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SEGURANÇA PÚBLICA
NOÇÕES DE DIREITO
Diretora Pedagógica
Lilian Regina Gomes Guerra Lemos
Coordenação Pedagógica
Vanessa Rodrigues Rabelo
Fabiana Gomes Prais
Conteúdo
Otávio Augusto Oliveira Lana1
Belo Horizonte, MG
2022
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Especialista em Criminologia e Administração Pública. Graduado em Direito. Atua como
servidor da Assessoria da Subsecretaria de Integração de Segurança Pública.
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SUMÁRIO
1. Direito Administrativo .................................................................................... 5
1.1. Introdução ao Direito Administrativo ....................................................... 5
1.1.1. Conceito de Estado............................................................................. 5
1.1.2. Poderes do Estado e Funções ............................................................ 6
1.1.3. Administração Pública (sentido formal e material) ........................... 6
1.1.4. Princípios da Administração Pública .................................................. 7
1.2. Poderes e deveres dos administradores públicos .................................... 9
1.2.1. Uso e abuso de poder ........................................................................ 9
1.2.2. Poderes administrativos..................................................................... 9
1.2.3. Deveres dos administradores públicos ............................................ 10
1.2.4. Hierarquia e disciplina ...................................................................... 11
1.3. Organização administrativa .................................................................... 12
1.3.1. Descentralização e desconcentração ............................................... 12
1.3.2. Administração Direta e Indireta ....................................................... 12
1.4. Atos administrativos ............................................................................... 13
1.4.1. Atos administrativos e atos da administração. Conceitos. .............. 13
1.4.2. Atributos do ato administrativo ....................................................... 14
1.4.3. Elementos do ato administrativo ..................................................... 14
1.4.4. Ato discricionário e ato vinculado.................................................... 15
1.4.5. Revogação e anulação do ato administrativo .................................. 15
1.5. Agentes públicos ..................................................................................... 16
1.5.1. Classificação dos agentes públicos .................................................. 17
1.5.2. Servidores públicos .......................................................................... 17
1.5.3. Regimes jurídicos funcionais ............................................................ 18
2. Crimes Contra a Administração Pública ....................................................... 19
2.1. Introdução ............................................................................................... 19
2.2. Crimes funcionais e conceito de funcionário público ............................. 20
2.3. Crimes praticados por funcionário público contra a administração em
geral 20
2.4. Crimes praticados por particular contra a administração em geral ....... 26
2.5. Crimes contra a administração da justiça ............................................... 27
3. Abuso de autoridade ..................................................................................... 29
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1. Direito Administrativo
2.1. Introdução
Vimos nos itens anteriores que a administração pública e a conduta dos
agentes públicos são pautadas por uma série de princípios, deveres e atributos
para execução de atos. Qualquer violação dessas regras poderá implicar na
apuração de ilícitos administrativos a aplicação de sanções correspondentes.
Além das penas administrativas, o agente público submete-se à avaliação
criminal de sua conduta, conforme suas ações possam ser enquadradas em algum
dos tipos penais previstos no Código Penal de 1940. Não se trata de sancionar o
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São os crimes previsto nos artigos 312 a 325 do Código Penal Brasileiro,
sendo que nesta oportunidade, veremos os seguintes:
a) Peculato
O crime de Peculato se divide em seis espécies e abrange o art. 312 e 313.
São classificados no art. 312 em: Peculato apropriação - art. 312, caput, 1ª parte;
Peculato desvio - art. 312, caput, 2ª parte; Peculato furto - art. 312, § 1°; Peculato
culposo - art. 312, § 2°; Peculato mediante erro de outrem ou peculato-
estelionato- art. 313; Peculato eletrônico - arts. 313-A e 313-B.
Os peculatos apropriação e desvio são denominados próprios e
consistem na apropriação indébita cometido por funcionário público,
apoderando de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel e lesionando o
patrimônio do Estado.
O peculato desvio, estrutura na 2ª parte do caput do artigo citado, em
que o funcionário emprega a coisa sob sua guarda em finalidade distinta da
destinação específica, em proveito próprio ou alheio. O desvio tem de ser em
proveito próprio do funcionário ou a terceiros.
O peculato furto é chamado de peculato impróprio, pela facilidade de
empregar o ato pela qualidade de funcionário, e consiste na subtração de coisa
ou auxílio para que outro subtraia a coisa sob guarda da administração pública.
Para consumação desse crime, basta a subtração, não sendo necessário
comprovação de que foi mantida posse da coisa subtraída.
O peculato culposo equivale na conduta típica em que o funcionário por
negligência, imprudência ou imperícia concorre na efetivação da prática do crime
de outrem, sendo particular ou funcionário e em qualquer das espécies de
peculato. Por ser a modalidade culposa não admite tentativa.
Peculato mediante erro de outrem ou peculato-estelionato é quando o
funcionário público apropria de dinheiro ou qualquer outra utilidade por erro de
outrem. Esta conduta típica é por meio do dolo. E resulta que “não é necessária
a existência do dolo no momento do recebimento da coisa, mas deve existir no
instante em que o funcionário dela se apropria.
E o crime de peculato eletrônico (arts. 313-A e 313-B) referem-se à
Inserção de dados falsos em sistema de informações e modificação ou alteração
não autorizada de sistema de informações. São inovações da Lei Federal
9.983/2000 que considera a relação da guarda de dados pela administração
pública, em um mundo cada vez mais informatizado. O que se criminaliza aqui é
a alteração indevida de informações, seja por inserção de dados falsos, seja por
qualquer alteração de dados já existentes nos sistemas de informação ou bancos
de dados da administração pública.
d) Concussão
O art. 316 dita ser crime “Exigir, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão
dela, vantagem indevida”. Estabelece, ainda, penas maiores “se o funcionário
exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou,
quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não
autoriza”, sendo este o delito chamado de “excesso de exação”, ou “se o
funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu
indevidamente para recolher aos cofres públicos”.
Por ser delito próprio só pode ser praticado por funcionário público,
mesmo que não tenha assumido o cargo ainda, mas que age em razão deste. E
esta vantagem indevida relaciona em ser ilícita sendo atual ou futura.
e) Corrupção passiva
A corrupção passiva é um crime praticado em desfavor da administração
pública, e está previsto no art.317 do Código Penal Brasileiro:
“Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas
em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal
vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da
vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar
qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.
§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de
ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou
influência de outrem:
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f) Prevaricação
Na prevaricação (art.319), são verificadas as seguintes condutas
cometidas pelo funcionário público: retardar ato de ofício, que significa protelar,
procrastinar, atrasar o ato que deve ser executado; deixar de praticar ato de
ofício, que significa omitir-se na realização do ato que deveria ser executado; e
praticar ato de ofício contra disposição expressa de lei, que significa executar o
ato de ofício de maneira ilegal.
Para que exista o crime, o agente deve agir com o intuito de satisfazer
interesse (cobiça, vaidade, vingança, por exemplo) ou sentimento pessoal (amor,
ódio, simpatia, corporativismo, coleguismo, amizade). Subsiste o crime de
prevaricação ainda que o sentimento pessoal do funcionário público seja nobre
ou respeitável (dó, piedade, comiseração). Não é necessário receber vantagem
ou promessa de vantagem.
g) Prevaricação imprópria
A Lei Federal 11.466/2007 trouxe para o Código Penal Brasileiro o
art.319-A, definido a figura pena a que se denominou “prevaricação imprópria”:
“Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir
seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou
similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente
externo
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano”.
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h) Condescendência criminosa
É o crime previsto no art.320 que penaliza o agente púbico que deixar,
“por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no
exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao
conhecimento da autoridade competente”. Trata-se de violação dos poderes de
hierarquia e disciplina do superior em relação ao subordinado, permitindo que
este não seja punido pela infração cometida, mesmo que o superior não seja
competente para sancionar a conduta.
Para que seja considerada como criminosa, o agente deve ser
hierarquicamente superior ao funcionário que cometeu a infração administrativa
ou penal e deve deixar de apurar o fato cometido pelo subordinado que cometeu
a infração ou não lhe aplicar a sanção adequada, dentro da esfera de sua
competência ou, se não possuir competência para apuração do fato ou aplicação
de sanção, deixar e comunicar o fato ao agente que tenha competência para
tanto. Além disso, é necessário que o funcionário subordinado pratique uma
infração, penal ou administrativa, no exercício de seu cargo.
i) Advocacia administrativa
No Código Penal brasileiro, o patrocínio, pelo funcionário público, de
interesse privado perante a administração pública constitui o crime de Advocacia
Administrativa, previsto no art.321, que define a conduta criminosa como
“patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração
pública, valendo-se da qualidade de funcionário”.
Trata-se de apropriar-se da condição de funcionário público para fazer
valer interesses de particulares, legítimos ou ilegítimos (neste último caso, há
aumento de pena). Prevalece na doutrina e na jurisprudência o entendimento de
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j) Violência arbitrária
Consiste na prática de violência, no exercício de função ou a pretexto de
exercê-la (art.322). A violência, por sua vez, deve ser física, abrangendo vias de
fato, lesão corporal ou homicídio. O emprego da violência deve ser arbitrário não
se englobando situações, como por exemplo, de legitima defesa ou estrito
cumprimento do dever legal.
Deve-se notar, contudo, que existe posição de que o art.322 do Código
Penal esteja revogado desde o advento da Lei Federal 4.898/1965 (abuso de
autoridade).
k) Abandono de função
O fato do funcionário púbico se ausentar do serviço público de forma
intencional sem que haja qualquer justificativa configura como crime de
abandono de função (art.323). Importante notar que na legislação penal não há
um prazo para caracterização do crime. A ausência deve se dar por prazo
juridicamente relevante, a ser avaliado em cada caso, considerando, ainda, o
nível de prejuízo à administração pública.
Esse crime não se compara com a previsão de falta disciplinar da lei
administrativa por abandono de cargo (passível de demissão na maioria dos
casos), pois há independência entre as esferas. Assim, não se vincula o tipo penal
ao prazo estipulado nessas leis, bastando avaliar o descaso com o serviço público.
l) Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado
Diz o art.324 ser crime “entrar no exercício de função pública antes de
satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois
de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso”.
Trata-se do exercício de atividade pública por pessoa não autorizada para
tanto. Deve notar que, na primeira parte, temos o caso de alguém que não
cumpriu as exigências para ingresso no serviço público, tais como, aprovação em
concurso, conforme o caso, tomada de posse em entrada em exercício, mas,
ainda assim, inicia suas atividades no serviço público. Na parte final, temos o caso
do funcionário que, comunicado formalmente d seu desligamento ou suspensão,
continua a exercer a atividade púbica.
c) Favorecimento real
Esse crime se divide em dois artigos do Código Penal Brasileiro. O
primeiro (art.349) define crime a conduta de “prestar a criminoso, fora dos casos
de coautoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do
crime”. O segundo artigo (art.349-A), define crime a conduta de “Ingressar,
promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de
comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em
estabelecimento prisional”. Diz-se “favorecimento real”, pois há um auxílio
material ilegal ao criminoso ou ao preso.
No primeiro caso, o crime de consuma, com a prestação do auxílio,
independentemente do êxito em tirar proveito do objeto do crime anterior, por
exemplo, se uma pessoa rouba um carro e pede a outra para esconder. O fato é
crime, mesmo se o carro vier a ser descoberto e o criminoso que roubou o veículo
não puder tirar proveito do mesmo.
O crime relacionado à entrada de aparelhos de comunicação para presos
foi inserido no Código Penal Brasileiro pela Lei Federal 12.012/2009, com o intuito
de coibir, inclusive os servidores públicos, a atuação no sentido de permitir a
comunicação ilegal dos presos com pessoas fora da prisão. Essa comunicação
ilegal auxilia os membros de quadrilhas e organizações criminosas a continuarem
promovendo delitos em sua esfera de influência.
Trata-se de tipo alternativo, nada impedindo, contudo, o acúmulo das
ações (o agente pode ingressar com o aparelho, ao mesmo tempo em que está a
auxiliar outrem em idêntica empreitada). Quaisquer das ações empreendidas
levam à caracterização do ilícito.
Não se exige a utilização do equipamento ou a sua capacidade de
funcionar. Basta que sejam realizadas as condutas escritas no artigo e que não
haja autorização legal para a entrada ou uso do equipamento pelo preso (é
preciso haver a intenção de proporcionar o equipamento ao preso).
d) Fuga de pessoa presa ou submetida a medida de segurança
É o crime previsto no art.351 que visa punir a conduta de “promover ou
facilitar a fuga de pessoa legalmente presa ou submetida a medida de segurança
detentiva”. Trata-se de dar causa ou favorecer a fuga de pessoas presa ou em
cumprimento de medida detentiva, inclusive de viaturas usadas no transporte de
detentos. Também comete o crime quem, ciente das manobras fugitivas e tendo
o dever legal de impedir o ilícito, se omite diante do caso, permitindo a evasão.
Se o crime é praticado a mão armada (qualquer tipo de arma), ou por
mais de uma pessoa, ou mediante arrombamento, a pena será aumentada.
Ademais, se for consumada algum tipo de agressão física, aplica-se também a
pena correspondente à violência cometida (lesão, corporal, homicídio, entre
outros). Também há aumento de pena se o crime for praticado justamente por
pessoa que possui o dever de custodiar ou guardar o preso. Também é punível a
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3. Abuso de autoridade
4.1. Introdução
Anteriormente, falamos sobre os princípios da administração pública,
deveres do agente público e requisitos dos atos administrativos. Registrou-se,
assim, que o agente público deve, em suas atividades agir com ética, honestidade
e moralidade administrativa, ou seja, na condução das atividades públicas, o
administrador deve ser probo, possuir as qualidades de caráter e honradez
necessárias ao exercício da função pública.
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5. Crime de tortura
5.1. Introdução
A tortura é uma das condutas mais desprezíveis que um ser humano pode
dispensar a outro. No que concerne aos atos praticados pelo administrador
público, trata-se de conduta absolutamente reprovável e injustificável, servindo
apenas para demostrar a inépcia, a incapacidade e a total falta de respeito a
qualquer básico da administração pública.
Dito isso, podemos definir a tortura como ato de violência que alguém
pratica contra outrem para satisfação de desejo obscuro de sua psique ou, mais
comumente, para atingir alguma finalidade ou proveito.
Ainda assim, é a tortura utilizada desde o início da história humana, seja
pelo mais forte para fazer valer sua vontade, seja, mais tarde, pelos estados como
meio de controle social.
Até o século XVIII era comum e aceitável a prática da tortura que era até
mesmo institucionalizada como meio de obtenção da prova de confissão.
A partir daí, com a crescente noção de que os estados e governantes
devem se limitar pela lei e que a pesar da prevalência do interesse público há de
existir certos direitos e garantias que protegem o indivíduo contra os abusos dos
representantes do estado, gradativamente as constituições dos países ocidentais
passaram a vedar e condenar a prática da tortura.
Essa tendência encontraria sua maior expressão ao final da Segunda
Guerra Mundial e a criação da comunidade internacional a partir de então. De
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REFERÊNCIAS
CARVALHO FILHO, José dos S. Manual de Direito Administrativo. 32ª ed. São
Paulo, Atlas, 2018.
DI PIETRO, Maria Sylvia Z. Direito Administrativo. 14ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.
MINAS GERAIS. Lei n. 869, de 05 de julho de 1952. Dispõe sobre o Estatuto dos
Funcionários Públicos Civis do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte/MG.
Disponível em
https://www.almg.gov.br/consulte/legislacao/completa/completa-nova-
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NORONHA, Edgar Magalhães. Direito Penal. 4v. 32ª.ed. São Paulo: Saraiva, 1997.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato Social. Princípios de Direito Político. Trad.
Antônio de P. Machado. s.ed. [s.l]: Ediouro, [19--].