na adição quanto na subtração.
Onde x é litros de suco, assim a fração que cada um recebeu de
suco é de 3/5 de suco da garrafa.
Resposta: B

RACIOCÍNIO LÓGICO ENVOLVENDO PROBLEMAS ARIT-


O MMC entre os denominadores (3,2) = 6 MÉTICOS, GEOMÉTRICOS E MATRICIAIS

• Multiplicação e Divisão As sequências podem ser formadas por números, letras, pes-
Multiplicação: É produto dos numerados pelos denominadores soas, figuras, etc. Existem várias formas de se estabelecer uma se-
dados. Ex.: quência, o importante é que existem pelo menos três elementos
que caracterize a lógica de sua formação, entretanto algumas séries
necessitam de mais elementos para definir sua lógica1. Um bom co-
nhecimento em Progressões Algébricas (PA) e Geométricas (PG), fa-
zem com que deduzir as sequências se tornem simples e sem com-
plicações. E o mais importante é estar atento a vários detalhes que
elas possam oferecer. Exemplos:

Progressão Aritmética: Soma-se constantemente um mesmo


número.

– Divisão: É igual a primeira fração multiplicada pelo inverso da


segunda fração. Ex.:

Progressão Geométrica: Multiplica-se constantemente um


mesmo número.

Obs.: Sempre que possível podemos simplificar o resultado da


fração resultante de forma a torna-la irredutível.

Exemplo:
(EBSERH/HUPES – UFBA – TÉCNICO EM INFORMÁTICA – IA-
DES) O suco de três garrafas iguais foi dividido igualmente entre 5
pessoas. Cada uma recebeu Sequência de Figuras: Esse tipo de sequência pode seguir o
mesmo padrão visto na sequência de pessoas ou simplesmente so-
(A) frer rotações, como nos exemplos a seguir. Exemplos:

Exemplos:
(B) Analise a sequência a seguir:

(C)

(D)
1 https://centraldefavoritos.com.br/2017/07/21/sequencias-com-nu-
meros-com-figuras-de-palavras/

72
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Admitindo-se que a regra de formação das figuras seguintes permaneça a mesma, pode-se afirmar que a figura que ocuparia a 277ª
posição dessa sequência é:

Resolução:
A sequência das figuras completa-se na 5ª figura. Assim, continua-se a sequência de 5 em 5 elementos. A figura de número 277 ocu-
pa, então, a mesma posição das figuras que representam número 5n + 2, com n N. Ou seja, a 277ª figura corresponde à 2ª figura, que é
representada pela letra “B”.
Resposta: B

(CÂMARA DE ARACRUZ/ES - AGENTE ADMINISTRATIVO E LEGISLATIVO - IDECAN) A sequência formada pelas figuras representa as
posições, a cada 12 segundos, de uma das rodas de um carro que mantém velocidade constante. Analise-a.

Após 25 minutos e 48 segundos, tempo no qual o carro permanece nessa mesma condição, a posição da roda será:

Resolução:
A roda se mexe a cada 12 segundos. Percebe-se que ela volta ao seu estado inicial após 48 segundos.
O examinador quer saber, após 25 minutos e 48 segundos qual será a posição da roda. Vamos transformar tudo para segundos:
25 minutos = 1500 segundos (60x25)
1500 + 48 (25m e 48s) = 1548
Agora é só dividir por 48 segundos (que é o tempo que levou para roda voltar à posição inicial)
1548 / 48 = vai ter o resto “12”.
Portanto, após 25 minutos e 48 segundos, a roda vai estar na posição dos 12 segundos.
Resposta: B

73
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO

ANOTAÇÕES ______________________________________________________

______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
_____________________________________________________
______________________________________________________
_____________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________

74
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ

Lá, o concurseiro encontrará um material completo de aula pre-


ATUALIDADES parado com muito carinho para seu melhor aproveitamento. Com
o material disponibilizado online, você poderá conferir e checar os
A importância do estudo de atualidades fatos e fontes de imediato através dos veículos de comunicação vir-
Dentre todas as disciplinas com as quais concurseiros e estu- tuais, tornando a ponte entre o estudo desta disciplina tão fluida e
dantes de todo o país se preocupam, a de atualidades tem se tor- a veracidade das informações um caminho certeiro.
nado cada vez mais relevante. Quando pensamos em matemática,
língua portuguesa, biologia, entre outras disciplinas, inevitavelmen-
te as colocamos em um patamar mais elevado que outras que nos
parecem menos importantes, pois de algum modo nos é ensinado a MEIO AMBIENTE E SOCIEDADE: PROBLEMAS, POLÍTI-
hierarquizar a relevância de certos conhecimentos desde os tempos CAS PÚBLICAS, ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMEN-
de escola. TAIS, ASPECTOS LOCAIS E ASPECTOS GLOBAIS
No, entanto, atualidades é o único tema que insere o indivíduo
no estudo do momento presente, seus acontecimentos, eventos A QUESTÃO AMBIENTAL
e transformações. O conhecimento do mundo em que se vive de Antes de mais nada é bom lembrar que só podemos entender
modo algum deve ser visto como irrelevante no estudo para concur- a questão ambiental, aqui no Brasil, na forma da onda da globaliza-
sos, pois permite que o indivíduo vá além do conhecimento técnico ção neoliberal que vem promovendo uma total perda da soberania
e explore novas perspectivas quanto à conhecimento de mundo. nacional sobre a gestão dos seus recursos naturais, coibindo assim a
Em sua grande maioria, as questões de atualidades em con- alternativa de projetos de desenvolvimento sustentáveis, aprofun-
cursos são sobre fatos e acontecimentos de interesse público, mas dando as desigualdades sociais, dilapidando os recursos naturais,
podem também apresentar conhecimentos específicos do meio po- excluindo em grande parte a população do mercado de trabalho,
lítico, social ou econômico, sejam eles sobre música, arte, política, sem que participe dos frutos propiciados pelo avanço da ciência e
economia, figuras públicas, leis etc. Seja qual for a área, as questões tecnologia.
de atualidades auxiliam as bancas a peneirarem os candidatos e se- Quanto a esta questão, não confundir, por exemplo, efeito es-
lecionarem os melhores preparados não apenas de modo técnico. tufa, (natural, conceito da Física) com efeito de estufa (aquele pro-
Sendo assim, estudar atualidades é o ato de se manter cons- vocado pela ação do homem, conceito da geografia). Lembre-se: a
tantemente informado. Os temas de atualidades em concursos são última grande conferência sobre o clima, se deu em Kioto, Japão, no
sempre relevantes. É certo que nem todas as notícias que você vê ano de 1997, sendo que este ano houve mais um encontro em Bohn
na televisão ou ouve no rádio aparecem nas questões, manter-se no qual ficou claro que alguns países não estão cumprindo suas re-
informado, porém, sobre as principais notícias de relevância nacio- soluções. Dois resistentes foram a Austrália e o Japão. O Governo
nal e internacional em pauta é o caminho, pois são debates de ex- Bush neoliberal de direita não ratificou o acordo de Kioto mesmo
trema recorrência na mídia. sendo os EUA responsáveis pela emissão de ¼ dos “gases de estufa”
O grande desafio, nos tempos atuais, é separar o joio do trigo. do globo. Um capítulo polêmico deste encontro, foi a emissão dos
Com o grande fluxo de informações que recebemos diariamente, é gases de estufa, cujas quantidades devem ser reduzidas ao nível de
preciso filtrar com sabedoria o que de fato se está consumindo. Por quinze anos atrás.
diversas vezes, os meios de comunicação (TV, internet, rádio etc.) Os Americanos são 100 milhões de carros. Cada americano
adaptam o formato jornalístico ou informacional para transmitirem consome energia para: 3 suíços, 4 italianos, 160 tanzanianos e 1100
outros tipos de informação, como fofocas, vidas de celebridades, ruandeses. Utilizam 40% dos recursos renováveis do globo sendo
futebol, acontecimentos de novelas, que não devem de modo al- que suas fontes de energia são baseadas em combustíveis fósseis:
gum serem inseridos como parte do estudo de atualidades. Os in- Carvão, Petróleo e Gás Natural.
teresses pessoais em assuntos deste cunho não são condenáveis de A questão ambiental é uma questão global, sendo necessária
modo algum, mas são triviais quanto ao estudo. uma ação conjunta de todos os países do globo. As energias carbo-
Ainda assim, mesmo que tentemos nos manter atualizados nadas, petróleo e carvão, principalmente, as queimadas*, os gases
através de revistas e telejornais, o fluxo interminável e ininterrupto emitidos pelas fábricas, são causas básicas do efeito de estufa, ilha
de informações veiculados impede que saibamos de fato como es- de calor, chuva ácida e inversão térmica, problemas sério dos tem-
tudar. Apostilas e livros de concursos impressos também se tornam pos atuais e que reforçam uma de nossas principais contradições.
rapidamente desatualizados e obsoletos, pois atualidades é uma Ela reside no fato de não coadunarmos desenvolvimento científico
disciplina que se renova a cada instante. e questão ambiental. Lembre-se de que, no Brasil, estamos conhe-
O mundo da informação está cada vez mais virtual e tecnoló- cendo sérios retrocessos na legislação ambiental. Os principais são
gico, as sociedades se informam pela internet e as compartilham poder reflorestar com eucalípteros e o projeto de desmatamento
em velocidades incalculáveis. Pensando nisso, a editora prepara da amazônia em fase de discussão. O projeto da bancada ruralista
mensalmente o material de atualidades de mais diversos campos prevê redução da área de preservação dos atuais 80% para 20% na
do conhecimento (tecnologia, Brasil, política, ética, meio ambiente, Amazônia e de 35% para 20% no Cerrado Amazônico.
jurisdição etc.) na “Área do Cliente”.

75
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Na quarta conferência mundial sobre o clima, chegou-se a con- Convenção da ONU
clusão de que a temperatura da terra deve elevar-se mais 5 graus Diversos locais declarados patrimônio da humanidade podem
até 2100. Os gases de estufa proveniente da queima combustíveis estar ameaçados pelas conseqüências da mudança climática global,
fósseis, em especial o petróleo e carvão, faz nossa necessidade de segundo o atlas apresentado em Nairóbi na Convenção das Nações
fontes alternativas como a solar, a eólica, a das marés, a dos gé- Unidas sobre Mudança Climática, que reuniu durante duas semanas
iseres ou a de biomassa, que são as fontes da revolução técnico 5 mil participantes.
científica. A agenda 21 é uma plano ambicioso que prevê a implan- A reunião da ONU, além de trazer dados novos sobre as con-
tação de um programa de desenvolvimento sustentável para todo o sequências climáticas, teve o objetivo de dar prosseguimento ao
globo para o século XXI. Nela os países X se comprometem destinar Protocolo de Kyoto, o acordo mundial fechado em 2005 que prevê
0,7% dos seus PIBs para aplicação neste programa. Por enquanto só cortes na emissão de gases estufa até 2012. O encontro acertou
mandaram as fábricas que mais poluem. Há uma proposta de cres- que as negociações para levar adiante e ampliar Kyoto deveriam
cimento zero não aceita pelos países periféricos uma vez que teriam acontecer em 2008 e alguns delegados criticaram a falta de uma
que estagnar o seu processo de industrialização. ação firme para combater o aquecimento da Terra.
Nas regiões de fronteira agrícola, ou em países de industrializa- Apesar dos esforços para conter o avanço dos danos ambien-
ção recente, tais como os tigrinhos asiáticos, é muito comum o uso tais, o ritmo das emissões de carbono no mundo mais que duplicou
de queimadas para limpar campos. Estas se dão nos meses mais se- entre 2000 e 2005, de acordo com levantamento publicado pela
cos do ano, em áreas de pastagens ou queima de coivaras, casando rede mundial sobre o tema, a Global Carbon Project. As emissões
acidentes em rodovias, com mortes de pessoas, animais, e sérios vinham crescendo a menos de 1% anualmente até o ano 2000, mas
problemas respiratórios em cidades circundadas por canaviais, num aumentaram a uma taxa de 2,5% ao ano. Segundo a organização,
dos casos mais alarmantes de poluição atmosférica. a aceleração se deve sobretudo ao aumento do uso de carvão e à
A escravidão de menores e de armazém é uma constante nas falta de ganhos na eficiência do uso da energia.
áreas de carvoaria, como as denunciadas na região Centro Oeste e
Norte do Brasil. Alimentação
Neste sentido, são também graves as denuncias feitas a China A mudança climática também põe em risco a comida dos seres
dentro da OMC, já que este país é um paraíso proletário e um dos humanos e torna ainda mais difícil o desafio de alimentar a cres-
principais acusados de Dunnping Social. Não se esqueça da escra- cente população mundial, de acordo com a Organização das Nações
vidão de mulheres no mundo muçulmano e da venda de mulheres Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).
chinesas (Cidadania). Um novo estudo sobre os oceanos sugeriu que o fitoplâncton
- o primeiro elo na cadeia alimentar marítima - será fortemente
Aquecimento Global afetado pelo aquecimento climático. A pesca nos trópicos e nas
Iceberg passa pela costa da Nova Zelândia em função do aque- médias latitudes pode ser severamente afetada pela perda destes
cimento global. microorganimos como resultado de águas mais quentes, acrescenta
Estudos e alertas de especialistas sobre os efeitos nefastos do o artigo do botânico Michael Behrenfeld, da Universidade Estadual
aquecimento global no futuro do planeta chamaram a atenção da do Oregon (EUA).
população para o problema em 2006. Ambientalistas e pesquisado- O acelerado derretimento das geleiras foi apontado como um
res defendem que as ações contra a mudança climática devem ser fato que mostra o imediatismo do problema. “No passado as ge-
imediatas para evitar um verdadeiro “desastre” para a economia leiras do norte mostravam um padrão que não correspondia aos
mundial, que poderia sofrer decréscimo de até 20% na produção modelos de mudança climática (provocada pelo aquecimento glo-
em 50 anos por culpa da alta das temperaturas do planeta. bal), poderiam até mesmo ser usadas como um argumento contra
» Mudança climática ameaça alimentação dos humanos o aquecimento global. Mas agora, dados dos últimos anos mostram
» Derretimento de geleiras indica aquecimento global uma mudança que se encaixa perfeitamente bem com os modelos
» Europa vive o outono mais quente dos últimos séculos de mudança climática”, disse o professor de glaciologia Per Hol-
» Mudança climática causa extinção de mamíferos mlund, da Universidade de Estocolmo.
» Planeta pode entrar em colapso em 50 anos, diz estudo Se o aquecimento global prosseguir, o gelo do Ártico poderá
» Al Gore tenta salvar a Terra em filme derreter totalmente até 2080, alertou um grupo de cientistas eu-
ropeus. “Se a situação evoluir como prevêem os físicos, os campos
Essa é a advertência do relatório preparado pelo economista de gelo do Oceano Ártico desaparecerão completamente até 2080”,
Nicholas Stern, que convocou os governos de todo o mundo a fixar disse Eberhard Fahrbach, do Instituto Alfred Wegner (AWI), mem-
um preço para as emissões de CO2 mediante o pagamento de im- bro do grupo Damocles de pesquisas sobre o Ártico europeu.
postos. O relatório adverte que, com uma alta das temperaturas de
3ºC a 4ºC, o aumento do nível dos mares transformará centenas de Calor
milhões de pessoas em vítimas de inundações a cada ano. A Europa viveu um dos verões mais quentes da sua história,
As áreas litorâneas do sudeste da Ásia, sobretudo Bangladesh e com ondas de calor por todo o continente. A Europa teve também
Vietnã, assim como as pequenas ilhas do Caribe e do Pacífico terão o outono mais quente em décadas, até mesmo séculos, o que põe
que ser protegidas do mar. Grandes cidades como Tóquio, Londres, em risco o início da temporada de esportes de inverno nos Alpes.
Nova York ou Cairo também ficarão expostas ao risco de inunda- Na Holanda, o Instituto Real de Meteorologia informou que este ou-
ções. tono foi o mais quente do país em 300 anos, com uma temperatura
O lançamento do documentário Uma Verdade Inconveniente, média de 13,5ºC.
protagonizado pelo ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore,
ajudou a dar voz para o problema em 2006. Al Gore, que visitou o ÁGUA
Brasil, defende que a adoção de medidas contra a emissão de gases A água potável será um dos recursos mais caros (custo bene-
efeito estufa é mais uma questão “ética” e “moral” do que política. fício) do século XXI. Sendo assim, os rios internacionais são, cada
vez mais geoestratégicos, motivando conflitos entre os países en-
volvidos. Um grande exemplo é a questão do Nilo, ou ainda, as

76
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
nascentes do rio Jordão, palco das disputas entre árabes e judeus, O ferroviário é muito viável para o Brasil. Lembre-se da Norte-
no Oriente Médio. Nestas regiões, água é, relativamente, mais -Sul que vai interligar Belém (PA) a Senador Canêdo e começou, este
importante que o petróleo. No Centro Oeste do Brasil, a calagem ano, suas obras em
de solo causa eutrofização de mananciais, constituindo-se em um
grave impacto sobre recursos hídricos. Não falta água por falta de Anápolis
chuvas. A grande causa da escassez é o mau uso dos solos agrícolas A hidrovia é, sem dúvida, o transporte mais barato, em termos
e urbanos por compactação pelo uso de máquinas e pastoreio ou de custo benefício. Recentemente, num total desrespeito a legis-
ainda pela impermeabilidade de área urbana. Fala-se em taxar todo lação ambiental, barcaças de grande calado resolveram, a revelia,
e qualquer uso de água. É necessário racionalizar o uso da água e, tentar abrir uma hidrovia no rio Araguaia. Seria o Araguaia adequa-
em caso extremo, seu racionamento. Quarenta municípios goianos do para se fazer uma Hidrovia? Não se esqueça das voçorocas neste
já apresentam problemas crônicos com abastecimento de água. No rio.
município de Bom Jesus de Goiás os pivôs de irrigação chegaram a Todo país para atrair investimentos dentro da novíssima divisão
ser paralisados por ordem do ministério público. Todas as grandes internacional do trabalho, deve ser viável, o que significa trabalhar
cidades do mundo já se ressentem deste recurso, em especial as em Just In Time, tendo que possuir boa infra-estrutura. Será que o
megacidades dos países periféricos, serão palcos, mais e mais, de Brasil em crise energética irá atrair investimentos?. De que adianta
disputas por rios que as abastecem e de grandes epidemias. O Nilo ter minérios se não se pode extraí-lo a menor custo? Minério tem
e o Níger são dois bons exemplos destas disputas. O Brasil embora muito pouco valor agregado. Jamais houve vantagem comparativa
tendo a maior reserva de água disponível do globo apresenta re- para países que produzem matérias primas. O gaseoduto virá da
giões em estresse hídrico, menos de 2000 metros cúbicos de água Bolívia chegando até Goiás, contudo, toda obra deve pautar-se em
por habitante por ano. Este é o caso de muitas áreas do Nordeste. Eia-Rima confiável. A instalação de várias Empresas, como a per-
digão em Rio Verde, (Detroitização) podem causar sérios impactos
ENERGIA ambientais. Alguns bem visíveis, são os impactos na represa de
O século XIX foi da máquina a vapor, um motor a combustão Corumbá, com a matança de toneladas de peixes. Serra da Mesa,
externa. O século XX foi do motor a combustão interna. Já o século (agora Cana Brava e Peixe também no rio Tocantins) a represa do
XXI será da célula de combustível que promete divorciar o automó- Yang Tsé Kiang na China.
vel da poluição. Quanto a nossa crise energética, tanto a Petrobrás Preste atenção nas negociações para venda da Celg e das cons-
quanto o setor energético e tudo o que é público no Brasil passaram truções da ETA e da ETE em Goiânia, que envolvem a preservação
a sofrer as conseqüências do projeto neoliberal. A receita do FMI do rio Meia Ponte e sua recuperação, em 50 anos, tendo como mo-
foi retirar dinheiro das estatais para equilibrar as contas públicas. delo o Tâmisa. O uso bélico da energia nuclear constitui-se num dos
O resultado foi que não só a Petrobrás como todo o setor energé- graves problemas atuais. Os TNPs devem ser revistos por todos os
tico sofreram com tais medidas resultando em graves “Acidentes países. É lógico, (nascentes do rio Ganges e Indu) países como o
Ecológicos”, ameaças, ou até mesmo, apagões. Agora dois setores Paquistão e a Índia, que disputam a Kashimira, fazem vista grossa
geoestratégicos estão prontos para serem privatizados. Outros se- as sanções da ONU, onde fica, bem visível o colonialismo do Grupo
tores como saúde, transporte e educação também estão sucatea- dos 7 mais a Rússia, sobre os países emergentes. Estes países estão
dos. Desta forma os meios de comunicação de massa imperam em desenvolvendo, mais e mais, armas biológicas (motivo das sanções
suas opiniões. “Achamos” que tudo no Brasil deve ser privatizado. da OMC ao Iraque). Estas são consideradas bombas atômicas dos
Quanto as fontes de energia, temos que analisá-las em termos países pobres. Será que o Taleban irá conseguir armas Atômicas?
de disponibilidade, viabilidade, extração, transporte, armazena-
mento, distribuição, poluente ou limpa, renovável ou esgotável. Políticas Públicas
Assim, no caso do Brasil, as fontes alternativas, (biomassa, eólica É desnecessário registrar mais uma vez a perversidade dos his-
ou solar) assumem uma importância fundamental por ser um país tóricos indicadores de concentração da renda e de patrimônio no
tropical. A energia solar é considerada a fonte energética do século Brasil, eles são gritantes demais em nosso dia-adia.
XXI. Na década de 70, houve o fortalecimento da OPEP e OPAEP,
Mas é preciso alertar: todos estão perfeitamente preservados
(países produtores de petróleo) em reação às sete irmãs (empresas
nos últimos três anos, por força da impotência das medidas sociais,
que controlam a distribuição do petróleo no globo e estão em pro-
políticas e econômicas do Governo Lula.
cesso de fusões). No mundo, como um todo, os países buscaram as
A análise sobre a atuação do atual governo diante das tarefas
fontes alternativas como forma de se prevenirem ante as crises do
impostas pela pobreza e desigualdade social pode ser, desde a par-
petróleo. Lembre-se do programa Proálcool, da tentativa ineficaz
tida, melhor compreendida se lembrarmos a advertência de Otavio
das nucleares que Fernando Henrique acabou por quase desativar.
Ianni sobre as contradições dos processos revolucionários brasilei-
É bom lembrar dos erros de projetos, como a represa de Balbina no
Amazonas, causando sérios problemas ao meio ambiente. Por estes ros:
fatores, a dédada de 70 é considerada a “década da crise energéti- “como não há ruptura definitiva com o passado, a cada passo
ca”, além, é claro, da variável social, com baixos salários e repres- este se reapresenta na cena histórica e cobra o seu preço”
são militar duríssima. Lembrar da Operação Condor dos militares O que ele nos lembra é que qualquer processo político efeti-
latino-americanos que trabalharam em conjunto na repressão as vamente comprometido com as causas populares deve enfrentar,
forças revolucionárias. Já a dédada de 80 foi considerada a “década sem acanhamento ou tolerância, o projeto conservador dominante
da destruição e perdida” com problemas ambientais sérios, dentre em nossa história, fatalmente imobilizador das energias transfor-
eles o acidente com o Césio em Goiânia. madoras e democráticas. É, portanto, um libelo contra a dinâmica
Associe fontes de energia ao tipo de transporte adotado em de conciliação com as elites que sempre predominou nos momen-
cada país. tos de disputa com os sistemas de privilégios sobre os quais nossa
Desta forma, fica mais fácil entender quais países são mais ve- economia capitalista dependente se ergueu.
lozes na produção, como os tigres ou tigrinhos asiáticos, e porque Do ponto de vista das políticas públicas, ou dos direitos sociais
países como o Brasil, Índia, China, Indonésia e Rússia são conside- que elas materializam, a verdadeira tarefa histórica que se impu-
rados “países baleias”, por serem grandes e lentos. O modelo de nha ao Governo Lula era romper com as modificações restritivas no
transporte rodoviário é o mais caro. espaço público da proteção social, sob forte impacto das políticas

77
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
neoliberais. Caberiam, então, ações decisivas para se garantir o am- A proposta mais incentivada pelo governo Lula denomina-se
plo financiamento público para as políticas sociais, que suplantasse Programa Fome-Zero, que consiste, segundo documentos oficiais,
a lógica da restrição orçamentária. “numa estratégia impulsionada pelo governo federal, para assegu-
Haveria de se superar de vez a lógica financista, que subordina rar o direito humano à alimentação adequada, priorizando as pes-
as decisões em termos de direitos sociais à disponibilidade de caixa, soas com dificuldades, de acesso aos alimentos. Tal estratégia se in-
finalmente conhecidas após as decisões de cúpula a respeito das sere na promoção da segurança alimentar e nutricional e contribui
taxas de juros, superávit fiscal, câmbio, política tributária, enfim, para a erradicação da extrema pobreza e a conquista da cidadania
quando os grandes números do fundo público já estão comprome- da população mais vulnerável à fome”. Nenhuma proposta pode-
tidos com as elites de sempre. ria ser menos ambiciosa. Com toda propaganda veiculada não se
Porém, seguem inalteradas as limitações ao processo de ex- verifica no Programa Fome Zero algo que é essencial para o povo
pansão das garantias coletivas na esfera dos direitos sociais, que brasileiro: a garantia do direito social, cuja ação do Estado reconhe-
mais do que nunca se mostram imprescindíveis para subverter as ça o vínculo de classe, contribuindo para sedimentar uma noção fe-
históricas estruturas de poder político e econômico próprio das cunda e radical de democracia popular, ao mesmo tempo libertária
sociedades latino-americanas, uma vez que estas, e especialmente e igualitária.
a brasileira, se estabeleceram sobre IANNI,Otávio (1996), A ideia Como o passado que não quer passar, o que é perene no dese-
de Brasil moderno, São Paulo: Brasiliense, p.267. padrões extrema- nho dos atuais programas englobados sob a insígnia do Fome Zero é
mente injustos e assimétricos de usufruto da riqueza coletivamente a trágica visão elitista de sempre, na qual o povo - a população sub-
construída e de processos cada vez mais excludentes de acesso ao -empregada e super-explorada – permanece como um indesejável
trabalho digno. “resíduo social”, para o qual qualquer ajuda basta e qualquer apoio
serve. Não é por outra razão que as ações principais consistem no
Não é a toa que o atual governo jamais pautou o debate pú- Programa BolsaFamília, na construção de cisternas no semi-árido
blico sobre as propostas de superação da pobreza com o combate nordestino e uma ou outra ação pontual em termos de segurança
da riqueza acumulada privada e abusivamente, como se esperava alimentar.
em termos de reforma tributária e fiscal, cujas iniciativas pontuais Nada que se assemelhe a uma potente articulação política e so-
permanecem valorizando a renúncia fiscal dos setores agro-expor- cial que seja capaz de enfrentar o mesmo pensamento conservador
tadores, parasitas da cadeia produtiva do grande latifúndio. que naturaliza a pobreza e condena as iniciativas de investimento
Mas nenhuma destas limitações e contradições pode ser reme- público no campo dos direitos sociais. Em termos de alocação orça-
tida ao plano da fatalidade. Todos os constrangimentos concretos mentária não é desprezível o redirecionamento de recursos paras
decorrem de opções estratégicas, racionalmente adotadas pelo
as ações de transferência de renda socioassistenciais como o Bolsa
Presidente Lula e sua equipe, quando se constata o aprofundamen-
Família. Pela primeira vez, famílias miseráveis encontram alguma
to do modelo econômico neoliberal com sua lógica recessiva e, em
medida de proteção social que seja não-contributiva.
direção complementar, a destinação significativas de recursos pú-
Mas os limites são muitos: os valores das prestações são muito
blicos para os serviços das dívidas internas ou externas.
Devemos reconhecer que a articulação orgânica das medidas pequenos, os critérios de acesso altamente rigorosos e excludentes
de políticas públicas redistributivistas, com investimentos impor- e a sua implementação não se faz acompanhada ainda de um forte
tantes nas áreas da saúde, educação, assistência social, previdên- aparato político-pedagógico de emancipação política, educacional
cia, segurança alimentar, geração de emprego e renda, agricultura e cultural para os pais e os jovens.
familiar e reforma agrária pode ser altamente emancipadora quan- Ao contrário, as ações ainda permanecem sob o império da
do estas políticas públicas são asseguradas em escala de massas, despolitização, operada, mais uma vez, pela perda de vínculo de
com a mobilização efetiva a população para o exercício cotidiano da classe destas políticas públicas com as disputas históricas ao fundo
participação política protagônica. público. No que se oculta tais vínculos, ou seja, não se combate a
Diferentemente do esperado, não se constatou no governo destinação dos recursos públicos ao velho sistema de privilégios e
Lula o compromisso real com um amplo e consistente sistema de assegura sua alocação para as ações de redução das desigualdades
atenção e proteção no âmbito das necessidades humanas sociais, sociais, tudo permanece como nos modelos atuais, uma ação polí-
que contemplasse a contribuição decisiva de todas as áreas sociais, tica governamental ambígua, que oscila entre o apelo eleitoreiro e
educacionais e político-culturais, combinadas com as outras medi- uma versão ainda estigmatizadora da pobreza.
das complementares de garantia do exercício do protagonismo da Adotar o caminho salvacionista do Fome Zero pode ser um
população e da emancipação dos indivíduos e grupos sociais. grande giro, mas de 360°.
Nesta pátria desimportante, o quadro social de profunda de- A proliferação das propostas neste campo do combate à pobre-
sigualdade e de extrema pobreza das maiorias segue o mesmo: za sem enfrentar suas causas - as estratégias macroeconômicas que
desemprego, fragilização da capacidade socializadora das redes promovem a super-acumulação capitalista-rentista e do seu equi-
familiares, falta de perspectivas para a juventude e abandono na valente, a crescente pauperização do povo – reproduz a submissão
velhice; trabalho infantil, exploração e abuso sexual de crianças e e a docilidade que parecem condenar à mesmice os governos de
adolescentes, crescimento das condutas. centro-esquerda, tais como o Governo Lula.
POCHAMAMM, Marcio demonstra que as transferências ao Tão grave quanto o pequeno investimento financeiro é cons-
setor financeiro, como pagamento aos detentores dos títulos da tatar que as ações do Governo Lula se organizam precariamente,
dívida pública, alcançaram a seguinte tendência: anualmente o go-
em nome de uma solidariedade sem sujeitos e sem projetos, reedi-
verno Cardoso destinou R$ 71,4 bilhões; Sarney remeteu R$ 65, 5
tando os mecanismos de dominação e de subalternização políticas,
bilhões, e finalmente o Governo Lula R$ 60, 8 bilhões. Cf. Plutocra-
no que empreendem o velho paralelismo nas franjas dos sistemas
cia do capital financeiro, disponível em: <http://agenciacartamaior.
públicos de proteção social. Não se interrompeu a tendência neoli-
uol.com.br/agencia.asp?coluna=boletim&id=1251, consultado em
05/01/2006. violentas e práticas econômicas que lucram com a beral de desconstrução da idéia-força do direito social, conquistado
criminalidade e a toxicodependência, penúria sócio-cultural, empo- na luta dos trabalhadores pelo acesso ao excedente, que deveria
brecimento político dos processos artísticos populares, a degrada- ser potencializado pelas estratégias organizativas populares e pelas
ção ambiental, morte por doenças curáveis, fome. medidas de fortalecimento subjetivo e político e de pertencimento

78
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
a um projeto coletivo de classe, desta vez - como um governo de Como se não bastasse toda esta herança intocada, o governo
esquerda deve honrar - radicalmente democrático, portanto, revo- Lula aprofunda a crise, no que atua contra a regulamentação da
lucionário e anticapitalista. Emenda Constitucional 29, que garante a vinculação de percentuais
Assim, já que o Fome Zero não é direito social nem projeto mínimos para aplicação orçamentária na política de saúde. Os valo-
de classe é mais uma vez favor, benesse, ação abnegada, doação, res são expressivos, cerca de R$ 2,3 bilhões representa a diferença
enfim, a repavimentação dos percursos que pretendem comprimir acumulada pelo não cumprimento por parte do governo federal da
o espaço público, transfigurá-lo em oposição ao projeto popular e EC. 29 nos anos de 2001 a 2005, porém só no governo Lula este
democrático. O tema da pobreza, sufocado da sua dimensão estru- déficit acumula a cifra de R$1.832.000,00.
tural, permanece confinado como um problema da esfera do consu- Se os direitos sociais devem ser universais e a proteção social
mo e da estrutura familiar, por esta razão as medidas são tão tími- que estes suscitam deve ser pública e gratuita, ou seja, desmer-
das. Por mais que a pobreza seja aguda e na medida em que é uma cadorizada, como explicar que na área de Educação a medida de
questão explosiva, o melhor mesmo é esterilizá-la, sobrepondo maior impacto tenha se restringido ao Programa Universidade para
ações diversas e pulverizadas, que não atacam a raiz do problema. Todos que nada mais é do que organizar ampliando o abusivo re-
O risco de se atuar na lógica do ajustamento de comportamentos curso da renúncia fiscal dos encargos previdenciários, no esforço
individuais não é pequeno, haja vista o esforço em empreender e de subvencionar o setor privado das universidades em troca de am-
divulgar as chamadas condicionalidades para que as famílias te- pliação de vagas por fora do sistema público e gratuito?
nham acesso aos benefícios. Após três anos de governo, ainda hoje o Governo Lula não foi
Nos sombrios tempos de capitulação política do atual governo, capaz de enfrentar uma grave lacuna na regulamentação da LDB,
com a conhecida naturalização do estado de desigualdades, não é que é o desfinanciamento da educação infantil.
de se estranhar que a principal medida do governo Lula na área da Mesmo sendo um direito absolutamente vital para as classes
previdência social tenha sido concluir a contrareforma do Governo populares, no que garantiria creche pública para todas as crianças
FHC no que diz respeito aos direitos dos servidores públicos, insti- até seis anos de idade, somente por meio de uma longa e penosa
tuindo a cobrança de contribuição também aos aposentados e o luta, travada pelos movimentos sociais, é que o governo Lula se ma-
fim do regime jurídico único para os novos concursados, ou seja, nifestou - através de iniciativa legislativa ainda não aprovada - com
promovendo o cancelamento do direito à aposentadoria integral, a possibilidade de assumir parte no cofinanciamento desta área,
recém conquistada em 1988. uma vez que os municípios e estados, diante da omissão do gover-
Empreendeu-se algo pavorosamente cínico, se considerarmos no federal, têm feito o mesmo: rejeitado um direito vital e universal
que nestes anos todos o Partido dos Trabalhadores - partido do pre- à educação às crianças pequenas, mantendo o ciclo de pobreza nos
sidente Lula - foi uma trincheira no parlamento contra tal medida, seus níveis imorais de hoje.
e que boa parte dos votos obtidos pelo Presidente Lula era fruto Um marcador valioso para dimensionar os insignificantes esfor-
também deste compromisso, rapidamente esquecido. Mais abusivo ços na direção da transformação do desmonte das políticas públicas
ainda, se lembrarmos que a base social sindical do PT, era fortemen- pode ser obtido com a análise do financiamento federal dos gastos
te apoiada no funcionalismo público e que o impacto nas contas da sociais em comparação com os grandes números do orçamento pú-
previdência social seria, como é, inexpressivo. No fundo esta ação blico, como condensado nos dados abaixo, em relação ao ano de
serviu apenas para provar às elites e à opinião pública conservadora 2004:
que o governo dos trabalhadores poderia cortar na própria carne, Por fim, cabe ressaltar que o governo Lula de fato realizou mo-
atacando direitos consagrados, ao invés de encaminhar a luta pela dificações importantes, sobretudo quando comparado aos feitos
sua extensão para o conjunto dos trabalhadores do setor privado. desastrosos do Governo anterior.
Boicotes explícitos ao Sistema Único de Saúde permanecem, Porém, isto não elide o fato de que a timidez e o continuís-
assustadoramente, sob o governo Lula. A definição do percentual mo no conteúdo, na forma e no alcance das políticas sociais em
de recursos financeiros federais, previstos na Constituição Federal nada asseguram qualquer alteração na composição das estruturas
para o SUS, permanece descumprida pela política econômica. Na de poder político e econômico, imprescindíveis à recomposição das
comparação internacional nossos atuais 3,2% do PIB, destinados estruturas públicas de proteção social, com clareza de propósitos
à saúde, representam porcentagem menor do que da Bolívia, Co- universalistas, para além dos alegados problemas de caixa.
lômbia, África do Sul, Rússia, Venezuela, Uruguai, Argentina (cerca Uma razão de Estado comprometida com as maiorias popu-
de 5.12%), Cuba (6,25%), EEUU (6,2%) Japão, Inglaterra, Austrália, lares participando efetivamente, não só da produção, mas em es-
Portugal, Itália, Canadá, França, Alemanha (8,1%). pecial do usufruto da riqueza socialmente produzida e também da
O sub-financiamento do SUS revela-se como uma medida con- socialização do poder político-decisório, constitui-se como arranjo
creta a impossibilitar a oferta de serviços públicos, gratuitos e com institucional possível, desejável e absolutamente imprescindível
qualidade, como reza a Constituição, e conforme as necessidades para a democracia radicalmente igualitária. Infelizmente o governo
da população. Como um direito social altamente valorizado no mer- Lula, desde seu primeiro dia, abriu mão desta histórica realização.
cado privado, já que a saúde é uma necessidade humana vital, a
disputa com o setor lucrativo não ingressou na agenda de priorida- Organizações Não Governamentais
des do governo Lula, onde interesses e pressões de mercado dos As organizações não-governamentais desempenham um papel
produtores de equipamentos, de medicamentos, de tecnologias e fundamental na modelagem e implementação da democracia par-
de prestadores de serviços e corporações poderosas mantêm-se ticipativa. A credibilidade delas repousa sobre o papel responsável
intactos. e construtivo que desempenham na sociedade. As organizações
O quadro de desfinanciamento da saúde pública gera o inevitá- formais e informais, bem como os movimentos populares, devem
vel: intensa repressão de demanda, insuportável congestionamen- ser reconhecidos como parceiros na implementação da Agenda 21.
to nos pronto-socorros e consultórios de especialidades, precariza- A natureza do papel independente desempenhado pelas organiza-
ção da atenção básica preventiva e o predomínio de intervenções
ções não-governamentais exige uma participação genuína; portan-
tardias, com suas doenças preveníveis não prevenidas, com doen-
to, a independência é um atributo essencial dessas organizações e
ças agravadas não atendidas precocemente, mortes evitáveis não
constitui condição prévia para a participação genuína.
evitadas, e expansão da saúde privada, via planos de saúde para
classe média.

79
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Um dos principais desafios que a comunidade mundial en- Tendo por base o inciso (a) acima, fortalecer, ou caso não exis-
frenta na busca da substituição dos padrões de desenvolvimento tam, estabelecer mecanismos e procedimentos em cada organismo
insustentável por um desenvolvimento ambientalmente saudável e para fazer uso dos conhecimentos especializados e opiniões das or-
sustentável é a necessidade de estimular o sentimento de que se ganizações nãogovernamentais sobre formulação, implementação
persegue um objetivo comum em nome de todos os setores da so- e avaliação de políticas e programas;
ciedade. As chances de forjar um tal sentimento dependerão da dis- Examinar os níveis de financiamento e apoio administrativo às
posição de todos os setores de participar de uma autêntica parceria organizações não-governamentais e o alcance e eficácia da partici-
social e diálogo, reconhecendo, ao mesmo tempo, a independência pação delas na implementação de projetos e programas, tendo em
dos papéis, responsabilidades e aptidões especiais de cada um. vista aumentar seu papel de parceiras sociais;
As organizações não-governamentais, inclusive as organizações Criar meios flexíveis e eficazes para obter a participação das
sem fins lucrativos que representam os grupos de que se ocupa esta organizações não-governamentais nos processos estabelecidos
seção da Agenda 21, possuem uma variedade de experiência, co- para examinar e avaliar a implementação da Agenda 21 em todos
nhecimento especializado e capacidade firmemente estabelecidos os níveis;
nos campos que serão de particular importância para a implemen- Promover e autorizar as organizações não-governamentais e
tação e o exame de um desenvolvimento sustentável, ambiental- suas redes autoorganizadas a contribuir para o exame a a avaliação
mente saudável e socialmente responsável, tal como o previsto em de políticas e programas destinados a implementar a Agenda 21,
toda a Agenda 21. Portanto, a comunidade das organizações não inclusive dando apoio às organizações não-governamentais dos paí-
governamentais oferece uma rede mundial que deve ser utilizada, ses em desenvolvimento e suas redes auto-organizadas;
capacitada e fortalecida para apoiar os esforços de realização des- Levar em consideração as conclusões dos sistemas de exame e
ses objetivos comuns. processos de avaliação das organizações não-governamentais nos
Para assegurar que a contribuição potencial das organizações relatórios pertinentes da Secretaria Geral à Assembléia Geral e de
não governamentais se materialize em sua totalidade, deve-se pro- todos os órgãos das Nações Unidas e de outras organizações e fo-
mover a máxima comunicação e cooperação possível entre elas ros intergovernamentais pertinentes, relativas à implementação da
e as organizações internacionais e os Governos nacionais e locais Agenda 21, em conformidade com o processo de exame da Agenda.
dentro das instituições encarregadas e programas delineados para Proporcionar o acesso das organizações não-governamentais a
executar a Agenda 21. Será preciso também que as organizações dados e informação exatos e oportunos para promover a eficácia de
não-governamentais fomentem a cooperação e comunicação entre seus programas e atividades e de seus papéis no apoio ao desenvol-
elas para reforçar sua eficácia como atores na implementação do vimento sustentável.
desenvolvimento sustentável.
Os Governos devem tomar medidas para:
Objetivos Estabelecer ou intensificar o diálogo com as organizações não-
governamentais e suas redes auto-organizadas que representem
A sociedade, os Governos e os organismos internacionais de-
setores variados, o que pode servir para: (i) examinar os direitos e
vem desenvolver mecanismos para permitir que as organizações
responsabilidades dessas organizações; (ii) canalizar eficientemen-
não-governamentais desempenhem seu papel de parceiras com
te as contribuições integradas das organizações não-governamen-
responsabilidade e eficácia no processo de desenvolvimento sus-
tais ao processo governamental de formulação de políticas; e (iii)
tentável e ambientalmente saudável.
facilitar a coordenação não-governamental na implementação de
Para fortalecer o papel de parceiras das organizações não-go-
políticas nacionais no plano dos programas;
vernamentais, o sistema das Nações Unidas e os Governos devem
Estimular e possibilitar a parceria e o diálogo entre organiza-
iniciar, em consulta com as organizações não-governamentais, um ções nãogovernamentais e autoridades locais em atividades orien-
processo de exame dos procedimentos e mecanismos formais para tadas para o desenvolvimento sustentável;
a participação dessas organizações em todos os níveis, da formula- Conseguir a participação das organizações não-governamen-
ção de políticas e tomada de decisões à implementação. tais nos mecanismos ou procedimentos nacionais estabelecidos
Até 1995, deve-se estabelecer um diálogo mutuamente produ- para executar a Agenda 21, fazendo o melhor uso de suas capacida-
tivo no plano nacional entre todos os Governos e as organizações des particulares, em especial nos campos do ensino, mitigação da
não-governamentais e suas redes auto-organizadas para reconhe- pobreza e proteção e reabilitação ambientais;
cer e fortalecer seus respectivos papéis na implementação do de- Levar em consideração as conclusões dos mecanismos de mo-
senvolvimento ambientalmente saudável e sustentável. nitoramento e exame das organizações não-governamentais na
Os Governos e os organismos internacionais devem promover elaboração e avaliação de políticas relativas à implementação da
e permitir a participação das organizações não-governamentais na Agenda 21 em todos os seus níveis;
concepção, no estabelecimento e na avaliação de mecanismos ofi- Examinar os sistemas governamentais de ensino para identifi-
ciais procedimentos formais destinados a examinar a implementa- car maneiras de incluir e ampliar a participação das organizações
ção da Agenda 21 em todos os níveis. não-governamentais nos campos do ensino formal e informal e de
conscientização do público;
Atividades Tornar disponível e acessível às organizações não-governamen-
O sistema das Nações Unidas, incluídos os organismos interna- tais os dados e informação necessários para que possam contribuir
cionais de financiamento e desenvolvimento, e todas as organiza- efetivamente para a pesquisa e a formulação, implementação e
ções e foros intergovernamentais, em consulta com as organizações avaliação de programas.
não-governamentais, devem adotar medidas para:
Examinar e informar sobre as maneiras de melhorar os proce- Meios de implementação
dimentos e mecanismos existentes por meio dos quais as organi-
zações nãogovernamentais contribuem para a formulação de po- (a) Financiamento e estimativa de custos
líticas, tomada de decisões, implementação e avaliação, no plano Dependendo do resultado dos processos de exame e da evo-
de organismos individuais, nas discussões entre instituições e nas lução das opiniões sobre a melhor maneira de forjar a parceria e o
conferências das Nações Unidas; diálogo entre as organizações oficiais e os grupos de organizações

80
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
não-governamentais, haverá gastos nos planos nacional e interna- zinhança, propriedade, ocupação do solo, utilização dos recursos
cional, relativamente baixos, mas imprevisíveis, a fim de melhorar minerais e apropriação das florestas, etc.. A partir desse momento,
os procedimentos e mecanismos de consulta. iniciou-se no Brasil uma Política Nacional do Meio Ambiente que
Da mesma forma, as organizações não-governamentais preci- estabeleceu princípios, diretrizes e instrumentos para a proteção
sarão de financiamento complementar para estabelecer sistemas ambiental. Sob a influência de paradigmas internacionais, o Brasil
de monitoramento da Agenda 21, ou para melhorá-los ou contribuir avança e, na Constituição de 1988, criou-se o elemento normativo
para o funcionamento deles. que faltava para considerar o Direito Ambiental uma ciência autô-
Esses custos serão significativos, mas não podem ser estimados noma dentro do ordenamento jurídico brasileiro, a exemplo do que
com segurança com base na informação existente. já ocorria em outros países.
O Direito Ambiental, segundo José Rubens Morato Leite:
(b) Fortalecimento institucional “[...] se ocupa da natureza e futura gerações nas sociedades de
As organizações do sistema das Nações Unidas e outras organi- risco, admitindo que a projeção dos riscos é capaz de afetar desde
zações e foros intergovernamentais, os programas bilaterais e o se-
hoje o desenvolvimento do futuro, que importa afetar, portanto, as
tor privado, quando apropriado, precisarão proporcionar um maior
garantias do próprio desenvolvimento da vida”.
apoio financeiro e administrativo às organizações não-governa-
Na Constituição Federal de 1988, a proteção do ambiente e
mentais e suas redes autoorganizadas, em particular para aquelas
salvaguarda da sadia qualidade de vida são asseguradas através da
sediadas nos países em desenvolvimento, que contribuam ao mo-
nitoramento e avaliação dos programas da Agenda 21, e proporcio- implementação de políticas públicas. Apesar da existência dessas
nar treinamento às organizações nãogovernamentais (e ajudá-las a garantias constitucionais e da legislação infraconstitucional, que ve-
desenvolver seus próprios programas de treinamento) nos planos dam a poluição sonora causada por bares, que exigem o depósito
internacional e regional, para intensificar seus papéis de parceiras do lixo em aterros, que proíbem o lançamento de esgoto sem trata-
na formulação e implementação de programas. mento em corpos de água, restringem o corte de árvores, que exi-
Os Governos precisarão promulgar ou fortalecer, sujeitas às gem Estudo de Impacto Ambiental (EIA), que exigem o Relatório de
condições específicas dos países, as medidas legislativas necessá- Impacto Ambiental (RIMA), que estabelecem diretrizes, critérios e
rias para permitir que as organizações não-governamentais esta- procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil; etc.,
beleçam grupos consultivos e para assegurar o direito dessas or- verifica-se ausência de eficácia dessas garantias pela não aplicação
ganizações de proteger o interesse público por meio de medidas efetiva dessas políticas públicas pelo Poder Público.
judiciais. O agir administrativo na seara ambiental é repleto de deveres
para conservação e a proteção do meio ambiente. A inércia, au-
A preservação dos recursos naturais passou a ser preocupa- sência de atuação e fiscalização do Estado trazem conseqüências
ção mundial e nenhum país tem o direito de fugir dessa respon- nefastas aos interesses da sociedade, ao meio ambiente e à quali-
sabilidade. dade de vida do ser humano, sendo necessária a conscientização da
A necessidade de proteção ambiental é antiga, surgindo quan- população que deve exigir o cumprimento das leis existentes que
do o homem passou a valorizar a natureza, inicialmente de forma asseguram uma efetiva proteção ambiental, sendo evidente a ação
mais amena, e atualmente, de forma mais acentuada. Primordial- coercitiva dessas garantias e, portanto, obrigatório o seu cumpri-
mente, se dava a importância à natureza por ser uma criação divina. mento pelos governantes.
Depois, que o homem começou a reconhecer a interação dos com- Claro que na hipótese da negação de direitos assegurados pela
ponentes bióticos e abióticos que interagem no ecossistema é que Carta Constitucional e legislação infraconstitucional que garantem
efetivamente sua responsabilidade aumentou. a democracia e os direitos fundamentais ao meio ambiente sadio
Com a evolução da sociedade, o homem foi rapidamente de- para as gerações presentes e futuras e da saúde pública ambiental
gradando o meio ambiente, contaminando-o com resíduos nuclea- resta tão-somente, o controle judicial das Políticas Públicas através
res, disposição de lixos químicos, domésticos, industriais, hospita- do Poder Judiciário.
lares de forma inadequada, pelas queimadas, pelo desperdício dos
recursos naturais não renováveis, pelo efeito estufa, pelo desmata- A proteção constitucional do meio ambiente
mento indiscriminado, pela contaminação dos rios, pela degrada- Na Constituição Federal, o artigo 225 exerce o papel norteador
ção do solo através da mineração, pela utilização de agrotóxicos, do meio ambiente devido a seu complexo teor de direitos, mensu-
pela má distribuição de renda, pela acelerada industrialização, pelo rado pela obrigação do Estado e da Sociedade na garantia de um
crescimento sem planejamento das cidades, pela caça e pela pesca meio ambiente ecologicamente equilibrado. Importante salientar,
predatória. ainda, que a Constituição ao longo de vários outros artigos trata do
A preocupação com a preservação do meio ambiente é recente meio ambiente e das imposições legais para preservá-lo.
na história da humanidade, realidade esta também no Brasil. Com o A vontade do legislador brasileiro em relação à proteção ao
acontecimento de catástrofes e problemas ambientais, os organis- meio ambiente está marcada na Constituição Federal através da
mos internacionais passaram a exigir uma nova postura, sendo mar- distribuição da competência em matéria ambiental que passou a
cante a atuação da Organização das Nações Unidas (ONU) que em ser comum entre União, Estados e Municípios, conforme o artigo
1972 organizou a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Am- 23, que dispõe: “VI proteger o meio ambiente e combater a polui-
biente Humano. A partir dessa Conferência, com a elaboração da ção em qualquer de suas formas; VII ­preservar florestas, a fauna e a
declaração de princípios (Declaração de Estocolmo), os problemas flora”. Restou, além disto, forte no artigo 225, que o bem ambiental
ambientais receberam tratamentos diferentes, tendo repercussão é um bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
no Brasil. Há pouco a legislação nacional sofreu um forte impacto
de vida, assegurando o direito ao meio ambiente ecologicamente
com o surgimento de novas leis e, em especial, da Lei 6.938/81,
equilibrado como direito de todos. Portanto, a natureza jurídica do
conhecida como Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, que
bem ambiental é bem de uso comum do povo e essencial à sadia
reconhece juridicamente o meio ambiente como um direito próprio
qualidade de vida, criando um terceiro gênero de bem que não é
e autônomo e terminou com as preocupações pontuais, centradas
público e muito menos privado. Agora cabe tanto ao Estado (Poder
em problemas específicos inerentes às questões ambientais de vi-
Público) como à sociedade civil (coletividade) o dever de preservar

81
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
os bens ambientais não só para quem está vivo nos dias de hoje elaborar tais metas em planos de ação executiva, deve junto com
(presentes gerações) como para aqueles que virão (futuras gera- o administrador, observar os objetivos de igualdade e justiça social
ções) a existência real dos bens ambientais. da República, que formam a base da Ordem Social Constitucional.
Não se pode esquecer, como já referido, de que o artigo 225 As normas constitucionais balizam o legislador, ao passo que os
é apenas o porto de chegada ou ponto mais saliente de uma série mecanismos utilizados pelo administrador são tanto os regramen-
de outros dispositivos que, direta ou indiretamente, instituem uma tos constitucionais como os textos infraconstitucionais que estejam
verdadeira malha regulatória que compõe a ordem pública ambien- em consonância com a ordem instituída. Com efeito, as políticas
tal baseada nos princípios da primariedade do meio ambiente e da públicas contempladas em legislação ordinária incumbem o admi-
explorabilidade limitada da propriedade, ambos de caráter geral e nistrador a sua aplicação e sua regulamentação.
implícito. APPIO, trazendo a idéia de Gouvêa, reporta que:
Sobre a proteção constitucional ao meio ambiente, José Ru- “As políticas públicas consistem em instrumentos estatais de
bens Morato Leite expressa: intervenção na economia e na vida privada, consoante limitações
“Em termos formais, a proteção do meio ambiente na Consti- e imposições previstas na própria Constituição, visando assegurar
tuição de 1988 não segue - nem seria recomendável que seguisse as medidas necessárias para a consecução de seus objetivos, o que
- um único padrão normativo, dentre aqueles encontráveis no Di- demanda uma combinação de vontade política e conhecimento
reito Comparado. Ora o legislador utiliza-se da técnica do estabe- técnico”.
lecimento de direito e dever gené­ricos (p. ex.. a primeira parte do Assim, as Políticas Públicas viabilizam esses direitos. Os ins-
artigo 225, caput, ora faz uso da instituição de deveres especiais trumentos, utilizados pelo governo para intervir na sociedade, na
(p. ex., todo o artigo 225, § 1º.). Em alguns casos, tais enunciados economia, na política, executando programas políticos em busca
normativos podem ser apreciados como princípios específicos e de melhores condições de vida aos seus cidadãos, são as Políticas
explícitos (p. ex., os princípios da função ecológica da propriedade Públicas.
rural e do polui dor-pagador, previstos, respectivamente, nos arts. Dessa forma, ainda segundo Eduardo Appio:
186, II, e 225, §§ 22 e 32), noutros, como instrumentos de execução “As políticas públicas podem ser conceituadas, portanto, como
(p. ex., a previsão do Estudo Prévio de Impacto Ambiental ou da instrumentos de execução de programas políticos baseados na in-
ação civil pública). O constituinte também protegeu certos biomas tervenção estatal na sociedade com a finalidade de assegurar igual-
hiperfrágeis ou de grande valor ecológico (p. ex., a Mata Atlântica, o dade de oportunidade aos cidadãos, tendo por escopo assegurar as
Pantanal, a Floresta Amazônica, a Serra do Mar e a Zona Costeira)”. condições materiais de uma existência digna a todos os cidadãos”.
Na Constituição Federal, restou assegurado que todos têm di- Por sua vez, as políticas públicas devem obrigatoriamente estar
reito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso diretamente voltadas a realizar os desígnios constitucionais, por-
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se tando os programas de ação governamental devem ser balizados
ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- em direitos previstos, ainda que de forma genérica, na Constituição.
-lo para as presentes e futuras gerações (artigo 225).
Importante frisar que a implementação de políticas públicas
Analisando o § 1º do artigo 225 da Constituição Federal, veri-
não afasta a legalidade das mesmas.
fica-se que para assegurar a efetividade desse direito ao meio am-
Na atualidade, os governos são questionados e cobrados, para
biente ecologicamente equilibrado na forma do disposto no inciso
apresentarem soluções às crescentes demandas sociais, não só
I, deste parágrafo, compete ao Poder Público preservar e restaurar
pelo aumento do déficit econômico, mas como resultado de uma
os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico
participação cada vez maior do povo na vida política, o que é rele-
das espécies e ecossistemas. Também é responsabilidade do Poder
vante para a consolidação do processo democrático no país.
Público exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou ativida-
Promover o desenvolvimento humano, proteger o cidadão e
de potencialmente causadora de significativa degradação do meio
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental a que se dará pu- incentivar as atividades econômicas devem ser as principais atri-
blicidade (inciso IV). Além disso, ao Poder Público cabe controlar a buições do Estado.
produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e No que tange ao Direito Ambiental, é forçoso reconhecer-se a
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e existência de suficiente legislação ordinária e capítulo constitucio-
o meio ambiente (inciso V). nal para a proteção do ambiente e salvaguarda da sadia qualidade
Assim, pelo que se depreende do texto constitucional, a prote- de vida. Todavia, é deficiente sua implementação, uma vez que os
ção ao meio ambiente e ao meio ambiente equilibrado são conside- órgãos estatais estão insuficientemente equipados para sua imple-
rados direitos fundamentais, sendo que a concretização/realização mentação, ou diante das dificuldades da realidade político-adminis-
dos mesmos é uma diretriz, um balizamento, uma determinação, trativa ou de interesses econômicos de grupos poderosos tornam-
uma responsabilidade do Poder Público que deve implementá-las -se tolerantes/displicentes/condescendentes.
notadamente através da adoção de Políticas Públicas Estatais, no Por sua vez, o Estado ao criar normas jurídicas com o objetivo
caso ambientais. de obter apenas méritos políticos para os parlamentares que apre-
sentam os projetos de lei sem, contudo, ter interesse na efetiva
Políticas públicas aplicação dessa legislação, busca, sub-repticiamente, não ferir inte-
A população tem o direito de obter determinados serviços por resses de industriais, construtoras, imobiliárias, estabelecimentos
intermédio do Governo, cabendo a este assegurar determinados di- comerciais, enfim, grupos com atividades econômicas que costu-
reitos aos cidadãos, notadamente os direitos fundamentais sociais mam provocar impactos negativos significativos ao meio ambiente.
como saúde, educação, segurança pública. O Poder Executivo não Estamos diante do que Antonio Herman de Vasconcelos e Benjamin
apenas executa as leis, mas determina suas políticas e programas descreve como o Estado teatral. Portanto, ainda hoje temos uma
necessários à realização dos ordenamentos legais. teatralidade estatal, existindo a separação entre a lei e sua imple-
Nas políticas públicas, o próprio planejamento estatal tem por mentação, entre a norma escrita e a norma praticada, resultante
finalidade o atingimento do interesse público, assim não se trata em uma Ordem Pública Ambiental incompleta.
de eleição pura e simples de prioridades governamentais e, sim, a Nas questões ambientais o Poder Público tem o papel de pre-
concretização da opção já levada a efeito pelo legislador que, ao venção ao dano, sendo esse o seu dever constitucional.

82
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Em que pese à obrigação do Estado de prover e concretizar ceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
políticas públicas que possibilitem uma vida digna ao cidadão com casos de dolo ou culpa. O que a Constituição distingue, com efeito,
conforto mínimo e condições razoáveis de subsistência quer no as- é o dano causado pelos agentes da Administração pelos danos cau-
pecto da saúde, lazer, trabalho, educação e um meio ambiente sa- sados objetivamente, cobrindo o risco administrativo da atuação ou
dio, isso não ocorre efetivamente. São constantes as denúncias na inação dos servidores públicos.
mídia nacional, sendo a omissão estatal fato corriqueiro tanto na Surgiu pela primeira vez no Brasil a responsabilidade civil obje-
ausência de fiscalização quando da invasão de áreas de preservação tiva por dano ambiental através do Decreto no. 79.347, de 20-03-77
permanentes, loteamento irregulares, lixões a céu aberto, ausência que promulgou a Convenção Internacional sobre responsabilidade
de água tratada e tratamento dos resíduos líquidos e sólidos das civil em danos causados por poluição por óleo, de 1969. Em segui-
cidades, saúde ineficiente, rede de ensino pública sem qualidade e da, foi promulgada a Lei no. 6.453, de 17­10-77, que, em seu artigo
sem produtividade, todos esses fatos são veiculados tanto na mídia 4º, caput, acolheu a responsabilidade objetiva relativa aos danos
impressa, internet, rádio, e TV. Para socorrer o cidadão e a socie- provenientes de atividade nuclear.
dade como um todo, nessas situações, tanto o Ministério Público A responsabilidade civil objetiva por danos ambientais foi con-
como o próprio cidadão individualmente têm a possibilidade de sa- sagrada na Lei nº. 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional de
nar a omissão do Governo e exigir o cumprimento de uma política Meio ambiente, que expressa no artigo 14, parágrafo 1º.
pública em juízo que não se dá apenas quando se trata de poder “Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo,
discricionário, pelo contrário, a busca por controle pode ocorrer em é o poluidor obrigado, independentemente de existência de culpa,
diferentes momentos através de controle judicial de políticas públi- a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a ter-
cas sociais e através dos magistrados na condução dessas políticas. ceiros, efetuados por sua atividade. O Ministério Público da União e
Para Zenildo Bodnar: dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade
“A dogmática processual tradicional construída apenas para civil e criminal por danos causados ao meio ambiente”.
resolver conflitos individuais, também não equaciona com eficácia Existe, ainda, o questionamento sobre a natureza jurídica da
as ofensas aos bens ambientais. Deve o Estado constitucional eco- responsabilidade administrativa, ou seja, se é responsabilidade ci-
lógico facilitar o acesso do cidadão à justiça ambiental não apenas vil objetiva por risco ou por risco integral. A responsabilidade civil
criando novos instrumentos de defesa, mas principalmente confe- objetiva por risco administrativo admite as excludentes de culpa da
rindo uma interpretação adequada aos instrumentos processuais já vítima, caso fortuito, força maior e fato da natureza. A responsa-
existentes como da Ação Civil Pública e a Ação Popular, para confe- bilidade civil por risco integral não admite causas excludentes de
rir-lhes a verdadeira amplitude e potencial idade. responsabilidade.
Dentro deste contexto, o papel do Poder Judiciário é ainda No regramento constitucional, a responsabilidade civil do Es-
mais importante na concretização do direito fundamental, ao meio tado por danos provocados liga a responsabilidade à ação estatal
ambiente saudável e do dever fundamental de todos de protegê-lo através de seus agentes, não existindo na Constituição previsto
para a construção deste verdadeiro Estado constitucional ecológi- qualquer tipo de dano provocado por caso fortuito, força maior,
co”. fato de natureza ou atos predatórios de terceiros, tão somente da-
Resta claro, que está no Poder Judiciário a responsabilidade nos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, não
de atuar como um poder estratégico, assegurando que as políticas havendo nenhuma restrição.
públicas garantam a democracia e assegurando, também, o cumpri- Conforme disposto no artigo 225 da Constituição, é dever do
mento dos direitos fundamentais. Estado – do Poder Público- preservar e restaurar os processos eco-
lógicos essenciais e prover atuantemente, comissivamente, sobre
Responsabilidade do Estado pela implementação de políticas um ambiente ecologicamente equilibrado que é considerado de
públicas em matéria ambiental uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impon-
Incontáveis são os danos causados pelo Poder Público, por do-se sua defesa ao Poder Público e à coletividade.
ação ou omissão, direta ou indiretamente, ao meio ambiente, da- O Estado deve agir através de seus órgãos ambientais de forma
nos estes decorrentes da ausência da elaboração e implementação eficaz atuando em defesa do meio ambiente para evitar sua degra-
de políticas públicas na área ambiental, ocasionando: dação, utilizando de todos os instrumentos à sua disposição e usar
a) a poluição de rios e corpos d’água pelo lançamento de do poder/dever de polícia ambiental.
efluentes, esgotos urbanos e industriais sem o devido tratamento; Na seara ambiental, o agir administrativo está permeado de
b) a degradação de ecossistemas e áreas naturais de relevância deveres de conservação do ambiente natural, impostos pela ordem
ecológica; constitucional vigente e também pela legislação infraconstitucional
c) o depósito e a destinação final inadequados de lixo urbano; recepcionada (como é o caso da Lei da Política Nacional do Meio
d) o abandono de bens integrantes do patrimônio cultural bra- Ambiente, Lei Federal no. 6.938/81) e editada em conformidade
sileiro. com a Constituição de 1988. Essas previsões constitucionais e or-
dinárias têm comando coercitivo condizente com a garantia de sua
Dispõe o § 3º, do artigo 225 da Constituição Federal, que as observância pelo governante e possibilita o controle de seus atos.
condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente, sujei- Em que pese ocorrer o cumprimento espontâneo das normas
tarão os infratores, pessoas naturais ou jurídicas, a sanções penais no meio social, não se pode duvidar da possibilidade de sua inob-
e administrativas independentemente da obrigação de reparar os servância, surgindo a necessidade da coercibilidade disposta nas
danos causados, restando evidente que a responsabilidade das pes- regras jurídicas de direito objetivo.
soas naturais ou jurídicas está garantida constitucionalmente. A formulação de políticas públicas relativas ao meio ambiente
compete ao Poder Legislativo que, em síntese, representa a vonta-
Em relação à Administração Pública, o tema também é tratado, de do povo, formulando as diretrizes a serem seguidas. Por sua vez,
no capítulo ‘Da Administração Pública’, artigo 37, § 6º da Constitui- compete ao Poder Executivo a sua execução e a implementação.
ção Federal, ao consignar que as pessoas jurídicas de direito público Assim, não compete ao poder Judiciário a formulação de políticas
e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responde- públicas ambientais.
rão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a ter-

83
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Um dos aspectos mais importantes da participação da socie- Órgão Executor: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
dade na proteção do meio ambiente é o controle da Administração Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), tem a tarefa de executar e
Pública, por intermédio do Poder Judiciário exercido diretamente, fazer executar as Políticas Ambientais.
quando o cidadão ingressa com a Ação Popular ou através do Mi-
nistério Público, o qual representa institucionalmente os interesses Esfera Estadual
da sociedade, quando constatada a ineficiente implementação de Em geral, Secretarias e Fundações Estaduais do Meio Ambiente
políticas públicas para garantir a higidez ambiental e a saúde da com a função de executar a Política Ambiental, monitorar o meio
população, socorrendo-se, nesta hipótese, ao Poder Judiciário para ambiente e realizar educação ambiental.
garantir o exercício efetivo desse direito.
Sobre a celeuma da Partição do Poderes, vem sendo supera- Esfera Municipal
da nos Tribunais, uma vez que a Constituição não estabeleceu um Em geral, Secretarias e Fundações Municipais do Meio Ambien-
sistema radical de não interferência entre as diferentes funções do te, responsáveis pelo controle e fiscalização das atividades de pro-
Estado. Nesse aspecto, José Afonso da Silva: teção e melhoria da qualidade ambiental.
“De outro lado, cabe assinalar que nem a divisão de funções
entre os órgãos do poder nem sua independência são absolutas.
Há interferências, que visam ao estabelecimento de um sistema de DESCOBERTAS E INOVAÇÕES CIENTÍFICAS NA ATUALI-
freios e contrapesos, à busca do equilíbrio necessário à rea­lização DADE E SEUS IMPACTOS NA SOCIEDADE CONTEMPO-
do bem da coletividade e indispensável para evitar o arbítrio e o RÂNEA
desmando de um em detrimento do outro e especial­mente dos go-
vernados”.
Uma questão crucial e oportuna para um país emergente, que
busca caminhos para alcançar um nível de produção e renda com-
Nesse sentindo, quando ocorrem omissões do Poder Público
patíveis com as necessidades da sociedade, são os processos, e os
na execução de políticas públicas relativas ao meio ambiente, a so-
seus desafios, para gerar valor econômico a partir do conhecimen-
ciedade tem no Poder Judiciário a sua salvaguarda, significando que to. Ou seja, é a relação entre o dispêndio em pesquisa e desenvol-
compete ao Poder Judiciário, por meio de ações judiciais, determi- vimento (DPD) e o crescimento do produto interno bruto (PIB) do
nar que o Estado adote medidas de preservação ao meio ambiente, país, no presente cenário de um mundo globalizado, além da forma
como a implantação de sistema de tratamento de esgotos ou de em que esse DPD é aplicado.
resíduos sólidos urbanos ou, ainda, a implantação definitiva de es- Comecemos por compreender como se realiza o processo em
paço territorial protegido, já instituído por norma, ou a preservação que um dado conhecimento é incorporado ao valor econômico de
de um bem de valor cultural. um produto ou processo.
Esse mecanismo é complexo e variável para cada tipo de agre-
Gestão de Bens Comuns gação.
Políticas Públicas são diretrizes e princípios norteadores da Entretanto, é possível estabelecer algumas etapas comuns a
ação do poder público. todos os processos, sistematizando-os para que possamos melhor
No tocante às questões ambientais, Esquivel afirma que, a pro- compreendê-los e até interferir, com a formulação de políticas pú-
posta para uma política para o ambiente, em um país, é motivada blicas para o seu pleno desenvolvimento.
por fatores como a conscientização dos governantes sobre o tema O uso de um conhecimento científico em uma nova aplica-
e influências externas a que seu governo está atrelado. A Política ção determina o que vamos chamar de uma descoberta tecnológica.
Pública Ambiental é o documento estratégico da gestão ambiental e Esse conhecimento tanto pode ser já consagrado em outros usos (por
transcende o debate sobre os problemas de preservação ambiental, exemplo, válvula de emissão termoiônica para fazer o cinescópio da
ou seja, dar-se-á pleno enfoque à gestão ambiental. televisão) ou acabado de ser descoberto (uso do cristal líquido para fa-
A gestão ambiental é regida por princípios e direcionamentos zer uma tela de calculadora). Nessa fase embrionária, uma descoberta
gerais, de onde partem todas as ações secundárias, formulados tecnológica é, em si mesma, essencialmente um novo conhecimento,
para resolver problemas ambientais que afetam a sociedade. Es- um conhecimento tecnológico, que se constitui na própria proposta de
quivel comenta que o poder público representa, por meio dos seus uma aplicação criativa do conhecimento científico.
níveis federal, estadual e municipal, o principal agente do meio am- Nesse estado nativo, é de muito interesse para atividade aca-
dêmica, principalmente para a capacitação de recursos humanos
biente.
para a pesquisa, e também porque pode ser objeto de publicações
e teses. Mas não tem ainda, de per se, um valor econômico, pois
Órgãos de Gestão Ambiental
não é suficientemente robusta para competir, no mercado, com as
Esfera Federal
alternativas tecnológicas existentes, e nem é ainda patenteável.
Órgão Superior: O Conselho de Governo, formado pela Casa À essa descoberta tecnológica começam, então, a ser agrega-
Civil e todos os Ministros; tem a função de assessorar o Presidente dos inúmeros aperfeiçoamentos, ou inovações tecnológicas, con-
da República na formulação da Política Nacional do Meio Ambiente. tadas, muitas vezes, às centenas e até milhares, tanto no produto
Órgão Consultivo e Deliberativo: O Conselho Nacional do Meio quanto no seu processo de fabricação. Essas inovações vão imple-
Ambiente (CONAMA) reúne os diferentes setores da sociedade e mentando a robustez da tecnologia até dar-lhe suficiente competi-
tem caráter normatizador dos instrumentos da Política Ambiental. tividade, para que possa vir a disputar com as outras tecnologias do
O CONAMA é a entidade que estabelece padrões e normas federais. mesmo produto ou processo, ou do seu substituto, uma parcela do
O CONAMA é um colegiado representativo dos setores fede- seu mercado.
rais, estaduais e municipais, empresarial e sociedade civil. É presi- É importante notar que, em sua grande maioria, essas inova-
dido pelo Ministro do Meio Ambiente e composto pelas seguintes ções não exigem que seja gerado um novo conhecimento, mas são
instâncias: Plenário, Câmaras Técnicas e Grupos de Trabalho. simplesmente o uso criativo, para o caso específico, de conheci-
Órgão Central: Ministério do Meio Ambiente (MMA), agente mentos já existentes. Por exemplo, fazer a tela do cinescópio plana
formulador de Políticas Públicas Ambientais. ou tornar a tela de cristal líquido em matriz ativa.

84
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Assim, são, em geral, patenteáveis mas não publicáveis. apenas as descobertas científicas e tecnológicas, realizadas no âm-
Desta forma, podemos conceituar uma descoberta científica bito acadêmico. É o que mostram a medida da nossa inventividade
ou tecnológica como um ato acadêmico, realizado no âmbito da e de crescimento do PIB.
universidade, destinado à capacitação de recursos humanos qua-
lificados e gerador de novos conhecimentos publicáveis nos perió- A medida internacionalmente usada para avaliar o grau de
dicos especializados, como prova de sua originalidade e valor como inovação é a outorga ou obtenção de patentes de invenção. Como
um conhecimento. as patentes têm âmbito local, toma-se o mercado americano para
A inovação, ao contrário, como acima apresentado, é uma ati- comparação, por ser o maior mercado mundial, com 157 mil paten-
vidade econômica, executada no ambiente da produção, e que se tes em 2000. Apenas 12 países geram 95% dessas patentes ameri-
destina a dar mais competitividade a uma tecnologia, ou descober- canas. Entre esses, só dois emergentes: Taiwan, o quarto, e Coréia,
ta tecnológica, de um produto ou processo, ampliando a sua parce- o oitavo. A nossa posição é humilhante para a nossa criatividade, o
la de mercado e, assim, agregando valor econômico e lucratividade. tamanho e a diversidade da nossa economia e as expectativas da
Portanto, uma tecnologia constitui-se de uma descoberta, o nossa sociedade: tivemos menos de um milésimo das patentes, em
uso de algum conhecimento recente ou não em uma nova aplica- 2000.
ção, robustecida por centenas ou milhares de inovações utilizando Mas o mais grave é que enquanto crescemos de três em três
criativamente conhecimentos existentes. Um mesmo produto tem, patentes, os países acima citados agregam cerca de uma quarta
em geral, umas poucas descobertas amplamente conhecidas atra- parte a cada ano, dobrando a cada três anos. São países que mobili-
vés de publicações e centenas ou milhares de inovações, protegidas zam a sua criatividade para alcançar a autonomia tecnológica, asse-
do conhecimento e uso por terceiros através de patentes. gurar a competitividade, elevar a renda, distribuila de forma justa e,
Como exemplo, temos a tela de monitor que, em 70 anos de assim, construir o próprio futuro. E inovação tecnológica própria é
existência, teve duas descobertas tecnológicas, válvula termoiônica o que não temos na medida do necessário. Veja-se o quadro abaixo.
e cristal líquido, e milhares de inovações patenteadas por diversos
fabricantes, pois é óbvio que os atuais modelos no mercado só têm
Patentes outorgadas nos Estados Unidos
em comum com os primeiros as descobertas tecnológicas. Outro
exemplo é a propulsão do avião que, em cem 130 anos, só teve
três descobertas: a hélice, o turbo-hélice e o jato. Mas o número de
inovações conta-se aos milhares.
Note-se que as inovações podem ser desenvolvidas em desco-
bertas tecnológicas recentes ou antigas, pelos que realizaram a des-
coberta ou por outros produtores. Assim, a Coréia, embora domine o
mercado de monitores, não descobriu nenhuma das duas tecnologias
usadas para telas. O mesmo ocorre com a telefonia celular, que não é
descoberta da Nokia, da Samsung ou da Motorola, os três principais
fabricantes. Assim como a Embraer não descobriu o avião.
Como a descoberta tecnológica, em seu estado natural, não
tem viabilidade no mercado sem as inovações, fica claro que essas
é que são o real mecanismo de agregação de valor econômico, na Fonte: U.S. Patent and Trade Mark Office. (1) Ajuste linear.
medida em que transformam uma descoberta em um produto ou
processo capaz de disputar o mercado, pela quase contínua incor- A consequência direta da competência na inovação é que o
poração de conhecimentos. país pode disputar o mercado internacional pela via das exporta-
Um aspecto relevante é que uma descoberta tecnológica pode ções. Isso amplia o mercado para os seus produtos e, assim, propi-
consumir 10, 20 ou mais anos para alcançar suficiente robustez para cia condições de um crescimento mais rápido da economia, isto é,
tornar-se uma tecnologia e disputar mercado. E, por vezes, isso ja- do PIB. Veja-se, no quadro abaixo, como o nosso desempenho se
mais acontece e a descoberta acaba definitivamente abandonada. compara com países que têm uma intensiva geração de inovações,
O seu risco, portanto, é muito elevado. A inovação, ao contrário, na uma vez que é no setor produtivo que se executam mais de 70% do
medida em que é o atendimento de uma demanda real do merca- DPD total do país.
do, por ser mais objetiva, é rapidamente implementada e, por essas
razões, tem baixo risco. Crescimento do PIB e do dispêndio em inovação, taxas anuais
Portanto, mesmo para um país que descobre novas tecnolo- médias (%)
gias, como os países do primeiro mundo, é indispensável ter uma
eficiente geração de inovações no setor produtivo, para que alcance
uma agregação efetiva de valor econômico com o uso do conheci-
mento. E este, entretanto, nem precisou ser gerado no próprio país,
como é o caso de Taiwan e Coréia.
Portanto, para transformar conhecimento em valor agregado,
a geração de inovações é condição indeclinável. E a descoberta de
novas tecnologias é conveniente, desde que o setor produtivo seja
um gerador de inovações.
A posição do nosso país está muito aquém do desejável e até
do necessário para alimentar o nosso desenvolvimento sustentado.
Temos realizado, nos últimos 30 anos, o DPD de modo irregular e,
principalmente, ineficiente, para a transformação de conhecimento
em valor econômico, posto que a nossa política de fomento à pes-
quisa (ou política de ciência & tecnologia, na nomenclatura oficial)
não contempla a geração de inovações pelo setor produtivo, mas Fontes: 1) Banco Mundial; 2) página Internet; 3) KITA, 2000.

85
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Temos o pior desempenho entre os países acima e nem sequer Marte, Júpiter, Netuno, Saturno e Urano -, depois um segundo, que
temos os dados de dispêndio em inovação do nosso país, estimados são os asteróides, e um terceiro grupo, com Plutão e o novo objeto
em cerca de 0,10 a 0,15 do PIB. O mais grave, porém, é que a dis- UB313, descoberto no ano passado.
tância entre a nossa economia e a dos EUA aumentou nos últimos Plutão, além de ser reduzido a um planeta anão, agora é o aste-
vinte anos. Além disso, fomos ultrapassados em PIB per capita por róide número 134340 do Centro de Planetas Menores, organização
Taiwan (US$ 14,4 mil) e pela Coréia (US$ 13,7 mil), contra apenas oficial que coleta dados sobre asteróides e cometas.
US$ 3,5 mil do nosso país, o 81o do mundo. Em 1981, porém, o Segundo o acordo acertado na reunião da UAI, será chamado
PIB per capita da Coréia era um quarto menor e o de Taiwan só de planeta um corpo celeste que esteja na órbita de uma estrela,
5% maior do que o nosso. Ou seja, em cerca de 20 anos, o PIB per sem ser ele mesmo uma estrela. O corpo celeste também precisa
capita de Taiwan cresceu quase quatro vezes mais do que o nosso, ter massa suficiente para que sua própria gravidade molde-o numa
e o da Coréia, cerca de cinco vezes mais. forma praticamente esférica, e que tenha limpado os arredores de
O nosso mau desempenho em inovações deixou as indústrias sua órbita.
nacionais, que sobreviveram à desnacionalização dos anos noven- Plutão, descoberto há 76 anos pelo cientista americano Clyde
ta, sem um mínimo de competitividade, condição essencial ao cres- Tombaugh (1906-1997), é objeto de polêmica há décadas, princi-
cimento da sua produção. Ora, sem fomento governamental para palmente devido a seu tamanho, que foi reduzido ano após ano
inovações tecnológicas e sem tempo e capital para desenvolvê-las e que foi estabelecido agora em 2,3 mil quilômetros de diâmetro.
com risco próprio, as empresas foram compelidas a recorrer ao li- Assim, Plutão é muito menor que a Terra (12.750 quilômetros)
cenciamento de patentes e de tecnologias do exterior. Isso propi- e até mesmo menor que a Lua (3.480 quilômetros) e o UB313 (3 mil
ciou um crescimento moderado de 23% do PIB, de 1992 a 1997, ao quilômetros), que no entanto está muito mais longe do Sol.
custo de se elevarem as patentes licenciadas em quase cem vezes Outro argumento contra Plutão é a forma pouco ortodoxa de
e os gastos diretos com licenciamentos externos em mais de nove sua órbita, cuja inclinação não é paralela à da Terra e a dos outros
vezes, no período, como se nota no quadro abaixo. sete planetas do Sistema Solar.

Gastos com licenciamentos externos (US$ milhões) Mesmo assim, centenas de cientistas dos Estados Unidos firma-
ram um abaixo-assinado contra a recente decisão internacional de
retirar o status de planeta de Plutão. A rebelião astronômica mostra
que o debate sobre a definição dos planetas deve prosseguir.

Projeto Genoma
O Projeto Genoma Humano é um empreendimento internacio-
nal, iniciado formalmente em 1990 e projetado para durar 15 anos,
com os seguintes objetivos:
Identificar e fazer o mapeamento dos 80 mil genes que se cal-
cula existirem no DNA das células do corpo humano;
Determinar as sequências dos 3 bilhões de bases químicas que
compõem o DNA humano;
Armazenar essa informação em bancos, desenvolver ferramen-
tas eficientes para analisar esses dados e torná - los acessíveis para
Fonte: Banco Central
novas pesquisas biológicas.
O PHG tem como um objetivo principal construi uma série de
O desafio, portanto, é gerar no país as inovações tecnológicas
diagramas descritivos de cada cromossomo humano, com reso-
exclusivas que nos faltam para propiciar, à nossa produção, um alto
luções cada vez mais apuradas. Para isso, é necessário: dividir os
valor econômico agregado e uma forte competitividade nos merca-
cromossomos em fragmentos menores que possam ser propaga-
dos internacionais. Os exemplos de Taiwan e Coréia, países emer-
dos e caracterizados; e depois ordenar esses fragmentos, de forma
gentes que realmente estão crescendo pela via da inovação própria,
são os exemplos. Outros são China e Índia, que já seguem a mesma a corresponderem a suas respectivas posições nos cromossomos
trilha com resultados significativos. Para vencer esse desafio, preci- (mapeamento).
samos criar políticas públicas de fomento à inovação própria gerada Depois de completo mapeamento, o passo seguinte é deter-
no setor produtivo, principalmente para tecnologias já existentes e minar a sequência das bases de cada um dos fragmento de DNA já
comerciais. Mas, para realizá-lo, precisamos, decididamente, em- ordenados. O objetivo é descobrir os genes na sequência do DNA e
penhar-nos em mobilizar os produtores, bem como a toda a socie- desenvolver meios de usar esta informação para estudo da biologia
dade. e da medicina, na cura de doenças por exemplo.
Ele começou como uma iniciativa do setor público, tendo a li-
Plutão não é mais considerado planeta derança de James Watson, na época chefe dos Institutos Nacionais
Com a decisão votada no plenário da XXVI assembléia geral da de Saúde dos Estados Unidos (NIH). Numerosas escolas, universida-
entidade, realizada em Praga, se reduziu o número de planetas no des e laboratórios participam do projeto, usando recursos do NIH
Sistema Solar de nove para oito. Os mais de 2,5 mil analistas de 75 e Departamento de Energia norteamericano. Ó este órgão financia
países reunidos na capital checa reconhecem desta forma que se cerca de 200 investidores separados nos EUA.
cometeu um erro quando se outorgou a Plutão a categoria de pla- Em outros países, grupos de pesquisadores em universidades
neta, em 1930, ano de sua descoberta. e institutos de pesquisa também estão envolvidos no Projeto Ge-
A definição adotada preenche um vazio que existia neste cam- noma.
po científico desde os tempos do astrônomo polonês Copérnico Além destes, muitas empresas privadas grandes e pequenas
(1473-1543). A nova definição estabelece três grupos de planetas, o também conduzem pesquisa sobre o genoma humano.
primeiro com os oito planetas “clássicos” - Mercúrio, Vênus, Terra,

86
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Basicamente, 18 países iniciaram programas de pesquisas so- ção econômica e/ou social. A biotecnologia envolve várias áreas do
bre o genoma humano. Os maiores programas desenvolvem- se na conhecimento e, em conseqüência, vários profissionais, sendo uma
Alemanha, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coréia, Dinamarca, Es- ciência de natureza multidisciplinar.
tados Unidos, França, Holanda, Israel, Itália, Japão, México Reino Apesar do termo biotecnologia ser novo, o princípio é muito
Unido, Rússia, Suécia e União Européia. antigo. Por exemplo, a utilização da levedura na fermentação da uva
Comparando o mapeamento e seqüenciamento genético ao e do trigo para produção de vinho e pão vem de muitos anos antes
mapeamento de uma estrada que se estendesse, digamos, de Por- de Cristo. Com a evolução da ciência em seus diversos setores, inú-
to Alegre a Manaus. O Projeto Genoma Humano, conduzido pelos meras metodologias biotecnológicas têm sido sistematizadas, au-
órgãos do governo tem obtido dados de alta qualidade e precisão, mentando seus benefícios econômicos, sociais e ambientais. Vários
registrando os detalhes das células humanas - inclusive as porções cientistas, com suas descobertas, tiveram grande importância para
do DNA que não contém gene algum e que constituem 97% do seu a evolução e sistematização da biotecnologia. Por exemplo, Louis
total. A iniciativa privada, porém, juntou- se ao projeto em vista do Pasteur com a descoberta dos microrganismos em 1861, Gregor
potencial de lucro que as pesquisas podem trazer, especialmente Mendel com a descoberta da hereditariedade em 1865, James Wat-
son e Francis Crick com a descoberta da estrutura do DNA (ácido de-
para as indústrias farmacêuticas. A rapidez na obtenção de resulta-
soxirribonucléico, molécula responsável pela informação genética
dos, que podem ser transformados em patentes, tornou- se crucial
de cada ser vivo) em 1953, entre outros.
para.
A partir da descoberta da estrutura do DNA, houve uma revo-
Com a iniciativa privada ocupando- se apenas dos genes mais
lução incrível na área da genética e biologia molecular, surgindo,
interessantes e os pesquisadores do governo dedicando- se ao se-
então, a chamada biotecnologia moderna, a qual consiste na ma-
quenciamento dos demais, as duas formas de trabalho podem se
nipulação controlada e intencional do DNA por meio das técnicas
complementar, em benefício do conhecimento geral.
de engenharia genética. Por meio de tais técnicas foi possível a pro-
Com a entrada da iniciativa privada no Projeto Genoma, dando dução de insulina humana em bactérias e o desenvolvimento de
preferência a uma abordagem dirigida apenas aos genes que apre- inúmeras plantas transgênicas a partir da década de 80.
sentam interesse para a cura de doenças, o setor público passou a
rever seu cronograma e espera concluir o Projeto em 2003 e não As várias técnicas relacionadas à biotecnologia têm trazido, via
em 2005, como proposto inicialmente. de regra, benefícios para a sociedade. As fermentações industriais
As tecnologia, os recursos biológicos e os bancos de dados na produção de vinhos, cervejas, pães, queijos e vinagres; a produ-
gerados pela pesquisa sobre o genoma terão grande impacto nas ção de fármacos, vacinas, antibióticos e vitaminas; a utilização de
indústrias relacionadas à biotecnologia, como a agricultura, a pro- biofungicidas no controle biológico de pragas e doenças; o uso de
dução de energia, o controle do lixo, a despoluição ambiental. microrganismos visando à biodegradação de lixo e esgoto; o uso de
O Projeto Genoma Humano, conseguiu até agora identificar os bactérias fixadoras de nitrogênio e fungos micorrízicos para a me-
genes contidos em dois cromossomos , 22 e o 21. lhoria de produtividade das plantas; o desenvolvimento de plantas
A conquista do genoma promete uma revolução na medicina e animais melhorados utilizando técnicas convencionais de melho-
cujos resultados brotarão aos poucos ao longo das próximas dé- ramento genético e também a transformação genética.
cadas. Os genes são instruções que determinam as características
físicas de cada indivíduo, como a cor dos olhos e a formação óssea.
Os maiores avanços científicos no primeiro trimestre do ano.
Também produzem proteínas indispensáveis ao funcionamento do
Os cientistas e pesquisadores de todo o mundo estão sempre
corpo, como as que ajudam o estômago a dirigir comida ou a meta-
procurando descobrir e criar inovações no mundo da ciência e da
bolizar carboidratos. Genes defeituosos desequilibram o organismo
tecnologia. Seus avanços alteram a vida na Terra e mudam nossa
e podem causar doenças.
percepção da realidade. As maiores descobertas científicas são um
Com a chave do código, os cientistas vão compreender o pro-
testemunho inspirador das capacidades humanas. Todos os anos,
cesso que gera tais males, para então desenvolver exames de diag-
nóstico e tratamentos. Há esperança de cura com a substituição de cientistas fazem descobertas incríveis. O que os cientistas apren-
genes anormais. deram em 2017 pode ajudá-los a fazer novos avanços em 2018, e
as descobertas científicas em 2018 podem influenciar os avanços
Mulher com primeiro rosto transplantado científicos 2019.
A primeira reação da mulher de 38 anos que foi submetida à Esta lista de descobertas científicas 2019 apresenta avanços e
cirurgia pioneira de transplante de rosto da história foi agradecer recentes divulgações que abrangem uma ampla gama de discipli-
aos médicos. nas. Desde aprender novidades sobre mundos além do nosso pla-
Segundo os cirurgiões, ela pediu uma caneta e um papel e es- neta a até desbloquear possibilidades dentro de nossas próprias
creveu em francês a palavra “merci” [obrigada, em português]. células, algumas descobertas provocaram uma compreensão mais
De acordo com eles, a palavra foi escrita depois de ela ter se rica do nosso passado.
olhado no espelho, 24 horas após a cirurgia que ocorreu no último Esses avanços e feitos da ciência até agora lhe darão esperança
domingo na cidade de Amiens, no norte da França. em um futuro mesmo em vezes sombrio. As mais recentes notícias
A mulher recebeu tecidos, artérias e veias de outra mulher que da ciência são inspiradoras para uma nova geração de pensadores
havia tido morte cerebral. Em maio passado, a transplantada foi que continuarão a empurrar os limites da capacidade humana.
atacada por seu cão, um labrador (em geral, uma raça dócil), e teve Leia abaixo as maiores descobertas de 2019 e os últimos avan-
seu rosto desfigurado. ços científicos no balanço da Sociedade Ciência no primeiro trimes-
Segundo o jornal londrino “Daily Telegraph”, a mulher se cha- tre do ano, numeradas apenas para fins didáticos, não sendo a or-
ma Isabelle Dinoire. É divorciada e mãe de dois adolescentes. Isa- dem apresentada um julgamento de importância.
belle mora em Valenciennes (norte da França).
Estudo Universidade de Yale reativa atividade celular em cé-
BIOTECNOLOGIA E TRANSGÊNICOS rebro de porcos horas após a morte
A biotecnologia, conceitualmente, é a união de biologia com Uma equipe de pesquisa na Universidade de Yale estudou em
tecnologia; é um conjunto de técnicas que utilizam os seres vivos porcos a restauração da circulação cerebral e das funções celulares
no desenvolvimento de processos e produtos que tenham uma fun- horas após aqueles animais terem morrido.

87
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Os pesquisadores descobriram que “uma quantidade sur- Genoma do tubarão branco é decodificado
preendente de função celular foi preservada ou restaurada”. Isso Em 18 de fevereiro de 2019, cientistas anunciaram que termi-
implica que nossa compreensão neurologia previa, que toda ativi- naram a decodificar o genoma do tubarão branco (Carcharodon
dade celular pára uma vez cortado o suprimento de oxigênio, ainda carcharias). Como o maior peixe predador da Terra, o sucesso evo-
é limitado. lutivo dos tubarões sugere uma riqueza de informações genéticas
Os pesquisadores que conduziram esse estudo, por uma ques- possíveis, desde o aumento da cicatrização de feridas até uma no-
tão de ética, tiveram cuidado evitar estimular a atividade cerebral tável tolerância a danos no DNA. Ao dizer isso, não podemos perder
responsável pelo pensamento e a consciência, atividades essas que de vista que os tubarões evoluíram do resto do reino animal há 400
não foram nem mesmo preservadas artificialmente após a morte milhões de anos, antes mesmo que os primeiros anfíbios aventurei-
dos animais. Ainda assim, as implicações éticas da função celular ros deixassem os oceanos para terra seca. As adaptações genéticas
post-mortem colocam em questão as leis em vigor sobre o bem-es- que esses animais vêm desenvolvendo contidas em seus DNA, que
tar animal e até a proteção de seres humanos que foram declarados os cientistas agora decodificaram, oferecem muitas possibilidades
com morte cerebral. no mundo da saúde e da medicina. Com toda essa informação ge-
Usando trinta e duas cabeças de porco obtidas de abatedouros, nética, revelou o estudo, o grande tubarão branco tem um genoma
a equipe limpou e isolou cada cérebro antes de ligar os principais 1,5 vezes maior do que o de humanos.
vasos sanguíneos a um dispositivo que bombeava um coquetel quí-
mico especialmente formulado por seis horas. O procedimento teve As primeiras plantas germinam na Lua
início cerca de quatro horas depois que os porcos passavam. A tec- Alimentadas com ar, água e nutrientes, bem como levedura e
nologia usada no estudo é chamada BrainEx. ovos de mosca de fruta na tentativa de formar uma biosfera auto-
Embora estar ciente de que a restauração a nível celular da -sustentável, sementes de algodão e batata germinaram seus pri-
atividade de alguns neurônios é possível horas após a morte pos- meiros brotos em 14 de janeiro de 2019. E esse foi um feito notável,
sa ser eticamente complicada, a pesquisa também “oferece uma já que estes plantas estão fazendo isso na Lua, embora não direta-
nova maneira de estudar doenças ou lesões cerebrais”. Indepen- mente no solo lunar. Esta é a primeira vez que as plantas germinam
dentemente disso, a distinção entre um “cérebro vivo” e um “cé- na Lua, outra ótima notícia da missão chinesa Chang’e 4.
rebro celularmente ativo” é essencialmente a mesma diferença
entre “quase completamente morto” e “completamente morto”. E Esse avanço científico com plantas brotando na Lua é impor-
a designação “quase completamente morto” não costuma carregar tante para aprendermos qual a nossa chance cultivar alimentos na
consigo uma conotação positiva. Lua. E isso pode ser importante cada vez mais necessário à medida
O artigo científico descrevendo o trabalho dos pesquisadores que exploramos o espaço.
da Universidade de Yale foi publicado na Nature. Aprender como é possível estabelecer na Lua um ponto de par-
tida para outros planetas é especialmente importante para a China,
Reportado um segundo paciente curado do vírus HIV que espera enviar missões tripuladas a Marte.
O segundo paciente a ser curado do vírus HIV, agente causador
da aids, é informado à comunidade médica, o que demonstra que Primeiro desembarque no lado “escuro” da da Lua
uma cura completa da doença é possível. Depois de lançar o Chang’e 4 no início de dezembro de 2018,
Ambos os pacientes foram livres do vírus que causa aids após a China realizou outro feito notável. O país asiático pousou de sua
um transplante de células-tronco de medula óssea de um doador sonda no lado oculto da Lua em 03 de janeiro de 2019 às 10h26 da
com uma mutação genética rara do gene CCR5. O primeiro paciente manhã, horário de Pequim, tornando a sonda Chang’e 4 a primeira
a comprovar isso foi um homem de Berlim, Timothy Brown, que nave espacial a realizar tal façanha.
ficou conhecido na literatura médica como “o paciente de Berlim”. Na foto acima, vemos uma imagem do outro lado da Lua. Regis-
Ele passou pelo procedimento que eliminou o vírus da seu orga- trada pelo aterrissador chinês Chang’e-4, à esquerda está a borda
nismo há mais de uma década. Brown parou de tomar os medica- do corpo da sonda, enquanto à direita está a parte direita da perna
mentos anti-retrovirais utilizados para suprimir o HIV e permaneceu da sonda, bem como a base do pé, que afundou parcialmente no
sem vírus. regolito lunar. O vídeo com o registro o pouso do qual a imagem
O segundo homem que teve o mesmo sucesso contra o HIV é provem foi divulgado pela estatal chinesa CNSA (sigla para China
um paciente que não teve o nome divulgado, identificado apenas National Space Administration), a agência espacial chinesa, que
como “o paciente de Londres”. Esse segundo portador do vírus a ser coordena o Chinese Lunar Exploration Program – CLEP.
curado parou com sua medicação há dezoito meses e não mostrou Já a segunda imagem deste item mostrada abaixo, também di-
sinais de o vírus ter retornado ao seu corpo. vulgada pela CNSA, é a primeira fotografia colorida retornada da
Como transplantes da medula óssea não são uma solução a ser superfície do outro lado da Lua. A câmera de implementação do
aplicada em larga escala para o tratamento contra o HIV, os cientis- rover da Chang’e-4 fez este registro, que mostra uma cratera cheia
tas esperam que estes sejam os primeiros passos para “uma estra- de poeira nas proximidades, e a implantação rampa do rover no
tégia segura, econômica e fácil capaz de alcançar esses resultados topo da foto.
usando tecnologia de genes ou técnicas de anticorpos”. Atualmen- Embora o lado “escuro” da Lua nem sempre seja verdadeira-
te, é necessário aos pacientes com HIV tomar uma pílula diária para mente escuro, o lado mais distante do satélite da Terra é relativa-
se manter uma pessoa com saudável e lhes assegurar uma vida nor- mente desconhecido, já que está constantemente voltado para lon-
mal. ge do planeta.
O artigo científico publicado na Nature, uma das mais respei- A incapacidade de ver diretamente a superfície lunar no lado
tadas publicações científica do mundo, em 5 de março de 2019, “de trás” do nosso satélite natural também aumenta a dificuldade
detalha como o tratamento da célula-tronco funciona e quais as de pousar qualquer espaçonave nela. Embora o lado mais distante
possibilidades são para o que vem depois. da Lua já tenha sido completamente mapeado, o módulo Chang’e
4 é o primeiro artefato humano a realmente aterrissar nessa parte
intocada do satélite.

88
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Além do feito ser notável no sentido da exploração em si, uma
sonda no outro lado da Lua pode abrir caminho para que possamos
observar o espaço mais claramente, graças à própria Lua bloquean-
do os sinais de rádio vindos da Terra. Como explicou Yu Guobin,
o porta-voz da missão, “esta sonda pode preencher a lacuna da
observação de baixa frequência na radioastronomia e fornecerá in-
formações importantes para o estudo da origem das estrelas e da
evolução de nebulosas”.

Cientistas revelam a primeira imagem real de um buraco ne-


gro

A imagem acima é um fotografia da distante galáxia M87. A


gigantesca galáxia elíptica Messier 87 aparece nesta imagem de
campo profundo, uma imagem produzida a partir do zoom em uma
pequena região do espaço. Foi o buraco negro supermassivo no co-
ração desta galáxia que teve sua imagem recentemente capturada
por uma equipe internacional de pesquisadores e somente reve-
lada ao mundo depois de dois anos de pesquisas e confirmações.
Apesar de seu tamanho supermassivo, o M87* está longe o
suficiente de nós para representar um enorme desafio para que
qualquer telescópio existente hoje capturasse sozinho a imagem.
De acordo com a Nature, para que isso fosse possível, exigiria algo
com uma resolução mais de mil vezes melhor do que o Telescópio
Espacial Hubble. Em vez disso, os astrônomos decidiram criar algo
maior. Muito maior.
Em abril de 2018, os astrônomos sincronizaram uma rede glo-
Em 10 de abril de 2019, a colaboração que reuniu importantes bal de radiotelescópios para observar o ambiente nas imediações
instituições científicas em todo chamada Event Horizon Telescope cósmicas do M87*. Com todos os telescópios trabalhando juntos,
(EHT) divulgou a primeira imagem bem-sucedida do horizonte de as instituições de pesquisa se organizaram para formar o Event Ho-
eventos de um buraco negro. O buraco negro em questão está da rizon Telescope (EHT), um observatório virtual do tamanho de um
galáxia Messier 87: a maior e mais massiva (termo técnico da física) planeta capaz de capturar detalhes sem precedentes de corpos ce-
galáxia do nosso superaglomerado local de galáxias. Os astrônomos leste em grandes distâncias.
de o mundo expressaram admiração e empolgação pela primeira
visão real, já que todas as outras imagens existentes até então eram
simulações computacionais feitas a partir de dados observacionais
e matemáticos, deste misterioso devorador galáctico. MUNDO CONTEMPORÂNEO: ELEMENTOS DE POLÍTICA
No centro da Messier 87, uma enorme galáxia no aglomerado INTERNACIONAL E BRASILEIRA
de galáxias de Virgem, está o buraco negro supermassivo. Designa-
da simplesmente de M87 (a 87ª galáxia no catálogo de Messier) e Quando falamos em geografia politica e econômica, pensamos
localizada a mais de 55 milhões de anos-luz da Terra, é nela que o em globalização.
monstruoso gigantesco buraco negro está, bem no seu centro, com Uma das características da globalização é a crescente integra-
massa equivalente a 6,5 bilhões de vezes a massa do nosso sol. E ção econômica em escala planetária, devido ao aumento das trocas
esse é o buraco negro registrado pelos cientistas do EHT, denomi- comerciais e financeiras, que consolida a formação de um mercado
nado M87*. mundial influenciado pelas empresas transnacionais.
“Este é um grande dia para a astrofísica”, disse a diretora Na- Nesse contexto, ganhou notoriedade a Organização Mundial
tional Science Foundation (NSF), France Córdova, em comunicado. do Comércio (OMC), instituição internacional que visa fiscalizar e
“Estamos vendo o invisível. Buracos negros têm impulsionado a regulamentar o comércio mundial.
imaginação por décadas. Eles têm propriedades exóticas e são mis- A globalização é o processo de interligação e interdependência
teriosos para nós. No entanto, com mais observações como esta, entre as diferentes sociedades e resulta em uma intensificação das
eles estão revelando os seus segredos. É por isso que a NSF existe. relações comerciais, econômicas, políticas, sociais e culturais entre
Nós capacitamos cientistas e engenheiros para iluminar o desco- países, empresas e pessoas. Esse fenômeno é possibilitado pelo
nhecido, para revelar a majestade sutil e complexa do nosso univer- avanço das técnicas, com destaque para os campos das telecomuni-
so”. A NSF é uma agência governamental ligada ao governo federal cações e dos transportes.
dos Estados Unidos que promove a pesquisa e educação fundamen- A expressão “globalização” foi criada na década de 1980. No
tal em todos os campos da ciência e da engenharia. entanto, não podemos dizer que ela seja um processo recente, uma
vez que teria se iniciado ao longo dos séculos XV e XVI, com a ex-
pansão ultramarina europeia, que iniciava uma era de integração
plena entre o continente europeu e as demais partes do planeta.
Por outro lado, foi apenas na segunda metade do século XX que
esse fenômeno encontrou a sua forma mais consolidada.
Podemos dizer que o mundo só alcançou o nível atual de inte-
gração graças aos desenvolvimentos realizados, como já dissemos,
no âmbito dos transportes e das comunicações. Esses meios são

89
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
importantes por facilitarem o deslocamento e a rápida obtenção de A globalização é, de modo geral, vista como o processo de
informações entre pontos remotos entre si. Tais avanços, por sua integração e inter-relação mundial envolvendo a economia, a cul-
vez, ocorreram graças à III Revolução Industrial, também chamada tura, a informação e, claro, os fluxos de pessoas. Esse fenômeno
de Revolução técnico-científica informacional, que propiciou o de- instrumentaliza-se pela difusão e avanço dos meios de transporte
senvolvimento de novas tecnologias, como a computação eletrôni- e comunicação, haja vista que regiões distantes, antes tidas como
ca, a biotecnologia e inúmeras outras formas produtivas. isoladas umas das outras, integram-se plenamente.
Outro fator que também pode ser tido como uma das causas O termo Globalização, apesar de ser considerado por muitos
da Globalização é o desenvolvimento do Capitalismo Financeiro, a um processo gradativo que se iniciou com a expansão marítima eu-
fase do sistema econômico marcada pela fusão entre empresas e ropeia, difundiu-se no meio intelectual apenas a partir da década
bancos e pela divisão das instituições privadas em ações. Hoje em de 1980. Assim, a sua consolidação ocorreu na segunda metade do
dia, o mercado financeiro, por meio das bolsas de valores, operam século XX em diante, com a difusão do neoliberalismo, a propaga-
em redes internacionais, com empresas de um país investindo em ção de tecnologias, a integração econômica e comercial entre os
vários lugares, alavancando o nível de interdependência econômi- países, a formação e expansão dos blocos econômicos e o fortale-
ca. cimento das instituições internacionais, tais como a OTAN e a ONU.
A título de comparação, a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei Além disso, os principais agentes da globalização são, sem dúvidas,
de Portugal sobre o descobrimento do Brasil levou alguns meses as empresas transnacionais, também conhecidas como multinacio-
para chegar ao seu destino. Em 1865, o assassinato do presidente nais ou globais.
dos Estados Unidos, Abraham Lincon, foi informado duas semanas
depois na Europa. Já em 11 de setembro de 2001, os atentados ter- Globalização e Economia
roristas às torres gêmeas do World Trade Center foram acompanha-
dos em tempo real, com o mundo vendo ao vivo o desabamento
dos prédios.
Um dos mais notáveis efeitos da Globalização é, sem dúvidas,
a formação e expansão das multinacionais, também conhecidas
como empresas globais. Essas instituições possuem seus serviços
e mercadorias disponibilizados em praticamente todas as partes do
planeta. As fábricas, em muitos casos, migram das sociedades in-
dustrializadas para os países periféricos em busca de mão de obra
barata, matérias-primas acessíveis e, claro, maior mercado consu-
midor, isso sem falar na redução ou isenção de impostos.
Outro efeito da Globalização foi a formação dos mercados re-
gionais, por meio dos blocos econômicos. Esses acordos entre os
países facilitaram os processos de negociação para aberturas eco-
nômicas e entrada de pessoas e bens para consumo.

Apesar de amplamente difundida, há muitos protestos e críti- Os países dominam as grandes empresas ou as grandes em-
cas à globalização, sobretudo ressaltando os seus pontos negativos. presas dominam os países?
As principais posições defendem que esse processo não é democrá-
tico, haja vista que os produtos, lucros e desenvolvimentos ocorrem As empresas transacionais que comercializam no mundo todo
predominantemente nos países desenvolvidos e nas elites das so- são os principais agentes da globalização econômica.
ciedades, gerando margens de exclusão em todo o mundo. Críticas É certo que ainda falamos de governo e nação, no entanto, es-
também são direcionadas à padronização cultural ou hegemoniza- tes deixaram de representar o interesse da população. Agora, os
ção de valores, em que o modo de vida eurocêntrico difunde-se no Estados defendem, sobretudo, as empresas e bancos.
cerne do pensamento das sociedades. Na maior parte das vezes são as empresas americanas, euro-
De toda forma, a Globalização está cada vez mais consolidada peias e grandes conglomerados asiáticos que dominam este pro-
no mundo atual, embora existam teóricos que, frequentemente, cesso.
reafirmam a sua reversibilidade, sobretudo em ocasiões envolven-
do revoltas contra o seu funcionamento ou o próprio colapso do sis- Globalização e Neoliberalismo
tema financeiro. O seu futuro, no entanto, ainda está à mercê não A globalização econômica só foi possível com o neoliberalis-
tão somente das técnicas e da economia, mas também dos eventos mo adotado nos anos 80 pela Grã-Bretanha governada por Mar-
políticos que vão marcar o mundo nas próximas décadas. garet Thatcher (1925-2013) e os Estados Unidos, de Ronald Reagan
O Enem apresenta uma tendência de abordar temas que pos- (1911-2004).
suam certa atualidade, ou seja, que se relacionem com eventos ou O neoliberalismo defende que o Estado deve ser apenas um
acontecimentos que sejam de relevância para o contexto atual da regulador e não um impulsor da economia. Igualmente aponta a
sociedade. Por esse motivo, além de estudar os temas básicos da flexibilidade das leis trabalhistas como uma das medidas que é pre-
Geografia, é preciso sempre estar informado através do acompa- ciso tomar a fim de fortalecer a economia de um país.
nhamento de notícias tanto na mídia televisiva quanto na impressa Isto gera uma economia extremamente desigual onde somente
e, também, na internet. os gigantes comerciais tem mais adaptação neste mercado. Assim,
Nesse sentido, a Globalização emerge como um dos principais muita gente fica para trás neste processo.
temas a serem abordados pela banca examinadora, haja vista que
todos os seus conceitos e efeitos podem ser visualizados direta ou Globalização e Exclusão
indiretamente nas sociedades do mundo contemporâneo. Portan- Uma das faces mais perversas da globalização econômica é a
to, a globalização no Enem é uma oportunidade de compreender as exclusão. Isto porque a globalização é um fenômeno assimétrico e
relações geopolíticas e sociais à luz dos estudos da Geografia. nem todos os países ganharam da mesma forma.

90
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Um dos grandes problemas atuais é a exclusão digital. Aqueles primeiro é a relação entre a produção realizada e a área cultivada.
que não têm acesso às novas tecnologias (smartphones, computa- Quando falamos de geografia agrária, podemos aumentar a produ-
dores) estão condenados a ficarem cada vez mais isolados. tividade sem aumentar a área plantada.
Esse tipo de agricultura é capitalizada, baseada em grandes
Globalização Cultural investimentos. Por isso, a forma mais concreta de se falar em geo-
Toda essa movimentação populacional e também financeira grafia agrária moderna é através dos famosos complexos agroindus-
acaba provocando mudanças culturais. Uma delas é a aproximação triais. Existe uma troca constante entre a indústria tecnológica e a
entre culturas distintas, o que chamamos de hibridismo cultural. agropecuária, na qual a primeira oferece tecnologia e a outra ajuda
Agora, através da internet, se pode conhecer em tempo real com capital. Por fim, ainda temos o sistema financeiro, responsável
costumes tão diferentes e culturas tão distantes sem precisar sair por bancar toda essa cadeia produtiva.
de casa.
No entanto, os deslocamento de pessoas pode gerar o ódio ao Agricultura tradicional
estrangeiro, a xenofobia. Do mesmo modo, narcotraficantes e ter- Ao contrário da agricultura moderna, a agricultura tradicional
roristas têm o acesso à tecnologia e a utilizam para cometer seus faz uso de métodos ultrapassados e de mão de obra em larga esca-
crimes. la. No entanto, há um caso particular, cujo o uso extenso de mão
de obra na versão moderna é necessário, que é a fruticultura. Se ti-
Agropecuária vermos uma produção agrícola de fruticultura, nos dois casos serão
empregadas muita mão de obra, uma vez que certas partes dessa
Sistemas Agrícolas produção não podem ser mecanizadas, por exemplo, a colheita das
Sistemas agrícolas são classificações utilizadas para a produção frutas.
agrícola e pecuária. Há dois sistemas, o intensivo e o extensivo. Outra diferença em relação à agricultura moderna, é que na
Para definir se o sistema agrícola é intensivo ou extensivo são tradicional é necessário incorporar terras para aumentar a produ-
considerados os pontos da produção em qualquer tamanho de pro- ção. Então, tal tipo de é considerada de baixa produtividade e capaz
priedade. de gerar tantos impactos ambientais quanto a moderna. A agricul-
O sistema é revelado por resultados como a produtividade por tura tradicional é típica dos países em desenvolvimento, o que não
hectare e o investimento na produção. significa que não seja praticada na geografia agrária dos países de-
senvolvidos. O mesmo ocorre com a moderna; embora seja pratica-
Sistema Intensivo da mais amplamente nos países desenvolvidos, também é praticada
No modelo da agricultura brasileira, o sistema intensivo é o em menor escala em alguns países em desenvolvimento.
mais praticado. Por ele, são aplicadas técnicas modernas de previ-
são que englobam o preparo do solo, a forma de cultivo e a colheita. Pecuária
A produtividade não está somente no rendimento obtido dire- Na pecuária, o rendimento também é avaliado para definir o
to do solo, mas do seu redimensionamento para resultar na maior sistema aplicado. Da mesma maneira que ocorre com a agricultura,
produção possível por metro quadrado (a chamada produtividade o modo de produção intensivo é direcionado para resultados ele-
média por hectare). vados.
No período de colheita, as perdas são equacionadas para que A produção de gado pode ser a pasto ou em sistema de confi-
atinjam o mínimo. O mesmo vale para o armazenamento. namento e a densidade de cabeças deve ser a maior possível.
Para melhor desempenho da produção pecuária são avaliados
Esse sistema é criticado porque agride o meio ambiente por os investimentos em: qualidade do solo, rendimento do pasto, con-
conta de fatos como: desmatamento para implantação de mono- formação de carcaça (quando o gado de corte oferece maior quan-
culturas ou pasto, uso de agrotóxicos, erosão e empobrecimento do tidade de carne), oferta de leite e genética de qualidade.
solo após sucessivos plantios.
Tipos de pecuária
Sistema Extensivo Denomina-se de pecuária a criação e reprodução de animais
O sistema extensivo é o que menos agride o meio ambiente. É
com finalidades econômicas. Os animais assim criados e reproduzi-
o sistema tradicional em que são utilizadas técnicas rudimentares
dos são conhecidos como gado.
que garantem a recuperação do solo e a produção em baixa escala.
Diversos são os tipos de gado: os bovinos, os ovinos, os suínos,
Em geral, o sistema extensivo é usado pelo modelo denomina-
os caprinos, os asininos, os equinos e os muares.
do agricultura familiar e, ainda, pela agricultura orgânica.
No primeiro, a produção é destinada à subsistência e somen-
Tipos de criação bovina
te o excedente é vendido. Há o uso de agrotóxicos, mas em baixa
- Extensiva - gado solto nas pastagens onde são criados novi-
escala.
Já o modelo de agricultura orgânica dispensa o uso de agrotóxi- lhos e engordados o “gado de corte”, bois que servem para a produ-
cos, privilegia alimentos saudáveis e permite a exploração racional ção de carnes para mercado.
do solo. - Intensiva - gado criado em estábulos, normalmente vacas
para a produção de leite. Na criação intensiva, a utilização de rações
Agricultura moderna adequadas e os cuidados veterinários possibilitam a inseminação
A agricultura moderna faz uso de várias tecnologias, como os artificial e a seleção de touros e de raças.
tratores, colhedeiras, ceifadeiras, adubo, fertilizantes, etc. Além
disso, também seleciona sementes modificadas geneticamente. No Os maiores rebanhos bovinos do mundo estão localizados na
entanto, ela não se limita ao uso de máquinas; há também uso de Índia, nos Estados Unidos, na Rússia, no Brasil, na Austrália e na
biotecnologia. Argentina.
Ela se baseia no aumento da sua produção à medida em que Um tipo de gado bovino muito produzido hoje é o búfalo, prin-
incrementa tecnologia. Isso nos leva ao importante conceito de pro- cipalmente na Índia, na China, no Paquistão e nos Estados Unidos.
dutividade agrícola, que se diferencia de produtividade industrial. O

91
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Tipos de criação ovina Estrutura agrária
- Intensiva - criação de ovelhas para a produção de lã, principal- A expressão estrutura agrária é usada em sentido amplo, signi-
mente na Austrália, na Nova Zelândia e na Rússia. ficando a forma de acesso à propriedade da terra e à exploração da
- Extensiva - ovelhas de corte para a produção de carne. mesma, indicando as relações entre os proprietários e os não pro-
prietários, a forma como as culturas se distribuem pela superfície
Tipos de criação suína da Terra (morfologia agrária) e como a população se distribui e se
- Extensiva - criação de porcos para a produção de banha e de relaciona aos meios de transportes e comunicações (habitat rural).
carnes para consumo do próprio produtor. Nesse tipo de criação, A estrutura agrária são as características do espaço que são:
pouco são os cuidados técnicos e com a higiene. Estrutura fundiária- concentração de terras(muitas terras pouco uti-
- Intensiva - porcos estabulados com cuidados científicos e mui- lizada) Produção agrícola- exportação no caso do Brasil Relações de
ta higiene; destinados a produção de couro e carnes para indústrias trabalho- mão de obra , máquinas fazendo o trabalho que um dia
e frigoríficos. foi feito pelo homem
Os maiores rebanhos de suínos no planeta estão na China, Es-
tados Unidos, Rússia e Brasil. A Fome no mundo – Produção, distribuição e consumo de ali-
mentos
Tipos de criação caprina Em várias partes do mundo persistem os problemas de saúde
- Extensiva - criação de cabras para a produção de carne, mais ligados à falta de alimentos. Segundo a Organização Mundial de
comum em regiões de relevo acidentados e de climas semiáridos Saúde (OMS) a subnutrição ainda é causa indireta de cerca de 30%
ou áridos. das mortes de crianças no mundo. Afetando o desenvolvimento fí-
- Intensiva - produção estabulada de cabritos para o aproveita- sico e mental de milhões de crianças, a subalimentação também
mento da pele e da carne e de cabras fornecedoras de leite. compromete seu desenvolvimento intelectual e profissional, dimi-
A China, a Índia e a Itália são os grandes produtores. nuindo o número de cidadãos preparados para contribuir com o
desenvolvimento de seus países.
Tipos de criação asinina Este é o ciclo vicioso a que são condenadas regiões pobres em
- Extensiva - jumentos e jegues destinados para corte ou para o todo o mundo: falta de acesso a alimentos gera subnutrição. Esta
uso na tração animal (carroças puxadas por jumentos são um exem- prejudica o desenvolvimento intelectual e profissional de parte
plo de tração animal). da população. Na falta de cidadãos preparados, o crescimento da
- Intensiva - para selecionar reprodutores. economia fica comprometido e desta forma não geram-se menos
recursos para produzir ou comprar alimentos para toda a população
Tipos de criação equina – principalmente aquela mais necessitada. Por isso, é preciso que os
- Extensiva - criação de éguas e cavalos para tração, montaria países detentores de tecnologia agrícola desenvolvida atuem nes-
ou corte. tes países na transferência de conhecimentos.
- Intensiva - estabulada e com o propósito de selecionar e pre- A fome ainda presente no século XXI não é por falta de alimen-
parar éguas e cavalos para atividades esportivas (“corrida de cava- tos. A produção mundial de comida é suficiente para abastecer os
lo” e “partidas de polo”). atuais 7,3 bilhões de habitantes da Terra. Se parte da população
dos países menos desenvolvidos não tem acesso a quantidades su-
Muares ficientes de comida, isto se deve a fatores como insuficiente pro-
Burros e bestas ou mulas originadas pelo cruzamento entre dução local; falta de recursos do país para adquirir alimentos no
equinos e asininos. mercado internacional; e elevação dos preços internacionais devido
a ações especulativas, entre outros.
Avicultura A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricul-
É a criação de aves para o corte e para a produção de ovos. tura (FAO) alerta que a população mundial deverá atingir 9 bilhões
Nas áreas rurais de quase todos os países do globo são criados gali- em 2050, o que incrementará a procura por alimentos. Segundo os
nhas e frangos, gansos, marrecos, codornas, perus e patos. O mais especialistas, para fazer frente a esta demanda, o mundo deverá
importante rebanho de aves, quantitativamente e quanto ao valor atacar este problema em três frentes principais. Primeiro, aumentar
econômico, consiste nos galináceos (frangos e galinhas). a produção de produtos agrícolas, sem comprometer os recursos
naturais, não avançando sobre áreas de vegetação natural. Isto sig-
Tipos de criação galinácea nifica que o Brasil, por exemplo, precisará investir muito mais em
- Extensiva - destinada ao corte sendo a carne consumida pelo pesquisa e tecnologia – o que em parte já vem fazendo – para obter
próprio produtor ou enviada para frigoríficos com a objetivo de uma melhor produtividade das áreas agrícolas já existentes.
aproveitamento econômico. O segundo aspecto a ser considerado é a melhoria dos sistemas
- Intensiva - criação feita em granjas e fundamentalmente vol- de armazenagem e distribuição das colheitas. Dados apontam que
tada para a produção de ovos. cerca de 30% dos produtos agrícolas mundiais são perdidos entre o
campo e o ponto de venda do produto. Será necessário, na maioria
Outras atividades dos países produtores, construir mais silos e armazéns, ampliar a
Piscicultura - criação e reprodução de peixes e crustáceos em rede rodoviária, ferroviária e ampliar e modernizar as instalações
cativeiro (no Chile, destaca-se a criação de salmão; no Brasil está portuárias.
bastante difundida a criação de trutas). A última providência sugerida pelos estudiosos é reduzir a
Sericicultura - criação de casulos de bichos-da-seda, ampla- perda de alimentos nos pontos de venda e entre os consumidores.
mente praticada na Ásia (China, Japão, República da Coreia ou Co- Segundo um relatório elaborado pela FAO, depois de comprados,
reia do Sul e na República Democrática da Coreia ou Coreia do Nor- aproximadamente 50% dos alimentos são jogados fora, tanto na Eu-
te, os maiores produtores mundiais de seda). ropa quanto nos Estados Unidos. No Brasil aproxima 70.000 tonela-
das (aproximadamente 2.800 carretas) de alimentos acabam no lixo
a cada ano no Brasil. Compra de produtos em excesso, mal acon-

92
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
dicionamento são fatores que fazem com que milhões de famílias veis. Cumpre à informação globalizada vender a legitimidade de
descartem quantidade imensas de alimentos, sem reaproveitá-las. tudo isso, impondo padrões uniformes de cultura, valores e com-
No futuro serão necessárias campanhas em todos os países – prin- portamentos - até no ser “diferente” (diferente na aparência para
cipalmente os ricos – incentivando e ensinando o reaproveitamento continuar igual no fundo). Por suposto, os padrões de consumo e
de alimentos. Se os alimentos forem melhor manuseados e aprovei- alienação, devidamente estandartizados, servem ao tédio do urba-
tados, haverá comida para todos. nóide pós-moderno.

Globalização e sua influencia na economia Nunca fomos tão informados. Mas nunca a informação foi tão
Acima já falamos um pouco sobre o conceito da globalização, direcionada e controlada. A multiplicidade estonteante de informa-
então aqui, falaremos sobre o papel da globalização na economia. ções oculta a realidade de sua monotonia essencial - a democrati-
Ao longo do século XX, a globalização do capital foi conduzindo zação da informação é aparente, tal como a variedade. No fundo,
à globalização da informação e dos padrões culturais e de consumo. tudo igual. Estamos - e tal é a pergunta principal - melhor informa-
Isso deveu-se não apenas ao progresso tecnológico, intrínseco à Re- dos? Controlada pelas elites que conhecemos, a informação globa-
volução Industrial, mas - e sobretudo - ao imperativo dos negócios. lizada é instrumento de domesticação social.
A tremenda crise de 1929 teve tamanha amplitude justamente por
ser resultado de um mundo globalizado, ou seja, ocidentalizado, Principais tendências da globalização
face à expansão do Capitalismo. E o papel da informação mundia-
lizada foi decisivo na mundialização do pânico. Ao entrarmos nos A crescente hegemonia do capital financeiro
anos 80/90, o Capitalismo, definitivamente hegemônico com a ruí- O crescimento do sistema financeiro internacional constitui
na do chamado Socialismo Real, ingressou na etapa de sua total uma das principais características da globalização. Um volume cres-
euforia triunfalista, sob o rótulo de Neo-Liberalismo. Tais são os cente de capital acumulado é destinado à especulação propiciada
nossos tempos de palavras perfumadas: reengenharia, privatização, pela desregulamentação dos mercados financeiros.
economia de mercado, modernidade e - metáfora do imperialismo Nos últimos quinze anos o crescimento da esfera financeira foi
- globalização. superior aos índices de crescimento dos investimentos, do PIB e do
A classe trabalhadora, debilitada por causa do desemprego, comércio exterior dos países desenvolvidos. Isto significa que, num
resultante do maciço investimento tecnológico, ou está jogada no contexto de desemprego crescente, miséria e exclusão social, um
volume cada vez maior do capital produtivo é destinado à especu-
desamparo , ou foi absorvida pelo setor de serviços, uma econo-
lação.
mia fluida e que não permite a formação de uma consciência de
O setor financeiro passou a gozar de grande autonomia em re-
classe. O desemprego e o sucateamento das conquistas sociais de
lação aos bancos centrais e instituições oficiais, ampliando o seu
outros tempos, duramente obtidas, geram a insegurança coletiva
controle sobre o setor produtivo. Fundos de pensão e de seguros
com todas as suas mazelas, em particular, o sentimento de impo-
passaram a operar nesses mercados sem a intermediação das insti-
tência, a violência, a tribalização e as alienações de fundo místico
tuições financeiras oficiais.
ou similares. No momento presente, inexistem abordagens racio-
O avanço das telecomunicações e da informática aumentou a
nais e projetos alternativos para as misérias sociais, o que alimenta capacidade dos investidores realizarem transações em nível global.
irracionalismos à solta. Cerca de 1,5 trilhões de dólares percorre as principais praças finan-
A informação mundializada de nossos dias não é exatamente ceiras do planeta nas 24 horas do dia. Isso corresponde ao volume
troca: é a sutil imposição da hegemonia ideológica das elites. Cria do comércio internacional em um ano.
a aparência de semelhança num mundo heterogêneo - em qual- Da noite para o dia esses capitais voláteis podem fugir de um
quer lugar, vemos o mesmo McDonald`s, o mesmo Ford Motors, a país para outro, produzindo imensos desequilíbrios financeiros e
mesma Mitsubishi, a mesma Shell, a mesma Siemens. A mesma in- instabilidade política. A crise mexicana de 94/95 revelou as conse-
formação para fabricar os mesmos informados. Massificação da in- qüências da desregulamentação financeira para os chamados mer-
formação na era do consumo seletivo. Via informação, as elites (por cados emergentes. Foram necessários empréstimos da ordem de
que não dizer: classes dominantes?) controlam os negócios, fixam 38 bilhões de dólares para que os EUA e o FMI evitassem a falência
regras civilizadas para suas competições e concorrências e vendem do Estado mexicano e o início de uma crise em cadeia do sistema
a imagem de um mundo antisséptico, eficiente e envernizado. financeiro internacional.
A alta tecnologia, que deveria servir à felicidade coletiva, está Ao sair em socorro dos especuladores, o governo dos Estados
servindo a exclusão da maioria. Assim, não adianta muito exaltar as Unidos demonstrou quem são os seus verdadeiros parceiros no
conquistas tecnológicas crescentes - importa questionar a que - e a Nafta. Sob a forma da recessão, do desemprego e do arrocho dos
quem - elas servem. A informação global é a manipulação da infor- salários, os trabalhadores mexicanos prosseguem pagando a conta
mação para servir aos que controlam a economia global. E controle dessa aventura. Nos períodos “normais” a transferência de riquezas
é dominação. Paralelamente à exclusão social, temos o individualis- para o setor financeiro se dá por meio do serviço da dívida públi-
mo narcisístico, a ideologia da humanidade descartável, o que favo- ca, através da qual uma parte substancial dos orçamentos públicos
rece a cultura do efêmero, do transitório - da moda. são destinados para o pagamento das dívidas contraídas junto aos
De resto, se o trabalho foi tornado desimportante no imagi- especuladores. O governo FHC destinou para o pagamento de juros
nário social, ofuscado pelo brilho da tecnologia e das propagandas da dívida pública um pouco mais de 20 bilhões de dólares em 96.
que escondem o trabalho social detrás de um produto lustroso,
pronto para ser consumido, nada mais lógico que desvalorizar o Novo Papel das Empresas Transnacionais
trabalhador - e, por extensão, a própria condição humana. Ou será As empresas transnacionais constituem o carro chefe da glo-
possível desligar trabalho e humanidade? É a serviço do interesse balização. Essas empresas possuem atualmente um grau de liber-
de minorias que está a globalização da informação. dade inédito, que se manifesta na mobilidade do capital industrial,
Ela difunde modas e beneficia o consumo rápido do descartá- nos deslocamentos, na terceirização e nas operações de aquisições
vel - e o modismo frenético e desenfreado é imperativo às grandes e fusões. A globalização remove as barreiras à livre circulação do
empresas, nesta época pós- keynesiana, em que, ao consumo de capital, que hoje se encontra em condições de definir estratégias
massas, sucedeu a ênfase no consumo seletivo de bens descartá- globais para a sua acumulação.

93
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Essas estratégias são na verdade cada vez mais excludentes. O Essa prática, conhecida como dumping (rebaixamento) social,
raio de ação das transnacionais se concentra na órbita dos países consiste precisamente na violação de direitos fundamentais, utili-
desenvolvidos e alguns poucos países periféricos que alcançaram zando a superexploração dos trabalhadores como vantagem com-
certo estágio de desenvolvimento. No entanto, o caráter setorial e parativa na luta pela conquista de melhores posições no mercado
diferenciado dessa inserção tem implicado, por um lado, na consti- mundial. Nesse contexto, as conquistas sindicais são apresentadas
tuição de ilhas de excelência conectadas às empresas transnacio- pelas empresas como um custo adicional que precisa ser eliminado
nais e, por outro lado, na desindustrialização e o sucateamento de (“custo Brasil”, “custo Alemanha” etc.).
grande parte do parque industrial constituído no período anterior
por meio da substituição de importações. Blocos econômicos e comércio mundial.
As estratégias globais das transnacionais estão sustentadas no As transformações econômicas mundiais ocorridas nas últimas
aumento de produtividade possibilitado pelas novas tecnologias e décadas, sobretudo no pós segunda guerra mundial, são funda-
métodos de gestão da produção. Tais estratégias envolvem igual- mentais para entendermos as dinâmicas de poder estabelecidas
mente investimentos externos diretos realizados pelas transnacio- pelo grande capital e, também, pelas grandes corporações trans-
nais e pelos governos dos seus países de origem. A partir de 1985 nacionais. Além delas, não podemos deixar de mencionar a impor-
esses investimentos praticamente triplicaram e vêm crescendo em tância crescente das instituições supranacionais, que atuam como
ritmos mais acelerados do que o comércio e a economia mundial. verdadeiros agentes neste jogo de interesses, como por exemplo, o
Por meio desses investimentos as transnacionais operam pro- Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial, entre ou-
cessos de aquisição, fusão e terceirização segundo suas estratégias tros.
de controle do mercado e da produção. A maior parte desses fluxos
de investimentos permanece concentrada nos países avançados,
embora venha crescendo a participação dos países em desenvolvi-
mento nos últimos cinco anos. A China e outros países asiáticos, são
os principais receptores dos investimentos direitos.
O Brasil ocupa o segundo lugar dessa lista, onde destacam-se
os investimentos para aquisição de empresas privadas brasileiras
(COFAP, Metal Leve etc.) e nos programas de privatização, em parti-
cular nos setores de infraestrutura.

Liberalização e Regionalização do Comércio


O perfil altamente concentrado do comércio internacional tam-
bém é indicativo do caráter excludente da globalização econômica.
Cerca de 1/3 do comércio mundial é realizado entre as matrizes e
filiais das empresas transnacionais e 1/3 entre as próprias trans- Nova York, uma das cidades mais globalizadas do mundo
nacionais. Os acordos concluídos na Rodada Uruguai do GATT e a (Foto: Wikimedia Commons)
criação da OMC mostraram que a liberação do comércio não resul-
tou no seu equilíbrio, estando cada vez mais concentrado entre os O cenário que se afigura com a chegada destes novos agentes
países desenvolvidos. econômicos é imprescindível para compreendermos o significado
A dinâmica do comércio no Mercosul traduz essa tendência. Na da chamada globalização econômica. Esta tem como características:
realidade a integração do comércio nessa região, a exemplo do que -A ruptura de fronteiras, ou seja, tal ruptura é atribuída à dinâ-
ocorre com o Nafta e do que se planeja para a Alca em escala conti- mica do capital, que circula livremente pelo globo, sem respeitar a
nental, tem favorecido, sobretudo a atuação das empresas transna- delimitação de fronteiras territoriais;
cionais, que constituem o carro chefe da regionalização. -Perda da soberania local, ou seja, países, estados e cidades
O aumento do comércio entre os países do Mercosul nos últi- tem que se submeter à lógica do capital para conseguir gerar lucro
mos cinco anos foi da ordem de mais de 10 bilhões de dólares. Isto em seus orçamentos;
se deve em grande parte às facilidades que os produtos e as empre- -Expansão da dinâmica do capital, fato que se relaciona à rup-
sas transnacionais passaram a gozar com a eliminação das barreiras tura de fronteiras, ou seja, o capital se dirige agora também à pe-
tarifárias no regime de união aduaneira incompleta que caracteriza riferia do capitalismo, uma vez que as transnacionais compreende-
o atual estágio do Mercosul. ram que a exploração (no sentido de explorar a força de trabalho
No mesmo período, o Mercosul acumulou um déficit de mais diretamente) dos países subdesenvolvidos promoveria grandes
de 5 bilhões de dólares no seu comércio exterior. Este resultado re- lucros para estes.
flete as consequências negativas das políticas nacionais de estabili-
zação monetária ancoradas na valorização do câmbio e na abertura Com o crescimento expressivo da atuação do capital em nível
indiscriminada do comércio externo praticadas pelos governos FHC mundial, chegou-se a questionar o papel do Estado, isto é, o Esta-
e Menem. do seria de fato um agente importante neste processo ou atuaria
O empenho das centrais sindicais para garantir os direitos como um impeditivo para a livre circulação do capital, uma vez que
sociais no interior desses mercados tem encontrado enormes re- poderia criar regras ou leis que inviabilizariam a livre circulação do
sistências. As propostas do sindicalismo de adoção de uma Carta capital? Segundo este raciocínio, as transnacionais estariam coman-
Social do Mercosul, de democratização dos fóruns de decisão, de dando a dinâmica econômica mundial em detrimento dos Estados.
fundos de reconversão produtiva e de qualificação profissional têm Vale destacar que muitas empresas transnacionais passaram a de-
sido rechaçadas pelos governos e empresas transnacionais. sempenhar papéis que antes eram oferecidos pelo Estado, como
A liberalização do comércio e a abertura dos mercados nacio- serviços ligados à infraestrutura básica (exemplo: transporte e sa-
nais têm produzido o acirramento da concorrência. A super explo- neamento básico).
ração do trabalho é cada vez mais um instrumento dessa disputa. O No entanto, as sucessivas crises geradas pelo capitalismo mos-
trabalho infantil e o trabalho escravo são utilizados como vantagens traram que o papel do Estado não se apagou, como pensavam al-
comparativas na guerra comercial. guns, pelo contrário, em momentos de crise financeira, o Estado é

94
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
chamado a ajudar as empresas em dificuldade econômica. Portan- A primeira DIT corresponde ao final do século XV e ao longo do
to, o papel do Estado no contexto de globalização reestruturou-se, século XVI, no qual o capitalismo estava em fase inicial, chamada
passando este a atuar como um salvador dos excessos e econômi- de capitalismo comercial. Era caracterizado pela produção manual
cos promovidos pelas empresas nacionais ou internacionais, con- a partir da extração de matérias-primas e acúmulo de minérios e
trolando taxas de juros, câmbios, manutenção de subsídios em se- metais preciosos por parte das nações (metalismo).
tores estratégicos, bem como fiscalizando, direta e indiretamente, A segunda DIT ocorre no século XVI, mas principalmente a par-
os recursos energéticos. tir do século XVII, com a Primeira e a Segunda Revolução Indus-
trial. As colônias e os países subdesenvolvidos passaram a fornecer
A Formação dos Blocos Econômicos também produtos agrícolas, assim como vários tipos de minerais e
O surgimento dos blocos econômicos coincide com a mudança especiarias.
exercida pelo Estado. Em um primeiro momento, a ideia dos blocos Finalmente, a terceira DIT ou “Nova DIT” surge no século XX,
econômicos era de diminuir a influência do Estado na economia e com a revolução técnico-científica-informacional e a consolidação
comércio mundiais. Mas, a formação destas organizações suprana- do capitalismo financeiro, que permite a expansão das grandes
cionais fez com que o estado passasse a garantir a paz e o cresci- multinacionais pelo mundo. Nesse período, os países subdesenvol-
mento em períodos de grave crise econômica. Assim, a iniciativa vidos iniciam seus processos tardios de industrialização, entre eles o
de maior sucesso até hoje foi a experiência vivida pelos europeus. Brasil. Tal acontecimento foi possível graças à abertura do mercado
A União Europeia iniciou-se como uma simples entidade eco- financeiro desses países e pela instalação de empresas multinacio-
nômica setorial, a chamada CECA (Comunidade Europeia do Carvão nais ou globais, oriundas, quase sempre, de países desenvolvidos.
e do Aço, surgida em 1951) e depois, expandiu-se por toda a econo- Uma das críticas à DIT é que seu processo se dá de maneira
mia como “Comunidade Econômica Europeia” até atingir a confor- desigual, onde os países industrializados costumam levar vantagem
mação atual, que extrapola as questões econômicas perpassando no comércio global. Além disso, as empresas transnacionais buscam
por aspectos políticos e culturais. seus próprios interesses, sem considerar as consequências sociais,
Além da União Europeia, podemos citar o NAFTA (North Ame- econômicas e ambientais nos países onde suas filiais estão instaladas.
rican Free Trade Agreement, surgido em 1993); o Mercosul (Mercado
Comum do Sul, surgido em 1991); o Pacto Andino; a SADC (Comunida-
Nação e Território
de de Desenvolvimento da África Austral, surgida em 1992), entre ou-
Território significa os limites que delimitam ou separam um ter-
tros. A busca pela ampliação destes blocos econômicos mostra que o
ritório do outro formando várias fronteiras em todo mundo, essas
jogo de poder exercido pelas nações tenta garantir as áreas de influên-
delimitam o mundo em mais de 190 países, os territórios são con-
cia das mesmas, controlando mercados e estabelecendo parcerias com
cebidos através de acordos ou conflitos, esses são estabelecidos de
nações que despertem o interesse dos blocos econômicos.
acordo com os interesses socioeconômicos e culturais.
Além disso, o jogo de poder também está presente interna-
A partir das divisões dos países formam-se variadas culturas,
mente aos blocos, ou seja, existem países líderes dentro do bloco,
entende-se por cultura o conjunto de conhecimentos humanos ad-
que acabam submetendo os outros países do acordo aos seus inte-
quiridos a partir das relações sociais ao longo do tempo e que são
resses. Assim, nem sempre a constituição de um bloco econômico é
passadas para as gerações subsequentes, é o aspecto que mais ca-
benéfica a todos os membros; por exemplo, a constituição do NAF-
racteriza os grupos humanos.
TA (México, Canadá e EUA) fez com que a frágil economia mexicana
Alguns elementos são determinantes na composição de qual-
aumentasse ainda mais sua dependência em relação aos EUA, o Ca-
quer cultura, seja ela arcaica ou moderna, os elementos que mais
nadá, por sua vez, passou a ser considerado uma extensão dos EUA,
demonstram a identidade cultural são, principalmente, a língua e
dada sua subordinação à economia de seu vizinho.
a religião.
Mas dentro do território está inserida uma cultura que é de-
Divisão internacional de Trabalho
senvolvida pelo povo, o significado é o conjunto de pessoas que vivem
Recebe o nome de Divisão internacional de Trabalho (DIT), a
em uma nação, essa é constituída pela sociedade politicamente orga-
prática de repartir as atividades e serviços entre os inúmeros países
nizada com governos e leis próprias, para elaboração e realização do
do mundo. Trata-se de uma divisão produtiva em âmbito interna-
cumprimento de tais leis caracteriza o papel do estado, o estado, nesse
cional, onde os países emergentes ou em desenvolvimento, expor-
sentido, tem sua essência no valor político, pois significa que a nação é
tadores de matéria-prima, com mão-de-obra barata e de industria-
soberana, ou seja, exerce poder sobre seu território, e também é inde-
lização quase sempre tardia, oferecem aos países industrializados,
pendente e reconhecida internacionalmente pelos outros países.
economicamente mais fortes, um leque de benefícios e incentivos
Estado tem outro significado que difere do citado anterior-
para a instalação de indústrias, tais como a isenção parcial ou total
mente, se define como divisão interna do país, ou seja, os estados
de impostos, mão-de-obra abundante, leis ambientais frágeis, entre
que compõe a federação (ex. Goiás, Rio de Janeiro), no entanto al-
outras facilidades.
guns países usam outras expressões como cantões, repúblicas, pro-
Um dos principais conceitos da DIT é que nenhum país conse-
víncias etc., para designar as divisões internas dos países.
gue ser competitivo em todos os setores, e de fato, acabam por se
Alguns povos possuem cultura independente, porém não tem
direcionar suas economias. No fundo, o objetivo é o mesmo da divi-
território, são os chamados minorias nacionais, que vivem subordi-
são de tarefas numa fábrica, o de gerar um elevado grau de especia-
nados aos regimes políticos divergentes às suas culturas, são tam-
lização para que a produção seja mais eficiente, exatamente como
bém denominadas de sentimento nacionalista que corresponde a
Adam Smith em sua Riqueza das Nações já afirmava no século XVIII.
aspiração de um povo em conquistar a sua independência política e
O processo de DIT se expandiu na mesma proporção do capi-
territorial, do estado ao qual está subordinado.
talismo no mundo moderno, expressando as diferentes fases da
Por causa disso, vários movimentos surgiram, sendo marcados
evolução histórica do capitalismo, desde a ligação entre metrópo-
muitas vezes por lutas armadas ou pacíficas, mas na maioria das
les e colônias, chegando às relações em que países desenvolvidos
vezes o primeiro perfil predomina, os principais povos sem terri-
se agregam aos subdesenvolvidos. A é geralmente dividida em três
tório que buscam sua independência territorial e político-cultural
fases, obedecendo à dinâmica econômica e política do período his-
são o povo Basco, na Espanha, os Curdos, no Oriente Médio, Ira, na
tórico em que elas existiram.
Irlanda, entre outros.

95
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
No mundo existem várias áreas de focos de tensão provocadas
por questões de fronteiras, que são as disputas territoriais por zona
de fronteira, nessas podemos citar o exemplo da China, Paquistão
e Índia, Armênia, a Irlanda do Sul e do Norte e a Faixa de Gaza. As
disputas por territórios fazem crescer a produção bélica no mundo
e aumenta os focos de possíveis confrontos armados.
As lutas das minorias nacionais e as disputas por zona de fron-
teira têm alterado a configuração das fronteiras em várias partes do
mundo, atualmente os cartógrafos têm encontrado muito trabalho
para elaboração de mapas políticos, pois as questões geopolíticas dei-
xam as delimitações em constante processo de mutação, no século XX,
a Europa foi a região do mundo que mais sofreu a modificações.
Indústrias consideradas poluidoras também procuram cada vez
mais os países subdesenvolvidos, onde seu consumo de grandes
quantidades de matéria-prima e de energia é ignorado além da far-
ta e barata mão-de-obra a disposição.
A Revolução francesa de 1789 assinalou um momento-chave
Estados Territoriais e Estados Nacionais da transformação do estado territorial absolutista em Estado nacio-
nal. A revolta da burguesia contra o poder absoluto do monarca e
contra os privilégios da nobreza explodiu em 20 de junho de 1789,
quando seus representantes exigiram que o rei convocasse uma As-
sembleia Constituinte. Depois da Queda da Bastilha, a Assembleia
Constituinte revogou os privilégios da nobreza e do clero, tais como
servidão, dízimos, monopólios, isenções de impostos e tribunais
especiais. No dia 26 de agosto daquele ano, era divulgada a Decla-
ração dos Direitos do Homem. Esse documento não só previa prin-
cípios e garantias fundamentais, como a liberdade, a segurança e a
propriedade, como estabelecia o direito à rebelião contra a tirania.
A soberania era retirada das mãos do rei e transferida para o povo,
ou seja, para os cidadãos.
Pouco depois, o novo Estado encontrou a sua moldura jurídica.
A Constituição francesa de 1791 adotou a doutrina dos Três Pode-
res de Montesquieu, estabelecendo a separação entre os poderes
básicos do Estado: Executivo, Legislativo e Judiciário. Em 1792, a
Revolução derrubou a monarquia e proclamou a República. Uma
As fronteiras definem a extensão geográfica da soberania do convenção nacional, eleita pelo sufrágio universal, reunia os repre-
estado. No interior do espaço que delimitam, no território nacio- sentantes do povo. Definia-se, assim, o formato do Estado nacional
nal, o poder do estado é soberano. É ele que estabelece as divisões contemporâneo.
internas, realiza os censos, organiza as informações sobre a popu-
lação e as atividades econômicas e formulas estratégicas de desen-
volvimento ou de proteção desse território.
A noção política de fronteira foi elaborada pelo Império Roma-
no. O limes – uma linha demarcatória dos limites do império – sepa-
rava os romanos dos “bárbaros”. As célebres legiões romanas pro-
tegiam o império guarnecendo os limes. Estar no interior do espaço
demarcado pelo limes era fazer parte da civilização romana. Estar
no exterior desse espaço equivalia a ser bárbaro, termo depreciati-
vo que englobava em um único conjunto uma infinidade de povos.
A noção contemporânea de fronteira política internacional se-
parando Estados soberanos, porém, surgiu no final da Idade Média,
com os Estados territoriais.
O Estado territorial originou-se na Europa do Renascimento,
quando o poder político foi unificado pelas monarquias e ganhou
uma base geográfica definida, passível de ser delimitada por fron- Organização do Estado Nacional
teiras lineares. Nessa época, foram criados exércitos regulares sob O Estado se manifesta por seus órgãos que são:
as ordens do rei e corpos estáveis de funcionários burocráticos, a) Supremos (constitucionais) – a estes incumbe o exercício
que, entre outras coisas, organizavam a coleta dos impostos. Algu- do poder político. Formam o governo ou os órgãos governamentais.
mas cidades tornaram-se capitais permanentes, residência fixa de São estudados pelo Direito Constitucional.
monarcas e sede de aparelho administrativo. b) Dependentes (administrativos) – formam a Administração
O Estado territorial correspondeu à monarquia absolutista. Pública. São estudados pelo Direito Administrativo.
Nele. o território era patrimônio do monarca, fonte de toda sobe-
rania. Os súditos, ou seja, todos aqueles que viviam nos territórios Administração Pública
unificados pela soberania do monarca, deviam-lhe obediência e “É o conjunto de meios institucionais, materiais, financeiros e
lealdade. humanos preordenados à execução das decisões políticas”.

96
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Conclui-se assim que: Administração Pública
- ela é subordinada ao poder político É necessário que se compreenda o significado de administra-
- é meio (e não fim) ção pública para o bom entendimento a respeito do que se preten-
- é conjunto de órgãos a serviço do poder político e das ativida- de estudar neste momento.
des administrativas. De Plácido e Silva define Administração Pública, lato sensu,
como uma das manifestações do poder público na gestão ou exe-
Organização Administrativa cução de atos ou de negócios políticos. A Administração Pública se
É imputada a diversas entidades governamentais autônomas, confundiria, assim, com a própria função política do poder público,
daí porque temos: expressando um sentido de governo que se entrelaçaria com o da
- A Adm. Pública Federal (da União) administração e lembrando-se que a política pode ser compreen-
- A Adm. Pública Estadual (de cada Estado) dida como a ciência de bem governar um povo constituído sob a
- A Adm. Pública municipal ou local (do DF e de cada Municí- forma de um Estado.
pio). Administração pública seria, então, simples direção ou gestão
de negócios ou serviços públicos, realizados por suas entidades ou
Cada uma delas pode descentralizar-se formando: órgãos especializados, para promover o interesse público.
a) Administração Direta (centralizada) conjunto de órgãos su- A administração pública federal cuida dos interesses da União,
bordinados diretamente ao respectivo poder executivo; a Estadual dos Estados, a municipal dos interesses dos municípios
b) Administração Indireta (descentralizada) - com órgãos inte- e a distrital dos mesmos assuntos do governo do Distrito Federal,
grados nas muitas entidades personalizadas de prestação de servi- sede da Capital Federal.
ços ou exploração de atividades econômicas.
Governo e Administração
Formam a Adm. indireta: O próprio Hely Lopes Meirelles tinha dificuldades em distinguir
- autarquias governo e de administração. Todavia, demonstrava que o governo
- empresas públicas (e suas subsidiárias) significava a totalidade de órgãos representativos da soberania e a
- sociedades de economia mista (e suas subsidiárias) administração pública, subordinada diretamente ao poder execu-
- fundações públicas (fundações instituídas ou mantidas pelo tivo, alcançava o complexo de funções que esse órgão exercitava
poder público) no desempenho de atividades, que interessam ao Estado e ao seu
povo”.
As autarquias são alongamentos do Estado. Possuem persona-
lidade de direito público e só realizam serviços típicos, próprios do Organização do Estado e da Administração
Estado. A lei 7032/82 autoriza o Poder Executivo a transformar au- A organização do Estado é matéria constitucional. São tratados
tarquia em empresa pública. sob este tema a divisão política do território nacional, a estrutura-
ção dos Poderes, a forma de Governo, a investidura dos governan-
As empresas públicas e sociedades de economia mista são pes- tes e os direitos e as garantias dos governados. Realizada a orga-
soas jurídicas de direito privado, criadas por lei (vide art. 37, XIX nização política do Estado soberano, nasce por meio de legislação
e XX, CF). O que as diferencia é a formação e a administração do complementar e ordinária, a organização administrativa das entida-
capital. Na empresa pública este capital é 100% público. Na socie- des estatais, das autarquias e empresas estatais que realizarão de
dade de economia mista há participação do Poder Público e de par- forma desconcentrada e descentralizada os serviços públicos e as
ticulares na formação do capital e na sua administração. O controle demais atividades de interesse coletivo.
acionário é sempre público (a maioria das ações com direito a voto O Estado Federal brasileiro compreende a União, os Estados-
deve pertencer ao poder público). Tanto uma como outra explora -membros, o Distrito Federal e os Municípios. Estas são, assim, as
atividades econômicas ou presta serviços de interesse coletivo, ou- entidades estatais brasileiras que possuem autonomia para fazer as
torgado ou delegado pelo Estado (vide art. 173, § 1o, CF). Elas estão suas próprias leis (autonomia política), para ter e escolher gover-
sujeitas a regime jurídico próprio das empresas privadas (inclusive no próprio (autonomia administrativa) e auferir e administrar a sua
quanto às obrigações trabalhistas e tributárias) e não podem gozar renda própria (autonomia financeira). As demais pessoas jurídicas
de privilégios fiscais não extensivos ao setor privado (vide art. 173, instituídas ou autorizadas a se constituírem por lei ou se constituem
§ 2o, CF). de autarquias, ou de fundações, empresas públicas, ou entidades
As fundações públicas, pessoas jurídicas de direito privado, são paraestatais. Ou seja, estas últimas são as componentes da Admi-
universalidades de bens, personalizada, em atenção a fins não lu- nistração centralizada e descentralizada.
crativos e de interesse da coletividade (educação, cultura, pesquisa A organização da Administração ocorre em um momento pos-
científica etc.). Ex.: Funai, Fundação Getúlio Vargas, Fundação de terior à do Estado. No Brasil, após a definição dos três Poderes que
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, Febem etc. A instituição integram o Governo, é realizada a organização da Administração, ou
de fundações públicas também depende de lei (vide art. 37, XIX, seja, são estruturados legalmente as entidades e os órgãos que rea-
CF). lizarão as funções, por meio de pessoas físicas chamadas de agen-
O estudo da Administração Pública tem como ponto de partida tes públicos. Tal organização se dá comumente por lei. Ela somente
o conceito de Estado. A partir daí é que se vislumbram as considera- se dará por meio de decreto ou de normas inferiores quando não
ções a respeito das competências de prestação de serviços públicos implicar na criação de cargos ou aumento da despesa pública.
aos seus cidadãos. O direito administrativo estabelece as regras jurídicas que orga-
nizam e fazem funcionar os órgãos do complexo estatal.
Estado de Direito Medauar indica que a Administração Pública é o objeto precí-
Predominantemente vive-se hoje em Estados de Direito, ou puo do direito administrativo e se encontra inserida no Poder Exe-
seja, em Estados juridicamente organizados que obedecem às suas cutivo. Dois são os ângulos em que a mesma pode ser considerada,
próprias leis. funcional ou organizacional.

97
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
No sentido funcional, Administração Pública representa uma O povo é o titular da soberania (art. 1º, parágrafo único, da
série de atividades que trabalham como auxiliares das instituições CF/88). É aos componentes do povo que se reservam os direitos ine-
políticas mais importantes no exercício de funções de governo. Aqui rentes à cidadania. No Brasil, contudo, a regra de que os direitos po-
são organizadas as prestações de serviços públicos, bens e utilida- líticos são reservados somente a quem pertença ao povo comporta
des para a população. Em face da dificuldade de se caracterizar ob- exceção, por causa do regime de equiparação entre brasileiros e portu-
jetivamente a Administração Pública, autores distintos fazem sua gueses, quando houver reciprocidade (art. 12, § 1º, da CF/88).
identificação de modo residual, ou seja, as atividades administra-
tivas seriam aquelas que não são nem legislativas, nem judiciárias. 3. Governo
Já sob o aspecto organizacional, por Administração Pública po- É o conjunto das funções necessárias à manutenção da ordem
de-se entender o conjunto de órgãos e entes estatais responsáveis jurídica e da administração pública.
pelo atendimento das necessidades de interesse público. Aqui a Ad- Deve ser soberano, ou seja, absoluto, indivisível e incontestá-
ministração Pública é vista como ministérios, secretarias, etc. vel no âmbito de validade do ordenamento jurídico estatal. Todavia,
José Cretella Jr utiliza o critério residual para definir a Adminis- existem formas estatais organizadas sob dependência substancial
tração Pública por aquilo que ela não é. A Administração Pública de outras (exemplos: San Marino, Mônaco, Andorra, Porto Rico),
seria toda a atividade do Estado que não seja legislar ou julgar. que por isso não podem ser chamadas de Estado perfeito. Ou seja,
Já pelo critério subjetivo, formal ou orgânico a Administração a soberania é uma qualidade do poder que mantém estreita ligação
seria o conjunto de órgãos responsáveis pelas funções administra- com o âmbito de validade e eficácia da ordem jurídica. Trata-se da
tivas. Administração seria uma rede que fornece serviços públicos, característica de que se reveste o poder absoluto e originário do
aparelhamento administrativo, sede produtora de serviço. governo, que é exercitado em nome do povo.
O critério objetivo ou material considera a Administração uma No plano interno, o poder soberano não encontra limites ju-
atividade concreta desempenhada pelos órgãos públicos e destina- rídicos. Mas parte da doutrina entende que a soberania estatal é
da à realização das necessidades coletivas, direta e imediatamente. restringida por princípios de direito natural, além de limites ideoló-
O mesmo autor, em seu livro Direito Administrativo Brasileiro, gicos (crenças e valores nacionais) e limites estruturais da socieda-
utiliza a opinião de Laband e relembra não se poder esquecer que de (sistema produtivo, classes sociais). Já no plano internacional, a
Administração, no campo do direito público, tem o significado per- soberania estatal encontra limites no princípio da coexistência pací-
feito de “gerenciamento de serviços públicos”. fica das soberanias estatais.

Elementos do Estado Poder Global e a Nova ordem mundial


Os três elementos do Estado são o povo, o território e o go- A Nova Ordem Mundial – ou Nova Ordem Geopolítica Mun-
verno soberano. O povo pode ser entendido como o componente dial – significa o plano geopolítico internacional das correlações de
humano de cada Estado. Já o território pode ser concebido como a poder e força entre os Estados Nacionais após o final da Guerra Fria.
base física sobre a qual se estabelece o próprio Estado. Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e o esfacelamento
Governo soberano, por sua vez, é o elemento condutor do Es- da União Soviética, em 1991, o mundo se viu diante de uma nova
tado. Ele detém e exerce o poder absoluto de autodeterminação e configuração política. A soberania dos Estados Unidos e do capita-
auto-organização emanado do povo. lismo se estendeu por praticamente todo o mundo e a OTAN (Orga-
A chamada vontade estatal se apresenta e se manifesta por nização do Tratado do Atlântico Norte) se consolidou como o maior
meio dos Poderes de Estado. e mais poderoso tratado militar internacional. O planeta, que antes
1. Território: base física do Estado; se encontrava na denominada “Ordem Bipolar” da Guerra Fria, pas-
2. Povo: associação humana; sou a buscar um novo termo para designar o novo plano político.
3. Governo: comando por parte de autoridade soberana. A primeira expressão que pode ser designada para definir a
Nova Ordem Mundial é a unipolaridade, uma vez que, sob o ponto
de vista militar, os EUA se tornaram soberanos diante da impossi-
bilidade de qualquer outro país rivalizar com os norte-americanos
nesse quesito.
A segunda expressão utilizada é a multipolaridade, pois, após
o término da Guerra Fria, o poderio militar não era mais o critério
principal a ser estabelecido para determinar a potencialidade global
de um Estado Nacional, mas sim o poderio econômico. Nesse plano,
1. Território novas frentes emergiram para rivalizar com os EUA, a saber: o Japão
É a base física sobre a qual se fixa o povo e se exerce o poder e a União Europeia, em um primeiro momento, e a China em um
estatal. Cuida-se da esfera territorial de validade da ordem jurídica segundo momento, sobretudo a partir do final da década de 2000.
nacional (KELSEN). Por fim, temos uma terceira proposta, mais consensual: a uni-
multipolaridade. Tal expressão é utilizada para designar o duplo ca-
2. Povo ráter da ordem de poder global: “uni” para designar a supremacia
Conjunto das pessoas dotadas de capacidade jurídica para militar e política dos EUA e “multi” para designar os múltiplos cen-
exercer os direitos políticos assegurados pela organização estatal. tros de poder econômico.
Difere-se da população, cujo conceito envolve aspectos mera-
mente estatísticos do número total de indivíduos que se sujeitam Mudanças na hierarquia internacional
ao poder do Estado, incluindo, por exemplo, os estrangeiros, apátri- Outra mudança acarretada pela emergência da Nova Ordem
das e os visitantes temporários. Mundial foi a necessidade da reclassificação da hierarquia entre os Es-
Povo também não se confunde com “nação”. Embora o concei- tados nacionais. Antigamente, costumava-se classificar os países em 1º
to de nação esteja ligado ao conceito de povo, contém um sentido mundo (países capitalistas desenvolvidos), 2º mundo (países socialistas
político próprio: a nação é o povo que já adquiriu a consciência de desenvolvidos) e 3º mundo (países subdesenvolvidos e emergentes).
si mesmo. Com o fim do segundo mundo, uma nova divisão foi elaborada.

98
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
A partir de então, divide-se o mundo em países do Norte (desenvolvidos) e países do Sul (subdesenvolvidos), estabelecendo uma linha
imaginária que não obedece inteiramente à divisão norte-sul cartográfica, conforme podemos observar na figura abaixo.

Mapa com a divisão norte-sul e a área de influência dos principais centros de poder

É possível perceber, no mapa acima, que a divisão entre norte e sul não corresponde à divisão estabelecida usualmente pela Linha
do Equador, uma vez que os critérios utilizados para essa divisão são econômicos, e não cartográficos. Percebe-se que alguns países do
hemisfério norte (como os Estados do Oriente Médio, a Índia, o México e a China) encontram-se nos países do Sul, enquanto os países do
hemisfério sul (como Austrália e Nova Zelândia), por se tratarem de economias mais desenvolvidas, encontram-se nos países do Norte.
No mapa acima também podemos visualizar as áreas de influência política dos principais atores econômicos mundiais. Vale lembrar,
porém, que a área de influência dos EUA pode se estender para além da divisão estabelecida, uma vez que sua política externa, muitas
vezes, atua nas mais diversas áreas do mundo, com destaque para algumas regiões do Oriente Médio.

A “Guerra ao terror”
Como vimos, após o final da Guerra Fria, os Estados Unidos se viram isolados na supremacia bélica do mundo. Apesar de a Rússia ter
herdado a maior parte do arsenal nuclear da União Soviética, o país mergulhou em uma profunda crise ao longo dos anos 1990 e início dos
anos 2000, o que não permitiu que o país mantivesse a conservação de seu arsenal, pois isso custa muito dinheiro.
Em face disso, os Estados Unidos precisavam de um novo inimigo para justificar os seus estrondosos investimentos em armamentos e
tecnologia bélica. Em 2001, entretanto, um novo inimigo surgiu com os atentados de 11 de Setembro, atribuídos à organização terrorista
Al-Qaeda.

A tragédia de 11 de Setembro vitimou centenas de pessoas, mas motivou os EUA a gastarem ainda mais com armas.

Com isso, sob o comando do então presidente George W. Bush, os Estados Unidos iniciaram uma frenética Guerra ao Terror, em que
foram gastos centenas de bilhões de dólares. Primeiramente os gastos se direcionaram à invasão do Afeganistão, em 2001, sob a alegação
de que o regime Talibã que governava o país daria suporte para a Al-Qaeda. Em segundo, com a perseguição dos líderes dessa organização
terrorista, com destaque para Osama Bin Laden, que foi encontrado e morto em maio de 2011, no Paquistão.
O que se pode observar é que não existe, ao menos por enquanto, nenhuma nação que se atreva a estabelecer uma guerra contra o
poderio norte-americano. O “inimigo” agora é muito mais difícil de combater, uma vez que armas de destruição em massa não podem ser
utilizadas, pois são grupos que atacam e se escondem em meio à população civil de inúmeros países.

99
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Fronteiras Estratégicas e os muros que dividem o mundo Embora os tempos de Globalização apregoem a maior aproxi-
A expressão Cortina de ferro refere-se à fronteira que, a partir mação das diferentes partes do planeta, com a diminuição das dis-
do fim da Segunda Guerra Mundial, dividiu a Europa ocidental do tâncias e dos obstáculos, ainda são vários os muros que dividem
leste Europeu, região dominada pela União Soviética. Em um dos o mundo e que continuam a difundir-se por ele. Se, de um lado,
discursos mais famosos do período da Guerra Fria, Winston Chur- temos a facilidade do deslocamento e da comunicação, por outro
chill, então primeiro-ministro britânico, afirmou que: temos a adoção de políticas de contenção dessas facilidades, atra-
vés da imposição de barreiras que visam, sobretudo, à divisão das
“De Estetino, no [mar] Báltico, até Trieste, no [mar] Adriático, pessoas e à materialização das fronteiras que existem somente na
uma cortina de ferro desceu sobre o continente. Atrás dessa linha imaginação política dos governos e de alguns povos.
estão todas as capitais dos antigos Estados da Europa Central e A seguir você poderá conferir um breve resumo dos principais
Oriental. Varsóvia, Berlim, Praga, Viena, Budapeste, Belgrado, Bu- muros do mundo na atualidade. Se, antes, o Muro de Berlim era
careste e Sófia; todas essas cidades famosas e as populações em alcunhado pelos países ocidentais capitalistas de “Muro da Vergo-
torno delas estão no que devo chamar de esfera soviética, e todas nha”, o que dizer então dos muros atuais erguidos por esses mes-
estão sujeitas, de uma forma ou de outra, não somente à influência mos países?
soviética mas também a fortes, e em certos casos crescentes, medi-
das de controle emitidas de Moscou.” Muro de Israel
Era 5 de março de 1946 e a Segunda Guerra Mundial recém O Muro de Israel – também chamado de Muro da Cisjordânia
acabara. Vivia-se um período de tensão entre a comunista União – é um dos mais polêmicos muros da atualidade, pois se estabelece
Soviética e as outras potências Aliadas, todas de economia capitalis- em torno da área onde se encontram os territórios dos povos pales-
ta. O discurso de Churchill é considerado um marco para o início da tinos, que perderam parte de suas áreas após a instauração do Es-
Guerra Fria, pois colocou fim à aliança que derrotara Alemanha na tado de Israel pela ONU em 1947 e os desdobramentos posteriores
Guerra e iniciou o processo de divisão da Europa e, posteriormente, a esse episódio histórico.
do mundo, em duas zonas de influência: capitalista e comunista.
A expressão usada por Churchill era uma metáfora sobre a in-
fluência soviética na região e a separação econômica existente en-
tre o leste europeu e a Europa capitalista. No entanto, a metáfora
tornou-se realidade com a construção de muros militarmente pro-
tegidos pelos soviéticos, sendo o Muro de Berlim o mais famoso
deles.
No mesmo discurso, Churchill disse ainda que era necessário
evitar que outra catástrofe como o nazifascismo voltasse a destruir
a Europa. Referia-se ao comunismo. Em resposta, Stálin, líder da
União Soviética, afirmou que as baixas soviéticas durante a guerra
haviam sido muito maiores que as britânicas ou norte-americanas e
que, portanto, era os soviéticos que a Europa devia agradecer pela
libertação do nazifascismo.
Em 1985, Mikhail Gorbachev assumiu a liderança da União So-
viética e deu início a um processo de abertura politica e econômica Imagem do Muro de Israel, na Cisjordânia
do regime, chamadas, respectivamente, de perestroika e glasnost.
Tais reformas contribuíram para diminuir a tensão entre o bloco A construção desse muro iniciou-se em 2002 e ainda se encon-
capitalista e a União Soviética, mas resultaram no fim da mesma. tra em fase de execução. Seu objetivo é isolar os povos islâmicos da
Em 1989, com a queda do Muro de Berlim, o mundo polarizado Cisjordânia do território judeu sob a alegação de que, assim, evi-
começou a ruir. Com a derrubada de Gorbachev, em 1991, o regime tar-se-ia a proliferação de atentados terroristas. A perspectiva é de
soviético chegou ao fim. Trinta anos depois de criada, a cortina de que, ao final, o muro da Cisjordânia tenha pouco menos de 800 km.
ferro se abriu definitivamente. Existem várias críticas direcionadas ao Muro de Israel, como a
São vários os muros que dividem o mundo. Os de maior evidên- de que ele separaria famílias, isolaria os povos palestinos de suas
cia estão no México, na Cisjordânia, em Ceuta e Melilla, no Chipre, fontes de trabalho e de recursos naturais, além de acusações que
além de inúmeros outros casos e exemplos. afirmam que esse muro estaria sendo construído em áreas para
além da fronteira, reduzindo ainda mais o território já diminuto dos
palestinos.

Muro do México
O Muro do México vem sendo construído desde 1994 pelos
Estados Unidos, principalmente com a articulação dos acordos re-
ferentes ao NAFTA (Tratado de Livre Comércio da América do Nor-
te). Construído em várias partes da fronteira entre os dois países
e contando, atualmente, com mais de mil e cem quilômetros de
extensão, o seu objetivo é conter a onda migratória de mexicanos e
outros povos em direção aos EUA.
Os muros proliferam-se nas fronteiras políticas e atuais do
mundo

100
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ

Vista do Muro do Chipe, na linha verde de Nicósia


Muro construído nos arredores da cidade mexicana de Tijuana
Apesar de parte do muro ter sido destruída e de haver certa
Além da barreira em si, o Muro do México conta com fiscais tensão entre os dois lados, ele ainda existe. No entanto, é permitido
dentro e fora de suas construções, além de equipamentos detecto- cruzar de um lado para outro, embora a barreira ainda sirva como
res de movimento e outras formas de vigiar a fronteira. No entanto, uma espécie de vigilância e também como uma forma de demarca-
mesmo com a existência da barreira, são muitos os mexicanos que ção territorial.
migram de uma área para outra, isso sem mencionar o número de Além de todas essas barreiras, ainda existem vários outros mu-
pessoas que morrem durante o percurso, feito muitas vezes por es- ros espalhados pelo mundo, como o construído pelo Egito na região
pecialistas em tráfico de pessoas, os chamados “coiotes”. de fronteira com a Faixa de Gaza; o que divide o Kwait do Iraque e
Esse muro é considerado por muitos um símbolo da ordem até mesmo um muro entre Índia e Paquistão na Caxemira, além de
geopolítica atual, que é marcada pela divisão do mundo entre os outros casos. De toda forma, a existência desses muros derruba o
países do norte desenvolvido e do sul subdesenvolvido, expressan- mito de que, com os avanços tecnológicos, as fronteiras estariam
do, assim, as relações de desigualdade econômica e histórica, além mais fluidas e menos fortes. Pelo contrário, a fixação dessas frontei-
das relações de dependência entre as diferentes partes do planeta. ras ainda continua sendo uma tônica no contexto geopolítico global
contemporâneo.
Muros de Ceuta e Melilla
As cidades de Ceuta e Melilla encontram-se no extremo nor- Elementos de política brasileira
A primeira constatação que se pode fazer a propósito da prová-
te do continente africano, no Marrocos, e são banhadas pelo Mar
vel política externa do futuro governo do presidente Luís Inácio Lula
Mediterrâneo. No entanto, elas são de domínio espanhol, sendo
da Silva é a de que se tratará de uma diplomacia evolutiva, tanto
consideradas como cidades autônomas da Espanha. Por esse moti-
em seus contornos conceituais como em seu modus operandi. No
vo, são muitos os imigrantes africanos que se deslocam para essas
dia seguinte à sua eleição consagradora no segundo turno das elei-
áreas com vistas a alcançar o território espanhol.
ções presidenciais, e não conhecido ainda o nome que integrará seu
futuro governo na qualidade de chanceler – que poderia ser tanto
um representante da diplomacia profissional, como um “civil” com
conhecimento da área –, pode-se dizer que o PT percorreu um lon-
go caminho de construção tentativa de um pensamento em política
externa, desde o programa de cunho socializante do partido criado
mais de duas décadas atrás, até o programa da campanha presiden-
cial de 2002 e, mais importante, o primeiro pronunciamento oficial
do presidente eleito, em 28 de outubro de 2002.
Com efeito, o programa fundacional do PT previa uma “política
internacional de solidariedade entre os povos oprimidos e de res-
peito mútuo entre as nações que aprofunde a cooperação e sirva
à paz mundial. O PT apresenta com clareza sua solidariedade aos
Muro construído na cidade de Melilla * movimentos de libertação nacional...” Não constava, do primeiro
programa, menção explícita à “política externa”, mas, o “plano de
Sendo assim, a Espanha também decidiu pela criação de dois ação” contemplava os seguintes pontos em seu item “VIIndepen-
muros, um em cada cidade. Mesmo assim, o número de imigrantes dência Nacional: contra a dominação imperialista; política externa
é muito alto e não são raras as pessoas que morrem partindo em independente; combate a espoliação pelo capital internacional;
direção ao território espanhol através do Mar Mediterrâneo. A ex- respeito à autodeterminação dos povos e solidariedade aos povos
tensão desses muros é de 20 km. oprimidos”.

Muro do Chipre (linha verde) Como se vê, uma plataforma típica dos partidos esquerdistas
O Muro do Chipre, também chamado de Linha Verde, é uma da América Latina no período clássico da Guerra Fria e dos “movi-
barreira dentro da ilha europeia que já foi dominada por vários po- mentos de libertação nacional”.
vos ao longo da história. Após a independência do país, iniciaram-se Desde então, o partido e seus dirigentes evoluíram sensivel-
vários conflitos envolvendo a maioria turca e a minoria grega. Por mente, mas o itinerário não deixou de ser algo errático, ou pelo me-
essa razão, foram promovidas várias tentativas de paz que culmina- nos hesitante (ou relutante) na adesão a princípios consagrados da
ram no estabelecimento da linha verde pela ONU e na construção política externa brasileira, como poderia ser observado mediante
do muro na cidade de Nicósia, em 1974. um exame perfunctório dos principais temas de relações interna-
cionais do Brasil selecionados como plataforma de campanha nas
eleições presidenciais de 1989 até hoje. Vejamos rapidamente algu-
mas dessas posições.

101
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Em 1989, a principal característica do candidato Lula era sua grupos de “excluídos” ou “marginalizados”) lograram incluir suas
identificação com a luta dos oprimidos da América Latina. O can- reivindicações específicas nesse programa. Com base no programa
didato do PT apresentou um amplo e abrangente programa de go- do Partido e em texto assinado pelo próprio candidato, quais foram,
verno e, segundo se depreendia das resoluções políticas adotadas em todo caso, os principais elementos da agenda do PT em relação
pelo Partido em seu IV Encontro Nacional (junho de 1989), preten- à política externa nacional e às relações internacionais nesse ano
dia propor uma “política externa independente e soberana, sem do Plano Real (definido pelo PT como um “estelionato eleitoral”)?
alinhamentos automáticos, pautada pelos princípios de autodeter- O problema básico da política externa brasileira, tal como de-
minação dos povos, não-ingerência nos assuntos internos de outros tectado no programa, foi designado como sendo a ausência, “há
países e pelo estabelecimento de relações com governos e nações mais de quinze anos, de um projeto nacional de desenvolvimento”,
em busca da cooperação à base de plena igualdade de direitos e opinião reafirmada pelo candidato em artigo publicado no Boletim
benefícios mútuos”. da Associação dos Diplomatas Brasileiros.
Mesmo se esses princípios não diferiam muito da política ex- Lula reconhecia, também em acordo com o programa, que
terna efetivamente seguida pelo Brasil, ainda assim uma vitória do “durante os governos militares, mais particularmente no período
candidatotrabalhador, representaria uma reavaliação radical das do general Geisel, existia um projeto nacional, politicamente auto-
posturas brasileiras na área, já que a “Frente Brasil Popular” prome- ritário e socialmente excludente” que, a despeito das críticas que
tia adotar uma “política antiimperialista, prestando solidariedade seu partido pode fazer, “abriu brechas para que o Brasil reorien-
irrestrita às lutas em defesa da autodeterminação e da soberania tasse sua política externa”. Em 1994, segundo o programa, persis-
nacional, e a todos os movimentos em favor da luta dos trabalhado- tia “inercialmente a política externa daquele período, adequada
res pela democracia, pelo progresso social e pelo socialismo”. Um empiricamente às novas realidades...”. Mas, em face do quadro de
hipotético Governo da Frente defenderia a “luta dos povos oprimi- mudanças, o “Governo Democrático e Popular deveria desenvolver
dos da América Latina” e Lula chegou mesmo a propor a “decre- uma política externa que buscará simultaneamente uma inserção
tação de uma moratória unilateral para ‘solucionar’ a questão da soberana do Brasil na mundo e a alteração das relações de força
dívida externa”. internacionais contribuindo para a construção de ordem mundial
Aliás, na proposta que o PSB – um dos membros da Frente – justa e democrática”.
apresentou de um “programa mínimo” das esquerdas para as elei- O programa de então destacava como áreas prioritárias da
ções presidenciais de 1989, se defendia a “imediata suspensão de “nova política externa” a América Latina e o Mercosul, referindo-se
qualquer pagamento relacionado com a dívida externa”, a consti- aqui, de forma equivocada, ao “Merconorte”. Ele não deixava tam-
tuição de um “entendimento entre os diversos países devedores pouco de dar ênfase às “relações de cooperação econômica e nos
com vistas a fortalecer o não-pagamento” e o estabelecimento de domínios científico e tecnológico, com uma correspondente agenda
“relações fraternas com todos os partidos que tenham como obje- política”, na esfera Sul-Sul, com países como a China, Índia, Rússia e
tivo a construção da democracia e do socialismo com o objetivo de África do Sul e com os países de língua portuguesa. Algumas iniciati-
unir esforços na preparação de uma alternativa à crise do modo de vas internacionais eram listadas, como, por exemplo, a “rediscussão
produção capitalista”. dos problemas das dívidas externas dos países periféricos”, propos-
Em 1994, o candidato do PT lançou-se em campanha à frente tas sobre a fome e a miséria no mundo ou ainda a convocação de
de todos os demais, tendo preparado-se, aliás, para disputar no-
uma conferência internacional – “de porte semelhante à ECO92”
vamente a presidência praticamente desde o final das eleições de
– para discutir a situação do trabalho no mundo e medidas efeti-
1989. Alguns meses depois dessas eleições, o líder do PT tinha com
vas contra o desemprego. O programa também prometia recuperar
efeito anunciado, em coalizão com alguns outros partidos de es-
o Ministério das Relações Exteriores, “cuja estrutura foi sucateada
querda, a formação de um “governo paralelo”, seguramente um dos
nos últimos anos”.
poucos exemplos de shadow cabinet ao sul do Equador.
Em seu artigo assinado, depois de listar algumas das transfor-
Infelizmente, a experiência não chegou realmente a frutificar,
mações por que passou o mundo no período recente, o candidato
pelo menos no que se refere à atividade de um “ministro paralelo”
Lula indicava alguns elementos para a formulação da “nova política
das relações exteriores.
Não se teve notícia de que o chanceler “paralelo” – designado externa para o Brasil”. “Em primeiro lugar, o Brasil só poderá ter
na pessoa do filósofo e professor Carlos Nelson Coutinho – tivesse uma política externa consistente se tiver um claro projeto nacional
avançado um programa, ou sequer elementos, de uma “política ex- de desenvolvimento, com o correspondente fortalecimento da de-
terna alternativa”, com propostas concretas para o relacionamento mocracia, o que significa universalização da cidadania, do respeito
internacional do Brasil. aos direitos humanos, reforma e democratização do Estado”. Esse
Em todo caso, a partir desse período, Lula passou a viajar bas- projeto nacional de desenvolvimento compreende um “modelo de
tante pelo Brasil e ao exterior e patrocinou em São Paulo um “foro” crescimento que favoreça a criação de um gigantesco mercado de
de partidos de esquerda da América Latina, que depois consolidou- bens de consumo de massas que permita redefinir globalmente a
-se como reunião periódica de formações “progressistas” da região economia, dandolhe, inclusive, novas condições de inserção e de
e contrárias às supostas ou reais políticas “neoliberais” de estabi- cooperatividade internacionais”. “Em segundo lugar, o Brasil não
lização econômica no continente. A despeito de uma condenação pode sofrer passivamente a atual (des)ordem mundial. Ele tem de
genérica do chamado “consenso de Washington”, o candidato do atuar no sentido de buscar uma nova ordem política e econômica
PT também desenvolveu um maior conhecimento a respeito das internacional justa e democrática”.
opções na frente externa, tendo chegado a posições definidas, em- Considerando que a política externa é, antes de mais nada,
bora nem todas explícitas, em relação aos grandes problemas inter- uma questão de política interna, o candidato reafirmava seus pres-
nacionais enfrentados pelo Brasil. supostos de atuação: “A política externa não vem depois da defini-
O PT foi também o que primeiro definiu um programa de Gover- ção de um projeto nacional. Ela faz parte deste projeto nacional”.
no para as eleições de 1994, com propostas bem articuladas, mas Parafraseando Clausewitz, o candidato do PT, portanto, também
por vezes contraditórias, que refletiam um intenso debate interno poderia hipoteticamente dizer: “A política externa é a continuação
entre as diversas correntes do partido. Alguns grupos representa- da política interna por outros meios”.
tivos de “minorias” (negros, ecologistas, homossexuais e outros

102
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Em 1998, já em sua terceira candidatura, desta vez por uma mente à esquerda, mas envolvendo em especial o Partido Liberal,
coligação a “União do Povo Muda Brasil”, com PT/PDT/PCdoB/PSB/ que forneceu seu candidato a vice. Ainda que partindo na frente
PCB Lula esforçou-se por colocá-la sob o signo da continuidade e de todos os demais candidatos, tanto em termos de candidatura
da inovação, este último aspecto apresentando-se, desde o início oficiosa como no que se refere aos índices de aceitação eleitoral,
da campanha, sob a forma de uma aliança política privilegiada com o candidato do PT e o próprio partido foram desta vez extrema-
seu concorrente trabalhista das experiências anteriores, o líder do mente cautelosos na formulação das bases da campanha política, a
PDT Leonel Brizola. Este antigo líder da história política brasileira começar pelas alianças contraídas com vistas a viabilizar um apoio
chegou a causar constrangimentos para o então relativamente mo- “centrista” ao candidato.
Lula foi também bastante cauteloso na exposição de sua idéias,
derado candidato “dos trabalhadores”, ao defender uma postura
ainda que algumas delas, ainda no início da campanha, tenham sido
intransigente em relação ao capital estrangeiro e às privatizações
exploradas por seus adversários (como por exemplo o apoio às polí-
de empresas públicas, chegando mesmo a declarar que não só esse ticas subvencionistas da agricultura européia ou a proposta de que
processo seria interrompido mas que algumas das leiloadas seriam o Brasil deveria deixar de exportar alimentos até que todos os brasi-
suscetíveis de reversão ao domínio estatal num eventual governo leiros pudessem se alimentar de maneira conveniente). Nessa fase,
da coligação. ele ainda repetia alguns dos velhos bordões do passado (contra o
O próprio candidato à presidência defendeu uma redução das FMI e a Alca, por exemplo), que depois foram sendo corrigidos ou
importações por via de medidas governamentais, embora de cará- alterados moderadamente para acomodar as novas realidades e a
ter tarifário, o que garantiria a transparência da política comercial coalizão de forças com grupos nacionais moderados que se pensava
de um Governo do PT e seus aliados partidários. As “Diretrizes do constituir de forma inédita.
Programa de Governo” da coalizão popular acusavam o Governo Em matéria de política externa, mais especificamente, a inten-
FHC de ter praticado uma abertura “irresponsável” da economia ção – aliás partilhada com os demais candidatos e, de certa forma,
e de ter desnacionalizado a “nossa indústria e nossa agricultura, implementada pelo governo FHC – era a de ampliar as relações do
provocando desemprego e exclusão social”. A ênfase na perda de Brasil com outros grandes países em desenvolvimento, sendo in-
soberania econômica do País era aliás o ponto forte da campanha variavelmente citados a China, a Índia e a Rússia. No plano econô-
de Lula na área internacional, elemento combinado a uma política mico, o compromisso – também expresso pelos demais candidatos
externa de tipo voluntarístico que se propunha mudar a forma de – era o de diminuir o grau de dependência financeira externa do
inserção do Brasil no mundo a partir da manifestação da vontade Brasil, mobilizando para tal uma política de promoção comercial ati-
política, aqui ignorando aparentemente as linhas de força nas insti- va, com novos instrumentos para esse efeito (possivelmente uma
tuições internacionais e nas relações com os demais países, parcei- secretaria ou ministério de comércio exterior). Segundo a “Carta ao
ros ou “adversários” na atual ordem econômica mundial. Povo Brasileiro”, divulgada por Lula em 22 de junho, o povo brasilei-
O Ponto 12 dessas diretrizes, “Presença soberana no mundo”, ro quer “trilhar o caminho da redução de nossa vulnerabilidade ex-
defendia, de forma conseqüente, uma “política externa, fundada terna pelo esforço conjugado de exportar mais e de criar um amplo
nos princípios da autodeterminação”, que faria — segundo o texto, mercado interno de consumo de massas”.
“expressará nosso desejo” de ver — o Brasil atuar “com decisão vi- De maneira ainda mais enfática, nesse documento, Lula afir-
sando alterar as relações desiguais e injustas que se estabeleceram mou claramente que a “premissa dessa transição será naturalmen-
internacionalmente”. Ainda nessa mesmo linha, um eventual Go- te o respeito aos contratos e obrigações do País”.
verno liderado pelo PT lutaria “por mudanças profundas nos orga- Depois de algumas ameaças iniciais de se retirar das negocia-
nismos políticos e econômicos mundiais, sobretudo a ONU, o FMI e ções da Alca (que seria “mais um projeto de anexação [aos EUA] do
a OMC”. Com efeito, documento liberado quando do agravamento que de integração”), Lula passou a não mais rejeitar os pressupos-
da crise financeira, em princípios de setembro de 1998, avançava tos do livre-comércio, exigindo apenas que ele fosse pelo menos
a proposta de “participar da construção de novas instituições fi- equilibrado, e não distorcido em favor do parceiro mais poderoso, o
nanceiras internacionais”, uma vez que “as atualmente existentes que constituiu notável evolução em relação a afirmações de poucas
— FMI, OMC, BIRD — são incapazes de enfrentar a crise”. De forma semanas antes. O principal assessor econômico do candidato, de-
ainda mais explícita, a coalizão de Lula pretendia combater o Acor- putado Aloízio Mercadante foi bastante cauteloso na qualificação
do Multilateral de Investimentos em fase de negociação na OCDE, das eventuais vantagens da Alca: “Esta não deve ser vista como uma
considerado como “atentatório à soberania nacional”. questão ideológica ou de posicionamento pró ou contra os Estados
De maneira mais positiva, o programa enfatizava a intenção de Unidos, mas sim como um instrumento que pode ou não servir aos
fortalecer as relações do Brasil com os outros países do Sul, “em interesses estratégicos brasileiros” (Valor Econômico, 15.07.02). Os
especial com os da América Latina, da África meridional e aos de contatos mantidos pela cúpula do PT com industriais, banqueiros
expressão portuguesa”. O processo de integração subregional, fi- e investidores estrangeiros tendiam todos a confirmar esse novo
nalmente, era visto muito positivamente, mas ficava claro o dese- realismo diplomático, e sobretudo econômico, do candidato.
jo de efetuar uma “ampliação ereforma do Mercosul que reforce De fato, os principais dirigentes do PT começaram, em plena
sua capacidade de implementar políticas ativas comuns de desen- campanha, a se afastar cautelosamente das propostas tendentes a
volvimento e de solução dos graves problemas sociais da região”. realizar um plebiscito nacional sobre a Alca (organizado pela CUT,
Depreendia-se, contudo, das declarações de diversos membros da pelo MST e pela CNBB), uma vez que ele teria resultados mais do
coalizão que o Mercosul era considerado como uma espécie de que previsíveis, todos negativos para a continuidade dessas nego-
“bastião antiimperialista”, em contraposição ao projetos norte-a- ciações. De modo ambíguo, porém, o assessor Mercadante parecia
mericanos de diluir esse esquema num vasto empreendimento li- acreditar na possibilidade de um acordo bilateral com os EUA, sem
vre-cambista do Alasca à Terra do Fogo. De forma geral, a ALCA se explicar como e em que condições ele poderia ser mais favorável
apresentava como um anátema na política externa de um Governo do que o processo hemisférico: “é importante que, independente-
liderado pelo PT, perdendo apenas em importância na escala de ini- mente da Alca, o Brasil e os Estados Unidos iniciem um processo
migos ideológicos para o neoliberalismo e a globalização selvagem de negociação bilateral direcionado para a ampliação do seu inter-
promovida pelas grandes empresas multinacionais. câmbio comercial e a distribuição mais justa de seus benefícios”.
Já em 2002, o cenário mudou substancialmente, com a expres- O PT parecia assim ter iniciado, ainda que de maneira hesitante, o
são inédita de um novo realismo diplomático, a começar pela polí- caminho em direção ao reformismo moderado.
tica de alianças buscada pelo candidato Lula, desta vez não unica-

103
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
O programa divulgado pelo candidato em 23 de julho de 2002 Continente, com gravíssimas consequências para a estrutura pro-
era bastante ambicioso quanto aos objetivos de “sua” política ex- dutiva de nossos países, especialmente para o Brasil, que tem uma
terna, uma vez que prometia convertê-la num dos esteios do pro- economia mais complexa. Processos de integração regional exigem
cesso de desenvolvimento nacional: “A política externa será um mecanismos de compensação que permitam às economias menos
meio fundamental para que o governo implante um projeto de de- estruturadas poder tirar proveito do livre comércio, e não sucumbir
senvolvimento nacional alternativo, procurando superar a vulnera- com sua adoção. As negociações da ALCA não serão conduzidas em
bilidade do País diante da instabilidade dos mercados financeiros um clima de debate ideológico, mas levarão em conta essencial-
globais. Nos marcos de um comércio internacional que também mente o interesse nacional do Brasil.”
vem sofrendo restrições em face do crescente protecionismo, a po- Um certo idealismo mudancista se insinua igualmente no pro-
lítica externa será indispensável para garantir a presença soberana grama, ao pretender um eventual governo do PT conduzir uma
do Brasil no mundo.” Parece ter ocorrido aqui, ao contrário das oca- “aproximação com países de importância regional, como África do
siões anteriores, uma espécie de sobrevalorização da política exter- Sul, Índia, China e Rússia”, com o objetivo de “construir sólidas rela-
na, ou em todo caso, uma esperança exagerada em suas virtudes ções bilaterais e articular esforços a fim de democratizar as relações
transformadoras. internacionais e os organismos multilaterais como a Organização
das Nações Unidas (ONU), o Fundo Monetário Internacional (FMI),
Com efeito, o candidato Lula pretendia, nada mais nada menos a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Banco Mundial”. Por
que reorganizar o mundo e o continente sul-americano a partir de outro lado, a antiga desconfiança em relação ao capital estrangeiro
suas propostas diplomáticas, o que denota ou excesso de otimismo cedeu lugar a uma postura mais equilibrada, uma vez que se afir-
ou desconhecimento quanto aos limites impostos pela realidade in- mou no programa de 2002 que o Brasil “não deve prescindir das
ternacional a esses grandes projetos mudancistas no cenário exter- empresas, da tecnologia e do capital estrangeiro”, alertando então
no, sobretudo vindos de um país dotado de recursos externos limi- que os “países que hoje tratam de desenvolver seus mercados in-
tados como o Brasil. “Uma nova política externa deverá igualmente ternos, como a Índia e a China, não o fazem de costas para o mun-
contribuir para reduzir tensões internacionais e buscar um mundo do, dispensando capitais e mercados externos”. Mas, se advertia
com mais equilíbrio econômico, social e político, com respeito às também que as “nações que deram prioridade ao mercado externo,
diferenças culturais, étnicas e religiosas. A formação de um governo como o Japão e a Coréia, também não descuidaram de desenvolver
comprometido com os interesses da grande maioria da sociedade, suas potencialidades internas, a qualidade de vida de seu povo e as
capaz de promover um projeto de desenvolvimento nacional, terá formas mais elementares de pequenos negócios agrícolas, comer-
forte impacto mundial, sobretudo em nosso Continente. Levando ciais, industriais e de serviços.”
em conta essa realidade, o Brasil deverá propor um pacto regional O excessivo viés em favor do mercado interno foi corrigido no
de integração, especialmente na América do Sul. Na busca desse programa, que tende por outro lado a esquecer a ênfase atribuída
entendimento, também estaremos abertos a um relacionamento pelo governo FHC ao crescimento das exportações: “Sem cresci-
especial com todos os países da América Latina.”
mento dificilmente estaremos imunes à espiral viciosa do desem-
Em contraposição ao candidato governista, supostamente her-
prego crescente, do desarranjo fiscal, de déficits externos e da in-
deiro da política de integração do presidente FHC mas de fato cético
capacidade de honrar os compromissos internos e internacionais. O
quanto a suas vantagens para o Brasil, o candidato Lula era o mais
primeiro passo para crescer é reduzir a atual fragilidade externa. (…)
entusiástico promotor do Mercosul, mas ainda aqui com pouco rea-
Para combater essa fragilidade, nosso governo vai montar um sis-
lismo em relação às chances de uma moeda comum no curto prazo
tema combinado de crédito e de políticas industriais e tributárias.
ou a implantação de instituições mais avançadas: “É necessário re-
O objetivo é viabilizar o incremento das exportações, a substituição
vigorar o Mercosul, transformando-o em uma zona de convergência
competitiva de importações e a melhoria da infra-estrutura. Isso
de políticas industriais, agrícolas, comerciais, científicas e tecnológi-
cas, educacionais e culturais. Reconstruído, o Mercosul estará apto deve ser feito tanto por causa da fragilidade das contas externas
para enfrentar desafios macroeconômicos, como os de uma política como porque o Brasil precisa conquistar uma participação mais sig-
monetária comum. Também terá melhores condições para enfren- nificativa no comércio mundial, o que o atual governo menosprezou
tar os desafios do mundo globalizado. Para tanto, é fundamental por um longo período”.
que o bloco construa instituições políticas e jurídicas e desenvolva Em suma, o candidato do PT realizou um notável percurso em
uma política externa comum.” direção de uma postura mais realista no campo da política exter-
Persistia, igualmente, no programa, a atitude de princípio con- na, assim como no terreno mais geral das políticas econômicas,
trária à Alca e um certo equívoco quanto aos objetivos de uma zona notadamente no que se refere ao relacionamento com o capital
de livre-comércio, pois que se via nesse processo a necessidade do estrangeiro e com as instituições financeiras internacionais. Cabe
estabelecimento de políticas compensatórias, quando são raros os registro, em todo caso, a seu acolhimento, não totalmente desfa-
exemplos de acordos de simples liberalização de comércio que con- vorável, em relação ao acordo anunciado pelo governo de mais um
templem tais tipos de medidas corretivas: pacote de sustentação financeira por parte do FMI, desta vez pela
“Essa política em relação aos países vizinhos é fundamental soma inédita de 30 bilhões de dólares. A nota divulgada pela cam-
para fazer frente ao tema da Área de Livre Comércio das Améri- panha de Lula na ocasião foi bastante cautelosa no que se refere
cas (ALCA). O governo brasileiro não poderá assinar o acordo da ao cumprimento das obrigações externas, ainda que registrando
ALCA se persistirem as medidas protecionistas extra-alfandegárias, negativamente o encargo passado ao governo futuro de manter um
impostas há muitos anos pelos Estados Unidos. (…) A política de superávit primário na faixa de pelo menos 3,75% do PIB até 2004.
livre comércio, inviabilizada pelo governo norteamericano com to- Ao encontrar-se com o presidente FHC, a pedido deste, para tratar
das essas decisões, é sempre problemática quando envolve países da questão do acordo com o FMI, em 19 de agosto, o candidato do
que têm Produto Interno Bruto muito diferentes e desníveis imen- PT reiterava seu entendimento de que as dificuldades decorriam do
sos de produtividade industrial, como ocorre hoje nas relações dos “esgotamento do atual modelo econômico”, confirmando também,
Estados Unidos com os demais países da América Latina, inclusive com franqueza, seu compromisso afirmado na “Carta ao Povo Bra-
o Brasil. A persistirem essas condições a ALCA não será um acor- sileiro”: o de que, “se vencermos as eleições começaremos a mudar
do de livre comércio, mas um processo de anexação econômica do a política econômica desde o primeiro dia”.

104
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Não obstante, Lula oferecia uma série de sugestões para, no Nosso governo respeitará e procurará fortalecer os organismos
seu entendimento, “ajudar o País a sair da crise”, muitas delas me- internacionais, em particular a ONU e os acordos internacionais re-
didas de administração financeira, de política comercial e de reati- levantes, como o protocolo de Quioto, e o Tribunal Penal Interna-
vação da economia. cional, bem como os acordos de não proliferação de armas nuclea-
O PT e seu candidato das três disputas anteriores se esforça- res e químicas. Estimularemos a ideia de uma globalização solidária
vam, dessa forma, em provar aos interlocutores sociais – eleitores e humanista, na qual os povos dos países pobres possam reverter
brasileiros – e aos observadores externos – capitalistas estrangeiros essa estrutura internacional injusta e excludente.”
e analistas de Wall Street – que o partido e seus aliados estavam Em suma, atendidas algumas ênfases conceituais e a defesa
plenamente habilitados a assumir as responsabilidades governa- afirmada da soberania nacional, a política externa do governo que
mentais e a representar os interesses externos do País com maior inicia seu termo em janeiro de 2003 não destoará, substancialmen-
dose de realismo econômico e diplomático do que tinha sido o caso te, da diplomacia conduzida de maneira bastante profissional pelo
nas experiências precedentes. Itamaraty no período recente, conformando aliás uma concordância
Essa evolução moderada foi confirmada, finalmente, no pri- de princípio com a tradicional “diplomacia do desenvolvimento” im-
meiro pronunciamento do presidente eleito, em 28 de outubro de pulsionada pelo Brasil desde largos anos. No plano operacional, pa-
2002. Nesse texto, consciente da gravidade da crise econômica e rece inevitável o aumento do diálogo do Itamaraty com o Congresso
dos focos de tensão externa remanescente, Lula advertiu: “O Brasil e outras forças organizadas da sociedade civil, como os sindicatos,
fará a sua parte para superar a crise, mas é essencial que além do as organizações não-governamentais e representantes do mundo
apoio de organismos multilaterais, como o FMI, o BID e o BIRD, se acadêmico. Trata-se, em todo caso, de uma saudável inovação para
restabeleçam as linhas de financiamento para as empresas e para uma instituição cujo moto organizador parece consubstanciar-se na
o comércio internacional. Igualmente relevante é avançar nas ne- frase “renovar-se na continuidade”. Com talvez alguma surpresas
gociações comerciais internacionais, nas quais os países ricos efe- verbais, naturais em momentos de mudança paradigmática como
tivamente retirem as barreiras protecionistas e os subsídios que a que vive o Brasil, tanto a inovação como a continuidade parecem
penalizam as nossas exportações, principalmente na agricultura.” garantidas no futuro governo sob a hegemonia do novo centro po-
A segunda frase, particularmente, poderia, sem qualquer mudança, lítico brasileiro. As gerações mais jovens do Itamaraty certamente
ter sido pronunciada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, receberam com bastante satisfação a confirmação da mudança po-
por seu chanceler ou por seu ministro da economia. lítica no cenário eleitoral e parecem animadas com as perspectivas
Também, diferentemente da “ameaça” de cessar as exporta- de mudança – talvez até geracional – que podem operar-se na Casa
ções de alimentos até que todos os brasileiros pudessem se alimen- de Rio Branco. A confirmar-se a “continuidade da renovação”, o Ita-
tar de maneira conveniente, Lula traçou um retrato convincente maraty tem todas as condições de emergir, nos próximos quatro
das possibilidades nessa área: “Nos últimos três anos, com o fim da anos, com uma nova legitimidade no plano societal interno, ao ser
âncora cambial, aumentamos em mais de 20 milhões de toneladas implementada a nova diretriz de colocar, de maneira mais afirmada,
a nossa safra agrícola. Temos imenso potencial nesse setor para de- a política externa a serviço de um projeto nacional de desenvolvi-
sencadear um amplo programa de combate à fome e exportarmos mento econômico e social.
alimentos que continuam encontrando no protecionismo injusto
das grandes potências econômicas um obstáculo que não poupa-
remos esforços para remover.” Igualmente, não há nada aqui que CULTURA INTERNACIONAL E CULTURA BRASILEIRA
não poderia receber o endosso – e de fato já integra o discurso – da (MÚSICA, LITERATURA, ARTES, ARQUITETURA, RÁDIO,
administração atuante até o final de 2002. CINEMA, TEATRO, JORNAIS, REVISTAS E TELEVISÃO)
De modo geral, a “nova diplomacia” não parece afastar-se mui-
to da “velha”, com talvez uma afirmação mais enfática dos “inte-
resses nacionais” e da defesa da soberania: “É uma boa hora para Cultura é um complexo que inclui necessariamente a com-
reafirmar um compromisso de defesa corajosa de nossa soberania preensão de diversos valores morais e éticos que guiam nosso com-
regional. E o faremos buscando construir uma cultura de paz entre portamento social. É estudado um grande conjunto de atividades e
as nações, aprofundando a integração econômica e comercial entre modos de agir, costumes e instruções de um povo.
os países, resgatando e ampliando o Mercosul como instrumento É o meio pelo qual o homem se adapta às condições de exis-
de integração nacional e implementando uma negociação soberana tência transformando a realidade. Alcançar estes conhecimentos
frente à proposta da ALCA. Vamos fomentar os acordos comerciais tendo como condução nossas emoções e a avaliação do outro, é
bilaterais e lutar para que uma nova ordem econômica internacio- um grande desafio.
nal diminua as injustiças, a distância crescente entre países ricos e A cultura é dinâmica. Como construção de ajustamento a cul-
pobres, bem como a instabilidade financeira internacional que tan- tura sofre modificações, traços são perdidos, outros se adicionam,
tos prejuízos tem imposto aos países em desenvolvimento Nosso em velocidades diferentes e nas diferentes sociedades, mudanças
governo será um guardião da Amazônia e da sua biodiversidade. que sucedidas em uma cultura de uma determinada geração pas-
Nosso programa de desenvolvimento, em especial para essa região, sam à geração seguinte, aonde vai se transformando, perdendo e
será marcada pela responsabilidade ambiental.” Em outros termos, agrupando outros aspectos buscando assim aperfeiçoar a vivência
abandonou-se a tese da Alca “anexacionista” em favor de uma ne- das novas gerações.
gociação séria dos interesses brasileiros nesses acordos de liberali- O ambiente cumpre uma ação fundamental sobre as mudanças
zação comercial. culturais, embora não apenas isso: os homens mudam sua maneira
A defesa do multilateralismo não destoa, em praticamente de encarar o mundo tanto por contingências ambientais quanto por
ponto nenhum, das conhecidas posições defendidas tradicional- transformações da consciência social. Cada país possui a sua pró-
mente pela diplomacia brasileira: pria cultura, que é influenciada por múltiplos fatores.
“Queremos impulsionar todas as formas de integração da Amé- A cultura brasileira, por exemplo, é marcada pela boa disposi-
rica Latina que fortaleçam a nossa identidade histórica, social e cul- ção e alegria, e isso reflete também na música, no caso do samba,
tural. Particularmente relevante é buscar parcerias que permitam que também faz parte da cultura brasileira. No caso da cultura por-
um combate implacável ao narcotráfico que alicia uma parte da ju- tuguesa, o fado é o patrimônio musical mais famoso, que reflete
ventude e alimenta o crime organizado. uma característica do povo português (o saudosismo).

105
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
É um processo em intensa evolução, diversificação e de gran- Teodor Adorno, por exemplo, que, além de filósofo, era músi-
de riqueza. É o desenvolvimento de um grupo social, uma nação, co, considerava o jazz uma degeneração musical dançante, fruto da
uma comunidade; fruto do esforço coletivo pelo aprimoramento de cultura de massa, pois fugia do padrão estético da cultura erudita
valores espirituais e materiais, conjunto de fenômenos materiais e europeia da qual Adorno utilizava como padrão de medida.
ideológicos que caracterizam um grupo étnico ou uma nação (lín-
gua, costumes, rituais, culinária, vestuário, religião, etc). Cultura de massa
A fundamental característica da cultura está no fato de os in- A cultura de massa é diferente da cultura popular e da cultura
divíduos terem sempre de responder ao meio de acordo com a erudita, mas pode mesclar elementos de ambas. A cultura de massa
mudança de hábitos, mais até que possivelmente uma evolução não é uma manifestação cultural autêntica criada por um povo ou
biológica A cultura também é definida em ciências sociais como um por uma elite intelectual, mas é um produto da indústria cultural,
conjunto de ideias, comportamentos, símbolos e práticas sociais, que visa a atender as normas do mercado e fazer da cultura e da
aprendidos de geração em geração através da vida em sociedade. arte um negócio lucrativo, produzindo e vendendo elementos cul-
Seria a herança social da humanidade ou ainda de forma espe- turais como se fossem objetos que as pessoas desejam comprar.
cífica, uma determinada variante da herança social. É um conceito O principal eixo produtor e disseminador dos padrões culturais
que está sempre em desenvolvimento, e com o passar do tempo ela massificados hoje é os Estados Unidos, que importa os seus produ-
é influenciada por novas maneiras de pensar inerentes ao desenvol- tos culturais para vários países globalizados, que assimilam aqueles
vimento dos seres humanos. produtos como uma cultura autêntica.

Tipos e exemplos de cultura Cultura Nacional


Podemos estabelecer três tipos básicos de cultura, tomando Nós, brasileiros, somos parte de um enorme grupo que com-
uma concepção restrita da palavra que se refere mais ao ambiente partilha uma determinada cultura e, dentro desse grupo, há outros
estético e artístico do que a um conjunto de saberes coletivos. Esses grupos, menores, que compartilham outras culturas. Ou seja, há
tipos são: certas características comuns a todos os brasileiros, porém, cada
povo dentro do Brasil compartilha outras características particula-
Cultura erudita res. Descomplicando isso tudo, o que se quer dizer é que paulistas,
A cultura erudita, muitas vezes utilizada como sinônimo de baianos, cearenses, gaúchos, cariocas, todos nós somos brasileiros
uma cultura muito desenvolvida esteticamente e de alto valor, é um e compartilhamos costumes e valores comuns como, por exemplo,
termo que, quando empregado, pode resultar em uma visão etno- a nossa receptividade. No entanto, há características particulares
cêntrica. Cultura erudita é a cultura criada por uma elite, econômi- dentro de cada um desses grupos. Por exemplo: o funk, apesar de
ca, social ou intelectual, que tenta se sobrepor aos outros tipos de ser escutado e dançado em muitas partes do país, é uma particula-
cultura por meio de sua própria classificação. ridade dos imaginários culturais do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Muitos lementos culturais criados pelas elites foram ampla- Ainda assim, o mesmo funk, por vezes, tem características dife-
mente difundidos, sobretudo da elites europeias, muitas vezes de rentes em cada um desses estados. Indo direto ao ponto: o Brasil,
grande desenvolvimento técnico, como a música erudita barroca e como o grande país que é, tem uma diversidade cultural tão exten-
clássica, a ópera, a pintura e a escultura renascentista etc. Dessa sa quanto seu tamanho.
feita, podemos elencar como exemplos mais específicos as óperas É importante, ou melhor, é imprescindível sabermos a razão
do compositor alemão Richard Wagner, como Tristão e Isolda ou O dessa diversidade toda. A razão está na formação da nossa cultura,
Anel dos Nibelungos; as pinturas de Caravaggio; as peças musicais que se divide em quatro momentos. São eles: o período da coloni-
de Bach, de Vivaldi ou a ópera de Bizet. zação, o período da independência política do Brasil para com a sua
metrópole, o período da república e o período que vivemos atual-
Cultura popular mente, o da globalização.
É a expressão cultural geral de um povo que, em muitos casos, Durante a colonização, nossa nação começa a dar os primeiros
em especial em países como o Brasil, está fora do eixo erudito, por passos, pelo menos em termos de formação cultural. Foi nesse mo-
ser uma manifestação popular criada por povos marginais, ou seja, mento que houve o primeiro contato de três povos muito diferen-
que estão à margem da sociedade, fora das elites. tes, responsáveis pelo nosso hibridismo cultural: os europeus, os in-
Se pensarmos no Brasil, temos uma vasta e rica cultura nor- dígenas e os africanos. É importante lembrar que esses termos são
destina, nortista, sertaneja e indígena e, nos centros urbanos, das uma generalização e que eles englobam diversos povos africanos e
periferias e favelas, as quais não se enquadram ao padrão erudito, indígenas e, por isso, quando os usamos, não estamos falando de
pois a nossa “erudição cultural” importou padrões essencialmente uma unidade cultural oriunda da áfrica e das tribos que aqui havia,
europeus. mas de uma pluralidade imensa. Além disso, quando mencionamos
Tomemos, como exemplos, a cultura indígena; o cordel nordes- os europeus, estamos falando não só dos portugueses, mas tam-
tino; a literatura de Ariano Suassuna (de uma estética linguística bém de outras nacionalidades que aqui estiveram por tanto tempo,
erudita, no sentido de rebuscada, mas partindo de elementos da como os holandeses. O que isso tudo significa? A nossa cultura já
cultura nordestina); a música sertaneja de raiz; o samba, que foi começa sendo formada pela mistura de váaaarias outras. Por isso,
rechaçado pela cultura erudita por muito tempo por ter surgido hoje, somos um país cheio de religiões, estilos musicais, danças…
como expressão cultural dos negros, descendentes de escravos e Você não pode deixar de levar isso em consideração caso o tema da
favelados; o rap brasileiro e o funk carioca autêntico (o funk cario- redação esteja relacionado a isso.
ca de origem, sem a interferência da indústria cultural), que hoje O segundo momento que mencionamos, junto ao terceiro,
passam pela mesma discriminação que o samba sofreu no início do
também é de extrema importância. Na independência do Brasil co-
século XX.
meçamos, timidamente, a buscar a nossa independência cultural da
Essas mudanças de visão demostram que os padrões culturais
Europa, já que, desde o século XVI, éramos reprodutores de tudo
e estéticos mudam ao longo do tempo. O mesmo aconteceu com o
o que a nossa metrópole criava. Foi nesse momento que o roman-
jazz, nos Estados Unidos, que era visto como uma cultura inferior
tismo começou a ser patrocinado aqui no Brasil, como uma tenta-
por ter suas raízes fincadas nos negros escravizados, mas hoje pos-
tiva de produção nacional, se tornando o primeiro passo da nossa
sui o status de cultura erudita.

106
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
emancipação cultural. O terceiro momento, a república, foi um grito vatura já apontavam no governo brasileiro. Outros grandes fluxos
de liberdade ainda maior. Na época, com tudo o que acontecia den- migratórios significativos aconteceram durante a Segunda Guerra
tro e fora do país, a tendência era, cada vez mais, produzir coisas Mundial, quando japoneses, alemães e judeus buscaram refúgio
nossas. Nesse período, surgiu o modernismo, que veio pra mostrar em terras brasileiras.
como é o Brasil e pra provar que o povo brasileiro podia ser tema da Toda essa vastidão de povos provocou a formação de uma cul-
nossa própria arte. (Vale lembrar que, nesse momento, os Estados tura plural e de culturas diferentes. As diferenças geográficas tam-
Unidos da América já tinham virado o jogo e, assim como a Europa, bém contribuíram para que o processo cultural brasileiro se tornas-
também exportava novidades artísticas, sendo outro foco do nosso se plural e diversificado.
desejo de emancipação.). Se considerarmos como exemplo a música sertaneja de raiz,
O quarto momento que temos de analisar é um pouco mais encontramos nela elementos que remetem à vida no campo. Já o
simples de entendermos, já que está tão próximo de nós: a globa- funk carioca fala da vida nas favelas, de onde ele surgiu. A literatu-
lização. Através do avanço dos meios de comunicação, da ampla ra de cordel, por sua vez, trata de temas recorrentes ao sertanejo
utilização da internet, de computadores, e a facilidade com que nordestino, enquanto os elementos da vida gaúcha tratam da vida
a informação circula no mundo todo, temos a sensação de que o dos povos que se estabeleceram no Sul do país, sob influência de
mundo está mais dinâmico e próximo. Por conta de toda essa faci- alemães e argentinos.
lidade, é comum que haja um diálogo maior entre as culturas. Por
isso temos a sensação de que nossos valores e costumes são cada Hábitos e costumes
vez mais iguais. Porém, as coisas não são assim como imaginamos. Os costumes brasileiros são variados. Tratando de termos mo-
Esse diálogo não ocorre de forma homogênea, sendo assim, não rais, a nossa influência toma como base, principalmente, a moral
podemos considerar que a mistura de culturas que a globalização judaico-cristã. O cristianismo constitui a maior influência para a for-
possibilitou foi igualitária. O que queremos dizer com isso? Na ver- mação de nosso povo, principalmente pela vertente católica, que
dade, com a globalização, o imperialismo cultural que sofríamos da compõe o maior grupo religioso brasileiro. Também sofremos in-
Europa não se findou, mas passou a ser um imperialismo oriundo fluências morais de outros povos que vieram para o Brasil por meio
dos EUA. Trocamos, apenas, de metrópole. O mundo todo passou dos fluxos migratórios, como os africanos.
pelo mesmo processo. A diversidade de hábitos e costumes morais também se deu
por conta dos regionalismos que foram surgindo ao longo do tem-
Cultura brasileira po. Por possuir um território de proporções continentais, o Brasil
A cultura brasileira é rica e diversa, o que se explica pela forma- viu, ao longo de sua história, o desenvolvimento de diferentes ver-
ção geográfica e histórica do país. Indígenas, africanos e portugue- tentes culturais, devido às diferenças geográficas que separam o
ses contribuíram muito para essa construção. território.
A cultura brasileira, assim como a formação étnica do povo bra- Pensando em termos culinários (a culinária é um valioso ele-
sileiro, é vasta e diversa. Nossos hábitos culturais receberam ele- mento cultural de um povo), temos pratos típicos e ingredientes
mentos e influências de povos indígenas, africanos, portugueses, que provêm da cultura indígena, dos estados nordestinos e do Cen-
espanhóis, italianos e japoneses, entre outros, devido à coloniza- tro-Oeste brasileiro, por exemplo. Enquanto vatapá e acarajé são
ção, à imigração e aos povos que já habitavam aqui. pratos típicos baianos de origem africana, os habitantes do Cerrado
São elementos característicos da cultura brasileira a música po- consomem pequi, e a culinária tradicional paulista é fortemente in-
pular, a literatura, a culinária, as festas tradicionais nacionais, como fluenciada pela culinária portuguesa e italiana.
o Carnaval, e as festas tradicionais locais, como as Cavalhadas de
Pirenópolis, em Goiás, e o Festival de Parintins, no Amazonas. Influências
A religião, como elemento cultural, também sofreu miscige-
nação, formando o que chamamos de sincretismo religioso. O sin- • Influência europeia
cretismo religioso brasileiro reúne elementos do candomblé, do A cultura europeia é uma das principais fornecedoras de ele-
cristianismo e das religiões indígenas, formando uma concepção mentos culturais para o Brasil. Foram os europeus que mais migra-
religiosa plural. ram para o país. Culinária, festas, músicas e literatura foram trazi-
das para o território brasileiro, fundindo-se com outros elementos
Como a cultura brasileira nasceu? de outros povos. Além da cultura popular dos países europeus, foi
Podemos dizer que os elementos mais antigos da cultura ge- trazida também a cultura erudita, marca essencial das elites intelec-
nuinamente brasileira remontam aos povos indígenas que já habi- tuais e financeiras europeias.
tavam o território de nosso país antes da chegada dos portugueses
em 1500. Donos de uma cultura extensa, os povos nativos manti- • Influência indígena
nham as suas crenças e praticavam seus elementos culturais aliados Hoje nós consumimos pratos típicos indígenas, além de incor-
a um modo de vida simples e em contato com a natureza. porarmos em nosso vocabulário palavras oriundas da família lin-
Com a chegada dos portugueses e o início da colonização, a guística tupi-guarani. Palavras como caju, acerola, guaraná, man-
cultura europeia foi introduzida, à força, nos povos indígenas, e as dioca e açaí têm origem indígena, além do hábito alimentar que
missões da Companhia de Jesus (formadas por padres jesuítas) vie- desenvolvemos comendo esses frutos e da mandioca ter nascido na
ram para o Brasil com o intuito de catequizar os índios. cultura indígena antes da chegada dos portugueses.
No século XVII, devido ao grande número de engenhos de ca-
na-de-açúcar, os europeus começaram a capturar e trazer os negros • Influência africana
africanos, à força, para o Brasil, como escravos. Esses, tiranicamen- Os africanos trouxeram para o Brasil as suas práticas religiosas
te escravizados, trouxeram consigo elementos da sua cultura e de expressas hoje, principalmente, pelo candomblé e pela umbanda,
seus hábitos, como as religiões de matriz africana, a sua culinária e que mistura elementos do candomblé com o espiritismo kardecista.
seus instrumentos musicais. Também trouxeram pratos típicos de suas regiões e desenvolveram
No século XIX, o Brasil vivenciou mais um processo migratório aqui pratos com inspiração naquilo que compunha a culinária afri-
composto por trabalhadores italianos que vieram trabalhar nas la- cana dos locais de onde vieram. Outra marca cultural que herdamos
vouras de café, quando os primeiros indícios da abolição da escra- dos africanos é a capoeira, praticada até os dias atuais.

107
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Cultura brasileira atual gional é composta por arroz com pequi, sopa paraguaia, arroz car-
Atualmente, a cultura brasileira sofre diversas influências além reteiro, arroz boliviano, maria-isabel, empadão goiano, pamonha,
daquelas raízes apontadas no tópico anterior. A cultura brasileira angu, cural, os peixes do Pantanal - como o pintado, pacu, dourado,
atual é influenciada fortemente pelos elementos da indústria cultu- entre outros.
ral. Além desses fatores, existem outros oriundos da cultura produ-
zida nas periferias, que não necessariamente são frutos da indústria Região Sudeste
cultural. Os principais elementos da cultura regional são: festa do divi-
Hoje, podemos elencar o hip hop e o funk como elementos no, festejos da páscoa e dos santos padroeiros, congada, cavalha-
que impulsionam a cultura brasileira atual, para além da cultura de das, bumba meu boi, carnaval, peão de boiadeiro, dança de velhos,
massa produzida pela indústria cultural. Nesses casos, podemos re- batuque, samba de lenço, festa de Iemanjá, folia de reis, caiapó.
lacionar esses elementos a uma cultura autêntica, produzida pela A culinária do Sudeste é bem diversificada e apresenta forte
periferia e para a periferia, sendo muitas vezes confundidos com os influência do índio, do escravo e dos diversos imigrantes europeus
elementos da indústria cultural ou incorporado por eles. e asiáticos. Entre os pratos típicos se destacam a moqueca capixaba,
Alguns elementos culturais do século XX também resistem e pão de queijo, feijão-tropeiro, carne de porco, feijoada, aipim frito,
colocam-se como fatores que ainda influenciam a cultura brasileira bolinho de bacalhau, picadinho, virado à paulista, cuscuz paulista,
atual, como o carnaval, que movimenta grande parte da população farofa, pizza, etc.
brasileira entre nos meses de fevereiro e março de cada ano.
Região Sul
Diversidade Cultural no Brasil O Sul apresenta aspectos culturais dos imigrantes portugueses,
A diversidade cultural refere-se aos diferentes costumes de espanhóis e, principalmente, alemães e italianos. As festas típicas
uma sociedade, entre os quais podemos citar: vestimenta, culiná- são: a Festa da Uva (italiana) e a Oktoberfest (alemã). Também in-
ria, manifestações religiosas, tradições, entre outros aspectos. O tegram a cultura sulista: o fandango de influência portuguesa, a ti-
Brasil, por conter um extenso território, apresenta diferenças climá- rana e o anuo de origem espanhola, a festa de Nossa Senhora dos
ticas, econômicas, sociais e culturais entre as suas regiões. Navegantes, a congada, o boi-de-mamão, a dança de fitas, boi na
Os principais disseminadores da cultura brasileira são os colo- vara. Na culinária estão presentes: churrasco, chimarrão, camarão,
nizadores europeus, a população indígena e os escravos africanos. pirão de peixe, marreco assado, barreado (cozido de carne em uma
Posteriormente, os imigrantes italianos, japoneses, alemães, polo- panela de barro), vinho.
neses, árabes, entre outros, contribuíram para a pluralidade cultu-
ral do Brasil. Principais Movimentos Artísticos do Século XX
Nesse contexto, alguns aspectos culturais das regiões brasilei- O século XX é marcado por profundas mudanças históricas, as
ras serão abordados. quais afetaram drasticamente o comportamento político-social do
nosso tempo. Foi onde acentuaram-se as diferenças entre a alta
Região Nordeste burguesia e o proletariado, dando maior força ao capitalismo e fa-
Entre as manifestações culturais da região estão danças e fes- zendo surgir os primeiros movimentos sindicais, como algumas das
tas como o bumba meu boi, maracatu, caboclinhos, carnaval, ciran- consequências do Pós Guerra.
da, coco, terno de zabumba, marujada, reisado, frevo, cavalhada e Mediante todo o acúmulo de acontecimentos pertencentes à
capoeira. Algumas manifestações religiosas são a festa de Iemanjá e esse período, cheio de contradições e complexidades, é possível
a lavagem das escadarias do Bonfim. A literatura de Cordel é outro encontrar um terreno farto para a criação de novos conceitos no
elemento forte da cultura nordestina. O artesanato é representa- campo das artes.
do pelos trabalhos de rendas. Os pratos típicos são: carne de sol, Assim, os movimentos e as tendências artísticas, tais como o
peixes, frutos do mar, buchada de bode, sarapatel, acarajé, vatapá, Expressionismo, o Fauvismo, o Cubismo, o Futurismo, o Abstracio-
cururu, feijão-verde, canjica, arroz-doce, bolo de fubá cozido, bolo nismo, o Dadaísmo, o Surrealismo, a Op-art e a Pop-art expressam,
de massa de mandioca, broa de milho verde, pamonha, cocada, ta- de um modo ou de outro, a perplexidade do homem contemporâ-
pioca, pé de moleque, entre tantos outros. neo.
O Expressionismo surge como uma reação ao Impressionismo,
Região Norte pois no primeiro, a preocupação está em expressar as emoções hu-
A quantidade de eventos culturais do Norte é imensa. As duas manas, transparecendo em linhas e cores vibrantes os sentimentos
maiores festas populares do Norte são o Círio de Nazaré, em Belém e angústias do homem moderno. Enquanto que no Impressionismo,
(PA); e o Festival de Parintins, a mais conhecida festa do boi-bumbá o enfoque resumia-se na busca pela sensação de luz e sombra.
do país, que ocorre em junho, no Amazonas. Outros elementos cul- O Fauvismo foi um movimento que teve basicamente dois prin-
turais da região Norte são: o carimbó, o congo ou congada, a folia cípios: a simplificação das formas das figuras e o emprego das cores
de reis e a festa do divino. puras, sem mistura. As figuras não são representadas tal qual a for-
A influência indígena é fortíssima na culinária do Norte, ba- ma real, ao passo que as cores são usadas da maneira que saem do
seada na mandioca e em peixes. Outros alimentos típicos do povo tubo de tinta.O nome deriva de ‘fauves’ (feras, no francês), devido
nortista são: carne de sol, tucupi (caldo da mandioca cozida), tacacá a agressividade no emprego das cores.
(espécie de sopa quente feita com tucupi), jambu (um tipo de erva),
camarão seco e pimenta-de-cheiro.

Região Centro-Oeste
A cultura do Centro-Oeste brasileiro é bem diversificada, rece-
bendo contribuições principalmente dos indígenas, paulistas, mi-
neiros, gaúchos, bolivianos e paraguaios. São manifestações cultu-
rais típicas da região: a cavalhada e o fogaréu, no estado de Goiás;
e o cururu, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A culinária re-

108
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Os 7 principais artistas:
1. Henri Matisse (1869 – 1954), Le Cateau-Cambrésis, França

Foi um pintor totalmente autodidata, começou a pintar com


quinze anos. Se encontrou com Matisse e depois com Vlaminck em
1900, pintaram juntos e desenvolveram suas ideias com a cor em
suas obras de arte.

3. Maurice de Vlaminck (1876 – 1958) Paris, França

Henri-Émile-Benoît Matisse, conhecido por seu uso da cor e


sua arte de desenhar, fluida e original. Foi um desenhista, gravu-
rista e escultor, mas é principalmente conhecido como um pintor.
Matisse é considerado, juntamente a Picasso e Marcel Duchamp,
como um dos três artistas seminais do século XX, responsável por
uma evolução significativa na pintura e na escultura.

2. Andre Derain (1880 – 1954), Chatou, França

Nasceu em Paris, em uma família de músicos. Foi o mais autên-


tico fauvista, dizia: “Quero incendiar a Escola de Belas Artes com
meus vermelhos e azuis”. Trabalhou com André Derain em um estú-
dio que mantinham juntos.

109
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
4. Raoul Dufy (1877 – 1953), Le Havre, França

Foi um pintor fauvista, conhecido como um dos principais in-


tervenientes deste movimento artístico, surgido em 1905. Puy é
igualmente lembrado como sendo um dos primeiros fauvistas, já
que participou na escandalosa exposição no Salon d’Automne, jun-
to a Henri Matisse, Henri Manguin, George Rouault e Derain.

6. Albert Marquet (1875 – 1947), Bordéus, França

Foi um pintor, desenhista, gravador, ceramista, ilustrador de te-


cidos, de tapeçarias e de móveis, decorador de interiores, espaços
públicos e teatro francês. Impressionista a princípio, evoluiu gra-
dativamente para o fauvismo, depois de travar contato com Henri
Matisse.

5. Jean Puy (1876 – 1960) Roanne, França

Realizou diversas exposições no Salon des Indépendants, não


tendo vendido quaisquer obras. Todavia, consolidou a sua carreira
artística e ganho reconhecimento entre a aristocracia parisiense.
A maioria das suas obras, datadas deste período, seguiam uma
linha impressionista, na qual provou o seu controlo do desenho e
testou a distribuição da luz pela tela. Embora sendo fauvista, Mar-
quet não utilizava cores tão violentas ou brilhantes, usando e abu-
sando dos cinzentos e do branco.

110
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
7. Georges Rouault (1851 – 1958) Paris, França Artistas que fizeram parte do cubismo

1. Pablo Picasso, 1881-1973, Málaga, Espanha

Pablo Ruiz Picasso foi um pintor espanhol, escultor, ceramista,


cenógrafo, poeta e dramaturgo que passou a maior parte da sua
vida adulta na França.
A maior figura da pintura moderna espanhola, Picasso é clas-
sificado como um dos principais pintores do século XX e, provavel-
mente, um dos artistas mais influentes na história da arte.

Era um artista francês cujo trabalho unia o fauvismo e o expres-


sionismo. Influenciado por Henri Matisse e André Derain, Rouault
extraiu de seu fervor espiritual e conhecimento de vitrais medievais
a capacidade para produzir retratos ressonantes, paisagens, cenas
religiosas e naturezas-mortas.
Principais características do fauvismo
Uso de cores intensas como: roxo, verde, amarelo, azul e ver-
melho;
- Busca de estabelecer harmonia, tranquilidade, pureza e equi-
líbrio nas obras de arte;
- Uso de formatos planos, grandes, simples e com traços largos;
- Intenção de demonstrar sentimentos nas obras;
- Temas preferidos: cenas urbanas e rurais, retratos, ambientes
internos, nus e cenas ao ar livre. Rejeitou a visão de Matisse sobre a importância e o papel pri-
mário da cor; e concentrou-se em outras representações pictóricas
No Cubismo podemos observar a mesma despreocupação em de retratar a forma e o espaço. Isto levou-o, em associação com
representar realisticamente as formas de um objeto, porém aqui, Georges Braque, a desenvolver um movimento cubista inteiramen-
a intenção era representar um mesmo objeto visto de vários ângu- te novo, que rapidamente se tornou a vanguarda da arte moderna.
los, em um único plano. Com o tempo, o Cubismo evoluiu em duas
grandes tendências chamadas Cubismo Analítico e Cubismo Sintéti-
co. O movimento teve o seu melhor momento entre 1907 e 1914, e
mudou para sempre a forma de ver a realidade.

111
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
2. Georges Braque, 1882 – 1963, Argenteuil, França

Foi um pintor e escultor francês, que fundou o cubismo com


Pablo Picasso. Braque iniciou a sua ligação às cores na empresa de
pintura decorativa de seu pai.
Foi um artista francês, teórico, filósofo, fundador auto-procla-
3. Albert Gleizes, 1881-1953, Paris, França mado do cubismo. Começou a pintar mais metodicamente durante
o serviço militar. Nessa época, seus principais temas voltaram-se
para questões sociais e misteriosas cenas noturnas.
Ao conhecer Picasso, interessou-se pelo movimento cubista e
publicou, com Jean Metzinger, o primeiro tratado sobre o Cubismo,
1912. A partir da Primeira Guerra Mundial, sua produção tornou-se
mais abstrata.

4. Fernand Léger, 1881 – 1955, Argentan, França

112
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Foi uma pintora e desenhista brasileira e uma das figuras cen-
trais da pintura e da primeira fase do movimento modernista no
Brasil, ao lado de Anita Malfatti. Em 1922, introduziu o cubismo no
Brasil com suas formas geométricas representadas, na maioria das
vezes, por cubos e cilindros. Seu quadro Abaporu, de 1928, inaugu-
ra o movimento antropofágico nas artes plásticas.
O Futurismo abrange sua criação em expressar o real, assina-
lando a velocidade exposta pelas figuras em movimento no espaço.
Foi um movimento que desenvolveu-se em todas as artes e exerceu
influência sobre vários artistas que, posteriormente, criaram outros
movimentos de arte moderna. Repercutiu principalmente na Fran-
ça e na Itália, onde diversos artistas se identificaram com o fascismo
nascente.

Artistas futuristas

1. Umberto Boccioni, 1882-1916, Régio da Calábria, Itália

Jules-Fernand-Henri Léger foi um pintor francês que se distin-


guiu como pintor e desenhador cubista, autor de muitas litografias.

5. Tarsila do Amaral, 1886 – 1973, Capivari, São Paulo

Foi um pintor e escultor, contribui muito para levar a polêmica


“anticultural” do futurismo no âmbito das artes plásticas. A sensa-
ção dinâmica é o principal valor de sua arte, ação que se traduz
na pintura pela prática das técnicas neo-impressionistas, associadas
aos princípios do Cubismo. No campo da escultura procurou solu-
cionar todos os aspectos da forma dinâmica na linguagem tridimen-
sional, estudou de forma intensiva o movimento dinâmico de um
corpo humano no espaço.

2. Luigi Russolo, 1885-1947, Portogruaro, Itália

113
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Foi um pintor e compositor italiano, futurista e o autor da L’Arte Artistas brasileiros de arte abstrata
dei Rumori e Música Futurista. Acreditava que a vida contemporâ- No Brasil, a arte abstrata ganhou força a partir da I Bienal de
nea era demasiado ruidosa e que os ruídos deveriam ser utilizados São Paulo (1951). Entre os artistas brasileiros de arte abstrata, po-
para música. demos destacar:

1. Antônio Bandeira, 1922 – 1967, Fortaleza, Ceará


3. Carlo Carrá, 1881-1966, Quargnento, Itália

O pintor assinou o primeiro manifesto futurista. Participou em


diversas edições da Bienal de Arte de São Paulo, iniciou seus primei-
ros estudos e esboços de Ritmo dos Objetos e Trens, por definição
suas obras mais futuristas. Entrou em contato com o cubismo junto
com outros futuristas, mas em 1915 rompe com o movimento, jun-
tou-se a De Chirico e realizou sua primeira pintura metafísica.

4. Giacomo Balla, 1871-1958

É um dos mais valorizados pintores brasileiros e tem obras nas


maiores coleções particulares em museus do Brasil e do mundo.
Com Aldemir Martins, Inimá de Paula e outros, fez parte do Movi-
mento Modernista de Fortaleza, nos anos 1940.
Renomado mestre da pintura abstrata brasileira — e também
mestre das aquarelas —, viveu grande parte de sua vida na França.
Conviveu com os pintores da tradicional École de Paris, integrando-
-se a eles plenamente até seu retorno ao Brasil em 1960.

2. Ivan Serpa, 1923 – 1973, Rio de Janeiro

Em 1910 declarou publicamente sua filiação ao movimento


futurista do qual se afastou em 1931. O pintor e escultor italiano
durante a sua obra tentou endeusar os novos avanços científicos e
técnicos por meio de representações totalmente desnaturalizadas,
sem chegar a uma total abstracção. Mesmo assim, mostrou grande
preocupação com o dinamismo das formas, com a situação da luz e
a integração do espectro cromático.
O abstracionismo é a arte que se opõe à arte figurativa ou ob-
jetiva. A principal característica da pintura abstrata é a ausência de
relação imediata entre suas formas e cores e as formas e cores de
um ser. A pintura abstrata é uma manifestação artística que despre-
za completamente a simples cópia das formas naturais.

114
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Embora Camargo tenha estudado com figuras marcantes re-
presentativas de variadas correntes estéticas e formas de vista, não
se pode afirmar que tenha se filiado a alguma. Suas obras estiveram
presentes, e sempre reapresentadas, em grandes exposições pelo
mundo inteiro, como na Bienal de São Paulo e na Bienal de Veneza.
O pintor matou a tiros o engenheiro Sérgio Alexandre Esteves
Areal, de 32 anos. Uma versão diz que o homem discutia com uma
mulher quando Camargo se intrometeu. Após uma luta, o pintor
teria atirado no engenheiro. Segundo a Fundação Iberê Camargo,
ele passou um mês preso e foi absolvido por legítima defesa. Ao
ser absolvido, em 1982, ele volta a viver em Porto Alegre. A pintura
que começa a fazer depois ganha tom dramático. A princípio, insere
figuras humanas que convivem, em grandes telas, com signos mais
corriqueiros de sua obra. Ele se retrata em meio a carretéis e cubos.

4. Manabu Mabe, 1924 – 1997, Kumamoto

Foi um pintor, desenhista, professor e gravador brasileiro. A


obra de Ivan Serpa, desde o início de sua carreira, oscilou entre o
figurativismo e a arte concreta. Recebeu vários prêmios no Brasil e
participou de várias bienais realizadas em São Paulo, além de Ve-
neza (1952, 1954 e 1962) e Zurique (1960), quando foi igualmente
premiado.
Entre o final dos anos 50 e começo dos anos 60, seu trabalho
ganhou novos contornos, passando a incorporar elementos menos
determinados como gestos, manchas e respingos de tinta. Em 1960,
influenciado pelo desenho infantil, construiu imagens entre a abs-
tração e a figuração.

3. Iberê Camargo, 1914 – 1994, Restinga Seca, Rio Grande do


Sul

No Dadaísmo, podemos encontrar um movimento que abran-


ge a arte em todos os seus campos, pois não foi apenas uma corren-
te artística, mas sim, um verdadeiro movimento literário, musical,
filosófico e até mesmo político. Embora a palavra dada em fran-
cês signifique cavalo de madeira, sua utilização marca o non-sense
ou falta de sentido que pode ter a linguagem (como na fala de um
bebê). A princípio, o movimento não envolveu uma estética especí-
fica, mas talvez as principais expressões do Dadaísmo tenham sido
o poema aleatório e o ready-made.
O intuito deste movimento era mais de protestar contra os
estragos trazidos da guerra, denunciando de forma irônica toda
aquela loucura que estava acontecendo. Sendo a negação total da
cultura, o Dadaísmo defende o absurdo, a incoerência, a desordem,
o caos.
Foi um pintor, gravurista e professor brasileiro; uma grande re-
ferência para a arte gaúcha e brasileira, em geral.

115
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Artistas do dadaísmo Figura marcante no cenário das Vanguardas Europeias, parti-
1. Hugo Ball, 1886-1927, Pirmasens, Alemanha cipou do Grupo Cavaleiro Azul, foi importante artista dadaísta, sur-
realista e ligado ao abstracionismo.
Pintor, escultor, artista gráfico e poeta, Hans Arp buscou em sua
arte a simplicidade e a pureza das formas. Um dos pioneiros da Arte
Abstrata, já não se preocupava com a expressão plástica do ser e do
objeto, mas com a “forma pela forma”.

4. Raoul Hausmann, 1886 – 1971, Viena, Áustria

Foi um poeta, escritor e filósofo alemão. Foi um dos principais


artistas do Dadaísmo e escreveu o Manifesto Dadaísta, sendo consi-
derado por muitos teóricos o inventor da poesia fonética.

2. Marcel Duchamp, 1887 – 1968, Blainville-Crevon, França

Foi um pintor, escultor, poeta francês e um dos precursores da


arte conceitual. Cidadão dos Estados Unidos a partir de 1955, e in-
ventor dos ready made.
Seu modo de vida boêmio e paixão pelos jogos de xadrez, dos
quais participou em torneios, podem ser vistos ao longo de sua car-
reira artística, na qual temos obras de inspiração romântica, expres-
sionista, até mesmo de natureza cubista e futurista. Além disso, era
contra a “arte retiniana”, ou seja, aquela que agrada à vista. Foi um artista plástico, poeta e romancista austríaco. Com o
pseudônimo Der Dadasophe exerceu um destacado papel como
3. Hans Arp, 1886 – 1966, Estrasburgo, França dadaísta, participando dos grupos de Zurique e posteriormente
de Berlim. Foi crítico às instituições da Alemanha durante os anos
transcorridos entre as duas guerras mundiais.
O Surrealismo foi um movimento artístico e literário surgido
primeiramente em Paris nos anos 20, inserido no contexto das van-
guardas que viriam a definir o modernismo no período entre as
duas Grandes Guerras Mundiais.
A priori, a característica deste movimento era unir uma combi-
nação do representativo, do abstrato, do irreal e do inconsciente.
Segundo os surrealistas, a arte deve se libertar das exigências da
lógica e da razão e ir além da consciência cotidiana, buscando ex-
pressar o mundo do inconsciente e dos sonhos.
O surrealismo é também uma espécie de mecanismo que não
se limita a transcrever passivamente o sonho e sim descobrir um
modo de acionar o inconsciente mediante ao “automatismo psíqui-
co”. Dessa maneira, uma ideia segue a outra sem a consequência
lógica das demonstrações usuais e sim automaticamente. Técnicas

116
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
como a escrita automática da literatura, da colagem e a decalco- 2. Max Ernst, (1891-1976)
mania, em relação às artes plásticas, tornaram-se muito populares
entre os surrealistas que as utilizavam na produção dos seus jogos
de associação livre de sentidos.

Artistas do surrealismo
1. Salvador Dalí, (1904-1986)

Max Ernst foi um pintor alemão, naturalizado norte-americano


e depois francês. Também praticou a poesia. Em 1914 Ernst veio
a conhecer o surrealismo através de um grande pintor surrealista,
1. Salvador Dalí, (1904-1986) Jean Arp, pelo qual manteve a amizade pela vida inteira.

3. René Magritte, (1898-1967)

René François Ghislain Magritte foi um dos principais artistas


Salvador Dalí, foi um importante pintor catalão, conhecido pelo surrealistas belgas, ao lado de Paul Delvaux. Ele nasceu na Bélgi-
seu trabalho surrealista. O trabalho de Dalí chama a atenção pela ca e depois de frequentar a escola de arte em Bruxelas, trabalhou
incrível combinação de imagens bizarras, oníricas, com excelente com publicidade para se sustentar enquanto experimentava a sua
qualidade plástica. Dalí foi influenciado pelos mestres do classicis- pintura.
mo. O seu trabalho mais conhecido, A Persistência da Memória, foi
concluído em 1931. 4. André Masson, (1896-1987)
Salvador Dalí teve também trabalhos artísticos no cinema, es-
cultura, e fotografia. Ele colaborou com a Walt Disney no curta de
animação Destino, que foi Lançado postumamente em 2003 e, ao
lado de Alfred Hitchcock, no filme Spellbound. Também foi autor de
poemas dentro da mesma linha surrealista.

117
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Esse importante artista surrealista, que está na origem do Ex- Cecília Meireles (1901-1964)
pressionismo Abstrato norte-americano, dedicou toda a sua vida à
arte, salvo nos anos que se seguiram à guerra, quando, gravemente
ferido e após longa estadia em hospitais, viu-se em dificuldades fi-
nanceiras e passou a trabalhar em outras atividades.

Os maiores escritores brasileiros de todos os tempos


Aqui listamos alguns dos escritores brasileiros indispensáveis.
São nomes que mudaram a literatura nacional, que todo mundo já
ouviu falar (mas nem todo mundo leu). Se você quer ter uma boa
ideia da literatura brasileira essencial, pode começar por aqui.

Monteiro Lobato (1882-1948)

A primeira escritora brasileira a se tornar realmente famosa no


meio literário. Assinando mais de cinquenta obras, Cecília estreou
no mundo editoral com apenas dezoito anos de idade com a obra
Espectros (1919). Poemas, romances, livros infantis e textos jorna-
lísticos estão no currículo premiado da autora.

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

Um dos primeiros escritores brasileiros e latino-americanos a


escrever para crianças. Também foi precursor dos editores no Brasil,
numa época em que os livros eram feitos apenas no exterior.
Além dos livros infantis que incluem os personagens de mui-
to sucesso do Sítio do Pica-Pau Amarelo, Lobato também escreveu
contos, e um único romance, polêmico, em 1926, chamado O Cho-
que das Raças.

José de Alencar (1829-1877)


A poesia de Drummond é conhecida no mundo inteiro e con-
siderada a maior influência para este gênero literário no Brasil.
Versos soltos, palavras simples e uma extensa obra, sendo a mais
renomada A Rosa do Povo (1945) fazem dele um nome sempre lem-
brado entre os clássicos escritores nacionais.

Machado de Assis (1839-1908)

José de Alencar inaugurou o que é chamado de romance de


temática nacional. Formou em direito, mas sua paixão sempre foi
a escrita e depois do sucesso de O Guarani (1857), investiu ainda
mais na sua carreira, depois mesclando-a com a política. Escreveu
romances, contos, crônicas, peças de teatro e a sua própria auto-
biografia.

118
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
O nome brasileiro mais reconhecido no exterior, traduzido para O prosador mais importante da segunda metade do moder-
inúmeras línguas, estudado e aclamado pôr mais de um século. Ma- nismo brasileiro, com a publicação de Vidas Secas (1938) o autor
chado de Assis foi o primeiro presidente da Academia Brasileira de alagoano entrou de vez para o hall da fama da literatura nacional.
Letras e sua obra Dom Casmurro (1899) é leitura obrigatória para Com mais de vinte obras publicadas, Graciliano é um autor para
qualquer pessoa que queira conhecer a literatura nacional. não perder de vista quando falamos em literatura clássica brasileira.

Clarice Lispector (1920-1977) Mario Quintana (1906-1994)

“Todos esses que aí estão atravancando meu caminho: eles


passarão, eu passarinho”, quem nunca ouviu esses famosos versos?
O autor de tamanha delicadeza foi Mario Quintana, um poeta gaú-
A profundidade e sentimentalismo da obra de Clarice Lispector cho que foi também jornalista e tradutor.
faz dela um dos nomes mais adorados por jovens brasileiros de vá- Dono de uma linguagem simples e singela, que promove enor-
rias gerações. Nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira, Clarice me identificação no leitor, Quintana é tido como um dos maiores
escreveu poemas, romances, matérias para jornal e livros infantis. poetas do século XX.

João Cabral de Melo Neto (1920-1999) Guimarães Rosa (1908-1967)

Um dos maiores nomes da Geração de 45, João Cabral de Melo


Neto é autor do clássico poema dramático Morte e Vida Severina (1955).
Com obras marcadas por uma rigidez formal, seus versos bebem muito
da cultura popular e fazem uso de uma série de imagens surrealistas.
O livro épico mais famoso do Brasil, Grande Sertão Veredas saiu
Graciliano Ramos (1892-1953) da cabeça e mãos desse médico mineiro que sabia falar mais de
nove idiomas. Depois de longos anos em carreira diplomática em
nome do país, Guimarães passou a se dedicar a escrita e foi sucesso
absoluto desde a primeira publicação.

Os autores brasileiros contemporâneos consagrados


Aqui selecionamos alguns dos nomes mais reconhecidos do
mundo editorial brasileiro, que ainda estão em plena atividade, lan-
çando novos livros, trabalhando em atividades jornalística e outras
coisas. São pessoas que fizeram e ainda fazem muito pela literatura
nacional.

119
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Ruth Rocha (1931) Outra gigante da literatura infantil, também premiada, traduzi-
da para várias línguas e membro da Academia Brasileira de Letras.
Fundou a primeira livraria voltada para livros infantis do Brasil e
possui mais de cem livros publicados.

Chico Buarque de Holanda (1944)

O nome feminino mais conhecido da literatura infantil. Seu


maior clássico, Marcelo, Marmelo, Martelo, já vendeu mais de um
milhão de cópias. A escritora já venceu o Prêmio Jabuti quatro vezes
e continua criando histórias que marcam gerações e mais gerações
de crianças brasileiras.

Luis Fernando Veríssimo (1936) Chico é mais conhecido pelo seu trabalho na música, mas tam-
bém é um grande autor, tendo escrito oito livros, além de peças de
teatro e romance. O autor já conquistou três prêmios Jabuti com
os seus romances e diversos outros prêmios nacionais e interna-
cionais.

ELEMENTOS DE ECONOMIA INTERNACIONAL CON-


TEMPORÂNEA

A relativa sincronização do ciclo econômico nas três principais


regiões econômicas, evidenciada pela desaceleração nos Estados
Unidos da América (EUA), pela fraca atividade na área do Euro e
pela depressão no Japão, pode significar que a retomada da econo-
mia internacional será mais lenta do que inicialmente imaginado.
Além disso, a ameaça de ataque norte-americano ao Iraque lança
incertezas adicionais sobre o preço futuro do petróleo.
A relação entre as três principais moedas internacionais alte-
Mais de sessenta títulos estão no currículo deste que é um dos rou-se levemente em agosto, na esteira da melhora do mercado
escritores contemporâneos mais renomados do país. Seu talento de ações, principalmente nos Estados Unidos, ajudando, assim, a
para a escrita criativa, especialmente voltada para o cotidiano (con- recompor, em parte, o valor efetivo do dólar comparativamente ao
tos) já lhe rendeu dois Prêmios Jabuti. iene e ao euro. Existem, contudo, dúvidas quanto à sustentabilida-
de dessa recuperação, tendo em vista que o dólar ainda se encontra
Ana Maria Machado (1941) valorizado em relação à média histórica. Ademais, a forte desace-
leração da economia norte-americana no segundo trimestre deve
frustrar as expectativas de lucros em ambiente já bastante contur-
bado pelas denúncias de fraudes contábeis em algumas das princi-
pais corporações norte-americanas. Por fim, o déficit em transações
correntes dos EUA permanece bastante significativo, associado à
ampliação do déficit fiscal.
Na América Latina, o longo processo de negociação entre o go-
verno argentino e o FMI ainda não permite vislumbrar solução para
a moratória naquele país. Por outro lado, o apoio do Tesouro dos
Estados Unidos e a renovação de acordos Stand-by com Uruguai,
Paraguai e Brasil trouxeram maior alento à região, mas não foram
suficientes para restaurar inteiramente a confiança do mercado fi-
nanceiro internacional. Essa maior aversão global ao risco refletiuse
em piores condições de financiamento privado para os mercados
emergentes, dificultando inclusive a rolagem integral das linhas de
créditos comerciais para países como o Brasil.

120
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Entre os países emergentes asiáticos, embora o ritmo da ati- No que se refere ao déficit do comércio exterior, totalizou
vidade econômica tenha arrefecido, as projeções apontam para US$40,8 bilhões em junho, retrocedendo 2,2% no mês, mas ex-
crescimento do produto acima da média mundial. De fato, a firme pandindo 15,2% no segundo trimestre, em relação ao período ime-
expansão da demanda interna na região, associada à demanda ex- diatamente anterior. O crescimento do déficit comercial deve-se,
terna, sustenta taxas de crescimento mais vigorosas nessas econo- principalmente, à expansão das importações, superior à das expor-
mias, frente à desaceleração observada no resto do mundo. tações, desde o início do ano.
A produção industrial vem crescendo de forma lenta, mas contí-
Estados Unidos nua, desde o início do ano. Em julho, a produção expandiu-se 0,2%,
A revisão da série do PIB dirimiu as dúvidas restantes quanto desacelerando um pouco em relação a junho, quando aumentou
à ocorrência de recessão nos EUA no ano passado. Ademais, dados 0,7%. Refletindo esse crescimento continuado, a utilização da capa-
preliminares indicam que a economia norte-americana apresentou cidade vem aumentando mês a mês, alcançando 75,6% em julho.
forte desaceleração no segundo trimestre do ano corrente. Nessas Os ganhos de produtividade da economia norteamericana
condições, o temor de nova recessão ganhou força (double-dip), também foram reajustados para baixo, no período 1999-2001, as-
contribuindo para deteriorar ainda mais as expectativas de empre- sinalando-se que os resultados refletem não só as revisões perió-
sários e consumidores. dicas do PIB, efetuadas pelo BEA, como a revisão anual dos dados
Dados mais recentes mostram que a demanda de consumo do mercado de trabalho, pelo Bureau of Labor Statistics (BLS). A
continua em expansão, ainda que em ritmo lento, influenciada por produtividade do setor não-agrícola sofreu forte desaceleração no
fatores extraordinários, como o financiamento sem juros na compra segundo trimestre de 2002, aumentando 1,7% na série anualizada.
de automóveis. Os preços dos imóveis mantiveram-se em alta, mas No mesmo sentido, a produtividade do setor manufatureiro no se-
há o risco de que tal espiral reflita, na verdade, a realocação do gundo trimestre caiu à metade da taxa registrada no primeiro tri-
portfólio de ativos de risco para ativos reais, movimento caracterís- mestre. Todavia, o ganho anualizado de 4,3% no segundo trimestre
tico de ambientes de maior incerteza. é o melhor resultado do setor nos últimos vinte anos, quando utili-
zada a mesma base de comparação.
As bolsas de valores e o dólar apresentaram recuperação em As condições do mercado de trabalho mantiveram-se relativa-
agosto, compensando, em parte, as fortes baixas do ano, contri- mente inalteradas nos últimos meses. Assim, a taxa de desemprego
buindo para que o preço das ações e o valor efetivo do dólar si- do setor não-agrícola manteve-se estável em julho, em 5,9%, com
tuem-se em níveis bem acima dos padrões históricos. apenas seis mil novos postos de trabalho tendo sido ocupados no
Por outro lado, é ainda difícil antecipar em toda sua extensão mês. O número de horas trabalhadas na semana declinou, em julho,
e profundidade os efeitos negativos que o abalo da confiança nas para o nível mais reduzido, desde outubro do ano passado.
grandes corporações norte-americanas exercerá sobre as decisões Tendo em vista a evolução da demanda, a deterioração das
de investimento e seu financiamento. Nessas condições, aumentam condições do mercado financeiro, o clima de desconfiança em rela-
as preocupações quanto ao enorme déficit em conta-corrente dos ção às corporações e a menor robustez dos ganhos de produtivida-
Estados Unidos, cuja correção abrupta e não-coordenada faria de- de, o Federal Reserve decidiu manter a meta da taxa dos fed funds
sencadear pressões ainda mais intensas sobre o dólar. inalterada em 1,75% a.a. na última reunião, em 13 de agosto.
Assim, embora os indicadores econômicos e financeiros ain- Adicionalmente, foi adotado viés de baixa, de vez que os ris-
da emitam sinais parcialmente contraditórios, cresce a percepção cos de desaceleração econômica são agora percebidos como mais
entre investidores e analistas de que a economia norte-americana presentes. Essa interpretação está refletida no comportamento dos
dificilmente repetirá no futuro próximo as elevadas taxas de cres- preços, que, tanto no nível do produtor quanto no do consumidor,
cimento econômico e de produtividade assinaladas nos anos no- apresentam trajetórias estáveis.
venta.
De acordo com dados do PIB revisados pelo Bureau of Eco- Japão
nomic Analysis (BEA) para o período 1999-2001, o crescimento da No segundo trimestre de 2002, registrou-se percepção mais
economia norte-americana foi consideravelmente mais fraco que favorável quanto à evolução da economia japonesa, embora, no
o esperado na maior parte do ano 2000 e na primeira metade de âmbito interno, persistisse o cenário deflacionário, apesar da po-
2001. De fato, o PIB apresentou crescimento negativo nos três pri- lítica monetária fortemente expansionista, o consumo privado não
meiros trimestres de 2001, de -0,6%, -1,6% e -0,3%, nessa ordem, apresentasse sinais consistentes de recuperação e a taxa de desem-
na série anualizada, quando na série anterior a contração havia sido prego permanecesse em patamar elevado. No setor externo, a re-
restrita ao terceiro trimestre do ano. Além disso, o crescimento do cuperação das economias dos Estados Unidos e do leste asiático
primeiro trimestre de 2002 foi corrigido de 6,1% para 5%, enquanto reverteu a trajetória declinante da balança comercial, a despeito da
dados preliminares para o segundo trimestre do ano indicam de- apreciação do iene. A economia permanece fortemente dependen-
saceleração do crescimento para 1,1%, resultado do aumento das te da demanda externa e da implementação de reformas estrutu-
importações e da menor expansão do consumo. rais, especialmente a do setor bancário.
O ritmo de expansão das vendas no varejo arrefeceu levemen- As encomendas às fábricas estão estacionadas desde junho de
te, passando de 1,5%, em junho, para 1,2%, em julho, considerada 2001, muito embora seu núcleo, que exclui encomendas voláteis,
a série dessazonalizada. Excluídas as vendas de automóveis, a taxa tenha crescido durante todo o primeiro semestre de 2002. O início
de crescimento alcançou 0,2% em julho. de novas construções alcançou 102,2 mil unidades, em média, no
O número de construções de novas residências iniciadas em segundo trimestre, ante 86,3 mil no primeiro. O consumo privado
julho, a exemplo do registrado no mês anterior, recuou 2,7%, após permanece estável, devido ao continuado enfraquecimento da ren-
assinalar expansão de 11,2% em maio. No trimestre encerrado em da e às incertezas no mercado de trabalho.
julho, o início de construções cresceu 1,1%, ante o patamar de igual As exportações atingiram U$104,9 bilhões no segundo trimes-
período do ano passado. tre, crescendo 10,4% em relação ao primeiro trimestre e 3,4% re-
O déficit orçamentário no ano fiscal, que termina em setembro, lativamente a igual período de 2001. As importações alcançaram
aumentou para US$147,2 bilhões em julho. As previsões mais re- U$82,6 bilhões, expandindo 7,4% e decrescendo 7,1%, respectiva-
centes indicam déficit de 1,5% do PIB no presente ano fiscal. mente, nas mesmas bases de comparação.

121
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
A produção industrial cresceu de fevereiro a maio de 2002, im- Os saldos comerciais positivos prosseguiram em trajetória de
pulsionada sobretudo pela demanda externa por bens de capital. A expansão, a despeito da acentuada apreciação do euro em relação
taxa de desemprego alcançou 5,4% em junho, inalterada em rela- ao dólar. No segundo trimestre, essa evolução decorreu, principal-
ção a maio, mas próxima ao recorde de 5,5% do pósguerra. Ressal- mente, do crescimento das exportações, que se recuperaram após
te-se que a elevação do número de desempregados reflete também atingirem, em fevereiro, o valor mais baixo desde agosto de 2000.
o processo de reestruturação corporativa, que implicou dispensa de As importações vêm crescendo desde dezembro, embora ainda se
funcionários, como forma de redução de custos. mantenham abaixo do patamar observado no início de 2001. O
Em primeira estimativa, o Banco do Japão divulgou que o PIB superávit comercial alcançou US$7,9 bilhões em maio e US$10,2
cresceu 1,4%, ou 5,7% em termos anualizados, no primeiro trimes- bilhões em junho, resultado de exportações de US$82,6 bilhões e
tre de 2002, após três trimestres consecutivos de retração. O cresci- US$86,9 bilhões e de importações de US$74,7 bilhões e US$76,7
mento foi impulsionado, em grande medida, pelo desempenho das bilhões, nos meses de maio e junho, respectivamente.
exportações líquidas, responsáveis pela metade do resultado. Na A produção industrial prosseguiu apresentando variações
comparação com igual período do ano precedente, o PIB decresceu anuais negativas ao longo do segundo trimestre, assinalando de-
1,6%. Alegando crescimento insuficiente da demanda externa e bai- créscimos de 1,2% em maio e junho. Em termos mensais, a produ-
xo desempenho da demanda interna, o Banco Central do Japão re- ção industrial declinou 0,7% em abril, manteve-se estável em maio
visou suas expectativas de crescimento para os anos fiscais de 2002 e expandiu 0,5% em junho. As indicações provenientes do mercado
e 2003, de -0,1% para -0,3%, e de 1,6% para 0,8%, respectivamente. de trabalho também são desfavoráveis. A taxa de desemprego man-
As pressões deflacionárias permaneceram, com o Índice de tevese em 8,3% de maio a julho, após permanecer em 8,2% nos
Preços ao Consumidor (IPC) registrando, em junho, variação anual quatro primeiros meses do ano.
negativa pelo 33º mês consecutivo. O governo credita essa tendên- Em relação ao mesmo mês de 2001, a taxa registrou, em julho,
cia ao enfraquecimento da demanda, queda nos preços da terra e elevação em dez dos doze países da região.
concorrência de produtos importados. No mesmo sentido, o Índice O PIB da Área do Euro cresceu 0,6% no segundo trimestre,
de Preços no Atacado (IPA) vem registrando variação anual nega- comparativamente ao segundo trimestre de 2001, após elevar-se
tiva desde setembro de 2001. Para contrarrestar tal tendência, o 0,3% no primeiro trimestre, na mesma base de comparação. Por
governo vem exercendo política monetária fortemente expansio- setores da economia, os maiores aumentos ocorreram em serviços
nista, cuja meta de excesso de liquidez, representada pelo saldo financeiros e em outros serviços, 1,6% e 1,8%, respectivamente, e
na contacorrente do Banco Central, tem variado entre ¥10 trilhões as maiores contrações na construção e na indústria, 1,7% e 0,9%,
e ¥15 trilhões (US$83 bilhões e US$124 bilhões). Adicionalmente, seqüencialmente. A variação do PIB relativa ao trimestre anterior,
continuou comprando mensalmente ¥1 trilhão em títulos públicos ajustada sazonalmente e anualizada, alcançou 1,4%. O consumo
como forma de manter o mercado bancário líquido. privado, que correspondeu a 57% do PIB, subiu 0,3% no segundo
Em abril deste ano, o governo extinguiu a garantia do seguro- trimestre, enquanto a formação bruta de capital fixo, responsável
depósito para contas de poupança acima de ¥10 milhões, manten- por 21% do PIB, contraiu 2,9%, relativamente ao mesmo trimestre
do garantia ilimitada para depósitos em conta corrente, a vigorar de 2001.
até abril de 2003. Essa medida levou à expressiva saída de depó- O arrefecimento da inflação no segundo semestre permitiu que
sitos de poupança para conta-corrente, com o saldo das primeiras o Banco Central Europeu (BCE) mantivesse a taxa básica de juros
reduzindose de ¥145 trilhões para ¥93 trilhões. em 3,25% a.a., prevalecente desde novembro de 2001. O Índice de
A confiança empresarial medida pelo índice Tankan, que afere Preços ao Consumidor Harmonizado (IPCH), cuja variação anual se
as expectativas de curto prazo das grandes indústrias, alcançou -18 manteve acima de 2,5% no primeiro trimestre, mudou de patamar
pontos no segundo trimestre, ante -38 pontos no período anterior, nos últimos meses, registrando elevações de 2% em maio, 1,8% em
registrando a primeira variação positiva desde o segundo trimestre junho e 1,9% em julho. Se confirmada a contenção das pressões
de 2000. Embora o mesmo índice para as condições de oferta e de- inflacionárias que se manifestaram no início do ano, haverá espaço
manda tenha evoluído de -45 para -36, uma provável recuperação para que o BCE reduza a taxa de juros visando evitar desaceleração
nos lucros corporativos no segundo semestre ocorreria devido mais adicional do nível de atividade econômica.
a esforços de reestruturação e outros cortes de custos do que, pro- A frágil recuperação da economia ameaça comprometer as me-
vavelmente, pelo aumento nas vendas. tas fiscais de alguns países da Área do Euro, tendo em vista que o
déficit público anual deve se manter abaixo do limite de 3% do PIB,
Área do Euro conforme determinado pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento,
O ritmo de expansão da economia permanece próximo da es- firmado em 1997. Nesse sentido, a Alemanha, que no primeiro se-
tagnação, como atestam os desempenhos do PIB e de outros indica-
mestre apresentou déficit equivalente a 3,5% do PIB, possivelmente
dores de oferta e demanda. Produção industrial e vendas ao varejo
excederá o teto de 3% para o ano, haja vista os gastos adicionais
exibem desempenho frágil, ao mesmo tempo que se elevam as ta-
decorrentes dos efeitos das enchentes. Adicionalmente, a França
xas de desemprego. A incerteza quanto à recuperação da economia
enfrentará dificuldades para se manter abaixo do valor de referên-
americana, a insegurança frente ao risco de desemprego e a deteriora-
cia, em 2003, se o desempenho econômico permanecer debilitado,
ção dos preços de ativos de renda variável se traduzem em pessimismo
assim como a Itália, que pretende reduzir a carga tributária, no pró-
por parte de empresas e consumidores, como apontam os principais
ximo ano.
indicadores de confiança. A única sinalização positiva, quanto ao nível
de atividade, provém da balança comercial, cujos elevados superávits As expectativas do setor empresarial e dos consumidores, que
continuaram a se ampliar ao longo do segundo trimestre. vinham apresentando evolução positiva desde novembro de 2001,
De fato, a demanda interna tem se mostrado incapaz de sus- deterioraram-se a partir de maio, de acordo com indicadores de
tentar a retomada do crescimento. confiança da Área do Euro e das principais economias da região. O
As vendas ao varejo vinham exibindo comportamento irregular índice do Instituto de Pesquisas Econômicas (IFO), que afere expec-
desde o final de 2001, com variações anuais pequenas, embora po- tativas de negócios na Alemanha, recuou de 91,6 pontos em maio,
sitivas. Em junho, declinaram 0,9%, após elevações de 0,8% e 0,7% para 91,3 e 89,9 nos meses seguintes, alcançando 88,8 pontos em
em abril e maio, respectivamente. As variações mensais foram de agosto. Na Itália, indicador equivalente estimado pelo Istituto di
-1%, 0,3% e -0,5% em abril, maio e junho. Studi e Analisi Economica (Isae) declinou de 97,2 para 93,2 pontos

122
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
de maio para julho e na França, o índice do Institut National de la O ambiente de recuperação da atividade, sinalizando condi-
Statistique et des Études Économiques (Insee) passou de 101 para ções mais favoráveis para o desempenho da economia, foi confir-
98 pontos em igual período. O índice para a Área do Euro, calculado mado pelo Índice de Confiança do Consumidor (ICC), válido para o
pela Comissão Européia, registrou retração de -9 para -10. Compor- horizonte de seis meses, que se situou em 107,8 em julho, ante 98,4
tamento semelhante pode ser observado com relação aos indicado- no mês correspondente de 2001.
res de confiança do consumidor destes países. Entre esses, o índice
referente aos consumidores italianos registrou o maior declínio, de Rússia
119 para 113,3 pontos, de maio a julho, ao passo que o indicador A produção industrial russa aumentou 3,3% em julho em rela-
para a Alemanha subiu de 89 para 92 pontos no mesmo intervalo. ção a junho. A elevação na atividade industrial decorreu do cresci-
O índice da Comissão Européia recuou de -8 para -10. Economias mento na produção de combustíveis, metalurgia de não-ferrosos,
emergentes química e petroquímica, máquinas para uso industrial e alimenta-
ção. Como consequência, a taxa de desemprego situou-se em 7,7%,
China permanecendo estável pelo terceiro mês consecutivo, no patamar
No segundo trimestre de 2002, o PIB apresentou crescimento mais reduzido do ano.
anual de 8%. Essa expansão foi impulsionada pelas altas de 8,6% A inflação em doze meses, medida pelo IPC, alcançou 15% em
nas vendas no varejo e de 21,5% no investimento. julho, ante 14,7% no mês precedente. Esse crescimento refletiu, em
A atividade econômica no país continuou em ritmo elevado em parte, a tendência de alta nos preços ao produtor observada desde
julho, alavancada pela expansão das exportações, que se beneficia- abril, visto que, desse mês até julho, a inflação anual no âmbito do
ram do bom desempenho das vendas ao exterior de produtos elé- produtor deslocou-se de 6,8% para 11,4%.
tricos e eletrônicos, e do investimento, impulsionado pelos maiores Em relação ao comércio exterior, as exportações totalizaram
gastos na construção de edifícios, reflexo da adoção de pacote de US$8,2 bilhões e as importações, US$4,8 bilhões, em julho. A con-
estímulos fiscais desde o início de 2002. Em relação ao mês anterior, tinuidade de saldos mensais positivos ao longo do ano resultou
o crescimento com ajuste sazonal desses componentes do gasto em superávit acumulado de US$21 bilhões no primeiro semestre
agregado atingiu 5,3% e 1,9%, respectivamente. Em comparação ao de 2002. O superávit acumulado em doze meses até junho atingiu
mês correspondente em 2001, as exportações expandiram 28,1% e US$42,4 bilhões, 2,5% abaixo do superávit acumulado até maio.
o investimento, 22,9%. Ao final de julho, as reservas internacionais atingiram US$43,3
Ainda em julho, as vendas no varejo mantiveram-se em nível bilhões, ante US$43,6 bilhões no mês anterior e US$36,5 bilhões ao
elevado, sustentadas pelas despesas com alimentação, registrando final de julho de 2001. O aumento paulatino do nível de reservas
crescimento mensal de 0,8%, com ajuste sazonal. Na comparação externas tem contribuído para a estabilidade da moeda doméstica
com igual mês do ano anterior, as vendas expandiram 8,6%. O IPC no patamar de 30 rublos por dólar, ao longo do ano. Ainda em julho,
apresentou variação negativa de 0,1% em julho, evidenciando me- a taxa interbancária de juros elevou-se para 13,4% a.a., ante 6,4%
nores preços da alimentação e relativa estabilidade do segmento de a.a., em junho, e 5,2% a.a., em maio, voltando a aproximar-se da
produtos não alimentícios. taxa assinalada em fevereiro.
Considerando a variação em 12 meses, o IPC registrou variação
igualmente negativa, de 0,9%. Turquia
A aprovação pelo Parlamento de reformas necessárias para o
Coréia do Sul início de negociações visando o ingresso do país na União Européia
No segundo trimestre de 2002, o PIB a preços constantes apre- (UE), a contenção da inflação e o sólido desempenho fiscal foram
sentou crescimento de 7,8%, em relação ao trimestre anterior, re- determinantes para o restabelecimento da confiança, face as incer-
cuperando, em parte, a contração de 10,2% assinalada no primeiro tezas de ordem política associadas às eleições de novembro.
trimestre do ano, comparativamente ao último trimestre do ano an- Esse quadro foi corroborado com a aprovação, pelo FMI, da ter-
terior. Em relação a igual trimestre de 2001, o PIB real expandiu-se ceira revisão do acordo assinado em fevereiro, o que possibilitou
6,3%. A recuperação da atividade econômica decorreu da intensi- desembolso adicional de US$1,15 bilhão.
ficação na produção industrial, que cresceu 8,1% no segundo tri- O arrefecimento da inflação contribuiu para a continuada redu-
mestre do ano, comparativamente ao período anterior, sustentada, ção da taxa de juros overnight, que foi fixada em 46% a.a. no início
principalmente, pelo desempenho das exportações, que expandi- de agosto. O banco central reduziu a taxa em seis ocasiões, desde
ram 12,9% no período. Considerada a mesma base de comparação, o início do ano, acumulando contração de 13 p.p. A variação anual
a formação bruta de capital fixo elevou-se 12,4% e a atividade de do índice de preços ao consumidor, que havia alcançado 52,7% em
construção, 25,1%. abril, declinou para 42,6% em junho, 41,3% em julho e 40,2% em
A produção industrial dessazonalizada elevou-se 1,9% em ju- agosto, sugerindo o cumprimento da meta para a inflação, de 35%,
lho, em comparação ao mês anterior, e 8,9% frente ao mesmo mês para 2002.
de 2001, contribuindo para que a taxa de desemprego totalizasse O PIB cresceu 2,3% no primeiro trimestre, em relação ao mes-
2,7%, mesmo patamar de junho, ante 3,4% em julho de 2001. mo trimestre de 2001. Na mesma base de comparação, estimati-
No mesmo mês, a inflação anual, medida pelo IPC, alcançou vas apontam crescimento superior a 7% no segundo trimestre,
2,1%, ante 2,6% de junho. As variações, igualmente anuais, de 0,9% sustentado sobretudo pela indústria e pelo comércio. A produção
nos preços ao produtor e de -7,2% nos preços de importação contri- industrial vem se desacelerando desde março, embora prossiga
buíram em grande parte para a desaceleração do IPC. A taxa básica mantendo elevações significativas. Após crescer 19,2% em março,
de juros foi definida pelo Banco Central da Coréia do Sul em 4,27% a variação anual reduziu-se para 14,6% e 11% nos meses seguintes,
a.a., ante 4,35% a.a. em junho, tendo como referência o ambien- situando-se em 6,6% em junho.
te econômico caracterizado pela expansão da produção industrial, A dívida pública registrou declínio de 6,1% em termos reais nos
recuperação do investimento, menor variação de preços e perspec- sete primeiros meses do ano, declinando de US$84,4 bilhões para
tivas de fortalecimento do won frente ao dólar, que deverão amor- US$77,2 bilhões. Essa evolução permitiu que a meta de superávit
tecer pressões inflacionárias pelo lado da demanda. primário no primeiro semestre fosse superada em 0,4% do PIB. A
meta para 2002 é de 6,5% do PIB.

123
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
A balança comercial acumulou resultados negativos desde Tendo em vista a deterioração do ambiente econômico interno
março, tendo registrado déficit de US$5,6 bilhões no primeiro se- e externo, Uruguai, Paraguai e Brasil firmaram novos acordos Stan-
mestre. Em junho, o déficit recuou para US$1,1 bilhão, ante US$1,3 dby com o FMI.
bilhão em maio, resultado de US$2,6 bilhões de exportações e de No caso uruguaio, o aprofundamento da crise bancária fez
US$3,7 bilhões de importações. com que os depósitos bancários passassem de U$13,6 bilhões no
início do ano para U$8 bilhões no fim de julho. Os depósitos de
América Latina não residentes declinaram 60% e os de residentes, 35%, compara-
A desaceleração da atividade econômica mundial, cujo cresci- tivamente ao início de 2002. A redução dos depósitos no sistema
mento declinou de 4,7% em 2000 para 2,2% em 2001, refletiu-se bancário determinou brusca queda das reservas internacionais, que
negativamente no desempenho das economias latino-americanas, registraram U$655 milhões no fim de julho, comparativamente a
traduzido em expansão lenta do PIB, em cenário de redução dos U$1,47 bilhão, no fim de junho, e a U$3,1 bilhões, no final de 2001.
fluxos de capitais internacionais. Nesse cenário, o governo recorreu ao FMI e a agências multilate-
As projeções de crescimento econômico para a América Latina rais, obtendo recursos da ordem de US$3,9 bilhões, dos quais U$2,8
e Caribe em 2002 sofreram revisões para baixo. O FMI prevê de- bilhões originários do FMI, U$0,3 bilhão, do Banco Mundial (Bird), e
clínio do produto regional de 0,4%, após crescimento de 0,7% em U$0,8 bilhão, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
2001. O Paraguai, seriamente afetado pela retração do comércio com
O resultado é fortemente influenciado pelo colapso da ativi- os parceiros do Mercado Comum do Sul (Mercosul), teve aprovado
dade produtiva na Argentina e suas repercussões regionais. Além acordo Stand-by com o FMI no valor de US$200 milhões. No que
da Argentina, projeta-se queda do produto no Paraguai, Uruguai e se refere às negociações da Argentina com o FMI, em agosto, o go-
Venezuela. Os países de maior importância econômica relativa na verno argentino enviou esboço de carta de intenções ao Fundo es-
região, México e Brasil, crescerão ao redor de 1,5%, assim como a tabelecendo projeções de variáveis macroeconômicas para 2002 e
Colômbia. Para o Chile, o crescimento previsto é de 2,6%. No en- diretrizes do governo para a reestruturação do setor bancário.
tanto, essas perspectivas dependem muito dos desdobramentos Entretanto, observa-se entraves à assinatura de um acordo no
nas principais economias desenvolvidas. Na maioria dos países da curto prazo. No entanto, no início de setembro, o FMI adiou, em um
região, as possibilidades de adoção de uma política macroeconômi- ano, o pagamento de uma dívida de US$2,78 bilhões do país com
ca anticíclica são limitadas, seja pela necessidade de financiamento o organismo.
externo, seja pela existência de desequilíbrios fiscais, que impedem
a adoção de políticas fiscais expansionistas. Petróleo
Apesar do menor dinamismo no comércio internacional, a re- A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), em
gião deverá apresentar superávit na sua balança comercial, fruto de reunião ordinária de 26 de junho, em Viena, tendo revisto a situa-
maiores esforços de diversos países em ganhar novos mercados e ção do mercado de petróleo, bem como as perspectivas de oferta e
de desvalorizações das moedas locais. demanda do produto para o segundo semestre de 2002, observou
Segundo projeções do FMI, o saldo positivo atingirá US$9,9 bi- que as medidas de redução adotadas durante 2001 e 2002, apoia-
lhões, resultado de crescimento nas exportações de bens e redução das por medidas de alguns produtores não pertencentes a essa or-
das importações. Conseqüentemente, reduz-se o déficit em conta ganização na primeira metade de 2002, restabeleceram o relativo
corrente. As exportações e importações do México, maior impor- equilíbrio do mercado. Contudo, observou-se que a relativa tensão
tador e exportador da América Latina, cresceram, em julho, 8,7% e nos preços correntes do mercado é resultante, fundamentalmente,
7,9%, respectivamente, ante julho de 2001, totalizando US$14 bi- da situação política vigente.
lhões e US$14,6 bilhões. Nesse contexto, e considerando, adicionalmente, as dúvidas
Associada à flexibilização dos regimes cambiais e à adoção de quanto à recuperação econômica mundial, o crescimento modesto
políticas monetárias baseadas em metas para a inflação, as políti- da demanda e os confortáveis níveis de estoque de petróleo ora
cas macroeconômicas nacionais têm-se mostrado mais eficientes existentes, a Opep decidiu manter os níveis acordados de produção,
em vários países, desde a segunda metade dos anos noventa. Em em 21,7 milhões de barris por dia (mbd), até o final de setembro.
contrapartida, dificuldades de ordem interna ou externa não deter- No segundo trimestre de 2002, a demanda global de petróleo,
minaram aumento generalizado dos preços, conforme observado
segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), alcançou 75,41
em 2001, quando a taxa média de inflação ao consumidor na re-
mbd, ante 76,65 mbd, no primeiro trimestre, devido principalmen-
gião alcançou 6,1%. Para 2002, espera-se a elevação dessa taxa, em
te à redução ocorrida nos países da Organização para Cooperação e
função da aceleração do nível de preços na Argentina, Uruguai e
Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em particular para os
Venezuela. Nos demais países persiste a taxa moderada assinalada
Estados Unidos, a recuperação na demanda de petróleo parece
nos últimos anos.
estar ganhando momentum. Dados preliminares sugerem recupe-
A crise de governança corporativa nos Estados Unidos, asso-
ração em maio e junho, embora para o segundo trimestre o com-
ciada às incertezas das economias latino-americanas, em especial
as do Cone Sul, a partir do segundo trimestre de 2002, fizeram rea- portamento seja de estabilidade.
parecer o movimento de fuga para qualidade (flight to quality) pre- Ainda de acordo com a AIE, a demanda global para o terceiro
dominante em 2001. Em diversos países da região, a superposição trimestre está estimada em 76,28 mbd e para o quarto trimestre,
de tensões políticas domésticas às incertezas associadas aos funda- em 78,18 mbd, mostrando expansão em ambos os períodos, devi-
mentos macroeconômicos gerou aumento da percepção de risco do, principalmente, ao aumento da procura nos países da OCDE.
por parte do mercado financeiro internacional. Estimativas preliminares indicam produção média para julho
A conjuntura internacional adversa foi particularmente agrava- de 76,5 mbd, representando aumento de 780 mil barris por dia em
da pelas preocupações dos investidores com a situação da Argenti- relação a junho, ocasionada, em parte, pelo aumento da produção
na e o receio de contágio para outros países da região, que acabou da Opep.
atingindo, principalmente, Uruguai e Paraguai. O Brasil, afetado O preço do petróleo tipo Brent no mercado à vista, final de
pela crise argentina, passou também a sofrer crescente pressão à período, aumentou de US$25,45/barril, em junho, para US$25,57/
medida que incertezas associadas à futura política econômica eram barril, em julho, e US$27,01/barril, em agosto. O declínio nos es-
agravadas pelo aumento generalizado da aversão global ao risco. toques brutos dos Estados Unidos nos últimos meses e a ameaça

124
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
de guerra deste país contra o Iraque acarretaram pressão para o Como condição para receber ajuda econômica, medidas de
aumento dos preços, compensada, em parte, pela elevação da pro- austeridade são adotadas pelos países em crise. O objetivo é o cum-
dução de petróleo pelos países da Opep. primento de metas orçamentárias e de limite de endividamento es-
No mercado futuro, as cotações do petróleo tipo Brent mos- tabelecidos pela União Europeia. Incluem privatizações, redução do
traram-se decrescentes para prazos subseqüentes de entrega, ne- serviço público, corte de direitos sociais, congelamento de salários
gociados em mesma data. Para os contratos negociados no final e aumento de impostos, entre outras medidas. Tem como efeito
de agosto, os níveis de preços superaram os registrados em meses direto o aumento do desemprego, a redução do poder aquisitivo da
anteriores. população e a desaceleração da economia, provocando protestos
populares que enfraqueceram ou derrubaram governos.
Confirma-se a redução no ritmo de crescimento da economia A prolongada estagnação econômica e o alto desemprego es-
mundial. tão causando um terremoto político no continente, porque os elei-
A retomada da economia norte-americana, variável chave para tores, desiludidos com os partidos tradicionais, estão transferindo o
determinar a trajetória da economia internacional, mostrou-se in- seu apoio para legendas mais radicais, tanto de esquerda, como de
suficiente para reverter o fraco dinamismo da atividade econômica direita. A principal bandeira da esquerda é o fim da austeridade, en-
das principais economias mundiais. Por conseguinte, o crescimento quanto a extrema direita combate a imigração e o projeto da União
do comércio mundial será relativamente limitado, pela permanên- Europeia. Os países com o maior avanço dos partidos extremistas
cia do quadro recessivo no Japão, com repercussão nos países asiá- de direita são a Áustria, França, Reino Unido, Hungria, Alemanha,
ticos, muito embora estes mantenham maior ritmo de crescimento, Itália e Grécia. O “Podemos”, da extrema esquerda já é a terceira
e por um ritmo de crescimento bastante reduzido na Europa. força política da Espanha. Na Grécia, a esquerda contra a austerida-
Ao recrudescimento das dificuldades externas inerentes às de assumiu o governo no início de 2015.
economias emergentes, em especial às da América Latina, como a
questão do efeito-contágio, veio se somar o agravamento da perda Recuperação a passos lentos
de dinamismo da economia mundial e a redução do volume global A economia global agora avança devagar, e aos trancos e bar-
de financiamento em direção a estes países. Neste último caso, a rancos. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que, pelo
combinação de riscos e incertezas gerou aumento desproporcional menos até 2016, o ritmo de crescimento do PIB mundial não avance
da percepção de risco, refletido no patamar de risco país, exacer- além dos 3,5% ao ano – e com riscos de retrocesso. Compare: nos
bando a contração de fluxos de capital. anos anteriores à crise, a média de crescimento do PIB mundial es-
Ainda que no mercado financeiro globalizado as economias tava entre 4% e 5% ao ano.
mostrem estreito grau de interdependência, principalmente nas A recuperação depende de fatores como o preço das matérias-
-primas básicas (commodities), como o ferro e os produtos agrope-
economias emergentes, a superação da atual crise será determina-
cuários, que têm preço internacional negociado em bolsas de valo-
da pela dinâmica da economia mundial e pela capacidade das eco-
res mundiais. Isso significa que o comércio da soja, do minério de
nomias, em especial as latino-americanas, em adotar as reformas
ferro ou do trigo tende a ser feito pelo mesmo preço em qualquer
econômicas necessárias de modo a criar o ambiente de estabilidade
parte do mundo, já que o mercado é articulado.
competitiva, favorável ao investimento e exportações, a fim de re-
Segundo a OMC, entre 2000 e 2012, as matérias-primas básicas
duzir o grau de vulnerabilidade externa, elevado na maioria delas.
duplicaram de preço, em parte devido à maior demanda dos países
Diante deste contexto de incerteza, um novo conflito no Orien-
emergentes.
te Médio poderá alterar radicalmente o cenário para a economia Mas a economia dos emergentes está freando. E as commodi-
mundial, a começar por nova escalada nos preços internacionais ties começaram a cair de preço. O preço do barril de petróleo, por
do petróleo. Dessa forma, a volatilidade no mercado de petróleo exemplo, que chegou a mais de 100 dólares no final de 2014, caiu
deverá ser intensa nos próximos meses, afetando negativamente a para menos de 30 dólares no início de 2016.
economia mundial no restante do ano. Essa queda beneficia os países que importam, como os Estados
Unidos, mas é ruim para os exportadores, como a Rússia.
Cenário Econômico Atual A economia mundial está sujeita, também, a oscilações sociais,
A atual crise econômica mundial iniciou em setembro de 2008, ambientais e geopolíticas. O envelhecimento da população, com a
com o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos. Sua origem diminuição do contingente de jovens, reduz a capacidade de traba-
foi o farto crédito imobiliário oferecido nos anos anteriores. Com as lho de diversas nações, ao mesmo tempo que aumentam as despe-
taxas de juros norteamericanas num patamar muito baixo, os ban- sas dos governos com aposentadorias e pensões.
cos fizeram empréstimos de longo prazo a clientes sem boa avalia- Regiões atingidas por desastres naturais, como terremotos e
ção como pagadores – chamados de subprime. tsunamis, param de produzir e exigem dos governos gastos em pa-
O crédito fácil intensificou a procura por imóveis, que tiveram cotes de ajuda. As mudanças climáticas, com grandes períodos de seca
os preços elevados. Mais tarde, o governo norte-americano subiu ou inundações, afetam a produção agropecuária. O esgotamento de
os juros para combater a inflação. Com isso, as prestações dos fi- recursos naturais, como a água, encarece a vida em algumas regiões
nanciamentos ficaram mais caras e muitos compradores pararam do planeta. E epidemias e pandemias reduzem a produtividade de uma
de pagar. população e aumentam as despesas em saúde pública.
Os imóveis (garantias dos empréstimos) foram retomados pe- Do ponto de vista geopolítico, os maiores riscos vêm de guerras
los bancos, que os colocavam à venda para cobrir os empréstimos e conflitos. As sanções econômicas impostas a países beligerantes,
não pagos. O aumento da oferta fez os preços dos imóveis caírem. como ocorre com Ucrânia e Rússia, têm impacto no comércio inter-
Mesmo com a venda, os bancos não conseguiam recuperar o prejuí- nacional.
zo. A quebra do banco Lehman Brothers, marco da crise, provocou
um efeito dominó no mercado financeiro mundial. Estados Unidos
A crise econômica atingiu duramente a União Europeia. Afetou A economia norte-americana vem se recuperando da crise eco-
com maior intensidade os países da zona do euro, com elevada dívi- nômica de 2008. O desemprego caiu para taxas baixas, o PIB está
da pública. O país mais atingido foi a Grécia. Outros países bastante crescendo e a produção industrial se recupera. O dólar, moeda dos
afetados foram: Portugal, Irlanda, Itália, Espanha e Chipre. EUA, valorizou-se perante as principais moedas globais.

125
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Contribui para a recuperação econômica o aumento na produ- Essas empresas usam o seu poder para garantir que tanto a le-
ção de petróleo e gás, com a consequente diminuição das importa- gislação quanto a elaboração de políticas nacionais e internacionais
ções. Os Estados sejam feitas sob medida para proteger seus interesses, melhorar
Unidos voltaram a ser o maior produtor mundial de petróleo. sua rentabilidade e minimizar o pagamento de impostos. É um tipo
O aumento da produção se deve ao desenvolvimento de uma nova de “capitalismo clientelista e de curto prazo” que coloca em desvan-
tecnologia para a extração do óleo e do gás na rocha de xisto, a tagem as pequenas e médias empresas, incapazes de fazer frente às
preços competitivos. grandes corporações.
Em dezembro, o Federal Reserve, banco central dos Estados Entre as estratégias para pagar o mínimo de imposto possível,
Unidos, subiu a faixa para sua taxa de juros em 0,25 ponto percen- o relatório cita o uso de paraísos fiscais, prática que provoca prejuí-
tual, para entre 0,25% e 0,50% ao ano. Esta é a primeira alta do zos anuais de ao menos 100 bilhões de dólares para os países em
preço do dinheiro, desde 2006. A taxa de referência estava entre desenvolvimento.
zero e 0,25% ao ano. Em comunicado, a diretora-executiva da Oxfam Internacional,
Winnie Byanyima, afirmou que, “quando uma em cada dez pessoas
Emergentes no mundo sobrevive com menos de US$ 2 por dia, a imensa riqueza
As economias emergentes – incluindo os Brics (Brasil, Rússia, que acumulam apenas alguns poucos é obscena”.
Índia, China e África do Sul) – entraram numa nova fase: continuam “A desigualdade está prendendo centenas de milhões de pes-
crescendo, mas não com o mesmo fôlego. O alto preço das com- soas na pobreza; está fraturando nossas sociedades e minando a
modities no mercado internacional alavancou um crescimento rá- democracia”, afirmou. Byanyima acrescentou ainda que ao mesmo
pido dos emergentes na primeira década do século XXI. Além de tempo que muitos salários se encontram estagnados, as remune-
apresentarem taxas significativas de crescimento, essas economias rações dos presidentes e altos diretores de grandes empresas têm
passaram bem pelos problemas criados pela crise em 2009 e 2010. disparado. “Os investimentos em saúde e educação são cortados,
No entanto a crise global terminou por afetar a todos por causa enquanto as corporações e os super-ricos reduzem ao mínimo sua
da queda no comércio internacional. O terremoto que atingiu os contribuição fiscal”.
mercados financeiros levou à redução dos investimentos nos emer- O ritmo no qual os mais ricos acumulam cada vez mais riqueza
gentes. Hoje, o crescimento médio do PIB dessas economias está poderia dar lugar ao primeiro “trilionário” do mundo em apenas 25
três pontos percentuais abaixo do registrado em 2010. São três os anos. “Com essa concentração de riqueza, esta pessoa necessitaria
principais fatores que refreiam o crescimento dos emergentes: esbanjar um milhão de dólares por dia durante 2.738 anos para gas-
• a queda no preço do petróleo e outras commodities; tar toda sua fortuna”, segundo a Oxfam.
• o recuo no comércio internacional; As mulheres sofrem maiores níveis de discriminação no traba-
• os gargalos de infraestrutura internos. lho e assumem a maior parte das funções não remuneradas. No
ritmo atual, levará 170 anos para se conseguir a igualdade salarial
Esses três fatores afetam principalmente a China. A redução no entre homens e mulheres.
ritmo de crescimento chinês, de 10% para cerca de 7% nos próxi- Entre 1988 e 2011, a renda dos 10% mais pobres da população
mos anos, não é preocupante, pois se mantém uma expansão forte. mundial aumentou em média US$ 3 por ano, enquanto a do 1%
No entanto, essa desaceleração afeta os países da Ásia e os demais mais rico cresceu 182 vezes mais, a um ritmo de US$ 11.800 por
emergentes, como o Brasil, exportadores de matéria-prima para a ano. Em outro relatório, em 2016, a Oxfam já havia dito que o 1%
indústria chinesa.
mais rico da humanidade tinha uma renda maior que o resto dos
99% do mundo.
Concentração Global da Riqueza
Para a ONG, o modelo econômico atual é baseado numa série
O crescimento econômico só está beneficiando aqueles que
de falsas premissas, entre as quais está a ideia de que a riqueza
têm mais. A superconcentração da riqueza está aumentando e
individual extrema não é prejudicial, mas um sintoma de sucesso,
ameaçando a estabilidade e o crescimento global. Estudo divulgado
ou que o crescimento do PIB deve ser o principal objetivo da ela-
pela organização não governamental britânica Oxfam, demonstra
boração das políticas. As premissas equivocadas incluem acreditar
que apenas oito pessoas são detentoras de uma riqueza equiva-
lente ao acúmulo total da metade menos favorecida do mundo, ou que os recursos do planeta são ilimitados ou que o atual modelo
seja, 3,6 bilhões de indivíduos. econômico é neutro do ponto de vista do gênero.
Segundo o documento, intitulado “Uma economia a serviço A organização adverte que, se tais pressupostos não forem re-
dos 99%”, seis dos indivíduos mais ricos do mundo são dos Estados vistos, será impossível reverter a situação e defende a construção
Unidos, um é da Espanha e um é do México. Todos são empresários de uma “economia mais humana” que beneficie o conjunto da po-
e homens. São eles: Bill Gates, da Microsoft; Amancio Ortega, da pulação. Esse novo sistema deveria se basear na cooperação entre
Inditex (Zara); Warren Buffett, maior acionista da Berkshire Hatha- os Governos, privilegiar a utilização de energias renováveis, acabar
way; Carlos Slim, proprietário do Grupo Carso; Jeff Bezos, da Ama- com a extrema concentração da riqueza e apoiar homens e mulhe-
zon; Mark Zuckerberg, do Facebook; Larry Ellison, da Oracle; e Mi- res.
chael Bloomberg, da agência de informação de economia e finanças Propõe-se que os governos aumentem os impostos tanto das
Bloomberg. grandes fortunas como das rendas mais altas; que cooperem para
A organização atribui a responsabilidade por essa situação, que garantir que os trabalhadores recebam salários dignos e que freiem
qualifica de “extrema, insustentável e injusta”, ao atual modelo eco- a evasão e as artimanhas fiscais para reduzir ao mínimo o imposto
nômico, “a serviço do 1% mais rico da população”. das grandes corporações empresariais.
A Oxfam aponta especialmente as grandes empresas, acusadas Além disso, recomenda que os governos apoiem as empresas
de estarem “a serviço dos mais ricos” e de se guiarem por um úni- que operam em benefício de seus trabalhadores e da sociedade e
co objetivo: maximizar a rentabilidade de acionistas e investidores. não só no interesse dos acionistas; e que assegurem que as econo-
Em 2015, as dez maiores empresas do mundo obtiveram um fatura- mias sirvam de maneira equitativa a mulheres e homens.
mento superior à receita total dos Governos de 180 países. No en-
tanto, esse crescimento não foi distribuído entre todas as camadas
da sociedade.

126
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Brasil Antes da crise econômica mundial, crescia à taxa de 10% ou
No Brasil, a desigualdade é elevada, mas já foi maior. Entre mais ao ano.
2004 e 2014, o índice de Gini calculado pelo Instituto Brasileiro de Um menor crescimento chinês afeta o ritmo da atividade eco-
Geografia e Estatística (IBGE) para os rendimentos de trabalho caiu nômica no mundo, principalmente dos exportadores de commodi-
de 0,545 para 0,490 – quanto mais próximo de zero, menor a desi- ties como o Brasil.
gualdade. Em termos de rendimentos totais, a queda foi de 0,501 A China decretou o fim da política do filho único, permitindo
para 0,497. Ambas as quedas se devem à elevação na renda das que agora cada casal tenha até dois filhos. A política do filho úni-
camadas mais pobres da população. No entanto, a concentração de co entrou em vigor entre o fim de 1979 e 1980. O objetivo era de
renda ainda é muito grande, inclusive entre os mais ricos. reduzir os problemas de superpopulação da China. Segundo espe-
Segundo a Receita Federal, 8,4% da população se apropria de cialistas, as medidas serviram para evitar que a população atual do
59,4% das riquezas nacionais. E os 0,1% mais ricos detêm 6% do to- país fosse de 1,7 bilhão de habitantes, contra os atuais 1,3 bilhões.
tal de riqueza e renda declaradas. Ou seja, 6% de todo o patrimônio e O governo chinês sempre defendeu que a restrição ao número
renda declarados no Brasil estão nas mãos de apenas 26,7 mil contri- de filhos, sobretudo em áreas urbanas, contribuiu para o desenvol-
buintes. Essa camada no topo da pirâmide da desigualdade tem rendi- vimento do país e para a saída da pobreza de mais de 400 milhões
mento total médio da ordem de 5,8 bilhões de reais ao ano. nas últimas três décadas. No entanto, também admitiu que estava
O principal indicador usado para medir a concentração de ren- chegando a hora de essa política ser encerrada.
da na população de um país ou uma região é o índice (ou coeficien- O envelhecimento rápido da população está entre os efeitos
te) de Gini. É uma régua que mostra o desvio na distribuição da secundários mais prejudiciais da política do filho único para a China.
riqueza, numa escala de 0 a 1. Quanto mais próximo de zero, menor Em 2012, pela primeira vez em décadas, a população em idade ativa
a desigualdade. caiu. O índice de fecundação no país, de 1,5 filhos por mulher, é
O índice pode ser calculado sobre diferentes parâmetros – ren- muito inferior ao nível que garante a renovação geracional.
da familiar, renda per capita ou renda vinda apenas do trabalho. A poluição atmosférica é um gravíssimo problema nas metró-
Segundo os dados do Banco Mundial, de 2013, os cinco países com poles chinesas. É comum o uso de máscaras para se protegerem da
os mais baixos índices de desigualdade são Suécia (0,250), Ucrâ- névoa de poluição.
nia (0,256), Noruega (0,258), Eslováquia (0,260) e Belarus (0,265). O país disputa com o Japão a posse das ilhas de Senkaku, para
O Brasil figura na lista do Banco Mundial (que realiza um cálculo os japoneses, ou Diaoyu, para os chineses, localizadas no Mar da
diferente do IBGE) com o índice de Gini de 0,547. Trata-se de um China Oriental.
dos mais elevados níveis de desigualdade do mundo – na compara- Já as reivindicações de Pequim no Mar do Sul da China a co-
ção com os vizinhos sul-americanos, o indicador é maior que o da locam em rota de colisão com seus vizinhos no Sudeste Asiático –
Argentina (0,445) e do Uruguai (0,453). além da China, Vietnã, Filipinas, Brunei, Taiwan e Malásia disputam
a soberania nessa região. O Mar do Sul da China é fundamental para
China a indústria da pesca, rica em reservas de petróleo e estratégica para
A civilização chinesa tem mais de quatro mil anos. Após um lon- o transporte marítimo.
go período imperial e uma breve república, uma revolução liderada Mesmo com a indefinição das fronteiras, a China ampliou a
pelo Partido Comunista Chinês (PCCh), de Mao Tsé-tung, deu ori- ofensiva para consolidar a ocupação da área em 2014, ao construir
gem à República Popular da China, em 1949. O país foi reorganizado ilhas artificiais em Spratly e instalar plataformas para a exploração
nos moldes comunistas. de petróleo na região. Essa iniciativa chinesa é vista como uma for-
Com a morte de Mao, em 1976, a China implementou um mo- ma de impor sua hegemonia no Sudeste Asiático.
delo, ainda vigente, chamado por seus dirigentes de socialismo de Mas em julho deste ano, atendendo a uma reclamação das Fi-
mercado. Trata-se de uma combinação de características do socia- lipinas, a Corte Permanente de Arbitragem decidiu que a China não
lismo (no qual as empresas e a terra são propriedade do Estado) tem “direitos históricos” sobre o Mar do Sul da China. O governo de
com aspectos do capitalismo (a presença de empresas privadas, so- Pequim disse que não irá acatar a decisão.
bretudo multinacionais, em algumas áreas do país).
No final da década de 1970, o país começou a abrir parte de
sua produção para as multinacionais, com a criação de Zonas Eco- PANORAMA DA ECONOMIA BRASILEIRA
nômicas Especiais. Os investimentos estrangeiros e a abundância de
mão de obra mal remunerada alavancaram as exportações, pois os
produtos são baratos. Em três décadas, a China deixou de ser um O pau-brasil foi a primeira riqueza a ser explorada, porém essa
país pobre e agrário e tornou-se uma potência econômica. O país exploração não era lucrativa e por isso, Portugal resolve colonizar
é a segunda maior economia do mundo, respondendo por mais de o Brasil. Foi implantado o sistema de capitanias hereditárias, onde
10% do PIB mundial, atrás apenas dos Estados Unidos. a nobreza portuguesa recebia posse da capitania e era obrigada a
Apesar do vertiginoso crescimento econômico, o país convive explorá-la.
com problemas que causam instabilidade ao atual modelo políti- Com isso a agricultura passa a ser a atividade econômica (cana
co-econômico: significativa desigualdade social, corrupção, degra- de açúcar). No século XVII, houve grande desenvolvimento na agri-
dação ambiental e crescente descontentamento popular. A China é cultura e por isso foi criado o primeiro tipo de sociedade colonial. A
o principal parceiro comercial e destino das exportações do Brasil. pecuária se estendeu e o povoamento começou a surgir.
A China é uma ditadura que reprime a liberdade de expressão e Com a demanda do açúcar, começaram a surgir as bandeiras
viola os direitos humanos. No entanto, há uma resistência interna, e indígenas que acabaram despovoando o interior.
diversos dissidentes desafiam o regime. Com a revolução industrial na Europa, o estado passou a não
O crescimento econômico da China está desacelerando e há interferir na economia e o trabalho do homem foi valorizado. No
temores sobre as consequências da transição para um ritmo mais século XIX, houve uma séria queda na agricultura da cana, tabaco e
lento e sustentável. A diminuição do crescimento do PIB vem ao algodão pois não tinham os mesmos rendimentos anteriores, a pe-
encontro da mudança proposta pela China. O país passa por um cuária e a mineração também regrediram e a indústria não progre-
ambicioso processo de transição: quer depender menos das expor- dia. Mas com a abertura dos portos, o Brasil passou a comercializar
tações e da indústria, e mais dos serviços e do consumo interno. com outros países e implantou novas indústrias.

127
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Na época do império, a cafeicultura era a principal atividade A industrialização da economia tinha um importante papel na
econômica, e logo após vinha, a cana, algodão, etc. No século XIX mudança de costume dos brasileiros. Jânio toma posse e encontra
o café chega ao Vale do Paraíba. As condições climáticas e da terra um país em crise deixado por JK.
eram favoráveis o que ajudou a tornar o café ainda mais importan- Porém Jânio renuncia e João Goulart assume. O crescimento
te economicamente. Mas o esgotamento das terras, abolição, altos da indústria e do PIB desabam e os investimentos sofrem uma vio-
preços, fizeram com que a cafeicultura no Vale decaísse. lenta queda. As forças armadas derrubam Goulart e Castelo Branco
Por causa da abolição do tráfico, o capital foi investido na in- assume, tornando as eleições indiretas e dividindo os partidos em
dústria e por isso de 1850 à 1864, houve inflação e crise financeira. dois (Arena e MDB).
Em 1889, acontece o golpe militar, pois conflitos entre a igreja e o Em 1964, foi criado o programa de ação econômica do governo.
governo e a abolição dos escravos, fazem com que o governo perca Criado pelo ministro da economia para reduzir a inflação. Criou-se
suas bases econômicas, militares e sociais. também a correção monetária para financiar o déficit do governo.
O café naquele momento era tão importante, que o governo Surgiu o BNH, reformas bancárias e a repressão dos valores do ser-
iria comprar uma parte da produção para manter o preço. Mas a viço público, porém a inflação subiu.
crise de 29 afetou a cafeicultura, abaixando o preço do produto. Em 1966, houve um corte de dinheiro corrente, com isso a in-
Neste momento, ocorreram muitas falências e perda de poder das flação caiu e quando Costa e Silva assumiu, houve um aumento no
oligarquias. PIB.
Logo após a posse de Vargas, a economia agrícola sofre mu- Com a isenção do IR e do IPI, as exportações cresceram. Foi
danças pois diminuíram sensivelmente as exportações, a própria também criado o Banco
população diminuiu e muitas fábricas fecharam. Central, substituindo o Sumoc. Nesta época, o ministro da fa-
zenda Delfim Neto, reduz os juros e com isso, reduz a inflação.
Por isso, um novo mercado interno foi criado e com isso, au-
mentou a burguesia que se interessava na indústria e na vida urba- Costa e Silva foi substituído por Médici, que manteve Delfim
na. Em 1933, a indústria era a principal fonte econômica no país. É Neto a frente da economia, e este conseguiu abaixar ainda mais a
a partir daí que surgem os primeiros redutos parlamentares e com inflação e crescer o PIB.
isso o Estado começa a tratar das questões do comércio exterior e Com a criação do I PND, o Brasil poderia atingir metas e resulta-
das indústrias separadamente. A criação de organismos como o Ins- dos significativos. Foram 3 anos de euforia até a guerra dos Árabes
tituto Nacional do Açúcar e do Álcool acabou sendo benéfica para a X Israel, o que aumentou o preço do petróleo e derivados, o que
indústria e influiu na política do desenvolvimento econômico. gerou uma crise econômica internacional e fez a produção e o PIB
Neste momento, a indústria começa a crescer e São Paulo tor- desabarem.
na-se o maior centro industrial da América Latina. Cria-se aí o Esta- A crise volta a abalar o país, a dívida externa muito alta, o défi-
do Novo que controla as atividades econômicas. cit e outros problemas voltaram a assustar. Com a formulação do II
Vargas começa a investir na indústria pesada, o que desagrada PND, Geisel, agora no poder, contactava com estrangeiros a possibi-
os próprios industriais. lidade de se instalar usinas no país. Mas como iria ajudar um plano
Mas tinha ainda a questão das siderúrgicas, pois Vargas queria baseado no endividamento ?
acabar com o monopólio da Cia. Iron Ore. Com a segunda grande Por isso, o II PND teve de ser reformulado e acabou abandona-
guerra, o crescimento econômico poderia diminuir, mas como não do. Em 78, Geisel revogou atos de banimento, criou a lei de segu-
havia mais exportações, acabou abrindo ainda mais o mercado in- rança nacional e suspendeu a censura.
terno, o que foi bom para a economia. O retorno a democracia parece certo neste momento e quando
Com o fim da guerra e a união aos aliados, o Brasil passou a Figueiredo assume, promete devolver o poder aos civis, o que acon-
exportar em demasia e as vezes até o que não era necessário. Países tece 6 anos mais tarde debaixo de uma crise econômica muito séria.
desenvolvidos se reestruturaram e por isso havia pouco interesse Em 1980, a situação econômica não era nada boa, pois as dívi-
na exportação de produtos nacionais. Apesar deste problema, foi das não deixaram a inflação baixar. O país entra em recessão. Houve
criada a Companhia Siderúrgica Nacional e a indústria se moder- queda na produção industrial em 1981 e o desemprego era grande.
nizou. A dívida chegou a níveis absurdos e o FMI passou a mandar no
Em 1948, cria-se o regime de licença prévia, o que funcionou país. Em 1985, Tancredo
durante algum tempo. O Sumoc acabou com os paralelos criando Neves assume, mas morre logo após. Sarney toma seu lugar já
um fundo único de cambio. Em 1949, institui o orçamento de cam- em eleições diretas, que vieram logo após. Em 1986, o novo minis-
bio e as operações vinculadas. tro da economia Dilson Funaro, cria o plano
Com a guerra da Coréia, o governo passa a fazer estoques de Cruzado, congelando os preços, salários, extinção da correção
produtos com medo de escassez. As exportações foram mal. Ape- monetária, criação do índice de preços e OTN.
nas o café ainda ia bem. Em 1953, o Sumoc cria os leilões de cambio A inflação caiu, já que a situação internacional era favorável.
e resolve o problema. Os produtos importados, foram divididos em O ágil começou a aparecer e por isso foi criado o Cruzado II, o que
categorias segundo sua importância, o que foi bom para a econo- descongelou os preços e aumentou as tarifas.
mia, fazendo com que a balança tenha fechado em Superávit. Luís Carlos Bresser Pereira, cria o plano Bresser, para congelar
Vargas trabalha para voltar à presidência e por isso, várias co- os preços novamente. Mas problemas como o ágil e o desabasteci-
missões foram criadas para desenvolver a economia. Em 1954, Ge- mento voltaram a acontecer.
túlio se suicida e os primeiros rumores de golpe surgem. Em 1989, foi criado o Plano Verão. Preços, salários e aluguéis
Em 1956, Juscelino assume buscando a união dos empresá- foram congelados, a moeda se desvalorizou e houve privatizações.
rios, políticos, militares e assalariados. JK adota o recurso ao ca- Mas tudo foi por água abaixo, pois as aplicações no over foram
pital estrangeiro para sustentar a indústria pesada. É desta época, grandes e com isso a inflação voltou a crescer.
os primeiro contatos brasileiros com o FMI. O Brasil era o terceiro Eleito, Collor cria seu plano, com itens como por exemplo: blo-
país receptor de capital de risco americano destinado a indústria queamento das contas correntes e poupanças, congelamentos, fim
manufatureira. do Cruzado Novo, e etc.

128
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Em 1991, a ministra Zélia Cardoso de Melo, cria um novo con- natural, subiu acima dos 9% no mesmo dia, atingindo novo recor-
gelamento, desindexação da economia, criação da TR., etc e como de. A Arábia Saudita, no seguimento da sua declaração no segun-
era de se esperar, esse plano também fracassou. do semestre do ano intensificou a produção tendo afirmado que
Collor é afastado e quem assume é Itamar Franco, seu vice, que o petróleo necessário à crescente procura mundial seria satisfeito.
não faz grandes mudanças. Em conformidade os preços do barril registaram grandes descidas
O até então ministro Fernando Henrique, é chamado e começa nos principais mercados internacionais, tendo o consumo das gaso-
a elaborar um novo plano para estabilizar a economia. FHC se des- linas diminuído em alguns mercados e as refinarias do Golfo México
vincula do ministério para ser candidato e é eleito. voltaram a subir a oferta após a passagem do furacão Katrina, ten-
O Plano Real de Fernando Henrique se divide em três fases: do havido sinais dada comunidade internacional de que algumas
1ª.- Ajuste fiscal para equacionar o desequilíbrio orçamentário economias emergentes devem travar a sua procura como forma de
da União. fonte de produção de energia, como é o caso da China e Índia, que
2ª.- Eliminar a inflação através da URV. após aumentos sucessivos na produção doméstica, devem entrar
3ª.- Transformação da URV em Real. numa fase de maior estabilidade. A China tornou público a 21, re-
sultados da análise da actividade econômica tendo revisto em alta
A condução do plano procura evitar o erro dos choques hetero- o nível de riqueza criada internamente, situando-se na 4 maior eco-
doxos, qual seja a grande expansão do crédito e da demanda após nomia mundial. O estudo recaiu sobre os 3 mais importantes secto-
a queda da inflação. res que são a agricultura, indústria e serviços prestados, o que levou
A economia a nível global apesar das crises e das incertezas a corrigir o Produto Interno Bruto (PIB) de 2004, bem como os seus
vividas teve um comportamento positivo tendo contribuído o forte dados históricos. O governo chinês não revelou se vai fazer alguma
crescimento econômico e o aumento significativo da liquidez em alteração corretiva aos valores anteriormente divulgados do PIB,
termos internacionais. Os maiores importadores mundiais que são mas é de prever que este tipo de levantamento econômico avalie
os Estados Unidos e a China deram o impulso necessário na área de forma correta a contribuição dos serviços para o crescimento da
comercial. Os défices públicos e da balança comercial dos Estados economia e que tem sido subestimado. A riqueza produzida a nível
Unidos foram financiados pelos países produtores de petróleo e pe- doméstico pela China foi no ano passado de 1,649 biliões de dólares
los países asiáticos. A economia mundial deve terminar este ano cerca de 1,385 biliões de euros, altura em que a China teve a maior
com um crescimento muito perto dos 4%, considerando a subida taxa de crescimento em 7 sete anos que foi de 9,5%. Existe na Wall
dos preços do petróleo conforme previsto pelos governadores dos Street o sentimento generalizado de que o PIB chinês de 2004 deve
bancos centrais dos 10 países mais ricos do mundo (G-10). A Chi- ser alterado para 2 biliões de dólares, correspondente a 1,669 bi-
na, Índia, Paquistão e diversos países de economias emergentes do liões de euros, que significa um aumento de 20%.
Sudeste asiático estão a crescer a taxas muito próximas dos 10%, Confirmada esta previsão, a China passa a ser o 4 país a nível
tendo a China apresentado um crescimento de 9,5% no primeiro tri- mundial com riqueza produzida, ou seja avançar 3 posições em re-
mestre do ano, tendo provocado aumentos considerados anormais lação ao lugar que neste momento ocupa. Esta análise profunda da
na procura de petróleo para satisfazer as necessidades de energia, economia da China tem como fim, permitir ao governo justificar a
obrigando a uma subida dos preços do barril de crude. Os Estados redução do investimento público e consiguir melhorar a confiança
Unidos continuam a ser o maior consumidor de petróleo do mundo, dos investidores estrangeiros face às estatísticas do país, servindo
seguidos da China que em 2003 tornou-se o segundo maior consu- ainda, como meio importante de redução da corrupção e da fraude
midor representando 8,1% do consumo, importando 13% de petró- fiscal, numa área em que as autoridades têm extrema dificuldade
leo a nível mundial, representando em termos de importações 51% e na arrecadação dos impostos, essencialmente no sector dos ser-
do consumo mundial, face aos 59% dos Estados Unidos e aos 86% viços. O Banco Central ou Banco Popular da China (BPC) sem qual-
do Japão, devendo atingir em 2025 cerca de 77%. Em simultâneo o quer aviso prévio a 21 de Julho divulgou a desindexação da moeda
aumento das cotações das vendas dos produtos petrolíferos estão a chinesa ao dólar americano, tendo criado um sistema de maior fle-
reduzir o poder de compra dos Países Desenvolvidos (PD), fazendo xibilidade em termos de gestão dos câmbios do yuan ou renmibi,
que a inflação se possa vir a tornar uma verdadeira ameaça. A crise constituído por um cabaz de moedas ou divisas, chamado de G-4,
que vivem os PD não permite dispor de mecanismos que façam in- em que o dólar continua a ser a moeda dominante, do euro, iene e
verter esta tendência da economia mundial a curto prazo. O Banco won da Coreia do Sul. O G-4 constitui o pilar do sistema de tripé da
Central Europeu (BCE), confirmou o crescimento da economia a ní- especialização a nível internacional da China. A China como sabe-
vel global, sendo a inflação um sério perigo, uma vez que é provoca- mos em termos económicos é carente em 3 factores; a importação
do pela alta dos preços do petróleo, sendo dessa forma uma amea- de produtos considerados intermédios, provenientes de países re-
ça ao crescimento sustentável, com efeitos negativos na economia gionais de maior desenvolvimento industrial como o Japão e a Co-
e por sua vez nas respectivas políticas orçamentais. O preço do pe- reia do Sul; a compra do crude que é uma “commodity” em dólares;
tróleo deve terminar o ano muito perto dos 60 dólares o barril, ten- do mercado dos Estado Unidos, uma vez que a China é o principal
do ultrapassado esse montante dia 21 nos mercados internacionais, exportador e a Europa o destino das exportações dos produtos co-
e o gás natural atingiu um novo valor máximo, com a descida das nhecidos como “made in China”. No cabaz das ditas moedas foram
temperaturas no Norte dos Estados Unidos, tendo em Nova Iorque, incluídos o dólar canadiano, australiano e o de Singapura, o bath, a
o preço do barril para entrega em Janeiro subido 2,5%, fixando-se libra e o ringgit da Malásia, moedas correspondentes aos parceiros
em 60,69 dólares. O preço do barril de Brent, petróleo de referência comercias chineses.
do Mar do Norte, para entrega em Janeiro, valorizou-se 3,2% fixan- O BPC valorizou o yuan face ao dólar somente em 2,2%, e em
do-se no mercado de Londres em 58,80 dólares. Com a tempestade relação ao euro foi em serpente até ao momento com pequenas
de neve que se esperava para dia 16 no Norte dos Estados Unidos desvalorizações e valorizações. Esta pequena valorização do yuan
onde é utilizada 80% da energia para aquecimento, e com a descida veio a contrariar as previsões dos especuladores que esperavam
das temperaturas muito abaixo do normal noutras regiões, a procu- uma valorização de 5%. O yuan poderá ser valorizado entre 2% a
ra de combustível aumentou, tendo as refinarias crescido a produ- 3% no final de 2006. O yuan está desvalorizado 40% em relação ao
ção. Prevê-se que as temperaturas possam descer mais, obrigando dólar e tivemos a oportunidade de fazer o historial e consequências
ao aumento da procura de combustível para aquecimento. O gás dessa desvalorização real e efectiva. Esta medida inclui-se adentro

129
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
de uma visão geo-estratégica a longo prazo, em que a China tem como intenção pôr a moeda chinesa como moeda mundial de topo, fican-
do os mercados financeiros dependentes das suas flutuações. Vai ser inevitável nos próximos 20 anos. A China terá de esperar pelo próxi-
mo ano e seguinte, considerados críticos, e no segundo ano em Outubro realizarse-á, o 17.º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC).
A valorização pequena dos 2,2%, foi um sinal de carácter político com vista a acalmar os americanos. Mas são os factores económicos tão
importantes quanto os políticos. Esta pequena valorização levou em linha de conta o facto da economia da China estar dependente do
comércio internacional em 70%, e a exportação dos produtos chamados de “made in China” faz-se de duas formas: pelo sistema industrial
de multinacionais estrangeiras, onde os capitais americanos têm uma considerável percentagem, e por empresas controladas em termos
financeiros pelos chineses da diáspora, que representaram em 2004, cerca de 60% das exportações. Alterar o câmbio da moeda é o mesmo
que alterar os benefícios concedidos à deslocalização. Uma outra situação a levar em conta são as cerca de 30 mil empresas exportadoras
de têxteis, brinquedos e outros bens de consumo de pequenas dimensões, para as quais, os 2,2%, representam um corte dos pequenos
3% a 5% que têm de margem de lucro. O tratamento em termos de matéria cambial é extremamente sensível uma vez que segundo os
relatórios das instituições internacionais e da Reserva Federal Americana, a China tem um sistema bancário na sua maioria considerado
na bancarrota, altamente corrupto, faltando o conhecimento técnico no que diz respeito ao crédito e que é segurado pelo governo. Umas
das razões para os chineses não valorizarem significativamente e de forma rápida o yuan, que seria o colapso do sistema bancário. Mesmo
com esta alteração de 2,2% no câmbio, prevê-se que 50% dos pequenos exportadores privados se extinga, e não irá significar uma menor
dor de cabeça para os industriais americanos daqueles sectores e uma situação favorável para o défice comercial dos Estados Unidos uma
vez que os importadores e consumidores americanos vão colmatar essa lacuna chinesa, comprando produtos da América Central, e de
outros países da Ásia e da Europa de Leste. Os americanos irão comprar barato de outros mercados, pelo que é pura areia para os olhos.
Uma mudança brusca do sistema financeiro chinês causaria um tremor de terra devastador. Os bancos alimentaram uma autêntica “bolha”
de investimento no país, que tarde o cedo atingirá o topo, e uma das razões da China não valorizarem muito e de forma rápida o yuan,
seria a possibilidade de poder criar o colapso de todo o sistema como dissemos. A valorização, ainda que pequena, tem um efeito real e
efectivo no aumento da liquidez traduzida em dólares por parte dos investidores do país onde se incluem as maiores empresas estatais e
na valorização dos activos em yuan, mas traduzidos em dólares nos mercados internacionais, essencialmente no sector de empresas de
“hi-tech”. A maior liquidez em dólares significa a pressão estratégica do ir à globalização seguida pelas empresas estatais e privadas da
China. O mercado de fusões e aquisições a nível mundial está a crescer com as entradas chinesas na bolsa dos Estados Unidos, Hong Kong
e Singapura. A verdadeira loucura no Nasdaq com as chamadas “start-ups” da China é visível. A atracção pela Europa é uma falha e os
europeus vão ter de trabalhar bastante para atrair os capitais chineses

Economia do Brasil Atual


A economia brasileira atual é diversificada e abrange os três setores: primário, secundário e terciário. O País há muito abandonou a
monocultura ou o direcionamento unicamente para um tipo de indústria.
Hoje, a economia brasileira é baseada na produção agrícola, o que faz do Brasil um dos principais exportadores de soja, frango e suco
de laranja do mundo. Ainda é líder na produção de açúcar e derivados da cana, celulose e frutas tropicais.
Igualmente, possui uma importante indústria de carne, com a criação e abate de animais, ocupando o posto de terceiro produtor
mundial de carne bovina.
Confira os dados da EcoAgro, de 2012, sobre a agroindústria brasileira:

Em termos de indústria de transformação, o Brasil se destaca na produção de peças para abastecimento dos setores automotivos e
aeronáuticos.
Da mesma forma é um dos principais produtores de petróleo do mundo, dominando a exploração de petróleo em águas profundas.
Mesmo assim é destaque na produção de minério de ferro.

História da Economia Brasileira


O primeiro mercado a ser explorado no território da América por Portugal foi o pau-brasil (Caesalpinia echinata).
A árvore era encontrada em abundância na costa e através dela, o Brasil recebeu este nome. Esta espécie tem porte médio, chega a
atingir 10 metros de altura e possui muitos espinhos.
De floração amarela, o pau-brasil tem um tronco avermelhado que após o processamento era utilizado como corante para tecidos.
A história econômica do Brasil pode ser estudada através de ciclos econômicos. Estes foram elaborados pelo historiador e economista
Caio Prado Jr.(1907-1990) como uma tentativa de explicar os caminhos da economia brasileira.

130
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Ciclo do Pau-Brasil Este ciclo perdurou até 1785 coincidindo com o começo da Re-
O pau-brasil era encontrado na maior parte da costa do litoral volução Industrial na Inglaterra.
brasileiro, numa faixa que ia do Rio Grande do Norte ao Rio de Ja-
neiro. A extração era feita por mão de obra indígena e obtida atra- Ciclo do Café
vés do escambo. O ciclo do café foi o responsável pelo impulso à economia bra-
Além do uso para a extração de corante, o pau-brasil era útil na sileira do início do século XIX. Esse período foi marcado pelo intenso
produção de utensílios em madeira, na confecção de instrumentos desenvolvimento do país, com a expansão de estradas de ferro, a
musicais e empregado na construção. industrialização e a atração de imigrantes europeus.
Três anos após o descobrimento, o Brasil já contava com um O grão, de origem etíope, era cultivado por holandeses na Guia-
complexo de extração da madeira. na Francesa e chegou ao Brasil em 1720, sendo cultivado no Pará e
depois Maranhão, Vale do Paraíba (RJ) e São Paulo. As lavouras de
Ciclo da Cana-de-Açúcar café também se espalharam por Minas Gerais e Espírito Santo.
Após o esgotamento da oferta de pau-brasil - que ficou pratica- As exportações começaram em 1816 e o produto liderou a pau-
mente extinto - os portugueses passaram a explorar a cana-de-açú- ta exportadora entre 1830 e 1840.
car na sua colônia da América. Este ciclo durou mais de um século e A grande parte da produção estava no estado de São Paulo. A
teve impacto significativo na economia colonial. elevada quantidade de grãos favoreceu a modernização de modais
Os colonizadores instalaram engenhos para a produção de açú- de transporte, notadamente ferroviário e portuário.
car no litoral que era feito através de mão de obra escrava. Os en- O escoamento era feito pelos portos do Rio de Janeiro e Santos,
genhos estavam localizados em todo nordeste, mas principalmente que receberam recursos para adequação e melhorias.
em Pernambuco. Nesse momento histórico, a mão de obra escrava havia sido
Como havia dificuldades em dominar a logística da exploração abolida e os fazendeiros não quiseram aproveitar os trabalhadores
da cana-de-açúcar, o suporte para a indústria açucareira foi obtido libertos, a maioria das vezes por preconceito.
junto aos holandeses, que passaram a responsáveis pela distribui- Assim houve necessidade de arranjar mais braços para a lavoura, con-
ção e comercialização do açúcar ao mercado europeu. dição que atraiu imigrantes europeus, com destaque para os italianos.
Entre as consequências deste cultivo está o desmatamento da Após quase cem anos de prosperidade, o Brasil começou a en-
costa brasileira e a chegada de mais portugueses para participar dos frentar uma crise de superprodução: havia mais café para vender
imensos lucros gerados na colônia portuguesa. Igualmente há a im- do que compradores.
portação de africanos como escravos para trabalhar nos engenhos. Do mesmo modo, ocorre o fim do ciclo cafeeiro em consequên-
Como monocultura, a exploração da cana era baseada na es- cia da quebra da bolsa de Nova York, em 1929. Sem compradores,
trutura de latifúndios - grandes propriedades de terra - e no traba- a indústria cafeeira diminuiu de importância no cenário econômico
lho escravo. Este era sustentado pelo tráfico negreiro, dominado brasileiro a partir dos anos 50.
pela Inglaterra e por Portugal. A queda da produção do café também significou um marco
Os colonizadores também se dedicavam a outras atividades para o país no que tange à diversificação da base econômica.
econômicas como buscar metais preciosos. Isto levou expedições, A infraestrutura, antes utilizada para o transporte de grãos, foi
conhecidas como entradas e bandeiras, ao interior da colônia a fim o suporte para a indústria, que passa a manufaturar produtos de
de encontrar ouro, prata, diamantes e esmeraldas. elaboração simplificada, como tecidos, alimentos, sabão e velas.

Ciclo do Ouro Economia e Industrialização Brasileira


A busca por pedras e metais preciosos teve o ápice no século O governo de Getúlio Vargas (1882-1954) passa a incentivar a
XVIII, entre 1709 e 1720, na capitania de São Paulo. Nesta época, instalação da indústria pesada no Brasil como a siderurgia e a pe-
esta região comportava o que é hoje Paraná, Minas Gerais, Goiás e troquímica.
o Mato Grosso. Isso provocou o êxodo rural em vários pontos do país, sobretu-
A exploração dos metais e pedras preciosas foi impulsionada do no nordeste, onde a população fugia da decadência rural.
pelo declínio da atividade canavieira, em franca decadência após os As medidas em benefício da indústria foram favorecidas pela
holandeses iniciarem o plantio de cana em suas colônias da Amé- eclosão da Segunda Guerra Mundial. Ao fim do conflito, em 1945, a
rica Central. Europa estava devastada e o governo brasileiro investe num moder-
Com a descoberta de minas e pepitas nos rios de Minas Gerais no parque industrial para se auto abastecer.
tem início o chamado ciclo do ouro. A riqueza que vinha do interior
do País influenciou na transferência da capital, antes em Salvador, Metas de Kubitschek
para o Rio de Janeiro, a fim de controlar a saída do metal precioso. A indústria passa a ser o centro das atenções no governo de
Juscelino Kubitschek (1902-1976), que implanta o Plano de Metas,
A Coroa Portuguesa sobretaxou os produtos da colônia e cobra- batizado de 50 anos em 5. JK previa que o Brasil cresceria em 5 anos
va impostos, denominados quinto, derrama e capitação eram pagos o que não havia crescido em 50.
nas Casas de Fundição. O Plano de Metas indicava os cinco setores da economia bra-
O quinto correspondia a 20% de toda a produção. Já a derrama sileira para onde os recursos deveriam ser canalizados: energia,
representava 1,5 mil quilos de ouro que deveriam ser pagos a cada transporte, alimentação, indústria de base e educação.
ano sob pena de penhor compulsório dos bens dos mineradores.
Por sua vez, a capitação era a taxa correspondente a cada escravo Fazia parte também a construção de Brasília e, posteriormente,
que trabalhava nas minas. a transferência da capital do país.
A insatisfação dos colonos com a cobrança de impostos, consi-
derada abusiva, culminou no movimento denominado Inconfidên- Milagre Econômico
cia Mineira, em 1789. Durante a ditadura militar, os governos abrem o país a inves-
A busca pelo ouro influenciou o processo de povoamento e timentos estrangeiros que impulsionam a infraestrutura. O Brasil
ocupação da colônia, alargando os limites do Tratado de Tordesi- vive, entre 1969 e 1973, o ciclo denominado Milagre Econômico,
lhas. quando o PIB cresce 12%.

131
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
É nessa fase que são construídas obras de grande impacto, como a ponte Rio-Niterói, a hidrelétrica de Itaipu e a rodovia Transamazô-
nica.
No entanto, essas obras eram caras e também causam a tomada de empréstimos a juros flutuantes. Assim, se vivia uma inflação de
18% ao ano e o crescente endividamento do País, a despeito da geração de milhares de empregos.
O Milagre Econômico não possibilitou o desenvolvimento pleno, pois o modelo econômico privilegiou o grande capital e a concentra-
ção de renda aumentou.
Por parte do setor primário, a produção de soja já era a partir da década de 70 a principal commodity de exportação.
Ao contrário de culturas como o café, que demandavam abundante mão de obra, o cultivo da soja é marcada pela mecanização, o que
gera desemprego no campo.
Ainda na década de 70, o Brasil é fortemente impactado pela crise do mercado internacional do petróleo, que faz o preço dos com-
bustíveis subirem.
Dessa forma, o governo estimula a criação do álcool como combustível alternativo à frota de veículos nacionais.

A Década Perdida - 1980


O período é marcado pela insuficiência de recursos da União para o pagamento da dívida externa.
Ao mesmo tempo, o País precisava adaptar-se aos novos paradigmas da economia mundial, que previa inovações tecnológicas e pelo
crescimento da influência do setor financeiro.
Nesse período, 8% do PIB nacional é direcionado ao pagamento da dívida externa, a renda per capita fica estagnada e a inflação au-
menta vertiginosamente.
Há, desde então, uma sucessão de planos econômicos para tentar conter a inflação e retomar o crescimento, sem sucesso. Por isso, os
economistas chamaram os anos 80 de “década perdida”.
Observe a evolução do PIB do Brasil de 1965 a 2015:

Dívida Externa e Economia Brasileira


No final do governo militar, a economia brasileira dava sinais de desgaste por conta dos altos juros cobrados para pagar a dívida exter-
na. O Brasil, assim, passou a ser o maior devedor entre os países em desenvolvimento.
O PIB despencou de um crescimento de 10,2% em 1980 para 4,3% negativos em 1981, como atesta o IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística).
A solução foi fazer planos econômicos que visassem estabilizar a moeda e controlar a inflação.

Planos Econômicos
Com a economia em forte recessão, dívida externa e perda do poder de compra, o Brasil lançava mãos de planos econômicos para
tentar recuperar a economia.
Os planos econômicos tentavam desvalorizar a moeda a fim de conter a inflação. Entre 1984 e 1994, o País teve várias moedas dife-
rentes:

Plano Cruzado
A primeira medida de intervenção econômica ocorre quando assume o presidente José Sarney, em janeiro de 1986. O ministro da
Fazenda Dilson Funaro (1933-1989) lança o Plano Cruzado no qual estava previsto o controle da inflação por meio do congelamento de
preços.
Ainda houve os planos Bresser, em 1987 e o Verão, em 1989. Ambos não conseguiram deter o processo inflacionário e a economia
brasileira seguia estagnada.

Plano Collor
Com a eleição de Fernando Collor de Mello, em 1989, o Brasil adotaria ideias neoliberais, onde abrir a economia nacional era a prio-
ridade.
Igualmente estavam previstas as privatizações de empresas públicas, redução com o funcionalismo público e aumento da participação
de empresários privados em vários setores econômicos.
No entanto, devido aos escândalos de corrupção, o presidente se viu envolvido num processo de impeachment que lhe custou o cargo
presidencial.

132
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Plano Real mou-se a segunda vila do Ceará, chamada de vila do Forte ou Forta-
O Brasil contou com 13 planos de estabilização econômica. O leza. A primeira vila reconhecida foi a de Aquiraz. Em 1726, a vila de
último deles, o Plano Real, previa a troca da moeda para o Real a Fortaleza passou a ser oficialmente a capital do Ceará após disputas
partir de 1º e julho de 1994, durante o governo de Itamar Franco com Aquiraz.
(1930-2011). Ocupação
A implantação do plano ficou sob o comando do ministro da Duas frentes de ocupação atuaram no Siará, a primeira, cha-
Fazenda, Fernando Henrique Cardoso. O Plano Real previa o con- mada de sertão-de-fora foi controlada por pernambucanos que vi-
trole efetivo da inflação, o equilíbrio das contas públicas e o esta- nham do litoral, e a segunda, do sertão-de-dentro, controlada por
belecimento de um novo padrão monetário, atrelando o valor do baianos. Ao longo do tempo o Siará foi sendo ocupado o que impul-
real ao dólar. sionou o surgimento de várias cidades. A pecuária serviu de motor
Desde então, o Brasil entrou numa era de estabilidade monetá- para o povoamento e crescimento da região, transformado o Siará
ria que se manteria pelo século XXI. na “Civilização do Couro”.
Entre os séculos XVIII e XIX, o comércio do charque alavancou o
crescimento econômico da região. Durante esse período, surgiram
as cidades de Aracati, principal região comerciária do charque, So-
HISTÓRIA DO CEARÁ. O PERÍODO COLONIAL: A OCU- bral, Icó, Acaraú, Camocim e Granja. Outras cidades como Caucaia,
PAÇÃO DO TERRITÓRIO: DISPUTAS ENTRE NATIVOS Crato, Pacajus, Messejana e Parangaba (as duas últimas bairros de
E PORTUGUESES; ACESSO À TERRA: SESMARIAS E A Fortaleza) surgiram a partir da colonização indígena por parte dos
ECONOMIA PECUÁRIA. O PERÍODO IMPERIAL: O CEA- jesuítas.
RÁ NA CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR; IMPORTÂNCIA A partir de 1680, o Siará passou à condição de capitania subal-
DA ECONOMIA DO ALGODÃO; A ESCRAVIDÃO NEGRA terna de Pernambuco, desligada do Estado do Maranhão. A região
NO CEARÁ. O CEARÁ E A “REPÚBLICA VELHA”: A POLÍ- só se tornou administrativamente independente em 1799, quando
TICA OLIGÁRQUICA: CORONELISMO E CLIENTELISMO; foi desmembrada de Pernambuco e o cultivo do algodão despontou
MOVIMENTOS SOCIAIS RELIGIOSOS E “BANDITISMO”. como uma importante atividade econômica. Às vésperas da Inde-
O PERÍODO 1930/1964: O CEARÁ DURANTE O ESTADO- pendência do Brasil, em 28 de fevereiro de 1821, o Siará tornou-se
-NOVO; REPERCUSSÕES DA REDEMOCRATIZAÇÃO; “IN- uma província e assim permaneceu durante todo o período do Im-
DÚSTRIA DA SECA”: DNOCS E SUDENE. OS GOVERNOS pério. Com a Proclamação da República Brasileira, no ano de 1889,
MILITARES E O “NOVO” CORONELISMO; A “MODERNI- a província tornou-se o atual estado do Ceará.
ZAÇÃO CONSERVADORA”. A “NOVA” REPÚBLICA: OS
“GOVERNOS DAS MUDANÇAS” Momentos históricos
Em 1817, os cearenses, liderados pela família Alencar, apoia-
História do Ceará ram a Revolução Pernambucana. O movimento, que se restringiu
Com a decisão do rei de Portugal D. João III em dividir o Brasil ao município do Cariri, especialmente na cidade do Crato, foi rapi-
em capitanias hereditárias, coube ao português Antônio Cardoso de damente sufocado.
Barros, em 1535, administrar a Capitania do Siará (como era cha- Em 1824, após a independência, foi a vez dos cearenses das
mada a região correspondente as capitanias do Rio Grande, Ceará cidades do Crato, Icó e Quixeramobim demonstrarem sua insatisfa-
e Maranhão). Entretanto a região não lhe despertou interesse. Só ção com o governo imperial. Assim eles se aderiram aos revoltosos
então, em 1603, é que o açoriano Pero Coelho de Sousa liderou a pernambucanos na Confederação do Equador.
primeira expedição a região, demostrando interesse em colonizar No século XIX, vários fatos marcaram a história do Ceará, como
aquelas terras. o fim da escravidão no Estado, em 25 de março de 1884, antes da
Pero Coelho se instalou às margens do rio Pirangi (depois bati- Lei Áurea, assinada em 1888. O Ceará foi portanto o primeiro esta-
zado rio Siará), onde construiu o Forte de São Tiago, depois destruí- do brasileiro a abolir a escravidão. Um cearense se destacou nessa
do por piratas franceses. A esquadra de Pero Coelho teve que en- época: o jangadeiro Francisco José do Nascimento que se recusou
frentar ainda a revolta dos índios da região que inconformados com a transportar escravos em sua jangada. José do Nascimento ficou
a escravidão, destruíram o forte obrigando os europeus a migrarem conhecido como Dragão do Mar (atualmente nome de um centro
para a ribeira do rio Jaguaribe. Lá, a esquadra de Pero Coelho cons- cultural em Fortaleza).
truiu o Forte de São Lourenço. Em 1607, uma seca assolou a região Entre 1896 e 1912, o comendador Antônio Pinto Nogueira
e Pero Coelho abandonou a capitania. Accioly governou o Estado de forma autoritária e monolítica. Seu
Em 1612 foi enviado ao Siará o português Martim Soares Mo- mandato ficou conhecido como a “Política Aciolina” que deu início
reno, considerado o fundador do Ceará, que também se instalou às ao surgimento de diversos movimentos messiânicos, alguns deles
margens do Rio Siará (atualmente Barra do Ceará), onde recuperou liderados por Antônio Conselheiro, Padre Ibiapina, Padre Cícero e o
e ampliou o Forte São Thiago e o batizou de Forte de São Sebastião. beato Zé Lourenço. Os movimentos foram uma forma que a popula-
Deu-se início a colonização da capitania do Siará, dificultada pela ção encontrou de fugir da miséria a qual se encontrava a região. Foi
oposição das tribos indígenas e invasões de piratas europeus. também nessa época que surgiu o movimento do cangaço, liderado
No ano de 1637, região foi invadida por holandeses, enviados por Lampião.
pelo príncipe Maurício de Nassau, que tomaram o Forte São Sebas- Nos anos 30, cerca de 3 mil pessoas se reuniram, sob a lideran-
tião. Anos depois a expedição foi dizimada pelos ataques indígenas. ça do beato Zé Lourenço, na região no sítio Baixa Danta, em Juazeiro
Os holandeses ainda voltaram ao litoral brasileiro em 1649, numa do Norte. O sítio prosperou e desagradou a elite cearense. Em se-
expedição chefiada por Matias Beck e se instalaram nas proximi- tembro de 1936, a comunidade foi dispersa e o sítio incendiado e
dades do rio Pajéu, no Siará, onde construíram o Forte Schoonen- bombardeado. O beato e seus seguidores rumaram para uma nova
borch. comunidade. Alguns moradores resolveram se vingar e preparam
Em 1654, o Schoonenborch foi tomado por portugueses, che- uma emboscada, que culminou num verdadeiro massacre. O episó-
fiados por Álvaro de Azevedo Barreto, e o forte foi renomeado de dio ficou conhecido como “Caldeirão”.
Forte de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. A sua volta for-

133
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Nos anos 40, com a Segunda Guerra Mundial, foi montado uma quanto seguiram em sentido contrário, adentrando em áreas ainda
base norte-americana no Ceará mudando os costumes da popula- pouco exploradas, e situando-se, estrategicamente, em pontos de
ção, que passou a realizar diversos manifestos contra o nazismo. alto relevo (nas montanhas e serras) para a resistência e o refúgio.
Também na mesma década, o governo, afim de estimular a migra- Distante do litoral e a montante dos rios navegáveis, alguns
ção dos sertanejos para a Amazônia realizou uma intensa propagan- povoados surgiram em torno da pecuária e da agricultura de sub-
da. Esse contingente formou o “Exército da Borracha”, que trabalha- sistência, com a presença dos pequenos engenhos. Essa produção
ram na exploração do látex das seringüeiras. Milhares de cearenses sertaneja necessitava de animais para ser escoada internamente,
migraram para o Norte e acabaram morrendo no combate entre bem como para chegar até o litoral e seguir por via marítima aos
Estados Unidos e Aliados com os exércitos do Eixo, sem os seringais diferentes pontos do país, lugares que, na sequência, também se
da Ásia para abastecê-los. transformaram em povoados (IPLANCE, 1982).
Mas, a ocupação portuguesa não teve um movimento de opo-
Fonte: www.secult.ce.gov.br sição proveniente apenas da população nativa. A efetivação da
conquista com a exploração sistemática da colônia portuguesa re-
quereu combate a corsários e confl ito com outras metrópoles eu-
O TERRITÓRIO CEARENSE NA FORMAÇÃO NACIONAL ropéias dominantes. Em particular, os corsários exploravam o litoral
A expansão capitalista européia produziu espacialidades que clandestinamente e fundavam feitorias, tais como: Itamaracá, em
foram importantes na formação do território brasileiro. Um pro- Pernambuco, Santa Cruz, na Bahia e Cabo Frio, no Rio de Janeiro
cesso nem sempre contínuo, que se iniciou com a colonização ao (ANDRADE, 1995).
associar uma soma considerável de capitais com formas primitivas Esta divisão de forças com as demais metrópoles européias
de escravidão. poderosas suscitou a fragmentação do território brasileiro em 15
Tal combinação permitiu a expropriação da população nativa e capitanias hereditárias, na quarta década do séculoXVI, seguindo o
o desmatamento de grandes porções do espaço pelo extrativismo, modelo das ilhas do Atlântico, embora não obtendo o mesmo su-
que seria depois ampliado pela produção agrícola e o beneficia- cesso. Ascapitanias tiveram destinos bem diferentes: algumas se-
mento da cana-de-açúcar, além da pecuária extensiva. quer foram ocupadas, a exemplo doMaranhão, Ceará, Rio Grande
Neste capítulo, procura-se resgatar o processo de uso e de ocu- e Santana; outras tiveram um pequeno povoamento inicial, coma
pação do espaço na formação do território brasileiro e, consequen- implantação de vilas e de engenhos de açúcar, fracassando, porém,
temente, na confi guração do território cearense. em decorrência de váriosfatores (Itamaracá, Ilhéus, Porto Seguro,
Observa-se tal movimento no contexto de integração entre o Espírito Santo, Paraíba do Sul e Santo Amaro); e houve sucesso limi-
sertão e as áreas de colonização portuguesa, com seus movimentos tado às capitanias de Pernambuco e de São Vicente, com a expan-
populacionais e correntes migratórias dos principais centros (Salva- são de culturastropicais, que deram surgimento às vilas e povoados
dor e Olinda). Relacionam-se os deslocamentos com a ampliação da no seu entorno (ANDRADE, 1995).
fronteira agrícola e a apropriação de terras para o criatório de bo- O sistema de capitanias não duraria muito no Brasil, embora a
vinos e equinos, suprindo às necessidades de alimento e de tração alternativa seguinte aindanão rompesse com o domínio português
animal dos lugares de produção para exportação, conforme maio- e abafasse o sentimento nacionalista que estava emergindo no
res detalhes a seguir. território brasileiro. Este sistema que dependia de Lisboa, possuía
relativa autonomia,por serem administradas por seus Donatários
A Formação do Território Nacional retrocedeu para um modelo de total centralização administrativa,
O território dominado pelos portugueses, desde 1500, já havia que era o Governo-Geral. A capitania da Bahia e a cidade de Salva-
sido antes povoado por diversas tribos indígenas. Assim, a expro- dor teriam sido escolhidas como sede para a capital do Brasil, des-
priação de terra das populações nativas e a devastação das florestas locando o poder da zona canavieiraapenas de um lugar para outro,
litorâneas pelo colonizador deram-se desde o século XVI. A atuação mantendo-se na faixa litorânea (IPLANCE, 1982).
da metrópole portuguesa visava à expansão capitalista necessária à A influência da Bahia e do Sudeste cresceu com a expansão ter-
acumulação ampliada do capital mercantil, sendo introduzidas for- ritorial do fi nal do séculoXVI, quando os bandeirantes retornaram
mas antigas de escravidão para o cultivo da cana-de-açúcar. do interior do continente após o movimento que fi -zeram para pro-
Os índios que não se submeteram ao processo de colonização, curar pedras e metais preciosos. Andrade (1995, p. 22) observa no
pois fizeram resistência à capitulação de seus territórios e à escra- número deescravos trazidos para o Sudeste com as Bandeiras uma
vidão, entraram em confronto com o colonizador (com seus servos dupla consequência: “a expansão territorial e o despovoamento do
e vassalos), movimentando-se pelo território em busca de locais interior”. Na Bahia, as correntes migratórias buscavam o desenvol-
de resistência e de sobrevivência alternativas ao jugo português vimento da pecuária e a proteção de vilas e fazendas próximas ao
(ARAÚJO; CARLEIAL, 2001). litoral contra o ataque deíndios. Mas pelas necessidades de supor-
A ocupação do território brasileiro fez-se, inicialmente, pelo te à produção principal (cana-de-açúcar), emergiu ummovimento
litoral (cultivo da cana-deaçúcar) e foi adentrando para o interior contrário, partindo do Recôncavo para os Sertões, sendo feito pe-
com atividades complementares, contando com a presença de los grandes criadores de gado. As fazendas estendiam-se do morro
rios caudalosos, de fundamental importância para o transporte e do Chapéu, na Bahia, até o rio das Velhas,em Minas Gerais. O fato
o acesso às áreas de florestas, destacando-se o São Francisco, o Pa- de a pecuária e a mineração não absorverem grandes contingen-
raguaçu, dentre outros. Assim, os engenhos tanto localizaram-se no tes demão-de-obra, assim como a agricultura, que fi cou restrita ao
litoral como em áreas de várzeas, nas margens de rios ou em canais, alimento de subsistência, foramos motivos pelos quais os centros
contribuindo para a formação dos povoados e vilas mais importan- urbanos de expressão nos Sertões Nordestinos tiveram relativo re-
tes. Hoje, nestas áreas, concentra-se a maior parte da população tardo em relação àqueles dos espaços litorâneos.
(ANDRADE, 1995). A divisão territorial do trabalho naquele período fazia-se pela
As condições naturais e a proximidade com a metrópole euro- ocupação litorânea do açúcar e a ocupação do interior pelo gado,
péia, de certa forma, deter minaram as primeiras formas de ocu- além da extração de minerais preciosos. Isto é, a partirde Pernam-
pação portuguesa no espaço brasileiro. Os indígenas tanto avança- buco, Bahia e São Vicente, a ocupação do interior seguiu caminhos
ram para o confronto, nessas terras banhadas pelos principais rios, e motivos variados: para o Nordeste, a procura de pastagens deu

134
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
origem à formação de grandes latifúndios;para o Sul, o trabalho es- mas nos espaços da pecuária contou-se apenas como trabalho de
cravo indígena e a descoberta das minas de ouro e diamantes ori- poucos escravos, que foi substituído pelo trabalhador agregado à
ginaram três novas capitanias- Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. fazenda, dandoorigem aos parceiros e posseiros, ou pequenos pro-
No século XVIII, o domínio dos latifúndios já se fazia presen- dutores de subsistência, que ainda hoje perduram em algumas lo-
te, sendo expressivo naBahia, no território banhado pelo Rio São calidades.
Francisco e no Sertão Setentrional do Nordeste,incluindo o Estado
do Ceará. A ocupação destes territórios está associada tanto à eco- O Processo de Formação Territorial do Ceará
nomiaaçucareira quanto à pecuária extensiva, sendo que, no últi- O processo de formação do território do Ceará pode ser visto
mo caso, a exploração da terra sedava por sesmeiros e por sitiantes pela ocupação desta capitania pelos europeus, que aconteceu de
posseiros. forma tardia, comparada à conquista da zona da mata nordestina
Ainda de acordo com Andrade (op. cit., p. 148), o gado teve ou ao litoral açucareiro, cuja ocupação foi no início do século XVI.
grande importância na formação do território nordestino, em es- No território da pecuária no Nordeste, ela só vem acontecer no fi
pecial no Sertão e no Litoral Setentrional, embora apareçaem toda nal do século XVII. A produção açucareira avançava pelas terras do
extensão da região. As necessidades de terras motivaram as con- litoral, desde a Paraíba até a Bahia, enquanto a pecuária, atividade
cessões de sesmarias,nas áreas sertanejas, em direção ao Rio São subsidiária, expandia-se para o interior. Desta forma, a interioriza-
Francisco. Vaqueiros e prepostos ocupavam terrase estabeleciam ção das capitanias do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte se de-
currais na margem esquerda do rio, no território de Pernambuco ram pela formação de territórios da pecuária, onde as populações
até chegar aoPiauí e ao Cariri cearense. nativas foram dizimadas em função da mercantilização do território,
As sesmarias consistiam em grandes extensões de terras dos além da subordinação ao europeu, como retrata Pinheiro (2000).
Sertões Nordestinos quemotivavam as disputas de famílias. Isto é, “As terras deveriam ser doadas de acordo com o número de
a conquista do sertão foi marcada pela luta entreos poderosos (em índios de cada aldeia. Nesse caso o que prevalecia era a noção mer-
particular, de Salvador) e aqueles que, sem prestígio para obter ter- cantil de propriedade, deixando-se de lado não só todo o caráter
ras, assumiram a condição de foreiros. Iniciava-se o arrendamento simbólico do território como a necessidade de áreas de dispersão,
da terra e as relações clientelísticasentre proprietários e trabalha- que era um dado marcante no modo de vida dos povos originários.”
dores. Estes foreiros, na Bahia, eram colocados sob a proteçãodos (2000, p. 23).
“grãos-senhores”, ao reconhecê-los com domínio sobre a terra,
comprometendo-se com opagamento de 10 mil réis, em foro, por É importante ressaltar que o confl ito entre colonizadores e po-
um lote de uma légua de terra em quadra, dando margem à forma- vos indígenas acentuou-se em todo o Nordeste, em função das ati-
ção de sítios a partir dos currais de reses. vidades desenvolvidas e do processo de “limpeza” dos nativos para
Na luta pela ocupação das terras férteis entre proprietários de a efetivação da produção mercantil. No Ceará, a problemática foi
currais de gado e população nativa, teve início a Guerra dos Bárba- a mesma, pois, à medida em que as terras foram sendo ocupadas
ros que durou dez anos, aniquilando várias tribose conduzindo ao pela pecuária, ia-se expulsando indígenas.
aldeamento dos remanescentes, à escravização de índios e à forma- No contexto geral da colonização, cabe destacar a atuação dos
ção deagregados nas fazendas de gado. Assim se deu a ocupação sesmeiros e dos bandeirantes no processo de restrição do território
do Ceará, Rio Grande do Norte equase toda Paraíba. Aqui o sistema dos povos indígenas.
de criação era o mesmo do Agreste, o que as diferenciavaeram as A pecuária possibilitou a ocupação da capitania do Ceará a par-
fazendas serem mais importantes, mais extensas e terem maior nú- tir da necessidade de terra para o desenvolvimento da atividade.
mero de cabeças(ANDRADE, 1989). As primeiras doações de sesmarias ocorreram no período de 1678-
A pecuária, sem dúvida, foi o modelo de produção que deter- 1782, nas imediações do Rio Jaguaribe no sentido Aracati para o
minou a ocupação dos SertõesNordestinos. No séc. XVII, os “cur- Sul, em direção ao Rio Salgado.
rais” estavam relacionados às duas correntes que adentraram para “Das 2.378 datas solicitadas, num período de mais de um sécu-
o interior. Os “currais baianos se estabeleceram à margem direita lo e meio, 91% justifi cava a necessidade de terra para ocupar com
do São Francisco epelas ribeiras do Rio das Velhas (território Mi- a pecuária. [...] Entre 1679-1699, num período de 20 anos, foram
neiro), das Rãs, Parnamirim, Jacuipe, Itapecuru,Real, Várzea Barris doadas 261 sesmarias, o que representa uma média de 13 cartas ao
e Sergipe. E, os “currais” pernambucanos, assentados à margem es- ano. [...] entre 1700 e 1740, num período de 40 anos foram 1.700
querdado São Francisco e nos vales do Rio Preto, Guaraira, Corren- sesmarias, representando uma média de 42 sesmarias por ano. [...]
te, Pajeú, Moxotó, São Miguel, emAlagoas, do Paraíba do Norte, do há um subperíodo entre 1700-1720. Nestes decênios foram distri-
Piranha, Açu, do Apodi, do Jaguaribe, do Acaraú, do Piauíe até do buídas 932 cartas, dando uma média de 46 por ano.” (op. cit, p. 30).
Parnaíba. Ainda conforme Andrade (2005), se estendia desde Olin-
da até a fronteirado Maranhão a Oeste. Ainda segundo Pinheiro (2000), a ocupação da capitania do
O caminho do gado de Olinda e, posteriormente, de Recife ser- Ceará se consolida em 1720,com a transformação do território dos
viu para o surgimento depequenas povoações e vilas nos sertões indígenas em território da pecuária. Tal atividade inviabilizou o uso
do Nordeste. De Olinda, se dirigia para o Norte porGoiana, Espírito de mão-de-obra escrava negra, pelos altos preços diante dos va-
Santo (PB), Mamanguape, Canguaretama, Papari, São José do Mi- lores obtidos comos produtos agrícolas no mercado interno. Por-
pibu, Natal,Açu, Mossoró, Praia do Tibau (RN), Aracati e Fortaleza tanto, necessitou de mão-de-obra livre e migrante de outras áreas
(CE). Outra estrada que fazia escoar ogado piauiense para Olinda se de produção, além de parte da população indígena que havia sido
fazia através do Ceará, Paraíba e Pernambuco, partindo do Piauíe, aculturadae catequizada nos aldeamentos indígenas. Daí porque a
em Crateús, cruzando várias localidades até chegar a Olinda (IPLAN- expansão das culturas agrícolas, emtermos de áreas, fi cou restrita
CE, 1982). à agricultura de subsistência.
Constata-se, portanto, que o território nordestino foi confi Discute-se, contudo, que a agricultura não expandiu neste pe-
gurado visando tanto o mercadoexterno, para suprir a metrópole ríodo colonial devido tanto às grandes distâncias do mercado (en-
portuguesa de bens e mercadorias, quanto o fornecimento alimen- tre sertão e litoral), quanto às péssimas condiçõesdas estradas que,
tar do mercado interno. Nos espaços da produção açucareira hou- assim, reduziam a comercialização interna dos produtos agrícolas
ve abundância e riquezamontada na escravidão indígena e negra, (GIRÃO,1995, p.36). Mas, não se pode deixar de considerar o fato

135
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
de que havia uma agricultura desubsistência sendo praticada pelos mentado anteriormente. Contudo, em termos de mercado externo,
trabalhadores das fazendas pecuárias, que se mantinhampratica- ainda em 1777, osprodutores e comerciantes cearenses de algodão
mente auto-sufi cientes, não fosse a importação de determinados tentaram atingir o mercado europeu, atravésde Portugal. Mas as
produtos vindos daMetrópole ou das principais Vilas. O algodão é relações de subordinação à Capitania de Pernambuco impediram
um exemplo desta fase, em que a agricultura eo beneficiamento esta intenção mercadológica e, de certo modo, contiveram a pro-
artesanal eram praticados apenas para o consumo de servos e tra- dução. Mas foi a abertura dos Portos,em 1808, que permitiu, não
balhadoresdos latifúndios. apenas o Ceará abrir-se para o mundo, bem como os investidoresin-
Além disso, desde os primórdios da ocupação do território cea- ternacionais passarem a aplicar capital em território cearense, com
rense pode-se falar de uma espécie de industrialização e urbaniza- destaque para os comerciantes portugueses e ingleses em Fortaleza
ção no Estado, que teria se formado a partir da indústria da carne (IPLANCE, 1982, p.36).
seca, ou da charqueada, e do comércio que se desenvolveu no seu Em particular, a economia algodoeira motivou a fi xação e a
entorno. Tal processo surgiu como estratégia para superar a concor- imigração de trabalhadores,além de demandar o trabalho da po-
rência e para minimizar o fato de o gado sofrer consideravelmente pulação indígena residente nos aldeamentos ou sob o controle dos
com seu transporte para o mercado interno, em direção às zonas padres e jesuítas nas missões. Entretanto, o auge desta economia
produtoras de cana-de-açúcar, inclusive para áreas de mineração. no território cearense e nordestino se deu durante a Guerra de Se-
A charqueada foi uma espécie de benefi ciamento que se fez à cessão dos Estados Unidos (1861-1865), que erao principal fornece-
carne do gado para evitar as perdas e manter-se na concorrência do dor desta matéria-prima no mercado europeu têxtil.
mercado. Tanto havia perda por mortalidade quanto pela redução O algodão foi uma cultura que se adequou à realidade cearense
do peso do rebanho ao fi nal do percurso, entre as fazendas e as não apenas em termosnaturais, mas sociais e econômicos, tal como
feiras, onde seriam vendidos (op. cit., p.38). foi brevemente resumido no parágrafo seguinte:“Uma nova fase
O beneficiamento da carne do gado proporcionou uma nova inicia-se na economia do Ceará, em fi ns do Século XVIII, quandoo
expressão econômica ao território cearense, pois possibilitou uma algodão surge como negócio altamente rentável, adaptando-se ao
outra estratégia de participação no mercado interno deabasteci- clima da zonasemi-árida, bem como ao sistema existente, fornecen-
mento alimentar para as principais regiões produtoras. Quando o do, das folhas, a alimentaçãopara o gado e liberando área para a
ciclo econômico dacana-de-açúcar esteve localizado em Pernambu- agricultura de subsistência. A expansão das exportações de algodão
co, o gado poderia ser transportado vivo, por rotas terrestres que acentua-se no século XIX, graças à demanda por matérias-primas,
abriam novas estradas e ocupações nos territórios cearense, per- provocada pela Revolução Industrial.” (IPLANCE, 1982, p.36)
nambucano, se extendendo até a Bahia. Entretanto, com o desloca- A Capitania experimentaria outros ciclos econômicos, sem dei-
mento da economia, através do cicloda mineração, para o sudeste xar de obter riqueza pela pecuária consorciada ao algodão. Assim,
do país (Minas Gerais), havia a necessidade de outra inserção do entraria em nova fase de ocupação e uso de seu território, tal como
principal produto cearense no mercado interno. foi observado por diversos historiadores e geógrafos, dentre eles
A “industrialização” da carne, contudo, não permaneceu como cita-se Silva (2000).
um modo de saber fazerapenas dos cearenses. Tal técnica migrou A cana-de-açúcar e o café tiveram pouca importância no ter-
para longe, chegando ao Rio Grande do Sul, atravésde viajantes que ritório cearense, pois nuncachegaram a ser produto principal ou
conheciam a arte do benefi ciamento da carne do sol, adaptando-a monocultura, afi nal o regime de semi-aridez que assolaquase todo
para a realidade do clima frio e úmido dos pampas gaúchos. Assim, território cearense, torna-o impróprio para tais culturas, ficando
enquanto parte do rebanho cearenseera dizimada pela grande seca restritas a determinadas áreas de exceção. A título de exemplifi
(1790-1793), os produtores do sul, há mais de uma década,apro- cação, inicia-se com o plantio de canaviais,que deram sustento ao
veitavam os altos níveis de produtividade de seu rebanho, favoreci- mercado interno pelo fornecimento de alimentos, e, em 1840, tais
dos por pastagens naturais, para avançar e concorrer com o benefi canaviais, com suas matas adjacentes, foram transformados em
ciamento da carne. Os sulistas aplicavam preçosalternativos para cafezais, como se exemplifi cara nasSerras de Meruoca, Baturité,
atingir o principal mercado interno- a zona da mineração. As locali- Ibiapaba, além de parte do Cariri cearense. Ceará e Pernambuco-
dadesvizinhas da zona produtora de Aracati (Açu e Mossoró), per- tornaram-se exportadores de café em determinados momentos fa-
tencentes ao Rio Grande do Norte,também tiveram acesso à técnica voráveis ao mercado externoe, em Baturité (CE), surge uma peque-
e instalaram ofi cinas que foram, contudo, controladas pelaProvín- na nobreza dos proprietários dos cafezais, a exemplo doque havia
cia de Pernambuco, que também se benefi ciava de parte da riqueza no sudeste do país.
gerada pelo Ceará(GIRÃO, 1995, p.71-72). A economia algodoeira e a produção de cana e de café, entre-
Segundo pesquisa histórica do IPLANCE (1982, p.36) “o Cea- tanto, não foram a base do período inicial que chamamos de confi
rá participou de uma formaexclusivamente dependente da zona guração do território cearense, apesar de sua contribuição na proli-
produtora de açúcar, e, indiretamente, de Portugal”. Masnão ha- feração de cidades e de municípios.
via somente dependência de produtos e tecnologias importadas,
houve também sangriade recursos que muito atrasou a ocupação e A Configuração Inicial do Território Cearense
o desenvolvimento cearense, cessando somente aofinal do século As análises históricas sobre a ocupação do território cearense
XVIII (1799), com a separação das duas províncias. Isto signifi cou referem-se a duas possibilidades: uma decorrente da imigração in-
que, durantetodo período do gado e do charque, parte da riqueza terna, ou dos deslocamentos das atividades subsidiáriasà economia
produzida pelo território cearense foradestinada ao território per- principal da Colônia; ou aquela referente à defesa do território con-
nambucano, além da metrópole portuguesa colonizadora. tra as investidasde outros países europeus interessados em explo-
Nesse momento de emancipação política da província do Ceará rar esta porção da América recém descoberta (IPLANCE, 1982). Sem
inicia-se um novo ciclo econômico, o do algodão, que seria favore- entrar no mérito da questão, considera-se que ambas as situações-
cido pelos novos rumos políticos e econômicos tomados em níveis contribuíram para a formação de cidades e municípios e merecem,
nacionais e mundiais. portanto, atenção destetrabalho.
O algodão já era explorado no território nordestino desde o Como consequência da defesa territorial e dos aldeamentos, as
início de seu povoamentocomo forma de suprir os trabalhadores vilas surgiram também por razões econômicas, que foram a pecuá-
de tecidos para suas confecções pessoais e domésticas,como já co- ria, com suas rotas e percursos no mercado interno, além de seus

136
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
efeitos multiplicadores. Pode-se observar, portanto, dois grandes Diz-se que somente por hipótese houve uma igualação de di-
períodos dedefinição das primeiras células básicas do Estado, que reitos, pois, conforme análise anterior, os indígenas foram contro-
chamamos de confi guração inicial doterritório, que estaria sendo lados como mão-de-obra semi-escrava nestas aldeias e depois nas
formado pelas primeiras 16 Vilas, que deram origem aos atuais184 Vilas, servindo de trabalhadores para as novas Vilas emancipadas.
municípios cearenses. O primeiro período foi relativo ao início da Na segunda fase, intensifi ca-se o criatório e o comércio do
ocupação, referente àcolonização portuguesa e à retirada do indí- gado, bem como o benefi ciamento da carne e do couro para o mer-
gena do território que seria destinado à pecuária(de 1699 a 1762). cado interno, fatos que impulsionaram a formação das outras oito
No segundo momento, a atividade pecuária teria desencadeado um primeiras Vilas. Na bacia do Banabuiu-Quixeramobim prosperou a
fl uxo comercial e de serviços a partir de seus produtos. primeira Vila da região central do Estado, que foi a de Quixeramo-
As vilas foram erguidas à princípio nas regiões litorâneas, ratifi bim (1789); As bacias do Acaraú e do Coreaú tornaram-se os ber-
cando a hipótese de defesa, tendo em vista que a economia pecuá- ços das vilas de Sobral (1766), Granja (1776) e Guaraciaba do Norte
ria nascente se fazia no sentido contrário, do sertão para o litoral, (1791); assim como a bacia do Rio Jaguaribe deu origem às vilas de
ou internamente no sentido leste e oeste, quase que reconfiguran- Russas (1799) e Tauá (1801) na bacia do Salgado foram criadas as
do os caminhosdos primeiros migrantes baianos e pernambucanos Vilas de Jardim (1814) e Lavras da Mangabeira (1816) (Figura 2 e
(Figura1). Foram poucos os casos de Vilaserguidas para a defesa do Quadro 1).
litoral cearense: a Vila de Aquiraz, criada em 1699 e a de Fortaleza,em Assim, em pouco mais de um século, entre 1699 a 1822, já ha-
1725. As vilas oriundas da penetração pernambucana, com um raio via uma relativa concentração populacional e de Vilas ao longo dos
de ação maior sobreo território cearense, surgiram do movimento Rios Jaguaribe-Salgado, Acaraú e do Coreaú, com menor destaque
leste-oeste, do Aracati (1747) em direção aoterritório do Piauí, es- para as bacias do Banabuiu-Quixeramobim.
praiando-se também do norte para o sul, saindo também do Aracati, Cabe destacar que o Ceará, com seu espaço quase totalmente
peloJaguaribe, até a vila de Icó (1735). A penetração baiana, por sua exposto ao regime de semiaridez, encontrou possibilidades de pe-
vez, teria sido feita pelo sul doEstado, através dos vales dos Rios Sal- cuária extensiva ao longo das margens de seus rios intermitentes.
gado e Jaguaribe e passando por Crato (criado em 1762)até a Paraíba. O historiador Geraldo Nobre comenta que as sesmarias ocupavam
Ainda na fase das primeiras vilas, destacam-se aquelas que foram eri- as margens dos rios de forma perpendicular, talvez para possibilitar
gidas emfunção do aldeamento indígena, que foram: Viçosa do Ceará um maior número de benefi ciados com este recurso tão escasso no
(1759), Caucaia (1759) e Baturité(1762) (vide Figura 1). semi-árido, que é a água potável:

“As sesmarias geralmente eram 3x1, 3x2, 3x3, 2x1. Que signifi
ca três léguas à margem do rio e uma légua de largura e assim por
diante. Assim, as fazendas se constituíam em regra com três léguas
dispostas ao longo de um curso de água por uma de largura, sendo
meia para a margem, as léguas eram desiguais entre si e quase sem-
pre pequenas.” (NOBRE apud MAPURUNGA, 2003, p.171)

Além disso, chama-se atenção para o fato de que, nestes pri-


mórdios da Capitania do Ceará, as sesmarias iam sendo ocupadas
deixando espaços vazios entre elas, ou seja, sem limites definidos,
colocando-se tal com uma fronteira de faixa, vista na concepção de
Mattos (1990).
Tais espaços vazios foram sendo ocupados por posseiros, ge-
rando confl ito com os latifundiários vizinhos, visto que seus limi-
tes não eram bem demarcados ou protegidos, tendendo o gado a
ultrapassá-los, provocando perdas, queixas, desavenças e mortes.
Em 1850, com a lei das Terras, tais glebas foram consideradas devo-
lutas e somente poderiam ser adquiridas mediante compra. O de-
poimento de Nobre sobre as terras devolutas no Ceará é bastante
elucidativo da questão:

“É que elas [terras devolutas] existiam limitando as fazendas


entre si. Uma légua de terra permanecia devoluta entre elas. Nes-
ses espaços, os donos das fazendas não podiam levantar pontes ou
quaisquer outras construções, pois a sua utilidade era de servir de
marco divisório, pela ausência de muros e cercas na região. Tal me-
dida buscava evitar a mistura entre as cabeças dos reb nhos e as
incursões do gado nas plantações vizinhas e, mesmo, o seu extravio.
Até 1758, havia somente Aquiraz, Fortaleza, Icó e Aracati. Esta A idéia era evitar também confrontos entre os vizinhos”. (NOBRE
data corresponde a ummarco na instalação de Vilas, quando os al- apud MAPURUNGA, 2003, p. 172).
deamentos indígenas foram elevados a categoria deVila e os povos
nativos supostamente seriam igualados aos colonos, de acordo com
Pinheiro.
“[...] a partir de 1758, as aldeias indígenas foram transformadas
em vilas. Com a expulsão dos jesuítas, a administração dos povos
indígenas passou para a órbita laica e os povos nativos foram igua-
lados aos demais moradores.” (2000, p. 46)

137
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ

Neste período colonial, portanto, o gado foi o grande responsável não apenas pela permanência do homem no sertão, mas também
pela movimentação e expansão destas áreas e,
posteriormente, pelo início da urbanização. Além disso, surgiram diversas outras Vilas que assumiram funções de destaque na econo-
mia sertaneja, seja como entreposto para parada e recuperação do gado, no cruzamento de rotas para o mercado, ou ainda nas cidades
litorâneas, que se especializaram no benefi ciamento da carne salgada com destino a locais mais longínquos.
Dentre as Vilas erigidas pelo maior peso da atividade pecuária destacam-se: Icó, Sobral, Quixeramobim, Russas e Tauá.As charqueadas
e alguns dos subprodutos do couro iniciaram-se em Aracati, como principal entreposto marítimo, que fazia entrega para Pernambuco e
de lá saíam para as áreas demineração e para a metrópole portuguesa (IPLANCE, 1982, p. 56). Conforme Girão (1995,p. 65), as ofi cinas
que se instalaram em Aracati começaram a desenvolver suas atividades apartir da primeira década do século XVIII. Araújo (2002, s/p.), por
sua vez, observa que taisoficinas rapidamente se expandiram, associadas às atividades terciárias de prestação de serviços (administrativa,
comunicação, fi nanceiro, comercial e etc.), atraindo bastante populaçãopara o local, inclusive de estrangeiros, ampliando e enriquecendo
a construção dos principaisequipamentos e de moradias.
Mas nem toda vila se prestava ao benefi ciamento da carne (ou para instalar ofi cinas). Erade grande importância, por exemplo, que
o local dispusesse de condições para extração dosal marinho, além de permitir a embarcação e o transporte por cabotagem, o que impli-
cavana existência de uma enseada natural (barras de rios). No território da Vila de Granja, maisespecifi camente na localidade praiana de
Camocim, e na Vila de Sobral, no porto de Acaraú,as condições ambientais também favoreciam (barra do rio, clima e extração de sal) o
desenvolvimento de ofi cinas de carne seca, tal como comprovado por vários historiadores, dentre elesValdelice Girão:
“As povoações de Aracati, Granja, Camocim e Acaraú, possuíam as condiçõesexigidas. Ali, em toscas ofi cinas, passou a ser fabricado
um tipo de carne seca,não prensada, moderadamente salgada e desidratada ao sol e ao vento, por temponecessário à sua conservação.
Isso com o aperfeiçoamento da técnica empregadapelo índio, transferida ao vaqueiro, no preparo da carne seca, ainda hoje comumnas
regiões sertanejas nordestinas-a chamada carne-de-sol.” (1995, p.65)
Em resumo, quando se quer reportar a este quadro inicial que conformou as primeirasVilas do território cearense com suas fronteiras,
tal qual hoje se conhece, pode-se atribuirao fato econômico da pecuária extensiva e de sua comercialização, além do benefi ciamentode
seus principais produtos (carne e couro). Uma produção que reunida à do Piauí, foi levadaem direção aos mercados interno e externo,
tanto por deslocamento interno quanto utilizandotransporte marítimo. Tais trajetórias comerciais teriam expandido os movimentos de
instalação de fazendas, bem como haveria fomentado pontos de entrepostos e de portos marítimospara circulação dos principais produtos
exportados e importados, defi nindo rotas que ligavamos diversos quadrantes do território cearense.
As vilas foram as menores unidades territoriais com autonomia política e administrativa,característica do território brasileiro em for-
mação, da fase da colonização até o fi nal do séculoXIX. A vila é equivalente a município na divisão administrativa de origem romana, cuja
designação foi adotada na Península Ibérica e transferida de Portugal para suas colônias, conformeFurtado (2007, p.202-203)

138
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ

FORMAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO CEARÁ E A BASE


LEGAL
A retrospectiva da formação territorial nacional possibilitou
analisar os fatores econômicos como determinantes dos fatores
Ainda neste período, designava-se como termo “o território da políticos e sociais na confi guração básica do território cearense.
vila, cujos limites são imprecisos; tinha sua sede nas vilas ou cidades O modelo de ocupação do Ceará traçado pela pecuária extensiva
respectivas; era dividido em freguesias (que é um conceito eclesiás- deu-se, praticamente,no século XVIII, atendendo aos interesses dos
tico) [...]” (op.cit., p.203). pecuaristas, diante da necessidade de grandesextensões de terras
A partir de tais conceitos, pode-se entender melhor a Carta para a atividade, infl uenciando o surgimento de confl itos e de
Marítima e Geográfi ca da Capitania do Ceará, elaborada por An- manipulação/dominação política da classe trabalhadora.Após essa
tonio José da Silva Paulet, em 1817, sobre a qual se trabalhou os confi guração básica, o território seria intensamente fragmentado
principais destaques (Figura 3). Nesta Carta, os territórios de 13 das por ação degrandes proprietários de terra ou latifundiários, cuja do-
antigas Vilas são delimitados e considerados como Termos, cujas minação política se fazia sentir desdeas fazendas de criação do gado
sedes lhe prestam o nome. Verifi cam-se algumas diferenciações e de produção do algodão destinados ao mercado distribuidore em
em relação à Figura 2 construída para representar essa fase inicial direção aos centros industriais mais dinâmicos do país. Assim, as es-
de configuração do território cearense. truturas de poderpolítico e econômico que comandaram o Estado
À primeira vista, cada um dos 16 municípios que formaram as do Ceará durante séculos, ainda hoje, mantêmfortes elementos que
células básicas originais do território cearense está representado se manifestam e se materializam nas relações políticas clientelísti-
nesta Carta de 1817, com exceção das vilas erigidas posteriormente cas,nas desigualdades sócio-espaciais e na concentração da renda,
a esta data que, na ocasião, ainda eram povoados: a Villa de Lavras com ampliação da pobreza e da miséria, dentre outros problemas.
da Mangabeira (antigo Povoado de São Vicente de Lavras), incluída Este processo de ocupação, contudo, somente foi acompa-
no Termo da Villa de Icó. Outros dois casos chamam ainda atenção: nhado de uma base legal, que regulamentaria o território como
Caucaia (antiga Villa de Soire) por não possuir um território deli- um todo, bem depois da ocupação e do processo de fragmentação
mitado, fazendo parte do Termo da Villa de Fortaleza; ao contrá- iniciado durante o Império. Apesar da propriedade privada da ter-
rio, Baturité (antiga Villa de Monte Mor O Novo), apesar de estar ra ser fundamental para a dominação política, não havia interesse
delimitado por território específi co, não estava sendo identificado local de registrar, formalmente, a transformação do território mu-
como um Termo e nem fazia parte de outro. nicipal com suas fronteiras demarcadas empiricamente. E, mesmo
Assim, o desenvolvimento e a evolução político-administrativa em termos nacionais, houve apenas um determinado momento
do Estado estiveram e estão relacionados às atividades sociais, eco- político no qual se procurou dar uma coerência e uma organização
nômicas, políticas e culturais que se desenvolverama partir deste territorial interna e fronteiriça ao país, dentro de uma perspectiva
período colonial. As primeiras Vilas fi rmaram-se como células bá- nacionalista, conforme será demonstrado neste capítulo.
sicas originais,com múltiplas funções dentro da economia pecuá- Por outro lado, não havia um contingente populacional expres-
ria, como: produtoras, comerciais, administrativas, industriais e de sivo que viesse ocupar todo o território das Vilas e fazer pressão so-
serviços. Algumas com mais de uma função adotada em períodos- bre suas fronteiras. O processo de criação de Vilas, identificado por
diferentes, e com movimentos de crescimento e de estagnação na Andrade, na província de Minas Gerais, pode ser extensivo às de-
história do Ceará e do Brasil,tal qual pode-se acompanhar nos des- mais províncias brasileiras, qual seja a princípio, as vilas eram muito
dobramentos seguintes sobre o território cearense. distantes umas das outras e praticamente não possuíam fronteiras
bem delimitadas, tal como se apreende da passagem referida por
Andrade:

139
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
“O povoamento não era continuo, ele se adensava em torno dos garimpos, dando origem as vilas que se situavam muitas vezes, à
grande distância uma das outras [...]. Nos grandes espaços que se estendiam entre estas vilas desenvolveram-se lavouras de subsistência,
voltadas para o seu abastecimento e também atividades pecuárias [...].” (1995, p.22-23)
Portanto, como não havia necessidade de separar as Vilas por fronteiras, e, anteriormente, nas sesmarias, não havia uma delimitação
nítida de grandes regiões brasileiras, tal como nos faz concluir Costa:
“[...] O espaço para o qual reclamavam providências para o Estado Imperial ainda não tinha fronteiras defi nidas capazes de circuns-
crevê-la como região [...].” (2005, p.41)

Por sua vez, a falta de um critério legal para delimitar fronteiras e separar vilas viriaser reclamada, localmente, somente bem mais tar-
de, sendo levantada, parcialmente, ou deacordo com os interesses confl itantes de algumas das partes envolvidas. Portanto, a divisãopolí-
tico-administrativa da atualidade está permeada de problemas, ou seja, com pendênciasde litígios e confl itos de fronteiras tanto entre os
municípios quanto entre outros estados doNordeste. São exemplos de litígio do Ceará: os ocorridos com o Rio Grande do Norte quantoà
defi nição do limite na chapada do Apodi; e com o Piauí, quanto à definição do limite sobrea chapada da Ibiapaba. Áreas consideradas de
exceção do ponto de vista ambiental de umaregião semi-árida como a nordestina.

A Fragmentação do Território Cearense


Apesar de reconhecer que a fragmentação do território cearense teve forte impulso daeconomia algodeira, durante o século XIX,
acompanhada de maciços investimentos em infraestrutura econômica e urbana, não se pode deixar de observar as questões de ordem po-
lítica edemográfi ca.De acordo com Girão apud Rodrigues (1995), as estruturas de poder ligadas à propriedadeda terra, aos latifundiários
que se interpuseram no contexto político local e nacional, fi zeramdas emancipações dos municípios uma relação direta com os interesses
políticos, ao afi rmarque:
“A divisão do território cearense, como acontecia com os demais Estados, esteve sujeita aos inconfessáveis interesses políticos e outros
de ordens diversas não inspirados no bem comum. Criava-se, extinguia-se, restaurava-se Municípios sem obediência à sistema lógico, justo
e geral, e daí a confusão reinante neste âmbito da administração pública.” (1995, p. 22).

Mesmo nos tempos mais remotos, o processo de criação dos municípios também esteve associado ao crescimento e ao movimento
populacional pelo território, mostrando a relação entre o problema de fronteiras municipais e a pressão demográfi ca.
Portanto, procura-se, realizar análise sobre o processo econômico de ocupação do espaço, associado à população. Tais abordagens
são seguidas de considerações sobre a atuação do Estado Brasileiro,31 notadamente quanto às formas de governo e de política nacional e
estadual, para então elucidar-se a discussão do aparato legal no processo de fragmentação do território cearense.

A Questão Populacional Durante a Colônia


No decorrer da formação básica inicial do Estado do Ceará, entre 1699 e 1822, referente à criação das 16 Vilas no período colonial
brasileiro, o contingente populacional era ainda bastante diminuto. Apenas a Vila de Crato detinha uma relativa concentração populacional
(quase 21 mil habitantes), podendo ser considerada a principal vila em termos populacionais, embora não fosse a mais importante em
termos de mercado (Tabela 1).
A explicação para tal destaque populacional estava nas bases de sobrevivência dos trabalhadores. A fartura de água e de terras úmi-
das permitiu uma base agrícola diversifi cada, incluindo cultura da cana-de-açúcar, algodão e pecuária, benefi ciamento da cana (açúcar,
rapadura, melado e outros derivados) e do algodão. Além disso, no Crato deu-se início a um processo de benefi ciamento industrial que
fora importante para a confi guração dos territórios cearense, piauiense e pernambucano. Mas, seriam a intelectualidade e a política as
bases de sustentação mais forte desta vila, que se tornou município-pólo da região sul do estado e cominfluência sobre os estados vizinhos
(AMORA, 1995).

140
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Tauá, Sobral e Icó foram as demais Vilas de maior atração populacional nesses primórdios da ocupação cearense. Suas funções ad-
ministrativas e suas bases terciárias de comércio e serviços formaram as principais razões para manter a população ali residente, embora
não se comparassem com a Vila de Crato.
Aracati surpreendia pela contradição de ser a principal Vila econômica (industrial, comercial e de serviços), aquela que daria formação
à rede de cidades (SILVA, 2000, p.227), teve pouca expressão em termos populacionais, com menos de 5 mil habitantes. Um contingente
que era, em 1804, quatro vezes menor que a população de Crato.

O Período Correspondente ao Império


No período do Império, considerando o intervalo de anos entre 1823 a 1889, foram erigidas 48 novas Vilas, que somadas às 16 ante-
riores, totalizavam 64 municípios. Na primeira metade do século XIX, o processo era lento e foram criados somente 11 novos municípios,
desmembrados42 de 6 das 16 células originais, estando concentrados do seguinte modo: dois oriundos do desmembramento de Crato
(Barbalha e Milagres) e Sobral (Itapipoca e Acaraú), três do Município de Icó (Jucás,Jaguaribe e Pereiro). Itapipoca apesar de ter sido criado
neste período passou por desmembramento, originando o Município de Itapajé (1849). Entre 1851 e 1889, ao contrário, a fragmentação
territorial foi bem mais acelerada, pois aconteceram 37 emancipações, sendo que das células originais, à exceção de Tauá e Guaraciaba do
Norte, todos os outros 14 municípios deram origem a novos municípios (Quadro 2).
Faz-se destaque ao quantitativo de municípios criados a partir dos municípios de Quixeramobim (4) e Lavras da Mangabeira (3). O
restante dos municípios originou-se de forma quantitativamente homogênea em 26 dos 64 municípios existentes. Neste período, também
passou a fazer parte do Ceará dois municípios (Crateús e Independência) originários da Vila de Marvão pertencentes ao território do Piauí
(Figura 4).
Essas vilas passaram por experiências comuns, enquanto principais territórios de concentração da riqueza pecuária que, associada à
produção do algodão, permitiu que a população local se estabelecesse e pudesse enfrentar as adversidades climáticas.
A economia algodoeira, além de permitir o consórcio com o gado, constituiu-se no grande fomentador econômico da fragmentação
territorial, tendo por suporte a política local e imperial de enfrentamento das questões da seca, pois adequou-se aos sistemas de poder e
de produção vigente.
Conforme Neves (2000), a seca fazia com que se quebrassem as relações paternalistas entre patrão e empregados, que mantinham
um sistema de lealdade dos moradores (votando em seus partidos e representantes políticos) pela reciprocidade dos donos da terra (que
amparavam seus moradores durante a crise climática).
Mas a seca também gerou motivo político para que os governantes locais conseguissem mobilizar recursos para investimentos em
obras, utilizando os trabalhadores rurais como mãode-obra. Assim, conforme Celeste Cordeiro (2000, p. 140-141), a seca afetaria o sistema
político, pois intensifi cava a dependência local ao governo central; ao mesmo tempo, permitia o favorecimento, a barganha e a corrupção
nas eleições.

141
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ

142
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ

143
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
O litígio, é confi gurado quando no processo de negociação as par-
tes interessadas nãochegam ao consenso na defi nição das fronteiras,
limites e divisas. Entre o Piauí e o Ceará, eleteve início na Serra da Ibia-
paba, enquanto local e território de resistência indígena à colonização
portuguesa, que perdurou por mais de meio século (PINHEIRO, 2000).
Contudo, após acapitulação indígena aos portugueses, tal território
passou a ser do interesse dos maranhenses,que estavam sob a infl
uência holandesa, disputando tal área com a metrópole portuguesa.
Tallinha de raciocínio foi observada nos fatos relativos à ordem do rei
de Portugal que, em determinado momento, decidiu a polêmica entre
os dois governos (Maranhão e Pernambuco), sendofavorável ao Ceará,
na época, província subordinada a Pernambuco:
“Em 31 de outubro de 1721, [...] pareceu ao El Rei ordenar, que
dita aldeia fi que como dantes no domínio desse governo de Per-
nambuco e capitão–mor do Ceará, e que se suspendam por ora as
ordens de se unir ao Maranhão.” (TORRES, 1988, p.26)

O representante da capitania do Piauí, ainda insatisfeito, e, jun-


tamente com o governador do Maranhão, recorreu à Coroa solici-
tando o reconhecimento de seus direitos sobre o território da Serra
da Ibiapaba e do distrito de Crateús. Tal polêmica perdurou, por
mais de 30 anos, quando a decisão régia pendeu a favor do Ceará.
Desta experiência vivida entre os territórios cearense e piauien-
se, percebe-se que o litígio é tratado dentro de uma esfera de po-
der que parte do nível local e mais próximo, até o mais distante e
hierarquicamente superior. Sob a influência do litígio, as decisões
referentes ao cotidiano das pessoas e famílias, tais como aquelas
sobre a propriedade de suas terras são conduzidas em níveis locais
e mais próximos, tomando encaminhamento diferente se fossem
conduzidas ao nível das decisões superiores e distantes. Por exem-
Ainda na opinião de Celeste Cordeiro, a política local possuía
plo, em 1721, a metrópole portuguesa já havia se decidido em favor
características que seriam dadas por essas relações políticas com a
do Ceará para ter direito sobre o território de Crateús. Entretanto,
seca, que em resumo expõe:
determinado proprietário, ao adquirir terras no local, recebeu confi
“A ausência de autonomia provincial, a dependência agravada
rmação de propriedade do representante de Oeiras, província do
nos períodos de seca, a privatização da política, com seu exercício Piauí, tal como se pode verifi car no seguinte depoimento:
admini trado a partir de interesses familiares, a utilização dos par- “[...] Garcia de Ávila Pereira, da Casa da Torre, compra um ex-
tidos com objetivos de manutenção do mandonismo local, a impo- tenso vale do Crateús, com área de 180 quilômetros de comprimen-
tência do eleitor sertanejo, a força policial como extensão do po- to por 120 km de largura, pela quantia de 4.000 cruzados. A posse
der dos ‘coronéis’, a vitória política como legalização do arbítrio, o lhe foi conferida pelo Ouvidor de Oeiras, [...] A escritura trazia chan-
controle total dos postos da administração, da professora ao juiz, a cela do Ouvidor de Oeiras, sede então da vasta capitania do Piauí
violência como forma mais efi caz de intimidação dos adversários.” [...].” (op.cit., p.26).
(2000, p.77)
Tais terras foram adquiridas posteriormente por D. Luiza Coe-
Vê-se, portanto, a política sendo assentada em base territorial, lho da Rocha Passos da Casa da Torre (Garcia D’Ávila), na Bahia, para
fazendo com que houvesseuma disputa por territórios entre dife- o desenvolvimento da pecuária e foram elas que deram origem aos
rentes grupos de poder. Tais fatos, certamente, vinhamcontribuir atuais Municípios de Crateús e Independência. A fazenda denomi-
com a emancipação dos municípios e com o surgimento de discor- nada Piranhas, situada às margens do Rio Poty, originou o povoado
dância em relaçãoàs fronteiras, a princípio entre as fazendas, de- de mesmo nome, onde foi erguida a capela de Piranhas em 1770,
pois provocando litígios entre os estados e osmunicípios. marco para o desenvolvimento do povoado que, posteriormente,
Vários foram os momentos políticos que, durante o Império, foi elevado à categoria de Vila, pelo Decreto Regencial de 6 de ju-
romperam disputas regionaise locais. Para citar apenas os mais im- lho de 1832, recebendo a denominação de Príncipe Imperial, nome
portantes, Cruz Filho (1966, p.39-40) faz menção às Vilasde Crato e com que se pretendeu homenagear o jovem Imperador.
de Icó, com o movimento revolucionário separatista de 1824, nas- Este território foi anexado defi nitivamente, ao Estado do Cea-
cido em Pernambuco, intitulado a Confederação do Equador. Em rá, em troca de uma parte doMunicípio de Granja (Vila de Amarra-
sentido contrário, em 1831, a guerra civiliniciada por Pinto Madeira, ção), localizado na barra do Rio Parnaíba. Conforme oargumento
ao sul do Estado do Ceará, na Vila de Jardim, procurava restauraro da época, tal abertura para o litoral seria de relevante importância
Império, avançando sobre o Crato, com uma ação violenta de saque para a província do Piauí, devido às possibilidades de relação direta
e depredação. com a metrópole portuguesa e demaismercados europeus.
Portanto, não é por acaso que no século XIX, tenha se ‘resol- O povoado de Amarração foi uma estratégia de ocupação ter-
vido’ uma antiga divergênciareferente ao litígio das terras entre o ritorial que partiu da Igreja, por meio da ação dos padres, em 1823,
Piauí e o Ceará, que culminou no acréscimo da porçãosudoeste do que ampliou sua freguesia com a realização de batizados e casa-
Ceará, quando fora incorporada, em 1880, parte do território da mentos, passando a exercer infl uência direta sobre seus habitan-
Vila de Marvão,pertencente ao Estado do Piauí e que dera origem tes. Como desdobramentos políticos e econômicos, fundados na re-
às Vilas de Crateús e de Independência,conforme já foi citado. lação comercial do povoado com a cidade de Granja, a Assembléia
Provincial do Ceará elevou o povoado à categoria de distrito (Lei nº

144
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
1.777, de 29 de agosto de 1865). Após nove anos, o distrito foi transformado em Vila (Lei nº 1.596, de 5 de agosto de 1874), sendo instalada
somente em 23 de julho de 1879 pelo presidente da Câmara Municipal de Granja, de cujo território havia sido desmembrado. Contudo,
em 1880, a província do Piauí reivindica a sua posse e seu território foi então anexado ao desta província, mediante a lei geral nº 3.012 de
22 de outubro de 1880, na ocasião de anexação das Vilas de Crateús e Independência ao Estado do Ceará.
Ainda neste período, a título das conquistas políticas sobre o governo central e comoresultado das exportações cearenses de algodão
para os ingleses, realizaram-se diversos investimentos públicos e privados que visaram apoiar a economia do algodão. Já em 1857, antes
doauge da economia algodoeira (durante 1860 e 1865), foi inaugurado o Trapiche do porto de Fortaleza. Dezoito anos após, o primeiro tre-
cho da estrada de ferro de Baturité foi entregue paraligar Arronches (Parangaba) a Mondubim e a Maranguape. Em 1876, Pacatuba estaria
sendobeneficiada pela ferrovia. O trecho até Baturité, somente concluiria-se em 1882, no mesmo anoem que se disponibilizava o telégrafo
por cabo submarino, melhorando a comunicação entreFortaleza e o sul do país, bem como com a Europa. O ramal da ferrovia Camocim a
Granja havia sido ligado um ano antes (1881) (IPLANCE, 1982).
Toda essa infra-estrutura e essa melhoria das comunicações representavam dupla possibilidade: o ir e vir das mercadorias e o trans-
porte de passageiros. A ferrovia e suas estações foram muito utilizadas para a imigração dos cearenses e para tentativa política de controle
da migração vinda do interior do Estado para Fortaleza e seu destino final, ao norte ou ao sudeste do país. Com isto, muitos dos imigrantes
que deveriam apenas fazer um trampolim nas cidades menores, permaneceram ali. Tais fatos viriam modifi car o processo de erguimento
dos povoados em vilas, com suas emancipações políticas.
Diferentemente deste desenvolvimento econômico e de infra-estrutura neste período, não havia um sistema de organização da di-
visão político-administrativa; para cada novo município correspondia uma legislação individual, tendo por base as Leis Provinciais, os
Decretos Leis e as Resoluções.

O Período Relativo à República Velha


Entre 1890 e 1929, cerca de 40 anos após o conturbado período político imperial, vive-se uma nova fase do algodão na economia cea-
rense, aquela voltada para seu mercado interno de beneficiamento industrial, a criação de novos municípios foi equivalente à registrada no
Império, quando se faz a relação entre o número de anos do período com as emancipações ocorridas. Foram criados 23 municípios, vindo
a se consolidar 87 municípios no território cearense (Quadro 3 e Figura 5).
Desta vez, o destaque é dado a Baturité, que serviu de exemplo tanto na expansão econômica quanto populacional e, portanto, no
desmembramento territorial. Isto porque, possuindo uma economia voltada para produção cafeeira, ela foi fortalecida pela produção
algodoeira, possibilitando seu crescimento populacional.
De acordo com informações populacionais de 1804, Baturité não figurava entre as principais Vilas do Estado, bem como em 1860 não
estava entre as principais áreas produtivas. Em 1872, já era a segunda vila produtiva com maior contingente populacional, atingindo 27
mil habitantes (Tabela 2). A população de Baturité passou a fi xar-se ali como resultado da economia algodoeira, dando origem a cinco
municípios desmembrados de seu território no início da República, no ano de 1890: Mulungu, Aratuba, Aracoiaba, Pacoti e Guaramiranga.

145
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ

146
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ

Na crítica de Andrade (1995, p. 56 a 58), a República não viria atender às expectativas dos que defendiam a necessidade de uma Re-
forma Agrária no Brasil. Ao contrário, a Constituição de 1891 reforçou o fato de as terras públicas continuarem sob o poder dos Estados,
de seus coronéis e currais eleitorais, reforçando o destino traçado, em 1850, pela Lei das Terras, que era de concentrar terra na mão dos
poderosos. Portanto, os confl itos pela terra persistiram, a exemplo da Guerra dos Canudos, na Bahia, entre 1896 e 1897.
O sistema político local continuava utilizando suas estratégias de obter recursos federais mediante o apelo social e o drama da seca. A
política hidráulica, que havia sido iniciada no século XIX, se amplia com a criação da Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS) em 1909.
Entretanto, mais uma vez, tais benefícios políticos viriam favorecer as oligarquias dominantes.
A infra-estrutura básica do Nordeste foi implantada nos períodos de secas, contando com as instituições federais, construindo não apenas açu-
des, mas estradas, campos de pouso, reservatórios d’água, cercas nas propriedades privadas e etc. De acordo com IPLANCE: “a infra-estrutura física,
como elemento de base para o desenvolvimento das relações econômicas, evoluiu rapidamente desde fi ns do século passado [XIX], progredindo
para o nível de atividade contínua a partir de 1909, com a criação da Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS atual DNOCS) [...].” (1982, p.58).
Tais instituições, criadas em resposta às crises climáticas nordestinas, de certo modo, favoreceram a ocupação mais consolidada do
território regional, contribuindo para a demarcação de suas fronteiras, tal como textualmente revela Costa:
“A delimitação das fronteiras político-administrativas do Nordeste é acionada principalmente na esfera política, sendo o Estado nacio-
nal seu protagonista mais significativo. As ações de socorro ao fl agelo em tempos de seca, a criação de instituições como o Departamento
Nacional de Obras Contra as Secas, o Instituto do Açúcar e do Álcool, a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco, a Compa-
nhia Hidroelétrica do São Francisco, o Banco do Nordeste do Brasil, culminando com a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste,
a qual está diretamente ligada a demarcação das atuais fronteiras do Nordeste, são exemplares desse protagonismo.” (2005, p. 38)
A dependência da província cearense dos recursos centrais não se limitava à questão das crises climáticas. A sedição de Juazeiro do
Norte, conduzida por Padre Cícero entre 1912 e 1914, constitui-se um exemplo da repressão do poder constituído e uma consequência ne-
gativa dessa dependência ao poder centralizado. Desta vez, tal confl ito popular motivou a intervenção Federal, em que, como nos anterio-
res, o Imperador controlara nomeando 43 Presidentes, entre 1841 e 1889. O Ceará, como todo o Norte, além de fi car ilhado das decisões
que favoreciam a economia sudeste (café com leite), não possuía nem o direito de escolher seus dirigentes (CRUZ FILHO, 1966, p.41-46).
Fatos que viriam justifi car porque tantas pessoas e famílias, até multidões de cearenses, abandonariam seu lugar de origem em busca
de melhores condições de vida. Assim, com a emigração dos cearenses, os desmembramentos perderam força, mas, em contrapartida, a
expansão populacional e territorial de Fortaleza tornara-se bastante visível.
As estatísticas populacionais no Brasil vieram melhorar com a criação do Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE) em 1939.
Entretanto, com as fontes disponíveis, constata-se o crescimento populacional vertiginoso do Estado no início do século XX, cuja população
viria a concentrar-se, notadamente, em Fortaleza.
Desde 1860, verifi cava-se que a população de Fortaleza tornara-se a mais representativa do Estado. Assim, entre 1890 e 1920, a população esta-
dual mudou de 806 mil para 1.319 mil habitantes, enquanto Fortaleza variou de 41 mil para 79 mil habitantes. Mas, duas décadas depois, em 1940, a
população cearense quase duplicara (chegou a 2.091 mil pessoas), enquanto a fortalezense crescera duas vezes mais (180 mil hab.) (SILVA, 2000, p.221).
Apesar de todo este crescimento populacional e de novos fatos econômicos, durante o período da República Velha ainda não havia
sido concebido um sistema de organização da divisão político-administrativa para dar condução ao intenso processo de criação, extinção e
restauração de municípios, o qual permanecera da mesma forma do período anterior (desordenada e conflituosa).

147
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
A Era Vargas e da República Populista
Este período que compreende o Estado Novo até a Ditadura Militar, ou seja, de 1930 a 1963, foi marcado por grandes transformações
políticas, sociais e econômicas, com fortes impactos sobre o território e a população
Ainda no período da Segunda Guerra, o governo populista de Vargas apóia a emigração demilhares de cearenses e nordestinos para a
Amazônia. Tais imigrantes viriam formar o chamado exército da borracha, pois foram trabalhadores que atuaram como em regime de guerra,
naexploração da borracha, visando o comércio externo. Para tanto, havia sido criada, em 1942, ainstituição Serviço Especial de Mobilização de
Trabalhadores para a Amazônia (SEMTA) e aHospedaria Getúlio Vargas para os imigrantes em Fortaleza, em 1943 (IPLANCE, 1982).
A população recenseada pelo IBGE, entre 1950 e 1960, mostrou que, apesar da forte perda populacional pela migração e pelas altas
taxas de mortalidade, ainda assim, tinha-se um crescimento expressivo da população urbana e rural.
Pode-se explicar este fato por ser nos anos 50 o período em que se inicia o processo deurbanização no Ceará, quando chega à maioria
das cidades médias a energia da Hidroelétricade Paulo Afonso. É também o tempo de uma nova institucionalização com uma linha maisde-
senvolvimentista do Estado, onde são criados o Banco do Nordeste do Brasil (BNB), a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
(SUDENE), por exemplos (IPLANCE, 1982).
Foi o momento mais marcante para a industrialização cearense e nordestina, após a políticanacional de regionalização dos recursos
Federais via novas instituições (BNB, SUDENE), queviria transformar as relações sociais e de poder local e, com elas, o espaço.
Assim, deu-se o início da urbanização verifi cada durante os anos 1950 e 1960, embora acaracterística da maioria das sociedades cea-
renses ainda fosse rural, pois boa parte dos municípios ainda concentrava sua população nessas áreas e, apenas algumas principais cida-
dese outras recém emancipadas, possuíam esse atributo urbano. Em 1950, Fortaleza e Juazeirodo Norte destacavam-se neste processo de
urbanização, com taxas superiores à metade da população total. Em seguida, vinham Camocim, Sobral, Crato, Aracati e Maranguape, que
nãochegaram a 40% de urbanização. Alguns municípios com mais de 50 mil habitantes, considerados populosos para a época, contudo,
ainda eram predominantemente rurais, por exemplo,Cascavel, Acaraú e São Gonçalo do Amarante (Tabela 3).
O processo de urbanização parecia irreversível, pois alguns municípios que sofreram perdas populacionais, motivadas pelo desmem-
bramento de parte de seu território, continuaramcom sua população urbana em crescimento e, portanto, elevando a participação desta
sobreo total. Um exemplo deste fato pode ser visto em Camocim, que sofreu um desmembramentono período, relativo à Chaval; portanto,
sua população total em 1960 foi subtraída em 4.663pessoas, em relação a 1950, porém sua população urbana aumentou na mesma déca-
da de 1.385pessoas. Russas, Icó, São Benedito, Cascavel, Canindé, Itapajé e Tauá são outros casos com omesmo fenômeno de urbanização,
apesar da emancipação de municípios provenientes deles.
Mas poucos foram os casos onde a população total e urbana declinaram: Granja, Baturité e São Gonçalo do Amarante.
Tal pressão demográfi ca nem sempre era acompanhada dos recursos necessários para as necessidades básicas da população, seja
pela centralização Federal ou pela política clientelística local que favorecia seus apadrinhados. E esta função político-administrativa viria a
fazer diferença nas questões de emancipação, que colocaram em segundo plano a ordem econômica.
Assim foi esta a conclusão do IPLANCE (op. cit., p.63) à respeito da formação de cidades, onde, “as cidades brasileiras, de uma maneira
geral, e as cearenses, em particular, foram criadas com a função predominantemente de controle, não um controle mercantil de explora-
ção, mas principalmente político-administrativo”.

148
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
É deste período (1930-1963) que fl ui, pela primeira vez, a revisão geral territorial interna e externa, com a preocupação de delimitar,
além das fronteiras nacionais, os limites municipais.
Como já havia sido comentada anteriormente, a criação do IBGE foi um grande marco desta política territorial. O controle sobre a po-
pulação sobre o território viria dar força e prestígio a esta instituição, responsável pelo recenseamento, estimativas populacionais e cartas
geográfi cas, cujas bases de toda política territorial de distribuição dos recursos estaduais e municipais estavam centralizados no governo
federal (ANDRADE, 1995, p.121).
A centralização do poder, característica deste período, não foi um fato novo para os brasileiros. Contudo, a visão intervencionista do Estado
na economia e a versão populista do governo e da política fizeram toda a diferença, conduzindo a novos fatos, inclusive de cunho territorial.
No Estado Novo e na República Populista, o desmembramento chegou a 54 novos municípios,totalizando 141. Neste último período,
a fragmentação territorial ocorreu com maior densidade emalguns anos, uma vez que durante 20 anos (1930 até 1950) ocorreu a criação
apenas do Municípiode Baixio, em 1932, desmembrado de Lavras da Mangabeira. Constata-se uma concentração nacriação de municípios,
em dois anos desse período: em 1951, com onze emancipações, e em 1957,com 29 emancipações. Os municípios restantes foram criados
em 1953 (dois), 1956 (cinco), 1958(cinco) e um município no ano de 1959 (Quadro 4 e Figura 6)

149
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ

O surgimento de novos municípios acontecera em 8 das 16 células básicas originais do Estado, onde Lavras da Mangabeira, Gran-
ja, Sobral , Russas e Tauá estãodentre aquelas com maior número de desmembramentos. Embora não conste comomunicípio original,
Limoeiro do Norte foi a célula em que ocorrera maior número dedesmembramentos no período, dando origem a três novas unidades
administrativas.
Na centralização administrativa, emerge uma contradição no processo de desmembramento dos municípios. Há um movimento que
procura a fragmentação, visando autonomia e decisão própria sobre os destinos de seu território e de sua população, querendo fugir do
descaso municipal em que se encontrava na forma de povoado ou de distrito. Alguns municípios, contudo, por serem tão minúsculos
(econômica e demograficamente), persistem na dependência direta dos recursos federais e, posteriormente, tendem a serem extintos,
tal como fora observado pelo IPLANCE:
“[...] a centralização no tocante à elaboração de planos, programas e projetos a nível federal, contribui para que os municípios per-
cam cada vez mais a sua autonomia. Em contrapartida, certos municípios, não apresentando o mínimo de condições de sobrevivência,
tornam-se um ônus para a União, que os extingue.” (1982, p. 62).
Foi o que aconteceu com 160 municípios criados, no período de 1958 a 1963, que não chegaram sequer a serem instalados. Destes
municípios, 9 foram criados entre os anos de 1958 e 1962 e os 151 restantes no ano de 1963, não sendo, portanto, contabilizados nas
análises anteriores (Quadro 5).
Nas décadas seguintes, entre os anos 1970 e 1980, durante a ditadura militar, a urbanização tomou um forte impulso, bem como a
metropolização de Fortaleza.
A centralização do poder implicou na centralização dos investimentos públicos e privados no espaço urbano.

A Ditadura Militar e a Nova República


Considerando o longo período de 1964 aos dias atuais, pode-se resgatar pelo menos três grandes momentos políticos, que, de certo
modo, estão diretamente ligados ao movimento de fragmentação territorial do Ceará.
No primeiro momento, o regime militar em seus dez “anos de chumbo”, entre 1964 e 1974, teve por característica principal a centra-
lização política, a repressão das liberdades individuais regimentada nos anos de 1964 a 1967 pelos Atos Institucionais (1, 2, 3 e 4).
Originário de Uruoca, Campanário foi o único município criado neste período pela lei n.º 7135 de 10/01/1964, sendo extinto em
14/12/1965 pela Lei n.º 8.339 juntamente com os municípios do Quadro 5. A Lei Complementar Nº 1 de 1967, volta a definir critérios para
a criação de municípios como forma de ordenar a evolução política do Estado.
O Ato Institucional nº 5 de 1968, conhecido como AI 5, foi o mais abrangente e autoritário de todos os outros Atos Institucionais, fe-
chou o Legislativo, suspendeu os direitos políticos e as garantias constitucionais, deixou os estados e municípios sob intervenção federal,
resultando na paralisação do processo de emancipação municipal em todo o país.

150
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ

151
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ

152
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ

Os dez anos seguintes, de 1975 a 1985, foram marcados pelo agravamento da crise econômica, com o aumento da inflação, da dívida
interna e externa, resultando em recessão e no final do milagre econômico. A pressão social e política aumentou com as demandas popu-
lares por maiores liberdades que desestabilizavam o governo brasileiro no fim da década 70.
Inicia-se, então, lenta e gradualmente, a transição para a democracia com reformas políticas e econômicas, visando a reestruturação
do Brasil. Temos como exemplo a revogação do Ato Institucional nº 5 (AI 5) em 1978; a Anistia Geral e Irrestrita, a todos os presos políticos;
a implementação do pluripartidarismo; e, no ano de 1982, a realização das eleições direta para Governadores dos Estados.
Nova alteração na divisão político-administrativa ocorreu somente em 1983, já no período de abertura política, com uma única eman-
cipação do município de Maracanaú, desmembrado de Maranguape, fato explicado pela alta concentração populacional e industrial. Neste
ano, tem início o movimento da sociedade civil pelas Diretas-já, sendo, no ano seguinte, apresentada e rejeitada a Emenda Dante de Oli-
veira, que propunha o restabelecimento das eleições diretas para Presidente da República.
Depois desta fase, tem início no ano de 1985 a Nova República, momento de transição democrática e de abertura política, consolidada
com a convocação da Assembléia Constituinte que elaborou e promulgou a Constituição Federal de 1988, grande marco na redemocrati-
zação brasileira, quando importantes avanços políticos e sociais são conquistados.

153
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
Neste período, também considerado um outro intervalo político favorável às emancipações municipais, até 30/06/1988 e ainda ante-
rior a Constituição de 05/10/1988, 36 distritos foram elevados a categoria de municípios (Quadro 6 e Figura 7)

154
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ

Na sequência, a Constituição Federal institui novas regras de emancipação dos municípios, descentralizando as competências para
esfera estadual e municipal. A Constituição Estadual de 1989 regulamenta parcialmente o processo de ordenamento territorial. Depois
deste momento, foram emancipados somente seis municípios.
Assim, 43 novos municípios obtiveram autonomia politico-administrativa durante todos os anos posteriores ao Golpe Militar de 1964,
totalizando os atuais 184 municípios cearenses (Quadro 6 e 7, Tabela 4 e Figura 7 e 8).

Merece destaque que, à exceção de sete municípios (Barreira, Eusébio, Banabuiú, Barroquinha, Jijoca de Jericoacoara, Itaitinga e
Fortim) todos os outros 36 municípios criados nesteperíodo, haviam sido extintos pela Lei Nº. 8.339 de 14/12/1965. Os outros municípios
extintospor esta mesma legislação, também entraram com processo de emancipação na AssembléiaLegislativa. Mas foi o momento em
que o Executivo encaminhou para o Legislativo a LeiComplementar Nº 1 (de 5/11/1991) com definição de critérios necessários para a
emancipaçãomunicipal, visando a regimentação e o ordenamento para estas pretensões de emancipação

155
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ

Nestes últimos quarenta anos, perceberam-se mudanças políticas, econômicas e sociais,que espacialmente se fi zeram visíveis dentro e no entorno das
grandes e médias cidades, sem,necessariamente, terem relação com o território estadual como um todo. E, assim, o processode emancipação dos municí-
pios que possuía um maior estreitamento com a economia ruralsofreu uma mudança considerável ao fi car mais intimamente relacionado à urbanização e
àterceirização. Com relação à industrialização, nota-se uma relativa infl uência somente na fasemais recente, revelando-se mais como uma tendência dos
anos 90, e da metropolização comoconsequência da reestruturação produtiva e de abertura de mercado, em resposta à crise capitalista mundial.
Em 2000, segundo censo demográfi co do IBGE, tanto a urbanização estaria sendo generalizada, quanto permaneceria uma concentração populacional
metropolitana numa relativarede de cidades médias. Apenas 15 dos 184 municípios possuíam taxa de urbanização inferiora 30%. Ao mesmo tempo, 116
municípios estavam com sua população rural passando por taxasnegativas, ou seja, o fenômeno da urbanização ainda não se completou, mas está bastante
avançado. Logo, é coerente dizer que a urbanização esteja afetando, inclusive, a formação dos novosmunicípios (IPLANCE, 2002, p. 194-196).
Aracati, Aquiraz, Sobral, Quixeramobim, Guaraciaba do Norte, Itapipoca foram os municípios dos 16 originais que sofreram fragmen-
tação territorial neste período. Além de densamente povoados, possuíam um território expressivo, passível de desdobramentos. Seriam,
noentanto, as razões políticas e econômicas mais fortes que estariam subjacentes ao fenômenourbano e populacional.
A redemocratização do país, com a Constituição Federal (1988), gerou mais expectativasdo que realizações. Ainda assim, o diálogo
pode ser considerado aberto, bem como a participação popular nos movimentos sociais e urbanos. E com isto, também muda o processo
deemancipação dos municípios, inclusive na sua forma legal, que corresponde aos costumes eusos vigentes de cada época.
Acompanhar toda essa transformação sócio-territorial por instrumento legal seria desejável, porém, não necessariamente possível.
Isto porque a legislação é fruto de uma ordem políticadominante que tende a conservar as relações de forças em seu benefício e reverter
as que lheacarretam prejuízo. Então, compreende-se melhor porque permanecem tão longos períodos emtotal descaso institucional,
quando outros, bastante curtos, estão repletos de instrumentos legais. É, portanto, esta a discussão que se remete para a análise fi nal a
respeito da fragmentaçãodo espaço cearense, ao longo de sua história até os dias atuais.

156
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
As Transformações Ordenadas com Base Legal No Estado Novo, foi criada legislação dispondo sobre a divisão
As emancipações municipais requerem decisões administrati- do território (o DecretoLei nº 193 de 20/05/1931), sendo este o pri-
vas e políticas. Necessitam de base legal que defi na critérios para a meiro instrumento normativo da divisão territorial e administrativa
criação de municípios, determine os limites municipais e consolide do Ceará. Apesar de introduzir um novo regime na ordenação do
o território como um todo. Mas tal processo não é tão ordenado e território, manteve o mesmo contexto de criações, extinções e res-
contínuo, temporal e geografi camente falando, como espera-se ou taurações de municípios e com alterações de topônimos.
supõe os menos avisados. Mas esta legislação teve pouca duração sendo revista logo a se-
Já comentou-se bastante a respeito das razões que emergiram guir, pois fi cou em desacordo com o Decreto Federal nº 20.348 de
para as decisões políticoadministrativas ao longo do processo de 29/08/1931, baixado três meses depois ordenando a descrição dos
fragmentação do território cearense. Entretanto, especifi camente limites, que deviam seguir os acidentes naturais, dando praticida-
quanto ao aparato legal, é preciso que se detalhe melhor a proble- de à população quanto ao acesso aos serviços públicos. O Decreto
mática relativa às fronteiras municipais. Estadual nº 1.156, de 04/12/1933 defi niu, parcialmente, os limites
A questão legal é um assunto específi co do problema de administrativos municipais, consolidando 66 (75%) dos 88 municí-
fronteiras, ao permitir solução para sua delimitação precisa. Isto pios existentes no Ceará.
porque, as leis tanto podem surgir individualmente, atendendo Mesmo ordenando boa parte do território cearense, a legisla-
situações particulares dos municípios, como podem corrigir e re- ção de 1933 ainda não defi nia critérios gerais, pois se aplicava ape-
gular todas as confi gurações municipais, dirimindo problemas e nas a alguns casos conhecidos. E, assim, em 1938, fez-se necessário
ordenando todo o território. No caso cearense, houve período sem um Decreto Federal (nº 311 de 02/03/1938) dispondo sobre a divi-
qualquer regulação geral, sendo poucas as iniciativas neste sentido, são territorial do país e defi nindo os requisitos fundamentais para
o seu ordenamento. A partir de então, o quadro territorial vigente
acentuando a importância dessa base legal de acordo com a evolu-
só poderia ser alterado pelas leis gerais quinquenais e determinan-
ção político-administrativa.
do a exigência da confecção de um mapa, no intervalo máximo de
Antes de entrar nos detalhes do caso cearense é importante
um ano para cada novo município criado (MAIA, 1992) (ANEXO A).
citar que, no Brasil, os Governos Estaduais seguem, mais ou menos,
Tendo em vista o cumprimento do referido Decreto Federal, foi
o parâmetro nacional da questão territorial tratada em sete consti- homologado o DecretoEstadual nº 448, de 20/12/1938, que modifi
tuições republicanas,51 assim como foi no período do Império, com cou alguns topônimos e fi xou os limites de 79 municípios e 388
a pequena abertura introduzida na Constituição de 1824. distritos cearenses, com vigência de 01/01/1939 a 31/12/1943. Esta
O que há de comum nas Constituições Brasileiras sobre o assunto legislação foieditada pelo Interventor Federal no Estado do Ceará
do território é a relativa autonomia que se dá ao município, exceto na Francisco Menezes Pimentel, momentoem que a nova divisão polí-
Constituição de 1937, durante a ditadura populista. Na sequência dos tico-administrativa entrou em vigor em todo o país.
grandes períodos do Estado Brasileiro, o ordenamento territorial sofreu Na divisão administrativa de 1938, foram consolidados 14 mu-
diversas alterações. O sistema de transferências de recursos, por exem- nicípios deixados de ladoem 1933, apesar de terem sido criados por
plo, foi criado por ocasião da Constituição de 1946. Mas a Ditadura Militar leis anteriores, quais foram: Araripe, Boa Viagem,Cariré, Coreaú (an-
modifi cou as regras institucionais de transferências e de fragmentação tiga Palma), Farias Brito (Ex-Quixará), Ipueiras, Jaguaretama (Frade),
do território, entre 1964 e 1982, destacando-se a perda de competência Pacajus (Guarani), Pedra Branca, Pentecoste, Reriutaba (Santa Cruz),
dos Governos Estaduais para regulamentarem o assunto. Saboeiro, São Gonçalo doAmarante (São Gonçalo) e Solonópole (Ca-
Com a Constituição de 1988, surge um novo pacto federativo, choeira). Ressalte-se, contudo, o caso de Paracuruque tendo sido
ampliando os recursos fi scais e a competência tributária dos Esta- consolidado em 1933, não permaneceu nesta situação em 1938.
dos e Municípios. O Decreto Estadual nº 1.114 de 30/12/1943 veio cumprir a
A descentralização de recursos fi scais transferidos para os determinação de leis quinque-nais, embora sem criar ou extinguir
municípios é uma característica da Nova República, destacando-se qualquer município, cujas alterações eram previstas parasomente o
ainda a autonomia de defi nição de critérios para a criação de mu- quinquênio de 1944/1948, mas permanecendo em vigor até a Lei nº
nicípios em lei estadual e lei municipal para a criação de distritos. 1.153, de22/11/1951. Mencionada lei de 1951, ao contrário da ante-
O Estado perdeu o poder formal de decisão interna aos muni- rior, foi prevista para abranger somente doisanos, mas até hoje não
cípios, em compensação assumiu a liderança nas transferências do foi atualizada ou substituída, mantendo-se em vigência apesar dos
Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), principal inúmerosproblemas decorrentes desta defasagem (MAIA, 1992).
fonte de renda dos pequenos municípios, voltando a regulamentar Esta lei, de 1951, descreve os limites dos 99 municípios e de
a criação de municípios. 545 distritos cearenses existentes àépoca, determinando também
Tal descentralização motivou o aumento da quantidade de des- o impedimento de alterações na divisão territorial e administrativa
membramentos municipais tal como pode-se acompanhar no de- até31/12/1953. Dos municípios consolidados em 1938 e em 1943,
senrolar das emancipações cearenses, tendo em vista a perspectiva foram alteradas algumas toponímiase emancipados 11 municípios,
de recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). tais como: Barro, Capistrano, Cariús, Chaval, Frecheirinha, Irace-
Tais fatos recentes estimularam uma nova onda de fragmen- ma,Itatira, Jatí, Marco, Monsenhor Tabosa e São Luís do Curu. Os
tação em todo território nacional, fazendo que o governo federal, municípios de Beberibe, Meruoca,Porteiras, Trairi, criados anterior-
a exemplo do governo cearense da época, emitisse medidas de mente, porém sem constarem nas três consolidações anteriores,
controle e restritivas, criando a Emenda Constitucional Nº 15/1996 foramincluídos no quadro territorial de 1951. O município de Para-
(TOMIO, 2005, p.2-3, 8-9). curu voltou a ser consolidado por esta Lei.
Esta é a legislação mais completa de consolidação do quadro terri-
A Legislação Territorial torial do Estado e, pode-se dizeraté em termos de parâmetros técnicos
Ao longo desta investigação, procurou-se ter o cuidado de mos- para o ordenamento territorial. No Art. 1º, parágrafos 1º e 2º,está de-
trar que para cada município cearense emancipado corresponde terminado um fato relevante na realização de trabalho técnico, confor-
uma lei de criação e outra de consolidação, conforme os Quadros 1 me transcrição do Diário Oficial do Estado do Ceará do ano de 1952:
a 4, que também revelam durante longos anos a não preocupação, “§1º - Não constituem alteração os atos interpretativos de linhas
de adotar critérios ou de ordenar tal processo de fragmentação do divisórias intermunicipais e interdistritais, que se tornarem necessá-
território como um todo. rios para melhor e mais fi el caracterização destas linhas, à luz de do-

157
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
cumentação geográfi ca ou cartográfi ca mais perfeita, desde que da de emancipação, com a criação de 37 novos municípios, já dentro
interpretação não resulte um deslocamento tal da uma divisória que do período de relativa descentralização administrativa e de rede-
qualquer cidade ou vila, saia do seu âmbito municipal ou distrital.” mocratização do país, e ainda anterior à Constituição Federal vigen-
“§2º - Mediante licença da Assembléia Legislativa, poderão os te de 5/10/1988 quando a regulamentação da divisão territorial foi
Municípios fi rmar acordos para modifi car os seus limites.” transferida para os Estados.
Então, conforme determinam estes parágrafos da legislação, são No Título III, “Da organização do Estado” e no Capítulo I, “Da
válidas as interpretações técnicas e os ajustes realizados visando uma Organização Político-Administrativa” o Art. 18 defi ne a organização
melhor confi guração do território e representação cartográfi ca. político-administrativa, determinando no § 4º essa descentraliza-
Também vale ressaltar a importância da Assembléia Legislativa ção com participação da população:
na ofi cialização dos acordos realizados entre os municípios, visan- “A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de
do a preservação da identidade cultural e política das populações, Municípios preservarão a continuidade e a unidade histórico-cultu-
assim como a facilidade e o histórico administrativo. ral do ambiente urbano, far-se-ão por lei estadual, obedecidos os
A partir de 1953, os municípios criados possuem uma legisla- requisitos previstos em lei complementar estadual, e dependerão
ção que defi ne apenas o seu território, sem alterar a descrição dos de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações diretamente
limites dos municípios vizinhos. De 1953 à 1959, foram criados 42 interessadas.”
municípios, Entre 1983 e 1992, 43 novas unidades administrativas
obtiveram autonomia perfazendo um total de 184 municípios, sen- Por sua vez, a Constituição do Estado do Ceará, de 1989, em
do que deste total, 85 municípios com a legislação defi nidora dos seu Art. 31, defi ne os requisitos para a emancipação de municí-
limites desatualizada, ampliando mais ainda o problema de defasa- pios, alterados pela Emenda Constitucional nº 3, de 15/08/1991,
gem de legislação com suas consequências refletindo na imprecisão que determinou: “nenhum Município será criado sem a verifi cação
das fronteiras municipais cearenses (Figura 9). da existência na respectiva área territorial dos requisitos relaciona-
Ressalte-se que o descontrole na criação de municípios pode dos com a população, densidade eleitoral, infra-estrutura, renda,
gerar consequências mais sérias, tal como ocorreu no fi nal da déca- ou potencial econômico e demais critérios estabelecidos em Lei
da 50 até o ano de 1964, quando foram criados 161 municípios sem Complementar”.
qualquer critério de emancipação ou de defi nição das linhas de di- Em novembro de 1991, foi homologada a Lei Complementar
visas, sendo extintos pela Lei Estadual nº 8.339 de 14/12/1965. Esta nº 1 de 5/11/1991, pioneira no paísem disciplinar e regimentar o
é uma situação que representa instabilidade política e fi nanceira processo de criação dos municípios. Dentre os requisitos constam:
que faz sofrer a população local e desgasta toda a gestão municipal. aexigência de população igual ou superior a 1,5 (um vírgula cinco)
milésimo da população do Estado,com no mínimo vinte por cento
de eleitores; com distrito defi nido por lei e centro urbano consti-
tuído,com no mínimo 400 prédios construídos; renda tributária de
no mínimo dez milésimos por cento daarrecadação tributária do
Estado, permanecendo esta condição para o município do qual está
sendodesmembrado o distrito.
Os requisitos defi nidos nesta Lei barraram uma avalanche de
desmembramentos em tramitação na Assembléia Legislativa do Es-
tado na época. Na última década do século XX surgiram apenas seis
novos municípios, não sendo observada nenhuma emancipação no
século atual.
No sentido de controle da criação de municípios na instância
Federal, tal como a Emenda Constitucional Estadual de 1991, foi
sancionada a Emenda Constitucional nº 15 de 12/09/1996, deter-
minando a necessidade da realização de estudos para verifi cação
da viabilidade municipal; a consulta prévia às populações envolvi-
das, mediante plebiscito; além da defi nição de período para criação
de novos municípios, conforme Lei Complementar a ser editada, se-
guindo novamente, desta forma, o percurso do Estado do Ceará.
Até o ano 2009, não foi editada a lei Complementar Federal
para regimentar sobre o assunto, encontrando-se suspensa a cria-
ção de municípios em todo o país.
Considerando que, desde 1991, o Estado do Ceará já havia edi-
tado a Lei Complementar nº 1 que disciplinou o processo de criação
de novos municípios, houve entendimento da Assembléia Legisla-
tiva do Ceará que se pode continuar a criar municípios no Estado
cearense, já que esta temática está devidamente regimentada.
Diante deste entendimento, foi aprovada pela Assembléia Le-
gislativa e sancionada pelo Governador do Estado a Lei Comple-
mentar nº 84 alterando e atualizando os requisitos da Lei Comple-
mentar nº 1 de 05/11/1991.
Após a publicação desta nova legislação, frente à possibilida-
A Lei Federal Complementar nº 1, de 1967, voltou a defi nir de de autonomia político-administrativa, foram protocolados, na
critérios para a emancipação de municípios; após esta legislação, Assembléia Legislativa do Ceará, pelas lideranças locais, até o mês
não ocorreu nenhuma alteração na divisão político-administrativa de março de 2010, 40 processos que foram encaminhados ao IBGE
durante os anos 70. A partir de 1983, deu-se início novo processo e IPECE para a realização dos estudos de viabilidade municipal, e,

158
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
mediante o atendimento dos requisitos defi nidos na legislação, a
elaboração do memorial descritivo e do mapa do pretenso municí-
ANOTAÇÕES
pio para posterior consulta as populações envolvidas.
Essa legislação permite ainda a alteração dos limites municipais ______________________________________________________
com a incorporação e a fusão de áreas, viabilizando soluções para
as questões de desobediência administrativa e litígios municipais, ______________________________________________________
possibilitando, desta forma, o reordenamento do quadro político-
-administrativo do Estado do Ceará ______________________________________________________

fonte: https://www.ipece.ce.gov.br/wp-content/uploads/si- ______________________________________________________


tes/45/2015/02/Formacao_Territorio_Evolucao_Politico_Administrati-
______________________________________________________
va_Ceara_Questao_Limites_Municipais.pdf
______________________________________________________

______________________________________________________
ANOTAÇÕES
______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ _____________________________________________________

______________________________________________________ _____________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

_____________________________________________________ ______________________________________________________

_____________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

159
ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ
ANOTAÇÕES ANOTAÇÕES

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

_____________________________________________________ _____________________________________________________

_____________________________________________________ _____________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

160
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
/ ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DAS ORGANIZAÇÕES FORMAIS MODERNAS: TIPOS DE ESTRUTURA ORGANIZACIONAL,


NATUREZA, FINALIDADES E CRITÉRIOS DE DEPARTAMENTALIZAÇÃO

CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DAS ORGANIZAÇÕES FORMAIS MODERNAS


As organizações formais modernas caracterizam-se como um sistema constituído de elementos interativos, que recebe entradas do
ambiente, transformando-os, e emite saídas para o ambiente externo. Nesse sentido, os elementos interativos da organização, pessoas e
departamentos, dependem uns dos outros e devem trabalhar juntos.
As organizações podem ser formais e informais.

→ Formais
A estrutura formal das organizações é composta pela estrutura instituída pela vontade humana para atingir determinado objetivo. Ela
é representada por um organograma composto por órgãos, cargos e relações de autoridade e responsabilidade.
Elas são regidas por normas e regulamentos que estabelecem e especificam os padrões para atingir os objetivos organizacionais.

Características das Organizações Formais


São instituídas pela vontade humana;
São planejadas e deliberadamente estruturadas;
São tangíveis (visíveis);
Seus líderes se valem da autoridade e responsabilidade (líderes formais);
São regidas por normas e regulamentos definidos de forma racional (lógica);
São representadas por organogramas;
São flexíveis às modificações em sua estrutura e nos processos organizacionais, em face da hierarquia formal e im-
pessoal.

→ Informais
Visto as organizações formais serem compostas por redes de relacionamento no ambiente de trabalho, esse relacionamento dá ori-
gem à organização informal. As organizações informais definem-se como o conjunto de interações e relacionamentos que se estabelecem
entre as pessoas, sendo esta paralela à organização formal.
As organizações informais não possuem objetivos predeterminados, surgem de forma natural, estando presentes nos usos e costu-
mes, e se manifestam por meio de sentimentos e necessidade de associação pelos membros da organização formal.

Características das Organizações Informais


São oriundas das relações pessoais e sociais desenvolvidas naturalmente entre os membros de determinada organi-
zação;
Sua relação é de coesão ou antagonismo;
As lideranças são informais, por meio da influência;
Possuem colaboração espontânea, independente da autoridade formal;
Têm possibilidade de oposição à organização formal;
Transcende a organização formal, não se limitando ao horário de trabalho, barreiras organizacionais ou hierarquias;
São intangíveis (não visíveis);
São resistentes às modificações nos processos, uma vez que as pessoas tendem a defender excessivamente os seus
padrões.

161
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
— Tipos de estrutura organizacional — Natureza

A estrutura organizacional é o conjunto de responsabilidades, Estão entre os fatores internos que influenciam a natureza da
autoridades, comunicações e decisões de unidades de uma empre- estrutura organizacional da empresa:
sa. É um meio para o alcance dos objetivos, estando relacionada • a natureza dos objetivos estabelecidos para a empresa e seus
com a estratégia da organização, de tal forma que mudanças na es- membros;
tratégia precedem e promovem mudanças na estrutura. • as atividades operantes exigidas para realizar esses objetivos;
A estrutura organizacional de uma empresa define como as ta- • a sequência de passos necessária para proporcionar os bens
refas são formalmente distribuídas, agrupadas e coordenadas. No ou serviços que os membros e clientes desejam ou necessitam;
tipo de estrutura formal, a relação hierárquica é impessoal e sem- • as funções administrativas a desempenhar;
pre realizada por meio de ordem escrita. • as limitações da habilidade de cada pessoa na empresa, além
São seis os elementos básicos a serem focados pelos adminis- das limitações tecnológicas;
tradores quando projetam a estrutura das organizações: a especia- • as necessidades sociais dos membros da empresa; e
lização do trabalho, a departamentalização, a cadeia de comando, • o tamanho da empresa.
a amplitude de controle, a centralização e descentralização e, por
fim, a formalização. Da mesma forma consideram-se os elementos e as mudanças
Ao planejar a estrutura organizacional, uma das variáveis refe- no ambiente externo que são também forças poderosas que dão
re-se a quem os indivíduos e os grupos se reportam. Essa variável forma à natureza das relações externas. Mas para o estabelecimen-
consiste em estruturar a cadeia de comando. to de uma estrutura organizacional, considera-se como mais ade-
São tipos tradicionais de organização: quada a análise de seus componentes, condicionantes e níveis de
influência.
a) Organização Linear: autoridade única com base na hierar-
quia (unidade de comando), comunicação formal, decisões centra- — Finalidades
lizadas e aspecto piramidal; A estrutura formal tem como finalidade o sistema de autorida-
b) Organização Funcional: autoridade funcional ou dividida, de, responsabilidade, divisão de trabalho, comunicação e processo
linhas diretas de comunicação, decisões descentralizadas e ênfase decisório. São princípios fundamentais da organização formal:
na especialização;
c) Organização Linha-staff: coexistência da estrutura linear a) Divisão do trabalho: é a decomposição de um processo com-
com a estrutura funcional, ou seja, comunicação formal com asses- plexo em pequenas tarefas, proporcionando maior produtividade,
soria funcional, separação entre órgãos operacionais (de linha) e ór- melhorando a eficiência organizacional e o desempenho dos envol-
gãos de apoio (staff). Há, ao mesmo tempo, hierarquia de comando vidos e reduzindo custos de produção;
e da especialização técnica. b) Especialização: considerada uma consequência da divisão
do trabalho. Cada cargo passa a ter funções específicas, assim como
São estruturas organizacionais modernas: cada tarefa;
c) Hierarquia: divisão da empresa e, camadas hierárquicas. A
a) Estrutura Divisional: é caracterizada pela criação de unida- hierarquia visa assegurar que os subordinados aceitem e executem
des denominadas centros de resultados, que operam com relativa rigorosamente as ordens e orientações dadas pelos seus superio-
autonomia, inclusive apurando lucros ou prejuízos para cada uma res;
delas. Os departamentos prestam informações e se responsabili- d) Amplitude administrativa: também chamada de amplitude
zam pela execução integral dos serviços prestados, mediados por de controle ou amplitude de comando, determina o número de fun-
um sistema de gestão eficaz; cionários que um administrador consegue dirigir com eficiência e
b) Estrutura Matricial: combina as vantagens da especialização eficácia. A estrutura organizacional que apresenta pequena ampli-
funcional com o foco e responsabilidades da departamentalização tude de controle é a aguda ou vertical.
do produto, ou divisional. Suas aplicações acontecem, em hospitais,
laboratórios governamentais, instituições financeiras etc. — Critérios de departamentalização
O que a difere das outras formas de estrutura organizacional,
é que características de mais de uma estrutura atuam ao mesmo Departamentalização é o nome dado à especialização hori-
tempo sobre os empregados. Além disso, existe múltipla subordina- zontal na organização por meio da criação de departamentos para
ção, ou seja, os empregados se reportam a mais de um chefe, o que cuidar das atividades organizacionais. É decorrente da divisão do
pode gerar confusão nos subordinados e se tornar uma desvanta- trabalho e da homogeneização das atividades. É o agrupamento
gem desse tipo de estrutura. adequado das atividades em departamentos específicos.
É uma ótima alternativa para empresas que trabalham desen-
volvendo projetos e ações temporárias. Nesse tipo de estrutura o São critérios de departamentalização:
processo de decisão é descentralizado, com existência de centros a) Departamentalização Funcional: representa o agrupamento
de resultados de duração limitada a determinados projetos; por atividades ou funções principais. A divisão do trabalho ocor-
c) Estrutura em Rede: competitividade global, a flexibilidade re internamente, por especialidade. Abordagem indicada para cir-
da força de trabalho e a sua estrutura enxuta. As redes organiza- cunstâncias estáveis, de poucas mudanças e que requeiram desem-
cionais se caracterizam por constituir unidades interdependentes penho continuado de tarefas rotineiras;
orientadas para identificar e solucionar problemas; b) Departamentalização por Produtos ou Serviços: represen-
d) Estrutura por Projeto: manutenção dos recursos necessários ta o agrupamento por resultados quanto a produtos ou serviços.
sob o controle de um único indivíduo. A divisão do trabalho ocorre por linhas de produtos/serviços. A
orientação é para o alcance de resultados, por meio da ênfase nos
produtos/serviços;

162
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
c) Departamentalização Geográfica: também chamada de De- Categorias de Processos
partamentalização Territorial, representa o agrupamento conforme Os processos organizacionais podem ser classificados em três
localização geográfica ou territorial. Caso uma organização, para categorias:
estabelecer seus departamentos, deseje considerar a distribuição
territorial de suas atividades, ela deverá observar as técnicas de de- Processos Gerenciais
partamentalização geográfica; São aqueles ligados à estratégia da organização. Estão direta-
d) Departamentalização por Clientela: representa o agrupa- mente relacionados à formulação de políticas e diretrizes para se
mento conforme o tipo ou tamanho do cliente ou comprador. Pos- estabelecer e concretizar metas.
sui ênfase e direcionamento para o cliente; Também referem-se ao estabelecimento de indicadores de
e) Departamentalização por Processos: representa o agrupa- desempenho e às formas de avaliação dos resultados alcançados
mento por etapas do processo, do produto ou da operação. Possui interna e externamente à organização. Exemplos: planejamento es-
ênfase na tecnologia utilizada; tratégico, gestão por processos e gestão do conhecimento.
f) Departamentalização por Projetos: representa o agrupa-
mento em função de entregas (saídas) ou resultados quanto a um Processos Finalísticos
ou mais projetos. É necessária uma estrutura flexível e adaptável às Aqueles ligados à essência de funcionamento do órgão. Carac-
circunstâncias do projeto, pois o mesmo pode ser encerrado antes terizam a atuação do órgão e recebem apoio de outros processos
do prazo previsto. Dessa forma, os recursos envolvidos, ao término internos, gerando um produto ou serviço para o cliente interno ou
do projeto, são liberados; cidadão. Exemplos: atuações extrajudicial e judicial.
g) Departamentalização Matricial: também chamada de orga-
nização em grade, combina duas formas de departamentalização, Processos Meio
a funcional com a departamentalização de produto ou projeto, na São processos essenciais para a gestão efetiva da organização,
mesma estrutura organizacional. Representa uma estrutura mista garantindo o suporte adequado aos processos finalísticos. Estão
ou híbrida. diretamente relacionados à gestão dos recursos necessários ao
O desenho matricial apresenta duas dimensões: gerentes fun- desenvolvimento de todos os processos da instituição. Exemplos:
cionais e gerentes de produtos ou de projeto. Logo, não há unidade contratação de pessoas, aquisição de bens e materiais e execução
de comando. É criada uma balança de duplo poder e, por consequ- orçamentário-financeira.
ência, dupla subordinação.
Os processos críticos, que são aqueles de natureza estratégica
para o sucesso institucional, encontram-se nos denominados pro-
PROCESSO ORGANIZACIONAL: PLANEJAMENTO, DIRE- cessos gerenciais e finalísticos.
ÇÃO, COMUNICAÇÃO, CONTROLE E AVALIAÇÃO
— Planejamento
Processo Organizacional é um conjunto de atividades logica-
mente interligadas, maneiras pelas quais se realiza uma operação, A estrutura organizacional deve ser delineada de acordo com
envolvendo pessoas, equipamentos, procedimentos e informações os objetivos e as estratégias estabelecidas, ou seja, a estrutura or-
e, quando executadas, transformam entradas em saídas, agregam ganizacional é uma ferramenta básica para alcançar as situações
valor e produzem resultados1. almejadas pela empresa. A organização de uma empresa é a orde-
Na gestão por processos, um processo é visto como fluxo de nação e o agrupamento de atividades e recursos e visa ao alcance
trabalho, com insumos, produtos e serviços claramente definidos e de objetivos e resultados estabelecidos2.
atividades que seguem uma sequência lógica e dependente umas As funções de administração exercidas pelos executivos das
das outras, numa sucessão clara, denotando que os processos têm empresas são interligadas. Observe a figura a seguir.
início e fim bem determinados e geram resultados para os clientes
internos e/ou externos. Um processo organizacional se caracteriza Funções da administração
por:

→ Início, fim e objetivos definidos;


→ Clareza quanto ao que é transformado na sua execução;
→ Definir como ou quando uma atividade ocorre;
→ Resultado específico;
→ Listar os recursos utilizados para a execução da atividade;
→ Agregar valor para o destinatário do processo;
→ Ser devidamente documentado;
→ Ser mensurável; e
→ Permitir o acompanhamento ao longo da execução.

https://www.researchgate.net/profile/Thiago-Soares-3/publica-
tion/320024475_Estrutura_e_Processos_Organizacionais/links/
59c95f04a6fdcc451d545e13/Estrutura-e-Processos-Organizacio-
nais.pdf
2 Soares, Thiago Coelho. Estrutura e processos organizacionais: livro
1 Manual de gestão por processos / Secretaria Jurídica e de Docu- didático / Thiago Coelho Soares; design instrucional João Marcos de
mentação / Escritório de Processos Organizacionais do MPF. - Brasília: Souza Alves, Marina Melhado Gomes da Silva. – Palhoça: UnisulVirtual,
MPF/PGR, 2013. 2013.

163
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Como mostra a figura acima, a administração é formada pelo — Comunicação
processo de planejamento, organização, direção e controle do tra-
balho dos membros da organização e do emprego de todos os ou- A fim de atender aos seus desejos e manter seus membros in-
tros recursos organizacionais para atender aos objetivos estabele- formados do que está havendo e que possa afetar a satisfação dos
cidos. desejos, o grupo desenvolve sistemas e canais de comunicação.
O Planejamento determina a finalidade e os objetivos da orga-
nização e prevê atividades, recursos e meios que permitirão atingi- Comunicação horizontal e diagonal
-los ao longo de um período de tempo determinado. Ele pode pro- Na estrutura tradicional, a comunicação deve ser acompanha-
mover mudanças essenciais que podem melhorar o desempenho da pela cadeia de comando. Assim, se um especialista precisa se co-
da organização. municar com outra área, deve fazer isso por meio de seu superior,
Assim, a estrutura organizacional vai variando de acordo com que passará a informação para o superior da outra pessoa.
o planejamento estratégico da organização, para poder se adequar Em ambientes dinâmicos, esse percurso pode ser danoso para
aos seus objetivos. a empresa, devido à demora da resposta. Por isso, passou-se a ado-
Como uma das etapas do processo decisório, a etapa de plane- tar a comunicação horizontal, de especialista para especialista, sem
jamento é a avaliação das vantagens e desvantagens de cada alter- intermédio dos seus superiores, e a comunicação diagonal, em que
nativa. É necessário ter senso crítico para poder analisar as alterna- o especialista procura o superior do outro departamento para obter
tivas, para que realmente se escolha a melhor delas. a informação.

Tipos de planejamento nas empresas — Controle e avaliação


Nível estratégico - substituição de produtos para se adequar ao
mercado, nova filial; O controle compara os objetivos estabelecidos e os recursos
Nível tático - divisão de uma área em duas (produção e técnica) previstos com os resultados atingidos e os recursos realmente gas-
para melhor administrar os recursos da empresa; tos, a fim de tomar medidas que possam corrigir ou mudar os ru-
Nível operacional - alteração da estrutura organizacional. mos fixados. Outra função do grupo é o controle social, pelo qual o
comportamento dos outros é influenciado e regulado.
A figura a seguir demonstra os tipos de planejamento nas em- O controle social pode ser interno e externo. O controle interno
presas: é dirigido no sentido de fazer os membros do grupo surgirem em
conformidade com sua cultura. Já o controle externo é dirigido para
os que estão fora do grupo, tais como: governo, sindicato etc.
O executivo deve saber que a pressão do controle externo pode
ser bastante forte, tal como quando uma greve ocorre.
Como etapa do processo decisório, na etapa de controle, ava-
liam-se os resultados da decisão. Assim, é necessário humildade,
pois se os resultados não são os esperados, muitas vezes sai mais
barato admitir o erro do que manter a decisão.

Metodologia para avaliação de estruturas organizacionais

https://www.researchgate.net/profile/Thiago-Soares-3/publica-
tion/320024475_Estrutura_e_Processos_Organizacionais/links/
59c95f04a6fdcc451d545e13/Estrutura-e-Processos-Organizacio-
nais.pdf

— Direção

A direção conduz e motiva pessoas a exercerem suas tarefas a


fim de alcançarem os objetivos organizacionais. Ela designa o pro-
cesso pelo qual os gerentes procuram lidar com seus subordinados,
liderando-os e comunicando-se com eles.
Enquanto as funções de planejamento, organização e controle
são qualificadas de impessoais, a direção é um processo interpesso-
al que determina relações entre indivíduos. Isso porque a função de
direção se relaciona diretamente com a maneira pela qual o objeti-
vo é alcançado, por meio da orientação das operações que devem https://www.researchgate.net/profile/Thiago-Soares-3/publica-
ser executadas. tion/320024475_Estrutura_e_Processos_Organizacionais/links/
É a função de direção que passa a se preocupar com que as 59c95f04a6fdcc451d545e13/Estrutura-e-Processos-Organizacio-
operações sejam executadas e os objetivos atingidos. Para dirigir nais.pdf
subordinados, o administrador deve motivar, comunicar e liderar,
de modo situacional a cada indivíduo, grupo ou organização.

164
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Benchmarking Registra-se que na descentralização administrativa, ao invés
Utilizado como ferramenta de gestão, é um processo contínuo de executar suas atividades administrativas por si mesmo, o Estado
de avaliação de desempenho, não somente de produtos e serviços, transfere a execução dessas atividades para particulares e, ainda a
mas também das funções, dos métodos e das práticas em relação outras pessoas jurídicas, de direito público ou privado.
aos melhores valores. É uma ferramenta que proporciona uma Explicita-se que, mesmo que o ente que se encontre distribuin-
melhoria contínua, pois sempre se comparará a empresa com as do suas atribuições e detenha controle sobre as atividades ou ser-
empresas que se destacam na característica a ser estudada. Na se- viços transferidos, não existe relação de hierarquia entre a pessoa
quência, adaptam-se as ações da outra empresa para a realidade que transfere e a que acolhe as atribuições.
da organização.
Criação, extinção e capacidade processual dos órgãos públicos
Os arts. 48, XI e 61, § 1º da CFB/1988 dispõem que a criação
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA: CENTRALIZAÇÃO, e a extinção de órgãos da administração pública dependem de lei
DESCENTRALIZAÇÃO, CONCENTRAÇÃO E DESCONCEN- de iniciativa privativa do chefe do Executivo a quem compete, de
TRAÇÃO; ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DA UNIÃO; forma privada, e por meio de decreto, dispor sobre a organização
ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA; AGÊNCIAS EXECU- e funcionamento desses órgãos públicos, quando não ensejar au-
TIVAS E REGULADORAS mento de despesas nem criação ou extinção de órgãos públicos
(art. 84, VI, b, CF/1988). Desta forma, para que haja a criação e ex-
Administração direta e indireta tinção de órgãos, existe a necessidade de lei, no entanto, para dis-
A princípio, infere-se que Administração Direta é correspon- por sobre a organização e o funcionamento, denota-se que poderá
dente aos órgãos que compõem a estrutura das pessoas federativas ser utilizado ato normativo inferior à lei, que se trata do decreto.
que executam a atividade administrativa de maneira centralizada. O Caso o Poder Executivo Federal desejar criar um Ministério a mais,
vocábulo “Administração Direta” possui sentido abrangente vindo a o presidente da República deverá encaminhar projeto de lei ao Con-
compreender todos os órgãos e agentes dos entes federados, tanto gresso Nacional. Porém, caso esse órgão seja criado, sua estrutu-
os que fazem parte do Poder Executivo, do Poder Legislativo ou do ração interna deverá ser feita por decreto. Na realidade, todos os
Poder Judiciário, que são os responsáveis por praticar a atividade regimentos internos dos ministérios são realizados por intermédio
administrativa de maneira centralizada. de decreto, pelo fato de tal ato se tratar de organização interna do
Já a Administração Indireta, é equivalente às pessoas jurídicas órgão. Vejamos:
criadas pelos entes federados, que possuem ligação com as Admi-
nistrações Diretas, cujo fulcro é praticar a função administrativa de ÓRGÃO — é criado por meio de lei.
maneira descentralizada. ORGANIZAÇÃO INTERNA — pode ser feita por DECRETO, des-
Tendo o Estado a convicção de que atividades podem ser exer- de que não provoque aumento de despesas, bem como a criação
cidas de forma mais eficaz por entidade autônoma e com persona- ou a extinção de outros órgãos.
lidade jurídica própria, o Estado transfere tais atribuições a particu- ÓRGÃOS DE CONTROLE — Trata-se dos prepostos a fiscalizar e
lares e, ainda pode criar outras pessoas jurídicas, de direito público controlar a atividade de outros órgãos e agentes”. Exemplo: Tribu-
ou de direito privado para esta finalidade. Optando pela segunda nal de Contas da União.
opção, as novas entidades passarão a compor a Administração Indi-
reta do ente que as criou e, por possuírem como destino a execução Pessoas administrativas
especializado de certas atividades, são consideradas como sendo Explicita-se que as entidades administrativas são a própria Ad-
manifestação da descentralização por serviço, funcional ou técnica, ministração Indireta, composta de forma taxativa pelas autarquias,
de modo geral. fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia
mista.
Desconcentração e Descentralização De forma contrária às pessoas políticas, tais entidades, nao são
Consiste a desconcentração administrativa na distribuição in- reguladas pelo Direito Administrativo, não detendo poder político
terna de competências, na esfera da mesma pessoa jurídica. Assim e encontram-se vinculadas à entidade política que as criou. Não
sendo, na desconcentração administrativa, o trabalho é distribuído existe hierarquia entre as entidades da Administração Pública in-
entre os órgãos que integram a mesma instituição, fato que ocorre direta e os entes federativos que as criou. Ocorre, nesse sentido,
de forma diferente na descentralização administrativa, que impõe uma vinculação administrativa em tais situações, de maneira que os
a distribuição de competência para outra pessoa, física ou jurídica. entes federativos somente conseguem manter-se no controle se as
Ocorre a desconcentração administrativa tanto na administra- entidades da Administração Indireta estiverem desempenhando as
ção direta como na administração indireta de todos os entes fede- funções para as quais foram criadas de forma correta.
rativos do Estado. Pode-se citar a título de exemplo de desconcen-
tração administrativa no âmbito da Administração Direta da União, Pessoas políticas
os vários ministérios e a Casa Civil da Presidência da República; em As pessoas políticas são os entes federativos previstos na Cons-
âmbito estadual, o Ministério Público e as secretarias estaduais, tituição Federal. São eles a União, os Estados, o Distrito Federal e os
dentre outros; no âmbito municipal, as secretarias municipais e Municípios. Denota-se que tais pessoas ou entes, são regidos pelo
as câmaras municipais; na administração indireta federal, as várias Direito Constitucional, vindo a deter uma parcela do poder político.
agências do Banco do Brasil que são sociedade de economia mista, Por esse motivo, afirma-se que tais entes são autônomos, vindo a
ou do INSS com localização em todos os Estados da Federação. se organizar de forma particular para alcançar as finalidades aven-
Ocorre que a desconcentração enseja a existência de vários çadas na Constituição Federal.
órgãos, sejam eles órgãos da Administração Direta ou das pessoas
jurídicas da Administração Indireta, e devido ao fato desses órgãos
estarem dispostos de forma interna, segundo uma relação de su-
bordinação de hierarquia, entende-se que a desconcentração admi-
nistrativa está diretamente relacionada ao princípio da hierarquia.

165
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Assim sendo, não se confunde autonomia com soberania, pois, O que diferencia as empresas estatais exploradoras de ativida-
ao passo que a autonomia consiste na possibilidade de cada um dos de econômica das empresas estatais prestadoras de serviço público
entes federativos organizar-se de forma interna, elaborando suas é a atividade que exercem. Assim, sendo ela prestadora de serviço
leis e exercendo as competências que a eles são determinadas pela público, a atividade desempenhada é regida pelo direito público,
Constituição Federal, a soberania nada mais é do que uma caracte- nos ditames do artigo 175 da Constituição Federal que determina
rística que se encontra presente somente no âmbito da República que “incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou
Federativa do Brasil, que é formada pelos referidos entes federati- sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação,
vos. a prestação de serviços públicos.” Já se for exploradora de atividade
econômica, como maneira de evitar que o princípio da livre con-
Autarquias corrência reste-se prejudicado, as referidas atividades deverão ser
As autarquias são pessoas jurídicas de direito público interno, reguladas pelo direito privado, nos ditames do artigo 173 da Consti-
criadas por lei específica para a execução de atividades especiais e tuição Federal, que assim determina:
típicas da Administração Pública como um todo. Com as autarquias, Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a
a impressão que se tem, é a de que o Estado veio a descentralizar exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será per-
determinadas atividades para entidades eivadas de maior especia- mitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional
lização. ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. § 1º A
As autarquias são especializadas em sua área de atuação, dan- lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da socieda-
do a ideia de que os serviços por elas prestados são feitos de forma de de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade
mais eficaz e venham com isso, a atingir de maneira contundente a econômica de produção ou comercialização de bens ou de presta-
sua finalidade, que é o bem comum da coletividade como um todo. ção de serviços, dispondo sobre:
Por esse motivo, aduz-se que as autarquias são um serviço público I – sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela
descentralizado. Assim, devido ao fato de prestarem esse serviço sociedade;
público especializado, as autarquias acabam por se assemelhar em II – a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas priva-
tudo o que lhes é possível, ao entidade estatal a que estiverem ser- das, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, tra-
vindo. Assim sendo, as autarquias se encontram sujeitas ao mesmo balhistas e tributários;
regime jurídico que o Estado. Nos dizeres de Hely Lopes Meirelles, III – licitação e contratação de obras, serviços, compras e alie-
as autarquias são uma “longa manus” do Estado, ou seja, são exe- nações, observados os princípios da Administração Pública;
cutoras de ordens determinadas pelo respectivo ente da Federação IV – a constituição e o funcionamento dos conselhos de Admi-
a que estão vinculadas. nistração e fiscal, com a participação de acionistas minoritários;
As autarquias são criadas por lei específica, que de forma obri- V – os mandatos, a avaliação de desempenho e a responsabili-
gacional deverá ser de iniciativa do Chefe do Poder Executivo do dade dos administradores
ente federativo a que estiver vinculada. Explicita-se também que
a função administrativa, mesmo que esteja sendo exercida tipica- Vejamos em síntese, algumas características em comum das
mente pelo Poder Executivo, pode vir a ser desempenhada, em re- empresas públicas e das sociedades de economia mista:
gime totalmente atípico pelos demais Poderes da República. Em tais • Devem realizar concurso público para admissão de seus em-
situações, infere-se que é possível que sejam criadas autarquias no pregados;
âmbito do Poder Legislativo e do Poder Judiciário, oportunidade na • Não estão alcançadas pela exigência de obedecer ao teto
qual a iniciativa para a lei destinada à sua criação, deverá, obriga- constitucional;
toriamente, segundo os parâmetros legais, ser feita pelo respectivo • Estão sujeitas ao controle efetuado pelos Tribunais de Contas,
Poder. bem como ao controle do Poder Legislativo;
• Não estão sujeitas à falência;
Empresas Públicas • Devem obedecer às normas de licitação e contrato adminis-
Sociedades de Economia Mista trativo no que se refere às suas atividades-meio;
São a parte da Administração Indireta mais voltada para o di- • Devem obedecer à vedação à acumulação de cargos prevista
reito privado, sendo também chamadas pela maioria doutrinária de constitucionalmente;
empresas estatais. • Não podem exigir aprovação prévia, por parte do Poder Legis-
Tanto a empresas públicas, quanto as sociedades de economia lativo, para nomeação ou exoneração de seus diretores.
mista, no que se refere à sua área de atuação, podem ser divididas
entre prestadoras diversas de serviço público e plenamente atuan- Fundações e outras entidades privadas delegatárias
tes na atividade econômica de modo geral. Assim sendo, obtemos Identifica-se no processo de criação das fundações privadas,
dois tipos de empresas públicas e dois tipos de sociedades de eco- duas características que se encontram presentes de forma contun-
nomia mista. dente, sendo elas a doação patrimonial por parte de um instituidor
Ressalta-se que ao passo que as empresas estatais explorado- e a impossibilidade de terem finalidade lucrativa.
ras de atividade econômica estão sob a égide, no plano constitu- O Decreto 200/1967 e a Constituição Federal Brasileira de 1988
cional, pelo art. 173, sendo que a sua atividade se encontra regida conceituam Fundação Pública como sendo um ente de direito pre-
pelo direito privado de maneira prioritária, as empresas estatais dominantemente de direito privado, sendo que a Constituição Fe-
prestadoras de serviço público são reguladas, pelo mesmo diploma deral dá à Fundação o mesmo tratamento oferecido às Sociedades
legal, pelo art. 175, de maneira que sua atividade é regida de forma de Economia Mista e às Empresas Públicas, que permite autoriza-
exclusiva e prioritária pelo direito público. ção da criação, por lei e não a criação direta por lei, como no caso
das autarquias.
Observação importante: todas as empresas estatais, sejam
prestadoras de serviços públicos ou exploradoras de atividade eco-
nômica, possuem personalidade jurídica de direito privado.

166
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Entretanto, a doutrina majoritária e o STF aduzem que a Fun- Art. 3º A qualificação instituída por esta Lei, observado em
dação Pública poderá ser criada de forma direta por meio de lei qualquer caso, o princípio da universalização dos serviços, no res-
específica, adquirindo, desta forma, personalidade jurídica de direi- pectivo âmbito de atuação das Organizações, somente será conferi-
to público, vindo a criar uma Autarquia Fundacional ou Fundação da às pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujos
Autárquica. objetivos sociais tenham pelo menos uma das seguintes finalidades:
I – promoção da assistência social;
Observação importante: a autarquia é definida como serviço II – promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio
personificado, ao passo que uma autarquia fundacional é conceitu- histórico e artístico;
ada como sendo um patrimônio de forma personificada destinado III – promoção gratuita da educação, observando-se a forma
a uma finalidade específica de interesse social. complementar de participação das organizações de que trata esta
Lei;
Vejamos como o Código Civil determina: IV – promoção gratuita da saúde, observando-se a forma com-
Art. 41 - São pessoas jurídicas de direito público interno:(...) plementar de participação das organizações de que trata esta Lei;
IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; V – promoção da segurança alimentar e nutricional;
V - as demais entidades de caráter público criadas por lei. VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e
No condizente à Constituição, denota-se que esta não faz dis- promoção do desenvolvimento sustentável; VII – promoção do vo-
tinção entre as Fundações de direito público ou de direito privado. luntariado;
O termo Fundação Pública é utilizado para diferenciar as fundações VIII – promoção do desenvolvimento econômico e social e com-
da iniciativa privada, sem que haja qualquer tipo de ligação com a bate à pobreza;
Administração Pública. IX – experimentação, não lucrativa, de novos modelos sociopro-
No entanto, determinadas distinções poderão ser feitas, como dutivos e de sistemas alternativos de produção, comércio, emprego
por exemplo, a imunidade tributária recíproca que é destinada so- e crédito;
mente às entidades de direito público como um todo. Registra-se X – promoção de direitos estabelecidos, construção de novos
direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar;
que o foro de ambas é na Justiça Federal.
XI – promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos hu-
manos, da democracia e de outros valores universais;
Delegação Social
XII – estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias al-
Organizações sociais
ternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos
As organizações sociais são entidades privadas que recebem técnicos e científicos que digam respeito às atividades mencionadas
o atributo de Organização Social. Várias são as entidades criadas neste artigo.
por particulares sob a forma de associação ou fundação que de- A lei das Oscips apresenta um rol de entidades que não podem
sempenham atividades de interesse público sem fins lucrativos. Ao receber a qualificação. Vejamos:
passo que algumas existem e conseguem se manter sem nenhuma Art. 2º Não são passíveis de qualificação como Organizações
ligação com o Estado, existem outras que buscam se aproximar do da Sociedade Civil de Interesse Público, ainda que se dediquem de
Estado com o fito de receber verbas públicas ou bens públicos com qualquer forma às atividades descritas no art. 3º desta Lei:
o objetivo de continuarem a desempenhar sua atividade social. Nos I – as sociedades comerciais;
parâmetros da Lei 9.637/1998, o Poder Executivo Federal poderá II – os sindicatos, as associações de classe ou de representação
constituir como Organizações Sociais pessoas jurídicas de direito de categoria profissional;
privado, que não sejam de fins lucrativos, cujas atividades sejam III – as instituições religiosas ou voltadas para a disseminação
dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tec- de credos, cultos, práticas e visões devocionais e confessionais;
nológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à IV – as organizações partidárias e assemelhadas, inclusive suas
saúde, atendidos os requisitos da lei. Ressalte-se que as entidades fundações;
privadas que vierem a atuar nessas áreas poderão receber a quali- V – as entidades de benefício mútuo destinadas a proporcionar
ficação de OSs. bens ou serviços a um círculo restrito de associados ou sócios;
Lembremos que a Lei 9.637/1998 teve como fulcro transferir os VI – as entidades e empresas que comercializam planos de saú-
serviços que não são exclusivos do Estado para o setor privado, por de e assemelhados;
intermédio da absorção de órgãos públicos, vindo a substituí-los VII – as instituições hospitalares privadas não gratuitas e suas
por entidades privadas. Tal fenômeno é conhecido como publiciza- mantenedoras;
ção. Com a publicização, quando um órgão público é extinto, logo, VIII – as escolas privadas dedicadas ao ensino formal não gra-
outra entidade de direito privado o substitui no serviço anterior- tuito e suas mantenedoras;
mente prestado. Denota-se que o vínculo com o poder público para IX – as Organizações Sociais;
que seja feita a qualificação da entidade como organização social é X – as cooperativas;
estabelecido com a celebração de contrato de gestão. Outrossim, as
Por fim, registre-se que o vínculo de união entre a entidade
Organizações Sociais podem receber recursos orçamentários, utili-
e o Estado é denominado termo de parceria e que para a qualifi-
zação de bens públicos e servidores públicos.
cação de uma entidade como Oscip, é exigido que esta tenha sido
constituída e se encontre em funcionamento regular há, pelo me-
Organizações da sociedade civil de interesse público nos, três anos nos termos do art. 1º, com redação dada pela Lei n.
São conceituadas como pessoas jurídicas de direito privado, 13.019/2014. O Tribunal de Contas da União tem entendido que o
sem fins lucrativos, nas quais os objetivos sociais e normas estatu- vínculo firmado pelo termo de parceria por órgãos ou entidades da
tárias devem obedecer aos requisitos determinados pelo art. 3º da Administração Pública com Organizações da Sociedade Civil de Inte-
Lei n. 9.790/1999. Denota-se que a qualificação é de competência resse Público não é demandante de processo de licitação.
do Ministério da Justiça e o seu âmbito de atuação é parecido com
o da OS, entretanto, é mais amplo. Vejamos:

167
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
De acordo com o que preceitua o art. 23 do Decreto n. Convém mencionar que, como as entidades do Terceiro Setor
3.100/1999, deverá haver a realização de concurso de projetos pelo são constituídas sob a forma de pessoa jurídica de direito privado,
órgão estatal interessado em construir parceria com Oscips para seu regime jurídico, normalmente, via regra geral, é de direito pri-
que venha a obter bens e serviços para a realização de atividades, vado. Acontece que pelo fato de estas gozarem normalmente de
eventos, consultorias, cooperação técnica e assessoria. algum incentivo do setor público, também podem lhes ser aplicá-
veis algumas normas de direito público. Esse é o motivo pelo qual a
Entidades de utilidade pública conceituada professora afirma que o regime jurídico aplicado às en-
O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado trouxe em tidades que integram o Terceiro Setor é de direito privado, podendo
seu bojo, dentre várias diretrizes, a publicização dos serviços esta- ser modificado de maneira parcial por normas de direito público.
tais não exclusivos, ou seja, a transferência destes serviços para o
setor público não estatal, o denominado Terceiro Setor.
Podemos incluir entre as entidades que compõem o Terceiro GESTÃO DE PROCESSOS
Setor, aquelas que são declaradas como sendo de utilidade pública,
os serviços sociais autônomos, como SESI, SESC, SENAI, por exem- Um processo é uma sequência de atividades rotineiras que, em
plo, as organizações sociais (OS) e as organizações da sociedade civil conjunto com outros processos, compõe a forma pela qual a orga-
de interesse público (OSCIP). nização funcionará. É a abordagem pela qual esses processos serão
É importante explicitar que o crescimento do terceiro setor desenhados, descritos, medidos, supervisionados e controlados.
está diretamente ligado à aplicação do princípio da subsidiarieda-
de na esfera da Administração Pública. Por meio do princípio da Segundo a Fundação Nacional da Qualidade - FNQ, esse tipo
subsidiariedade, cabe de forma primária aos indivíduos e às orga- de gestão necessita de visão sistêmica, pois sem ela é impossível
nizações civis o atendimento dos interesses individuais e coletivos. perceber como o todo significa muito mais do que a uma simples
Assim sendo, o Estado atua apenas de forma subsidiária nas de- soma das partes. A abordagem sistêmica dentro de uma organiza-
mandas que, devido à sua própria natureza e complexidade, não ção faz com que o foco de sua gestão esteja voltado não só para o
puderam ser atendidas de maneira primária pela sociedade. Dessa seu ambiente interno, mas para o externo também, ou seja, que
maneira, o limite de ação do Estado se encontraria na autossufici- haja uma sinergia entre as partes para que os objetivos planejados
ência da sociedade. sejam alcançados.
Em relação ao Terceiro Setor, o Plano Diretor do Aparelho do A gestão de processos realiza diversos papéis dentro da orga-
Estado previa de forma explícita a publicização de serviços públicos nização. Sendo o primeiro passo para organizar e entender como
estatais que não são exclusivos. A expressão publicização significa as áreas, bem como seus processos funcionam internamente. É por
a transferência, do Estado para o Terceiro Setor, ou seja um setor meio dela que os responsáveis compreenderão como melhorar o
público não estatal, da execução de serviços que não são exclusivos aproveitamento dos recursos disponíveis e quais ações necessitam
do Estado, vindo a estabelecer um sistema de parceria entre o Es- ser tomadas para aperfeiçoar o fluxo de trabalho e otimizando e
tado e a sociedade para o seu financiamento e controle, como um adequando a organização para o mercado vigente.
todo. Tal parceria foi posteriormente modernizada com as leis que
instituíram as organizações sociais e as organizações da sociedade Gerenciamento de Processo ou Gestão de Processos é o en-
civil de interesse público. tendimento de como funciona a organização. A série de atividades
O termo publicização também é atribuído a um segundo sen- estruturadas para a produção do produto/serviço. Anteriormente
tido adotado por algumas correntes doutrinárias, que corresponde à compreensão desses processos, setorizava-se os trabalhos com
à transformação de entidades públicas em entidades privadas sem base na departamentalização, onde os procedimentos existentes
fins lucrativos. dentro de cada setor da organização eram separados por depar-
No que condizente às características das entidades que com- tamentos e cada área pensava separadamente, sem sinergia umas
põem o Terceiro Setor, a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro enten- com as outras. Focada em ciclos verticais separados.
de que todas elas possuem os mesmos traços, sendo eles:
Marketing <-> Financeiro <-> Produção <-> RH
1. Não são criadas pelo Estado, ainda que algumas delas te-
nham sido autorizadas por lei; A Gestão de Processos busca tornar horizontal a relação entre as
2. Em regra, desempenham atividade privada de interesse pú- áreas dentro da organização.
blico (serviços sociais não exclusivos do Estado);
3. Recebem algum tipo de incentivo do Poder Público; Objetivos da Gestão de Processos
4. Muitas possuem algum vínculo com o Poder Público e, por • Gerir sistemas de rotinas que envolve o cotidiano da organi-
isso, são obrigadas a prestar contas dos recursos públicos à Admi- zação e delegar responsabilidades;
nistração • Administrar os processos com o objetivo de alcançar resulta-
5. Pública e ao Tribunal de Contas; dos perceptíveis (e não tarefas específicas);
6. Possuem regime jurídico de direito privado, porém derroga- • Ampliar e detectar melhorias contínuas na comunicação e
do parcialmente por normas direito público; relação entre participantes e áreas da organização;
Assim, estas entidades integram o Terceiro Setor pelo fato de • Facilitar o planejamento, padronizando-o com acompanhan-
não se enquadrarem inteiramente como entidades privadas e tam- do de perto o que acontece no ambiente;
bém porque não integram a Administração Pública Direta ou Indi- • Perceber oportunidades de otimização de processos através
reta. de gargalos encontrados;
• Ao invés de criar novos modelos; concentrar-se na melhoria
de processos que já existem.
• Efetuar toda e qualquer correção que possam surgir nos pro-
cessos antes de automatizá-los, para não acelerar o que está de-
sorganizado.

168
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Análise de Processos
Geralmente é nessa etapa que a empresa é mapeada. É preciso analisar com exatidão como acontece cada processo no negócio atu-
almente. Assim, os processos são listados e descritos pelo conjunto de atividades que os compõem.
É preciso conhecer realmente como funciona a empresa, para realizar esse mapeamento. Somente sim o gestor terá conhecimento
dos pontos de melhoria na operação com clareza.
Nessa etapa verifica-se:
• A compreensão do negócio com os processos principais que o compõem;
• Plano estratégico com metas e indicadores;
• Senso comum dos processos;
• Entradas e saídas, incluindo clientes e fornecedores;
• Responsabilidades de diferentes áreas e equipes;
• Avaliação dos recursos disponíveis.

Exemplo do elemento Consumidor X Cliente


Nessa relação, há processos de entradas/Imputs (Insumos) dos fornecedores e saídas/Outputs: Produtos, Serviços ao cliente, inter-
-relacionando essas áreas na organização.
Elementos desse Processo:

CONSUMIDOR
FORNECEDORES PROCESSO CLIENTES
• Entradas / Inputs
• Saídas / Outputs

• As diversas entradas passam por transformação no processo, e a saída (entrega) sempre será diferente da entrada.
• O consumidor é quem consome o produto/serviço e o cliente é quem decide pela compra/aquisição, não necessariamente serão a
mesma pessoa.

Execução
É importante estudar os recursos necessários, antes de institucionalizar as mudanças, como: remanejar equipe, ferramentas, mudan-
ças no layout da organização, aquisição de programas (softwares), entre outras.
Existem duas vertentes para a implantação das novas estratégias:
• Implantação sistêmica, quando são utilizados softwares para isso
• Implantação não sistêmica, que não necessitam de ferramentas desse tipo.

A visão dessa execução deve ser positiva, pois irá auxiliar organização a estruturar melhor seus processos, não sendo que atrapalhará
o ciclo de trabalho.

Monitoramento
Através dos indicadores de desempenho pré-definidos, os novos processos devem ser constantemente acompanhados. Geralmente,
algumas das métricas a constar em cada processo são: o tempo de duração, o custo, a capacidade (quanto cada processo realmente pro-
duz) e a qualidade (medida com indicadores próprios que variam de processo a processo).

Melhoria de Processos
Nessa etapa, observa-se os indicadores previamente levantados, onde se torna possível identificar quais são os principais gargalos em
todo processo e se os objetivos estão sendo conquistados.
As melhorias podem ser concernentes a inclusão ou exclusão de atividades, realocação de responsabilidades, documentação, novas
ferramentas de apoio e sequências diferentes, por exemplo. Melhorar o desempenho para reduzir custos, aumentar a eficiência, aprimo-
rar a qualidade do produto/serviço e melhorar o relacionamento com o cliente, devem ser o objetivo.
O processo todo em si é cíclico: finalizando essa fase, volta-se a analisar a situação no negócio, investigam se os processos estão
sinérgicos ao objetivo da empresa, mapeia-se novas situações diante das melhorias apontadas, executa-se as mudanças, monitorando-as
e otimizando-as.

Técnicas de Mapeamento
Modelo AS-IS
Levantar e documentar a atual situação dos processos, geralmente realizado pelos usuários diretamente envolvidos nos processos-
-chaves.

169
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
O levantamento das principais oportunidades de melhorias é A gestão do contrato é realizada por um representante da Ad-
realizado com as equipes através de entrevistas feitas com essas ministração, conforme exigência do artigo 67 da Lei nº8.666/934.
pessoas, que relatarão como são realizadas as atividades. Este representante é denominado gestor do contrato:

TO-BE Artigo 67 – A execução do contrato deverá ser acompanhada


Após, é realizado o mapeamento “To-Be”, que define a meta a e fiscalizada por um responsável da Administração especialmente
ser alcançada e as mudanças que será necessário implementar para designado, permitida a contratação de terceiros para assisti-lo e
isso. Nesse processo é importante documentar pontos de melho- subsidiá-lo de informações pertinentes a essa atribuição.
rias e acréscimos esperados quantitativamente, realizar a definição
dos recursos, ferramentas e responsabilidades de cada atividade. Competência da Gestão
A gestão de contratos abrange uma série de condutas e pro-
Tipos de Mapeamento cedimentos a serem aplicados pelo agente público e por seus re-
• Fluxograma de processos: Desenho simplificado de um pro- presentantes desde o planejamento da contratação, a seleção do
cesso usando símbolos padronizados. Forma simples de represen- fornecedor, e a fiscalização da execução contratual, que contribuem
tar visualmente a teia de atividades envolvidas na operação. para o bom uso do dinheiro público, e, para que as necessidades da
• Fluxograma horizontal: Visando uma melhor representação Administração e da população sejam atendidas da melhor forma
dos processos, o fluxograma horizontal foi criado, possibilitando as- possível.
sim mais alternativas ao gestor. Em uma matriz o fluxo de tarefas é
detalhado, cujo o eixo horizontal indica quais processos estão em Finalidade da gestão de contratos
andamento e o eixo vertical mostra as etapas de produção ou os A gestão de contratos deve garantir que os contratados pela
responsáveis por cada processo. Possibilitando assim, uma visão Administração forneçam os bens ou prestem os serviços pactuados,
mais clara em relação ao fluxograma de processos. e que tais bens e serviços sejam da melhor qualidade possível. Deve
• Mapofluxograma: Principal mapeamento utilizado para li- atuar na tentativa de aliar a busca pelo bem ou serviço de menor
nhas de produção, por exemplo. É a união de um fluxograma den- preço e o atendimento ao princípio constitucional da eficiência, evi-
tro de um layout industrial. Aqui, o fluxograma é representado tando desperdícios e oferecendo bens e serviços públicos de quali-
sobre o desenho da planta. Isso facilita a visão e compreensão da dade à população.
movimentação de materiais e pessoas. Outra finalidade da gestão de contratos é a de evitar prejuízos
• BPMN: Tipo de modelagem de processos mais utilizado, aos cofres públicos ocasionados pela necessidade de novas contra-
atendendo inclusive às normas especiais. Os símbolos são padro- tações para substituir ou concluir obras e serviços não prestados
nizados com formas e cores previamente definidas, facilita muito ou insatisfatórios, e pela condenação da Administração, nas esferas
mais a compreensão e representação de um processo complexo. trabalhista e previdenciária, ao pagamento de encargos devidos aos
Como é de uma “linguagem universal”, se torna também possível empregados e fornecedores inadimplentes.
apresentar o fluxo para clientes, possibilita que novos integrantes A gestão dos contratos abrange duas esferas de trabalho a se-
façam alterações agregando valor aos processos. rem desenvolvidas, sendo uma de perfil administrativo, cujo foco é
a relação jurídica com a contratada, efetuada pelo Gestor de Con-
tratos; e outra, de perfil técnico, que tem como foco o próprio obje-
GESTÃO DE CONTRATOS to, sua execução, que é a fiscalização.
O Fiscal de Contratos necessita ter conhecimento técnico e do-
A gestão dos contratos administrativos mínio do objeto para que possa avaliá-lo.
Os contratos administrativos necessitam de um acompanha-
mento diário e, diante disso, é preciso que os gestores públicos/ Diferença entre Gestão e Fiscalização
ordenadores de despesas atentem para a necessidade de nomea- Não podemos, entretanto, confundir gestão com fiscalização. A
rem fiscais e gestores de contratos devidamente qualificados para a Gestão é o serviço geral de gerenciamento dos contratos; a fiscali-
missão, além de propiciarem reais condições para uma fiscalização zação é pontual.
e acompanhamento eficientes ao longo da realização de cada con- É necessário diferenciarmos estas duas funções, tão comumen-
trato em particular. Somente assim procedendo o gestor público/ te confundidas, visto que possuem atribuições semelhantes, não
ordenador de despesas estará resguardando o interesse público e esquecendo que os responsáveis pelas mesmas, ou seja, gestor de
a si próprio3. contrato e fiscal, devem atuar em perfeita sintonia, pois objetivam,
É importante esclarecer, entretanto, que o gestor público/or- cada um a seu tempo e modo, a perfeita execução do contrato.
denador de despesas precisa estar atento aos requisitos na escolha Na gestão do contrato cuida-se, por exemplo, do equilíbrio eco-
de seus prepostos, pois uma incorreta indicação pode gerar respon- nômico-financeiro, de incidentes relativos a pagamentos, de ques-
sabilidade. É a figura da culpa in elegendo, ou seja, a culpa pela má tões ligadas à documentação, ao controle dos prazos de vencimen-
eleição dos funcionários. to, de prorrogações, etc. É um serviço administrativo propriamente
dito, que pode ser exercido por uma pessoa ou um setor.
Gestão de contratos Já a fiscalização, exercida necessariamente por um represen-
A gestão de contratos refere-se ao acompanhamento e a fisca- tante da Administração, especialmente designado, como preceitua
lização, pela Administração, da execução de todos seus contratos e a lei, cuida pontualmente de cada contrato. Cada órgão deve orga-
deve ser promovida por todos os órgãos públicos. nizar e regulamentar a gestão dos contratos de acordo com o pes-
soal disponível, o número de contratos existentes e a complexidade
dos objetos contratados.
4 Lembrando que de acordo com o Art. 193 da Lei nº 14.133, de 1º de abril de
2021 (Lei de Licitações e Contratos Administrativos), REVOGA-SE a Lei nº 8.666,
3 http://www4.fe.usp.br/wp-content/uploads/feusp/manual-gestao-de-con- de 21 de junho de 1993, após decorridos 2 (dois) anos da publicação oficial
tratos.pdf desta Lei.

170
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
A lei exige que pelo menos um servidor seja responsável pelo Do Termo Contratual
acompanhamento da execução, exercendo a função de gestor do O contrato deve conter cláusulas referentes ao gestor e à fisca-
contrato. Ele pode ser auxiliado por outros servidores ou por ter- lização, estabelecendo que a execução do objeto seja acompanha-
ceiros contratados, mediante processo licitatório dispensa ou ine- da e fiscalizada por um representante da Administração (gestor do
xigibilidade de licitação, conforme o caso, quando tecnicamente contrato), além de conter cláusulas que definam como a prestação
justificável, para auxiliá-lo. do serviço, obra ou fornecimento de bem que será avaliada por este
Em sendo estas tarefas exercidas por apenas um servidor, é re- representante. O nome do servidor especialmente designado para
comendável que ele tenha formação ou conhecimento na área do acompanhar a execução pode constar em cláusula do contrato, sen-
objeto a ser fiscalizado. do este aditado para alteração desta cláusula caso seja necessário
substituir o gestor do contrato.
Da contratação dos serviços É possível também fazer constar no contrato que o gestor será
A contratação de particulares pela Administração Pública é ne- nomeado através de portaria, pela autoridade competente. Além
cessária para atender uma necessidade do próprio órgão ou da po- disso, é importante fazer constar expressamente as prerrogativas e
pulação. Em todos os casos, a necessidade a ser atendida deve ser atribuições do gestor do contrato.
identificada e bem conhecida pelos setores responsáveis.
É importante que se estabeleça uma perfeita comunicação en- Gestor de Contratos
tre o setor que necessita o objeto (Requisitante) e o setor encarre- É o servidor especialmente designado pela Administração,
gado do expediente licitatório (Serviço de Compras). através de Portaria, para cumprir as atribuições legais definidas
Muitas vezes, há requisição de compra de determinado produ- no artigo 67 da Lei de Licitações. Ele é o responsável por tomar as
to/serviço, sem que se descreva com nitidez as características, as medidas necessárias ao fiel cumprimento da avença administrativa,
peculiaridades daquilo que se precisa. Na etapa seguinte o Serviço cabendo-lhe as estratégias de gestão, tais como as questões relacio-
de Compras acaba por fazer uma descrição do objeto que não aten- nadas a: verificação da execução do objeto [serviço, obra ou forne-
de rigorosamente ao interesse de quem o solicitou. cimento de bem contratado, constatação da adequação do objeto
Todas as informações sobre os serviços e obras devem ser reu- contratado às especificações constantes nas cláusulas contratuais
nidas e organizadas em um Memorial Descritivo (Projeto Básico). que descrevem a forma de execução, observando o desempenho
Este memorial serve, portanto, para descrever a necessidade da do serviço prestado ou a qualidade da obra ou do bem fornecido e
Administração que justifica a contratação de uma empresa ou pro- as eventuais irregularidades ou imperfeições; equilíbrio econômico
fissional da iniciativa privada. financeiro do contrato; responsável pela conferência dos valores
Ao mesmo tempo, ele contém as informações sobre o obje- faturados, assinando o aceite definitivo nas Notas Fiscais emitidas
to a ser contratado, que são utilizadas pelos setores responsáveis pela Contratada; encaminhamento das notas fiscais ao setor res-
pela elaboração do edital e da minuta do contrato. Além disso, as ponsável, para que proceda o pagamento.
informações do Memorial Descritivo são essenciais para que as em- O gestor do contrato deve ainda acompanhar o cumprimento
presas e profissionais conheçam as características do serviço ou da das obrigações decorrentes da execução contratual (trabalhistas,
obra e possam decidir se têm condições técnicas para executá-las, previdenciárias e garantias contratual e técnica), e penalidades.
optando por participar da licitação ou não. É tarefa do gestor fiscalizar a manutenção, pela contratada, das
Por isso é importante que a Administração elabore um Me- condições de habilitação exigida pela Lei de Licitações, edital e con-
morial Descritivo claro e detalhado, que descreva com precisão a trato, solicitando os documentos comprobatórios pertinentes. Em
necessidade pública que deve ser atendida e o padrão de qualida- relação à fiscalização de ausência de débitos trabalhistas e previ-
de exigido, ou ainda, a descrição do objeto no Memorial Descritivo denciários, o gestor deve:
deve ter como foco o resultado pretendido pela Administração.
O artigo 6º, inciso IX, da Lei de Licitações, define o Memorial → Nos casos em que o contrato condiciona o pagamento à
Descritivo (Projeto Básico) e lista os elementos que ele deve conter apresentação de certidões negativas, recolher e conferir as certi-
(alíneas “a” a “f”). Em linhas gerais, o Memorial Descritivo deve: dões antes de atestar as notas fiscais;
descrever a solução escolhida para a necessidade a ser atendida; → Nos casos em que o contrato exige que a Contratada via-
especificar as técnicas que podem ou devem ser utilizadas; enume- bilize o acesso de seus funcionários aos sistemas do INSS e FGTS,
rar os serviços principais e assessórios a serem executados e tipos solicitar mensalmente aos funcionários, por amostragem, que con-
de materiais necessários; descrever as condições de execução do sultem seus respectivos extratos e confirmem se os recolhimentos
serviço ou da obra (organização, periodicidade, horários, etc.); fixar estão em ordem;
obrigações das partes, prazos, garantias contratuais, forma e condi- → Silenciando o contrato sobre o procedimento de fiscalização,
ções de pagamento; conter orçamento detalhado do custo global o gestor pode, a qualquer tempo, requerer da contratada as certi-
da obra ou serviço, e outras informações relevantes para a descri- dões negativas de débitos, com amparo nos artigos 71 e 55, inciso
ção do objeto, conforme o caso. XIII, da Lei de Licitações.
É muito importante, também, que conste no Memorial Descri-
tivo e no Termo Contratual o procedimento de fiscalização das obri- O descumprimento dessas obrigações deve ser comunicado à
gações trabalhistas e previdenciárias da Contratada, e que o gestor autoridade competente para que esta aplique as penalidades legais
do contrato execute este procedimento e arquive toda a respectiva e as previstas no contrato, como a execução da garantia contratual
documentação. e até mesmo a rescisão contratual, após notificar a Contratada a
Como medida de resguardo de incidentes, a recomendação é apresentar justificativas para o inadimplemento. Caso verifique que
de que a descrição do objeto seja feita pelo funcionário que o re- há necessidade de prorrogação do prazo contratual conforme hipó-
quisita; ou seja, que este busque o assessoramento técnico para fa- tese prevista no artigo 57 da Lei de Licitações, o gestor do contrato
zê-lo. Sem isso, corremos o risco de termos um contrato impróprio, deve informar esta necessidade à autoridade competente, encami-
com dinheiro público desperdiçado, ou com remendos na execução, nhando as justificativas para a prorrogação.
transferindo ao contratado encargos de trocas ou ajustes e caracte-
rizando ineficiência da Administração.

171
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Se a prorrogação não for cabível na forma da lei, o gestor deve Este registro pode ser, por exemplo, em forma de processo, no
informar a necessidade de realização de nova licitação antes do tér- qual são anexadas todas as manifestações, relatórios e documen-
mino do prazo contratual, de modo que a nova empresa Contrata- tos, em formato de livro ou de relatório (em todos os casos, as fo-
da comece a atuar logo após o término do contrato anterior. Caso lhas devem ser numeradas).
constate a necessidade de alterações em cláusulas contratuais, para Quando o gestor for o único servidor designado para exercer
melhor execução do objeto, atendimento do objetivo da contrata- a função de gestão e fiscalização, é recomendável que o mesmo
ção ou gestão do contrato, o gestor deve solicitar a alteração à au- tenha formação ou conhecimento técnico na área do objeto a ser
toridade competente, apresentando as justificativas do seu pedido. fiscalizado.
Nos casos de complexidade técnica do objeto, é importante
que ele encaminhe também pareceres ou relatórios elaborados por Responsabilidades do Gestor
servidores da área ou por profissionais contratados para auxiliá-lo, A Administração e a Contratada respondem pelos danos que
que contenham as informações técnicas necessárias. Se a Contra- seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros. Porém ambas
tada tem interesse que alguma cláusula do contrato seja alterada podem processar administrativamente ou judicialmente, conforme
ou que o prazo seja prorrogado, esta pode apresentar justificativas o caso, o responsável pelos danos, se este agiu com dolo ou culpa.
e comprovações necessárias à Administração, que deve analisar a A culpa verifica-se na ação ou omissão lesiva, resultante de im-
legalidade e conveniência da alteração contratual, observando o prudência, negligência ou imperícia do agente; o dolo ocorre quan-
disposto no artigo 65 da Lei de Licitações. do o agente deseja a ação ou omissão lesiva ou assume o risco de
O gestor deve assinar o termo de recebimento definitivo do produzi-la. Desta forma, a Administração pode abrir processo admi-
serviço, para que seja efetivado o pagamento do Contratado. A situ- nistrativo, ingressar com ação civil ou penal, conforme o caso, para
ação ideal é que o servidor que vai atuar como gestor acompanhe apurar a responsabilidade do servidor por danos causados ao erário
todas as fases da contratação, desde o planejamento e elaboração ou a terceiros no exercício de suas funções.
do Memorial Descritivo (Projeto Básico), para conhecer todos os Tanto na esfera administrativa quanto na civil e penal, a con-
detalhes do objeto a ser fiscalizado. duta do servidor será examinada para apuração da culpa ou dolo.
Caso não tenha participado das fases de Planejamento e Lici- O gestor do contrato é responsável por sua conduta, ou seja, pelo
tação, é imprescindível que o gestor leia atentamente o Memorial desempenho das atividades que lhe foram atribuídas na portaria
Descritivo, o Projeto Executivo (quando for o caso) e o Contrato, de designação e no contrato, respondendo se não tomar as provi-
prestando especial atenção às cláusulas que descrevem as especi- dências que estiverem ao seu alcance e forem de sua competência
ficações do objeto, as condições de execução, os procedimentos de para garantir o fiel cumprimento das cláusulas contratuais e atingi-
fiscalização e as penalidades aplicáveis à Contratada. mento do objetivo da contratação, ou para interromper a execução
De acordo com o parágrafo 1º do artigo 67 da Lei de Licitações, em desconformidade com o pactuado e evitar prejuízos à Adminis-
este representante da Administração deverá anotar em registro tração.
próprio todas as ocorrências relacionadas à execução do contrato, Assim sendo, ressaltamos a importância da formalização de to-
ou seja, registrar por escrito tanto o cumprimento de etapas, es- dos os atos do gestor de contrato. Ele deve comunicar-se sempre
pecificações e condições de execução do objeto, quanto falhas e por escrito com o ordenador de despesas, com os servidores que
imperfeições verificadas, comunicações à Administração e à Contra- auxiliam na fiscalização e, principalmente, com os representantes
tada e respostas obtidas, fatores externos que causaram atrasos ou da Contratada.
alterações nas especificações ou cronograma, determinando o que Além de registrar por escrito todas as ocorrências relacionadas
for necessário à regularização das ocorrências das faltas ou defeitos com a execução do objeto, sobretudo nos casos de falhas e defei-
observados. tos, ele deve fotografar tanto o cumprimento quanto o descumpri-
Esta determinação deverá ser feita na forma escrita e mencio- mento de etapas, condições e especificações contratuais. Se tudo
nada ou anexada ao registro de ocorrências, pois é fato relacionado estiver documentado, será possível comprovar qual foi a conduta
à execução do contrato. Caso haja um Fiscal nomeado para apoiar do gestor em cada situação, bem como as condutas dos demais
o trabalho do Gestor, estes registros de acompanhamento diário fi- servidores envolvidos, do ordenador de despesas (autoridade que
cam à cargo do mesmo. assinou o contrato) e da Contratada.
No parágrafo 2º do artigo 67 da Lei de Licitações temos que Essa comprovação será necessária nos casos de falhas na exe-
as decisões e providências que ultrapassarem a competência do cução do contrato, danos causados a terceiros e/ou inadimplemen-
representante deverão ser solicitadas a seus superiores em tempo to das obrigações trabalhistas e previdenciárias devidas a funcioná-
hábil para a adoção de medidas convenientes. As decisões e provi- rios terceirizados, quando a conduta de cada um dos envolvidos na
dências de que trata este parágrafo são, por exemplo, alterações execução contratual irá determinar o responsável pela falha, dano
contratuais necessárias, prorrogação de prazos e aplicações de pe- ou inadimplemento, conforme o caso.
nalidades à Contratada, ou até mesmo a rescisão do contrato. Finalmente, não podemos deixar de lembrar sobre a Respon-
A partir das cláusulas contratuais, o gestor pode elaborar um sabilidade Fiscal. É sabido que a impropriamente chamada Lei de
roteiro, um plano de trabalho e/ou um check list (modelo anexo) Responsabilidade Fiscal trouxe um novo elenco de atribuições ao
com os prazos, etapas e especificações a serem conferidos durante gestor. Em seu primeiro artigo, a lei indica o ponto de cautela: ela
a execução do objeto, para facilitar seu trabalho, podendo inclusive não é a lei de responsabilidade, mas é a lei de responsabilidade do
apresentar este roteiro à autoridade que o designou, para que ve- gestor na gerência fiscal.
rifique a compatibilidade com o que foi estipulado contratualmen-
te. O gestor deve optar pelo formato do registro de ocorrências da Capacitação do Gestor/Fiscal do contrato
execução contratual que entender apropriado ao tipo de contrato e Dadas as responsabilidades que envolvem o acompanhamen-
às atividades que lhe foram atribuídas na Portaria de Designação e to da execução contratual, é necessário que a Administração/Or-
cláusulas contratuais. denador de Despesas tome medidas para informar e capacitar os
servidores que designa, bem como estes servidores devem adotar
condutas e tomar precauções necessárias ao bom e seguro desem-
penho da gestão contratual, a fim de que tenham condições de

172
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
acompanhar e fiscalizar os contratos firmados, evitando que a no- Planejamento
meação destes gestores se limite ao cumprimento de formalidades Planejamento é a função administrativa que determina anteci-
e trazendo benefícios reais para a Administração. padamente o que se deve fazer e quais objetivos devem ser alcan-
Nesse sentido, sempre que possível, o ordenador de despesas çados. O planejamento é responsável por definir objetivos, metas e
pode custear a participação de seus servidores em cursos de capa- planos para a organização6.
citação em gestão de contratos oferecidos por órgãos públicos e Segundo o Dicionário Aurélio, Planejamento é: “O ato ou efeito
empresas privadas. A qualificação dos servidores contribui para que de planejar (fazer o plano ou planta; traçar); Trabalho de prepara-
desempenhem melhor suas funções. ção para qualquer empreendimento, segundo roteiro e métodos de-
Caso o servidor designado não tenha conhecimentos técnicos terminados; Elaboração por etapas, com bases técnicas, de planos
sobre o objeto, deve informar este fato, por escrito, à autoridade e programas com objetivos definidos”.
que o designou, solicitando inclusive a designação de servidores da O planejamento envolve questionamentos sobre: o que fazer,
área para auxiliá-lo ou a contratação de profissionais, conforme o como, quando, quanto, para quem, por que, por quem e onde. Em
caso. resumo, o planejamento é o ato de planejar, onde, planejar é definir
objetivos e os meios para alcançá-los.
O resultado do planejamento é um plano que deve contemplar
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO os seguintes elementos:

Gestão Estratégica • Objetivos e metas;


Várias são as definições sobre estratégia, entretanto de uma • Meios necessários para realização (humanos, financeiros,
forma resumida, pode-se relatar os cinco Ps da estratégia resumi- materiais, informacionais e tecnológicos);
dos no quadro abaixo5. • Mecanismos de controle (dispositivos e indicadores de de-
sempenhos que permitam o monitoramento durante a execução do
Cinco Ps de Estratégia planejado a fim de evitar desvios em relação ao estabelecido).

Dessa forma, quando o processo de planejamento é bem exe-


cutado, este potencializa as chances de se obter êxito naquilo que
se pretende alcançar.

Tipos de Planejamento
Na consideração dos grandes níveis hierárquicos dentro de
uma organização, podem-se distinguir três tipos de planejamento:

• Planejamento Estratégico;
• Planejamento Tático;
• Planejamento Operacional.

http://uniso.br/assets/docs/publicacoes/eduniso/publicacoes/ges-
tao-estrategica.pdf

Resume-se a estratégia em presumir a existência de reflexões,


considerações e preocupações sobre o futuro em mutação e a defi-
nição de planos para alcançar o futuro desejado. Ao se definir estra-
tégia faz-se, entre outras, duas diferenciações importantes:

1) entre decisão e solução;


2) problema de lógica e problema de estratégia. https://unilab.edu.br/wp-content/uploads/2021/05/MANUAL_DE_
PLANEJAMENTO_ESTRATEGICO_MAIO_2021.pdf
Em um problema de lógica pessoas diferentes chegam a mes-
ma solução, pois existem ações e reações previsíveis. Já, em um Planejamento Estratégico
problema de estratégia, há oponentes com reações imprevisíveis e, É o processo administrativo que proporciona sustentação me-
portanto, tem-se que considerar novas decisões a cada ação toma- todológica para se estabelecer a melhor direção a ser seguida pela
da como em um jogo competitivo. organização, visando ao otimizado grau de interação com o ambien-
A definição sobre estratégia fica assim resumida: Estratégia é te e atuando de forma inovadora e diferenciada. O planejamento
um guia para decisões sobre interações com oponentes, de reações estratégico é de responsabilidade dos níveis mais altos da organiza-
imprevisíveis, que compreende duas partes, ações e reações envol- ção e diz respeito tanto à formulação de objetivos quanto à seleção
vendo aspectos do negócio, e preparação para obter vantagens nas dos cursos de ação a serem seguidos para sua consecução, levando
interações. em conta as condições externas e a evolução esperada para a ins-
tituição.

5 Oliveira, Ivaldir Vaz de. Gestão estratégica: aplicação em arranjos 6 https://unilab.edu.br/wp-content/uploads/2021/05/MANUAL_DE_PLA-


empresariais / Ivaldir Vaz de Oliveira. – Sorocaba, SP: Eduniso, 2017. NEJAMENTO_ESTRATEGICO_MAIO_2021.pdf

173
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Dessa forma, podemos ver o planejamento estratégico como um mapeamento de todas as etapas necessárias para se atingir aquilo
que deseja. Esse processo pode ser resumido a três situações principais:

• Situação atual – o ponto em que você se encontra neste momento, o que se tem e o que é preciso para atingir as metas e objetivos;
• Situação desejada no futuro – aquilo que se deseja alcançar, onde se quer estar daqui a 1, 5, 10, ou mais anos;
• Como alcançá-la – o que é preciso que ter e desenvolver para alcançar o objetivo almejado. Quais recursos internos e externos serão
necessários para a conquista.

Em resumo, define a missão, a filosofia /valores, visão e os objetivos da organização, considerando os fatores externos e internos, e
relaciona-se com objetivos de longo prazo e ações que afetam toda da instituição.

Planejamento Tático
Tem por objetivo otimizar determinada área de resultado e não a organização como um todo, trabalhando com a decomposição dos
objetivos, estratégias e políticas estabelecidas no planejamento estratégico, possibilitando a realização deste. Logo, é desenvolvido em
níveis organizacionais inferiores tendo como principal finalidade a utilização eficiente dos recursos disponíveis para a consecução de ob-
jetivos previamente fixados.
São caracterizados por serem planos de média duração que abrangem os departamentos da organização, tendo como responsáveis
aqueles que fazem parte dos níveis intermediários: gerentes e demais gestores de departamentos.
O planejamento tático relaciona-se com objetivos de médio prazo, com maneiras e ações que, geralmente afetam somente parte da
instituiço. Ressalta-se que, mesmo estando relacionado a um setor/departamento, é importante que o mesmo esteja alinhado ao planeja-
mento estratégico como forma de “unificar” e dar continuidade ao processo de planejamento organizacional.

Planejamento Operacional
O planejamento operacional corresponde a um conjunto de partes homogêneas como resultado do desdobramento do planejamento
tático. Refere-se aos grupos, equipes e indivíduos da organização, estabelecendo objetivos e metas para as equipes e indivíduos.
O planejamento operacional deve conter os seguintes detalhes:

• Os recursos necessários para seu desenvolvimento e implantação;


• Os procedimentos básicos a serem adotados;
• Os resultados finais esperados;
• Os prazos estabelecidos;
• Os responsáveis por sua execução e implantação.

É um plano de curta duração e relaciona-se com as rotinas operacionais da instituição e afetam somente as unidades setoriais.

Níveis de Planejamento

https://unilab.edu.br/wp-content/uploads/2021/05/MANUAL_DE_PLANEJAMENTO_ESTRATEGICO_MAIO_2021.pdf

174
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. INOVAÇÕES


INTRODUZIDAS PELA CONSTITUIÇÃO DE 1988: AGÊNCIAS
EXECUTIVAS; SERVIÇOS ESSENCIALMENTE PÚBLICOS
E SERVIÇOS DE UTILIDADE PÚBLICA; DELEGAÇÃO DE
SERVIÇOS PÚBLICOS A TERCEIROS; AGÊNCIAS REGULA-
DORAS; CONVÊNIOS E CONSÓRCIOS

ADMINISTRAÇÃO GERAL

Dentre tantas definições já apresentadas sobre o conceito de


administração, podemos destacar que:
Origem da Abordagem Clássica
“Administração é um conjunto de atividades dirigidas à utili- 1 — O crescimento acelerado e desorganizado das empresas:
zação eficiente e eficaz dos recursos, no sentido de alcançar um ou • Ciência que substituísse o empirismo;
mais objetivos ou metas organizacionais.” • Planejamento de produção e redução do improviso.
2 — Necessidade de aumento da eficiência e a competência
Ou seja, a Administração vai muito além de apenar “cuidar de das organizações:
uma empresa”, como muitos imaginam, mas compreende a capa- • Obtendo melhor rendimento em face da concorrência;
cidade de conseguir utilizar os recursos existentes (sejam eles: re- • Evitando o desperdício de mão de obra.
cursos humanos, materiais, financeiros,…) para atingir os objetivos
da empresa. Abordagem Científica – ORT (Organização Racional do Traba-
O conceito de administração representa uma governabilidade, lho)
gestão de uma empresa ou organização de forma que as atividades • Estudo dos tempos e movimentos;
sejam administradas com planejamento, organização, direção, e • Estudo da fadiga humana;
controle. • Divisão do trabalho e especialização;
• Desenho de cargo e tarefas;
O ato de administrar é trabalhar com e por intermédio de • Incentivos salariais e premiação de produção;
outras pessoas na busca de realizar objetivos da organização bem • Homo Economicus;
como de seus membros. • Condições ambientais de trabalho;
Montana e Charnov • Padronização;
• Supervisão funcional.
Principais abordagens da administração (clássica até contin- Aspectos da conclusão da Abordagem Científica: A percepção
gencial) de que os coordenadores, gerentes e dirigentes deveriam se preo-
É importante perceber que ao longo da história a Administra- cupar com o desenho da divisão das tarefas, e aos operários cabia
ção teve abordagens e ênfases distintas. Apesar de existir há pouco única e exclusivamente a execução do trabalho, sem questiona-
mais de 100 (cem) anos, como todas as ciências, a Administração mentos, apenas execução da mão de obra.
evoluiu seus conceitos com o passar dos anos. — Comando e Controle: o gerente pensa e manda e os traba-
De acordo com o Professor Idalberto Chiavenato (escritor, pro- lhadores obedecem de acordo com o plano.
fessor e consultor administrativo), a Administração possui 7 (sete) — Uma única maneira correta (the best way).
abordagens, onde cada uma terá seu aspecto principal e agrupa- — Mão de obra e não recursos humanos.
mento de autores, com seu enfoque específico. Uma abordagem, — Segurança, não insegurança. As organizações davam a sen-
poderá conter 2 (duas) ou mais teorias distintas. São elas: sação de estabilidade dominando o mercado.
1. Abordagem Clássica: que se desdobra em Administração
científica e Teoria Clássica da Administração. Teoria Clássica
2. Abordagem Humanística: que se desdobra principalmente • Aumento da eficiência melhorando a disposição dos órgãos
na Teoria das Relações Humanas. componentes da empresa (departamentos);
3. Abordagem Neoclássica: que se desdobra na Teoria Neo- • Ênfase na anatomia (estrutura) e na fisiologia (funciona-
clássica da Administração, dos conceitos iniciais, processos admi- mento);
nistrativos, como os tipos de organização, departamentalização e • Abordagem do topo para a base (nível estratégico tático);
administração por objetivos (APO). • Do todo para as partes.
4. Abordagem Estruturalista: que se desdobra em Teoria Buro-
crática e Teoria Estruturalista da Administração.
5. Abordagem Comportamental: que é subdividida na Teoria
Comportamental e Teoria do Desenvolvimento Organizacional (DO).
6. Abordagem Sistêmica: centrada no conceito cibernético
para a Administração, Teoria Matemática e a Teria de Sistemas da
Administração.
7. Abordagem Contingencial: que se desdobra na Teoria da
Contingência da Administração.

175
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Diferente do processo neoclássico, na Teoria Clássica temos 5 (cinco) funções – POC3:
— Previsão ao invés de planejamento: Visualização do futuro e traçar programa de ação.
— Organização: Constituir a empresa dos recursos materiais e social.
— Comando: Dirigir e orientar pessoas.
— Coordenação: Ligação, união, harmonizar todos os esforços coletivamente.

Controle: Se certificar de que tudo está ocorrendo de acordo com as regras estabelecidas e as ordens dadas.

• Princípios da Teoria Clássica:


— Dividir o trabalho;
— Autoridade e responsabilidade;
— Disciplina;
— Unidade de comando;
— Unidade de direção;
— Subordinação dos interesses individuais aos gerais;
— Remuneração do pessoal;
— Centralização;
— Cadeia escalar;
— Ordem;
— Equidade;
— Estabilidade do pessoal;
— Iniciativa;
— Espírito de equipe.

A Abordagem Clássica, junto da Burocrática, dentre todas as abordagens, chega a ser uma das mais importantes.

Abordagem Neoclássica
No início de 1950 nasce a Teoria Neoclássica, teoria mais contemporânea, remodelando a Teoria Clássica, colocando novo figurino
dentro das novas concepções trazidas pelas mudanças e pelas teorias anteriores. Funções essencialmente humanas começam a ser inseri-
das, como: Motivação, Liderança e Comunicação. Preocupação com as pessoas passa a fazer parte da Administração.

• Fundamentos da Abordagem Neoclássica


— A Administração é um processo operacional composto por funções, como: planejamento, organização, direção e controle.
— Deverá se apoiar em princípios basilares, já que envolve diversas situações.
— Princípios universais.
— O universo físico e a cultura interferem no meio ambiente e afetam a Administração.
— Visão mais flexível, de ajustamento, de continuidade e interatividade com o meio.
— Ênfase nos princípios e nas práticas gerais da Administração.
— Reafirmando os postulados clássicos.
— Ênfase nos objetivos e resultados.
— Ecletismo (influência de teorias diversas) nos conceitos.

Teoria Burocrática
Tem como pai Max Weber, por esse motivo é muitas vezes chamada de Teoria Weberiana. Para a burocracia a organização alcançaria
a eficiência quando explicasse, em detalhes, como as coisas deveriam ser feitas.
Burocracia não é algo negativo, o excesso de funções sim. A Burocracia é a organização eficiente por excelência. O excesso da Burocra-
cia é que transforma ela em algo negativo, o que chamamos de disfunções.

• Características
— Caráter formal das normas e regulamentos.
— Caráter formal das comunicações.
— Caráter racional e divisão do trabalho.
— Impessoalidade nas relações.
— Hierarquia de autoridade.

176
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
— Rotinas e procedimentos padronizados.
— Competência técnica e meritocracia.
— Especialização da administração.
— Profissionalização dos participantes.
— Completa previsibilidade de comportamento.

• Disfunções
— Internalização das regras e apego aos procedimentos.
— Excesso de formalismo e de papelório.
— Resistência às mudanças.
— Despersonalização do relacionamento.
— Categorização como base do processo decisório.
— “Superconformidade” às rotinas e aos procedimentos.
— Exibição de sinais de autoridade.
— Dificuldade no atendimento.

Abordagem Estruturalista
A partir da década de 40, tínhamos:
• Teoria Clássica: Mecanicismo – Organização.
• Teoria das Relações Humanas: Romantismo Ingênuo – Pessoas.

As duas correntes sofreram críticas que revelaram a falta de uma teoria sólida e abrangente, que servisse de orientação para o admi-
nistrador.
A Abordagem Estruturalista é composta pela Teoria Burocrática e a Teoria Estruturalista. Além da ênfase na estrutura, ela também se
preocupa com pessoas e ambiente, se aproxima muito da Teoria de Relações Humanas.

No início da Teoria Estruturalista, vive-se a mesma gênese da Teoria da Burocracia, esse movimento onde só se encontram críticas da
Teoria das Relações Humanas às outras Teorias e não se tem uma preposição de um novo método.
• Teoria Clássica: Mecanicismo – Organização.
• Teoria das Relações Humanas: Romantismo Ingênuo – Pessoas.

A Teoria Estruturalista é um desdobramento da Burocracia e uma leve aproximação à Teoria das Relações Humanas. Ainda que a Teoria
das Relações Humanas tenha avançado, ela critica as anteriores e não proporciona bases adequadas para uma nova teoria. Já na Teoria
Estruturalista da Organização percebemos que o TODO é maior que a soma das partes. Significa que ao se colocar todos os indivíduos
dentro de um mesmo grupo, essa sinergia e cooperação dos indivíduos gerará um valor a mais que a simples soma das individualidades.
É a ideia de equipe.

• Teoria Estruturalista - Sociedade de Organizações


— Sociedade = Conjunto de Organizações (escola, igreja, empresa, família).
— Organizações = Conjunto de Membros (papéis) – (aluno, professor, diretor, pai).

O mesmo indivíduo faz parte de diferentes organizações e tem diferentes papéis.

• Teoria Estruturalista – O Homem Organizacional:


— Homem social que participa simultaneamente de várias organizações.
— Características: Flexibilidade; Tolerância às frustrações; Capacidade de adiar as recompensas e poder compensar o trabalho, em
detrimento das suas preferências; Permanente desejo de realização.

• Teoria Estruturalista – Abordagem múltipla:


— Tanto a organização formal, quanto a informal importam;
— Tanto recompensas salariais e materiais, quanto sociais e simbólicas geram mudanças de comportamento;
— Todos os diferentes níveis hierárquicos são importantes em uma organização;

177
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
— Todas as diferentes organizações têm seu papel na sociedade;
— As análises intra organizacional e Inter organizacional são fundamentais.

• Teoria Estruturalista – Conclusão:


— Tentativa de conciliação dos conceitos clássicos e humanísticos;
— Visão crítica ao modelo burocrático;
— Ampliação das abordagens de organização;
— Relações Inter organizacionais;
— Todas as heranças representam um avanço rumo à Abordagem Sistêmica e uma evolução no entendimento para a Teoria da Admi-
nistração.

Abordagem Humanística
É um desdobramento da Teoria das Relações Humanas. A Abordagem Humanística nasce no período de entendimento de que a pro-
dutividade era o elemento principal, e seu modelo era “homem-máquina”, em que o trabalhador era visto basicamente como operador de
máquinas, não havia a percepção com outro elemento que não fosse a produtividade.

• Suas preocupações:
— Nas tarefas (abordagem científica) e nas estruturas (teoria clássica) dão lugar para ênfase nas pessoas;
— Nasce com a Teoria das Relações Humanas (1930) e no desenvolvimento da Psicologia do Trabalho:
* Análise do trabalho e adaptação do trabalhador ao trabalho.
* Adaptação do trabalho ao trabalhador.
— A necessidade de humanizar e democratizar a Administração libertando dos regimes rígidos e mecanicistas;
— Desenvolvimento das ciências humanas, principalmente a psicologia, e sua influência no campo industrial;
— Trazendo ideias de John Dewey e Kurt Lewin para o humanismo na Administração e as conclusões da experiência em si.

• Principais aspectos:
— Psicologia do trabalho, que hoje chamamos de Comportamento Organizacional, demonstrando uma percepção diferenciada do tra-
balhador, com viés de um homem mais social, com mais expectativas e desejos. Percebe-se então que o comportamento e a preocupação
com o ambiente de trabalho do indivíduo tornam-se parte responsável pela produtividade. Agregando a visão antagônica desse homem
econômico, trazendo o conceito de homem social.
— Experiência de Hawthorn desenvolvida por Elton Mayo, na qual a alteração de iluminação traz um resultado importante:
Essa experiência foi realizada no ano de 1927, pelo Conselho Nacional de Pesquisas dos Estados Unidos, em uma fábrica da Western
Eletric Company, situada em Chicago, no bairro de Hawthorn. Lá dois grupos foram selecionados e em um deles foi alterada a iluminação
no local de trabalho, observando assim, uma alteração no desempenho do comportamento e na produtividade do grupo em relação ao
outro. Não necessariamente ligada a alteração de iluminação, mas com a percepção dos indivíduos de estarem sendo vistos, começando
então a melhorarem seus padrões de trabalho. Sendo assim, chegou-se à conclusão de que:
1. A capacidade social do trabalhador determina principalmente a sua capacidade de executar movimentos, ou seja, é ela que de-
termina seu nível de competência. É a capacidade social do trabalhador que determina o seu nível de competência e eficiência e não sua
capacidade de executar movimentos eficientes dentro de um tempo estabelecido.
2. Os trabalhadores não agem ou reagem isoladamente como indivíduos, mas como membros de grupos, equipe de trabalho.
3. As pessoas são motivadas pela necessidade de reconhecimento.
4. Grupos informais: alicerçada no conceito de homem social, ou seja, o trabalhador é um indivíduo dotado de vontade e desejos
de estruturas sociais mais complexas, e que esse indivíduo reconhece em outros indivíduos elementos afins aos seus e esses elementos
passam a influenciar na produtividade do indivíduo. Os níveis de produtividade são controlados pelas normas informais do grupo e não
pela organização formal.
5. A Organização Informal:
• Relação de coesão e antagonismo. Simpatia e antipatia;
• Status ou posição social;
• Colaboração espontânea;
• Possibilidade de oposição à organização formal;
• Padrões de relações e atitudes;
• Mudanças de níveis e alterações dos grupos informais;

178
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
• A organização informal transcende a organização formal;
• Padrões de desempenho nos grupos informais.

Abordagem Comportamental
A partir do ano de 1950 a Abordagem Comportamental (behavorista) marca a influência das ciências do comportamento. Tem como
participantes: Kurt Lewin, Barnard, Homans e o livro de Herbert Simon que podem ser entendidos como desdobramento da Teoria das
Relações Humanas. Seus aspectos são:
— Homem é um animal social, dotado de necessidades;
— Homem pode aprender;
— Homem pode cooperar e/ou competir;
— Homem é dotado de sistema psíquico;

Tendo a Teoria das Relações Humanas uma visão ingênua do indivíduo, em que se pensava que a Organização é que fazia do homem
um indivíduo ruim, na Teoria Comportamental a visão é diferente, pois observa-se que o indivíduo voluntariamente é que escolhe partici-
par ou não das decisões e/ou ações da organização. Aparecendo o processo de empatia e simpatia, em que o indivíduo abre mão, ou não
da participação, podendo ser ou não protagonista.
— Abandono das posições afirmativas e prescritivas (como deve ser) para uma lógica mais explicativa e descritiva;
— Mantem-se a ênfase nas pessoas, mas dentro de uma posição organizacional mais ampla
— Estudo sobre: Estilo de Administração – Processo decisório – Motivação – Liderança – Negociação

• Evolução do entendimento do indivíduo

Teoria Comportamental – Desdobramentos


• É possível a integração das necessidades individuais de auto expressão com os requisitos de uma organização;
• As organizações que apresentam alto grau de integração entre objetivos individuais e organizacionais são mais produtivas;
• Ao invés de reprimir o desenvolvimento e o potencial do indivíduo, as organizações podem contribuir para sua melhor aplicação.

• Comportamento Organizacional
É a área que estuda a previsão, explicação, modificação e entendimento do comportamento humano e os processos mentais dos
indivíduos em relação ao seu trabalho dentro da organização. Tem grande relação com a Psicologia Organizacional e do trabalho, se
tornando uma fonte importante para a Administração e para a Gestão de Pessoas, pois passa-se a compreender melhor a relação entre
o indivíduo, o trabalho e as entidades organizacionais.

179
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Baseia-se nas relações internas e externas, e que as forças psicológicas que atuam sobre o indivíduo nesse contexto, estão ligadas
também aos grupos e a própria organização.

• Objetos de estudo:
1. Impacto do emprego na vida humana (o quanto que esse elemento interfere na sua satisfação, felicidade, convivência com a famí-
lia);
2. Relação entre as pessoas e grupos dentro de um contexto de trabalho (contexto diferente da vida particular de casa, família, escola);
3. Percepções, crenças e atitudes do indivíduo com relação ao trabalho (como as pessoas enxergam a organização, o seu papel dentro
das relações que ela desenvolve e quanto essas questões se tornam significativas para vida do indivíduo);
4. Desempenho e produtividade (que fatores levam ao maior produtividade e desempenho, como pode-se influenciar nisso);
5. Saúde no trabalho (como as organizações afetam a saúde do indivíduo e como pode-se minimizar o impacto das suas atividades
nessa questão);
6. Ética nas relações de trabalho (o quanto as relações internas, de poder e de subordinação levam em consideração questões morais);
7. Diversidade da força de trabalho (questões de gênero, raça e credo);
8. Ações ou comportamentos do indivíduo dentro desse contexto (aprendizagem, cultura organizacional, poder, grupos e equipes,
liderança, motivação, comprometimento, bem como as causas e consequências dessas ações).
O comportamento organizacional é fundamental para os gestores e para a Gestão de Pessoas, propiciando todo o conjunto de ferra-
mentas para facilitar as decisões relacionadas a Gestão de Pessoas e Administração, bem como a vida diária dos gestores.

Abordagem Sistêmica
A partir do ano de 1950, muitas das teorias começaram a aparecer paralelamente, entre elas nasce a abordagem sistêmica. Ludwig
Von Bertalanffy, biólogo alemão, coordenava um estudo interdisciplinar a fim de transcender problemas existentes em cada ciência e
proporcionar princípios gerais. Princípios esses que darão a visão de uma organização como organismo, ensinando quatro princípios im-
portantes que devem ser pensados dentro das organizações. Nasce a Teoria Geral dos Sistemas
— Visão Totalizante;
— Visão Expansionista;
— Visão Sistêmica;
— Visão Integrada;

• Características da abordagem sistêmica


— Expansionismo: Tem a ideia totalmente contrária ao Reducionismo, significa dizer que o desempenho de um sistema menor, de-
pende de como ele interage com o todo maior que o envolve e do qual faz parte.
— Pensamento Sintético: É o fenômeno visto como parte de um sistema maior e é explicado em termos do papel que desempenha
nesse sistema maior. Juntando as coisas e não as separando. Há uma coordenação com as demais variáveis, em que as trocas das partes
de um todo estão completamente ajustadas. Verificando-se assim, o comportamento de cada parte no todo.
— Teleologia: A lógica sistêmica procura entender a inter-relação entre as diversas variáveis de um campo de forças que atuam entre
si. O todo é diferente de cada uma das suas partes.

Exemplo: o indivíduo é o que é pelo meio onde nasceu, pela educação que recebeu, pela forma de relacionamentos e cultura que
conviveu. Existe grandes diferenças entre os indivíduos devido às influências que sofreram ao longo da vida e é isso que a Teoria Geral de
Sistemas vai procurar explicar, o indivíduo é produto do meio em que vive, não está sozinho e isolado, tudo está fortemente conectado.
• Os sistemas existem dentro de sistemas (uma pequena parte, faz parte de um todo maior);
• Os sistemas são abertos (intercambio com o todo);
• As funções de um sistema dependem de sua estrutura (pessoas, recursos, do meio onde está).

Teoria dos Sistemas

180
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
• Sistema Aberto
— Está constantemente e de forma dual (entrega e recebimento) interagindo com o ambiente;
— É capacitado para o crescimento, mudanças, adaptações ao ambiente, podendo também ser autor reprodutor sob certas condições;
— É contingência do sistema aberto competir com outros sistemas.

Abordagem Contingencial
A Abordagem Contingencial traz para nós a ideia de que não se alcança eficácia organizacional seguindo um modelo exclusivo, ou seja,
não há uma fórmula única e exclusiva ou melhor de se alcançar os objetivos organizacionais. Ela abraça todas as Teorias e dá razão para
cada uma delas.

• Características
— Não há regra absoluta;
— Tudo é relativo;
— Tudo dependerá (de Ambiente, Mapeamento ambiental, Seleção ambiental, Percepção ambiental, Consonância e Dissonância,
Desdobramentos do ambiente, Tecnologia);

• Abordagem Contingencial – Conclusão


— A variável tecnologia passa a assumir um importante papel na sociedade e nas organizações;
— O foco em novos modelos organizacionais mais flexíveis, ajustáveis e orgânicos como: estrutura matricial, em redes e equipes;
— O modelo de homem complexo= social + econômico + organizacional.

Teoria Geral da Administração

TEORIAS ÊNFASE ENFOQUES PRINCIPAIS


Administração Científica Nas tarefas Racionalizar o trabalho no nível operacional -
Taylor (1856-1915) - Gantt (1861-1919) ORT
Gilbreth (1868-1924) - Ford (1863-1947) Padronização
Clássica e Neoclássica Na estrutura Organização formal
Fayol (1841-1925) – Mooney (1884-1957) Princípios Gerais da Administração
Urwick (1891-1979) – Gulik (1892-1993) e outros Funções de Administrador
Burocrática e Organização Formal Burocrática
Max Weber (1864-1920) Racionalidade organizacional
Chamada Teoria Weberiana.
Abordagem múltipla:
Estruturalista Organização Formal e Informal
Análise Intra e Inter organizacional
Relações Humanas - Humanística Nas pessoas Organização Informal
Experiência de Hawthorn (1927) Motivação, Liderança, Comunicação e Dinâmi-
Desenvolvida por Elton Mayo ca em grupo
John Dewey e Kurt Lewin
Comportamento Organizacional Estilos de Administração
Abordagem Comportamental Teoria das decisões
Kurt Lewin, Barnard, Homans e Herbert Simon Integração dos objetivos organizacionais e
A partir de 1950 individuais

Desenvolvimento Organizacional Mudança organizacional planejada


Abordagem de sistema aberto
Sistêmica No ambiente Análise ambiental
Ludwig Von Bertalanffy, biólogo alemão (1950) Abordagem de sistema
Contingência No ambiente Administração da tecnologia
(tecnologia) (Imperativo tecnológico)

181
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Funções de administração — Global — Objetivos gerais e genéricos — Diretrizes estratégi-
cas — Longo prazo — Visão forte do ambiente externo.
• Planejamento, organização, direção e controle
Fases do Planejamento Estratégico:
— Definição do negócio, missão, visão e valores organizacio-
nais;
— Diagnóstico estratégico (análise interna e externa);
— Formulação da estratégia;
— Implantação;
— Controle.

• Planejamento tático ou intermediário


• PLANEJAMENTO, ORGANIZAÇÃO, DIREÇÃO E CONTROLE Complexidade menor que o nível estratégico e maior que o
operacional, de média complexidade e compõe uma abrangência
departamental, focada em médio prazo.
— Planejamento — Observa as diretrizes do Planejamento Estratégico;
Processo desenvolvido para o alcance de uma situação futura — Determina objetivos específicos de cada unidade ou depar-
desejada. A organização estabelece num primeiro momento, atra- tamento;
vés de um processo de definição de situação atual, de oportunida- — Médio prazo.
des, ameaças, forças e fraquezas, que são os objetos do processo de
planejamento. O planejamento não é uma tarefa isolada, é um pro- • Planejamento operacional ou chão de fábrica
cesso, uma sequência encadeada de atividades que trará um plano. Baixa complexidade, uma vez que falamos de somente uma
• Ele é o passo inicial; única tarefa, focado no curto ou curtíssimo prazo. Planejamento
• É uma maneira de ampliar as chances de sucesso; mais diário, tarefa a tarefa de cada dia para o alcance dos objetivos.
• Reduzir a incerteza, jamais eliminá-la; Desdobramento minucioso do Planejamento Estratégico.
• Lida com o futuro: Porém, não se trata de adivinhar o futuro; — Observa o Planejamento Estratégico e Tático;
• Reconhece como o presente pode influenciar o futuro, como — Determina ações específicas necessárias para cada atividade
as ações presentes podem desenhar o futuro; ou tarefa importante;
• Organização ser PROATIVA e não REATIVA; — Seus objetivos são bem detalhados e específicos.
• Onde a Organização reconhecerá seus limites e suas compe-
tências; Com a ação de planejar, busca-se:
• O processo de Planejamento é muito mais importante do que • Eficiência: medida do rendimento individual dos componen-
seu produto final (assertiva); tes do sistema. É fazer certo o que está sendo feito. Refere-se à
otimização dos recursos utilizados para a obtenção dos resultados.
Idalberto Chiavenato diz: “Planejamento é um processo de es- • Eficácia: medida do rendimento global do sistema. É fazer
tabelecer objetivos e definir a maneira como alcança-los”. o que é preciso ser feito. Refere-se à contribuição dos resultados
• Processo: Sequência de etapas que levam a um determinado obtidos para alcance dos objetivos globais da empresa.
fim. O resultado final do processo de planejamento é o PLANO; • Efetividade: refere-se à relação entre os resultados alcança-
• Estabelecer objetivos: Processo de estabelecer um fim; dos e os objetivos propostos ao longo do tempo.
• Definir a maneira: um meio, maneira de como alcançar. No setor privado, os conceitos de eficiência, eficácia e efetivi-
dade são assim resumidos por Oliveira (1999):
• Passos do Planejamento
— Definição dos objetivos: O que quer, onde quer chegar. Eficiência
— Determinar a situação atual: Situar a Organização. - fazer as coisas de maneira adequada;
— Desenvolver possibilidades sobre o futuro: Antecipar even- - resolver problemas;
tos. - salvaguardar os recursos aplicados;
— Analisar e escolher entre as alternativas. - cumprir o seu dever; e
— Implementar o plano e avaliar o resultado. - reduzir os custos.

• Vantagens do Planejamento Eficácia


— Dar um “norte” – direcionamento; - fazer as coisas certas;
— Ajudar a focar esforços; - produzir alternativas criativas;
— Definir parâmetro de controle; - maximizar a utilização de recursos;
— Ajuda na motivação; - obter resultados; e
— Auxilia no autoconhecimento da organização. - aumentar o lucro.

— Processo de planejamento Efetividade


- manter-se no ambiente; e
• Planejamento estratégico ou institucional - apresentar resultados globais positivos ao longo do tempo
Estratégia é o caminho escolhido para que a organização possa (permanentemente)
chegar no destino desejado pela visão estratégica. É o nível mais
amplo de planejamento, focado a longo prazo. É desdobrado no Eficiência – relação entre o custo e o benefício envolvido na
Planejamento Tático, e o Planejamento Tático é desdobrado no Pla- execução de um procedimento ou na prestação de um serviço.
nejamento Operacional.

182
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Eficácia – grau de atingimento de uma meta ou dos resultados institucionais da organização.

Efetividade – eliminar ou reduzir sensivelmente o problema que afeta a sociedade, alcançando a satisfação do cidadão.

• Negócio, Missão, Visão e Valores


Negócio, Visão, Missão e Valores fazem parte do Referencial estratégico: A definição da identidade a organização.
— Negócio = O que é a organização e qual o seu campo de atuação. Atividade efetiva. Aspecto mais objetivo.
— Missão = Razão de ser da organização. Função maior. A Missão contempla o Negócio, é através do Negócio que a organização alcan-
ça a sua Missão. Aspecto mais subjetivo. Missão é a função do presente.
— Visão = Qual objetivo e a visão de futuro. Define o “grande plano”, onde a organização quer chegar e como se vê no futuro, no des-
tino desejado. Direção mais geral. Visão é a função do futuro.
— Valores = Crenças, Princípios da organização. Atitudes básicas que sem elas, não há negócio, não há convivência. Tutoriza a escolha
das estratégias da organização.

• Análise SWOT
Strenghs – Weaknesses – Opportunities – Threats.
Ou FFOA
Forças – Fraquezas – Oportunidades – Ameaças.

É a principal ferramenta para perceber qual estratégia a organização deve ter.


É a análise que prescreve um comportamento a partir do cruzamento de 4 variáveis, sendo 2 do ambiente interno e 2 do ambiente
externo. Tem por intenção perceber a posição da organização em relação às suas ameaças e oportunidades, perceber quais são as forças
e as fraquezas organizacionais, para que a partir disso, a organização possa estabelecer posicionamento no mercado, sendo elas: Posição
de Sobrevivência, de Manutenção, de Crescimento ou Desenvolvimento. Em que para cada uma das posições a organização terá uma
estratégia definida.
Ambiente Interno: É tudo o que influencia o negócio da organização e ela tem o poder de controle. Pontos Fortes: Elementos que
influenciam positivamente. Pontos Fracos: Elementos que influenciam negativamente.
Ambiente Externo: É tudo o que influencia o negócio da organização e ela NÃO tem o poder de controle. Oportunidades: Elementos
que influenciam positivamente. Ameaças: Elementos que influenciam negativamente.

• Matriz GUT
Gravidade + Urgência + Tendência
Gravidade: Pode afetar os resultados da Organização.
Urgência: Quando ocorrerá o problema.
Tendência: Irá se agravar com o passar do tempo.
Determinar essas 3 métricas plicando uma nota de 1-5, sendo 5 mais crítico, impactante e 1 menos crítico e com menos impacto.
Somando essas notas. Levando em consideração o problema que obtiver maior total.

PROBLEMA GRAVIDADE URGÊNCIA TENDÊNCIA TOTAL


X 1 3 3 7
Y 3 2 1 6

183
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
• Ferramenta 5W2H
Ferramenta que ajuda o gestor a construir um Plano de Ação. Facilitando a definição das tarefas e dos responsáveis por cada uma
delas. Funciona para todos os tipos de negócio, visando atingir objetivos e metas.
5W: What? – O que será feito? - Why? Porque será feito? - Where? Onde será feito? - When? Quando será feito? – Who? Quem fará?
2H: How? Como será feito? – How much? Quanto irá custar para fazer?
Não é uma ferramenta para buscar causa de problemas, mas sim elaborar o Plano de Ação.

WHAT WHY WHERE WHEN WHO HOW HOW MUCH


Padronização Otimizar Coordenação Agosto 2021 João Silva Contratação 2.500,00
de Rotinas tempo de Assessoria
externa
Sistema de Impedir Setor Compras 20/08/21 Paulo Compra de 4.000,00
Segurança entrada de Santos equipamentos e
Portaria pessoas não instalação
autorizadas
Central

• Análise competitiva e estratégias genéricas


Gestão Estratégica: “É um processo que consiste no conjunto de decisões e ações que visam proporcionar uma adequação competiti-
vamente superior entre a organização e seu ambiente, de forma a permitir que a organização alcance seus objetivos”.
Michael Porter, Economista e professor norte-americano, nascido em 1947, propõe o segundo grande essencial conceito para a com-
preensão da vantagem competitiva, o conceito das “estratégias competitivas genéricas”.
Porter apresenta a estratégia competitiva como sendo sinônimo de decisões, onde devem acontecer ações ofensivas ou defensivas
com finalidade de criar uma posição que possibilite se defender no mercado, para conseguir lidar com as cinco forças competitivas e com
isso conseguir e expandir o retorno sobre o investimento.
Observa ainda, que há distintas maneiras de posicionar-se estrategicamente, diversificando de acordo com o setor de atuação, capa-
cidade e características da Organização. No entanto, Porter desenha que há três grandes pilares estratégicos que atuarão diretamente no
âmbito da criação da vantagem competitiva.
As 3 Estratégias genéricas de Porter são:
1. Estratégia de Diferenciação: Aumentar o valor – valor é a percepção que você tem em relação a determinado produto. Exemplo:
Existem determinadas marcas que se posicionam no mercado com este alto valor agregado.
2. Estratégia de Liderança em custos: Baixar o preço – preço é quanto custo, ser o produto mais barato no mercado. Quanto vai custar
na etiqueta.
3. Estratégia de Foco ou Enfoque: Significa perceber todo o mercado e selecionar uma fatia dele para atuar especificamente.

• As 5 forças Estratégicas
Chamada de as 5 Forças de Porter (Michael Porter) – é uma análise em relação a determinado mercado, levando em consideração 5
elementos, que vão descrever como aquele mercado funciona.
1. Grau de Rivalidade entre os concorrentes: com que intensidade eles competem pelos clientes e consumidores. Essa força tenciona
as demais forças.
2. Ameaça de Produtos substitutos: ameaça de que novas tecnologias venham a substituir o produto ou serviço que o mercado ofe-
rece.
3. Ameaça de novos entrantes: ameaças de que novas organizações, ou pessoas façam aquilo que já está sendo feito.
4. Poder de Barganha dos Fornecedores: Capacidade negocial das empresas que oferecem matéria-prima à organização, poder de
negociar preços e condições.
5. Poder de Barganha dos Clientes: Capacidade negocial dos clientes, poder de negociar preços e condições.

• Redes e alianças
Formações que as demais organizações fazem para que tenham uma espécie de fortalecimento estratégico em conjunto. A formação
de redes e alianças estratégicas de modo a poder compartilhar recursos e competências, além de reduzir seus custos.
Redes possibilitam um fortalecimento estratégico da organização diante de seus concorrentes, sem aumento significativo de custos.
Permite que a organização dê saltos maiores do que seriam capazes sozinhas, ou que demorariam mais tempo para alcançar individual-
mente.
Tipos: Joint ventures – Contratos de fornecimento de longo prazo – Investimentos acionários minoritário – Contratos de fornecimento
de insumos/ serviços – Pesquisas e desenvolvimento em conjunto – Funções e aquisições.
Vantagens: Ganho na posição de barganha (negociação) com seus fornecedores e Aumento do custo de entrada dos potenciais con-
correntes em um mercado = barreira de entrada.

• Administração por objetivos


A Administração por objetivos (APO) foi criada por Peter Ducker que se trata do esforço administrativo que vem de baixo para cima,
para fazer com que as organizações possam ser geridas através dos objetivos.
Trata-se do envolvimento de todos os membros organizacionais no processo de definição dos objetivos. Parte da premissa de que se
os colaboradores absorverem a ideia e negociarem os objetivos, estarão mais dispostos e comprometidos com o atingimento dos mesmos.

184
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Fases: Especificação dos objetivos – Desenvolvimento de pla- Vantagens: especialização das pessoas na função, facilitando a
nos de ação – Monitoramento do processo – Avaliação dos resul- cooperação técnica; economia de escala e produtividade, mais indi-
tados. cada para ambientes estáveis.
Desvantagens: falta de sinergia entre os diferentes departa-
• Balanced scorecard mentos e uma visão limitada do ambiente organizacional como um
Percepção de Kaplan e Norton de que existem bens que são todo, com cada departamento estando focado apenas nos seus pró-
intangíveis e que também precisam ser medidos. É necessário apre- prios objetivos e problemas.
sentar mais do que dados financeiros, porém, o financeiro ainda faz
parte do Balanced scorecard. • Por clientes ou clientela: Este tipo de departamentalização
Ativos tangíveis são importantes, porém ativos intangíveis me- ocorre em função dos diferentes tipos de clientes que a organização
recem atenção e podem ser ponto de diferenciação de uma organi- possui. Justificando-se assim, quando há necessidades heterogêne-
zação para a outra. as entre os diversos públicos da organização. Por exemplo (loja de
Por fim, é a criação de um modelo que complementa os dados roupas): departamento masculino, departamento feminino, depar-
financeiros do passado com indicadores que buscam medir os fato- tamento infantil.
res que levarão a organização a ter sucesso no futuro. Vantagem: facilitar a flexibilidade no atendimento às deman-
das específicas de cada nicho de clientes.
• Processo decisório Desvantagens: dificuldade de coordenação com os objetivos
É o processo de escolha do caminho mais adequado à organiza- globais da organização e multiplicação de funções semelhantes
ção em determinada circunstância. nos diferentes departamentos, prejudicando a eficiência, além de
Uma organização precisa estar capacitada a otimizar recursos e poder gerar uma disputa entre as chefias de cada departamento
atividades, assim como criar um modelo competitivo que a possibi- diferente, por cada uma querer maiores benefícios ao seu tipo de
lite superar os rivais. Julgando que o mercado é dinâmico e vive em cliente.
constante mudança, onde as ideias emergem devido às pressões.
Para que um negócio ganhe a vantagem competitiva é neces- • Por processos: Resume-se em agregar as atividades da orga-
sário que ele alcance um desempenho superior. Para tanto, a or- nização nos processos mais importantes para a organização. Sendo
ganização deve estabelecer uma estratégia adequada, tomando as assim, busca ganhar eficiência e agilidade na produção de produ-
decisões certas. tos/serviços, evitando o desperdício de recursos na produção orga-
nizacional. É muito utilizada em linhas de produção.
— Organização Vantagem: facilita o emprego de tecnologia, das máquinas e
equipamentos, do conhecimento e da mão-de-obra e possibilita um
• Estrutura organizacional melhor arranjo físico e disposição racional dos recursos, aumentan-
A estrutura organizacional na administração é classificada do a eficiência e ganhos em produtividade.
como o conjunto de ordenações, ou conjunto de responsabilidades,
sejam elas de autoridade, das comunicações e das decisões de uma • Departamentalização por produtos: A organização se estru-
organização ou empresa. tura em torno de seus diferentes tipos de produtos ou serviços.
É estabelecido através da estrutura organizacional o desenvol- Justificando-se quando a organização possui uma gama muito va-
vimento das atividades da organização, adaptando toda e qualquer riada de produtos que utilizem tecnologias bem diversas entre si,
alteração ou mudança dentro da organização, porém essa estrutura ou mesmo que tenham especificidades na forma de escoamento da
pode não ser estabelecida unicamente, deve-se estar pronta para produção ou na prestação de cada serviço.
qualquer transformação.
Vantagem: facilitar a coordenação entre os departamentos en-
Essa estrutura é dividida em duas formas, estrutura informal
volvidos em um determinado nicho de produto ou serviço, possibi-
e estrutura formal, a estrutura informal é estável e está sujeita a
litando maior inovação na produção.
controle, porém a estrutura formal é instável e não está sujeita a
Desvantagem: a “pulverização” de especialistas ao longo da or-
controle.
ganização, dificultando a coordenação entre eles.
• Tipos de departamentalização
• Departamentalização geográfica: Ou departamentalização
É  uma forma de sistematização  da  estrutura organizacional,
territorial, trata-se de critério de departamentalização em que a
visa agrupar atividades que possuem uma mesma linha de ação
empresa se estabelece em diferentes pontos do país ou do mun-
com o objetivo de melhorar a eficiência operacional da empresa.
Assim, a organização junta recursos, unidades e pessoas que te- do, alocando recursos, esforços e produtos conforme a demanda
nham esse ponto em comum. da região.
Quando tratamos sobre organogramas, entramos em conceitos Aqui, pensando em uma organização Multinacional, pressu-
de divisão do trabalho no sentido vertical, ou seja, ligado aos níveis pondo-se que há uma filial em Israel e outra no Brasil. Obviamen-
de autoridade e hierarquia existentes. Quando falamos sobre de- te, os interesses, hábitos e costumes de cada povo justificarão que
partamentalização tratamos da especialização horizontal, que tem cada filial tenha suas especificidades, exatamente para atender a
relação com a divisão e variedade de tarefas. cada povo. Assim, percebemos que, dentro de cada filial nacional,
poderão existir subdivisões, para atender às diferentes regiões de
• Departamentalização funcional ou por funções: É a forma cada país, com seus costumes e desejos. Como cada filial estará
mais utilizada dentre as formas de departamentalização, se tratan- estabelecida em uma determinada região geográfica e as filiais es-
do do agrupamento feito sob uma lógica de identidade de funções tarão focadas em atender ao público dessa região. Logo, provavel-
e semelhança de tarefas, sempre pensando na especialização, agru- mente haverá dificuldade em conciliar os interesses de cada filial
pando conforme as diferentes funções organizacionais, tais como geográfica com os objetivos gerais da empresa.
financeira, marketing, pessoal, dentre outras.

185
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
• Departamentalização por projetos: Os departamentos são Organização informal refere-se a uma estrutura social interliga-
criados e os recursos alocados em cada projeto da organização. da que rege como as pessoas trabalham juntas na vida real. É pos-
Exemplo (construtora): pode dividir sua organização em torno das sível formar organizações informais dentro das organizações. Além
construções “A”, “B” e “C”. Aqui, cada projeto tende a ter grande disso, esta organização consiste em compreensão mútua, ajuda e
autonomia, o que viabiliza a melhor consecução dos objetivos de amizade entre os membros devido ao relacionamento interpessoal
cada projeto. que constroem entre si. Normas sociais, conexões e interações go-
Vantagem: grande flexibilidade, facilita a execução do projeto e vernam o relacionamento entre os membros, ao contrário da orga-
proporciona melhores resultados. nização formal.
Desvantagem: as equipes perdem a visão da empresa como Embora os membros de uma organização informal tenham res-
um todo, focando apenas no seu projeto, duplicação de estruturas ponsabilidades oficiais, é mais provável que eles se relacionem com
(sugando mais recursos), e insegurança nos empregados sobre sua seus próprios valores e interesses pessoais sem discriminação.
continuidade ou não na empresa quando o projeto no qual estão A estrutura de uma organização informal é plana. Além disso,
alocados se findar. as decisões são tomadas por todos os membros de forma coleti-
va. A unidade é a melhor característica de uma organização infor-
• Departamentalização matricial mal, pois há confiança entre os membros. Além disso, não existem
Também é chamada de organização em grade, e é uma mistu- regras e regulamentos rígidos dentro das organizações informais;
ra da departamentalização funcional (mais verticalizada), com uma regras e regulamentos são responsivos e adaptáveis ​​às mudanças.
outra mais horizontalizada, que geralmente é a por projetos. Ambos os conceitos de organização estão inter-relacionados.
Nesse contexto, há sempre autoridade dupla ou dual, por res- Existem muitas organizações informais dentro de organizações for-
ponder ao comando da linha funcional e ao gerente da horizontal. mais, portanto, eles são mutuamente exclusivos.
Assim, há a matricial forte, a fraca e a equilibrada ou balanceada:
• Forte – aqui, o responsável pelo projeto tem mais autoridade; • Cultura organizacional
• Fraca – aqui, o gerente funcional tem mais autoridade; A  cultura organizacional  é responsável por reunir os hábitos,
• Equilibrada ou Balanceada – predomina o equilíbrio entre os comportamentos, crenças, valores éticos e morais e as políticas in-
gerentes de projeto e funcional. ternas e externas da organização.

Porém, não há consenso na literatura se a departamentalização — Direção


matricial de fato é um critério de departamentalização, ou um tipo Direção essencialmente como uma função humana, apêndice
de estrutura organizacional. de psicologia organizacional. Recrutar e ajustar os esforços para que
os indivíduos consigam alcançar os resultados pretendidos pela or-
Desvantagens: filiais, ou projetos, possuírem grande autono- ganização.
mia para realizar seu trabalho, dificultando o processo administra- Direção = Rota – Intensidade = Grau – Persistência = Capacida-
tivo geral da empresa. Além disso, a dupla subordinação a que os de de sobrevivência (gatilhos da motivação)
empregados são submetidos pode gerar ambiguidade de decisões
e dificuldade de coordenação. • Motivação
“Pode ser entendido como o conjunto de razões, causa e mo-
• Organização formal e informal tivos que são responsáveis pela direção, intensidade e persistência
Organização formal trata-se de uma organização onde duas ou do comportamento humano em busca de resultados. ” É o que des-
mais pessoas se reúnem para atingir um objetivo comum com um perta no ser a vontade de alcançar os objetivos pretendidos. Algo
relacionamento legal e oficial. A organização é liderada pela alta ad- acontece no indivíduo e ele reage. Estímulos: quanto mais atingível
ministração e tem um conjunto de regras e regulamentos a seguir. parecer o resultado maior a motivação e vice-e-versa.
O principal objetivo da organização é atingir as metas estabeleci- A (Razão, Causas, Motivos) pode ser: Intrínseca (Interna): do
das. Como resultado, o trabalho é atribuído a cada indivíduo com próprio ser ou, Extrínseca (Externa): algo que vem do meio.
base em suas capacidades. Em outras palavras, existe uma cadeia Porém a motivação é sempre um processo do indivíduo, sem-
de comando com uma hierarquia organizacional e as autoridades pre uma resposta interna aos estímulos.
são delegadas para fazer o trabalho.
Além disso, a hierarquia organizacional determina a relação
lógica de autoridade da organização formal e a cadeia de coman-
do determina quem segue as ordens. A comunicação entre os dois
membros é apenas por meio de canais planejados.

Tipos de estruturas de organização formal:


— Organização de Linha
— Organização de linha e equipe
— Organização funcional
— Organização de Gerenciamento de Projetos
— Organização Matricial

186
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
• Comunicação
É a ligação entre a liderança e a motivação. Para motivar é ne-
cessário comunicar-se bem. A comunicação é essencial para o todo
dentro da organização. A organização que possui uma boa comuni-
cação, tende a ser valorizada pelos indivíduos, consequentemente
gera melhores resultados.
A comunicação organizacional eficiente é fundamental para o
êxito na organização. Caso a comunicação seja deficiente, acarreta-
rá um grau de incompreensão no ambiente organizacional, dificul-
tando a organização de atingir seus objetivos.
Através da comunicação a organização, bem como sua lideran-
ça, obtém maior engajamento de seus colaboradores de forma mais
efetiva.
Liderança A comunicação interna tem como objetivo manter os indiví-
Fenômeno social, depende da relação das pessoas. Aspecto duos informados quanto as diretrizes, filosofia, cultura, valores e
ligado a relação dos indivíduos. Capacidade de exercer liderança resultados obtidos pela organização. Agregando valor e tornando a
– influência: fazer com que as pessoas façam aquilo que elas não organização competitiva no mercado.
fariam sem a presença do líder. Importante utilização do poder para
influenciar o comportamento de outras pessoas, ocorrendo em • Descentralização e delegação
uma dada situação. Centralização ocorre quando uma organização decide que a
— Liderança precisa de pessoas. maioria das decisões deve ser tomadas pelos ocupantes dos car-
— Influência: capacidade de fazer com que o indivíduo mude gos no topo somente. Descentralização ocorre quando o contrário
de comportamento. acontece, ou seja, quando a autoridade para tomar as decisões está
— Poder: que não está relacionado ao cargo, pode ser por via dispersa pela empresa, na base, através dos diversos setores.
informal. Delegação é o processo usado para transferir autoridade e res-
— Situação: em determinadas situações a liderança pode apa- ponsabilidade para os membros organizacionais em níveis hierár-
recer. quicos inferiores.

Não confunda: Chefia (posição formal) – Autoridade (dada por — Controle


algum aspecto) – Liderança – Poder. Segundo Djalma de Oliveira:
A influência acontece e gera a liderança, o poder é por onde “Controle é uma função do processo administrativo que, me-
essa influência acontece. Esse poder pode ser formal ou informal. diante a comparação com padrões previamente estabelecidos, pro-
Segundo Max Weber: “Poder é a capacidade de algo ou alguém cura medir e avaliar o desempenho e o resultado das ações, com a
fazer com que um indivíduo ou algo, faça alguma coisa, mesmo que finalidade de realimentar os tomadores de decisões, de forma que
este ofereça resistência. ” – Exemplo: votação, alistamento militar possam corrigir ou reforçar esse desempenho ou interferir em fun-
para homens. ções do processo administrativo, para assegurar que os resultados
— Poderes formais são aqueles que estão relacionados ao car- satisfaçam aos desafios e aos objetivos estabelecidos. ”
go e ficam no cargo independente de quem o ocupe. Já poderes Segundo Robbins e Coulter:
informais são aqueles que ficam com a pessoa, independente do “O processo de monitorar as atividades de forma a assegurar
cargo que o indivíduo ocupe. que elas estejam sendo realizadas conforme o planejado e corrigir
— Autoridade: Direito formal e legítimo, que algo ou alguém quaisquer desvios significativos. ”
tem, para te dar ordens, alocar recursos, tomar decisões e de con- Segundo Maximiano:
duzir ações. “Consiste em fazer comparação e tomar a decisão de confirmar
— Dilema chefia e liderança: Chefe é aquele que toma ações ou modificar os objetivos e os recursos empregados em sua reali-
baseadas em seu cargo, onde sofre a influência dos poderes for- zação. ”
mais. E o líder é aquele que toma as decisões, recebe e consegue
liderar os indivíduos, através de seu poder informal, independente No processo administrativo o controle aparece como a etapa
do cargo que ocupe. final, porém, o controle acontece durante todas as fases do proces-
so, é contínua.
Conceito de Poder, segundo o Dilema chefia e liderança é o que
consegue agrupar os dois distintos tipos de poder, os poderes for- • Objetivo:
mais e informais. — Identificar os problemas, falhas, erros e desvios.
— Fazer com que os resultados obtidos estejam próximos dos
• Tipos de Liderança: resultados esperados.
Transacional: Baseada na troca. Liderança tradicional, incenti- — Fazer com que a organização trabalhe de forma mais ade-
vos materiais. Funciona bem em ambientes estáveis, pois líderes e quada.
liderados precisam estar “satisfeitos” com o negócio em si. — Proporcionar informações gerenciais periódicas.
Transformacional: Baseada na mudança. Liderança atual: Ins- — Redefinir e retroalimentar os objetivos (feedback).
pira seus subordinados. Quando construída, gera resultados acima
da transacional, já que os subordinados alcançam uma posição de • Características
agentes de mudança e inovação. - Monitorar e avaliar ações.
- Verificar desvios (positivos e negativos)
- Promover mudanças (correção e aprimoramento)

187
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
• Tipos, vantagens e desvantagens. Fatores positivos do relacionamento
— Preventivo (ex-ante): Controle proativo. Objetiva prevenir,
evitar e identificar possíveis problemas, antes que eles aconteçam. Comunicabilidade
— Simultâneo: Controle reativo. Acontece durante a execução - habilidade de expor as ideias;
das tarefas. Controle estatístico da produção, verificar as margens - clareza na comunicação verbal;
de erro de produção. Avaliação, monitoramento. - é a qualidade do ato comunicativo otimizado, no qual a men-
— Posterior (ex-post): Controle reativo. Inspeção no final do sagem é transferida integral, correta, rápida e economicamente e
processo produtivo se avalia o resultado dado. Acontece após. sem “ruídos”.

• Sistema de medição de desempenho organizacional Objetividade


Faz parte das etapas do Processo de Controle os sistemas de - relacionada com a clareza na informação prestada ao usuário.
medição de desempenho, onde pode-se: - é importante ser claro e direto nas informações prestadas,
— Estabelecer padrões: definição de objetivos, metas e desem- sem rodeios, dispensando informações desnecessárias à situação.
penho esperado.
— Monitorar desempenho: acompanhar, coletar informação, Eficiência
andar simultaneamente ao processo. Determinar o que medir, - A Administração Pública deve atender o cidadão com agilida-
como medir e quando medir. de, com adequada organização interna e ótimo aproveitamento dos
— Comparação com o padrão: análise dos resultados reais em recursos disponíveis.
comparação com o objetivo previamente estabelecido.
— Medidas Corretivas: tomar as decisões que levem a orga- Presteza
nização a atingir os resultados desejados. Caminhos: Não mudar - Manifestação do interesse em atender às necessidades do
nada. Corrigir desempenho. Alterar padrões. usuário.

Cada vez mais, as equipes se tornam a forma básica de tra-


balho nas organizações do mundo contemporâneo. As evidências Interesse
sugerem que as equipes são capazes de melhorar o desempenho - É importante mostrar-se interessado pelo problema/situação
dos indivíduos quando a tarefa requer múltiplas habilidades, julga- do cidadão-usuário.
mentos e experiências. Quando as organizações se reestruturaram - Mostrar empenho para lhe apresentar as soluções.
para competir de modo mais eficiente e eficaz, escolheram as equi- - O interesse na prestação do serviço está diretamente relacio-
pes como forma de utilizar melhor os talentos dos seus funcioná- nado à presteza, à eficiência e à empatia.
rios. As empresas descobriram que as equipes são mais flexíveis e
reagem melhor às mudanças do que os departamentos tradicionais Não apenas nas relações humanas assim como nas relações de
ou outras formas de agrupamentos permanentes. As equipes têm trabalho, colocar-se no lugar do outro (empatia) garante maior sen-
capacidade para se estruturar, iniciar seu trabalho, redefinir seu sibilidade e interesse ao usuário do serviço público.
foco e se dissolver rapidamente. Outras características importantes
é que as equipes são uma forma eficaz de facilitar a participação Tolerância
dos trabalhadores nos processos decisórios aumentar a motivação - É a tendência em admitir que modos de pensar, agir e sentir
dos funcionários. são diferentes de pessoa para pessoa.
- É tolerante aquele que admite as diferenças e respeita à di-
versidade.
RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO
Discrição
- Ser discreto é ter sensatez, ser reservado, recatado e descen-
Chamamos de fatores positivos todos aqueles que, num soma- te.
tório geral, irão contribuir para uma boa qualidade no atendimento - Não devemos confundir com o princípio da publicidade. Os
interno e externo. Assim, desde que cumpridos ou atendidos re- atos administrativos devem seguir o princípio da publicidade que
quisitos básicos de valorização do outro, estaremos falando de um significa manter a total transparência na prática dos atos da Admi-
bom relacionamento. Os níveis de relacionamento aqui devem ser nistração Pública.
elevados, tendo em vista sempre o direito de cada indivíduo de re- - Ser discreto nas relações de trabalho e nas relações com o
ceber com qualidade a supressão de suas necessidades. cidadão-usuário é preservar a privacidade e a individualidade, não
 O relacionamento entre pessoas é a forma como eles se tratam invadir a privacidade, não espalhar detalhes da vida pessoal nem
e se comunicam. Quando os indivíduos se comunicam bem, e o gos- tampouco detalhes de assuntos que correm em segredo de justiça.
tam de fazer, se diz que há um bom relacionamento entre as partes.
Quando se tratam mal, e pelo menos um deles não gosta de entrar COMPORTAMENTO RECEPTIVO
em contato com os outros, é um mau relacionamento. Significa perceber e aceitar possibilidades que a maioria das
Fatores que interferem no trabalho em equipe pessoas ignora ou rejeita prematuramente.
- Estrelismo; Pode ser de natureza sensorial ou psicológica.
- Ausência de comunicação e de liderança; No primeiro caso a pessoa se caracteriza por estar atento ao
- Posturas autoritárias; que acontece a sua volta.
- Incapacidade de ouvir; No segundo a característica é de pessoa de mente aberta e sem
- Falta de treinamento e de objetivos; preconceitos à novas ideias.
- Não saber “quem é quem” na equipe. A curiosidade é inerente do comportamento receptivo.

188
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
COMPORTAMENTO DEFENSIVO Cidadania é a pertença passiva e ativa de indivíduos em um
O servidor não tem comportamento receptivo quando: estado - nação com certos direitos e obrigações universais em um
- parecem saber de tudo; específico nível de igualdade (Janoski, 1998). No sentido atenien-
- nunca têm dúvidas; se do termo, cidadania é o direito da pessoa em participar das
- que têm resposta para qualquer pergunta; decisões nos destinos da Cidade através da Ekklesia (reunião dos
- sempre têm certeza das coisas; chamados de dentro para fora) na Ágora (praça pública, onde se
- que não admitem ser contestados; agonizava para deliberar sobre decisões de comum acordo). Dentro
- têm todas as informações; desta concepção surge a democracia grega, onde somente 10% da
- acham que estão sempre certos; população determinava os destinos de toda a Cidade (eram excluí-
- tendem a colocar os outros na defensiva. dos os escravos, mulheres e artesãos).
- age como o “dono da verdade” - transmite a ideia de que to-
dos os outros são “ignorantes” e não têm nada de útil ou interes- Histórico da cidadania
sante a dizer. Grécia. Os nossos conceitos atuais de cidadania começaram a
- quando afirma suas verdades e não admite contestação - forjar-se na antiga Grécia. As revoluções políticas que aqui ocorre-
transmite a mensagem de que vê a si mesmo como professor, con- ram após o século VI a.C. forma no sentido de definirem o cidadão
siderando todos os outros como aprendizes. como aquele que tinha um conjunto de direitos e deveres, pelo
- faz os ouvintes experimentarem sentimentos de inferiorida- simples fato de serem originário de uma dada cidade-estado. Estes
de, o que produz um comportamento defensivo. direitos eram iguais para todos e estavam consignados em leis es-
critas. A cidadania confundia-se com a naturalidade e encontrava a
Habilidades necessárias ao bom relacionamento no trabalho sua expressão na Lei. O mais levado dos direitos era o da participa-
- Habilidade de comunicar ideias de forma clara e precisa em ção dos cidadãos nas decisões da cidade, podendo ser escolhido ou
situações individuais e de grupo. nomeado para qualquer cargo público. Todos os demais habitantes
- Habilidade de ouvir e compreender o que os outros dizem. da cidade, como as mulheres ou os estrangeiros (metecos) estavam
- Habilidade de aceitar críticas sem fortes reações emocionais afastados desses direitos.
defensivas (tornando-se hostil ou “fechando-se”) Império Romano. O direito romano definiu a cidadania como
- Habilidade de dar feedback aos outros de modo útil e cons- um estatuto jurídico-político que era conferido a um dado indiví-
trutivo. duo, independentemente da sua origem ou condição social ante-
- Habilidade de percepção e consciência de necessidades, sen- rior. Este estatuto (status civitas) uma vez adquirido atribuia-lhe um
timentos e reações dos outros. conjunto de direitos e deveres face à lei do Império. É neste estatu-
- Habilidade de reconhecer, diagnosticar e lidar com conflitos e to que, se inspira os conceitos mais modernos de cidadania.
hostilidade dos outros. Idade Média. A desagregação do estado romano traduz-se no
- Habilidade de modificar o meu ponto de vista e comporta- fim do conceito grego-romano de cidadania. Em seu lugar aparece
mento no grupo em função do feedback dos outros e dos objetivos o conceito de submissão. Os direitos do individuo passam a estar
a alcançar. dependentes da vontade arbitrária do seu senhor. Malgrado este
- Tendência a procurar relacionamento mais próximo com as panorama, um importante conceito começa a difundir-se nesta al-
pessoas, dar e receber afeto no seu grupo de trabalho. tura: a consciência que todos os homens eram iguais, porque filhos
de um mesmo Deus. Ninguém é por natureza escravo ou senhor,
são as circunstâncias do nascimento ou os acasos da vida é que di-
tam as diferenças entre os homens.
ÉTICA E CIDADANIA Idade Moderna. Entre os séculos XVI e XVIII, desenvolvem-se
em toda a Europa três importantes movimentos políticos que con-
É muito importante entender bem o que é cidadania. Trata-se duzem a uma nova perspectiva sobre a cidadania.
de uma palavra usada todos os dias, com vários sentidos. Mas hoje 1) Na maioria dos países a centralização do Estado, implicou
significa, em essência, o direito de viver decentemente. o fim do poder arbitrário dos grandes senhores. Este processo foi
Cidadania é o direito de ter uma ideia e poder expressá-la. È quase sempre precedido pelo reforço do poder dos reis, apoiados
poder votar em quem quiser sem constrangimento. É poder pro- num sólido corpo de funcionários públicos. Os cidadãos passam a
cessar um médico que age de negligencia. É devolver um produto reportar-se ao Estado e não a uma multiplicidade de senhores.
estragado e receber o dinheiro de volta. É o direito de ser negro, 2) Em Inglaterra, em fins do século XVII os cidadãos colocam
índio, homossexual, mulher sem ser descriminado. De praticar uma fim ao próprio poder absoluto dos reis e consagram o principio da
religião sem se perseguido. igualdade de todos face à lei. O Estado enquanto instituição, só se
Há detalhes que parecem insignificantes, mas revelam estágios justifica como garante dos seus direitos fundamentais, como a liber-
de cidadania: respeitar o sinal vermelho no transito, não jogar papel dade, a igualdade e a propriedade.
na rua, não destruir telefones públicos. Por trás desse comporta- 3) Alguns teóricos, como Jhon Locke, vão mais longe e procla-
mento está o respeito ao outro. mam que todos os homens independentemente do estado nação
No sentido etimológico da palavra, cidadão deriva da palavra a que pertençam, enquanto seres humanos possuem um conjunto
civita, que em latim significa cidade, e que tem seu correlato grego de direitos inalienáveis. Nascia deste modo o conceito de direitos
na palavra politikos – aquele que habita na cidade. humanos e da própria cidadania mundial.
Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, “ci-
dadania é a qualidade ou estado do cidadão”, entende-se por cida- Época Contemporânea. Século XIX. As lutas sociais que varrem
dão “o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um estado, a Europa no século XIX procuram consagrar os direitos políticos e
ou no desempenho de seus deveres para com este”. os direitos econômicos. Nos primeiros os cidadãos reclamam a pos-
sibilidade de elegerem ou substituir quem os governem; Nos se-
gundos reclamam o acesso aos bens e patrimônio coletivamente
produzidos e acumulados.

189
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Época Contemporânea. Século XX. Os combates sociais avan-
çam no sentido de uma melhor distribuição da riqueza coletivamen- LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA (LEI 8.429/92) E
te gerida, nomeadamente para assegurar condições de vida míni- SUAS ALTERAÇÕES
mas para todos os cidadãos. A cidadania confere automaticamente
um vasto conjunto de direitos econômicos, sociais, culturais, etc;
assegurados pela sociedade de pertença. LEI Nº 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992

O que é cidadania? Dispõe sobre as sanções aplicáveis em virtude da prática de


Ser cidadão é respeitar e participar das decisões da sociedade atos de improbidade administrativa, de que trata o § 4º do art. 37
para melhorar suas vidas e a de outras pessoas. Ser cidadão é nunca da Constituição Federal; e dá outras providências. (Redação dada
se esquecer das pessoas que mais necessitam. A cidadania deve ser pela Lei nº 14.230, de 2021)
divulgada através de instituições de ensino e meios de comunicação O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, Faço saber que o Congresso Na-
para o bem estar e desenvolvimento da nação. A cidadania consiste cional decreta e eu sanciono a seguinte lei:
desde o gesto de não jogar papel na rua, não pichar os muros, res-
peitar os sinais e placas, respeitar os mais velhos (assim como to- CAPÍTULO I
das às outras pessoas), não destruir telefones públicos, saber dizer Das Disposições Gerais
obrigado, desculpe, por favor, e bom dia quando necessário... até
saber lidar com o abandono e a exclusão das pessoas necessitadas, Art. 1º O sistema de responsabilização por atos de improbidade
o direito das crianças carentes e outros grandes problemas que en- administrativa tutelará a probidade na organização do Estado e no
frentamos em nosso mundo. exercício de suas funções, como forma de assegurar a integridade
“A revolta é o último dos direitos a que deve um povo livre bus- do patrimônio público e social, nos termos desta Lei. (Redação dada
car, para garantir os interesses coletivos: mas é também o mais im- pela Lei nº 14.230, de 2021)
perioso dos deveres impostos aos cidadãos.” (Juarez Távora - Militar Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230,
e político brasileiro) de 2021)
Cidadania é o exercício dos direitos e deveres civis, políticos e § 1º Consideram-se atos de improbidade administrativa as con-
sociais estabelecidos na constituição. Os direitos e deveres de um dutas dolosas tipificadas nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, ressalvados
cidadão devem andar sempre juntos, uma vez que ao cumprirmos tipos previstos em leis especiais. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
nossas obrigações permitimos que o outro exerça também seus 2021)
direitos. Exercer a cidadania é ter consciência de seus direitos e § 2º Considera-se dolo a vontade livre e consciente de alcan-
obrigações e lutar para que sejam colocados em prática. Exercer çar o resultado ilícito tipificado nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, não
a cidadania é estar em pleno gozo das disposições constitucionais. bastando a voluntariedade do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230,
Preparar o cidadão para o exercício da cidadania é um dos objetivos de 2021)
da educação de um país. § 3º O mero exercício da função ou desempenho de compe-
A Constituição da República Federativa do Brasil foi promul- tências públicas, sem comprovação de ato doloso com fim ilícito,
gada em 5 de outubro de 1988, pela Assembleia Nacional Consti- afasta a responsabilidade por ato de improbidade administrativa.
tuinte, composta por 559 congressistas (deputados e senadores). (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
A Constituição consolidou a democracia, após os anos da ditadura § 4º Aplicam-se ao sistema da improbidade disciplinado nesta
militar no Brasil. Lei os princípios constitucionais do direito administrativo sanciona-
A cidadania está relacionada com a participação social, porque dor. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
remete para o envolvimento em atividades em associações cultu- § 5º Os atos de improbidade violam a probidade na organiza-
rais (como escolas) e esportivas. ção do Estado e no exercício de suas funções e a integridade do
patrimônio público e social dos Poderes Executivo, Legislativo e Ju-
Deveres do cidadão diciário, bem como da administração direta e indireta, no âmbito da
- Votar para escolher os governantes; União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. (Incluído
- Cumprir as leis; pela Lei nº 14.230, de 2021)
- Educar e proteger seus semelhantes; § 6º Estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbida-
- Proteger a natureza; de praticados contra o patrimônio de entidade privada que receba
- Proteger o patrimônio público e social do País. subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de entes pú-
blicos ou governamentais, previstos no § 5º deste artigo. (Incluído
Direitos do cidadão pela Lei nº 14.230, de 2021)
- Direito à saúde, educação, moradia, trabalho, previdência so- § 7º Independentemente de integrar a administração indireta,
cial, lazer, entre outros; estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbidade pratica-
- O cidadão é livre para escrever e dizer o que pensa, mas pre- dos contra o patrimônio de entidade privada para cuja criação ou
cisa assinar o que disse e escreveu; custeio o erário haja concorrido ou concorra no seu patrimônio ou
- Todos são respeitados na sua fé, no seu pensamento e na sua receita atual, limitado o ressarcimento de prejuízos, nesse caso, à
ação na cidade; repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos. (In-
- O cidadão é livre para praticar qualquer trabalho, ofício ou cluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
profissão, mas a lei pode pedir estudo e diploma para isso; § 8º Não configura improbidade a ação ou omissão decorrente
- Só o autor de uma obra tem o direito de usá-la, publicá-la e de divergência interpretativa da lei, baseada em jurisprudência, ain-
tirar cópia, e esse direito passa para os seus herdeiros; da que não pacificada, mesmo que não venha a ser posteriormente
- Os bens de uma pessoa, quando ela morrer, passam para seus prevalecente nas decisões dos órgãos de controle ou dos tribunais
herdeiros; do Poder Judiciário. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
- Em tempo de paz, qualquer pessoa pode ir de uma cidade
para outra, ficar ou sair do pais, obedecendo a lei feita para isso.

190
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se agente público CAPÍTULO II
o agente político, o servidor público e todo aquele que exerce, ainda Dos Atos de Improbidade Administrativa
que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, Seção I
designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou Dos Atos de Improbidade Administrativa que Importam Enrique-
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades referi- cimento Ilícito
das no art. 1º desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Parágrafo único. No que se refere a recursos de origem pública, Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa importan-
sujeita-se às sanções previstas nesta Lei o particular, pessoa física do em enriquecimento ilícito auferir, mediante a prática de ato do-
ou jurídica, que celebra com a administração pública convênio, con- loso, qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do
trato de repasse, contrato de gestão, termo de parceria, termo de exercício de cargo, de mandato, de função, de emprego ou de ati-
cooperação ou ajuste administrativo equivalente. (Incluído pela Lei vidade nas entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:
nº 14.230, de 2021) (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 3º As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber, I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou
àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indire-
dolosamente para a prática do ato de improbidade. (Redação dada ta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de
pela Lei nº 14.230, de 2021) quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido
§ 1º Os sócios, os cotistas, os diretores e os colaboradores de ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do
pessoa jurídica de direito privado não respondem pelo ato de im- agente público;
probidade que venha a ser imputado à pessoa jurídica, salvo se, II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para fa-
comprovadamente, houver participação e benefícios diretos, caso cilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou
em que responderão nos limites da sua participação. (Incluído pela a contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1° por
Lei nº 14.230, de 2021) preço superior ao valor de mercado;
§ 2º As sanções desta Lei não se aplicarão à pessoa jurídica, III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para fa-
caso o ato de improbidade administrativa seja também sanciona- cilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o forne-
do como ato lesivo à administração pública de que trata a Lei nº cimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de
12.846, de 1º de agosto de 2013. (Incluído pela Lei nº 14.230, de mercado;
2021) IV - utilizar, em obra ou serviço particular, qualquer bem móvel,
Art. 4° (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021) de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades referidas
Art. 5° (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021) no art. 1º desta Lei, bem como o trabalho de servidores, de empre-
Art. 6° (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021) gados ou de terceiros contratados por essas entidades; (Redação
Art. 7º Se houver indícios de ato de improbidade, a autoridade dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
que conhecer dos fatos representará ao Ministério Público compe- V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta
tente, para as providências necessárias. (Redação dada pela Lei nº ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar,
14.230, de 2021) de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qual-
Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, quer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem;
de 2021) VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta
Art. 8º O sucessor ou o herdeiro daquele que causar dano ao ou indireta, para fazer declaração falsa sobre qualquer dado técni-
erário ou que se enriquecer ilicitamente estão sujeitos apenas à co que envolva obras públicas ou qualquer outro serviço ou sobre
obrigação de repará-lo até o limite do valor da herança ou do pa- quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de mercado-
trimônio transferido. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) rias ou bens fornecidos a qualquer das entidades referidas no art.
Art. 8º-A A responsabilidade sucessória de que trata o art. 8º 1º desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
desta Lei aplica-se também na hipótese de alteração contratual, de VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de manda-
transformação, de incorporação, de fusão ou de cisão societária. to, de cargo, de emprego ou de função pública, e em razão deles,
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) bens de qualquer natureza, decorrentes dos atos descritos no caput
Parágrafo único. Nas hipóteses de fusão e de incorporação, a deste artigo, cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimô-
responsabilidade da sucessora será restrita à obrigação de repara- nio ou à renda do agente público, assegurada a demonstração pelo
ção integral do dano causado, até o limite do patrimônio transferi- agente da licitude da origem dessa evolução; (Redação dada pela
do, não lhe sendo aplicáveis as demais sanções previstas nesta Lei Lei nº 14.230, de 2021)
decorrentes de atos e de fatos ocorridos antes da data da fusão VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de con-
ou da incorporação, exceto no caso de simulação ou de evidente sultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que te-
intuito de fraude, devidamente comprovados. (Incluído pela Lei nº nha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou
14.230, de 2021) omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a
atividade;
IX - perceber vantagem econômica para intermediar a libera-
ção ou aplicação de verba pública de qualquer natureza;
X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta
ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou declara-
ção a que esteja obrigado;
XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens,
rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das en-
tidades mencionadas no art. 1° desta lei;
XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores
integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no
art. 1° desta lei.

191
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Seção II XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a incorpo-
Dos Atos de Improbidade Administrativa que Causam Prejuízo ao ração, ao patrimônio particular de pessoa física ou jurídica, de bens,
Erário rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela administração
pública a entidades privadas mediante celebração de parcerias,
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa sem a observância das formalidades legais ou regulamentares apli-
lesão ao erário qualquer ação ou omissão dolosa, que enseje, efe- cáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)
tiva e comprovadamente, perda patrimonial, desvio, apropriação, XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades privada utilize bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos
referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente: (Redação dada pela pela administração pública a entidade privada mediante celebração
Lei nº 14.230, de 2021) de parcerias, sem a observância das formalidades legais ou regula-
I - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a indevida mentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014)
incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, (Vigência)
de bens, de rendas, de verbas ou de valores integrantes do acervo XVIII - celebrar parcerias da administração pública com entida-
patrimonial das entidades referidas no art. 1º desta Lei; (Redação des privadas sem a observância das formalidades legais ou regula-
dada pela Lei nº 14.230, de 2021) mentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014)
II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica pri- (Vigência)
vada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo XIX - agir para a configuração de ilícito na celebração, na fisca-
patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a lização e na análise das prestações de contas de parcerias firmadas
observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis pela administração pública com entidades privadas; (Redação dada
à espécie; pela Lei nº 14.230, de 2021)
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente desper- XX - liberar recursos de parcerias firmadas pela administração
sonalizado, ainda que de fins educativos ou assistências, bens, ren- pública com entidades privadas sem a estrita observância das nor-
das, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das entidades mas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação
mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das formalidades irregular. (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014, com a redação dada
legais e regulamentares aplicáveis à espécie; pela Lei nº 13.204, de 2015)
IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de XXI - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
XXII - conceder, aplicar ou manter benefício financeiro ou tribu-
bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades referidas
tário contrário ao que dispõem o caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei
no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas,
Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. (Incluído pela Lei
por preço inferior ao de mercado;
nº 14.230, de 2021)
V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem
§ 1º Nos casos em que a inobservância de formalidades legais
ou serviço por preço superior ao de mercado;
ou regulamentares não implicar perda patrimonial efetiva, não
VI - realizar operação financeira sem observância das normas
ocorrerá imposição de ressarcimento, vedado o enriquecimento
legais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidô-
sem causa das entidades referidas no art. 1º desta Lei. (Incluído
nea;
pela Lei nº 14.230, de 2021)
VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a obser- § 2º A mera perda patrimonial decorrente da atividade econô-
vância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à es- mica não acarretará improbidade administrativa, salvo se compro-
pécie; vado ato doloso praticado com essa finalidade. (Incluído pela Lei nº
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo 14.230, de 2021)
seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins lucra-
tivos, ou dispensá-los indevidamente, acarretando perda patrimo- Seção II-A
nial efetiva; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021)
IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autoriza-
das em lei ou regulamento; Art. 10-A. (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021)
X - agir ilicitamente na arrecadação de tributo ou de renda,
bem como no que diz respeito à conservação do patrimônio públi- Seção III
co; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) Dos Atos de Improbidade Administrativa que Atentam Contra os
XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas Princípios da Administração Pública
pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irre-
gular; Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enri- contra os princípios da administração pública a ação ou omissão
queça ilicitamente; dolosa que viole os deveres de honestidade, de imparcialidade e de
XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veí- legalidade, caracterizada por uma das seguintes condutas: (Reda-
culos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, ção dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencio- I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
nadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidor público, II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
empregados ou terceiros contratados por essas entidades. III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão
XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por das atribuições e que deva permanecer em segredo, propiciando
objeto a prestação de serviços públicos por meio da gestão associa- beneficiamento por informação privilegiada ou colocando em risco
da sem observar as formalidades previstas na lei; (Incluído pela Lei a segurança da sociedade e do Estado; (Redação dada pela Lei nº
nº 11.107, de 2005) 14.230, de 2021)
XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem sufi-
ciente e prévia dotação orçamentária, ou sem observar as formali-
dades previstas na lei. (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005)

192
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
IV - negar publicidade aos atos oficiais, exceto em razão de sua CAPÍTULO III
imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado ou Das Penas
de outras hipóteses instituídas em lei; (Redação dada pela Lei nº
14.230, de 2021) Art. 12. Independentemente do ressarcimento integral do dano
V - frustrar, em ofensa à imparcialidade, o caráter concorrencial patrimonial, se efetivo, e das sanções penais comuns e de respon-
de concurso público, de chamamento ou de procedimento licitató- sabilidade, civis e administrativas previstas na legislação específica,
rio, com vistas à obtenção de benefício próprio, direto ou indireto, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes
ou de terceiros; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamen-
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo, te, de acordo com a gravidade do fato: (Redação dada pela Lei nº
desde que disponha das condições para isso, com vistas a ocultar 14.230, de 2021)
irregularidades; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) I - na hipótese do art. 9º desta Lei, perda dos bens ou valores
VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de tercei- acrescidos ilicitamente ao patrimônio, perda da função pública, sus-
ro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou
pensão dos direitos políticos até 14 (catorze) anos, pagamento de
econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço.
multa civil equivalente ao valor do acréscimo patrimonial e proibi-
VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização
ção de contratar com o poder público ou de receber benefícios ou
e aprovação de contas de parcerias firmadas pela administração pú-
incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que
blica com entidades privadas. (Vide Medida Provisória nº 2.088-35,
de 2000) (Redação dada pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência) por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário,
IX - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) pelo prazo não superior a 14 (catorze) anos; (Redação dada pela Lei
X - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) nº 14.230, de 2021)
XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, II - na hipótese do art. 10 desta Lei, perda dos bens ou valores
colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autori- acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstân-
dade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido cia, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos até 12
em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de (doze) anos, pagamento de multa civil equivalente ao valor do dano
cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada e proibição de contratar com o poder público ou de receber bene-
na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes fícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente,
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, com- ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio ma-
preendido o ajuste mediante designações recíprocas; (Incluído pela joritário, pelo prazo não superior a 12 (doze) anos; (Redação dada
Lei nº 14.230, de 2021) pela Lei nº 14.230, de 2021)
XII - praticar, no âmbito da administração pública e com recur- III - na hipótese do art. 11 desta Lei, pagamento de multa civil
sos do erário, ato de publicidade que contrarie o disposto no § 1º de até 24 (vinte e quatro) vezes o valor da remuneração percebida
do art. 37 da Constituição Federal, de forma a promover inequívoco pelo agente e proibição de contratar com o poder público ou de
enaltecimento do agente público e personalização de atos, de pro- receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou in-
gramas, de obras, de serviços ou de campanhas dos órgãos públi- diretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual
cos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 4 (quatro) anos;
§ 1º Nos termos da Convenção das Nações Unidas contra a (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Corrupção, promulgada pelo Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro IV - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
de 2006, somente haverá improbidade administrativa, na aplica- Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº
ção deste artigo, quando for comprovado na conduta funcional do 14.230, de 2021)
agente público o fim de obter proveito ou benefício indevido para § 1º A sanção de perda da função pública, nas hipóteses dos in-
si ou para outra pessoa ou entidade. (Incluído pela Lei nº 14.230, cisos I e II do caput deste artigo, atinge apenas o vínculo de mesma
de 2021)
qualidade e natureza que o agente público ou político detinha com
§ 2º Aplica-se o disposto no § 1º deste artigo a quaisquer atos
o poder público na época do cometimento da infração, podendo
de improbidade administrativa tipificados nesta Lei e em leis espe-
o magistrado, na hipótese do inciso I do caput deste artigo, e em
ciais e a quaisquer outros tipos especiais de improbidade adminis-
caráter excepcional, estendê-la aos demais vínculos, consideradas
trativa instituídos por lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º O enquadramento de conduta funcional na categoria de as circunstâncias do caso e a gravidade da infração. (Incluído pela
que trata este artigo pressupõe a demonstração objetiva da práti- Lei nº 14.230, de 2021)
ca de ilegalidade no exercício da função pública, com a indicação § 2º A multa pode ser aumentada até o dobro, se o juiz conside-
das normas constitucionais, legais ou infralegais violadas. (Incluído rar que, em virtude da situação econômica do réu, o valor calculado
pela Lei nº 14.230, de 2021) na forma dos incisos I, II e III do caput deste artigo é ineficaz para
§ 4º Os atos de improbidade de que trata este artigo exigem reprovação e prevenção do ato de improbidade. (Incluído pela Lei
lesividade relevante ao bem jurídico tutelado para serem passíveis nº 14.230, de 2021)
de sancionamento e independem do reconhecimento da produção § 3º Na responsabilização da pessoa jurídica, deverão ser con-
de danos ao erário e de enriquecimento ilícito dos agentes públicos. siderados os efeitos econômicos e sociais das sanções, de modo a
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) viabilizar a manutenção de suas atividades. (Incluído pela Lei nº
§ 5º Não se configurará improbidade a mera nomeação ou indi- 14.230, de 2021)
cação política por parte dos detentores de mandatos eletivos, sen- § 4º Em caráter excepcional e por motivos relevantes devida-
do necessária a aferição de dolo com finalidade ilícita por parte do mente justificados, a sanção de proibição de contratação com o
agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) poder público pode extrapolar o ente público lesado pelo ato de
improbidade, observados os impactos econômicos e sociais das
sanções, de forma a preservar a função social da pessoa jurídi-
ca, conforme disposto no § 3º deste artigo. (Incluído pela Lei nº
14.230, de 2021)

193
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
§ 5º No caso de atos de menor ofensa aos bens jurídicos tute- § 3º Atendidos os requisitos da representação, a autoridade
lados por esta Lei, a sanção limitar-se-á à aplicação de multa, sem determinará a imediata apuração dos fatos, observada a legislação
prejuízo do ressarcimento do dano e da perda dos valores obtidos, que regula o processo administrativo disciplinar aplicável ao agen-
quando for o caso, nos termos do caput deste artigo. (Incluído pela te. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Lei nº 14.230, de 2021) Art. 15. A comissão processante dará conhecimento ao Minis-
§ 6º Se ocorrer lesão ao patrimônio público, a reparação do tério Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas da existência de
dano a que se refere esta Lei deverá deduzir o ressarcimento ocorri- procedimento administrativo para apurar a prática de ato de im-
do nas instâncias criminal, civil e administrativa que tiver por objeto probidade.
os mesmos fatos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal ou Conselho
§ 7º As sanções aplicadas a pessoas jurídicas com base nesta de Contas poderá, a requerimento, designar representante para
Lei e na Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, deverão observar acompanhar o procedimento administrativo.
o princípio constitucional do non bis in idem. (Incluído pela Lei nº Art. 16. Na ação por improbidade administrativa poderá ser
14.230, de 2021) formulado, em caráter antecedente ou incidente, pedido de indis-
§ 8º A sanção de proibição de contratação com o poder pú- ponibilidade de bens dos réus, a fim de garantir a integral recompo-
blico deverá constar do Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas sição do erário ou do acréscimo patrimonial resultante de enrique-
e Suspensas (CEIS) de que trata a Lei nº 12.846, de 1º de agosto cimento ilícito. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
de 2013, observadas as limitações territoriais contidas em decisão § 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
judicial, conforme disposto no § 4º deste artigo. (Incluído pela Lei § 1º-A O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere
nº 14.230, de 2021) o caput deste artigo poderá ser formulado independentemente da
§ 9º As sanções previstas neste artigo somente poderão ser representação de que trata o art. 7º desta Lei. (Incluído pela Lei nº
executadas após o trânsito em julgado da sentença condenatória. 14.230, de 2021)
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 2º Quando for o caso, o pedido de indisponibilidade de bens a
que se refere o caput deste artigo incluirá a investigação, o exame e
§ 10. Para efeitos de contagem do prazo da sanção de suspen-
o bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações financeiras man-
são dos direitos políticos, computar-se-á retroativamente o inter-
tidas pelo indiciado no exterior, nos termos da lei e dos tratados
valo de tempo entre a decisão colegiada e o trânsito em julgado da
internacionais. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
sentença condenatória. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere o
caput deste artigo apenas será deferido mediante a demonstração
CAPÍTULO IV no caso concreto de perigo de dano irreparável ou de risco ao re-
Da Declaração de Bens sultado útil do processo, desde que o juiz se convença da probabili-
dade da ocorrência dos atos descritos na petição inicial com funda-
Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam condicio- mento nos respectivos elementos de instrução, após a oitiva do réu
nados à apresentação de declaração de imposto de renda e proven- em 5 (cinco) dias. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
tos de qualquer natureza, que tenha sido apresentada à Secretaria § 4º A indisponibilidade de bens poderá ser decretada sem a
Especial da Receita Federal do Brasil, a fim de ser arquivada no ser- oitiva prévia do réu, sempre que o contraditório prévio puder com-
viço de pessoal competente. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de provadamente frustrar a efetividade da medida ou houver outras
2021) circunstâncias que recomendem a proteção liminar, não podendo a
§ 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) urgência ser presumida. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 2º A declaração de bens a que se refere o caput deste arti- § 5º Se houver mais de um réu na ação, a somatória dos valores
go será atualizada anualmente e na data em que o agente público declarados indisponíveis não poderá superar o montante indicado
deixar o exercício do mandato, do cargo, do emprego ou da função. na petição inicial como dano ao erário ou como enriquecimento ilí-
(Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) cito. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º Será apenado com a pena de demissão, sem prejuízo de § 6º O valor da indisponibilidade considerará a estimativa de
outras sanções cabíveis, o agente público que se recusar a prestar a dano indicada na petição inicial, permitida a sua substituição por
declaração dos bens a que se refere o caput deste artigo dentro do caução idônea, por fiança bancária ou por seguro-garantia judicial,
prazo determinado ou que prestar declaração falsa. (Redação dada a requerimento do réu, bem como a sua readequação durante a
pela Lei nº 14.230, de 2021) instrução do processo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 4º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) § 7º A indisponibilidade de bens de terceiro dependerá da de-
monstração da sua efetiva concorrência para os atos ilícitos apu-
CAPÍTULO V rados ou, quando se tratar de pessoa jurídica, da instauração de
Do Procedimento Administrativo e do Processo Judicial incidente de desconsideração da personalidade jurídica, a ser pro-
cessado na forma da lei processual. (Incluído pela Lei nº 14.230,
de 2021)
Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à autoridade ad-
§ 8º Aplica-se à indisponibilidade de bens regida por esta Lei,
ministrativa competente para que seja instaurada investigação des-
no que for cabível, o regime da tutela provisória de urgência da Lei
tinada a apurar a prática de ato de improbidade.
nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). (In-
§ 1º A representação, que será escrita ou reduzida a termo e cluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
assinada, conterá a qualificação do representante, as informações § 9º Da decisão que deferir ou indeferir a medida relativa à in-
sobre o fato e sua autoria e a indicação das provas de que tenha disponibilidade de bens caberá agravo de instrumento, nos termos
conhecimento. da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
§ 2º A autoridade administrativa rejeitará a representação, em (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
despacho fundamentado, se esta não contiver as formalidades es-
tabelecidas no § 1º deste artigo. A rejeição não impede a represen-
tação ao Ministério Público, nos termos do art. 22 desta lei.

194
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
§ 10. A indisponibilidade recairá sobre bens que assegurem § 6º-B A petição inicial será rejeitada nos casos do art. 330 da
exclusivamente o integral ressarcimento do dano ao erário, sem in- Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil),
cidir sobre os valores a serem eventualmente aplicados a título de bem como quando não preenchidos os requisitos a que se referem
multa civil ou sobre acréscimo patrimonial decorrente de atividade os incisos I e II do § 6º deste artigo, ou ainda quando manifestamen-
lícita. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) te inexistente o ato de improbidade imputado. (Incluído pela Lei
§ 11. A ordem de indisponibilidade de bens deverá priorizar ve- nº 14.230, de 2021)
ículos de via terrestre, bens imóveis, bens móveis em geral, semo- § 7º Se a petição inicial estiver em devida forma, o juiz mandará
ventes, navios e aeronaves, ações e quotas de sociedades simples autuá-la e ordenará a citação dos requeridos para que a contestem
e empresárias, pedras e metais preciosos e, apenas na inexistência no prazo comum de 30 (trinta) dias, iniciado o prazo na forma do
desses, o bloqueio de contas bancárias, de forma a garantir a sub- art. 231 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Pro-
sistência do acusado e a manutenção da atividade empresária ao cesso Civil). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
longo do processo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 8º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 12. O juiz, ao apreciar o pedido de indisponibilidade de bens § 9º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
do réu a que se refere o caput deste artigo, observará os efeitos § 9º-A Da decisão que rejeitar questões preliminares suscitadas
práticos da decisão, vedada a adoção de medida capaz de acarre- pelo réu em sua contestação caberá agravo de instrumento. (Inclu-
tar prejuízo à prestação de serviços públicos. (Incluído pela Lei nº ído pela Lei nº 14.230, de 2021)
14.230, de 2021) § 10. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 13. É vedada a decretação de indisponibilidade da quantia de § 10-A. Havendo a possibilidade de solução consensual, pode-
até 40 (quarenta) salários mínimos depositados em caderneta de rão as partes requerer ao juiz a interrupção do prazo para a contes-
poupança, em outras aplicações financeiras ou em conta-corrente. tação, por prazo não superior a 90 (noventa) dias. (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019)
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 10-B. Oferecida a contestação e, se for o caso, ouvido o autor,
§ 14. É vedada a decretação de indisponibilidade do bem de
o juiz: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
família do réu, salvo se comprovado que o imóvel seja fruto de van-
I - procederá ao julgamento conforme o estado do processo,
tagem patrimonial indevida, conforme descrito no art. 9º desta Lei.
observada a eventual inexistência manifesta do ato de improbida-
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) de; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 17. A ação para a aplicação das sanções de que trata esta II - poderá desmembrar o litisconsórcio, com vistas a otimizar a
Lei será proposta pelo Ministério Público e seguirá o procedimento instrução processual. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
comum previsto na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código § 10-C. Após a réplica do Ministério Público, o juiz proferirá de-
de Processo Civil), salvo o disposto nesta Lei. (Redação dada pela cisão na qual indicará com precisão a tipificação do ato de improbi-
Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADIN 7042) (Vide ADIN 7043) dade administrativa imputável ao réu, sendo-lhe vedado modificar
§ 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) o fato principal e a capitulação legal apresentada pelo autor. (Inclu-
§ 2º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) ído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADIN 7042) (Vide ADIN 7043)
§ 3º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) § 10-D. Para cada ato de improbidade administrativa, deverá
§ 4º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) necessariamente ser indicado apenas um tipo dentre aqueles pre-
§ 4º-A A ação a que se refere o caput deste artigo deverá ser vistos nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230,
proposta perante o foro do local onde ocorrer o dano ou da pessoa de 2021)
jurídica prejudicada. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 10-E. Proferida a decisão referida no § 10-C deste artigo, as
§ 5º A propositura da ação a que se refere o caput deste ar- partes serão intimadas a especificar as provas que pretendem pro-
tigo prevenirá a competência do juízo para todas as ações poste- duzir. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
riormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o § 10-F. Será nula a decisão de mérito total ou parcial da ação
mesmo objeto. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) de improbidade administrativa que: (Incluído pela Lei nº 14.230,
§ 6º A petição inicial observará o seguinte: (Redação dada pela de 2021)
Lei nº 14.230, de 2021) I - condenar o requerido por tipo diverso daquele definido na
I - deverá individualizar a conduta do réu e apontar os elemen- petição inicial; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
tos probatórios mínimos que demonstrem a ocorrência das hipóte- II - condenar o requerido sem a produção das provas por ele
ses dos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei e de sua autoria, salvo impossi- tempestivamente especificadas. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
bilidade devidamente fundamentada; (Incluído pela Lei nº 14.230, 2021)
de 2021) § 11. Em qualquer momento do processo, verificada a inexis-
tência do ato de improbidade, o juiz julgará a demanda improce-
II - será instruída com documentos ou justificação que con-
dente. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
tenham indícios suficientes da veracidade dos fatos e do dolo
§ 12. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
imputado ou com razões fundamentadas da impossibilidade de
§ 13. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
apresentação de qualquer dessas provas, observada a legislação
§ 14. Sem prejuízo da citação dos réus, a pessoa jurídica inte-
vigente, inclusive as disposições constantes dos arts. 77 e 80 da Lei ressada será intimada para, caso queira, intervir no processo. (In-
nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). (In- cluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADIN 7042) (Vide ADIN
cluído pela Lei nº 14.230, de 2021) 7043)
§ 6º-A O Ministério Público poderá requerer as tutelas provisó- § 15. Se a imputação envolver a desconsideração de pessoa ju-
rias adequadas e necessárias, nos termos dos arts. 294 a 310 da Lei rídica, serão observadas as regras previstas nos arts. 133, 134, 135,
nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil (Incluí- 136 e 137 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de
do pela Lei nº 14.230, de 2021), (Vide ADIN 7042) (Vide ADIN 7043) Processo Civil). (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)

195
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
§ 16. A qualquer momento, se o magistrado identificar a exis- II - de aprovação, no prazo de até 60 (sessenta) dias, pelo ór-
tência de ilegalidades ou de irregularidades administrativas a se- gão do Ministério Público competente para apreciar as promoções
rem sanadas sem que estejam presentes todos os requisitos para de arquivamento de inquéritos civis, se anterior ao ajuizamento da
a imposição das sanções aos agentes incluídos no polo passivo da ação; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
demanda, poderá, em decisão motivada, converter a ação de im- III - de homologação judicial, independentemente de o acordo
probidade administrativa em ação civil pública, regulada pela Lei nº ocorrer antes ou depois do ajuizamento da ação de improbidade
7.347, de 24 de julho de 1985. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) administrativa. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 17. Da decisão que converter a ação de improbidade em ação § 2º Em qualquer caso, a celebração do acordo a que se refere
civil pública caberá agravo de instrumento. (Incluído pela Lei nº o caput deste artigo considerará a personalidade do agente, a natu-
14.230, de 2021) reza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do ato de
§ 18. Ao réu será assegurado o direito de ser interrogado sobre improbidade, bem como as vantagens, para o interesse público, da
os fatos de que trata a ação, e a sua recusa ou o seu silêncio não rápida solução do caso. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
implicarão confissão. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 3º Para fins de apuração do valor do dano a ser ressarcido,
§ 19. Não se aplicam na ação de improbidade administrativa: deverá ser realizada a oitiva do Tribunal de Contas competente, que
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) se manifestará, com indicação dos parâmetros utilizados, no prazo
I - a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor em de 90 (noventa) dias. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
caso de revelia; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 4º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá ser
II - a imposição de ônus da prova ao réu, na forma dos §§ 1º e celebrado no curso da investigação de apuração do ilícito, no curso
2º do art. 373 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de da ação de improbidade ou no momento da execução da sentença
Processo Civil); (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) condenatória. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
III - o ajuizamento de mais de uma ação de improbidade admi- § 5º As negociações para a celebração do acordo a que se re-
nistrativa pelo mesmo fato, competindo ao Conselho Nacional do fere o caput deste artigo ocorrerão entre o Ministério Público, de
Ministério Público dirimir conflitos de atribuições entre membros um lado, e, de outro, o investigado ou demandado e o seu defensor.
de Ministérios Públicos distintos; (Incluído pela Lei nº 14.230, de (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
2021) § 6º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá con-
IV - o reexame obrigatório da sentença de improcedência ou templar a adoção de mecanismos e procedimentos internos de in-
de extinção sem resolução de mérito. (Incluído pela Lei nº 14.230, tegridade, de auditoria e de incentivo à denúncia de irregularidades
de 2021) e a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito
da pessoa jurídica, se for o caso, bem como de outras medidas em
§ 20. A assessoria jurídica que emitiu o parecer atestando a
favor do interesse público e de boas práticas administrativas. (Inclu-
legalidade prévia dos atos administrativos praticados pelo adminis-
ído pela Lei nº 14.230, de 2021)
trador público ficará obrigada a defendê-lo judicialmente, caso este
§ 7º Em caso de descumprimento do acordo a que se refere o
venha a responder ação por improbidade administrativa, até que a
caput deste artigo, o investigado ou o demandado ficará impedido
decisão transite em julgado. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
de celebrar novo acordo pelo prazo de 5 (cinco) anos, contado do
(Vide ADIN 7042) (Vide ADIN 7043)
conhecimento pelo Ministério Público do efetivo descumprimento.
§ 21. Das decisões interlocutórias caberá agravo de instrumen-
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
to, inclusive da decisão que rejeitar questões preliminares suscita-
Art. 17-C. A sentença proferida nos processos a que se refere
das pelo réu em sua contestação. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
esta Lei deverá, além de observar o disposto no art. 489 da Lei nº
2021) 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil): (Incluí-
Art. 17-A. (VETADO): (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) do pela Lei nº 14.230, de 2021)
I - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) I - indicar de modo preciso os fundamentos que demonstram
II - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) os elementos a que se referem os arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, que
III - (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) não podem ser presumidos; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 1º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) II - considerar as consequências práticas da decisão, sempre
§ 2º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) que decidir com base em valores jurídicos abstratos; (Incluído pela
§ 3º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Lei nº 14.230, de 2021)
§ 4º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) III - considerar os obstáculos e as dificuldades reais do gestor
§ 5º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos
Art. 17-B. O Ministério Público poderá, conforme as circuns- direitos dos administrados e das circunstâncias práticas que houve-
tâncias do caso concreto, celebrar acordo de não persecução civil, rem imposto, limitado ou condicionado a ação do agente; (Incluído
desde que dele advenham, ao menos, os seguintes resultados: (In- pela Lei nº 14.230, de 2021)
cluído pela Lei nº 14.230, de 2021) IV - considerar, para a aplicação das sanções, de forma isolada
I - o integral ressarcimento do dano; (Incluído pela Lei nº ou cumulativa: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
14.230, de 2021) a) os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade; (In-
II - a reversão à pessoa jurídica lesada da vantagem indevida cluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
obtida, ainda que oriunda de agentes privados. (Incluído pela Lei b) a natureza, a gravidade e o impacto da infração cometida;
nº 14.230, de 2021) (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 1º A celebração do acordo a que se refere o caput deste arti- c) a extensão do dano causado; (Incluído pela Lei nº 14.230,
go dependerá, cumulativamente: (Incluído pela Lei nº 14.230, de de 2021)
2021) d) o proveito patrimonial obtido pelo agente; (Incluído pela Lei
I - da oitiva do ente federativo lesado, em momento anterior nº 14.230, de 2021)
ou posterior à propositura da ação; (Incluído pela Lei nº 14.230, e) as circunstâncias agravantes ou atenuantes; (Incluído pela
de 2021) Lei nº 14.230, de 2021)

196
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
f) a atuação do agente em minorar os prejuízos e as consequên- § 4º O juiz poderá autorizar o parcelamento, em até 48 (qua-
cias advindas de sua conduta omissiva ou comissiva; (Incluído pela renta e oito) parcelas mensais corrigidas monetariamente, do débi-
Lei nº 14.230, de 2021) to resultante de condenação pela prática de improbidade adminis-
g) os antecedentes do agente; (Incluído pela Lei nº 14.230, de trativa se o réu demonstrar incapacidade financeira de saldá-lo de
2021) imediato. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
V - considerar na aplicação das sanções a dosimetria das san- Art. 18-A. A requerimento do réu, na fase de cumprimento da
ções relativas ao mesmo fato já aplicadas ao agente; (Incluído pela sentença, o juiz unificará eventuais sanções aplicadas com outras
Lei nº 14.230, de 2021) já impostas em outros processos, tendo em vista a eventual con-
VI - considerar, na fixação das penas relativamente ao terceiro, tinuidade de ilícito ou a prática de diversas ilicitudes, observado o
quando for o caso, a sua atuação específica, não admitida a sua seguinte: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
responsabilização por ações ou omissões para as quais não tiver I - no caso de continuidade de ilícito, o juiz promoverá a maior
concorrido ou das quais não tiver obtido vantagens patrimoniais sanção aplicada, aumentada de 1/3 (um terço), ou a soma das pe-
indevidas; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) nas, o que for mais benéfico ao réu; (Incluído pela Lei nº 14.230,
VII - indicar, na apuração da ofensa a princípios, critérios obje- de 2021)
tivos que justifiquem a imposição da sanção. (Incluído pela Lei nº II - no caso de prática de novos atos ilícitos pelo mesmo sujeito,
14.230, de 2021) o juiz somará as sanções. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 1º A ilegalidade sem a presença de dolo que a qualifique não Parágrafo único. As sanções de suspensão de direitos políticos
configura ato de improbidade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) e de proibição de contratar ou de receber incentivos fiscais ou cre-
§ 2º Na hipótese de litisconsórcio passivo, a condenação ocor-
ditícios do poder público observarão o limite máximo de 20 (vinte)
rerá no limite da participação e dos benefícios diretos, vedada qual-
anos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
quer solidariedade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º Não haverá remessa necessária nas sentenças de que trata
CAPÍTULO VI
esta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 17-D. A ação por improbidade administrativa é repressiva, Das Disposições Penais
de caráter sancionatório, destinada à aplicação de sanções de ca-
ráter pessoal previstas nesta Lei, e não constitui ação civil, vedado Art. 19. Constitui crime a representação por ato de improbida-
seu ajuizamento para o controle de legalidade de políticas públicas de contra agente público ou terceiro beneficiário, quando o autor
e para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente da denúncia o sabe inocente.
e de outros interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. Pena: detenção de seis a dez meses e multa.
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Parágrafo único. Além da sanção penal, o denunciante está su-
Parágrafo único. Ressalvado o disposto nesta Lei, o controle jeito a indenizar o denunciado pelos danos materiais, morais ou à
de legalidade de políticas públicas e a responsabilidade de agentes imagem que houver provocado.
públicos, inclusive políticos, entes públicos e governamentais, por Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos
danos ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença con-
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, a qualquer ou- denatória.
tro interesse difuso ou coletivo, à ordem econômica, à ordem urba- § 1º A autoridade judicial competente poderá determinar o
nística, à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos afastamento do agente público do exercício do cargo, do emprego
e ao patrimônio público e social submetem-se aos termos da Lei nº ou da função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida for
7.347, de 24 de julho de 1985. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) necessária à instrução processual ou para evitar a iminente prática
Art. 18. A sentença que julgar procedente a ação fundada nos de novos ilícitos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
arts. 9º e 10 desta Lei condenará ao ressarcimento dos danos e à § 2º O afastamento previsto no § 1º deste artigo será de até 90
perda ou à reversão dos bens e valores ilicitamente adquiridos, con- (noventa) dias, prorrogáveis uma única vez por igual prazo, median-
forme o caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada pelo ilícito. te decisão motivada. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
(Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta lei independe:
§ 1º Se houver necessidade de liquidação do dano, a pessoa I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo
jurídica prejudicada procederá a essa determinação e ao ulterior quanto à pena de ressarcimento e às condutas previstas no art. 10
procedimento para cumprimento da sentença referente ao ressar- desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
cimento do patrimônio público ou à perda ou à reversão dos bens.
II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
interno ou pelo Tribunal ou Conselho de Contas.
§ 2º Caso a pessoa jurídica prejudicada não adote as providên-
§ 1º Os atos do órgão de controle interno ou externo serão con-
cias a que se refere o § 1º deste artigo no prazo de 6 (seis) meses,
siderados pelo juiz quando tiverem servido de fundamento para a
contado do trânsito em julgado da sentença de procedência da
ação, caberá ao Ministério Público proceder à respectiva liquidação conduta do agente público. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
do dano e ao cumprimento da sentença referente ao ressarcimento § 2º As provas produzidas perante os órgãos de controle e as
do patrimônio público ou à perda ou à reversão dos bens, sem pre- correspondentes decisões deverão ser consideradas na formação
juízo de eventual responsabilização pela omissão verificada. (Inclu- da convicção do juiz, sem prejuízo da análise acerca do dolo na con-
ído pela Lei nº 14.230, de 2021) duta do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º Para fins de apuração do valor do ressarcimento, deverão § 3º As sentenças civis e penais produzirão efeitos em relação à
ser descontados os serviços efetivamente prestados. (Incluído pela ação de improbidade quando concluírem pela inexistência da con-
Lei nº 14.230, de 2021) duta ou pela negativa da autoria. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
2021)

197
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
§ 4º A absolvição criminal em ação que discuta os mesmos fa- § 5º Interrompida a prescrição, o prazo recomeça a correr do
tos, confirmada por decisão colegiada, impede o trâmite da ação da dia da interrupção, pela metade do prazo previsto no caput deste
qual trata esta Lei, havendo comunicação com todos os fundamen- artigo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
tos de absolvição previstos no art. 386 do Decreto-Lei nº 3.689, de § 6º A suspensão e a interrupção da prescrição produzem efei-
3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal). (Incluído pela Lei tos relativamente a todos os que concorreram para a prática do ato
nº 14.230, de 2021) de improbidade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 5º Sanções eventualmente aplicadas em outras esferas deve- § 7º Nos atos de improbidade conexos que sejam objeto do
rão ser compensadas com as sanções aplicadas nos termos desta mesmo processo, a suspensão e a interrupção relativas a qualquer
Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) deles estendem-se aos demais. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta Lei, o Minis- 2021)
tério Público, de ofício, a requerimento de autoridade administrati- § 8º O juiz ou o tribunal, depois de ouvido o Ministério Público,
va ou mediante representação formulada de acordo com o disposto deverá, de ofício ou a requerimento da parte interessada, reconhe-
no art. 14 desta Lei, poderá instaurar inquérito civil ou procedimen- cer a prescrição intercorrente da pretensão sancionadora e decre-
to investigativo assemelhado e requisitar a instauração de inquérito tá-la de imediato, caso, entre os marcos interruptivos referidos no
policial. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) § 4º, transcorra o prazo previsto no § 5º deste artigo. (Incluído pela
Parágrafo único. Na apuração dos ilícitos previstos nesta Lei, Lei nº 14.230, de 2021)
será garantido ao investigado a oportunidade de manifestação por Art. 23-A. É dever do poder público oferecer contínua capacita-
escrito e de juntada de documentos que comprovem suas alegações ção aos agentes públicos e políticos que atuem com prevenção ou
repressão de atos de improbidade administrativa. (Incluído pela Lei
e auxiliem na elucidação dos fatos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
nº 14.230, de 2021)
2021)
Art. 23-B. Nas ações e nos acordos regidos por esta Lei, não
haverá adiantamento de custas, de preparo, de emolumentos, de
CAPÍTULO VII
honorários periciais e de quaisquer outras despesas. (Incluído pela
Da Prescrição
Lei nº 14.230, de 2021)
§ 1º No caso de procedência da ação, as custas e as demais des-
Art. 23. A ação para a aplicação das sanções previstas nesta Lei
pesas processuais serão pagas ao final. (Incluído pela Lei nº 14.230,
prescreve em 8 (oito) anos, contados a partir da ocorrência do fato
de 2021)
ou, no caso de infrações permanentes, do dia em que cessou a per-
§ 2º Haverá condenação em honorários sucumbenciais em
manência. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) caso de improcedência da ação de improbidade se comprovada
I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) má-fé. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) Art. 23-C. Atos que ensejem enriquecimento ilícito, perda patri-
III - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) monial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação de re-
§ 1º A instauração de inquérito civil ou de processo adminis- cursos públicos dos partidos políticos, ou de suas fundações, serão
trativo para apuração dos ilícitos referidos nesta Lei suspende o responsabilizados nos termos da Lei nº 9.096, de 19 de setembro de
curso do prazo prescricional por, no máximo, 180 (cento e oitenta) 1995. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
dias corridos, recomeçando a correr após a sua conclusão ou, caso
não concluído o processo, esgotado o prazo de suspensão. (Incluído CAPÍTULO VIII
pela Lei nº 14.230, de 2021) Das Disposições Finais
§ 2º O inquérito civil para apuração do ato de improbidade será
concluído no prazo de 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias corri- Art. 24. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
dos, prorrogável uma única vez por igual período, mediante ato fun- Art. 25. Ficam revogadas as Leis n°s 3.164, de 1° de junho de
damentado submetido à revisão da instância competente do órgão 1957, e 3.502, de 21 de dezembro de 1958 e demais disposições
ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica. (Incluído em contrário.
pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º Encerrado o prazo previsto no § 2º deste artigo, a ação de- Rio de Janeiro, 2 de junho de 1992; 171° da Independência e
verá ser proposta no prazo de 30 (trinta) dias, se não for caso de ar- 104° da República.
quivamento do inquérito civil. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) FERNANDO COLLOR
§ 4º O prazo da prescrição referido no caput deste artigo inter- Célio Borja
rompe-se: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
I - pelo ajuizamento da ação de improbidade administrativa;
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) QUESTÕES
II - pela publicação da sentença condenatória; (Incluído pela
Lei nº 14.230, de 2021) 1. (CESPE/MCT-FINEP) Quanto à evolução histórica do pensa-
III - pela publicação de decisão ou acórdão de Tribunal de Jus- mento administrativo, assinale a opção correta.
tiça ou Tribunal Regional Federal que confirma sentença condena- (A) Weber propõe que uma das principais vantagens da buro-
tória ou que reforma sentença de improcedência; (Incluído pela Lei cracia consiste em conferir rapidez à tomada de decisões.
nº 14.230, de 2021) (B) A organização que busca mensurar e analisar as atitudes
IV - pela publicação de decisão ou acórdão do Superior Tribu- de seus empregados de modo a conseguir a sua satisfação
nal de Justiça que confirma acórdão condenatório ou que reforma no trabalho está alinhada aos pressupostos da administração
acórdão de improcedência; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) científica.
V - pela publicação de decisão ou acórdão do Supremo Tribunal (C) A organização que ressalta o papel dos gerentes como co-
Federal que confirma acórdão condenatório ou que reforma acór- nhecedores dos detalhes das tarefas desenvolvidas por seus
dão de improcedência. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) empregados alinha-se aos pressupostos da teoria clássica.

198
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
(D) A abordagem contingencial se preocupa em analisar as fun- (B) Quanto menos uma empresa conhece sobre seu concor-
ções da organização, dividindo-as em seis funções clássicas, rente, menor o risco estratégico dessa empresa em face das
que incluem as comerciais, as financeiras e as contábeis. estratégias do concorrente.
(E) A teoria de sistemas adota uma visão reducionista e analíti- (C) Ameaças são fatores do ambiente externo que impactam
ca da administração. diretamente nas organizações, podendo ser controladas antes
de prejudicarem o desenvolvimento das empresas.
2. (CESPE/TSE) A respeito das novas tecnologias gerenciais que (D) Os pontos fortes e fracos correspondem a variáveis con-
causam impacto nas organizações, assinale a opção correta. troláveis por uma empresa, enquanto as oportunidades e as
(A) Reengenharia é o processo sistemático, planejado, geren- ameaças correspondem a variáveis não controláveis.
ciado, executado e acompanhado sob a liderança da alta admi- (E) Mediante a análise das oportunidades e das fraquezas de
nistração da instituição, envolvendo e comprometendo todos um ambiente organizacional, obtêm-se a atual situação das
os gerentes e responsáveis e colaboradores da organização. vantagens competitivas de uma empresa.
(B) Qualidade é o repensar fundamental e é a reestruturação
radical dos processos empresariais que visam alcançar drás- 6. (CESPE/MTE) - Agente Administrativo ) No que se refere ao
ticas melhorias em indicadores críticos e contemporâneos de comportamento organizacional, julgue o item a seguir.
desempenho, tais como custos, atendimento e velocidade. A motivação para o trabalho, por vincular-se a um aspecto in-
(C) Gestão estratégica está relacionada a propriedades ou ca- trínseco ao indivíduo, de difícil observação, não pode ser influencia-
racterísticas de um produto ou serviço que influenciam relacio- da por práticas de gestão de pessoas.
nadas à sua capacidade de satisfazer as necessidades explícitas ( ) Certo
ou implícitas dos que o utilizam. ( ) Errado
(D) Empreendedorismo governamental significa a capacidade
de promover a sintonia entre os governos e as novas condições 7. (CESPE/FUB) Considerando a gestão do clima e da cultura
sócio-econômicas, políticas e culturais. organizacional como estratégia necessária à gestão de pessoas, jul-
gue o item seguinte.
3. (UnB/CESPE/TJ-AL) Acerca das diferentes abordagens da ad- O nível de favorabilidade do clima organizacional pode ser ava-
ministração, assinale a opção correta. liado com base em taxa de turnover e de absenteísmo, em resulta-
(A) A abordagem sistêmica pressupõe uma alta especialização dos de avaliações de desempenho e em tipos de queixas no serviço
médico.
no desenvolvimento de uma tarefa específica de modo que o
( ) Certo
trabalhador consiga ter uma visão holística do processo pro-
( ) Errado
dutivo.
(B) A abordagem clássica da administração tem como princípio
8. CESGRANRIO/Petrobras) Na gestão do desempenho, o de-
aumentar o nível de entropia da organização.
senvolvimento da avaliação do desempenho apresenta objetivos
(C) A abordagem burocrática considera as pessoas em primeiro
fundamentais para o alcance do sucesso da organização.
plano por serem as responsáveis pela aplicação de suas nor-
Entre os objetivos da avaliação de desempenho NÃO se inclui
mas e regras.
o de
(D) A visão mecanicista proposta por Bertalanffy revela que, (A) fornecer oportunidade de crescimento e condições de efe-
para compreender a realidade, é preciso analisar não apenas tiva participação a todos os membros da organização, levando
elementos isolados, mas também suas inter-relações. em consideração os objetivos organizacionais e individuais.
(E) De acordo com os princípios da administração científica (B) garantir o reconhecimento e o tratamento dos recursos hu-
descritos por Taylor, o objetivo da boa administração é pagar manos como importante vantagem competitiva da organiza-
altos salários e ter baixos custos. ção, cuja produtividade pode ser desenvolvida.
(C) permitir condições de medição do potencial humano, no
4. (CONSULPLAN/MANAUS ENERGIA) As opções a seguir apre- sentido de determinar sua plena aplicação.
sentam afirmações a respeito de aspectos gerais da estratégia, (D) propor providências no sentido de melhorar o padrão de
estrutura e desempenho de uma organização. Assinale a única desempenho de subordinados.
verdadeira: (E) viabilizar a avaliação de comportamento dos subordinados,
(A) O ambiente de uma empresa é tudo aquilo que pode ser contando com um sistema amplo de medição capaz de levar
controlado. em consideração as subjetividades individuais.
(B) Na integração horizontal, procuram-se produtos e serviços
complementares. 9. (CESPE/TC-DF) A respeito das funções de caráter estratégico
(C) O desempenho de uma empresa independe de sua estra- desempenhadas por organizações públicas, julgue o próximo item.
tégia. O termo educação corporativa, adotado por unidades de ges-
(D) A integração empresarial depende apenas da estrutura or- tão de pessoas, relaciona-se ao diagnóstico e ao planejamento de
ganizacional. programas e de ações de aprendizagem direcionados por objetivos
(E) A estratégia de uma empresa depende principalmente de organizacionais de curto prazo.
sua estrutura. ( ) CERTO
( ) ERRADO
5. (CESPE/TJ-ROo) Com relação à análise dos ambientes exter-
no e interno de uma organização, assinale a opção correta.
(A) Na análise externa, os pontos fortes e fracos de uma em-
presa devem ser determinados por meio da relação entre os
segmentos de mercados e a atual posição dos produtos ou ser-
viços dessa empresa.

199
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
10. Julgue as sentenças a respeito do paradigma pós-burocrá- 13. (FCC/Sergipe Gás S.A) - Estrutura Organizacional é
tico, da administração pública gerencial e da nova administração (A) o conjunto de tarefas desempenhado por uma ou mais pes-
pública. soas, servindo como base para a departamentalização
I. O ideal do movimento da nova administração pública nos (B) a posição hierárquica que uma pessoa ocupa na empresa e
anos 60 era a superação da burocracia no sentido do resgate da o conjunto de atribuições a ela conferido.
racionalidade substantiva dos sistemas administrativos. (C) a forma pela qual as atividades de uma organização são di-
II. O termo “pós-burocrático” está mais associado à relativa vididas, organizadas e coordenadas
perda de poder das organizações públicas contemporâneas que às (D) a cadeia de comando que se inicia nos gestores de topo e
emergentes novas formas organizacionais discrepantes do tipo ide- segue até os trabalhadores não gestores, passando sucessiva-
al weberiano. mente por todos os níveis organizacionais
III. A abordagem do new public management é mais um recur- (E) a guia de conduta, estável e de longo prazo, estabelecida
so estruturador da discussão sobre as transformações ocorridas na para dirigir a tomada de decisões
gestão pública nas duas últimas décadas que um paradigma pres-
critivo de reforma do estado. 14. (FCC/TCE-AP) - Em relação aos processos organizacionais,
IV. A “administração pública gerencial” busca diferenciar-se da considere:
burocrática no sentido de que se proclama orientada para resulta- I. A função de planejamento numa organização guarda uma
dos, focada no cidadão, flexível e aberta ao controle social. relação direta com a função de controle, enquanto a função de di-
V. A implementação da “administração pública gerencial”, con- reção tem relação direta com a função de organização do trabalho.
forme proposta pelo Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Es- II. As habilidades técnicas são mais relevantes entre superviso-
tado, requer prévia implementação da administração burocrática e res de 1a linha, as habilidades conceituais maiores na administra-
completa eliminação da administração patrimonial. ção superior e as habilidades humanas, mais requeridas no nível da
Estão corretos apenas os itens gerência intermediária.
(A) I, II e I III. A organização matricial prevê maior flexibilização dos limi-
(B) I, III e IV tes entre departamentos, possibilitando que os funcionários repor-
(C) I, IV e V tem-se a diferentes gestores.
(D) II, III e V IV. Um elenco de maneiras para se superar barreiras de comu-
(E) III, IV e V nicação inclui a utilização de feedback, observar sinais não-verbais,
escutar com atenção, simplificar a linguagem, além de conter as
11. (ESAF) - “Estrutura formal, objeto de grande parte de estu- emoções.
dos das organizações empresariais, é aquela deliberadamente pla- V. Indiferentemente ao controle preventivo, simultâneo ou de
nejada, em alguns de seus aspectos, pelo organograma. Estrutura feedback adotados na gestão, os mesmos servem para medir o de-
informal é a rede de relações sociais e pessoais que não é estabe- sempenho real, comparar o desempenho com o padrão, e tomar
lecida ou requerida pela estrutura formal. Surge da interação social medidas de ação corretiva.
das pessoas, o que significa que se desenvolve espontaneamente Está correto o que se afirma APENAS em
quando as pessoas se reúnem. Portanto, apresenta relações que (A) I, II, III e IV
usualmente não aparecem no organograma.” (B) I, II, IV e V.
(C) I, III,IV e V.
(Trecho extraído do livro Sistemas, organização e métodos: (D) II,III e IV.
uma abordagem gerencial, de Djalma de Pinho Rebouças de Olivei- (E) II, IV e V
ra. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2000, p. 82).
Indique, nas opções abaixo, aquela que não se apresenta como 15. (FCC/TRF - 1ª REGIÃO) - Na fase de iniciação de um projeto,
uma das características da organização formal: antes de tudo, deve-se
(A) Divisão do trabalho. (A) decidir se um projeto deve ser iniciado, entre vários pos-
(B) Especialização. síveis
(C) Hierarquia. (B) definir as atividades necessárias para desenvolvimento do
(D) Distribuição da autoridade e de responsabilidade. produto a ser entregue
(E) Ênfase nas relações entre pessoas no trabalho. (C) detalhar o escopo e os requisitos básicos do projeto
(D) elaborar detalhadamente as informações sobre o projeto
12. (CESPE/TRE-MT) - Com relação ao processo organizacional, (E) escolher as pessoas certas para a implantação e avaliação
assinale a opção correta. do projeto.
(A) Na realidade das organizações modernas, não há motivo
administrativo para se manter uma estrutura organizacional 16. (CNJ/CESPE) Com referência a organização e processo deci-
predominantemente centralizada. sório, julgue os próximos itens.
(B) A abordagem divisional da departamentalização ocorre O processo racional de tomada de decisão pressupõe que o
quando as atividades são agrupadas de acordo com as habili- agente tenha conhecimento absoluto de todas as opções disponí-
dades, conhecimentos e recursos similares. veis para a ação.
(C) Os administradores que atuam de acordo com a teoria X ( ) CERTO
dos estilos de direção tendem a dirigir e controlar os subor- ( ) ERRADO
dinados de maneira rígida e intensiva, fiscalizando constante-
mente seu trabalho.
(D) No exercício do controle, o administrador deve estar mais
atento aos casos padronizados do que às exceções.
(E) Os controles táticos devem estar localizados no mais alto
nível da organização.

200
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
17. Na definição da gestão da qualidade, uma das suas carac- 21. O marco lógico, também conhecido como matriz lógica,
terísticas importantes, denominada qualidade de conformidade ou busca servir como guia de orientação para o planejamento de pro-
qualidade de aceitação, é jetos. A respeito do marco lógico, é correto afirmar que:
(A) o valor das informações das expectativas do consumidor. (A) É o mesmo que modelo lógico.
(B) a gestão centrada em pesquisa de mercado no desejo do (B) Auxilia na avaliação de programas.
consumidor. (C) É uma ferramenta de planejamento de projetos.
(C) o controle da inspeção da faixa de mercado a atender. (D) Marco lógico e modelo lógico não possuem características
(D) o atendimento sistemático às especificações planejadas. comuns.
(E) o aprimoramento do nicho de mercado a atender. (E) É uma ferramenta orientada para resultados, buscando au-
xiliar na avaliação de programas.
18. A gestão de processos de negócio é uma disciplina gerencial
que integra estratégias e objetivos de uma organização com expec- 22. (FCC/TRT - 13ª) - Técnico Judiciário - Tecnologia da Informa-
tativas e necessidades de clientes, por meio do foco em processos ção) Entre as etapas do planejamento estratégico de uma institui-
de ponta a ponta. Sobre isso, considere as afirmativas: ção se inclui o diagnóstico institucional que contempla as análises
I. Considera-se handoffs qualquer ponto em um processo onde interna e externa. Uma das formas de realizar essas análises é ela-
o trabalho ou a informação passa de uma função para outra. borando uma Matriz SWOT, que identifica:
II. No desenho físico dos processos de negócio, são detalhadas (A) as probabilidades de ocorrência de eventos positivos e ne-
quais atividades são executadas no fluxo do processo. gativos.
III. A terceirização de processos de negócio ocorre quando uma (B) a missão, visão e valores da instituição.
terceira parte externa à organização toma controle sobre parte de (C) as oportunidades e ameaças externas, e as forças e fraque-
um processo de negócio, ou todo ele, ou mesmo vários processos. zas da instituição.
Analise as afirmativas acima e assinale a alternativa CORRETA: (D) as competências disponíveis na instituição e aquelas que
(A) Apenas a afirmativa I está correta. devem ser desenvolvidas.
(B) Apenas as afirmativas I e II estão corretas. (E) os objetivos e metas a serem perseguidos e os correspon-
(C) Apenas as afirmativas I e III estão corretas. dentes indicadores de resultado.
(D) As afirmativas I, II e III estão corretas.
23. (FCC/TRE-RS) - No processo de elaboração do planejamen-
19. A gestão por processos é um recurso gerencial que permite to estratégico o desenvolvimento de uma estratégia competitiva é,
alcançar patamares desejados de desempenho e maturidade orga- em essência:
nizacional. Analise as afirmativas a seguir e assinale V para a(s) afir- I. o desenvolvimento de uma fórmula ampla para o modo como
mativa(s) verdadeira(s) e F para a(s) falsa(s). a empresa irá competir, quais serão suas metas e quais as políticas
( ) Os processos podem ser classificados em gerenciais, opera- necessárias para levar a cabo estas metas.
cionais e de apoio. II. uma combinação da estrutura de apoio da empresa com os
( ) Os fluxos de atividades são decorrentes dos macroprocessos meios pelos quais ela busca alcançar seus objetivos.
e possuem níveis de detalhamento menor. III. o envolvimento de quatro fatores básicos que determinam
( ) Cadeia de valor é um conjunto de atividades econômicas os limites daquilo que uma empresa pode realizar com sucesso: 1)
inter-relacionadas que criam valor para o cliente. os pontos fortes e os pontos fracos; 2) os valores pessoais dos exe-
A sequência correta é: cutivos implementadores; 3) oportunidades e ameaças; 4) expecta-
(A) V, F, V; tivas mais amplas da Sociedade.
(B) V, V, V; IV. a busca pela vantagem competitiva sustentável, por meio da
(C) V, V, F; implementação de estratégias que gerem valor e, ao mesmo tempo,
(D) V, F, F; dificultem a reprodução das mesmas por empresas concorrentes.
(E) F, F, F. V. um conjunto de informações operacionais pertinentes, ob-
tidas a partir da realização de análises dos ambientes interno e ex-
20. Acerca de gerenciamento de projetos, assinale a opção cor- terno.
reta. É correto o que consta SOMENTE em
(A) As operações são realizadas em caráter contínuo, repetitivo (A) I, III e IV.
e têm foco na integração, ao passo que projetos são não repe- (B) II e III
titivos e têm foco na disciplina. (C) III, IV e V.
(B) Os projetos visam definir um futuro para a organização, ao (D) IV e V.
passo que o planejamento e a gestão estratégica têm o papel (E) I, II e IV
de transformar ideias em ações concretas.
(C) O programa compreende um grupo de projetos que exigem
gerência simultânea, quando eles se apresentam independen- GABARITO
tes.
(D) O subprojeto é um pequeno projeto inter-relacionado ao
1 A
projeto principal.
(E) O portfólio designa uma carteira de projetos que pode com- 2 D
preender um grupo ou todos os projetos interdependentes da 3 E
organização.
4 B
5 D
6 ERRADO

201
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
______________________________________________________
7 CERTO
8 E ______________________________________________________
9 ERRADO ______________________________________________________
10 B
______________________________________________________
11 E
12 C ______________________________________________________
13 C ______________________________________________________
14 C
______________________________________________________
15 A
______________________________________________________
16 ERRADA
17 D ______________________________________________________
18 A ______________________________________________________
19 A
______________________________________________________
20 D
21 C ______________________________________________________

22 C ______________________________________________________
23 A
______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

ANOTAÇÕES ______________________________________________________

______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
_____________________________________________________
______________________________________________________
_____________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________

202
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Os Direitos Fundamentais de Terceira Geração possuem as se-


DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS: DIREITOS E guintes características:
DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS, DIREITOS SOCIAIS a) surgiram no século XX;
E DIREITOS POLÍTICOS b) estão ligados ao ideal de fraternidade (ou solidariedade),
que deve nortear o convívio dos diferentes povos, em defesa dos
Distinção entre Direitos e Garantias Fundamentais bens da coletividade;
Pode-se dizer que os direitos fundamentais são os bens jurídicos c) são direitos positivos, a exigir do Estado e dos diferentes
em si mesmos considerados, de cunho declaratório, narrados no tex- povos uma firme atuação no tocante à preservação dos bens de
to constitucional. Por sua vez, as garantias fundamentais são estabe- interesse coletivo;
lecidas na mesma Constituição Federal como instrumento de prote- d) correspondem ao direito de preservação do meio ambiente,
ção dos direitos fundamentais e, como tais, de cunho assecuratório. de autodeterminação dos povos, da paz, do progresso da humani-
dade, do patrimônio histórico e cultural, etc.
Evolução dos Direitos e Garantias Fundamentais
• Direitos Fundamentais de Quarta Geração
• Direitos Fundamentais de Primeira Geração Segundo Paulo Bonavides, a globalização política é o fator his-
Possuem as seguintes características: tórico que deu origem aos direitos fundamentais de quarta gera-
a) surgiram no final do século XVIII, no contexto da Revolução ção. Eles estão ligados à democracia, à informação e ao pluralismo.
Francesa, fase inaugural do constitucionalismo moderno, e domina- Também são transindividuais.
ram todo o século XIX;
b) ganharam relevo no contexto do Estado Liberal, em oposição Direitos Fundamentais de Quinta Geração
ao Estado Absoluto; Paulo Bonavides defende, ainda, que o direito à paz represen-
c) estão ligados ao ideal de liberdade; taria o direito fundamental de quinta geração.
d) são direitos negativos, que exigem uma abstenção do Estado
em favor das liberdades públicas; Características dos Direitos e Garantias Fundamentais
e) possuíam como destinatários os súditos como forma de pro- São características dos Direitos e Garantias Fundamentais:
teção em face da ação opressora do Estado; a) Historicidade: não nasceram de uma só vez, revelando sua
f) são os direitos civis e políticos. índole evolutiva;
b) Universalidade: destinam-se a todos os indivíduos, indepen-
• Direitos Fundamentais de Segunda Geração dentemente de características pessoais;
Possuem as seguintes características: c) Relatividade: não são absolutos, mas sim relativos;
a) surgiram no início do século XX; d) Irrenunciabilidade: não podem ser objeto de renúncia;
b) apareceram no contexto do Estado Social, em oposição ao e) Inalienabilidade: são indisponíveis e inalienáveis por não
Estado Liberal; possuírem conteúdo econômico-patrimonial;
c) estão ligados ao ideal de igualdade; f) Imprescritibilidade: são sempre exercíveis, não desparecen-
d) são direitos positivos, que passaram a exigir uma atuação do pelo decurso do tempo.
positiva do Estado;
e) correspondem aos direitos sociais, culturais e econômicos. Destinatários dos Direitos e Garantias Fundamentais
Todas as pessoas físicas, sem exceção, jurídicas e estatais, são
• Direitos Fundamentais de Terceira Geração destinatárias dos direitos e garantias fundamentais, desde que
Em um próximo momento histórico, foi despertada a preocu- compatíveis com a sua natureza.
pação com os bens jurídicos da coletividade, com os denominados
interesses metaindividuais (difusos, coletivos e individuais homogê- Eficácia Horizontal dos Direitos e Garantias Fundamentais
neos), nascendo os direitos fundamentais de terceira geração. Muito embora criados para regular as relações verticais, de su-
bordinação, entre o Estado e seus súditos, passam a ser emprega-
Direitos Metaindividuais dos nas relações provadas, horizontais, de coordenação, envolven-
do pessoas físicas e jurídicas de Direito Privado.
Natureza Destinatários
Difusos Indivisível Indeterminados Natureza Relativa dos Direitos e Garantias Fundamentais
Encontram limites nos demais direitos constitucionalmente
Determináveis ligados por consagrados, bem como são limitados pela intervenção legislativa
Coletivos Indivisível
uma relação jurídica ordinária, nos casos expressamente autorizados pela própria Cons-
Individuais Determinados ligados por tituição (princípio da reserva legal).
Divisível
Homogêneos uma situação fática

203
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Colisão entre os Direitos e Garantias Fundamentais Direito à Privacidade
O princípio da proporcionalidade sob o seu triplo aspecto (ade- Para o estudo do Direito Constitucional, a privacidade é gênero,
quação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito) é a do qual são espécies a intimidade, a honra, a vida privada e a ima-
ferramenta apta a resolver choques entre os princípios esculpidos gem. De maneira que, os mesmos são invioláveis e a eles assegura-
na Carta Política, sopesando a incidência de cada um no caso con- -se o direito à indenização pelo dano moral ou material decorrente
creto, preservando ao máximo os direitos e garantias fundamentais de sua violação.
constitucionalmente consagrados.
Direito à Honra
Os quatro status de Jellinek O direito à honra almeja tutelar o conjunto de atributos perti-
a) status passivo ou subjectionis: quando o indivíduo se encon- nentes à reputação do cidadão sujeito de direitos, exatamente por
tra em posição de subordinação aos poderes públicos, caracterizan- tal motivo, são previstos no Código Penal.
do-se como detentor de deveres para com o Estado;
b) status negativo: caracterizado por um espaço de liberdade Direito de Propriedade
de atuação dos indivíduos sem ingerências dos poderes públicos; É assegurado o direito de propriedade, contudo, com
c) status positivo ou status civitatis: posição que coloca o indi- restrições, como por exemplo, de que se atenda à função social da
víduo em situação de exigir do Estado que atue positivamente em propriedade. Também se enquadram como espécies de restrição do
seu favor; direito de propriedade, a requisição, a desapropriação, o confisco
d) status ativo: situação em que o indivíduo pode influir na for- e o usucapião.
mação da vontade estatal, correspondendo ao exercício dos direi- Do mesmo modo, é no direito de propriedade que se assegu-
tos políticos, manifestados principalmente por meio do voto. ram a inviolabilidade do domicílio, os direitos autorais (propriedade
intelectual) e os direitos reativos à herança.
Referências Bibliográficas: Destes direitos, emanam todos os incisos do Art. 5º, da CF/88,
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Con- conforme veremos abaixo:
cursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.
TÍTULO II
DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
Os direitos individuais estão elencados no caput do Artigo 5º
da CF. São eles:
CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
Direito à Vida
O direito à vida deve ser observado por dois prismas: o direito
de permanecer vivo e o direito de uma vida digna. Artigo 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
O direito de permanecer vivo pode ser observado, por exemplo, qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
na vedação à pena de morte (salvo em caso de guerra declarada). residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
Já o direito à uma vida digna, garante as necessidades vitais igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
básicas, proibindo qualquer tratamento desumano como a tortura, I- homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos
penas de caráter perpétuo, trabalhos forçados, cruéis, etc. termos desta Constituição;
II- ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
Direito à Liberdade coisa senão em virtude de lei;
O direito à liberdade consiste na afirmação de que ninguém III- ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desu-
será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em vir- mano ou degradante;
tude de lei. Tal dispositivo representa a consagração da autonomia IV- é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o ano-
privada. nimato;
Trata-se a liberdade, de direito amplo, já que compreende, V- é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,
dentre outros, as liberdades: de opinião, de pensamento, de loco- além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
moção, de consciência, de crença, de reunião, de associação e de VI- é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
expressão. assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na for-
ma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
Direito à Igualdade VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência
A igualdade, princípio fundamental proclamado pela Constitui- religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;
ção Federal e base do princípio republicano e da democracia, deve VIII- ninguém será privado de direitos por motivo de crença reli-
ser encarada sob duas óticas, a igualdade material e a igualdade giosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para
formal. eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir
A igualdade formal é a identidade de direitos e deveres conce-
prestação alternativa, fixada em lei;
didos aos membros da coletividade por meio da norma.
IX - é livre a expressão de atividade intelectual, artística, cientí-
Por sua vez, a igualdade material tem por finalidade a busca
fica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
da equiparação dos cidadãos sob todos os aspectos, inclusive o
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a ima-
jurídico. É a consagração da máxima de Aristóteles, para quem o
princípio da igualdade consistia em tratar igualmente os iguais e gem das pessoas, assegurado o direito à indenização por dano ma-
desigualmente os desiguais na medida em que eles se desigualam. terial ou moral decorrente de sua violação;
Sob o pálio da igualdade material, caberia ao Estado promover XI- a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo
a igualdade de oportunidades por meio de políticas públicas e leis penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagran-
que, atentos às características dos grupos menos favorecidos, com- te delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
pensassem as desigualdades decorrentes do processo histórico da determinação judicial;
formação social.

204
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
XII- é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações XXXII- o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do con-
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no úl- sumidor;
timo caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei XXXIII- todos têm direito a receber dos órgãos públicos informa-
estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução proces- ções de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral,
sual penal; que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade,
XIII- é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da
atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer; sociedade e do Estado;
XIV- é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado XXXIV- são a todos assegurados, independentemente do paga-
o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional; mento de taxas:
XV- é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direi-
podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permane- tos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
cer ou dele sair com seus bens; b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa
XVI- todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em lo- de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal;
cais abertos ao público, independentemente de autorização, desde XXXV- a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
ou ameaça a direito;
que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o
XXXVI- a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico
mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade com-
perfeito e a coisa julgada;
petente;
XXXVII- não haverá juízo ou tribunal de exceção;
XVII- é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada
XXXVIII- é reconhecida a instituição do júri, com a organização
a de caráter paramilitar; que lhe der a lei, assegurados:
XVIII- a criação de associações e, na forma da lei, a de coope- a) a plenitude da defesa;
rativas independem de autorização, sendo vedada a interferência b) o sigilo das votações;
estatal em seu funcionamento; c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra
XIX- as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvi- a vida;
das ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo- XXXIX- não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena
-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado; sem prévia cominação legal;
XX- ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a perma- XL- a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
necer associado; XLI- a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos
XXI- as entidades associativas, quando expressamente autori- e liberdades fundamentais;
zadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou XLII- a prática do racismo constitui crime inafiançável e impres-
extrajudicialmente; critível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
XXII- é garantido o direito de propriedade; XLIII- a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de
XXIII- a propriedade atenderá a sua função social; graça ou anistia a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecen-
XXIV- a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação tes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hedion-
por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, me- dos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que,
diante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos podendo evitá-los, se omitirem;
previstos nesta Constituição; XLIV- constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de gru-
XXV- no caso de iminente perigo público, a autoridade compe- pos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o
tente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao pro- Estado Democrático;
prietário indenização ulterior, se houver dano; XLV- nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo
XXVI- a pequena propriedade rural, assim definida em lei, des- a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de
de que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dis- executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;
pondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento; XLVI- a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, outras, as seguintes:
publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdei- a) privação ou restrição de liberdade;
ros pelo tempo que a lei fixar; b) perda de bens;
XXVIII- são assegurados, nos termos da lei: c) multa;
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e d) prestação social alternativa;
à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades e) suspensão ou interdição de direitos;
desportivas; XLVII- não haverá penas:
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do
obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intér- artigo 84, XIX;
pretes e às respectivas representações sindicais e associativas; b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
XXIX- a lei assegurará aos autores de inventos industriais privi-
d) de banimento;
légio temporário para sua utilização, bem como às criações indus-
e) cruéis;
triais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros
XLVIII- a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de
signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvi-
acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;
mento tecnológico e econômico do País;
XLIX- é assegurado aos presos o respeito à integridade física e
XXX- é garantido o direito de herança;
moral;
XXXI- a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será
L- às presidiárias serão asseguradas condições para que pos-
regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos
sam permanecer com seus filhos durante o período de amamenta-
brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável à lei pessoal
ção;
do de cujus;

205
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
LI- nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, LXXIII- qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e dro- entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa,
gas afins, na forma da lei; ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o
LII- não será concedida extradição de estrangeiro por crime po- autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus
lítico ou de opinião; da sucumbência;
LIII- ninguém será processado nem sentenciado senão por au- LXXIV- o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita
toridade competente; aos que comprovarem insuficiência de recursos;
LIV- ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o LXXV- o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, as-
devido processo legal; sim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença;
LV- aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos LXXVI- são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na for-
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, ma da lei:
com os meios e recursos a ela inerentes; a) o registro civil de nascimento;
LVI- são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios b) a certidão de óbito.
ilícitos; LXXVII- são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data
LVII- ninguém será considerado culpado até o trânsito em julga- e, na forma da lei, os atos necessário ao exercício da cidadania;
do da sentença penal condenatória; LXXVIII- a todos, no âmbito judicial e administrativo, são asse-
LVIII- o civilmente identificado não será submetido à identifica- gurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a
ção criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei; celeridade de sua tramitação.
LIX- será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se LXXIX - é assegurado, nos termos da lei, o direito à proteção dos
esta não for intentada no prazo legal; dados pessoais, inclusive nos meios digitais. (Incluído pela Emenda
LX- a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais Constitucional nº 115, de 2022)
quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem; §1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais
LXI- ninguém será preso senão em flagrante delito ou por or- têm aplicação imediata.
dem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, §2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não
salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente mi- excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
litar, definidos em lei; adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
LXII- a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre Federativa do Brasil seja parte.
serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família §3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos
ou à pessoa por ele indicada; humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso
LXIII- o preso será informado de seus direitos, entre os quais o Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da famí- §4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal
lia e de advogado; Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão.
LXIV- o preso tem direito a identificação dos responsáveis por
sua prisão ou por seu interrogatório policial; O tratado foi equiparado no ordenamento jurídico brasileiro às
LXV- a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autori- leis ordinárias. Em que pese tenha adquirido este caráter, o men-
dade judiciária; cionado tratado diz respeito a direitos humanos, porém não possui
LXVI- ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a característica de emenda constitucional, pois entrou em vigor em
lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança; nosso ordenamento jurídico antes da edição da Emenda Constitu-
LXVII- não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável cional nº 45/04. Para que tal tratado seja equiparado às emendas
pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimen- constitucionais deverá passar pelo mesmo rito de aprovação destas.
tícia e a do depositário infiel;
LXVIII- conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer Referências Bibliográficas:
ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberda- DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Con-
de de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; cursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.
LXIX- conceder-se-á mandado de segurança para proteger di-
reito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas
data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for Os direitos sociais são prestações positivas proporcionadas
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atri- pelo Estado direta ou indiretamente, enunciadas em normas cons-
buições de Poder Público; titucionais, que possibilitam melhores condições de vida aos mais
LXX- o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações so-
a) partido político com representação no Congresso Nacional; ciais desiguais. São, portanto, direitos que se ligam ao direito de
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legal- igualdade. Estão previstos na CF nos artigos 6 a 11. Vejamos:
mente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em
defesa dos interesses de seus membros ou associados; CAPÍTULO II
LXXI- conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta DOS DIREITOS SOCIAIS
de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e
liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à naciona- Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação,
lidade, à soberania e à cidadania; o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previ-
LXXII- conceder-se-á habeas data: dência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada
pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015)
de entidades governamentais ou de caráter público; Parágrafo único. Todo brasileiro em situação de vulnerabilida-
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo de social terá direito a uma renda básica familiar, garantida pelo
por processo sigiloso, judicial ou administrativo; poder público em programa permanente de transferência de renda,

206
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
cujas normas e requisitos de acesso serão determinados em lei, ob- XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de
servada a legislação fiscal e orçamentária. (Incluído pela Emenda trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalha-
Constitucional nº 114, de 2021) dores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de contrato de trabalho;
outros que visem à melhoria de sua condição social: a) (Revogada).
I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária b) (Revogada).
ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções
indenização compensatória, dentre outros direitos; e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado
II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário; civil;
III - fundo de garantia do tempo de serviço; XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário
IV - salário mínimo , fixado em lei, nacionalmente unificado, e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência;
capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua fa- XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e
mília com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, intelectual ou entre os profissionais respectivos;
higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a
que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis
para qualquer fim; anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos;
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo
trabalho; empregatício permanente e o trabalhador avulso.
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhado-
ou acordo coletivo; res domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII,
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e,
percebem remuneração variável; atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a simplifi-
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral cação do cumprimento das obrigações tributárias, principais e aces-
ou no valor da aposentadoria; sórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os
IX – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua
integração à previdência social.
retenção dolosa;
Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado
XI – participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da re-
o seguinte:
muneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empre-
I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a funda-
sa, conforme definido em lei;
ção de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, veda-
XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalha-
das ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização
dor de baixa renda nos termos da lei;
sindical;
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas
II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical,
diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de
em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou eco-
horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção
nômica, na mesma base territorial, que será definida pelos traba-
coletiva de trabalho;
lhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à
XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos
área de um Município;
ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva;
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coleti-
XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos do-
vos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou
mingos;
administrativas;
XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no míni-
IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratan-
mo, em cinquenta por cento à do normal;
do de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio
do sistema confederativo da representação sindical respectiva, in-
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um
dependentemente da contribuição prevista em lei;
terço a mais do que o salário normal;
V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário,
sindicato;
com a duração de cento e vinte dias;
VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
coletivas de trabalho;
XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante in-
VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas
centivos específicos, nos termos da lei;
organizações sindicais;
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no
VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a par-
mínimo de trinta dias, nos termos da lei;
tir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de nor-
sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do
mas de saúde, higiene e segurança;
mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei.
XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas,
Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à orga-
insalubres ou perigosas, na forma da lei;
nização de sindicatos rurais e de colônias de pescadores, atendidas
XXIV - aposentadoria;
as condições que a lei estabelecer.
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nas-
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos traba-
cimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas;
lhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os inte-
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de
resses que devam por meio dele defender.
trabalho;
§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá
XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei;
sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empre-
§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas
gador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando
da lei.
incorrer em dolo ou culpa;

207
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e em- a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira,
pregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus inte- exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas resi-
resses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e dência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
deliberação. b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na Repú-
Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é as- blica Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem
segurada a eleição de um representante destes com a finalidade condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.
exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empre- § 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se
gadores. houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos
inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.
Os direitos sociais regem-se pelos princípios abaixo: § 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros
• Princípio da proibição do retrocesso: qualifica-se pela impos- natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição.
sibilidade de redução do grau de concretização dos direitos sociais § 3º São privativos de brasileiro nato os cargos:
já implementados pelo Estado. Ou seja, uma vez alcançado deter- I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
minado grau de concretização de um direito social, fica o legislador II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
proibido de suprimir ou reduzir essa concretização sem que haja III - de Presidente do Senado Federal;
a criação de mecanismos equivalentes chamados de medias com- IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
pensatórias. V - da carreira diplomática;
• Princípio da reserva do possível: a implementação dos di- VI - de oficial das Forças Armadas.
reitos e garantias fundamentais de segunda geração esbarram no VII - de Ministro de Estado da Defesa.
óbice do financeiramente possível. § 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
• Princípio do mínimo existencial: é um conjunto de bens e I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em
direitos vitais básicos indispensáveis a uma vida humana digna, virtude de atividade nociva ao interesse nacional;
intrinsecamente ligado ao fundamento da dignidade da pessoa II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
humana previsto no Artigo 1º, III, CF. A efetivação do mínimo a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei es-
existencial não se sujeita à reserva do possível, pois tais direitos se trangeira;
encontram na estrutura dos serviços púbicos essenciais. b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao
brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para
Os direitos sociais são divididos em: permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis.
Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República Fe-
Direitos relativos aos trabalhadores derativa do Brasil.
Direitos relativos ao salário, às condições de trabalho, à liber- § 1º São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira,
dade de instituição sindical, o direito de greve, entre outros (CF, ar- o hino, as armas e o selo nacionais.
tigos 7º a 11). § 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão ter
símbolos próprios.
Direitos relativos ao homem consumidor
Direito à saúde, à educação, à segurança social, ao desenvolvi- A Nacionalidade é o vínculo jurídico-político de Direito Público
mento intelectual, o igual acesso das crianças e adultos à instrução, interno, que faz da pessoa um dos elementos componentes da di-
à cultura e garantia ao desenvolvimento da família, que estariam no mensão pessoal do Estado (o seu povo).
título da ordem social.
Considera-se povo o conjunto de nacionais, ou seja, os brasilei-
Referências Bibliográficas: ros natos e naturalizados.
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Con-
cursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. Espécies de Nacionalidade
São duas as espécies de nacionalidade:
a) Nacionalidade primária, originária, de 1º grau, involuntá-
Os direitos referentes à nacionalidade estão previstos dos Arti- ria ou nata: é aquela resultante de um fato natural, o nascimento.
gos 12 a 13 da CF. Vejamos: Trata-se de aquisição involuntária de nacionalidade, decorrente do
simples nascimento ligado a um critério estabelecido pelo Estado
CAPÍTULO III na sua Constituição Federal. Descrita no Artigo 12, I, CF/88.
DA NACIONALIDADE b) Nacionalidade secundária, adquirida, por aquisição, de 2º
grau, voluntária ou naturalização: é a que se adquire por ato voliti-
Art. 12. São brasileiros: vo, depois do nascimento, somado ao cumprimento dos requisitos
I - natos: constitucionais. Descrita no Artigo 12, II, CF/88.
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de
pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; O quadro abaixo auxilia na memorização das diferenças entre
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasilei- as duas:
ra, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federa-
tiva do Brasil; Nacionalidade
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe bra-
sileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira com- Primária Secundária
petente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e Nascimento + Requisitos Ato de vontade + Requisitos
optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela constitucionais constitucionais
nacionalidade brasileira;
II - naturalizados: Brasileiro Nato Brasileiros Naturalizado

208
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
• Critérios para Adoção de Nacionalidade Primária CAPÍTULO IV
O Estado pode adotar dois critérios para a concessão da nacio- DOS DIREITOS POLÍTICOS
nalidade originária: o de origem sanguínea (ius sanguinis) e o de
origem territorial (ius solis). Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio univer-
O critério ius sanguinis tem por base questões de hereditarie- sal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos
dade, um vínculo sanguíneo com os ascendentes. termos da lei, mediante:
O critério ius solis concede a nacionalidade originária aos nas- I - plebiscito;
cidos no território de um determinado Estado, sendo irrelevante a II - referendo;
nacionalidade dos genitores. III - iniciativa popular.
A CF/88 adotou o critério ius solis como regra geral, possibili- § 1º O alistamento eleitoral e o voto são:
tando em alguns casos, a atribuição de nacionalidade primária pau- I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
tada no ius sanguinis. II - facultativos para:
a) os analfabetos;
Portugueses Residentes no Brasil b) os maiores de setenta anos;
O §1º do Artigo 12 da CF confere tratamento diferenciado aos c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
portugueses residentes no Brasil. Não se trata de hipótese de natu- § 2º Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e,
ralização, mas tão somente forma de atribuição de direitos. durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.
§ 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei:
Portugueses Equiparados I - a nacionalidade brasileira;
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
Igual os Direitos Se houver 1) Residência III - o alistamento eleitoral;
dos Brasileiros permanente no IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
Naturalizados Brasil; V - a filiação partidária;
2) Reciprocidade VI - a idade mínima de:
aos brasileiros em a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da Re-
Portugal. pública e Senador;
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e
Distinção entre Brasileiros Natos e Naturalizados do Distrito Federal;
A CF/88 em seu Artigo 12, §2º, prevê que a lei não poderá fa- c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual
zer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, com exceção às ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;
seguintes hipóteses: d) dezoito anos para Vereador.
Cargos privativos de brasileiros natos → Artigo 12, §3º, CF; § 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.
Função no Conselho da República → Artigo 89, VII, CF; § 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado
Extradição → Artigo 5º, LI, CF; e e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou
Direito de propriedade → Artigo 222, CF. substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um
único período subsequente.
Perda da Nacionalidade § 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da
O Artigo 12, §4º da CF refere-se à perda da nacionalidade, que República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os
apenas poderá ocorrer nas duas hipóteses taxativamente elencadas Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses
na CF, sob pena de manifesta inconstitucionalidade. antes do pleito.
§ 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o
Dupla Nacionalidade cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau
O Artigo 12, §4º, II da CF traz duas hipóteses em que a opção ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de
por outra nacionalidade não ocasiona a perda da brasileira, passan- Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os
do o nacional a possuir dupla nacionalidade (polipátrida). haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se
já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.
Polipátrida → aquele que possui mais de uma nacionalidade. § 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes
condições:
Heimatlos ou Apátrida → aquele que não possui nenhuma na- I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se
cionalidade. da atividade;
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela
Idioma Oficial e Símbolos Nacionais autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato
Por fim, o Artigo 13 da CF elenca o Idioma Oficial e os Símbolos da diplomação, para a inatividade.
Nacionais do Brasil. § 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de
inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a
Referências Bibliográficas: probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Con- considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e
cursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico
ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na adminis-
tração direta ou indireta.
Os Direitos Políticos têm previsão legal na CF/88, em seus Arti- § 10. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça
gos 14 a 16. Seguem abaixo: Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída
a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou
fraude.

209
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 11. A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo Capacidade Eleitoral Ativa Capacidade Eleitoral Passiva
de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de
manifesta má-fé. Alistabilidade Elegibilidade
§ 12. Serão realizadas concomitantemente às eleições Direito de votar Direito de ser votado
municipais as consultas populares sobre questões locais aprovadas
pelas Câmaras Municipais e encaminhadas à Justiça Eleitoral até Inelegibilidades
90 (noventa) dias antes da data das eleições, observados os limites A inelegibilidade afasta a capacidade eleitoral passiva (direito
operacionais relativos ao número de quesitos. (Incluído pela Emen- de ser votado), constituindo-se impedimento à candidatura a man-
da Constitucional nº 111, de 2021) datos eletivos nos Poderes Executivo e Legislativo.
§ 13. As manifestações favoráveis e contrárias às questões
submetidas às consultas populares nos termos do § 12 ocorrerão • Inelegibilidade Absoluta
durante as campanhas eleitorais, sem a utilização de propaganda Com previsão legal no Artigo 14, §4º da CF, a inelegibilidade ab-
gratuita no rádio e na televisão. (Incluído pela Emenda Constitucio- soluta impede que o cidadão concorra a qualquer mandato eletivo
nal nº 111, de 2021) e, em virtude de natureza excepcional, somente pode ser estabele-
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou cida na Constituição Federal.
suspensão só se dará nos casos de: Refere-se aos Inalistáveis e aos Analfabetos.
I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em
julgado; • Inelegibilidade Relativa
II - incapacidade civil absoluta; Consiste em restrições que recaem à candidatura a determi-
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto du- nados cargos eletivos, em virtude de situações próprias em que se
rarem seus efeitos; encontra o cidadão no momento do pleito eleitoral. São elas:
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação → Vedação ao terceiro mandato sucessivo para os Chefes do
alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; Poder Executivo (Artigo 14, §5º, CF);
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º. → Desincompatibilização para concorrer a outros cargos, apli-
Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor cada apenas aos Chefes do Poder Executivo (Artigo 14, §6º, CF);
na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra → Inelegibilidade reflexa, ou seja, inelegibilidade relativa por
até um ano da data de sua vigência. motivos de casamento, parentesco ou afinidade, uma vez que não
incide sobre o mandatário, mas sim perante terceiros (Artigo 14,
De acordo com José Afonso da Silva, os direitos políticos, rela- §7º, CF).
cionados à primeira geração dos direitos e garantias fundamentais,
consistem no conjunto de normas que asseguram o direito subjetivo Condição de Militar
de participação no processo político e nos órgãos governamentais. O militar alistável é elegível, desde que atenda as exigências
São instrumentos previstos na Constituição e em normas infra- previstas no §8º do Artigo 14, da CF, a saber:
constitucionais que permitem o exercício concreto da participação I – se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se
do povo nos negócios políticos do Estado. da atividade;
II – se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela
Capacidade Eleitoral Ativa autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato
Segundo o Artigo 14, §1º da CF, a capacidade eleitoral ativa é da diplomação, para a inatividade.
o direito de votar nas eleições, nos plebiscitos ou nos referendos,
cuja aquisição se dá com o alistamento eleitoral, que atribui ao na- Observa-se que a norma restringe a elegibilidade aos militares
cional a condição de cidadão (aptidão para o exercício de direitos alistáveis, logo, os conscritos, que são inalistáveis, são inelegíveis. O
políticos). quadro abaixo serve como exemplo:

Alistamento Eleitoral e Voto Militares – Exceto os Conscritos


Obrigatório Facultativo Inalistável – Artigo 14, §2º Menos de 10 anos Registro da candidatura →
Maiores de 18 e Maiores de 16 Estrangeiros (com Inatividade
menores de 70 e menores de exceção aos portugueses Mais de 10 anos Registro da candidatura →
anos 18 anos equiparados, constantes no Agregado
Maiores de 70 Artigo 12, §1º da CF) Na diplomação → Inatividade
anos Conscritos (aqueles
Analfabetos convocados para o serviço Privação dos Direitos Políticos
militar obrigatório) De acordo com o Artigo 15 da CF, o cidadão pode ser privado
dos seus direitos políticos por prazo indeterminado (perda), sendo
• Características do Voto que, neste caso, o restabelecimento dos direitos políticos depende-
O voto no Brasil é direito (como regra), secreto, universal, com rá do exercício de ato de vontade do indivíduo, de um novo alista-
valor igual para todos, periódico, personalíssimo, obrigatório e livre. mento eleitoral.
Capacidade Eleitoral Passiva Da mesma forma, a privação dos direitos políticos pode se dar
Também chamada de Elegibilidade, a capacidade eleitoral pas- por prazo determinado (suspensão), em que o restabelecimento se
siva diz respeito ao direito de ser votado, ou seja, de eleger-se para dará automaticamente, ou seja, independentemente de manifesta-
cargos políticos. Tem previsão legal no Artigo 14, §3º da CF. ção do suspenso, desde que ultrapassado as razões da suspensão.
O quadro abaixo facilita a memorização da diferença entre as Vejamos:
duas espécies de capacidade eleitoral. Vejamos:

210
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Privação dos Direitos Políticos § 6º Os Deputados Federais, os Deputados Estaduais, os


Deputados Distritais e os Vereadores que se desligarem do partido
Perda Suspensão pelo qual tenham sido eleitos perderão o mandato, salvo nos casos
Privação por prazo Privação por prazo de anuência do partido ou de outras hipóteses de justa causa
indeterminado determinado estabelecidas em lei, não computada, em qualquer caso, a migração
de partido para fins de distribuição de recursos do fundo partidário
Restabelecimento dos direitos Restabelecimento dos ou de outros fundos públicos e de acesso gratuito ao rádio e à tele-
políticos depende de um novo direitos políticos se dá visão. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 111, de 2021)
alistamento eleitoral automaticamente § 7º Os partidos políticos devem aplicar no mínimo 5% (cinco
por cento) dos recursos do fundo partidário na criação e na
Referências Bibliográficas: manutenção de programas de promoção e difusão da participação
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Con- política das mulheres, de acordo com os interesses intrapartidários.
cursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 117, de 2022)
§ 8º O montante do Fundo Especial de Financiamento de
Campanha e da parcela do fundo partidário destinada a campanhas
A previsão legal dos Partidos Políticos de dá no Artigo 17 da CF. eleitorais, bem como o tempo de propaganda gratuita no rádio e na
Vejamos: televisão a ser distribuído pelos partidos às respectivas candidatas,
deverão ser de no mínimo 30% (trinta por cento), proporcional ao
CAPÍTULO V número de candidatas, e a distribuição deverá ser realizada confor-
DOS PARTIDOS POLÍTICOS me critérios definidos pelos respectivos órgãos de direção e pelas
normas estatutárias, considerados a autonomia e o interesse parti-
Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de dário. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 117, de 2022)
partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime de-
mocrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa De acordo com os ensinamentos de José Afonso da Silva, o par-
humana e observados os seguintes preceitos: tido político é uma forma de agremiação de um grupo social que
I - caráter nacional; se propõe a organizar, coordenar e instrumentar a vontade popular
II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entida- com o fim de assumir o poder para realizar seu programa de go-
de ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes; verno.
III - prestação de contas à Justiça Eleitoral; Os partidos são a base do sistema político brasileiro, pois a filia-
IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei. ção a partido político é uma das condições de elegibilidade.
§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir Trata-se de um privilégio aos ideais políticos, que devem estar
sua estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha, formação acima das características pessoais do candidato.
e duração de seus órgãos permanentes e provisórios e sobre sua Segundo Dirley da Cunha Júnior, entende-se por partido polí-
organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha tico uma pessoa jurídica de Direito Privado que consiste na união
e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias, vedada a ou agremiação voluntária de cidadãos com afinidades ideológicas e
sua celebração nas eleições proporcionais, sem obrigatoriedade de políticas, organizada segundo princípios de disciplina e fidelidade.
vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, Tal conceito vai ao encontro das disposições acerca dos parti-
distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas dos políticos trazidas pelo Artigo 1º da Lei nº 9296/1995, para quem
de disciplina e fidelidade partidária. (Redação dada pela Emenda o partido político, pessoa jurídica de Direito Privado, destina-se a
Constitucional nº 97, de 2017) assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do
§ 2º Os partidos políticos, após adquirirem personalidade sistema representativo e a defender os direitos fundamentais defi-
jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal nidos na Constituição Federal.
Superior Eleitoral. A Constituição confere ampla liberdade aos partidos políticos,
§ 3º Somente terão direito a recursos do fundo partidário e uma vez que são instituições indispensáveis para concretização do
acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os partidos Estado democrático de direito, muito embora restrinja a utilização
políticos que alternativamente: (Redação dada pela Emenda de organização paramilitar.
Constitucional nº 97, de 2017)
I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no Referências Bibliográficas:
mínimo, 3% (três por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo BORTOLETO, Leandro; e LÉPORE, Paulo. Noções de Direito Constitu-
menos um terço das unidades da Federação, com um mínimo de 2% cional e de Direito Administrativo. Coleção Tribunais e MPU. Salvador:
(dois por cento) dos votos válidos em cada uma delas; ou (Incluído Editora JusPODIVM.
pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Con-
II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais dis- cursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.
tribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação. (In-
cluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017)
§ 4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de
organização paramilitar.
§ 5º Ao eleito por partido que não preencher os requisitos
previstos no § 3º deste artigo é assegurado o mandato e facultada
a filiação, sem perda do mandato, a outro partido que os tenha
atingido, não sendo essa filiação considerada para fins de
distribuição dos recursos do fundo partidário e de acesso gratuito ao
tempo de rádio e de televisão. (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 97, de 2017)

211
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

ORGANIZAÇÃO DO ESTADO: ORGANIZAÇÃO POLÍTICO- Federação Confederação


-ADMINISTRATIVA; UNIÃO; ESTADOS, DISTRITO FEDE- Formada por uma Constituição Formada por um trato
RAL, MUNICÍPIOS E TERRITÓRIOS internacional
Os entes regionais gozam de Os Estados que o integram
Formas de Estado - Estado Unitário, Confederação e Federa-
autonomia mantêm sua soberania
ção
A forma de Estado relaciona-se com o modo de exercício do po- Indissolubilidade do pacto Dissolubilidade do pacto
der político em função do território do Estado. Verifica-se no caso federativo internacional
concreto se há, ou não, repartição regional do exercício de poderes
autônomos, podendo ser criados, a partir dessa lógica, um modelo O Federalismo Brasileiro
de Estado unitário ou um Estado Federado. Observe a disposição legal do Artigo 18 da CF:

• Estado Unitário TÍTULO III


Também chamado de Estado Simples, é aquele dotado de um DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
único centro com capacidade legislativa, administrativa e judiciá-
ria, do qual emanam todos os comandos normativos e no qual se CAPÍTULO I
concentram todas as competências constitucionais (exemplos: Uru- DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA
guai, e Brasil Colônia, com a Constituição de 1824, até a Proclama-
ção da República, com a Constituição de 1891). Art. 18. A organização político-administrativa da República Fe-
O Estado Unitário pode ser classificado em: derativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Fede-
a) Estado unitário puro ou centralizado: casos em que haverá ral e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constitui-
somente um Poder Executivo, um Poder Legislativo e um Poder Ju- ção.
diciário, exercido de forma central; § 1º Brasília é a Capital Federal.
b) Estado unitário descentralizado: casos em que haverá a for- § 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua criação,
mação de entes regionais com autonomia para exercer questões transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem
administrativas ou judiciárias fruto de delegação, mas não se con- serão reguladas em lei complementar.
cede a autonomia legislativa que continua pertencendo exclusiva- § 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou
mente ao poder central. desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos
Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população
• Estado Federativo – Federação diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso
Também chamados de federados, complexos ou compostos, Nacional, por lei complementar.
são aqueles em que as capacidades judiciária, legislativa e admi- § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento
nistrativa são atribuídas constitucionalmente a entes regionais, que de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período
passam a gozar de autonomias próprias (e não soberanias). determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de
Nesse caso, as autonomias regionais não são fruto de delega- consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios
ção voluntária, como ocorre nos Estados unitários descentralizados, envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal,
mas se originam na própria Constituição, o que impede a retirada apresentados e publicados na forma da lei.
de competências por ato voluntário do poder central.
O quadro abaixo facilita este entendimento. Vejamos: Nos termos do supracitado Artigo 18, a organização político-
-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autô-
Formas de Estado
nomos (não soberanos). Trata-se de norma que reflete a forma fe-
Unitário derativa de Estado.
Único centro de onde emana o poder estatal Ser ente autônomo dentro de um federalismo significa a pos-
sibilidade de implementar uma gestão particularizada, mas sempre
Puro Descentralizado respeitando os limites impostos pelos princípios e regras do Estado
Não há delegação de Há delegação de competências federal. Daí, têm-se os seguintes elementos:
competências → Auto-organização: permite aos Estados-membros criarem
as Constituições Estaduais (Artigo 25 da CF) e aos Municípios firma-
Federado rem suas Leis Orgânicas (Artigo 29 da CF);
O exercício do poder estatal é atribuído constitucionalmente a → Auto legislação: os entes da federação podem estabelecer
entes regionais autônomos normas gerais e abstratas próprias, a exemplos das leis estaduais e
municipais (Artigos 22 e 24 da CF);
• Confederação → Auto governo: os Estados membros terão seus Governado-
Se caracteriza por uma reunião dissolúvel de Estados sobera- res e Deputados estaduais, enquanto os Municípios possuirão Pre-
nos, que se unem por meio de um tratado internacional. Aqui, per- feitos e Vereadores, nos termos dos Artigos 27 a 29 da CF;
cebe-se o traço marcante da Confederação, ou seja, a dissolubilida- → Auto administração: os membros da federação podem pres-
de do pacto internacional pelos Estados soberanos que o integram, tar e manter serviços próprios, atendendo às competências admi-
a partir de um juízo interno de conveniência. nistrativas da CF, notadamente de seu Artigo 23.
Observe a ilustração das diferenças entre uma Federação e
uma Confederação: • Vedação aos Entes Federados
Consoante ao Artigo 19 da CF, destaca-se que a autonomia dos
entes da federação não é limitada, e sofre as seguintes vedações:

212
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona
aos Municípios: econômica exclusiva;
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, em- VI - o mar territorial;
baraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus repre- VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;
sentantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma VIII - os potenciais de energia hidráulica;
da lei, a colaboração de interesse público; IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
II - recusar fé aos documentos públicos; X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos
III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si. e pré-históricos;
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
Repartição de Competências Constitucionais § 1º É assegurada, nos termos da lei, à União, aos Estados, ao
A Repartição de competências é a técnica de distribuição de Distrito Federal e aos Municípios a participação no resultado da
competências administrativas, legislativas e tributárias aos entes exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para
federativos para que não haja conflitos de atribuições dentro do fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais
território nacional. no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou
Competência é a capacidade para emitir decisões dentro de um zona econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa
campo específico. exploração. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 102, de
A Constituição trabalha com três naturezas de competência, a 2019)
administrativa, legislativa e a tributária. § 2º A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de largura, ao
→ Competência administrativa ou material: refere-se à execu- longo das fronteiras terrestres, designada como faixa de fronteira,
ção de alguma atividade estatal, ou seja, é a capacidade para atuar é considerada fundamental para defesa do território nacional, e sua
concretamente sobre a matéria; ocupação e utilização serão reguladas em lei.
→ Competência legislativa: atribui iniciativa para legislar sobre Art. 21. Compete à União:
determinada matéria, ou seja, é a capacidade para estabelecer nor- I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de
mas gerais e abstratas sobre determinado campo; organizações internacionais;
→ Competência tributária: refere-se ao poder de instituir tri- II - declarar a guerra e celebrar a paz;
butos. III - assegurar a defesa nacional;
IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que for-
• Técnica da Repartição de Competência ças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele perma-
Trata-se da predominância do interesse, segundo a qual, à neçam temporariamente;
União caberão as matérias de interesse nacional (Artigos 21 e 22 da
V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a interven-
CF), aos Estados-membros, o interesse regional, e aos municípios,
ção federal;
as questões de predominante interesse local (Artigo 30 da CF).
VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material
Para tanto, a Constituição enumerou expressamente as com-
bélico;
petências da União e dos municípios, resguardando aos Estados-
-membros a chamada competência residual, remanescente, não VII - emitir moeda;
enumerada ou não expressa (Artigo 25, §1º da CF). VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as
Acresça-se que, para o Distrito Federal, a Constituição atribuiu operações de natureza financeira, especialmente as de crédito,
as competências previstas para os estados e os municípios, denomi- câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de previdência
nada de competência cumulativa (Artigo 32, § 1º da CF). privada;
IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordena-
Organização do Estado – União ção do território e de desenvolvimento econômico e social;
A União é a pessoa jurídica de Direito Público interno, parte inte- X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;
grante da Federação brasileira dotada de autonomia. Possui capaci- XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão
dade de auto-organização (Constituição Federal), autogoverno, auto ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei,
legislação (Artigo 22 da CF) e autoadministração (Artigo 20 da CF). que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um ór-
A União tem previsão legal na CF, dos Artigos 20 a 24. Vejamos: gão regulador e outros aspectos institucionais;
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão
CAPÍTULO II ou permissão:
DA UNIÃO a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveita-
Art. 20. São bens da União: mento energético dos cursos de água, em articulação com os Esta-
I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser dos onde se situam os potenciais hidro energéticos;
atribuídos; c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aeropor-
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, tuária;
das fortificações e construções militares, das vias federais de comu- d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre por-
nicação e à preservação ambiental, definidas em lei; tos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de de Estado ou Território;
seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e interna-
com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele
cional de passageiros;
provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros
XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Públi-
países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluí-
das, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas co do Distrito Federal e dos Territórios e a Defensoria Pública dos
áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e Territórios;
as referidas no art. 26, II;

213
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia penal, a polícia XIV - populações indígenas;
militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de
prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de estrangeiros;
serviços públicos, por meio de fundo próprio; (Redação dada pela XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições
Emenda Constitucional nº 104, de 2019) para o exercício de profissões;
XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geo- XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distrito
grafia, geologia e cartografia de âmbito nacional; Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios,
XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões bem como organização administrativa destes;
públicas e de programas de rádio e televisão; XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia
XVII - conceder anistia; nacionais;
XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as cala- XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança
midades públicas, especialmente as secas e as inundações; popular;
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos XX - sistemas de consórcios e sorteios;
hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso; XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico,
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusi- garantias, convocação, mobilização, inatividades e pensões das po-
ve habitação, saneamento básico e transportes urbanos; lícias militares e dos corpos de bombeiros militares; (Redação dada
XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
de viação; XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviária e
XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e ferroviária federais;
de fronteiras; XXIII - seguridade social;
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer XXIV - diretrizes e bases da educação nacional;
natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o XXV - registros públicos;
enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;
de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes prin- XXVII – normas gerais de licitação e contratação, em todas as
cípios e condições: modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas
Nacional; e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III;
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercializa- XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa maríti-
ção e a utilização de radioisótopos para pesquisa e uso agrícolas e ma, defesa civil e mobilização nacional;
industriais; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 118, de XXIX - propaganda comercial.
2022) XXX - proteção e tratamento de dados pessoais. (Incluído pela
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, a co- Emenda Constitucional nº 115, de 2022)
mercialização e a utilização de radioisótopos para pesquisa e uso Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Esta-
médicos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 118, de dos a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas
2022) neste artigo.
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distri-
existência de culpa; to Federal e dos Municípios:
XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho; I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições
XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da democráticas e conservar o patrimônio público;
atividade de garimpagem, em forma associativa. II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garan-
XXVI - organizar e fiscalizar a proteção e o tratamento de dados tia das pessoas portadoras de deficiência;
pessoais, nos termos da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor
nº 115, de 2022) histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: notáveis e os sítios arqueológicos;
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cul-
II - desapropriação; tural;
III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à
em tempo de guerra; ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação; (Redação dada pela
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
radiodifusão; VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qual-
V - serviço postal; quer de suas formas;
VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
metais; VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abaste-
VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de va- cimento alimentar;
lores; IX - promover programas de construção de moradias e a melho-
VIII - comércio exterior e interestadual; ria das condições habitacionais e de saneamento básico;
IX - diretrizes da política nacional de transportes; X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginali-
X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, zação, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos;
aérea e aeroespacial; XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos
XI - trânsito e transporte; de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia; territórios;
XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização;

214
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
XII - estabelecer e implantar política de educação para a segu- § 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante
rança do trânsito. concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei,
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação.
cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Muni- § 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir
cípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-es- regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões,
tar em âmbito nacional. constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal le- integrar a organização, o planejamento e a execução de funções
gislar concorrentemente sobre: públicas de interesse comum.
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e ur- Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:
banístico; (Vide Lei nº 13.874, de 2019) I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes
II - orçamento; e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorren-
III - juntas comerciais; tes de obras da União;
IV - custas dos serviços forenses; II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no
V - produção e consumo; seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, de- ou terceiros;
fesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;
controle da poluição; IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União.
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turís- Art. 27. O número de Deputados à Assembleia Legislativa cor-
tico e paisagístico; responderá ao triplo da representação do Estado na Câmara dos
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consu- Deputados e, atingido o número de trinta e seis, será acrescido de
midor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico tantos quantos forem os Deputados Federais acima de doze.
e paisagístico; § 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais,
IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema
pesquisa, desenvolvimento e inovação; (Redação dada pela Emenda eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de
Constitucional nº 85, de 2015) mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas.
X - criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas § 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixado por lei
causas; de iniciativa da Assembleia Legislativa, na razão de, no máximo,
XI - procedimentos em matéria processual; setenta e cinco por cento daquele estabelecido, em espécie, para os
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde; Deputados Federais, observado o que dispõem os arts. 39, § 4º, 57,
XIII - assistência jurídica e Defensoria pública; § 7º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.
XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de § 3º Compete às Assembleias Legislativas dispor sobre seu
deficiência; regimento interno, polícia e serviços administrativos de sua
XV - proteção à infância e à juventude; secretaria, e prover os respectivos cargos.
XVI - organização, garantias, direitos e deveres das polícias ci- § 4º A lei disporá sobre a iniciativa popular no processo
vis. legislativo estadual.
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da Art. 28. A eleição do Governador e do Vice-Governador de Es-
União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. (Vide Lei nº 13.874, tado, para mandato de 4 (quatro) anos, realizar-se-á no primeiro
de 2019) domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do tér-
não exclui a competência suplementar dos Estados. (Vide Lei nº mino do mandato de seus antecessores, e a posse ocorrerá em 6 de
13.874, de 2019) janeiro do ano subsequente, observado, quanto ao mais, o disposto
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados no art. 77 desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Consti-
exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas tucional nº 111, de 2021)
peculiaridades. (Vide Lei nº 13.874, de 2019) § 1º Perderá o mandato o Governador que assumir outro cargo
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais ou função na administração pública direta ou indireta, ressalvada
suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. (Vide a posse em virtude de concurso público e observado o disposto no
Lei nº 13.874, de 2019) art. 38, I, IV e V.
§ 2º Os subsídios do Governador, do Vice-Governador e
Organização do Estado – Estados dos Secretários de Estado serão fixados por lei de iniciativa da
Os Estados-membros são pessoas jurídicas de Direito Público Assembleia Legislativa, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39,
interno, dotados de autonomia, em razão da capacidade de auto- § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.
-organização (Artigo 25 da CF), autoadministração (Artigo 26 da CF),
autogoverno (Artigos 27 e 28 da CF) e auto legislação (Artigo 25 e
Organização do Estado – Municípios
parágrafos da CF).
Sobre os Municípios, prevalece o entendimento de que são en-
Os dispositivos constitucionais referentes ao tema vão dos Ar-
tes federativos, uma vez que os artigos 1º e 18 da CF, são expressos
tigos 25 a 28:
ao elencar a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
como integrantes da Federação brasileira.
CAPÍTULO III
Como pessoa política também dotada de autonomia, possuem
DOS ESTADOS FEDERADOS
auto-organização (Artigo 29 da CF), auto legislação (Artigo 30 da
Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constitui- CF), autogoverno (Incisos do Artigo 29 da CF) e autoadministração
ções e leis que adotarem, observados os princípios desta Constitui- (Artigo 30 da CF).
ção. A previsão legal sobre os Municípios está prevista na CF, dos
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes Artigos 29 a 31. Vejamos:
sejam vedadas por esta Constituição.

215
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
CAPÍTULO IV q) 41 (quarenta e um) Vereadores, nos Municípios de mais
DOS MUNICÍPIOS de 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habitantes e de até
2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) habitantes;
Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois r) 43 (quarenta e três) Vereadores, nos Municípios de mais de
turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois 2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) habitantes e de até
terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, aten- 3.000.000 (três milhões) de habitantes;
didos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição s) 45 (quarenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de
do respectivo Estado e os seguintes preceitos: 3.000.000 (três milhões) de habitantes e de até 4.000.000 (quatro
I - eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores, para milhões) de habitantes;
mandato de quatro anos, mediante pleito direto e simultâneo reali- t) 47 (quarenta e sete) Vereadores, nos Municípios de mais de
zado em todo o País; 4.000.000 (quatro milhões) de habitantes e de até 5.000.000 (cinco
II - eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no primeiro milhões) de habitantes;
domingo de outubro do ano anterior ao término do mandato dos u) 49 (quarenta e nove) Vereadores, nos Municípios de mais
que devam suceder, aplicadas as regras do art. 77, no caso de Mu- de 5.000.000 (cinco milhões) de habitantes e de até 6.000.000 (seis
nicípios com mais de duzentos mil eleitores; milhões) de habitantes;
III - posse do Prefeito e do Vice-Prefeito no dia 1º de janeiro do v) 51 (cinquenta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de
ano subsequente ao da eleição; 6.000.000 (seis milhões) de habitantes e de até 7.000.000 (sete mi-
IV - para a composição das Câmaras Municipais, será observa- lhões) de habitantes;
do o limite máximo de: w) 53 (cinquenta e três) Vereadores, nos Municípios de mais
a) 9 (nove) Vereadores, nos Municípios de até 15.000 (quinze de 7.000.000 (sete milhões) de habitantes e de até 8.000.000 (oito
mil) habitantes; milhões) de habitantes; e
b) 11 (onze) Vereadores, nos Municípios de mais de 15.000 x) 55 (cinquenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de
(quinze mil) habitantes e de até 30.000 (trinta mil) habitantes; 8.000.000 (oito milhões) de habitantes;
c) 13 (treze) Vereadores, nos Municípios com mais de 30.000 V - subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Secretários Mu-
(trinta mil) habitantes e de até 50.000 (cinquenta mil) habitantes; nicipais fixados por lei de iniciativa da Câmara Municipal, observado
d) 15 (quinze) Vereadores, nos Municípios de mais de 50.000 o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;
(cinquenta mil) habitantes e de até 80.000 (oitenta mil) habitantes; VI - o subsídio dos Vereadores será fixado pelas respectivas Câ-
e) 17 (dezessete) Vereadores, nos Municípios de mais de 80.000 maras Municipais em cada legislatura para a subsequente, obser-
(oitenta mil) habitantes e de até 120.000 (cento e vinte mil) habi- vado o que dispõe esta Constituição, observados os critérios estabe-
tantes; lecidos na respectiva Lei Orgânica e os seguintes limites máximos:
a) em Municípios de até dez mil habitantes, o subsídio máximo
f) 19 (dezenove) Vereadores, nos Municípios de mais de 120.000
dos Vereadores corresponderá a vinte por cento do subsídio dos De-
(cento e vinte mil) habitantes e de até 160.000 (cento sessenta mil)
putados Estaduais;
habitantes;
b) em Municípios de dez mil e um a cinquenta mil habitantes, o
g) 21 (vinte e um) Vereadores, nos Municípios de mais de subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a trinta por cento
160.000 (cento e sessenta mil) habitantes e de até 300.000 (trezen- do subsídio dos Deputados Estaduais;
tos mil) habitantes; c) em Municípios de cinquenta mil e um a cem mil habitantes,
h) 23 (vinte e três) Vereadores, nos Municípios de mais de o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a quarenta por
300.000 (trezentos mil) habitantes e de até 450.000 (quatrocentos e cento do subsídio dos Deputados Estaduais;
cinquenta mil) habitantes; d) em Municípios de cem mil e um a trezentos mil habitantes,
i) 25 (vinte e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a cinquenta por
450.000 (quatrocentos e cinquenta mil) habitantes e de até 600.000 cento do subsídio dos Deputados Estaduais;
(seiscentos mil) habitantes; e) em Municípios de trezentos mil e um a quinhentos mil habi-
j) 27 (vinte e sete) Vereadores, nos Municípios de mais de tantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a sessenta
600.000 (seiscentos mil) habitantes e de até 750.000 (setecentos por cento do subsídio dos Deputados Estaduais;
cinquenta mil) habitantes; f) em Municípios de mais de quinhentos mil habitantes, o sub-
k) 29 (vinte e nove) Vereadores, nos Municípios de mais de sídio máximo dos Vereadores corresponderá a setenta e cinco por
750.000 (setecentos e cinquenta mil) habitantes e de até 900.000 cento do subsídio dos Deputados Estaduais;
(novecentos mil) habitantes; VII - o total da despesa com a remuneração dos Vereadores
l) 31 (trinta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de não poderá ultrapassar o montante de cinco por cento da receita
900.000 (novecentos mil) habitantes e de até 1.050.000 (um milhão do Município;
e cinquenta mil) habitantes; VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras
m) 33 (trinta e três) Vereadores, nos Municípios de mais de e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município;
1.050.000 (um milhão e cinquenta mil) habitantes e de até 1.200.000 IX - proibições e incompatibilidades, no exercício da vereança,
(um milhão e duzentos mil) habitantes; similares, no que couber, ao disposto nesta Constituição para os
n) 35 (trinta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de membros do Congresso Nacional e na Constituição do respectivo
1.200.000 (um milhão e duzentos mil) habitantes e de até 1.350.000 Estado para os membros da Assembleia Legislativa;
(um milhão e trezentos e cinquenta mil) habitantes; X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça;
XI - organização das funções legislativas e fiscalizadoras da Câ-
o) 37 (trinta e sete) Vereadores, nos Municípios de 1.350.000
mara Municipal;
(um milhão e trezentos e cinquenta mil) habitantes e de até
XII - cooperação das associações representativas no planeja-
1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) habitantes;
mento municipal;
p) 39 (trinta e nove) Vereadores, nos Municípios de mais XIII - iniciativa popular de projetos de lei de interesse específico
de 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) habitantes e de até do Município, da cidade ou de bairros, através de manifestação de,
1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habitantes; pelo menos, cinco por cento do eleitorado;

216
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
XIV - perda do mandato do Prefeito, nos termos do art. 28, pa- § 3º As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias,
rágrafo único. anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame
Art. 29-A. O total da despesa do Poder Legislativo Municipal, e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a legitimidade, nos
incluídos os subsídios dos Vereadores e excluídos os gastos com ina- termos da lei.
tivos, não poderá ultrapassar os seguintes percentuais, relativos ao § 4º É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de
somatório da receita tributária e das transferências previstas no § Contas Municipais.
5o do art. 153 e nos arts. 158 e 159, efetivamente realizado no exer-
cício anterior: Organização do Estado - Distrito Federal e Territórios
I - 7% (sete por cento) para Municípios com população de até
100.000 (cem mil) habitantes; • Distrito Federal
II - 6% (seis por cento) para Municípios com população entre O Distrito Federal é o ente federativo com competências par-
100.000 (cem mil) e 300.000 (trezentos mil) habitantes; cialmente tuteladas pela União, conforme se extrai dos Artigos 21,
III - 5% (cinco por cento) para Municípios com população entre XIII e XIV, e 22, VII da CF.
300.001 (trezentos mil e um) e 500.000 (quinhentos mil) habitantes; Por ser considerado um ente político dotado de autonomia,
IV - 4,5% (quatro inteiros e cinco décimos por cento) para possui capacidade de auto-organização (Artigo 32 da CF), autogo-
Municípios com população entre 500.001 (quinhentos mil e um) e verno (Artigo 32, §§ 2º e 3º da CF), autoadministração (Artigo 32, §§
3.000.000 (três milhões) de habitantes; 1º e 4º da CF) e auto legislação (Artigo 32, § 1º da CF).
V - 4% (quatro por cento) para Municípios com população entre
3.000.001 (três milhões e um) e 8.000.000 (oito milhões) de habi- CAPÍTULO V
tantes; DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS
VI - 3,5% (três inteiros e cinco décimos por cento) para Muni-
cípios com população acima de 8.000.001 (oito milhões e um) ha- SEÇÃO I
bitantes. DO DISTRITO FEDERAL
§ 1º A Câmara Municipal não gastará mais de setenta por
cento de sua receita com folha de pagamento, incluído o gasto com Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios,
o subsídio de seus Vereadores. reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício
§ 2º Constitui crime de responsabilidade do Prefeito Municipal: mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços da Câmara Legisla-
I - efetuar repasse que supere os limites definidos neste artigo; tiva, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta
II - não enviar o repasse até o dia vinte de cada mês; ou Constituição.
III - enviá-lo a menor em relação à proporção fixada na Lei Or- § 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competências
çamentária. legislativas reservadas aos Estados e Municípios.
§ 3º Constitui crime de responsabilidade do Presidente da § 2º A eleição do Governador e do Vice-Governador, observadas
Câmara Municipal o desrespeito ao § 1o deste artigo. as regras do art. 77, e dos Deputados Distritais coincidirá com a
Art. 30. Compete aos Municípios: dos Governadores e Deputados Estaduais, para mandato de igual
I - legislar sobre assuntos de interesse local; duração.
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; § 3º Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa aplica-se
III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem o disposto no art. 27.
como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de pres- § 4º Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo do
tar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; Distrito Federal, da polícia civil, da polícia penal, da polícia militar
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação e do corpo de bombeiros militar. (Redação dada pela Emenda
estadual; Constitucional nº 104, de 2019)
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de conces-
são ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o • Territórios
de transporte coletivo, que tem caráter essencial; Os Territórios possuem natureza jurídica de autarquias territo-
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e riais integrantes da Administração indireta da União. Por isso, não
do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamen- são dotados de autonomia política.
tal;
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e SEÇÃO II
do Estado, serviços de atendimento à saúde da população; DOS TERRITÓRIOS
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territo-
rial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e Art. 33. A lei disporá sobre a organização administrativa e judi-
da ocupação do solo urbano; ciária dos Territórios.
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, § 1º Os Territórios poderão ser divididos em Municípios, aos
observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. quais se aplicará, no que couber, o disposto no Capítulo IV deste
Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Título.
Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas § 2º As contas do Governo do Território serão submetidas ao
de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei. Congresso Nacional, com parecer prévio do Tribunal de Contas da
§ 1º O controle externo da Câmara Municipal será exercido com União.
o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Município ou § 3º Nos Territórios Federais com mais de cem mil habitantes,
dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver. além do Governador nomeado na forma desta Constituição, haverá
§ 2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre órgãos judiciários de primeira e segunda instância, membros do
as contas que o Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de Ministério Público e defensores públicos federais; a lei disporá
prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara sobre as eleições para a Câmara Territorial e sua competência
Municipal. deliberativa.

217
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Intervenção Federal e Estadual § 2º Se não estiver funcionando o Congresso Nacional ou a
É uma excepcional possibilidade de supressão temporária da Assembleia Legislativa, far-se-á convocação extraordinária, no
autonomia política de um ente federativo. Suas hipóteses integram mesmo prazo de vinte e quatro horas.
um rol taxativo previsto na Constituição Federal. § 3º Nos casos do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, IV, dispensada a
apreciação pelo Congresso Nacional ou pela Assembleia Legislativa,
CAPÍTULO VI o decreto limitar-se-á a suspender a execução do ato impugnado, se
DA INTERVENÇÃO essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade.
§ 4º Cessados os motivos da intervenção, as autoridades
Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Fe- afastadas de seus cargos a estes voltarão, salvo impedimento legal.
deral, exceto para:
I - manter a integridade nacional; Referências Bibliográficas:
II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação BORTOLETO, Leandro; e LÉPORE, Paulo. Noções de Direito Constitu-
em outra; cional e de Direito Administrativo. Coleção Tribunais e MPU. Salvador:
III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública; Editora JusPODIVM.
IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas uni- DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Con-
dades da Federação; cursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.
V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:
a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois
anos consecutivos, salvo motivo de força maior;
b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas PODER LEGISLATIVO: CONGRESSO NACIONAL, CÂMA-
nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei; RA DOS DEPUTADOS, SENADO FEDERAL; PARLAMEN-
VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial; TARES FEDERAIS, ESTADUAIS E MUNICIPAIS
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitu-
cionais: Funções Típicas e Atípicas
a) forma republicana, sistema representativo e regime demo- O Poder Legislativo possui as funções típicas de elaborar nor-
crático; mas gerais e abstratas (leis) e exercer a atividade fiscalizatória. Esta
b) direitos da pessoa humana; fiscalização engloba tanto a econômico-financeira (Artigos 70 a 75
c) autonomia municipal; da CF), bem como a político-administrativa, por intermédio de suas
d) prestação de contas da administração pública, direta e in- Comissões, em especial, a Comissão Parlamentar de Inquérito (Ar-
direta. tigo 58, § 3º, da CF).
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impos- Como funções atípicas o Poder Legislativo administra e julga.
tos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na Administra quando, por exemplo, nomeia, exonera, ou promove os
manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços seus servidores. Julga quando o Senado Federal decide acerca da
públicos de saúde. ocorrência ou não de crime de responsabilidade cometido por cer-
Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União tas autoridades previstas na Constituição (Artigo 52, I, II e parágrafo
nos Municípios localizados em Território Federal, exceto quando: único).
I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos O Poder Legislativo no âmbito da Federação está assim confi-
consecutivos, a dívida fundada; gurado:
II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;
III – não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita muni- Poder Legislativo
cipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e
serviços públicos de saúde; União Congresso Nacional (Artigo 44 e
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para seguintes da CF)
assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Es- Estados-Membros Assembleias Legislativas (Artigo 27 da
tadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão CF)
judicial.
Art. 36. A decretação da intervenção dependerá: Distrito Federal Câmara Legislativa (Artigo 32, § 3º, da
I - no caso do art. 34, IV, de solicitação do Poder Legislativo ou CF)
do Poder Executivo coacto ou impedido, ou de requisição do Supre- Municípios Câmaras Municipais (Artigo 29 da CF)
mo Tribunal Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judi-
ciário; Congresso Nacional
II - no caso de desobediência a ordem ou decisão judiciária, de O Congresso Nacional é formado pela Câmara dos Deputados
requisição do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de e pelo Senado Federal, ou seja, sistema bicameral (Artigo 44, caput,
Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral; da CF).
III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de represen-
tação do Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII, Câmara dos Deputados
e no caso de recusa à execução de lei federal. É composta por representantes do povo, eleitos pelo sistema
IV - (Revogado). proporcional em cada estado, em cada território e no Distrito
§ 1º O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, Federal, para um mandato de 4 anos, permitidas sucessivas
o prazo e as condições de execução e que, se couber, nomeará o reeleições (Artigo 45, caput, da CF).
interventor, será submetido à apreciação do Congresso Nacional À luz do § 1º do Artigo 45, da CF, nenhum Estado e o Distrito
ou da Assembleia Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro Federal terá menos do que 8 nem mais do que 70 deputados
horas. federais, levando-se em conta a população de cada ente federativo.

218
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Já os territórios federais, caso existentes, terão 4 deputados fe- Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de quatro
derais (Artigo 45, § 2º, da CF). anos.
Conforme dispõe a Lei Complementar nº 78, de 30/12/93, que Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representan-
disciplina a fixação do número de deputados, nos termos do Artigo tes do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em
45, § 1º, da CF, uma vez estabelecido o número de deputados fe- cada Território e no Distrito Federal.
derais, será definido o número de deputados estaduais, conforme § 1º O número total de Deputados, bem como a representação
preceitua o Artigo 27 da CF. por Estado e pelo Distrito Federal, será estabelecido por lei
complementar, proporcionalmente à população, procedendo-
Senado Federal se aos ajustes necessários, no ano anterior às eleições, para que
Compõe-se de representantes dos estados e do Distrito Fede- nenhuma daquelas unidades da Federação tenha menos de oito ou
ral, de forma paritária, eleitos segundo o princípio majoritário, para mais de setenta Deputados.
um mandato de 8 anos, sendo que em cada eleição, que ocorre a § 2º Cada Território elegerá quatro Deputados.
cada 4 anos, serão eleitos, alternadamente, um terço e dois terços Art. 46. O Senado Federal compõe-se de representantes dos Es-
dos membros dessa Casa Legislativa (Artigo 46, caput e seu § 2º). tados e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário.
Cada estado e o Distrito Federal possuem 3 senadores, eleitos, cada § 1º Cada Estado e o Distrito Federal elegerão três Senadores,
qual, com dois suplentes, totalizando 81 (Artigo 46, §§ 1º e 3º da CF). com mandato de oito anos.
Vejamos nosso quadro sinótico: § 2º A representação de cada Estado e do Distrito Federal será
renovada de quatro em quatro anos, alternadamente, por um e dois
Congresso Nacional terços.
§ 3º Cada Senador será eleito com dois suplentes.
Câmara dos Deputados (Artigo Senado Federal (Artigo 46 da
Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as delibe-
45 da CF) CF)
rações de cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maio-
513 membros 81 membros ria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros.
Representantes do povo Representantes dos estados/
DF SEÇÃO II
DAS ATRIBUIÇÕES DO CONGRESSO NACIONAL
Caracteriza o princípio Caracteriza o princípio
republicano federativo Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presi-
Eleição pelo sistema Eleição pelo sistema dente da República, não exigida esta para o especificado nos arts.
proporcional majoritário 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência da
Mandato de 4 anos Mandato de 8 anos (Artigo 46, União, especialmente sobre:
§ 1º, da CF) I - sistema tributário, arrecadação e distribuição de rendas;
II - plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento anual,
Sucessivas reeleições Sucessivas reeleições operações de crédito, dívida pública e emissões de curso forçado;
Mínimo de 8 e máximo de 70 3 senadores por estado/DF III - fixação e modificação do efetivo das Forças Armadas;
por estado/DF (Artigo 45, § 1º (Artigo 46, § 1º, da CF). IV - planos e programas nacionais, regionais e setoriais de de-
da CF) Cada senador será eleito com senvolvimento;
2 suplentes (Artigo 46, § 3º, V - limites do território nacional, espaço aéreo e marítimo e
da CF) bens do domínio da União;
VI - incorporação, subdivisão ou desmembramento de áreas de
Idade mínima: 21 anos (Artigo Idade mínima: 35 anos (Artigo
Territórios ou Estados, ouvidas as respectivas Assembleias Legisla-
14, § 3º, VI, c, da CF) 14, § 3º, VI, a, da CF)
tivas;
Territórios se houver elegem Recomposição alternada de VII - transferência temporária da sede do Governo Federal;
4 deputados (Artigo 45, § 2º, 1/3 e 2/3 dos Senadores a VIII - concessão de anistia;
da CF) cada 4 anos (Artigo 46, § 2º, IX - organização administrativa, judiciária, do Ministério Públi-
da CF) co e da Defensoria Pública da União e dos Territórios e organização
judiciária e do Ministério Público do Distrito Federal;
Seguem abaixo os dispositivos constitucionais corresponden- X – criação, transformação e extinção de cargos, empregos e
tes: funções públicas, observado o que estabelece o art. 84, VI, b;
XI – criação e extinção de Ministérios e órgãos da administra-
TÍTULO IV ção pública;
DA ORGANIZAÇÃO DOS PODERES XII - telecomunicações e radiodifusão;
(REDAÇÃO DADA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 80, DE XIII - matéria financeira, cambial e monetária, instituições fi-
2014) nanceiras e suas operações;
XIV - moeda, seus limites de emissão, e montante da dívida mo-
CAPÍTULO I biliária federal.
DO PODER LEGISLATIVO XV - fixação do subsídio dos Ministros do Supremo Tribunal Fe-
deral, observado o que dispõem os arts. 39, § 4º; 150, II; 153, III; e
SEÇÃO I 153, § 2º, I.
DO CONGRESSO NACIONAL Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos in-
Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, ternacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao
que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
patrimônio nacional;

219
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
II - autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a ce- II - proceder à tomada de contas do Presidente da República,
lebrar a paz, a permitir que forças estrangeiras transitem pelo terri- quando não apresentadas ao Congresso Nacional dentro de sessen-
tório nacional ou nele permaneçam temporariamente, ressalvados ta dias após a abertura da sessão legislativa;
os casos previstos em lei complementar; III - elaborar seu regimento interno;
III - autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da República a IV – dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, cria-
se ausentarem do País, quando a ausência exceder a quinze dias; ção, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de
IV - aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autori- seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remune-
zar o estado de sítio, ou suspender qualquer uma dessas medidas; ração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes
V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem orçamentárias;
do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa; V - eleger membros do Conselho da República, nos termos do
VI - mudar temporariamente sua sede; art. 89, VII.
VII - fixar idêntico subsídio para os Deputados Federais e os Se-
nadores, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, SEÇÃO IV
153, III, e 153, § 2º, I; DO SENADO FEDERAL
VIII - fixar os subsídios do Presidente e do Vice-Presidente da
República e dos Ministros de Estado, observado o que dispõem os Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:
arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da Re-
IX - julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da pública nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de
República e apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica
governo; nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles;
X - fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas II processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal,
Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacio-
indireta; nal do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Ad-
XI - zelar pela preservação de sua competência legislativa em vogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade;
face da atribuição normativa dos outros Poderes; III - aprovar previamente, por voto secreto, após arguição pú-
XII - apreciar os atos de concessão e renovação de concessão de blica, a escolha de:
emissoras de rádio e televisão; a) Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição;
XIII - escolher dois terços dos membros do Tribunal de Contas b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Pre-
da União; sidente da República;
XIV - aprovar iniciativas do Poder Executivo referentes a ativi-
c) Governador de Território;
dades nucleares;
d) Presidente e diretores do banco central;
XV - autorizar referendo e convocar plebiscito;
e) Procurador-Geral da República;
XVI - autorizar, em terras indígenas, a exploração e o aprovei-
f) titulares de outros cargos que a lei determinar;
tamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas mi-
nerais; IV - aprovar previamente, por voto secreto, após arguição em
XVII - aprovar, previamente, a alienação ou concessão de terras sessão secreta, a escolha dos chefes de missão diplomática de ca-
públicas com área superior a dois mil e quinhentos hectares. ráter permanente;
XVIII - decretar o estado de calamidade pública de âmbito na- V - autorizar operações externas de natureza financeira, de in-
cional previsto nos arts. 167-B, 167-C, 167-D, 167-E, 167-F e 167-G teresse da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e
desta Constituição. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de dos Municípios;
2021) VI - fixar, por proposta do Presidente da República, limites glo-
Art. 50. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ou qual- bais para o montante da dívida consolidada da União, dos Estados,
quer de suas Comissões, poderão convocar Ministro de Estado ou do Distrito Federal e dos Municípios;
quaisquer titulares de órgãos diretamente subordinados à Presidên- VII - dispor sobre limites globais e condições para as operações
cia da República para prestarem, pessoalmente, informações sobre de crédito externo e interno da União, dos Estados, do Distrito Fede-
assunto previamente determinado, importando crime de responsa- ral e dos Municípios, de suas autarquias e demais entidades contro-
bilidade a ausência sem justificação adequada. ladas pelo Poder Público federal;
§ 1º Os Ministros de Estado poderão comparecer ao Senado VIII - dispor sobre limites e condições para a concessão de ga-
Federal, à Câmara dos Deputados, ou a qualquer de suas Comissões, rantia da União em operações de crédito externo e interno;
por sua iniciativa e mediante entendimentos com a Mesa respectiva, IX - estabelecer limites globais e condições para o montante da
para expor assunto de relevância de seu Ministério. dívida mobiliária dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
§ 2º As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada
poderão encaminhar pedidos escritos de informações a Ministros inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal;
de Estado ou a qualquer das pessoas referidas no caput deste XI - aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a exone-
artigo, importando em crime de responsabilidade a recusa, ou o ração, de ofício, do Procurador-Geral da República antes do término
não - atendimento, no prazo de trinta dias, bem como a prestação de seu mandato;
de informações falsas. XII - elaborar seu regimento interno;
XIII - dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia,
SEÇÃO III
criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções
DA CÂMARA DOS DEPUTADOS
de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva re-
muneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de dire-
Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados:
I - autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de trizes orçamentárias;
processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os XIV - eleger membros do Conselho da República, nos termos do
Ministros de Estado; art. 89, VII.

220
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
XV - avaliar periodicamente a funcionalidade do Sistema Tribu- § 6º Os Deputados e Senadores não serão obrigados a
tário Nacional, em sua estrutura e seus componentes, e o desem- testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão
penho das administrações tributárias da União, dos Estados e do do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram
Distrito Federal e dos Municípios. ou deles receberam informações.
Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcio- § 7º A incorporação às Forças Armadas de Deputados e
nará como Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se Senadores, embora militares e ainda que em tempo de guerra,
a condenação, que somente será proferida por dois terços dos vo- dependerá de prévia licença da Casa respectiva.
tos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito § 8º As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão
anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais durante o estado de sítio, só podendo ser suspensas mediante o
sanções judiciais cabíveis. voto de dois terços dos membros da Casa respectiva, nos casos de
atos praticados fora do recinto do Congresso Nacional, que sejam
Vedações, Garantias e Imunidades Parlamentares incompatíveis com a execução da medida.
Art. 54. Os Deputados e Senadores não poderão:
• Vedações I - desde a expedição do diploma:
Aos parlamentares federais, é vedado o exercício de algumas a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito pú-
atividades, em decorrência das relevantes atribuições constitucio- blico, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou
nais que possuem, à luz do que dispõe o Artigo 54 da CF. empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato
obedecer a cláusulas uniformes;
• Garantias b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado,
inclusive os de que sejam demissíveis “ad nutum”, nas entidades
Artigo 53, § 6º da CF → Isenção do dever de testemunhar: é o
constantes da alínea anterior;
chamado sigilo da fonte;
II - desde a posse:
Artigo 53, § 7º da CF → Incorporação às Forças Armadas;
a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que
Artigo 53, § 8º da CF → Estado de sítio: limitação de sua sus-
goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito
pensão pela Constituição.
público, ou nela exercer função remunerada;
b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis “ad nu-
• Imunidades tum”, nas entidades referidas no inciso I, “a”;
Imunidades são prerrogativas outorgadas pela Constituição aos c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das enti-
ocupantes de mandatos eletivos com a finalidade de assegurar-lhes dades a que se refere o inciso I, “a”;
proteção no exercício de suas atribuições constitucionais. d) ser titulares de mais de um cargo ou mandato público ele-
– Imunidade Material: afasta a possibilidade de responsabili- tivo.
zação civil e penal do congressista por suas manifestações, desde Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:
que emanadas no desempenho da atividade congressual (Artigo 53, I - que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo
caput, da CF). anterior;
– Imunidade Formal: são garantias atribuídas aos parlamenta- II - cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro
res com relação ao trâmite dos processos-crimes em que figuram parlamentar;
como réus e prisões contra si decretadas, a partir de sua diploma- III - que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à
ção (Artigo 53, §§ 1º ao 5º, da CF). terça parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo
licença ou missão por esta autorizada;
Vejamos os dispositivos constitucionais correspondentes: IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
V - quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos
SEÇÃO V nesta Constituição;
DOS DEPUTADOS E DOS SENADORES VI - que sofrer condenação criminal em sentença transitada em
julgado.
Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penal- § 1º - É incompatível com o decoro parlamentar, além dos
mente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. casos definidos no regimento interno, o abuso das prerrogativas
§ 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a percepção de
serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal. vantagens indevidas.
§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso
decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por
Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime
maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de
inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte
partido político representado no Congresso Nacional, assegurada
e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de
ampla defesa.
seus membros, resolva sobre a prisão. § 3º - Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será
§ 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por declarada pela Mesa da Casa respectiva, de ofício ou mediante
crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará provocação de qualquer de seus membros, ou de partido político
ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.
representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até § 4º A renúncia de parlamentar submetido a processo que vise
a decisão final, sustar o andamento da ação. ou possa levar à perda do mandato, nos termos deste artigo, terá
§ 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva seus efeitos suspensos até as deliberações finais de que tratam os
no prazo improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento §§ 2º e 3º.
pela Mesa Diretora. Art. 56. Não perderá o mandato o Deputado ou Senador:
§ 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto I - investido no cargo de Ministro de Estado, Governador de Ter-
durar o mandato. ritório, Secretário de Estado, do Distrito Federal, de Território, de
Prefeitura de Capital ou chefe de missão diplomática temporária;

221
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
II - licenciado pela respectiva Casa por motivo de doença, ou § 6º A convocação extraordinária do Congresso Nacional far-
para tratar, sem remuneração, de interesse particular, desde que, se-á:
neste caso, o afastamento não ultrapasse cento e vinte dias por ses- I - pelo Presidente do Senado Federal, em caso de decretação
são legislativa. de estado de defesa ou de intervenção federal, de pedido de autori-
§ 1º O suplente será convocado nos casos de vaga, de zação para a decretação de estado de sítio e para o compromisso e
investidura em funções previstas neste artigo ou de licença superior a posse do Presidente e do Vice-Presidente da República;
a cento e vinte dias. II - pelo Presidente da República, pelos Presidentes da Câmara
§ 2º Ocorrendo vaga e não havendo suplente, far-se-á eleição dos Deputados e do Senado Federal ou a requerimento da maioria
para preenchê-la se faltarem mais de quinze meses para o término dos membros de ambas as Casas, em caso de urgência ou interesse
do mandato. público relevante, em todas as hipóteses deste inciso com a apro-
§ 3º Na hipótese do inciso I, o Deputado ou Senador poderá vação da maioria absoluta de cada uma das Casas do Congresso
optar pela remuneração do mandato. Nacional.
§ 7º Na sessão legislativa extraordinária, o Congresso Nacional
Comissões Parlamentares e Comissões Parlamentares de In- somente deliberará sobre a matéria para a qual foi convocado,
quérito (CPIs) ressalvada a hipótese do § 8º deste artigo, vedado o pagamento de
parcela indenizatória, em razão da convocação.
• Comissões e Mesas § 8º Havendo medidas provisórias em vigor na data de
A Constituição Federal faculta ao Congresso Nacional e suas convocação extraordinária do Congresso Nacional, serão elas
Casas Legislativas (Câmara e Senado) a criação de Comissões per- automaticamente incluídas na pauta da convocação.
manentes e temporárias, que deverão ser constituídas na forma e
com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de
que resultar sua criação (Artigo 58, caput, da CF). SEÇÃO VII
Por seu turno, as Mesas são órgãos de direção superior da Câ- DAS COMISSÕES
mara dos Deputados, do Senado Federal e do Congresso Nacional,
cuja composição possui mandato de dois anos, sendo vedada a ree- Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões
leição para o mesmo cargo (Artigo 57, § 4º, da CF). permanentes e temporárias, constituídas na forma e com as atri-
buições previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar
• Comissão Parlamentar de Inquérito sua criação.
Tem como fundamento a função típica fiscalizatória do Poder § 1º Na constituição das Mesas e de cada Comissão, é
Legislativo e é uma consequência direta e imediata da adoção do assegurada, tanto quanto possível, a representação proporcional
sistema de freios e contrapesos previsto na Constituição. dos partidos ou dos blocos parlamentares que participam da
São criadas com a finalidade de apurar fato determinado rele- respectiva Casa.
vante para a sociedade e a sua previsão constitucional encontra-se § 2º Às comissões, em razão da matéria de sua competência,
no Artigo 58, § 3º, da CF. cabe:
Vamos aos dispositivos constitucionais correspondentes: I - discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma do re-
gimento, a competência do Plenário, salvo se houver recurso de um
SEÇÃO VI décimo dos membros da Casa;
DAS REUNIÕES II - realizar audiências públicas com entidades da sociedade ci-
vil;
Art. 57. O Congresso Nacional reunir-se-á, anualmente, na Ca- III - convocar Ministros de Estado para prestar informações so-
pital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 bre assuntos inerentes a suas atribuições;
de dezembro. IV - receber petições, reclamações, representações ou queixas
§ 1º As reuniões marcadas para essas datas serão transferidas de qualquer pessoa contra atos ou omissões das autoridades ou en-
para o primeiro dia útil subsequente, quando recaírem em sábados, tidades públicas;
domingos ou feriados. V - solicitar depoimento de qualquer autoridade ou cidadão;
§ 2º A sessão legislativa não será interrompida sem a aprovação VI - apreciar programas de obras, planos nacionais, regionais e
do projeto de lei de diretrizes orçamentárias. setoriais de desenvolvimento e sobre eles emitir parecer.
§ 3º Além de outros casos previstos nesta Constituição, a § 3º As comissões parlamentares de inquérito, que terão
Câmara dos Deputados e o Senado Federal reunir-se-ão em sessão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além
conjunta para: de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão
I - inaugurar a sessão legislativa; criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em
II - elaborar o regimento comum e regular a criação de serviços conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço
comuns às duas Casas; de seus membros, para a apuração de fato determinado e por
III - receber o compromisso do Presidente e do Vice-Presidente prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas
da República; ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou
IV - conhecer do veto e sobre ele deliberar. criminal dos infratores.
§ 4º Cada uma das Casas reunir-se-á em sessões preparatórias, § 4º Durante o recesso, haverá uma Comissão representativa
a partir de 1º de fevereiro, no primeiro ano da legislatura, para do Congresso Nacional, eleita por suas Casas na última sessão
a posse de seus membros e eleição das respectivas Mesas, para ordinária do período legislativo, com atribuições definidas no
mandato de 2 (dois) anos, vedada a recondução para o mesmo regimento comum, cuja composição reproduzirá, quanto possível,
cargo na eleição imediatamente subsequente. a proporcionalidade da representação partidária.
§ 5º A Mesa do Congresso Nacional será presidida pelo
Presidente do Senado Federal, e os demais cargos serão exercidos, O Processo Legislativo é o conjunto de atos (iniciativa, dis-
alternadamente, pelos ocupantes de cargos equivalentes na cussão, votação, emenda, sanção, veto, derrubada do veto, pro-
Câmara dos Deputados e no Senado Federal. mulgação, publicação) realizados pelo Congresso Nacional e pela

222
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Presidência da República, visando à elaboração de emendas à Cons- O quadro abaixo resume as fases do Processo Legislativo Or-
tituição, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medi- dinário.
das provisórias, decretos legislativos e resoluções.
Processo Legislativo Ordinário
Processo Legislativo Ordinário
É o procedimento exigido para a elaboração das leis ordinárias Fase Introdutória Iniciativa do projeto de lei
e das leis complementares, que de decompõe em três fases: intro- Deliberação parlamentar
dutória, constitutiva e complementar. → discussão, votação e,
Fase Constitutiva eventualmente, a análise do veto.
Fase Introdutória – Iniciativa de Lei por Parlamentar e Extra- Deliberação executiva → sanção
parlamentar
ou veto.
A Fase Introdutória tem início quando um dos legitimados pela
CF (Art. 61, caput) toma a iniciativa de apresentar um projeto de lei Fase Complementar Promulgação e publicação da lei
a uma das Casas do Congresso Nacional.
Esta iniciativa, também chamada de proposição, disposição, Espécies Normativas: Lei Complementar e Lei Ordinária
competência legiferante ou competência legislativa, pode ser clas- Todo o processo legislativo ordinário aplica-se, igualmente, à
sificada em parlamentar, extraparlamentar, privativa, concorrente aprovação de leis ordinárias e leis complementares. A única distin-
ou popular. ção está no quórum de aprovação, que, para as leis complementa-
A Iniciativa Parlamentar, como o próprio nome sugere, é aque- res, é de maioria absoluta, conforme o Artigo 69, da CF.
la realizada pelos membros do Congresso Nacional. Noutro giro, a Não há hierarquia entre lei ordinária e lei complementar, uma
Iniciativa Extraparlamentar ocorre quando a Constituição confere vez que ambas retiram seu fundamento de validade direto da Cons-
a legitimidade para proposição legislativa a órgãos dos Poderes Exe- tituição Federal.
cutivo e Judiciário. A diferença entre ambas encontra-se na reserva de matéria, ou
seja, as matérias que devem ser veiculadas por lei complementar
Fase Constitutiva estão exaustivamente previstas na Constituição, por sua vez, onde
O projeto de lei será apresentado a uma das Casas do Congres- a Carta Política for silente, interpreta-se que a matéria deve ser tra-
so Nacional, que atuará como Casa iniciadora, cumprindo a outra tada por lei ordinária.
Casa Legislativa a função de Casa Revisora.
Nas Casas do Congresso Nacional funcionará parcela da fase Espécies Normativas
constitutiva, formada pela discussão, votação, além de possível
análise de veto. Após a deliberação parlamentar, a fase constitutiva • Medida Provisória
encerrar-se-á com a deliberação executiva, por meio da sanção ou Em caso de relevância e urgência, o Presidente poderá adotar
do veto presidencial. medidas provisórias, com força de lei (possui natureza jurídica de
lei em sentido material, pois é um ato normativo primário sob con-
Deliberação Parlamentar dição resolutiva), devendo submetê-las de imediato ao Congresso
A deliberação parlamentar refere-se a discussão, votação e, Nacional por meio de mensagem.
eventualmente, a análise do veto.
• Lei Delegada
Regime de Urgência (Processo Legislativo Sumário) As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da Repúbli-
O Processo Legislativo Sumário é deflagrado quando o Presi- ca, devendo solicitar a delegação ao Congresso Nacional, que, por
dente da República solicita urgência na apreciação de projetos de resolução, especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício.
lei de sua iniciativa (privativa ou concorrente).
Observe o quadro abaixo: • Decreto Legislativo
São atos normativos primários mediante os quais são executa-
Processo Legislativo Sumário – Artigo 64, § 1º, da CF das as competências exclusivas do Congresso Nacional.
Projetos de lei de iniciativa • Resolução
privativa ou concorrente do As resoluções são atos normativos primários (Artigo 59, VII, da
Requisitos Presidente da República; CF) que materializam as competências privativas da Câmara e do
Pedido de urgência pelo Senado.
Presidente da República.
Os dispositivos constitucionais referentes ao Processo Legisla-
Deliberação Executiva tivo encontram-se elencados do Artigos 59 a 69 da CF, conforme
A deliberação executiva refere-se à sanção ou veto. seguem:
Fase Complementar SEÇÃO VIII
Refere-se a promulgação e publicação. DO PROCESSO LEGISLATIVO
A lei nasce com a sanção ou, excepcionalmente, com a rejeição SUBSEÇÃO I
do veto. Com a promulgação, ocorre a sua inserção no ordenamen- DISPOSIÇÃO GERAL
to jurídico e a produção de seus efeitos se dá com a publicação.
Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:
I - emendas à Constituição;
II - leis complementares;

223
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
III - leis ordinárias; f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimen-
IV - leis delegadas; to de cargos, promoções, estabilidade, remuneração, reforma e
V - medidas provisórias; transferência para a reserva.
VI - decretos legislativos; § 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à
VII - resoluções. Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo,
Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por
redação, alteração e consolidação das leis. cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos
eleitores de cada um deles.
SUBSEÇÃO II Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da Re-
DA EMENDA À CONSTITUIÇÃO pública poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, deven-
do submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante propos- § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:
ta: I – relativa a:
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Depu- a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políti-
tados ou do Senado Federal; cos e direito eleitoral;
II - do Presidente da República; b) direito penal, processual penal e processual civil;
III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unida- c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a
des da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria carreira e a garantia de seus membros;
relativa de seus membros. d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e
§ 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art.
intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio. 167, § 3º;
§ 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do II – que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança
Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se popular ou qualquer outro ativo financeiro;
obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros. III – reservada a lei complementar;
§ 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas IV – já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso
da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente da República.
número de ordem. § 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II,
tendente a abolir: só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido
I - a forma federativa de Estado; convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada.
II - o voto direto, secreto, universal e periódico; § 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e
III - a separação dos Poderes; 12 perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em
IV - os direitos e garantias individuais. lei no prazo de sessenta dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma
§ 5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou vez por igual período, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por
havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na decreto legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes.
mesma sessão legislativa. § 4º O prazo a que se refere o § 3º contar-se-á da publicação da
medida provisória, suspendendo-se durante os períodos de recesso
SUBSEÇÃO III do Congresso Nacional.
DAS LEIS § 5º A deliberação de cada uma das Casas do Congresso
Nacional sobre o mérito das medidas provisórias dependerá de juízo
Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a prévio sobre o atendimento de seus pressupostos constitucionais.
qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Sena- § 6º Se a medida provisória não for apreciada em até quarenta
do Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, e cinco dias contados de sua publicação, entrará em regime de
ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procura- urgência, subsequentemente, em cada uma das Casas do Congres-
dor-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previs- so Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a votação, todas
tos nesta Constituição. as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver trami-
§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as tando.
leis que: § 7º Prorrogar-se-á uma única vez por igual período a vigência
I - fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas; de medida provisória que, no prazo de sessenta dias, contado de
II - disponham sobre: sua publicação, não tiver a sua votação encerrada nas duas Casas
a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na adminis- do Congresso Nacional.
§ 8º As medidas provisórias terão sua votação iniciada na
tração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração;
Câmara dos Deputados.
b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária
§ 9º Caberá à comissão mista de Deputados e Senadores
e orçamentária, serviços públicos e pessoal da administração dos
examinar as medidas provisórias e sobre elas emitir parecer, antes
Territórios;
de serem apreciadas, em sessão separada, pelo plenário de cada
c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídi-
uma das Casas do Congresso Nacional.
co, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria;
§ 10. É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de
d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da
medida provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido
União, bem como normas gerais para a organização do Ministério
sua eficácia por decurso de prazo.
Público e da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e § 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3º
dos Territórios; até sessenta dias após a rejeição ou perda de eficácia de medida
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração provisória, as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos
pública, observado o disposto no art. 84, VI; praticados durante sua vigência conservar-se-ão por ela regidas.

224
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 12. Aprovado projeto de lei de conversão alterando o texto I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a
original da medida provisória, esta manter-se-á integralmente em carreira e a garantia de seus membros;
vigor até que seja sancionado ou vetado o projeto. II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e
Art. 63. Não será admitido aumento da despesa prevista: eleitorais;
I - nos projetos de iniciativa exclusiva do Presidente da Repúbli- III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.
ca, ressalvado o disposto no art. 166, § 3º e § 4º; § 2º A delegação ao Presidente da República terá a forma de
II - nos projetos sobre organização dos serviços administrativos resolução do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e
da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, dos Tribunais Fede- os termos de seu exercício.
rais e do Ministério Público. § 3º Se a resolução determinar a apreciação do projeto pelo
Art. 64. A discussão e votação dos projetos de lei de iniciativa Congresso Nacional, este a fará em votação única, vedada qualquer
do Presidente da República, do Supremo Tribunal Federal e dos Tri- emenda.
bunais Superiores terão início na Câmara dos Deputados. Art. 69. As leis complementares serão aprovadas por maioria
§ 1º O Presidente da República poderá solicitar urgência para absoluta.
apreciação de projetos de sua iniciativa.
§ 2º Se, no caso do § 1º, a Câmara dos Deputados e o Senado Referências Bibliográficas:
Federal não se manifestarem sobre a proposição, cada qual DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Con-
sucessivamente, em até quarenta e cinco dias, sobrestar-se-ão cursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.
todas as demais deliberações legislativas da respectiva Casa, com
exceção das que tenham prazo constitucional determinado, até que
se ultime a votação. Tribunal de Contas da União (TCU) e Fiscalização Contábil, Fi-
§ 3º A apreciação das emendas do Senado Federal pela Câmara nanceira e Orçamentária da União
dos Deputados far-se-á no prazo de dez dias, observado quanto ao Conforme já visto neste, além da função típica de legislar, ao
mais o disposto no parágrafo anterior. Poder Legislativo também foi atribuída função fiscalizatória.
§ 4º Os prazos do § 2º não correm nos períodos de recesso do Sabe-se que, de modo geral, todo poder deverá manter, de for-
Congresso Nacional, nem se aplicam aos projetos de código. ma integrada, sistema de controle interno fiscalizatório, conforme
Art. 65. O projeto de lei aprovado por uma Casa será revisto estabelece o Artigo 74, caput, da CF.
pela outra, em um só turno de discussão e votação, e enviado à Em relação ao Legislativo, além do controle interno (inerente
sanção ou promulgação, se a Casa revisora o aprovar, ou arquivado, a todo poder), também realiza controle externo, através da fiscali-
se o rejeitar. zação contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial
Parágrafo único. Sendo o projeto emendado, voltará à Casa ini- da União e das entidades da administração direta (pertencentes ao
ciadora. Executivo, Legislativo e Judiciário) e indireta, levando-se em consi-
Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação envia- deração a legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das
rá o projeto de lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o subvenções e renúncia de receitas (Artigo 70, caput, da CF).
sancionará. A CF/88 consagra, dessa forma, um sistema harmônico, inte-
§ 1º - Se o Presidente da República considerar o projeto, no grado e sistêmico de perfeita convivência entre os controles inter-
todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, nos de cada poder e o controle externo exercido pelo Legislativo,
vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados com o auxílio do Tribunal de Contas (Artigo 74, IV, da CF).
da data do recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito Esse sistema de atuação conjunta é reforçado pela regra conti-
horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto. da no Artigo 74, § 1º, da CF, na medida em que os responsáveis pelo
§ 2º O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, controle interno, ao tomarem conhecimento de qualquer irregula-
de parágrafo, de inciso ou de alínea. ridade ou ilegalidade, dela deverão dar ciência ao TCU, sob pena de
§ 3º Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente responsabilidade solidária.
da República importará sanção.
Portanto, o controle externo será realizado pelo Congresso
§ 4º O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta
Nacional, auxiliado pelo Tribunal de Contas, cuja competência está
dias a contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo
expressa no Artigo 71 da CF.
voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores.
Dentre as várias competências atribuídas ao Tribunal de Con-
§ 5º Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para
tas, encontra-se a de auxiliar o Legislativo (Congresso Nacional), no
promulgação, ao Presidente da República.
controle externo das contas do Executivo.
§ 6º Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no § 4º, o
O Tribunal de Contas decide administrativamente, não produ-
veto será colocado na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas
as demais proposições, até sua votação final. zindo nenhum ato marcado pela definitividade, ou fixação do direi-
§ 7º Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito to no caso concreto, no sentido de afastamento da pretensão resis-
horas pelo Presidente da República, nos casos dos § 3º e § 5º, o tida. Portanto, o Tribunal de Contas não integra o Poder Judiciário.
Presidente do Senado a promulgará, e, se este não o fizer em igual O Tribunal de Contas, apesar de ser autônomo, não tendo qual-
prazo, caberá ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo. quer vínculo de subordinação ao Legislativo, é auxiliar deste. A fis-
Art. 67. A matéria constante de projeto de lei rejeitado somente calização em si é realizada pelo Legislativo. O Tribunal de Contas,
poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legisla- como órgão auxiliar, apenas emite pareces técnicos.
tiva, mediante proposta da maioria absoluta dos membros de qual-
quer das Casas do Congresso Nacional. Tribunais de Contas dos Estados (TCEs) e Tribunais e Conse-
Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da lhos de Contas dos Municípios
República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional. No que couber, as regras estabelecidas para o Tribunal de
§ 1º Não serão objeto de delegação os atos de competência Contas da União (TCU) deverão ser observadas pelos Tribunais de
exclusiva do Congresso Nacional, os de competência privativa da Contas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (Artigo 75,
Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada caput, da CF).
à lei complementar, nem a legislação sobre:

225
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Segue abaixo os Artigos pertinentes da CF: § 1º No caso de contrato, o ato de sustação será adotado
diretamente pelo Congresso Nacional, que solicitará, de imediato,
SEÇÃO IX ao Poder Executivo as medidas cabíveis.
DA FISCALIZAÇÃO CONTÁBIL, FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA § 2º Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo
de noventa dias, não efetivar as medidas previstas no parágrafo
Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, ope- anterior, o Tribunal decidirá a respeito.
racional e patrimonial da União e das entidades da administração § 3º As decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito
direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, ou multa terão eficácia de título executivo.
aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo § 4º O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacional, trimestral
Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de e anualmente, relatório de suas atividades.
controle interno de cada Poder. Art. 72. A Comissão mista permanente a que se refere o art.
Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurí- 166, §1º, diante de indícios de despesas não autorizadas, ainda que
dica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou sob a forma de investimentos não programados ou de subsídios não
administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União aprovados, poderá solicitar à autoridade governamental responsá-
responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza vel que, no prazo de cinco dias, preste os esclarecimentos necessá-
pecuniária. rios.
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, § 1º Não prestados os esclarecimentos, ou considerados estes
será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual insuficientes, a Comissão solicitará ao Tribunal pronunciamento
compete: conclusivo sobre a matéria, no prazo de trinta dias.
I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da § 2º Entendendo o Tribunal irregular a despesa, a Comissão,
República, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em se julgar que o gasto possa causar dano irreparável ou grave lesão
sessenta dias a contar de seu recebimento; à economia pública, proporá ao Congresso Nacional sua sustação.
II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Mi-
por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e in- nistros, tem sede no Distrito Federal, quadro próprio de pessoal e
direta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas jurisdição em todo o território nacional, exercendo, no que couber,
pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa as atribuições previstas no art. 96.
a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao § 1º Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão
erário público; nomeados dentre brasileiros que satisfaçam os seguintes requisitos:
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de I - mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de
idade;
admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta e
II - idoneidade moral e reputação ilibada;
indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder
III - notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e
Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em
financeiros ou de administração pública;
comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas
IV - mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva ati-
e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o
vidade profissional que exija os conhecimentos mencionados no in-
fundamento legal do ato concessório;
ciso anterior.
IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados,
§ 2º Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão
do Senado Federal, de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções escolhidos:
e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária, ope- I - um terço pelo Presidente da República, com aprovação do
racional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes Senado Federal, sendo dois alternadamente dentre auditores e
Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades referidas no membros do Ministério Público junto ao Tribunal, indicados em lista
inciso II; tríplice pelo Tribunal, segundo os critérios de antiguidade e mere-
V - fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais cimento;
de cujo capital social a União participe, de forma direta ou indireta, II - dois terços pelo Congresso Nacional.
nos termos do tratado constitutivo; § 3° Os Ministros do Tribunal de Contas da União terão as
VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e
União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos vantagens dos Ministros do Superior Tribunal de Justiça, aplicando-
congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Município; se lhes, quanto à aposentadoria e pensão, as normas constantes
VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacio- do art. 40.
nal, por qualquer de suas Casas, ou por qualquer das respectivas § 4º O auditor, quando em substituição a Ministro, terá as
Comissões, sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, mesmas garantias e impedimentos do titular e, quando no exercício
operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspe- das demais atribuições da judicatura, as de juiz de Tribunal Regional
ções realizadas; Federal.
VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de des- Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão,
pesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que de forma integrada, sistema de controle interno com a finalidade
estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano de:
causado ao erário; I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano pluria-
IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as pro- nual, a execução dos programas de governo e dos orçamentos da
vidências necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada União;
ilegalidade; II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à
X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, co- eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimo-
municando a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal; nial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como
XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado;
abusos apurados. III - exercer o controle das operações de crédito, avais e garan-
tias, bem como dos direitos e haveres da União;

226
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
IV - apoiar o controle externo no exercício de sua missão insti- § 4º Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte, de-
tucional. sistência ou impedimento legal de candidato, convocar-se-á, dentre
§ 1º Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem os remanescentes, o de maior votação.
conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, dela § 5º Se, na hipótese dos parágrafos anteriores, remanescer, em
darão ciência ao Tribunal de Contas da União, sob pena de segundo lugar, mais de um candidato com a mesma votação, quali-
responsabilidade solidária. ficar-se-á o mais idoso.
§ 2º Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato Art. 78. O Presidente e o Vice-Presidente da República tomarão
é parte legítima para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou posse em sessão do Congresso Nacional, prestando o compromisso
ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União. de manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, pro-
Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no mover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integri-
que couber, à organização, composição e fiscalização dos Tribunais dade e a independência do Brasil.
de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais Parágrafo único. Se, decorridos dez dias da data fixada para
e Conselhos de Contas dos Municípios. a posse, o Presidente ou o Vice-Presidente, salvo motivo de força
Parágrafo único. As Constituições estaduais disporão sobre os maior, não tiver assumido o cargo, este será declarado vago.
Tribunais de Contas respectivos, que serão integrados por sete Con- Art. 79. Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e su-
selheiros. ceder-lhe-á, no de vaga, o Vice-Presidente.
Parágrafo único. O Vice-Presidente da República, além de ou-
Referências Bibliográficas: tras atribuições que lhe forem conferidas por lei complementar, au-
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Con- xiliará o Presidente, sempre que por ele convocado para missões
cursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. especiais.
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 11 edição – São Art. 80. Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Pre-
Paulo: Editora Método. sidente, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente
chamados ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos
Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal.
Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da
PODER EXECUTIVO: ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DA República, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última
REPÚBLICA E DOS MINISTROS DE ESTADO vaga.
§ 1º - Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período
Presidente da República, Vice-Presidente da República e Mi- presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias
nistros de Estado depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei.
§ 2º - Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o
• Presidente e Vice-Presidente período de seus antecessores.
O Poder Executivo, em âmbito federal, é exercido pelo Presi- Art. 82. O mandato do Presidente da República é de 4 (quatro)
dente da República, auxiliado pelos ministros de Estado. anos e terá início em 5 de janeiro do ano seguinte ao de sua eleição.
Como função típica, compete ao Poder Executivo administrar a (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 111, de 2021)
coisa pública. Atipicamente, o mesmo legisla (medidas provisórias, Art. 83. O Presidente e o Vice-Presidente da República não po-
leis delegadas e decretos autônomos) e julga (processos adminis- derão, sem licença do Congresso Nacional, ausentar-se do País por
trativos). período superior a quinze dias, sob pena de perda do cargo.
Segue abaixo os artigos 76 a 86 da CF:
SEÇÃO II
DAS ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA
CAPÍTULO II
DO PODER EXECUTIVO
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
I - nomear e exonerar os Ministros de Estado;
SEÇÃO I
II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção
DO PRESIDENTE E DO VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA
superior da administração federal;
III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos
Art. 76. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da Repú-
nesta Constituição;
blica, auxiliado pelos Ministros de Estado. IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como
Art. 77. A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da Repú- expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução;
blica realizar-se-á, simultaneamente, no primeiro domingo de ou- V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente;
tubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em se- VI – dispor, mediante decreto, sobre:
gundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato a) organização e funcionamento da administração federal,
presidencial vigente. quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção
§ 1º A eleição do Presidente da República importará a do Vice- de órgãos públicos;
-Presidente com ele registrado. b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;
§ 2º Será considerado eleito Presidente o candidato que, regis- VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus
trado por partido político, obtiver a maioria absoluta de votos, não representantes diplomáticos;
computados os em branco e os nulos. VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujei-
§ 3º Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na pri- tos a referendo do Congresso Nacional;
meira votação, far-se-á nova eleição em até vinte dias após a pro- IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio;
clamação do resultado, concorrendo os dois candidatos mais vota- X - decretar e executar a intervenção federal;
dos e considerando-se eleito aquele que obtiver a maioria dos votos XI - remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Na-
válidos. cional por ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a si-
tuação do País e solicitando as providências que julgar necessárias;

227
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se ne- VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
cessário, dos órgãos instituídos em lei; Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial,
XIII - exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear que estabelecerá as normas de processo e julgamento.
os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promo- Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República,
ver seus oficiais-generais e nomeá-los para os cargos que lhes são por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a jul-
privativos; gamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais
XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Minis- comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabili-
tros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Go- dade.
vernadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o pre- § 1º O Presidente ficará suspenso de suas funções:
sidente e os diretores do banco central e outros servidores, quando I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou quei-
determinado em lei; xa-crime pelo Supremo Tribunal Federal;
XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do pro-
Tribunal de Contas da União; cesso pelo Senado Federal.
XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Consti- § 2º Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamen-
tuição, e o Advogado-Geral da União; to não estiver concluído, cessará o afastamento do Presidente, sem
XVII - nomear membros do Conselho da República, nos termos prejuízo do regular prosseguimento do processo.
do art. 89, VII; § 3º Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infra-
XVIII - convocar e presidir o Conselho da República e o Conselho ções comuns, o Presidente da República não estará sujeito a prisão.
de Defesa Nacional; § 4º O Presidente da República, na vigência de seu mandato,
XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autori- não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de
zado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocor- suas funções.
rida no intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas condições,
decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional; Ministros de Estado
XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congres- Os Ministros de Estado exercem a função de auxiliares do Pre-
so Nacional; sidente da República na direção superior da Administração Pública
XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas; federal.
XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que Têm disposição legal nos Artigos 87 e 88 da CF. Vejamos:
forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele per-
maneçam temporariamente; SEÇÃO IV
XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o pro- DOS MINISTROS DE ESTADO
jeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento
previstos nesta Constituição; Art. 87. Os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasilei-
XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de ros maiores de vinte e um anos e no exercício dos direitos políticos.
sessenta dias após a abertura da sessão legislativa, as contas refe- Parágrafo único. Compete ao Ministro de Estado, além de ou-
rentes ao exercício anterior; tras atribuições estabelecidas nesta Constituição e na lei:
XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma I - exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos
da lei; e entidades da administração federal na área de sua competência
XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos termos e referendar os atos e decretos assinados pelo Presidente da Repú-
do art. 62; blica;
XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta Constituição. II - expedir instruções para a execução das leis, decretos e re-
XXVIII - propor ao Congresso Nacional a decretação do estado gulamentos;
de calamidade pública de âmbito nacional previsto nos arts. 167- III - apresentar ao Presidente da República relatório anual de
B, 167-C, 167-D, 167-E, 167-F e 167-G desta Constituição. (Incluído sua gestão no Ministério;
pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021) IV - praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem
Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as outorgadas ou delegadas pelo Presidente da República.
atribuições mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, Art. 88. A lei disporá sobre a criação e extinção de Ministérios e
aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao órgãos da administração pública.
Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas
respectivas delegações. Imunidade, Crimes Comuns, Crimes de Responsabilidade (Lei
nº 1.079 de 1950) e Impeachment
SEÇÃO III
DA RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA • Imunidades do Presidente
O Presidente não poderá ser preso, salvo em razão de uma sen-
Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente tença penal condenatória com trânsito em julgado. Ademais, o Pre-
da República que atentem contra a Constituição Federal e, especial- sidente, durante o mandato, não poderá ser processado por atos
mente, contra: estranhos ao exercício da função, ou seja, só poderá ser processado
I - a existência da União; pela prática de crimes ex officio, assim considerados aqueles prati-
II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do cados em razão do exercício da função presidencial (como exemplo:
Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da crimes contra a Administração Pública).
Federação;
III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais; • Crimes Comuns
IV - a segurança interna do País; O Presidente da República será processado e julgado perante
V - a probidade na administração; o STF, nas infrações penais comuns, após admitida a acusação por
VI - a lei orçamentária; dois terços da Câmara dos Deputados (juízo de admissibilidade)

228
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
• Crimes de Responsabilidade (Lei nº 1.079 de 1950) e Impe- § 2º A lei regulará a organização e o funcionamento do Conse-
achment lho da República.
Os crimes de responsabilidade (também chamados de impea-
chment ou impedimento), são infrações político-administrativas SUBSEÇÃO II
cometidas no desempenho de funções políticas, definidas por lei DO CONSELHO DE DEFESA NACIONAL
especial federal.
O Artigo 85 da CF traz um rol de crimes de responsabilidade Art. 91. O Conselho de Defesa Nacional é órgão de consulta do
meramente exemplificativo, uma vez que seu próprio parágrafo Presidente da República nos assuntos relacionados com a soberania
único dispõe que tais crimes serão definidos em lei especial, que nacional e a defesa do Estado democrático, e dele participam como
estabelecerá as normas de processo e julgamento. membros natos:
A Lei nº 1.079 de 1950 define os crimes de responsabilidade e I - o Vice-Presidente da República;
regula o respectivo processo de julgamento, que, segundo o STF, foi II - o Presidente da Câmara dos Deputados;
recepcionada com modificações decorrentes da Constituição. III - o Presidente do Senado Federal;
De acordo com o Artigo 86, caput, da CF, o Presidente da Re- IV - o Ministro da Justiça;
pública será processado e julgado por crimes de responsabilidade V - o Ministro de Estado da Defesa;
perante o Senado Federal, após admitida a acusação por dois terços VI - o Ministro das Relações Exteriores;
da Câmara dos Deputados (juízo de admissibilidade). VII - o Ministro do Planejamento.
VIII - os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáu-
O quadro abaixo ilustra as hipóteses de julgamento do Presi- tica.
dente da República: § 1º Compete ao Conselho de Defesa Nacional:
I - opinar nas hipóteses de declaração de guerra e de celebra-
Julgamento do Presidente da República ção da paz, nos termos desta Constituição;
II - opinar sobre a decretação do estado de defesa, do estado de
Juízo de admissibilidade: Câmara dos Deputados por 2/3 sítio e da intervenção federal;
Crime comum → STF Crime de responsabilidade → III - propor os critérios e condições de utilização de áreas in-
Senado Federal dispensáveis à segurança do território nacional e opinar sobre seu
efetivo uso, especialmente na faixa de fronteira e nas relacionadas
Conselho da República e Conselho de Defesa Nacional com a preservação e a exploração dos recursos naturais de qual-
O Conselho da República (Artigos 89 e 90, da CF) e o Conselho quer tipo;
de Defesa Nacional (Artigo 91 da CF), são órgãos de assessoramento IV - estudar, propor e acompanhar o desenvolvimento de inicia-
superior do Presidente da República, cujas manifestações não pos- tivas necessárias a garantir a independência nacional e a defesa do
suem caráter vinculante. Estado democrático.
Conforme o Artigo 84, XVIII, compete privativamente ao Presi- § 2º A lei regulará a organização e o funcionamento do Conse-
dente da República convocar e presidir o Conselho da República e o lho de Defesa Nacional.
Conselho de Defesa Nacional.
Vejamos os artigos supracitados correspondentes ao tema: Referências Bibliográficas:
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Con-
SEÇÃO V cursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.
DO CONSELHO DA REPÚBLICA E DO CONSELHO DE DEFESA
NACIONAL

SUBSEÇÃO I PODER JUDICIÁRIO: DISPOSIÇÕES GERAIS E CONSELHO


DO CONSELHO DA REPÚBLICA NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ)

Art. 89. O Conselho da República é órgão superior de consulta Disposições Gerais no Poder Judiciário
do Presidente da República, e dele participam: Como função típica, compete ao Poder Judiciário aplicar a lei
I - o Vice-Presidente da República; ao caso concreto, substituindo a vontade das partes, resolvendo o
II - o Presidente da Câmara dos Deputados; conflito de interesses de forma definitiva. Atipicamente, administra
III - o Presidente do Senado Federal; seus órgãos e pessoal, nomeando servidores, executando licitações
IV - os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputa- e contratos administrativos, etc., bem assim, legisla, elaborando os
dos; regimentos internos dos tribunais (Artigo 96, I, a).
V - os líderes da maioria e da minoria no Senado Federal; As Disposições Gerais no Poder Judiciário estão previstas na CF,
VI - o Ministro da Justiça; dos Artigos 92 a 100. Vejamos:
VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco
anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República, CAPÍTULO III
dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos De- DO PODER JUDICIÁRIO
putados, todos com mandato de três anos, vedada a recondução.
Art. 90. Compete ao Conselho da República pronunciar-se so- SEÇÃO I
bre: DISPOSIÇÕES GERAIS
I - intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio;
II - as questões relevantes para a estabilidade das instituições Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário:
democráticas. I - o Supremo Tribunal Federal;
§ 1º O Presidente da República poderá convocar Ministro de I-A o Conselho Nacional de Justiça;
Estado para participar da reunião do Conselho, quando constar da II - o Superior Tribunal de Justiça;
pauta questão relacionada com o respectivo Ministério.

229
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
II-A - o Tribunal Superior do Trabalho; (Incluído pela Emenda VIII-A a remoção a pedido ou a permuta de magistrados de co-
Constitucional nº 92, de 2016) marca de igual entrância atenderá, no que couber, ao disposto nas
III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; alíneas a , b , c e e do inciso II;
IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho; IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão
V - os Tribunais e Juízes Eleitorais; públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade,
VI - os Tribunais e Juízes Militares; podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias
VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais
Territórios. a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não
§ 1º O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justi- prejudique o interesse público à informação;
ça e os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal. X as decisões administrativas dos tribunais serão motivadas
§ 2º O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm e em sessão pública, sendo as disciplinares tomadas pelo voto da
jurisdição em todo o território nacional. maioria absoluta de seus membros;
Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal XI nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores,
Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os poderá ser constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o
seguintes princípios: máximo de vinte e cinco membros, para o exercício das atribuições
administrativas e jurisdicionais delegadas da competência do tribu-
I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substi-
nal pleno, provendo-se metade das vagas por antiguidade e a outra
tuto, mediante concurso público de provas e títulos, com a partici-
metade por eleição pelo tribunal pleno;
pação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases, exi-
XII a atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo vedado fé-
gindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade
rias coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau, funcionando,
jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação;
nos dias em que não houver expediente forense normal, juízes em
II - promoção de entrância para entrância, alternadamente, por
plantão permanente;
antiguidade e merecimento, atendidas as seguintes normas: XIII o número de juízes na unidade jurisdicional será proporcio-
a) é obrigatória a promoção do juiz que figure por três vezes nal à efetiva demanda judicial e à respectiva população;
consecutivas ou cinco alternadas em lista de merecimento; XIV os servidores receberão delegação para a prática de atos
b) a promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercí- de administração e atos de mero expediente sem caráter decisório;
cio na respectiva entrância e integrar o juiz a primeira quinta parte XV a distribuição de processos será imediata, em todos os graus
da lista de antiguidade desta, salvo se não houver com tais requisi- de jurisdição.
tos quem aceite o lugar vago; Art. 94. Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Fede-
c) aferição do merecimento conforme o desempenho e pelos rais, dos Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e Territórios
critérios objetivos de produtividade e presteza no exercício da ju- será composto de membros, do Ministério Público, com mais de dez
risdição e pela frequência e aproveitamento em cursos oficiais ou anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de re-
reconhecidos de aperfeiçoamento; putação ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profis-
d) na apuração de antiguidade, o tribunal somente poderá re- sional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação
cusar o juiz mais antigo pelo voto fundamentado de dois terços de das respectivas classes.
seus membros, conforme procedimento próprio, e assegurada am- Parágrafo único. Recebidas as indicações, o tribunal formará
pla defesa, repetindo-se a votação até fixar-se a indicação; lista tríplice, enviando-a ao Poder Executivo, que, nos vinte dias sub-
e) não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver sequentes, escolherá um de seus integrantes para nomeação.
autos em seu poder além do prazo legal, não podendo devolvê-los Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias:
ao cartório sem o devido despacho ou decisão; I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após
III o acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por antigui- dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período,
dade e merecimento, alternadamente, apurados na última ou única de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos de-
entrância; mais casos, de sentença judicial transitada em julgado;
IV previsão de cursos oficiais de preparação, aperfeiçoamen- II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na
to e promoção de magistrados, constituindo etapa obrigatória do forma do art. 93, VIII;
processo de vitaliciamento a participação em curso oficial ou re- III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts.
conhecido por escola nacional de formação e aperfeiçoamento de 37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.
magistrados; Parágrafo único. Aos juízes é vedado:
V - o subsídio dos Ministros dos Tribunais Superiores corresponderá I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou fun-
a noventa e cinco por cento do subsídio mensal fixado para os Ministros ção, salvo uma de magistério;
do Supremo Tribunal Federal e os subsídios dos demais magistrados se- II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação
rão fixados em lei e escalonados, em nível federal e estadual, conforme em processo;
as respectivas categorias da estrutura judiciária nacional, não podendo III - dedicar-se à atividade político-partidária.
a diferença entre uma e outra ser superior a dez por cento ou inferior IV receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribui-
a cinco por cento, nem exceder a noventa e cinco por cento do subsídio ções de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas
mensal dos Ministros dos Tribunais Superiores, obedecido, em qualquer as exceções previstas em lei;
caso, o disposto nos arts. 37, XI, e 39, § 4º; V exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou,
VI - a aposentadoria dos magistrados e a pensão de seus de- antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposen-
pendentes observarão o disposto no art. 40; tadoria ou exoneração.
VII o juiz titular residirá na respectiva comarca, salvo autoriza- Art. 96. Compete privativamente:
ção do tribunal; I - aos tribunais:
VIII - o ato de remoção ou de disponibilidade do magistrado, a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos in-
por interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria ternos, com observância das normas de processo e das garantias
absoluta do respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, processuais das partes, dispondo sobre a competência e o funciona-
assegurada ampla defesa; (Redação dada pela Emenda Constitucio- mento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos;
nal nº 103, de 2019)

230
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os dos juí- fins de consolidação da proposta orçamentária anual, os valores
zos que lhes forem vinculados, velando pelo exercício da atividade aprovados na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com os
correicional respectiva; limites estipulados na forma do § 1º deste artigo.
c) prover, na forma prevista nesta Constituição, os cargos de § 4º Se as propostas orçamentárias de que trata este artigo
juiz de carreira da respectiva jurisdição; forem encaminhadas em desacordo com os limites estipulados na
d) propor a criação de novas varas judiciárias; forma do § 1º, o Poder Executivo procederá aos ajustes necessários
e) prover, por concurso público de provas, ou de provas e títu- para fins de consolidação da proposta orçamentária anual.
los, obedecido o disposto no art. 169, parágrafo único, os cargos ne- § 5º Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá
cessários à administração da Justiça, exceto os de confiança assim haver a realização de despesas ou a assunção de obrigações que ex-
definidos em lei; trapolem os limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias,
f) conceder licença, férias e outros afastamentos a seus mem- exceto se previamente autorizadas, mediante a abertura de créditos
bros e aos juízes e servidores que lhes forem imediatamente vincu- suplementares ou especiais.
lados; Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Fe-
II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos deral, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judi-
Tribunais de Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, observa- ciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresen-
do o disposto no art. 169: tação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a
a) a alteração do número de membros dos tribunais inferiores; designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e
b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus nos créditos adicionais abertos para este fim.
serviços auxiliares e dos juízos que lhes forem vinculados, bem como § 1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aque-
a fixação do subsídio de seus membros e dos juízes, inclusive dos les decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas
tribunais inferiores, onde houver; complementações, benefícios previdenciários e indenizações por
c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores; morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em vir-
d) a alteração da organização e da divisão judiciárias; tude de sentença judicial transitada em julgado, e serão pagos com
III - aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais e do Dis- preferência sobre todos os demais débitos, exceto sobre aqueles re-
trito Federal e Territórios, bem como os membros do Ministério Pú- feridos no § 2º deste artigo.
blico, nos crimes comuns e de responsabilidade, ressalvada a com- § 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares, origi-
petência da Justiça Eleitoral. nários ou por sucessão hereditária, tenham 60 (sessenta) anos de
Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus mem- idade, ou sejam portadores de doença grave, ou pessoas com defi-
bros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tri- ciência, assim definidos na forma da lei, serão pagos com preferên-
bunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do cia sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo
Poder Público. fixado em lei para os fins do disposto no § 3º deste artigo, admitido
Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Esta- o fracionamento para essa finalidade, sendo que o restante será
dos criarão: pago na ordem cronológica de apresentação do precatório. (Reda-
I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados ção dada pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016)
e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execu- § 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à expe-
ção de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de dição de precatórios não se aplica aos pagamentos de obrigações
menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e suma- definidas em leis como de pequeno valor que as Fazendas referidas
ríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o devam fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado.
julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau; § 4º Para os fins do disposto no § 3º, poderão ser fixados, por
II - justiça de paz, remunerada, composta de cidadãos eleitos leis próprias, valores distintos às entidades de direito público, se-
pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de quatro anos gundo as diferentes capacidades econômicas, sendo o mínimo igual
e competência para, na forma da lei, celebrar casamentos, verificar, ao valor do maior benefício do regime geral de previdência social.
de ofício ou em face de impugnação apresentada, o processo de § 5º É obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de
habilitação e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdi- direito público, de verba necessária ao pagamento de seus débitos,
cional, além de outras previstas na legislação. oriundos de sentenças transitadas em julgado, constantes de preca-
§ 1º Lei federal disporá sobre a criação de juizados especiais no tórios judiciários apresentados até 1º de julho, fazendo-se o paga-
âmbito da Justiça Federal. mento até o final do exercício seguinte, quando terão seus valores
§ 2º As custas e emolumentos serão destinados exclusivamente atualizados monetariamente.
ao custeio dos serviços afetos às atividades específicas da Justiça. § 6º As dotações orçamentárias e os créditos abertos serão con-
Art. 99. Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia adminis- signados diretamente ao Poder Judiciário, cabendo ao Presidente
trativa e financeira. do Tribunal que proferir a decisão exequenda determinar o paga-
§ 1º Os tribunais elaborarão suas propostas orçamentárias mento integral e autorizar, a requerimento do credor e exclusiva-
dentro dos limites estipulados conjuntamente com os demais Pode- mente para os casos de preterimento de seu direito de precedência
res na lei de diretrizes orçamentárias. ou de não alocação orçamentária do valor necessário à satisfação
§ 2º O encaminhamento da proposta, ouvidos os outros tribu- do seu débito, o sequestro da quantia respectiva.
nais interessados, compete: § 7º O Presidente do Tribunal competente que, por ato comis-
I - no âmbito da União, aos Presidentes do Supremo Tribunal sivo ou omissivo, retardar ou tentar frustrar a liquidação regular de
Federal e dos Tribunais Superiores, com a aprovação dos respectivos
precatórios incorrerá em crime de responsabilidade e responderá,
tribunais;
também, perante o Conselho Nacional de Justiça.
II - no âmbito dos Estados e no do Distrito Federal e Territórios,
§ 8º É vedada a expedição de precatórios complementares ou
aos Presidentes dos Tribunais de Justiça, com a aprovação dos res-
suplementares de valor pago, bem como o fracionamento, reparti-
pectivos tribunais.
ção ou quebra do valor da execução para fins de enquadramento de
§ 3º Se os órgãos referidos no § 2º não encaminharem as res-
parcela do total ao que dispõe o § 3º deste artigo.
pectivas propostas orçamentárias dentro do prazo estabelecido na
lei de diretrizes orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para

231
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 9º Sem que haja interrupção no pagamento do precatório e § 18. Entende-se como receita corrente líquida, para os fins de
mediante comunicação da Fazenda Pública ao Tribunal, o valor cor- que trata o § 17, o somatório das receitas tributárias, patrimoniais,
respondente aos eventuais débitos inscritos em dívida ativa contra industriais, agropecuárias, de contribuições e de serviços, de trans-
o credor do requisitório e seus substituídos deverá ser depositado à ferências correntes e outras receitas correntes, incluindo as oriundas
conta do juízo responsável pela ação de cobrança, que decidirá pelo do § 1º do art. 20 da Constituição Federal, verificado no período com-
seu destino definitivo. (Redação dada pela Emenda Constitucional preendido pelo segundo mês imediatamente anterior ao de referência
nº 113, de 2021) e os 11 (onze) meses precedentes, excluídas as duplicidades, e deduzi-
§ 10. Antes da expedição dos precatórios, o Tribunal solicitará das: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016)
à Fazenda Pública devedora, para resposta em até 30 (trinta) dias, I - na União, as parcelas entregues aos Estados, ao Distrito Fe-
sob pena de perda do direito de abatimento, informação sobre os deral e aos Municípios por determinação constitucional; (Incluído
débitos que preencham as condições estabelecidas no § 9º, para os pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016)
fins nele previstos. II - nos Estados, as parcelas entregues aos Municípios por de-
§ 11. É facultada ao credor, conforme estabelecido em lei do terminação constitucional; (Incluído pela Emenda Constitucional nº
ente federativo devedor, com auto aplicabilidade para a União, a 94, de 2016)
oferta de créditos líquidos e certos que originalmente lhe são pró- III - na União, nos Estados, no Distrito Federal e nos Municípios,
prios ou adquiridos de terceiros reconhecidos pelo ente federativo a contribuição dos servidores para custeio de seu sistema de previ-
ou por decisão judicial transitada em julgado para: (Redação dada dência e assistência social e as receitas provenientes da compensa-
pela Emenda Constitucional nº 113, de 2021) ção financeira referida no § 9º do art. 201 da Constituição Federal.
I - quitação de débitos parcelados ou débitos inscritos em dívida (Incluído pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016)
ativa do ente federativo devedor, inclusive em transação resolutiva § 19. Caso o montante total de débitos decorrentes de condena-
de litígio, e, subsidiariamente, débitos com a administração autár- ções judiciais em precatórios e obrigações de pequeno valor, em pe-
quica e fundacional do mesmo ente; (Incluído pela Emenda Consti- ríodo de 12 (doze) meses, ultrapasse a média do comprometimento
tucional nº 113, de 2021) percentual da receita corrente líquida nos 5 (cinco) anos imediata-
II - compra de imóveis públicos de propriedade do mesmo ente mente anteriores, a parcela que exceder esse percentual poderá ser
disponibilizados para venda; (Incluído pela Emenda Constitucional financiada, excetuada dos limites de endividamento de que tratam
nº 113, de 2021) os incisos VI e VII do art. 52 da Constituição Federal e de quaisquer
III - pagamento de outorga de delegações de serviços públicos outros limites de endividamento previstos, não se aplicando a esse
e demais espécies de concessão negocial promovidas pelo mesmo financiamento a vedação de vinculação de receita prevista no inciso
ente; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 113, de 2021) IV do art. 167 da Constituição Federal. (Incluído pela Emenda Cons-
IV - aquisição, inclusive minoritária, de participação societária, titucional nº 94, de 2016)
disponibilizada para venda, do respectivo ente federativo; ou (In- § 20. Caso haja precatório com valor superior a 15% (quinze por
cluído pela Emenda Constitucional nº 113, de 2021) cento) do montante dos precatórios apresentados nos termos do §
V - compra de direitos, disponibilizados para cessão, do respec- 5º deste artigo, 15% (quinze por cento) do valor deste precatório
tivo ente federativo, inclusive, no caso da União, da antecipação de serão pagos até o final do exercício seguinte e o restante em parce-
valores a serem recebidos a título do excedente em óleo em contra- las iguais nos cinco exercícios subsequentes, acrescidas de juros de
tos de partilha de petróleo. (Incluído pela Emenda Constitucional nº mora e correção monetária, ou mediante acordos diretos, perante
113, de 2021) Juízos Auxiliares de Conciliação de Precatórios, com redução máxi-
§ 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a ma de 40% (quarenta por cento) do valor do crédito atualizado, des-
atualização de valores de requisitórios, após sua expedição, até o de que em relação ao crédito não penda recurso ou defesa judicial
efetivo pagamento, independentemente de sua natureza, será feita e que sejam observados os requisitos definidos na regulamentação
pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupan- editada pelo ente federado. (Incluído pela Emenda Constitucional
ça, e, para fins de compensação da mora, incidirão juros simples no nº 94, de 2016)
mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de pou- § 21. Ficam a União e os demais entes federativos, nos mon-
pança, ficando excluída a incidência de juros compensatórios. tantes que lhes são próprios, desde que aceito por ambas as partes,
§ 13. O credor poderá ceder, total ou parcialmente, seus créditos autorizados a utilizar valores objeto de sentenças transitadas em
em precatórios a terceiros, independentemente da concordância do de- julgado devidos a pessoa jurídica de direito público para amortizar
vedor, não se aplicando ao cessionário o disposto nos §§ 2º e 3º. dívidas, vencidas ou vincendas: (Incluído pela Emenda Constitucio-
§ 14. A cessão de precatórios, observado o disposto no § 9º des- nal nº 113, de 2021)
te artigo, somente produzirá efeitos após comunicação, por meio I - nos contratos de refinanciamento cujos créditos sejam deti-
de petição protocolizada, ao Tribunal de origem e ao ente federa- dos pelo ente federativo que figure como devedor na sentença de
tivo devedor. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 113, que trata o caput deste artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional
de 2021) nº 113, de 2021)
§ 15. Sem prejuízo do disposto neste artigo, lei complementar a II - nos contratos em que houve prestação de garantia a outro ente
esta Constituição Federal poderá estabelecer regime especial para federativo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 113, de 2021)
pagamento de crédito de precatórios de Estados, Distrito Federal e III - nos parcelamentos de tributos ou de contribuições sociais;
Municípios, dispondo sobre vinculações à receita corrente líquida e (Incluído pela Emenda Constitucional nº 113, de 2021)
forma e prazo de liquidação. IV - nas obrigações decorrentes do descumprimento de pres-
§ 16. A seu critério exclusivo e na forma de lei, a União poderá tação de contas ou de desvio de recursos. (Incluído pela Emenda
assumir débitos, oriundos de precatórios, de Estados, Distrito Fede- Constitucional nº 113, de 2021)
ral e Municípios, refinanciando-os diretamente. § 22. A amortização de que trata o § 21 deste artigo: (Incluído
§ 17. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios pela Emenda Constitucional nº 113, de 2021)
aferirão mensalmente, em base anual, o comprometimento de suas I - nas obrigações vencidas, será imputada primeiramente às
respectivas receitas correntes líquidas com o pagamento de preca- parcelas mais antigas; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 113,
tórios e obrigações de pequeno valor. (Incluído pela Emenda Consti- de 2021)
tucional nº 94, de 2016)

232
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
II - nas obrigações vincendas, reduzirá uniformemente o valor
de cada parcela devida, mantida a duração original do respectivo FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA: MINISTÉRIO PÚBLI-
contrato ou parcelamento. (Incluído pela Emenda Constitucional nº CO, ADVOCACIA E DEFENSORIAS PÚBLICAS
113, de 2021)
O Capítulo IV, do Título IV, da Constituição Federal de 1988
Garantias do Poder Judiciário e de seus Membros cuida das Funções Essenciais à Justiça compostas pelo Ministério
Público, pela Advocacia Pública, pela Defensoria Pública e pela Ad-
• Garantias Funcionais vocacia Privada.
→ ingresso por concurso público; Tais órgãos, que não integram a estrutura do Poder Judiciário,
→ a promoção se dará de entrância para entrância, alternada- mas atuam perante ele, provocam a tutela jurisdicional, haja vista
mente, por antiguidade e merecimento; que o Judiciário não age de ofício, somente por provocação.
→ o acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por antigui- Vejamos abaixo o perfil constitucional de cada órgão integrante
dade e merecimento, alternadamente, apurados na última ou única do gênero funções essenciais à Justiça.
entrância;
→ o Estatuto da Magistratura deve prever cursos oficiais de — Ministério Público
preparação, aperfeiçoamento e promoção de magistrados; O Ministério Público é instituição permanente, essencial à fun-
→ remuneração por subsídio; ção jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem ju-
→ residência na comarca; rídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
→ o ato de remoção; indisponíveis.
→ disponibilidade e aposentadoria do magistrado, por interes-
se público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria absoluta do Princípios Institucionais do MP
respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada Segundo o Artigo 127, § 1º da CF, são princípios institucionais
ampla defesa; do MP a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional.
→ princípio da fundamentação obrigatória; • O Princípio da Unidade está afeto à ideia de que todos os
→ órgão especial; membros do MP integram um único órgão, possuindo uma única
→ continuidade da atividade jurisdicional; estrutura e sendo chefiado por um só procurador-geral;
→ proporcionalidade juízes/demanda; • De acordo com o Princípio da Indivisibilidade, os membros
→ funcionamento adequado; do Ministério Público não estão vinculados aos processos nos quais
→ vitaliciedade; atuam, podendo ser substituídos uns pelos outros, desde que se-
→ inamovibilidade; jam do mesmo ramo do MP, haja vista que o ato é praticado pela
→ irredutibilidade de subsídio. instituição e não pelo agente;
• O Princípio da Independência Funcional, significa que o
Vedações membro do MP, quando atua em um processo, não está subordina-
São Vedações dos Magistrados, de acordo com o Artigo 95, pa- do a ninguém, nem mesmo ao seu procurador-geral, vinculando-se,
rágrafo único e incisos, da CF: tão somente, à sua consciência jurídica.
I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou fun-
ção, salvo uma de magistério; Garantias Institucionais do MP
II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participa- a) Autonomia funcional: como sinônimo de independência
ção em processo; funcional, significa dizer que o membro do Ministério Público, no
III - dedicar-se à atividade político-partidária; cumprimento de suas atribuições constitucionais e legais, não está
IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribui- subordinado a ninguém, nem mesmo ao seu procurador-geral, con-
ções de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas dicionando sua atuação tão somente à sua consciência jurídica;
as exceções previstas em lei; b) Autonomia administrativa: poder de gestão sobre a admi-
V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, nistração dos seus órgãos, bens e pessoas, segundo as normas le-
antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposen- gais pertinentes, editadas pela entidade estatal competente;
tadoria ou exoneração (chamada de quarentena). c) Autonomia financeira: capacidade de elaboração da propos-
ta orçamentária e de gestão e aplicação dos recursos destinados a
Quinto Constitucional da OAB e do MP prover as atividades e serviços dos órgãos do MP (Artigo 127, §§ 3º
Previsto no Artigo 94 da CF, um quinto das vagas nos TRFs, dos ao 6º);
TJs dos estados e do TJ do Distrito Federal e Territórios será composto d) Iniciativa do processo legislativo: disposto nos Artigos 127,
de membros, do Ministério Público, com mais de dez anos de carrei- § 2º e 128, § 5º, da CF;
ra, e de advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, e) Vedação de promotor ad hoc: disposto no Artigo 129, § 2º,
com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em da CF;
lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes. f) Ingresso da carreira por concurso público: disposto no Arti-
Recebidas as indicações apresentadas pelos órgãos representa- go 129, § 3º, da CF;
tivos das respectivas classes (Ministério Público ou OAB), o tribunal g) Distribuição imediata de processo: disposto no Artigo 129,
(TRF, TJ ou TJDFT) formará uma lista tríplice, enviando-a ao Poder § 5º, da CF.
Executivo, que, nos vinte dias subsequentes, escolherá um de seus
integrantes para nomeação. Órgãos do MP Brasileiro
a) Ministério Público da União: formado pelo Ministério Pú-
Referências Bibliográficas: blico Federal, pelo Ministério Público do Trabalho, pelo Ministério
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Con- Público Militar e pelo Ministério Público do Distrito Federal e terri-
cursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier tórios;
b) Ministérios Públicos dos Estados.

233
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Observe abaixo a ilustração que demonstra de forma simples a composição do MP Brasileiro:

Procurador Geral da República


Escolhido pelo Presidente, dentre os integrantes da carreira com mais de 35 anos, sendo seu nome indicado ao Senado, que o apro-
vará, ou não, por maioria absoluta de votos.
Exerce mandato de 2 anos, permitindo-se reconduções sucessivas. A cada nova recondução, deve-se submeter o nome à nova apro-
vação pelo Senado Federal.
A destituição do PGR pelo Presidente da República depende de prévia autorização do Senado Federal por maioria absoluta da Casa.

Procuradores Gerais de Justiça


Os Ministérios Públicos dos estados e o Ministério Público do Distrito Federal e territórios formarão lista tríplice dentre integrantes
da carreira, na forma da lei respectiva, para escolha de seu procurador-geral, que será nomeado pelo Chefe do Poder Executivo respectivo
(governador dos estados e Presidente da República, no caso do MPDFT), para um mandato de dois anos, permitida uma recondução.
Ademais, os procuradores-gerais nos Estados e no Distrito Federal e territórios poderão ser destituídos por deliberação da maioria
absoluta do Poder legislativo, na forma da lei complementar respectiva.

Garantias Funcionais do MP
De acordo com o Artigo 128, § 5º, I, da CF, os membros do MP gozam das seguintes garantias funcionais:
a) vitaliciedade: após 2 anos de exercício, não podendo perder o cargo senão por sentença judicial transitada em julgado;
b) inamovibilidade: salvo por motivo de interesse público, mediante decisão do órgão colegiado competente do MP, por voto da
maioria absoluta de seus membros, assegurada ampla defesa;
c) irredutibilidade de subsídio.

Vedações aos Membros do MP


Estão elencadas no Artigo 128, II e alíneas, da CF:
a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas processuais;
b) exercer a advocacia;
c) participar de sociedade comercial, na forma da lei;
d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério;
e) exercer atividade político-partidária;
f) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as
exceções previstas em lei;
g) exercício da advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorrido três anos do seu afastamento do cargo por razões
de aposentadoria ou exoneração.
Funções Institucionais do MP
As funções institucionais do MP estão exemplificativamente (rol não taxativo) elencadas no Artigo 129, da CF.

Conselho Nacional do Ministério Público – CNMP


O CNMP não é um órgão que integra a estrutura do Ministério Público. Trata-se de um tribunal administrativo com a função de con-
trolar a atuação administrativa e financeira do Ministério Público e do cumprimento dos deveres funcionais de seus membros.
Seguem abaixo as disposições constitucionais referentes ao Ministério Público:

CAPÍTULO IV
DAS FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA
(REDAÇÃO DADA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 80, DE 2014)

SEÇÃO I
DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
§ 1º São princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional.

234
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 2º Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e b) exercer a advocacia;
administrativa, podendo, observado o disposto no art. 169, propor c) participar de sociedade comercial, na forma da lei;
ao Poder Legislativo a criação e extinção de seus cargos e serviços d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra fun-
auxiliares, provendo-os por concurso público de provas ou de ção pública, salvo uma de magistério;
provas e títulos, a política remuneratória e os planos de carreira; a e) exercer atividade político-partidária;
lei disporá sobre sua organização e funcionamento. f) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribui-
§ 3º O Ministério Público elaborará sua proposta orçamentária ções de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas
dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias. as exceções previstas em lei.
§ 4º Se o Ministério Público não encaminhar a respectiva § 6º Aplica-se aos membros do Ministério Público o disposto no
proposta orçamentária dentro do prazo estabelecido na lei de art. 95, parágrafo único, V.
diretrizes orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
fins de consolidação da proposta orçamentária anual, os valores I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma
aprovados na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com os da lei;
limites estipulados na forma do § 3º. II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos servi-
§ 5º Se a proposta orçamentária de que trata este artigo for ços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constitui-
encaminhada em desacordo com os limites estipulados na forma do ção, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;
§ 3º, o Poder Executivo procederá aos ajustes necessários para fins III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a pro-
de consolidação da proposta orçamentária anual. teção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros
§ 6º Durante a execução orçamentária do exercício, não interesses difusos e coletivos;
poderá haver a realização de despesas ou a assunção de obrigações IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação
que extrapolem os limites estabelecidos na lei de diretrizes para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos
orçamentárias, exceto se previamente autorizadas, mediante a nesta Constituição;
abertura de créditos suplementares ou especiais. V - defender judicialmente os direitos e interesses das popula-
Art. 128. O Ministério Público abrange: ções indígenas;
I - o Ministério Público da União, que compreende: VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de
a) o Ministério Público Federal; sua competência, requisitando informações e documentos para ins-
b) o Ministério Público do Trabalho; truí-los, na forma da lei complementar respectiva;
c) o Ministério Público Militar; VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma
d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios; da lei complementar mencionada no artigo anterior;
II - os Ministérios Públicos dos Estados. VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de
§ 1º O Ministério Público da União tem por chefe o Procurador- inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas ma-
Geral da República, nomeado pelo Presidente da República dentre nifestações processuais;
integrantes da carreira, maiores de trinta e cinco anos, após a IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que
aprovação de seu nome pela maioria absoluta dos membros compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação
do Senado Federal, para mandato de dois anos, permitida a judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.
recondução. § 1º A legitimação do Ministério Público para as ações civis
§ 2º A destituição do Procurador-Geral da República, por previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas
iniciativa do Presidente da República, deverá ser precedida de hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei.
autorização da maioria absoluta do Senado Federal. § 2º As funções do Ministério Público só podem ser exercidas
§ 3º Os Ministérios Públicos dos Estados e o do Distrito Federal por integrantes da carreira, que deverão residir na comarca da
e Territórios formarão lista tríplice dentre integrantes da carreira, respectiva lotação, salvo autorização do chefe da instituição.
na forma da lei respectiva, para escolha de seu Procurador-Geral, § 3º O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-á
que será nomeado pelo Chefe do Poder Executivo, para mandato de mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a
dois anos, permitida uma recondução. participação da Ordem dos Advogados do Brasil em sua realização,
§ 4º Os Procuradores-Gerais nos Estados e no Distrito Federal exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de
e Territórios poderão ser destituídos por deliberação da maioria atividade jurídica e observando-se, nas nomeações, a ordem de
absoluta do Poder Legislativo, na forma da lei complementar classificação.
respectiva. § 4º Aplica-se ao Ministério Público, no que couber, o disposto
§ 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa
no art. 93.
é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a
§ 5º A distribuição de processos no Ministério Público será
organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público,
imediata.
observadas, relativamente a seus membros:
Art. 130. Aos membros do Ministério Público junto aos Tribu-
I - as seguintes garantias:
nais de Contas aplicam-se as disposições desta seção pertinentes a
a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo per-
direitos, vedações e forma de investidura.
der o cargo senão por sentença judicial transitada em julgado;
Art. 130-A. O Conselho Nacional do Ministério Público compõe-
b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, me-
diante decisão do órgão colegiado competente do Ministério Pú- -se de quatorze membros nomeados pelo Presidente da República,
blico, pelo voto da maioria absoluta de seus membros, assegurada depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Fe-
ampla defesa; deral, para um mandato de dois anos, admitida uma recondução,
c) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. 39, § 4º, sendo:
e ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 150, II, 153, III, 153, § I o Procurador-Geral da República, que o preside;
2º, I; II quatro membros do Ministério Público da União, assegurada
II - as seguintes vedações: a representação de cada uma de suas carreiras;
a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorá- III três membros do Ministério Público dos Estados;
rios, percentagens ou custas processuais;

235
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
IV dois juízes, indicados um pelo Supremo Tribunal Federal e organização e funcionamento (Lei Complementar nº 73/1993), as
outro pelo Superior Tribunal de Justiça; atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Exe-
V dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem cutivo.
dos Advogados do Brasil; Observe o quadro abaixo:
VI dois cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada,
indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Fe- Advocacia-Geral da União
deral.
§ 1º Os membros do Conselho oriundos do Ministério Público Dimensão contenciosa Representação judicial e
serão indicados pelos respectivos Ministérios Públicos, na forma da extrajudicial da União (órgãos
lei. e entidades dos Poderes
§ 2º Compete ao Conselho Nacional do Ministério Público Executivo, Legislativo e
o controle da atuação administrativa e financeira do Ministério Judiciário).
Público e do cumprimento dos deveres funcionais de seus membros, Dimensão consultiva Consultoria e Assessoramento
cabendo lhe: jurídico dos órgãos e entidades
I zelar pela autonomia funcional e administrativa do Ministério do Poder Executivo.
Público, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua
competência, ou recomendar providências; • Advocacia Pública nos Estados e no Distrito Federal
II zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou me- É exercida pelos procuradores dos estados e pelos
diante provocação, a legalidade dos atos administrativos pratica- procuradores do Distrito Federal, organizados em carreira, na qual
dos por membros ou órgãos do Ministério Público da União e dos o ingresso dependerá de concurso público de provas e títulos, com
Estados, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas
se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, fases, cumprindo a representação judicial e a consultoria jurídica
sem prejuízo da competência dos Tribunais de Contas; das respectivas unidades federadas.
III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou ór- Seguem abaixo as disposições constitucionais referentes a Ad-
gãos do Ministério Público da União ou dos Estados, inclusive contra vocacia Pública:
seus serviços auxiliares, sem prejuízo da competência disciplinar e
correicional da instituição, podendo avocar processos disciplinares SEÇÃO II
em curso, determinar a remoção ou a disponibilidade e aplicar ou- DA ADVOCACIA PÚBLICA
tras sanções administrativas, assegurada ampla defesa; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Art. 131. A Advocacia-Geral da União é a instituição que, dire-
IV rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disci- tamente ou através de órgão vinculado, representa a União, judicial
plinares de membros do Ministério Público da União ou dos Estados e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei complementar
julgados há menos de um ano; que dispuser sobre sua organização e funcionamento, as atividades
V elaborar relatório anual, propondo as providências que jul- de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo.
gar necessárias sobre a situação do Ministério Público no País e as § 1º A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado-
atividades do Conselho, o qual deve integrar a mensagem prevista Geral da União, de livre nomeação pelo Presidente da República
no art. 84, XI. dentre cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de notável saber
§ 3º O Conselho escolherá, em votação secreta, um Corregedor jurídico e reputação ilibada.
nacional, dentre os membros do Ministério Público que o integram, § 2º O ingresso nas classes iniciais das carreiras da instituição
vedada a recondução, competindo-lhe, além das atribuições que lhe de que trata este artigo far-se-á mediante concurso público de
forem conferidas pela lei, as seguintes: provas e títulos.
I receber reclamações e denúncias, de qualquer interessado, § 3º Na execução da dívida ativa de natureza tributária, a
relativas aos membros do Ministério Público e dos seus serviços au- representação da União cabe à Procuradoria-Geral da Fazenda
xiliares; Nacional, observado o disposto em lei.
II exercer funções executivas do Conselho, de inspeção e correi- Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, or-
ção geral; ganizados em carreira, na qual o ingresso dependerá de concurso
III requisitar e designar membros do Ministério Público, dele- público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advo-
gando-lhes atribuições, e requisitar servidores de órgãos do Minis- gados do Brasil em todas as suas fases, exercerão a representação
tério Público. judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades federadas.
§ 4º O Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados Parágrafo único. Aos procuradores referidos neste artigo é as-
do Brasil oficiará junto ao Conselho. segurada estabilidade após três anos de efetivo exercício, mediante
§ 5º Leis da União e dos Estados criarão ouvidorias do Ministério avaliação de desempenho perante os órgãos próprios, após relató-
Público, competentes para receber reclamações e denúncias de rio circunstanciado das corregedorias.
qualquer interessado contra membros ou órgãos do Ministério
Público, inclusive contra seus serviços auxiliares, representando Advocacia
diretamente ao Conselho Nacional do Ministério Público.
• Advocacia Privada
Advocacia Pública O Artigo 133 da CF preceitua que o advogado é indispensável à
administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifes-
• Advocacia Pública Federal tações no exercício da profissão, nos limites da lei.
A Advocacia Pública Federal é exercida pela Advocacia-Geral Esta norma traz a lume duas características fundamentais do
da União, que é a instituição que, diretamente ou através de órgão advogado:
vinculado, representa a União, judicial e extrajudicialmente, caben- a) a indispensabilidade, como regra; e
do-lhe, nos termos da lei complementar que dispuser sobre sua b) a imunidade relativa no exercício do seu mister.

236
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Seguem abaixo as disposições constitucionais referentes a Ad-
vocacia Privada: DAS FORÇAS ARMADAS. DA SEGURANÇA PÚBLICA

SEÇÃO III O Título V da Carta Constitucional consagra as normas per-


DA ADVOCACIA tinentes à defesa do Estado e das instituições democráticas, pre-
(REDAÇÃO DADA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 80, DE vendo medidas excepcionais para manter ou restabelecer a ordem
2014) constitucional em momentos de anormalidade da vida política do
Estado, é o chamado sistema constitucional das crises, composto
Art. 133. O advogado é indispensável à administração da jus- pelo estado de defesa (Artigo 136, da CF) e pelo estado de sítio (Ar-
tiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da tigos 137 a 139, da CF).
profissão, nos limites da lei. Ademais, prevê o Texto Maior o perfil constitucional das insti-
tuições responsáveis pela defesa do Estado, quais sejam, as Forças
Defensoria Pública Armadas (Artigos 142 e 143, da CF) e os órgãos de segurança públi-
É instituição essencial à função jurisdicional do Estado, ca (Artigo 144, da CF).
incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, Com efeito, os estados de defesa e de sítio são momentos de
dos necessitados, na forma do Artigo 5º, LXXIV. crise constitucional de legalidade extraordinária, em que são per-
Seguem abaixo as disposições constitucionais referentes a De- mitidas a suspensão ou a diminuição do alcance de certos direitos
fensoria Pública: fundamentais, mitigando a proteção dos cidadãos em face da ação
opressora do Estado.
SEÇÃO IV
DA DEFENSORIA PÚBLICA Sistema Constitucional das Crises
(REDAÇÃO DADA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 80, DE
2014) Estado de Defesa Estado de Sítio

Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essen- Estado de Defesa


cial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expres- Consiste na instauração de uma legalidade extraordinária, por
são e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a tempo certo, em locais restritos e determinados, mediante decreto
orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, do Presidente da República, ouvidos o Conselho da República e o
em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e Conselho de Defesa Nacional, para preservar a ordem pública ou
coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institu-
do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal. (Redação dada cional ou atingidas por calamidades de grandes proporções da na-
pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014) tureza.
§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União Vejamos o dispositivo constitucional que o representa:
e do Distrito Federal e dos Territórios e prescreverá normas gerais
para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, TÍTULO V
na classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos, DA DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS
assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e
vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais. CAPÍTULO I
§ 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas DO ESTADO DE DEFESA E DO ESTADO DE SÍTIO
autonomia funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta
orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes SEÇÃO I
orçamentárias e subordinação ao disposto no art. 99, § 2º. DO ESTADO DE DEFESA
§ 3º Aplica-se o disposto no § 2º às Defensorias Públicas da
União e do Distrito Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho
nº 74, de 2013) da República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de
§ 4º São princípios institucionais da Defensoria Pública a defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais res-
unidade, a indivisibilidade e a independência funcional, aplicando- tritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas
se também, no que couber, o disposto no art. 93 e no inciso II do art. por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por ca-
96 desta Constituição Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional lamidades de grandes proporções na natureza.
nº 80, de 2014) § 1º O decreto que instituir o estado de defesa determinará o
Art. 135. Os servidores integrantes das carreiras disciplinadas tempo de sua duração, especificará as áreas a serem abrangidas
nas Seções II e III deste Capítulo serão remunerados na forma do e indicará, nos termos e limites da lei, as medidas coercitivas a
art. 39, § 4º. vigorarem, dentre as seguintes:
I - restrições aos direitos de:
Referências Bibliográficas: a) reunião, ainda que exercida no seio das associações;
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Con- b) sigilo de correspondência;
cursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica;
II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na
hipótese de calamidade pública, respondendo a União pelos danos
e custos decorrentes.
§ 2º O tempo de duração do estado de defesa não será superior
a trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez, por igual período, se
persistirem as razões que justificaram a sua decretação.
§ 3º Na vigência do estado de defesa:

237
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
I - a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo exe- Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com funda-
cutor da medida, será por este comunicada imediatamente ao juiz mento no art. 137, I, só poderão ser tomadas contra as pessoas as
competente, que a relaxará, se não for legal, facultado ao preso re- seguintes medidas:
querer exame de corpo de delito à autoridade policial; I - obrigação de permanência em localidade determinada;
II - a comunicação será acompanhada de declaração, pela au- II - detenção em edifício não destinado a acusados ou condena-
toridade, do estado físico e mental do detido no momento de sua dos por crimes comuns;
autuação; III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao
III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser sigilo das comunicações, à prestação de informações e à liberdade
superior a dez dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário; de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei;
IV - é vedada a incomunicabilidade do preso. IV - suspensão da liberdade de reunião;
§ 4º Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, o V - busca e apreensão em domicílio;
Presidente da República, dentro de vinte e quatro horas, submeterá VI - intervenção nas empresas de serviços públicos;
o ato com a respectiva justificação ao Congresso Nacional, que VII - requisição de bens.
decidirá por maioria absoluta. Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso III a difu-
§ 5º Se o Congresso Nacional estiver em recesso, será são de pronunciamentos de parlamentares efetuados em suas Ca-
convocado, extraordinariamente, no prazo de cinco dias. sas Legislativas, desde que liberada pela respectiva Mesa.
§ 6º O Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de dez
dias contados de seu recebimento, devendo continuar funcionando SEÇÃO III
enquanto vigorar o estado de defesa. DISPOSIÇÕES GERAIS
§ 7º Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o estado de
defesa. Art. 140. A Mesa do Congresso Nacional, ouvidos os líderes par-
tidários, designará Comissão composta de cinco de seus membros
Estado de Sítio para acompanhar e fiscalizar a execução das medidas referentes ao
Consiste na instauração de uma legalidade extraordinária, por estado de defesa e ao estado de sítio.
tempo determinado (que poderá ser no território nacional inteiro), Art. 141. Cessado o estado de defesa ou o estado de sítio, ces-
objetivando preservar ou restaurar a normalidade constitucional, sarão também seus efeitos, sem prejuízo da responsabilidade pelos
perturbada por motivo de comoção grave de repercussão nacional ilícitos cometidos por seus executores ou agentes.
ou por situação de beligerância com Estado estrangeiro (Artigo 49, Parágrafo único. Logo que cesse o estado de defesa ou o estado
II c/c Artigo 84, XIX, da CF). de sítio, as medidas aplicadas em sua vigência serão relatadas pelo
É mais grave que o estado de defesa, no sentido em que Presidente da República, em mensagem ao Congresso Nacional,
as medidas tomadas contra os direitos individuais serão mais com especificação e justificação das providências adotadas, com
restritivas, conforme faz ver o Artigo 139, da CF. relação nominal dos atingidos e indicação das restrições aplicadas.
Vejamos os dispositivos constitucionais correspondentes:
Forças Armadas e Segurança Pública
SEÇÃO II
DO ESTADO DE SÍTIO • Forças Armadas
Constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica,
Art. 137. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas
da República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congres- com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema
so Nacional autorização para decretar o estado de sítio nos casos do Presidente da República, e destinam-se à defesa da pátria, à ga-
de: rantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer des-
I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de tes, da lei e da ordem.
fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o es-
tado de defesa; • Segurança Pública
II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão ar- Dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exer-
mada estrangeira. cida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das
Parágrafo único. O Presidente da República, ao solicitar autori- pessoas e do patrimônio.
zação para decretar o estado de sítio ou sua prorrogação, relatará Os órgãos de segurança pública são: polícia federal, polícia ro-
os motivos determinantes do pedido, devendo o Congresso Nacio- doviária federal, polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias
nal decidir por maioria absoluta
militares e corpos de bombeiros militares e polícias penais federal,
Art. 138. O decreto do estado de sítio indicará sua duração,
estaduais e distrital.
as normas necessárias a sua execução e as garantias constitucio-
Segue abaixo os Artigos da CF, correspondentes aos referidos
nais que ficarão suspensas, e, depois de publicado, o Presidente da
temas:
República designará o executor das medidas específicas e as áreas
abrangidas.
CAPÍTULO II
§ 1º - O estado de sítio, no caso do art. 137, I, não poderá ser
DAS FORÇAS ARMADAS
decretado por mais de trinta dias, nem prorrogado, de cada vez,
por prazo superior; no do inciso II, poderá ser decretado por todo
o tempo que perdurar a guerra ou a agressão armada estrangeira. Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo
§ 2º - Solicitada autorização para decretar o estado de sítio Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes
durante o recesso parlamentar, o Presidente do Senado Federal, e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob
de imediato, convocará extraordinariamente o Congresso Nacional a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se
para se reunir dentro de cinco dias, a fim de apreciar o ato. à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por
§ 3º - O Congresso Nacional permanecerá em funcionamento iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
até o término das medidas coercitivas.

238
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 1º Lei complementar estabelecerá as normas gerais a serem IV - polícias civis;
adotadas na organização, no preparo e no emprego das Forças Armadas. V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
§ 2º Não caberá habeas corpus em relação a punições VI - polícias penais federal, estaduais e distrital. (Redação dada
disciplinares militares. pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019)
§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente,
militares, aplicando-se lhes, além das que vierem a ser fixadas em organizado e mantido pela União e estruturado em carreira,
lei, as seguintes disposições: destina-se a:
I - as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres a elas ine- I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou
rentes, são conferidas pelo Presidente da República e asseguradas em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas
em plenitude aos oficiais da ativa, da reserva ou reformados, sen- entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras in-
do-lhes privativos os títulos e postos militares e, juntamente com os frações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacio-
demais membros, o uso dos uniformes das Forças Armadas; nal e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
II - o militar em atividade que tomar posse em cargo ou emprego II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
público civil permanente, ressalvada a hipótese prevista no art. 37, in- afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária
ciso XVI, alínea “c”, será transferido para a reserva, nos termos da lei; e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
III - o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar posse em III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de
cargo, emprego ou função pública civil temporária, não eletiva, ain- fronteiras;
da que da administração indireta, ressalvada a hipótese prevista no IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária
art. 37, inciso XVI, alínea “c”, ficará agregado ao respectivo quadro da União.
e somente poderá, enquanto permanecer nessa situação, ser pro- § 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado
movido por antiguidade, contando-se-lhe o tempo de serviço ape- e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na
nas para aquela promoção e transferência para a reserva, sendo forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais.
depois de dois anos de afastamento, contínuos ou não, transferido § 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado
para a reserva, nos termos da lei; e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na
IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a greve; forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.
V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado § 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de
a partidos políticos; carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções
VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado in- de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as
digno do oficialato ou com ele incompatível, por decisão de tribunal militares.
militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de tribunal es- § 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a
pecial, em tempo de guerra; preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares,
VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar a pena pri- além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de
vativa de liberdade superior a dois anos, por sentença transitada em atividades de defesa civil.
julgado, será submetido ao julgamento previsto no inciso anterior; § 5º-A. Às polícias penais, vinculadas ao órgão administrador
VIII - aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos VIII, do sistema penal da unidade federativa a que pertencem, cabe
XII, XVII, XVIII, XIX e XXV, e no art. 37, incisos XI, XIII, XIV e XV, bem a segurança dos estabelecimentos penais. (Redação dada pela
como, na forma da lei e com prevalência da atividade militar, no art. Emenda Constitucional nº 104, de 2019)
37, inciso XVI, alínea “c”; § 6º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares,
IX - (Revogado) forças auxiliares e reserva do Exército subordinam-se, juntamente
X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, os limites com as polícias civis e as polícias penais estaduais e distrital, aos
de idade, a estabilidade e outras condições de transferência do mi- Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
litar para a inatividade, os direitos, os deveres, a remuneração, as (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019)
prerrogativas e outras situações especiais dos militares, considera- § 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos
das as peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas cumpri- órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir
das por força de compromissos internacionais e de guerra. a eficiência de suas atividades.
Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei. § 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais
§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme
serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, dispuser a lei.
alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o § 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos órgãos
decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, relacionados neste artigo será fixada na forma do § 4º do art. 39.
para se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar. § 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem
§ 2º As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço pública e da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias
militar obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém, a outros públicas:
encargos que a lei lhes atribuir. I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trân-
sito, além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao
CAPÍTULO III cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e
DA SEGURANÇA PÚBLICA
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades executivos e seus
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e res-
agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei.
ponsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos
Referências Bibliográficas:
seguintes órgãos:
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Con-
I - polícia federal;
cursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;

239
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
5. Com base nas disposições constitucionais sobre os direitos e
EXERCÍCIOS garantias fundamentais, analise as afirmativas a seguir:
I. Os cargos de Vice-Presidente da República e Senador são pri-
1. [...] não se pode deduzir que todos os direitos fundamentais vativos de brasileiro nato.
possam ser aplicados e protegidos da mesma forma, embora todos II. São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.
eles estejam sob a guarda de um regime jurídico reforçado, conferi- III. Os partidos políticos não estão subordinados a nenhum tipo
do pelo legislador constituinte. (HACHEM, Daniel Wunder. Manda- de governo, mas podem receber recursos financeiros de entidades
do de Injunção e Direitos Fundamentais, 2012.) nacionais ou estrangeiras.
Sobre o tema, assinale a alternativa correta.
(A)É compatível com a posição do autor inferir-se que, não obs- Assinale
tante o reconhecimento do princípio da aplicabilidade imediata (A) se somente a afirmativa I estiver correta.
das normas definidoras de direitos e garantias fundamentais, (B) se somente a afirmativa II estiver correta.
há peculiaridades nas consequências jurídicas extraíveis de (C) se somente a afirmativa III estiver correta
cada direito fundamental, haja vista existirem distintos níveis (D) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.
de proteção. (E) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
(B)É compatível com a posição do autor a recusa ao reconhe-
cimento do princípio da aplicabilidade imediata das normas 6. Doutrinariamente, o conceito e a classificação das constitui-
definidoras de direitos e garantias fundamentais no sistema ções podem variar de acordo com o sentido e o critério adotados
constitucional brasileiro. para sua definição. A respeito dessa temática, leia as afirmativas
(C) O autor se refere particularmente à distinção existente abaixo:
entre direitos fundamentais políticos e direitos fundamentais I. Para o sociólogo Ferdinand Lassalle, “Constituição” seria a
sociais, haja vista a mais ampla proteção constitucional aos pri- somatória dos fatores reais de poder dentro de uma sociedade, en-
meiros, que não estão limitados ao mínimo existencial. quanto reflexo do embate das forças econômicas, sociais, políticas e
(D) O autor se refere particularmente à distinção entre os di- religiosas de um Estado. Nesse sentido, por ser uma norma jurídica,
reitos fundamentais que consistem em cláusulas pétreas e os ainda que não efetiva, uma Constituição legítima é aquela escrita
direitos fundamentais que não estão protegidos por essa cláu- em uma “folha de papel”.
sula, sendo que a maior proteção dada aos primeiros os torna II. O alemão Carl Schmitt define “Constituição” como sendo
imunes à incidência da reserva do possível. uma decisão política fundamental, cuja finalidade precípua é orga-
(E) O autor se refere particularmente à distinção entre os di- nizar e estruturar os elementos essenciais do Estado. Trata-se do
reitos fundamentais que estão expressos na Constituição de sentido político delineado na teoria decisionista ou voluntarista, em
1988 e aqueles que estão implícitos, decorrendo dos princípios que a Constituição é um produto da vontade do titular do Poder
por ela adotados, haja vista o expresso regime diferenciado de Constituinte.
proteção estabelecido em nível constitucional para esses dois III. Embasada em uma concepção jurídica, “Constituição” é
uma norma pura, a despeito de fundamentações oriundas de ou-
grupos de direitos.
tras disciplinas. Através do sentido jurídico-positivo, Hans Kelsen
define a Constituição como norma positiva suprema, dentro de um
2. De acordo com a Constituição Federal de 1988, é certo di-
sistema escalonado e hierarquizado de normas, em que aquela ser-
zer que quando a propriedade rural atende, simultaneamente, se-
ve de fundamento de validade para todas as demais.
gundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos se-
IV. “Constituição-dirigente ou registro” é aquela que traça di-
guintes requisitos: aproveitamento racional e adequado; utilização
retrizes objetivando nortear a ação estatal, mediante a previsão de
adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio
normas programáticas. Marcante em nações socialistas, visa reger o
ambiente; observância das disposições que regulam as relações de ordenamento jurídico de um Estado durante certo período de tem-
trabalho; e exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários po nela estabelecido, cujo decurso implicará a elaboração de uma
e dos trabalhadores, está cumprida a: nova Constituição ou adaptação de seu texto.
(A) Função econômica. V. A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 é
(B) Reforma agrária. classificada, pela doutrina majoritária, como sendo de ordem de-
(C) Desapropriação. mocrática, nominativa, analítica, material e super-rígida.
(D) Função social.
Assinale a alternativa correta.
3. Assinale a única alternativa que não contemple um direito (A)Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas
social previsto na Constituição Federal. (B) . Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas
(A)direito ao lazer (C)Apenas as afirmativas II, III e V estão corretas
(B) . direito à previdência social (D) Apenas as afirmativas II e III estão corretas
(C) direito à alimentação
(D)direito à ampla defesa 7. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República,
(E) direito à educação auxiliado pelos Ministros de Estado. No que se refere às disposi-
ções constitucionais sobre o Poder Executivo, analise as afirmativas
4. Segundo as disposições do Art. 12 da Constituição Federal, é abaixo:
privativo de brasileiro nato o cargo de: I. O Vice-Presidente da República, além de outras atribuições
(A)Ministro do Supremo Tribunal Federal. que lhe forem conferidas por lei complementar, auxiliará o Presi-
(B)Ministro de Estado da Justiça e da Segurança Pública. dente, sempre que por ele convocado para missões especiais.
(C) Ministro do Superior Tribunal de Justiça. II. Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Presiden-
(D) Deputado Federal. te, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente cha-
(E) Senador da República. mados ao exercício da Presidência o Presidente do Supremo Tribu-
nal Federal, da Câmara dos Deputados e o do Senado Federal.

240
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
III. Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período 11. Acerca do Controle de Constitucionalidade, marque a op-
presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias ção CORRETA.
depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei. (A)Os efeitos da decisão que afirma a inconstitucionalidade da
norma em sede de Ação Direta de Inconstitucionalidade, em
Assinale a alternativa correta. regra, são ex nunc.
(A)As afirmativas I, II e III estão corretas (B)O controle de Constitucionalidade de qualquer decreto re-
(B)Apenas as afirmativas I e II estão corretas gulamentar deve ser realizado pela via difusa.
(C) Apenas as afirmativas II e III estão corretas (C) É impossível matéria de fato em sede de Ação Direta de
(D) Apenas as afirmativas I e III estão corretas Inconstitucionalidade.
(D) Após a propositura da Ação Declaratória de Constitucionali-
8. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabili- dade é admissível a desistência.
dade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da (E) A mutação constitucional tem relação não com o aspecto
incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes formal do texto constitucional, mas com a interpretação dada
órgãos, EXCETO: à Constituição.
(A) Polícia Federal.
(B) Polícia Rodoviária Federal. 12. Sobre a aplicabilidade das normas constitucionais, examine
(C) Defesa Civil. as assertivas seguintes:
(D) Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares. I – Para Hans Kelsen, eficácia é a possibilidade de a norma jurí-
dica, a um só tempo, ser aplicada e não obedecida, obedecida e não
9. De acordo com as disposições constitucionais acerca da Or- aplicada. Para se considerar um preceito como eficaz deve existir a
dem Social, assinale a afirmativa incorreta. possibilidade de uma conduta em desarmonia com a norma. Uma
(A)A pesquisa científica básica e tecnológica receberá trata- norma que preceituasse um certo evento que de antemão se sabe
mento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e o que necessariamente se tem de verificar, sempre e em toda parte,
progresso da ciência, tecnologia e inovação. por força de uma lei natural, será tão absurda como uma norma que
(B)A educação básica pública terá como fonte adicional de fi- preceituasse um certo fato que de antemão se sabe que de forma
nanciamento a contribuição social do salário-educação, reco- alguma se poderá verificar, igualmente por força de uma lei natural.
lhida pelas empresas na forma da lei. II – O fenômeno relativo à desconstitucionalização, ou seja, a
retirada de temas do sistema constitucional e a sua inserção em
(C) A União, os Estados e o Distrito Federal estão obrigados a sede de legislação ordinária, pode ser observado no Brasil.
vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades públi- III – A norma constitucional com eficácia relativa restringível
cas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica. tem aplicabilidade direta e imediata, podendo, todavia, ter a am-
(D) Incumbe ao Poder Público promover a educação ambiental plitude reduzida em razão de sobrevir texto legislativo ordinário ou
em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a mesmo sentença judicial que encurte o espectro normativo, como
preservação do meio ambiente. é, por exemplo, o direito individual à inviolabilidade do domicílio,
(E) Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensi- desde que é possível, por determinação judicial, que se lhe promo-
no fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou va restrição.
responsáveis, pela frequência à escola.
Assinale a alternativa CORRETA:
10. A Constituição Brasileira instituiu um modelo de proteção (A)Apenas as assertivas I e II estão corretas.
social aos brasileiros que inclui a assistência social como um direi- (B)Apenas as assertivas I e III estão corretas.
to de seguridade social reclamável juridicamente e traduzível em (C) Apenas as assertivas II e III estão corretas.
proteção social não contributiva devida ao cidadão (BRASIL, 2013). (D) Todas as assertivas estão corretas.
Sobre a assistência social como direito à seguridade social é COR-
RETO afirmar que: 13. Sobre o Poder Legislativo da União, assinale a alternativa
(A) A confguração da assistência social como política pública INCORRETA.
lhe atribui um campo específico de ação, no caso, a proteção (A)A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do
social não contributiva como direito de cidadania, aos que dela povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada estado, em
necessitar, os pobres. cada território e no Distrito Federal.
(B)A política de assistência social, como política de seguridade (B) O Senado Federal compõe-se de representantes dos esta-
social, é responsável pela provisão de direitos sociais. dos e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majori-
(C) Na condição de prática, a política de assistência social pode tário.
ter múltiplas expressões, ser realizada em direções e abrangên- (C) Cada estado, território e o Distrito Federal elegerão três se-
cias diferentes, desenvolver experiências, fazer uma ou outra nadores, com mandato de oito anos.
atenção. (D) O número total de deputados, bem como a representação
(D)A atenção prestada não se refere ao escopo de um indivíduo por estado e pelo Distrito Federal, será estabelecido por lei
ou uma família, mas deve ter presente que sua responsabilida- complementar, proporcionalmente à população, procedendo-
de exige que se organize para que a ela tenham acesso todos -se aos ajustes necessários, no ano anterior às eleições, para
aqueles que estão na mesma situação. que nenhuma das unidades da Federação tenha menos de oito
(E) Atenções prestadas de modo focalizadas a grupos de pobres ou mais de setenta deputados.
e miseráveis, de forma subalternizadora, constituindo um pro-
cesso de assistencialização das políticas sociais.

241
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
14. Referente ao Poder Judiciário, assinale a alternativa correta. (D) as comissões parlamentares têm competência para exer-
(A)O ato de remoção ou de disponibilidade do magistrado, por cer esse tipo de controle ao examinar os projetos de lei a elas
interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria submetidos.
do respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, as- (E) o veto presidencial, que é uma forma de controle preven-
segurada ampla defesa. tivo de constitucionalidade, é sujeito à apreciação e anulação
(B)Nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgado- pelo Poder Judiciário.
res, poderá ser constituído órgão especial, com o mínimo de
onze e o máximo de vinte e cinco membros, para o exercício 18. Acerca do Controle de Constitucionalidade, marque a op-
das atribuições administrativas e jurisdicionais delegadas da ção CORRETA.
competência do tribunal pleno, provendo-se metade das va- (A)Os efeitos da decisão que afirma a inconstitucionalidade da
gas por antiguidade e a outra metade por eleição pelo tribunal norma em sede de Ação Direta de Inconstitucionalidade, em
pleno. regra, são ex nunc.
(C) Aos juízes é vedado exercer a advocacia no juízo ou tribunal (B)O controle de Constitucionalidade de qualquer decreto re-
do qual se afastou, antes de decorridos 02 (dois) anos do afas- gulamentar deve ser realizado pela via difusa.
tamento do cargo por aposentadoria ou exoneração. (C) É impossível matéria de fato em sede de Ação Direta de
(D) As custas e emolumentos serão destinados, preferencial- Inconstitucionalidade.
mente, ao custeio dos serviços afetos às atividades específicas (D)Após a propositura da Ação Declaratória de Constitucionali-
da Justiça. dade é admissível a desistência.
(E)O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze) (E) A mutação constitucional tem relação não com o aspecto
membros com mandato de 2 (dois) anos, vedada a recondução. formal do texto constitucional, mas com a interpretação dada
à Constituição.
15. O Ministério Público da União compreende:
(A)o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Traba- 19. A luz da Constituição Federal de 1988, é CORRETO afirmar
lho e o Ministério Público Militar. que é um princípio da República Federativa do Brasil, em que irá
(B) o Ministério Público Estadual, o Ministério Público do Traba- reger-se em suas relações internacionais.
lho e o Ministério Público Militar. (A) Soberania.
(C) o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Traba- (B)Garantir o desenvolvimento nacional.
lho e o Ministério Público do Distrito Federal. (C) A dignidade da pessoa humana.
(D)o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Traba- (D) Auto determinação dos povos.
lho e o Ministério Público Militar, do Distrito Federal e territó-
rios. 20. Leia as afirmativas a seguir:
(E) o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Traba- I. De acordo com o artigo 20 da Constituição da República Fe-
lho e o Ministério Público Militar e territórios. derativa do Brasil de 1988, são bens da União as terras devolutas
dispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções
16. Com base nas disposições constitucionais sobre a Advoca- militares, das vias internacionais de comunicação e à degradação
cia Pública e a Defensoria Pública, analise os itens abaixo: ambiental, definidas em lei.
I. Aos advogados públicos são assegurados a inamovibilidade, II. A Constituição Federal estabelece, em seu artigo 7º, a idade
a independência funcional e a estabilidade após três anos de efeti- inicial e as condições em que é permitido trabalhar no Brasil. O dis-
vo exercício, mediante avaliação de desempenho perante os órgãos positivo constitucional estabelece a proibição de trabalho noturno,
próprios, após relatório circunstanciado das corregedorias. perigoso ou insalubre aos menores de dezesseis anos e de qual-
II. A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado-Geral quer trabalho aos menores de quatorze anos, salvo na condição de
da União, de livre nomeação pelo Presidente da República dentre aprendiz, a partir de doze anos.
cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de notável saber jurídico e
reputação ilibada. Marque a alternativa CORRETA:
III. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à (A) . As duas afirmativas são verdadeiras.
função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, dentre outras atri- (B)A afirmativa I é verdadeira, e a II é falsa.
buições, a orientação jurídica aos necessitados. (C) A afirmativa II é verdadeira, e a I é falsa.
(D)As duas afirmativas são falsas.
Assinale:
(A)se apenas a afirmativa I estiver correta. 21. De acordo com as disposições constitucionais acerca da Or-
(B) se apenas a afirmativa II estiver correta. dem Social, assinale a afirmativa incorreta.
(C) se apenas as afirmativas I e III estiverem corretas. (A)A pesquisa científica básica e tecnológica receberá trata-
(D) se apenas as afirmativas II e III estiverem corretas.
mento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e o
progresso da ciência, tecnologia e inovação.
17. A respeito do controle de constitucionalidade preventivo
(B) A educação básica pública terá como fonte adicional de fi-
no direito brasileiro, é correto afirmar que
nanciamento a contribuição social do salário-educação, reco-
(A)é exercido pelo Legislativo ao sustar os atos normativos do
lhida pelas empresas na forma da lei.
Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos
(C) A União, os Estados e o Distrito Federal estão obrigados a
limites de delegação legislativa.
vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades públi-
(B)é praticado, por exemplo, quando o Senado suspende a exe-
cução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional cas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica.
por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal. (D) Incumbe ao Poder Público promover a educação ambiental
(C) não cabe ao Poder Judiciário exercer esse tipo de controle, em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a
Poder este que tem competência apenas para exercer o con- preservação do meio ambiente.
trole repressivo.

242
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
(E) Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensi-
no fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou
ANOTAÇÕES
responsáveis, pela frequência à escola.
______________________________________________________
22. A Constituição Federal de 1988 traz uma nova concepção
para a Assistência Social brasileira. Incluída no âmbito da Segurida- ______________________________________________________
de Social e regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social
(LOAS), como política social pública, a assistência social inicia seu ______________________________________________________
trânsito para um campo novo: o campo dos direitos, da universali-
zação dos acessos e da responsabilidade estatal. Entre as diretrizes ______________________________________________________
traçadas para a Assistência Social encontra-se:
______________________________________________________
(A) participação da população, por meio de organizações repre-
sentativas, na formulação das políticas e no controle das ações ______________________________________________________
em todos os níveis.
(B) centralização político-administrativa, cabendo a coordena- ______________________________________________________
ção e as normas gerais à esfera municipal com a participação
de outras entidades. ______________________________________________________
(C)primazia da responsabilidade da sociedade civil na condu-
ção da Política de Assistência Social em cada esfera de governo. ______________________________________________________
(D) centralidade nas pessoas em situação de risco para con-
______________________________________________________
cepção e implementação dos benefícios, serviços, programas
e projetos. ______________________________________________________
(E) gestão dos recursos financeiros pela Câmara Municipal lo-
cal, a quem cabe definir as prioridades para a distribuição. ______________________________________________________

______________________________________________________
GABARITO ______________________________________________________

______________________________________________________
1 A
2 D ______________________________________________________

3 D ______________________________________________________
4 A ______________________________________________________
5 B
______________________________________________________
6 D
7 D ______________________________________________________
8 C ______________________________________________________
9 C
______________________________________________________
10 D
______________________________________________________
11 E
12 B _____________________________________________________
13 C _____________________________________________________
14 B
______________________________________________________
15 D
16 D ______________________________________________________
17 D ______________________________________________________
18 E
______________________________________________________
19 D
______________________________________________________
20 D
21 C ______________________________________________________
22 A ______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

243
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
ANOTAÇÕES ANOTAÇÕES

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

_____________________________________________________ _____________________________________________________

_____________________________________________________ _____________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

244
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Histórico do sistema internacional dos direitos humanos


CONCEITO E FUNDAMENTAÇÃO O sistema internacional de direitos humanos é fruto do pós
2ª guerra mundial e surge como decorrência dos horrores pratica-
A teoria geral dos direitos humanos compreende os elementos dos na guerra. A desvalorização e reificação da pessoa humana faz
basilares acerca do estudo dos direitos humanos internacionais. emergir a necessidade de construção de uma nova lógica ao Direito,
Apresenta temas como conceito, histórico, características e ou- pautada em um sistema de valores éticos e morais, no qual a pessoa
tros pontos elementares para o conhecimento da disciplina. humana seja o fim e não um meio.

Sistema Internacional dos Direitos Humanos Com vistas a criar um sistema internacional de proteção no
A luta do homem pela efetivação de direitos humanos funda- qual a tutela dos direitos humanos seja o fim maior dos Estados,
mentais existiu em muitos períodos da história da humanidade, em 1945 é criado a Organização das Nações Unidas (ONU), insti-
sendo resultado das inquietações do ser humano e de seus proces- tuição internacional global para a promoção e garantia dos direitos
sos de luta por reconhecimento. humanos e da paz no mundo.
Na esfera interna dos Estados a efetivação e positivação dos Sobre o tema preceitua Flávia Piovesan:
direitos humanos coincide com o advento do constitucionalismo No momento em que os seres humanos se tornam supérfluos e
moderno em seu mister de limitar o arbítrio estatal e de garantir a descartáveis, no momento em que vige a lógica da destruição, em
tutela dos direitos do homem. que cruelmente se abole o valor da pessoa humana, torna-se neces-
No campo internacional a existência de um sistema de normas sária a reconstrução dos direitos humanos, como paradigma ético
e mecanismos de tutela dos direitos humanos apresenta como mar- capaz de restaurar a lógica do razoável. A barbárie do totalitarismo
co histórico o pós-segunda guerra mundial, a partir da criação da significou a ruptura do paradigma dos direitos humanos, por meio
Organização das Nações Unidas. Destaca-se como precedentes des- da negação do valor da pessoa humana como valor fonte do direito.
se processo de internacionalização, a criação da Liga das Nações, Diante dessa ruptura, emerge a necessidade de reconstruir os direi-
a Organização Internacional do Trabalho e o Direito Humanitário. tos humanos, como referencial e paradigma ético que aproxime o
direito da moral.
Precedentes históricos Tem início assim um novo paradigma para a aplicação dos di-
Direito humanitário: conjunto de normas e medidas que dis- reitos humanos, por meio de um sistema normativo de grande con-
ciplinam a proteção dos direitos humanos em tempo de guerra teúdo axiológico, no qual a dignidade da pessoa humana e o seu
(1863). Direito humanitário versa sobre a proteção às vitimas de reconhecimento enquanto sujeito de direitos, passa a ser o vetor
conflitos armados, atua também em situações de graves calamida- de interpretação e aplicação do Direito.
des. A construção de um sistema internacional marca também a re-
Criação da liga das nações (1919): antecessora da ONU, a liga lativização da soberania dos Estados, pois através da ratificação de
das nações foi criada após a 1ª guerra mundial com o escopo de Tratados Internacionais os Estados aceitam serem julgados e conde-
garantir a paz no mundo. Sua proposta falhou pois não foi apta a nados por tribunais internacionais de direitos humanos.
impedir a ocorrência da 2ª guerra mundial.
Criação da OIT (1919): criada após a 1ª guerra mundial com Sobre o tema afirma Portela:
o escopo de promover a tutela dos direitos dos trabalhadores por Na atualidade, a soberania nacional continua a ser um dos pila-
meio da garantia de padrões internacionais de proteção. res da ordem internacional. Entretanto, limita-se pela obrigação de
Ao dispor sobre os antecedentes históricos Flavia Piovesan dis- os Estados garantirem aos indivíduos que estão sob a sua jurisdição
põe: o gozo de um catálogo de direitos consagrados em tratados. A sobe-
Ao lado do Direito Humanitário e da Liga das Nações, a Organi- rania restringe-se também pelo dever estatal de aceitar a fiscaliza-
zação Internacional do Trabalho (International Labour Office, agora ção dos órgãos internacionais competentes quanto à conformidade
denominada International Labour Organization) também contribuiu de sua atuação com os atos internacionais dos quais faça parte
para o processo de internacionalização dos direitos humanos. Cria-
da após a Primeira Guerra Mundial, a Organização Internacional do Importante ressaltar no entanto, que não há hierarquia entre o
Trabalho tinha por finalidade promover padrões internacionais de Sistema Internacional de Direitos Humanos e o Direito Interno dos
condições de trabalho e bem-estar. Sessenta anos após a sua cria- Estados-partes, ao contrário, a relação entre essas esferas de prote-
ção, a Organização já contava com mais de uma centena de Con- ção é complementar. O sistema internacional é mais uma instância
venções internacionais promulgadas, às quais Estados-partes pas- na proteção dos direitos humanos.
savam a aderir, comprometendo-se a assegurar um padrão justo e
digno nas condições de trabalho.

A Organização Internacional do Trabalho e o Direito Humanitá-


rio ainda atuam na tutela dos direitos humanos.

245
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
Importante ressaltar também o caráter subsidiário do sistema Direitos Fundamentais: Direitos essenciais à dignidade huma-
internacional dos direitos humanos, pois seus órgãos só poderão na, positivados na ordem interna do País, previstos na Constituição
ser acionados diante da omissão ou falha dos Estados na proteção dos Estados.
dos direitos humanos. Cabe aos Estados em primeiro lugar a tutela Direitos Humanos: direitos essenciais à dignidade humana, re-
e proteção dos direitos humanos daqueles que se encontram sob a conhecidos na ordem jurídica internacional com previsão nos Tra-
sua jurisdição. Diante da falha ou omissão dessa proteção poderão tados ou outros instrumentos normativos do Direito Internacional,
ser acionados os organismos internacionais. são direitos que transcendem a ordem interna dos Estados.
As partes no Sistema Internacional dos Direitos Humanos
a) Estados: os Estados tem legitimidade ativa e passiva no siste- Gerações/dimensões de Direitos Humanos
ma internacional de direitos humanos, podendo atuar no pólo ativo A expressão gerações/dimensões de direitos humanos é utiliza-
e passivo das Comunicações Interestatais e no pólo passivo das pe- da para representar categorias de direitos humanos, que de acordo
tições individuais. com o momento histórico de seu surgimento passam a representar
b) Indivíduos: os indivíduos em regra não possuem legitimida- determinadas espécies de tutela dentro do catálogo de proteção
de ativa ou passiva no sistema internacional, a exceção é a legiti- dos direitos da pessoa humana.
midade ativa em petições individuais em alguns sistemas regionais A divisão em geração/dimensão é uma das formas de se estu-
a exemplo do sistema europeu de direitos humanos, possui ainda dar os direitos humanos, e essas categorias não impõe uma divisão
legitimidade passiva nas denúncias do Tribunal Penal Internacional rígida ou hierárquica dos direitos humanos, mas apenas uma forma
(TPI), orgão jurisdicional de natureza penal do sistema internacional didática de melhor abordá-los. A existência de uma nova dimensão/
de direitos humanos. geração não exclui a anterior, mas amplia o catálogo de direitos.
Por meio do estudo das dimensões/gerações e pode perceber
Tribunal de Nuremberg o desenvolvimento histórico acerca da fundamentalidade dos direi-
Tribunal militar internacional criado para julgar os crimes mi- tos humanos. O estudo das dimensões de direitos humanos deixa
litares praticados pelos nazistas. Este foi um Tribunal pós factum, clara a ausência de diferença ontológica entre os direitos humanos
criado exclusivamente para punir os Alemães acusados de violar di- e direitos fundamentais, eis que a efetivação desses direitos na or-
reitos humanos na segunda guerra mundial, direitos estes que não dem Interna dos Estados precede a existência do Sistema Interna-
eram previstos ou regulados por quaisquer organismos internacio- cional.
nais e cujas violações eram permitidas pelo Direito do Estado Ale- 1ª geração: direitos da liberdade. São os direitos civis e políti-
mão. Essas características fizeram com que Nuremberg fosse alvo cos, frutos das revoluções liberais e da transição do Estado Abso-
de grandes controvérsias entre os críticos da época. lutista para o Estado Liberal de Direito. São direitos negativos, pois
negam a intervenção estatal. A burguesia necessita de liberdade
Críticas: frente ao despotismo do Estado Monárquico. Marco jurídico: De-
Tribunal de exceção. claração francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789.
Julgamento apenas de alemães. 2ª dimensão: direitos da igualdade. Direitos sociais, econômi-
Violação da legalidade e da anterioridade penal. cos e culturais. Direitos positivos prestacionais. O Estado precisa
Pena de prisão perpétua e de morte por enforcamento. intervir na economia frente aos desequilíbrios causados pela re-
volução industrial. Constituição Mexicana e Constituição Alemã –
Favoráveis: Constituição de Weimar.
Prevalência de direitos humanos. 3ª dimensão: Direitos da fraternidade ou solidariedade. Direi-
Ponderação de interesses. tos difusos, direitos dos povos, direitos da humanidade. São direi-
tos que transcendem a noção de individualidade do sujeito criando
Esferas de proteção do Sistema Internacional de Direitos Hu- novas categorias de tutela como a dos direitos transindividuais. Ex:
manos direito ao desenvolvimento, ao meio ambiente, ao consumidor.
O sistema internacional de direitos humanos apresenta duas 4ª geração: para Norberto Bobbio compreende a bioética e
esferas complementares de proteção o sistema global e o sistema biodireito. De acordo com Paulo Bonavides direito à Democracia.
regional. 5ª geração: Segundo Paulo Bonavides o direito a paz.
Sistema global de direitos humanos: esfera de âmbito global
formada pelos países membros da ONU com jurisdição em todo o Os Quatro Status de Jellinek
mundo; Outra importante divisão didática dos direitos humanos está
Sistema Regional de Direitos Humanos: esfera de âmbito regio- presente na classificação de Jellinek, em sua classificação esse au-
nal que compreende determinadas regiões do mundo a exemplo tor apresenta quatro status de efetivação dos direitos humanos na
do sistema interamericano de direitos humanos que compreende relação entre o indivíduo e o Estado.
os países da América, o sistema europeu de direitos humanos que Status passivo: o indivíduo apresenta deveres em relação ao
compreende países do continente europeu, o sistema asiático com Estado. Ex.: obrigação de participar do serviço militar.
países da Ásia, o sistema africano integrado por países da África e o Status negativo: liberdades individuais frente ás ingerências do
sistema Árabe formado por países de cultura Árabe. Estado. Liberdades civis tais como a liberdade de expressão e de
crença.
Direitos Humanos X Direitos Fundamentais Status positivo ou status civitatis: neste o indivíduo passa a ter
Ontologicamente não há distinção entre direitos humanos e direito de exigir do estado uma atuação positiva uma obrigação de
direitos fundamentais, sendo essas expressões comumente usa- fazer. Ex.: direito a saúde.
das como termos sinônimos. Didaticamente, no entanto algumas Status ativo: neste o indivíduo passa a ter direito de influir nas
doutrinas as utilizam como expressões diversas, de acordo com o decisões do Estado. Ex.: direitos políticos.
preceituado abaixo:

246
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
Características dos Direitos Humanos Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH).
Devido ao caráter complexo e evolutivo dos direitos humanos Aprovado em 1948.
não um rol taxativo de suas características, segue abaixo um rol me- Resolução da Assembleia Geral da ONU. A Declaração foi apro-
ramente exemplificativo. vada como uma resolução, recomendação e não apresentando es-
Historicidade: os direitos humanos são fruto do desenvolvi- trutura de Tratado Internacional, por isso pode se afirmar que esta
mento histórico e social dos povos. não possui força de lei.
Universalidade: os direitos humanos são universais, pois não No mínimo considerada costume internacional (soft low – fon-
pode eleger determinadas categorias de indivíduos a serem mere- tes secundárias). Passou a ser respeitada pela consciência da obri-
cedores da tutela desses direitos. Os direitos humanos são ineren- gatoriedade alcançando o status de costume internacional – fonte
te á condição de pessoa humana. Essa característica não exclui a de direito internacional.
existência de direitos especiais que por sua característica essencial Acerca do status da Declaração preleciona Flávia Piovesan:
deva ser destinado a pessoas específicas a exemplo dos direitos das
pessoas com deficiência. A universalidade impede o discrímen ne- Há, contudo, aqueles que defendem que a Declaração teria for-
gativo de direitos. ça jurídica vinculante por integrar o direito costumeiro internacio-
Relatividade: os direitos humanos podem sofrer relativização, nal e/ou os princípios gerais de direito, apresentando, assim, força
não são absolutos. No caso concreto, determinados direitos podem jurídica vinculante. Para essa corrente, três são as argumentações
ser relativizados em prol da efetivação de outros direitos. Obs: o centrais:
direito de proibição a tortura é um direito de caráter absoluto. a) a incorporação das previsões da Declaração atinentes aos
Irrenunciabilidade: as pessoas não tem o direito de dispor so- direitos humanos pelas Constituições nacionais;
bre a proteção a dignidade humana. b) as frequentes referências feitas por resoluções das Nações
Inalienabilidade: os direitos humanos não podem ser aliena- Unidas à obrigação legal de todos os Estados de observar a Decla-
dos, não são objeto de comércio. ração Universal; e
Imprescritibilidade: os direitos humanos não são atingidos pelo c) decisões proferidas pelas Cortes nacionais que se referem à
decurso do tempo. Declaração Universal como fonte de direito.
Vedação ao retrocesso: os direitos humanos caminham pra
frente, e uma vez garantida a sua efetivação, esta deve ser amplia- Não há como se negar a relevância da Declaração enquanto
da, mas não suprimida, sendo vedado o seu retrocesso. fonte no Sistema Internacional dos Direitos Humanos, o que decor-
re de sua relevância enquanto vetor de interpretação e de criação
Unidade e indivisibilidade: os direitos humanos são unos e in- dos direitos humanos no mundo. Nesse mister pode se inferir que
divisíveis. Não há que falar em hierarquia entre os direitos, todos a DUDH não possui força jurídica de lei formalmente, no entanto
conjuntamente compõem um conjunto de direitos essenciais à efe- apresenta força jurídica material.
tividade da dignidade da pessoa humana. Reconhecendo os direitos humanos: o preâmbulo da Declara-
ção elenca importantes princípios, imprescindíveis à plena efetivi-
Sistema Global de Proteção dade dos direitos humanos:
O sistema global de proteção abrange todos os países do globo, Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a
sendo instituído pela Organização das Nações Unidas. Trata-se de todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e
um sistema subsidiário e complementar de proteção aos direitos inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no
humanos, atuando em conjunto com a proteção Interna dos Esta- mundo,
dos e a proteção dos Sistemas Regionais de Direitos Humanos. Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos hu-
manos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência
Carta Internacional de Direitos Humanos da Humanidade e que o advento de um mundo em que os todos
A Carta Internacional de Direitos Humanos é formada pelos gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem
três principais documetos do sistema global: a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta
Declaração Universal Direitos Humanos: aspiração do ser humano comum;
Pacto Internacional dos direitos civis e políticos (1966). A Declaração reconhece expressamente o caráter inerente dos
Pacto Internacional dos direitos econômicos, sociais e culturais direitos humanos, característica que conforme abordado em tópico
(1966). anterior afirma a universalidade desses direitos. Todo ser humano,
independente de credo, etnia ou ideologia é titular de direitos hu-
O primeiro documento desse sistema foi a Declaração Inter- manos. Reafirma ainda o tripé da liberdade, igualdade e fraternida-
nacional de Direitos Humanos (1948) uma recomendação com um de como principais vetores dos direitos humanos.
amplo catálogo de direitos humanos de primeira e segunda dimen-
sões. A Declaração foi criada para que em seguida fosse elaborado Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos
o Tratado Internacional, a divisão e bipolaridade mundial existente Aprovado em 1966. Entrou em vigor em 1976.
na época, com os interesses do bloco socialista representados pela Tratado internacional que disciplina os direitos de 1ª dimensão,
URSS e os interesses do bloco capitalista representados pelos EUA, os direitos civis e políticos.
impedia um acordo acerca do conteúdo do Tratado. De um lado a Institui o Comitê de Direitos Humanos: órgão de natureza civil
URSS desejava um Tratado contemplando direitos sociais, econômi- destinado á tutela e promoção dos direitos previstos no Pacto.
cos e culturais do outro lado os EUA defendia um Tratado contem-
plando os direitos civis e políticos. A dicotomia de interesses fez
com que aprovassem dois Tratados um com direitos de primeira e
outro com direitos de segunda dimensão.

247
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
Como mecanismo de monitoramento institui o sistema de rela- Reconhecendo que, conforme a declaração Universal dos Di-
tórios e comunicações interestatais. Os relatórios são instrumentos reitos do Homem, o ideal do ser humano livre, libertado do medo
obrigatórios nos quais os Estados-parte devem informar as medi- e da miséria, só poderá ser atingido se forem criadas as condições
das por eles adotadas para a efetivação das obrigações previstas no que permitam a cada um desfrutar direitos sociais, econômicos e
Pacto. As comunicações interestatais são denúncias de violações de culturais, assim como direitos civis e políticos.
obrigações previstas no Pacto feitas por um Estado-parte em rela-
ção a outro Estado-parte, é mecanismo facultativo que só pode ser Protocolo Facultativo: aprovado em 2008, esse protocolo ins-
aplicado se ambos os Estados, denunciante e denunciado estiverem titui o sistema de petições individuais mediante o Comitê dos Di-
expressamente se submetido a este mecanismo. reitos Econômicos e Culturais, órgão da ONU. A aprovação deste
protocolo visa dar mais efetividade aos direitos previstos no Pacto.
Aplicabilidade imediata.
Primeiro Protocolo Facultativo: institui a sistemática de peti- Tratados Especiais do Sistema Global
ções individuais, que são denúncias feitas por pessoas, grupos de O sistema global apresenta um rol de Tratados Especiais, cujos
pessoas ou organização não governamentais (ongs) diante da viola- tutela destina-se a temas ou indivíduos determinados. Segue abai-
ção pelos Estados-parte dos direitos previstos no Pacto. As petições xo o rol com os principais Tratados Especiais do sistema.
são instrumentos facultativos que só serão admitidas se o Estado- Convenção para prevenção e repressão dos crimes de genocí-
-parte tiver ratificado o protocolo facultativo. dio (1948).
Convenção sobe a eliminação de todas as formas de discrimi-
Pacto Internacional de Direitos Sociais Econômicos e Cultu- nação racial (1965).
rais Convenção sobe a eliminação de todas as formas de discrimi-
Aprovado em 1966. Entrou em vigor em 1976. nação contra as mulheres (1979).
Tratado internacional de direitos de 2ª dimensão, os direitos Convenção contra a tortura ou outros tratamentos ou penas
sociais, econômicos e culturais. cruéis, desumanos e degradantes (1984).
Não institui Comitê próprio. Convenção sobre os direitos da criança (1989).
Como mecanismo de monitoramento prevê apenas os relató- Convenção para proteção dos direitos dos trabalhadores mi-
rios. grantes (1990).
Aplicação progressiva: o Pacto prevê a aplicação progressiva Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência
dos direitos sociais, econômicos e culturais, essa disposição não sig- (2006).
nifica a menor efetividade desses direitos. O preâmbulo é claro ao Convenção para proteção contra desaparecimentos forçados
dispor que os Estados devem dispor de todos os meios apropriados (2006).
para buscar a plena efetivação desses direitos:
Artigo 2-1. Todos os estados integrantes do presente Pacto se Tribunais do Sistema Internacional
comprometem a agir, tanto por seu próprio esforço quanto com a Visando dar mais efetividade ao cumrpimento dos direitos hu-
ajuda e cooperação internacionais, sobretudo nos planos econômi- manos no sistema internacional foram criados tribunais de natureza
co e técnico, com o máximo de recursos disponíveis, visando garan- criminal e não criminal para julgar Estados ou indivíduos violadores
tir progressivamente o pleno exercício dos direitos reconhecidos no dos direitos humanos.
presente Pacto por todos os meios apropriados, inclusive e particu- Cortes não criminais: são tribunais, orgãos de natureza juris-
larmente a doção de medidas legislativas. dicional, criados nos sistemas de proteção para julgar os Estados
Não obstante seu caráter progressivo, os seus direitos possuem que descumprirem as obrigações assumidas nos Tratados Interna-
justiciabilidade e, portanto são exigíveis juridicamente, fator que cionais, a exemplo da Corte Internacional de Justiça (CIJ) do sistema
decorre de sua fundamentalidade. global e a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) orgão
Corroborando com este entendimento Flávia Piovesan precei- jurisdicional do sistema interamericano de direitos humanos.
tua: Corte criminal: orgão jurisdicional de natureza penal criado
Acredita-se que a ideia da não acionabilidade dos direitos so- para julgar os indivíduos acusados de praticar os crimes contra os
ciais é meramente ideológica e não científica. É uma preconcepção direitos humanos tipificados. O único tribunal penal do sistema é o
que reforça a equivocada noção de que uma classe de direitos (os Tribunal Penal Internacional (TPI) criado pelo Estatuto de Roma. O
direitos civis e políticos) merece inteiro reconhecimento e respeito, Estatuto dispõe ainda acerca dos crimes contra os direitos humanos
enquanto outra classe (os direitos sociais, econômicos e culturais), no sistema internacional.
ao revés, não merece qualquer reconhecimento. Sustenta-se, pois, a
noção de que os direitos fundamentais — sejam civis e políticos, se-
jam sociais, econômicos e culturais — são acionáveis e demandam
séria e responsável observância. DIREITOS HUMANOS E RESPONSABILIDADE DO ESTADO

Não basta a proteção do direito à vida sem a tutela do direito Desde seus primórdios, as noções mais profundas de direito
à saúde, a educação, a moradia, à cultura entre outros. A dignidade humano são estudados a partir de um prisma referente ao Estado.
da pessoa humana só se efetiva com a proteção integral dos direitos Isto porque ele sempre exerce um papel central no eixo evolutivo
fundamentais, por isso a relevância da afirmação de sua indivisibi- social, acima de qualquer outra entidade já criada pelo homem.
lidade e unidade conforme expressamente previsto no preâmbulo Ou seja, o Estado sempre foi o grande inibidor e promotor, ao
do PIDESC: mesmo tempo, no espectro evolutivo observado aos direitos huma-
nos durante a história.
Tanto o Estado deve proteger alguém de sua própria força
quanto deve promover o bem-estar social e a igualdade material
entre as pessoas. É o que se conclui pela análise evolutiva das gera-
ções de direitos humanos.

248
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
Em outras palavras, foi o Estado o principal protetor/garantidor No plano internacional, há uma maior dificuldade em garantir
e também o maior violador dos direitos humanos. tais direitos, uma vez que o fato de existirem nações soberanas e
Antes do homem se formar em sociedade, havia um modelo com jurisdições autônomas dificulta a criação de um organismo su-
disperso de vida em que não havia um ente superior e que pudesse pranacional que possa, efetivamente, obrigar um Estado a cumprir
inibir a vontade coletiva. com aquilo que a comunidade internacional irá decidir.
É o que se chamou de “estado de natureza”, um momento em
que cada um poderia aplicar em face de outro sua medida de justi- No âmbito da Organização dos Estados Americanos, por meio
ça, em geral muito relacionada à força de cada um. do Pacto de São José da Costa Rica, temos a Comissão Interameri-
Ou seja, aquele que era mais forte fazia a sua vontade ser cana de Direitos Humanos, em que é possível peticionar quando
imposta por meio da força (ameaçando, matando etc.) enquanto ocorre alguma de suas previsões.
aquele que não tinha tanta força mas era habilidoso no discurso, As maiores questões referentes a estes dispositivos versam so-
conseguia fazer sua vontade prevalecer por meio da negociação, bre a real efetividade destas reclamações, posto que é possível que
por exemplo. uma nação soberana se recuse a cumprir qualquer medida determi-
Este modelo levava a diversas injustiças e a uma falta absoluta nada, o que torna sua atuação sem grande importância sob o ponto
de controle e segurança, elementos essenciais para que qualquer de vista coercitivo.
sociedade possa se desenvolver. Contudo, existem alguns exemplos que mostram que a grande
Depois deste momento evolutivo, o homem passou a se asso- arma destas instituições é aquilo que, no direito internacional, é
ciar e a delegar a competência de pacificar conflitos ao Estado, é o chamado de “power of shame” (poder da vergonha, em tradução
momento em que surge o embrião do direito que conhecemos e a livre) e que versa sobre a capacidade de mobilização por meio do
instituição do Estado como ente superior aos indivíduos porquanto constrangimento feito pela comunidade internacional aos países
sua finalidade é a busca pelo bem-estar social. que demonstram pouco respeito às normas protetivas.
Com o tempo, as pessoas passaram a ter as suas condutas so- Um exemplo brasileiro em que houve o cumprimento de uma
ciais regidas pelo Estado (que passa a dizer o que cada um pode ou medida internacional se deu no caso da Maria da Penha.
não fazer e, descumprindo alguma norma, passa a sofrer alguma Neste caso, o Brasil restou condenado por negligência, uma vez
penalidade imposta pelo próprio Estado), naquilo que se firmou na que a vítima foi atacada duas vezes pelo seu ex-marido que tentou
teoria contratualista como “o contrato social”. lhe matar, além das inúmeras agressões que culminaram em uma
Contudo, disto surgiu uma nova questão e que versa sobre tetraplegia.
como encontrar um meio termo e garantir que o Estado, ao mesmo No caso, a reação brasileira a partir da condenação se deu com
tempo que proteja e defenda seus “associados” (pessoas) garante a promulgação da Lei 11.340/2006, cuja alcunha remete à vítima
que haja o máximo possível de liberdades individuais. destas agressões.
Trata-se de um ponto absolutamente difícil e que sempre ga-
rantiu diversos choques ao longo da história entre o poderio do DIREITOS HUMANOS NA CRFB/88
Estado e a necessidade deste demonstrar sua força e apaziguar os
conflitos e a garantia dos direitos humanos, em todos os seus pris-
mas (direitos civis e políticos, direitos sociais e direitos transindivi- A Constituição de 1934 foi promulgada com forte influência da
duais). Constituição de Weimar, marco da 2ª dimensão de direitos huma-
nos. Assim, prezou pelos direitos sociais. Algumas de suas caracte-
Neste sentido, deve-se buscar a realização dos direitos huma-
rísticas marcantes foi:
nos pelo próprio Estado, ao mesmo passo em que se garante um • Nacionalista – criou restrições às imigrações;
controle em face do abuso do poder do Estado (já que isto é uma • Permitiu o voto secreto e feminino;
condição para que haja uma proteção aos direitos humanos). • Trouxe o Mandado de Segurança e a Ação Popular;
Montesquieu defendeu um modelo em que existia a separação • Deu direitos aos trabalhadores;
dos poderes do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário). • Trouxe o bicameralismo, com destaque para a Câmara;
Legislativo – Poder responsável por criar as normas que irão • O Ministério Público ganhou status constitucional, mas
gerar direitos e obrigações (em termos técnicos: poder responsável
como instrumento de cooperação do governo.
por inovar na ordem jurídica).
Executivo – Poder responsável por cumprir com o que determi- A Constituição Federal de 1988 (atual), deve ser compreendida
nam as leis, o que envolve tanto a implantação da ordem jurídica no com o momento histórico em que foi promulgada. Após os anos de
cotidiano social quanto na necessidade de promover e efetivamen- chumbo (ditadura militar), a Constituição Cidadã nasceu com forte
te garantir que os fins do Estado sejam cumpridos (e eles sempre espírito democrático. Alguma de suas características são:
devem versar, em última instância, sobre o bem-estar coletivo). • Amplos instrumentos para a proteção dos direitos cons-
Judiciário – Poder responsável por interpretar as normas e di- titucionais – habeas corpus, habeas data, mandado de injunção,
zer o Direito de cada um no caso concreto, ou seja, é o responsável mandado de segurança coletivo etc.
precípuo para resolver os conflitos e buscar a pacificação social nos • Nascimento do STJ.
casos em que há alguma dúvida sobre a interpretação das normas • Estados e Municípios fortalecidos.
ou ameaça/violação de direito. • Super detalhada, enumerando diversos direitos funda-
É o poder que dá a última palavra no Estado (definitividade). mentais, para cada setor da sociedade.
O maior violador dos direitos humanos, em regra, costuma ser • Veda a discriminação, inclusive, tornou o racismo crime
o Poder Executivo, uma vez que é na prática social que acontecem imprescritível.
as maiores transgressões e que precisam ser combatidas. • Prezou pela seguridade social.
O Poder Judiciário também sofre forte controle, inclusive por
meio da previsão do art. 133 do CPC que prevê responsabilidade
direta dos juízes por perdas e danos, no caso de descumprimento
de normas processuais ou normas proferidas de má-fé.

249
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
A CF/88 nasceu de uma emenda na Constituição de 1969, que c) Diretriz 6: Promover e proteger os direitos ambientais como
convocou a Assembleia Nacional Constituinte, para a redemocra- Direitos Humanos, incluindo as gerações futuras como sujeitos de
tização do país. Assim, deve ser interpretada à luz dos direitos hu- direitos;
manos. III - Eixo Orientador III: Universalizar direitos em um contexto
de desigualdades:
POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS a) Diretriz 7: Garantia dos Direitos Humanos de forma univer-
sal, indivisível e interdependente, assegurando a cidadania plena;
b) Diretriz 8: Promoção dos direitos de crianças e adolescentes
A política nacional de direitos humanos do Estado brasileiro, para o seu desenvolvimento integral, de forma não discriminatória,
desenvolvida desde o retorno ao governo civil em 1985, e de forma assegurando seu direito de opinião e participação;
mais definida, desde 1995, pelo governo do Presidente Fernando c) Diretriz 9: Combate às desigualdades estruturais; e
Henrique Cardoso, reflete e aprofunda uma concepção de direitos d) Diretriz 10: Garantia da igualdade na diversidade;
humanos partilhada por organizações de direitos humanos desde a IV - Eixo Orientador IV: Segurança Pública, Acesso à Justiça e
resistência ao regime autoritário nos anos 1970. Pela primeira vez, Combate à Violência:
entretanto, na história republicana, quase meio- século depois da a) Diretriz 11: Democratização e modernização do sistema de
Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948, os direitos hu- segurança pública;
manos passaram a ser assumidos como política oficial do governo, b) Diretriz 12: Transparência e participação popular no sistema
num contexto social e político deste fim de século extremamente de segurança pública e justiça criminal;
adverso para a maioria das não-elites na população brasileira. c) Diretriz 13: Prevenção da violência e da criminalidade e pro-
A luta pelos direitos humanos é um processo contraditório, no fissionalização da investigação de atos criminosos;
qual o Estado, qualquer que seja o governo no regime democrático, d) Diretriz 14: Combate à violência institucional, com ênfase
e a sociedade civil têm responsabilidades necessariamente com- na erradicação da tortura e na redução da letalidade policial e car-
partilhadas. É uma parceria que se funda sobre princípios rígidos e cerária;
irrenunciáveis, qualquer que seja a conjuntura. e) Diretriz 15: Garantia dos direitos das vítimas de crimes e de
Não há política sem contradição, não há luta pelos direitos hu- proteção das pessoas ameaçadas;
manos sem conflitos, obstáculos e resistências: negar essa realida-
f) Diretriz 16: Modernização da política de execução penal,
de é recusar a própria luta, na qual como a viagem do navegante na
priorizando a aplicação de penas e medidas alternativas à privação
política e na democracia não há porto final.
de liberdade e melhoria do sistema penitenciário; e
g) Diretriz 17: Promoção de sistema de justiça mais acessível,
ágil e efetivo, para o conhecimento, a garantia e a defesa de direi-
DECRETO Nº 7.037, DE 21 DE DEZEMBRO DE 2009
tos;
V - Eixo Orientador V: Educação e Cultura em Direitos Huma-
Aprova o Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH-3 e
nos:
dá outras providências.
a) Diretriz 18: Efetivação das diretrizes e dos princípios da po-
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe lítica nacional de educação em Direitos Humanos para fortalecer
confere o art. 84, inciso VI, alínea “a”, da Constituição, uma cultura de direitos;
DECRETA: b) Diretriz 19: Fortalecimento dos princípios da democracia e
dos Direitos Humanos nos sistemas de educação básica, nas insti-
Art. 1o Fica aprovado o Programa Nacional de Direitos Huma- tuições de ensino superior e nas instituições formadoras;
nos - PNDH-3, em consonância com as diretrizes, objetivos estra- c) Diretriz 20: Reconhecimento da educação não formal como
tégicos e ações programáticas estabelecidos, na forma do Anexo espaço de defesa e promoção dos Direitos Humanos;
deste Decreto. d) Diretriz 21: Promoção da Educação em Direitos Humanos no
Art. 2o O PNDH-3 será implementado de acordo com os se- serviço público; e
guintes eixos orientadores e suas respectivas diretrizes: e) Diretriz 22: Garantia do direito à comunicação democrática
I - Eixo Orientador I: Interação democrática entre Estado e so- e ao acesso à informação para consolidação de uma cultura em Di-
ciedade civil: reitos Humanos; e
a) Diretriz 1: Interação democrática entre Estado e sociedade VI - Eixo Orientador VI: Direito à Memória e à Verdade:
civil como instrumento de fortalecimento da democracia participa- a) Diretriz 23: Reconhecimento da memória e da verdade como
tiva; Direito Humano da cidadania e dever do Estado;
b) Diretriz 2: Fortalecimento dos Direitos Humanos como ins- b) Diretriz 24: Preservação da memória histórica e construção
trumento transversal das políticas públicas e de interação demo- pública da verdade; e
crática; e c) Diretriz 25: Modernização da legislação relacionada com
c) Diretriz 3: Integração e ampliação dos sistemas de informa- promoção do direito à memória e à verdade, fortalecendo a de-
ções em Direitos Humanos e construção de mecanismos de avalia- mocracia.
ção e monitoramento de sua efetivação; Parágrafo único. A implementação do PNDH-3, além dos res-
II - Eixo Orientador II: Desenvolvimento e Direitos Humanos: ponsáveis nele indicados, envolve parcerias com outros órgãos fe-
a) Diretriz 4: Efetivação de modelo de desenvolvimento sus- derais relacionados com os temas tratados nos eixos orientadores
tentável, com inclusão social e econômica, ambientalmente equi- e suas diretrizes.
librado e tecnologicamente responsável, cultural e regionalmente Art. 3o As metas, prazos e recursos necessários para a imple-
diverso, participativo e não discriminatório; mentação do PNDH-3 serão definidos e aprovados em Planos de
b) Diretriz 5: Valorização da pessoa humana como sujeito cen- Ação de Direitos Humanos bianuais.
tral do processo de desenvolvimento; e Art. 4 (Revogado pelo Decreto nº 10.087, de 2019)

250
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
Art. 5o Os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e os órgãos Dessa forma, a violência física, sexual ou psicológica equivoca-
do Poder Legislativo, do Poder Judiciário e do Ministério Público, damente é comumente identificada apenas como um sinal da po-
serão convidados a aderir ao PNDH-3. breza ou da desestruturação social que acomete certos grupos so-
Art. 6o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. ciais, não sendo reconhecida como violência de gênero. A defesa da
Art. 7o Fica revogado o Decreto no 4.229, de 13 de maio de integridade física e psíquica das mulheres submetidas a situações
2002. de violência tem sido o eixo central da luta feminista.
Compreender como a violência doméstica e familiar contra as
Brasília, 21 de dezembro de 2009; 188o da Independência e mulheres expressa a hierarquia de gênero ajuda a torná-la mais vi-
121o da República. sível e contribui para avançar nas muitas conquistas sociais instau-
radas no âmbito da defesa dos direitos humanos. A posição subor-
VIOLÊNCIAS DE GÊNERO dinada na hierarquia de gênero é o que torna as mulheres muito
vulneráveis às agressões físicas e verbais, às ameaças, aos diversos
tipos de abuso sexual, como o estupro, ao aborto inseguro, aos ho-
Violência contra a Mulher micídios, aos constrangimentos e aos abusos no espaço público, ao
A violência de gênero é aquela oriunda do preconceito e da de- assédio moral e sexual nos locais de trabalho.
sigualdade entre homens e mulheres. Apoia-se no estigma de virili- A análise das ocorrências violentas contra a mulher permite
dade masculina e de submissão feminina. Enquanto os rapazes e os observar que boa parte delas é causada por uma pessoa próxima,
homens estão mais expostos à violência no espaço público, garotas companheiro, namorado, ex-parceiro, enfim, uma pessoa com a
e mulheres sofrem mais violência no espaço privado1. qual ela mantinha um vínculo afetivo anterior. Os episódios de vio-
Apesar de todas as mudanças sociais que vêm ocorrendo, a vio- lência intrafamiliar envolvendo homens e mulheres revelam confli-
lência de gênero continua existindo como uma explícita manifesta- tos familiares diversos, que obedecem à lógica cultural que institui
ção da discriminação de gênero. Ela acomete milhares de crianças, uma rígida divisão moral entre homens e mulheres no espaço priva-
jovens e mulheres prioritariamente no ambiente doméstico, mas do, delimitando seus direitos e suas obrigações.
também no espaço público, como a escola. Qualquer motivo pode gerar brigas e discussões que terminam
A despeito de todos os avanços e conquistas das mulheres na em agressões físicas, por mais banais que sejam, como o não-cum-
direção da equidade de gênero, persiste na sociedade essa forma primento a contento de uma tarefa doméstica; um atraso no ho-
perversa de manifestação do poder masculino por meio da expres- rário previsto para chegar à casa; o choro intenso de uma criança
são da violência física, sexual ou psicológica, que agride, amedronta recém-nascida; uma discordância sobre o uso prioritário do dinhei-
e submete não só as mulheres, mas também os homens que não ro da família; uma recusa em manter uma relação sexual naquele
se comportam segundo os rígidos padrões da masculinidade domi- momento. Tais situações tornam-se frequentes ao longo do tempo
nante. e raramente são visíveis.
A masculinidade vem associada, desde a infância, a um modo A posição social de boa parte das mulheres no espaço domésti-
de ser agressivo, de estímulo ao combate, à luta. Uma das formas co é delicada, principalmente daquelas que não desfrutam de auto-
principais de afirmação da masculinidade é por meio da força física, nomia em relação aos companheiros, seja por razões de dependên-
do uso do corpo como instrumento de luta para se defender, mas cia financeira, por escolaridade insuficiente, por não trabalharem
também para ferir. fora de casa, seja por dificuldades de se afirmarem como pessoas
Como a violência é cultivada como valor masculino, muitas autônomas. Em geral, elas levam um tempo considerável para rea-
mulheres acabam submetidas a situações de sofrimento físico ou gir segundo as alternativas legais hoje disponíveis, como denunciar
psíquico em razão da violência de seus companheiros, irmãos, pais, o parceiro à polícia, recorrendo a uma Delegacia da Mulher para
namorados, empregadores ou desconhecidos. Tal violência pode se exigir a aplicação da Lei Maria da Penha.
manifestar por meio de ameaças, agressões físicas, constrangimen- Para as mulheres, torna-se difícil romper a ordem social que
tos e abusos sexuais, estupros, assédio moral ou sexual. confere sentido à sua existência, ou seja, o mundo da casa, da fa-
Embora tenham sido conquistados avanços legais na proteção mília, do casamento. É nesse universo social e simbólico que elas
dos direitos de cidadania desde a infância, uma conjugação perver- constroem suas trajetórias de vida e, quando isso se rompe, torna-
sa da superioridade de gênero e geracional (homens mais velhos), -se difícil para elas se desvencilharem do parceiro e de sua história.
manifesta nas atitudes violentas de pais, padrastos, tios, deixa mui- O enfrentamento público de tal problema é uma etapa ainda
tas meninas ou jovens subjugadas às vontades de parentes ou de mais dura, que envolve idas aos serviços de saúde, às delegacias
outros homens adultos. Essa perversa combinação termina por sub- de polícia, ao Instituto Médico-Legal (IML) ou aos serviços de apoio
meter milhares de meninas e moças a abusos de ordens diversas, jurídico. Em geral, os profissionais que as atendem banalizam o pro-
sexuais (incestos, estupros) ou não, às vezes com a complacência de blema, desqualificando-as.
outras mulheres, inclusive suas mães, que em geral não conhece- Caberia a quem recebe essas mulheres no IML não ser negli-
ram outra perspectiva de vida que não fosse a da exploração social gente no laudo, registrando os indícios da violência sofrida, o que
e sexual masculina. muitas vezes é omitido pelas vítimas, que alegam terem se ferido
Assim, forja-se o chamado “pacto do silêncio”, que submete, às sozinhas. Com o intuito de superar esta deficiência no atendimento
vezes por longos anos, crianças e jovens, em especial as meninas, do serviço público, há várias iniciativas de capacitação de gestores
a situações de violência física, sexual e psicológica, com pesados e operadores do direito, para garantia de atendimento respeitoso
danos para a sua saúde e integridade. Os episódios de violência do- àquelas que chegam à Delegacia de Mulheres, sejam heterossexu-
méstica podem estar associados ao uso de álcool e/ou outras dro- ais, lésbicas ou bissexuais.
gas, a conflitos conjugais, familiares ou de vizinhança, a situações Quando as vítimas são crianças e adolescentes, o Art. 245 da
de extrema precariedade material. Lei nº 8.069/1990, ou seja, do Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA), obriga que profissionais da saúde e educadores e educadoras
1 http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/formacao_acao/
comuniquem o fato às autoridades competentes.
2semestre_2015/anexo_violencia_contra_a_mulher_maria_da_penha.pdf

251
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
Embora dirigida, na maioria das vezes, às mulheres, a violência É preciso destacar que a violência urbana não está circunscrita
doméstica afeta todo o grupo familiar. E tem repercussões nega- aos jovens pobres e negros. O Mapa da Juventude e Violência, or-
tivas: o desempenho escolar infantil ou juvenil pode ser abalado, ganizado pela Unesco, identifica, por estados do país e pela origem
acarretando o abandono da escola. étnico-racial, as distintas causas mortis. Esses dados apontam que
O medo pode tomar conta das crianças e dos jovens que con- os rapazes de classes média e alta morrem mais em acidentes de
vivem com tal situação. É possível ocorrer também a reprodução automóvel na perigosa combinação álcool e direção. Tais jovens são
de gestos ou atitudes violentas por filhos e filhas em seu grupo de prisioneiros de um imaginário, construído desde a infância, que as-
pares. socia masculino a “poderoso”, “desbravador”, “imortal”, etc.
Na escola, a discriminação a determinados grupos considera- Pode-se assim dizer que a violência nas gangues, nos comandos
dos frágeis ou passíveis de serem dominados (mulheres, homens do tráfico de drogas ou nos “pegas” de carro é o resultado da im-
que não manifestam uma masculinidade violenta, etc.) é exercida posição da força em disputas de poder para provar masculinidade.
por meio de apelidos, exclusão, perseguição, agressão física. Além
disso, a depredação de instalações ou atos de vandalismo são al-
gumas das manifestações públicas da violência por parte daqueles VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. LEI MARIA DA PENHA
que querem se impor e se afirmar pela força de seu gênero. (LEI Nº 11.340/16)
Outras Violências de Gênero: lesbofobia, homofobia, transfo-
bia LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006
Outra expressão particular da violência de gênero é a que se
manifesta por meio da discriminação de lésbicas, gays, bissexuais, Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar
travestis e transexuais. Ainda que as violências por discriminação na contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição
maioria das vezes não sejam tipificadas (aparecem camufladas em Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
dados gerais da violência cotidiana), não raro, a imprensa divulga Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana
alguma notícia de violência contra pessoas em razão de sua orien- para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe
tação sexual e identidade de gênero, nos mais diferentes contextos sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar
sociais, inclusive na escola. contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal
São mais evidenciadas as situações extremas que levam à vio- e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências.
lência física e à morte. No entanto, nem sempre essa violência é
física. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-
O preconceito, a discriminação, a lesbofobia, a homofobia, a cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
transfobia operam por meio da violência simbólica, que nem por
isso deixa de ser danosa. Está entre as pautas reivindicatórias do TÍTULO I
Movimento LGBTQIA+ a criação de atendimento especializado às DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
vítimas de discriminação por identidade de gênero e orientação se-
xual. Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a vio-
lência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do
Violência de Gênero e Violência Urbana em relação aos Jo- art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação
vens de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção
Há uma distribuição diferenciada por gênero na incidência da Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra
violência. Os homens morrem mais no espaço público, por causas a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela Re-
externas (assassinatos, acidentes), vítimas da violência urbana; en- pública Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de
quanto as mulheres, sofrem mais a violência no espaço privado, Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medi-
praticada por conhecidos. das de assistência e proteção às mulheres em situação de violência
Rapazes pobres, em sua maioria negros, são mortos nos con- doméstica e familiar.
flitos urbanos ligados ao tráfico de drogas ou executados sumaria- Art. 2º Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia,
mente diante da suspeita de que estejam ligados à criminalidade. orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e reli-
Mesmo que a presença feminina ativa seja uma realidade, nos gião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana,
grupos criminosos, os meninos e os rapazes são mais atraídos pela sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver
rápida ascensão social que o mundo do crime pode proporcionar: sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoa-
dinheiro, poder, respeitabilidade da parte de outros homens, sedu- mento moral, intelectual e social.
ção de mulheres. Art. 3º Serão asseguradas às mulheres as condições para o
Além da falência de outras instituições sociais que poderiam exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimen-
atrair o interesse de tais jovens, há o fato de eles se lançarem em tação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao es-
uma atividade arriscada que não só lhes tira a vida, como a de mui- porte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade,
tos outros jovens sem ligação alguma com o mundo do crime. Facil- ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
mente eles ficam estigmatizados pelos estereótipos relacionados à § 1º O poder público desenvolverá políticas que visem garantir
pobreza e à população negra, que levam à simplificada associação os direitos humanos das mulheres no âmbito das relações domésti-
entre pobreza, cor/raça e violência. cas e familiares no sentido de resguardá-las de toda forma de negli-
gência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
§ 2º Cabe à família, à sociedade e ao poder público criar as con-
dições necessárias para o efetivo exercício dos direitos enunciados
no caput.

252
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
Art. 4º Na interpretação desta Lei, serão considerados os fins TÍTULO III
sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições pecu- DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA
liares das mulheres em situação de violência doméstica e familiar. DOMÉSTICA E FAMILIAR

TÍTULO II CAPÍTULO I
DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO

CAPÍTULO I Art. 8º A política pública que visa coibir a violência doméstica


DISPOSIÇÕES GERAIS e familiar contra a mulher far-se-á por meio de um conjunto arti-
culado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica Municípios e de ações não-governamentais, tendo por diretrizes:
e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério
gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psi- Público e da Defensoria Pública com as áreas de segurança pública,
cológico e dano moral ou patrimonial: (Vide Lei complementar nº assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação;
150, de 2015) II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o informações relevantes, com a perspectiva de gênero e de raça ou
espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo etnia, concernentes às causas, às conseqüências e à freqüência da
familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; violência doméstica e familiar contra a mulher, para a sistematiza-
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade ção de dados, a serem unificados nacionalmente, e a avaliação pe-
formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, riódica dos resultados das medidas adotadas;
unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor éticos e sociais da pessoa e da família, de forma a coibir os papéis
conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente estereotipados que legitimem ou exacerbem a violência doméstica
de coabitação. e familiar, de acordo com o estabelecido no inciso III do art. 1º , no
inciso IV do art. 3º e no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo ;
independem de orientação sexual. IV - a implementação de atendimento policial especializado
Art. 6º A violência doméstica e familiar contra a mulher consti- para as mulheres, em particular nas Delegacias de Atendimento à
tui uma das formas de violação dos direitos humanos. Mulher;
V - a promoção e a realização de campanhas educativas de pre-
CAPÍTULO II venção da violência doméstica e familiar contra a mulher, voltadas
DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CON- ao público escolar e à sociedade em geral, e a difusão desta Lei e
TRA A MULHER dos instrumentos de proteção aos direitos humanos das mulheres;
VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou
Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a outros instrumentos de promoção de parceria entre órgãos gover-
mulher, entre outras: namentais ou entre estes e entidades não-governamentais, tendo
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que por objetivo a implementação de programas de erradicação da vio-
ofenda sua integridade ou saúde corporal; lência doméstica e familiar contra a mulher;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer condu- VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da
ta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos profissionais per-
que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que tencentes aos órgãos e às áreas enunciados no inciso I quanto às
vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças questões de gênero e de raça ou etnia;
e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, ma- VIII - a promoção de programas educacionais que disseminem
nipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, valores éticos de irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana
insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, ex- com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia;
ploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de
que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; ensino, para os conteúdos relativos aos direitos humanos, à eqüida-
(Redação dada pela Lei nº 13.772, de 2018) de de gênero e de raça ou etnia e ao problema da violência domés-
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que tica e familiar contra a mulher.
a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexu-
al não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da CAPÍTULO II
força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA
a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contra- DOMÉSTICA E FAMILIAR
ceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à
prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipula- Art. 9º A assistência à mulher em situação de violência domés-
ção; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e tica e familiar será prestada de forma articulada e conforme os prin-
reprodutivos; cípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social,
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer condu- no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública,
ta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total entre outras normas e políticas públicas de proteção, e emergen-
de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, cialmente quando for o caso.
bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os desti- § 1º O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da mulher
nados a satisfazer suas necessidades; em situação de violência doméstica e familiar no cadastro de pro-
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que gramas assistenciais do governo federal, estadual e municipal.
configure calúnia, difamação ou injúria.

253
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
§ 2º O juiz assegurará à mulher em situação de violência do- Art. 10-A. É direito da mulher em situação de violência do-
méstica e familiar, para preservar sua integridade física e psicoló- méstica e familiar o atendimento policial e pericial especializado,
gica: ininterrupto e prestado por servidores - preferencialmente do sexo
I - acesso prioritário à remoção quando servidora pública, inte- feminino - previamente capacitados. (Incluído pela Lei nº 13.505,
grante da administração direta ou indireta; de 2017)
II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o § 1º A inquirição de mulher em situação de violência domésti-
afastamento do local de trabalho, por até seis meses. ca e familiar ou de testemunha de violência doméstica, quando se
III - encaminhamento à assistência judiciária, quando for o tratar de crime contra a mulher, obedecerá às seguintes diretrizes:
caso, inclusive para eventual ajuizamento da ação de separação (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução I - salvaguarda da integridade física, psíquica e emocional da
de união estável perante o juízo competente.(Incluído pela Lei nº depoente, considerada a sua condição peculiar de pessoa em situ-
13.894, de 2019) ação de violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.505,
§ 3º A assistência à mulher em situação de violência domésti- de 2017)
ca e familiar compreenderá o acesso aos benefícios decorrentes do II - garantia de que, em nenhuma hipótese, a mulher em si-
desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo os serviços de tuação de violência doméstica e familiar, familiares e testemunhas
contracepção de emergência, a profilaxia das Doenças Sexualmente terão contato direto com investigados ou suspeitos e pessoas a eles
Transmissíveis (DST) e da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida relacionadas; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
(AIDS) e outros procedimentos médicos necessários e cabíveis nos III - não revitimização da depoente, evitando sucessivas inquiri-
casos de violência sexual. ções sobre o mesmo fato nos âmbitos criminal, cível e administrati-
§ 4º Aquele que, por ação ou omissão, causar lesão, violência vo, bem como questionamentos sobre a vida privada. (Incluído pela
física, sexual ou psicológica e dano moral ou patrimonial a mulher Lei nº 13.505, de 2017)
fica obrigado a ressarcir todos os danos causados, inclusive ressarcir § 2º Na inquirição de mulher em situação de violência domés-
ao Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com a tabela SUS, os tica e familiar ou de testemunha de delitos de que trata esta Lei,
custos relativos aos serviços de saúde prestados para o total trata- adotar-se-á, preferencialmente, o seguinte procedimento: (Incluído
mento das vítimas em situação de violência doméstica e familiar, pela Lei nº 13.505, de 2017)
recolhidos os recursos assim arrecadados ao Fundo de Saúde do I - a inquirição será feita em recinto especialmente projetado
ente federado responsável pelas unidades de saúde que prestarem para esse fim, o qual conterá os equipamentos próprios e adequa-
os serviços. (Vide Lei nº 13.871, de 2019) (Vigência) dos à idade da mulher em situação de violência doméstica e familiar
§ 5º Os dispositivos de segurança destinados ao uso em caso ou testemunha e ao tipo e à gravidade da violência sofrida; (Incluí-
de perigo iminente e disponibilizados para o monitoramento das do pela Lei nº 13.505, de 2017)
vítimas de violência doméstica ou familiar amparadas por medidas II - quando for o caso, a inquirição será intermediada por pro-
protetivas terão seus custos ressarcidos pelo agressor. (Vide Lei nº fissional especializado em violência doméstica e familiar designado
13.871, de 2019) (Vigência) pela autoridade judiciária ou policial; (Incluído pela Lei nº 13.505,
§ 6º O ressarcimento de que tratam os §§ 4º e 5º deste artigo de 2017)
não poderá importar ônus de qualquer natureza ao patrimônio da III - o depoimento será registrado em meio eletrônico ou mag-
mulher e dos seus dependentes, nem configurar atenuante ou en- nético, devendo a degravação e a mídia integrar o inquérito. (Inclu-
sejar possibilidade de substituição da pena aplicada. (Vide Lei nº ído pela Lei nº 13.505, de 2017)
13.871, de 2019) (Vigência) Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência do-
§ 7º A mulher em situação de violência doméstica e familiar méstica e familiar, a autoridade policial deverá, entre outras provi-
tem prioridade para matricular seus dependentes em instituição dências:
de educação básica mais próxima de seu domicílio, ou transferi-los I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando
para essa instituição, mediante a apresentação dos documentos de imediato ao Ministério Público e ao Poder Judiciário;
comprobatórios do registro da ocorrência policial ou do processo II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao
de violência doméstica e familiar em curso.(Incluído pela Lei nº Instituto Médico Legal;
13.882,de 2019) III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes
§ 8º Serão sigilosos os dados da ofendida e de seus dependen- para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida;
tes matriculados ou transferidos conforme o disposto no § 7º deste IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a
artigo, e o acesso às informações será reservado ao juiz, ao Minis- retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do domicílio
tério Público e aos órgãos competentes do poder público.(Incluído familiar;
pela Lei nº 13.882,de 2019) V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e
os serviços disponíveis, inclusive os de assistência judiciária para o
CAPÍTULO III eventual ajuizamento perante o juízo competente da ação de sepa-
DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL ração judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de disso-
lução de união estável.(Redação dada pela Lei nº 13.894, de 2019)
Art. 10. Na hipótese da iminência ou da prática de violência do- Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar
méstica e familiar contra a mulher, a autoridade policial que tomar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade
conhecimento da ocorrência adotará, de imediato, as providências policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem pre-
legais cabíveis. juízo daqueles previstos no Código de Processo Penal:
Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo ao I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a
descumprimento de medida protetiva de urgência deferida. representação a termo, se apresentada;
II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento
do fato e de suas circunstâncias;

254
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente § 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à
apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de efetividade da medida protetiva de urgência, não será concedida
medidas protetivas de urgência; liberdade provisória ao preso. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)
IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da
ofendida e requisitar outros exames periciais necessários; TÍTULO IV
V - ouvir o agressor e as testemunhas; DOS PROCEDIMENTOS
VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos
sua folha de antecedentes criminais, indicando a existência de man- CAPÍTULO I
dado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra DISPOSIÇÕES GERAIS
ele;
VI-A - verificar se o agressor possui registro de porte ou pos- Art. 13. Ao processo, ao julgamento e à execução das causas
se de arma de fogo e, na hipótese de existência, juntar aos autos cíveis e criminais decorrentes da prática de violência doméstica e
essa informação, bem como notificar a ocorrência à instituição res- familiar contra a mulher aplicar-se-ão as normas dos Códigos de
ponsável pela concessão do registro ou da emissão do porte, nos Processo Penal e Processo Civil e da legislação específica relativa
termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do à criança, ao adolescente e ao idoso que não conflitarem com o
Desarmamento);(Incluído pela Lei nº 13.880, de 2019) estabelecido nesta Lei.
VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
juiz e ao Ministério Público. Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e crimi-
§ 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela autorida- nal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Terri-
de policial e deverá conter: tórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução
I - qualificação da ofendida e do agressor; das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar
II - nome e idade dos dependentes; contra a mulher.
III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicita- Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-se em
das pela ofendida. horário noturno, conforme dispuserem as normas de organização
IV - informação sobre a condição de a ofendida ser pessoa com judiciária.
deficiência e se da violência sofrida resultou deficiência ou agrava- Art. 14-A. A ofendida tem a opção de propor ação de divórcio
mento de deficiência preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.836, de ou de dissolução de união estável no Juizado de Violência Domésti-
2019) ca e Familiar contra a Mulher.(Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019)
§ 2º A autoridade policial deverá anexar ao documento referi- § 1º Exclui-se da competência dos Juizados de Violência Do-
do no § 1º o boletim de ocorrência e cópia de todos os documentos méstica e Familiar contra a Mulher a pretensão relacionada à parti-
disponíveis em posse da ofendida. lha de bens.(Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019)
§ 3º Serão admitidos como meios de prova os laudos ou pron- § 2º Iniciada a situação de violência doméstica e familiar após o
tuários médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde. ajuizamento da ação de divórcio ou de dissolução de união estável,
Art. 12-A. Os Estados e o Distrito Federal, na formulação de a ação terá preferência no juízo onde estiver.(Incluído pela Lei nº
suas políticas e planos de atendimento à mulher em situação de 13.894, de 2019)
violência doméstica e familiar, darão prioridade, no âmbito da Po- Art. 15. É competente, por opção da ofendida, para os proces-
lícia Civil, à criação de Delegacias Especializadas de Atendimento sos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado:
à Mulher (Deams), de Núcleos Investigativos de Feminicídio e de I - do seu domicílio ou de sua residência;
equipes especializadas para o atendimento e a investigação das vio- II - do lugar do fato em que se baseou a demanda;
lências graves contra a mulher. III - do domicílio do agressor.
Art. 12-B. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representa-
§ 1º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) ção da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à
§ 2º (VETADO. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) representação perante o juiz, em audiência especialmente designa-
§ 3º A autoridade policial poderá requisitar os serviços públicos da com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido
necessários à defesa da mulher em situação de violência doméstica o Ministério Público.
e familiar e de seus dependentes. (Incluído pela Lei nº 13.505, de Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica
2017) e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de
Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que impli-
vida ou à integridade física da mulher em situação de violência do- que o pagamento isolado de multa.
méstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será imedia-
tamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a CAPÍTULO II
ofendida: (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA
I - pela autoridade judicial; (Incluído pela Lei nº 13.827, de
2019) SEÇÃO I
II - pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede DISPOSIÇÕES GERAIS
de comarca; ou (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)
III - pelo policial, quando o Município não for sede de comarca Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, ca-
e não houver delegado disponível no momento da denúncia. (Inclu- berá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas:
ído pela Lei nº 13.827, de 2019) I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as me-
§ 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o didas protetivas de urgência;
juiz será comunicado no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas
e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da
medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público conco-
mitantemente. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)

255
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de as- VI – comparecimento do agressor a programas de recuperação
sistência judiciária, quando for o caso, inclusive para o ajuizamento e reeducação; e(Incluído pela Lei nº 13.984, de 2020)
da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casa- VII – acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de
mento ou de dissolução de união estável perante o juízo competen- atendimento individual e/ou em grupo de apoio.(Incluído pela Lei
te;(Redação dada pela Lei nº 13.894, de 2019) nº 13.984, de 2020)
III - comunicar ao Ministério Público para que adote as provi- § 1º As medidas referidas neste artigo não impedem a aplica-
dências cabíveis. ção de outras previstas na legislação em vigor, sempre que a segu-
IV - determinar a apreensão imediata de arma de fogo sob a rança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a provi-
posse do agressor.(Incluído pela Lei nº 13.880, de 2019) dência ser comunicada ao Ministério Público.
Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser conce- § 2º Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o
didas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido agressor nas condições mencionadas no caput e incisos do art. 6º
da ofendida. da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, o juiz comunicará
§ 1º As medidas protetivas de urgência poderão ser concedi- ao respectivo órgão, corporação ou instituição as medidas proteti-
das de imediato, independentemente de audiência das partes e de vas de urgência concedidas e determinará a restrição do porte de
manifestação do Ministério Público, devendo este ser prontamente armas, ficando o superior imediato do agressor responsável pelo
comunicado. cumprimento da determinação judicial, sob pena de incorrer nos
§ 2º As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o caso.
ou cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer tempo § 3º Para garantir a efetividade das medidas protetivas de ur-
por outras de maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos gência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento, auxílio da
nesta Lei forem ameaçados ou violados. força policial.
§ 3º Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a § 4º Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que cou-
pedido da ofendida, conceder novas medidas protetivas de urgên- ber, o disposto no caput e nos §§ 5º e 6º do art. 461 da Lei no 5.869,
cia ou rever aquelas já concedidas, se entender necessário à prote- de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil).
ção da ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio, ouvido o
Ministério Público.
Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução SEÇÃO III
criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, decretada pelo DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA À OFENDIDA
juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante
representação da autoridade policial. Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de ou-
Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, tras medidas:
no curso do processo, verificar a falta de motivo para que subsista, I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa ofi-
bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifi- cial ou comunitário de proteção ou de atendimento;
quem. II - determinar a recondução da ofendida e a de seus depen-
Art. 21. A ofendida deverá ser notificada dos atos processuais dentes ao respectivo domicílio, após afastamento do agressor;
relativos ao agressor, especialmente dos pertinentes ao ingresso e à III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo
saída da prisão, sem prejuízo da intimação do advogado constituído dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;
ou do defensor público. IV - determinar a separação de corpos.
Parágrafo único. A ofendida não poderá entregar intimação ou V - determinar a matrícula dos dependentes da ofendida em
notificação ao agressor . instituição de educação básica mais próxima do seu domicílio, ou
a transferência deles para essa instituição, independentemente da
SEÇÃO II existência de vaga.(Incluído pela Lei nº 13.882,de 2019)
DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA QUE OBRIGAM O Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade
AGRESSOR conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz
poderá determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre ou-
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar tras:
contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de ime- I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor
diato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes à ofendida;
medidas protetivas de urgência, entre outras: II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com de compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo ex-
comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei nº 10.826, pressa autorização judicial;
de 22 de dezembro de 2003 ; III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com agressor;
a ofendida; IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial,
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemu- doméstica e familiar contra a ofendida.
nhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por para os fins previstos nos incisos II e III deste artigo.
qualquer meio de comunicação;
c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a
integridade física e psicológica da ofendida;
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes meno-
res, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço si-
milar;
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

256
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
SEÇÃO IV Art. 31. Quando a complexidade do caso exigir avaliação mais
(INCLUÍDO PELA LEI Nº 13.641, DE 2018) aprofundada, o juiz poderá determinar a manifestação de profissio-
DO CRIME DE DESCUMPRIMENTO DE MEDIDAS PROTETIVAS nal especializado, mediante a indicação da equipe de atendimento
DE URGÊNCIA multidisciplinar.
DESCUMPRIMENTO DE MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA Art. 32. O Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta or-
çamentária, poderá prever recursos para a criação e manutenção
Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas pro- da equipe de atendimento multidisciplinar, nos termos da Lei de
tetivas de urgência previstas nesta Lei:(Incluído pela Lei nº 13.641, Diretrizes Orçamentárias.
de 2018)
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos.(Incluído TÍTULO VI
pela Lei nº 13.641, de 2018) DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
§ 1º A configuração do crime independe da competência ci-
vil ou criminal do juiz que deferiu as medidas.(Incluído pela Lei nº Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência
13.641, de 2018) Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumula-
§ 2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autorida- rão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as cau-
de judicial poderá conceder fiança.(Incluído pela Lei nº 13.641, de sas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra
2018) a mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada
§ 3º O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras pela legislação processual pertinente.
sanções cabíveis.(Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas va-
ras criminais, para o processo e o julgamento das causas referidas
CAPÍTULO III no caput.
DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
TÍTULO VII
Art. 25. O Ministério Público intervirá, quando não for parte, DISPOSIÇÕES FINAIS
nas causas cíveis e criminais decorrentes da violência doméstica e
familiar contra a mulher. Art. 34. A instituição dos Juizados de Violência Doméstica e Fa-
Art. 26. Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo de outras miliar contra a Mulher poderá ser acompanhada pela implantação
atribuições, nos casos de violência doméstica e familiar contra a das curadorias necessárias e do serviço de assistência judiciária.
mulher, quando necessário: Art. 35. A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios
I - requisitar força policial e serviços públicos de saúde, de edu- poderão criar e promover, no limite das respectivas competências:
cação, de assistência social e de segurança, entre outros; I - centros de atendimento integral e multidisciplinar para mu-
II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e particulares de lheres e respectivos dependentes em situação de violência domés-
atendimento à mulher em situação de violência doméstica e fami- tica e familiar;
liar, e adotar, de imediato, as medidas administrativas ou judiciais II - casas-abrigos para mulheres e respectivos dependentes me-
cabíveis no tocante a quaisquer irregularidades constatadas; nores em situação de violência doméstica e familiar;
III - cadastrar os casos de violência doméstica e familiar contra III - delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços de saú-
a mulher. de e centros de perícia médico-legal especializados no atendimento
à mulher em situação de violência doméstica e familiar;
CAPÍTULO IV IV - programas e campanhas de enfrentamento da violência do-
DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA méstica e familiar;
V - centros de educação e de reabilitação para os agressores.
Art. 27. Em todos os atos processuais, cíveis e criminais, a mu- Art. 36. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
lher em situação de violência doméstica e familiar deverá estar promoverão a adaptação de seus órgãos e de seus programas às
acompanhada de advogado, ressalvado o previsto no art. 19 desta diretrizes e aos princípios desta Lei.
Lei. Art. 37. A defesa dos interesses e direitos transindividuais pre-
Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de violência do- vistos nesta Lei poderá ser exercida, concorrentemente, pelo Mi-
méstica e familiar o acesso aos serviços de Defensoria Pública ou de nistério Público e por associação de atuação na área, regularmente
Assistência Judiciária Gratuita, nos termos da lei, em sede policial e constituída há pelo menos um ano, nos termos da legislação civil.
judicial, mediante atendimento específico e humanizado. Parágrafo único. O requisito da pré-constituição poderá ser
dispensado pelo juiz quando entender que não há outra entidade
TÍTULO V com representatividade adequada para o ajuizamento da demanda
DA EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR coletiva.
Art. 38. As estatísticas sobre a violência doméstica e familiar
Art. 29. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a contra a mulher serão incluídas nas bases de dados dos órgãos ofi-
Mulher que vierem a ser criados poderão contar com uma equipe ciais do Sistema de Justiça e Segurança a fim de subsidiar o sistema
de atendimento multidisciplinar, a ser integrada por profissionais nacional de dados e informações relativo às mulheres.
especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde. Parágrafo único. As medidas protetivas de urgência serão, após
Art. 30. Compete à equipe de atendimento multidisciplinar, sua concessão, imediatamente registradas em banco de dados man-
entre outras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação tido e regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça, garantido
local, fornecer subsídios por escrito ao juiz, ao Ministério Público o acesso instantâneo do Ministério Público, da Defensoria Pública e
e à Defensoria Pública, mediante laudos ou verbalmente em audi- dos órgãos de segurança pública e de assistência social, com vistas
ência, e desenvolver trabalhos de orientação, encaminhamento, à fiscalização e à efetividade das medidas protetivas. (Redação dada
prevenção e outras medidas, voltados para a ofendida, o agressor e Lei nº 14.310, de 2022) Vigência
os familiares, com especial atenção às crianças e aos adolescentes.

257
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
Art. 38-A. O juiz competente providenciará o registro da me-
dida protetiva de urgência. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) RACISMO. RACISMO INSTITUCIONAL
Parágrafo único. As medidas protetivas de urgência serão regis-
tradas em banco de dados mantido e regulamentado pelo Conselho Racismo
Nacional de Justiça, garantido o acesso do Ministério Público, da
Defensoria Pública e dos órgãos de segurança pública e de assis- O racismo consiste na atribuição de uma relação direta entre
tência social, com vistas à fiscalização e à efetividade das medidas características biológicas e qualidades morais, intelectuais ou com-
protetivas. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) portamentais, implicando sempre em uma hierarquização que su-
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, põem a existência de raças humanas superiores e inferiores. Fatores
no limite de suas competências e nos termos das respectivas leis de como a cor da pele ou o formato do crânio são relacionados a uma
diretrizes orçamentárias, poderão estabelecer dotações orçamen- série de qualidades aleatórias, como a inteligência ou a capacidade
tárias específicas, em cada exercício financeiro, para a implementa- de comando. Discursos racistas historicamente têm servido para
ção das medidas estabelecidas nesta Lei. legitimar relações de dominação, naturalizando desigualdades de
Art. 40. As obrigações previstas nesta Lei não excluem outras todos os tipos e justificando atrocidades e genocídios2.
decorrentes dos princípios por ela adotados. Os primeiros discursos racistas derivam de uma visão teológica,
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e fami- são baseados na leitura de uma série de episódios bíblicos, como
liar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aquele no qual Noé amaldiçoa seu único filho negro, afirmando que
aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. seus descendentes seriam escravizados pelos descendentes de seus
Art. 42. O art. 313 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro irmãos. Essas interpretações serviram para justificar e naturalizar
de 1941 (Código de Processo Penal), passa a vigorar acrescido do relações de exploração, como a escravização do povo africano pelos
seguinte inciso IV: europeus.
“Art. 313. ................................................. Já no século XVIII surgem as primeiras teorias racistas de cunho
................................................................ científico. Da mesma forma como já fazia com as plantas e os ani-
IV - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mais, a ciência passa a classificar a diversidade humana e, para
mulher, nos termos da lei específica, para garantir a execução das tal, usa como critério central a pigmentação da pele. O problema
medidas protetivas de urgência.” (NR) central dessa classificação é que ela conecta a essas características
Art. 43. A alínea f do inciso II do art. 61 do Decreto-Lei nº 2.848, físicas atributos morais e comportamentais depreciativos ou valora-
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com a tivos, a depender de que “raça” se está tratando.
seguinte redação: Carl Von Linné, naturalista sueco, foi um dos primeiros a siste-
“Art. 61. .................................................. matizar essa classificação racista. Ele divide os humanos em quatro
................................................................. raças: a asiática, de pele amarela e caráter melancólico; a america-
II - ............................................................ na, de pele morena e comportamento colérico; a africana, negra e
................................................................. preguiçosa; e a europeia, branca, engenhosa e inventiva. Esse tipo
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações de teoria racista, que junta adeptos por décadas a fio, utilizou-se da
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência sua autoridade científica para justificar o tratamento de populações
contra a mulher na forma da lei específica; não-europeias como inferiores, indignas de respeito e incapazes de
........................................................... ” (NR) governar a si mesmas, legitimando as empreitadas colonialistas sob
Art. 44. O art. 129 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro a Ásia, a África e as Américas.
de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes alterações: Obviamente, o desenvolvimento da ciência foi completamente
“Art. 129. .................................................. incapaz de provar qualquer tipo de ligação entre as quantidades de
.................................................................. melanina de um ser humano e sua personalidade/capacidade inte-
§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, lectual. No entanto, elementos dessa hierarquização seguiram in-
irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha tactos nos imaginários coletivos e se expressam até os dias de hoje.
convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domés- No Brasil3, as causas do racismo podem ser associadas, princi-
ticas, de coabitação ou de hospitalidade: palmente, à longa escravização de povos de origem africana e a tar-
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. dia abolição da escravidão, que foi feita de maneira irresponsável,
.................................................................. pois não se preocupou em inserir os escravos libertos na educação
§ 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada e no mercado de trabalho, resultando em um sistema de marginali-
de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de zação que perdura até hoje.
deficiência.” (NR) O Brasil é um país marcado pelo racismo como sistema, uma
Art. 45. O art. 152 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei forma de organização social que privilegia um grupo em detrimento
de Execução Penal), passa a vigorar com a seguinte redação: de outro. O genocídio dos povos indígenas e o sequestro, escravi-
“Art. 152. ................................................... zação e desumanização dos africanos e seus descendentes nascidos
Parágrafo único. Nos casos de violência doméstica contra a aqui, ocupam boa parte da história do país.
mulher, o juiz poderá determinar o comparecimento obrigatório do São fatos que deixaram consequências profundas tanto na
agressor a programas de recuperação e reeducação.” (NR) forma coletiva de pensar, quanto nas condições materiais dos des-
Art. 46. Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco) dias após cendentes desses povos. Apesar de negros e pardos constituírem a
sua publicação. maioria da população, sua presença é minoritária nas classes sociais
mais abastadas, nos espaços acadêmicos, nos postos de chefia e
nas profissões bem remuneradas.

2 https://bit.ly/1I7S7iH

3 https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/racismo.htm#:~:text=No%20
Brasil%2C%20as%20causas%20do,resultando%20em%20um%20sistema%20de

258
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
Nas ações do aparato repressivo, entretanto, a população ne- Pode ser definido ainda como a negação coletiva de uma orga-
gra se evidencia, constituindo-se como maioria entre as vítimas fa- nização em prestar serviços adequados para pessoas por causa de
tais da violência policial. A perversidade do racismo brasileiro foi sua cor, cultura ou origem étnica. Também pode estar associado a
suavizada durante anos através da ideia de “democracia racial”, formas de preconceito inconsciente, desconsideração e reforço de
nascida nas Ciências Sociais, com destaque para a contribuição de estereótipos que colocam algumas pessoas em situações de des-
Gilberto Freyre, autor de Casa Grande e Senzala (1933). vantagem.
A ausência de um regime de segregação institucional, tal como No Brasil, o Programa de Combate ao Racismo Institucional
ocorrera nos EUA e na África do Sul, através do apartheid, foi sub- (PCRI) implementado em 2005, definiu o racismo institucional
terfúgio para amenizar a força do racismo no Brasil. O mito da de- como o fracasso das instituições e organizações em prover um ser-
mocracia racial brasileira fez com que o país postergasse a adoção viço profissional e adequado às pessoas em virtude de sua cor, cul-
de medidas de reparação, a exemplo de ações afirmativas, já há tura, origem racial ou étnica. Ele se manifesta em normas, práticas
muito consolidadas nos EUA e de combate ativo a ideologia racista, e comportamentos discriminatórios adotados no cotidiano do tra-
tal como a adoção de uma perspectiva multiculturalista no seu sis- balho, os quais são resultantes do preconceito racial, uma atitude
tema educacional. que combina estereótipos racistas, falta de atenção e ignorância.
São espécies de racismo: No racismo institucional, as decisões individuais de quem está
no poder (normalmente homens brancos), dificultam direta ou indi-
→ Racismo Estrutural retamente na inclusão de negros a esses espaços de forma integral.
O racismo estrutural pode ser definido como uma naturaliza- Em qualquer caso, o racismo institucional sempre coloca pessoas
ção de comportamentos, hábitos, falas e pensamentos, que promo- de grupos raciais ou étnicos discriminados em situação de desvan-
vem, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial. tagem no acesso a benefícios gerados pelo Estado e por demais ins-
É algo que está, de algum modo, preso às estruturas de nossa so- tituições e organizações.
ciedade e acaba fazendo parte da vida cotidiana de muitas pessoas, Mais recentemente Jurema Werneck definiu o racismo institu-
como se fosse uma realidade normal. cional como “um modo de subordinar o direito e a democracia às
Trata-se de fenômeno estruturante da sociedade que atua em necessidades do racismo, fazendo com que os primeiros inexistam
diversas dimensões e camadas e pode ser observado em diferentes ou existam de forma precária, diante de barreiras interpostas na
níveis da sociedade. Por ser uma forma de racismo de difícil percep- vivência dos grupos e indivíduos aprisionados pelos esquemas de
ção pelas pessoas que a promovem, este tipo de comportamento subordinação desse último”5. Os objetivos da criação do conceito
torna-se perigoso na medida que a violência e a desigualdade se eram de especificar como se manifesta o racismo nas estruturas da
tornam algo normal. organização da sociedade e nas instituições, para descrever os inte-
Podemos identificar como sintomas dessa forma de racismo o resses, ações e mecanismos de exclusão estabelecidos pelos grupos
fato de que pessoas negras ganham, segundo estatísticas, menos racialmente dominantes.
que pessoas brancas. Também encontramos entre a população ne- Seu impacto na vida da população negra no Brasil pode ser per-
gra uma menor escolaridade. cebido tanto na sua relação direta com os serviços e as instituições
Um outro exemplo de racismo estrutural é o ínfimo número que deveriam garantir seus direitos fundamentais, quanto no coti-
de negros que tinham acesso aos cursos superiores de Medicina diano de suas vidas.
no Brasil antes das leis de cotas, etc. A utilização de linguagens e
expressões racistas, muitas vezes sem se dar conta disto, aliada à Legislação
crença de normalidade de tais condutas, reforçam o racismo estru- Destacam-se algumas leis contra o racismo. Vejamos:
tural, já tão enraizado em nossa sociedade.
Este tipo de racismo pode permear e perseguir a vítima por → Lei nº 7716/1989: Definiu os crimes resultantes de precon-
todos os meios e lugares que ela frequenta, já que a linguagem é ceito de raça ou de cor e tornou crime qualquer atitude de discri-
capaz de adentrar qualquer esfera da vida humana. O ideal é que minação, preconceito ou incitação ao preconceito por motivação
sociedade reconheça a ofensa em determinadas expressões e o so- racista. Trata-se de um importante instrumento na luta contra o
frimento que ela pode causar nas pessoas, e mude seu comporta- racismo no Brasil;
mento, deixando de utilizá-las. → Lei nº 10.639/2003: Alterou a Lei nº 9.394, de 20 de dezem-
Vale destacar como diferença, que o racismo institucional ocor- bro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação na-
re dentro da instituição, através de suas normas e práticas, enquan- cional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigato-
to o racismo estrutural perpassa todas essas estruturas sociais. riedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”;
→ Lei nº 12.288/2010: Refere-se ao Estatuto da Igualdade Ra-
→ Racismo Institucional cial. A norma traz o importante conceito sobre discriminação racial
O conceito de Racismo Institucional foi definido pelos ativistas que é definida como toda distinção, exclusão, restrição ou prefe-
integrantes do grupo Panteras Negras, Stokely Carmichael e Charles rência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou
Hamilton em 1967, para especificar como se manifesta o racismo étnica.
nas estruturas de organização da sociedade e nas instituições. Para Define ainda, entre outros conceitos, a desigualdade racial
os autores, “trata-se da falha coletiva de uma organização em pro- como toda situação injustificada de diferenciação de acesso ou frui-
ver um serviço apropriado e profissional às pessoas por causa de ção de bens, serviços e oportunidades nas áreas pública e privada
sua cor, cultura ou origem étnica”4. em virtude de raça, cor, descendência ou origem nacional e étnica.
Tendo como principal objetivo o combater da discriminação racial e
das desigualdades raciais que atingem os afro-brasileiros, incluindo
a dimensão racial nas políticas públicas desenvolvidas pelo Estado;

4 Carmichael, S. e Hamilton, C. Black power: the politics of liberation in 5 Werneck, Jurema. Racismo Institucional, uma abordagem conceitual,
America. New York, Vintage, 1967, p. 4. Geledés – Instituto da Mulher Negra, 2013.

259
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
→ Convenção Interamericana contra o Racismo e Discrimina- II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar ou-
ção Racial e outras formas correlatas de intolerância: Foi aprovada tra forma de benefício profissional; (Incluído pela Lei nº 12.288, de
em 2013, na Guatemala, durante a 43ª Sessão Ordinária da Assem- 2010)
bleia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) e ratifica- III - proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no
da no Brasil em 2021. ambiente de trabalho, especialmente quanto ao salário. (Incluído
Os países que ratificam a convenção se comprometem a pre- pela Lei nº 12.288, de 2010)
venir, eliminar, proibir e punir, de acordo com suas normas consti- § 2º Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços
tucionais e com as regras da convenção, todos os atos e manifes- à comunidade, incluindo atividades de promoção da igualdade ra-
tações de racismo, discriminação racial e intolerância. De acordo cial, quem, em anúncios ou qualquer outra forma de recrutamento
com a convenção, a discriminação racial pode basear-se em raça, de trabalhadores, exigir aspectos de aparência próprios de raça ou
cor, ascendência ou origem nacional ou étnica e é definida como etnia para emprego cujas atividades não justifiquem essas exigên-
“qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência, em qual- cias. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010)
quer área da vida pública ou privada, com o propósito ou efeito de Pena: reclusão de dois a cinco anos.
anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em con- Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comer-
dições de igualdade, de um ou mais direitos humanos e liberdades cial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador.
fundamentais consagrados nos instrumentos internacionais”. Pena: reclusão de um a três anos.
A convenção conceitua intolerância como “um ato ou conjun-
Art. 6º Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de
to de atos ou manifestações que denotam desrespeito, rejeição ou
aluno em estabelecimento de ensino público ou privado de qual-
desprezo à dignidade, características, convicções ou opiniões de
quer grau.
pessoas por serem diferentes ou contrárias”. Prevê ainda o com-
Pena: reclusão de três a cinco anos.
promisso em garantir que os sistemas políticos e jurídicos “reflitam
adequadamente a diversidade de suas sociedades, a fim de atender Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de de-
às necessidades legítimas de todos os setores da população’’. zoito anos a pena é agravada de 1/3 (um terço).
Art. 7º Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel,
pensão, estalagem, ou qualquer estabelecimento similar.
Pena: reclusão de três a cinco anos.
ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL
Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em restauran-
tes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes abertos ao público.
A Lei nº 7.716 de 05 de janeiro de 1989, entrou em vigor na Pena: reclusão de um a três anos.
data de sua publicação. A Lei nº 7.716/89 determina em seu título Art. 9º Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabele-
a punição de crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. cimentos esportivos, casas de diversões, ou clubes sociais abertos
A legislação define como crime o ato de praticar, induzir ou incitar ao público.
a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou pro- Pena: reclusão de um a três anos.
cedência nacional. Também regulamentou o trecho da Constituição Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de
Federal que torna inafiançável e imprescritível o crime de racismo, cabeleireiros, barbearias, termas ou casas de massagem ou estabe-
após dizer que todos são iguais sem discriminação de qualquer na- lecimento com as mesmas finalidades.
tureza. Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públi-
LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989 cos ou residenciais e elevadores ou escada de acesso aos mesmos:
Pena: reclusão de um a três anos.
Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como
aviões, navios barcas, barcos, ônibus, trens, metrô ou qualquer ou-
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Na- tro meio de transporte concedido.
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em
Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultan-
qualquer ramo das Forças Armadas.
tes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
Pena: reclusão de dois a quatro anos.
procedência nacional.
Art. 14. Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casa-
Art. 2º (Vetado).
mento ou convivência familiar e social.
Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente ha-
bilitado, a qualquer cargo da Administração Direta ou Indireta, bem Pena: reclusão de dois a quatro anos.
como das concessionárias de serviços públicos. Art. 15. (Vetado).
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou
discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, função pública, para o servidor público, e a suspensão do funcio-
obstar a promoção funcional. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) namento do estabelecimento particular por prazo não superior a
Pena: reclusão de dois a cinco anos. três meses.
Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada. Art. 17. (Vetado).
§ 1º Incorre na mesma pena quem, por motivo de discrimi- Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta Lei não
nação de raça ou de cor ou práticas resultantes do preconceito de são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sen-
descendência ou origem nacional ou étnica: (Incluído pela Lei nº tença.
12.288, de 2010) Art. 19. (Vetado).
I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao empre- Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou precon-
gado em igualdade de condições com os demais trabalhadores; (In- ceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
cluído pela Lei nº 12.288, de 2010) Pena: reclusão de um a três anos e multa.

260
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, em- TÍTULO I
blemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo.
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. Art. 1o Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial, desti-
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por nado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de
intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qual- oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos
quer natureza: e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de into-
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. lerância étnica.
§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, Parágrafo único. Para efeito deste Estatuto, considera-se:
ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do in- I - discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclu-
quérito policial, sob pena de desobediência: são, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou
I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exem- origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir
plares do material respectivo; o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições,
II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, tele-
de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos políti-
visivas, eletrônicas ou da publicação por qualquer meio; (Redação
co, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida
dada pela Lei nº 12.735, de 2012)
pública ou privada;
III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de infor-
II - desigualdade racial: toda situação injustificada de diferen-
mação na rede mundial de computadores.
§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após ciação de acesso e fruição de bens, serviços e oportunidades, nas
o trânsito em julgado da decisão, a destruição do material apreen- esferas pública e privada, em virtude de raça, cor, descendência ou
dido. origem nacional ou étnica;
Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. III - desigualdade de gênero e raça: assimetria existente no
Art. 22. Revogam-se as disposições em contrário. âmbito da sociedade que acentua a distância social entre mulheres
negras e os demais segmentos sociais;
LEI Nº 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003 IV - população negra: o conjunto de pessoas que se autode-
claram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pela
Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que esta- Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou
belece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no que adotam autodefinição análoga;
currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática V - políticas públicas: as ações, iniciativas e programas adota-
“História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências. dos pelo Estado no cumprimento de suas atribuições institucionais;
VI - ações afirmativas: os programas e medidas especiais ado-
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na- tados pelo Estado e pela iniciativa privada para a correção das de-
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: sigualdades raciais e para a promoção da igualdade de oportuni-
dades.
Art. 1º A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a Art. 2o É dever do Estado e da sociedade garantir a igualdade
vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B: de oportunidades, reconhecendo a todo cidadão brasileiro, inde-
“Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e mé- pendentemente da etnia ou da cor da pele, o direito à participação
dio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre His- na comunidade, especialmente nas atividades políticas, econômi-
tória e Cultura Afro-Brasileira. cas, empresariais, educacionais, culturais e esportivas, defendendo
§ 1º O conteúdo programático a que se refere o caput deste sua dignidade e seus valores religiosos e culturais.
artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta Art. 3o Além das normas constitucionais relativas aos prin-
dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na for- cípios fundamentais, aos direitos e garantias fundamentais e aos
mação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo
direitos sociais, econômicos e culturais, o Estatuto da Igualdade
negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História
Racial adota como diretriz político-jurídica a inclusão das vítimas
do Brasil.
de desigualdade étnico-racial, a valorização da igualdade étnica e o
§ 2º Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasi-
fortalecimento da identidade nacional brasileira.
leira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em
especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Art. 4o A participação da população negra, em condição de
Brasileiras. igualdade de oportunidade, na vida econômica, social, política e
§ 3º (VETADO)» cultural do País será promovida, prioritariamente, por meio de:
“Art. 79-A. (VETADO)” I - inclusão nas políticas públicas de desenvolvimento econô-
“Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro mico e social;
como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.” II - adoção de medidas, programas e políticas de ação afirma-
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. tiva;
III - modificação das estruturas institucionais do Estado para o
LEI Nº 12.288, DE 20 DE JULHO DE 2010. adequado enfrentamento e a superação das desigualdades étnicas
decorrentes do preconceito e da discriminação étnica;
Institui o Estatuto da Igualdade Racial; altera as Leis nos IV - promoção de ajustes normativos para aperfeiçoar o com-
7.716, de 5 de janeiro de 1989, 9.029, de 13 de abril de 1995, bate à discriminação étnica e às desigualdades étnicas em todas as
7.347, de 24 de julho de 1985, e 10.778, de 24 de novembro de suas manifestações individuais, institucionais e estruturais;
2003. V - eliminação dos obstáculos históricos, socioculturais e insti-
tucionais que impedem a representação da diversidade étnica nas
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na- esferas pública e privada;
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

261
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
VI - estímulo, apoio e fortalecimento de iniciativas oriundas da Parágrafo único. Os moradores das comunidades de remanes-
sociedade civil direcionadas à promoção da igualdade de oportuni- centes de quilombos serão beneficiários de incentivos específicos
dades e ao combate às desigualdades étnicas, inclusive mediante para a garantia do direito à saúde, incluindo melhorias nas condi-
a implementação de incentivos e critérios de condicionamento e ções ambientais, no saneamento básico, na segurança alimentar e
prioridade no acesso aos recursos públicos; nutricional e na atenção integral à saúde.
VII - implementação de programas de ação afirmativa destina-
dos ao enfrentamento das desigualdades étnicas no tocante à edu- CAPÍTULO II
cação, cultura, esporte e lazer, saúde, segurança, trabalho, moradia, DO DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPORTE E AO
meios de comunicação de massa, financiamentos públicos, acesso à LAZER
terra, à Justiça, e outros.
Parágrafo único. Os programas de ação afirmativa constituir-se- SEÇÃO I
-ão em políticas públicas destinadas a reparar as distorções e desi- DISPOSIÇÕES GERAIS
gualdades sociais e demais práticas discriminatórias adotadas, nas
esferas pública e privada, durante o processo de formação social Art. 9o A população negra tem direito a participar de atividades
do País. educacionais, culturais, esportivas e de lazer adequadas a seus inte-
Art. 5o Para a consecução dos objetivos desta Lei, é instituído resses e condições, de modo a contribuir para o patrimônio cultural
o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir), con- de sua comunidade e da sociedade brasileira.
forme estabelecido no Título III. Art. 10. Para o cumprimento do disposto no art. 9o, os gover-
nos federal, estaduais, distrital e municipais adotarão as seguintes
TÍTULO II providências:
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS I - promoção de ações para viabilizar e ampliar o acesso da po-
pulação negra ao ensino gratuito e às atividades esportivas e de
CAPÍTULO I lazer;
DO DIREITO À SAÚDE II - apoio à iniciativa de entidades que mantenham espaço para
promoção social e cultural da população negra;
Art. 6o O direito à saúde da população negra será garantido III - desenvolvimento de campanhas educativas, inclusive nas
pelo poder público mediante políticas universais, sociais e econômi- escolas, para que a solidariedade aos membros da população negra
cas destinadas à redução do risco de doenças e de outros agravos. faça parte da cultura de toda a sociedade;
§ 1o O acesso universal e igualitário ao Sistema Único de Saúde IV - implementação de políticas públicas para o fortalecimento
(SUS) para promoção, proteção e recuperação da saúde da popu- da juventude negra brasileira.
lação negra será de responsabilidade dos órgãos e instituições pú-
blicas federais, estaduais, distritais e municipais, da administração SEÇÃO II
direta e indireta. DA EDUCAÇÃO
§ 2o O poder público garantirá que o segmento da população
negra vinculado aos seguros privados de saúde seja tratado sem Art. 11. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de en-
discriminação. sino médio, públicos e privados, é obrigatório o estudo da história
Art. 7o O conjunto de ações de saúde voltadas à população geral da África e da história da população negra no Brasil, observa-
negra constitui a Política Nacional de Saúde Integral da População do o disposto na Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
Negra, organizada de acordo com as diretrizes abaixo especificadas: § 1o Os conteúdos referentes à história da população negra no
I - ampliação e fortalecimento da participação de lideranças Brasil serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, res-
dos movimentos sociais em defesa da saúde da população negra gatando sua contribuição decisiva para o desenvolvimento social,
nas instâncias de participação e controle social do SUS; econômico, político e cultural do País.
II - produção de conhecimento científico e tecnológico em saú- § 2o O órgão competente do Poder Executivo fomentará a for-
de da população negra; mação inicial e continuada de professores e a elaboração de mate-
III - desenvolvimento de processos de informação, comunica- rial didático específico para o cumprimento do disposto no caput
ção e educação para contribuir com a redução das vulnerabilidades deste artigo.
da população negra. § 3o Nas datas comemorativas de caráter cívico, os órgãos res-
Art. 8o Constituem objetivos da Política Nacional de Saúde In- ponsáveis pela educação incentivarão a participação de intelectuais
tegral da População Negra: e representantes do movimento negro para debater com os estu-
I - a promoção da saúde integral da população negra, priorizan- dantes suas vivências relativas ao tema em comemoração.
do a redução das desigualdades étnicas e o combate à discrimina- Art. 12. Os órgãos federais, distritais e estaduais de fomento à
ção nas instituições e serviços do SUS; pesquisa e à pós-graduação poderão criar incentivos a pesquisas e a
II - a melhoria da qualidade dos sistemas de informação do SUS programas de estudo voltados para temas referentes às relações ét-
no que tange à coleta, ao processamento e à análise dos dados de- nicas, aos quilombos e às questões pertinentes à população negra.
sagregados por cor, etnia e gênero; Art. 13. O Poder Executivo federal, por meio dos órgãos com-
III - o fomento à realização de estudos e pesquisas sobre racis- petentes, incentivará as instituições de ensino superior públicas e
mo e saúde da população negra; privadas, sem prejuízo da legislação em vigor, a:
IV - a inclusão do conteúdo da saúde da população negra nos I - resguardar os princípios da ética em pesquisa e apoiar gru-
processos de formação e educação permanente dos trabalhadores pos, núcleos e centros de pesquisa, nos diversos programas de pós-
da saúde; -graduação que desenvolvam temáticas de interesse da população
V - a inclusão da temática saúde da população negra nos pro- negra;
cessos de formação política das lideranças de movimentos sociais II - incorporar nas matrizes curriculares dos cursos de formação
para o exercício da participação e controle social no SUS. de professores temas que incluam valores concernentes à pluralida-
de étnica e cultural da sociedade brasileira;

262
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
III - desenvolver programas de extensão universitária destina- CAPÍTULO III
dos a aproximar jovens negros de tecnologias avançadas, assegu- DO DIREITO À LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E DE CRENÇA E
rado o princípio da proporcionalidade de gênero entre os benefi- AO LIVRE EXERCÍCIO DOS CULTOS RELIGIOSOS
ciários;
IV - estabelecer programas de cooperação técnica, nos esta- Art. 23. É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sen-
belecimentos de ensino públicos, privados e comunitários, com as do assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na
escolas de educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.
ensino técnico, para a formação docente baseada em princípios de Art. 24. O direito à liberdade de consciência e de crença e ao
equidade, de tolerância e de respeito às diferenças étnicas. livre exercício dos cultos religiosos de matriz africana compreende:
Art. 14. O poder público estimulará e apoiará ações socioedu- I - a prática de cultos, a celebração de reuniões relacionadas à
cacionais realizadas por entidades do movimento negro que desen- religiosidade e a fundação e manutenção, por iniciativa privada, de
volvam atividades voltadas para a inclusão social, mediante coope- lugares reservados para tais fins;
ração técnica, intercâmbios, convênios e incentivos, entre outros II - a celebração de festividades e cerimônias de acordo com
mecanismos. preceitos das respectivas religiões;
Art. 15. O poder público adotará programas de ação afirmativa. III - a fundação e a manutenção, por iniciativa privada, de ins-
Art. 16. O Poder Executivo federal, por meio dos órgãos res- tituições beneficentes ligadas às respectivas convicções religiosas;
ponsáveis pelas políticas de promoção da igualdade e de educação, IV - a produção, a comercialização, a aquisição e o uso de ar-
acompanhará e avaliará os programas de que trata esta Seção. tigos e materiais religiosos adequados aos costumes e às práticas
fundadas na respectiva religiosidade, ressalvadas as condutas veda-
SEÇÃO III das por legislação específica;
DA CULTURA V - a produção e a divulgação de publicações relacionadas ao
exercício e à difusão das religiões de matriz africana;
Art. 17. O poder público garantirá o reconhecimento das so- VI - a coleta de contribuições financeiras de pessoas naturais
ciedades negras, clubes e outras formas de manifestação coletiva e jurídicas de natureza privada para a manutenção das atividades
da população negra, com trajetória histórica comprovada, como religiosas e sociais das respectivas religiões;
patrimônio histórico e cultural, nos termos dos arts. 215 e 216 da VII - o acesso aos órgãos e aos meios de comunicação para di-
Constituição Federal. vulgação das respectivas religiões;
Art. 18. É assegurado aos remanescentes das comunidades dos VIII - a comunicação ao Ministério Público para abertura de
quilombos o direito à preservação de seus usos, costumes, tradi- ação penal em face de atitudes e práticas de intolerância religiosa
ções e manifestos religiosos, sob a proteção do Estado. nos meios de comunicação e em quaisquer outros locais.
Parágrafo único. A preservação dos documentos e dos sítios Art. 25. É assegurada a assistência religiosa aos praticantes de
detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos, religiões de matrizes africanas internados em hospitais ou em ou-
tombados nos termos do § 5o do art. 216 da Constituição Federal, tras instituições de internação coletiva, inclusive àqueles submeti-
receberá especial atenção do poder público. dos a pena privativa de liberdade.
Art. 19. O poder público incentivará a celebração das perso- Art. 26. O poder público adotará as medidas necessárias para
nalidades e das datas comemorativas relacionadas à trajetória do o combate à intolerância com as religiões de matrizes africanas e
samba e de outras manifestações culturais de matriz africana, bem à discriminação de seus seguidores, especialmente com o objetivo
como sua comemoração nas instituições de ensino públicas e pri- de:
vadas. I - coibir a utilização dos meios de comunicação social para a
Art. 20. O poder público garantirá o registro e a proteção da difusão de proposições, imagens ou abordagens que exponham
capoeira, em todas as suas modalidades, como bem de natureza pessoa ou grupo ao ódio ou ao desprezo por motivos fundados na
imaterial e de formação da identidade cultural brasileira, nos ter- religiosidade de matrizes africanas;
mos do art. 216 da Constituição Federal. II - inventariar, restaurar e proteger os documentos, obras e
Parágrafo único. O poder público buscará garantir, por meio outros bens de valor artístico e cultural, os monumentos, manan-
dos atos normativos necessários, a preservação dos elementos for- ciais, flora e sítios arqueológicos vinculados às religiões de matrizes
madores tradicionais da capoeira nas suas relações internacionais. africanas;
III - assegurar a participação proporcional de representantes
SEÇÃO IV das religiões de matrizes africanas, ao lado da representação das
DO ESPORTE E LAZER demais religiões, em comissões, conselhos, órgãos e outras instân-
cias de deliberação vinculadas ao poder público.
Art. 21. O poder público fomentará o pleno acesso da popula-
ção negra às práticas desportivas, consolidando o esporte e o lazer CAPÍTULO IV
como direitos sociais. DO ACESSO À TERRA E À MORADIA ADEQUADA
Art. 22. A capoeira é reconhecida como desporto de criação
nacional, nos termos do art. 217 da Constituição Federal. SEÇÃO I
§ 1o A atividade de capoeirista será reconhecida em todas as DO ACESSO À TERRA
modalidades em que a capoeira se manifesta, seja como esporte,
luta, dança ou música, sendo livre o exercício em todo o território Art. 27. O poder público elaborará e implementará políticas pú-
nacional. blicas capazes de promover o acesso da população negra à terra e
§ 2o É facultado o ensino da capoeira nas instituições públicas às atividades produtivas no campo.
e privadas pelos capoeiristas e mestres tradicionais, pública e for- Art. 28. Para incentivar o desenvolvimento das atividades pro-
malmente reconhecidos. dutivas da população negra no campo, o poder público promoverá
ações para viabilizar e ampliar o seu acesso ao financiamento agrí-
cola.

263
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
Art. 29. Serão assegurados à população negra a assistência téc- III - os compromissos assumidos pelo Brasil ao ratificar a Con-
nica rural, a simplificação do acesso ao crédito agrícola e o forta- venção no 111, de 1958, da Organização Internacional do Trabalho
lecimento da infraestrutura de logística para a comercialização da (OIT), que trata da discriminação no emprego e na profissão;
produção. IV - os demais compromissos formalmente assumidos pelo Bra-
Art. 30. O poder público promoverá a educação e a orientação sil perante a comunidade internacional.
profissional agrícola para os trabalhadores negros e as comunida- Art. 39. O poder público promoverá ações que assegurem a
des negras rurais. igualdade de oportunidades no mercado de trabalho para a popu-
Art. 31. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos lação negra, inclusive mediante a implementação de medidas visan-
que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade de- do à promoção da igualdade nas contratações do setor público e o
finitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos. incentivo à adoção de medidas similares nas empresas e organiza-
Art. 32. O Poder Executivo federal elaborará e desenvolverá po- ções privadas.
líticas públicas especiais voltadas para o desenvolvimento sustentá- § 1o A igualdade de oportunidades será lograda mediante a
vel dos remanescentes das comunidades dos quilombos, respeitan- adoção de políticas e programas de formação profissional, de em-
do as tradições de proteção ambiental das comunidades. prego e de geração de renda voltados para a população negra.
Art. 33. Para fins de política agrícola, os remanescentes das co- § 2o As ações visando a promover a igualdade de oportunida-
munidades dos quilombos receberão dos órgãos competentes tra- des na esfera da administração pública far-se-ão por meio de nor-
tamento especial diferenciado, assistência técnica e linhas especiais mas estabelecidas ou a serem estabelecidas em legislação específi-
de financiamento público, destinados à realização de suas ativida- ca e em seus regulamentos.
des produtivas e de infraestrutura. § 3o O poder público estimulará, por meio de incentivos, a ado-
Art. 34. Os remanescentes das comunidades dos quilombos se ção de iguais medidas pelo setor privado.
beneficiarão de todas as iniciativas previstas nesta e em outras leis § 4o As ações de que trata o caput deste artigo assegurarão
para a promoção da igualdade étnica. o princípio da proporcionalidade de gênero entre os beneficiários.
§ 5o Será assegurado o acesso ao crédito para a pequena pro-
dução, nos meios rural e urbano, com ações afirmativas para mu-
SEÇÃO II
lheres negras.
DA MORADIA
§ 6o O poder público promoverá campanhas de sensibilização
contra a marginalização da mulher negra no trabalho artístico e cul-
Art. 35. O poder público garantirá a implementação de políticas tural.
públicas para assegurar o direito à moradia adequada da população § 7o O poder público promoverá ações com o objetivo de ele-
negra que vive em favelas, cortiços, áreas urbanas subutilizadas, var a escolaridade e a qualificação profissional nos setores da eco-
degradadas ou em processo de degradação, a fim de reintegrá-las à nomia que contem com alto índice de ocupação por trabalhadores
dinâmica urbana e promover melhorias no ambiente e na qualidade negros de baixa escolarização.
de vida. Art. 40. O Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Traba-
Parágrafo único. O direito à moradia adequada, para os efeitos lhador (Codefat) formulará políticas, programas e projetos voltados
desta Lei, inclui não apenas o provimento habitacional, mas tam- para a inclusão da população negra no mercado de trabalho e orien-
bém a garantia da infraestrutura urbana e dos equipamentos comu- tará a destinação de recursos para seu financiamento.
nitários associados à função habitacional, bem como a assistência Art. 41. As ações de emprego e renda, promovidas por meio de
técnica e jurídica para a construção, a reforma ou a regularização financiamento para constituição e ampliação de pequenas e médias
fundiária da habitação em área urbana. empresas e de programas de geração de renda, contemplarão o es-
Art. 36. Os programas, projetos e outras ações governamentais tímulo à promoção de empresários negros.
realizadas no âmbito do Sistema Nacional de Habitação de Interes- Parágrafo único. O poder público estimulará as atividades vol-
se Social (SNHIS), regulado pela Lei no 11.124, de 16 de junho de tadas ao turismo étnico com enfoque nos locais, monumentos e ci-
2005, devem considerar as peculiaridades sociais, econômicas e dades que retratem a cultura, os usos e os costumes da população
culturais da população negra. negra.
Parágrafo único. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios Art. 42. O Poder Executivo federal poderá implementar crité-
estimularão e facilitarão a participação de organizações e movimen- rios para provimento de cargos em comissão e funções de confiança
tos representativos da população negra na composição dos conse- destinados a ampliar a participação de negros, buscando reproduzir
lhos constituídos para fins de aplicação do Fundo Nacional de Habi- a estrutura da distribuição étnica nacional ou, quando for o caso,
tação de Interesse Social (FNHIS). estadual, observados os dados demográficos oficiais.
Art. 37. Os agentes financeiros, públicos ou privados, promove-
rão ações para viabilizar o acesso da população negra aos financia- CAPÍTULO VI
DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
mentos habitacionais.
Art. 43. A produção veiculada pelos órgãos de comunicação va-
CAPÍTULO V
lorizará a herança cultural e a participação da população negra na
DO TRABALHO
história do País.
Art. 44. Na produção de filmes e programas destinados à vei-
Art. 38. A implementação de políticas voltadas para a inclusão culação pelas emissoras de televisão e em salas cinematográficas,
da população negra no mercado de trabalho será de responsabili- deverá ser adotada a prática de conferir oportunidades de empre-
dade do poder público, observando-se: go para atores, figurantes e técnicos negros, sendo vedada toda e
I - o instituído neste Estatuto; qualquer discriminação de natureza política, ideológica, étnica ou
II - os compromissos assumidos pelo Brasil ao ratificar a Con- artística.
venção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Dis-
criminação Racial, de 1965;

264
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
Parágrafo único. A exigência disposta no caput não se aplica CAPÍTULO III
aos filmes e programas que abordem especificidades de grupos ét- DA ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIA
nicos determinados.
Art. 45. Aplica-se à produção de peças publicitárias destinadas Art. 49. O Poder Executivo federal elaborará plano nacional de
à veiculação pelas emissoras de televisão e em salas cinematográfi- promoção da igualdade racial contendo as metas, princípios e dire-
cas o disposto no art. 44. trizes para a implementação da Política Nacional de Promoção da
Art. 46. Os órgãos e entidades da administração pública federal Igualdade Racial (PNPIR).
direta, autárquica ou fundacional, as empresas públicas e as socie-
dades de economia mista federais deverão incluir cláusulas de par- § 1o A elaboração, implementação, coordenação, avaliação e
ticipação de artistas negros nos contratos de realização de filmes, acompanhamento da PNPIR, bem como a organização, articulação
programas ou quaisquer outras peças de caráter publicitário. e coordenação do Sinapir, serão efetivados pelo órgão responsável
§ 1o Os órgãos e entidades de que trata este artigo incluirão, pela política de promoção da igualdade étnica em âmbito nacional.
nas especificações para contratação de serviços de consultoria, § 2o É o Poder Executivo federal autorizado a instituir fórum
conceituação, produção e realização de filmes, programas ou peças intergovernamental de promoção da igualdade étnica, a ser co-
publicitárias, a obrigatoriedade da prática de iguais oportunidades ordenado pelo órgão responsável pelas políticas de promoção da
de emprego para as pessoas relacionadas com o projeto ou serviço igualdade étnica, com o objetivo de implementar estratégias que vi-
contratado. sem à incorporação da política nacional de promoção da igualdade
§ 2o Entende-se por prática de iguais oportunidades de empre- étnica nas ações governamentais de Estados e Municípios.
go o conjunto de medidas sistemáticas executadas com a finalidade § 3o As diretrizes das políticas nacional e regional de promoção
de garantir a diversidade étnica, de sexo e de idade na equipe vin- da igualdade étnica serão elaboradas por órgão colegiado que asse-
culada ao projeto ou serviço contratado. gure a participação da sociedade civil.
§ 3o A autoridade contratante poderá, se considerar necessário Art. 50. Os Poderes Executivos estaduais, distrital e municipais,
para garantir a prática de iguais oportunidades de emprego, reque- no âmbito das respectivas esferas de competência, poderão insti-
rer auditoria por órgão do poder público federal. tuir conselhos de promoção da igualdade étnica, de caráter perma-
§ 4o A exigência disposta no caput não se aplica às produções nente e consultivo, compostos por igual número de representantes
publicitárias quando abordarem especificidades de grupos étnicos de órgãos e entidades públicas e de organizações da sociedade civil
determinados. representativas da população negra.
Parágrafo único. O Poder Executivo priorizará o repasse dos re-
TÍTULO III cursos referentes aos programas e atividades previstos nesta Lei aos
DO SISTEMA NACIONAL DE PROMOÇÃO Estados, Distrito Federal e Municípios que tenham criado conselhos
DA IGUALDADE RACIAL (SINAPIR) de promoção da igualdade étnica.

CAPÍTULO I CAPÍTULO IV
DISPOSIÇÃO PRELIMINAR DAS OUVIDORIAS PERMANENTES E DO ACESSO À JUSTIÇA E
À SEGURANÇA
Art. 47. É instituído o Sistema Nacional de Promoção da Igual-
dade Racial (Sinapir) como forma de organização e de articulação Art. 51. O poder público federal instituirá, na forma da lei e
voltadas à implementação do conjunto de políticas e serviços desti- no âmbito dos Poderes Legislativo e Executivo, Ouvidorias Perma-
nados a superar as desigualdades étnicas existentes no País, presta- nentes em Defesa da Igualdade Racial, para receber e encaminhar
dos pelo poder público federal. denúncias de preconceito e discriminação com base em etnia ou
§ 1o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão cor e acompanhar a implementação de medidas para a promoção
participar do Sinapir mediante adesão. da igualdade.
§ 2o O poder público federal incentivará a sociedade e a inicia- Art. 52. É assegurado às vítimas de discriminação étnica o aces-
tiva privada a participar do Sinapir. so aos órgãos de Ouvidoria Permanente, à Defensoria Pública, ao
Ministério Público e ao Poder Judiciário, em todas as suas instân-
CAPÍTULO II cias, para a garantia do cumprimento de seus direitos.
DOS OBJETIVOS Parágrafo único. O Estado assegurará atenção às mulheres ne-
gras em situação de violência, garantida a assistência física, psíqui-
Art. 48. São objetivos do Sinapir: ca, social e jurídica.
I - promover a igualdade étnica e o combate às desigualdades Art. 53. O Estado adotará medidas especiais para coibir a vio-
sociais resultantes do racismo, inclusive mediante adoção de ações lência policial incidente sobre a população negra.
afirmativas; Parágrafo único. O Estado implementará ações de ressocializa-
II - formular políticas destinadas a combater os fatores de mar- ção e proteção da juventude negra em conflito com a lei e exposta
ginalização e a promover a integração social da população negra; a experiências de exclusão social.
III - descentralizar a implementação de ações afirmativas pelos Art. 54. O Estado adotará medidas para coibir atos de discrimi-
governos estaduais, distrital e municipais; nação e preconceito praticados por servidores públicos em detri-
IV - articular planos, ações e mecanismos voltados à promoção mento da população negra, observado, no que couber, o disposto
da igualdade étnica; na Lei no 7.716, de 5 de janeiro de 1989.
V - garantir a eficácia dos meios e dos instrumentos criados Art. 55. Para a apreciação judicial das lesões e das ameaças de
para a implementação das ações afirmativas e o cumprimento das lesão aos interesses da população negra decorrentes de situações
metas a serem estabelecidas. de desigualdade étnica, recorrer-se-á, entre outros instrumentos,
à ação civil pública, disciplinada na Lei no 7.347, de 24 de julho de
1985.

265
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
CAPÍTULO V TÍTULO IV
DO FINANCIAMENTO DAS INICIATIVAS DE PROMOÇÃO DA DISPOSIÇÕES FINAIS
IGUALDADE RACIAL
Art. 58. As medidas instituídas nesta Lei não excluem outras
Art. 56. Na implementação dos programas e das ações constan- em prol da população negra que tenham sido ou venham a ser ado-
tes dos planos plurianuais e dos orçamentos anuais da União, deve- tadas no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos
rão ser observadas as políticas de ação afirmativa a que se refere o Municípios.
inciso VII do art. 4o desta Lei e outras políticas públicas que tenham Art. 59. O Poder Executivo federal criará instrumentos para
como objetivo promover a igualdade de oportunidades e a inclusão aferir a eficácia social das medidas previstas nesta Lei e efetuará
social da população negra, especialmente no que tange a: seu monitoramento constante, com a emissão e a divulgação de
I - promoção da igualdade de oportunidades em educação, em- relatórios periódicos, inclusive pela rede mundial de computadores.
prego e moradia; Art. 60. Os arts. 3o e 4o da Lei nº 7.716, de 1989, passam a
II - financiamento de pesquisas, nas áreas de educação, saúde vigorar com a seguinte redação:
e emprego, voltadas para a melhoria da qualidade de vida da popu- “Art. 3o ........................................................................
lação negra; Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de
III - incentivo à criação de programas e veículos de comunica- discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional,
ção destinados à divulgação de matérias relacionadas aos interes- obstar a promoção funcional.” (NR)
ses da população negra; “Art. 4o ........................................................................
IV - incentivo à criação e à manutenção de microempresas ad- § 1º Incorre na mesma pena quem, por motivo de discrimina-
ministradas por pessoas autodeclaradas negras; ção de raça ou de cor ou práticas resultantes do preconceito de des-
V - iniciativas que incrementem o acesso e a permanência das cendência ou origem nacional ou étnica:
pessoas negras na educação fundamental, média, técnica e supe-
I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao empre-
rior;
gado em igualdade de condições com os demais trabalhadores;
VI - apoio a programas e projetos dos governos estaduais, dis-
II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra
trital e municipais e de entidades da sociedade civil voltados para a
forma de benefício profissional;
promoção da igualdade de oportunidades para a população negra;
III - proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no
VII - apoio a iniciativas em defesa da cultura, da memória e das
ambiente de trabalho, especialmente quanto ao salário.
tradições africanas e brasileiras.
§ 2o Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços
§ 1o O Poder Executivo federal é autorizado a adotar medidas
à comunidade, incluindo atividades de promoção da igualdade ra-
que garantam, em cada exercício, a transparência na alocação e na
cial, quem, em anúncios ou qualquer outra forma de recrutamento
execução dos recursos necessários ao financiamento das ações pre-
vistas neste Estatuto, explicitando, entre outros, a proporção dos de trabalhadores, exigir aspectos de aparência próprios de raça ou
recursos orçamentários destinados aos programas de promoção da etnia para emprego cujas atividades não justifiquem essas exigên-
igualdade, especialmente nas áreas de educação, saúde, emprego cias.” (NR)
e renda, desenvolvimento agrário, habitação popular, desenvolvi- Art. 61. Os arts. 3o e 4o da Lei nº 9.029, de 13 de abril de 1995,
mento regional, cultura, esporte e lazer. passam a vigorar com a seguinte redação:
§ 2o Durante os 5 (cinco) primeiros anos, a contar do exercí- “Art. 3o Sem prejuízo do prescrito no art. 2o e nos dispositivos
cio subsequente à publicação deste Estatuto, os órgãos do Poder legais que tipificam os crimes resultantes de preconceito de etnia,
Executivo federal que desenvolvem políticas e programas nas áreas raça ou cor, as infrações do disposto nesta Lei são passíveis das se-
referidas no § 1o deste artigo discriminarão em seus orçamentos guintes cominações:
anuais a participação nos programas de ação afirmativa referidos ...................................................................................” (NR)
no inciso VII do art. 4o desta Lei. “Art. 4o O rompimento da relação de trabalho por ato discri-
§ 3o O Poder Executivo é autorizado a adotar as medidas ne- minatório, nos moldes desta Lei, além do direito à reparação pelo
cessárias para a adequada implementação do disposto neste artigo, dano moral, faculta ao empregado optar entre:
podendo estabelecer patamares de participação crescente dos pro- ...................................................................................” (NR)
gramas de ação afirmativa nos orçamentos anuais a que se refere o Art. 62. O art. 13 da Lei no 7.347, de 1985, passa a vigorar
§ 2o deste artigo. acrescido do seguinte § 2o, renumerando-se o atual parágrafo úni-
§ 4o O órgão colegiado do Poder Executivo federal responsável co como § 1o:
pela promoção da igualdade racial acompanhará e avaliará a pro- “Art. 13. ........................................................................
gramação das ações referidas neste artigo nas propostas orçamen- § 1o ...............................................................................
tárias da União. § 2º Havendo acordo ou condenação com fundamento em
Art. 57. Sem prejuízo da destinação de recursos ordinários, po- dano causado por ato de discriminação étnica nos termos do dis-
derão ser consignados nos orçamentos fiscal e da seguridade social posto no art. 1o desta Lei, a prestação em dinheiro reverterá dire-
para financiamento das ações de que trata o art. 56: tamente ao fundo de que trata o caput e será utilizada para ações
I - transferências voluntárias dos Estados, do Distrito Federal e de promoção da igualdade étnica, conforme definição do Conselho
dos Municípios; Nacional de Promoção da Igualdade Racial, na hipótese de extensão
II - doações voluntárias de particulares; nacional, ou dos Conselhos de Promoção de Igualdade Racial esta-
III - doações de empresas privadas e organizações não governa- duais ou locais, nas hipóteses de danos com extensão regional ou
mentais, nacionais ou internacionais; local, respectivamente.” (NR)
IV - doações voluntárias de fundos nacionais ou internacionais; Art. 63. O § 1o do art. 1o da Lei nº 10.778, de 24 de novembro
V - doações de Estados estrangeiros, por meio de convênios, de 2003, passa a vigorar com a seguinte redação:
tratados e acordos internacionais. “Art. 1o .......................................................................

266
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
§ 1º Para os efeitos desta Lei, entende-se por violência contra § 2º O Poder Executivo criará instrumentos para avaliação da
a mulher qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, inclusi- deficiência. (Vide Lei nº 13.846, de 2019) (Vide Lei nº 14.126,
ve decorrente de discriminação ou desigualdade étnica, que cause de 2021)
morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, Art. 3º Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se:
tanto no âmbito público quanto no privado. I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para uti-
...................................................................................” (NR) lização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equi-
Art. 64. O § 3o do art. 20 da Lei nº 7.716, de 1989, passa a vigo- pamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comuni-
rar acrescido do seguinte inciso III: cação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros
“Art. 20. ...................................................................... serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou priva-
............................................................................................. dos de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa
§ 3o ............................................................................... com deficiência ou com mobilidade reduzida;
............................................................................................. II - desenho universal: concepção de produtos, ambientes, pro-
III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de infor- gramas e serviços a serem usados por todas as pessoas, sem neces-
mação na rede mundial de computadores. sidade de adaptação ou de projeto específico, incluindo os recursos
...................................................................................” (NR) de tecnologia assistiva;
Art. 65. Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias após a data III - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos, equipa-
de sua publicação. mentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas
e serviços que objetivem promover a funcionalidade, relacionada à
ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobili-
dade reduzida, visando à sua autonomia, independência, qualidade
de vida e inclusão social;
LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015 IV - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou compor-
tamento que limite ou impeça a participação social da pessoa, bem
Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilida-
(Estatuto da Pessoa com Deficiência). de, à liberdade de movimento e de expressão, à comunicação, ao
acesso à informação, à compreensão, à circulação com segurança,
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na- entre outros, classificadas em:
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espaços
públicos e privados abertos ao público ou de uso coletivo;
LIVRO I b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios públicos
PARTE GERAL e privados;
c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e meios
TÍTULO I de transportes;
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer
entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte ou
CAPÍTULO I impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens e de
DISPOSIÇÕES GERAIS informações por intermédio de sistemas de comunicação e de tec-
nologia da informação;
Art. 1º É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com e) barreiras atitudinais: atitudes ou comportamentos que im-
Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a as- peçam ou prejudiquem a participação social da pessoa com defici-
segurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos ência em igualdade de condições e oportunidades com as demais
direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, pessoas;
visando à sua inclusão social e cidadania. f) barreiras tecnológicas: as que dificultam ou impedem o aces-
Parágrafo único. Esta Lei tem como base a Convenção sobre os so da pessoa com deficiência às tecnologias;
Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, V - comunicação: forma de interação dos cidadãos que abran-
ratificados pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo ge, entre outras opções, as línguas, inclusive a Língua Brasileira de
nº 186, de 9 de julho de 2008 , em conformidade com o procedi- Sinais (Libras), a visualização de textos, o Braille, o sistema de sina-
mento previsto no § 3º do art. 5º da Constituição da República Fe- lização ou de comunicação tátil, os caracteres ampliados, os dispo-
derativa do Brasil , em vigor para o Brasil, no plano jurídico externo, sitivos multimídia, assim como a linguagem simples, escrita e oral,
desde 31 de agosto de 2008, e promulgados pelo Decreto nº 6.949, os sistemas auditivos e os meios de voz digitalizados e os modos,
de 25 de agosto de 2009 , data de início de sua vigência no plano meios e formatos aumentativos e alternativos de comunicação, in-
interno. cluindo as tecnologias da informação e das comunicações;
Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem VI - adaptações razoáveis: adaptações, modificações e ajustes
impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual necessários e adequados que não acarretem ônus desproporcional
ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode e indevido, quando requeridos em cada caso, a fim de assegurar
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade que a pessoa com deficiência possa gozar ou exercer, em igualdade
de condições com as demais pessoas. de condições e oportunidades com as demais pessoas, todos os di-
§ 1º A avaliação da deficiência, quando necessária, será biop- reitos e liberdades fundamentais;
sicossocial, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar VII - elemento de urbanização: quaisquer componentes de
e considerará: (Vigência) (Vide Decreto nº 11.063, de 2022) obras de urbanização, tais como os referentes a pavimentação, sa-
I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo; neamento, encanamento para esgotos, distribuição de energia elé-
II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais; trica e de gás, iluminação pública, serviços de comunicação, abaste-
III - a limitação no desempenho de atividades; e cimento e distribuição de água, paisagismo e os que materializam
IV - a restrição de participação. as indicações do planejamento urbanístico;

267
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
VIII - mobiliário urbano: conjunto de objetos existentes nas vias III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de
e nos espaços públicos, superpostos ou adicionados aos elemen- ter acesso a informações adequadas sobre reprodução e planeja-
tos de urbanização ou de edificação, de forma que sua modifica- mento familiar;
ção ou seu traslado não provoque alterações substanciais nesses IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização
elementos, tais como semáforos, postes de sinalização e similares, compulsória;
terminais e pontos de acesso coletivo às telecomunicações, fontes V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comu-
de água, lixeiras, toldos, marquises, bancos, quiosques e quaisquer nitária; e
outros de natureza análoga; VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção,
IX - pessoa com mobilidade reduzida: aquela que tenha, por como adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com
qualquer motivo, dificuldade de movimentação, permanente ou as demais pessoas.
temporária, gerando redução efetiva da mobilidade, da flexibilida- Art. 7º É dever de todos comunicar à autoridade competente
de, da coordenação motora ou da percepção, incluindo idoso, ges- qualquer forma de ameaça ou de violação aos direitos da pessoa
tante, lactante, pessoa com criança de colo e obeso; com deficiência.
X - residências inclusivas: unidades de oferta do Serviço de Aco- Parágrafo único. Se, no exercício de suas funções, os juízes e os
lhimento do Sistema Único de Assistência Social (Suas) localizadas tribunais tiverem conhecimento de fatos que caracterizem as viola-
em áreas residenciais da comunidade, com estruturas adequadas, ções previstas nesta Lei, devem remeter peças ao Ministério Público
que possam contar com apoio psicossocial para o atendimento das para as providências cabíveis.
necessidades da pessoa acolhida, destinadas a jovens e adultos Art. 8º É dever do Estado, da sociedade e da família assegurar
com deficiência, em situação de dependência, que não dispõem de à pessoa com deficiência, com prioridade, a efetivação dos direitos
condições de autossustentabilidade e com vínculos familiares fragi- referentes à vida, à saúde, à sexualidade, à paternidade e à materni-
lizados ou rompidos; dade, à alimentação, à habitação, à educação, à profissionalização,
XI - moradia para a vida independente da pessoa com defici- ao trabalho, à previdência social, à habilitação e à reabilitação, ao
ência: moradia com estruturas adequadas capazes de proporcionar transporte, à acessibilidade, à cultura, ao desporto, ao turismo, ao
serviços de apoio coletivos e individualizados que respeitem e am- lazer, à informação, à comunicação, aos avanços científicos e tecno-
pliem o grau de autonomia de jovens e adultos com deficiência; lógicos, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar
XII - atendente pessoal: pessoa, membro ou não da família, e comunitária, entre outros decorrentes da Constituição Federal, da
que, com ou sem remuneração, assiste ou presta cuidados básicos Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Pro-
e essenciais à pessoa com deficiência no exercício de suas ativida- tocolo Facultativo e das leis e de outras normas que garantam seu
des diárias, excluídas as técnicas ou os procedimentos identificados bem-estar pessoal, social e econômico.
com profissões legalmente estabelecidas;
XIII - profissional de apoio escolar: pessoa que exerce ativida- SEÇÃO ÚNICA
des de alimentação, higiene e locomoção do estudante com defi- DO ATENDIMENTO PRIORITÁRIO
ciência e atua em todas as atividades escolares nas quais se fizer
necessária, em todos os níveis e modalidades de ensino, em insti- Art. 9º A pessoa com deficiência tem direito a receber atendi-
tuições públicas e privadas, excluídas as técnicas ou os procedimen- mento prioritário, sobretudo com a finalidade de:
tos identificados com profissões legalmente estabelecidas; I - proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
XIV - acompanhante: aquele que acompanha a pessoa com de- II - atendimento em todas as instituições e serviços de atendi-
ficiência, podendo ou não desempenhar as funções de atendente mento ao público;
pessoal. III - disponibilização de recursos, tanto humanos quanto tec-
nológicos, que garantam atendimento em igualdade de condições
CAPÍTULO II com as demais pessoas;
DA IGUALDADE E DA NÃO DISCRIMINAÇÃO IV - disponibilização de pontos de parada, estações e terminais
acessíveis de transporte coletivo de passageiros e garantia de segu-
Art. 4º Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de rança no embarque e no desembarque;
oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma es- V - acesso a informações e disponibilização de recursos de co-
pécie de discriminação. municação acessíveis;
§ 1º Considera-se discriminação em razão da deficiência toda VI - recebimento de restituição de imposto de renda;
forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que VII - tramitação processual e procedimentos judiciais e admi-
tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o nistrativos em que for parte ou interessada, em todos os atos e di-
reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades funda- ligências.
mentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adapta- § 1º Os direitos previstos neste artigo são extensivos ao acom-
ções razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas. panhante da pessoa com deficiência ou ao seu atendente pessoal,
§ 2º A pessoa com deficiência não está obrigada à fruição de exceto quanto ao disposto nos incisos VI e VII deste artigo.
benefícios decorrentes de ação afirmativa. § 2º Nos serviços de emergência públicos e privados, a priori-
Art. 5º A pessoa com deficiência será protegida de toda forma dade conferida por esta Lei é condicionada aos protocolos de aten-
de negligência, discriminação, exploração, violência, tortura, cruel- dimento médico.
dade, opressão e tratamento desumano ou degradante.
Parágrafo único. Para os fins da proteção mencionada no caput
deste artigo, são considerados especialmente vulneráveis a criança,
o adolescente, a mulher e o idoso, com deficiência.
Art. 6º A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pes-
soa, inclusive para:
I - casar-se e constituir união estável;
II - exercer direitos sexuais e reprodutivos;

268
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
TÍTULO II I - organização, serviços, métodos, técnicas e recursos para
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS atender às características de cada pessoa com deficiência;
II - acessibilidade em todos os ambientes e serviços;
CAPÍTULO I III - tecnologia assistiva, tecnologia de reabilitação, materiais e
DO DIREITO À VIDA equipamentos adequados e apoio técnico profissional, de acordo
com as especificidades de cada pessoa com deficiência;
Art. 10. Compete ao poder público garantir a dignidade da pes- IV - capacitação continuada de todos os profissionais que parti-
soa com deficiência ao longo de toda a vida. cipem dos programas e serviços.
Parágrafo único. Em situações de risco, emergência ou estado Art. 17. Os serviços do SUS e do Suas deverão promover ações
de calamidade pública, a pessoa com deficiência será considerada articuladas para garantir à pessoa com deficiência e sua família a
vulnerável, devendo o poder público adotar medidas para sua pro- aquisição de informações, orientações e formas de acesso às polí-
teção e segurança. ticas públicas disponíveis, com a finalidade de propiciar sua plena
Art. 11. A pessoa com deficiência não poderá ser obrigada a participação social.
se submeter a intervenção clínica ou cirúrgica, a tratamento ou a Parágrafo único. Os serviços de que trata o caput deste artigo
institucionalização forçada. podem fornecer informações e orientações nas áreas de saúde, de
Parágrafo único. O consentimento da pessoa com deficiência educação, de cultura, de esporte, de lazer, de transporte, de previ-
em situação de curatela poderá ser suprido, na forma da lei. dência social, de assistência social, de habitação, de trabalho, de
Art. 12. O consentimento prévio, livre e esclarecido da pessoa empreendedorismo, de acesso ao crédito, de promoção, proteção
com deficiência é indispensável para a realização de tratamento, e defesa de direitos e nas demais áreas que possibilitem à pessoa
procedimento, hospitalização e pesquisa científica. com deficiência exercer sua cidadania.
§ 1º Em caso de pessoa com deficiência em situação de cura-
tela, deve ser assegurada sua participação, no maior grau possível, CAPÍTULO III
para a obtenção de consentimento. DO DIREITO À SAÚDE
§ 2º A pesquisa científica envolvendo pessoa com deficiência
em situação de tutela ou de curatela deve ser realizada, em cará- Art. 18. É assegurada atenção integral à saúde da pessoa com
ter excepcional, apenas quando houver indícios de benefício direto deficiência em todos os níveis de complexidade, por intermédio do
para sua saúde ou para a saúde de outras pessoas com deficiência e SUS, garantido acesso universal e igualitário.
desde que não haja outra opção de pesquisa de eficácia comparável § 1º É assegurada a participação da pessoa com deficiência na
com participantes não tutelados ou curatelados. elaboração das políticas de saúde a ela destinadas.
Art. 13. A pessoa com deficiência somente será atendida sem § 2º É assegurado atendimento segundo normas éticas e téc-
seu consentimento prévio, livre e esclarecido em casos de risco de nicas, que regulamentarão a atuação dos profissionais de saúde e
morte e de emergência em saúde, resguardado seu superior inte- contemplarão aspectos relacionados aos direitos e às especificida-
resse e adotadas as salvaguardas legais cabíveis. des da pessoa com deficiência, incluindo temas como sua dignidade
e autonomia.
CAPÍTULO II § 3º Aos profissionais que prestam assistência à pessoa com
DO DIREITO À HABILITAÇÃO E À REABILITAÇÃO deficiência, especialmente em serviços de habilitação e de reabilita-
ção, deve ser garantida capacitação inicial e continuada.
Art. 14. O processo de habilitação e de reabilitação é um direito § 4º As ações e os serviços de saúde pública destinados à pes-
da pessoa com deficiência. soa com deficiência devem assegurar:
Parágrafo único. O processo de habilitação e de reabilitação I - diagnóstico e intervenção precoces, realizados por equipe
tem por objetivo o desenvolvimento de potencialidades, talentos, multidisciplinar;
habilidades e aptidões físicas, cognitivas, sensoriais, psicossociais, II - serviços de habilitação e de reabilitação sempre que neces-
atitudinais, profissionais e artísticas que contribuam para a conquis- sários, para qualquer tipo de deficiência, inclusive para a manuten-
ta da autonomia da pessoa com deficiência e de sua participação ção da melhor condição de saúde e qualidade de vida;
social em igualdade de condições e oportunidades com as demais III - atendimento domiciliar multidisciplinar, tratamento ambu-
pessoas. latorial e internação;
Art. 15. O processo mencionado no art. 14 desta Lei baseia-se IV - campanhas de vacinação;
em avaliação multidisciplinar das necessidades, habilidades e po- V - atendimento psicológico, inclusive para seus familiares e
tencialidades de cada pessoa, observadas as seguintes diretrizes: atendentes pessoais;
I - diagnóstico e intervenção precoces; VI - respeito à especificidade, à identidade de gênero e à orien-
II - adoção de medidas para compensar perda ou limitação fun- tação sexual da pessoa com deficiência;
cional, buscando o desenvolvimento de aptidões; VII - atenção sexual e reprodutiva, incluindo o direito à fertili-
III - atuação permanente, integrada e articulada de políticas zação assistida;
públicas que possibilitem a plena participação social da pessoa com VIII - informação adequada e acessível à pessoa com deficiência
deficiência; e a seus familiares sobre sua condição de saúde;
IV - oferta de rede de serviços articulados, com atuação inter- IX - serviços projetados para prevenir a ocorrência e o desen-
setorial, nos diferentes níveis de complexidade, para atender às ne- volvimento de deficiências e agravos adicionais;
cessidades específicas da pessoa com deficiência; X - promoção de estratégias de capacitação permanente das
V - prestação de serviços próximo ao domicílio da pessoa com equipes que atuam no SUS, em todos os níveis de atenção, no aten-
deficiência, inclusive na zona rural, respeitadas a organização das dimento à pessoa com deficiência, bem como orientação a seus
Redes de Atenção à Saúde (RAS) nos territórios locais e as normas atendentes pessoais;
do Sistema Único de Saúde (SUS). XI - oferta de órteses, próteses, meios auxiliares de locomoção,
Art. 16. Nos programas e serviços de habilitação e de reabilita- medicamentos, insumos e fórmulas nutricionais, conforme as nor-
ção para a pessoa com deficiência, são garantidos: mas vigentes do Ministério da Saúde.

269
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
§ 5º As diretrizes deste artigo aplicam-se também às institui- CAPÍTULO IV
ções privadas que participem de forma complementar do SUS ou DO DIREITO À EDUCAÇÃO
que recebam recursos públicos para sua manutenção.
Art. 19. Compete ao SUS desenvolver ações destinadas à pre- Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com deficiên-
venção de deficiências por causas evitáveis, inclusive por meio de: cia, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis
I - acompanhamento da gravidez, do parto e do puerpério, com e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máxi-
garantia de parto humanizado e seguro; mo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas,
II - promoção de práticas alimentares adequadas e saudáveis, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, inte-
vigilância alimentar e nutricional, prevenção e cuidado integral resses e necessidades de aprendizagem.
dos agravos relacionados à alimentação e nutrição da mulher e da Parágrafo único. É dever do Estado, da família, da comunidade
criança; escolar e da sociedade assegurar educação de qualidade à pessoa
III - aprimoramento e expansão dos programas de imunização com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência,
e de triagem neonatal; negligência e discriminação.
IV - identificação e controle da gestante de alto risco. Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver,
Art. 20. As operadoras de planos e seguros privados de saúde implementar, incentivar, acompanhar e avaliar:
são obrigadas a garantir à pessoa com deficiência, no mínimo, todos I - sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalida-
os serviços e produtos ofertados aos demais clientes. des, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida;
Art. 21. Quando esgotados os meios de atenção à saúde da II - aprimoramento dos sistemas educacionais, visando a ga-
pessoa com deficiência no local de residência, será prestado atendi- rantir condições de acesso, permanência, participação e aprendiza-
mento fora de domicílio, para fins de diagnóstico e de tratamento, gem, por meio da oferta de serviços e de recursos de acessibilidade
garantidos o transporte e a acomodação da pessoa com deficiência que eliminem as barreiras e promovam a inclusão plena;
e de seu acompanhante. III - projeto pedagógico que institucionalize o atendimento
Art. 22. À pessoa com deficiência internada ou em observação educacional especializado, assim como os demais serviços e adap-
é assegurado o direito a acompanhante ou a atendente pessoal, de- tações razoáveis, para atender às características dos estudantes
vendo o órgão ou a instituição de saúde proporcionar condições com deficiência e garantir o seu pleno acesso ao currículo em con-
adequadas para sua permanência em tempo integral. dições de igualdade, promovendo a conquista e o exercício de sua
§ 1º Na impossibilidade de permanência do acompanhante autonomia;
ou do atendente pessoal junto à pessoa com deficiência, cabe ao IV - oferta de educação bilíngue, em Libras como primeira lín-
profissional de saúde responsável pelo tratamento justificá-la por gua e na modalidade escrita da língua portuguesa como segunda
escrito. língua, em escolas e classes bilíngues e em escolas inclusivas;
§ 2º Na ocorrência da impossibilidade prevista no § 1º deste ar- V - adoção de medidas individualizadas e coletivas em ambien-
tigo, o órgão ou a instituição de saúde deve adotar as providências tes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social dos es-
cabíveis para suprir a ausência do acompanhante ou do atendente tudantes com deficiência, favorecendo o acesso, a permanência, a
pessoal. participação e a aprendizagem em instituições de ensino;
Art. 23. São vedadas todas as formas de discriminação contra a VI - pesquisas voltadas para o desenvolvimento de novos méto-
pessoa com deficiência, inclusive por meio de cobrança de valores dos e técnicas pedagógicas, de materiais didáticos, de equipamen-
diferenciados por planos e seguros privados de saúde, em razão de tos e de recursos de tecnologia assistiva;
sua condição. VII - planejamento de estudo de caso, de elaboração de plano
Art. 24. É assegurado à pessoa com deficiência o acesso aos de atendimento educacional especializado, de organização de re-
serviços de saúde, tanto públicos como privados, e às informações cursos e serviços de acessibilidade e de disponibilização e usabilida-
prestadas e recebidas, por meio de recursos de tecnologia assistiva de pedagógica de recursos de tecnologia assistiva;
e de todas as formas de comunicação previstas no inciso V do art. VIII - participação dos estudantes com deficiência e de suas fa-
3º desta Lei. mílias nas diversas instâncias de atuação da comunidade escolar;
Art. 25. Os espaços dos serviços de saúde, tanto públicos quan- IX - adoção de medidas de apoio que favoreçam o desenvolvi-
to privados, devem assegurar o acesso da pessoa com deficiência, mento dos aspectos linguísticos, culturais, vocacionais e profissio-
em conformidade com a legislação em vigor, mediante a remoção nais, levando-se em conta o talento, a criatividade, as habilidades e
de barreiras, por meio de projetos arquitetônico, de ambientação os interesses do estudante com deficiência;
de interior e de comunicação que atendam às especificidades das X - adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos programas
pessoas com deficiência física, sensorial, intelectual e mental. de formação inicial e continuada de professores e oferta de forma-
Art. 26. Os casos de suspeita ou de confirmação de violência ção continuada para o atendimento educacional especializado;
praticada contra a pessoa com deficiência serão objeto de notifi- XI - formação e disponibilização de professores para o atendi-
cação compulsória pelos serviços de saúde públicos e privados à mento educacional especializado, de tradutores e intérpretes da
autoridade policial e ao Ministério Público, além dos Conselhos dos Libras, de guias intérpretes e de profissionais de apoio;
Direitos da Pessoa com Deficiência. XII - oferta de ensino da Libras, do Sistema Braille e de uso de
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, considera-se violên- recursos de tecnologia assistiva, de forma a ampliar habilidades
cia contra a pessoa com deficiência qualquer ação ou omissão, pra- funcionais dos estudantes, promovendo sua autonomia e partici-
ticada em local público ou privado, que lhe cause morte ou dano ou pação;
sofrimento físico ou psicológico. XIII - acesso à educação superior e à educação profissional e
tecnológica em igualdade de oportunidades e condições com as de-
mais pessoas;
XIV - inclusão em conteúdos curriculares, em cursos de nível
superior e de educação profissional técnica e tecnológica, de temas
relacionados à pessoa com deficiência nos respectivos campos de
conhecimento;

270
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
XV - acesso da pessoa com deficiência, em igualdade de con- § 2º A proteção integral na modalidade de residência inclusi-
dições, a jogos e a atividades recreativas, esportivas e de lazer, no va será prestada no âmbito do Suas à pessoa com deficiência em
sistema escolar; situação de dependência que não disponha de condições de autos-
XVI - acessibilidade para todos os estudantes, trabalhadores da sustentabilidade, com vínculos familiares fragilizados ou rompidos.
educação e demais integrantes da comunidade escolar às edifica- Art. 32. Nos programas habitacionais, públicos ou subsidiados
ções, aos ambientes e às atividades concernentes a todas as moda- com recursos públicos, a pessoa com deficiência ou o seu responsá-
lidades, etapas e níveis de ensino; vel goza de prioridade na aquisição de imóvel para moradia própria,
XVII - oferta de profissionais de apoio escolar; observado o seguinte:
XVIII - articulação intersetorial na implementação de políticas I - reserva de, no mínimo, 3% (três por cento) das unidades
públicas. habitacionais para pessoa com deficiência;
§ 1º Às instituições privadas, de qualquer nível e modalidade II - (VETADO);
de ensino, aplica-se obrigatoriamente o disposto nos incisos I, II, III, III - em caso de edificação multifamiliar, garantia de acessibili-
V, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XV, XVI, XVII e XVIII do caput deste dade nas áreas de uso comum e nas unidades habitacionais no piso
artigo, sendo vedada a cobrança de valores adicionais de qualquer térreo e de acessibilidade ou de adaptação razoável nos demais pi-
natureza em suas mensalidades, anuidades e matrículas no cumpri- sos;
mento dessas determinações. IV - disponibilização de equipamentos urbanos comunitários
§ 2º Na disponibilização de tradutores e intérpretes da Libras acessíveis;
a que se refere o inciso XI do caput deste artigo, deve-se observar V - elaboração de especificações técnicas no projeto que per-
o seguinte: mitam a instalação de elevadores.
I - os tradutores e intérpretes da Libras atuantes na educação § 1º O direito à prioridade, previsto no caput deste artigo, será
básica devem, no mínimo, possuir ensino médio completo e certifi- reconhecido à pessoa com deficiência beneficiária apenas uma vez.
cado de proficiência na Libras; (Vigência) § 2º Nos programas habitacionais públicos, os critérios de fi-
II - os tradutores e intérpretes da Libras, quando direcionados nanciamento devem ser compatíveis com os rendimentos da pes-
à tarefa de interpretar nas salas de aula dos cursos de graduação e soa com deficiência ou de sua família.
pós-graduação, devem possuir nível superior, com habilitação, prio- § 3º Caso não haja pessoa com deficiência interessada nas uni-
ritariamente, em Tradução e Interpretação em Libras. (Vigência) dades habitacionais reservadas por força do disposto no inciso I do
Art. 29. (VETADO). caput deste artigo, as unidades não utilizadas serão disponibilizadas
Art. 30. Nos processos seletivos para ingresso e permanência às demais pessoas.
nos cursos oferecidos pelas instituições de ensino superior e de Art. 33. Ao poder público compete:
educação profissional e tecnológica, públicas e privadas, devem ser I - adotar as providências necessárias para o cumprimento do
adotadas as seguintes medidas: disposto nos arts. 31 e 32 desta Lei; e
I - atendimento preferencial à pessoa com deficiência nas de- II - divulgar, para os agentes interessados e beneficiários, a polí-
pendências das Instituições de Ensino Superior (IES) e nos serviços; tica habitacional prevista nas legislações federal, estaduais, distrital
II - disponibilização de formulário de inscrição de exames com e municipais, com ênfase nos dispositivos sobre acessibilidade.
campos específicos para que o candidato com deficiência informe
os recursos de acessibilidade e de tecnologia assistiva necessários CAPÍTULO VI
para sua participação; DO DIREITO AO TRABALHO
III - disponibilização de provas em formatos acessíveis para
atendimento às necessidades específicas do candidato com defici- SEÇÃO I
ência; DISPOSIÇÕES GERAIS
IV - disponibilização de recursos de acessibilidade e de tecnolo-
gia assistiva adequados, previamente solicitados e escolhidos pelo Art. 34. A pessoa com deficiência tem direito ao trabalho de
candidato com deficiência; sua livre escolha e aceitação, em ambiente acessível e inclusivo, em
V - dilação de tempo, conforme demanda apresentada pelo igualdade de oportunidades com as demais pessoas.
candidato com deficiência, tanto na realização de exame para sele- § 1º As pessoas jurídicas de direito público, privado ou de qual-
ção quanto nas atividades acadêmicas, mediante prévia solicitação quer natureza são obrigadas a garantir ambientes de trabalho aces-
e comprovação da necessidade; síveis e inclusivos.
VI - adoção de critérios de avaliação das provas escritas, dis- § 2º A pessoa com deficiência tem direito, em igualdade de
cursivas ou de redação que considerem a singularidade linguística oportunidades com as demais pessoas, a condições justas e favorá-
da pessoa com deficiência, no domínio da modalidade escrita da veis de trabalho, incluindo igual remuneração por trabalho de igual
língua portuguesa; valor.
VII - tradução completa do edital e de suas retificações em Li- § 3º É vedada restrição ao trabalho da pessoa com deficiência
bras. e qualquer discriminação em razão de sua condição, inclusive nas
etapas de recrutamento, seleção, contratação, admissão, exames
CAPÍTULO V admissional e periódico, permanência no emprego, ascensão pro-
DO DIREITO À MORADIA fissional e reabilitação profissional, bem como exigência de aptidão
plena.
Art. 31. A pessoa com deficiência tem direito à moradia digna, § 4º A pessoa com deficiência tem direito à participação e ao
no seio da família natural ou substituta, com seu cônjuge ou com- acesso a cursos, treinamentos, educação continuada, planos de car-
panheiro ou desacompanhada, ou em moradia para a vida indepen- reira, promoções, bonificações e incentivos profissionais oferecidos
dente da pessoa com deficiência, ou, ainda, em residência inclusiva. pelo empregador, em igualdade de oportunidades com os demais
§ 1º O poder público adotará programas e ações estratégicas empregados.
para apoiar a criação e a manutenção de moradia para a vida inde- § 5º É garantida aos trabalhadores com deficiência acessibilida-
pendente da pessoa com deficiência. de em cursos de formação e de capacitação.

271
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
Art. 35. É finalidade primordial das políticas públicas de traba- I - prioridade no atendimento à pessoa com deficiência com
lho e emprego promover e garantir condições de acesso e de per- maior dificuldade de inserção no campo de trabalho;
manência da pessoa com deficiência no campo de trabalho. II - provisão de suportes individualizados que atendam a neces-
Parágrafo único. Os programas de estímulo ao empreendedo- sidades específicas da pessoa com deficiência, inclusive a disponi-
rismo e ao trabalho autônomo, incluídos o cooperativismo e o asso- bilização de recursos de tecnologia assistiva, de agente facilitador e
ciativismo, devem prever a participação da pessoa com deficiência de apoio no ambiente de trabalho;
e a disponibilização de linhas de crédito, quando necessárias. III - respeito ao perfil vocacional e ao interesse da pessoa com
deficiência apoiada;
SEÇÃO II IV - oferta de aconselhamento e de apoio aos empregadores,
DA HABILITAÇÃO PROFISSIONAL E REABILITAÇÃO PROFISSIO- com vistas à definição de estratégias de inclusão e de superação de
NAL barreiras, inclusive atitudinais;
V - realização de avaliações periódicas;
Art. 36. O poder público deve implementar serviços e progra- VI - articulação intersetorial das políticas públicas;
mas completos de habilitação profissional e de reabilitação profis- VII - possibilidade de participação de organizações da socieda-
sional para que a pessoa com deficiência possa ingressar, continuar de civil.
ou retornar ao campo do trabalho, respeitados sua livre escolha, Art. 38. A entidade contratada para a realização de processo
sua vocação e seu interesse. seletivo público ou privado para cargo, função ou emprego está
§ 1º Equipe multidisciplinar indicará, com base em critérios obrigada à observância do disposto nesta Lei e em outras normas
previstos no § 1º do art. 2º desta Lei, programa de habilitação ou de de acessibilidade vigentes.
reabilitação que possibilite à pessoa com deficiência restaurar sua
capacidade e habilidade profissional ou adquirir novas capacidades CAPÍTULO VII
e habilidades de trabalho. DO DIREITO À ASSISTÊNCIA SOCIAL
§ 2º A habilitação profissional corresponde ao processo des-
tinado a propiciar à pessoa com deficiência aquisição de conheci- Art. 39. Os serviços, os programas, os projetos e os benefícios
mentos, habilidades e aptidões para exercício de profissão ou de no âmbito da política pública de assistência social à pessoa com de-
ocupação, permitindo nível suficiente de desenvolvimento profis- ficiência e sua família têm como objetivo a garantia da segurança
sional para ingresso no campo de trabalho. de renda, da acolhida, da habilitação e da reabilitação, do desen-
§ 3º Os serviços de habilitação profissional, de reabilitação pro- volvimento da autonomia e da convivência familiar e comunitária,
fissional e de educação profissional devem ser dotados de recursos para a promoção do acesso a direitos e da plena participação social.
necessários para atender a toda pessoa com deficiência, indepen- § 1º A assistência social à pessoa com deficiência, nos termos
dentemente de sua característica específica, a fim de que ela possa
do caput deste artigo, deve envolver conjunto articulado de serviços
ser capacitada para trabalho que lhe seja adequado e ter perspecti-
do âmbito da Proteção Social Básica e da Proteção Social Especial,
vas de obtê-lo, de conservá-lo e de nele progredir.
ofertados pelo Suas, para a garantia de seguranças fundamentais
§ 4º Os serviços de habilitação profissional, de reabilitação pro-
no enfrentamento de situações de vulnerabilidade e de risco, por
fissional e de educação profissional deverão ser oferecidos em am-
fragilização de vínculos e ameaça ou violação de direitos.
bientes acessíveis e inclusivos.
§ 2º Os serviços socioassistenciais destinados à pessoa com
§ 5º A habilitação profissional e a reabilitação profissional de-
deficiência em situação de dependência deverão contar com cui-
vem ocorrer articuladas com as redes públicas e privadas, espe-
dadores sociais para prestar-lhe cuidados básicos e instrumentais.
cialmente de saúde, de ensino e de assistência social, em todos os
Art. 40. É assegurado à pessoa com deficiência que não possua
níveis e modalidades, em entidades de formação profissional ou
diretamente com o empregador. meios para prover sua subsistência nem de tê-la provida por sua
§ 6º A habilitação profissional pode ocorrer em empresas por família o benefício mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da
meio de prévia formalização do contrato de emprego da pessoa Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993 .
com deficiência, que será considerada para o cumprimento da re-
serva de vagas prevista em lei, desde que por tempo determinado e CAPÍTULO VIII
concomitante com a inclusão profissional na empresa, observado o DO DIREITO À PREVIDÊNCIA SOCIAL
disposto em regulamento.
§ 7º A habilitação profissional e a reabilitação profissional aten- Art. 41. A pessoa com deficiência segurada do Regime Geral de
derão à pessoa com deficiência. Previdência Social (RGPS) tem direito à aposentadoria nos termos
da Lei Complementar nº 142, de 8 de maio de 2013 .
SEÇÃO III
DA INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO TRABALHO CAPÍTULO IX
DO DIREITO À CULTURA, AO ESPORTE, AO TURISMO E AO
Art. 37. Constitui modo de inclusão da pessoa com deficiência LAZER
no trabalho a colocação competitiva, em igualdade de oportunida-
des com as demais pessoas, nos termos da legislação trabalhista Art. 42. A pessoa com deficiência tem direito à cultura, ao es-
e previdenciária, na qual devem ser atendidas as regras de aces- porte, ao turismo e ao lazer em igualdade de oportunidades com as
sibilidade, o fornecimento de recursos de tecnologia assistiva e a demais pessoas, sendo-lhe garantido o acesso:
adaptação razoável no ambiente de trabalho. I - a bens culturais em formato acessível;
Parágrafo único. A colocação competitiva da pessoa com defi- II - a programas de televisão, cinema, teatro e outras atividades
ciência pode ocorrer por meio de trabalho com apoio, observadas culturais e desportivas em formato acessível; e
as seguintes diretrizes: III - a monumentos e locais de importância cultural e a espaços
que ofereçam serviços ou eventos culturais e esportivos.

272
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
§ 1º É vedada a recusa de oferta de obra intelectual em for- CAPÍTULO X
mato acessível à pessoa com deficiência, sob qualquer argumento, DO DIREITO AO TRANSPORTE E À MOBILIDADE
inclusive sob a alegação de proteção dos direitos de propriedade
intelectual. Art. 46. O direito ao transporte e à mobilidade da pessoa com
§ 2º O poder público deve adotar soluções destinadas à elimi- deficiência ou com mobilidade reduzida será assegurado em igual-
nação, à redução ou à superação de barreiras para a promoção do dade de oportunidades com as demais pessoas, por meio de iden-
acesso a todo patrimônio cultural, observadas as normas de acessi- tificação e de eliminação de todos os obstáculos e barreiras ao seu
bilidade, ambientais e de proteção do patrimônio histórico e artís- acesso.
tico nacional. § 1º Para fins de acessibilidade aos serviços de transporte cole-
Art. 43. O poder público deve promover a participação da pes- tivo terrestre, aquaviário e aéreo, em todas as jurisdições, conside-
soa com deficiência em atividades artísticas, intelectuais, culturais, ram-se como integrantes desses serviços os veículos, os terminais,
esportivas e recreativas, com vistas ao seu protagonismo, devendo: as estações, os pontos de parada, o sistema viário e a prestação do
I - incentivar a provisão de instrução, de treinamento e de re- serviço.
cursos adequados, em igualdade de oportunidades com as demais § 2º São sujeitas ao cumprimento das disposições desta Lei,
pessoas; sempre que houver interação com a matéria nela regulada, a ou-
II - assegurar acessibilidade nos locais de eventos e nos serviços torga, a concessão, a permissão, a autorização, a renovação ou a
prestados por pessoa ou entidade envolvida na organização das ati- habilitação de linhas e de serviços de transporte coletivo.
vidades de que trata este artigo; e § 3º Para colocação do símbolo internacional de acesso nos
III - assegurar a participação da pessoa com deficiência em jo- veículos, as empresas de transporte coletivo de passageiros depen-
gos e atividades recreativas, esportivas, de lazer, culturais e artísti- dem da certificação de acessibilidade emitida pelo gestor público
responsável pela prestação do serviço.
cas, inclusive no sistema escolar, em igualdade de condições com as
Art. 47. Em todas as áreas de estacionamento aberto ao pú-
demais pessoas.
blico, de uso público ou privado de uso coletivo e em vias públicas,
Art. 44. Nos teatros, cinemas, auditórios, estádios, ginásios de
devem ser reservadas vagas próximas aos acessos de circulação de
esporte, locais de espetáculos e de conferências e similares, serão
pedestres, devidamente sinalizadas, para veículos que transportem
reservados espaços livres e assentos para a pessoa com deficiência, pessoa com deficiência com comprometimento de mobilidade, des-
de acordo com a capacidade de lotação da edificação, observado o de que devidamente identificados.
disposto em regulamento. § 1º As vagas a que se refere o caput deste artigo devem equi-
§ 1º Os espaços e assentos a que se refere este artigo devem valer a 2% (dois por cento) do total, garantida, no mínimo, 1 (uma)
ser distribuídos pelo recinto em locais diversos, de boa visibilidade, vaga devidamente sinalizada e com as especificações de desenho
em todos os setores, próximos aos corredores, devidamente sina- e traçado de acordo com as normas técnicas vigentes de acessibi-
lizados, evitando-se áreas segregadas de público e obstrução das lidade.
saídas, em conformidade com as normas de acessibilidade. § 2º Os veículos estacionados nas vagas reservadas devem exi-
§ 2º No caso de não haver comprovada procura pelos assen- bir, em local de ampla visibilidade, a credencial de beneficiário, a
tos reservados, esses podem, excepcionalmente, ser ocupados por ser confeccionada e fornecida pelos órgãos de trânsito, que discipli-
pessoas sem deficiência ou que não tenham mobilidade reduzida, narão suas características e condições de uso.
observado o disposto em regulamento. § 3º A utilização indevida das vagas de que trata este artigo
§ 3º Os espaços e assentos a que se refere este artigo devem sujeita os infratores às sanções previstas no inciso XX do art. 181
situar-se em locais que garantam a acomodação de, no mínimo, 1 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 (Código de Trânsito
(um) acompanhante da pessoa com deficiência ou com mobilidade Brasileiro) . (Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
reduzida, resguardado o direito de se acomodar proximamente a § 4º A credencial a que se refere o § 2º deste artigo é vinculada
grupo familiar e comunitário. à pessoa com deficiência que possui comprometimento de mobili-
§ 4º Nos locais referidos no caput deste artigo, deve haver, dade e é válida em todo o território nacional.
obrigatoriamente, rotas de fuga e saídas de emergência acessíveis, Art. 48. Os veículos de transporte coletivo terrestre, aquaviário
conforme padrões das normas de acessibilidade, a fim de permitir a e aéreo, as instalações, as estações, os portos e os terminais em
saída segura da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzi- operação no País devem ser acessíveis, de forma a garantir o seu
da, em caso de emergência. uso por todas as pessoas.
§ 5º Todos os espaços das edificações previstas no caput deste § 1º Os veículos e as estruturas de que trata o caput deste arti-
artigo devem atender às normas de acessibilidade em vigor. go devem dispor de sistema de comunicação acessível que disponi-
bilize informações sobre todos os pontos do itinerário.
§ 6º As salas de cinema devem oferecer, em todas as sessões,
§ 2º São asseguradas à pessoa com deficiência prioridade e se-
recursos de acessibilidade para a pessoa com deficiência. (Vigência)
gurança nos procedimentos de embarque e de desembarque nos
§ 7º O valor do ingresso da pessoa com deficiência não poderá
veículos de transporte coletivo, de acordo com as normas técnicas.
ser superior ao valor cobrado das demais pessoas.
§ 3º Para colocação do símbolo internacional de acesso nos
Art. 45. Os hotéis, pousadas e similares devem ser construídos veículos, as empresas de transporte coletivo de passageiros depen-
observando-se os princípios do desenho universal, além de adotar dem da certificação de acessibilidade emitida pelo gestor público
todos os meios de acessibilidade, conforme legislação em vigor. (Vi- responsável pela prestação do serviço.
gência) (Reglamento) Art. 49. As empresas de transporte de fretamento e de turismo,
§ 1º Os estabelecimentos já existentes deverão disponibilizar, na renovação de suas frotas, são obrigadas ao cumprimento do dis-
pelo menos, 10% (dez por cento) de seus dormitórios acessíveis, posto nos arts. 46 e 48 desta Lei. (Vigência)
garantida, no mínimo, 1 (uma) unidade acessível. Art. 50. O poder público incentivará a fabricação de veículos
§ 2º Os dormitórios mencionados no § 1º deste artigo deverão acessíveis e a sua utilização como táxis e vans , de forma a garantir
ser localizados em rotas acessíveis. o seu uso por todas as pessoas.

273
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
Art. 51. As frotas de empresas de táxi devem reservar 10% (dez Art. 56. A construção, a reforma, a ampliação ou a mudança de
por cento) de seus veículos acessíveis à pessoa com deficiência. uso de edificações abertas ao público, de uso público ou privadas
(Vide Decreto nº 9.762, de 2019) (Vigência) de uso coletivo deverão ser executadas de modo a serem acessíveis.
§ 1º É proibida a cobrança diferenciada de tarifas ou de valores § 1º As entidades de fiscalização profissional das atividades de
adicionais pelo serviço de táxi prestado à pessoa com deficiência. Engenharia, de Arquitetura e correlatas, ao anotarem a responsabi-
§ 2º O poder público é autorizado a instituir incentivos fiscais lidade técnica de projetos, devem exigir a responsabilidade profis-
com vistas a possibilitar a acessibilidade dos veículos a que se refere sional declarada de atendimento às regras de acessibilidade previs-
o caput deste artigo. tas em legislação e em normas técnicas pertinentes.
Art. 52. As locadoras de veículos são obrigadas a oferecer 1 § 2º Para a aprovação, o licenciamento ou a emissão de certi-
(um) veículo adaptado para uso de pessoa com deficiência, a cada ficado de projeto executivo arquitetônico, urbanístico e de instala-
conjunto de 20 (vinte) veículos de sua frota. (Vide Decreto nº 9.762, ções e equipamentos temporários ou permanentes e para o licen-
de 2019) (Vigência) ciamento ou a emissão de certificado de conclusão de obra ou de
Parágrafo único. O veículo adaptado deverá ter, no mínimo, serviço, deve ser atestado o atendimento às regras de acessibilida-
câmbio automático, direção hidráulica, vidros elétricos e comandos de.
manuais de freio e de embreagem. § 3º O poder público, após certificar a acessibilidade de edifi-
cação ou de serviço, determinará a colocação, em espaços ou em
TÍTULO III locais de ampla visibilidade, do símbolo internacional de acesso, na
DA ACESSIBILIDADE forma prevista em legislação e em normas técnicas correlatas.
Art. 57. As edificações públicas e privadas de uso coletivo já
CAPÍTULO I existentes devem garantir acessibilidade à pessoa com deficiência
DISPOSIÇÕES GERAIS em todas as suas dependências e serviços, tendo como referência
as normas de acessibilidade vigentes.
Art. 53. A acessibilidade é direito que garante à pessoa com de- Art. 58. O projeto e a construção de edificação de uso privado
ficiência ou com mobilidade reduzida viver de forma independente multifamiliar devem atender aos preceitos de acessibilidade, na for-
e exercer seus direitos de cidadania e de participação social. ma regulamentar. (Regulamento)
Art. 54. São sujeitas ao cumprimento das disposições desta Lei § 1º As construtoras e incorporadoras responsáveis pelo proje-
e de outras normas relativas à acessibilidade, sempre que houver to e pela construção das edificações a que se refere o caput deste
interação com a matéria nela regulada: artigo devem assegurar percentual mínimo de suas unidades inter-
I - a aprovação de projeto arquitetônico e urbanístico ou de namente acessíveis, na forma regulamentar.
comunicação e informação, a fabricação de veículos de transporte § 2º É vedada a cobrança de valores adicionais para a aquisição
coletivo, a prestação do respectivo serviço e a execução de qual- de unidades internamente acessíveis a que se refere o § 1º deste
quer tipo de obra, quando tenham destinação pública ou coletiva; artigo.
II - a outorga ou a renovação de concessão, permissão, autori- Art. 59. Em qualquer intervenção nas vias e nos espaços públi-
zação ou habilitação de qualquer natureza; cos, o poder público e as empresas concessionárias responsáveis
III - a aprovação de financiamento de projeto com utilização pela execução das obras e dos serviços devem garantir, de forma
de recursos públicos, por meio de renúncia ou de incentivo fiscal, segura, a fluidez do trânsito e a livre circulação e acessibilidade das
contrato, convênio ou instrumento congênere; e pessoas, durante e após sua execução.
IV - a concessão de aval da União para obtenção de empréstimo Art. 60. Orientam-se, no que couber, pelas regras de acessibi-
e de financiamento internacionais por entes públicos ou privados. lidade previstas em legislação e em normas técnicas, observado o
Art. 55. A concepção e a implantação de projetos que tratem disposto na Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000 , nº 10.257,
do meio físico, de transporte, de informação e comunicação, inclu- de 10 de julho de 2001 , e nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012 :
sive de sistemas e tecnologias da informação e comunicação, e de I - os planos diretores municipais, os planos diretores de trans-
outros serviços, equipamentos e instalações abertos ao público, de porte e trânsito, os planos de mobilidade urbana e os planos de
uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como preservação de sítios históricos elaborados ou atualizados a partir
na rural, devem atender aos princípios do desenho universal, tendo da publicação desta Lei;
como referência as normas de acessibilidade. II - os códigos de obras, os códigos de postura, as leis de uso e
§ 1º O desenho universal será sempre tomado como regra de ocupação do solo e as leis do sistema viário;
caráter geral. III - os estudos prévios de impacto de vizinhança;
§ 2º Nas hipóteses em que comprovadamente o desenho uni- IV - as atividades de fiscalização e a imposição de sanções; e
versal não possa ser empreendido, deve ser adotada adaptação ra- V - a legislação referente à prevenção contra incêndio e pânico.
zoável. § 1º A concessão e a renovação de alvará de funcionamento
§ 3º Caberá ao poder público promover a inclusão de conteú- para qualquer atividade são condicionadas à observação e à certifi-
cação das regras de acessibilidade.
dos temáticos referentes ao desenho universal nas diretrizes curri-
§ 2º A emissão de carta de habite-se ou de habilitação equiva-
culares da educação profissional e tecnológica e do ensino superior
lente e sua renovação, quando esta tiver sido emitida anteriormen-
e na formação das carreiras de Estado.
te às exigências de acessibilidade, é condicionada à observação e à
§ 4º Os programas, os projetos e as linhas de pesquisa a serem
certificação das regras de acessibilidade.
desenvolvidos com o apoio de organismos públicos de auxílio à pes-
Art. 61. A formulação, a implementação e a manutenção das
quisa e de agências de fomento deverão incluir temas voltados para
ações de acessibilidade atenderão às seguintes premissas básicas:
o desenho universal.
I - eleição de prioridades, elaboração de cronograma e reserva
§ 5º Desde a etapa de concepção, as políticas públicas deverão
de recursos para implementação das ações; e
considerar a adoção do desenho universal. II - planejamento contínuo e articulado entre os setores envol-
vidos.

274
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
Art. 62. É assegurado à pessoa com deficiência, mediante solici- Art. 69. O poder público deve assegurar a disponibilidade de
tação, o recebimento de contas, boletos, recibos, extratos e cobran- informações corretas e claras sobre os diferentes produtos e servi-
ças de tributos em formato acessível. ços ofertados, por quaisquer meios de comunicação empregados,
inclusive em ambiente virtual, contendo a especificação correta de
CAPÍTULO II quantidade, qualidade, características, composição e preço, bem
DO ACESSO À INFORMAÇÃO E À COMUNICAÇÃO como sobre os eventuais riscos à saúde e à segurança do consumi-
dor com deficiência, em caso de sua utilização, aplicando-se, no que
Art. 63. É obrigatória a acessibilidade nos sítios da internet couber, os arts. 30 a 41 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 .
mantidos por empresas com sede ou representação comercial no § 1º Os canais de comercialização virtual e os anúncios publi-
País ou por órgãos de governo, para uso da pessoa com deficiên- citários veiculados na imprensa escrita, na internet, no rádio, na
cia, garantindo-lhe acesso às informações disponíveis, conforme as televisão e nos demais veículos de comunicação abertos ou por
melhores práticas e diretrizes de acessibilidade adotadas interna- assinatura devem disponibilizar, conforme a compatibilidade do
cionalmente. meio, os recursos de acessibilidade de que trata o art. 67 desta Lei,
§ 1º Os sítios devem conter símbolo de acessibilidade em des- a expensas do fornecedor do produto ou do serviço, sem prejuízo
taque. da observância do disposto nos arts. 36 a 38 da Lei nº 8.078, de 11
§ 2º Telecentros comunitários que receberem recursos públi- de setembro de 1990 .
cos federais para seu custeio ou sua instalação e lan houses devem § 2º Os fornecedores devem disponibilizar, mediante solicita-
possuir equipamentos e instalações acessíveis. ção, exemplares de bulas, prospectos, textos ou qualquer outro tipo
§ 3º Os telecentros e as lan houses de que trata o § 2º des- de material de divulgação em formato acessível.
te artigo devem garantir, no mínimo, 10% (dez por cento) de seus Art. 70. As instituições promotoras de congressos, seminários,
computadores com recursos de acessibilidade para pessoa com de- oficinas e demais eventos de natureza científico-cultural devem
ficiência visual, sendo assegurado pelo menos 1 (um) equipamento, oferecer à pessoa com deficiência, no mínimo, os recursos de tec-
quando o resultado percentual for inferior a 1 (um). nologia assistiva previstos no art. 67 desta Lei.
Art. 64. A acessibilidade nos sítios da internet de que trata o Art. 71. Os congressos, os seminários, as oficinas e os demais
art. 63 desta Lei deve ser observada para obtenção do financiamen-
eventos de natureza científico-cultural promovidos ou financiados
to de que trata o inciso III do art. 54 desta Lei.
pelo poder público devem garantir as condições de acessibilidade e
Art. 65. As empresas prestadoras de serviços de telecomunica-
os recursos de tecnologia assistiva.
ções deverão garantir pleno acesso à pessoa com deficiência, con-
Art. 72. Os programas, as linhas de pesquisa e os projetos a
forme regulamentação específica.
serem desenvolvidos com o apoio de agências de financiamento
Art. 66. Cabe ao poder público incentivar a oferta de apare-
e de órgãos e entidades integrantes da administração pública que
lhos de telefonia fixa e móvel celular com acessibilidade que, entre
atuem no auxílio à pesquisa devem contemplar temas voltados à
outras tecnologias assistivas, possuam possibilidade de indicação e
tecnologia assistiva.
de ampliação sonoras de todas as operações e funções disponíveis.
Art. 67. Os serviços de radiodifusão de sons e imagens devem Art. 73. Caberá ao poder público, diretamente ou em parceria
permitir o uso dos seguintes recursos, entre outros: com organizações da sociedade civil, promover a capacitação de
I - subtitulação por meio de legenda oculta; tradutores e intérpretes da Libras, de guias intérpretes e de profis-
II - janela com intérprete da Libras; sionais habilitados em Braille, audiodescrição, estenotipia e legen-
III - audiodescrição. dagem.
Art. 68. O poder público deve adotar mecanismos de incentivo
à produção, à edição, à difusão, à distribuição e à comercialização CAPÍTULO III
de livros em formatos acessíveis, inclusive em publicações da admi- DA TECNOLOGIA ASSISTIVA
nistração pública ou financiadas com recursos públicos, com vistas
a garantir à pessoa com deficiência o direito de acesso à leitura, à Art. 74. É garantido à pessoa com deficiência acesso a produ-
informação e à comunicação. tos, recursos, estratégias, práticas, processos, métodos e serviços
§ 1º Nos editais de compras de livros, inclusive para o abas- de tecnologia assistiva que maximizem sua autonomia, mobilidade
tecimento ou a atualização de acervos de bibliotecas em todos os pessoal e qualidade de vida.
níveis e modalidades de educação e de bibliotecas públicas, o po- Art. 75. O poder público desenvolverá plano específico de me-
der público deverá adotar cláusulas de impedimento à participação didas, a ser renovado em cada período de 4 (quatro) anos, com a
de editoras que não ofertem sua produção também em formatos finalidade de:
acessíveis. I - facilitar o acesso a crédito especializado, inclusive com oferta
§ 2º Consideram-se formatos acessíveis os arquivos digitais de linhas de crédito subsidiadas, específicas para aquisição de tec-
que possam ser reconhecidos e acessados por softwares leitores nologia assistiva;
de telas ou outras tecnologias assistivas que vierem a substituí-los, II - agilizar, simplificar e priorizar procedimentos de importação
permitindo leitura com voz sintetizada, ampliação de caracteres, di- de tecnologia assistiva, especialmente as questões atinentes a pro-
ferentes contrastes e impressão em Braille. cedimentos alfandegários e sanitários;
§ 3º O poder público deve estimular e apoiar a adaptação e a III - criar mecanismos de fomento à pesquisa e à produção na-
produção de artigos científicos em formato acessível, inclusive em cional de tecnologia assistiva, inclusive por meio de concessão de
Libras. linhas de crédito subsidiado e de parcerias com institutos de pes-
quisa oficiais;
IV - eliminar ou reduzir a tributação da cadeia produtiva e de
importação de tecnologia assistiva;
V - facilitar e agilizar o processo de inclusão de novos recursos
de tecnologia assistiva no rol de produtos distribuídos no âmbito do
SUS e por outros órgãos governamentais.

275
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
Parágrafo único. Para fazer cumprir o disposto neste artigo, os Art. 78. Devem ser estimulados a pesquisa, o desenvolvimen-
procedimentos constantes do plano específico de medidas deverão to, a inovação e a difusão de tecnologias voltadas para ampliar o
ser avaliados, pelo menos, a cada 2 (dois) anos. acesso da pessoa com deficiência às tecnologias da informação e
comunicação e às tecnologias sociais.
CAPÍTULO IV Parágrafo único. Serão estimulados, em especial:
DO DIREITO À PARTICIPAÇÃO NA VIDA PÚBLICA E POLÍTICA I - o emprego de tecnologias da informação e comunicação
como instrumento de superação de limitações funcionais e de bar-
Art. 76. O poder público deve garantir à pessoa com deficiência reiras à comunicação, à informação, à educação e ao entretenimen-
todos os direitos políticos e a oportunidade de exercê-los em igual- to da pessoa com deficiência;
dade de condições com as demais pessoas. II - a adoção de soluções e a difusão de normas que visem a am-
§ 1º À pessoa com deficiência será assegurado o direito de vo- pliar a acessibilidade da pessoa com deficiência à computação e aos
tar e de ser votada, inclusive por meio das seguintes ações: sítios da internet, em especial aos serviços de governo eletrônico.
I - garantia de que os procedimentos, as instalações, os mate-
riais e os equipamentos para votação sejam apropriados, acessíveis LIVRO II
a todas as pessoas e de fácil compreensão e uso, sendo vedada a PARTE ESPECIAL
instalação de seções eleitorais exclusivas para a pessoa com defici-
ência; TÍTULO I
II - incentivo à pessoa com deficiência a candidatar-se e a de- DO ACESSO À JUSTIÇA
sempenhar quaisquer funções públicas em todos os níveis de go-
verno, inclusive por meio do uso de novas tecnologias assistivas, CAPÍTULO I
quando apropriado; DISPOSIÇÕES GERAIS
III - garantia de que os pronunciamentos oficiais, a propaganda
eleitoral obrigatória e os debates transmitidos pelas emissoras de Art. 79. O poder público deve assegurar o acesso da pessoa
televisão possuam, pelo menos, os recursos elencados no art. 67 com deficiência à justiça, em igualdade de oportunidades com as
desta Lei; demais pessoas, garantindo, sempre que requeridos, adaptações e
IV - garantia do livre exercício do direito ao voto e, para tan- recursos de tecnologia assistiva.
to, sempre que necessário e a seu pedido, permissão para que a § 1º A fim de garantir a atuação da pessoa com deficiência em
pessoa com deficiência seja auxiliada na votação por pessoa de sua todo o processo judicial, o poder público deve capacitar os mem-
escolha. bros e os servidores que atuam no Poder Judiciário, no Ministério
§ 2º O poder público promoverá a participação da pessoa com Público, na Defensoria Pública, nos órgãos de segurança pública e
deficiência, inclusive quando institucionalizada, na condução das no sistema penitenciário quanto aos direitos da pessoa com defici-
ência.
questões públicas, sem discriminação e em igualdade de oportuni-
§ 2º Devem ser assegurados à pessoa com deficiência subme-
dades, observado o seguinte:
tida a medida restritiva de liberdade todos os direitos e garantias a
I - participação em organizações não governamentais relacio-
que fazem jus os apenados sem deficiência, garantida a acessibili-
nadas à vida pública e à política do País e em atividades e adminis-
dade.
tração de partidos políticos;
§ 3º A Defensoria Pública e o Ministério Público tomarão as
II - formação de organizações para representar a pessoa com
medidas necessárias à garantia dos direitos previstos nesta Lei.
deficiência em todos os níveis;
Art. 80. Devem ser oferecidos todos os recursos de tecnologia
III - participação da pessoa com deficiência em organizações
assistiva disponíveis para que a pessoa com deficiência tenha garan-
que a representem. tido o acesso à justiça, sempre que figure em um dos polos da ação
ou atue como testemunha, partícipe da lide posta em juízo, advoga-
TÍTULO IV do, defensor público, magistrado ou membro do Ministério Público.
DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA Parágrafo único. A pessoa com deficiência tem garantido o
acesso ao conteúdo de todos os atos processuais de seu interesse,
Art. 77. O poder público deve fomentar o desenvolvimento inclusive no exercício da advocacia.
científico, a pesquisa e a inovação e a capacitação tecnológicas, vol- Art. 81. Os direitos da pessoa com deficiência serão garantidos
tados à melhoria da qualidade de vida e ao trabalho da pessoa com por ocasião da aplicação de sanções penais.
deficiência e sua inclusão social. Art. 82. (VETADO).
§ 1º O fomento pelo poder público deve priorizar a geração de Art. 83. Os serviços notariais e de registro não podem negar ou
conhecimentos e técnicas que visem à prevenção e ao tratamento criar óbices ou condições diferenciadas à prestação de seus servi-
de deficiências e ao desenvolvimento de tecnologias assistiva e so- ços em razão de deficiência do solicitante, devendo reconhecer sua
cial. capacidade legal plena, garantida a acessibilidade.
§ 2º A acessibilidade e as tecnologias assistiva e social devem Parágrafo único. O descumprimento do disposto no caput des-
ser fomentadas mediante a criação de cursos de pós-graduação, a te artigo constitui discriminação em razão de deficiência.
formação de recursos humanos e a inclusão do tema nas diretrizes
de áreas do conhecimento. CAPÍTULO II
§ 3º Deve ser fomentada a capacitação tecnológica de institui- DO RECONHECIMENTO IGUAL PERANTE A LEI
ções públicas e privadas para o desenvolvimento de tecnologias as-
sistiva e social que sejam voltadas para melhoria da funcionalidade Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao
e da participação social da pessoa com deficiência. exercício de sua capacidade legal em igualdade de condições com
§ 4º As medidas previstas neste artigo devem ser reavaliadas as demais pessoas.
periodicamente pelo poder público, com vistas ao seu aperfeiçoa- § 1º Quando necessário, a pessoa com deficiência será subme-
mento. tida à curatela, conforme a lei.

276
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
§ 2º É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem não prover as
de tomada de decisão apoiada. necessidades básicas de pessoa com deficiência quando obrigado
§ 3º A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui por lei ou mandado.
medida protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às Art. 91. Reter ou utilizar cartão magnético, qualquer meio ele-
circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível. trônico ou documento de pessoa com deficiência destinados ao re-
§ 4º Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas cebimento de benefícios, proventos, pensões ou remuneração ou à
de sua administração ao juiz, apresentando o balanço do respectivo realização de operações financeiras, com o fim de obter vantagem
ano. indevida para si ou para outrem:
Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
aos direitos de natureza patrimonial e negocial. Parágrafo único. Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) se o
§ 1º A definição da curatela não alcança o direito ao próprio crime é cometido por tutor ou curador.
corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à
saúde, ao trabalho e ao voto. TÍTULO III
§ 2º A curatela constitui medida extraordinária, devendo cons- DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
tar da sentença as razões e motivações de sua definição, preserva-
dos os interesses do curatelado. Art. 92. É criado o Cadastro Nacional de Inclusão da Pessoa com
§ 3º No caso de pessoa em situação de institucionalização, ao Deficiência (Cadastro-Inclusão), registro público eletrônico com a fi-
nomear curador, o juiz deve dar preferência a pessoa que tenha vín- nalidade de coletar, processar, sistematizar e disseminar informa-
culo de natureza familiar, afetiva ou comunitária com o curatelado. ções georreferenciadas que permitam a identificação e a caracte-
Art. 86. Para emissão de documentos oficiais, não será exigida rização socioeconômica da pessoa com deficiência, bem como das
a situação de curatela da pessoa com deficiência. barreiras que impedem a realização de seus direitos.
Art. 87. Em casos de relevância e urgência e a fim de proteger § 1º O Cadastro-Inclusão será administrado pelo Poder Executi-
os interesses da pessoa com deficiência em situação de curatela, vo federal e constituído por base de dados, instrumentos, procedi-
será lícito ao juiz, ouvido o Ministério Público, de oficio ou a reque- mentos e sistemas eletrônicos.
rimento do interessado, nomear, desde logo, curador provisório, § 2º Os dados constituintes do Cadastro-Inclusão serão obti-
o qual estará sujeito, no que couber, às disposições do Código de dos pela integração dos sistemas de informação e da base de dados
Processo Civil . de todas as políticas públicas relacionadas aos direitos da pessoa
com deficiência, bem como por informações coletadas, inclusive
TÍTULO II em censos nacionais e nas demais pesquisas realizadas no País, de
DOS CRIMES E DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS acordo com os parâmetros estabelecidos pela Convenção sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo.
Art. 88. Praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em § 3º Para coleta, transmissão e sistematização de dados, é fa-
razão de sua deficiência: cultada a celebração de convênios, acordos, termos de parceria ou
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. contratos com instituições públicas e privadas, observados os requi-
§ 1º Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) se a vítima encon- sitos e procedimentos previstos em legislação específica.
trar-se sob cuidado e responsabilidade do agente. § 4º Para assegurar a confidencialidade, a privacidade e as li-
berdades fundamentais da pessoa com deficiência e os princípios
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput deste artigo é
éticos que regem a utilização de informações, devem ser observa-
cometido por intermédio de meios de comunicação social ou de
das as salvaguardas estabelecidas em lei.
publicação de qualquer natureza:
§ 5º Os dados do Cadastro-Inclusão somente poderão ser utili-
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
zados para as seguintes finalidades:
§ 3º Na hipótese do § 2º deste artigo, o juiz poderá determinar,
I - formulação, gestão, monitoramento e avaliação das políticas
ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do in-
públicas para a pessoa com deficiência e para identificar as barrei-
quérito policial, sob pena de desobediência:
ras que impedem a realização de seus direitos;
I - recolhimento ou busca e apreensão dos exemplares do ma-
II - realização de estudos e pesquisas.
terial discriminatório; § 6º As informações a que se refere este artigo devem ser dis-
II - interdição das respectivas mensagens ou páginas de infor- seminadas em formatos acessíveis.
mação na internet. Art. 93. Na realização de inspeções e de auditorias pelos órgãos
§ 4º Na hipótese do § 2º deste artigo, constitui efeito da con- de controle interno e externo, deve ser observado o cumprimen-
denação, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição do to da legislação relativa à pessoa com deficiência e das normas de
material apreendido. acessibilidade vigentes.
Art. 89. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão, Art. 94. Terá direito a auxílio-inclusão, nos termos da lei, a pes-
benefícios, remuneração ou qualquer outro rendimento de pessoa soa com deficiência moderada ou grave que:
com deficiência: I - receba o benefício de prestação continuada previsto no art.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 20 da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993 , e que passe a exer-
Parágrafo único. Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) se o cer atividade remunerada que a enquadre como segurado obriga-
crime é cometido: tório do RGPS;
I - por tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testa- II - tenha recebido, nos últimos 5 (cinco) anos, o benefício de
menteiro ou depositário judicial; ou prestação continuada previsto no art. 20 da Lei nº 8.742, de 7 de
II - por aquele que se apropriou em razão de ofício ou de pro- dezembro de 1993 , e que exerça atividade remunerada que a en-
fissão. quadre como segurado obrigatório do RGPS.
Art. 90. Abandonar pessoa com deficiência em hospitais, casas
de saúde, entidades de abrigamento ou congêneres:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.

277
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
Art. 95. É vedado exigir o comparecimento de pessoa com de- “Art. 8º Constitui crime punível com reclusão de 2 (dois) a 5
ficiência perante os órgãos públicos quando seu deslocamento, em (cinco) anos e multa:
razão de sua limitação funcional e de condições de acessibilidade, I - recusar, cobrar valores adicionais, suspender, procrastinar,
imponha-lhe ônus desproporcional e indevido, hipótese na qual se- cancelar ou fazer cessar inscrição de aluno em estabelecimento de
rão observados os seguintes procedimentos: ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado, em razão de
I - quando for de interesse do poder público, o agente promo- sua deficiência;
verá o contato necessário com a pessoa com deficiência em sua re- II - obstar inscrição em concurso público ou acesso de alguém
sidência; a qualquer cargo ou emprego público, em razão de sua deficiência;
II - quando for de interesse da pessoa com deficiência, ela apre- III - negar ou obstar emprego, trabalho ou promoção à pessoa
sentará solicitação de atendimento domiciliar ou fará representar- em razão de sua deficiência;
-se por procurador constituído para essa finalidade. IV - recusar, retardar ou dificultar internação ou deixar de pres-
Parágrafo único. É assegurado à pessoa com deficiência aten- tar assistência médico-hospitalar e ambulatorial à pessoa com de-
dimento domiciliar pela perícia médica e social do Instituto Nacio- ficiência;
nal do Seguro Social (INSS), pelo serviço público de saúde ou pelo V - deixar de cumprir, retardar ou frustrar execução de ordem
serviço privado de saúde, contratado ou conveniado, que integre o judicial expedida na ação civil a que alude esta Lei;
SUS e pelas entidades da rede socioassistencial integrantes do Suas, VI - recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis
quando seu deslocamento, em razão de sua limitação funcional e à propositura da ação civil pública objeto desta Lei, quando requi-
de condições de acessibilidade, imponha-lhe ônus desproporcional sitados.
e indevido. § 1º Se o crime for praticado contra pessoa com deficiência
Art. 96. O § 6º -A do art. 135 da Lei nº 4.737, de 15 de julho de menor de 18 (dezoito) anos, a pena é agravada em 1/3 (um terço).
1965 (Código Eleitoral) , passa a vigorar com a seguinte redação: § 2º A pena pela adoção deliberada de critérios subjetivos para
“Art. 135. ................................................................. indeferimento de inscrição, de aprovação e de cumprimento de
........................................................................................ estágio probatório em concursos públicos não exclui a responsa-
§ 6º -A. Os Tribunais Regionais Eleitorais deverão, a cada elei- bilidade patrimonial pessoal do administrador público pelos danos
ção, expedir instruções aos Juízes Eleitorais para orientá-los na es- causados.
colha dos locais de votação, de maneira a garantir acessibilidade § 3º Incorre nas mesmas penas quem impede ou dificulta o in-
para o eleitor com deficiência ou com mobilidade reduzida, inclusi- gresso de pessoa com deficiência em planos privados de assistência
ve em seu entorno e nos sistemas de transporte que lhe dão acesso. à saúde, inclusive com cobrança de valores diferenciados.
....................................................................................” (NR) § 4º Se o crime for praticado em atendimento de urgência e
Art. 97. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada emergência, a pena é agravada em 1/3 (um terço).” (NR)
pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943 , passa a vigorar Art. 99. O art. 20 da Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990 , passa
com as seguintes alterações: a vigorar acrescido do seguinte inciso XVIII:
“Art. 428. .................................................................. “Art. 20. ......................................................................
........................................................................................... ..............................................................................................
§ 6º Para os fins do contrato de aprendizagem, a comprova- XVIII - quando o trabalhador com deficiência, por prescrição,
ção da escolaridade de aprendiz com deficiência deve considerar, necessite adquirir órtese ou prótese para promoção de acessibili-
sobretudo, as habilidades e competências relacionadas com a pro- dade e de inclusão social.
fissionalização. ..................................................................................” (NR)
........................................................................................... Art. 100. A Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código
§ 8º Para o aprendiz com deficiência com 18 (dezoito) anos ou de Defesa do Consumidor) , passa a vigorar com as seguintes alte-
mais, a validade do contrato de aprendizagem pressupõe anotação rações:
na CTPS e matrícula e frequência em programa de aprendizagem “Art. 6º .......................................................................
desenvolvido sob orientação de entidade qualificada em formação ............................................................................................
técnico-profissional metódica.” (NR) Parágrafo único. A informação de que trata o inciso III do caput
“Art. 433. .................................................................. deste artigo deve ser acessível à pessoa com deficiência, observado
........................................................................................... o disposto em regulamento.” (NR)
I - desempenho insuficiente ou inadaptação do aprendiz, salvo “Art. 43. ......................................................................
para o aprendiz com deficiência quando desprovido de recursos de ............................................................................................
acessibilidade, de tecnologias assistivas e de apoio necessário ao § 6º Todas as informações de que trata o caput deste artigo
desempenho de suas atividades; devem ser disponibilizadas em formatos acessíveis, inclusive para a
..................................................................................” (NR) pessoa com deficiência, mediante solicitação do consumidor.” (NR)
Art. 98. A Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989 , passa a vigo- Art. 101. A Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991 , passa a vigorar
rar com as seguintes alterações: com as seguintes alterações:
“Art. 3º As medidas judiciais destinadas à proteção de interes- “Art. 16. ......................................................................
ses coletivos, difusos, individuais homogêneos e individuais indis- I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não
poníveis da pessoa com deficiência poderão ser propostas pelo Mi- emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos
nistério Público, pela Defensoria Pública, pela União, pelos Estados, ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou defi-
pelos Municípios, pelo Distrito Federal, por associação constituída ciência grave;
há mais de 1 (um) ano, nos termos da lei civil, por autarquia, por ............................................................................................
empresa pública e por fundação ou sociedade de economia mista III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de
que inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção dos in- 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectu-
teresses e a promoção de direitos da pessoa com deficiência. al ou mental ou deficiência grave;
.................................................................................” (NR) .................................................................................” (NR)
“Art. 77. .....................................................................

278
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
............................................................................................ I - produtos manufaturados e para serviços nacionais que aten-
§ 2º .............................................................................. dam a normas técnicas brasileiras; e
............................................................................................ II - bens e serviços produzidos ou prestados por empresas que
II - para o filho, a pessoa a ele equiparada ou o irmão, de am- comprovem cumprimento de reserva de cargos prevista em lei para
bos os sexos, pela emancipação ou ao completar 21 (vinte e um) pessoa com deficiência ou para reabilitado da Previdência Social e
anos de idade, salvo se for inválido ou tiver deficiência intelectual que atendam às regras de acessibilidade previstas na legislação.
ou mental ou deficiência grave; ...................................................................................” (NR)
................................................................................... “Art. 66-A. As empresas enquadradas no inciso V do § 2º e no
§ 4º (VETADO). inciso II do § 5º do art. 3º desta Lei deverão cumprir, durante todo
...................................................................................” (NR) o período de execução do contrato, a reserva de cargos prevista em
“Art. 93. (VETADO): lei para pessoa com deficiência ou para reabilitado da Previdência
I - (VETADO); Social, bem como as regras de acessibilidade previstas na legislação.
II - (VETADO); Parágrafo único. Cabe à administração fiscalizar o cumprimen-
III - (VETADO); to dos requisitos de acessibilidade nos serviços e nos ambientes de
IV - (VETADO); trabalho.”
V - (VETADO). Art. 105. O art. 20 da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993 ,
§ 1º A dispensa de pessoa com deficiência ou de beneficiário passa a vigorar com as seguintes alterações:
reabilitado da Previdência Social ao final de contrato por prazo de- “Art. 20. ......................................................................
terminado de mais de 90 (noventa) dias e a dispensa imotivada em .............................................................................................
contrato por prazo indeterminado somente poderão ocorrer após § 2º Para efeito de concessão do benefício de prestação conti-
a contratação de outro trabalhador com deficiência ou beneficiário nuada, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impe-
reabilitado da Previdência Social. dimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou
§ 2º Ao Ministério do Trabalho e Emprego incumbe estabelecer sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode
a sistemática de fiscalização, bem como gerar dados e estatísticas obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade
sobre o total de empregados e as vagas preenchidas por pessoas de condições com as demais pessoas.
com deficiência e por beneficiários reabilitados da Previdência So- ............................................................................................
cial, fornecendo-os, quando solicitados, aos sindicatos, às entida- § 9º Os rendimentos decorrentes de estágio supervisionado e
des representativas dos empregados ou aos cidadãos interessados. de aprendizagem não serão computados para os fins de cálculo da
§ 3º Para a reserva de cargos será considerada somente a con- renda familiar per capita a que se refere o § 3º deste artigo.
tratação direta de pessoa com deficiência, excluído o aprendiz com .............................................................................................
deficiência de que trata a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), § 11. Para concessão do benefício de que trata o caput deste
aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. artigo, poderão ser utilizados outros elementos probatórios da con-
§ 4º (VETADO).” (NR) dição de miserabilidade do grupo familiar e da situação de vulnera-
“Art. 110-A. No ato de requerimento de benefícios operacio- bilidade, conforme regulamento.” (NR)
nalizados pelo INSS, não será exigida apresentação de termo de Art. 106. (VETADO).
curatela de titular ou de beneficiário com deficiência, observados
Art. 107. A Lei nº 9.029, de 13 de abril de 1995 , passa a vigorar
os procedimentos a serem estabelecidos em regulamento.”
com as seguintes alterações:
Art. 102. O art. 2º da Lei nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991
“Art. 1º É proibida a adoção de qualquer prática discriminató-
, passa a vigorar acrescido do seguinte § 3º :
ria e limitativa para efeito de acesso à relação de trabalho, ou de
“Art. 2º .........................................................................
sua manutenção, por motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil,
.............................................................................................
situação familiar, deficiência, reabilitação profissional, idade, entre
§ 3º Os incentivos criados por esta Lei somente serão conce-
outros, ressalvadas, nesse caso, as hipóteses de proteção à criança
didos a projetos culturais que forem disponibilizados, sempre que
e ao adolescente previstas no inciso XXXIII do art. 7º da Constituição
tecnicamente possível, também em formato acessível à pessoa com
deficiência, observado o disposto em regulamento.” (NR) Federal. ” (NR)
Art. 103. O art. 11 da Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992 , passa “Art. 3º Sem prejuízo do prescrito no art. 2º desta Lei e nos dis-
a vigorar acrescido do seguinte inciso IX: positivos legais que tipificam os crimes resultantes de preconceito
“Art. 11. ..................................................................... de etnia, raça, cor ou deficiência, as infrações ao disposto nesta Lei
............................................................................................ são passíveis das seguintes cominações:
IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de acessibilida- ..................................................................................” (NR)
de previstos na legislação.” (NR) “Art. 4º ........................................................................
Art. 104. A Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993 , passa a vigo- I - a reintegração com ressarcimento integral de todo o período
rar com as seguintes alterações: de afastamento, mediante pagamento das remunerações devidas,
“Art. 3º ..................................................................... corrigidas monetariamente e acrescidas de juros legais;
.......................................................................................... ....................................................................................” (NR)
§ 2º ........................................................................... Art. 108. O art. 35 da Lei nº 9.250, de 26 de dezembro de 1995
.......................................................................................... , passa a vigorar acrescido do seguinte § 5º :
V - produzidos ou prestados por empresas que comprovem “Art. 35. ......................................................................
cumprimento de reserva de cargos prevista em lei para pessoa com .............................................................................................
deficiência ou para reabilitado da Previdência Social e que atendam § 5º Sem prejuízo do disposto no inciso IX do parágrafo único
às regras de acessibilidade previstas na legislação. do art. 3º da Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 , a pessoa com
........................................................................................... deficiência, ou o contribuinte que tenha dependente nessa condi-
§ 5º Nos processos de licitação, poderá ser estabelecida mar- ção, tem preferência na restituição referida no inciso III do art. 4º e
gem de preferência para: na alínea “c” do inciso II do art. 8º .” (NR)

279
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
Art. 109. A Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 (Código II - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou compor-
de Trânsito Brasileiro) , passa a vigorar com as seguintes alterações: tamento que limite ou impeça a participação social da pessoa, bem
“Art. 2º ........................................................... como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilida-
Parágrafo único. Para os efeitos deste Código, são consideradas de, à liberdade de movimento e de expressão, à comunicação, ao
vias terrestres as praias abertas à circulação pública, as vias inter- acesso à informação, à compreensão, à circulação com segurança,
nas pertencentes aos condomínios constituídos por unidades au- entre outros, classificadas em:
tônomas e as vias e áreas de estacionamento de estabelecimentos a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espaços
privados de uso coletivo.” (NR) públicos e privados abertos ao público ou de uso coletivo;
“Art. 86-A. As vagas de estacionamento regulamentado de que b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios públicos
trata o inciso XVII do art. 181 desta Lei deverão ser sinalizadas com e privados;
as respectivas placas indicativas de destinação e com placas infor- c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e meios
mando os dados sobre a infração por estacionamento indevido.” de transportes;
“Art. 147-A. Ao candidato com deficiência auditiva é assegura- d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer
da acessibilidade de comunicação, mediante emprego de tecnolo- entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte ou
gias assistivas ou de ajudas técnicas em todas as etapas do processo impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens e de
de habilitação. informações por intermédio de sistemas de comunicação e de tec-
§ 1º O material didático audiovisual utilizado em aulas teóricas nologia da informação;
dos cursos que precedem os exames previstos no art. 147 desta Lei III - pessoa com deficiência: aquela que tem impedimento de
deve ser acessível, por meio de subtitulação com legenda oculta longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o
associada à tradução simultânea em Libras. qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua
§ 2º É assegurado também ao candidato com deficiência audi- participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condi-
tiva requerer, no ato de sua inscrição, os serviços de intérprete da ções com as demais pessoas;
Libras, para acompanhamento em aulas práticas e teóricas.” IV - pessoa com mobilidade reduzida: aquela que tenha, por
“Art. 154. (VETADO).” qualquer motivo, dificuldade de movimentação, permanente ou
“Art. 181. ................................................................... temporária, gerando redução efetiva da mobilidade, da flexibilida-
.......................................................................................... de, da coordenação motora ou da percepção, incluindo idoso, ges-
XVII - ......................................................................... tante, lactante, pessoa com criança de colo e obeso;
Infração - grave; V - acompanhante: aquele que acompanha a pessoa com de-
.................................................................................” (NR) ficiência, podendo ou não desempenhar as funções de atendente
Art. 110. O inciso VI e o § 1º do art. 56 da Lei nº 9.615, de 24 de pessoal;
março de 1998 , passam a vigorar com a seguinte redação: VI - elemento de urbanização: quaisquer componentes de
“Art. 56. .................................................................... obras de urbanização, tais como os referentes a pavimentação, sa-
........................................................................................... neamento, encanamento para esgotos, distribuição de energia elé-
VI - 2,7% (dois inteiros e sete décimos por cento) da arrecada- trica e de gás, iluminação pública, serviços de comunicação, abaste-
ção bruta dos concursos de prognósticos e loterias federais e simila- cimento e distribuição de água, paisagismo e os que materializam
res cuja realização estiver sujeita a autorização federal, deduzindo- as indicações do planejamento urbanístico;
-se esse valor do montante destinado aos prêmios; VII - mobiliário urbano: conjunto de objetos existentes nas vias
............................................................................................. e nos espaços públicos, superpostos ou adicionados aos elemen-
§ 1º Do total de recursos financeiros resultantes do percentual tos de urbanização ou de edificação, de forma que sua modifica-
de que trata o inciso VI do caput , 62,96% (sessenta e dois inteiros ção ou seu traslado não provoque alterações substanciais nesses
e noventa e seis centésimos por cento) serão destinados ao Comitê elementos, tais como semáforos, postes de sinalização e similares,
Olímpico Brasileiro (COB) e 37,04% (trinta e sete inteiros e quatro terminais e pontos de acesso coletivo às telecomunicações, fontes
centésimos por cento) ao Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), de- de água, lixeiras, toldos, marquises, bancos, quiosques e quaisquer
vendo ser observado, em ambos os casos, o conjunto de normas outros de natureza análoga;
aplicáveis à celebração de convênios pela União. VIII - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos, equipa-
..................................................................................” (NR) mentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas
Art. 111. O art. 1º da Lei nº 10.048, de 8 de novembro de 2000 e serviços que objetivem promover a funcionalidade, relacionada à
, passa a vigorar com a seguinte redação: atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobili-
“Art. 1º As pessoas com deficiência, os idosos com idade igual dade reduzida, visando à sua autonomia, independência, qualidade
ou superior a 60 (sessenta) anos, as gestantes, as lactantes, as pes- de vida e inclusão social;
soas com crianças de colo e os obesos terão atendimento prioritá- IX - comunicação: forma de interação dos cidadãos que abran-
rio, nos termos desta Lei.” (NR) ge, entre outras opções, as línguas, inclusive a Língua Brasileira de
Art. 112. A Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000 , passa a Sinais (Libras), a visualização de textos, o Braille, o sistema de sina-
vigorar com as seguintes alterações: lização ou de comunicação tátil, os caracteres ampliados, os dispo-
“Art. 2º ....................................................................... sitivos multimídia, assim como a linguagem simples, escrita e oral,
I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para uti- os sistemas auditivos e os meios de voz digitalizados e os modos,
lização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equi- meios e formatos aumentativos e alternativos de comunicação, in-
pamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comuni- cluindo as tecnologias da informação e das comunicações;
cação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros X - desenho universal: concepção de produtos, ambientes, pro-
serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou priva- gramas e serviços a serem usados por todas as pessoas, sem neces-
dos de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa sidade de adaptação ou de projeto específico, incluindo os recursos
com deficiência ou com mobilidade reduzida; de tecnologia assistiva.” (NR)

280
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
“Art. 3º O planejamento e a urbanização das vias públicas, dos II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
parques e dos demais espaços de uso público deverão ser conce- III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não pu-
bidos e executados de forma a torná-los acessíveis para todas as derem exprimir sua vontade;
pessoas, inclusive para aquelas com deficiência ou com mobilidade .............................................................................................
reduzida. Parágrafo único . A capacidade dos indígenas será regulada por
Parágrafo único. O passeio público, elemento obrigatório de legislação especial.” (NR)
urbanização e parte da via pública, normalmente segregado e em “Art. 228. .....................................................................
nível diferente, destina-se somente à circulação de pedestres e, .............................................................................................
quando possível, à implantação de mobiliário urbano e de vegeta- II - (Revogado);
ção.” (NR) III - (Revogado);
“Art. 9º ........................................................................ .............................................................................................
Parágrafo único. Os semáforos para pedestres instalados em § 1º ..............................................................................
vias públicas de grande circulação, ou que deem acesso aos servi- § 2º A pessoa com deficiência poderá testemunhar em igual-
ços de reabilitação, devem obrigatoriamente estar equipados com dade de condições com as demais pessoas, sendo-lhe assegurados
mecanismo que emita sinal sonoro suave para orientação do pe- todos os recursos de tecnologia assistiva.” (NR)
destre.” (NR) “Art. 1.518 . Até a celebração do casamento podem os pais ou
“Art. 10-A. A instalação de qualquer mobiliário urbano em área tutores revogar a autorização.” (NR)
de circulação comum para pedestre que ofereça risco de acidente “Art. 1.548. ...................................................................
à pessoa com deficiência deverá ser indicada mediante sinalização I - (Revogado);
tátil de alerta no piso, de acordo com as normas técnicas pertinen- ....................................................................................” (NR)
tes.” “Art. 1.550. ..................................................................
“Art. 12-A. Os centros comerciais e os estabelecimentos congê- .............................................................................................
neres devem fornecer carros e cadeiras de rodas, motorizados ou § 1º ..............................................................................
não, para o atendimento da pessoa com deficiência ou com mobi- § 2º A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade
lidade reduzida.” núbia poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade direta-
mente ou por meio de seu responsável ou curador.” (NR)
Art. 113. A Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001 (Estatuto da
“Art. 1.557. ................................................................
Cidade) , passa a vigorar com as seguintes alterações:
............................................................................................
“Art. 3º ......................................................................
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico ir-
............................................................................................
remediável que não caracterize deficiência ou de moléstia grave e
III - promover, por iniciativa própria e em conjunto com os Esta- transmissível, por contágio ou por herança, capaz de pôr em risco a
dos, o Distrito Federal e os Municípios, programas de construção de saúde do outro cônjuge ou de sua descendência;
moradias e melhoria das condições habitacionais, de saneamento IV - (Revogado).” (NR)
básico, das calçadas, dos passeios públicos, do mobiliário urbano e “Art. 1.767. ..................................................................
dos demais espaços de uso público; I - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não pu-
IV - instituir diretrizes para desenvolvimento urbano, inclusive derem exprimir sua vontade;
habitação, saneamento básico, transporte e mobilidade urbana, II - (Revogado);
que incluam regras de acessibilidade aos locais de uso público; III - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
.................................................................................” (NR) IV - (Revogado);
“Art. 41. .................................................................... ....................................................................................” (NR)
........................................................................................... “Art. 1.768. O processo que define os termos da curatela deve
§ 3º As cidades de que trata o caput deste artigo devem ela- ser promovido:
borar plano de rotas acessíveis, compatível com o plano diretor no .............................................................................................
qual está inserido, que disponha sobre os passeios públicos a serem IV - pela própria pessoa.” (NR)
implantados ou reformados pelo poder público, com vistas a ga- “Art. 1.769 . O Ministério Público somente promoverá o proces-
rantir acessibilidade da pessoa com deficiência ou com mobilidade so que define os termos da curatela:
reduzida a todas as rotas e vias existentes, inclusive as que concen- I - nos casos de deficiência mental ou intelectual;
trem os focos geradores de maior circulação de pedestres, como ............................................................................................
os órgãos públicos e os locais de prestação de serviços públicos e III - se, existindo, forem menores ou incapazes as pessoas men-
privados de saúde, educação, assistência social, esporte, cultura, cionadas no inciso II.” (NR)
correios e telégrafos, bancos, entre outros, sempre que possível de “Art. 1.771. Antes de se pronunciar acerca dos termos da cura-
maneira integrada com os sistemas de transporte coletivo de pas- tela, o juiz, que deverá ser assistido por equipe multidisciplinar, en-
sageiros.” (NR) trevistará pessoalmente o interditando.” (NR)
Art. 114. A Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código “Art. 1.772. O juiz determinará, segundo as potencialidades da
pessoa, os limites da curatela, circunscritos às restrições constantes
Civil) , passa a vigorar com as seguintes alterações:
do art. 1.782, e indicará curador.
“Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente
Parágrafo único. Para a escolha do curador, o juiz levará em
os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.
conta a vontade e as preferências do interditando, a ausência de
I - (Revogado);
conflito de interesses e de influência indevida, a proporcionalidade
II - (Revogado); e a adequação às circunstâncias da pessoa.” (NR)
III - (Revogado).” (NR) “Art. 1.775-A . Na nomeação de curador para a pessoa com de-
“Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à manei- ficiência, o juiz poderá estabelecer curatela compartilhada a mais
ra de os exercer: de uma pessoa.”
.....................................................................................

281
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
“Art. 1.777. As pessoas referidas no inciso I do art. 1.767 rece- Art. 117. O art. 1º da Lei nº 11.126, de 27 de junho de 2005 ,
berão todo o apoio necessário para ter preservado o direito à convi- passa a vigorar com a seguinte redação:
vência familiar e comunitária, sendo evitado o seu recolhimento em “Art. 1º É assegurado à pessoa com deficiência visual acompa-
estabelecimento que os afaste desse convívio.” (NR) nhada de cão-guia o direito de ingressar e de permanecer com o
Art. 115. O Título IV do Livro IV da Parte Especial da Lei nº animal em todos os meios de transporte e em estabelecimentos
10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) , passa a vigorar com abertos ao público, de uso público e privados de uso coletivo, desde
a seguinte redação: que observadas as condições impostas por esta Lei.
.............................................................................................
“TÍTULO IV § 2º O disposto no caput deste artigo aplica-se a todas as mo-
DA TUTELA, DA CURATELA E DA TOMADA DE DECISÃO APOIA- dalidades e jurisdições do serviço de transporte coletivo de passa-
DA” geiros, inclusive em esfera internacional com origem no território
brasileiro.” (NR)
Art. 116. O Título IV do Livro IV da Parte Especial da Lei nº Art. 118. O inciso IV do art. 46 da Lei nº 11.904, de 14 de janeiro
10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) , passa a vigorar de 2009 , passa a vigorar acrescido da seguinte alínea “k”:
acrescido do seguinte Capítulo III: “Art. 46. ......................................................................
...........................................................................................
“CAPÍTULO III IV - ..............................................................................
DA TOMADA DE DECISÃO APOIADA ...........................................................................................
k) de acessibilidade a todas as pessoas.
Art. 1.783-A. A tomada de decisão apoiada é o processo pelo .................................................................................” (NR)
qual a pessoa com deficiência elege pelo menos 2 (duas) pessoas Art. 119. A Lei nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012 , passa a vigo-
idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua con- rar acrescida do seguinte art. 12-B:
fiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da “Art. 12-B. Na outorga de exploração de serviço de táxi, reser-
vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessários var-se-ão 10% (dez por cento) das vagas para condutores com de-
para que possa exercer sua capacidade. ficiência.
§ 1º Para formular pedido de tomada de decisão apoiada, a § 1º Para concorrer às vagas reservadas na forma do caput des-
pessoa com deficiência e os apoiadores devem apresentar termo te artigo, o condutor com deficiência deverá observar os seguintes
em que constem os limites do apoio a ser oferecido e os compro- requisitos quanto ao veículo utilizado:
missos dos apoiadores, inclusive o prazo de vigência do acordo e
I - ser de sua propriedade e por ele conduzido; e
o respeito à vontade, aos direitos e aos interesses da pessoa que
II - estar adaptado às suas necessidades, nos termos da legis-
devem apoiar.
lação vigente.
§ 2º O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido
§ 2º No caso de não preenchimento das vagas na forma esta-
pela pessoa a ser apoiada, com indicação expressa das pessoas ap-
belecida no caput deste artigo, as remanescentes devem ser dispo-
tas a prestarem o apoio previsto no caput deste artigo.
nibilizadas para os demais concorrentes.”
§ 3º Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada de deci-
Art. 120. Cabe aos órgãos competentes, em cada esfera de go-
são apoiada, o juiz, assistido por equipe multidisciplinar, após oitiva
verno, a elaboração de relatórios circunstanciados sobre o cumpri-
do Ministério Público, ouvirá pessoalmente o requerente e as pes-
soas que lhe prestarão apoio. mento dos prazos estabelecidos por força das Leis nº 10.048, de 8
§ 4º A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efei- de novembro de 2000 , e nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000 ,
tos sobre terceiros, sem restrições, desde que esteja inserida nos bem como o seu encaminhamento ao Ministério Público e aos ór-
limites do apoio acordado. gãos de regulação para adoção das providências cabíveis.
§ 5º Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha relação Parágrafo único. Os relatórios a que se refere o caput deste ar-
negocial pode solicitar que os apoiadores contra-assinem o contra- tigo deverão ser apresentados no prazo de 1 (um) ano a contar da
to ou acordo, especificando, por escrito, sua função em relação ao entrada em vigor desta Lei.
apoiado. Art. 121. Os direitos, os prazos e as obrigações previstos nesta
§ 6º Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou pre- Lei não excluem os já estabelecidos em outras legislações, inclusive
juízo relevante, havendo divergência de opiniões entre a pessoa em pactos, tratados, convenções e declarações internacionais apro-
apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz, ouvido o Ministério vados e promulgados pelo Congresso Nacional, e devem ser apli-
Público, decidir sobre a questão. cados em conformidade com as demais normas internas e acordos
§ 7º Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão in- internacionais vinculantes sobre a matéria.
devida ou não adimplir as obrigações assumidas, poderá a pessoa Parágrafo único. Prevalecerá a norma mais benéfica à pessoa
apoiada ou qualquer pessoa apresentar denúncia ao Ministério Pú- com deficiência.
blico ou ao juiz. Art. 122. Regulamento disporá sobre a adequação do disposto
§ 8º Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador e nesta Lei ao tratamento diferenciado, simplificado e favorecido a
nomeará, ouvida a pessoa apoiada e se for de seu interesse, outra ser dispensado às microempresas e às empresas de pequeno porte,
pessoa para prestação de apoio. previsto no § 3º do art. 1º da Lei Complementar nº 123, de 14 de
§ 9º A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o tér- dezembro de 2006 .
mino de acordo firmado em processo de tomada de decisão apoia- Art. 123. Revogam-se os seguintes dispositivos: (Vigência)
da. I - o inciso II do § 2º do art. 1º da Lei nº 9.008, de 21 de março
§ 10. O apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua par- de 1995 ;
ticipação do processo de tomada de decisão apoiada, sendo seu II - os incisos I, II e III do art. 3º da Lei nº 10.406, de 10 de janei-
desligamento condicionado à manifestação do juiz sobre a matéria. ro de 2002 (Código Civil);
§ 11. Aplicam-se à tomada de decisão apoiada, no que couber, III - os incisos II e III do art. 228 da Lei nº 10.406, de 10 de janei-
as disposições referentes à prestação de contas na curatela.” ro de 2002 (Código Civil);

282
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
IV - o inciso I do art. 1.548 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de O princípio da igualdade prevê a igualdade de aptidões e de
2002 (Código Civil); possibilidades virtuais dos cidadãos de gozar de tratamento isonô-
V - o inciso IV do art. 1.557 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro mico pela lei. Por meio desse princípio são vedadas as diferencia-
de 2002 (Código Civil); ções arbitrárias e absurdas, não justificáveis pelos valores da Consti-
VI - os incisos II e IV do art. 1.767 da Lei nº 10.406, de 10 de tuição Federal, e tem por finalidade limitar a atuação do legislador,
janeiro de 2002 (Código Civil); do intérprete ou autoridade pública e do particular.
VII - os arts. 1.776 e 1.780 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de
2002 (Código Civil). Principio da Presunção de Inocência
Art. 124. O § 1º do art. 2º desta Lei deverá entrar em vigor em O princípio da Presunção de Inocência é no Brasil um dos prin-
até 2 (dois) anos, contados da entrada em vigor desta Lei. cípios basilares do Direito, responsável por tutelar a liberdade dos
Art. 125. Devem ser observados os prazos a seguir discrimina- indivíduos, sendo previsto pelo art. 5º, LVII da Constituição de 1988,
dos, a partir da entrada em vigor desta Lei, para o cumprimento dos que enuncia: “ninguém será considerado culpado até trânsito em
seguintes dispositivos: julgado de sentença penal condenatória”. Tendo em vista que a
I - incisos I e II do § 2º do art. 28 , 48 (quarenta e oito) meses; Constituição Federal é nossa lei suprema, toda a legislação infra-
II - § 6º do art. 44, 84 (oitenta e quatro) meses; (Redação dada constitucional, portanto deverá absolver e obedecer a tal princípio7.
pela Lei nº 14.159, de 2021) Em termos jurídicos, esse princípio se desdobra em duas ver-
III - art. 45 , 24 (vinte e quatro) meses; tentes: como regra de tratamento (no sentido de que o acusado
IV - art. 49 , 48 (quarenta e oito) meses. deve ser tratado como inocente durante todo o decorrer do proces-
so, do início ao trânsito em julgado da decisão final) e como regra
Art. 126. Prorroga-se até 31 de dezembro de 2021 a vigência da
probatória (no sentido de que o encargo de provar as acusações
Lei nº 8.989, de 24 de fevereiro de 1995 .
que pesarem sobre o acusado é inteiramente do acusador, não se
Art. 127. Esta Lei entra em vigor após decorridos 180 (cento e
admitindo que recaia sobre o indivíduo acusado o ônus de “provar
oitenta) dias de sua publicação oficial .
a sua inocência”, pois essa é a regra).
Brasília, 6 de julho de 2015; 194º da Independência e 127º da Trata-se de uma garantia individual fundamental e inafastável,
República. corolário lógico do Estado Democrático de Direito.

DIREITO DAS PESSOAS MORADORAS DE FAVELAS → O enquadramento conceitual no marco legal do Direito à Ci-
dade e à Segurança.

De acordo com a Resolução da Defensoria Pública Geral do Es- Direito à Cidade


tado do Rio de Janeiro, DPGE n° 988 de 11 de junho de 20196, que O Direito à Cidade é um direito humano e coletivo, que diz res-
institui o Programa Circuito de Favelas por Direitos no âmbito da peito tanto a quem nela vive hoje quanto às futuras gerações. É um
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, fixando seus prin- compromisso ético e político de defesa de um bem comum essen-
cípios, diretrizes, objetivos e ações e contribuições dos parceiros cial a uma vida plena e digna em oposição à mercantilização dos
envolvidos nesta iniciativa, são direitos das pessoas moradoras de territórios, da natureza e das pessoas8.
favelas: O direito à cidade traz em seu núcleo a ideia fundamental de
que as desigualdades e opressões, como por exemplo, racismo, de-
→ Os princípios da dignidade da pessoa humana, da igualdade sigualdade de gênero e LGBTfobia, etc., são determinantes e estão
e da presunção de inocência, e demais preceitos amparados pela determinadas na produção do espaço.
Constituição Federal de 1988; A imposição de padrões de segregação e violência a segmen-
tos sociais específicos faz parte da constituição social e política dos
Princípio da Dignidade da Pessoa Humana territórios da e na cidade segundo o atual modelo de urbanização.
O princípio da dignidade da pessoa humana se refere à garantia Então a transformação radical conclamada pelo direito à cidade
das necessidades vitais de cada indivíduo, ou seja, um valor intrín- depende inevitavelmente do exercício de um poder coletivo para
seco como um todo. É um dos fundamentos do Estado Democrático reformular os processos de produção do espaço.
de Direito, nos termos do artigo 1º, III da Constituição Federal, sen- A Constituição de 1988 possui um capítulo denominado Da
do fundamento basilar da República. Política Urbana (Artigos 182 e 183), constituindo-se de uma signifi-
cativa produção legislativa no campo do Direito Urbanístico, novos
Tal princípio concede unidade aos direitos e garantias funda-
modelos de gestão pública com viés participativo e políticas volta-
mentais, sendo inerente às personalidades humanas. Afastando
das à implementação de direitos sociais.
dessa forma, as vertentes trans pessoalistas de Estado e Nação.
O Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001), em seu artigo 2º,
prevê como primeira diretriz da política urbana brasileira a “garan-
Princípio da Igualdade tia do direito às cidades sustentáveis, entendido como o direito à
A Constituição Federal de 1988 dispõe em seu artigo 5º, caput, terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutu-
sobre o princípio constitucional da igualdade, perante a lei, nos se- ra urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao
guintes termos: lazer, para as presentes e futuras gerações”.
Artigo 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qual-
quer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros re-
sidentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes (....).

7 https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-171/o-principio-da-pre-

suncao-da-inocencia/
6 https://defensoria.rj.def.br/legislacao/detalhes/9147-RESOLUCAO-DP-
GE-N-988-DE-11-DE-JUNHO-DE-2019 8 https://polis.org.br/direito-a-cidade/o-que-e-direito-a-cidade/

283
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
Direito à Segurança Estes princípios norteadores, que se concretizam no acesso à
Os artigos 5º “caput” e 144 da Constituição dispõem que o di- justiça integral e gratuita, e nas possibilidades processuais de in-
reito à segurança pública é dever do Estado, direito e responsabili- tervenção, vêm sendo introduzidos não só no Brasil, mas em vários
dade de todos, a ser exercida para a preservação da ordem pública países da América Latina.
e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.
Segurança pública é manutenção da ordem pública que, na sua Princípios norteadores para o trabalho com vítimas diretas
dinâmica, corresponde a uma atividade de vigilância, prevenção e (sobreviventes) e indiretas
repressão de condutas delituosas em prol da preservação ou do res- → Acesso à justiça integral e gratuita e o papel da Defensoria
tabelecimento da convivência social que possibilita a todos o gozo Pública
de seus direitos e o exercício das suas atividades sem perturbação Toda vítima tem o direito a um representante legal para ace-
de outrem, salvo nos limites de gozo e reivindicação de seus pró- der ao Poder Judiciário no intuito de ver reconhecidos seus direitos.
prios direitos e defesa de seus legítimos interesses. Para os casos em que a vítima não queira ou não possa nomear um
advogado, a Constituição assegura um defensor público;

DIREITO DAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DE ESTADO → Respeito à dignidade humana, à diferença e à privacidade
O direito internacional dos direitos humanos estabelece que
as vítimas sejam tratadas com humanidade, sendo dever das ins-
Uma política criminal que respeite o direito internacional dos tituições envolvidas na persecução penal de casos de tentativas ou
direitos humanos e dos direitos fundamentais de todos os sujeitos, mortes violentas, cuidar da segurança, bem-estar físico e psicoló-
partes e envolvidos no processo penal, deve estabelecer um siste- gico, intimidade e privacidade das vítimas sobreviventes e das víti-
ma de garantias de natureza bilateral. Garantias como o acesso à mas indiretas. Os mesmos princípios encontram-se assegurados na
justiça, a igualdade frente aos tribunais, a defesa durante o proces- Constituição da República Federativa do Brasil;
so, a imparcialidade e independência dos tribunais e a efetividade
dos direitos, devem ser preconizadas tanto para o acusado como → Participação em sentido amplo: informação, assistência,
para a vítima9. proteção e reparação
Desta forma, o devido processo, que envolve os princípios de A participação das vítimas sobreviventes e das vítimas indiretas
legalidade, o direito de defesa suas garantias, e o juiz natural, é pre- na investigação e no processo judicial deve ser efetiva, e não for-
conizado de igual forma no que tange às vítimas e às pessoas acu- mal, oferecendo-lhes as garantias que lhes permitam a realização
sadas. As reformas legais, ocorridas em diversos países da região, de seus direitos à verdade, à responsabilização do(a) agressor(a) e
adotaram o sistema acusatório e trouxeram em seu bojo uma signi- à reparação integral;
ficativa transformação na administração da justiça com novo papel
atribuído às vítimas, não apenas em sua qualidade de passiva dos → Reparação no ordenamento jurídico brasileiro
crimes, mas como sujeitos de direitos fundamentais e na relação O ordenamento brasileiro prevê mecanismos que viabilizem a
processual. reparação dos danos. A vítima sobrevivente ou as vítimas indiretas
A participação das vítimas no processo faz-se por meio de re- poderão agir de três formas:
presentação legal por advogado ou defensor público, sendo asse- 1) aguardar o desfecho da ação penal, e com o trânsito em jul-
gurada à vítima a participação voluntária em todas as etapas do gado dessa decisão ingressar no juízo cível;
processo, independentemente de sua presença, podendo sempre 2) ingressar desde logo no juízo cível com a ação de reparação
comunicar suas opiniões através de seu representante legal. de danos;
Entender-se-á por “vítimas diretas” aquelas que, individual ou 3) requerer que a reparação seja fixada na sentença penal con-
coletivamente, tenham sofrido diretamente os danos da violência denatória;
física, psicológica ou emocional, quer tenha sido consumada ou
tentada, e, como “vítimas indiretas”, os familiares e/ou outros de- → Direito à justiça, à verdade e à memória
pendentes da vítima direta. A investigação eficiente, o processamento e julgamento ade-
Toda vítima de violação de direitos humanos tem direito à justi- quado dos casos das mortes violentas poderia, por si só, cumprir
ça, que se traduz na obrigação do Estado de iniciar uma investigação um papel reparador, considerando a responsabilização da autoria
pronta e imparcial sobre os fatos alegados; no direito de ver os res- pelo crime e a mensagem de rejeição da violência que é enviada à
ponsáveis identificados e sancionados e a consequente reparação sociedade. Mas, para isto, é preciso que a resposta do sistema de
civil dos danos causados; no direito de conhecer as circunstâncias justiça seja dada em tempo razoável, considerando que a demora
dos crimes, os motivos e os responsáveis pelos fatos de que foram na resolução do caso pode, mesmo que haja uma condenação dos
vítimas (direito à verdade); e no direito a um processo e julgamento autores do crime, provocar a sensação de impunidade.
livres de estereótipos e preconceitos, e que não deturpem sua me- O direito à verdade está diretamente conectado ao direito à
mória para justificar a violência sofrida (direito à memória). justiça e aos interesses das vítimas sobreviventes e indiretas em ver
O acesso à informação, mediante o esclarecimento e o conhe- os responsáveis pelo crime identificados, processados, julgados e
cimento sobre o processo judicial, torna as vítimas diretas e indire- punidos da tentativa ou morte consumada e outros crimes que es-
tas menos vulneráveis, facilitando o exercício de seus direitos. Seus tejam relacionados.
pedidos devem estar adequadamente instruídos, respeitando seus O direito à memória tem relação estreita com a atuação de
interesses e necessidades, dando especial segurança na manifesta- todos os profissionais do sistema de justiça, em especial, na fase
ção de vontade das vítimas de forma consciente e orientada. do júri. A reconstrução dos fatos no plenário, protagonizada pelo
Ministério Público e Defensoria Pública, voltada ao convencimento
dos jurados, é frequentemente feita com argumentos que respon-
sabilizam a vítima através de justificativas para o crime, com pouca
consideração sobre a memória da vítima direta, seja ela fatal ou
9 https://assets-dossies-ipg-v2.nyc3.digitaloceanspaces.com/si- sobrevivente, e também em respeito às vítimas indiretas.
tes/4/2016/03/Direitos-das-vitimas_Diretrizes-Nacionais-Feminicidio.pdf

284
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
Outra prerrogativa é a não exibição de documentos e fotos Significa que as pessoas pansexuais podem desenvolver atra-
que maculem a memória da vítima e explicitem julgamentos mo- ção física, amor e desejo sexual por outras pessoas, independente-
rais sobre seus comportamentos e condutas como justificativa para mente de sua identidade de gênero ou sexo biológico. A pansexuali-
a violência que sofreu. Ao fazê-lo, esses profissionais contribuirão dade é uma orientação que rejeita especificamente a noção de dois
para a preservação da memória da vítima ante seus familiares e a gêneros e até de orientação sexual específica.
sociedade.
Observações importantes:
→ Não se utiliza a expressão “homossexualismo”, pois, neste
DIVERSIDADE SEXUAL. DIREITO DAS PESSOAS LGBT- caso, o sufixo “ismo” denota doença e a homossexualidade não
QIA+. HOMOFOBIA, DISCRIMINAÇÃO POR ORIENTA- é considerada como patologia pela Organização Mundial da Saú-
ÇÃO SEXUAL E IDENTIDADE DE GÊNERO E O CRIME DE de desde 1990, quando modificou a Classificação Internacional de
RACISMO Doenças (CID), declarando que “a homossexualidade não constitui
doença, nem distúrbio e nem perversão”;
→ Não se utiliza a expressão “opção sexual” por não se tratar
A sigla LGBTQIA+ é internacionalmente utilizada para se refe- de uma escolha.
rir aos cidadãos e cidadãs lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais e
transgêneros, queers, intersexuais, assexuais e o + significando to- → Gênero
das as outras orientações sexuais e identidades de gênero. Formulado nos anos 1970, o conceito de gênero foi criado para
distinguir a dimensão biológica da dimensão social. Embora a Biolo-
Diversidade Sexual gia divida a espécie humana entre machos e fêmeas, a maneira de
ser homem e de ser mulher é expressa pela Cultura. Assim, homens
Sendo a sexualidade humana, formada por uma múltipla com- e mulheres são produtos da realidade social e não somente decor-
binação de fatores biológicos, psicológicos e sociais, chama-se de rência direta da anatomia de seus corpos.
Diversidade Sexual as múltiplas formas de vivência e expressão da
sexualidade e da identidade de gênero. Por esse motivo, deve-se Papel de gênero
distinguir os conceitos de: sexualidade, sexo biológico, orientação Papel de gênero é o comportamento social, culturalmente de-
sexual, expressão de gênero e identidade de gênero10. terminado e restrito historicamente, esperado para homens e mu-
lheres. Espera-se que mulheres gostem de rosa, brinquem de bone-
→ Sexo Biológico ca na infância, sejam sensíveis, vaidosas e usem cabelos compridos
O sexo biológico refere-se ao conjunto de informações cromos- (papel de mulher).
sômicas, órgãos genitais, capacidades reprodutivas e característi- Já dos homens, espera-se que gostem de azul, que brinquem
cas fisiológicas secundárias que distinguem “machos” e “fêmeas”. de carrinho na infância, que sejam fortes, que “falem grosso”, que
Há também pessoas que nascem com uma combinação diferente nunca chorem e que sejam “mulherengos” (masculinidade tóxica).
destes fatores e que podem apresentar características de ambos os Estes comportamentos são construídos culturalmente, variam de
sexos. Essas pessoas são chamadas de Intersexos. acordo com a sociedade e não são “naturais”, ou seja, não nascem
Não se utiliza mais o termo hermafrodita, pois o mesmo ga- com a pessoa.
nhou um valor social negativo para rotular a pessoa intersexual. Todas as pessoas, independente do sexo biológico, combinam
Embora não exista um dado preciso, segundo a Organização Mun- características e comportamentos considerados masculinos e femi-
dial da Saúde (OMS), estima-se que aproximadamente 1% da popu- ninos, cada um/a de uma maneira diferente.
lação mundial seja composta por pessoas intersexuais.
Expressão de gênero
→ Orientação Sexual A expressão de gênero é como a pessoa se manifesta publica-
Orientação sexual é a atração afetiva e/ou sexual que uma pes- mente, independente da sua orientação sexual, papel e identidade
soa manifesta em relação à outra, para quem se direciona o seu de gênero, por meio do seu nome, da vestimenta, do estilo de ca-
desejo involuntariamente. A diversidade sexual é ampla, existindo belo, dos comportamentos, da forma de falar e/ou linguagem cor-
diversas orientações sexuais, entre elas: poral. A expressão de gênero da pessoa nem sempre corresponde
ao seu sexo biológico.
Heterossexual: pessoa que se sente atraída afetiva e/ou sexual- Embora vinculada à população LGBTQIA+, o conceito de “ex-
mente por pessoas do sexo/gênero oposto; pressão de gênero” é mais amplo e não necessariamente aponta
o gênero. A maioria das pessoas descreve e adota suas expressões
Homossexual (Gays e Lésbicas): pessoa que se sente atraída de gênero como masculina ou feminina, mas encontramos pessoas
afetiva e/ ou sexualmente por pessoas do mesmo sexo/gênero; com outras expressões de gênero.
Um exemplo é o termo metrossexual, surgido no final dos anos
Bissexual: pessoa que se sente atraída afetiva e/ou sexualmen- 90 pela junção das palavras metropolitano e sexual, sendo uma gí-
te por pessoas de ambos os sexos/gêneros; ria para o homem heterossexual urbano excessivamente preocupa-
do com a aparência, consumindo cosméticos, acessórios, roupas e
Assexual: É um indivíduo que não sente nenhuma atração se- seguindo sempre as tendências de moda.
xual, seja pelo sexo/gênero oposto ou pelo sexo/gênero igual; Ainda em relação às expressões de gênero, apresenta-se a an-
droginia, termo genérico usado para descrever qualquer pessoa
Pansexual: Considera-se que a pansexualidade é uma orienta- que assuma uma postura social, especialmente relacionada à ves-
ção sexual, assim como a heterossexualidade ou a homossexualida- timenta, comum a ambos os sexos. A pessoa andrógena é aquela
de. O prefixo pan vem do grego e se traduz como “tudo”. que tem características físicas e/ou comportamentais de ambos os
sexos, tornando-se mais difícil definir a que gênero pertence ape-
nas pela sua aparência.
10 http://www.recursoshumanos.sp.gov.br/lgbt/cartilha_diversidade.pdf

285
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
Identidade de gênero As travestis possuem identidade de gênero feminina e, por isso,
Identidade de gênero é a percepção íntima que uma pessoa utiliza-se o artigo definido “A” para se referir a elas. Grande parte
tem de si como sendo do gênero masculino, feminino ou de alguma das travestis ainda não consegue concluir a educação formal devido
combinação dos dois, independente do sexo biológico. A identidade à intensa discriminação que elas sofrem, não só na família e na so-
traduz o entendimento que a pessoa tem sobre ela mesma, como ciedade, mas também no próprio ambiente escolar, passando por
ela se descreve, reconhece-se e deseja ser reconhecida socialmen- um processo de intensa marginalização e exclusão.
te. Isto também pode gerar uma grande dificuldade de acesso ao
Resumindo, é a identificação subjetiva da pessoa, ou seja, é a mercado de trabalho e, muitas vezes, a única alternativa que lhes
forma como ela se identifica no mundo e para o mundo. De forma restam para sobreviver é a prostituição. Entretanto, nem toda tra-
geral, pode-se encontrar as seguintes identidades de gênero: vesti é profissional do sexo.
Muitas conseguem enfrentar o preconceito e têm as mais di-
→ Cisgênero: pessoa cuja identidade de gênero está alinhada versas profissões. Mas atenção! Prostituir-se não é crime e as/os
ao seu sexo biológico. Aquelas que são biologicamente mulheres profissionais do sexo não devem ser discriminadas/os.
e possuem identidade de gênero feminina ou biologicamente ho- Lembrando que a Constituição Federal, em seu artigo 3º, inciso
mens que possuem identidade de gênero masculina; IV, veda expressamente qualquer forma de discriminação.

→ Transgênero: terminologia normalmente utilizada para des- Outros conceitos


crever pessoas que transitam entre os gêneros. Contudo, há quem
utilize esse termo para se referir apenas àquelas pessoas que não se Agênero: Pessoa que não se identifica ou não se sente perten-
identificam nem como travestis, nem como mulheres transexuais e cente a nenhum gênero.
nem como homens trans, mas que vivenciam as suas expressões de
gêneros de maneira não convencional; Crossdresser: Pessoa que se veste com roupas do sexo oposto
para vivenciar momentaneamente papéis de gênero diferentes da-
→ Mulheres Transexuais e Homens Trans: pessoa que possui queles atribuídos ao seu sexo biológico, mas, em geral, não realiza
uma identidade de gênero diferente do seu sexo biológico. A pessoa modificações corporais e não chega a estruturar uma identidade
transexual é aquela que possui uma identidade de gênero diferente transexual ou travesti.
do sexo designado no nascimento.
Drag Queen: Homem que se veste com roupas femininas extra-
As pessoas transexuais podem ser homens ou mulheres, que
vagantes para a apresentação em shows e eventos, de forma artís-
procuram se adequar à identidade de gênero. Mulheres e homens
tica, caricata, performática e/ ou profissional.
transexuais podem realizar modificações corporais por meio de
terapias hormonais e intervenções cirúrgicas, tendo como intuito
Drag King: Mulher que se veste com roupas masculinas com
adequar seus atributos físicos, inclusive genitais (cirurgia de rede-
objetivos artísticos, performáticos e/ou profissionais.
signação sexual), à sua identidade de gênero.
Entretanto, nem todas as pessoas transexuais manifestam o
Binarismo de gênero
desejo de realizar tais procedimentos. A Organização Mundial da
Binarismo de gênero é a ideia de que só existe macho/fêmea,
Saúde, retirou a transexualidade da categoria de “distúrbios men- masculino/feminino, homem/mulher, sendo considerada limitante
tais” na Classificação Internacional de Doenças, passando a ser de- para pessoas não-binárias.
nominada como incongruência de gênero e movida para a categoria
“condição relativa à saúde sexual”. Nome Social
Entende-se como incongruência de gênero a incompatibilidade Nome social é o prenome adotado pela pessoa travesti, mulher
persistente entre o gênero vivido por uma pessoa e o gênero atri- transexual ou homem trans, que corresponde à forma pela qual se
buído a ela. Embora admitindo que a classificação pode continuar reconhece, identifica-se e é reconhecida (o) e denominada (o) por
reforçando os estigmas relacionados às pessoas transgêneros, a sua comunidade e sociedade. Sabe-se que o nome junto com a apa-
OMS afirma que mantê-la na CID ainda é necessário, tendo em vista rência são as primeiras coisas que nos apresentam e identificam.
que existem necessidades significativas de cuidados de saúde que É muito importante que o nome social seja respeitado de acor-
podem ser melhor atendidas se a condição for codificada; do com a identidade de gênero, independente da alteração do seu
Registro Civil. Por isso, existem, hoje, diversas normativas (leis e de-
Mulher transexual: É aquela que nasceu com sexo biológico cretos), em âmbito federal, estadual e municipal que garantem o
masculino, mas possui uma identidade de gênero feminina e se re- direito do uso do nome social por travestis e transexuais em todos
conhece como mulher; os órgãos públicos.
Retificação de prenome (NOME) e gênero
Homem trans: É aquele que nasceu com sexo biológico femini- Em decisão histórica, no julgamento da Ação Direta de Incons-
no, mas possui uma identidade de gênero masculina e se reconhece titucionalidade (ADI) 4.275, o Supremo Tribunal Federal (STF) de-
como homem; cidiu que não há mais a necessidade de autorização judicial para
a mudança de nome (prenome) e gênero de travestis, mulheres
→ Travesti: pessoa que nasce com o sexo masculino e tem transexuais e homens trans, passando a ser um procedimento ad-
identidade de gênero feminina. Não possui desconforto com o sexo ministrativo junto aos cartórios. Assim, a retificação (alteração) do
biológico de nascimento, nem com a ambiguidade de traços corpo- nome (prenome) e do gênero na certidão de nascimento poderá ser
rais femininos e masculinos, assumindo papel de gênero diferente feita diretamente nos cartórios de Registro Civil das Pessoas Natu-
daquele imposto pela sociedade. Muitas travestis modificam seus rais, sem a necessidade de cirurgia de redesignação sexual, laudo
corpos por meio de terapias hormonais, aplicações de silicone e/ou médico e/ou psicológico, na forma do Provimento da Corregedoria
cirurgias plásticas, mas, em geral, não desejam realizar a cirurgia de Nacional de Justiça – CNJ - nº 73/18.
redesignação sexual (conhecida como “mudança de sexo”).

286
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
LGBTfobia A LGBTfobia Institucional manifesta-se também em comporta-
mentos e práticas discriminatórias, veladas ou não, ocorridas em
Preconceito e Discriminação instituições estatais e/ou privadas. Ainda hoje, encontramos viola-
Preconceito é um prejulgamento que fazemos sobre uma pes- ções de direitos, como exemplo, negar a uma travesti ou mulher
soa sem conhecê-la, diante de alguma característica que esta pos- transexual a utilização do banheiro, público ou privado, conforme
sua. É uma ideia preconcebida que temos sobre alguém, a partir de sua identidade de gênero.
rótulos atribuídos pela sociedade. Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão – ADO 26,
Existe muito preconceito contra a população LGBTQIA+, que de 13 de junho de 2019, do Supremo Tribunal Federal (STF)
surge dos mitos construídos culturalmente a respeito da homos- O STF, em julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade
sexualidade, da bissexualidade, da transexualidade e da travestili- por Omissão (ADO 26), entendendo haver omissão do Congresso
dade, entre outros. A discriminação acontece quando, a partir de Nacional por não editar lei que criminalize atos de homofobia e
um preconceito, toma-se atitudes intolerantes e segregadoras com transfobia, reconheceu-os como atos atentatórios a direitos fun-
uma pessoa. damentais dos integrantes da comunidade LGBTQIA+, enquadran-
No caso de pessoas LGBTQIA+, muitas são agredidas verbal e do a LGBTfobia como tipo penal definido na Lei do Racismo (Lei nº
fisicamente, excluídas do convívio familiar e escolar, impedidas de 7.716/1989), até que o poder legislativo federal edite lei sobre a
manifestar afeto em público e até assassinadas em razão da sua matéria.
orientação sexual e/ou identidade de gênero.
TORTURA
Homofobia
Homofobia é o termo geralmente utilizado para se referir ao
preconceito e à discriminação em razão de orientação sexual, con- A tortura sempre esteve ligada à história do homem. Entre-
tra gays (homofobia), lésbicas (lesbofobia) ou bissexuais (bifobia). tanto, apesar de sua antiguidade, ela continua sendo um assunto
Pode ser definida como a noção de superioridade, medo, desprezo, extremamente atual e polêmico. Em pleno século XXI, a prática de
antipatia, aversão ou o ódio irracional às lésbicas, aos gays e às ou tortura permanece ativa, especialmente no Brasil.
aos bissexuais. A inclusão de referências à tortura na Constituição de 1988 e,
posteriormente, no Estatuto da Criança e do Adolescente e, o que
Transfobia é mais importante, a aprovação da Lei da Tortura em abril de 1997,
Transfobia trata-se do preconceito e da discriminação em razão que define a tortura como crime pelo Código Penal, foram todos
da identidade de gênero contra travestis, mulheres transexuais e marcos importantes no processo de reconhecimento da tortura
homens trans. Pode ser definida como a noção de superioridade, como delito sujeito à punição criminal.
Esses são reflexos de exigências internacionais: em 1984, em
medo, desprezo, antipatia, aversão ou o ódio irracional às travestis,
Nova York, aprovou-se a Convenção contra a Tortura e Outros Tra-
mulheres transexuais e aos homens trans.
tamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes da ONU,
que foi adotada pelo Brasil em 1991. Logo em seguida proclamou-
LGBTfobia
-se a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura
O termo LGBTfobia foi estabelecido durante a III Conferência
(OEA), que entrou em vigor no Brasil em 1989 (Decreto 98.386, de
Nacional de Políticas Públicas de Direitos Humanos LGBT, ocorrida
09.11.1989).
entre 24 e 27 de abril de 2016, em Brasília, para englobar tanto a
Diante dessa conjuntura e, tendo ratificado essas convenções,
homofobia, lesbofobia, bifobia, quanto a transfobia num único ter-
o Brasil editou, oito anos após a assinatura da Convenção Interame-
mo. Com a participação do movimento social e de gestoras e ges-
ricana para Prevenir e Punir a Tortura, a Lei nº 9.455/97.
tores LGBT de todo o país, definiu-se que LGBTfobia refere-se ao Pode-se conceituar tortura como a imposição de dor física ou
preconceito e à discriminação em razão de orientação sexual e/ou psicológica apenas por prazer, crueldade. Ou ainda, pode ser en-
identidade de gênero de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, mulhe- tendida como uma forma de intimidação, ou meio utilizado para
res transexuais e homens trans. obtenção de uma confissão ou alguma informação importante. O
que, não necessariamente, é elemento do tipo penal para sua ca-
LGBTfobia Institucional racterização.
A LGBTfobia Institucional trata-se da institucionalização do Por sua gravidade é considerada um delito inafiançável, não
preconceito contra as pessoas LGBTQIA+ por meio de normas e/ou sujeito a graça e anistia como dispõe o artigo 5º inciso XLIII da Cons-
comportamentos implícitos ou explícitos no ambiente público ou tituição Federal, e a Lei nº 9.455/97, em seu artigo 1º, §6º. Impor-
privado. Esse conceito é mais amplo e mais grave quando se obser- tante destacar ainda que a tortura está prevista na Lei nº 8.072/90
vam muitos países classificando como crime a homossexualidade e/ como delito equiparado a crime hediondo, sendo por este motivo,
ou a transexualidade. vedada a esta à concessão de indulto.
Periodicamente, a Organização das Nações Unidas (ONU) divul- Em linhas gerais, a tortura independente de seu objetivo final,
ga o mapa interativo sobre a criminalização da homossexualidade subsiste apenas pelo ato de se causar sofrimento a alguém. E em
no mundo. Diversos tratados, resoluções e normas internacionais razão da relevância em coibir sua prática é um delito que recebe um
de Direitos Humanos, reivindicados pela sociedade civil organizada, tratamento mais rigoroso pelo ordenamento.
ajudaram a derrubar várias legislações discriminatórias, aumentan-
do o número de países que suspenderam a criminalização da ho- Legislações
mossexualidade e/ou transexualidade. Entretanto, ainda hoje, são
aproximadamente 70 países onde ser LGBTQIA+ é crime, existindo Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948
inclusive a pena de prisão perpétua e até a pena de morte, que Art. V. Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento ou
constitui violação dos direitos fundamentais da pessoa humana. castigo cruel, desumano ou degradante.

287
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
Convenção Interamericana Para Prevenir e Punir a Tortura - DECRETO Nº 6.085, DE 19 DE ABRIL DE 2007
Decreto n° 98.386, de 9 de dezembro de 1989 Promulga o Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura
Artigo 2. Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradan-
tortura todo ato pelo qual são infligidos intencionalmente a uma tes, adotado em 18 de dezembro de 2002.
pessoa penas ou sofrimentos físicos ou mentais, com fins de inves-
tigação criminal, como meio de intimidação, como castigo pessoal, AS GARANTIAS JUDICIAIS E OS DIREITOS
como medida preventiva, como pena ou qualquer outro fim. Enten- PRÉ-PROCESSUAIS
der-se-á também como tortura a aplicação, sobre uma pessoa, de
métodos tendentes a anular a personalidade da vítima, ou a dimi-
nuir sua capacidade física ou mental, embora não causem dor física A efetividade dos direitos fundamentais depende das garantias
ou angústia psíquica. que os protegem. Estas podem ser judiciais e não-judiciais11.
As garantias dos direitos fundamentais estabelecem-se tanto
Convenção Contra a tortura e Outros Tratamentos Cruéis, no plano nacional quanto no internacional. Isso porque as garan-
Desumanos e Degradantes - Decreto nº 40, de 15 de fevereiro de tias dos direitos podem descrever-se como um conjunto coerente
1991 de mecanismos de defesa, que não se esgotam no âmbito de cada
Art. 1º, alínea 1: O termo tortura designa qualquer ato pelo país, mas que têm continuação em outros, por meio de diferentes
qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos instâncias supranacionais.
intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma ter- Constituem garantias no âmbito interno: a separação de fun-
ceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ções (poderes), a adoção do Estado Democrático de Direito, a pri-
ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de ter mazia dos direitos fundamentais, a cláusula pétrea ou o quórum
cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou qualificado e a proteção jurisdicional, nela incluída a criação de
por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natu- Tribunal Constitucional ou com competência para a proteção da
reza, quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um funcio- Constituição.
nários público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou Pode-se classificar as garantias em gerais e específicas. As pri-
por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. meiras constituem-se pelos princípios que definem o Estado, como
na formulação “Estado Democrático de Direito”. Estado de Direito
(....); implica limitação ao poder por meio do direito, sendo seus instru-
mentos básicos os direitos fundamentais e os princípios de orga-
Art. 4º, 1. Cada Estado Parte assegurará que todos os atos de nização; implica também a separação das funções (de poderes); a
tortura sejam considerados crimes segundo a sua legislação penal. adoção do princípio da legalidade na administração pública, impon-
O mesmo aplicar-se-á à tentativa de tortura e a todo ato de qual- do ao poder público a submissão ao direito; e a existência de uma
quer pessoa que constitua cumplicidade ou participação na tortura. obrigação jurídica de obediência. A própria fórmula do Estado de-
mocrático contém o reconhecimento e a garantia de vários direitos,
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos – Decreto nº como o de participação.
592, de 6 de julho de 1992 Garantias Específicas são mecanismos de proteção jurídica dos
Art. 7º. Ninguém será submetido a tortura, nem a penas ou direitos e dividem-se em garantia de regulação; de controle e fisca-
tratamento cruéis, desumanos ou degradantes. Será proibido, so- lização; de interpretação; internas ao direito; e judiciais.
bretudo, submeter uma pessoa sem seu livre consentimento, a ex-
periências médicas ou científicas. Garantias Judiciais e os Direitos Pré-processuais

Lei 9455/1997 – Define os crimes de tortura e dá outras pro- Essas garantias constituem o principal meio de proteção dos
vidências direitos fundamentais. Podem ser classificadas em ordinárias e
No Brasil, a Lei 9455/1997, em complemento e resposta às constitucionais. A atividade judicial tem o papel de instrumento ga-
convenções internacionais firmadas, traz a conceituação de tortura rantidor dos direitos fundamentais por meio da análise do direito à
como sendo: “empregar violência ou grave ameaça, de modo a cau- jurisdição, o que se faz sempre em um processo.
sar sofrimento físico ou mental, quando a violência ou ameaça são A satisfação do direito à tutela jurisdicional efetiva exige mais
utilizados com o fim de obter informações ou confissão das vítimas que o procedimento legalmente instituído, mais que igualdade de
ou de terceira pessoa”. oportunidades de acesso à justiça; exige o procedimento legítimo,
Art. 1º Constitui crime de tortura: o que requer sejam observados os princípios constitucionais que
I – constranger alguém com emprego de violência ou grave garantam a adequada participação das partes e do juiz, como: os
ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: do juiz natural, da igualdade, do contraditório, da publicidade e da
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da motivação das decisões.
vítima ou de terceira pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; Técnica processual e procedimento adequado
c) em razão de discriminação racial ou religiosa; O procedimento é uma espécie de técnica processual que visa
II – submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, viabilizar a tutela dos direitos. Embora seja possível considerar o
com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento procedimento como garantia de técnica antecipatória, sentenças e
físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida meios executivos, pode o mesmo ser analisado como algo que se di-
de caráter preventivo. ferencia do procedimento ordinário de cognição plena e exauriente,
Pena – reclusão, de dois a oito anos. e nesses termos possui importância por si só, independentemente
das técnicas processuais nele inseridas.

11 https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/
id/176572/000860620.pdf?sequence=3

288
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
Antecipação de tutela 2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou
A técnica antecipatória é um direito do jurisdicionado e signi- tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada da
fica direito à possibilidade de requerimento e de obtenção da an- liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade ine-
tecipação da tutela, isto é, direito à plena e integral efetivação da rente ao ser humano.
tutela.
3. A pena não pode passar da pessoa do delinquente.
Direito ao provimento adequado
A efetiva prestação da tutela exige provimento adequado; por- 4. Os processados devem ficar separados dos condenados, sal-
tanto, falar em direito à tutela é falar em direito ao provimento idô- vo em circunstâncias excepcionais, a ser submetidos a tratamento
neo para prestá-la. A sentença declaratória não constitui provimen- adequado à sua condição de pessoal não condenadas.
to adequado diante de ameaça de prática de ilícito, pois não é capaz
de atuar sobre a vontade do demandado. 5. Os menores, quando puderem ser processados, deve ser se-
parados dos adultos e conduzidos a tribunal especializado, com a
Direito ao meio executivo adequado maior rapidez possível, para seu tratamento.
É necessário verificar qual provimento mandamental e execu-
tivo deve ser utilizado no caso concreto. O meio executivo deve, ao 6. As penas privativas da liberdade devem ter por finalidade
mesmo tempo, proporcionar, em abstrato ou em termos de efetivi- essencial a reforma e a readaptação social dos condenados.
dade social, a tutela dos direitos, e gerar a menor restrição possível
à esfera jurídica do réu. O Protocolo de Istambul13, refere-se à um manual para a in-
vestigação e documentação eficazes da tortura e outras penas ou
Aplicabilidade imediata do direito fundamental tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Foi elaborado com
As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais o objetivo de auxiliar os Estados a dar resposta a uma das exigências
têm aplicação imediata; é o que dispõe o artigo 5º, § 1º, da CF. O mais fundamentais na proteção dos indivíduos contra a tortura: a
direito fundamental à tutela jurisdicional efetiva se dirige contra o documentação eficaz.
Estado, mas repercute sobre a esfera jurídica da parte. Sobre as Normas jurídicas internacionais aplicáveis, o Protoco-
É um direito de eficácia vertical, mas com eficácia lateral. As- lo de Istambul divide-se em:
sim, importante é mencionar os princípios da força normativa da
Constituição e da efetividade, que devem ser considerados pelo a. Direito internacional humanitário;
juiz, ao interpretar o direito, levando em consideração os princípios b. As Nações Unidas;
que com ele possam colidir no caso concreto. c. Organizações regionais;
d. Tribunal Penal Internacional.
A conformação do procedimento adequado ao caso concreto
Além das regras de direito material, o dever de proteção requer
também a prestação jurisdicional e ações fáticas do Estado, como a Organizações regionais
atuação da Administração Pública na proteção do consumidor, da Os organismos regionais contribuem também para o desenvol-
saúde pública e do meio ambiente. vimento de normas destinadas a prevenir a tortura. É o caso, en-
Além das normas de direito material, a proteção, no plano tre outros, da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, do
normativo, deve incluir normas de direito processual, que também Tribunal Interamericano de Direitos Humanos, do Tribunal Europeu
constituem mecanismo de proteção dos direitos fundamentais, pre- dos Direitos do Homem, do Comité Europeu para a Prevenção da
ventiva ou ressarcitoriamente. Tortura e da Comissão Africana dos Direitos do Homem e dos Povos.

Remédios constitucionais protetores dos direitos fundamen- Direito a não ser torturado
tais
O constituinte brasileiro de 1988 dotou os titulares de direitos Pelo Protocolo de Istambul o Direito a não ser torturado têm
fundamentais de institutos destinados a protegê-los, conhecidos previsão legal na Convenção Americana sobre Direitos Humanos
como remédios constitucionais, e que são, na verdade, as garan- (Pacto de São José da Costa Rica), através do supracitado Art. 5º,
tias processuais, e consistem nas ações constitucionais: Mandado dispondo o seguinte:
de Segurança, Habeas Corpus, Habeas Data, Mandado de Injunção
e Ação Popular. O artigo 5º da Convenção consagra a proibição da tortura.
Embora o caso diga diretamente respeito à questão dos desapa-
DIREITO A NÃO SER TORTURADO recimentos, um dos direitos referidos pelo Tribunal como estando
garantidos pela Convenção Americana sobre Direitos Humanos é o
direito de não ser sujeito a tortura ou outras formas de maus tratos.
O Decreto n° 678, de 6 de novembro de 199212, promulga a
Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José
da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969. Vejamos seu Art. 5º:

ARTIGO 5

Direito à Integridade Pessoal

1. Toda pessoa tem o direito de que se respeito sua integridade


física, psíquica e moral. 13 http://www.dhnet.org.br/dados/manuais/a_pdf/manual_protocolo_is-

12 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d0678.htm tambul.pdf

289
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
A população em situação de rua pode ser definida como um
POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA. CONCEITO E grupo populacional heterogêneo que tem em comum a pobreza,
PRINCÍPIOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS vínculos familiares quebrados ou interrompidos, vivência de um
processo de desfiliação social pela ausência de trabalho assalariado
O Decreto nº 7.053 de 23 de dezembro de 200914, institui a e das proteções derivadas ou dependentes dessa forma de traba-
Política Nacional para a População em Situação de Rua e seu Comitê lho. Sem moradia convencional regular adota a rua como o espaço
Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento, e dá outras de moradia e sustento. Naturalmente, existem muitas outras espe-
providências. cificidades que perpassam as pessoas em situação de rua e devem
A Resolução nº 40, de 13 de outubro de 202015, dispõe sobre as ser consideradas, como gênero, raça/cor, idade e deficiências físicas
diretrizes para promoção, proteção e defesa dos direitos humanos e mentais.
das pessoas em situação de rua, de acordo com a Política Nacional
para População em Situação de Rua. Em concordância com o Decreto nº 7.053 de 23 de dezembro
de 2009 e com a Resolução nº 40, de 13 de outubro de 2020:
Conceito de População em Situação de Rua
Considera-se população em situação de rua o grupo popula-
Um dos desafios a serem enfrentados ao se propor a constru- cional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os
ção de uma política voltada para a inclusão da população em situa- vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de
ção de rua está em sua própria definição. A heterogeneidade desta moradia convencional regular, e que utiliza os logradouros públicos
população e das condições em que se encontra tornam difíceis sua e as áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento, de
caracterização unívoca e imediata16. forma temporária ou permanente, bem como as unidades de acolhi-
A rua tanto pode se constituir num abrigo para os que, sem mento para pernoite temporário ou como moradia provisória.
recursos, dormem circunstancialmente em logradouros públicos
quanto pode constituir-se em local principal de habitação e de esta- Princípios das Políticas Públicas
belecimento de diversificadas redes de relações. O que unifica essas
situações e permite designar os que a vivenciam como populações I - Promoção e garantia da cidadania e dos direitos humanos;
de rua é o fato de que, tendo condições de vida extremamente pre- II - Respeito à dignidade do ser humano, sujeito de direitos civis,
cárias, circunstancialmente ou permanentemente, utilizam a rua políticos, sociais, econômicos e culturais;
como abrigo ou moradia. III - Direito ao usufruto, permanência, acolhida e inserção na
Essas situações podem ser dispostas num continuum, tendo cidade;
como referência o tempo de rua; à proporção que aumenta o tem- IV - Não-discriminação por motivo de gênero, orientação se-
po, se torna estável a condição de morador. São diversos os grupos xual, origem étnica ou social, nacionalidade, atuação profissional,
de pessoas que estão nas ruas: imigrantes, desempregados, egres- religião, faixa etária e situação migratória;
sos dos sistemas penitenciários e psiquiátricos, entre outros, que V - Supressão de todo e qualquer ato violento e ação vexatória,
constituem uma enorme gama de pessoas vivenciando o cotidiano inclusive os estigmas negativos e preconceitos sociais em relação à
das ruas. população em situação de rua.
Ressalte-se ainda a presença dos chamados “trecheiros”: pes-
soas que transitam de uma cidade a outra (na maioria das vezes, Em concordância com o Decreto nº 7.053 de 23 de dezembro
caminhando a pé pelas estradas, pedindo carona ou se deslocan- de 2009 e com a Resolução nº 40, de 13 de outubro de 2020, as
do com passes de viagem concedidos por entidades assistenciais). ações de promoção, proteção e defesa dos direitos humanos das
Mesmo em face da diversidade de motivações de ida à rua e de situ- pessoas em situação de rua devem se guiar pelos princípios da Po-
ações que caracterizam as situações de rua, utilizou-se no Primeiro lítica Nacional para a População em situação de Rua, que, além da
Censo Nacional, a seguinte definição: igualdade e equidade, são:

“O conceito de população em situação de rua refere-se às pes- I - respeito à dignidade da pessoa humana;
soas que estão utilizando em um dado momento, como local de II - direito à convivência familiar e comunitária;
moradia ou pernoite, espaços de tipos variados, situados sob pon- III - valorização e respeito à vida e à cidadania;
tes, marquises, viadutos, à frente de prédios privados e públicos, IV - atendimento humanizado e universalizado; e
em espaços públicos não utilizados à noite, em parques, praças, V - respeito às condições sociais e diferenças de origem, raça,
calçadas, praias, embarcações, estações de trem e rodoviárias, a idade, nacionalidade, gênero, orientação sexual e religiosa, com
margem de rodovias, em esconderijos abrigados, dentro de gale- atenção especial às pessoas com deficiência.
rias subterrâneas, metrôs e outras construções com áreas internas
ocupáveis, depósitos e prédios fora de uso e outros locais relativa- Política Municipal para a População em Situação de Rua no
mente protegidos do frio e da exposição à violência. São também Município do Rio de Janeiro
considerados componentes da população em situação de rua aque- A Lei Municipal nº 6.350, de 4 de maio de 201817, institui a Po-
les que dormem em albergues e abrigos de forma preferencial ou lítica Municipal para a População em Situação de Rua no Município
ocasional, alterando o local de repouso noturno entre estas institui- do Rio de Janeiro e dá outras providências.
ções e os locais de rua”. Art. 3º Para efeitos desta Lei são consideradas pessoas em si-
tuação de rua o grupo populacional heterogêneo e composto por
crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos e famílias que pos-
14 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/
suam em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares e co-
d7053.htm
munitários fragilizados ou interrompidos, a inexistência de mora-
15 https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-n-40-de-13-de-outubro- dia convencional regular, e que utiliza os logradouros públicos e as
-de-2020-286409284

16 http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/cao_civel/acoes_afirmativas/ 17 http://www2.camara.rj.gov.br/atividade-parlamentar/legislacao/legisla-
inclusaooutros/aa_diversos/Pol.Nacional-Morad.Rua.pdf cao-municipal/leis-ordinarias

290
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
áreas degradadas como espaço de moradia e sustento, de forma de acolhimento para a população em situação de rua. As Promoto-
temporária ou permanente, bem como as unidades de acolhimento ras de Justiça ressaltaram, ainda, que o pleito de confinamento de
para pernoite ou como moradia provisória ou todo aquele que se pessoas supostamente doentes em um mesmo ambiente, já que
declarar como tal. não teriam atendimento médico antes da remoção, iria na dire-
ção oposta às orientações de distanciamento e isolamento social,
Art. 4º São princípios da Política Municipal para a População contribuindo para a disseminação da doença. O juízo da 10ª Vara
em Situação de Rua: de Fazenda Pública do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ)
I – o respeito à dignidade da pessoa humana; acolheu os argumentos apresentados pelo MPRJ, em contestação, e
II – o direito à convivência familiar e comunitária; indeferiu a tutela de urgência requerida pelo município, mantendo
III – a valorização e o respeito à vida e à cidadania; a vedação imposta no TAC de recolhimento compulsório da popula-
IV – o atendimento humanizado e universalizado; ção em situação de rua.
V - o respeito as condições sociais e diferenças de origem, raça,
idade, nacionalidade, sexo, orientação religiosa, com atenção espe- Assim, está mantido o acordado no TAC, em que o ente pú-
cial às pessoas com deficiência; blico municipal se compromete, por prazo indeterminado, “a abs-
VI – a erradicação de atos violentos e ações vexatórias e de es- ter-se de empregar qualquer medida de remoção compulsória ou
tigmas negativos e preconceitos sociais que produzam ou estimu- involuntária da população adulta em situação de rua, ressalvadas
lem a discriminação e a marginalização, seja pela ação ou omissão; as hipóteses de flagrante delito ou por determinação médica”. A
VII – o respeito à liberdade de decisão em relação à perma- Justiça entendeu, também, que o município não apresentou dados
nência em situação de rua ou adesão voluntária ao acolhimento científicos, nos autos do processo que justificassem a decisão de
institucional. internar a população de rua em seus abrigos, “sendo o documen-
to apresentado verdadeiramente uma superficial manifestação de
autoridade política e, portanto, inapto ao convencimento do juízo”.
RECOLHIMENTO COMPULSÓRIO
Entidades de defesa de direitos humanos, como o Conselho
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) e a Defensoria Pública da
meio da 4ª e da 7ª Promotorias de Justiça de Tutela Coletiva de De- União (DPU), encaminharam ofício ao gabinete do Procurador-
fesa da Cidadania da Capital, obteve decisão favorável na Justiça do -Geral de Justiça com Notas de Repúdio à atuação da Prefeitura e
Rio, nesta segunda-feira (03/08), indeferindo a tutela de urgência outros atores na defesa dos direitos da população em situação de
pleiteada pelo Município do Rio de Janeiro que pretendia remover rua também se manifestaram, por meio de notas, através das redes
sociais, contrários à ação.
compulsoriamente a população em situação de rua.

A Prefeitura alegava que a chegada do inverno aumentaria o


risco de a população de rua ser exposta à Covid-19 e, consequen- QUESTÕES
temente, de propagação da doença por meio dessas pessoas. Dian-
te disso, a administração municipal ¿pleiteava autorização judicial
1. (Prefeitura de Pedrão/BA – Psicólogo – IDCAP/2021) Sobre
para descumprir o Termo de Ajustamento de Conduta, firmado com
gênero, violência e saúde analise as assertivas abaixo:
7ª Promotoria de Tutela Coletiva de Defesa da Cidadania, em 2012,
I. A violência contra a mulher é um fenômeno extremamente
que veda a remoção compulsória genérica deste segmento popu- complexo, com raízes profundas nas relações de poder baseado no
lacional. Em sua contestação, o MPRJ demonstrou que a preten- gênero, na sexualidade, na autoidentidade e nas instituições sociais.
são do Município do Rio de Janeiro, além de violadora de direitos II. Esta realidade da violência contra a mulher não se apresenta
humanos e de princípios constitucionais fundamentais, carecia de em todas as classes sociais, grupos étnicos-raciais e culturas, sendo
interesse processual de agir, pois se as equipes de Consultório na questão especifica de um grupo social determinado.
Rua, pontos de atenção da rede de saúde que devem atender às III. Trata-se a violência doméstica de fenômeno democratica-
pessoas em situação de rua examinassem os indivíduos e identi- mente distribuído da mesma forma que acontece com a distribui-
ficassem aqueles que necessitam de atendimento médico, pode- ção da riqueza.
ria removê-los, se fosse a hipótese terapêutica mais indicada, aos Após análise, assinale a alternativa CORRETA:
cuidados de saúde necessários. Aduziu que o Município dispõe de (A) Somente a alternativa III está correta.
apenas sete equipes deste equipamento, número considerado in- (B) Somente a alternativa I está correta.
suficiente para o atendimento de toda a população em situação de (C) As alternativas I, II e III estão corretas.
rua. O MPRJ demonstrou, também, que sem qualquer documen- (D) As alternativas I e III estão corretas.
to científico comprovando que a chegada do inverno aumentaria
os índices de propagação da Covid-19, a municipalidade pretendia 2. (Prefeitura de Jacinto Machado/SC – Psicólogo – PS CON-
remover compulsoriamente a população em situação de rua para CURSOS/2021) Violência doméstica é um padrão de comportamen-
um único abrigo na Ilha do Governador, o que por certo provocaria to que envolve violência ou outro tipo de abuso por parte de uma
aglomeração de pessoas. pessoa contra outra num contexto doméstico, como no caso de um
casamento ou união de facto, ou contra crianças ou idosos. Quando
O Ministério Público pontuou, ainda, que o pedido do autor é perpetrada por um cônjuge ou parceiro numa relação íntima con-
não era de mera remoção, mas de abrigamento compulsório da tra o outro cônjuge ou parceiro denomina-se:
população de rua, tendo juntado documentos que demonstravam, (A) Violência marital.
desde o início da pandemia, a realização de reuniões virtuais com (B) Violência moral.
a Secretária Municipal de Assistência Social, acompanhando as (C) Violência conjugal.
medidas que vem sendo dispensadas ao segmento, e, sobretudo, (D) Violência mental.
apontou a insuficiência e precariedade da rede de equipamentos (E) Violência emocional.

291
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
3. (Prefeitura de Mata Grande/AL – Psicólogo - ADM&TEC/2020) 6. (Prefeitura de Capim/PB - Agente Administrativo - FACET
Leia as afirmativas a seguir: CONCURSOS/2020) Leia texto a seguir:
I. O trabalho de atendimento à mulher em situação de violência No Brasil, os casos de homicídio de pessoas negras (pretas e
pressupõe necessariamente o fortalecimento de redes de serviços pardas) aumentaram 11,5% em uma década, de acordo com o Atlas
que, tomando como base o território, possam articular saberes, da Violência 2020 […] publicado pelo Instituto de Pesquisa Econô-
práticas e políticas, pensando e viabilizando estratégias ampliadas mica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública
de garantia de acesso, equidade e integralidade. Fazem-se neces- (FBSP). Ao mesmo tempo, entre 2008 e 2018, período avaliado, a
sários ainda investimentos constantes na sensibilização e na quali- taxa entre não negros (brancos, amarelos e indígenas) fez o cami-
ficação dos profissionais envolvidos na rede para que as mulheres nho inverso, apresentando queda de 12,9% (Fonte:https://agencia-
sejam acolhidas e assistidas de forma humanizada e com garantia brasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-08/atlas-da-violencia-assas-
de direitos. sinatos-de-negros-crescem-115-em10-anos, acessado em outubro
II. O atendimento psicológico nos serviços de atenção à mulher de 2020).
em situação de violência deve ser direcionado para mulheres com o Sobre a questão do racismo no Brasil, marque V para Verdadei-
objetivo de preservar a confiança nas relações estabelecidas com o ro e F para Falso:
profissional. No entanto, entende-se que a abordagem da violência ( ) O racismo é praticamente inexistente no Brasil, sendo mais
deve também incluir o autor da violência em espaço específico para forte em países como os Estados Unidos.
tal, conforme prevê a Lei Maria da Penha. ( ) O racismo tem relação histórica com a escravidão no Brasil.
Marque a alternativa CORRETA: ( ) A miscigenação fez com que o país se transformasse num
(A) As duas afirmativas são verdadeiras. dos mais plurais do mundo. Apesar da desigualdade econômica no
(B) A afirmativa I é verdadeira, e a II é falsa. país, os negros conseguem ter, em termos proporcionais, a mesma
(C) A afirmativa II é verdadeira, e a I é falsa. renda dos brancos no nosso país.
(D) As duas afirmativas são falsas. ( ) O racismo institucional não existe no Brasil, apenas nos Es-
tados Unidos.
4. (CFP – Especialista em Psicologia Social – QUADRIX/2020) Em A alternativa que apresenta o termo correto é a letra:
uma universidade de renome, um professor reconhecido por sua (A) V, V, V, V.
empatia com os estudantes, respeitoso e tido como um excelen- (B) F, V, V, V.
te pesquisador em sua área, foi duramente criticado por dizer que (C) V, F, V, V.
negros não entram nos cursos mais concorridos da universidade (D) F, V, F, F.
por uma lacuna na formação básica e não reúnem conhecimento (E) F, V, F, V.
suficiente para obter notas excelentes no ENEM. Ele também se
manifestou contra cotas, por considerá-las como antidemocráticas,
já que não respeitam o critério do mérito. Ele ficou chocado com 7. (UFCG – Assistente Social – UFCG/2019) O trabalho de assis-
as críticas por se considerar uma pessoa aberta e não racista. Com tentes sociais tem relação direta com as demandas da população
base nessa situação hipotética, é correto afirmar que o professor se negra que reside nos morros, nas favelas, no sertão, no campo e
enquadra no(na) na cidade. Assistentes sociais estão nos serviços públicos como os
(A) incoerência dos professores universitários. de saúde, educação, habitação e assistência social, que devem ser
(B) racismo estrutural. garantidos para toda a população. O combate ao preconceito é in-
(C) racismo institucional. clusive um compromisso do Código de Ética dos/as Assistentes So-
(D) discriminação provocada pelo ódio racial. ciais. Sobre a questão do racismo e Serviço Social, marque a opção
(E) equívoco dos movimentos negros na universidade. correta.
(A) Historicamente, o debate acerca da questão étnico-racial
5. (Prefeitura de Ministro Andreazza/RO – Assistente Social – no Serviço Social tem assumido uma centralidade diante da dis-
IBADE/2020) Recentemente a questão racial ganhou grande visibi- cussão da questão social, colocando-o como um dos principais
lidade em função do assassinato de George Floyd, cidadão norte- temas de reflexão na produção teórica da profissão.
-americano estrangulado por um policial branco em maio de 2020. (B) É posicionamento ético o empenho na eliminação de todas
Pode-se dizer que o racismo é um dos elementos fundamentais as formas de preconceito, sejam por nacionalidade, gênero, et-
para compreender e enfrentar a violência policial nos Estados Uni- nia, classe social e religião; enquanto questão não estrutural, o
dos e no Brasil. Sendo assim, assinale a expressão mais adequada racismo deve ser combatido no âmbito institucional, cultural e
para a análise desse fenômeno na realidade brasileira: ambiental.
(A) democracia racial. (C) O Atlas de Violência (2017) afirma que a cada 100 pessoas
(B) ações afirmativas. assassinadas no Brasil, 71 são jovens, negras e do sexo mas-
(C) racismo estrutural. culino. Reitera que houve avanços nos indicadores socioeco-
(D) transfobia. nômicos (2005 a 2015) e diminuição da violência letal contra
(E) feminicídio. pessoas negras.
(D) A raiz latente da questão social no Brasil colônia é a escra-
vidão, baseada na extrema exploração da força de trabalho es-
cravizada; seu enfrentamento deu-se pelo abolicionismo, parti-
cularizado na formação social brasileira.
(E) O Conjunto CFESS-CRESS tem se posicionado contra as leis
de cotas (nº 12.711/2012 e nº 12.990/14) pois, ao invés de
promoverem reparos sociais, têm produzido desigualdades e
condições diferentes de oportunidades no âmbito das políticas
sociais.

292
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
8. (CRN-9 – Auxiliar Administrativo – QUADRIX/2019) Julgue o 11. (DPE/RJ - Técnico Superior Jurídico – FGV/2019) A comissão
item a respeito dos direitos sociais. externa da Câmara dos Deputados criada para acompanhar as in-
O mínimo existencial está aquém do princípio da dignidade da vestigações dos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes
pessoa humana, isto é, congrega parcela de direitos absolutamente aprovou em dezembro de 2018 o seu relatório final, no qual cobra a
básicos, que, respeitados, ainda não chegam a assegurar uma exis- federalização do caso. Como é sabido, no Brasil é possível que haja
tência digna, mas, sim, existência, pura e simples. federalização de casos de grave violação de direitos humanos.
(....) CERTO Segundo a Constituição da República de 1988, qual seria a fina-
(....) ERRADO lidade desse deslocamento de competência para a justiça federal é:
(A) garantir a Lei e a Ordem nos casos em que há o esgota-
9. (Prefeitura de Carneiros/AL – Nutricionista - ADM&TEC/2019) mento das forças tradicionais de segurança pública, em graves
Leia as afirmativas a seguir e marque a opção CORRETA: situações de perturbação da ordem;
(A) O direito à igualdade é vedado na Constituição Federal de (B) dar efetividade ao sistema de garantia de direitos funda-
1988. mentais previstos no âmbito da Constituição e da legislação
(B) A Constituição Federal de 1988 procura assegurar o exercí- federal;
cio dos direitos individuais. (C) promover a atuação integrada, no plano estadual e federal,
(C) A República Federativa do Brasil busca promover o antisse- de administradores e responsáveis pelas investigações de casos
mitismo. que envolvam violação de direitos humanos;
(D) A dignidade da pessoa humana não é um dos fundamentos (D) combater a eventual morosidade dos agentes do sistema
da República Federativa do Brasil. de justiça que comprometa a imagem do país junto aos orga-
(E) A República Federativa do Brasil busca promover os precon- nismos multilaterais de cooperação internacional;
ceitos relacionados à cor. (E) assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de
tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil
10. (Prefeitura de Porto Nacional/TO – Assistente Social - COPE- seja parte.
SE – UFT/2019) O advento da modernidade ressignificou vários âm-
bitos da vida cotidiana, e dentre eles podemos citar os tipos de or- 12. (DPE/RJ – Defensor Público – FGV/2021) Segundo a juris-
ganização familiar, o mundo do trabalho, o casamento, a concepção prudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, reforçada
de novos seres que foi dissociada da união entre um homem com no “Caso Ximenes Lopes vs. Brasil”, são fundamentos da responsa-
uma mulher, assim como a violência. Esta última trata-se de um fe- bilidade internacional do Estado:
nômeno complexo e abrangente que abarca diferentes contextos (A) as ações atribuíveis aos órgãos ou funcionários do Estado;
da vida humana, pois não é autoexplicável e é pluricausal. Destarte, (B) somente as ações dos particulares, desde que atribuíveis às
no Brasil evidencia-se que crianças, adolescentes e jovens sejam ví- omissões do Estado;
timas em potencial das mais diversas formas de violência, tanto no (C) as ações dos particulares que violem qualquer direito con-
âmbito familiar, institucional, urbano, através do aliciamento pelo sagrado na Convenção Americana de Direitos Humanos;
tráfico de drogas ou ainda sexual. Analise as afirmativas a seguir. (D) as ações de qualquer pessoa ou órgão estatal que esteja
I. As camadas pobres estão mais suscetíveis à violência, consi- autorizado pela legislação do Estado a exercer autoridade go-
derando-se que muitas vezes os adolescentes e jovens que vivem vernamental, seja pessoa física ou jurídica, sempre e quando
nas áreas periféricas estão expostos a maiores riscos, e mesmo estiver atuando na referida competência;
diante da intensificação do isolamento da vida pública e privada (E) tanto as ações ou omissões atribuíveis aos órgãos ou funcio-
não é possível garantir a segurança dos mesmos e de suas famílias. nários do Estado, como a omissão do Estado em prevenir que
II. O aumento da violência no Brasil se coloca como prioridade terceiros vulnerem os bens jurídicos que protegem os direitos
na agenda das políticas sociais públicas, visto que a luta dos mo- humanos consagrados na Convenção Americana de Direitos
vimentos sociais por melhores condições de vida e garantia de di- Humanos.
reitos sociais tem alcançado reconhecimento em suas ações e de
seus interlocutores, atenuando a desigualdade social e elevando os 13. (DPE/RJ – Defensor Público – FGV/2021) Sobre o “Caso Fa-
níveis de mobilização da sociedade. vela Nova Brasília”, é correto afirmar que:
III. O individualismo exacerbado coloca-se como uma das con- (A) os representantes reclamaram que, se a investigação dos
sequências produzidas pela violência, pois está diante da impossibi- fatos tivesse sido registrada como “auto de resistência”, teria
lidade da construção de uma esfera pública marcada pela desregu- sido diligente e efetiva;
lamentação do Estado e pela ausência ou insuficiência de políticas (B) para a Corte Interamericana de Direitos Humanos, o dever
sociais universais. de investigar é uma obrigação de resultado que corresponde
IV. A violência na sociedade brasileira tem seu recrudescimen- ao direito das vítimas à justiça e à punição dos perpetradores;
to também pela anulação da política que exclui o debate público, (C) para a Corte Interamericana de Direitos Humanos, o cum-
responsabilizando a sociedade civil por suas agruras e mazelas, de- primento da obrigação de empreender uma investigação séria,
legando as providências para o âmbito privado e atribuindo suas imparcial e efetiva do ocorrido, no âmbito das garantias do de-
causas aos aspectos socioeconômicos e culturais. vido processo, implica também um exame do prazo da referida
Com base nas afirmativas, assinale a alternativa CORRETA. investigação e independe da participação dos familiares da víti-
(A) Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas. ma durante essa primeira fase;
(B) Apenas as afirmativas III e IV estão corretas. (D) a Comissão Interamericana de Direitos Humanos ressaltou
(C) Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas. que as investigações policiais foram realizadas pelas mesmas
(D) Apenas as afirmativas I e II estão corretas. delegacias da Polícia Civil que haviam realizado as operações,
o que gerou a falta de independência das autoridades encar-
regadas pelas investigações, violando os artigos 7.1 e 25.1, em
relação ao artigo 1.1 da Convenção Americana de Direitos Hu-
manos;

293
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
(E) a Corte Interamericana de Direitos Humanos considera es- (D) Evidentemente, a fala do entrevistado pela FSP representa
sencial, em uma investigação penal sobre morte decorrente de uma realidade, mas pessoas como ele deveriam se expressar
intervenção policial, a garantia de que o órgão investigador seja em lugares fechados e protegidos para preservar a moral de
independente dos funcionários envolvidos no incidente. Essa crianças e pessoas idosas.
independência implica a ausência de relação institucional ou (E) O preconceito e a discriminação sexual são um câncer so-
hierárquica, bem como sua independência na prática. cial e a psicologia social deveria assumir claramente a bandeira
LGBTQI+.
14. (DPE/SC – Defensor Público Substituto – FCC/2017) O caso
Favela Nova Brasília em que o Estado Brasileiro foi julgado perante 17. (Prefeitura de Valinhos/SP – Psicólogo – VUNESP/2019) No
a Corte Interamericana de Direitos Humanos, trata contexto atual, o termo gênero é usado em contraste com os ter-
(A) do direito das minorias, especialmente negros e indígenas. mos sexo e diferença sexual com o objetivo de criar um espaço no
(B) do direito de petição e o acesso à justiça. qual as diferenças de comportamento entre homens e mulheres,
(C) de violações do direito à vida e à integridade física. mediadas socialmente, possam ser
(D) do direito à moradia em condições precárias nas grandes (A) exploradas independentemente das diferenças biológicas.
cidades. (B) eliminadas, para o surgimento de um padrão único de con-
(E) da convivência entre o direito ao meio ambiente e a inter- duta.
venção humana. (C) desvinculadas das ordens social, econômica e política esta-
belecidas.
15. (DPE/RJ – Defensor Público – FGV/2021) No âmbito da (D) atribuídas às características determinadas pela bagagem
ADPF 635 se questionam a política de segurança pública do governo genética.
do Estado do Rio de Janeiro, os índices injustificáveis de letalidade (E) entendidas como uma inabilidade para o desempenho dos
promovida pelas intervenções policiais nas favelas e o uso despro- papéis sociais.
porcional da força por parte dos agentes de segurança contra a po-
pulação negra e pobre. 18. (DPE/RJ - Técnico Superior Especializado – Psicologia –
Diante de dados que comprovam que os efeitos de determina- FGV/2019) A expressão “ideologia de gênero” passou a ser usada
das políticas públicas violam desproporcionalmente os direitos fun- por setores conservadores da sociedade brasileira, embora não cor-
damentais de grupos vulneráveis identificáveis, é correto afirmar responda a nenhuma linha de pensamento, e sim a um slogan que
que tais políticas podem ser questionadas com fundamento no(a): tende a reafirmar valores morais tradicionais e negar a igualdade de
(A) princípio da moralidade administrativa; direitos às mulheres e pessoas LGBTI+. Por sua vez, os estudos de
(B) princípio da igualdade formal; gênero têm como objetivo mapear diferenças sociais entre gêneros
(C) teoria da discriminação indireta; e mostrar como surgem as desigualdades, jamais impor um estilo
(D) princípio da legalidade; de vida.
(E) princípio da impessoalidade. De acordo com o glossário proveniente desses estudos, se a
pessoa se identifica com o gênero feminino apesar de ter sido biolo-
gicamente designada ao nascer como pertencente ao sexo masculi-
16. (CFP - Especialista em Psicologia – Social – QUADRIX/2020) no, e sente atração sexual e afetiva por pessoas do gênero feminino,
O jornal Folha de São Paulo do dia 29/12/2019 entrevistou Guilher- ela é denominada:
me Terreri, que se apresenta como a drag queen Rita Von Hunty. (A) mulher trans homossexual;
Segundo a matéria, Guilherme está mais para a turma queer, “uma (B) homem trans homossexual;
galera que entendeu que o gênero é uma construção social”, afirma (C) homem trans heterossexual;
o entrevistado. A temática LGBT, questão atualmente muito estuda- (D) agênero pansexual;
da pela psicologia social, enfrenta uma de suas últimas barreiras de (E) não binário heterossexual.
inclusão, representada pelo T da sigla. Alguns consideram que a si-
gla deveria ser LGBTQI+, representando, além das lésbicas, dos gays 19. (TJ/AP - Estagiário - Nível Superior – TJ/AP/2019) “A sessão
e dos bissexuais, os transexuais, travestis e transgêneros, os queers desta quinta foi iniciada com a votação da ministra Cármen Lúcia.
e os intersexuais; o + incluiria a assexualidade e a pansexualidade, Ao apresentar o voto, afirmou que o STF deve proteger o direito
resumindo uma sigla com doze possibilidades de expressão de gê- do ser humano à convivência pacífica. Também destacou que ‘todo
nero e sexualidade. Considerando os estudos psicossociais sobre preconceito é violência e causa de sofrimento’” (Revista Veja on
esse fenômeno, assinale a alternativa correta. line, 13 jun. 2019). Nessa sessão, ocorrida no dia 13/6/2019, o Ple-
(A) O movimento LGBT ganhou expressão a partir de lutas con- nário do Supremo Tribunal Federal concluiu o julgamento da Ação
tra a discriminação e o preconceito e suas conquistas permiti- Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) 26 e do Man-
ram uma maior expressão da diversidade sexual humana, fa- dado de Injunção (MI) 4733, entendendo que houve omissão in-
zendo valer a expressão do entrevistado de que gênero é uma constitucional do Congresso Nacional e que, até que seja editada
construção social, mas há muito a ser conquistado e essa é uma lei específica, devem ser consideradas criminosas as condutas de:
batalha que está no seu início. (A) racismo e homofobia.
(B) Os estudos psicossociais não são conclusivos e não há com- (B) racismo e intolerância religiosa.
provação científica para a expressão LGBTQI+, que representa (C) homofobia e transfobia.
apenas interesses dos militantes mais radicais desse campo. (D) nenhuma das anteriores.
(C) Os transexuais, travestis e transgêneros não podem ser in-
cluídos na temática homoafetiva, por corresponderem apenas
a uma expressão de cunho comportamental.

294
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
20. (Prefeitura de Cerquilho/SP - Auxiliar de Escritório – VU- (E) A Convenção nada prevê sobre a obrigação dos Estados sig-
NESP/2019) Em 13 de junho, com a decisão de enquadrar a homo- natários de reparar danos provocados por atos de tortura.
fobia e a transfobia no racismo, o Brasil se tornou o 43º país a cri-
minalizar as práticas. (G1-Globo – https://glo.bo/2ZDZ8Es – Acesso 23. (ANM - Técnico em Segurança de Barragens – CESPE/CE-
em 15.06.2019. Adaptado) BRASPE/2021) No que diz respeito aos direitos e às garantias fun-
A decisão foi tomada damentais, bem como aos direitos do servidor público, assegurados
(A) pela Câmara dos Deputados. na Constituição Federal de 1988, julgue o item a seguir.
(B) pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
(C) pelo Senado Federal. As práticas de tortura e de racismo são consideradas crimes
(D) pelo Supremo Tribunal Federal (STF). inafiançáveis, porém, entre esses dois, apenas o crime de tortura
(E) pelo Congresso Nacional. deve ser considerado, pela lei, insuscetível de graça ou de anistia.
(....) CERTO
21. (Câmara de Petrolina/PE - Agente Administrativo – (....) ERRADO
IDIB/2019) Várias são as nuances da criminalidade e suas manifes-
tações se diferenciam a depender das regiões do país e dos esta- 24. (PRF - Policial Rodoviário Federal – CESPE/CEBRASPE/2021)
dos. É imprescindível salientar a seriedade da violência doméstica A respeito da identificação criminal, do crime de tortura, do abuso
e da violência de gênero contra as mulheres, assim como de crimes de direito, da prevenção do uso indevido de drogas, da comerciali-
como o racismo e a homofobia. Esses crimes são menos conheci- zação de armas de fogo e dos crimes hediondos, julgue o item que
dos, publicamente, porque: se segue.
(A) Algumas manifestações de afeto são compreendidas como Praticam o crime de tortura policiais rodoviários federais que,
assédio. dentro de um posto policial, submetem o autor de crime a sofri-
(B) São menos delatados e oficialmente registrados. mento físico, independentemente de sua intensidade.
(C) A homossexualidade é elencada como doença no CID - Có- (....) CERTO
digo Internacional de Doenças. (....) ERRADO
(D) Os órgãos oficiais manipulam quais dados devem ser divul-
gados. 25. (Prefeitura de Cariacica/ES – Guarda Municipal – IBA-
DE/2020) Sobre “Garantias Judiciais”, a Convenção Americana de
22. (PC/PA - Delegado de Polícia Civil - INSTITUTO AOCP/2021) Direitos Humanos (“Pacto de San José da Costa Rica”), prevê que
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) prevê, em seu toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua
art. 5º, que “Ninguém será submetido a tortura, nem a tratamento inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa. Duran-
ou castigo cruel, desumano ou degradante”. Da mesma forma, o te o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, de:
art. 5º, III, da Constituição Federal Brasileira (1988) reitera o referi- (A) ser torturada.
(B) ficar por pelo menos 5 (cinco) dias incomunicável.
do texto. Com o Decreto nº 40, de 15 de fevereiro de 1991, o Brasil
(C) confessar o crime, mesmo que seja coagida a fazê-lo.
internalizou a Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou
(D) não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a declarar-
Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes adotada em 1984 pela
-se culpada.
ONU em Assembleia Geral. Acerca da referida Convenção, assinale
(E) não ser assistido por um defensor, ainda que deseje o au-
a alternativa correta.
xílio de um.
(A) A Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Pe-
nas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (1984) não pode servir
26. (DPE/SP – Defensor Público – FCC/2019) Com relação às
de base legal à extradição de acusado de crime de tortura se
garantias penais e processuais penais no âmbito do Sistema Intera-
não houver entre os Estados envolvidos tratado de extradição mericano de Direitos Humanos, é correto afirmar:
prevendo, dentre as hipóteses extraditáveis, o crime de tortu- (A) O direito de recorrer de sentença criminal a juiz ou tribunal
ra. superior tem como exceção os casos de competência originária
(B) Entende o Supremo Tribunal Federal que o sistema peni- da Suprema Corte de um Estado, pela impossibilidade prática
tenciário brasileiro se encontra em um “estado de coisas in- inerente.
constitucional” que desrespeita a Convenção Contra a Tortura (B) Toda prisão, salvo aquela decorrente de ordem judicial pré-
e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degra- via, enseja o direito da pessoa a ela submetida a ser conduzida,
dantes (1984). sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade auto-
(C) A Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Pe- rizada por lei a exercer funções judiciais.
nas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (1984), em razão do (C) De acordo com o texto da Convenção Americana de Direitos
seu status constitucional de tratado de direitos humanos, al- Humanos, toda pessoa acusada de um delito tem direito a que
cança anistias anteriormente à sua vigência consumadas, de se presuma sua inocência até o trânsito em julgado da senten-
forma que a Lei nº 6.683/79 – Lei da Anistia – deixou de vigorar ça penal condenatória.
no Brasil a partir da internalização da Convenção ao ordena- (D) O direito à proteção judicial previsto na Convenção Ameri-
mento jurídico brasileiro em 1991. cana de Direitos Humanos engloba a proteção contra violação
(D) Segundo o entendimento pacífico do Supremo Tribunal Fe- de direitos previstos na Constituição e na lei, além da própria
deral, o crime de tortura praticado pelo policial militar que, a Convenção.
pretexto de exercer atividade de repressão criminal em nome (E) O Estado ocupa a posição de garantidor dos direitos huma-
do Estado, inflige, mediante desempenho funcional abusivo, nos de todas as pessoas privadas de liberdade, salvo daquelas
danos físicos à pessoa eventualmente sujeita ao seu poder de em prisão administrativa decorrente de serviço militar.
coerção, valendo-se desse meio executivo para intimidá-lo e
coagi-lo à confissão de determinado delito, fica sujeito a julga-
mento de competência da Justiça Militar do Estado-membro.

295
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
27. (SBMG/PR – Auxiliar Administrativo – FAUEL/2019) Quando 31. (Prefeitura de Barra dos Coqueiros/SE – Educador Social -
analisamos os Direitos e Garantias Fundamentais, encontramos al- CESPE / CEBRASPE/2020) No texto introdutório da Política Nacional
guns ligados a liberdade e a igualdade, e que estão positivados no para a Inclusão Social da População em Situação de Rua, apresenta-
plano internacional. Estes tipos de direitos são conhecidos como: da à sociedade brasileira pelo governo federal em 2008, são men-
(A) Direitos Humanos. cionados alguns fatores que motivam a existência de pessoas em
(B) Direitos Administrativos. situação de rua. Entre os fatores chamados estruturais incluem-se
(C) Direitos Organizacionais. (A) ausência de moradia e inexistência de trabalho e renda.
(D) Direitos Corporativos. (B) ausência de moradia e rompimento dos vínculos familiares.
(E) Direitos Empresariais. (C) alcoolismo e mudanças econômicas e institucionais de forte
impacto social.
28. (Prefeitura de Jacutinga/MG – Guarda Municipal – (D) drogadição e perda dos bens.
IBGP/2019) De acordo com a Convenção Americana de Direitos Hu- (E) enchentes, incêndios e inexistência de trabalho e renda.
manos (“Pacto de San José da Costa Rica”), é CORRETO afirmar que:
(A) Em alguns casos é permitida a pena de morte ser aplicada
a delitos políticos e a delitos comuns, desde que conexos com GABARITO
delitos políticos.
(B) Toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade
física, psíquica e moral.
(C) As torturas e as penas cruéis, podem ser liberadas por au- 1 B
toridades judiciárias.
(D) Os processados não precisam ficar separados dos condena- 2 C
dos, mas devem ser submetidos a tratamento adequado à sua 3 A
condição de pessoas não condenadas.
4 B
29. (Prefeitura de Barra dos Coqueiros/SE – Educador Social - 5 C
CESPE / CEBRASPE/2020) Entre os princípios da Política Nacional 6 D
para a População em Situação de Rua e seu Comitê Intersetorial de
Acompanhamento e Monitoramento, instituídos pelo Decreto n.º 7 D
7.053/2009, estão incluídos 8 ERRADO
(A) o direito à convivência familiar e comunitária bem como a 9 B
garantia de formação e capacitação permanente da população
de rua. 10 C
(B) a liberdade de pensamento e o pluralismo de ideias. 11 E
(C) a valorização e o respeito à vida e à cidadania bem como o
12 E
respeito à dignidade da pessoa humana.
(D) o atendimento humanizado e universalizado e a moradia 13 E
provisória. 14 C
(E) o direito a habilitação e reabilitação e a reestruturação de
serviços de acolhimento. 15 C
16 A
30. (AVAREPREV/SP – Assistente Social – VUNESP/2020) A po- 17 A
pulação em situação de rua não é um segmento homogêneo na me-
dida em que, cada vez mais, a rua é ocupada por indivíduos diversos 18 A
e que trazem consigo histórias múltiplas e diferentes formas de vi- 19 C
ver. De outra parte, a rua tem seu ritmo, sua constituição cultural,
20 D
contextual e política e os processos envolvidos nessa situação são
complexos e dinâmicos. A preocupação com o enfrentamento da 21 B
problemática que afeta a população em situação de rua está pre- 22 B
sente nas várias políticas públicas brasileiras, prevendo a constru-
ção de ações intersetoriais, acesso pleno aos direitos e a integra- 23 CERTO
lidade no atendimento a esse segmento populacional. Trata-se de 24 ERRADO
uma lógica de intervenção social, que compreende os sujeitos 25 D
(A) como necessitados.
(B) na condição de apartados. 26 D
(C) como dependentes. 27 A
(D) na sua totalidade.
28 B
(E) potencialmente engajados.
29 C
30 D
31 A

296
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR /
PROCESSO PENAL MILITAR

Lugar do crime
APLICAÇÃO E ESPECIFICIDADES DA LEI PENAL MILITAR Art. 6º Considera-se praticado o fato, no lugar em que se de-
senvolveu a atividade criminosa, no todo ou em parte, e ainda que
sob forma de participação, bem como onde se produziu ou deveria
DECRETO-LEI Nº 1.001, DE 21 DE OUTUBRO DE 1969. produzir-se o resultado. Nos crimes omissivos, o fato considera-se
praticado no lugar em que deveria realizar-se a ação omitida.
Código Penal Militar
Territorialidade, Extraterritorialidade
Os Ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáu- Art. 7º Aplica-se a lei penal militar, sem prejuízo de convenções,
tica Militar, usando das atribuições que lhes confere o art. 3º do Ato tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido, no
Institucional nº 16, de 14 de outubro de 1969, combinado com o § todo ou em parte no território nacional, ou fora dele, ainda que,
1° do art. 2°, do Ato Institucional n° 5, de 13 de dezembro de 1968, neste caso, o agente esteja sendo processado ou tenha sido julgado
decretam: pela justiça estrangeira.
CÓDIGO PENAL MILITAR
Território nacional por extensão
PARTE GERAL
§ 1° Para os efeitos da lei penal militar consideram-se como
LIVRO ÚNICO
extensão do território nacional as aeronaves e os navios brasileiros,
TÍTULO I onde quer que se encontrem, sob comando militar ou militarmente
DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR utilizados ou ocupados por ordem legal de autoridade competente,
ainda que de propriedade privada.
Princípio de legalidade
Art. 1º Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena Ampliação a aeronaves ou navios estrangeiros
sem prévia cominação legal. § 2º É também aplicável a lei penal militar ao crime praticado
a bordo de aeronaves ou navios estrangeiros, desde que em lugar
Lei supressiva de incriminação sujeito à administração militar, e o crime atente contra as institui-
Art. 2° Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior dei- ções militares.
xa de considerar crime, cessando, em virtude dela, a própria vigên-
cia de sentença condenatória irrecorrível, salvo quanto aos efeitos Conceito de navio
de natureza civil. § 3º Para efeito da aplicação deste Código, considera-se navio
toda embarcação sob comando militar.
Retroatividade de lei mais benigna
§ 1º A lei posterior que, de qualquer outro modo, favorece o Pena cumprida no estrangeiro
agente, aplica-se retroativamente, ainda quando já tenha sobrevin- Art. 8° A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta
do sentença condenatória irrecorrível. no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computa-
da, quando idênticas.
Apuração da maior benignidade
§ 2° Para se reconhecer qual a mais favorável, a lei posterior e Crimes militares em tempo de paz
a anterior devem ser consideradas separadamente, cada qual no Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
conjunto de suas normas aplicáveis ao fato. I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de
modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer
Medidas de segurança que seja o agente, salvo disposição especial;
Art. 3º As medidas de segurança regem-se pela lei vigente ao
II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legisla-
tempo da sentença, prevalecendo, entretanto, se diversa, a lei vi-
ção penal, quando praticados: (Redação dada pela Lei nº 13.491,
gente ao tempo da execução.
de 2017)
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra
Lei excepcional ou temporária
Art. 4º A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o militar na mesma situação ou assemelhado;
período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a deter- b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em
minaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou
reformado, ou assemelhado, ou civil;
Tempo do crime c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em
Art. 5º Considera-se praticado o crime no momento da ação ou comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do
omissão, ainda que outro seja o do resultado. lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou
reformado, ou civil;(Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996)

297
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, con- b) em qualquer lugar, se comprometem ou podem comprome-
tra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; ter a preparação, a eficiência ou as operações militares ou, de qual-
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, con- quer outra forma, atentam contra a segurança externa do País ou
tra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem adminis- podem expô-la a perigo;
trativa militar; IV - os crimes definidos na lei penal comum ou especial, embo-
f) revogada. (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996) ra não previstos neste Código, quando praticados em zona de efeti-
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, vas operações militares ou em território estrangeiro, militarmente
ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como ocupado.
tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos
seguintes casos: Militares estrangeiros
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a Art. 11. Os militares estrangeiros, quando em comissão ou es-
ordem administrativa militar; tágio nas fôrças armadas, ficam sujeitos à lei penal militar brasileira,
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em ressalvado o disposto em tratados ou convenções internacionais.
situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Mi-
nistério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente Equiparação a militar da ativa
ao seu cargo; Art. 12. O militar da reserva ou reformado, empregado na ad-
c) contra militar em formatura, ou durante o período de pron- ministração militar, equipara-se ao militar em situação de atividade,
tidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, para o efeito da aplicação da lei penal militar.
acantonamento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, con- Militar da reserva ou reformado
tra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de Art. 13. O militar da reserva, ou reformado, conserva as respon-
serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, sabilidades e prerrogativas do posto ou graduação, para o efeito da
administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aplicação da lei penal militar, quando pratica ou contra ele é prati-
aquele fim, ou em obediência a determinação legal superior. cado crime militar.
§ 1o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra
a vida e cometidos por militares contra civil, serão da competência Defeito de incorporação
do Tribunal do Júri.(Redação dada pela Lei nº 13.491, de 2017) Art. 14. O defeito do ato de incorporação não exclui a aplicação
§ 2o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra da lei penal militar, salvo se alegado ou conhecido antes da prática
a vida e cometidos por militares das Forças Armadas contra civil, do crime.
serão da competência da Justiça Militar da União, se praticados no
contexto:(Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017) Tempo de guerra
I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabele- Art. 15. O tempo de guerra, para os efeitos da aplicação da lei
cidas pelo Presidente da República ou pelo Ministro de Estado da penal militar, começa com a declaração ou o reconhecimento do
Defesa;(Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017) estado de guerra, ou com o decreto de mobilização se nele estiver
II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou compreendido aquele reconhecimento; e termina quando ordena-
de missão militar, mesmo que não beligerante; ou(Incluído pela Lei da a cessação das hostilidades.
nº 13.491, de 2017)
III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de Contagem de prazo
garantia da lei e da ordem ou de atribuição subsidiária, realizadas Art. 16. No cômputo dos prazos inclui-se o dia do começo. Con-
em conformidade com o disposto no art. 142 da Constituição Fede- tam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum.
ral e na forma dos seguintes diplomas legais:(Incluído pela Lei nº
13.491, de 2017) Legislação especial. Salário-mínimo
a) Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro Art. 17. As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incri-
de Aeronáutica;(Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017) minados por lei penal militar especial, se esta não dispõe de modo
b) Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999;(Incluída diverso. Para os efeitos penais, salário mínimo é o maior mensal
pela Lei nº 13.491, de 2017) vigente no país, ao tempo da sentença.
c) Decreto-Lei no 1.002, de 21 de outubro de 1969 - Código de
Processo Penal Militar; e(Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017) Crimes praticados em prejuízo de país aliado
d) Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral.(Inclu- Art. 18. Ficam sujeitos às disposições deste Código os crimes
ída pela Lei nº 13.491, de 2017) praticados em prejuízo de país em guerra contra país inimigo do
Brasil:
Crimes militares em tempo de guerra I - se o crime é praticado por brasileiro;
Art. 10. Consideram-se crimes militares, em tempo de guerra: II - se o crime é praticado no território nacional, ou em territó-
I - os especialmente previstos neste Código para o tempo de rio estrangeiro, militarmente ocupado por fôrça brasileira, qualquer
guerra; que seja o agente.
II - os crimes militares previstos para o tempo de paz;
III - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam Infrações disciplinares
com igual definição na lei penal comum ou especial, quando prati- Art. 19. Este Código não compreende as infrações dos regula-
cados, qualquer que seja o agente: mentos disciplinares.
a) em território nacional, ou estrangeiro, militarmente ocupa-
do; Crimes praticados em tempo de guerra
Art. 20. Aos crimes praticados em tempo de guerra, salvo dis-
posição especial, aplicam-se as penas cominadas para o tempo de
paz, com o aumento de um terço.

298
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
Assemelhado § 2º A omissão é relevante como causa quando o omitente de-
Art. 21. Considera-se assemelhado o servidor, efetivo ou não, via e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a
dos Ministérios da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, sub- quem tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; a
metido a preceito de disciplina militar, em virtude de lei ou regu- quem, de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o re-
lamento. sultado; e a quem, com seu comportamento anterior, criou o risco
de sua superveniência.
Pessoa considerada militar Art. 30. Diz-se o crime:
Art. 22. É considerada militar, para efeito da aplicação deste
Código, qualquer pessoa que, em tempo de paz ou de guerra, seja Crime consumado
incorporada às fôrças armadas, para nelas servir em posto, gradua- I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de
ção, ou sujeição à disciplina militar. sua definição legal;

Equiparação a comandante Tentativa


Art. 23. Equipara-se ao comandante, para o efeito da aplicação II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por
da lei penal militar, toda autoridade com função de direção. circunstâncias alheias à vontade do agente.

Conceito de superior Pena de tentativa


Art. 24. O militar que, em virtude da função, exerce autorida- Parágrafo único. Pune-se a tentativa com a pena corresponden-
de sobre outro de igual posto ou graduação, considera-se superior, te ao crime, diminuída de um a dois terços, podendo o juiz, no caso
para efeito da aplicação da lei penal militar. de excepcional gravidade, aplicar a pena do crime consumado.

Crime praticado em presença do inimigo Desistência voluntária e arrependimento eficaz


Art. 25. Diz-se crime praticado em presença do inimigo, quando Art. 31. O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir
o fato ocorre em zona de efetivas operações militares, ou na imi- na execução ou impede que o resultado se produza, só responde
nência ou em situação de hostilidade. pelos atos já praticados.

Referência a “brasileiro” ou “nacional” Crime impossível


Art. 26. Quando a lei penal militar se refere a “brasileiro” ou Art. 32. Quando, por ineficácia absoluta do meio empregado
“nacional”, compreende as pessoas enumeradas como brasileiros ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-
na Constituição do Brasil. -se o crime, nenhuma pena é aplicável.
Art. 33. Diz-se o crime:
Estrangeiros
Parágrafo único. Para os efeitos da lei penal militar, são consi- Culpabilidade
derados estrangeiros os apátridas e os brasileiros que perderam a I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco
nacionalidade. de produzi-lo;
II - culposo, quando o agente, deixando de empregar a cautela,
Os que se compreendem, como funcionários da Justiça Militar atenção, ou diligência ordinária, ou especial, a que estava obrigado
Art. 27. Quando êste Código se refere a funcionários, compre- em face das circunstâncias, não prevê o resultado que podia prever
ende, para efeito da sua aplicação, os juízes, os representantes do ou, prevendo-o, supõe levianamente que não se realizaria ou que
Ministério Público, os funcionários e auxiliares da Justiça Militar. poderia evitá-lo.

Casos de prevalência do Código Penal Militar Excepcionalidade do crime culposo


Art. 28. Os crimes contra a segurança externa do país ou con- Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode
tra as instituições militares, definidos neste Código, excluem os da ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica
mesma natureza definidos em outras leis. dolosamente.

Nenhuma pena sem culpabilidade


CRIME Art. 34. Pelos resultados que agravam especialmente as penas
só responde o agente quando os houver causado, pelo menos, cul-
TÍTULO II posamente.
DO CRIME
Erro de direito
Relação de causalidade Art. 35. A pena pode ser atenuada ou substituída por outra
Art. 29. O resultado de que depende a existência do crime menos grave quando o agente, salvo em se tratando de crime que
somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a atente contra o dever militar, supõe lícito o fato, por ignorância ou
ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. erro de interpretação da lei, se escusáveis.
§ 1º A superveniência de causa relativamente independente
exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado. Os fatos Erro de fato
anteriores, imputam-se, entretanto, a quem os praticou. Art. 36. É isento de pena quem, ao praticar o crime, supõe, por
erro plenamente escusável, a inexistência de circunstância de fato
que o constitui ou a existência de situação de fato que tornaria a
ação legítima.

299
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
Erro culposo III - em estrito cumprimento do dever legal;
§ 1º Se o erro deriva de culpa, a este título responde o agente, IV - em exercício regular de direito.
se o fato é punível como crime culposo. Parágrafo único. Não há igualmente crime quando o coman-
dante de navio, aeronave ou praça de guerra, na iminência de peri-
Erro provocado go ou grave calamidade, compele os subalternos, por meios violen-
§ 2º Se o erro é provocado por terceiro, responderá este pelo tos, a executar serviços e manobras urgentes, para salvar a unidade
crime, a título de dolo ou culpa, conforme o caso. ou vidas, ou evitar o desânimo, o terror, a desordem, a rendição, a
revolta ou o saque.
Erro sobre a pessoa
Art. 37. Quando o agente, por erro de percepção ou no uso Estado de necessidade, como excludente do crime
dos meios de execução, ou outro acidente, atinge uma pessoa em Art. 43. Considera-se em estado de necessidade quem pratica
vez de outra, responde como se tivesse praticado o crime contra o fato para preservar direito seu ou alheio, de perigo certo e atual,
aquela que realmente pretendia atingir. Devem ter-se em conta não que não provocou, nem podia de outro modo evitar, desde que o
as condições e qualidades da vítima, mas as da outra pessoa, para mal causado, por sua natureza e importância, é consideravelmente
configuração, qualificação ou exclusão do crime, e agravação ou inferior ao mal evitado, e o agente não era legalmente obrigado a
atenuação da pena. arrostar o perigo.

Erro quanto ao bem jurídico Legítima defesa


§ 1º Se, por erro ou outro acidente na execução, é atingido bem Art. 44. Entende-se em legítima defesa quem, usando modera-
jurídico diverso do visado pelo agente, responde este por culpa, se damente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou
o fato é previsto como crime culposo. iminente, a direito seu ou de outrem.

Duplicidade do resultado Excesso culposo


§ 2º Se, no caso do artigo, é também atingida a pessoa visada, Art. 45. O agente que, em qualquer dos casos de exclusão de
ou, no caso do parágrafo anterior, ocorre ainda o resultado preten- crime, excede culposamente os limites da necessidade, responde
dido, aplica-se a regra do art. 79. pelo fato, se este é punível, a título de culpa.
Art. 38. Não é culpado quem comete o crime:
Excesso escusável
Coação irresistível Parágrafo único. Não é punível o excesso quando resulta de
a) sob coação irresistível ou que lhe suprima a faculdade de agir escusável surpresa ou perturbação de ânimo, em face da situação.
segundo a própria vontade;
Excesso doloso
Obediência hierárquica Art. 46. O juiz pode atenuar a pena ainda quando punível o fato
b) em estrita obediência a ordem direta de superior hierárqui- por excesso doloso.
co, em matéria de serviços.
§ 1° Responde pelo crime o autor da coação ou da ordem. Elementos não constitutivos do crime
§ 2° Se a ordem do superior tem por objeto a prática de ato Art. 47. Deixam de ser elementos constitutivos do crime:
manifestamente criminoso, ou há excesso nos atos ou na forma da I - a qualidade de superior ou a de inferior, quando não conhe-
execução, é punível também o inferior. cida do agente;
II - a qualidade de superior ou a de inferior, a de oficial de dia,
Estado de necessidade, com excludente de culpabilidade de serviço ou de quarto, ou a de sentinela, vigia, ou plantão, quan-
Art. 39. Não é igualmente culpado quem, para proteger direito do a ação é praticada em repulsa a agressão.
próprio ou de pessoa a quem está ligado por estreitas relações de
parentesco ou afeição, contra perigo certo e atual, que não provo-
cou, nem podia de outro modo evitar, sacrifica direito alheio, ainda
quando superior ao direito protegido, desde que não lhe era razoa- IMPUTABILIDADE PENAL
velmente exigível conduta diversa.

Coação física ou material TÍTULO III


Art. 40. Nos crimes em que há violação do dever militar, o agen- DA IMPUTABILIDADE PENAL
te não pode invocar coação irresistível senão quando física ou ma-
terial. Inimputáveis
Art. 48. Não é imputável quem, no momento da ação ou da
Atenuação de pena omissão, não possui a capacidade de entender o caráter ilícito do
Art. 41. Nos casos do art. 38, letras a e b , se era possível resistir fato ou de determinar-se de acôrdo com êsse entendimento, em
à coação, ou se a ordem não era manifestamente ilegal; ou, no caso virtude de doença mental, de desenvolvimento mental incompleto
do art. 39, se era razoavelmente exigível o sacrifício do direito ame- ou retardado.
açado, o juiz, tendo em vista as condições pessoais do réu, pode
atenuar a pena. Redução facultativa da pena
Parágrafo único. Se a doença ou a deficiência mental não supri-
Exclusão de crime me, mas diminui consideràvelmente a capacidade de entendimento
Art. 42. Não há crime quando o agente pratica o fato: da ilicitude do fato ou a de autodeterminação, não fica excluída a
I - em estado de necessidade; imputabilidade, mas a pena pode ser atenuada, sem prejuízo do
II - em legítima defesa; disposto no art. 113.

300
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
Embriaguez Atenuação de pena
Art. 49. Não é igualmente imputável o agente que, por embria- § 3º A pena é atenuada com relação ao agente, cuja participa-
guez completa proveniente de caso fortuito ou fôrça maior, era, ao ção no crime é de somenos importância.
tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o
caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acordo com esse Cabeças
entendimento. § 4º Na prática de crime de autoria coletiva necessária, repu-
Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um a dois terços, tam-se cabeças os que dirigem, provocam, instigam ou excitam a
se o agente por embriaguez proveniente de caso fortuito ou fôrça ação.
maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capa- § 5º Quando o crime é cometido por inferiores e um ou mais
cidade de entender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se oficiais, são estes considerados cabeças, assim como os inferiores
de acordo com esse entendimento. que exercem função de oficial.

Menores Casos de impunibilidade


Art. 50. O menor de dezoito anos é inimputável, salvo se, já Art. 54. O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo
tendo completado dezesseis anos, revela suficiente desenvolvimen- disposição em contrário, não são puníveis se o crime não chega,
to psíquico para entender o caráter ilícito do fato e determinar-se pelo menos, a ser tentado.
de acordo com este entendimento. Neste caso, a pena aplicável é
diminuída de um terço até a metade.
PENAS: APLICAÇÃO DA PENA; SUSPENSÃO CONDICIO-
Equiparação a maiores NAL DA PENA; LIVRAMENTO CONDICIONAL; PENAS
Art. 51. Equiparam-se aos maiores de dezoito anos, ainda que ACESSÓRIAS; EFEITOS DA CONDENAÇÃO
não tenham atingido essa idade:
a) os militares;
b) os convocados, os que se apresentam à incorporação e os TÍTULO V
que, dispensados temporariamente desta, deixam de se apresentar, DAS PENAS
decorrido o prazo de licenciamento; CAPÍTULO I
c) os alunos de colégios ou outros estabelecimentos de ensi- DAS PENAS PRINCIPAIS
no, sob direção e disciplina militares, que já tenham completado
dezessete anos. Penas principais
Art. 52. Os menores de dezesseis anos, bem como os menores Art. 55. As penas principais são:
de dezoito e maiores de dezesseis inimputáveis, ficam sujeitos às a) morte;
medidas educativas, curativas ou disciplinares determinadas em le- b) reclusão;
gislação especial. c) detenção;
d) prisão;
e) impedimento;
CONCURSO DE AGENTES f) suspensão do exercício do pôsto, graduação, cargo ou fun-
ção;
TÍTULO IV g) reforma.
DO CONCURSO DE AGENTES
Pena de morte
Co-autoria Art. 56. A pena de morte é executada por fuzilamento.
Art. 53. Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide
nas penas a este cominadas. Comunicação
Art. 57. A sentença definitiva de condenação à morte é comuni-
Condições ou circunstâncias pessoais cada, logo que passe em julgado, ao Presidente da República, e não
§ 1º A punibilidade de qualquer dos concorrentes é indepen- pode ser executada senão depois de sete dias após a comunicação.
dente da dos outros, determinando-se segundo a sua própria cul- Parágrafo único. Se a pena é imposta em zona de operações
pabilidade. Não se comunicam, outrossim, as condições ou circuns- de guerra, pode ser imediatamente executada, quando o exigir o
tâncias de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. interêsse da ordem e da disciplina militares.

Agravação de pena Mínimos e máximos genéricos


§ 2° A pena é agravada em relação ao agente que: Art. 58. O mínimo da pena de reclusão é de um ano, e o máxi-
I - promove ou organiza a cooperação no crime ou dirige a ati- mo de trinta anos; o mínimo da pena de detenção é de trinta dias,
vidade dos demais agentes; e o máximo de dez anos.
II - coage outrem à execução material do crime;
III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à Pena até dois anos imposta a militar
sua autoridade, ou não punível em virtude de condição ou quali- Art. 59 - A pena de reclusão ou de detenção até 2 (dois) anos,
dade pessoal; aplicada a militar, é convertida em pena de prisão e cumprida,
IV - executa o crime, ou nêle participa, mediante paga ou pro- quando não cabível a suspensão condicional:(Redação dada pela
messa de recompensa. Lei nº 6.544, de 30.6.1978)
I - pelo oficial, em recinto de estabelecimento militar;
II - pela praça, em estabelecimento penal militar, onde ficará
separada de presos que estejam cumprindo pena disciplinar ou
pena privativa de liberdade por tempo superior a dois anos.

301
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
Separação de praças especiais e graduadas Superveniência de doença mental
Parágrafo único. Para efeito de separação, no cumprimento da Art. 66. O condenado a que sobrevenha doença mental deve
pena de prisão, atender-se-á, também, à condição das praças espe- ser recolhido a manicômio judiciário ou, na falta dêste, a outro es-
ciais e à das graduadas, ou não; e, dentre as graduadas, à das que tabelecimento adequado, onde lhe seja assegurada custódia e tra-
tenham graduação especial. tamento.

Pena do assemelhado Tempo computável


Art. 60. O assemelhado cumpre a pena conforme o pôsto ou Art. 67. Computam-se na pena privativa de liberdade o tempo
graduação que lhe é correspondente. de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, e o de internação
em hospital ou manicômio, bem como o excesso de tempo, reco-
Pena dos não assemelhados nhecido em decisão judicial irrecorrível, no cumprimento da pena,
Parágrafo único. Para os não assemelhados dos Ministérios Mi- por outro crime, desde que a decisão seja posterior ao crime de
litares e órgãos sob contrôle dêstes, regula-se a correspondência que se trata.
pelo padrão de remuneração.
Transferência de condenados
Pena superior a dois anos, imposta a militar Art. 68. O condenado pela Justiça Militar de uma região, distri-
Art. 61 - A pena privativa da liberdade por mais de 2 (dois) to ou zona pode cumprir pena em estabelecimento de outra região,
anos, aplicada a militar, é cumprida em penitenciária militar e, na distrito ou zona.
falta dessa, em estabelecimento prisional civil, ficando o recluso
ou detento sujeito ao regime conforme a legislação penal comum, CAPÍTULO II
de cujos benefícios e concessões, também, poderá gozar. (Redação DA APLICAÇÃO DA PENA
dada pela Lei nº 6.544, de 30.6.1978)
Fixação da pena privativa de liberdade
Pena privativa da liberdade imposta a civil Art. 69. Para fixação da pena privativa de liberdade, o juiz apre-
Art. 62 - O civil cumpre a pena aplicada pela Justiça Militar, cia a gravidade do crime praticado e a personalidade do réu, deven-
em estabelecimento prisional civil, ficando ele sujeito ao regime do ter em conta a intensidade do dolo ou grau da culpa, a maior ou
conforme a legislação penal comum, de cujos benefícios e conces- menor extensão do dano ou perigo de dano, os meios empregados,
sões, também, poderá gozar. (Redação dada pela Lei nº 6.544, de o modo de execução, os motivos determinantes, as circunstâncias
30.6.1978) de tempo e lugar, os antecedentes do réu e sua atitude de insensi-
Parágrafo único - Por crime militar praticado em tempo de bilidade, indiferença ou arrependimento após o crime.
guerra poderá o civil ficar sujeito a cumprir a pena, no todo ou em
parte em penitenciária militar, se, em benefício da segurança na- Determinação da pena
cional, assim o determinar a sentença. (Redação dada pela Lei nº § 1º Se são cominadas penas alternativas, o juiz deve determi-
6.544, de 30.6.1978) nar qual delas é aplicável.

Pena de impedimento Limites legais da pena


Art. 63. A pena de impedimento sujeita o condenado a perma- § 2º Salvo o disposto no art. 76, é fixada dentro dos limites
necer no recinto da unidade, sem prejuízo da instrução militar. legais a quantidade da pena aplicável.

Pena de suspensão do exercício do pôsto, graduação, cargo Circunstâncias agravantes


ou função Art. 70. São circunstâncias que sempre agravam a pena, quan-
Art. 64. A pena de suspensão do exercício do pôsto, graduação, do não integrantes ou qualificativas do crime:
cargo ou função consiste na agregação, no afastamento, no licencia- I - a reincidência;
mento ou na disponibilidade do condenado, pelo tempo fixado na II - ter o agente cometido o crime:
sentença, sem prejuízo do seu comparecimento regular à sede do a) por motivo fútil ou torpe;
serviço. Não será contado como tempo de serviço, para qualquer b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impuni-
efeito, o do cumprimento da pena. dade ou vantagem de outro crime;
c) depois de embriagar-se, salvo se a embriaguez decorre de
Caso de reserva, reforma ou aposentadoria caso fortuito, engano ou fôrça maior;
Parágrafo único. Se o condenado, quando proferida a sentença, d) à traição, de emboscada, com surprêsa, ou mediante outro
já estiver na reserva, ou reformado ou aposentado, a pena prevista recurso insidioso que dificultou ou tornou impossível a defesa da
neste artigo será convertida em pena de detenção, de três meses a vítima;
um ano. e) com o emprêgo de veneno, asfixia, tortura, fogo, explosivo,
ou qualquer outro meio dissimulado ou cruel, ou de que podia re-
Pena de reforma sultar perigo comum;
Art. 65. A pena de reforma sujeita o condenado à situação de f) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;
inatividade, não podendo perceber mais de um vinte e cinco avos g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo,
do sôldo, por ano de serviço, nem receber importância superior à ofício, ministério ou profissão;
do sôldo. h) contra criança, velho ou enfermo;
i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da auto-
ridade;
j) em ocasião de incêndio, naufrágio, encalhe, alagamento,
inundação, ou qualquer calamidade pública, ou de desgraça parti-
cular do ofendido;

302
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
l) estando de serviço; Majorantes e minorantes
m) com emprego de arma, material ou instrumento de serviço, Art. 76. Quando a lei prevê causas especiais de aumento ou
para esse fim procurado; diminuição da pena, não fica o juiz adstrito aos limites da pena co-
n) em auditório da Justiça Militar ou local onde tenha sede a minada ao crime, senão apenas aos da espécie de pena aplicável
sua administração; (art. 58).
o) em país estrangeiro. Parágrafo único. No concurso dessas causas especiais, pode o
Parágrafo único. As circunstâncias das letras c , salvo no caso juiz limitar-se a um só aumento ou a uma só diminuição, prevale-
de embriaguez preordenada, l , m e o , só agravam o crime quando cendo, todavia, a causa que mais aumente ou diminua.
praticado por militar.
Pena-base
Reincidência Art. 77. A pena que tenha de ser aumentada ou diminuída, de
Art. 71. Verifica-se a reincidência quando o agente comete quantidade fixa ou dentro de determinados limites, é a que o juiz
nôvo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no país aplicaria, se não existisse a circunstância ou causa que importa o
ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior. aumento ou diminuição.

Temporariedade da reincidência Criminoso habitual ou por tendência


§ 1º Não se toma em conta, para efeito da reincidência, a con- Art. 78. Em se tratando de criminoso habitual ou por tendência,
denação anterior, se, entre a data do cumprimento ou extinção da a pena a ser imposta será por tempo indeterminado. O juiz fixará a
pena e o crime posterior, decorreu período de tempo superior a pena correspondente à nova infração penal, que constituirá a du-
cinco anos. ração mínima da pena privativa da liberdade, não podendo ser, em
caso algum, inferior a três anos.
Crimes não considerados para efeito da reincidência
§ 2º Para efeito da reincidência, não se consideram os crimes Limite da pena indeterminada
anistiados. § 1º A duração da pena indeterminada não poderá exceder a
Art. 72. São circunstâncias que sempre atenuam a pena: dez anos, após o cumprimento da pena imposta.

Circunstância atenuantes Habitualidade presumida


I - ser o agente menor de vinte e um ou maior de setenta anos; § 2º Considera-se criminoso habitual aquele que:
II - ser meritório seu comportamento anterior; a) reincide pela segunda vez na prática de crime doloso da mes-
III - ter o agente: ma natureza, punível com pena privativa de liberdade em período
a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou de tempo não superior a cinco anos, descontado o que se refere a
moral; cumprimento de pena;
b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência,
logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou Habitualidade reconhecível pelo juiz
ter, antes do julgamento, reparado o dano; b) embora sem condenação anterior, comete sucessivamente,
c) cometido o crime sob a influência de violenta emoção, pro- em período de tempo não superior a cinco anos, quatro ou mais
vocada por ato injusto da vítima; crimes dolosos da mesma natureza, puníveis com pena privativa
d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a auto- de liberdade, e demonstra, pelas suas condições de vida e pelas
ria do crime, ignorada ou imputada a outrem; circunstâncias dos fatos apreciados em conjunto, acentuada incli-
e) sofrido tratamento com rigor não permitido em lei. Não nação para tais crimes.
atendimento de atenuantes
Criminoso por tendência
Parágrafo único. Nos crimes em que a pena máxima cominada
§ 3º Considera-se criminoso por tendência aquêle que comete
é de morte, ao juiz é facultado atender, ou não, às circunstâncias
homicídio, tentativa de homicídio ou lesão corporal grave, e, pelos
atenuantes enumeradas no artigo.
motivos determinantes e meios ou modo de execução, revela extra-
ordinária torpeza, perversão ou malvadez.
Quantum da agravação ou atenuação
Art. 73. Quando a lei determina a agravação ou atenuação da
Ressalva do art. 113
pena sem mencionar o quantum , deve o juiz fixá-lo entre um quin-
§ 4º Fica ressalvado, em qualquer caso, o disposto no art. 113.
to e um terço, guardados os limites da pena cominada ao crime.
Crimes da mesma natureza
Mais de uma agravante ou atenuante § 5º Consideram-se crimes da mesma natureza os previstos no
Art. 74. Quando ocorre mais de uma agravante ou mais de uma mesmo dispositivo legal, bem como os que, embora previstos em
atenuante, o juiz poderá limitar-se a uma só agravação ou a uma só dispositivos diversos, apresentam, pelos fatos que os constituem ou
atenuação. por seus motivos determinantes, caracteres fundamentais comuns.
Concurso de agravantes e atenuantes Concurso de crimes
Art. 75. No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve Art. 79. Quando o agente, mediante uma só ou mais de uma
aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderan- ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, as
tes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos deter- penas privativas de liberdade devem ser unificadas. Se as penas são
minantes do crime, da personalidade do agente, e da reincidência. da mesma espécie, a pena única é a soma de todas; se, de espécies
Se há equivalência entre umas e outras, é como se não tivessem diferentes, a pena única e a mais grave, mas com aumento corres-
ocorrido. pondente à metade do tempo das menos graves, ressalvado o dis-
posto no art. 58.

303
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
Crime continuado Revogação obrigatória da suspensão
Art. 80. Aplica-se a regra do artigo anterior, quando o agente, Art. 86. A suspensão é revogada se, no curso do prazo, o be-
mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais cri- neficiário:
mes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, manei- I - é condenado, por sentença irrecorrível, na Justiça Militar ou
ra de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser na comum, em razão de crime, ou de contravenção reveladora de
considerados como continuação do primeiro. má índole ou a que tenha sido imposta pena privativa de liberdade;
Parágrafo único. Não há crime continuado quando se trata de II - não efetua, sem motivo justificado, a reparação do dano;
fatos ofensivos de bens jurídicos inerentes à pessoa, salvo se as III - sendo militar, é punido por infração disciplinar considerada
ações ou omissões sucessivas são dirigidas contra a mesma vítima. grave.

Limite da pena unificada Revogação facultativa


Art. 81. A pena unificada não pode ultrapassar de trinta anos, § 1º A suspensão pode ser também revogada, se o condenado
se é de reclusão, ou de quinze anos, se é de detenção. deixa de cumprir qualquer das obrigações constantes da sentença.

Redução facultativa da pena Prorrogação de prazo


§ 1º A pena unificada pode ser diminuída de um sexto a um § 2º Quando facultativa a revogação, o juiz pode, ao invés de
quarto, no caso de unidade de ação ou omissão, ou de crime con- decretá-la, prorrogar o período de prova até o máximo, se oste não
tinuado. foi o fixado.
§ 3º Se o beneficiário está respondendo a processo que, no
Graduação no caso de pena de morte caso de condenação, pode acarretar a revogação, considera-se
§ 2° Quando cominada a pena de morte como grau máximo e prorrogado o prazo da suspensão até o julgamento definitivo.
a de reclusão como grau mínimo, aquela corresponde, para o efeito
de graduação, à de reclusão por trinta anos. Extinção da pena
Art. 87. Se o prazo expira sem que tenha sido revogada a sus-
Cálculo da pena aplicável à tentativa pensão, fica extinta a pena privativa de liberdade.
§ 3° Nos crimes punidos com a pena de morte, esta correspon-
de à de reclusão por trinta anos, para cálculo da pena aplicável à Não aplicação da suspensão condicional da pena
tentativa, salvo disposição especial. Art. 88. A suspensão condicional da pena não se aplica:
I - ao condenado por crime cometido em tempo de guerra;
Ressalva do art. 78, § 2º, letra b II - em tempo de paz:
Art. 82. Quando se apresenta o caso do art. 78, § 2º, letra b , a) por crime contra a segurança nacional, de aliciação e inci-
fica sem aplicação o disposto quanto ao concurso de crimes idênti- tamento, de violência contra superior, oficial de dia, de serviço ou
cos ou ao crime continuado. de quarto, sentinela, vigia ou plantão, de desrespeito a superior, de
insubordinação, ou de deserção;
Penas não privativas de liberdade b) pelos crimes previstos nos arts. 160, 161, 162, 235, 291 e seu
Art. 83. As penas não privativas de liberdade são aplicadas dis- parágrafo único, ns. I a IV.
tinta e integralmente, ainda que previstas para um só dos crimes
concorrentes. CAPÍTULO IV
DO LIVRAMENTO CONDICIONAL
CAPÍTULO III
DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA Requisitos
Art. 89. O condenado a pena de reclusão ou de detenção por
Pressupostos da suspensão tempo igual ou superior a dois anos pode ser liberado condicional-
Art. 84 - A execução da pena privativa da liberdade, não supe- mente, desde que:
rior a 2 (dois) anos, pode ser suspensa, por 2 (dois) anos a 6 (seis) I - tenha cumprido:
anos, desde que: (Redação dada pela Lei nº 6.544, de 30.6.1978) a) metade da pena, se primário;
I - o sentenciado não haja sofrido no País ou no estrangeiro, b) dois terços, se reincidente;
condenação irrecorrível por outro crime a pena privativa da liber- II - tenha reparado, salvo impossibilidade de fazê-lo, o dano
dade, salvo o disposto no 1º do art. 71; (Redação dada pela Lei nº causado pelo crime;
6.544, de 30.6.1978) III - sua boa conduta durante a execução da pena, sua adapta-
II - os seus antecedentes e personalidade, os motivos e as cir- ção ao trabalho e às circunstâncias atinentes a sua personalidade,
cunstâncias do crime, bem como sua conduta posterior, autorizem ao meio social e à sua vida pregressa permitem supor que não vol-
a presunção de que não tornará a delinquir. (Redação dada pela Lei tará a delinquir.
nº 6.544, de 30.6.1978)
Penas em concurso de infrações
Restrições § 1º No caso de condenação por infrações penais em concurso,
Parágrafo único. A suspensão não se estende às penas de re- deve ter-se em conta a pena unificada.
forma, suspensão do exercício do posto, graduação ou função ou
à pena acessória, nem exclui a aplicação de medida de segurança Condenação de menor de 21 ou maior de 70 anos
não detentiva. § 2º Se o condenado é primário e menor de vinte e um ou
maior de setenta anos, o tempo de cumprimento da pena pode ser
Condições reduzido a um terço.
Art. 85. A sentença deve especificar as condições a que fica su-
bordinada a suspensão.

304
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
Especificações das condições CAPÍTULO V
Art. 90. A sentença deve especificar as condições a que fica su- DAS PENAS ACESSÓRIAS
bordinado o livramento.
Penas Acessórias
Preliminares da concessão Art. 98. São penas acessórias:
Art. 91. O livramento somente se concede mediante parecer do I - a perda de pôsto e patente;
Conselho Penitenciário, ouvidos o diretor do estabelecimento em II - a indignidade para o oficialato;
que está ou tenha estado o liberando e o representante do Ministé- III - a incompatibilidade com o oficialato;
rio Público da Justiça Militar; e, se imposta medida de segurança de- IV - a exclusão das fôrças armadas;
tentiva, após perícia conclusiva da não periculosidade do liberando. V - a perda da função pública, ainda que eletiva;
VI - a inabilitação para o exercício de função pública;
Observação cautelar e proteção do liberado VII - a suspensão do pátrio poder, tutela ou curatela;
Art. 92. O liberado fica sob observação cautelar e proteção re- VIII - a suspensão dos direitos políticos.
alizadas por patronato oficial ou particular, dirigido aquêle e inspe-
cionado êste pelo Conselho Penitenciário. Na falta de patronato, o Função pública equiparada
liberado fica sob observação cautelar realizada por serviço social Parágrafo único. Equipara-se à função pública a que é exercida
penitenciário ou órgão similar. em emprêsa pública, autarquia, sociedade de economia mista, ou
sociedade de que participe a União, o Estado ou o Município como
Revogação obrigatória acionista majoritário.
Art. 93. Revoga-se o livramento, se o liberado vem a ser conde-
nado, em sentença irrecorrível, a penal privativa de liberdade: Perda de pôsto e patente
I - por infração penal cometida durante a vigência do benefício; Art. 99. A perda de pôsto e patente resulta da condenação a
II - por infração penal anterior, salvo se, tendo de ser unificadas pena privativa de liberdade por tempo superior a dois anos, e im-
as penas, não fica prejudicado o requisito do art. 89, nº I, letra a porta a perda das condecorações.

Revogação facultativa Indignidade para o oficialato


§ 1º O juiz pode, também, revogar o livramento se o liberado Art. 100. Fica sujeito à declaração de indignidade para o ofi-
deixa de cumprir qualquer das obrigações constantes da sentença cialato o militar condenado, qualquer que seja a pena, nos crimes
ou é irrecorrivelmente condenado, por motivo de contravenção, a de traição, espionagem ou cobardia, ou em qualquer dos definidos
pena que não seja privativa de liberdade; ou, se militar, sofre pena- nos arts. 161, 235, 240, 242, 243, 244, 245, 251, 252, 303, 304, 311
lidade por transgressão disciplinar considerada grave. e 312.

Infração sujeita à jurisdição penal comum Incompatibilidade com o oficialato


§ 2º Para os efeitos da revogação obrigatória, são tomadas, Art. 101. Fica sujeito à declaração de incompatibilidade com o
também, em consideração, nos termos dos ns. I e II deste artigo, as oficialato o militar condenado nos crimes dos arts. 141 e 142.
infrações sujeitas à jurisdição penal comum; e, igualmente, a con-
travenção compreendida no § 1º, se assim, com prudente arbítrio, Exclusão das fôrças armadas
o entender o juiz. Art. 102. A condenação da praça a pena privativa de liberdade,
por tempo superior a dois anos, importa sua exclusão das fôrças
Efeitos da revogação armadas.
Art. 94. Revogado o livramento, não pode ser novamente con-
cedido e, salvo quando a revogação resulta de condenação por in- Perda da função pública
fração penal anterior ao benefício, não se desconta na pena o tem- Art. 103. Incorre na perda da função pública o assemelhado
po em que esteve solto o condenado. ou o civil:
I - condenado a pena privativa de liberdade por crime come-
Extinção da pena tido com abuso de poder ou violação de dever inerente à função
Art. 95. Se, até o seu termo, o livramento não é revogado, con- pública;
sidera-se extinta a pena privativa de liberdade. II - condenado, por outro crime, a pena privativa de liberdade
Parágrafo único. Enquanto não passa em julgado a sentença por mais de dois anos.
em processo, a que responde o liberado por infração penal come- Parágrafo único. O disposto no artigo aplica-se ao militar da re-
tida na vigência do livramento, deve o juiz abster-se de declarar a serva, ou reformado, se estiver no exercício de função pública de
extinção da pena. qualquer natureza.

Não aplicação do livramento condicional Inabilitação para o exercício de função pública


Art. 96. O livramento condicional não se aplica ao condenado Art. 104. Incorre na inabilitação para o exercício de função pú-
por crime cometido em tempo de guerra. blica, pelo prazo de dois até vinte anos, o condenado a reclusão por
mais de quatro anos, em virtude de crime praticado com abuso de
Casos especiais do livramento condicional poder ou violação do dever militar ou inerente à função pública.
Art. 97. Em tempo de paz, o livramento condicional por crime
contra a segurança externa do país, ou de revolta, motim, aliciação Termo inicial
e incitamento, violência contra superior ou militar de serviço, só Parágrafo único. O prazo da inabilitação para o exercício de
será concedido após o cumprimento de dois terços da pena, obser- função pública começa ao têrmo da execução da pena privativa de
vado ainda o disposto no art. 89, preâmbulo, seus números II e III liberdade ou da medida de segurança imposta em substituição, ou
e §§ 1º e 2º. da data em que se extingue a referida pena.

305
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
Suspensão do pátrio poder, tutela ou curatela II - aos militares ou assemelhados, condenados a pena privativa
Art. 105. O condenado a pena privativa de liberdade por mais de liberdade por tempo superior a dois anos, ou aos que de outro
de dois anos, seja qual fôr o crime praticado, fica suspenso do exer- modo hajam perdido função, posto e patente, ou hajam sido exclu-
cício do pátrio poder, tutela ou curatela, enquanto dura a execução ídos das fôrças armadas;
da pena, ou da medida de segurança imposta em substituição (art. III - aos militares ou assemelhados, no caso do art. 48;
113). IV - aos militares ou assemelhados, no caso do art. 115, com
aplicação dos seus §§ 1º, 2º e 3º.
Suspensão provisória
Parágrafo único. Durante o processo pode o juiz decretar a sus- Manicômio judiciário
pensão provisória do exercício do pátrio poder, tutela ou curatela. Art. 112. Quando o agente é inimputável (art. 48), mas suas
condições pessoais e o fato praticado revelam que êle oferece peri-
Suspensão dos direitos políticos go à incolumidade alheia, o juiz determina sua internação em ma-
Art. 106. Durante a execução da pena privativa de liberdade nicômio judiciário.
ou da medida de segurança imposta em substituição, ou enquanto
perdura a inabilitação para função pública, o condenado não pode Prazo de internação
votar, nem ser votado. § 1º A internação, cujo mínimo deve ser fixado de entre um a
três anos, é por tempo indeterminado, perdurando enquanto não
Imposição de pena acessória fôr averiguada, mediante perícia médica, a cessação da periculosi-
Art. 107. Salvo os casos dos arts. 99, 103, nº II, e 106, a impo- dade do internado.
sição da pena acessória deve constar expressamente da sentença.
Perícia médica
Tempo computável § 2º Salvo determinação da instância superior, a perícia médica
Art. 108. Computa-se no prazo das inabilitações temporárias o é realizada ao término do prazo mínimo fixado à internação e, não
tempo de liberdade resultante da suspensão condicional da pena sendo esta revogada, deve aquela ser repetida de ano em ano.
ou do livramento condicional, se não sobrevém revogação.
Desinternação condicional
CAPÍTULO VI § 3º A desinternação é sempre condicional, devendo ser res-
DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO tabelecida a situação anterior, se o indivíduo, antes do decurso de
um ano, vem a praticar fato indicativo de persistência de sua peri-
Obrigação de reparar o dano culosidade.
Art. 109. São efeitos da condenação: § 4º Durante o período de prova, aplica-se o disposto no art.
I - tornar certa a obrigação de reparar o dano resultante do 92.
crime;
Substituição da pena por internação
Perda em favor da Fazenda Nacional
Art. 113. Quando o condenado se enquadra no parágrafo úni-
II - a perda, em favor da Fazenda Nacional, ressalvado o direito
co do art. 48 e necessita de especial tratamento curativo, a pena
do lesado ou de terceiro de boa-fé:
privativa de liberdade pode ser substituída pela internação em es-
a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas
tabelecimento psiquiátrico anexo ao manicômio judiciário ou ao
cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito;
estabelecimento penal, ou em seção especial de um ou de outro.
b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que cons-
titua proveito auferido pelo agente com a sua prática.
Superveniência de cura
§ 1º Sobrevindo a cura, pode o internado ser transferido para
o estabelecimento penal, não ficando excluído o seu direito a livra-
MEDIDAS DE SEGURANÇA mento condicional.

TÍTULO VI Persistência do estado mórbido


DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA § 2º Se, ao término do prazo, persistir o mórbido estado psíqui-
co do internado, condicionante de periculosidade atual, a interna-
Espécies de medidas de segurança ção passa a ser por tempo indeterminado, aplicando-se o disposto
Art. 110. As medidas de segurança são pessoais ou patrimo- nos §§ 1º a 4º do artigo anterior.
niais. As da primeira espécie subdividem-se em detentivas e não
detentivas. As detentivas são a internação em manicômio judiciário Ébrios habituais ou toxicômanos
e a internação em estabelecimento psiquiátrico anexo ao manicô- § 3º À idêntica internação para fim curativo, sob as mesmas
mio judiciário ou ao estabelecimento penal, ou em seção especial normas, ficam sujeitos os condenados reconhecidos como ébrios
de um ou de outro. As não detentivas são a cassação de licença para habituais ou toxicômanos.
direção de veículos motorizados, o exílio local e a proibição de fre-
quentar determinados lugares. As patrimoniais são a interdição de Regime de internação
estabelecimento ou sede de sociedade ou associação, e o confisco. Art. 114. A internação, em qualquer dos casos previstos nos
artigos precedentes, deve visar não apenas ao tratamento curativo
Pessoas sujeitas às medidas de segurança do internado, senão também ao seu aperfeiçoamento, a um regime
Art. 111. As medidas de segurança somente podem ser impos- educativo ou de trabalho, lucrativo ou não, segundo o permitirem
tas: suas condições pessoais.
I - aos civis;

306
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
Cassação de licença para dirigir veículos motorizados Parágrafo único. A imposição da medida de segurança não im-
Art. 115. Ao condenado por crime cometido na direção ou re- pede a expulsão do estrangeiro.
lacionadamente à direção de veículos motorizados, deve ser cas-
sada a licença para tal fim, pelo prazo mínimo de um ano, se as
circunstâncias do caso e os antecedentes do condenado revelam AÇÃO PENAL
a sua inaptidão para essa atividade e consequente perigo para a
incolumidade alheia.
§ 1º O prazo da interdição se conta do dia em que termina a TÍTULO VII
execução da pena privativa de liberdade ou da medida de seguran- DA AÇÃO PENAL
ça detentiva, ou da data da suspensão condicional da pena ou da
concessão do livramento ou desinternação condicionais. Propositura da ação penal
§ 2º Se, antes de expirado o prazo estabelecido, é averiguada Art. 121. A ação penal somente pode ser promovida por de-
a cessação do perigo condicionante da interdição, esta é revogada; núncia do Ministério Público da Justiça Militar.
mas, se o perigo persiste ao termo do prazo, prorroga-se este en- Dependência de requisição
quanto não cessa aquele. Art. 122. Nos crimes previstos nos arts. 136 a 141, a ação penal,
§ 3º A cassação da licença deve ser determinada ainda no caso quando o agente for militar ou assemelhado, depende da requisi-
de absolvição do réu em razão de inimputabilidade. ção do Ministério Militar a que aquele estiver subordinado; no caso
do art. 141, quando o agente for civil e não houver coautor militar,
Exílio local a requisição será do Ministério da Justiça.
Art. 116. O exílio local, aplicável quando o juiz o considera ne-
cessário como medida preventiva, a bem da ordem pública ou do
próprio condenado, consiste na proibição de que êste resida ou per- EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
maneça, durante um ano, pelo menos, na localidade, município ou
comarca em que o crime foi praticado.
Parágrafo único. O exílio deve ser cumprido logo que cessa ou TÍTULO VIII
é suspensa condicionalmente a execução da pena privativa de li- DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
berdade.
Causas extintivas
Proibição de frequentar determinados lugares Art. 123. Extingue-se a punibilidade:
Art. 117. A proibição de frequentar determinados lugares con- I - pela morte do agente;
siste em privar o condenado, durante um ano, pelo menos, da facul- II - pela anistia ou indulto;
dade de acesso a lugares que favoreçam, por qualquer motivo, seu III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato
retorno à atividade criminosa. como criminoso;
Parágrafo único. Para o cumprimento da proibição, aplica-se o IV - pela prescrição;
disposto no parágrafo único do artigo anterior. V - pela reabilitação;
VI - pelo ressarcimento do dano, no peculato culposo (art. 303,
Interdição de estabelecimento, sociedade ou associação § 4º).
Art. 118. A interdição de estabelecimento comercial ou indus- Parágrafo único. A extinção da punibilidade de crime, que é
trial, ou de sociedade ou associação, pode ser decretada por tempo pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância agravante de
não inferior a quinze dias, nem superior a seis meses, se o estabele- outro, não se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da pu-
cimento, sociedade ou associação serve de meio ou pretexto para a nibilidade de um deles não impede, quanto aos outros, a agravação
prática de infração penal. da pena resultante da conexão.
§ 1º A interdição consiste na proibição de exercer no local o
mesmo comércio ou indústria, ou a atividade social. Espécies de prescrição
§ 2º A sociedade ou associação, cuja sede é interditada, não Art. 124. A prescrição refere-se à ação penal ou à execução da
pode exercer em outro local as suas atividades. pena.

Confisco Prescrição da ação penal


Art. 119. O juiz, embora não apurada a autoria, ou ainda quan- Art. 125. A prescrição da ação penal, salvo o disposto no § 1º
do o agente é inimputável, ou não punível, deve ordenar o confisco deste artigo, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade
dos instrumentos e produtos do crime, desde que consistam em cominada ao crime, verificando-se:
coisas: I - em trinta anos, se a pena é de morte;
I - cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitui fato II - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;
ilícito; III - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito
II - que, pertencendo às fôrças armadas ou sendo de uso ex- e não excede a doze;
clusivo de militares, estejam em poder ou em uso do agente, ou de IV - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro e
pessoa não devidamente autorizada; não excede a oito;
III - abandonadas, ocultas ou desaparecidas. V - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois e não
Parágrafo único. É ressalvado o direito do lesado ou de terceiro excede a quatro;
de boa-fé, nos casos dos ns. I e III. VI - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou,
sendo superior, não excede a dois;
Imposição da medida de segurança VII - em dois anos, se o máximo da pena é inferior a um ano.
Art. 120. A medida de segurança é imposta em sentença, que
lhe estabelecerá as condições, nos termos da lei penal militar.

307
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
Superveniência de sentença condenatória de que somente o Disposições comuns a ambas as espécies de prescrição
réu recorre Art. 128. Interrompida a prescrição, salvo o caso do § 3º, se-
§ 1º Sobrevindo sentença condenatória, de que somente o réu gunda parte, do art. 126, todo o prazo começa a correr, novamente,
tenha recorrido, a prescrição passa a regular-se pela pena imposta, do dia da interrupção.
e deve ser logo declarada, sem prejuízo do andamento do recurso
se, entre a última causa interruptiva do curso da prescrição (§ 5°) e Redução
a sentença, já decorreu tempo suficiente. Art. 129. São reduzidos de metade os prazos da prescrição,
quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de vinte e um
Termo inicial da prescrição da ação penal anos ou maior de setenta.
§ 2º A prescrição da ação penal começa a correr:
a) do dia em que o crime se consumou; Imprescritibilidade das penas acessórias
b) no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade cri- Art. 130. É imprescritível a execução das penas acessórias.
minosa;
c) nos crimes permanentes, do dia em que cessou a perma- Prescrição no caso de insubmissão
nência; Art. 131. A prescrição começa a correr, no crime de insubmis-
d) nos crimes de falsidade, da data em que o fato se tornou são, do dia em que o insubmisso atinge a idade de trinta anos.
conhecido.
Prescrição no caso de deserção
Caso de concurso de crimes ou de crime continuado Art. 132. No crime de deserção, embora decorrido o prazo da
§ 3º No caso de concurso de crimes ou de crime continuado, prescrição, esta só extingue a punibilidade quando o desertor atin-
a prescrição é referida, não à pena unificada, mas à de cada crime ge a idade de quarenta e cinco anos, e, se oficial, a de sessenta.
considerado isoladamente.
Suspensão da prescrição Declaração de ofício
§ 4º A prescrição da ação penal não corre: Art. 133. A prescrição, embora não alegada, deve ser declarada
I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que de ofício.
dependa o reconhecimento da existência do crime;
II - enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro. Reabilitação
Art. 134. A reabilitação alcança quaisquer penas impostas por
Interrupção da prescrição sentença definitiva.
§ 5º O curso da prescrição da ação penal interrompe-se: § 1º A reabilitação poderá ser requerida decorridos cinco anos
I - pela instauração do processo; do dia em que for extinta, de qualquer modo, a pena principal ou
II - pela sentença condenatória recorrível. terminar a execução desta ou da medida de segurança aplicada em
§ 6º A interrupção da prescrição produz efeito relativamente a substituição (art. 113), ou do dia em que terminar o prazo da sus-
todos os autores do crime; e nos crimes conexos, que sejam objeto pensão condicional da pena ou do livramento condicional, desde
do mesmo processo, a interrupção relativa a qualquer deles esten- que o condenado:
a) tenha tido domicílio no País, no prazo acima referido;
de-se aos demais.
b) tenha dado, durante esse tempo, demonstração efetiva e
constante de bom comportamento público e privado;
Prescrição da execução da pena ou da medida de segurança
c) tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou demonstre
que a substitui
absoluta impossibilidade de o fazer até o dia do pedido, ou exiba
Art. 126. A prescrição da execução da pena privativa de liber-
documento que comprove a renúncia da vítima ou novação da dí-
dade ou da medida de segurança que a substitui (art. 113) regula-
vida.
-se pelo tempo fixado na sentença e verifica-se nos mesmos prazos
§ 2º A reabilitação não pode ser concedida:
estabelecidos no art. 125, os quais se aumentam de um terço, se o
a) em favor dos que foram reconhecidos perigosos, salvo prova
condenado é criminoso habitual ou por tendência. cabal em contrário;
§ 1º Começa a correr a prescrição: b) em relação aos atingidos pelas penas acessórias do art. 98,
a) do dia em que passa em julgado a sentença condenatória inciso VII, se o crime for de natureza sexual em detrimento de filho,
ou a que revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento tutelado ou curatelado.
condicional;
b) do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o Prazo para renovação do pedido
tempo da interrupção deva computar-se na pena. § 3º Negada a reabilitação, não pode ser novamente requerida
§ 2º No caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livra- senão após o decurso de dois anos.
mento ou desinternação condicionais, a prescrição se regula pelo § 4º Os prazos para o pedido de reabilitação serão contados em
restante tempo da execução. dobro no caso de criminoso habitual ou por tendência.
§ 3º O curso da prescrição da execução da pena suspende-se
enquanto o condenado está preso por outro motivo, e interrom- Revogação
pe-se pelo início ou continuação do cumprimento da pena, ou pela § 5º A reabilitação será revogada de ofício, ou a requerimento
reincidência. do Ministério Público, se a pessoa reabilitada for condenada, por
decisão definitiva, ao cumprimento de pena privativa da liberdade.
Prescrição no caso de reforma ou suspensão de exercício
Art. 127. Verifica-se em quatro anos a prescrição nos crimes Cancelamento do registro de condenações penais
cuja pena cominada, no máximo, é de reforma ou de suspensão do Art. 135. Declarada a reabilitação, serão cancelados, mediante
exercício do posto, graduação, cargo ou função. averbação, os antecedentes criminais.

308
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
Sigilo sobre antecedentes criminais § 2º Se resulta guerra:
Parágrafo único. Concedida a reabilitação, o registro oficial de Pena - reclusão, de dez a vinte e quatro anos.
condenações penais não pode ser comunicado senão à autorida-
de policial ou judiciária, ou ao representante do Ministério Público, Tentativa contra a soberania do Brasil
para instrução de processo penal que venha a ser instaurado contra Art. 142. Tentar:
o reabilitado. I - submeter o território nacional, ou parte dele, à soberania de
país estrangeiro;
II - desmembrar, por meio de movimento armado ou tumultos
CRIMES MILITARES EM TEMPO DE PAZ. CRIMES PRO-
planejados, o território nacional, desde que o fato atente contra a
PRIAMENTE MILITARES E CRIMES IMPROPRIAMENTE
segurança externa do Brasil ou a sua soberania;
MILITARES
III - internacionalizar, por qualquer meio, região ou parte do
território nacional:
PARTE ESPECIAL Pena - reclusão, de quinze a trinta anos, para os cabeças; de dez
LIVRO I a vinte anos, para os demais agentes.
DOS CRIMES MILITARES EM TEMPO DE PAZ
TÍTULO I Consecução de notícia, informação ou documento para fim de
DOS CRIMES CONTRA A SEGURANÇA EXTERNA DO PAÍS espionagem
Art. 143. Conseguir, para o fim de espionagem militar, notícia,
Hostilidade contra país estrangeiro informação ou documento, cujo sigilo seja de interesse da seguran-
Art. 136. Praticar o militar ato de hostilidade contra país estran- ça externa do Brasil:
geiro, expondo o Brasil a perigo de guerra: Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Pena - reclusão, de oito a quinze anos. § 1º A pena é de reclusão de dez a vinte anos:
I - se o fato compromete a preparação ou eficiência bélica do
Resultado mais grave Brasil, ou o agente transmite ou fornece, por qualquer meio, mes-
§ 1º Se resulta ruptura de relações diplomáticas, represália ou mo sem remuneração, a notícia, informação ou documento, a auto-
retorsão: ridade ou pessoa estrangeira;
Pena - reclusão, de dez a vinte e quatro anos. II - se o agente, em detrimento da segurança externa do Bra-
§ 2º Se resulta guerra:
sil, promove ou mantém no território nacional atividade ou serviço
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
destinado à espionagem;
III - se o agente se utiliza, ou contribui para que outrem se utili-
Provocação a país estrangeiro
ze, de meio de comunicação, para dar indicação que ponha ou pos-
Art. 137. Provocar o militar, diretamente, país estrangeiro a de-
sa pôr em perigo a segurança externa do Brasil.
clarar guerra ou mover hostilidade contra o Brasil ou a intervir em
questão que respeite à soberania nacional:
Modalidade culposa
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
§ 2º Contribuir culposamente para a execução do crime:
Ato de jurisdição indevida Pena - detenção, de seis meses a dois anos, no caso do artigo;
Art. 138. Praticar o militar, indevidamente, no território nacio- ou até quatro anos, no caso do § 1º, nº I.
nal, ato de jurisdição de país estrangeiro, ou favorecer a prática de
ato dessa natureza: Revelação de notícia, informação ou documento
Pena - reclusão, de cinco a quinze anos. Art. 144. Revelar notícia, informação ou documento, cujo sigilo
seja de interesse da segurança externa do Brasil:
Violação de território estrangeiro Pena - reclusão, de três a oito anos.
Art. 139. Violar o militar território estrangeiro, com o fim de
praticar ato de jurisdição em nome do Brasil: Fim da espionagem militar
Pena - reclusão, de dois a seis anos. § 1º Se o fato é cometido com o fim de espionagem militar:
Pena - reclusão, de seis a doze anos.
Entendimento para empenhar o Brasil à neutralidade ou à
guerra Resultado mais grave
Art. 140. Entrar ou tentar entrar o militar em entendimento § 2º Se o fato compromete a preparação ou a eficiência bélica
com país estrangeiro, para empenhar o Brasil à neutralidade ou à do país:
guerra: Pena - reclusão, de dez a vinte anos.
Pena - reclusão, de seis a doze anos.
Modalidade culposa
Entendimento para gerar conflito ou divergência com o Brasil § 3º Se a revelação é culposa:
Art. 141. Entrar em entendimento com país estrangeiro, ou or- Pena - detenção, de seis meses a dois anos, no caso do artigo;
ganização nele existente, para gerar conflito ou divergência de cará- ou até quatro anos, nos casos dos §§ 1° e 2.
ter internacional entre o Brasil e qualquer outro país, ou para lhes
perturbar as relações diplomáticas: Turbação de objeto ou documento
Pena - reclusão, de quatro a oito anos. Art. 145. Suprimir, subtrair, deturpar, alterar, desviar, ainda que
temporariamente, objeto ou documento concernente à segurança
Resultado mais grave externa do Brasil:
§ 1º Se resulta ruptura de relações diplomáticas: Pena - reclusão, de três a oito anos.
Pena - reclusão, de seis a dezoito anos.

309
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
Resultado mais grave Organização de grupo para a prática de violência
§ 1º Se o fato compromete a segurança ou a eficiência bélica Art. 150. Reunirem-se dois ou mais militares ou assemelhados,
do país: com armamento ou material bélico, de propriedade militar, prati-
Pena - Reclusão, de dez a vinte anos. cando violência à pessoa ou à coisa pública ou particular em lugar
sujeito ou não à administração militar:
Modalidade culposa Pena - reclusão, de quatro a oito anos.
§ 2º Contribuir culposamente para o fato:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. Omissão de lealdade militar
Art. 151. Deixar o militar ou assemelhado de levar ao conhe-
Penetração com o fim de espionagem cimento do superior o motim ou revolta de cuja preparação teve
Art. 146. Penetrar, sem licença, ou introduzir-se clandestina- notícia, ou, estando presente ao ato criminoso, não usar de todos
mente ou sob falso pretexto, em lugar sujeito à administração mi- os meios ao seu alcance para impedi-lo:
litar, ou centro industrial a serviço de construção ou fabricação sob Pena - reclusão, de três a cinco anos.
fiscalização militar, para colher informação destinada a país estran-
geiro ou agente seu: Conspiração
Pena - reclusão, de três a oito anos. Art. 152. Concertarem-se militares ou assemelhados para a
Parágrafo único. Entrar, em local referido no artigo, sem licen- prática do crime previsto no artigo 149:
ça de autoridade competente, munido de máquina fotográfica ou Pena - reclusão, de três a cinco anos.
qualquer outro meio hábil para a prática de espionagem:
Pena - reclusão, até três anos. Isenção de pena
Parágrafo único. É isento de pena aquele que, antes da execu-
Desenho ou levantamento de plano ou planta de local militar ção do crime e quando era ainda possível evitar-lhe as consequên-
ou de engenho de guerra cias, denuncia o ajuste de que participou.
Art. 147. Fazer desenho ou levantar plano ou planta de fortifi-
cação, quartel, fábrica, arsenal, hangar ou aeródromo, ou de navio, Cumulação de penas
aeronave ou engenho de guerra motomecanizado, utilizados ou em Art. 153. As penas dos arts. 149 e 150 são aplicáveis sem preju-
construção sob administração ou fiscalização militar, ou fotografá- ízo das correspondentes à violência.
-los ou filmá-los:
Pena - reclusão, até quatro anos, se o fato não constitui crime CAPÍTULO II
mais grave. DA ALICIAÇÃO E DO INCITAMENTO

Sobrevoo em local interdito Aliciação para motim ou revolta


Art. 154. Aliciar militar ou assemelhado para a prática de qual-
Art. 148. Sobrevoar local declarado interdito:
quer dos crimes previstos no capítulo anterior:
Pena - reclusão, até três anos.
Pena - reclusão, de dois a quatro anos.
TÍTULO II
Incitamento
DOS CRIMES CONTRA A AUTORIDADE OU DISCIPLINA MILITAR
Art. 155. Incitar à desobediência, à indisciplina ou à prática de
CAPÍTULO I
crime militar:
DO MOTIM E DA REVOLTA
Pena - reclusão, de dois a quatro anos.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem introduz, afi-
Motim
xa ou distribui, em lugar sujeito à administração militar, impressos,
Art. 149. Reunirem-se militares ou assemelhados: manuscritos ou material mimeografado, fotocopiado ou gravado,
I - agindo contra a ordem recebida de superior, ou negando-se em que se contenha incitamento à prática dos atos previstos no
a cumpri-la; artigo.
II - recusando obediência a superior, quando estejam agindo
sem ordem ou praticando violência; Apologia de fato criminoso ou do seu autor
III - assentindo em recusa conjunta de obediência, ou em resis- Art. 156. Fazer apologia de fato que a lei militar considera cri-
tência ou violência, em comum, contra superior; me, ou do autor do mesmo, em lugar sujeito à administração mili-
IV - ocupando quartel, fortaleza, arsenal, fábrica ou estabele- tar:
cimento militar, ou dependência de qualquer deles, hangar, aeró- Pena - detenção, de seis meses a um ano.
dromo ou aeronave, navio ou viatura militar, ou utilizando-se de
qualquer daqueles locais ou meios de transporte, para ação militar, CAPÍTULO III
ou prática de violência, em desobediência a ordem superior ou em DA VIOLÊNCIA CONTRA SUPERIOR OU MILITAR DE SERVIÇO
detrimento da ordem ou da disciplina militar:
Pena - reclusão, de quatro a oito anos, com aumento de um Violência contra superior
terço para os cabeças. Art. 157. Praticar violência contra superior:
Pena - detenção, de três meses a dois anos.
Revolta
Parágrafo único. Se os agentes estavam armados: Formas qualificadas
Pena - reclusão, de oito a vinte anos, com aumento de um terço § 1º Se o superior é comandante da unidade a que pertence o
para os cabeças. agente, ou oficial general:
Pena - reclusão, de três a nove anos.

310
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
§ 2º Se a violência é praticada com arma, a pena é aumentada Pena - detenção, de um a dois anos, se o fato não constitui
de um terço. crime mais grave.
§ 3º Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se, além da
pena da violência, a do crime contra a pessoa. Oposição a ordem de sentinela
§ 4º Se da violência resulta morte: Art. 164. Opor-se às ordens da sentinela:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Pena - detenção, de seis meses a um ano, se o fato não consti-
§ 5º A pena é aumentada da sexta parte, se o crime ocorre em tui crime mais grave.
serviço.
Reunião ilícita
Violência contra militar de serviço Art. 165. Promover a reunião de militares, ou nela tomar parte,
Art. 158. Praticar violência contra oficial de dia, de serviço, ou para discussão de ato de superior ou assunto atinente à disciplina
de quarto, ou contra sentinela, vigia ou plantão: militar:
Pena - reclusão, de três a oito anos. Pena - detenção, de seis meses a um ano a quem promove a
reunião; de dois a seis meses a quem dela participa, se o fato não
Formas qualificadas constitui crime mais grave.
§ 1º Se a violência é praticada com arma, a pena é aumentada
de um terço. Publicação ou crítica indevida
§ 2º Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se, além da Art. 166. Publicar o militar ou assemelhado, sem licença, ato
pena da violência, a do crime contra a pessoa. ou documento oficial, ou criticar publicamente ato de seu superior
§ 3º Se da violência resulta morte: ou assunto atinente à disciplina militar, ou a qualquer resolução do
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Governo:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, se o fato não consti-
Ausência de dolo no resultado tui crime mais grave.
Art. 159. Quando da violência resulta morte ou lesão corporal
e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado CAPÍTULO VI
nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena do crime contra a pessoa DA USURPAÇÃO E DO EXCESSO OU ABUSO DE AUTORIDADE
é diminuída de metade.
Assunção de comando sem ordem ou autorização
CAPÍTULO IV Art. 167. Assumir o militar, sem ordem ou autorização, salvo se
DO DESRESPEITO A SUPERIOR E A SÍMBOLO NACIONAL OU A em grave emergência, qualquer comando, ou a direção de estabe-
FARDA lecimento militar:
Pena - reclusão, de dois a quatro anos, se o fato não constitui
Desrespeito a superior crime mais grave.
Art. 160. Desrespeitar superior diante de outro militar:
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não consti- Conservação ilegal de comando
tui crime mais grave. Art. 168. Conservar comando ou função legitimamente assu-
mida, depois de receber ordem de seu superior para deixá-los ou
Desrespeito a comandante, oficial general ou oficial de ser- transmiti-los a outrem:
viço Pena - detenção, de um a três anos.
Parágrafo único. Se o fato é praticado contra o comandante da
unidade a que pertence o agente, oficial-general, oficial de dia, de Operação militar sem ordem superior
Art. 169. Determinar o comandante, sem ordem superior e fora
serviço ou de quarto, a pena é aumentada da metade.
dos casos em que essa se dispensa, movimento de tropa ou ação
militar:
Desrespeito a símbolo nacional
Pena - reclusão, de três a cinco anos.
Art. 161. Praticar o militar diante da tropa, ou em lugar sujei-
to à administração militar, ato que se traduza em ultraje a símbolo
Forma qualificada
nacional:
Parágrafo único. Se o movimento da tropa ou ação militar é em
Pena - detenção, de um a dois anos.
território estrangeiro ou contra fôrça, navio ou aeronave de país
estrangeiro:
Despojamento desprezível Pena - reclusão, de quatro a oito anos, se o fato não constitui
Art. 162. Despojar-se de uniforme, condecoração militar, insíg- crime mais grave.
nia ou distintivo, por menosprezo ou vilipêndio:
Pena - detenção, de seis meses a um ano. Ordem arbitrária de invasão
Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se o fato é Art. 170. Ordenar, arbitrariamente, o comandante de fôrça,
praticado diante da tropa, ou em público. navio, aeronave ou engenho de guerra motomecanizado a entrada
de comandados seus em águas ou território estrangeiro, ou sobre-
CAPÍTULO V voá-los:
DA INSUBORDINAÇÃO Pena - suspensão do exercício do posto, de um a três anos, ou
reforma.
Recusa de obediência
Art. 163. Recusar obedecer a ordem do superior sobre assunto Uso indevido por militar de uniforme, distintivo ou insígnia
ou matéria de serviço, ou relativamente a dever imposto em lei, Art. 171. Usar o militar ou assemelhado, indevidamente, uni-
regulamento ou instrução: forme, distintivo ou insígnia de posto ou graduação superior:

311
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
Pena - detenção, de seis meses a um ano, se o fato não consti- Formas qualificadas
tui crime mais grave. § 1º Se o crime é praticado a mão armada ou por mais de uma
pessoa, ou mediante arrombamento:
Uso indevido de uniforme, distintivo ou insígnia militar por Pena - reclusão, de dois a seis anos.
qualquer pessoa § 2º Se há emprego de violência contra pessoa, aplica-se tam-
Art. 172. Usar, indevidamente, uniforme, distintivo ou insígnia bém a pena correspondente à violência.
militar a que não tenha direito: § 3º Se o crime é praticado por pessoa sob cuja guarda, custó-
Pena - detenção, até seis meses. dia ou condução está o preso ou internado:
Pena - reclusão, até quatro anos.
Abuso de requisição militar
Art. 173. Abusar do direito de requisição militar, excedendo os Modalidade culposa
poderes conferidos ou recusando cumprir dever imposto em lei: Art. 179. Deixar, por culpa, fugir pessoa legalmente presa, con-
Pena - detenção, de um a dois anos. fiada à sua guarda ou condução:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Rigor excessivo
Art. 174. Exceder a faculdade de punir o subordinado, fazen- Evasão de preso ou internado
do-o com rigor não permitido, ou ofendendo-o por palavra, ato ou Art. 180. Evadir-se, ou tentar evadir-se o preso ou internado,
escrito: usando de violência contra a pessoa:
Pena - suspensão do exercício do posto, por dois a seis meses, Pena - detenção, de um a dois anos, além da correspondente
se o fato não constitui crime mais grave. à violência.
§ 1º Se a evasão ou a tentativa ocorre mediante arrombamento
Violência contra inferior da prisão militar:
Art. 175. Praticar violência contra inferior: Pena - detenção, de seis meses a um ano.
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Cumulação de penas
Resultado mais grave § 2º Se ao fato sucede deserção, aplicam-se cumulativamente
Parágrafo único. Se da violência resulta lesão corporal ou morte
as penas correspondentes.
é também aplicada a pena do crime contra a pessoa, atendendo-se,
quando for o caso, ao disposto no art. 159.
Arrebatamento de preso ou internado
Art. 181. Arrebatar preso ou internado, a fim de maltratá-lo, do
Ofensa aviltante a inferior
poder de quem o tenha sob guarda ou custódia militar:
Art. 176. Ofender inferior, mediante ato de violência que, por
Pena - reclusão, até quatro anos, além da correspondente à
natureza ou pelo meio empregado, se considere aviltante:
violência.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto no parágrafo único do ar-
Amotinamento
tigo anterior.
Art. 182. Amotinarem-se presos, ou internados, perturbando a
CAPÍTULO VII disciplina do recinto de prisão militar:
DA RESISTÊNCIA Pena - reclusão, até três anos, aos cabeças; aos demais, deten-
ção de um a dois anos.
Resistência mediante ameaça ou violência
Art. 177. Opor-se à execução de ato legal, mediante ameaça ou Responsabilidade de participe ou de oficial
violência ao executor, ou a quem esteja prestando auxílio: Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem participa do
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. amotinamento ou, sendo oficial e estando presente, não usa os
meios ao seu alcance para debelar o amotinamento ou evitar-lhe
Forma qualificada as consequências.
§ 1º Se o ato não se executa em razão da resistência:
Pena - reclusão de dois a quatro anos. TÍTULO III
DOS CRIMES CONTRA O SERVIÇO MILITAR E O DEVER MILITAR
Cumulação de penas CAPÍTULO I
§ 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das cor- DA INSUBMISSÃO
respondentes à violência, ou ao fato que constitua crime mais gra-
ve. Insubmissão
Art. 183. Deixar de apresentar-se o convocado à incorporação,
CAPÍTULO VIII dentro do prazo que lhe foi marcado, ou, apresentando-se, ausen-
DA FUGA, EVASÃO, ARREBATAMENTO E AMOTINAMENTO DE tar-se antes do ato oficial de incorporação:
PRESOS Pena - impedimento, de três meses a um ano.

Fuga de preso ou internado Caso assimilado


Art. 178. Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente § 1º Na mesma pena incorre quem, dispensado temporaria-
presa ou submetida a medida de segurança detentiva: mente da incorporação, deixa de se apresentar, decorrido o prazo
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. de licenciamento.

312
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
Diminuição da pena Deserção especial
§ 2º A pena é diminuída de um terço: Art. 190. Deixar o militar de apresentar-se no momento da par-
a) pela ignorância ou a errada compreensão dos atos da convo- tida do navio ou aeronave, de que é tripulante, ou do deslocamen-
cação militar, quando escusáveis; to da unidade ou força em que serve: (Redação dada pela Lei nº
b) pela apresentação voluntária dentro do prazo de um ano, 9.764, de 18.12.1998)
contado do último dia marcado para a apresentação. Pena - detenção, até três meses, se após a partida ou desloca-
mento se apresentar, dentro de vinte e quatro horas, à autoridade
Criação ou simulação de incapacidade física militar do lugar, ou, na falta desta, à autoridade policial, para ser
Art. 184. Criar ou simular incapacidade física, que inabilite o comunicada a apresentação ao comando militar competente.(Re-
convocado para o serviço militar: dação dada pela Lei nº 9.764, de 18.12.1998)
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. § 1º Se a apresentação se der dentro de prazo superior a vinte
e quatro horas e não excedente a cinco dias:
Substituição de convocado Pena - detenção, de dois a oito meses.
Art. 185. Substituir-se o convocado por outrem na apresenta- § 2o Se superior a cinco dias e não excedente a oito dias: (Re-
ção ou na inspeção de saúde. dação dada pela Lei nº 9.764, de 18.12.1998)
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. Pena - detenção, de três meses a um ano.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem substitui o con- § 2o-A. Se superior a oito dias: (Incluído pela Lei nº 9.764, de
vocado. 18.12.1998)
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Favorecimento a convocado
Aumento de pena
Art. 186. Dar asilo a convocado, ou tomá-lo a seu serviço, ou
§ 3o A pena é aumentada de um terço, se se tratar de sargento,
proporcionar-lhe ou facilitar-lhe transporte ou meio que obste ou
subtenente ou suboficial, e de metade, se oficial. (Redação dada
dificulte a incorporação, sabendo ou tendo razão para saber que pela Lei nº 9.764, de 18.12.1998)
cometeu qualquer dos crimes previstos neste capítulo:
Pena - detenção, de três meses a um ano. Concerto para deserção
Art. 191. Concertarem-se militares para a prática da deserção:
Isenção de pena I - se a deserção não chega a consumar-se:
Parágrafo único. Se o favorecedor é ascendente, descendente, Pena - detenção, de três meses a um ano.
cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena.
Modalidade complexa
CAPÍTULO II II - se consumada a deserção:
DA DESERÇÃO Pena - reclusão, de dois a quatro anos.

Deserção Deserção por evasão ou fuga


Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que Art. 192. Evadir-se o militar do poder da escolta, ou de recinto
serve, ou do lugar em que deve permanecer, por mais de oito dias: de detenção ou de prisão, ou fugir em seguida à prática de crime
Pena - detenção, de seis meses a dois anos; se oficial, a pena para evitar prisão, permanecendo ausente por mais de oito dias:
é agravada. Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

Casos assimilados Favorecimento a desertor


Art. 188. Na mesma pena incorre o militar que: Art. 193. Dar asilo a desertor, ou tomá-lo a seu serviço, ou pro-
I - não se apresenta no lugar designado, dentro de oito dias, porcionar-lhe ou facilitar-lhe transporte ou meio de ocultação, sa-
findo o prazo de trânsito ou férias; bendo ou tendo razão para saber que cometeu qualquer dos crimes
II - deixa de se apresentar a autoridade competente, dentro do previstos neste capítulo:
prazo de oito dias, contados daquele em que termina ou é cassada Pena - detenção, de quatro meses a um ano.
a licença ou agregação ou em que é declarado o estado de sítio ou
Isenção de pena
de guerra;
Parágrafo único. Se o favorecedor é ascendente, descendente,
III - tendo cumprido a pena, deixa de se apresentar, dentro do
cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena.
prazo de oito dias;
IV - consegue exclusão do serviço ativo ou situação de inativi-
Omissão de oficial
dade, criando ou simulando incapacidade. Art. 194. Deixar o oficial de proceder contra desertor, sabendo,
Art. 189. Nos crimes dos arts. 187 e 188, ns. I, II e III: ou devendo saber encontrar-se entre os seus comandados:
Pena - detenção, de seis meses a um ano.
Atenuante especial
I - se o agente se apresenta voluntariamente dentro em oito CAPÍTULO III
dias após a consumação do crime, a pena é diminuída de metade; e DO ABANDONO DE POSTO E DE OUTROS CRIMES EM SERVIÇO
de um terço, se de mais de oito dias e até sessenta;
Abandono de posto
Agravante especial Art. 195. Abandonar, sem ordem superior, o posto ou lugar de
II - se a deserção ocorre em unidade estacionada em fronteira serviço que lhe tenha sido designado, ou o serviço que lhe cumpria,
ou país estrangeiro, a pena é agravada de um terço. antes de terminá-lo:
Pena - detenção, de três meses a um ano.

313
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
Descumprimento de missão Embriaguez em serviço
Art. 196. Deixar o militar de desempenhar a missão que lhe foi Art. 202. Embriagar-se o militar, quando em serviço, ou apre-
confiada: sentar-se embriagado para prestá-lo:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não cons- Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
titui crime mais grave.
§ 1º Se é oficial o agente, a pena é aumentada de um terço. Dormir em serviço
§ 2º Se o agente exercia função de comando, a pena é aumen- Art. 203. Dormir o militar, quando em serviço, como oficial de
tada de metade. quarto ou de ronda, ou em situação equivalente, ou, não sendo ofi-
cial, em serviço de sentinela, vigia, plantão às máquinas, ao leme,
Modalidade culposa de ronda ou em qualquer serviço de natureza semelhante:
§ 3º Se a abstenção é culposa: Pena - detenção, de três meses a um ano.
Pena - detenção, de três meses a um ano.
CAPÍTULO IV
Retenção indevida DO EXERCÍCIO DE COMÉRCIO
Art. 197. Deixar o oficial de restituir, por ocasião da passagem
de função, ou quando lhe é exigido, objeto, plano, carta, cifra, códi- Exercício de comércio por oficial
go ou documento que lhe haja sido confiado: Art. 204. Comerciar o oficial da ativa, ou tomar parte na admi-
Pena - suspensão do exercício do posto, de três a seis meses, se nistração ou gerência de sociedade comercial, ou dela ser sócio ou
o fato não constitui crime mais grave. participar, exceto como acionista ou cotista em sociedade anônima,
Parágrafo único. Se o objeto, plano, carta, cifra, código, ou do- ou por cotas de responsabilidade limitada:
cumento envolve ou constitui segredo relativo à segurança nacio- Pena - suspensão do exercício do posto, de seis meses a dois
nal: anos, ou reforma.
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não consti-
tui crime mais grave.
CRIMES CONTRA A PESSOA
Omissão de eficiência da força
Art. 198. Deixar o comandante de manter a fôrça sob seu co- TÍTULO IV
mando em estado de eficiência: DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
Pena - suspensão do exercício do posto, de três meses a um CAPÍTULO I
ano. DO HOMICÍDIO

Omissão de providências para evitar danos Homicídio simples


Art. 199. Deixar o comandante de empregar todos os meios ao Art. 205. Matar alguém:
seu alcance para evitar perda, destruição ou inutilização de instala- Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
ções militares, navio, aeronave ou engenho de guerra motomecani-
zado em perigo: Minoração facultativa da pena
Pena - reclusão, de dois a oito anos. § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de rele-
vante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção,
Modalidade culposa logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir
Parágrafo único. Se a abstenção é culposa: a pena, de um sexto a um terço.
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Homicídio qualificado
Omissão de providências para salvar comandados § 2° Se o homicídio é cometido:
Art. 200. Deixar o comandante, em ocasião de incêndio, nau- I - por motivo fútil;
frágio, encalhe, colisão, ou outro perigo semelhante, de tomar to- II - mediante paga ou promessa de recompensa, por cupidez,
das as providências adequadas para salvar os seus comandados e para excitar ou saciar desejos sexuais, ou por outro motivo torpe;
minorar as consequências do sinistro, não sendo o último a sair de III - com emprego de veneno, asfixia, tortura, fogo, explosivo,
bordo ou a deixar a aeronave ou o quartel ou sede militar sob seu ou qualquer outro meio dissimulado ou cruel, ou de que possa re-
comando: sultar perigo comum;
Pena - reclusão, de dois a seis anos. IV - à traição, de emboscada, com surpresa ou mediante outro
recurso insidioso, que dificultou ou tornou impossível a defesa da
Modalidade culposa vítima;
Parágrafo único. Se a abstenção é culposa: V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. vantagem de outro crime;
VI - prevalecendo-se o agente da situação de serviço:
Omissão de socorro Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Art. 201. Deixar o comandante de socorrer, sem justa causa,
navio de guerra ou mercante, nacional ou estrangeiro, ou aeronave, Homicídio culposo
em perigo, ou náufragos que hajam pedido socorro: Art. 206. Se o homicídio é culposo:
Pena - suspensão do exercício do posto, de um a três anos ou Pena - detenção, de um a quatro anos.
reforma. § 1° A pena pode ser agravada se o crime resulta de inobser-
vância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente
deixa de prestar imediato socorro à vítima.

314
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
Multiplicidade de vítimas Lesões qualificadas pelo resultado
§ 2º Se, em consequência de uma só ação ou omissão culposa, § 3º Se os resultados previstos nos §§ 1º e 2º forem causados
ocorre morte de mais de uma pessoa ou também lesões corporais culposamente, a pena será de detenção, de um a quatro anos; se da
em outras pessoas, a pena é aumentada de um sexto até metade. lesão resultar morte e as circunstâncias evidenciarem que o agente
não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena será
Provocação direta ou auxílio a suicídio de reclusão, até oito anos.
Art. 207. Instigar ou induzir alguém a suicidar-se, ou prestar-lhe
auxílio para que o faça, vindo o suicídio consumar-se: Minoração facultativa da pena
Pena - reclusão, de dois a seis anos. § 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de rele-
vante valor moral ou social ou sob o domínio de violenta emoção,
Agravação de pena logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir
§ 1º Se o crime é praticado por motivo egoístico, ou a vítima é a pena, de um sexto a um terço.
menor ou tem diminuída, por qualquer motivo, a resistência moral, § 5º No caso de lesões leves, se estas são recíprocas, não se
a pena é agravada. sabendo qual dos contendores atacou primeiro, ou quando ocorre
qualquer das hipóteses do parágrafo anterior, o juiz pode diminuir a
Provocação indireta ao suicídio pena de um a dois terços.
§ 2º Com detenção de um a três anos, será punido quem, de-
sumana e reiteradamente, inflige maus tratos a alguém, sob sua Lesão levíssima
autoridade ou dependência, levando-o, em razão disso, à prática § 6º No caso de lesões levíssimas, o juiz pode considerar a in-
de suicídio. fração como disciplinar.

Redução de pena Lesão culposa


§ 3° Se o suicídio é apenas tentado, e da tentativa resulta lesão Art. 210. Se a lesão é culposa:
grave, a pena é reduzida de um a dois terços. Pena - detenção, de dois meses a um ano.
§ 1º A pena pode ser agravada se o crime resulta de inobser-
CAPÍTULO II vância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente
DO GENOCÍDIO deixa de prestar imediato socorro à vítima.

Genocídio Aumento de pena


Art. 208. Matar membros de um grupo nacional, étnico, reli- § 2º Se, em consequência de uma só ação ou omissão culposa,
gioso ou pertencente a determinada raça, com o fim de destruição ocorrem lesões em várias pessoas, a pena é aumentada de um sex-
total ou parcial desse grupo: to até metade.
Pena - reclusão, de quinze a trinta anos.
Participação em rixa
Casos assimilados Art. 211. Participar de rixa, salvo para separar os contendores:
Parágrafo único. Será punido com reclusão, de quatro a quinze Pena - detenção, até dois meses.
anos, quem, com o mesmo fim: Parágrafo único. Se ocorre morte ou lesão grave, aplica-se, pelo
I - inflige lesões graves a membros do grupo; fato de participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a
II - submete o grupo a condições de existência, físicas ou mo- dois anos.
rais, capazes de ocasionar a eliminação de todos os seus membros
ou parte deles; CAPÍTULO IV
III - força o grupo à sua dispersão; DA PERICLITAÇÃO DA VIDA OU DA SAÚDE
IV - impõe medidas destinadas a impedir os nascimentos no
seio do grupo; Abandono de pessoa
V - efetua coativamente a transferência de crianças do grupo Art. 212. Abandonar o militar pessoa que está sob seu cuidado,
para outro grupo. guarda, vigilância ou autoridade e, por qualquer motivo, incapaz de
defender-se dos riscos resultantes do abandono:
CAPÍTULO III Pena - detenção, de seis meses a três anos.
DA LESÃO CORPORAL E DA RIXA
Formas qualificadas pelo resultado
Lesão leve § 1º Se do abandono resulta lesão grave:
Art. 209. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - reclusão, até cinco anos.
Pena - detenção, de três meses a um ano. § 2º Se resulta morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Lesão grave
§ 1° Se se produz, dolosamente, perigo de vida, debilidade per- Maus tratos
manente de membro, sentido ou função, ou incapacidade para as Art. 213. Expor a perigo a vida ou saúde, em lugar sujeito à
ocupações habituais, por mais de trinta dias: administração militar ou no exercício de função militar, de pessoa
Pena - reclusão, até cinco anos. sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para o fim de educação,
§ 2º Se se produz, dolosamente, enfermidade incurável, perda instrução, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação
ou inutilização de membro, sentido ou função, incapacidade per- ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalhos excessi-
manente para o trabalho, ou deformidade duradoura: vos ou inadequados, quer abusando de meios de correção ou dis-
Pena - reclusão, de dois a oito anos. ciplina:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.

315
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
Formas qualificadas pelo resultado Ofensa às fôrças armadas
§ 1º Se do fato resulta lesão grave: Art. 219. Propalar fatos, que sabe inverídicos, capazes de ofen-
Pena - reclusão, até quatro anos. der a dignidade ou abalar o crédito das fôrças armadas ou a con-
§ 2º Se resulta morte: fiança que estas merecem do público:
Pena - reclusão, de dois a dez anos. Pena - detenção, de seis meses a um ano.
Parágrafo único. A pena será aumentada de um terço, se o cri-
CAPÍTULO V me é cometido pela imprensa, rádio ou televisão.
DOS CRIMES CONTRA A HONRA
Exclusão de pena
Calúnia Art. 220. Não constitui ofensa punível, salvo quando inequívo-
Art. 214. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato de- ca a intenção de injuriar, difamar ou caluniar:
finido como crime: I - a irrogada em juízo, na discussão da causa, por uma das par-
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. tes ou seu procurador contra a outra parte ou seu procurador;
§ 1º Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou cien-
a propala ou divulga. tífica;
III - a apreciação crítica às instituições militares, salvo quando
Exceção da verdade inequívoca a intenção de ofender;
§ 2º A prova da verdade do fato imputado exclui o crime, mas IV - o conceito desfavorável em apreciação ou informação pres-
não é admitida: tada no cumprimento do dever de ofício.
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o Parágrafo único. Nos casos dos ns. I e IV, responde pela ofensa
ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; quem lhe dá publicidade.
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no
nº I do art. 218; Equivocidade da ofensa
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido Art. 221. Se a ofensa é irrogada de forma imprecisa ou equí-
foi absolvido por sentença irrecorrível. voca, quem se julga atingido pode pedir explicações em juízo. Se o
interpelado se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satis-
Difamação fatórias, responde pela ofensa.
Art. 215. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua
reputação: CAPÍTULO VI
Pena - detenção, de três meses a um ano. DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE
Parágrafo único. A exceção da verdade sòmente se admite se a SEÇÃO I
ofensa é relativa ao exercício da função pública, militar ou civil, do DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL
ofendido.
Constrangimento ilegal
Injúria
Art. 222. Constranger alguém, mediante violência ou grave
Art. 216. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o de-
ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio,
coro:
a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a
Pena - detenção, até seis meses.
fazer ou a tolerar que se faça, o que ela não manda:
Pena - detenção, até um ano, se o fato não constitui crime mais
Injúria real
grave.
Art. 217. Se a injúria consiste em violência, ou outro ato que
atinja a pessoa, e, por sua natureza ou pelo meio empregado, se
Aumento de pena
considera aviltante:
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena corres- § 1º A pena aplica-se em dobro, quando, para a execução do
pondente à violência. crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de arma,
ou quando o constrangimento é exercido com abuso de autoridade,
Disposições comuns para obter de alguém confissão de autoria de crime ou declaração
Art. 218. As penas cominadas nos antecedentes artigos deste como testemunha.
capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é co- § 2º Além da pena cominada, aplica-se a correspondente à vio-
metido: lência.
I - contra o Presidente da República ou chefe de govêrno es-
trangeiro; Exclusão de crime
II - contra superior; § 3º Não constitui crime:
III - contra militar, ou funcionário público civil, em razão das I - Salvo o caso de transplante de órgãos, a intervenção médica
suas funções; ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu represen-
IV - na presença de duas ou mais pessoas, ou de inferior do tante legal, se justificada para conjurar iminente perigo de vida ou
ofendido, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difa- de grave dano ao corpo ou à saúde;
mação ou da injúria. II - a coação exercida para impedir suicídio.
Parágrafo único. Se o crime é cometido mediante paga ou pro-
messa de recompensa, aplica-se a pena em dobro, se o fato não Ameaça
constitui crime mais grave. Art. 223. Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou
qualquer outro meio simbólico, de lhe causar mal injusto e grave:
Pena - detenção, até seis meses, se o fato não constitui crime
mais grave.

316
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
Parágrafo único. Se a ameaça é motivada por fato referente a III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce
serviço de natureza militar, a pena é aumentada de um terço. profissão ou atividade.
§ 5º Não se compreende no termo “casa”:
Desafio para duelo I - hotel, hospedaria, ou qualquer outra habitação coletiva, en-
Art. 224. Desafiar outro militar para duelo ou aceitar-lhe o de- quanto aberta, salvo a restrição do nº II do parágrafo anterior;
safio, embora o duelo não se realize: II - taverna, boate, casa de jogo e outras do mesmo gênero.
Pena - detenção, até três meses, se o fato não constitui crime
mais grave. SEÇÃO III
DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DE CORRESPON-
Sequestro ou cárcere privado DÊNCIA OU COMUNICAÇÃO
Art. 225. Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro
ou cárcere privado: Violação de correspondência
Pena - reclusão, até três anos. Art. 227. Devassar indevidamente o conteúdo de correspon-
dência privada dirigida a outrem:
Aumento de pena Pena - detenção, até seis meses.
§ 1º A pena é aumentada de metade: § 1º Nas mesmas penas incorre:
I - se a vítima é ascendente, descendente ou cônjuge do agente; I - quem se apossa de correspondência alheia, fechada ou aber-
II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em ta, e, no todo ou em parte, a sonega ou destrói;
casa de saúde ou hospital; II - quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza,
III - se a privação de liberdade dura mais de quinze dias. abusivamente, comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a
terceiro, ou conversação telefônica entre outras pessoas;
Formas qualificadas pelo resultado III - quem impede a comunicação ou a conversação referida no
§ 2º Se resulta à vítima, em razão de maus tratos ou da nature- número anterior.
za da detenção, grave sofrimento físico ou moral:
Pena - reclusão, de dois a oito anos. Aumento de pena
§ 3º Se, pela razão do parágrafo anterior, resulta morte: § 2º A pena aumenta-se de metade, se há dano para outrem.
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. § 3º Se o agente comete o crime com abuso de função, em
serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou telefônico:
SEÇÃO II Pena - detenção, de um a três anos.
DO CRIME CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO
Natureza militar do crime
Violação de domicílio § 4º Salvo o disposto no parágrafo anterior, qualquer dos cri-
Art. 226. Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamen- mes previstos neste artigo só é considerado militar no caso do art.
te, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em 9º, nº II, letra a .
casa alheia ou em suas dependências:
Pena - detenção, até três meses. SEÇÃO IV
DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS SEGREDOS DE
Forma qualificada CARÁTER PARTICULAR
§ 1º Se o crime é cometido durante o repouso noturno, ou com
emprego de violência ou de arma, ou mediante arrombamento, ou Divulgação de segredo
por duas ou mais pessoas: Art. 228. Divulgar, sem justa causa, conteúdo de documento
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da pena cor- particular sigiloso ou de correspondência confidencial, de que é de-
respondente à violência. tentor ou destinatário, desde que da divulgação possa resultar dano
a outrem:
Agravação de pena Pena - detenção, até seis meses.
§ 2º Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é cometido por
militar em serviço ou por funcionário público civil, fora dos casos Violação de recato
legais, ou com inobservância das formalidades prescritas em lei, ou Art. 229. Violar, mediante processo técnico o direito ao recato
com abuso de poder. pessoal ou o direito ao resguardo das palavras que não forem pro-
nunciadas publicamente:
Exclusão de crime Pena - detenção, até um ano.
§ 3º Não constitui crime a entrada ou permanência em casa Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem divulga os fatos
alheia ou em suas dependências: captados.
I - durante o dia, com observância das formalidades legais, para
efetuar prisão ou outra diligência em cumprimento de lei ou regu- Violação de segredo profissional
lamento militar; Art. 230. Revelar, sem justa causa, segredo de que tem ciência,
II - a qualquer hora do dia ou da noite para acudir vítima de em razão de função ou profissão, exercida em local sob administra-
desastre ou quando alguma infração penal está sendo ali praticada ção militar, desde que da revelação possa resultar dano a outrem:
ou na iminência de o ser. Pena - detenção, de três meses a um ano.

Compreensão do termo “casa” Natureza militar do crime


§ 4º O termo “casa” compreende: Art. 231. Os crimes previstos nos arts. 228 e 229 somente são
I - qualquer compartimento habitado; considerados militares no caso do art. 9º, nº II, letra a .
II - aposento ocupado de habitação coletiva;

317
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
CAPÍTULO VII
DOS CRIMES SEXUAIS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

Estupro TÍTULO V
Art. 232. Constranger mulher a conjunção carnal, mediante DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
violência ou grave ameaça: CAPÍTULO I
Pena - reclusão, de três a oito anos, sem prejuízo da correspon- DO FURTO
dente à violência.
Furto simples
Atentado violento ao pudor Art. 240. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Art. 233. Constranger alguém, mediante violência ou grave Pena - reclusão, até seis anos.
ameaça, a presenciar, a praticar ou permitir que com êle pratique
ato libidinoso diverso da conjunção carnal: Furto atenuado
Pena - reclusão, de dois a seis anos, sem prejuízo da correspon- § 1º Se o agente é primário e é de pequeno valor a coisa fur-
dente à violência. tada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção,
diminuí-la de um a dois terços, ou considerar a infração como disci-
Corrupção de menores plinar. Entende-se pequeno o valor que não exceda a um décimo da
Art. 234. Corromper ou facilitar a corrupção de pessoa menor quantia mensal do mais alto salário mínimo do país.
de dezoito e maior de quatorze anos, com ela praticando ato de § 2º A atenuação do parágrafo anterior é igualmente aplicável
libidinagem, ou induzindo-a a praticá-lo ou presenciá-lo: no caso em que o criminoso, sendo primário, restitui a coisa ao seu
Pena - reclusão, até três anos. dono ou repara o dano causado, antes de instaurada a ação penal.

Pederastia ou outro ato de libidinagem Energia de valor econômico


Art. 235. Praticar, ou permitir o militar que com êle se pratique § 3º Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer
ato libidinoso, homossexual ou não, em lugar sujeito a administra- outra que tenha valor econômico.
ção militar:
Pena - detenção, de seis meses a um ano. Furto qualificado
§ 4º Se o furto é praticado durante a noite:
Presunção de violência Pena reclusão, de dois a oito anos.
Art. 236. Presume-se a violência, se a vítima: § 5º Se a coisa furtada pertence à Fazenda Nacional:
I - não é maior de quatorze anos, salvo fundada suposição con- Pena - reclusão, de dois a seis anos.
trária do agente; § 6º Se o furto é praticado:
II - é doente ou deficiente mental, e o agente conhecia esta I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração
circunstância; da coisa;
III - não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência. II - com abuso de confiança ou mediante fraude, escalada ou
destreza;
Aumento de pena III - com emprego de chave falsa;
Art. 237. Nos crimes previstos neste capítulo, a pena é agrava- IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas:
da, se o fato é praticado: Pena - reclusão, de três a dez anos.
I - com o concurso de duas ou mais pessoas; § 7º Aos casos previstos nos §§ 4º e 5º são aplicáveis as atenua-
II - por oficial, ou por militar em serviço. ções a que se referem os §§ 1º e 2º. Aos previstos no § 6º é aplicável
a atenuação referida no § 2º.
CAPÍTULO VIII
DO ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR Furto de uso
Art. 241. Se a coisa é subtraída para o fim de uso momentâneo
Ato obsceno e, a seguir, vem a ser imediatamente restituída ou reposta no lugar
Art. 238. Praticar ato obsceno em lugar sujeito à administração onde se achava:
militar: Pena - detenção, até seis meses.
Pena - detenção de três meses a um ano. Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se a coisa
Parágrafo único. A pena é agravada, se o fato é praticado por usada é veículo motorizado; e de um terço, se é animal de sela ou
militar em serviço ou por oficial. de tiro.

Escrito ou objeto obsceno CAPÍTULO II


Art. 239. Produzir, distribuir, vender, expor à venda, exibir, ad- DO ROUBO E DA EXTORSÃO
quirir ou ter em depósito para o fim de venda, distribuição ou exibi-
ção, livros, jornais, revistas, escritos, pinturas, gravuras, estampas, Roubo simples
imagens, desenhos ou qualquer outro objeto de caráter obsceno, Art. 242. Subtrair coisa alheia móvel, para si ou para outrem,
em lugar sujeito à administração militar, ou durante o período de mediante emprego ou ameaça de emprego de violência contra pes-
exercício ou manobras: soa, ou depois de havê-la, por qualquer modo, reduzido à impossi-
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. bilidade de resistência:
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem distribui, ven- Pena - reclusão, de quatro a quinze anos.
de, oferece à venda ou exibe a militares em serviço objeto de cará-
ter obsceno.

318
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
§ 1º Na mesma pena incorre quem, em seguida à subtração da Extorsão indireta
coisa, emprega ou ameaça empregar violência contra pessoa, a fim Art. 246. Obter de alguém, como garantia de dívida, abusando
de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si de sua premente necessidade, documento que pode dar causa a
ou para outrem. procedimento penal contra o devedor ou contra terceiro:
Pena - reclusão, até três anos.
Roubo qualificado
§ 2º A pena aumenta-se de um terço até metade: Aumento de pena
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma; Art. 247. Nos crimes previstos neste capítulo, a pena é agrava-
II - se há concurso de duas ou mais pessoas; da, se a violência é contra superior, ou militar de serviço.
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores, e o
agente conhece tal circunstância; CAPÍTULO III
IV - se a vítima está em serviço de natureza militar; DA APROPRIAÇÃO INDÉBITA
V - se é dolosamente causada lesão grave;
VI - se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agen- Apropriação indébita simples
te não quis esse resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo. Art. 248. Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a pos-
se ou detenção:
Latrocínio Pena - reclusão, até seis anos.
§ 3º Se, para praticar o roubo, ou assegurar a impunidade do
crime, ou a detenção da coisa, o agente ocasiona dolosamente a Agravação de pena
morte de alguém, a pena será de reclusão, de quinze a trinta anos, Parágrafo único. A pena é agravada, se o valor da coisa excede
sendo irrelevante se a lesão patrimonial deixa de consumar-se. Se vinte vezes o maior salário mínimo, ou se o agente recebeu a coisa:
há mais de uma vítima dessa violência à pessoa, aplica-se o dispos- I - em depósito necessário;
to no art. 79. II - em razão de ofício, emprego ou profissão.

Extorsão simples Apropriação de coisa havida acidentalmente


Art. 243. Obter para si ou para outrem indevida vantagem eco- Art. 249. Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu po-
nômica, constrangendo alguém, mediante violência ou grave ame- der por erro, caso fortuito ou fôrça da natureza:
aça: Pena - detenção, até um ano.
a) a praticar ou tolerar que se pratique ato lesivo do seu patri-
mônio, ou de terceiro; Apropriação de coisa achada
b) a omitir ato de interesse do seu patrimônio, ou de terceiro: Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem acha coisa
Pena - reclusão, de quatro a quinze anos. alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando
de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor, ou de entregá-la à au-
Formas qualificadas toridade competente, dentro do prazo de quinze dias.
§ 1º Aplica-se à extorsão o disposto no § 2º do art. 242. Art. 250. Nos crimes previstos neste capítulo, aplica-se o dis-
§ 2º Aplica-se à extorsão, praticada mediante violência, o dis- posto nos §§ 1º e 2º do art. 240.
posto no § 3º do art. 242.
CAPÍTULO IV
Extorsão mediante sequestro DO ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES
Art. 244. Extorquir ou tentar extorquir para si ou para outrem,
mediante sequestro de pessoa, indevida vantagem econômica: Estelionato
Pena - reclusão, de seis a quinze anos. Art. 251. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em
prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante
Formas qualificadas artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento:
§ 1º Se o sequestro dura mais de vinte e quatro horas, ou se o Pena - reclusão, de dois a sete anos.
sequestrado é menor de dezesseis ou maior de sessenta anos, ou se § 1º Nas mesmas penas incorre quem:
o crime é cometido por mais de duas pessoas, a pena é de reclusão Disposição de coisa alheia como própria
de oito a vinte anos. I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em ga-
§ 2º Se à pessoa sequestrada, em razão de maus tratos ou da rantia, coisa alheia como própria;
natureza do sequestro, resulta grave sofrimento físico ou moral, a
pena de reclusão é aumentada de um terço. Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria
§ 3º Se o agente vem a empregar violência contra a pessoa II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa
sequestrada, aplicam-se, correspondentemente, as disposições do própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que
art. 242, § 2º, ns. V e VI ,e § 3º. prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações,
silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias;
Chantagem
Art. 245. Obter ou tentar obter de alguém, para si ou para ou- Defraudação de penhor
trem, indevida vantagem econômica, mediante a ameaça de revelar III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor
fato, cuja divulgação pode lesar a sua reputação ou de pessoa que ou por outro modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do
lhe seja particularmente cara: objeto empenhado;
Pena - reclusão, de três a dez anos.
Parágrafo único. Se a ameaça é de divulgação pela imprensa, Fraude na entrega de coisa
radiodifusão ou televisão, a pena é agravada. IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que
entrega a adquirente;

319
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
Fraude no pagamento de cheque Pena correspondente à violência
V - defrauda de qualquer modo o pagamento de cheque que § 2º Quando há emprego de violência, fica ressalvada a pena a
emitiu a favor de alguém. esta correspondente.
§ 2º Os crimes previstos nos ns. I a V do parágrafo anterior são
considerados militares somente nos casos do art. 9º, nº II, letras a Aposição, supressão ou alteração de marca
ee. Art. 258. Apor, suprimir ou alterar, indevidamente, em gado ou
rebanho alheio, sob guarda ou administração militar, marca ou sinal
Agravação de pena indicativo de propriedade:
§ 3º A pena é agravada, se o crime é cometido em detrimento Pena - detenção, de seis meses a três anos.
da administração militar.
CAPÍTULO VII
Abuso de pessoa DO DANO
Art. 252. Abusar, em proveito próprio ou alheio, no exercício
de função, em unidade, repartição ou estabelecimento militar, da Dano simples
necessidade, paixão ou inexperiência, ou da doença ou deficiência Art. 259. Destruir, inutilizar, deteriorar ou fazer desaparecer
mental de outrem, induzindo-o à prática de ato que produza efeito coisa alheia:
jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro, ou em detrimento da Pena - detenção, até seis meses.
administração militar: Parágrafo único. Se se trata de bem público:
Pena - reclusão, de dois a seis anos. Pena - detenção, de seis meses a três anos.
Art. 253. Nos crimes previstos neste capítulo, aplica-se o dis-
posto nos §§ 1º e 2º do art. 240. Dano atenuado
Art. 260. Nos casos do artigo anterior, se o criminoso é primário
CAPÍTULO V e a coisa é de valor não excedente a um décimo do salário mínimo,
DA RECEPTAÇÃO o juiz pode atenuar a pena, ou considerar a infração como discipli-
nar.
Receptação Parágrafo único. O benefício previsto no artigo é igualmente
Art. 254. Adquirir, receber ou ocultar em proveito próprio ou aplicável, se, dentro das condições nele estabelecidas, o criminoso
alheio, coisa proveniente de crime, ou influir para que terceiro, de repara o dano causado antes de instaurada a ação penal.
boa-fé, a adquira, receba ou oculte:
Pena - reclusão, até cinco anos. Dano qualificada
Parágrafo único. São aplicáveis os §§ 1º e 2º do art. 240. Art. 261. Se o dano é cometido:
I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
Receptação culposa
II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o
Art. 255. Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou
fato não constitui crime mais grave;
pela manifesta desproporção entre o valor e o preço, ou pela con-
III - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável:
dição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio crimi-
Pena - reclusão, até quatro anos, além da pena correspondente
noso:
à violência.
Pena - detenção, até um ano.
Parágrafo único. Se o agente é primário e o valor da coisa não
Dano em material ou aparelhamento de guerra
é superior a um décimo do salário mínimo, o juiz pode deixar de
Art. 262. Praticar dano em material ou aparelhamento de guer-
aplicar a pena.
ra ou de utilidade militar, ainda que em construção ou fabricação,
Punibilidade da receptação ou em efeitos recolhidos a depósito, pertencentes ou não às fôrças
Art. 256. A receptação é punível ainda que desconhecido ou armadas:
isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa. Pena - reclusão, até seis anos.

CAPÍTULO VI Dano em navio de guerra ou mercante em serviço militar


DA USURPAÇÃO Art. 263. Causar a perda, destruição, inutilização, encalhe, co-
lisão ou alagamento de navio de guerra ou de navio mercante em
Alteração de limites serviço militar, ou nêle causar avaria:
Art. 257. Suprimir ou deslocar tapume, marco ou qualquer ou- Pena - reclusão, de três a dez anos.
tro sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se, no todo ou § 1º Se resulta lesão grave, a pena correspondente é aumenta-
em parte, de coisa imóvel sob administração militar: da da metade; se resulta a morte, é aplicada em dobro.
Pena - detenção, até seis meses. § 2º Se, para a prática do dano previsto no artigo, usou o agente
§ 1º Na mesma pena incorre quem: de violência contra a pessoa, ser-lhe-á aplicada igualmente a pena
a ela correspondente.
Usurpação de águas
I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de outrem, águas Dano em aparelhos e instalações de aviação e navais, e em
sob administração militar; estabelecimentos militares
Art. 264. Praticar dano:
Invasão de propriedade I - em aeronave, hangar, depósito, pista ou instalações de cam-
II - invade, com violência à pessoa ou à coisa, ou com grave po de aviação, engenho de guerra motomecanizado, viatura em
ameaça, ou mediante concurso de duas ou mais pessoas, terreno comboio militar, arsenal, dique, doca, armazém, quartel, alojamen-
ou edifício sob administração militar. to ou em qualquer outra instalação militar;

320
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
II - em estabelecimento militar sob regime industrial, ou centro Desacato a assemelhado ou funcionário
industrial a serviço de construção ou fabricação militar: Art. 300. Desacatar assemelhado ou funcionário civil no exer-
Pena - reclusão, de dois a dez anos. cício de função ou em razão dela, em lugar sujeito à administração
Parágrafo único. Aplica-se o disposto nos parágrafos do artigo militar:
anterior. Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não cons-
titui outro crime.
Desaparecimento, consunção ou extravio
Art. 265. Fazer desaparecer, consumir ou extraviar combustível, Desobediência
armamento, munição, peças de equipamento de navio ou de aero- Art. 301. Desobedecer a ordem legal de autoridade militar:
nave ou de engenho de guerra motomecanizado: Pena - detenção, até seis meses.
Pena - reclusão, até três anos, se o fato não constitui crime
mais grave. Ingresso clandestino
Art. 302. Penetrar em fortaleza, quartel, estabelecimento mili-
Modalidades culposas tar, navio, aeronave, hangar ou em outro lugar sujeito à administra-
Art. 266. Se o crime dos arts. 262, 263, 264 e 265 é culposo, ção militar, por onde seja defeso ou não haja passagem regular, ou
a pena é de detenção de seis meses a dois anos; ou, se o agente é iludindo a vigilância da sentinela ou de vigia:
oficial, suspensão do exercício do posto de um a três anos, ou re- Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não cons-
forma; se resulta lesão corporal ou morte, aplica-se também a pena titui crime mais grave.
cominada ao crime culposo contra a pessoa, podendo ainda, se o
agente é oficial, ser imposta a pena de reforma. CAPÍTULO II
DO PECULATO
CAPÍTULO VIII
DA USURA Peculato
Art. 303. Apropriar-se de dinheiro, valor ou qualquer outro
Usura pecuniária bem móvel, público ou particular, de que tem a posse ou detenção,
Art. 267. Obter ou estipular, para si ou para outrem, no con- em razão do cargo ou comissão, ou desviá-lo em proveito próprio
trato de mútuo de dinheiro, abusando da premente necessidade, ou alheio:
inexperiência ou leviandade do mutuário, juro que excede a taxa Pena - reclusão, de três a quinze anos.
fixada em lei, regulamento ou ato oficial: § 1º A pena aumenta-se de um terço, se o objeto da apropria-
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. ção ou desvio é de valor superior a vinte vezes o salário mínimo.

Casos assimilados Peculato-furto


§ 1º Na mesma pena incorre quem, em repartição ou local sob § 2º Aplica-se a mesma pena a quem, embora não tendo a pos-
administração militar, recebe vencimento ou provento de outrem, se ou detenção do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou contribui
ou permite que estes sejam recebidos, auferindo ou permitindo que para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se
outrem aufira proveito cujo valor excede a taxa de três por cento da facilidade que lhe proporciona a qualidade de militar ou de fun-
cionário.
Agravação de pena
2º A pena é agravada, se o crime é cometido por superior ou Peculato culposo
por funcionário em razão da função. § 3º Se o funcionário ou o militar contribui culposamente para
que outrem subtraia ou desvie o dinheiro, valor ou bem, ou dele se
aproprie:
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO MILITAR Pena - detenção, de três meses a um ano.

TÍTULO VII Extinção ou minoração da pena


DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO MILITAR § 4º No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se
CAPÍTULO I precede a sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é
DO DESACATO E DA DESOBEDIÊNCIA posterior, reduz de metade a pena imposta.

Desacato a superior Peculato mediante aproveitamento do êrro de outrem


Art. 298. Desacatar superior, ofendendo-lhe a dignidade ou o Art. 304. Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que,
decoro, ou procurando deprimir-lhe a autoridade: no exercício do cargo ou comissão, recebeu por êrro de outrem:
Pena - reclusão, até quatro anos, se o fato não constitui crime Pena - reclusão, de dois a sete anos.
mais grave.
CAPÍTULO III
Agravação de pena DA CONCUSSÃO, EXCESSO DE EXAÇÃO E DESVIO
Parágrafo único. A pena é agravada, se o superior é oficial gene-
ral ou comandante da unidade a que pertence o agente. Concussão
Art. 305. Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamen-
Desacato a militar te, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão
Art. 299. Desacatar militar no exercício de função de natureza dela, vantagem indevida:
militar ou em razão dela: Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não cons-
titui outro crime.

321
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
Excesso de exação Agravação da pena
Art. 306. Exigir imposto, taxa ou emolumento que sabe inde- § 1º A pena é agravada se o agente é oficial ou exerce função
vido, ou, quando devido, empregar na cobrança meio vexatório ou em repartição militar.
gravoso, que a lei não autoriza:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. Documento por equiparação
§ 2º Equipara-se a documento, para os efeitos penais, o disco
Desvio fonográfico ou a fita ou fio de aparelho eletromagnético a que se
Art. 307. Desviar, em proveito próprio ou de outrem, o que re- incorpore declaração destinada à prova de fato juridicamente re-
cebeu indevidamente, em razão do cargo ou função, para recolher levante.
aos cofres públicos:
Pena - reclusão, de dois a doze anos. Falsidade ideológica
Art. 312. Omitir, em documento público ou particular, decla-
CAPÍTULO IV ração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir de-
DA CORRUPÇÃO claração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de
prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato
Corrupção passiva juridicamente relevante, desde que o fato atente contra a adminis-
Art. 308. Receber, para si ou para outrem, direta ou indireta- tração ou o serviço militar:
mente, ainda que fora da função, ou antes de assumi-la, mas em ra- Pena - reclusão, até cinco anos, se o documento é público; re-
zão dela vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: clusão, até três anos, se o documento é particular.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Cheque sem fundos
Aumento de pena Art. 313. Emitir cheque sem suficiente provisão de fundos em
§ 1º A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da poder do sacado, se a emissão é feita de militar em favor de militar,
vantagem ou promessa, o agente retarda ou deixa de praticar qual- ou se o fato atenta contra a administração militar:
quer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. Pena - reclusão, até cinco anos.

Diminuição de pena Circunstância irrelevante


§ 2º Se o agente pratica, deixa de praticar ou retarda o ato de § 1º Salvo o caso do art. 245, é irrelevante ter sido o cheque
ofício com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influ- emitido para servir como título ou garantia de dívida.
ência de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano. Atenuação de pena
§ 2º Ao crime previsto no artigo aplica-se o disposto nos §§ 1º
Corrupção ativa e 2º do art. 240.
Art. 309. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou vantagem in-
devida para a prática, omissão ou retardamento de ato funcional: Certidão ou atestado ideológicamente falso
Pena - reclusão, até oito anos. Art. 314. Atestar ou certificar falsamente, em razão de função,
ou profissão, fato ou circunstância que habilite alguém a obter car-
Aumento de pena go, posto ou função, ou isenção de ônus ou de serviço, ou qualquer
Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço, se, em razão outra vantagem, desde que o fato atente contra a administração ou
da vantagem, dádiva ou promessa, é retardado ou omitido o ato, ou serviço militar:
praticado com infração de dever funcional. Pena - detenção, até dois anos.

Participação ilícita Agravação de pena


Art. 310. Participar, de modo ostensivo ou simulado, direta- Parágrafo único. A pena é agravada se o crime é praticado com
mente ou por interposta pessoa, em contrato, fornecimento, ou o fim de lucro ou em prejuízo de terceiro.
concessão de qualquer serviço concernente à administração militar,
sôbre que deva informar ou exercer fiscalização em razão do ofício: Uso de documento falso
Pena - reclusão, de dois a quatro anos. Art. 315. Fazer uso de qualquer dos documentos falsificados ou
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem adquire para si, alterados por outrem, a que se referem os artigos anteriores:
direta ou indiretamente, ou por ato simulado, no todo ou em parte, Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.
bens ou efeitos em cuja administração, depósito, guarda, fiscaliza-
ção ou exame, deve intervir em razão de seu emprego ou função, Supressão de documento
ou entra em especulação de lucro ou interesse, relativamente a es- Art. 316. Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício próprio ou
ses bens ou efeitos. de outrem, ou em prejuízo alheio, documento verdadeiro, de que
não podia dispor, desde que o fato atente contra a administração
CAPÍTULO V ou o serviço militar:
DA FALSIDADE Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o documento é público;
reclusão, até cinco anos, se o documento é particular.
Falsificação de documento
Art. 311. Falsificar, no todo ou em parte, documento público
ou particular, ou alterar documento verdadeiro, desde que o fato
atente contra a administração ou o serviço militar:
Pena - sendo documento público, reclusão, de dois a seis anos;
sendo documento particular, reclusão, até cinco anos.

322
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
Uso de documento pessoal alheio Pena - detenção, de dois a seis meses, se o fato não constitui
Art. 317. Usar, como próprio, documento de identidade alheia, crime mais grave.
ou de qualquer licença ou privilégio em favor de outrem, ou ceder Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem, ainda que não
a outrem documento próprio da mesma natureza, para que dele se seja funcionário, mas desde que o fato atente contra a administra-
utilize, desde que o fato atente contra a administração ou o serviço ção militar:
militar: I - indevidamente se se apossa de correspondência, embora
Pena - detenção, até seis meses, se o fato não constitui elemen- não fechada, e no todo ou em parte a sonega ou destrói;
to de crime mais grave. II - indevidamente divulga, transmite a outrem, ou abusiva-
mente utiliza comunicação de interesse militar;
Falsa identidade III - impede a comunicação referida no número anterior.
Art. 318. Atribuir-se, ou a terceiro, perante a administração mi-
litar, falsa identidade, para obter vantagem em proveito próprio ou Violação de sigilo funcional
alheio, ou para causar dano a outrem: Art. 326. Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo ou
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não consti- função e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a reve-
tui crime mais grave. lação, em prejuízo da administração militar:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não cons-
CAPÍTULO VI titui crime mais grave.
DOS CRIMES CONTRA O DEVER FUNCIONAL
Violação de sigilo de proposta de concorrência
Prevaricação Art. 327. Devassar o sigilo de proposta de concorrência de inte-
Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de resse da administração militar ou proporcionar a terceiro o ensejo
ofício, ou praticá-lo contra expressa disposição de lei, para satisfa- de devassá-lo:
zer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de três meses a um ano.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Obstáculo à hasta pública, concorrência ou tomada de preços
Violação do dever funcional com o fim de lucro Art. 328. Impedir, perturbar ou fraudar a realização de hasta
Art. 320. Violar, em qualquer negócio de que tenha sido incum- pública, concorrência ou tomada de preços, de interesse da admi-
bido pela administração militar, seu dever funcional para obter es- nistração militar:
peculativamente vantagem pessoal, para si ou para outrem: Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Exercício funcional ilegal
Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento Art. 329. Entrar no exercício de posto ou função militar, ou de
Art. 321. Extraviar livro oficial, ou qualquer documento, de que cargo ou função em repartição militar, antes de satisfeitas as exi-
tem a guarda em razão do cargo, sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou gências legais, ou continuar o exercício, sem autorização, depois de
parcialmente: saber que foi exonerado, ou afastado, legal e definitivamente, qual-
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o fato não constitui cri- quer que seja o ato determinante do afastamento:
me mais grave. Pena - detenção, até quatro meses, se o fato não constitui cri-
me mais grave.
Condescendência criminosa
Art. 322. Deixar de responsabilizar subordinado que comete in- Abandono de cargo
fração no exercício do cargo, ou, quando lhe falte competência, não Art. 330. Abandonar cargo público, em repartição ou estabele-
levar o fato ao conhecimento da autoridade competente: cimento militar:
Pena - se o fato foi praticado por indulgência, detenção até seis Pena - detenção, até dois meses.
meses; se por negligência, detenção até três meses.
Formas qualificadas
Não inclusão de nome em lista § 1º Se do fato resulta prejuízo à administração militar:
Art. 323. Deixar, no exercício de função, de incluir, por negligên- Pena - detenção, de três meses a um ano.
cia, qualquer nome em relação ou lista para o efeito de alistamento § 2º Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fron-
ou de convocação militar: teira:
Pena - detenção, até seis meses. Pena - detenção, de um a três anos.

Inobservância de lei, regulamento ou instrução Aplicação ilegal de verba ou dinheiro


Art. 324. Deixar, no exercício de função, de observar lei, regula- Art. 331. Dar às verbas ou ao dinheiro público aplicação diversa
mento ou instrução, dando causa direta à prática de ato prejudicial da estabelecida em lei:
à administração militar: Pena - detenção, até seis meses.
Pena - se o fato foi praticado por tolerância, detenção até seis
meses; se por negligência, suspensão do exercício do posto, gradu- Abuso de confiança ou boa-fé
ação, cargo ou função, de três meses a um ano. Art. 332. Abusar da confiança ou boa-fé de militar, assemelha-
do ou funcionário, em serviço ou em razão deste, apresentando-lhe
Violação ou divulgação indevida de correspondência ou co- ou remetendo-lhe, para aprovação, recebimento, anuência ou apo-
municação sição de visto, relação, nota, empenho de despesa, ordem ou folha
Art. 325. Devassar indevidamente o conteúdo de correspon- de pagamento, comunicação, ofício ou qualquer outro documento,
dência dirigida à administração militar, ou por esta expedida: que sabe, ou deve saber, serem inexatos ou irregulares, desde que
o fato atente contra a administração ou o serviço militar:

323
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não cons- Impedimento, perturbação ou fraude de concorrência
titui crime mais grave. Art. 339. Impedir, perturbar ou fraudar em prejuízo da Fazenda
Nacional, concorrência, hasta pública ou tomada de preços ou ou-
Forma qualificada tro qualquer processo administrativo para aquisição ou venda de
§ 1º A pena é agravada, se do fato decorre prejuízo material ou coisas ou mercadorias de uso das fôrças armadas, seja elevando ar-
processo penal militar para a pessoa de cuja confiança ou boa-fé se bitrariamente os preços, auferindo lucro excedente a um quinto do
abusou. valor da transação, seja alterando substância, qualidade ou quanti-
dade da coisa ou mercadoria fornecida, seja impedindo a livre con-
Modalidade culposa corrência de outros fornecedores, ou por qualquer modo tornando
§ 2º Se a apresentação ou remessa decorre de culpa: mais onerosa a transação:
Pena - detenção, até seis meses. Pena - detenção, de um a três anos.
§ 1º Na mesma pena incorre o intermediário na transação.
Violência arbitrária § 2º É aumentada a pena de um terço, se o crime ocorre em
Art. 333. Praticar violência, em repartição ou estabelecimento período de grave crise econômica.
militar, no exercício de função ou a pretexto de exercê-la:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da correspon-
dente à violência. CRIMES EM TEMPO DE GUERRA

Patrocínio indébito
Art. 334. Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado LIVRO II
perante a administração militar, valendo-se da qualidade de funcio- DOS CRIMES MILITARES EM TEMPO DE GUERRA
nário ou de militar: TÍTULO I
Pena - detenção, até três meses. DO FAVORECIMENTO AO INIMIGO
Parágrafo único. Se o interesse é ilegítimo: CAPÍTULO I
Pena - detenção, de três meses a um ano. DA TRAIÇÃO

CAPÍTULO VII Traição


DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMI- Art. 355. Tomar o nacional armas contra o Brasil ou Estado
NISTRAÇÃO MILITAR aliado, ou prestar serviço nas fôrças armadas de nação em guerra
contra o Brasil:
Usurpação de função Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí-
Art. 335. Usurpar o exercício de função em repartição ou esta- nimo.
belecimento militar:
Pena - detenção, de três meses a dois anos. Favor ao inimigo
Art. 356. Favorecer ou tentar o nacional favorecer o inimigo,
Tráfico de influência prejudicar ou tentar prejudicar o bom êxito das operações militares,
Art. 336. Obter para si ou para outrem, vantagem ou promessa comprometer ou tentar comprometer a eficiência militar:
de vantagem, a pretexto de influir em militar ou assemelhado ou I - empreendendo ou deixando de empreender ação militar;
funcionário de repartição militar, no exercício de função: II - entregando ao inimigo ou expondo a perigo dessa consequ-
Pena - reclusão, até cinco anos. ência navio, aeronave, fôrça ou posição, engenho de guerra moto-
mecanizado, provisões ou qualquer outro elemento de ação militar;
Aumento de pena III - perdendo, destruindo, inutilizando, deteriorando ou ex-
Parágrafo único. A pena é agravada, se o agente alega ou insi- pondo a perigo de perda, destruição, inutilização ou deterioração,
nua que a vantagem é também destinada ao militar ou assemelha- navio, aeronave, engenho de guerra motomecanizado, provisões ou
do, ou ao funcionário. qualquer outro elemento de ação militar;
IV - sacrificando ou expondo a perigo de sacrifício fôrça militar;
Subtração ou inutilização de livro, processo ou documento V - abandonando posição ou deixando de cumprir missão ou
Art. 337. Subtrair ou inutilizar, total ou parcialmente, livro ofi- ordem:
cial, processo ou qualquer documento, desde que o fato atente Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí-
contra a administração ou o serviço militar: nimo.
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não constitui
crime mais grave. Tentativa contra a soberania do Brasil
Art. 357. Praticar o nacional o crime definido no art. 142:
Inutilização de edital ou de sinal oficial Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí-
Art. 338. Rasgar, ou de qualquer forma inutilizar ou conspurcar nimo.
edital afixado por ordem da autoridade militar; violar ou inutilizar
selo ou sinal empregado, por determinação legal ou ordem de auto- Coação a comandante
ridade militar, para identificar ou cerrar qualquer objeto: Art. 358. Entrar o nacional em conluio, usar de violência ou
Pena - detenção, até um ano. ameaça, provocar tumulto ou desordem com o fim de obrigar o co-
mandante a não empreender ou a cessar ação militar, a recuar ou
render-se:
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí-
nimo.

324
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
Informação ou auxílio ao inimigo Caso de concurso
Art. 359. Prestar o nacional ao inimigo informação ou auxílio Parágrafo único. No caso de concurso por culpa, para execução
que lhe possa facilitar a ação militar: do crime previsto no art. 143, § 2º, ou de revelação culposa (art.
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí- 144, § 3º):
nimo. Pena - reclusão, de três a seis anos.

Aliciação de militar Penetração de estrangeiro


Art. 360. Aliciar o nacional algum militar a passar-se para o ini- Art. 367. Entrar o estrangeiro em território nacional, ou insinu-
migo ou prestar-lhe auxílio para êsse fim: ar-se em fôrça ou unidade em operações de guerra, ainda que fora
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí- do território nacional, a fim de colhêr documento, notícia ou infor-
nimo. mação de caráter militar, em benefício do inimigo, ou em prejuízo
daquelas operações:
Ato prejudicial à eficiência da tropa Pena - reclusão, de dez a vinte anos, se o fato não constitui
Art. 361. Provocar o nacional, em presença do inimigo, a de- crime mais grave.
bandada de tropa, ou guarnição, impedir a reunião de uma ou outra
ou causar alarme, com o fim de nelas produzir confusão, desalento CAPÍTULO V
ou desordem: DO MOTIM E DA REVOLTA
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí-
nimo. Motim, revolta ou conspiração
Art. 368. Praticar qualquer dos crimes definidos nos arts. 149 e
CAPÍTULO II seu parágrafo único, e 152:
DA TRAIÇÃO IMPRÓPRIA Pena - aos cabeças, morte, grau máximo; reclusão, de quinze
anos, grau mínimo. Aos co-autores, reclusão, de dez a trinta anos.
Traição imprópria
Art. 362. Praticar o estrangeiro os crimes previstos nos arts. Forma qualificada
356, ns. I, primeira parte, II, III e IV, 357 a 361: Parágrafo único. Se o fato é praticado em presença do inimigo:
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de dez anos, grau míni- Pena - aos cabeças, morte, grau máximo; reclusão, de vinte
mo. anos, grau mínimo. Aos co-autores, morte, grau máximo; reclusão,
de quinze anos, grau mínimo.
CAPÍTULO III
DA COBARDIA Omissão de lealdade militar
Art. 369. Praticar o crime previsto no artigo 151:
Cobardia Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Art. 363. Subtrair-se ou tentar subtrair-se o militar, por temor,
em presença do inimigo, ao cumprimento do dever militar: CAPÍTULO VI
Pena - reclusão, de dois a oito anos. DO INCITAMENTO
Cobardia qualificada Incitamento
Art. 364. Provocar o militar, por temor, em presença do inimi- Art. 370. Incitar militar à desobediência, à indisciplina ou à prá-
go, a debandada de tropa ou guarnição; impedir a reunião de uma tica de crime militar:
ou outra, ou causar alarme com o fim de nelas produzir confusão,
Pena - reclusão, de três a dez anos.
desalento ou desordem:
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem introduz, afi-
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí-
xa ou distribui, em lugar sujeito à administração militar, impressos,
nimo.
manuscritos ou material mimeografado, fotocopiado ou gravado,
em que se contenha incitamento à prática dos atos previstos no
Fuga em presença do inimigo
artigo.
Art. 365. Fugir o militar, ou incitar à fuga, em presença do ini-
migo:
Incitamento em presença do inimigo
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí-
nimo. Art. 371. Praticar qualquer dos crimes previstos no art. 370 e
seu parágrafo, em presença do inimigo:
CAPÍTULO IV Pena - morte, grau máximo; reclusão, de dez anos, grau míni-
DA ESPIONAGEM mo.

Espionagem CAPÍTULO VII


Art. 366. Praticar qualquer dos crimes previstos nos arts. 143 e DA INOBSERVÂNCIA DO DEVER MILITAR
seu § 1°, 144 e seus §§ 1º e 2º, e 146, em favor do inimigo ou com-
prometendo a preparação, a eficiência ou as operações militares: Rendição ou capitulação
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí- Art. 372. Render-se o comandante, sem ter esgotado os recur-
nimo. sos extremos de ação militar; ou, em caso de capitulação, não se
conduzir de acordo com o dever militar:
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí-
nimo.

325
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
Omissão de vigilância Separação culposa de comando
Art. 373. Deixar-se o comandante surpreender pelo inimigo. Art. 380. Permanecer o oficial, por culpa, separado do coman-
Pena - detenção, de um a três anos, se o fato não constitui cri- do superior:
me mais grave. Pena - reclusão, até quatro anos, se o fato não constitui crime
mais grave.
Resultado mais grave
Parágrafo único. Se o fato compromete as operações militares: Tolerância culposa
Pena - reclusão, de cinco a vinte anos, se o fato não constitui Art. 381. Deixar, por culpa, evadir-se prisioneiro:
crime mais grave. Pena - reclusão, até quatro anos.

Descumprimento do dever militar Entendimento com o inimigo


Art. 374. Deixar, em presença do inimigo, de conduzir-se de Art. 382. Entrar o militar, sem autorização, em entendimento
acordo com o dever militar: com outro militar ou emissário de país inimigo, ou servir, para êsse
Pena - reclusão, até cinco anos, se o fato não constitui crime fim, de intermediário:
mais grave. Pena - reclusão, até três anos, se o fato não constitui crime
mais grave.
Falta de cumprimento de ordem
Art. 375. Dar causa, por falta de cumprimento de ordem, à ação CAPÍTULO VIII
militar do inimigo: DO DANO
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Dano especial
Resultado mais grave Art. 383. Praticar ou tentar praticar qualquer dos crimes defini-
Parágrafo único. Se o fato expõe a perigo fôrça, posição ou ou- dos nos arts. 262, 263, §§ 1º e 2º, e 264, em benefício do inimigo,
tros elementos de ação militar: ou comprometendo ou podendo comprometer a preparação, a efi-
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí- ciência ou as operações militares:
nimo. Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí-
nimo.
Entrega ou abandono culposo
Art. 376. Dar causa, por culpa, ao abandono ou à entrega ao Modalidade culposa
inimigo de posição, navio, aeronave, engenho de guerra, provisões, Parágrafo único. Se o crime é culposo:
ou qualquer outro elemento de ação militar: Pena - detenção, de quatro a dez anos.
Pena - reclusão, de dez a trinta anos.
Dano em bens de interesse militar
Captura ou sacrifício culposo Art. 384. Danificar serviço de abastecimento de água, luz ou
Art. 377. Dar causa, por culpa, ao sacrifício ou captura de fôrça fôrça, estrada, meio de transporte, instalação telegráfica ou outro
sob o seu comando: meio de comunicação, depósito de combustível, inflamáveis, ma-
Pena - reclusão, de dez a trinta anos. térias-primas necessárias à produção, depósito de víveres ou for-
ragens, mina, fábrica, usina ou qualquer estabelecimento de pro-
Separação reprovável dução de artigo necessário à defesa nacional ou ao bem-estar da
Art. 378. Separar o comandante, em caso de capitulação, a sor- população e, bem assim, rebanho, lavoura ou plantação, se o fato
te própria da dos oficiais e praças: compromete ou pode comprometer a preparação, a eficiência ou
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí- as operações militares, ou de qualquer forma atenta contra a segu-
nimo. rança externa do país:
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí-
Abandono de comboio nimo.
Art. 379. Abandonar comboio, cuja escolta lhe tenha sido con-
fiada: Envenenamento, corrupção ou epidemia
Pena - reclusão, de dois a oito anos. Art. 385. Envenenar ou corromper água potável, víveres ou
forragens, ou causar epidemia mediante a propagação de germes
Resultado mais grave patogênicos, se o fato compromete ou pode comprometer a prepa-
§ 1º Se do fato resulta avaria grave, ou perda total ou parcial ração, a eficiência ou as operações militares, ou de qualquer forma
do comboio: atenta contra a segurança externa do país:
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí- Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí-
nimo. nimo.

Modalidade culposa Modalidade culposa


§ 2º Separar-se, por culpa, do comboio ou da escolta: Parágrafo único. Se o crime é culposo:
Pena - reclusão, até quatro anos, se o fato não constitui crime Pena - detenção, de dois a oito anos.
mais grave.

Caso assimilado
§ 3º Nas mesmas penas incorre quem, de igual forma, abando-
na material de guerra, cuja guarda lhe tenha sido confiada.

326
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
CAPÍTULO IX Falta de apresentação
DOS CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA Art. 393. Deixar o convocado, no caso de mobilização total ou
parcial, de apresentar-se, dentro do prazo marcado, no centro de
Crimes de perigo comum mobilização ou ponto de concentração:
Art. 386. Praticar crime de perigo comum definido nos arts. 268 Pena - detenção, de um a seis anos.
a 276 e 278, na modalidade dolosa: Parágrafo único. Se o agente é oficial da reserva, aplica-se a
I - se o fato compromete ou pode comprometer a preparação, pena com aumento de um terço.
a eficiência ou as operações militares;
II - se o fato é praticado em zona de efetivas operações milita- CAPÍTULO XIII
res e dele resulta morte: DA LIBERTAÇÃO, DA EVASÃO E DO AMOTINAMENTO DE PRI-
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí- SIONEIROS
nimo.
Libertação de prisioneiro
CAPÍTULO X Art. 394. Promover ou facilitar a libertação de prisioneiro de
DA INSUBORDINAÇÃO E DA VIOLÊNCIA guerra sob guarda ou custódia de fôrça nacional ou aliada:
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de quinze anos, grau mí-
Recusa de obediência ou oposição nimo.
Art. 387. Praticar, em presença do inimigo, qualquer dos crimes
definidos nos arts. 163 e 164: Evasão de prisioneiro
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de dez anos, grau míni- Art. 395. Evadir-se prisioneiro de guerra e voltar a tomar armas
mo. contra o Brasil ou Estado aliado:
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí-
Coação contra oficial general ou comandante nimo.
Art. 388. Exercer coação contra oficial general ou comandante Parágrafo único. Na aplicação deste artigo, serão considerados
da unidade, mesmo que não seja superior, com o fim de impedir-lhe os tratados e as convenções internacionais, aceitos pelo Brasil rela-
o cumprimento do dever militar: tivamente ao tratamento dos prisioneiros de guerra.
Pena - reclusão, de cinco a quinze anos, se o fato não constitui
crime mais grave. Amotinamento de prisioneiros
Art. 396. Amotinarem-se prisioneiros em presença do inimigo:
Violência contra superior ou militar de serviço Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí-
Art. 389. Praticar qualquer dos crimes definidos nos arts. 157 nimo.
e 158, a que esteja cominada, no máximo, reclusão, de trinta anos:
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí- CAPÍTULO XIV
nimo. DO FAVORECIMENTO CULPOSO AO INIMIGO
Parágrafo único. Se ao crime não é cominada, no máximo, re-
clusão de trinta anos, mas é praticado com arma e em presença do Favorecimento culposo
inimigo: Art. 397. Contribuir culposamente para que alguém pratique
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de quinze anos, grau mí-
crime que favoreça o inimigo:
nimo.
Pena - reclusão, de dois a quatro anos, se o fato não constitui
crime mais grave.
CAPÍTULO XI
DO ABANDONO DE POSTO
TÍTULO II
DA HOSTILIDADE E DA ORDEM ARBITRÁRIA
Abandono de posto
Art. 390. Praticar, em presença do inimigo, crime de abandono
Prolongamento de hostilidades
de posto, definido no art. 195:
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí- Art. 398. Prolongar o comandante as hostilidades, depois de
nimo. oficialmente saber celebrada a paz ou ajustado o armistício.
Pena - reclusão, de dois a dez anos.
CAPÍTULO XII
DA DESERÇÃO E DA FALTA DE APRESENTAÇÃO Ordem arbitrária
Art. 399. Ordenar o comandante contribuição de guerra, sem
Deserção autorização, ou excedendo os limites desta:
Art. 391. Praticar crime de deserção definido no Capítulo II, do Pena - reclusão, até três anos.
Título III, do Livro I, da Parte Especial:
Pena - a cominada ao mesmo crime, com aumento da metade, TÍTULO III
se o fato não constitui crime mais grave. DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
Parágrafo único. Os prazos para a consumação do crime são CAPÍTULO I
reduzidos de metade. DO HOMICÍDIO

Deserção em presença do inimigo Homicídio simples


Art. 392. Desertar em presença do inimigo: Art. 400. Praticar homicídio, em presença do inimigo:
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí- I - no caso do art. 205:
nimo. Pena - reclusão, de doze a trinta anos;

327
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
II - no caso do § 1º do art. 205, o juiz pode reduzir a pena de Pena - morte, grau máximo, se cominada pena de reclusão de
um sexto a um terço; trinta anos; reclusão pelo dobro da pena para o tempo de paz, nos
outros casos.
Homicídio qualificado
III - no caso do § 2° do art. 205: Saque
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí- Art. 406. Praticar o saque em zona de operações militares ou
nimo. em território militarmente ocupado:
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí-
CAPÍTULO II nimo.
DO GENOCÍDIO
TÍTULO V
Genocídio DO RAPTO E DA VIOLÊNCIA CARNAL
Art. 401. Praticar, em zona militarmente ocupada, o crime pre-
visto no art. 208: Rapto
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mí- Art. 407. Raptar mulher honesta, mediante violência ou grave
nimo. ameaça, para fim libidinoso, em lugar de efetivas operações mili-
tares:
Pena - reclusão, de dois a quatro anos.
Casos assimilados
Art. 402. Praticar, com o mesmo fim e na zona referida no arti-
Resultado mais grave
go anterior, qualquer dos atos previstos nos ns. I, II, III, IV ou V, do
§ 1º Se da violência resulta lesão grave:
parágrafo único, do art. 208:
Pena - reclusão, de seis a dez anos.
Pena - reclusão, de seis a vinte e quatro anos. § 2º Se resulta morte:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
CAPÍTULO III
DA LESÃO CORPORAL Cumulação de pena
§ 3º Se o autor, ao efetuar o rapto, ou em seguida a êste, pra-
Lesão leve tica outro crime contra a raptada, aplicam-se, cumulativamente, a
Art. 403. Praticar, em presença do inimigo, crime definido no pena correspondente ao rapto e a cominada ao outro crime.
art. 209:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. Violência carnal
Art. 408. Praticar qualquer dos crimes de violência carnal defi-
Lesão grave nidos nos arts. 232 e 233, em lugar de efetivas operações militares:
§ 1º No caso do § 1° do art. 209: Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Pena - reclusão, de quatro a dez anos.
§ 2º No caso do § 2º do art. 209: Resultado mais grave
Pena - reclusão, de seis a quinze anos. Parágrafo único. Se da violência resulta:
a) lesão grave:
Lesões qualificadas pelo resultado Pena - reclusão, de oito a vinte anos;
§ 3º No caso do § 3º do art. 209: b) morte:
Pena - reclusão, de oito a vinte anos no caso de lesão grave; Pena - morte, grau máximo; reclusão, de quinze anos, grau mí-
reclusão, de dez a vinte e quatro anos, no caso de morte. nimo.

Minoração facultativa da pena QUESTÕES


§ 4º No caso do § 4º do art. 209, o juiz pode reduzir a pena de
um sexto a um terço.
§ 5º No caso do § 5º do art. 209, o juiz pode diminuir a pena
1. FCC - Defensor Público do Estado do Maranhão/2018
de um terço.
Segundo o Código Penal Militar brasileiro,
(A) a reforma é uma espécie de pena acessória que sujeita o
TÍTULO IV
condenado a permanecer no recinto da unidade, sem prejuízo
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO da instrução militar.
(B) a pena de impedimento sujeita o condenado à situação de
Furto inatividade e fora da unidade militar.
Art. 404. Praticar crime de furto definido nos arts. 240 e 241 e (C) o crime cometido em país estrangeiro só atenua o crime
seus parágrafos, em zona de operações militares ou em território quando praticado por civil.
militarmente ocupado: (D) a suspensão dos direitos políticos é efeito automático das
Pena - reclusão, no dobro da pena cominada para o tempo de condenações militares, ainda que o réu seja civil.
paz. (E) é vedada, em tempos de paz, a suspensão condicional da
pena para o crime de desrespeito a superior.
Roubo ou extorsão
Art. 405. Praticar crime de roubo, ou de extorsão definidos nos
arts. 242, 243 e 244, em zona de operações militares ou em territó-
rio militarmente ocupado:

328
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
2. Com relação aos crimes contra a Autoridade ou Disciplina 5. Com relação aos crimes contra a Autoridade ou Disciplina
Militar, é correto afirmar: Militar, é correto afirmar:
(A) o simples concerto de militares para a prática do crime de (A) o simples concerto de militares para a prática do crime de
motim não é punível, nos termos da lei penal militar, se estes motim não é punível, nos termos da lei penal militar, se estes
não iniciarem, ao menos, os atos executórios do crime de mo- não iniciarem, ao menos, os atos executórios do crime de mo-
tim. tim.
(B) militares que apenas se utilizam de viatura militar para ação (B) militares que apenas se utilizam de viatura militar para ação
militar, em detrimento da ordem ou disciplina militar, mas sem militar, em detrimento da ordem ou disciplina militar, mas sem
ocupar quartel, cometem o crime de motim. ocupar quartel, cometem o crime de motim.
(C) o militar que, estando presente no momento da prá- tica (C) o militar que, estando presente no momento da prá- tica
do crime de motim, não usar de todos os meios ao seu alcance do crime de motim, não usar de todos os meios ao seu alcance
para impedi-lo, será responsabilizado como partícipe deste. para impedi-lo, será responsabilizado como partícipe deste.
(D) o militar que, antes da execução do crime de motim e quan- (D) o militar que, antes da execução do crime de motim e quan-
do era ainda possível evitar-lhe as consequências, denuncia o do era ainda possível evitar-lhe as consequências, denuncia o
ajuste de que participou terá a pena diminuída pela metade ajuste de que participou terá a pena diminuída pela metade
com relação ao referido crime militar. com relação ao referido crime militar.
(E) a reunião de dois ou mais militares com armamento ou ma- (E) a reunião de dois ou mais militares com armamento ou ma-
terial bélico, de propriedade militar, para a prá- tica de violên- terial bélico, de propriedade militar, para a prá- tica de violên-
cia contra coisa particular, só caracterizará o crime de organiza- cia contra coisa particular, só caracterizará o crime de organiza-
ção de grupo para a prática de violência se a coisa se encontrar ção de grupo para a prática de violência se a coisa se encontrar
em lugar sujeito à administração militar. em lugar sujeito à administração militar.

3. Acerca das causas excludentes do crime, assinale a alterna- 6. A cerca do concurso de agentes, assinale a opção correta à
tiva incorreta. luz do CPM.
(A) No Código Penal Militar existe uma causa de justificação es- (A) No cálculo da pena de crimes militares em que haja con-
pecial que é a discriminante do comandante de navio, aerona- curso de pessoas, as condições ou as circunstâncias de caráter
ve ou praça de guerra, concedendo autoridade ao comandan- pessoal dos coautores serão consideradas apenas nos casos
te para compelir seus subordinados a realizarem manobras e em que os agentes tenham consciência dessas condições ou
serviços urgentes, com a finalidade de salvaguardar quer vidas circunstâncias.
humanas, quer a própria unidade. (B) O CPM tipifica como causa de aumento da pena o fato de
(B) O estrito cumprimento do dever legal é causa de exclusão um agente dirigir as atividades dos demais agentes envolvidos
de ilicitude, prevista no Código Penal Militar de 1969, que não no evento delituoso.
o conceitua, assim como não é conceituado no Código Penal. (C) Se o crime for praticado com o concurso de dois ou mais
Ambos, porém, definem o estado de necessidade e a legítima oficiais, a pena desses oficiais deverá ser aplicada em dobro.
defesa. (D) Agente cuja participação no crime seja de menor impor-
(C) No direito militar pátrio, em matéria de legítima defesa, em tância deve ser apenado na mesma proporção que os demais
que pese ser permitida a repulsa à “agressão, atual ou iminen- agentes envolvidos no delito.
te, a direito próprio ou de outrem”, serão sempre considerados (E) Se o crime for cometido por inferiores juntamente com um
elementos constitutivos do crime: a qualidade de superior ou ou mais oficiais, estes, assim como os demais inferiores que
a de inferior, a de oficial de dia, de serviço ou de quarto, ou a estiverem exercendo função de oficial, serão considerados ca-
de sentinela, vigia ou plantão, quando a ação é praticada em beças da ação delituosa.
repulsa à agressão.
(D) A diferença entre o estado de necessidade como excludente 7. Em relação ao inquérito policial militar, assinale a alternativa
de culpabilidade e o estado de necessidade como excludente ERRADA:
do crime, quanto aos requisitos que os constituem, é que, nes- (A) A autoridade militar não poderá mandar arquivar autos de
te, o agente não era legalmente obrigado a arrostar o perigo e, inquérito, embora conclusivo da inexistência de crime ou de
naquele, não lhe era razoavelmente exigível conduta diversa. inimputabilidade do indiciado.
(B) O arquivamento do inquérito não obsta a instauração de
4. Assinale a alternativa que indica um crime propriamente mi- outro. Se novas provas aparecerem em relação ao fato, ressal-
litar, de acordo com a denominada Teoria Clássica. vados o caso julgado e os casos de extinção de punibilidade.
(A) Dano em navio de guerra ou mercante em serviço militar (C) O Ministério Público poderá requerer o arquivamento dos
(art. 263 do Código Penal Militar). autos se entender inadequada a instauração do inquérito.
(B) Ingresso clandestino (art. 302 do Código Penal Militar) (D) Os autos de inquérito não poderão ser devolvidos a auto-
(C) Favorecimento a desertor (art. 193 do Código Penal Militar). ridade policial militar, a não ser mediante requisição do Minis-
(D) Omissão de socorro (art. 201 do Código Penal Militar). tério Público para diligências por ele consideradas imprescindí-
(E) Ofensa às Forças Armadas (art. 219 do Código Penal Militar). veis ao oferecimento da denúncia.
(E) O inquérito é indispensável para o oferecimento da denún-
cia.

329
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR
______________________________________________________
GABARITO
______________________________________________________

______________________________________________________
1 E
2 B ______________________________________________________

3 C ______________________________________________________
4 D ______________________________________________________
5 B
______________________________________________________
6 E
7 E ______________________________________________________

______________________________________________________
ANOTAÇÕES ______________________________________________________

______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
_____________________________________________________
______________________________________________________
_____________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________

330
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

A defesa técnica é exercida pelo advogado. É obrigatória na


APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL NO TEMPO, NO ESPA- fase processual. A autodefesa é exercida pela própria parte. Com-
ÇO E EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS. DISPOSIÇÕES PRELI- preende o direito de audiência (se apresentar ao juiz para defender-
MINARES DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL -se pessoalmente); direito de presença (acompanhar os atos de ins-
trução ao lado do seu defensor); capacidade postulatória autônoma
(impetrar HC, ajuizar revisão criminal, formular pedidos relativos à
— Princípios do Processo Penal execução da pena).
O Direito Processual Penal se embasa em diversos princípios,
que buscam evitar arbitrariedades estatais. Aqui vamos ter a opor- • Publicidade: o processo é público para que possa haver con-
tunidade de conhecer a principal base principiológica processual trole da sociedade. Exceção: sigilo para a preservação do direito à
penal: intimidade.
• Presunção de Inocência: direito de não ser declarado culpa- Art. 5º (...) IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Ju-
do até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória (fim diciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob
do devido processo legal). pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determi-
nados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a
Atenção: A consequência deste princípio é que a acusação (Mi- estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade
nistério Público) fica com o ônus de demonstrar a culpabilidade do do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à in-
acusado. Ex. para a imposição de uma sentença condenatória é ne- formação;
cessário provar, eliminando qualquer dúvida razoável (in dubio pro
reo). • Princípio da busca da verdade: busca na reconstituição dos
fatos que aconteceram, mas sem a pretensão de se chegar à ver-
Súmula 444-STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e dade real, pois essa utopia já justificou a tortura. São inadmissíveis
ações penais em curso para agravar a pena-base. provas obtidas por meios ilícitos, para que seja evitado provar a
CUIDADO: O art. 283 do CPP, que exige o trânsito em julgado qualquer custo, por meio de ilegalidades e violações de direitos.
da condenação para que se inicie o cumprimento da pena, é consti-
tucional, sendo compatível com o princípio da presunção de inocên- Veja os principais julgados sobre o assunto:
cia, previsto no art. 5º, LVII, da CF/88. Não é nula a condenação criminal lastreada em prova produ-
Assim, é proibida a chamada “execução provisória da pena”. zida no âmbito da Receita Federal do Brasil por meio da obtenção
Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes do de informações de instituições financeiras sem prévia autorização
trânsito em julgado (antes do esgotamento de todos os recursos), judicial de quebra do sigilo bancário. Isso porque o STF decidiu que
no entanto, para isso, é necessário que seja proferida uma decisão são constitucionais os arts. 5º e 6º da LC 105/2001, que permitem
judicial individualmente fundamentada, na qual o magistrado de- o acesso direto da Receita Federal à movimentação financeira dos
monstre que estão presentes os requisitos para a prisão preventiva contribuintes.
previstos no art. 312 do CPP. STF. 2ª Turma. RHC 121429/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado
Dessa forma, o réu até pode ficar preso antes do trânsito em em 19/4/2016 (Info 822).
julgado, mas cautelarmente (preventivamente), e não como execu-
ção provisória da pena. Se determinada prova é considerada ilícita, ela deverá ser de-
STF. Plenário. ADC 43/DF, ADC 44/DF e ADC 54/DF, Rel. Min. sentranhada do processo. Por outro lado, as peças do processo que
Marco Aurélio, julgados em 7/11/2019 (Info 958). fazem referência a essa prova (exs: denúncia, pronúncia etc.) não
devem ser desentranhadas e substituídas.
• Contraditório: Consiste no direito à informação e ao direito A denúncia, a sentença de pronúncia e as demais peças judi-
de participação. Ou seja, direito de receber citações e intimações; ciais não são “provas” do crime e, por essa razão, estão fora da re-
direito de participar e reagir, como, por exemplo, oferecer resposta gra que determina a exclusão das provas obtidas por meios ilícitos
à acusação, recorrer. prevista art. 157 do CPP.
Súmula 707 STF: Constitui nulidade a falta de intimação do Assim, a legislação, ao tratar das provas ilícitas e derivadas, não
denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto da determina a exclusão de “peças processuais” que a elas façam re-
rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor da- ferência.
tivo. STF. 2ª Turma. RHC 137368/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julga-
do em 29/11/2016 (Info 849).
• Ampla defesa: direito de se defender com todas as provas
admitidas em direito. Ex. interrogatório.
Súmula 523 STF: No processo penal, a falta da defesa constitui
nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver
prova de prejuízo para o réu.

331
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
O exame de corpo de delito deve ser realizado por perito oficial Configurou-se uma ratificação implícita da denúncia.
(art. 159 do CPP). Não houve designação arbitrária ou quebra de autonomia.
Do ponto de vista estritamente formal, o perito papiloscopista STF. 1ª Turma.HC 114093/PR, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red.
não se encontra previsto no art. 5º da Lei nº 12.030/2009, que lista p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 3/10/2017 (Info
os peritos oficiais de natureza criminal. 880).
Apesar disso, a perícia realizada por perito papiloscopista não
pode ser considerada prova ilícita nem deve ser excluída do pro- É inconstitucional a nomeação de promotor ad hoc, isso por-
cesso. que, a CF traz preceito expresso (art. 129, § 2º) de exclusividade
Os peritos papiloscopistas são integrantes de órgão público ofi- aos integrantes da carreira para o desempenho de qualquer função
cial do Estado com diversas atribuições legais, sendo considerados atinente ao Ministério Público, como o é a promoção da ação penal
órgão auxiliar da Justiça. pública (art. 129, I, da CF). Ademais, a Constituição Federal garan-
Não deve ser mantida decisão que determinava que, quando o te ao indivíduo o direito de somente ser processado e julgado por
réu fosse levado ao Plenário do Júri, o juiz-presidente deveria escla- órgão independente do Estado, vedando-se, por consequência, a
recer aos jurados que os papiloscopistas – que realizaram o laudo designação discricionária de particular para exercer o poder estatal
pericial – não são peritos oficiais. Esse esclarecimento retiraria a da persecução penal.
neutralidade do conselho de sentença. Isso porque, para o jurado STF. Plenário. ADI 2958, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
leigo, a afirmação, pelo juiz no sentido de que o laudo não é ofi- 27/09/2019.
cial equivale a tachar de ilícita a prova nele contida. Assim, cabe
às partes, respeitado o contraditório e a ampla defesa, durante o • Nemo tenetur se detegere (ninguém é obrigado a produzir
julgamento pelo tribunal do júri, defender a validade do documento prova contra si mesmo): o acusado tem o direito de autopreservar-
ou impugná-lo. -se, o que faz parte da natureza humana, e, com isso, não produzir
STF. 1ª Turma. HC 174400 AgR/DF, rel. orig. Min. Roberto Barro- provas que vão levar à sua condenação. Ex. direito ao silêncio.
so, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 24/9/2019 Eventual irregularidade na informação acerca do direito de
(Info 953). permanecer em silêncio é causa de nulidade relativa, cujo reconhe-
cimento depende da alegação em tempo oportuno e da comprova-
Os dados bancários entregues à autoridade fiscal pela socie- ção do prejuízo.
dade empresária fiscalizada, após regular intimação e independen- O simples fato de o réu ter sido condenado não pode ser consi-
temente de prévia autorização judicial, podem ser utilizados para derado como o prejuízo.
subsidiar a instauração de inquérito policial para apurar suposta É o caso, por exemplo, da sentença que condena o réu funda-
prática de crime contra a ordem tributária. mentando essa condenação não na confissão, mas sim no depoi-
STJ. 5ª Turma. RHC 66520-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em mento das testemunhas, da vítima e no termo de apreensão do
2/2/2016 (Info 577). bem.
STJ. 5ª Turma. RHC 61754/MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da
O fato de a interceptação telefônica ter visado elucidar outra Fonseca, julgado em 25/10/2016.
prática delituosa não impede a sua utilização em persecução crimi- A falta do registro do direito ao silêncio não significa que este
nal diversa por meio do compartilhamento da prova. não tenha sido comunicado ao interrogado, pois o registro não é
STF. 1ª Turma. HC 128102/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado exigido pela lei processual.
em 9/12/2015 (Info 811). Em outras palavras, não é porque não está escrito no termo
de interrogatório que o interrogando foi advertido de que poderia
• Princípio do juiz natural: ninguém será sentenciado por au- ficar em silêncio que se irá, obrigatoriamente, declarar a nulidade
toridade que não seja a competente, segundo regras abstratas de do ato.
competência. O sentido desta violação é manter a imparcialidade STJ. 6ª Turma. RHC 65977/BA, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado
do juízo e evitar o Tribunal de Exceção. em 10/03/2016.
Atente-se para o princípio do promotor natural, de manei-
ra que ninguém será PROCESSADO por autoridade que não seja a A CF/88 determina que as autoridades estatais informem os
competente, segundo regras abstratas sobre as atribuições do Mi- presos que eles possuem o direito de permanecer em silêncio (art.
nistério Público. 5º, LXIII).
Não viola o Princípio do Promotor Natural se o Promotor de Esse alerta sobre o direito ao silêncio deve ser feito não apenas
Justiça que atua na vara criminal comum oferece denúncia contra pelo Delegado, durante o interrogatório formal, mas também pelos
o acusado na vara do Tribunal do Júri e o Promotor que funciona policiais responsáveis pela voz de prisão em flagrante. Isso porque
neste juízo especializado segue com a ação penal, participando dos a todos os órgãos estatais impõe-se o dever de zelar pelos direitos
atos do processo até a pronúncia. fundamentais.
No caso concreto, em um primeiro momento, entendeu-se que A falta da advertência quanto ao direito ao silêncio torna ilícita
a conduta não seria crime doloso contra a vida, razão pela qual os a prova obtida a partir dessa confissão.
autos foram remetidos ao Promotor da vara comum. No entanto, STF. 2ª Turma. RHC 170843 AgR/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes,
mais para frente comprovou-se que, na verdade, tratava-se sim de julgado em 4/5/2021 (Info 1016).
crime doloso.
Com isso, o Promotor que estava no exercício ofereceu a de- — Lei Processual no Espaço e no Tempo
núncia e remeteu a ação imediatamente ao Promotor do Júri, que De acordo com a literalidade do CPP:
poderia, a qualquer momento, não a ratificar. Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território brasi-
leiro, por este Código, ressalvados:

332
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional; Não confunda com o CP:
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, • No CP é usada a teoria da ubiquidade nos crimes que envol-
dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente vem território de dois ou mais países (conflitos internacionais de
da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos cri- jurisdição – crime à distância). De maneira que, considera-se prati-
mes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2º, e 100); cado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo
III - os processos da competência da Justiça Militar; ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o
Parágrafo único.Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos pro- resultado. E, serve para definir qual lei será aplicada.
cessos referidos nos nos. IV e V, quando as leis especiais que os regu- • No CPP a regra do resultado é utilizada para definir a com-
lam não dispuserem de modo diverso. petência de julgamento em caso de crimes plurilocais, envolvendo
Art. 2oA lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem pre- duas ou mais comarcas/ seções judiciárias dentro do mesmo país.
juízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.
Art. 3oA lei processual penal admitirá interpretação extensiva e — Interpretação da Lei Processual
aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais O CPP possui mais liberdade interpretativa do que o CP, pois
de direito. este último traz como consequência direta a possibilidade de priva-
Portanto, o CPP aplica-se em todo território nacional (princípio ção de liberdade do indivíduo.
da territorialidade), mas sem desprezar leis especiais (ex. lei de dro- Por exemplo, o CPP possibilita, seja em benefício ou não do
gas), tratados internacionais, a CF, a Justiça Militar etc. réu, o uso da interpretação extensiva, analógica e aplicação dos
Quando surge uma nova lei processual esta aplica-se imediata- princípios gerais de direito. Já no CP, as regras são interpretadas no
mente, sem prejudicar os atos que já foram realizados (princípio da sentido de não prejudicar o réu.
imediatidade - tempus regit actum). Art. 3oA lei processual penal admitirá interpretação extensiva e
Entende-se por norma puramente processual aquela que regu- aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais
lamente procedimento sem interferir na pretensão punitiva do Es- de direito.
tado. A norma procedimental que modifica a pretensão punitiva do
Estado deve ser considerada norma de direito material, que pode
retroagir se for mais benéfica ao acusado. INQUÉRITO POLICIAL
Atente-se para as normas heterotópicas, pois se a norma con-
tiver disposições de ordem material e processual, deve prevalecer — Inquérito Policial
a norma de caráter material, e a regra de que só retroage para be- O Inquérito Policial possui natureza de procedimento de natu-
neficiar o réu. reza administrativa. Não é ainda um processo, por isso não se fala
Quanto às regras de competência, é adotada a teoria do resul- em partes, munidas de completo poder de contraditório e ampla
tado: defesa. Ademais, por sua natureza administrativa, o procedimento
Art. 70.A competência será, de regra, determinada pelo lugar não segue uma sequência rígida de atos.
em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar Nesse momento, ainda não há o exercício de pretensão acu-
em que for praticado o último ato de execução. satória. Não se trata, pois, de processo judicial, nem tampouco de
§ 1oSe, iniciada a execução no território nacional, a infração se processo administrativo. O inquérito policial consiste em um con-
consumar fora dele, a competência será determinada pelo lugar em junto de diligências realizadas pela polícia investigativa.
que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução. O Inquérito Policial é definido como um procedimento adminis-
§ 2oQuando o último ato de execução for praticado fora do ter- trativo inquisitório e preparatório, presidido pelo Delegado de Polí-
ritório nacional, será competente o juiz do lugar em que o crime, cia, com vistas a identificação de provas e a colheita de elementos
embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resul- de informação quanto à autoria e materialidade da infração penal,
tado. a fim de possibilitar que o titular da ação penal possa ingressar em
§ 3oQuando incerto o limite territorial entre duas ou mais juris- juízo.
dições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido a infração consu- Para que se possa dar início a um processo criminal contra al-
mada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a compe- guém, faz-se necessária a presença de um lastro probatório míni-
tência firmar-se-á pela prevenção. mo, apontando no sentido da prática de uma infração penal e da
§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, probabilidade de o acusado ser o seu autor. Daí a finalidade do in-
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), quando praticados me- quérito policial, instrumento usado pelo Estado para a colheita des-
diante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente provi- ses elementos de informação, viabilizando o oferecimento da peça
são de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado acusatória quando houver justa causa para o processo.
ou mediante transferência de valores, a competência será definida Muitas vezes o titular da ação penal (Ministério Público) não
pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de víti- consegue formar uma opinião sobre a viabilidade da acusação sem
mas, a competência firmar-se-á pela prevenção. (Incluído pela Lei as peças informativas do inquérito policial. Portanto, a finalidade
nº 14.155, de 2021) do inquérito é colher esses elementos mínimos com vistas ao ajui-
Art. 71.Tratando-se de infração continuada ou permanente, zamento ou não da ação penal.
praticada em território de duas ou mais jurisdições, a competência
firmar-se-á pela prevenção. CARACTERÍSTICAS DO IP
Portanto, a regra é que o local que fixa a competência é o local — Procedimento escrito.
da consumação. Exceção: crimes dolosos contra a vida, JECRIM, ato — Dispensável, quando já há justa causa para o oferecimento
infracional - nesses casos é considerado o local da ação para definir da acusação.
a competência. — Sigiloso.
— Inquisitorial, pois ainda não é um processo acusatório.
— Discricionário, a critério do delegado que deve determinar
o rumo das diligências de acordo com as peculiaridades do caso
concreto.

333
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
— Oficial, incumbe ao Delegado de Polícia (civil ou federal) a Com a mudança trazida pelo Pacote Anticrime, o controle do
presidência do inquérito policial. arquivamento passa a ser realizado no âmbito exclusivo do Ministé-
— Oficioso, ao tomar conhecimento de notícia de crime de rio Público, atribuindo-se à vítima a legitimidade para questionar a
ação penal pública incondicionada, a autoridade policial é obrigada correção da postura adotada pelo órgão ministerial.
a agir de ofício.
— Indisponível, a autoridade policial não poderá mandar arqui- — Investigação Criminal pelo Ministério Público
var autos de inquérito policial. O procedimento investigativo inerente ao Inquérito Policial não
é exclusivo da autoridade policial. O Ministério Público pode fazer
Súmula Vinculante nº 14: É direito do defensor, no interesse investigações, mesmo porque a ele quem mais interessa a investi-
do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já gação, visto que a finalidade desta é o acolhimento de lastro pro-
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão batório mínimo para o ajuizamento da ação penal. Ademais, a CPI
com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício também é uma forma de colher informações para futura responsa-
do direito de defesa. bilização pessoal.

PRAZOS DO IP O STF reconheceu a legitimidade do Ministério Público para


— No CPP o prazo é de 10 dias, prorrogável por mais 15 dias se promover, por autoridade própria, investigações de natureza penal,
o réu estiver preso, ou, o limite máximo para a conclusão do IP é de mas ressaltou que essa investigação deverá respeitar alguns parâ-
30 dias prorrogável, se o réu se encontra solto; metros que podem ser a seguir listados:
— No IP federal o prazo é de 15 dias, prorrogável por mais 15 1) Devem ser respeitados os direitos e garantias fundamentais
dias se o réu estiver preso, ou, possui o limite de 30 dias caso o réu dos investigados;
esteja solto; 2) Os atos investigatórios devem ser necessariamente docu-
— Se o caso envolver a lei de drogas, o prazo é de 30 dias pror- mentados e praticados por membros do MP;
rogável por mais 30 dias, em caso de réu preso, bem como, 90 dias 3) Devem ser observadas as hipóteses de reserva constitucional
prorrogável por mais 90 dias se o réu estiver solto; de jurisdição, ou seja, determinadas diligências somente podem ser
— Crime contra a economia popular tem prazo máximo de con- autorizadas pelo Poder Judiciário nos casos em que a CF/88 assim
clusão do inquérito de 10 dias sempre; exigir (ex: interceptação telefônica, quebra de sigilo bancário etc.);
4) Devem ser respeitadas as prerrogativas profissionais assegu-
— Prisão temporária decretada em inquérito policial relativo a
radas por lei aos advogados;
crimes hediondos e equiparados possui o prazo de 30 dias + 30 dias,
5) Deve ser assegurada a garantia prevista na Súmula vinculan-
em caso de réu preso.
te 14 do STF (“É direito do defensor, no interesse do representado,
ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em
O Pacote Anticrime trouxe novo procedimento para o arquiva- procedimento investigatório realizado por órgão com competência
mento no âmbito da justiça estadual, justiça federal e justiça co- de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defe-
mum do DF. De acordo com o art. 28 do CPP reformado, deixará de sa”);
haver qualquer controle judicial sobre a promoção de arquivamen- 6) A investigação deve ser realizada dentro de prazo razoável;
to apresentada pelo Ministério Público. 7) Os atos de investigação conduzidos pelo MP estão sujeitos ao
Ocorre que, a eficácia desse dispositivo foi suspensa em vir- permanente controle do Poder Judiciário.
tude de medida cautelar concedida nos autos de Ação Direta de
Inconstitucionalidade. Inclusive, foi determinado que o antigo art. A tese fixada em repercussão geral foi a seguinte: “O Ministério
28 permaneça em vigor enquanto perdurar a cautelar. Público dispõe de competência para promover, por autoridade pró-
pria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde
PROCEDIMENTO DO IP que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer in-
1º O MP ordena o arquivamento do inquérito policial. diciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observa-
2º O MP comunica a vítima, o investigado e a autoridade po- das, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucio-
licial. nal de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que
2º O MP encaminha os autos para a instância de revisão minis- se acham investidos, em nosso País, os advogados (Lei 8.906/1994,
terial para fins de homologação, na forma da lei. art. 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem pre-
3º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com juízo da possibilidade — sempre presente no Estado democrático
o arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 dias de Direito — do permanente controle jurisdicional dos atos, neces-
do recebimento da comunicação, submeter a matéria à revisão da sariamente documentados (Enunciado 14 da Súmula Vinculante),
instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a praticados pelos membros dessa Instituição.”
respectiva lei orgânica. STF. 1ª Turma. HC 85011/RS, red. p/ o acórdão Min. Teori Za-
4º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimen- vascki, julgado em 26/5/2015 (Info 787).
to da União, Estados e Municípios, a revisão do arquivamento do in- STF. Plenário. RE 593727/MG, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red.
quérito policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a quem p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/5/2015 (repercus-
são geral) (Info 785).
couber a sua representação judicial.
— Inquérito Civil
No antigo procedimento de arquivamento, o Ministério Públi-
O Inquérito Civil é o instrumento utilizado para a apuração de
co oferecia o arquivamento e o juiz decidia se acolhia ou não. Caso
elementos que embase futura Ação Civil Pública.
a autoridade judicial não acolhesse o arquivamento, remetia ao Exclusivamente o Ministério Público poderá instaurar, sob sua
PGJ para que dele partisse a decisão final, no sentido de arquivar presidência, inquérito civil. Se o órgão do Ministério Público, esgo-
ou não. Caso não entendesse pelo arquivamento, o PGJ designava tadas todas as diligências, se convencer da inexistência de funda-
um longa manus para propor a ação penal ou ele mesmo o fazia. mento para a propositura da ação civil, promoverá o arquivamento

334
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
dos autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o Por outro lado, cumprido integralmente o acordo de não per-
fundamentadamente. Os autos do inquérito civil ou das peças de secução penal, o juízo competente decretará a extinção de punibi-
informação arquivadas serão remetidos, sob pena de se incorrer lidade.
em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor
Ministério Público. o acordo de não persecução penal, o investigado poderá requerer
Até que, em sessão do Conselho Superior do Ministério Públi- a remessa dos autos a órgão superior (instância de revisão minis-
co, seja homologada ou rejeitada a promoção de arquivamento, terial).
poderão as associações legitimadas apresentar razões escritas ou Caberá RESE da decisão, despacho ou sentença que recusar
documentos, que serão juntados aos autos do inquérito ou anexa- homologação à proposta de acordo de não persecução penal. Isso
dos às peças de informação. se fundamenta, uma vez que o RESE é utilizado para impugnar de-
A promoção de arquivamento será submetida a exame e de- cisões interlocutórias.
liberação do Conselho Superior do Ministério Público, conforme
dispuser o seu Regimento. Deixando o Conselho Superior de homo- AÇÃO PENAL
logar a promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro
órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação.
O titular da ação penal pública é o Ministério Público, todavia, a
ação penal pode ser privada, tendo por sujeito ativo o ofendido ou
— Acordo de Não-Persecução Penal
o seu representante legal. Ademais, mesmo a ação penal de titula-
Como exceção ao princípio da obrigatoriedade (o MP é obriga-
ridade do MP (pública), divide-se em:
do a oferecer a denúncia), o Pacote Anticrime disciplinou o Acordo
de Não-Persecução Penal.
Ação Penal Pública Ação Penal Pública
Requisitos: Incondicionada Condicionada
• Não é caso de arquivamento; Atuação do MP condicionada
• Confissão; a representação da vítima/
• Não há violência nem grave ameaça; Atuação apenas do MP. representante legal ou
• Pena mínima inferior a 4 anos. requisição do Ministro da
Justiça.
Condições: Reparar o dano; renunciar voluntariamente a bens
e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, — Condições geral da ação
produto ou proveito do crime; prestar serviço à comunidade cor- A ação penal precisa respeitar quatro condições:
respondente à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a • Possibilidade jurídica do pedido
dois terços (1/3 a 2/3); pagar prestação pecuniária a entidade pú- • Legitimidade para agir
blica ou de interesse social; cumprir, por prazo determinado, outra • Interesse processual
condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional • Justa causa
e compatível com a infração penal imputada.
Vedações: se é cabível transação penal no JECRIM; criminoso A possibilidade jurídica do pedido significa que os fatos nar-
profissional; beneficiado nos 5 anos anteriores ao cometimento da rados na inicial acusatória encontram previsão dentro da lei penal
infração por acordo de não persecução penal, transação penal ou incriminadora. Exemplo: o fato narrado é típico. Para o possível
suspensão condicional do processo; violência doméstica contra a exercício do direito de ação, o fato descrito na denúncia ou queixa-
-crime deve encontrar subsunção na lei penal incriminadora.
mulher.
A legitimidade para agir consiste na pertinência subjetiva para
a ação.
A celebração ocorre por escrito, entre o MP, investigado e ad-
vogado. Posteriormente, o juiz irá homologar ou não. E, as possíveis
consequências são: Legitimidade ativa Legitimidade passiva
• Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as Apenas a pessoa cuja Somente o responsável pelo
condições dispostas no acordo de não persecução penal, devolverá titularidade da ação penal é fato definido como infração
os autos ao Ministério Público para que seja reformulada a propos- garantida pela lei tem o poder penal pode figurar no polo
ta de acordo, com concordância do investigado e seu defensor. de ajuizar a ação. passivo da ação.
• Homologado judicialmente o acordo de não persecução pe-
nal, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para que inicie A ação penal pública é proposta pelo Ministério Público, en-
sua execução perante o juízo de execução penal. quanto a ação penal privada é ajuizada pelo ofendido ou seu repre-
• Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Minis- sentante legal.
tério Público para a análise da necessidade de complementação das O interesse processual divide-se em:
investigações ou o oferecimento da denúncia. • Utilidade
• Necessidade
Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo • Adequação
de não persecução penal, o Ministério Público deverá comunicar ao
juízo, para fins de sua rescisão e posterior oferecimento de denún-
cia. O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo
investigado também poderá ser utilizado pelo Ministério Público
como justificativa para o eventual não oferecimento de suspensão
condicional do processo.

335
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
A ação penal é pressuposta para aplicação da pena, restando Assim como na representação, o prazo da queixa-crime é de 6
preenchido o requisito necessidade. A utilidade consiste na eficá- meses, contados do conhecimento da autoria.
cia da decisão judicial para a satisfação do interesse pleiteado pelo
titular da ação. Exemplo: não há utilidade caso ocorra uma causa Os princípios da ação penal privada são:
de extinção da punibilidade. A adequação desponta na compatibi- • Oportunidade: o ofendido tem discricionariedade para iniciar
lidade entre o meio empregado (ação) e a pretensão do titular do ou não a ação penal.
direito (ex. condenação). • Disponibilidade: o ofendido pode desistir da ação penal, bem
Por fim, a justa causa é a condição geral da ação que obriga a como de eventual recurso.
existência de um lastro mínimo de prova capaz de fornecer base à • Indivisibilidade: a queixa-crime contra qualquer dos autores
pretensão acusatória. Inclusive, cabe HC em caso de coação ilegal do crime obrigará ao processo de todos, e o MP zelará pela indivi-
com ausência de justa causa na ação penal. sibilidade.
A ação penal pública pode ser: • Intranscendência: a ação penal somente pode ser ajuizada
• Incondicionada: exige apenas atuação do MP contra os responsáveis pela infração penal, não abrangendo suces-
• Condicionada à representação da vítima ou seu representan- sores, nem responsáveis civil.
te legal
• Condicionada à requisição do ministro da justiça, ex. casos de Agora vamos analisar o aspecto civil dos crimes:
crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do território O crime ocasiona consequência civil, isto é, a necessidade de
nacional, crimes contra a honra do Presidente da República e contra reparar eventuais danos causados pela atividade criminosa. Exis-
chefe de governo estrangeiro. tem duas vias para que isso ocorra:
A ação penal pública é regida pelo princípio da oficialidade, a) ação cível;
uma vez que os órgãos responsáveis pela persecução penal são b) execução no juízo cível de sentença penal.
públicos/oficiais. Isso se fundamenta porque o Estado detém a ti- c) Ação civil ex delicto: A ação para ressarcimento do dano po-
tularidade exclusiva do direito de punir. Ademais, na ação penal derá ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime.Caso seja
pública incide o princípio da obrigatoriedade, também conhecido intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá suspendê-la até o
julgamento criminal definitivo.
por legalidade, de maneira que estando presentes elementos sufi-
d) Execução ex delicto: após o trânsito em julgado da sentença
cientes para a propositura da ação penal o MP é obrigado a oferecer
penal condenatória, o ofendido poderá promover a execução do tí-
a denúncia. Todavia, esse princípio é mitigado pela transação penal,
tulo executivo judicial no juízo cível.
por exemplo. E, decorre da obrigatoriedade o princípio da indispo-
nibilidade da ação penal, uma vez que, o MP não pode desistir da
Não impede a propositura da ação civil:
ação penal nem de eventual recurso interposto.
• O despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de
A doutrina divide-se sobre a (in)divisibilidade da ação penal
informação;
pública. Todavia, o STF no caso mensalão entendeu pela divisibili-
• A decisão que julgar extinta a punibilidade (ex. prescrição);
dade, no sentido de que o processo penal pode ser desmembrado. • A sentença absolutória que decidir que o fato imputado não
O oferecimento da denúncia contra um acusado não exclui a pos- constitui crime, pois ainda assim, pode haver infração civil.
sibilidade futura de ação penal contra outros envolvidos, ex. o MP Art. 63.Transitada em julgado a sentença condenatória, pode-
adita a denúncia. rão promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da repara-
De acordo com o princípio da intranscendência, a ação penal ção do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros.
somente pode ser ajuizada contra os responsáveis pela infração pe- Parágrafo único.Transitada em julgado a sentença condenató-
nal, excluindo sucessores e responsáveis civis pelo criminoso. ria, a execução poderá ser efetuada pelo valor fixado nos termos do
Por fim, a ação penal pública obriga que os órgãos encarregados inciso iv do caput do art. 387 deste Código sem prejuízo da liquida-
pela persecução penal atuem de ofício (princípio da oficiosidade). ção para a apuração do dano efetivamente sofrido.
Essa regra, todavia, não se aplica à ação penal pública condiciona- Art. 64.Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para
da, pois consiste em condição de procedibilidade a representação ressarcimento do dano poderá ser proposta no juízo cível, contra o
do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo, bem autor do crime e, se for caso, contra o responsável civil.
como, requisição do ministro da justiça, nos casos expressamente Parágrafo único.Intentada a ação penal, o juiz da ação civil po-
exigidos por lei. derá suspender o curso desta, até o julgamento definitivo daquela.
O direito de representação pode ser exercido no prazo deca- Art. 65.Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhe-
dencial de 6 meses, contados do conhecimento da autoria. Decorri- cer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima
do esse prazo ocorre a extinção da punibilidade. Ademais, uma vez defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regu-
oferecida a representação, a retratação pode ocorrer até o ofereci- lar de direito.
mento da denúncia. Art. 66.Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal,
A requisição do ministro da justiça cuida-se de condição de pro- a ação civil poderá ser proposta quando não tiver sido, categorica-
cedibilidade consistente em ato de natureza administrativa e polí- mente, reconhecida a inexistência material do fato.
tica, revestido de discricionariedade. Diferente da representação, a Art. 67.Não impedirão igualmente a propositura da ação civil:
requisição não tem prazo decadencial. Dessa forma, pode ser lan- I - o despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de
çada a qualquer tempo, enquanto não extinta a punibilidade pela informação;
prescrição. II - a decisão que julgar extinta a punibilidade;
A legitimidade para a propositura da ação penal privada per- III - a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não
tence ao ofendido ou a quem legalmente o represente, ex. se o constitui crime.
ofendido for menor de 18 anos ou mentalmente enfermo. Art. 68.Quando o titular do direito à reparação do dano for po-
A ação penal será privada nos casos expressamente indicados bre (art. 32, §§ 1o e 2o), a execução da sentença condenatória (art.
pela lei. Quando a lei se cala sobre a espécie de ação a ser utilizada 63) ou a ação civil (art. 64) será promovida, a seu requerimento,
é caso de ação penal pública. pelo Ministério Público.

336
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Atente-se que o art. 68 deve ser lido no sentido da Defensoria Verificaremos o que estabelece a lei processual penal sobre as
Pública atuar: prisões, medidas cautelares e liberdade provisória:
O reconhecimento da ilegitimidade ativa do Ministério Público
para, na qualidade de substituto processual de menores carentes, TÍTULO IX
propor ação civil pública ex delicto, sem a anterior intimação da De- DA PRISÃO, DAS MEDIDAS CAUTELARES E DA LIBERDADE
fensoria Pública para tomar ciência da ação e, sendo o caso, assumir PROVISÓRIA
o polo ativo da demanda, configura violação ao art. 68 do CPP.
Antes de o magistrado reconhecer a ilegitimidade ativa do Mi- Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão
nistério Público para propor ação civil ex delicto, é indispensável ser aplicadas observando-se a:
que a Defensoria Pública seja intimada para tomar ciência da de- I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação
manda e, sendo o caso, assumir o polo ativo da ação. ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para
STJ. 4ª Turma. REsp 888081-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado evitar a prática de infrações penais;
em 15/9/2016 (Info 592). II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias
do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado.
Por fim, atente-se ao caso especial de violência doméstica: § 1o As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou
Nos casos de violência contra a mulher praticados no âmbito cumulativamente.
doméstico e familiar, é possível a fixação de valor mínimo indeni- § 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requeri-
zatório a título de dano moral, desde que haja pedido expresso da mento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por
acusação ou da parte ofendida, ainda que não especificada a quan- representação da autoridade policial ou mediante requerimento do
tia, e independentemente de instrução probatória. Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
CPP/Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória: IV - fi- § 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de inefi-
xará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infra- cácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar,
ção, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido. determinará a intimação da parte contrária, para se manifestar no
STJ. 3ª Seção. REsp 1643051-MS, Rel. Min. Rogerio Schietti prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do requerimento e
Cruz, julgado em 28/02/2018 (recurso repetitivo) (Info 621). das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo, e os casos
de urgência ou de perigo deverão ser justificados e fundamentados
em decisão que contenha elementos do caso concreto que justifi-
quem essa medida excepcional. (Redação dada pela Lei nº 13.964,
PRISÃO E LIBERDADE PROVISÓRIA. LEI FEDERAL Nº de 2019)
7.960/1989 (PRISÃO TEMPORÁRIA) § 4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações
impostas, o juiz, mediante requerimento do Ministério Público, de
Prisões seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor
A restrição da liberdade é medida excepcional na natureza hu- outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preven-
mana. Aqui, a despeito da existência de “prisões penais” - estuda- tiva, nos termos do parágrafo único do art. 312 deste Código. (Re-
das pelo direito penal e pela execução penal - e da “prisão civil” (em dação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
caso de dívida de alimentos) - estudada pelo direito constitucional, § 5º O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a
pelo direito internacional, e pelo direito civil - somente se estudará medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo
as tipicamente denominadas “prisões processuais”, decretadas du- para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem ra-
rante a fase investigatória ou judicial. zões que a justifiquem. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 6º A prisão preventiva somente será determinada quando
De acordo com o art. 282, do Código de Processo Penal, as não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar, obser-
medidas cautelares previstas no Título IX, do Código de Processo vado o art. 319 deste Código, e o não cabimento da substituição por
Penal, intitulado “Da Prisão, das Medidas Cautelares e da Liberda- outra medida cautelar deverá ser justificado de forma fundamenta-
de Provisória”, deverão ser aplicadas observando-se a necessidade da nos elementos presentes do caso concreto, de forma individuali-
para aplicação da lei penal, para a investigação ou instrução cri- zada. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019).
minal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante deli-
de infrações penais (inciso I), bem como a adequação da medida à to ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do competente, em decorrência de prisão cautelar ou em virtude de
indiciado ou acusado (inciso II). condenação criminal transitada em julgado. (Redação dada pela Lei
Deve haver a observância do binômio necessidade/adequação nº 13.964, de 2019)
quando da análise de imposição de prisão processual/medida cau- § 1o As medidas cautelares previstas neste Título não se apli-
telar diversa da prisão. Pode ser que, num extremo mais gravoso, cam à infração a que não for isolada, cumulativa ou alternativa-
a prisão preventiva seja a mais adequada. Já noutro extremo, mais mente cominada pena privativa de liberdade.
brando, pode ser que a liberdade provisória seja palavra de ordem. § 2o A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qual-
Qualquer coisa que ficar entre estes dois extremos pode importar quer hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do
a imposição de medida cautelar de natureza diversa da prisão pro- domicílio.
cessual. Art. 284. Não será permitido o emprego de força, salvo a indis-
pensável no caso de resistência ou de tentativa de fuga do preso.
Espécies Art. 285. A autoridade que ordenar a prisão fará expedir o res-
São três espécies de prisão cautelar: pectivo mandado.
a) Prisão em Flagrante; Parágrafo único. O mandado de prisão:
b) Prisão Temporária; a) será lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade;
c) Prisão Preventiva. b) designará a pessoa, que tiver de ser presa, por seu nome,
alcunha ou sinais característicos;

337
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
c) mencionará a infração penal que motivar a prisão; Art. 290. Se o réu, sendo perseguido, passar ao território de
d) declarará o valor da fiança arbitrada, quando afiançável a outro município ou comarca, o executor poderá efetuar-lhe a prisão
infração; no lugar onde o alcançar, apresentando-o imediatamente à autori-
e) será dirigido a quem tiver qualidade para dar-lhe execução. dade local, que, depois de lavrado, se for o caso, o auto de flagran-
Art. 286. O mandado será passado em duplicata, e o executor te, providenciará para a remoção do preso.
entregará ao preso, logo depois da prisão, um dos exemplares com § 1o - Entender-se-á que o executor vai em perseguição do réu,
declaração do dia, hora e lugar da diligência. Da entrega deverá o quando:
preso passar recibo no outro exemplar; se recusar, não souber ou a) tendo-o avistado, for perseguindo-o sem interrupção, embo-
não puder escrever, o fato será mencionado em declaração, assina- ra depois o tenha perdido de vista;
da por duas testemunhas. b) sabendo, por indícios ou informações fidedignas, que o réu
Art. 287. Se a infração for inafiançável, a falta de exibição do tenha passado, há pouco tempo, em tal ou qual direção, pelo lugar
mandado não obstará a prisão, e o preso, em tal caso, será imedia- em que o procure, for no seu encalço.
tamente apresentado ao juiz que tiver expedido o mandado, para § 2o Quando as autoridades locais tiverem fundadas razões
a realização de audiência de custódia. (Redação dada pela Lei nº para duvidar da legitimidade da pessoa do executor ou da legalida-
13.964, de 2019) de do mandado que apresentar, poderão pôr em custódia o réu, até
Art. 288. Ninguém será recolhido à prisão, sem que seja exibido que fique esclarecida a dúvida.
o mandado ao respectivo diretor ou carcereiro, a quem será entre- Art. 291. A prisão em virtude de mandado entender-se-á feita
gue cópia assinada pelo executor ou apresentada a guia expedida desde que o executor, fazendo-se conhecer do réu, Ihe apresente o
pela autoridade competente, devendo ser passado recibo da entre- mandado e o intime a acompanhá-lo.
ga do preso, com declaração de dia e hora. Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistên-
Parágrafo único. O recibo poderá ser passado no próprio exem- cia à prisão em flagrante ou à determinada por autoridade compe-
plar do mandado, se este for o documento exibido. tente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos
Art. 289. Quando o acusado estiver no território nacional, fora meios necessários para defender-se ou para vencer a resistência, do
da jurisdição do juiz processante, será deprecada a sua prisão, de- que tudo se lavrará auto subscrito também por duas testemunhas.
vendo constar da precatória o inteiro teor do mandado. Parágrafo único. É vedado o uso de algemas em mulheres grá-
§ 1o Havendo urgência, o juiz poderá requisitar a prisão por vidas durante os atos médico-hospitalares preparatórios para a
qualquer meio de comunicação, do qual deverá constar o motivo da realização do parto e durante o trabalho de parto, bem como em
prisão, bem como o valor da fiança se arbitrada. mulheres durante o período de puerpério imediato. (Redação dada
§ 2o A autoridade a quem se fizer a requisição tomará as pre- pela Lei nº 13.434, de 2017)
Art. 293. Se o executor do mandado verificar, com segurança,
cauções necessárias para averiguar a autenticidade da comunica-
que o réu entrou ou se encontra em alguma casa, o morador será
ção.
intimado a entregá-lo, à vista da ordem de prisão. Se não for obe-
§ 3o O juiz processante deverá providenciar a remoção do pre-
decido imediatamente, o executor convocará duas testemunhas e,
so no prazo máximo de 30 (trinta) dias, contados da efetivação da
sendo dia, entrará à força na casa, arrombando as portas, se pre-
medida.
ciso; sendo noite, o executor, depois da intimação ao morador, se
Art. 289-A. O juiz competente providenciará o imediato regis-
não for atendido, fará guardar todas as saídas, tornando a casa
tro do mandado de prisão em banco de dados mantido pelo Conse-
incomunicável, e, logo que amanheça, arrombará as portas e efe-
lho Nacional de Justiça para essa finalidade.
tuará a prisão.
§ 1o Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão deter-
Parágrafo único. O morador que se recusar a entregar o réu
minada no mandado de prisão registrado no Conselho Nacional oculto em sua casa será levado à presença da autoridade, para que
de Justiça, ainda que fora da competência territorial do juiz que o se proceda contra ele como for de direito.
expediu. Art. 294. No caso de prisão em flagrante, observar-se-á o dis-
§ 2o Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão decreta- posto no artigo anterior, no que for aplicável.
da, ainda que sem registro no Conselho Nacional de Justiça, ado- Art. 295. Serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, à dis-
tando as precauções necessárias para averiguar a autenticidade do posição da autoridade competente, quando sujeitos a prisão antes
mandado e comunicando ao juiz que a decretou, devendo este pro- de condenação definitiva:
videnciar, em seguida, o registro do mandado na forma do caput I - os ministros de Estado;
deste artigo. II - os governadores ou interventores de Estados ou Territórios,
§ 3o A prisão será imediatamente comunicada ao juiz do local o prefeito do Distrito Federal, seus respectivos secretários, os prefei-
de cumprimento da medida o qual providenciará a certidão extraí- tos municipais, os vereadores e os chefes de Polícia;
da do registro do Conselho Nacional de Justiça e informará ao juízo III - os membros do Parlamento Nacional, do Conselho de Eco-
que a decretou. nomia Nacional e das Assembleias Legislativas dos Estados;
§ 4o O preso será informado de seus direitos, nos termos do IV - os cidadãos inscritos no “Livro de Mérito”;
inciso LXIII do art. 5o da Constituição Federal e, caso o autuado não V – os oficiais das Forças Armadas e os militares dos Estados,
informe o nome de seu advogado, será comunicado à Defensoria do Distrito Federal e dos Territórios;
Pública. VI - os magistrados;
§ 5o Havendo dúvidas das autoridades locais sobre a legitimida- VII - os diplomados por qualquer das faculdades superiores da
de da pessoa do executor ou sobre a identidade do preso, aplica-se República;
o disposto no § 2o do art. 290 deste Código. VIII - os ministros de confissão religiosa;
§ 6o O Conselho Nacional de Justiça regulamentará o registro IX - os ministros do Tribunal de Contas;
do mandado de prisão a que se refere o caput deste artigo. X - os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a função
de jurado, salvo quando excluídos da lista por motivo de incapaci-
dade para o exercício daquela função;

338
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
XI - os delegados de polícia e os guardas-civis dos Estados e B) Em seguida, procederá a autoridade competente à oitiva das
Territórios, ativos e inativos. testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado
§ 1o A prisão especial, prevista neste Código ou em outras leis, sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva, suas
consiste exclusivamente no recolhimento em local distinto da prisão respectivas assinaturas, lavrando a autoridade, ao final, o auto (art.
comum. 304, caput, parte final, CPP);
§ 2o Não havendo estabelecimento específico para o preso es- C) A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontrem se-
pecial, este será recolhido em cela distinta do mesmo estabeleci- rão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério
mento. Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada (art. 306,
§ 3o A cela especial poderá consistir em alojamento coletivo, caput, CPP);
atendidos os requisitos de salubridade do ambiente, pela concor- D) Resultando das respostas às perguntas feitas ao acusado
rência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmi- fundada suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará reco-
co adequados à existência humana. lhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fian-
§ 4o O preso especial não será transportado juntamente com o ça, e prosseguirá nos atos do processo ou inquérito se para isso for
preso comum. competente (se não o for, enviará os autos à autoridade que o seja)
§ 5o Os demais direitos e deveres do preso especial serão os
(art. 304, §1º, CPP);
mesmos do preso comum.
E) A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de
Art. 296. Os inferiores e praças de pré, onde for possível, serão
prisão em flagrante, mas, nesse caso, com o condutor deverão as-
recolhidos à prisão, em estabelecimentos militares, de acordo com
siná-lo ao menos duas pessoas que tenham testemunhado a apre-
os respectivos regulamentos.
Art. 297. Para o cumprimento de mandado expedido pela auto- sentação do preso à autoridade (art. 304, §2º, CPP). Quando o acu-
ridade judiciária, a autoridade policial poderá expedir tantos outros sado se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o auto
quantos necessários às diligências, devendo neles ser fielmente re- de prisão em flagrante será assinado por duas testemunhas que te-
produzido o teor do mandado original. nham ouvido sua leitura na presença deste (art. 304, §3º, CPP). Na
Art. 298 - (Revogado). falta ou no impedimento do escrivão, qualquer pessoa designada
Art. 299. A captura poderá ser requisitada, à vista de mandado pela autoridade lavrará o auto, depois de prestado o compromisso
judicial, por qualquer meio de comunicação, tomadas pela autori- legal (art. 305, CPP);
dade, a quem se fizer a requisição, as precauções necessárias para F) Em até vinte e quatro horas após a realização da prisão, será
averiguar a autenticidade desta. encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante, e
Art. 300. As pessoas presas provisoriamente ficarão separadas caso o autuado não informe o nome de seu advogado, será enca-
das que já estiverem definitivamente condenadas, nos termos da lei minhada cópia integral deste auto para a Defensoria Pública (art.
de execução penal. 306, §1º, CPP);
Parágrafo único. O militar preso em flagrante delito, após a E) No mesmo
lavratura dos procedimentos legais, será recolhido a quartel da ins- prazo de vinte e quatro horas, será entregue ao preso, median-
tituição a que pertencer, onde ficará preso à disposição das autori- te recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo
dades competentes. da prisão, o nome do condutor e o das testemunhas (art. 306, §2º,
CPP);
Prisão em flagrante F) Ao receber o auto de prisão em flagrante, juntamente com
A prisão em flagrante consiste numa medida de autodefesa da o próprio detido, haverá a audiência de custódia (Res. 213/2015,
sociedade, caracterizada pela privação da liberdade de locomoção CNJ) e, posteriormente, o juiz deverá fundamentadamente poderá
daquele que é surpreendido em situação de flagrância, indepen- relaxar a prisão ilegal, ou converter a prisão em flagrante em pre-
dentemente de prévia autorização judicial. A própria Constituição ventiva (quando presentes os requisitos do art. 312, do Código de
Federal autoriza a prisão em flagrante, em seu art. 5º, LXI, o qual Processo Penal, e quando se revelarem inadequadas as medidas
afirma que “ninguém será preso senão em flagrante delito...” cautelares diversas da prisão), ou conceder liberdade provisória
A expressão “flagrante” deriva do latim “flagrare”, que signifi-
com ou sem fiança (art. 310, CPP);
ca “queimar”, “arder”. Isso serve para demonstrar que o delito em
G) Se o juiz verificar pelo auto que o agente praticou o fato
flagrante é o delito que está “ardendo”, “queimando”, “que acaba
em estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento
de acontecer”.
do dever legal, ou exercício regular de um direito (todos previstos
Por isso, qualquer do povo poderá, e as autoridades policiais e
seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em no art. 23, do Código Penal), poderá, fundamentadamente, conce-
flagrante delito. der ao acusado liberdade provisória, mediante termo de compare-
cimento a todos os atos processuais, sob pena de revogação (art.
Funções da prisão em flagrante 310, parágrafo único, CPP).
São elas: Não havendo autoridade no lugar em que se tiver efetuado a
A) Evitar a fuga do infrator; prisão, o preso será apresentado à prisão do lugar mais próximo
B) Auxiliar na colheita de elementos probatórios; (art. 308, CPP).
C) Impedir a consumação ou o exaurimento do delito. Por fim, se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberdade,
depois de lavrado o “APF” (auto de prisão em flagrante) (art. 309,
Procedimento do flagrante CPP).
O procedimento da prisão em flagrante está essencialmente
descrito entre os art. 304 e 310, do Código de Processo Penal: Espécies/modalidades de flagrante.
A) Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta Vejamos a classificação feita pela doutrina:
o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este A) Flagrante obrigatório. É aquele que se aplica às autoridades
cópia do termo e recibo de entrega do preso (art. 304, caput, pri- policiais e seus agentes, que têm o dever de efetuar a prisão em
meira parte, CPP); flagrante;

339
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
B) Flagrante facultativo. É aquele efetuado por qualquer pes- não era possível (já que não havia flagrante: foi o agente quem se
soa do povo, embora não seja o indivíduo obrigado a prender em apresentou à autoridade policial, e não a autoridade policial que foi
flagrante, caso isso ameace sua segurança e sua integridade; no encalço do agente), o que não obstava, contudo, a decretação
C) Flagrante próprio (ou flagrante perfeito) (ou flagrante ver- de prisão preventiva.
dadeiro). É aquele que ocorre se o agente é preso quando está co- Com a Lei nº 12.403/11, tal dispositivo foi suprimido, causando
metendo a infração ou acaba de cometê-la. Sua previsão está nos alguma divergência doutrinária acerca da possibilidade de se pren-
incisos I e II, do art. 302, do Código de Processo Penal; der em flagrante ou não em caso de livre apresentação por parte do
D) Flagrante impróprio (ou flagrante imperfeito) (ou “quase acusado. Apesar de inexistir qualquer entendimento doutrinário/
flagrante”). É aquele que o ocorre se o agente é perseguido, logo jurisprudencial consolidado, até agora tem prevalecido a ideia de
após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em que a apresentação espontânea continua impedindo a prisão em
situação que se faça presumir ser ele autor da infração. Sua pre- flagrante.
visão está no terceiro inciso, do art. 302, do Diploma Processual CAPÍTULO II
Penal. DA PRISÃO EM FLAGRANTE
Vale lembrar que não há um prazo pré-determinado para esta
perseguição, desde que ela seja contínua, ininterrupta. Assim, pode Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e
um agente ser perseguido por vinte e quatro horas após a prática seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em
delitiva, p. ex., e ainda assim ser autuado em flagrante; flagrante delito.
E) Flagrante presumido (ou flagrante ficto). É aquele que ocor-
re se o agente é encontrado, logo depois do crime, com instrumen- Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:
tos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele o autor da I - está cometendo a infração penal;
infração. Sua previsão está no art. 302, IV, CPP; II - acaba de cometê-la;
F) Flagrante preparado (ou “crime de ensaio”) (ou delito puta- III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou
tivo por obra do agente provocador). A autoridade policial instiga o por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da
indivíduo a cometer o crime, apenas para prendê-lo em flagrante. infração;
O entendimento jurisprudencial, contudo, é no sentido de que esta IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, obje-
espécie de flagrante não é válida, por se tratar de crime impossível. tos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.
Neste sentido, há até mesmo a Súmula nº 145, do Supremo Tribu- Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em
nal Federal, segundo a qual não há crime quando a preparação do flagrante delito enquanto não cessar a permanência.
flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação; Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ou-
G) Flagrante esperado. Aqui, a autoridade policial sabe que virá esta o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entre-
o delito vai acontecer, independentemente de instigá-lo ou não, gando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em se-
e, portanto, se limita a esperar o início da prática do delito, para guida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompanharem
efetuar a prisão em flagrante. Trata-se de modalidade de flagrante e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita,
perfeitamente válida, apesar de entendimento minoritário que o colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando,
considera inválido pelos mesmos motivos do flagrante preparado; a autoridade, afinal, o auto.
H) Flagrante forjado (ou flagrante fabricado) (ou flagrante ma- § 1o Resultando das respostas fundada a suspeita contra o con-
quiado). É o flagrante “plantado” pela autoridade policial (ex.: a au- duzido, a autoridade mandará recolhê-lo à prisão, exceto no caso
toridade policial coloca drogas nos objetos pessoais do investigado de livrar-se solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos atos do
somente para prendê-lo em flagrante). inquérito ou processo, se para isso for competente; se não o for,
I) Flagrante prorrogado (ou “ação controlada”) (ou flagrante enviará os autos à autoridade que o seja.
protelado). A autoridade policial retarda sua intervenção, para que § 2o A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de
o faça no momento mais oportuno sob o ponto de vista da colheita prisão em flagrante; mas, nesse caso, com o condutor, deverão as-
de provas. Sua legalidade depende de previsão legal. Atualmente, siná-lo pelo menos duas pessoas que hajam testemunhado a apre-
encontra-se na Lei nº 12.850/13 (“Nova Lei das Organizações Crimi- sentação do preso à autoridade.
nosas”) e na Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”). § 3o Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não
Na Lei nº 12.850/13, em seu art. 3º, III, a ação controlada é per- puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será assinado por duas
mitida em qualquer fase da persecução penal, porém ao contrário testemunhas, que tenham ouvido sua leitura na presença deste.
do previsto pela revogada Lei nº 9.034/95, devem ser observados § 4º Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá cons-
alguns requisitos para o procedimento, tais como: comunicar sigilo- tar a informação sobre a existência de filhos, respectivas idades e
samente a ação ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual
os limites desta e comunicará ao Ministério Público; até o encer- responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.
ramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir Art. 305. Na falta ou no impedimento do escrivão, qualquer
o êxito das investigações e ao término da diligência, elaborar-se-á pessoa designada pela autoridade lavrará o auto, depois de presta-
auto circunstanciado acerca da ação controlada. Outrossim, na Lei do o compromisso legal.
nº 11.343/06, em seu art. 53, II, a ação controlada é possível, desde Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre
que haja autorização judicial, ouvido o Ministério Público. serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministé-
rio Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada.
Apresentação espontânea do acusado § 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da pri-
Antes de tal diploma normativo, o art. 317, CPP, previa que a são, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em fla-
apresentação espontânea do acusado à autoridade não impediria grante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado,
a decretação da prisão preventiva. Ou seja, a prisão em flagrante cópia integral para a Defensoria Pública.

340
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
§ 2o No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, Assim, no nosso regime democrático, as funções são distintas e
a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, bem definidas: um acusa, outro defende e o terceiro julga.
o nome do condutor e os das testemunhas.
Art. 307. Quando o fato for praticado em presença da auto- Pressupostos da prisão preventiva
ridade, ou contra esta, no exercício de suas funções, constarão do Há se distinguir os “pressupostos” dos “motivos ensejadores”
auto a narração deste fato, a voz de prisão, as declarações que fizer da prisão. São pressupostos:
o preso e os depoimentos das testemunhas, sendo tudo assinado A) Prova da existência do crime. É o chamado “fumus comissi
pela autoridade, pelo preso e pelas testemunhas e remetido imedia- delicti”;
tamente ao juiz a quem couber tomar conhecimento do fato delitu- B) Indícios suficientes de autoria. É o chamado “periculum li-
oso, se não o for a autoridade que houver presidido o auto. bertatis”.
Art. 308. Não havendo autoridade no lugar em que se tiver
efetuado a prisão, o preso será logo apresentado à do lugar mais Chama-se a atenção, preliminarmente, que o processualismo
próximo. penal exige “prova da existência do crime”, mas se contenta com
Art. 309. Se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberdade, “indícios suficientes de autoria”. Desta maneira, desde que haja um
depois de lavrado o auto de prisão em flagrante. contexto probatório maciço acerca dos fatos, dispensa-se a certeza
Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo acerca da autoria, mesmo porque, em termos práticos, caso fique
máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da pri- realmente comprovada, a autoria só o ficará, de fato, quando de
são, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença um eventual decreto condenatório definitivo.
do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria No mais, há se ter em mente que, para que se decrete a prisão
Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz preventiva de alguém, basta um dos motivos ensejadores da prisão
deverá, fundamentadamente: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de preventiva, mas os dois pressupostos devem estar necessariamente
2019) previstos cumulativamente. Então, sempre deve haver, obrigatoria-
I - relaxar a prisão ilegal; ou mente, os dois pressupostos (existência do crime e indícios de auto-
II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando pre- ria), mais ao menos um motivo ensejador (ou a garantia da ordem
sentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se reve- pública, ou a garantia da ordem econômica, ou o asseguramento
larem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da aplicação da lei penal, ou a conveniência da instrução criminal,
da prisão; ou ou o descumprimento de qualquer das medidas cautelares diversas
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. da prisão).
§ 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o
agente praticou o fato em qualquer das condições constantes dos Motivos da prisão preventiva
incisos I, II ou III do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 Eles estão no art. 312, do Código de Processo Penal, e devem
de dezembro de 1940 (Código Penal), poderá, fundamentadamen- ser conjugadas com a prova da existência do crime e indício sufi-
te, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de ciente de autoria. A saber:
comparecimento obrigatório a todos os atos processuais, sob pena A) Para garantia da ordem pública. É o risco considerável de
de revogação. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 13.964,
reiteração de ações delituosas, em virtude da periculosidade do
de 2019)
agente. Necessidade de afastamento do convívio social.
§ 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que integra
O “clamor social” causado pelo delito autoriza à decretação de
organização criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de
prisão preventiva por “garantia da ordem pública”? Prevalece que
fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade provisória, com
sim, pois, do contrário, se o indivíduo for mantido solto, há risco de
ou sem medidas cautelares. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
caírem as autoridades judiciais e policiais em descrédito para com
§ 3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não
a sociedade;
realização da audiência de custódia no prazo estabelecido no caput
B) Para garantia da ordem econômica. Trata-se do risco de rei-
deste artigo responderá administrativa, civil e penalmente pela
teração delituosa, porém relacionado com crimes contra a ordem
omissão. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso econômica. A inserção deste motivo (na verdade, uma espécie da
do prazo estabelecido no caput deste artigo, a não realização de garantia da ordem pública) se deu pelo art. 84, da Lei nº 8.884/94
audiência de custódia sem motivação idônea ensejará também a (“Lei Antitruste”);
ilegalidade da prisão, a ser relaxada pela autoridade competente, C) Por conveniência da instrução criminal. Visa-se impedir que
sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de prisão pre- o agente perturbe a livre produção probatória. O objetivo, pois, é
ventiva. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) proteger o processo, as provas a que o Estado persecutor ainda não
teve acesso, e os agentes (como testemunhas, p. ex.) que podem
Prisão preventiva auxiliar no deslinde da lide;
Em qualquer fase da investigação policial ou do processo pe- D) Para assegurar a aplicação da lei penal. Se ficar demons-
nal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, a requerimento trado concretamente que o acusado pretende fugir, p. ex., invia-
do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por re- bilizando futura e eventual execução da pena, impõe-se a prisão
presentação da autoridade policial. (art. 311, CPP). preventiva por este motivo;
De antemão já se pode observar que à autoridade judicial é E) Em caso de descumprimento de qualquer das medidas cau-
vedada a decretação de prisão preventiva de ofício na fase do in- telares diversas da prisão. As “medidas cautelares diversas da pri-
quérito policial (isso é novidade da Lei nº 12.403, já que antes desta são” são novidade no processo penal, e foram trazidas pela Lei nº
previa-se legalmente a possibilidade de decretar o juiz prisão pre- 12.403/2011.
ventiva de ofício também durante as investigações, o que era bas- F) Em caso de perigo gerado pelo estado de liberdade do im-
tante criticado pela doutrina garantista, uma vez que agindo assim putado, veio com a Lei 13.964/2019.
poderia deixar de ser imparcial no momento de julgar a ação).

341
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Hipóteses em que se admite prisão preventiva Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como ga-
São elas, de acordo com o art. 312, CPP: rantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência
A) Nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal,
máxima superior a 4 (quatro) anos (inciso I); quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de
B) Se o agente tiver sido condenado por outro crime doloso, autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.
em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no art. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
64, I, do Código Penal (configuração do período depurador) (inciso § 1º A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso
II); de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força
C) Se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a de outras medidas cautelares (art. 282, § 4°). (Redação dada pela
mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com defici- Lei nº 13.964, de 2019)
ência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência § 2º A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser mo-
(inciso III); tivada e fundamentada em receio de perigo e existência concreta
D) Quando houver dúvidas sobre a identidade civil da pessoa de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da
ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclare- medida adotada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
cê-la (neste caso, o preso deve imediatamente ser posto em liber- Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a
dade após a identificação, salvo de outra hipótese recomendar a decretação da prisão preventiva:
manutenção da medida) (parágrafo único). I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade
Revogação da prisão preventiva máxima superior a 4 (quatro) anos;
Isso é possível se, no transcorrer do processo, verificar a au- II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença
toridade judicial a falta de motivo para que subsista a prisão pre- transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do
ventiva. Assim, em sentido contrário, também poder decretá-la se art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código
sobrevierem razões que a justifiquem. Penal;
De toda forma, a decisão que decretar, substituir ou denegar a III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a
prisão preventiva será sempre motivada e fundamentada, nos ter- mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com defici-
mos dos parágrafos dos artigos 315, CPP.. ência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência;
IV - (Revogado).
Recurso de decisão acerca da prisão preventiva § 1º Também será admitida a prisão preventiva quando houver
Conforme o art. 581, V, CPP, se o juiz de primeiro grau indeferir dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não for-
requerimento de prisão preventiva ou revogar a medida colocando necer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser
o agente em liberdade, caberá recurso em sentido estrito. colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo
Uma questão que fica em zona nebulosa diz respeito à revoga- se outra hipótese recomendar a manutenção da medida. (Redação
ção de prisão preventiva em prol de uma medida cautelar diversa dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
da prisão. Há quem diga que a lógica é mesma das hipóteses acima § 2º Não será admitida a decretação da prisão preventiva com
vistas que desafiam recurso em sentido estrito, por importarem a finalidade de antecipação de cumprimento de pena ou como de-
maior grau de liberdade ao agente, o que denotaria o manejo de tal corrência imediata de investigação criminal ou da apresentação ou
instrumento. Por outro lado, há quem entenda que tal decisão seja recebimento de denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
irrecorrível por ausência de previsão legal expressa. Não há qual- Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será decretada
quer entendimento consolidado sobre o tema. se o juiz verificar pelas provas constantes dos autos ter o agente
De toda maneira, há se observar que o recurso em sentido es- praticado o fato nas condições previstas nos incisos I, II e III do caput
trito somente será cabível caso se indefira o requerimento de pre- do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Có-
ventiva (caso o requerimento seja deferido não há previsão recur- digo Penal.
sal), ou caso se revogue a medida (caso a medida seja mantida não Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão
há previsão recursal). preventiva será sempre motivada e fundamentada. (Redação dada
pela Lei nº 13.964, de 2019)
Substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar § 1º Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de
O art. 317, da Lei Processual, inovou (graças à Lei nº 12.403/11) qualquer outra cautelar, o juiz deverá indicar concretamente a exis-
ao disciplinar que a prisão domiciliar consiste no recolhimento do tência de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplica-
indiciado em sua residência, só podendo dela ausentar-se com au- ção da medida adotada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
torização judicial. Trata-se de medida humanitária a ser tomada § 2º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial,
em situações especiais, desde que se comprove a real existência seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: (Incluído pela Lei
da excepcionalidade (parágrafo único, do art. 318, do Código de nº 13.964, de 2019)
Processo Penal). I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato
normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão de-
CAPÍTULO III cidida; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
DA PRISÃO PREVENTIVA II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar
o motivo concreto de sua incidência no caso; (Incluído pela Lei nº
Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do pro- 13.964, de 2019)
cesso penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de ofí- III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer ou-
cio, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério tra decisão; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo
autoridade policial. capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

342
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, H) Fiança, nas infrações penais que a admitem, para assegurar
sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução de seu
que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; (Incluí- andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial
do pela Lei nº 13.964, de 2019) (inciso VIII);
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou I) Monitoração eletrônica (inciso IX). Tal medida já havia sido
precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de trazida para o âmbito da execução penal, pela Lei nº 12.258/10, e,
distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. agora, também o foi para o prisma processual.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, re- O art. 310, II, CPP, fornece um “norte” para a aplicação de me-
vogar a prisão preventiva se, no correr da investigação ou do pro- didas cautelares diversas da prisão. De acordo com tal dispositivo,
cesso, verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como o juiz, ao receber o auto de prisão em flagrante, deverá converter
novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. esta prisão em preventiva, se presentes os requisitos do art. 312,
(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) CPP, e se revelarem inadequadas as medidas cautelares diversas
Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o ór- da prisão.
gão emissor da decisão revisar a necessidade de sua manutenção a Isso somente demonstra que, seguindo tendência iniciada na
cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, execução penal, de aprisionamento corporal via pena privativa de
sob pena de tornar a prisão ilegal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de liberdade somente quando estritamente necessário, também as-
2019) sim passa a acontecer no ambiente processual, o que retira da pri-
são preventiva grande poder de atuação ao se prevê-la, apenas, em
Medidas cautelares diversas da prisão último caso. Assim, atualmente, primeiro o juiz verifica se é caso de
liberdade provisória pura e simples; depois, se é caso de liberdade
Antes do advento da Lei nº 12.403/11, as únicas opções cabí-
provisória com medida cautelar diversa da prisão; depois, se é caso
veis na seara processual eram o aprisionamento cautelar do acu-
de liberdade provisória mais a cumulação de medidas cautelares di-
sado ou a concessão de liberdade provisória, em dois extremos
versas da prisão; e, apenas por último, se é caso de aprisionamento
antagonicamente opostos que desconsideravam hipóteses em que
processual.
nem a liberdade e nem o aprisionamento cautelar eram as medidas
Assim, toda e qualquer decisão exarada pela autoridade judi-
mais adequadas. Em razão disso, após o advento da “Nova Lei de
cial quanto ao tema “prisões processuais” deve ser fundamentada.
Prisões”, inúmeras opções são conferidas no vácuo deixado entre o
Ao juiz compete decretar prisão preventiva fundamentadamente;
claustro e a liberdade, opções estas conhecidas por “medidas cau-
ao juiz compete conceder liberdade provisória fundamentadamen-
telares diversas da prisão”.
te; ao juiz compete decretar medida cautelar diversa da prisão
Os requisitos para fixação das medidas cautelares estão previs- fundamentadamente; ao juiz compete converter a medida caute-
tas no art. 282 do CPP, sendo estes: lar diversa da prisão em outra medida cautelar diversa da prisão
- Necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação fundamentadamente; ao juiz compete converter a medida cautelar
ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para diversa da prisão em prisão processual fundamentadamente.
evitar a prática de infrações penais; Neste diapasão, outra questão que merece ser analisada diz
- Adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias respeito à possibilidade de cumulação de medidas cautelares di-
do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado. versas da prisão.
Ora, pode ser que, num determinado caso concreto, apenas
Medidas cautelares diversas da prisão em espécie uma medida cautelar não surta efeito, e, ainda assim, não seja o
Elas estão no art. 319, do CPP, e são inovação trazida pela Lei caso de se impor prisão processual ao acusado. Nesta hipótese, é
nº 12.403/2011 São elas: perfeitamente passível de se decretar mais de uma medida cautelar
A) Comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condi- diversa da prisão. É o caso da proibição de acesso a determinados
ções fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades (inciso I); lugares (art. 319, II) e a determinação de comparecimento periódi-
B) Proibição de acesso ou frequência a determinados lugares co em juízo (art. 319, I), como exemplo, ou da suspensão do exer-
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado cício da função pública (art. 319, VI) e da proibição de ausentar-se
ou acusado permanecer distante destes locais para evitar o risco de da Comarca (art. 319, IV), como outro exemplo, ou da monitora-
novas infrações (inciso II); ção eletrônica (art. 319, IX) e da fiança (art. 319, VIII), como último
C) Proibição de manter contato com pessoa determinada exemplo. Tudo depende, insiste-se, da necessidade da medida, e da
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, dela o indiciado devida fundamentação feita pela autoridade policial.
ou acusado deva permanecer distante (inciso III);
D) Proibição de ausentar-se da Comarca, quando a permanên- CAPÍTULO IV
cia seja conveniente ou necessária para a investigação/instrução DA PRISÃO DOMICILIAR
(inciso IV);
E) Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indi-
folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho ciado ou acusado em sua residência, só podendo dela ausentar-se
fixos (inciso V); com autorização judicial.
F) Suspensão do exercício de função pública ou de atividade de Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domi-
natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de ciliar quando o agente for:
sua utilização para a prática de infrações penais (inciso VI); I - maior de 80 (oitenta) anos;
G) Internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes II - extremamente debilitado por motivo de doença grave;
praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos con- III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6
cluírem ser inimputável ou semi-imputável e houver risco de reite- (seis) anos de idade ou com deficiência;
ração (inciso VII); IV - gestante; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

343
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incomple- dade provisória juntamente ou não com medida cautelar diversa
tos; (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) da prisão. Mesmo porque, o art. 321, CPP, que previa esta hipótese
VI - homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do em que o acusado “se livrava solto” foi revogado, tendo sido subs-
filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos. (Incluído pela Lei tituído por redação absolutamente diferente da anterior. Assim,
nº 13.257, de 2016) conforme entendimento doutrinário prevalente, a “liberdade pro-
Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idô- visória obrigatória” foi suprimida pelo advento da Lei nº 12.403/11;
nea dos requisitos estabelecidos neste artigo. B) Liberdade provisória permitida. Se não for o caso da conver-
são da prisão em flagrante em preventiva por estarem presentes
CAPÍTULO V os requisitos de tal prisão processual (art. 310, II, CPP), ou, se não
DAS OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES houver hipótese que enseje a determinação de prisão preventiva
por si só (art. 321, CPP), ou se o juiz verificar que o indivíduo prati-
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: cou o fato em excludente de ilicitude/culpabilidade (art. 310, pará-
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condi- grafo único, CPP), é permitido à autoridade judicial a concessão de
ções fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades; liberdade provisória, cumulada ou não com as medidas cautelares
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares diversas da prisão;
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado C) Liberdade provisória vedada. O entendimento prevalente da
ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de doutrina e da jurisprudência, mesmo antes da Lei nº 12.403/11, é o
novas infrações; de que a liberdade provisória não pode ser vedada, admita ou não
III - proibição de manter contato com pessoa determinada o delito fiança, e, ainda, independentemente do que diz o diploma
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado legal. Isto ficou ainda mais clarividente com a “Nova Lei de Prisões”,
ou acusado dela permanecer distante; de maneira que, atualmente, é possível liberdade provisória com
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanên- fiança, liberdade provisória sem fiança, liberdade provisória com a
cia seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; cumulação de medida cautelar, liberdade provisória sem a cumu-
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de lação de medida cautelar, liberdade provisória mediante o cumpri-
folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho mento de obrigações, e liberdade provisória sem o cumprimento de
fixos; obrigações.
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade Recurso em sede de liberdade provisória
Consoante o art. 581, V, do Código de Processo Penal, a deci-
de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de
são que conceder liberdade provisória desafia recurso em sentido
sua utilização para a prática de infrações penais;
estrito. Já a decisão que negar tal instituto é irrecorrível, podendo
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes
ser combatida pela via do habeas corpus, que não é recurso, mas
praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos con-
meio autônomo de impugnação.
cluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal)
e houver risco de reiteração;
Fiança
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o
A fiança é instituto que teve seu âmbito de aplicação reforçado
comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu an-
e ampliado pela Lei nº 12.403/11, seja através de sua permissão
damento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial;
para delitos que antes não a permitiam, seja através de sua exis-
IX - monitoração eletrônica. tência como medida cautelar diversa da prisão, seja como condicio-
§ 1º ao §3º (Revogados). nante ou não da concessão de liberdade provisória.
§ 4o A fiança será aplicada de acordo com as disposições do Em regra, a fiança é requerida à autoridade judicial, que deci-
Capítulo VI deste Título, podendo ser cumulada com outras medidas dirá em quarenta e oito horas (art. 322, parágrafo único, do Código
cautelares. de Processo Penal).
Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será comunicada A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos ca-
pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscalizar as saídas do ter- sos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja
ritório nacional, intimando-se o indiciado ou acusado para entregar superior a quatro anos (art. 322, caput, CPP).
o passaporte, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas. De acordo com os arts. 323 e 324, do Código de Processo Pe-
nal, não será concedida fiança:
Liberdade provisória, com ou sem fiança A) Nos crimes de racismo (art. 323, inciso I). Segue-se, aqui, o
Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão art. 5º, XLII, da Constituição Federal;
preventiva ou de medida(s) cautelar(es) diversa(s) da prisão, o juiz B) Nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e dro-
deverá conceder ao acusado liberdade provisória. Trata-se de ga- gas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos (art.
rantia assegurada constitucionalmente, no art. 5º, LXVI, da Cons- 323, inciso II). Segue-se, aqui, o art. 5º, XLIII, da Constituição Fede-
tituição Federal, segundo o qual ninguém será levado à prisão ou ral;
nela mantido quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou C) Nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou milita-
sem fiança. res, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (art. 323,
São, tradicionalmente, três as espécies de liberdade provisória, inciso III). Segue-se, aqui, o art. 5º, XLIV, da Constituição Federal;
a saber, a obrigatória, a permitida, e a vedada: D) Aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança an-
A) Liberdade provisória obrigatória. O entendimento preva- teriormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer
lente na doutrina, atualmente, é o de que a liberdade provisória das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 do Código de
concedida ao acusado que “se livra solto” foi revogada pela Lei nº Processo Penal (art. 324, inciso I);
12.403/11, já que, após tal conjunto normativo, não mais é a liber- E) Em caso de prisão civil ou militar (art. 324, inciso II);
dade provisória mera medida de contracautela à imposição de pri- F) Quando presentes os motivos que autorizam a decretação
são preventiva, podendo ser o caso atualmente, portanto, de liber- da prisão preventiva (art. 312) (art. 324, inciso III);

344
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
G) Art. 3º, da Lei nº 9.613/98 (“Lei de Lavagem de Capitais”). Perda da fiança
Tal dispositivo preceitua que os crimes previstos na “Lei de Lava- Se o acusado, condenado, não comparecer para o início do
gem de Capitais” são insuscetíveis de fiança; cumprimento da pena privativa de liberdade definitivamente im-
H) Art. 31, da Lei nº 7.492/86 (“Lei de Crimes contra o Sistema posta, independentemente do regime, a fiança será dada por per-
Financeiro”). Tal dispositivo afirma que os crimes previstos nesta dida. Neste caso, consoante o art. 345, da Lei Processual, o seu va-
lei, e apenados com reclusão, não serão passíveis de fiança se pre- lor, deduzidas as custas e demais encargos a que o acusado estiver
sentes os motivos ensejadores da prisão preventiva. obrigado, será recolhido ao fundo penitenciário.
Valor da fiança Da decisão que julga perdida a fiança cabe recurso em sentido
Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá em con- estrito (art. 581, VII, CPP).
sideração a natureza da infração, as condições pessoais de fortuna
e vida pregressa do acusado, as circunstâncias indicativas de sua Cassação da fiança
periculosidade, bem como a importância provável das custas do A fiança a ser cassada, como regra, é aquela concedida equivo-
processo, até final julgamento (art. 326, CPP). cadamente (ex.: foi concedida fiança ao réu mesmo tendo ele prati-
Neste diapasão, de acordo com o art. 325, da Lei Processual cado crime hediondo). Apenas o Poder Judiciário pode determinar
Penal, o valor da fiança será fixado pela autoridade que a conceder a cassação, de ofício ou a requerimento da parte.
nos seguintes limites: Ademais, caso haja inovação na tipificação delitiva, e o novo
A) De um a cem salários mínimos, quando se tratar de infração tipo vede fiança outrora concedida, também é caso de sua cassa-
cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for superior ção.
a quatro anos (inciso I); Da decisão que julga cassada a fiança cabe recurso em sentido
B) De dez a duzentos salários mínimos, quando o máximo da estrito (art. 581, V, CPP).
pena privativa de liberdade cominada for superior a quatro anos
(inciso II). Reforço da fiança
Trata-se de um implemento à fiança outrora prestada, seja
porque o foi de maneira insuficiente, seja porque ocorreu nova ti-
Vale lembrar que, de acordo com o art. 330, do Código de Pro-
pificação do delito fazendo-se mister a elevação de seu valor, seja
cesso Penal, a fiança será sempre definitiva, e consistirá em depósi-
porque ocorreu o perecimento de bens hipotecados, seja porque
to de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos da dívida
ocorreu a depreciação de pedras/metais/objetos preciosos. Se tal
pública (federal, estadual ou municipal), ou em hipoteca inscrita em
reforço não for realizado, a fiança será julgada sem efeito (fiança
primeiro lugar. A avaliação de imóvel ou de pedras/objetos/metais inidônea).
preciosos será feita por perito nomeado pela autoridade. Quando a Da decisão que julga sem efeito a fiança cabe recurso em sen-
fiança consistir em caução de títulos da dívida pública, o valor será tido estrito (art. 581, V, CPP).
determinado pela sua cotação em Bolsa.
CAPÍTULO VI
Dispensa/redução/aumento da fiança DA LIBERDADE PROVISÓRIA, COM OU SEM FIANÇA
Se assim recomendar a situação econômica do preso, a fiança
poderá ser (primeiro parágrafo, do art. 325, CPP): Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação
A) Dispensada, na forma do art. 350 deste Código (inciso I). da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória,
Neste caso, o juiz analisa a capacidade econômica do acusado e, impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319
verificando ser esta baixa, concede-lhe a liberdade provisória e o deste Código e observados os critérios constantes do art. 282 deste
sujeita às condições dos arts. 327 e 328, CPP. Vale lembrar que essa Código.
“prova de capacidade econômica” pode ser feita de qualquer ma- Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança
neira, e, uma vez demonstrada, prevalece não ser mera discricio- nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não
nariedade do magistrado concedê-la, mas sim direito subjetivo do seja superior a 4 (quatro) anos.
beneficiário; Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao
B) Reduzida até o máximo de dois terços (inciso II); juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas.
C) Aumentada em até mil vezes (inciso III). Art. 323. Não será concedida fiança:
I - nos crimes de racismo;
Destinação da Fiança II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e dro-
Assim que paga o valor arbitrado pela fiança o juiz irá tomar as gas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos;
seguintes providências: III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou milita-
A) Pagamento de custas; res, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;
B) Indenização do dano; Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança:
I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança ante-
C) Pagamento de prestação pecuniária;
riormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer das
D) Pagamento de multa;
obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 deste Código;
E) Remanescente será devolvido.
II - em caso de prisão civil ou militar;
III - (Revogado).
Objeto da Fiança IV - quando presentes os motivos que autorizam a decretação
A) Depósito em dinheiro; da prisão preventiva (art. 312).
B) Pedras, objetos ou metais preciosos; Art. 325. O valor da fiança será fixado pela autoridade que a
C) Títulos da dívida pública; conceder nos seguintes limites:
D) Hipoteca de imóvel. I - de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se tratar de
infração cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for
superior a 4 (quatro) anos;

345
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
II - de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, quando o Art. 336. O dinheiro ou objetos dados como fiança servirão ao
máximo da pena privativa de liberdade cominada for superior a 4 pagamento das custas, da indenização do dano, da prestação pecu-
(quatro) anos. niária e da multa, se o réu for condenado.
§ 1o Se assim recomendar a situação econômica do preso, a Parágrafo único. Este dispositivo terá aplicação ainda no caso
fiança poderá ser: da prescrição depois da sentença condenatória (art. 110 do Código
I - dispensada, na forma do art. 350 deste Código; Penal).
II - reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou Art. 337. Se a fiança for declarada sem efeito ou passar em jul-
III - aumentada em até 1.000 (mil) vezes. gado sentença que houver absolvido o acusado ou declarada extin-
Art. 326. Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá ta a ação penal, o valor que a constituir, atualizado, será restituído
em consideração a natureza da infração, as condições pessoais de sem desconto, salvo o disposto no parágrafo único do art. 336 deste
fortuna e vida pregressa do acusado, as circunstâncias indicativas Código.
de sua periculosidade, bem como a importância provável das custas Art. 338. A fiança que se reconheça não ser cabível na espécie
do processo, até final julgamento. será cassada em qualquer fase do processo.
Art. 327. A fiança tomada por termo obrigará o afiançado a Art. 339. Será também cassada a fiança quando reconhecida a
comparecer perante a autoridade, todas as vezes que for intimado existência de delito inafiançável, no caso de inovação na classifica-
para atos do inquérito e da instrução criminal e para o julgamento. ção do delito.
Quando o réu não comparecer, a fiança será havida como quebra- Art. 340. Será exigido o reforço da fiança:
da. I - quando a autoridade tomar, por engano, fiança insuficiente;
Art. 328. O réu afiançado não poderá, sob pena de quebra- II - quando houver depreciação material ou perecimento dos
mento da fiança, mudar de residência, sem prévia permissão da bens hipotecados ou caucionados, ou depreciação dos metais ou
autoridade processante, ou ausentar-se por mais de 8 (oito) dias pedras preciosas;
de sua residência, sem comunicar àquela autoridade o lugar onde III - quando for inovada a classificação do delito.
será encontrado. Parágrafo único. A fiança ficará sem efeito e o réu será reco-
Art. 329. Nos juízos criminais e delegacias de polícia, haverá um lhido à prisão, quando, na conformidade deste artigo, não for re-
livro especial, com termos de abertura e de encerramento, numera- forçada.
do e rubricado em todas as suas folhas pela autoridade, destinado Art. 341. Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acusado:
especialmente aos termos de fiança. O termo será lavrado pelo es- I - regularmente intimado para ato do processo, deixar de com-
crivão e assinado pela autoridade e por quem prestar a fiança, e parecer, sem motivo justo;
dele extrair-se-á certidão para juntar-se aos autos. II - deliberadamente praticar ato de obstrução ao andamento
Parágrafo único. O réu e quem prestar a fiança serão pelo escri- do processo;
vão notificados das obrigações e da sanção previstas nos arts. 327 III - descumprir medida cautelar imposta cumulativamente
e 328, o que constará dos autos. com a fiança;
Art. 330. A fiança, que será sempre definitiva, consistirá em IV - resistir injustificadamente a ordem judicial;
depósito de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos V - praticar nova infração penal dolosa.
da dívida pública, federal, estadual ou municipal, ou em hipoteca Art. 342. Se vier a ser reformado o julgamento em que se de-
inscrita em primeiro lugar. clarou quebrada a fiança, esta subsistirá em todos os seus efeitos
§ 1o A avaliação de imóvel, ou de pedras, objetos ou metais Art. 343. O quebramento injustificado da fiança importará na
preciosos será feita imediatamente por perito nomeado pela au- perda de metade do seu valor, cabendo ao juiz decidir sobre a impo-
toridade. sição de outras medidas cautelares ou, se for o caso, a decretação
§ 2o Quando a fiança consistir em caução de títulos da dívida da prisão preventiva.
pública, o valor será determinado pela sua cotação em Bolsa, e, sen- Art. 344. Entender-se-á perdido, na totalidade, o valor da fian-
do nominativos, exigir-se-á prova de que se acham livres de ônus. ça, se, condenado, o acusado não se apresentar para o início do
Art. 331. O valor em que consistir a fiança será recolhido à re- cumprimento da pena definitivamente imposta.
partição arrecadadora federal ou estadual, ou entregue ao deposi- Art. 345. No caso de perda da fiança, o seu valor, deduzidas
tário público, juntando-se aos autos os respectivos conhecimentos. as custas e mais encargos a que o acusado estiver obrigado, será
Parágrafo único. Nos lugares em que o depósito não se puder recolhido ao fundo penitenciário, na forma da lei.
fazer de pronto, o valor será entregue ao escrivão ou pessoa abona- Art. 346. No caso de quebramento de fiança, feitas as deduções
da, a critério da autoridade, e dentro de três dias dar-se-á ao valor previstas no art. 345 deste Código, o valor restante será recolhido
o destino que Ihe assina este artigo, o que tudo constará do termo ao fundo penitenciário, na forma da lei.
de fiança. Art. 347. Não ocorrendo a hipótese do art. 345, o saldo será
Art. 332. Em caso de prisão em flagrante, será competente para entregue a quem houver prestado a fiança, depois de deduzidos os
conceder a fiança a autoridade que presidir ao respectivo auto, e, encargos a que o réu estiver obrigado.
em caso de prisão por mandado, o juiz que o houver expedido, ou Art. 348. Nos casos em que a fiança tiver sido prestada por
a autoridade judiciária ou policial a quem tiver sido requisitada a meio de hipoteca, a execução será promovida no juízo cível pelo
prisão. órgão do Ministério Público.
Art. 333. Depois de prestada a fiança, que será concedida inde- Art. 349. Se a fiança consistir em pedras, objetos ou metais pre-
pendentemente de audiência do Ministério Público, este terá vista ciosos, o juiz determinará a venda por leiloeiro ou corretor.
do processo a fim de requerer o que julgar conveniente. Art. 350. Nos casos em que couber fiança, o juiz, verificando a
Art. 334. A fiança poderá ser prestada enquanto não transitar situação econômica do preso, poderá conceder-lhe liberdade pro-
em julgado a sentença condenatória. visória, sujeitando-o às obrigações constantes dos arts. 327 e 328
Art. 335. Recusando ou retardando a autoridade policial a con- deste Código e a outras medidas cautelares, se for o caso.
cessão da fiança, o preso, ou alguém por ele, poderá prestá-la, me- Parágrafo único. Se o beneficiado descumprir, sem motivo jus-
diante simples petição, perante o juiz competente, que decidirá em to, qualquer das obrigações ou medidas impostas, aplicar-se-á o
48 (quarenta e oito) horas. disposto no § 4o do art. 282 deste Código.

346
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Prisão temporária Procedimento da prisão temporária
A prisão temporária é uma das espécies de prisão cautelar, O procedimento está previsto nos arts. 2º e 3º, da Lei nº
mais apropriada para a fase preliminar ao processo, tendo vindo 7.960/89:
como substitutiva da suspeita (e ilegal/inconstitucional) “prisão A) A prisão temporária não pode ser decretada de ofício pelo
para averiguações”. Embora não prevista no Código de Processo juiz, dependendo de representação da autoridade policial ou de re-
Penal, a Lei nº 7.960/89 a regulamenta. querimento do Ministério Público (na hipótese de representação
Esta lei tem origem na Medida Provisória nº 111/89, razão pela da autoridade policial, o juiz, antes de decidir, deverá ouvir o Mi-
qual parcela minoritária da doutrina afirma ser tal lei inconstitucio- nistério Público);
nal, por não ser dado a Medidas Provisórias regulamentar prisões. B) O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser
O Supremo Tribunal Federal, contudo (e é essa a posição absoluta- fundamentado e prolatado dentro do prazo de vinte e quatro ho-
mente prevalente), tem entendimento de que a Lei nº 7.960/89 é ras, contados a partir do recebimento da representação ou do re-
plenamente constitucional. querimento;
Caberá prisão temporária, de acordo com o primeiro artigo, da C) O juiz poderá, de ofício ou a requerimento do Ministério Pú-
Lei nº 7.960/89: blico e do advogado, determinar que o preso lhe seja apresentado,
A) Quando esta for imprescindível para as investigações do in- solicitar informações e esclarecimentos da autoridade policial e
quérito policial (inciso I); submetê-lo a exame de corpo de delito;
B) Quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer D) Decretada a prisão temporária, se expedirá mandado de pri-
elementos necessários ao esclarecimento de sua atividade (inciso são (em duas vias), uma das quais será entregue ao indiciado e ser-
II); virá como nota de culpa. Vale lembrar que a prisão somente poderá
C) Quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer ser executada depois de expedido o mandado judicial (aqui reside a
prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do principal diferença em relação à “prisão para averiguações”, extinta
indiciado nos crimes de homicídio doloso (art. 121, caput e seu §2º, pela Lei nº 7.960/89, em que a autoridade policial meramente re-
CP), sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§1º e 2º, colhia o indivíduo ao claustro e se limitava a notificar a autoridade
CP), roubo (art. 157, caput, e seus §§1º, 2º e 3º, CP), extorsão (art. judicial disso);
158, caput, e seus §§1º e 2º, CP), extorsão mediante sequestro (art. E) Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o preso
159, caput, e seus §§1º, 2º e 3º, CP), estupro e atentado violento dos direitos previstos no art. 5º, da Constituição Federal (vale lem-
ao pudor (art. 213, caput, CP), epidemia com resultado de morte brar que os presos temporários deverão permanecer, obrigatoria-
(art. 267, §1º, CP), envenenamento de água potável ou substância mente, separados dos demais detentos);
alimentícia ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, c.c. F) Decorrido o prazo de prisão temporária, o indivíduo deverá
art. 285, CP), quadrilha ou bando (art. 288, CP), genocídio em qual- ser imediatamente posto em liberdade, salvo se tiver havido a con-
quer de suas formas típicas (arts. 1º, 2º e 3º, da Lei nº 2.889/56), versão da medida em prisão preventiva.
tráfico de drogas (art. 33, Lei nº 11.343/06), e crimes contra o siste-
ma financeiro (Lei nº 7.492/86) (inciso III). Mandado de prisão
Neste diapasão, uma pergunta que convém fazer é a seguinte: É o instrumento emanado da autoridade competente para a
quantos destes requisitos precisam estar presentes para se decre- execução da prisão, prevista no artigo 285.
tar a prisão temporária? Há várias posições na doutrina.
Um primeiro entendimento defende que o requisito “C” deve LEI Nº 7.960, DE 21 DE DEZEMBRO DE 1989
estar sempre presente, seja ao lado do requisito “A”, seja ao lado
do requisito “B”. Ou seja, sempre devem estar presentes dois re- Dispõe sobre prisão temporária.
quisitos ao menos.
Um segundo entendimento, mais radical, defende que basta a O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Na-
presença de apenas um requisito. cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Um terceiro entendimento defende que é necessária a presen- Art. 1° Caberá prisão temporária:
ça dos três requisitos conjuntamente. I - quando imprescindível para as investigações do inquérito
Um quarto entendimento diz que é necessária a presença dos policial;
três requisitos, mais as situações previstas no art. 312, do Código de II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer
Processo Penal, o qual regula a prisão preventiva. elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade;
Não há um entendimento prevalente, todavia. III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer
prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do
Prazo da prisão temporária indiciado nos seguintes crimes:
De acordo com o art. 2º, da Lei nº 7.960/89, o prazo da prisão a) homicídio doloso(art. 121, caput, e seu § 2°);
temporária é de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período em b) sequestro ou cárcere privado(art. 148, caput, e seus §§ 1°
caso de comprovada e extrema necessidade. e 2°);
c) roubo(art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
Agora, se o crime for hediondo ou equiparado, o parágrafo d) extorsão(art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);
quarto, do art. 2º, da Lei nº 8.072/90 (popularmente conhecida por e) extorsão mediante sequestro(art. 159, caput, e seus §§ 1°,
“Lei dos Crimes Hediondos”), prevê que o prazo da prisão tempo- 2° e 3°);
rária será de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso f) estupro(art. 213, caput, e sua combinação com oart. 223,
de comprovada e extrema necessidade. caput, e parágrafo único);(Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940)
g) atentado violento ao pudor(art. 214, caput, e sua combina-
ção com oart. 223, caput, e parágrafo único);(Vide Decreto-Lei nº
2.848, de 1940)
h) rapto violento(art. 219, e sua combinação com oart. 223
caput, e parágrafo único);(Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940)

347
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
i) epidemia com resultado de morte(art. 267, § 1°);
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia PROCESSO E JULGAMENTO DOS CRIMES DE RESPON-
ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, combinado SABILIDADE DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS
com art. 285);
l) quadrilha ou bando(art. 288), todos do Código Penal; Os crimes praticados por funcionários públicos, no exercício de
m) genocídio(arts. 1°,2°e3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro de sua função, encontram-se previstos nos artigos 312 a 326 do Có-
1956), em qualquer de sua formas típicas; digo Penal. Já seu processo e procedimento, encontra-se previsto
n) tráfico de drogas(art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro entre os artigos 513 e 518 do Código de Processo Penal, os quais
de 1976); analisaremos neste tópico.
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de Inicialmente, importante destacar que os crimes funcionais po-
junho de 1986). dem ser:
p) crimes previstos na Lei de Terrorismo.(Incluído pela Lei nº a) Crimes funcionais próprios: são os crimes que só podem ser
13.260, de 2016) praticados por funcionário público, ou seja, a ausência desta con-
Art. 2° A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da dição leva à atipicidade da conduta. Ex: a concussão e a corrupção
representação da autoridade policial ou de requerimento do Minis- passiva;
tério Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual b) Crimes funcionais impróprios: são aqueles crimes que tam-
período em caso de extrema e comprovada necessidade. bém podem ser praticados por particulares, ocorrendo tão somen-
§ 1° Na hipótese de representação da autoridade policial, o te uma nova tipificação. A inexistência da condição de funcionário
Juiz, antes de decidir, ouvirá o Ministério Público. público leva à desclassificação para outra infração. Ex: o Peculato,
§ 2° O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser que se for cometido por particular é crime de apropriação indébita.
fundamentado e prolatado dentro do prazo de 24 (vinte e quatro)
horas, contadas a partir do recebimento da representação ou do Inicialmente, o artigo 513 do CPP dispõe que nos crimes funcio-
requerimento. nais, a queixa ou a denúncia será instruída com documentos ou jus-
§ 3° O Juiz poderá, de ofício, ou a requerimento do Ministério tificação que façam presumir a existência do delito e que poderão
Público e do Advogado, determinar que o preso lhe seja apresenta- ser obtidas vias inquérito policial, ou com declaração fundamenta-
do, solicitar informações e esclarecimentos da autoridade policial e da da impossibilidade de apresentação de qualquer dessas provas.
submetê-lo a exame de corpo de delito. Apresentada a denúncia ou queixa, o juiz, preliminarmente
§ 4° Decretada a prisão temporária, expedir-se-á mandado de
deverá, antes de notificar o funcionário supostamente infrator,
prisão, em duas vias, uma das quais será entregue ao indiciado e
verificar se a denúncia ou queixa possui todas as formalidades ne-
servirá como nota de culpa.
cessárias exigidas por lei. Não estando presentes todos os requi-
§ 4º-A O mandado de prisão conterá necessariamente o perí-
sitos, caberá ao juiz não recebê-las, gerando coisa julgada formal,
odo de duração da prisão temporária estabelecido no caput deste
de maneira que vencido o vício a demanda poderá ser novamente
artigo, bem como o dia em que o preso deverá ser libertado.(Inclu-
proposta.
ído pela Lei nº 13.869. de 2019)
O artigo 514 do CPP faz uma ressalva que o procedimento em
§ 5° A prisão somente poderá ser executada depois da expedi-
estudo se aplica apenas aos crimes afiançáveis. Importante ressal-
ção de mandado judicial.
§ 6° Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o preso tar que antes da vigência da Lei nº. 12.403/11, em se tratando de
dos direitos previstos no art. 5° da Constituição Federal. crimes funcionais, os únicos crimes inafiançáveis eram o Excesso de
§ 7º Decorrido o prazo contido no mandado de prisão, a au- Exação (CP, art.316, §1º) e a Facilitação de Contrabando ou Desca-
toridade responsável pela custódia deverá, independentemente minho (CP, art. 318), conforme dispunha o art. 323 do CPP. Contu-
de nova ordem da autoridade judicial, pôr imediatamente o preso do, com o advento da Lei 12.403/11, passaram a ser inafiançáveis
em liberdade, salvo se já tiver sido comunicada da prorrogação da somente os Crimes Hediondos e os a eles equiparados, sendo viável
prisão temporária ou da decretação da prisão preventiva. (Incluído a aplicação da fiança aos demais
pela Lei nº 13.869. de 2019) Estando a denúncia em ordem e, caso o crime seja afiançável,
§ 8º Inclui-se o dia do cumprimento do mandado de prisão no o juiz notificará o funcionário público acusado para que o mesmo
cômputo do prazo de prisão temporária.(Redação dada pela Lei nº apresente resposta por escrito dentro de quinze dias (defesa pre-
13.869. de 2019) liminar). Tal resposta antecede ao próprio recebimento da peça
Art. 3° Os presos temporários deverão permanecer, obrigato- acusatória, de maneira que, se o juiz se convencer dos argumentos
riamente, separados dos demais detentos. utilizados pelo defensor, poderá rejeitar a denúncia/queixa com
Art. 4° Oart. 4° da Lei n° 4.898, de 9 de dezembro de 1965,fica base no art. 395, do Código de Processo Penal.
acrescido da alínea i, com a seguinte redação: No tocante a defesa preliminar, conforme entendimento do
“Art. 4° ............................................................... Supremo Tribunal Federal (STF), tem-se que a falta de notificação
i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de do acusado para apresentar a resposta prevista ainda no artigo 514
medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou do CPP, acarretará na nulidade do processo, conforme RT 572/412,
de cumprir imediatamente ordem de liberdade;” in verbis:
Art. 5° Em todas as comarcas e seções judiciárias haverá um “Artigo 514 do CPP. Falta de notificação do acusado para res-
plantão permanente de vinte e quatro horas do Poder Judiciário e ponder, por escrito, em caso de crime afiançável, apresentada a
do Ministério Público para apreciação dos pedidos de prisão tem- denúncia. Relevância da falta, importando nulidade do processo,
porária. porque atinge o princípio fundamental da ampla defesa. Evidência
Art. 6° Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. do prejuízo.”
Art. 7° Revogam-se as disposições em contrário. E, nos termos dos Art. 515 do CPP, durante os quinze dias con-
cedidos de prazo para que o funcionário público ofereça resposta,
os autos ficarão armazenados em cartório, onde poderão ser exa-
minados pelo infrator ou por seu defensor.

348
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Após recebida a resposta do funcionário público, juiz definirá Art. 515. No caso previsto no artigo anterior, durante o pra-
se receberá ou não a denúncia. zo concedido para a resposta, os autos permanecerão em cartório,
Caso decida pelo não recebimento da queixa ou denúncia, o onde poderão ser examinados pelo acusado ou por seu defensor.
juiz devera justificar sua decisão em despacho fundamentado, nos Parágrafo único. A resposta poderá ser instruída com docu-
termos do artigo 516, CPP. mentos e justificações.
Já no caso de recebimento da denúncia ou da queixa, será o Art. 516. O juiz rejeitará a queixa ou denúncia, em despacho
acusado citado e o processo seguirá o rito comum, previsto para os fundamentado, se convencido, pela resposta do acusado ou do seu
crimes punidos com reclusão, encontrados nos artigos 517 e 518 do defensor, da inexistência do crime ou da improcedência da ação.
Código de Processo Penal. Art. 517. Recebida a denúncia ou a queixa, será o acusado cita-
do, na forma estabelecida no Capítulo I do Título X do Livro I.
Vejamos as particularidades relativas a este procedimento: Art. 518. Na instrução criminal e nos demais termos do proces-
Hipótese de cabimento. O rito aqui reproduzido tem cabimen- so, observar-se-á o disposto nos Capítulos I e III, Título I, deste Livro.
to quando o crime imputado a funcionário público for afiançável,
e, ainda, desde que o funcionário não tenha foro privilegiado por
prerrogativa de função;
O HABEAS CORPUS E SEU PROCESSO
Infrações que comportam a aplicação de tal rito. São aquelas
previstas nos arts. 312 a 326, do Código Penal (peculato, concussão,
corrupção passiva, facilitação de contrabando ou descaminho, pre- O habeas corpus teria sua origem remota no direito romano,
varicação, condescendência criminosa, violência arbitrária, aban- onde todo o cidadão podia reclamar a exibição do homem livre de-
dono de função etc.); tido ilegalmente por meio de uma ação privilegiada, conhecida por
Notificação do acusado. De acordo com o art. 514, do Códi- interdictum de libero homine exhibendo. Entretanto, somente se
go de Processo Penal, nos crimes afiançáveis, estando a denúncia/ delineou um instrumento que possa ser identificado como habeas
queixa em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a noti- corpus a partir da “Magna Carta”, em 1.215, imposta pelos barões
ingleses ao rei João Sem-Terra, especialmente com o writ of habeas
ficação do acusado para responder por escrito, no prazo de quinze
corpus ad subjiciendum, daí evoluindo cada vez mais por meio do
dias (é esta característica que torna especial o procedimento). Tal
habeas corpus Act de 1.679 e do habeas corpus Act de 1.816. Do di-
resposta antecede ao próprio recebimento da peça acusatória, de
reito inglês foi levado para as colônias da América do Norte, sendo,
maneira que, se o juiz se convencer dos argumentos utilizados pelo
posteriormente, incorporado na Constituição de 1.787 dos Estados
defensor, poderá rejeitar a denúncia/queixa com base no art. 395, Unidos da América.
do Código de Processo Penal. No Brasil o habeas corpus entrou, pela primeira vez, na nossa
Há se tomar especial atenção, contudo, em relação à Súmula legislação, de forma expressa, com a promulgação do Código de
nº 330, STJ, segundo a qual é desnecessária a resposta preliminar Processo Criminal, em 1.832 (art. 340), embora estivesse contido
de que trata o art. 514, CPP, na ação penal instruída por inquérito implicitamente na Constituição do Império de 1.824 (art. 179, § 8º).
policial. Parcela considerável da doutrina discorda de tal posicio- Atualmente, na Constituição da República de 1988, o habeas cor-
namento, alegando que, esteja ou não a ação penal instruída por pus está previsto no art. 5º, inciso LXVII.
inquérito policial (ou elemento informativo equivalente), continua O HC é uma ação constitucional de natureza jurídica de ação
tal defesa a ser obrigatória, por observância da cláusula do devido penal destinada especificamente à proteção da liberdade de loco-
processo legal, do contraditório, e da ampla defesa. É este, inclu- moção quando ameaçada ou violada por ilegalidade ou abuso de
sive, o posicionamento prevalente no Supremo Tribunal Federal, poder.
nada obstante a Súmula do Superior Tribunal de Justiça; Está previsto na Constituição da República, e será concedido
D) Recebimento da denúncia/queixa. Com o recebimento da sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer viola-
inicial acusatória, o procedimento segue as mesmas regras do pro- ção ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou
cedimento ordinário. abuso de poder.
Preventivamente, o HC é ajuizado quando o cerceio de liber-
Assim dispõe o Código de Processo Penal acerca do assunto: dade estiver em vias de se concretizar. Repressivamente, quando a
violação da liberdade de locomoção já tiver se concretizado.
CAPÍTULO II
DO PROCESSO E DO JULGAMENTO DOS CRIMES A ação do HC é de conhecimento, podendo dela resultar uma
DE RESPONSABILIDADE DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS tutela declaratória, constitutiva ou, até mesmo, condenatória, mas
sempre tendo caráter mandamental, já que desnecessária e ine-
Art. 513. Os crimes de responsabilidade dos funcionários públi- xistente fase posterior de execução para dar efetividade à ordem.
cos, cujo processo e julgamento competirão aos juízes de direito, a
Condições da Ação
queixa ou a denúncia será instruída com documentos ou justifica-
As condições de ação devem ser vistas da mesma forma que
ção que façam presumir a existência do delito ou com declaração
nas demais ações.
fundamentada da impossibilidade de apresentação de qualquer
Assim, temos como primeira condição de ação a possibilida-
dessas provas.
de jurídica do pedido, que consiste na ausência de vedação legal a
Art. 514. Nos crimes afiançáveis, estando a denúncia ou queixa determinada demanda, como ocorre com a vedação constitucional
em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação ao HC para combater punições disciplinares militares (art. 142, §
do acusado, para responder por escrito, dentro do prazo de quinze 2º, CR/88).
dias.
Parágrafo único. Se não for conhecida a residência do acusado,
ou este se achar fora da jurisdição do juiz, ser-lhe-á nomeado defen-
sor, a quem caberá apresentar a resposta preliminar.

349
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Admite-se a utilização do HC como sucedâneo recursal, quando Art. 651. A concessão do habeas corpus não obstará, nem porá
não houver recurso apto a proteger a liberdade da pessoa. Nesse termo ao processo, desde que este não esteja em conflito com os
caso, a sentença que decidir o HC terá efeitos em outro processo. fundamentos daquela.
Logo, para tal, este último processo não pode já ter sido encerrado. Art. 652. Se o habeas corpus for concedido em virtude de nuli-
dade do processo, este será renovado.
A causa de pedir no Habeas Corpus é a violação à liberdade de Art. 653. Ordenada a soltura do paciente em virtude de habeas
ir e vir do indivíduo. O HC pode se dirigir contra a prisão ilegal, con- corpus, será condenada nas custas a autoridade que, por má-fé ou
tra a ameaça de prisão e contra inquérito policial, procedimento evidente abuso de poder, tiver determinado a coação.
criminal ou processo penal cuja conclusão possa resultar em pena Parágrafo único. Neste caso, será remetida ao Ministério Pú-
privativa de liberdade. blico cópia das peças necessárias para ser promovida a responsabi-
lidade da autoridade.
De acordo com o art. 648 do CPP, a coação considerar-se-á ile- Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer
gal quando: pessoa, em seu favor ou de outrem, bem como pelo Ministério Pú-
a) Não houver justa causa; blico.
b) Alguém estiver preso por mais tempo do que determina a § 1o A petição de habeas corpus conterá:
lei; a) o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer
c) Quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo; violência ou coação e o de quem exercer a violência, coação ou
d) Houver cessado o motivo que autorizou a coação; ameaça;
e) Não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que b) a declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de
a lei autoriza; simples ameaça de coação, as razões em que funda o seu temor;
f) O processo for manifestamente nulo;
c) a assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quan-
g) Estiver extinta a punibilidade.
do não souber ou não puder escrever, e a designação das respecti-
vas residências.
Senão vejamos:
§ 2o Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de
CÓDIGO PROCESSUAL PENAL ofício ordem de habeas corpus, quando no curso de processo ve-
rificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação
CAPÍTULO X ilegal.
DO HABEAS CORPUS E SEU PROCESSO Art. 655. O carcereiro ou o diretor da prisão, o escrivão, o ofi-
cial de justiça ou a autoridade judiciária ou policial que embaraçar
Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou procrastinar a expedição de ordem de habeas corpus, as infor-
ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua mações sobre a causa da prisão, a condução e apresentação do
liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar. paciente, ou a sua soltura, será multado na quantia de duzentos
Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal: mil-réis a um conto de réis, sem prejuízo das penas em que incorrer.
I - quando não houver justa causa; As multas serão impostas pelo juiz do tribunal que julgar o habeas
II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que de- corpus, salvo quando se tratar de autoridade judiciária, caso em
termina a lei; que caberá ao Supremo Tribunal Federal ou ao Tribunal de Apela-
III - quando quem ordenar a coação não tiver competência ção impor as multas.
para fazê-lo; Art. 656. Recebida a petição de habeas corpus, o juiz, se julgar
IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação; necessário, e estiver preso o paciente, mandará que este Ihe seja
V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos imediatamente apresentado em dia e hora que designar.
em que a lei a autoriza; Parágrafo único. Em caso de desobediência, será expedido
VI - quando o processo for manifestamente nulo; mandado de prisão contra o detentor, que será processado na for-
VII - quando extinta a punibilidade. ma da lei, e o juiz providenciará para que o paciente seja tirado da
Art. 649. O juiz ou o tribunal, dentro dos limites da sua jurisdi- prisão e apresentado em juízo.
ção, fará passar imediatamente a ordem impetrada, nos casos em Art. 657. Se o paciente estiver preso, nenhum motivo escusará
que tenha cabimento, seja qual for a autoridade coatora. a sua apresentação, salvo:
Art. 650. Competirá conhecer, originariamente, do pedido de I - grave enfermidade do paciente;
habeas corpus: Il - não estar ele sob a guarda da pessoa a quem se atribui a
I - ao Supremo Tribunal Federal, nos casos previstos no Art.
detenção;
101, I, g, da Constituição;
III - se o comparecimento não tiver sido determinado pelo juiz
II - aos Tribunais de Apelação, sempre que os atos de violência
ou pelo tribunal.
ou coação forem atribuídos aos governadores ou interventores dos
Parágrafo único. O juiz poderá ir ao local em que o paciente se
Estados ou Territórios e ao prefeito do Distrito Federal, ou a seus
secretários, ou aos chefes de Polícia. encontrar, se este não puder ser apresentado por motivo de doença.
§ 1o A competência do juiz cessará sempre que a violência ou Art. 658. O detentor declarará à ordem de quem o paciente
coação provier de autoridade judiciária de igual ou superior juris- estiver preso.
dição. Art. 659. Se o juiz ou o tribunal verificar que já cessou a violên-
§ 2o Não cabe o habeas corpus contra a prisão administrati- cia ou coação ilegal, julgará prejudicado o pedido.
va, atual ou iminente, dos responsáveis por dinheiro ou valor per- Art. 660. Efetuadas as diligências, e interrogado o paciente,
tencente à Fazenda Pública, alcançados ou omissos em fazer o seu o juiz decidirá, fundamentadamente, dentro de 24 (vinte e quatro)
recolhimento nos prazos legais, salvo se o pedido for acompanhado horas.
de prova de quitação ou de depósito do alcance verificado, ou se a § 1o Se a decisão for favorável ao paciente, será logo posto em
prisão exceder o prazo legal. liberdade, salvo se por outro motivo dever ser mantido na prisão.

350
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
§ 2o Se os documentos que instruírem a petição evidenciarem Dita Celso Antônio Bandeira de Melo acerca dos princípios que
a ilegalidade da coação, o juiz ou o tribunal ordenará que cesse ime- “o princípio exprime a noção de mandamento nuclear de um siste-
diatamente o constrangimento. ma”.
§ 3o Se a ilegalidade decorrer do fato de não ter sido o pacien- O direito processual penal por se tratar de uma ciência, têm
te admitido a prestar fiança, o juiz arbitrará o valor desta, que po- princípios que lhe dão suporte, sejam de ordem constitucional ou
derá ser prestada perante ele, remetendo, neste caso, à autoridade infraconstitucional, que informam todos os ramos do processo, ou
os respectivos autos, para serem anexados aos do inquérito policial sejam, específicos do direito processual penal.
ou aos do processo judicial.
§ 4o Se a ordem de habeas corpus for concedida para evitar Princípios do direito processual penal brasileiro
ameaça de violência ou coação ilegal, dar-se-á ao paciente salvo-
-conduto assinado pelo juiz. Princípio do Devido Processo Legal
§ 5o Será incontinenti enviada cópia da decisão à autoridade O Princípio do devido processo legal está consagrado, na legis-
que tiver ordenado a prisão ou tiver o paciente à sua disposição, a lação brasileira, no art. 5º, inciso LIV, da CF/88, e visa assegurar a
fim de juntar-se aos autos do processo. qualquer litigante a garantia de que o processo em que for parte,
§ 6o Quando o paciente estiver preso em lugar que não seja necessariamente, se desenvolverá na forma que estiver estabele-
o da sede do juízo ou do tribunal que conceder a ordem, o alvará cido a lei.
de soltura será expedido pelo telégrafo, se houver, observadas as
formalidades estabelecidas no art. 289, parágrafo único, in fine, ou Este princípio divide-se em: devido processo legal material, ou
por via postal. seja trata acerca da regularidade do próprio processo legislativo, e
Art. 661. Em caso de competência originária do Tribunal de ainda o devido processo legal processual, que se refere a reg ulari-
Apelação, a petição de habeas corpus será apresentada ao secre- dade dos atos processuais.
tário, que a enviará imediatamente ao presidente do tribunal, ou O devido processo legal engloba todas as garantias do direito
da câmara criminal, ou da turma, que estiver reunida, ou primeiro de ação, do contraditório, da ampla defesa, da prova lícita, da re-
tiver de reunir-se. cursividade, da imparcialidade do juiz, do juiz natural, etc. O pro-
Art. 662. Se a petição contiver os requisitos do art. 654, § 1o, o cesso deve ser devido, ou seja, o apropriado a tutelar o interesse
presidente, se necessário, requisitará da autoridade indicada como discutido em juízo e resolver com justiça o conflito. Tendo ele que
coatora informações por escrito. Faltando, porém, qualquer daque- obedecer a prescrição legal, e principalmente necessitando atender
les requisitos, o presidente mandará preenchê-lo, logo que Ihe for a Constituição.
apresentada a petição.
Art. 663. As diligências do artigo anterior não serão ordena- Conforme aduz o inciso LIV, do art. 5º, da Magna Carta, “nin-
das, se o presidente entender que o habeas corpus deva ser indefe- guém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido pro-
rido in limine. Nesse caso, levará a petição ao tribunal, câmara ou cesso legal”.
turma, para que delibere a respeito. A palavra bens, utilizado pelo inciso, está empregado em sen-
Art. 664. Recebidas as informações, ou dispensadas, o habeas tido amplo, a alcançar tanto bens materiais como os imateriais. Na
corpus será julgado na primeira sessão, podendo, entretanto, adiar- ação muitas vezes a discussão versa sobre interesses de natureza
-se o julgamento para a sessão seguinte. não material, como a honra, a dignidade, etc, e as consequências
Parágrafo único. A decisão será tomada por maioria de votos. de uma sentença judicial não consistem apenas em privar alguém
Havendo empate, se o presidente não tiver tomado parte na vota- de sua liberdade ou de seus bens, mas, podem também representar
ção, proferirá voto de desempate; no caso contrário, prevalecerá a um mandamento, uma ordem, um ato constitutivo ou desconstitu-
decisão mais favorável ao paciente. tivo, uma declaração ou determinação de fazer ou não fazer.
Art. 665. O secretário do tribunal lavrará a ordem que, assina- Em razão do devido processo legal, é possível a alegação de
da pelo presidente do tribunal, câmara ou turma, será dirigida, por algumas garantias constitucionais imprescindíveis ao acusado, que
ofício ou telegrama, ao detentor, ao carcereiro ou autoridade que constituem consequência da regularidade processual:
exercer ou ameaçar exercer o constrangimento. a) Não identificação criminal de quem é civilmente identificado
Parágrafo único. A ordem transmitida por telegrama obedece- (inciso LVIII, da Magna Carta de 1988, regulamentada pela Lei nº
rá ao disposto no art. 289, parágrafo único, in fine. 10.054/00);
Art. 666. Os regimentos dos Tribunais de Apelação estabele- b) Prisão só será realizada em flagrante ou por ordem judicial
cerão as normas complementares para o processo e julgamento do (inciso LVI, CF/88), que importou em não recepção da prisão admi-
pedido de habeas corpus de sua competência originária. nistrativa prevista nos arts. 319 e 320 do Código de Processo Penal;
Art. 667. No processo e julgamento do habeas corpus de com- c) Relaxamento da prisão ilegal (inciso LXV, CF/88);
petência originária do Supremo Tribunal Federal, bem como nos de d) Comunicação imediata da prisão ao juiz competente e à fa-
recurso das decisões de última ou única instância, denegatórias de mília do preso (inciso LXII, Carta Magna de 1988);
habeas corpus, observar-se-á, no que Ihes for aplicável, o disposto e) Direito ao silêncio, bem como, a assistência jurídica e fami-
nos artigos anteriores, devendo o regimento interno do tribunal es- liar ao acusado (inciso LXIII, CF/88);
tabelecer as regras complementares. f) Identificação dos responsáveis pela prisão e/ou pelo interro-
gatório policial (inciso LXIV, Magna Carta de 1988);
g) Direito de não ser levado à prisão quando admitida liberdade
DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS AO provisória, com ou sem o pagamento de fiança (inciso LXVI, CF/88);
DIREITO PROCESSUAL PENAL h) Impossibilidade de prisão civil, observadas as exceções dis-
postas no texto constitucional (LXVII, CF/88).
Princípios são os bases que alicerçam determinada legislação,
podendo estarem expressos na ordem jurídica positiva ou implíci-
tos segundo uma dedução lógica, importando em diretrizes para o
elaborador, aplicador e intérprete das normas.

351
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Princípio da inocência Por outro lado, os incisos do art. 5º da Constituição Federal
O Princípio da inocência dispõe que ninguém pode ser consi- asseguram a liberdade de locomoção dentro do território nacional
derado culpado senão após o trânsito em julgado de uma sentença (inciso XV), dispõe a cerca da personalização da pena (inciso XLV),
condenatória (vide art. 5º, inciso LVII, CF/88). cuidam do princípio do contraditório e da ampla defesa, assim
como da presunção da inocência (inciso LV e LVII, respectivamente),
O princípio é também denominado de princípio do estado de e, de modo mais taxativa, o inciso LXI - da nossa Lei Maior - que
inocência ou da não culpabilidade. Apesar de responder a inquérito constitui que
policial ou processo judicial, ainda que neste seja condenado, o ci- “Ninguém será preso senão em flagrante delito, ou por ordem
dadão não pode ser considerado culpado, antes do trânsito em jul- escrita e fundamentada da autoridade competente...”;
gado da sentença penal condenatória. O tratamento dispensado ao
acusado deve ser digno e respeitoso, evitando-se estigmatizações. O inciso LXV, por sua vez traz que “a prisão ilegal será imediata-
mente relaxada pela autoridade judiciária; o inciso LXVI, estabelece
A acusação por sua vez é incumbida do ônus da prova de cul- que ninguém será levado à prisão ou nela mantido quando a lei
pabilidade, ou seja, a prova com relação a existência do fato e a sua admitir a liberdade provisória, com ou sem o pagamento de fiança;
autoria, ao passo que à defesa incumbe a prova das excludentes de o inciso LXVII, afirma que não haverá prisão civil por dívida, exceto
ilicitude e de culpabilidade, acaso alegadas. Em caso de dúvida, de- a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de
cide-se pela não culpabilidade do acusado, com a fundamentação obrigação alimentícia e a do depositário infiel; o inciso LXVIII, pres-
legal no princípio do in dubio pro reo. creve que conceder-se-habeas corpus sempre que alguém sofrer ou
julgar-se ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade
Ratificando a excepcionalidade das medidas cautelares, deven- de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; e também pres-
do, por conseguinte, toda prisão processual estar fundada em dois creve o inciso LXXV, que o Estado indenizará toda a pessoa conde-
requisitos gerais, o periculum libertatis e o fumus comissi delicti. nada por erro judiciário, bem como aquela que ficar presa além do
Restou ainda consagrado no art. 5º, LXIII, da CF/88 que nin-
tempo fixado na sentença.
guém é obrigado a fazer prova contra si, consagrando, assim, o di-
reito ao silêncio e a não auto incriminação. O silêncio não poderá
Princípio da publicidade
acarretar repercussão positiva na apuração da responsabilidade pe-
Todo processo é público, isto, é um requisito de democracia e
nal, nem poderá acautelar presunção de veracidade dos fatos sobre
os quais o acusado calou-se, bem como o imputado não pode ser de segurança das partes (exceto aqueles que tramitarem em segre-
obrigado a produzir prova contra si mesmo. do de justiça). É estipulado com o escopo de garantir a transparên-
cia da justiça, a imparcialidade e a responsabilidade do juiz. A possi-
Princípio do juiz natural bilidade de qualquer indivíduo verificar os autos de um processo e
O princípio do juiz natural está previsto no art. 5º, LIII da Cons- de estar presente em audiência, revela-se como um instrumento de
tituição Federal de 1.988, e é a garantia de um julgamento por um fiscalização dos trabalhos dos operadores do Direito.
juiz competente, segundo regras objetivas (de competência) previa- A regra é que a publicidade seja irrestrita (também denomi-
mente estabelecidas no ordenamento jurídico, bem como, a proi- nada de popular). Porém, poder-se-á limitá-la quando o interesse
bição de criação de tribunais de exceção, constituídos à posteriori social ou a intimidade o exigirem (nos casos elencados nos arts. 5º,
a infração penal, ou seja, após da prática da violação, e especifica- LX c/c o art 93, IX, CF/88; arts. 483; 20 e 792, §2º, CPP). Giza-se que
mente para julgá-la. quando verificada a necessidade de restringir a incidência do prin-
cípio em questão, esta limitação não poderá dirigir-se ao advogado
O Juiz natural, é aquele dotado de jurisdição constitucional, do Réu ou ao órgão de acusação. Contudo, quanto a esse aspecto,
com competência conferida pela Constituição Federativa do Brasil o Superior Tribunal de Justiça, em algumas decisões, tem permitido
ou pelas leis anteriores ao fato. Pois, somente o órgão pré-constitu- que seja restringido, em casos excepcionais, o acesso do advogado
ído pode exercer a jurisdição, no âmbito predefinido pelas normas aos autos do inquérito policial. Sendo assim, a regra geral a publi-
de competência assim, o referido princípio é uma garantia do juris- cidade, e o segredo de justiça a exceção, urge que a interpretação
dicionado, da jurisdição e do próprio magistrado, porque confere do preceito constitucional se dê de maneira restritiva, de modo a só
ao primeiro direito de julgamento por autoridade judicante pre- se admitir o segredo de justiça nas hipóteses previstas pela norma.
viamente constituída, garante a imparcialidade do sistema jurisdi-
cional e cerca o magistrado de instrumentos assecuratórios de sua A publicidade traz maior regularidade processual e a justiça
competência, regular e anteriormente fixada. da decisão do povo.
Princípio da legalidade da prisão Princípio da verdade real
A Magna Carta prevê um sistema de proteção às liberdades,
A função punitiva do Estado só pode fazer valer-se em face
colecionando várias medidas judiciais e garantias processuais no
daquele que realmente, tenha cometido uma infração, portanto, o
intuito de assegurá-las.
processo penal deve tender à averiguação e a descobrir a verdade
Existem assim as medidas específicas e medidas gerais. Entre
real.
as específicas, são consideradas aquelas voltadas à defesa de liber-
dades predefinidas, como por exemplo: o Habeas Corpus, para a No processo penal o juiz tem o dever de investigar a verdade
liberdade de locomoção. A CF/88 demonstra grande preocupação real, procurar saber como realmente os fatos se passaram, quem
com as prisões, tutelando a liberdade contra elas em várias oportu- realmente praticou-os e em que condições se perpetuou, para dar
nidades, direta e indiretamente, impondo limitações e procedimen- base certa à justiça. Salienta-se que aqui deferentemente da área
tos a serem observados para firmar a regularidade da prisão, meios civil, o valor da confissão não é extraordinário porque muitas vezes
e casos de soltura do preso, alguns direitos do detento, e medidas o confidente afirma ter cometido um ato criminoso, sem que o te-
para sanar e questionar a prisão. nha de fato realizado.

352
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Se o juiz penal absolver o Réu, e após transitar em julgado a Os doutrinadores LUIZ FLÁVIO GOMES e ALICE BIANCHINI, co-
sentença absolutória, provas concludentes sobre o mesmo Réu sur- erentemente afirmaram que “se for entendido que as condutas
girem, não poderá se instaurado novo processo em decorrência do previstas no art. 10 da Lei 1.079/50 são de caráter penal, torna-se
mesmo fato. Entretanto, na hipótese de condenação será possível absurdo permitir a todo cidadão o oferecimento da denúncia, pois
que ocorra uma revisão. Pois, o juiz tem poder autônomo de inves- amplia o rol dos legitimados para propositura de ação penal, em
tigação, apesar da inatividade do promotor de justiça e da parte total afronta ao art. 129, I, da Constituição, que estabelece a com-
contrária. petência privativa do Ministério Público”.

A busca pela verdade real se faz com as naturais reservas oriun- Princípio da disponibilidade
das da limitação e falibilidade humanas, sendo melhor dizer verda- É um princípio cujo o titular da ação penal pode utilizar-se dos
de processual, porque, por mais que o juiz procure fazer uma re- institutos da renúncia, da desistência, etc. É um princípio exclusivo
construção histórica e verossímil do fato objeto do processo, muitas das ações privadas.
vezes o material de que ele se vale poderá conduzi-lo ao erro, isto é,
a uma falsa verdade real. O princípio da disponibilidade significa que o Estado, sem abrir
mão do seu direito punitivo, outorga ao particular o direito de acu-
Princípio do livre convencimento sar, podendo exerce-lo se assim desejar. Caso contrário, poderá o
O presente princípio, consagrado no art. 157 do Código de Pro- prazo correr até que se opere a decadência, ou ainda, o renunciará
cesso Penal, impede que o juiz possa julgar com o conhecimento de maneira expressa ou tácita, causas extas que o isenta de sanção.
que eventualmente tenha além das provas constantes nos autos,
pois, o que não estiver dentro do processo equipara-se a inexistên- Esclareça-se que ainda que venha a promover a ação penal ,
cia. E, nesse caso o processo é o universo em que deverá se ater o poderá a todo instante dispor do conteúdo material dos autos, quer
juiz. Tratando-se este princípio de excelente garantia par impedir perdoando o ofensor, quer abandonando a causa, dando assim lu-
julgamentos parciais. A sentença não é um ato de fé, mas a exte- gar à perempção, ou seja, prescrição do processo. Atente-se que
riorização da livre convicção formada pelo juiz em face de provas mesmo após proferida a sentença condenatória, o titular da ação
apresentadas nos autos. pode perdoar o réu, desde que a sentença não tenha transitado
em julgado.
Princípio da oficialidade
Princípio da oportunidade
Este princípio esta inicialmente relacionado com os princípios
Baseado no princípio da Oportunidade, o ofendido ou seu re-
da legalidade e da obrigatoriedade. A diretriz da oficialidade funda-
presentante legal pode analisar e decidir se irá impetrar ou não a
-se no interesse público de defesa social. ação. Salienta-se, que o princípio da oportunidade somente será
Pela leitura do caput do art. 5º da Lei Maior (CF/88), compreen- valido ante ação penal privada.
de-se que a segurança também é um direito individual, sendo com- O Estado, diante destes crimes concede ao ofendido ou ao seu
petência do estado provê-la e assegurá-la por meio de seus órgãos. representante legal, o direito de invocar a prestação jurisdicional.
O art. 144 da Constituição Federal, trata da organização da se- Contudo não havendo interesse do ofendido em processar o seu
gurança pública do País, ao passo que o art. 4º do Código de Pro- injuriador, ninguém poderá obrigá-lo a fazer. Ainda que a autorida-
cesso Penal estabelece atribuições de Polícia Judiciária e o art. 129, de policial surpreenda um indivíduo praticando um delito de alçada
inciso I, da Constituição Federal especifica o munus do Ministério privada, não poderá prendê-lo em flagrante se o ofendido ou quem
Público no tocante à ação penal pública. o represente legalmente não o permitir. Poderá apenas intervir
O artigo art. 30 do Código Processual Penal estabelece as exce- para que não ocorra outras conseqüência. A autoridade policial não
ções ao princípio da oficialidade em relação a ação penal privada; e pode, por exemplo, dar-lhe voz de prisão e leva-lo à delegacia para
ainda no art. 29 deste Código, para a ação penal privada subsidiária lavratura de auto de prisão em flagrante, sem o consentimento do
da pública. ofendido.
Existe ainda outra aparente exceção à oficialidade da ação pe-
nal, a qual, trata da ação penal popular, instituída pelo art. 14, da Lei Princípio da indisponibilidade
nº 1.079/50, que cuida dos impropriamente denominados “crimes” Este princípio da ação penal refere-se não só ao agente, mas
de responsabilidade do Presidente da República. também aos partícipes. Todavia, apresenta entendimentos diver-
Esta lei especial esta relacionada ao que alude o art. 85, pa- gentes, até porque, em estudo nenhum a doutrina consagra um ou
rágrafo único, da Constituição Federal de 1988. Perceba-se que os outro posicionamento, entendendo-se que embora possa ensejar o
delitos previstos na legislação de 1950, que foi recepcionada pela entendimento de que tal dispositivo, de fato fere o princípio de in-
Carta de 1988, não atribuem sanção privativa de liberdade. A puni- disponibilidade e indivisibilidade da ação penal pública, analisando-
ção esta restrita à perda do cargo com a inabilitação para a função -se de maneira ampla e moderna o princípio da indisponibilidade,
pública, na forma do art. 52, parágrafo único, da Constituição Fede- no intuito de demonstrar que tal ataque não é uno.
ral, c/c o art. 2º, da Lei nº. 1079/50.
Partindo-se de que a atuação do MP no processo penal é dupla,
com dominus litis e, simultaneamente, com custos legis. E, por estas
Ficando claro, portanto, que, embora chamadas de “crimes” de
razões, o representante do Ministério Público além de ser acusador,
responsabilidade, as infrações previstas pela Lei nº. 1079/50 e pelo
tem legitimidade e, em determinados casos, o dever de recorrer em
art. 85, da CF/88 não são de fato delitos criminais, mas sim infra-
favor do Réu, requerendo-lhe benefícios, etc. Por isso, o Ministério
ções político-administrativas, que acarretam o “impeachment” do Público não se enquadra como “parte” na relação formada no pro-
Presidente da República. cesso penal, estabelecendo-se meramente como órgão encarrega-
do de expor os fatos delituosos e representar o interesse social na
sua apuração.

353
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
O código processual penal, dispõe em seu art 42, que o Minis- O delito necessariamente para os órgãos da persecução, surge
tério Público não poderá desistir da ação penal, entretanto na mes- conjuntamente com o dever de atuar de forma a reprimir a conduta
ma norma jurídica, estabelece que o MP promoverá e fiscalizará a delituoso. Cabendo assim, ao Ministério Publico o exercício da ação
execução da lei, forte no art 257, da referida lei. Necessário se faz penal pública sem se inspirar em motivos políticos ou de utilida-
enxergar, que não se tratam de desistências, visto que receberá a de social. A necessidade do Ministério Público invocar razões que
denúncia, quanto ao mérito da causa criminal, o que lhe é termi- o dispensem do dever de propor a ação falam bem alto em favor
nantemente proibido, mas quando à viabilidade acusatória, e ainda da tese oposta.
assim, o não recebimento da denúncia deverá ser justificado, como
diz o dispositivo. Tratando-se, na realidade, de um verdadeiro juízo Para o exercício da ação são indispensáveis determinados re-
de admissibilidade da denúncia, onde são verificadas as condições quisitos previstos em lei, tais como: autoria conhecida, fato típico
da ação e a definição do quadro probatório. não atingido por uma causa extintiva da punibilidade e um mínimo
de suporte probatório. Porém, se não oferecer denúncia, o Minis-
Assim sendo, uma vez constatado materialmente o fato, há que tério Público deve dar as razões do não oferecimento da denúncia.
se justificar o abordamento da ação penal que o motivou, aqui não Pedindo o arquivamento em vez de denunciar, poderá ele respon-
poderá, o Ministério Público ficar inerte. Se a lei lhe conferiu a in- der pelo crime de prevaricação
cumbência de custos legis, com certeza, deve também ter atribuído
a estes instrumentos para o seu exercício. Porém, se verificar que Nos dias atuais a política criminal está voltada para soluções
não há causa que embase o prosseguimento do feito ou da ação distintas, como a descriminalização pura e simples de certas con-
penal, o promotor ou procurador deve agir da seguinte forma: afir- dutas, convocação de determinados crimes em contravenções,
mando que em face de aparente contradição, entre a conduta do dispensa de pena, etc. Também, em infrações penais de menor
representante do Ministério Público que, como autor, não pode potencial ofensivo, o órgão ministerial pode celebrar um acordo
desistir da ação penal, e ao mesmo tempo, contudo, agira na qua- com o autor do fato, proponde-lhe uma pena restritiva de direito
lidade de fiscal da lei, não pode concordar com o prosseguimento ou multa. Se houver a concordância do acusado o juiz homologará
de uma ação juridicamente inviável, sendo a única intelecção que a transação penal.
entende-se ser cabível quanto ao princípio da obrigatoriedade da
ação penal é de que o MP não poderá desistir da ação penal se re-
Por fim, na Carta Magna, além dos princípios estritamente
conhecer que ela possa ser viável, isto é, se houver justa causa para
processuais, existem outros, igualmente importantes, que devem
a sua promoção. Ocorrendo o contrário, ou seja, reconhecendo o
servir de orientação ao jurista e a todo operador do Direito. Afinal,
Parquet que a ação é injusta, tem o dever de requerer a não instau-
ração do processo, com a aplicação subsidiária do art. 267, incisos como afirmam inúmeros estudiosos, “mais grave do que ofender
VI e VIII, do Código Processual Civil, sob pena de estar impetrando uma norma, é violar um princípio, pois aquela é o corpo material,
uma ação penal injusta, desperdiçando os esforços e serviços da ao passo que este é o espírito, que o anima”.
Máquina Judiciária.

O art 28 do Código Penal, explana que se o Promotor ao invés QUESTÕES


de apresentar a denúncia, pugnar pelo arquivamento do inquérito,
o juiz caso considere improcedente as alegações invocadas pelo MP,
fará a remessa do referido inquérito ao Procurador-Geral, e, este 1. Acerca da aplicação da lei processual no tempo e no espaço
por sua vez, oferecerá a denúncia ou manterá o pedido de arquiva- e em relação às pessoas, julgue os itens a seguir.
mento do referido inquérito. I O Brasil adota, no tocante à aplicação da lei processual penal
no tempo, o sistema da unidade processual.
Lei nº 10.409/00, traz em seu texto que o Promotor de Justiça II Em caso de normas processuais materiais — mistas ou híbri-
não poderá deixar de propor a ação penal, a não ser que haja uma das —, aplica-se a retroatividade da lei mais benéfica.
justificada recusa. III Para o regular processamento judicial de governador de es-
tado ou do Distrito Federal, é necessária a autorização da respectiva
Outrossim, m relação ao inquérito, se ainda houver algum o casa legislativa — assembleia legislativa ou câmara distrital.
juiz o remeterá ao Procurador-Geral, para que este por sua vez,
ofereça a denúncia, ou reitere o pedido de arquivamento, e assim Assinale a opção correta.
sendo, ao juiz caberá apenas acatá-lo. Logo, se MP possuir o intuito (A) Apenas o item I está certo.
de barganhar, poderá fazê-lo, independente da nova lei. É certo e (B) Apenas o item II está certo.
não se pode negar que com a mobilidade que a lei proporciona ao (C) Apenas os itens I e III estão certos.
Ministério Público, à primeira vista pode se sentir que a barganha (D) Apenas os itens II e III estão certos.
está sendo facilitada, mas fica a certeza de que não é este advento (E) Todos os itens estão certos.
que se vê aventar esta possibilidade, pois, como já sustentou-se a
recusa do MP não será um ato discricionário, tampouco livre do de- 2. Sobre a aplicação da lei processual penal no tempo e no es-
ver de motivação. paço, analise os itens a seguir.
I. A lei processual penal entra em vigor e passa a ser aplicada
Princípio da legalidade imediatamente, mesmo nas hipóteses em que o delito já tenha sido
O Princípio da Legalidade impõe ao Ministério Público o dever cometido, o acusado já esteja sendo processado e extinga modali-
de promover a ação penal. dade de defesa.
II. Aplica-se a lei processual penal brasileira quando o crime é
O princípio da legalidade atende aos interesses do Estado. Ba- cometido por cidadão brasileiro no exterior e ali o autor passa a ser
seado no princípio, o Ministério Público dispõe dos elementos míni- processado.
mos para impetrar a ação penal.

354
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
III. Nos crimes cometidos em embarcações estrangeiras priva- 5. Acerca dos princípios aplicáveis ao direito processual penal
das estacionadas em portos brasileiros, aplica-se a lei processual e da aplicação da lei processual no tempo, no espaço, analise as
penal de seu país de origem. assertivas e indique a alternativa correta:
IV. O cumprimento de sentença penal condenatória emitida I - A lei processual penal tem aplicação imediata, nos termos
por autoridade estrangeira não se submete a exame de legalidade do art. 2º do Código de Processo Penal. O legislador pátrio adotou
e correspondência de crimes, cabendo ao juiz criminal aplica-la de o princípio do tempus reget actum, não existindo efeito retroativo.
imediato. II - A lei processual penal se submete ao princípio da retroati-
vidade in mellius, devendo ter incidência imediata sobre todos os
Assinale a alternativa correta. processos em andamento, independentemente de o crime haver
(A) Apenas I e II estão corretos sido cometido antes ou depois de sua vigência, desde que seja mais
(B) Apenas I e IV estão incorretos benéfica.
(C) Apenas II e III estão incorretos III - A busca pela verdade real constitui princípio que rege o
(D) Apenas III e IV estão corretos Direito Processual Penal. A produção das provas, porque constitui
(E) I, II, III e IV estão incorretos garantia constitucional, pode ser determinada, inclusive pelo Juiz,
de ofício, quando julgar necessário.
3. Com relação às regras da lei processual no espaço e no tem- IV - O princípio da verdade real comporta algumas exceções,
po, o Código de Processo Penal vigente adota, respectivamente, os como o descabimento de revisão criminal contra sentença absolu-
princípios da lex fori e da aplicação imediata. Com base nessa infor- tória.
mação, é correto afirmar que V - A lei processual penal não admitirá interpretação extensi-
(A) as normas do Código de Processo Penal vigente são inapli- va e aplicação analógica, mas admitirá o suplemento dos princípios
cáveis, ainda que subsidiariamente, no âmbito da Justiça Mili- gerais do direito.
tar e aos processos da competência do tribunal especial.
(B) delegado de polícia estadual, que é informado , sobre a prá- (A) Apenas as assertivas II, III e IV são verdadeiras.
tica de crime cometido por promotor de justiça estadual, está (B) Apenas as assertivas I, II e IV são verdadeiras.
autorizado expressamente por lei, a instaurar inquérito policial (C) Apenas as assertivas I, III e IV são verdadeiras.
para a apuração dos fatos. (D) Apenas as assertivas III, IV e V são verdadeiras.
(C) é possível a prisão em flagrante de magistrado estadual por (E) Apenas as alternativas I, III, e V são verdadeiras.
delegado de polícia estadual, quando se tratar de crime ina-
fiançável, sendo obrigatória apenas a comunicação ao presi- 6. (PC-MA - Perito Criminal – CESPE/2018) A respeito do inqué-
dente do tribunal de justiça a que estiver vinculado para evitar rito policial, assinale a opção correta.
vício do ato. (A) O inquérito policial poderá ser iniciado apenas com base
(D) a lei processual penal tem aplicação aos processos em trâ- em denúncia anônima que indique a ocorrência do fato crimi-
mite no território brasileiro, contudo, uma hipótese de exclu- noso e a sua provável autoria, ainda que sem a verificação pré-
são da jurisdição pátria é a imunidade dos agentes diplomáti- via da procedência das informações.
cos e seus familiares que com eles vivam. (B) Contra o despacho da autoridade policial que indeferir a
(E) a lei processual penal atende a regra do tempus reígit ac- instauração do inquérito policial a requerimento do ofendido
tum, porém a repetição de atos processuais anteriores é exi- caberá reclamação ao Ministério Público. 
gida por lei em observância da interpretação constitucional, (C) Sendo o inquérito policial a base da denúncia, o Ministé-
além disso, não é possível alcançar os processos que apuram rio Público não poderá alterar a classificação do crime definida
condutas delitivas consumadas antes da sua vigência. pela autoridade policial.
(D) O inquérito policial pode ser definido como um procedi-
04. Em relação ao direito processual penal, assinale a opção mento administrativo pré-processual destinado à apuração das
correta. infrações penais e da sua autoria.
(A) De acordo com o procedimento especial de apuração dos (E) Por ser instrumento de informação pré-processual, o inqué-
crimes de responsabilidade dos funcionários públicos contra a rito policial é imprescindível ao oferecimento da denúncia.
administração pública, previsto no CPP, recebida a denúncia e
cumprida a citação, o juiz notificará o acusado para responder 7. (PC-SC - Escrivão de Polícia Civil – FEPESE/2017) É correto
a acusação por escrito, dentro do prazo legal. afirmar sobre o inquérito policial. 
(B) A interceptação telefônica será determinada pelo juiz na hi- (A) A notitia criminis deverá ser por escrito, obrigatoriamente,
pótese de o fato investigado constituir infração penal punida quando apresentada por qualquer pessoa do povo
com pena de detenção. (B) A representação do ofendido é condição indispensável para
(C) A decisão que autoriza a interceptação telefônica deve ser a abertura de inquérito policial para apurar a prática de crime
fundamentada, indicando a forma de execução da diligência, de ação penal pública condicionada.
que não poderá exceder o prazo legal nem ser prorrogada, sob (C) O Ministério Público é parte legítima e universal para reque-
pena de nulidade. rer a abertura de inquérito policial afim de investigar a prática
(D) A lei processual penal brasileira adota o princípio da abso- de crime de ação penal pública ou privada. 
luta territorialidade em relação a sua aplicação no espaço: não (D) Apenas o agressor poderá requerer à autoridade policial
cabe adotar lei processual de país estrangeiro no cumprimento a abertura de investigação para apurar crimes de ação penal
de atos processuais no território nacional. privada.
(E) A lei processual penal não admite o uso da analogia ou da (E) O inquérito policial somente poderá ser iniciado de ofício
interpretação extensiva, em estrita observância ao princípio da pela autoridade policial ou a requerimento do ofendido.
legalidade.

355
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
8. (SEJUS/PI - Agente Penitenciário - NUCEPE/2016) Pode-se (D) A prova emprestada, quando obedecidos os requisitos le-
afirmar que a autoridade policial, assim que tiver conhecimento da gais, tem sua condição de prova perfeitamente aceita no pro-
prática da infração penal deverá:  cesso penal; no entanto, ela não tem o mesmo valor probatório
(A) intimar às partes para formular quesitos sobre que diligên- da prova originalmente produzida. 
cias periciais pretendem fazer.  (E) O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
(B) telefonar para o local, a fim de determinar que não se alte- produzida em contraditório judicial, não podendo fundamen-
rem o estado e a conservação das coisas, até sua chegada.  tar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos
(C) apreender os objetos que tiverem relação com o fato, de- colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não
pois que já tiverem sido liberados pelos peritos criminais.  repetíveis e antecipadas.
(D) entregar os pertences do ofendido e do indiciado para seus
respectivas familiares.  12. (PC/GO - Agente de Polícia Substituto - CESPE/2016) No que
(E) preparar um relatório assinado por, pelo menos, três teste- diz respeito às provas no processo penal, assinale a opção correta.
munhas que presenciaram o fato.  (A) Para se apurar o crime de lesão corporal, exige-se prova pe-
ricial médica, que não pode ser suprida por testemunho.
9. (PC/GO - Escrivão de Polícia Substituto - CESPE/2016) Acerca (B) Se, no interrogatório em juízo, o réu confessar a autoria,
de aspectos diversos pertinentes ao IP, assinale a opção correta. ficará provada a alegação contida na denúncia, tornando-se
(A) O IP, em razão da complexidade ou gravidade do delito a ser desnecessária a produção de outras provas.
apurado, poderá ser presidido por representante do MP, me- (C) As declarações do réu durante o interrogatório deverão ser
diante prévia determinação judicial nesse sentido. avaliadas livremente pelo juiz, sendo valiosas para formar o li-
(B) A notitia criminis é denominada direta quando a própria vre convencimento do magistrado, quando amparadas em ou-
tros elementos de prova.
vítima provoca a atuação da polícia judiciária, comunicando a
(D) São objetos de prova testemunhal no processo penal fatos
ocorrência de fato delituoso diretamente à autoridade policial.
relativos ao estado das pessoas, como, por exemplo, casamen-
(C) O indiciamento é ato próprio da autoridade policial a ser
to, menoridade, filiação e cidadania.
adotado na fase inquisitorial.
(E) O procedimento de acareação entre acusado e testemunha
(D) O prazo legal para o encerramento do IP é relevante inde- é típico da fase pré-processual da ação penal e deve ser presi-
pendentemente de o indiciado estar solto ou preso, visto que a dido pelo delegado de polícia.
superação dos prazos de investigação tem o efeito de encerrar
a persecução penal na esfera policial. 13. (PC/DF - Perito Criminal - IADES/2016) O Código de Proces-
(E) Do despacho da autoridade policial que indeferir requeri- so Penal elenca um conjunto de regras que regulamentam a pro-
mento de abertura de IP feito pelo ofendido ou seu represen- dução das provas no âmbito do processo criminal. No tocante às
tante legal é cabível, como único remédio jurídico, recurso ao perícias em geral, as normas estão previstas nos artigos 158 a 184
juiz criminal da comarca onde, em tese, ocorreu o fato delitu- da lei em comento. Quanto ao exame de corpo de delito, nos crimes
oso. (A) que deixam vestígios, quando estes desaparecerem, a pro-
va testemunhal não poderá suprir-lhe a falta.
10. (PC/PE - Escrivão de Polícia - CESPE/2016) O inquérito po- (B) que deixam vestígios, esse exame só pode ser realizado du-
licial rante o dia.
(A) não pode ser iniciado se a representação não tiver sido ofe- (C) de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido
recida e a ação penal dela depender. incompleto, proceder-se-á a exame complementar apenas por
(B) é válido somente se, em seu curso, tiver sido assegurado o determinação da autoridade judicial.
contraditório ao indiciado. (D) que deixam vestígios, será indispensável o exame de corpo
(C) será instaurado de ofício pelo juiz se tratar-se de crime de de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão
ação penal pública incondicionada. do acusado.
(D) será requisitado pelo ofendido ou pelo Ministério Público (E) que deixam vestígios, será indispensável que as perícias se-
se tratar-se de crime de ação penal privada. jam realizadas por dois peritos oficiais.
(E) é peça prévia e indispensável para a instauração de ação
penal pública incondicionada. 14. (PC/GO - Escrivão de Polícia Substituto - CESPE/2016) Quan-
to à prova pericial, assinale a opção correta.
11. (TJ-MS - Analista Judiciário - Área Fim - PUC-PR/2017) Sobre (A) A confissão do acusado suprirá a ausência de laudo pericial
para atestar o rompimento de obstáculo nos casos de furto me-
a prova no direito processual penal, marque a alternativa CORRETA. 
diante arrombamento, prevalecendo em tais situações a quali-
(A) São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas,
ficadora do delito.
inclusive aquelas que evidenciam nexo de causalidade entre
(B) O exame de corpo de delito somente poderá realizar-se du-
umas e outras, bem como aquelas que puderem ser obtidas
rante o dia, de modo a não suscitar qualquer tipo de dúvida,
por uma fonte independente das primeiras.  sendo vedada a sua realização durante a noite.
(B) A confissão será indivisível e irretratável, sem prejuízo do (C) Prevê a legislação processual penal a obrigatória participa-
livre convencimento do juiz, fundado no exame das provas em ção da defesa na produção da prova pericial na fase investiga-
conjunto.  tória, antes do encerramento do IP e da elaboração do laudo
(C) Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, pericial.
que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir- (D) Os exames de corpo de delito serão realizados por um
-se a existência de outra ou outras circunstâncias; entretanto, perito oficial e, na falta deste, admite a lei que duas pessoas
tal espécie de prova não é aceita nos tribunais superiores por idôneas, portadoras de diploma de curso superior e dotadas
violar o princípio constitucional da ampla defesa. de habilidade técnica relacionada com a natureza do exame,
sejam nomeadas para tal atividade.

356
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
(E) Em razão da especificidade da prova pericial, o seu resulta- 18. (TJ/RS - Juiz de Direito Substituto – VUNESP/2018) A respei-
do vincula o juízo; por isso, a sentença não poderá ser contrária to das provas, assinale a alternativa correta.
à conclusão do laudo pericial. (A) São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do proces-
so, as provas ilegítimas, assim entendidas as obtidas em viola-
15. (AL/MS - Agente de Polícia Legislativo - FCC/2016) Sobre o ção a normas constitucionais ou legais.
exame de corpo de delito e as perícias em geral, nos termos preco- (B) A pessoa que nada souber que interesse à decisão da causa
nizados pelo Código de Processo Penal, é INCORRETO afirmar:  será computada como testemunha.
(A) Na falta de perito oficial, o exame será realizado necessa- (C) O exame para o reconhecimento de escritos, tal como o re-
riamente por três pessoas idôneas, portadoras de diploma de conhecimento fotográfico, não tem previsão legal. 
curso superior preferencialmente na área específica, dentre as (D) O juiz não tem iniciativa probatória.
que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do (E) A falta de exame complementar, em caso de lesões corpo-
exame.  rais, poderá ser suprida pela prova testemunhal.
(B) Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de
obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de escalada, os 19. (PC-SC - Escrivão de Polícia Civil – FEPESE/2017) De acordo
peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que ins- com a norma processual penal, a busca e apreensão:
trumentos, por que meios e em que época presumem ter sido (A) será apenas domiciliar, não podendo ter como objeto pes-
o fato praticado.  soa.
(C) O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou (B) deverá sempre ser precedida de mandado judicial. 
rejeitá-lo, no todo ou em parte. 
(C) quando feita em mulher, somente poderá ser realizada por
(D) Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o
outra mulher.
exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo su-
(D) poderá ser determinada de ofício ou a requerimento de
pri-lo a confissão do acusado. 
qualquer das partes.
(E) Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a auto-
ridade policial negará a perícia requerida pelas partes, quando (E) deverá ocorrer na presença, indispensável, do Ministério
não for necessária ao esclarecimento da verdade. Público.

16. (PC/PA - Escrivão de Polícia Civil - FUNCAB/2016) A prova 20. (PC/SP - Investigador de Polícia – VUNESP/2018) No que
em matéria processual penal tem por finalidade formar a convicção concerne ao regramento específico das provas no CPP,
do magistrado sobre a materialidade e a autoria de um fato tido (A) o “reconhecimento de pessoas” em sede policial é diligên-
como criminoso. No que tange aos meios de prova, o Código de cia que não requer qualquer formalidade, sendo facultado ao
Processo Penal dispõe: Delegado, caso deseje, alinhar várias pessoas para que o reco-
(A) o exame de corpo de delito não poderá ser feito em qual- nhecedor aponte o autor do crime.
quer dia e a qualquer hora. (B) a “acareação” é meio de prova expressamente previsto em
(B) quando a infração não deixar vestígios, será indispensável lei, mas não se a admite entre acusados, sendo possível, ape-
o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo nas, entre testemunhas. 
supri-lo a confissão do acusado. (C) o ascendente pode se recusar a ser “testemunha”, mas, caso
(C) o exame de corpo de delito e outras perícias serão realiza- não o faça, deverá prestar compromisso de dizer a verdade. 
dos por perito oficial, portador de diploma de curso superior. (D) consideram-se “documentos” para fins de prova quaisquer
Na falta de perito oficial, o exame será realizado por uma pes- escritos, instrumentos ou papéis públicos, excluídos, expressa-
soa idônea, portadora de diploma de curso superior preferen- mente, os particulares.
cialmente na área específica. (E) a pessoa vítima de crime pode ser objeto de “busca e apre-
(D) no caso de autópsia, esta será feita pelo menos seis horas ensão”.
depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais
de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o 21. De acordo com a Lei n.º 9.296/1996, a interceptação de
que declararão no auto. comunicações telefônicas
(E) não sendo possível o exame de corpo delito, por haverem (A) poderá ser determinada de ofício por delegado.
desaparecido os vestígios, a prova testemunhal não poderá su- (B) não será admitida se a prova puder ser obtida por outros
prir-lhe a falta.
meios disponíveis.
(C) será admitida somente nos casos de crimes em que a pena
17. (PC/PE - Escrivão de Polícia - CESPE/2016) Com relação ao
mínima for igual ou superior a dois anos de detenção.
exame de corpo de delito, assinale a opção correta.
(D) será conduzida por membro do Ministério Público, com vis-
(A) O exame de corpo de delito poderá ser suprido indireta-
mente pela confissão do acusado se os vestígios já tiverem de- tas ao delegado, que poderá acompanhar os procedimentos.
saparecido. (E) poderá ser prorrogada a cada trinta dias, desde que respei-
(B) Não tendo a infração deixado vestígios, será realizado o exa- tado o prazo máximo legal de trezentos e sessenta dias.
me de corpo de delito de modo indireto.
(C) Tratando-se de lesões corporais, a falta de exame comple- 22. Em relação à prova obtida por meio de interceptação tele-
mentar poderá ser suprida pela prova testemunhal. fônica e ao sigilo telefônico, assinale a opção correta, tendo como
(D) Depende de mandado judicial a realização de exame de cor- referência a Lei n.º 9.296/1996 e o entendimento doutrinário e ju-
po de delito durante o período noturno. risprudencial dos tribunais superiores.
(E) Requerido, pelas partes, o exame de corpo de delito, o juiz (A) A prova obtida por força de interceptação telefônica judi-
poderá negar a sua realização, se entender que é desnecessário cialmente autorizada poderá, a título de prova emprestada,
ao esclarecimento da verdade. subsidiar denúncia em outro feito que investigue crime apena-
do com detenção.

357
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
(B) A quebra do sigilo de dados telefônicos pertinentes aos da- 26. (Câmara de Campo Limpo Paulista/SP - Procurador Jurídico
dos cadastrais de assinante e aos números das linhas chamadas – VUNESP/2018) Nos expressos e literais termos do artigo 295 do
e recebidas submete-se à disciplina da referida legislação. CPP, têm direito à prisão especial – que nada mais é do que o reco-
(C) A referida lei de regência condiciona a possibilidade de lhimento em local distinto da prisão comum – entre outros,
imposição da medida de interceptação telefônica na fase de (A) o Vereador, o Magistrado e o Ministro de Confissão Reli-
investigação criminal à instauração do inquérito policial com- giosa.
petente. (B) o Ministro de Estado, o Governador e o Agente Municipal
(D) Para a determinação da interceptação telefônica, é neces- de Trânsito.
sário juízo de certeza a respeito do envolvimento da pessoa a (C) o Prefeito Municipal, o Praça das Forças Armadas e o Minis-
ser investigada na prática do delito em apuração. tro do Tribunal de Contas.
(E) Gravação telefônica realizada por um dos interlocutores (D) o Agente Fiscal de Posturas Públicas, o membro da Assem-
sem o conhecimento do outro e sem autorização judicial ca- bleia Legislativa dos Estados e os Delegados de Polícia.
racteriza meio ilícito de prova por violar o direito à intimidade (E) o Oficial das Forças Armadas, o diplomado por qualquer das
constitucionalmente protegido. faculdades superiores da República e o Agente Fiscal de Ren-
das.
23. No que tange a interceptação das comunicações telefônicas
e a disposições relativas a esse meio de prova, previstas na Lei n.º 27. (PC/AC - Agente de Polícia Civil - IBADE/2017) Sobre o tema
9.296/1996, assinale a opção correta. prisão preventiva assinale a alternativa correta.
(A) A referida medida poderá ser determinada no curso da (A) Não será permitido o emprego de força, salvo a indispen-
investigação criminal ou da instrução processual destinada à sável no caso de resistência, de tentativa de fuga do preso, dos
apuração de infração penal punida, ao menos, com pena de reincidentes e dos presos de alta periculosidade por terem pas-
detenção. sado pelo regime disciplinar diferenciado.
(B) A existência de outros meios para obtenção da prova não (B) O mandado de prisão, na ausência do juiz, poderá ser lavra-
impedirá o deferimento da referida medida. do e assinado pelo escrivão, ad referendum do juiz.
(C)O deferimento da referida medida exige a clara descrição do (C) O mandado de prisão mencionará a infração penal e neces-
objeto da investigação, com indicação e qualificação dos inves- sariamente a quantidade da pena privativa e de multa, bem
tigados, salvo impossibilidade manifesta justificada. como eventual pena pecuniária.
(D) A utilização de prova obtida a partir da referida medida para (D) A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qualquer
fins de investigação de fato delituoso diverso imputado a ter- hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do do-
ceiro não é admitida. micílio.
(E) A decisão judicial autorizadora da referida medida não po- (E) A autoridade que ordenar a prisão fará expedir o respectivo
derá exceder o prazo máximo de quinze dias, prorrogável uma mandado, salvo quando, por questão de urgência, nos crimes
única vez pelo mesmo período. inafiançáveis, poderá a prisão ocorrer por ordem verbal do juiz.

24. Nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de 28. (PRF - Policial Rodoviário Federal – CESPE/2019) Em de-
investigação criminal ou instrução processual penal, a quebra do corrência de um homicídio doloso praticado com o uso de arma
sigilo de comunicações telefônicas pode ser determinada de fogo, policiais rodoviários federais foram comunicados de que
(A) pelo Poder Judiciário e pelo Ministério Público. o autor do delito se evadira por rodovia federal em um veículo cuja
(B) pelo Poder Judiciário, somente. placa e características foram informadas. O veículo foi abordado por
(C) por autoridade policial e pelo Ministério Público. policiais rodoviários federais em um ponto de bloqueio montado
cerca de 200 km do local do delito e que os policiais acreditavam
(D) pela fiscalização tributária, somente.
estar na rota de fuga do homicida. Dada voz de prisão ao condutor
(E) pelo Ministério Público, somente.
do veículo, foi apreendida arma de fogo que estava em sua posse e
que, supostamente, tinha sido utilizada no crime.
25. Assinale a alternativa correta com relação às disposições
Considerando essa situação hipotética, julgue o seguinte item.
processuais penais especiais.
De acordo com a classificação doutrinária dominante, a situa-
(A) A transação penal prevista na Lei dos Juizados Especiais
ção configura hipótese de flagrante presumido ou ficto.
Criminais é aplicável aos crimes praticados contra a violência
( )CERTO
doméstica.
( )ERRADO
(B) Na colaboração premiada em crimes de organização crimi-
nosa, o juiz poderá reduzir a pena privativa de liberdade em até 29. (PRF - Policial Rodoviário Federal – CESPE/2019) Com rela-
1/3, desde que a personalidade do colaborador, a natureza, as ção aos meios de prova e os procedimentos inerentes a sua colhei-
circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato crimi- ta, no âmbito da investigação criminal, julgue o próximo item.
noso sejam adequadas à benesse. A entrada forçada em determinado domicílio é lícita, mesmo
(C) O juiz está adstrito às condições previstas na Lei na hipóte- sem mandado judicial e ainda que durante a noite, caso esteja ocor-
se de oferecimento de proposta de suspensão condicional do rendo, dentro da casa, situação de flagrante delito nas modalidades
processo. próprio, impróprio ou ficto.
(D) Nos crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e va- ( )CERTO
lores deve ser observado o procedimento processual especial ( ) ERRADO
previsto na legislação em vigor.
(E) Não será deferida a interceptação de comunicações telefô-
nicas quando o fato criminoso investigado for punido, no máxi-
mo, com pena de detenção.

358
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
30. (SEJUS/PI - Agente Penitenciário - NUCEPE/2016) Samuel
teve voz de prisão dada por Agostinho, seu vizinho que é alfaiate, GABARITO
quando tentava esfaquear sua madrasta. Neste caso é possível di-
zer:
(A) Agostinho jamais poderia prender Samuel, pois não é po-
1 B
licial.
(B) Agostinho poderia prender Samuel em 48 (quarenta e oito) 2 E
horas depois, se a polícia não tivesse chegado ao local. 3 D
(C) Em face do flagrante delito, Agostinho poderia sim ter dado
voz de prisão a Samuel. 4 D
(D) Agostinho somente poderia dar voz de prisão a Samuel, se 5 C
este tivesse cometido o crime contra sua genitora.
6 D
(E) Samuel somente poderia ser preso em flagrante, se ele ti-
vesse levado para a Delegacia de Polícia a faca com a qual ten- 7 B
tara esfaquear sua madrasta. 8 C
31. (PC/AC - Delegado de Polícia Civil - IBADE/2017) Tendo em 9 C
vista a correta classificação, considera-se em flagrante delito quem: 10 A
(A) é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, obje-
tos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração, ou 11 E
seja, flagrante impróprio. 12 C
(B) acaba de cometer a infração penal, ou seja, flagrante pró-
13 D
prio.
(C) é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou 14 D
por qualquer pessoa em situação que faça presumir ser autor 15 A
da infração, ou seja, flagrante presumido.
(D) é preso por flagrante provocado. 16 D
(E) está cometendo a infração penal, ou seja, crime imperfeito. 17 C

32. (PC/PA - Investigador de Polícia Civil - FUNCAB/2016) A pri- 18 E


são em flagrante consiste em medida restritiva de liberdade de na- 19 D
tureza cautelar e processual. Em relação às espécies de flagrante,
20 E
assinale a alternativa correta.
(A) Flagrante próprio constitui-se na situação do agente que, 21 B
logo depois, da prática do crime, embora não tenha sido per- 22 A
seguido, é encontrado portando instrumentos, armas, objetos
ou papéis que demonstrem, por presunção, ser ele o autor da 23 C
infração. 24 B
(B) Flagrante preparado é a possibilidade que a polícia possui
25 E
de retardar a realização da prisão em flagrante, para obter
maiores dados e informações a respeito do funcionamento, 26 A
componentes e atuação de uma organização criminosa. 27 D
(C) Flagrante presumido consiste na hipótese em que o agente
concluiu a infração penal, ou é interrompido pela chegada de 28 CERTO
terceiros, mas sem ser preso no local do delito, pois consegue 29 CERTO
fugir, fazendo com que haja perseguição por parte da polícia,
da vítima ou de qualquer pessoa do povo. 31 C
(D) Flagrante esperado é a hipótese viável de autorizar a prisão 31 B
em flagrante e a constituição válida do crime. Não há agente
32 D
provocador, mas simplesmente chega à polícia a notícia de
que um crime será cometido, deslocando agentes para o local,
aguardando-se a ocorrência do delito, para realizara prisão.
(E) Flagrante impróprio refere-se ao caso em que a polícia se
utiliza de um agente provocador, induzindo ou instigando o
autor a praticar um determinado delito, para descobrir a real
autoridade e materialidade de outro.

359
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

ANOTAÇÕES ______________________________________________________

______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
_____________________________________________________
______________________________________________________
_____________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________

360
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

E, por que, para Durkheim, o crime é considerado normal? Dada


O CRIME COMO FATO SOCIAL a frequência com que ocorrem os crimes e dado o fato de que as
sanções já preveem que o crime pode ocorrer, pois estas são esta-
De acordo com sua classificação sobre os fatos sociais, Émile belecidas previamente, esta atitude é considerada como um fato
Durkheim vai considerar o crime como fato social normal. A defini- dentro da normalidade social. Para atestar o índice de normalidade,
ção causou polêmica, quando da publicação das Regras do Método Durkheim vai indicar o uso das estatísticas, como forma de compro-
Sociológico, a ponto de Durkheim ter de esclarecer sua noção em var a taxa média de crimes esperados naquela sociedade.
edições posteriores. Caso essa taxa varie significativamente, o crime perdeu sua con-
Há pelo menos duas formas de conceber o crime, segundo a dição de normalidade. As causas da disfunção, na lógica durkhei-
noção durkheimeana. Uma está ligada à manutenção da ordem, ex- meana, são sempre encontradas na própria sociedade. Pela lógica
pressando o repúdio da força social em relação a determinado ato. funcionalista, os fatos desempenham funções úteis no organismo
A outra está ligada à transformação social, que embora não seja a social.
tônica do pensamento durkheimeano, é tratada por ele quando da No caso do crime, qual seria a sua função? Ao definir a função
abordagem do crime como fato social1. social do crime, Durkheim teve de enfrentar polêmicas, pois a ele se
Por que Durkheim entende o crime como um fato social nor- atribuiu uma apologia ao crime. De acordo com a lógica do sociólo-
mal? Sua resposta está ligada às características do fato social. O cri- go, a função social do crime consiste em manter vivo o sentimento
me, segundo o autor, existe em todo tipo de sociedade. Variam as de repúdio social àquele ato. Todas as vezes que o crime ocorre, se-
formas, mas há em comum o fato de que toda sociedade estabelece gundo essa interpretação, a sociedade repudia aquele ato e é nisso
padrões do que é considerado aceitável ou não. que consiste o caráter de normalidade do crime. Diz Durkheim: o
O crime, nesse sentido, é sinônimo de algo repudiado pela cons- crime é normal, na condição de ser repudiável.
ciência coletiva. Afirma, nas Regras do Método Sociológico: Afirma Durkheim que, sempre que o indivíduo comete uma ati-
O crime não se observa só na maior parte das sociedades desta tude considerada crime, a sociedade resgata aqueles valores consi-
ou daquela espécie, mas em todas as sociedades de todos os tipos. derados mais caros e, nessas situações, fica evidente a coercitivida-
Não há nenhuma em que não haja criminalidade. Muda de forma, de social em relação àquele ato. Tal acepção do crime está ligada à
os atos assim qualificados não são os mesmos em todo o lado; mas conservação da ordem social.
sempre e em toda a parte existiram homens que se conduziam de Parte-se do princípio que, quando a sociedade exerce a coerção
modo a incorrer na repressão penal (DURKHEIM, 2005). repudiando o crime, mantém-se o quadro de normalidade social. A
O indivíduo em sociedade está sujeito a pelo menos dois tipos metáfora com a biologia mais uma vez é feita, quando se compara
de sanções, segundo Durkheim: as sanções espontâneas e as san- tais atitudes com a presença de corpos estranhos em um organismo
ções jurídicas. As sanções espontâneas são as reprovações de atitu- natural. Quando estes aparecem, o corpo tende a produzir a defesa
des consideradas inadequadas, mas que não causam tanto horror e expulsar o corpo estranho, garantindo a saúde do organismo.
quando ocorrem. As sanções espontâneas acontecem informal- A outra noção de crime está ligada à transformação social. A
mente e servem como modelos de condutas cotidianas. existência de atitudes que sejam consideradas crimes, explica
As sanções jurídicas são aquelas fixadas formalmente e refletem Durkheim, pode servir para operar mudanças sociais. Já que as ins-
desvios de condutas considerados mais graves. Para Durkheim, as tituições tendem a reforçar o ordenamento social, os desvios po-
sanções jurídicas cristalizam o sentimento de repúdio da sociedade dem servir como estímulo às mudanças.
em relação a determinado ato. O exemplo emblemático dado por Durkheim nas Regras do Mé-
O caráter de normalidade, portanto, não está ligado à condição todo é elucidativo para compreendermos essa acepção do crime.
de aceitabilidade e sim ao fato de acontecer com frequência. Nas Durkheim lembra que Sócrates, de acordo com o direito ateniense,
Regras do Método Sociológico, Durkheim faz a seguinte observa- foi considerado um criminoso. Seu crime: ser contra as ideias de
ção, a respeito do caráter de normalidade do crime: seu tempo.
Pelo fato de o crime ser um fenômeno de sociologia normal não Tal crime, ou seja, a posição contrária de Sócrates naquele con-
se deduz que o criminoso seja um indivíduo normalmente constitu- texto, serviu de base para o que hoje entendemos como liberdade
ído do ponto de vista biológico e psicológico. As duas questões são de pensamento. Que as sociedades possuam a presença de crimi-
independentes uma da outra. Compreender-se-á melhor esta inde- nosos, a exemplo de Sócrates, é um impulso para que seus valores
pendência quando mostrarmos mais adiante a diferença existente sejam renovados, em outro contexto. Mencionamos aqui o trecho
entre os fatos psíquicos e os fatos sociológicos. inteiro, pois ele nos parece interessante para pensarmos nessa in-
terpretação do crime e do papel do indivíduo mesmo diante da co-
ercitividade social:

1 ALBUQUERQUE, Rossana Maria Marinho. A ACEPÇÃO DURKHEI-


MEANA DO CRIME. OLHARES PLURAIS – Revista Eletrônica Multidisciplinar,
Vol. 1, Núm. 1, Ano 2009.

361
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
[...] o crime chega a desempenhar um papel útil nesta evolução. O controle formal entra em atuação toda vez que ocorrer uma
Não só implica que o caminho fique aberto às modificações neces- falha do controle informal. Ora, não existindo a atuação eficaz da fa-
sárias, como ainda, em certos casos, prepara diretamente essas mília, escola e sociedade de um modo geral sobre seus integrantes,
mudanças. Onde ele existe, não só os sentimentos coletivos estão serão acionados a Polícia, o Poder Judiciário, o Ministério Público,
no estado de maleabilidade, necessária para tomar uma nova for- ou seja, o Estado para em última instância deixar sua característica
ma, como também contribui, por vezes, para predeterminar a forma subsidiária, para atuar, impondo a lei e fazendo-a cumprir.
que estes tomarão. Este controle social formal é dividido em seleções, a saber:
Quantas vezes, com efeito, não é ele uma simples antecipação
da moral futura, um encaminhamento para o porvir! Segundo o 1) Primeira Seleção:
direito ateniense, Sócrates era um criminoso, e a sua condenação Entende-se por primeira seleção do controle social formal a
nada tinha de injusto. Contudo, o seu crime, a saber, a independên- atuação de seus órgãos de repressão jurídica, ou seja, o trabalho
cia do seu pensamento, era útil não só à humanidade mas também desenvolvido pelas Polícias Civil e Federal, isto é, a polícia judici-
à sua pátria: servia para preparar uma moral e uma fé novas de que ária. É o início da persecução penal com a atividade investigativa,
os atenienses necessitavam naquele momento [...]. buscando apontar autoria, materialidade e circunstâncias do delito.
A liberdade de pensamento de que gozamos hoje nunca poderia
ter sido proclamada se as regras que a proibiam não tivessem sido 2) Segunda Seleção:
violadas antes de serem solenemente abolidas. [...] A livre filosofia A segunda seleção do controle social formal é representada
teve como precursores os heréticos os heréticos de toda a espécie pela atuação do Ministério Público com o início da ação penal, com
que o braço secular justamente abrangeu durante toda a Idade Mé- o oferecimento da denúncia.
dia e até a véspera da época contemporânea (DURKHEIM, 2005).
A compreensão dessa noção de crime ajuda a explicar porque, 3) Terceira Seleção:
em determinados contextos, indivíduos que, por estarem à frente A terceira seleção decorre da tramitação do processo judicial
de seu tempo, são rejeitados socialmente, numa situação futura com a consequente condenação do criminoso, após o trânsito em
suas atitudes são lembradas como necessárias para a evolução da- julgado da sentença penal condenatória. Nesta seleção, o Estado
quela sociedade. Ajuda a perceber também que, embora a tônica atua de maneira absoluta sobre o indivíduo, impondo-lhe uma san-
durkheimeana seja a análise da reprodução da ordem social a partir ção penal.
da força que a sociedade exerce sobre o indivíduo, não foi excluída,
em seu pensamento, a possibilidade da margem de ação individual → Controle social informal
se defrontando com os padrões estabelecidos. O controle social informal é constituído pela sociedade civil: fa-
mília, escola, igreja, clubes de serviços etc., com a visão claramente
preventiva e educacional, isto é, operam educando, socializando o
indivíduo e inserindo-o na vida em sociedade.
INSTITUIÇÕES SOCIAIS RELACIONADAS COM O CRIME:
AS POLÍCIAS, O PODER JUDICIÁRIO, O MINISTÉRIO
PÚBLICO, OS SISTEMAS PENITENCIÁRIOS ETC
A EXTENSÃO DA CRIMINALIDADE NO MUNDO
Controle social E NO BRASIL
Sérgio Salomão Sechaira, citando Max Weber, entende que toda
sociedade necessita de mecanismos disciplinares que assegurem a Entender o que leva as pessoas a cometerem crimes é uma ta-
convivência interna de seus membros, razão pela qual se vê obriga- refa árdua. Afinal, não há consenso sobre uma verdade universal
da a criar uma gama de instrumentos que garantam a conformidade (ainda que seja uma meia verdade temporária), mesmo que essa se
dos objetivos eleitos no plano social. refira a uma determinada cultura, em um dado momento histórico.
Nesse contexto é que podemos definir controle social como o Como explicar que em uma comunidade onde haja dois irmãos gê-
conjunto de instituições, estratégias e sanções sociais que preten- meos, um deles enverede pela vida do narcotráfico, ao passo que o
dem promover a submissão dos indivíduos aos modelos e normas outro prefira seguir o caminho da legalidade3?
de convivência social. Os criminólogos que, principalmente a partir do início do século
Temos dois sistemas de controle social na sociedade: controle XX, vieram estudando o assunto, identificaram uma série de fatores
social formal e controle social informal2. criminogênicos que, combinados em proporções e situações espe-
cíficas, poderiam explicar a causação do crime. Desse modo, o que
→ Controle social formal (Instituições sociais relacionadas com há na literatura são inúmeros modelos que focalizam alguns desses
o crime) fatores, em particular.
O controle social formal é constituído pela aparelhagem política Portanto, melhor do que perceber cada um desses modelos
do Estado: Polícias, Poder Judiciário, Administração Penitenciária, como uma panaceia que explique situações tão díspares, ou mesmo
Sistemas Penitenciários, Ministério Público etc., com conotação po- como modelos que deem conta da generalidade do mundo crimi-
lítico-criminal. nal, menos ingênuo seria interpretá-los como matizes que podem
São os agentes formais do controle social, que atuam em ultima ajudar a compor um quadro.
ratio, utilizados como meio coercitivo, através dos órgãos públicos,
cuja finalidade será punir o indivíduo infrator das normas impostas
pelo controle social.

3 CERQUEIRA, Daniel; LOBÃO, Waldir. DETERMINANTES DA

2 SUMARIVA, Paulo. Criminologia – Teoria e Prática. 3ª edição. Editora CRIMINALIDADE: UMA RESENHA DOS MODELOS TEÓRICOS E RESULTADOS
Impetus. EMPÍRICOS. – IPEA.

362
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
Do ponto de vista da intervenção pública para a manutenção Jeremy Bentham, por outro lado, conferiu especial importância
da paz social, não importa conhecer a verdade. Importa, em pri- ao cálculo acerca do comportamento do criminoso e respostas óti-
meiro lugar, reconhecer se em uma determinada região há alguma mas pelas autoridades locais.
regularidade estatística sobre algum daqueles fatores criminogê- De fato, um survey aplicado em 1901 nas universidades ameri-
nicos, concretos (presença de armas, drogas etc.) ou imaginários canas dava conta de que entre os primeiros cursos oferecidos sob
(supervisão familiar, reconhecimento etc.) e, por último, saber se a denominação genérica de “sociologia” já constavam currículos
o Estado possui instrumentos para intervir nessa regularidade, seja como de criminologia e penologia. A esse respeito apenas recente-
diretamente, seja indiretamente, com a participação da própria so- mente as universidades de economia americanas têm incluído em
ciedade. seus currículos o estudo do crime.
As teorias de causação do crime, ao lançarem luz sobre determi- Uma teoria que explique o comportamento social, em particular
nadas variáveis e sua epidemiologia, permitem que o planejador do o comportamento criminoso, deveria levar em conta pelo menos
Estado escolha entre inúmeras variáveis aquelas que supostamente dois aspectos:
devem ser mais importantes. a) a compreensão das motivações e do comportamento indivi-
Os modelos empíricos, ao detalhar a metodologia de aferição, dual;
possibilitam a centralização das atenções e dos escassos recursos b) a epidemiologia associada, ou como tais comportamentos se
públicos para algumas poucas variáveis, que podem não explicar distribuem e se deslocam espacial e temporalmente.
uma verdade universal, mas que devem interferir decisivamente Conforme Cano e Soares (2002) apontaram, se poderia distin-
(com maior probabilidade) na dinâmica criminal daquela região a guir as diversas abordagens sobre as causas do crime em cinco gru-
que se quer intervir. Desse modo, o planejador público que acredi- pos:
tar piamente em um único determinado modelo de causação cri- a) teorias que tentam explicar o crime em termos de patologia
minal (seja qual for esse) para tomar suas decisões e orientar suas individual;
ações e recursos estará fadado a utilizar uma “cama de Procusto”, b) teorias centradas no homo economicus, isto é, no crime como
algumas vezes com êxito ou não, a depender do “cliente”, ou da uma atividade racional de maximização do lucro;
situação em particular. c) teorias que consideram o crime como subproduto de um sis-
Daí a necessidade da multidisciplinaridade: um meio de aumen- tema social perverso ou deficiente;
tar o conjunto de instrumentos de análise e de intervenção pública, d) teorias que entendem o crime como uma consequência da
para um objeto extremamente complexo. perda de controle e da desorganização social na sociedade moder-
na;
Evolução do estudo sobre as causas da criminalidade no Brasil e) correntes que defendem explicações do crime em função de
e no mundo fatores situacionais ou de oportunidades.
O estudo sobre as causas da criminalidade tem se desenvolvido
em duas direções, no que diz respeito às motivações individuais e Um resumo das principais abordagens sobre as causas da vio-
aos processos que levariam as pessoas a tornarem-se criminosas. lência e da criminalidade
Por outro lado, têm-se estudado as relações entre as taxas de crime
em face das variações nas culturas e nas organizações sociais. Tais → Teoria da Desorganização Social
arcabouços teóricos têm sido desenvolvidos, principalmente, a par- Abordagem sistêmica em torno das comunidades, entendidas
tir de meados do século passado. como um complexo sistema de rede de associações formais e in-
Em períodos anteriores, as primeiras reflexões sobre o tema, formais.
elaboradas normalmente por pessoas fora do círculo acadêmico, Variáveis: Status socioeconômico; heterogeneidade étnica; mo-
procuravam encontrar uma causa geral para o comportamento cri- bilidade residencial; desagregação familiar; urbanização; redes de
minoso, de sorte que, virtualmente, ao se extirpar essa causa geral amizades locais; grupos de adolescentes sem supervisão; participa-
se conseguiria erradicar a criminalidade. Contudo, tais perspectivas ção institucional; desemprego; existência de mais de um morador
se traduziam menos em teorias explicativas sobre a criminalidade e por cômodo.
mais em panaceias que alimentavam o discurso de teólogos, refor-
madores e médicos à época. → Teoria do Aprendizado Social (associação diferencial)
Nesse limiar dos desenvolvimentos teóricos da criminologia, Os indivíduos determinam seus comportamentos a partir de
talvez, uma das mais conhecidas abordagens, devida a Lombroso suas experiências pessoais com relação a situações de conflito, por
(1893), colocava como determinante da criminalidade as patologias meio de interações pessoais e com base no processo de comunica-
individuais. Tais ênfases biológicas das causas do crime, contudo, ção.
foram abandonadas após a 2ª Guerra em virtude do seu conteúdo Variáveis: Grau de supervisão familiar; intensidade de coesão
racista, que condenava pessoas com determinadas características nos grupos de amizades; existência de amigos com problemas com
físicas a serem portadoras contínuas da doença da criminalidade. a polícia; percepção dos jovens sobre outros envolvidos em pro-
Estando as teorias sobre as causas da criminalidade relaciona- blemas de delinquência; jovens morando com os pais; contato com
das ao aprendizado social, não é de se admirar que, historicamente, técnicas criminosas.
os sociólogos tenham dado grandes contribuições ao tema. Entre-
tanto, há muito a questão da criminalidade vem também chamando → Teoria da Escolha Racional
a atenção de economistas, ainda que apenas a partir do final do O indivíduo decide sua participação em atividades criminosas a
século passado esse tenha sido um objeto central de estudos. partir da avaliação racional entre ganhos e perdas esperadas advin-
Por exemplo, Adam Smith havia observado que crime e deman- dos das atividades ilícitas vis-à-vis o ganho alternativo no mercado
da por proteção ao crime são motivados ambos pela acumulação da legal.
propriedade. William Paley também elaborou uma cuidadosa aná- Variáveis: Salários; renda familiar per capita; desigualdade da
lise acerca de fatores que condicionariam as diferenças de crime e renda; acesso a programas de bem-estar social; eficiência da po-
sanções. lícia; adensamento populacional; magnitude das punições; inércia
criminal; aprendizado social; educação.

363
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
→ Teoria do Controle Social Um dos primeiros trabalhos quantitativos empíricos coube a
O que leva o indivíduo a não enveredar pelo caminho da cri- Pezzin (1986), que desenvolveu uma análise em cross-section (com
minalidade? A crença e a percepção do mesmo em concordância dados de 1983) e outra em séries temporais, para a região metro-
com o contrato social (acordos e valores vigentes), ou o elo com a politana de São Paulo (com dados compreendidos entre 1970 e
sociedade. 1984). O autor encontrou uma correlação positiva significativa en-
Variáveis: Envolvimento do cidadão no sistema social; concor- tre urbanização, pobreza e desemprego em relação a crimes contra
dância com os valores e normas vigentes; ligação filial; amigos de- o patrimônio.
linquentes; crenças desviantes. De outro modo, não houve evidências acerca da correlação en-
tre aquelas variáveis sociais e demográficas em relação aos crimes
→ Teoria do Autocontrole contra a pessoa.
O não desenvolvimento de mecanismos psicológicos de auto- Beato e Reis (2000) tentaram evidenciar a relação defasada en-
controle na fase que segue dos 2 anos à pré-adolescência, que ge- tre emprego e crimes violentos e crimes violentos contra a proprie-
ram distorções no processo de socialização, pela falta de imposição dade em Belo Horizonte entre 1996 e 1998. Seus resultados não
de limites. foram significativos, reflexo, possivelmente, da curta série de dados
Variáveis: Frequentemente age-se ao sabor do momento sem estudada.
medir consequências; raramente deixa-se passar uma oportunida- Sapori e Wanderley (2001) também tentaram evidenciar a rela-
de de gozar um bom momento. ção entre emprego e os homicídios nas regiões metropolitanas do
Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre, e também
→ Teoria da Anomia para roubos no caso de São Paulo. Os mesmos cruzaram dados pro-
Impossibilidade de o indivíduo atingir metas desejadas por ele. venientes da Pesquisa Mensal de Emprego (PME/IBGE) de 1982 até
Três enfoques: 1998, com os dados do Ministério da Saúde.
a) diferenças de aspirações individuais e os meios disponíveis; Segundo os autores: “(...) Não foram encontrados indícios con-
b) oportunidades bloqueadas; sistentes de que as variações das taxas de desemprego implicariam
c) privação relativa. variações presentes ou futuras dos índices de violência, inevitavel-
Variáveis: Participa de redes de conexões? existem focos de mente. Os resultados não foram robustos.”
tensão social? eventos de vida negativos; sofrimento cotidiano; re- Andrade e Lisboa (2000), utilizando os dados de homicídios do
lacionamento negativo com adultos; brigas familiares; desavenças Ministério da Saúde (SIM/Datasus) para São Paulo, Minas Gerais e
com vizinhos; tensão no trabalho. Rio de Janeiro, entre 1991 e 1997, desenvolveram um modelo logit,
com base nas probabilidades de vitimização por idade.
→ Teoria Interacional A análise dos autores por coortes permitiu-os identificar uma
Processo interacional dinâmico com dois ingredientes: relação negativa estatisticamente significativa dos homicídios com
a) perspectiva evolucionária, cuja carreira criminal inicia-se aos relação ao salário real, e uma relação positiva com relação à desi-
12-13 anos, ganha intensidade aos 16-17 anos e finaliza aos 30 anos; gualdade, para faixas etárias inferiores a 20 anos. Os autores ainda
b) perspectiva interacional que entende a delinquência como encontraram um sinal negativo (significativo) entre desemprego e
causa e consequência de um conjunto de fatores e processo sociais. crime, replicando um resultado idêntico de Land, Cantor e Russell
Variáveis: As mesmas daquelas constantes nas teorias do (1994) para os Estados Unidos.
aprendizado social e do controle social. Por último, a metodologia adotada permitiu encontrar evi-
dências acerca do efeito da inércia criminal, na medida em que
→ Ecológico gerações que têm maior incidência de homicídios quando jovens
Combinação de atributos pertencentes a diferentes categorias tendem a perpetuar as maiores probabilidades de vitimização pelo
condicionaria a delinquência. Esses atributos, por sua vez, estariam resto do ciclo de vida.
incluídos em vários níveis: estrutural, institucional, interpessoal e Cano e Santos (2001), com base em uma regressão estimada
individual. por OLS para o ano de 1991, mostraram evidências acerca de uma
Variáveis: Todas as variáveis anteriores podem ser utilizadas correlação positiva entre taxas de urbanização e taxas de homicí-
nessa abordagem. dios nos estados brasileiros, ao mesmo tempo em que não pude-
ram evidenciar a relação desses últimos com a desigualdade da
A literatura brasileira renda (L de Theil) e educação (o componente educativo do Índice
Os estudos relacionados aos determinantes da criminalidade de Desenvolvimento Urbano).
no Brasil sofrem de uma extrema limitação derivada da inexistência Mendonça (2000) desenvolve uma extensão do modelo da
quase que absoluta de dados minimamente confiáveis, com cober- escolha racional de modo a introduzir a ideia de “insatisfação” na
tura nacional e reproduzidos temporalmente. Tais estudos começa- função utilidade, consubstanciada pela diferença entre o consumo
ram a ganhar ênfase com os trabalhos de Coelho (1988) e de Paixão corrente e uma cesta de consumo ideal. Em seu trabalho empírico
(1988), em Minas Gerais, que criticavam a importância de fatores essa “insatisfação” seria medida a partir do coeficiente de Gini.
socioeconômicos na determinação da criminalidade, em detrimen- Utilizando os dados de homicídios do Ministério da Saúde, entre
to de variáveis mais relacionadas à eficácia do sistema de justiça 1985 e 1995, o autor desenvolveu um painel, em que a determi-
criminal, principalmente no que diz respeito à polícia. nante mais importante (significativa estatisticamente) foi a taxa de
No Rio de Janeiro, Zaluar (1985) com seu trabalho pioneiro, urbanização, seguida pela desigualdade da renda num primeiro pla-
baseado em pesquisas etnográficas nas favelas e comunidades, ve- no, e a renda média das famílias e o desemprego em um segundo,
rificou uma série de elementos que associariam o contexto social tendo todas essas variáveis os sinais esperados segundo a teoria.
nessas comunidades aos fenômenos da violência e criminalidade, Em relação aos gastos públicos com segurança os resultados não
lançando luz sobre a questão. foram significativos.
Cerqueira e Lobão (2002) desenvolveram um modelo de setor
de produção criminosa, em que a oferta de crimes regionalmen-
te decorre da agregação das ofertas individuais, onde cada virtual

364
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
criminoso se distingue dos demais pelo fato de cada um deles (ou Do ponto de vista da doutrina, há autores que consideram que
cada extrato de renda) trabalhar com preços heterogêneos. A fun- a criminalidade organizada será o resultado da atividade de uma as-
ção de produção para cada participante do setor criminoso sofre sociação de duas ou mais pessoas, reunidas de forma permanente
ainda a externalidade da ação policial, da ação de outros virtuais ou com significativo grau de estabilidade para a prática de crimes
criminosos e da densidade demográfica da região em que o mesmo ou contraordenações que reúnam alguns elementos comuns, que
atua. são aceites de uma forma geral e indispensável para caracterizar o
O modelo, ao adotar uma perspectiva diferente da utilidade es- crime organizado:
perada desenvolvida por Becker (1968), permite que as variáveis a) Organização hierárquica;
poder de polícia e índices de desigualdade da renda sejam conca- b) Planeamento estratégico de tipo empresarial;
tenadas diretamente dentro do modelo teórico, de forma que a c) Uso de meios tecnológicos avançados;
equação reduzida a ser estimada decorre diretamente do modelo d) Organização e divisão funcional de tarefas/atividades;
teórico. e) Intercomunicabilidade com poder público ou agentes do po-
Foi feito um exercício de séries temporais para os Estados do der público;
Rio de Janeiro e São Paulo, compreendendo o período 1981-1999, f) Divisão territorial na incidência das atividades ilícitas;
sendo utilizadas as técnicas de co-integração e vetor de correção de g) Recurso a intimidação e corrupção;
erros, a fim de se estimar as elasticidades de curto e longo prazos, h) Conexão local, regional, nacional ou internacional com outras
relacionadas às variáveis listadas no modelo teórico. organizações criminosas (funcionamento em rede);
Os sinais de todos os parâmetros estimados foram significativos i) Elevada capacidade para a prática de fraudes;
ao nível de 1%. Segundo esse modelo, os homicídios respondem j) Oferta de prestações sociais e mecanismos de proteção e en-
positivamente à renda, à desigualdade da renda e ao adensamento tre ajuda dos seus membros.
demográfico e negativamente aos gastos em segurança pública com Luiz Flávio de Gomes sugere que a organização criminal seja de-
um período de defasagem. finida como toda a associação que reunisse pelo menos três das
Contudo, enquanto as magnitudes das elasticidades associadas seguintes características:
à desigualdade da renda mostraram-se extremamente potentes, “Previsão de acumulação de riqueza indevida; hierarquia estru-
dando a entender que a questão da criminalidade nesses dois esta- tural; planeamento empresarial; uso de meios tecnológicos sofisti-
dos passa, certamente, pelo problema da exclusão social, cuja de- cados; recrutamento de pessoas; divisão funcional das atividades;
sigualdade da renda é a ponta do iceberg, por outro lado, aqueles conexão estrutural ou funcional com o poder público; ampla oferta
indicadores associados aos gastos em segurança pública resultaram de prestações sociais; divisão territorial das atividades ilícitas; alto
extremamente inelásticos, aproximando-se de zero, o que poderia poder de intimidação; real capacidade para fraude difusa; conexão
estar sugerindo a exaustão desse modelo, principalmente no que local, regional, nacional ou internacional com outra organização
se refere à polícia. criminosa.”

Importa ainda analisar a diferença entre a criminalidade orga-


O CRIME COMO FENÔMENO DE MASSA: NARCOTRÁFI- nizada e a criminalidade comum ou de massas, que origina sempre
CO, TERRORISMO E CRIME ORGANIZADO  uma distorção na visão do legislador para a definição do conceito
de criminalidade organizada.
A criminalidade organizada não é um fenómeno recente, mas as No entender de José Braz:
suas origens divagam no tempo. Com a globalização e o progresso “Alguns autores procuram a definição de criminalidade organi-
da tecnologia, torna-se necessário perceber uma realidade que ul- zada devido a confusão com à definição de criminalidade comum ou
trapassa, em muito, a sua compreensão do ponto de vista criminal, de massas. Enquanto esta compreende condutas ilícitas, praticadas
já que têm um grande efeito ofensivo sobre as sociedades ditas de- geralmente de forma isolada e individual, suscetíveis de assumir
mocráticas, condicionando, de forma significativa, as normas e as formas de violência gratuita, destituídas de qualquer sentido estra-
suas formas de atuação4. tégico, aquela abarca o conjunto de condutas ilícitas praticadas de
forma coletiva, sistemática, integrada e continuada, visando a al-
Crime Organizado cançar objetivos estrategicamente predefinidos.”
Do ponto de vista territorial, as manifestações de criminalidade
O crime organizado, antes da globalização e da evolução da tec- comum são desarticuladas e restritas, enquanto as manifestações
nologia, era visto como um fenômeno tipicamente mafioso, conota- de crime organizado têm níveis de implantação alargada, de âmbito
do com a imagem de “família”, com uma forte estrutura hierárqui- nacional e transnacional.
ca, baseada em laços de sangue, com severos códigos de conduta Como nos diz Manuel Valente, a criminalidade de massa:
e acima de tudo muito secretismo e lealdade. (“onore” – Código de “Não pode deturpar o investigador e cientista na prevenção e
Honra e “omertà” – Lei do Silêncio). na repressão de um “crime organizado” que no fundo não têm os
Tinha como componente central da sua definição a corrupção. elementos político-criminais, criminológicos e jus criminais que jus-
Mas com o progresso tecnológico e a globalização, deu origem ao tifiquem a intensificação, a ampliação e a proliferação dos meios
aparecimento de outros grupos criminais em que as ligações já não de investigação promotores de uma total devassa dos direitos e
eram de sangue ou afetivas, mas sim utilitárias, criando a neces- liberdades fundamentais, assentes e germinadores de uma visão
sidade de realizar novos e relevantes estudos para se atingir uma distorcida da prevenção e repressão da verdadeira criminalidade
melhor conceptualização da matéria em análise. organizada.”
A criminalidade organizada pressupõe um conjunto de meios e O mesmo autor defende que temos uma criminalidade estrutu-
recursos estruturados de forma estável, duradoura e hierarquizada, rada e muito longe da verdadeira criminalidade organizada devido
que procura estrategicamente interferir nos centros de decisão, ad- à forte influência que este tipo de crime tem sobre os agentes do
ministrativa, política, económica e judicial. Estado, impedindo a atuação dos mesmos na prevenção e repres-
são do crime.
4 PINTO, Raul Adilson Salvador. O Crime Organizado Transnacional:
“Ameaça à soberania dos Estados de Direito”. Novembro de 2017, Lisboa.

365
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
Seguindo a análise doutrinária na linha do pensamento de Win- Crime Organizado e a sua correlação com o Terrorismo
fried Hassemer, cuja sua posição sobre este tema, nos diz que:
“A criminalidade organizada como um tópico jurídico suprana- O diretor executivo do UNODC Yury Fedotov comentou sobre o
cional com raízes localizadas e embrenhadas nas estruturas dos atual mercado global do crime:
poderes públicos e privados dos Estados. Só existe criminalidade or- “Em muitos casos, lucros vindos de operações criminosas sus-
ganizada quando o Estado se vê incapaz e incompetente de e para tentam organizações terroristas. A globalização se tornou uma faca
prevenir e reprimir as atividades criminosas desses grupos invisí- de dois gumes. Livres mercados e fronteiras e a facilidade de viagem
veis.” e comunicação beneficiam tanto criminosos quanto terroristas. Gra-
Ou seja, é necessário que haja um afastamento dos critérios ças aos avanços nas áreas de tecnologia, de comunicação, finanças
tradicionais para não incentivar a teoria do direito penal inimigo. e transporte, redes independentes de terroristas e grupos de crime
Mesmo que não exista criminalidade organizada sem criminalidade organizado que operam internacionalmente podem facilmente co-
de massas e vice-versa, os conceitos não se podem confundir e exis- meçar a se relacionar. Unindo suas técnicas e recursos, eles são ca-
tem vários critérios que não se coadunam. pazes de causar mais danos.”
Resumidamente, caracterizando os elementos para fixação do Os grupos terroristas e de crime organizado trabalham juntos
conceito restrito de criminalidade organizada, tem-se que: todos os dias. Na contrafação, nas drogas, nas armas e no crime
cibernético e financeiro. A diferença entre estes grupos é cada vez
O primeiro elemento é de cariz estrutural, sendo uma associa- mais tênue, eles colaboraram mais e não apenas nas sombras nem
ção de duas ou mais pessoas, criada com o objetivo de cometer somente em bens e serviços ilegais, as suas atividades encontram-
crimes, de forma permanente ou sistemática; -se no coração das nossas vidas do dia-a-dia (exemplos disso são os
O segundo elemento é de cariz finalista, já que se entende que produtos de contrafação, contrabando de cigarros, álcool e narcó-
a associação deve e tem de ser criada com a intenção de cometer ticos).
crimes ou infrações para a obtenção do lucro, que tem uma ótima A capacidade de o capital se movimentar livremente entre Es-
relação entre custo/benefício, valendo o risco já que a pena pode tados, passando pelas fronteiras e pelas pessoas, até certo ponto,
ser inferior ao lucro; têm claramente facilitado a ligação entre o crime organizado e o
E o último elemento é o temporal, já que a associação deve ter terrorismo. Para os grupos de crime organizado, os avanços em tec-
um cariz permanente ou, pelo menos, estável. nologia, em particular nas comunicações, significam que agora po-
dem comunicar rapidamente com pessoal noutros países, noutros
Em suma, de todas estas definições podemos concluir que este continentes e também conseguem entrar rapidamente em contacto
tipo de criminalidade é um conceito que não é formulado na dou- com novos clientes ou cooperantes potenciais.
trina jurídico-penal, sendo antes uma disposição criminológica im- Distingue-se o crime organizado e o terrorismo quanto ao obje-
posta pela sociedade. É do interesse geral obter um conceito bem to e motivações. À primeira vista os grupos de crime organizado e
definido, para o tornar mais claro, excluindo especulações e mitos as organizações terroristas podem parecer parceiros improváveis.
sobre o tema. Geralmente os grupos de crime organizado gostam de manter uma
A sua definição irá permitir uma maior eficácia no combate a atitude discreta e evitar chamar a atenção, em particular em rela-
esta fenomenologia criminosa, assim como os conceitos básicos e ção aos agentes da lei, enquanto que os grupos terroristas querem
estruturantes do direito penal a sua adaptabilidade a esta nova re- publicidade para as suas atividades.
alidade político-criminal. Os grupos de crime organizado trabalham unicamente com o
objetivo do lucro, enquanto os terroristas, ostensivamente pelo
menos, seguem ideologias. Os grupos de crime organizado não dei-
Atividades Criminais xam que os princípios prejudiquem os ganhos financeiros, ao passo
Atualmente podem ser encontradas marcas da criminalidade que as organizações terroristas justificam muitas das suas ações in-
organizada em diversas atividades, reflexo da tentativa de escapar vocando princípios políticos ou religiosos.
à legislação produzida e de reduzir os riscos da concentração numa Mas estas descrições pintam um quadro a preto e branco, quan-
só atividade. Geralmente, estes grupos encontram-se envolvidos do, de facto, a realidade é cinzenta. Nos últimos anos temos assisti-
em mais do que uma atividade ilícita, contudo poderá existir uma do ao aparecimento de organizações híbridas que se inclinam para
especialização numa determinada atividade. um ou outro lado, mas que se encontram ativas em ambos e em
várias ocasiões de igual modo. Encontram-se muito mais fundidas
Narcotráfico em termos de objetivos, operações e estratégias de recrutamento.
Citando Michael Denison:
O narcotráfico (inclui cultivo, produção, distribuição) é a ativida- “A sobreposição dos dois grupos incluí atividades, interesses,
de mais associada ao Crime Organizado e uma das mais rentáveis. A pessoal e conhecimentos, ou seja, se temos uma rede de pessoal
sua produção, tráfico e consumo constituem, a nível global e de for- não interessa se uma pessoa trabalha metade do tempo para um
ma crescente, uma ameaça para o desenvolvimento, a saúde e a in- grupo criminoso e a outra metade para um grupo terrorista trata-se
tegração social do indivíduo que consome, para o progresso político apenas de uma permuta de conhecimentos.”
e econômico da sociedade e para a segurança nacional dos Estados. Há muito que os grupos terroristas recorrem a atividades cri-
Gera em todo o mundo efeitos devastadores de destruição que minais para financiar as suas organizações, sejam elas o rapto para
atingem todas as classes sociais, os países desenvolvidos e subde- pedido de resgate, ou o contrabando de pessoas e de droga, em
senvolvidos, os produtores, os que transformam, os que traficam particular. Hoje em dia, isto é motivo para muitos grupos terroristas
e os importadores. Este gigantesco mercado, alimentado pelas or- se converteram em grupos de crime organizado.
ganizações criminosas de todo o mundo, tem gerado a existência
de numerosas conexões, de molde a melhor conseguirem os seus
objetivos.

366
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
Aqui cabe o conceito de vínculos criminalmente exploráveis. As E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles
ligações mais próximas têm mesmo levado os grupos a mudar de no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou.
estrutura para evitar a detecção por parte dos agentes da lei, pas- Não é demais lembrar que o relato bíblico trata da descrição do
sando de uma estrutura hierárquica para uma estrutura em rede. primeiro homicídio por motivações banais, quando Caim, filho de
Esta estratégia é algo que ambos os lados têm apreendido um com Adão, mata o seu irmão Abel sem qualquer razão plausível, senão
o outro, pois passaram a usar a estrutura em células para evitar a pelo prazer de matar ou pela inveja por entender ter sido preterido
investigação das forças de imposição da lei. pelo Criador na oferta feita a Deus, pelo irmão morto, em detrimen-
Neste século XXI de ritmo acelerado, nem o crime organizado to da sua própria oferenda5.
nem os grupos terroristas mostram sinais de abrandamento. Por Quando Bauman (2001) reflete sobre a pergunta de Deus a
exemplo o ISIS125 (Estado Islâmico ou Daesh) é uma organização Caim por seu irmão assassinado e este responde: “Sou por acaso
que recorre mais à tecnologia do que as pessoas pensavam. O seu o guardião do meu irmão?”, o autor remete a Emmanuel Levinas,
trabalho na área cibernética e do marketing, por exemplo, é real- segundo o qual Caim teria começado toda a imoralidade sob o pris-
mente impressionante, em termos do desenvolvimento das capa- ma de uma ética e de uma moral que nos chama à responsabilidade
cidades ofensivas, das capacidades cibernéticas e da divulgação da uns pelos outros. Diz Bauman:
sua ideologia. Estes grupos lidam com tecnologia e meios de infor- É claro que sou o guardião do meu irmão; e sou e permaneço
mação tão sofisticados que muitas vezes surpreende os agentes da uma pessoa moral enquanto não pergunto por uma razão especial
lei, causando grandes dificuldades na prevenção e repressão dos para sê-lo. Quer eu admita quer não, eu sou o guardião do meu ir-
desafios criados por essas associações criminais e terroristas. mão porque o bem-estar do meu irmão depende do que eu faço ou
Porém, os desafios colocados por estes grupos impõem uma do que eu me abstenho de fazer. [...]
resposta concertada de cariz supranacional sob pena de se acumu- No momento em que questiono esta dependência e, peço, como
larem insucessos no seu combate. Um dos modos mais eficazes de fez Caim, que me deem razões para que eu me preocupe, renuncio
desafiar estes grupos é através de uma coordenação estreita entre à minha responsabilidade e deixo de ser um moral. A dependência
países e organizações. Como nos diz João Davin: “É fundamental o de meu irmão é o que me faz um ser ético. A dependência e a ética
recurso a uma cooperação e coordenação jurídica e policial mais estão juntas e juntas, elas caem.
intensa de molde a que os resultados no combate a este tipo de No solo específico da criminalidade urbana, a sensação de in-
criminalidade sejam profícuos”. segurança refletida na imprensa dá lugar a uma sensação de natu-
Na mesma linha de pensamento Michael Spindelegger, durante ralização do crime que anestesia o nervo social, remetendo ao es-
a sessão de abertura do simpósio, abordou a necessidade de forta- cárnio, à moral e à autocensura. Se a pergunta de Caim é feita hoje,
lecimento da cooperação para enfrentar o terrorismo dizendo que: em várias formas renovadas, e se o Estado de bem-estar social está
“os terroristas conectam-se com outras organizações criminosas sob ataque de todos os lados, é porque desmoronou a combinação
fazendo uso de novas tecnologias para operar internacionalmente. única de fatores que levaram ao seu estabelecimento e o fizeram se
Nós precisamos conter esse problema através do fortalecimento da parecer e se sentir como o Estado natural da sociedade moderna.
cooperação internacional sob a tutela das Nações Unidas.” Michel de Montaigne (1996), em publicação do ano de 1580,
Se não houver este tipo de atuação surgirão brechas que serão na obra Ensaios, relata um fato semelhante aos encontrados em
implacavelmente exploradas. Torna-se muito mais difícil trabalhar jornais distribuídos pelo Brasil, a saber:
numa operação conjunta, se um lado não estiver disposto a parti- Vivo em uma época que, por causa de nossas guerras civis,
lhar o máximo de informação com o outro. abundam os exemplos de incrível crueldade. Não vejo na história
Atualmente esse é provavelmente um dos maiores obstáculos antiga nada pior do que os fatos dessa natureza, que se verificam
para uma cooperação eficiente. Torna-se muito mais rápido evitar a diariamente e aos quais não me acostumo. Mal podia eu conce-
jurisdição e as atividades de imposição da lei simplesmente porque, ber, antes de o ver, que existissem pessoas capazes de matar pelo
ao primeiro sinal de uma investigação, pode-se começar a movi- simples prazer de matar; pessoas que esquartejam o próximo, in-
mentar o dinheiro quase instantaneamente para outra jurisdição. ventam engenhosos e desconhecidos suplícios e novos gêneros de
Assim, demonstra-se como dois grupos diferentes e distintos assassínios, sem ser movidos nem pelo ódio nem pela cobiça, no
à partida, evoluíram de tal forma que pode já não ser correto in- intuito único de assistir ao espetáculo dos gestos, das contrações
terpretar a existência de diferenças entre ambos. Um grupo pode lamentáveis, dos gemidos, dos gritos angustiados de um homem
começar como grupo terrorista e evoluir para o crime organizado. que agoniza entre torturas.
Aliás os grupos criminosos têm como finalidade a obtenção de ga- Embora escrito no século XVI, a indignação do autor frente à
nhar dinheiro, e para atingir esse fim não têm limitações no modo e crueldade e à vilania por meio das quais se matava, pelo “simples
meios para obtenção desse fim. prazer de matar”, parece permear os sentimentos e reações da so-
ciedade atual. Nos dias que seguem, não é diferente.
Noticiam-se atrocidades de semelhante jaez, a exemplo da ma-
O CRIME COMO FENÔMENO ISOLADO: ESTUDO DO téria jornalística do dia 20 de março de 2014, sobre uma mulher que
HOMICÍDIO foi assassinada a facadas e teve sua cabeça decepada e pendurada
numa cerca de arame farpado no bairro de Valentina de Figueiredo,
E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra periferia de João Pessoa. Após a decapitarem, os algozes amarra-
uma oferta ao SENHOR. E Abel também trouxe dos primogênitos ram a cabeça da vítima à cerca, usando o próprio cabelo dela.
das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o SENHOR para Abel
e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou.
E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante. E o SENHOR
disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante?
Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o
pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves
dominar. 5 ARAÚJO, FÁBIO FIRMINO DE. DA VIOLÊNCIA COTIDIANA AO

HOMICÍDIO BANAL: Uma abordagem sociológica. João Pessoa, 2016.

367
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
Ações que nos lembram a barbárie dos idos primitivos ainda são Homicídio na Criminologia
cotidianamente noticiadas em veículos de comunicação de massa. Criminologia, Direito Penal e Política Criminal são ciências que
Condutas individuais ou coletivas, de práticas de violência física estão intimamente ligadas, apesar de possuírem diferentes escopos
mortais, não se sabendo as razões ou motivações concretas, fazem- de atuação. Em virtude dessa estreita relação, é muito comum que
-nos sentir cidadãos de civilizações que supunham-se não mais exis- as pessoas confundam seus conceitos, ou ainda, que pensem tratar-
tir, dado o modus operandi através do qual se conduz o agente, com -se de uma única ciência6.
requintes de absoluta crueldade. A criminologia investiga as causas do fenômeno da criminali-
Observe-se como exemplo, o caso da mãe que matou o filho dade segundo o método experimental, isto é, analisando o mundo
de cinco anos com 50 (cinquenta) facadas, noticiado pela imprensa do ser. Aborda de maneira científica os fatores que podem levar o
local em jornais do dia 22 de agosto de 2016, atribuindo o ato a homem a delinquir.
“ordens de Satanás”, de quem em suposta crise psicótica afirma ser O Direito Penal analisa os fatos humanos indesejados e tipifica
sua “princesinha” (BANDEIRA, 2016), traços de uma ação violenta criminalmente as condutas indevidas por meio de normas penais,
nos moldes do que reportou Montaigne (1996), naquela publicação no plano do dever ser. Essa dogmática penal abrange a sistematiza-
do século XVI. ção, interpretação e aplicação das leis penais. Tem as normas positi-
Pela notoriedade dos conflitos com resultados fatais, de intrigas vadas como ponto de partida para a solução dos problemas.
por disputas interpessoais, hostilidades por um objeto irrelevante A política criminal tem por objetivo criar estratégias concretas
ou desdobramentos letais a partir de decisões unilaterais de um, de controle da criminalidade, a fim de manter seus índices em ní-
pela aniquilação do outro, presentes nos casos analisados, se pon- veis toleráveis. Toma como base o fundamento científico fornecido
dera a respeito da grande dificuldade de ajustes sociais na esfera in- pela criminologia, e por meio de juízo de valor busca criticar e apre-
terpessoal, advindo do fato de que não há um consenso em relação sentar propostas para a reforma do Direito penal. Nesse sentido,
à forma de resolver conflitos interpessoais, senão uma diversidade representa uma ponte entre a criminologia e o Direito Penal.
de ações referentes à justiça para além daquelas produzidas no in- Tem a Criminologia como finalidade, o estudo do crime, o crimi-
terior do sistema penal. noso, a vítima e o comportamento social. É uma ciência empírica.
São manifestações de violência letal muito dispersas e parado- Seu objeto é Crime enquanto fato (o que é).
xais para serem significativas por si próprias. E é nessa quadra do O método utilizado pela Criminologia é o Indutivo (parte da
discurso midiático que surge uma interrogação sobre os motivos questão concreta até chegar à conclusão generalizada).
ensejadores da ação social que podem redundar em uma orienta- Utilizando-se o Crime de Homicídio como exemplo, a Crimino-
ção no sentido que constituiu a sua essência. logia analisa o fenômeno do homicídio, o homicida, o ofendido e o
A legislação brasileira, inspirada nos modelos alemão e francês, comportamento da sociedade.
assim como a própria criminologia orientadora de uma mídia, quan- Em outras palavras, enquanto a política criminal transforma a
do populista e vingativa, elege um padrão menos preventivo e mais experiência criminológica em opções e estratégias concretas de
punitivo para o fenômeno do crime, como já havia sugerido Becca- controle da criminalidade; o Direito Penal converte em proposições
ria (1764) na obra Dos delitos e das penas, cujo ponto modal reflexi- jurídicas, gerais e obrigatórias, o saber criminológico fornecido pela
vo está na eficácia de penas menos severas, mais suaves, justas, rá- política criminal.
pidas e certas (infalíveis) para o recrudescimento da violência letal. Já a incumbência da Criminologia refere-se em fornecer o subs-
Vale dizer, também, que as preocupações públicas e inquieta- trato empírico do sistema (fundamento científico).
ções coletivas, traduzidas nos jornais de chamadas apelativas, indi- A criminologia não se limita a investigar as causas da criminali-
cam a emergência de novos paradigmas da violência, os quais estão dade, possuindo papel bem mais importante de analisar as condi-
para além do próprio crime. Parecem referir-se à mudança de hábi- ções da criminalização que abrangem não só a infração penal, mas
tos cotidianos, à exacerbação de novos conflitos sociais, à adoção o delinquente, o ofendido e o controle social.
de soluções que desafiam tradições democráticas, à demarcação de
novas fronteiras sociais, ao esquadrinhamento de novos espaços de
realização pessoal e social e ao sentimento de desordem e caos que
se espelha na ausência de justiça social. CLASSIFICAÇÃO DE TIPOS CRIMINOSOS: CRIMINOSO
Superadas essas primeiras reflexões, e no afã de compreender NATO; CRIMINOSO OCASIONAL; CRIMINOSO HABI-
de melhor maneira o fenômeno criminógeno traduzido pelo homi- TUAL OU PROFISSIONAL; CRIMINOSO PASSIONAL;
cídio banal, passa-se a fazer breve interlocução com o direito penal, CRIMINOSO ALIENADO; CRIMINOSO MENOR (DELIN-
ramo do direito público, enquanto mecanismo normatizador da QUÊNCIA JUVENIL); A MULHER CRIMINOSA
ação, no âmbito legislativo e judiciário brasileiro.
Para o direito positivo, o crime de homicídio no Brasil, inscrito A etapa científica: Escola positiva (Lombroso, Garofalo e Ferri)
no Código penal vigente, adotou a sistemática do criminalista italia- A Escola positiva inaugura o período científico da criminologia,
no Tibério Deciano (1509-1582), que, segundo Luisi (2001), dividiu com início entre os séculos XIX e XX até os dias atuais. Ou seja, a
a lei penal em duas partes, ou seja: uma mais ampla, que trata da consolidação da criminologia como disciplina empírica, científica,
teoria geral, propriamente; e outra, especial, que trata dos crimes se deu pari passu com o positivismo criminológico, particularmente
em espécie. com a Scuola Positiva italiana, que surge em meados do século XIX7.
O homicídio foi inserto pelo legislador no título I do Código Pe-
nal - “Dos Crimes Contra a Pessoa”; no capítulo I, que trata especifi-
camente “Dos Crimes Contra a Vida”, sendo o primeiro delito deste
capítulo I, presumindo-se que o legislador entendeu ser a vida o
mais relevante dos bens jurídicos a serem protegidos. Nada mais 6 FONTES, Eduardo. HOFFMANN, Henrique. CRIMINOLOGIA. 4.ª
justo, uma vez que todos os outros bens, materiais ou imateriais, só edição. Editora JusPODIVM, 2021.
fazem sentido enquanto houver a proteção à vida.
7 Bandeira, Thais. Criminologia / Thais Bandeira, Daniela Portugal.

- Salvador: UFBA, Faculdade de Direito, Superintendência de Educação a Distân-


cia, 2017.

368
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
A bem da verdade, o surgimento da Escola positiva foi uma con- A negação do livre arbítrio constitui o ponto de partida do pen-
trarreação à Escola Clássica, influenciada pelos avanços científicos samento de FERRI. Para ele, estava demonstrado que o livre arbítrio
surgidos durante o século XIX, como as teorias de Darwin e Lamarck era uma mera ilusão subjetiva, que não encontrava fundamento al-
e pelo pai da sociologia, Auguste Comte. gum. Em sua compreensão, o homem responde por seus atos por-
Ao contrário dos clássicos, que usavam o método dedutivo, seus que vive em sociedade, sendo desnecessário o livre arbítrio como
estudos baseavam-se no método empírico, ou seja, na análise, ob- fundamento da responsabilidade. Concebe-a, portanto, como uma
servação e indução dos fatos. A Escola Positiva considerava o crime responsabilidade legal ou social, não moral.
como fato humano e social. Para ele, a finalidade da pena não é o castigo do delinquente
Logo, a pena deveria ter por finalidade a defesa social e não a (pena-castigo) senão a defesa da sociedade (pena-defesa), em con-
tutela jurídica. Os positivistas rechaçaram totalmente a noção clás- formidade com o grau de periculosidade do autor e da reprovabili-
sica de um homem racional capaz de exercer o livre arbítrio. dade de sua motivação.
Os pensadores positivistas sustentavam que o delinquente se FERRI crê que o delito é produto de uma anomalia biológica,
revelava automaticamente nas suas ações e que estava impulsio- física e social. A tipologia criminal de FERRI, conta com seis mem-
nado por forças que ele mesmo não tinha consciência. Para eles, bros: delinquente nato, delinquente louco ou alienado, delinquente
o criminoso era escravo de sua carga hereditária (determinismo). passional, delinquente ocasional, delinquente habitual e pseudode-
Como expoentes de maior relevância desta escola temos: Cesar linquente ou delinquente involuntário.
Lombroso, Enrico Ferri e Raffaele Garófalo. Por sua vez, GARÓFALO foi responsável por sistematizar e divul-
A característica diferencial do positivismo criminológico reside gar o pensamento positivista, suavizando extremismos doutrinários
no método, o método positivo empírico, que trata de submeter da época. Cabe destacar que ele discrepa do pensamento ortodoxo
constantemente a imaginação à observação e os fenômenos sociais de seus companheiros de escola, tanto a nível filosófico, no político,
à lei férrea da natureza. A cosmogonia da ordem e progresso, a fé no político-criminal e no criminológico. Dedicou sua capacidade de
cega na onipotência do método científico e na inevitabilidade do síntese e comunicação a converter os postulados teóricos do po-
progresso. sitivismo em módulos normativos que inspirassem as leis e trans-
A teoria do contrato social e da função preventiva da pena não formassem a realidade por meio da prática diária dos magistrados.
era suficiente para fundamentar positivamente a nova ordem social GARÓFALO contrapõe e critica as tipologias criminais de seus
burguesa e industrial, assim, do ponto de vista histórico-político, o companheiros. Ele entende contraditória a ideia do atavismo, de
positivismo contribuiu à consolidação e defesa da nova ordem so- fundo epiléptico, como explicação teórica do delinquente nato do
cial que adveio. antropologismo lombrosiano. Ao contrário, considera delinquente
LOMBROSO representa a orientação antropobiológica da Escola somente aquele que demonstra a falta de alguns destes sentimen-
Positiva. Sua teoria da criminalidade acentua a relevância dos fato- tos: sentimento de piedade; ou do sentimento de probidade.
res biológicos individuais e o caráter atávico-regressivo do delito. Na teoria criminológica de GARÓFALO, o conceito de anomalia
Para o autor, determinados estigmas degenerativos, de transmissão psíquica ou moral desempenha um papel decisivo, significa dizer,
hereditária, permitem identificar o delinquente (nato) como um a carência no delinquente de um adequado desenvolvimento da
genus homo delinquens. A obra de LOMBROSO tem uma temáti- sensibilidade moral, de vivências altruístas. Os fatores sociais e am-
ca muito ampla, que abarca as seguintes áreas: médica, histórica, bientais teriam um valor secundário na explicação e na prevenção
antropológica, psicológica, psiquiátrica, demográfica, política, cri- do crime.
minológica, etc. A sua tipologia criminal rompe com o modelo positivo conven-
A ideia do atavismo aparece intimamente relacionada à figura cional. Distingue quatro classes de delinquentes: assassinos, delin-
do delinquente nato. Segundo LOMBROSO, criminosos e não crimi- quentes violentos, ladrões e criminosos lascivos. Os restantes se-
nosos se distinguem entre si por conta de uma rica gama de ano- riam delinquentes “menores”.
malias e estigmas de origem atávica ou degenerativa. O delinquen- Como todo positivista, GARÓFALO rechaçou a ideia de respon-
te seria um ser atávico, produto da regressão a estados humanos sabilidade moral, professando o determinismo, ainda que menos
primitivos, um sub-homem, ou espécie distinta e inferior ao homo radical que FERRI.
sapiens, como consequência de um “salto para trás” hereditário. Em síntese, é com a Escola Positiva que surge a ideia do atavis-
Esta concepção de delito como fenômeno natural e do delin- mo, que aparece intimamente relacionada à figura do delinquente
quente como indivíduo atávico ou degenerado demonstrava qual nato, seria o delinquente um ser atávico, produto da regressão a
era o clima intelectual europeu em que estava inserido LOMBROSO estados humanos primitivos, um sub-homem, ou espécie distinta e
e a Escola Positiva. inferior ao homo sapiens.
LOMBROSO não esgota a sua abordagem na tipologia do de-
linquente nato, mas também do “louco moral”, o “delinquente Antropometria e Antropologia
epiléptico”, o “delinquente louco”, o “delinquente passional”, o As Teorias Bioantropológicas marcam a chamada CRIMINOLO-
“delinquente ocasional”, a “mulher delinquente” e o “delinquente GIA ETIOLÓGICA OU TRADICIONAL (Etios: relativo à essência). Estas
político”. Assim, a teoria lombrosiana sobre a criminalidade trata de teorias trazem a ideia de criminoso e criminalidade como realida-
integrar atavismo, morbidade e epilepsia. des ontológicas (associadas ao ser) preexistentes ao sistema de jus-
FERRI simboliza a diretriz sociológica do positivismo criminoló- tiça criminal.
gico. Não obstante, ele também leva em consideração os fatores Assim, o comportamento social é entendido como convencional
antropológicos e físicos ao fundamentar a gênese da criminalida- (regra) e o comportamento desviante é entendido como não con-
de. Sua abordagem principal se dá mais no âmbito político-criminal vencional (exceção).
do que na criminologia. É um dos grandes críticos do Direito Penal As Teorias Bioantropológicas têm como característica o fato de
clássico. Sua obra deu sustentação ao surgimento da sociologia cri- justificarem o crime e de fundamentarem a lógica da origem do cri-
minal. me em um dado ontológico pré-constituído.

369
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
Logo, ser crime ou ser criminoso são atributos que estão ligados Para Lombroso, ainda neste caso de nunca ter praticado deli-
à essência de determinados comportamentos e de determinadas tos, o indivíduo ainda era considerado criminoso, porque, reunindo
pessoas. Assim, ser criminoso é uma exceção e, por isso, a figura do características do criminoso nato, delinquir seria uma questão de
desviante é uma exceção. tempo. Logo, já seria possível fundamentar uma medida de segu-
Esse pensamento tem como principal expoente Cesare Lombro- rança a título de prevenção, para que a pessoa não viesse a delin-
so. que integra a Escola Positiva de Direito Penal. CESARE LOMBRO- quir.
SO era psiquiatra, cirurgião, higienista, criminologista, antropólogo Já o criminoso de ocasião seria um cidadão “normal” (pseudo-
e cientista italiano. O grande seguidor das ideias de Lombroso no normal) com predisposição ao crime, mas não haveria determinis-
Brasil foi Nina Rodrigues, que inclusive reprisou experimentos de mo ao crime. O criminoso de ocasião poderia ser corrigido, diferen-
Lombroso, tentando verificar se o conceito de criminoso também temente do criminoso nato.
poderia se projetar no Brasil. A principal obra de referência do pensamento lombrosiano é
Estas correntes de pensamento trabalham o estudo do crime o livro “O Homem Delinquente”, de 1876, bastante criticado pos-
dentro de uma lógica universalista (traço marcante destas linhas de teriormente como uma tipologia criminosa de viés extremamente
pensamento), pois determinados sujeitos são criminosos onde quer racista.
que se encontrem. Talvez não existisse à época a noção de que a quebra da neu-
Lombroso inaugura a antropologia criminal e a Escola Positiva tralidade da pesquisa experimental se desse precisamente com a
de Direito Penal. Se valia da utilização de método empírico e iria própria escolha do campo de pesquisa. Exemplo: os dados fenotí-
examinar determinados fatores antropomórficos, tais como: com- picos de uma penitenciária brasileira, hoje, geralmente apresentam
posição física (como fisionomia, sensibilidade, agilidade, sexua- criminosos negros, pobres, com lábios mais grossos e nariz mais
lidade, peso e idade), anomalias cranianas, composição biológica largo, normalmente de pai desconhecido, tem idade de cerca de 30
(como hereditariedade, reação etílica) e psicológica (como senso (trinta) anos e com capacidade econômica ativa.
moral, inteligência, vaidade, preguiça e astúcia). Isso demonstra outras questões que não são passíveis de apre-
Para ele, o criminoso nato era um indivíduo marcado pela pre- ensão em uma pesquisa causal explicativa dentro da lógica lom-
sença de tatuagens, que significava uma insensibilidade a dor. Além brosiana. Existia, então, racismo, pois Lombroso estudava carac-
disso, possuía mãos maiores, braços mais compridos, lábios carnu- terísticas de um criminoso nato a partir de dados que já estavam
dos. Ou seja, o indivíduo já possuiria dados fenotípicos que traduzi- pré-concebidos, que era a prisão de determinados indivíduos den-
riam o ser criminoso. tro de estabelecimentos prisionais.
Lombroso estudava tipologias de criminosos reunindo as suas Assim, é importante destacar que, no campo da Antropometria,
características. Assim, existiriam diferentes espécies de criminosos, os principais avanços se deram com A. BERTILLÓN, que idealizou
destacando-se: um complexo sistema de medidas corporais, que unido à fotografia
do delinquente, pretendia servir como instrumento de identificação
a) Criminoso Nato destes.
O indivíduo sofria influência biológica, possuía estigmas, ins- Este método acabou sendo adotado por polícias e presídios de
tinto criminoso. Era um ser selvagem da sociedade, o degenerado todo o mundo, embora tenha sofrido inúmeras críticas. É impor-
(cabeça pequena, deformada, fronte fugidia, sobrancelhas salien- tante que se afirme que as investigações levadas a cabo no âmbito
tes, maçãs afastadas, orelhas malformadas, braços cumpridos, face específico da Antropologia são, de um modo ou de outro, herança
enorme, tatuado, impulsivo, mentiroso e falador de gírias etc.). da obra lombrosiana.
Por sua vez, CH. B. GORING, que dirigiu um importante estudo
b) Criminoso Louco biométrico-estatístico, ficou conhecido como o antropólogo que re-
Perversos, loucos morais, alienados mentais que devem per- futou a metodologia e teses lombrosianas. Segundo GORING, LOM-
manecer no hospício. Seriam, os criminosos loucos, indivíduos com BROSO se utilizou de um método “anatômico-patológico”, baseado
capacidade de compreensão prejudicada. em observação direta, sem instrumentos de medição objetivos, que
inferia a suposta normalidade ou anormalidade do indivíduo e os
c) Criminoso de Ocasião estigmas detectados.
Predisposto hereditariamente, são pseudocriminosos. Podem Por isso julgou indispensável o método estatístico, o único que
ser traduzidos pela expressão: “a ocasião faz o ladrão”, pois assu- poderia oferecer medições precisas, confiáveis, reproduzíveis e in-
mem hábitos criminosos influenciados pelas circunstâncias que vi- dependentes. A teoria da criminalidade de GORING parte da rele-
vem. vância dos fatores físicos-constituintes.
O ato delitivo, em seu juízo, não é produto de uma opção livre
d) Criminoso por Paixão do indivíduo, mas tampouco de uma personalidade doentia e anor-
Sanguíneos, nervosos, irrefletidos, usam da violência para solu- mal, ou mero contágio do ambiente e entorno.
cionar questões passionais. São sujeitos exaltados. E. A. HOOTON, que revisou a obra de GORING, criticou severa-
mente sua metodologia. A tese fundamental de HOOTON se resume
O criminoso nato e o criminoso de ocasião são espécies que na ideia de ser o criminoso um ser organicamente inferior, e o delito
devem ser guardadas. Observe que nem todos os criminosos, para produto ou resultante do impacto do meio em um organismo hu-
Lombroso, padeciam desse atavismo determinista. Tanto assim que mano de casta inferior; que modo que só se pode suprimi-lo extir-
ele diferenciava o criminoso nato do criminoso de ocasião. pando o substrato físico, psíquico ou moral de tal inferioridade, ou
Quanto ao criminoso nato, uma das críticas sofridas pelo autor mediante sua total segregação em um meio socialmente asséptico.
estava na hipótese em que o sujeito nunca tivesse praticado ne- Haveria, assim, significativas diferenças entre delinquentes e não-
nhum delito, mas reunisse características antropomórficas. delinquentes e, bem assim, entre os distintos grupos criminosos.

370
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
Endocrinologia Enfim, propõe-se que a diretriz geral da política criminal tenha
A Endocrinologia também esteve inserida dentro das teorias como foco a criminalidade violenta, o tráfico ilícito de entorpecen-
acerca da criminalidade. Diversas foram as investigações que tra- tes, o crime organizado e a corrupção, mediante a adoção de dire-
taram de conduzir o comportamento humano em geral, especifica- trizes, estratégias e ações com a finalidade de reduzir os índices de
mente o criminal, a processos hormonais ou endócrino-patológicos. violência, ampliar a sensação de segurança, diminuir a impunidade
Nesse passo, M.G. SCHLAPP e não delinquentes. H. SMITH com- e difundir a cultura da paz.
preendiam o crime como consequência de uma perturbação emo-
cional derivada de um desajuste emocional. Repressão/investigação: diretrizes e medidas logo após o cri-
A obra de L. BERMAN (EUA) também aborda valorosos dados me e investigação eficiente nos inquéritos
sobre a inter-relação existente entre atividade glandular, personali- Enquanto a prevenção não alcança os níveis desejados, não se
dade e problemas de comportamento. pode prescindir da repressão, que ainda possui papel de relevo nas
As explicações endocrinológicas rechaçam o caráter hereditá- políticas de segurança pública e de justiça criminal no País.
rio dos transtornos glandulares, salvo alguns casos de criminosos Conclui-se que grande parte do insucesso da repressão aos cri-
sexuais; acreditam na viabilidade de cura de quem padece de tais mes no Brasil decorre da baixa interação entre os órgãos que inte-
disfunções, mediante adequado tratamento hormonal; outro ponto gram o tripé do sistema repressivo: a Polícia Judiciária, o Ministério
é que a influência eventualmente criminógena das mesmas não é Público e o Poder Judiciário.
direta, mas indireta. Assim, sugere-se, entre outras medidas, maximizar a interação e
No estudo da delinquência agressiva e sexual, proliferaram-se integração dos órgãos e atores do Sistema de Segurança e Justiça, a
investigações sobre a eventual relação entre testosterona e a con- capacitação dos atores responsáveis pela repressão, a qualificação e
duta criminosa. Bem como foram produzidos diversos estudos so- aparelhamento dos órgãos do Sistema de Segurança e Justiça, a me-
bre a criminalidade feminina, na qual se havia demonstrado que lhoria dos sistemas de informações criminais e o aperfeiçoamento
mulheres cometem mais crimes com motivo nos desajustes hormo- na gestão de bloqueio e de confisco de bens e valores apreendidos.
nais próprios do período menstrual. Pari passu, medidas eficientes para venda ou destinação, visan-
Em síntese, a Endocrinologia colocou em evidencia a influência do dar maior eficiência e racionalidade na gestão desses bens apre-
da atividade hormonal no temperamento e caráter do indivíduo. endidos ou confiscados, são necessárias. O próprio Judiciário pode
Os estudos levados à cabo pela Genética também foram refe- fazer a destinação dos bens, já que é capilarizado por todo o Brasil,
rências para as explicações teóricas de orientação biológica do de- basta criar os incentivos corretos e facilitar a forma de destinação
lito. Nesse contexto, diversas são as tentativas de explicar condutas dos bens na fase judicial.
antissociais, desviadas ou delitivas em função de patologias cere- Sugere-se, ainda, a criação de um órgão nacional na Secretaria
brais, sobretudo após a criação do eletroencefalógrafo - EEG (apare- de Operações Integradas – SEOPI/MJSP, com congêneres nos esta-
lho que permite registrar a atividade elétrica do cérebro). dos e no Distrito Federal, destinado à coordenação do cumprimen-
A Neurofisiologia moderna está inserida nesta realidade. No to dos mandados de prisão em aberto.
Reino Unido, os estudos eletroencefalográficos pretenderam veri- Consigna-se, como premissa para se alcançar um modelo penal
ficar as hipóteses concretas: que muitos dos denominados “crimes e penitenciário justo, o funcionamento célere e eficiente do sistema
sem motivo aparente” respondem a anomalias cerebrais graves que de investigação.
o EEG detecta. Com base em números obtidos em diversas pesquisas realiza-
das no País, demonstra-se não só a recente escalada da criminalida-
de, como a baixa taxa de resolutividade, que em 2017 ficou abaixo
AS ATIVIDADES REPRESSIVAS, PREVENTIVAS E EDUCA- de 5% em algumas unidades da federação.
CIONAIS PARA DIMINUIR OS ÍNDICES DE CRIMINALI- As medidas propostas, com aprovação da Comissão, acompa-
DADE nharam as diretrizes constantes dos Projetos de Lei 10.372, de 2018
(BRASIL, 2018b), e 882, de 2019 (BRASIL, 2019a), entre as quais se
Prevenção: diretrizes e medidas anteriores ao crime destacam a adoção do Banco Nacional de Perfil Genético e do Ban-
Aponta-se para a multifuncionalidade dos direitos fundamen- co Nacional Multibiométrico, a aprovação pelo Congresso Nacional
tais inscritos na Constituição da República, que não se reduzem à das figuras do agente infiltrado e do informante do bem (whistle-
perspectiva subjetiva (garantias que limitam o Estado na persecu- blower), novamente, importante dado empírico sobre a relação da
ção criminal), mas alcançam também a dimensão objetiva (dever do ação do informante com o malogro da atividade delituosa, adicio-
Estado de proteção dos cidadãos)8. nal ao debate, será exposto neste Plano, e o aprimoramento das
Nesse contexto, ressalta-se a prioridade no direcionamento de polícias técnico-científicas, com adoção da denominada cadeia de
ações para o cumprimento do referido dever de proteção com mais custódia como medida a aumentar a credibilidade e segurança da
eficiência, pois o que mais tem angustiado o cidadão brasileiro é a prova pericial produzida.
sensação de insegurança. A Polícia Federal já tem o protocolo sobre a cadeia de custódia,
Como justificativa para as várias medidas que são propostas no padronizar para as demais polícias se faz premente.
âmbito da prevenção, encontram-se o compromisso com a dimi-
nuição do sentimento e da percepção de impunidade perante a so- Diretrizes, estratégias e ações anteriores ao crime: prevenção
ciedade, além da atenção para o sofisticado nível alcançado pelos Em consonância com a Constituição (BRASIL, 1988, art. 5º,
agentes criminosos quanto à ocultação do produto financeiro de caput), “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
seus crimes. natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residen-
tes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à seguran-
ça e à propriedade [...]”. No mesmo passo, o art. 144 preceitua que
a segurança pública é “[...] dever do Estado, direito e responsabili-
dade de todos [...]”, devendo ser “[...] exercida para a preservação
8 Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária – PNPCP 2020
da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio
– 2023. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Conselho Nacional de Política [...]” (BRASIL, 1988, art. 144, caput).
Criminal e Penitenciária. 2019.

371
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
Percebe-se, assim, a multifuncionalidade dos direitos funda- Nesse particular, os municípios têm muito a contribuir, especial-
mentais, que não podem ser compreendidos a partir de uma visão mente no que diz respeito a diversas medidas de ordem preventiva,
reducionista, ou seja, apenas sob a sua perspectiva subjetiva, da com utilização da Guarda Municipal, por exemplo, para monitorar
qual dimanam garantias que limitam o Estado na persecução crimi- grupos de risco, como é o caso das mulheres sujeitas à violência
nal tendente a punir quem tenha delinquido. Isso porque os direi- de gênero. Quanto à participação mais efetiva dos municípios na
tos fundamentais possuem, igualmente, uma dimensão objetiva, da redução da violência, uma boa iniciativa a ser disseminada é o pro-
qual decorre o que a doutrina denomina dever de proteção. jeto Prevenção da Violência Doméstica com a Estratégia de Saúde
A esse respeito, o Supremo Tribunal Federal (STF), com apoio da Família (PVDESF, 2018), colocado em prática desde 2014 pelo
na jurisprudência da Corte Constitucional alemã, deixou consigna- Ministério Público do Estado de São Paulo e pela Prefeitura de São
do que os direitos fundamentais, na dimensão objetiva, podem ser Paulo – ganhador do Prêmio Innovare em 2017, expandido para os
assim classificados: municípios de Guarulhos, Ubatuba, Bragança Paulista e Leme e em
(a) dever de proibição (Verbotspflicht), consistente no dever de fase de implantação em outros mais.
proibir determinadas condutas; No ponto, a Lei nº 13.675, de 2018, a par de organizar o funcio-
(b) dever de segurança (Sicherheitspflicht), que impõe ao Estado namento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, em boa
o dever de proteger o indivíduo contra ataques de terceiros me- hora, criou a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social
diante a adoção de medidas diversas; (PNSPDS) e instituiu o Sistema Único de Segurança Pública (Susp),
(c) dever de evitar riscos (Risikopflicht), que autoriza o Estado a preceituando, dentre as diretrizes do plano, a “atuação integrada
atuar com o objetivo de evitar riscos para o cidadão em geral me- entre a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios em
diante a adoção de medidas de proteção ou de prevenção especial ações de segurança pública e políticas transversais para a preserva-
(STF, 2007). ção da vida, do meio ambiente e da dignidade da pessoa humana”
(BRASIL, 2018c, art. 5º, IV).
Na mesma linha de entendimento, Ramos (2001) salienta que Nesse desiderato, em 17 de setembro de 2018, pela primeira
a Convenção Interamericana de Direitos Humanos, no art. 1.1, ao vez foi aprovado um Plano Nacional de Segurança Pública, o qual
preceituar que cabe ao Estado zelar pelo respeito dos direitos hu-
detalhou as competências, princípios, objetivos, estratégias, meios
manos, faz exsurgir uma obrigação de não fazer e, de outra banda,
e instrumentos que norteiam a atuação do Estado na área de segu-
uma obrigação de fazer, “[...] que consiste na organização pelo Es-
rança pública (MINISTÉRIO DA SEGURANÇA PÚBLICA, 2018).
tado, de estruturas capazes de prevenir, investigar e mesmo punir
Este Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária (PNPCP),
toda violação, pública ou privada, dos direitos fundamentais da pes-
soa humana” ao tempo em que não se sobrepõe ou resta superado pela Política
Feldens (2012) explicita que, conquanto o garantismo seja o Nacional de Segurança Pública, forçosamente, deve ser escrito em
único modelo de sistema criminal compatível com o Estado demo- harmonia com esta.
crático de direito, ele não se basta na sua perspectiva subjetiva, O foco das políticas de segurança pública e criminal, parece cla-
na medida em que dos direitos fundamentais dimanam princípios ro, deve ser no sentido de direcionar as ações para o cumprimento
objetivos inerentes à sociedade, os quais “[...] orientam o funcio- com algum grau de eficiência do dever de proteção, pautando-se
namento de todo o ordenamento jurídico (público e privado), recla- naquilo que mais aflige todo e qualquer cidadão brasileiro, que tem
mando prestações positivas (legais e judiciais) do Estado destinadas sido privado do direito de sentir-se em segurança, sujeitando-se a
à sua proteção frente a ataques de terceiros.” levar uma vida sem paz, com receio de sair à rua para o trabalho ou
Assim, conquanto tenha de respeitar os direitos da pessoa in- o lazer e não voltar ao seu lar ou a rever os seus familiares e amigos.
vestigada ou acusada, o Estado possui o dever de proteção, o que Essa sensação de insegurança da sociedade emerge da crimina-
há de ser perquirido por meio de planos políticos institucionais com lidade violenta, representada fundamentalmente pelos crimes de
diretrizes, estratégias e ações adequadas para esse fim, o que com- homicídio e roubo. De acordo com o Atlas da Violência publicado
preende o desenvolvimento de políticas eficientes voltadas para a em 2019, no ano de 2017 houve nada mais nada menos do que
prevenção de crimes, no sentido de reduzir, ao máximo, a criminali- 65.602 homicídios no Brasil, o que representa a taxa de 31,6 mortes
dade, notadamente a chamada criminalidade violenta. para cada cem mil habitantes, a maior taxa histórica de letalidade
A abordagem dos direitos fundamentais sob a perspectiva obje- violenta no País (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA –
tiva revela que não se trata apenas de um dever de proteção, senão IPEA; FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2019).
de um dever de proteção eficiente, o que impõe a existência de Não raro, esses crimes são subprodutos dos delitos de tráfico
instrumentos de ordem legislativa, executiva e judicial hábeis e efi- de entorpecentes, negócio que, segundo dados da United Nations
cazes no amparo ao desempenho dessa função estatal. Office on Drugs and Crime (UNODC, 2018), promove uma arrecada-
Cabe agregar que esse dever de proteção não é confiado unica- ção ao redor do mundo em torno de U$ 600 a U$ 800 bilhões de
mente ao Estado, mas, sim, a todos, sejam aos órgãos estatais, às dólares ao ano.
pessoas jurídicas e até mesmo aos indivíduos, porquanto essa obri- O alicerce financeiro propiciado com o tráfico de entorpecentes
gação está implícita no caput do art. 5º da Constituição e expressa,
fomenta o surgimento de organizações sofisticadas, com poderio
de forma cogente, no caput do art. 144, na parte em que preceitua
econômico-financeiro a ponto de desafiar o próprio Estado, esta-
ser a segurança pública “[...] dever do Estado, direito e responsabili-
belecendo um poder paralelo, não apenas com a prática de ações
dade de todos [...]” (BRASIL, 1988, artigos 5º e 144, caput).
subvertendo a ordem pública, mas, até mesmo, por meio da reali-
Portanto, não se trata de dever exclusivo do Estado estrito
senso, na medida em que a expressão utilizada no caput do art. zação de atividades assistencialistas às famílias dos integrantes das
144, interpretada em consonância com o caput do art. 5º, ambos facções, especialmente dos que estão presos.
da Constituição, impõe o entendimento de que essa tarefa deve O crime organizado, que tem como base o tráfico ilícito de dro-
ser desempenhada, de forma harmônica, pela União, como órgão gas e, de permeio, o contrabando de armas e a corrupção, movi-
central e formulador da política nacional, pelos Estados-membros e menta no planeta cifras que representam três vezes o Produto In-
municípios, com o alinhamento dos poderes Legislativo, Executivo terno Bruto (PIB) do Brasil, a ponto de transformar-se em um dos
e Judiciário. maiores empreendimentos financeiros do mundo. Os sistemas

372
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
bancários e de capitais, em escala global, se encarregam de fazer Essa situação gera o maior problema do sistema penitenciário
circular e promover a lavagem desse dinheiro contaminado com nacional, que é a superpopulação carcerária. Certamente que os
substâncias entorpecentes, que traz graves consequências sociais estados precisam investir na construção de mais unidades prisio-
e alimenta a violência. nais, na medida em que se observa que em todas elas há déficit
Esse fenômeno está bem presente no Brasil. As facções crimino- de vagas, Roraima é o estado com o menor déficit de vagas, 1.141
sas (que comandam a criminalidade e possuem como suporte finan- vagas (INFOPEN, 2017).
ceiro os recursos oriundos do tráfico de drogas e atividades afins) Todavia, é patente a necessidade de se investir em uma políti-
foram criadas dentro dos presídios e fazem destes o seu home offi- ca de diminuição do encarceramento, por meio da organização de
ce, de onde fortalecem os seus laços de poder. Recentemente, a so- estrutura para o cumprimento de medidas e penas alternativas, de
ciedade brasileira ficou estarrecida e amedrontada com a revelação incentivos e cursos nas escolas da magistratura e do Ministério Pú-
pelos meios de comunicação de uma operação de resgate liderada blico específicos para a maior aplicação dos institutos da transação,
por conhecida organização criminosa, ao custo da impressionante da suspensão condicional do processo e do acordo de não persecu-
cifra de mais de R$ 100 milhões de reais. Essa mesma organização ção criminal.
criminosa, segundo dados informais, possuiria arrecadação anual Sem embargo do apoio ao Projeto de Lei Anticrime quanto ao
que a coloca entre as 10 (dez) maiores empresas no País, em termos disciplinamento do acordo de não persecução criminal e à introdu-
de faturamento. ção no sistema jurídico do plea bargain, permitindo a negociação
Estas considerações revelam que a preocupação em eliminar os da pena com a assunção de culpa em qualquer tipo de delito.
ganhos financeiros com a comercialização de drogas ilícitas é tão ou Essa evidência se apresenta quando se observa, a partir de da-
mais importante quanto cuidar dos tipos penais pertinentes a essa dos fornecidos pelo Banco Nacional de Monitoramento de Prisão
modalidade de criminalidade. Até porque a finalidade do tráfico de (BNMP2), que o número de mandados de prisão a cumprir é su-
entorpecentes é a obtenção de lucro. perior ao número do déficit de vagas no sistema penitenciário –
Ir para a prisão, mas conservar os ganhos financeiros da ativida- 360.336 mandados de prisão, sendo que pendentes de cumprimen-
de ilícita, em certo sentido, compensa e serve para que a pessoa ou to são 19.655 foragidos, enquanto 340.681 estão sendo procurados
a organização que ela integra permaneça na criminalidade e tenha (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA – CNJ, 2018a).
poder de liderança. Apesar de esses dados demonstrarem a necessidade de se fe-
Tem-se, portanto, que a diretriz geral da política criminal deve char a porta da frente da prisão, permitindo a sua abertura para
ter como foco: i) a criminalidade violenta; ii) o tráfico ilícito de en- o ingresso de pessoas apenas em situações de real necessidade,
torpecentes; iii) o crime organizado; iv) a corrupção, não necessa- conforme dados extraídos do Banco Nacional de Monitoramento
riamente nessa ordem, mediante a adoção de estratégias e ações de Prisão (BNMP2), as prisões estariam, em certa medida, tendo
com suporte em dados e evidências, tendo como escopo: como foco os crimes de roubo, tráfico de drogas e homicídio, o que
(a) Reduzir os índices de violência; seria o adequado.
(b) Ampliar a sensação de segurança; De fato, em consonância com os dados que se vê, 63,59% dos
(c) Diminuir a impunidade; presos no sistema prisional dizem respeito aos crimes que mais im-
(d) Difundir a cultura da paz. pactam a sociedade brasileira (roubo, tráfico de drogas, homicídio)
e que fazem o cidadão experimentar angustiante sentimento de
Independentemente da discussão se no Brasil se prende mui- medo e de sensação de impunidade.
to ou pouco, uma verdade é inconteste: a população carcerária no Porém, um exame mais atento dos números denota uma situ-
Brasil, nos últimos anos, cresceu exponencialmente. Um detalhe a ação diferente, levando à conclusão de que é preciso prender me-
ser considerado: a população carcerária brasileira é formada priori- lhor. Com efeito, em consonância com dados coletados em pesquisa
tariamente por jovens. de campo na elaboração de tese de doutorado de Semer (2019),
Se for utilizada para a definição de jovem a pessoa situada na as pessoas presas pelo crime de tráfico de entorpecentes não são
faixa etária entre 18 e 24 anos, tem-se 55% dos encarcerados, ao os grandes traficantes, mas, sim, quando não meras mulas, simples
passo que se for adotado como critério quem conta entre 18 e 34 operários do tráfico, representados por jovens presos em flagrante,
anos, o percentual é de 74%. primários, integrantes da classe baixa, desempregados, negros ou
Se o lapso temporal for mais largo, para considerar como jovem pardos e com a defesa sendo realizada pela defensoria pública. Essa
quem está situado na faixa entre 18 e 45 anos, o percentual sobe tese compreendeu a análise de 800 sentenças de 8 estados (São
assustadoramente para 93%. Esse dado é preocupante, pois confor- Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás, Pará, Bahia
me Gonçalves Júnior e Shikida (2013), quanto mais jovem alguém e Maranhão).
pratica um crime, maior é a possibilidade de ele voltar a reincidir. Além de os que comandam o tráfico invariavelmente não serem
Isso quer dizer que boa parte dos jovens está sendo colocada no presos, na medida em que as investigações não chegam neles, pois
cárcere, a revelar a necessidade de se implementar políticas ade- 88,75% das prisões decorrem de situação de flagrante delito, em
quadas para a ressocialização, a fim de evitar que essas pessoas, que a pessoa portava pequena quantidade de droga (SEMER, 2019),
quando saírem da prisão, voltem a praticar crimes e mesmo retor- aquele que ontem estava na rua, mas agora está preso, dá lugar no
nem para o sistema prisional. A política de ressocialização, por con- mercado do tráfico a outro jovem, que, mais cedo ou mais tarde,
seguinte, também é de prevenção. vai ser preso ou ser vítima da própria criminalidade da qual ele tem
É preciso abrir a porta de saída do sistema prisional, porém, com participação como coadjuvante.
responsabilidade e estratégias no sentido de prevenir a reincidência Quanto à questão das drogas, sem ingressar no debate sobre
ou a prática de novos crimes por quem anteriormente estava preso. a criminalização ou não do uso para fins recreativos, é necessário
Sem embargo dessa constatação, o fato é que os governos es- uma política mais voltada para a redução de danos, o que abrange a
taduais, historicamente, não tiveram capacidade de construir uni- adoção de estratégia pertinente para diminuir a violência.
dades prisionais para acompanhar o aumento dessa demanda, de A Lei nº 11.343, de 2006 (BRASIL, 2006), sem embargo das al-
modo que em 2016 o déficit de vagas no sistema prisional alcançou terações promovidas pela recente Lei nº 13.840, de 2019 (BRASIL,
algo em torno de mais de 358.663 vagas e uma taxa de ocupação 2019d), não se ocupou de estabelecer critérios objetivos para a dis-
média de 197,4% em todo o País (INFOPEN, 2017). tinção entre o mero uso e o tráfico de entorpecentes, a fim de arre-

373
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
fecer o subjetivismo dos operadores jurídicos quando da tipificação estão sendo praticados e investigados agora. O resultado disso é
das condutas, deixando, assim, de seguir as diretrizes implantadas que o método revolucionário de investigação de crimes de homicí-
por alguns países, como é o caso de Portugal, que utiliza como refe- dio com base no exame de DNA não tem surtido o efeito esperado
rencial a quantidade de droga. no Brasil.
Essa medida é necessária para evitar o encarceramento como Para complicar ainda mais o quadro, recente pesquisa levada a
traficantes pessoas que, pela quantidade de substância entorpe- efeito pelo CNJ (2019a), compreendendo 2015 a 2018, demonstra
cente encontrada em seu poder, não é razoável que sejam consi- que os julgamentos pelo tribunal do júri precisam ser aprimorados.
deradas como tal ou, então, ainda que caracterizada essa condição, Como se nota pelos dados a seguir, em alguns estados, sem em-
não deve ser punida, necessariamente, com a pena de prisão. bargo da cifra negra, ou seja, daqueles crimes que não chegam a
Em outra nota, passou da hora de a Agência Nacional de Vigi- ser levados a julgamento simplesmente porque nos inquéritos po-
lância Sanitária (Anvisa), em cumprimento ao que prescreve o pa- liciais não se consegue, sequer, apontar alguém como o possível
rágrafo único do art. 2º da Lei nº 11.343, de 2006 (BRASIL, 2006), responsável pelo delito, a taxa de extinção de punibilidade é inacei-
regulamentar, para fins terapêuticos, o plantio, a cultura, a colheita tável, principalmente quando se observa a situação do Rio Grande
e a exploração de vegetais dos quais possam ser extraídas substân- do Norte, em que dos 76% dos casos de extinção de punibilidade,
cias definidas como drogas. 46% são devido à morte dos agentes apontados como autores dos
Infelizmente, a Anvisa, ao disciplinar a matéria, permitiu apenas delitos.
A constatação é de que aqueles que praticam crimes de homi-
a importação do produto industrializado, o que é caro e extrema-
cídio, pelo menos em sua maioria, possuem mais medo de morrer
mente burocrático, levando pessoas que precisam do tratamento
do que eventualmente de serem investigados, julgados ou presos.
ou que trabalham em entidades que se prestam a atender essas
A pergunta que não quer calar é a seguinte: o que é que justifica no
necessidades a praticar o crime de uso ou de tráfico de substâncias
Estado do Acre a taxa de extinção de punibilidade ser igual a 5%, e
entorpecentes. Como não fosse o bastante evitar que essas pessoas no de Pernambuco alcançar a incrível cifra de 97%?
que necessitam do tratamento à base de canabidiol ou outra subs- Certamente isso tem uma explicação e, ao mesmo tempo em
tância entorpecente, mesmo com devida prescrição médica, sejam que esses dados impactam e preocupam, eles mostram que se um
enquadradas no crime de uso ou de tráfico de drogas, a regulamen- estado consegue ter um índice tão baixo de casos em que ocorre a
tação dessa prática urge igualmente porque a sua ausência afasta extinção de punibilidade, outros também podem alcançar o mesmo
a população mais carente do pleno acesso à saúde – art. 196 da índice.
Constituição (BRASIL, 1988). Mas quem são as maiores vítimas dos crimes com resultado
Ademais, inibe o Brasil de desenvolver pesquisas nessa área, morte? Em compasso com o Atlas da Violência, a taxa de homicídio
privando a comunidade científica de participar ativamente nesse de jovens, adotado como critério a faixa etária entre 15 a 29 anos,
campo, sem falar que prejudica igualmente a economia do País, na por grupo de 100 mil, é bastante alta. Nos estados do Nordeste,
medida em que fecha as portas de interessante mercado de traba- que estão experimentando uma guerra entre facções criminosas na
lho, impede a abertura de outro nicho para a atuação da indústria disputa pelo monopólio do mercado das drogas, a taxa de homicí-
farmacêutica e, enfim, deixa de fomentar a economia e a conse- dio de jovens é altíssima (IPEA; FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA
quente geração de renda. PÚBLICA, 2019).
Outro dado extremamente preocupante, que segue sendo um Enquanto Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Alagoas,
incentivo à criminalidade, é a impunidade. Segundo estimativas do Acre, Sergipe, Bahia, Pará e Amapá ficam acima de 100 (taxa), o Rio
Instituto Sou da Paz (2017), que apresentou dados para os estados de Janeiro apresenta taxa de homicídios de jovens igual a 92,6, a
do Pará, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rondônia, São Paulo e Mato taxa de São Paulo é de apenas 18,5.
Grosso do Sul, a taxa de resolutividade de inquéritos policiais (que O que é que São Paulo tem ou faz de diferente para ter índi-
têm como objeto a apuração de crimes de homicídio) foi, em mé- ce bem inferior? Certamente a implementação de projetos como
dia, de 20,7%. a Prevenção da Violência Doméstica e Familiar contra as mulheres
Cumpre esclarecer que se entende por resolutividade o indicia- com a Estratégia de Saúde da Família (PVDESF, 2018), articulado ini-
mento de alguém como o possível autor do crime. Isso quer dizer cialmente pelo município de São Paulo.
que, a despeito da alta letalidade, pelos mais diversos fatores, não O mesmo cenário quase que se repete quando se analisa a vio-
lência praticada contra a mulher, fenômeno que cresceu de forma
há eficiência na apuração de crimes em que há morte.
preocupante nos últimos tempos. Não surpreende o fato de São
Países como os Estados Unidos têm conseguido alto índice de
Paulo apresentar a menor taxa de homicídio entre as mulheres ví-
eficiência na apuração de crimes de homicídio em razão da utiliza-
timas.
ção do exame de DNA (sigla de substâncias químicas envolvidas na
Os dados pesquisados evidenciam os jovens, homens e mulhe-
transmissão de caracteres hereditários). O que impressiona é que res como as maiores vítimas dos crimes de homicídio no Brasil, trá-
crimes insolúveis no passado, ocorridos nos anos 1970 até o início gico fenômeno que vem crescendo ano a ano.
dos anos 2000, estão sendo solucionados com o uso de exame de Conforme o Atlas da Violência, em 2017, no Brasil foram assas-
DNA (BBC NEWS, 2013). sinados 35.783 jovens. Essa situação é dramática, quando a morte
Este assunto será também tratado especificamente no item prematura de jovens é sopesada com o índice de encarceramento
Banco Nacional de Perfil Genético e Banco Nacional Multibiométri- que se concentra também nos jovens e com a constatação do enve-
co. Como isso é possível? Porque os americanos sabiam que um dia lhecimento da população brasileira (IPEA e FÓRUM BRASILEIRO DE
a tecnologia do exame de DNA seria desenvolvida e revolucionaria SEGURANÇA PÚBLICA, 2019).
a investigação criminal, pelo que adotaram a estratégia de coletar e Todavia, os mesmos dados analisados demonstram que políti-
armazenar as evidências para utilizar no futuro. cas certas, efetivamente, trazem resultados concretos no sentido de
Infelizmente, no nosso meio, mesmo estando essa nova tecno- reduzir a criminalidade, mediante ações preventivas.
logia à disposição, ainda não existe um banco de dados significativo São Paulo, no Brasil, pelo menos quando se observa os dados,
nem há a difusão de protocolo para preservar as evidências e per- merece ser citado como exemplo, assim como Nova York, nos Es-
mitir a realização com eficiência do exame quanto aos crimes que tados Unidos, e Bogotá, na Colômbia. Em uma década, Nova York,

374
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
com a adoção das políticas corretas, saiu da posição de uma das - Estimular e cooperar com pesquisas acadêmicas desenvolvidas
cidades mais violentas do mundo, para um dos lugares mais seguros no estudo do fenômeno da criminalidade, aproveitando os dados
(LISSARDY, 2018). para a atuação nessa área (este item será tratado na parte subse-
Além dos dados do Ipea e Fórum Brasileiro de Segurança Públi- quente).
ca (2019), conforme pesquisa do Instituto Igarapé realizada a partir - Incentivar e participar da criação de cursos nas escolas da ma-
de dados coletados junto às secretárias de segurança dos estados, a gistratura e do Ministério Público específicos para o estudo de polí-
taxa de homicídios no Brasil, que apresentou um pico de crescimen- ticas criminais e de segurança pública.
to em 2017, diminuiu em 2018. Fazendo uma análise tendo como - Especializar e qualificar equipes policiais em inteligência finan-
linha de tempo de 2015 ao ano de 2018, o estudo assinala que a ceira, com criação de grupos multidisciplinares, a fim de investigar
maioria dos estados tem apresentado uma tendência na diminuição crimes praticados por organizações criminosas e de lavagem de di-
dos homicídios, durante todo esse período de quatro anos. nheiro e corrupção.
Ademais, Roraima e Tocantins seriam os únicos estados em que - Identificar as organizações criminosas e estudar a regra de ne-
o número de homicídios no período de 2017 e 2018 teria aumen- gócio do mercado da criminalidade em que elas atuam.
tado. Em todos os outros estados da federação a taxa diminuiu. Em - Instaurar procedimento investigatório específico para investi-
números absolutos, a quantidade de homicídios no Brasil apresen- gar cada uma das organizações criminosas, priorizando a descons-
tou um declínio de 13%, baixando de 59 mil, em 2017, para 51 mil, trução financeira de suas estruturas como estratégia mais eficiente
2018. Em nota técnica elaborada sobre esses dados, o Instituto Iga- do que a aplicação da pena de prisão.
rapé explicitou ainda, que há uma tendência de queda mais acentu- - Alterar a Lei 11.343, de 2006 (BRASIL, 2006), a fim de estabe-
ada da taxa de homicídios para o ano de 2019, mais precisamente lecer critério objetivo para a distinção entre o usuário e o traficante
em torno de 22%. de drogas, afastando o subjetivismo dos operadores jurídicos quan-
No novo cenário observado há perspectiva alvissareira, haja vis- do da tipificação das condutas. Observação – Referida lei sofreu al-
ta que a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social vem teração pela LEI Nº 13.840, DE 5 DE JUNHO DE 2019.
promovendo a cooperação e o compartilhamento de inteligência - Cumprir o que determina o art. 2º, parágrafo único, da Lei nº
entre as polícias federal e estaduais, com a implementação do Sis- 11.343, de 2006 (BRASIL, 2006), a fim de que seja regulamentado,
tema Único de Segurança Pública – Susp. exclusivamente para fins terapêuticos, o plantio, a cultura, a colhei-
Isso sem falar que, em linhas gerais, com a implementação dos ta e a exploração de vegetais dos quais possam ser extraídas subs-
recursos do Fundo Penitenciário Nacional tem-se verificado sensí- tâncias com este escopo.
vel melhora no sistema penitenciário estadual, embora muito ainda - Estabelecer estratégia para coletar perfil genético da popu-
precise ser feito, a fim de que se tenha melhor governança quanto lação carcerária, para fins de formação de banco de dados para a
à presença e atuação das organizações criminosas no interior dos identificação da autoria em crimes praticados com violência (este
presídios e ao processo de ressocialização, especialmente median- item será tratado também na parte subsequente deste Plano).
te a oferta de mais trabalho, execução de programas educacionais - Definir protocolo rígido para a preservação do local do crime,
mais consistentes e melhor assistência social às famílias dos inter- capacitando os policiais quanto à preservação de vestígios para fins
nos. de exame de DNA.
Em arremate, são sugeridas as seguintes diretrizes, estratégias - Mapear as manchas criminais, a fim de realizar patrulhamen-
e ações na área de prevenção, o que compreende iniciativas para to estratégico, conforme os locais e horários de maior risco para a
diminuir a impunidade, a serem desenvolvidas em harmonia pela ocorrência de crimes com violência e desenvolver ações públicas
União, estados, Distrito Federal e municípios, nas três esferas de como incrementar a iluminação, colocar câmeras de vigilância etc.
poder, com a participação e cooperação das pessoas no exercício da - Estruturar a adoção da política da despenalização, com incen-
cidadania, de modo coletivo ou individual: tivo e qualificação por meio de cursos das escolas da magistratura
- Criar fórum permanente e plural para sentar-se à mesa pe- e do Ministério Público quanto à implementação da transação, da
riodicamente e discutir as estratégias, as ações desenvolvidas e os suspensão condicional do processo e do acordo de não persecução
resultados obtidos referentes às políticas públicas adotadas para a criminal, além da defesa da inclusão no sistema nacional do plea
redução da violência. Sem prejuízo de reuniões mais amplas com a bargain previsto no chamado Projeto Anticrime.
participação dos diversos atores mais diretamente ligados às ações - Aprimorar a efetividade do funcionamento do tribunal do júri,
relacionadas à criminalidade, devem ser promovidos debates entre tendo como uma das orientações o exemplo dos Estados Unidos,
órgãos públicos e entes privados conforme o tema a ser debatido, em que mais de 90% dos crimes são resolvidos por meio de acor-
colhendo suas contribuições e fomentando suas participações na dos. Isso não quer dizer ser leniente com crimes graves, na medida
diminuição da violência. em que, em consonância com dados divulgados no documentário a
- Monitorar e avaliar as ações e os resultados, a partir da produ- 13ª. Emenda, mais de 97% da população carcerária estadunidense
ção qualificada de relatórios e dados. decorre dos acordos criminais.
- Difundir a cultura da vida em paz e da responsabilidade de - Promover o cadastramento de organizações da sociedade ci-
todos em propagar e defender a segurança pública como bem jurí- vil e capacitá-las para a participação no programa de cumprimento
dico inerente à dignidade da pessoa humana, por meio de propa- de medidas e penas alternativas (Lei nº 13.019, de 2014 – BRASIL,
ganda massiva nos meios de comunicação, seminários em escolas, 2014a).
empresas, órgãos públicos, conselhos comunitários, associações de - Desenvolver sistema eletrônico de monitoramento do cumpri-
bairros etc. mento de medidas e penas alternativas.
- Atuar com base na identificação dos fatores da violência, con- - Disseminar e fomentar política no sentido de os órgãos públi-
centrando estratégias em locais, grupos e comportamentos de ris- cos da administração direta (do Legislativo, Executivo, Judiciário e
co, notadamente em relação aos jovens e mulheres passíveis de Ministério Público) e indireta efetuarem a contratação de presos
violência doméstica. nos termos do art. 28, § 2º, da Lei de Execução Penal, com a reten-
- Pautar a atuação com suporte em dados e evidências, produ- ção entre 25% a 30% da remuneração paga para fins de recolhimen-
zidos em pesquisas qualificadas e confiáveis, com atenção especial to ao fundo penitenciário do respectivo estado, aplicando a mesma
para as boas práticas existentes. estratégia em relação à iniciativa privada.

375
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
- Reduzir a reincidência, por meio de melhor governança do sis- 4. (Polícia Federal - Delegado de Polícia Federal - CESPE/CEBRAS-
tema penitenciário, especialmente, mediante a implementação de PE/2021) No que se refere à criminologia, julgue o item a seguir.
ações no sentido de promover o ensino, a integração dos presos A polícia, o Poder Judiciário e o sistema penitenciário exercem
com a família e a oferta de trabalho. o controle social formal.
- Aprimorar a legislação criminal tendo como norte as diretrizes (....) CERTO
deste Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária – PNPCP e (....) ERRADO
do Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social – PNSPDS.
- Criar mecanismos para promover estratégias e ações anterio- 5. (PC/SE - Delegado de Polícia - Curso de Instrução – CESPE/
res ao crime, mormente no tocante à prevenção, visando a apri- CEBRASPE/2020) No que se refere a criminologia e psicopatologia
morar a segurança das regiões fronteiriças brasileiras, afetadas pela forense, julgue o item a seguir.
criminalidade peculiar ao território de fronteira, marcada pela en- A teoria da associação diferencial, segundo a qual o indivíduo
trada ilegal do contrabando e descaminho, bem como pelo tráfico desenvolve seu comportamento individual com base nos exemplos
de drogas, acarretando o aumento da criminalidade e violência. e nas influências que possui, explica, de certa forma, o denominado
crime de colarinho-branco.
(....) CERTO
(....) ERRADO
QUESTÕES
6. (DPE/DF - Defensor Público – CESPE/CEBRASPE/2019) Acerca
1. (SETRABES – Sociólogo – UERR/2018) De acordo com Émile dos modelos teóricos da criminologia, julgue o item que se segue.
Durkheim, mesmo quando um fenômeno agride preceitos morais Estabelecida por Durkheim, a teoria da anomia, que analisa o
pode ser considerado normal desde que esteja generalizado na so- comportamento delinquencial sob o enfoque estrutural-funciona-
ciedade e não comprometa a integração social. Por essa visão, o lista, admite o crime como um comportamento normal, ubíquo e
crime é um fato social que: propulsor da modernidade.
(A) é um problema a ser corrigido pela imposição de leis e nor- (....) CERTO
mas baseadas em valores religiosos e morais. (....) ERRADO
(B) é encontrado em todas as sociedades de todos os tipos; é
um fenômeno geral e útil à sociedade. 7. (DPE/SP – Defensor Público – FCC/2015) “As provas indicam
(C) deve ser punido através da aplicação e sanções sociais, e que a polícia decidiu ‘partir para cima’ da população de forma abu-
não se encontra generalizado na sociedade. siva e indiscriminada, matando mais de 100 pessoas, grande parte
(D) é encontrado somente em sociedades baseadas na forma em circunstâncias que pouco tinha a ver com legítima defesa. Ade-
de solidariedade orgânica, e a transgressão não conduz ao for- mais, policiais encapuzados, integrantes de grupos de extermínio,
talecimento dos valores feridos. mataram outras centenas de pessoas. Esses policiais realizaram
(E) é um fenômeno que é individual na sociedade, não sendo ‘caças’ aleatórias de homens jovens pobres, alguns em função de
encontrado em sociedades baseadas na forma de solidarieda- seus antecedentes criminais ou de tatuagens (tidas como sinais de
de mecânica. ligação com a criminalidade) e muitos outros com base em mero
preconceito. Identificamos 122 homicídios contendo indícios de
2. (SEDF - Professor - Sociologia – CESPE/CEBRASPE) Acerca das terem sido execuções praticadas por policiais naquele período.”
contribuições de Emile Durkheim à moderna ciência sociológica, (São Paulo sob achaque: corrupção, crime organizado e violência
julgue os itens que se seguem. institucional em maio de 2006. Human Rights Program at Harward
Para Durkheim, o crime é um fato social patológico, não apenas University e Justiça Global)
por ocorrer em qualquer sociedade, mas por representar um ele- O relato acima sobre os “crimes de maio de 2006 em São Paulo”
mento de integração das pessoas em torno de uma conduta valora- é exemplo de
tiva ao punir o comportamento nocivo. (A) criminalização primária.
(....) CERTO (B) direito penal subterrâneo.
(....) ERRADO (C) criminalização dos movimentos sociais.
(D) direito penal do inimigo.
3. (PC/ES - Delegado de Polícia - INSTITUTO ACESSO/2019) A (E) encarceramento em massa da pobreza.
moderna criminologia se dedica, também, ao estudo do controle
social do delito, tendo este objeto representado um giro metodoló- 8. (ABIN - Oficial de Inteligência – CESPE/CEBRASPE) A permea-
gico de grande importância. Assinale a alternativa correta: bilidade das fronteiras, as modificações operadas pela globalização
(A) a família, a escola, a opinião pública, por exemplo, são ins- e a porosidade das relações entre economia internacional e Estado
tituições encarregadas de exercer o controle social primário. nacional geraram novos desafios para a defesa e a segurança do
(B) a polícia, o Judiciário, a administração penitenciária, por Estado. A respeito desse tema, julgue o item abaixo.
exemplo, são instituições encarregadas de exercer o controle
social informal. Fatores que são apresentados como impulsionadores do declí-
(C) a polícia, o Judiciário, a administração penitenciária, por nio do Estado e da soberania, como o terrorismo internacional, o
exemplo, são instituições encarregadas de exercer o controle crime organizado, o narcotráfico e a ameaça de espionagem, são
social formal. igualmente responsáveis pela ampliação e expansão de estruturas
(D) a família, a escola, a opinião pública, por exemplo, são insti- de inteligência sob comando estatal em quase todo o mundo.
tuições encarregadas de exercer o controle social terciário. (....) CERTO
(E) a família, a escola, a opinião pública, por exemplo, são ins- (....) ERRADO
tituições encarregadas de exercer o controle social secundário.

376
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
9. (PC/SP - Delegado de Polícia – VUNESP/2014) Assinale a alter- 13. (Agente Federal de Execução Penal – 2020) Com base no Pla-
nativa que completa, correta e respectivamente, a frase: A Crimino- no Nacional de Política Criminal e Penitenciária 2020-2023, julgue
logia__________; o Direito Penal __________. o item seguinte.
(A) não é considerada uma ciência, por tratar do “dever ser” … é O Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária 2020-2023
uma ciência empírica e interdisciplinar, fática do “ser”. tem como diretrizes a Prevenção, a Repressão, a Investigação, o
(B) é uma ciência normativa e multidisciplinar, do “dever ser” … Processo, a Execução, a Reintegração e a Educação.
é uma ciência empírica e fática, do “ser”. (....) CERTO
(C) não é considerada uma ciência, por tratar do “ser” … é uma (....) ERRADO
ciência jurídica, pois encara o delito como um fenômeno real,
do “dever ser”. 14. À luz do Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária
(D) é uma ciência empírica e interdisciplinar, fática do “ser” … é 2020-2023 julgue o item subsecutivo.
uma ciência jurídica, cultural e normativa, do “dever ser”. A elaboração do Plano Nacional de Política Criminal e Peniten-
(E) é considerada uma ciência jurídica, por tratar o delito como ciária provém da competência legal do Conselho Nacional de Políti-
um conceito formal, normativo, do “dever ser” … não é consi- ca Criminal e Penitenciaria de propor diretrizes da política criminal
derado uma ciência, pois encara o delito como um fenômeno quanto à repressão do delito, administração da Justiça Criminal e
social, do “ser”. execução das penas e das medidas de segurança e contribuir na
elaboração de planos nacionais de desenvolvimento, sugerindo as
10. (PC/GO - Delegado de Polícia Substituto – CESPE/CEBRAS- metas e prioridades da política criminal e prisional.
PE/2017) A respeito do conceito e das funções da criminologia, as- (....) CERTO
sinale a opção correta. (....) ERRADO
(A) A criminologia tem como objetivo estudar os delinquentes,
a fim de estabelecer os melhores passos para sua ressocializa-
ção. A política criminal, ao contrário, tem funções mais relacio-
nadas à prevenção do crime. GABARITO
(B) A finalidade da criminologia em face do direito penal é de
promover a eliminação do crime.
(C) A determinação da etimologia do crime é uma das finalida- 1 B
des da criminologia.
(D) A criminologia é a ciência que, entre outros aspectos, estu- 2 ERRADO
da as causas e as concausas da criminalidade e da periculosida- 3 C
de preparatória da criminalidade.
4 CERTO
(E) A criminologia é orientada pela política criminal na preven-
ção especial e direta dos crimes socialmente relevantes, me- 5 CERTO
diante intervenção nas manifestações e nos efeitos graves des- 6 CERTO
ses crimes para determinados indivíduos e famílias.
7 B
11. (PC/PI - Delegado de Polícia Civil – NUCEPE/2018) Marque a 8 CERTO
alternativa CORRETA, no que diz respeito à classificação do crimino- 9 D
so, segundo Lombroso:
(A) Criminoso louco: é o tipo de criminoso que tem instinto 10 D
para a prática de delitos, é uma espécie de selvagem para a 11 C
sociedade.
12 A
(B) Criminoso nato: é aquele tipo de criminoso malvado, per-
verso, que deve sobreviver em manicômios. 13 ERRADO
(C) Criminoso por paixão: aquele que utiliza de violência para 14 ERRADO
resolver problemas passionais, geralmente é nervoso, irritado
e leviano.
(D) Criminoso por paixão: este aponta uma tendência hereditá-
ria, possui hábitos criminosos influenciados pela ocasião.
(E) Criminoso louco: é o criminoso sórdido com deficiência do
senso moral e com hábitos criminosos influenciados pela situ-
ação.

12. (PC/SP - Agente de Polícia – VUNESP/2013) Cesare Lombro-


so (1835~1909), médico e cientista italiano, foi considerado um dos
expoentes da corrente de pensamento denominada
(A) Escola Positiva.
(B) Escola Clássica.
(C) Escola Jusnaturalista.
(D) Terza Scuola.
(E) Escola de Política Criminal ou Moderna Alemã.

377
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

ANOTAÇÕES ______________________________________________________

______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
_____________________________________________________
______________________________________________________
_____________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________

378
SEGURANÇA PÚBLICA

Além disso temos também a exclusão social dos negros. Mes-


DIREITOS HUMANOS: DESARMAMENTO E COMBATE mo após a abolição da escravatura, em 1888, os negros não foram
AOS PRECONCEITOS DE GÊNERO, ÉTNICO, RACIAL, integrados à sociedade da época por conta das questões culturais,
GERACIONAL, DE ORIENTAÇÃO SEXUAL E DE DIVERSI- sociais e econômicas e ainda hoje enfrentam o preconceito e ex-
DADE CULTURAL clusão.
Os LGBTQIA+ (aqui caracterizado pela exclusão de gênero) mo-
vimento, que nasceu com a sigla GLS, busca lutar pelos direitos e
O Estatuto do Desarmamento inclusão de pessoas de diversas orientações sexuais e identidades
Devido ao aumento das mortes e da violência envolvendo ar- de gênero. É o movimento político e social que defende a diversida-
mas de fogo no Brasil, o governo federal junto a sociedade, através de e busca mais representatividade e direitos para a comunidade.
do Ministério da Justiça, buscou uma ação efetiva para o controle O seu nome demonstra a sua luta por mais igualdade e respeito à
do armamento em poder da população. Dentre os muitos esforços diversidade.
empregados destacamos aqui o Estatuto do Desarmamento. A Lei O Brasil tem adotado políticas de ações afirmativas, ao longo
nº 10.826/2003 que foi uma mudança significativa de como contro- dos anos, em relação a negros e indígenas, como a obrigatoriedade
lávamos as armas no Brasil, pois ela regula os seguintes termos: re- das cotas, por exemplo. É uma tentativa proposta pelo governo e
gistro, posse, porte e a comercialização de armas de fogo e munição vários órgãos e entidades de minimizar anos de práticas e ações
no território nacional. excludentes.
As chamadas minorias sociais nem sempre fazem parte da
Exclusão social minoria populacional. Levando em conta o fator econômico, por
Exclusão social1 é um conceito que caracteriza a exclusão ou exemplo, os dados do IBGE, levantados em 2017, apontam que na-
afastamento de grupos do sistema socioeconômico predominante. quele ano os 10% mais ricos detinham 43,3% da renda do país, en-
Mas elas não estão apenas relacionadas as questões socioeconômi- quanto os 10% mais pobres tinham acesso a apenas 0,7% da renda
cas dos indivíduos. Outros fatores também influenciam na exclusão total do país.
de grupos do sistema imposto e determinado como correto pela
sociedade. Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção
dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais
Tipos de Exclusão Social (CNCD/LGBT)2
- Exclusão de gênero: geralmente, mulheres e grupos que não se O Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção
adequam ao gênero de nascimento, como os transexuais. dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais
- Exclusão Cultural: existente por conta das práticas culturais de (CNCD/LGBT) é um órgão colegiado, integrante da estrutura básica
determinados grupos. Por exemplo, os mitos e rituais de algumas do Ministério dos Direitos Humanos, criado por meio da Medida
aldeias são considerados fora do padrão sociocultural predominan- Provisória 2216-37 de 31 de Agosto de 2001.
te. Suas políticas são voltadas para a promoção da igualdade racial
- Exclusão Étnica: existente em relação a minorias étnicas, como e para a população indígena sendo executadas por outros órgãos,
por exemplo negros e indígenas. em dezembro de 2010 o Governo Federal institui nova competência
- Exclusão Patológica: o indivíduo é excluído pela sociedade por e estrutura ao CNCD/LGBT, por meio do Decreto nº 7388, de 9 de
ser portador de alguma doença (física, mental ou imunológica) ou dezembro de 2010. Para atender uma demanda histórica do movi-
por alguma necessidade especial. Cadeirantes e grupos portadores mento LGBT brasileiro e com a finalidade de potencializar as políti-
de AIDS e autistas, por exemplo, são excluídos por conta de suas cas públicas para a população LGBT, o agora CNCD/LGBT passa a ter
condições. como finalidade formular e propor diretrizes de ação governamen-
- Exclusão Religiosa: grupos excluídos por não seguirem a reli- tal, em âmbito nacional, voltadas para o combate à discriminação e
gião oficial e imposta pela sociedade. Por exemplo os muçulmanos para a promoção e defesa dos direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais,
e membros de religiões de matriz africana, que sofrem preconceito Travestis e Transexuais.
no Brasil. A grande preocupação do CNCD/LGBT tem sido fomentar e
acompanhar as políticas públicas, além da busca incansável de sen-
A questão da exclusão étnica no Brasil, por exemplo, tem ori- sibilizar os órgãos de Estado nas ações de defesa e garantia dos di-
gens históricas. Os indígenas, grande maioria no país durante a épo- reitos da população LGBT.
ca da chegada dos portugueses. A tentativa de alterar os hábitos,
religiosidade e costumes indígenas foi uma forma de padronizá-los
à nova realidade brasileira, descaracterizando e ignorando por com-
pleto seus hábitos e padrões culturais.
2 Disponível em https://www.gov.br/mdh/pt-br/acesso-a-informacao/
participacao-social/conselho-nacional-de-combate-a-discriminacao-
1 Disponível em https://querobolsa.com.br/enem/sociologia/exclu- -lgbt/conselho-nacional-de-combate-a-discriminacao-lgbt Acesso em
sao-social Acesso em 19.05.2021 05.08.2021

379
SEGURANÇA PÚBLICA

CRIAÇÃO E FORTALECIMENTO DE REDES SOCIAIS E COMUNITÁRIAS

De acordo com Robert Peel, autor inglês reconhecido pela doutrina como precursor na estruturação da polícia moderna em 1829, “a
polícia é o povo e o povo é a polícia”. Tal definição leva à compreensão de que uma pessoa que faz parte de uma instituição policial é, antes
de tudo, um integrante do povo; bem como, no processo de implantação da polícia comunitária, a comunidade é encorajada a participar
ativamente da resolução de seus problemas.
A estratégia de Polícia Comunitária oferece, então, meios para o processo de fortalecimento dos cidadãos, no sentido de compartilha-
rem entre si e com a polícia a tarefa de planejar práticas para enfrentar o crime.

Características da Polícia Comunitária


Gestão participativa e prestação de contas
A comunidade participa na escolha de prioridades a serem resolvidas e avaliação do serviço executado, através de conselhos comuni-
tários de segurança, os quais sempre manterão o foco na mel

horia geral da qualidade de vida.

Polícia e Cidadania
Opção da polícia por participar no desenvolvimento de uma sociedade democrática, deslocando a ênfase do controle social para a
mediação de conflitos.
- Supervisão comunitária da polícia: “Toda instituição policial deve ser representativa da comunidade como um todo e deve ser res-
ponsável perante ela e prestar lhe contas”. (Resolução 34/169 da Assembleia das Nações Unidas, de 17 Dez 79). Dada a proximidade e a
participação da comunidade, a supervisão acontece de forma natural, sem constrangimentos, pois, o próprio policial se sente constrangido
em agir de maneira errada ou se omitir perante as demandas vindouras.
- Defesa dos direitos humanos: A polícia resgata sua função, assumindo compromisso existencial de defesa do pacto social com o res-
peito à vida antes de tudo.
- Isenção político partidária: Os Conselhos Comunitários não devem ter, na sua Diretoria e em seus Conselhos, membros que exerçam
cargos públicos eletivos ou liderança político partidária, como uma das formas de evidenciar na comunidade o seu caráter não partidário,
que deve revestir todos os seus atos, para que sua atuação não se confunda com interesses políticos eleitorais.

Controle da Qualidade Total


- Produtividade: A redução de índices de criminalidade e de acidentes, e aumento da sensação de segurança por parte da comunidade,
proporcionando tranquilidade antes de tudo quanto à própria atuação e, durante ela, é o produto final desejado pela Polícia
- Orientação pelo cliente-cidadão: Desde a adequação do próprio modelo, passando pela fixação de prioridades, até a verificação da
interceptação de resultados, a opinião dos clientes é fundamental para a polícia. As necessidades e expectativas da comunidade devem
ser correspondidas
- Qualidade em primeiro lugar: A identificação da qualidade no “mercado” é feita através dos Conselhos
Comunitários e outros mecanismos de “orientação pelo cliente”.
- Ação orientada por prioridades: Priorizar os problemas críticos na função desempenho, confiabilidade, custo, desenvolvimento, etc.
Os problemas que assolam as questões de segurança pública de maneira direta ou indireta devem, após ação conjunta (polícia e comuni-
dade), serem priorizados, norteando as ações destinadas à prevenção.
- Ação orientada por fatos e dados (cientificidade): Falar, raciocinar e decidir com base em dados e fatos.
- Controle de processos: A qualidade é integrada no produto, durante o processamento. É necessário que todos os servidores se com-
prometam com o resultado do seu próprio trabalho, em todas as fases (todos os processos), do planejamento à atividade de linha. Após a
priorização dos problemas a serem resolvidos, o processo de solução dos mesmos deve ser acompanhado em todas as suas fases, visando
garantir o sucesso final desejado.
- Controle da dispersão: Deve-se estabelecer limites de tolerância na variação dos resultados desejados. A dispersão deve ser observa-
da cuidadosamente, isolando-se sua causa fundamental e estabelecendo-se ações corretivas. Cabe ao policial militar comunitário desdo-
brar-se para garantir que as soluções dos problemas aconteçam conforme o planejado, para tanto, deve acercar-se de cuidados a evitar a
dispersão que leve a resultados adversos.
- Clientes no processo: A relevância da participação ativa dos clientes (comunidade) como fator de geração de valor nos processos de
identificação, priorização e solução dos problemas que afetam as questões de segurança pública local.

380
SEGURANÇA PÚBLICA
- Controle prévio (proatividade na prevenção): Prever possibili-
dades de problemas para eliminar seus fatos motivadores organiza- INSTITUIÇÕES DE SEGURANÇA PÚBLICA E DO SISTEMA
cionais. O policial deve estar sempre um passo à frente das situa- PRISIONAL
ções concretas que possam desencadear situações de violência e de
crime. A prevenção primária é parte fundamental do policiamento Segurança pública3 pode ser considerada um processo com-
comunitário. posto por elementos de ordem preventiva, repressiva, judicial, de
- Ação de bloqueio: Adotar medidas de bloqueio para que o saúde e social. Por isso a segurança pública necessita de um con-
mesmo problema não ocorra outra vez pela mesma causa. Deve-se junto de ferramentas e de conhecimentos que envolvem os diver-
buscar ações de prevenção que sejam duradouras, perenes, com o sos setores da sociedade, sempre focados nos mesmos objetivos.
intento de expurgar a situação de fragilidade que pode levar à vio- Ela é um serviço que deve ser universal (tem de abranger todas as
lência e ao crime causados pela mesma origem. pessoas) para proteger a integridade física dos cidadãos e dos seus
- Valorização humana: Compreende: bens. Para isso, existem as forças de segurança (como a polícia), que
1) Padronizar toda tarefa específica; trabalham em conjunto com o Poder Judicial.
2) Educar, treinar e familiarizar todos os servidores; A Constituição Federal de 1988 diz em seu artigo 144º que a
3) Dependendo da capacidade do servidor, delegar cada tarefa segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de
após certificação; todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolu-
4) Solicitar sua criatividade para manter e melhorar sua rotina midade das pessoas e do patrimônio, por intermédio dos seguintes
diária; órgãos: Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviá-
5) Organizar um programa de crescimento da capacidade para o ria Federal, Polícias Civis, Polícias Militares e Corpo de Bombeiros
desenvolvimento pessoal dos servidores. Militares.
O policial é extremamente importante para o sucesso das ações Portanto, a Constituição diz que é dever da sociedade agir de
de prevenção primária, pois, é o polarizador e incentivador da co- maneira conjunta para que a democracia seja garantida contra a
munidade. Assim, valorizar o profissional em sua humanidade é ga- violação dos direitos ocasionada pela criminalidade. A segurança
rantir resultados positivos. pública é a condição essencial para que a paz social seja assegurada
- Comprometimento da alta direção: Entender a definição da a cada indivíduo.
missão da organização e a visão estratégica da alta direção e execu- Em regra geral, as grandes metrópoles sofrem problemas de se-
tar as diretrizes e metas através de todas as chefias. Para que todo gurança pública, as quais apresentam elevadas taxas de delitos. Em
e qualquer projeto dê certo em uma organização, é de extrema im- contrapartida, as pequenas localidades costumam oferecer melho-
portância que haja a participação efetiva do seu mais alto escalão res condições de segurança.
que é, dentro da estrutura administrativa, quem define as priorida- De certa forma, isto prende-se com a população em massa, uma
des de atuação da área operativa. vez que os milhões de habitantes de uma grande cidade acabam
por ficar no anonimato (as pessoas não se conhecem). Já, nas al-
A Polícia Comunitária é a filosofia de trabalho indistinta dire- deias, é menos provável que uma pessoa cometa algum crime ou
cionada a todos os integrantes das instituições policiais, sendo um delito sem que ninguém fique a saber.
de seus pilares estruturais, o Policiamento Comunitário é a ação de A segurança pública também depende da eficácia da polícia, do
policiar, patrulhar o território para evitar, pela presença do agente funcionamento do Poder Judicial, das políticas estatais e das con-
público, a prática de ilícitos penais e contravencionais, de desenvol- dições sociais. O debate relativamente à incidência da pobreza na
ver ações efetivas junto à comunidade com o escopo de prevenir insegurança é sempre polémico apesar de a maioria dos especia-
delitos e eventualmente reprimi-los. listas acreditar que haja uma relação entre a taxa de pobreza e a
O policiamento comunitário traduz-se, assim, em ações inicia- quantidade de delitos.
das pelas polícias para utilizar um potencial não aproveitado na co-
munidade para lidar com mais eficácia e eficiência com os proble- Na doutrina pátria encontra-se a seguinte definição de seguran-
mas do crime, principalmente na sua prevenção. ça pública por De Plácido e Silva:
A prevenção comunitária do crime está incorporada na noção [...] é o afastamento, por meio de organizações próprias, de
de que os meios mais eficazes de evitar o crime devem envolver todo o perigo, ou de todo o mal que possa afetar a ordem pública
os moradores na intervenção proativa e na participação em proje- em prejuízo da vida, da liberdade ou dos direitos de propriedade do
to, cujo objetivo seja reduzir ou prevenir a oportunidade para que cidadão, limitando as liberdades individuais, estabelecendo que a
o crime não ocorra em seus bairros (ROSENBAUM apud MOORE, liberdade de cada cidadão mesmo em fazer aquilo que que a lei não
2003, p.153). lhe veda, não pode ir além da liberdade assegurada aos demais,
O diferencial do ‘policiamento comunitário’ consubstancia-se ofendendo-a.
num serviço policial que se aproxime das pessoas, com identificação
bem definida, personalizando o policial, com um comportamento A segurança da sociedade surge como o principal requisito à ga-
regulado pela frequência pública cotidiana, submetido, portanto, às rantia de direitos e ao cumprimento de deveres, estabelecidos nos
regras de convivência cidadã. ordenamentos jurídicos.
Os processos de policiamento que mais favorecem a aproxima- A segurança pública é considerada uma demanda social que ne-
ção comunitária podem assim ser apontados: cessita de estruturas estatais e demais organizações da sociedade
(i) policiamento a pé, para ser efetivada. Às instituições ou órgãos estatais, incumbidos de
(ii) de bicicletas, adotar ações voltadas para garantir a segurança da sociedade, de-
(iii) a cavalo, nomina-se sistema de segurança pública, tendo como eixo político
(iv) em viaturas, estratégico a política de segurança pública, ou seja, o conjunto de
(v) em bases fixas e móveis, ações delineadas em planos e programas e implementados como
(vi) embarcações. forma de garantir a segurança individual e coletiva.
3 Disponível em https://www.ssp.ma.gov.br/conceito-de-seguranca
Acesso 04.06.2021

381
SEGURANÇA PÚBLICA
O contexto contemporâneo, caracterizado pela globalização, a) Gestão Integrada e governança: tem como objetivo promo-
principalmente no âmbito econômico, tem provocado transforma- ver a articulação entre os atores e implementar mecanismos que
ções na estrutura do Estado e redefinição de seu papel enquanto garantam a efetividade do programa por meio de ações que visem
organização política. Diferentemente da redução do papel do Es- fortalecer a integração, a gestão compartilhada, o monitoramen-
tado no âmbito econômico e social, no que se refere à segurança to, a avaliação, a articulação, a colaboração e cooperação entre os
pública, tem ocorrido uma ampliação dos instrumentos de controle órgãos de segurança pública dos estados e municípios que fazem
sobre a sociedade. Por isso, “[...] não tardou para que no final do parte do programa, contando com a participação e o envolvimento
século 20, na sociedade de controle, com o neoliberalismo, apa- dos atores necessários;
recesse uma terceira versão para os perigosos a serem confinados b) Fortalecimento da segurança pública estadual: composto de
[...]” (PASSETTI, 2003, p. 134). ações que objetivam incrementar a capacidade preventiva e investi-
gativa e de inteligência das organizações policiais locais no que tan-
A relação entre Estado e Sociedade Civil, no Brasil, tem sofrido ge ao crime de homicídio, bem como a operacionalidade da Perícia
profundas transformações desde o fim da ditadura militar. Forense;
A gestão das políticas de controle da criminalidade na sociedade c) Controle de armas: composto de ações que objetivam reduzir
brasileira é muito deficiente. A ausência de bons diagnósticos, de o estoque de armas de fogo legais e ilegais em circulação na socie-
planejamentos estratégicos, de mecanismos de monitoramento e dade;
avaliação de resultados é o que tem prevalecido na atuação do po- d) Prevenção da violência: composto de ações que objetivam
der público no setor. E esse é um dos fatores que tem contribuído minimizar a vulnerabilidade nas áreas mais violentas dos estados e
para o recrudescimento da violência em nosso país em décadas re- municípios, por meio de mecanismos de prevenção, de acordo com
centes. À medida que os recursos financeiros, materiais e humanos, as diretrizes da Política Nacional de Segurança Pública, atuando
além de escassos, são mal administrados, reduz-se drasticamente a nas oportunidades situacionais para o cometimento de homicídios,
capacidade do poder público de prevenir e reprimir o crime. bem como sobre o contexto social que tem atraído os jovens para
A despeito da prevalência desse cenário desalentador, existem carreiras criminosas;
iniciativas que sinalizam em sentido contrário. Nem tudo é caos! É e) Fortalecimento da articulação do sistema de justiça criminal:
possível identificar práticas de gestão da segurança pública no Brasil composto de ações que objetivam promover a melhor articulação
que alcançam resultados alentadores, seja nas esferas municipal, do Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública no pro-
estadual e federal. Podem ser qualificadas como boas práticas. cessamento dos crimes de homicídio, além de garantir o aprimora-
A definição do que são boas práticas na gestão da segurança mento do fluxo de informações com o sistema de segurança pública.
pública podem ter de duas dimensões:
- Boas práticas são aquelas intervenções cujos resultados foram Serão consideradas boas práticas na gestão da segurança públi-
objetivamente avaliados, identificando-se a efetividade das mes- ca no Brasil aquelas que:
mas no alcance dos objetivos e metas propostas; 1) Promovam a articulação entre as organizações da segurança
- Boas práticas são aquelas intervenções que se baseiam em pública e implementem mecanismos de garantia da efetividade de
premissas consideradas as mais adequadas para o contexto em que ações por meio da gestão compartilhada, do monitoramento e da
foram criadas, para se alcançar os resultados pretendidos. avaliação, ou
2) Incrementem a capacidade preventiva e investigativa e de in-
A expressão gestão da segurança pública no Brasil é susceptível teligência das organizações policiais, bem como a operacionalidade
de interpretações diversas, contemplando desde projetos locais de da Perícia Forense, ou
3) Reduzam o estoque de armas de fogo legais e ilegais em cir-
controle da criminalidade até políticas públicas mais amplas que
culação na sociedade, ou
agregam programas e projetos tanto na repressão quanto na pre-
4) Minimizem a vulnerabilidade nas áreas mais violentas por
venção social do crime.
meio de mecanismos de prevenção, atuando nas oportunidades
Priorizou-se a dimensão mais estratégica da gestão da seguran-
situacionais, bem como sobre o contexto social que tem atraído os
ça pública, concebida como macro gestão, que engloba as seguintes
jovens para carreiras criminosas, ou
áreas:
5) Promovam a melhor articulação do Judiciário, do Ministério
a) Gestão administrativa do orçamento, do pessoal, da logísti-
Público e da Defensoria Pública no processamento dos crimes, além
ca, dentre outros, necessários ao funcionamento da máquina ad-
de garantir o aprimoramento do fluxo de informações com o siste-
ministrativa, observada a diversificação das demandas regionais e ma de segurança pública.
setoriais;
b) Gestão operacional destinada à realização das atividades fins A Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social trata-se
de cada instituição, pressionada pela elevação das taxas de crimi- de um conjunto de princípios, diretrizes, objetivos que condicionará
nalidade, pela atuação de grupos criminosos estruturados e pela a estratégia de segurança pública a ser implementada pelos três ní-
ocorrência de crimes interestaduais e transnacionais; veis de governo (federal, estadual e municipal) de forma integrada
c) Gestão política do relacionamento com os atores políticos es- e coordenada. Ela foi criada pela Lei nº 13.675/18.
tatais e internos; A Política Nacional de Segurança Pública que ora se inicia com a
d) Gestão comunitária do relacionamento com as comunida- implantação do Sistema Único de Segurança Pública (Susp), para ser
des diversificadas e regionais, diante dos conflitos decorrentes dos submetida à sociedade e aos órgãos envolvidos na sua implementa-
serviços prestados e das novas demandas propostas pelo ativismo ção, nasce para se consolidar como instrumento de Estado.
social.

O Programa Brasil Mais Seguro (BMS), principal programa fede-


ral da área, torna-se a referência para o estabelecimento das pre-
missas das boas práticas. Ele está estruturado nos seguintes eixos
de atuação:

382
SEGURANÇA PÚBLICA
LEI Nº 13.675, DE 11 DE JUNHO DE 2018. XI - publicidade das informações não sigilosas;
XII - promoção da produção de conhecimento sobre segurança
Disciplina a organização e o funcionamento dos órgãos respon- pública;
sáveis pela segurança pública, nos termos do § 7º do art. 144 da XIII - otimização dos recursos materiais, humanos e financeiros
Constituição Federal; cria a Política Nacional de Segurança Pública das instituições;
e Defesa Social (PNSPDS); institui o Sistema Único de Segurança XIV - simplicidade, informalidade, economia procedimental e
Pública (Susp); altera a Lei Complementar nº 79, de 7 de janeiro celeridade no serviço prestado à sociedade;
de 1994, a Lei nº 10.201, de 14 de fevereiro de 2001, e a Lei nº XV - relação harmônica e colaborativa entre os Poderes;
11.530, de 24 de outubro de 2007; e revoga dispositivos da Lei nº XVI - transparência, responsabilização e prestação de contas.
12.681, de 4 de julho de 2012.
Seção III
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na- Das Diretrizes
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 5º São diretrizes da PNSPDS:
CAPÍTULO I I - atendimento imediato ao cidadão;
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES II - planejamento estratégico e sistêmico;
III - fortalecimento das ações de prevenção e resolução pacífica
Art. 1º Esta Lei institui o Sistema Único de Segurança Pública de conflitos, priorizando políticas de redução da letalidade violenta,
(Susp) e cria a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social com ênfase para os grupos vulneráveis;
(PNSPDS), com a finalidade de preservação da ordem pública e da IV - atuação integrada entre a União, os Estados, o Distrito Fe-
incolumidade das pessoas e do patrimônio, por meio de atuação deral e os Municípios em ações de segurança pública e políticas
conjunta, coordenada, sistêmica e integrada dos órgãos de seguran- transversais para a preservação da vida, do meio ambiente e da dig-
ça pública e defesa social da União, dos Estados, do Distrito Federal nidade da pessoa humana;
e dos Municípios, em articulação com a sociedade. V - coordenação, cooperação e colaboração dos órgãos e insti-
Art. 2º A segurança pública é dever do Estado e responsabilida- tuições de segurança pública nas fases de planejamento, execução,
de de todos, compreendendo a União, os Estados, o Distrito Federal monitoramento e avaliação das ações, respeitando-se as respecti-
e os Munícipios, no âmbito das competências e atribuições legais vas atribuições legais e promovendo-se a racionalização de meios
de cada um. com base nas melhores práticas;
VI - formação e capacitação continuada e qualificada dos pro-
CAPÍTULO II fissionais de segurança pública, em consonância com a matriz cur-
DA POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA ricular nacional;
SOCIAL (PNSPDS) VII - fortalecimento das instituições de segurança pública por
meio de investimentos e do desenvolvimento de projetos estrutu-
Seção I rantes e de inovação tecnológica;
Da Competência para Estabelecimento das Políticas de Seguran- VIII - sistematização e compartilhamento das informações de
ça Pública e Defesa Social segurança pública, prisionais e sobre drogas, em âmbito nacional;
Art. 3º Compete à União estabelecer a Política Nacional de Se- IX - atuação com base em pesquisas, estudos e diagnósticos em
gurança Pública e Defesa Social (PNSPDS) e aos Estados, ao Distrito áreas de interesse da segurança pública;
Federal e aos Municípios estabelecer suas respectivas políticas, ob- X - atendimento prioritário, qualificado e humanizado às pesso-
servadas as diretrizes da política nacional, especialmente para aná- as em situação de vulnerabilidade;
lise e enfrentamento dos riscos à harmonia da convivência social, XI - padronização de estruturas, de capacitação, de tecnologia e
com destaque às situações de emergência e aos crimes interesta- de equipamentos de interesse da segurança pública;
duais e transnacionais. XII - ênfase nas ações de policiamento de proximidade, com
foco na resolução de problemas;
Seção II XIII - modernização do sistema e da legislação de acordo com a
Dos Princípios evolução social;
XIV - participação social nas questões de segurança pública;
Art. 4º São princípios da PNSPDS: XV - integração entre os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciá-
I - respeito ao ordenamento jurídico e aos direitos e garantias rio no aprimoramento e na aplicação da legislação penal;
individuais e coletivos; XVI - colaboração do Poder Judiciário, do Ministério Público e
II - proteção, valorização e reconhecimento dos profissionais de da Defensoria Pública na elaboração de estratégias e metas para
segurança pública; alcançar os objetivos desta Política;
III - proteção dos direitos humanos, respeito aos direitos fun- XVII - fomento de políticas públicas voltadas à reinserção social
damentais e promoção da cidadania e da dignidade da pessoa hu- dos egressos do sistema prisional;
mana; XVIII - (VETADO);
IV - eficiência na prevenção e no controle das infrações penais; XIX - incentivo ao desenvolvimento de programas e projetos
V - eficiência na repressão e na apuração das infrações penais; com foco na promoção da cultura de paz, na segurança comunitária
VI - eficiência na prevenção e na redução de riscos em situa- e na integração das políticas de segurança com as políticas sociais
ções de emergência e desastres que afetam a vida, o patrimônio e existentes em outros órgãos e entidades não pertencentes ao siste-
o meio ambiente; ma de segurança pública;
VII - participação e controle social; XX - distribuição do efetivo de acordo com critérios técnicos;
VIII - resolução pacífica de conflitos; XXI - deontologia policial e de bombeiro militar comuns, respei-
IX - uso comedido e proporcional da força; tados os regimes jurídicos e as peculiaridades de cada instituição;
X - proteção da vida, do patrimônio e do meio ambiente; XXII - unidade de registro de ocorrência policial;

383
SEGURANÇA PÚBLICA
XXIII - uso de sistema integrado de informações e dados eletrô- XXI - estimular a criação de mecanismos de proteção dos agen-
nicos; tes públicos que compõem o sistema nacional de segurança pública
XXIV – (VETADO); e de seus familiares;
XXV - incentivo à designação de servidores da carreira para os XXII - estimular e incentivar a elaboração, a execução e o moni-
cargos de chefia, levando em consideração a graduação, a capaci- toramento de ações nas áreas de valorização profissional, de saúde,
tação, o mérito e a experiência do servidor na atividade policial es- de qualidade de vida e de segurança dos servidores que compõem
pecífica; o sistema nacional de segurança pública;
XXVI - celebração de termo de parceria e protocolos com agên- XXIII - priorizar políticas de redução da letalidade violenta;
cias de vigilância privada, respeitada a lei de licitações. XXIV - fortalecer os mecanismos de investigação de crimes he-
diondos e de homicídios;
Seção IV XXV - fortalecer as ações de fiscalização de armas de fogo e mu-
Dos Objetivos nições, com vistas à redução da violência armada;
XXVI - fortalecer as ações de prevenção e repressão aos crimes
Art. 6º São objetivos da PNSPDS: cibernéticos.
I - fomentar a integração em ações estratégicas e operacionais, Parágrafo único. Os objetivos estabelecidos direcionarão a for-
em atividades de inteligência de segurança pública e em gerencia- mulação do Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social,
mento de crises e incidentes; documento que estabelecerá as estratégias, as metas, os indicado-
II - apoiar as ações de manutenção da ordem pública e da inco- res e as ações para o alcance desses objetivos.
lumidade das pessoas, do patrimônio, do meio ambiente e de bens
e direitos; Seção V
III - incentivar medidas para a modernização de equipamentos, Das Estratégias
da investigação e da perícia e para a padronização de tecnologia dos
órgãos e das instituições de segurança pública; Art. 7º A PNSPDS será implementada por estratégias que garan-
IV - estimular e apoiar a realização de ações de prevenção à vio- tam integração, coordenação e cooperação federativa, interopera-
lência e à criminalidade, com prioridade para aquelas relacionadas bilidade, liderança situacional, modernização da gestão das institui-
à letalidade da população jovem negra, das mulheres e de outros ções de segurança pública, valorização e proteção dos profissionais,
grupos vulneráveis; complementaridade, dotação de recursos humanos, diagnóstico
V - promover a participação social nos Conselhos de segurança dos problemas a serem enfrentados, excelência técnica, avaliação
pública; continuada dos resultados e garantia da regularidade orçamentária
VI - estimular a produção e a publicação de estudos e diagnósti- para execução de planos e programas de segurança pública.
cos para a formulação e a avaliação de políticas públicas;
VII - promover a interoperabilidade dos sistemas de segurança Seção VI
pública; Dos Meios e Instrumentos
VIII - incentivar e ampliar as ações de prevenção, controle e fis-
calização para a repressão aos crimes transfronteiriços; Art. 8º São meios e instrumentos para a implementação da PNS-
IX - estimular o intercâmbio de informações de inteligência de PDS:
segurança pública com instituições estrangeiras congêneres; I - os planos de segurança pública e defesa social;
X - integrar e compartilhar as informações de segurança pública, II - o Sistema Nacional de Informações e de Gestão de Segurança
prisionais e sobre drogas; Pública e Defesa Social, que inclui:
XI - estimular a padronização da formação, da capacitação e da a) o Sistema Nacional de Acompanhamento e Avaliação das Po-
qualificação dos profissionais de segurança pública, respeitadas as líticas de Segurança Pública e Defesa Social (Sinaped);
especificidades e as diversidades regionais, em consonância com b) o Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Pri-
esta Política, nos âmbitos federal, estadual, distrital e municipal; sionais e de Rastreabilidade de Armas e Munições, e sobre Material
XII - fomentar o aperfeiçoamento da aplicação e do cumprimen- Genético, Digitais e Drogas (Sinesp);
to de medidas restritivas de direito e de penas alternativas à prisão; b) o Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública,
XIII - fomentar o aperfeiçoamento dos regimes de cumprimento Prisionais, de Rastreabilidade de Armas e Munições, de Material
de pena restritiva de liberdade em relação à gravidade dos crimes Genético, de Digitais e de Drogas (Sinesp); (Redação dada pela Lei
cometidos; nº 13.756, de 2018)
XIV - (VETADO); c) o Sistema Integrado de Educação e Valorização Profissional
XV - racionalizar e humanizar o sistema penitenciário e outros (Sievap);
ambientes de encarceramento; d) a Rede Nacional de Altos Estudos em Segurança Pública (Re-
XVI - fomentar estudos, pesquisas e publicações sobre a política naesp);
de enfrentamento às drogas e de redução de danos relacionados e) o Programa Nacional de Qualidade de Vida para Profissionais
aos seus usuários e aos grupos sociais com os quais convivem; de Segurança Pública (Pró-Vida);
XVII - fomentar ações permanentes para o combate ao crime III - (VETADO);
organizado e à corrupção; IV - o Plano Nacional de Enfrentamento de Homicídios de Jo-
XVIII - estabelecer mecanismos de monitoramento e de avalia- vens;
ção das ações implementadas; V - os mecanismos formados por órgãos de prevenção e con-
XIX - promover uma relação colaborativa entre os órgãos de se- trole de atos ilícitos contra a Administração Pública e referentes a
gurança pública e os integrantes do sistema judiciário para a cons- ocultação ou dissimulação de bens, direitos e valores.
trução das estratégias e o desenvolvimento das ações necessárias
ao alcance das metas estabelecidas;
XX - estimular a concessão de medidas protetivas em favor de
pessoas em situação de vulnerabilidade;

384
SEGURANÇA PÚBLICA
VI – o Plano Nacional de Prevenção e Enfrentamento à Violência § 1º O Susp será coordenado pelo Ministério Extraordinário da
contra a Mulher, nas ações pertinentes às políticas de segurança, Segurança Pública.
implementadas em conjunto com os órgãos e instâncias estaduais, § 2º As operações combinadas, planejadas e desencadeadas
municipais e do Distrito Federal responsáveis pela rede de preven- em equipe poderão ser ostensivas, investigativas, de inteligência ou
ção e de atendimento das mulheres em situação de violência. (In- mistas, e contar com a participação de órgãos integrantes do Susp
cluído pela Lei nº 14.330, de 2022) e, nos limites de suas competências, com o Sisbin e outros órgãos
dos sistemas federal, estadual, distrital ou municipal, não necessa-
CAPÍTULO III riamente vinculados diretamente aos órgãos de segurança pública
DO SISTEMA ÚNICO DE SEGURANÇA PÚBLICA e defesa social, especialmente quando se tratar de enfrentamento
a organizações criminosas.
Seção I § 3º O planejamento e a coordenação das operações referidas
Da Composição do Sistema no § 2º deste artigo serão exercidos conjuntamente pelos partici-
Art. 9º É instituído o Sistema Único de Segurança Pública (Susp), pantes.
que tem como órgão central o Ministério Extraordinário da Segu- § 4º O compartilhamento de informações será feito preferen-
rança Pública e é integrado pelos órgãos de que trata o art. 144 da cialmente por meio eletrônico, com acesso recíproco aos bancos de
Constituição Federal , pelos agentes penitenciários, pelas guardas dados, nos termos estabelecidos pelo Ministério Extraordinário da
municipais e pelos demais integrantes estratégicos e operacionais, Segurança Pública.
que atuarão nos limites de suas competências, de forma cooperati- § 5º O intercâmbio de conhecimentos técnicos e científicos para
va, sistêmica e harmônica. qualificação dos profissionais de segurança pública e defesa social
§ 1º São integrantes estratégicos do Susp: dar-se-á, entre outras formas, pela reciprocidade na abertura de
I - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, por vagas nos cursos de especialização, aperfeiçoamento e estudos es-
intermédio dos respectivos Poderes Executivos; tratégicos, respeitadas as peculiaridades e o regime jurídico de cada
II - os Conselhos de Segurança Pública e Defesa Social dos três instituição, e observada, sempre que possível, a matriz curricular
entes federados. nacional.
§ 2º São integrantes operacionais do Susp: Art. 11. O Ministério Extraordinário da Segurança Pública fixará,
I - polícia federal; anualmente, metas de excelência no âmbito das respectivas com-
II - polícia rodoviária federal; petências, visando à prevenção e à repressão das infrações penais e
III – (VETADO); administrativas e à prevenção dos desastres, e utilizará indicadores
IV - polícias civis; públicos que demonstrem de forma objetiva os resultados preten-
V - polícias militares; didos.
VI - corpos de bombeiros militares; Art. 12 . A aferição anual de metas deverá observar os seguintes
VII - guardas municipais; parâmetros:
VIII - órgãos do sistema penitenciário; I - as atividades de polícia judiciária e de apuração das infra-
IX - (VETADO); ções penais serão aferidas, entre outros fatores, pelos índices de
X - institutos oficiais de criminalística, medicina legal e identifi- elucidação dos delitos, a partir dos registros de ocorrências poli-
cação; ciais, especialmente os de crimes dolosos com resultado em morte
e de roubo, pela identificação, prisão dos autores e cumprimento
XI - Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp);
de mandados de prisão de condenados a crimes com penas de re-
XII - secretarias estaduais de segurança pública ou congêneres;
clusão, e pela recuperação do produto de crime em determinada
XIII - Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec);
circunscrição;
XIV - Secretaria Nacional de Política Sobre Drogas (Senad);
II - as atividades periciais serão aferidas mediante critérios téc-
XV - agentes de trânsito;
nicos emitidos pelo órgão responsável pela coordenação das perí-
XVI - guarda portuária.
cias oficiais, considerando os laudos periciais e o resultado na pro-
§ 3º (VETADO).
dução qualificada das provas relevantes à instrução criminal;
§ 4º Os sistemas estaduais, distrital e municipais serão respon-
III - as atividades de polícia ostensiva e de preservação da ordem
sáveis pela implementação dos respectivos programas, ações e pro- pública serão aferidas, entre outros fatores, pela maior ou menor
jetos de segurança pública, com liberdade de organização e funcio- incidência de infrações penais e administrativas em determinada
namento, respeitado o disposto nesta Lei. área, seguindo os parâmetros do Sinesp;
IV - as atividades dos corpos de bombeiros militares serão afe-
Seção II ridas, entre outros fatores, pelas ações de prevenção, preparação
Do Funcionamento para emergências e desastres, índices de tempo de resposta aos
desastres e de recuperação de locais atingidos, considerando-se
Art. 10. A integração e a coordenação dos órgãos integrantes do áreas determinadas;
Susp dar-se-ão nos limites das respectivas competências, por meio V - a eficiência do sistema prisional será aferida com base nos
de: seguintes fatores, entre outros:
I - operações com planejamento e execução integrados; a) o número de vagas ofertadas no sistema;
II - estratégias comuns para atuação na prevenção e no controle b) a relação existente entre o número de presos e a quantidade
qualificado de infrações penais; de vagas ofertadas;
III - aceitação mútua de registro de ocorrência policial; c) o índice de reiteração criminal dos egressos;
IV - compartilhamento de informações, inclusive com o Sistema d) a quantidade de presos condenados atendidos de acordo
Brasileiro de Inteligência (Sisbin); com os parâmetros estabelecidos pelos incisos do caput deste arti-
V - intercâmbio de conhecimentos técnicos e científicos; go, com observância de critérios objetivos e transparentes.
VI - integração das informações e dos dados de segurança públi- § 1º A aferição considerará aspectos relativos à estrutura de tra-
ca por meio do Sinesp. balho físico e de equipamentos, bem como de efetivo.

385
SEGURANÇA PÚBLICA
§ 2º A aferição de que trata o inciso I do caput deste artigo de- CAPÍTULO IV
verá distinguir as autorias definidas em razão de Sem flagrante das DOS CONSELHOS DE SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL
autorias resultantes de diligências investigatórias.
Art. 13. O Ministério Extraordinário da Segurança Pública, res- Seção I
ponsável pela gestão do Susp, deverá orientar e acompanhar as Da Composição
atividades dos órgãos integrados ao Sistema, além de promover as
seguintes ações: Art. 19. A estrutura formal do Susp dar-se-á pela formação de
I - apoiar os programas de aparelhamento e modernização dos Conselhos permanentes a serem criados na forma do art. 21 desta
órgãos de segurança pública e defesa social do País; Lei.
II - implementar, manter e expandir, observadas as restrições Art. 20. Serão criados Conselhos de Segurança Pública e Defesa
previstas em lei quanto a sigilo, o Sistema Nacional de Informações Social, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
e de Gestão de Segurança Pública e Defesa Social; Municípios, mediante proposta dos chefes dos Poderes Executivos,
III - efetivar o intercâmbio de experiências técnicas e operacio- encaminhadas aos respectivos Poderes Legislativos.
nais entre os órgãos policiais federais, estaduais, distrital e as guar- § 1º O Conselho Nacional de Segurança Pública e Defesa Social,
das municipais; com atribuições, funcionamento e composição estabelecidos em
IV - valorizar a autonomia técnica, científica e funcional dos regulamento, terá a participação de representantes da União, dos
institutos oficiais de criminalística, medicina legal e identificação, Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
garantindo-lhes condições plenas para o exercício de suas funções; § 2º Os Conselhos de Segurança Pública e Defesa Social con-
V - promover a qualificação profissional dos integrantes da se- gregarão representantes com poder de decisão dentro de suas
gurança pública e defesa social, especialmente nas dimensões ope- estruturas governamentais e terão natureza de colegiado, com
racional, ética e técnico-científica; competência consultiva, sugestiva e de acompanhamento social
VI - realizar estudos e pesquisas nacionais e consolidar dados e das atividades de segurança pública e defesa social, respeitadas as
informações estatísticas sobre criminalidade e vitimização; instâncias decisórias e as normas de organização da Administração
VII - coordenar as atividades de inteligência da segurança públi- Pública.
ca e defesa social integradas ao Sisbin; § 3º Os Conselhos de Segurança Pública e Defesa Social exerce-
VIII - desenvolver a doutrina de inteligência policial. rão o acompanhamento das instituições referidas no § 2º do art. 9º
Art. 14. É de responsabilidade do Ministério Extraordinário da desta Lei e poderão recomendar providências legais às autoridades
Segurança Pública: competentes.
I - disponibilizar sistema padronizado, inf­ormatizado e seguro § 4º O acompanhamento de que trata o § 3º deste artigo consi-
que permita o intercâmbio de informações entre os integrantes do derará, entre outros, os seguintes aspectos:
Susp; I - as condições de trabalho, a valorização e o respeito pela inte-
II - apoiar e avaliar periodicamente a infraestrutura tecnológica gridade física e moral dos seus integrantes;
e a segurança dos processos, das redes e dos sistemas; II - o atingimento das metas previstas nesta Lei;
III - estabelecer cronograma para adequação dos integrantes do III - o resultado célere na apuração das denúncias em tramita-
Susp às normas e aos procedimentos de funcionamento do Sistema. ção nas respectivas corregedorias;
Art. 15. A União poderá apoiar os Estados, o Distrito Federal e os IV - o grau de confiabilidade e aceitabilidade do órgão pela po-
Municípios, quando não dispuserem de condições técnicas e opera- pulação por ele atendida.
cionais necessárias à implementação do Susp. § 5º Caberá aos Conselhos propor diretrizes para as políticas pú-
Art. 16. Os órgãos integrantes do Susp poderão atuar em vias blicas de segurança pública e defesa social, com vistas à prevenção
urbanas, rodovias, terminais rodoviários, ferrovias e hidrovias fe- e à repressão da violência e da criminalidade.
derais, estaduais, distrital ou municipais, portos e aeroportos, no § 6º A organização, o funcionamento e as demais competências
âmbito das respectivas competências, em efetiva integração com o dos Conselhos serão regulamentados por ato do Poder Executivo,
órgão cujo local de atuação esteja sob sua circunscrição, ressalvado nos limites estabelecidos por esta Lei.
o sigilo das investigações policiais. § 7º Os Conselhos Estaduais, Distrital e Municipais de Segurança
Art. 17. Regulamento disciplinará os critérios de aplicação de re- Pública e Defesa Social, que contarão também com representantes
cursos do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP) e do Fundo da sociedade civil organizada e de representantes dos trabalhado-
Penitenciário Nacional (Funpen), respeitando-se a atribuição cons- res, poderão ser descentralizados ou congregados por região para
titucional dos órgãos que integram o Susp, os aspectos geográficos, melhor atuação e intercâmbio comunitário.
populacionais e socioeconômicos dos entes federados, bem como o
estabelecimento de metas e resultados a serem alcançados. Seção II
Parágrafo único. Entre os critérios de aplicação dos recursos do Dos Conselheiros
FNSP serão incluídos metas e resultados relativos à prevenção e ao
combate à violência contra a mulher. (Incluído pela Lei nº 14.316, Art. 21. Os Conselhos serão compostos por:
de 2022) Produção de efeitos I - representantes de cada órgão ou entidade integrante do
Art. 18. As aquisições de bens e serviços para os órgãos inte- Susp;
grantes do Susp terão por objetivo a eficácia de suas atividades e II - representante do Poder Judiciário;
obedecerão a critérios técnicos de qualidade, modernidade, efici- III - representante do Ministério Público;
ência e resistência, observadas as normas de licitação e contratos. IV - representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB);
Parágrafo único. (VETADO). V - representante da Defensoria Pública;
VI - representantes de entidades e organizações da sociedade
cuja finalidade esteja relacionada com políticas de segurança públi-
ca e defesa social;
VII - representantes de entidades de profissionais de segurança
pública.

386
SEGURANÇA PÚBLICA
§ 1º Os representantes das entidades e organizações referidas Parágrafo único. A primeira avaliação do Plano Nacional de Se-
nos incisos VI e VII do caput deste artigo serão eleitos por meio de gurança Pública e Defesa Social realizar-se-á no segundo ano de
processo aberto a todas as entidades e organizações cuja finalidade vigência desta Lei, cabendo ao Poder Legislativo Federal acompa-
seja relacionada com as políticas de segurança pública, conforme nhá-la.
convocação pública e critérios objetivos previamente definidos pe-
los Conselhos. Seção II
§ 2º Cada conselheiro terá 1 (um) suplente, que substituirá o Das Diretrizes Gerais
titular em sua ausência.
§ 3º Os mandatos eletivos dos membros referidos nos incisos Art. 24. Os agentes públicos deverão observar as seguintes dire-
VI e VII do caput deste artigo e a designação dos demais membros trizes na elaboração e na execução dos planos:
terão a duração de 2 (dois) anos, permitida apenas uma recondução I - adotar estratégias de articulação entre órgãos públicos, enti-
ou reeleição. dades privadas, corporações policiais e organismos internacionais,
§ 4º Na ausência de representantes dos órgãos ou entidades a fim de implantar parcerias para a execução de políticas de segu-
referidos no caput deste artigo, aplica-se o disposto no § 7º do art. rança pública e defesa social;
20 desta Lei. II - realizar a integração de programas, ações, atividades e proje-
tos dos órgãos e entidades públicas e privadas nas áreas de saúde,
CAPÍTULO V planejamento familiar, educação, trabalho, assistência social, pre-
DA FORMULAÇÃO DOS PLANOS DE SEGURANÇA PÚBLICA E vidência social, cultura, desporto e lazer, visando à prevenção da
DEFESA SOCIAL criminalidade e à prevenção de desastres;
III - viabilizar ampla participação social na formulação, na imple-
Seção I mentação e na avaliação das políticas de segurança pública e defesa
Dos Planos social;
IV - desenvolver programas, ações, atividades e projetos articu-
Art. 22. A União instituirá Plano Nacional de Segurança Pública e lados com os estabelecimentos de ensino, com a sociedade e com
Defesa Social, destinado a articular as ações do poder público, com a família para a prevenção da criminalidade e a prevenção de de-
a finalidade de: sastres;
I - promover a melhora da qualidade da gestão das políticas so- V - incentivar a inclusão das disciplinas de prevenção da vio-
bre segurança pública e defesa social; lência e de prevenção de desastres nos conteúdos curriculares dos
II - contribuir para a organização dos Conselhos de Segurança diversos níveis de ensino;
Pública e Defesa Social; VI - ampliar as alternativas de inserção econômica e social dos
III - assegurar a produção de conhecimento no tema, a definição egressos do sistema prisional, promovendo programas que priori-
de metas e a avaliação dos resultados das políticas de segurança zem a melhoria de sua escolarização e a qualificação profissional;
pública e defesa social; VII - garantir a efetividade dos programas, ações, atividades e
IV - priorizar ações preventivas e fiscalizatórias de segurança in- projetos das políticas de segurança pública e defesa social;
terna nas divisas, fronteiras, portos e aeroportos. VIII - promover o monitoramento e a avaliação das políticas de
§ 1º As políticas públicas de segurança não se restringem aos segurança pública e defesa social;
integrantes do Susp, pois devem considerar um contexto social IX - fomentar a criação de grupos de estudos formados por
amplo, com abrangência de outras áreas do serviço público, como agentes públicos dos órgãos integrantes do Susp, professores e pes-
educação, saúde, lazer e cultura, respeitadas as atribuições e as fi- quisadores, para produção de conhecimento e reflexão sobre o fe-
nalidades de cada área do serviço público. nômeno da criminalidade, com o apoio e a coordenação dos órgãos
§ 2º O Plano de que trata o caput deste artigo terá duração de públicos de cada unidade da Federação;
10 (dez) anos a contar de sua publicação. X - fomentar a harmonização e o trabalho conjunto dos inte-
§ 3º As ações de prevenção à criminalidade devem ser consi- grantes do Susp;
deradas prioritárias na elaboração do Plano de que trata o caput XI - garantir o planejamento e a execução de políticas de segu-
deste artigo. rança pública e defesa social;
§ 4º A União, por intermédio do Ministério Extraordinário da Se- XII - fomentar estudos de planejamento urbano para que me-
gurança Pública, deverá elaborar os objetivos, as ações estratégicas, didas de prevenção da criminalidade façam parte do plano diretor
as metas, as prioridades, os indicadores e as formas de financia- das cidades, de forma a estimular, entre outras ações, o reforço na
mento e gestão das Políticas de Segurança Pública e Defesa Social. iluminação pública e a verificação de pessoas e de famílias em situ-
§ 5º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão, com ação de risco social e criminal.
base no Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social, elabo-
rar e implantar seus planos correspondentes em até 2 (dois) anos a Seção III
partir da publicação do documento nacional, sob pena de não po- Das Metas para Acompanhamento e Avaliação das Políticas
derem receber recursos da União para a execução de programas ou de Segurança Pública e Defesa Social
ações de segurança pública e defesa social.
§ 6º O poder público deverá dar ampla divulgação ao conteúdo Art. 25. Os integrantes do Susp fixarão, anualmente, metas de
das Políticas e dos Planos de segurança pública e defesa social. excelência no âmbito das respectivas competências, visando à pre-
Art. 23. A União, em articulação com os Estados, o Distrito Fede- venção e à repressão de infrações penais e administrativas e à pre-
ral e os Municípios, realizará avaliações anuais sobre a implemen- venção de desastres, que tenham como finalidade:
tação do Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social, com I - planejar, pactuar, implementar, coordenar e supervisionar as
o objetivo de verificar o cumprimento das metas estabelecidas e atividades de educação gerencial, técnica e operacional, em coope-
elaborar recomendações aos gestores e operadores das políticas ração com as unidades da Federação;
públicas. II - apoiar e promover educação qualificada, continuada e inte-
grada;

387
SEGURANÇA PÚBLICA
III - identificar e propor novas metodologias e técnicas de edu- Art. 29. O processo de avaliação das políticas de segurança pú-
cação voltadas ao aprimoramento de suas atividades; blica e defesa social deverá contar com a participação de represen-
IV - identificar e propor mecanismos de valorização profissional; tantes dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, do Ministério
V - apoiar e promover o sistema de saúde para os profissionais Público, da Defensoria Pública e dos Conselhos de Segurança Públi-
de segurança pública e defesa social; ca e Defesa Social, observados os parâmetros estabelecidos nesta
VI - apoiar e promover o sistema habitacional para os profissio- Lei.
nais de segurança pública e defesa social. Art. 30. Cabe ao Poder Legislativo acompanhar as avaliações do
respectivo ente federado.
Seção IV Art. 31. O Sinaped assegurará, na metodologia a ser empregada:
Da Cooperação, da Integração e do Funcionamento Harmôni- I - a realização da autoavaliação dos gestores e das corporações;
co dos Membros do Susp II - a avaliação institucional externa, contemplando a análise
global e integrada das instalações físicas, relações institucionais,
Art. 26. É instituído, no âmbito do Susp, o Sistema Nacional de compromisso social, atividades e finalidades das corporações;
Acompanhamento e Avaliação das Políticas de Segurança Pública e III - a análise global e integrada dos diagnósticos, estruturas,
Defesa Social (Sinaped), com os seguintes objetivos: compromissos, finalidades e resultados das políticas de segurança
I - contribuir para organização e integração dos membros do pública e defesa social;
Susp, dos projetos das políticas de segurança pública e defesa social IV - o caráter público de todos os procedimentos, dados e resul-
e dos respectivos diagnósticos, planos de ação, resultados e avalia- tados dos processos de avaliação.
ções; Art. 32. A avaliação dos objetivos e das metas do Plano Nacional
II - assegurar o conhecimento sobre os programas, ações e ati- de Segurança Pública e Defesa Social será coordenada por comissão
vidades e promover a melhora da qualidade da gestão dos progra- permanente e realizada por comissões temporárias, essas compos-
mas, ações, atividades e projetos de segurança pública e defesa tas, no mínimo, por 3 (três) membros, na forma do regulamento
social; próprio.
III - garantir que as políticas de segurança pública e defesa social Parágrafo único. É vedado à comissão permanente designar
abranjam, no mínimo, o adequado diagnóstico, a gestão e os resul- avaliadores que sejam titulares ou servidores dos órgãos gestores
tados das políticas e dos programas de prevenção e de controle da avaliados, caso:
violência, com o objetivo de verificar: I - tenham relação de parentesco até terceiro grau com titulares
a) a compatibilidade da forma de processamento do planeja- ou servidores dos órgãos gestores avaliados;
mento orçamentário e de sua execução com as necessidades do II - estejam respondendo a processo criminal ou administrativo.
respectivo sistema de segurança pública e defesa social;
b) a eficácia da utilização dos recursos públicos; CAPÍTULO VI
c) a manutenção do fluxo financeiro, consideradas as necessi- DO CONTROLE E DA TRANSPARÊNCIA
dades operacionais dos programas, as normas de referência e as
condições previstas nos instrumentos jurídicos celebrados entre os Seção I
entes federados, os órgãos gestores e os integrantes do Susp; Do Controle Interno
d) a implementação dos demais compromissos assumidos por
ocasião da celebração dos instrumentos jurídicos relativos à efetiva- Art. 33. Aos órgãos de correição, dotados de autonomia no exer-
ção das políticas de segurança pública e defesa social; cício de suas competências, caberá o gerenciamento e a realização
e) a articulação interinstitucional e intersetorial das políticas. dos processos e procedimentos de apuração de responsabilidade
Art. 27. Ao final da avaliação do Plano Nacional de Segurança funcional, por meio de sindicância e processo administrativo dis-
Pública e Defesa Social, será elaborado relatório com o histórico e a ciplinar, e a proposição de subsídios para o aperfeiçoamento das
caracterização do trabalho, as recomendações e os prazos para que atividades dos órgãos de segurança pública e defesa social.
elas sejam cumpridas, além de outros elementos a serem definidos
em regulamento. Seção II
§ 1º Os resultados da avaliação das políticas serão utilizados Do Acompanhamento Público da Atividade Policial
para:
I - planejar as metas e eleger as prioridades para execução e Art. 34. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
financiamento; deverão instituir órgãos de ouvidoria dotados de autonomia e inde-
II - reestruturar ou ampliar os programas de prevenção e con- pendência no exercício de suas atribuições.
trole; Parágrafo único. À ouvidoria competirá o recebimento e trata-
III - adequar os objetivos e a natureza dos programas, ações e mento de representações, elogios e sugestões de qualquer pessoa
projetos; sobre as ações e atividades dos profissionais e membros integran-
IV - celebrar instrumentos de cooperação com vistas à correção tes do Susp, devendo encaminhá-los ao órgão com atribuição para
de problemas constatados na avaliação; as providências legais e a resposta ao requerente.
V - aumentar o financiamento para fortalecer o sistema de segu-
rança pública e defesa social; Seção III
VI - melhorar e ampliar a capacitação dos operadores do Susp. Da Transparência e da Integração de Dados e Informações
§ 2º O relatório da avaliação deverá ser encaminhado aos res-
pectivos Conselhos de Segurança Pública e Defesa Social. Art. 35. É instituído o Sistema Nacional de Informações de Segu-
Art. 28. As autoridades, os gestores, as entidades e os órgãos rança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade de Armas e Munições,
envolvidos com a segurança pública e defesa social têm o dever de de Material Genético, de Digitais e de Drogas (Sinesp), com a finali-
colaborar com o processo de avaliação, facilitando o acesso às suas dade de armazenar, tratar e integrar dados e informações para au-
instalações, à documentação e a todos os elementos necessários ao xiliar na formulação, implementação, execução, acompanhamento
seu efetivo cumprimento. e avaliação das políticas relacionadas com:

388
SEGURANÇA PÚBLICA
I - segurança pública e defesa social; III - Rede Nacional de Educação a Distância em Segurança Públi-
II - sistema prisional e execução penal; ca (Rede EaD-Senasp);
III - rastreabilidade de armas e munições; IV - programa nacional de qualidade de vida para segurança pú-
IV - banco de dados de perfil genético e digitais; blica e defesa social.
V - enfrentamento do tráfico de drogas ilícitas. § 2º Os órgãos integrantes do Susp terão acesso às ações de
Art. 36. O Sinesp tem por objetivos: educação do Sievap, conforme política definida pelo Ministério Ex-
I - proceder à coleta, análise, atualização, sistematização, inte- traordinário da Segurança Pública.
gração e interpretação de dados e informações relativos às políticas Art. 39. A matriz curricular nacional constitui-se em referencial
de segurança pública e defesa social; teórico, metodológico e avaliativo para as ações de educação aos
II - disponibilizar estudos, estatísticas, indicadores e outras in- profissionais de segurança pública e defesa social e deverá ser ob-
formações para auxiliar na formulação, implementação, execução, servada nas atividades formativas de ingresso, aperfeiçoamento,
monitoramento e avaliação de políticas públicas; atualização, capacitação e especialização na área de segurança pú-
III - promover a integração das redes e sistemas de dados e in- blica e defesa social, nas modalidades presencial e a distância, res-
formações de segurança pública e defesa social, criminais, do siste- peitados o regime jurídico e as peculiaridades de cada instituição.
ma prisional e sobre drogas; § 1º A matriz curricular é pautada nos direitos humanos, nos
IV - garantir a interoperabilidade dos sistemas de dados e infor- princípios da andragogia e nas teorias que enfocam o processo de
mações, conforme os padrões definidos pelo conselho gestor. construção do conhecimento.
Parágrafo único. O Sinesp adotará os padrões de integridade, § 2º Os programas de educação deverão estar em consonância
disponibilidade, confidencialidade, confiabilidade e tempestividade com os princípios da matriz curricular nacional.
dos sistemas informatizados do governo federal. Art. 40. A Renaesp, integrada por instituições de ensino supe-
Art. 37. Integram o Sinesp todos os entes federados, por inter- rior, observadas as normas de licitação e contratos, tem como ob-
médio de órgãos criados ou designados para esse fim. jetivo:
§ 1º Os dados e as informações de que trata esta Lei deverão I - promover cursos de graduação, extensão e pós-graduação
ser padronizados e categorizados e serão fornecidos e atualizados em segurança pública e defesa social;
pelos integrantes do Sinesp. II - fomentar a integração entre as ações dos profissionais, em
§ 2º O integrante que deixar de fornecer ou atualizar seus dados conformidade com as políticas nacionais de segurança pública e de-
e informações no Sinesp poderá não receber recursos nem celebrar fesa social;
parcerias com a União para financiamento de programas, projetos III - promover a compreensão do fenômeno da violência;
ou ações de segurança pública e defesa social e do sistema prisio- IV - difundir a cidadania, os direitos humanos e a educação para
nal, na forma do regulamento. a paz;
§ 3º O Ministério Extraordinário da Segurança Pública é autori- V - articular o conhecimento prático dos profissionais de segu-
zado a celebrar convênios com órgãos do Poder Executivo que não rança pública e defesa social com os conhecimentos acadêmicos;
integrem o Susp, com o Poder Judiciário e com o Ministério Públi- VI - difundir e reforçar a construção de cultura de segurança
co, para compatibilização de sistemas de informação e integração pública e defesa social fundada nos paradigmas da contemporanei-
de dados, ressalvadas as vedações constitucionais de sigilo e desde dade, da inteligência, da informação e do exercício de atribuições
que o objeto fundamental dos acordos seja a prevenção e a repres- estratégicas, técnicas e científicas;
são da violência. VII - incentivar produção técnico-científica que contribua para
§ 4º A omissão no fornecimento das informações legais implica as atividades desenvolvidas pelo Susp.
responsabilidade administrativa do agente público. Art. 41. A Rede EaD-Senasp é escola virtual destinada aos pro-
fissionais de segurança pública e defesa social e tem como objetivo
CAPÍTULO VII viabilizar o acesso aos processos de aprendizagem, independente-
DA CAPACITAÇÃO E DA VALORIZAÇÃO DO PROFISSIONAL EM mente das limitações geográficas e sociais existentes, com o pro-
SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL pósito de democratizar a educação em segurança pública e defesa
social.
Seção I
Do Sistema Integrado de Educação e Valorização Profissional Seção II
(Sievap) Do Programa Nacional de Qualidade de Vida para Profissio-
nais de Segurança Pública (Pró-Vida)
Art. 38. É instituído o Sistema Integrado de Educação e Valoriza-
ção Profissional (Sievap), com a finalidade de: Art. 42. O Programa Nacional de Qualidade de Vida para Profis-
I - planejar, pactuar, implementar, coordenar e supervisionar as sionais de Segurança Pública (Pró-Vida) tem por objetivo elaborar,
atividades de educação gerencial, técnica e operacional, em coope- implementar, apoiar, monitorar e avaliar, entre outros, os projetos
ração com as unidades da Federação; de programas de atenção psicossocial e de saúde no trabalho dos
II - identificar e propor novas metodologias e técnicas de educa- profissionais de segurança pública e defesa social, bem como a inte-
ção voltadas ao aprimoramento de suas atividades; gração sistêmica das unidades de saúde dos órgãos que compõem
III - apoiar e promover educação qualificada, continuada e in- o Susp.
tegrada; CAPÍTULO VIII
IV - identificar e propor mecanismos de valorização profissional. DISPOSIÇÕES FINAIS
§ 1º O Sievap é constituído, entre outros, pelos seguintes pro-
gramas: Art. 43. Os documentos de identificação funcional dos profis-
I - matriz curricular nacional; sionais da área de segurança pública e defesa social serão padro-
II - Rede Nacional de Altos Estudos em Segurança Pública (Re- nizados mediante ato do Ministro de Estado Extraordinário da Se-
naesp); gurança Pública e terão fé pública e validade em todo o território
nacional.

389
SEGURANÇA PÚBLICA
Art. 44. (VETADO). As milícias
Art. 45. Deverão ser realizadas conferências a cada 5 (cinco) Milícias são grupos formados por agentes do Estado, da área
anos para debater as diretrizes dos planos nacional, estaduais e da segurança pública ou militares, que controlam comunidades por
municipais de segurança pública e defesa social. meio de extorsão e violências. Estes grupos parapoliciais atuam
Art. 46. O art. 3º da Lei Complementar nº 79, de 7 de janeiro de com o respaldo de políticos e lideranças comunitárias locais.
1994 , passa a vigorar com as seguintes alterações: Além da cobrança de tributos de moradores, os milicianos con-
“Art. 3º ........................................................................ trolam o fornecimento de muitos serviços, geralmente a preços
§ 1º (VETADO). mais altos, incluindo a venda de gás, eletricidade e outros sistemas
...................................................................................... de transporte privado, além da instalação de ligações clandestinas
§ 4º Os entes federados integrantes do Sistema Nacional de In- de televisão a cabo.
formações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade de Assim como o tráfico, as milícias também possuem suas fac-
Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas ções. A mais conhecida delas é a chamada “Liga da Justiça”, que
(Sinesp) que deixarem de fornecer ou atualizar seus dados no Siste- tem como símbolo o escudo do Batman.
ma não poderão receber recursos do Funpen. Todas as milícias possuem as seguintes características:
............................................................................” (NR) 1) Controle de um território e da população que nele habita por
Art. 47. O inciso II do § 3º e o § 5º do art. 4º da Lei nº 10.201, de parte de um grupo armado irregular;
14 de fevereiro de 2001 , passam a vigorar com a seguinte redação: 2) O caráter coativo desse controle;
“Art. 4º .......................................................................... 3) O ânimo de lucro individual como motivação central;
........................................................................................ 4) Um discurso de legitimação referido à proteção dos morado-
§ 3º ................................................................................ res e à instauração de uma ordem;
........................................................................................ 5) A participação ativa e reconhecida dos agentes do Estado.
II - os integrantes do Sistema Nacional de Informações de Segu-
rança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade de Armas e Munições, O interesse pela formação destes grupos paramilitares foi incre-
de Material Genético, de Digitais e de Drogas (Sinesp) que cumpri- mentado depois que o transporte alternativo (VAN) se instaurou,
rem os prazos estabelecidos pelo órgão competente para o forneci- cresceu e começou a ser uma fonte de lucro muito grande.
mento de dados e informações ao Sistema;
....................................................................................... Enfrentamento
§ 5º (VETADO) A luta contra o crime organizado residirá principalmente do uso
.............................................................................” (NR) adequado desses mecanismos ou técnicas de investigação e das fer-
Art. 48. O § 2º do art. 9º da Lei nº 11.530, de 24 de outubro de ramentas de aplicação da lei desenvolvidas ao longo de muitos anos
2007 , passa a vigorar com a seguinte redação: de experiência na repressão a esse fenômeno criminológico.
“Art. 9º ..........................................................................
........................................................................................ Meios eletrônicos: técnicas operacionais que consistem na uti-
§ 2º Os entes federados integrantes do Sistema Nacional de In- lização de equipamentos específicos para a gravação e reprodução
formações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade de de sons e imagens que instruem ou definem uma determinada si-
Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas tuação
(Sinesp) que deixarem de fornecer ou de atualizar seus dados e in- O emprego de meios eletrônicos, ou suporte eletrônico, repre-
formações no Sistema não poderão receber recursos do Pronasci.” senta a mais importante das armas à disposição contra o crime or-
(NR) ganizado. Fornece confiabilidade, provas objetivas por intermédio
Art. 49. Revogam-se os arts. 1º a 8º da Lei nº 12.681, de 4 de dos depoimentos dos próprios participantes e permite conhecer os
julho de 2012. planos dos criminosos para cometer crimes antes que sejam postos
Art. 50. Esta Lei entra em vigor após decorridos 30 (trinta) dias em prática.
de sua publicação oficial. O suporte eletrônico também é restrito em termos de duração.
Seu uso é limitado a 15 dias, que podem ser prolongados por perí-
Brasília, 11 de junho de 2018; 197º da Independência e 130º odos iguais, desde que todos os requerimentos sejam cumpridos e
da República. aprovados pelo juiz.
Modalidades de captação eletrônica da prova:
a) interceptação telefônica;
b) escuta telefônica;
ENFRENTAMENTO DO CRIME ORGANIZADO E DA COR- c) interceptação ambiental;
RUPÇÃO POLICIAL d) escuta ambiental;
e) gravação clandestina.
O crime organizado vem se infiltrando em nossa sociedade de
maneira vertiginosa e que o combate a esta criminalidade especia- Operações encobertas ou disfarçadas: são a segunda na hie-
lizada é uma árdua tarefa a ser executada pelos responsáveis pela rarquia das ferramentas de combate ao crime organizado, ficando
justiça criminal e segurança pública. atrás somente das investigações feitas com o auxílio do suporte
O crime organizado aproveita as carências e as expectativas so- eletrônico, sendo que ambas, não raramente, caminham de mãos
ciais para conseguir adeptos: muitos de seus membros tentam fugir dadas.
da pobreza e obter lucros e respeito por meio da participação na
atividade criminosa proporcionada por esse tipo de organização.

390
SEGURANÇA PÚBLICA
Os agentes são frequentemente capazes de ganhar a confiança Uma testemunha é admitida no Programa quando ela é capaz
dos bandidos, induzindo-os a revelar seu passado de crimes, bem de fornecer provas significantes em casos importantes nos quais
como convidando-os a participar de atividades que estejam já em haja a evidente ameaça a sua segurança. Uma vez no Programa,
andamento. Em conjunto com o suporte eletrônico, a abordagem a testemunha e sua família recebem novas identidades e são re-
disfarçada oferece uma cobertura regular das atividades diárias dos movidas para outra região do país onde os riscos à sua segurança
alvos. Entretanto, ela é muito delicada e representa um risco cons- são menores. Também lhes é dada assistência financeira até que a
tante de se atrair pessoas outrora inocentes para atividades crimi- testemunha esteja apta a um emprego seguro
nosas.
GARANTIA DO ACESSO À JUSTIÇA
Informantes: delicada técnica especializada utilizada para repri-
mir organizações criminosas envolve o uso de informantes. Um in-
formante é a pessoa que fornece dados/informes a um policial, com A garantia constitucional do acesso à justiça, também denomi-
relação a determinados fatos, circunstâncias ou pessoas. A classe nada de princípio da inafastabilidade da jurisdição, está consagrada
ou agrupamento social de um informante poderá variar com a na- no artigo 5º, inciso XXXV da Constituição Federal, que diz:
tureza do crime ou fato que está sendo investigado. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
O melhor informante não é aquele que o policial consegue na natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residen-
hora, é o que já existe, que já foi cultivado ou recrutado, que é co- tes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igual-
nhecido e cujos informes historicamente repassados já puderam dade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXV - a
ser avaliados. Poderemos ter dois tipos de informantes: o “confi- lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça
dente” e o “recrutado”. a direito;
Segundo o Manual Elementar n° 04, Coleção Polícia Metropoli-
tana, CALVANO, Alberto et al. Informações Policiais: fichários e ar- O artigo 8º da 1ª Convenção Interamericana sobre Direitos Hu-
quivos, 1977, são numerosos os motivos pelos quais uma pessoa se manos de São José da Costa Rica, da qual o Brasil é signatário, tam-
torna um informante: bém garante:
1) Vaidade – pessoas vaidosas gostam de fornecer informes, ob- Art. 8º. Toda pessoa tem direito de ser ouvida, com as garantias
tendo atitudes favoráveis dos policiais etc. e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente,
2) Atitude cívica – pessoas com elevado espírito público que de- independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na
sejam que a justiça seja feita. apuração de qualquer acusação penal contra ela, ou para que se
3) Medo – pessoas que desejam obter a proteção da polícia, determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhis-
pois sentem-se inseguras com perigos reais ou imaginários. ta, fiscal ou de qualquer natureza.
4) Remorsos – co-autores ou familiares dos criminosos, que ne-
cessitam informar sobre o crime pois está pesando em suas cons- O direito do acesso à justiça supera uma garantia constitucional,
ciências. sendo elevado a uma prerrogativa de Direitos Humanos, revelan-
5) Troca – pessoas que são detidas por ofensas pequenas e pro- do tamanha sua importância. A garantia constitucional do acesso à
curam negociar com o policial, informando sobre ofensas mais gra- justiça está intimamente ligada e se relaciona diretamente com os
ves de que tem conhecimento. demais princípios constitucionais, tais como, o da igualdade, haja
6) Privilégios – pessoas que dão informes para que possam ob- vista que o acesso à justiça não é condicionado a nenhuma caracte-
ter algum privilégio por parte do policial ou da polícia. O preso pode rística pessoal ou social, sendo, portanto, uma garantia ampla, geral
desejar cigarros, visitas, atenções para com sua família enquanto e irrestrita.
está em custódia.
7) Competição – pessoas que dão informes para prejudicar pos- Princípio da Inafastabilidade da Jurisdição
síveis concorrentes, afastar competidores no seu ramo de negócio. Também conhecido como Princípio do acesso à justiça, o princí-
Deve-se ter o máximo cuidado em sua utilização. pio da inafastabilidade da jurisdição tem previsão no artigo 5º, inci-
8) Vingança – pessoas que desejam vingar-se de outras por mo- so XXXV, da Constituição Federal vigente, que dispõe: “a lei não ex-
tivos vários e injurias passadas. cluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
9) Ciúmes – pessoas que tem, por qualquer motivo, inveja ou Esse princípio já deixa claro que, se por um lado cabe ao Poder
ciúmes de outras e desejam vê-las afastadas de seus caminhos ou Judiciário o monopólio da jurisdição, por outro lado é assegurado a
metidas em complicações. todo aquele que se sentir lesado ou ameaçado em seus direitos o
10) Estipêndio – pessoas que fornecem informes mediante pro- ingresso aos órgãos judiciais.
messas de recompensa. Devem ser avaliados cautelosamente e cri- O princípio do acesso à justiça não está somente para o legis-
teriosamente. lador, pois alcança principalmente o Estado-Juiz, que deverá colo-
11) Amizade - pessoas que tem amizade ao policial, são suas car à disposição dos interessados os meios que lhes garantam um
conhecidas ou querem expressar sua gratidão. Em geral, bons in- processo rápido e eficiente, eliminando os empecilhos que possam
formantes. se apresentar ao cidadão menos culto ou economicamente hipos-
suficiente, a fim de proporcionar às partes litigantes igualdade de
Proteção a testemunhas ameaçadas: apoio para a repressão às condições.
organizações criminosas. Por conta do violento comportamento por
parte de facções criminosas, a intimidação às testemunhas pode
significar um grande obstáculo no caminho de uma ação bem-su-
cedida.

391
SEGURANÇA PÚBLICA
Na intenção de privilegiar a celeridade e o acesso à justiça, ma- que tem sofrido o espaço público, notadamente pela degradação e
nifestam-se Bertolo e Ribeiro (2015), no sentido de que: diminuição dos espaços comunitários e de lazer, e pelo crescimento
“o princípio da inafastabilidade, assim como o devido processo da violência urbana.
legal, objetiva fazer com que o Estado crie novas formas de solução Fica impossível pensar numa sociedade sustentável quando a
de litígios, céleres, desburocratizadas e desvinculadas de ordena- prática de atos de violência, tanto física quanto simbólica, se trans-
mentos ultrapassados que interditam o livre acesso à justiça; isso forma num meio de vida, ainda mais quando esta é reforçada pela
quer dizer que todos têm acesso à justiça para postular tutela pre- ação, também violenta, dos serviços públicos responsáveis pela se-
ventiva ou reparatória; na verdade é o direito de ação, que todos gurança da população e, principalmente, pela gradativa privatiza-
possuem, quando sentirem-se lesados”. ção destes serviços de segurança.
A exclusão social é um dos grandes problemas ambientais das
VALORIZAÇÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS cidades, pois nenhuma sociedade supera os problemas ambientais
sem combater a exclusão social, e nenhuma prática inclusiva terá
um resultado efetivo encarcerando a população em blocos de con-
O Direito Urbanístico, mais do que o simples papel de ordena- creto. A necessidade de recuperação dos espaços públicos de uso
ção racional do espaço urbano, atua de forma decisiva no processo comunitário, principalmente das áreas verdes ganha, aí, notável im-
de inclusão social e reafirmação da dignidade da pessoa humana, portância.
fundamento do Estado brasileiro previsto no artigo 1º, III da Magna
Carta de 1988.
Com o avanço da sociedade industrial, a humanidade passou PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL
por uma verdadeira mudança em seu habitat, saindo do isolamento
da zona rural, para a ocupação desordenada do espaço urbano. A
revolução industrial, na realidade, nada mais fez do que decretar a O processo de construção democrática enfrenta hoje no Bra-
morte dos modelos baseados na exploração primitiva da mão-de-o- sil um dilema cujas raízes estão na existência de uma confluência
bra humana na produção agrícola. As máquinas passaram a tomar perversa entre dois processos distintos, políticos distintos. De um
conta do campo, e a população semianalfabeta que era explorada lado, um processo de alargamento da democracia, que se expres-
pelo sistema feudal, alienada dos meios de produção, passou a for- sa na criação de espaços públicos e na crescente participação da
mar os quadros produtivos da indústria moderna. sociedade civil nos processos de discussão e de tomada de decisão
A cidades atuais são produtos de um modelo de desenvolvimen- relacionados com as questões e políticas públicas (Teixeira, Dagnino
to econômico esgotado, pautado num individualismo consumista e e Silva, 2002).
na ganância pelo lucro fácil. Notamos isso, quando em plena época A participação popular deve ser elencada como um direito fun-
de escassez de recursos hídricos, as cidades venham sofrendo com damental porque permite que o cidadão participe das políticas pú-
a contaminação de suas águas superficiais e de seu lençol freático, blicas ativamente e não só por meio de seus representantes eleitos.
além de punição constante de seus habitantes por constantes ala- Constituindo-se como um mecanismo de defesa real do homem pe-
gamentos, típicos de uma ausência de planejamento e do dissolvi- rante a tutela estatal, na medida em que permite que os cidadãos
mento da sua sustentabilidade em interesses outros que não os da resguardem seus interesses e os alinhe com o interesse público e o
coletividade. bem estar social. Não existe cidadania sem dignidade e não existe
O futuro sustentável somente pode ser alcançado a partir da to- dignidade sem o exercício dos direitos políticos, direitos civis e di-
mada de consciência pela população em geral, da importância que reitos sociais. Sendo assim, viver com cidadania é participar de uma
cada um possui na solução dos problemas do seu universo. Cada sociedade e possuir direitos e deveres que lhe garantem uma vida
vez que jogamos um pedaço de papel na rua, não separamos, nem digna. O plebiscito, o referendo e a iniciativa popular são os únicos
acondicionamos adequadamente nossos resíduos, devemos ter cla- mecanismos de participação direta elencados de forma expressa
ro que esta atitude irresponsável implicará na falta de potabilidade na carta constitucional. A participação popular como direito funda-
das águas, nas cheias da cidade, sem contar na falta de recursos mental do cidadão, implica na intervenção popular nas instâncias
para investimentos pela administração em ruas, calçadas, serviços de poder, por intermédio de ações conjuntas nos processos de de-
de saúde, educação, dentre outros problemas enfrentados pelas cisão ou por meio do planejamento de ações de fiscalização, não se
cidades. restringindo apenas às formas prescritas na Constituição Federal.
Os artigos 43 a 45 do Estatuto das Cidades, preveem diversos A participação social tem sido importante, no entanto, muitas
instrumentos de participação direta da população na gestão pú- dessas conquistas ainda não se tornaram realidade para grande
blica, que devem ser efetivados pelos administradores, dentre os parte da população brasileira. Isto acontece basicamente por três
quais destacam-se órgãos colegiados de política urbana, debates, razões:
audiências e consultas públicas, conferências de assuntos de inte- - Primeiro, porque faltam informação e instrumentos suficien-
resse urbano, iniciativa popular de projetos de lei e de planos, pro- tes para permitir que os cidadãos exijam o cumprimento desses
gramas e projetos de desenvolvimento urbano. direitos nas suas relações cotidianas, como, por exemplo, acionan-
U aspecto importante para a construção de uma cidade susten- do juridicamente o poder público quando as normas e políticas se
tável é a inclusão social. Não existe sustentabilidade onde grande mostrarem insatisfatórias.
parte da população encontra-se marginalizada. Marginalização não - Segundo, porque a concretização desses direitos depende do
significa como prega a grande mídia, a prática de atos de delinquên- seu desdobramento em políticas públicas e da implementação de
cia, mas a condição de se estar à margem da sociedade, sem condi- uma série de serviços aos cidadãos e isso demanda um volume con-
ções de acesso a alguns (ou à totalidade de) direitos fundamentais. siderável de recursos (físicos, humanos e financeiros).
Na atual conjuntura brasileira estão à margem da sociedade, não - Em terceiro lugar, cabe mencionar que muitos dos princípios
apenas os moradores das periferias, os desempregados, os famin- e normas legais, particularmente no que se refere aos direitos de
tos, os que não possuem acesso aos serviços públicos de saúde e grupos sociais específicos encontram resistência que vão desde o
educação, mas também todos aqueles que se encontram encar- preconceito até a pressão de grupos conservadores alheios à cultu-
cerados entre quatro paredes, pela perda cada vez maior de valor ra e aos valores humanistas.

392
SEGURANÇA PÚBLICA
Em linhas gerais, pode-se afirmar que esses são os principais - Mulheres da Paz – a ideia está em promover a capacitação
desafios colocados para a política de direitos humanos e cidadania das mulheres para que sejam líderes das comunidades, adquirindo
atualmente. conhecimentos sobre a ética no trabalho com segurança pública,
direitos humanos e também em cidadania.
- Protejo – este programa está voltado para jovens que se en-
PROGRAMA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA contrem em regiões de descoesão social, para que este público atue
COM CIDADANIA (PRONASCI) como multiplicador da filosofia passada a eles pela iniciativa do pro-
jeto Mulheres da Paz, e pelas demais equipes.
- Plano Nacional de Habitação para Profissionais de Segurança
A segurança pública é direito fundamental do cidadão, garanti- Pública – esta iniciativa também conta com as ações do Plano Na-
do tanto pela Constituição Federal como pela Declaração Universal cional de Habitação para os profissionais de segurança pública, fun-
dos Direitos Humanos. cionando com o suporte da Caixa Econômica Federal. Basicamente,
O Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRO- através deste programa são disponibilizadas diversas unidades po-
NASCI) busca o controle e a prevenção da violência com a união de pulares com foco nos servidores que possuam uma renda conside-
políticas de segurança pública e de ações sociais que combatam as rada baixa, ou seja, devem receber pelo menos até quatro salários
causas socioeconômicas da criminalidade. mínimos federais.
Esse projeto pertencente ao Ministério da Justiça na qual busca - Ministérios e Secretarias Parceiras – além das ações que já
priorizar ações de prevenção e atingir diretamente todas as causas mencionamos nos itens anteriores, também existem algumas ini-
que levam a casos de violência, mas tudo isso sem deixar de consi- ciativas do Pronasci que são fruto de algumas parcerias feitas com
derar o ordenamento social e a necessidade de segurança pública. ministérios e secretarias. Nesse tipo de instância, o Pronasci age
de forma conjunta com o Programa de Aceleração do Crescimento
Principais Eixos do Pronasci (PAC) em algumas regiões onde existam obras voltadas para a ur-
- Busca do projeto pela valorização de todos os profissionais que banização e recuperação de espaços urbanos e para a melhoria da
atuam em serviços de segurança pública; infraestrutura nas comunidades. Outro exemplo que podemos citar
- Reestruturar todo o sistema penitenciário brasileiro; é a junção do Pronasci com a Secretaria Nacional Antidrogas, proje-
- Combater casos de corrupção dentro da polícia; to desenvolvido pela presidência da república e que visa ampliar, de
- Envolver a comunidade com ações de prevenção à violência. certa forma, os atendimentos via Viva Voz, uma ação que já existe
há muitos anos que que procura levar maior orientações e suporte
Como funciona o Pronasci para jovens e seus familiares quando o tema são as drogas.
O programa é uma iniciativa federal que possui pelo menos 94
ações voltadas para o enfrentamento da criminalidade no Brasil. LEI Nº 11.707, DE 19 DE JUNHO DE 2008.

Altera a Lei no 11.530, de 24 de outubro de 2007, que institui o


Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania - Pronas-
ci.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-


cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o Os arts. 2o, 3o, 4o, 6o e 9o da Lei no 11.530, de 24 de outu-
bro de 2007, passam a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 2o O Pronasci destina-se a articular ações de segurança pú-
blica para a prevenção, controle e repressão da criminalidade, es-
tabelecendo políticas sociais e ações de proteção às vítimas.” (NR)
“Art. 3o ................................................................................
I - promoção dos direitos humanos, intensificando uma cultura
de paz, de apoio ao desarmamento e de combate sistemático aos
preconceitos de gênero, étnico, racial, geracional, de orientação se-
xual e de diversidade cultural;
II - criação e fortalecimento de redes sociais e comunitárias;
Algumas principais ações: III - fortalecimento dos conselhos tutelares;
- Bolsa- Formação –todo profissional que trabalhar no setor de IV - promoção da segurança e da convivência pacífica;
segurança pública terá um estimulo para seguir seus estudos e pen- V - modernização das instituições de segurança pública e do sis-
sar em ações junto às comunidades. O valor pago pela bolsa é de R$ tema prisional;
400,00 e poderão vir a receber o benefício policiais civis e policiais VI - valorização dos profissionais de segurança pública e dos
militares, agentes penitenciários, peritos criminais, bombeiros, etc. agentes penitenciários;
O requisito básico para poder usufruir desta bolsa é o profissional VII - participação de jovens e adolescentes, de egressos do siste-
de segurança esteja devidamente aprovado em um curso de capa- ma prisional, de famílias expostas à violência urbana e de mulheres
citação promovido pela Secretaria Nacional de Segurança Pública em situação de violência;
(Senasp) pertencente ao Ministério da Justiça. VIII - ressocialização dos indivíduos que cumprem penas priva-
- Formação Policial – as qualificações fornecidas aos policiais tivas de liberdade e egressos do sistema prisional, mediante imple-
incluem práticas de segurança-cidadã, tais como ter que utilizar mentação de projetos educativos, esportivos e profissionalizantes;
tecnologia não letal; métodos de investigação criminal, sistemas de IX - intensificação e ampliação das medidas de enfrentamento
comandos, perícia, DNA forense, entre outros. do crime organizado e da corrupção policial;

393
SEGURANÇA PÚBLICA
X - garantia do acesso à justiça, especialmente nos territórios “Art. 8o-A. Sem prejuízo de outros programas, projetos e ações
vulneráveis; integrantes do Pronasci, ficam instituídos os seguintes projetos:
XI - garantia, por meio de medidas de urbanização, da recupera- I - Reservista-Cidadão;
ção dos espaços públicos; II - Proteção de Jovens em Território Vulnerável - Protejo;
XII - observância dos princípios e diretrizes dos sistemas de ges- III - Mulheres da Paz; e
tão descentralizados e participativos das políticas sociais e das re- IV - Bolsa-Formação.
soluções dos conselhos de políticas sociais e de defesa de direitos Parágrafo único. A escolha dos participantes dos projetos pre-
afetos ao Pronasci; vistos nos incisos I a III do caput deste artigo dar-se-á por meio de
XIII - participação e inclusão em programas capazes de respon- seleção pública, pautada por critérios a serem estabelecidos con-
der, de modo consistente e permanente, às demandas das vítimas juntamente pelos entes federativos conveniados, considerando,
da criminalidade por intermédio de apoio psicológico, jurídico e so- obrigatoriamente, os aspectos socioeconômicos dos pleiteantes.”
cial; “Art. 8o-B. O projeto Reservista-Cidadão é destinado à capacita-
XIV - participação de jovens e adolescentes em situação de mo- ção de jovens recém-licenciados do serviço militar obrigatório, para
radores de rua em programas educativos e profissionalizantes com atuar como agentes comunitários nas áreas geográficas abrangidas
vistas na ressocialização e reintegração à família; pelo Pronasci.
XV - promoção de estudos, pesquisas e indicadores sobre a vio- § 1o O trabalho desenvolvido pelo Reservista-Cidadão, que terá
lência que considerem as dimensões de gênero, étnicas, raciais, ge- duração de 12 (doze) meses, tem como foco a articulação com jo-
racionais e de orientação sexual; vens e adolescentes para sua inclusão e participação em ações de
XVI - transparência de sua execução, inclusive por meios eletrô- promoção da cidadania.
nicos de acesso público; e § 2o Os participantes do projeto de que trata este artigo recebe-
XVII - garantia da participação da sociedade civil.” (NR) rão formação sociojurídica e terão atuação direta na comunidade.”
“Art. 4o ....................................................................... “Art. 8o-C. O projeto de Proteção de Jovens em Território Vulne-
I - foco etário: população juvenil de 15 (quinze) a 24 (vinte e rável - Protejo é destinado à formação e inclusão social de jovens
quatro) anos; e adolescentes expostos à violência doméstica ou urbana ou em
II - foco social: jovens e adolescentes egressos do sistema pri- situações de moradores de rua, nas áreas geográficas abrangidas
sional ou em situação de moradores de rua, famílias expostas à vio- pelo Pronasci.
lência urbana, vítimas da criminalidade e mulheres em situação de § 1o O trabalho desenvolvido pelo Protejo terá duração de 1
violência; (um) ano, podendo ser prorrogado por igual período, e tem como
III - foco territorial: regiões metropolitanas e aglomerados ur- foco a formação cidadã dos jovens e adolescentes a partir de práti-
banos que apresentem altos índices de homicídios e de crimes vio- cas esportivas, culturais e educacionais que visem a resgatar a auto-
lentos; e estima, a convivência pacífica e o incentivo à reestruturação do seu
IV - foco repressivo: combate ao crime organizado.” (NR) percurso socio formativo para sua inclusão em uma vida saudável.
“Art. 6o ........................................................................ § 2o A implementação do Protejo dar-se-á por meio da identi-
I - criação de Gabinete de Gestão Integrada - GGI; ficação dos jovens e adolescentes participantes, sua inclusão em
II - garantia da participação da sociedade civil e dos conselhos práticas esportivas, culturais e educacionais e formação socioju-
tutelares nos fóruns de segurança pública que acompanharão e fis- rídica realizada por meio de cursos de capacitação legal com foco
calizarão os projetos do Pronasci; em direitos humanos, no combate à violência e à criminalidade, na
III - participação na gestão e compromisso com as diretrizes do temática juvenil, bem como em atividades de emancipação e so-
Pronasci; cialização que possibilitem a sua reinserção nas comunidades em
IV - compartilhamento das ações e das políticas de segurança, que vivem.
sociais e de urbanização; § 3o A União bem como os entes federativos que se vincularem
V - comprometimento de efetivo policial nas ações para pacifi- ao Pronasci poderão autorizar a utilização dos espaços ociosos de
cação territorial, no caso dos Estados e do Distrito Federal; suas instituições de ensino (salas de aula, quadras de esporte, pisci-
VI - disponibilização de mecanismos de comunicação e informa- nas, auditórios e bibliotecas) pelos jovens beneficiários do Protejo,
ção para mobilização social e divulgação das ações e projetos do durante os finais de semana e feriados.”
Pronasci; “Art. 8o-D. O projeto Mulheres da Paz é destinado à capacitação
VII - apresentação de plano diretor do sistema penitenciário, no de mulheres socialmente atuantes nas áreas geográficas abrangidas
caso dos Estados e do Distrito Federal; pelo Pronasci.
VIII - compromisso de implementar programas continuados de § 1o O trabalho desenvolvido pelas Mulheres da Paz tem como
formação em direitos humanos para os policiais civis, policiais mi- foco:
litares, bombeiros militares e servidores do sistema penitenciário; I - a mobilização social para afirmação da cidadania, tendo em
IX - compromisso de criação de centros de referência e apoio vista a emancipação das mulheres e prevenção e enfrentamento da
psicológico, jurídico e social às vítimas da criminalidade; e violência contra as mulheres; e
X – (VETADO) II - a articulação com jovens e adolescentes, com vistas na sua
“Art. 9o As despesas com a execução dos projetos correrão à participação e inclusão em programas sociais de promoção da ci-
conta das dotações orçamentárias consignadas anualmente no or- dadania e na rede de organizações parceiras capazes de responder
çamento do Ministério da Justiça. de modo consistente e permanente às suas demandas por apoio
Parágrafo único. Observadas as dotações orçamentárias, o Po- psicológico, jurídico e social.
der Executivo deverá, até o ano de 2012, progressivamente esten- § 2o A implementação do projeto Mulheres da Paz dar-se-á por
der os projetos referidos no art. 8o-A desta Lei para as regiões me- meio de:
tropolitanas de todos os Estados federados.” (NR) I - identificação das participantes;
Art. 2o A Lei no 11.530, de 24 de outubro de 2007, passa a vi- II - formação sociojurídica realizada mediante cursos de capa-
gorar acrescida dos seguintes arts. 8o-A, 8o-B, 8o-C, 8o-D, 8o-E, 8o-F, citação legal, com foco em direitos humanos, gênero e mediação
8o-G e 8o-H: pacífica de conflitos;

394
SEGURANÇA PÚBLICA
III - desenvolvimento de atividades de emancipação da mulher e § 9o Observadas as dotações orçamentárias do programa, fica
de reeducação e valorização dos jovens e adolescentes; e autorizada a inclusão de guardas civis municipais como beneficiá-
IV - colaboração com as ações desenvolvidas pelo Protejo, em rios do programa, mediante o instrumento de cooperação federati-
articulação com os Conselhos Tutelares. va de que trata o art. 5o desta Lei, observadas as condições previstas
§ 3o Fica o Poder Executivo autorizado a conceder, nos limites em regulamento.”
orçamentários previstos para o projeto de que trata este artigo, “Art. 8o-F. O Poder Executivo concederá auxílio financeiro aos
incentivos financeiros a mulheres socialmente atuantes nas áreas participantes a que se referem os arts. 8o-B, 8o-C e 8o-D desta Lei, a
geográficas abrangidas pelo Pronasci, para a capacitação e exercício partir do exercício de 2008, nos seguintes valores:
de ações de justiça comunitária relacionadas à mediação e à educa- I - R$ 100,00 (cem reais) mensais, no caso dos projetos Reservis-
ção para direitos, conforme regulamento.” ta-Cidadão e Protejo; e
“Art. 8o-E. O projeto Bolsa-Formação é destinado à qualificação II - R$ 190,00 (cento e noventa reais) mensais, no caso do pro-
profissional dos integrantes das Carreiras já existentes das polícias jeto Mulheres da Paz.
militar e civil, do corpo de bombeiros, dos agentes penitenciários, Parágrafo único. A concessão do auxílio financeiro dependerá
dos agentes carcerários e dos peritos, contribuindo com a valori- da comprovação da assiduidade e do comprometimento com as
zação desses profissionais e consequente benefício da sociedade atividades estabelecidas no âmbito dos projetos de que tratam os
brasileira. arts. 8o-B, 8o-C e 8o-D desta Lei, além de outras condições previstas
§ 1o Para aderir ao projeto Bolsa-Formação, o ente federativo em regulamento, sob pena de exclusão do participante.”
deverá aceitar as seguintes condições, sem prejuízo do disposto no “Art. 8o-G. A percepção dos auxílios financeiros previstos por
art. 6o desta Lei, na legislação aplicável e do pactuado no respectivo esta Lei não implica filiação do beneficiário ao Regime Geral de Pre-
instrumento de cooperação: vidência Social de que tratam as Leis nos 8.212 e 8.213, ambas de
I - viabilização de amplo acesso a todos os policiais militares e 24 de julho de 1991.”
civis, bombeiros, agentes penitenciários, agentes carcerários e peri- “Art. 8o-H. A Caixa Econômica Federal será o agente operador
tos que demonstrarem interesse nos cursos de qualificação; dos projetos instituídos nesta Lei, nas condições a serem estabeleci-
II - instituição e manutenção de programas de polícia comuni- das com o Ministério da Justiça, obedecidas as formalidades legais.”
tária; e Art. 3o Fica revogado o art. 10 da Lei no 11.530, de 24 de outu-
III - garantia de remuneração mensal pessoal não inferior a R$ bro de 2007.
1.300,00 (mil e trezentos reais) aos membros das corporações indi- Art. 4o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação
cadas no inciso I deste parágrafo, até 2012.
§ 2o Os instrumentos de cooperação não poderão ter prazo de Brasília, 19 de junho de 2008; 187o da Independência e 120o da
duração superior a 5 (cinco) anos. República.
§ 3o O beneficiário policial civil ou militar, bombeiro, agente pe-
nitenciário, agente carcerário e perito dos Estados-membros que Referências Bibliográficas:
tiver aderido ao instrumento de cooperação receberá um valor re- FERRAZ, Claudio Armando - Crime organizado: diagnóstico e
ferente à Bolsa-Formação, de acordo com o previsto em regulamen- mecanismos de combate / Delegado de Polícia Civil Claudio Arman-
to, desde que: do Ferraz. Rio de Janeiro: ESG, 2012.
I - frequente, a cada 12 (doze) meses, ao menos um dos cursos Comunidade Pronasci - Saiba como participa - Ministério da Jus-
oferecidos ou reconhecidos pelos órgãos do Ministério da Justiça, tiça
nos termos dos §§ 4o a 7o deste artigo; Disponível em https://acessocidadao.com/pronasci/ Acesso em
II - não tenha cometido nem sido condenado pela prática de 04.08.2021
infração administrativa grave ou não possua condenação penal nos Disponível em https://djonatanh01.jusbrasil.com.br/artigos/
últimos 5 (cinco) anos; e Acesso em 05.08.2021
III - não perceba remuneração mensal superior ao limite estabe- Disponível em https://www.direitonet.com.br Acesso em
lecido em regulamento. 05.08.2021
§ 4o A Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da
Justiça será responsável pelo oferecimento e reconhecimento dos QUESTÕES
cursos destinados aos peritos e aos policiais militares e civis, bem
como aos bombeiros.
§ 5o O Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da 1. (DPE-RS - Técnico de Apoio Especializado – Segurança - FCC –
Justiça será responsável pelo oferecimento e reconhecimento dos 2013) Toda carência ou falha identificada no sistema defensivo de
cursos destinados aos agentes penitenciários e agentes carcerários. uma organização, possibilitando a ocorrência de ações criminosas,
§ 6o Serão dispensados do cumprimento do requisito indicado caracteriza o conceito de
no inciso I do § 3o deste artigo os beneficiários que tiverem obtido (A) risco.
aprovação em curso de especialização reconhecido pela Secretaria (B) ameaça.
Nacional de Segurança Pública ou pelo Departamento Penitenciário (C) atentado.
Nacional do Ministério da Justiça. (D) insegurança.
§ 7o O pagamento do valor referente à Bolsa-Formação será de- (E) vulnerabilidade.
vido a partir do mês subsequente ao da homologação do requeri-
mento pela Secretaria Nacional de Segurança Pública ou pelo De-
partamento Penitenciário Nacional, de acordo com a natureza do
cargo exercido pelo requerente.
§ 8o Os requisitos previstos nos incisos I a III do § 3o deste artigo
deverão ser verificados conforme o estabelecido em regulamento.

395
SEGURANÇA PÚBLICA
2. (ITAIPU BINACIONAL - Agente de Segurança - SENAI - PR –
2016) Em relação ao Sistema de Segurança Pública do Brasil e ao
ANOTAÇÕES
seu cenário atual, é correto afirmar que:
(A) Um estado marcado fortemente pela implementação de ______________________________________________________
um sistema penal pode ser fruto de uma desregulamentação
da economia e das relações sociais do trabalho. ______________________________________________________
(B) A segurança pública é um processo estático e desarticulado,
à medida que as necessidades da população mudam ao longo ______________________________________________________
do tempo.
(C) A prestação de serviços públicos de segurança engloba ape- ______________________________________________________
nas a segurança repressiva, sendo a segurança preventiva fun-
______________________________________________________
ção da segurança privada.
(D) A segurança pública é direito do Estado; dever e responsa- ______________________________________________________
bilidade de todos.
(E) A segurança pública brasileira é composta pelos seguintes ______________________________________________________
órgãos: Polícia Federal, Polícia Civil e Forças Armadas.
______________________________________________________
3. (DEPEN - Agente Penitenciário Federal - Área 5 - CESPE –
2015) Com base no disposto na Resolução Conjunta n.º 1/2014, do ______________________________________________________
Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) e do
______________________________________________________
Conselho Nacional de Combate à Discriminação (CNCD/LGBT), jul-
gue o item subsequente. ______________________________________________________
Embora a legislação em vigor represente avanços no que con-
cerne aos direitos da população LGBT, as normas penais pertinentes ______________________________________________________
ainda não preveem visita íntima para esse segmento.
( ) CERTO ______________________________________________________
( ) ERRADO
______________________________________________________
4. (DEPEN - Agente Penitenciário Federal - Área 5 - CESPE –
2015) Com base no disposto na Resolução Conjunta n.º 1/2014, do ______________________________________________________
Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) e do
______________________________________________________
Conselho Nacional de Combate à Discriminação (CNCD/LGBT), jul-
gue o item subsequente. ______________________________________________________
As pessoas transexuais masculinas e femininas devem ser en-
caminhadas para unidades prisionais masculinas ou femininas, de ______________________________________________________
acordo com seu sexo biológico.
( ) CERTO ______________________________________________________
( ) ERRADO
______________________________________________________
5. (DEPEN - Agente Penitenciário Federal - Área 5 - CESPE –
______________________________________________________
2015) Com base no disposto na Resolução Conjunta n.º 1/2014, do
Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) e do ______________________________________________________
Conselho Nacional de Combate à Discriminação (CNCD/LGBT), jul-
gue o item subsequente. ______________________________________________________
Em razão de sua segurança e vulnerabilidade, travestis e gays
em situação de privação de liberdade, quando em unidades prisio- _____________________________________________________
nais masculinas, podem ser transferidas compulsoriamente para
espaços de vivência específicos. _____________________________________________________
( ) CERTO
( ) ERRADO ______________________________________________________

______________________________________________________

GABARITO ______________________________________________________

______________________________________________________
1 E
______________________________________________________
2 A
______________________________________________________
3 ERRADO
4 ERRADO ______________________________________________________
5 ERRADO
______________________________________________________

______________________________________________________

396

Você também pode gostar