Você está na página 1de 71

CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE

POLÍCIA OSTENSIVA E PRESERVAÇÃO


DA ORDEM PUBLICA

História da PM

JANEIRO-2022

ATUALIZAÇÃO: Maj. PM Sérgio Cepeda de AGUIAR


Maj. PM Marcelo PENHA
Cap. PM José Roberto dos SANTOS
2º Ten. PM RAQUEL Maria Machado Calderari
2º Sgt. PM Alexandro DALPINO de Moura
3º Sgt. PM MIGUEL Ângelo Mora de Carvalho
3º Sgt. PM Claudete Aparecida de SÁ Correia

1º CICLO DE ENSINO
Sumário

AULA 1 e 2 - Breve histórico de formação e desenvolvimento das polícias no ocidente, A família


real no Brasil, Independência, Primeiro Reinado, origem de PM anteriores ....................................4

AULA 3 e 4 - Período Regencial, principais expoentes políticos do período, a Guarda Nacional,


origem das Guardas Municipais Permanentes, missão aquartelamento e suas características iniciais.
Criação de Polícias Militares em outras Províncias do Reinado, Heráldica e Brasão de Armas,
Denominações Históricas, Campanha 01 criação do Corpo Policial Permanente, Campanha 02
Guerra dos Farrapos, Campanha 03 Campo das Palmas, o início da instrução à tropa.....................7

AULA 5 e 6 - A PMESP durante II Reinado: vocação legalista, Campanha 04 – Revolução


Liberal Sorocabana, criação do corpo musical, C a m p a n h a 0 5 guerra do Paraguai e suas
consequências, criação do Corpo de Bombeiros, primeiro comandante, motivos que levaram à
criação, breve histórico anterior, quartel e acomodações, funções sociais e respeito pela população,
outras organizações policiais (Guarda Cívica). ..............................................................................13

AULA 7 e 8 - A PMESP durante a I República: C o n s t i t u i ç ã o d e 1 8 9 1, o p r i m e i r o


quartel próprio, o hospital, papel na transição para o governo civil; Campanha 06 – Revolta da
Armada e Revolução Federalista, Campanha 07 Questão dos Protocolos, Campanha 08 Canudos
(Sertão da Bahia), Revolta da vacina, Delinquência no sertão, CBPM, criação da Polícia Civil, da
Guarda Cívica, criação da Caixa Beneficente, 1ª Missão Francesa e o início da formação dentro da
Instituição. Escola de Soldados, escola de cavalaria, escola de alfabetização, núcleo da escola de
Sargentos, Centro de Instrução Militar e Curso de Formação Acadêmica .....................................17

AULA 9 e 10 - Campanha 09 Revolta da chibata, esquadrilha de aviação, C a m p a n h a 1 0 greve


operária de 1917, I Guerra Mundial, gripe espanhola, II Missão Francesa, O Tenentismo,
Campanha 11 os 18 do Forte de Copacabana e a sedição de Mato Grosso, Campanha 12 Revolução
de 1924, coluna Miguel Costa – Prestes, Cruz Azul, Criação da Guarda Civil, Campanha 13 Goiás
em 1926, o voo do Jahú, o Regulamento Policial de 28. ................................................................26
AULA 11 e 12 - A PMESP durante a Era Vargas: Campanha 14 Revolução de 30, Cel. Pedro
Àrbues, Consequências da Política Federal em relação à Força Pública de São Paulo, Ten. Cel.
Edgard Pereira Armond, Campanha 15 Revolução de 32, Constituição de 19 34 e de 1937, a
geração Freitas Almeida, Campanha 16 Movimentos extremistas, Campanha 17 II Guerra Mundial,
Os três Generais da Força Pública ................................................................................................... 35

AULA 13 e 14 A PMESP durante a Democracia: Constituições Federal e Paulista e o papel da


Força Pública, criação dos policiamentos especializados, policiamento ambiental, policiamento
rodoviário, novo regulamento para a Força, O salto na Amazônia, criação do corpo de policiamento
feminino, Corregedoria da Polícia Militar, o Congresso Brasileiro das PM, as campanhas do cancro
cítrico, mal de Chagas, relacionamento com a mídia nos anos 1960, a canção da
PMESP….....44

AULA 15 e 16 - A PM durante o Regime Militar e a Redemocratização: Campanha 18


Revolução de 1964 e suas consequências para a Força Pública, a unificação de 1970, Cap.
PM Alberto Mendes Jr., A reestruturação Pós 1970, os grandes incêndios: Andraus e Joelma,
atuação dos bombeiros no escorregamento das encostas da serra do mar, Colégio e Hospital da
PMESP, anos 80 e os desafios da democracia, a mudança de designação para Escola Superior de
Soldados “Cel. PM Eduardo Assumpção”, formação nos anos 1980, primeiro Comandante, o
Patrono e sua contribuição para a área do ensino na PMESP, a constituição de 1988, GATE,
COPOM, Resgate, o investimento tecnológico, anos 90 imagens negativas e novas tendências
institucionais, episódios do Carandiru e Naval, resgate das vítimas dos acidentes de aeronaves
TAM 1996 (voo 452) e 2007 (voo 3054), O século XXI e a doutrina de Polícia comunitária: novos
rumos, a atuação da PMESP durante a Copa FIFA 2014 e os Jogos Olímpicos Rio 2016 .............. 54

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS e FONTES .................................................................... 66


BREVE HISTÓRICO DE FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DAS POLÍCIAS
NO OCIDENTE
Ao iniciar nossos estudos sobre a História da Polícia Militar do Estado de São
Paulo, é necessário que primeiro entendamos as origens do conceito de Polícia no ocidente.
O termo polícia percorreu um longo caminho desde a Antiguidade Clássica (Greco-romana).
Nascem derivado de “politéia” que por sua vez se originava na “polis” (cidade-Estado na
Grécia Antiga), definindo, portanto, “aquele encarregado de guardar a cidade”. É preciso
entender que tal conceito se aplica segundo a visão de Platão (428-348 a.C.) e que,
conforme esse filósofo, os “encarregados de guardar a cidade”, eram os magistrados e não
policiais como hoje conhecemos 1. No entanto, a partir de Aristóteles (384-322 a.C.), o
termo ganharia mais um significado: designar as leis e regras que bem atendiam à
administração da cidade (vocábulo muito próximo de Política – arte de governar)
permanecendo ainda o antigo conceito de Platão onde os magistrados eram os
encarregados de comandar e supervisionar o corpo de guardas urbanos das polis. Atenas
por exemplo, teria um desses corpos compostos por cerca de 300 escravos empregados
especificamente para essa função.
Em Roma, o termo latiniza-se para “Politia” e (a partir do império de Augusto 27
a.C. – 14 d.C.), surgem as coortes de vigilância, encarregadas de manter a segurança urbana
nas regiões em que o Império fora dividido. Surgem também outras corporações cujas
funções se equiparam, sendo as principais delas as Coortes Urbanas e a famosa Guarda
Pretoriana gerando talvez as primeiras ideias sobre segurança pública mantidas pelo
Estado e aparece uma administração policial pública responsável pela manutenção da
ordem nas ruas de Roma, além de criar-se o cargo de Prefeito da cidade, encarregado de
comandar os vigiles (patrulheiros das ruas) e os stationarii (postos fixos) 2.
Durante a idade média, o conceito de polítia, caminhou para uma concepção de
manutenção da ordem civil a cargo do monarca, enquanto a moral e religiosa ficava sob a
égide da igreja, contudo há que se entender que não havia ainda dentro do escopo policial,
a manutenção da segurança pública como a entendemos hoje e sim, a manifestação do
poder real. No final da baixa idade média por volta do século XIV, a palavra polícia chega
finalmente a ser empregada, traduzindo todo o poder do Estado. Na idade moderna, o
termo passou a designar a ciência de governar os homens, portanto, não era uma

1
. PLATÃO. A República. Ou sobre a justiça. Diálogo político. Tradução de Ana Lia Amaral de Almeida Prado, São
Paulo: Martins Fontes, 2014.
2.
SARTORI. Luís Flávio. Segurança pública no Brasil: desafios e perspectivas. Rio de Janeiro: FGV, 2007 p. 22.
instituição e sim, “o conjunto de várias formas e domínios da administração” 3.
A Espanha nos forneceria um modelo de Instituição que tenderia a ter longa
duração, sendo este as Hermandades, primeiro modelo inspirador dos corpos policiais
modernos. Da França, viriam os exemplos de formação militarizada da Guendarmerie e
Polícia Urbana. A primeira com origens ainda no recorte da baixa idade média e a segunda
no século XVII. Da Inglaterra viria uma das mais conceituadas e conhecidas polícias do
mundo, criada em outubro de 1829 por Sir. Robert Peel, tendo por nome “Polícia
Metropolitana de Londres” ou “Força Metropolitana de Londres”.
Em Portugal, é criada em 1760 a Intendência Geral de Polícia da Corte e do Reino,
instituição inspirada em um modelo policial francês que pouco mais tarde também serviria
de parâmetro para a criação da Guarda Real de Polícia de Lisboa e a Intendência Geral de
Polícia da Corte que, atuando também nos Reinos, é fundada em 1808 no Rio de Janeiro, e
funcionaria até o ano de 1831.

A FAMÍLIA REAL NO BRASIL


Em 1807, Napoleão Bonaparte decreta o Bloqueio Continental na Europa e força a
Família Real Portuguesa a deixar Lisboa em direção às terras da colônia. Tendo aportado
aqui em 1808, após uma breve escala em Salvador, a corte traz todo seu aparato para a
cidade do Rio de Janeiro, estabelecendo naquela cidade seu quartel-general. A Corte traz
consigo um efetivo com cerca de 600 homens com a finalidade de realizar a segurança da
família Real e ainda mesmo em 1808 é criada a Intendência Geral de Polícia da Corte,
conforme afirmamos acima. O Decreto 13 de maio 1809 regulamentaria a Guarda Real
Portuguesa, aos moldes (uniforme e armamento) da polícia de Portugal, criando a Divisão
Militar da Guarda Real de Polícia da Corte, cerne da atual Polícia Militar do estado do Rio
de Janeiro4.

INDEPENDÊNCIA
Em 1815 o Brasil é elevado a Vice-Reino de Portugal Brasil e Algarves, colocando
nosso território nas mesmas condições da Metrópole. Tal situação tendeu-se a se reverter
após o retorno da família Real a Portugal em 1821, o que causou grande descontentamento
da elite brasileira. Em 1820 ocorre a Revolução Liberal Portuguesa (fator decisivo para a
volta de D. João VI a Portugal) e inicia-se a pressão para que D. Pedro I também retorne a
Lisboa. Somadas às condições em que se encontrava no momento o país, mais os ideais de
independência e a reluta por parte do Imperador em aceitar as exigências portuguesas para

3.
AFONSO, João José Rodrigues. Polícia: etimologia e evolução do conceito. Revista Brasileira de Ciências
Policiais. Nº1. p.213-260, jan/jun, Brasília, 2018.
4.
BARRETO Filho, Mello e LIMA, Hermeto. História da polícia do Rio de Janeiro: aspectos da cidade e da vida
carioca: 1565-1831, Rio de Janeiro: Ed. A Noite, 1942.

5
seu regresso, Pedro I rompe com Portugal em 7 de setembro de 1822, declarando o Brasil
independente, dando fim ao período colonial.

PRIMEIRO REINADO
O Período correspondente ao Primeiro Reinado estendeu-se entre sete de setembro
de 1822 e sete de abril de 1831 quando D. Pedro I abdicou e retornou a Portugal.
Destaca-se nesse período a promulgação de nossa Primeira Constituição Federal
datada de 25 de março de 1824 que instituía o Poder Moderador exercido pelo Imperador.
A partir de então, o regime político adotado passaria a ser o Monárquico Constitucional,
porém Pedro I era Liberal nas ideias e no discurso, no entanto sua prática política,
conservadora o que aos poucos acabou por desagradar as elites brasileiras. É importante
ressaltar-se que as polícias ainda se manteriam longe do texto constitucional. Também em
1824 o Exército brasileiro passou por sua primeira estruturação como Força Militar de um
país independente. A data de comemoração para essa arma seria fixada a partir de 1994 em
19 de abril5 como memória à Batalha dos Guararapes6 quando o mito das 3 raças que
compõem o povo brasileiro, se tornou presente em suas fileiras (pretos, índios e brancos),
lutaram juntas para defender o país. Em 17 de fevereiro de 1825 é criada a Polícia Militar
do estado da Bahia e em 11 de junho do mesmo ano, a Polícia Militar do estado de
Pernambuco.
Em 1829 iniciam-se reformas conceituais nas polícias de vários países. O maior
destaque desse período foi a modernização da força metropolitana de Londres, promovida
por Sir. Robert Peel. Tais mudanças gerariam resultados tão bons que muitas forças
policiais adotariam sua doutrina e guardadas as devidas atualizações científicas, nela
permaneceriam até os dias de hoje.
Importante entendermos que a unificação do território que hoje conhecemos por
Brasil, se deu mediante uma série de conflitos envolvendo brasileiros, portugueses,
estrangeiros residentes, indígenas e a população escravizada. Durante o período do
Primeiro Reinado, foram computados os seguintes conflitos:

 Guerra da Independência – 1822 - 1823;


 Independência da Bahia – 1821 - 1823;
 Confederação do Equador – 1824;
 Guerra contra as Províncias7 Unidas – 1825 - 1828 e;
 Revolta dos mercenários – 1828.

5.
BRASIL, Decreto de 24 de março de 1994 – Institui o “Dia do Exército Brasileiro”, Brasília: Câmara dos
Deputados, 1994.
6.
A batalha dos Guararapes ocorreu em 18 e 19 de abril de 1648 nas terras do atual estado de Pernambuco, e teve a
finalidade de promover a expulsão dos holandeses das terras brasileiras. Para maiores informações sobre o tema:
SOUZA Júnior, Antônio. Do recôncavo aos Guararapes, Biblioteca do Exército, Rio de Janeiro: 1984.
7.
Porção territorial de uma Federação que hoje se denomina estado.

6
Em 07 de abril de 1831, D. Pedro I abdicou, retornando a Portugal e pôs fim dessa
forma ao Primeiro Reinado, deixando, no entanto no Brasil, seu filho, Pedro II com a idade
de 05 anos, impotente, portanto, para comandar o país. De acordo com a Constituição de
1824, haveria a necessidade de aguardar a maioridade de Pedro II para que este pudesse
exercer as funções de Imperador. Enquanto isso não ocorresse, deveria ser instaurada uma
Regência. Tinha início dessa forma o PERÍODO REGENCIAL que durou até 1840.

ORIGEM DE PM ANTERIORES
Em 1775, foi criada a primeira instituição policial com características militares que
daria origem à atual Polícia Militar do estado de Minas Gerais, gerando a esta, portanto, o
título de PM mais antiga do país. As Polícias Militares seguintes à Minas Gerais, foram as
do Rio de Janeiro em 1809, Pará em 1818, Bahia e Pernambuco em 1825. Em 1831, seria
a vez de São Paulo.

PERÍODO REGENCIAL
O período que se seguiu após o ato de abdicação de D. Pedro I, foi chamado de
Regência, uma vez que o país foi “Regido” por figuras políticas até a maioridade
antecipada do Imperador D. Pedro II em 1840. A Constituição de 1824 previa que, caso o
Monarca não pudesse assumir o governo, este deveria ser entregue à uma composição de
três pessoas chamada então de REGÊNCIA TRINA que em princípio foi designada
PROVISÓRIA, uma vez que no dia da abdicação de D. Pedro I, o parlamento brasileiro se
encontrava em férias. Não havendo número suficiente de senadores e deputados para a
eleição de um governo permanente, elegeu-se uma Regência Trina Provisória, com o
objetivo de dar continuidade à administração do país e organizar as eleições para a
Regência Trina Permanente o que somente se deu em 17 de julho de 1831. Foi um dos
períodos mais turbulentos de nossa história, estando no centro dos debates a unidade
territorial do Brasil, a centralização ou descentralização do poder, do grau de autonomia
das províncias e da organização das Forças Armadas8. Não por acaso, este último tema
provocaria condições para a criação de 14 das atuais Polícias Militares do país 9, ou seja,

8.
FAUSTO, Boris. História do Brasil, 14ª edição atualizada e ampliada, São Paulo: EdUSP, 2012 p. 139.
9.
As Polícias Militares criadas no período Regencial (1831-1840) foram: São Paulo 1831; Alagoas 1832; Paraíba

7
mais da metade das Províncias criariam suas forças de segurança neste tumultuado
período. Como consequência da abdicação do Imperador Pedro I, uma onda de indisciplina
e anarquia alastrava-se em muitas Províncias e também na cidade do Rio de Janeiro; o
radicalismo partidário entrava nos quartéis, ocasionando revoltas e motins, pondo em risco
a unidade nacional.

PRINCIPAIS EXPOENTES POLÍTICOS DO PERÍODO


Formados os ministérios, em 16 de julho de 1831, a Regência assume a seguinte
configuração: José da Costa Carvalho, João Bráulio Muniz e Francisco de Lima e Silva 10.
Para ocupar a pasta do Ministério Justiça, foi nomeado o paulista Diogo Antônio Feijó 11
que, tomando posse no Ministério em 6 de julho de 1831, seria o responsável direto pela
criação das instituições cernes das Polícias Militares provinciais.

A GUARDA NACIONAL
O período regencial se configurou aos poucos, como uma época de motins e
revoltas militares tanto no Rio de Janeiro como nas províncias. Dessa forma, o governo
decidiu extinguir as Tropas de Linha, incorporando-as ao nascente Exército assim como as
Milícias (tropas de 2ª linha) e Ordenanças (tropas de 3ª linha). Outro ponto muito
importante do período, foi a criação da Guarda Nacional em 18 de agosto de 1831 com a
missão de “defender a Constituição, a Liberdade, a Independência e a Integridade do
Império”. Inspirada nos moldes da Guarda Nacional francesa, essa instituição era
composta de amadores: caçadores, fuzileiros, sertanejos e voluntários. Os cargos de
oficiais eram obtidos mediante eleições na localidade. Seu efetivo era recrutado entre os
cidadãos com renda na casa dos 200$000 (duzentos mil réis) nas cidades e 100$000 (cem
mil réis) no campo. Essa composição na verdade, correspondia aos cidadãos com direito a
voto nas eleições primárias (votantes), ou seja, homens entre 21 e 60 anos. Suas principais
características foram: a) uma forte base municipal, b) altíssimo grau de politização, c) a
organização baseada nas elites políticas locais e d) demonstravam claramente a falta de
confiança do governo regencial no Exército brasileiro.

1832; Rio Grande do Norte 1834; Sergipe 1835; Espírito Santo 1835; Santa Catarina 1835; Ceará 1835; Piauí 1835;
Mato Grosso 1835; Mato Grosso do Sul 1835; Maranhão 1836; Amazonas 1837 e a Brigada Militar do Rio Grande
do Sul em 1837.
10.
SCHWARCZ, Lilia M. e STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia, São Paulo: Companhia das Letras, 2020
p. 247.
11
DIOGO ANTÔNIO FEIJÓ (1874-1843) foi filósofo, padre e estadista paulista. Foi um dos fundadores do Partido
Liberal. Professor de História, Geografia e Francês. Foi Vereador na cidade de Itu e Deputado nas Cortes de Lisboa
(1821). Ministro da Justiça (1831-32), Senador (1833-34) e Regente Uno (1835-37). Regressou ao Senado em 1839
onde permaneceu exercendo seu cargo de Senador até 1841. Com o advento da Revolução Liberal Sorocabana em
1842, foi preso e desterrado para Vitória – ES, porém anistiado, ainda exerceu novamente as funções de Senador
entre junho e novembro de 1843 quando faleceu.

8
A criação da Guarda Nacional em agosto de 1831, deu rumo à uma nascente
política de segurança pública ainda embrionária no país, pelas mãos de Feijó. No entanto,
algumas mudanças trouxeram desconforto para o Exército que, mediante a um movimento
inicial de acomodação e perda de prestígio perante a Regência, viu-se despojado de
poderes antes intocáveis. Como exemplo, podemos citar a questão do recrutamento para a
prestação do serviço militar uma vez que tal atribuição passava a ser da Guarda Nacional e
só retornaria às suas mãos no final do século XIX. O Exército que teve seu efetivo reduzido
– para termos uma ideia das medidas que foram tomadas, as demissões foram facilitadas,
cessaram os recrutamentos e seu efetivo caiu de 30.000 em maio de 1831 para 14.342
atingindo 10.000 em agosto do mesmo ano. Somados a isso, a confusão social, política e
militar crescente em todo o Império, contribuía para o clima conturbado. Eclodiram
revoltas no Exército e as tropas começaram a participar de lutas políticas. Os oficiais
posicionavam-se pela volta de Pedro I enquanto as praças reclamavam por aumento em
seus soldos. As medidas tomadas por Feijó foram facilitar as demissões e licenças e cessar
os recrutamentos. Para termos uma ideia do conturbado momento político, listamos pela
historiografia brasileira, os mais estudados conflitos das regências, sendo eles: Cabanagem
no Pará (1833-1836); Guerra dos Farrapos no Rio Grande do Sul (1835-1845); Sabinada na
Bahia (1837-1838) e; Balaiada no Maranhão (1838-1841)12.

ORIGEM DAS GUARDAS MUNICIPAIS PERMANENTES


Diante desse cenário, Feijó propôs à Assembleia a criação de uma Guarda
Municipal Permanente, cujo projeto foi levado à Câmara no dia 30 de agosto de 1831,
onde o Decreto de 22 de outubro de 1831 deu Regulamento ao Corpo de Guardas
Municipais Permanentes da Corte, na cidade do Rio De Janeiro, estendendo a mesma
medida para as demais Províncias, desde que suas Assembleias Provinciais assim
aprovassem.

15 DE DEZEMBRO DE 1831: CORPO POLICIAL PERMANENTE – SÃO PAULO


Atendendo à conclamação de Feijó regulamentada em outubro de 1831, o então
Presidente da Província de São Paulo, Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar 13, determinou
em 15 de dezembro de 1831 à Assembleia Provincial que se criasse em São Paulo, um
Corpo de Guardas Municipais formados por um efetivo de centro e trinta homens
divididos em 100 infantes e 30 cavalarianos. Estava criada a célula máter da Polícia Militar

12
. SODRÉ, Nelson Werneck. História Militar do Brasil, São Paulo: Ed. Expressão popular, 2010 p.134-172.
13.
RAFAEL TOBIAS DE AGUIAR (1794-1857). Foi um político paulista, fundador do Partido Liberal ao lado de
Feijó. Deputado por São Paulo nas Cortes de Lisboa (1821), Presidente da Província por duas vezes, Deputado
Provincial por 10 legislaturas. Liderou a Revolução Liberal Sorocabana em 1842 também ao lado de Feijó, foi preso
e anistiado tendo regressado a São Paulo para continuar sua carreira política. Recebeu o título honorífico de
Brigadeiro pelo Exército Brasileiro. Faleceu em 7 de outubro de 1857.

9
do Estado de São Paulo a GUARDA MUNICIPAL PERMANENTE.

AQUARTELAMENTO E CARACTERÍSTICAS INICIAIS


Surgindo então a Lei de 15 de dezembro de 1831 criadora da GUARDA
MUNICIPAL PERMANENTE (na Província de São Paulo) com o efetivo de uma Cia de
Infantaria constando de 100 homens e uma seção de cavalaria com 30 soldados. Eram os
130 de 3114, suas principais características iniciais foram:
 Todos os graus hierárquicos serem preenchidos por voluntários;
 Sua subordinação era direta ao chefe do Executivo Provincial e mais
indiretamente à Assembleia Provincial.;
 Cabia ao Presidente da Província fixar efetivos anuais e vencimentos,
submetendo a sua proposta ao Legislativo;
 A Guarda Municipal ficava permanentemente de serviço, a expensas do erário
público, ao contrário das forças e milícias anteriores, cujos elementos
abandonavam suas missões quando a agricultura ou criação exigiam;
 Baixos vencimentos;
 Falta de aquartelamento adequado (Convento do Carmo);
 Dificuldade para o preenchimento de efetivos fixados (pela distância das vilas,
mobilidade de seus habitantes e hábitos de se internarem nas matas, quando
obrigados ao alistamento, nos tempos da Colônia).
 Dificuldade de alistamento (predomínio de alcoólatras e pessoas de reputação
duvidosa); Indisciplina e dificuldade de submissão à vida castrense;
 Envolvimento criminal – duas tentativas de roubo perpetradas por soldados da
recém-criada Guarda ao Tesouro e Palácio do Governo.

Para comandar os 100 homens a pé, foi designado o Alferes 15 José Gomes de
Almeida, que pertencia ao 6º Batalhão de Caçadores do Exército brasileiro, comissionado
na Guarda Municipal no posto de Capitão. Para comandar os 30 (trinta) homens da tropa a
cavalo foi designado o Capitão Pedro Alves de Siqueira. Para ter-se uma ideia da
população da cidade de São Paulo entre 1828 e 1829, os números apontam um total
aproximado de 30.000 habitantes, sendo esta, a 7ª cidade do país O cenário da província
era de cerca de 251.000 habitantes16, sendo 98% dessa população, no entanto, analfabeta.

HERÁLDICA E BRASÃO DE ARMAS

14.
ALMEIDA, Guilherme de; DEGOBBI, Alcides Giacomo. Cancão da Polícia Militar do Estado de São Paulo. São
Paulo: 1964.
15.
Posto extinto do oficialato que hodiernamente equivale ao de 2º Tenente.
16.
SÃO PAULO (Estado). Documentos interessantes para a história e costumes de São Paulo. In: Relatório do ano de
1900, apresentado em 13 de janeiro de 1902 ao cidadão Dr. Bento Pereira Bueno, Secretário de Estado dos
Negócios do Interior e da Justiça, pelo Dr. Antônio de Toledo Piza, diretor, Diário Oficial, IMESP, São Paulo, 1903,
pp.692 a 699.

10
Em 1958, por proposta do então Tenente Olavo Soares, a Instituição adotou seu
brasão de armas. O Brasão-de-armas da Polícia Militar do Estado de São Paulo é um Escudo
Português, perfilado em ouro, tendo uma bordadura vermelha carregada de 18 (dezoito)
estrelas de 5 (cinco) pontas em prata, representando marcos históricos da Instituição. No
Centro, em listras vermelhas verticais e horizontais, as cores representativas da Bandeira
Paulista, também perfiladas em ouro. Como timbre, um leão rampante em ouro, apoiado
sobre um virol em vermelho e prata, empunhando um gládio, com punho em ouro e lâmina
em prata. À direita do Brasão um ramo de carvalho e à esquerda um ramo de louro,
cruzados em sua base. Como tenentes 17, à direita, a figura de um Bandeirante com
bacamarte e espada, e à esquerda um Soldado da época da criação da Milícia, empunhando
um fuzil com baioneta; ambos em posição de sentido. Num Listel em azul, a legenda em
prata "LEALDADE E CONSTÂNCIA"18.
As 18 estrelas em prata, representam as seguintes campanhas e marcos históricos 19.
Elas serão estudadas uma a uma em ordem cronológica durante nosso curso, durante as
aulas:
1ª Estrela 15 de dezembro de 1831 - Criação da Milícia Bandeirante;
2ª Estrela 1838 - Guerra dos Farrapos;
3ª Estrela 1839 - Campos das Palmas;
4ª Estrela 1842 - Revolução Liberal de Sorocaba;
5ª Estrela 1865 a 1870 - Guerra do Paraguai;
6ª Estrela 1893 - Revolta da Armada (Revolução Federalista);
7ª Estrela 1896 - Questão dos Protocolos;
8ª Estrela 1897 - Campanha de Canudos;
9ª Estrela 1910 - Revolta do Marinheiro João Cândido;
10ª Estrela 1917 - Greve Operária;
11ª Estrela 1922 - "Os 18 do Forte de Copacabana" e Sedição do MT;
12ª Estrela 1924 - Revolução de São Paulo e Campanhas do Sul;
13ª Estrela 1926 - Campanhas do Nordeste e Goiás;
14ª Estrela 1930 - Revolução Outubrista-Getúlio Vargas;
15ª Estrela 1932 - Revolução Constitucionalista;
16ª Estrela 1935/1937 - Movimentos Extremistas;
17ª Estrela 1942/1945 - 2ª Guerra Mundial; e
18ª Estrela 1964 - Revolução de Março.

DENOMINAÇÕES HISTÓRICAS

17.
O substantivo tenente neste texto, não significa o posto propriamente dito e sim, é empregado com o sentido de
representar a constância da Instituição, uma vez que o termo significa: o que supre o lugar de um chefe e comanda em
sua ausência. Repare que as figuras representadas conforme proposta da heráldica, são um Bandeirante (que não tem
posto) e um SOLDADO.
18.
SÃO PAULO (Estado). Decreto n. 17.069 de 21 mai. 1981. Modifica o Brasão de Armas da Polícia Militar criado
pelo Decreto nº 34.244, de 17 de dezembro de 1958 regulamenta o seu uso. São Paulo: ALESP, 1981.
19.
As datações das campanhas históricas representam os momentos do início da participação da Instituição nos
conflitos e não necessariamente o período completo do conflito.

11
A Instituição recebeu vários nomes de acordo com o contexto político e social de
cada recorte histórico pelo qual passou. Abaixo, destacamos alguns dessas denominações,
lembrando que não estão dispostas necessariamente na ordem cronológica que foram
empregadas: GUARDA MUNICIPAL PERMANENTE, CORPO POLICIAL
PERMANENTE, CORPO POLICIAL PROVISÓRIO, BRIGADA POLICIAL, FORÇA
MILITAR DE POLÍCIA, FORÇA POLICIAL, FORÇA PÚBLICA e POLÍCIA MILITAR.

CAMPANHA 01 - CRIAÇÃO DO CORPO POLICIAL PERMANENTE


Reunido o conselho da Província de São Paulo, o exmo. Presidente dá
conhecimento aos conselheiros, da carta da lei de 10 de outubro do corrente ano, da
Regência, pela qual é autorizado através do Conselho a criar um Corpo de Guardas
Municipais, a pé e a cavalo, quando assim julgue necessário. É proposta a criação de uma
Companhia de Infantaria, com efetivo de 100 praças e oficiais necessários, e 30 soldados
de cavalaria, comandados por um tenente. Com isso foi dado o primeiro passo para
constituição da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

CAMPANHA 02 - GUERRA DOS FARRAPOS


Dentre inúmeras questões políticas pendentes entre os republicanos gaúchos, um
desacerto entre os estancieiros e os produtores de charque, detona a Revolução Farroupilha
e em 19 de setembro de 1835, os revoltosos chegam a Porto Alegre. Em 20 de setembro o
governo abandona a capital e os revolucionários ocupam a cidade. A Revolução Farroupilha
iniciada no Rio Grande do Sul em 1835 expandiu-se por toda a região sul do país. Os
revoltosos tinham atingido a Vila de Lages, em Santa Catarina. O 6º. Batalhão de Linha
(Exército brasileiro), com sede em São Paulo, foi deslocado para Santos em 18 de abril de
1838 e de lá para a Vila do Príncipe, via Vila de Paranaguá, sob o comando do Sargento-
mor João Feliciano da Costa Ferreira. Adidos ao 6º Batalhão partiram 54 guardas municipais
de São Paulo. Os Permanentes de São Paulo atuaram como artilheiros, sob o comando do
Alferes de Artilharia do Exército Manoel V. Guedes20. A historiografia não aponta se os
milicianos paulistas retornaram do conflito, gerando dúvidas quanto à sua sobrevivência
pós combates. A 1º. de março de 1845, Caxias consegue a assinatura da proclamação da
pacificação, encerrando o conflito.

CAMPANHA 03 - CAMPO DAS PALMAS


Possivelmente como reflexo da Revolução Farroupilha que transcorria nas
Províncias do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, a Portaria de 20 de novembro de 1836,
20.
SAMPAIO, Cel. José Nogueira. A fundação da Força Pública de S. Paulo. São Paulo: Difel. 1954.

12
do Governo de São Paulo, nomeava o Capitão Hermógenes Carneiro Lobo Ferreira para
organizar e comandar uma companhia de Guardas Municipais que deveria estacionar nos
Campos de Palmas, na divisa com Santa Catarina. Durante um ano a Companhia de
Guardas Municipais, composta pelo capitão e 50 praças, cruzou a região fazendo
levantamento topográfico, abrindo estradas e melhorando as comunicações terrestres e
fluviais. Todo esse trabalho foi realizado sob os constantes ataques dos índios coroados do
Cacique Vitorino Condá que, após entendimentos foram pacificados pela ação daquele
oficial e seus homens. O Capitão Lobo Ferreira fez o primeiro mapa da região e pacificou a
região permitindo o surgimento da povoação de Palmas, hoje cidade do meio-oeste
paranaense. Em 1845 a Companhia foi extinta.

O INÍCIO DA INSTRUÇÃO À TROPA


Data de 1837 o início da Instrução à tropa pronta de nossa Instituição. Uma carta,
enviada do Comandante do Corpo ao Comandante do destacamento de Atibaia,
recomendava que fosse dada instrução à tropa, visando atingir dois objetivos: Tirá-los do
ócio, prejudicando as atividades do quartel e a disciplina e; para que estes alcançassem
maior respeito perante a comunidade a qual prestavam serviços. Nas palavras do Coronel
Luiz Eduardo Pesce de Arruda21, estava descoberta a “fórmula da longevidade” de nossa
Instituição.

A PMESP DURANTEO II REINADO: VOCAÇÃO LEGALISTA


O Segundo Reinado foi o período histórico conceituado como o mais longo período
político Brasileiro. Tem início com o “Golpe da Maioridade” em 23 de julho de 1840 e
termina com a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889, abrangendo,
portanto, 49 anos de duração.
Foi também um importante período para a solidificação do Exército e Marinha como
Instituições da Segurança Nacional, culminando na Guerra do Paraguai, como estudaremos
mais adiante. São desse período também algumas mudanças profundas no tecido social
brasileiro e na sua configuração como sociedade. Os escravos começam a ser libertos de

21
. ARRUDA, Cel. Luiz Eduardo Pesce de; Polícia Militar: uma crônica. In: A Força Policial nº 13 jan.-mar.
1997. São Paulo. 1997.

13
forma gradativa (Lei do ventre-livre 1871, Lei dos Sexagenários 1885 e finalmente a
Abolição da escravatura que ocorreu em 13 de maio de 1888). Diante desse cenário, a mão
de obra para as lavouras de café, passa a vir das imigrações (principalmente italianos e
alemães).

CAMPANHA 04 - REVOLUÇÃO LIBERAL SOROCABANA


A dissolução da Assembleia Geral em 10 de outubro de 1842, pelo Gabinete
Conservador, provocou os levantes liberais nas províncias de Minas Gerais e São Paulo,
chefiados, respectivamente, por Teófilo Otoni (MG) e Rafael Tobias de Aguiar (SP).
Em Sorocaba, Rafael Tobias de Aguiar e Diogo Antônio Feijó conseguiram a
adesão das Comarcas de Itapetininga, Itu, Porto Feliz e Capivari, assim como a simpatia
da Comarca de Curitiba. Os revoltosos se concentraram em Sorocaba (17 de maio de
1842), de onde partiram duas colunas militares: a primeira, sob o comando do Capitão
Manoel Antônio Ferreira, seguiu para Campinas, estacionando em Venda Grande; a
segunda Coluna, chamada de Libertadora, sob o comando do Major Francisco Galvão de
Barros França, seguiu para São Paulo, estacionando em Pirajuçara (Butantã).
Em 28 de maio de 1842, na região do Jaguaré, os legalistas comandados pelo
Barão de Caxias infligiram aos revoltosos uma grande derrota. O Tenente-Coronel José
Vicente Amorim Bezerra aniquilou os revoltosos de Boaventura do Amaral, em 7 de junho
de 1842, na área de Venda Grande. Nesse combate a Seção de Cavalaria da Guarda
Municipal Permanente, sob o comando de Pedro Alves de Siqueira, teve o seu batismo de
fogo. Os Permanentes estavam incorporados às tropas do Barão de Caxias.
Em 20 de junho de 1842, o Barão de Caxias entrou vitorioso em Sorocaba,
prendendo os chefes revoltosos, entre eles o Padre Diogo Antônio Feijó. De Sorocaba partiu
para Campinas e daí para Minas Gerais, onde derrotou os liberais mineiros no combate de
Santa Luzia.
Em 9 de setembro de 1842, o Tenente-Coronel José Vicente do Amorim Bezerra,
comunica ao Coronel José Thomaz Henrique, comandante das Armas da Província de São
Paulo que a tranquilidade já era reinante. Este então, manda regressar à Província os
Permanentes que estavam incorporados ao Exército Pacificador de Caxias.

7 DE ABRIL DE 1857 - C Mus (CORPO MUSICAL)


Conforme reporta a historiografia, a partir de 1843 já há registros de um grupo de
músicos que havia dentro da Guarda Municipal Permanente. Ocorre entretanto, que
somente em 7 de abril de 1857, pela Lei n. 24 esse grupo foi transformado na Unidade mais
antiga da Polícia Militar: O CORPO MUSICAL (C Mus), tendo seu início histórico

14
contando com 17 (dezessete) componentes e 01 (um) Sargento Mestre22, e que tinha como
função a missão de levar entretenimento às Praças aquarteladas. Ao longo dos anos, a Banda
deixa de entreter apenas a tropa, para integrar-se à Comunidade Paulistana. Grandes obras,
tais como a do Viaduto do Chá, inaugurado em 1892, a Avenida Paulista, e o Teatro
Municipal, contaram com a presença da banda da Força Pública23.
Atualmente, o Corpo Musical atua em solenidades militares e junto à comunidade
prestando diversos serviços sociais, atingindo em média um milhão e meio de pessoas ao
ano. Atua também no policiamento ostensivo em apoio à área central da capital, e
representa a Instituicão nos mais diversos setores da sociedade, divulgando a cultura,
abrilhantando eventos cívico- militares, realizando concertos, apresentações e homenagens
a autoridades, distribuindo a alegria e o entusiasmo
Sua atual estrutura descende do comando do Major Joaquim Antão Fernandes24 que
em muito engrandeceu o nome de nossa Instituição. Autor da Marcha Batida inclusa na
Lei Federal 5.700 (Dispõe sobre os Símbolos Nacionais) em seu § único do Art. 6º25, Antão
deixou seu nome na História de nossa pátria junto a esse símbolo nacional.
Outro grande expoente do Corpo Musical foi o Tenente José Barbosa de Brito.
Músico dotado de uma musicalidade ímpar, foi autor de várias obras para Banda de música.
Teve seu talento reconhecido pelas corporações no Brasil e em diversos países. Possui
composições nos arquivos das Bandas de Música da U.S. Navy e U.S. Marine Corps Band
em Washington (USA) onde são executadas até os dias de hoje. O C Mus presta assistência
técnica a mais 11 Bandas Regimentais de Música sediadas nas seguintes Organizações
Policiais Militares: CPA/M-8 (Osasco), CPA/M-12 (Mogi das Cruzes), CPI-1 (São José
dos Campos), CPI-2 (Campinas), CPI-3 (Ribeirão Preto), 13º BPM/I (Araraquara), CPI-5
(São José do Rio Preto), CPI-6 (Santos), CPI-7 (Sorocaba), CPI-8 (Presidente Prudente) e
CPI-10 (Araçatuba).

CAMPANHA 05 - GUERRA DO PARAGUAI


Maior conflito armado travado na América do Sul, a Guerra do Paraguai foi
travada entre o Paraguai e a Tríplice Aliança (compreendendo Brasil, Argentina e Uruguai),
durante o período de dezembro de 1864 a março de 1870, tem seu início com a invasão da
província brasileira do Mato Grosso pelo exército paraguaio sobre as ordens de seu então

22
SÃO PAULO (Província). Lei n. 24 de 7 abr. 1857. São Paulo: ALESP, 1857.
23
SANTOS, José Roberto dos. História e música em São Paulo no começo do século XX: A trajetória da Banda da
Força Pública.2019. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de
São Paulo, São Paulo.
24
Joaquim Antão Fernandes teve dois períodos de comando frente à Banda de Música da Força Pública. O primeiro
foi entre os anos de 1895 e 1925 e o segundo entre o final de 1930 e maio de 1932.
25
BRASIL (Planalto). Lei n. 5.700 de 1º set. 1971 incluindo as alterações das Leis n. 6.913/1981, 8.421/1992,
9.615/1998, 12.031/2009 e 13.413/2016. Dispõe sobre a forma e apresentação dos Símbolos Nacionais e dá outras
providências. Brasília: PLANALTO, 2016.

15
presidente, Francisco Solano Lopez e o aprisionamento do vapor brasileiro “Marques de
Olinda”, em Mato Grosso, como resposta daquele ditador à intervenção armada que o
Brasil fizera no Uruguai, em 1863, dando fim a uma guerra civil que já perdurava há dois
anos26.
No dia 14 de janeiro de 1865, o Tenente-Coronel José Maria Gavião Peixoto
comunicava ao Governo Provincial que o Corpo Municipal Permanente, voluntariamente,
partiria para campanha do Paraguai. Em 10 de abril do mesmo ano, o Corpo Municipal
Permanente, com todo o seu efetivo (273 homens incluindo a banda de música), sob o
comando do Tenente-Coronel José Maria Gavião Peixoto, parte para Campinas para
juntar-se com outras tropas da Força Expedicionária, que pretendia invadir o Paraguai pela
fronteira mato-grossense.
Após diversos combates, a coluna brasileira retrocedeu para o Brasil, dando início à
epopeia da retirada de Laguna (8 de maio de 1867). Foram 35 dias de sacrifício, bravura e
heroísmo, com luta constante contra um inimigo numeroso e, ainda, contra a fome, a sede
e o terrível cólera-morbo. A retirada terminou em 11 de junho de 1867, quando os
remanescentes da coluna brasileira, atravessando o rio Aquidauana, atingiram o Porto de
Canuto. O Corpo Municipal Permanente participou ativamente da invasão do norte do
Paraguai e da famosa “Retira de Laguna”.
Nessa época, oriunda em razão da Guerra do Paraguai, foi criada a fundação da
Companhia Especial de Menores (mais tarde chamada de Instituto de Menores Artífices)
que funcionou de 1876 a 1884 em São Paulo, tendo como objetivo preparar crianças e
adolescentes para o exercício de atividades profissionais e até mesmo para o ingresso
desses na Instituição. Sua função era dar amparo aos órfãos dos combatentes do conflito.

CRIAÇÃO DO CORPO DE BOMBEIROS


Ocorre em 1880 um grande incêndio na biblioteca da Faculdade de Direito do
Largo de São Francisco, destruindo quase por completo seu grande acervo. Sensibilizada,
a elite paulistana (em sua maioria oriunda dos bancos escolares daquela Instituição de
Ensino), decide então contratar o Tenente José Severino Dias para a criação do que seria o
CORPO DE BOMBEIROS do Estado de São Paulo o que veio a se efetivar no mesmo
ano. Em 10 de março de 1880, começaram oficialmente os trabalhos de extinção de
incêndio na Capital do Estado de São Paulo, com a criação da Seção de Bombeiros
composta de 20 homens. Eis a lei:
"Artigo 1º - Fica o governo da província autorizado a organizar desde
já uma Secção de Bombeiros, anexa à Cia de Urbanos da capital e a fazer
aquisição de maquinismo próprio para a extinção de incêndios."
"Artigo 2º - Para essa despesa, é o governo autorizado a abrir um crédito

26
DORATIOTO, Francisco. Maldita Guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

16
de 20:000$00, revogadas as disposições em contrário27".

A Seção criada ficou ocupando uma parte do prédio onde funcionava a estação
central da Companhia de Urbanos, na Rua do Quartel (hoje Rua 11 de Agosto), sendo
requisitado o material necessário para sua formação. Naquela época, os avisos de incêndios
eram transmitidos por meio de rebates nos sinos das igrejas ou por comunicações verbais
de particulares, que corriam até a porta do quartel de bombeiros para tal finalidade.
Até a chegada da República, a Seção de Bombeiros de São Paulo teve três
comandantes, o primeiro deles foi o tenente José Severino Dias, que assumiu o comando
em julho de 1880, iniciando de imediato os trabalhos de organização dos serviços de
combate a incêndios, de instrução e da instalação da Seção. Procedia do Corpo de
Bombeiros do Distrito Federal, onde tinha o posto de alferes. Em 1883, a pedido, foi
substituído por poucos dias e interinamente, pelo Tenente Manoel José Branco, do Corpo
Permanente da Guarda Urbana. Logo depois, foi nomeado o Tenente Alfredo José
Martins de Araújo, que era também oriundo do Corpo de Bombeiros do Distrito
Federal.
Os bombeiros começaram a se expandir para o interior em 1943, através de
acordos com as municipalidades, iniciando um processo de organização a nível estadual.
Existiam, no efetivo dessa época, 1212 homens. Em 1955, é inaugurada a rede de rádio,
facilitando a comunicação entre as viaturas e o quartel, que informava o melhor caminho,
a evolução da ocorrência, centralizava os pedidos e os distribuía de forma racional entre os
Postos. Um ano depois foram desativadas as caixas de alarme, mas o seu sucessor, o
telefone, ainda não atendia totalmente as necessidades da população. Havia poucos
aparelhos e o número não era de fácil memorização. Somente 23 anos depois seria adotado
o número de emergência 193.
Em 1964 inaugura-se a Companhia Escola e é criado o Curso de Bombeiro para
Oficiais. Em 1967 a Estação Central (localizada à Praça Clóvis Bevilacqua) é demolida para
a edificação de uma nova, concluída somente em 1975. As demais ocorrências que
marcaram o século XX, como os grandes incêndios de São Paulo, serão debatidas nas
aulas 15 e 16.

OUTRAS ORGANIZAÇÕES POLICIAIS


No início do século XX é criada a guarda Cívica, herdeira das atribuições da antiga
Companhia de Urbanos (menos o Corpo de Bombeiros, transferido definitivamente para a
Força Pública). Cabia à Guarda Cívica, o policiamento a pé e de trânsito. Essa corporação
policial, no entanto, seria extinta em 1924 e seu modelo inspirador ampararia a criação da

27
SÃO PAULO (Província). Lei n. 6 de 10 mar. 1880. São Paulo: ALESP, 1880.

17
futura Guarda Civil de São Paulo no ano de 1926.

A PMESP DURANTE A I REPÚBLICA: CONSTITUIÇÃO DE 1891

O 15 de novembro foi um processo que, na visão de alguns historiadores começou


desde a proclamação da independência no longínquo 07 de setembro de 1822. Desde lá,
conservadores e liberais travariam embates disputadíssimos, principalmente após a Guerra
do Paraguai, apimentados pela Igreja, o Exército brasileiro, os abolicionistas e por muitos
outros motivos como os expostos abaixo:
 Desejo popular de estabelecer-se um novo regime político mais adequado.
 A partir de 1870 (fim da guerra do Paraguai) crescimento e agravamento da crise
econômica, social e política. A conclusão foi que a Monarquia deveria ser
superada.
 A classe média cresce nos centros urbanos e passa a requer maior liberdade e maior
participação nos assuntos políticos do país. Essa classe passa a apoiar o fim do
Império.
 O Imperador Pedro II não possuía filhos e sim filhas. A filha mais velha que o
sucederia – Princesa Isabel casa-se com Gastão D´Orleans – francês (desconfiança
na elite);
 Questão Religiosa.
 Questão Militar.
 Questão social (Abolicionismo) culminando no 13 de maio de 1888.

MUDANÇAS REPUBLICANAS
A Lei nº 17, de 14 de novembro de 1891, extingue o Corpo Policial Permanente.
Com efetivo fixado de 3.940 homens, distribuídos em quatro Corpos Militares de Polícia,
uma Companhia de Cavalaria, um Corpo de Urbanos e um Corpo de Bombeiros, passando
a denominar as forças de segurança do estado como FORÇA PÚBLICA DO ESTADO DE
SÃO PAULO28. Em 1892, nova lei29 transforma os Corpos Militares em Batalhões de

28
. SÃO PAULO (Estado). Lei n. 17 de 14 nov. 1891. Fixa a Força Pública do Estado de São Paulo para o anno de
1892. São Paulo: ALESP, 1891.
29.
SÃO PAULO (Estado). Lei n. 97-A de 21 set. 1892. Fixa a força pública do Estado para o anno de 1893. São

18
Infantaria, sediados nas seguintes localidades:
 1º Batalhão de Infantaria – Av. Tiradentes (Quartel da Luz);
 2º Batalhão de Infantaria – Jundiaí – Campinas – São Paulo;
 3º Batalhão de Infantaria – Santos;
 4º Batalhão de Infantaria – Av. Tiradentes;
 5º Batalhão de Infantaria – Convento do Carmo.

Há que se entender que, durante os anos de 1892 e 1905, a instabilidade do novo regime
republicano, trouxe uma série de mudanças para a Instituição, ora mudando seu nome, ora
desmembrando suas atividades entre as modalidades de policiamento existentes à época. Por
exemplo: em 1896, a Instituição foi dividida em uma Brigada Policial, um Corpo de Guarda
Cívica da Capital e um Corpo de Guarda Cívica do Interior. No entanto, a estabilidade
institucional somente viria a ser sentida a partir do ano de 190530. Ainda que, a partir de 1892 o
nome FORÇA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO tenha se consolidado, outras
alterações no nome institucional se fariam sentir ao longo do século XX31.
A partir de 1892, os governantes, nela reconhecendo a competência, a lealdade, a
isenção e a confiabilidade de que necessitava o Brasil republicano, investem em sua
expansão organizacional, enquanto outras corporações - caso da Guarda Nacional - vão
paulatinamente sendo postas no ostracismo até que a legislação coloque uma pá de cal sobre
as mesmas.
Em face do novo projeto nacional desenhado pelas lideranças paulistas, é atribuído à
Força o papel de braço armado do poder político estadual, instrumento essencial à estratégia
dos dirigentes paulistas, no cenário brasileiro da época.
A Força se expande e surgem os primeiros Quartéis. Através de um projeto
elaborado pelo arquiteto Ramos de Azevedo, o Quartel da Luz (hoje sede do 1º Batalhão de
Polícia de Choque – Tobias de Aguiar) é erguido e inaugurado em 1892. Em estilo Neo
clássico Pós Napoleônico, foi criado em princípio para abrigar o 1º Batalhão de Infantaria. Os
custos para sua construção foram arcados pelo desenvolvimento da cultura e exportação do
café, aliados às mudanças que a Constituição republicana de 1891 promoveu, oferecendo
aos agora estados, oportunidades antes negadas como a emissão de títulos, contrair
empréstimos no exterior e a criação de impostos sobre as exportações32.
A região das atuais ruas Tiradentes, Dr. Jorge Miranda, Nova Cantareira, e Alfredo
Maia, logo abrigaria além do Quartel da Luz, também o Regimento de Cavalaria e o

Paulo: ALESP, 1892.


30.
SÃO PAULO (Estado). Lei n. Lei n. 957 de 28 set. 1905. Fixa a Força Pública do Estado de São Paulo para o
anno de 1906. São Paulo: ALESP, 1905.
31.
A Força Pública do Estado de São Paulo passou a ser denominada de FORÇA POLICIAL através do Decreto
Estadual n. 10.843 de 22 dez. 1939. Em 9 jul. 1947 pela promulgação da Constituição Paulista, retomou a designação
de Força Pública. Em 8 abr. 1970 pelo Decreto-Lei n. 217, passou a chamar-se Polícia Militar do Estado de São
Paulo.
32.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2012.

19
Hospital da Força Pública (prédio que hoje abriga seu museu). É organizado um amplo e
moderno serviço médico, contando com grandes nomes da medicina como Flamínio Fávero,
João Alves de Lima, Amarante Cruz que, dentre outros, colaboraram para sua consolidação.

CAMPANHA 06 - REVOLTA DA ARMADA E REVOLUÇÃO FEDERALISTA


Em fevereiro de 1893, Gumercindo Saraiva revolta-se no Rio Grande do Sul, dando
início à Revolução Federalista. Os revoltosos são detidos em Lapa, no Paraná. Na mesma
ocasião, na cidade do Rio de Janeiro, a esquadra sob o comando do Almirante Custódio
José de Mello se revolta. Bernardino de Campos, Presidente do Estado de São Paulo,
convoca a então Força Pública (todo o efetivo disponível dos corpos militares de polícia) e
organiza com a Guarda Nacional os Batalhões Patrióticos a partir de 15 de março de 1893.
Para guarnecer de Cananeia a Ubatuba são destacados os 2º, 3º e 4º Batalhões de Infantaria
da Força Pública e para Santos segue o Corpo de Bombeiros. Por precaução, o governo do
Estado havia mandado para o litoral paulista o 3º. Batalhão de Infantaria, sob o comando do
Coronel Antônio Eugênio Ramalho.
Quando o Almirante Custódio de Mello sublevou a Armada na Baía de Guanabara, o
3º. Batalhão já guarnecia todo o litoral e não foram poucos os entreveros com os revoltosos.
De 5 a 16 de outubro o Comando da Instituição Policial foi instalado em Santos; única vez
em que a sede da Instituição saiu de São Paulo. Na sequência das ações, em 25 de novembro,
seguiu para Itararé o Coronel Inocêncio Ferraz, com um destacamento composto de uma
Companhia do 4º Batalhão e um Esquadrão do Corpo de Cavalaria. Em 10 de fevereiro de
1894, o 1º Batalhão de Infantaria seguiu para Itararé e foi incorporado à 2ª Brigada do Corpo
de Exército comandado pelo General Francisco Raimundo Ewerton Quadros. O 1º.
Batalhão combateu em Jaguariúva, Piraí, Castro, Ponta Grossa, Lapa, Rio Negro e Curitiba.
Dois meses mais tarde, em 26 de abril, partiu para Paranaguá o 2º Batalhão de Infantaria,
que foi a primeira tropa legalista a entrar em Curitiba (1º. de maio de 1894). O 2º Batalhão
combateu em Paranaguá, Lages, Lapa, União da Vitória e Porto Amazonas, ficando
conhecido como o "Dois de ouro" 33, regressando a São Paulo no início de 1985. Os 1º, 2º e
4º Batalhões de Infantaria da Força Policial paulista, com o Batalhão do Exército número 7,
formaram a 2ª Brigada, da 1ª Divisão em Operações no Paraná.

CAMPANHA 07 - QUESTÃO DOS PROTOCOLOS - 1896.


No fim do século XIX a colônia italiana já era numerosa em São Paulo. A cidade
inicia sua primeira fase de industrialização, onde os imigrantes teriam papel crucial nos

33
Cf. ARRUDA, Luiz Eduardo Pesce de; Dois de Ouro foi o apelido outorgado pela imprensa local de Curitiba – PR,
ao 2º Batalhão de Infantaria da Força Pública do Estado de São Paulo, em virtude de sua libertação dos revoltosos e à
gentileza com que esse efetivo tratou a população durante a respectiva campanha militar.

20
primeiros empregos gerados pela incipiente indústria, gerando conflitos em relação ao
mercado de trabalho nesse cenário urbano34. Empresários italianos exigiam o ressarcimento
das verbas emprestadas ao Governo durante a Revolução Federalista sem, contudo, lograr
êxito. Os "protocolos" foram correspondências oficiais trocadas entre as autoridades
brasileiras e italianas, para a integração dos imigrantes com a população. A inabilidade de
alguns italianos, inclusive do Cônsul Baichanteaud, provocou conflitos generalizados entre
os imigrantes e os brasileiros. Foi necessário, por ordem do Presidente do Estado, Campos
Salles, enérgica intervenção policial, executada pelo 1º Batalhão de Infantaria da Força
Pública paulista. A atitude enérgica da milícia paulista e a clarividência de muitos italianos
cooperaram para que os ânimos fossem serenados e a ordem pública restabelecida.

CAMPANHA 08 - CANUDOS (SERTÃO DA BAHIA)


Surge no sertão da Bahia, a figura messiânica de Antônio Mendes Maciel, o
Antônio Conselheiro. De sua posição monarquista e da contrariedade ao pagamento de
impostos, descenderia uma luta fratricida, com prejuízos materiais e morais ao país, com um
saldo tenebroso de mortos e feridos. Para restabelecer a ordem, sucederam-se expedições
policiais e militares ao interior da Bahia. Quatro expedições foram derrotadas em Canudos:
a da força policial baiana, em 1893, comandada pelo Capitão Vergílio Ferreira de Almeida;
a da companhia do Exército, com 107 homens, sob o comando do 1º Tenente do Exército
Pires Ferreira, em novembro de 1896; a do agrupamento de 560 homens do Exército e da
Força Policial da Bahia, sob o comando do Major do Exército Febrónio de Brito; e a da
Brigada Mista do Exército, com 1.300 homens, sob o comando do Coronel Moreira Cesar,
em março de 1897.
Em junho de 1897, um agrupamento de tropas do Exército e de polícias estaduais,
com aproximadamente 4.000 homens, reunidos em Canudos, sob o comando do General
Artur Oscar Andrade Guimarães, conseguiu em outubro do mesmo ano debelar a revolta de
Conselheiro35.
A 7 de agosto de 1897 chegava a Salvador o 1º Batalhão de Infantaria da Força
Policial de São Paulo, hoje o 1º. Batalhão de Polícia de Choque "Tobias de Aguiar". No dia
9 partiu na direção do eixo Salvador – Queimadas - Monte Santo- Canudos. Em 23 de agosto
o Batalhão entrava em Monte Santo. Partiu para Canudos escoltando um comboio militar de
víveres e munições. Este foi o único comboio militar que chegou intato a Canudos, apesar
dos constantes ataques dos guerrilheiros de Conselheiro. O Batalhão foi incorporado à
Divisão do General Artur Oscar. No dia 25 de agosto o Batalhão paulista entra em

34
MORSE, Richard M. Formação histórica de São Paulo. São Paulo: Difusão europeia do livro, 1970, p. 333.
35
. CUNHA, Euclides da. Os Sertões. Ed. comemorativa. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais,
2010.

21
operações de guerra. Combateu de Calumbi até Cachamingó. Em 25 de setembro, sob o
comando do Major José Pedro de Oliveira, uma ala do Batalhão combateu na bifurcação da
estrada de Uauá para Canudos. Na madrugada de 1º de outubro, a segunda coluna tinha os 4º,
29º e 39º Batalhões de Infantaria colocados no leito do Rio Vaza Barris, no flanco direito
da igreja nova e na trincheira ao sul da cidadela. O 9º e o 34º Batalhões de Infantaria
ficaram por trás da igreja. O 26º Batalhão de Infantaria, o 5º Batalhão Policial da Bahia e a
ala direita do 1º Batalhão da Força Pública de S. Paulo, cobriram o leito do mesmo rio. A
tarde do mesmo dia a Brigada Policial composta dos Batalhões de Polícia do Amazonas e
do Pará e a ala esquerda do 1º Batalhão da Força Pública veio auxiliar os esforços da
segunda coluna36. O Batalhão paulista participou ativamente dos assaltos finais ao reduto do
Conselheiro, contudo, a principal participação dos paulistas, foi na escolta dos comboios de
munições e víveres, fazendo com que a logística chegasse aos combatentes na ponta da
linha. O ataque foi feito com baioneta generalizando-se o combate corpo-a-corpo. A luta foi
encerrada em 6 de outubro. Os paulistas perderam doze homens, mortos em ação e tiveram
dezenas de feridos. Após quarenta dias de lutas, o Batalhão paulista retornou a sua sede, em
24 de outubro de 189737.

REVOLTA DA VACINA OU QUEBRA LAMPIÕES


A Revolta da Vacina aconteceu no Rio de Janeiro em 05 de novembro de 1904 é
também conhecida como quebra lampiões. A Revolta da Vacina foi a manifestação popular
contra a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola e quebra lampiões porque as pessoas
revoltosas quebravam os lampiões que serviam de iluminação pública. Quando Rodrigues Alves
assumiu a presidência em 1902, nas ruas da cidade do Rio de Janeiro acumulavam-se toneladas
de lixo. Desta maneira, o vírus da varíola se espalhava causando uma epidemia. Proliferavam
ratos e mosquitos transmissores de doenças fatais como a peste bubônica e a febre amarela, que
matavam milhares de pessoas anualmente.
O então Presidente tomou medidas urgentes para conter as doenças, como reurbanizar e
sanear a cidade, para isso nomeou o engenheiro Pereira Passos para prefeito e o médico
Oswaldo Cruz para Diretor da Saúde Pública. Com isso, iniciou a construção de grandes obras
públicas, como o alargamento de ruas, avenidas e o combate às doenças. A reurbanização do
Rio de Janeiro, no entanto, sacrificou as camadas mais pobres da cidade, que foram desalojadas,
pois tiveram seus casebres e cortiços demolidos. A população foi obrigada a mudar para longe
do trabalho e para os morros, aumentando o número de favelas. Como resultado das
demolições, o custo de vida ficou mais elevado, fato que deixou a população ainda mais

36
. A Ala direita paulista estava comandada pelo Major João Pedro de Oliveira, comandava o Batalhão o Ten.
Cel. José Elesbão dos Reis.
37
. TELHADA, Cel. Paulo Adriano Lucinda Lopes. Quartel da Luz – Mansão da ROTA. Histórias do Batalhão
Tobias de Aguiar. São Paulo: Just Editora, 2012.

22
indignada.
Ainda em 1904 Oswaldo Cruz motivou o governo a enviar ao Congresso um projeto
para reinstaurar a obrigatoriedade da vacinação em todo o território nacional já que os
laboratórios estavam produzindo a vacina. Uma das medidas desse projeto consistia em
determinar que somente quem provasse ser vacinado conseguiria contratação de trabalho,
matrícula em escola, certidão de casamento e autorização para viajar. O que provocou mais
animosidade do povo em relação ao Governo. As camadas populares rejeitavam a vacina que
consistia num líquido de pústulas de vacas doentes, afinal era esquisito naquela época a ideia de
ser inoculado com esse líquido e havia ainda o boato lançado pela oposição ao governo de que: -
Quem se vacinava ficava com feições bovinas.
Em julho de 1904 houve uma procura de 23.021 pessoas pela vacina nos postos de
saúde pública, mas no mês seguinte esse número caiu para 6.03638, queda decorrente dos boatos
que aterrorizavam a população, tal fato obrigou a adoção de medidas administrativas intensas e
até consideradas radicais para o saneamento completo e a extinção das endemias na Capital,
pois era fato que a oposição ao regime republicano, conhecida como Liga contra a Vacina;
composta por monarquistas e Republicanos opositores do partido do Presidente; incentivavam a
revolta popular.
Após debates parlamentares foi criada a Lei da Vacina obrigatória em 31 de outubro de 1904,
regulamentada em 05 de novembro de 1904. A lei permitia que as brigadas de sanitaristas
invadissem as casas para aplicar a vacina à força na população que se revolta e vai às ruas,
encabeçadas pela Liga contra a vacina. Os combates ocorrem no período de 10 a 16 de
novembro de 1904, deixando um saldo de 50 mortos e 110 feridos até que em 16 de novembro a
lei foi revogada.
No dia 11, já era possível escutar troca de tiros. No dia 12, havia muito mais gente nas
ruas e, no dia 13, o caos estava instalado no Rio. “Houve de tudo ontem. Tiros, gritos, vaias,
interrupção de trânsito, estabelecimentos e casas de espetáculos fechadas, bondes assaltados e
bondes queimados, lampiões quebrados à pedrada, árvores derrubadas, edifícios públicos e
particulares deteriorados”, dizia a edição de 14 de novembro de 1904 da Gazeta de Notícias.39 A
Força Pública, a pedido do governo da cidade do Rio de janeiro, enviou o 1º Batalhão de
Infantaria à Capital Federal, entre os meses de novembro de 1904 a fevereiro de 1905,
garantindo a legalidade na preservação da ordem e auxiliando nas ações sanitaristas para a
saúde da população.

38
. SEVCENKO, Nicolau. A Revolta da Vacina: Mentes insanas em corpos rebeldes. São Paulo: Editora Unesp
Digital, 2018, p. 4.
39.
Biblioteca Nacional Digital Brasil Disponível em:
http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=103730_04&pesq=vacina&pasta=ano%201904\edicao%20000
82&pagfis=8736.Gazeta de Notícias- Rio de Janeiro Ano 1904, edição 00319(2). Acesso em 28 nov. 2021.

23
DELINQUENCIA NO SERTÃO

“Tenente Galinha”
Fonte: Polícia Militar do Estado de São Paulo

Com a expansão da cultura cafeeira, os trilhos das estradas de ferro caminharam para os
sertões do estado, levando consigo, os quotidianos problemas das grandes cidades, como o
banditismo. Criada para perseguir os delinquentes que buscando esses rincões acreditavam na
impunidade como prêmio, a “Seção de Capturas” da Força Pública, teve no Tenente João
Antônio de Oliveira o “Tenente Galinha” seu maior expoente, primeiro chefe e a figura mais
conhecida e temida desde o início do século XX. Nascido em: 3 de maio de 1871 e falecido em
23 de abril de 1913.
Violento e cruel contra os bandidos, João Antônio de Oliveira, o Tenente galinha foi
temido em todo o estado de São Paulo até o seu assassinato. Certo dia ao retornar à base militar,
encontrou um rapaz, Israel Coimbra que viera de Barretos, trazido pelo próprio tenente, que
conseguiu uma nomeação como Agente de Segurança, no Departamento de Investigações. O
Tenente Galinha, então, permitiu que ele ficasse em sua casa devido à demora nos resultados
dos exames.
João Antônio de Oliveira, o famigerado tenente Galinha, perdeu a vida de forma
trágica. Na madrugada de 13 de abril de 1913, foi assassinado aos 42 anos enquanto dormia na
própria cama vítima de sua esposa e de suposto amigo Israel Coimbra, ambos interessados no
seguro de vida feito para a segurança de sua esposa e filha.

CAIXA BENEFICENTE DA FORÇA PÚBLICA


Em setembro de 1894, o então Ten. Cel. José Feliciano Lobo Viana, com dramático
apelo, sugeriu ao Comandante-Geral da Milícia a criação de uma Caixa de Socorros para as
famílias dos bombeiros. Em 1902, o Ten. Cel. Francisco Alves do Nascimento Pinto,
valoroso combatente da Guerra do Paraguai, propôs a instituição de uma caixa beneficente
"para socorrer pecuniariamente as viúvas e filhas dos oficiais e praças da Força Pública que
viviam em situação de penúria". Não existia, na época, qualquer organização previdenciária.
Em 1905, no dia 28 de setembro, quando Presidente do Estado de São Paulo, o

24
Doutor Jorge Tibiriçá reorganizava a Força Pública atendendo ao pedido do então
Comandante Geral Cel. Argemiro da Costa. Inseriu, no mesmo decreto, em seu artigo 11, a
criação da Caixa Beneficente. Essa entidade visava prestar assistência a familiares de
integrantes da Instituição (as viúvas, filhos menores dos oficiais e praças) que ficassem sem
meios de subsistência, portanto a CBPM é a entidade pioneira em PREVIDÊNCIA, no
Brasil, desde o início do século XX40.

A GRANDE REFORMA DA POLÍCIA CIVIL


Criada em 1841, a Polícia Civil do Estado de São Paulo, passaria por uma grande
reestruturação em 1905 pelas mãos do Presidente do Estado, Dr. Jorge Tibiriçá, que na
ânsia de atender aos anseios de seus componentes, transformou aquele Órgão em uma
Polícia Judiciária de carreira. O Secretário de Justiça (pasta à qual as Polícias eram
subordinadas), era na ocasião Washington Luís (futuro Presidente do estado e eleito
Presidente da República em 1930, cargo o qual não chegaria a tomar posse) 41.

PRIMEIRA MISSÃO FRANCESA E O INÍCIO DA FORMAÇÃO DENTRO DA


INSTITUIÇÃO
O Presidente do estado de São Paulo eleito em 1904, Dr. Jorge Tibiriçá, preocupado
com o aprimoramento da Força Pública, manifestou desejo de modernizar a Instituição. Aos
olhos do governo estadual, a Força Pública deveria ser um pequeno exército, ou seja, uma
força de polícia em condições de desempenhar o papel de defesa territorial, para assegurar
os interesses do Estado42.
Em razão da necessidade da reformulação da Instituição, é contratada auma Missão
Militar Francesa. Os seus membros vinham de uma unidade do Exército francês que
realizava atividade de polícia em Paris: uma unidade militar com experiência de missões
policiais. Assim, em 21 de março de 1906, chegou a São Paulo a primeira Missão Francesa de
Instrução Militar que era chefiada pelo Cel. Paul Balagny tendo como auxiliares o Ten. Cel.
Rauol Negrel e o Ten. André Honeix De La Brousse.
Inicialmente a instrução foi aos Oficiais. Após esse primeiro contato, o Cel Balgny
notando algumas deficiências da organização, propôs ao Secretário da Justiça algumas
medidas para que a instrução militar pudesse ser ministrada a muitos homens ao mesmo
tempo. As principais foram: simplificar a parada diária das oito horas da manhã para torná-
la mais rápida; reduzir à metade as guardas, guarnições dos edifícios públicos, palácios,

40.
SÃO PAULO (Estado). Lei n. 958 de 28 set. 1905. Reorganiza a Força Pública do Estado de São Paulo e dá
outras providências. São Paulo: ALESP, 1905.
41.
SÃO PAULO (Estado). Lei n. 979 de 23 dez. 1905. Reorganiza o serviço policial do Estado. São Paulo: ALESP,
1905.
42.
DALLARI, Dalmo de Abreu. O pequeno exército paulista. São Paulo: Perspectiva, 1977.

25
penitenciária, etc. e suprimi-las onde não fossem indispensáveis e; reduzir a um, os oficiais
que pernoitavam no quartel.
Na primeira fase, o coronel Paul Balagny comandou as ações de treinamento. Foi
ele quem estimulou a instrução dos homens, além de ter se preocupado com o bem-estar e
formação pessoal do soldado. Ademais, o coronel percebeu que aqui havia uma grande
diversidade de fardas, mas o ideal seria um uniforme básico sobre o qual acrescentasse
adereços para indicar promoções. Ele também ensinou as práticas administrativas
desenvolvidas na Força Pública. Balagny ministrou o primeiro curso de armeiro em São
Paulo, que ensinava métodos para manutenção e conservação da arma de fogo pelos
soldados. Entre suas iniciativas, destaca-se a execução da instrução individual, da qual se
favoreceram aproximadamente 4 mil homens. Para o coronel, primeiramente treinava-se um
a um, depois um pequeno grupo (seção), pelotão, companhia; e, finalmente, o batalhão43.
Sob o ponto de vista francês, era essencial cuidar também do preparo físico.
Seguindo esta mentalidade, foi criada a primeira escola de ensino superior em Educação
Física no País, pois acreditava-se ser preciso dotar os homens de técnicas não letais. Graças
a isso, a Missão introduziu oficialmente no Brasil o boxe, a esgrima, a ginástica sueca e o
'bailado de Joinville Le Pont'. A Quadrilha de Monitores de Joinville Le Pont é uma
atividade aeróbica de lazer e condicionamento que tem por objetivo a manutenção do
controle físico. Dança camponesa francesa, foi sistematizada pela Escola de Joinville,
atualmente chamada Escola Interarmas de Esportes – um grande centro de condicionamento
físico das forças francesas até os dias de hoje.
A instrução era ministrada individualmente e pacientemente, sempre com apelo à
dignidade e à inteligência de cada um, e já em agosto de 1906 eram impressas as instruções
organizadas pelo Chefe da Missão sob os títulos:
 Escola de Soldados;
 Escola de Seção (escola de Cabos);
 Escola de Companhia de Infantaria;
 Escola de Cavalaria, a pé;
 Escola de Cavalaria, a cavalo.
No seio da própria Força Pública, no entanto, houve resistência à renovação
promovida pela Missão Francesa. Nesse clima, ocorrue a “Tragédia do Quartel da Luz”, no
dia 11 de junho de 1906, quando o Sgt Augusto José de Mello, que havia participado da
Campanha de Canudos, julgando-se humilhado durante uma instrução, disparou contra o
oficial francês Ten. Cel. Rauol Negrel. Além de matar o Oficial francês, seus disparos matam
também o alferes Manoel de Moraes Magalhães44.

43.
FERRAZ, Cel. Arrisom de Souza. As paradas da Força Pública nos prados da Mooca. Revista do Arquivo Público
Municipal, São Paulo, v. CLXII, p. 383-390, jan.-mar. 1959.
44
ARRUDA, Luiz Eduardo Pesce de; Polícia Militar: uma crônica. In: A Força Policial nº 13 jan.-mar. 1997.

26
Foi a Missão Francesa de Instrução da Força Pública que deu início às precursoras
da ESSgt. (Escola Superior de Sargentos) e da APMBB (Academia de Polícia Militar do
Barro Branco). Dentre as principais decisões tomadas, estava a estruturação de escolas de
formação de soldados, cabos, sargentos e oficiais. Além disso, os ensinamentos franceses
introduziram na Instituição uma visão globalizada, à qual permitiu que a Força Pública se
reformulasse e se modernizasse. As técnicas que revolucionaram positivamente a Polícia
Militar, ao longo de sua história, são frutos da mentalidade internacionalizada incitada pela
Missão, tais como: o projeto Resgate, o Rádio patrulhamento Aéreo, a prática de tiro policial
não letal, e a ênfase no ensino de Direitos Humanos. Em 1914 devido a Primeira Grande
Guerra, a Primeira Missão retirou-se.

CAMPANHA 09 - REVOLTA DA CHIBATA OU DO MARINHEIRO JOÃO CÂNDIDO


Ocorrida de 22 a 27NOV1910, na cidade do Rio de Janeiro.
Revolta: foi um motim naval, onde uma parte da Marinha de Guerra tomou os
couraçados São Paulo, Minas Gerais, Deodoro e o cruzador Bahia.
Líder: Marinheiro João Cândido.
Causa: protestos contra os castigos físicos (o resultado direto do uso das chibatas) que
os militares de baixa patente recebiam como punição.
Reivindicações: o fim dos castigos físicos, melhores condições de alimentação e
trabalho e anistia para todos os envolvidos.
Participação da PM: o Governo mandou deslocar para Santos uma ala do 1º Batalhão
de Infantaria da Força Pública sob o comando do Major Pedro Dias de Campos, para evitar
qualquer desembarque dos revoltosos.
Resultado: O Presidente Hermes da Fonseca, acatou as reivindicações, houve a
devolução dos navios ao Governo, anistia aos participantes, debelando assim a revolta.
Contudo, uma semana depois houve dispensa da Marinha por indisciplina, prisões, mortes e
muitos enviados a campos de trabalhos forçados.
O Batalhão paulista regressa a sua sede em São Paulo, após cumprir a missão imposta
de manter a ordem e a legalidade.

São Paulo. 1997.

27
ESQUADRILHA DE AVIAÇÃO
Na segunda década do século XX houve inovações na Força a fim de bem atender ao
cidadão da nova e crescente classe média urbana, dentre elas:
1911 - a instalação de caixas de aviso de incêndio e ocorrências policiais.
1912 - o início do emprego de cães no policiamento urbano e a criação de um pombal
para emprego de pombos-correios.
1913 - a criação da Esquadrilha de Aviação.
1925 - a Esquadrilha, cede ao País seu primeiro paraquedista militar, o então Tenente
Antônio Pereira Lima.,
1927 - o Tenente da Força Pública João Negrão faz parte da tripulação do hidroavião
Jahú, como copiloto na travessia do Atlântico.
Por força de Lei, em 1913, foi criada a Escola de Aviação que teria por fim preparar na
Força Pública aviadores militares, na sede do primeiro campo de pouso militar do país, o
Campo do Guapira (zona Norte da capital de SP), onde militares e civis, tiveram como
instrutor o primeiro piloto a voar no Brasil, o aviador Edu Chaves, brevetado na França.
A Escola teve que paralisar suas atividades devido a I Guerra Mundial (1914 a 1918),
o próprio Edu Chaves lutou no posto de 1º Tenente da aviação francesa.
Após a guerra, a Esquadrilha além de pontilhar o território paulista de campos de pouso
e de estruturas de suporte à gênese da aviação civil bandeirante, participou das Revoluções de
1924 e de 1930. No entanto, houve sua extinção após a Revolução de 1930, indo compor o
Exército. Da remanescente Esquadrilha da Aviação em 1984 houve a criação do Grupamento
de Radiopatrulhamento Aéreo “João Negrão" - GRPAe, hoje Comando de Aviação da PM -
CAvPM.

PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL


Em 28 de julho de 1914 eclode na Europa a Primeira Guerra Mundial que
perdurou até 11 de novembro de 1918. Lutando contra a tríplice Entente
(Inglaterra/França/Rússia e Estados Unidos da América após 1917), a Tríplice Aliança
(Alemanha/Áustria Hungria/Império Turco-Otomano) ameaçou a população mundial,
obrigando os oficiais da 1ª Missão francesa a deixaram a capital paulista e rumarem ao
teatro de operações na Europa. Mantendo-se neutro até 1917, surge a declaração de Guerra
entre o Brasil e os Impérios Centrais. Por conhecerem bem nossa organização militar, os
franceses indicam a Força Pública de São Paulo para que, sob o comando do capitão
Miguel Costa, compusesse uma Força Expedicionária para lutar na Europa, contudo a tropa
não chega a embarcar. Ainda assim, o governo demonstra preocupação da tropa que
deixaria o país, sobretudo com os oficiais que deixariam aqui as funções de comando. Para
suprir essa previsível carência que o Ten. Cel. José Espíndola de Magalhães organizou, no

28
campo do Canindé, um curso preparatório de emergência de formação de oficiais, ao qual
acorreu a elite universitária paulistana e que se constituiu na experiência pioneira dos
futuros CPOR/NPOR das Forças Armadas.

CAMPANHA 10 - GREVE OPERÁRIA DE 1917


Há pouco mais de 100 anos, o movimento operário brasileiro viveu anos de fortalecimento entre
1917 e 1920, quando as principais cidades brasileiras foram sacudidas por greves. Uma das
mais importantes foi a greve de 1917 em São Paulo, onde milhares de operários cruzaram os
braços exigindo melhores condições de trabalho, como direito a férias, aposentadoria ou
indenizações e aumentos salariais, também protestaram contra crianças trabalhando como
adultos e reivindicavam a regulamentação do trabalho de mulheres e dessas crianças. A greve
durou uma semana e foi duramente reprimida pelo governo paulista. Finalmente chegou-se a um
acordo que garantiu 20% de aumento para os trabalhadores.
Três grandes choques aconteceram nos seguintes pontos da cidade: Praça da Sé,
Largo da Concórdia e na Avenida Água Branca. Em 17 de julho de 1917, os efetivos da
Força Pública dispersaram os grupos de desordeiros infiltrados entre os manifestantes em
vários locais de manifestações organizadas, incluindo a morte do operário José Martinez,
empregado do Cotonifício Crespi, atribuída à Força Pública. Por interferência do capitão
da Força Pública Miguel Costa e do redator do jornal "O Combate", Nestor Rangel Pestana,
foi possível fazer uma conciliação entre as partes, o que permitiu harmonizar as duas forças.
Novamente a Força Pública restabeleceu a ordem e normalizou a vida em São Paulo.
Nessa onda de conflitos, o major Nataniel Prado, conhecido como Prof. Pardal, desenvolveu
com o auxílio de alunos da Escola Politécnica de Engenharia da Universidade de São
Paulo, o projeto do primeiro carro blindado para controle de distúrbios civis da história
militar brasileira.

SEGUNDA MISSÃO FRANCESA


A segunda Missão, inicia-se em 1919 quando do retorno ao Brasil do Gal. Antoine
François Nerel após a Primeira Guerra Mundial e perdurou até 1924. A ideia era dar
continuidade ao trabalho da Primeira missão, redundando nas seguintes atividades:
Organizar o curso de aperfeiçoamento de oficiais; criar uma escola de automobilismo; criar
um curso interno de alfabetização; criar um curso de Polo; criar um curso de radiotelegrafia
e aperfeiçoar a escola de aviação.
Através do processo diário que constava de exercícios combinados, a tropa atingiu
elevado nível de instrução militar e de disciplina, adquirindo verdadeira consciência
militar. A obra mais importante que as Missões Francesas nos deixou foi uma sólida
estrutura de formação, buscando o aperfeiçoamento intelectual e o aprimoramento da técnica

29
profissional. O Slogan adotado pela Missão foi: “Do valor dos quadros, depende o valor
das tropas”.

O TENENTISMO - O MOVIMENTO E SUA REPERCUSSÃO NO CONTEXTO


POLÍTICO DO PAÍS
Tenentismo foi o nome que se deu ao movimento político desencadeado durante a
década de 1920 por jovens oficiais do Exército brasileiro e Forças Públicas, a maioria
tenentes e capitães, em oposição ao governo e à alta oficialidade, que defendia os
interesses da oligarquia governante. Em linhas gerais os tenentes reivindicavam maior
centralização dos Estados, uniformização da legislação, do sistema tributário, e a
implantação do voto secreto. O movimento teve início no curso da disputa eleitoral de
1921 quando a oficialidade já insatisfeita devido ao propalado caráter antimilitar da
candidatura de Artur Bernardes, foi atingida em seus brios por cartas publicadas no
Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, em outubro daquele ano. Supostamente enviadas por
Bernardes, elas condenavam, em termos pejorativos e grosseiros, o "banquete dado pelo
Hermes" (jantar promovido por ocasião da posse do ex-presidente da República, Hermes
da Fonseca, na presidência do Clube Militar). Tratava-se de cartas falsas (segundo a
historiografia) que, entretanto, alcançaram seus objetivos de insuflar os ânimos já bastante
acirrados, justamente no momento em que Bernardes havia vencido as eleições de junho de
1922, mas ainda não tomara posse. Nesse clima beligerante, o Clube Militar protestou
contra a utilização, pelo governo, de tropas do Exército para intervir na política local de
Pernambuco. Como represália, o governo mandou prender Hermes da Fonseca, e
determinou o fechamento do Clube Militar, alegando, para tanto, transgressão à lei que
dispunha contra associações prejudiciais à sociedade. Assim, ao levante dos 18 do Forte,
que visava "salvar a honra dos militares", seguiu-se outro, dois anos depois, desta vez em
São Paulo. O chamado “Segundo 5 de julho”, data escolhida em homenagem à primeira
sublevação, foi mais bem preparado e tinha como objetivo central a derrubada de Artur
Bernardes, que personificava a oligarquia dominante, objeto da ira dos tenentes. Esse ciclo
de revoltas militares, que teve como um de seus pontos altos a marcha da Coluna Miguel
Costa- Prestes (1925-1927), culminou com a Revolução de 1930 e a deposição de
Washington Luís, pondo fim à Primeira República. Depois da revolução, uma parte dos
tenentes, integrantes da Aliança Liberal liderada por Osvaldo Aranha e Vargas, acabou
compondo com o governo, enquanto outra prosseguiu com suas metas revolucionárias e
radicais, que desembocariam no levante comunista de 193545.

45
FAUSTO. Boris. História do Brasil. São Paulo: EdUSP, 2012.

30
CAMPANHA 11 - OS 18 DO FORTE E A SEDIÇÃO DE MATO GROSSO
Em 5 de julho de 1922 ocorre a primeira revolta que tem uma forte influência dos
tenentes, conhecida como os 18 do Forte, que se opunha à posse do presidente eleito
Arthur Bernardes. Deste movimento participaram o capitão Hermes da Fonseca Filho, o
tenente Eduardo Gomes, o tenente Siqueira Campos entre outros46. Na Marinha do Brasil se
destacaram os tenentes Protógenes Pereira Guimarães, Ernani do Amaral Peixoto e Augusto
do Amaral Peixoto. Em 5 de julho de 1922, em consequência do levante da guarnição do
Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, uma companhia do 1º. Batalhão de Infantaria, sob
o comando do capitão José Ferreira Leal, segue para a região de Itararé, para guarnecer a
divisa São Paulo-Paraná. No dia 11 do mesmo mês seguem para Itararé efetivos do 3º.
Batalhão de Infantaria. Em 8 de julho de 1922, o Gal. Clodoaldo da Fonseca organizou um
levante das tropas sediadas no Mato Grosso. O 2º. Batalhão de Infantaria, sob o comando
do ten. cel. Afro Marcondes de Rezende, é destacado para guarnecer a divisa entre São
Paulo e Mato Grosso. Um destacamento de 255 praças e 21 oficiais do 2º. Batalhão foi
anexado ao destacamento do coronel Potiguara, do Exército, atuando de Bauru a Três
Lagoas. Em Bauru o 4º. Batalhão de Infantaria, com 617 homens, ficou como tropa de
reserva do Exército.

CAMPANHA 12 - A REVOLUÇÃO DE 1924


Na madrugada de 5 de julho de 1924 (exatamente dois anos após os 18 do Forte de
Copacabana), iniciou-se o movimento revolucionário na cidade de São Paulo, chefiado pelo
Gal. do Exército Isidoro Dias Lopes e pelo major da Força Pública Miguel Costa, tratando-
se de uma contestação armada ao imobilismo sociopolítico vigente. A tropa rebelada era
formada pelo 4º Batalhão de Caçadores do Exército em Santana, do 4º Regimento de
Infantaria do Exército de Quitaúna, do 2º Grupo de Artilharia Pesada do Exército de
Quitaúna e do Regimento de Cavalaria da Força Pública da Luz, com um efetivo total de
1330 homens. Os revoltosos ocuparam os Quartéis do 1º Batalhão de Infantaria, do
Regimento de Cavalaria, do Batalhão Escola e do 2º Batalhão de Infantaria, todos da Força
Pública47. Os revoltosos não conseguiram, contudo, ocupar o quartel do 4º Batalhão da
Força Pública e o Palácio dos Campos Elísios, cujas defesas foram comandas pelo capitão
Pedro de Moraes Pinto e pelo major Marcílio Franco, respectivamente. Os 3º, 4º e 5º
Batalhões de Infantaria, os 1º e 2º Corpos de Guarda Cívica e o Corpo de Bombeiros
permaneceram legalistas48.

46
PINHEIRO, Paulo Sérgio de M. S. Estratégias da ilusão. A Revolução Mundial e o Brasil (1922-1935), São Paulo:
Cia. Das Letras, 1991.
47
ANDRADE, Euclides e CAMARA, 1º. Ten. Hely E. da. A Força Pública de São Paulo - Bosquejo histórico-
1831 – 1931. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado. 1981.
48
Efetivos em 5 de julho de 1924: 1º.BI, 2º.BI, 3º.BI, 4º.BI, 5 º.BI, C. Escola, G. Cívica e C. de Bombeiros,

31
O tenente-coronel do Corpo de Guarda Cívica Alexandre Gama emitiu a seguinte
proclamação: "Avante, pois, bravos oficiais e soldados. O nosso lugar é na linha de fogo
em defesa da legalidade. Coragem e confiança na ação do nosso patriótico governo,
porque só assim poderemos voltar amanhã aos nossos lares, de fronte erguida, com a
consciência tranquila de quem tem cumprido o seu dever”. Com os efetivos existentes,
foram organizados os 1º., 2º. e 3º. Batalhões de Guerra, sob o comando dos Ten. Cel.
Joviniano Brandão, Afro Marcondes de Rezende e José Sandoval de Figueiredo,
respectivamente. A maior parte do efetivo do 1º. Corpo de Guarda Cívica foi incorporado ao
1º. Batalhão. Os três batalhões foram incluídos na Brigada da Força Pública, sob o
comando do Coronel Pedro Dias de Campos. Cada batalhão foi constituído com três
companhias e cada uma destas tinha três seções. O trem de Combate ficou sob o comando do
Tenente-Coronel Alexandre Gama, e a Intendência Geral ficou sob a direção do Ten. Cel.
Arthur da Graça Martins.
A Brigada da Força Pública combateu os revoltosos na parte central da capital e nos
bairros do Cambuci, Ipiranga e Vila Mariana. Os combates ocorreram até o dia 28, quando
os revoltosos abandonaram a cidade. Deixaram um saldo de 720 mortos e 4.846 feridos.
Até o fim do mês de julho, em perseguição aos rebeldes, o efetivo do 4º Batalhão da Força
Pública combateu em Pinhal, São João da Boa Vista, Itapira, Jaguari e na cidade mineira de
Jacutinga. A Brigada foi dissolvida em 31 de julho de 1924, e os oficiais e praças legalistas
voltaram às unidades de origem. A Ordem do Dia 78, de 21 de outubro de 1924, publicou a
exoneração do major Miguel Costa e mais 4 capitães, 2 primeiros-tenentes e 18 segundos-
tenentes do quadro de efetivos da Força Pública.

DIVISÃO REVOLUCIONÁRIA MIGUEL COSTA-PRESTES


Como consequência do movimento revolucionário de Miguel Costa e Luís Carlos
Prestes, em sua marcha pelo Brasil, os integrantes da Coluna denunciavam a pobreza da
população e a exploração das camadas menos favorecidas pelos líderes políticos. Sob o
comando de Miguel Costa (comandante) e Luís Carlos Prestes (chefe de estado-maior), o
movimento enfrentou as tropas regulares do Exército ao lado de Forças Policiais de vários
estados, além de tropas de jagunços, estimulados por promessas oficiais de anistia.
Partindo do município de Santo Ângelo-RS, que hoje abriga o Memorial da Coluna
Prestes, o movimento percorreu vinte e cinco mil quilômetros pelo interior do Brasil
durante dois anos e meio. Apesar dos esforços, a Coluna não conseguiu a adesão da
população. A longa marcha foi concluída em fevereiro de 1927, na Bolívia, perto de nossa
fronteira, sem cumprir seu objetivo: disseminar a revolução no Brasil.
No entanto, o movimento poucas vezes enfrentou efetivos do governo. Em geral,

respectivamente, 780, 680, 85, 90, 110, 600, 1.300 e 300 homens.

32
eram utilizadas táticas de despistamento (guerrilha) para confundir as tropas legalistas.
Aqui deu-se o registro da primeira ação de guerra psicológica na história militar brasileira.
O tenente revolucionário João Cabanas, fez circular pela rede telegráfica falsas
informações sobre o efetivo e o poderio bélico da coluna. Da tática, resultou o esperado.
Temendo o confronto com forças numérica e belicamente superiores, as autoridades das
cidades pelas quais a coluna passou, deixou-a seguir incólume ganhando o terreno
necessário para seu avanço até as divisas do país. O movimento contribui para disseminar
os problemas do poder concentrador oligárquico da República Velha, culminando na
Revolução de 1930. Prestes foi chamado por esta marcha de cavaleiro da esperança na luta
contra os poderes dominadores da burocracia.
Nesse contexto, foi comissionado no posto de tenente o civil Manoel de Jesus Trindade
para a formulação de um canal de comunicação entre a capital do estado e o efetivo que
permanecia em campanha. Podemos, portanto, atribuir a este valoroso oficial a
organização do serviço de comunicações que se tornou no atual CSM/M Tel.

CRUZ AZUL
Conforme estatuto no dia 28 de julho de 1925, a Associação das Damas da Cruz
Azul de São Paulo foi criada. A ideia de se organizar uma Instituição nesse sentido surgiu
em 1924. Naquele ano, devido à Revolução, Batalhões da Força Pública de São Paulo
estavam em diversos pontos do Brasil. Com isso, as famílias dos soldados muitas vezes
ficavam desamparadas, o que sensibilizou uma comissão de damas da sociedade da época
a fundar a Instituição, juntamente com o coronel Pedro Dias de Campos, Comandante-Geral
da Força Pública.
Em princípio, determinaram que o nome da Instituição fosse apenas Cruz Azul de
São Paulo para que os homens pudessem fazer parte de sua diretoria que desde o início,
ganhou a simpatia e o acolhimento da população e logo os primeiros donativos começaram
a chegar. Eram vários, de pessoas da sociedade, do Batalhão do Corpo de Bombeiros, de
Câmaras Municipais de cidades do interior do estado, como Bauru e Fartura, e dos
próprios oficiais. Só para citar um exemplo, as praças do 4° Batalhão da Força Pública, em
novembro de 1925, fizeram uma doação em dinheiro, proveniente de economias do
contingente da unidade em operações de guerra no Mato Grosso. Chás beneficentes, provas
turfísticas, extrações da Loteria oficial, concertos musicais da Banda de Música, doações e
até mesmo o salto improvisado do paraquedista tenente Antônio Pereira de Lima, foram
alguns dos meios lícitos que o cel. Pedro Dias de Campos utilizou para a construção do
Hospital, uma vez que não havia dinheiro público para tanto. Além disso, outras
instituições como creches e orfanatos cederam algumas vagas às crianças acolhidas pela
Cruz Azul. Os pedidos de adesões de sócios também foram muitos e significativos. Em

33
1976, foi construída a torre de internação do hospital e, em 1978, foi fundado o Colégio de
Polícia Militar de São Paulo.
Hoje A Associação Cruz Azul de SP, é uma associação sem fins econômicos, de
caráter beneficente, filantrópica e educativa. Assistência Médica... p/ os beneficiários dos
contribuintes da CBPMESP. Conta com 11 unidades do Colégio PM - São Paulo - Centro,
Itaquera, Penha, Santo Amaro e Vila Talarico; Campinas, Guarulhos, Osasco, Santo André,
São Vicente e Sorocaba.

CRIAÇÃO DA GUARDA CIVIL


A Guarda Civil do Estado de São Paulo, foi criada através da Lei nº 2.141, de
22OUT1926. Foi uma corporação uniformizada de caráter civil para realizar o policiamento
ostensivo das áreas urbanas do estado, zelando pela segurança pública e pela incolumidade
pessoal e patrimonial dos cidadãos. Hoje é considerada o embrião da Guarda Civil
Metropolitana da Capital do Estado e de todas as Guardas Municipais das cidades do interior.
A Guarda Civil de São Paulo foi modelada como corporação auxiliar da Força Pública,
mas sem caráter militar. A partir de 1930, com a reforma da pasta Secretaria de Estado dos
Negócios da Segurança Pública49, que teve como primeiro titular o General Miguel Costa, a
Guarda Civil tornou-se a segunda corporação fardada na estrutura da nova Pasta, juntamente
com a Força Pública.
Concebida nos moldes da Polícia Inglesa, passou a exercer várias modalidades de
policiamento ostensivo ao longo do século XX, como por exemplo:
1946 - Inspetoria de Polícia de Santos e Iguape. Criada com a finalidade de fiscalizar os Portos
de Santos e Iguape;
1952 - Divisão de Polícia Marítima e Aérea dos Portos do Estado de São Paulo. Criada com a
finalidade de fiscalizar os Portos de São Paulo; e
1955 - Corpo de Policiamento Feminino, criado como corporação autônoma para zelar,
especialmente pelas mulheres, crianças e idosos, o qual mais tarde unificou com a Guarda Civil
e depois, com a Polícia Militar, na unificação da Guarda Civil e Força Pública em 08ABR 1970.

49
A criação da Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública do Estado de São Paulo, é datada de 17 de
setembro de 1906, pelas mãos de Jorge Tibiriçá Piratininga então Presidente do Estado. Ocorre que, a Secretaria
acumulava também, a pasta e as funções da Justiça. Em 1930 após o início do Governo Provisório de Vargas, as
pastas são definitivamente separadas, restando ao Gal. Miguel Costa ser seu primeiro comandante nesse novo
formato que prevalece até os dias atuais.

34
CAMPANHA 13 - CAMPANHA DE GOIÁS EM 1926
A revolução de 1924 em São Paulo provocou reflexos nos estados do Rio Grande
do Sul e Mato Grosso. Para combater os revoltosos, o 1º Batalhão de Infantaria da Força
Pública seguiu para a cidade gaúcha de Uruguaiana e o 4º Batalhão foi deslocado para a
cidade mato-grossense de Três Lagoas. O 1º Batalhão de Infantaria 50, sob o comando do
coronel Joviniano Brandão, perseguiu e combateu os revoltosos em diversos pontos entre
Uruguaiana e Três Lagoas. Em 4 de agosto de 1925 retornou a São Paulo o 1º. Batalhão; o
4º. Batalhão retornou a sua sede em janeiro de 1926. O 2º. Batalhão de Infantaria 51, sob o
comando do coronel Afro Marcondes de Rezende, seguiu para a cidade paranaense de
Ponta Grossa, em 29 de outubro de 1924. Combateu em Rocinha, Adelaide, Flanco
Direito, Formigas, Flanco Esquerdo e Catanduvas, regressando a São Paulo em 2 de
setembro de 1925. Os 3º e 5º Batalhões de Infantaria seguiram para o Ceará, em 16 de
janeiro de 1926, a bordo do vapor "Cuiabá". Este sob o comando do coronel Arthur da
Graça Martins, e aquele sob o comando do tenente-coronel Arthur Godoy.
Os revoltosos de 1924 formaram a célebre coluna Miguel Costa-Prestes, que cruzou
o Brasil do Rio Grande do Sul ao Ceará, e do Ceará ao Mato Grosso. Para combater a
Coluna seguiram os Batalhões paulistas para o Ceará. Os 3º e 5º Batalhões, em operações
militares, estiveram em Iguatu, José de Alencar e Icó, no Ceará, e, na Bahia, estiveram em
Salvador, Uauá, Campo do Meio, Riacho do Sítio, Itiúba, Jurema, Barro Vermelho e
Serrinha. Nessas operações militares faleceram os seguintes oficiais: tenente-coronel Arthur
Godoy, capitão Joaquim Pires de Souza, tenente José Ferreira da Silva e tenente Pedro
Pereira Lopes. Em 21 de agosto de 1926, o Batalhão regressou a São Paulo. A Brigada
Mista, organizada em São Paulo pela Força Pública com 2.400 homens, partiu para Goiás
em 26 de julho de 1926, sob o comando do coronel Pedro Dias de Campos, constituída
com as seguintes unidades da Força Pública paulista: 1º, 4º, 6º e 8º Batalhões de Infantaria,
2º Regimento de Cavalaria, Esquadrilha de Aviação e unidades logísticas para garantirem
a operacionalidade. A Brigada desdobrou as suas operações de Ipameri a Vianápolis, em
Goiás. Após diversos confrontos entre a Brigada e a Coluna revoltosa, esta regressou a São
Paulo em fevereiro de 1927. A campanha de Goiás foi o confronto entre dois líderes da
Força Pública: coronel Pedro Dias de Campos e major Miguel Costa que, internando-se na
Bolívia, seguiu posteriormente com Prestes para Buenos Aires, onde permaneceriam até a
revolução de 1930.

50
Efetivo do 1º BI: 23 Oficiais e 339 praças.
51
Efetivo do 2º BI: 22 Oficiais e 375 praças.

35
O VOO DO JAHÚ
A travessia impossível.
Visando uma travessia aérea transatlântica inédita, João Ribeiro de Barros (jaúense),
inicia sua epopeia. Inúmeros foram os problemas enfrentados e vencidos pelos tripulantes da
aeronave. Desde impasses com combustível, nos motores, sabotagem até problemas com o
tempo. Apesar de todos os percalços, foi estabelecido um recorde de velocidade - 190
quilômetros por hora que, somente anos mais tarde seria batido por outra aeronave. Os
aeronautas partiram de Gênova na Itália, fazendo escalas na Espanha, Gibraltar, Cabo Verde e
Fernando de Noronha, já em território brasileiro.
Em 28 de abril de 1927 às 04h30min partindo da praia da Ilha de Santiago em Cabo
Verde, o Cmt João Ribeiro de Barros juntamente a seu copiloto tenente João Negrão da
Esquadrilha de aviação da Força Pública do estado de São Paulo, realizam a primeira
travessia do Atlântico a bordo do hidroavião Jahú pousando em território brasileiro na ilha de
Fernando de Noronha às 17h do mesmo dia. Após a travessia, foram pousando em cidades
marginais ao litoral brasileiro até atingir a capital do Estado de São Paulo onde foram
recebidos com grandes honras.

REGULAMENTO POLICIAL DE 1928


Através do Decreto 4405.A, publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo, em
27MAI1928 - consolida as disposições relativas ao serviço policial do Estado e as atribuições
das respectivas autoridades.
Carlos de Campos, presidente do estado de São Paulo, não perdoaria os rebeldes de
1924. Em consequência, premiou individualmente os legalistas, porém limitou
drasticamente o espaço de poder da Força Pública como Instituição, destinando-a ao
policiamento da periferia, das cidades do interior e ao exercício de tarefas eminentemente
repressivas, como o controle de distúrbios civis, deixando o policiamento das áreas mais
urbanizadas e nobres da Capital para a competência da Guarda Civil. Expressivas parcelas
dos efetivos da Força e grande parte de sua oficialidade foram mantidos aquartelados. Essa
exclusão se tornou ainda mais patente a partir da edição do Regulamento Policial de 1928,
que silenciou quanto a qualquer competência diretiva ligada ao policiamento por parte da
Força, reservando-lhe meramente a execução de tarefas policiais, sob a direção dos
Delegados de Polícia. Restava aos Comandantes da Força administrar a Instituição nas
missões policiais, mas não de efetivamente planejar e comandar as ações que eram
executadas por seus subordinados.

36
A PMESP DURANTE A ERA VARGAS
O Contexto da Revolução de 1930 guarda profunda relação com o Tenentismo. Nas
eleições de 1930, Washington Luís (paulista) indica Júlio Prestes (também paulista) que
ganha as eleições para a presidência da República, porém seria a chapa da Aliança Liberal
liderada por Getúlio Dorneles Vargas e Oswaldo Aranha que teria o apoio da elite mineira,
gaúcha e de boa parte da carioca e nordestina, colocando fim à oligarquia cafeeira. Assumindo
o controle da Revolução, o Exército brasileiro toma o poder e o transfere a Vargas que,
iniciando um período de governo declarado provisório, se estenderia pelos próximos 15
anos. A Era Vargas é dividia em: Governo Provisório: 1930-1934; Governo
Constitucionalista: 1934-1937 e Estado Novo: 1937-1945. Em 1945 Vargas foi deposto por
um golpe, mas se elegeu Senador e Deputado por vários estados brasileiros, optando pela
cadeira de Senador pelo Rio Grande do Sul. Em 1950 foi eleito para um novo mandato de
Presidente da República pelo voto direto, suicidando-se em 24 de agosto de 1954 no Rio de
Janeiro.
Dentro dos 15 anos de seu primeiro período de governo, modernizou o país, criou
novos ministérios, nomeou interventores para os estados, criou políticas de valorização do
café, instituiu a Legislação trabalhista e sindical, promoveu uma reforma política e eleitoral e
instituiu o voto para as mulheres.

CAMPANHA 14 - REVOLUÇÃO DE 1930


Retomando aos momentos de 1930, em 3 de outubro a Aliança Liberal, sob a
liderança de Oswaldo Aranha, organizou um movimento revolucionário em Porto Alegre,
que culminou com a derrubada do Presidente Washington Luís. A revolta atingiu também as
cidades de João Pessoa, Belo Horizonte e Porto Alegre, logo abrangendo seus respectivos
estados incluindo os revoltosos de 1924 que engrossaram as hostes sulistas.
Em São Paulo, o Exército e a Força pública foram mobilizados. Os 1º e 2º
Batalhões da Força Pública foram deslocados para a linha entre Cananéia e Ourinhos, junto
à divisa com o Paraná. O 4º Batalhão foi enviado para as barrancas do rio Grande, divisa
com Minas Gerais. O 6º Batalhão da Força Pública foi para a divisa com Minas Gerais, na
serra da Mantiqueira; pequenos destacamentos desse Batalhão ocuparam o Vale do Ribeira,

37
e uma companhia foi enviada ao litoral de Santos. Em 10 de outubro de 1930, tropas do 6º
Batalhão ocupam a cidade mineira de Ouro Fino. O 3º Batalhão foi deslocado para a área de
Faxina, na divisa com MG. Do 1º Regimento de Cavalaria seguiu para Itararé um esquadrão,
e para Ourinhos um pelotão. O 2º Regimento de Cavalaria deslocou um esquadrão para a
área de Ourinhos.
Na divisa São Paulo-Paraná ocorreram os combates de Quatiguá, Sangés,
Morungaba e Cananéia. Na divisa de São Paulo e Minas Gerais ocorreram combates em
Antunes e Guaíra. A concentração de tropas na área de Itararé foi desmobilizada depois que
o Almirante Isaias Noronha e os Generais Tasso Fragoso e Menna Barreto ocuparam o
Governo, substituindo Washington Luís. Estes, depois, transferiram a Getúlio Dornelles
Vargas, chefe civil da revolução, o governo da República. Em 24 de outubro, os Batalhões
retornaram as às suas sedes, na capital paulista.

Cel. PEDRO ÁRBUES RODRIGUES XAVIER


Um dos personagens mais importantes da Força Pública durante a Revolução de
1930, foi o Cel. Pedro Arbues Rodrigues Xavier. Nascido em 17 de setembro de 1869 em
Cuiabá MT, ingressou em 05 de setembro de 1892 no 1º Batalhão de Infantaria da Força
Pública. Promovido a 2º Sargento em 08 de setembro do mesmo ano (1 dia após o ingresso),
Alferes em 25 de outubro do mesmo ano, servindo nesta condição nas campanhas da
Revolução Federalista e de Canudos. Tenente em 16 de junho de 1895, Capitão em 10 de
abril de 1896, Major em 05 de outubro de 1904 e Ten. Cel. Em 1906. Comandou o 1º Corpo
da Guarda Cívica de 10 de fevereiro de 1913 a 03 de setembro de 1917. Em 04 de setembro
de 1917, foi reformado. Ao eclodir a Revolução de 1930, apresentou-se como voluntário à
Força Pública em 10 de outubro, sendo destacado para Cananéia a fim de comandar um
efetivo que fecharia as fronteiras do estado, em Itapetingui. Em 23 de outubro sofreu um
ataque pelas forças sulistas e sua rendição foi exigida. Negando-se a se entregar, e
terminada a munição, parte com seu revólver para cima do inimigo bradando: “Um velho
soldado da Força Pública morre, mas não se entrega”.
Morto em combate, foi enterrado como herói e honras militares prestadas por seus
próprios amigos.

CONSEQUENCIA DA POLÍTICA FEDERAL EM RELAÇÃO À FORÇA PÚBLICA


DE SÃO PAULO
As consequências do Governo Provisório de Vargas para a Força Pública de São
Paulo foram terrivelmente danosas. Algumas dessas medidas visavam o desmantelamento
bélico a fim de garantir às Forças Federais a neutralidade necessária do “exército paulista”
(garantia essa que duraria menos de 1 ano). Instaurada a intervenção federal em nosso

38
Estado, eis algumas das medidas que foram tomadas em relação à Instituição:
 Supressão da artilharia; Supressão da aviação;
 Supressão de Moto mecanização;
 Intervenção nas escolas de formação (perda considerável dos ganhos adquiridos
durante as missões francesas).

Como se não bastassem as medidas tomadas pelo Governo Provisório, visando o


aumento do controle sobre o poderio bélico da Força Pública, cria-se a SECRETARIA DE
SEGURANÇA PÚBLICA, que, desmembrada da Secretaria de Justiça do Estado, empossou
para o cargo de primeiro secretário da nova pasta, o Gal. MIGUEL COSTA52.
Humilhada, a população paulista aos poucos consolida a ideia de organizar um
movimento armado que, tendo caráter constitucionalista, exigiria a deposição de Vargas e a
escrita de uma nova carta magna. Longe de atingir seus objetivos, a Revolução
Constitucionalista irromperia a 9 de julho de 1932.

Ten. Cel. EDGARD PEREIRA ARMOND


Sensibilizado pelo isolamento das comunidades que habitavam o litoral norte
paulista, comprometeu-se com lideranças locais a emprestar seus conhecimentos de
engenharia e seu prestígio político para que fosse aberto um caminho terrestre que rompesse a
exclusão geográfica daquela região. Dirigiu, a partir de 1931, a abertura do primeiro
caminho terrestre carroçável, ligando o vale do Paraíba a Caraguatatuba, que, mais tarde,
viria a ser a principal artéria alimentadora do progresso do litoral norte, atual rodovia dos
Tamoios que viria a ser finalizada em 1934 no trecho Paraibuna - São Sebastião.

MMDC
A sigla MMDC foi composta com as iniciais dos nomes de quatro paulistas mortos
pelas forças ditatoriais em um confronto ocorrido no dia 23 de maio de 1932 na Praça da
República no centro de São Paulo. Três morreram no local: Martins, Miragaia e Camargo.
Dráusio, um menino de 14 anos, faleceu no dia seguinte, em consequência dos ferimentos
sofridos.
Com as iniciais de seus nomes foi formada a sigla MMDC, que representava a disposição de
São Paulo para enfrentar a ditadura. Mas, além desses quatro, Orlando Oliveira Alvarenga
foi ferido gravemente, vindo a falecer durante a Revolução, 81 dias após. Com isso, foi
relegado ao esquecimento.
Em 2002, quando a Revolução completou 70 anos, o Instituto Histórico, Geográfico
e Genealógico de Sorocaba, homenageou 100 heróis, descendentes ou personalidades ilustres
com a medalha MMDCA, que adiciona a inicial de Alvarenga, o quinto paulista morto no
52
COSTA, Y. A. Miguel Costa: um herói brasileiro. São Paulo: Imprensa Oficial, 2010.

39
confronto de 23 de maio de 1932.
M Mário Martins de Almeida – 31 anos – Fazendeiro em Sertãozinho – SP.
M Euclydes Bueno Miragaia – 21 anos – Auxiliar de Cartório em São Paulo – SP.
D Dráusio Marcondes de Souza – 14 anos – Ajudante de Farmácia em São Paulo – SP.
C Antônio Américo de Camargo Andrade – 30 anos – Comerciário em São Paulo – SP.

Segundo Antônio Fernando Reginato, o MMDC foi o responsável por toda a


logística da Revolução de 1932, incluindo o alistamento, o fardamento, transporte,
alimentação, correio militar, propaganda etc. Conseguiu arregimentar mais de 100.000
voluntários, mas desses, apenas 35.000 puderam ser armados 53.

CAMPANHA 15 - REVOLUÇÃO DE 1932


Resposta à revolução de 1930, em 9 de julho de 1932, o povo paulista numa atitude
consciente e nobre, exige o retorno do Brasil à constitucionalidade, aclamando-se Pedro de
Toledo como governador do estado de São Paulo. O movimento envolveu os chefes
militares sediados em solo paulista: General Berthold Klinger, o Coronel Euclides
Figueiredo e o Coronel Júlio Marcondes Salgado, o último da Força Pública e os dois
primeiros do Exército. Foram mobilizadas a Força Pública, as tropas da 2ª. Região Militar do
Exército e Voluntários Civis. Essa tropa mobilizada formaria o Exército Constitucionalista.
Durante 82 dias essa tropa defenderia a convicção constitucionalista. O pessoal da Força
Pública atuou em todos os setores de luta. Para o vale do rio Paraíba, formando o
Destacamento do Coronel Andrade, seguiu o 1º, 2º e 5º Batalhões de Infantaria. Para a região
de Campinas seguiu uma Companhia do 7º. Batalhão de Infantaria. Para as regiões de
Ribeirão Preto, Casa Branca e Mococa seguiu o 3º Batalhão de Infantaria. Para Itararé
seguiu o 7º 8º e o 9º Batalhões de Infantaria. O 4º Batalhão de Infantaria foi distribuído
desde Bauru até as barrancas do Rio Paraná. O 6º Batalhão de Infantaria atuou nas regiões
de Santos, Cananéia e Itararé. O Regimento de Cavalaria participou das lutas na frente Sul,
divisa com o Paraná.
A Guarda Civil participou ativamente no movimento Constitucionalista, inclusive,
na região de Campinas com a 2ª Bateria de Petrechos, sob o comando do Inspetor Pedro
Kauffman. O Batalhão de Voluntários da Guarda Civil esteve presente em diversos setores
de luta. O 1º Batalhão, sob o comando Coronel Vergílio Ribeiro, combateu no setor de Cunha
e de Itatiba. O 2º Batalhão defendeu o túnel e estabilizou a frente de Cunha. O 9º Batalhão e
Batalhões de Voluntários, formando o Destacamento Pedro Dias, combateu na frente de
Itaporanga-Ourinhos.
O governo federal mobilizou as tropas das 3ª e 5ª Regiões Militares na frente Sul
53
REGINATO, Antônio Fernando. 1932. Rastros da Revolução Constitucionalista. São Paulo: Joarte, 2014, p. 67.

40
(divisa com o Paraná) e as tropas das 1ª e 4ª Regiões Militares na frente Leste (divisas com o
Rio de Janeiro e Minas Gerais). As tropas da frente Sul foram engrossadas com os efetivos
das polícias militares de Santa Catarina e do Paraná, da Brigada Militar gaúcha e 27
Batalhões Provisórios. As tropas da frente Leste receberam os efetivos das polícias militares
de Minas Gerais, Rio de Janeiro, do antigo Distrito Federal (cidade do Rio de Janeiro), do
Espírito Santo e dos estados do Nordeste, e tropas federais da Bahia e do Nordeste.
Na frente Sul estavam mobilizadas as seguintes tropas do Exército: 6 Batalhões de
Caçadores, um Regimento de Infantaria, 3 Regimentos de Artilharia, 2 Grupos de Artilharia
e 15 Regimentos de Cavalaria. Na frente Leste mobilizavam-se 9 Regimentos de Infantaria,
13 Batalhões de Caçadores, 3 Regimentos de Artilharia, 2 Grupos de Artilharia, 3
Regimentos de Cavalaria e 2 Batalhões de Engenharia. Ao todo 58 unidades regulares do
Exército, com um efetivo total de aproximadamente 40 mil homens do Exército e mais 20
mil homens das polícias militares e batalhões provisórios. O Exército de São Paulo tinha as
seguintes unidades oriundas das 2ª e 9ª Regiões Militares: 4º, 5º e 6º Regimento de Infantaria,
2º Batalhão de Caçadores, 4º Batalhão de Caçadores, 18º Batalhão de Caçadores, 2º
Regimento de Cavalaria Divisionária, 4º Regimento de Artilharia Montada, 2º Grupo de
Artilharia Pesada, 3º Grupo de Artilharia da Costa, 2º Grupo de Artilharia de Dorso e o 2º
Batalhão de Engenharia. Ao todo, 11 unidades regulares do Exército54. O Esquadrão de
Castro aderiu à Revolução. Das unidades da Força Pública, formaram com o Exército
Constitucionalista os 1º, 2º, 3º, 4º, 5º, 6º, 7º, 8º e 9º Batalhões de Caçadores Paulista, o
Regimento de Cavalaria, Corpo de Bombeiros e demais unidades da Força Pública além da
Guarda Civil. Os voluntários paulistas formaram as Brigadas Minas Gerais e Sul (com sete
Batalhões), 87 Batalhões de Voluntários, 4 unidades de Trens Blindados, uma Companhia
de Morteiros, uma Companhia de Bombardas, 3 Companhias Isoladas e 4 Esquadrões de
Cavalaria. O efetivo da 2ª. Região Militar e parte da 9ª. Região Militar (então Circunscrição
Militar de Mato Grosso) eram aproximadamente 7.200 homens55; a Força Pública tinha
8.200 homens, a Guarda Civil contava com 3.141 guardas e foram recrutados,
aproximadamente, 20.000 voluntários56.
Os primeiros combates ocorreram em 13 de julho em Cachoeira Paulista, Túnel

54
Sedes paulistas das unidades do Exército: 4º. RI, Quitaúna, 5º. RI, Lorena, 6º. RI, Caçapava, 2º. RCD,
Pirassununga, 4º. BC, São Paulo, 4º. RAM, Itu, 2º. GAP. Quitaúna, 2º. GAM, Jundiaí́ e 2º. BE, Pindamonhangaba.
55
FIGUEIREDO, Euclydes. Contribuição para a História da Revolução de 1932. Rio de Janeiro: Martins Fontes,
1981. Efetivos das seguintes unidades: 4º. RI, I/5º.RI, 6º. RI, II/5º.RI, III/5º.RI, III/6º.RI, 4º. BC, 2º.RCD, I/5º.RCI,
4º.RAM, 3º.GAC, 2º.GAM, 2º.GAP, 2º. BC e contingente de Mato Grosso, respectivamente, 1586, 467, 1107, 435,
414, 463, 516, 304, 133, 345, 185, 257, 336, 212 e 300 homens. O 6º. BC de Ipameri, Goiás, não aderiu à Revolução.
56
O Correio da Manhã de 26 de outubro de 1932 registra o seguinte efetivo: 22.395 voluntários, 10.200 da Força
Pública e 3612 do Exército, dando um total de 36207 homens.

41
Cruzeiro e São José do Barreiro57. Após 82 dias de luta, com perda de vidas preciosas de
oficiais, graduados, praças e voluntários, cessaram as hostilidades. O Exército
Constitucionalista perdeu em combate 578 homens (conforme o livro Cruzes Paulistas),
sendo 173 da Polícia Militar 34, 67 do Exército e 338 voluntários. Em 30 de setembro de
1932 o comandante-geral da Força Pública ordenou o retorno dos Batalhões e do Regimento
às suas sedes. São Paulo, após lutas intensas, perdeu militarmente a luta, mas ganhou o seu
ideal, com a promulgação da Carta Magna da República em 1934.

AS CONSTITUIÇÕES DE 1934 E DE 1937


Em 1934 a nova Constituição varguista que acolheu as forças de segurança em seu
artigo 167 trazia que: As POLÍCIAS MILITARES são consideradas reserva do Exército e
gozarão das mesmas vantagens a este atribuídas quando mobilizadas ou a serviço da
União58. Outro ganho foi a sujeição dessas instituições à Justiça Militar Estadual e sua
revitalização focada nas ações de Segurança Pública e não mais na arte bélica, reflexo direto
do Primeiro “Congressinho brasileiro das Polícias Militares” organizado no Rio de Janeiro
chefiado pelo Deputado Federal Ten. Cel. PM Monsenhor Miguel Câmara cujo objetivo era
o acolhimento das forças estaduais no texto constitucional conforme de fato ocorreu.

A GERAÇÃO FREITAS ALMEIDA


Em 1935 é criado efetivamente o serviço de radiopatrulha na cidade de São Paulo,
concorrendo ao mesmo, os efetivos da Força Pública e da Guarda Civil. Inicia-se então entre
os anos de 1935 e 1938 uma renovação Institucional durante o Comando Geral do Coronel
Milton de Freitas Almeida, oriundo do Exército Brasileiro. Tal renovação gerou reflexos
que perduram até os dias de hoje, tamanho seu brilhantismo.
Dentre as medidas adotadas, destacamos:
Organização de diversos setores da Instituição; criação do Batalhão de Guardas
(hoje 2º BPChq); implantação da Justiça Militar Estadual; introdução da contabilidade
mecanizada (embrião do atual CIAF); pesados investimentos na Escola de Oficiais
(APMBB) e a revitalização do ensino da APMBB com foco no policiamento.
Ainda fazem parte desse momento de revitalização institucional a edição da Lei
Federal 192 de 17JAN36 que reorganiza as Polícias Militares e lhe conferem
responsabilidades essencialmente policiais. No mesmo diapasão, o governo de São Paulo
logo em seguida, editou a Lei 2905/37 que trata da organização da Força Pública, reforçando
a posição Federal de atribuir à mesma, tarefas e funções precipuamente policiais. Embora a

57
DONATO, Hernani. Dicionário das Batalhas Brasileiras. São Paulo: Ed. Ibrasa, 2010. Esse Dicionário relaciona
64 operações militares durante a Revolução Constitucionalista. Os últimos combates foram em Porto Esperança,
Itapeva e Salto- Angatuba, respectivamente, nos dias 25 de setembro, 28 de setembro e 1º de outubro de 1932.

42
força continuasse a ganhar a confiança do governo federal, este não negligenciaria seu temor
ante ao espírito de luta e pujança do povo paulista.
Como demonstração de autoridade e poder, a ditadura Vargas promoveu em 1940 a
queima cerimonial da bandeira Paulista perante a presença de milhares de estudantes. Outra
medida tomada pelos ditadores, foi a mudança do nome de nossa Instituição de Força
Pública para FORÇA POLICIAL, numa tentativa de desarraigar da memória dos paulistas,
sua Instituição de segurança pública.
Concluindo essa fase de renovação institucional, data de 1943 um dos grandes
divisores de águas em nossa história. Segundo o Cel. Eduardo Assumpção foi a partir dessa
data que os exames de admissão para o ingresso à Força, passaram a exigir ao candidato a
Soldado, a redação de um ditado escrito e a realização das quatro operações básicas da
matemática. Era o fim da era dos analfabetos e a Instituição poderia caminhar pelos trilhos
da qualidade do ensino para as Praças59.

CAMPANHA 16 - MOVIMENTOS EXTREMISTAS


Um movimento pode, portanto, ser adequadamente definido como “extremista” não
pela magnitude na mudança que defende, mas por sua decisão de que os procedimentos
democráticos convencionais não são eficazes para seus fins e que, sendo assim, devem ser
utilizados métodos que excedam a estrutura democrática60.
Em 1935, os simpatizantes do comunismo provocaram, no mês de novembro, lutas no
Nordeste e na cidade do Rio de Janeiro. Em 1938, a Ação Integralista Brasileira tentou
invadir o Palácio do Catete no Rio de Janeiro, residência do Presidente da República.
Ambas as ações foram debeladas pelas forças legalistas.
Na cidade de São Paulo ocorreram confrontos entre os extremistas e a Força
Pública e também com a Guarda Civil: em 1935 com os comunistas, em 1938 com os
integralistas. A Força Pública e a Guarda Civil debelaram os movimentos sediciosos e
garantiram a manutenção da ordem pública.

CAMPANHA 17 – SEGUNDA GUERRA MUNDIAL


A Polícia Militar de São Paulo participou da Segunda Guerra Mundial atuando em
duas frentes: uma interna, no estado de São Paulo, e outra externa, na Itália. No estado de São
Paulo, instalou postos de vigilância no parque industrial paulista, nas represas, subestações
de energia elétrica, entroncamentos ferroviários, no litoral, nos portos e nos pontos de
concentrações de presos estrangeiros. A atuação da então Força Pública impossibilitou

59
ASSUMPÇÃO, Cel. Eduardo. Evolução técnico-cultural, determinação e desenvolvimento do PM. Tese
(Doutorado em Ciências policiais de Segurança e Ordem Pública) – Centro de Altos Estudos da Polícia Militar do
Estado de São Paulo. São Paulo: 1994.
60
FINLEY, Moses; Democracia Antiga e Moderna. São Paulo: Graal, 2010 p. 120.

43
inúmeros atos de sabotagens.
O governo brasileiro organizou também a Força Expedicionária Brasileira, que em
1944 deslocou-se para a Itália, onde a 1ª. Divisão Expedicionária combateu até o fim da
guerra sob o comando do General de Exército João Batista Mascarenhas de Moraes. Entre as
unidades componentes da Divisão Expedicionária encontrava-se o Pelotão de Polícia do
Exército, então denominado Pelotão de Polícia Militar. O Pelotão de Polícia Expedicionário
foi organizado com oficiais e sargentos do Exército brasileiro, e os soldados, em número de
79, foram recrutados na Guarda Civil de São Paulo. Inicialmente, este pelotão foi
comandado pelo 1º. Tenente Waldir de Lima e Silva, e a seguir, pelo 1º. Tenente José
Maciel Miler. Na Itália o pelotão foi transformado em Companhia. Este pelotão deu origem
posteriormente às unidades de Polícia do Exército. A atuação dos soldados de São Paulo foi
amplamente elogiada pelo General Mascarenhas de Moraes, comandante da Divisão
Brasileira na Itália. Dos 79 guardas civis que participaram da Campanha da Itália, em 1990
(último dado estatístico acerca do efetivo), 44 eram oficiais reformados da Polícia Militar,
um era oficial reformado do Exército brasileiro, 2 eram praças reformadas da Polícia
Militar, 2 faleceram na Itália, 23 faleceram após o regresso ao Brasil e 7 eram civis61.

OS TRÊS GENERAIS DA FORÇA PÚBLICA


A Polícia Militar do Estado de São Paulo, possuiu três generais oriundos das suas fileiras,
sendo estes: Francisco Alves do Nascimento Pinto, Miguel Costa e Júlio Marcondes
Salgado.

Gal. FRANCISCO ALVES DO NASCIMENTO PINTO


O General Nascimento nasceu em Bananal, na Província de São Paulo. Foi incluído
entre os voluntários do 42º Batalhão de Voluntários da Pátria no ano de 1865. Em 16 de
novembro daquele ano, o Batalhão saia de São Paulo e em 29 do mesmo mês partia do Rio
de Janeiro para o Paraguai. As vicissitudes da guerra fizeram com que o 42º fosse
incorporado ao 7º Batalhão de Voluntários. Um pequeno destacamento, sob o comando do
Cadete Nascimento, foi incorporado ao 2º Batalhão de Voluntários do Rio de Janeiro. Após o
combate de Pirebebuy, por atos de bravura o Cadete foi promovido a Tenente. Na batalha de
Itororó, o Tenente Nascimento salvou a vida do então Major Manoel Deodoro da Fonseca,
depois Marechal e Proclamador da República.
Veterano da Guerra do Paraguai, em 1877 o Capitão Nascimento ingressou no
Corpo Policial Permanente. Galgou todos os postos até Tenente-Coronel. Estava no comando
do 2º Batalhão de Infantaria quando foi reformado em 1907. Sendo Coronel Honorário do

61
TELHADA, Cel. Paulo Adriano Lucinda Lopes. A polícia de São Paulo nos campos da Itália. São Paulo: KMK,
2001.

44
Exército foi reformado como General de Brigada em virtude da legislação imperial aplicável
aos militares participantes da Guerra do Paraguai. O General Francisco Alves do Nascimento
Pinto possuía as seguintes condecorações: Cavalheiro da Ordem de Cristo, Cavalheiro da
Ordem da Rosa, Medalha da Guerra do Paraguai (cinco anos), Medalha da Argentina,
Medalha do Uruguai e Comenda da Ordem do Cruzeiro. Foi um dos fundadores da Caixa
Beneficente da Força Pública do Estado de São Paulo.

Gal. MIGUEL ALBERTO CRISPIM RODRIGO DA COSTA


Miguel Costa assentou praça na Força Pública 1909 e em 1911 já era sargento
ajudante do Regimento de Cavalaria. Em 1912 foi promovido a alferes. Em 16 de março de
1913 foi promovido a tenente por merecimento. Em 19 de maio de 1914 foi promovido a
capitão. Em 18 de fevereiro de 1918 foi aprovado nos exames militares para major de
cavalaria. Foi promovido a major em 17 de janeiro de 1922 e classificado como fiscal do
Regimento de Cavalaria. Em julho de 1924, aliado ao General Isidoro Dias Lopes,
sublevando o quartel do Regimento, assumiu o comando dos rebeldes da Força Pública
durante a Revolução de São Paulo. Em 4 de setembro de 1924 foi excluído do quadro
efetivo do Regimento de Cavalaria por deserção. Em 21 de outubro de 1924 foi excluído da
Força Pública.
Como uma das grandes figuras da Revolução, Miguel Costa assumiu o comando da
Divisão Revolucionária Miguel Costa-Prestes. Perseguidos pelas tropas legais do Governo
nos Estados do Paraná, Mato Grosso, sul de Goiás, Minas Gerais, Bahia, norte de Goiás,
Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Bahia, voltando por
Pernambuco, Piauí Goiás e Mato Grosso. Em 1927 termina a Grande Marcha21e os
revoltosos internaram-se na Bolívia e no Paraguai. Miguel Costa fixou residência em
Buenos Aires. Ingressa no movimento Outubrista de 1930 e com a vitória da Revolução volta
para São Paulo. Em 4 de novembro de 1930 assumiu o cargo de Inspetor geral e
reorganizador da Força Pública. Conforme publicação no Diário Oficial da União e no
Boletim do Exército no. 5, foi nomeado General Honorário do Exército. Em 6 de maio de
1931 foi reincluído na Força Pública como General de Brigada. Foi para a reserva da Força
Pública em 23 de maio de 1932. Em 6 de abril de 1937 foi reformado, tendo falecido em 2
de setembro de 1959.

Gal. JÚLIO MARCONDES CÉSAR SALGADO


Em 26 de junho de 1907, alistou-se na Força Pública o civil Júlio Marcondes César
Salgado. Foi classificado no 1º. Esquadrão do Corpo de Cavalaria. Em 1915 foi promovido
a alferes e em 1920 a tenente. Em 1924 foi promovido a capitão e em 1925 a major.
Participou de operações de guerra em 1922, no Mato Grosso, em 1924 na Capital paulista e

45
em 1925 em Goiás. Em 31 de maio de 1927 foi promovido a Tenente-Coronel e designado
para comandar o 1º. Regimento de Cavalaria, onde serviu até 1º de dezembro de 1930.
O Tenente-Coronel Júlio Marcondes Salgado comandou as seguintes unidades:
Curso de Instrução Militar (2 de dezembro de 1930 a 21 de junho de 1931), 4º Batalhão de
Infantaria (22 de junho de 1931 a 23 de agosto de 1931), 9º Batalhão de Caçadores Paulista
(24 de agosto de 1931 a 21 de outubro de 1931), 5º Batalhão de Caçadores Paulista (28 de
outubro de 1931 a 22 de maio de 1932).
Em 23 de maio de 1932 assumiu o comando da Força Pública e participou
ativamente da Revolução Constitucionalista. No dia 23 de julho, em pleno conflito, o
Coronel com o seu Estado-Maior, dirigiu-se a Santo Amaro, na Capital paulista, para
observar os testes com morteiros e Bombardeios. Durante um dos testes, a granada explodiu
na boca da arma e provocou sua morte instantânea além de ferimentos no Tenente-Coronel
Salvador Moya e Major Marcelino da Fonseca 62. O Coronel Marcondes Salgado faleceu aos
42 anos, morto em cumprimento do dever. O Governador do Estado, Dr. Pedro de Toledo,
considerando seus méritos, quer como miliciano da Força quer como líder militar, resolveu,
nos termos do decreto 5.602 de 23 de julho de 1932, considerar promovido "post mortem"
ao posto de General, este comandante da Força Pública do Estado de São Paulo.

CONSTITUIÇÕES (FEDERAL E PAULISTA) E O PAPEL DA FORÇA PÚBLICA


Após o fim do Estado Novo, uma nova constituição é promulgada em 1946, chamada de
democrática. De modo geral, os governadores do período democrático objetivaram aumentar a
eficiência do trabalho policial, através da expansão e descentralização dos serviços, pois tinham
ciência do desafio de acompanhar a demanda por serviços policiais.
Com isso o papel da Força Pública passa a ser questionado. Já não se concebia mais,
num regime de liberdades democráticas, a existência de pequenos exércitos que colocassem em
risco a unidade das forças armadas e o pacto federativo como ocorrido na Revolução de 1932.
Com o fortalecimento e profissionalismo das Forças Armadas, em especial o Exército, tornaram
desnecessárias forças militares estaduais para desempenhar papel que é próprio às Forças

62
O Major Marcelino faleceu horas depois do acidente e também foi promovido “post mortem”.

46
federais, qual seja, a defesa da pátria. Como a Força Pública que agia praticamente como um
“exército estadual” e que após ser vencida na Revolução de 32 tivera grande parte de seu
material bélico confiscado pela União deveria agir a partir de então?
Como alguns oficiais já pensavam, chegara o momento de a Força Pública passar a se
especializar em realizar policiamento. O debate público e a liberdade das instituições, vindas
com a democratização de 1946, implicaram questionamentos sobre o real papel a ser
desempenhado pela Força Pública. Já não mais se admitia um gasto enorme de orçamento para
se manter uma tropa aquartelada, quando tantos crimes já ocorriam na metrópole.
Ainda sobre a CF de 1946, esta avança para a área da segurança pública, atribuindo à União, a
competência exclusiva para legislar sobre alguns aspectos das polícias militares. Dentre eles,
destacamos: Organização, Instrução, Justiça e Garantias das Polícias Militares
(homogeneidade).

Ainda em 1946 com a edição do Decreto-Lei 9208, ficava instituído o Dia das
Polícias Civis e Militares a ser comemorado todos os anos em 21 de abril, sendo declarado
Tiradentes, seu patrono. Vale lembrar, no entanto, que, ainda que Tiradentes tenha sido
legalmente declarado Patrono das Polícias no Brasil, a figura do Brigadeiro Rafael Tobias
de Aguiar exerce as funções de mito fundador e Patrono da Polícia Militar do Estado de
São Paulo, segundo a tradição inventada63.
Em 1947, é promulgada a nova Constituição Paulista e a Instituição volta a resgatar
seu histórico nome de FORÇA PÚBLICA. O efetivo da Guarda Civil aumenta e começam a
abraçar o interior do estado. Em princípio cidades próximas à capital até atingir os rincões
paulistas. O impacto desta nova carta magna na atividade policial militar foi significativo64
fazendo com que todos os cursos, estágios e atualizações profissionais da Força Pública
tivessem seus currículos adequados a nova realidade constitucional, ou seja, realizar
patrulhamento. Nesta mesma época era implantado o radio-patrulhamento padrão pela PM.

A CRIAÇÃO DAS UNIDADES DE POLICIAMENTO ESPECIALIZADO


A cidade de São Paulo possuía cerca de 2.000.000 de habitantes no fim da década de
1940 e, com uma população com tais proporções, era de se esperar que acontecessem muitos
crimes, contravenções e problemas de conflitos. O noticiário existente à época também clamava
por mais policiamento. Por tais circunstâncias é criado em 1948 o Batalhão Policial e, em 1950,
o Esquadrão de Policiamento Rural. O Batalhão Policial iniciou suas atividades em caráter

63
HOBSBAWN, Eric e RANGER, Terence. A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008, p. 09.
Termo criado por HOBSBAWN que o define como um conjunto de práticas rituais ou simbólicas abertamente aceitas
dentro de sociedades que buscam padronizar normas comportamentais e valores aceitos como válidos, sedimentando
a continuidade entre presente e passado.
64
BATTIBUGLI, Thaís. Democracia e segurança pública em São Paulo (1946-1964). 2006. Tese (Doutorado em
Ciência Política), Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo. São Paulo.

47
provisório e com suas finalidades voltadas aos policiamentos urbanos, auxiliar, de trânsito e de
Rádio patrulha65.
- Cia de Pol Urbano: Dispunha de 3 postos móveis rebocados por Jipes que podiam
ser utilizados/estacionados onde fosse necessário, especialmente em serviço de fiscalização
rodoviária, atual CPRv.
- Sobre o CPRv: Com um efetivo de 60 homens sob o comando do Tenente da Força
Pública, José Pina de Figueiredo, a Polícia Rodoviária, quando criada, iniciou suas atividades
operacionais realizando policiamento na Rodovia Anchieta. O policiamento rodoviário sempre
esteve sob o comando de um oficial da Força Pública do Estado de São Paulo, e, no princípio,
esses oficiais e praças do Quadro de Especialistas da Polícia Rodoviária (QEPR), juntos com os
Guardas Rodoviários do DER que eram civis, exerciam as atividades de policiamento sendo
comissionados ao DER. E assim foi até o ano de 1963, quando a então Força Pública absorveu a
Polícia Rodoviária e criou o Corpo de Polícia Rodoviária. Atualmente, como segmento
especializado da PMESP e órgão responsável pela fiscalização de trânsito nas rodovias
estaduais, o CPRv é responsável pelo policiamento ostensivo de trânsito e pela preservação da
ordem pública nessas rodovias, materializando o compromisso institucional de defender a vida,
a integridade física e a dignidade da pessoa humana.
- Cia de Pol Auxiliar: encarregada de debelar tumultos ou motins com pelotão de
prontidão 24h. Cia de Pol Aux. foi o embrião do CPChq da PMESP, “era elevado o número de
heróis desta companhia, tombados no cumprimento do dever, na luta insana de combate ao
crime”.
- Sobre CPChq: Sua criação visou preencher lacuna devido à inexistência de um
comando intermediário para os Batalhões de Choque, a exemplo dos Comandos de
Policiamento da Área. Com o decorrer do tempo verificou-se a necessidade da reformulação da
sistemática administrativa e operacional a fim de melhorar o rendimento operacional dos
Batalhões de Choque. O Comando de Policiamento de Choque é definido como Órgãos
Especiais de Execução e força reserva do Comando Geral para emprego em missões
extraordinárias de polícia ostensiva e de preservação da ordem pública no território estadual
sendo composto por: 1º BPChq – Tobias de Aguiar, 2º BPCHq - Anchieta, 3º BPChq - Humaitá,
4º BPChq – Operações Especiais, 5º BPChq – Policiamento de Choque, Canil e Regimento de
Cavalaria “9 de Julho”.
- Esquadrão de Pol Rural: Unidade originária do atual policiamento ambiental tinha
inicialmente a missão de procurar foragidos, atender crimes nas áreas afastadas (rurais),
conduzir carteiros para áreas afastadas, orientar moradores quanto a higiene caseira, do solo, da
água, entre outros. Para servir nesta Cia era exigido do policial: bom comportamento, ter entre

65
SILVA, Antonio. “Batalhão Policial”. Revista Militia, n.17, jul/Ago/1950.

48
22 e 35 anos, ser solteiro, saber ler e escrever com caligrafia regular e conhecer as 4 operações
fundamentais de matemática, saber nadar, andar a cavalo e ter robustez física de acordo com a
exigência do serviço. Se aceito, o policial realizava um curso de 4 a 5 semanas para prepará-lo
para as novas funções. O Esquadrão foi o início do Pol Rural em São Paulo66.
- Sobre o CPAmb: Em 14 de dezembro de 1949, um tenente, comandando cinco
segundo-sargentos, quatro cabos e dezoito soldados, iniciava as primeiras atividades de
fiscalização florestal no Estado de São Paulo. Em novembro de 2001, o Governador Geraldo
Alckmin assinou o Decreto Estadual n. 46.263, de 09 de novembro de 2001, que alterou o nome
Florestal e de Mananciais para Ambiental, o que conferiu maior amplitude às missões das
Unidades de Policiamento. Foram firmados então convênios entre a Secretaria do Meio
Ambiente e o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) e Superintendência de
Desenvolvimento da Pesca (SUDEP), para efetuar um policiamento ostensivo, preventivo e
repressivo à proteção dos recursos naturais renováveis67.
Em 1949 cria-se o Presídio Militar, adotando o nome de Romão Gomes em
homenagem a este ilustre personagem (Juiz Militar do Estado de São Paulo).
Em 1950 é implantado o Departamento de Polícia Militar (DPM) atual Corregedoria
PM. Historicamente, apresenta-se como uma “força reserva”, pronta para intervir no
estabelecimento da disciplina e observância da execução das ordens e diretrizes exaradas pelo
Comando Geral da Instituição. Nesse sentido, as atribuições da Corregedoria PM devem estar
adequadamente descritas e atualizadas em ato normativo próprio, que sustente, juridicamente,
os atos administrativos praticados por seus integrantes.
Também em 1950 foi criado o Canil com cães adquiridos da Argentina. Segundo o Cel.
José de Anchieta Torres68, o principal fator que influenciou a adoção dos cães nas atividades de
polícia e de preservação da ordem pública foi a vinda da 1ª Missão Francesa, sendo que, por
volta de 1912, deu-se o início do emprego de cães policiais belgas pela Guarda Cívica. Ressalta-
se que as Missões Francesas nos legaram uma sólida estrutura de formação, buscando o
aperfeiçoamento intelectual, o aprimoramento da técnica profissional e inovando conceitos e
formas de atuação da Força Estadual.

NOVO REGULAMENTO PARA A FORÇA


Em 1951 é aprovado novo regulamento para a Força Pública. Tendo por foco o
policiamento ostensivo, o então Governador do Estado, Lucas Nogueira Garcez, aprova e

66
CARVALHO, Glauco Silva de. A Força Pública paulista na redemocratização de 1946: dilemas de uma
instituição entre a função policial e a destinação militar, 2011. Tese (Doutorado em Ciência Política), Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo.
67
Polícia Militar do Estado de São Paulo. Comando de Policiamento Ambiental, “Histórico da polícia militar
ambiental”. Disponível em: https://www.policiamilitar.sp.gov.br/unidades/ambiental/index.html, Acesso em: 31
maio 2004.
68
TORRES, José de Anchieta, Histórias e estórias da Força Pública do Estado de São Paulo, Ed. do Autor, São
Paulo, s/data.

49
manda pôr em execução o “REGULAMENTO DA FORÇA PÚBLICA PARA O
SERVIÇO DE POLICIAMENTO” representando um avanço para a época. Tal avanço se
configura no teor do DECRETO N. 20.910, DE 5 DE NOVEMBRO DE 1951 que
resumidamente tratava sobre a finalidade da Força Pública, seus objetivos estratégicos,
competência de cada integrante, modo de fiscalização, modo de atuação, entre outros, tudo para
adequar, padronizar e regular a forma de se executar o policiamento à época. Teríamos a partir
de então uma espécie de manual de conduta policial e também um regulamento interno69.

O SALTO NA AMAZÔNIA
Em 10 e 11 de maio de 1952, tendo à testa da missão o Capitão Djanir Caldas, um
grupo de paraquedistas da Força Pública saltou sobre a floresta amazônica, em evento de
repercussão mundial, resgatando os corpos e pertences das 60 vítimas da sinistrada aeronave
“President”, da empresa Pan American70.

CRIAÇÃO DO CORPO DE POLICIAMENTO FEMININO


A história da mulher na Polícia Militar do Estado de São Paulo ainda está sendo escrita:
iniciou-se como uma conquista das mulheres paulistanas, organizadas no Movimento Cívico-
Feminino, que reivindicaram o direito de serem atendidas por outras mulheres, quando
envolvidas em situações policiais que pudessem causar-lhes constrangimento. Assim, no 1°
Congresso de Medicina Legal e Criminologia realizado em São Paulo em 1953, a Dra. Hilda
Macedo, assistente de cátedra da cadeira de Criminologia, apresentou um trabalho acadêmico
intitulado "Policia Feminina", acolhido por unanimidade e encaminhado ao Governador do
Estado para implantação. A partir de então, percorridos os óbices legais, em 12 de maio de 1955
foi criado pioneiramente na América do Sul, o Corpo de Policiamento Especial Feminino,
instituído junto à Guarda Civil de São Paulo, através do Decreto Est. N° 24548/55. Primeiro do
gênero no Brasil e recorrentemente apontado como o primeiro da América do Sul, um pequeno
grupo de mulheres passou a exercer oficialmente a atividade de agente do monopólio da
violência do Estado: a atividade policial.
Corporação uniformizada, organizada com base na hierarquia e disciplina, subordinada
diretamente ao Secretário de Segurança Pública, não integrante da Guarda Civil de São Paulo.
Da análise, ainda que superficial, dos textos legais que criaram a Polícia Feminina, enfocada no
contexto histórico do Estado de São Paulo e do Brasil da época, compreende-se por que lhe
foram confiadas missões especificas, notadamente a execução de "tarefas assistenciais". Os
regulamentos eram os da Guarda Civil. A partir de 8 de abril de 1970, passaram a integrar os

69
SÃO PAULO (Estado). Decreto n. 20.910 de 05 nov. 1951, Aprova o Regulamento da Força Pública para o
serviço de policiamento, São Paulo: ALESP, 1951.
70
ARRUDA, Luiz Eduardo Pesce de; Polícia Militar: uma crônica. In: A Força Policial nº 13 jan.-mar. 1997.
São Paulo. 1997.

50
quadros da Polícia Militar do Estado de São Paulo através do Decreto-Lei n. 217/70.
O Batalhão de Policiamento Feminino (BPFem), subordinado ao Comando de
Policiamento da Capital, era o órgão responsável pela preservação da ordem pública no Estado
de São Paulo, em ações de policiamento ostensivo relacionadas à mulher e ao menor,
competindo-lhe o planejamento, comando, execução e fiscalização ao emprego operacional da
unidade, de acordo com planos e ordens do escalão superior.
Em 1989 se deu o ingresso da mulher na Academia da Polícia Militar, para o Curso de
Formação de Oficiais, em igualdade com o homem.
Em 2011, os Quadros masculino e feminino foram unificados, resgatando uma histórica
dívida para com as mulheres de nossa Instituição, gerando a partir de então, os mesmos direitos,
deveres e prerrogativas, oferecendo maior oportunidade de ascensão na carreira a essas
policiais71.

AS CAMPANHAS DO CANCRO CÍTRICO, MAL DE CHAGAS


Ao final da década de 50, é a Força Pública convocada para combater uma praga
vegetal denominada de CANCRO CÍTRICO que, ameaçando a citricultura no interior do
estado, colocava em risco a produção de laranja e seu suco (matéria de exportação da
agricultura paulista). Embora não fosse sua missão, a Força Pública troca então armas por
facões e ruma ao interior do estado derrubar laranjais e livrar as terras paulistas desta praga.
A Atuação dos homens da Força Pública resultou num árduo trabalho mantido sob a rígida
disciplina militar para erradicação total da doença.
Para a missão, foi escolhido o 1º Batalhão (Tobias de Aguiar) comandado pelo
Tenente-Coronel Jayme dos Santos. Após o cumprimento da missão, nossos homens ainda
conseguiram difundir pelo interior do estado novas opções de agricultura como o abacaxi, a
melancia, e outras. A atuação da Força Pública teve início em 15 de novembro de 1957 e durou
cerca de cinco meses, ao final deste período estes homens foram substituídos por trabalhadores
civis braçais72.
Ainda no final dos anos 50 (1958 e 1959 precisamente), deu-se o combate ao mal
de chagas. Transmitido pelo inseto barbeiro que habita ambientes rurais, foi a tropa
mobilizada para o interior do estado novamente a dedetizar as casas humildes e livrar a
população desse inseto. Visitando 113 municípios sob o comando do Tenente-Coronel
Médico PM Paulo de Andrade Corrêa, São Paulo viu-se livre de mais essa moléstia pelas
mãos da milícia de Tobias de Aguiar que bravamente cumpriu tal missão. Além da

71
MOREIRA, Rosemeri. Sobre mulheres e polícias: a construção do policiamento feminino em São Paulo (1955-
1964). 2011. Tese (Doutorado em História), Departamento de História, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis.
72
DOS REIS, Emanuel Martins. A Política fitossanitária de combate ao cancro cítrico na região de Presidente
Prudente. 2008. Tese (Doutorado em Geografia), Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Presidente Prudente.

51
profilaxia, realizou um trabalho de educação sanitária com palestras e outras ações de saúde
pública.

O RELACIONAMENTO COM A MÍDIA NOS ANOS 1960


No início dos anos 50, iniciaram os relacionamentos travados entre a Instituição e a
mídia, através do treinamento equestre proporcionado aos atores e cavaleiros do filme “O
Cangaceiro” que recebeu a Palma de Ouro em Cannes no ano de 1953 como melhor filme de
aventura.
No início dos anos 60 aperfeiçoaram-se os laços com a população, despertando no
público a imagem romântica do policial em suas missões quotidianas de trabalho. A primeira
delas foi sem dúvida a de Carlos Miranda (O Vigilante Rodoviário) que, sendo levado ao ar
toda semana, junto a seu fiel amigo “lobo” adentrava aos lares brasileiros, trazendo um pouco
da Instituição para as casas, mostrada por seu aspecto positivo.
Curiosidades a respeito da produção não faltam: como o orçamento era apertado foram
convidados a fazer parte do filme atores em início de carreira como: Fulvio Stefanini,
Rosamaria Murtinho, Ari Fontoura, Stenio Garcia, Juca Chaves, Ari Toledo, Toni Campelo,
Milton Gonçalves, Luis Guilherme, e outros. Hoje são nomes conhecidos nacionalmente.
Após o término da série em 1962, Carlos foi convidado pelo então Comandante-Geral
da Força Pública General de Exército João Franco Pontes para ingressar na carreira de policial,
para interpretar o personagem do Vigilante, pois ele tinha feito a escola de Policiais Rodoviários
em Jundiaí. Depois de 25 anos na Polícia e tendo feito todos os cursos na Instituição, em 1998
passou para a reserva como Tenente-Coronel PM. Em 2017 foi inaugurado o acervo do
Comando de Policiamento Rodoviário que eterniza o nome do “Vigilante Rodoviário” e parte
de toda a sua história73.

A CANÇÃO DA PMESP
A música está presente na Polícia Militar desde os primórdios da Instituição. Já em 07
de abril de 1857 foi organizado o conjunto musical do então denominado Corpo Policial
Permanente, que se destinava a auxiliar a instrução e proporcionar lazer aos membros da
Milícia, como vimos nas aulas 5 e 6.
A Instituição não possuía um hino, limitando- se seus integrantes a cantarem canções
patrióticas, militares (aproveitadas do Exército Imperial) e populares, muitas vezes
acompanhados apenas por violão, como ocorreu, por exemplo, durante a "Retirada da Laguna",
segundo registrou Alfredo Taunay em sua obra homônima à campanha.

73
Página do CPRv na intranet.policiamilitar.sp.gov.br

52
O primeiro ensaio de uma canção que identificasse a Força Pública revelou-se durante
os momentos que antecederam o movimento constitucionalista de 32. Poucas horas após os
graves episódios acontecidos na Praça da República, em 23 e 24 de maio, e que resultaram na
morte de Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo, o radialista César Ladeira adentrou às
dependências da rádio Record e pediu ao operador que colocasse uma marcha militar como
fundo para difundir a notícia aos ouvintes. Quase acidentalmente, o operador tomou o primeiro
disco disponível sobre o tema e veiculou a marcha "Paris Belfort", composta pelo Francês
Farrigoud, executada na guerra Franco Prussiana.
Porém, a fase de hinos propositalmente criados para a instituição iniciou-se em 1950
quando o Ten. Elêusis Dias Peixoto, criou a “Canção do Batalhão de Guardas”. Outra canção
que teve destaque marcante foi o “Hino da Escola de Oficiais” que foi oficializado a partir de
abril de 1957.
Em 1964, o então Comandante-Geral da Força Pública, General João Franco Pontes,
obteve do poeta Guilherme de Almeida a letra, que o Major Maestro PM Alcides Giacomo
Degobbi, musicou. Surgia assim a "Canção da Força Pública do Estado de São Paulo”. A estreia
da composição deu-se no pátio interno da Academia de Polícia Militar do Barro Branco em 15
de dezembro de 1964. Passemos a examiná-la mais detalhadamente:

FEIJÓ CONCLAMA - O padre Diogo Antônio Feijó, ministro da Justiça da Regência


Trina, face à insegurança do país, assolado por graves perturbações, extinguiu, a 10 de
outubro de 1831, todos os corpos até então encarregados da segurança pública, determinando
que cada Província organizasse um único corpo policial, composto exclusivamente por
voluntários, em serviço permanente, e que se encarregasse de "... manter a tranquilidade
pública e auxiliar a Justiça". Surgia desse modo, a célula máter das polícias militares
brasileiras.

TOBIAS MANDA - Como Presidente do Conselho da Província de São Paulo (cargo hoje
correspondente a Governador do Estado), o Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar deu
provimento à determinação de Feijó, criando, em 15 de dezembro de 1831, o Corpo de
Guardas Municipais.

OS CENTO E TRINTA DE TRINTA E UM - O poeta faz alusão ao efetivo inicial da


Milícia (130 homens, sendo 100 infantes e 30 cavalarianos) e ao ano de sua criação (1831).

POR MERCÊ DE DEUS - Pela graça, pela vontade divina. Linguagem presente na maior
parte das leis do Império e Regência, que evoca as raízes cristãs da Milícia, e incorpora à
sua missão os valores dessa ética: absoluto respeito à vida, à integridade física e à

53
dignidade humana, caridade, fé, esperança, coragem para denunciar, enfrentar e resistir ao
mal, sede de justiça e de verdade, amor à paz.

SEUS PASSOS DEIXAM FUNDO NA TERRA, RASTRO E RAÍZES – A Instituição,


em sua trajetória de 187 anos, tem deixado rastros gloriosos, ao defender a ordem pública
não só em território paulista, mas em todos os quadrantes do território nacional e mesmo no
exterior, quando seus membros integram as forças de paz da ONU. Mas, não apenas rastros
têm deixado, também raízes, quando sua ação modifica, positiva e definitivamente, a
situação social das áreas onde atua.

MULTIPLICANDO POR MIL E UM, OS CENTO E TRINTA – O poeta lança o


vaticínio de que a Instituição que, em 1831, nasceu modesta (130 homens), por seus serviços
se transformaria numa grande Instituição, patrimônio do povo paulista, o que hoje é
realidade.

MISSÃO CUMPRIDA EM CAMPOS DAS PALMAS – Missão cumprida na libertação


do caminho, para o Sul do atual Estado do Paraná (então parte da Província de São Paulo) e
na colonização e desbravamento da área. O Capitão Hermógenes Carneiro Lobo Ferreira,
após libertar as vias de acesso que ligavam São Paulo às regiões produtoras do Rio Grande
do Sul, realiza o primeiro levantamento cartográfico da região do rio Iguaçu e seus
afluentes. Esses mapas, mais tarde habilmente empregados pelo Barão do Rio Branco,
foram essenciais para provar a posse brasileira de vasta área na região do Iguaçu,
assegurando ao Brasil seus limites de fronteira, em dissídio sustentado com a Argentina. Em
seu relatório de prestação de contas ao Governo da Província de São Paulo, Lobo Ferreira
afirmou haver cumprido a missão que lhe havia sido atribuída, o que inspirou Guilherme de
Almeida a utilizar tal frase.

LAGUNA, HEROÍSMO NA "RETIRADA" – A Guerra do Paraguai entrava já em seu


terceiro ano quando, a 20 de abril de 1867, a coluna de marcha do Exército Imperial, à qual
se encontravam incorporados os efetivos do Corpo Policial Permanente, invadiu o território
paraguaio. Penetrando na região pantanosa de Laguna, guarnecida por numerosa e
adestrada força de cavalaria paraguaia, avançou a coluna sob as vistas do inimigo que se
retirava estrategicamente, arrasando tudo, visando atrair as forças brasileiras para dentro do
território paraguaio. A 01 de maio deu-se o primeiro embate, quando, a despeito de haver
vencido o combate, não pôde a coluna brasileira resistir à superioridade das forças
paraguaias, sendo obrigada a retirar-se, de regresso ao território pátrio, em 08 de maio de
1867, sob comando do Coronel Carlos de Moraes Camisão. Por 35 dias e noites, sem

54
alimentos ou roupas adequadas, enfrentando condições climáticas inclementes, varando
pântanos insalubres, vitimada por doenças tropicais (tifo, cólera etc.) retirou-se a coluna
brasileira. Finalmente, os remanescentes conseguiram retornar ao solo brasileiro. O Tenente
de Engenharia do Exército Imperial Alfredo D’Escragnolle Taunay, partícipe desse episódio,
sobre ele escreveu o épico: "A Retirada da Laguna".

GLÓRIA EM CANUDOS - O grave problema social que serviu de fermento para a


explosão da luta em Canudos já havia degenerado em luta aberta entre forças fiéis ao
Governo da República e forças irregulares sob a liderança carismática do Antônio
Conselheiro. Organizou o Governo da República, então, uma expedição militar de grande
porte, confiando seu Comando ao General Arthur Oscar e sob a supervisão do próprio
Ministro da Guerra, Marechal Carlos Machado Bittencourt. Efetivos das polícias militares
da Bahia, Pará e Amazonas foram incorporados à expedição, bem como o efetivo do 1°
Batalhão da Força Pública de São Paulo, hoje 1° Batalhão de Polícia de Choque – Batalhão
"Tobias de Aguiar". A essa Unidade foi confiada a missão de escoltar os comboios de
víveres destinados ao suprimento das forças em operações na região de Canudos. Missão
complexa, pois essas colunas de suprimento eram exatamente as mais visadas nos assaltos e
emboscadas realizados pelos homens do Conselheiro. Levando a bom termo essa missão,
credenciou-se a Unidade paulista a ser escolhida pelo Comando das operações a constituir
uma das linhas de vanguarda no ataque à cidadela de Canudos. As operações de escolta e o
combate, casa a casa, visando ocupar Canudos resultaram na morte de 12 milicianos.
Dezenas de componentes do 1° Batalhão foram feridos, inclusive seu Subcomandante. No
retorno a São Paulo, a Unidade foi recebida em triunfo pelas autoridades e pelo povo, que,
inclusive, doou, mediante subscrição popular, um padrão de pedra ao 1° Batalhão, hoje
erigido em seu pátio interno, em memória dessa campanha e dos mortos da Unidade.

E DE ARMAS E ALMAS, AO NOSSO JULHO DA CLARINADA - Essa frase evoca o


movimento constitucionalista irrompido a 09 de julho de 1932, quando São Paulo fez soar a
clarinada, convocando os paulistas, de nascimento ou de coração, para pegar em armas para
restaurar a Lei Magna, a liberdade e a democracia em solo brasileiro, afrontado pela
imposição de uma ditadura, que se perpetuava no poder, à margem da lei, desde 1930. O
alistamento massivo de voluntários, moços e idosos, crianças e adolescentes, o engajamento
das mulheres, das comunidades étnicas, dos imigrantes, do clero, dos alunos e docentes das
faculdades, dos profissionais liberais, dos artistas, operários, comerciantes e empresariado,
construiu o maior movimento cívico-militar e o mais importante movimento de opinião
pública da história brasileira.

55
SOB AS ARCADAS, VÊM, UM A UM – Como Guilherme de Almeida não deixou
explícita a fonte de sua inspiração, três hipóteses podem ser formuladas: A primeira – As
arcadas são símbolos universais e milenares de triunfo militar. Os arcos do triunfo,
evocando, por exemplo, as campanhas vitoriosas de Trajano (Roma) e de Napoleão
Bonaparte (Paris) são cartões-postais conhecidos em todo o mundo. Os nazistas desfilaram
sob o Arco do Triunfo em 1940. Os franceses, no dia da Libertação, em 1944, vingaram-se
da humilhação anterior, desfilando sob as mesmas arcadas. Várias vezes, também no Brasil,
forças vitoriosas desfilaram, no retorno de suas campanhas, sob Arcos do Triunfo, como
ocorreu, por exemplo, ao retornarem de Canudos e da Campanha da Itália (FEB). Assim o
poeta, após traçar um retrato das várias intervenções bem-sucedidas da Polícia Militar na
história paulista e brasileira, afirmaria que os integrantes da Instituição retornam em triunfo
à sua sede, com o sentimento do dever cumprido e o respeito e a gratidão da comunidade. A
segunda – As Arcadas evocariam a forma arquitetônica presente no convento de São
Francisco, onde se instalou a Faculdade de Direito de São Paulo. Nesse edifício, o maior
celeiro de líderes políticos da história brasileira e paulista e sensório jurídico do país, foi
instalado o posto central de alistamento de voluntários civis durante o movimento
constitucionalista de 1932. Após alistados, os voluntários eram conduzidos a campos de
treinamento, onde eram entregues aos cuidados de monitores e instrutores da Força Pública
que os adestravam brevemente, antes de seguirem para o front. Esse momento histórico
representou um dos pontos culminantes da integração entre a Polícia Militar e a
comunidade paulista, à qual serve. A terceira – Recordaria as arcadas do Convento do
Carmo, cuja ala térrea sediou o primeiro aquartelamento ocupado, a partir de 1832, pela
Polícia Militar.
Dessa forma, a "Canção da Polícia Militar", fruto da genialidade poética de
Guilherme de Almeida, valorizada pela competência e vibração de Degobbi, é um digno
resumo, a espelhar os dramas, os desafios e as vitórias dessa Força que serve a comunidade e
protege as pessoas contra atos ilegais, nas cidades, nas ruas e estradas, nos céus, nas águas e
florestas de São Paulo74.

74
A análise da letra da Canção da PM é creditada integralmente ao Cel. PM Luiz Eduardo Pesce de Arruda (hoje
veterano). Músico, sociólogo e historiador, Cel. Arruda ocupou várias funções na Instituição, destacando-se dentre
elas: Comandante do 2º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (2 de Ouro); Comandante do Centro de Altos
Estudos e Segurança (CAES); Comandante da Escola Superior de Soldados – Cel. Eduardo Assumpção (ESSd),
Diretor de Ensino e Cultura da Polícia Militar do Estado de São Paulo (DEC) e Comandante do Policiamento da
Capital (CPC). Fonte: Página do CMus na intranet.policiamilitar.sp.gov.br

56
CAMPANHA 18 - REVOLUÇÃO DE 1964 E SUAS CONSEQUENCIAS PARA A
FORÇA PUBLICA
A partir de 31 de março de 1964, a administração pública é toda mobilizada a serviço
da revolução, nisto incluídos os efetivos da Força Pública e Guarda Civil. Semelhante a
tempos anteriores não tão distantes, instaurou-se um modelo d e g e s t ã o que centralizava
o poder e esvaziava a autonomia dos estados promovendo clara intervenção federal na
área da segurança pública, explicitada pela legislação editada no período inicial do regime
com assuntos que trataram da reorganização, do ensino e da ampliação do controle sobre as
polícias militares com a criação da IGPM (Inspetoria Geral das Polícias Militares), além da
nomeação de vários Comandantes Gerais oriundos do Exército Brasileiro75.
Em 1967, durante manobra conjunta realizada entre a Força e o Exército, no vale do
Ribeira, foi o Tenente Celso Feliciano de Oliveira responsável pelas atividades cívico-sociais
e de relações com a comunidade. Findo o exercício, propôs em relatório a criação de uma 5ª
Seção do Estado-Maior (Seção de Assuntos Civis), o que viria a se concretizar em dezembro
de 1969, durante a segunda manobra conjunta realizada entre a Força e o Exército. A
criação dessa 5ª Seção do Estado-Maior, além de otimizar as relações da Instituição com seus
públicos, interno e externo, ofereceu os primeiros fundamentos para a formulação de uma
doutrina de defesa civil, sobre a qual falaremos mais adiante.
No ambiente revolucionário que marcou a vida nacional naquela década, coube à Força
Pública e à Guarda Civil, a par de prosseguirem defendendo, socorrendo e auxiliando a
população pelo exercício do policiamento fardado, enfrentar o peso do impacto de um
fenômeno até então desconhecido no Brasil76.
Em 1967, a nova constituição reforçou o controle sobre as Forças Públicas estaduais. É

75.
Para compreender melhor o papel da Inspetoria Geral das Polícias Militares, consultar Aulas 1 e 2 da disciplina de
Legislação Policial Militar.
76.
A partir da edição do Ato Institucional n. 2 de 27 out. 1965 e a vigência do Bipartidarismo (ARENA e MDB),
vários membros dos extintos partidos de esquerda optaram pela luta armada, fazendo surgir no Brasil movimentos
guerrilheiros no âmbito urbano e rural. Sua total extinção se daria no ano de 1974 com a derrota da guerrilha do
Araguaia na região situada hoje no estado de Tocantins.

57
também promulgado o Decreto-Lei 317 de 13 de março daquele ano (revogado
posteriormente pelo Decreto-Lei 667/69) reorganizando essas corporações e reforçando o
vínculo junto ao Exército brasileiro, além de outras medidas tomadas conforme citadas
acima.

A UNIFICAÇÃO DE 1970
Foi nesse cenário que em 08 de abril de 1970 o governo estadual decidiu unificar a
Força Pública e a Guarda Civil do Estado de São Paulo, transformando as duas corporações
em Polícia Militar do Estado de São Paulo, assumindo dessa forma o controle e todo o
sistema de policiamento ostensivo e preservação da ordem pública, incluindo o Corpo de
Bombeiros e suas atribuições definidas em lei77. Ainda em 1970 é criado o CSP (Curso
Superior de Polícia) atual Doutorado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública,
oferecido pelo CAES (Centro de Altos Estudos de Segurança).
Desde que foi criada a Polícia Militar, o Batalhão sempre foi a unidade básica, em
relação ao emprego e à administração do pessoal. Para a constituição de um Batalhão é
necessário no mínimo duas companhias operacionais e uma companhia de comando de
serviço. De acordo com essa matriz definida a partir de então, as companhias de
policiamento se revezariam no serviço operacional, sempre se adequando a real
necessidade, atendendo todo o serviço rotineiro bem como todas as eventualidades. A
companhia de comando e serviço abrangeria toda a administração da Organização Policial
Militar que passou a ser estruturada em:
 Secretaria;
 Tesouraria;
 Serviços Médicos e Odontológicos;
 Almoxarifado;
 Serviço de Moto mecanização;
 Controle de serviços relativos ao funcionamento do Batalhão.

Como dito anteriormente, as forças de segurança pública conviveriam a partir do


final da década de 60 e até a metade da década de 70 com um problema até então
desconhecido em nosso país. A guerrilha. Grupos dissidentes de partidos políticos de
esquerda, constituíram-se em focos de resistência ao regime militar, gerando ataques às essas
forças gerando muitas baixas em seus efetivos. Em 1970, como resposta à Guerrilha urbana,
foram criadas as “Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar” com sede no 1º Batalhão de
Choque (Quartel da Luz). Tropa de elite de nossa Instituição tinha a missão de combater

77.
SÃO PAULO (Estado). Decreto Lei n. 217 de 8 abr. 1970. Dispõe a constituição da Polícia Militar do Estado de
São Paulo, integrada por elementos da Força Pública do Estado e da Guarda Civil de São Paulo. São Paulo:
ALESP, 1970.

58
essa recente prática no estado todo.
Instaura-se a partir do final da década de 1960 o COPOM (Centro de Operações da
Polícia Militar), atribuindo à Instituição o gerenciamento das comunicações de emergência,
gerando uma melhoria no atendimento, uma vez que as viaturas passaram dessa forma a ter
conhecimento dos despachos de ocorrências em tempo real.

A GUERRILHA FAZ NOSSA MAIOR VÍTIMA

Capitão Alberto Mendes Jr.


Fonte: Polícia Militar do Estado de São Paulo. CComSoc.

O 14º BPM/I em Registro, possui o seu nome. Procura-se perpetuar a memória de


Alberto Mendes Júnior, o tenente de 23 anos, aspirante de 1969 (turma do ex-governador
Fleury), nascido em 24/01/47, que saiu em missão no dia 08 de maio de 1970 do quartel do
1º BPChq e voltou somente 128 dias depois, dentro de um caixão. Foi executado por
guerrilheiros, no Vale do Ribeira, no desvario de mudar o regime pela força das armas. O
nome Mendes Júnior é muito conhecido, mas sua história nem tanto.
Em um ambicioso projeto, Carlos Lamarca (Ex-capitão do Exército – desertor do 4º
Regimento de Infantaria de Quitaúna) instalou-se nas proximidades de Sete Barras e
construiu um campo de treinamento de guerrilhas. Base tipicamente militar, montou
choupanas em lugares estratégicos e vigias nos principais pontos de acesso.
Capturado pelos guerrilheiros, entregou-se em troca da vida de seus comandados após uma
intensa troca de tiros entre os guerrilheiros e seu pelotão. Uma vez libertos, seus companheiros
conseguiram retornar a salvo para a base incólumes, enquanto o tenente Mendes Júnior seria morto a
golpes de coronhadas na cabeça, sem tiros, para não fazer barulho ou chamar a atenção de
alguém. Era domingo, 10 de maio, Dia das Mães. Essa forma de eliminar Mendes Júnior foi
tão cruel que a VPR, em seu primeiro documento a respeito, preferiu mentir, dizendo que
ele fora fuzilado e seu corpo jogado no rio. Os ossos de Mendes Júnior, 128 dias depois,
foram retirados da mata, perto de Sete Barras, local íngreme próximo a uma pedra enorme,
onde se reuniu o “tribunal” da VPR. O sepultamento foi realizado no Cemitério do Araçá,

59
onde fica o mausoléu da Polícia Militar78.

A REESTRUTURAÇÃO PÓS 1970


Em 1971, em resposta ao episódio que vitimou o Cap. Alberto Mendes Júnior, é criado o
COE (Comando de Operações Especiais) tendo por missão o combate à guerrilha rural, o
resgate de pessoas perdidas em zonas de difícil acesso, resgate de corpos em locais ermos etc.

OS GRANDES INCÊNDIOS - BOMBEIROS


Ao final da década de 1960, havia ocorrido o escorregamento das encostas da Serra
do Mar em Caraguatatuba, engolindo trechos da Rodovia dos Tamoios, que liga a região a
capital, despejando muita lama e cerca de 30 mil árvores sobre a planície onde fica a
cidade; vitimando fatalmente 436 pessoas, fatos estes decorrentes das fortes chuvas que
assolaram aquela região.
Na década de 1970, alguns episódios vieram a questionar o sistema de defesa civil e
combate a incêndios em nosso estado. Em 1972, edifício Andraus com seus 31 andares em
concreto armado e acabamento em pele de vidro eram ocupados por escritórios, sendo que no
subsolo, térreo e nos primeiros andares funcionava a rede de varejo Lojas Pirani. Foi justamente
uma sobrecarga no sistema elétrico nos primeiros pavimentos a causa do incêndio que provocou
16 mortes e 375 feridos. Iniciado por volta das 16h do dia 24 de fevereiro, em pouco tempo o
fogo já alcançava o 6º andar, além do térreo, atingindo também prédios vizinhos.
Em 1974, outro grande incêndio marcaria a cidade de São Paulo e uma vez que lhe
faltavam recursos; coragem, amor pela vida humana e senso de dever foram os principais
instrumentos do Corpo de Bombeiros na ocorrência do edifício Joelma. Ao todo, 318 bombeiros
e 26 viaturas atenderam ao incêndio que atingiu os 23 andares do prédio em concreto armado no
dia 1º de fevereiro de 1974. Por volta das 8h30, um curto-circuito no ar-condicionado do 12º
andar deu início ao fogo; deixando um saldo de 179 mortos e 320 feridos.
Devido às essas catástrofes– são importados autobombas, autoescadas, auto
plataformas, veículos de comando e de apoio e todas as viaturas passam a contar com rádio,
além do aperfeiçoamento das exigências legais quanto aos aspectos de prevenção de incêndios.
Como consequência desses eventos trágicos, cria-se em 1975 pelo governador Laudo
Natel, uma comissão para os estudos e propostas de ações proativas em eventos dessa
natureza. Redigido o texto final, a comissão aponta estudos que desembocariam nas minutas
do decreto de criação da Defesa Civil do Estado de São Paulo, finalmente editado sob o nº
de Decreto Estadual 7550 de 09 de fevereiro de 1976.

78.
Recomendamos a leitura do livro: Quartel da Luz, mansão da ROTA: Histórias do Batalhão Tobias de Aguiar de
autoria do Cel. PM Paulo Adriano Lopes Lucinda Telhada onde o autor apresenta uma extensa e detalhada narrativa
(baseada na história oral e em fontes diretas) do episódio que vitimou o maior exemplo de altruísmo e entrega que a
Instituição já presenciou até o tempo presente.

60
Em 1990, visando melhorar a qualidade do atendimento pré-hospitalar das ocorrências
de salvamento, é implantado o sistema de Resgate na Grande São Paulo e em mais municípios,
contando com pessoal, veículos especializados e apoio de helicópteros.

RESGATE DAS VÍTIMAS: ACIDENTES DAS AERONAVES TAM (VOO 402) -


1996 e TAM (VOO-3054) – 2007
Em 31 de outubro de 1996 a aeronave Fokker 100 da TAM Linhas Aéreas (Atual
LATAM), sofreu um acidente fatal ao decolar do aeroporto de Congonhas na cidade de São
Paulo, vitimando 90 passageiros, 6 tripulantes e 3 cidadãos em solo. Acionado assim que tomou
ciência, o COBOM (Centro de Operações do Corpo de Bombeiros), acionou todas as equipes
disponíveis na cidade de São Paulo com a finalidade de prestar o pronto atendimento a possíveis
vítimas ainda com vida, além do resgate dos corpos, ainda em estado de carbonização devido às
chamas que, violentamente se espalharam por toda a zona de ocorrência.
Embora as equipes tenham acorrido com a máxima celeridade ao local do sinistro, não
houve sobreviventes, restando às equipes o combate às chamas, a preservação do local de
sinistro, o resgate dos corpos e o amparo aos familiares que, se dirigindo ao local, não
acreditavam no que viam. O Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, tratou do episódio
como estudo de caso, ampliando a partir de então sua atuação em socorros envolvendo acidentes
aeronáuticos.
Em 17 de julho de 2007, outra aeronave (desta vez um Airbus A-320-233), ao aterrissar
no aeroporto de Congonhas na cidade de São Paulo, oriundo de Porto Alegre, não conseguiu
frear, percorreu toda a pista do referido aeroporto, cruzou sobre a Avenida Washington Luís e
colidiu com um posto de gasolina e um prédio da TAM EXPRESS do outro lado da referida
avenida. O saldo trágico deste acidente, superou os números do acidente anterior (1996),
restando 181 passageiros, 6 tripulantes e 12 cidadãos em solo (199 mortos no total), além de 13
feridos também em solo. Para o maior desastre da história da aviação em nosso país, o Corpo de
Bombeiros mobilizou 150 homens e 50 viaturas de todos os quartéis da cidade, bem como o
GRPAe participou com o envio de 2 aeronaves para o resgate e transporte de corpos que,
carbonizados, foram paulatinamente retirados do local após o trabalho de contenção das chamas
e rescaldo. A energia elétrica na região foi cortada. A área do aeroporto de Congonhas foi
isolada pela Polícia Militar e o aeroporto foi fechado79 .
Desdobrando-se sem descanso por quase 5 dias ininterruptamente e empenhando-se ao
máximo para o combate às chamas, o resgate aos corpos e o amparo aos familiares, a sociedade
paulista mais uma vez pôde contar com nossa Instituição que, mesmo diante dessa catástrofe
não esmoreceu, preservando a segurança pública e garantindo a dignidade e o respeito dos

79
. FREITAS, Evelson. Tragédia anunciada. Horror em Congonhas. O Estado de São Paulo. Cidades – Metrópole –
São Paulo, quarta-feira, 18 jul. 2007. p. C3.

61
corpos daqueles que perderam suas vidas nessa tragédia80.
Em 21 de dezembro de 2015, o Museu da Língua Portuguesa, no Centro de São
Paulo, foi tomado pelas chamas. O fogo começou pouco depois das 16h em uma sala do
primeiro andar, o início do incêndio foi registrado por uma câmera de segurança, dando
conta de que o fogo teve início possivelmente pelo superaquecimento de uma das
luminárias, trocadas em função da exposição temporária ali montada. Em cinco minutos a
primeira viatura chegou ao local, enviada do quartel dos Campos Elísios, a menos de dois
quilômetros do museu, mas o fogo já havia se alastrado. Além da alta combustão dos
materiais da própria exposição temporária – papel, tecido e madeira -, os ambientes
contíguos, contribuíram para a rápida propagação das chamas. Depois de seis horas do
início da ocorrência o fogo havia sido extinto. O trabalho de rescaldo seguiu até o dia
seguinte. No total, 165 bombeiros e 26 viaturas atuaram na ocorrência. O prédio, que faz
parte da Estação da Luz, cuja primeira edificação data de 1867. A consequência mais grave
foi a morte de um bombeiro civil enquanto tentava combater as chamas e evacuar o
edifício81.
Ainda em Santos, no Litoral Sul do Estado, o Corpo de Bombeiros de São Paulo
teve de encarar o incêndio mais longo de sua história, no bairro do Alemoa. No dia 2 de
abril de 2015, pouco antes das 10 horas, teve início o maior incêndio em um terminal de
combustíveis no Brasil e o segundo maior na história mundial, apenas atrás de uma
ocorrência de 2005 no sul da Inglaterra, como registrou a primeira edição da Revista
Fundabom. O fogo surgiu na central de transferência de combustíveis, junto a tubulação
entre tanques de gasolina e etanol. A primeira explosão gerou labaredas e uma coluna de
fumaça negra que podiam ser vistas a quilômetros de distância. O fogaréu estava ladeado
pela Rodovia Anchieta e por um dos terminais do Porto de Santos, assim como
perigosamente próximo de uma sequência de estações de armazenamento de produtos
químicos. Atravessando a Anchieta, a 600 metros do foco do incêndio, o bairro do saboó e
seus 11 mil habitantes. Estava desenhado um quadro de guerra. Para o exército do fogo,
armado até os dentes, não faltava munição. Com 20 metros de altura cada tanque tinha
capacidade para armazenar seis milhões de litros. A poucos metros, outra série de
reservatórios, ainda maiores, poderia facilmente se unir aos primeiros. Mas o grande perigo
vinha de um conjunto de 17 tanques de químicos, igualmente próximo. Alguns estavam
repletos de acrilato de butila, composto em contato com o fogo se solidifica, aumentando o
risco de explosão e da geração de uma temida nuvem tóxica. A pequena distância, uma
tancagem de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) e mais um terminal, com igual potencial de

80.
O Corpo de Bombeiros, site do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo,
http//www.corpodebombeiros.sp.gov.br/, acesso em 13-07-2018.
81
. Bombeiros do Estado de São Paulo, http//www.corpodebombeiros.sp.gov.br/. Acesso em 13 jul. 2018.

62
risco. O fogo resistiria dias e dias. Por vezes pareceu vencido, voltando à carga em seguida,
exaurindo seus opositores. Porém, na sexta-feira, dia 10 de abril, 216 horas depois do
levante inicial, ele foi exterminado. Isso sem provocar uma única baixa em seus oponentes,
a maior das vitórias dado seu grau de periculosidade.
A batalha na Alemoa foi comandada pelo Corpo de Bombeiros, que mobilizou 966
homes em todo o período. Contudo, foi a integração de 54 organizações públicas e privadas
que possibilitou o fim do incêndio82.
Ao todo, 1.339 pessoas estiveram envolvidas na ocorrência de Alemoa.

COLÉGIO E HOSPITAL DA PMESP


A construção do Colégio da Polícia Militar começou em 1977. O Coronel Eugênio
A. Sarmento, Major Barbosa, Coronel Bruno Éboli Belo, Coronel Hermes Bittencourt Cruz
e o Professor Joel de Souza, estão entre as pessoas que ajudaram a torná-lo realidade. A
ideia de criar uma instituição de ensino nasceu para atender prioritariamente aos órfãos e
dependentes de policiais militares, porém em virtude do número de vagas oferecidas,
passou a atender os demais integrantes da sociedade. O Colégio da Polícia Militar foi
fundado no dia 20 de fevereiro de 1978.
Foi também no ano de 1978 que a PM consegue dar início à construção de seu novo
hospital, mudando, portanto, seu endereço da Rua Jorge Miranda na luz, para a invernada
do Barro Branco (Zona Norte) da capital paulista.

ANOS 1980 E OS DESAFIOS DA DEMOCRACIA


A transição entre o Regime Militar e a Democracia dos anos 80 é marcada
incialmente pelos movimentos grevistas no ABC. Empossado, o Governador André Franco
Montoro conduziu de forma magistral tal mudança. Oficiais oriundos da própria Instituição
readquirem o direito de comandá-la. Começam a despontar as primeiras exigências
populares quanto à uma polícia mais próxima da população e mais profissionalizada.
Surgem os novos uniformes (novo padrão visual). Aprimoram-se os currículos escolares,
investindo-se na seleção, alistamento, formação e aperfeiçoamento do policial. Reativa-se a
aviação através da instalação no velho Campo de Marte do CAV, oferecendo treinamento à
primeira geração de pilotos na Base Aeronaval de São Pedro de Aldeia – RJ da Marinha do
Brasil.

63
MUDANÇA DE DESIGNAÇÃO PARA ESCOLA SUPERIOR DE SOLDADOS
“CEL PM EDUARDO ASSUMPÇÃO”
FORMAÇÃO NOS ANOS 1980
PRIMEIRO COMANDANTE
O PATRONO E SUA CONSTRIBUIÇÃO PARA A ÁREA DE ENSINO NA PMESP
A Escola Superior de Soldados “Cel. PM Eduardo Asssumpção” teve suas
instalações inauguradas em 06 de abril de 1984, pelo Exmo. Sr. Dr. Michel Temer,
secretário dos Negócios de Segurança Pública e pelo Exmo. Sr. Comandante Geral da
Polícia Militar do Estado de São Paulo, Cel. PM Nilton Vianna. A partir de 12 de junho de
1984, a 3ª Cia do 2º BPChq, comandada pelo Cap. PM Oldecir Fernandes de Oliveira e
Silva ocupou as dependências desta Unidade e prosseguiu na formação dos primeiros 120
Alunos Soldados PM, que concluíram o Curso em 24 de agosto do mesmo ano. Em 02 de
outubro de 1984, foi publicada a Nota de Instrução Nº 3ª EM/ PM 003/ 33/ 84
regulamentando a criação, em caráter experimental, da Escola de Formação de Soldados da
Polícia Militar, sendo designado para comandá-la o Major PM Sérgio Francisco Penna. Em
19 de dezembro de 1984, formou-se a primeira Turma da Nova Organização Policial Militar,
com dois pelotões de 60 (sessenta) homens cada. Em dezembro de 1985, de acordo com o
Decreto Nº 24.572 a Escola passou a denominar-se Centro de Formação de Soldados
(CFSd), sob o Comando do Ten Cel. PM José Milton da Costa. Em 08 de novembro de
1990, a Diretoria de Ensino delegou para o CFSd a responsabilidade pela fiscalização
técnica dos Cursos de Formação de Soldado PM (CFSdPM) que funcionam em outras OPM
de todo o Estado. Através do decreto Nº 37.548 de 29 de setembro de 1993, a Polícia Militar
homenageou a figura do Ex-Comandante Geral, Cel. PM Assumpção, que tanto fez por este
Centro, atribuindo a denominação de Centro de Formação de Soldados “Coronel PM Eduardo
Assumpção” (CFSd – Cel. PM Assumpção), e que mais tarde por força do Decreto Lei
Estadual nº 54.911 de 14 de outubro de 2009 passou a se chamar “Escola Superior de
Soldados “Coronel PM Eduardo Assumpção” (ESSd).

A CONSTITUIÇÃO DE 1988
A constituição de 1988 acomodaria definitivamente as Polícias Militares como
responsáveis pela polícia ostensiva e preservação da ordem pública, mantendo-as ainda
como “força auxiliar e reserva do Exército”, subordinando-as aos seus respectivos
governadores.

GATE COPOM RESGATE e INVESTIMENTOS TECNOLÓGICOS


Instala-se o COPOM totalmente informatizado, cria-se o projeto do Radio
patrulhamento padrão, cria-se o GATE e implanta-se o projeto RESGATE. Os currículos

64
escolares são aprimorados, o CAES ganha sede própria e é criado o CFSd (Centro de
Formação de Soldados). Em 1984 são criados o CSM/M Subs e o hotel de trânsito.

ANOS 1990: IMAGENS NEGATIVAS E NOVAS TENDÊNCIAS


INSTITUCIONAIS: EPISÓDIOS DO CARANDIRU E NAVAL
Em 02 de outubro de 1992, eclodia uma rebelião na antiga Casa de Detenção de
São Paulo (Carandiru) que acabou por resultar no saldo de 111 internos mortos. Tal fato
trouxe mudanças significativas nas técnicas de invasão, negociação, ocorrências
envolvendo reféns, tornando-se em estudo de caso para cursos de gerenciamento de crises
em nossa Instituição e coirmãs. Outro episódio que muito contribuiu negativamente para o
relacionamento com a mídia nos anos 90, sofrendo reflexos até os dias de hoje, foi o caso
da Favela Naval.
Em 31 de março de 1997, a TV brasileira exibiu uma reportagem de denúncia em
relação aos direitos humanos, que pelo seu impacto e repercussão entrariam para a história
do jornalismo brasileiro. A matéria começava mostrando um grupo de policiais militares
extorquindo dinheiro, humilhando, espancando pessoas além da suposta execução do
cidadão Mário José Josino em uma operação na Favela Naval, em Diadema, na Grande São
Paulo. As imagens, gravadas por um cinegrafista amador nos dias 3, 5 e 7 de março, foram
entregues ao repórter Marcelo Rezende e revelavam a extrema crueldade com que os
Policiais Militares trataram os cidadãos indefesos no que, oficialmente, seria uma operação
de combate ao tráfico de drogas. Diante desses fatos, o Comando sentiu que era hora de
redirecionar definitivamente o foco para o cidadão. E assim aconteceu como veremos
adiante.

O SÉCULO XXI E A DOUTRINA DE POLÍCIA COMUNITÁRIA: NOVOS RUMOS


Entre os anos de 1990 e a atualidade, vários foram os passos dados em direção à
modernização dos serviços e do atendimento aos clientes da Polícia Militar. Dentre eles,
citamos:
 A criação da Ouvidoria;
 Formalização de um cadastro odonto legal pela Corregedoria PM;
 Estágios de Policiais de outros países em nossa Instituição; Intercâmbio de
Policiais nossos em coirmãs e no estrangeiro;
 Mudança de uniforme para tons mais suaves e próximos à população e;
 Implantação da doutrina de Polícia Comunitária, reconquistando a confiança do
cidadão que vê nessa Força, o compromisso com a causa pública.

“Trojanowicz faz uma definição ampla do que é policiamento comunitário. É uma


filosofia e estratégia organizacional que proporciona uma nova parceria entre a população e

65
a polícia. Baseia-se na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem
trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver problemas contemporâneos tais como
crime, drogas, medo do crime, desordens físicas e morais e em geral a decadência do
bairro, como o objetivo de melhorar a qualidade geral da vida na área.” ( )
O policiamento comunitário, portanto, é uma filosofia de patrulhamento
personalizado de serviço completo, no qual o mesmo policial patrulha e trabalha na mesma
área numa base permanente a partir de um posto descentralizado, agindo numa parceria
preventiva com os cidadãos, para identificar e resolver problemas.
Independente das divergências em torno do conceito filosófico sobre a definição de
policiamento comunitário é importante destacar as diferenças básicas entre o policiamento
comunitário e policiamento tradicional.

CARACTERÍSTICAS BÁSICAS

POLICIAMENTO TRADICIONAL

QUADRO 1

POLICIAMENTO TRADICIONAL

 A polícia é uma agência governamental responsável principalmente pelo


cumprimento da lei;
 Na relação entre a polícia e as demais instituições de serviço público, as
prioridades são muitas vezes conflitantes;
 O papel da polícia é preocupar-se com a solução do crime;
 As prioridades são, por exemplo, roubo a banco, homicídios e todos aqueles
envolvendo violência;
 A polícia se ocupa com os incidentes;
 O que determina a eficiência da polícia é o tempo de resposta;
 O profissionalismo policial se caracteriza pelas respostas rápidas aos crimes sérios;
 A função do comando é prover os regulamentos e as determinações que devam ser
cumpridas pelos policiais;
 As informações mais importantes são aquelas relacionadas a certos crimes em
particular;
 O policial trabalha voltado unicamente para a marginalidade de sua área, que
representa, no máximo 2% (dois por cento) da população residente ali onde “todos

66
são inimigos ou marginais, até prova em contrário”.
 O policial é o de serviço;
 Emprego da força como técnica de resolução de problemas;
 Presta conta somente ao seu superior;
 As patrulhas são distribuídas conforme o pico de ocorrências.

Fonte: Comissão para Implantação do Policiamento Comunitário em SP – Secretaria de Estado dos


Negócios da Segurança Pública, material de circulação interna.

POLICIAMENTO COMUNITÁRIO

QUADRO 2

POLICIAMENTO COMUNITÁRIO

 O papel da polícia é dar um enfoque mais amplo visando à resolução de problemas,


principalmente por meio da prevenção;
 A eficácia da polícia é medida pela ausência de crime e de desordem;
 As prioridades são qualquer problema que esteja afligindo a comunidade;
 A polícia se ocupa mais com os problemas e as preocupações dos cidadãos;
 O que determina a eficácia da polícia são o apoio e a cooperação do público;
 O profissionalismo policial se caracteriza pelo estreito relacionamento com a
comunidade;
 A função do comando é incluir valores institucionais;
 As informações mais importantes são aquelas relacionadas com as atividades
delituosas de indivíduos ou grupos;
 O policial trabalha voltado para os 98% (noventa e oito por cento) da população de
sua área, que são pessoas de bem e trabalhadoras;
 O policial emprega energia e eficiência, dentro da lei, na solução dos problemas com
a marginalidade, que no máximo chega a 2% (dois por cento) dos moradores de sua
localidade de trabalho;
 Os 98% (noventa e oito por cento) da comunidade devem ser tratados como
cidadãos e clientes da organização policial;
 O policial presta contas de seu trabalho ao superior e à comunidade.
 As patrulhas são distribuídas conforme a necessidade de segurança da comunidade,
ou seja, 24 horas por dia;
 O policial é da área.

67
Fonte: Comissão para Implantação do Policiamento Comunitário em SP – Secretaria de Estado dos
Negócios da Segurança Pública, material de circulação interna.

O momento é de otimismo e a perspectiva é a de transformarmos com a sua ajuda


aluno, essa Instituição, sem perdermos de vista que “Nós, policiais militares, sob a proteção
de Deus, estamos compromissados com a defesa da vida, da integridade física e da
dignidade da pessoa humana”.

A ATUAÇÃO DA PMESP DURANTE A COPA FIFA 2014 E OS JOGOS


OLÍMPICOS RIO 2016
A operação COPA 2014, foi um dos marcos deste início de século. Distribuídos por
quarenta pontos específicos da capital paulista a partir do dia 20 de maio de 2014, o efetivo
responsabilizou-se pela segurança de hotéis, centros de treinamento, áreas de festas,
estacoes de trem e metrô, além de vias consideradas alvos potenciais durante o período de
desenvolvimento da copa do mundo.
O efetivo utilizado foi de 4.265 policiais militares, distribuídos em 3 Batalhões Copa, na
seguinte conformidade de planejamento estratégico:
 1º Batalhão Copa com 735 policiais militares teve por área, a Arena Corinthians;
 2º Batalhão Copa com 2.600 policiais teve por área a FIFA FAN FEST, eventos
promocionais da Federação Internacional de Futebol no Vale do Anhangabaú,
Public Views e shows relacionados ao evento, organizados e promovidos pela
Prefeitura Municipal de São Paulo;
 3º Batalhão Copa com 930 policiais militares, teve por área os prédios e entorno
dos hotéis da família FIFA, além dos prédios e entorno das estações de trem e
metrô da cidade.
Da mesma forma, os Jogos Olímpicos RIO 2016, contou com a cooperação de nossa
Instituição no quesito Segurança Pública. Para a cidade maravilhosa foi enviado em 28 de julho
de 2016 um efetivo de 250 Policiais Militares da Escola Superior de Sargentos (ESSgt),
transformando-se em 1.000 homens e mulheres que para lá rumaram a fim de oferecer o know-
how adquirido durante o planejamento e execução das operações de policiamento durante a
Copa do mundo FIFA-2014.
O rigoroso planejamento permitiu o cumprimento da missão no auxílio às forças de
segurança, sem que o policiamento ostensivo do estado de São Paulo fosse prejudicado e a
população paulista sofresse o menor dos danos.
Diante do conhecimento de nossa história, cabe a você aluno entender que hoje, nos
encontramos dentre os 130 de 31 com a responsabilidade de perpetuar essa memória, cumprindo
as funções de vigias da lei e paulistas; por mercê de Deus.

68
REFERÊNCIAS e FONTES
JORNAIS E PERIÓDICOS
Biblioteca Nacional Digital Brasil.
O Correio da manhã – edições 1932.
O Estado de São Paulo – edições 2007.
SÃO PAULO (Estado). Documentos interessantes para a história e costumes de São Paulo. In:
Relatório do ano de 1900, apresentado em 13 de janeiro de 1902 ao cidadão Dr. Bento Pereira
Bueno, Secretário de Estado dos Negócios do Interior e da Justiça, pelo Dr. Antônio de Toledo
Piza, diretor, Diário Oficial, IMESP, São Paulo, 1903.
Revista Fundabom – março, 2016.
Revista Militia – mai/jun 1950.
LEGISLAÇÃO
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Rio de Janeiro: Palácio do Catete,
1934.
BRASIL (Planalto). Decreto de 24 de março de 1994 – Institui o “Dia do Exército Brasileiro”,
Brasília: Câmara dos Deputados, 1994.
BRASIL (Planalto). Lei n. 5.700 de 1º set. 1971 incluindo as alterações das Leis n. 6.913/1981,
8.421/1992, 9.615/1998, 12.031/2009 e 13.413/2016. Dispõe sobre a forma e apresentação dos
Símbolos Nacionais e dá outras providências. Brasília: PLANALTO, 2016.
SÃO PAULO (Estado). Decreto Lei n. 217 de 8 abr. 1970. Dispõe a constituição da Polícia
Militar do Estado de São Paulo, integrada por elementos da Força Pública do Estado e da
Guarda Civil de São Paulo. São Paulo: ALESP, 1970.
SÃO PAULO (Estado). Decreto n. 17.069 de 21 mai. 1981. Modifica o Brasão de Armas da
Polícia Militar criado pelo Decreto nº 34.244, de 17 de dezembro de 1958 regulamenta o seu
uso. São Paulo: ALESP, 1981.
SÃO PAULO (Província). Lei n. 24 de 7 abr. 1857. São Paulo: ALESP, 1857.
SÃO PAULO (Província). Lei n. 6 de 10 mar. 1880. São Paulo: ALESP, 1880.
SÃO PAULO (Estado). Lei n. 17 de 14 nov. 1891. Fixa a Força Pública do Estado de São
Paulo para o anno de 1892. São Paulo: ALESP, 1891.
SÃO PAULO (Estado). Lei n. 97-A de 21 set. 1892. Fixa a força pública do Estado para o
anno de 1893. São Paulo: ALESP, 1892.
SÃO PAULO (Estado). Lei n. Lei n. 957 de 28 set. 1905. Fixa a Força Pública do Estado de
São Paulo para o anno de 1906. São Paulo: ALESP, 1905.
SÃO PAULO (Estado). Lei n. 958 de 28 set. 1905. Reorganiza a Força Pública do Estado de
São Paulo e dá outras providências. São Paulo: ALESP, 1905.
SÃO PAULO (Estado). Lei n. 979 de 23 dez. 1905. Reorganiza o serviço policial do Estado.
São Paulo: ALESP, 1905.
SÃO PAULO (Estado). Decreto n. 4405-A de 17 abr. 1928, Dá regulamento ás leis n. os 2.034,
de 30 de Dezembro de 1924; 2.172-B, de 28 de Dezembro de 1926; 2.210, de 28 de Novembro
de 1927 e 2226-A de 19 de Dezembro de 1927 e consolida as disposições vigentes relativas ao
serviço policial do Estado e ás attribuições das respectivas autoridades. São Paulo: ALESP,
1926.
SÃO PAULO (Estado). Decreto n. 20.910 de 05 nov. 1951, Aprova o Regulamento da Força

69
Pública para o serviço de policiamento, São Paulo: ALESP, 1951.
SÃO PAULO (Estado) Decreto-Lei n. 217 de 08 abr. 1970, Dispõe sobre a constituição da
Polícia Militar do Estado de São Paulo, integrada por elementos da Força Pública do Estado e
Guarda Civil de São Paulo.

BIBLIOGRAFIA
AFONSO, João José Rodrigues. Polícia: etimologia e evolução do conceito. Revista Brasileira
de Ciências Policiais. Nº1. p.213-260, jan./jun., Brasília, 2018.
ALMEIDA, Guilherme de; DEGOBBI, Alcides Giacomo. Cancão da Polícia Militar do Estado
de São Paulo. São Paulo: 1964.
ANDRADE, Euclides e CAMARA, 1º. Ten. Hely E. da. A Força Pública de São Paulo -
Bosquejo histórico- 1831 – 1931. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado. 1981.
ARRUDA, L. E. P. de; Polícia Militar: uma crônica. In: A Força Policial nº 13 jan.-mar.
1997. São Paulo. 1997.
ASSUMPÇÃO, Cel. Eduardo. Evolução técnico-cultural, determinação e desenvolvimento do
PM. 1994. Tese (Doutorado em Ciências policiais de Segurança e Ordem Pública) – Centro de
Altos Estudos da Polícia Militar do Estado de São Paulo. São Paulo.
BARRETO Filho, Mello e LIMA, Hermeto. História da polícia do Rio de Janeiro: aspectos da
cidade e da vida carioca: 1565-1831, Rio de Janeiro: Ed. A Noite, 1942.
BATTIBUGLI, Thaís. Democracia e segurança pública em São Paulo (1946-1964). 2006. Tese
(Doutorado em Ciência Política), Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas.
Universidade de São Paulo. São Paulo.
CARVALHO, Glauco Silva de. A Força Pública paulista na redemocratização de 1946:
dilemas de uma instituição entre a função policial e a destinação militar. 2011. Tese
(Doutorado em Ciência Política), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
Universidade de São Paulo, São Paulo.
COSTA, Y. A. Miguel Costa: um herói brasileiro. São Paulo: Imprensa Oficial, 2010.
CUNHA, Euclides da. Os Sertões. Ed. comemorativa. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de
Pesquisas Sociais, 2010.
DALLARI, Dalmo de Abreu. O pequeno exército paulista. São Paulo: Perspectiva, 1977.
DONATO, Hernani. Dicionário das Batalhas Brasileiras. São Paulo: Ed. Ibrasa, 2010.
DORATIOTO, Francisco. Maldita Guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
DOS REIS, Emanuel Martins. A Política fitossanitária de combate ao cancro cítrico na região
de Presidente Prudente. 2008. Tese (Doutorado em Geografia), Faculdade de Ciências e
Tecnologia, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Presidente Prudente.
FAUSTO. Boris. História do Brasil. São Paulo: EdUSP, 2012.
FERRAZ, Cel. Arrisom de Souza. As paradas da Força Pública nos prados da Mooca. Revista
do Arquivo Público Municipal, São Paulo, v. CLXII, p. 383-390, jan.-mar. 1959.
FIGUEIREDO, Euclydes. Contribuição para a História da Revolução de 1932. Rio de Janeiro:
Martins Fontes, 1981.
FINLEY, Moses; Democracia Antiga e Moderna. São Paulo: Graal, 2010.
GALLUZZI, Tânia e MANGIACAVALLI, Cesar. Éramos Vinte: A História do Corpo de
Bombeiros de São Paulo. São Paulo: Gramani Editora, 2018.
HOBSBAWN, Eric e RANGER, Terence. A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 2008.
MOREIRA, Rosemeri. Sobre mulheres e polícias: a construção do policiamento feminino em
São Paulo (1955-1964). 2011. Tese (Doutorado em História), Departamento de História,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

70
MORSE, Richard M. Formação histórica de São Paulo. São Paulo: Difusão europeia do livro,
1970, p. 333.
PINHEIRO, Paulo Sérgio de M. S. Estratégias da ilusão. A Revolução Mundial e o Brasil
(1922-1935), São Paulo: Cia. Das Letras, 1991.
PLATÃO. A República. Ou sobre a justiça. Diálogo político. Tradução de Ana Lia Amaral de
Almeida Prado, São Paulo: Martins Fontes, 2014.
REGINATO, Antônio Fernando. 1932. Rastros da Revolução Constitucionalista. São Paulo:
Joarte, 2014.
SAMPAIO, Cel. José Nogueira. A fundação da Força Pública de S. Paulo. São Paulo:
Difel. 1954.
SANTOS, José Roberto dos. História e música em São Paulo no início do século XX: A
trajetória da Banda da Força Pública. 2019. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Filosofia
Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo.
SARTORI. Luís Flávio. Segurança pública no Brasil: desafios e perspectivas. Rio de Janeiro:
FGV, 2007.
SCHWARCZ, Lilia M. e STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia, São Paulo:
Companhia das Letras, 2020.
SEVCENKO, Nicolau. A Revolta da Vacina: Mentes insanas em corpos rebeldes. São Paulo:
Editora Unesp Digital, 2018.
SILVA, Antonio. “Batalhão Policial”. Revista Militia, n.17, São Paulo: jul/Ago/1950.
SODRÉ, Nelson Werneck. História Militar do Brasil, São Paulo: Ed. Expressão popular, 2010.
SOUZA Júnior, Antônio. Do recôncavo aos Guararapes, Biblioteca do Exército, Rio de
Janeiro: 1984.
TELHADA, Cel. Paulo Adriano Lucinda Lopes. A polícia de São Paulo nos campos da Itália.
São Paulo: KMK, 2001.
TELHADA, Cel. Paulo Adriano Lucinda Lopes. Quartel da Luz – Mansão da ROTA. Histórias
do Batalhão Tobias de Aguiar. São Paulo: Just Editora, 2012.
TROJANOWICZ, R.: BUCQUEROUX, B. Policiamento Comunitário: Como Começar. 2ª ed.,
São Paulo: Editora Parma, 1999.
TORRES, José de Anchieta, Histórias e estórias da Força Pública do Estado de São Paulo, Ed.
do Autor, São Paulo, s/data.

71

Você também pode gostar