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Deontologia Policial Militar.

1. A Profissão PM e sua Deontologia

Em Novembro de 1807, quando as tropas napoleônicas invadiram Portugal,


comandadas pelo General Junot, conseguiram ocupar o território, mas não subjugaram o
Estado Português. A Família Real e Corte Portuguesa, desde 27 de Novembro, deixaram
estrategicamente o Porto de Lisboa com destino às terras do Brasil.
Depois de aportar em Salvador, na
Bahia, a Comitiva Real desembarcou no Rio
A profissão PM, pela sua
de Janeiro, em 7 de Março de 1808. A partir singularidade e por se constituir
desta data, a cidade do Rio de Janeiro num serviço público indispensável
começa a passar por profundas modificações. para o funcionamento estável da
sociedade, requer, por estas razões,
De Colônia à Sede do Governo Português.
além de seleção, recrutamento,
Por Decreto assinado pelo Príncipe Regente, formação, educação continuada,
D. João, em 13 de maio de 1809, é criada a critérios, parâmetros, controles e
requisitos específicos, de uma
Divisão Militar da Guarda Real de Polícia
Deontologia própria, alicerçada em
da Corte. deveres e valores compatíveis com
No Decreto, D. João argumenta sobre o exercício da profissão.
“a absoluta necessidade de prover a No contexto da modernidade, a
segurança e tranquilidade pública à cidade orientação da conduta de
profissionais, nas diversas
do Rio de Janeiro”.
instituições públicas devem se
Trata-se da certidão de nascimento da inspirar nos princípios da ética, da
democracia, da justiça, da
PMERJ, num contexto histórico-cultural legalidade, da responsabilidade e da
riquíssimo, a partir da qual se delineia a transparência.
construção de identidade de uma instituição “Ser policial é, sobretudo uma
razão de ser.” (Canção do Policial
pública, compromissada em servir e
Militar).
proteger.
Surge a Profissão PM, marcada com suas particularidades, seus desafios, seus
dilemas e as suas conquistas. No convívio com esta cultura corporativa, o policial
militar é inserido, sendo capacitado física, intelectual e moralmente.
Os contextos sociopolíticos vividos pela sociedade brasileira ao longo de seu
processo histórico-cultural vêm demonstrando a imensa capacidade de adequação da
PMERJ a todas as transformações ocorridas em cada etapa dos cenários acima
elencados. O Primado da Lei é o maior balizador das ações policiais.
Na atual conjuntura, caracterizada como sociedade pós-moderna e estruturada no
Estado Democrático de Direito, a Profissão PM deverá ser exercida por profissionais
capacitados e conscientizados de seus papéis sociais. Serão necessários conhecimentos
básicos sobre as tendências e as mudanças deste novo tempo, visando compatibilizar o
preparo acadêmico (legal - ético - humanístico) com as práticas policiais (operacional -
adestramento - incursões, etc.).
Este perfil do policial militar sintonizado com a realidade social nos encoraja a
acreditarmos numa polícia melhor, num policial consciente e integrado à sociedade,
buscando, a cada dia, em cada dever cumprido, a aceitação e a legitimidade do trabalho
policial militar.
O termo ‘Deontologia’ designa a ciência ou a teoria (logos) do que é preciso fazer
(dever em grego, deon). Essa palavra, criada por Jeremias Benthan 1(1748-1832) e que
significava moral geral, veio a assumir uma acepção muito particular: a de um conjunto
de regras e de deveres profissionais. Daí surge os “Códigos de Conduta”, os quais
representam as regras e os deveres inerentes ao exercício das profissões.
A Deontologia e, em especial, a Deontologia Policial Militar deve basear-se na
ética autêntica, ou seja, na ética fundadora dos princípios. Desta forma, são possíveis as
análises reflexivas sobre valores e sobre retomadas teóricas relativas às práticas e às
normas de condutas policiais militares. Em outras palavras, a Deontologia PM deve ser
trabalhada à luz de uma permanente consciência comandada pela reflexão, descartando-
se a possibilidade de torná-la uma ética profissional aplicada segundo um enganoso e
oportunista moralismo.

A Deontologia Policial Militar trata, pois, do comportamento que todo policial


militar deve ter no exercício correto da sua profissão. Na década de 60 era comum ouvir
dos instrutores e professores que a ‘polícia é o reflexo da sociedade’. Hoje,
questionamos essa assertiva e afirmamos que o policial, por ser um ‘guardião da
sociedade’, tem que possuir um comportamento ético superior, o qual, infelizmente,
grande parte da sociedade contemporânea não possui. Cada Policial Militar tem que
desenvolver uma consciência nítida sobre a nobreza da sua atividade, pois ele é o

 Filósofo, jurista e um dos últimos iluministas a propor a construção de um sistema de filosofia


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moral.
principal defensor da cidadania e muitas das vezes o primeiro contato do cidadão com o
Estado.
Em nada significaria se, na vida prática, nas ações policiais, o profissional da
polícia não soubesse demonstrar, conscienciosamente, com escrúpulo e dignamente,
todos os ensinamentos teórico-práticos aprendidos no seu período de capacitação,
especialização e aperfeiçoamento. Não basta aprender a aprender. Será preciso aprender
a aprender, aprender a fazer e aprender a ser! Eis o desafio! Aliás, ser policial militar é
uma razão de ser!
A Deontologia Policial Militar, assim, é a fonte da moralidade profissional.
Mesmo que o policial traga do berço familiar uma aprimorada educação moral e outros
valores desenvolvidos em outras instâncias socializadoras, a nossa Deontologia será o
porto seguro a orientar e a inspirar este policial no cumprimento de seu dever, com a
marca da dignidade e da honradez.
As práticas policiais, ou seja, as condutas dos policiais no cumprimento de seus
deveres, serão tanto mais completas, transparentes, conscientes e legitimadas, quanto
mais nítidas, profundas e continuadas forem as lições hauridas na Deontologia Policial
Militar.
Neste sentido, percebe-se a real importância das reflexões sobre a Deontologia
Policial, a razão direta de sua utilidade, de sua conveniência teórica e prática, de sua
riqueza doutrinal e de sua profunda beleza humana.
Portanto, as bases da conduta policial ética e legal são o respeito à lei, o respeito
à dignidade humana e, através desses meios, o respeito pelos Direitos Humanos. É a
partir desses princípios fundamentais que se baseia a atividade policial ética e legal. É
desses princípios que derivam todas as demais exigências e disposições pertinentes à
conduta policial ética e legal. Reflita sobre esses princípios!

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