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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

AUTORIDADES

Governador do Estado do Rio de Janeiro


Exmº. Sr. Cláudio Bomfim de Castro e Silva

Secretário de Estado de Polícia Militar


Exmº. Sr. Coronel PM Luiz Henrique Marinho Pires

Subsecretário de Estado de Polícia Militar


Ilmº. Sr. Coronel PM Carlos Eduardo Sarmento da Costa

Diretor-Geral de Ensino e Instrução


Ilmº. Sr. Coronel PM Marcelo André Teixeira da Silva

Comandante do CFAP 31 de Voluntários


Ilmª. Sra. Coronel PM Simone Duque Romeu

Comandante do Centro de Educação a Distância da Polícia Militar


Ilmº. Sr. Tenente-Coronel PM Alexandre Moreira Soares

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APRESENTAÇÃO

Prezados alunos, ao longo de sua carreira e de atuação enquanto agente de segurança


pública, o Policial Militar tem a oportunidade de colocar em prática seus conhecimentos
profissionais.
Deste modo, o Curso Especial de Formação de Sargentos - CEFS é um curso de
aperfeiçoamento profissional do Praça Policial Militar, tendo em vista que o Sargento PM possui
uma posição específica e responsabilidades próprias que deverão ser observadas no exercício
de sua função.
Nesta direção, sendo o Policial Militar elemento fundamental na execução da política de
segurança pública do nosso Estado, o CEFS apresenta-se como um momento interessante para
a retomada da sua qualificação, agora podendo compartilhar e aperfeiçoar sua experiência
profissional ao longo dos anos de atução policial na corporação.
Não obstante, sendo o CEFS na modalidade de ensino a distância, o Sgt PM consegue
usufruir da flexibilidade oferecida por essa modalidade, podendo adequar sua rotina ao
cronograma do curso.
Assim, é fundamental o seu empenho, prezado aluno, pois na modalidade de ensino a
distância, será necessário disciplina e dedicação para o êxito dessa jornada, pois alcançar o
sucesso depende do seu esforço individual.
Convém destacar que na era da informação e da tecnologia, é necessário aprimoramento
constante a fim de garantir uma tropa consciente, respeitosa, pautada em valores morais e
institucionais, permitindo assim o cumprimento de suas funções com dignidade e excelência.
Esperamos que nossos policiais sejam cada vez mais qualificados, bem treinados e
especializados, para cumprirmos nossa missão, buscando cada vez mais a excelência de nossas
ações.
Por fim, desejamos que você aproveite ao máximo os conhecimentos construídos ao
longo do curso e busque uma reflexão acerca de suas funções diante da sociedade e seus
companheiros de profissão e seu papel e lugar estratégico dentro da estrutura hierárquica da
Secretaria de Estado de Polícia Militar.
Que seja um momento de repensar as práticas e fortalecer seu vínculo profissional,
ampliando cada vez mais seus conhecimentos para lidar com as particularidades de ser um
Policial Militar no Estado do Rio de Janeiro.

Bons estudos!
Marcelo André Teixeira da Silva – Coronel PM
Diretor-Geral de Ensino e Instrução

Simone Duque Romeu – Coronel PM


Comandante do CFAP

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DESENVOLVEDORES

CFAP
Supervisão e Coordenação Pedagógica
CAP PM Ped Priscila Medeiros Moura de Lima
CB PM Cíntia Andrade de Araújo
CB PM Fernanda Belísio Oliveira dos Santos
CB PM Layla Simões da Silva
CB PM Eduarda Vasconcellos Dias de Oliveira
Conteudista
2º TEN PM Estagiário Anderson Nunes Moreira

CEADPM
Supervisão Geral EAD
TEN CEL PM Rodrigo Fernandes Ferreira
Equipe Técnica
SUBTEN PM Willian Jardim de Souza
1º SGT PM Edson dos Santos Vasconcelos
CB PM Lucas Almeida de Oliveira
CB PM Diogo Ramalho Pereira
Diagramação
1º SGT PM Alan dos Santos Oliveira
SD PM Daniel Moreira de Azevedo Júnior
SD PM Alexandre Leite da Silva
SD PM David Wilson Côrtes da Silva
Design Instrucional
CAP PM Ped Vânia Pereira Matos da Silva
Designer Gráfico
SD PM Alexandre Leite da Silva
Filmagem e Edição de Vídeo
CB PM Renan Campos Barbosa
SD PM Alexandre dos Reis Bispo
Suporte ao Aluno
3º SGT PM Tainá Pereira de Pereira

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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................... 5
A RELAÇÃO ENTRE A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL E A LEGISLAÇÃO PENAL
MILITAR......................................................................................................................................................................... 6
A CONSTITUCIONALIDADE DO DIREITO MILITAR ................................................................................................... 7
PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL MILITAR .............................................................................................................. 10
A APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR NO TEMPO E NO ESPAÇO..................................................................... 12
CONCEITO DE CRIME MILITAR ................................................................................................................................ 15
CRIMES MILITARES PRÓPRIOS E IMPRÓPRIOS ................................................................................................... 21
CRIMES MILITARES EM TEMPOS DE PAZ e CRIMES MILITARES EM TEMPOS DE GUERRA ........................... 22
CONCEITO DE SUPERIOR ........................................................................................................................................ 24
PENAS PRINCIPAIS E ACESSÓRIAS ....................................................................................................................... 26
PARTE ESPECIAL-DOS CRIMES MILITARTES EM TEMPOS DE PAZ ................................................................... 29
DA VIOLÊNCIA CONTRA SUPERIOR OU MILITAR DE SERVIÇO .......................................................................... 31
DOS CRIMES CONTRA O SERVIÇO MILITAR E O DEVER MILITAR ..................................................................... 39
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA .......................................................................................................................... 42
DOS CRIMES CONTRA A HONRA ............................................................................................................................ 45
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO .................................................................................................................. 47
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO MILITAR ........................................................................................... 52
DOS CRIMES CONTRA O DEVER FUNCIONAL ....................................................................................................... 54
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................................................... 56

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INTRODUÇÃO

Prezado Policial, seja bem-vindo!!!


Vamos iniciar aprendendo sobre os princípios constitucionais e gerais
do Direito Penal Militar e aplicação da Lei Penal Castrense?

ASPECTOS GERAIS DO DIREITO PENAL MILITAR


Você sabia que o nosso Direito Castrense tem sua origem em Portugal, com a
colonização de nosso país pelos portugueses? Pois é! Neste sentido, não é crível que
imaginemos que as embarcações da Coroa trouxeram apenas homens com espírito colonizador,
mas também o arcabouço jurídico Português.
É possível afirmar, como assinala Univaldo Corrêa, que o direito português tem matrizes
romanas marcadas por forte influência do Código Visigótico e, ainda, pequeno influxo oriundo do
domínio sarraceno, de modo que toda essa influência chegou ao Brasil sob a forma das
Ordenações do Reino, principalmente as Filipinas, decretadas em 1603 e vigoraram, sobretudo
seu livro IV, no Brasil até 19161.
Certo é que naquela época não havia uma separação cristalina entre o direito penal
comum e o direito penal militar. Contudo em 1763, entretanto, juntaram-se às Ordenações
Filipinas os Artigos de Guerra do Conde de Lippe, consagrando regras de cunho nitidamente
militar. Note o que descrevem Sabelli e Escobar:
No século XVIII, o Marquês de Pombal, sob reinado de Dom José I,
convidou o oficial alemão Wilhelm zuSchaumburg-Lippe, alistado na
marinha real britânica, para reorganizar, disciplinar e comandar
seu exército. Em 1763, foram formulados diversos planos
militares e elaborados os famosos e rigorosíssimos Artigos de
Guerra do Conde de Lippe, incorporados as Ordenações Filipinas,
em vigor desde 1603. Posteriormente, em razão do bloqueio
continental imposto por Napoleão Bonaparte, a corte portuguesa se
transferiu para o Brasil. O alvará de 1º de abril de 1808, assinado
pelo Príncipe Regente, depois de Dom João V, criou o Conselho
Supremo Militar e de Justiça2.

Cabe salientar que o citado Conselho instituído pelo Príncipe se manteve atuante até a
Constituição Brasileira de 1891, momento em que recebeu a nomenclatura de Supremo Tribunal
Militar, passando a integrar o Poder Judiciário. Posteriormente, com a Constituição de 1934,
recebeu a denominação que conhecemos até a presente data, Superior Tribunal Militar, órgão
máximo da Justiça Militar da União.
Importante frisar que o Código Penal da Armada, estabelecido pelo Decreto n° 18 de 07
de março de 1891, foi o instrumento que revogou os “Artigos de Guerra” e seguiu no
ordenamento jurídico até 1944, quando foi substituído pelo Decreto Lei 6.227/44, que

CORRÊA, Univaldo. A evolução da justiça militar no Brasil – Alguns dados históricos. In: Getúlio Correa. Direito Militar:
1

Historia e doutrina: artigos inéditos. Florianópolis: AMAJME, 2002, p. 9.


2
SABELLI, Cid; ESCOBAR JR, Lauro. Direito Penal Militar. São Paulo: Exord, 2008, p. 01

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implementou o Código Penal Militar, aplicado as Forças Armadas, sendo certo que este vigorou
até 31 de dezembro de 1969, momento em que entrou em vigor o atual CPM, através do Decreto
Lei 1.001 de 21 de outubro de 1969, que entrou em vigor do país no primeiro dia do ano de 1970.
Desta forma, cumpre esclarecer que desde os primórdios as normas castrenses
possuíam como bem jurídico tutelado a Hierarquia e Disciplina, alicerces institucionais para
todos as entidades militares do mundo.

A RELAÇÃO ENTRE A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA


FEDERATIVA DO BRASIL E A LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR

Nós sabemos que o Policial Militar pela função constitucional que exerce, é um operador
do direito, pelo fato de constantemente desempenhar sua atividade profissional visando a
preservação da ordem pública, interpretando as normas legais, objetivando alcançar o fiel
cumprimento da lei, não é?
Sendo assim, ao longo da carreira é preparado para compreender a interdisciplinaridade
do mundo jurídico, onde todas as normas que ingressam no ordenamento jurídico devem estar
em sintonia com os ditames constitucionais, assim como, as normas anteriores a vigência da
constituição somente são consideradas recepcionadas pela Carta Magna caso estejam de
acordo com a Norma Maior, ou seja, qualquer norma jurídica em desacordo com a CRFB/88
deve ser considerada inconstitucional ou não recepcionada pela Constituição. Isso é denominado
no direto como hierarquia das normas e pode ser melhor entendido, através da Pirâmide de
Kelsen3.

3
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito[livro eletrônico]/Hans Kelsen; tradução Cretella Jr. e Agnes Cretella. - 9ª ed. rev.
- São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2009.

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Interpretando os ensinamentos de Hans Kelsen podemos observar que a Constituição Federal


está no topo da pirâmide e serve como referência normativa para as demais leis e normas
jurídicas.
O Código Penal Militar é uma norma considerada Lei Ordinária e, por razões lógicas,
deve estar em fiel consonância com a Constituição Federal de 1988.
Neste sentido devemos pontuar que o Código Penal Militar, como já estudado, entrou
em vigor no país em 1º de janeiro de 1970, enquanto a Constituição Federal da República
Federativa do Brasil foi promulgada em 05 de outubro de 1988. Portanto, o Código Castrense é
considerado uma norma recepcionada pela CFRB/88, com algumas ressalvas. Vejamos:

Decreto Lei 1.001/1969 – CPM (Lei Ordinária) (Lei Infraconstitucional)


Art. 51. Equiparam-se aos maiores de dezoito anos, ainda que não tenham atingido essa idade:
a) os militares;
Constituição da República Federativa do Brasil/1988 (Lei Constitucional)
Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da
legislação especial.

Note que o Código Penal Militar de 1969 equiparava os menores de 18 (dezoito) anos
aos maiores de 18 (dezoito) anos, caso fossem militares, para responderem penalmente diante
da Justiça Militar. Contudo, com o advento da CRFB de 1988 (considerada Constituição Cidadã),
o poder constituinte originário implementou o artigo 228, estabelecendo a inimputabilidade penal
do menor de 18 (dezoito) anos.
Este é um exemplo cristalino da Hierarquia das Normas Jurídicas, onde a supremacia da
Constituição faz com que uma Norma anterior a sua vigência não tenha mais validade. Portanto,
podemos entender que o artigo 51 do CPM/69 NÃO FOI RECEPCIONADO PELA CRFB/88.
(OBSERVAÇÃO: O CPM foi recepcionado, apenas alguns artigos perderam a validade por
contrariarem a CF, tal como no exemplo)

A CONSTITUCIONALIDADE DO DIREITO MILITAR

Você já parou para pensar sobre a nossa


Constituição?
De acordo com nossos estudos podemos verificar
que a Constituição Federal é o “norte” para organização
política, social e administrativa do Brasil, assim sendo, não
seria crível admitir que a organização do direito militar
fosse diferente. Com isso, se torna imprescindível pontuar no ordenamento constitucional os
mandamentos basilares do direito militar.
Para tanto, inicialmente, temos que verificar o que a CRFB/88 estabelece como militar:

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Militar da União
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica,
são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na
disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da
Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da
ordem.
§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-se-lhes, além
das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições
Diante do exposto, podemos verificar que os militares da União (Marinha, Exército e
Aeronáutica), denominados membros das Forças Armadas do Brasil, tem sua organização com
base na Hierarquia e Disciplina e possuem atribuição constitucional de Defesa da Pátria e
Garantia dos Poderes Constitucionais.
Militar Estadual
Art. 42 Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições
organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios.
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida
para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio,
através dos seguintes órgãos:
V - Polícias militares e corpos de bombeiros militares.

Logo, resta apurado que os Policiais Militares e Bombeiros Militares são considerados
pela CRFB/88 como Militares Estaduais, tem sua organização com base na Hierarquia e
Disciplina e possuem atribuição constitucional de Segurança Pública que concerne na
preservação da Ordem Pública e na incolumidade das pessoas e do patrimônio.
Da Justiça Militar
Art. 122. São órgãos da Justiça Militar:
I - o Superior Tribunal Militar;
II - os Tribunais e Juízes Militares instituídos por lei.
Da Competência da Justiça militar
Art. 124. A Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.
Da Competência da Justiça Militar Estadual
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta
Constituição.
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos
crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares,
ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente
decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.

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Com relação a competência temos que definir a diferença entre Justiça Militar Federal e
Estadual. Neste sentido, expressamos a definição estabelecida pelo Superior Tribunal Militar: A
competência da Justiça Militar foi estabelecida pelo texto constitucional de 1988 e divide-se em
Justiça Militar federal e Justiça Militar estadual.
A Justiça Militar federal tem competência para processar e julgar os militares integrantes
das Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) e civis.
Já a Justiça Militar estadual tem competência para processar e julgar os policiais militares e
bombeiros militares nos crimes militares definidos em lei4.
Portanto, restou evidenciado que a somente a Justiça Militar Federal possui
competência para julgamento de civis, em caso de cometimento de delitos de natureza militar.
Caro Policial Militar, não se esqueça que é o operador do direito (você, Policial Militar)
deve ter zelo durante a interpretação do caso concreto. Caso o crime esteja sendo cometido por
um civil contra um militar estadual em situação de atividade, no exercício das funções
constitucionalmente previstas em lei ou mesmo contra a Administração Militar Estadual, não será
julgado pela Justiça Militar Estadual, mas isso não significa que não cometeu o delito, devendo
ser processado e julgado pela Justiça Estadual Comum.
Outro aspecto de destaque é o fato que caso um Militar Estadual em situação de
atividade, no exercício das funções, cometa um crime doloso contra a vida de civil deverá ser
processado e julgado pela Justiça Estadual Comum (Tribunal do Júri), por força do art. 9º, § 1º
do CPM.
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares contra
civil, serão da competência do Tribunal do Júri.

Observação: É necessário pontuar que para o deslocamento da competência de processo e


julgamento existem 02 (dois) requisitos:
1º Requisito - Que o Crime seja DOLOSO (não pode ser considerado culposo);
2º Requisito - Que seja contra A VIDA DE CIVIL (tem que ser efetivamente contra A VIDA e a
vítima não pode ser Policial Militar ou Bombeiro Militar em cada caso específico)

Exemplo 1: Um Policial Militar de serviço, empregado em operação policial militar desenvolvida


em uma área de determinado BPM, decide matar outro policial militar por motivos pessoais. (O
Autor responderá, na Justiça Militar Estadual, por Homicídio Doloso e perceba que não foi
necessário dizer que a vítima estava de serviço, somente o fato de ser PM já manteve a
competência de julgamento na JME) Base legal Art.9°, II, alínea “a” do CPM.
Exemplo 2: Um Policial Militar de serviço, empregado em operação policial militar desenvolvida
em uma área de determinado BPM, decide torturar civil com o objetivo angariar informações.

4
Superior Tribunal Militar. 2016. Disponível em: https://www.stm.jus.br/informacao/agencia-de-noticias/item/5863-justica-
militar-estadual-nova-diretoria-do-tribunal-militar-de-minas-gerias-toma-
posse#:~:text=A%20Justi%C3%A7a%20Militar%20federal%20tem,crimes%20militares%20definidos%20em%20lei.

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(O Autor responderá, na Justiça Militar Estadual, pelo crime de tortura, pois o delito não é crime
CONTRA A VIDA,) Base legal Art.9°, II, alínea “c” do CPM.

Atos Disciplinares militares


Imprescindível pontuar o fato que compete a Justiça militar estadual o processo e
julgamento contra atos disciplinares militares (Art. 125,§ 4º da CRFB/88). Com isso, a
Constituição Federal concedeu a Justiça Militar Estadual a competência para avaliar atos
disciplinares militares, caso seja provocada por Militar Estadual que se sinta prejudicado por ato
disciplinar que tenha sido fruto de ilegalidade ou tenha sido imposto por autoridade militar
incompetente.

PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL MILITAR

Caro Policial, inicialmente temos que ter em mente que os Princípios


fazem parte da estrutura de uma Norma Jurídica. Segundo Virgílio Afonso da
Silva:
(...) regras garantem direitos e impõem deveres definitivos, enquanto
princípios garantem direitos ou impõem deveres prima facie, ou seja,
do conteúdo da regra, extrai-se uma proposição que deve ser satisfeita
plenamente, sob pena de invalidade da regra, enquanto o conteúdo
dos princípios extrai-se uma proposição que não se pode realizar
sempre, sendo essa realização geralmente, parcial, o que não significa,
por outro lado, a invalidação do princípio5.

Desta forma, podemos dizer que os princípios são mandamentos que devem ser
observados e relevados com a maior abrangência possível, de acordo com as situações fáticas
e jurídicas concretas.

Princípio da legalidade/ Princípio da reserva legal


O princípio da legalidade está estabelecido no artigo 1º do Decreto Lei nº 1.001/69, onde
o legislador estabeleceu o seguinte:
Art. 1º Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.
Portanto, o princípio da legalidade estabelece que uma conduta (ação ou omissão)
somente poderá ser considerada crime, caso haja uma lei definindo aquela conduta como crime,
antes da conduta ser praticada.

Princípio da culpabilidade
O princípio da culpabilidade tem relação com os elementos necessários para existência
de um crime, sem a avaliação positiva da culpabilidade não podemos sinalizar a existência de
um crime.

5
Silva, Virgílio Afonso da. Direitos Fundamentais: conteúdo, restrições e eficácia. São Paulo: Malheiros, 2009, P. 46.

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O Código Penal Militar adota a teoria finalista, que entende o delito como uma conduta
humana e voluntária que tem sempre uma finalidade, o dolo e a culpa são abrangidos pela
conduta. De acordo com essa teoria, o crime é entendido como um fato típico, antijurídico e
culpável.
A culpabilidade refere-se à capacidade do indivíduo de entender a reprovabilidade da
conduta típica e ilícita praticada. No tocante que de acordo com sua capacidade pode ser
verificado pelo julgador a possibilidade de dosar a punição do agente ou até mesmo excluir o
crime. Neste sentido vejamos o artigo 69 do CPM.
Art. 69. Para fixação da pena privativa de liberdade, o juiz aprecia a gravidade do crime
praticado e a personalidade do réu, devendo ter em conta a intensidade do dolo ou grau da
culpa, a maior ou menor extensão do dano ou perigo de dano, os meios empregados, o modo
de execução, os motivos determinantes, as circunstâncias de tempo e lugar, os antecedentes do
réu e sua atitude de insensibilidade, indiferença ou arrependimento após o crime.
Portanto, é o juiz que vai decidir, de forma técnica, baseado nas provas documentais
juntadas ao processo (laudos médicos ou laudos periciais) o grau de culpabilidade do agente.

Princípio da humanidade
O princípio da humanidade tem fundamento nos direitos fundamentais do indivíduo, tais
como direito a vida, dignidade da pessoa humana entre outros, onde estão resguardados sobre
o manto constitucional que o indivíduo não pode ser submetido a penas que possam violar a
incolumidade física, psíquica ou moral do apenado.
Cabendo ressaltar que o Princípio da Humanidade somente é afastado no Direito Militar
em caso de Guerra declarada, momento em que é permitida a pena capital. Nesse sentido, o
artigo 5º, XLVII da CRFB/88 prevê o seguinte:
Art. 5º, XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;b) de caráter
perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
Portanto, a própria Constituição Federal estabelece a possibilidade do afastamento do
princípio da humanidade, existindo, em casos específicos no CPM, a possibilidade de ser
aplicada a pena de morte por fuzilamento, de acordo com o art. 56 do CPM.

Pena de morte
Art. 56. A pena de morte é executada por fuzilamento.

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A APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR NO TEMPO E NO


ESPAÇO

IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL

No ordenamento jurídico penal comum ou castrense não se admite a retroatividade de


lei que possa causar prejuízos ao indivíduo, mas a contrário senso admite-se a retroatividade de
lei que possa ser mais benéfica (vantajosa) para a situação concreta do agente. Existem algumas
situações que podemos analisar:

➢ A “Novatio Legis” incriminadora (lei nova que torna típica conduta que antes era
permitida) nunca retroage.
Remete ao princípio da legalidade, onde um fato só pode ser considerado crime caso haja uma
lei anterior delimitando a conduta praticada como crime. Portanto, essa norma não pode ser
aplicada por força do princípio da irretroatividade
➢ Lex gravior ou novatio legis in pejus (nova lei mais gravosa) nunca retroage.
Neste caso uma conduta já é considerada crime, foi praticada por um indivíduo em determinado
momento, mas depois entrou em vigor uma norma agravando a pena ou qualquer condição mais
gravosa (ex. aumento no tempo de progressão de regime). Logo, em virtude do princípio da
irretroatividade a lei posterior a data da conduta não pode ser imposta ao agente.
➢ Novatio Legis in mellius (lei nova que, apesar de continuar estabelecendo a conduta
como crime, beneficia de alguma forma o agente) sempre retroage.
Assim, o juiz é obrigado a aplicar a lei posterior, que não estava vigente ao tempo do crime.
Trata-se de eficácia ultrativa da norma penal mais benéfica, que deve prevalecer por força do
que prescreve o art. 5º, XL da CF.
Art. 5º, XL - A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
➢ Abolitio criminis (lei posterior que deixa de considerar uma conduta como crime)
sempre retroage.
O Magistrado também é obrigado a aplicar a lei nova descriminante, por força do que determina
o art. 5º, XL da CF, como exposto anteriormente.
Com relação a Novatio legis in melliuse Abolitio criminis podemos expor que o CPM também
garante a retroatividade da lei mais benéfica.
Art. 2° Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando,
em virtude dela, a própria vigência de sentença condenatória irrecorrível, salvo quanto aos efeitos
de natureza civil.

Retroatividade de lei mais benigna


§ 1º A lei posterior que, de qualquer outro modo, favorece o agente, aplica-se
retroativamente, ainda quando já tenha sobrevindo sentença condenatória irrecorrível.

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

Apuração da maior benignidade


§ 2° Para se reconhecer qual a mais favorável, a lei posterior e a anterior devem ser
consideradas separadamente, cada qual no conjunto de suas normas aplicáveis ao fato.

Lei excepcional ou temporária


Art. 4º A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas
as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.
Veja que as normas penais militares excepcionais ou temporárias continuam sendo aplicadas
aos fatos ocorridos durante a sua vigência, mesmo depois de cessada a sua vigência, ainda que
mais gravosa.
Importante: No caso de Leis Penais Militares excepcionais ou temporárias não cabe o princípio
da irretroatividade, devendo ser aplicada a sanção relativa ao tempo do crime, mesmo que mais
gravosa.

TEMPO DO CRIME

Art. 5º Considera-se praticado o crime no momento da ação ou


omissão, ainda que outro seja o do resultado.

Veja que o Código Penal Militar adotou a Teoria da


ATIVIDADE ou AÇÃO.

Exemplo: Um menor (civil), com 17 anos, onze meses e 29 dias, sai com o objetivo de matar um
desafeto (militar do Corpo de Bombeiros), para tanto, invade o quartel e com uma arma de fogo
atira contra o Soldado BM que, imediatamente, é socorrido pelos seus companheiros e vem a
falecer 05 dias depois no hospital dos Bombeiros.
Caro Policial, perceba que neste caso o resultado (morte) ocorreu 05 dias depois, quando
o autor já havia completado a maioridade, mas pela teoria da atividade, o autor vai responder
por fato análogo ao delito de homicídio junto ao Juizado de infância e juventude, posto que à
época da ação era menor de idade.

LUGAR DO CRIME

Art. 6º Considera-se praticado o fato, no lugar em que se


desenvolveu a atividade criminosa, no todo ou em parte,
e ainda que sob forma de participação, bem como onde
se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
Nos crimes omissivos, o fato considera-se
praticado no lugar em que deveria realizar-se a ação
omitida. O CPM adotou um sistema misto que abrange

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

tanto a teoria da ubiquidade crimes comissivos (ação), quanto a teoria da atividade crimes
omissivos (omissão).
Segundo Cicero Robson Coimbra Neves, a Teoria da Ubiquidade considera o local do
crime, tanto o lugar onde se deu a ação ou omissão, como o sítio em que o resultado ocorreu ou
deveria ocorrer6.
Ainda, segundo o renomado Autor o Código Penal Militar, adota-se, no que se refere ao
local do crime (locuscomissi delicti), a teoria da ubiquidade para os crimes comissivos e a teoria
da atividade para os crimes omissivos.

Territorialidade, Extraterritorialidade

Art. 7º Aplica-se a lei penal militar, sem prejuízo de convenções,


tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido, no
todo ou em parte no território nacional, ou fora dele, ainda que,
neste caso, o agente esteja sendo processado ou tenha sido
julgado pela justiça estrangeira.

Território nacional por extensão


§ 1° Para os efeitos da lei penal militar consideram-se como extensão do território
nacional as aeronaves e os navios brasileiros, onde quer que se encontrem, sob comando militar
ou militarmente utilizados ou ocupados por ordem legal de autoridade competente, ainda que de
propriedade privada.
Ampliação a aeronaves ou navios estrangeiros
§ 2º É também aplicável a lei penal militar ao crime praticado a bordo de aeronaves ou
navios estrangeiros, desde que em lugar sujeito à administração militar, e o crime atente contra
as instituições militares.
De acordo com Silvio Martins Teixeira7, essa ampla extraterritorialidade “justifica-se com
o fato de os crimes militares, que se destinam à defesa do País (CF, Artigo 142), e poderem ser,
por inteiro, cometidos em outros países e até, mesmo em benefício destes, que não teriam,
assim, qualquer interesse na punição de seus autores. Daí não ser entregue à justiça estrangeira
o processo e o julgamento dos crimes militares”.

Até o presente momento, você, Policial Militar e operador do Direito, foi


capacitado a compreender os aspectos gerais do Direito Penal Militar, o princípio da
legalidade, princípio da culpabilidade, princípio da humanidade, bem como a aplicação
da lei penal militar no tempo e no espaço.

6
Neves, Cícero Robson Coimbra. Manual de Direito Penal Militar. Ed. Juspodivim. 5ª Ed. São Paulo.
2021. P. 207.
7
TEIXEIRA, Sílvio Martins. Código Penal Militar Explicado. 1996. P 52.

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

CONCEITO DE CRIME MILITAR

Prezado Policial Militar, você saberia dizer o que são crimes militares?

Para se estabelecer um crime militar devemos observar o ratione legis, ou seja, a lei que
conceitua o crime militar. Nesse sentido é o próprio Decreto Lei 1.001 de 31 de 21 de outubro de
1969 (CPM) que nos indica quando um fato pode ser considerado crime militar.
O primeiro ponto que devemos observar é que a conduta deve ser típica e, para tanto,
deve estar descrita na Legislação Penal Militar, na Legislação Penal Comum ou nas Leis
Especiais ou Extravagantes. Cabe ressaltar que não pode ser uma contravenção penal.
Já o segundo ponto a ser analisado é se o fato (que já foi constatado como crime) se
enquadra em algum dos casos enumerados nos incisos do artigo 9º do Código Penal Militar.
Caso os dois requisitos anteriores sejam alcançados mediante a interpretação do caso
concreto, podemos afirmar que estamos diante de um crime de natureza militar, que deve ser
apurado pela Autoridade de Polícia Judiciária Militar e processado na Justiça Militar Estadual ou
Federal, conforme as circunstâncias fáticas.
Observação: O Código Castrense somente se ocupa dos crimes militares, já que, nos termos
de seu artigo 19, foi elencado o seguinte: “este código não compreende as infrações dos
regulamentos disciplinares”. As transgressões disciplinares ficaram a cargo dos regulamentos
internos das instituições militares.

Análise do Artigo 9º do CPM com as alterações da lei 13.491/17


Você sabia que o Direito Penal Militar é especial em virtude dos bens jurídicos tutelados,
que são a hierarquia e a disciplina, as instituições militares, o serviço e o dever militar, bem como
a condição de militar como sujeito ativo ou passivo?
Desta forma, o artigo 9º foi alocado na parte geral do Código Penal Militar com o objetivo
de orientar o operador do direito nas condições e requisitos de enquadramento dos delitos
militares, pois um crime somente pode ser considerado de natureza militar se alcançar os
requisitos estabelecidos no referido diploma legal.

➢ Art. 9º, inciso I do CPM – (03 aspectos a serem analisados)


Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal
comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial;
✓ 1ª Análise
O inciso I, primeira parte, trata dos crimes definidos de modo diverso da legislação penal
comum, ou seja, os tipos penais existem na legislação penal comum, mas são definidos de forma
diferente na legislação castrense.
Ex. Artigo 259 CPM – Dano simples X Artigo 163 do CP- Dano

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

Art. 259. Destruir, inutilizar, deteriorar ou fazer desaparecer coisa alheia:


Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
Sendo assim o crime de Dano existe tanto na legislação penal comum, quanto na legislação
penal militar. Contudo, definido de modo diverso, posto que a legislação castrense possui a
conduta de “fazer desaparecer”.
✓ 2ª Análise
Por outra espeque, a segunda parte do inciso I do artigo 9º do CPM, refere-se aos delitos
que somente existem na legislação penal castrense e não possuem qualquer correlação com
tipos penais comuns.
Ex. Artigo 160 do CPM- Desrespeito a superior
Art. 160. Desrespeitar superior diante de outro militar:
➢ Não há em nenhuma outra norma penal tal definição de delito.
✓ 3ª Análise
Finalizando o inciso I do artigo 9º do CPM temos a expressão qualquer que seja o
agente, ou seja, qualquer pessoa (civil ou militar) pode figurar como autor de crime militar.
Contudo, é de suma importância entender que há uma exceção quanto ao CIVIL.
➢ Exceção que não é delimitada no CPM, mas sim na CRFB/88.
➢ O Autor do delito quando for um civil nos conduzirá a mais uma interpretação, pois
segundo o mandamento do art. 125, § 4º da CRFB a Justiça Militar Estadual somente tem
competência para o julgamento de Militares Estaduais.

§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares


dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais
contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri
quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre
a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.

Portanto, um civil somente cometerá um delito militar no âmbito da União, contra


militares das Forças Armadas ou em desfavor da administração ou instituição militar federal.
Exemplo1: Um civil pratica o delito de furto de uma viatura do Exército e é preso em flagrante
delito, sendo conduzido a presença da Autoridade de Polícia Judiciária Militar (Autoridade Militar
com competência na região do delito), que lavra o flagrante e o encaminha para a Autoridade
Judiciária competente (Juiz Militar da União).
Exemplo 2: Um civil pratica o delito de furto de uma viatura da PMERJ e é preso em flagrante
delito, sendo conduzido a presença da Autoridade de Polícia Judiciária (Delegado de Polícia Civil
Art. 144, §4º da CRFB/88), que lavra o flagrante e o encaminha para a Autoridade Judiciária
competente (Juiz da vara criminal comum).

Art. 9º, inciso II do CPM (05 alíneas para análise)


Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando
praticados:

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

✓ O inciso II foi alterado pela lei 13.491/17 que incluiu os crimes previstos na legislação
penal (comum) {CP, Leis Especiais ou Extravagantes}.
✓ O inciso II usa a expressão “crimes”. Portanto, Contravenção Penal não é abarcado pelo
artigo 9º do CPM.

Alínea “a”
Por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou
assemelhado;
O que é militar em situação de atividade? Segundo Cícero Robson Coimbra Neves8 essa
nomenclatura significa:
A extensão do tipo, portanto, refere-se ao militar da ativa,
compreendido como tal aquele de folga, licenciado (mesmo que para
fins particulares) ou em local não sujeito à administração militar.
Portanto, para configuração dessa hipótese jurídica, consideraremos
militar da ativa o militar que exerce suas funções rotineiras no serviço
militar que lhe é afeto, mesmo que no momento do crime esteja
licenciado, de folga, em trajes civis e fora do quartel. Em suma, a
situação de atividade inicia-se com a incorporação e encerra-se com a
exclusão do militar da força a que pertence ou com sua passagem para
a inatividade.

Observação: Não se deve confundir a expressão “em situação de atividade” com “em serviço”.
O que é assemelhado? Segundo Cícero Robson Coimbra Neves9 essa nomenclatura
significa “assemelhado deve-se entender o servidor, efetivo ou não, dos Ministérios da Marinha,
do Exército ou da Aeronáutica, sujeitos a disciplina militar por força de lei ou de regulamento. A
figura do assemelhado, todavia, já não existe mais”.
Observação: o Assemelhado foi um servidor (não militar) que possuía, por força de lei ou
regulamento, equiparação a algumas patentes nas Forças Armadas, com previsão no art. 21 do
CPM, mas tal figura não existe mais no ordenamento jurídico militar. (Lembre-se o CPM é uma
lei do ano de 1969). Ou seja, o que temos na alínea “a” é que sempre que ocorrer um crime (seja
ele capitulado no CPM ou Lei Penal Comum) em que o autor for militar da ativa e a vítima seja
militar da ativa, estaremos diante de um crime militar, independentemente de onde estiverem (de
serviço ou fora dele).

Alínea “b”
Por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração
militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
Na alínea “b” temos 3 requisitos sob enfoque:
1. Autor: Militar da Ativa;
2. O local do crime tem que ser sujeito à administração militar (quartel, escola militar,
embarcação militar, aeronave militar, etc.)

8
Neves, Cícero Robson Coimbra. Manual de Direito Penal Militar. Ed. Juspodivim. 5ª Ed. São Paulo. 2021.
P. 383.
9
Neves, Cícero Robson Coimbra. Manual de Direito Penal Militar. Ed. Juspodivim. 5ª Ed. São Paulo. 2021. P. 404.

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

3. Vítima: Militar Inativo {reserva remunerada ou reformado} ou civil.


Logo, se um militar da ativa praticar um delito (seja ele capitulado no CPM ou Lei Penal
Comum) no estacionamento de um aquartelamento, contra um militar inativo ou civil, estaremos
diante de um crime militar.

Alínea “c”
Por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar,
ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva,
ou reformado ou civil;
Na alínea “c” temos o seguinte:
1. Autor: Militar em serviço / ou atuando em razão da função / em comissão de natureza
militar / ou em formatura
2. O local pode ser em logradouro público, imóveis particulares ou públicos, local sujeito a
administração militar, ou seja, qualquer lugar.
3. Vítima: Militar Inativo {reserva remunerada ou reformado} ou civil.
A grande observação na alínea “c” é o fato de o autor estar na condição de serviço ou
em razão da função, ou seja, o militar da alínea “c” é um militar em situação de atividade e além
disso, para se enquadrar nos requisitos necessita estar de serviço ou em razão da função.
Observação: aqui, por exemplo, se enquadra o Policial Militar que, trabalhando numa
radiopatrulha, em logradouro público, pratica algum delito contra um civil.

Alínea “d”
Por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou
reformado, ou assemelhado ou civil;
1. Segundo Cícero Robson Coimbra Neves10 a expressão militar da alínea “d” tem
correlação com o militar em situação de atividade, posto que o militar quando está em manobra
ou exercício pertence a uma tropa em deslocamento para adestramento, onde durante o
adestramento estariam de serviço, mas após as atividades podem ser liberados em curtos
espaços de tempo pelo seu comandante para descanso e, neste caso, não estariam de serviço,
mas ainda dentro do período de manobras, fato que os levaria a condição de militar em situação
de atividade, como o militar em situação de atividade abrange tanto o de serviço como o de folga,
o renomado Professor, em virtude da lacuna deixada pelo legislador, acertadamente, nos conduz
ao melhor raciocínio.
2. Vítima: militar inativo (reserva remunerada ou reformado) ou civil.

Alínea “e”
Por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração
militar ou a ordem administrativa militar;

10
Neves, Cícero Robson Coimbra. Manual de Direito Penal Militar. Ed. Juspodivim. 5ª Ed. São Paulo. 2021. P. 430.

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

➢ Na alínea “e” o Autor é o militar em situação de atividade, mas o sujeito passivo, não é
mais uma pessoa natural, mas sim a própria administração militar que tem lesado seu patrimônio
ou a ordem administrativa militar.
A ordem administrativa militar, segundo Reinaldo Zychan de Moares11 “ocorre em
todos os crimes impropriamente militares, previstos nos artigos 298 a 354, do Código de
Processo Penal Militar, os quais estão agrupados nos Títulos VII e VIII, do Livro I, da Parte
Especial (Dos Crimes Contra a Administração Militar e Dos Crimes Contra a Administração da
Justiça Militar), respectivamente. Assim, por exemplo, o crime de peculato, praticado por um
militar da ativa, terá sua conduta prevista em tal alínea e no artigo 303, do CPM”.
Observação: Frisa-se que tanto no inciso I, quanto no inciso II do artigo 9° do CPPM somente
militares da ativa podem figurar como autores de crimes militares.

Art. 9º, inciso III do CPM (04 alíneas para análise)


III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições
militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II,
nos seguintes casos:
Caro Policial, é importante consignar que o inciso III do Art. 9º do CPM elenca as
condições para que um crime militar seja praticado, mas neste inciso, o sujeito ativo, ou seja, o
autor pode ser:
1. Militar da Reserva
2. Militar Reformado
3. Civil (com o já vimos somente na esfera federal)

Alínea “a”
Contra o patrimônio sob a administração militar ou contra a ordem administrativa militar;
➢ Autor é o (militar inativo ou civil), mas o sujeito passivo, não é mais uma pessoa natural,
mas sim a própria administração militar que tem lesado seu patrimônio ou a ordem administrativa
militar.

Alínea “b”
Em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado,
ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente
ao seu cargo;
1. Autor: Militar Inativo ou civil;
2. O local do crime tem que ser sujeito à administração militar (quartel, escola militar,
embarcação militar, aeronave militar etc.);
3. Vítima: Militar da ativa /// Funcionário de Ministério Militar ou Justiça militar (no exercício
da função).

11
Moraes, Reynaldo Zychan de – Os crimes militares e o inquérito policial militar: uma visão prática/Reynaldo Zycham
de Moares – São Paulo: Livraria Científica Ernesto Reichmann, 2003. P. 49.

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

Alínea “c”
Contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação,
exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;
1. Autor: militar Inativo ou civil;
2. Na alínea “c” não há um local específico, pode ser qualquer local onde esteja ocorrendo
a formatura, prontidão, vigilância etc.;
3. Vítima: militar da ativa.

Alínea “d”
Ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza
militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública,
administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a
determinação legal superior.
1. Autor: militar inativo ou civil;
2. Na alínea “d” não há um local específico, pode ser qualquer local;
3. Vítima: militar de serviço. (Aqui a diferença é estar o militar de serviço)
Com o advento da lei 13.491/17 o artigo 9º do CPM teve o parágrafo único revogado e a
implementação dos parágrafos 1º e 2º, que estudaremos adiante.

§ 1o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares
contra civil, serão da competência do Tribunal do Júri.
Note que o parágrafo 1º migra a competência de Julgamento para o Tribunal do Júri,
quando o crime é doloso contra a vida de civil. ou seja, o crime tem todos os atributos para
configurar um crime militar (art.9º, II, c do CPM, por exemplo), mas será julgado pelo Tribunal do
Júri.
Contudo, a norma não afasta a competência de apuração da Autoridade de Polícia
Judiciária Militar e assim entende o Professor Cícero Robson Coimbra Neves12

Os Crimes dolosos contra a vida de civis, perpetrados por militares dos


Estados, ao encontrarem plena tipicidade no código penal militar, serão
de atribuição das autoridades de polícia judiciária militar (entenda-se
Comandante de Unidade e, nos casos de delegação, do oficial de
serviço delegado). Como reflexo as medidas previstas no art. 12 do
CPPM devem ser encetadas pelo oficial com atribuição de polícia
judiciária militar.

Já o parágrafo 2º do artigo 9º do CPM, tem o objetivo de manter a competência de


julgamento dos crimes dolosos contra a vida de civil na Justiça Militar, mas tal instituto tem
maior relevância para os militares da Forças Armadas, quando em atividades específicas
(ex. missão de GLO-Garantia de Lei e da Ordem) como se vê a seguir.

12
Neves, Cícero Robson Coimbra. Manual de Direito Penal Militar. Ed. Juspodivim. 5ª Ed. São Paulo.
2021. P. 467.

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

§ 2o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares
das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se praticados
no contexto:
I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da República
ou pelo Ministro de Estado da Defesa;
II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo que não
beligerante; ou
III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem ou de
atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da Constituição
Federal e na forma dos seguintes diplomas legais:
Observação: Importante salientar com relação ao parágrafo 2º, que um crime doloso contra vida
de civil, praticado por um militar das Forças Armadas fora do contexto do referido parágrafo,
também será processado e julgado pelo Tribunal do Júri.
Ex. Militar da FFAA de serviço na guarda do quartel atira (com dolo) e mata um civil que parou
para pedir informações.

CRIMES MILITARES PRÓPRIOS E IMPRÓPRIOS

Veja, caro Policial Militar, a distinção entre crime propriamente e crime


impropriamente militar não foi implementada pelo legislador, mas sim por parte
da doutrina que se debruçou no estudo do CPM. Contudo, é preciso asseverar
que independentemente de nomenclaturas, ambas são consideradas como
crime militar e tem seu processo e julgamento perante a Justiça Militar,
ressalvados os casos envolvendo crimes dolosos contra a vida de civil.

CRIME PROPRIAMENTE MILITAR

De acordo com o Professor de Célio Lobão13, a ideia de crime propriamente militar


recebeu definição precisa no Direito Romano e consistia naquele “que só o soldado pode
cometer”, porque dizia particularmente respeito à vida militar, considerada no conjunto da
qualidade funcional do agente, da materialidade especial da infração e da natureza peculiar do
objeto danificado, que devia seria o serviço, a disciplina, a administração ou a economia militar.

Neste sentido, os crimes propriamente militares são somente os previstos no Código


Penal Militar e que somente podem ser praticados por militares. Veja alguns exemplos:
Deserção

13
LOBÃO, Célio. Direito penal militar. Brasília: Brasília Jurídica, 2006. p. 81.

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que serve, ou do lugar em
que deve permanecer, por mais de oito dias.
Publicação ou crítica indevida
Art. 166. Publicar o militar ou assemelhado, sem licença, ato ou documento oficial, ou
criticar publicamente ato de seu superior ou assunto atinente à disciplina militar, ou a qualquer
resolução do Governo.
Dormir em serviço
Art. 203. Dormir o militar, quando em serviço, como oficial de quarto ou de ronda, ou em
situação equivalente, ou, não sendo oficial, em serviço de sentinela, vigia, plantão às máquinas,
ao leme, de ronda ou em qualquer serviço de natureza semelhante.

CRIME IMPROPRIAMENTE MILITAR

Os crimes impropriamente militares seriam previstos no


Código Penal Militar, dentro das condicionantes do seu Art. 9º,
que podem ser cometidos tanto por civis ou militares. Desta
forma, um civil que entra em instalações militares das Forças
Armadas e efetua o roubo de um fuzil, estaria sujeito a ser
autuado em flagrante delito pela autoridade de polícia judiciária
militar e processado na Justiça Militar da União.
Neste caso concreto, de acordo com o art. 9, III, a do CPM, na forma do art. 242 do CPM,
seria um crime militar, ou seja, tanto o militar, quanto o civil podem praticar o crime de roubo
previsto no artigo 242 do CPM.

CRIMES MILITARES EM TEMPOS DE PAZ e CRIMES


MILITARES EM TEMPOS DE GUERRA

Os crimes militares em tempo de paz são estabelecidos pelo Art. 9º do CPM, como se
vê:
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
Portanto, no tópico anterior estabelecemos todas as possibilidades do crime militar em
tempos de paz. A única observação que fazemos é o fato da parte especial do CPM possuir
crimes específicos para o tempo de guerra e isso quer dizer que no tempo de paz os delitos
capitulados como exclusivos do tempo de guerra não podem ser cometidos, por óbvia
interpretação de não estarmos em guerra.
Por outro lado, se estivermos em período de guerra declarada, todos os artigos
(inclusive os do tempo de paz) do CPM e da Legislação Penal Comum podem ser cometidos
mediante a prática das condutas pertinentes, por força do Art. 10 do CPM.

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

Art. 10. Consideram-se crimes militares, em tempo de guerra:


I – os especialmente previstos neste Código para o tempo de guerra;
II – os crimes militares previstos para o tempo de paz;
III - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na
lei penal comum ou especial, quando praticados, qualquer que seja o agente:
a) em território nacional, ou estrangeiro, militarmente ocupado;
b) em qualquer lugar, se comprometem ou podem comprometer a preparação, a
eficiência ou as operações militares ou, de qualquer outra forma, atentam contra a
segurança externa do País ou podem expô-la a perigo;
Em tempos de guerra também temos alterações na territorialidade do crime, veja que
no tempo de guerra um crime militar brasileiro pode ser cometido em solo estrangeiro.

IV - os crimes definidos na lei penal comum ou especial, embora não previstos neste Código,
quando praticados em zona de efetivas operações militares ou em território estrangeiro
militarmente ocupado.
Um crime militar em tempo de guerra, assim como em tempo de paz, também abrange
a legislação penal comum.

A Parte Especial do CPM compreende os delitos militares. Eles são divididos em:
➢ Crimes militares em tempo de Paz – Art. 136 até o Art. 354 do CPM;
➢ Crimes militares específicos do tempo de guerra – Art. 355 até o Art. 408 do CPM
Atenção: A única Autoridade que tem competência para decretar que o Brasil está em Guerra é
o Presidente da República, com a devida autorização do Congresso Nacional, conforme Art. 37,
II da CRFB/88.

Art. 137. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de


Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional autorização para decretar o estado de sítio nos
casos de:
II - Declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira.

Até aqui você, Policial Militar e operador do Direito, foi capacitado a


compreender o conceito de crime militar, estudou o artigo 9º do CPM com o advento
da Lei 13.491/17, bem como aprendeu sobre os crimes militares próprios, impróprios e
extravagantes, além dos crimes militares em tempo de paz e os crimes militares em
tempo de guerra.

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

CONCEITO DE SUPERIOR

Prezado Policial Militar, você sabia que no Direito Militar existem


duas situações a serem observadas quando nos referimos ao conceito de
superior?

A primeira concepção de superior não possui referência no Código Penal Militar, cabendo
as legislações específicas de cada força o ensinamento do conceito de superior. Desta forma,
buscamos no Estatuto da PMERJ, LEI Nº 443, DE 1º DE JULHO DE 1981.
Art. 12 - A hierarquia e a disciplina são a base institucional da Polícia Militar. A autoridade e a
responsabilidade crescem com o grau hierárquico.
§ 1º - A hierarquia policial-militar é a ordenação da autoridade em níveis diferentes, dentro da
estrutura da Polícia Militar. A ordenação se faz por postos ou graduações; dentro de um mesmo
posto ou de uma mesma graduação se faz pela antiguidade no posto ou na graduação. O
respeito à hierarquia é consubstanciado no espírito de acatamento à sequência de autoridade.

Art. 14 - Os círculos hierárquicos e a escala hierárquica na Polícia Militar são fixados no Quadro
e parágrafo seguintes:
CÍRCULOS DE OFICIAIS POSTOS
Superiores: Coronel PM, Tenente Coronel PM e Major
Intermediários: Capitão PM
Subalternos: 2º e 1º Tenentes
CÍRCULO DE PRAÇAS GRADUAÇÕES
Subtenentes e sargentos: Subtenente PM, 1º SGT PM, 2ºSGT PM e 3º SGT
Cabos e soldados: Cabo PM e Soldado PM
§ 3º - Os Aspirantes-a-Oficial PM e os Alunos-Oficiais PM são denominados praças especiais.

Art. 16 - A precedência entre as praças especiais e as demais praças é assim regulada:


I - Os Aspirantes-a-Oficial PM são hierarquicamente superiores às demais praças;
II - Os Alunos-Oficiais PM são hierarquicamente superiores aos subtenentes PM.
Assim, estabelecemos o primeiro conceito de superior, alcançado pelo entendimento da
estrutura hierárquica da PMERJ que se inicia com o Soldado PM e ascende até o Coronel PM.

CONCEITO DE SUPERIOR FUNCIONAL (Artigo 24 do CPM)


O segundo conceito de superior tem relação com a
função, sendo considerado superior funcional o militar que, em
razão da função exercida, tem precedência sobre os militares de
igual posto ou graduação e os demais militares hierarquicamente
inferiores.

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

Conceito de superior
Art. 24. O militar que, em virtude da função, exerce autoridade sobre outro de igual posto ou
graduação, considera-se superior, para efeito da aplicação da lei penal militar.
Vamos entender melhor com alguns exemplos:
✓ O Coronel PM que exerce a função de Comandante Geral da PMERJ é considerado
superior funcional em relação a todos os outros Coronéis PM.
✓ O Subtenente PM que exerce a função de fiscal de dia, é considerado superior funcional
em relação a todos os outros subtenentes de serviço, no dia do serviço,
independentemente da antiguidade entre ambos.
✓ O 1º SGT PM que exerce função de supervisão de graduado, é considerado superior
funcional em relação a outro 1º SGT PM que comanda o GAT, no dia do serviço,
independentemente da antiguidade entre ambos.

Veja esse caso concreto: O Subtenente PM Herculano (combatente promovido em


01/01/23), estava de serviço como CMT na radiopatrulha do setor “D” do 1º BPM, enquanto o
Subtenente PM Belmont (combatente promovido em 01/04/23), de serviço como fiscal de dia do
1º BPM. Por volta de 14 horas do dia do serviço, o Subtenente PM Belmont, percebendo que o
Subtenente PM Herculano havia extrapolado o horário do almoço estabelecido na Ordem de
Serviço, chamou a atenção do CMT do Setor “D”, que enfurecido agrediu o fiscal de dia
provocando-lhe uma lesão.
Neste caso, o Subtenente Belmont, por força do art. 24 do CPM, é considerado superior
funcional em relação ao Subtenente Herculano, que é mais antigo que Belmont, por ter
alcançado a graduação de subtenente primeiro (art. 15 do Estatuto PMERJ). Tendo em vista a
relação de superioridade funcional estabelecida pelo art. 24 do CPM, o CMT do setor “D”
responderá por violência contra superior, elencada no art. 157, §3º do CPM, na forma do Art. 9,
II, a do CPM.

Art. 15 - A precedência entre policiais-militares da ativa, do mesmo grau hierárquico, é


assegurada pela antiguidade no posto ou na graduação, SALVO NOS CASOS DE
PRECEDÊNCIA FUNCIONAL ESTABELECIDA EM LEI OU REGULAMENTO.
2ª situação hipotética – caso ambos estivessem de folga quem seria o superior e qual seria o
crime praticado?
Nesse caso o Subtenente Herculano é o mais antigo pois alcançou a graduação de
subtenente 03 (três) meses antes do Subtenente Belmont, mas pela lesão corporal praticada
responderia pelo art. 209 do CPM por força do Art. 9, II, a do CPM.
Perceba que o fato não tem nada a ver com antiguidade ou precedência hierárquica ou
funcional, aqui um militar da ativa lesionou outro militar da ativa.

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

PENAS PRINCIPAIS E ACESSÓRIAS

Vamos continuar estudando? Agora é o momento de aprender


sobre penas principais e acessórias.

O Código Penal Militar, em seu título “DAS PENAS”, classifica as sanções aplicadas em
penas principais e acessórias. Vamos conhecer cada uma delas?
O art. 55, do Código Penal Militar, faz previsão das seguintes penas principais:
➢ Morte;
➢ Reclusão;
➢ Detenção;
➢ Prisão;
➢ Impedimento;
➢ Suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função;
➢ Reforma.
Pena de Morte – A pena capital de morte, prevista através de fuzilamento (Art. 56 do CPM), não
entra em conflito com a Constituição Federal, uma vez que, em seu Art. 5º, Inciso XLVII, prevê
tal pena em casos de guerra. São exemplos de crime punidos com pena de morte os crimes de
traição (art. 355), de favor ao inimigo (art. 356), entre outros.
Reclusão e Detenção – São penas privativas de liberdade que para o CPM não guarda muita
distinção uma da outra, sendo a principal diferença, conforme o Art. 58, que “o mínimo da pena
de reclusão é de um ano, e o máximo de trinta anos; o mínimo da pena de detenção é de trinta
dias, e o máximo de dez anos.
Prisão – Diferencia-se da reclusão e detenção com relação ao cumprimento, conforme art. 58,
do CPM.
Impedimento – A pena de Impedimento, conforme art. 63, do CPM, “sujeita o condenado a
permanecer no recinto da unidade, sem prejuízo da instrução militar”. Esta pena restritiva de
liberdade somente é aplicada ao crime de insubmissão, previsto no art. 183, do CPM.
Suspensão do Exercício do Posto, Graduação, Cargo ou Função – Esta pena está prevista
no art. 64, que diz: “A pena de suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função
consiste na agregação, no afastamento, no licenciamento ou na disponibilidade do condenado,
pelo tempo fixado na sentença, sem prejuízo do seu comparecimento regular à sede do serviço.
Não será contado como tempo de serviço, para qualquer efeito, o do cumprimento da pena”.
Reforma – Sujeita o militar à situação de inatividade. E está prevista no Art. 65 do CPM. Desta
forma, o militar condenado a pena de reforma deverá receber quotas do soldo proporcionais ao
tempo de serviço.

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

PENAS ACESSÓRIAS
As penas acessórias estão elencadas no artigo 98 do CPM e no término da ação penal
militar podem ser aplicadas pelo Juiz Militar em conjunto com uma sanção principal, ou seja, o
Magistrado não pode aplicar somente a pena acessória, mas durante a dosimetria da pena,
cumpridos os requisitos mínimos, o Julgador aplica também a pena acessória.
Art. 98. As penas acessórias são:
I - A perda de posto e patente;
II - A indignidade para o oficialato;
III - A incompatibilidade com o oficialato;
IV - A exclusão das forças armadas;
V - A perda da função pública, ainda que eletiva;
➢ PERDA DO POSTO E DA PATENTE (art. 99, do CPM),
➢ INDIGNIDADE PARA O OFICIALATO (Art. 100, do CPM)
➢ INCOMPATIBILIDADE COM O OFICIALATO (Art. 101, do CPM)
Atenção: Estas (03) três penas acessórias foram consideradas como não recepcionadas pela
CRFB/88, uma vez que a Constituição Federal trata do assunto, em seu Artigo 142, Incisos VI e
VII:
VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato ou com ele
incompatível, por decisão de tribunal militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de
tribunal especial, em tempo de guerra;
VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar a pena privativa de liberdade superior a dois
anos, por sentença transitada em julgado, será submetido ao julgamento previsto no inciso
anterior;

Art. 125 § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos
crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares,
ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir
sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças;
Exclusão das Forças Armadas - Prevista no art.102 do CPM. Esta pena acessória deve constar
expressamente da sentença que condena a praça à pena privativa de liberdade superior a dois
anos.

Art. 125 § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos
crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares,
ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir
sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças;
Perda de Função Pública – Incorre na perda de função pública o civil, o militar da reserva ou
reformado nos casos de condenação por crime militar, a qual se manifeste por aplicação desta
pena acessória, conforme Art. 103 do CPM.

27
LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

Caro Policial Militar, até agora você foi capacitado para compreender e explorar
o conceito de Superior Funcional, elencado no Art. 22 do CPM , e também o conceito
de Superior, segundo o Estatuto da PMERJ, bem como as Penas Principais e as
Acessórias do CPM. Caso haja alguma dúvida não avance, volte e revise o conteúdo
para só então prosseguir.

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

PARTE ESPECIAL- DOS CRIMES MILITARTES EM TEMPOS DE


PAZ

DOS CRIMES CONTRA A AUTORIDADE OU DISCIPLINA MILITAR


DO MOTIM E DA REVOLTA

Motim

Art. 149. Reunirem-se militares ou assemelhados:


I - agindo contra a ordem recebida de superior, ou negando-se a
cumpri-la;
II - recusando obediência a superior, quando estejam agindo sem
ordem ou praticando violência;
III - assentindo em recusa conjunta de obediência, ou em resistência
ou violência, em comum, contra superior;
IV - ocupando quartel, fortaleza, arsenal, fábrica ou estabelecimento
militar, ou dependência de qualquer deles, hangar, aeródromo ou
aeronave, navio ou viatura militar, ou utilizando-se de qualquer
daqueles locais ou meios de transporte, para ação militar, ou prática
de violência, em desobediência a ordem superior ou em detrimento da
ordem ou da disciplina militar:
Pena - reclusão, de quatro a oito anos, com aumento de um terço para
os cabeças.

A primeira observação é referente ao interesse estatal em proteger a Autoridade ou


Disciplina Militar (essência da engrenagem castrense), implementando no Capítulo I, do Título II
do CPM, os delitos de Motim e Revolta, com penas relevantes, que iniciam com 04 anos de
reclusão;
O verbo do tipo penal do motim é “reunirem-se”. Portanto, é um crime de autoria coletiva
necessária, ou seja, para que haja o delito de motim 02 (dois) ou mais militares deverão praticar
juntamente a ação.
Exemplo1: Um cabo e um sargento em conluio se negam a cumprir uma ordem legal do
Comandante de sua Unidade. (crime de motim, art. 149, I do CPM)
Exemplo2: Um soldado se nega a cumprir uma ordem legal do comandante de sua unidade.
(crime de recusa de obediência, art. 163 do CPM)
➢ No inciso I, os militares agem contra a ordem recebida do superior (qualquer superior,
do cabo ao general, desde que a ordem seja legal, ou se negam a cumpri-la;
➢ No inciso II, os militares agem sem ordem, ou praticando violência, se recusando a
obedecer ao superior (neste caso o superior ao perceber a irregularidade praticada pelos
subordinados, emana uma ordem legal para que os militares cessem a irregularidade ou
violência, mas estes não obedecem a ordem);
➢ No inciso III, o(s) militar(es) consente(m) com a recusa conjunta de obediência,
resistência ou violência de outros militares, aliando-se posteriormente aos amotinados,
fortalecendo o movimento criminoso.
➢ No inciso IV, os militares ocupam as instalações ou equipamentos mencionados
desobedecendo ordem superior, causando lesão à ordem ou disciplina militar.

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

Revolta

Parágrafo único. Se os agentes estavam armados.


Pena - reclusão, de oito a vinte anos, com aumento de um terço para os cabeças.

Para configuração do tipo penal de Revolta, há necessidade que pelo menos 02 (dois)
militares estejam armados praticando qualquer dos incisos do art. 149 (motim), pois o parágrafo
único contém a expressão “se os agentes estavam armados”.
➢ A doutrina e a jurisprudência apontam no sentido de que as armas devem ser
efetivamente empregadas na prática do delito, pois pela natureza do serviço o militar
porta armas, então se a arma estiver simplesmente na cintura ou no coldre não se
configura o crime de revolta, mas somente o motim. Para configuração do delito de
revolta também não é necessário que a arma esteja sendo empunhada, bastando que
os militares demonstrem a intenção de reduzir a capacidade da autoridade com a arma.
Ou seja, se os militares levantarem a camisa durante o amotinamento para mostrarem
que estão armados; se verbalizarem que possuem armas para resistirem a ordem legal;
se durante a resistência a ordem legal colocarem a mão na arma, destravando a fivela
do coldre, são condutas suficientes para configuração do crime de revolta.
➢ Importante: Nos crimes de autoria coletiva necessária existe a figura dos “cabeças”,
conforme orientação do art. 53, § 4º e 5º do CPM. Observe que há duas formas de
enquadramento:

Cabeças

§ 4º Na prática de crime de autoria coletiva necessária, reputam-se cabeças os que dirigem,


provocam, instigam ou excitam a ação.

§ 5º Quando o crime é cometido por inferiores e um ou mais Oficiais, são estes considerados
cabeças, assim como os inferiores que exercem função de Oficial.

➢ No § 4º os CABEÇAS são os militares que instigam, lideram, “encabeçam” a prática do


delito (neste caso motim ou revolta), ou seja, qualquer militar.
➢ O § 5º determina que caso o movimento criminoso tenha inferiores com a participação
de oficiais ou de praças com funções de oficiais, estes serão considerados CABEÇAS.
Lembre-se o CPM protege a hierarquia e disciplina. Portanto, quanto maior a graduação ou
o posto do militar, maior será sua responsabilidade e comprometimento.

Cumulação de penas

Art. 153. As penas dos arts. 149 e 150 são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à
violência.

Outra questão importante é a cumulação de pena, pois caso haja violência durante o
cometimento do crime de revolta ou motim, os autores responderão, também, pelo demais

30
LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

delitos. Por exemplo, uma revolta que culminou em uma lesão corporal grave importará aos
militares criminosos as penas dos crimes do art. 149, P. Único e Art. 209, §1º ambos do CPM.

DA VIOLÊNCIA CONTRA SUPERIOR OU MILITAR DE SERVIÇO

Violência contra superior

Art. 157. Praticar violência contra superior.


Pena - detenção, de três meses a dois anos.

Inicialmente precisamos relembrar o conceito de superior estudado na unidade III,


estabelecido na PMERJ através do artigo 14 (escala hierárquica) e artigo 15 (superior funcional)
ambos da lei 443/81 (Estatuto PMERJ). Trata-se de um crime propriamente militar, pois somente
pode ser cometido por um militar.
Assim poderemos estabelecer o sujeito ativo da conduta típica:
Exemplo: necessário que seja um inferior hierárquico – Um CB PM que pratica violência contra
um 3º SGT PM.
➢ O sujeito passivo do delito é o superior, no exemplo anterior o 3º SGT PM, ou seja, para
que haja o enquadramento do delito do art. 157 do CPM, necessariamente tem que haver
a diferença hierárquica ou funcional entre sujeito ativo e passivo.
➢ Caso não exista essa superioridade hierárquica do sujeito passivo sobre o ativo,
estaremos diante de outro delito.
➢ É necessário pontuar que o termo VIOLÊNCIA não significa lesão corporal, na verdade
violência pode ser um empurrão, rasgar-lhe o uniforme, segurar-lhe o braço.

Formas qualificadas

§ 1º Se o superior é comandante da unidade a que pertence o agente,


ou oficial general:
Pena - reclusão, de três a nove anos.

§ 2º Se a violência é praticada com arma, a pena é aumentada de um


terço.
§ 3º Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se, além da pena da
violência, a do crime contra a pessoa.
§ 4º Se da violência resulta morte:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

§ 5º A pena é aumentada da sexta parte, se o crime ocorre em


serviço.

Existem 05 qualificadoras do crime de violência contra superior:


➢ §1º - se a vítima for comandante da unidade do agressor, ou se a vítima for oficial general
(não necessita que seja comandante do agressor, mas apenas oficial general)

31
LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

➢ §2º - Geralmente a utilização de arma de fogo na pratica de um crime militar agrava a


pena em 1/3.
➢ §3º - aqui temos mais um caso de cumulação de penas, onde o acusado responderá
pelo art. 157 e também pelo crime de lesão corporal (art. 209) advinda da violência
inicialmente praticada.
➢ § 4º - se a violência a superior resultar em morte o agressor não responderá por
homicídio (art. 205), mas por violência contra superior com resultado morte cuja pena é
de reclusão de 12 a 30 anos, lembre-se que o art. 157 do CPM foi instituído na legislação
brasileira para proteger a hierarquia e disciplina, não se trata de um crime contra a
pessoa, mas um crime contra a autoridade militar.
➢ § 5º - quando a violência contra superior ocorrer durante o serviço a pena do agressor é
aumentada em 1/6.

Violência contra militar de serviço

Art. 158. Praticar violência contra oficial de dia, de serviço, ou de quarto, ou contra sentinela,
vigia ou plantão:
Pena - reclusão, de três a oito anos.

O crime de violência contra militar de serviço só ocorre quando é praticado em desfavor de:
1. Oficial de dia;
2. Oficial de serviço;
3. Oficial de quarto;
4. Sentinela
5. Vigia;
6. Plantão.
Observação: caso seja cometido contra militar empregado em outro tipo de serviço estaremos
diante de outro delito.
➢ É um crime militar impróprio, pois pode ser cometido por qualquer pessoa militar ou civil.
➢ Como no crime de violência contra superior, a configuração do delito pode ocorrer com
um empurrão, um tapa, rasgando-lhe a farda ,etc. (não tem relação com a lesão corporal)

Formas qualificadas

§ 1º Se a violência é praticada com arma, a pena é aumentada de um


terço.
§ 2º Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se, além da pena da
violência, a do crime contra a pessoa.
§ 3º Se da violência resulta morte:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Os parágrafos 1º, 2º, 3º do art. 158, são qualificadoras que possuem a mesma definição e
entendimento jurídico dos parágrafos 2º, 3º e 4º do art.157, devidamente esmiuçado.

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

Ausência de dolo no resultado

Art. 159. Quando da violência resulta morte ou lesão corporal e as circunstâncias evidenciam
que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena do crime contra a
pessoa é diminuída de metade.

No artigo 159, do CPM, temos a figura do agente que teve a intenção de cometer o crime
do artigo 157 (violência contra superior) ou 158 (violência contra militar de serviço), mas não teve
intenção e nem assumiu o risco de causar a morte ou lesão corporal do sujeito passivo (superior
ou militar em serviço). Portanto, quando as provas comprovarem que o agente não pretendia o
resultado (morte ou lesão corporal) será aplicada a pena do artigo 157 ou 158 do CPM, somada
a metade da pena do crime de lesão corporal (art. 209 do CPM) ou homicídio (art. 205 do CPM),
conforme o caso.

DO DESRESPEITO A SUPERIOR E A SÍMBOLO NACIONAL OU A FARDA


Desrespeito a Superior

Art. 160. Desrespeitar superior diante de outro militar:


Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.

O artigo 160 estabelece como sujeito passivo o SUPERIOR. Portanto, remetemos o


estudo a unidade III, onde estabelecemos o conceito de superior através do artigo 14 (escala
hierárquica) e artigo 15 (superior funcional) ambos da lei 443/81 (Estatuto PMERJ). Trata-se de
um crime propriamente militar, pois somente pode ser cometido por um militar com inferioridade
hierárquica.
Assim poderemos estabelecer o sujeito ativo da conduta típica:
Exemplo: necessário que seja um inferior hierárquico – Um 2º TEN PM que desrespeita um MAJ
PM.
➢ O verbo do delito é desrespeitar, que pode ser entendido como um ato de falta de
consideração, de acatamento. O delito pode ocorrer através de palavras, gritos,
desenhos, caricaturas, escritos, publicações em redes sociais.
➢ Para configuração do delito o desrespeito deve ocorrer diante de outro militar. Caso não
seja cometido diante de outro militar a conduta pode ser responsabilizada como
transgressão da disciplina.

Desrespeito a Comandante, Oficial General ou Oficial de Serviço

Parágrafo único. Se o fato é praticado contra o comandante da unidade a que pertence o


agente, oficial-general, oficial de dia, de serviço ou de quarto, a pena é aumentada da metade.

Para o enquadramento do parágrafo único, o desrespeito a superior deve ser praticado


contra:
1. Comandante da unidade do agente;

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

2. Oficial general (não necessita ser comandante do agente);


3. Oficial de dia;
4. Oficial de serviço;
5. Oficial de quarto.

Desrespeito a símbolo nacional

Art. 161. Praticar o militar diante da tropa, ou em lugar sujeito à administração militar, ato que
se traduza em ultraje a símbolo nacional:

Pena - detenção, de um a dois anos.

Inicialmente, é necessário a compreensão do que é um


Símbolo Nacional, e para tanto, veremos o art. 13, § 1º da
CRFB/88.
§ 1º São símbolos da República Federativa do Brasil a
bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais.

➢ O verbo do delito é ultrajar, que significa insultar, aviltar ou menosprezar.


➢ Há a necessidade que o ato ultrajante ocorra diante de tropa (onde quer que ela esteja),
ou em lugar sujeito a administração militar (por exemplo em um hospital militar).
➢ Crime militar próprio, pois somente um militar pode praticá-lo.
Exemplo: Um Coronel PM pisa, dolosamente, na Bandeira Nacional durante uma formatura
militar.

Despojamento desprezível

Art. 162. Despojar-se de uniforme, condecoração militar, insígnia ou


distintivo, por menosprezo ou vilipêndio.
Pena - detenção, de seis meses a um ano.
Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se o fato é praticado
diante da tropa, ou em público.

Inicialmente precisamos compreender o elemento objetivo (verbo do tipo penal), neste


caso despojar-se significa retirar de si. Outro ponto é que a conduta deve conter lastro de
menosprezo ou vilipêndio, ou seja, como ato de menosprezo o agente retira do corpo o
uniforme.
➢ O ato pode ser contra o uniforme, condecoração militar, insígnia ou distintivo.
➢ Perceba que a conduta é voltada ao próprio agente. Portanto, se um militar retirar a
insígnia de outro militar por menosprezo, não estaremos diante do crime do art. 162 do
CPM (Despojamento desprezível), mas poderemos, por exemplo, estar diante do crime
de violência contra superior (art. 157 do CPM) ou mesmo de violência aviltante contra
inferior (art. 176 do CPM).

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

DA INSUBORDINAÇÃO

Caro Policial Militar, nunca confunda insubordinação com um


crime específico ou uma transgressão disciplinar, certo? Insubordinação
é o Capítulo V, do CPM, e compreende quatro crimes, os quais
estudaremos a seguir.

Recusa de obediência

Art. 163. Recusar obedecer a ordem do superior sobre assunto ou matéria de serviço, ou
relativamente a dever imposto em lei, regulamento ou instrução:

Pena - detenção, de um a dois anos, se o fato não constitui crime mais grave.

➢ Primeiro aspecto do delito é que o sujeito ativo do delito deve ser um inferior hierárquico.
➢ O elemento objetivo do delito é recusar obediência a ordem, que deve ser legal
(pautada na lei, regulamento ou instrução).
➢ O sujeito passivo é o superior.
➢ Atenção: o crime de recusa de obediência é um delito de autoria singular, uma vez que
se mais de um militar decidirem em conjunto recusar obedecer a ordem superior,
estaremos diante do crime de Motim (art. 149 do CPM).

Oposição a ordem de sentinela

Art. 164. Opor-se às ordens da sentinela:

Pena - detenção, de seis meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.

Segundo Cícero Robson Coimbra Neves14, “sentinela” é o militar que guarda


determinado local com ou sem arma, em posto fixo ou móvel. A principal sentinela é aquela
alocada no portão de entrada das unidades, local denominado Portão das Armas, o que gerou a
designação dessa sentinela de Sentinela das Armas. As demais sentinelas são denominadas
Sentinelas Cobertas.
Logo, é importante entendermos que a sentinela não é a criadora da ordem que ela
transmite, mas sim o Comandante da Unidade Militar. Portanto, qualquer militar ou civil pode
cometer o delito (é um crime militar impróprio).
Exemplo: Um oficial estaciona seu carro em local que a sentinela o informa ser proibido. Veja, a
sentinela (um soldado) transmite a ordem a qual foi orientada ao oficial que a descumpriu.

14
Neves, Cícero Robson Coimbra. Manual de Direito Penal Militar. Ed. Juspodivim. 5ª Ed. São Paulo. 2021. P. 991.

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

Reunião ilícita

Art. 165. Promover a reunião de militares, ou nela tomar parte, para discussão de ato de
superior ou assunto atinente à disciplina militar:

Pena - detenção, de seis meses a um ano a quem promove a reunião; de dois a seis meses a
quem dela participa, se o fato não constitui crime mais grave.
Sujeito ativo:
✓ Aquele que promove (organiza) a reunião de militares (qualquer graduação ou posto);
✓ Aquele que toma parte (participa) da reunião de militares (qualquer graduação ou
posto).
Para configuração do crime, há necessidade da participação de pelo menos dois militares. A
pauta da reunião deve discutir ato de superior, que pode ser entendido como qualquer atitude de
um superior relacionada ao serviço ou assunto atinente à disciplina militar.
Observação: se os militares se reunirem para conversar sobre a opinião de um superior, por
exemplo, sobre casamento, automóveis, futebol, etc., não estaremos diante de conduta típica.
Caro Policial Militar, é importante frisar que a pena para quem organiza a reunião é maior
que a de quem simplesmente participa. Outro fato importante é que a reunião pode enveredar
para condutas que constituam outros crimes.
Exemplo: se durante a reunião decidam por descumprir a ordem de superior, estaremos diante
do crime de conspiração (art. 152 do CPM).

Publicação ou crítica indevida

Art. 166. Publicar o militar ou assemelhado, sem licença, ato ou


documento oficial, ou criticar publicamente ato de seu superior ou
assunto atinente à disciplina militar, ou a qualquer resolução do
Governo:

Pena - detenção, de dois meses a um ano, se o fato não constitui crime


mais grave.

Elementos objetivos do crime:


✓ Publicar sem licença;
✓ Criticar publicamente.

Com relação a publicação, a conduta envolve publicações em redes sociais, podcasts,


matérias jornalísticas etc. Além disso, a publicação deve ser de ato oficial ou documento oficial
de assuntos atinentes as instituições militares.
Com relação a criticar publicamente ato de seu superior ou assunto atinente à disciplina
militar, o crime só se consuma se a conduta ocorrer em público (não necessita que o local seja
sujeito a administração militar ou que o público seja militar).

DA USURPAÇÃO E DO EXCESSO OU ABUSO DE AUTORIDADE

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

Rigor excessivo

Art. 174. Exceder a faculdade de punir o subordinado, fazendo-o com


rigor não permitido, ou ofendendo-o por palavra, ato ou escrito:

Pena - suspensão do exercício do posto, por dois a seis meses, se o


fato não constitui crime mais grave.

Sujeito ativo é o superior hierárquico ou funcional que detenha o poder disciplinar de


punir o subordinado. No direito brasileiro a autoridade para praticar um ato administrativo,
necessita de competência e o ato deve seguir as formalidades legais, posto que a Administração
Pública Castrense só pode executar o que estiver estritamente autorizada por lei. Portanto,
qualquer ato praticado com excesso ou desvio de poder é um ato ilegal.
Segundo Cícero Robson Coimbra Neves15 o excesso pode ocorrer de três formas:
Primeira- Impondo ao subordinado uma sanção não prevista no Regulamento Disciplinar, por
exemplo, número de dias de recolhimento acima do máximo legal;
Segunda- Imposição de condições subumanas no período de execução da sanção disciplinar,
como limitação de locomoção, falta de água ou alimentação;
Terceira- ofender o subordinado por palavras (impropérios), atos (gestos ofensivos) ou escrito,
isso tanto no documento formal de punição (geral de punição), ao motivar sua decisão,
ofendendo, assim, por escrito o subordinado, como também face a face, por exemplo, no
momento em que o oficial divulga à tropa e, ao ler o enquadramento, começa a comentá-lo,
inflamando-se em seu discurso e ofendendo seu subordinado, por palavra ou ato.

Violência contra inferior

Art. 175. Praticar violência contra inferior:


Pena - detenção, de três meses a um ano.

Resultado mais grave

Parágrafo único. Se da violência resulta lesão corporal ou morte é também aplicada a pena do
crime contra a pessoa, atendendo-se, quando for o caso, ao disposto no art. 159.

➢ Sujeito ativo é o superior hierárquico.


➢ Sujeito passivo o inferior que sofre a violência.
A violência, como já estudado, é o contato físico através de agressão, onde o superior
responde pelo delito mesmo que não resulte qualquer lesão, bastando o simples emprego de
força física contra o corpo, uniforme ou cobertura do ofendido.
Exemplo: Um empurrão no subordinado, ou um tapa na cobertura lançando-a ao chão.

Ofensa aviltante a inferior

15
Neves, Cícero Robson Coimbra. Manual de Direito Penal Militar. Ed. Juspodivim. 5ª Ed. São Paulo. 2021. P. 1061.

37
LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

Art. 176. Ofender inferior, mediante ato de violência que, por natureza
ou pelo meio empregado, se considere aviltante:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto no parágrafo único do artigo
anterior.

➢ Se da violência resultar lesão corporal ou morte será cumulada a pena do crime de


violência (art. 175 do CPM) com a do crime de lesão corporal (art. 209 do CPM) ou
homicídio (art. 205 do CPM), conforme o caso concreto.
➢ No delito do artigo 176 do CPM, além da violência o agente pretende humilhar o inferior,
afrontando-o moralmente, ou seja, estamos diante de dois requisitos que juntos
configuram o delito e, por esse motivo, sofre reprimenda maior do Estado com pena
maior que a do artigo 175.
➢ Exemplo: um superior que desfere uma tapa no rosto do subordinado.

DA RESISTÊNCIA
Resistência mediante ameaça ou violência

Art. 177. Opor-se à execução de ato legal, mediante ameaça ou violência ao executor, ou a quem
esteja prestando auxílio:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

➢ O elemento objetivo do tipo penal é opor-se, que significa tentar obstar a realização ou
buscar fazer com que um ato legal não se realize.
➢ A oposição deve ocorrer em conjunto com violência física ou ameaça contra o executor
ou quem esteja auxiliando-o.
➢ Ato legal é toda medida da administração pública com respaldo na legislação.
Exemplo: militar de folga é abordado por militares de serviço e se opõe fisicamente a busca
pessoal devidamente amparada no artigo 244 do CPP.

Forma qualificada

§ 1º Se o ato não se executa em razão da resistência:

Pena - reclusão de dois a quatro anos.

Cumulação de penas

§ 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência, ou ao
fato que constitua crime mais grave.

➢ A qualificadora se consuma caso a oposição do agente impeça de fato a diligência.


➢ Poderá ocorrer cumulação das penas do crime de resistência com outros crimes, tais
como lesão corporal (art.209 do CPM) etc.

38
LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

DOS CRIMES CONTRA O SERVIÇO MILITAR E O DEVER


MILITAR

DA DESERÇÃO

Deserção

Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que serve, ou do lugar em que deve
permanecer, por mais de oito dias.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos; se oficial, a pena é agravada.

➢ Sujeito ativo o militar (qualquer graduação ou posto).


➢ Elemento objetivo do tipo penal é AUSENTAR-SE, que significa afastar-se, furtar-se de
estar no local de deveria por imposição do serviço militar.
➢ O afastamento deve ser sem motivação (folga regulamentar e licenças não constituem
a possibilidade da contagem do prazo).
Exemplo: O SGT PM Roberto está de serviço na RP do setor “H”, do 1º BPM, no horário entre
19h00min do dia 10 de janeiro de 2023 e 07h00min do dia 11 de janeiro de 2023, mas não
comparece ao serviço.

CONTAGEM DA AUSÊNCIA ILEGAL ATÉ A CONSUMAÇÃO DA DESERÇÃO


Data Data Data Data Data Data Data Data Data Data
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Elaboração
dos
A partir
07h00min inventários A partir de
da
Término Elaboração da 00h parte
00h00min Diligências determinadas pelo
do da parte de Fazenda de
início da Comandante do 1º BPM para
serviço ausência Pública e deserção e
contagem localizar o ausente.
do SGT ilegal. dos bens termo de
da
Roberto. particulares deserção.
ausência.
do
ausente.
Dia Dia Dia Dia Dia Dia Dia Dia
Deserção
01 02 03 04 05 06 07 08

Casos assimilados

Art. 188. Na mesma pena incorre o militar que:


I - não se apresenta no lugar designado, dentro de oito dias, findo o
prazo de trânsito ou férias;
II - deixa de se apresentar a autoridade competente, dentro do prazo
de oito dias, contados daquele em que termina ou é cassada a licença
ou agregação ou em que é declarado o estado de sítio ou de guerra;
III - tendo cumprido a pena, deixa de se apresentar, dentro do prazo de
oito dias;
IV - consegue exclusão do serviço ativo ou situação de inatividade,
criando ou simulando incapacidade.

39
LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

Existem 04 (quatro) casos que são entendidos como crime de deserção:


1- O militar que não se apresenta no lugar designado no prazo de 08 (oito) dias;
2- O militar que deixa de se apresentar a autoridade competente, no prazo de 08 (oito) dias
quando:
✓ Termina ou é cassada a licença ou agregação;
✓ A partir da declaração do estado de sítio ou de guerra.
3- Após o cumprimento de pena deixa de se apresentar no prazo de 08 (oito) dias;
4- Qualquer que seja o prazo, quando o militar consegue a exclusão do serviço ativo ou situação
de inatividade (de forma ilegal), criando ou simulando incapacidade.

DO ABANDONO DE POSTO E DE OUTROS CRIMES EM SERVIÇO


Abandono de posto

Art. 195. Abandonar, sem ordem superior, o posto ou lugar de serviço que lhe tenha sido
designado, ou o serviço que lhe cumpria, antes de terminá-lo:

Pena - detenção, de três meses a um ano.

➢ Sujeito ativo: Militar (crime próprio).


➢ Elemento objetivo do delito: Abandonar, que significa deixar o local previamente
designado.
➢ Posto: um local certo e determinado, podendo ser fixo ou não, não sendo fixo deve ser
limitado e demarcado (local de guarda, limites da unidade militar);
➢ Lugar de serviço: área geográfica delimitada, maior que o posto, a qual impede que o
militar possa lhe dar completa cobertura, como exemplo o Oficial de dia que fiscaliza
vários postos cobertos por seus subordinados.
Importante: o militar somente pode abandonar aquilo que assumiu. Portanto, se durante o
serviço de sentinela não houver rendição do posto, isso não significa que o militar faltoso
abandonou o posto. Por outra análise o militar que deveria ter sido rendido e não foi, caso deixe
o posto, sem ordem superior, estará cometendo o delito mesmo que seu horário já tenha se
encerrado.
Exemplo: um policial militar de serviço no Subsetor de RP “D”, do 1º BPM, que se afasta, sem
qualquer justificativa ou ordem superior, do seu setor de patrulhamento (previamente delimitado,
através da Ordem de Policiamento).

Descumprimento de missão

Art. 196. Deixar o militar de desempenhar a missão que lhe foi


confiada:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não constitui
crime mais grave.
§ 1º Se é oficial o agente, a pena é aumentada de um terço.

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

§ 2º Se o agente exercia função de comando, a pena é aumentada de


metade

➢ Sujeito ativo: o militar (crime próprio).


➢ Elemento objetivo do delito DEIXAR DESEMPENHAR A MISSÃO, que compreende em
um crime omissivo, onde o militar não cumpre o que lhe foi determinado previamente.
➢ Missão- atividade específica, certamente definida e em conformidade com a lei.
Exemplo: um policial militar de serviço no Subsetor de RP “D”, do 1º BPM, permanece no
patrulhamento do setor, enquanto deveria estar cumprindo AREP III, determinada pela P/3 da
Unidade, através da Ordem de Serviço.

Embriaguez em serviço

Art. 202. Embriagar-se o militar, quando em serviço, ou apresentar-se embriagado para prestá-
lo:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

O elemento objetivo do tipo é embriagar-se, que significa que o militar deve, de forma
livre e consciente, ingerir substância capaz de causar-lhe embriaguez. Neste sentido a
embriaguez deve ser constatada por profissional qualificado (médico).
Portanto, há duas formas de cometer o delito:
✓ Durante o serviço;
✓ Se apresentando para assumir o serviço.
Caso o agente involuntariamente (sem intenção) seja levado ao estado de embriaguez,
não estará cometendo delito. Exemplo: consumo de medicação devidamente prescrita.

Dormir em serviço

Art. 203. Dormir o militar, quando em serviço, como oficial de quarto ou de ronda, ou em situação
equivalente, ou, não sendo oficial, em serviço de sentinela, vigia, plantão às máquinas, ao leme,
de ronda ou em qualquer serviço de natureza semelhante:

Pena - detenção, de três meses a um ano.

➢ Sujeito ativo do delito: O militar (crime próprio).


➢ Elemento objetivo do delito: dormir em serviço.
Caro Policial, você sabia que se trata de crime doloso, no qual o agente tem a intenção de
praticar o delito, ou seja, aquele militar que se prepara na prática da conduta? Pois é!
Exemplo: um SGT PM de serviço na RP, durante o cumprimento de um Ponto Base (PB),
afrouxa o cinto de guarnição, reclina o banco da viatura e dorme.
Para se ter uma ideia do quanto é importante a configuração do dolo, no exemplo acima,
se este mesmo SGT PM estiver cumprindo normalmente o serviço de Ponto Base (PB), e durante

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a madrugada for vencido pelo sono e observado em condições normais de serviço (devidamente
fardado e sentado normalmente), não estará cometendo o delito.

DOS CRIMES CONTRA A PESSOA

Homicídio simples

Art. 205. Matar alguém.


Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

Minoração facultativa da pena

§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob
o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode
reduzir a pena, de um sexto a um terço.

➢ Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime militar impróprio);


➢ Elemento objetivo do delito Matar alguém, que significa tirar a vida de outro ser humano.
➢ No artigo 205 do CPM, delito de homicídio, a proteção a vida humana começa a partir
do nascimento com vida (estabelecido pela respiração tão logo o parto) e se estende até
o estabelecimento da morte encefálica. Ou seja, se o agente provocar a morte de um
feto (vida intrauterina), não estaremos diante do crime de homicídio, mas de outro delito
(aborto).

Homicídio privilegiado
A minoração de pena estabelecida no § 1º do art. 205, que evidencia o “relevante valor social”
faz referência, por exemplo, ao homicídio praticado por patriotismo ao traidor da pátria e o
perpetrado contra um perigoso bandido que assola a sociedade local. Enquanto o “relevante
valor moral” tem ligação, por exemplo, com um enfermeiro que auxilia um enfermo na eutanásia.
Por derradeiro, aquele que pratica o homicídio por “violenta emoção após injusta provocação da
vítima”, como exemplo, o agente que pratica o homicídio contra o algoz de estupro da sua filha.

Homicídio qualificado

§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - por motivo fútil;
II - mediante paga ou promessa de recompensa, por cupidez, para
excitar ou saciar desejos sexuais, ou por outro motivo torpe;
III - com emprego de veneno, asfixia, tortura, fogo, explosivo, ou
qualquer outro meio dissimulado ou cruel, ou de que possa resultar
perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, com surpresa ou mediante outro recurso
insidioso, que dificultou ou tornou impossível a defesa da vítima;

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V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou


vantagem de outro crime;
VI - prevalecendo-se o agente da situação de serviço:

Pena - reclusão, de doze a trinta anos

As qualificadoras do homicídio estão normatizadas claramente nos 06 (seis) incisos do


parágrafo 2º do artigo 205 do CPM, que incide no delito de matar alguém na forma de qualquer
dos incisos ou acumuladamente, daí a descrição, por exemplo, de “homicídio triplamente
qualificado”, onde a autoridade policial durante a investigação denota a existência de 03 (três)
qualificadoras.

Homicídio culposo

Art. 206. Se o homicídio é culposo.


Pena - detenção, de um a quatro anos.
§ 1° A pena pode ser agravada se o crime resulta de inobservância de
regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de
prestar imediato socorro à vítima.

Homicídio culposo é aquele que o agente não tem intenção de praticar a morte de
alguém, conforme o inciso II do artigo 33 do CPM. Veja:
II - culposo, quando o agente, deixando de empregar a cautela, atenção, ou diligência ordinária,
ou especial, a que estava obrigado em face das circunstâncias, não prevê o resultado que podia
prever ou, prevendo-o, supõe levianamente que não se realizaria ou que poderia evitá-lo.
Logo, o agente não queria o resultado, mas o produziu culposamente e o grau de sua
irresponsabilidade ou falta de dever de cuidado será observado pelo juiz durante a dosimetria da
pena.

DA LESÃO CORPORAL E DA RIXA

Lesão leve

Art. 209. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:


Pena - detenção, de três meses a um ano.

Lesão grave

§ 1° Se se produz, dolosamente, perigo de vida, debilidade permanente


de membro, sentido ou função, ou incapacidade para as ocupações
habituais, por mais de trinta dias:
Pena - reclusão, até cinco anos.

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§ 2º Se se produz, dolosamente, enfermidade incurável, perda ou


inutilização de membro, sentido ou função, incapacidade permanente
para o trabalho, ou deformidade duradoura:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

➢ Sujeito ativo do delito: qualquer pessoa (crime militar impróprio).


➢ Elemento objetivo do delito: ofender a integridade, que significa agredir a saúde física
ou mental da vítima.
➢ A materialização da lesão decorre de exame de corpo delito, direto ou indireto, sempre
necessário em função do estabelecimento da pena. Quanto mais grave a lesão, maior a
pena.
Na lesão corporal dolosa temos dois parágrafos que agravam a pena:
1- Lesão grave com pena de até 05 anos
✓ Quando produz perigo de vida;
✓ Quando produz debilidade permanente de membro, sentido ou função;
✓ Quando produz incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta
dias.
2- Lesão grave com pena de 02 até 08 anos
✓ Quando a lesão produzir enfermidade incurável;
✓ Quando a lesão produzir perda ou inutilização de membros superiores ou
inferiores;
✓ Quando a lesão produzira perda de qualquer um dos 05 (cinco) sentidos;
✓ Quando a lesão produzira incapacidade permanente para o trabalho.

Lesão levíssima

§ 6º No caso de lesões levíssimas, o juiz pode considerar a infração como disciplinar.

➢ Quando a lesão produzir deformidade duradoura.


O parágrafo 6º estabelece que o juiz PODE considerar a infração como disciplinar,
quando a lesão corporal for de mínima complexidade, tendo alguns doutrinadores entendido que
o legislador estabeleceu uma espécie de “princípio da insignificância”. Contudo, o Juiz incentiva
a avaliação da conduta na esfera administrativa.
Observe que o termo estabelecido é “PODE”, ou seja, uma faculdade conferida a
autoridade judiciária.

Lesão culposa

Art. 210. Se a lesão é culposa.


Pena - detenção, de dois meses a um ano.

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

§ 1º A pena pode ser agravada se o crime resulta de inobservância de


regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de
prestar imediato socorro à vítima.

Lesão culposa é aquela que o agente não tem intenção de ofender a integridade de
alguém, conforme o inciso II do artigo 33 do CPM. Veja:
II - culposo, quando o agente, deixando de empregar a cautela, atenção, ou diligência ordinária,
ou especial, a que estava obrigado em face das circunstâncias, não prevê o resultado que podia
prever ou, prevendo-o, supõe levianamente que não se realizaria ou que poderia evitá-lo. Logo,
o agente não queria o resultado, mas o produziu culposamente e, portanto, sofrerá uma
reprimenda menor por parte do estado.

Participação em rixa

Art. 211. Participar de rixa, salvo para separar os contendores.


Pena - detenção até dois meses.
Parágrafo único. Se ocorre morte ou lesão grave, aplica-se, pelo fato
de participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos.

➢ Rixa significa tomar parte em luta corporal entre várias pessoas, em agressões
reciprocas, desde que estejam participando pelo menos 03 (três) pessoas. Cabe
ressaltar que não basta uma simples discussão.
➢ O contendor é o sujeito que ingressa para separar os participantes da rixa, neste caso
não pratica qualquer delito.
➢ Se ocorrer morte ou lesão grave há um agravamento da pena para todos os
participantes, mas caso o autor do resultado mais grave seja identificado, este
responderá pelo crime mais grave (homicídio ou lesão corporal).

DOS CRIMES CONTRA A HONRA

Calúnia

Art. 214. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime.

Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

§ 1º Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.

Você sabia que calunia é a conduta de ofender alguém alegando que o sujeito passivo
do delito praticou um crime (civil ou militar), onde o sujeito ativo tem plena consciência de ser
falsa sua alegação? Portanto, o sujeito ativo sabe que o sujeito passivo não cometeu o delito.
Outro requisito do delito, é que o fato imputado tem quer ser crime, pois caso seja uma
contravenção penal não configura calúnia, podendo configurar difamação.

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

O parágrafo 1º estabelece a mesma pena para aquele que toma conhecimento da


calúnia e, sabendo ser falsa a imputação contra o sujeito passivo, a divulga a terceiros. Se o fato
criminoso imputado ao sujeito passivo for verdade, não haverá crime de calúnia. Portanto, será
considerado fato atípico. (Lembre-se a imputação tem que ser falsa)
O crime se consuma quando terceiro toma conhecimento da ofensa feita pelo sujeito
ativo.

Difamação

Art. 215. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação.


Pena - detenção, de três meses a um ano.
Parágrafo único. A exceção da verdade somente se admite se a ofensa
é relativa ao exercício da função pública, militar ou civil, do ofendido.

O Crime elencado no artigo 215 exige o dolo de ofender a reputação do sujeito passivo.
Aqui estamos falando sobre a honra objetiva, aquela que o sujeito passivo possui perante
terceiros, é a consideração que outras pessoas têm do sujeito. (Ofende a reputação da vítima)
Atenção, pois o fato imputado pode ser verdadeiro ou falso. Já o parágrafo único
estabelece que se a ofensa tiver pertinência temática com a função pública do sujeito passivo e
o fato imputado for verdadeiro, não estaremos diante do crime de difamação, a conduta é atípica.
Logo, o crime se consuma quando terceiro toma conhecimento da ofensa feita pelo sujeito ativo.

Injúria

Art. 216. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro.

Pena - detenção, até seis meses.

O tipo penal do artigo 216 protege a honra subjetiva do sujeito passivo, ou seja, aquilo
que a vítima acha de si mesma. Na injúria a ofensa não necessita ser pública, a consumação
ocorre quando o próprio sujeito passivo toma conhecimento da ofensa do autor.
Policial Militar, você sabia que injuriar alguém significa criticar os atributos físicos,
intelectuais, sociais ou morais do sujeito passivo? Portanto, chamá-lo de gordo, burro,
vagabundo ou safado, por exemplo, configuraria o crime de injuria.

Injúria real

Art. 217. Se a injúria consiste em violência, ou outro ato que atinja a pessoa, e, por sua natureza
ou pelo meio empregado, se considera aviltante.

Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena correspondente à violência.

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

Na injúria real é operada pela humilhação, pela ofensa moral ao sujeito passivo, mas não
por palavras e sim através de violência infligida contra o corpo do sujeito passivo.
Exemplo: cuspir no rosto da vítima.
Importante: Em todos os crimes contra honra descritos no CPM a ação penal é pública
incondicionada, não necessita da queixa-crime da vítima, ou seja, diferente do Código Penal
Comum, caso um fato típico desta natureza ocorra o Ministério Público oferece a denúncia
mesmo que não haja representação da vítima, por força do artigo 121 do CPM.

Propositura da ação penal


Art. 121. A ação penal somente pode ser promovida por denúncia do Ministério Público da Justiça
Militar.

DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

Furto simples

Art. 240. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:

Pena - reclusão, até seis anos.

O primeiro aspecto a ser entendido é que a subtração deve ter o propósito de


permanecer com a coisa. Coisa alheia móvel é tudo aquilo que possa ser removido ou
mobilizado.
Caro Policial Militar, é importante saber que no crime de furto não há violência. Neste
sentido, se o autor subtrai coisa alheia com o intuito de devolvê-la estaremos diante do crime de
furto de uso, assim como, se a subtração for efetuada com violência ou grave ameaça
estaremos diante do crime de roubo.
Temos algumas condições que qualificam o delito de furto, sendo elas:
✓ Se o furto é praticado durante a noite;
✓ Se a coisa furtada pertence a Fazenda Nacional;
✓ Se o furto é praticado com destruição ou rompimento de obstáculo;
✓ Se o furto com o abuso de confiança ou mediante fraude;
✓ Se o furto é praticado com escalada ou destreza;
✓ Se o furto é praticado com chave falsa;
✓ Se o furto é praticado por duas ou mais pessoas.

Furto de uso

Art. 241. Se a coisa é subtraída para o fim de uso momentâneo e, a


seguir, vem a ser imediatamente restituída ou reposta no lugar onde se
achava.

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

Pena - detenção, até seis meses.


Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se a coisa usada é
veículo motorizado; e de um terço, se é animal de sela ou de tiro.

No furto de uso a subtração é momentânea. Caso o autor seja preso antes da devolução
do objeto furtado responderá pelo crime de furto do artigo 240 do CPM. A consumação do crime
de furto de uso ocorre com a reposição do objeto no mesmo lugar.

Roubo simples

Art. 242. Subtrair coisa alheia móvel, para si ou para outrem, mediante
emprego ou ameaça de emprego de violência contra pessoa, ou depois
de havê-la, por qualquer modo, reduzido à impossibilidade de
resistência.
Pena - reclusão, de quatro a quinze anos.
§ 1º Na mesma pena incorre quem, em seguida à subtração da coisa,
emprega ou ameaça empregar violência contra pessoa, a fim de
assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou
para outrem.

No crime de roubo a subtração ocorre com o emprego de violência ou grave ameaça.


Também responde pela mesma pena aquele que emprega ou ameaça empregar violência para
assegurar a detenção do objeto subtraído. Importante mencionar que inicialmente o objeto pode
ter sido furtado (sem emprego de violência ou grave ameaça), mas posteriormente, para garantir
a posse do objeto ocorre a violência ou a grave ameaça, configurando assim o delito de roubo
na forma do parágrafo 1º.
Existem condições que qualificam o delito de roubo:
✓ se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
✓ se há concurso de duas ou mais pessoas;
✓ se a vítima está em serviço de transporte de valores, e o agente conhece tal
circunstância;
✓ se a vítima está em serviço de natureza militar;
✓ se é dolosamente causada lesão grave;
✓ se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis esse
resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo.
Caso a violência resulte na morte do sujeito passivo ou de terceiro no teatro de
operações do delito o crime não será de homicídio, pois o delito de roubo protege o patrimônio e
não a pessoa. Portanto, o crime cometido é o capitulado como latrocínio, na forma do artigo 242,
§ 3º do CPM.

Extorsão simples

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

Art. 243. Obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica,


constrangendo alguém, mediante violência ou grave ameaça:
a) a praticar ou tolerar que se pratique ato lesivo do seu patrimônio, ou
de terceiro;
b) a omitir ato de interesse do seu patrimônio, ou de terceiro:
Pena - reclusão, de quatro a quinze anos.

No crime de extorsão o agente aufere vantagem econômica indevida, submetendo o


sujeito passivo a violência ou grave ameaça, com o objetivo de tolerar ou praticar ato lesivo
contra seu próprio patrimônio ou de terceiros. A vantagem econômica auferida pode ser
incorporada no patrimônio do próprio agente ou de terceiros.

Extorsão mediante sequestro

Art. 244. Extorquir ou tentar extorquir para si ou para outrem, mediante sequestro de pessoa,
indevida vantagem econômica.
Pena - reclusão, de seis a quinze anos.

No artigo 244 do CPM a extorsão é praticada com o sequestro de uma pessoa, não
comporta objetos e animais. Para consumação do delito basta que o agente inicie a extorsão
(tente extorquir), não necessita que haja o pagamento do resgate. Se não ocorrer a extorsão
estaremos diante do delito de sequestro ou cárcere privado, descrito no artigo 225 do CPM.

Sequestro ou cárcere privado

Art. 225. Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado.
Pena - reclusão, até três anos.

Portanto, é de bom alvitre pontuar que existem 03 tipos de delitos:


1. Sequestro - crime contra a liberdade (privar a liberdade de locomoção da vítima);
2. Extorsão - crime contra o patrimônio (vantagem econômica sob grave ameaça);
3. Extorsão mediante sequestro - crime contra o patrimônio (vantagem econômica
privando a liberdade de uma pessoa).

Apropriação indébita simples

Art. 248. Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou detenção.
Pena - reclusão, até seis anos.

O crime de apropriação indébita se difere do crime de furto pelo fato da coisa alheia
móvel não ter sido subtraída, mas sim ter chegado as do sujeito ativo do delito de forma lícita e,
a partir daí, o agente que passou a possuir o objeto apropria-se dele (não o devolvendo ao
verdadeiro dono).

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

Exemplo: você empresta seu carro para um amigo por dois dias e ele se nega a devolver o
veículo.

Estelionato

Art. 251. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento.
Pena - reclusão, de dois a sete anos.

No crime de estelionato a vantagem financeira indevida obtida pelo agente é auferida


ludibriando o sujeito passivo. No crime em voga o sujeito ativo tem o dolo de “enrolar” o sujeito
passivo mantendo-o em erro, ou seja, a manutenção ou indução do erro é a causa da obtenção
da vantagem indevida.

Receptação

Art. 254. Adquirir, receber ou ocultar em proveito próprio ou alheio,


coisa proveniente de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a
adquira, receba ou oculte.
Pena - reclusão, até cinco anos.

A receptação é um crime doloso, onde o agente adquiri, recebe ou oculta objeto


proveniente de crime. Portanto, o sujeito ativo tem plena consciência da proveniência criminosa
do objeto.
Aquele que sabendo da proveniência criminosa do objeto, induzir terceiro (que não sabe
da procedência da coisa) a adquirir, receber ou ocultar o objeto responderá pelo crime, mas o
terceiro de boa-fé (pessoa que não sabia da procedência do objeto) não pratica crime.

Receptação culposa

Art. 255. Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela
manifesta desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de
quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso.
Pena - detenção, até um ano.

Na receptação culposa o sujeito, pelas condições apresentadas, na hora de adquirir ou


receber a objeto, deveria deduzir ser o material de procedência duvidosa. Portanto, a doutrina e
jurisprudência entendem que aquele que tinha condições de perceber a natureza criminosa do
objeto adquirido, extrapolou os limites da inocência, posto que tinha capacidade cognitiva para
resistir a aquisição, mesmo não tendo conhecimento real da procedência do objeto.
Exemplo: celular sendo vendido muito abaixo do preço de mercado.

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

Dano simples

Art. 259. Destruir, inutilizar, deteriorar ou fazer desaparecer coisa


alheia.
Pena - detenção, até seis meses.
Parágrafo único. Se se trata de bem público:
Pena - detenção, de seis meses a três anos.

No crime de dano os elementos objetivos do tipo penal são destruir, inutilizar, deteriorar
ou fazer desaparecer, onde fazer desaparecer é uma inovação do CPM, pois no código penal
comum não há tal conduta.
Policial militar, saiba que é importante frisar que para configurar o delito o objeto deve
ser de outra pessoa, não configura crime se for do próprio agente.
Há 03 (três) condições qualificadoras do delito de DANO, elencadas no artigo 261 do
CPM, quando o crime é praticado:
1. com violência à pessoa ou grave ameaça;
2. com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais
grave;
3. por motivo egoístico ou com prejuízo considerável.
Pena - reclusão, até quatro anos, além da pena correspondente à violência.

Caro Policial Militar, saiba que há, também, o crime específico de dano a instalações e
instrumentos militares e com pena que pode chegar a até 12 anos de reclusão, conforme o
artigo 264 do CPM. Veja:
Art. 264. Praticar dano:
I - em aeronave, hangar, depósito, pista ou instalações de campo de aviação, engenho de guerra
motomecanizado, viatura em comboio militar, arsenal, dique, doca, armazém, quartel, alojamento
ou em qualquer outra instalação militar.

Desaparecimento, consunção ou extravio

Art. 265. Fazer desaparecer, consumir ou extraviar combustível, armamento, munição, peças de
equipamento de navio ou de aeronave ou de engenho de guerra motomecanizado:
Pena - reclusão, até três anos, se o fato não constitui crime mais grave.

O crime do artigo 265 do CPM é bem cristalino. Portanto, nos cabe aqui sinalizar os mais
comuns no âmbito da justiça militar estadual que são o extravio de munição, armamento e
combustível.

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO MILITAR

Desacato a superior

Art. 298. Desacatar superior, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro,


ou procurando deprimir-lhe a autoridade.
Pena - reclusão, até quatro anos, se o fato não constitui crime mais
grave.
Agravação de pena
Parágrafo único. A pena é agravada, se o superior é oficial General ou
Comandante da Unidade a que pertence o agente.

➢ Crime propriamente militar (somente um militar inferior hierárquico pode cometer o


delito).
➢ O elemento objetivo do tipo penal é desacatar, que significa faltar com o devido respeito,
afrontar, menosprezar, etc.
➢ Dignidade é o conjunto de atributos morais do superior. Exemplo: chama-lo de ladrão.
➢ Decoro é o conjunto de atributos físicos e intelectuais do superior. Exemplo: chama-lo
de burro.
➢ Deprimir-lhe a autoridade é atacar o seu poder de mando, de decidir questões inerentes
ao serviço.
➢ A pena é agravada se o superior for Oficial General (não importa a lotação) ou
Comandante da Unidade do agente.

Desacato a militar

Art. 299. Desacatar militar no exercício de função de natureza militar ou em razão dela.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não constitui outro crime.

Como no artigo 298, o elemento objetivo do tipo é desacatar, ou seja, faltar como o
devido respeito, porém no artigo 299 o sujeito passivo é (qualquer militar) e o agente pode ser
qualquer pessoa (crime militar impróprio).
O requisito para que ocorra o delito é que o militar desacatado esteja no exercício de
função de natureza militar ou em razão dela.

Desobediência

Art. 301. Desobedecer a ordem legal de autoridade militar.


Pena - detenção, até seis meses.

➢ A desobediência pode ocorrer por ação (realizar ato diverso da ordem) ou omissão
(negando a fazer o que foi determinado).
➢ A ordem deve ser legal (em conformidade com o ordenamento jurídico e administrativo).
➢ O sujeito ativo age sem violência (caso contrário configuraria resistência art. 177 do
CPM).

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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – CEFS

Peculato

Art. 303. Apropriar-se de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel,


público ou particular, de que tem a posse ou detenção, em razão do
cargo ou comissão, ou desviá-lo em proveito próprio ou alheio.
Pena - reclusão, de três a quinze anos.
§ 1º A pena aumenta-se de um terço, se o objeto da apropriação ou
desvio é de valor superior a vinte vezes o salário mínimo.

É um crime impróprio, ou seja, qualquer pessoa pode cometer o delito. O crime de


peculato é uma espécie de delito parecido com a apropriação indébita, mas o sujeito ativo é um
servidor público.
O dinheiro ou bem móvel chega a posse do agente de forma lícita, pelo fato dele
exercer algum cargo ou função, mas a partir daí desvia o bem ou dinheiro em proveito próprio
ou alheio.
A outra diferença entre o crime de apropriação indébita e o de peculato está na pena
aplicada, pois como o crime é cometido por um servidor público, a reprimenda estatal é muito
mais contundente, podendo chegar a até 15 anos de reclusão.
Consequentemente, o parágrafo 1º agrava a pena em razão do valor econômico do
bem móvel ou o montante do dinheiro desviado, caso seja superior a 20 salários mínimos.

Peculato-furto

§ 2º Aplica-se a mesma pena a quem, embora não tendo a posse ou detenção do dinheiro, valor
ou bem, o subtrai, ou contribui para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-
se da facilidade que lhe proporciona a qualidade de militar ou de funcionário.

O peculato-furto é uma espécie de furto praticado por servidor público que tem facilidade
de acesso ao dinheiro ou bem móvel em razão da função, ou seja, não está na posse do dinheiro
ou bem móvel.
Assim como no caput a outra diferença entre o crime de furto e o de peculato-furto está
na pena aplicada, pois como o crime é cometido por um servidor público, a reprimenda estatal é
muito mais contundente, podendo chegar a até 15 anos de reclusão.

Concussão

Art. 305. Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou
antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida.

Pena - reclusão, de dois a oito anos.

A concussão é outro crime inerente a servidores públicos, onde para existência do delito
a conduta deve ser em razão da função. O elemento objetivo do tipo penal é (exigir) e não

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(receber), ou seja, o simples fato do servidor impor qualquer vantagem indevida para, por
exemplo, deixar de praticar algum ato de ofício, configura o crime.
Não há necessidade que o autor esteja de serviço, mas apenas que a exigência da
vantagem seja motivada por algum vínculo com a função pública.

Corrupção passiva

Art. 308. Receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente,


ainda que fora da função, ou antes de assumi-la, mas em razão dela
vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem.

Pena - reclusão de dois a oito anos.

A corrupção passiva é conduta típica de agente público, que recebe vantagem indevida
ou aceita promessa de vantagem, em razão da função. Como no delito de concussão não há
necessidade de estar de serviço, bastando que a vantagem seja pertinente ao serviço que
exerce. A vantagem não se refere somente a dinheiro, mas qualquer uma possível, como por
exemplo uma troca de favores.

Corrupção ativa

Art. 309. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou vantagem indevida para a prática, omissão ou
retardamento de ato funcional.
Pena - reclusão, até oito anos.

A vantagem também não precisa beneficiar diretamente o agente público, abrangendo


também terceiros (parentes, amigos etc.). O crime de corrupção ativa pode ser perpetrado por
qualquer pessoa.
Quanto aos elementos objetivos do delito, compreendem dar, oferecer ou prometer.
Logo, o que significa que não necessita ocorrer a entrega da vantagem indevida, bastando
simplesmente a oferta ou a promessa. Portanto, a simples verbalização da oferta ou promessa
já consuma o delito. Lembrando que há vários meios de configuração do delito, tais como, escrita,
mensagens, etc.
Como último requisito temos que a oferta da vantagem tenha o objetivo de evitar a pratica
de um ato funcional ou mesmo retardar o seu acontecimento.

DOS CRIMES CONTRA O DEVER FUNCIONAL

Prevaricação

Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra
expressa disposição de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

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No crime de prevaricação existem (03) três condutas capazes de configurar o delito:


✓ Retardar (impedir o devido andamento administrativo, sobrestar sem
motivação legítima);
✓ Deixar de praticar (não praticar ato que deveria de ofício);
✓ Praticar ato contrário a expressa disposição legal.
Contudo, qualquer das condutas expostas acima deve satisfazer interesse ou
sentimento pessoal.
OBSERVAÇÃO: Caso não esteja configurado que o agente praticou ou deixou de praticar o ato
para satisfazer interesse ou sentimento pessoal, não estaremos diante do crime de prevaricação.
Por exemplo: se o agente deixou de praticar um ato de ofício por desídia, ele poderá sofrer uma
sanção administrativa, mas não poderá ser denunciado pelo crime de prevaricação.
Elementos subjetivos do tipo penal
Interesse pessoal é a relação de reciprocidade entre o indivíduo e o objeto que
corresponde a determinada necessidade deste. Por exemplo, um policial militar que deixa de
apreender material entorpecente encontrado para, posteriormente, consumi-lo.
Sentimento é um estado afetivo ou emocional. Por exemplo, um comandante que
inaugura uma portaria de IPM para prejudicar um subordinado. (Sentimento emocional de raiva
ou ódio).

Condescendência criminosa

Art. 322. Deixar de responsabilizar subordinado que comete infração


no exercício do cargo, ou, quando lhe falte competência, não levar o
fato ao conhecimento da autoridade competente:
Pena - se o fato foi praticado por indulgência, detenção até seis meses;
se por negligência, detenção até três meses.

No crime de condescendência criminosa temos (02) duas condutas possíveis:


✓ Deixar de responsabilizar subordinado que comete infração no exercício do cargo ou
função.
✓ A infração pode ser penal ou administrativa, nesta última a norma deve estar prevista
em lei, regulamento ou instrução.
Neste caso, o superior deve ter competência para responsabilizar o subordinado: Não
levar o fato ao conhecimento da autoridade
competente.
O superior não tem competência para
responsabilização do subordinado, mas
também não leva a infração do subordinado
para a autoridade competente.
✓ Indulgência significa compaixão, pena.
✓ Negligência significa desleixo, desídia.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CORRÊA, Univaldo. A Evolução Da Justiça Militar No Brasil – Alguns Dados Históricos. In:
Getúlio Correa. Direito Militar: História e doutrina: artigos inéditos. Florianópolis: AMAJME,
2002

SABELLI, Cid; ESCOBAR JR, Lauro. Direito Penal Militar. São Paulo: Exord, 2008

KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito [livro eletrônico]/Hans Kelsen; tradução Cretella Jr. e
Agnes Cretella. - 9ª ed. rev. - São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2009

Superior Tribunal Militar. 2016. Disponível em:https://www.stm.jus.br/informacao/agencia-de-


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SILVA, Virgílio Afonso da. Direitos Fundamentais: conteúdo, restrições e eficácia. São Paulo:
Malheiros, 2009

NEVES, Cícero Robson Coimbra. Manual de Direito Penal Militar. Ed. Juspodivim. 5ª Ed. São
Paulo. 2021

TEIXEIRA, Sílvio Martins. Código Penal Militar Explicado. 1996

MORAES, Reynaldo Zychan de. Os crimes militares e o inquérito policial militar: uma visão
prática – São Paulo: Livraria Científica Ernesto Reichmann, 2003

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