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GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

SECRETARIA DE ESTADO DE SEGURANÇA


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR

CURSO DE FORMAÇÃO DE CABO

CFC
LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CEFC 2021

AUTORIDADES

Governador do Estado do Rio de Janeiro

Exmº Sr Cláudio Bomfim de Castro e Silva

Secretário de Estado de Polícia Militar

Exmº Sr Coronel PM Luiz Henrique Pires

Diretor-Geral de Ensino e Instrução

Ilmº Sr Coronel PM Ary Jorge Alves dos Santos

Comandante do CFAP 31 de Voluntários

Ilmº Sr Coronel PM Marcelo Andre Teixeira da Silva

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CEFC 2021

APRESENTAÇÃO

Prezado discente seja bem vindo ao Curso de Formação de Cabos da Polícia Militar do Estado do Rio de
Janeiro. Este curso tem por objetivo , formar e especializar os Cabos da Corporação. Para tal, o Curso ocorrerá
na modalidade presencial, no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças ( CFAP 31 Vol.).

É fundamental o seu empenho no curso, com dedicação e disciplina para o êxito dessa jornada, pois
alcançar o sucesso depende do esforço coletivo e também individual, objetivando que nossos policiais sejam
cada vez mais qualificados, bem treinados e especializados, para cumprirmos nossa missão, buscando a
excelência de nossas ações.

O bom treinamento envolve aspectos físicos e cognitivos, visando cadavez mais o aprimoramento a fim de
garantir uma tropa consciente, respeitosa, pautada em valores morais e institucionais, garantindo assim o
cumprimento de suas funções com dignidade e excelência.

O Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças 31 de Voluntários celebra com você esta


conquista especial, pois temos certeza do seu imenso esforço e dedicação para que hoje pudesse estar aqui

Todos os seus esforços são e serão reconhecidos, mas é fundamental que entendam desde já a importância da
conquista. Não somos dados a presentes, via de regra ofertados gratuitamente, mas somos fidelizados ao
processo da conquista, onde a recompensa se apresenta de forma proporcional e justa ao esforço de cada um.

Sua escolha certamente vai lhe exigir muita entrega. Haverá dias que parecerão intermináveis e obstáculos
pensados instransponíveis, mas tenha certeza que você é capaz e que nosso CFAP 31 Vol é o maior parceiro
de sua futura conquista.

Esperamos que você aproveite ao máximo os conhecimentos adquiridos através deste curso e busque
uma reflexão acerca de suas funções perante a sociedade e seus companheiros de profissão. Que seja um
momento de repensar as práticas e fortalecer seu vínculo profissional, ampliando cada vez mais seus
conhecimentos para lidar com as particularidades de ser um Policial Militar no Estado do Rio de Janeiro.

Desejamos a todos bons estudos!

Ary Jorge Alves dos Santos – Coronel PM


Diretor-Geral de Ensino e Instrução
Marcelo André Teixeira da Silva – Coronel PM
Comandante do CFAP

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

Desenvolvedores

Equipe Técnica
SUBTEN PM Willian Jardim de Souza
3º SGT PM Edson dos Santos Vasconcelos
SD PM Lucas Almeida de Oliveira
SD PM Diogo Ramalho Pereira

Diagramação
2º SGT PM Alan dos Santos Oliveira
2º SGT PM Wallace Reis Fernandes
CB PM Michele Pereira da Silva de Oliveira
CB PM Vanessa Souza Rino Bahia

Design Instrucional
1º SGT PM Eloisa Cláudia Clemente de Almeida
CB PM Michele Pereira da Silva de Oliveira

Filmagem e Edição de Vídeo


CB PM Renan Campos Barbosa
SD PM Alessandra Albuquerque da Silva

Designer Gráfico / Diagramação Interativa


2º SGT PM Wallace Reis Fernandes
SD PM Leonardo da Silva Ramos

CFAP
Coordenação Pedagógica
CAP PM Ped. Patrícia Kalife Paiva
3ºSGT Rodrigo Barroso Candido
CB PM Juliana Pereira de Carvalho
CB PM Fernanda Belísio Oliveira dos Santos
SD PM Eduarda Vasconcellos Dias de Oliveira

Conteudista
CAP PM Norberto Alexandre Marques

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

SUMÁRIO

Introdução ................................
.................................................................................
................. 6

Princípios aplicáveis ao processo penal militar ................................ 7

Sistema do processo penal militar ................................


.............................................. 10

Aplicação da lei processual penal militar ................................


...................................... 11

Aplicação à justiça militar estadual ................................


............................................. 12

A justiça militar na constituição federal de 1988 ........................... 13

Polícia judiciária militar .............................................................


............................. 18

Inquérito policial militar.............................................................


............................. 25

Especificidades de um ipm e seus envolvidos. .............................. 31

Conclusão ................................
................................................................................
................ 36

Referência bibliográfica .............................................................


............................. 37

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

INTRODUÇÃO

O Estado é o verdadeiro titular dos jus puniendi, o ato de punir


se materializa através do Poder Legislativo, na medida em que se inicia
a elaboração das leis penais militares e consequentemente as sanções
por elas cominadas. Ocorre que, o ato de punir poderá levar o militar
a ser submetido a privação de sua liberdade. Por certo, a própria
Constituição da República, alicerçada no Estado Democrático de
Direito, determinou que a aplicação do Direito Penal Militar deva por si
só obedecer ao devido processo legal.
Sobre o tema, precisa é a lição do Cícero Robson Coimbra Neves:
“[...] O processo penal militar constitui-se em um conjunto de
atos coordenados, estabelecedores de uma relação jurídica entre juiz
e partes, que tem escopo de compor justamente uma lide, está
caracterizada, de um lado, pela intenção do Estado em exercer seu
direito de punir o autor de um crime militar, e, de outro, pela
resistência do pretenso autor do fato a essa intenção”.
Por fim, é de suma importância consignar que a lide ora
apresentada no Processo Penal Militar, deverá assegurar ao militar
acusado, a plena aplicação dos Direitos e Garantias Fundamentais, sem
que ocorra a efetividade do Sistema Processual Penal Militar para a
segurança coletividade, a manutenção dos princípios da hierarquia e
disciplina e a aplicação da lei penal militar.

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

VAMOS INICIAR VENDO OS PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO


PROCESSO PENAL MILITAR
MI

Devido Processo Legal:

A Constituição da República de 1988, em seu art. 5°, inciso LIV


estabeleceu que para a existência de privação da liberdade ou de um
bem, tais comprometimentos deveriam ocorrer mediante ao Devido
Processo Legal. Desta forma, o presente Princípio é um limitador
do Poder Estatal,, abarcando outras garantias fundamentais, tais
como: ampla defesa, contraditório, imparcialidade do juiz, razoável
duração do processo, presunção de inocência etc.

Contraditório:

Em consonância ao art 5°, inciso LV CRFB/88 “aos litigantes, em


processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e a ampla
defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes”.
Umas das características
marcantes nesse princípio é a
participação dialética das partes, a
fiscalização, a informação e a
contrariedade dos atos praticados no
curso do processo. Como se percebe,
as partes devem ter ciência da
demanda e dos argumentos da parte
contraria. Parte da Doutrina denomina
o Contraditório como Paridade das
Armas.

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

Ampla Defesa:

O Princípio da Ampla Defesa também se


encontra no art. 5°, inciso LIV CRFB/88,
no entanto eles não se confundem, uma
vez que o contraditório se manifesta em
ambas as partes, já a ampla defesa
somente ao réu ou acusado.
Verifica-se, então, que a ampla
defesa é a condição do réu ou acusado de levar à baila todas as provas
legais a esclarecer os fatos, omitir-se ou se prevalecer do silêncio.

Duplo Grau de Jurisdição:

O Princípio do Duplo Grau de Jurisdição não está expresso na


Constituição da República de 1988, mas sim de maneira implícita no
art. 5°, inciso LV CRFB/88, que com os meio e recurso a ela inerentes.
Faz com que o réu ou o acusado tenha o direito de recorrer à
instância hierarquicamente
hierarquicament superior,, para fins de reexame da
decisão judicial.
Exemplo:

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

Presunção de Inocência (ou Não Culpabilidade):

Com a Constituição da República de 1988, a Presunção de


Inocência ganhou status constitucional, uma vez que no art. 5°, inciso
LVII CRFB/88 diz: “Ninguém será considerado
culpado até o trânsito em julgado de sentença
penal condenatória”. Esse direito faz com
que, o acusado ou o réu, seja culpado após o
devido processo legal, onde ele tenha
utilizado todos os meios de prova para a sua
defesa e ainda desconstruir a tese acusatória.

Publicidade:

O acesso a todos aos atos praticados no curso do processo eleva


a credibilidade, a transparência e a fiscalização dos atos dos juízes e
das partes. Nesse contexto, o art. 93, inciso IX CRFB/88 “todos os
julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei
limitar a presença, em determinados atos,
às próprias partes e a seus advogados, ou
somente a estes, em casos nos quais a
preservação do direito à intimidade do
interessado no sigilo não prejudique o
interesse público à informação”.

Dignidade da Pessoa Humana:

Além de ser um dos princípios fundamentais da República (art.


1°, inciso III CRFB/88) e ainda dos direitos e garantias fundamentais
(art.5° CRFB/88), a sua aplicação no Direito Processual Penal Militar

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

está relacionada ao status libertatis do militar, optando assim em


medidas menos nocivas ao militar.
André Nicolitt observar que,
como dito, a dignidade é o fim do próprio
Estado, dessa maneira, toda atividade
estatal deve estar sempre voltada à
tutela, à realização e ao respeito à
dignidade humana, o que não exclui a
atividade persecutória do Estado, seja
através da investigação criminal, seja no
exercício da ação penal, seja no curso do
processo.

VOCÊ SABE COMO FUNCIONA O SISTEMA DO PROCESSO PENAL


MILITAR? VAMOS VER ...

O Processo Penal Militar adotou o Sistema Acusatório,


caracterizado pela presença de um Juiz, Ministério Público e a Defesa.
De modo que as partes (MP e Defesa) sejam responsáveis pela a
produção de provas e cabendo ao magistrado a imparcialidade e a
garantia da liberdade e dos direitos fundamentais. Por fim, existem
ainda outros Sistemas que são o Inquisitorial e o Misto.

JUIZ MP

DEFESA

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL MILITAR

Veja quais são as fontes do Código de Processo Penal Militar

As fontes do Código de Processo Penal Militar são a Constituição


da República e a Lei Processual Penal Comum. Nota-se
se ainda que o
CPPM no art. 1° § 1° consolidou que as Convenções e os Tratados, no
qual o Brasil foi signatário, prevaleceram em detrimento ao CPPM.
Como por exemplo, o Pacto São José da Costa Rica, ratificado pelo
Brasil em 1992,
992, através do Decreto n° 687, que no n° 2 do art. 8
estabelece a igualdade entre as partes na fase do processo (paridade
das armas).

Suprimento dos casos Omissos do Código de Processo Penal


Militar

A omissão do CPPM é dirimida pela interpretação do art 3°, uma


vez que traz o rol de condicionantes para sanar a lacuna existente.
Sendo elas: a legislação processual penal comum (Código de Processo
Penal), jurisprudência, usos e costumes militares, princípios gerais do
direito e analogia. No que tange a Legislação Processual Penal Comum,
cabe aqui relatar que, sua utilização não poderá trazer prejuízo ao
processo penal militar, como por exemplo, a aplicação da Lei 9099/95,
no qual seus institutos não são aplicáveis na Justiça Militar, por força
da vedação da Lei 9839/99.

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

Territorialidade e extraterritorialidade

O art. 4° CPPM adotou o princípio da territorialidade, onde todo


e qualquer processo penal militar que teve origem no território nacional
deve ser equacionado a luz do Código de Processo Penal Militar, salvo
as convenções, tratados e regras de direito internacional, como por
exemplo a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, aprovada
pelo Decreto Legislativo n° 103/64,
e promulgada pelo Decreto n°
56.435/65.Com a exceção a
territorialidade, a
extraterritorialidade sobre a
aplicação a lei processual penal
militar fora do território brasileiro
nos crimes contra as instituições
militares.

APLICAÇÃO À JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL

Pela interpretação do art. 6°, o Código de Processo Penal Militar


se aplica nas Justiças Militares Estaduais, nota-se que a própria
Constituição da República de 1988 já estabeleceu em seu art. 125, §
3° essa possibilidade, na medida em que os Estados poderão criar o
Tribunal de Justiça Militar Estadual. No caso em comendo, o Estado do
Rio de Janeiro não possui o Tribunal de Justiça Militar, tão somente
uma Vara Especializada denominada Auditoria de Justiça
Militar/AJMERJ.

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

A JUSTIÇA MILITAR NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

A construção acerca do foro


militar é de vital importância
para o entendimento da
Competência das Justiças
Militares, visto que no art. 82
CPPM o foro militar é especial,
salvo os crimes dolosos contra
a vida praticados contra civil
(Lei 9299/96). Estabelece
Estabelecendo
assim, as pessoas que estarão sujeitas a jurisdição militar, sendo elas:
militares em situação de atividade, militares da reserva convocados ao
serviço ativo, reservistas e os Oficiais e Praças das Policiais Militares e
Corpos de Bombeiros.
O texto constitucional estabeleceu a competência Criminal para
a Justiça Militar da União (art.124 CRFB/88) e dos Estados/Distrito
Federal (art. 125, § 4° CRFB/88), para tanto, a presente competência
é julgar e processar os crimes militares.

Vamos conhecer um pouco sobre a Justiça Militar da União...

A Justiça Militar da União pertence ao Poder Judiciário (art. 92


CRFB/88), estabelecendo que os Órgãos da Justiça Militar serão
compostos pelo Superior Tribunal Militar/STM e os Tribunais e Juízes
Militares (art. 122 CRFB/88). Para tanto, possui competência para
processar e julgar os crimes militares definidos em lei, tendo como
agentes os Militares das Forças Armadas e Civis (art. 124 CRFB/88),
salvos os crimes dolosos contra a vida praticados contra civil (lei
9299/96), de competência do Tribunal do Júri.
Em relação à organização da Justiça da Justiça Militar da União,
a Lei 8457/92 estabeleceu a regulamentação e o seu funcionamento.

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

1. Primeira Instância da Justiça Militar da União

Os Órgãos de Primeira
Pr Instância são as 12 (doze) Circunscrições
Judiciárias Militares, espalhas no território nacional, onde cada
Circunscrição possui pelo menos 01(uma) Auditoria.As auditorias são
divididas em Órgãos Julgadores (Conselhos de Justiça):

- Conselho Permanente de Justiça:


Justiça: Constituído pelo Juiz Auditor
(Juiz de Direito), por um Oficial Superior, que será o Presidente, e
03(três) Oficiais de posto até capitão-tenente
capitão tenente ou capitão, esses Juízes
Militares. A composição do presente Conselho funcionará durante
03(três) meses consecutivos, ou podendo ser prorrogado. Tem
competência para processar e julgar Praças e Civis

-Conselho Especial de Justiça: Constituído pelo Juiz Auditor (Juiz de


Direito) e 04(quatro) Juízes Militares, sob a presidência, dentre estes,
de um Oficial General ou Oficial Superior, de posto mais elevado que o
dos demais juízes. Os Juízes Militares serão de posto superior ao do
acusado, ou do mesmo posto e de maior antiguidade. A composição do
Conselho Especial é constituída para cada
processo, e dissolvido após conclusão dos seus
trabalhos. Tem competência para processar e
julgar os Oficiais das Forças Armadas, exceto
Oficiais Generais, que cuja competência é
originaria do STM.

Em caso de concurso de agentes envolvendo oficiais e


praças, a competência para processar e julgar o feito será
do Conselho Especial de Justiça.

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

2. Segunda Instância da Justiça Militar da União

O Superior Tribunal Militar/STM é o Órgão de Segunda Instância


da Justiça Militar da União, com sede no Distrito Federal e jurisdição
em todo território nacional. A composição do STM é assim disposta: 03
(três) Oficiais Generais da Marinha, 04 (quatro) Oficiais Generais do
Exército, 03 (três) Oficiais Generais da Aeronáutica, todos da ativa e
do posto mais elevado, e ainda 03 (três) advogados, 1(um) Juiz Auditor
e 01(um) Membro do Ministério Público Militar, perfazendo 15(quinze)
Ministros.

O que você sabe a respeito da Justiça Militar dos Estados e


Distrito Federal? E sobre a Auditoria de Justiça Militar do Estado
do Rio de Janeiro/AJMERJ? Vamos entender....

A Justiça Militar dos Estados e Distrito Federal pertence ao Poder


Judiciário (art. 125 CRFB/88), estabelecendo, a critério do Tribunal de
Justiça, a Justiça Militar Estadual, construída,
construída, em primeiro grau, pelos
Juízes de Direito e pelos Conselhos de Justiça, e de segundo grau os
Tribunais Militares ou pelos Tribunais de Justiça, em que o efetivo
militar seja superior a vinte mil integrantes.
O Estado do Rio de Janeiro não possui um Tribunal de Justiça
Militar, no entanto os crimes militares serão julgados e processados
por uma Vara Especializada,
denominada Auditoria de Justiça
Militar do Estado do Rio de
Janeiro/AJMERJ juntamente com
os Conselhos de Justiça. A
AJMERJ e os Conselhos de Justiça
possuem competência para
processar e julgar os crimes
militares praticados pelos

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

Militares Estaduais, salvo os crimes dolosos contra a vida praticados


contra civil (lei 9299/96), de competência do Tribunal do Júri. Já nos
Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, podemos
constar a existência do Tribunal de Justiça Militar (órgão de segunda
instância) e as Auditorias Militares (órgão de primeira instância).

3. Competência singular do Juiz de Direito do Juízo Militar


em processar e julgar os crimes militares contra civis e as
ações contra atos disciplinares.

No que se refere às ações judiciais


contra atos disciplinares militares, mesmo
por força do art. 125 § 4° e 5° CRFB/88,
com redação da EC n° 45/04, que
determina a competência da Justiça Militar,
na pessoa do Juiz de Direito do Juízo
Militar; no Estado do Rio de Janeiro esta
realidade é bem diferente, visto a Súmula
n° 131 TJRJ combinado com o art. 97 § 9°
Código de Organização e Divisão Judiciária
do Estado do Rio de Janeiro (CODJERJ),
transferiu esta atribuição para as Varas de
Fazenda

Pública. Nesse diapasão, o art.


125 § 5° CRFB/88 estabeleceu a
competência singular do Juiz de
Direito do Juízo Militar, em
processar e julgar os crimes
militares cometido contra civis, e
os demais crimes militares
cabendo os Conselhos de Justiça.

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

4. Primeira Instância da Justiça Militar Estadual/AJMERJ.

O Órgão de Primeira Instância que julga e processa os crimes


militares praticados por integrantes da PMERJ e do CBMERJ. É a
Auditoria de Justiça Militar do Estado do Rio de Janeiro/AJMERJ através
dos Conselhos de Justiça, conforme preceitua o art. 152 CODJERJ.
Nesse compasso, a AJMERJ é constituída pelos Conselhos
Permanentes e Especiais de Justiça, e seus funcionamentos são
regulados Lei 8457/92.

- Conselho Permanente de Justiça: Constituído pelo Juiz de Direito


do Juízo Militar (Presidente do Conselho), por 01(um) Oficial Superior
e 03(três) Oficiais de posto até capitão, esses Juízes Militares. A
composição do presente Conselho funcionará durante 03(três) meses
consecutivos, ou podendo ser prorrogado. Tem competência para
processar e julgar Praças.

-Conselho
Conselho Especial de Justiça
Justiça:: Constituído pelo Juiz de Direito do
Juízo Militar (Presidente do Conselho) e 04(quatro) oficiais. Os Juízes
Militares serão de posto superior ao do acusado, ou do mesmo posto e
de maior antiguidade. A composição do Conselho Especial é constituída
para cada processo, e dissolvido após conclusão dos seus trabalhos.
Tem competência para processar e julgar os Oficiais.

5. Segunda Instância da Justiça Militar Estadual/AJMERJ

O Órgão de Segunda Instância da Justiça Militar do Estado do Rio


de Janeiro/AJMERJ é o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro,
conforme preceitua o art. 125 § 3° CRFB/88 combinado com o art. 153
CODJERJ. Cabendo a este decidir sobre a perda do posto e da patente
dos oficiais e da graduação das praças.

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

AGORA VAMOS CONHECER UM POUCO MAIS SOBRE A POLÍCIA


JUDICIÁRIA MILITAR

Inicialmente, o Poder de Polícia do POLICIA ADMINISTRATIVA E


Estado encontra-se dividido em duas JUDICIÁRIA

funções:
s: Polícia Administrativa e Polícia Sobre o tema nos ensina
Célio Lobão:
Judiciária. A primeira possui a função
Em função de suas atribuições, as
preventiva já a segunda a apuração dos polícias das corporações militares
federais são administrativas e
fatos que já ocorreram. Dito isto, agora no
judiciárias. A primeira previne e
plano constitucional, as Forças Armadas reprime o crime militar, no âmbito
das respectivas corporações, e
possuem funções e Policia Administrativa excepcionalmente fora dela. (...) A
Polícia Judiciária tem como
no que se refere ao art. 142
atribuição apurar as infrações
CRFB/88(Defesa da Pátria e garantia dos penais militares, a fim de oferecer
elementos destinados a propositura
Poderes Constitucionais) combinado com da ação penal(...).
a Lei Complementar 97/99, Lobão, Célio. Direito Processual
regulamentado pelo Dec. 3897/01, que Penal Militar. Rio de Janeiro:
Forense, 2010, p. 45.
instituiu a aplicação das Forças Armadas
na Garantia da Lei e da Ordem (GLO). No que tange as Policias Militares
e Corpos de Bombeiros Militares, segundo o art. 144, §5° CRFB/88,
realizam também função predominante de polícia administrativa, uma
vez que a Policia Militar consiste no policiamento ostensivo e a
preservação da ordem pública e o Corpo de Bombeiros a defesa civil.
Não se afastando dessas premissas, essas Instituições exercem
atividade de Polícia Judiciária Militar, uma no plano Federal (Marinha,
Exército e Aeronáutica) e no plano Estadual/Distrital (Policiais Militares
e Corpos de Bombeiros Militares), no
momento em que ocorre umcrime
militar, conforme o Código de Processo
Penal Militar no Título II - Capítulo Único
da Polícia Judiciária Militar, nos artigos
7° e 8. Ademais, de suma importância
consignar, que existe uma vedação

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

expressa no texto constitucional no que se refere à apuração dos


crimes militares pela Policia Civil, no art. 144, § 4° CRFB/88.
André Nicolitt preceitua que, Por fim, a função de polícia
judiciária, muito embora não figure expressamente no capítulo das
funções essenciais à justiça (arts. 127 a 135, CF/1988), implicitamente
trata-se
se de função essencial à justiça em razão de fortalecimento do
sistema acusatório na medida em que o juiz está despido da função de
investigar o que está entregue ao órgão próprio para tanto.

Exercício da Polícia Judiciária Militar (art. 7° CPPM).

O artigo em análise destina-se


destina a indicação
das Autoridades de PolíciaJudiciária Militar
(APJM), assim mencionadas:

1. Pelos ministros da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, em


todo o território nacional e fora dele, em relação às forças e
órgãos que constituem seus Ministérios, bem como a militares
que, neste caráter, desempenhem missão oficial, permanente ou
transitória, em país estrangeiro;
2. Pelo chefe do Estado
Estado-Maior
Maior das Forças Armadas, em relação a
entidades que, por disposição legal, estejam sob sua jurisdição;
3. Pelos chefes de Estado-Maior e pelo secretário-geral
geral da Marinha,
nos órgãos, forças e unidades que lhes são subordinados;
4. Pelos comandantes de Exército e pelo comandante
comandante-chefe da
Esquadra, nos órgãos, forças e unidades compreendidos no
âmbito da respectiva ação de comando;
5. Pelos comandantes de Região Militar, Distrito Naval ou Zona
Aérea, nos órgãos e unidades dos respectivos territórios;
6. Pelo secretário do Ministério do Exército e pelo chefe de Gabinete
do Ministério da Aeronáutica, nos órgãos e serviços que lhes são
subordinados;

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

7. Pelos diretores e chefes de órgãos, repartições, estabelecimentos


ou serviços previstos nas leis de organização básica da Marinha,
do Exército e da Aeronáutica;
8. Pelos comandantes de forças, unidades ou navios.

Em relação às APJM das Policias Militares e os Corpos de


Bombeiros Militares, nos ensina Cícero Robson Coimbra Neves:
No âmbito das Policias Militares e Corpos de Bombeiros Militares,
esse paralelismo também deve ser procurado, sendo autoridades
originariamente competente para medida de polícia judiciária militar,
in exemplis,, o Comandante
Comandante-Geral,
Geral, o Subcomandante da PM e os
Comandantes de Unidad
Unidade.

Em suma, os Comandantes, Chefes e Diretores de


Organizações Policiais Militares (OPM), serão a APJM no
âmbito da PMERJ, tendo como simetria o artigo em comento.

Delegação do exercício de Polícia Judiciária Militar.

Os parágrafos do art. 7° CPPM enumeram as possibilidades de


delegação, por tempo limitado, das atividades de Polícia Judiciária
Militar aos Oficiais da ativa, no entanto tais circunstâncias deverão
obedecer aos seguintes requisitos:

1. Em se tratando de delegação para instauração de inquérito policial


militar, deverá aquela recair em oficial de posto superior ao do
indiciado, seja este oficial da ativa, da reserva, remunerada ou não,
ou reformado.
2. Não sendo possível a designação de oficial de posto superior ao do
indiciado, poderá ser
ser feita a de oficial do mesmo posto, desde que
mais antigo.

20
LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

3. Se o indiciado é oficial da reserva ou reformado, não prevalece,


para a delegação, a antiguidade de posto.
4. Se o posto e a antiguidade de oficial da ativa excluírem, de modo
absoluto, a existência de outro oficial da ativa nas condições do §
3º, caberá ao ministro competente a designação de oficial da
reserva de posto mais elevado para a instauração do inquérito
policial militar; e, se este estiver iniciado, avocá-lo, para tomar essa
providência.

Competência da Polícia Judiciária Militar (art. 8° CPPM).

As competências estabelecidas no rol do art. 8° CPPM é


meramente exemplificativa, na medida em que o legislador infra
infra-
constitucional não teve a intenção de esgotar toda a matéria. Nesse
sentido são as lições de Cícero Robson Coimbra Neves quando diz:
“Essas atribuições numeradas no rol do art. 8° do CPPM, rol que
dever ser considerado exemplificativo, e não taxativo, ao contrário do
que entendem alguns autores. ” Essa conclusão
concl note-se,
se, decorre da
amplitude inerente à apuração de um fato e da conclusão de que a
conjunção de provas pela polícia judiciária militar é precária, ou seja,
será refeito sempre que possível, no curso do processo penal militar
constitucional, após o recebimento da denúncia, sob o crivo do
contraditório e da ampla defesa.Em decorrência do art. 8° CPPM,
passamos agora a analisar as competências da Polícia Judiciária Militar,
a saber:

1. Apurar os crimes militares, bem como os que, por lei especial,


estão sujeitos à jurisdição militar, e sua autoria: Inicialmente,
deverá ficar demonstrado a existência de indícios de uma
infração penal militar, e que consequentemente, tais delitos
militares deverão estar consignados no Código Penal Militar (Dec.
Lei 1.001/69). No que se refere à Lei Especial, não, mas de

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

coaduna com os dispositivos constitucionais, na medida em que


o art.30 da Lei 7.170/83 (Lei de Segurança Nacional) não
recepcionado pela CRFB/88.
2. Prestar informações do Poder Judiciário
Judiciário e ao Ministério Público:
São informações e diligências requisitadas pelo Juiz ou pelo
Ministério Público, na fase inquisitorial ou na fase processual. A
fim de exemplificar, podemos citar: oitiva de testemunhas,
juntada de documentos, reprodução simulada e entre outras.
3. Cumprir mandados de prisão expedidos pela Justiça Militar: Essa
competência poderá ser estendida, também, para as Autoridades
Judiciárias da Justiça Comum.
4. Representar pela decretação da prisão preventiva e pelo
reconhecimento de insanidade mental do indiciado: Inicialmente,
há a necessidade de esclarecer o instituto da Prisão Preventiva
no CPPM. Como se percebe, o art. 254
PRISÃO PREVENTIVA
CPPM retrata a competência e os Sobre o tema nos ensina
Célio Lobão:
requisitos desta medida cautelar, (...) Na Justiça Militar
nesse compasso tal medida poderá ser Estadual, aplica
aplica-se o
exposto nos feitos da
decretada pelo Juiz de Direitodo Juízo competência do colegiado.
Nos crimes da
Militar ou pelo Conselho de Justiça
competência singular do
(Especial ou Permanente), e ainda a Juiz de Direito do Juízo
Militar, a este compete
requerimento do Ministério Público ou
decretar a prisão
mediante representação do preventiva na fase pré-
pré
processual e durante a
Encarregado do IPM. Para tanto, a instrução criminal.
Prisão Preventiva poderá ser Lobão, Célio. Direito
Processual Penal Militar.
decretada em qualquer fase, tanto no Rio de Janeiro: Forense,
IPM ou no Processo Criminal. No que 2010, p. 312.

concerne aos requisitos: prova do fato delituoso


(prova/certeza da existência do crimemilitar) e indícios
suficientes de autoria (não se exige aqui a certeza, mas sim a
probabilidade de autoria).

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

Agora vejamos os fundamentos da Prisão Preventiva (art. 255


CPPM): garantia da ordem pública (risco do agente solto praticar
reiteradamente crimes militares), conveniência da instrução
criminal (quando o agente solto poderá prejudicar a colheita de
elementos de informação ou provas), periculosidade do indiciado
ou acusado (atos que poderiam ameaças a coletividade e a paz
social), segurança da aplicação da lei penal militar
militar(perigo
iminente de fuga do agente) e exigências da manutenção das
normas ou princípios de hierarquia e disciplina militares (na
medida em que atos desafiadores
desafiadores e desrespeitosos são perpetrados
pelo agente em desfavor de seus superiores hierárquicos). Finalmente,
no que tange a insanidade mental do indiciado (art. 156 § 2° c/c
art. 160, parágrafo único, ambos, CPPM), poderá ser ordenada pelo
Juiz de Direito do Juízo Militar (ofício), a requerimento do MP, defensor,
curador, conjugue, ascendente, descendente ou irmão do indiciado e
ainda pelo encarregado do IPM.

5. Cumprir as determinações da Justiça Militar relativas aos presos


sob a sua guarda e responsabilidade,
responsabilidade, bem como as demais
prescrições deste Código: No caso em comendo, podemos fazer
uma referência à Unidade Prisional da PMERJ-UP/PMERJ,
PMERJ UP/PMERJ, onde
seu Diretor ficará sujeito aos ditames da Justiça Militar (AJMERJ),
bem como as referências da Lei de Execução Penal (Lei
7210/84).
6. Solicitar das autoridades civis as informações e medidas que
julgar úteis à elucidação das infrações penais, que esteja a seu
cargo: O encarregado buscará em órgãos externos elementos de
informação(documentos, certidões, filmagens)
filmagens) para elucidar a
infração penal militar.
7. Requisitar da Policia Civil e das repartições técnicas civis as
pesquisas e exames necessários: A PMERJ possui o Centro de
Criminalística, que muito embora seja referência nacional em

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

perícia criminal, infelizmente alguns exames não são realizados


por esta Unidade, como é o caso dos exames de corpo e delito e
necropsia. Nesse sentido, será requisitado aos órgãos da Policia
Civil o devido exame pericial, e que na inobservância desta
requisição poderá
oderá o perito responder administrativamente e
criminalmente.
8. Atender pedidos de apresentação de militares à autoridade civil:
Nesse dispositivo, a Autoridade de Polícia Judiciária Militar deverá
apresentar os Policiais Militares, a seu comando, às autoridades
civis, sob pena de

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

VOCÊ SABE O QUE É UM INQUÉRITO POLICIAL


MILITAR? Vamos analisar...

Uma das competências da Polícia Judiciária Militar é a apuração


das infrações penais militares (art. 8°, alínea “a” CPPM), que se
materializa através de um procedimento administrativo chamado
Inquérito Policial Militar.
Nesse sentido, assinala Paulo Rangel: “O inquérito policial,
portanto, é o instrumento de que se vale o Estado, através da polícia,
órgão integrante da função executiva, para iniciar a persecução penal
com controle das investigações realizadas do Ministério Público ((CF,
art.129, VII, da CRFB).
CRFB ”
Nesse sentido, a doutrina afirma que o Inquérito Policial Militar é
um mecanismo de se evitar abusos por parte do Estado, evitando assim
que um cidadão responda a um processo criminal, sem que antes se
apure as informações que lhe são imputadas, resguardando os direitos
e garantias fundamentais do cidadão.

Conceito

O Inquérito Policial Militar é um procedimento admi


administrativo de
característica inquisitorial, cujo encarregado exerce as funções de
Autoridade de Polícia Judiciária Militar, no qual desenvolve diligências
objetivando a coleta de elementos de informação, indicando o autor
(se possível) e possibilitando o oferecimento
oferecimento da peça acusatória por
parte do Ministério Público.

Natureza Jurídica

Por se tratar de um procedimento


administrativo, o Inquérito Policial Militar
não contempla a ampla defesa e o
contraditório, consagrados no art. 5°, inciso

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

LVI CRFB/88, pelo simples motivo de não ser um Processo Judicial ou


Administrativo. Por derradeiro, o IPM é considerado pela doutrina e
pela jurisprudência uma mera peça informativa (elementos de
informação), e que eventuais irregularidades no curso deste
procedimento não tem o condão de contaminar o processo penal
militar, mas sim a retirada dessa prova dos autos do processo.

Finalidade

A finalidade do Inquérito Policial Militar encontra-se


encontra se disciplinada
no art. 9° CPPM, que em síntese atribui ao IPM à apuração sumária de
fato, que configure crime militar e sua autoria. Possui caráter de
instrução provisória, cuja finalidade é ministra elementos necessários
para à propositura da ação penal.

Características do Inquérito Policial Militar

1. Procedimento escrito - De acordo com o art. 21 CPPM, todas


as peças serão, por ordem cronológicas, reunidas num só
processado e datilografado, com folhas numeradas e rubricadas
pelo escrivão.

2. Procedimento inquisitorial - O entendimento da doutrina e


jurisprudência é que o Inquérito Policial Militar possui caráter
inquisitorial, não abarcando os princípios do contraditório e da
ampla defesa. Essa natureza inquisitorial, está ligada a não
comunicação dos atos investigatórios ao indiciado, fazendo com
que, esse procedimento seja eficiente e eficaz, no que concerne
a identificação do autor do crime militar. Convêm destacar, que
embora o IPM seja inquisitorial, tal característica não afasta a
possibilidade de o indiciado propor a formulação de quesitos nas
pericias e exames, conforme preceitua o art. 316 CPPM.

26
LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

3. Procedimento sigiloso - O sigilo do IPM está consagrado no


art. 16 CPPM, momento em que o encarregado pode permitir o
acesso dos autos do IPM ao advogado do indiciado. Esta
“faculdade” do encarregado, não encontra respaldo legal na nova
ordem jurídica, na medida em que a Lei 8.906/94 (Estatuto da
OAB) no seu art. 7°, inciso XIV, atribui o direito ao advogado de
ter acesso aos autos do flagrante e dos inquéritos, combinad
combinado
com a SV n° 14.No que tange as demais pessoas, se faz
necessário o sigilo, pelo simples motivo de que o IPM visa
investigar as infrações penais militares, buscando assim os
elementos de informação para a identificação da a autoria e a
materialidade. Por certo a divulgação da investigação poderá
interferir na efetividade das ações de polícia judiciária militar.

4. Procedimento dispensável - Sendo o Ministério Público o


titular da ação penal, poderá ele, dispor do IPM quando obtiver
informações mínimas para o oferecimento da denúncia. Essas
informações constam nos seguintes artigos do CPPM, a saber:
-Art. 27CPPM:: Quando o Auto de Prisão em Flagrante for
suficiente para a elucidação do fato e sua autoria;
-Art. 28 CPPM
CPPM: No momento em que o fato e autoria já
estiverem esclarecidos por documentos ou outras provas
matérias, nos crimes contra a honra (escritos ou publicados e
seu autor identificado) e nos crimes do art. 341 (desacato) e art.
349 (desobediência de decisão judicial), ambos do Código Penal
Militar.

27
LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

5. Procedimento Oficial - Incumbe a Autoridade de Polícia


Judiciária Militar (Marinha, Exército, Aeronáutica, Policia Militar e
Corpo de Bombeiros Militares) a presidência do IPM.

6. Procedimento oficioso - A Autoridade de Polícia Judiciária


Militar que tomar conhecimento de uma notícia crime, ela é
obrigada a agir de oficio, independente de provocação da vítima
ou de qualquer outra parte.

7. Procedimento indisponível - Uma vez instaurado o IPM, a


Autoridade de Polícia Judiciária Militar não poderá
poderá arquivar esse
procedimento, visto que compete ao titular da ação penal propor
ao Juiz de Direito o arquivamento do feito.

Fiquem atentos as Formas de instauração do IPM...

A instauração do IPM é mediante Portaria, lavrada pela Autoridade


de Polícia Judiciária Militar, conforme preceitua o art. 10 CPPM.

1. Instauração de Ofício – art. 10, alínea (a) CPPM - É quando


a Autoridade de Polícia Judiciária Militar conhece diretamente os
fatos que noticiam a infração penal militar.

2. Instauração por determinação ou delegação -art. 10,


alínea (b) CPPM - A Autoridade de Polícia Judiciária Militar
Superior irá determinar ou delegar para outra Autoridade, de
condição inferior (subordinada) a instauração de IPM.

3. Instauração por requisição do Ministério Público


Público-art. 10,
alínea (c) CPPM - O Ministério Público irá requisitar diretamente
a Autoridade de Polícia Judiciária Militar a instauração do IPM.
Cabe ainda consignar, que a própria Constituição da República

28
LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

de 1988 atribui essa competência ao Parquet, conforme art. 129,


VIII CRFB/88.

4. Instauração por decisão do Superior Tribunal Militar -art.


10, alínea (d) CPPM - Aplicando a simetria aos Estados, no
caso em comendo o Estado do Rio de Janeiro, onde o Órgão de
Segunda Instância da AJMERJ é o Tribunal de
de Justiça, este,
poderá decidir em remeter os autos ao Ministério Público para
fins de instauração do Inquérito Policial Militar.

5. Instauração por requerimento do ofendido, do seu


representante legal ou por uma pessoa que tenha
conhecimento de uma infração penal militar
militar- art. 10,
alínea (e) CPPM - Os fatos que constituem indícios de infrações
penais militar, que são narrados pelo ofendido, seu
representante legal ou qualquer cidadão, deve a Autoridade de
Polícia Judiciária Militar apurar os fatos através do IPM.

6. Instauração através de Sindicância -art.


art. 10, alínea (f)
CPPM - Este meio investigatório pode ser interpretado de forma
extensiva, na medida em que outros meios como, por exemplo,
a averiguação, irá ensejar em elementos indiciários para a
instauração do IPM.

Superior ou igualdade de posto do infrator - art. 10, § 1° CPPM

Quando o infrator for superior


ou de igual posto da Autoridade de
Polícia Judiciária Militar, em cujo local
tenha ocorrido à infração penal
militar, deverá este, comunicar o fato
ao seu superior para fins de

29
LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

delegação.

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

Providências antes do IPM - art. 10, § 2° CPPM c/c art. 12 CPPM

A Autoridade de Polícia Judiciária Militar ou qualquer outro militar


que tenha conhecimento de uma infração penal militar, adotará as
seguintes providências, a saber:

1. Dirigir-se ao local, providenciando para que se não alterem o


estado e a situação das coisas, enquanto necessário;
2. Apreender os instrumentos e todos os objetos que tenham
relação com o fato;
3. Efetuar a prisão do infrator, observado o disposto no art. 244
CPPM;
4. Colher todas as provas que sirvam para o esclarecimento do fato
e suas circunstâncias.

Infração de natureza não militar -art. 10, § 3° CPPM

Se a infração penal não constituir natureza militar, deverá ser


comunicado os fatos a Autoridade de Polícia Judiciária e se for o caso
apresentar o infrator.

Indícios contra |Oficial de posto superior ou mais antigo no


curso do IPM - art. 10, § 3° CPPM

Se no curso do IPM, o
encarregado verificar a existência de
indícios de infração penal militar, em
desfavor de oficial de posto superior
ou mais antigo ao seu, deverá
delegar suas atribuições a outro oficial de posto superior ou mais antigo
do que o indiciado.

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

OBSERVE AS ESPECIFICIDADES DE UM IPM E SEUS ENVOLVIDOS

Encarregado do IPM – art. 15 CPPM

O encarregado do IPM será, sempre que possível (grifo


nosso),, oficial de posto não inferior ao de capitão. No entanto a
referida locução grifada, não impede que um oficial subalterno
(segundo ou primeiro tenente) exerça as atividades de polícia judiciária
militar, por tratar-se
se de uma clausula discricionária da Autoridade de
Polícia Judiciária Militar.

Suspeição do encarregado do IPM – art 142 CPPM

Não se admite a suspeição do encarregado por parte do indiciado


ou pelo seu advogado, cabendo tão somente ao encarregado do IPM
declarar-se
se suspeito quando ocorrer motivos que impliquem em sua
imparcialidade na condução das investigações.

Atribuições do encarregado do IPM – art. 13 CPPM

Além das medidas do art. 12 CPPM (item 10.7) o encarregado


deverá também adotas as seguintes atribuições, a saber:
1. Ouvir o ofendido;
2. Ouvir o indiciado;

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

3. Ouvir testemunhas;
4. Proceder a reconhecimento de pessoas e coisas, e acareações;
5. Determinar, se fôr o caso, que se proceda a exame de corpo de
delito e a quaisquer outros exames e perícias;
6. Determinar a avaliação e identificação da coisa subtraída,
desviada, destruída ou danificada, ou da qual houve indébita
apropriação;
7. Proceder a buscas e apreensões e
8. Tomar as medidas necessárias destinadas à proteção de
testemunhas, peritos ou do ofendido, quando coactos ou
ameaçados de coação que lhes tolha a liberdade de depor, ou a
independência para a realização de perícias ou exames.

Escrivão – art. 11 CPPM

A designação do escrivão será de competência do encarregado


do IPM, caso não tenha sido feita pela autoridade que delegou o feito.
Nos casos em que o indiciado seja oficial, recairá sob segundo ou
primeiro tenente, e nos demais casos o escrivão será sargento ou
subtenente.

1. Compromisso legal– art. 11, parágrafo único CPPM


O escrivão deverá prestar o compromisso de manter o sigilo do
IPM e de cumprir as determinações do CPPM.

2. Atribuições do escrivão – art. 21 CPPM

1. Datilografar (digitar) as peças do IPM;


2. Numerar e rubricar as folhas;
3. Alocar as peças em ordem cronológica;
4. Lavrar juntada de documentos e
5. Lavar o recebimento, certidão e conclusão.

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

Incomunicabilidade do indiciado – art. 17 CPPM

De acordo com a doutrina e jurisprudência, o artigo em análise


não foi recepcionado, na medida em que a própria Constituição
assegura que toda a prisão deverá ser comunicada imediatamente ao
juiz competente (art. 5°, LXII CRFB/88) e o preso terá o direito à
assistência familiar bem como de constituir um advogado (art. 5°, LXIII
CRFB/88). Se no Estado de Defesa (art. 136, § 3°, inciso IV CRFB/88),
onde se verifica diversas restrições no que tange aos direitos
fundamentais, a Constituição vedou a incomunicabilidade do preso,
conclui-se
se então, que esse instituto no Estado Democrático de Direito
não deve prosperar, visto que se prevalece às garantias e os direitos
fundamentais do indivíduo.

Detenção do indiciado – art. 18 CPPM

Poderá o encarregado, independente de flagrante delito, deter o


indiciado por até 30 (trinta) dias, devendo comunicar a presente prisão
ao Juiz de Direito. Havendo a necessidade, devidamente fundamentada
e a pedido do encarregado, poderá o Comandante de Área prorrogar o
feito por mais 20 (vinte) dias.

Prazo para terminação do IPM – art. 20 CPPM

1. Indiciado preso:
preso: 20 (vinte) dias, contado a partir do dia em
que se executar a ordem de prisão.

2. Indiciado solto
solto:: 40 (quarenta) dias, contados a partir da data
em que se instaurar o inquérito, podendo ser prorrogado por
mais 20 (vinte) dias pela autoridade militar superior. A presente
prorrogação visa complementar a investigação no que concerne

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

aos exames, pericias e diligência não concluída. O pedido de


prorrogação deve ser feito em tempo oportuno.
O IPM pode ser devolvido pelo Ministério Público e pelo Juiz de
Direito, para fins de requisição de diligências
diligências e preenchimento de
formalidades, conforme art. 26 CPPM, e o prazo será fixado por essas
autoridades.

3. Dedução em favor dos prazos- art. 20, § 3° CPPM - São


deduzidos dos prazos, quando ocorre no curso do IPM, que o
indiciado é superior ou mais antigo do que o encarregado.

Relatório– art. 22 CPPM

O IPM será encerrado por um relatório minucioso,


confeccionado pelo encarregado, que irá concluir se há transgressão
da disciplina ou indícios de crime, que neste último, representar pela
conveniência da prisão preventiva.

Solução – art. 22, § 1° CPPM

No caso de delegação, o
encarregado enviará o IPM à autoridade
delegante para fins de homologação ou
não, aplicando, quando necessário,
penalidade disciplinar ou determinando novas diligências.

Remessa – art. 23 CPPM

Por força do Sistema Acusatório adotado pela CRFB/88, o referido


artigo não foi recepcionado pela nova ordem constitucional, visto que
o Ministério Público (art. 129, inciso I CFRB/88) é considerado o
verdadeiro destinatário do IPM.

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

Arquivamento

A autoridade de polícia judiciária INDICIOS


militar não poderá mandar arquivar o
Definição
IPM (art. 24 CPPM), todavia o feito
Art 382 CPPM. Indício é a
poderá ser proposto pelo Ministério circunstância ou fato conhecido e
provado, de que se induz a existência
Público e endereçado ao Juiz de Direito de outra circunstância ou fato, de que
não se tem prova.
que poderá concordar ou não.
Requisitos
Instauração de novo IPM – art. 25
Art. 383 CPPM. Para que o
CPPM indício constitua prova, é necessário:

O IPM arquivado poderá ensejar a) que a circunstância ou fato


indicante tenha relação de
em investigações, se novas provas causalidade, próxima ou remota,
com a circunstância ou o fato
aparecerem em relação ao fato, ao indicado;

indiciado ou a terceira pessoa, b) que a circunstância ou fato


coincida com a prova resultante de
ressalvados o caso julgado e os casos de outro ou outros indícios, ou com as
provas diretas colhidas no processo.
extinção da punibilidade.

SÚMULA 524 STF

Arquivado o inquérito policial, por

despacho do Juiz, a requerimento do

promotor de justiça, não pode a ação

penal ser iniciada, sem novas provas.

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

CONCLUSÃO

Você policial militar é o primeiro defensor dos direitos


humanos, um promotor da igualdade entre as pessoas, seja
patrulhando, prevenindo a práticas delituosas, seja preservando uma
pessoa solitária, ferida ou doente nos logradouros.

Você cabo precisa aprofundar os conhecimentos a


respeito do processo penal militar, pois estes serão de grande valia na
sua graduação.

Você tem uma profissão de destaque, que realiza tarefas


importantes para a sociedade, sua comunidade, seus amigos e sua
família. Tenha orgulho de ser policial militar.

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL MILITAR – CFC

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ASSIS, Jorge César de. Código de Processo Penal Militar anotado:


artigos 1º ao 169. 2. ed. 3. tir. Curitiba: Juruá, 2008. 1º v.

LAZZARINI, Álvaro [org.]. Código de Processo Penal Militar.


Militar 4. ed.
rev., atualizada e ampliada. São Paulo: RT, 2003.

LOBÃO, Célio. Direito Processual Penal Militar. São Paulo: Método,


2009

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