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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO

PARECER Nº 14.300

Administração Pública Estadual.


Procedimentos administrativos.
Uniformização.

A Subchefia Jurídica e Legislativa da Casa Civil consulta esta


Procuradoria-Geral do Estado acerca da utilização de termos e expressões
nos atos administrativos, tendo em vista os efeitos jurídicos que geram na
situação funcional dos servidores públicos.

Os termos arrolados na consulta são: (a) declara sem efeito;


(b) torna sem efeito; (c) insubsistente; (d) retificação; (e) revogação; (f)
apostila; (g) revisão; e (h) cassação de aposentadoria.

É o sucinto relatório.

Não cabe aqui um amplo estudo doutrinário sobre os atos


administrativos, objetivando a consulta, apenas, à produção de uma espécie
de roteiro prático aos órgãos da Administração, a fim de evitar imprecisão nos
atos e para que a redação seja dada conforme o objetivo a que se propõem.

1. Declara sem efeito e torna sem efeito:

A eficácia de um ato, em singela definição, é a possibilidade


de produzir os efeitos a que se destina (alcançar seus objetivos típicos).
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Assim, a expressão “declara sem efeito” diz respeito à perda


retroativa de eficácia do ato (efeitos ex tunc), enquanto que o ato de tornar
sem efeito faz cessar a partir daquele momento (efeito ex nunc) a eficácia do
ato anterior.

2. Ato insubsistente:

De acordo com o Parecer nº 10.753/95, de autoria da


Procuradora do Estado Elaine de Albuquerque Petry,

“A doutrina administrativa corrente não registra controle


da legitimidade dos atos administrativos sob a figura da declaração de
‘insubsistência’, de modo que se há de compreendê-la no senso
vernacular.
Subsistir, significa ‘existir na sua substância, estar em
vigor, viger, manter-se’; ‘insubsistente é o que não pode mais subsistir,
não subsistente’ (DICIONÁRIO AURÉLIO).
Uma das situações mais corriqueiras em que o Poder
Público declara a insubsistência de ato administrativo surge quando,
regularmente nomeado, o candidato aprovado em concurso não toma
posse; a nomeação é tornada insubsistente.” (Grifos no original).

Aproveitando o exemplo e a própria definição dados pela


parecerista e considerando a existência de termos adequados na LC nº
10.098/94, entendo não deva tal expressão ser utilizada, exceto se
expressamente prevista na norma que embasar o ato administrativo.

3. Retificação:

Usualmente é simples correção de erro ou impropriedade


contida no ato administrativo, podendo ser utilizada também em caso de
omissão. Como exemplos podem ser citados os equívocos de fundamento
legal, data e ortografia.

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Não deve ser confundida com a ratificação, forma de


convalidação dos atos administrativos relacionada à “competência para
confirmar, mediante declaração expressa do próprio autor do ato, se
competente for, ou da autoridade competente, a legitimidade e validade de um
ato anulável, seja suprindo requisito ausente, seja considerando-o íntegro
desde a origem, neste caso sem nada acrescentar ou excluir” (cf. ARAÚJO,
Edmir Netto de. Convalidação do ato administrativo, São Paulo: LTr, 1999, p.
142).

Nesse passo convém lembrar a possibilidade de re-ratificação,


a ocorrer quando o ato administrativo, além de correção (retificação), necessita
ser ratificado pela autoridade competente.

4. Revogação:

Esse ato administrativo é assim definido por Maria Sylvia


Zanella Di Pietro:

“Revogação é o ato administrativo discricionário pelo


qual a Administração extingue um ato válido, por razões de oportunidade
e conveniência.
Como a revogação atinge um ato que foi editado em
conformidade com a lei, ela não retroage; os seus efeitos se produzem a
partir da própria revogação; são efeitos ex nunc (a partir de agora).
Quer dizer que a revogação respeita os efeitos já
produzidos pelo ato, precisamente pelo fato de ser este válido perante o
direito.
Enquanto a anulação pode ser feita pelo Judiciário e
pela Administração, a revogação é privativa desta última porque os seus
fundamentos — oportunidade e conveniência — são vedados à
apreciação do Poder Judiciário.” (Direito Administrativo. 11. ed. São
Paulo: Atlas, 1999, p. 230-1)

Exige, pois, um ato válido e eficaz. Tem efeitos somente ex


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nunc e, sendo ato discricionário, está adstrita aos critérios de oportunidade e


conveniência (avaliação de mérito).

Ainda de acordo com a definição, não pode ocorrer revogação


de atos vinculados (vedada apreciação de conveniência e oportunidade) e dos
que já tenham produzido todos os seus efeitos (já que não pode retroagir).

Há que se atentar para o conteúdo da Súmula nº 473 do STF,


in verbis: “A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de
vícios que o tornam ilegais, porque deles não se originam direitos, ou revogá-
los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos e ressalvada em todos os casos a apreciação judicial.”

5. Apostila:

Apostilamento é ato administrativo que visa à adicionar


elemento a ato anterior ou assentamentos do servidor. Pode também ocorrer
para acrescer ao ato modificação da situação fático-jurídica.

6. Revisão:

Embora possa ser efetivada por controle externo, aqui


interessa apenas a revisão efetuada pela Administração, que reexamina o ato
por iniciativa própria ou por provocação do interessado.

Constitui procedimento do qual poderá resultar ato


administrativo de retificação, anulação ou revogação, dentre outros.

7. Cassação de aposentadoria:

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Trata-se de penalidade que tem por efeito a perda da


qualidade de aposentado, com a conseqüente cessação do pagamento dos
proventos. É imprescindível prévio processo administrativo em que sejam
assegurados ampla defesa e contraditório.

Por ser expressão específica que traduz penalidade


administrativa prevista no item V, art. 187 com aplicação nas hipóteses
previstas no art. 195, ambos da LC nº 10.098/94, não deverá ser utilizada em
situações diversas.

Porto Alegre, 17 de maio de 2005.

KARLA LUIZ SCHIRMER,


PROCURADORA DO ESTADO.

Processo n.º 35945-14.00/00-2

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Processo nº 035945-14.00/00-2

Acolho as conclusões do PARECER nº 14.300, da


Procuradoria de Pessoal, de autoria da Procuradora do Estado
Doutora KARLA LUIZ SCHIRMER.

Restitua-se o expediente Subchefia Jurídica da Casa


Civil.

Em 16 de junho de 2005.

Helena Maria Silva Coelho,


Procuradora-Geral do Estado.

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