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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO DE GRADUADOS

DIREITO PENAL MILITAR E ADMINISTRATIVO


VOLUME ÚNICO

COMUM

CEG

IMPRESSO NA GRÁFICA DA EEAR


MINISTÉRIO DA DEFESA
COMANDO DA AERONÁUTICA
ESCOLA DE ESPECIALISTAS DE AERONÁUTICA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO DE
GRADUADOS
VOLUME ÚNICO

Apostila da Disciplina Direito Penal Militar e


Administrativo do Curso de Especialização de
Graduados - CEG

Edições(es):
4ª Edição: SO BMT Rodrigo – 1/2022
2S SAD Letícia Lemos – 1/2022
2S SGS Douglas Oliveira – 1/2022

Revisor(es) Pedagógico(s): SO BMT RODRIGO


2T PED Vieira – 2022
AP PED S. Rodrigues - 2022

Revisor(es) Estilístico – gramatical:


AP MRM Lilian – 2022

Revisor(es) de Diagramação:
CB SAD M. Carvalho – 2022

GUARATINGUETÁ – SP
2022
4 / 108 CEG - DIREITO PENAL MILITAR E ADMINISTRATIVO EEAR

EEAR - DIVISÃO DE ENSINO DE PÓS FORMAÇÃO (DEPF)


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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO......................................................................................................................................6
CAPÍTULO 1 - CÓDIGO PENAL MILITAR........................................................................................11
TÓPICO 1.1 - CRIME MILITAR............................................................................................................12
TÓPICO 1.2 - PRINCÍPIO DA LEGALIDADE OU DA RESERVA LEGAL....................................13
TÓPICO 1.3 - ARTIGO 9º, DO CÓDIGO PENAL MILITAR.............................................................15
TÓPICO 1.4 - POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR...............................................................................40
CAPÍTULO 2 - INQUÉRITO POLICIAL MILITAR...........................................................................47
TÓPICO 2.1 - INTRODUÇÃO AO INQUÉRITO POLICIAL MILITAR.........................................47
TÓPICO 2.2 - AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO (APFD).........................................64
CAPÍTULO 3 - PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO...................................................................92
TÓPICO 3.1 - SINDICÂNCIA................................................................................................................92
CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................................104
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................................105
REFERÊNCIAS DAS FIGURAS...........................................................................................................107

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APRESENTAÇÃO

Prezado(a) aluno(a), parabéns por sua matrícula neste Curso de Especialização de


Graduados (CEG). Trata-se de um grande momento em sua carreira.

Possivelmente você já teve contato com alguns dos assuntos abordados nesta apostila,
contudo, outros serão apresentados a você pela primeira vez no decorrer do nosso estudo. O que
se pretende, ao explorarmos os tópicos tratados neste material de estudo, é capacitá-lo para
exercer as atribuições de um graduado em sua posição hierárquica, na qual serão exigidos
conhecimentos e habilidades para assessorar superiores e orientar equipes compostas por
militares mais modernos.

Ao longo da leitura você observará algumas estratégias que utilizamos para facilitar a sua
compreensão. Queremos que nosso contato seja proveitoso, agradável e que essa fase da sua vida
seja lembrada pelo sucesso alcançado por meio de seu esforço e sua dedicação. Passaremos
algumas horas juntos e a todo momento dialogaremos sobre assuntos os quais você convive
diariamente. É importante destacar que você será o “ator” nesta construção da própria
aprendizagem. Leia e responda todos os questionamentos, respeite os marcadores, pois a
metodologia utilizada na confecção deste material busca minimizar dúvidas, produzir reflexões e
desenvolver a sua aprendizagem. Compreender, interpretar, analisar e avaliar são pontos
importantes para a sua aprendizagem. Esperamos que nossa convivência contribua ainda mais
para seu aperfeiçoamento e desenvolvimento das habilidades necessárias para seu sucesso
profissional.

Antes de adentrarmos no estudo de que trata esta disciplina, é importante lembrar que,
durante o período de formação, foi abordado o ensino da disciplina “Justiça Militar”,
compreendendo na divisão didática em Código Penal Militar, Lei de Organização Judiciária
Militar e Conselho de Disciplina.

A partir dessa premissa, a disciplina “Direito Penal Militar e Administrativo” tem por
objetivo relembrar alguns conceitos, mas principalmente dar enfoque ao aspecto prático e
sistêmico do direito penal militar e administrativo.

Assim, o conteúdo está didaticamente dividido em Crime Militar, Inquérito Policial


Militar, Auto de Prisão em Flagrante Delito e Sindicância.

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Diante desses assuntos, o terceiro-sargento poderá compreender ainda mais o sistema de


justiça militar, iniciando pelos atos executados em sua Organização Militar, até o envio à
Circunscrição Judiciária Militar, podendo chegar ao Superior Tribunal Militar.

Recentemente, ocorreram duas mudanças na legislação militar. Estas ocorreram por meio
da Lei nº 13.491/2017, que alterou o artigo 9º do Código Penal Militar, e da Lei nº 13.774/2018,
responsável por alterações na Lei de Organização da Justiça Militar da União (LOJM – Lei nº
8.457/1992).

Em decorrência dessas mudanças, o rol de crimes militares foi ampliado e os magistrados


não são mais denominados como Juízes-Auditores, mas Juízes Federais da Justiça Militar da
União.

Além do mais, em 2019, uma importante ferramenta foi divulgada pelo Ministério
Público Militar: o Manual de Polícia Judiciária Militar. Esse manual busca nortear todos os atos
desempenhados nas três Forças (Aeronáutica, Marinha e Exército), e foi utilizado na confecção
desta apostila, além de doutrinas, Instruções do Comando da Aeronáutica (ICA) e outros
materiais de apoio.

Por fim, fica apenas um alerta: os modelos de confecções de documentos e detalhes


específicos sobre Inquérito Policial Militar e Auto de Prisão em Flagrante Delito estão previstos
no Manual e devem se aplicados, assim como os arquivos sobre Sindicância estão disciplinados
na ICA 111-2/2017, já que esta apostila tem apenas o objetivo didático de apresentar o conteúdo
de forma geral.

Parabéns novamente e votos de sucesso em seus estudos!

AD ASTRA ET ULTRA!

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ESTRUTURA DA DISCIPLINA

A disciplina “Direito Penal Militar e Administrativo”, pertencente ao Campo Militar e à


área de Ciências Militares, tem como objetivos específicos:

a) conceituar crimes militares no contexto do Código Penal Militar (Cp);

b) descrever os principais procedimentos administrativos previstos no Código de Processo


Penal Militar (Cp); e
c) identificar a sistemática procedimental da Sindicância (Cp).

Buscando atingir os objetivos específicos, a disciplina contará com uma carga horária de
39 (trinta e nove) tempos para instrução e 06 (seis) tempos para avaliação, distribuídos em 03
(três) unidades didáticas:

1) Código Penal Militar


2) Código de Processo Penal Militar
3) Sindicância

A Unidade 1 está estruturada da seguinte forma:

1. CÓDIGO PENAL MILITAR

Objetivo específico da Unidade 1:

a) conceituar crimes militares no contexto do Código Penal Militar (Cp).


SUBUNIDADE OBJETIVOS OPERACIONALIZADOS

a) apontar o conceito de Crime Militar (Cn); e


1. CRIME MILITAR b) descrever o Princípio da Legalidade ou da Reserva Legal
(Cn).

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a) enunciar os aspectos do Artigo 9º do código penal militar –


CPM (Cn);
b) distinguir os crimes militares em tempo de paz (Cn);
c) enunciar o Inciso I do artigo 9º do CPM (Cn);
d) enunciar o Inciso II do artigo 9º do CPM (Cn);
e) enunciar o Inciso II, alínea “a”, do artigo 9º do CPM (Cn);
f) enunciar o Inciso II, alínea “b”, do artigo 9º do CPM (Cn);
g) enunciar o Inciso II, alínea “c”, do artigo 9º do CPM (Cn);
h) enunciar o Inciso II, alínea “d”, do artigo 9º do CPM (Cn);
i) enunciar o Inciso II, alínea “e”, do artigo 9º do CPM (Cn);
2. ARTIGO 9º, DO CÓDIGO
PENAL j) enunciar o Inciso III do artigo 9º do CPM (Cn);
k) enunciar o Inciso III, alínea “a”, do artigo 9º do CPM (Cn);
l) enunciar o Inciso III, alínea “b”, do artigo 9º do CPM (Cn);
m) enunciar o Inciso III, alínea “c”, do artigo 9º do CPM
(Cn);
n) enunciar o Inciso III, alínea “d”, do artigo 9º do CPM
(Cn);
o) caracterizar os crimes dolosos contra a vida (Cn);
p) enunciar o Parágrafo 1º do artigo 9º do CPM (Cn); e
q) enunciar o Parágrafo 2º do artigo 9º do CPM (Cn).

3. POLÍCIA JUDICIÁRIA a) apresentar as características da Polícia Judiciária Militar


MILITAR (Cp).

A Unidade 2 está estruturada da seguinte forma:

2. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL MILITAR

Objetivo específico da Unidade 2:

a) descrever os principais procedimentos administrativos previstos no Código de Processo


Penal Militar (Cp).

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SUBUNIDADE OBJETIVOS OPERACIONALIZADOS

1. INTRODUÇÃO AO a) caracterizar o Inquérito Policial Militar – IPM (Cn); e


INQUÉRITO POLICIAL b) exemplificar o IPM (Cp).
MILITAR (IPM)

2. AUTO DE PRISÃO EM a) caracterizar o Auto de Prisão em Flagrante Delito –


FLAGRANTE DELITO APFD (Cn); e
(APFD) b) exemplificar o APFD (Cp).
a) caracterizar a Instrução Provisória de Deserção (Cn); e
3. INSTRUÇÃO PROVISÓRIA
b) exemplificar a Instrução Provisória de Deserção (Cp).
DE DESERÇÃO

4. COMENTÁRIOS SOBRE a) Apontar os aspectos da deserção de praça com ou m


DESERÇÃO DE PRAÇA COM estabilidade (Cn); e
OU SEM ESTABILIDADE b) Distinguir a Apresentação Voluntária ou Captura (Cp).

A Unidade 3 está estruturada da seguinte forma:

1. SINDICÂNCIA

Objetivo específico da Unidade 3:

a) identificar a sistemática procedimental da Sindicância (Cp).

SUBUNIDADE OBJETIVOS OPERACIONALIZADOS

a) apontar o conceito de Crime Militar (Cn); e


1. PROCEDIMENTOS DA
b) descrever o Princípio da Legalidade ou da Reserva Legal
SINDICÂNCIA
(Cn).

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CAPÍTULO 1 - CÓDIGO PENAL MILITAR


Olá!

Para iniciarmos a disciplina, vamos falar, nesse primeiro capítulo,


sobre o Código Penal Militar.

Ao final do capítulo, você deverá ser capaz de conceituar crimes


militares no contexto do Código Penal Militar e estará preparado para
enunciar alguns de seus incisos.

Vamos juntos nessa?


Inicialmente, é importante compreender que o Direito Penal Militar tem por objeto
proteger bens jurídicos relevantes, tais como: segurança externa do país, autoridade ou disciplina
militar, serviço e dever militar, vida, patrimônio, administração militar, entre outros.

Nesse sentido, a ciência militar visa assegurar e proteger os pilares das Forças Armadas: a
hierarquia e a disciplina militar, dispostos na Constituição Federal1.

É por esse motivo que Nucci (2019, p.3) afirma que “A constatação dos valores de
hierarquia e disciplina, como regentes da carreira militar, confere legitimidade à existência do
direito penal militar e da Justiça Militar”.

O ordenamento jurídico militar visa exclusivamente proteger os interesses do Estado e


das instituições militares. Desta forma, será considerado como crime aquela conduta que vá de
encontro aos bens tutelados pelo Direito Penal.

O crime militar tem previsão no Código Penal Militar (CPM) editado pelo Decreto-Lei
nº 1001, de 21 de outubro de 1969, mas com a recente mudança trazida pela Lei nº 13.491, de
2017, foram incluídos também como crimes militares, desde que somadas a algumas
circunstâncias, as legislações penais que elencam condutas delituosas.

Em contrapartida, o Código de Processo Penal Militar (CPPM) foi editado pelo Decreto-
Lei nº 1002, de 21 de outubro de 1969. É um ramo do direito voltado à atividade jurisdicional no
julgamento do acusado na prática de um crime militar.

1 Conforme art. 142, da Constituição Federal: “As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e
pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na
disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia
dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”.

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Ainda, é imperioso esclarecer que o Código Penal Militar é dividido em Parte Geral (art.
1º ao art. 135) e Parte Especial (art. 136 ao art. 410). A Parte Especial é subdividida em Livro I –
Dos Crimes Militares em Tempo de Paz e em Livro II – Dos Crimes Militares em Tempo de
Guerra.

Por fim, alguns crimes militares em tempo de paz serão analisados, correspondendo aos
mais comuns e praticados, mas antes é necessário abordar o conceito de crime militar.

TÓPICO 1.1 - CRIME MILITAR

O art. 124, da Constituição Federal esclarece que “à Justiça Militar compete processar e
julgar os crimes militares definidos em lei”.

Assim, coube ao Código Penal Militar (Decreto-Lei nº 1.001/69) apontar as condutas que
serão definidas como crime militar, bem como indicar a pena a qual o agente estará sujeito caso
venha a descumprir a norma sancionadora.

Nesse sentido, dispõe o próprio art. 19 do Código Penal Militar que “este código não
compreende as infrações dos regulamentos disciplinares”.

Isso porque, como esclarecido por Loureiro Neto (2010), o delito (crime) pressupõe a
grave violação de uma norma legal, enquanto que uma infração disciplinar viola um regulamento
militar, por isso é menos grave.

É oportuno esclarecer que, conforme o Regulamento Disciplinar da Aeronáutica, a


transgressão disciplinar1 é “toda ação ou omissão contrária ao dever militar e, como tal,
classificada nos termos do presente Regulamento. Distingui-se do crime militar, que é ofensa
mais grave a esse mesmo dever, segundo o preceituado na legislação penal militar”.

Desta forma, o militar está sob a égide de diversos deveres e, quando comete um crime
castrense, viola tanto a norma legal, como também de um dever.

Em continuação, as circunstâncias para a prática de crimes militares em tempo de paz


estão dispostas no art. 9º do Código Penal Militar, sendo divididos, tecnicamente, como crimes
próprios e crimes impróprios.

Nuci (2019, p. 33) esclarece que serão considerados os delitos militares próprios ou
autenticamente militares aqueles que “possuem previsão única e tão somente no Código Penal
1 Art. 8º, do Regulamento Disciplinar da Aeronáutica (RDAER) – Decreto nº 76.322/1975.

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Militar, sem correspondência em qualquer outra lei, particularmente no Código Penal, destinado
à sociedade civil. Além disso, somente podem ser cometidos por militares – jamais por civis”. A
título de exemplo de crime militar próprio: motim e a revolta (art. 149 a 153, do CPM).

Nuci (2019, p.146) menciona que “denominam-se crimes militares impróprios os que
possuem dupla previsão, vale dizer, tanto no Código Penal Militar quanto no Código Penal
comum, ou legislação similar, com ou sem divergência de definição. Ou também o delito
previsto somente na legislação militar que pode ter o civil por sujeito ativo (grifo nosso)”. A
título de exemplo de crime militar impróprio: homicídio que tem previsão tanto no art. 205, do
CPM quanto no Código Penal comum (art. 121).

Cumpre esclarecer que no art. 10, do Código Penal Militar são encontradas as
circunstâncias dos crimes militares em tempo de guerra. Entretanto, esses delitos não serão
analisados neste estudo.

Por fim, como já mencionado, a definição de crime estará disposta sempre em lei. Tal
proteção encontra amparo constitucional por meio de um dos preceitos mais importantes, o
princípio da legalidade.

TÓPICO 1.2 - PRINCÍPIO DA LEGALIDADE OU DA RESERVA LEGAL

O Código Penal Militar, em seu artigo 1º, dispõe sobre um dos princípios mais
importantes, o Princípio da Legalidade, também conhecido como Princípio da Reserva Legal.
O referido artigo diz que:

Art. 1º Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação
legal.

Cumpre salientar que o Princípio também possui previsão no inciso XXXIX do art. 5º da
Constituição Federal.

O Princípio da Legalidade significa que toda conduta criminosa deverá estar prevista em
lei, assim, por mais que o estado brasileiro faça parte de tratados internacionais que possam
definir delitos, há necessidade de ter, previamente, a figura em lei.

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Como esclarecido por Greco (2016, p.144) “a lei é a única fonte do Direito Penal quando
se quer proibir ou impor condutas sob a ameaça de sanção. Tudo o que não for, expressamente,
proibido é lícito em Direito Penal”. Além disso, o autor menciona sobre as quatro funções
fundamentais do princípio da legalidade:

a) proibir a retroatividade da lei penal;

b) proibir a criação de crimes e penas pelos costumes;

c) proibir o emprego de analogia para criar crimes, fundamentar ou agravar penas;

d) proibir incriminações vagas e indeterminadas.

É importante esclarecer que o art. 1º do Código Penal Militar também dispõe sobre o
Princípio da Anterioridade. Tal princípio deve ser entendido como a necessidade de existir lei
penal antes da prática do ilícito penal pelo infrator (ROSA, 2014).

Nucci (2019, p.11) diz que anterioridade “significa ser obrigatória a prévia existência de
lei penal incriminadora para que alguém possa ser processado e condenado, exigindo, também,
prévia cominação de sanção para que alguém possa sofrê-la”.

Assim, diante do exposto, torna-se notória a relação entre o princípio da legalidade e o


princípio da anterioridade. Visto que o princípio da anterioridade dispõe da necessidade de ter
uma sanção prévia, além da conduta ilícita elencada antes do fato, ou seja, isso quer dizer que a
lei e a respectiva pena deverão estar em vigência antes da própria conduta.

- Procure no conteúdo estudado as


palavras-chave que melhor representam o que
foi estudado até aqui.

- Faça uma lista dessas palavras-chave

Vamos seguida de um breve comentário.

fazer algumas - A partir da leitura delas, tente


anotações! reconstruir o que foi visto.

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TÓPICO 1.3 - ARTIGO 9º, DO CÓDIGO PENAL MILITAR

Os crimes militares podem ser divididos em crimes militares próprios e impróprios.


Conforme Nuci (2019), entende-se por crime militar próprio aquele previsto apenas no Código
Penal Militar (CPM), sem correspondência em outra lei, bem como é cometido por militar. Em
contrapartida, o crime militar impróprio é aquele que tem previsão no Código Penal Militar e
no Código Penal Comum ou em outra legislação penal, havendo, portanto, uma dupla previsão.

Quanto aos crimes militares impróprios, a Justiça Militar da União tem competência para
processar e julgar civis que venham a cometer tais delitos. Isso porque, conforme o art. 124, da
Constituição Federal, “À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares
definidos em Lei” (grifo nosso).

Isso significa que a competência da justiça militar abrange processar e julgar tanto o civil
quanto o militar que tenha cometido delito disposto no Código Penal Militar.

Diferente é o caso da Justiça Militar Estadual que, nos termos do §4º, do art. 125, da
Constituição Federal1, somente poderá processar e julgar os militares estaduais.

Importante mencionar que a Lei nº 8.457, de 4 de setembro de 1992, Lei de Organização


Judiciária Militar, é responsável por estruturar2 a Justiça Militar da União (JMU).

Assim, correspondem a órgãos da JMU: o Superior Tribunal Militar, Corregedoria da


Justiça Militar da União, Ministro Corregedor, Juiz-Corregedor Auxiliar, Conselhos de Justiça e
os Juízes Federais da Justiça Militar e os Juízes Federais Substitutos da Justiça Militar.

Nesse sentido, é imperioso esclarecer que o processamento e julgamento dos militares são
realizados pelos Conselhos Especiais de Justiça, destinados a julgar os oficiais (com exceção
de oficiais generais3), e pelos Conselhos Permanentes de Justiça, que julgam as praças.

Contudo, há diferença entre o processo e o julgamento de um civil e de um militar


quanto à prática de crime militar. Isso porque os Conselhos (Especial ou Permanente) não

1 Art.125, §4º, da CF/88: “Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos
crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a
competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e
da patente dos oficiais e da graduação das praças”.
2 Para melhor compreensão sobre a organização da Justiça Militar da União, leia as páginas 10 e 16 da Cartilha
“Conhecendo a Justiça Militar da União em quadrinhos. Disponível em:
<https://dspace.stm.jus.br/xmlui/handle/123456789/135217>.
3 Nos termos do art. 6º, inciso I, alínea “a”, da LOJM, “compete ao Superior Tribunal Militar processar e julgar
originalmente os oficiais generais das Forças Armadas, nos crimes definidos em lei”.

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possuem competência para processar e julgar o civil. Assim, será competente o Juiz Federal da
Justiça Militar, monocraticamente4, para processar e julgar o civil que venha a praticar crime
militar, bem como, será competente no caso em que o militar venha a praticar crime com o civil,
conforme art. 30, inciso I-B, da Lei de Organização da Justiça Militar.

Quanto aos delitos castrenses, no art. 9º do Código Penal Militar, encontram-se as


definições dos crimes militares, bem como suas circunstâncias. Nesse sentido, a fim de ter um
panorama, segue o dispositivo na íntegra:

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal
comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial;

II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando


praticados:

a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma


situação ou assemelhado;

b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração


militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;

c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza


militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar
da reserva, ou reformado, ou civil;

d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou


reformado, ou assemelhado, ou civil;

e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a


administração militar, ou a ordem administrativa militar;

f) revogada.

III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as
instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os
do inciso II, nos seguintes casos:

4 Art. 30, I-B, da LOJM, “compete ao juiz federal da Justiça Militar, monocraticamente, processar e julgar civis
nos casos previstos nos incisos I e III do art. 9º do Decreto-Lei nº 1.001, de 21 de outubro de 1969 (Código
Penal Militar) e militares, quando estes forem acusados juntamente com aqueles no mesmo processo”.

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a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa


militar;

b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou


assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de
função inerente ao seu cargo;

c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância,


observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;

d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de
natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem
pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em
obediência a determinação legal superior.

§1º Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por
militares contra civil, serão da competência do Tribunal do Júri.

§2º Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por
militares das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se
praticados no contexto:

I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da


República ou pelo Ministro de Estado da Defesa;

II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo


que não beligerante; ou

III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem


ou de atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da
Constituição Federal e na forma dos seguintes diplomas legais:

a) Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica;

b) Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999;

c) Decreto-Lei no 1.002, de 21 de outubro de 1969 - Código de Processo Penal Militar; e

d) Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral.

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Antes de iniciarmos o estudo pormenorizado dos incisos e alíneas do artigo 9º, é


importante elencar alguns dos crimes militares em tempo de paz dispostos no Livro I da Parte
Especial do Código Penal Militar, tendo em vista que serão contextualizados em exemplos a
partir dos próximos tópicos.

- Desrespeito a superior

Art. 160. Desrespeitar superior diante de outro militar:

Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.

Desrespeito a comandante, oficial general ou oficial de serviço

Parágrafo único. Se o fato é praticado contra o comandante da unidade a que pertence o


agente, oficial-general, oficial de dia, de serviço ou de quarto, a pena é aumentada da metade.

- Recusa de obediência

Art. 163. Recusar obedecer a ordem do superior sobre assunto ou matéria de serviço, ou
relativamente a dever imposto em lei, regulamento ou instrução:

Pena - detenção, de um a dois anos, se o fato não constitui crime mais grave.

- Violência contra inferior

Art. 175. Praticar violência contra inferior:

Pena - detenção, de três meses a um ano.

Resultado mais grave - Parágrafo único. Se da violência resulta lesão corporal ou morte, é
também aplicada a pena do crime contra a pessoa, atendendo-se, quando fôr o caso, ao disposto
no art. 159.

- Abandono de posto

Art. 195. Abandonar, sem ordem superior, o posto ou lugar de serviço que lhe tenha sido
designado, ou o serviço que lhe cumpria, antes de terminá-lo:

Pena - detenção, de três meses a um ano.

- Embriaguez em serviço

Art. 202. Embriagar-se o militar, quando em serviço, ou apresentar-se embriagado para


prestá-lo:

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Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

- Dormir em serviço

Art. 203. Dormir o militar, quando em serviço, como oficial de quarto ou de ronda, ou em
situação equivalente, ou, não sendo oficial, em serviço de sentinela, vigia, plantão às máquinas,
ao leme, de ronda ou em qualquer serviço de natureza semelhante:

Pena - detenção, de três meses a um ano.

- Embriaguez ao volante

Art. 279. Dirigir veículo motorizado, sob administração militar na via pública,
encontrando-se em estado de embriaguez, por bebida alcoólica, ou qualquer outro inebriante:

Pena - detenção, de três meses a um ano.

- Tráfico, posse ou uso de entorpecente ou substância de efeito similar

Art. 290. Receber, preparar, produzir, vender, fornecer, ainda que gratuitamente, ter em
depósito, transportar, trazer consigo, ainda que para uso próprio, guardar, ministrar ou entregar
de qualquer forma a consumo substância entorpecente, ou que determine dependência física ou
psíquica, em lugar sujeito à administração militar, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:

Pena - reclusão, até cinco anos.

- Desacato a superior

Art. 298. Desacatar superior, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, ou procurando


deprimir-lhe a autoridade:

Pena - reclusão, até quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave.

Agravação de pena - Parágrafo único. A pena é agravada, se o superior é oficial general


ou comandante da unidade a que pertence o agente.

- Desacato a militar

Art. 299. Desacatar militar no exercício de função de natureza militar ou em razão dela:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não constitui outro crime.

- Prevaricação

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Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra
expressa disposição de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

Além dos crimes indicados acima, outros delitos serão estudados ao longo das matérias.
Entretanto, sugere-se a leitura do material “Conhecendo a Justiça Militar da União em
quadrinhos”, que pode ser acessado por meio de link disponível no Ambiente Virtual de
Aprendizagem (AVA) > Biblioteca Virtual.

Aproveitando os conteúdos vistos até aqui? Esse assunto é sempre


instigante não é mesmo? Vamos seguir estudando então!

- A fim de esclarecer, didaticamente, cada um dos


incisos e alíneas, vamos explicá-los por meio de exemplos
hipotéticos e desenhos.
Alerta!

TÓPICO 1.3.1 – ART. 9º, INCISO I

O inciso I dispõe sobre os crimes que têm previsão no Código Penal Militar com
definição diferente da lei penal comum ou aqueles que não têm previsão, independentemente do
agente ser militar ou civil. O inciso I diz que:

I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal
comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial;
Além disso, o inciso I dispõe sobre os crimes que só possuem previsão no Código Penal
Militar e só podem ser realizados por militares, isto é, os denominados crimes militares próprios.
Como exemplos destes, têm-se: Abandono de posto (art. 195, do CPM) (Figura 1A), Dormir em
serviço (art. 203, do CPM) (Figura 1B), Embriaguez em serviço (art. 202, do CPM) (Figura 1C).

Figura 1 - crimes militares próprios

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(A) Abandono de posto (B) Dormir em serviço (C) Embriaguez em


(art. 195, do CPM) (art. 203, do CPM) serviço (art. 202, do CPM)

FONTE: ADAPTADA DE PUBLIC DOMAINS VECTORS (2020); MONTEDO (2020); UNIVERSO HQ (2020).

Em contrapartida, há aqueles crimes que possuem uma definição diferente no Código


Penal Militar em relação à legislação penal comum, mas são considerados crimes militares
impróprios por serem praticados por civis ou por militares.

Por exemplos, há o crime de uso indevido de uniforme militar (art. 172, do CPM), sendo
possível a conduta por militar ou civil, e o crime de criação de incapacidade física (art. 184, do
CPM), conduta praticada apenas por civil.

TÓPICO 1.3.2 – ART. 9º, INCISO II

O Inciso II do Art. 9º do Código Penal Militar dispõe sobre os crimes com previsão tanto
neste como também abrange aqueles crimes previstos na legislação penal. O inciso II diz que:

II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando


praticados:

Para que esses delitos sejam da competência da Justiça Militar da União serão analisados
com algumas condições, ou melhor, circunstâncias.

A fim de facilitar o entendimento do assunto, veja a Figura 2:

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FIGURA 2 – CRIME MILITAR

FONTE: O AUTOR (2020).

Dessa maneira, o termo legislação penal é amplo, podendo abranger não apenas os crimes
disciplinados no Código Penal Comum, mas também aqueles previstos em outras legislações,
por exemplo, crimes do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990), da Lei de
Abuso de Autoridade (Lei nº 13.869/2019), da Lei de Licitações (Lei nº 14.133/2021), como
também, a princípio, delitos da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), dentre outros.

Quanto a este último exemplo, Lei Maria da Penha, é explicado por Nuci (2019, p.35):

Ser militar envolve inúmeras responsabilidades distintas da vida civil, justamente o


motivo de existência da Justiça Especializada para julgar os delitos militares. Em qualquer
cenário, o militar que agride o militar, ambos na ativa, deve ser julgado na Justiça castrense. Não
vemos diferença para tal finalidade se o militar-marido lesiona a militar-esposa dentro do quartel
ou dentro da residência comum do casal. Trata-se de crime militar, embora reconheçamos a
tendência de se deixar fora do âmbito militar as agressões existentes no cenário doméstico. (grifo
nosso)

- A fim de esclarecer, didaticamente,


cada um dos incisos e alíneas, vamos explicá-
los por meio de exemplos hipotéticos e
desenhos.
Alerta!

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Você identificou algum desses conceitos em seu ambiente de


trabalho? Percebe como os assuntos jurídicos permeiam nosso dia a dia?
Por isso é tão importante estudá-los sempre.

ART. 9º, INCISO II, ALÍNEA “A”

A alínea “a” dispõe sobre o crime praticado pelo militar da ativa 1 contra militar da ativa
(Figura 3). Conforme pode ser observado a seguir em sua transcrição:

“por militar em situação de atividade2 ou assemelhado, contra militar na mesma


situação ou assemelhado”.

FIGURA 3 - MILITAR DA ATIVA QUE PRATICA CRIME CONTRA MILITAR DA ATIVA

FONTE: ADAPTADA DE DREAMSTIME (2020).

A seguir, encontram-se dois exemplos de casos que se enquadram na alínea “a”:

Exemplo 1: Cabo que, durante partida de futebol, desfere soco em um soldado desafeto
(sabendo dessa qualidade de militar).

Conduta do Cabo: Crime de “Lesão Corporal (Leve)” – art. 209, do Código Penal Militar
c/c art. 9º, II, alínea “a” do Código Penal Militar.

Exemplo 2: Sargento de Dia, responsável pelo xadrez, que não cumpre alvará de soltura,
injustificadamente, ou seja, mantém o militar preso além do tempo necessário.

1 Conforme art. 6º, da Lei nº 6.880/80, “são equivalentes as expressões "na ativa", "da ativa", "em serviço
ativo", "em serviço na ativa", "em serviço", "em atividade" ou "em atividade militar" , conferidas aos
militares no desempenho de cargo, comissão, encargo, incumbência ou missão, serviço ou atividade militar ou
considerada de natureza militar nas organizações militares das Forças Armadas, bem como na Presidência da
República, na Vice-Presidência da República, no Ministério da Defesa e nos demais órgãos quando previsto em
lei, ou quando incorporados às Forças Armadas”.
2 Segundo o art. 12, do CPM, “O militar da reserva ou reformado, empregado na administração militar,
equipara-se ao militar em situação de atividade, para o efeito da aplicação da lei penal militar”.

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Conduta do Sargento: Crime de “Abuso de autoridade” – art. 12, inciso IV, da Lei nº
13.869/2019 c/c art 9º, inciso II, alínea “a”, do Código Penal Militar.

Por fim, cabe esclarecer que o crime na situação de militar da ativa contra militar da ativa
é controversa, isso porque, de acordo com o CPM, a única condição é a de ser militar em
atividade, sem importar o local ou motivo pelo qual o crime tenha sido cometido. Entretanto, de
modo diverso é o entendimento jurisprudencial. Assim, a fim de conhecimento, segue julgado
sobre o assunto:

Compete à Justiça Militar julgar crime cujo autor e vítima sejam militares, desde que
ambos estejam em serviço e em local sujeito à administração militar. O mero fato de a vítima e
de o agressor serem militares não faz com que a competência seja obrigatoriamente da Justiça
Militar. O cometimento de delito por militar contra vítima militar somente será de competência
da Justiça Castrense nos casos em que houver vínculo direto com o desempenho da atividade
militar. STF. 1ª Turma. HC 135019/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 20/09/2016 (Info
840).

ART. 9º, INCISO II, ALÍNEA “B”

A alínea “b” dispõe sobre o crime praticado por militar da ativa contra militar da reserva
ou reformado e civil (Figura 4), mas dentro da Organização Militar. A alínea “b” diz que:

“por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração


militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil”.
FIGURA 4 - MILITAR DA ATIVA QUE PRATICA CRIME CONTRA MILITAR INATIVO OU CIVIL

FONTE: ADAPTADA DE GARTIC (2020); SHUTTERSTOCK (2020); DEPOSITPHOTOS (2020); FREEPIK (2020).

Os exemplos a seguir referem-se a casos que se enquadram na alínea “b”:

Exemplo 1: Primeiro-Sargento dentro de uma organização militar compartilhando fotos


de crianças com conteúdo pornográfico no computador de sua seção.

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Conduta do Sargento: crime de “Difusão de pedofilia” - art. 241-A do Estatuto da Criança


e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990) c/c art. 9º, II, alínea “b” do Código Penal Militar.

Exemplo 2: Uma sargento, dentro da Seção de Pessoal, que vem a desrespeitar um


Suboficial da Reserva, na frente de um soldado que também trabalha no setor.

Conduta da Sargento: crime de “Desrespeito a superior” – art. 160, do Código Penal


Militar c/c art. 9º, II, alínea “b” do Código Penal Militar.

ART. 9º, INCISO II, ALÍNEA “C”

A alínea “c” dispõe sobre o crime praticado por militar em serviço ou atuando em
atividade de natureza militar ou formatura, contra militar da reserva ou reformado e civil, mas
fora da Organização Militar (Figura 5). Na referida alínea consta que:

“por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza


militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar
da reserva, ou reformado, ou civil”.

FIGURA 5 - MILITAR EM SERVIÇO, FORMATURA, ETC. QUE PRATICA CRIME CONTRA MILITAR INATIVO OU CIVIL

FONTE: ADAPTADA DE DREAMSTIME (2020); DEPOSITPHOTOS (2020); FREEPIK (2020).

O exemplo a seguir refere-se a um caso que se enquadra na alínea “c”:

Exemplo: Soldado participando da segurança, durante o desfile de tropa armada, em


formatura cívica de 7 de setembro, que, ao ver um antigo rival, dá voz de prisão sem justo
motivo.

Conduta do Soldado: crime de “Abuso de autoridade” – Art. 9º, da Lei nº 13.869/2019 c/c
art. 9º, II, alínea “c” do Código Penal Militar.

ART. 9º, INCISO II, ALÍNEA “D”

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A alínea “d” dispõe sobre o crime praticado contra militar da reserva ou reformado ou
civil, durante a realização de algum exercício ou manobra (Figura 6). A alínea “d” diz o
seguinte:

“por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou


reformado, ou assemelhado, ou civil.”

FIGURA 6 - MILITAR, DURANTE MANOBRA OU EXERCÍCIO, QUE PRATICA CRIME CONTRA MILITAR INATIVO OU CIVIL

FONTE: ADAPTADA DE CANSTOCKPHOTO (2020); DEPOSITPHOTOS (2020); FREEPIK (2020).

Como exemplo, de caso que se enquadra na alínea “d”, tem-se:

Exemplo: Uma sargento participando de um exercício de adestramento da tropa, marcha


a pé, ofende um suboficial da reserva (sem saber dessa qualidade) com as palavras de baixo
calão (xingamentos).

Conduta da Sargento: crime de “Injúria” – Art. 216, do Código Penal Militar c/c art. 9º,
II, alínea “d” do Código Penal Militar.

ART. 9º, INCISO II, ALÍNEA “E”

A alínea “e” dispõe sobre o crime praticado por militar da ativa contra o patrimônio sob a
administração militar (Figura 7). A referida alínea diz que:

“por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a


administração militar, ou a ordem administrativa militar”.

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FIGURA 7 - MILITAR DA ATIVA QUE PRATICA CRIME CONTRA PATRIMÔNIO SOB ADMINISTRAÇÃO
MILITAR CONTRA A ORDEM ADMINISTRATIVA MILITAR

FONTE: ADAPTADA DE PUBLIC DOMAIN VECTORS (2019); GARTIC (2020).

A seguir, encontram-se dois exemplos de casos que se enquadram na alínea “e”:

Exemplo 1: Uma militar, Primeiro-Sargento, responsável pelo processo licitatório e que


dispensa licitação fora das hipóteses previstas em Lei, vindo a lesionar o patrimônio militar.

Conduta da Sargento: Crime contra a Licitação e Contratos Administrativos – art. 337-E,


do Código Penal, incluído pela Lei nº 14.133/2021 c/c art. 9º, II, alínea “e” do Código Penal
Militar.

Exemplo 2: Um Segundo-Sargento que, após ter discutido com a esposa, chega ao seu
local de trabalho e quebra o computador da seção.

Conduta do Sargento: crime de “Dano qualificado” – Art. 261, inciso III, do Código
Penal Militar c/c art. 9º, II, alínea “d” do Código Penal Militar.

TÓPICO 1.3.3 – ART. 9º, INCISO III

O Inciso III dispõe sobre as condutas criminosas cometidas pelos militares da reserva ou
reformado, bem como pelos civis, contra as instituições militares. Assim, compreende-se tanto
os crimes dispostos no Código Penal Militar ou previstos de modo diverso na legislação penal,
como também os crimes elencados em outras leis penais, desde que ocorram no contexto das
circunstâncias que constam nas alíneas “a”, “b”, “c”, “d” e “e” do Inciso III descritas ao longo do
texto. A transcrição do referido Inciso encontra-se a seguir:

“os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as
instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os
do inciso II, nos seguintes casos:”

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Procure por exemplos do que foi visto até agora. Você já ouviu algo
sobre o que vimos em sua Organização Militar ou em outra? Compartilhe
sua experiência no fórum da disciplina!

- Procure no conteúdo estudado as palavras-chave que


melhor representam o que foi estudado até aqui.

- Faça uma lista dessas palavras-chave seguida de um


breve comentário.

Vamos fazer - A partir da leitura delas, tente reconstruir o que foi


algumas anotações! visto.

- A fim de esclarecer, didaticamente, cada um dos


incisos e alíneas, vamos explicá-los por meio de exemplos
hipotéticos e desenhos.
Alerta!

ART. 9º, INCISO III, ALÍNEA “A”

A alínea “a” trata da hipótese do militar da reserva, reformado ou civil que vem a
cometer crime contra o patrimônio sob administração militar ou ordem administrativa militar
(Figura 8). A referida alínea diz que:

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“contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa


militar.”

FIGURA 8 - MILITAR INATIVO OU CIVIL QUE PRATICA CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO SOB A ADMINISTRAÇÃO
MILITAR OU CONTRA A ORDEM ADMINISTRATIVA

FONTE: ADAPTADA DE FREEPIK (2019); DEPOSITPHOTOS (2019); GARTIC (2020).

A seguir, encontra-se um exemplo de caso que se enquadra na alínea “a”:

Exemplo: Suboficial da Reserva Remunerada que, irritado com o atendimento de um


Terceiro-Sargento, intencionalmente, ao sair do setor, bate a porta com força, vindo a danificá-la.

Conduta do Suboficial: Crime de “Dano simples” - Art. 259, do Código Penal Militar c/c
art. 9º, inciso III, alínea “a”, do Código Penal Militar.

ART. 9º, INCISO III, ALÍNEA “B”

A alínea “b” trata da hipótese do militar da reserva, reformado ou civil, dentro de uma
Organização Militar, que comete crime contra militar da ativa ou funcionário da Justiça Militar,
exercendo a sua função (Figura 9). Na alínea “b” consta que:

“em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou


assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de
função inerente ao seu cargo”.

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FIGURA 9 - MILITAR INATIVO OU CIVIL QUE PRATICA CRIME, EM LUGAR SUJEITO À ADMINISTRAÇÃO MILITAR,
CONTRA MILITAR DA ATIVA OU CONTRA FUNCIONÁRIO DE MINISTÉRIO MILITAR OU DA JUSTIÇA MILITAR O
PATRIMÔNIO SOB A ADMINISTRAÇÃO MILITAR OU CONTRA A ORDEM ADMINISTRATIVA

FONTE: ADAPTADA DE GARTIC (2019); GOGRAPH (2020); PUBLIC DOMAIN VECTORS (2019); DEPOSIT PHOTOS
(2020).

Como exemplo de caso que se enquadra na referida alínea, tem-se:

Exemplo: civil que, ao entrar em uma Organização Militar, não cumpre a ordem da
sentinela que se encontrava no portão da guarda.

Conduta do civil: Crime de “Oposição a ordem de sentinela 1” - Art. 164, do Código Penal
Militar c/c art. 9º, inciso III, alínea “b”, do Código Penal Militar.

ART. 9º, INCISO III, ALÍNEA “C”

A alínea “c” trata de militar da reserva, reformado ou civil que comete crime contra
militar em: formatura, durante período de prontidão, acampamento, dentre outras hipóteses
(Figura 10). A referida alínea encontra-se transcrita a seguir:

“contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação,


exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras.”

1 Oposição a ordem de sentinela


Art. 164. Opor-se às ordens da sentinela:
Pena – detenção, de seis meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.

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FIGURA 10 - MILITAR INATIVO OU CIVIL QUE PRATICA CRIME CONTRA MILITAR EM FORMATURA, DURANTE PERÍODO
DE PRONTIDÃO, ETC.
FONTE: ADAPTADA DE FREEPIK (2020); DEPOSITPHOTOS (2020); FREEPIC (2020).

Como exemplo de caso que se enquadra na referida alínea “c”, tem-se:

Exemplo: civil que agride fisicamente militar em formatura, participando da comissão de


recebimento de convidados.

Conduta do civil: Crime de “Lesão corporal” - Art. 209, do Código Penal Militar c/c art.
9º, inciso III, alínea “c”, do Código Penal Militar.

ART. 9º, INCISO III, ALÍNEA “D”

Alínea “d” trata do caso em que o militar da reserva, reformado ou civil, fora da
organização militar, comete crime contra militar em serviço de natureza militar (Figura 11). A
alínea “e” encontra-se transcrita a seguir:

“ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de
natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem
pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em
obediência à determinação legal superior.”

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FIGURA 11 - MILITAR INATIVO OU CIVIL QUE PRATICA CRIME CONTRA MILITAR EM FUNÇÃO DE NATUREZA MILITAR,
OU NO DESEMPENHO DE SERVIÇO DE VIGILÂNCIA, ETC.

FONTE: ADAPTADA DE FREEPIK (2019); DEPOSITPHOTOS (2019); FREEPIK (2020).

Como exemplo de caso que se enquadra na alínea “d”, tem-se:

Exemplo: Um civil (dependente de militar), dentro de viatura militar, vem a desrespeitar


o Cabo (motorista) responsável pela condução do veículo durante o trajeto até o hospital da FAB
em outra cidade.

Conduta do civil: Crime de “Desacato” - Art. 299, do Código Penal Militar c/c art. 9º,
inciso III, alínea “d”, do Código Penal Militar.

TÓPICO 1.3.4 – CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA

O Código Penal Militar trata, em especial, sobre a competência da Justiça Comum para
processar e julgar crimes militares que sejam dolosos contra a vida de civil.

Além disso, é uma previsão constitucional disposta no art. 5º, inciso XXXVIII, alínea
“d”, da CF/88:

XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei,
assegurados:

[...]

d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida; (grifo nosso)

Entretanto, a competência da Justiça Militar da União foi alterada, por meio da Lei nº
13.491/2017, passando a processar e julgar crimes dolosos contra a vida de civil, diante de
algumas circunstâncias. Assim, foi incluído o parágrafo 2º no art. 9º, do CPM, conforme será
esclarecido no item 1.2.4.1.

Inicialmente, os crimes dolosos contra a vida no Código Penal Militar estão dispostos
nos artigos 205, 207 e 208, sendo eles:

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Homicídio simples

Art. 205. Matar alguém:

Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

Provocação direta ou auxílio a suicídio

Art. 207. Instigar ou induzir alguém a suicidar-se, ou prestar-lhe auxílio para que o faça,
vindo o suicídio consumar-se:

Pena - reclusão, de dois a seis anos.

Genocídio

Art. 208. Matar membros de um grupo nacional, étnico, religioso ou pertencente a


determinada raça, com o fim de destruição total ou parcial desse grupo:

Pena - reclusão, de quinze a trinta anos.

Diante dessa análise prévia, vamos estudar cada um dos parágrafos do dispositivo
mencionado.

ART. 9º, PARÁGRAFO 1º

O parágrafo 1° do Art. 9° encontra-se enunciado a seguir:

“Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por
militares contra civil, serão da competência do Tribunal do Júri”.

Em continuidade com o estudo do art. 9º, o parágrafo 1º diz respeito aos crimes dolosos
contra a vida, pois, embora sejam crimes militares no contexto das hipóteses do inciso II do art.
9º, o Inquérito Policial Militar ou o Auto de Prisão em Flagrante será remetido à Justiça Militar
da União, para que sejam analisados os fatos e, posteriormente, se comprovado o crime doloso
contra vida, os autos deverão remetidos à Justiça Comum, que possui a competência para
processar e julgar.

Nesse sentido, é respondido o questionamento trazido por Neves (2018): “pode haver
exercício de polícia judiciária militar em casos de crimes que não sejam de competência da
Justiça Militar? A resposta é em sentido afirmativo, e diz respeito ao crime doloso contra vida de
civil (p. 282)”.

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Assim aduz o §2º, do art. 82, do Código de Processo Penal Militar: “Nos crimes dolosos
contra a vida, praticados contra civil, a Justiça Militar encaminhará os autos do inquérito
policial militar à justiça comum”.

A fim de esclarecer, vamos para a seguinte situação hipotética:

Exemplo: Oficial médico militar que realiza aborto em Sargento grávida, com o seu
consentimento, em um hospital militar.

Conduta do Oficial: Crime de “aborto com o consentimento da gestante” - art. 126, do


Código Penal c/c art. 9º, II, alínea “b”, do Código Penal Militar

Conduta da Sargento: crime de “Aborto provocado pela gestante ou com seu


consentimento” - art. 124, do Código Penal Comum* c/c art. 9º, II, alínea “b” do Código Penal
Militar.

Gostou do conteúdo até aqui? As “coisas” aparentam fazer mais


sentido para você? Isso é bom! Indica que você está crescendo
profissionalmente.

- O Crime de aborto não tem previsão no Código


Penal Militar, mas, sim, no Código Penal Comum. Trata-se
de um homicídio doloso contra a vida.
Alerta!

Nesse caso, em tese, trata-se de crime militar, pois os autores são militares, o crime
ocorreu dentro de hospital militar, contra civil (feto). Contudo, conforme parágrafo 1º, do art. 9º,
do CPM, a competência para processar e julgar será do Tribunal do Júri.

ART. 9º, PARÁGRAFO 2º

O parágrafo 2° do art. 9° do Código Penal Militar encontra-se transcrito a seguir:

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EEAR CEG – DIREITO PENAL MILITAR E ADMINISTRATIVO 35 / 108

Os crimes de que trata esse artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares
das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se
praticados no contexto:

I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da


República ou pelo Ministro de Estado da Defesa;

II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo


que não beligerante; ou

III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem


ou de atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da
Constituição Federal e na forma dos seguintes diplomas legais:

a) Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica;

b) Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999;

c) Decreto-Lei nº 1.002, de 21 de outubro de 1969 - Código de Processo Penal Militar; e

d) Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral.

Feita a leitura do dispositivo, o parágrafo 2º dispõe que o crime doloso contra a vida de
civil, se cometidos por militares contra civis, no contexto das circunstâncias supracitadas, não
serão da competência do Tribunal do Júri (parágrafo 1º), mas, sim, da competência da Justiça
Militar da União (Figura 12).

FIGURA 12 - JUSTIÇA MILITAR


DA UNIÃO

FONTE: VLADIMIRARAS (2017).

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EEAR CEG – DIREITO PENAL MILITAR E ADMINISTRATIVO 36 / 108

Não esqueça que o descanso é fundamental para que você possa


aprender tantos conceitos. Dê uma pausa e converse com alguém a respeito
do que você está aprendendo nesta disciplina. Essa é uma boa dica para
estudar melhor, coloque-a em prática!

- A fim de esclarecer, didaticamente, cada um dos


incisos e alíneas, vamos explicá-los por meio de exemplos
hipotéticos e desenhos.
Alerta!

- Procure no conteúdo estudado as palavras-chave que


melhor representam o que foi estudado até aqui.

- Faça uma lista dessas palavras-chave seguida de um


breve comentário.

Vamos fazer - A partir da leitura delas, tente reconstruir o que foi


algumas anotações! visto.

Continuando o estudo, o inciso I (Figura 13) do parágrafo 2° do art. 9°dispõe:

“do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da


República ou pelo Ministro de Estado da Defesa”.

Como exemplo de caso que se enquadra no inciso I, tem-se:

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Exemplo: Um militar das Forças Armadas atuando em operações de primeiros socorros


em caso de calamidade pública e venha, durante as atividades, cometer um homicídio doloso
contra a vida de civil.

FIGURA 13 - CONHECENDO A JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO EM QUADRINHOS

FONTE: DSPACE (2020).

O inciso II trata:

“de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo
que não beligerante”.

A seguir, encontra-se um exemplo que se enquadra no inciso II (Figura 14):

Exemplo: Soldado, sentinela de um paiol, que realiza disparo e mata uma pessoa (civil)
que adentrava clandestinamente no quartel.

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FIGURA 14 - CRIME PRATICADO NA SITUAÇÃO DE SEGURANÇA DE INSTITUIÇÃO MILITAR OU MISSÃO


MILITAR

FONTE: ADAPTADA DE CANSTOCKPHOTO (2020); FREEPIK (2020).

Por fim, o inciso III trata:

“de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem ou


de atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da
Constituição Federal e na forma dos seguintes diplomas legais:

a) Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica;

b) Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999;

c) Decreto-Lei nº 1.002, de 21 de outubro de 1969 - Código de Processo Penal Militar; e

d) Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral


A seguir, encontram-se exemplos para cada uma das alíneas do inciso III:

a) Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986 – Código Brasileiro de Aeronáutica1:

Exemplo: Aeronave clandestina que adentra no espaço aéreo e, após todos os


procedimentos e tiro de advertência, vem a ser abatida, causando a morte do piloto (Figura 15).

b) Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 19992 - Emprego das Forças Armadas


(atividades subsidiárias) (Figura 16):

Exemplo 1: Sargento que comete homicídio doloso contra vida de civil durante operação
de segurança no combate de crime transfronteiriço.

Exemplo 2: homicídio doloso contra vida de civil, em uma comunidade do Rio de


Janeiro, durante operação de garantia da lei e da ordem.
1 Código Brasileiro de Aeronáutica: "http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7565.htm
2 Lei Complementar nº 97, 09.06.1999: "http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp97.htm"

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c) Decreto-Lei nº 1.002, de 21 de outubro de 1969 – Código de Processo Penal


Militar1:

Exemplo: Durante o cumprimento de um mandado de prisão de um sargento, o militar,


executante do mandado, vem a matar civil que o agrediu e tentava impedir a prisão do sargento.

d) Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 – Código Eleitoral2:

Exemplo: Durante o processo de levar as urnas eletrônicas em locais inóspitos, um


militar que realizava a segurança mata dolosamente um civil (Figuras 17 e 18).

FIGURA 17 – URNA ELETRÔNICA FIGURA 18 - FAB AUXILIA NO TRANSPORTE DE URNAS


PARA O SEGUNDO TURNO

FONTE: FAB (2020). FONTE: FAB (2020).

Você percebe como os assuntos estão relacionados com nosso


cotidiano? Pelos exemplos, vimos que muitas situações hipotéticas usadas
como exemplos são bem razoáveis de acontecerem na realidade, não acha?

Por isso é melhor estudar bastante e compreender esse assunto tão


importante em nossas vidas, então vamos lá!

1 Código de Processo Penal Militar: "http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del1002.htm"


2 Código Eleitoral: "http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4737.htm"

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Parabéns por ter avançado até aqui! Está na hora de


fazer uma pausa.

Lembre-se de que o descanso e a reflexão fazem parte


Agora, que tal do estudo.
uma pausa?

TÓPICO 1.4 - POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR

Diante de um crime, é dever1 do militar agir repressivamente, por meio do poder de


polícia judiciária militar.

Antes de adentrar ao tema, é importante esclarecer que há o poder de polícia e o poder


da polícia (Figura 19).

FIGURA 19 – DIFERENÇA PODER DE POLÍCIA E PODER DA POLÍCIA

FONTE: O AUTOR (2020).

O Poder de polícia está relacionado aos direitos relativos à liberdade e à propriedade.


Assim, segundo Marinela (2016, p.285), o poder de polícia é “um instrumento conferido ao

1 Conforme art. 243, do CPPM: “Qualquer pessoa poderá e os militares deverão prender quem for insubmisso ou
desertor, ou seja, encontrado em flagrante delito”.

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administrador que lhe permite condicionar, restringir, frenar o exercício de atividade, o uso e o
gozo de bens e direitos pelos particulares, em nome do interesse da coletividade”.

O conceito de poder de polícia é encontrado no art. 78, do Código Tributário Nacional


(CTN):

“Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou


disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em
razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à
disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de
concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade
e aos direitos individuais ou coletivos.”

Como exemplos1 de atos de poder de polícia, temos as normas regulando o uso de fogos
de artifício ou que proíbem soltar balões, interdição de hotel utilizado para prática de crimes,
fechamento de estabelecimento comercial que é aberto sem respeitar as regras sanitárias, vistoria
de veículos, dentre outros.

De modo bem diferente, o poder da polícia está relacionado à repressão de um ilícito


penal; desta forma, a Polícia Judiciária atua como auxiliar da Justiça.

Assim, conforme conceituado por Neves (2018, p. 288),“o exercício da polícia judiciária
inicia-se após a ocorrência do fato criminoso, buscando, pois, investigar as circunstâncias do
crime, com o escopo de indicar a verdade dos fatos, de esclarecer se ele ocorreu (materialidade)
e, nesse caso, quem o praticou (autoria)” (grifo nosso).

Conforme art. 8º do Código de Processo Penal Militar, são competências da polícia


judiciária militar:

Art. 8º Compete à Polícia judiciária militar:

a) apurar os crimes militares, bem como os que, por lei especial, estão sujeitos à
jurisdição militar, e sua autoria;

b) prestar aos órgãos e juízes da Justiça Militar e aos membros do Ministério Público as
informações necessárias à instrução e julgamento dos processos, bem como realizar as
diligências que por eles lhe forem requisitadas;

1 MARINELA, Fernanda. Direito Administrativo. 10 ed., São Paulo: Saraiva, 2016. p. 288.

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c) cumprir os mandados de prisão expedidos pela Justiça Militar;

d) representar a autoridades judiciárias militares acerca da prisão preventiva e da


insanidade mental do indiciado;

e) cumprir as determinações da Justiça Militar relativas aos presos sob sua guarda e
responsabilidade, bem como as demais prescrições deste Código, nesse sentido;

f) solicitar das autoridades civis as informações e medidas que julgar úteis à elucidação
das infrações penais, que esteja a seu cargo;

g) requisitar da polícia civil e das repartições técnicas civis as pesquisas e exames


necessários ao complemento e subsídio de inquérito policial militar;

h) atender, com observância dos regulamentos militares, a pedido de apresentação de


militar ou funcionário de repartição militar à autoridade civil competente, desde que legal e
fundamentado o pedido.

Ao analisar o artigo, percebe-se que a principal competência da polícia judiciária é a


repressão de crime militar, mas também outras funções são importantes na atuação de auxiliar da
justiça castrense.

Ainda, importante acrescentar que a polícia judiciária militar é exercida pelas autoridades
elencadas no art. 7º, do Código de Processo Penal Militar, significando que são as autoridades
originárias. Segue o artigo:

Art. 7º A polícia judiciária militar é exercida nos termos do art. 8º, pelas seguintes
autoridades, conforme as respectivas jurisdições:

a) pelos ministros da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, em todo o território


nacional e fora dele, em relação às forças e órgãos que constituem seus Ministérios, bem como
a militares que, neste caráter, desempenhem missão oficial, permanente ou transitória, em país
estrangeiro;

b) pelo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, em relação a entidades que, por
disposição legal, estejam sob sua jurisdição;

c) pelos chefes de Estado-Maior e pelo secretário-geral da Marinha, nos órgãos, forças e


unidades que lhes são subordinados;

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d) pelos comandantes de Exército e pelo comandante-chefe da Esquadra, nos órgãos,


forças e unidades compreendidos no âmbito da respectiva ação de comando;

e) pelos comandantes de Região Militar, Distrito Naval ou Zona Aérea, nos órgãos e
unidades dos respectivos territórios;

f) pelo secretário do Ministério do Exército e pelo chefe de Gabinete do Ministério da


Aeronáutica, nos órgãos e serviços que lhes são subordinados;

g) pelos diretores e chefes de órgãos, repartições, estabelecimentos ou serviços previstos


nas leis de organização básica da Marinha, do Exército e da Aeronáutica;

h) pelos comandantes de forças, unidades ou navios;

Delegação do exercício

§ 1º Obedecidas às normas regulamentares de jurisdição, hierarquia e comando, as


atribuições enumeradas neste artigo poderão ser delegadas a oficiais da ativa, para fins
especificados e por tempo limitado.

§ 2º Em se tratando de delegação para instauração de inquérito policial militar,


deverá aquela recair em oficial de posto superior ao do indiciado, seja este oficial da ativa, da
reserva, remunerada ou não, ou reformado. […]
Na maioria das Organizações Militares, o Comandante, Chefe ou Diretor delega a
competência aos oficiais da ativa, para fins especificados e por tempo limitado. Assim, como
exemplo, temos o caso do inquérito policial militar, em que é delegada a competência de
encarregado ao oficial.

Outro exemplo de delegação de competência é o caso da presidência do auto de prisão em


flagrante recair sobre o Oficial de Dia1.

Recapitulando, a polícia judiciária poderá ser exercida por meio de procedimentos


administrativos, sendo eles: inquérito policial militar, auto de prisão em flagrante delito,
instrução provisória de deserção e instrução provisória de insubmissão2.

Assim, o militar exercerá o poder da polícia ao:

dar voz de prisão diante de um fragrante delito;

1 Presidente do auto de prisão em flagrante delito: item 2.4, do Manual de Polícia Judiciária Militar.
2 Para melhor compreensão sobre a Instrução Provisória de Insubmissão, leia as páginas 55 a 59 do Manual de
Polícia Judiciária Militar.

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capturar quem se encontre em estado de deserção ou insubmissão;

instaurar Inquérito Policial Militar (autoridade competente).

É importante ter em mente que, diante de indícios de crime, o militar de serviço atua com
competência de polícia judiciária militar e deverá reprimir a conduta criminosa.

Se for o caso, deverá comunicar a autoridade sobre os fatos para eventual abertura de
inquérito policial militar. Entretanto, caso haja caso de flagrância, o militar deverá efetuar a voz
de prisão.

Caso haja omissão, o militar poderá responder pelo crime de prevaricação (art. 319, do
Código Penal Militar.

Como exemplo da doutrina, Nucci (2019) explana sobre a “conduta do delegado que,
devendo instaurar inquérito policial, ao tomar conhecimento da prática de um crime de ação
pública incondicionada, não o faz, porque não quer trabalhar demais (p.588).”

A Persecução penal divide-se em 3 fase:

Investigatória - visa apurar a infração por meio de um procedimento administrativo, que


não se sujeita às mesmas fórmulas do processo judicial, denominado Inquérito Policial Militar.

Processual - cabe ao juiz da instrução criminal dirigir o processo que visa a comprovação
judicial sobre uma acusação ou arquivamento do inquérito de modo a melhor proteger os
interesses das partes de um processo penal.

Execução Penal - findo o processo, sendo a decisão condenatória, passa-se a última fase,
o cumprimento da sentença.

O Poder de Polícia Judiciária Militar está previsto de forma implícita no art. 144 §4º, da
Constituição Federal, quando afirma que às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de
carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a
apuração das infrações penais, exceto as militares.

No próximo capítulo, iniciaremos o estudo do Inquérito Policial Militar.

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- Procure no conteúdo estudado as


palavras-chave que melhor representam o que
foi estudado até aqui.

- Faça uma lista dessas palavras-chave

Vamos seguida de um breve comentário.

fazer algumas - A partir da leitura delas, tente


anotações! reconstruir o que foi visto.

Parabéns por ter avançado até aqui! Está na hora de


fazer uma pausa.

Lembre-se de que o descanso e a reflexão fazem parte


Agora, que tal do estudo.
uma pausa?

A partir de suas anotações, reconstrua com suas


palavras todo o estudo em um ou dois parágrafos, ou se
referir, elabore um mapa mental ou um infográfico sobre o

Está na hora de texto.

resumir!

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Exercícios para Aprendizagem do Capítulo.

Bem, agora que você já cumpriu uma etapa da missão, que tal avaliar seu
grau de assimilação em relação ao conteúdo que foi visto neste capítulo?
Não se preocupe caso não saiba responder prontamente. A proposta é que
você consulte as suas anotações ou produza um debate com algum
companheiro. Você pode usar o fórum entre pares no EEAR Virtual. O
importante é que você resolva os exercícios abaixo.

Descreva com as suas palavras as competências da Polícia Judiciária Militar. Não apenas
as relacione, mas busque descrevê-las em um único texto discursivo.

Aborde o conceito de Crime Militar, relacionando-o com o princípio da legalidade.

Descreva três situações exemplos onde um militar exerça o poder de polícia.

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CAPÍTULO 2 - INQUÉRITO POLICIAL MILITAR


Nesse segundo capítulo, vamos estudar o que é um Inquérito Policial
Militar, sua fundamentação legal, finalidade e entender como se dá esse
processo.Vamos falar também do Auto de Prisão em Flagrante Delito
(APFD) e da deserção.

Pronto para prosseguir nos estudos?

TÓPICO 2.1 - INTRODUÇÃO AO INQUÉRITO POLICIAL MILITAR

O Inquérito Policial Militar (IPM) é um procedimento administrativo investigatório no


qual fornece os elementos necessários para propositura da ação penal (Figura 20). Assim dispõe
o art. 9º, do CPPM:

“Art. 9º O inquérito policial militar é a apuração sumária de fato, que, nos termos legais,
configure crime militar, e de sua autoria. Tem o caráter de instrução provisória, cuja
finalidade precípua é a de ministrar elementos necessários à propositura da ação penal.”

Esse procedimento tem natureza inquisitiva, pois não há contraditório. O Encarregado


pode dirigir as investigações de acordo com o que entender pertinente para solução do caso.
Assim, por exemplo, é possível a inquirição de quantas testemunhas forem necessárias.

Nos termos do art. 16, do CPPM, o inquérito é de caráter sigiloso, contudo o seu
encarregado pode permitir que dele tome conhecimento o advogado do indiciado.

Assim, ainda que inquisitorial, o investigado, por meio de seu Advogado, pode
acompanhar os procedimentos, conforme assegurado pelo inciso XIV do art. 7º, do Estatuto da
OAB:

XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo


sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em
andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em
meio físico ou digital;

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Ademais, é direito expresso do Advogado, nos termos do inciso XXI do art. 7º, do
Estatuto do advogado1, assistir seu cliente investigado no interrogatório ou depoimento, bem
como apresentar razões e quesitos.

Diante disso, cabe ao Encarregado conduzir o Inquérito com flexibilidade nas


investigações, mas obedecendo aos parâmetros legais. Por esse motivo esclarece Lima (2015, p.
109):

apesar de o inquérito policial não obedecer a uma ordem legal rígida para a realização
dos atos, isso não lhe retira a característica de procedimento, já que o legislador estabelece
uma sequência lógica para a sua instauração, desenvolvimento e conclusão (grifo nosso).

Por conseguinte, ainda que haja flexibilidade para conduzir as investigações, o


Encarregado tem que seguir os atos procedimentais.

Desse modo, com a finalidade de padronizar os inquéritos realizados em organizações


militares das Forças Armadas, o Ministério Público Militar, com o apoio do Ministério da
Defesa, Marinha do Brasil, Exército Brasileiro e Força Aérea Brasileira, criou o Manual de
Polícia Judiciária Militar2 (Figura 21).

1 Art. 7º São direitos do advogado: […] XXI – assistir a seus clientes investigados durante a apuração de
infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de
todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente,
podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração: a) apresentar razões e quesitos; b) vetado.
2 Manual de Polícia Judiciária Militar: http://www.mpm.mp.br/manualdepoliciajudiciariamilitar/

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FIGURA 21 - MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA


MILITAR, BRASÍLIA

FONTE: MPM (2020).

Esse manual deve ser consultado e aplicado pelo encarregado do Inquérito e o escrivão,
pois nele se encontram todos os modelos dos documentos a serem elaborados, bem como as
explicações mais detalhadas sobre cada ato de Polícia Judiciária Militar a ser executado.

Cumpre mencionar que o Inquérito poderá ser dispensado, sem prejuízo de diligência
requisitada pelo Ministério Público, quando o fato e sua autoria já estiverem esclarecidos por
documentos ou outras provas materiais, no caso de crimes contra a honra, diante de escrito ou
publicação que o autor é identificado e, por fim, na situação dos crimes de desacato e
desobediência a decisão judicial.

Sendo assim, dispõe o art. 28, do CPPM:

Art. 28. O inquérito poderá ser dispensado, sem prejuízo de diligência requisitada pelo
Ministério Público:

a) quando o fato e sua autoria já estiverem esclarecidos por documentos ou outras provas
materiais;

b) nos crimes contra a honra, quando decorrerem de escrito ou publicação, cujo autor
esteja identificado;

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c) nos crimes previstos nos arts. 3411 e 3492 do Código Penal Militar. (grifo nosso)

Por fim, outra situação a ser mencionada é o crime de Denunciação caluniosa, prevista
no art. 343, do CPM, em que poderá responder por esse crime aquele que venha a “Dar causa à
instauração de inquérito policial ou processo judicial militar contra alguém, imputando-lhe crime
sujeito à jurisdição militar, de que o sabe inocente”.

Como estão seus estudos? Conseguiu acompanhar e compreender


todo o conteúdo visto até aqui? Se precisar não hesite em retomar o
conteúdo já visto e aprendê-lo com maior segurança.

TÓPICO 2.1.1 – ENCARREGADO E ESCRIVÃO

O Encarregado é a autoridade responsável pela condução das investigações, buscando,


por meio de provas, o esclarecimento dos fatos a ser apurado. Essa autoridade deve sempre agir
de forma imparcial.

O Código de Processo Penal Militar sugere que o Encarregado seja, no mínimo, um


Capitão, mas não impede que a delegação recaia sobre um 1º ou 2º Tenente, Oficial Subalterno.
Assim dispõe o art. 15, do CPPM:

Art. 15. Será encarregado do inquérito, sempre que possível, oficial de posto não
inferior ao de capitão ou capitão-tenente; e, em se tratando de infração penal contra a
segurança nacional, sê-lo-á, sempre que possível, oficial superior, atendida, em cada caso, a
sua hierarquia, se oficial o indiciado.

É necessário observar sempre a hierarquia entre o Oficial Encarregado do IPM e o militar


indiciado.

Em relação ao Escrivão, esse é o auxiliar do Encarregado do Inquérito, tem a função de


organizar e guardar os autos do IPM, redigir ofícios, cartas precatórias, executar as ordens do

1 Art.341. Desacatar autoridade judiciária militar no exercício da função ou em razão dela: Pena - reclusão, até
quatro anos.
2 Art. 349. Deixar, sem justa causa, de cumprir decisão da Justiça Militar, ou retardar ou fraudar o seu
cumprimento: Pena - detenção, de três meses a um ano.

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Encarregado, tomar a termo os depoimentos, dentre outras funções, utilizando, por analogia, o
art.3º, alínea “e”, do CPPM combinado com o art. 152, do Código de Processo Civil3.

Quanto ao escrivão, dispõe o Art. 11, do CPPM:

Art. 11. A designação de escrivão para o inquérito caberá ao respectivo encarregado, se


não tiver sido feita pela autoridade que lhe deu delegação para aquele fim, recaindo em
segundo ou primeiro-tenente, se o indiciado for oficial, e em sargento, subtenente ou
suboficial, nos demais casos.

Parágrafo único. O escrivão prestará compromisso de manter o sigilo do inquérito e de


cumprir fielmente as determinações deste Código, no exercício da função. (grifo nosso)

Importante destacar que o Art. 11, do CPPM, dispõe sobre o posto e graduação do
escrivão em relação ao indiciado (Figura 22).

FIGURA 22 - ESCRIVÃO DE IPM

FONTE: O AUTOR (2020).

TÓPICO 2.1.2 – PROCEDIMENTOS

O Inquérito é instaurado por meio de Portaria, diante da notitia criminis, que significa o
conhecimento de um fato, em tese, criminoso, com previsão do Código Penal Militar e que
necessita de esclarecimentos, ou seja, da investigação.

Conforme art. 10, do Código de Processo Penal Militar:

Art. 10. O inquérito é iniciado mediante portaria:

a) de ofício, pela autoridade militar em cujo âmbito de jurisdição ou comando haja


ocorrido a infração penal, atendida a hierarquia do infrator;

3 NEVES, Cícero Robson Coimbra. Manual de direito processual penal militar. 3 ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018. p. 336.

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b) por determinação ou delegação da autoridade militar superior, que, em caso de


urgência, poderá ser feita por via telegráfica ou radiotelefônica e confirmada, posteriormente, por
ofício;

c) em virtude de requisição do Ministério Público;

d) por decisão do Superior Tribunal Militar, nos termos do art. 25;

e) a requerimento da parte ofendida ou de quem legalmente a represente, ou em virtude


de representação devidamente autorizada de quem tenha conhecimento de infração penal, cuja
repressão caiba à Justiça Militar;

f) quando, de sindicância feita em âmbito de jurisdição militar, resulte indício da


existência de infração penal militar. (grifo nosso)

Dessa forma, o Inquérito Policial Militar pode ser instaurado pelas hipóteses motivadoras
acima, sendo elas de ofício ou por provocação (requisição, determinação).

Vejamos:

a) PRAZOS

Os prazos para a conclusão do Inquérito Policial Militar estão dispostos no art. 20, do
CPPM. Inicialmente, o Inquérito deverá terminar dentro do prazo de 20 (vinte) dias, se o
indiciado estiver preso. Entretanto, se o indiciado estiver solto, o inquérito poderá ser finalizado
no prazo de 40 (quarenta) dias, sendo possível uma prorrogação por mais 20 (vinte) dias, caso
sejam necessárias diligências (Figura 23).

FIGURA 5 – 23 - PRAZO DO IPM.

FONTE: CONTEUDISTAO AUTOR (2020).

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- Procure no conteúdo estudado as palavras-chave que


melhor representam o que foi estudado até aqui.

- Faça uma lista dessas palavras-chave seguida de um


breve comentário.

Vamos fazer - A partir da leitura delas, tente reconstruir o que foi


algumas anotações! visto.

Parabéns por ter avançado até aqui! Está na hora de


fazer uma pausa.

Lembre-se de que o descanso e a reflexão fazem parte


Agora, que tal do estudo.
uma pausa?

b) SEQUÊNCIA DOS ATOS

Conforme art. 21, do CPPM, todas as peças do Inquérito devem ser colocadas em ordem
cronológica, formando um só processo. Além disso, o escrivão deve rubricar todas as páginas e
numerá-las.

Em relação aos modelos e peças que compõem o IPM, como já alertado, o Encarregado e
Escrivão devem sempre consultar o Manual de Polícia Judiciária Militar. Entretanto, é oportuno
mencionar alguns dos conceitos1 sobre documentos que fazem parte dos autos e que estão
dispostos no item 3.13.3 do Manual:

a) Despacho: “é a determinação feita pelo Encarregado ao escrivão do IPM, para que


algo seja providenciado”.

1 Manual de Polícia Judiciária Militar, Brasília, DF: MPM, 2019. Disponível em:
<http://www.mpm.mp.br/manualdepoliciajudiciariamilitar/>. p. 29 e 30.

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b) Recebimento: “é a certificação do escrivão de que recebeu os autos do encarregado


para cumprir despacho”.

c) Certidão: “é a certificação do escrivão de que o despacho foi cumprido”.

d) Juntada: “é o termo que registra a anexação ao IPM, mediante prévio despacho do


Encarregado, de qualquer documento ou papel que interesse à prova”.

e) Conclusão: “é o termo que registra que o escrivão concluiu o determinado pelo


despacho e fez juntada aos autos, devolvendo os autos ao Encarregado”.

A fim de deixar ainda mais claro a organização dos autos, segue a Ordem de Autuação
(Figura 24):

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FIGURA 24 - ORDEM DE AUTUAÇÃO DO IPM

FONTE: O AUTOR (2020).

Importante esclarecer que, a depender do objeto investigado no Inquérito, outros


documentos poderão ser inseridos, tais como: Termo de Acareação, Carta Precatória, Mandado
de Prisão, Nomeação de Peritos, Laudos, Auto de Reconhecimento de objetos/cadáver, Despacho
de Indiciamento, dentre outros.

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Você já participou de um IPM? Conhece alguém que já o fez?


Procure em sua Organização Militar por pessoas que conhecem esse
assunto e possuem experiências que possam compartilhar com você.

- Os arquivos (modelos) sobre Inquérito


Policial Militar estão previstos no Manual de
Polícia Judiciária Militar¸ já que esta apostila
tem apenas o objetivo didático de apresentar o
Alerta! conteúdo de forma ampla.

c) OITIVAS

Outro ponto relevante em relação ao assunto apresentado neste tópico diz respeito à
ordem das oitivas. Conforme o Manual de Polícia Judiciária Militar, de preferência, a oitiva
deverá obedecer a seguinte ordem: testemunha(s), ofendido(s), se houver, e, por último, o(s)
indiciado(s).

Ressalta-se que essa ordem poderá ser alterada ao analisar a necessidade de cada
situação. Essa alteração na ordem das oitivas poderá ser feita, visando-se inclusive não perder a
informação obtida. Além disso, poderá haver mais de uma oitiva da mesma pessoa, se necessário
para elucidar o caso.

Ademais, salvo em caso excepcional (urgência inadiável), a oitiva das testemunhas, do


ofendido e do indiciado deverá ser realizada no período das sete e dezoito horas, conforme art.
19, do CPPM.

Cabe esclarecer que a testemunha não deverá ser inquirida por mais de 4 (quatro) horas
consecutivas. No caso, será lhe facultado um descanso de 30 (trinta) minutos, caso haja
necessidade de um período superior a 4 (quatro) horas para a inquirição da testemunha.

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Além do mais, o depoimento que não for finalizado até as 18 horas será encerrado e
prosseguido no dia seguinte, em hora determinada pelo encarregado do IPM, tudo conforme o
§2º, do art. 19, do CPPM.

Outro ponto relevante é o crime de Falso Testemunho, previsto no art. 346, do CPM:

Art. 346. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade, como testemunha, perito,
tradutor ou intérprete, em inquérito policial, processo administrativo ou judicial, militar:

Pena - reclusão, de dois a seis anos.

Em regra, a testemunha prestará o compromisso de dizer a verdade sobre o que souber e


lhe for perguntado, conforme art. 352, do Código de Processo Penal Militar. As testemunhas
compromissadas são conhecidas por testemunhas numerárias.

Entretanto, algumas pessoas estarão isentas da obrigatoriedade de dizer a verdade e serão


tidas como declarantes ou informantes.

Assim, nos termos do parágrafo 2º, do art. 352 estarão isentos do compromisso os
doentes e deficientes mentais e os menores de 14 anos, bem como as pessoas elencadas no art.
354, do CPPM:

Art. 354. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Excetuam-se o


ascendente, o descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, e o
irmão de acusado, bem como pessoa que, com ele, tenha vínculo de adoção, salvo quando não
for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias.
(grifo nosso)

Com o objetivo de facilitar a compreensão do art. 354, veja a Figura 25:

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FIGURA 25 - ISENÇÃO DE COMPROMISSO

FONTE: O AUTOR (2020).

Importante ressaltar ainda que, nos termos do Manual de Polícia Judiciária 1, o indiciado e
o ofendido estarão isentos do compromisso.

Quanto às demais pessoas inqueridas, deverão prestar o compromisso de dizer a verdade,


sendo que esse compromisso também inclui o ato de não dizer o que sabe sobre o caso.

Assim, caso a testemunha faça afirmação falsa ou negue dizer a verdade, incorrerá no
crime de falso testemunho.

TÓPICO 2.1.3 – RELATÓRIO E SOLUÇÃO

Ao término do Inquérito, o Encarregado, autoridade originária ou delegada, elaborará um


Relatório, sendo dividido em três partes, conforme item 3.35 do Manual de Polícia Judiciária
Militar2:

1. Objetivo do IPM: pequeno histórico dos fatos;

2. Diligências realizadas, resultados obtidos, provas elencadas; e

3. Conclusão.

Nesse sentido, o encarregado, com bases nas provas escolhidas, indicará no relatório se
houve ou não crime militar, se há indícios de transgressão disciplinar, bem como se manifestará

1 Manual de Polícia Judiciária Militar, Brasília, DF: MPM, 2019. Disponível em:
<http://www.mpm.mp.br/manualdepoliciajudiciariamilitar/>. p. 32.
2 Manual de Polícia Judiciária Militar, Brasília, DF: MPM, 2019. Disponível em:
<http://www.mpm.mp.br/manualdepoliciajudiciariamilitar/>. p. 32. p. 35.

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sobre a pertinência de decretar a prisão preventiva do indiciado, conforme os artigos 254 e 255
do CPPM.

A fim de elucidar, dispõe o art. 22, do CPPM:

Art. 22. O inquérito será encerrado com minucioso relatório, em que o seu encarregado
mencionará as diligências feitas, as pessoas ouvidas e os resultados obtidos, com indicação
do dia, hora e lugar onde ocorreu o fato delituoso. Em conclusão, dirá se há infração
disciplinar a punir ou indício de crime, pronunciando-se, neste último caso, justificadamente,
sobre a conveniência da prisão preventiva do indiciado, nos termos legais.

Na sequência, após as conclusões do Relatório, o Encarregado, dentro do prazo do IPM


(20 dias, no caso de indiciado preso ou 40 dias, podendo ser prorrogado por mais 20 dias, no
caso de indiciado solto), deverá ser apresentar uma solução de acordo com o foi apurado no
inquérito. No caso de IPM em que haja delegação, a autoridade que determinou a
instauração (autoridade originária), deverá homologar, se concordar com a solução, ou avocá-la,
emitido uma solução diferente.

- Procure no conteúdo estudado as


palavras-chave que melhor representam o que
foi estudado até aqui.

- Faça uma lista dessas palavras-chave

Vamos seguida de um breve comentário.

fazer algumas - A partir da leitura delas, tente


anotações! reconstruir o que foi visto.

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TÓPICO 2.1.4 – REMESSA DE IPM

Ao final do IPM, os autos serão remetidos ao Juiz Federal da Justiça Militar da


Circunscrição Judiciária Militar (CJM)1 (Figura 26) onde ocorreu a infração penal, conforme
consta no art. 23, do CPPM:

Art. 23. Os autos do inquérito serão remetidos ao auditor da Circunscrição Judiciária


Militar onde ocorreu a infração penal, acompanhados dos instrumentos desta, bem como dos
objetos que interessem à sua prova.

FIGURA 26 – REMESSA DO IPM À CJM

FONTE: O AUTOR (2020).

Sendo assim, para fins de conhecimento, a seguir, encontra-se a Figura 27 com a divisão
das Auditorias e Circunscrições Judiciárias:

FIGURA 27 - CONHECENDO A JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO EM QUADRINHOS

FONTE: DSPACE (2020).

1 Para melhor compreensão sobre a organização da Justiça Militar da União, leia as páginas 10 e 16 da Cartilha
“Conhecendo a Justiça Militar da União em quadrinhos. Disponível em:
<https://dspace.stm.jus.br/xmlui/handle/123456789/135217>.

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Importante ainda ressaltar que, muito embora fique constatado que o fato não tenha
caracterizado crime militar, como no caso de transgressão disciplinar, a autoridade que
determinou a instauração do IPM (Comandante/Diretor/Chefe) não poderá determinar o
arquivamento do IPM, ou seja, deverá encaminhar os autos à CJM.

Isso porque, nos termos do art. 24, do CPPM, o arquivamento do Inquérito só poderá ser
feito pelo Juiz, mediante pedido do Ministério Público Militar.

Nesse sentido, dispõe o art. 24, do CPPM:

“A autoridade militar não poderá mandar arquivar autos de inquérito, embora conclusivo
da inexistência de crime ou de inimputabilidade do indiciado”.

TÓPICO 2.1.5 – INSTAURAÇÃO DE NOVO INQUÉRITO

Dispõe o art. 25 do CPPM:

“O arquivamento de inquérito não obsta a instauração de outro, se novas provas


aparecerem em relação ao fato, ao indiciado ou a terceira pessoa, ressalvados o caso julgado e
os casos de extinção da punibilidade.”

Nesse sentido, ainda que o Inquérito tenha sido arquivado, não há impedimento para a
instauração de novo IPM, se surgirem novas provas.

- Procure no conteúdo estudado as palavras-chave que


melhor representam o que foi estudado até aqui.

- Faça uma lista dessas palavras-chave seguida de um


breve comentário.

Vamos fazer - A partir da leitura delas, tente reconstruir o que foi


algumas anotações! visto.

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Parabéns por ter avançado até aqui! Está na hora de


fazer uma pausa.

Lembre-se de que o descanso e a reflexão fazem parte


Agora, que tal do estudo.
uma pausa?

A partir de suas anotações, reconstrua com suas


palavras todo o estudo em um ou dois parágrafos, ou se
referir, elabore um mapa mental ou um infográfico sobre o

Está na hora de texto.

resumir!

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Exercícios para Aprendizagem

Avançamos mais um degrau. Podemos verificar sua compreensão


acerca do conteúdo desse capítulo? Como nos exercícios anteriores, a
proposta é que você consulte as suas anotações, o fórum de debates ou
outro recurso, desde que responda as questões a seguir.

Descreva com as suas palavras as características do Inquérito Policial Militar. Busque


descrevê-las em um único texto discursivo.

Aborde os procedimentos do IPM.

Consulte o Manual de Polícia Judiciária Militar e descreva três atribuições do militar no


exercício da função de encarregado e de escrivão em um IPM.

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TÓPICO 2.2 - AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO (APFD)

Ufa! Quanta coisa vimos até aqui não foi mesmo? Ainda falta
muitas coisas para aprendermos e estudarmos juntos, não desanime e
vamos em frente!
Dispõe o art. 243, do Código Processual Penal Militar, que:

“qualquer pessoa poderá e os militares deverão prender quem for insubmisso ou


desertor, ou seja, encontrado em flagrante delito”.

O dispositivo prevê sobre o dever de o militar prender quem se encontre em flagrante


delito de crime militar próprio ou impróprio, deserção e insubmissão.

Importante esclarecer que a regra é que ninguém será cerceado de sua liberdade, senão
em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada, além do caso de transgressão militar ou
crime propriamente militar (Figura 28), conforme art. 5°, LXI da Constituição Federal de 1988:

“art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

[...]

XLI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada
de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime
propriamente militar, definidos em lei”.

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FIGURA 28 – RESTRIÇÃO DA LIBERDADE

FONTE: O AUTOR (2020).

TÓPICO 2.2.1 - CONCEITO DE AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO

Em um primeiro momento, é pertinente esclarecer que, etimologicamente a palavra


flagrante tem sua origem vinda do latim “flagrans”, isto é, será todo fato que tenha sido
assistido ou certificado em seu exato momento. Em sequência, o delito tem sua origem do latim
“delictum”, pode ser compreendido como a ação em que será punível por uma lei penal militar.

Feito esse esclarecimento, o Auto de Prisão em Flagrante Delito (APFD) é


compreendido como um procedimento administrativo de polícia judiciária militar, de caráter
preventivo e cautelar, visando ao sucesso da persecução criminal (investigação criminal +
processo penal)1.

A prisão em flagrante está prevista no art. 244, do Código de Processo Penal Militar:

Art. 244. Considera-se em flagrante delito aquele que:

a) está cometendo o crime;

b) acaba de cometê-lo;

c) é perseguido logo após o fato delituoso em situação que faça acreditar ser ele o autor;

d) é encontrado, logo depois, com instrumentos, objetos, material ou papéis que façam
presumir a sua participação no fato delituoso.

1 NEVES, Cícero Robson Coimbra. Manual de direito processual penal militar. 3 ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018. p. 376.

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Em conformidade com o art. 244 do Código Processual Penal Militar, podemos encontrar
como espécies de flagrância: a própria, a imprópria e a ficta ou presumida2.

No caso de flagrante próprio, o agente está praticando o delito (art. 244, alínea “a”, do
CPPM), ou seja, é surpreendido quando está executando a ação. Assim, a autoridade que
presenciou o fato tem conhecimento exato da autoria do delito2.

É também considerado flagrante próprio a hipótese do agente ser surpreendido, no


momento imediato após ter cometido o delito (art. 244, alínea “b”, do CPPM)3.

A fim de exemplificar, vamos imaginar a situação em que um soldado é surpreendido,


pelo Sargento rondante, dormindo em seu posto de serviço. Nesse momento, o soldado é
encontrado cometendo o delito de “Dormir em Serviço” (art. 203, do Código Penal Militar)
(Figura 29).

Nesse caso, o Sargento deverá dar voz de prisão ao soldado pela situação de flagrante
próprio.

FIGURA 29 - CONHECENDO A JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO EM QUADRINHOS

FONTE: DSPACE (2020).

2 NEVES, Cícero Robson Coimbra. Manual de direito processual penal militar. 3 ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018. p. 377.
2 Ibidem, p. 377.
3 Ibidem, p. 377.

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Já no flagrante impróprio, o agente que praticou o crime é perseguido logo após ter
realizado o delito, devendo existir circunstâncias comprobatórias que apontem sua execução (art.
244, alínea “c”, do CPPM).

Exemplo: Dois militares, instrutores de tiro, retiram 20 (vinte) pistolas e 500


(quinhentas) munições do Material Bélico. Foram utilizadas 460 (quatrocentos e sessenta)
munições na instrução, contudo, no momento de devolver, o Instrutor A confere o material e
solicita ao Instrutor B que este último faça a devolução do material sozinho. Ao apresentar o
material no Material Bélico, é constatado que faltam 2 (duas) pistolas e 40 (quarenta) munições.
Considerando que apenas os instrutores tiveram acesso ao material, o Instrutor B aciona a
Patrulha que inicia a perseguição ao Instrutor A e o encontra conduzindo seu veículo em direção
ao Portão da Guarda, com as 2 (duas) pistolas e com as 40 (quarenta) munições.

Nesse momento, o Comandante da Patrulha dará a voz de prisão pelo crime de Peculato
(art. 303, do Código Penal Militar) em situação de flagrante impróprio, também chamado de
quase flagrante (Figura 30).

FIGURA 30 - CONHECENDO A JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO EM QUADRINHOS

FONTE: DSPACE (2020).

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No caso do flagrante presumido, o autor é encontrado, logo depois, com instrumentos,


armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele o autor da infração (art. 244, alínea “d”, do
CPPM)1.

Exemplo: Ao ser realizada uma revista em todos os armários de um alojamento, por ter
notícias de possível tráfico de entorpecentes entre os recrutas, foram encontradas pequenas
porções de drogas e grande quantidade de dinheiro no armário de um Sargento da Companhia.
Considerando que a utilização do armário é exclusiva daquele Sargento, as evidências
encontradas permitem presumir ser ele o autor do tráfico.

Por esse motivo, o Militar responsável pela revista deverá dar voz de prisão ao Sargento,
em decorrência do crime de Tráfico ou Posse de Entorpecente (Art. 290, do Código Penal
Militar) (Figura 31).

FIGURA 31 - CONHECENDO A JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO EM QUADRINHOS

FONTE: DSPACE (2020).

Assim, diante de um fato ilícito, em situação de flagrância, o militar deverá adotar


algumas medidas preliminares, nos termos do art. 12, do Código de Processo Penal Militar:

Art. 12. Logo que tiver conhecimento da prática de infração penal militar, verificável
na ocasião, a autoridade a que se refere o § 2º do art. 10 deverá, se possível:

1 NEVES, Cícero Robson Coimbra. Manual de direito processual penal militar. 3 ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018. p. 378.

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a) dirigir-se ao local, providenciando para que se não alterem o estado e a situação das
coisas, enquanto necessário;

b) apreender os instrumentos e todos os objetos que tenham relação com o fato;

c) efetuar a prisão do infrator, observado o disposto no art. 244;

d) colher todas as provas que sirvam para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias.

Diante disso, a autoridade competente (Comandante, Chefe ou Diretor) ou autoridade que


o substitua ou esteja de serviço (Oficial de Dia) deverá realizar as medidas preventivas, como
preservar o local de crime, apreender os instrumentos relativos ao crime, colher todas as provas
e, se assim for o caso, prender em flagrante o infrator.

Ademais, o Auto de Prisão em Flagrante deverá ser lavrado durante o período de 24


(vinte quatro) horas, logo após o ato de cerceamento de liberdade do preso, conforme o art. 247,
do Código de Processo Penal Militar.

Ao final do APFD, o preso receberá a nota de culpa assinada pela autoridade competente,
devendo conter o motivo da prisão, o nome do condutor e, caso haja, o nome das testemunhas.1

Em continuidade, ao preso deverá ser concedido, após 24 (vinte e quatro) horas da


realização do Auto de Prisão em Flagrante Delito, a Audiência de Custódia, perante o juízo
competente, devendo estar presente o acusado, o advogado ou membro da Defensoria Pública e o
Ministério Público.

Neste sentido, dispõe o Manual de Polícia Judiciária Militar sobre a Audiência de


Custódia2:

A audiência de custódia é uma medida de controle judicial que atribui à autoridade de


polícia judiciária, responsável pela prisão de uma pessoa, o dever de apresentá-la à autoridade
judiciária, para deliberar sobre a legalidade da medida constritiva de liberdade. No âmbito da
Justiça Militar da União, está disciplinada, atualmente, na Resolução nº 228, de 26 de outubro de
2016.

No que tange à audiência de custódia, o procedimento da polícia judiciária militar deve


ser o de informar a prisão, nos termos da lei, aguardar a designação da audiência pelo juízo e,
1 Nota de Culpa: art. 247, paragrafo 1°, do Código de Processo Penal Militar e item 2.8.17, do Manual de Polícia
Judiciária Militar.
2 Manual de Polícia Judiciária Militar, Brasília, DF: MPM, 2019. Disponível em:
<http://www.mpm.mp.br/manualdepoliciajudiciariamilitar/>. p. 18.

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uma vez designada, efetuar a condução do preso à presença do juiz, nos termos da alínea h, do
artigo 8º, CPPM.

Você já soube de algum APFD? Já se imaginou passando por uma


situação que fosse necessário realizar os procedimentos de um APFD? É
melhor então os conhecermos para nos prepararmos!

- Procure no conteúdo estudado as palavras-chave que


melhor representam o que foi estudado até aqui.

- Faça uma lista dessas palavras-chave seguida de um


breve comentário.

Vamos fazer - A partir da leitura delas, tente reconstruir o que foi


algumas anotações! visto.

Parabéns por ter avançado até aqui! Está na hora de


fazer uma pausa.

Lembre-se de que o descanso e a reflexão fazem parte


Agora, que tal do estudo.
uma pausa?

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TÓPICO 2.2.2 – MOMENTOS DO AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE

A lavratura do Auto de Prisão em Flagrante Delito corresponde a uma das fases da prisão
em flagrante. A prisão em flagrante tem 4 (quatro) fases (Figura 32):

FIGURA 32 – MOMENTOS DO APFD

FONTE: O AUTOR (2020).

Vejamos o assunto sob a ótica de Lima (2014 apud NEVES, 2018, p. 376):

Na sistemática do CPP, o flagrante se divide em quatro momentos distintos: captura,


condução coercitiva, lavratura do auto de prisão em flagrante e recolhimento à prisão. No
primeiro momento, o agente encontrado em situação de flagrância (CPP, art. 302) é capturado,
de forma a evitar que continue a praticar ato delituoso. A captura tem por função precípua
resguardar a ordem pública, fazendo cessar a lesão que estava sendo cometida ao bem jurídico
pelo impedimento da conduta ilícita. Após a captura, o agente será conduzido coercitivamente
à presença da autoridade policial para que sejam adotadas as providências legais. De seu
turno, a lavratura é a elaboração do auto de prisão em flagrante, no qual são documentados
os elementos sensíveis existentes no memento da infração. Este ato tem como objetivo precípuo
auxiliar na manutenção dos elementos de prova da infração que se acabou de cometer. Por fim, a
detenção é a manutenção do agente no cárcere, que não será necessária nas hipóteses em que for
cabível a concessão de fiança pela autoridade policial, ou seja, infrações penais cuja pena
privativa de liberdade não seja superior a 4 (quatro) anos (CPP, art. 322, com redação dada pela
Lei n. 12.4033/11). Ao preso, depois, deve ser entregue nota de culpa, em até 24 (vinte e quatro)
horas após a captura.

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O auto de prisão terá o seu início assim que o autor da infração penal for conduzido à
autoridade policial judiciária militar (normalmente o Ofício de Dia), uma vez que esta irá
deliberar o andamento de todos os procedimentos realizados no Auto de Pisão em Flagrante
Delito.

TÓPICO 2.2.3 – PESSOAS ENVOLVIDAS NO APFD

Em meio ao auto de prisão em flagrante delito, é possível reconhecer algumas pessoas e


suas atribuições, como por exemplo: o condutor, as testemunhas, o indiciado, dentre outros.

Esse é um bom momento para você discutir nos fóruns da disciplina


sobre as pessoas envolvidas no APFD. Crie uma discussão no fórum ou
participe de alguma que já esteja acontecendo e dê sua contribuição, vamos
lá!
Estabelece o art. 245, do CPPM que:

Apresentado o preso ao comandante ou ao oficial de dia, de serviço ou de quarto, ou


autoridade correspondente, ou à autoridade judiciária, será, por qualquer deles, ouvido o
condutor e as testemunhas que o acompanharem, bem como inquirido o indiciado sobre a
imputação que lhe é feita, e especialmente sobre o lugar e hora em que o fato aconteceu,
lavrando-se de tudo auto, que será por todos assinado.

Desse modo, é possível definir as funções de cada um desses componentes do auto de


prisão, então vejamos:

a) ESCRIVÃO

O escrivão é caracterizado como o digitador e guardião do auto de prisão. Deste modo,


em conformidade com o art. 245, parágrafos §§ 4° e 5°, do CPPM, para exercer as funções de
escrivão, será nomeado um capitão, capitão-tenente, primeiro ou segundo-tenente, se o
indiciado for oficial.

Nos demais casos, poderá ser designado um subtenente, suboficial ou sargento. Ainda
assim, na falta ou impedimento de escrivão ou das pessoas referidas no parágrafo anterior, a
autoridade designará para lavrar o auto qualquer pessoa idônea, que, para esse fim, prestará o
compromisso legal.

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b) CONDUTOR

O condutor é considerado o agente que encaminha o preso ao Presidente do Auto de


Prisão em Flagrante Delito, devendo, também, obediência aos direitos do preso. Neste sentido,
conforme art. 5º, inciso LXIII, da CF/88 e art. 296, em seu parágrafo 2º, do Código de Processo
Penal Militar, são considerados como direito do preso o de permanecer calado e o de não
produzir provas que o incrimine, ou ao seu cônjuge, descendente, ascendente ou irmão.

Cabe mencionar que o art. 245, parágrafo 1º, do Código de Processo Penal Militar dispõe
que, sendo o preso menor de idade, deverá a autoridade competente apresentá-lo, imediatamente,
ao juiz de menores1.

Portanto, respeitando assim, o art. 228 da Constituição Federal de 1988, que esclarece
sobre a inimputabilidade penal dos menores de 18 (dezoito) anos, combinado com o art. 50 do
Código Penal Militar.

Nesse sentido, nos termos do art. 48, do Código Penal Militar, não será considerado
imputável aquele que não tem capacidade de entender o ato ilegal que praticou, ou ainda, é
proveniente de doença mental incompleta ou considerado retardado.

Além do mais, é pertinente esclarecer, também, que qualquer pessoa pode dar voz de
prisão quando presenciar alguma conduta tipificada como ilícito penal, porém, para realizar a
condução do preso militar, o condutor deverá ser de posto acima, devendo, posteriormente, a voz
de prisão ser ratificada pelo Presidente do auto de Prisão em Flagrante Delito2.

Assim dispõe art. 73. do Código de Processo Penal Militar:

Art. 73. O acusado que for oficial ou graduado não perderá, embora sujeito à disciplina
judiciária, as prerrogativas do posto ou graduação. Se preso ou compelido a apresentar-se em
juízo, por ordem da autoridade judiciária, será acompanhado por militar de hierarquia superior a
sua.
Por fim, quem deu a voz de prisão e todos aqueles que presenciaram o crime deverão ser
encaminhados ao presidente do Auto de Prisão em Flagrante3.

c) PRESO OU INDICIADO

1 Maiores informações a respeito da apreensão de menores no Item 2.7.2.2, do Manual de Polícia Judiciária
Militar.
2 Manual de Polícia Judiciária Militar, item 2.4, p. 16.
3 Condutor: item 2.4, do Manual de Polícia Judiciária Militar

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O Preso ou indiciado é reconhecido como a pessoa que cometeu o delito, devendo ser
conduzida à autoridade de polícia judiciária.

Neste sentido, importante a leitura dos artigos 302, 304 e 306 do CPPM:

Art. 302. O acusado será qualificado e interrogado num só ato, no lugar, dia e hora
designados pelo juiz, após o recebimento da denúncia; e, se presente à instrução criminal ou
preso, antes de ouvidas as testemunhas.

Art. 304. Se houver mais de um acusado, será cada um deles interrogado separadamente.

Art. 306. O acusado será perguntado sobre o seu nome, naturalidade, estado, idade,
filiação, residência, profissão ou meios de vida e lugar onde exerce a sua atividade, se sabe ler e
escrever e se tem defensor. Respondidas essas perguntas, será cientificado da acusação pela
leitura da denúncia e estritamente interrogado da seguinte forma:

a) onde estava ao tempo em que foi cometida a infração e se teve notícia desta e de que
forma;

b) se conhece a pessoa ofendida e as testemunhas arroladas na denúncia, desde quando e


se tem alguma coisa a alegar contra elas;

c) se conhece as provas contra ele apuradas e se tem alguma coisa a alegar a respeito das
mesmas;

d) se conhece o instrumento com que foi praticada a infração, ou qualquer dos objetos
com ela relacionados e que tenham sido apreendidos;

e) se é verdadeira a imputação que lhe é feita;

f) se, não sendo verdadeira a imputação, sabe de algum motivo particular a que deva
atribuí-la ou conhece a pessoa ou pessoas a que deva ser imputada a prática do crime e se com
elas esteve antes ou depois desse fato;

g) se está sendo ou já foi processado pela prática de outra infração e, em caso afirmativo,
em que juízo, se foi condenado, qual a pena imposta e se a cumpriu;

h) se têm quaisquer outras declarações a fazer.

Nomeação de defensor ou curador

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§ 1º Se o acusado declarar que não tem defensor, o juiz dar-lhe-á um, para assistir ao
interrogatório. Se menor de vinte e um anos, nomear-lhe-á curador, que poderá ser o próprio
defensor.

Caso de confissão

§ 2º Se o acusado confessar a infração, será especialmente interrogado:

a) sobre quais os motivos e as circunstâncias da infração;

b) sobre se outras pessoas concorreram para ela, quais foram e de que modo agiram.

Negativa da imputação

§ 3º Se o acusado negar a imputação no todo ou em parte, será convidado a indicar as


provas da verdade de suas declarações.

d) TESTEMUNHA

A testemunha reconhecida como a pessoa que presenciou o crime ou que detenha alguma
informação que trará maior esclarecimento para o delito praticado pelo preso ou indiciado.

Em seu depoimento, devem ser observados os itens estabelecidos no art. 352, caput, do
CPPM, então vejamos:

Art. 352. A testemunha deve declarar seu nome, idade, estado civil, residência, profissão
e lugar onde exerce atividade, se é parente, e em que grau, do acusado e do ofendido, quais as
suas relações com qualquer deles, e relatar o que sabe ou tem razão de saber, a respeito do fato
delituoso narrado na denúncia e circunstâncias que com o mesmo tenham pertinência, não
podendo limitar o seu depoimento à simples declaração de que confirma o que prestou no
inquérito. Sendo numerária ou referida, prestará o compromisso de dizer a verdade sobre o que
souber e lhe for perguntado.

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- Notadamente, havendo testemunha criança ou


adolescente, é recomendável que se consulte o Ministério
Público Militar, pois neste caso será verificada a
possibilidade de atuação de uma equipe especializada, nos
termos da Lei n° 13.431/2017, que estabelece o sistema de
garantia de direitos da criança e do adolescente, vítima ou
Alerta!
testemunha de violência, fornecendo medidas de assistência e
dando proteção.

e) OFENDIDO

O ofendido é considerado a pessoa que sofreu o delito praticado com a lesão, ou ameaça
de lesão, a algum bem jurídico seu. Importante esclarecer, que em algumas circunstâncias, não
haverá registro do ofendido (morte, internação)1.

Assim sendo, em conformidade com o art. 311, caput, do CPPM, podemos evidenciar
algumas questões que devem ser realizadas ao ofendido em seu depoimento, quando possível,
tais como: as circunstâncias do delito, se há indicação de algum autor ou se presume, verificar se
constitui algum elemento que possa ser utilizado como meio comprobatório e ao redigir tudo a
termo as suas declarações.

Então vejamos:

Art. 311. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre as
circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser seu autor, as provas que possa
indicar, tomando-se por termo as suas declarações.

PROCEDIMENTOS

Os atos de produção das peças do auto de prisão em flagrante delito devem ser
relacionados de forma estruturada e respeitando as ordens dos documentos a serem incluídos no
interior do APDF.

1 Manual de Polícia Judiciária Militar, Brasília, DF: MPM, 2019. Disponível em:
<http://www.mpm.mp.br/manualdepoliciajudiciariamilitar/>. p. 16.

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A fim de padronizar a sequência, o Manual de Polícia Judiciária Militar dispõe a seguinte


ordem:

1. capa;

2. qualificação do preso;

3. portaria;

4. designação e compromisso de escrivão;

5. documentos de entrega do conduzido, exibição e apreensão, constatação de


materialidade, de avaliação, etc.;

6. certidão de garantias do indiciado;

7. corpo do Auto de Prisão em Flagrante;

8. nota de culpa;

9. documentos referente à comunicação de prisão à autoridade judiciária, ao Ministério


Público e à Defensoria Pública (havendo necessidade);

10. laudo de exame de corpo de delito;

11. documentos de encaminhamento do preso ou de seu encarceramento na Organização


Militar;

12. relatório;

13. documentos de encaminhamento dos autos.

Vamos ter que admitir que são muitos conceitos não é mesmo? Se
não nos organizarmos para estudar não será proveitoso, não concorda? Não
deixe de realizar as atividades e exercícios propostos e vamos em frente!

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- Os arquivos (modelos) sobre Auto de Prisão em


Flagrante Delito estão previstos no Manual de Polícia
Judiciária Militar¸ já que esta apostila tem apenas o objetivo
didático de apresentar o conteúdo de forma ampla.
Alerta!

A observância organizacional dos documentos do Auto de Prisão em Flagrante é de suma


importância, devendo toda a anexação e a confecção dos documentos ser realizadas de forma
legal e eficaz.

Ao final, os autos do APFD serão remetidos ao Juiz Federal da Justiça Militar da


Circunscrição Judiciária Militar (CJM)1 onde ocorreu a infração penal (Figura 33).

FIGURA 33 – REMESSA DO APFD À CJM

FONTE: O AUTOR (2020).

1 Para melhor compreensão sobre a organização da Justiça Militar da União, leia as páginas 10 e 16 da Cartilha
“Conhecendo a Justiça Militar da União em quadrinhos. Disponível em:
<https://dspace.stm.jus.br/xmlui/handle/123456789/135217>.

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- Procure no conteúdo estudado as palavras-chave que


melhor representam o que foi estudado até aqui.

- Faça uma lista dessas palavras-chave seguida de um


breve comentário.

Vamos fazer - A partir da leitura delas, tente reconstruir o que foi


algumas anotações! visto.

Parabéns por ter avançado até aqui! Está na hora de


fazer uma pausa.

Lembre-se de que o descanso e a reflexão fazem parte


Agora, que tal do estudo.
uma pausa?

A partir de suas anotações, reconstrua com suas


palavras todo o estudo em um ou dois parágrafos, ou se
referir, elabore um mapa mental ou um infográfico sobre o

Está na hora de texto.

resumir!

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Exercícios para Aprendizagem

Vejo que você está progredindo. Parabéns! Entretanto, precisamos


avaliar a qualidade de seu estudo. Não “pule” esta etapa, ela é essencial
para seu aprendizado.

Descreva com as suas palavras as características do Auto de Prisão em Flagrante Delito.


Busque descrevê-las em um único texto discursivo.

Aborde os momentos e as pessoas envolvidas em um APFD.

Descreva os procedimentos por meio de um infográfico.

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TÓPICO 2.3 - INSTRUÇÃO PROVISÓRIA DE DESERÇÃO


Você já deve ter ouvido falar sobre essa instrução não é mesmo?
Mas o quanto você conhece dela? Vamos aproveitar e aprofundar nosso
conhecimento.

TÓPICO 2.3.1 – CONCEITOS

A Instrução Provisória de Deserção (IPD) tem previsão nos artigos 451 e seguintes do
Código de Processo Penal Militar, e tem o objetivo de apurar os crimes dos arts. 187, 188, I a III,
e 192, do Código Penal Militar, todos eles consumados após o transcurso de oito dias de um ato
específico (retorno de férias, falta ao serviço, fuga, etc.).

Antes de darmos prosseguimento ao estudo da IPD, vamos esclarecer como ocorre o


delito de deserção (Figura 34).

FIGURA 34 - CONHECENDO A JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO EM QUADRINHOS

FONTE: DSPACE (2020).

O Código Penal Militar aponta duas espécies de deserção: deserção comum (art. 187) e
especial (art. 190). Além disso, dispõe sobre os casos assimilados ao crime de deserção (art. 188)
e a figura do crime de Concerto para Deserção (art. 191) e Deserção por Evasão e Fuga (art.
192).

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Para fins de estudos, faremos a leitura apenas dos artigos 187, 188 e 190:

Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que serve, ou do lugar em
que deve permanecer, por mais de oito dias:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos; se oficial, a pena é agravada.

Art. 188. Na mesma pena incorre o militar que:

I - não se apresenta no lugar designado, dentro de oito dias, findo o prazo de trânsito ou
férias;

II - deixa de se apresentar a autoridade competente, dentro do prazo de oito dias, contados


daquele em que termina ou é cassada a licença ou agregação ou em que é declarado o estado de
sítio ou de guerra;

III - tendo cumprido a pena, deixa de se apresentar, dentro do prazo de oito dias;

IV - consegue exclusão do serviço ativo ou situação de inatividade, criando ou simulando


incapacidade.

Art. 190. Deixar o militar de apresentar-se no momento da partida do navio ou


aeronave, de que é tripulante, ou do deslocamento da unidade ou força em que serve:

Pena - detenção, até três meses, se após a partida ou deslocamento se apresentar, dentro
de vinte e quatro horas, à autoridade militar do lugar, ou, na falta desta, à autoridade policial,
para ser comunicada a apresentação ao comando militar competente.

§ 1º Se a apresentação se der dentro de prazo superior a vinte e quatro horas e não


excedente a cinco dias:

Pena - detenção, de dois a oito meses.

§ 2o Se superior a cinco dias e não excedente a oito dias:

Pena - detenção, de três meses a um ano.

§ 2o-A. Se superior a oito dias:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

Aumento de pena

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§ 3o A pena é aumentada de um terço, se se tratar de sargento, subtenente ou suboficial, e


de metade, se oficial.

TÓPICO 2.3.2 – DA CONSUMAÇÃO

Um dos pontos mais importantes que a administração deve observar é a contagem dos
prazos, visto que o início da contagem do período de graça se inicia no primeiro dia após a falta
injustificada1.

O lapso temporal de 8 (oito) dias de falta injustificada é chamado de prazo de graça2.

Caso o militar ausente retorne antes do 8º dia, o crime de deserção não será consumado,
devendo a conduta irregular ser apurada na esfera disciplinar, ou seja, com a instauração de
Formulário de Apuração de Transgressão Disciplinar (RDAER).

Conforme art. 451, §1º, do CPPM:

A contagem dos dias de ausência, para efeito da lavratura do termo de deserção,


iniciar-se-á a zero hora do dia seguinte àquele em que for verificada a falta injustificada do
militar.

A fim de esclarecer a contagem de tempo para a deserção, observe a Figura 35:

1 Manual de Polícia Judiciária Militar, Brasília, DF: MPM, 2019. Disponível em:
<http://www.mpm.mp.br/manualdepoliciajudiciariamilitar/>. p. 48.
2 Ibidem, p. 48.

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FIGURA 35 - CONHECENDO A JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO EM QUADRINHOS

FONTE: DSPACE (2020).

TÓPICO 2.3.3 – PROCEDIMENTOS

Os crimes de deserção previstos no Código Penal Militar, uma vez consumados, vão
estabelecer procedimentos a serem observados pelas autoridades competentes. Tais atos visam
assegurar à administração a legalidade processual. Trataremos de alguns desses procedimentos
neste tópico.

Vejamos o Art. 451 do Código Penal Militar que trata do crime de deserção:

Art. 451. Consumado o crime de deserção, nos casos previstos na lei penal militar, o
comandante da unidade, ou autoridade correspondente, ou ainda autoridade superior,
fará lavrar o respectivo termo, imediatamente, que poderá ser impresso ou datilografado, sendo
por ele assinado e por duas testemunhas idôneas, além do militar incumbido da lavratura.

O art. 451, do CPPM, inicia esclarecendo sobre o Termo de Deserção, contudo, antes
desse documento, é necessário registrar a ausência do militar.

Por esse motivo, a autoridade competente (geralmente o chefe do militar ausente) deverá
redigir uma Parte de Ausência (Art. 456, do CPPM), atualmente o documento é o Ofício,
endereçada ao Comandante da Unidade, reportando a ele o dia inicial da falta. Esse documento é
a peça utilizada para iniciar a contagem do período de graça.

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Por fim, a Parte de Ausência, em seu corpo textual, deverá conter todas as informações
relacionadas à falta, além das informações pessoais do militar, como por exemplo: nome
completo, identidade civil e militar, CPF, endereço, nome da mãe, nome do pai, histórico militar,
etc1.

Em consequência, o Comandante da Organização Militar, ao receber a Parte de Ausência,


realizará um Despacho, determinando que seja realizado o inventário (Art. 456, do CPPM) dos
bens deixados pelo militar ausente, tanto os pertencentes à Fazenda Pública, como também os
particulares.

Assim dispõe o art. 456, do CPPM:

Art. 456. Vinte e quatro horas depois de iniciada a contagem dos dias de ausência de
uma praça, o comandante da respectiva subunidade, ou autoridade competente, encaminhará
parte de ausência ao comandante ou chefe da respectiva organização, que mandará inventariar o
material permanente da Fazenda Nacional, deixado ou extraviado pelo ausente, com a
assistência de duas testemunhas idôneas.
Ademais, conforme o Manual de Polícia Judiciária 2, é necessário que o Chefe imediato
do militar ausente providencie diligências para impedir que este venha a consumar o crime de
deserção.

TÓPICO 2.3.4 – DA PARTE DE DESERÇÃO

Decorrido o período de 8 (oito) dias de ausência do militar, no caso de Deserção Comum,


será redigida uma Parte de Deserção, devendo ser realizada pelo chefe imediato do militar. Este
documento conterá toda a qualificação do militar, constando, também, o momento que consumou
o delito praticado3.

Após o recebimento desse documento, o Comandante de Unidade deverá providenciar a


lavratura do Termo de Deserção, onde serão colocadas as informações pertinentes ao desertor,
com objetivo de qualificá-lo de forma mais efetiva4.

Em seguida, o Termo de Deserção deverá ser publicado em Boletim Interno da Unidade.

1 Manual de Polícia Judiciária Militar, Brasília, DF: MPM, 2019. Disponível em:
<http://www.mpm.mp.br/manualdepoliciajudiciariamilitar/>. p. 53.
2 Ibidem, p. 52.
3 Parte de Deserção, item 5.3.3, do Manal de Polícia Judiciária Militar.
4 Da lavratura do Termo de Deserção, Da Publicação em Boletim da Unidade e da Remessa do Termo de
Deserção, item 5.3.4, do Manual de Polícia Judiciária Militar.

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Após a publicação, o Termo de Deserção e documentos pertinentes deverão ser remetidos


à Justiça Militar1, para que esta realize as providências cabíveis.

- Procure no conteúdo estudado as palavras-chave que


melhor representam o que foi estudado até aqui.

- Faça uma lista dessas palavras-chave seguida de um


breve comentário.

Vamos fazer - A partir da leitura delas, tente reconstruir o que foi


algumas anotações! visto.

Parabéns por ter avançado até aqui! Está na hora de


fazer uma pausa.

Lembre-se de que o descanso e a reflexão fazem parte


Agora, que tal do estudo.
uma pausa?

TÓPICO 2.3.5 – BREVES COMENTÁRIOS SOBRE DESERÇÃO DE PRAÇA COM OU SEM


ESTABILIDADE

Você percebe que os assuntos tratados se relacionam com o


cotidiano de uma Organização Militar? Por isso leia com muita atenção e
não apenas “decore” o conteúdo, mas busque compreendê-lo de verdade!

No caso de praça com estabilidade, os procedimentos na lavratura da Instrução


Provisória de Deserção são semelhantes aos realizados na de um oficial desertor, diferindo,

1 Para melhor compreensão sobre a organização da Justiça Militar da União, leia as páginas 10 e 16 da Cartilha
“Conhecendo a Justiça Militar da União em quadrinhos. Disponível em:
<https://dspace.stm.jus.br/xmlui/handle/123456789/135217>.

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porém, pelo fato de, nesse caso, a Parte informando sobre a Deserção anteceder o Termo de
Deserção.

Posteriormente, sendo consumada a deserção, o Comandante da Organização Militar


agregará o militar, devendo esse ato ser publicado em Boletim Interno, conforme item 5.2.2, do
Manual de Polícia Judiciária.

Já no caso de praça sem estabilidade, ao ser consumado o Crime Deserção, e, após a


lavratura do Termo e publicação em Boletim Interno, o Comandante da OM promoverá a
exclusão do militar, devendo esse ato ser ratificado, também, em Boletim Interno.

Em virtude disso, logo após esses procedimentos, todos os documentos, juntos ao Termo
de Deserção, deverão ser encaminhados ao Juízo Militar, conforme dispõe o § 4°, do art. 456, do
Código de Processo Penal Militar:

§4º Consumada a deserção de praça especial ou praça sem estabilidade, será ela
imediatamente excluída do serviço ativo. Se praça estável, será agregada, fazendo-se, em ambos
os casos, publicação, em boletim ou documento equivalente, do termo de deserção e remetendo-
se, em seguida, os autos à auditoria competente.

TÓPICO 2.3.6 – APRESENTAÇÃO VOLUNTÁRIA OU CAPTURA

Ao ser capturado ou se apresentar voluntariamente, o desertor (praça sem estabilidade)


passará por uma inspeção saúde, a qual deverá ser realizada na Unidade em que o militar se
encontra. Após sair o resultado da inspeção de saúde, este deverá ser publicado em Boletim da
Unidade.

Caso o desertor seja praça sem estabilidade e venha a ser considerado “apto”, deverá ser
reincluído ao serviço militar, nos termos do Art. 457, §1º, do CPPM:

§ 1º O desertor sem estabilidade que se apresentar ou for capturado deverá ser


submetido à inspeção de saúde e, quando julgado apto para o serviço militar, será reincluído.

Em seguida, a Autoridade Competente deverá providenciar a remessa imediata da


documentação ao Juiz Federal da Justiça Militar da União, conforme dispõe o art. 455, do
CPPM, senão vejamos:

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Art. 455. Apresentando-se ou sendo capturado o desertor, a autoridade militar fará a


comunicação ao Juiz-Auditor, com a informação sobre a data e o lugar onde o mesmo se
apresentou ou foi capturado, além de quaisquer outras circunstâncias concernentes ao fato [...].

Após a comunicação da captura ou apresentação voluntária, antes do desertor ser


recolhido à prisão, deverá passar por exame de corpo de delito, respeitando-se os mesmos
cuidados quando realizado por militar que foi preso em flagrante delito1.

Por fim, caso o desertor sem estabilidade seja considerado incapaz na inspeção de saúde,
este não poderá ser reincluído. O resultado deverá ser remetido à Justiça Militar, com urgência,
para fins de manifestação do Ministério Público Militar sobre o caso e quais medidas
administrativas a Unidade Militar deverá adotar2.

Na Figura 36 encontra-se a ordem de autuação da Instrução Provisória de Deserção.

1 Da inspeção de saúde: Capacidade/Incapacidade do Desertor, publicação e remessa à Justiça Militar da


União, item 5.3.6, do Manul de Polícia Judiciária Militar.
2 Da apresentação ou captura do desertor, item 5.3.5, do Manual de Polícia Judiciária Militar.

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FIGURA 36 – ORDEM DE AUTUAÇÃO DA IPD

FONTE: O AUTOR (2020).

- Os arquivos (modelos) sobre Instrução Provisória de


Deserção estão previstos no Manual de Polícia Judiciária
Militar¸ já que esta apostila tem apenas o objetivo didático de
apresentar o conteúdo de forma ampla.
Alerta!

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- Procure no conteúdo estudado as palavras-chave que


melhor representam o que foi estudado até aqui.

- Faça uma lista dessas palavras-chave seguida de um


breve comentário.

Vamos fazer - A partir da leitura delas, tente reconstruir o que foi


algumas anotações! visto.

Parabéns por ter avançado até aqui! Está na hora de


fazer uma pausa.

Lembre-se de que o descanso e a reflexão fazem parte


Agora, que tal do estudo.
uma pausa?

A partir de suas anotações, reconstrua com suas


palavras todo o estudo em um ou dois parágrafos, ou se
referir, elabore um mapa mental ou um infográfico sobre o

Está na hora de texto.

resumir!

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Exercícios para Aprendizagem

Que tal mais uma lista de exercícios? Você está indo muito bem,
meus parabéns, mas devemos continuar!

Descreva com as suas palavras as características da Instrução Provisória de Deserção.


Busque descrevê-las em um único texto discursivo.

Esclareça a diferença de apresentação voluntária e a captura do desertor.

Descreva com suas palavras a deserção de praças com estabilidade e sem estabilidade.

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CAPÍTULO 3 - PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO


Estamos chegando no último assunto dessa disciplina, foram tantos
conceitos estudados até aqui não foi mesmo? Espero que você os tenha
compreendido e consiga identificar vários deles em seu cotidiano.

Falaremos agora sobre a sindicância.

Vamos nessa?

TÓPICO 3.1 - SINDICÂNCIA

A Sindicância é um procedimento formal que tem por objetivo a apuração de


ocorrências, as quais, caso sejam confirmadas, poderão originar a abertura de processo
disciplinar, administrativo ou inquérito policial militar, conforme item 1.2.11, da ICA 111-2
(Figura 37).

FIGURA 37 - SOLUÇÃO DE SINDICÂNCIA

FONTE: O AUTOR (2020).

Nos termos do item 1.2.4, da ICA 111-2, a ocorrência é a suposta irregularidade


verificada no âmbito da jurisdição da organização militar, que envolva bem ou agente da
administração pública, a ser levada ao conhecimento da autoridade competente.

Como exemplo, temos o caso de instauração de Sindicância para apurar acidente em


serviço, conforme item 2.25, da ICA 111-2/2017.

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A fim de elucidar a ocorrência, as diligências são os atos praticados no âmbito da


Sindicância com o objetivo de esclarecer os fatos apurados, tais como: oitiva de testemunhas,
acareações, expedições de documentos, consulta a peritos, oitiva do sindicado, etc.

Além do mais, a Sindicância observará os princípios constitucionais do Contraditório e da


Ampla Defesa.

A garantia constitucional à ampla defesa (art. 5º, inciso LV) assegura aos litigantes, em
geral, a faculdade de produzir elementos necessários para o esclarecimento dos fatos que lhe são
imputados, bem como o direito de se omitirem, se assim julgarem pertinente.

Nesse ponto assevera Marinela (2016, p.89) que “esse princípio deve assegurar à parte a
garantia de defesa, conferindo ao cidadão o direito de alegar e provar o que alega, podendo se
valer de todos os meios e recursos disponibilizados para a busca da verdade real”.

Já o princípio do contraditório é disposto no item 1.2.16, “ele será a própria


exteriorização da ampla defesa, impondo a condução dialética do procedimento, visto que será
assegurado a todo ato produzido pela parte acusadora, oferecendo o direito de igual defesa ao
opositor”.

Nesse sentido, o Capítulo 5, da ICA 111-2 dispõe sobre as garantias que o Sindicado terá
no decorrer da Sindicância.

Cumpre esclarecer que o Sindicado é interpretado como a pessoa a quem será imputada a
prática da ocorrência, nos termos do item 1.2.10, da ICA 111-2.

Diante disso, terá direito de acompanhar o processo, apresentar defesa prévia e alegações
finais, arrolar testemunhas, assistir aos depoimentos, solicitar reinquirições, requerer perícias,
juntar documentos, obter cópias dos autos, formular quesitos em carta precatória e em prova
pericial e requerer o que entender necessário ao exercício de seu direito de defesa1.

TÓPICO 3.1.1 – SINDICANTE E ESCRIVÃO

O Sindicante será designado pela autoridade competente, por meio de Portaria, ficando
encarregado de conduzir o processo (Figura 38) e observar os procedimentos previstos no item
4.1.1 da ICA 111-2/2017.

1 Item 5.2, da ICA 111-2/2017.

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FIGURA 38 – ATRIBUIÇÃO DO SINDICANTE

FONTE: O AUTOR (2020).

O Escrivão, conforme dispôs o item 2.8.1, da ICA 111-2/2017, será aquele militar que irá
auxiliar o Sindicante em suas atribuições (Figura 39) para uma melhor apuração dos fatos,
devendo prestar o compromisso de manter sigilo sobre os fatos da Sindicância, além de realizar
fielmente os seus deveres no andamento dos atos processuais.

FIGURA 39 – ATRIBUIÇÃO DO ESCRIVÃO

FONTE: O AUTOR (2020).

TÓPICO 3.1.2 – PROCEDIMENTOS

No âmbito da Aeronáutica, a ICA 111-2/2017, normatiza os procedimentos para a


condução, elaboração de sindicância.

- É recomendável a leitura complementar da ICA 111-


2/2017, que dispõe sobre os procedimentos relativos à
sindicância, bem como os modelos.
Alerta!

Nesse sentido, a Sindicância será instaurada por meio de Portaria, publicada em Boletim
Interno da OM. O início dos trabalhos terá como marco a data de publicação da Portaria no
Boletim Interno, sendo que, nos termos do item 3.1.1, da ICA 111-2, excluir-se-á a data da
publicação e incluir-se-á a do vencimento.

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Importante esclarecer, que no item 3.1.1, da ICA 111-2, a Sindicância terá o prazo
máximo de trinta dias corridos para sua conclusão. Contudo, este prazo poderá ser prorrogado
por mais trinta dias corridos, desde que o Sindicante faça a solicitação de prorrogação de
prazo, devidamente fundamentada, ficando a critério da autoridade instauradora conceder a
dilação do prazo.

Além do mais, é imperioso que seja obedecido o item 2.9, da ICA 111-2, que dispõe
sobre a ordem de oitivas, assim o sindicado deverá ser ouvido após a oitiva do noticiante, do
ofendido e das testemunhas.

A fim de esclarecer, a testemunha “é a pessoa ou agente que ateste a veracidade de um


ato ou que preste esclarecimentos acerca de fatos apurados no âmbito da sindicância”1.

Ademais, os depoimentos, conforme disposto no item 2.17, da ICA 11-2/2017, serão


realizados durante o dia, em um período compreendido entre oito e dezoito horas.

Ao final da sindicância, após apuração de todos os fatos pertinentes ao caso, será


confeccionado pelo sindicante um relatório, nos termos do item 1.2.9, da ICA 111-2/2017, que
consiste na exposição descritiva do histórico dos fatos, das provas produzidas e das conclusões a
que se chegou de forma sintética, com a consequente sugestão do procedimento a ser aplicado ao
caso, ou o arquivamento.

TÓPICO 3.1.3 – ACIDENTE EM SERVIÇO E ATESTADO SANITÁRIO DE ORIGEM

De acordo com o item 2.26, da ICA 111-2, a autoridade responsável, ao tomar


conhecimento de suposto acidente em serviço, deverá instaurar a Sindicância, desde que figure
como vítima militar de seu efetivo ou pessoal civil, destinando-se assim a apuração para verificar
se o acidente ocorreu ou não em serviço.

Cabe ressaltar que, a fim de abreviar a apuração de sindicância, o acidentado que esteja
em condições físicas e psicológicas deverá realizar a comunicação do ocorrido à autoridade
competente, ou seja, ao seu Comandante, Chefe, Diretor ou Secretário, no prazo de 5 (cinco) dias
úteis a contar da data do sinistro. Assim, deve esclarecer informações básicas do acidente, tais
como a data, a hora, o local de origem e se indicar as testemunhas que presenciaram o evento2.

1 Item 1.2.13, da ICA 111-2/2017.


2 ICA 111-2, Item 2.26.1.

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Importante esclarecer que o Decreto nº 57.272, de 16 de novembro de 1975, define as


situações consideradas como acidente em serviço. Vejamos a seguir:

Art. 1º Considera-se acidente em serviço, para os efeitos previstos na legislação em vigor


relativa às Forças Armadas, aquele que ocorra com militar da ativa, quando:

a) no exercício dos deveres previstos no Art. 25 do Decreto-Lei nº 9.698, de 2 de


setembro de 1946 (Estatuto dos Militares);

b) no exercício de suas atribuições funcionais, durante o expediente normal, ou, quando


determinado por autoridade competente, em sua prorrogação ou antecipação;

c) no cumprimento de ordem emanada de autoridade militar competente;

d) no decurso de viagens em objeto de serviço, previstas em regulamentos ou autorizados


por autoridade militar competente;

e) o decurso de viagens impostas por motivo de movimentação efetuada no interesse do


serviço ou a pedido;

f) no deslocamento entre a sua residência e a organização em que serve ou o local de


trabalho, ou naquele em que sua missão deva ter início ou prosseguimento, e vice-versa.

§ 1º - Aplica-se o disposto neste artigo aos militares da Reserva, quando convocados


para o serviço ativo.

§ 2º - Não se aplica o disposto neste artigo quando o acidente for resultado de crime,
transgressão disciplinar, imprudência ou desídia do militar acidentado ou de subordinado seu,
com sua aquiescência. Os casos previstos neste parágrafo serão comprovados em Inquérito
Policial Militar, instaurado nos termos do art. 9º do Decreto-lei nº 1.002, de 21 de outubro de
1969, ou, quando não for caso dele, em sindicância, para esse fim mandada instaurar, com
observância das formalidades daquele.

Cumpre salientar que a alínea “f”, do art. 1º do referido Decreto, é uma das hipóteses
responsáveis pela instauração de sindicância de maior incidência, visto se tratar dos acidentes
“in intinere” que envolvam militares das Forças Armadas, diante do deslocamento entre a
residência e a organização em que serve ou o local de trabalho, ou naquele em que sua missão
deva ter início ou prosseguimento.

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Em continuação, após apuração do acidente, por meio da Sindicância, a autoridade


competente a que pertence o acidentado deverá realizar a publicação em Boletim Interno1,
devendo na decisão do referido instrumento de apuração conter informações se o fato foi ou não
entendido como um acidente de serviço.

No caso de ser considerado o ocorrido como acidente de serviço, a mencionada


publicação é importante para subsidiar a expedição do Atestado Sanitário de Origem (ASO)2.

Quanto ao ASO, importante citar alguns dos itens da Portaria nº 616, de 13 de maio de
1980, em seu capítulo VI (itens nº 2 ao 4) que explicam os procedimentos:

2 – O ASO representa, essencialmente, uma prova técnica, onde se registram, de forma


discriminada, as lesões e as perturbações mórbidas sofridas pela vítima, em consequência de
acidente ocorrido em ato de serviço.

3 – A expedição do ASO deverá ser determinada pela autoridade competente sempre que,
em caso de acidente presumivelmente em serviço, do qual resulte vítima, ficar comprovado,
através de sindicância mandada proceder por aquela autoridade, que o referido acidente
ocorreu, de fato, em ato de serviço.

4 – São autoridades, competentes para determinar a expedição de ASO, os Comandantes


das Organizações Militares do Ministério da Aeronáutica.

Por fim, o a sindicância pode ser instaurada para apurar qualquer ocorrência, desde que o
fato não seja considerado como crime. A título de exemplificação, foi citada a instauração de
sindicância objetivando apurar acidente considerado ou não em serviço, respeitado o que
preceitua a ICA 111-2/2017.

1 ICA 111-2,Item 2.27.


2 ICA 111 – 2, item 2.27.1

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ORDEM DOS AUTOS

Os autos seguem a ordem apresentada na Figura 40.

FIGURA 40 – ORDEM DE AUTUAÇÃO DA SINDICÂNCIA

FONTE: O AUTOR (2020).

Outros documentos poderão ser juntados aos autos, se necessários, tais como: Termo de
confissão de dívida, Carta precatória, Ofício elaborado pelo sindicante para sua substituição, por
motivo de impedimento, Termo de acareação, dentre outros.

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- Os arquivos (modelos) sobre Sindicância estão


disciplinados na ICA 111-2/2017, já que esta apostila tem
apenas o objetivo didático de apresentar o conteúdo de forma
ampla.
Alerta!

TÓPICO 3.1.4 – SOLUÇÃO

Ao final do procedimento, a Autoridade Instauradora decidirá sobre a Sindicância, por


meio de Solução publicada em Boletim Interno Ostensivo ou Sigiloso, podendo deliberar sobre
as medidas dispostas no item 4.2.2.1, da ICA 111-2/2017:

a) se houver necessidade de realização de novas diligências para a obtenção de maiores


esclarecimentos do fato, restituir os autos ao sindicante;

b) após o término da sindicância, caso se trate de ato demeritório de militar da ativa,


comunicar à autoridade competente, para que sejam adotadas as medidas pertinentes.

c) se no transcurso da sindicância, ou após a sua conclusão, ficar comprovada a


responsabilidade de servidor do COMAER e, após ter sido este notificado pelo sindicante
para prestar esclarecimentos, o Comandante, Chefe, Diretor ou Secretário de OM deverá adotar,
se for o caso, as providências previstas na Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, e na Lei nº
9.784, de 29 de janeiro de 1999;

d) se houver indícios de infração penal, instaurar, obrigatoriamente, IPM, de acordo com


a IMA 111-1 “Inquérito Policial Militar”;

e) se for constatada transgressão disciplinar, aplicar os procedimentos previstos na


Portaria nº 782/GC3, de 10 de novembro de 2010; e

f) se houver indício, ou efetivo dano ao erário, aplicar, também, os procedimentos


recomendados na ICA 174-3, para apuração do seu valor, indicação dos seus responsáveis e
indicação de elementos de prova que atestem o nexo causal dos agentes e o resultado danoso.

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Deste modo, vejamos na Figura 41 as medidas a serem adotadas, quando necessárias:

FIGURA 41 - SOLUÇÃO DA SINDICÂNCIA

FONTE: O AUTOR (2020).

- Procure no conteúdo estudado as palavras-chave que


melhor representam o que foi estudado até aqui.

- Faça uma lista dessas palavras-chave seguida de um


breve comentário.

Vamos fazer - A partir da leitura delas, tente reconstruir o que foi


algumas anotações! visto.

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Parabéns por ter avançado até aqui! Está na hora de


fazer uma pausa.

Lembre-se de que o descanso e a reflexão fazem parte


Agora, que tal do estudo.
uma pausa?

A partir de suas anotações, reconstrua com suas


palavras todo o estudo em um ou dois parágrafos, ou se
referir, elabore um mapa mental ou um infográfico sobre o

Está na hora de texto.

resumir!

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Exercícios para Aprendizagem do Capítulo.

Não esqueça que a resolução dos exercícios é parte fundamental da


aprendizagem. Então, vamos para mais uma série deles!

Descreva com as suas palavras as características da Sindicância. Busque descrevê-las em


um único texto discursivo.

Aborde os procedimentos, em especial a solução de uma sindicância com as medidas


administrativas.

Consultando a ICA 111-2/2017, dê exemplos de atribuições do militar nas funções de


sindicante e escrivão em uma sindicância. Poste no fórum sua resposta.

Para “fechar com chave de ouro”, ponha em prática o marcador


seguinte.

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- Quais suas observações iniciais acerca do texto? Identifique


algumas palavras-chave e faça breves anotações sobre elas. Faça uma
breve descrição do texto. Quais correlações e associações você pode
fazer em relação a ele? Compare-o a outras leituras que você já tenha
realizado. Faça breves anotações, infográficos ou desenhos.

- Experimente decompor o texto em tópicos. Anote cada tópico


acrescido de um breve comentário. Após isso, faça um resumo,
reconstruindo o texto com suas próprias palavras a partir dos tópicos.
Avalie todas as suas anotações de forma reflexiva. Há algo que você
Roteirize o possa melhorar?
seu estudo! - Tente explicar seu resumo para alguém, prepare uma aula com 3
a 5 slides, ou faça um “mapa mental” sobre o assunto estudado. Faça
uma “busca” na Internet por algum texto, infográfico ou vídeo que esteja
relacionado com o assunto e que possa ser acrescentado ao seu material
de estudo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Prezado Aluno(a), chegamos ao fim de mais uma etapa concluída e vencida com sucesso.
Parabéns! Esperamos que em todos esses momentos em que estivemos juntos, você tenha
aproveitado e aprendido muito.

Durante nosso estudo, realizamos leituras, aprendemos conceitos, verificamos novos


procedimentos. Fizemos anotações, resumos, exercícios, elaboramos roteiros de estudo e
dialogamos bastante, não foi mesmo?

Nesta disciplina, estudamos alguns procedimentos judiciais. Discutimos sobre o IPM,


reconhecendo o encarregado e o escrivão, além de verificarmos os procedimentos, prazos a
sequência dos atos, as oitivas, o relatório e solução, a remessa de IPM e instauração de novo
inquérito. Vimos, também, o APFD, seu conceito, os momentos de APFD, sobre o escrivão e
sobre as testemunhas. Tratamos da Instrução provisória de deserção, da consumação, dos
procedimentos e da parte da deserção, além de tecer breves comentários sobre a deserção de
praça com ou sem estabilidade e sobre a apresentação voluntária ou captura. Além disso,
estudamos a sindicância, falando sobre o sindicante e o escrivão, dos procedimentos e da
solução.

Encerramos ciclos, fechamos portas, terminamos capítulos, não importa o nome que
damos, o que importa é a sua aprendizagem e o seu crescimento profissional!

Com as saudações da Equipe do Berço dos Especialistas, sucesso em sua Missão!

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REFERÊNCIAS
ABREU, Jorge Luiz Nogueira de. Manual de direito disciplinar militar. Curitiba:
Juruá, 2015.

ALVES-MARREIROS, Adriano. Direito Penal Militar. Adriano Alves-Marreiros,


Guilherme Rocha, Ricardo Freitas. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2015.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Brasília, DF,


1998.

_____. Comandante da Aeronáutica. Gabinete do Comandante. Portaria nº 1.915/GC3, de


27 de dezembro de 2017. Aprova a Instrução que dispõe sobre Sindicância no âmbito do
Comando da Aeronáutica – ICA 111-2. Boletim do Comando da Aeronáutica, Rio de Janeiro,
RJ, nº 222, 28 dez. 2017.

_____. Decreto-Lei nº 1.001, de 21 de outubro de 1990. Código Penal Militar. Brasília,


DF, 1968.

_____. Decreto-Lei nº 1.002, de 21 de outubro de 1990. Código de Processo Penal


Militar. Brasília, DF, 1968.

_____. Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999. Regula o Processo Administrativo no


âmbito da Administração Pública Federal. Brasília, DF, 1999.

_____. Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021. Lei de Licitações e Contratos


Administrativos. Brasília, DF, 2021.

_____. Ministério Público Militar, Ministério da Defesa, Comando da Marinha, Comando


do Exército e Comando da Aeronáutica. Manual de polícia judiciária militar. Brasília, DF:
MPM, 2019.

_____. Superior Tribunal Militar. Conhecendo a Justiça Militar da União em


quadrinhos. Brasília: Superior Tribunal Militar, Diretoria de Documentação e Gestão do
Conhecimento, 2019.

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. 17 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2016.

LIMA, Renato Brasileiro de Lima. Manual de Processo Penal. 3 ed. Editora


JusPODIVM, 2015.

LOUREIRO NETO, José da Silva. Processo Penal Militar. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2010.

LOUREIRO NETO, José da Silva. Direito Penal Militar. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2010.

MARINELA, Fernanda. Direito administrativo. 10 ed. São Paulo: Saraiva, 2016.


NEVES,Cícero Robson Coimbra. Manual de direito processual penal militar. 3 ed.
São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Militar comentado. 3 ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2019.

ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Código Penal Militar Comentado - Parte Geral e
Parte Especial. 3 ed. Belo Horizonte: Editora Líder, 2014.
REFERÊNCIAS DAS FIGURAS

Vetor de fugir de soldado

https://publicdomainvectors.org/pt/vetorial-gratis/Vetor-de-fugir-de-soldado/3287.html

Soldado dormindo
https://www.montedo.com.br/2017/08/14/soldados-da-reforma/

Recruta Zero

http://www.universohq.com/universo-paralelo/recruta-zer-gibi-queremos-volta-bancas/

Tiro geral militar dos desenhos animados.

https://pt.dreamstime.com/ilustra%C3%A7%C3%A3o-stock-tiro-geral-militar-dos-
desenhos-animados-image51421799

Quartel em desenhos.

https://gartic.com.br/lokim30/desenho-jogo/1278860911

Soldado atacando.

https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/one-soldier-attacking-running-enemy-
73451758

Avó de militar com arma.

https://br.depositphotos.com/156859158/stock-illustration-military-grandmother-with-
gun-army.html

Desenho de corpo de homens jovens

https://br.freepik.com/vetores-premium/desenho-de-corpo-de-homens-
jovens_3970691.htm

Soldado dos desenhos animados no tanque de exército.

https://pt.dreamstime.com/fotos-de-stock-royalty-free-soldado-dos-desenhos-animados-
no-tanque-de-ex%C3%A9rcito-image38001028

Soldado armado.

https://www.canstockphoto.com.br/soldado-armado-15438964.html

Gritando o soldado.

https://publicdomainvectors.org/pt/vetorial-gratis/Gritando-o-soldado/62233.html

Quartel em desenho.
https://gartic.com.br/_mp/desenho-jogo/1251175080

Sargento correndo.

https://www.gograph.com/clipart/cartoon-coward-sergeant-running-vector-illustration-
gg105417870.html

Sargento com cachorro.

https://publicdomainvectors.org/pt/vetorial-gratis/Soldado-com-cachorro/62232.html

Mulher vestindo terno preto.


https://pt.depositphotos.com/vector-images/mulher-advogada.html?qview=56501375

Desenhos militares coloridos.

https://www.freepik.com/free-vector/coloured-military-designs_905449.htm

Justiça Militar da União

https://vladimiraras.blog/2017/10/18/as-novas-competencias-da-justica-militar-apos-a-lei-
13-4912017/

Conhecendo a Justiça Militar da União em quadrinhos.

https://dspace.stm.jus.br/xmlui/handle/123456789/135217

Exército soldado com arma.

https://br.freepik.com/vetores-premium/nos-exercito-soldado-com-arma-de-uniforme-
combate-dos-desenhos-animados-fundo-militar_4678492.htm

Avião silhueta

https://br.stockfresh.com/image/700082/vector-drawing

Avião AMX A-1A

http://asasdeferro.blogspot.com/2017/08/amx-o-tornado-de-bolso.html

FAB auxilia no transporte de urnas para o segundo turno

http://www.fab.mil.br/noticias/mostra/20443/

Diferença Poder de Polícia e Poder da Polícia (Montagem Conteudista)

http://www.tre-pa.jus.br/imagens/imagens/tre-rn-boneco-lupa-sti/image_view_fullscreen

https://www.gratispng.com/png-7vq6v8/

Manual de Polícia Judiciária Militar.

http://www.mpm.mp.br/manualdepoliciajudiciariamilitar/

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