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INFORMAÇÕES BÁSICAS PARA OS MILITARES ESTADUAIS

Lei Orgânica Nacional das


Polícias Militares e Corpos
de Bombeiros Militares
Lei nº 14.751 - 2023
SOBRE O AUTOR

Rodrigo Wilson Melo de Souza


Coronel RR da Polícia Militar do Ceará
Advogado – OAB/DF NO 77.043
Pós-Graduado em Ciências Jurídicas
Especialista em Segurança Pública
Atuação em defesa dos profissionais de
segurança pública e defesa social:
• Direito Penal Militar
• Direito Administrativo Disciplinar
• Direito Penal

ATIVIDADES PROFISSIONAIS RECENTES

PREFEITURA MUNICIPAL DE CAUCAIA-CE (JAN/2022 – JUN/2023)

• Secretário Municipal de Segurança Pública (apresentou redução de 50% na taxa de homicídio por 100 mil habitantes
no período, tendo sido registrado o menor total bruto de homicídios na série histórica do município).
CASA MILITAR DO GOVERNO DO CEARÁ (FEV/2021 – JAN/2022)

• Ajudante de Ordem de ex-governador.


MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA / SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA / FORÇA
NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA (FEV/2019 – FEV/2021)

• Coordenador Geral de Planejamento e Operações da Força Nacional.


• Substituto eventual do cargo de Diretor da Força Nacional.
• Substituto eventual do cargo de Coordenador Geral de Polícia Judiciária e Perícia da Força Nacional.
• Presidente da Comissão Especial do Processo Seletivo de Militares Estaduais para a Força Nacional.
• Presidente do Grupo de Trabalho de Revisão do Regulamento de Uniformes da Força Nacional.
• Comitê Executivo do Programa de Proteção Integrada de Fronteiras (CEPPIF).
o Representando a SENASP junto ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.
o Membro Suplente e Coordenador Geral dos Planos de Ação e Indicadores.
• Secretaria Executiva do Comitê do Sistema Nacional de Mobilização (SINAMOB).
o Representando o MJSP junto ao Ministério da Defesa / Membro Titular.

• Grupo de Trabalho Interministerial sobre Cooperação Humanitária Internacional.


o Representando o MJSP junto ao Itamaraty / Membro Suplente.

• Grupo Técnico do Comitê de Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro – GT-13.


o Representando o MJSP junto ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.

RODRIGO WILSON MELO DE SOUZA


1
INTRODUÇÃO

Este breve artigo tem o objetivo de realizar uma análise básica da recente Lei Orgânica
Nacional das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares dos Estados, do Distrito Federal e dos
Territórios (Lei no 14.751/2023), sancionada com vetos pelo Presidente da República no dia 12 de
dezembro de 2023 e publicada no Diário Oficial da União no dia seguinte (13/12/2023), levando ao
conhecimento dos militares estaduais de todo o país as normas gerais de organização e padronização do
funcionamento das corporações e, principalmente, os direitos e garantias dos policiais militares e
bombeiros militares.

Tendo sido proposta por iniciativa do Poder Executivo no ano de 2001, a lei tão esperada,
apesar de não ter contemplado garantias mais expressivas para as classes profissionais atingidas e de
estar ainda carente de uma abordagem mais moderna das instituições militares estaduais, por conta de
vários vetos presidenciais que subtraíram direitos importantes que iriam contribuir para a valorização dos
profissionais de segurança pública dos estados e do Distrito Federal, enfim substituiu o Decreto-Lei no 667
de 1969, que continha inúmeras disposições incompatíveis com a Constituição Federal.

Infelizmente, a Lei no 14.751/2023 já nasce caduca no que se refere à realidade atual das
atividades desenvolvidas pelas polícias militares e corpos de bombeiros militares, após 22 anos de
tramitação no Congresso Nacional, notadamente nos quesitos relacionados aos direitos humanos dos
profissionais de segurança pública, não obstante ser uma grande conquista para as instituições militares
estaduais. Como exemplo deste viés obsoleto, posso citar o fato de não levar em consideração que,
diferentemente do que se pensava no início dos anos 2000, momento em que o Projeto de Lei (PL) foi
gerado por iniciativa do Poder Executivo, quando o grande debate na área da segurança pública girava em
torno da possível unificação das polícias estaduais, a limitação imposta com a exigência exclusiva do
curso de Direito para integrar o Quadro de Oficiais de Estado-Maior (QOEM), no caso dos policiais
militares, é limitante para o desenvolvimento técnico adequado das diversas áreas das corporações, pois,
indiscutivelmente, é extremamente necessário também contarmos com oficiais integrantes do QOEM com
formações diversas ao Direito, tais como administradores, sociólogos e economistas.

A Lei no 14.751/2023 possui 44 artigos divididos em 8 capítulos com as seguintes


denominações: disposições gerais; da organização; dos efetivos; do material de segurança pública; das
garantias; das vedações, dos direitos, dos deveres, da remuneração, das prerrogativas, da inatividade e
da pensão; da convocação, da mobilização e do emprego das polícias militares e corpos de bombeiros
militares dos estados, do Distrito Federal e dos territórios; disposições finais. Também são atribuídas 25
competências às polícias militares e 27 aos corpos de bombeiros militares, além disso são elencados 12
princípios e 20 diretrizes.

Para encerrar esta introdução, citarei o destacado presidente americano Abraham Lincoln:
“Pecar pelo silêncio, quando se deveria protestar, transforma homens em covardes”. Inspirado nisso,
afirmo que uma das ações mais importantes que um profissional de segurança pública pode realizar é lutar
pelos seus direitos, pois estamos vivendo uma época em que ser militar estadual, principalmente policial, é
fazer parte de uma profissão extremamente perseguida, desrespeitada, incompreendida e não valorizada
pela sociedade. Portanto, para se habilitar a lutar pelos seus direitos é imprescindível que o profissional
conheça a fundo todos eles. Aproveitando, deixo uma dica de suma importância: com a edição da Lei no
14.751/2023, torna-se imprescindível uma atuação forte e focada das entidades representativas dos
militares estaduais, bem como dos políticos eleitos sob a pauta da segurança pública, muitos deles
oriundos das instituições abordadas no referido diploma legal, no sentido de cobrar e fiscalizar para que
todas as conquistas sejam ofertadas em suas plenitudes, sempre com vistas ao benefício máximo de
nossos heróis da vida real e seus dependentes, além de manterem a consciência em prolongar a luta para
a futura inclusão daqueles direitos que foram vetados pelo Presidente da República.

RODRIGO WILSON MELO DE SOUZA


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SUMÁRIO

1. DIREITOS DOS MILITARES ESTADUAIS .................................................................................................. 4

1.1. Promoções nos níveis hierárquicos ......................................................................................................... 4


1.2. Porte de arma .............................................................................................................................................. 5
1.3. Assistência jurídica .................................................................................................................................... 5
1.4. Assistência em saúde ................................................................................................................................ 6
1.5. Carga horária de trabalho .......................................................................................................................... 6
1.6. Inamovibilidade temporal ........................................................................................................................... 6
1.7. Transferência ex officio para instituição de ensino no caso de movimentação compulsória ............ 7
1.8. Estabilidade no serviço público ................................................................................................................ 8
1.9. Equipamentos de proteção individual ...................................................................................................... 8
1.10. Atendimento prioritário .............................................................................................................................. 9
1.11. Ajuda de custo e diárias ............................................................................................................................. 9
1.12. Militar inativo: manifestação de pensamento e opinião ......................................................................... 10

2. INSTITUIÇÕES MILITARES PERMANENTES ............................................................................................ 11

3. COMANDANTE GERAL .............................................................................................................................. 12

4. ENSINO E INSTRUÇÃO .............................................................................................................................. 14

5. PLANEJAMENTO E OPERACIONALIDADE............................................................................................... 16

7. ORGANIZAÇÃO ........................................................................................................................................... 18

VETOS .......................................................................................................................................................... 21

LEIS CITADAS ............................................................................................................................................. 24

RODRIGO WILSON MELO DE SOUZA


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1. DIREITOS DOS MILITARES ESTADUAIS

1.1. PROMOÇÕES NOS NÍVEIS HIERÁRQUICOS

No que se refere às promoções nos postos e graduações, que devem se processar de forma
seletiva, gradual e sucessiva, é essencial observar três importantes conquistas:

a. As promoções deverão ser processadas por critérios de antiguidade e merecimento, ocorrendo


para todas as graduações e postos, não se aceitando a limitação de promoções apenas por um
dos critérios entre os níveis hierárquicos, como pode ser observado em algumas instituições.
Em relação a isso, é importante citar um exemplo prático que ocorre nas instituições militares
cearenses, de onde sou originário, quando as promoções ao posto de Coronel, tanto PM
quanto BM, ocorrem apenas pelo critério de merecimento, por escolha pessoal do governador,
dentre os Tenentes-Coronéis mais bem classificados em pontuação subjetiva determinada pela
Comissão de Promoção de Oficiais (CPO).

b. Os parâmetros utilizados para a classificação dos militares que concorrem à promoção devem,
obrigatoriamente, alicerçarem-se na objetividade de julgamento, ficando proibidos os critérios
que dependam de uma avaliação pessoal de superiores hierárquicos. Critérios como
pontualidade, assiduidade, cordialidade e urbanidade, dentre outros, não mais podem ser
admitidos caso não coexista uma metodologia objetiva de registro e métrica.

c. Apesar de não obrigatórios, serão admitidos outros critérios de promoção, tais como:

• Por bravura.
• Post mortem.
• Requerida por transferência para a inatividade.

Nas Unidades Federativas (UF) que estabelecem a promoção ao último posto do oficialato pelo
critério de escolha pessoal do governador, dentre as indicações apresentadas pela instituição, com base
na classificação por merecimento formulada por uma CPO, observa-se uma tendência de politização das
corporações militares “obrigando” os oficiais a cumprirem integralmente os mandos e desmandos da
administração executiva e a se sujeitarem à favores de aliados políticos do governo para serem
promovidos ao posto de coronel ainda na ativa, pois, caso contrário, somente através da promoção
requerida com a imediata passagem para a inatividade.

Também é de extrema importância a determinação para que os critérios utilizados na


classificação para a promoção por merecimento sejam puramente objetivos, pois é muito comum que na
elaboração destas classificações os oficiais superiores, sombreados por uma subjetividade direcionada,
relacionem nos topos das listas aqueles que são simpáticos aos respectivos governadores ou aos
padrinhos políticos.

Referências na Lei nº 14.751/23:

Ü Art. 14. A progressão do militar na hierarquia militar, pelos fundamentos das Forças Armadas, independentemente
da sua lotação no quadro de organização, será fundamentada no valor moral e profissional, de forma seletiva,
gradual e sucessiva, e será feita mediante promoções, pelos critérios de antiguidade e merecimento, este com
parâmetros objetivos, em conformidade com a legislação e a regulamentação de promoções de oficiais e de praças
do ente federado, de modo a garantir fluxo regular e equilibrado de carreira para os militares.
Parágrafo único. Além do disposto no caput deste artigo, serão admitidas as promoções por bravura e post
mortem e a promoção por completar o militar os requisitos para transferência a pedido ou compulsória para
a inatividade, sem prejuízo da promoção em ressarcimento de preterição.

RODRIGO WILSON MELO DE SOUZA


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1.2. PORTE DE ARMA

Após muitos anos de dúvidas sobre a questão da validade do porte de armas para os militares
estaduais, onde era observado um vácuo legal que possibilitava decisões administrativas conforme o
humor do comandante-geral de plantão, finalmente temos uma legislação que garante o direito do policial
militar e bombeiro militar, esteja na ativa ou não, em portar a sua arma de fogo em qualquer parte do
território nacional brasileiro, devendo este direito ser constado em seu respectivo documento de identidade
militar. Caso regulamentação administrativa do comando-geral vá de encontro ao determinado no inciso IV
do caput do art. 18, criando restrições incompatíveis, é possível ocorrer questionamento na justiça, seja
por iniciativa individual ou através das associações representativas. Ressalte-se que a responsabilidade
direta para que se faça cumprir esse importante direito é do comandante-geral, bem como é possível que
decisão administrativa venha a suspender ou cassar o porte de arma de militar estadual, no entanto isso
só poderá ocorrer em situações excepcionais e devidamente justificadas com pareceres técnicos ou por
decisão de uma junta médica, como no caso de doenças psicológicas.

Referências na Lei nº 14.751/23:

Ü Art. 18. São garantias das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares dos Estados, do Distrito Federal e
dos Territórios, bem como de seus membros ativos e veteranos da reserva remunerada e reformados, entre outras:
[...]
IV - expedição, pela respectiva instituição, de documento de identidade militar com livre porte de arma, com fé
pública em todo o território nacional, na ativa, na reserva remunerada e na reforma, nos termos da
regulamentação do comandante-geral e observado o padrão nacional;

Ü Art. 29 [...]
[...]
§ 4º Compete ao comandante-geral certificar o atendimento do direito ao porte de arma de seus militares, bem
como as hipóteses excepcionais de suspensão e cassação de porte de arma.

1.3. ASSISTÊNCIA JURÍDICA

As Unidades Federativas passam a ter responsabilidades na defesa dos seus militares,


estejam estes na ativa, reserva remunerada ou reformados, quando a infração penal, civil ou
administrativa ocorrer no exercício da função. Entretanto, a Lei no 14.751/2023 não deixou claro como será
a dinâmica administrativa para que esse importante direito possa ser plenamente exercido. Não obstante,
o Projeto de Lei no 2179/2022, que tramita na Câmara dos Deputados, já aprovado na Comissão de
Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado e pronto para ser pautado na Comissão de
Constituição e Justiça e Cidadania com parecer favorável do relator, se aprovado atribuirá à Defensoria
Pública a defesa dos agentes dos órgãos de segurança pública enumerados no art. 144 da Constituição
Federal, em processos administrativos disciplinares e judiciais. Destaque-se que alguns estados já
garantiam esse serviço aos seus profissionais de segurança pública, onde podemos citar os exemplos de
São Paulo e do Ceará, através da Defensoria Pública e o Rio de Janeiro por intermédio do Programa de
Proteção Gratuita de Assistência Jurídica aos agentes de Segurança Pública. Cabe agora às associações
representativas de classe cobrar dos governadores que cumpram o mais rápido possível o ordenamento
legal, além de fiscalizarem para que sejam empenhados todos os esforços da gestão no direcionamento
de facilidades de acesso e a execução de uma assessoria de competência e qualidade.

Referências na Lei nº 14.751/23:

Ü Art. 18. [...]


[...]
XI - assistência jurídica perante qualquer juízo ou tribunal ou perante a administração, quando acusado de
prática de infração penal, civil ou administrativa decorrente do exercício da função ou em razão dela, na forma da lei
do ente federado;

RODRIGO WILSON MELO DE SOUZA


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1.4. ASSISTÊNCIA EM SAÚDE

Também é dever dos estados e do Distrito Federal (DF) garantir assistência médica,
psicológica, odontológica e social para os militares da ativa, da reserva ou reformados, extensíveis aos
seus dependentes. Insisto que é imprescindível uma atuação forte e direcionada das associações
representativas, além dos parlamentares estaduais e federais oriundos das categorias profissionais
abrangidos por esta lei, que cobrem dos respectivos governadores o oferecimento de um serviço de
qualidade e com condições de atendimento proporcional aos seus efetivos. Não adianta nada os governos
ofertarem serviços de saúde, bem como qualquer outro de interesse das classes profissionais militares
estaduais, que não tenham condições logísticas na prestação de serviços rápidos e com qualidade.
Ressalte-se que com o aumento substancial da criminalidade no Brasil nos últimos anos, além da cada
vez mais elevada periculosidade das facções criminosas em atuação no país, somadas a uma atual
tendência política de relativização dos criminosos em detrimento do trabalho policial, os profissionais de
segurança pública estão adoecendo em níveis elevadíssimos, principalmente através de doenças
psicológicas e emocionais, levando-os a ocuparem o topo das listas das classes profissionais com mais
casos de suicídio.

Referências na Lei nº 14.751/23:

Ü Art. 18. [...]


[...]
XIII – assistência médica, psicológica, odontológica e social para o militar e para os seus dependentes, na forma
da lei do ente federado;

1.5. CARGA HORÁRIA DE TRABALHO

Por mais incrível que possa parecer, ainda há instituições militares estaduais que não têm a
suas cargas horárias máximas legalmente delimitadas, levando, em muitos casos, a uma extrapolação das
horas de trabalho, principalmente para aqueles profissionais que laboram em unidades militares distantes
dos grandes centros urbanos. Observamos que nos últimos anos, principalmente pela pressão política
imposta pelas classes profissionais representadas, alguns estados já estabeleceram a carga horária
máxima para o trabalho dos militares, como é o caso, por exemplo, de Minas Gerais, onde foi determinada
uma carga horária máxima mensal de 160 horas. Outras instituições optaram pela adoção de escalas de
serviço no padrão 12x24 por 12x48, além da escala 12x36; ambas somam, individualmente, 168 horas
mensais, que, no meu entendimento, é o máximo possível de ser aceito para que não ocorram prejuízos à
saúde física e mental dos seus profissionais. É importante também observar que, por extrema
necessidade de serviço, com a voluntariedade do profissional, é possível estender a carga horária de
trabalho para além daquela que deverá ser prevista em legislação estadual, desde que ocorra o devido
pagamento de horas-extras compatíveis com o valor salarial percebido pelo executante, portanto, é
também necessário que se observem a incompatibilidade dos valores pagos pelo estado, a título de
indenização por serviço extraordinário, àqueles profissionais que executam atividades oficiais nos
intervalos de suas respectivas escalas de serviço.

Referências na Lei nº 14.751/23:

Ü Art. 18. [...]


[...]
XXIII – carga horária com duração máxima estabelecida na legislação do ente federado, ressalvadas situações
excepcionais;

1.6. INAMOVIBILIDADE

É notório que os militares são vulneráveis às pressões políticas dos que se sentem
incomodados com a atividade policial, principalmente nos rincões interioranos, por isso a estipulação de
períodos mínimos possíveis para a transferência dos profissionais é importante decisão para garantir que

RODRIGO WILSON MELO DE SOUZA


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os militares não sofram interrupção de suas atividades de forma involuntária, tampouco percam a
independência na execução das suas funções sob o risco de serem obstadas por interferências politicas
para atendimento de interesses particulares. Trata-se de uma maneira de impedir a remoção arbitrária de
militares das unidades onde estão lotados, protegendo-os de retaliações e de punições disfarçadas de
atos regulares.

A lei agora estipula um tempo mínimo de permanência de 1 ano na unidade militar sem que
possa ser transferido, a não ser que seja por interesse do próprio profissional ou de forma compulsória
quando houver motivo previsto em legislação própria, desde que seja apresentado pela administração
militar uma justificativa coerente e formal.

É importante também observar que, no caso de transferência em interesse da administração


pública, o militar estadual tem o direito ao recebimento de ajuda de custo, conforme detalharemos no item
1.11.

Referências na Lei nº 14.751/23:

Ü Art. 18. [...]


[...]
XXIV - tempo mínimo de 1 (um) ano de permanência na unidade militar, ressalvada a transferência a pedido ou
compulsória prevista na legislação, devidamente justificada;

1.7. TRANSFERÊNCIA EX OFFICIO PARA INSTITUIÇÃO DE ENSINO NO CASO DE


MOVIMENTAÇÃO COMPULSÓRIA

Caso o militar estadual, sendo estudante em instituição de ensino superior, for transferido
compulsoriamente para outra localidade diversa daquela em que se situa a referida instituição e em que
estava lotado, tem o direito assegurado de matrícula, em caráter compulsório, em instituição de ensino
congênere na localidade onde irá trabalhar, ou para localidade mais próxima. Observe os seguintes
apontamentos sobre o tema:

a. Os dependentes do militar fazem jus ao mesmo direito.

b. A transferência será realizada entre instituições congêneres (privada para privada / pública
para pública). Entretanto, pode ser efetivada entre instituições pertencentes a qualquer sistema
de ensino, na falta de universidade congênere à de origem. Exemplo: militar cursa Direito em
uma universidade privada e é transferido para um município onde não existe universidade
privada de Direito, mas há uma universidade pública, então está assegurada a sua matrícula
nesta (STF – RE 601580/RS – Pub. 20/02/2020 – Min. Edson Fachin).

c. Independe da existência de vaga e pode ser realizada em qualquer época do ano.

Referências na Lei nº 14.751/23:

Ü Art. 18 [...]
[...]
XXV - transferência de ofício para instituição de ensino congênere, nos termos do parágrafo único do art. 49 da
Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e da Lei nº 9.536, de 11 de dezembro de 1997;

Lei 9.394/96 – Lei de diretrizes e bases da educação nacional

Ü Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão a transferência de alunos regulares, para cursos afins, na
hipótese de existência de vagas, e mediante processo seletivo.
Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão na forma da lei.

RODRIGO WILSON MELO DE SOUZA


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Lei 9.536/97

Ü Art. 1º A transferência ex officio a que se refere o parágrafo único do art. 49 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de
1996, será efetivada, entre instituições vinculadas a qualquer sistema de ensino, em qualquer época do ano e
independente da existência de vaga, quando se tratar de servidor público federal civil ou militar estudante, ou seu
dependente estudante, se requerida em razão de comprovada remoção ou transferência de ofício, que acarrete
mudança de domicílio para o município onde se situe a instituição recebedora, ou para localidade mais próxima
desta. (Vide ADIN 3324-7)

1.8. ESTABILIDADE NO SERVIÇO PÚBLICO

Faz-se justiça aos militares estaduais em se unificar a aquisição da estabilidade no serviço


público após 3 (três) anos de efetivo serviço, igualando-os aos servidores públicos civis conforme já estava
determinado na Constituição Federal.

Referências na Lei nº 14.751/23:

Ü Art. 18 [...]
[...]
XXVI - estabilidade dos militares de carreira após 3 (três) anos de efetivo serviço nas corporações militares;

Entretanto, a Lei no 14.751/2023 ainda manteve uma ideia obsoleta no que diz respeito aos
direitos políticos dos militares estaduais, talvez na intenção de limitar a grande ascendência de
representantes das instituições de segurança pública em cargos políticos eletivos verificada nas últimas
eleições, mantendo a determinação para que militares com menos de dez anos de serviço, ao se
candidatarem a cargos eletivos, sejam afastados do serviço ativo, constituindo, com isso, um artifício para
desestimular o profissional a tentar a opção de um cargo político.

Referências na Lei nº 14.751/23:

Ü Art. 22. O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes prescrições:


I - o militar com menos de 10 (dez) anos de serviço que for candidato a mandato eletivo será afastado do serviço
ativo no dia posterior ao pedido de registro de sua candidatura na Justiça Eleitoral;

1.9. EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL

No decorrer da última década, observamos uma melhora considerável na questão da aquisição


de equipamentos para uso na atividade policial e do corpo de bombeiros, pois os gestores públicos, por
pressão social e demanda direta dos efetivos, passaram a ter um maior cuidado com a necessidade em se
equipar melhor os seus profissionais de segurança pública para que estes tenham condições de exercer
suas missões constitucionais com mais segurança e qualidade, entretanto ainda é possível observar erros
grosseiros quanto às especificações técnicas dos armamentos e munições, viaturas e equipamentos, pois,
ainda continua, em algumas instituições, a velha e nefasta prática de se definirem os requisitos técnicos
dos materiais com base apenas em escolhas subjetivas realizadas entre gestores sem experiência
operacional e burocratas de gabinetes, sem se consultar os profissionais que estão no desempenho direto
da atividade fim ou sem a preocupação na realização de pesquisas e testes de campo. Com a edição da
Lei no 14.751/2023, além da obrigação em se observar a qualidade e quantidade adequadas dos
equipamentos de proteção individual, os parâmetros mínimos deverão ser aqueles indicados pelo governo
federal. Com isso, ao se falar em quantidade adequadas, podemos extrair por interpretação indireta que
não mais poderá ser admitido o compartilhamento de equipamentos entre os profissionais, tais como os
coletes de proteção balística, luvas, óculos de proteção, balaclavas, capacetes, peças de uniformes, entre
outros, que sejam considerados de uso individual e estejam relacionados com a higiene pessoal de cada
profissional.

RODRIGO WILSON MELO DE SOUZA


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Referências na Lei nº 14.751/23:

Ü Art. 18 [...]
[...]
XXVII - direito a equipamentos de proteção individual, em quantidade e qualidade adequadas ao desempenho
das funções, nos termos da legislação do ente federado, dentro dos parâmetros editados pelo governo federal;

1.10. ATENDIMENTO PRIORITÁRIO

Quando o militar estadual for vítima de crime e estiver formalmente de serviço, ou que este
crime tenha ocorrido em função de sua condição de policial militar ou bombeiro militar, fica garantido o seu
atendimento prioritário e imediato (não é aceito que o militar fique aguardando a boa vontade de outras
pessoas) pelos policiais civis, peritos criminais, promotores e procuradores de justiça, defensores públicos
e magistrados. Além disso, também é garantida a precedência quando for depor na condição de
testemunha, em audiências judiciais.

Referências na Lei nº 14.751/23:

Ü Art. 18 [...]
[...]
XXIX - atendimento prioritário e imediato pelos membros do Ministério Público, da Defensoria Pública, do Poder
Judiciário, da Polícia Judiciária e dos órgãos de perícia criminal quando em serviço ou em razão do serviço, quando
for vítima de infração penal;
XXX - precedência em audiências judiciais na qualidade de testemunha, em serviço ou em razão do serviço;

1.11. AJUDA DE CUSTO E DIÁRIAS

Estes são direitos básicos do servidor na administração pública, mas, infelizmente, ainda não
recebem a devida importância por parte de algumas instituições militares estaduais pelo Brasil:

a. Ajuda de custo – é um benefício financeiro, a título de indenização, concedido aos servidores


que, no interesse da administração, passam a ter exercício em nova sede com mudança de
domicílio em caráter permanente. Destina-se a compensar as despesas de viagem, mudança e
instalação do militar e de sua família, devendo ser diretamente proporcional ao número de
dependentes envolvidos. As instituições que ainda não atendem a esta determinação legal
devem ser prontamente cobradas pelas entidades representativas dos militares estaduais.

b. Diárias – é o pagamento realizado para indenizar despesas com pousada, alimentação,


deslocamentos locais e a sua manutenção básica quando escalado para executar
determinadas missões não permanentes em cidades, UF ou países diferentes daquele em que
está lotado o militar. Entretanto, em relação a este tema, é notório que algumas instituições
apresentam valores de diárias irrisórios que não conseguem indenizar minimamente o que é
necessário para a aquisição de uma alimentação básica mais uma diária de pousada simples,
condição que deve ser reavaliada pelos gestores executivos a fim de que se faça cumprir o
objetivo financeiro e social da indenização. Por fim, é importante ressaltar que os meios de
transporte necessários para o deslocamento entre a origem e o local de destino da missão, e
vice-versa, devem ser providenciados pela administração pública sem comprometer os valores
devidos de diária.

Também é importante destacar que o pagamento do valor correspondente às diárias deve


ocorrer de forma antecipada, pois não é admissível que um profissional seja obrigado a cumprir uma
missão fora de sua cidade de origem, levando a despesas extraordinárias além do previsto em seu
orçamente normal, considerando os baixos salários pagos aos militares estaduais, que, na maioria das
vezes, é insuficiente até mesmo para a manutenção de sua família.

RODRIGO WILSON MELO DE SOUZA


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Referências na Lei nº 14.751/23:

Ü Art. 18 [...]
[...]
XXXI - ajuda de custo, quando removido de sua lotação para outro Município, no interesse da administração pública,
na forma da lei do ente federado;
XXXII - pagamento antecipado de diárias por deslocamento fora de sua lotação ou sede para o desempenho de
sua atribuição, na forma da lei do ente federado;

1.12. MILITAR INATIVO: MANIFESTAÇÃO DE PENSAMENTO E OPINIÃO

Trata-se de um direito de extrema importância para o fortalecimento da Democracia.


Entretanto, é exclusivo para os militares que estão na inatividade, visando a garantia da hierarquia e
disciplina. Determina a legislação que o militar veterano tem o direito de livre opinião sobre assunto político
e de expressão de pensamento e conceito ideológico, filosófico ou relativo à matéria de interesse público,
independentemente das disposições constantes dos Regulamentos ou Códigos Disciplinares aos quais
são subordinados. Deve-se, porém, atentar para que o exercício deste direito não extrapole os limites
legais, cuidando para não atingir a honra de alguém, na forma de calúnia, difamação ou injúria. Importante
observar também que o atual ativismo político de nosso sistema de justiça tem apresentado decisões, em
diversas situações, que desconsideram o direito legal de manifestação do pensamento e opinião,
principalmente dos militares inativos.

a. Calúnia – consiste em imputar publicamente um fato criminoso falso a alguém.

b. Difamação – configura-se com a prática de propagar informações falsas ou imprecisas sobre


alguém, atingido a honra da vítima, com a intenção de prejudicar sua reputação.

c. Injúria – concretiza-se quando se atinge a honra, dignidade e moral de outra pessoa com
ofensas e xingamentos, mas, ao contrário da calúnia e da difamação, não é necessário que
terceiros tomem ciência da ofensa.

Referências na Lei nº 14.751/23:

Ü Art. 18 [...]
[...]
XXXIV - aplicação ao militar veterano da reserva remunerada do disposto na Lei nº 7.524, de 17 de julho de
1986, quanto ao direito de expressão e manifestação;

Lei nº 7.524/86 – Dispõe sobre a manifestação, por militar inativo, de pensamento e opinião políticos ou filosóficos.

Ü Art. 1º Respeitados os limites estabelecidos na lei civil, é facultado ao militar inativo, independentemente das
disposições constantes dos Regulamentos Disciplinares das Forças Armadas, opinar livremente sobre assunto
político, e externar pensamento e conceito ideológico, filosófico ou relativo à matéria pertinente ao interesse
público.
Parágrafo único. A faculdade assegurada neste artigo não se aplica aos assuntos de natureza militar de caráter
sigiloso e independe de filiação político-partidária.

RODRIGO WILSON MELO DE SOUZA


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2. INSTITUIÇÕES MILITARES PERMANENTES

Diferentemente dos boatos que vinham circulando pelo país, dando conta de uma possível
desmilitarização das polícias militares e corpos de bombeiros militares, a Lei nº 14.751/23 findou por deixar
clara a condição de INSTITUIÇÕES MILITARES PERMANENTES e FORÇAS AUXILIARES E RESERVA DO EXÉRCITO,
ratificando o disposto no parágrafo 6o, art. 144, da Constituição da República Federativa do Brasil, dando à
Inspetoria-Geral das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares (IGPM/BM), órgão integrante
do Comando do Exército, a incumbência para coordenar e controlar os dispositivos da lei relativos à
condição de força auxiliar e reserva do EB.

Referências na Lei nº 14.751/23:

Ü Art. 2º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios
são instituições militares permanentes, exclusivas e típicas de Estado, essenciais à Justiça Militar, na condição de
forças auxiliares e reserva do Exército, nos termos do § 6º do art. 144 da Constituição Federal, indispensáveis à
preservação da ordem pública, à segurança pública, à incolumidade das pessoas e do patrimônio e ao regime
democrático, organizadas com base na hierarquia e na disciplina militares e comandadas por oficial da ativa do último
posto, integrante do Quadro de Oficiais de Estado-Maior (QOEM) da respectiva instituição.
[...]
§ 3º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios são
instituições:
I - militares;
II - permanentes;

Ü Art. 4º São diretrizes a serem observadas pelas polícias militares e pelos corpos de bombeiros militares dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, além de outras previstas na legislação e em regulamentos, no âmbito
de suas atribuições constitucionais e legais:
[...]
V - racionalidade e imparcialidade nas ações das instituições militares estaduais, do Distrito Federal e dos
Territórios;

Ü Art. 7º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios,
instituições militares permanentes, subordinam-se aos governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos
Territórios.

Ü Art. 10 [...]
[...]
§ 7º As instituições militares estaduais poderão, nos termos em que a lei do ente federado estabelecer, criar e
manter as assessorias militares.

Ü Art. 25. As polícias militares e os corpos de bombeiros militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios
poderão ser mobilizados pela União no caso de guerra e integrarão a força terrestre designada, que delimitará
os aspectos operacionais e táticos de seu emprego, obedecidas as suas missões específicas e constitucionais.

Ü Art. 28. A Inspetoria-Geral das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares (IGPM/BM), integrante do
Comando do Exército, incumbe-se dos estudos, da coleta e do registro de dados e da assessoria referente ao
controle e à coordenação, no âmbito federal, dos dispositivos desta Lei relativos à condição de força auxiliar e
reserva do Exército, nos termos do § 6º do art. 144 da Constituição Federal.

RODRIGO WILSON MELO DE SOUZA


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3. COMANDANTE GERAL

As Unidades Federativas tinham certa autonomia para legislar em relação aos critérios
necessários a um policial militar ou bombeiro militar para ser nomeado Comandante Geral de suas
respectivas instituições, entretanto com o advento da Lei Orgânica Nacional das Polícias Militares e
Corpos de Bombeiros Militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, foram detalhados os
requisitos mínimos necessários.

Para que as próximas nomeações estejam dentro da legalidade, deverão ser cumpridos os
seguintes requisitos básicos:

a. Ser oficial da ativa.

b. Pertencer ao último posto (Coronel).

c. Integrar do Quadro de Oficiais de Estado-Maior (QOEM).

d. Ser integrante da respectiva instituição.

e. Nomeação por ato do Governador.

f. Possuir o Curso de Comando e Estado-Maior (CCEM).

g. Ser Bacharel em Direito (para os oficiais dos corpos de bombeiros militares, poderá ser exigida
outra graduação prevista na legislação do ente federado).

Este último item será aquele que suscitará a grande polêmica sobre o tema, pois observamos
um paradoxo legal na falta de harmonia entre o inciso I do caput do art. 15 em face do parágrafo único do
art. 39, tudo da Lei no 14.751/2023. Vejamos:

a. O inciso I do caput do art. 15, que conceitua o QOEM, determina que para ser integrante do
citado quadro será “exigido bacharelado em direito”, deixando a exceção da possibilidade de
outra graduação, a critério da respectiva legislação estadual, apenas para os oficiais dos
corpos de bombeiros militares.

b. Considerando a orientação contida no caput do art. 2o, que para ser Comandante-Geral é
imprescindível ser integrante do QOEM, extrai-se, assim, a obrigatoriedade do oficial indicado
também ser bacharel em Direito.

c. Na Lei no 14.751/2023, não está expressa qualquer regra de transição para o aproveitamento
dos atuais oficiais, integrantes das corporações policiais militares, que não sejam bacharéis em
Direito, para inclusão no QOEM.

d. Entretanto, no parágrafo único do art. 39, o diploma legal abre a possibilidade das instituições
militares estaduais e distrital de oferecerem o “curso de formação de educação superior”,
equivalentes àqueles definidos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, podendo
ser de bacharel em Direito ou em Ciências Policiais. Neste caso, o nível de escolaridade
exigido no concurso público seria o Ensino Médio.

e. Resta-nos, então, a seguinte conclusão: caso a instituição opte por realizar o curso de
formação de educação superior, deverá direcionar a formação de bacharel em Direito para os
candidatos que irão integrar o QOEM e a formação em bacharel em Ciências Policiais para

RODRIGO WILSON MELO DE SOUZA


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aqueles que irão integrar o Quadro de Praças (QP).

Referências na Lei nº 14.751/23:

Ü Art. 2º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios
são instituições militares permanentes, exclusivas e típicas de Estado, essenciais à Justiça Militar, na condição de
forças auxiliares e reserva do Exército, nos termos do § 6º do art. 144 da Constituição Federal, indispensáveis à
preservação da ordem pública, à segurança pública, à incolumidade das pessoas e do patrimônio e ao regime
democrático, organizadas com base na hierarquia e na disciplina militares e comandadas por oficial da ativa do
último posto, integrante do Quadro de Oficiais de Estado-Maior (QOEM) da respectiva instituição.

Ü Art. 29. Os comandantes-gerais das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios serão nomeados por ato do governador entre os oficiais da ativa do último posto do
quadro a que se refere o inciso I do caput do art. 15 desta Lei e serão responsáveis, no âmbito da administração
direta, perante os governadores das respectivas unidades federativas e Territórios, pela administração e emprego da
instituição.
§ 1º A escolha a que se refere o caput deste artigo deverá recair em oficial possuidor do Curso de Comando e
Estado-Maior (CCEM), e o comandante-geral poderá permanecer, a critério do governador, nos termos da lei do
ente federado, durante o governo da autoridade que o nomeou.

Ü Art. 15 [...]
I - Quadro de Oficiais de Estado-Maior (QOEM), destinado ao exercício, entre outras, das funções de comando,
chefia, direção e administração superior dos diversos órgãos da instituição e integrado por oficiais aprovados em
concurso público, exigido bacharelado em direito, observado o disposto no inciso IX do caput do art. 13 desta Lei,
facultada, para os oficiais dos corpos de bombeiros militares, outra graduação prevista na legislação do ente
federado, e possuidores do respectivo curso de formação de oficiais, realizado em estabelecimento de ensino
próprio ou de polícia militar ou de corpo de bombeiros militar de outra unidade federada ou de Territórios;

Ü Art. 16. [...]


[...]
§ 2º Os cursos existentes nas instituições militares, além de habilitarem aqueles aprovados em concurso público ou
interno para o desempenho das atribuições do cargo, também serão requisitos para promoção, nos seguintes termos:
I - para os oficiais:
[...]
c) curso de comando e estado-maior (CCEM), destinado aos majores e tenentes-coronéis do QOEM e do QOS e à
promoção ao posto de coronel;

Ü Art. 39. A adoção do requisito de escolaridade para ingresso na instituição militar será processada no prazo de até
6 (seis) anos a contar da publicação desta Lei.
Parágrafo único. Na forma da legislação de ensino do ente federado, a instituição poderá optar por formar o militar do
Estado e do Distrito Federal em curso de formação de educação superior com equivalência àqueles definidos no art.
44 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), concedendo-lhe o
requisito para ingresso previsto no inciso IX do caput do art. 13 desta Lei, ensino superior, e no art. 15 desta Lei,
bacharel em direito ou em ciências policiais.

Em resumo, considerando que a Lei nº 14.751/2023 não estabeleceu uma “regra de transição”,
tendo entrado em total vigência no dia 13 de dezembro de 2023, mesmo sendo observada uma
incongruência entre os dispositivos da lei, extrai-se a exigência do bacharelado em Direito como requisito
para a assunção do oficial ao comando geral da instituição, não obstante os questionamentos jurídicos que
poderão defender teses diferentes de interpretação, face à atecnia legislativa vislumbrada no diploma legal
mencionado.

RODRIGO WILSON MELO DE SOUZA


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4. ENSINO E INSTRUÇÃO

Com a Lei no 14.751/2023, algumas Unidades Federativas terão que modificar completamente
os seus atuais sistemas de ensino destinados aos militares estaduais, pois várias delas, nas últimas
décadas, adotaram um sistema de formação em instituições integradas, de caráter civil, onde se realizam
a formação, habilitação, aperfeiçoamento, especialização e adaptação de todos os profissionais dos
órgãos de segurança pública e defesa social do estado, como são os exemplos do Ceará e de
Pernambuco, respectivamente com a Academia Estadual de Segurança Pública (AESP) e a Academia
Integrada de Defesa Social. Torna-se expressamente proibida a realização de cursos de natureza militar
por instituições civis, mesmo que apenas de forma cooperativa, devendo os cursos de formação,
adaptação e habilitação ser realizados em instituições de ensino militar, próprias ou congêneres (também
militares), sejam estaduais, federais ou do Distrito Federal, enquanto apenas os cursos de
aperfeiçoamento e especialização poderão ser realizados em instituições de ensino conveniadas no Brasil
ou no exterior. Portanto, o mais indicado para as instituições que extinguiram as suas academias militares
e centros de formação é começarem a pensar em reativá-las, pois, do contrário, terão dificuldades
estratégicas para o cumprimento das diretrizes legais de capacitação profissional continuada também
exigida pela lei.

Referências na Lei nº 14.751/23:

Ü Art. 4º São diretrizes a serem observadas pelas polícias militares e pelos corpos de bombeiros militares dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, além de outras previstas na legislação e em regulamentos, no âmbito
de suas atribuições constitucionais e legais:
[...]
XI - capacitação profissional continuada;

Ü Art. 5º Compete às polícias militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, nos termos de suas
atribuições constitucionais e legais, respeitado o pacto federativo:
[...]
XIV - recrutar, selecionar e formar seus membros militares e desenvolver as atividades de ensino, extensão e
pesquisa em caráter permanente com vistas à sua educação continuada e ao aprimoramento de suas atividades,
por meio do seu sistema de ensino militar, em órgãos próprios ou de instituições congêneres, inclusive
mediante convênio, termo de parceria ou outro ajuste com instituições públicas, na forma prevista em lei;

Ü Art. 8º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios
poderão cooperar nas comunicações de centro de operações, na formação, no treinamento e no aperfeiçoamento de
outras instituições e órgãos de segurança pública federal, estadual, distrital e municipal, no âmbito de suas
atribuições constitucionais e legais.
Parágrafo único. É vedada a cooperação para formação e treinamento de natureza militar para as instituições
civis.

Ü Art. 16. As polícias militares e os corpos de bombeiros militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios
manterão o seu sistema de ensino militar, podendo incluir os colégios militares de ensino fundamental e médio, e
ter cursos de graduação ou pós-graduação lato sensu ou stricto sensu e, se atendidos os requisitos do Ministério
da Educação, terão integração e plena equivalência com os demais cursos regulares de universidades públicas.
§ 1º Os cursos previstos no sistema de ensino militar observarão o seguinte:
I - os cursos de formação, adaptação e habilitação serão realizados em instituição de ensino militar;
II - os cursos de aperfeiçoamento ou especialização poderão ser realizados em unidade de ensino militar ou
em instituições públicas conveniadas, no País ou no exterior.

Por lei, também ficou estabelecido um rol mínimo dos cursos profissionais que deverão ser
mantidos pelas instituições militares estaduais, tanto para os oficiais quanto para as praças, sendo estes
requisitos para promoção na hierarquia militar:

RODRIGO WILSON MELO DE SOUZA


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a. Para oficiais:

• Curso de Formação de Oficiais (CFO).


• Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais (CAO).
• Curso de Comando e Estado-Maior (CCEM).
• Curso de Habilitação de Oficial do Quadro de Oficiais de Saúde (CHOS).
• Curso de Habilitação de Oficial do Quadro de Oficiais Especialistas (CHOE).

b. Para praças:

• Curso de Formação de Praças (CFP).


• Curso de Formação de Sargentos (CFS).
• Curso de Aperfeiçoamento de Praças (CAP).

Referências na Lei nº 14.751/23:

Ü Art. 16 [...]
[...]
§ 2º Os cursos existentes nas instituições militares, além de habilitarem aqueles aprovados em concurso público ou
interno para o desempenho das atribuições do cargo, também serão requisitos para promoção, nos seguintes termos:
I - para os oficiais:
a) curso de formação de oficiais (CFO), destinado aos aprovados no concurso público para o QOEM, com o
ingresso na condição de cadete e habilitação à promoção a aspirante a oficial;
b) curso de aperfeiçoamento de oficiais (CAO), destinado aos capitães e à habilitação à promoção ao posto de
major;
c) curso de comando e estado-maior (CCEM), destinado aos majores e tenentes-coronéis do QOEM e do QOS e à
promoção ao posto de coronel;
d) curso de habilitação de oficial do Quadro de Oficiais de Saúde (CHOS) e curso de habilitação de oficial do
Quadro de Oficiais Especialistas (CHOE), com ingresso na condição de aluno-oficial e à habilitação à promoção ao
posto de segundo-tenente;
II - para as praças:
a) curso de formação de praças (CFP), destinado aos aprovados em concurso público, na graduação de aluno-
soldado, e habilitação à promoção à graduação de soldado;
b) curso de formação de sargentos (CFS), com ingresso na graduação de aluno-sargento e habilitação à promoção
à graduação de terceiro-sargento;
c) curso de aperfeiçoamento de praças (CAP), destinado aos segundos-sargentos e habilitação à promoção à
graduação de primeiro-sargento.
[...]
§ 4º Os cursos previstos neste artigo poderão ser realizados nas instituições militares federais, estaduais e do
Distrito Federal.

Dentro deste capítulo referente ao ensino e instrução, também é importante destacar a


obrigatoriedade do grau de escolaridade superior para ingresso nas instituições militares estaduais, além
da necessidade de aprovação em exame toxicológico.

Referências na Lei nº 14.751/23:

Ü Art. 13. São condições básicas para ingresso nas polícias militares e nos corpos de bombeiros militares dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, além do previsto na lei do ente federado:
[...]
IX - comprovar, na data de admissão, de incorporação ou de formatura, o grau de escolaridade superior, nos
termos do art. 15 desta Lei e da legislação do ente federado;
[...]
VIII - ser aprovado em exame de saúde e exame toxicológico com larga janela de detecção;

RODRIGO WILSON MELO DE SOUZA


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5. PLANEJAMENTO E OPERACIONALIDADE

Importante observar a importância que a Lei no 14.751/2023 deu à necessidade de se planejar


todas as ações das instituições militares estaduais, inclusive impondo ao comandante-geral nomeado que
apresente um Plano de Comando em até 60 (sessenta) dias após a posse, que deverá estar alinhado com
o plano estratégico da instituição. A realização de um planejamento estratégico e sistêmico, não obstante
que instituições mais modernas já realizavam, passou a ser obrigatória por integrar a lista das diretrizes a
serem observadas pelas polícias militares e pelos corpos de bombeiros militares dos estados, do Distrito
Federal e dos Territórios.

Destaque-se, também, que passa a ser exigida a padronização de procedimentos operacionais


através do estabelecimento de protocolos operacionais sob a responsabilidade direta do comandante-
geral, e que estes protocolos devem ser encaminhados para conhecimento dos conselhos estaduais de
segurança pública e defesa social.

Enfim, a existência de órgãos de inteligência e contrainteligência nas instituições militares


estaduais não mais poderão ser questionadas pelo ministério público e pela polícia judiciária, como era
muito comum de acontecer, pois agora fica perfeitamente clara a orientação legal, dentro do rol das
competências das polícias militares e corpos de bombeiros militares, para a execução e o
acompanhamento, por parte destes órgãos, de assuntos de segurança pública, da polícia judiciária militar
e da preservação da ordem pública. Os órgãos de inteligência terão por responsabilidade, conforme o
texto legal, subsidiar ações para prever, prevenir e neutralizar ilícitos e ameaças de qualquer natureza que
possam afetar a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio.

Referências na Lei nº 14.751/23:

Ü Art. 4º São diretrizes a serem observadas pelas polícias militares e pelos corpos de bombeiros militares dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, além de outras previstas na legislação e em regulamentos, no âmbito
de suas atribuições constitucionais e legais:
[...]
II - planejamento estratégico e sistêmico;
[...]
VI - caráter técnico e científico no planejamento e no emprego;
VII - padronização de procedimentos operacionais, formais e administrativos e da identidade visual e funcional,
com publicidade, ressalvados aqueles para os quais a Constituição ou a lei determinem sigilo;

Ü Art. 5º Compete às polícias militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, nos termos de suas
atribuições constitucionais e legais, respeitado o pacto federativo:
[...]
XI - produzir, difundir, planejar, orientar, coordenar, supervisionar e executar ações de inteligência e
contrainteligência destinadas à execução e ao acompanhamento de assuntos de segurança pública, da polícia
judiciária militar e da preservação da ordem pública, subsidiando ações para prever, prevenir e neutralizar ilícitos e
ameaças de qualquer natureza que possam afetar a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio, na
esfera de sua competência, observados os direitos e garantias individuais;
[...]

Ü Art. 29 [...]
[...]
§ 2º O comandante-geral nomeado deverá apresentar, em até 60 (sessenta) dias da posse, plano de comando com
metas, indicadores, prestação de contas e participação da sociedade, ajustado aos planos estratégicos da instituição,
que contenha:

Ü Art. 30. O comandante-geral da polícia militar deverá regulamentar e estabelecer protocolos operacionais com
vistas a apoiar o militar em suas atividades.
Parágrafo único. Os protocolos operacionais referidos no caput deste artigo deverão:

RODRIGO WILSON MELO DE SOUZA


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[...]
II - ser encaminhados aos conselhos estaduais de segurança pública e defesa social previstos na Lei nº 13.675,
de 11 de junho de 2018;

RODRIGO WILSON MELO DE SOUZA


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6. ORGANIZAÇÃO

A estrutura organizacional das instituições tratadas na Lei no 14.751/2023 deve observar,


preferencialmente, a seguinte distribuição básica:

a. Órgãos de Direção

• Órgãos de Direção-Geral (ex.: Comando-Geral, Subcomando-Geral, Estado-Maior)


• Órgãos de Direção Setorial (ex.: diretorias de pessoal, saúde, ensino, logística, etc.)

b. Órgãos de Assessoramento (ex.: assessorias jurídica, de comunicação, parlamentar, etc.)

c. Órgãos de Apoio (ex.: academia militar, CFAP, hospital militar, etc.)

d. Órgãos de Execução (ex.: comandos, batalhões, companhias, pelotões, destacamentos, etc.)

e. Órgãos de Correição (ex.: corregedoria)

Já os quadros profissionais devem, obrigatoriamente, organizar-se da seguinte maneira, não


obstante a possibilidade de criação de outros por legislação estadual ou distrital:

a. Quadros obrigatórios:

• Quadro de Oficiais de Estado-Maior (QOEM)


• Quadro de Oficiais Especialistas (QOE)
• Quadro de Oficiais de Saúde (QOS)
• Quadro de Oficiais da Reserva e Reformados (QORR)
• Quadro de Praças (QP)
• Quadro de Praças da Reserva e Reformados (QPRR)

b. Quadros opcionais:

• Quadro de Oficial Temporário (QOT)


• Quadro de Praça Temporário (QPT)

Nos últimos anos estava ocorrendo uma grande confusão na organização das instituições
militares estaduais, principalmente na distribuição dos níveis hierárquicos, onde postos e graduações
foram suprimidos ou, por mais incrível que possa parecer, criados novos níveis, como é o caso do estado
do Ceará que fundou ineditamente uma espécie de general policial ou general bombeiro, recebendo a
denominação de Coronel-Comandante-Geral, para justificar um maior salário para todos aqueles que
fossem escolhidos pelo governador para ocupar o cargo de comandante-geral. Entretanto, agora a lei
colocou limites na criatividade dos gestores da segurança pública estabelecendo a estrutura básica dos
níveis hierárquicos:

a. Oficiais

• Oficiais Superiores

o Coronel
o Tenente-Coronel
o Major

RODRIGO WILSON MELO DE SOUZA


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• Oficiais Intermediários

o Capitão

• Oficiais Subalternos

o Primeiro-Tenente
o Segundo-Tenente

b. Praças Especiais

• Aspirante a Oficial
• Cadete
• Aluno-Oficial

c. Praças

• Subtenente
• Primeiro-Sargento
• Segundo-Sargento
• Terceiro-Sargento
• Aluno-Sargento
• Cabo
• Soldado
• Aluno-Soldado

Referências na Lei nº 14.751/23:

Ü Art. 10. A organização das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares dos Estados, do Distrito Federal e
dos Territórios, prevista em lei de iniciativa privativa do governador, deve observar preferencialmente a seguinte
estrutura básica:
I - órgãos de direção;
II - órgãos de assessoramento;
III - órgãos de apoio;
IV - órgãos de execução;
V - órgãos de correição.
§ 1º Os órgãos de direção referidos no inciso I do caput deste artigo compreendem:
I - os órgãos de direção-geral, destinados a efetuar a direção geral, o planejamento estratégico e a administração
superior da instituição;
II - os órgãos de direção setorial, destinados a realizar a administração setorial das atividades de inteligência,
recursos humanos, saúde, ensino e instrução, pesquisa e desenvolvimento, logística e gestão orçamentária,
financeira e ambiental, entre outras.
§ 2º Os órgãos de assessoramento referidos no inciso II do caput deste artigo destinam-se a prestar assessoria,
consultoria, recomendação e orientação técnica e política e a expedir nota técnica, para auxiliar as decisões dos
órgãos de direção em assuntos especializados.
§ 3º Os órgãos de apoio referidos no inciso III do caput deste artigo destinam-se, entre outras atribuições, ao
atendimento das necessidades de recursos humanos, saúde, ensino, pesquisa, logística e gestão orçamentária e
financeira e são responsáveis pela realização das atividades-meio da instituição.
§ 4º Os órgãos de execução referidos no inciso IV do caput deste artigo destinam-se à realização das atividades-fim
da instituição, de acordo com as peculiaridades da unidade federada ou dos Territórios.
§ 5º Os órgãos de correição referidos no inciso V do caput deste artigo, com atuação desconcentrada, destinam-se a
exercer as funções de Corregedoria-Geral, mediante regulamentação de procedimentos internos, para a prevenção,
fiscalização e apuração dos desvios de conduta em atos disciplinares e penais militares, a promoção da qualidade e
eficiência do serviço de segurança pública e a instrumentalização da Justiça Militar, bem como a acompanhar o
cumprimento de quaisquer medidas cautelares restritivas de direitos e mandados de prisão judicialmente deferidos
em desfavor de militares dentro da instituição, sem suprimir a responsabilidade do poder hierárquico e disciplinar das
autoridades locais.
§ 6º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios

RODRIGO WILSON MELO DE SOUZA


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poderão ainda contar com órgãos especializados de execução, para missões específicas, com responsabilidade
sobre toda a área da unidade federada ou dos Territórios.
§ 7º As instituições militares estaduais poderão, nos termos em que a lei do ente federado estabelecer, criar e manter
as assessorias militares.

Ü Art. 15. As polícias militares e os corpos de bombeiros militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios,
regulamentados pelo ente federado, constituir-se-ão, entre outros, dos seguintes quadros:
I - Quadro de Oficiais de Estado-Maior (QOEM), destinado ao exercício, entre outras, das funções de comando,
chefia, direção e administração superior dos diversos órgãos da instituição e integrado por oficiais aprovados em
concurso público, exigido bacharelado em direito, observado o disposto no inciso IX do caput do art. 13 desta Lei,
facultada, para os oficiais dos corpos de bombeiros militares, outra graduação prevista na legislação do ente
federado, e possuidores do respectivo curso de formação de oficiais, realizado em estabelecimento de ensino próprio
ou de polícia militar ou de corpo de bombeiros militar de outra unidade federada ou de Territórios;
II - Quadro de Oficiais Especialistas (QOE), destinado ao exercício de atividades complementares àquelas
previstas para o quadro constante do inciso I deste caput e integrado por oficiais oriundos do quadro de praças, nos
termos da legislação do ente federado, possuidores do respectivo curso de habilitação, realizado em estabelecimento
de ensino próprio ou de polícia militar ou de corpo de bombeiros militar de outra unidade federada ou de Territórios,
admitida a promoção até o posto de tenente-coronel;
III - Quadro de Oficiais de Saúde (QOS), destinado ao desempenho de atividades de saúde e de direção e
administração de órgãos de saúde das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares e integrado por oficiais
possuidores de cursos de graduação superior na área de saúde de interesse da instituição, com emprego obrigatório
e exclusivo na área de saúde das corporações;
IV - Quadro de Oficiais da Reserva e Reformados (QORR), destinado aos oficiais das polícias militares e dos
corpos de bombeiros militares da reserva remunerada e aos reformados;
V - Quadro de Praças (QP), destinado às atividades dos diversos órgãos da instituição e integrado por praças
aprovadas em concurso público de nível de escolaridade superior ou possuidoras do respectivo curso de formação,
desde que oficialmente reconhecido como de nível de educação superior, oferecido pelo sistema de ensino da
respectiva instituição ou de outra unidade federada ou de Territórios, observado o disposto no inciso IX do caput do
art. 13 desta Lei, com progressão até a graduação de subtenente;
VI - Quadro de Praças da Reserva e Reformados (QPRR), destinado às praças das polícias militares e dos corpos
de bombeiros militares da reserva remunerada e aos reformados.
[...]
§ 4º A critério das corporações, poderão ser instituídos Quadro de Oficial Temporário (QOT) e Quadro de Praça
Temporário (QPT), por tempo determinado, nos termos da legislação do ente federado.
§ 5º A critério das corporações, poderão ser estabelecidas especialidades dentro dos quadros.

Ü Art. 12. A hierarquia nas polícias militares e nos corpos de bombeiros militares dos Estados, do Distrito Federal e
dos Territórios, em razão de seu regime jurídico constitucional militar e dos fundamentos das Forças Armadas, deve
observar a seguinte estrutura básica:
I - oficiais:
a) oficiais superiores:
1. coronel;
2. tenente-coronel;
3. major;
b) oficiais intermediários: capitão;
c) oficiais subalternos:
1. primeiro-tenente;
2. segundo-tenente;
II - praças especiais:
a) aspirante a oficial;
b) cadete;
c) aluno-oficial;
III - praças:
a) subtenente;
b) primeiro-sargento;
c) segundo-sargento;
d) terceiro-sargento;
e) aluno-sargento;
f) cabo;
g) soldado;
h) aluno-soldado.

RODRIGO WILSON MELO DE SOUZA


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7. VETOS

Para finalizar a síntese explicativa sobre a Lei no 14.751/2023, eu não poderia deixar de
comentar sobre os vetos presidenciais que abortaram direitos que seriam muito importantes para os
profissionais das instituições militares estaduais. A Lei Orgânica das Polícias Militares e dos Corpos de
Bombeiros Militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, sem qualquer dúvida, foi uma
grande conquista para estas instituições, pois há muito tempo estávamos órfãos de uma legislação federal
que, além de organizar e padronizar o funcionamento das Policias Militares e Corpos de Bombeiros em
todo o país, garantisse os direitos básicos de seus profissionais, evitando que ficássemos à total mercê
dos humores pessoais de governadores e das nefastas interferências políticas que abalam
inexoravelmente os pilares de sustentação das instituições militares: hierarquia e disciplina.

Em relação ao Projeto de Lei no 3.045/2022 do Senado Federal (PL no 4.363/2001, na Câmara


dos Deputados), remetido à sanção do Presidente da República através da Mensagem no 294-SF, de 22
de novembro de 2023, o Poder Executivo vetou 28 itens, entretanto apresentarei a seguir apenas aqueles
que afetam diretamente os direitos dos militares estaduais:

RESERVA DE 30% VAGAS NO CONCURSO PARA O QUADRO DE OFICIAIS DE ESTADO-MAIOR


PARA INTEGRANTES DAS INSTITUIÇÕES, SEM RESTRIÇÃO DE LIMITE DE IDADE
DISPOSITIVO § 1º e § 2º do art. 15 do Projeto de Lei
“§ 1º Os integrantes da instituição militar, nos termos da legislação do ente federado, terão
reservado percentual de, no mínimo, 30% (trinta por cento) das vagas nos concursos públicos para
acesso aos cargos do QOEM de que trata o inciso I do caput deste artigo.
§ 2º Os integrantes da instituição militar não terão limite de idade para o concurso público de
ingresso no QOEM de que trata o inciso I do caput deste artigo.”

GARANTIA DA PROMOÇÃO CASO O ESTADO NÃO DISPONIBILIZE O CURSO OBRIGATÓRIO


DISPOSITIVO
§ 5º do art. 16 do Projeto de Lei
"§ 5º Se o ente federado não disponibilizar o curso que é requisito para a promoção ou não enviar o
militar para realizá-lo em outra instituição militar, se forem atendidos os demais requisitos legais e
houver vaga, é direito do militar ser promovido."

SEGURO DE VIDA E DE ACIDENTES


DISPOSITIVO Inciso XII do caput do art. 18 do Projeto de Lei
"XII - seguro de vida e de acidentes ou indenização fixada em lei do ente federado, quando
vitimado no exercício da função ou em razão dela;"

SIMETRIA ENTRE PESSOAL DA ATIVA E INATIVOS


DISPOSITIVO Inciso XX do caput do art. 18 do Projeto de Lei
"XX - sistema de proteção social com os mesmos fundamentos dos militares federais nos termos
previstos no art. 24-H do Decreto-Lei nº 667, de 2 de julho de 1969;"

RODRIGO WILSON MELO DE SOUZA


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GARANTIA DO RECEBIMENTO DA REMUNERAÇÃO PELO CÔNJUGE DE MILITAR PRESO
PROVISORIAMENTE OU APENADO SEM EXCLUSÃO
DISPOSITIVO Inciso XXI do caput do art. 18 do Projeto de Lei
"XXI - percepção, pelo cônjuge ou dependente, da remuneração do militar preso provisoriamente
ou em cumprimento de pena que não tenha sido excluído;"

GARANTIA DO RECEBIMENTO DE PENSÃO AOS BENEFICIÁRIOS DE OFICIAL QUE PERDER O


POSTO E PATENTE
DISPOSITIVO Inciso XXII do caput do art. 18 do Projeto de Lei
"XXII - percepção, pelo cônjuge ou dependente, da pensão do militar ativo, da reserva ou
reformado na hipótese prevista no art. 20 da Lei nº 3.765, de 4 de maio de 1960;"

GARANTIA DE TRANSLADO PARA MILITAR MORTO OU ACIDENTADO


DISPOSITIVO Inciso XXVIII do caput do art. 18 do Projeto de Lei
"XXVIII - traslado, quando vítima de acidente que dificulte sua locomoção ou quando ocorrer a
morte durante a atividade ou em razão dela, promovido a expensas da instituição;"

AUXÍLIO-FUNERAL POR MORTE DE CÔNJUGE, COMPANHEIRO(A), DEPENDENTE OU DO


PRÓPRIO MILITAR
DISPOSITIVO Inciso XXXV do caput do art. 18 do Projeto de Lei
"XXXV - auxílio-funeral devido ao militar, por morte do cônjuge, do companheiro, reconhecido em
normas internas das instituições militares estaduais, e do dependente, e ao beneficiário, no caso de
falecimento do militar, nos termos da lei do ente federado;"

POSSIBILIDADE DE EXERCER OUTRA FUNÇÃO PÚBLICA OU PRIVADA NO MAGISTÉRIO OU ÁREA


DE SAÚDE, COMO TAMBÉM QUALQUER OUTRA CASO ESTEJA DE LICENÇA PARA TRATAR DE
INTERESSE PARTICULAR
DISPOSITIVO Inciso II do caput do art. 19 do Projeto de Lei
"II - exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública ou privada, salvo a de
magistério ou da área da saúde, nas hipóteses de acumulação previstas no inciso XVI do caput do
art. 37, no § 3º do art. 42 e no inciso VIII do § 3º do art. 142 da Constituição Federal, ou se estiver
em gozo de licença para tratar de interesse particular e, neste caso, desde que não tenha interface
com a instituição militar, observadas, em qualquer hipótese, a necessária compatibilidade de horários e a
prevalência da atividade militar;"

ACUMULAÇÃO DE CARGOS
DISPOSITIVO Art. 21 do Projeto de Lei
"Art. 21. As funções dos cargos de policial militar e de bombeiro militar têm caráter eminentemente
técnico-científico para todos os efeitos legais, aplicando-se aos seus membros o previsto no inciso
XVI do caput do art. 37 e no § 3º do art. 42 da Constituição Federal, com prevalência da atividade
militar."

POSSIBILIDADE DE CONTAGEM DE TEMPO DE EXERCÍCIO DE MANDATO ELETIVO PARA


RECÁLCULO DA REMUNERAÇÃO NA INATIVIDADE
DISPOSITIVO § 2º do art. 22 do Projeto de Lei
"§ 2º Nas hipóteses do inciso II do caput deste artigo, após o término do mandato do militar, contar-
se-á o tempo de exercício do mandato para recálculo de sua remuneração na inatividade, se não
for integral."

RODRIGO WILSON MELO DE SOUZA


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PRERROGATIVAS DE GENERAL DE BRIGADA AOS COMANDANTES-GERAIS
DISPOSITIVO § 6º do art. 29 do Projeto de Lei
"§ 6º Ao coronel nomeado para o cargo de comandante-geral, enquanto permanecer no cargo,
serão asseguradas, para fins de precedência e sinais de respeito, as prerrogativas de general de
brigada."

REGRAS DE TRANSIÇÃO PARA A NOVA LEI


DISPOSITIVO Caput, inciso II e §§ 1º, 2º e 3º do art. 40 do Projeto de Lei
"Art. 40. São estabelecidas as seguintes regras de transição, na data de publicação desta Lei:"

"II - os integrantes dos diversos quadros de praças que tenham supressão de graduações terão
180 (cento e oitenta) dias para fazer a opção de permanecer no seu quadro ou ingressar na nova
carreira."
"§ 1º Nas instituições que tenham suprimido postos ou graduações até a entrada em vigor desta Lei, ficam
convalidadas as supressões, vedadas novas supressões, observado que as instituições devem regulamentar os
postos e as graduações componentes dos quadros e decorrentes dos cursos constantes dos arts. 15 e 16 desta
Lei."
"§ 2º Caso haja impacto financeiro decorrente da opção pelos novos quadros previstos nesta Lei, o ente
federado que esteja no regime de recuperação fiscal poderá, por ato do respectivo Poder Executivo, suspender
a aplicação deste artigo enquanto perdurar a recuperação fiscal."
"§ 3º Em qualquer caso, não haverá redução de postos máximos dos quadros existentes, nos Estados que
tenham ou editem leis que regulem a matéria."

REGRA DE TRANSIÇÃO PARA A NOVA LEI


DISPOSITIVO Inciso I do caput do art. 40 do Projeto de Lei
"I - os integrantes dos diversos quadros de oficiais oriundos da carreira de praça terão 180 (cento e
oitenta) dias para fazer a opção de permanecer no seu quadro ou ingressar no QOE;"

POSSIBILIDADE DE PERMUTA OU CESSÃO PARA OUTRO ENTE FEDERADO


DISPOSITIVO Art. 41 do Projeto de Lei
"Art. 41. Após solicitação dos interessados, os integrantes dos cargos das polícias militares e dos
corpos de bombeiros militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios poderão exercer
funções no âmbito de outro ente federado, mediante permuta ou cessão, condicionada à
autorização expressa dos respectivos comandantes-gerais e à legislação aplicável, sem qualquer
prejuízo, asseguradas todas as prerrogativas, direitos e vantagens de seu Estado de origem."

RODRIGO WILSON MELO DE SOUZA


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LEIS CITADAS

Constituição Federal – CRFB/1988 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm

Lei 14.751/2023 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/lei/l14751.htm

Lei 9.394/1996 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm

Lei 9.536/1997 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9536.htm

Lei 7.524/1986 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7524.htm

Lei 13.675/2018 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13675.htm

Decreto-Lei 667/1969 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0667.htm

Projeto de Lei 4.363/2001 https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=


26946
https://www.camara.leg.br/propostas-legislativas/2333872
Projeto de Lei 2.179/2022

Projeto de Lei 3.045/2022 https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/155575

STF – RE 601580/RS https://portal.stf.jus.br/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.as


p?incidente=2691334&numeroProcesso=601580&classeProcesso=RE&nume
roTema=57

RODRIGO WILSON MELO DE SOUZA


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