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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

AUTORIDADES

Governador do Estado do Rio de Janeiro


Exmº Sr Wilson Witzel

Secretário de Estado de Polícia Militar


Exmº Sr Coronel Rogério Figueredo de Lacerda

Subsecretário de Estado de Polícia Militar


Ilmº Sr Coronel Márcio Pereira Basílio

Diretor-Geral de Ensino e Instrução


Ilmº Sr Coronel Rogério Quemento Lobasso

Comandante do CFAP 31 de Voluntários


Ilmº Sr Tenente-Coronel PM Marcelo Andre Teixeira da Silva

Comandante do Centro de Educação a Distância da Polícia


Militar - CEADPM
Ilmº Sr Tenente-Coronel PM Alexandra Ferraz de Oliveira

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

APRESENTAÇÃO

Estamos vivendo a era da tecnologia, na qual a informação está cada dia mais
latente e veloz em nossa rotina diária.
Este curso tem por objetivo , aperfeiçoar os 2º Sargentos da Polícia Militar do
Estado do Rio de Janeiro. Para tal, o Curso ocorrerá na modalidade semipresencial,
através de módulos, sendo destes um disponibilizado no ambiente virtual de
aprendizagem, por intermédio da Escola Virtual, no Centro de Educação a Distância
da Polícia Militar (CEADPM) e um módulo de disciplinas práticas ministrado do Centro
de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP 31 Vol.).
É fundamental o seu empenho no curso, pois você terá na parte EaD autonomia
de estudos e de horários, mas também é necessário disciplina e dedição para o êxito
dessa jornada, pois depende do esforço coletivo e também individual para que
tenhamos policiais cada vez mais qualificados,bem treinados e aperfeiçoados para
cumprirmos nossa missão, buscando cada vez mais a excelência de nossas ações.
O bom treinamento envolve aspectos físicos e cognitivos, na era da informação
e da tecnologia, precisamos nos aprimorar cada vez mais a fim de garantir uma tropa
consciente, respeitosa, pautada em valores morais e institucionais, garantindo assim o
cumprimento de suas funções com dignidade e excelência.
Esperamos que você aproveite ao máximo os conhecimentos adquiridos através deste
curso e busque uma reflexão acerca de suas funções perante a sociedade, seus
companheiros de profissão. Que seja um momento de repensar as práticas e
fortelecer seu vínculo profissional, ampliando cada vez mais seus conhecimentos para
lidar com as particularidades de ser um Policial Militar no Estado do Rio de Janeiro.

Desejamos a todos bons estudos!

Rogério Quemento Lobasso - Coronel PM


Diretor-Geral de Ensino e Instrução

Marcelo André Teixeira da Silva – Ten. Coronel PM


Comandante do CFAP

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Desenvolvedores

CEADPM
Supervisão Geral EAD
CAP PM Ped Vania Pereira Matos da Silva

Equipe Técnica
SUBTEN PM Wilian Jardim de Souza
3º SGT PM Edson dos Santos Vasconcelos

Diagramação
2º SGT PM Wallace Reis Fernandes
CB PM Michele Pereira da Siva de Oliveira
CB PM Thiago Silva Amaral

Design Instrucional
CAP PM Ped Vania Pereira Matos da Silva
CB PM Michele Pereira da Siva de Oliveira

Vídeo e animação
CB PM Joyce Gaspar de Almeida

Designer Gráfico
2º SGT PM Wallace Reis Fernandes
SD PM Leonardo da Silva Ramos

Suporte ao Aluno
2º SGT PM Anderson Inácio de Oliveira

CFAP
Supervisão Geral do Curso
MAJ PM Maria Isabel Conceição Silva Sardinha

Coordenação Pedagógica
CAP PM Ped Patrícia Kalife Paiva

Equipe Técnica
TEN PM Ped Paulo Paulo Baptista
2ºSGT PM Elaine Xavier Oliveira Alves de Lima
CB PM Juliana Pereira de Carvalho

Conteudista
1º TEN PM Daniele Teodoro Ferreira
1º TEN PM Luciana Ribeiro Almeida

Revisor de Conteúdo
1º TEN PM Claudio Cesar Peres Rodrigues A. Farias

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................6
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL ..............................................................................8
FINALIDADE DO DIREITO PENAL ............................................................................... 10
O ATUAL CÓDIGO PENAL BRASILEIRO .................................................................... 11
DIREITO PENAL OBJETIVO E DIREITO PENAL SUBJETIVO ................................... 12
TEORIA GERAL DO CRIME INFRAÇÃO PENAL ........................................................ 12
CONCEITO DE CRIME ................................................................................................... 13
FATO TÍPICO .................................................................................................................. 15
SUJEITOS DO CRIME .................................................................................................... 28
OBJETO DO CRIME ....................................................................................................... 29
PUNIBILIDADE ............................................................................................................... 29
ITER CRIMINIS ............................................................................................................... 29
CONSUMAÇÃO .............................................................................................................. 32
EXAURIMENTO .............................................................................................................. 32
ARREPENDIMENTO POSTERIOR ................................................................................ 40
CRIME IMPOSSÍVEL ...................................................................................................... 41
CRIME DOLOSO E CRIME CULPOSO ......................................................................... 42
CRIME PRETERDOLOSO.............................................................................................. 49
TEORIA DO ERRO ......................................................................................................... 50
CAUSAS DE EXCLUSÃO DO FATO TÍPICO ............................................................... 52
ANTIJURIDICIDADE (ILICITUDE) ................................................................................. 53
CAUSAS DE EXCLUSÃO DA ANTIJURIDICIDADE .................................................... 54
LEGÍTIMA DEFESA ........................................................................................................ 57
ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL ........................................................... 61
EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO ............................................................................ 62
EXCESSO PUNÍVEL....................................................................................................... 64
IMPUTABILIDADE .......................................................................................................... 65
CONCURSO DE PESSOAS ........................................................................................... 65
CONCURSO DE CRIMES .............................................................................................. 67
AÇÃO PENAL ................................................................................................................. 69
DOS CRIMES CONTRA A VIDA .................................................................................... 73
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HOMICÍDIO ..................................................................................................................... 74
COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR ....................................................... 78
LESÃO CORPORAL....................................................................................................... 80
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE ................................................................ 83
DOS CRIMES CONTRA A HONRA ............................................................................... 87
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL ..................................................... 89
DOS CRIMES DE VIOLAÇÃO DE DOMICILIO ............................................................. 92
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO ..................................................................... 93
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL...................................................... 106
DOS CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA ............................................. 108
DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A
ADMINISTRAÇÃO EM GERAL .................................................................................... 113
DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULARES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO
EM GERAL .................................................................................................................... 120
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 126

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INTRODUÇÃO

O Sargento policial militar aluno do Curso de


Aperfeiçoamento necessita de um currículo extenso em
matérias na área do Direito para sua própria segurança
jurídica e ainda resguardar e legitimar suas ações dentro da
legalidade bem como dá suporte e esclarecimento aos seus
subordinados quando estiverem na atividade policial e
surgirem dúvidas quanto ao comportamento mais apropriado
embasado na lei e ainda ajudar ao comando na orientação da
tropa para diminuir erros por desconhecimento ou descuido da atual lei penal comum.
Ressalta-se que o sargento aperfeiçoado terá relevante importância no serviço
policial militar prestado ao cidadão do Rio de janeiro e para os subordinados que
estiverem sobre suas ordens bem como as promoções futuras advindas pela conclusão
do CAS necessitará de um graduado ainda mais preparado para prestar o melhor
serviço ao Estado do Rio de Janeiro e ainda auxiliar e exigir dos militares de graduação
inferior que estiverem sob sua capitania um serviço de segurança pública satisfatório.
O material didático tem o intuito de forma prática e com vernáculo pouco
cerimonioso relembrar e atualizar a disciplina do Direito Penal Comum, utilizando estudo
de casos alinhando a doutrina penal e a prática policial militar. O Direito penal é uma
ciência humana, mutável conjuntamente com a sociedade, tornando o estudo desta
ciência extremamente relacionada a missão da polícia militar e, portanto, deve ser
material de estudo contínuo.
Compreendendo a matéria de direito penal comum através do histórico,
conceitos, estrutura, tipos penais somados a jurisprudência e a doutrina majoritária
recente, realizando uma abordagem sistemática com gráficos, exemplos e
principalmente estudo de casos ajudará sobremaneira ao futuro Sargento aperfeiçoado
uma visão ampla, a fim de evitar equivocadas interpretações dos artigos e sua
inadequada aplicação ao caso concreto e ainda a orientação e fiscalização do
subordinado para que não ocorra ações não protegidas pela lei.
Insta aduzir derradeiramente que não é atribuição da Instituição questionar a
legislação penal mesmo que a referida lei ao sentir do aluno não possua sentido ou
não responda aos reclamos da sociedade. A Constituição federal determina as
competências das diversas Instituições cabendo a polícia militar consciente de sua
missão constitucional exercita-la cumprindo rigorosamente o que se determina em lei.

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INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL

Contextualizando o Direito Penal

Sargento, vamos conhecer a história do Direito Penal?

O surgimento do Direito Penal se conjuga com o surgimento da própria


sociedade. Ele nasce em meio ao sentimento de vingança penal e não de
justiça, seu trajeto também acompanha os passos da evolução do Estado e da
sociedade e o que conhecemos como o Direito Penal atual não deve ser
encarado como sua forma concreta, final, acabada, pois a evolução, mudança
e as necessidades e objetivos do ser humano são continuamente modificadas.
Sabemos que o crime é um fenômeno social desde a origem da raça
humana, realizado apenas por estes seres e para uma regramento de
convivência na qual possa garantir a continuidade de sua existência bem como
sua evolução surge a necessidade de controle .Insta ressaltar que cada Estado
soberano respeitando a cultura de seus povos proíbe condutas contrárias
principalmente a manutenção da espécie e o seu desenvolvimento,
espavorizando com tipos penais previstos em diplomas legais que em regra
estabelece os princípios gerais , formas de aplicação das penas e os tipos
penais que no Brasil recebe o nome de Direito Penal.
Atualmente em nosso País, vivemos sob égide do Estado Democrático
de direito onde o Estado e as normas penais devem ser subordinados a carta
magna onde obriga aplicar as penas dentro do previsto na legislação penal,
sendo vedado ações isoladas e de vontade própria das autoridades
Constituídas.

Conceito de Direito Penal

Agora que você já conhece a história do Direito Penal?


Vamos aprender o conceito?

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O direito penal ou direito criminal é a parte do ordenamento jurídico que define


as infrações penais (crimes e contravenções) e comina as respectivas sanções (penas
e medidas de segurança) e ainda estabelece os princípios e regras que regulam a
atividade penal do Estado, fixando os fundamentos e os limites ao exercício do poder
punitivo previsto na Constituição Federal e nos
Diplomais internacionais dos direitos humanos
recepcionados pelo nosso legislativo, a exemplo
dos princípios de legalidade, irretroatividade,
humanidade das penas entre outros, ou seja os
limites do direito penal são os limites do próprio
Estado.
Convém notar, por fim, que o direito penal é, ele mesmo, uma forma de
violência (penas etc.) que se pressupõe justa e necessária relativamente às violências
que regula e combate (os crimes), de modo que o direito penal é violência – nem
sempre legítima – a serviço do controle da violência – nem sempre ilegítima.
O direito penal é uma espada de duplo fio, porque é lesão de bens jurídicos
para proteção de bens jurídicos. Afinal, pretende combater crimes (homicídio, roubo,
lesão corporal etc.) por meio de graves constrangimentos à pessoa humana, os quais
no Brasil podem variar de uma simples multa à pena de reclusão por 40 anos ou até
morte em caos de crimes em tempo de guerra.
Devemos inicialmente dividir por características, podendo ser entendido sob
três aspectos: Material, legal e analítico.

Sob o Aspecto Formal ou Estático

 Direito penal é um conjunto de normas que qualifica


certos comportamentos humanos como infrações penais
(crime ou contravenção), define seus agentes e fixa sanções
(pena ou medida de segurança) a serem-lhes aplicadas.

 Direito penal refere-se a comportamentos


considerados altamente reprováveis ou danosos ao
organismo social, afetando bens jurídicos indispensáveis à sua
própria conservação e progresso.

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Sob o Aspecto Sociológico ou Dinâmico

 Direito penal é mais um instrumento de controle social de comportamentos


desviados, visando assegurar a necessária disciplina social, bem como a
convivência harmônica dos membros do grupo.
O fundamento básico de atuação do Direito Penal é a manutenção da paz
social, que propicia a regular convivência humana em sociedade, através da existência
de normas destinadas a estabelecer diretrizes que determinam ou proíbem certos
comportamentos; assim, violadas as regras de condutas, surge para o Estado o poder-
dever de aplicar as sanções penais.
Os bens jurídicos tutelados pelo Direito Penal são aqueles que o legislador
considera os mais importantes para o Estado, o princípio da intervenção mínima é que
orienta a escolha desses bens jurídicos, pois, se forem suficientes medidas civis ou
administrativas, são estas que devem ser empregadas e não as penais. A
criminalização de comportamentos só deve ocorrer quando se constituir meio
necessário e indispensável à proteção de bens jurídicos ou à defesa de interesses
relativos à coexistência harmônica e pacífica da sociedade.

A norma penal não pode servir como único instrumento


de controle social. Ela só deve ser aplicada quando não existir
outro meio eficaz para a solução de conflito como, por exemplo,
a religião, a moral, educação, cultura etc. Conclui-se, portanto,
que o Direito Penal só deve ser avocado como última ratio, ou
seja, em último caso, aplicando seu princípio da intervenção
mínima.

FINALIDADE DO DIREITO PENAL

Sargento, você saberia dizer qual é a finalidade do


Direito Penal? Que tal aprender?

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A finalidade do Direito Penal é a proteção da sociedade e a garantia da paz


social com a defesa dos bens jurídicos fundamentais da pessoa (vida, integridade física
e mental, honra, liberdade, patrimônio).
Luiz Regis Prado ensina que “o pensamento jurídico moderno reconhece que o
escopo imediado e primordial do Direito Penal radica na proteção de bens jurídicos -
essenciais ao indivíduo e à comunidade”. (Bem jurídico-penal e Constituição. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999, pág. 47).
Na mesma linha, Rogério Greco afirma que “A finalidade do Direito Penal é
proteger os bens mais importantes e necessários para a própria sobrevivência da
sociedade, [...]. (Curso de Direito Penal – Parte Geral -, v.I, Rio de Janeiro: Impetus,
2015, pág. 2.)

O ATUAL CÓDIGO PENAL BRASILEIRO

Código Penal aprovado pelo Decreto-Lei nº 2.848, de 7.12.1940 - recebeu


inúmeras alterações, contudo, encontra-se em vigor com a Reforma Penal de 1984.
(Lei nº 7.209, de 11.07.1984). É formado por um conjunto de regras sistemáticas com
caráter punitivo, possuindo objetivo fim a aplicação de sanções em concomitância à
desestimulação da prática de delitos que atentam contra o tecido social.

O Código Penal em vigor é composto por duas


partes: a parte geral, do artigo 1º ao 120°, e a parte
especial, do artigo 121° ao 361°.

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A primeira parte, a chamada geral, contém como o próprio nome sugere regras
gerais a serem aplicadas aos crimes previstos na parte especial do Código Penal,
conceitos gerais sobre diversos aspectos, como a definição do que vem a ser de fato o
crime; a forma como serão aplicadas as penas, possibilidade de prescrição e extinção
da punibilidade. A parte Especial prevê unicamente os crimes em espécie e suas
respectivas penas.

DIREITO PENAL OBJETIVO E DIREITO PENAL SUBJETIVO

Denomina-se Direito Penal Objetivo ao conjunto de


normas que regulam a ação estatal, definindo os crimes e
cominando as respectivas sanções. (É, portanto, o conjunto de leis
penais em vigor). Somente o Estado, na sua função de promover o
bem comum e combater a criminalidade, tem o direito de
estabelecer e aplicar essas sanções. Sendo, assim, o único e
exclusivo titular do direito de punir (jus puniendi), que constitui o
que se denomina Direito Penal Subjetivo.

TEORIA GERAL DO CRIME INFRAÇÃO PENAL

É toda conduta previamente tipificada pela legislação como ilícita, imbuída de


culpabilidade, isto é, praticada pelo agente com dolo ou, ao menos, culpa quando a Lei
assim prever tal possibilidade. O Estado tem o poder/dever de proibir e impor uma
sanção a quem a praticar.

Você sabia que o Direito Penal é um ramo do Direito


Público que define as infrações penais, estabelecendo
as penas e as medidas de segurança?

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As infrações penais dividem-se em crimes e


contravenções. Os crimes estão no Código
Penal, nos artigos 121 a 360 e também nas leis
especiais; as contravenções são, em sua
maioria, previstas no Decreto-Lei nº 3.688, de
03.10.1941 (conhecido como Lei das
Contravenções Penais - LCP) e as medidas de
segurança encontram-se nos artigos 96 a 99 do
CP.

Segundo Rogério Greco: “Na verdade, não há diferença substancial entre


contravenção e crime. O critério de escolha dos bens que devem ser protegidos pelo
Direito Penal é político, da mesma forma que é política a rotulação da conduta como
contravencional ou criminosa. ” (Obra cit., pág. 191).
O crime e a contravenção se distinguem pela sua maior ou menor gravidade,
ou seja, a diferença entre eles é meramente quantitativa, classificada pela Doutrina
como crime anão, conforme se comprova, através do critério de diferenciação adotado
pelo legislador, contido no art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal (Decreto-Lei nº
3.914, de 09 de dezembro de 1941), vejamos:

Art. 1º Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de


reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com
a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente,
penas de prisão simples ou multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.
I

CONCEITO DE CRIME

Você sabia que o Crime pode ser entendido e conceituado


sob três aspectos: Material, legal e analítico?

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Sob o aspecto material, crime é toda ação


humana que lesa ou expõe a perigo um bem jurídico
de terceiro, que, por sua relevância, merece a
proteção penal. Esse aspecto valoriza o crime
enquanto conteúdo, ou seja, busca identificar se a
conduta é ou não apta a produzir uma lesão a um
bem jurídico penalmente tutelado.
Assim, se uma lei cria um tipo penal dizendo que é proibido chorar em público,
essa lei não estará criando uma hipótese de crime em seu sentido material, pois essa
conduta nunca será crime em sentido material, pois não produz qualquer lesão ou
exposição de lesão a bem jurídico de quem quer que seja. Assim, ainda que a lei diga
que é crime, materialmente não o será.
Como observado no gráfico anterior sob o aspecto legal, ou formal, crime é
toda infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou detenção, nos termos do
art. 1° da Lei de Introdução ao CP. Percebam que o conceito aqui é meramente legal.
Se a lei cominar a uma conduta a pena de detenção ou reclusão, cumulada ou
alternativamente com a pena de multa, estaremos diante de um crime.
Por outro lado, se a lei cominar a apenas prisão simples ou multa, alternativa
ou cumulativamente, estaremos diante de uma contravenção penal. Esse aspecto
consagra o SISTEMA DICOTÔMICO adotado no Brasil, no qual existe um gênero, que
é a infração penal, e duas espécies, que são o crime e a contravenção penal.
O crime pode ser conceituado, ainda, sob um aspecto analítico, que o divide
em partes, de forma a estruturar seu conceito. Primeiramente surgiu a teoria
quadripartida do crime, que entendia que crime era todo fato típico, ilícito, culpável
e punível. Hoje é praticamente inexistente. Depois, surgiram os defensores da teoria
tripartida do crime, que entendiam que crime era o fato típico, ilícito e culpável. Essa é
a teoria que predomina no Brasil, embora haja muitos defensores da terceira teoria.
A terceira e última teoria acerca do conceito analítico de crime entende que este
é o fato típico e ilícito, sendo a culpabilidade mero pressuposto de aplicação da pena.
Ou seja, para esta corrente, o conceito de crime é bipartido, bastando para sua
caracterização que o fato seja típico e ilícito.
As duas últimas correntes possuem defensores e argumentos de peso.
Entretanto, a que predomina ainda é a corrente tripartida.
Todos os três aspectos (material, legal e analítico) estão presentes no
nosso sistema jurídico-penal. De fato, uma conduta pode ser materialmente crime

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(furtar, por exemplo), mas não o será se não houver previsão legal (não será
legalmente crime). Poderá, ainda, ser formalmente crime (no caso do exemplo da lei
que criminalizava a conduta de chorar em público), mas não o será materialmente se
não trouxer lesão ou ameaça a lesão de algum bem jurídico de terceiro.

MATERIAL

CONCEITO DE FORMAL TEORIA

CRIME BIPARTIDA
ANALÍTICO TEORIA

TRIPARTIDA
TEORIA
ADOTADA
QUADRIPARTIDA PELO
P
FATO TÍPICO

É o comportamento humano, positivo ou negativo, o qual provoca um resultado


e está previsto na lei penal como infração. É aquele que se amolda, perfeitamente, nos
elementos contidos no tipo penal.
O fato típico também se divide em elementos, são eles:
 Conduta humana
 Resultado naturalístico
 Nexo de causalidade
 Tipicidade

Conduta Humana

A conduta humana possui duas formas:

•Atuação humana positiva voltada a


Ação
uma finalidade.

• Ausência de comportamento; a inatividade


Omissão
ou o não fazer.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Considerando-se que as condutas podem ser


praticadas por ação ou por omissão, os crimes
comissivos consistem em uma ação positiva (fazer) e os
crimes omissivos consistem na abstenção da ação devida
(não fazer).
Para a perfeita compreensão dos crimes omissivos, é necessário dividi-los em
duas espécies: crimes omissivos puros (ou próprios), e crimes omissivos impuros (ou
impróprios).
Nos crimes omissivos puros o agente se omite quando o tipo penal estabelece
que a omissão, naquelas circunstâncias, tipifica o delito.

EXEMPLO

Pedro passava por uma rua quando percebeu que Maria se encontrava
caída no chão, clamando por ajuda. Pedro até podia ajudar, sem que isso
representasse qualquer risco para sua pessoa. Todavia, Pedro decidiu não
prestar socorro à Maria.

No exemplo anterior, Pedro se omitiu, deixando de prestar socorro a quem


necessitava, mesmo podendo fazer isso sem risco pessoal. Neste caso, Pedro
praticou um crime omissivo próprio, pois o art. 135 do CP criminaliza esta conduta.
(Omissão de socorro):

Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem


risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou
ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses
casos, o socorro da autoridade pública:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Como se vê, o tipo penal estabelece que aquele que não fizer o que norma
determina responderá por aquele crime. Assim, no crime omissivo puro o agente
simplesmente descumpre a norma penal, que impunha o dever de agir.
Neste caso, é irrelevante avaliar se houve qualquer resultado (no exemplo, é
irrelevante saber se houve dano à vítima), pois o agente responde criminalmente pelo
simples fato de ter violado a norma penal, descumprindo o mandamento.

Você sabia que nos crimes omissivos impuros, ou


impróprios, também chamados de crimes
comissivos por omissão não há um tipo penal que
estabeleça como crime uma conduta omissiva? E
que em tais crimes o agente é responsabilizado por
um determinado resultado lesivo, por ter se omitido quando tinha
o dever legal de agir, não imposto às pessoas em geral?

EXEMPLO:

Maria é casada com José. Todavia, Maria possui uma filha de 11 anos de
idade, Joana, oriunda de seu casamento anterior. Certo dia, Maria descobre que
José está tendo relações sexuais com sua filha. Com receio de que José se separe
dela, Maria não adota nenhuma providência, ou seja, acompanha a situação sem
nada fazer para impedir que sua filha seja estuprada.

Neste caso, Maria praticou um crime


omissivo impróprio. Isto porque Maria tinha o
específico dever de proteção e cuidado em
relação à sua filha, de forma que tinha o dever
de agir para impedir que a filha fosse vítima
daquele crime, ou seja, tinha o dever de agir para impedir a ocorrência do resultado.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Se nos crimes omissivos puros a análise do resultado é irrelevante, porque o


agente responde simplesmente por ter se omitido, nos crimes omissivos impuros a
análise do resultado é penalmente relevante, pois o próprio resultado será imputado
àquele que se omitiu.
No exemplo anterior, portanto, Maria responderá pelo próprio crime de estupro
(no caso, estupro de vulnerável, art. 217-A do CP), pois tinha o dever legal específico
de agir para evitar o resultado.
A questão que se coloca é: Qual é o resultado naturalístico que advém de uma
omissão?
Naturalisticamente nenhum, pois do nada, nada surge. Então, como a mãe
poderia responder pelo estupro da filha, já que a conduta da mãe, tecnicamente, não
foi a causa do estupro?
A conduta da mãe não deu causa ao resultado. O resultado foi provocado pela
conduta do padrasto. Entretanto, pela teoria naturalístico-normativa, o resultado será
imputado à mãe, em razão do seu descumprimento do dever de vigilância e cuidado,
neste caso a mãe é garantidora.
Assim, nos crimes omissivos impróprios a relação de causalidade que liga a
conduta do agente (uma omissão) ao resultado NÃO É FÍSICA (pois a omissão não dá
causa ao resultado), mas NORMATIVA, ou seja, o resultado é a ele imputado em
razão do descumprimento da norma (omitir-se, quando deveria agir), num raciocínio
de presunção: se o agente tivesse agido, possivelmente teria evitado o resultado;
como não o fez, deve responder por ele.

EXEMPLO: Uma dupla de policiais militares efetuando policiamento


ostensivo com todos os utensílios de trabalho observam um homem com
um canivete efetuando um roubo a uma idosa levando sua bolsa, apesar de
ter todas as possibilidades de evitar a consumação do crime sem colocar
em risco a vida de terceiros, os policiais militares saem do lugar para não
assumir a ocorrência pelo simples fato de estar na última hora do serviço.
(Omitir-se, quando deveria agir), num raciocínio de presunção: se os
agentes tivessem agido, possivelmente teriam evitado o resultado; como
não o fizeram, devem responder por ele.) Os policiais militares responderão
pelo próprio crime de roubo (no caso, Roubo majorado, art. 157 §2º do CP),
pois tinham o dever legal específico de agir para evitar o resultado.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

O( Três são as principais teorias que buscam explicar a conduta: Teoria causal-
naturalística (ou clássica), finalista e social.
Para a teoria causal-naturalística, conduta é a ação humana. Assim, basta que
haja movimento corporal para que exista conduta. Esta teoria está praticamente
abandonada, pois entende que não há necessidade de se analisar o conteúdo da
vontade do agente nesse momento, guardando esta análise (dolo ou culpa) para
quando do estudo da culpabilidade.
Para a teoria causalista a conduta seria um simples processo físico, um
processo físicocausal, desprovido de qualquer finalidade por parte do agente. A
finalidade seria objeto de análise na culpabilidade.
Para a teoria finalista, adotada pelo direito penal brasileiro, a conduta
humana é a ação (positiva ou negativa) voluntária dirigida a uma determinada
finalidade. Assim: Conduta = vontade + ação ou omissão, portanto, retirando-se um
dos elementos da conduta, esta não existirá, o que acarreta a inexistência de fato
típico. É necessária, portanto, a conjugação do aspecto objetivo (ação ou omissão) e
do aspecto subjetivo (vontade).

EXEMPLO: João olha para Roberto e o agride, por livre espontânea vontade.
Estamos diante de uma conduta (quis agir e agrediu) dolosa (quis o resultado).
Agora, se João dirige seu carro, vê Roberto e sem querer, o atinge, estamos
diante de uma conduta (quis dirigir e acabou ferindo) culposa (não quis o
resultado).

Vejam que a “vontade” a que se refere como elemento da conduta é uma


vontade de meramente praticar o ato que ensejou o crime, ainda que o resultado que se
pretendesse não fosse ilícito. Quando a vontade (elemento da conduta) é dirigida ao
fim criminoso, o crime é chamado de doloso, porém, quando a vontade é dirigida a
outro fim (que até pode ser criminoso, mas não aquele) o crime é culposo. Esta é a
teoria adotada em nosso ordenamento jurídico.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Vejamos os termos do art. 20 do Código Penal:

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo,
mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.

Ora, se a lei prevê que o erro sobre um elemento do tipo exclui o dolo e a
culpa, se inevitável, ou somente o dolo, se evitável, é porque entende que estes
elementos subjetivos estão no tipo (fato típico), não na culpabilidade. Assim, a conduta
é, necessariamente, voluntária.
A grande evolução da teoria finalista, portanto, foi conceber a conduta como
um “acontecimento final”, ou seja, somente há conduta quando o agir de alguém é
dirigido a alguma finalidade (seja ela lícita ou não).
Para terceira teoria, a teoria social, a conduta é a ação humana, voluntária e
que é dotada de alguma relevância social. Há críticas a esta teoria minoritária, pois a
relevância social não seria um elemento estruturante da conduta, mas uma qualidade
que esta poderia ou não possuir. Assim, a conduta que não fosse socialmente
relevante continuaria sendo conduta.

Resultado Naturalístico

Sargento, você sabe o que é resultado naturalístico? Vamos


aprender?

É a modificação do mundo real provocada pela conduta do agente, entretanto,


apenas nos crimes chamados materiais se exige um resultado naturalístico. Nos
crimes formais e de mera conduta não há essa exigência.
Os crimes formais são aqueles nos quais o resultado naturalístico pode ocorrer,
mas a sua ocorrência é irrelevante para o Direito Penal. Já os crimes de mera conduta
são crimes em que não há um resultado naturalístico possível.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Exemplo de cada um dos três:

 Crime material – Homicídio. (art. 121 do CP) - Para que o homicídio seja
consumado, é necessário que a vítima venha a óbito. Caso isso não ocorra,
estaremos diante de um homicídio tentado (ou lesões corporais culposas);
 Crime formal – Extorsão (art. 158 do CP) - Para que o crime de extorsão se
consume não é necessário que o agente obtenha a vantagem ilícita, bastando
o constrangimento à vítima;
 Crime de mera conduta (art. 150 do CP) - Invasão de domicílio. Nesse caso,
a mera presença do agente, indevidamente, no domicílio da vítima caracteriza
o crime. Não há um resultado previsto para esse crime. Qualquer outra conduta
praticada a partir daí configura crime autônomo (furto, roubo, homicídio, etc.).

Nexo de Causalidade

Nos termos do art. 13 do CP:

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é


imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem
a qual o resultado não teria ocorrido. Assim, o nexo de causalidade pode ser
entendido como o vínculo que une a conduta do agente ao resultado
naturalístico ocorrido no mundo exterior. Portanto, só se aplica aos crimes
materiais.

Algumas teorias existem acerca do nexo de causalidade:

TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES (OU


DA CONDITIO SINE QUA NON) – Para esta teoria, é
considerada causa do crime toda conduta sem a qual o
resultado não teria ocorrido. Assim, para se saber se uma
conduta é ou não causa do crime, devemos retirá-la do
curso dos acontecimentos e ver se, ainda assim, o crime ocorreria.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

EXEMPLO: Marcelo acorda de manhã, toma café, compra uma arma e encontra
Júlio, seu desafeto, disparando três tiros contra ele, causando-lhe a morte.
Retirando-se do curso o café tomado por Marcelo, concluímos que o resultado
teria ocorrido do mesmo jeito. Entretanto, se retirarmos a compra da arma do
curso do processo, o crime não teria ocorrido.

Entretanto, criou-se um filtro que é o dolo. Logo, só


será considerada causa a conduta que é indispensável ao
resultado e que foi querida pelo agente. Assim, no exemplo
anterior, o vendedor da arma não seria responsabilizado, pois
nada mais fez que vender seu produto, não tendo a intenção
(nem sequer imaginou) de ver a morte de Júlio.

Nesse sentido: CAUSA = conduta indispensável ao resultado + que tenha sido


prevista e querida por quem a praticou Podemos dizer, então, que a causalidade aqui
não é meramente física, mas também, psicológica.

Essa foi a teoria adotada pelo Código Penal, como regra.

TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA – Trata-se de teoria também adotada pelo


Código Penal, porém, somente em uma hipótese muito específica. Trata-se da
hipótese de concausa superveniente relativamente independente que, por si só, produz
o resultado.
As concausas são circunstâncias que atuam paralelamente à conduta do agente
em relação ao resultado. As concausas podem ser: absolutamente independentes e
relativamente independentes.

As concausas absolutamente independentes são


aquelas que não se juntam à conduta do agente para produzir
o resultado, e podem ser preexistentes (existiam antes da
conduta), concomitantes (surgiram durante a conduta) e
supervenientes (surgiram após a conduta).

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

EXEMPLO

Pedro resolve matar João, e coloca veneno em seu drink. Porém,


Pedro não sabe que Marcelo também queria matar João e minutos antes
também havia esta teoria, em sua concepção original, poderia ser utilizada
para diversas outras situações. No nosso CP, porém, foi adotada para a
hipótese de concausa superveniente relativamente independente que, por si
só, produz o resultado.

EXEMPLO

Colocado veneno no drink de João, que vem a morrer em razão do


veneno colocado por Marcelo. Nesse caso, a concausa preexistente (conduta
de Marcelo) produziu por si só o resultado (morte). Nesse caso, Pedro
responderá somente por tentativa de homicídio.

EXEMPLO

Pedro resolve matar João, e começa a disparar contra ele projéteis de


arma de fogo. Entretanto, durante a execução, o teto da casa de João desaba
sobre ele, vindo a causar-lhe a morte. Aqui, a causa concomitante (queda do
teto) produziu isoladamente o resultado (morte). Portanto, Pedro responde
somente por homicídio tentado.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

EXEMPLO

Pedro resolve matar João, desta vez, ministrando em sua bebida certa
dose de veneno. Entretanto, antes que o veneno faça efeito, Marcelo aparece e
dispara 10 tiros de pistola contra João, o mantando. Nesse caso, Pedro
responderá somente por homicídio tentado.

Em todos estes casos o agente NÃO responde pelo


resultado ocorrido. Por qual motivo? Sua conduta NÃO FOI a
causa da morte (aplica-se a própria e já falada teoria da
equivalência dos antecedentes). Se suprimirmos a conduta de
cada um destes agentes (nos três exemplos), o resultado morte
ainda assim teria ocorrido da mesma forma. Logo, a conduta dos
agentes NÃO é considerada causa.

Entretanto, pode ocorrer de a concausa não produzir por si só o resultado


(absolutamente independente), afastando o nexo entre a conduta do agente e o
resultado, mas unir-se à conduta do agente e, juntas, produzirem o resultado. Essas
são as chamadas concausas relativamente independentes, que também podem ser
preexistentes, concomitantes ou supervenientes.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Abaixo, exemplo e os efeitos jurídicopenais em relação ao agente. Inicialmente


pelas preexistentes e concomitantes especificamente sobre as supervenientes.

EXEMPLO

Caio decide matar Maria, desferindo contra ela golpes de facão,


causando lhe a morte. Entretanto, Maria era hemofílica (condição conhecida
por Caio), tendo a doença contribuído em grande parte para seu óbito. Nesse
caso, embora a doença (concausa preexistente) tenha contribuído para o
óbito, Caio responde por homicídio consumado. Por qual motivo? Sua
conduta FOI a causa da morte (aplica-se a própria e já falada teoria da
equivalência dos antecedentes). Se suprimirmos a conduta de Caio, o
resultado teria ocorrido? Não. Caio teve a intenção de produzir o resultado?
Sim. Logo, responde pelo resultado (homicídio consumado).

 Nas concausas absolutamente independentes – Em todos os casos a


conduta do agente não contribuiu para o resultado. Logo, pelo juízo hipótese
de eliminação, a conduta do agente não foi causa. Portanto, não responde
pelo resultado.

 Nas concausas relativamente independentes (Preexistentes e


concomitantes) – Em todos os casos a conduta do agente contribuiu para o
resultado. Logo, pelo juízo hipótese de eliminação, a conduta do agente foi
causa. Portanto, responde pelo resultado.

No caso das concausas supervenientes relativamente independentes, podem


acontecer duas coisas:

 A causa superveniente produz por si só o resultado


 A causa superveniente se agrega ao desdobramento natural da conduta
do agente e ajuda a produzir o resultado.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

EXEMPLO

Pedro resolve matar João, e dispara 25 tiros contra ele, usando seu
fuzil calibre 7.62. João fica estirado no chão, é socorrido por uma ambulância
e, no caminho para o Hospital, sofre um acidente de carro (a ambulância bate
de frente com uma carreta) e João vem a morrer em razão do acidente, não
dos ferimentos causados por Pedro. Nesse caso, Pedro responde apenas por
tentativa de homicídio. Por qual motivo? Sua conduta não foi a causa da
morte. Mas, se suprimirmos a conduta de Pedro, o resultado teria ocorrido?
Não. Pedro teve a intenção de produzir o resultado? Sim. Então por que não
responde pelo resultado??

Aqui o CP adotou a teoria da causalidade adequada. A causa superveniente


(acidente de trânsito) produziu por si só o resultado, já que o acidente de ambulância
não é o desdobramento natural de um disparo de arma de fogo (esse resultado não é
consequência natural e previsível da conduta do agente).

Perceba que a concausa superveniente (acidente de carro), apesar de


produzir sozinha o resultado, não é absolutamente independente, pois se não fosse a
conduta de Pedro, o acidente não teria ocorrido (já que a vítima não estaria na
ambulância).

 Concausa superveniente relativamente independente –


A conduta de Pedro é relevante para o resultado.
 Que por si só produziu o resultado – Apesar disso, a
conduta de Pedro foi relevante apenas por CRIAR A
SITUAÇÃO, mas não foi a responsável efetiva pela
morte.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

EXEMPLO

No mesmo exemplo anterior, João é socorrido e chegando ao Hospital,


é submetido a uma cirurgia. Durante a cirurgia, o ferimento infecciona e João
morre por infecção. Nesse caso, a causa superveniente (infecção hospitalar)
não produziu por si só o resultado, tendo se agregado aos ferimentos para
causar a morte de João. Nesse caso, Pedro responde por homicídio
consumado.

Mas qual a diferença entre o exemplo (1) e o exemplo (2)? A diferença


básica reside no fato de que:

 No exemplo (1) – A conduta do agente é relevante


em apenas um momento: por criara situação (necessidade de ser
transportado pela ambulância).

 No exemplo (2) - A conduta do agente é relevante


em dois momentos: (a) cria a situação, ao fazer com que a vítima
tenha que ser operada; (b) contribui para o próprio resultado (já
que a infecção do ferimento não é um novo nexo causal).

Tipicidade

Agora, vamos estudar a tipicidade formal e a tipicidade


material?

A tipicidade pode ser de duas ordens: tipicidade formal e tipicidade material. A


tipicidade formal nada mais é que a adequação da conduta do agente a uma previsão
típica (norma penal que prevê o fato e lhe descreve como crime). Assim, o tipo do art.
121 é: “matar alguém”. Portanto, quando Marcio esfaqueia Luiz e o mata, está
cometendo fato típico (tipicidade formal), pois está praticando uma conduta que
encontra previsão como tipo penal.
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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Não há muito o que se falar acerca da tipicidade formal. Basta que o intérprete
proceda ao cotejo entre a conduta praticada no caso concreto e a conduta prevista na
Lei Penal (subsunção). Se a conduta praticada se amoldar àquela prevista na Lei
Penal, o fato será típico, ou seja, haverá adequação típica, por estar presente o
elemento “tipicidade”.
A tipicidade material, que é a ocorrência de uma ofensa (lesão ou exposição a
risco) significativa ao bem jurídico. Assim, não haverá tipicidade material quando a
conduta, apesar de formalmente típica (prevista na Lei como crime), não for capaz de
afetar significativamente o bem jurídico protegido pela norma. Um exemplo disso
ocorre nas hipóteses em que há aplicação do princípio da insignificância.

EXEMPLO

José subtrai uma folha de papel em branco, pertencente à escola em que


o filho estuda. Neste caso, a conduta é formalmente típica (está prevista na Lei
como crime de furto). Todavia, não há tipicidade material, já que não é uma
conduta capaz de ofender significativamente o bem jurídico protegido pela
norma (o patrimônio da escola).

SUJEITOS DO CRIME

Você sabia que os sujeitos do crime são classificados


como sujeito ativo ou sujeito passivo?

 Sujeito ativo - é a pessoa que pratica a infração penal - autor, coautor ou


partícipe (ou seja, é aquele que pratica o fato típico e antijurídico). Só
pode sê-lo se for o ser humano maior de dezoito anos (CF, art. 228 e CP,
art. 27). As pessoas menores de dezoito anos que praticam fatos
definidos como crime ou contravenção penal praticam atos infracionais,
sujeitando-se às medidas socioeducativas (Lei nº 8069/90, arts. 2º, 103
e 112).

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

 Sujeito passivo - é aquele que sofre as consequências da prática


criminosa. É o titular do bem jurídico lesado. Divide-se em Sujeito
passivo mediato e imediato:
 Sujeito passivo constante, mediato, formal, geral, genérico ou indireto: é
o Estado, pois a ele pertence o direito público subjetivo de exigir o
cumprimento da legislação penal.
 Sujeito passivo eventual, imediato, material, particular, acidental ou
direto: é o titular do bem jurídico especificamente tutelado pela lei penal.

OBJETO DO CRIME

O objeto do crime é o bem jurídico tutelado pelo Direito Penal, pode ser
jurídico ou material.

 Objeto jurídico do crime - também conhecido como


objetividade jurídica, é o bem ou interesse protegido
pela norma penal.
 Objeto material do crime - é o bem jurídico sobre o
qual recai a conduta criminosa.

PUNIBILIDADE

A punibilidade é a consequência jurídica do crime. Com a violação da


norma penal, surge para o Estado o direito de punir o sujeito ativo da infração. É o jus
puniendi.

ITER CRIMINIS

O iter criminis é o “caminho do crime”, ou seja, o itinerário percorrido pelo agente


até a consumação do delito.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

O iter criminis pode ser dividido em 04 etapas:

 Cogitação (cogitatio)
É a representação mental do crime na cabeça do agente, a fase inicial, na qual
o agente idealiza como será a conduta criminosa. Trata-se de uma fase interna, ou
seja, não há exteriorização da ideia criminosa, adoção de preparativos, nada disso.
Assim, a cogitação é sempre impunível, pois não sai da esfera psicológica do agente.

 Atos preparatórios (conatus remotus)


Aqui o agente adota algumas providências para a realização do crime, ou seja,
dá início aos preparativos para a prática delituosa, sem, contudo, iniciar a execução do
crime propriamente dita.

Ex.: José quer matar Maria. Para tanto, José vai até uma loja e compra uma faca bem
grande. Em razão do princípio da “exteriorização do fato” ou “materialização do fato”,
que impede a punição de atitudes internas das pessoas.

Como regra, os atos preparatórios são impuníveis, já que o agente não chega,
sequer, a iniciar a execução do crime. Todavia, os atos preparatórios serão puníveis
quando configurarem, por si só, um delito autônomo.

Ex.: José quer falsificar várias notas de R$ 100,00 (quer praticar o crime de moeda
falsa, art. 289 do CP). Assim, José compra um maquinário destinado a falsificar
moeda. A princípio, essa conduta seria um mero ato preparatório impunível. Todavia,
neste específico caso o CP já criminaliza essa conduta preparatória, estabelecendo
um tipo penal autônomo, que é o crime de “petrechos de falsificação” (art. 291 do CP20),
ou seja, o CP já considera crime a aquisição do maquinário!

 Atos executórios

Os atos executórios são aqueles por meio dos quais o agente, efetivamente, dá
início à conduta delituosa, por meio de um ato capaz de provocar o resultado.

Ex.: José quer matar Maria. Para tanto, espera Maria passar pela porta de sua casa e,
quando ela passa, dispara contra ela um projétil de arma de fogo. Neste momento se
inicia a execução.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Diferenciar o que é ato de execução e o que é ato preparatório não é tarefa


fácil. A Doutrina é bastante tormentosa a respeito, havendo algumas correntes. As
principais são:

 Teoria material (hostilidade ao bem jurídico) – O agente inicia a execução


quando cria uma situação de perigo ao bem jurídico. Ex.: José, querendo matar
Maria, se posiciona atrás de uma moita, esperando que ela passe. Nesse caso,
já teríamos execução do delito.
 Teoria objetivo-formal – Para esta teoria a execução se inicia quando o
agente dá início à realização da conduta descrita no núcleo do tipo penal.
Assim, no exemplo anterior, ainda não haveria execução, pois o agente ainda
não teria dado início à execução da conduta de “matar”.
 Teoria objetivo-material – Para esta teoria haverá execução quando o agente
realizar a conduta descrita no núcleo do tipo penal, bem como quando praticar
atos imediatamente anteriores à conduta descrita no núcleo do tipo, partindo-se
da visão de uma terceira Petrechos para falsificação de moeda.

Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou


guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente
destinado à falsificação de moeda:

Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

 Teoria objetivo-individual – Para esta a definição do que é ato executório


passa, necessariamente, pela análise do plano do autor do fato, ou seja, do seu
dolo. Assim, seriam atos executórios aqueles que fossem imediatamente
anteriores ao início da execução da conduta descrita no núcleo do tipo.
Ex.: José quer furtar uma casa, e invade a residência.
Neste caso, mesmo não tendo ainda dado início à subtração, já haveria ato
executório. Não há consenso, mas vem se firmando a adoção da teoria objetivo-
individual, embora haja quem sustente ter sido adotada a teoria objetivo-formal,
“complementada” pela análise do plano do agente, a fim de abarcar também os atos
imediatamente anteriores à realização do tipo penal.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

CONSUMAÇÃO

Aqui o crime atinge sua realização plena, havendo a presença de todos os


elementos que o compõem, ou seja, o agente consegue realizar tudo o que o tipo
penal prevê, causando a ofensa jurídica prevista na norma penal.
Temos, aqui, portanto, um crime completo e acabado.

EXAURIMENTO

O exaurimento é uma etapa “pós-crime”, ou seja, um acontecimento posterior à


consumação do delito, não alterando a tipificação da conduta.

Ex.: José pratica falso testemunho num processo que envolve Maria (crime de
falso testemunho consumado, art. 342 do CP). Após isso, Maria é condenada em
razão do testemunho falso de José (consequência que é mero exaurimento do delito,
não alterando a tipificação do crime).

TENTATIVA

Todos os elementos citados como sendo partes integrantes do fato típico


(conduta, resultado naturalístico, nexo de causalidade e tipicidade) são, no entanto,
elementos do crime material consumado, que é aquele no qual se exige resultado
naturalístico e no qual este resultado efetivamente ocorre.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Nos termos do art. 14 do CP:

Assim, nos crimes tentados, por não haver sua consumação (ocorrência de resultado naturalístico
Art. 14 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

- consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua


definição legal; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
- tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do agente
(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).

Disse “em regra”, porque pode acontecer que um crime tentado produza
resultados, que serão analisados de acordo com a conduta do agente e sua aptidão
para produzi-los.

EXEMPLO: Imaginem que Marcelo, visando à morte de Rodrigo, dispare


cinco tiros de pistola contra ele. Rodrigo é baleado, fica paraplégico, mas
sobrevive.

Nesse caso, como o objetivo não era causar lesão corporal, mas sim matar, o
crime não foi consumado, pois a morte não ocorreu. Entretanto, não se pode negar
que houve resultado naturalístico e nexo causal, embora este resultado não tenha sido
o pretendido pelo agente quando da prática da conduta criminosa. O crime consumado
nós já estudamos, cabe agora analisar as hipóteses de crime na modalidade tentada.
No caso acima, Marcelo responderá pelo tipo penal de
homicídio (art. 121 do CP), na modalidade tentada (art. 14, II do
CP). Mas se vocês analisarem, o art. 121 do CP diz “matar
alguém”. Marcelo não matou ninguém.
Assim, como enquadrá-lo na conduta prevista pelo art.
121? Isso é o que chamamos de adequação típica mediata,
conforme já estudamos. Na adequação típica mediata o agente
não pratica exatamente a conduta descrita no tipo penal, mas em
razão de uma outra norma que estende subjetiva ou objetivamente o alcance do tipo
penal, ele deve responder pelo crime. Assim, no caso em tela, Marcelo só responde
pelo crime em razão da existência de uma norma que aumenta o alcance objetivo

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

(relativo à conduta) do tipo penal para abarcar também as hipóteses de tentativa (art.
14, II do CP).
O inciso II do art. 14 fala em “circunstâncias alheias à vontade do agente”. Isso
significa que o agente inicia a execução do crime, mas em razão de fatores externos, o
resultado não ocorre. No caso concreto que citei, o fator externo, alheio à vontade de
Marcelo, foi provavelmente sua falta de precisão no uso da arma de fogo e o socorro
eficiente recebido por Rodrigo, que impediu sua morte.

O § único do art. 14 do CP diz:

Art. 14 (...)

Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a


pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.
(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Desta forma, o crime cometido na modalidade tentada não é punido da mesma


maneira que o crime consumado, pois embora o desvalor da conduta (sua
reprovabilidade social) seja o mesmo do crime consumado, o desvalor do resultado
(suas consequências na sociedade) é menor, indiscutivelmente. Assim, diz-se que o
CP adotou a teoria dualística, realista ou objetiva da punibilidade da tentativa.
Mas qual o critério para aplicação da quantidade de diminuição (1/3 ou 2/3)?
Nesse caso, o Juiz deve analisar a proximidade de alcance do resultado. Quanto mais
próxima do resultado chegar a conduta, menor será a diminuição da pena, e vice-
versa. No exemplo acima, como Marcelo quase matou Rodrigo, chegando a deixá-lo
paraplégico, a diminuição será a menor possível (1/3), pois o resultado esteve perto de
se consumar. Entretanto, se Marcelo tivesse errado todos os disparos, o resultado
teria passado longe da consumação, devendo o Juiz aplicar a redução máxima.

A Tentativa pode ser:

 Tentativa branca ou incruenta – Ocorre quando o agente sequer atinge o


objeto que pretendia lesar. Ex.: José atira em Maria, com dolo de matar, mas
erra o alvo.
 Tentativa vermelha ou cruenta – Ocorre quando o agente atinge o objeto,
mas não obtém o resultado naturalístico esperado, em razão de circunstâncias

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

alheias à sua vontade. Ex.: José atira em Maria, com dolo de matar, e acerta o
alvo. Maria, todavia, sofre apenas lesões leves no braço, não vindo a falecer.
 Tentativa perfeita – Ocorre quando o agente esgota completamente os meios
de que dispunha para lesar o objeto material. Ex.: José atira em Maria, com
dolo de matar, descarregando todos os projéteis da pistola. Acreditando ter
provocado a morte, vai embora satisfeito. Todavia, Maria é socorrida e não
morre.
 Tentativa imperfeita – Ocorre quando o agente, antes de esgotar toda a sua
potencialidade lesiva, é impedido por circunstâncias alheias, sendo forçado a
interromper a execução. Ex.: José possui um revólver com 06 projéteis. Dispara
os 03 primeiros contra Maria, mas antes de 21 Em contraposição à Teoria
objetiva há a Teoria subjetiva, que sustenta que a punibilidade da tentativa
deveria estar atrelada ao fato de que o desvalor da conduta é o mesmo do
crime consumado (é tão reprovável a
conduta de “matar “quanto a de “tentar
matar”). Para esta Teoria, a tentativa
deveria ser punida da mesma forma que o
crime consumado. Na verdade, adotou-se
no Brasil uma espécie de Teoria objetiva
“temperada” ou mitigada. Isto porque a
regra do art. 14, II admite exceções, ou
seja, existem casos na legislação pátria
em que se pune a tentativa com a mesma pena do crime consumado.

Em regra, todos os crimes dolosos admitem tentativa. Entretanto, não


admitem tentativa:

 Crimes culposos – Nestes crimes o resultado naturalístico não é querido pelo


agente, logo, a vontade dele não é dirigida a um fim ilícito e, portanto, não
ocorrendo este, não há que se falar em interrupção involuntária da execução
do crime22.
 Crimes preterdolosos – Como nestes crimes existe dolo na conduta
precedente e culpa na conduta seguinte, a conduta seguinte é culposa, não se
admitindo, portanto, tentativa;
 Crimes unissubsistentes – São aqueles que se produzem mediante um único
ato, não cabendo fracionamento de sua execução. Assim, ou o crime é

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

consumado ou sequer foi iniciada sua execução. EXEMPLO: Injúria. Ou o


agente profere a injúria e o crime está consumado ou ele sequer chega a
proferi-la, não chegando o crime a ser iniciado;

 Crimes omissivos próprios – Seguem a mesma regra dos crimes


unissubsistentes, pois ou o agente se omite, e pratica o crime na modalidade
consumada ou não se omite, hipótese na qual não comete crime;
 Crimes de perigo abstrato – Como aqui também há crime unissubsistente
(não há fracionamento da execução do crime), não se admite tentativa;
 Contravenções penais – A tentativa, neste caso, até pode ocorrer, mas não
será punível, nos termos do art. 4° do Decreto-Lei n° 3.688/41 (Lei das
Contravenções penais);
 Crimes de atentado (ou de empreendimento) – São crimes que se consideram
consumados com a obtenção do
resultado ou ainda com a tentativa deste.
Por exemplo: O art. 352 tipifica o crime
de “evasão”, dizendo: “evadir-se ou
tentar evadir-se”... Desta maneira, ainda
que não consiga o preso se evadir, o
simples fato de ter tentado isto já
consuma o crime;
 Crimes habituais – Nestes crimes, o agente deve praticar diversos atos,
habitualmente, a fim de que o crime se consume. Entretanto, o problema é que
cada ato isolado é um indiferente penal. Assim, ou o agente praticou poucos
atos isolados, não cometendo crime, ou praticou os atos de forma habitual,
cometendo crime consumado. Exemplo: Crime de curandeirismo, no qual ou o
agente pratica atos isolados, não praticando crime, ou o faz com habitualidade,
praticando crime consumado, nos termos do art. 284, I do CP.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Sobre o crime tentado, veja o quadro abaixo:

INSTITUTO RESUMO CONSEQUÊNCIAS


Agente pratica a conduta Responde pelo crime, com redução
TENTATIVA delituosa, mas por de pena de 1/3 a 2/3.
circunstâncias alheias à sua
vontade, o resultado não
Ocorre.
O agente INICIA a prática da Responde
conduta delituosa, mas se apenas pelos
arrepende, e CESSA atos já
DESISTÊNCIA a atividade criminosa (mesmo praticados.
VOLUNTÁRIA podendo continuar) e o resultado Desconsidera-se
não ocorre. o “dolo inicial”, e o
agente é punido
apenas pelos
danos
que efetivamente causou.
O agente INICIA a prática da
conduta delituosa E COMPLETA A Responde apenas
ARREPENDIMENTO EXECUÇÃO Pelos atos já praticados.
EFICAZ DA CONDUTA, mas se arrepende Desconsidera-se o
do que fez e toma as providências “Dolo inicial”, e o agente é punido
para que o resultado inicialmente apenas pelos danos
pretendido não ocorra. O Que efetivamente causou.
resultado
NÃO ocorre.
O agente completa a execução da
atividade criminosa e o resultado
efetivamente ocorre. Porém, após
a ocorrência do resultado, o agente
se arrepende E REPARA O DANO
ou RESTITUI A COISA.
ARREPENDIMENTO 1. Só pode ocorrer nos crimes O agente tem a pena reduzida de
POSTERIOR 1/3 a 2/3.
cometidos sem violência ou
grave ameaça à pessoa
2. Só tem validade se ocorre antes
Do recebimento da denúncia
ou queixa.

37
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ

Policial, você já ouviu falar em desistência voluntária e


arrependimento eficaz? Sabe o que é isso? Que tal aprender?

Embora a Doutrina tenha se dividido quanto à definição da natureza jurídica


destes institutos, a Doutrina majoritária entende se tratar de causas de exclusão da
tipicidade, pois não tendo ocorrido o resultado, e também não se tratando de hipótese
tentada, não há como se punir o crime nem a título de consumação nem a título de
tentativa.

Na desistência voluntária o agente, por ato voluntário, desiste de dar sequência


aos atos executórios, mesmo podendo fazê-lo.

 Na tentativa – O agente quer, mas não pode prosseguir.


 Na desistência voluntária – O agente pode, mas não quer prosseguir.

Para que fique caracterizada a desistência voluntária, é necessário que o resultado


não se consume em razão da desistência do agente.

EXEMPLO: Se Poliana dispara um tiro de pistola em Jason e, podendo


disparar mais cinco, não o faz, mas este mesmo assim vem a falecer, Poliana
responde por homicídio consumado. Se, no entanto, Jason não vem a óbito, Poliana
não responde por homicídio tentado (não há tentativa, lembram-se?), mas por lesões
corporais.

No arrependimento eficaz é diferente. Aqui o agente já


praticou todos os atos executórios que queria e podia, mas após
isto, se arrepende do ato e adota medidas que acabam por
impedir a consumação do resultado.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Imagine que no exemplo anterior, Poliana tivesse disparado todos os tiros da


pistola em Jason. Depois disso, Poliana se arrepende do que fez e providencia o
socorro de Jason, que sobrevive em razão do socorro prestado. Neste caso, teríamos
arrependimento eficaz.

Ambos os institutos estão previstos no art. 15 do CP:

Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na


execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos
já praticados. (Redação dada pela Lei nº7.209, de 11.7.1984). Para que
estes institutos ocorram, é necessário que a conduta (desistência
voluntária e arrependimento eficaz) impeça a consumação do resultado.
Se o resultado, ainda assim, vier a ocorrer, o agente responde pelo
crime, incidindo, no entanto, uma atenuante de pena.

A Doutrina entende que também HÁ DESISTÊNCIA


VOLUNTÁRIA quando o agente deixa de prosseguir na execução para
fazê-la mais tarde, por qualquer motivo, por exemplo, para não
levantar suspeitas. Nesse caso, mesmo não sendo nobre o motivo da
desistência, a Doutrina entende que há desistência voluntária.

Se o crime for cometido em concurso de


pessoas e somente um deles realiza a conduta
de desistência voluntária ou arrependimento
eficaz, esta circunstância se comunica aos
demais, pois como se trata de hipótese de
exclusão da tipicidade, o crime não foi cometido,
respondendo todos apenas pelos atos praticados
até então.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

ARREPENDIMENTO POSTERIOR

O arrependimento posterior, por sua vez, não exclui o crime, pois este já se
consumou, mas é causa obrigatória de diminuição de pena. Ocorre quando, nos
crimes em que não há violência ou grave ameaça à pessoa, o agente, até o
recebimento da denúncia ou queixa, repara o dano provocado ou restitui a coisa. Nos
termos do art. 16 do CP:

Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,


reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da
queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois
terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

EXEMPLO

Imagine o crime de dano (art. 163 do CP), no qual o agente quebra


a vidraça de uma padaria, revoltado com o esgotamento do pão francês
naquela tarde. Nesse caso, se antes do recebimento da queixa o agente
ressarcir o prejuízo causado, ele responderá pelo crime, mas a pena
aplicada deverá ser diminuída de um a dois terços.

Vejam que não se aplica o instituto se o crime for cometido com violência ou
grave ameaça à pessoa. A Doutrina entende que se a violência for culposa, pode ser
aplicado o instituto. Assim, se o agente comete lesão corporal culposa (violência
culposa), e antes do recebimento da queixa paga todas as despesas médicas da
vítima, presta todo o auxílio necessário, deve ser aplicada a causa de diminuição de
pena.
O arrependimento posterior também se comunica aos demais agentes
(coautores). A Doutrina entende, ainda, que se a vítima se recusar a receber a coisa
ou a reparação do dano, mesmo assim o agente deverá receber a causa de
diminuição de pena. O quantum da diminuição da pena (um terço a dois terços) irá

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

variar conforme a celeridade com que ocorreu o arrependimento e a voluntariedade


deste ato.
O quadro abaixo pode ajudar vocês na compreensão dos institutos da tentativa,
da desistência voluntária, do arrependimento eficaz e do arrependimento posterior:

CRIME IMPOSSÍVEL

Nos termos do Código Penal:

Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou


por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984). Como podemos perceber, o
crime impossível guarda semelhanças com a tentativa, entretanto, com ela não
se confunde.

Na tentativa, propriamente dita, o agente inicia a execução do crime, mas por


circunstâncias alheias à sua vontade o resultado não se consuma (art. 14, II do CPC).

Você sabia que o crime impossível, diferentemente do que


ocorre na tentativa, embora o agente inicie a execução do
delito, JAMAIS o crime se consumaria, em hipótese
nenhuma, ou pelo fato de que o meio utilizado é
completamente ineficaz ou porque o objeto material do
crime é impróprio para aquele crime?

EXEMPLO: Imaginem que Marcelo pretenda matar sua sogra Maria. Marcelo
chega, à surdina, de noite, e percebendo que Maria dorme no sofá, desfere contra ela
10 facadas no peito. No entanto, no laudo pericial se descobre que Maria já estava
morta, em razão de um mal súbito que sofrera horas antes.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Nesse caso, o crime é impossível, pois o objeto material (a sogra, Maria) não
era uma pessoa, mas um cadáver. Logo, não há como se praticar o crime de
homicídio em face de um cadáver.
No mesmo exemplo, imagine que Marcelo pretenda matar sua sogra a tiros e,
surpreenda-a na servidão que dá acesso à casa. Entretanto, quando Marcelo aperta o
gatilho, percebe que, na verdade, foi enganado pelo vendedor, que o vendeu uma arma
de brinquedo.
Nesse último caso o crime é impossível, pois o meio utilizado por Marcelo é
completamente ineficaz para causar a morte da vítima.
Em ambos os casos temos hipótese de crime impossível. Na verdade, o crime
impossível é uma espécie de tentativa, com a circunstância de que jamais poderá se
tornar consumação, face à impropriedade do objeto ou do meio utilizado. Por isso, não
se pode punir a tentativa nestes casos, eis que não houve lesão ou sequer exposição
à lesão do bem jurídico tutelado, não bastando para a punição do agente o mero
desvalor da conduta, devendo haver um mínimo de desvalor do resultado.

A ineficácia do meio ou a impropriedade do objeto


devem ser ABSOLUTAS, ou seja, em nenhuma hipótese,
considerando aquelas circunstâncias, o crime poderia se
consumar. Assim, se Márcio atira em José, com intenção de
matá-lo, mas o crime não se consuma porque José usava
um colete à prova de balas, não há crime impossível, pois o
crime poderia se consumar.

Como o CP previu a impossibilidade de punição da tentativa inidônea (crime


impossível), diz-se que o Código Penal adotou a teoria objetiva da punibilidade do
crime impossível.

CRIME DOLOSO E CRIME CULPOSO

Sargento, você saberia dizer qual a diferença entre crime


doloso e crime culposo?

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

O dolo e a culpa são o que se


pode chamar de elementos subjetivos
do tipo penal, transportados da
culpabilidade para o fato típico
(conduta). Assim, a conduta (no
finalismo) não é mais apenas objetiva,
sinônimo de ação humana, mas sim a
ação humana dirigida a um fim (ilícito
ou não).

Crime Doloso

O dolo é o elemento subjetivo do tipo, consistente na vontade, livre e


consciente, de praticar o crime (dolo direto), ou a assunção do risco produzido pela
conduta (dolo eventual). Nos termos do art. 18 do CP:

Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Crime
doloso (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - Doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;
(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).

O dolo direto, que é o elemento subjetivo clássico do crime, é composto pela


consciência de que a conduta pode lesar um bem jurídico mais a vontade de lesar este
bem jurídico. Esses dois elementos (consciência + vontade) formam o que se chama
de dolo natural.
Em épocas passadas, quando se entendia que o dolo pertencia à
culpabilidade, a esses dois elementos (consciência e vontade) era acrescido mais um
elemento, que era a consciência da ilicitude. Esse era o chamado dolo normativo.
Assim, para que o dolo ficasse caracterizado era necessário comprovar que o agente
teve não só a vontade livre e consciente de alcançar o resultado, mas também
comprovar que o agente sabia que sua conduta era contrária ao Direito.
Atualmente, com a transposição do dolo e da culpa para o fato típico (em razão
da teoria finalista), os elementos normativos do dolo ficaram na culpabilidade, de
maneira que a chamada “consciência da ilicitude da conduta”17 não mais é analisada
dentro do dolo em si, mas na culpabilidade. Para definir, portanto, se o fato constitui
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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

uma conduta dolosa não é necessário, hoje, saber se o agente tinha consciência de
que sua conduta era contrária ao Direito, o que só será analisado na culpabilidade.

Desta maneira, podemos dizer que no finalismo o dolo é natural e no


causalismo o dolo é normativo.
O dolo direto pode ser, ainda, de segundo grau, ou de consequências
necessárias. Neste o agente não deseja a produção do resultado, mas aceita o
resultado como consequência necessária dos meios empregados.
A “consciência da ilicitude”, inclusive, pode ser real (quando o agente sabe que
sua conduta é contrária ao direito) ou meramente potencial (quando, apesar de não
saber que sua conduta é contrária ao Direito, tinha condições intelectuais para ter este
conhecimento).

EXEMPLO: Imagine o caso de alguém que, querendo matar certo


executivo, coloca uma bomba no avião em que este se encontra. Ora, nesse
caso, o agente age com dolo de primeiro grau em face da vítima pretendida, pois
quer sua morte, e dolo de segundo grau em relação aos demais ocupantes do
avião, pois é certo que também morrerão, embora este não seja o objetivo do
agente.

Há, ainda, o que a Doutrina chama de dolo indireto. O dolo indireto se divide
em dolo eventual e dolo alternativo.

O dolo eventual consiste na consciência de que a conduta


pode gerar um resultado criminoso, mais a assunção desse risco,
mesmo diante da probabilidade de algo dar errado. Tratasse de
hipótese na qual o agente não tem vontade de produzir o resultado
criminoso, mas analisando as circunstâncias, sabe que este resultado
pode ocorrer e não se importa, age da mesma maneira.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

EXEMPLO

Imagine que Renato, dono de um sítio, e apreciador da prática do tiro


esportivo, decida levantar sábado pela manhã e praticar tiro no seu terreno,
mesmo sabendo que as balas possuem longo alcance e que há casas na
vizinhança. Renato até não quer que ninguém seja atingido, mas sabe que
isso pode ocorrer e não se importa, pratica a conduta assim mesmo. Nesse
caso, se Renato atingir alguém, causando-lhe lesões ou mesmo a morte,
estará praticando homicídio doloso por dolo eventual no dolo alternativo o
agente pratica a conduta sem pretender alcançar um resultado específico,
estabelecendo para si mesmo que qualquer dos resultados possíveis é válido.

EXEMPLO

José atira uma pedra em Maria, querendo matá-la ou lesioná-la, tanto


faz. Ou seja, José não possui a intenção específica de matar, mas também não
possui a intenção específica de lesionar. O que José, pretende, apenas, é
causar dano a Maria.

O dolo pode ser, ainda:

 Dolo genérico – Atualmente, com o finalismo, passou a ser chamado


simplesmente de dolo, que é, basicamente, a vontade de praticar a conduta
descrita no tipo penal, sem nenhuma outra finalidade.
 Dolo específico, ou especial fim de agir – Em contraposição ao dolo
genérico, nesse caso o agente não quer somente praticar a conduta típica, mas
o faz por alguma razão especial, com alguma finalidade específica. É o caso do
crime de injúria, por exemplo, no qual o agente deve não só praticar a conduta,
mas deve fazê-lo com a intenção de ofender a honra subjetiva da vítima.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

 Dolo direto de primeiro grau – Trata-se do dolo comum, aquele no qual o


agente tem à vontade direcionada para a produção do resultado, como no caso
do homicida que procura sua vítima e a mata com disparos de arma de fogo.
 Dolo geral, por erro sucessivo, ou aberratio causae – Ocorre quando o
agente, acreditando ter alcançado seu objetivo, pratica nova conduta, com
finalidade diversa, mas depois se constata que esta última foi a que
efetivamente causou o resultado.

Trata-se de erro na relação de causalidade, pois embora o agente tenha


conseguido alcançar a finalidade proposta, somente o alcançou através de outro meio,
que não tinha direcionado para isso. Exemplo: Imagine a mãe que, querendo matar o
próprio filho de 05 anos, o estrangula e, com medo de ser descoberta, o joga num rio.
Posteriormente a criança é encontrada e se descobre que a vítima morreu por
afogamento. Nesse caso, embora a mãe não tenha querido matar o filho afogado, mas
por estrangulamento, isso é irrelevante penalmente, importando apenas o fato de que
a mãe alcançou o fim pretendido (morte do filho), ainda que por outro meio, devendo,
pois, responder por homicídio consumado.

 Dolo antecedente, atual e subsequente – O dolo antecedente é o que se dá


antes do início da execução da conduta. O dolo atual é o que está presente
enquanto o agente se mantém exercendo a conduta, e o dolo subsequente
ocorre quando o agente, embora tendo iniciado a conduta com uma finalidade
lícita, altera seu ânimo, passando a agir de forma ilícita. Esse último caso é o
que ocorre no caso, por exemplo, do crime de apropriação indébita (art. 168 do
CP), no qual o agente recebe o bem de boa-fé, obrigando-se devolvê-lo, mas,
posteriormente, muda de ideia e não devolve o bem nas condições ajustadas,
passando a agir de maneira ilícita.

Crime Culposo

Se no crime doloso o agente quis o resultado, sendo este seu objetivo, ou


assumiu o risco de sua ocorrência, embora não fosse originalmente pretendido o
resultado, no crime culposo a conduta do agente é destinada a um determinado fim
(que pode ser lícito ou não), tal qual no dolo eventual, mas pela violação a um dever
de cuidado, o agente acaba por lesar um bem jurídico de terceiro, cometendo crime
culposo.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

A violação ao dever objetivo de cuidado pode se dar de três maneiras:

 Negligência – O agente deixa de tomar todas as cautelas necessárias para que


sua conduta não venha a lesar o bem jurídico de terceiro. É o famoso relapso.
Aqui o agente deixa de fazer algo que deveria;
 Imprudência – É o caso do afoito, daquele que pratica atos temerários, que
não se coadunam com a prudência que se deve ter na vida em sociedade. Aqui o
agente faz algo que a prudência não recomenda;
 Imperícia – Decorre do
desconhecimento de uma regra técnica profissional.
Assim, se o médico, após fazer todos os exames
necessários, dá diagnóstico errado, concedendo
alto ao paciente e este vem a óbito em decorrência
da alta concedida, não há negligência, pois, o
profissional médico adotou todos os cuidados
necessários, mas em decorrência de sua falta de
conhecimento técnico, não conseguiu verificar qual
o problema do paciente, o que acabou por
ocasionar seu falecimento;

A punibilidade da culpa se fundamenta no desvalor do resultado praticado pelo


agente, embora o desvalor da conduta seja menor, pois não deriva de uma deliberada
ação contrária ao direito.

O CP prevê o crime culposo em seu art. 18, II:

Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de


11.7.1984) Crime culposo (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - Culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência,
negligência ou imperícia. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

O crime culposo é composto de:

 Uma conduta voluntária – Dirigida a um fim lícito, ou quando ilícito, não é


destinada à produção do resultado ocorrido.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

 A violação a um dever objetivo de cuidado – Que pode se dar por


negligência, imprudência ou imperícia.
 Um resultado naturalístico involuntário – O resultado produzido não foi
querido pelo agente (salvo na culpa imprópria).
 Nexo causal – Relação de causa e efeito entre a conduta do agente e o
resultado ocorrido no mundo fático.
 Tipicidade – O fato deve estar previsto como crime. Em regra, os crimes só
podem ser praticados na forma dolosa, só podendo ser punidos a título de
culpa quando a lei expressamente determinar. Essa é a regra do § único do art.
18 do CP:

Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido
por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. (Incluído pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984).

 Previsibilidade objetiva - O resultado ocorrido deve ser previsível mediante


um esforço intelectual razoável. É chamada previsibilidade do homem médio.
Assim, se uma pessoa comum, de inteligência mediana, seria capaz de prever
aquele resultado, está presente este requisito. Se o resultado não for previsível
objetivamente, o fato é um indiferente penal. Por exemplo: Se Mário, nas dunas
de Natal, dá um chute em João, a fim de causar-lhe lesões leves, e João vem a
cair e bater com a cabeça sobre um motor de Bugre que estava enterrado sob
a areia, vindo a falecer, Mário não responde por homicídio culposo, pois seria
inimaginável a qualquer pessoa prever que naquele local a vítima poderia bater
com a cabeça em algo daquele tipo e vir a falecer. A culpa, por sua vez, pode
ser de diversas modalidades
 Culpa consciente e inconsciente – Na culpa consciente, o agente prevê o
resultado como possível, mas acredita que este não irá ocorrer. Na culpa
inconsciente (exignorantia), o agente não prevê que o resultado possa ocorrer.
A culpa consciente se aproxima muito do dolo eventual, pois em ambos o
agente prevê o resultado e mesmo assim age. Entretanto, a diferença é que,
enquanto no dolo eventual o agente assume o risco de produzi-lo, não se
importando com a sua ocorrência, na culpa consciente o agente não assume o
risco de produzir o resultado, pois acredita, sinceramente, que ele não
ocorrerá.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

 Culpa própria e culpa imprópria – A culpa própria é aquela na qual o agente


NÃO QUER O RESULTADO criminoso. É a culpa propriamente dita. Pode ser
consciente, quando o agente prevê o resultado como possível, ou inconsciente,
quando não há essa previsão. Na culpa imprópria, o agente quer o resultado,
mas, por erro inescusável, acredita que o está fazendo amparado por uma
causa excludente da ilicitude ou da culpabilidade.

Exemplo: Júlio, dirigindo seu veículo, avança o sinal vermelho e colide com o
veículo de Carlos, que vinha na contramão. Ambos agiram com culpa e causaram-se
lesões corporais. Nesse caso, ambos respondem pelo crime de lesões corporais, um
em face do outro.

CRIME PRETERDOLOSO

Agora que você já sabe o que crime doloso e culposo.


Vamos aprender o que é crime preterdoloso?

Há ainda a figura do crime preterdoloso (ou preterintencional). O crime


preterdoloso ocorre quando o agente, com vontade de praticar determinado crime
(dolo), acaba por praticar crime mais grave, não com dolo, mas por culpa. Um exemplo
clássico é o crime de lesão corporal seguida de morte, previsto no art. 129, § 3° do
CP. Nesse crime o agente provoca lesões corporais na vítima, mediante conduta
dolosa. No entanto, em razão de sua imprudência na execução (excesso), acabou por
provocar a morte da vítima, que era um resultado não pretendido (culpa).
A Doutrina distingue, no entanto, o crime preterdoloso do crime qualificado pelo
resultado18. Para a Doutrina, o crime qualificado pelo resultado é um gênero, do qual
o crime preterdoloso é espécie. Um crime qualificado pelo resultado é aquele no qual,
ocorrendo determinado resultado, teremos a aplicação de uma circunstância
qualificadora. Aqui é irrelevante se o resultado que qualifica o crime é doloso ou
culposo. No delito preterdoloso, o resultado que qualifica o crime é, necessariamente,
culposo. Ou seja, há dolo na conduta inicial e culpa em relação ao resultado que
efetivamente ocorre.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

EXEMPLO: Mariana agride Luciana com a intenção


apenas de lesioná-la (dolo de praticar o crime de lesão corporal).
Contudo, em razão da força empregada por Mariana, Luciana cai e
bate com a cabeça no chão, vindo a falecer. Mariana fica chocada,
pois de maneira alguma pretendia a morte de Luciana. Nesse
caso, Mariana praticou o crime de lesão corporal seguida de morte,
que é um crime preterdoloso (dolo na conduta inicial, mas resultado obtido a título de
culpa – sem intenção).

TEORIA DO ERRO

Erro, em Direito Penal, corresponde a uma falsa representação da realidade,


que tanto pode incidir sobre situação fática prevista como elementar ou circunstância do
crime (erro de tipo), bem como sobre a ilicitude da conduta (erro de proibição). Desta
forma, a pessoa a qual subtrai coisa de outra, acreditando ser sua - não sabe que
subtrai coisa alheia - ou quando alguém, por exemplo, tem maconha em casa, na
crença de que esta constitui outra substância, inócua (exemplo: esterco), encontra-se
em erro de tipo (art. 20 do CP); contudo, se souber da natureza da substância, a qual
mantém por acreditar, equivocadamente, que o depósito não é proibido, incide no erro
de proibição (art. 21, do CP).

Vejamos as espécies de erro:

 Erro sobre elemento constitutivo do tipo (CP, art. 20, caput): "O erro sobre
elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a
punição por crime culposo, se previsto em lei". Tal erro pode referir-se a uma
situação de fato.
Exemplo: o caçador atira em uma pessoa, pensando tratar-se de um animal
perigoso.
 Descriminantes putativas (CP, art. 20, § 1°): "É isento de pena quem, por
erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que,
se existisse, tornaria a ação legítima". Trata-se do erro de tipo inevitável
(invencível ou escusável) e, sendo assim, exclui a punição por dolo ou por
culpa. O fato, portanto, é atípico. Importante lembrar que: "Não há isenção de
pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo."
(CP, art. 20, § 1°, parte final).

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

 É o caso do pai que, percebendo um barulho na madrugada, se levanta e avista


um vulto, determinando sua imediata parada. Como o vulto continua, o pai
dispara três tiros de arma de fogo contra a vítima, acreditando estar agindo em
legítima defesa de sua família. No entanto, ao verificar a vítima, percebe que o
vulto era seu filho de 16 anos que havia saído escondido para assistir a um
show de Rock no qual havia sido proibido de ir. Nesse caso, embora o crime
seja naturalmente doloso (pois o agente quis o resultado), por questões de
política criminal o Código determina que lhe seja aplicada a pena
correspondente à modalidade culposa.

Nos termos do art. 20, § 1° do CP:

Art. 20 (...) § 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado


pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação
legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é
punível como crime culposo.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

 Erro sobre a pessoa (art. 20, § 3°, CP): "O erro quanto à pessoa contra a qual
o crime é praticado não isenta depena. Não se consideram, neste caso, as
condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente
queria praticar o crime". Ocorre quando, por exemplo, o agente mata A
pensando tratar-se de B, fato que não altera a figura típica do homicídio.
 Erro sobre a ilicitude do fato (art. 21, CP): "O desconhecimento da lei é
inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se
evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.

CP, art. 20, Parágrafo único: “Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se
omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas
circunstâncias, ter ou atingir essa consciência".

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

CAUSAS DE EXCLUSÃO DO FATO TÍPICO

Haverá exclusão do fato típico


sempre que estiver ausente algum de
seus elementos. As principais
hipóteses são:

Coação física irresistível:


A coação física irresistível (também chamada de vis absoluta) exclui a
CONDUTA, por ausência completa de vontade do agente coagido. Logo, acaba por
excluir o fato típico. Não confundir com a coação MORAL irresistível, que exclui a
culpabilidade.

Exemplo: José pega Maria à força e, segurando seu braço, faz com que Maria
esfaqueie Joana, que está dormindo. Neste caso, Maria não teve conduta, pois não
teve dolo ou culpa. Maria não escolheu esfaquear, foi coagida fisicamente a fazer isso.

Erro de tipo inevitável:


No erro de tipo inevitável o agente pratica o fato típico por incidir em erro sobre
um de seus elementos. Quando o erro é inevitável (qualquer pessoa naquelas
circunstâncias cometeria o erro), o agente não responde por crime algum (afasta-se o
dolo e a culpa).

Exemplo: José pega o celular que está em cima do balcão da loja e vai
embora, acreditando ser o seu celular. Todavia, quando chega em casa, vê que pegou
o celular de outra pessoa, pois confundiu com o seu. Neste caso, José praticou, em
tese, o crime de furto (art. 155 do CP). Todavia, como houve erro inevitável sobre um
dos elementos do tipo (o elemento “coisa alheia”, já que José acreditava que a coisa
era sua), José não responderá por crime algum.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Sonambulismo e atos reflexos:


Nas hipóteses de sonambulismo e de atos reflexos também se afasta o fato
típico, pois em ambos os casos o agente não tem controle sobre sua ação ou omissão,
ou seja, temos a exteriorização física do ato, sem que haja dolo ou culpa.

Exemplo: José dá um susto em Ricardo, que acaba mexendo os braços


repentinamente e acerta uma cotovelada em Paula. Neste caso, Ricardo não responde
por crime de lesão corporal pois não teve dolo ou culpa.

Insignificância e adequação social da conduta:


Tanto na hipótese de insignificância da conduta (ausência de ofensa
significativa ao bem jurídico protegido pela norma) quanto na hipótese de adequação
social da conduta (tolerância).

ANTIJURIDICIDADE (ILICITUDE)

Você sabia que a antijuridicidade é um dos requisitos


do crime e que constitui-se na relação de contrariedade entre
o fato e o ordenamento jurídico?

Não basta, para a ocorrência de um crime, que o fato seja típico (previsto em
lei). É necessário também que seja antijurídico, ou seja, contrário a lei penal, que viole
bens jurídicos protegidos pelo ordenamento jurídico, portanto, a antijuridicidade (ou
ilicitude) é a condição de contrariedade da conduta perante o Direito.
Estando presente o primeiro elemento (fato típico), presume-se presente a
ilicitude, devendo o acusado comprovar a existência de uma causa de exclusão da
ilicitude. Percebam, assim, que uma das funções do fato típico é gerar uma presunção
de ilicitude da conduta, que pode ser desconstituída diante da presença de uma das
causas de exclusão da ilicitude.

As causas de exclusão da ilicitude podem ser:

 Genéricas – São aquelas que se aplicam a todo e qualquer crime.


Estão previstas na parte geral do Código Penal, em seu art. 23;

53
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

 Específicas – São aquelas que são próprias de determinados crimes,


não se aplicando a outros. Por exemplo: Furto de coisas comum,
previsto no art. 156, §2°. Nesse caso, o fato de a coisa furtada ser
comum retira a ilicitude da conduta. Porém, só nesse crime.

As causas genéricas de exclusão da ilicitude são:

a) estado de necessidade;
b) legítima defesa;
c) exercício regular de um direito;
d) estrito cumprimento do dever legal.

Entretanto, a Doutrina majoritária e a Jurisprudência entendem que existem


causas supralegais de exclusão da ilicitude (não previstas na lei, mas que decorrem
da lógica, como o consentimento do ofendido nos crimes contra bens disponíveis).

CAUSAS DE EXCLUSÃO DA ANTIJURIDICIDADE

Além de típico, para ser considerado crime o fato deve ser também antijurídico.
O art. 23 do CP dispõe que não há crime quando o agente pratica o fato nos seguintes
casos:

Está previsto no art. 24 do Código Penal:

Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para


salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de
outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
circunstâncias, não era razoável exigir- se.

O Brasil adotou a teoria unitária de estado de necessidade, que


estabelece que o bem jurídico protegido deve ser de valor igual ou superior ao
sacrificado, afastando-se em ambos os casos a ilicitude da conduta.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Estado de necessidade: o agente pratica o fato para


salvar de perigo atual - que não provocou por sua vontade,
nem podia de outro modo evitar - direito próprio ou alheio,
cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.

EXEMPLO

Marcos e João estão num avião que está caindo. Só há uma mochila
com paraquedas. Marcos agride João até causar-lhe a morte, a fim de que o
paraquedas seja seu e ele possa se salvar. Nesse caso, o bem jurídico que
Marcos buscou preservar (vida) é de igual valor ao bem sacrificado (Vida de
João). Assim, Marcos não cometeu crime, pois agiu coberto por uma
excludente de ilicitude, que é o estado de necessidade.

Os requisitos para a configuração do estado de necessidade são basicamente


dois:

a) a existência de uma situação de perigo a um bem jurídico próprio ou de terceiros;


b) o fato necessitado (conduta do agente na qual ele sacrifica o bem
alheio para salvar o próprio ou do terceiro).

Entretanto, a situação de perigo deve:

 Não ter sido criada voluntariamente pelo agente (ou seja, se foi ele
mesmo quem deu causa, não poderá sacrificar o direito de um terceiro a
pretexto de salvar o seu).

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

EXEMPLO

O agente provoca ao naufrágio de um navio e, para se salvar, mata


um terceiro, a fim de ficar com o último colete disponível. Nesse caso,
embora os bens sejam de igual valor, a situação de perigo foi criada pelo
próprio agente, logo, ele não estará agindo em estado de necessidade.

Perigo atual – O perigo deve estar ocorrendo. A lei não permite o estado de
necessidade diante de um perigo futuro, ainda que iminente;
A situação de perigo deve estar expondo a risco de lesão um bem jurídico do
próprio agente ou de um terceiro. O agente não pode ter o dever jurídico enfrentar o
perigo.

Ser conhecida pelo agente – O agente deve saber que está agindo em estado de
necessidade (elemento subjetivo).

Quanto à conduta do agente, ela deve ser:

 Inevitável – O bem jurídico protegido só seria salvo daquela maneira. Não havia
outra forma de salvar o bem jurídico.

 Proporcional – O agente deve sacrificar apenas bens jurídicos de menor ou


igual valor ao que pretende proteger.

O estado de necessidade pode ser:

 Agressivo – Quando para salvar seu bem jurídico o agente sacrifica bem
jurídico de um terceiro que não provocou a situação de perigo.

 Defensivo – Quando o agente sacrifica um bem jurídico de quem


ocasionou a situação de perigo.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Pode ser ainda:

 Real – Quando a situação de perigo efetivamente existe;

 Putativo – Quando a situação de perigo não existe de fato, apenas na


imaginação do agente. Imaginemos que no caso do colete salva-vidas, ao
invés de ser o último, existisse ainda uma sala repleta deles. Assim, a situação
de perigo apenas passou pela cabeça do agente, não sendo a realidade, pois
havia mais coletes. Nesse caso, o agente incorreu em erro, que se for um
erro escusável (o agente não tinha como saber da existência dos outros
coletes), excluirá a imputação do delito.

LEGÍTIMA DEFESA

Você já ouviu falar em legítima defesa? Sabe o que é? Vamos


aprender?

Nos termos do art. 25 do CP:Art. 25 - Entende-se em legítima defesa


quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta
agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
Com o advento da Lei 13.964/19, o chamado pacote ante crime, foi inserido na
legislação penal comum o parágrafo único no artigo 25, que versa sobre a legítima
defesa. Insta ressaltar, que o referido acréscimo não trará nenhuma mudança naquilo
que já fora pacificado na doutrina, ou
seja, o que o parágrafo único nos traz
é apenas um exemplo daquilo que se
revela no caput do artigo 25, quando
na defesa de outrem repele injusta
agressão moderadamente e usando
os meios necessários.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente


dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito
seu ou de outrem.
Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo,
considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que
repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática
de crimes

O agente deve ter praticado o fato para repelir uma agressão. Contudo, há
alguns requisitos.

REQUISITOS PARA A CONFIGURAÇÃO DA LEGÍTIMA DEFESA

 Agressão Injusta – Assim, se a agressão é justa, não há legítima defesa.


Dessa forma, o preso que agride o carcereiro que o está colocando para dentro
da cela não age em legítima defesa, pois a agressão do carcereiro (empurrá-lo
à força) é justa, autorizada pelo Direito.
 Atual ou iminente – A agressão deve estar acontecendo ou prestes a
acontecer. Veja que aqui, diferente do estado necessidade, não há
necessidade de que o fato seja atual, bastando que seja iminente. Desta
maneira, se o Sargento Paulo de serviço no bairro de Madureira em frente ao
banco Bradesco observa um homem saindo desta agência com arma em
punho apontando na direção de Paulo poderá este repelir essa agressão
iminente, pois ainda que não tenha acontecido, não se pode exigir que Paulo
aguarde que este homem não identificado comece a efetuar os disparos.
 Contra direito próprio ou alheio – A agressão injusta pode estar acontecendo
ou prestes a acontecer contra direito do próprio agente ou de um terceiro.
Assim, se homem saindo desta agência bancária acima mencionada com arma
em punho apontando na direção de uma pessoa qualquer, Paulo poderá repelir
essa agressão iminente contra terceiros, sargento Paulo, não estará
cometendo crime, pois agiu em legítima defesa da integridade física de
terceiro.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

 Reação proporcional – O agente deve repelir a injusta agressão utilizando


moderadamente dos meios necessários.
 Conhecimento da situação justificante – O agente deve saber que está
agindo em legítima defesa, ou seja, deve conhecer a situação justificante e agir
com intenção de defesa (animus defendendi).

Quando uma pessoa é atacada por um animal, em regra não age em legítima
defesa, mas em estado de necessidade, pois os atos dos animais não podem ser
considerados injustos.
Entretanto, se o animal estiver sendo utilizado como instrumento de um crime
(dono determina ao cão bravo que morda a vítima), o agente poderá agir em legítima
defesa. Entretanto, a legítima defesa estará ocorrendo em face do dono (lesão ao seu
patrimônio, o cachorro), e não em face do animal.
Com relação às agressões praticadas por inimputável, a Doutrina se divide,
mas a maioria entende que nesse caso há legítima defesa, e não estado de
necessidade.
Na legítima defesa, diferentemente do que ocorre no estado de necessidade, o
agredido (que age em legítima defesa) não é obrigado a fugir do agressor, ainda que
possa. A lei permite que o agredido revide e se proteja, ainda que lhe seja possível.
A reação do agente, por sua vez, deve ser proporcional. Ou seja, os meios
utilizados por ele devem ser suficientes e necessários a repelir a agressão injusta.

Vejamos:
Sargento Paulo, em discussão de trânsito com outro motorista amis alto e mais
forte que Paulo e dadas as condições físicas dos dois e se sentindo ameaçado pois o
outro motorista ameaça de agredi-lo e de forma a repelir a injusta agressão, saca sua
pistola e o e desfere 05 tiros no peito do outro motorista, provocando sua morte.
Neste caso, Sargento Paulo não pode alegar legítima defesa, eis que sua reação
não foi proporcional, já que não utilizou moderadamente dos meios necessários.

A legítima defesa pode ser:

 Agressiva – Quando o agente pratica um fato previsto como infração penal.


Assim, se A agride B e este, em legítima defesa, agride A, está cometendo
lesões corporais (art. 129), mas não há crime, em razão da presença da causa
excludente da ilicitude. Outro exemplo: Policial que atira em um criminoso
armado que está na iminência de matar ou lesionar o policial ou terceiro.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

 Defensiva – O agente se limita a se defender, não atacando nenhum bem


jurídico do agressor.
 Própria – Quando o agente defende seu próprio bem jurídico.
 De terceiro – Quando defende bem jurídico pertencente a outra pessoa.
 Real – Quando a agressão a iminência dela acontece, de fato, no mundo real.
 Putativa – Quando a agressão é fruto da sua imaginação e falsamente a vítima
acredita que sofrerá um disparo de arma de fogo, como por exemplo pessoa
que falsamente pensa que está sendo assaltado por um criminoso usando uma
arma de fogo ,porém, trata-se de réplica de arma de fogo apontada para sua
cabeça e acreditando que sua vida está em risco desfere um golpe de faca no
agressor matando-o, na verdade, esta pessoa está protegido e não responderá
pelo crime pelo fenômeno da legítima defesa putativa.

A legítima defesa não é presumida. Aquele que a


alega deve provar sua ocorrência, pois, como estudamos, a
existência do fato típico tem o condão de fazer presumir a
ilicitude da conduta, cabendo ao acusado provar a
existência de uma das causas de exclusão da ilicitude.

Caso o agredido erre ao revidar a agressão e atinge pessoa que não tem
relação com a agressão (erro sobre a pessoa), continuará amparado pela excludente
de ilicitude, pois o crime se considera praticado contra a pessoa visada, não contra a
efetivamente atingida.

Temos também a legítima defesa com erro na


execução, muito comum nos dias atuais em que o policial
adentra em comunidades, ou mesmo nas ruas e ao se deparar
com marginais armados, efetua disparo para reprimir a injusta
agressão atual ou iminente, atinge pessoa que não era
criminosa, que estava na linha de fogo ou próximo aos
marginais.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

No caso de legítima defesa de terceiro, duas hipóteses


podem ocorrer:

 O bem do terceiro que está sendo lesado é disponível


(bens materiais, etc.) – Nesse caso, o terceiro deve concordar
com que o agente atue em seu favor.
 O bem do terceiro é indisponível (Vida, por exemplo) –
Nesse caso, o agente poderá repelir esta agressão ainda que o
terceiro não concorde com esta atitude, pois o bem agredido é
um bem de caráter indisponível.

Vocês devem ficar atentos a alguns pontos:

 Não cabe legítima defesa real em face de legítima defesa real, pois se o
primeiro age em legítima defesa real, sua agressão não é injusta, o que
impossibilita reação em legítima defesa.
 Cabe legítima defesa real em face de legítima defesa putativa. Assim, se A
pensa estar sendo ameaçado por B e o agride (legítima defesa putativa), B
poderá agir em legítima defesa real. Isto porque a atitude de A não é justa, logo,
é uma agressão injusta, de forma que B poderá se valer da legítima defesa (A
até pode não ser punido por sua conduta, mas isso se dará pela exclusão da
culpabilidade em razão da legítima defesa putativa).
 Sempre caberá legítima defesa em face de conduta que esteja acobertada
apenas por causa de exclusão da culpabilidade (pois nesse caso a agressão é
típica e ilícita, embora não culpável).
 NUNCA haverá possibilidade de legítima defesa real em face de qualquer
causa de exclusão da ilicitude real.

ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL

Sargento, você já ouviu alguém dizer que “o policial


agiu no estrito cumprimento do seu dever legal”?
Sabe por que isso ocorre? Vamos aprender?

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Nos termos do art. 23, III do CP:

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:

III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

Age acobertado por esta excludente aquele que pratica fato típico, mas o faz
em cumprimento a um dever previsto em lei. Assim, o Policial tem o dever legal de
manter a ordem pública. Se alguém comete crime, eventuais lesões corporais
praticadas pelo policial (quando da perseguição) não são consideradas ilícitas, pois
embora tenha sido provocada lesão corporal (prevista no art. 129 do CP), o policial
agiu no estrito cumprimento do seu dever legal.

CUIDADO! Quando o policial, numa troca de tiros, acaba por


ferir ou matar um suspeito, ele não age no estrito cumprimento do
dever legal, mas em legítima defesa. Isso porque o policial só pode
atirar contra alguém em Legítima defesa.

Estrito cumprimento do dever legal: consiste na existência de um dever


proveniente de lei que obriga o agente a determinada conduta Exemplo: policial
prende em flagrante delito.

EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO

O Código Penal prevê essa excludente da ilicitude também no art. 23, III:

62
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o


fato: (...)
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício
regular de direito.

O exercício regular de direito ocorre quando o agente age dentro dos limites
autorizadores pelo ordenamento jurídico.

EXEMPLO: lesão corporal decorrente de violência desportiva.

Dessa forma, quem age no legítimo exercício de um direito seu, não poderá
estar cometendo crime, pois a ordem jurídica deve ser harmônica, de forma que uma
conduta que é considerada um direito da pessoa, não pode ser considerada crime, por
questões lógicas. Trata-se de preservar a coerência do sistema, mas o direito deve
estar previsto em lei? Sim! A Doutrina majoritária entende que os direitos derivados
dos costumes locais não podem ser invocados como causas de exclusão da ilicitude.

EXEMPLO: A mãe descobre que o filho, de 12 anos, aprontou na escola e


resolve colocar o garoto de castigo, trancado no quarto por 08h. Neste caso, a mãe
não responde pelo crime de cárcere privado (art. 148 do CP), pois tem o direito de agir
assim, dever que decorre de seu poder familiar sobre a criança. Não há “estrito
cumprimento do dever legal”, pois a mãe não tinha o dever de fazer isso (poderia optar
por perdoar o filho, dar outro tipo de castigo, etc.).

CONSENTIMENTO DO OFENDIDO

O consentimento do ofendido não está expressamente previsto


no CP como causa de exclusão da ilicitude. Todavia, a Doutrina é
pacífica ao sustentar que o consentimento do ofendido pode, a
depender do caso, afastar a ilicitude da conduta, funcionando como
causa supralegal (não prevista na Lei) de exclusão da ilicitude).

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

EXEMPLO: José e Paulo combinam de fazer manobras arriscadas numa moto,


estando Paulo na garupa e José guiando a motocicleta. Neste caso, se José perder a
direção e causar lesões culposas em Paulo, não haverá crime, eis que o
consentimento de Paulo em relação à conduta arriscada de José afasta a ilicitude da
conduta.

A Doutrina elenca alguns requisitos para que o consentimento do


ofendido possa ser considerado causa supralegal de exclusão da ilicitude:

 O consentimento deve ser válido – O consentimento deve ser prestado por pessoa
capaz, mentalmente sã e livre de vícios (coação, fraude, etc.).
 O bem jurídico deve ser próprio e disponível – Assim, não há que se falar em
consentimento do ofendido quando o bem jurídico pertence a outra pessoa ou é
indisponível como, por exemplo, a vida.
 O consentimento deve ser prévio ou concomitante à conduta – O consentimento do
ofendido após a prática da conduta não afasta a ilicitude.

EXCESSO PUNÍVEL

O excesso punível é o exercício


irregular de uma causa excludente da
ilicitude, seja porque não há mais a
circunstância que permitia seu exercício
(cessou os motivos para agir no estrito
cumprimento do dever legal ou seja porque o meio utilizado não é proporcional. No
primeiro caso, temos o excesso extensivo, e no segundo, o excesso intensivo. Nesses
casos, a lei prevê que aquele que se exceder responderá pelos danos que causar, art.
23, § único do CP:

Art. 23 (...)

Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo,


responderá pelo excesso doloso ou culposo.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Aplica-se a qualquer das causas excludentes da ilicitude. Assim, o policial que,


após prender o ladrão, começa a desferir socos em seu rosto, não estará agindo
amparado pelo estrito cumprimento do dever legal, pois está se excedendo.

IMPUTABILIDADE

Chama-se imputabilidade a capacidade de o


agente entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se, de acordo com esse entendimento.
Consequentemente, denomina-se inimputabilidade a
incapacidade de o agente entender o caráter ilícito
do fato ou de determinar-se, de acordo com esse
entendimento, seja em virtude de doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto (menoridade
penal) ou retardado, seja em virtude de embriaguez
completa proveniente de caso fortuito ou força maior, conforme estabelecem os arts.
26, 27 e 28 do CP.

CONCURSO DE PESSOAS

Normalmente, o crime é praticado por uma única pessoa. Contudo, pode ser
praticado por duas ou mais. Assim sendo, o CP utiliza o termo concurso de pessoas,
adotando a teoria unitária ou monista, segundo a qual, no concurso, existe um só
crime, em que todos os participantes respondem por ele.
Entende-se por concurso de pessoas a reunião de vários agentes concorrendo
de forma relevante para realização do mesmo evento criminoso agindo todos com
identidade de propósitos. A Cooperação pode ocorrer em fases diversas desde o
planejamento até a consumação do delito e em intensidade variável, razão pela qual é
valorada de acordo com a contribuição de cada um dos agentes para o sucesso da
ação criminosa.
O art. 29 do CP estatui: “Quem, de qualquer modo, concorre para o crime,
incide nas penas a este cominadas na medida de sua culpabilidade”. Além disso, a lei
penal distingue coautoria de participação (§ 1º, art. 29, CP).

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Ocorre a coautoria quando várias pessoas realizam a conduta principal do tipo


penal, ou seja, há diversos executores.
Por sua vez, existe a participação
quando o sujeito concorre de qualquer modo
para a prática da conduta típica, não
realizando atos executórios do crime. O
sujeito, chamado partícipe, realiza atos
diversos daqueles praticados pelo autor, não
cometendo a conduta descrita pelo preceito primário da norma. Pratica, entretanto,
atividade - induz, instiga ou presta auxílio - que contribui para a realização do delito.
Autor, portanto, é quem executa o núcleo da conduta típica.

Exemplo: aquele que mata, rouba etc.

Já partícipe, é quem concorre de qualquer modo para a realização do crime,


praticando atos diversos dos do autor.

Exemplos: ele vigia a rua, enquanto o autor furta bens do interior da casa; ele
empresta a arma para o autor matar a vítima etc.

A participação pode ser, portanto, moral ou material.

Existe a participação moral quando o agente induz ou instiga o autor principal à


prática do crime. Ocorre a participação material quando o agente auxilia, de algum
modo, o autor principal na prática do crime.

REQUISITOS DO CONCURSO PESSOAS

a) Presença de dois ou mais agentes;


b) Nexo de causalidade material entre as condutas realizadas e o resultado
obtido;
c) Não há necessidade de ajuste prévio entre os agentes, mas deve haver
vontade de obtenção do resultado (vínculo de natureza psicológica). Ou seja,
mesmo que os agentes não se conheçam pode haver o concurso de pessoas
se existente a vontade de obtenção do mesmo resultado. Tal hipótese admite
ainda a autoria sucessiva. Exemplo: empregada deixa a porta da casa aberta,
permitindo que o ladrão subtraia os bens do imóvel. Enquanto isso, uma outra

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

pessoa, ao ver os fatos, resolve dele aderir retirando também as coisas da


casa;
d) Reconhecimento da prática do mesmo delito para todos os agentes;
e) Existência de atipicidade e antijuridicidade, já que se o fato não é punível
para um dos coautores, também não será para os demais.

CONCURSO DE CRIMES

Você sabia que o concurso de crimes ocorre quando o


agente, por meio de uma ou mais de uma conduta (ação ou
omissão), pratica dois ou mais crimes, estes podendo ser
idênticos ou não?

O concurso de crimes é subdividido em concurso material, concurso formal e


crime continuado, previstos, respectivamente, nos artigos 69, 70 e 71 do Código
Penal.

CONCURSO MATERIAL (ART. 69 DO CP)

Ocorre quando o agente, através de mais de uma conduta (ação ou omissão),


pratica dois ou mais crimes, ainda que idênticos ou não. Exemplo: Agente A armado
com um revólver, mata B e depois rouba C. Neste
exemplo, há duas condutas e dois crimes
diferentes (homicídio e roubo), a este resultado
com crimes diferentes atribui-se o termo
Concurso Material Heterogêneo, já para crimes
idênticos, o termo é Concurso Material
Homogêneo.
No Concurso Material, o agente deve ser punido pela soma das penas
privativas de liberdade. É imprescindível que o juiz, ao somar as penas, individualize
cada pena antes da soma. Exemplo: Três tentativas de homicídio em Concurso
Material. Neste caso, o magistrado deve, primeiramente, aplicar a pena para cada uma
das tentativas e, no final, efetuar a adição. Somar as penas antes da individualização
viola, claramente, o princípio da individualização da pena, fato que pode anular a
sentença.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

CONCURSO FORMAL (ART. 70 DO CP)

Ocorre quando o agente mediante uma conduta (ação ou omissão) pratica dois
ou mais crimes, ainda que idênticos ou não. Exemplo: Agente A, com a intenção de
tirar a vida da Agente B, grávida de 8 meses, desfere várias facadas em sua nuca, B e
o bebê morrem.
Aplica-se a pena mais grave, aumentada de 1/6 até 1/2, e somente uma das
penas, se iguais, aumentada de 1/6 até 1/2. Aplicam-se as penas, cumulativamente,
se a ação ou omissão for dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios
autônomos.

CRIME CONTINUADO (ART. 71 DO CP)

Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou


omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições
do tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os
subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a
pena de um só dos crimes, se idênticos, ou a mais grave, se diversas,
aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.

Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos


com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a
culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só
dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo,
observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código

O artigo 71 do Código Penal prevê que:

Entende-se que são delitos da mesma espécie os que estiverem


previstos no mesmo tipo penal, tanto faz que sejam figuras simples ou
qualificadas, dolosas ou culposas, tentadas ou consumadas.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

A figura do crime continuado do caput do artigo 71 do Código penal constitui um


favor legal ao agente que comete vários delitos. Cumpridas as condições do
mencionado dispositivo, os fatos serão considerados crime único por razões de
política criminal, sendo apenas agravada a pena de um deles, se idênticos, ou do mais
grave, se diversos, à fração de 1/6 a 2/3. O reconhecimento de tal modalidade exige
uma pluralidade de condutas sucessivas no tempo, que ocorrem de forma periódica e
se constituem em delitos da mesma espécie (ofende o mesmo bem jurídico tutelado
pela norma – não se exigindo a prática de crimes idênticos).

AÇÃO PENAL

Você sabia que a ação penal é a provocação do Poder


Judiciário pelo agente competente, com o intuito de levar
ao conhecimento da ocorrência de uma infração penal, para
que seja aplicado o direito penal objetivo?

O tema encontra-se compreendido nos arts. 24 a 62 do Código de Processo


Penal e arts. 100 a 106 do Código Penal.

Conceito: é o direito de pedir a tutela jurisdicional


representada pela aplicação da lei penal ao caso concreto. Ela pode
ser pública, quando o próprio Estado, representado pelo Ministério
Público deflagra a ação ou privada, quando a vítima do delito é quem
representa junto ao Estado-Juiz para que haja a persecução penal.

Ensinam Alexandre Cebrian A. Reis e Victor Eduardo R. Gonçalves, que AÇÃO


PENAL é o procedimento judicial iniciado pelo titular da ação quando há indícios
de autoria e materialidade, a fim de que o juiz declare procedente a pretensão
punitiva estatal e condene o autor da infração penal.

69
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Durante o transcorrer da ação penal será assegurado ao acusado pleno direito


de defesa, além de outras garantias como a estrita observância do procedimento
previsto em lei, de só ser julgado pelo juiz competente, de ter assegurado o
contraditório e o duplo grau de jurisdição etc.

Finalidade

Através da ação penal o Estado exercita o direito de punir em face do agente


da infração penal.
O Estado, detentor do direito de punir (jus puniendi), concede o direito
exclusivo da iniciativa da ação penal ao Ministério Público (129, I, da CF e art. 24
do CPP) ou à vítima (art. 30 do CPP), dependendo do tipo de delito cometido.
Desta forma, para cada crime previsto na lei, o legislador estabeleceu,
previamente, uma espécie de ação penal, ou seja, de iniciativa pública ou de
iniciativa privada.

Fundamento Legal

A Ação Penal tem previsão legal no Código Penal/CP, art. 100, Código de
Processo Penal/CPP, arts. 24 a 62 e na Constituição Federal- CF, art. 5.°,XXXV e LIX.

Classificação

A ação penal pode ser pública ou privada, conforme a


iniciativa.

Pública Promovida pelo MP (denúncia).

Privada Iniciada pelo ofendido (queixa).

70
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

A ação penal pública divide-se em incondicionada = a


atuação do Ministério Público não está sujeita a nenhum tipo de
condição, e condicionada = o MP só pode agir se houver
representação da vítima (exemplos arts. 130, § 2º, 147,
parágrafo único, etc., do CP) ou requisição do Ministro da
Justiça (exemplo: art. 141, I, do CP - confira art. 145, parágrafo
único do mesmo diploma legal).

Na ação penal pública condicionada a titularidade é do Ministério Público que,


todavia, só pode oferecer a denúncia se estiver no caso concreto à representação da
vítima ou a requisição do Ministro da Justiça que constituem, assim, condições de
procedibilidade.

Na ação penal pública condicionada, o ofendido (ou seus sucessores = CPP,


art. 24, § 1.°), tem o prazo de seis meses, a contar da data em que souber quem é o
autor do crime - art. 38, CPP -, para oferecer representação. Se não agir nesse
período, ocorrerá a decadência = perda do direito de ação - e, consequentemente,
provocará a extinção da punibilidade do autor do delito = CP, art. 107, IV-.
Por ser regra no processo penal, no silêncio da lei, a ação será pública
incondicionada.

Importante salientar que, nos crimes em que se procede mediante ação penal
pública, havendo indícios de autoria e materialidade colhidos, durante as
investigações, o oferecimento da DENÚNCIA - pelo MP - pelo Princípio da
obrigatoriedade é obrigatório.

Ação Penal Privada é aquela em que a iniciativa da propositura da ação é


conferida à vítima. É certo que a peça inicial da ação se chama QUEIXA.
Confira art. 145 1ª parte do CP “Nos crimes previstos neste Capítulo somente
se procede mediante queixa, [...]”.

A ação penal privada divide-se em:

 EXCLUSIVA = A iniciativa da ação penal é da vítima.

71
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Se a vítima for criança, adolescente ou incapaz, a ação poderá ser proposta


pelo representante legal.

Na hipótese de morte da vítima, a ação poderá ser proposta por seus


sucessores (cônjuge, companheiro, ascendente, descendente ou irmão - art. 31 do
CPP). Se a vítima morrer quando a ação já estiver em andamento, estes (sucessores)
poderão prosseguir com a ação.

A ação privada deve ser intentada no prazo de seis meses, a contar da data em
que o ofendido souber quem é o autor da infração penal - art. 38, CPP. Se nada for
feito, ocorrerá a decadência=perda do direito de ação e extinção da punibilidade do
autor do crime.

 PERSONALÍSSIMA = A ação só pode ser proposta pela vítima.

No caso de morte da vítima a ação NÃO PODERÁ ser proposta pelos


sucessores. Se já tiver sido proposta ação, esta será extinta na data do falecimento da
vítima. (Confira art. 236, parágrafo único do CP).

 SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA = Nos casos em que a ação penal seja de iniciativa


pública e o Estado, através do Ministério Público, não intenta a ação penal no prazo
legal (cinco dias, em caso de indiciado preso e quinze dias, se estiver solto ou
afiançado, conforme art. 46, CPP), o ofendido ou seu representante legal poderão
SUBSIDIARIAMENTE, ajuizá-la. (Confira art. 5º, LIX, da CF; art. 29, do CPP e art. 100,
§ 3º, do CP).

A existência da ação penal privada subsidiária da pública


constitui garantia constitucional do ofendido contra possível desídia
ou arbitrariedade do Estado (representado pelo MP).

Esta deve ser ajuizada no prazo máximo de seis meses (art. 38,
parte final, CPP); se não o fizer, cabe apenas ao MP promovê-la,
desde que a punibilidade não esteja extinta pelo decurso do prazo
prescricional (art. 109 do CP).

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

DOS CRIMES CONTRA A VIDA

Sargento, você saberia dizer quais são os crimes contra a vida?


Vamos aprender?

Conceito

O Título I da Parte Especial do Código Penal cuida somente dos crimes contra
a pessoa e está dividido em seis capítulos: “Dos crimes contra a vida”; “Das lesões
corporais”; “Da periclitação da vida e da saúde”; “Da rixa”; “Dos crimes contra a honra;
e “Dos crimes contra a liberdade individual”.
É um dos mais relevantes objetos da tutela penal. Não a protege o Estado
apenas por obséquio ao indivíduo, mas, principalmente, por exigência de indeclinável
interesse público ou atinente a elementares condições da vida em sociedade. Pode-se
dizer que, à parte os que ofendem ou fazem periclitar os interesses específicos do
Estado, todos os crimes constituem, em última análise, lesão ou perigo de lesão contra
a pessoa.
Não é para atender a uma diferenciação essencial que os crimes
particularmente chamados contra a pessoa ocupam setor autônomo entre as espécies
de delito. A distinção classificadora justifica-se apenas porque tais crimes são os que
mais imediatamente afetam a pessoa. Os bens físicos ou morais que eles ofendem ou
ameaçam estão intimamente consubstanciados com a personalidade humana. Tais
são: a vida, a integridade corporal, a honra e a liberdade.

Dos Crimes Contra A Vida

O Código Penal tipifica os seguintes crimes contra a vida:

homicídio (art. 121);


induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (art. 122);
infanticídio (art. 123);
aborto (arts. 124 a 128).

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

HOMICÍDIO

Você saberia definir o conceito de homicídio?

Homicídio é a morte de um ser humano provocada por outro ser humano. É a


eliminação da vida de uma pessoa praticada por outra. O homicídio é o crime por
excelência. Todos os direitos partem do direito de viver,
pelo que, numa ordem lógica, o primeiro dos bens é o
bem vida. O homicídio tem a primazia entre os crimes
mais graves, pois é o atentado contra a fonte mesma
da ordem e segurança geral, sabendo-se que todos os
bens públicos e privados, todas as instituições se
fundam sobre o respeito à existência dos indivíduos que compõem o agregado social.

Conceitos

Objeto Jurídico

Objeto jurídico do crime é o bem jurídico, isto é, o interesse protegido pela


norma penal. A disposição dos títulos e capítulos da Parte Especial do Código Penal
obedece a um critério que leva em consideração o objeto jurídico do crime,
colocando-se em primeiro lugar os bens jurídicos mais importantes: vida, integridade
corporal, honra, patrimônio etc. Desse modo, a Parte Especial do Código Penal é
inaugurada com o delito de homicídio, que tem por objeto jurídico a vida humana
extrauterina, ou seja o objeto jurídico é o direito à vida, sendo certo que o ataque à
vida intrauterina é incriminado pelos tipos de aborto (arts. 124 a 126).

Objeto Material

Genericamente, objeto material de um crime é a pessoa ou coisa sobre as


quais recai a conduta. É o objeto da ação, interesse protegido pela lei penal. Assim, o
objeto material do homicídio é a pessoa sobre quem recai a ação ou omissão.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Crime Material

O delito de homicídio classifica-se como crime material, que é aquele que se


consuma com a produção do resultado naturalístico. O tipo descreve conduta e
resultado (naturalístico), sendo certo que o resultado morte da vítima há de se vincular
pelo nexo causal à conduta do agente.

Sujeito Ativo

Sujeito ativo da conduta típica é qualquer ser humano que pratica a figura típica
descrita na lei, isolada ou conjuntamente com outros autores. O conceito abrange não
só aquele que pratica o núcleo da figura típica (quem mata), como também o partícipe,
que é aquele que, sem praticar o verbo (núcleo) do tipo, concorre de algum modo para
a produção do resultado. Trata-se de crime comum, que pode ser cometido por
qualquer pessoa.

Sujeito Passivo

É o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado. Pode ser direto ou imediato,


quando for a pessoa que sofre diretamente a agressão (sujeito passivo material), ou
indireto ou mediato, pois o Estado (sujeito passivo formal) é sempre atingido em seus
interesses, qualquer que seja a infração praticada, visto que a ordem pública e a paz
social são violadas. No caso do delito de homicídio, o sujeito passivo é qualquer
pessoa com vida, não exigindo nenhum requisito especial.

Nesse contexto, vale o registro de algumas terminologias relacionadas ao


sujeito passivo no delito de homicídio, quais sejam, feticídio (supressão da vida do
feto); parricídio (filho que mata o pai); fratricídio (irmão que mata irmão); uxoricídio
(morte da mulher pelo cônjuge); femicídio (morte da mulher, independentemente do
motivo e das circunstâncias); feminicídio (homicídio praticado contra a mulher em
razão de sua condição do sexo feminino).

Homicídio Simples

Art. 121. Matar alguem: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. Caso de diminuição
de pena.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou


moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

Homicídio Qualificado

§ 2° Se o homicídio é cometido:
I Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II Por motivo fútil;
III Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que
dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
V Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro
crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Feminicídio

I Contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:


II Contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança
Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão
dessa condição:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

§ 2o- A Considerasse que há razões de condição de sexo


feminino quando o crime envolve:
I Violência doméstica e familiar;
II Menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

Homicídio Culposo

§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos. Aumento de pena

76
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta


de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de
prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou
foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada
de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou
maior de 60 (sessenta) anos.
§ 5º Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as
consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a
sanção penal se torne desnecessária.
§ 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por
milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de
extermínio.
§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for
praticado:
I durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;
II contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com
deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição
limitante ou de vulnerabilidade física ou mental;
III na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima;
IV em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos
I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.

Formas de Homicídios

O Código Penal distingue várias


modalidades de homicídio: homicídio simples
(art. 121, caput), homicídio privilegiado (§ 1º),
homicídio qualificado (§ 2º) e homicídio culposo
(§ 3º), Homicídio simples doloso (caput):
Constitui o tipo básico fundamental, é o que
contém os componentes essenciais do crime.
Homicídio privilegiado (§ 1º): Tendo em conta circunstâncias de caráter
subjetivo, o legislador cuidou de dar tratamento diverso ao homicídio cujos motivos
determinantes conduziriam a uma menor reprovação moral do agente. Para tanto,
inseriu essa causa de diminuição de pena, que possui fator de redução estabelecido em
quantidade variável (1/6 a 1/3).

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Homicídio qualificado (§ 2º): Em face de certas circunstâncias agravantes


que demonstram maior grau de criminalidade da conduta do agente, o legislador criou
o tipo qualificado, que nada mais é que um tipo derivado do homicídio simples, com
novos limites, mínimo e máximo, de pena (reclusão, de 12 a 30 anos).
Homicídio culposo (§ 3º): Constitui a modalidade culposa do delito de
homicídio. Diz-se o crime culposo quando o agente deu causa ao resultado por
imprudência, negligência ou imperícia (CP, art. 18, II).
Causa de aumento de pena (§§ 4º, 6º e 7º): O § 4º contém causas de aumento
de pena aplicáveis respectivamente às modalidades culposa e dolosa do delito de
homicídio; o § 6º contém causa de aumento de pena para as situações em que o
homicídio é praticado em atividade típica de grupo de extermínio; o § 7º contém as
causas de aumento para o feminicídio, que é o homicídio qualificado praticado contra
a mulher por razões da condição de sexo feminino (art. 121, § 2º, V, CP).
Homicídio simples (art. 121, caput): É a figura prevista no caput do art. 121
do Código Penal, caracterizada pelo simples ato de matar alguém, com a intenção de
produzir a morte ou assumindo o risco de fazê-lo. Conforme já dissemos acima, o
homicídio simples constitui o tipo básico fundamental. Ele contém os componentes
essenciais do crime. O alcance deste tipo penal é determinado por exclusão, ou seja,
constituí homicídio simples aquele que não é privilegiado (art. 121, §1º) ou qualificado
(art. 121, § 2º).

COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR

Por força do artigo 483 do CPP é do Tribunal


do Júri: “Os quesitos serão formulados na seguinte
ordem, indagando sobre: I – a materialidade do fato;
II – a autoria ou participação; III – se o acusado deve
ser absolvido; IV – se existe causa de diminuição
alegada pela defesa; V – se existe circunstância
qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em
decisões posteriores que julgaram admissível a acusação”. O homicídio praticado em
atividade típica de grupo de extermínio é causa de aumento de pena do tipo penal do
homicídio (CP, art. 121, § 6º). Por isso deve ser indagado ao Conselho de Sentença
se o homicídio foi ou não praticado nesses moldes. Com efeito, o cometimento do
crime em atividade típica de grupo de extermínio sujeita o autor a novos limites de
pena

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Infanticídio

O infanticídio está previsto no artigo 123 do Código Penal, e é a eliminação da


vida do próprio filho, recém-nascido (acabou de nascer) ou nascente (está nascendo),
praticada pela mãe, durante o parto ou logo após, mas sob influência do estado
puerperal.

Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o
parto ou logo após:

Pena - detenção, de dois a seis anos.

O referido artigo protege a vida extrauterina. Protege tanto a vida do recém-


nascido (neonato) quanto do que está nascendo (nascente). O sujeito ativo é a genitora
do neonato ou nascente. Trata-se de crime próprio (especial), porque exige especial
atributo do sujeito ativo: ser mãe da pequena vítima sob a influência do estado
puerperal.

Bem jurídico, vida humana, Sujeito ativo, somente a mãe, Sujeito passivo, o
ser humano nascente ou recém-nascido, Tipo objetivo: matar, sob influência do
estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após.

Estado puerperal: Puerpério é o período que vai


do deslocamento e da expulsão da placenta até a volta do
organismo materno às condições pré-gravídicas. Sua
duração é variável. A mulher, mentalmente sadia, mas
abalada pela dor física do fenômeno obstétrico, fatigada,
enervada, sacudida pela emoção, vem a sofrer um
colapso do senso moral, uma liberação de impulsos
maldosos, chegando a matar o próprio filho.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Aborto

Você sabia que o aborto é a interrupção da


gravidez fisiológica, com a consequente morte do ovo,
embrião ou feto, com ou sem a expulsão do concepto?

Tipo penal (art. 124): provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem
lhe provoque. Pena: detenção, de um a três anos.

• Vida humana intrauterina.


Bem jurídico:

• A própria gestante, nas demais modalidades, qualquer


Sujeito ativo pessoa.

• O ser humano em formação. No aborto não consentido e no aborto


qualificado pelo resultado, a gestante também poderá figurar como vítima do
Sujeito
delito
passivo

• Provocar aborto - morte do nascituro no útero materno ou fora deste pelas


Tipo objetivo
manobras abortivas ou pelo estágio de sua evolução.

LESÃO CORPORAL

Conceito

É resultado de atentado bem-sucedido à integridade


corporal ou a saúde do ser humano, excluído o próprio autor
da lesão. O crime pode ser praticado por ação ou omissão.
Debilitação da saúde como todo ou do funcionamento de
algum órgão ou sistema do corpo humano, inclusive se o
resultado for o agravamento de circunstância previamente existente. Também pode
ser qualquer alteração anatômica que não tenha expressa autorização da pessoa que

80
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

vai sofrer a alteração, que vão desde tatuagens a amputações, passando por todas as
alterações físicas provocadas pela ação ou omissão maliciosa de outrem, que pode ter
utilizado meios diretos ou indiretos para gerar o dano.
Para caracterizar a lesão corporal é necessário que esteja configurada a
alteração física, mesmo que apenas temporária, sendo que sensações como
desconforto ou dor física não são consideradas como formas de lesão corporal.

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a


saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses
a um ano.
Lesão corporal de natureza grave

§ 1º Se resulta:

I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais


de trinta dias;

II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro,
sentido ou função; IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.

Em que pese o código penal brasileiro não mencionar lesão de natureza


gravíssima nem leve, tradicionalmente no Direito usa-se como lesões corporais
gravíssimas aquelas que tem maior potencial lesivo e que, portanto, implicam
penalidades mais severas.

Lesão corporal de natureza gravíssima

§ 2° Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incurável;
III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função; IV - deformidade permanente;
V - aborto:

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Pena - reclusão, de dois a oito anos. Lesão corporal seguida de morte.


§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o
resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

• Incolumidade física e psíquica do ser


Bem humano.
jurídico

• Qualquer pessoa.
Sujeito
ativo

• Qualquer ser humano vivo, a partir do início do


Sujeito parto.
passivo

• Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem. Lesão corporal é


a alteração prejudicial - anatômica ou funcional, física ou psíquica,
local ou generalizada - produzida, por qualquer meio, no organismo
Tipo alheio.
objetivo

Lesão corporal seguida de morte: se dá ofensa à integridade corporal ou à


saúde resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado,
nem assumiu o risco de produzi-lo. É um misto de dolo (antecedente) e culpa
(consequente).
Lesão corporal culposa: a produção do resultado material externo (ofensa à
integridade corporal ou à saúde de outrem), não querido pelo agente, decorre da
inobservância de dever objetivo de cuidado.
Violência doméstica: se a lesão for praticada contra ascendente,
descendente, irmão, cônjuge ou companheiro ou com quem conviva ou tenha
convivido o agressor ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de
coabitação ou de hospitalidade.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Lesão Corporal contra Agentes de Segurança Pública e seus Familiares: A


Lei nº 13.142/2015, alterou o código penal para incluir como causa de aumento de
pena de 1/3 a 2/3 a lesão corporal praticada contra “autoridade ou agente descrito nos
art. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou
contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão
dessa condição”.

DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE

Crime de Perigo

Com a rubrica “Da periclitação da vida e da saúde” o Código Penal contempla


diversos crimes de perigo, quais sejam: perigo de contágio venéreo (art. 130), perigo
de contágio de moléstia grave (art. 131), perigo para a vida ou saúde de outrem (art.
132), abandono de incapaz (art. 133), exposição ou
abandono de recém-nascido (art. 134), omissão de
socorro (art.135), condicionamento de atendimento
médico-hospitalar emergencial (art.135-A), maus-tratos
(art. 136). Encontram-se sistematizados neste capítulo
por diferenciarem-se dos demais crimes quanto ao
elemento subjetivo e objetivo.

Perigo de Contágio Venéreo

Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a
contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
Pena de reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 2º - Somente se procede mediante representação

83
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Sob a epígrafe “Perigo de contágio venéreo” o Código Penal disciplina o


primeiro crime de perigo individual. Busca o legislador, por intermédio dessa
criminalização, evitar e sancionar o contágio e a consequente propagação de doenças
venéreas sexualmente transmissíveis, pois colocam em risco a saúde do indivíduo e de
todo o meio social. Segundo a Exposição de Motivos do Código Penal, “a doença
venérea é uma lesão corporal e de consequências gravíssimas.

Perigo de Contágio de Moléstia Grave

Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de


que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio.

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Objeto Jurídico

Tutela o Código Penal, através do crime “perigo de contágio de moléstia


grave”, a saúde e a incolumidade física das pessoas.
A ação nuclear do tipo é praticar ato capaz de produzir o contágio de moléstia
grave. Ao contrário do art. 130, o tipo penal não exige a prática de relações sexuais ou
atos libidinosos como meios de transmitir a moléstia.
Trata-se, aqui, de crime de ação livre. A contaminação pode dar-se por
diversos meios: beijo, instrumentos, injeções, nada impedindo, contudo, que a
transmissão também se dê mediante relações sexuais ou atos libidinosos, desde que
a moléstia não seja venérea.
Pode caracterizar a conduta não só o emprego de meios diretos, como o
contato físico, mas também indiretos, como o uso de utensílios pessoais previamente
infectados. A contaminação de moléstia venérea grave e realizada por outro meio que
não o ato sexual configura o delito em tela.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Abandono de Incapaz

Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância
ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos
resultantes do abandono:
Pena - detenção, de seis meses a três anos.

§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de


um a cinco anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Aumento de pena.

§ 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço:


I se o abandono ocorre em lugar ermo;
II se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da
vítima.
III se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos (Incluído pela Lei nº 10.741, de
2003)

Exposição ou abandono de recém-nascido:

Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria: Pena -
detenção, de seis meses a dois anos.

§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - detenção, de um a


três anos.

§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - detenção, de dois a seis anos.

O crime de abandono de incapaz e o crime de exposição ou abandono de


recém-nascido (CP, art. 134) foram previstos em tipos autônomos. Segundo a
doutrina, o art. 133 prevê o tipo básico, fundamental, ao passo que o art. 134, uma
figura privilegiada, em decorrência da previsão do “motivo de honra”. O crime de
abandono de incapaz é um crime de perigo concreto em decorrência do próprio verbo
empregado na figura criminosa, qual seja, abandonar, o que exige um risco efetivo,
real.
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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Objeto Jurídico

É o interesse relativo a segurança do indivíduo, que, por si, não se pode


defender ou proteger, preservando sua incolumidade física”.

Elementos do Tipo

Abandonar significa deixar a vítima sem assistência, ao desamparo. O Crime


pode realizar-se mediante uma conduta comissiva, por exemplo, conduzir um incapaz
até uma floresta, abandonando-o; como também por uma conduta omissiva, por
exemplo, babá que abandona o emprego, deixando as crianças, que estavam sob a
sua assistência, à própria sorte. Não basta para a configuração do crime o simples
abandono do incapaz; o abandono deve criar uma situação de perigo concreto para a
vítima, incumbindo ao juiz analisar em cada caso a efetiva situação de perigo.

 Sujeito Ativo
Esse crime somente pode ser cometido por aquele que tenha o indivíduo sob o seu
cuidado, guarda, vigilância ou autoridade. O crime é próprio, exigindo a descrição
típica que exiba o agente especial vinculação com o sujeito passivo, vinculação esta
inserida no dever de assistência que o primeiro tem em relação ao segundo. O dever
de assistência pode decorrer de lei, de um contrato, ou de um fato (lícito ou mesmo
ilícito). Exemplo: O enfermeiro que cuida de pessoa portadora de doença grave.
Guarda é a assistência duradoura.
Ex.: menores sob a guarda dos pais. Vigilância é a assistência
acauteladora.

 Sujeito Passivo
Qualquer pessoa que se encontre sob o cuidado, guarda, vigilância ou
autoridade do sujeito ativo e por qualquer motivo seja incapaz de defender-se dos
riscos advindos do abandono. A incapacidade não é a civil, podendo ser corporal
ou mental, durável ou temporária. Pode também ser absoluta (inerente à condição da
vítima, uma criança, um ancião, um alucinado, um cego) ou relativa (decorrente do
lugar, do tempo, das circunstâncias do abandono da vítima, deixada à própria sorte
enquanto embriagada, enferma, amarrada).

86
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

DOS CRIMES CONTRA A HONRA

Calúnia

Tipo penal (art. 138): Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido
como crime. Pena: reclusão, de seis meses a dois anos, e multa.
Na calúnia irrogada contra os mortos, são sujeitos passivos seus cônjuges,
ascendentes, descendentes ou irmãos.
A falsidade exigida pode referir-se tanto ao próprio fato como à sua autoria. O
fato imputado deve ser definido como crime e ser determinado. Na mesma pena
incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala, propaga, espalha ou divulga - a
torna pública ou notória (art. 138, § 1°, CP).
Admitem-se vários meios de execução (palavras, escritos, desenhos, gestos
etc.). É prescindível que a imputação ocorra na presença do ofendido. É punível a
calúnia contra os mortos (art. 138, § 2°, CP).

Difamação

Tipo penal (art. 139): difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação.
Pena: detenção, de três meses a um ano, e multa.
a) A ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu
procurador;
b) A opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando
inequívoca a intenção de difamar;
c) O conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou
informação que preste no cumprimento de dever do ofício. Na primeira e
terceira hipótese, responde pela difamação quem lhe dá publicidade (art. 142,
parágrafo único, CP).

Retratação: o querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da


difamação, fica isento de pena (art. 143, CP). A retratação - completa e incondicional -
pode ser feita pelo próprio ofensor ou por seu procurador com poderes especiais até a
publicação da sentença, extinguindo a punibilidade (art. 107,VI, CP).
Pedido de explicações: se, de referências, alusões ou frases, se infere
difamação, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se
recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa (art.
144, CP).

87
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Injúria
Tipo penal (art. 140): injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro.
Pena: detenção, de um a seis meses, ou multa.

BEM A honra
JURÍDICO

SUJEITO Qualquer pessoa


ATIVO

SUJEITO Apenas as pessoas físicas, inclusive os inimputáveis, se podem


perceber o caráter ultrajante da palavra ou do gesto que lhe são
PASSIVO endereçados. Não é punível a injúria contra os mortos.

TIPO
Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro.
OBJETIVO Consiste na atribuição genérica de qualidades negativas ou de
fatos vagos e indeterminados. Prescinde da falsidade a
imputação feita. Admitem-se vários meios de execução
(palavras, gestos, escritos, canções, imagens, caricaturas etc.)

SUJEITO Presença desnecessária


PASSIVO

TIPO Dolo, direto ou eventual, e o propósito de ofender - elemento


subjetivo especial do tipo.
SUBJETIVO

Consumação e tentativa: consuma-se com o conhecimento da ofensa pela


vítima. A tentativa, neste caso, é admissível, em tese.
Perdão judicial: cabível o perdão judicial quando o ofendido, de forma
reprovável provocou, diretamente, a injúria ou no caso de retorsão imediata que
consista em outra injúria (art. 140, § 1°, CP).
Injúrias real e qualificada (discriminatória): a injúria real consiste em
violência ou vias de fato que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se
considerem aviltantes (art. 140, § 2°, CP). De outro lado, constata-se a injúria
discriminatória pela utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião,
origem ou à condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência (art. 140, § 3°, CP).

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Exclusão do crime: não constituem injúria, pela exclusão da tipicidade


(art.142, CP):

a) A ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu


procurador;
b) A opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando
inequívoca a intenção de injuriar;
c) O conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou
informação que preste no cumprimento de dever do ofício. Na primeira e
terceira hipótese, responde pela injúria quem lhe dá publicidade (art. 142,
parágrafo único, CP).

Retratação e pedido de explicações: a retratação é inadmissível em se


tratando de crime de injúria. Se de referências, alusões ou frases se infere injúria,
quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-
las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa (art. 144, CP).

Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação,


utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o
ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa (art. 143. Parágrafo
único).

DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL

Constrangimento Ilegal

Tipo penal (art. 146): constranger


alguém, mediante violência ou grave
ameaça ou depois de lhe haver reduzido,
por qualquer outro meio, a capacidade de
resistência, a não fazer o que a lei permite
ou a fazer o que ela não manda. Pena:
detenção, de três meses a um ano, ou
multa.

89
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

A coação ilegítima pode ser realizada, através de violência (física), grave


ameaça (violência moral) ou qualquer outro meio idôneo a diminuir a capacidade de
resistência da vítima (hipnose, ingestão de álcool, drogas etc.). Não há crime
(exclusão da ilicitude) na intervenção médica ou cirúrgica realizada sem o
consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente
perigo de vida ou na coação exercida para impedir suicídio (art. 146, § 3°, CP).

Ameaça

Tipo penal (art. 147): ameaçar


alguém - por palavra falada, texto escrito,
gesto ou qualquer outro meio simbólico - de
causar-lhe mal injusto e grave. Pena:
detenção, de um a seis meses, ou multa.

Maus Tratos

Tipo penal (art. 136): expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua
autoridade, guarda ou vigilância, para fins de educação, ensino, tratamento ou
custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-
a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou
disciplina. Pena: reclusão, de dois meses a um ano, ou multa.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave. Pena: detenção, de um a
quatro anos.
§ 2º - Se resulta a morte. Pena: reclusão, de quatro a doze anos.
§ 3º - Aumenta-se a pena em um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor.

Sequestro e Cárcere Privado

Tipo penal (art. 148): privar alguém de


sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere
privado. Pena: reclusão, de um a três anos.

90
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Bem • Liberdade
individual.
jurídico

Sujeito • Qualquer pessoa.

ativo
• Qualquer pessoa, mesmo que não disponha da possibilidade de
Sujeito locomover-se por si mesmo.

Passivo

Tipo • Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado.


Objetiv
o

Você certamente já ouviu falar em sequestro? Sabe o


que é? Vamos entender como este crime ocorre?

O sequestro é o gênero do qual o cárcere privado é espécie. Enquanto neste a


privação de liberdade é feita em qualquer recinto fechado, naquele a vítima é detida
em local aberto, do qual não é possível sair. Perfaz-se o delito, mesmo que a liberdade
de locomoção esteja limitada a determinado espaço. Desnecessário que a vítima
reste, absolutamente, impossibilitada de retirar-se do local em que se encontra,
bastando que não possa fazê-lo sem grave risco pessoal. Admitem-se vários meios de
execução, desde que idôneos à restrição da capacidade de locomoção da vítima.
O art. 149-A elenca o crime de Tráfico de Pessoas, crime grave que o Brasil
assumiu o compromisso de combater.

Tipo Penal (Art. 149.) Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar,
alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso,
com a finalidade. Pena: reclusão de 04 a 08 anos e multa.
Esse crime possui um especial fim de agir que está previsto nos incisos do caput,
vejamos:

91
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

I Remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo.


II Submetê-la a trabalho em condições análogas à de
escravo.
III Submetê-la a qualquer tipo de servidão.
IV Adoção ilegal, ou
V Exploração sexual.

Temos as causas de aumento de pena previstas no § 1º do art. 149-A, vejamos:


§ 1º A pena é aumentada de um terço até a metade se:
I o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a
pretexto de exercê-las;
II o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com
deficiência;
III o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação,
de hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou de
superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou função;
ou
IV a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional. E uma causa
de diminuição prevista no § 2º.

§ 2º A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não integrar


organização criminosa.

DOS CRIMES DE VIOLAÇÃO DE DOMICILIO

Violação De Domicílio

Tipo penal (art. 150): entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente ou


contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas
dependências. Pena: detenção, de um a três meses, ou multa.
§ 1º - Se o crime for cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o emprego
de violência ou de arma, ou por duas ou mais pessoas. Pena: reclusão, de seis meses
a dois anos, além da pena correspondente à violência.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Formas qualificadas: comina-se pena de detenção, de seis meses a dois anos -


além da pena correspondente à violência -, se o crime é cometido durante a noite, ou
em lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de arma, ou por duas ou mais
pessoas (art. 150, § 1°, CP).
Causa de aumento de pena: a pena aumenta-se de um terço, se o fato é
cometido por funcionário público, fora dos casos legais, ou com inobservância das
formalidades estabelecidas em lei, ou com abuso do poder (art. 150, § 2°, CP).
A expressão casa compreende qualquer compartimento habitado; aposento
ocupado de habitação coletiva ou compartimento não aberto ao público, onde alguém
exerce profissão ou atividade (art. 150, § 4°, CP). Não se compreendem na expressão
casa hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto abertas -
salvo o aposento ocupado -, e tampouco taverna, casa de jogos e outras locações do
mesmo gênero (art.150, § 5°, CP).
Dependências são locais incorporados funcionalmente à casa (pátios, jardins,
garagens, adegas etc.). O consentimento da vítima exclui a tipicidade da conduta.
É lícita a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas dependências (art. 150, §
3°, CP):
1) Durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão ou
outra diligência;
2) A qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali
praticado ou na iminência de o ser.

DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

Furto

Tipo penal (art. 155): subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia
móvel. Pena: reclusão, de um a quatro anos, e multa.

§ 1º A pena aumenta-se de um terço, se o


crime é praticado durante o repouso noturno.
§ 3º Equipara-se à coisa móvel a energia
elétrica ou qualquer outra que tenha valor
econômico.

93
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

BEM JURÍDICO É variável, segundo a indicação na doutrina: a) Só a propriedade.


b) Posse propriedade. c) Propriedade, posse e detenção.

SUJEITO ATIVO Qualquer pessoa, salvo o proprietário

SUJEITO PASSIVO O proprietário ou o possuidor ou, ainda, o detentor

TIPO OBJETIVO A conduta de subtrair (tirar, retirar de alguém) pode ser direta ou mesmo
indireta

TIPO SUBJETIVO Dolo (vontade livre a consciente de subtrair)

CONSUMAÇÃO E Consuma-se quando a coisa é retirada da esfera de disponibilidade da


TENTATIVA vítima e fica em poder tranquilo, mesmo que passageiro, do agente. A
tentativa é admissível

Furto qualificado (art. 155, § 4º): a pena do furto passa a ser de 2 a 8 anos de
reclusão, e multa, se o crime é praticado:

a) Mediante destruição ou rompimento de obstáculo (ativo ou passivo) à


subtração da coisa: abrange obstáculos ativos (alarmes, armadilhas etc.) e
passivos (trincos, portas, fechaduras, cofres, janelas etc.)
b) Furto privilegiado (art. 155, § 2º): sendo primário o criminoso (não são
precisos bons antecedentes) e de pequeno valor a coisa furtada (até um salário
mínimo), o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la
de um a dois terços ou aplicar somente multa.
Confiança: para incidir a qualificadora, a vítima deve depositar, por algum
motivo, especial confiança no agente (amizade, parentesco, relações profissionais etc),
o qual dela se aproveita de alguma forma.
Mediante fraude: emprego de artifício, meio enganoso usado pelo agente
capaz de reduzir a vigilância da vítima e permitir a subtração do bem (engodo, insídia
etc.).

a) Escalada, ou seja, utilização de via anormal para adentrar no local onde o furto
será realizado. Exige-se emprego de algum instrumento, como corda ou
escada, ou de esforço para adentrar no local.

b) Destreza: trata-se da habilidade física ou manual que permite ao agente


subtrair bens sem que a vítima perceba.

94
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

c) Chave falsa: seu emprego dá-se com a utilização de instrumento capaz de


abrir uma fechadura sem arrombá-la, como grampos, tesouras, michas, chaves
de fenda - englobando, inclusive, cópia da chave verdadeira obtida por meios
fortuitos ou criminosos.

d) Mediante concurso de duas ou mais pessoas: não é preciso que todos os


agentes estejam no local da subtração.

Art. 155. § 5º: A pena é de reclusão de 3 a 8 anos, se a subtração for de veículo


automotor que venha a ser transportado para outro estado ou para o exterior.
Art. 155. § 6º: A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de
semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no
local da subtração. (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)

Furto de Coisa Comum

Tipo penal (art. 156): subtrair o condômino, coerdeiro ou sócio, para si ou para
outrem, coisa comum a quem legitimamente a detém. Pena: detenção, de 6 meses a 2
anos, ou multa.

Roubo

O roubo é a subtração de bem alheio mediante emprego de violência, grave


ameaça à pessoa ou ao meio que diminua a condição de defesa do ofendido.

Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça
ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à
impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de quatro a
dez anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída
a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a
fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da
coisa para si ou para terceiro.
§ 2º - A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:
(Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018).

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

I se há o concurso de duas ou mais pessoas;


II se a vítima está em serviço de transporte de
valores e o agente conhece tal
circunstância;
III se a subtração for de veículo automotor que
venha a ser transportado para outro Estado
ou para o exterior; (Incluído pela Lei nº
9.426, de 1996);
IV se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.
(Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996);
V se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta
ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. (Incluído
pela Lei nº 13.654, de 2018);
VI se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca;
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).

§ 2º A - A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): (Incluído pela Lei nº 13.654, de


2018).

I se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;


(Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018).
II se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de
explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.(Incluído pela Lei nº
13.654, de 2018).

§ 2º- B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de


uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).
§ 3º Se da violência resulta:(Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018).

I lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e


multa; (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018).
II morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa. (Incluído
pela Lei nº 13.654, de 2018).

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Roubo Próprio

Tipo penal (art. 157, caput): subtrair coisa alheia móvel, para si ou para outrem,
mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer
meio, reduzido à impossibilidade de resistência.

Consumação e tentativa: há duas correntes:

a) Consuma-se no exato instante em que o agente se apodera do bem.


(Bitencourt, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Vol. 3. São Paulo:
Saraiva, 2009, pág. 88)
b) O objeto subtraído deve sair da esfera de disponibilidade e vigilância da vítima.

Porém a Jurisprudência pacificou o tema com a edição da Súmula nº 582 do


STJ, consumando o roubo, no exato momento em que a posse do bem passa para o
criminoso.
Súmula 582: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem
mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em
seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo
prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada."

A tentativa é admissível.

Concurso de crimes:

a) O agente emprega grave ameaça ou violência


contra duas pessoas, mas subtrai objeto de só uma, ou
seja, há crime único;
b) O sujeito, no mesmo contexto fático, subtrai
bens de várias pessoas, comete tantos crimes quantos
forem os patrimônios lesados, em concurso formal;
c) O sujeito se utiliza de violência ou grave
ameaça contra uma pessoa, mas leva bens de outras, os
quais estavam em seu poder, respondendo por vários roubos, caso tivesse
conhecimento da diversidade de proprietários.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Roubo Impróprio

Conceito (art. 157, § 1º, do CP): quando o agente, "logo depois de subtraída a
coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a
impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro."

Características:

a) A violência ou grave ameaça é empregada depois da subtração do bem, mas


antes da consumação do furto;
b) O intuito é o de garantir a detenção da coisa ou a impunidade pelo crime.

Consumação e tentativa: consuma-se no momento em que é praticada a violência ou


grave ameaça.

Tentativa: há duas correntes:

a) inadmissível (Damásio).
b) admite-se a tentativa (Mirabete).

Majorado ou agravado: roubo com causa de aumento de pena (art. 157, § 2º).

Natureza jurídica: trata-se de causas de aumento de pena e não de qualificadoras:

Se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma: abrange tanto a arma


própria (aparato com destinação específica de matar ou ferir) quanto a imprópria
(instrumento que tem finalidade diversa, mas pode ser utilizado para matar ou
lesionar);

A Lei 13.964/2019 passou a prever mais uma majorante, que incide no caso de
emprego de arma branca.

c) Se há concurso de duas ou mais pessoas: não se exige a presença de todos


no local do crime;

98
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Roubo Qualificado

Roubo qualificado por lesão


corporal grave (art. 157, § 3º, 1ª
parte): a incidência desta
qualificadora importa na imposição
da pena de reclusão de 7 a 15 anos e
multa.
Latrocínio (art. 157, § 3º, parte final):
o roubo seguido de morte (ou
latrocínio) encontra- se na lista do art. 1º, II, da Lei n. 8.072/90, ou seja, trata-se de
crime hediondo.

Extorsão

Você sabe o que é extorsão? Vamos aprender?

Tipo penal (art. 158): constranger


alguém, mediante violência ou grave
ameaça, e com o intuito de obter para si ou
para outrem indevida vantagem econômica,
a fazer, tolerar que se faça ou deixar de
fazer alguma coisa.

Observações:

a) Constranger significa forçar, compelir, coagir mediante violência ou grave


ameaça.
b) Utiliza meios executórios idênticos aos do roubo, exceto pela violência
imprópria.
c) Pressupõe intenção de obter indevida vantagem econômica.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Extorsão Mediante Sequestro

• o patrimônio e, secundariamente, a liberdade de locomoção,


Bem jurídico a integridade física e a vida.

• qualquer pessoa, englobando tanto a vítima do sequestro


Sujeito como a da extorsão.
Passivo

• a extorsão mediante sequestro, em qualquer de suas formas,


Crime simples ou qualificada, é crime hediondo.
Hediondo

• ocorre com a restrição da liberdade por tempo juridicamente


Consumação relevante (crime formal). A tentativa é admissível.
e tentativa:

Tipo penal (art. 159): sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para
outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate. Pena: reclusão, de 8
a 15 anos.

Observações:

a) Sequestrar: privar a liberdade por tempo juridicamente relevante.

b) Objeto material: a pessoa.

Pressupõe obtenção de vantagem indevida como condição ou preço do resgate


(elemento subjetivo específico).

Qualificadora (§ 12): eleva os limites abstratos do tipo fundamental para reclusão de


12 a 20 anos, nas seguintes hipóteses:

a) Se o sequestro dura mais do que 24 horas (art. 159, § 1º, 1ª figura).

b) Se o sequestrado é menor de 18 ou maior de 60 anos (art. 159, § 1º, 2ª figura).

100
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

c) Se o crime é cometido por quadrilha ou bando (art. 159, § 1º, 3ª figura). A


aplicação dessa qualificadora impede o reconhecimento do crime autônomo de
quadrilha ou bando (art. 288, CP), pena de caracterização de bis in idem (duplo
agravamento pelo mesmo fato).

Qualificadoras (§§ 2º e 3º): a pena passa a ser de reclusão de 16 a 24 anos, se do


fato resulta lesão corporal de natureza grave, e de reclusão de 24 a 30 anos, se
resulta morte.
Delação premiada e eficaz (§ 4º): se o crime é cometido em concurso, o concorrente
que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena
reduzida de um a dois terços. Não fica excluída a aplicação dos institutos da Lei nº
9.807/99 aos réus colaboradores na extorsão mediante sequestro, inclusive no tocante
ao perdão judicial, conforme artigo 13, da referida lei.

Apropriação Indébita

Tipo penal (art. 168, do CP): apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a
posse ou a detenção.

• a propriedade e posse de coisas móveis


Bem jurídico

• exige inversão do ânimo da posse.


Consumação e

Tentativa

Observações:
Para a configuração do crime são exigidos os seguintes requisitos:

1) Posse ou detenção lícitas e desvigiadas.


2) Boa-fé ao ingressar na posse ou detenção do bem.
3) Inversão do ânimo da posse.
A tentativa é admissível (em se tratando de negativa de restituição, não há como
caracterizar a tentativa).

101
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Apropriação de Coisa Achada

Tipo penal (art. 169, parágrafo único, lI, do CP): achar coisa alheia perdida e
dela se apropriar, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo
possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro do prazo de quinze dias.

Estelionato

Você certamente já ouviu falar em estelionato? Sabe como


funciona esse crime? Que tal aprender?

Tipo penal (art. 171, do CP): obter, para si ou para outrem, vantagem indevida,
em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou
qualquer meio fraudulento.

Observações:

a) Requisitos fundamentais: a vítima ser induzida ou mantida em erro e o agente


se utilizar, como meio executório, de fraude, por meio de algum artifício
(emprego de algum aparato material ou disfarce), ardil (conversa enganosa) ou
outro meio fraudulento (o silêncio, a mentira etc.);
b) Exige-se meio de execução apto a enganar alguém;
c) Pressupõe intenção de obter vantagem ilícita para si ou para outrem;

Se a vantagem for lícita, há exercício arbitrário das próprias razões (art. 345,
CP);

a) É preciso haver uma vítima determinada (ou determinado grupo de pessoas).

Consumação e tentativa: consuma-se com a obtenção da vantagem ilícita e do


efetivo prejuízo alheio (resultado duplo). A tentativa é admissível.

Obs: Se o crime for praticado contra idoso a pena será aplicada em dobro,
conforme § 4º, do art. 171 do CP, acrescentado pela Lei nº 13.228, de 28.12.2015.

102
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

STJ, Súmula 17: "Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais


potencialidade lesiva, é por este absorvido".
A pena do estelionato é aplicada em dobro quando o crime é cometido contra
idoso na forma do art.171, § 4º.
Lei 13.964, de 24 de dezembro de 2019, (Pacote anticrime) introduziu o
parágrafo quinto ao artigo 171 do Código Penal, que, portanto, se aplica ao estelionato
e a todas as modalidades equiparadas (como a defraudação de penhor). Traz o
dispositivo hipóteses em que a ação penal passa a ser pública incondicionada:

§ 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for:


I a Administração Pública, direta ou indireta; II – criança ou adolescente;
II pessoa com deficiência mental; ou
III maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.

Portanto, a regra é a ação penal pública condicionada à representação. A ação


penal passa a ser incondicionada se o delito for praticado contra a Administração
Pública, direta ou indireta; contra criança ou adolescente; contra pessoa com
deficiência mental; contra maior de 70 (setenta) anos de idade ou contra incapaz.

Receptação

Tipo penal (art.180, caput, do CP):


adquirir, receber, transportar, conduzir ou
ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa
que sabe ser produto de crime, ou influir para
que terceiro de boa-fé a adquira, receba ou
oculte.

Receptação dolosa simples própria: art. 180, caput, 1ª parte, do CP.

Observações:

a) Trata-se de tipo misto alternativo. Assim, o agente que adquire e,


posteriormente, oculta o bem receptado, comete uma só infração penal (a
incursão em mais de uma ação nuclear, entretanto, tem reflexos na dosagem da
pena);

103
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

b) Ocorrendo várias aquisições sucessivas do bem, respondem por receptação


todos aqueles que o adquirirem sabendo de sua origem criminosa;
c) Se o agente estiver em dúvida quanto ao fato de o bem ser produto de
crime, pode- se cogitar de receptação culposa (art. 180 § 3º, do CP);
d) É irrelevante ser o autor do crime anterior desconhecido ou isento de
pena (art. 180 § 4º, do CP);
e) A receptação simples é crime comum (qualquer pessoa pode praticá-lo), mas a
qualificada é crime próprio, pois exige uma qualidade especial do sujeito ativo:
ser comerciante ou industrial, ainda que de fato ou clandestino.

Consumação e tentativa: consuma-se com a aquisição, o recebimento, a


ocultação, o transporte ou a condução, sem necessidade de qualquer outro resultado.
A tentativa: é admissível.

Receptação dolosa simples imprópria: art. 180, caput, parte final, do CP.

Observações:

a) A receptação dolosa simples imprópria consubstancia-se no ato de influir para


que terceiro de boa-fé adquira, receba ou oculte o bem que o agente sabe ser
produto de crime.
b) Quem furta carro e depois influi para que terceiro de boa-fé o adquira responde
apenas pelo furto, sendo considerado post factum impunível a disposição de
coisa alheia como própria e, da mesma forma, a receptação imprópria.

Consumação e tentativa: consuma-se com o mero ato de influir para que


terceiro de boa-fé adquira, receba ou oculte o bem (crime formal). A tentativa é
inadmissível.
Causa de aumento de pena: (art. 180 § 6º, do CP): "Tratando-se de bens ou
instalações do patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de
serviços públicos ou sociedade de economia mista, a pena prevista no caput deste
artigo aplica-se em dobro".

104
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Receptação qualificada

Tipo penal (art. 180, § 1º, do CP): adquirir, receber, ocultar, ter em depósito,
conduzir, transportar, montar, desmontar, remontar, vender ou expor à venda ou de
qualquer forma utilizar, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que (a
pessoa) deve saber ser produto de crime.

Observações:

a) Exige-se fato cometido no exercício de atividade comercial ou industrial, assim


considerada toda e qualquer forma de comércio irregular ou clandestino,
inclusive o exercido em residência (art. 180, § 2, do CP);
b) O agente deve saber ser o objeto produto de crime;

c) Não se deve confundir o art. 180, § 1º, do CP com o art. 334, § 1º, do CP
(conduta equiparada a contrabando ou descaminho), que se dá quando o
sujeito "adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício
de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira,
desacompanhada de documentação legal, ou acompanhada de documentos
que sabe serem falsos".

Receptação culposa

Tipo penal (art. 180, § 3º, do CP): "Adquirir ou receber coisa que, por sua
natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a
oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso".
O tipo do art. 180, § 6º, elenca a receptação de bens públicos, forma grave que
fez o legislador colocar a causa de aumento de pena, dobrando a pena para o agente
que recepta esses bens.
§ 6º: Tratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do Distrito
Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade
de economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos, aplica-se em
dobro a pena prevista no caput deste artigo.
Já o artigo 180-A, introduzido pela Lei nº 13.330/2016, trouxe uma novidade, a
receptação de semovente, vejamos:

105
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Tipo penal: Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em
depósito ou vender, com a finalidade de produção ou de comercialização, semovente
domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes, que deve saber
ser produto de crime: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

Estupro

Tipo penal (art. 213): constranger alguém,


mediante violência ou grave ameaça, a ter
conjunção carnal ou a praticar ou permitir que
com ele se pratique outro ato libidinoso. Pena
de reclusão de seis a dez anos.

§ 1° Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de


dezoito ou maior de catorze anos. Pena de reclusão de oito a doze anos.

Na primeira figura, o constrangimento visa à conjunção carnal (coito vagínico),


sendo indiferente que a penetração seja completa ou que haja ejaculação.
Na segunda figura, o constrangimento visa praticar ou obrigar a vítima a
permitir que com ela se pratique "outro ato libidinoso" (diverso da conjunção carnal),
compreendendo-se, aqui, o sexo anal, oral, a masturbação etc.

Estupro de Vulnerável

Tipo Penal (art. 217- A, do CP): ter conjunção carnal ou praticar outro ato
libidinoso com menor de catorze anos:

§ 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém
que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a
prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
§ 3º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave.
§ 4º Se da conduta resulta morte

106
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

SÚMULA 593 STJ: O crime de estupro de vulnerável


configura com a conjunção carnal ou prática de ato
libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante o
eventual consentimento da vítima para a prática do ato,
experiência sexual anterior ou existência de relacionamento
amoroso com o agente.

Observações:

Figura equiparada (§ 1º): equiparam-se às condutas do caput as de quem pratica


conjunção carnal ou outro ato libidinoso com pessoa, de qualquer idade, que:

a) Não tenha o necessário discernimento para a prática do ato, em virtude de


enfermidade ou deficiência mental. É necessário que o agente tenha
conhecimento da enfermidade ou deficiência mental da vítima, e que, em
virtude dela, lhe falte discernimento para o ato sexual. É imprescindível,
igualmente, a existência de laudo pericial médico que comprove a enfermidade
ou a deficiência mental da vítima, a ponto de comprometer-lhe o discernimento.
b) Por qualquer outra causa, não possa oferecer resistência. Embora a lei se
refira a "qualquer outra causa", é necessário haver prova segura da completa
impossibilidade de a vítima oferecer resistência, como no caso de ela estar
sedada ou anestesiada em clínica ou hospital. É indiferente ter sido o próprio
agente o responsável pela causa que levou à impossibilidade de resistência do
ofendido.

Figura qualificada por lesão grave (§ 3º):


havendo lesão corporal grave (art. 129, §§ 1º
e 2º), o estupro de vulnerável é qualificado.
Figura qualificada pela morte (§ 4º): ocorrendo
o resultado morte, o estupro de vulnerável é
qualificado.

107
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

DOS CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA

Incêndio

Art. 250 - Causar incêndio,


expondo a perigo a vida, a integridade
física ou o patrimônio de outrem:
Pena - reclusão, de três a seis anos,
e multa. Aumento de pena.

§ 1º - As penas aumentam-se de um terço:

I se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito


próprio ou alheio;

II se o incêndio é:
a) em casa habitada ou destinada a habitação;
b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social
ou de cultura;
c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo
de transporte coletivo;
d) em estação ferroviária ou aeródromo;
e) em estaleiro, fábrica ou oficina;
f) em depósito de explosivo, combustível ou
inflamável;
g) em poço petrolífero ou galeria de mineração;
h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta. Incêndio culposo.

§ 2º - Se culposo o incêndio, é pena de detenção, de seis meses a dois anos.

108
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Tutela-se a incolumidade pública, Consiste em causar incêndio, isto é, provocar


combustão (por intermédio do fogo, gás inflamável etc.) de forma que sua propagação
exponha a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de um número
Objeto indeterminado de pessoas, uma vez que se trata de crime de perigo comum e não

Qualquer pessoa pode praticar esse crime, inclusive o proprietário da coisa incendiada.
Sujeito ativo

É a coletividade.
Sujeito

passivo

Explosão

Art. 251 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem,


mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de
substância de efeitos análogos:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.

§ 1º - Se a substância utilizada não é dinamite ou explosivo de efeitos


análogos:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Aumento de pena.
§ 2º - As penas aumentam-se de um terço, se ocorre qualquer das hipóteses
previstas no § 1º, I, do artigo anterior, ou é visada ou atingida qualquer das coisas
enumeradas no nº II do mesmo parágrafo.

Modalidade culposa
§ 3º - No caso de culpa, se a explosão é de dinamite ou substância de efeitos
análogos, a pena é de detenção, de seis meses a dois anos; nos demais casos, é de
detenção, de três meses a um ano.

109
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

• Assim como no crime antecedente, tutela-se mais uma vez a incolumidade


Objeto pública.

jurídico

• Consubstancia-se no verbo expor a perigo. Difere, contudo, do crime de incêndio


quanto ao meio de execução, pois aqui a exposição pode ser praticada mediante
Elementos explosão (estourar), arremesso (lançar a distância) ou colocação (pôr em algum
lugar) de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos.
do tipo

• Trata-se de crime comum. Qualquer pessoa pode praticá-lo.


Sujeito ativo

• Cuida-se de crime de perigo comum. Sujeito passivo é, portanto, a coletividade


Sujeito em geral.

Passivo

Uso de Gás Tóxico ou Asfixiante

Art. 252 - Expor a perigo a vida, a


integridade física ou o patrimônio de outrem,
usando de gás tóxico ou asfixiante:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e
multa. Modalidade Culposa

Parágrafo único - Se o crime é culposo:


Pena - detenção, de três meses a um ano.

110
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

• Protege-se a incolumidade pública.


Objeto

jurídico
• Consiste em expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem.
O meio de execução é que difere dos demais crimes de perigo comum, pois o
Elementos agente se utiliza de gás tóxico ou asfixiante. trata-se aqui de crime de perigo comum
do tipo e concreto.

• Trata-se de crime comum. Qualquer pessoa pode praticá-lo.


Sujeito ativo

• Por se tratar de crime de perigo comum, sujeito passivo é a coletividade em geral.


Sujeito
Passivo

Fabrição, Fornecimento, Aquisição Posse ou Transporte de


Explosivos ou Gás Tóxico, ou Asfixiante

Art. 253 - Fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou transportar, sem licença da


autoridade, substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou material
destinado à sua fabricação:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

• Protege-se a incolumidade pública


Objeto

jurídico

• Trata-se de crime comum. Qualquer pessoa pode praticá-lo.


Sujeito Ativo

• Por se tratar de crime de perigo comum, sujeito passivo é a coletividade em geral.


Sujeito

Passivo

111
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Apologia de Crime ou Criminoso

Você saberia identificar a apologia de crime ou criminoso?

Tipo penal fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime.

(art. 287, do
CP)

a proteção da paz pública, da tranquilidade social.


Bem jurídico

qualquer pessoa.
Sujeito ativo

a coletividade.
Sujeito

passivo

a consumação ocorre com a apologia pública. A tentativa é admissível, salvo na forma


Consumação oral.

e tentativa

A conduta típica consiste em fazer apologia - publicamente - ao crime ou ao


criminoso. O que significa elogiar, exaltar, enaltecer (Excluem-se as contravenções
penais). A simples opinião ou manifestação de solidariedade, ainda que veemente, não
se confunde com a apologia de fato criminoso.

Trata-se de crime doloso, que pode ser praticado por qualquer meio: oral,
escrito, gestos, atitudes etc.

112
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Associação Criminosa

A reunião entre os componentes da associação criminosa deve ser estável e


permanente, com a finalidade específica de cometer crimes, ou seja, é necessário que
exista o dolo de planejamento, a divisão de trabalho e organicidade.

Não se deve confundir o crime de associação criminosa com o simples


concurso de agentes, que consiste na reunião eventual de duas ou mais pessoas
para a prática do delito.
Trata-se de crime doloso, autônomo - possui existência própria,
independentemente dos demais delitos que possam ter sido praticados por seus
integrantes - exigindo-se o fim específico de se cometer crimes.
O legislador acrescentou o delito de Constituição de Milícia Privada, previsto
agora no art. 288-A do Código Penal.

TIPO PENAL: Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização


paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar
qualquer dos crimes previstos neste Código. Pena: Reclusão de 04 a 08 anos.
O bem jurídico é o mesmo da Associação criminosa, a paz pública e a
tranquilidade social.

DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO


CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

Sargento, você sabe quais são os crimes praticados por


funcionário público contra a administração em geral? Vamos
aprender?

Peculato

Tipo penal (art. 312): apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou


qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do
cargo, ou desvia-lo em proveito próprio ou alheio.

113
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

a tutela da Administração Pública e do patrimônio


Bem público.

o peculato é crime próprio. Somente o funcionário público pode praticá-lo (art. 327
do
CP). O particular que, de qualquer forma, concorrer para o crime, estará nele incurso
Sujeito por força do disposto no art. 30 do mesmo CP.
Ativo

o Estado, por tratar-se de crime contra a Administração


Sujeito Pública.
Passivo

Observação: o caput do art. 312


contempla duas modalidades de peculato.
Na primeira parte, peculato-apropriação;
na segunda parte, peculato-desvio. Essas
duas modalidades de peculato
caracterizam o chamado peculato próprio.

Conduta típica: no art. 312, caput, 1º parte, vem expressa pelo verbo
flexionado apropriar-se, que significa apossar-se, apoderar-se, tomar para si. Trata-se
da modalidade de peculato-apropriação, semelhante ao tipo penal da apropriação
indébita, com a diferença de sujeito ativo.
Já no art. 312, caput, 2º parte, a lei pune também a modalidade de peculato-
desvio, em que o funcionário público, embora sem o ânimo de apossamento definitivo
da coisa, emprega-a de forma diversa da sua destinação, de maneira a obter benefício
próprio ou alheio, devolvendo-a, após.
É certo que a lei tutela não apenas os bens públicos, mas também aqueles
pertencentes aos particulares que estejam sob a guarda, vigilância, custódia etc. da
Administração.

114
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Peculato-furto

Tipo penal (art. 312, § 1º, do CP): vem expresso pelo verbo subtrair, que
significa tirar, suprimir, assenhorear-se; e pelo verbo concorrer, que significa cooperar,
contribuir.

Objeto material: é a coisa sobre a qual recai a


conduta criminosa, podendo ser dinheiro (moeda metálica
ou papel-moeda de circulação no país), valor (título,
documento ou efeito que representa dinheiro ou
mercadoria) ou qualquer outro bem móvel, público ou
particular. Em tempo: o conceito de bem móvel é retirado do Direito Civil.

Consumação e tentativa: consuma-se o delito com a efetiva subtração ou


concorrência para a subtração da coisa. A tentativa é admissível. O delito, na
modalidade peculato- apropriação, com a efetiva apropriação pelo funcionário público,
ou seja, no momento em que age como se fosse dono da coisa, e na modalidade
peculato-desvio, com o efetivo desvio, independentemente da obtenção de proveito
próprio ou alheio. A tentativa é admissível.
Tipo subjetivo: dolo. Admite-se a modalidade culposa (art. 312, § 2º).

Trata-se da modalidade chamada de peculato-furto, semelhante ao tipo penal


do furto, com a diferença de sujeito ativo.
Nesse tipo de peculato, o agente não tem a posse ou detenção da coisa,
subtraindo-a, entretanto, ou concorrendo para que seja subtraída, valendo-se das
facilidades que o cargo lhe proporciona.
É necessário que a subtração ou a concorrência para a subtração se dê em
proveito próprio ou alheio.

Peculato culposo (312, § 2º)

Nessa modalidade de crime, o funcionário público concorre, culposamente,


para o crime de outrem, ou seja, age com negligência, imprudência ou imperícia e
permite que haja apropriação, subtração ou utilização da coisa.
Consumação e tentativa: é necessário que se estabeleça relação entre a
concorrência culposa do agente com a ação dolosa de outrem, evidenciando que o
primeiro tenha dado ensejo à prática do último. A tentativa é inadmissível.
115
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Reparação do dano no peculato culposo: o § 3º do art. 312 do CP prevê


um caso de extinção da punibilidade e um caso de atenuação da pena que se
aplicam exclusivamente ao peculato culposo.

Peculato mediante erro de outrem (art. 313)

O peculato mediante erro de outrem é crime previsto no art. 313 do CP, tendo
como objetividade jurídica a tutela da Administração Pública e do patrimônio público.
A coisa deve ter vindo ao poder do funcionário público por meio de erro de
outrem, ou seja, de forma espontânea e equivocada.
É imprescindível que a entrega do bem ao funcionário tenha sido feita ao sujeito
ativo em razão do cargo que ocupa junto à Administração Pública, e que o erro tenha
relação com o seu exercício.

Concussão

Tipo penal (art. 316, do CP): exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente,
ainda que fora da função, ou antes, de assumi-la - mas em razão dela - vantagem
indevida.
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº
13.964, de 2019 – Pacote anticrime)

a tutela da Administração
Bem Pública.
jurídico

somente o funcionário público (art. 327 do CP), ainda que fora da função,
ou antes,
Sujeito de assumi-la, mas em razão dela (crime próprio). O particular pode ser
Ativo coautor ou partícipe do crime, por força do disposto no art. 30 do

o Estado e, secundariamente, o particular ou funcionário vítima da


Sujeito exigência.
Passivo

116
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

A conduta típica vem expressa pelo verbo exigir, que significa ordenar, intimar,
impor como obrigação.
Objeto material: vantagem indevida, ou seja, vantagem ilícita, ilegal, não
autorizada por lei, expressa por dinheiro ou qualquer outra utilidade, de ordem
patrimonial ou não.
Trata-se de crime doloso.

Consumação e tentativa: consuma-se com a exigência da vantagem indevida,


independentemente de sua efetiva percepção. A tentativa é admissível, desde que a
exigência não seja verbal.

Corrupção Passiva

Tipo penal (art. 317, do CP): solicitar ou receber,


para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
fora da função, ou antes, de assumi-la, mas em razão
dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal
vantagem:

§ 1º A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou


promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica
infringindo dever funcional.
§ 2.° Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração
de dever funcional, cedendo a pedido ou a influência de outrem.

a proteção da Administração
Bem Pública.

o funcionário público, tratando-se de crime


Sujeito próprio.
Ativo

o Estado e, secundariamente, o particular eventualmente


Sujeito lesado.
Passivo

117
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

A conduta típica vem expressa pelos verbos solicitar (que significa pedir,
requerer), receber (que significa tomar, obter) e aceitar (que significa anuir, consentir
no recebimento).

Corrupção passiva qualificada: o § 1º do art. 317 do CP trata da corrupção


passiva qualificada, que ocorre quando o funcionário público retarda ou deixa de praticar
qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional, em consequência de
vantagem ou promessa.
Nesses casos, o exaurimento do delito implica a imposição de pena mais
severa, que será aumentada de um terço.
Corrupção passiva privilegiada (art. 317 § 2º): ocorre essa modalidade
quando o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração
de dever funcional, cedendo a pedido ou a influência de outrem.
Nesse outro caso, o funcionário não negocia o ato funcional em troca de
vantagem, mas, antes, deixa de cumprir com seu dever funcional, para atender um
pedido de terceiro, influente ou não.
É necessário que haja pedido ou influência de outrem, e que o sujeito ativo
atue por essa motivação.
Consumação: opera-se com a efetiva omissão ou o retardamento do ato de
ofício. Não admite a forma tentada.

Prevaricação

Tipo penal (art. 319): retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de


ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal.
Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou
praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento
pessoal:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

118
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Bem a proteção da Administração Pública.

somente o funcionário público (art. 327 do CP). É crime próprio.


Sujeito

ativo

o Estado e, secundariamente, o particular eventualmente lesado.


Sujeito

passivo

consuma-se com o retardamento, a omissão ou a realização do ato de ofício. A


tentativa
ão inadmissível nas modalidades de conduta, retardamento e omissão; já na
é
modalidade de conduta e realização, a tentativa é admissível.

A conduta típica vem expressa de três formas:

a) Retardar ato de ofício, o que significa protelar, procrastinar, atrasar o ato que
deve executar (conduta omissiva).
b) Deixar de praticar ato de ofício, o que significa omitir-se na realização do ato
que deveria executar (conduta omissiva).
c) Praticar ato de ofício contra disposição expressa de lei, que significa executar o
ato de ofício de maneira irregular, ilegal (conduta comissiva).

Advocacia Administrativa

Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a


administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.

Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo:


Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa.

119
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Trata-se de crime em que o funcionário público se vale dessa condição, isto é,


do fácil acesso aos colegas, pertencente à mesma repartição ou não, para advogar,
favorecer interesse alheio privado. Tal conduta, obviamente, afeta o normal
desempenho do cargo público, o qual deve estar a serviço do Estado e não de
interesses alheios particulares. Tutela-se, dessa forma, o funcionamento regular da
Administração Pública e a moralidade administrativa.

DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULARES CONTRA A


ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

Você sabe quais são os crimes praticados por particulares


contra a administração em geral? Vamos conhecer como
ocorre esse crime?

Resistência

Tipo penal (art. 329): opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou
ameaça a funcionário competente para executá-la ou a quem lhe esteja prestando
auxílio.
Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a
funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:

Pena - detenção, de dois meses a dois anos.

§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:

Pena - reclusão, de um a três anos.

§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à


violência.

120
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Concurso: o § 2º do art. 329 do CP prevê o concurso material de crimes entre a


resistência e a violência física, que podem ser lesão corporal ou homicídio.
A conduta típica vem caracterizada pela oposição ao ato funcional, mediante
violência física ou ameaça a funcionário. Não é necessário que a ameaça seja grave,
podendo ser oral ou escrita. Deve o funcionário estar executando um ato legal, ou
seja, que se revista das formalidades impostas por lei, emanado da autoridade
competente.
Caso a oposição do agente se dê contra ato ilegal da autoridade, não haverá
crime.

Desobediência

Tipo penal (art. 330): desobedecer à ordem legal de funcionário público.


Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.

A conduta típica vem expressa pelo verbo desobedecer, que significa


descumprir, não acatar, desatender, e pode ser omissiva ou comissiva; porém, é
imprescindível que o destinatário da ordem tenha o dever jurídico de acatá-la. Trata-se
de crime doloso.

Desacato

Tipo penal: (art. 331, do CP): Desacatar funcionário público no


exercício da função ou em razão dela.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.

BEM JURÍDICO A proteção à Administração Pública, no que diz respeito à dignidade e ao


decoro devido a seus agentes no exercício de suas funções.

SUJEITO ATIVO Qualquer pessoa, inclusive o funcionário público fora do exercício de suas
funções.

SUJEITO PASSIVO O Estado e, secundariamente, o funcionário que sofre o desacato

CONSUMAÇÃO E Consuma-se com o efetivo ato de ofensa. A tentativa não é admissível.


TENTATIVA

121
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

A conduta típica vem expressa pelo verbo desacatar, que significa


desrespeitar, desprestigiar, ofender, humilhar o funcionário público no exercício da sua
função.
O delito pode ser cometido por meio de gestos, palavras, gritos, vias de fato,
ameaça etc.
Trata-se de crime formal, pois independe de o funcionário público sentir-se
ofendido, bastando que a conduta possa agredir sua honra profissional. É crime
doloso, pois deve abranger o conhecimento da qualidade de funcionário público do
sujeito passivo.

Tráfico de Influência

Tipo penal (art. 332, do CP): solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para
outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado
por funcionário público no exercício da função.
A conduta típica vem expressa
pelos verbos solicitar (pedir, rogar,
requerer), exigir (ordenar, impor, intimar),
cobrar (pedir pagamento) e obter (alcançar,
conseguir).

O delito envolve uma modalidade de fraude em que o sujeito ativo solicita,


exige, cobra ou obtém a vantagem ou a promessa dela a pretexto de influir em ato
praticado por funcionário público no exercício da função. Tratando-se, portanto, de
crime doloso.

Corrupção Ativa

Tipo penal (art. 333, CP): oferecer ou


prometer vantagem indevida a funcionário público,
para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de
ofício. Pena: reclusão de dois a doze anos e multa.

122
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

vida humana intrauterina.


Bem

proteção à Administração Pública, no que tange ao seu prestígio e à normalidade de


seu funcionamento.
Bem

qualquer pessoa, inclusive o funcionário público que não esteja no exercício da função.
Sujeito
ativo

o Estado.
Sujeito

passivo

o parágrafo único do art. 333 do CP prevê a corrupção ativa qualificada, que ocorre
quando, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de
Corrupção ofício ou o pratica infringindo dever funcional. Essa hipótese trata do exaurimento da
ativa corrupção ativa.
qualificada

Exemplo: “Pratica o delito de corrupção ativa quem oferece certa importância


em dinheiro a funcionário incumbido da fiscalização do trânsito com o propósito de
levá-lo a omitir o ato de autuação pela falta cometida" (Tribunal de Justiça do Estado
do Rio Grande do Sul - TJRS - RT, 569/376).
Trata-se de crime doloso, sendo necessário que o agente tenha conhecimento
de ser indevida a vantagem que é dirigida a funcionário público; é um crime formal,
pois independe de o funcionário público aceitar ou não realizar a conduta almejada
pelo agente. Além disso, o crime se consuma no momento em que o funcionário toma
conhecimento da oferta ou promessa.
A tentativa só é admissível se a oferta ou promessa for feita por escrito.

123
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

CONCLUSÃO

De todos os ramos da grande árvore jurídica, o Direito Penal é aquele que


protege os valores mais preciosos e significativos para a convivência social. Quais são
esses valores? São por exemplo, a vida, a saúde, a honra, a liberdade, a paz pública.
Em razão de relevante importância desses valores, quando alguém pratica um
homicídio não compete aos parentes ou amigos da vítima punir o autor do delito. A
maioria dos crimes tem caráter público e não privado. Ofende a todos, isto é, à
sociedade e não exclusivamente a vítima. Portanto, compete ao Estado - Juiz, como
representante da sociedade, o direito e o dever de punir os infratores da Lei penal.
O conjunto dos profissionais chamados de “operadores do direito” não se
limitam aos juízes, promotores, advogados e aos agentes das polícias judiciárias, mas,
também, aos policiais militares.
Uma vez que, o policial militar, em qualquer nível hierárquico, opera
constantemente o direito no desempenho de sua atividade profissional, cuja principal
ferramenta de trabalho é exatamente a aplicação das normas legais, objetivando
alcançar o fiel cumprimento da lei e o "fazer cumprir a lei" em defesa da sociedade,
para a preservação da ordem pública.
O conhecimento jurídico é imprescindível para o policial militar não incidir em
práticas de atos arbitrários, que consistem em posicionamentos antagônicos à prática
de atos discricionários, o policial militar deve ter a noção exata dos contornos legais da
discricionariedade. Destarte, não existe outra forma senão estudar as leis, conhecer a
doutrina e, ainda, tomar contato com a jurisprudência, como faz um bom operador do
direito.
Diante disto, é importante que ele receba uma boa formação técnico-jurídica
para que se sinta preparado e, consequentemente, encontre-se seguro ao tomar
decisões, sob o peso da responsabilidade de quem representa o próprio Estado e,
nessa condição, é o primeiro normalmente a tomar contato com situação de conflito,
adotando providências imediatas e indispensáveis para o restabelecimento da ordem
pública.
A formação jurídica nos cursos de formação do policial militar se justifica no
reconhecimento da efetiva operação do direito que se processa na relação direta com
a população, em tempo real, fora dos cartórios dos fóruns, das salas de audiência e
longe dos gabinetes dos estudiosos do direito, das salas de aula e mesmo das sedes
dos distritos policiais.

124
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM – CAS 2020

Portanto, considerando a atuação do policial militar como gestor de conflitos


sociais e agente garantidor da lei, que age preventiva e ostensivamente contra a
ocorrência de infrações penais, sabendo quando, como e quando agir no estrito
cumprimento da lei faz-se necessário o conhecimento do Direito Penal.

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