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ARMAMENTO E TIRO

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Lista de Figuras

Figura 1 - Arma de Mecha .............................................................................. 14


Figura 2 - Arma de Roda ................................................................................ 15
Figura 3 - Arma de Pederneira ....................................................................... 17
Figura 4 - Primeiro sistema de percussão ...................................................... 18
Figura 5 - Winchester Modelo 1897 calibre 12 "Trench Gun" ......................... 23
Figura 6 - Espingarda de 3a geração (Remington SA 1300 – EUA) ............... 23
Figura 7 - Espingarda de 4a geração (Bennelli M3 Super 90T) ...................... 24
Figura 8 - Sistemas de percussão tipo Lefaucheux (pino lateral) e Flobert
(radial ou circular) ........................................................................ 29
Figura 9 - Partes de um revólver .................................................................... 36
Figura 10 - Partes da pistola Imbel ................................................................. 38
Figura 11 - Partes da pistola Taurus PT100 ................................................... 40
Figura 12 - Partes da espingarda ................................................................... 42
Figura 13 - Partes da espingarda (Lado Esquerdo) ........................................ 43
Figura 14 - Partes da carabina Imbel IA2 5.56/7.62 ....................................... 45
Figura 15 - Partes da carabina Taurus - T4 .................................................... 47
Figura 16 - Processo de disparo ..................................................................... 52
Figura 17 - Forças que atuam sobre o projétil ................................................ 54
Figura 18 - Partes do cano ............................................................................. 59
Figura 19 - Raiamento de um cano de arma de fogo ..................................... 61
Figura 20 - Raiamento à direita / Raiamento à esquerda ............................... 62
Figura 21 - Exemplificação do passo de raiamento ........................................ 63
Figura 22 - Calibre Real e Calibre Nominal .................................................... 64
Figura 23 - Cartucho Lefaucheux ................................................................... 65
Figura 24 - Cartucho para arma de alma raiada ............................................. 66
Figura 25 - Cartucho para arma de alma lisa.................................................. 66
Figura 26 - Forma do corpo de um estojo ....................................................... 68
Figura 27 - Cinturado ...................................................................................... 68
Figura 28 - Com semiaro ................................................................................ 69
Figura 29 - Sem aro ........................................................................................ 69
Figura 30 - Com aro ........................................................................................ 70

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Figura 31 - Rebatido ....................................................................................... 70
Figura 32 - Tipos de culotes dos estojos ........................................................ 70
Figura 33 - Estojo fogo central ........................................................................ 71
Figura 34 - Estojo fogo circular ....................................................................... 72
Figura 35 - Espoletas Boxer e Bedran ............................................................ 74
Figura 36 - Estojo que utiliza espoletas Berdan e Boxer ................................ 74
Figura 37 - Espoleta Bateria ........................................................................... 75
Figura 38 - Partes de um projétil..................................................................... 78
Figura 39 - Partes de um projétil (2) ............................................................... 78
Figura 40 - Pane em pistola - chaminé ........................................................... 81
Figura 41 - Pane em pistola - duplo carregamento ......................................... 82
Figura 42 - Pane em pistola - trancamento ..................................................... 83
Figura 43 - Pane em pistola - embuchamento ................................................ 84
Figura 44 - Causas excludentes da ilicitude ................................................. 133
Figura 45 - Situações em que não cabe legítima defesa .............................. 135

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SUMÁRIO

1 REGRAS DE SEGURANÇA ......................................................................... 8

1.1 MANUSEIO COM ARMA DE FOGO.................................................................. 8


1.2 CONDUTA NO ESTANDE DE TIRO ............................................................... 10

2 ARMA DE FOGO ........................................................................................ 11

2.1 HISTÓRICO DAS ARMAS DE FOGO .............................................................. 11


2.2 DEFINIÇÃO .............................................................................................. 11
2.3 ARMAS DE FOGO ANTES DO SÉCULO XV .................................................... 11
2.4 AS PRIMEIRAS ARMAS DE FOGO LEVES ..................................................... 12
2.5 ARMAS DE FOGO ANTES DO SÉCULO XVI ................................................... 12
2.5.1 A Primitiva Mecha ........................................................................... 12
2.5.2 O Mosquete – Fecho de Serpentina ............................................... 13
2.5.3 As Armas de Ignição por Atrito ....................................................... 14
2.5.4 As Armas de Roda.......................................................................... 14
2.5.5 Armas de Pederneira ...................................................................... 15
2.5.6 As Armas de Percussão ................................................................. 17
2.6 A EVOLUÇÃO DO REVÓLVER ..................................................................... 19
2.6.1 Conceito de Revólver ..................................................................... 19
2.6.2 O Revólver Colt .............................................................................. 20
2.6.3 O Revólver Adams.......................................................................... 20
2.6.4 O Revólver Moderno....................................................................... 21
2.7 AS ESPINGARDAS .................................................................................... 22
2.8 EVOLUÇÃO DAS ARMAS AUTOMÁTICAS ...................................................... 24
2.8.1 As Primeiras Metralhadoras ........................................................... 24
2.8.2 A Submetralhadora ......................................................................... 25

3 A EVOLUÇÃO DO CARTUCHO ................................................................. 27

3.1 O CARTUCHO DE PAPEL ........................................................................... 27


3.2 ORIGENS DO CARTUCHO ATUAL ................................................................ 27
3.3 O CARTUCHO LEFAUCHEUX (DE PINO CENTRAL) ........................................ 28
3.4 O CARTUCHO DE PERCUSSÃO CIRCULAR (RADIAL OU ANULAR) ................... 28
3.5 O CARTUCHO DE PERCUSSÃO CENTRAL (FOGO CENTRAL) ......................... 29

4
4 ARMAS LEVES ........................................................................................... 31

4.1 CONCEITO ............................................................................................... 31


4.2 CLASSIFICAÇÃO DAS ARMAS LEVES ........................................................... 31
4.2.1 Quanto ao Tipo ............................................................................... 32
4.2.2 Quanto ao Carregamento ............................................................... 32
4.2.3 Quanto ao Funcionamento ............................................................. 33
4.2.4 Quanto ao Princípio de Funcionamento ......................................... 34

5 PARTES DO REVÓLVER ........................................................................... 35

6 PARTES DA PISTOLA IMBEL MD5/MD7 .................................................. 37

7 PARTES DA PISTOLA TAURUS – PT100 ................................................. 39

8 PARTES DA ESPINGARDA CBC - CAL 12 ............................................... 41

9 PARTES DA CARABINA IMBEL IA2 5.56 / 7.62 ....................................... 44

10 PARTES DA CARABINA TAURUS – T4 .................................................. 46

11 BALÍSTICA ................................................................................................ 48

11.1 CONCEITO DE BALÍSTICA ........................................................................ 48


11. 2 O PROCESSO DO DISPARO .................................................................... 48
11.2.1 Conceitos no Processo de Disparo............................................... 48
11.2.1.1 Tipo de Transformações ........................................................ 48
11.2.1.2 Encadeamento Explosivo ....................................................... 49
11.3 BALÍSTICA INTERIOR ............................................................................... 49

12 ETAPAS DO PROCESSO DE DISPARO ................................................. 51

13 BALÍSTICA EXTERNA.............................................................................. 54

13.1 FORÇAS QUE ATUAM SOBRE O PROJÉTIL ................................................. 54


13.2 ALCANCE DOS PROJÉTEIS....................................................................... 55

14 BALÍSTICA DOS FERIMENTOS .............................................................. 58

15 CANO ........................................................................................................ 59

15.1 PARTES................................................................................................. 59
15.2 ALMA LISA E ALMA RAIADA ..................................................................... 60

16 RAIAMENTO ............................................................................................. 61

5
16.1 PASSO DE RAIAMENTO ........................................................................... 62

17 CALIBRE REAL E CALIBRE NOMINAL .................................................. 64

18 CARTUCHO .............................................................................................. 65

18.1 DEFINIÇÃO E COMPONENTES .................................................................. 65

19 ESTOJO .................................................................................................... 67

19.1 DEFINIÇÃO ............................................................................................ 67


19.2 CLASSIFICAÇÃO DOS ESTOJOS PARA ARMA RAIADA .................................. 67
19.2.1 Quanto à Forma do Corpo ............................................................ 67
19.2.2 Quanto ao tipo de base/culote ...................................................... 68
19.2.3 Quanto ao Tipo de Iniciação ......................................................... 71

20 ESPOLETA ............................................................................................... 73

20.1 TIPOS DE ESPOLETAS............................................................................. 73

21 PROPELENTE .......................................................................................... 76

21.1 PÓLVORA QUÍMICA (SEM FUMAÇA) .......................................................... 76

22 PROJÉTIL ................................................................................................. 78

22.1 PARTES DO PROJÉTIL ............................................................................. 78


22.2 QUANTO AO USO ................................................................................... 79

23 PANE ......................................................................................................... 80

23.1 CHAMINÉ ............................................................................................... 80


23.2 DUPLO CARREGAMENTO......................................................................... 81
23.3 PANE SECA/NEGA .................................................................................. 82
23.4 PANE DE TRANCAMENTO ........................................................................ 82
23.5 TRAVAMENTO DO FERROLHO / EMBUCHAMENTO ....................................... 83

24 TIPOS DE RECARGA ............................................................................... 86

24.1 RECARGA RÁPIDA / EMERGENCIAL .......................................................... 86


24.2 RECARGA TÁCITA................................................................................... 86

25 LEGISLAÇÃO ........................................................................................... 87

26 EXCLUDENTES DE ILICITUDE DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO:


QUAIS SÃO ELAS? ............................................................................................... 133

6
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 137

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1 REGRAS DE SEGURANÇA

No manuseio com arma de fogo, a segurança tem que ser um item observado
e seguido à exaustão. Não raros os casos em que a inobservância às regras de
segurança causou disparos acidentais que vitimaram ou lesionaram, com gravidade,
pessoas que realizavam o manuseio do armamento ou encontravam-se próximas.
Diversos fatores podem ocasionar tal fato, como excesso de confiança, falta
de atenção, desconhecimento do funcionamento do armamento, irresponsabilidade,
entre outros.
Iremos apontar as principais regras de segurança no próximo tópico, contudo
o dogma que chamamos de segurança a 200% é o ponto inicial de todo o processo:
“Dedo fora do gatilho e controle direcional do cano.”
As outras regras de segurança não estão abaixo do binômio apontado,
contudo, se inobservadas, a chance de ocorrências de lesões ou mortes será
grande.

1.1 Manuseio com Arma de Fogo

É fundamental que sejam observados ações e comportamentos no manuseio


com arma de fogo. São eles:
1) Sempre considerar que a arma está carregada, ainda que tenha a certeza de
que está descarregada;
2) Jamais apontar uma arma para qualquer coisa ou pessoa que não pretenda
atingir, salvo em legítima defesa;
3) Certificar-se de que seu alvo e a zona que o circunda são capazes de receber
os impactos com segurança;
4) Ao sacar ou coldrear uma arma, fazer sempre com o dedo fora da tecla do
gatilho, assim permanecendo até que esteja realmente apontando para o seu
objetivo;
5) Nunca transportar ou coldrear a arma com o cão armado e destravada;
6) Realizar treinamentos de tiro apenas em estandes de tiro credenciados, que
ofereçam segurança;
7) Ser cauteloso ao atirar em superfícies duras, pois os disparos irão ricochetear
(Ex.: metais, rochas, água etc.);

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8) Observar que as travas de segurança de uma arma são apenas dispositivos
mecânicos sujeitos a falhas, por isso não se deve testá-las com uso de
munições reais;
9) Não misturar drogas e bebidas alcoólicas com armas de fogo;
10) Sempre que entregar ou receber uma arma, executar uma inspeção de
segurança. Não é ofensa verificar uma arma ao recebê-la;
11) Nunca abandonar a arma, carregada ou não;
12) Nunca receber uma arma em sua direção puxando-a pelo cano;
13) Antes de iniciar qualquer limpeza ou manutenção, efetuar a inspeção de
segurança;
14) Nunca deixar, de forma descuidada, uma arma e, ao guardá-la por longo
tempo, separar a arma da munição, mantendo-as longe do alcance de
menores de dezoito anos ou pessoas com deficiência mental;
15) Quando estiver atirando com revólver, jamais colocar a mão sobre o cano à
frente do tambor, pois essas peças movimentam-se durante o disparo e ainda
possuem os orifícios para saída de gases. Revólveres desprendem
lateralmente gases em alta velocidade e resíduos de chumbo e pólvora em
combustão. Manter as pessoas afastadas de sua lateral;
16) Controlar a munição a fim de verificar se corresponde ao calibre da arma;
17) Sempre transportar a arma no coldre, salvo quando houver a consciente
necessidade de utilizá-la;
18) Nunca engatilhar a arma quando não houver a intenção de atirar (armas de
ação dupla);
19) Quando a arma estiver fora do coldre, empunhada para o tiro, estar
absolutamente certo de que a arma não esteja apontada para qualquer parte
de seu corpo ou de outras pessoas ao seu redor;
20) Tomar cuidado com obstruções do cano quando estiver atirando. Caso ouvir
ou sentir algo de anormal com o recuo ou a detonação, interromper
imediatamente os disparos. Verificar cuidadosamente a existência ou não de
obstruções no cano. Um projétil ou qualquer outro objeto deve ser
imediatamente removido, mesmo se tratando de lama, terra, quantidade
excessiva de graxa ou óleo etc., a fim de evitar que as raias sejam
danificadas ou o cano destruído;

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21) Nunca transportar uma arma no bolso, bolsa ou pochete. Usar a embalagem
apropriada ou um bom coldre, seja ele ostensivo ou dissimulado.

1.2 Conduta no Estande de Tiro

O momento mais esperado para o atirador é quando ele está de frente para o
alvo e pronto para iniciar os disparos. Todavia, por mais que tenha experiência,
nesse momento, além das regras de manuseio, é preciso adotar condutas/ações
que são indispensáveis para a realização dos disparos de maneira segura e efetiva,
dessa forma contribuindo para segurança de todos os presentes. São elas:
1) Seguir estritamente os comandos dados pelos instrutores de tiro;
2) Manter silêncio absoluto na linha de tiro;
3) Qualquer problema com a arma ou qualquer dúvida, levantar a mão de apoio,
manter o cano da arma em direção ao para-balas (se a arma não estiver no
coldre) e aguardar o instrutor;
4) Atentar-se de que todo deslocamento a ser realizado dentro do estande deve
ser feito em formação e ao comando do instrutor;
5) Utilizar coldre e porta-carregadores;
6) Não levar para o estande qualquer material estranho à instrução, tais como
garrafas com água, telefone celular, máquina fotográfica, óculos escuros, etc.;
7) Utilizar roupas adequadas e utilizar equipamentos de proteção individual
durante a execução dos disparos.

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2 ARMA DE FOGO

2.1 Histórico das Armas de Fogo

Sabe-se que as primeiras armas de fogo desenvolvidas pelo homem, ainda


improvisadas, surgiram na China após a invenção da pólvora.
A evolução das armas de fogo segue, no mesmo curso histórico, a evolução
dos padrões de avanço humano, no que se refere à sua capacidade de projetar,
elaborar, desenvolver e construir engenhos e aperfeiçoar seus funcionamentos.
Embora, historicamente, não se tenha uma data exata de início do uso das
armas de fogo, sabe-se que o emprego desses engenhos, ao longo dos anos,
manteve a sua aplicabilidade em razão do desenvolvimento tecnológico, sempre
com o argumento do propósito da defesa própria ou de terceiros.

2.2 Definição

Segundo o Manual de Armamento Convencional, produzido pela Polícia


Militar, arma de fogo é

todo engenho mecânico destinado a arremessar projéteis empregando-se a


força expansiva dos gases gerados pela combustão de um propelente,
confinado em uma câmara que, normalmente, está solidária a um cano que
tem a função de propiciar continuidade à combustão do propelente, além de
direção e estabilidade ao projétil. (MINAS GERAIS, 2011, p. 35)

2.3 Armas de Fogo antes do Século XV

Segundo Minas Gerais (2011), uma das primeiras aplicações práticas das
armas de fogo aconteceu em Sevilha, Espanha, no ano de 1247. De acordo com
registros históricos, o canhão foi empregado pela primeira vez em Crecy, pelo Rei
Eduardo III, da Inglaterra, contra os franceses, e por Mohammed II, da Turquia, em
sua famosa conquista de Constantinopla (1453), no fim da Idade Média. As
primeiras armas de fogo eram ineficientes, largas e pesadas, impossibilitando o seu
transporte por um só combatente.

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2.4 As Primeiras Armas de Fogo Leves

As primeiras armas leves de fogo eram de antecarga, ou seja, seu


carregamento se fazia pela boca do cano e consistiam de um tubo metálico, fechado
em uma das extremidades, denominada “CULATRA”. Nessa existia, em sua parte
superior, um orifício, conhecido como “fogão” ou “ouvido”, unido por tiras de couro e
metal a um cabo (coronha). Para carregar a arma pela extremidade aberta (“boca”
do cano), era introduzida a pólvora, um ou mais projéteis e um chumaço de estopa
ou papel (bucha), que eram comprimidos a golpes de varetas. Para disparar, o
“fogão” era enchido com pólvora e, depois de apontar da maneira mais precisa
possível, aproximava-se ao pequeno orifício uma mecha acesa ou um carvão em
brasa para inflamar um pavio, que conduzia o fogo ao interior da arma, produzindo-
se o disparo.
Essas armas de fogo primitivas (entre as quais se encontravam os modelos
de tamanho pequeno) podem ser consideradas como as antecessoras das pistolas,
ainda que fossem peças de artilharia em miniatura. Os modelos dessas armas são
muito escassos e não se pode determinar com total precisão, onde e quem começou
a sua fabricação e uso (MINAS GERAIS, 2011, p.35-36).

2.5 Armas de Fogo antes do Século XVI

Os canhões de mão, primeiras armas portáteis construídas pelo homem,


eram tubos fundidos, cujo carregamento era feito pela “boca” do cano. Para disparar,
aproximava-se um objeto incandescente ao “ouvido” para inflamar a polvora. Essas
armas teriam surgido nos fins do século XIV. Apesar de serem imprecisas e
inseguras, essas armas superaram as antigas armas de arremesso e, em fins do
século XVI, o arco já era considerado obsoleto.

2.5.1 A Primitiva Mecha

Segundo Minas Gerais (2011), a evolução das primeiras armas de fogo está
intimamente ligada ao desenvolvimento dos sistemas de ignição (iniciador ou chama
inicial para queima da pólvora). Quando apareceram as primeiras armas de fogos
portáteis (os conhecidos “canhões de mão”), o sistema empregado para produzir o

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seu disparo era, normalmente, uma barra de ferro incandescente, uma tocha ou uma
mecha acesa. Esse método primitivo necessitava que o seu operador tivesse uma
mão livre para provocar a ignição, que impossibilitava empunhar a arma com as
duas mãos. Além desse fato, o disparo não era produzido no momento desejado,
tornando-a ineficaz.
Entretanto, logo foi desenvolvido um sistema para que esse pavio fosse
aplicado por meio de um procedimento mecânico. Após o carregamento da arma
(ainda de antecarga), o operador colocava a mecha em uma peça metálica em
forma de “S” invertido. Essa peça ligava-se ao gatilho por meio de uma alavanca,
que era acionada por uma mola. Ao se pressionar o gatilho, a peça em forma de “S”
inclinava-se à frente, levando a mecha acesa ao “fogão”, provocando o disparo.
Esse sistema permitia que se empunhasse a arma com as duas mãos, melhorando
a pontaria, enquanto se “esperava” o disparo. Além disso, evitavam-se indesejáveis
queimaduras nas mãos. Outros processos foram desenvolvidos para produzir a
inclinação da mecha sobre o pavio. Consta que o invento dessas armas ocorreu nos
primórdios do século XV.

2.5.2 O Mosquete – Fecho de Serpentina

O sistema de ignição de uma arma portátil representava uma grande limitação


para o soldado, pois, o objeto incandescente (ou uma mecha) tinha que estar
constantemente aceso, e tal procedimento impedia-o de segurar a arma com as
duas mãos, ocasionando tiros imprecisos e muitos acidentes.
Segundo Minas Gerais (2001), para melhorar a pontaria,

construíram-se canos mais longos para aumentar a precisão. Um cordão,


embebido em salitre e posto para secar, forneceu uma mecha que se
queimava mais lentamente. O “ouvido” ou “fogão” não mais era colocado
sobre o cano, mas ao lado desses, através de um pequeno deposito
(caçoleta) onde se colocava a escorva (FIGURA 1).
A mecha acesa passou a ser acionada mecanicamente, por uma peça
acoplada ao fecho da arma. O mosqueteiro conduzia uma vara com uma
das extremidades em forma de “U”, para apoiar a arma durante o disparo,
além de mechas de reserva, sacolas de projéteis e polvorinhos (ou
pequenos tubos de madeira) com a quantidade exata de pólvora para cada
disparo.
Essas armas tornaram a Infantaria uma das forças mais importantes dos
exércitos, e seu uso perdurou até fins do século XVII, quando outros
sistemas mais modernos já existiam. (MINAS GERAIS, 2011, p.37-38)

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Figura 1 - Arma de Mecha

Fonte: http://www.atarmamento.com.ar/fotos/historia_de_las_armas_de_fuego_image001.gif.

2.5.3 As Armas de Ignição por Atrito

Conforme o Manual de Armamento Convencional de 2011, as armas de


ignição por atrito possuíam um sistema mais avançado, mais aperfeiçoado e
diferente dos de mecha. Baseavam-se em um sistema no qual se acendia o fogo
golpeando uma pedra dura contra uma peça de ferro, aproveitando-se as faíscas
que se produziam para acender uma “isca” inflamável e comunicar o fogo à carga de
pólvora. Esse processo foi utilizado, inicialmente, com o emprego da pirita (mineral
amarelo metálico) nas armas, com fecho de roda, sendo substituída, posteriormente,
pela pederneira ou sílex (pedra de isqueiro), nas armas de pederneira.

2.5.4 As Armas de Roda

As armas de roda surgiram na Europa nos primeiros anos de 1500 e foram


produzidas até o final do século XVII (FIGURA 2) e consistiam de um anel, que era
uma roda de aço, acoplado ao corpo da arma próximo a câmara. Através de uma
chave, dava-se “corda” ao sistema que ficava travado. A pirita, presa em uma
espécie de cão, era então firmemente apoiada na roda por outra mola. Acionando-se
o gatilho, a roda girava violentamente, e o atrito com a pirita produzia faíscas que
provocavam o disparo.

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O sistema de mecha apresentava uma série de inconvenientes, tais como:
dependência do vento, condições climáticas, imprevisibilidade do momento do
disparo, além de denunciar a posição do operador, pela mecha constantemente
acesa. As armas de roda surgiram como uma solução sensível a esses problemas,
uma vez que o disparo se dava no momento crítico. O fecho da roda foi empregado
em armas longas que dotavam a Cavalaria de uma arma eficiente. Esse sistema
mudou as táticas de guerra, tornando a Cavalaria, durante um longo período, dona
dos campos de batalha, à medida que foram possíveis as emboscadas e os assaltos
noturnos, diminuindo o poder da Infantaria.
O sistema permitiu, também, a construção das primeiras pistolas que, devido
ao seu alto custo, não se generalizaram a toda a tropa. A complexidade do engenho,
o alto custo de fabricação e a difícil manutenção inviabilizavam o uso generalizado
das armas de roda pelos exércitos. Esses foram os motivos que levaram as armas
de roda a um longo convívio com as armas de mecha, que continuaram sendo
fabricadas, devido ao seu baixo custo e mecanismo simples.

Figura 2 - Arma de Roda

Fonte: http://www.atarmamento.com.ar/fotos/historiadelasarmas_de_fuego.

2.5.5 Armas de Pederneira

De acordo com Minas Gerais (2011), as armas de roda foram substituídas por
um sistema mais simples, seguro e eficiente. No século XVI, os armeiros
desenvolveram e fabricaram um fecho mais simples e eficiente que o de roda: o
fecho de pederneira (sílex). O primeiro fecho de pederneira surgiu entre 1540 e
1550, na Holanda, e era conhecido como “Snaphaunce”. Esse sistema consistia de

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um cão que, impulsionado violentamente à frente por uma mola, levava a pederneira
de encontro a uma chapa de aço em forma de “L” fixada no corpo da arma (próximo
a câmara), produzindo as faíscas necessárias a ignição do sistema.
O sistema de pederneira foi amplamente difundido entre a segunda metade
do século XVI até começo do século XIX, quando surgiu o sistema de percussão,
tornando-o obsoleto.
A França foi o país que se notabilizou com a fabricação de um fecho mais
simples e eficiente, inventado pelo armeiro Marin le Bourgeoys, entre 1610 e 1615, e
que se tornou padrão nos duzentos anos seguintes. O fecho francês se generalizou
como a arma de pederneira por excelência, permanecendo inalterado até a
pederneira tornar-se obsoleta no começo do século XIX. O fecho de pederneira
viabilizou a construção de espingardas e pistolas, que passaram a substituir o
mosquete no século XVII. No século XVIII, quase todos os exércitos tinham
abandonado o mosquete. Tal assertiva é confirmada pelo fato de que, durante as
Guerras Napoleônicas, todos os combatentes usavam armas de pederneira.
Segundo o Manual de Armamento Convencional, a

primeira grande contribuição americana à manufatura de armas de fogo foi


o rifle Kentucky fabricado principalmente na Pensilvânia. Era uma arma de
grande precisão, pois seu cano era raiado. Foi empregado na Guerra da
Independência e na Guerra de 1812. Um dos primeiros avanços na
manufatura de armas de retrocarga foi o fuzil Fergusson de pederneira
(FIGURA 3), inventado pelo capitão escocês Patrick Ferguson, e
demonstrado, pela primeira vez, em 1776. Possuía um “guarda-mato” que
era rapidamente desparafusado, abrindo a culatra para receber o projétil e a
carga de pólvora. Uma vez carregado, fechava-se a culatra, escorvava-se e
estava pronto para o disparo. (MINAS GERAIS, 2011, p.40)

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Figura 3 - Arma de Pederneira

Fonte: http://www.atarmamento.com.ar/fotos/historiadelasarmas_de_fuego.

2.5.6 As Armas de Percussão

Apesar das grandes vantagens do fecho de pederneira, ele apresentava


alguns inconvenientes: as armas negavam fogo, a ignição era lenta e o vento e a
chuva afetavam seu funcionamento. No início do século XIX, um reverendo
protestante escocês, chamado Alexander John Forsyth, adepto das caçadas e da
química, revolucionou o mundo das armas de fogo. Esse sacerdote (que viveu de
1768 a 1843), baseado nas experiencias químicas do francês Bayen e do inglês
Howard, patenteou, em 11 de abril de 1807, o mecanismo de percussão para armas
de fogo. Inicialmente se tratava de um sistema perigoso, complexo e caro.
De acordo com Minas Gerais (2011), as armas de fogo se simplificaram
notavelmente, ao serem eliminados elementos como as caçoletas, os rastilhos, as
pederneiras, entre outros. Esses dispositivos foram substituídos por um “ouvido” em
relevo que, normalmente, se enroscava na recâmara interior do cano oco (chamado
de “chaminé”). Na recâmara eram colocados o pistão e um martilho que, em lugar de
pedra, possuía uma superfície plana. Essa superfície golpeava a chaminé e lançava
uma chama em direção à carga de pólvora contida no interior da recâmara. Esse
sistema foi mundialmente aceito e produzido, tanto para uso militar como para uso
civil.

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Nos Estados Unidos, as armas de percussão obtiveram grande êxito,
cabendo a Heinrich Derringer12 (um alemão radicado na Filadélfia, já dedicado à
fabricação de armas para o governo e pistolas de duelo para particulares) a
produção das primeiras pistolas de percussão, por volta de 1825. O modelo, que
obteve mais fama e proporcionou um fabuloso negócio ao seu criador, foi uma
pistola que recebeu o sobrenome do seu fabricante.

O próximo passo foi a concepção de um melhor sistema de ignição, quando


foram criados inúmeros mecanismos que utilizam os fulminantes13.
Alexander Forsyth, no início do século XVII, depositou uma substância
detonante no “ouvido” de uma arma, comprimindo-a por impacto: surgiu o
famoso “frasco de perfume”, patenteado em 1807. Vários outros sistemas
foram utilizados, mas, o mais satisfatório era a cápsula de cobre
desenvolvida por Joshua Snaw, e patenteada em 1822. A criação de uma
cápsula de cobre (que continha uma pequena quantidade de fulminato de
mercúrio, utilizado como provocador ou iniciador da combustão) foi um
passo importante. Essa cápsula foi usada até quando foram criados os
cartuchos de autoignição para as armas de retrocarga.
As cápsulas de percussão apresentavam um sistema de ignição muito mais
rápido e confiável que a pederneira e, em 1838, o exército britânico o
adotou oficialmente. O sistema de percussão viabilizou a construção de
armas de retrocarga, destacando-se o fuzil de agulha Dreyse, inventado
pelo prussiano Johan Nikolaus von Dreyse, em 1848. (MINAS GERAIS,
2011, p.41-42)

Figura 4 - Primeiro sistema de percussão

Fonte: www3.dsi.uminho.pt/.../i_moderna/iddmod.htm.

18
O fuzil de agulha Dreyse foi a primeira arma militar de retrocarga
suficientemente prática. Essa arma usava um cartucho combustível cuja principal
característica era a colocação do fulminante entre a base do projétil e o propelente.
A arma possuía um ferrolho com um longo e fino percussor em seu centro, acoplado
em uma mola. Ao acionar o gatilho, o percussor era liberado, penetrava no invólucro
do cartucho, atravessava a pólvora e comprimia o fulminante, ocasionando a ignição
e a consequente deflagração do cartucho. Essa arma apresentava dois
inconvenientes: excessiva liberação de gases pela culatra e a fragilidade da agulha
(percussor), que se quebrava facilmente.
Com o advento do cartucho metálico, o desenvolvimento das armas de fogo
teve um grande avanço. Os irmãos Paul e Guilherme Mauser projetaram um fuzil de
ferrolho para empregar cartuchos metálicos que, através de um sistema de
trancamento, obturava perfeitamente a câmara, evitando escapamento excessivo de
gases. Esse fuzil substituiu a agulha por um percussor e foi desenvolvido entre 1863
e 1898. Foram fabricados diversos modelos durante esse período. Essas armas
dotaram os exércitos durante as duas grandes guerras mundiais.
Segundo Minas Gerais (2011), paralelamente ao desenvolvimento dos fuzis
de ferrolho, outros sistemas foram criados e aperfeiçoados para aumentar o poder
de fogo das armas: o sistema de alavanca, notabilizado pela fábrica norte-americana
Winchester, e o sistema de bomba, aperfeiçoado por Browning, em fins da década
de 1880, também fabricado pela Winchester.

2.6 A Evolução do Revólver

Após a introdução do sistema de percussão, no início do século XIX, o


desenvolvimento de pistolas de vários tiros foi relativamente simples, conforme
Minas Gerais (2011). As armas mais antigas, com dois pares de canos (que eram
girados manualmente), deram lugar a armas com conjuntos de 4 a 6 canos, que
giravam, mecanicamente, com a pressão do gatilho, colocando o “ouvido”
correspondente a cada cano, sob o cão. Essas pistolas, chamadas “pimenteiros”,
apareceram por volta de 1830.

2.6.1 Conceito de Revólver

19
De acordo com Minas Gerais (2011), o termo revólver

significa revolução. Indica um movimento de rotação em torno de um eixo.


Assim, pode-se conceituar revolver como sendo uma arma de fogo curta,
dotada de várias câmaras que giram em torno de um eixo, para alinhar a
câmara que contém o cartucho a ser disparado através de um cano.
Para se chegar a esse conceito, houve um processo evolutivo que se iniciou
com a descoberta da polvora, passou por fases de aperfeiçoamento dos
sistemas de carregamento e extração, que se estende até os dias atuais,
com a busca do aperfeiçoamento constante, em todos os aspectos. (MINAS
GERAIS, 2011, p.43-44)

2.6.2 O Revólver Colt

O aperfeiçoamento significativo que se seguiu foi criado pelo norte-americano


Samuel Colt (1814 – 1862), que projetou uma pistola rotativa na qual o conjunto de
canos de “pimenteiro” transformou-se em conjunto de câmaras que se alinhavam,
sucessivamente, com um único cano. O sistema inventado por Colt pressupunha
duas importantes inovações: a câmara a ser disparada tinha de estar rigidamente
alinhada com o cano no momento do disparo, e a colocação de divisórias entre os
“ouvidos” para que a denotação de uma carga não provocasse a detonação das
outras.
Após o surgimento dos cartuchos metálicos, Samuel Colt, em 1876, criou o
revólver Colt calibre .45, o famoso Peacemaker (Pacificador). Seu tambor não era
rebatível, sendo seu municiamento feito através de uma janela aberta na armação,
uma cápsula por vez. A arma operava por ação simples, sendo necessário que o
atirador a engatilhasse antes do disparo, e que, a cada disparo, houvesse um novo
engatilhamento. Inicialmente, os revólveres eram de movimento simples, ou seja,
funcionavam somente em ação simples ou ação dupla, uma ou outra.
Posteriormente, passaram a ser fabricados com funcionamento duplo, ou seja, eles
funcionavam tanto em ação dupla, quanto em ação simples. Os revólveres
modernos são geralmente fabricados em movimento duplo (MINAS GERAIS, 2011).

2.6.3 O Revólver Adams

Segundo informações do Manual de Armamento Convencional, os


mecanismos das armas fabricadas por Colt eram de ação simples, o que as tornava
mais lentas, mas fazia com que o gatilho ficasse mais leve e, portanto, mais preciso.

20
As armas de Adams (inglês) eram de ação dupla: elas disparavam ao se pressionar
o gatilho, o que demandava muita força. Os revólveres de Adams tinham apenas 5
câmaras e os de Colt, 6. Apesar dessas diferenças, as armas de Adams tiveram
mais aceitação, uma vez que a ação dupla propiciava maior rapidez de fogo em
combate a curta distância, muito comuns àquela época.

2.6.4 O Revólver Moderno

Conforme assevera Minas Gerais (2011), o aperfeiçoamento do sistema de


percussão possibilitou a introdução do cartucho completo – um cartucho contendo a
espoleta, a pólvora e o projétil.
A Smith & Wesson (S&W), em 1854, criou revólveres no calibre .44. Eram
armas articuladas que necessitavam ser basculadas, para serem municiadas, ou
seja, tinham que ter seu cano e tambor basculados para baixo, expelindo, assim,
todos os cartuchos de uma só vez, vazios ou não.
Em 1857, a S&W adquiriu a patente para a produção de um revólver que
disparava através de cartuchos metálicos carregados por trás. Em 1870, a S&W
lançou um novo tipo de revolver, cuja armação dobrava-se para baixo quando se
abria a arma, ativando, nesse momento, um extrator em forma de estrela, que
ejetava todos os cartuchos, simultaneamente.
Em 1887, o sistema de extração dos revólveres foi aperfeiçoado, de forma
que o tambor se rebatesse para o lado, permitindo que um extrator em forma de
estrela, acionado por uma vareta, expelisse todos os cartuchos de uma só vez,
tornando mais fácil e rápido um novo carregamento.
Em 1899, a S&W lançou o primeiro revólver de ação dupla e tambor
basculante, modelo que foi copiado por quase todas as fábricas e que deu origem ao
revólver, tal como conhecemos hoje. Era o modelo que ficou mundialmente famoso
como “militar-policial”. O tambor basculante propiciava um remuniciamento rápido de
um, dois ou todos os cartuchos deflagrados, já que saia para o lado de sua armação.
Com o advento do cartucho metálico, mecanismos de extração foram
desenvolvidos para os revólveres. A maioria das empresas utilizou, inicialmente,
carcaças inteiriças (armação) em uma tampa de recarga ao lado da culatra e uma
vareta deslizante sob o cano, a qual era acionada para expelir o cartucho
deflagrado.

21
Ainda de acordo com Minas Gerais (2011), o desenvolvimento do revólver
estava praticamente completo no final do século XIX. A partir de então, os
aperfeiçoamentos estiveram mais ligados ao uso de metais leves e de cartuchos
mais poderosos, como no caso do Magnum. Uma tentativa de aperfeiçoamento
malsucedida do revólver, devido à complexidade de seu mecanismo, foi o “revólver
automático Webley-Fosbery”, inventado pelo Cel. Britânico George Vincent Fosbery.
Essa arma se autoengatilhava após cada disparo, aproveitando a ação dos gases
para fazer girar o tambor e engatilhar o cão, através do recuo do cano e da parte
superior da armação.
O futuro do revólver parece estar ligado ao seu uso pelas forças de
segurança. Sua maior vantagem é a simplicidade. Pode ser transportado com
segurança, em qualquer situação. Possui outras vantagens, tais como: estar sempre
pronto para o disparo, bastando puxar o gatilho; não ser suscetível aos efeitos da
poeira e da sujeira, como acontece com uma pistola; e possuir um cartucho para
disparo, ao se puxar o gatilho, no caso de um cartucho falhar. Sua principal
desvantagem é a pequena capacidade de carga.

2.7 As Espingardas

As espingardas (em ingles, shotgun), de acordo com Minas Gerais (2011),

são armas de fogo portáteis, muito empregadas para a caça e o tiro


desportivo (tiro ao voo e tiro ao prato). Possuem cano longo de “alma”,
originariamente lisa (sem raiamento). As primeiras espingardas eram de tiro
singular, compostas por um ou dois canos e cão externo, sendo essa a
primeira geração das atuais espingardas de combate. As espingardas com
canos de “alma” lisa foram utilizadas por forças militares e policiais do
mundo inteiro. Seu primeiro emprego militar remonta ao período da Primeira
Grande Guerra, quando foram adotadas as primeiras espingardas de
repetição, com ação de bomba (pumpaction shotgun), tal como são
conhecidas na atualidade, com a variação de possuir o cão exposto.
Naquela época, foram apelidadas de trench-gun (armas de trincheira),
sugerindo o conceito de “espingardas de combate”, que eram as
espingardas de segunda geração. Naquele período (1914-1918), o uso das
espingardas de combate alcançou seu ápice: os combatentes lutavam no
interior das trincheiras disputando cada metro de terreno e, nesses ataques
contra soldados entrincheirados, a espingarda apresentava melhores
condições de emprego do que o fuzil convencional de ferrolho ou as armas
curtas. Nessa época, a Winchester, modelo 1897 calibre 12 (“pump action”),
adotada pelos norte-americanos, tornou-se famosa.
[...]
Mais recentemente, na contramão da história e durante considerável
período, as polícias adotaram, como arma padrão, um tipo de espingarda de
funcionamento singular (de primeira geração), com um ou dois canos de

22
dimensões bem menores do que os comumente usados (canos serrados ou
produzidos comercialmente com tais dimensões), apelidada de
“escopeta”15.
No Brasil, para o uso policial, as escopetas eram produzidas no calibre 12,
por ser, à época, o maior calibre de espingarda existente, oferecendo boas
possibilidades de incapacitação imediata do oponente e razoável
capacidade de intimidação, entretanto, com ínfima capacidade de tiro. Em
termos de espingardas de combate, o que se tem hoje, em uso policial, são
as armas de segunda, terceira e quarta gerações.
(MINAS GERAIS, 2011, p.46-47)

Figura 5 - Winchester Modelo 1897 calibre 12 "Trench Gun"

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Winchester_Model_1897.

(MINAS GERAIS, 2011, p.47)

A terceira geração de espingardas de combate enquadra todas as


espingardas de funcionamento somente semiautomático, das mais diversas
procedências. A imagem a seguir [FIGURA 6] ilustra um dos tipos de espingarda
dessa geração: a Remington AS 1300-EUA.

Figura 6 - Espingarda de 3a geração (Remington SA 1300 – EUA)

Fonte: https://saladearmas-oficial.blogspot.com/2017/06/espingarda-remington-870-eua-calibre-
12.html

Já as espingardas de combate da quarta geração fazem uso dos dois


sistemas encontrados nas armas de segunda, terceira e quarta gerações,

23
disparando tanto em ação de bomba (por repetição) quanto de forma
semiautomática, a critério do usuário.

Figura 7 - Espingarda de 4a geração (Bennelli M3 Super 90T)

Fonte: https://www.saladearmas.com/noticia/benelli-m-3-super-90

Em termos de espingardas de combate, o que se tem hoje, em uso policial


são as armas de segunda, terceira e quarta gerações.

2.8 Evolução das Armas Automáticas

As armas automáticas, pelas peculiaridades de seu funcionamento, têm


destaque na sua capacidade de efetuar maior quantidade de disparos em menor
espaço de tempo. A essa característica denomina-se “poder de fogo”. Nesse
sentido, ao se comparar as armas automáticas com as armas de repetição, por
exemplo, poderia se dizer que as primeiras possuem destacada vantagem, embora
sejam necessárias maiores habilidades para operá-las.

2.8.1 As Primeiras Metralhadoras

O desejo de todos os exércitos de possuírem armas capazes de disparar


continuamente, com rapidez, é tão antigo quanto a própria pólvora. A primeira
metralhadora a atuar em uma guerra foi a Metralhadora Gatling, durante a Guerra de
Secessão Americana, em 1862. Tratava-se de uma arma rudimentar, na qual vários
canos giravam em torno de um eixo movido, manualmente, por uma manivela. Sua
velocidade e “poder de fogo” dependiam da velocidade com que a manivela era
girada (MINAS GERAIS, 2011, p.48).

24
Conforme explica Minas Gerais (2011), em 1889, Sir Hiram Stevens Maxim
desenvolveu e aperfeiçoou uma metralhadora capaz de realizar, por si só, todas as
operações de carregamento, extração, engatilhamento e disparo, mediante o
aproveitamento do recuo da arma. Possuía uma fita de cartucho, um só cano e uma
“camisa” d’agua exterior, para evitar o superaquecimento. Era usada sobre reparos,
devido ao seu grande volume e peso. A metralhadora fez a sua grande estreia na
Primeira Guerra Mundial, quando todos os países europeus já a possuíam. Depois
de Maxim, outros inventores passaram a fabricar armas, aperfeiçoando o modelo
desse inventor. Alguns tornaram seus nomes sinônimos de armas de fogo:
Benjamim Hotckiss, Issac Lewis, John Browning e Hugo Borchardt, que se
estabeleceu na Alemanha, onde desenhou a pistola Luger.
No decorrer do ataque britânico a High Wood, em 22 de agosto de 1916, dez
armas dispararam 999.750 tiros em 12 horas, sem interrupções maiores que as
necessárias para limpeza, lubrificação e remuniciamento, troca de canos gastos e
para completar o nível de água das “camisas” de refrigeração. A tarefa das
metralhadoras consistia em neutralizar uma área que se encontrava atrás da linha
de frente inimiga, com alcance de 1.800 metros.
Nos primeiros anos do século XX, surgiu também um novo tipo de arma
automática: a metralhadora leve (ou média), uma versão menos pesada e mais
portátil que os modelos anteriores (que utilizavam pesados reparos). Essas novas
metralhadoras pesavam entre 9 e 13,6 kg, eram alimentadas por carregador ou fita,
e refrigeradas a ar. Para dispará-las, bastava apoiá-las nos ombros, auxiliadas por
bipes leves. Uma das primeiras metralhadoras leves foi a dinamarquesa Madsem,
muito empregada entre 1914 e 1915, quando a guerra de trincheiras exigia grande
volume de fogo a curtas distâncias.
Após a Primeira Guerra Mundial, poucas inovações foram registradas no
aperfeiçoamento das metralhadoras que fazem parte do armamento convencional de
qualquer exército da atualidade.

2.8.2 A Submetralhadora

Também conhecida como subfuzil, metralhadora de mão ou


pistolametralhadora, a submetralhadora, de acordo com Minas Gerais (2011),

25
é uma arma automática que utiliza cartuchos de pistola, suficientemente
leves para serem disparados do ombro ou da cintura, com as duas mãos,
sem necessidade de outro apoio.
As submetralhadoras começaram a ser utilizadas na Primeira Guerra
Mundial, quando se tornou evidente a necessidade de volume de fogo nos
combates a curta distância. O primeiro país a adotar a submetralhadora foi
a Itália, que introduziu a Villa-Perosa, em 1915. Em seguida, os alemães
equiparam seus exércitos com pistolas Luger e Mauser, com uma longa
coronha. Essas armas representavam um razoável poder de fogo, apesar
de não serem automáticas (eram semiautomáticas), uma vez que, para
cada disparo, tinha que acionar novamente o gatilho.
Em 1918, surgiu a pistola-metralhadora da fábrica Bergmam, com a
designação oficial de MP1816, com calibre 9 mm, carregador tipo caracol e
velocidade teórica de tiro de 400 disparos por minuto. Por volta de 1922,
surgiu a submetralhadora Thompson, popularizada mundialmente pelos
gangsters e pela polícia norte-americana. Durante a Segunda Guerra
Mundial, os Estados Unidos produziram diversas outras submetralhadoras,
destacando-se a M3, mais conhecida como engraxadeira (grease-gun).
Outra submetralhadora de grande sucesso foi a inglesa Sten, que foi
largamente produzida para os países aliados.
No período pós-guerra, o desenvolvimento das submetralhadoras tornou-se
difícil, principalmente pela importância crescente de uma nova arma, o fuzil
de assalto. Trata-se, na verdade, de uma submetralhadora, que dispara um
cartucho semelhante ao do fuzil. Entretanto, alguns países desenvolveram
suas metralhadoras: a Gra-Bretanha abandonou a submetralhadora Sten
para adotar a Sterling, mais conhecida como L2A3. Em Israel, foi adotada a
submetralhadora Uzi, muito utilizada atualmente, principalmente por
algumas forcas especiais. A França desenvolveu sua MAT 49, a Espanha, o
Z 75 da Star, e os Estados Unidos criaram a Ingram, produzida pela Military
Arms Co.(MAC). (MINAS GERAIS, 2011, p.48-49)

26
3 A EVOLUÇÃO DO CARTUCHO

A ideia de carregar as armas pela culatra não é nova. Nasceu nos primeiros
momentos das armas de fogo, com o objetivo de aumentar a quantidade de disparos
em um menor período de tempo (poder de fogo). Com esse objetivo, já no século
XVI, surgiu a ideia de se colocar a pólvora necessária para um disparo em pequenos
tubos de madeira, permanecendo, os projéteis separados em uma “bolsa”.

3.1 O Cartucho de Papel

Segundo Minas Gerais (2011), a palavra “cartucho” provém do italiano


cartuccia, que, por sua vez, deriva do latim “carta”, que significa “papel”. Os
primeiros cartuchos foram feitos de papel, no final do século XVI. Inicialmente, os
cartuchos apenas continham as cargas de pólvora, guardando os projéteis,
separadamente. Posteriormente, o projétil foi unido ao cartucho de papel, mas o
cartucho era utilizado apenas para se colocar parte da pólvora na caçoleta. O
restante era introduzido pela “boca” do cano. Colocando o projétil por cima, o papel
servia apenas como bucha. Esse sistema foi utilizado por quase duzentos anos.
Em princípios do século XIX, apareceu o cartucho combustível, semelhante
ao de papel, feito de pele, papel ou linho nitrados, e facilmente combustível, com o
qual o cartucho inteiro podia ser carregado, queimando com a combustão da
pólvora. As primeiras armas de retrocarga, assim como os revólveres de
municiamento pela “boca”, podiam utilizar esse tipo de cartucho combustível. O
famoso fuzil de agulha Dreyse disparava um cartucho fulminante, incorporado na
base do projétil. Esse cartucho foi o último e o mais aperfeiçoado dos cartuchos de
papel.

3.2 Origens do Cartucho Atual

Em 1812, em Paris, um armeiro suíço, chamado Pauly, desenvolveu um


cartucho consistente, com uma base cilíndrica de latão, que se acoplava a um
cilindro de papel e servia como recipiente para a pólvora e o projétil. A base de latão
era perfurada em seu centro e contínua. Na parte externa da perfuração, uma
cavidade trazia a pequena carga detonante, protegida por papel envernizado. Essa

27
invenção, que apresentava todos os componentes do cartucho moderno, não teve
aceitação, provavelmente por ser bastante avançada para a sua época. Apesar
disso, Pauly é lembrado como o autor do cartucho de fogo central (MINAS GERAIS,
2001).

3.3 O Cartucho Lefaucheux (De Pino Central)

O armeiro francês Lefaucheux patenteou, em 1836, um cartucho que detinha


os gases no momento do disparo, dando um grande passo rumo ao cartucho
definitivo. O citado cartucho era parecido com os atuais cartuchos de caça e era
constituído por um cilindro de papelão, com base metálica. Esse continha, em seu
interior, uma cápsula fulminante, percutida por um pino inserido na lateral da base e
que sobressaia por uma extremidade. A obturação das bases era conseguida pelo
dilatamento das paredes da base de metal, no momento do disparo. Tal dilatação,
embora razoável, não era a desejável. Outro francês, chamado Houiller, em 1847,
patenteou uma melhoria nesse sistema de cartucho, que consistia em prolongar as
paredes da base metálica, fazendo desaparecer o “cartão”, até o comprimento
necessário para conter a pólvora e o projétil.

3.4 O Cartucho de Percussão Circular (Radial ou Anular)

Em 1835, Nicolas Flobert, armeiro francês, criou um cartucho metálico no qual


a percussão efetuava-se em qualquer ponto da borda do culote. Esse cartucho
continha apenas o fulminante (detonante) e o projétil (esférico), o que o obrigava a
ser pequeno e de pouca potência. Esse sistema de percussão era denominado “fogo
circular”, radial ou anular. Difere-se dos atuais cartuchos de fogo central, uma vez
que esses utilizam a pólvora como propelente, além do detonante (MINAS GERAIS,
2011).

28
Figura 8 - Sistemas de percussão tipo Lefaucheux (pino lateral) e Flobert (radial ou
circular)

Fonte: https://www.saladearmas.com/noticia/historia-do-cartucho-metalico.

Segundo o Manual (MINAS GERAIS, 2011), as armas que utilizavam os


cartuchos Flobert estiveram em moda no final do século XIX e no princípio do XX,
para a prática do tiro de salão. Mas foi a América a grande responsável pelo
desenvolvimento dos cartuchos de “fogo circular”, cuja constituição é semelhante ao
Flobert. A única diferença consiste em que possui carga propelente, além do
detonante, permitindo, assim, uma maior variedade de tamanhos e,
consequentemente, de potencias. Esses cartuchos são percutidos pela borda do
culote (virola). A virola, além de servir para a percussão (uma vez que contém o
detonante), posiciona o cartucho corretamente na câmara e facilita a sua extração.
Esses cartuchos são mais fracos na virola, e, logicamente, não admitem a sua
recarga.

3.5 O Cartucho de Percussão Central (Fogo Central)

O cartucho metálico sofreu, de acordo com Minas Gerais (2011), constantes


evoluções entre os anos de 1858 e 1868 e a sua evolução pode ser divida em três
etapas: na primeira etapa, o estojo (corpo do cartucho) possuía duas partes – o
culote, contendo o detonante, e uma lâmina fina de latão, que era enrolada e fixada
no culote, contendo o propelente e o projétil; na segunda etapa, o estojo era uma
única peca metálica, contendo uma cápsula detonante na base do culote, o
propelente e o projétil; na terceira etapa, que é a atual, o estojo metálico contém a

29
espoleta (detonante), embutida no exterior da base do estojo. Após essa terceira
etapa, não houve nenhuma evolução substancial no cartucho metálico.

30
4 ARMAS LEVES

4.1 Conceito

Segundo Minas Gerais (2011), o limite definidor entre o que seja uma arma
leve e uma pesada, tem sido objeto de vários conceitos, muitas vezes contraditórios,
encontrados nas doutrinas difundidas. Entretanto, o conceito adotado parte do
princípio que:
• de um modo geral, armas leves são aquelas do equipamento individual do
operador e que têm peso e volume relativamente reduzidos. Não se
resumindo o que limitaria as armas leves somente ao emprego individual, o
conceito inclui mais duas características que permitem a inclusão de armas
de emprego coletivo:
• pode ser transportada, geralmente, por um só homem, ou em fardos, por mais
de um;
• possui calibre ate .50” (0,50 polegadas), inclusive.
Se o conceito fosse limitado ao calibre .50”, qualquer arma com diâmetro
acima dessa bitola passaria a integrar a categoria das “armas pesadas”, grupo no
qual se incluem canhões, morteiros e lançadores de mísseis e foguetes. Assim
sendo, um complemento é necessário para permitir exceções à regra, numa lógica
concreta:
• Excetuam-se as armas com calibres acima do .50” que não se enquadram na
definição de “armas pesadas”.
Dessa forma, também são enquadradas, como armas leves, as espingardas
calibre 12mm (0,73”), os lançadores de granadas calibres 37mm (1,46”), 38.1mm
(1,5”) e 40 mm (1,57”), ou superiores.

4.2 Classificação das Armas Leves

De acordo com o Manual de Armamento Convencional, de 2011, as armas de


fogo são classificadas sob alguns aspectos, com base em suas características,
conforme descrito a seguir. É importante frisar que tal classificação, em algumas
fontes de consulta, sofre, indevidamente, ao longo do tempo, variações de

31
denominação, o que não deveria ocorrer, pois tais conceitos e seus nomes possuem
origens e aplicações em comum.

4.2.1 Quanto ao Tipo

Em relação ao tipo as armas, as armas são classificadas de três formas:


Porte, Portátil e Não Portátil. Tal classificação tem relação direta com a
portabilidade, tamanho, peso, entre outros.
Porte: Armas de porte são aquelas que, em virtude de seu tamanho e peso
reduzidos, podem ser disparadas utilizando apenas uma das mãos, além de
poderem ser transportadas no coldre, como por exemplo pistolas, revólveres e
garruchas.
Portátil: Armas portáteis são aquelas que podem ser transportadas por uma
só pessoa, com ou sem bandoleira, que, em utilização normal, se usam as duas
mãos para realizar um disparo eficiente, como por exemplo fuzil, carabina e
espingarda.
Arma não portátil: Devido às suas dimensões ou ao seu peso, as armas não
portáteis não podem ser transportadas por um único homem; apenas em viaturas,
ou divididas em fardos para transporte por mais de um homem, como por exemplo:
metralhadoras para emprego coletivo, M60 7,62 norte-americana e FN MAG 7,62 de
origem belga.

4.2.2 Quanto ao Carregamento

O carregamento nas armas de fogo é a posição/direção pela qual os


elementos necessários para o disparo serão introduzidos na câmara de combustão
ou no cano em armas específicas. São divididas em três tipo: Antecarga, Retrocarga
e Misto.
Antes de conceituar cada uma das formas de carregamento, é preciso
pontuar as ações de Municiar, Alimentar e Carregar. Elas estão intimamente ligadas
ao carregamento, pois, em algum momento, fazem parte desse processo.
Ressalta-se que as armas de fogo não seguem um padrão de fabricação
único. Desse modo, em algumas delas, os processos de municiar, alimentar e

32
carregar são bem distintos, como por exemplo nas pistolas. Em outras, o municiar e
o alimentar se confundem, como nos revólveres, e assim por diante.
Para não entrar em pormenores e individualização de cada armamento, a
seguir iremos definir cada conceito de maneira direta.
Municiar: É o ato de colocar a munição no carregador da arma.
Alimentar: É o ato de colocar a munição na arma, seja através do
carregador, tubo carregador ou manualmente.
Carregar: É o ato de deixar a arma em condições de disparo, ou seja, a
munição alocada dentro da câmara de combustão. Tal ação é feita quando a arma é
fechada/trancada.
Com esses conceitos definidos, classificaremos os tipos de carregamentos.
Antecarga: É quando o carregamento é feito pela boca do cano da arma.
Método em desuso atualmente, sendo utilizado em algumas garruchas.
Retrocarga: É quando o carregamento é feito pela culatra do armamento, de
maneira didática, de trás para frente. Exemplo: pistolas, espingardas Cal.12,
revólver.
Existem aquelas em que o carregamento é misto, mas não serão abordadas
nesse momento por não terem relação direta com os armamentos disponíveis ao
cidadão comum.

4.2.3 Quanto ao Funcionamento

Essa classificação diz respeito à forma através da qual a arma realiza suas
ações. Elas são classificadas em Tiro Unitário ou Singular, Repetição,
Semiautomático e Automático.
Tiro Unitário ou Singular: As armas com esse tipo de funcionamento
dependem do atirador para realizar o carregamento, descarregamento e o
engatilhamento de maneira manual. O mecanismo executa somente o
desengatilhamento.
Repetição: Todas as operações são realizadas de maneira mecânica, porém,
para que a arma fique em condições de disparo, é necessária a ação muscular do
atirador nas ações de carregar, extrair e ejetar. Como exemplo, temos o revólver.
Semiautomático: Todas as operações de funcionamento da arma são
realizadas de maneira automática, através do aproveitamento dos gases

33
provenientes da queima do propelente, exceto um novo disparo, sendo necessário
acionar o gatilho novamente.
Automático: Todas as operações de funcionamento da arma são realizadas
de maneira automática, inclusive novo disparo, desde que o gatilho permaneça
pressionado.

4.2.4 Quanto ao Princípio de Funcionamento

O princípio de funcionamento pode ser entendido como o impulso que a arma


utilizará para realizar suas operações de funcionamento. Podem ser ação muscular
do atirador, ação direta dos gases sobre o ferrolho, ação indireta dos gases sobre o
embolo ou tubo carregador. Essas duas últimas são utilizadas em armas portáteis,
como, por exemplo, alguns modelos de fuzis. Iremos abordar especificamente as
duas primeiras.
Ação muscular do atirador: Para realizar todas as operações de
funcionamento, é necessária a ação muscular do operador, como, por exemplo, no
revólver.
Ação direta dos gases sobre o ferrolho: Para realizar as operações de
funcionamento, o mecanismo aproveita a força dos gases atuantes sobre o estojo,
impulsionando para trás para realizar todas as operações.

34
5 PARTES DO REVÓLVER

O revólver é composto, geralmente, das seguintes partes:


Tambor: Cilindro que abre lateralmente. No Brasil possui de 5 a 9 câmaras
onde se alojam as munições. Localiza-se entre o cano e a parede do percursor. Gira
em torno do seu eixo central.
Dedal serrilhado: Localizado na lateral esquerda do revólver. Função de
liberar o tambor para que seja deslocado para o lado e, consequentemente, municiar
a arma.
Retém: Fica abaixo do tambor e acima do gatilho. Tem função de alinhar a
câmara em que se encontra alojada a munição com o cano.
Vareta extratora do tambor: Função de desalojar as munições deflagradas
ou não (quando acionada a arma deve encontrar-se sempre com o cano voltado
para cima para que a gravidade ajude nesse trabalho).
Cabo: Parte usada para empunhar a arma.
Cão: Acionado pelo gatilho, leva o percursor, direta ou indiretamente, à
espoleta.
Percursor: Peça que ao atingir a espoleta causa a detonação da mesma.
Guarda mato: Protege o gatilho de eventuais acionamentos acidentais.
Cano: "Tubo" raiado pelo qual o projétil passa em seu interior.
Massa de mira: Em conjunto com a alça de mira, faz a linha de visada ao
alvo desejado.
Alça de mira: Próxima ao cão, serve para efetuar a correta pontaria.

35
Figura 9 - Partes de um revólver

Fonte: http://www.diogenesbandeira.com.br/2012/11/como-funciona-os-revolveres.html

36
6 PARTES DA PISTOLA IMBEL MD5/MD7

A pistola Imbel é composta das seguintes partes:


Punho: Parte usada para empunhar a arma.
Carregador: Parte onde se encontram alojadas verticalmente as munições.
Retém do carregador: Quando acionado, possibilita a remoção do mesmo,
ou para municiar ou remuniciar.
Ferrolho: Peça móvel que envolve o cano, possui em sua superfície alça e
massa de mira e, em seu interior, basicamente, o percursor do cano.
Cão: Quando se aciona o gatilho, leva o percursor indiretamente à espoleta.
Após o primeiro tiro, como consequência do movimento do ferrolho, o cão
permanece sempre engatilhado.
Gatilho: Localizado abaixo do ferrolho, quando acionado movimenta o cão.
Guarda mato: Protege o gatilho de eventuais acionamentos acidentais.
Massa de mira: Em conjunto com a alça de mira, faz a linha de visada ao
alvo desejado.
Alça de mira: Localizada próxima ao cão, tem a mesma função do revólver,
ou seja, serve para efetuar a correta pontaria.
Retém do ferrolho: Alavanca cuja finalidade é a liberação do ferrolho que
permanece aberto após a deflagração da última munição.
Cano: "Tubo" raiado pelo qual o projétil passa em seu interior.
Trava do gatilho: Mecanismo de segurança que impede o disparo acidental.

37
Figura 10 - Partes da pistola Imbel

Fonte: https://pt-br.facebook.com/127820877373809/photos/quem-sabe-os-nomes-das-
pe%C3%A7as-externas-de-uma-imbel-md5imbel-md5-40sw-1911armasde/552539164901976/

38
7 PARTES DA PISTOLA TAURUS – PT100

A pistola Taurus (PT100) é composta das seguintes partes:


Cabo/Punho: Parte usada para empunhar a arma.
Carregador: Parte onde se encontram alojadas verticalmente as munições.
Retém do carregador: Quando acionado, possibilita a remoção do mesmo,
ou para municiar ou remuniciar.
Ferrolho: Peça móvel que envolve o cano, possui em sua superfície alça e
massa de mira e, em seu interior, basicamente, o percursor do cano.
Cão: Quando se aciona o gatilho, leva o percursor indiretamente à espoleta.
Após o primeiro tiro, como consequência do movimento do ferrolho, o cão
permanece sempre engatilhado.
Gatilho: Localizado abaixo do ferrolho, quando acionado movimenta o cão.
Guarda mato: Protege o gatilho de eventuais acionamentos acidentais.
Massa de mira: Em conjunto com a alça de mira, faz a linha de visada ao
alvo desejado.
Alça de mira: Localizada próxima ao cão, tem a mesma função do revólver,
ou seja, serve para efetuar a correta pontaria.
Retém do ferrolho: Alavanca cuja finalidade é a liberação do ferrolho que
permanece aberto após a deflagração da última munição.
Cano: "Tubo" raiado pelo qual o projétil passa em seu interior.
Trava do Gatilho: Mecanismo de segurança que impede o disparo acidental.

39
Figura 11 - Partes da pistola Taurus PT100

Fonte:
https://www.google.com/search?q=PARTES+PT100&tbm=isch&hl=ptR&chips=q:partes+pt100,online_
chips:pistola:ZMS7DroiKnY%3D&rlz=1C1GCEU_pt-BRBR1049BR1049&sa=X&ved=2ahUKEwiMj-
WH2NbhVkA7kGHXwADLwQ4lYoAHoECAEQJg&biw=1423&bih=687#imgrc=dioiug67xGSfTM&imgdii
=y0uDxecU7DxCpM/.

40
8 PARTES DA ESPINGARDA CBC - CAL 12

A espingarda CBC – Cal 12 é composta das seguintes partes:


Soleira: Tem a finalidade de amortecer o impacto da arma no momento do
disparo, o chamado “recuo” da arma.
Coronha: Permite a fixação da arma aos músculos do ombro.
Receptáculo: Também conhecido como caixa do mecanismo, possui a
finalidade de embutir todo o mecanismo de disparo da arma.
Ferrolho: Parte do mecanismo de disparo responsável pela percussão da
espoleta e da extração e ejeção do cartucho, uma vez que no ferrolho está acoplado
o percussor e extrator da arma.
Janela de ejeção: Local por onde é carregada a primeira munição da arma e
por onde o estojo é ejetado após o disparo.
Cano: Responsável primeiramente por suportar a pressão da combustão da
pólvora dentro do cartucho, possui a finalidade de direcionar os balins até o alvo.
Trava de segurança (registro de segurança): Responsável por travar o
mecanismo de disparo, evitando que a tecla do gatilho seja acionada.
Guarda mato: Proteção para evitar que algo bata na tecla do gatilho e
dispare acidentalmente a arma.
Haste da corrediça: Presente uma no lado direito e outra no lado esquerdo
da arma, a haste liga a telha ao ferrolho para que a arma possa ser aberta ou
preparada para o disparo.
Telha: Também chamada de guarda mão, a telha é a parte onde o atirador
apoia sua mão para dar suporte à arma e para acionar o mecanismo de
bombeamento.
Tubo do depósito: Conhecido como carregador tubular, tem a finalidade de
acomodar os cartuchos de munição que serão alimentados na arma.
Conjunto do bujão do depósito: Responsável pela fixação do cano ao tubo,
auxilia para que a munição que está no tudo do depósito não caia da arma.

41
Figura 12 - Partes da espingarda

Fonte: http://www.armamentoemunicao.com.br/2014/10/espingarda-calibre-12-pump-cbc-5862.html

No lado esquerdo, a espingarda apresenta ainda as seguintes partes:


Localizador esquerdo longo: Chamado normalmente de liberador da
munição, o localizador é a tecla que quando acionada libera a munição que está
alojada dentro do tubo do depósito.
Acionador da trava da corrediça: Também chamado de liberador da
corrediça, essa tecla, como o próprio nome diz, libera a telha para que a arma seja
aberta quando está preparada para o disparo, sem que haja a necessidade de
disparar a arma.
Gatilho: Responsável pelo acionamento do mecanismo de disparo.
Janela de alimentação: Localizada na parte inferior do receptáculo, a janela
de alimentação é o local por onde introduzimos ou retiramos munição do tubo do
depósito.
Transportador: Localizado próximo à janela de alimentação, essa peça é a
responsável por erguer a munição que saiu do tubo do depósito, posicionando-a
para ter acesso ao cano quando a telha for levada à frente para fechar a arma.

42
Figura 13 - Partes da espingarda (Lado Esquerdo)

Fonte: http://www.armamentoemunicao.com.br/2014/10/espingarda-calibre-12-pump-cbc-5862.html

43
9 PARTES DA CARABINA IMBEL IA2 5.56 / 7.62

A carabina Imbel IA2 é composta das seguintes partes:


Soleira: Tem a finalidade de amortecer o impacto da arma no momento do
disparo, o chamado “recuo” da arma.
Alça de mira: Em conjunto com a massa de mira, faz a linha de visada ao
alvo desejado.
Tampa da caixa da culatra: Protege as partes móveis da carabina.
Trilhos picatinny: Servem para encaixar acessórios à carabina, como
lunetas.
Janelas de refrigeração: Auxiliam na entrada de ar para refrigerar o cano.
Massa de mira: Em conjunto com a alça de mira, faz a linha de visada ao
alvo desejado.
Cano: Proporciona velocidade e direção ao projétil.
Quebra chamas: Tem a função de impedir a propagação de chamas após o
disparo.
Zarelho: Fixa a bandoleira ao fuzil.
Guarda mão: Apoio para o atirador segurar o armamento com a mão
espalmada na parte da frente, garantido a estabilidade do armamento.
Carregador: Armazena as munições.
Guarda mato: Protege o gatilho, evitando disparo acidental.
Gatilho: Responsável pelo acionamento do mecanismo de disparo.
Punho: Apoio para o atirador segurar a carabina com a mão fechada na parte
de trás.

44
Figura 14 - Partes da carabina Imbel IA2 5.56/7.62

Fonte: https://pt.slideshare.net/dawison/fuzil-imbel-ia2-556-e-762mm

45
10 PARTES DA CARABINA TAURUS – T4

Coronha: Tem a finalidade de amortecer o impacto da arma no momento do


disparo, o chamado “recuo” da arma.
Vértice de mira: Em conjunto com a massa de mira faz a linha de visada ao
alvo desejado.
Pino de desmontagem: Utilizado para iniciar a desmontagem do armamento.
Retém do ferrolho: Alavanca cuja finalidade é a liberação do ferrolho que
permanece aberto após a deflagração da última munição.
Massa de mira: Em conjunto com a alça de mira, faz a linha de visada ao
alvo desejado.
Quebra chamas: Tem a função de impedir a propagação de chamas após o
disparo.
Zarelho: Fixa a bandoleira à carabina.
Guarda mão: Apoio para o atirador segurar o armamento com a mão
espalmada na parte da frente, garantido a estabilidade do armamento.
Carregador: Armazena as munições.
Guarda mato: Protege o gatilho, evitando disparo acidental.
Gatilho: Responsável pelo acionamento do mecanismo de disparo.
Punho: Apoio para o atirador segurar a carabina com a mão fechada na parte
de trás.
Seletor de tiro e segurança: Utilizado para escolher o regime de disparo e
para travar a arma.

46
Figura 15 - Partes da carabina Taurus - T4

Fonte: https://www.taurusarmas.com.br/assets/files/content/downloads/30004662_-
_t4_bilingue_rev_01.2019_.pdf

47
11 BALÍSTICA

Segundo o Manual de Armamento Convencional, balística

é o estudo do movimento e do comportamento dos projéteis dentro e fora


das armas de fogo, em razão das forças e dos fatores que atuam sobre ele,
bem como de seus efeitos. É dividida em três fases distintas: balística
interior, balística exterior e balística dos ferimentos ou dos efeitos. (MINAS
GERAIS, 2011, p.95)

11.1 Conceito de Balística

E o estudo do movimento e do comportamento dos projeteis, dentro e fora


das armas de fogo, em razão das forças e dos fatores que sobre eles atuam, bem
como de seus efeitos (MINAS GERAIS, 2011, p.95).

11. 2 O Processo do Disparo

O cartucho metálico completo é uma evolução não-superada nas armas de


fogo. Será abordado o comportamento da munição, desde a percussão e o
deslocamento do projétil no interior da arma até o momento em que o projétil
encerra seu movimento, a fim de se conhecer melhor as armas de fogo,
principalmente no tocante às munições utilizadas e seus efeitos.

11.2.1 Conceitos no Processo de Disparo

Para o entendimento do processo de disparo, é necessário o estabelecimento


de conceitos e o conhecimento das informações básicas que serão apresentadas a
seguir.

11.2.1.1 Tipo de Transformações

De acordo com o Manual de Armamento Convencional, produzido pela Polícia


Militar em 2011, a partir de um experimento com a comparação de vários tipos de
explosivo dispostos em extensão, em forma de fio com as mesmas dimensões, sem
nenhuma compressão e excitados ao ar livre, obteve-se que a velocidade de

48
transformação deles era variável, ou seja, uns se transformam mais rapidamente do
que outros. Dessa forma, diferentes tipos de transformação foram definidos, o que
levou às seguintes definições:

TIPO DE TRANSFORMAÇÃO RELAÇÃO ESPAÇO TEMPO METROS/SEGUNDO


Queima (inflamação) De 1 a 90 m/seg.
Deflagração De 1.000 a 2.000 m/seg.
Explosão De 2.000 a 4.000 m/seg.
Detonação Acima de 4.000 metros/seg.

Com base nesses dados, os explosivos são classificados, quanto à


velocidade de transformação, em:
a) Baixos Explosivos (pólvoras): São empregados para cargas de projeção,
artifícios pirotécnicos e, eventualmente, ruptura. Esses explosivos queimam ou
deflagram.
b) Altos Explosivos (explosivos brisantes ou de ruptura): São
empregados em ruptura, arrebentamento, fragmentação, destruições e como
iniciadores de explosões. Esses explosivos explodem ou detonam.

11.2.1.2 Encadeamento Explosivo

Qualquer munição é composta por elementos essenciais para que formem o


encadeamento explosivo. São eles:
a) Um iniciador: Produz o jato inicial de chama que vai inflamar a carga
propelente; e geralmente chamado de estopinha ou espoleta (detonante ou
fulminante).
b) Um propelente: É a carga inflamável que impulsiona o projétil devido à
pressão dos gases gerados pela sua combustão (polvora).

11.3 Balística Interior

É a área da balística que estuda os fenômenos que ocorrem no interior do


armamento, desde a detonação da espoleta até o momento em que o projétil sai do
cano. Estuda, ainda, a estrutura e características das armas, bem como seus

49
mecanismos, funcionamento, segurança, efeitos da detonação da espoleta e
deflagração da pólvora dos cartuchos, aceleração do projétil no interior do cano,
extração e ejeção do estojo em armas automáticas e semiautomáticas e o recuo do
ferrolho. Enfim, tudo aquilo relacionado aos fenômenos que acontecem no interior do
armamento até o momento em que o projétil abandona a boca do cano.

50
12 ETAPAS DO PROCESSO DE DISPARO

A sequência do processo de disparo, elencadas no Manual de Armamento


Convencional (MINAS GERAIS, 2011), é descrita a seguir em sete etapas, também
representadas na imagem (FIGURA 16).
a) Percussão: Com o cartucho perfeitamente ajustado na câmara (que
deverá estar completamente obstruída), pressiona-se o gatilho que irá liberar o
mecanismo de percussão, de tal forma que o percussor incida sobre a espoleta ou
cápsula, iniciando a detonação.
b) Detonação: Quando o percussor golpeia a espoleta, a matéria detonante é
violentamente comprimida, produzindo uma potente chama, que é transmitida ao
propelente (carga de pólvora) através de um ou mais orifícios existentes no
cartucho. Esses furos, que fazem a ligação do alojamento da espoleta ao
receptáculo da pólvora (câmara do estojo), são denominados eventos.
c) Início da queima do propelente: Quando a espoleta é detonada, lança
para o interior do estojo uma chama que deve ser potente o suficiente para envolver
toda a pólvora contida em seu interior, sob pena de queima ineficiente e retardo no
disparo. A pólvora contida em um cartucho de munição não explode, queima.
d) Início do movimento do projétil: Na medida em que a pólvora vai sendo
queimada, é transformada em um grande volume de gases que passa a exercer
pressão contra a base do projétil e contra as paredes e a base do estojo, num
sistema de forças que atua em todas as direções. Como no bloqueio desse sistema,
a parte mais fraca é a região de engaste do projétil no gargalo, a crescente pressão
dos gases provocará seu deslocamento à frente, após dilatação do estojo. Tal
dilatação, decorrente de sua elasticidade material, do calor e da pressão gerados,
além de facilitar o movimento do projétil, possui a função de selar a câmara para
evitar a perda de gases pela culatra e ajudar a impedir o recuo do estojo antes do
momento adequado, principalmente em armas que funcionam por sistema
“blowback”. Parte dos gases acompanha o projétil, empurrando-o no sentido
contrário – da culatra para a boca do cano.
e) Voo livre e tomada do raiamento pelo projétil: A pressão dos gases
vence a inércia do projétil, impulsionando-o à frente. Antes de atingir as raias, o
projétil percorre um pequeno trajeto localizado na parte final e anterior da câmara.
Essa porção é denominada espaço de voo livre e liso e possui diâmetro maior do

51
que o do projétil. Após tê-la ultrapassado com facilidade, encontra-se com o início do
raiamento, o que causa uma ligeira frenagem em seu movimento. Na sequência, a
pressão dos gases continua aumentando gradativamente, forçando-o contra as
estrias e imprimindo-lhe uma rotação em torno de seu eixo longitudinal, no sentido
de evolução das raias.
f) O projétil adquire velocidade no cano: Após a tomada do raiamento, a
pressão continua em uma crescente vertiginosa até chegar ao seu pico (ponto
máximo), exatamente no momento em que o projétil já percorreu a parte inicial do
cano (cerca de um quinto) e adquiriu aceleração. A partir daí, na medida em que o
espaço deixado por ele aumenta, a pressão vai caindo gradativamente. Embora
ocorra essa queda na pressão dos gases, seus efeitos não cessam, uma vez que
parte da pólvora ainda continua queimando, acompanhando o projétil em sua
trajetória pelo cano, imprimindo-lhe mais velocidade. No processo de disparo, a
queima da pólvora ocorre em fases, diferentes e sucessivas.

Figura 16 - Processo de disparo

Fonte: https://carabineirosblog.wordpress.com/literatura-tecnica/

52
g) O projétil abandona o cano: Próximo do final de sua trajetória no interior
do cano, o projétil recebe um pequeno e último incremento de aceleração. Alcança
sua velocidade máxima ao atingir a boca do cano, por onde sai acompanhado de um
estampido e de uma labareda de fogo provocada por partículas ainda em
combustão. Com a saída do projétil, a pressão cai bruscamente, permitindo que o
estojo recupere, em parte, suas dimensões originais, o que irá permitir sua extração.
Após o disparo, ocorre o recuo da arma no sentido contrário ao deslocamento do
projétil.
Com o projétil já fora do cano, a pressão exercida para trás sobre a parte
anterior da culatra deverá dar origem ao retrocesso dos mecanismos da arma,
dependendo do seu sistema de funcionamento, a saber:
– Se possui um ferrolho que trabalha trancado, com acionamento através de
êmbolo ou tubo, e impulsor, não se moverá até que os gases atinjam o ponto de
captação próximo à boca do cano e movimentem o impulsor (ação indireta dos
gases com tomada em um ponto do cano);
– Se possui acionamento direto do ferrolho, sem êmbolo, o próprio estojo
inicia a abertura da culatra (ex.: blowback e curto recuo do cano);
– Se possui culatra trancada manualmente ou tambor (armas de repetição e
de tiro singular), não haverá sistema recuante, sendo todo o movimento transferido
para a arma e absorvido pelo atirador.
Em todos os casos, portanto, durante o deslocamento do projétil no interior do
cano, o sistema de forças deverá estar em equilíbrio, de modo que a arma não se
movimente, ou se movimente o mínimo possível para não afetar a precisão. Como
regra geral, o recuo das armas de fogo e de suas peças móveis só pode se iniciar
após a saída do projétil pela boca do cano, e as armas devem, por construção,
serem dimensionadas para tal.
Entretanto, há armas projetadas e construídas sem a observação desses
critérios. Em um processo de seleção e aquisição, devem ser rejeitadas.

53
13 BALÍSTICA EXTERNA

A balística externa, segundo Minas Gerais (2011),

estuda o comportamento do projétil durante a sua trajetória, desde o


momento em que abandona o cano até alcançar o alvo. Neste estudo, entra
a aerodinâmica, que se ocupa em avaliar qual é a relação entre o
movimento do projétil e sua velocidade, o formato, bem como a resistência
do ar que o envolve. Além disso, o calibre, o formato, a massa, a velocidade
inicial e a rotação são fatores determinantes para a construção e para o
desempenho balístico de um projétil. Da simples análise física do assunto,
utilizando energia, pode-se deduzir que a massa e a velocidade são muito
importantes no desempenho de uma arma e de um projétil, já que a energia
cinética de um corpo corresponde a uma relação entre essas duas
variáveis: “EC = ½ m .v²” 1. Como a energia a ser transmitida ao alvo é fruto
da transformação da energia cinética, a maximização desta permitirá um
melhor efeito. (MINAS GERAIS, 2011, p.100)

13.1 Forças Que Atuam sobre o Projétil

Quando o projétil sai do cano da arma após o disparo, sofre a ação de uma
série de forças, dentre elas, a impulsão gerada pela pressão dos gases, que
imprimiu a ele velocidade e rotação. Em oposição a essas forças, atuam outras
existentes na natureza: gravidade, resistência do ar (atrito) e ventos. O formato do
projétil e seu movimento de rotação induzido pelas raias servem, justamente, para
vencer essas forças contrárias.

Figura 17 - Forças que atuam sobre o projétil

Fonte: http://carlamcoelho.blogspot.com/2011/10/questoes-resolvidas-movimento-de.html

1
EC = energia cinética; m = massa; v = velocidade

54
Quanto à força da gravidade, pode-se afirmar que todo corpo que possui
massa e é solto ou lançado no ar, cairá no solo em algum momento. O resultado das
forças que atuam sobre o projétil em sua trajetória fora do cano da arma, e antes de
atingir seu objetivo, fará com que o projétil descreva uma trajetória quase parabólica,
que será mais ou menos tensa, de acordo com uma série de fatores: inclinação do
cano da arma no momento do disparo, velocidade, forma e massa do projétil.
A resistência do ar e a forca dos ventos agem, respectivamente, na
desaceleração e no desvio dos projéteis. Tais ações dependem da intensidade e/ou
da direção desses elementos, que ainda são afetadas pelo formato e pelas
velocidades de deslocamento e rotação do projétil.
O tamanho do cano e a disposição do raiamento podem melhorar o
desempenho da munição, pois influenciam diretamente nas velocidades imprimidas
ao projétil. Entretanto, variações dessa natureza podem exigir a utilização de
pólvoras com tempos de queima diferentes. A única certeza e de que, quanto mais
aerodinâmico for seu formato e maior velocidade de rotação for induzida no projétil,
mais facilmente ele reduzirá a ação dessas forças. O desempenho de cada tipo de
arma e munição é afetado de maneira diferenciada pelas forças citadas (MINAS
GERAIS, 2011).

13.2 Alcance dos Projéteis

Segundo o Manual de Armamento Convencional (MINAS GERAIS, 2011),


realizado o disparo, o projétil se desloca pelo ar até o momento em que encontra um
alvo ou até que, pela ação da resistência do ar e da forca da gravidade, perca sua
força propulsora e caia no solo. A essa distância percorrida, dá-se o nome de
“alcance” do disparo.
O alcance de cada disparo, mesmo que de calibres iguais, nunca será
idêntico, uma vez que sempre estará permeado por uma série de variáveis:
condições da arma (tamanho de cano, número de raias, sentido do raiamento),
condições da munição, clima e condições atmosféricas (temperatura, umidade
relativa do ar, velocidade e direção do vento e precipitação pluviométrica); variáveis
estas que interferem no alcance do projétil.
Munições idênticas, disparadas de armas com canos de diferentes
dimensões, atingirão alcances diferentes. Normalmente, canos com maiores

55
comprimentos permitem gerar maiores pressões no processo de queima do
propelente, o que, se ocorrer, imprimirá maior velocidade de deslocamento e
frequência de giro ao projétil, permitindo-lhe melhores condições de vencer a
resistência do ar.
Ressalva-se que esse padrão não se trata de uma regra e depende do tipo de
munição e propelente empregados. O desempenho de pólvoras de queima rápida,
utilizadas em munição para revólveres, é prejudicado quando o comprimento do
cano é maior, o que exige uma pólvora de queima menos rápida, ou de queima com
média velocidade. Com base nessas informações, e considerando as possibilidades
de emprego de uma arma de fogo, foram estabelecidos os conceitos de alcance que
balizam o estudo e a utilização de cada tipo de munição de acordo com a arma.
a) Alcance máximo: Compreende a maior distância que um projétil pode
alcançar em uma trajetória livre de obstáculos, sobre uma superfície horizontal e
totalmente plana. É medido da boca do cano da arma até o ponto onde o projétil
toca o solo, quando encerra seu movimento. Para tanto, deve ser lançado em ângulo
oblíquo específico, o qual varia de acordo com a arma e a munição utilizadas e com
as condições atmosféricas. A título de exemplo, nas condições normais de
temperatura e pressão, com a presença do coeficiente de resistência do ar, para que
atinjam seu alcance máximo, alguns projéteis de alta energia são disparados em
ângulos de, aproximadamente, 30º. Diferentemente dos ensaios em vácuo, onde o
angulo de 45º sempre leva a um lançamento mais distante.
b) Alcance útil ou alcance efetivo: É a distância máxima atingida por um
projétil onde, ainda, possa causar traumas incapacitantes e deixar fora de ação uma
pessoa adulta. Também pode ser conceituado, fisicamente, como a distância
atingida pelo projétil que ainda possua energia equivalente a 13,6 kgm, mínimo
suficiente para provocar traumas incapacitantes em uma pessoa adulta.
c) Alcance de utilização ou alcance com precisão: É o alcance máximo
que um atirador experiente é capaz de atingir, com aceitável grau de acerto, um
objeto ou alvo quadrado com 30 cm de lado. Tais medidas correspondem a área
onde se situam os principais órgãos vitais num tórax humano. A determinação dos
alcances conceituados acima pressupõe a realização do tiro em condições ideais de
temperatura, clima, preparo técnico e psicológico, tempo, conforto, dentre outras.
Quando necessário empregar uma arma de fogo em defesa pessoal, o operador

56
encontra-se em condições críticas que afetarão a execução do tiro. Dessa forma,
surge o conceito do alcance prático.
d) Alcance prático: Distância máxima em que um atirador, com experiência
mediana, consegue atingir um objeto ou alvo quadrado com 30 cm de lado em
situações de combate ou defesa, efetuando um tiro preciso, obtendo os efeitos
desejados. Também pode ser conceituado como a distância máxima em que o
atirador, com experiência mediana, pode empregar uma arma de fogo, com
possibilidade de efetuar um tiro preciso e com os efeitos desejados em situações de
combate ou defesa.

57
14 BALÍSTICA DOS FERIMENTOS

Conforme Minas Gerais (2011), a balística dos ferimentos, também conhecida


como balística dos efeitos

estuda o comportamento do projétil, a partir do instante em que atinge um


corpo até quando se detém, buscando analisar os efeitos produzidos. No
momento em que se choca contra um corpo, o projétil transfere energia
mecânica na forma de calor e deformação. Essa transferência de energia
varia de acordo com cada tipo de munição, a distância até o alvo, e o
tamanho, peso, velocidade e formato do projétil, além do tipo de
deformação e desvio que ele sofre com o impacto. Esse choque provoca a
perfuração dos tecidos corporais, concomitantemente com a propagação de
ondas expansivas que induzem um fenômeno de cavitação (formação de
uma cavidade), que recua, tão logo os tecidos atinjam seu limite elástico.
Assemelha-se a um peso sendo jogado contra a superfície da água: ondas
se formam a partir dos pontos de ruptura e em toda sua extensão e se
deslocam para as extremidades, conduzindo substância de dentro para fora,
formando uma bolha. Quando atinge seu limite de tensão, a substância
retorna na direção do ponto de ruptura, fechando a bolha ou cavidade.
(MINAS GERAIS, 2011, p.108)

Os efeitos de maior importância produzidos são caracterizados pelos tipos de


cavidades provocadas pelos projéteis:
– Cavidade permanente: É a perfuração causada pela trajetória do projétil no
corpo, no segmento onde houve a ruptura de tecidos, ou seja, e o ferimento de
passagem.
– Cavidade temporária: É causada pelo deslocamento do tecido corporal, de
dentro para fora, formando uma bolha no caminho de ruptura do projétil pelo interior
do corpo. Ocorre em função das ondas geradas pelo impacto do projétil e,
rapidamente, após cessar a energia do choque, se fecha.
Esses efeitos são proporcionais às características da munição e são a base
dos estudos sobre as possibilidades de incapacitação de um projétil de arma de
fogo, orientando a longa busca pela efetividade balística.

58
15 CANO

O cano tem uma contribuição direta para a efetividade dos disparos


realizados pela arma. É nele que todas as reações químicas e físicas antes do
projétil sair pela boca do cano acontecem. Ele tem a função primordial de conter
toda a energia produzida e direcioná-la para acelerar o projétil até deixar a arma.
Além disso, também tem como função estabilizar o projétil, aumentando sua
efetividade. Ignorando a capacidade técnica do atirador, o tamanho, espessura,
forma de fabricação do cano, entre outros fatores, geram influência direta no
resultado do disparo no alvo.
Quando se ouve o termo “Alma” no contexto das armas de fogo, está-se
referindo ao interior do cano. Ele pode ser liso ou raiado. Por isso se diz, alma lisa
ou alma raiada.

15.1 Partes

O cano de alma raiada é composto por câmara (quando solidária ao cano),


corpo do cano e coroa. Nas armas de alma lisa, a Coroa é substituída pelo Choke.

Figura 18 - Partes do cano

Fonte: https://www.gratispng.com/png-qz480k/

Câmara: É o local onde ocorrem as maiores pressões no momento da queima


da pólvora. Por esse motivo suas paredes são mais resistentes do que o restante do

59
cano. Seu interior sempre será liso, independentemente do restante do cano, uma
vez que precisa acomodar o cartucho. Em virtude da sua resistência lateral e da
culatra, só resta aos gases expulsarem o projétil para frente em direção ao cano.
Corpo do cano: É o prolongamento cilíndrico por onde o projétil irá passar,
sendo acelerado pelos gases produzidos pela queima da pólvora. Seu comprimento
interfere diretamente em outros fatores relacionados ao tiro. Ex: tipo de pólvora,
velocidade do projétil, entre outros.
Coroa: Está presente somente nas armas de alma raiada e tem por função a
proteção do raiamento, pois nela encerra-se o raiamento. Ele deve ser perfeito, pois,
caso contrário, poderá influenciar na estabilidade do projétil no momento em que
deixa a boca do cano.
Choke: Presente nas armas de alma lisa, ele é um estrangulamento da boca
do cano que visa agrupar a carga de baalins no momento em que deixam a boca do
cano com a finalidade de obter maior alcance e precisão.

15.2 Alma Lisa e Alma Raiada

Alma lisa: É aquela cujo interior do cano é totalmente polido, sem raiamento.
Uma vez que alguns cartuchos de alma lisa contêm diversos baalins, seria
impossível que fossem estabilizados através de raiamento.
Alma Raiada: É aquela cujo interior do cano é dotado de sulcos helicoidais
dispostos de maneira longitudinal.

60
16 RAIAMENTO

O raiamento tem função de imprimir ao projétil um movimento rotacional que


proporciona estabilidade em sua trajetória e, consequentemente, um movimento de
voo mais uniforme.
O raiamento é composto de fundos e cheios. Tendo em vista que o projétil é
pouca coisa maior que a medida entre cheios, a força dos gases o empurra sobre as
raias e, consequentemente, ocasiona a rotação necessária.

Figura 19 - Raiamento de um cano de arma de fogo

Fonte: https://www.defesa.org/canos-raiados-e-canos-de-alma-lisa/

As armas podem ter número ímpar ou par de raiamento. Tal configuração


será decidida por cada fabricante, levando em consideração a melhor configuração
para o projeto específico.
Além disso, são classificadas conforme o sentido das raias. Aqueles
raiamentos à direita são chamados Dextrogiros e à esquerda Sinistrogiros.

61
Figura 20 - Raiamento à direita / Raiamento à esquerda

Fonte: https://www.gov.br/pf/pt-br/assuntos/armas/instrutores-de-armamento-e-tiro/orientacao-para-
credenciamento/sintese-de-temas-para-avaliacao-de-capacidade-tecnica-30-12-2020.pdf

16.1 Passo de Raiamento

É a distância necessária para que o projétil dê uma volta sobre seu eixo
dentro do cano. Pode ser dividido em Simples ou Misto.
Simples: Ele é constante em todo o cano. O projétil é submetido ao mesmo
giro desde o início de seu deslocamento até deixar a boca do cano.
Misto: Algumas munições precisam de uma configuração diferente para
obterem seu melhor desempenho balístico. Por esse motivo, a taxa de torção
precisa ser alterada dentro do mesmo cano. Por exemplo, no início do deslocamento
o projétil é mais lento para aproveitar a maior pressão da queima, e, com a distância,
o passo vai aumentando para que haja maior ganho de velocidade do projétil.

62
Figura 21 - Exemplificação do passo de raiamento

Fonte: http://balisticabrasil.blogspot.com/2016/07/

63
17 CALIBRE REAL E CALIBRE NOMINAL

Calibre Real: Como vimos anteriormente, o raiamento é composto de fundos


e cheios. Os cheios podem ser ímpares ou pares. O calibre real é a medida entre os
cheios do raiamento nas armas de raiamento par e traduz a medida exata do interior
do cano da arma. Nas armas em que o raiamento é em número ímpar, é medido
entre o cheio e o fundo diretamente oposto.
Calibre Nominal: É medido entre os fundos do raiamento. Essa medida
corresponde ao diâmetro do projétil. Já foi dito que o diâmetro do projétil era pouco
maior que o diâmetro do cano para que pudesse imprimir naquele o movimento
rotacional. Nessa diferenciação entre calibre real e nominal, é possível observar
essa particularidade.

Figura 22 - Calibre Real e Calibre Nominal

Fonte: https://www.defesa.org/canos-raiados-e-canos-de-alma-lisa/

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18 CARTUCHO

Embora o armeiro suíço Jean Samuel Pauly tenha sido o responsável pelo
projeto do cartucho que serviu em grande parte de base para o cartucho
desenvolvido por Casimir Lefaucheux, este último ficou conhecido como o
responsável pelo primeiro cartucho de sucesso, que era parecido com os cartuchos
atuais, porém composto por um cilindro de papelão com base metálica. No interior
havia uma cápsula fulminante que era percutida por um pino que sobressaía na
lateral da base do cartucho. Tal sistema recebeu o nome de “pin-fire”

Figura 23 - Cartucho Lefaucheux

Fonte: https://armasonline.org/armas-on-line/cartuchos-polvoras-e-projeteis-nocoes-basicas/

O referido cartucho foi sendo aperfeiçoado com o passar dos anos até se
chegar aos utilizados na atualidade, de acordo com o Manual de Armamento
Convencional da Polícia Militar.

18.1 Definição e Componentes

Cartucho é a nomenclatura genérica das unidades de munição utilizadas nas


armas de fogo de Retrocarga. Tem-se diversos modelos de armas de Retrocarga e,
por esse motivo, também existem inúmeros cartuchos que variam no formato, na
quantidade e nos tipos de componentes.
Nos cartuchos para arma de alma raiada, existem os componentes
essenciais, que são: estojo, espoleta, propelente e projétil. Nos cartuchos para
armas de alma lisa, temos um elemento a mais, que é a bucha.

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Figura 24 - Cartucho para arma de alma raiada

Fonte: https://sindespe.org.br/portal/instrucao-belica-iii-qual-a-melhor-municao-a-ser-usada/

Figura 25 - Cartucho para arma de alma lisa

Fonte: http://www.armamentoemunicao.com.br/2014/10/espingarda-calibre-12-pump-cbc-5862.html

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19 ESTOJO

19.1 Definição

É a união mecânica do cartucho. Através dele é possível unir todos os


componentes necessários para o disparo em uma única peça. Além disso, protege o
propelente da umidade.
Os estojos utilizados em armas de alma raiada são produzidos, em sua
maioria, em latão. Os utilizados em armas de alma lisa podem ser produzidos em
metal, plástico ou papelão. Aqueles produzidos em papelão estão em desuso, uma
vez que absorvem muita umidade. Os metálicos são utilizados nas recargas
artesanais em virtude de seu custo de produção. Desse modo, os produzidos em
plástico são os mais empregados atualmente, em virtude de não absorverem
umidade, possibilitarem um número maior de recargas e possuírem um melhor
fechamento.

19.2 Classificação dos Estojos para Arma Raiada

19.2.1 Quanto à Forma do Corpo

O corpo do estojo serve para verificar como eles vão se alojar na câmara do
armamento e qual será o Headspace (ponto no qual o cartucho se apoia no interior
da câmara, interrompendo seu movimento para frente). Ele pode ser:
Cilíndrico: Tem o mesmo diâmetro em toda extensão;
Cônico: Tem o diâmetro pouco menor na boca;
Garrafa: Tem um estrangulamento/gargalo.

67
Figura 26 - Forma do corpo de um estojo

Fonte: https://www.defesa.org/por-que-as-grandes-armas-utilizam-municao-com-estojos-tipo-garrafa/

19.2.2 Quanto ao tipo de base/culote

As ações de carregamento e extração são influenciadas pelo seu formato. Os


estojos podem apresentar cinco tipos de base/culote:
– Cinturado: Apresentam um aro de maior diâmetro na parte superior da
base/culote, confundindo-o com o corpo do estojo. Servem como um reforço
adicional às altas pressões exercidas no momento do disparo através do aumento
do apoio do cartucho na câmara. São utilizados geralmente em munições de maior
energia. Ex.: .458 Winchester Magnum

Figura 27 - Cinturado

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/.458_Winchester_Magnum

68
– Com semiaro: Possui uma base/culote com diâmetro ligeiramente maior
que o do corpo do estojo e tem a função de limitar a entrada do cartucho na câmara.
Ex.: .32 AUTO.

Figura 28 - Com semiaro

Fonte: https://loja.multigun.com.br/produtos/municao-cbc-32-auto-expo-71gr/

– Sem aro: A base/culote tem o mesmo diâmetro do corpo do estojo. Tem


apenas uma virola, que é utilizada para o encaixe no extrator. É encontrado na
maioria dos calibres de pistola. Ex.: 5,56x45mm

Figura 29 - Sem aro

Fonte: https://www.cbc.com.br/produtos/556x45mm-comum-nato-ball-ss109

– Com aro: Com ressalto na base/culote maior que o do corpo do estojo.


Permite o travamento do estojo na arma. Geralmente utilizado em revólveres
cartuchos de fogo circular. Ex.: .38 especial, .357 Magnum, .22 LR.

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Figura 30 - Com aro

Fonte: https://loja.multigun.com.br/produtos/municao-cbc-22-LR-71gr/

– Rebatido: A base tem diâmetro menor que o corpo do estojo. São pouco
utilizados. Ex.: .50 Beowulf.

Figura 31 - Rebatido

Fonte: https://gundigest.com/gear-ammo/ammunition/50-beowulf-ammo-from-hunting-to-home-
defense

Figura 32 - Tipos de culotes dos estojos

Fonte: https://www.geocities.ws/maxmargon/conseitos.htm

70
19.2.3 Quanto ao Tipo de Iniciação

O tipo de iniciação diz respeito à forma como está acondicionado o misto


iniciador. Ele pode ser classificado de duas formas: Fogo central ou percussão
central e Fogo circular ou percussão radial.
Fogo central ou percussão central: São estojos onde o misto iniciador está
localizado no centro do culote. Tem a vantagem de, geralmente, poder ser
recarregado.

Figura 33 - Estojo fogo central

Fonte: http://armassim.blogspot.com/2014/02/cartuchos-modernos.html

Fogo circular ou percussão lateral: São estojos cujo misto iniciador é


colocado no interior do culote, em sua borda. O percussor atinge o fundo do culote,
em sua parte mais externa, amassando o latão e causando um choque que inicia a
carga no interior do cartucho. Não podem ser recarregados.

71
Figura 34 - Estojo fogo circular

Fonte: https://armasonline.org/armas-on-line/o-incrivel-cartucho-22-long-rifle/

72
20 ESPOLETA

Ela é utilizada em cartuchos de fogo central e é um recipiente que contém a


mistura detonante e uma bigorna. A mistura detonante é um composto que queima
com facilidade. A ação do percursor em amassar a espoleta contra a bigorna é
suficiente para incendiar a mistura. O calor proporcionado pela queima acessa o
interior do estojo onde está alojado o propelente, através de orifícios denominados
eventos. Desse modo, a função da espoleta é basicamente gerar calor para iniciar a
queima do propelente.

20.1 Tipos de Espoletas

Existem três tipos de espoletas usadas em armas leves. Elas recebem o


nome de Boxer, Berdan e Bateria. Existem diferenças entre elas. As espoletas Boxer
e Berdan são utilizadas em armas de alma raiada, enquanto a Bateria é utilizada em
armas de alma lisa. Além disso, existe uma diferença importante entre as espoletas
Boxer e Bedran.
Boxer: Ela é muito usada atualmente, tem a bigorna montada junto da
espoleta, além de ter somente um evento central. Essa construção facilita o
desespoletamento do estojo no momento da recarga.
Bedran: A bigorna é montada juntamente com a estrutura do estojo, desse
modo não se encontra junto da espoleta. Ao contrário da Boxer, na Bedran
encontram-se dois ou mais eventos.
Bateria: Tem a bateria incorporada à espoleta de forma a ser impossível cair,
facilitando o processo de recarga do estojo.

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Figura 35 - Espoletas Boxer e Bedran

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cartucho_de_fogo_central

Figura 36 - Estojo que utiliza espoletas Berdan e Boxer

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cartucho_de_fogo_central

Espoleta Bateria

74
Figura 37 - Espoleta Bateria

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cartucho_de_fogo_central

75
21 PROPELENTE

Conforme assevera Minas Gerais (2011), propelente é a substância


propulsora responsável pelo impulso imprimido ao projétil para que ele ganhe
aceleração e velocidade. No momento em que queima dentro do estojo, produz
grande volume de gases, dessa maneira aumentando a pressão interna, vindo a
impulsionar o projétil à frente até sair pela boca do cano.
Nesse contexto, podemos afirmar que a pólvora, em virtude da sua
velocidade de transformação, é classificada como um baixo explosivo. Ela não
explode, mas queima ou deflagra.
A queima acontece 1 metro em 90 segundos e a deflagração de 1000 a 2000
m/s. Resumidamente, podemos afirmar que ela deflagra em grandes velocidades,
não explode.

21.1 Pólvora Química (Sem Fumaça)

Embora tenha sido utilizada durante séculos, a pólvora negra tinha várias
desvantagens. Tendo em vista que atualmente ela não é utilizada nas ditas armas
modernas, será abordada apenas a pólvora química.
Ela também é conhecida como pólvora sem fumaça, uma vez que os
processos químicos fizeram com que houvesse uma evolução em relação à pólvora
negra (que produzia muita fumaça). Para muitos, o ideal seria dizer pólvora com
pouca fumaça pelo fato de produzir uma certa quantidade de fumaça. Sua
descoberta é creditada à Paulo Vielle, em 1884.
Atualmente, a pólvora química tem três classificações, conforme seus
componentes-base: Simples, Dupla e Tripla.
Pólvora de base simples: É composta basicamente de nitrocelulose. Tem
uma resistência maior em relação à variação de temperatura.
Pólvora de base dupla: É composta de nitrocelulose e nitroglicerina. Ela é
mais resistente à umidade.
Pólvora de base tripla: É composta de nitrocelulose, nitroglicerina e
nitroguanina.

76
Além disso, elas apresentam-se em diversos formatos, conforme sua
aplicabilidade, como por exemplo, esférico, cilíndrico multiperfurado, discoidal, entre
outros.

77
22 PROJÉTIL

A balística forense classifica o projétil como sendo a parte do cartucho que é


lançada, por meio da ação dos gases, através do cano. Eles são produzidos com
uma liga feita de chumbo, estanho e antimônio, embora existam projéteis que
utilizam outros produtos. As formas deles são as mais variadas, conforme a sua
aplicabilidade.

22.1 Partes do Projétil


O projétil é dividido em três partes: ponta, corpo e base.

Figura 38 - Partes de um projétil

Fonte: https://www.geocities.ws/maxmargon/conseitos.htm

Figura 39 - Partes de um projétil (2)

Fonte: https://sindespe.org.br/portal/instrucao-belica-iii-qual-a-melhor-municao-a-ser-usada/

78
22.2 Quanto ao Uso

Em relação ao uso, os projéteis podem ser classificados em: de uso


essencialmente militar e de uso não essencialmente militar.
Tendo em vista que o foco é a aplicação geral, serão abordados somente os
projéteis a que o público civil tem acesso, de uso não essencialmente militar. São
eles:
– Sólidos: Uso geral;
– Jaquetados: Uso geral (Jaquetados e Encamisado são sinônimos);
– Expansivos: Defesa pessoal e caça;
– Competição (match): Produzidos para competições desportivas;
– Sinalização: Usados em operações de busca e salvamento;
– Rangível: Uso policial; desintegram-se ao atingir uma superfície rígida; são
usados em atividades de treinamento ou confronto em ambientes fechados, quando
se quer evitar ricochetes ou estilhaços;
– Múltiplos: Uso geral; provocam múltiplos ferimentos e aumentam a
possibilidade de acertar o alvo; são comumente usados em cartuchos com projétil
único, que se rompe ao atingir o alvo;
– Bagos de chumbo: Uso geral.

79
23 PANE

A pane é um acontecimento indesejado e inesperado que produz a


interrupção da sequência de tiros sem que haja danos materiais ou pessoais.

23.1 Chaminé

É caracterizada pela falha na ejeção do estojo, fazendo com que o ferrolho


“morda” o culote do estojo, que fica preso na janela de ejeção. Uma vez que impede
a ejeção correta do estojo, consequentemente não ocorre um novo carregamento.
Chama-se de chaminé quando o estojo fica preso na janela de ejeção,
independentemente do ângulo que ele fique.
Essa pane pode ocorrer quando o atirador segura a arma sem firmeza (mão
frouxa), quando o ejetor está danificado ou quando há pouca pólvora no cartucho,
fazendo com que não haja energia suficiente para que o ferrolho trabalhe em seu
ciclo completo.
Também pode ocorrer quando o atirador inadvertidamente encosta o polegar
da mão de apoio no ferrolho, causando uma desaceleração deste, dificultando a
ciclagem da arma.
Para solucionar essa pane, basta dar um tapa na parte de baixo do
carregador e manobrar o ferrolho com a arma lateralizada, fazendo com que o estojo
preso pelo ferrolho caia.

80
Figura 40 - Pane em pistola - chaminé

Fonte: https://infoarmas.com.br/vamos-falar-de-solucao-de-panes-de-pistola/

23.2 Duplo Carregamento

Essa pane ocorre por falha na extração, permanecendo uma munição ou


estojo na câmara de explosão enquanto o ferrolho empurra outra munição para o
mesmo lugar.
A pane será resolvida com a seguinte sequência:
• Abrir a arma e travar o ferrolho a retaguarda;
• Retirar o carregador;
• Fechar o ferrolho, golpeá-lo logo em seguida, abrir a arma e inserir
novamente o carregador ou;
• Fechar o ferrolho, inserir o carregador e dar um novo golpe no ferrolho.

81
Figura 41 - Pane em pistola - duplo carregamento

Fonte: https://infoarmas.com.br/vamos-falar-de-solucao-de-panes-de-pistola/ .

23.3 Pane Seca/Nega

Conhecida como falha da munição. Pode ocorrer pelo emprego de cartuchos


velhos, contaminados por óleo ou solvente e também por espoletas velhas ou
munição recarregada sem controle de qualidade.
Caso o operador não insira corretamente o carregador no seu alojamento, a
munição não será levada à câmara e a percussão irá falhar, ocorrendo um disparo
em seco, embora não seja uma “nega” propriamente dita. Nega pode ocorrer por
quebra do percussor, não sendo possível sanar a pane de imediato. A solução da
nega é dar uma batida na base do carregador e manobrar o ferrolho.

23.4 Pane de Trancamento

Nesse tipo de pane, o cartucho não fica corretamente alojado na câmara de


explosão, o que ocasiona o fechamento incompleto do ferrolho. Pode ser causada
por recarga de má qualidade, amassamento do cartucho ou por impurezas aderidas
ao projétil ou cartucho.
Outra hipótese é a sujeira nas paredes da câmara da arma ou na rampa de
alimentação. O atirador também pode dar causa a essa pane quando, ao alimentar a

82
arma, conduz o ferrolho à frente, impedindo que a arma faça a ciclagem da maneira
regular.
Caso ocorra essa pane, será necessário puxar o ferrolho à retaguarda para
expulsar a munição que apresentou pane, levando uma nova munição à câmara.
Não se deve sanar esse tipo de pane efetuando uma batida com a palma da mão de
apoio na parte traseira do ferrolho, uma vez que esse procedimento pode causar a
pane conhecida como travamento do ferrolho, cujo procedimento de saneamento é
bem mais complexo.

Figura 42 - Pane em pistola - trancamento

Fonte: https://infoarmas.com.br/vamos-falar-de-solucao-de-panes-de-pistola/

23.5 Travamento do Ferrolho / Embuchamento

Ocorre quando o ferrolho permanece travado na posição fechado,


apresentando dificuldade para sua a abertura.

83
Pode ocorrer por recarga de má qualidade, quando o estojo fica estufado por
excesso de pressão, amassamento do cartucho ou sujeira na câmara de explosão.
O travamento do ferrolho também pode advir da pane de alimentação
incompleta, quando o atirador força a entrada da munição, dando batidas na parte
traseira do ferrolho.
Para sanar essa pane, é necessário segurar o ferrolho fortemente com a mão
de apoio em forma de concha e dar uma ou mais batidas com a mão forte no punho
da arma.

Figura 43 - Pane em pistola - embuchamento

Fonte: https://infoarmas.com.br/vamos-falar-de-solucao-de-panes-de-pistola/

A memória muscular nos auxilia a fazer algo que treinamos exaustivamente


de maneira automática. As ações para sanar as panes chaminé, pane seca/nega,
trancamento passam pela realização da sequência de tapa na base do carregador e
golpe no ferrolho, mesmo que pareça em algumas delas uma ação desnecessária.
Ocorre que essa sequência de movimentos, em algum ponto, irá solucionar a pane.
Tapa na base do carregador: No caso da chaminé, nada irá influenciar,
contudo na pane seca/nega, uma das causas pode ser o carregador mal encaixado.
No trancamento, essa pancada por vir a vibrar o armamento e ocorrer o trancamento
necessário.

84
Golpe no ferrolho: A chaminé não será solucionada sem essa ação. A pane
seca/nega vai precisar desse movimento para ejetar a munição problemática ou
carregar a arma, caso o carregador não estiver encaixado corretamente. No caso da
pane de trancamento, irá ejetar a munição que está na câmara e possibilitará um
novo movimento de trancamento.
As demais panes, duplo carregamento e travamento do
ferrolho/embuchamento, deverão ser solucionadas de forma específica.

85
24 TIPOS DE RECARGA

24.1 Recarga Rápida / Emergencial

Esse tipo de recarga é utilizado quando as munições acabaram e existe a


necessidade de alimentar a arma com um novo carregador. Nessa recarga o
carregador vazio é dispensado.

24.2 Recarga Tácita

Nessa recarga, ainda existe munição na arma, contudo, após fazer a


utilização, o operador não sabe quantas munições têm disponíveis, e, após
cessar/pausar o confronto, ele troca o carregador por um completo em sua
capacidade. Ressalta-se que nessa recarga o carregador com as munições retirado
da arma não é descartado.

86
25 LEGISLAÇÃO

Conforme ensina Cunha (2020), o Estatuto do Desarmamento, veiculado


pela Lei Federal nº 10.826/2003, regulamenta o registro, a posse, o porte e a
comercialização de armas de fogo e munição no Brasil, tendo sido aprovada com o
objetivo de controlar de forma mais eficaz a sua circulação no País.
Por meio da nova legislação, o Brasil passou a ter critérios mais rigorosos
para o controle das armas. O Estatuto tornou mais difícil o acesso ao porte de arma
e estimulou a população a se desarmar. Com a sua criação, foi instituída a
realização de campanhas de desarmamento, prevendo, inclusive, o pagamento de
indenização para quem entregasse, espontaneamente, suas armas.
O Estatuto criou o Sistema Nacional de Armas (SINARM), órgão da Polícia
Federal que controla as armas de fogo de uso permitido, assim consideradas
aquelas de cano curto e de pequeno calibre, além daquelas como espingardas
utilizadas para a caça de subsistência, seus usuários e proprietários.

LEI No 10.826, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2003. 2


Dispõe sobre registro, posse e
comercialização de armas de fogo e
munição, sobre o Sistema Nacional de
Armas – Sinarm, define crimes e dá
outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional
decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I
DO SISTEMA NACIONAL DE ARMAS
Art. 1o O Sistema Nacional de Armas – Sinarm, instituído no Ministério da
Justiça, no âmbito da Polícia Federal, tem circunscrição em todo o território nacional.
Art. 2o Ao Sinarm compete:
I – identificar as características e a propriedade de armas de fogo, mediante
cadastro;

2
A Lei 10.828/2003 vai ser transcrita na íntegra. Para facilitar o processamento das informações, não
será apresentada em formato de citação segundo as normas da ABNT, mas como texto corrido.

87
II – cadastrar as armas de fogo produzidas, importadas e vendidas no País;
III – cadastrar as autorizações de porte de arma de fogo e as renovações
expedidas pela Polícia Federal;
IV – cadastrar as transferências de propriedade, extravio, furto, roubo e outras
ocorrências suscetíveis de alterar os dados cadastrais, inclusive as decorrentes de
fechamento de empresas de segurança privada e de transporte de valores;
V – identificar as modificações que alterem as características ou o
funcionamento de arma de fogo;
VI – integrar no cadastro os acervos policiais já existentes;
VII – cadastrar as apreensões de armas de fogo, inclusive as vinculadas a
procedimentos policiais e judiciais;
VIII – cadastrar os armeiros em atividade no País, bem como conceder
licença para exercer a atividade;
IX – cadastrar mediante registro os produtores, atacadistas, varejistas,
exportadores e importadores autorizados de armas de fogo, acessórios e munições;
X – cadastrar a identificação do cano da arma, as características das
impressões de raiamento e de microestriamento de projétil disparado, conforme
marcação e testes obrigatoriamente realizados pelo fabricante;
XI – informar às Secretarias de Segurança Pública dos Estados e do Distrito
Federal os registros e autorizações de porte de armas de fogo nos respectivos
territórios, bem como manter o cadastro atualizado para consulta.
Parágrafo único. As disposições deste artigo não alcançam as armas de fogo
das Forças Armadas e Auxiliares, bem como as demais que constem dos seus
registros próprios.

CAPÍTULO II
DO REGISTRO
Art. 3o É obrigatório o registro de arma de fogo no órgão competente.
Parágrafo único. As armas de fogo de uso restrito serão registradas no
Comando do Exército, na forma do regulamento desta Lei.
Art. 4o Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado deverá,
além de declarar a efetiva necessidade, atender aos seguintes requisitos:
I - comprovação de idoneidade, com a apresentação de certidões negativas
de antecedentes criminais fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e

88
Eleitoral e de não estar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, que
poderão ser fornecidas por meios eletrônicos; (Redação dada pela Lei nº 11.706, de
2008)
II – apresentação de documento comprobatório de ocupação lícita e de
residência certa;
III – comprovação de capacidade técnica e de aptidão psicológica para o
manuseio de arma de fogo, atestadas na forma disposta no regulamento desta Lei.
§ 1o O Sinarm expedirá autorização de compra de arma de fogo após
atendidos os requisitos anteriormente estabelecidos, em nome do requerente e para
a arma indicada, sendo intransferível esta autorização.
§ 2o A aquisição de munição somente poderá ser feita no calibre
correspondente à arma registrada e na quantidade estabelecida no regulamento
desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) (Vide ADI 6466) (Vide
ADI 6139)
§ 3o A empresa que comercializar arma de fogo em território nacional é
obrigada a comunicar a venda à autoridade competente, como também a manter
banco de dados com todas as características da arma e cópia dos documentos
previstos neste artigo.
§ 4o A empresa que comercializa armas de fogo, acessórios e munições
responde legalmente por essas mercadorias, ficando registradas como de sua
propriedade enquanto não forem vendidas.
§ 5o A comercialização de armas de fogo, acessórios e munições entre
pessoas físicas somente será efetivada mediante autorização do Sinarm.
§ 6o A expedição da autorização a que se refere o § 1o será concedida, ou
recusada com a devida fundamentação, no prazo de 30 (trinta) dias úteis, a contar
da data do requerimento do interessado.
§ 7o O registro precário a que se refere o § 4o prescinde do cumprimento dos
requisitos dos incisos I, II e III deste artigo.
§ 8o Estará dispensado das exigências constantes do inciso III do caput deste
artigo, na forma do regulamento, o interessado em adquirir arma de fogo de uso
permitido que comprove estar autorizado a portar arma com as mesmas
características daquela a ser adquirida. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
Art. 5o O certificado de Registro de Arma de Fogo, com validade em todo o
território nacional, autoriza o seu proprietário a manter a arma de fogo

89
exclusivamente no interior de sua residência ou domicílio, ou dependência desses,
ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular ou o responsável
legal pelo estabelecimento ou empresa. (Redação dada pela Lei nº 10.884, de 2004)
§ 1o O certificado de registro de arma de fogo será expedido pela Polícia
Federal e será precedido de autorização do Sinarm.
§ 2o Os requisitos de que tratam os incisos I, II e III do art. 4o deverão ser
comprovados periodicamente, em período não inferior a 3 (três) anos, na
conformidade do estabelecido no regulamento desta Lei, para a renovação do
Certificado de Registro de Arma de Fogo.
§ 3o O proprietário de arma de fogo com certificados de registro de
propriedade expedido por órgão estadual ou do Distrito Federal até a data da
publicação desta Lei que não optar pela entrega espontânea prevista no art. 32
desta Lei deverá renová-lo mediante o pertinente registro federal, até o dia 31 de
dezembro de 2008, ante a apresentação de documento de identificação pessoal e
comprovante de residência fixa, ficando dispensado do pagamento de taxas e do
cumprimento das demais exigências constantes dos incisos I a III do caput do art.
4o desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) (Prorrogação de prazo)
§ 4o Para fins do cumprimento do disposto no § 3o deste artigo, o proprietário
de arma de fogo poderá obter, no Departamento de Polícia Federal, certificado de
registro provisório, expedido na rede mundial de computadores - internet, na forma
do regulamento e obedecidos os procedimentos a seguir: (Redação dada pela Lei
nº 11.706, de 2008)
I - emissão de certificado de registro provisório pela internet, com validade
inicial de 90 (noventa) dias; e (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
II - revalidação pela unidade do Departamento de Polícia Federal do
certificado de registro provisório pelo prazo que estimar como necessário para a
emissão definitiva do certificado de registro de propriedade. (Incluído pela Lei nº
11.706, de 2008)
§ 5º Aos residentes em área rural, para os fins do disposto no caput deste
artigo, considera-se residência ou domicílio toda a extensão do respectivo imóvel
rural. (Incluído pela Lei nº 13.870, de 2019)

CAPÍTULO III
DO PORTE

90
Art. 6o É proibido o porte de arma de fogo em todo o território nacional, salvo
para os casos previstos em legislação própria e para:
I – os integrantes das Forças Armadas;
II- os integrantes de órgãos referidos
nos incisos I, II, III, IV e V do caput do art. 144 da Constituição Federal e os da
Força Nacional de Segurança Pública (FNSP); (Redação dada pela Lei nº 13.500,
de 2017)
III – os integrantes das guardas municipais das capitais dos Estados e dos
Municípios com mais de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, nas condições
estabelecidas no regulamento desta Lei; (Vide ADIN 5538) (Vide ADIN
5948) (Vide ADC 38)
IV - os integrantes das guardas municipais dos Municípios com mais de
50.000 (cinqüenta mil) e menos de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, quando em
serviço; (Redação dada pela Lei nº 10.867, de 2004) (Vide ADIN 5538) (Vide
ADIN 5948) (Vide ADC 38)
V – os agentes operacionais da Agência Brasileira de Inteligência e os
agentes do Departamento de Segurança do Gabinete de Segurança Institucional da
Presidência da República; (Vide Decreto nº 9.685, de 2019)
VI – os integrantes dos órgãos policiais referidos no art. 51, IV, e no art. 52,
XIII, da Constituição Federal;
VII – os integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas prisionais, os
integrantes das escoltas de presos e as guardas portuárias;
VIII – as empresas de segurança privada e de transporte de valores
constituídas, nos termos desta Lei;
IX – para os integrantes das entidades de desporto legalmente constituídas,
cujas atividades esportivas demandem o uso de armas de fogo, na forma do
regulamento desta Lei, observando-se, no que couber, a legislação ambiental.
X - integrantes das Carreiras de Auditoria da Receita Federal do Brasil e de
Auditoria-Fiscal do Trabalho, cargos de Auditor-Fiscal e Analista
Tributário. (Redação dada pela Lei nº 11.501, de 2007)
XI - os tribunais do Poder Judiciário descritos no art. 92 da Constituição
Federal e os Ministérios Públicos da União e dos Estados, para uso exclusivo de
servidores de seus quadros pessoais que efetivamente estejam no exercício de
funções de segurança, na forma de regulamento a ser emitido pelo Conselho

91
Nacional de Justiça - CNJ e pelo Conselho Nacional do Ministério Público -
CNMP. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
§ 1o As pessoas previstas nos incisos I, II, III, V e VI do caput deste artigo
terão direito de portar arma de fogo de propriedade particular ou fornecida pela
respectiva corporação ou instituição, mesmo fora de serviço, nos termos do
regulamento desta Lei, com validade em âmbito nacional para aquelas constantes
dos incisos I, II, V e VI. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 1º-B. Os integrantes do quadro efetivo de agentes e guardas prisionais
poderão portar arma de fogo de propriedade particular ou fornecida pela respectiva
corporação ou instituição, mesmo fora de serviço, desde que estejam: (Incluído pela
Lei nº 12.993, de 2014)
I - submetidos a regime de dedicação exclusiva; (Incluído pela Lei nº 12.993,
de 2014)
II - sujeitos à formação funcional, nos termos do regulamento; e (Incluído pela
Lei nº 12.993, de 2014)
III - subordinados a mecanismos de fiscalização e de controle interno.
(Incluído pela Lei nº 12.993, de 2014)
§ 2o A autorização para o porte de arma de fogo aos integrantes das
instituições descritas nos incisos V, VI, VII e X do caput deste artigo está
condicionada à comprovação do requisito a que se refere o inciso III do caput do art.
4o desta Lei nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei. (Redação
dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 3o A autorização para o porte de arma de fogo das guardas municipais está
condicionada à formação funcional de seus integrantes em estabelecimentos de
ensino de atividade policial, à existência de mecanismos de fiscalização e de
controle interno, nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei, observada
a supervisão do Ministério da Justiça. (Redação dada pela Lei nº 10.884, de 2004)
§ 4o Os integrantes das Forças Armadas, das polícias federais e estaduais e
do Distrito Federal, bem como os militares dos Estados e do Distrito Federal, ao
exercerem o direito descrito no art. 4o, ficam dispensados do cumprimento do
disposto nos incisos I, II e III do mesmo artigo, na forma do regulamento desta Lei.
§ 5o Aos residentes em áreas rurais, maiores de 25 (vinte e cinco) anos que
comprovem depender do emprego de arma de fogo para prover sua subsistência
alimentar familiar será concedido pela Polícia Federal o porte de arma de fogo, na

92
categoria caçador para subsistência, de uma arma de uso permitido, de tiro simples,
com 1 (um) ou 2 (dois) canos, de alma lisa e de calibre igual ou inferior a 16
(dezesseis), desde que o interessado comprove a efetiva necessidade em
requerimento ao qual deverão ser anexados os seguintes documentos: (Redação
dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
I - documento de identificação pessoal; (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
II - comprovante de residência em área rural; e (Incluído pela Lei nº 11.706,
de 2008)
III - atestado de bons antecedentes. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 6o O caçador para subsistência que der outro uso à sua arma de fogo,
independentemente de outras tipificações penais, responderá, conforme o caso, por
porte ilegal ou por disparo de arma de fogo de uso permitido. (Redação dada pela
Lei nº 11.706, de 2008)
§ 7o Aos integrantes das guardas municipais dos Municípios que integram
regiões metropolitanas será autorizado porte de arma de fogo, quando em
serviço. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
Art. 7o As armas de fogo utilizadas pelos empregados das empresas de
segurança privada e de transporte de valores, constituídas na forma da lei, serão de
propriedade, responsabilidade e guarda das respectivas empresas, somente
podendo ser utilizadas quando em serviço, devendo essas observar as condições de
uso e de armazenagem estabelecidas pelo órgão competente, sendo o certificado de
registro e a autorização de porte expedidos pela Polícia Federal em nome da
empresa.
§ 1o O proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança privada e
de transporte de valores responderá pelo crime previsto no parágrafo único do art.
13 desta Lei, sem prejuízo das demais sanções administrativas e civis, se deixar de
registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou
outras formas de extravio de armas de fogo, acessórios e munições que estejam sob
sua guarda, nas primeiras 24 (vinte e quatro) horas depois de ocorrido o fato.
§ 2o A empresa de segurança e de transporte de valores deverá apresentar
documentação comprobatória do preenchimento dos requisitos constantes do art.
4o desta Lei quanto aos empregados que portarão arma de fogo.
§ 3o A listagem dos empregados das empresas referidas neste artigo deverá
ser atualizada semestralmente junto ao Sinarm.

93
Art. 7o-A. As armas de fogo utilizadas pelos servidores das instituições
descritas no inciso XI do art. 6o serão de propriedade, responsabilidade e guarda das
respectivas instituições, somente podendo ser utilizadas quando em serviço,
devendo estas observar as condições de uso e de armazenagem estabelecidas pelo
órgão competente, sendo o certificado de registro e a autorização de porte
expedidos pela Polícia Federal em nome da instituição. (Incluído pela Lei nº 12.694,
de 2012)
§ 1o A autorização para o porte de arma de fogo de que trata este artigo
independe do pagamento de taxa. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
§ 2o O presidente do tribunal ou o chefe do Ministério Público designará os
servidores de seus quadros pessoais no exercício de funções de segurança que
poderão portar arma de fogo, respeitado o limite máximo de 50% (cinquenta por
cento) do número de servidores que exerçam funções de segurança. (Incluído pela
Lei nº 12.694, de 2012)
§ 3o O porte de arma pelos servidores das instituições de que trata este artigo
fica condicionado à apresentação de documentação comprobatória do
preenchimento dos requisitos constantes do art. 4o desta Lei, bem como à formação
funcional em estabelecimentos de ensino de atividade policial e à existência de
mecanismos de fiscalização e de controle interno, nas condições estabelecidas no
regulamento desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
§ 4o A listagem dos servidores das instituições de que trata este artigo deverá
ser atualizada semestralmente no Sinarm. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
§ 5o As instituições de que trata este artigo são obrigadas a registrar
ocorrência policial e a comunicar à Polícia Federal eventual perda, furto, roubo ou
outras formas de extravio de armas de fogo, acessórios e munições que estejam sob
sua guarda, nas primeiras 24 (vinte e quatro) horas depois de ocorrido o
fato. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
Art. 8o As armas de fogo utilizadas em entidades desportivas legalmente
constituídas devem obedecer às condições de uso e de armazenagem estabelecidas
pelo órgão competente, respondendo o possuidor ou o autorizado a portar a arma
pela sua guarda na forma do regulamento desta Lei.
Art. 9o Compete ao Ministério da Justiça a autorização do porte de arma para
os responsáveis pela segurança de cidadãos estrangeiros em visita ou sediados no
Brasil e, ao Comando do Exército, nos termos do regulamento desta Lei, o registro e

94
a concessão de porte de trânsito de arma de fogo para colecionadores, atiradores e
caçadores e de representantes estrangeiros em competição internacional oficial de
tiro realizada no território nacional.
Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo de uso permitido, em todo
o território nacional, é de competência da Polícia Federal e somente será concedida
após autorização do Sinarm.
§ 1o A autorização prevista neste artigo poderá ser concedida com eficácia
temporária e territorial limitada, nos termos de atos regulamentares, e dependerá de
o requerente:
I – demonstrar a sua efetiva necessidade por exercício de atividade
profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física; (Vide ADI 6139)
II – atender às exigências previstas no art. 4o desta Lei;
III – apresentar documentação de propriedade de arma de fogo, bem como o
seu devido registro no órgão competente.
§ 2o A autorização de porte de arma de fogo, prevista neste artigo, perderá
automaticamente sua eficácia caso o portador dela seja detido ou abordado em
estado de embriaguez ou sob efeito de substâncias químicas ou alucinógenas.
Art. 11. Fica instituída a cobrança de taxas, nos valores constantes do Anexo
desta Lei, pela prestação de serviços relativos:
I – ao registro de arma de fogo;
II – à renovação de registro de arma de fogo;
III – à expedição de segunda via de registro de arma de fogo;
IV – à expedição de porte federal de arma de fogo;
V – à renovação de porte de arma de fogo;
VI – à expedição de segunda via de porte federal de arma de fogo.
§ 1o Os valores arrecadados destinam-se ao custeio e à manutenção das
atividades do Sinarm, da Polícia Federal e do Comando do Exército, no âmbito de
suas respectivas responsabilidades.
§ 2o São isentas do pagamento das taxas previstas neste artigo as pessoas
e as instituições a que se referem os incisos I a VII e X e o § 5o do art. 6o desta
Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
Art. 11-A. O Ministério da Justiça disciplinará a forma e as condições do
credenciamento de profissionais pela Polícia Federal para comprovação da aptidão

95
psicológica e da capacidade técnica para o manuseio de arma de fogo. (Incluído
pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 1o Na comprovação da aptidão psicológica, o valor cobrado pelo psicólogo
não poderá exceder ao valor médio dos honorários profissionais para realização de
avaliação psicológica constante do item 1.16 da tabela do Conselho Federal de
Psicologia. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 2o Na comprovação da capacidade técnica, o valor cobrado pelo instrutor
de armamento e tiro não poderá exceder R$ 80,00 (oitenta reais), acrescido do custo
da munição. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 3o A cobrança de valores superiores aos previstos nos §§ 1o e 2o deste
artigo implicará o descredenciamento do profissional pela Polícia Federal. (Incluído
pela Lei nº 11.706, de 2008)

CAPÍTULO IV
DOS CRIMES E DAS PENAS
Posse irregular de arma de fogo de uso permitido
Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou
munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar,
no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de
trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou
empresa:
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Omissão de cautela
Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor
de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma
de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade:
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor
responsável de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem de
registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou
outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição que estejam sob
sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato.
Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido

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Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar,
ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda
ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e
em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a
arma de fogo estiver registrada em nome do agente. (Vide Adin 3.112-1)
Disparo de arma de fogo
Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em
suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não
tenha como finalidade a prática de outro crime:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável. (Vide Adin
3.112-1)
Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito
Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito,
transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter
sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso restrito, sem
autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: (Redação
dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: (Redação dada pela Lei nº 13.964,
de 2019)
I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de
arma de fogo ou artefato;
II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la
equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de
qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário,
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar;
IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com
numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou
adulterado;

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V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo,
acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; e
VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de
qualquer forma, munição ou explosivo.
§ 2º Se as condutas descritas no caput e no § 1º deste artigo envolverem
arma de fogo de uso proibido, a pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze)
anos. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Comércio ilegal de arma de fogo
Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em
depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de
qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade
comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela
Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo,
qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou
clandestino, inclusive o exercido em residência. (Redação dada pela Lei nº 13.964,
de 2019)
§ 2º Incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de fogo, acessório
ou munição, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou
regulamentar, a agente policial disfarçado, quando presentes elementos probatórios
razoáveis de conduta criminal preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Tráfico internacional de arma de fogo
Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território nacional,
a qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização da
autoridade competente:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 16 (dezesseis) anos, e multa. (Redação dada
pela Lei nº 13.964, de 2019)
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de
fogo, acessório ou munição, em operação de importação, sem autorização da
autoridade competente, a agente policial disfarçado, quando presentes elementos
probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)

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Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é aumentada da
metade se a arma de fogo, acessório ou munição forem de uso proibido ou restrito.
Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é
aumentada da metade se forem praticados por integrante dos órgãos e empresas
referidas nos arts. 6o, 7o e 8o desta Lei.
Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é
aumentada da metade se: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - forem praticados por integrante dos órgãos e empresas referidas nos arts.
6º, 7º e 8º desta Lei; ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - o agente for reincidente específico em crimes dessa natureza. (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)
Art. 21. Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são insuscetíveis de
liberdade provisória. (Vide Adin 3.112-1)

CAPÍTULO V
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 22. O Ministério da Justiça poderá celebrar convênios com os Estados e o
Distrito Federal para o cumprimento do disposto nesta Lei.
Art. 23. A classificação legal, técnica e geral bem como a definição das
armas de fogo e demais produtos controlados, de usos proibidos, restritos,
permitidos ou obsoletos e de valor histórico serão disciplinadas em ato do chefe do
Poder Executivo Federal, mediante proposta do Comando do Exército. (Redação
dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 1o Todas as munições comercializadas no País deverão estar
acondicionadas em embalagens com sistema de código de barras, gravado na
caixa, visando possibilitar a identificação do fabricante e do adquirente, entre outras
informações definidas pelo regulamento desta Lei.
§ 2o Para os órgãos referidos no art. 6o, somente serão expedidas
autorizações de compra de munição com identificação do lote e do adquirente no
culote dos projéteis, na forma do regulamento desta Lei.
§ 3o As armas de fogo fabricadas a partir de 1 (um) ano da data de publicação
desta Lei conterão dispositivo intrínseco de segurança e de identificação, gravado no
corpo da arma, definido pelo regulamento desta Lei, exclusive para os órgãos
previstos no art. 6o.

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§ 4o As instituições de ensino policial e as guardas municipais referidas nos
incisos III e IV do caput do art. 6o desta Lei e no seu § 7o poderão adquirir insumos e
máquinas de recarga de munição para o fim exclusivo de suprimento de suas
atividades, mediante autorização concedida nos termos definidos em regulamento.
(Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
Art. 24. Excetuadas as atribuições a que se refere o art. 2º desta Lei, compete
ao Comando do Exército autorizar e fiscalizar a produção, exportação, importação,
desembaraço alfandegário e o comércio de armas de fogo e demais produtos
controlados, inclusive o registro e o porte de trânsito de arma de fogo de
colecionadores, atiradores e caçadores.
Art. 25. As armas de fogo apreendidas, após a elaboração do laudo pericial e
sua juntada aos autos, quando não mais interessarem à persecução penal serão
encaminhadas pelo juiz competente ao Comando do Exército, no prazo de até 48
(quarenta e oito) horas, para destruição ou doação aos órgãos de segurança pública
ou às Forças Armadas, na forma do regulamento desta Lei. (Redação dada pela Lei
nº 13.886, de 2019)
§ 1o As armas de fogo encaminhadas ao Comando do Exército que
receberem parecer favorável à doação, obedecidos o padrão e a dotação de cada
Força Armada ou órgão de segurança pública, atendidos os critérios de prioridade
estabelecidos pelo Ministério da Justiça e ouvido o Comando do Exército, serão
arroladas em relatório reservado trimestral a ser encaminhado àquelas instituições,
abrindo-se-lhes prazo para manifestação de interesse. (Incluído pela Lei nº 11.706,
de 2008)
§ 1º-A. As armas de fogo e munições apreendidas em decorrência do tráfico
de drogas de abuso, ou de qualquer forma utilizadas em atividades ilícitas de
produção ou comercialização de drogas abusivas, ou, ainda, que tenham sido
adquiridas com recursos provenientes do tráfico de drogas de abuso, perdidas em
favor da União e encaminhadas para o Comando do Exército, devem ser, após
perícia ou vistoria que atestem seu bom estado, destinadas com prioridade para os
órgãos de segurança pública e do sistema penitenciário da unidade da federação
responsável pela apreensão. (Incluído pela Lei nº 13.886, de 2019)
§ 2o O Comando do Exército encaminhará a relação das armas a serem
doadas ao juiz competente, que determinará o seu perdimento em favor da
instituição beneficiada. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)

100
§ 3o O transporte das armas de fogo doadas será de responsabilidade da
instituição beneficiada, que procederá ao seu cadastramento no Sinarm ou no
Sigma. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 4o (VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 5o O Poder Judiciário instituirá instrumentos para o encaminhamento ao
Sinarm ou ao Sigma, conforme se trate de arma de uso permitido ou de uso restrito,
semestralmente, da relação de armas acauteladas em juízo, mencionando suas
características e o local onde se encontram. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
Art. 26. São vedadas a fabricação, a venda, a comercialização e a importação
de brinquedos, réplicas e simulacros de armas de fogo, que com estas se possam
confundir.
Parágrafo único. Excetuam-se da proibição as réplicas e os simulacros
destinados à instrução, ao adestramento, ou à coleção de usuário autorizado, nas
condições fixadas pelo Comando do Exército.
Art. 27. Caberá ao Comando do Exército autorizar, excepcionalmente, a
aquisição de armas de fogo de uso restrito. (Vide ADI 6139)
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às aquisições dos
Comandos Militares.
Art. 28. É vedado ao menor de 25 (vinte e cinco) anos adquirir arma de fogo,
ressalvados os integrantes das entidades constantes dos incisos I, II, III, V, VI, VII e
X do caput do art. 6o desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
Art. 29. As autorizações de porte de armas de fogo já concedidas expirar-se-
ão 90 (noventa) dias após a publicação desta Lei. (Vide Lei nº 10.884, de 2004)
Parágrafo único. O detentor de autorização com prazo de validade superior a
90 (noventa) dias poderá renová-la, perante a Polícia Federal, nas condições dos
arts. 4o, 6o e 10 desta Lei, no prazo de 90 (noventa) dias após sua publicação, sem
ônus para o requerente.
Art. 30. Os possuidores e proprietários de arma de fogo de uso permitido
ainda não registrada deverão solicitar seu registro até o dia 31 de dezembro de
2008, mediante apresentação de documento de identificação pessoal e comprovante
de residência fixa, acompanhados de nota fiscal de compra ou comprovação da
origem lícita da posse, pelos meios de prova admitidos em direito, ou declaração
firmada na qual constem as características da arma e a sua condição de
proprietário, ficando este dispensado do pagamento de taxas e do cumprimento das

101
demais exigências constantes dos incisos I a III do caput do art. 4o desta
Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) (Prorrogação de prazo)
Parágrafo único. Para fins do cumprimento do disposto no caput deste artigo,
o proprietário de arma de fogo poderá obter, no Departamento de Polícia Federal,
certificado de registro provisório, expedido na forma do § 4o do art. 5o desta Lei.
(Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
Art. 31. Os possuidores e proprietários de armas de fogo adquiridas
regularmente poderão, a qualquer tempo, entregá-las à Polícia Federal, mediante
recibo e indenização, nos termos do regulamento desta Lei.
Art. 32. Os possuidores e proprietários de arma de fogo poderão entregá-la,
espontaneamente, mediante recibo, e, presumindo-se de boa-fé, serão indenizados,
na forma do regulamento, ficando extinta a punibilidade de eventual posse irregular
da referida arma. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
Art. 33. Será aplicada multa de R$ 100.000,00 (cem mil reais) a R$
300.000,00 (trezentos mil reais), conforme especificar o regulamento desta Lei:
I – à empresa de transporte aéreo, rodoviário, ferroviário, marítimo, fluvial ou
lacustre que deliberadamente, por qualquer meio, faça, promova, facilite ou permita
o transporte de arma ou munição sem a devida autorização ou com inobservância
das normas de segurança;
II – à empresa de produção ou comércio de armamentos que realize
publicidade para venda, estimulando o uso indiscriminado de armas de fogo, exceto
nas publicações especializadas.
Art. 34. Os promotores de eventos em locais fechados, com aglomeração
superior a 1000 (um mil) pessoas, adotarão, sob pena de responsabilidade, as
providências necessárias para evitar o ingresso de pessoas armadas, ressalvados
os eventos garantidos pelo inciso VI do art. 5o da Constituição Federal.
Parágrafo único. As empresas responsáveis pela prestação dos serviços de
transporte internacional e interestadual de passageiros adotarão as providências
necessárias para evitar o embarque de passageiros armados.
Art. 34-A. Os dados relacionados à coleta de registros balísticos serão
armazenados no Banco Nacional de Perfis Balísticos. (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)
§ 1º O Banco Nacional de Perfis Balísticos tem como objetivo cadastrar armas
de fogo e armazenar características de classe e individualizadoras de projéteis e de

102
estojos de munição deflagrados por arma de fogo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
§ 2º O Banco Nacional de Perfis Balísticos será constituído pelos registros de
elementos de munição deflagrados por armas de fogo relacionados a crimes, para
subsidiar ações destinadas às apurações criminais federais, estaduais e
distritais. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 3º O Banco Nacional de Perfis Balísticos será gerido pela unidade oficial de
perícia criminal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 4º Os dados constantes do Banco Nacional de Perfis Balísticos terão caráter
sigiloso, e aquele que permitir ou promover sua utilização para fins diversos dos
previstos nesta Lei ou em decisão judicial responderá civil, penal e
administrativamente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 5º É vedada a comercialização, total ou parcial, da base de dados do Banco
Nacional de Perfis Balísticos. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 6º A formação, a gestão e o acesso ao Banco Nacional de Perfis Balísticos
serão regulamentados em ato do Poder Executivo federal. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)

CAPÍTULO VI
DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 35. É proibida a comercialização de arma de fogo e munição em todo o
território nacional, salvo para as entidades previstas no art. 6o desta Lei.
§ 1o Este dispositivo, para entrar em vigor, dependerá de aprovação mediante
referendo popular, a ser realizado em outubro de 2005.
§ 2o Em caso de aprovação do referendo popular, o disposto neste artigo
entrará em vigor na data de publicação de seu resultado pelo Tribunal Superior
Eleitoral.
Art. 36. É revogada a Lei no 9.437, de 20 de fevereiro de 1997.
Art. 37. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 22 de dezembro de 2003; 182o da Independência e 115o da
República.

Conforme ensina a Assembleia Legislativa do Ceará (2020), em 25 de junho


de 2019, foi publicado o Decreto nº 9.847 que regulamenta a Lei nº 10.826, de 22 de

103
dezembro de 2003, para dispor sobre a aquisição, o cadastro, o registro, a posse, o
porte e a comercialização de armas de fogo e de munição e sobre o Sistema
Nacional de Armas e o Sistema Nacional de Gerenciamento Militar de Armas.
Esse decreto tem o objetivo de estabelecer regras e procedimentos
específicos para a aquisição, o cadastro, o registro, o porte e a comercialização de
armas de fogo e de munição e de dispor sobre a estruturação do Sistema Nacional
de Armas – Sinarm - e do Sigma.
Hoje, para que as armas sejam consideradas legais há a obrigatoriedade de
os proprietários registrá-las nesse Órgão, com exceção das armas de uso de
registro, que devem ser registradas no comando do exército, e são aquelas de uso
exclusivo das Forças Armadas, Polícia Federal, Polícias Militares, Corpos de
Bombeiros Militares e Guardas Municipais (são definidas pelo calibre e pela
potência). Dessa forma, o Estatuto passa a ser um instrumento para limitação de
crimes cometidos por armas de fogo, combate ao tráfico de armas e o fim da
possibilidade do trânsito fácil dos que usam armas roubadas ou obtidas pelas
organizações criminosas.
O Estatuto do Desarmamento está direcionado à proteção de um bem
jurídico especial: a segurança coletiva. Com ele, o poder político reafirma a sua
preocupação com essa questão. Procurando englobar, inclusive, valores
fundamentais como a vida, a integridade física, a liberdade e o patrimônio do
indivíduo. Assim, o Estatuto é lei específica, que regula a circulação de armas,
acessórios e munições, aumentando de forma rigorosa a fiscalização e o controle
sobre a produção, a venda e a exportação.
A partir do Estatuto, a lei proíbe o porte de armas por civis, com exceção
para os casos onde haja necessidade comprovada. Nesses casos, haverá uma
duração previamente determinada, sujeitando o indivíduo a demonstrar a
necessidade de portá-la. Exige-se, também, o registro e porte junto à Polícia Federal
– pelo SINARM, para armas de uso permitido, ou ao Comando do Exército pelo
SIGMA –, para armas de uso restrito e o pagamento das taxas estabelecidas.
Somente poderão portar arma de fogo, os responsáveis pela garantia da
segurança pública, integrantes das Forças Armadas, policiais civis, militares,
federais e rodoviários federais, agentes de inteligência, auditores fiscais e os
agentes de segurança privada quando em serviço.

104
Antes do Estatuto, os civis podiam comprar armas de fogo a partir de 21
anos de idade. Hoje, a lei exige a idade mínima de 25 anos, mediante a concessão
do porte da arma de fogo.
Quanto à legislação penal, decorrente do comércio ilegal e o tráfico
internacional de armas de fogo, foram previstas penas mais específicas para essas
condutas, até então especificadas como contrabando e descaminho. Para ambos os
casos, as penas são de reclusão de quatro a oito anos e multa.
Se a arma, acessório ou munição comercializados ilegalmente forem de uso
proibido ou restrito, a pena é aumentada da metade. Se o crime for cometido por
integrantes dos órgãos militares, policiais, agentes, guardas prisionais, segurança
privada e de transporte de valores, ou por entidades desportistas, a pena também
será aumentada da metade.
Se a arma de fogo for de uso restrito, os crimes de posse ou porte ilegal, o
comércio ilegal e o tráfico internacional são insuscetíveis de liberdade provisória, ou
seja, o acusado não poderá responder o processo em liberdade, considerando-se
crime inafiançável. Só poderão pagar fiança aqueles que portarem arma de fogo de
uso permitido e registrado em seu nome.
Conquanto que as armas sejam registradas, o proprietário poderá entregá-la
a qualquer tempo e o Estado irá indenizar seus proprietários. Esses têm o prazo de
três anos para a renovação do registro. É importante ressaltar que foi extinto o prazo
para os usuários de armas de fogo sem registro, após a Campanha do
Desarmamento.

DECRETO Nº 9.847, DE 25 DE JUNHO DE 2019 3


Regulamenta a Lei nº 10.826, de
22 de dezembro de 2003, para dispor
sobre a aquisição, o cadastro, o registro, o
porte e a comercialização de armas de
fogo e de munição e sobre o Sistema
Nacional de Armas e o Sistema de
Gerenciamento Militar de Armas.

3
A Decreto n° 9.847/2019 vai ser transcrito na íntegra. Para facilitar o processamento das
informações, não será apresentado em formato de citação segundo as normas da ABNT, mas como
texto corrido.

105
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art.
84, caput, inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei nº 10.826,
de 22 de dezembro de 2003,
DECRETA:

CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 2º Para fins do disposto neste Decreto, adotam-se as definições e
classificações constantes do Anexo I ao Decreto nº 10.030, de 30 de setembro de
2019 , e considera-se, ainda: (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de
2021) Vigência
II - registros próprios - aqueles realizados por órgãos, instituições e
corporações em documentos oficiais de caráter permanente. (Redação dada
pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
§ 1º Fica proibida a produção de réplicas e simulacros que possam ser
confundidos com arma de fogo, nos termos do disposto no art. 26 da Lei nº 10.826,
de 2003, que não sejam classificados como arma de pressão nem
destinados à instrução, ao adestramento, ou à coleção de usuário autorizado.
§ 2º O Comando do Exército estabelecerá os parâmetros de aferição e a
listagem dos calibres nominais que se enquadrem nos limites estabelecidos nos
incisos I, II e IV do caput, no prazo de sessenta dias, contado da data de publicação
deste Decreto.
§ 2º O Comando do Exército estabelecerá os parâmetros de aferição e a
listagem dos calibres nominais que se enquadrem nos limites estabelecidos nos
incisos I, II e IV do parágrafo único do art. 3º do Anexo I do Decreto nº 10.030, de
2019 , no prazo de sessenta dias, contado da data de publicação deste
Decreto. (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
§ 3º Ato conjunto do Ministro de Estado da Defesa e do Ministro de Estado da
Justiça e Segurança Pública estabelecerá as quantidades de munições passíveis de
aquisição pelas pessoas físicas autorizadas a adquirir ou portar arma de fogo e
pelos integrantes dos órgãos e das instituições a que se referem os incisos
I a VII e X do caput do art. 6º da Lei nº 10.826, de 2003, observada a legislação, no
prazo de sessenta dias, contado da data de publicação do Decreto nº 10.030, de 30

106
de setembro de 2019. (Incluído pelo Decreto nº 10.030, de 2019) (Vide ADI
6466) (Vide ADI 6139)

CAPÍTULO II
DOS SISTEMAS DE CONTROLE DE ARMAS DE FOGO
Seção I
Do Sistema Nacional de Armas
Art. 3º O Sinarm, instituído no âmbito da Polícia Federal do Ministério da
Justiça e Segurança Pública, manterá cadastro nacional, das armas de fogo
importadas, produzidas e comercializadas no País.
§ 1º A Polícia Federal manterá o registro de armas de fogo de competência do
Sinarm.
§ 2º Serão cadastrados no Sinarm:
I - os armeiros em atividade no País e as respectivas licenças para o exercício
da atividade profissional;
II - os produtores, os atacadistas, os varejistas, os exportadores e os
importadores autorizados de armas de fogo, acessórios e munições;
III - os instrutores de armamento e de tiro credenciados para a aplicação de
teste de capacidade técnica, ainda que digam respeito a arma de fogo de uso
restrito; e
IV - os psicólogos credenciados para a aplicação do exame de aptidão
psicológica a que se refere o inciso III do caput do art. 4º da Lei nº 10.826, de 2003.
§ 3º Serão cadastradas no Sinarm as armas de fogo:
I - importadas, produzidas e comercializadas no País, de uso permitido ou
restrito, exceto aquelas pertencentes às Forças Armadas e Auxiliares, ao Gabinete
de Segurança Institucional da Presidência da República e à Agência Brasileira de
Inteligência;
II - apreendidas, ainda que não constem dos cadastros do Sinarm ou do Sigma,
incluídas aquelas vinculadas a procedimentos policiais e judiciais;
III - institucionais, observado o disposto no inciso I, constantes de cadastros
próprios:
a) da Polícia Federal;
b) da Polícia Rodoviária Federal;
c) da Força Nacional de Segurança Pública;

107
d) dos órgãos do sistema penitenciário federal, estadual ou
distrital; (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
e) das polícias civis dos Estados e do Distrito Federal;
f) dos órgãos policiais da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, a que
se referem, respectivamente, o inciso IV do caput do art. 51 e o inciso XIII
do caput do art. 52 da Constituição;
g) das guardas municipais;
h) dos órgãos públicos aos quais sejam vinculados os agentes e os guardas
prisionais e os integrantes das escoltas de presos dos Estados e das guardas
portuárias;
i) dos órgãos do Poder Judiciário, para uso exclusivo de servidores de seus
quadros pessoais que efetivamente estejam no exercício de funções de segurança,
na forma do regulamento estabelecido pelo Conselho Nacional de Justiça;
j) dos órgãos dos Ministérios Públicos da União, dos Estados e do Distrito
Federal e Territórios, para uso exclusivo de servidores de seus quadros pessoais
que efetivamente estejam no exercício de funções de segurança, na forma do
regulamento estabelecido pelo Conselho Nacional do Ministério Público;
k) da Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil do Ministério da
Economia, adquiridas para uso dos integrantes da Carreira de Auditoria da Receita
Federal do Brasil, compostos pelos cargos de Auditor-Fiscal e Analista-Tributário;
l) do órgão ao qual se vincula a Carreira de Auditoria-Fiscal do Trabalho,
adquiridas para uso de seus integrantes;
m) dos órgãos públicos cujos servidores tenham autorização, concedida por
legislação específica, para portar arma de fogo em serviço e que não tenham sido
mencionados nas alíneas “a” a “l”; e
n) do Poder Judiciário e do Ministério Público, adquiridas para uso de seus
membros;
IV - dos integrantes:
a) da Polícia Federal;
b) da Polícia Rodoviária Federal;
c) dos órgãos do sistema penitenciário federal, estadual ou
distrital; (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
d) das polícias civis dos Estados e do Distrito Federal;

108
e) dos órgãos policiais da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, a que
se referem, respectivamente, o inciso IV do caput do art. 51 e o inciso XIII
do caput do art. 52 da Constituição;
f) das guardas municipais;
g) dos quadros efetivos dos agentes e guardas prisionais, das escoltas de
presos dos Estados e das guardas portuárias;
h) do quadro efetivo dos órgãos do Poder Judiciário que efetivamente estejam
no exercício de funções de segurança, na forma do regulamento estabelecido pelo
Conselho Nacional de Justiça;
i) do quadro efetivo dos órgãos dos Ministérios Públicos da União, dos Estados
e do Distrito Federal e Territórios que efetivamente estejam no exercício de funções
de segurança, na forma do regulamento estabelecido pelo Conselho Nacional do
Ministério Público;
j) dos quadros efetivos da Carreira de Auditoria da Receita Federal do Brasil da
Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil do Ministério da Economia,
composta pelos cargos de Auditor-Fiscal e Analista-Tributário, e da Carreira de
Auditoria-Fiscal do Trabalho;
k) dos quadros efetivos dos órgãos públicos cujos servidores tenham
autorização, concedida por legislação específica, para portar arma de fogo em
serviço e que não tenham sido mencionados nas alíneas “a” a “j”;
l) dos membros do Poder Judiciário e do Ministério Público; e
m) das empresas de segurança privada e de transporte de valores;
V - dos instrutores de armamento e tiro credenciados pela Polícia Federal; e
V - dos instrutores de armamento e tiro credenciados pela Polícia Federal,
exceto aquelas que já estiverem, obrigatoriamente, cadastradas no Sigma;
e (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
VI - adquiridas por qualquer cidadão autorizado na forma do disposto no § 1º
do art. 4º da Lei nº 10.826, de 2003.
§ 4º O disposto no inciso III ao inciso V do § 3º aplica-se às armas de fogo de
uso restrito.
§ 5º O cadastramento de armas de fogo adulteradas, sem numeração ou com
numeração raspada será feito no Sinarm com as características que permitam a sua
identificação.

109
§ 6º Serão, ainda, cadastradas no Sinarm as ocorrências de extravio, furto,
roubo, recuperação e apreensão de armas de fogo de uso permitido ou restrito.
§ 7º As ocorrências de extravio, furto, roubo, recuperação e apreensão de
armas de fogo serão imediatamente comunicadas à Polícia Federal pela autoridade
competente. (Redação dada pelo Decreto nº 10.030, de 2019)
§ 8º A Polícia Federal deverá informar às secretarias de segurança pública dos
Estados e do Distrito Federal os registros e as autorizações de porte de armas de
fogo existentes nos respectivos territórios.
§ 9º A Polícia Federal poderá celebrar convênios com os órgãos de segurança
pública dos Estados e do Distrito Federal para possibilitar a integração de seus
sistemas correlatos ao Sinarm.
§ 10. As especificações e os procedimentos para o cadastro das armas de
fogo de que trata este artigo serão estabelecidos em ato do Diretor-Geral da Polícia
Federal.
§ 11. O registro e o cadastro das armas de fogo a que se refere o inciso II do §
3º serão feitos por meio de comunicação das autoridades competentes à Polícia
Federal.
§ 12. Sem prejuízo do disposto neste artigo, as unidades de criminalística da
União, dos Estados e do Distrito Federal responsáveis por realizar perícia em armas
de fogo apreendidas deverão encaminhar, trimestralmente, arquivo eletrônico com a
relação das armas de fogo periciadas para cadastro e eventuais correções no
Sinarm, na forma estabelecida em ato do Diretor-Geral da Polícia Federal.
Seção II
Do Sistema de Gerenciamento Militar de Armas
Art. 4º O Sigma, instituído no âmbito do Comando do Exército do Ministério da
Defesa, manterá cadastro nacional das armas de fogo importadas, produzidas e
comercializadas no País que não estejam previstas no art. 3º.
§ 1º O Comando do Exército manterá o registro de proprietários de armas de
fogo de competência do Sigma.
§ 2º Serão cadastradas no Sigma as armas de fogo:
I - institucionais, constantes de registros próprios:
a) das Forças Armadas;
b) das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares dos Estados e do
Distrito Federal;

110
c) da Agência Brasileira de Inteligência; e
d) do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República;
II - dos integrantes:
a) das Forças Armadas;
b) das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares dos Estados e do
Distrito Federal;
c) da Agência Brasileira de Inteligência; e
d) do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República;
III - obsoletas;
IV - das representações diplomáticas; e
V - importadas ou adquiridas no País com a finalidade de servir como
instrumento para a realização de testes e avaliações técnicas.
§ 3º O disposto no § 2º aplica-se às armas de fogo de uso permitido.
§ 4º Serão, ainda, cadastradas no Sigma as informações relativas às
importações e às exportações de armas de fogo, munições e demais produtos
controlados.
§ 5º Os processos de autorização para aquisição, registro e cadastro de armas
de fogo no Sigma tramitarão de maneira descentralizada, na forma estabelecida em
ato do Comandante do Exército.
Seção III
Do cadastro e da gestão dos Sistemas
Art. 5º O Sinarm e o Sigma conterão, no mínimo, as seguintes informações,
para fins de cadastro e de registro das armas de fogo, conforme o caso:
I - relativas à arma de fogo:
a) o número do cadastro no Sinarm ou no Sigma, conforme o caso;
b) a identificação do produtor e do vendedor;
c) o número e a data da nota fiscal de venda;
d) a espécie, a marca e o modelo;
e) o calibre e a capacidade dos cartuchos;
f) a forma de funcionamento;
g) a quantidade de canos e o comprimento;
h) o tipo de alma, lisa ou raiada;
i) a quantidade de raias e o sentido delas;
j) o número de série gravado no cano da arma de fogo; e

111
k) a identificação do cano da arma de fogo, as características das impressões
de raiamento e de microestriamento do projétil disparado; e
II - relativas ao proprietário:
a) o nome, a filiação, a data e o local de nascimento;
b) o domicílio e o endereço residencial;
c) o endereço da empresa ou do órgão em que trabalhe;
d) a profissão;
e) o número da cédula de identidade, a data de expedição, o órgão e o ente
federativo expedidor; e
f) o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas - CPF ou no Cadastro
Nacional da Pessoa Jurídica - CNPJ.
§ 1º Os produtores e os importadores de armas de fogo informarão à Polícia
Federal, no prazo de quarenta e oito horas, para fins de cadastro no Sinarm, quando
da saída do estoque, relação das armas produzidas e importadas, com as
informações a que se refere o inciso I do caput e os dados dos adquirentes.
§ 2º As empresas autorizadas pelo Comando do Exército a comercializar
armas de fogo, munições e acessórios encaminharão as informações a que se
referem os incisos I e II do caput à Polícia Federal ou ao Comando do Exército, para
fins de cadastro e registro da arma de fogo, da munição ou do acessório no Sinarm
ou no Sigma, conforme o caso, no prazo de quarenta e oito horas, contado da data
de efetivação da venda.
§ 3º Os adquirentes informarão a aquisição de armas de fogo, munições ou
acessórios à Polícia Federal ou ao Comando do Exército, para fins de registro da
arma de fogo, da munição ou do acessório no Sinarm ou no Sigma, conforme o
caso, no prazo de sete dias úteis, contado da data de sua aquisição, com as
seguintes informações:
I - a identificação do produtor, do importador ou do comerciante de quem as
armas de fogo, as munições e os acessórios tenham sido adquiridos; e
II - o endereço em que serão armazenadas as armas de fogo, as munições e
os acessórios adquiridos.
§ 4º Na hipótese de estarem relacionados a integrantes da Agência Brasileira
de Inteligência, o cadastro e o registro das armas de fogo, das munições e dos
acessórios no Sigma estarão restritos ao número da matrícula funcional, no que se
refere à qualificação pessoal, inclusive nas operações de compra e venda e nas

112
ocorrências de extravio, furto, roubo ou recuperação de arma de fogo ou de seus
documentos.
§ 5º Fica vedado o registro ou a renovação de registro de armas de fogo
adulteradas, sem numeração ou com numeração raspada.
§ 6º Os dados necessários ao cadastro das informações a que se refere a
alínea “k” do inciso I do caput serão enviados ao Sinarm ou ao Sigma, conforme o
caso:
I - pelo produtor, conforme marcação e testes por ele realizados; ou
II - pelo importador, conforme marcação e testes realizados, de acordo com
padrões internacionais, pelo produtor ou por instituição por ele contratada.
Art. 6º As regras referentes ao credenciamento e à fiscalização de psicólogos,
instrutores de tiro e armeiros serão estabelecidas em ato do Diretor-Geral da Polícia
Federal.
Art. 7º O Comando do Exército fornecerá à Polícia Federal as informações
necessárias ao cadastramento dos produtores, atacadistas, varejistas, exportadores
e importadores autorizados de arma de fogo, acessórios e munições do País.
Art. 8º Os dados do Sinarm e do Sigma serão compartilhados entre si e com o
Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública - Sinesp.
Parágrafo único. Ato conjunto do Diretor-Geral da Polícia Federal e do
Comandante do Exército estabelecerá as regras para interoperabilidade e
compartilhamento dos dados existentes no Sinarm e no Sigma, no prazo de um ano,
contado da data de entrada em vigor deste Decreto.
Art. 9º Fica permitida a venda de armas de fogo de porte e portáteis, munições
e acessórios por estabelecimento comercial credenciado pelo Comando do Exército.
Art. 10. Os estabelecimentos que comercializarem armas de fogo, munições e
acessórios ficam obrigados a comunicar, mensalmente, à Polícia Federal ou ao
Comando do Exército, conforme o caso, as vendas que efetuarem e a quantidade de
mercadorias disponíveis em estoque.
§ 1º As mercadorias disponíveis em estoque são de responsabilidade do
estabelecimento comercial e serão registradas, de forma precária, como de sua
propriedade, enquanto não forem vendidas.
§ 2º Os estabelecimentos a que se refere o caput manterão à disposição da
Polícia Federal e do Comando do Exército a relação dos estoques e das vendas
efetuadas mensalmente nos últimos cinco anos.

113
§ 3º Os procedimentos e a forma pela qual será efetivada a comunicação a
que se refere o caput serão disciplinados em ato do Comandante do Exército ou do
Diretor-Geral da Polícia Federal, conforme o caso.
Art. 11. A comercialização de armas de fogo, de acessórios, de munições e de
insumos para recarga só poderá ser efetuada em estabelecimento comercial
credenciado pelo Comando do Exército.
Art. 16. O porte de arma de fogo é documento obrigatório para a condução da
arma e deverá conter os seguintes dados:
I - abrangência territorial;
II - eficácia temporal;
III - características das armas; (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de
2021) Vigência
IV - número dos cadastros de, ao menos, uma das armas no Sinarm ou
Sigma; (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
V - identificação do proprietário das armas; e (Redação dada pelo Decreto nº
10.630, de 2021) Vigência
VI - assinatura, cargo e função da autoridade concedente.
Art. 19. O titular do porte de arma de fogo deverá comunicar imediatamente:
I - a mudança de domicílio ao órgão expedidor do porte de arma de fogo; e
II - o extravio, o furto ou o roubo da arma de fogo, à unidade policial mais
próxima e, posteriormente, à Polícia Federal.
Parágrafo único. A inobservância ao disposto neste artigo implicará na
suspensão do porte de arma de fogo por prazo a ser estipulado pela autoridade
concedente.
Art. 20. O titular de porte de arma de fogo para defesa pessoal concedido nos
termos do disposto no art. 10 da Lei nº 10.826, de 2003, não poderá conduzi-la
ostensivamente ou com ela adentrar ou permanecer em locais públicos, tais como
igrejas, escolas, estádios desportivos, clubes, agências bancárias ou outros locais
onde haja aglomeração de pessoas em decorrência de eventos de qualquer
natureza.
§ 1º A inobservância ao disposto neste artigo implicará na cassação do porte
de arma de fogo e na apreensão da arma, pela autoridade competente, que adotará
as medidas legais pertinentes.

114
§ 2º Aplica-se o disposto no § 1º na hipótese de o titular do porte de arma de
fogo portar o armamento em estado de embriaguez ou sob o efeito de drogas ou
medicamentos que provoquem alteração do desempenho intelectual ou motor.
Art. 22. Observado o princípio da reciprocidade previsto em convenções
internacionais de que a República Federativa do Brasil seja signatária, poderá ser
autorizado o porte de arma de fogo pela Polícia Federal a diplomatas de missões
diplomáticas e consulares acreditadas junto ao Governo brasileiro, e a agentes de
segurança de dignitários estrangeiros durante a permanência no País,
independentemente dos requisitos estabelecidos neste Decreto.
Art. 23. Caberá à Polícia Federal estabelecer os procedimentos relativos à
concessão e à renovação do porte de arma de fogo.
Art. 24. O porte de arma de fogo é deferido aos militares das Forças Armadas,
aos policiais federais, estaduais e distritais, civis e militares, aos corpos de
bombeiros militares e aos policiais da Câmara dos Deputados e do Senado Federal
em razão do desempenho de suas funções institucionais.
§ 1º O porte de arma de fogo é garantido às praças das Forças Armadas com
estabilidade de que trata a alínea “a” do inciso IV do caput do art. 50 da Lei nº
6.880, de 9 de dezembro de 1980 - Estatuto dos Militares.
§ 2º A autorização do porte de arma de fogo para as praças sem estabilidade
assegurada será regulamentada em ato do Comandante da Força correspondente.
§ 3º Ato do Comandante da Força correspondente disporá sobre as hipóteses
excecpcionais de suspensão, cassação e demais procedimentos relativos ao porte
de arma de fogo de que trata este artigo.
§ 4º Atos dos comandantes-gerais das corporações disporão sobre o porte de
arma de fogo dos policiais militares e dos bombeiros militares.
Art. 24-A. O porte de arma de fogo também será deferido aos integrantes das
entidades de que tratam os incisos III, IV, V, X e XI do caput do art. 6º da Lei nº
10.826, de 2003 , aos integrantes do quadro efetivo das polícias penais federal,
estadual ou distrital e aos agentes e guardas prisionais, em razão do desempenho
de suas funções institucionais. (Incluído pelo Decreto nº 10.630, de
2021) Vigência
Art. 25. A autorização para o porte de arma de fogo previsto em legislação
própria, na forma prevista no caput do art. 6º da Lei nº 10.826, de 2003, fica

115
condicionada ao atendimento dos requisitos previstos no inciso III do caput do art. 4º
da referida Lei.
Art. 26. Os órgãos, as instituições e as corporações a que se referem
os incisos I, II, III, V, VI, VII e X do caput do art. 6º da Lei nº 10.826, de 2003,
estabelecerão, em normas próprias, os procedimentos relativos às condições para a
utilização das armas de fogo de sua propriedade, ainda que fora de serviço.
§ 1º As instituições a que se referem o inciso IV do caput do art. 6º da Lei nº
10.826, de 2003, estabelecerão, em normas próprias, os procedimentos relativos às
condições para a utilização, em serviço, das armas de fogo de sua propriedade.
§ 2º As instituições, os órgãos e as corporações, ao definir os procedimentos a
que se refere o caput, disciplinarão as normas gerais de uso de arma de fogo de
sua propriedade, fora do serviço, quando se tratar de locais onde haja aglomeração
de pessoas, em decorrência de evento de qualquer natureza, tais como no interior
de igrejas, escolas, estádios desportivos e clubes, públicos e privados.
§ 3º Os órgãos e as instituições que tenham os portes de arma de seus
agentes públicos ou políticos estabelecidos em lei própria, na forma prevista
no caput do art. 6º da Lei nº 10.826, de 2003, deverão encaminhar à Polícia Federal
a relação das pessoas autorizadas a portar arma de fogo, observado, no que
couber, o disposto no art. 20.
§ 4º Não será concedida a autorização para o porte de arma de fogo de que
trata o art. 15 a integrantes de órgãos, instituições e corporações não autorizados a
portar arma de fogo fora de serviço, exceto se comprovarem o risco à sua
integridade física, observado o disposto no art. 11 da Lei nº 10.826, de 2003.
§ 5º O porte de que tratam os incisos V, VI e X do caput do art. 6º da Lei nº
10.826, de 2003, e aquele previsto em lei própria, na forma prevista no caput do art.
6º da Lei nº 10.826, de 2003, serão concedidos, exclusivamente, para defesa
pessoal, hipótese em que será vedado aos seus titulares o porte ostensivo da arma
de fogo.
§ 6º A vedação prevista no § 5º não se aplica aos servidores designados para
execução da atividade fiscalizatória do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis - Ibama e do Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade - Instituto Chico Mendes.
Art. 27. Poderá ser autorizado, em casos excepcionais, pelo órgão competente,
o uso, em serviço, de arma de fogo de propriedade dos integrantes dos órgãos, das

116
instituições ou das corporações a que se referem os incisos I, II, III, V, VI e VII
do caput do art. 6º da Lei nº 10.826, de 2003. (Redação dada pelo Decreto nº
10.630, de 2021) Vigência
§ 1º A autorização de que trata o caput será regulamentada em ato próprio do
órgão, da instituição ou da corporação competente.
§ 2º Na hipótese prevista neste artigo, a arma de fogo deverá ser sempre
conduzida com o seu Certificado de Registro de Arma de Fogo.
§ 3º Para fins do disposto no caput , deverá ser observado o disposto no § 1º-
B do art. 6º da Lei nº 10.826, de 2003 , em relação aos integrantes do quadro efetivo
das polícias penais federal, estadual ou distrital e aos agentes e guardas prisionais
. (Incluído pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
Art. 28. As armas de fogo particulares de que trata o art. 27 e as institucionais
não brasonadas deverão ser conduzidas com o seu Certificado de Registro de Arma
de Fogo ou com o termo de cautela decorrente de autorização judicial para uso, sob
pena de aplicação das sanções penais cabíveis.
Art. 29. A capacidade técnica e a aptidão psicológica para o manuseio de
armas de fogo, para os integrantes das instituições a que se referem os incisos III,
IV, V, VI, VII, X e XI do caput do art. 6º da Lei nº 10.826, de 2003 , poderão ser
atestadas por profissionais da própria instituição ou por instrutores de armamento e
tiro credenciados, depois de cumpridos os requisitos técnicos e psicológicos
estabelecidos pela Polícia Federal, nos termos do disposto neste
Decreto. (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
Parágrafo único. Caberá à Polícia Federal expedir o porte de arma de fogo
para os guardas portuários.
Art. 29-A. A Polícia Federal, diretamente ou por meio de convênio com
os órgãos de segurança pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
nos termos do disposto no § 3º do art. 6º da Lei nº 10.826, de 2003, e observada a
supervisão do Ministério da Justiça e Segurança Pública: (Incluído pelo Decreto nº
10.030, de 2019)
I - estabelecerá o currículo da disciplina de armamento e tiro dos cursos de
formação das guardas municipais; (Incluído pelo Decreto nº 10.030, de 2019)
II - concederá porte de arma de fogo funcional aos integrantes das guardas
municipais, com validade pelo prazo de dez anos, contado da data de emissão do

117
porte, nos limites territoriais do Estado em que exerce a função; e (Incluído pelo
Decreto nº 10.030, de 2019)
III - fiscalizará os cursos de formação para assegurar o cumprimento do
currículo da disciplina a que se refere o inciso I. (Incluído pelo Decreto nº 10.030,
de 2019)
Parágrafo único. Os guardas municipais autorizados a portar arma de fogo,
nos termos do inciso II do caput, poderão portá-la nos deslocamentos para suas
residências, mesmo quando localizadas em município situado em Estado
limítrofe. (Incluído pelo Decreto nº 10.030, de 2019)
Art. 29-B. A formação de guardas municipais poderá ocorrer somente
em: (Incluído pelo Decreto nº 10.030, de 2019)
I - estabelecimento de ensino de atividade policial; (Incluído pelo Decreto nº
10.030, de 2019)
II - órgão municipal para formação, treinamento e aperfeiçoamento de
integrantes da guarda municipal; (Incluído pelo Decreto nº 10.030, de 2019)
III - órgão de formação criado e mantido por Municípios consorciados para
treinamento e aperfeiçoamento dos integrantes da guarda municipal; ou (Incluído
pelo Decreto nº 10.030, de 2019)
IV - órgão estadual centralizado e conveniado a seus Municípios, para
formação e aperfeiçoamento de guardas municipais, no qual seja assegurada a
participação dos municípios conveniados no conselho gestor. (Incluído pelo
Decreto nº 10.030, de 2019)
Art. 29-C. O porte de arma de fogo aos integrantes das instituições de que
tratam os incisos III e IV do caput do art. 6º da Lei nº 10.826, de 2003, será
concedido somente mediante comprovação de treinamento técnico de, no
mínimo: (Incluído pelo Decreto nº 10.030, de 2019)
I - sessenta horas, para armas de repetição, caso a instituição possua este tipo
de armamento em sua dotação; (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de
2021) Vigência
II - cem horas, para arma de fogo semiautomática; e (Redação dada
pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
III - sessenta horas, para arma de fogo automática, caso a instituição possua
este tipo de armamento em sua dotação. (Redação dada pelo Decreto nº 11.035,
de 2022)

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§ 1º O treinamento de que trata o caput destinará, no mínimo, sessenta e
cinco por cento de sua carga horária ao conteúdo prático. (Incluído pelo Decreto nº
10.030, de 2019)
§ 2º O curso de formação dos profissionais das guardas municipais de que
trata o art. 29-A conterá técnicas de tiro defensivo e de defesa pessoal. (Incluído
pelo Decreto nº 10.030, de 2019)
§ 3º Os profissionais das guardas municipais com porte de arma de fogo serão
submetidos a estágio de qualificação profissional por, no mínimo, oitenta horas
anuais. (Incluído pelo Decreto nº 10.030, de 2019)
Art. 29-D. A Polícia Federal poderá conceder porte de arma de fogo, nos
termos do disposto no § 3º do art. 6º da Lei nº 10.826, de 2003, às guardas
municipais dos Municípios que tenham instituído: (Incluído pelo Decreto nº 10.030,
de 2019)
I - corregedoria própria e independente para a apuração de infrações
disciplinares atribuídas aos servidores integrantes da guarda municipal; e (Incluído
pelo Decreto nº 10.030, de 2019)
II - ouvidoria, como órgão permanente, autônomo e independente, com
competência para fiscalizar, investigar, auditar e propor políticas de qualificação das
atividades desenvolvidas pelos integrantes das guardas municipais. (Incluído pelo
Decreto nº 10.030, de 2019)
Art. 30. Os integrantes das Forças Armadas e os servidores dos órgãos,
instituições e corporações mencionados nos incisos II, V, VI e VII do caput do art. 6º
da Lei nº 10.826, de 2003, transferidos para a reserva remunerada ou aposentados,
para conservarem a autorização de porte de arma de fogo de sua propriedade
deverão submeter-se, a cada dez anos, aos testes de avaliação psicológica a que
faz menção o inciso III do caput do art. 4º da Lei nº 10.826, de 2003.
§ 1º O cumprimento dos requisitos a que se refere o caput será atestado pelos
órgãos, instituições e corporações de vinculação.
§ 2º Não se aplicam aos integrantes da reserva não remunerada das Forças
Armadas e Auxiliares as prerrogativas mencionadas no caput.
Art. 31. A entrada de arma de fogo e munição no País, como bagagem de
atletas, destinadas ao uso em competições internacionais será autorizada pelo
Comando do Exército.

119
§ 1º O porte de trânsito das armas a serem utilizadas por delegações
estrangeiras em competição oficial de tiro no País será expedido pelo Comando do
Exército.
§ 2º Os responsáveis pelas delegações estrangeiras e brasileiras em
competição oficial de tiro no País e os seus integrantes transportarão as suas armas
desmuniciadas.
Art. 32. As empresas de segurança privada e de transporte de valores
solicitarão à Polícia Federal autorização para aquisição de armas de fogo.
§ 1º A autorização de que trata o caput:
I - será concedida se houver comprovação de que a empresa possui
autorização de funcionamento válida e justificativa da necessidade de aquisição com
base na atividade autorizada; e
II - será válida apenas para a utilização da arma de fogo em serviço.
§ 2º As empresas de que trata o caput encaminharão,
trimestralmente, à Polícia Federal a relação nominal dos vigilantes que utilizem
armas de fogo de sua propriedade.
§ 3º A transferência de armas de fogo entre estabelecimentos da mesma
empresa ou para empresa diversa será autorizada pela Polícia Federal, desde que
cumpridos os requisitos de que trata o § 1º.
§ 4º Durante o trâmite do processo de transferência de armas de fogo de que
trata o § 3º, a Polícia Federal poderá autorizar a empresa adquirente a utilizar as
armas de fogo em fase de aquisição, em seus postos de serviço, antes da expedição
do novo Certificado de Registro de Arma de Fogo.
§ 5º É vedada a utilização em serviço de arma de fogo particular do
empregado das empresas de que trata este artigo.
§ 6º É de responsabilidade das empresas de segurança privada a guarda e o
armazenamento das armas, das munições e dos acessórios de sua propriedade, nos
termos da legislação específica.
§ 7º A perda, o furto, o roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, de
acessório e de munições que estejam sob a guarda das empresas de segurança
privada e de transporte de valores deverão ser comunicadas à Polícia Federal, no
prazo de vinte e quatro horas, contado da ocorrência do fato, sob pena de
responsabilização do proprietário ou do responsável legal.

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Art. 33. A classificação legal, técnica e geral, a definição das armas de fogo e a
dos demais produtos controlados são aquelas constantes do Decreto nº 10.030, de
2019 , e de sua legislação complementar. (Redação dada pelo Decreto nº
10.630, de 2021) Vigência

CAPÍTULO III
DA IMPORTAÇÃO E DA EXPORTAÇÃO
Art. 34. O Comando do Exército autorizará previamente a aquisição e a
importação de armas de fogo de uso restrito, munições de uso restrito e demais
produtos controlados de uso restrito, para os seguintes órgãos, instituições e
corporações: (Redação dada pelo Decreto nº 10.030, de 2019)
I - a Polícia Federal;
II - a Polícia Rodoviária Federal;
III - o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República;
IV - a Agência Brasileira de Inteligência;
V - os órgãos do sistema penitenciário federal, estadual e
distrital; (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
VI - a Força Nacional de Segurança Pública, por meio da Secretaria Nacional
de Segurança Pública;
VII - os órgãos policiais da Câmara dos Deputados e do Senado Federal a que
se referem, respectivamente, o inciso IV do caput do art. 51 e o inciso XIII
do caput do art. 52 da Constituição;
VIII - as polícias civis dos Estados e do Distrito Federal;
IX - as polícias militares dos Estados e do Distrito Federal;
X - os corpos de bombeiros militares dos Estados e do Distrito
Federal; (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
XI - as guardas municipais; (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de
2021) Vigência
XII- os tribunais e o Ministério Público; e (Incluído pelo Decreto nº 10.630,
de 2021) Vigência
XIII - a Secretaria da Receita Federal do Brasil do Ministério da
Economia. (Incluído pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência

121
§ 1º Ato do Comandante do Exército disporá sobre os procedimentos relativos
à comunicação prévia a que se refere o caput e sobre as informações que dela
devam constar.
§ 1º-A Para a concessão da autorização a que se refere o caput, os órgãos,
as instituições e as corporações comunicarão previamente ao Comando do Exército
o quantitativo de armas e munições de uso restrito que pretendem
adquirir. (Incluído pelo Decreto nº 10.030, de 2019)
I - os integrantes das instituições a que se referem os incisos I a XIII
do caput ; (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
II - pessoas naturais autorizadas a adquirir arma de fogo, munições ou
acessórios, de uso permitido ou restrito, conforme o caso, nos termos do disposto no
art. 12, nos limites da autorização obtida;
III - pessoas jurídicas credenciadas no Comando do Exército para comercializar
armas de fogo, munições e produtos controlados; e
IV - os integrantes das Forças Armadas.
§ 3º Ato do Comandante do Exército disporá sobre as condições para a
importação de armas de fogo, munições, acessórios e demais produtos controlados
a que se refere o § 2º, no prazo de trinta dias, contado da data de publicação
do Decreto nº 10.030, de 30 de setembro de 2019. (Redação dada pelo Decreto nº
10.030, de 2019)
§ 4º O disposto nesse artigo não se aplica aos comandos militares.
§ 5º A autorização de que trata o caput poderá ser concedida pelo Comando
do Exército após avaliação e aprovação de planejamento estratégico, com duração
de, no máximo, quatro anos, para a aquisição de armas, munições e produtos
controlados de uso restrito pelos órgãos, pelas instituições e pelas corporações de
que trata o caput . (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
§ 5º-A A autorização de que trata o caput poderá, excepcionalmente, ser
concedida antes da aprovação do planejamento estratégico de que trata o § 5º, em
consideração aos argumentos apresentados pela instituição
demandante. (Incluído pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
§ 5º-B Na ausência de manifestação do Comando do Exército no prazo de
sessenta dias úteis, contado da data do recebimento do processo, a autorização de
que trata o caput será considerada tacitamente concedida. (Incluído pelo Decreto
nº 10.630, de 2021) Vigência

122
§ 5º-C Na hipótese de serem verificadas irregularidades ou a falta de
documentos nos planejamentos estratégicos, o prazo de que trata o § 5º-B ficará
suspenso até a correção do processo. (Incluído pelo Decreto nº 10.630, de
2021) Vigência
§ 6º A aquisição de armas de fogo e munições de uso permitido pelos órgãos,
pelas instituições e pelas corporações a que se refere o caput será comunicada ao
Comando do Exército. (Incluído pelo Decreto nº 10.030, de 2019)
Art. 35. Compete ao Comando do Exército:
I - autorizar e fiscalizar a produção, a exportação, a importação, o
desembaraço alfandegário e o comércio de armas, munições e demais produtos
controlados no território nacional;
II - manter banco de dados atualizado com as informações acerca das armas
de fogo, acessórios e munições importados; e
III - editar normas:
a) para dispor sobre a forma de acondicionamento das munições em
embalagens com sistema de rastreamento;
b) para dispor sobre a definição dos dispositivos de segurança e de
identificação de que trata o § 3º do art. 23 da Lei nº 10.826, de 2003;
c) para que, na comercialização de munições para os órgãos referidos no art.
6º da Lei nº 10.826, de 2003, estas contenham gravação na base dos estojos que
permita identificar o fabricante, o lote de venda e o adquirente; e
d) para o controle da produção, da importação, do comércio, da utilização de
simulacros de armas de fogo, nos termos do disposto no parágrafo único do art. 26
da Lei nº 10.826, de 2003.
Parágrafo único. Para fins do disposto no inciso III do caput, o Comando do
Exército ouvirá previamente o Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Art. 36. Concedida a autorização a que se refere o art. 34, a importação de
armas de fogo, munições e demais produtos controlados pelas instituições e pelos
órgãos a que se referem o inciso I ao inciso XI do caput do art. 34 ficará sujeita ao
regime de licenciamento automático da mercadoria.
Art. 37. A importação de armas de fogo, munições e demais produtos
controlados pelas pessoas a que se refere o § 2º do art. 34 ficará sujeita ao regime
de licenciamento não automático prévio ao embarque da mercadoria no exterior.

123
§ 1º O Comando do Exército expedirá o Certificado Internacional de
Importação após a comunicação a que se refere o § 1º do art. 34.
§ 2º O Certificado Internacional de Importação a que se refere o § 1º terá
validade até o término do processo de importação.
Art. 38. As instituições, os órgãos e as pessoas de que trata o art. 34, quando
interessadas na importação de armas de fogo, munições e demais produtos
controlados, deverão preencher a Licença de Importação no Sistema Integrado de
Comércio Exterior - Siscomex.
§ 1º O desembaraço aduaneiro das mercadorias ocorrerá após o cumprimento
do disposto no caput.
§ 2º A Licença de Importação a que se refere o caput terá validade até o
término do processo de importação.
Art. 39. As importações realizadas pelas Forças Armadas serão comunicadas
ao Ministério da Defesa.
Art. 40. A Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil do Ministério da
Economia e o Comando do Exército fornecerão à Polícia Federal as informações
relativas às importações de que trata este Capítulo e que devam constar do Sinarm.
Art. 41. Fica autorizada a entrada temporária no País, por prazo determinado,
de armas de fogo, munições e acessórios para fins de demonstração, exposição,
conserto, mostruário ou testes, por meio de comunicação do interessado, de seus
representantes legais ou das representações diplomáticas do país de origem ao
Comando do Exército.
§ 1º A importação sob o regime de admissão temporária será autorizada por
meio do Certificado Internacional de Importação.
§ 2º Terminado o evento que motivou a importação, o material deverá retornar
ao seu país de origem e não poderá ser doado ou vendido no território nacional,
exceto se a doação for destinada aos museus dos órgãos e das instituições a que se
referem o inciso I ao inciso XI do caput do art. 34.
§ 3º A Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil do Ministério da
Economia fiscalizará a entrada e a saída do País dos produtos a que se refere este
artigo.
Art. 42. Fica vedada a importação de armas de fogo completas e suas partes
essenciais, armações, culatras, ferrolhos e canos, e de munições e seus insumos
para recarga, do tipo pólvora ou outra carga propulsora e espoletas, por meio do

124
serviço postal e similares. (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de
2021) Vigência
Art. 43. O Comando do Exército autorizará a exportação de armas, munições e
demais produtos controlados, nos termos estabelecidos em legislação específica
para exportação de produtos de defesa e no disposto no art. 24 da Lei nº 10.826, de
2003.
Art. 44. O desembaraço aduaneiro de armas de fogo, munições e demais
produtos controlados será feito pela Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil
do Ministério da Economia, após autorização do Comando do Exército.
§ 1º O desembaraço aduaneiro de que trata o caput incluirá:
I - as operações de importação e de exportação, sob qualquer regime;
II - a internação de mercadoria em entrepostos aduaneiros;
III - a nacionalização de mercadoria entrepostada;
IV - a entrada e a saída do País de armas de fogo e de munição de atletas
brasileiros e estrangeiros inscritos em competições nacionais ou internacionais;
V - a entrada e a saída do País de armas de fogo e de munição trazidas por
agentes de segurança de dignitários estrangeiros em visita ao País;
VI - a entrada e a saída de armas de fogo e de munição de órgãos de
segurança estrangeiros, para participação em operações, exercícios e instruções de
natureza oficial; e
VII - as armas de fogo, as munições, as suas partes e as suas peças, trazidas
como bagagem acompanhada ou desacompanhada.
§ 2º O desembaraço aduaneiro de armas de fogo e de munição
ficará condicionado ao cumprimento das normas específicas sobre marcação
estabelecidas pelo Comando do Exército.
Art. 45. As armas de fogo apreendidas, após a finalização dos procedimentos
relativos à elaboração do laudo pericial e quando não mais interessarem à
persecução penal, serão encaminhadas pelo juiz competente ao Comando do
Exército, no prazo de quarenta e oito horas, para doação aos órgãos de segurança
pública ou às Forças Armadas ou para destruição quando inservíveis. (Redação
dada pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
§ 1º O Comando do Exército indicará no relatório trimestral reservado de que
trata o § 1º do art. 25 da Lei nº 10.826, de 2003 , as armas, as munições e os

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acessórios passíveis de doação. (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de
2021) Vigência
§ 2º Os órgãos de segurança pública ou as Forças Armadas manifestarão
interesse pelas armas de fogo apreendidas, ao Comando do Exército, no prazo de
trinta dias, contado da data do recebimento do relatório reservado trimestral por
aquelas instituições. (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de
2021) Vigência
§ 3º Os órgãos de segurança pública ou as Forças Armadas que efetivaram a
apreensão terão preferência na doação das armas. (Redação dada pelo Decreto
nº 10.630, de 2021) Vigência
§ 4º O Comando do Exército se manifestará favoravelmente à doação de que
trata este artigo, no prazo de trinta dias, na hipótese de serem atendidos os critérios
de priorização estabelecidos pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, nos
termos do disposto no § 1º do art. 25 da Lei nº 10.826, de 2003 , dentre os quais,
destaque-se: (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
I - a comprovação da necessidade de destinação do armamento;
e (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
II - a adequação das armas de fogo ao padrão de
cada instituição. (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
§ 5º Os critérios de priorização a que se refere o § 4º deverão ser atendidos
inclusive pelos órgãos de segurança pública ou pelas Forças Armadas responsáveis
pela apreensão. (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
§ 6º Cumpridos os requisitos de que trata o § 4º e observada a regra de
preferência do órgão apreensor, o Comando do Exército encaminhará, no prazo de
trinta dias, a relação das armas de fogo a serem doadas ao juiz competente, que
determinará o seu perdimento em favor do órgão ou da Força
Armada beneficiária. (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de
2021) Vigência
§ 7º As armas de fogo de valor histórico ou obsoletas poderão ser objeto de
doação a museus das Forças Armadas ou de instituições policiais indicados pelo
Comando do Exército. (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de
2021) Vigência
§ 8º A decisão sobre o destino final das armas de fogo não doadas aos órgãos
interessados nos termos do disposto neste Decreto caberá ao Comando do Exército,

126
que deverá concluir pela sua destruição ou pela doação às Forças
Armadas. (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
§ 9º As munições e os acessórios apreendidos, concluídos os procedimentos
relativos à elaboração do laudo pericial e quando não mais interessarem à
persecução penal, serão encaminhados pelo juiz competente ao Comando do
Exército, no prazo de quarenta e oito horas, para destruição ou doação aos órgãos
de segurança pública ou às Forças Armadas, na forma estabelecida neste
artigo. (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
§ 10. O órgão de segurança pública ou as Forças Armadas responsáveis pela
apreensão das munições serão o destinatário da doação, desde que manifestem
interesse, no prazo de trinta dias, contado da data do recebimento do relatório
trimestral reservado. (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de
2021) Vigência
§ 11. Na hipótese de não haver interesse por parte do órgão ou das Forças
Armadas responsáveis pela apreensão, as munições serão destinadas ao primeiro
órgão que manifestar interesse. (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de
2021) Vigência
§ 12. Compete ao órgão de segurança pública beneficiário da doação das
munições periciá-las para atestar a sua validade e encaminhá-las ao Comando do
Exército para destruição, na hipótese de ser constatado que são
inservíveis. (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
§ 13. As armas de fogo, as munições e os acessórios apreendidos que forem
de propriedade das instituições a que se referem os incisos I a XIII do caput do art.
34 serão devolvidos à instituição após a realização de perícia, exceto se
determinada sua retenção até o final do processo pelo juízo
competente. (Redação dada pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
Art. 45-A. As armas de fogo e munições apreendidas em decorrência do tráfico
de drogas ou de qualquer forma utilizadas em atividades ilícitas de produção ou
comercialização de drogas, ou ainda, que tenham sido adquiridas com recursos
provenientes do tráfico de drogas, perdidas em favor da União e encaminhadas para
o Comando do Exército, serão destinadas à doação, após perícia ou vistoria que
atestem seu bom estado, observado o seguinte critério de prioridade: (Incluído
pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência

127
I - órgão de segurança pública responsável pela apreensão; (Incluído
pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
II - demais órgãos de segurança pública ou do sistema penitenciário do ente
federativo responsável pela apreensão; e (Incluído pelo Decreto nº 10.630, de
2021) Vigência
III - órgãos de segurança pública ou do sistema penitenciário dos demais entes
federativos. (Incluído pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
§ 1º O pedido do ente federativo deverá ser feito no prazo de vinte dias,
contado da data do recebimento do relatório trimestral reservado, observado o
critério de prioridade de que trata o caput . (Incluído pelo Decreto nº 10.630, de
2021) Vigência
§ 2º O pedido de doação previsto neste artigo deverá atender aos critérios de
priorização estabelecidos pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, nos
termos do disposto no § 4º do art. 45. (Incluído pelo Decreto nº 10.630, de
2021) Vigência
Art. 45-B. As armas de fogo apreendidas poderão ser devolvidas pela
autoridade competente aos seus legítimos proprietários na hipótese de serem
cumpridos os requisitos de que trata o art. 4º da Lei nº 10.826, de 2003 . (Incluído
pelo Decreto nº 10.630, de 2021) Vigência
Art. 46. As solicitações dos órgãos de segurança pública sobre informações
relativas ao cadastro de armas de fogo, munições e demais produtos controlados
junto ao Sinarm e ao Sigma serão encaminhadas diretamente à Polícia Federal ou
ao Comando do Exército, conforme o caso.
Art. 47. Na hipótese de falecimento ou interdição do proprietário de arma de
fogo, o administrador da herança ou o curador, conforme o caso, providenciará a
transferência da propriedade da arma, por meio de alvará judicial ou de autorização
firmada por todos os herdeiros, desde que sejam maiores de idade e capazes,
observado o disposto no art. 12.
§ 1º O administrador da herança ou o curador comunicará à Polícia Federal ou
ao Comando do Exército, conforme o caso, a morte ou a interdição do proprietário
da arma de fogo.
§ 2º Na hipótese de que trata o caput, a arma de fogo permanecerá sob a
guarda e a responsabilidade do administrador da herança ou do curador, depositada

128
em local seguro, até a expedição do Certificado de Registro de Arma de Fogo e a
entrega ao novo proprietário.
§ 3º A inobservância ao disposto no § 2º implicará a apreensão da arma de
fogo pela autoridade competente, sem prejuízo das sanções penais cabíveis.
Art. 48. O valor da indenização de que tratam os art. 31 e art. 32 da Lei nº
10.826, de 2003, e o procedimento para o respectivo pagamento serão fixados pelo
Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Art. 49. Os recursos financeiros necessários ao cumprimento do disposto
nos art. 31 e art. 32 da Lei nº 10.826, de 2003, serão custeados por dotação
orçamentária específica consignada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Art. 50. Será presumida a boa-fé dos possuidores e dos proprietários de armas
de fogo que as entregar espontaneamente à Polícia Federal ou aos postos de
recolhimento credenciados, nos termos do disposto no art. 32 da Lei nº 10.826, de
2003.
Art. 51. A entrega da arma de fogo de que tratam os art. 31 e art. 32 da Lei nº
10.826, de 2003, de seus acessórios ou de sua munição será feita na Polícia
Federal ou em órgãos e entidades credenciados pelo Ministério da Justiça e
Segurança Pública.
§ 1º Para o transporte da arma de fogo até o local de entrega, será exigida
guia de trânsito, expedida pela Polícia Federal ou por órgão por ela credenciado,
que conterá as especificações mínimas estabelecidas pelo Ministério da Justiça e
Segurança Pública.
§ 2º A guia de trânsito de que trata o § 1º poderá ser expedida pela internet, na
forma estabelecida em ato do Diretor-Geral da Polícia Federal.
§ 3º A guia de trânsito de que trata o § 1º autorizará tão-somente o transporte
da arma, devidamente desmuniciada e acondicionada de maneira que seu uso não
possa ser imediato, limitado para o percurso nela autorizado.
§ 4º O transporte da arma de fogo sem a guia de trânsito, ou o transporte
realizado com a guia, mas sem a observância ao que nela estiver estipulado,
sujeitará o infrator às sanções penais cabíveis.
Art. 52. As disposições sobre a entrega de armas de fogo de que tratam os art.
31 e art. 32 da Lei nº 10.826, de 2003, não se aplicam às empresas de segurança
privada e de transporte de valores.
Art. 53. Será aplicada pelo órgão competente pela fiscalização multa de:

129
I - R$ 100.000,00 (cem mil reais):
a) à empresa de transporte aéreo, rodoviário, ferroviário, marítimo, fluvial ou
lacustre que permita o transporte de arma de fogo, munição ou acessórios sem a
devida autorização ou com inobservância às normas de segurança; e
b) à empresa de produção ou de comercialização de armas de fogo que realize
publicidade para estimular a venda e o uso indiscriminado de armas de fogo,
acessórios e munição, exceto nas publicações especializadas;
II - R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), sem prejuízo das sanções penais
cabíveis:
a) à empresa de transporte aéreo, rodoviário, ferroviário, marítimo, fluvial ou
lacustre que deliberadamente, por qualquer meio, realize, promova ou facilite o
transporte de arma de fogo ou de munição sem a devida autorização ou com
inobservância às normas de segurança; e
b) à empresa de produção ou de comercialização de armas de fogo que
reincidir na conduta de que trata a alínea “b” do inciso I do caput; e
III - R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), sem prejuízo das sanções penais
cabíveis, à empresa que reincidir na conduta de que tratam a alínea “a” do inciso I e
as alíneas “a” e “b” do inciso II.
Art. 54. A empresa de segurança e de transporte de valores ficará sujeita às
penalidades de que trata o art. 23 da Lei nº 7.102, de 20 de junho de 1983, na
hipótese de não apresentar, nos termos do disposto nos § 2º e § 3º do art. 7º da Lei
nº 10.826, de 2003:
I - a documentação comprobatória do cumprimento dos requisitos constantes
do art. 4º da Lei nº 10.826, de 2003, quanto aos empregados que portarão arma de
fogo; e
II - semestralmente, ao Sinarm, a listagem atualizada de seus empregados.
Art. 55. Os recursos arrecadados em razão das taxas e das sanções
pecuniárias de caráter administrativo previstas neste Decreto serão aplicados nos
termos do disposto no § 1º do art. 11 da Lei nº 10.826, de 2003.
Art. 56. As receitas destinadas ao Sinarm serão recolhidas ao Banco do Brasil
S.A., na conta Fundo para Aparelhamento e Operacionalização das Atividades-Fim
da Polícia Federal, e serão alocadas para o reaparelhamento, a manutenção e o
custeio das atividades de controle e de fiscalização da circulação de armas de fogo
e de repressão ao seu tráfico ilícito, de competência da Polícia Federal.

130
Art. 57. Os requerimentos formulados ao Comando do Exército, ao Sigma, à
Polícia Federal e ao Sinarm referentes aos procedimentos previstos neste Decreto
serão apreciados e julgados no prazo de sessenta dias.
§ 1º A apreciação e o julgamento a que se refere o caput ficarão
condicionados à apresentação do requerimento devidamente instruído à autoridade
competente.
§ 2º O prazo a que se refere o caput será contado da data:
I - da entrega do requerimento devidamente instruído; ou
II - da entrega da documentação completa de instrução do requerimento, na
hipótese de as datas da entrega do requerimento e dos documentos que o instruem
não coincidirem.
§ 3º Transcorrido o prazo a que se refere o caput sem a apreciação e o
julgamento do requerimento, observado o disposto no § 1º, consideram-se
aprovados tacitamente os pedidos nele formulados.
§ 4º A aprovação tácita não impede a continuidade da apreciação do
requerimento, que poderá ser cassado, caso constatado o não cumprimento dos
requisitos legais.
Art. 57-A. Os procedimentos previstos neste Decreto serão realizados
prioritariamente de forma eletrônica, dispensado o comparecimento pessoal do
requerente, exceto se houver necessidade especificamente motivada e comunicada
de apresentação dos documentos originais. (Incluído pelo Decreto nº 10.630,
de 2021) Vigência
Art. 58. O Decreto nº 9.607, de 12 de dezembro de 2018, passa a vigorar com
as seguintes alterações:
“Art. 34-B. A autorização para importação de Prode, conforme definido em ato
do Ministro de Estado da Defesa, poderá ser concedida:
I - aos órgãos e às entidades da administração pública;
II - aos fabricantes de Prode em quantidade necessária à realização de
pesquisa, estudos e testes, à composição de sistemas de Prode ou à fabricação de
Prode;
III - aos representantes de empresas estrangeiras, em regime de admissão
temporária, para fins de experiências, testes ou demonstração, junto às Forças
Armadas do Brasil ou a órgãos ou entidades públicas, desde que comprovem

131
exercer a representação comercial do fabricante estrangeiro no território nacional e
apresentem documento comprobatório do interesse das instituições envolvidas;
IV - aos expositores, para participação em feiras, mostras, exposições e
eventos, por período determinado;
V - aos agentes de segurança de dignitários estrangeiros em visita ao País, em
caráter temporário;
VI - às representações diplomáticas;
VII - aos integrantes de Forças Armadas do Brasil ou de órgãos de segurança
estrangeiros, em caráter temporário, para:
a) participação em exercícios combinados; ou
b) participação, na qualidade de instrutor, aluno ou competidor, em cursos e
eventos profissionais das Forças Armadas do Brasil e de órgãos de segurança
nacionais, desde que o Prode seja essencial para o curso ou o evento; e
VIII - aos colecionadores, aos atiradores desportivos, aos caçadores e às
pessoas naturais cujas armas de fogo devam ser registradas pelo Comando do
Exército, nas condições estabelecidas no Regulamento para a Fiscalização de
Produtos Controlados.
§ 1º Nas hipóteses previstas nos incisos III, IV e VII do caput, a importação
será limitada às amostras necessárias ao evento, vedada a importação do produto
para outros fins, e os Prode deverão ser reexportados após o término do evento
motivador da importação ou, a critério do importador e com autorização do Ministério
da Defesa, doados.
§ 2º Na hipótese prevista no inciso III do caput, os Prode não serão entregues
aos seus importadores e ficarão diretamente sob a guarda dos órgãos ou das
instituições envolvidos.” (NR)

132
26 EXCLUDENTES DE ILICITUDE DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO: QUAIS
SÃO ELAS?

Conforme ensinam os professores Michael Procópio e Marcela Neves (2023), as


causas excludentes de ilicitude estão previstas no art. 23 do Código Penal, sendo
elas as seguintes:

Figura 44 - Causas excludentes da ilicitude

Fonte: https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/excludentes-ilicitude-resumo/.

Excludente de Ilicitude: Estado de Necessidade


Essa excludente de ilicitude está prevista no art. 24 do Código Penal com a
seguinte redação:

Estado de Necessidade
Art. 24 – Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para
salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de
outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
circunstâncias, não era razoável exigir-se. (BRASIL, 1940) 4

Requisitos:
• Perigo atual e inevitável;
• Não provocação voluntária do perigo pelo agente;

4
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm

133
• Com a finalidade de proteger direito próprio ou alheio;
• Inevitabilidade do comportamento lesivo;
• Inexigibilidade do sacrifício do interesse ameaçado;
• Elemento subjetivo: conhecimento da situação causadora da
excludente de ilicitude;
• Ausência do dever legal de enfrentar o perigo;
• A doutrina reconhece o estado de necessidade recíproco.

Classificações:
Quanto à titularidade do interesse protegido:
• De interesse próprio
• De interesse alheio
Quanto ao elemento subjetivo:
• Real
• Putativo (imaginário)
Quanto à titularidade do interesse sacrificado:
• Defensivo
• Agressivo

Excludente de Ilicitude: Legítima Defesa


O Código Penal, em seu artigo 25, assim dispõe sobre legítima defesa: “Art.
25 – Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios
necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem
(BRASIL, 1940). 5
Requisitos:
• Agressão injusta;
• Agressão atual ou iminente;
• Proteção de direito próprio ou de outrem;
• Uso moderado dos meios necessários;
• Conhecimento da situação de fato justificante

Classificação:

5
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm

134
1. Legítima defesa real ou própria;
2. Legítima defesa putativa;
3. Legítima defesa sucessiva;
4. Legítima defesa subjetiva

Não é cabível legítima defesa contra:

Figura 45 - Situações em que não cabe legítima defesa

Fonte: https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/excludentes-ilicitude-resumo/.

Em relação a excludentes de ilicitude, as principais diferenças entre o Estado


de Necessidade e a Legítima Defesa são elencados no quadro a seguir.

Estado de Necessidade Legítima Defesa


Conflito entre bens jurídicos expostos a Repulsa a um ataque ou a uma ameaça a
perigo um bem jurídico
Os interesses em conflito são legítimos. Os interesses do agressor não são
Conclusão: é possível estado de legítimos. Conclusão: não é possível
necessidade recíproco legítima defesa recíproca
O perigo pode advir da conduta humana ou O perigo só pode advir da conduta humana
não
A conduta pode se dirigir ao causador do A conduta só pode se voltar contra o
perigo ou terceiro inocente agressor
Há um perigo atual, sem destinatário certo Há uma agressão humana injusta, atual ou
iminente, direcionada a alguém

135
Excludentes de Ilicitude: Estrito Cumprimento do Dever Legal
É a situação em que alguém cumpre um dever imposto pela lei, dentro dos
limites por ela determinados. Tal cumprimento deve ser estrito, isto é, não abrange
excessos ou desvios.
Assim como nas demais causas excludentes de ilicitude, é imprescindível que
esteja presente o elemento subjetivo, ou seja, o agente deve ter conhecimento da
situação que o permite agir em estrito cumprimento do dever legal. Nesse sentido,
se estiver presente o elemento subjetivo, essa excludente de ilicitude se estende aos
coautores ou partícipes do fato.

Excludente de Ilicitude: Exercício Regular de Direito


Essa excludente de ilicitude abrange a conduta do cidadão comum autorizada
pela existência de direito definido em lei e condicionada à regularidade do exercício
desse direito.
Requisitos:
• Proporcionalidade;
• Indispensabilidade;
• O conhecimento do agente de que atua conforme seu direito legalmente
previsto.

136
REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto nº 9.847, de 25 de junho de 2019. Regulamenta a Lei nº 10.826,


de 22 de dezembro de 2003, para dispor sobre a aquisição, o cadastro, o registro, o
porte e a comercialização de armas de fogo e de munição e sobre o Sistema
Nacional de Armas e o Sistema de Gerenciamento Militar de Armas. Brasília, 2019.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2019/decreto/d9847.htm Acesso em: 03 maio 2023

BRASIL. Decreto-lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940.


Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del2848compilado.htm Acesso em: 03 maio 2023

BRASIL. Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003. Dispõe sobre registro, posse e


comercialização de armas de fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas –
Sinarm, define crimes e dá outras providências. Brasília, 2003.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.826.htm Acesso
em: 03 maio 2023

CEARÁ. Assembleia Legislativa do Estado do. Estatuto do Desarmamento: Lei nº


10.826, de 22 de dezembro de 2003. Fortaleza: Assembleia Legislativa do Ceará,
2013.
Disponível em:
file:///C:/Users/User/Downloads/ESTATUTO%20DO%20DESARMENTO%20COMEN
TADO.pdf Acesso em: 03 maio 2023

CUNHA. Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Geral (arts. 1 ao 120).
8ª ed. ver., ampl. e atual. Salvador: JusPODIVM, 2020.

MINAS GERAIS. Policia Militar. Academia de Policia Militar. Manual de Armamento.


Minas Gerais: PMMG, 2011.

PROCÓPIO, Michael. Curso de Direito Penal. Estratégia Carreiras Jurídicas.


Disponível em: https://www.estrategiaconcursos.com.br/promocoes/vitalicia-
ecj/?utm_source=google&utm_medium=cpc&utm_campaign=ecj-jur-vd-gsh-geral-
semesp-150523&gclid=CjwKCAjwscGjBhAXEiwAswQqNMg-ez4y0N-
4ZXB1YEoHuYNVwIzcc4SCACFU33Ds9r5-8syvIsnxJBoCenwQAvD_BwE Acesso
em: 03 maio 2023

UONSKI, Marcela Neves. Excludentes de Ilicitude – Resumo. Disponível em:


https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/excludentes-ilicitude-resumo/ Acesso
em: 03 maio 2023.

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