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ÉTICA, DIREITOS HUMANOS E PROFISSIONAL DE

SEGURANÇA - CIDAPS I/2021

AUTORIDADES
Governador do Estado do Rio de Janeiro
Exmº Sr Cláudio Castro

Secretário de Estado de Polícia Militar


Exmº Sr Coronel PM Rogério Figueredo de Lacerda

Subsecretário de Estado de Polícia Militar


Ilmº Sr Coronel PM Márcio Pereira Basílio

Diretor-Geral de Ensino e Instrução


Ilmº Sr Coronel PM Marco Aurélio Ciarlini Guarabyra Vollmer

Comandante do Centro de Educação a Distância da Polícia Militar


Ilm° Sr Tenente-Coronel PM Alexandre Moreira Soares

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ÉTICA, DIREITOS HUMANOS E PROFISSIONAL DE SEGURANÇA -
CIDAPS I/2021

Desenvolvedores
Supervisão EAD
MAJ PM Rodrigo Fernandes Ferreira

Equipe Técnica
SUBTEN PM Wilian Jardim de Souza
2º SGT PM Edson dos Santos Vasconcelos
SD PM Lucas Almeida de Oliveira

Conteudista
MAJ PM Rodrigo Marques Rodrigues

Diagramação
1º SGT PM Eloisa Claudia Clemente de Almeida

Design Instrucional
CB PM Michele Pereira da Silva de Oliveira

Filmagem e Edição de Vídeo


CB PM Renan Campos Barbosa
SD PM Alessandra Albuquerque da Silva

Designer Gráfico e Diagramação interativa


2º SGT PM Wallace Reis Fernandes
SD PM Leonardo da Silva Ramos

Suporte ao Aluno
2º SGT PM Anderson Inacio de Oliveira
2º SGT PM Wallace Reis Fernandes

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ÉTICA, DIREITOS HUMANOS E PROFISSIONAL DE SEGURANÇA -
CIDAPS I/2021

Sumário
INTRODUÇÃO.............................................................................................................................. 7
1. ÉTICA E MORAL ...................................................................................................................... 8
2. MORAL E DIREITO .................................................................................................................. 9
3 . ÉTICA E SEGURANÇA PÚBLICA ......................................................................................... 10
4. CÓDIGO DE CONDUTA PARA OS FUNCIONÁRIOS RESPONSÁVEIS PELA APLICAÇÃO
DA LEI ........................................................................................................................................ 11
5. ESTATUTO DOS POLICIAIS MILITARES ........................................................................... 16
6. POLÍCIA, CIDADANIA E OS DIREITOS HUMANOS ............................................................ 18
7. PAPEL DA POLÍCIA ............................................................................................................... 19
8. O COMPROMISSO DO POLICIAL MILITAR COM A “NÃO DISCRIMINAÇÃO” ................ 19
9. OS MEIOS NÃO VIOLENTOS COMO PRIMEIRA TENTATIVA ............................................. 20
10. PRÁTICAS DE MEDIDAS HUMANITÁRIAS E DE MODERAÇÃO ...................................... 20
11. USO DA FORÇA E DE ARMAS DE FOGO ......................................................................... 21
12. POLICIAMENTO DE REUNIÕES PÚBLICAS ...................................................................... 22
13. O POLICIAL MILITAR E OSGRUPOS VULNERÁVEIS ........................................................ 23
14. DIREITOS HUMANOS, A POLÍCIA E A PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE . 23
15. CONDUÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ....................................................... 25
16. POLÍCIA E DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES .......................................................... 26
17. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA .................................................................................................... 29
18. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 31
19. BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................... 32

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Nessa disciplina você vai aprender...

 Distinguir Ética e Moral;


 Compreender o conceito da Moral e do Direito;
 Relacionar Ética e Segurança Pública;
 Compreender o Código de conduta para
osfuncionários responsáveis pela aplicação da lei;
 Aplicar os conhecimentos sobre o Estatuto
dosPoliciais Militares;
 Correlacionar: Polícia, Cidadania e os Direitos
Humanos;
 Reconhecer o Papel da Polícia;
 Reafirmar o compromisso do Policial Militar de “Não
discriminação”;
 Utilizar os meios Não violentos como Primeira
Tentativa;
 Relacionar os Direitos Humanos, a Polícia e a
Proteção à Criança e ao Adolescente;
 Reconhecer o papel policial frente aos direitos
humanos das mulheres;
 Conduzir adequadamente ocorrências que envolvam
Crianças e/ ou Adolescentes;
 Reconhecer o papel policial frente aos direitos
humanos das mulheres;
 Compreender a temática Violência Doméstica.

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Prezado aluno,
Seja bem vindo a nossa disciplina de “Ética, Direitos Humanos e os
Profissionais de Segurança Pública”.

Sabemos que este assunto diz respeito a todos nós enquanto cidadãose ainda
mais enquanto agentes da Lei. Trazemos para você um material para construirmos
reflexões acerca de nossa atuação policial nos mais diversos âmbitos.
Aqui você terá algumas orientações objetivas sobre as condutas éticas e o
respeito aos direitos da pessoa humana, que devem ser adotadas pelo Policial Militar
ao lidar com os mais diferentes tipos de ocorrências. É importante ressaltar que os
preceitos éticos são indispensáveis a atividade do Profissional de Segurança Pública,
pois, na maioria das vezes, o atendimento do policial é de caráter assistencialista à
população.
Vamos começar?

Porque estudar “Ética e Direitos Humanos”


é importante?

Compreender as relações humanas, a partir


do aspecto consensual auxilia o Policial Militar na
reflexão sobre a realidade a qual está inserido e a
percepção do seu papel, partindo do princípio doque
cabe a esse profissional, de acordo com suas
possibilidades e limitações.

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INTRODUÇÃO

Nesta disciplina pretendemos evidenciar que a ética profissional, em


sintonia com a responsabilidade e competência¹, permitirá ao profissional da
segurança pública, em especial o policial militar, poder e querer realizarum trabalho
realmente comprometido com sua posição social confiada pelo Estado.
Refletir sobre a ótica de que é preferível prevenir os delitos a ter de puni-los; e todo
legislador sábio deve antes procurar impedir o mal do querepará-lo, conclui-se que
uma boa legislação não é mais do que a arte deproporcionar aos homens a maior
soma de bem-estar possível, como também, buscar legalmente livrá-los de todos os
pesares que se lhes possamcausar.
E o Policial Militar é um dos agentes públicos responsáveis por manter essa
compensação social.
____________________________

¹ Trabalhando aqui com o papel desempenhado pelo capital humano dentro da organização, podemos definir
competência como “combinações sinérgicas de conhecimentos, habilidades e atitudes, expressas pelo desempenho
profissional, dentro de determinado contexto ou estratégia organizacional
KALIL PIRES, et al.. Gestão por competências em organizações de governo. Brasília: ENAP, 2005

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1. ÉTICA E MORAL

Você sabe a diferença entre


“Ética” e “Moral”? Antes de
iniciarmos clique na figura ao
lado e vamos aprender mais!

Os indivíduos necessitam de normas para orientar sua conduta na sociedade, daí as


regras de comportamento, que exigem aceitação do gruposocial para sua execução. Como
afirma David Lyons: “conformidade às regras estabelecidas é vital para o bem-estar do

grupo social”1 Assim, o grupo estabelece as normas que guiam o comportamento individual
na sociedade e um exemplo disso é a lei, que determina padrões de conduta.
Decidir sobre a maneira de agir em determinada situação é uma questãoprática e
moral, mas investigar o modo pelo qual decidimos e agimos é competência da ética.
A palavra ética surgiu do grego éthos, que significa modo de ser; e a palavra
moral surgiu do latim mores, que quer dizer costume. Assimsendo, etimologicamente,
tais palavras tem relações entre si. Contudo, énecessário estabelecer distinções: moral
é um sistema de normas, princípios e valores que regulamentam as relações entre os
indivíduos, que variam deacordo com o tempo e o espaço e que são aceitas livre e
conscientementepor todos; a ética será a reflexão crítica sobre a moral. De acordo
com Vazquez: “ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em

sociedade”2 e sua função básica é “explicar, esclarecer ou investigaruma determinada

realidade, elaborando os conceitos correspondentes.”3 Tendo em vista sua


definição, podemos afirmar que os objetivos da ética são: orientar a reflexão crítica sobre
as decisões e escolhas e refletir sobreas ações humanas, compreendendo sua variação
no tempo histórico e emdiferentes regiões. Já a moral tem por objetivo manter o
convívioharmônico entre os indivíduos através da regulamentação de suas relaçõesentre
si. Por isso as obrigações morais são determinadas por regras

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socialmente aceitas.

1
LYONS, David. As regras morais e a Ética. São Paulo, Papirus Editora, 1990. p.32
2
VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. Rio de Janeiro: 23ª ed. Civilização Brasileira, 2002. p.12.
3
Ibid. p. 1

2. MORAL E DIREITO

Moral e Direito estão relacionados na medida em que


regulam o convívio entre os indivíduos. Ambos postulam
normas de conduta visando a garantia de uma coesão
social. Assim, temos as normas morais e as normas jurídicas.
Normas morais são cumpridas, pois exigem adesão e crença nas mesmas pelos
indivíduos. Não são garantidas por nenhum dispositivocoercitivo, apenas pela aceitação

do sujeito, ou seja, sua violação nãoocasiona sanção do Estado.4


Normas jurídicas não exigem adesão íntima dos indivíduos, pois os mesmos devem
cumpri-la, mesmo que discordem dela. Exigem um
dispositivo que imponha penas, pois o estado determina normas jurídicascomo padrão

de comportamento, ou seja, sua violação ocasiona sançãodo Estado.5


O Estado democrático de direito tem como característica o estabelecimento do
aparato estatal de segurança pública. O desrespeito aos direitos dos cidadãos e a
inadequação das práticas policiais aos mesmos acarreta em problema para o próprio
Estado democrático. De modo que a Polícia Cidadã é um aspecto fundamental da
democracia.
No Brasil, a Constituição de 1988 garantiu o restabelecimento da esferapública com
a universalidade de uma inclusão participativa, com o intuitode aumentar a atuação de
todos os cidadãos, tendo em vista o princípio da soberania popular. Portanto, cabe aos
agentes de segurança pública a tarefa de protetores e asseguradores de direitos
constitucionais.

4
VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. Rio de Janeiro: 23ª ed. Civilização Brasileira, 2002. p.82.
5
Ibid. p.82

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Moral e Direito estão atrelados entre si devido à importância de ambosna sociedade.


O primeiro influencia o segundo na medida em que este nãopode ser imoral, diferente
das normas e regras de convívio estabelecidaspelo grupo social. Desse modo, o Direito
é influenciado pela Moral em seu processo de formação.

3 . ÉTICA E SEGURANÇA PÚBLICA

As leis estabelecem padrões de comportamento, pois instituem modelos de conduta,


assim ela governa a comunidade social. Isso porque elaé configurada pelos valores morais
que o grupo social possui edetermina. O profissional de segurança pública deve
seguir diretrizeslegais e morais para a execução de sua função social e jurídica,
entre elas, a de garantidor dos direitos¹ do cidadão. Nesse sentido, o policial não deve
se colocar numa posição de dualidade ou antagônica aos demais cidadãos, pois ele – o
policial – é parte da própria sociedade que ele é incumbido de proteger. Ballestreri (1998,
p. 7), acerca da condição do policial na sociedade, afirma que:
“o agente de Segurança Pública é, contudo, um cidadão qualificado: emblematiza o
Estado, em seu contato mais imediato com a população. Sendo a autoridade mais
comumente encontrada tem, portanto, a missão de ser uma espécie de “porta voz” popular
do conjunto de autoridades das diversas áreas do poder.”
Cidadão é o indivíduo em um estado democrático de direito que possuidireitos
civis e políticos que são iguais para todos: daí o princípio da igualdade.
Segundo T.S Marshall, cidadania pode ser definida como “um statusque em
princípio repousa sobre os indivíduos e que implica igualdade de direitos e obrigações,
liberdades e constrangimentos, poderese responsabilidades. Desde a antiguidade até a
modernidade, cidadania temuma relação de reciprocidade dos direitos e deveres entre a

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comunidade política e o indivíduo”6. O profissional de segurança pública em sua função


de promover e defender os direitos e a ordem também é um cidadão portador de direitos.
Desse modo, a Ética e Direitos Humanos são inseparáveis da Segurança Pública, que é
um bem de todo cidadão.
Todo cidadão possui direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal, que são
aspectos primordiais das práticas de segurança pública. Tais direitosexigem condições
para sua proteção, que são pertinentes ao campoda segurança pública, tendo em
vista que seus agentes são promotorese guardiães da lei.
Segurança Pública articula-se à impessoalidade da lei para orientar o policial a
seguir o princípio da imparcialidade em sua atuação, que,em muitos casos, tratará
da mediação de conflitos. Deve-se ter em mentea tensão entre a universalidade da lei e a
diversidade de valores dos grupos sociais presentes na sociedade. Desse modo, a
atividade policial está diretamente envolvida com a diversidade, sendo fundamental
prevalecer a universalidade e a imparcialidade da lei.

________________________________
1 BALESTRERI Ricardo Brisola. Direitos Humanos: Coisa de Polícia – Passo fundo-RS, CAPEC, Paster Editora,
1998

4. CÓDIGO DE CONDUTA PARA OS FUNCIONÁRIOS


RESPONSÁVEIS PELA APLICAÇÃO DA LEI

Adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, no dia 17 de


Dezembro de 1979, através da Resolução nº 34/169.
Considerando que um dos objetivos proclamados na Carta das Nações Unidas é o
da realização da cooperação internacional para o desenvolvimento e encorajamento do
respeito pelos direitos do homem e das liberdades fundamentais para todos, sem distinção
de raça, sexo, língua ou religião.

6
MARSHAL, T.H. Class, citizenship and social development. Westport: Greenwood Press,1973, p.84.

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Consciente de que a natureza das funções de aplicação da lei para defesa da ordem
pública e a forma como essas funções são exercidas, têm uma incidência direta sobre a
qualidade de vida dos indivíduos e da sociedade no seu conjunto; Consciente das
importantes tarefas que os funcionários responsáveis pela aplicação da lei levam a cabo,
com diligência e dignidade,em conformidade com os princípios dos direitos do homem; Que
qualquer funcionário responsável pela aplicação da lei é um elemento do sistema de justiça
penal, cujo objetivo consiste em prevenir o crime e lutar contra a delinquência, e que a
conduta de cada funcionário do sistema tem uma incidência sobre o sistema no seu
conjunto.

Artigo 1º

Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei


devem sempre cumprir o dever que a lei lhes impõe,
servindo a comunidade eprotegendo todas as pessoas
contra atos ilegais, em conformidade com o elevado
grau de responsabilidade que a sua profissãorequer.

Comentário

O termo "funcionários responsáveis pela aplicação da lei" inclui todos os agentes da


lei, quer nomeados, quer eleitos, que exerçam poderes policiais, especialmente poderes
de detenção ou prisão. Nos países onde os poderes policiais são exercidos por
autoridades militares, quer em uniforme, quer não, ou por forças de segurança do Estado,
será entendido que a definição dos funcionários responsáveis pela aplicação dalei incluirá
os funcionários de tais serviços.

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Artigo 2º
No cumprimento do dever, os funcionários responsáveis
pela aplicação da lei devem respeitar e proteger a dignidade
humana, manter e apoiar os direitos humanos de todas as
pessoas.

Artigo 3º
Os funcionários responsáveis pela
aplicação da lei só podem empregar a força quando
estritamente necessária e na medida exigida para o
cumprimento do seu dever.

Comentário
O emprego da força por parte dos funcionários responsáveis pela aplicação da
lei deve ser excepcional. Embora se admita que estes funcionários, de acordo com as
circunstâncias, possam empregar uma força razoável, de nenhuma maneira ela
poderá ser utilizada de forma desproporcional ao legítimo objetivo a ser atingido.
O emprego de armas de fogo é considerado uma medida extrema; devem-se fazer
todos os esforços no sentido de restringir seu uso, especialmente contra crianças. Em geral,
armas de fogo só deveriam ser utilizadas quando um suspeito oferece resistência armada
ou, de algum outro modo, põe em risco vidas alheias e medidas menos drásticas são
insuficientespara dominá-lo. Toda vez que uma arma de fogo for disparada, deve-se fazer
imediatamente um relatório às autoridades competentes.

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Artigo 4º

Os assuntos de natureza confidencial em poder dos


funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem
ser mantidos confidenciais, a não ser que o cumprimento do
dever ou necessidade de justiça estritamente exijam outro
comportamento.

Artigo 5º

Nenhum funcionário responsável pela aplicação da lei pode


infligir, instigar ou tolerar qualquer ato de tortura ou qualquer
outro tratamento ou pena cruel, desumano ou degradante, nem
nenhum destes funcionários pode invocar ordens superiores
ou circunstâncias excepcionais, tais como o estado de guerra
ou uma ameaça de guerra, ameaça à segurança nacional,
instabilidade política interna ou qualquer outra emergência pública, como
justificativa para torturas ou outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou
degradantes.

Comentário

A Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos


ou Degradantes define tortura como: "qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos,
físicos ou mentais são infligidos intencionalmente a uma pessoa afim de obter,
dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela
ou uma terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou
coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação
de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um funcionário
público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou porsua instigação, ou com o
seu consentimento ou aquiescência. Não se considerará como tortura as dores ou
sofrimentos que sejam consequência unicamente de sanções legítimas, ou que sejam
inerentes a tais sanções ou dela decorram.".
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Artigo 6º

Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem


garantir a proteção da saúde de todas as pessoas sob sua
guarda e, em especial, devem adotar medidas imediatas para
assegurar-lhes cuidados médicos, sempreque necessário.

Artigo 7º

Os funcionários responsáveis pelaaplicação da lei não devem


cometer quaisquer atos de corrupção. Também devem opor-se
vigorosamente e combater todos estes atos.

Comentário

Qualquer ato de corrupção, tal como qualquer outro abuso de autoridade, é incompatível
com a profissão dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei. A lei deve ser aplicada
com rigor a qualquer funcionário que cometa um ato de corrupção. Os governos não podem
esperar que os cidadãos respeitem as leis se estas também não foram aplicadas contra
os próprios agentes do Estado e dentro dos seus próprios organismos.

Artigo 8º

Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem


respeitar a lei e este Código. Devem, também, na medida das
suas possibilidades, evitar e opor-se com rigor a quaisquer
violações da lei e deste Código.

Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei que tiverem motivos para acreditar que
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houve ou que está para haver uma violação deste Código, devem comunicar o fato aos
seus superiores e, se necessário, a outras autoridades competentes ou órgãos com
poderes de revisão e reparação.

Comentário

As disposições contidas neste Código serão observadas sempre que tenham sido
incorporadas à legislação nacional ou à sua prática; caso a legislação ou a prática
contiverem disposições mais limitativas do que as deste Código, devem observar-se
essas disposições mais limitativas. Subentende-se que os funcionários responsáveis
pela aplicação da lei não devem sofrer sanções administrativas ou de qualquer outra
natureza pelo fato de terem comunicado que houve, ou que está prestes a haver, uma
violação deste Código; como em alguns países os meios de comunicação social
desempenham o papel de examinar denúncias, os funcionários responsáveis pela
aplicação da lei podem levar aoconhecimento da opinião pública, através dos referidos
meios, como último recurso, as violações a este Código. Os funcionários responsáveis pela
aplicação da lei que cumpram as disposições deste Código merecem o respeito, o total
apoio e a colaboração da sociedade, do organismode aplicação da lei no qual servem
e da comunidade policial.

5. ESTATUTO DOS POLICIAIS MILITARES

Seção II - Da Ética Policial Militar


Art. 27- O sentimento do dever, o pundonor7 policial militar e o decoro da classe impõem,
a cada um dos integrantes da Polícia Militar, conduta morale profissional irrepreensíveis,
com observância dos seguintes preceitos da ética policial militar:
I- amar a verdade e a responsabilidade como fundamento de dignidade pessoal;
II- exercer com autoridade, eficiência e probidade as funções que lhe couberem em
decorrência do cargo;
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III- respeitar a dignidade da pessoa humana;


IV- cumprir e fazer cumprir as leis, os regulamentos, as instruções eas ordens
das autoridades competentes;
V- ser justo e imparcial no julgamento dos atos e na apreciação do méritodos zelar
pelo preparo próprio, moral, intelectual e físico e, também, pelo dos subordinados,
tendo em vista o cumprimento da missão comum;
VI- empregar todas as suas energias em benefício do serviço;
VII- praticar a camaradagem e desenvolver permanentemente o espírito de
cooperação;
VIII- ser discreto em suas atitudes, maneiras e em sua linguagem escrita e falada;
IX- abster-se de tratar, fora do âmbito apropriado, de matéria sigilosa de
qualquer natureza;
X- acatar as autoridades civis;
XI- cumprir seus deveres de cidadão;
XII- proceder de maneira ilibada na vida pública e na particular;
XIII- observar as normas da boa educação;
XIV- garantir assistência moral e material ao seu lar e conduzir-se como chefe de
família modelar;
XV- conduzir-se, mesmo fora do serviço ou quando já na inatividade, de modo
que não sejam prejudicados os princípios da disciplina, no respeito e do decoro policial
militar;
XVI- abster-se de fazer uso do posto ou da graduação para obter facilidades
pessoais de qualquer natureza ou para encaminhar negócios particulares ou de
terceiros;
XVII- abster-se, na inatividade, do uso das designações hierárquicas: Honra,
decoro, sentimento de dignidade.
XVIII- zelar pelo nome da Polícia Militar e de cada um dos seus integrantes,
obedecendo e fazendo obedecer aos preceitos da ética policial militar.
XIX- subordinados;

7
Material revisado e adaptado por Rafael Rocha da Rosa. O professor Rafael Rochaé
Especialista em Filosofia Moderna e Contemporânea pela UERJ Licenciado em História pela
UERJ/FFP.

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6. POLÍCIA, CIDADANIA E OS DIREITOS HUMANOS

Autor do clássico “Reconstrução dos Direitos Humanos” (Companhia das Letras,


1991), Celso Láfer afirmou em Nova Iorque: O Brasil é uma nação predestinada à civilidade,
defendendo mais adiante os valores inerentes à democracia: o pluralismo, o respeito à
vontade da maioria, a tolerância com o outro, a busca do consenso e o primado do direito.
Não há nada que justifique o desrespeito aos direitos das minorias culturais, religiosas e
étnicas, qualquer que seja o pretexto, pois aigualdade só é real quando se respeita o
diferente, o heterogêneo. Istoprecisa ser bem compreendido e praticado. Como afirma
Austragésimo deAthayde, o principal redator da Declaração Universal dos Direitos do
Homem (Paris, 1998), o respeito aos direitos humanos é universal, nãopodendo ser violado
de nenhuma forma. Direitos humanos e cidadania são conceitos que estão ligados
à nossa atividade policial. Envolvem o exercício de nossas funções,balizando-as e tornando-
as instrumentos de maior importância para a avaliação do resultado de nossas atividades.
Qualificam-nas. São importantes, não somente os resultados, mas os instrumentos e
técnicas utilizadas para alcançá-los, de forma perene, democrática e que satisfaça e traga
confiança à população em geral. A devida compreensão dos direitos humanos e cidadania
nos remetem às origens do Estado. Como conceito de Estado, um dos mais comuns é a
confluência de uma população permanente, território definido e governo, que juntos são
organizados, e procuram pela sua autodeterminação e soberania interna e externa
(Convenção de Montevidéu sobre os Direitos e Deveres dos Estados, 1933). Até os dias
atuais, o conceito de estado/governo mudou muito.
Passamos por autocracias, plurocracias, aristocracias, e finalmente, a
democracia. Se é bom ou ruim, depende da participação de cada um. O Brasil é
país signatário das Convenções de Genebra, de Haia e da Carta da ONU (membro
fundador). E a partir de 1988, com a promulgação da Constituição Federal, fica
constitucionalmente assegurado o respeito aos tratamentos internacionais que
expressam direitos e garantias relativos aos indivíduos quanto a sua integridade
física, psíquica e moral (Parágrafos 1°e 2°, do art. 5°, CF/88).

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7. PAPEL DA POLÍCIA

Toda vez que o tema da violência e da criminalidade urbana é


chamadaà discussão, o ponto nevrálgico do debate acaba naturalmente sendo as
organizações policiais, cujo papel de manter a lei e preservar a ordem pública é direto e
executivo.
Nos noticiários da imprensa, em nossas conversas informais e mesmo nos fóruns
governamentais e acadêmicos somos inevitavelmenteconduzidos a enfrentar questões
com implicações práticas, e talvez por isso,muito espinhosas em relação às polícias.
De um lado, cobramos a pronta atuação e a produtividade dos meios da força
policial no enfrentamento da desordem, do crime e da violência;de outro, exigimos a
sua adesão e a sua subordinação incontestável aoestado de direito. Em uma frase,
cobramos que os policiais em cada curso de ação escolhido ou em cada ocorrência
atendida em alguma rua de nossacidade, produzam resultados efetivos sem violar as
garantias individuais e coletivas. Não há nada de absurdo nisso.

8. O COMPROMISSO DO POLICIAL MILITAR COM A “NÃO


DISCRIMINAÇÃO”

Todos os seres humanos nasceram livres e iguais na


sua dignidade e seus direitos. Todos os seres humanos
são dotados de direitos iguais e inalienáveis. Os
direitos humanos derivam da dignidade inerente à pessoa humana.
Os profissionais responsáveis pelo cumprimento da lei devem, durante todo o
tempo, cumprir o dever que lhes é imposto pela lei, servindoa comunidade e
protegendo todas as pessoas contra atos ilegais.
Devem ainda respeitar e proteger a dignidade humana; manter e elevar os direitos
humanos de todas as pessoas, até mesmo daqueles que violam a lei, porque a dignidade
do ser humano é dom divino e está acima de qualquer lei.
São especialmente protegidos pela lei: as mulheres, as crianças, os idosos e os
deficientes físicos.
Esta proteção especial, denominada discriminação positiva, não significa
discriminação, pois são segmentos da sociedade que são discriminados simplesmente pela
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condição que se apresentam, necessitando de mais atenção para que possam usufruir
os direitos a que todos fazem jus.
A não discriminação é um princípio fundamental, essencial à proteção eà promoção
de todos os direitos humanos. Todos os membros da família humana são dotados de
direitos iguais e inalienáveis. Isso significa que a polícia, ao exercer suas funções, deve dar
igual proteção a todos, não deve existir discriminação na atividade policial. Todos devem
receber a mesma intensidade de repressão e urbanidade.
A não discriminação está consagrada em diversos instrumentosinternacionais,
como na Declaração Universal dos Direitos Humanos, naConvenção Internacional dos
Direitos Civis e Políticos, na ConvençãoInternacional sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação Racial e outros.

O Estado, através da ação policial ou de qualquer outro modo, é proibido de


encorajar, promover ou apoiar qualquer tipo de discriminaçãocom base na raça, cor ou
origem ética.

9. OS MEIOS NÃO VIOLENTOS COMO PRIMEIRA TENTATIVA

Na medida do possível, os policiais devem aplicarmeios não violentos


antes de apelar para o uso da força e de armas de fogo. O policial
precisa ter qualificação para gerenciar crise, saber negociar e usar
diplomacia.
O policial exerce, aos olhos da sociedade, uma função na qual deve
primar pela técnica e correção de atitudes. Acompanhando o pensamento de Ricardo
Balestreri, “ao policial, portanto, não cabe ser cruel com os cruéis [...] Não se ensina
a respeitar desrespeitando, não se pode educar para preservar a vida matando, não
importa quem seja. O policial jamais pode esquecer que também o observa o
inconsciente coletivo (1998, p. 10)¹
________________________________
1 BALESTRERI Ricardo Brisola. Direitos Humanos: Coisa de Polícia – Passo fundo-RS, CAPEC, Paster
Editora, 1998

10. PRÁTICAS DE MEDIDAS HUMANITÁRIAS E DE MODERAÇÃO

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Toda vez que o uso da força e de armas de fogo for inevitável, os policiais devem
exercer moderação no seu uso, minimizando o dano e os ferimentos, respeitando e
preservando a vida humana.
Para estes fins, os policiais devem assegurar que a assistência médica seja
disponível, o mais cedo possível, a qualquer pessoa ferida ou atingida, e que os parentes
e amigos dessas pessoas sejam notificados.

11. USO DA FORÇA E DE ARMAS DE FOGO

Morte e ferimentos resultantes do uso da força devem ser comunicados aos


Superiores, e qualquer uso arbitrário e abusivo da força deve ser tratadocomo um crime.
Circunstâncias excepcionais ou calamidades públicas não justificam o abandono dos
princípios básicos.
A força não deverá ser usada em relação às pessoas que estão detidas, exceto
quando for absolutamente necessário para a manutenção da segurança e da ordem, ou
quando a segurança pessoal estiver ameaçada. Armas de fogo não deverão ser usadas
contra pessoas presas, exceto no casode defesa contra uma ameaça imediata de morte ou
de ferimentos graves, ou para prevenir a fuga de um preso, num caso que apresente esse
tipo de ameaça.
O uso de armas de fogo é permitido na autodefesa ou na defesa de outros, contra a
ameaça iminente de morte ou ferimento grave, ou para prender uma pessoa que exibe esse
tipo de ameaça, quando os meios menos extremados forem insuficientes. O uso letal
intencional de arma de fogo é proibido, exceto quando estritamente inevitável, para proteger
a vida.
Antes de usar armas de fogo contra pessoas, o policial deve identificar-se e dar uma
clara advertência. Deve ser dado um tempo para que a advertência seja observada, a
menos que isto represente probabilidade de morte ou de sério sofrimento para o policial
ou qualquer outra pessoa.O exercício do poder de usar a força pode afetar o direito mais

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ÉTICA, DIREITOS HUMANOS E PROFISSIONAL DE SEGURANÇA -
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importante que existe, o direito à vida. O uso da força pela polícia que resulta na
violação do direito à vida representa um claro fracasso de umdos principais objetivos
do policiamento, o da manutenção da segurança dos cidadãos. Dependendo das
circunstâncias, isto poderá ser uma grande quebra, tanto das leis criminais quando das
leis internacionais, que afirmam explicitamente que todos têm direito à vida, à liberdade e à
segurança, e que ninguém será privado arbitrariamente de sua vida.
Entre as privações arbitrárias da vida estão as mortes causadas por execuções
sumárias de criminosos, as mortes como consequência de tortura e maus-tratos, e mortes
causadas pelo uso excessivo da força por parte dos policiais.
As medidas para combater estas terríveis violações do direito à vida são expostas nos
Princípios sobre a Prevenção Eficaz e a Investigação de Execuções Ilegais,
Arbitrárias e Sumárias.
A arbitrariedade praticada pela polícia denota desconhecimento e incompetência
profissional.

12. POLICIAMENTO DE REUNIÕES PÚBLICAS

Na dispersão de reuniões públicas ilegais, mas não violentas, os policiais devem


evitar o uso da força, e quando isto não for viável, deverão restringir o uso ao mínimo
necessário. Ao dispersar reuniões públicas violentas, os policiais poderão usar armas
de fogo no desempenho de suas funções, somente quando for inviável o uso de meios
menos perigosos. Em todo caso, as armas de fogo somente deverão ser usadas para
autodefesa de outras pessoas ante a iminente ameaça de morte ou de ferimentos graves,
ou para prender uma pessoa que represente tais perigos. O uso intencional de força
mortífera somente poderá ser feito quando for absolutamente inevitável para salvar vidas.
Nas reuniões ilegais não violentas negocie. Nos demais casos, use astécnicas de
controle e a arma de fogo em último caso.

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ÉTICA, DIREITOS HUMANOS E PROFISSIONAL DE SEGURANÇA -
CIDAPS I/2021

13. O POLICIAL MILITAR E OS GRUPOS


VULNERÁVEIS

O policial militar é um cidadão muito especial, pois além de exigir que sua
dignidade e seus direitos sejam respeitados, tem a nobre missão de ser um agente de
promoção dos direitos humanos na comunidade.
Sua atuação profissional fará com que a lei seja aplicada e os direitos de todas as
pessoas também sejam respeitados, independente decor, raça, religião, sexo,
classe social, enfim, sem qualquer tipo de discriminação.
O policial militar é o primeiro beneficiário do exercício dos direitoshumanos.
Segundo entendimento da ONU, atentar contra a vida de um policial é atentar contra a
ordem social. O Estado deve criar condições deformação e treinamento, de trabalho, de
suporte material e humano para que a força policial atenda aos princípios de direitos
humanos, começandopela valorização do seu próprio elemento humano.

14. DIREITOS HUMANOS, A POLÍCIA E A PROTEÇÃO À


CRIANÇA E AO ADOLESCENTE

O Estatuto da Criança e do Adolescente é a lei brasileira que veio


disciplinar a questão dos menores de idade no país, adequando a
lei nacional à exigênciadas normas internacionais.
O policial militar, no seu trabalho diurno e na sua casa, como
pai, irmão, amigo, deve reconhecer em cada criança e adolescente
um sujeito de direito, e um ser merecedor de integral proteção em função de sua
condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.

Conforme o dispositivo da Lei (art. 2° do ECA), a criança, que é a pessoade


nascimento até 12 anos incompletos, e o adolescente, que é aquele entre12 e 18 anos de
idade, gozam de todos os direitos fundamentais à pessoa humana (art. 3° do ECA e art. 5°

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ÉTICA, DIREITOS HUMANOS E PROFISSIONAL DE SEGURANÇA -
CIDAPS I/2021
da CF/88).
É comum o policial deparar-se com crianças e adolescentes em logradouros
públicos, vulgarmente chamados de menores abandonados ou trombadinhas, porém não
pode este policial esquecer-se de que essascrianças e adolescentes têm também direito à
liberdade, respeito e dignidade (arts. 15 a 18 do ECA).
Devemos atentar que a abordagem com o fito de encaminhar osperambulantes para
abrigos, ainda que por pressões sociais, tornou-seinconstitucional, sendo também ilegal
qualquer apreensão para averiguação.O policial militar tem a obrigação moral de fazer valer
e cumprir os princípios do Estado que visam dar proteção integral à criança e ao
adolescente.

É importante ressaltar que a tolerância policial com a criança eo adolescente


infrator não pode ultrapassar aos limites de sua segurança pessoal.
Por isso, antes de sair para atender uma ocorrência envolvendocrianças ou adolescentes,
o policial militar deve esquecer os preconceitos e passar a atender alguns conceitos
básicos do ECA, previstos nos arts. 103,104 e 105.
O primeiro conceito é que a criança e o adolescente não cometem um crime ou
contravenção penal, mas sim ato infracional, ou seja, as condutas descritas no Código
Penal, bem como na lei de Contravenções Penais, serãochamadas em particular para os
adolescentes, de ato infracional.
Os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis, devendo ser considerados
para os efeitos da lei a idade do adolescente à data do fato, sendo que todos os direitos
individuais garantidos no art. 5° da CF/88, estendem-se a eles (art. 106, 107, 109, 110 e
111 do ECA). Após a identificação, a criança ou o adolescente só será apreendido em
flagrante delito de auto infracional ou com mandado judicial; a princípio, não deve ser
algemado nem ter tratamento degradante.
As medidas de proteção à criança e ao adolescente são previstos em lei. O não
cumprimento constitui crime. A prática de um ato infracional gera consequências
diferentes para crianças e adolescentes. Aos adolescentes são aplicadas as medidas
sócio- educativas (art. 112 do ECA) e às crianças as medidas de proteção (art.101 do ECA).
Tenha em mente que a prática deum ato infracional não gera impunidade, mas sim
uma tentativa de ressocializar a pessoa para a vida em comunidade.

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ÉTICA, DIREITOS HUMANOS E PROFISSIONAL DE SEGURANÇA -
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15. CONDUÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

EM FLAGRANTE DE ATO INFRACIONAL

Vimos primeiramente que o adolescente não é preso, mas simapreendido,


devendo desde logo ser conduzido à autoridade policialcompetente (art. 172, do ECA).
Se o ato infracional for cometido mediante violência ou grave ameaça à pessoa, a
autoridade policial lavra o Auto deApreensão em Flagrante Delito, e se não for, lavra-se
um Boletim de Ocorrência Circunstanciado (arts. 173 e 174 do ECA), podendo ser liberado
mediante compromisso dos pais ou responsáveis de apresentá-lo ao representante do
Ministério Público no mesmo dia ou no primeiro dia útil.

O ADOLESCENTE NÃO PODERÁ SER CONDUZIDO OU


TRANSPORTADO

a) Em compartimento fechado de veículo policial, ainda que o acesso ao banco


dianteiro esteja impedido por dispositivo de segurança. Não é vedado o transporte do
adolescente no banco traseiro da viatura policial.

b) Em condições atentatórias a sua dignidade ou que implique risco à sua


integridade física e mental (art. 178, do ECA).

Observação:
O uso de algema não é vedado, bem como a condução no compartimento fechado da
viatura, devendo a sua utilização justificar-se pelo desenvolvimento físico do adolescente
ou sua manifesta periculosidade, conforme exposto no Aviso n° 22, de 04 Fev 92, do
MinistérioPúblico.

O ADOLESCENTE NÃO SERÁ LIBERADO OCORRENDO QUALQUER DAS


SEGUINTES HIPÓTESES

a) Total impossibilidade de locomoção dos pais ou responsável;


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b) Prática de ato infracional grave, em regra ou crimes apenados comreclusão
cuja pena mínima cominada seja igual na superior a 3 (três) anos;
c) Prática de infração com violência ou grave ameaça a pessoa;
d) Infração cuja repercussão social justifique a internação do adolescente para
garantia de sua segurança pessoal ou manutenção da ordem pública.

Observação:
Não havendo entidade de atendimento à adolescente infrator (ECA, art. 90, VII), ou
repartição policial especializada, deverá o adolescente apreendido aguardar sua
apresentação ao Ministério Público em dependência separada da destinada a maiores.

OUTROS CASOS QUE REQUEIRAM ENCAMINHAMENTO

a) Crianças ou adolescente perdidos dos responsáveis ou acidentados,


solicitando SOS Criança ou Conselho Tutelar.

b) Crianças e adolescentes engraxates, vendedores, meninos de rua,a


princípio não serão encaminhados para polícia. Para os casos eventuais deve ser
solicitado o SOS Criança ou Conselho Tutelar.
c) Sempre que possível a assistência à criança deve ser feita pelas policiais
femininas.

16. POLÍCIA E DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES

A discriminação está intimamente relacionada com as mulheres, como


vítimas em certas situações e com a sua condição especial e necessidades
peculiares.
Em relação a esse tema, é muito importante a questão da
sensibilização. A questão é muito importante dentro das instituições policiais que
permanecem com um contingente predominantementemasculino, tanto do ponto de vista
numérico, quando cultural.
A sensibilização dos policiais para os Direitos Humanos das Mulheres, no
processo do cumprimento da lei deve constituir a finalidade primordial.

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CIDAPS I/2021
É necessário que os policiais executem todas as suas funções em consonância
com os princípios da não discriminação; evitem a vitimização e lidem com as suas
consequências; garantam que, ao lidar com asmulheres, a condição especial delas seja
respeitada e suas necessidadesespeciais sejam atendidas.
Se os policiais satisfizerem a todas essas exigências, irão prevenir, ou pelo
menos, remediar, erros ou danos importantes. Irão sensibilizar
amplamente a comunidade e, em alguns casos, prevenir danos muitomaiores ou mesmo
trágicos.
A discriminação no usufruto dos direitos humanos está proibida sobos principais
instrumentos de direitos humanos. Os estados são obrigados a garantir direitos iguais aos
homens e mulheres para usufruir de todos osdireitos civis e políticos. Esse tema está
especificamente na Declaração dosDireitos Humanos e na Convenção sobre a Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação contra Mulheres.

MULHERES COMO VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOS PARCEIROSMASCULINOS

A violência contra mulheres, por parte de seus parceiros masculinos, é uma grande violação
dos direitos humanos. Quando esta violência ocorre, isso significa que o Estado
fracassou na proteção do direitoà segurança da pessoa, e talvez mesmo, na tutela
do direito à vida, em relação às pessoas sob sua jurisdição.

MULHERES COMO VÍTIMAS DE CRIMES SEXUAIS

As vítimas de delitos sexuais, especialmente o estupro, têm sofrido mais ainda por
causa dos procedimentos antiquados e humilhantes que são utilizados na investigação
do fato. Isso tem dado lugar a uma série de reformas processuais e a programas
especiais para estas vítimas.
Vários Estados têm estabelecido programas segundo os quais eles garantem o
pagamento de todas as despesas médicas das vítimas, tanto para o seu restabelecimento
físico quanto para o psiquiátrico.
Outros Estados promulgaram normas que garantem a completa confidencialidade na
comunicação entre as vítimas do delito e os assistentessociais ou psicológicos.

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Essas leis reconhecem os danos que uma vítima sofreu nesse tipo de delito, um dos
mais prejudiciais do ponto de vista psicológico, e a maioria dos Estados teve que fazer
reformas substanciais nos seus códigos de procedimentos para prevenir abusos contra
as vítimas. Essas garantias contra o tratamento humilhante operam desde o momento em
quea vítima denuncia o delito e exigem que a polícia tome medidas para diminuir o dano
psicológico que produz na vítima a apresentação de umadenúncia desse tipo.
O abuso sexual de mulheres é uma grande violência dos direitos humanos,
constituindo em transgressões criminais. Por este motivo é responsabilidade da polícia
garantir sua eficácia, tanto na prevenção quantono desenvolvimento de tais crimes, e que
a resposta dada às vítimas seja humana e profissionalmente competente. Como prevenção,
a polícia deve aconselhar as mulheres sobre como evitar que se tornem vítimas de ataques
sexuais.
No caso de vítimas, o aparato policial deve propiciar um ambienteagradável
para a realização de entrevistas e exames, sem esquecer-se de coletar e preservar as
provas, tanto da vítima quanto da cena do crime.

PASSOS PRÁTICOS PARA ATENDER AOS PADRÕES INTERNACIONAIS

Evite atitudes, observações e condutas


discriminatórias em relação às mulheres;
a) Permaneça sensível aos direitos humanos das
mulheres durante as atividades policiais;
b) Faça prevalecer as medidas legais para
combater o tráfico, a exploração e a
prostituição de mulheres;
c) Lide eficazmente com a violência contra mulheres por parte dos seus parceiros
masculinos;
d) Trate eficazmente, com humanidade e sensibilidade, as mulheres que forem vítimas da
violência de seus parceiros ou vítimas de estupro ou outros abusos sexuais;
e) Respeite os direitos humanos e a condição especial das mulheres presas;
Trate as mulheres com toda consideração devida ao seu sexo, e proteja- as dos ataques a sua
honra, dos estupros e de outras formas de agressão

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ÉTICA, DIREITOS HUMANOS E PROFISSIONAL DE SEGURANÇA -
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17. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Violência doméstica significa agressão física ou mental a mulheres, quevão desde


pequenas agressões físicas até o assassinato, incluindo agressões
verbais constantes e privação parcial ou total de recursos para subsistência.

EXTENSÃO DO PROBLEMA

A incidência da violência doméstica trata-se de um problema oculto,mas ocorre em


famílias de todas as classes sociais e culturais.

EFEITOS E CAUSAS

Existem causas específicas, como o uso abusivo de bebidas alcoólicas ou drogas,


como também a dependência social, políticae econômica das mulheres em relação
aos homens, encontradas na estrutura social, nos hábitos culturais e nas crenças
concernentes à superioridade do macho.
Seus efeitos incluem a morte, o dano físico, problemas psicológicose prejuízos a outros
membros da família, principalmente às crianças.

O PAPEL ESSENCIAL DA POLÍCIA

A violência doméstica é um crime que ocorre dentro da família, entre pessoas


emocionalmente e financeiramente envolvidas umas com as outras. A Polícia, que possui
poderes de detenção, tem disponibilidade de policiais 24 horas por dia, e é capacitada para
tomar providências deemergência. É o órgão mais importante dessa questão. Não existe
aquela história de que em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher. Se ocorrer
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ÉTICA, DIREITOS HUMANOS E PROFISSIONAL DE SEGURANÇA -
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infração penal do marido contra a mulher, a polícia tem o dever de interferir. Ao tomar
conhecimento de qualquer forma de violência doméstica é seu dever intervir.

COOPERAÇÃO INTERINSTITUCIONAL

A violência doméstica é um problema complexo que exige esforços


de diversas pessoas, instituições e da comunidade em geral, como
educadores, organizações religiosas,assistentes sociais, grupos de
mulheres, abrigos e refúgios para vítimas. A
cooperação entre a polícia e essas pessoas ou grupos é essencial
para o necessário enfoque conjunto a ser adotado.
A violência entre marido e mulher é um dos problemas mais complexos com que
depara o sistema de justiça. As vítimas desses delitos, quase que exclusivamente
mulheres, frequentemente dependem emocional e economicamente do agressor, razão
pela qual estão à sua mercê, e geralmente não comparecem à polícia para denunciar o
fato.
Devemos atentar para a mudança na lei no que se refere a Violência contra a mulher.
Entrou em vigor esse ano a lei 13.104/15. A nova lei alterouo código penal para incluir mais
uma modalidade de homicídio qualificado,
o feminicídio: quando crime for praticado contra a mulher por razõesda condição de
sexo feminino.
O § 2º-A foi acrescentado como norma explicativa do termo "razões da condição
de sexo feminino", esclarecendo que ocorrerá em duas hipóteses:

a) violência doméstica e familiar;


b) menosprezo ou discriminação à condição de mulher; A lei acrescentouainda o §
7º ao art. 121 do CP estabelecendo causas de aumento de penapara o crime de
feminicídio.

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ÉTICA, DIREITOS HUMANOS E PROFISSIONAL DE SEGURANÇA -
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18. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os abusos e excessos no uso da força pela polícia podem ter um efeito de tornar
impossível a execução de uma tarefa que, por si só, já é difícil. Além disso, esses abusos
ou excessos servem para minar um dos objetivos primordiais do policiamento, o de manter
a paz e a estabilidade social. A ocorrência de incidentes como o uso excessivo da força
pela polícia podem resultar numa inquietação pública de tal monta e ferocidade, que
as instituições policiais se tornem temporariamente incapazes de manter a ordem ou de
proteger a segurança pública. A sociedade não aceita mais umapolícia violenta, mesmo
contra transgressores da lei. Contra criminosos só podem ser adotadas as medidas
previstas na lei.

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ÉTICA, DIREITOS HUMANOS E PROFISSIONAL DE SEGURANÇA -
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19. BIBLIOGRAFIA

CUNHA, Whitaker Fernando. Pensamento Hermenêutico e História. Rio deJaneiro, Edições


Tagore, 2000.
FRANKENA, W, K. Ética. Rio de Janeiro. Zahar. 1981
GALLO, SÍLVIO. Ética e Cidadania, Caminhos da Filosofia. São Paulo: Papirus Editora,
1997.
GUERREIRO, M. A.L. Ética mínima. Rio de Janeiro, Instituto Liberal. 1995. GUERREIRO,
M.A.L. Liberdade ou igualdade? Porto Alegre, Edipucrs. 2002. MESSNER, Johannes. Ética
Social. São Paulo, Editora Quadrante (USP), 1989.SINGER, Peter. Ética pratica. Tradução
de Jefferson Luiz Camargo. São Paulo
: Martins Fontes, 1994.
LYONS, David. As regras morais e a Ética. São Paulo, Papirus Editora, 1990.VALLS,
Álvaro L.M. O que é ética. São Paulo: Brasiliense, 1986.
VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. Rio de Janeiro: 23ª ed. CivilizaçãoBrasileira,
2002. JusBrasil. Disponível em:
http://aurineybrito.jusbrasil.com.br/artigos/172479028/lei-do-feminicidio- entenda-o-que-
mudou Acesso em 27 de maio de 2015.

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Caro aluno

Com o intuito de consolidar os conhecimentos estudados nesta disciplina,


preparamos alguns exercícios de fixação que irão auxiliá-lo a revisar e estudar o conteúdo
trabalhado.
Vale ressaltar que aqui disponibilizamos apenas exercícios de fixação, ou seja, o
conteúdo não está na íntegra. Selecionamos algumas atividades no intuito de otimizar e
auxiliar a construção do conhecimento.
Quando for estudar para avaliações sobre esta disciplina, consulte todo o material
disponibilizado. Não estude apenas pelos exercícios.
No caso de dúvidas ao realizar as atividades, consulte o material fornecido ou o tutor
da disciplina através da plataforma virtual de aprendizagem.
Disponibilizamos o gabarito no final das atividades para que possa avaliar seu
desempenho.

Bons estudos!!

Atenciosamente,
Equipe Pedagógica

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EXERCÍCIOS DE ÉTICA

1- Defina Moral.

2- Defina ética (com base em Vazquez).

3- Cite o objetivo da ética.

4- Cite o objetivo da moral.

5- Há relação entre moral e direito? Justifique.

6- O não cumprimento das normas morais prevê sanção do Estado?Explique.

7- Como os indivíduos devem se posicionar diante das normas jurídicas?


8- O Estado democrático de direito tem como característica o estabelecimento do
aparato estatal de segurança pública. O que acontece quando há desrespeito aos
direitos dos cidadãos?
9- As leis estabelecem padrões de comportamento, pois instituem modelosde conduta,
assim ela governa a comunidade social. Por quê?

10- Defina cidadão.

11- Segundo T.S Marshall, como cidadania pode ser definida?

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ÉTICA, DIREITOS HUMANOS E PROFISSIONAL DE SEGURANÇA -
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12- Segurança Pública articula-se à impessoalidade da lei para orientar o policial
a seguir o princípio da imparcialidade em sua atuação, que, em muitos casos, tratará da
mediação de conflitos. Deve-se ter em mente atensão entre a universalidade da lei e a
diversidade de valores dos grupos sociais presentes na sociedade. Desta forma,
relacione segurança pública e a atividade policial.
13- Quando foi adotado, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, o Código de
Conduta para os Funcionários Responsáveis pela aplicação da lei?

14- Considerando que um dos objetivos proclamados na Carta das Nações Unidas é
o da realização da cooperação internacional para o desenvolvimento e encorajamento
do respeito pelos direitos do homem. Complete a informação.

15- O que os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devemsempre


cumprir?
16- Comente o termo "funcionários responsáveis pela aplicação da lei", citando
o quem ele inclui.
17- O que os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem fazer para cumprir
o seu dever?

18- Quando os funcionários responsáveis pela aplicação da lei podem


empregar a força?

19- Embora se admita que os funcionários responsáveis pela aplicação da lei, de


acordo com as circunstâncias, possam empregar uma força razoável, de nenhuma
maneira ela poderá ser utilizada de forma desproporcional ao legítimo objetivo a ser
atingido, como se enquadra o uso de armas de fogo?
20- Com base no Art. 3º do Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis
pela aplicação da Lei, quando se admite o uso de armas de fogo?
21- Como os assuntos de natureza confidencial em poder dos funcionários
responsáveis pela aplicação da lei devem ser tratados?

22- Em qual artigo do Estatuto do Policial Militar temos “O sentimento do dever, o


pundonor policial militar e o decoro da classe impõem, a cada um dos integrantes da
Polícia Militar, conduta moral e profissional irrepreensíveis, com observância dos
seguintes preceitos da ética policial militar...” ?

23- Toda vez que o tema da violência e da criminalidade urbana é chamado à


discussão, o ponto nevrálgico do debate acaba naturalmente sendo as organizações
policiais. Por quê?

24- Todos os seres humanos nasceram livres e iguais na sua dignidade e seus direitos.
Todos os seres humanos são dotados de direitos iguais e inalienáveis.Os direitos
humanos derivam da dignidade inerente à pessoa humana. Sendo assim, assinale (V)
para verdadeiro e (F) para falso nas alternativas abaixo.

a) ( ) Os profissionais responsáveis pelo cumprimento da lei devem, durante todo o


tempo, cumprir o dever que lhes é imposto pela lei, servindo a comunidade e protegendo

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todas as pessoas contra atos ilegais.

b) ( ) Devem ainda respeitar e proteger a dignidade humana; manter e elevar os direitos


humanos de todas as pessoas, exceto daqueles que violama lei.
c) ( ) São especialmente protegidos pela lei: as mulheres, as crianças, os idosos e os
deficientes físicos.
d) ( ) Esta proteção especial, denominada discriminação positiva, não significa
discriminação, pois são segmentos da sociedade que são discriminados simplesmente
pela condição que se apresentam, necessitando de mais atenção para que possam
usufruir os direitos a que todos fazem jus.
e) ( ) A não discriminação é um princípio fundamental, essencial à proteção e à
promoção de todos os direitos humanos. Todos os membrosda família humana são
dotados de direitos iguais e inalienáveis. Isso significa que a polícia, ao exercer suas
funções, deve dar igual proteção a todos, não deve existir discriminação na atividade
policial. Todos devem receber a mesma intensidade de repressão e urbanidade.
f) ( ) A não discriminação está consagrada em diversos instrumentos internacionais,
como na Declaração Universal dos Direitos Raciais.
g) ( ) O Estado, através da ação policial ou de qualquer outro modo, é proibido de
encorajar, promover ou apoiar qualquer tipo de discriminação com base na raça, cor
ou origem ética.
25- Toda vez que o uso da força e de armas de fogo for inevitável, ospoliciais
devem exercer moderação no seu uso. Como?

26- Sobre o uso de armas de fogo, assinale (V) para verdadeiro e (F) para falso.
a) ( ) Morte e ferimentos resultantes do uso da força devem ser comunicados aos
Superiores, e qualquer uso arbitrário e abusivo da força deve ser tratado como um
crime. Circunstâncias excepcionais ou calamidades públicas justificam o abandono
dos princípios básicos.
b) ( ) A força não deverá ser usada em relação às pessoas que estão detidas, exceto
quando for absolutamente necessário para a manutenção dasegurança e da ordem, ou
quando a segurança pessoal estiver ameaçada.
c) ( ) Armas de fogo não deverão ser usadas contra pessoas presas, excetono caso de
defesa contra uma ameaça imediata de morte ou de ferimentos graves, ou para
prevenir a fuga de um preso, num caso que apresente essetipo de ameaça.
d) ( ) O uso de armas de fogo não é permitido na autodefesa ou na defesa de outros,
contra a ameaça iminente de morte ou ferimento grave, ou para

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ÉTICA, DIREITOS HUMANOS E PROFISSIONAL DE SEGURANÇA -
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prender uma pessoa que exibe esse tipo de ameaça, quando os meios menos
extremados forem insuficientes.
e) ( ) O uso letal intencional de arma de fogo é proibido, exceto quando
estritamente inevitável, para proteger a vida.

f)( ) Antes de usar armas de fogo contra pessoas, o policial deve identificar-se e dar
uma clara advertência. Deve ser dado um tempo para que a advertência seja
observada, a menos que isto represente probabilidade de morte ou de sério
sofrimento para o policial ou qualquer outra pessoa.
g) ( ) O exercício do poder de usar a força não pode afetar o direito mais
importante que existe, o direito à vida. O uso da força pela polícia que resulta na
violação do direito à vida representa um claro fracasso de um dosprincipais objetivos
do policiamento, o da manutenção da segurança dos cidadãos. Dependendo das
circunstâncias, isto poderá ser uma grande quebra, tanto das leis criminais quando
das leis internacionais, que afirmamexplicitamente que todos têm direito à vida, à
liberdade e à segurança, e que ninguém será privado arbitrariamente de sua vida.
h) ( ) Entre as privações arbitrárias da vida estão as mortes causadas por
execuções sumárias de criminosos, as mortes como consequência de tortura e maus-
tratos, e mortes causadas pelo uso excessivo da força por parte dos policiais.
i) (
) As medidas para combater estas terríveis violações do direito à vida são expostas
nos Princípios sobre a Prevenção Eficaz e a Investigaçãode Execuções Ilegais,
Arbitrárias e
Sumárias.

j) ( ) A arbitrariedade praticada pela polícia denota conhecimento e


competência profissional.
27- Na dispersão de reuniões públicas ilegais, mas não violentas, os policiais
devem evitar o uso da força, e quando isto não for viável, deverão restringir o uso ao
mínimo necessário. Porém, se as reuniões forem violentas, como os policiais devem
proceder?

28-O policial militar é o primeiro beneficiário do exercício dos direitos humanos. Qual
é o entendimento da ONU sobre isso?

29- O que é o Estatuto da criança e do Adolescente?

30- Com base no Estatuto da Criança e do Adolescente, use (V) para verdadeiro e
(F) para falso.
a) ( ) Antes de sair para atender uma ocorrência envolvendo crianças ou
adolescentes, o policial militar deve esquecer os preconceitos e passar a atender
alguns conceitos básicos do ECA, previstos nos artigos 103, 104 e 105.

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ÉTICA, DIREITOS HUMANOS E PROFISSIONAL DE
SEGURANÇA - CIDAPS I/2021

b) ( ) O primeiro conceito é que a criança e o adolescente não


cometem um crime ou contravenção penal, mas sim ato infracional, ou
seja, as condutas descritas no Código Penal, bem como na lei de
Contravenções Penais, serão chamadas em particular para os
adolescentes, de ato infracional.

c) ( ) Os menores de 16 anos são penalmente inimputáveis, devendo


ser considerados para os efeitos da lei a idade do adolescente à data do
fato, sendo que todos os direitos individuais garantidos no art. 5° da CF/88,
estendem-se a eles (art. 106, 107, 109, 110 e 111 do ECA). Após a
identificação, a criança ou o adolescente só será apreendido em flagrante
delito de auto infracional ou com mandado judicial; a princípio, não deve ser
algemado nem ter tratamento degradante.
d) ( ) A prática de um ato infracional gera consequências diferentes
para crianças e adolescentes. Aos adolescentes são aplicadas as
medidas socioeducativas (art. 112 do ECA) e às crianças as medidas de
proteção (art. 101 do ECA). Tenha em mente que a prática de um ato
infracional não gera impunidade, mas sim uma tentativa de
ressocializar a pessoa para a vida em comunidade.
e) ( ) O adolescente pode ser transportado em compartimento fechado
deveículo policial, sem necessitar de qualquer justificativa, desde que
tenha cometido ato infracional.
f) ( ) É vedado o transporte do adolescente no banco traseiro da viatura
policial.

31- Cite os casos em que o adolescente não poderá ser liberado.


32- Não havendo entidade de atendimento à adolescente infrator
(ECA, art.90, VII), ou repartição policial especializada, o que deve ser feito
quando um adolescente cometer um ato infracional?

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GABARITO

1- Moral é um sistema de normas, princípios e valores que


regulamentam as relações entre os indivíduos, que variam de
acordo com o tempo e o espaço e que são aceitas livre e
conscientemente portodos.

2- Ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos


homens em sociedade” e sua função básica é “explicar, esclarecer
ou investigar uma determinada realidade, elaborando os conceitos
correspondentes.

3- Orientar a reflexão crítica sobre as decisões e escolhas


e refletir sobre as ações humanas, compreendendo sua variação no
tempo histórico e em diferentes regiões.

4- É o convívio harmônico entre os indivíduos através da


regulamentação de suas relações entre si. Por isso as obrigações
morais são determinadas por regras socialmente aceitas.

5- Sim. Moral e Direito estão relacionados na medida em


que regulam o convívio entre os indivíduos. Ambos postulam
normas de conduta visando a garantia de uma coesão social. Assim,
temos as normas morais e as normas jurídicas.
Moral e Direito estão atrelados entre si devido à importância de
ambos na sociedade. O primeiro influencia o segundo na medida
em que este não pode ser imoral, diferente das normas e regras
de convívio estabelecidas pelo grupo social. Desse modo, o Direito
é influenciado pela Moral em seu processo de formação.

6- Não. As normas morais são cumpridas, pois exigem adesão


e crença nas mesmas pelos indivíduos. Não são garantidas por
nenhumdispositivo coercitivo, apenas pela aceitação do sujeito, ou
seja, sua violação não ocasiona sanção do Estado.

7- Normas jurídicas não exigem adesão íntima dos indivíduos,


pois os mesmos devem cumpri-la, mesmo que discordem dela.
Exigem um dispositivo que imponha penas, pois o Estado determina
normas jurídicas como padrão de comportamento, ou seja, sua
violação ocasiona sanção do Estado.

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8- O desrespeito aos direitos dos cidadãos e a inadequação das


práticaspoliciais aos mesmos acarreta em problema para o próprio
Estado democrático. De modo que a Polícia Cidadã é um aspecto
fundamentalda democracia.

9- Porque as leis são configuradas pelos valores morais que


o grupo social possui e determina.

10- Cidadão é o indivíduo em um estado democrático de direito


que possui direitos civis e políticos que são iguais para todos: daí o
princípio da igualdade.

11- Como um status que em princípio repousa sobre os


indivíduos e que implica igualdade de direitos e obrigações,
liberdades e constrangimentos, poderes e responsabilidades.
Desdea antiguidade até a modernidade, cidadania tem uma relação
de reciprocidade dos direitos e deveres entre a comunidade política
e o indivíduo.

12- A atividade policial está diretamente envolvida com a


diversidade, sendo fundamental prevalecer a universalidade e a
imparcialidade da lei.

13- O referido código foi adotado pela Assembleia Geral das


NaçõesUnidas, no dia 17 de
Dezembro de 1979, através da Resolução nº 34/169.

14- E das liberdades fundamentais para todos, sem distinção


de raça, sexo, língua ou religião.

15- O dever que a lei lhes impõe, servindo a comunidade e


protegendo todas as pessoas contra atos ilegais, em
conformidade com o elevado grau de responsabilidade que a
sua profissão requer.

16- Inclui todos os agentes da lei, quer nomeados, quer eleitos,


que exerçam poderes policiais, especialmente poderes de detenção
ou prisão. Nos países onde os poderes policiais são exercidos por
autoridades militares, quer em uniforme, quer não, ou por forças de
segurança do Estado, será entendido que a definição dos
funcionários responsáveis pela aplicação da lei incluirá os
funcionários de tais serviços.

17- No cumprimento do dever, os funcionários responsáveis


pela aplicação da lei devem respeitar e proteger a dignidade
humana, manter e apoiar os direitos humanos de todas as pessoas.

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18- Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só
podem empregar a força quando estritamente necessária e na
medida exigida para o cumprimento do seu dever.

19- O emprego de armas de fogo é considerado uma medida


extrema,ou seja, deve-se fazer todos os esforços no sentido de
restringir seu uso, especialmente contra crianças.

20- Em geral, armas de fogo só deveriam ser utilizadas


quando um suspeito oferece resistência armada ou, de algum outro
modo, põe em risco vidas alheias e medidas menos drásticas são
insuficientespara dominá-lo. Toda vez que uma arma de fogo for
disparada, deve-se fazer imediatamente um relatório às autoridades
competentes.

21- Os assuntos de natureza confidencial em poder dos


funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem ser mantidos
confidenciais, a não ser que o cumprimento do dever ou
necessidade de justiçaestritamente exijam outro comportamento.

22- Artigo 27.

23- Porque as organizações policiais possuem o papel de


manter a lei epreservar a ordem pública.

24- a) (v) b) (F) c) (V) d) (V) e) (V) f) (F) g) (V)

27- Minimizando o dano e os ferimentos, respeitando e preservando


avida humana. Para estes fins, os policiais devem assegurar que a
assistência médica seja disponível, o mais cedo possível, a qualquer
pessoa ferida ou atingida, e que os parentes e amigos dessas
pessoassejam notificados.

28- a) (F) b) (V) c) (V) d) (F) e) (V) f) (V) g) (F) h) (V) i) (V) j) (F)

29- Ao dispersar reuniões públicas violentas, os policiais


poderão usar armas de fogo no desempenho de suas funções,
somente quando for inviável o uso de meios menos perigosos.
Em todo caso, as armas de fogo somente deverão ser usadas para
autodefesa de outraspessoas ante a iminente ameaça de morte ou
de ferimentos graves, oupara prender uma pessoa que represente
tais perigos.

30- Atentar contra a vida de um policial é atentar contra a ordem


social.O Estado deve criar condições de formação e treinamento, de

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trabalho, de suporte material e humano para que a força policial
atenda aos princípios de direitos humanos, começando pela
valorização do seu próprio elemento humano.

31- O Estatuto da Criança e do Adolescente é a lei brasileira


que veio disciplinar a questão dos menores de idade no país,
adequando alei nacional à exigência das normas internacionais.

32- a) (V) b) (V c) (F) d) (V) e) (F) f) (F).

33- a) Total impossibilidade de locomoção dos pais ou responsável;


b) Prática de ato infracional grave, em regra ou crimes
apenados com reclusão cuja pena mínima cominada seja igual na
superior a 3(três) anos;
c) Prática de infração com violência ou grave ameaça a pessoa;
d) Infração cuja repercussão social justifique a internação do
adolescente para garantia de sua segurança pessoal ou
manutençãoda ordem pública.

34- O adolescente apreendido deverá aguardar sua


apresentação aoMinistério Público em dependência separada da
destinada aos maiores de idade.

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