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História da PM
JANEIRO-2022
1º CICLO DE ENSINO
Sumário
1
. PLATÃO. A República. Ou sobre a justiça. Diálogo político. Tradução de Ana Lia Amaral de Almeida Prado, São
Paulo: Martins Fontes, 2014.
2.
SARTORI. Luís Flávio. Segurança pública no Brasil: desafios e perspectivas. Rio de Janeiro: FGV, 2007 p. 22.
instituição e sim, “o conjunto de várias formas e domínios da administração” 3.
A Espanha nos forneceria um modelo de Instituição que tenderia a ter longa
duração, sendo este as Hermandades, primeiro modelo inspirador dos corpos policiais
modernos. Da França, viriam os exemplos de formação militarizada da Guendarmerie e
Polícia Urbana. A primeira com origens ainda no recorte da baixa idade média e a segunda
no século XVII. Da Inglaterra viria uma das mais conceituadas e conhecidas polícias do
mundo, criada em outubro de 1829 por Sir. Robert Peel, tendo por nome “Polícia
Metropolitana de Londres” ou “Força Metropolitana de Londres”.
Em Portugal, é criada em 1760 a Intendência Geral de Polícia da Corte e do Reino,
instituição inspirada em um modelo policial francês que pouco mais tarde também serviria
de parâmetro para a criação da Guarda Real de Polícia de Lisboa e a Intendência Geral de
Polícia da Corte que, atuando também nos Reinos, é fundada em 1808 no Rio de Janeiro, e
funcionaria até o ano de 1831.
INDEPENDÊNCIA
Em 1815 o Brasil é elevado a Vice-Reino de Portugal Brasil e Algarves, colocando
nosso território nas mesmas condições da Metrópole. Tal situação tendeu-se a se reverter
após o retorno da família Real a Portugal em 1821, o que causou grande descontentamento
da elite brasileira. Em 1820 ocorre a Revolução Liberal Portuguesa (fator decisivo para a
volta de D. João VI a Portugal) e inicia-se a pressão para que D. Pedro I também retorne a
Lisboa. Somadas às condições em que se encontrava no momento o país, mais os ideais de
independência e a reluta por parte do Imperador em aceitar as exigências portuguesas para
3.
AFONSO, João José Rodrigues. Polícia: etimologia e evolução do conceito. Revista Brasileira de Ciências
Policiais. Nº1. p.213-260, jan/jun, Brasília, 2018.
4.
BARRETO Filho, Mello e LIMA, Hermeto. História da polícia do Rio de Janeiro: aspectos da cidade e da vida
carioca: 1565-1831, Rio de Janeiro: Ed. A Noite, 1942.
5
seu regresso, Pedro I rompe com Portugal em 7 de setembro de 1822, declarando o Brasil
independente, dando fim ao período colonial.
PRIMEIRO REINADO
O Período correspondente ao Primeiro Reinado estendeu-se entre sete de setembro
de 1822 e sete de abril de 1831 quando D. Pedro I abdicou e retornou a Portugal.
Destaca-se nesse período a promulgação de nossa Primeira Constituição Federal
datada de 25 de março de 1824 que instituía o Poder Moderador exercido pelo Imperador.
A partir de então, o regime político adotado passaria a ser o Monárquico Constitucional,
porém Pedro I era Liberal nas ideias e no discurso, no entanto sua prática política,
conservadora o que aos poucos acabou por desagradar as elites brasileiras. É importante
ressaltar-se que as polícias ainda se manteriam longe do texto constitucional. Também em
1824 o Exército brasileiro passou por sua primeira estruturação como Força Militar de um
país independente. A data de comemoração para essa arma seria fixada a partir de 1994 em
19 de abril5 como memória à Batalha dos Guararapes6 quando o mito das 3 raças que
compõem o povo brasileiro, se tornou presente em suas fileiras (pretos, índios e brancos),
lutaram juntas para defender o país. Em 17 de fevereiro de 1825 é criada a Polícia Militar
do estado da Bahia e em 11 de junho do mesmo ano, a Polícia Militar do estado de
Pernambuco.
Em 1829 iniciam-se reformas conceituais nas polícias de vários países. O maior
destaque desse período foi a modernização da força metropolitana de Londres, promovida
por Sir. Robert Peel. Tais mudanças gerariam resultados tão bons que muitas forças
policiais adotariam sua doutrina e guardadas as devidas atualizações científicas, nela
permaneceriam até os dias de hoje.
Importante entendermos que a unificação do território que hoje conhecemos por
Brasil, se deu mediante uma série de conflitos envolvendo brasileiros, portugueses,
estrangeiros residentes, indígenas e a população escravizada. Durante o período do
Primeiro Reinado, foram computados os seguintes conflitos:
5.
BRASIL, Decreto de 24 de março de 1994 – Institui o “Dia do Exército Brasileiro”, Brasília: Câmara dos
Deputados, 1994.
6.
A batalha dos Guararapes ocorreu em 18 e 19 de abril de 1648 nas terras do atual estado de Pernambuco, e teve a
finalidade de promover a expulsão dos holandeses das terras brasileiras. Para maiores informações sobre o tema:
SOUZA Júnior, Antônio. Do recôncavo aos Guararapes, Biblioteca do Exército, Rio de Janeiro: 1984.
7.
Porção territorial de uma Federação que hoje se denomina estado.
6
Em 07 de abril de 1831, D. Pedro I abdicou, retornando a Portugal e pôs fim dessa
forma ao Primeiro Reinado, deixando, no entanto no Brasil, seu filho, Pedro II com a idade
de 05 anos, impotente, portanto, para comandar o país. De acordo com a Constituição de
1824, haveria a necessidade de aguardar a maioridade de Pedro II para que este pudesse
exercer as funções de Imperador. Enquanto isso não ocorresse, deveria ser instaurada uma
Regência. Tinha início dessa forma o PERÍODO REGENCIAL que durou até 1840.
ORIGEM DE PM ANTERIORES
Em 1775, foi criada a primeira instituição policial com características militares que
daria origem à atual Polícia Militar do estado de Minas Gerais, gerando a esta, portanto, o
título de PM mais antiga do país. As Polícias Militares seguintes à Minas Gerais, foram as
do Rio de Janeiro em 1809, Pará em 1818, Bahia e Pernambuco em 1825. Em 1831, seria
a vez de São Paulo.
PERÍODO REGENCIAL
O período que se seguiu após o ato de abdicação de D. Pedro I, foi chamado de
Regência, uma vez que o país foi “Regido” por figuras políticas até a maioridade
antecipada do Imperador D. Pedro II em 1840. A Constituição de 1824 previa que, caso o
Monarca não pudesse assumir o governo, este deveria ser entregue à uma composição de
três pessoas chamada então de REGÊNCIA TRINA que em princípio foi designada
PROVISÓRIA, uma vez que no dia da abdicação de D. Pedro I, o parlamento brasileiro se
encontrava em férias. Não havendo número suficiente de senadores e deputados para a
eleição de um governo permanente, elegeu-se uma Regência Trina Provisória, com o
objetivo de dar continuidade à administração do país e organizar as eleições para a
Regência Trina Permanente o que somente se deu em 17 de julho de 1831. Foi um dos
períodos mais turbulentos de nossa história, estando no centro dos debates a unidade
territorial do Brasil, a centralização ou descentralização do poder, do grau de autonomia
das províncias e da organização das Forças Armadas8. Não por acaso, este último tema
provocaria condições para a criação de 14 das atuais Polícias Militares do país 9, ou seja,
8.
FAUSTO, Boris. História do Brasil, 14ª edição atualizada e ampliada, São Paulo: EdUSP, 2012 p. 139.
9.
As Polícias Militares criadas no período Regencial (1831-1840) foram: São Paulo 1831; Alagoas 1832; Paraíba
7
mais da metade das Províncias criariam suas forças de segurança neste tumultuado
período. Como consequência da abdicação do Imperador Pedro I, uma onda de indisciplina
e anarquia alastrava-se em muitas Províncias e também na cidade do Rio de Janeiro; o
radicalismo partidário entrava nos quartéis, ocasionando revoltas e motins, pondo em risco
a unidade nacional.
A GUARDA NACIONAL
O período regencial se configurou aos poucos, como uma época de motins e
revoltas militares tanto no Rio de Janeiro como nas províncias. Dessa forma, o governo
decidiu extinguir as Tropas de Linha, incorporando-as ao nascente Exército assim como as
Milícias (tropas de 2ª linha) e Ordenanças (tropas de 3ª linha). Outro ponto muito
importante do período, foi a criação da Guarda Nacional em 18 de agosto de 1831 com a
missão de “defender a Constituição, a Liberdade, a Independência e a Integridade do
Império”. Inspirada nos moldes da Guarda Nacional francesa, essa instituição era
composta de amadores: caçadores, fuzileiros, sertanejos e voluntários. Os cargos de
oficiais eram obtidos mediante eleições na localidade. Seu efetivo era recrutado entre os
cidadãos com renda na casa dos 200$000 (duzentos mil réis) nas cidades e 100$000 (cem
mil réis) no campo. Essa composição na verdade, correspondia aos cidadãos com direito a
voto nas eleições primárias (votantes), ou seja, homens entre 21 e 60 anos. Suas principais
características foram: a) uma forte base municipal, b) altíssimo grau de politização, c) a
organização baseada nas elites políticas locais e d) demonstravam claramente a falta de
confiança do governo regencial no Exército brasileiro.
1832; Rio Grande do Norte 1834; Sergipe 1835; Espírito Santo 1835; Santa Catarina 1835; Ceará 1835; Piauí 1835;
Mato Grosso 1835; Mato Grosso do Sul 1835; Maranhão 1836; Amazonas 1837 e a Brigada Militar do Rio Grande
do Sul em 1837.
10.
SCHWARCZ, Lilia M. e STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia, São Paulo: Companhia das Letras, 2020
p. 247.
11
DIOGO ANTÔNIO FEIJÓ (1874-1843) foi filósofo, padre e estadista paulista. Foi um dos fundadores do Partido
Liberal. Professor de História, Geografia e Francês. Foi Vereador na cidade de Itu e Deputado nas Cortes de Lisboa
(1821). Ministro da Justiça (1831-32), Senador (1833-34) e Regente Uno (1835-37). Regressou ao Senado em 1839
onde permaneceu exercendo seu cargo de Senador até 1841. Com o advento da Revolução Liberal Sorocabana em
1842, foi preso e desterrado para Vitória – ES, porém anistiado, ainda exerceu novamente as funções de Senador
entre junho e novembro de 1843 quando faleceu.
8
A criação da Guarda Nacional em agosto de 1831, deu rumo à uma nascente
política de segurança pública ainda embrionária no país, pelas mãos de Feijó. No entanto,
algumas mudanças trouxeram desconforto para o Exército que, mediante a um movimento
inicial de acomodação e perda de prestígio perante a Regência, viu-se despojado de
poderes antes intocáveis. Como exemplo, podemos citar a questão do recrutamento para a
prestação do serviço militar uma vez que tal atribuição passava a ser da Guarda Nacional e
só retornaria às suas mãos no final do século XIX. O Exército que teve seu efetivo reduzido
– para termos uma ideia das medidas que foram tomadas, as demissões foram facilitadas,
cessaram os recrutamentos e seu efetivo caiu de 30.000 em maio de 1831 para 14.342
atingindo 10.000 em agosto do mesmo ano. Somados a isso, a confusão social, política e
militar crescente em todo o Império, contribuía para o clima conturbado. Eclodiram
revoltas no Exército e as tropas começaram a participar de lutas políticas. Os oficiais
posicionavam-se pela volta de Pedro I enquanto as praças reclamavam por aumento em
seus soldos. As medidas tomadas por Feijó foram facilitar as demissões e licenças e cessar
os recrutamentos. Para termos uma ideia do conturbado momento político, listamos pela
historiografia brasileira, os mais estudados conflitos das regências, sendo eles: Cabanagem
no Pará (1833-1836); Guerra dos Farrapos no Rio Grande do Sul (1835-1845); Sabinada na
Bahia (1837-1838) e; Balaiada no Maranhão (1838-1841)12.
12
. SODRÉ, Nelson Werneck. História Militar do Brasil, São Paulo: Ed. Expressão popular, 2010 p.134-172.
13.
RAFAEL TOBIAS DE AGUIAR (1794-1857). Foi um político paulista, fundador do Partido Liberal ao lado de
Feijó. Deputado por São Paulo nas Cortes de Lisboa (1821), Presidente da Província por duas vezes, Deputado
Provincial por 10 legislaturas. Liderou a Revolução Liberal Sorocabana em 1842 também ao lado de Feijó, foi preso
e anistiado tendo regressado a São Paulo para continuar sua carreira política. Recebeu o título honorífico de
Brigadeiro pelo Exército Brasileiro. Faleceu em 7 de outubro de 1857.
9
do Estado de São Paulo a GUARDA MUNICIPAL PERMANENTE.
Para comandar os 100 homens a pé, foi designado o Alferes 15 José Gomes de
Almeida, que pertencia ao 6º Batalhão de Caçadores do Exército brasileiro, comissionado
na Guarda Municipal no posto de Capitão. Para comandar os 30 (trinta) homens da tropa a
cavalo foi designado o Capitão Pedro Alves de Siqueira. Para ter-se uma ideia da
população da cidade de São Paulo entre 1828 e 1829, os números apontam um total
aproximado de 30.000 habitantes, sendo esta, a 7ª cidade do país O cenário da província
era de cerca de 251.000 habitantes16, sendo 98% dessa população, no entanto, analfabeta.
14.
ALMEIDA, Guilherme de; DEGOBBI, Alcides Giacomo. Cancão da Polícia Militar do Estado de São Paulo. São
Paulo: 1964.
15.
Posto extinto do oficialato que hodiernamente equivale ao de 2º Tenente.
16.
SÃO PAULO (Estado). Documentos interessantes para a história e costumes de São Paulo. In: Relatório do ano de
1900, apresentado em 13 de janeiro de 1902 ao cidadão Dr. Bento Pereira Bueno, Secretário de Estado dos
Negócios do Interior e da Justiça, pelo Dr. Antônio de Toledo Piza, diretor, Diário Oficial, IMESP, São Paulo, 1903,
pp.692 a 699.
10
Em 1958, por proposta do então Tenente Olavo Soares, a Instituição adotou seu
brasão de armas. O Brasão-de-armas da Polícia Militar do Estado de São Paulo é um Escudo
Português, perfilado em ouro, tendo uma bordadura vermelha carregada de 18 (dezoito)
estrelas de 5 (cinco) pontas em prata, representando marcos históricos da Instituição. No
Centro, em listras vermelhas verticais e horizontais, as cores representativas da Bandeira
Paulista, também perfiladas em ouro. Como timbre, um leão rampante em ouro, apoiado
sobre um virol em vermelho e prata, empunhando um gládio, com punho em ouro e lâmina
em prata. À direita do Brasão um ramo de carvalho e à esquerda um ramo de louro,
cruzados em sua base. Como tenentes 17, à direita, a figura de um Bandeirante com
bacamarte e espada, e à esquerda um Soldado da época da criação da Milícia, empunhando
um fuzil com baioneta; ambos em posição de sentido. Num Listel em azul, a legenda em
prata "LEALDADE E CONSTÂNCIA"18.
As 18 estrelas em prata, representam as seguintes campanhas e marcos históricos 19.
Elas serão estudadas uma a uma em ordem cronológica durante nosso curso, durante as
aulas:
1ª Estrela 15 de dezembro de 1831 - Criação da Milícia Bandeirante;
2ª Estrela 1838 - Guerra dos Farrapos;
3ª Estrela 1839 - Campos das Palmas;
4ª Estrela 1842 - Revolução Liberal de Sorocaba;
5ª Estrela 1865 a 1870 - Guerra do Paraguai;
6ª Estrela 1893 - Revolta da Armada (Revolução Federalista);
7ª Estrela 1896 - Questão dos Protocolos;
8ª Estrela 1897 - Campanha de Canudos;
9ª Estrela 1910 - Revolta do Marinheiro João Cândido;
10ª Estrela 1917 - Greve Operária;
11ª Estrela 1922 - "Os 18 do Forte de Copacabana" e Sedição do MT;
12ª Estrela 1924 - Revolução de São Paulo e Campanhas do Sul;
13ª Estrela 1926 - Campanhas do Nordeste e Goiás;
14ª Estrela 1930 - Revolução Outubrista-Getúlio Vargas;
15ª Estrela 1932 - Revolução Constitucionalista;
16ª Estrela 1935/1937 - Movimentos Extremistas;
17ª Estrela 1942/1945 - 2ª Guerra Mundial; e
18ª Estrela 1964 - Revolução de Março.
DENOMINAÇÕES HISTÓRICAS
17.
O substantivo tenente neste texto, não significa o posto propriamente dito e sim, é empregado com o sentido de
representar a constância da Instituição, uma vez que o termo significa: o que supre o lugar de um chefe e comanda em
sua ausência. Repare que as figuras representadas conforme proposta da heráldica, são um Bandeirante (que não tem
posto) e um SOLDADO.
18.
SÃO PAULO (Estado). Decreto n. 17.069 de 21 mai. 1981. Modifica o Brasão de Armas da Polícia Militar criado
pelo Decreto nº 34.244, de 17 de dezembro de 1958 regulamenta o seu uso. São Paulo: ALESP, 1981.
19.
As datações das campanhas históricas representam os momentos do início da participação da Instituição nos
conflitos e não necessariamente o período completo do conflito.
11
A Instituição recebeu vários nomes de acordo com o contexto político e social de
cada recorte histórico pelo qual passou. Abaixo, destacamos alguns dessas denominações,
lembrando que não estão dispostas necessariamente na ordem cronológica que foram
empregadas: GUARDA MUNICIPAL PERMANENTE, CORPO POLICIAL
PERMANENTE, CORPO POLICIAL PROVISÓRIO, BRIGADA POLICIAL, FORÇA
MILITAR DE POLÍCIA, FORÇA POLICIAL, FORÇA PÚBLICA e POLÍCIA MILITAR.
12
do Governo de São Paulo, nomeava o Capitão Hermógenes Carneiro Lobo Ferreira para
organizar e comandar uma companhia de Guardas Municipais que deveria estacionar nos
Campos de Palmas, na divisa com Santa Catarina. Durante um ano a Companhia de
Guardas Municipais, composta pelo capitão e 50 praças, cruzou a região fazendo
levantamento topográfico, abrindo estradas e melhorando as comunicações terrestres e
fluviais. Todo esse trabalho foi realizado sob os constantes ataques dos índios coroados do
Cacique Vitorino Condá que, após entendimentos foram pacificados pela ação daquele
oficial e seus homens. O Capitão Lobo Ferreira fez o primeiro mapa da região e pacificou a
região permitindo o surgimento da povoação de Palmas, hoje cidade do meio-oeste
paranaense. Em 1845 a Companhia foi extinta.
21
. ARRUDA, Cel. Luiz Eduardo Pesce de; Polícia Militar: uma crônica. In: A Força Policial nº 13 jan.-mar.
1997. São Paulo. 1997.
13
forma gradativa (Lei do ventre-livre 1871, Lei dos Sexagenários 1885 e finalmente a
Abolição da escravatura que ocorreu em 13 de maio de 1888). Diante desse cenário, a mão
de obra para as lavouras de café, passa a vir das imigrações (principalmente italianos e
alemães).
14
contando com 17 (dezessete) componentes e 01 (um) Sargento Mestre22, e que tinha como
função a missão de levar entretenimento às Praças aquarteladas. Ao longo dos anos, a Banda
deixa de entreter apenas a tropa, para integrar-se à Comunidade Paulistana. Grandes obras,
tais como a do Viaduto do Chá, inaugurado em 1892, a Avenida Paulista, e o Teatro
Municipal, contaram com a presença da banda da Força Pública23.
Atualmente, o Corpo Musical atua em solenidades militares e junto à comunidade
prestando diversos serviços sociais, atingindo em média um milhão e meio de pessoas ao
ano. Atua também no policiamento ostensivo em apoio à área central da capital, e
representa a Instituicão nos mais diversos setores da sociedade, divulgando a cultura,
abrilhantando eventos cívico- militares, realizando concertos, apresentações e homenagens
a autoridades, distribuindo a alegria e o entusiasmo
Sua atual estrutura descende do comando do Major Joaquim Antão Fernandes24 que
em muito engrandeceu o nome de nossa Instituição. Autor da Marcha Batida inclusa na
Lei Federal 5.700 (Dispõe sobre os Símbolos Nacionais) em seu § único do Art. 6º25, Antão
deixou seu nome na História de nossa pátria junto a esse símbolo nacional.
Outro grande expoente do Corpo Musical foi o Tenente José Barbosa de Brito.
Músico dotado de uma musicalidade ímpar, foi autor de várias obras para Banda de música.
Teve seu talento reconhecido pelas corporações no Brasil e em diversos países. Possui
composições nos arquivos das Bandas de Música da U.S. Navy e U.S. Marine Corps Band
em Washington (USA) onde são executadas até os dias de hoje. O C Mus presta assistência
técnica a mais 11 Bandas Regimentais de Música sediadas nas seguintes Organizações
Policiais Militares: CPA/M-8 (Osasco), CPA/M-12 (Mogi das Cruzes), CPI-1 (São José
dos Campos), CPI-2 (Campinas), CPI-3 (Ribeirão Preto), 13º BPM/I (Araraquara), CPI-5
(São José do Rio Preto), CPI-6 (Santos), CPI-7 (Sorocaba), CPI-8 (Presidente Prudente) e
CPI-10 (Araçatuba).
22
SÃO PAULO (Província). Lei n. 24 de 7 abr. 1857. São Paulo: ALESP, 1857.
23
SANTOS, José Roberto dos. História e música em São Paulo no começo do século XX: A trajetória da Banda da
Força Pública.2019. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de
São Paulo, São Paulo.
24
Joaquim Antão Fernandes teve dois períodos de comando frente à Banda de Música da Força Pública. O primeiro
foi entre os anos de 1895 e 1925 e o segundo entre o final de 1930 e maio de 1932.
25
BRASIL (Planalto). Lei n. 5.700 de 1º set. 1971 incluindo as alterações das Leis n. 6.913/1981, 8.421/1992,
9.615/1998, 12.031/2009 e 13.413/2016. Dispõe sobre a forma e apresentação dos Símbolos Nacionais e dá outras
providências. Brasília: PLANALTO, 2016.
15
presidente, Francisco Solano Lopez e o aprisionamento do vapor brasileiro “Marques de
Olinda”, em Mato Grosso, como resposta daquele ditador à intervenção armada que o
Brasil fizera no Uruguai, em 1863, dando fim a uma guerra civil que já perdurava há dois
anos26.
No dia 14 de janeiro de 1865, o Tenente-Coronel José Maria Gavião Peixoto
comunicava ao Governo Provincial que o Corpo Municipal Permanente, voluntariamente,
partiria para campanha do Paraguai. Em 10 de abril do mesmo ano, o Corpo Municipal
Permanente, com todo o seu efetivo (273 homens incluindo a banda de música), sob o
comando do Tenente-Coronel José Maria Gavião Peixoto, parte para Campinas para
juntar-se com outras tropas da Força Expedicionária, que pretendia invadir o Paraguai pela
fronteira mato-grossense.
Após diversos combates, a coluna brasileira retrocedeu para o Brasil, dando início à
epopeia da retirada de Laguna (8 de maio de 1867). Foram 35 dias de sacrifício, bravura e
heroísmo, com luta constante contra um inimigo numeroso e, ainda, contra a fome, a sede
e o terrível cólera-morbo. A retirada terminou em 11 de junho de 1867, quando os
remanescentes da coluna brasileira, atravessando o rio Aquidauana, atingiram o Porto de
Canuto. O Corpo Municipal Permanente participou ativamente da invasão do norte do
Paraguai e da famosa “Retira de Laguna”.
Nessa época, oriunda em razão da Guerra do Paraguai, foi criada a fundação da
Companhia Especial de Menores (mais tarde chamada de Instituto de Menores Artífices)
que funcionou de 1876 a 1884 em São Paulo, tendo como objetivo preparar crianças e
adolescentes para o exercício de atividades profissionais e até mesmo para o ingresso
desses na Instituição. Sua função era dar amparo aos órfãos dos combatentes do conflito.
26
DORATIOTO, Francisco. Maldita Guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
16
de 20:000$00, revogadas as disposições em contrário27".
A Seção criada ficou ocupando uma parte do prédio onde funcionava a estação
central da Companhia de Urbanos, na Rua do Quartel (hoje Rua 11 de Agosto), sendo
requisitado o material necessário para sua formação. Naquela época, os avisos de incêndios
eram transmitidos por meio de rebates nos sinos das igrejas ou por comunicações verbais
de particulares, que corriam até a porta do quartel de bombeiros para tal finalidade.
Até a chegada da República, a Seção de Bombeiros de São Paulo teve três
comandantes, o primeiro deles foi o tenente José Severino Dias, que assumiu o comando
em julho de 1880, iniciando de imediato os trabalhos de organização dos serviços de
combate a incêndios, de instrução e da instalação da Seção. Procedia do Corpo de
Bombeiros do Distrito Federal, onde tinha o posto de alferes. Em 1883, a pedido, foi
substituído por poucos dias e interinamente, pelo Tenente Manoel José Branco, do Corpo
Permanente da Guarda Urbana. Logo depois, foi nomeado o Tenente Alfredo José
Martins de Araújo, que era também oriundo do Corpo de Bombeiros do Distrito
Federal.
Os bombeiros começaram a se expandir para o interior em 1943, através de
acordos com as municipalidades, iniciando um processo de organização a nível estadual.
Existiam, no efetivo dessa época, 1212 homens. Em 1955, é inaugurada a rede de rádio,
facilitando a comunicação entre as viaturas e o quartel, que informava o melhor caminho,
a evolução da ocorrência, centralizava os pedidos e os distribuía de forma racional entre os
Postos. Um ano depois foram desativadas as caixas de alarme, mas o seu sucessor, o
telefone, ainda não atendia totalmente as necessidades da população. Havia poucos
aparelhos e o número não era de fácil memorização. Somente 23 anos depois seria adotado
o número de emergência 193.
Em 1964 inaugura-se a Companhia Escola e é criado o Curso de Bombeiro para
Oficiais. Em 1967 a Estação Central (localizada à Praça Clóvis Bevilacqua) é demolida para
a edificação de uma nova, concluída somente em 1975. As demais ocorrências que
marcaram o século XX, como os grandes incêndios de São Paulo, serão debatidas nas
aulas 15 e 16.
27
SÃO PAULO (Província). Lei n. 6 de 10 mar. 1880. São Paulo: ALESP, 1880.
17
futura Guarda Civil de São Paulo no ano de 1926.
MUDANÇAS REPUBLICANAS
A Lei nº 17, de 14 de novembro de 1891, extingue o Corpo Policial Permanente.
Com efetivo fixado de 3.940 homens, distribuídos em quatro Corpos Militares de Polícia,
uma Companhia de Cavalaria, um Corpo de Urbanos e um Corpo de Bombeiros, passando
a denominar as forças de segurança do estado como FORÇA PÚBLICA DO ESTADO DE
SÃO PAULO28. Em 1892, nova lei29 transforma os Corpos Militares em Batalhões de
28
. SÃO PAULO (Estado). Lei n. 17 de 14 nov. 1891. Fixa a Força Pública do Estado de São Paulo para o anno de
1892. São Paulo: ALESP, 1891.
29.
SÃO PAULO (Estado). Lei n. 97-A de 21 set. 1892. Fixa a força pública do Estado para o anno de 1893. São
18
Infantaria, sediados nas seguintes localidades:
1º Batalhão de Infantaria – Av. Tiradentes (Quartel da Luz);
2º Batalhão de Infantaria – Jundiaí – Campinas – São Paulo;
3º Batalhão de Infantaria – Santos;
4º Batalhão de Infantaria – Av. Tiradentes;
5º Batalhão de Infantaria – Convento do Carmo.
Há que se entender que, durante os anos de 1892 e 1905, a instabilidade do novo regime
republicano, trouxe uma série de mudanças para a Instituição, ora mudando seu nome, ora
desmembrando suas atividades entre as modalidades de policiamento existentes à época. Por
exemplo: em 1896, a Instituição foi dividida em uma Brigada Policial, um Corpo de Guarda
Cívica da Capital e um Corpo de Guarda Cívica do Interior. No entanto, a estabilidade
institucional somente viria a ser sentida a partir do ano de 190530. Ainda que, a partir de 1892 o
nome FORÇA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO tenha se consolidado, outras
alterações no nome institucional se fariam sentir ao longo do século XX31.
A partir de 1892, os governantes, nela reconhecendo a competência, a lealdade, a
isenção e a confiabilidade de que necessitava o Brasil republicano, investem em sua
expansão organizacional, enquanto outras corporações - caso da Guarda Nacional - vão
paulatinamente sendo postas no ostracismo até que a legislação coloque uma pá de cal sobre
as mesmas.
Em face do novo projeto nacional desenhado pelas lideranças paulistas, é atribuído à
Força o papel de braço armado do poder político estadual, instrumento essencial à estratégia
dos dirigentes paulistas, no cenário brasileiro da época.
A Força se expande e surgem os primeiros Quartéis. Através de um projeto
elaborado pelo arquiteto Ramos de Azevedo, o Quartel da Luz (hoje sede do 1º Batalhão de
Polícia de Choque – Tobias de Aguiar) é erguido e inaugurado em 1892. Em estilo Neo
clássico Pós Napoleônico, foi criado em princípio para abrigar o 1º Batalhão de Infantaria. Os
custos para sua construção foram arcados pelo desenvolvimento da cultura e exportação do
café, aliados às mudanças que a Constituição republicana de 1891 promoveu, oferecendo
aos agora estados, oportunidades antes negadas como a emissão de títulos, contrair
empréstimos no exterior e a criação de impostos sobre as exportações32.
A região das atuais ruas Tiradentes, Dr. Jorge Miranda, Nova Cantareira, e Alfredo
Maia, logo abrigaria além do Quartel da Luz, também o Regimento de Cavalaria e o
19
Hospital da Força Pública (prédio que hoje abriga seu museu). É organizado um amplo e
moderno serviço médico, contando com grandes nomes da medicina como Flamínio Fávero,
João Alves de Lima, Amarante Cruz que, dentre outros, colaboraram para sua consolidação.
33
Cf. ARRUDA, Luiz Eduardo Pesce de; Dois de Ouro foi o apelido outorgado pela imprensa local de Curitiba – PR,
ao 2º Batalhão de Infantaria da Força Pública do Estado de São Paulo, em virtude de sua libertação dos revoltosos e à
gentileza com que esse efetivo tratou a população durante a respectiva campanha militar.
20
primeiros empregos gerados pela incipiente indústria, gerando conflitos em relação ao
mercado de trabalho nesse cenário urbano34. Empresários italianos exigiam o ressarcimento
das verbas emprestadas ao Governo durante a Revolução Federalista sem, contudo, lograr
êxito. Os "protocolos" foram correspondências oficiais trocadas entre as autoridades
brasileiras e italianas, para a integração dos imigrantes com a população. A inabilidade de
alguns italianos, inclusive do Cônsul Baichanteaud, provocou conflitos generalizados entre
os imigrantes e os brasileiros. Foi necessário, por ordem do Presidente do Estado, Campos
Salles, enérgica intervenção policial, executada pelo 1º Batalhão de Infantaria da Força
Pública paulista. A atitude enérgica da milícia paulista e a clarividência de muitos italianos
cooperaram para que os ânimos fossem serenados e a ordem pública restabelecida.
34
MORSE, Richard M. Formação histórica de São Paulo. São Paulo: Difusão europeia do livro, 1970, p. 333.
35
. CUNHA, Euclides da. Os Sertões. Ed. comemorativa. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais,
2010.
21
operações de guerra. Combateu de Calumbi até Cachamingó. Em 25 de setembro, sob o
comando do Major José Pedro de Oliveira, uma ala do Batalhão combateu na bifurcação da
estrada de Uauá para Canudos. Na madrugada de 1º de outubro, a segunda coluna tinha os 4º,
29º e 39º Batalhões de Infantaria colocados no leito do Rio Vaza Barris, no flanco direito
da igreja nova e na trincheira ao sul da cidadela. O 9º e o 34º Batalhões de Infantaria
ficaram por trás da igreja. O 26º Batalhão de Infantaria, o 5º Batalhão Policial da Bahia e a
ala direita do 1º Batalhão da Força Pública de S. Paulo, cobriram o leito do mesmo rio. A
tarde do mesmo dia a Brigada Policial composta dos Batalhões de Polícia do Amazonas e
do Pará e a ala esquerda do 1º Batalhão da Força Pública veio auxiliar os esforços da
segunda coluna36. O Batalhão paulista participou ativamente dos assaltos finais ao reduto do
Conselheiro, contudo, a principal participação dos paulistas, foi na escolta dos comboios de
munições e víveres, fazendo com que a logística chegasse aos combatentes na ponta da
linha. O ataque foi feito com baioneta generalizando-se o combate corpo-a-corpo. A luta foi
encerrada em 6 de outubro. Os paulistas perderam doze homens, mortos em ação e tiveram
dezenas de feridos. Após quarenta dias de lutas, o Batalhão paulista retornou a sua sede, em
24 de outubro de 189737.
36
. A Ala direita paulista estava comandada pelo Major João Pedro de Oliveira, comandava o Batalhão o Ten.
Cel. José Elesbão dos Reis.
37
. TELHADA, Cel. Paulo Adriano Lucinda Lopes. Quartel da Luz – Mansão da ROTA. Histórias do Batalhão
Tobias de Aguiar. São Paulo: Just Editora, 2012.
22
indignada.
Ainda em 1904 Oswaldo Cruz motivou o governo a enviar ao Congresso um projeto
para reinstaurar a obrigatoriedade da vacinação em todo o território nacional já que os
laboratórios estavam produzindo a vacina. Uma das medidas desse projeto consistia em
determinar que somente quem provasse ser vacinado conseguiria contratação de trabalho,
matrícula em escola, certidão de casamento e autorização para viajar. O que provocou mais
animosidade do povo em relação ao Governo. As camadas populares rejeitavam a vacina que
consistia num líquido de pústulas de vacas doentes, afinal era esquisito naquela época a ideia de
ser inoculado com esse líquido e havia ainda o boato lançado pela oposição ao governo de que: -
Quem se vacinava ficava com feições bovinas.
Em julho de 1904 houve uma procura de 23.021 pessoas pela vacina nos postos de
saúde pública, mas no mês seguinte esse número caiu para 6.03638, queda decorrente dos boatos
que aterrorizavam a população, tal fato obrigou a adoção de medidas administrativas intensas e
até consideradas radicais para o saneamento completo e a extinção das endemias na Capital,
pois era fato que a oposição ao regime republicano, conhecida como Liga contra a Vacina;
composta por monarquistas e Republicanos opositores do partido do Presidente; incentivavam a
revolta popular.
Após debates parlamentares foi criada a Lei da Vacina obrigatória em 31 de outubro de 1904,
regulamentada em 05 de novembro de 1904. A lei permitia que as brigadas de sanitaristas
invadissem as casas para aplicar a vacina à força na população que se revolta e vai às ruas,
encabeçadas pela Liga contra a vacina. Os combates ocorrem no período de 10 a 16 de
novembro de 1904, deixando um saldo de 50 mortos e 110 feridos até que em 16 de novembro a
lei foi revogada.
No dia 11, já era possível escutar troca de tiros. No dia 12, havia muito mais gente nas
ruas e, no dia 13, o caos estava instalado no Rio. “Houve de tudo ontem. Tiros, gritos, vaias,
interrupção de trânsito, estabelecimentos e casas de espetáculos fechadas, bondes assaltados e
bondes queimados, lampiões quebrados à pedrada, árvores derrubadas, edifícios públicos e
particulares deteriorados”, dizia a edição de 14 de novembro de 1904 da Gazeta de Notícias.39 A
Força Pública, a pedido do governo da cidade do Rio de janeiro, enviou o 1º Batalhão de
Infantaria à Capital Federal, entre os meses de novembro de 1904 a fevereiro de 1905,
garantindo a legalidade na preservação da ordem e auxiliando nas ações sanitaristas para a
saúde da população.
38
. SEVCENKO, Nicolau. A Revolta da Vacina: Mentes insanas em corpos rebeldes. São Paulo: Editora Unesp
Digital, 2018, p. 4.
39.
Biblioteca Nacional Digital Brasil Disponível em:
http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=103730_04&pesq=vacina&pasta=ano%201904\edicao%20000
82&pagfis=8736.Gazeta de Notícias- Rio de Janeiro Ano 1904, edição 00319(2). Acesso em 28 nov. 2021.
23
DELINQUENCIA NO SERTÃO
“Tenente Galinha”
Fonte: Polícia Militar do Estado de São Paulo
Com a expansão da cultura cafeeira, os trilhos das estradas de ferro caminharam para os
sertões do estado, levando consigo, os quotidianos problemas das grandes cidades, como o
banditismo. Criada para perseguir os delinquentes que buscando esses rincões acreditavam na
impunidade como prêmio, a “Seção de Capturas” da Força Pública, teve no Tenente João
Antônio de Oliveira o “Tenente Galinha” seu maior expoente, primeiro chefe e a figura mais
conhecida e temida desde o início do século XX. Nascido em: 3 de maio de 1871 e falecido em
23 de abril de 1913.
Violento e cruel contra os bandidos, João Antônio de Oliveira, o Tenente galinha foi
temido em todo o estado de São Paulo até o seu assassinato. Certo dia ao retornar à base militar,
encontrou um rapaz, Israel Coimbra que viera de Barretos, trazido pelo próprio tenente, que
conseguiu uma nomeação como Agente de Segurança, no Departamento de Investigações. O
Tenente Galinha, então, permitiu que ele ficasse em sua casa devido à demora nos resultados
dos exames.
João Antônio de Oliveira, o famigerado tenente Galinha, perdeu a vida de forma
trágica. Na madrugada de 13 de abril de 1913, foi assassinado aos 42 anos enquanto dormia na
própria cama vítima de sua esposa e de suposto amigo Israel Coimbra, ambos interessados no
seguro de vida feito para a segurança de sua esposa e filha.
24
Doutor Jorge Tibiriçá reorganizava a Força Pública atendendo ao pedido do então
Comandante Geral Cel. Argemiro da Costa. Inseriu, no mesmo decreto, em seu artigo 11, a
criação da Caixa Beneficente. Essa entidade visava prestar assistência a familiares de
integrantes da Instituição (as viúvas, filhos menores dos oficiais e praças) que ficassem sem
meios de subsistência, portanto a CBPM é a entidade pioneira em PREVIDÊNCIA, no
Brasil, desde o início do século XX40.
40.
SÃO PAULO (Estado). Lei n. 958 de 28 set. 1905. Reorganiza a Força Pública do Estado de São Paulo e dá
outras providências. São Paulo: ALESP, 1905.
41.
SÃO PAULO (Estado). Lei n. 979 de 23 dez. 1905. Reorganiza o serviço policial do Estado. São Paulo: ALESP,
1905.
42.
DALLARI, Dalmo de Abreu. O pequeno exército paulista. São Paulo: Perspectiva, 1977.
25
penitenciária, etc. e suprimi-las onde não fossem indispensáveis e; reduzir a um, os oficiais
que pernoitavam no quartel.
Na primeira fase, o coronel Paul Balagny comandou as ações de treinamento. Foi
ele quem estimulou a instrução dos homens, além de ter se preocupado com o bem-estar e
formação pessoal do soldado. Ademais, o coronel percebeu que aqui havia uma grande
diversidade de fardas, mas o ideal seria um uniforme básico sobre o qual acrescentasse
adereços para indicar promoções. Ele também ensinou as práticas administrativas
desenvolvidas na Força Pública. Balagny ministrou o primeiro curso de armeiro em São
Paulo, que ensinava métodos para manutenção e conservação da arma de fogo pelos
soldados. Entre suas iniciativas, destaca-se a execução da instrução individual, da qual se
favoreceram aproximadamente 4 mil homens. Para o coronel, primeiramente treinava-se um
a um, depois um pequeno grupo (seção), pelotão, companhia; e, finalmente, o batalhão43.
Sob o ponto de vista francês, era essencial cuidar também do preparo físico.
Seguindo esta mentalidade, foi criada a primeira escola de ensino superior em Educação
Física no País, pois acreditava-se ser preciso dotar os homens de técnicas não letais. Graças
a isso, a Missão introduziu oficialmente no Brasil o boxe, a esgrima, a ginástica sueca e o
'bailado de Joinville Le Pont'. A Quadrilha de Monitores de Joinville Le Pont é uma
atividade aeróbica de lazer e condicionamento que tem por objetivo a manutenção do
controle físico. Dança camponesa francesa, foi sistematizada pela Escola de Joinville,
atualmente chamada Escola Interarmas de Esportes – um grande centro de condicionamento
físico das forças francesas até os dias de hoje.
A instrução era ministrada individualmente e pacientemente, sempre com apelo à
dignidade e à inteligência de cada um, e já em agosto de 1906 eram impressas as instruções
organizadas pelo Chefe da Missão sob os títulos:
Escola de Soldados;
Escola de Seção (escola de Cabos);
Escola de Companhia de Infantaria;
Escola de Cavalaria, a pé;
Escola de Cavalaria, a cavalo.
No seio da própria Força Pública, no entanto, houve resistência à renovação
promovida pela Missão Francesa. Nesse clima, ocorrue a “Tragédia do Quartel da Luz”, no
dia 11 de junho de 1906, quando o Sgt Augusto José de Mello, que havia participado da
Campanha de Canudos, julgando-se humilhado durante uma instrução, disparou contra o
oficial francês Ten. Cel. Rauol Negrel. Além de matar o Oficial francês, seus disparos matam
também o alferes Manoel de Moraes Magalhães44.
43.
FERRAZ, Cel. Arrisom de Souza. As paradas da Força Pública nos prados da Mooca. Revista do Arquivo Público
Municipal, São Paulo, v. CLXII, p. 383-390, jan.-mar. 1959.
44
ARRUDA, Luiz Eduardo Pesce de; Polícia Militar: uma crônica. In: A Força Policial nº 13 jan.-mar. 1997.
26
Foi a Missão Francesa de Instrução da Força Pública que deu início às precursoras
da ESSgt. (Escola Superior de Sargentos) e da APMBB (Academia de Polícia Militar do
Barro Branco). Dentre as principais decisões tomadas, estava a estruturação de escolas de
formação de soldados, cabos, sargentos e oficiais. Além disso, os ensinamentos franceses
introduziram na Instituição uma visão globalizada, à qual permitiu que a Força Pública se
reformulasse e se modernizasse. As técnicas que revolucionaram positivamente a Polícia
Militar, ao longo de sua história, são frutos da mentalidade internacionalizada incitada pela
Missão, tais como: o projeto Resgate, o Rádio patrulhamento Aéreo, a prática de tiro policial
não letal, e a ênfase no ensino de Direitos Humanos. Em 1914 devido a Primeira Grande
Guerra, a Primeira Missão retirou-se.
27
ESQUADRILHA DE AVIAÇÃO
Na segunda década do século XX houve inovações na Força a fim de bem atender ao
cidadão da nova e crescente classe média urbana, dentre elas:
1911 - a instalação de caixas de aviso de incêndio e ocorrências policiais.
1912 - o início do emprego de cães no policiamento urbano e a criação de um pombal
para emprego de pombos-correios.
1913 - a criação da Esquadrilha de Aviação.
1925 - a Esquadrilha, cede ao País seu primeiro paraquedista militar, o então Tenente
Antônio Pereira Lima.,
1927 - o Tenente da Força Pública João Negrão faz parte da tripulação do hidroavião
Jahú, como copiloto na travessia do Atlântico.
Por força de Lei, em 1913, foi criada a Escola de Aviação que teria por fim preparar na
Força Pública aviadores militares, na sede do primeiro campo de pouso militar do país, o
Campo do Guapira (zona Norte da capital de SP), onde militares e civis, tiveram como
instrutor o primeiro piloto a voar no Brasil, o aviador Edu Chaves, brevetado na França.
A Escola teve que paralisar suas atividades devido a I Guerra Mundial (1914 a 1918),
o próprio Edu Chaves lutou no posto de 1º Tenente da aviação francesa.
Após a guerra, a Esquadrilha além de pontilhar o território paulista de campos de pouso
e de estruturas de suporte à gênese da aviação civil bandeirante, participou das Revoluções de
1924 e de 1930. No entanto, houve sua extinção após a Revolução de 1930, indo compor o
Exército. Da remanescente Esquadrilha da Aviação em 1984 houve a criação do Grupamento
de Radiopatrulhamento Aéreo “João Negrão" - GRPAe, hoje Comando de Aviação da PM -
CAvPM.
28
campo do Canindé, um curso preparatório de emergência de formação de oficiais, ao qual
acorreu a elite universitária paulistana e que se constituiu na experiência pioneira dos
futuros CPOR/NPOR das Forças Armadas.
29
profissional. O Slogan adotado pela Missão foi: “Do valor dos quadros, depende o valor
das tropas”.
45
FAUSTO. Boris. História do Brasil. São Paulo: EdUSP, 2012.
30
CAMPANHA 11 - OS 18 DO FORTE E A SEDIÇÃO DE MATO GROSSO
Em 5 de julho de 1922 ocorre a primeira revolta que tem uma forte influência dos
tenentes, conhecida como os 18 do Forte, que se opunha à posse do presidente eleito
Arthur Bernardes. Deste movimento participaram o capitão Hermes da Fonseca Filho, o
tenente Eduardo Gomes, o tenente Siqueira Campos entre outros46. Na Marinha do Brasil se
destacaram os tenentes Protógenes Pereira Guimarães, Ernani do Amaral Peixoto e Augusto
do Amaral Peixoto. Em 5 de julho de 1922, em consequência do levante da guarnição do
Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, uma companhia do 1º. Batalhão de Infantaria, sob
o comando do capitão José Ferreira Leal, segue para a região de Itararé, para guarnecer a
divisa São Paulo-Paraná. No dia 11 do mesmo mês seguem para Itararé efetivos do 3º.
Batalhão de Infantaria. Em 8 de julho de 1922, o Gal. Clodoaldo da Fonseca organizou um
levante das tropas sediadas no Mato Grosso. O 2º. Batalhão de Infantaria, sob o comando
do ten. cel. Afro Marcondes de Rezende, é destacado para guarnecer a divisa entre São
Paulo e Mato Grosso. Um destacamento de 255 praças e 21 oficiais do 2º. Batalhão foi
anexado ao destacamento do coronel Potiguara, do Exército, atuando de Bauru a Três
Lagoas. Em Bauru o 4º. Batalhão de Infantaria, com 617 homens, ficou como tropa de
reserva do Exército.
46
PINHEIRO, Paulo Sérgio de M. S. Estratégias da ilusão. A Revolução Mundial e o Brasil (1922-1935), São Paulo:
Cia. Das Letras, 1991.
47
ANDRADE, Euclides e CAMARA, 1º. Ten. Hely E. da. A Força Pública de São Paulo - Bosquejo histórico-
1831 – 1931. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado. 1981.
48
Efetivos em 5 de julho de 1924: 1º.BI, 2º.BI, 3º.BI, 4º.BI, 5 º.BI, C. Escola, G. Cívica e C. de Bombeiros,
31
O tenente-coronel do Corpo de Guarda Cívica Alexandre Gama emitiu a seguinte
proclamação: "Avante, pois, bravos oficiais e soldados. O nosso lugar é na linha de fogo
em defesa da legalidade. Coragem e confiança na ação do nosso patriótico governo,
porque só assim poderemos voltar amanhã aos nossos lares, de fronte erguida, com a
consciência tranquila de quem tem cumprido o seu dever”. Com os efetivos existentes,
foram organizados os 1º., 2º. e 3º. Batalhões de Guerra, sob o comando dos Ten. Cel.
Joviniano Brandão, Afro Marcondes de Rezende e José Sandoval de Figueiredo,
respectivamente. A maior parte do efetivo do 1º. Corpo de Guarda Cívica foi incorporado ao
1º. Batalhão. Os três batalhões foram incluídos na Brigada da Força Pública, sob o
comando do Coronel Pedro Dias de Campos. Cada batalhão foi constituído com três
companhias e cada uma destas tinha três seções. O trem de Combate ficou sob o comando do
Tenente-Coronel Alexandre Gama, e a Intendência Geral ficou sob a direção do Ten. Cel.
Arthur da Graça Martins.
A Brigada da Força Pública combateu os revoltosos na parte central da capital e nos
bairros do Cambuci, Ipiranga e Vila Mariana. Os combates ocorreram até o dia 28, quando
os revoltosos abandonaram a cidade. Deixaram um saldo de 720 mortos e 4.846 feridos.
Até o fim do mês de julho, em perseguição aos rebeldes, o efetivo do 4º Batalhão da Força
Pública combateu em Pinhal, São João da Boa Vista, Itapira, Jaguari e na cidade mineira de
Jacutinga. A Brigada foi dissolvida em 31 de julho de 1924, e os oficiais e praças legalistas
voltaram às unidades de origem. A Ordem do Dia 78, de 21 de outubro de 1924, publicou a
exoneração do major Miguel Costa e mais 4 capitães, 2 primeiros-tenentes e 18 segundos-
tenentes do quadro de efetivos da Força Pública.
respectivamente, 780, 680, 85, 90, 110, 600, 1.300 e 300 homens.
32
eram utilizadas táticas de despistamento (guerrilha) para confundir as tropas legalistas.
Aqui deu-se o registro da primeira ação de guerra psicológica na história militar brasileira.
O tenente revolucionário João Cabanas, fez circular pela rede telegráfica falsas
informações sobre o efetivo e o poderio bélico da coluna. Da tática, resultou o esperado.
Temendo o confronto com forças numérica e belicamente superiores, as autoridades das
cidades pelas quais a coluna passou, deixou-a seguir incólume ganhando o terreno
necessário para seu avanço até as divisas do país. O movimento contribui para disseminar
os problemas do poder concentrador oligárquico da República Velha, culminando na
Revolução de 1930. Prestes foi chamado por esta marcha de cavaleiro da esperança na luta
contra os poderes dominadores da burocracia.
Nesse contexto, foi comissionado no posto de tenente o civil Manoel de Jesus Trindade
para a formulação de um canal de comunicação entre a capital do estado e o efetivo que
permanecia em campanha. Podemos, portanto, atribuir a este valoroso oficial a
organização do serviço de comunicações que se tornou no atual CSM/M Tel.
CRUZ AZUL
Conforme estatuto no dia 28 de julho de 1925, a Associação das Damas da Cruz
Azul de São Paulo foi criada. A ideia de se organizar uma Instituição nesse sentido surgiu
em 1924. Naquele ano, devido à Revolução, Batalhões da Força Pública de São Paulo
estavam em diversos pontos do Brasil. Com isso, as famílias dos soldados muitas vezes
ficavam desamparadas, o que sensibilizou uma comissão de damas da sociedade da época
a fundar a Instituição, juntamente com o coronel Pedro Dias de Campos, Comandante-Geral
da Força Pública.
Em princípio, determinaram que o nome da Instituição fosse apenas Cruz Azul de
São Paulo para que os homens pudessem fazer parte de sua diretoria que desde o início,
ganhou a simpatia e o acolhimento da população e logo os primeiros donativos começaram
a chegar. Eram vários, de pessoas da sociedade, do Batalhão do Corpo de Bombeiros, de
Câmaras Municipais de cidades do interior do estado, como Bauru e Fartura, e dos
próprios oficiais. Só para citar um exemplo, as praças do 4° Batalhão da Força Pública, em
novembro de 1925, fizeram uma doação em dinheiro, proveniente de economias do
contingente da unidade em operações de guerra no Mato Grosso. Chás beneficentes, provas
turfísticas, extrações da Loteria oficial, concertos musicais da Banda de Música, doações e
até mesmo o salto improvisado do paraquedista tenente Antônio Pereira de Lima, foram
alguns dos meios lícitos que o cel. Pedro Dias de Campos utilizou para a construção do
Hospital, uma vez que não havia dinheiro público para tanto. Além disso, outras
instituições como creches e orfanatos cederam algumas vagas às crianças acolhidas pela
Cruz Azul. Os pedidos de adesões de sócios também foram muitos e significativos. Em
33
1976, foi construída a torre de internação do hospital e, em 1978, foi fundado o Colégio de
Polícia Militar de São Paulo.
Hoje A Associação Cruz Azul de SP, é uma associação sem fins econômicos, de
caráter beneficente, filantrópica e educativa. Assistência Médica... p/ os beneficiários dos
contribuintes da CBPMESP. Conta com 11 unidades do Colégio PM - São Paulo - Centro,
Itaquera, Penha, Santo Amaro e Vila Talarico; Campinas, Guarulhos, Osasco, Santo André,
São Vicente e Sorocaba.
49
A criação da Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública do Estado de São Paulo, é datada de 17 de
setembro de 1906, pelas mãos de Jorge Tibiriçá Piratininga então Presidente do Estado. Ocorre que, a Secretaria
acumulava também, a pasta e as funções da Justiça. Em 1930 após o início do Governo Provisório de Vargas, as
pastas são definitivamente separadas, restando ao Gal. Miguel Costa ser seu primeiro comandante nesse novo
formato que prevalece até os dias atuais.
34
CAMPANHA 13 - CAMPANHA DE GOIÁS EM 1926
A revolução de 1924 em São Paulo provocou reflexos nos estados do Rio Grande
do Sul e Mato Grosso. Para combater os revoltosos, o 1º Batalhão de Infantaria da Força
Pública seguiu para a cidade gaúcha de Uruguaiana e o 4º Batalhão foi deslocado para a
cidade mato-grossense de Três Lagoas. O 1º Batalhão de Infantaria 50, sob o comando do
coronel Joviniano Brandão, perseguiu e combateu os revoltosos em diversos pontos entre
Uruguaiana e Três Lagoas. Em 4 de agosto de 1925 retornou a São Paulo o 1º. Batalhão; o
4º. Batalhão retornou a sua sede em janeiro de 1926. O 2º. Batalhão de Infantaria 51, sob o
comando do coronel Afro Marcondes de Rezende, seguiu para a cidade paranaense de
Ponta Grossa, em 29 de outubro de 1924. Combateu em Rocinha, Adelaide, Flanco
Direito, Formigas, Flanco Esquerdo e Catanduvas, regressando a São Paulo em 2 de
setembro de 1925. Os 3º e 5º Batalhões de Infantaria seguiram para o Ceará, em 16 de
janeiro de 1926, a bordo do vapor "Cuiabá". Este sob o comando do coronel Arthur da
Graça Martins, e aquele sob o comando do tenente-coronel Arthur Godoy.
Os revoltosos de 1924 formaram a célebre coluna Miguel Costa-Prestes, que cruzou
o Brasil do Rio Grande do Sul ao Ceará, e do Ceará ao Mato Grosso. Para combater a
Coluna seguiram os Batalhões paulistas para o Ceará. Os 3º e 5º Batalhões, em operações
militares, estiveram em Iguatu, José de Alencar e Icó, no Ceará, e, na Bahia, estiveram em
Salvador, Uauá, Campo do Meio, Riacho do Sítio, Itiúba, Jurema, Barro Vermelho e
Serrinha. Nessas operações militares faleceram os seguintes oficiais: tenente-coronel Arthur
Godoy, capitão Joaquim Pires de Souza, tenente José Ferreira da Silva e tenente Pedro
Pereira Lopes. Em 21 de agosto de 1926, o Batalhão regressou a São Paulo. A Brigada
Mista, organizada em São Paulo pela Força Pública com 2.400 homens, partiu para Goiás
em 26 de julho de 1926, sob o comando do coronel Pedro Dias de Campos, constituída
com as seguintes unidades da Força Pública paulista: 1º, 4º, 6º e 8º Batalhões de Infantaria,
2º Regimento de Cavalaria, Esquadrilha de Aviação e unidades logísticas para garantirem
a operacionalidade. A Brigada desdobrou as suas operações de Ipameri a Vianápolis, em
Goiás. Após diversos confrontos entre a Brigada e a Coluna revoltosa, esta regressou a São
Paulo em fevereiro de 1927. A campanha de Goiás foi o confronto entre dois líderes da
Força Pública: coronel Pedro Dias de Campos e major Miguel Costa que, internando-se na
Bolívia, seguiu posteriormente com Prestes para Buenos Aires, onde permaneceriam até a
revolução de 1930.
50
Efetivo do 1º BI: 23 Oficiais e 339 praças.
51
Efetivo do 2º BI: 22 Oficiais e 375 praças.
35
O VOO DO JAHÚ
A travessia impossível.
Visando uma travessia aérea transatlântica inédita, João Ribeiro de Barros (jaúense),
inicia sua epopeia. Inúmeros foram os problemas enfrentados e vencidos pelos tripulantes da
aeronave. Desde impasses com combustível, nos motores, sabotagem até problemas com o
tempo. Apesar de todos os percalços, foi estabelecido um recorde de velocidade - 190
quilômetros por hora que, somente anos mais tarde seria batido por outra aeronave. Os
aeronautas partiram de Gênova na Itália, fazendo escalas na Espanha, Gibraltar, Cabo Verde e
Fernando de Noronha, já em território brasileiro.
Em 28 de abril de 1927 às 04h30min partindo da praia da Ilha de Santiago em Cabo
Verde, o Cmt João Ribeiro de Barros juntamente a seu copiloto tenente João Negrão da
Esquadrilha de aviação da Força Pública do estado de São Paulo, realizam a primeira
travessia do Atlântico a bordo do hidroavião Jahú pousando em território brasileiro na ilha de
Fernando de Noronha às 17h do mesmo dia. Após a travessia, foram pousando em cidades
marginais ao litoral brasileiro até atingir a capital do Estado de São Paulo onde foram
recebidos com grandes honras.
36
A PMESP DURANTE A ERA VARGAS
O Contexto da Revolução de 1930 guarda profunda relação com o Tenentismo. Nas
eleições de 1930, Washington Luís (paulista) indica Júlio Prestes (também paulista) que
ganha as eleições para a presidência da República, porém seria a chapa da Aliança Liberal
liderada por Getúlio Dorneles Vargas e Oswaldo Aranha que teria o apoio da elite mineira,
gaúcha e de boa parte da carioca e nordestina, colocando fim à oligarquia cafeeira. Assumindo
o controle da Revolução, o Exército brasileiro toma o poder e o transfere a Vargas que,
iniciando um período de governo declarado provisório, se estenderia pelos próximos 15
anos. A Era Vargas é dividia em: Governo Provisório: 1930-1934; Governo
Constitucionalista: 1934-1937 e Estado Novo: 1937-1945. Em 1945 Vargas foi deposto por
um golpe, mas se elegeu Senador e Deputado por vários estados brasileiros, optando pela
cadeira de Senador pelo Rio Grande do Sul. Em 1950 foi eleito para um novo mandato de
Presidente da República pelo voto direto, suicidando-se em 24 de agosto de 1954 no Rio de
Janeiro.
Dentro dos 15 anos de seu primeiro período de governo, modernizou o país, criou
novos ministérios, nomeou interventores para os estados, criou políticas de valorização do
café, instituiu a Legislação trabalhista e sindical, promoveu uma reforma política e eleitoral e
instituiu o voto para as mulheres.
37
e uma companhia foi enviada ao litoral de Santos. Em 10 de outubro de 1930, tropas do 6º
Batalhão ocupam a cidade mineira de Ouro Fino. O 3º Batalhão foi deslocado para a área de
Faxina, na divisa com MG. Do 1º Regimento de Cavalaria seguiu para Itararé um esquadrão,
e para Ourinhos um pelotão. O 2º Regimento de Cavalaria deslocou um esquadrão para a
área de Ourinhos.
Na divisa São Paulo-Paraná ocorreram os combates de Quatiguá, Sangés,
Morungaba e Cananéia. Na divisa de São Paulo e Minas Gerais ocorreram combates em
Antunes e Guaíra. A concentração de tropas na área de Itararé foi desmobilizada depois que
o Almirante Isaias Noronha e os Generais Tasso Fragoso e Menna Barreto ocuparam o
Governo, substituindo Washington Luís. Estes, depois, transferiram a Getúlio Dornelles
Vargas, chefe civil da revolução, o governo da República. Em 24 de outubro, os Batalhões
retornaram as às suas sedes, na capital paulista.
38
Estado, eis algumas das medidas que foram tomadas em relação à Instituição:
Supressão da artilharia; Supressão da aviação;
Supressão de Moto mecanização;
Intervenção nas escolas de formação (perda considerável dos ganhos adquiridos
durante as missões francesas).
MMDC
A sigla MMDC foi composta com as iniciais dos nomes de quatro paulistas mortos
pelas forças ditatoriais em um confronto ocorrido no dia 23 de maio de 1932 na Praça da
República no centro de São Paulo. Três morreram no local: Martins, Miragaia e Camargo.
Dráusio, um menino de 14 anos, faleceu no dia seguinte, em consequência dos ferimentos
sofridos.
Com as iniciais de seus nomes foi formada a sigla MMDC, que representava a disposição de
São Paulo para enfrentar a ditadura. Mas, além desses quatro, Orlando Oliveira Alvarenga
foi ferido gravemente, vindo a falecer durante a Revolução, 81 dias após. Com isso, foi
relegado ao esquecimento.
Em 2002, quando a Revolução completou 70 anos, o Instituto Histórico, Geográfico
e Genealógico de Sorocaba, homenageou 100 heróis, descendentes ou personalidades ilustres
com a medalha MMDCA, que adiciona a inicial de Alvarenga, o quinto paulista morto no
52
COSTA, Y. A. Miguel Costa: um herói brasileiro. São Paulo: Imprensa Oficial, 2010.
39
confronto de 23 de maio de 1932.
M Mário Martins de Almeida – 31 anos – Fazendeiro em Sertãozinho – SP.
M Euclydes Bueno Miragaia – 21 anos – Auxiliar de Cartório em São Paulo – SP.
D Dráusio Marcondes de Souza – 14 anos – Ajudante de Farmácia em São Paulo – SP.
C Antônio Américo de Camargo Andrade – 30 anos – Comerciário em São Paulo – SP.
40
(divisa com o Paraná) e as tropas das 1ª e 4ª Regiões Militares na frente Leste (divisas com o
Rio de Janeiro e Minas Gerais). As tropas da frente Sul foram engrossadas com os efetivos
das polícias militares de Santa Catarina e do Paraná, da Brigada Militar gaúcha e 27
Batalhões Provisórios. As tropas da frente Leste receberam os efetivos das polícias militares
de Minas Gerais, Rio de Janeiro, do antigo Distrito Federal (cidade do Rio de Janeiro), do
Espírito Santo e dos estados do Nordeste, e tropas federais da Bahia e do Nordeste.
Na frente Sul estavam mobilizadas as seguintes tropas do Exército: 6 Batalhões de
Caçadores, um Regimento de Infantaria, 3 Regimentos de Artilharia, 2 Grupos de Artilharia
e 15 Regimentos de Cavalaria. Na frente Leste mobilizavam-se 9 Regimentos de Infantaria,
13 Batalhões de Caçadores, 3 Regimentos de Artilharia, 2 Grupos de Artilharia, 3
Regimentos de Cavalaria e 2 Batalhões de Engenharia. Ao todo 58 unidades regulares do
Exército, com um efetivo total de aproximadamente 40 mil homens do Exército e mais 20
mil homens das polícias militares e batalhões provisórios. O Exército de São Paulo tinha as
seguintes unidades oriundas das 2ª e 9ª Regiões Militares: 4º, 5º e 6º Regimento de Infantaria,
2º Batalhão de Caçadores, 4º Batalhão de Caçadores, 18º Batalhão de Caçadores, 2º
Regimento de Cavalaria Divisionária, 4º Regimento de Artilharia Montada, 2º Grupo de
Artilharia Pesada, 3º Grupo de Artilharia da Costa, 2º Grupo de Artilharia de Dorso e o 2º
Batalhão de Engenharia. Ao todo, 11 unidades regulares do Exército54. O Esquadrão de
Castro aderiu à Revolução. Das unidades da Força Pública, formaram com o Exército
Constitucionalista os 1º, 2º, 3º, 4º, 5º, 6º, 7º, 8º e 9º Batalhões de Caçadores Paulista, o
Regimento de Cavalaria, Corpo de Bombeiros e demais unidades da Força Pública além da
Guarda Civil. Os voluntários paulistas formaram as Brigadas Minas Gerais e Sul (com sete
Batalhões), 87 Batalhões de Voluntários, 4 unidades de Trens Blindados, uma Companhia
de Morteiros, uma Companhia de Bombardas, 3 Companhias Isoladas e 4 Esquadrões de
Cavalaria. O efetivo da 2ª. Região Militar e parte da 9ª. Região Militar (então Circunscrição
Militar de Mato Grosso) eram aproximadamente 7.200 homens55; a Força Pública tinha
8.200 homens, a Guarda Civil contava com 3.141 guardas e foram recrutados,
aproximadamente, 20.000 voluntários56.
Os primeiros combates ocorreram em 13 de julho em Cachoeira Paulista, Túnel
54
Sedes paulistas das unidades do Exército: 4º. RI, Quitaúna, 5º. RI, Lorena, 6º. RI, Caçapava, 2º. RCD,
Pirassununga, 4º. BC, São Paulo, 4º. RAM, Itu, 2º. GAP. Quitaúna, 2º. GAM, Jundiaí́ e 2º. BE, Pindamonhangaba.
55
FIGUEIREDO, Euclydes. Contribuição para a História da Revolução de 1932. Rio de Janeiro: Martins Fontes,
1981. Efetivos das seguintes unidades: 4º. RI, I/5º.RI, 6º. RI, II/5º.RI, III/5º.RI, III/6º.RI, 4º. BC, 2º.RCD, I/5º.RCI,
4º.RAM, 3º.GAC, 2º.GAM, 2º.GAP, 2º. BC e contingente de Mato Grosso, respectivamente, 1586, 467, 1107, 435,
414, 463, 516, 304, 133, 345, 185, 257, 336, 212 e 300 homens. O 6º. BC de Ipameri, Goiás, não aderiu à Revolução.
56
O Correio da Manhã de 26 de outubro de 1932 registra o seguinte efetivo: 22.395 voluntários, 10.200 da Força
Pública e 3612 do Exército, dando um total de 36207 homens.
41
Cruzeiro e São José do Barreiro57. Após 82 dias de luta, com perda de vidas preciosas de
oficiais, graduados, praças e voluntários, cessaram as hostilidades. O Exército
Constitucionalista perdeu em combate 578 homens (conforme o livro Cruzes Paulistas),
sendo 173 da Polícia Militar 34, 67 do Exército e 338 voluntários. Em 30 de setembro de
1932 o comandante-geral da Força Pública ordenou o retorno dos Batalhões e do Regimento
às suas sedes. São Paulo, após lutas intensas, perdeu militarmente a luta, mas ganhou o seu
ideal, com a promulgação da Carta Magna da República em 1934.
57
DONATO, Hernani. Dicionário das Batalhas Brasileiras. São Paulo: Ed. Ibrasa, 2010. Esse Dicionário relaciona
64 operações militares durante a Revolução Constitucionalista. Os últimos combates foram em Porto Esperança,
Itapeva e Salto- Angatuba, respectivamente, nos dias 25 de setembro, 28 de setembro e 1º de outubro de 1932.
42
força continuasse a ganhar a confiança do governo federal, este não negligenciaria seu temor
ante ao espírito de luta e pujança do povo paulista.
Como demonstração de autoridade e poder, a ditadura Vargas promoveu em 1940 a
queima cerimonial da bandeira Paulista perante a presença de milhares de estudantes. Outra
medida tomada pelos ditadores, foi a mudança do nome de nossa Instituição de Força
Pública para FORÇA POLICIAL, numa tentativa de desarraigar da memória dos paulistas,
sua Instituição de segurança pública.
Concluindo essa fase de renovação institucional, data de 1943 um dos grandes
divisores de águas em nossa história. Segundo o Cel. Eduardo Assumpção foi a partir dessa
data que os exames de admissão para o ingresso à Força, passaram a exigir ao candidato a
Soldado, a redação de um ditado escrito e a realização das quatro operações básicas da
matemática. Era o fim da era dos analfabetos e a Instituição poderia caminhar pelos trilhos
da qualidade do ensino para as Praças59.
59
ASSUMPÇÃO, Cel. Eduardo. Evolução técnico-cultural, determinação e desenvolvimento do PM. Tese
(Doutorado em Ciências policiais de Segurança e Ordem Pública) – Centro de Altos Estudos da Polícia Militar do
Estado de São Paulo. São Paulo: 1994.
60
FINLEY, Moses; Democracia Antiga e Moderna. São Paulo: Graal, 2010 p. 120.
43
inúmeros atos de sabotagens.
O governo brasileiro organizou também a Força Expedicionária Brasileira, que em
1944 deslocou-se para a Itália, onde a 1ª. Divisão Expedicionária combateu até o fim da
guerra sob o comando do General de Exército João Batista Mascarenhas de Moraes. Entre as
unidades componentes da Divisão Expedicionária encontrava-se o Pelotão de Polícia do
Exército, então denominado Pelotão de Polícia Militar. O Pelotão de Polícia Expedicionário
foi organizado com oficiais e sargentos do Exército brasileiro, e os soldados, em número de
79, foram recrutados na Guarda Civil de São Paulo. Inicialmente, este pelotão foi
comandado pelo 1º. Tenente Waldir de Lima e Silva, e a seguir, pelo 1º. Tenente José
Maciel Miler. Na Itália o pelotão foi transformado em Companhia. Este pelotão deu origem
posteriormente às unidades de Polícia do Exército. A atuação dos soldados de São Paulo foi
amplamente elogiada pelo General Mascarenhas de Moraes, comandante da Divisão
Brasileira na Itália. Dos 79 guardas civis que participaram da Campanha da Itália, em 1990
(último dado estatístico acerca do efetivo), 44 eram oficiais reformados da Polícia Militar,
um era oficial reformado do Exército brasileiro, 2 eram praças reformadas da Polícia
Militar, 2 faleceram na Itália, 23 faleceram após o regresso ao Brasil e 7 eram civis61.
61
TELHADA, Cel. Paulo Adriano Lucinda Lopes. A polícia de São Paulo nos campos da Itália. São Paulo: KMK,
2001.
44
Exército foi reformado como General de Brigada em virtude da legislação imperial aplicável
aos militares participantes da Guerra do Paraguai. O General Francisco Alves do Nascimento
Pinto possuía as seguintes condecorações: Cavalheiro da Ordem de Cristo, Cavalheiro da
Ordem da Rosa, Medalha da Guerra do Paraguai (cinco anos), Medalha da Argentina,
Medalha do Uruguai e Comenda da Ordem do Cruzeiro. Foi um dos fundadores da Caixa
Beneficente da Força Pública do Estado de São Paulo.
45
em 1925 em Goiás. Em 31 de maio de 1927 foi promovido a Tenente-Coronel e designado
para comandar o 1º. Regimento de Cavalaria, onde serviu até 1º de dezembro de 1930.
O Tenente-Coronel Júlio Marcondes Salgado comandou as seguintes unidades:
Curso de Instrução Militar (2 de dezembro de 1930 a 21 de junho de 1931), 4º Batalhão de
Infantaria (22 de junho de 1931 a 23 de agosto de 1931), 9º Batalhão de Caçadores Paulista
(24 de agosto de 1931 a 21 de outubro de 1931), 5º Batalhão de Caçadores Paulista (28 de
outubro de 1931 a 22 de maio de 1932).
Em 23 de maio de 1932 assumiu o comando da Força Pública e participou
ativamente da Revolução Constitucionalista. No dia 23 de julho, em pleno conflito, o
Coronel com o seu Estado-Maior, dirigiu-se a Santo Amaro, na Capital paulista, para
observar os testes com morteiros e Bombardeios. Durante um dos testes, a granada explodiu
na boca da arma e provocou sua morte instantânea além de ferimentos no Tenente-Coronel
Salvador Moya e Major Marcelino da Fonseca 62. O Coronel Marcondes Salgado faleceu aos
42 anos, morto em cumprimento do dever. O Governador do Estado, Dr. Pedro de Toledo,
considerando seus méritos, quer como miliciano da Força quer como líder militar, resolveu,
nos termos do decreto 5.602 de 23 de julho de 1932, considerar promovido "post mortem"
ao posto de General, este comandante da Força Pública do Estado de São Paulo.
62
O Major Marcelino faleceu horas depois do acidente e também foi promovido “post mortem”.
46
federais, qual seja, a defesa da pátria. Como a Força Pública que agia praticamente como um
“exército estadual” e que após ser vencida na Revolução de 32 tivera grande parte de seu
material bélico confiscado pela União deveria agir a partir de então?
Como alguns oficiais já pensavam, chegara o momento de a Força Pública passar a se
especializar em realizar policiamento. O debate público e a liberdade das instituições, vindas
com a democratização de 1946, implicaram questionamentos sobre o real papel a ser
desempenhado pela Força Pública. Já não mais se admitia um gasto enorme de orçamento para
se manter uma tropa aquartelada, quando tantos crimes já ocorriam na metrópole.
Ainda sobre a CF de 1946, esta avança para a área da segurança pública, atribuindo à União, a
competência exclusiva para legislar sobre alguns aspectos das polícias militares. Dentre eles,
destacamos: Organização, Instrução, Justiça e Garantias das Polícias Militares
(homogeneidade).
Ainda em 1946 com a edição do Decreto-Lei 9208, ficava instituído o Dia das
Polícias Civis e Militares a ser comemorado todos os anos em 21 de abril, sendo declarado
Tiradentes, seu patrono. Vale lembrar, no entanto, que, ainda que Tiradentes tenha sido
legalmente declarado Patrono das Polícias no Brasil, a figura do Brigadeiro Rafael Tobias
de Aguiar exerce as funções de mito fundador e Patrono da Polícia Militar do Estado de
São Paulo, segundo a tradição inventada63.
Em 1947, é promulgada a nova Constituição Paulista e a Instituição volta a resgatar
seu histórico nome de FORÇA PÚBLICA. O efetivo da Guarda Civil aumenta e começam a
abraçar o interior do estado. Em princípio cidades próximas à capital até atingir os rincões
paulistas. O impacto desta nova carta magna na atividade policial militar foi significativo64
fazendo com que todos os cursos, estágios e atualizações profissionais da Força Pública
tivessem seus currículos adequados a nova realidade constitucional, ou seja, realizar
patrulhamento. Nesta mesma época era implantado o radio-patrulhamento padrão pela PM.
63
HOBSBAWN, Eric e RANGER, Terence. A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008, p. 09.
Termo criado por HOBSBAWN que o define como um conjunto de práticas rituais ou simbólicas abertamente aceitas
dentro de sociedades que buscam padronizar normas comportamentais e valores aceitos como válidos, sedimentando
a continuidade entre presente e passado.
64
BATTIBUGLI, Thaís. Democracia e segurança pública em São Paulo (1946-1964). 2006. Tese (Doutorado em
Ciência Política), Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo. São Paulo.
47
provisório e com suas finalidades voltadas aos policiamentos urbanos, auxiliar, de trânsito e de
Rádio patrulha65.
- Cia de Pol Urbano: Dispunha de 3 postos móveis rebocados por Jipes que podiam
ser utilizados/estacionados onde fosse necessário, especialmente em serviço de fiscalização
rodoviária, atual CPRv.
- Sobre o CPRv: Com um efetivo de 60 homens sob o comando do Tenente da Força
Pública, José Pina de Figueiredo, a Polícia Rodoviária, quando criada, iniciou suas atividades
operacionais realizando policiamento na Rodovia Anchieta. O policiamento rodoviário sempre
esteve sob o comando de um oficial da Força Pública do Estado de São Paulo, e, no princípio,
esses oficiais e praças do Quadro de Especialistas da Polícia Rodoviária (QEPR), juntos com os
Guardas Rodoviários do DER que eram civis, exerciam as atividades de policiamento sendo
comissionados ao DER. E assim foi até o ano de 1963, quando a então Força Pública absorveu a
Polícia Rodoviária e criou o Corpo de Polícia Rodoviária. Atualmente, como segmento
especializado da PMESP e órgão responsável pela fiscalização de trânsito nas rodovias
estaduais, o CPRv é responsável pelo policiamento ostensivo de trânsito e pela preservação da
ordem pública nessas rodovias, materializando o compromisso institucional de defender a vida,
a integridade física e a dignidade da pessoa humana.
- Cia de Pol Auxiliar: encarregada de debelar tumultos ou motins com pelotão de
prontidão 24h. Cia de Pol Aux. foi o embrião do CPChq da PMESP, “era elevado o número de
heróis desta companhia, tombados no cumprimento do dever, na luta insana de combate ao
crime”.
- Sobre CPChq: Sua criação visou preencher lacuna devido à inexistência de um
comando intermediário para os Batalhões de Choque, a exemplo dos Comandos de
Policiamento da Área. Com o decorrer do tempo verificou-se a necessidade da reformulação da
sistemática administrativa e operacional a fim de melhorar o rendimento operacional dos
Batalhões de Choque. O Comando de Policiamento de Choque é definido como Órgãos
Especiais de Execução e força reserva do Comando Geral para emprego em missões
extraordinárias de polícia ostensiva e de preservação da ordem pública no território estadual
sendo composto por: 1º BPChq – Tobias de Aguiar, 2º BPCHq - Anchieta, 3º BPChq - Humaitá,
4º BPChq – Operações Especiais, 5º BPChq – Policiamento de Choque, Canil e Regimento de
Cavalaria “9 de Julho”.
- Esquadrão de Pol Rural: Unidade originária do atual policiamento ambiental tinha
inicialmente a missão de procurar foragidos, atender crimes nas áreas afastadas (rurais),
conduzir carteiros para áreas afastadas, orientar moradores quanto a higiene caseira, do solo, da
água, entre outros. Para servir nesta Cia era exigido do policial: bom comportamento, ter entre
65
SILVA, Antonio. “Batalhão Policial”. Revista Militia, n.17, jul/Ago/1950.
48
22 e 35 anos, ser solteiro, saber ler e escrever com caligrafia regular e conhecer as 4 operações
fundamentais de matemática, saber nadar, andar a cavalo e ter robustez física de acordo com a
exigência do serviço. Se aceito, o policial realizava um curso de 4 a 5 semanas para prepará-lo
para as novas funções. O Esquadrão foi o início do Pol Rural em São Paulo66.
- Sobre o CPAmb: Em 14 de dezembro de 1949, um tenente, comandando cinco
segundo-sargentos, quatro cabos e dezoito soldados, iniciava as primeiras atividades de
fiscalização florestal no Estado de São Paulo. Em novembro de 2001, o Governador Geraldo
Alckmin assinou o Decreto Estadual n. 46.263, de 09 de novembro de 2001, que alterou o nome
Florestal e de Mananciais para Ambiental, o que conferiu maior amplitude às missões das
Unidades de Policiamento. Foram firmados então convênios entre a Secretaria do Meio
Ambiente e o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) e Superintendência de
Desenvolvimento da Pesca (SUDEP), para efetuar um policiamento ostensivo, preventivo e
repressivo à proteção dos recursos naturais renováveis67.
Em 1949 cria-se o Presídio Militar, adotando o nome de Romão Gomes em
homenagem a este ilustre personagem (Juiz Militar do Estado de São Paulo).
Em 1950 é implantado o Departamento de Polícia Militar (DPM) atual Corregedoria
PM. Historicamente, apresenta-se como uma “força reserva”, pronta para intervir no
estabelecimento da disciplina e observância da execução das ordens e diretrizes exaradas pelo
Comando Geral da Instituição. Nesse sentido, as atribuições da Corregedoria PM devem estar
adequadamente descritas e atualizadas em ato normativo próprio, que sustente, juridicamente,
os atos administrativos praticados por seus integrantes.
Também em 1950 foi criado o Canil com cães adquiridos da Argentina. Segundo o Cel.
José de Anchieta Torres68, o principal fator que influenciou a adoção dos cães nas atividades de
polícia e de preservação da ordem pública foi a vinda da 1ª Missão Francesa, sendo que, por
volta de 1912, deu-se o início do emprego de cães policiais belgas pela Guarda Cívica. Ressalta-
se que as Missões Francesas nos legaram uma sólida estrutura de formação, buscando o
aperfeiçoamento intelectual, o aprimoramento da técnica profissional e inovando conceitos e
formas de atuação da Força Estadual.
66
CARVALHO, Glauco Silva de. A Força Pública paulista na redemocratização de 1946: dilemas de uma
instituição entre a função policial e a destinação militar, 2011. Tese (Doutorado em Ciência Política), Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo.
67
Polícia Militar do Estado de São Paulo. Comando de Policiamento Ambiental, “Histórico da polícia militar
ambiental”. Disponível em: https://www.policiamilitar.sp.gov.br/unidades/ambiental/index.html, Acesso em: 31
maio 2004.
68
TORRES, José de Anchieta, Histórias e estórias da Força Pública do Estado de São Paulo, Ed. do Autor, São
Paulo, s/data.
49
manda pôr em execução o “REGULAMENTO DA FORÇA PÚBLICA PARA O
SERVIÇO DE POLICIAMENTO” representando um avanço para a época. Tal avanço se
configura no teor do DECRETO N. 20.910, DE 5 DE NOVEMBRO DE 1951 que
resumidamente tratava sobre a finalidade da Força Pública, seus objetivos estratégicos,
competência de cada integrante, modo de fiscalização, modo de atuação, entre outros, tudo para
adequar, padronizar e regular a forma de se executar o policiamento à época. Teríamos a partir
de então uma espécie de manual de conduta policial e também um regulamento interno69.
O SALTO NA AMAZÔNIA
Em 10 e 11 de maio de 1952, tendo à testa da missão o Capitão Djanir Caldas, um
grupo de paraquedistas da Força Pública saltou sobre a floresta amazônica, em evento de
repercussão mundial, resgatando os corpos e pertences das 60 vítimas da sinistrada aeronave
“President”, da empresa Pan American70.
69
SÃO PAULO (Estado). Decreto n. 20.910 de 05 nov. 1951, Aprova o Regulamento da Força Pública para o
serviço de policiamento, São Paulo: ALESP, 1951.
70
ARRUDA, Luiz Eduardo Pesce de; Polícia Militar: uma crônica. In: A Força Policial nº 13 jan.-mar. 1997.
São Paulo. 1997.
50
quadros da Polícia Militar do Estado de São Paulo através do Decreto-Lei n. 217/70.
O Batalhão de Policiamento Feminino (BPFem), subordinado ao Comando de
Policiamento da Capital, era o órgão responsável pela preservação da ordem pública no Estado
de São Paulo, em ações de policiamento ostensivo relacionadas à mulher e ao menor,
competindo-lhe o planejamento, comando, execução e fiscalização ao emprego operacional da
unidade, de acordo com planos e ordens do escalão superior.
Em 1989 se deu o ingresso da mulher na Academia da Polícia Militar, para o Curso de
Formação de Oficiais, em igualdade com o homem.
Em 2011, os Quadros masculino e feminino foram unificados, resgatando uma histórica
dívida para com as mulheres de nossa Instituição, gerando a partir de então, os mesmos direitos,
deveres e prerrogativas, oferecendo maior oportunidade de ascensão na carreira a essas
policiais71.
71
MOREIRA, Rosemeri. Sobre mulheres e polícias: a construção do policiamento feminino em São Paulo (1955-
1964). 2011. Tese (Doutorado em História), Departamento de História, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis.
72
DOS REIS, Emanuel Martins. A Política fitossanitária de combate ao cancro cítrico na região de Presidente
Prudente. 2008. Tese (Doutorado em Geografia), Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Presidente Prudente.
51
profilaxia, realizou um trabalho de educação sanitária com palestras e outras ações de saúde
pública.
A CANÇÃO DA PMESP
A música está presente na Polícia Militar desde os primórdios da Instituição. Já em 07
de abril de 1857 foi organizado o conjunto musical do então denominado Corpo Policial
Permanente, que se destinava a auxiliar a instrução e proporcionar lazer aos membros da
Milícia, como vimos nas aulas 5 e 6.
A Instituição não possuía um hino, limitando- se seus integrantes a cantarem canções
patrióticas, militares (aproveitadas do Exército Imperial) e populares, muitas vezes
acompanhados apenas por violão, como ocorreu, por exemplo, durante a "Retirada da Laguna",
segundo registrou Alfredo Taunay em sua obra homônima à campanha.
73
Página do CPRv na intranet.policiamilitar.sp.gov.br
52
O primeiro ensaio de uma canção que identificasse a Força Pública revelou-se durante
os momentos que antecederam o movimento constitucionalista de 32. Poucas horas após os
graves episódios acontecidos na Praça da República, em 23 e 24 de maio, e que resultaram na
morte de Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo, o radialista César Ladeira adentrou às
dependências da rádio Record e pediu ao operador que colocasse uma marcha militar como
fundo para difundir a notícia aos ouvintes. Quase acidentalmente, o operador tomou o primeiro
disco disponível sobre o tema e veiculou a marcha "Paris Belfort", composta pelo Francês
Farrigoud, executada na guerra Franco Prussiana.
Porém, a fase de hinos propositalmente criados para a instituição iniciou-se em 1950
quando o Ten. Elêusis Dias Peixoto, criou a “Canção do Batalhão de Guardas”. Outra canção
que teve destaque marcante foi o “Hino da Escola de Oficiais” que foi oficializado a partir de
abril de 1957.
Em 1964, o então Comandante-Geral da Força Pública, General João Franco Pontes,
obteve do poeta Guilherme de Almeida a letra, que o Major Maestro PM Alcides Giacomo
Degobbi, musicou. Surgia assim a "Canção da Força Pública do Estado de São Paulo”. A estreia
da composição deu-se no pátio interno da Academia de Polícia Militar do Barro Branco em 15
de dezembro de 1964. Passemos a examiná-la mais detalhadamente:
TOBIAS MANDA - Como Presidente do Conselho da Província de São Paulo (cargo hoje
correspondente a Governador do Estado), o Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar deu
provimento à determinação de Feijó, criando, em 15 de dezembro de 1831, o Corpo de
Guardas Municipais.
POR MERCÊ DE DEUS - Pela graça, pela vontade divina. Linguagem presente na maior
parte das leis do Império e Regência, que evoca as raízes cristãs da Milícia, e incorpora à
sua missão os valores dessa ética: absoluto respeito à vida, à integridade física e à
53
dignidade humana, caridade, fé, esperança, coragem para denunciar, enfrentar e resistir ao
mal, sede de justiça e de verdade, amor à paz.
54
alimentos ou roupas adequadas, enfrentando condições climáticas inclementes, varando
pântanos insalubres, vitimada por doenças tropicais (tifo, cólera etc.) retirou-se a coluna
brasileira. Finalmente, os remanescentes conseguiram retornar ao solo brasileiro. O Tenente
de Engenharia do Exército Imperial Alfredo D’Escragnolle Taunay, partícipe desse episódio,
sobre ele escreveu o épico: "A Retirada da Laguna".
55
SOB AS ARCADAS, VÊM, UM A UM – Como Guilherme de Almeida não deixou
explícita a fonte de sua inspiração, três hipóteses podem ser formuladas: A primeira – As
arcadas são símbolos universais e milenares de triunfo militar. Os arcos do triunfo,
evocando, por exemplo, as campanhas vitoriosas de Trajano (Roma) e de Napoleão
Bonaparte (Paris) são cartões-postais conhecidos em todo o mundo. Os nazistas desfilaram
sob o Arco do Triunfo em 1940. Os franceses, no dia da Libertação, em 1944, vingaram-se
da humilhação anterior, desfilando sob as mesmas arcadas. Várias vezes, também no Brasil,
forças vitoriosas desfilaram, no retorno de suas campanhas, sob Arcos do Triunfo, como
ocorreu, por exemplo, ao retornarem de Canudos e da Campanha da Itália (FEB). Assim o
poeta, após traçar um retrato das várias intervenções bem-sucedidas da Polícia Militar na
história paulista e brasileira, afirmaria que os integrantes da Instituição retornam em triunfo
à sua sede, com o sentimento do dever cumprido e o respeito e a gratidão da comunidade. A
segunda – As Arcadas evocariam a forma arquitetônica presente no convento de São
Francisco, onde se instalou a Faculdade de Direito de São Paulo. Nesse edifício, o maior
celeiro de líderes políticos da história brasileira e paulista e sensório jurídico do país, foi
instalado o posto central de alistamento de voluntários civis durante o movimento
constitucionalista de 1932. Após alistados, os voluntários eram conduzidos a campos de
treinamento, onde eram entregues aos cuidados de monitores e instrutores da Força Pública
que os adestravam brevemente, antes de seguirem para o front. Esse momento histórico
representou um dos pontos culminantes da integração entre a Polícia Militar e a
comunidade paulista, à qual serve. A terceira – Recordaria as arcadas do Convento do
Carmo, cuja ala térrea sediou o primeiro aquartelamento ocupado, a partir de 1832, pela
Polícia Militar.
Dessa forma, a "Canção da Polícia Militar", fruto da genialidade poética de
Guilherme de Almeida, valorizada pela competência e vibração de Degobbi, é um digno
resumo, a espelhar os dramas, os desafios e as vitórias dessa Força que serve a comunidade e
protege as pessoas contra atos ilegais, nas cidades, nas ruas e estradas, nos céus, nas águas e
florestas de São Paulo74.
74
A análise da letra da Canção da PM é creditada integralmente ao Cel. PM Luiz Eduardo Pesce de Arruda (hoje
veterano). Músico, sociólogo e historiador, Cel. Arruda ocupou várias funções na Instituição, destacando-se dentre
elas: Comandante do 2º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (2 de Ouro); Comandante do Centro de Altos
Estudos e Segurança (CAES); Comandante da Escola Superior de Soldados – Cel. Eduardo Assumpção (ESSd),
Diretor de Ensino e Cultura da Polícia Militar do Estado de São Paulo (DEC) e Comandante do Policiamento da
Capital (CPC). Fonte: Página do CMus na intranet.policiamilitar.sp.gov.br
56
CAMPANHA 18 - REVOLUÇÃO DE 1964 E SUAS CONSEQUENCIAS PARA A
FORÇA PUBLICA
A partir de 31 de março de 1964, a administração pública é toda mobilizada a serviço
da revolução, nisto incluídos os efetivos da Força Pública e Guarda Civil. Semelhante a
tempos anteriores não tão distantes, instaurou-se um modelo d e g e s t ã o que centralizava
o poder e esvaziava a autonomia dos estados promovendo clara intervenção federal na
área da segurança pública, explicitada pela legislação editada no período inicial do regime
com assuntos que trataram da reorganização, do ensino e da ampliação do controle sobre as
polícias militares com a criação da IGPM (Inspetoria Geral das Polícias Militares), além da
nomeação de vários Comandantes Gerais oriundos do Exército Brasileiro75.
Em 1967, durante manobra conjunta realizada entre a Força e o Exército, no vale do
Ribeira, foi o Tenente Celso Feliciano de Oliveira responsável pelas atividades cívico-sociais
e de relações com a comunidade. Findo o exercício, propôs em relatório a criação de uma 5ª
Seção do Estado-Maior (Seção de Assuntos Civis), o que viria a se concretizar em dezembro
de 1969, durante a segunda manobra conjunta realizada entre a Força e o Exército. A
criação dessa 5ª Seção do Estado-Maior, além de otimizar as relações da Instituição com seus
públicos, interno e externo, ofereceu os primeiros fundamentos para a formulação de uma
doutrina de defesa civil, sobre a qual falaremos mais adiante.
No ambiente revolucionário que marcou a vida nacional naquela década, coube à Força
Pública e à Guarda Civil, a par de prosseguirem defendendo, socorrendo e auxiliando a
população pelo exercício do policiamento fardado, enfrentar o peso do impacto de um
fenômeno até então desconhecido no Brasil76.
Em 1967, a nova constituição reforçou o controle sobre as Forças Públicas estaduais. É
75.
Para compreender melhor o papel da Inspetoria Geral das Polícias Militares, consultar Aulas 1 e 2 da disciplina de
Legislação Policial Militar.
76.
A partir da edição do Ato Institucional n. 2 de 27 out. 1965 e a vigência do Bipartidarismo (ARENA e MDB),
vários membros dos extintos partidos de esquerda optaram pela luta armada, fazendo surgir no Brasil movimentos
guerrilheiros no âmbito urbano e rural. Sua total extinção se daria no ano de 1974 com a derrota da guerrilha do
Araguaia na região situada hoje no estado de Tocantins.
57
também promulgado o Decreto-Lei 317 de 13 de março daquele ano (revogado
posteriormente pelo Decreto-Lei 667/69) reorganizando essas corporações e reforçando o
vínculo junto ao Exército brasileiro, além de outras medidas tomadas conforme citadas
acima.
A UNIFICAÇÃO DE 1970
Foi nesse cenário que em 08 de abril de 1970 o governo estadual decidiu unificar a
Força Pública e a Guarda Civil do Estado de São Paulo, transformando as duas corporações
em Polícia Militar do Estado de São Paulo, assumindo dessa forma o controle e todo o
sistema de policiamento ostensivo e preservação da ordem pública, incluindo o Corpo de
Bombeiros e suas atribuições definidas em lei77. Ainda em 1970 é criado o CSP (Curso
Superior de Polícia) atual Doutorado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública,
oferecido pelo CAES (Centro de Altos Estudos de Segurança).
Desde que foi criada a Polícia Militar, o Batalhão sempre foi a unidade básica, em
relação ao emprego e à administração do pessoal. Para a constituição de um Batalhão é
necessário no mínimo duas companhias operacionais e uma companhia de comando de
serviço. De acordo com essa matriz definida a partir de então, as companhias de
policiamento se revezariam no serviço operacional, sempre se adequando a real
necessidade, atendendo todo o serviço rotineiro bem como todas as eventualidades. A
companhia de comando e serviço abrangeria toda a administração da Organização Policial
Militar que passou a ser estruturada em:
Secretaria;
Tesouraria;
Serviços Médicos e Odontológicos;
Almoxarifado;
Serviço de Moto mecanização;
Controle de serviços relativos ao funcionamento do Batalhão.
77.
SÃO PAULO (Estado). Decreto Lei n. 217 de 8 abr. 1970. Dispõe a constituição da Polícia Militar do Estado de
São Paulo, integrada por elementos da Força Pública do Estado e da Guarda Civil de São Paulo. São Paulo:
ALESP, 1970.
58
essa recente prática no estado todo.
Instaura-se a partir do final da década de 1960 o COPOM (Centro de Operações da
Polícia Militar), atribuindo à Instituição o gerenciamento das comunicações de emergência,
gerando uma melhoria no atendimento, uma vez que as viaturas passaram dessa forma a ter
conhecimento dos despachos de ocorrências em tempo real.
59
onde fica o mausoléu da Polícia Militar78.
78.
Recomendamos a leitura do livro: Quartel da Luz, mansão da ROTA: Histórias do Batalhão Tobias de Aguiar de
autoria do Cel. PM Paulo Adriano Lopes Lucinda Telhada onde o autor apresenta uma extensa e detalhada narrativa
(baseada na história oral e em fontes diretas) do episódio que vitimou o maior exemplo de altruísmo e entrega que a
Instituição já presenciou até o tempo presente.
60
Em 1990, visando melhorar a qualidade do atendimento pré-hospitalar das ocorrências
de salvamento, é implantado o sistema de Resgate na Grande São Paulo e em mais municípios,
contando com pessoal, veículos especializados e apoio de helicópteros.
79
. FREITAS, Evelson. Tragédia anunciada. Horror em Congonhas. O Estado de São Paulo. Cidades – Metrópole –
São Paulo, quarta-feira, 18 jul. 2007. p. C3.
61
corpos daqueles que perderam suas vidas nessa tragédia80.
Em 21 de dezembro de 2015, o Museu da Língua Portuguesa, no Centro de São
Paulo, foi tomado pelas chamas. O fogo começou pouco depois das 16h em uma sala do
primeiro andar, o início do incêndio foi registrado por uma câmera de segurança, dando
conta de que o fogo teve início possivelmente pelo superaquecimento de uma das
luminárias, trocadas em função da exposição temporária ali montada. Em cinco minutos a
primeira viatura chegou ao local, enviada do quartel dos Campos Elísios, a menos de dois
quilômetros do museu, mas o fogo já havia se alastrado. Além da alta combustão dos
materiais da própria exposição temporária – papel, tecido e madeira -, os ambientes
contíguos, contribuíram para a rápida propagação das chamas. Depois de seis horas do
início da ocorrência o fogo havia sido extinto. O trabalho de rescaldo seguiu até o dia
seguinte. No total, 165 bombeiros e 26 viaturas atuaram na ocorrência. O prédio, que faz
parte da Estação da Luz, cuja primeira edificação data de 1867. A consequência mais grave
foi a morte de um bombeiro civil enquanto tentava combater as chamas e evacuar o
edifício81.
Ainda em Santos, no Litoral Sul do Estado, o Corpo de Bombeiros de São Paulo
teve de encarar o incêndio mais longo de sua história, no bairro do Alemoa. No dia 2 de
abril de 2015, pouco antes das 10 horas, teve início o maior incêndio em um terminal de
combustíveis no Brasil e o segundo maior na história mundial, apenas atrás de uma
ocorrência de 2005 no sul da Inglaterra, como registrou a primeira edição da Revista
Fundabom. O fogo surgiu na central de transferência de combustíveis, junto a tubulação
entre tanques de gasolina e etanol. A primeira explosão gerou labaredas e uma coluna de
fumaça negra que podiam ser vistas a quilômetros de distância. O fogaréu estava ladeado
pela Rodovia Anchieta e por um dos terminais do Porto de Santos, assim como
perigosamente próximo de uma sequência de estações de armazenamento de produtos
químicos. Atravessando a Anchieta, a 600 metros do foco do incêndio, o bairro do saboó e
seus 11 mil habitantes. Estava desenhado um quadro de guerra. Para o exército do fogo,
armado até os dentes, não faltava munição. Com 20 metros de altura cada tanque tinha
capacidade para armazenar seis milhões de litros. A poucos metros, outra série de
reservatórios, ainda maiores, poderia facilmente se unir aos primeiros. Mas o grande perigo
vinha de um conjunto de 17 tanques de químicos, igualmente próximo. Alguns estavam
repletos de acrilato de butila, composto em contato com o fogo se solidifica, aumentando o
risco de explosão e da geração de uma temida nuvem tóxica. A pequena distância, uma
tancagem de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) e mais um terminal, com igual potencial de
80.
O Corpo de Bombeiros, site do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo,
http//www.corpodebombeiros.sp.gov.br/, acesso em 13-07-2018.
81
. Bombeiros do Estado de São Paulo, http//www.corpodebombeiros.sp.gov.br/. Acesso em 13 jul. 2018.
62
risco. O fogo resistiria dias e dias. Por vezes pareceu vencido, voltando à carga em seguida,
exaurindo seus opositores. Porém, na sexta-feira, dia 10 de abril, 216 horas depois do
levante inicial, ele foi exterminado. Isso sem provocar uma única baixa em seus oponentes,
a maior das vitórias dado seu grau de periculosidade.
A batalha na Alemoa foi comandada pelo Corpo de Bombeiros, que mobilizou 966
homes em todo o período. Contudo, foi a integração de 54 organizações públicas e privadas
que possibilitou o fim do incêndio82.
Ao todo, 1.339 pessoas estiveram envolvidas na ocorrência de Alemoa.
63
MUDANÇA DE DESIGNAÇÃO PARA ESCOLA SUPERIOR DE SOLDADOS
“CEL PM EDUARDO ASSUMPÇÃO”
FORMAÇÃO NOS ANOS 1980
PRIMEIRO COMANDANTE
O PATRONO E SUA CONSTRIBUIÇÃO PARA A ÁREA DE ENSINO NA PMESP
A Escola Superior de Soldados “Cel. PM Eduardo Asssumpção” teve suas
instalações inauguradas em 06 de abril de 1984, pelo Exmo. Sr. Dr. Michel Temer,
secretário dos Negócios de Segurança Pública e pelo Exmo. Sr. Comandante Geral da
Polícia Militar do Estado de São Paulo, Cel. PM Nilton Vianna. A partir de 12 de junho de
1984, a 3ª Cia do 2º BPChq, comandada pelo Cap. PM Oldecir Fernandes de Oliveira e
Silva ocupou as dependências desta Unidade e prosseguiu na formação dos primeiros 120
Alunos Soldados PM, que concluíram o Curso em 24 de agosto do mesmo ano. Em 02 de
outubro de 1984, foi publicada a Nota de Instrução Nº 3ª EM/ PM 003/ 33/ 84
regulamentando a criação, em caráter experimental, da Escola de Formação de Soldados da
Polícia Militar, sendo designado para comandá-la o Major PM Sérgio Francisco Penna. Em
19 de dezembro de 1984, formou-se a primeira Turma da Nova Organização Policial Militar,
com dois pelotões de 60 (sessenta) homens cada. Em dezembro de 1985, de acordo com o
Decreto Nº 24.572 a Escola passou a denominar-se Centro de Formação de Soldados
(CFSd), sob o Comando do Ten Cel. PM José Milton da Costa. Em 08 de novembro de
1990, a Diretoria de Ensino delegou para o CFSd a responsabilidade pela fiscalização
técnica dos Cursos de Formação de Soldado PM (CFSdPM) que funcionam em outras OPM
de todo o Estado. Através do decreto Nº 37.548 de 29 de setembro de 1993, a Polícia Militar
homenageou a figura do Ex-Comandante Geral, Cel. PM Assumpção, que tanto fez por este
Centro, atribuindo a denominação de Centro de Formação de Soldados “Coronel PM Eduardo
Assumpção” (CFSd – Cel. PM Assumpção), e que mais tarde por força do Decreto Lei
Estadual nº 54.911 de 14 de outubro de 2009 passou a se chamar “Escola Superior de
Soldados “Coronel PM Eduardo Assumpção” (ESSd).
A CONSTITUIÇÃO DE 1988
A constituição de 1988 acomodaria definitivamente as Polícias Militares como
responsáveis pela polícia ostensiva e preservação da ordem pública, mantendo-as ainda
como “força auxiliar e reserva do Exército”, subordinando-as aos seus respectivos
governadores.
64
escolares são aprimorados, o CAES ganha sede própria e é criado o CFSd (Centro de
Formação de Soldados). Em 1984 são criados o CSM/M Subs e o hotel de trânsito.
65
a polícia. Baseia-se na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem
trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver problemas contemporâneos tais como
crime, drogas, medo do crime, desordens físicas e morais e em geral a decadência do
bairro, como o objetivo de melhorar a qualidade geral da vida na área.” ( )
O policiamento comunitário, portanto, é uma filosofia de patrulhamento
personalizado de serviço completo, no qual o mesmo policial patrulha e trabalha na mesma
área numa base permanente a partir de um posto descentralizado, agindo numa parceria
preventiva com os cidadãos, para identificar e resolver problemas.
Independente das divergências em torno do conceito filosófico sobre a definição de
policiamento comunitário é importante destacar as diferenças básicas entre o policiamento
comunitário e policiamento tradicional.
CARACTERÍSTICAS BÁSICAS
POLICIAMENTO TRADICIONAL
QUADRO 1
POLICIAMENTO TRADICIONAL
66
são inimigos ou marginais, até prova em contrário”.
O policial é o de serviço;
Emprego da força como técnica de resolução de problemas;
Presta conta somente ao seu superior;
As patrulhas são distribuídas conforme o pico de ocorrências.
POLICIAMENTO COMUNITÁRIO
QUADRO 2
POLICIAMENTO COMUNITÁRIO
67
Fonte: Comissão para Implantação do Policiamento Comunitário em SP – Secretaria de Estado dos
Negócios da Segurança Pública, material de circulação interna.
68
REFERÊNCIAS e FONTES
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Guarda Civil de São Paulo. São Paulo: ALESP, 1970.
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Polícia Militar criado pelo Decreto nº 34.244, de 17 de dezembro de 1958 regulamenta o seu
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SÃO PAULO (Estado). Lei n. 17 de 14 nov. 1891. Fixa a Força Pública do Estado de São
Paulo para o anno de 1892. São Paulo: ALESP, 1891.
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anno de 1893. São Paulo: ALESP, 1892.
SÃO PAULO (Estado). Lei n. Lei n. 957 de 28 set. 1905. Fixa a Força Pública do Estado de
São Paulo para o anno de 1906. São Paulo: ALESP, 1905.
SÃO PAULO (Estado). Lei n. 958 de 28 set. 1905. Reorganiza a Força Pública do Estado de
São Paulo e dá outras providências. São Paulo: ALESP, 1905.
SÃO PAULO (Estado). Lei n. 979 de 23 dez. 1905. Reorganiza o serviço policial do Estado.
São Paulo: ALESP, 1905.
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de 30 de Dezembro de 1924; 2.172-B, de 28 de Dezembro de 1926; 2.210, de 28 de Novembro
de 1927 e 2226-A de 19 de Dezembro de 1927 e consolida as disposições vigentes relativas ao
serviço policial do Estado e ás attribuições das respectivas autoridades. São Paulo: ALESP,
1926.
SÃO PAULO (Estado). Decreto n. 20.910 de 05 nov. 1951, Aprova o Regulamento da Força
69
Pública para o serviço de policiamento, São Paulo: ALESP, 1951.
SÃO PAULO (Estado) Decreto-Lei n. 217 de 08 abr. 1970, Dispõe sobre a constituição da
Polícia Militar do Estado de São Paulo, integrada por elementos da Força Pública do Estado e
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