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ACÓRDÃO
Documento: 1383622 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 27/05/2015 Página 4 de 37
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.237.752 - PR (2011/0034566-4)
RECORRENTE : AUTO SHOPPING CURITIBA ADMINISTRADORA DE BENS
LTDA
ADVOGADO : FERNANDO REZENDE TRIBONI E OUTRO(S)
RECORRIDO : C M COMÉRCIO DE VEÍCULOS LTDA
ADVOGADO : MURILO TÁVORA E OUTRO(S)
RELATÓRIO
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Superior Tribunal de Justiça
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS COM PRECEITO
COMINATÓRIO USO DO VOCÁBULO "CURITIBA", INTEGRANTE DE
MARCA MISTA DEVIDAMENTE REGISTRADA NO INSTITUTO NACIONAL
DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL - INPI, POR EMPRESA CONCORRENTE
QUE EXPLORA O MESMO RAMO DE ATIVIDADE, E QUE O AGREGOU
AO SEU NOME COMERCIAL. PREVALÊNCIA DO REGISTRO DA MARCA
(LEI N° 9.279/96, ART. 129). ANTERIORIDADE.
Apelo parcialmente provido. Recurso adesivo prejudicado.
É vedada a utilização do vocábulo "Curitiba", integrante de marca mista
devidamente registrada no INPI, como parte do nome comercial de empresa
atuante no mesmo ramo de atividades, pelo risco de confusão entre os
consumidores. Deve-se dar proteção ao direito daquela cujo registro tiver
ocorrido por primeiro, pelo principio da anterioridade (fls. 152-153).
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Superior Tribunal de Justiça
VOTO VENCIDO
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Superior Tribunal de Justiça
restritivamente e em consonância com o art. 1.166 do Código Civil".
Com efeito, abstraindo-se a investigação acerca da anterioridade e da
territorialidade - princípios que, por si sós, confeririam prevalência à marca de titularidade
da recorrida -, analisa-se o alcance da proteção do registro no INPI em seu aspecto
qualitativo, considerando-se, essencialmente, o princípio da especialidade, o qual importa
exclusividade de uso no segmento mercadológico do detentor do direito marcário.
3. Nesse passo, não colhe êxito a alegação de não ser registrável o
vocábulo "Curitiba", por supostamente se tratar de nome de uso comum e de indicação
geográfica.
A suporte da insurgência, nesse aspecto, encontra-se no art. 124, incisos VI
e IX, da LPI:
Art. 124. Não são registráveis como marca:
[...]
VI - sinal de caráter genérico, necessário, comum, vulgar ou simplesmente
descritivo, quando tiver relação com o produto ou serviço a distinguir, ou
aquele empregado comumente para designar uma característica do produto
ou serviço, quanto à natureza, nacionalidade, peso, valor, qualidade e época
de produção ou de prestação do serviço, salvo quando revestidos de
suficiente forma distintiva;
[...]
IX - indicação geográfica, sua imitação suscetível de causar confusão ou
sinal que possa falsamente induzir indicação geográfica;
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Superior Tribunal de Justiça
15/03/2011, DJe 30/03/2011.
4. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp 1046529/RJ, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA,
QUARTA TURMA, julgado em 24/06/2014, DJe 04/08/2014)
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Superior Tribunal de Justiça
lograsse o registro da marca no INPI.
No caso, a única questão relevante a ser investigada é se, de fato e
concretamente, a recorrente atua no mesmo seguimento mercadológico que a recorrida,
indagação à qual foi conferida resposta positiva pelo Tribunal de origem, com apoio nas
provas produzidas nas instâncias ordinárias.
Nesse ponto, o voto condutor do acórdão asseverou o seguinte:
Merece provimento o apelo, de C. M. Comércio de Veículos Ltda.
A apelante realmente comprovou nos autos ser detentora da marca mista (f.
17), assim entendida aquela que combina elementos nominativos e
figurativos relativamente ao nome fantasia "Curitiba Multimarcas", para o
ramo de comercio varejista de automóveis, camionetas e utilitários novos e
usados, em todo o território nacional.
Em se tratando de marca "mista", a proteção conferida pelo registro se
estende não só ao logotipo em si, mas também As inscrições dele
constantes, consoante dispõe a Lei n°9.279, de 14 de maio de 1996, que
regula os direitos e obrigações relativos à propriedade industrial (artigos 122,
e 129, copal).
O registro do nome comercial da apelada Auto Shopping Curitiba
Administradora de Bens Ltda, é posterior ao registro da marca da apelante.
Ademais, verifica-se que a ré requereu o registro de seus atos constitutivos
na Junta Comercial do Paraná em 25 de julho de 2007 (f.
41), enquanto que a autora, por outro lado, já havia requerido o registro da
marca em 29 de maio de 2003, vindo a obtê-lo cm definitivo, por 10 (dez)
anos, a partir de 05 de junho de 2007 (f. 17).
[...]
A prova dos autos informa que a ré atua no mesmo ramo comercial que a
apelante, de comércio varejista de automóveis, caminhonetas, e utilitários
novos e usados (f. 43 57 a 61).
Na hipótese dos autos, portanto, fica claro que a utilização do vocábulo
"Curitiba", integrante da marca mista, pela ré, tipifica violação ao disposto no
artigo 129 da Lei da Propriedade Intelectual, pela reprodução parcial da
marca pré-registrada, com efetivo risco de provocar dúvida, erro ou confusão
no ramo comercial de atuação de ambas as partes no mercado (fls. 155-158).
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Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ANTÔNIO CARLOS PESSOA LINS
Secretária
Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : AUTO SHOPPING CURITIBA ADMINISTRADORA DE BENS LTDA
ADVOGADO : FERNANDO REZENDE TRIBONI E OUTRO(S)
RECORRIDO : C M COMÉRCIO DE VEÍCULOS LTDA
ADVOGADO : MURILO TÁVORA E OUTRO(S)
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Coisas - Propriedade - Propriedade Intelectual / Industrial - Marca
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto do relator, negando provimento ao recurso especial, pediu vista antecipada o
Ministro Marco Buzzi.
Aguardam os Srs. Ministros Raul Araújo (Presidente), Maria Isabel Gallotti e Antonio
Carlos Ferreira.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.237.752 - PR (2011/0034566-4)
VOTO-VOGAL
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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.237.752 - PR (2011/0034566-4)
RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO
RECORRENTE : AUTO SHOPPING CURITIBA ADMINISTRADORA DE BENS LTDA
ADVOGADO : FERNANDO REZENDE TRIBONI E OUTRO(S)
RECORRIDO : C M COMÉRCIO DE VEÍCULOS LTDA
ADVOGADO : MURILO TÁVORA E OUTRO(S)
VOTO
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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.237.752 - PR (2011/0034566-4)
RECORRENTE : AUTO SHOPPING CURITIBA ADMINISTRADORA DE BENS
LTDA
ADVOGADO : FERNANDO REZENDE TRIBONI E OUTRO(S)
RECORRIDO : C M COMÉRCIO DE VEÍCULOS LTDA
ADVOGADO : MURILO TÁVORA E OUTRO(S)
RELATÓRIO
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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.237.752 - PR (2011/0034566-4)
EMENTA
VOTO
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Superior Tribunal de Justiça
propriedade intelectual, no bojo do processo 829117202, conferiu, em data de
15/03/2011, o direito ao uso exclusivo da marca nominativa "Auto Shopping
Curitiba", sem direito de exclusividade quanto à expressão "Auto Shopping", à
empresa Simonsen Assessoria e Participações Ltda no ramo "serviços de
assessoria, consultoria, administração e organização de shopping centers de
veículos, planejamento e marketing".
A despeito de não ter sido o registro da marca nominativa "Auto Shopping
Curitiba" conferido à empresa ré, ora recorrente, a pesquisa acima mencionada
serve para nortear os estudos aqui propostos no sentido de não colher êxito a
alegação de não ser o vocábulo "Curitiba" registrável como marca, por
supostamente tratar-se de nome de uso comum e de indicação geográfica.
Neste ponto, adequada a fundamentação externada pelo e. Relator no
sentido de que a vedação à registrabilidade de vocábulos ou sinais de caráter
genérico ou de uso comum deve ser analisada à luz de sua aplicabilidade ao
produto ou serviço que se pretende identificar, e não com vistas à própria palavra ou
sinal examinados isoladamente.
Tendo em vista que o termo "Curitiba" não se relaciona diretamente com
o serviço cuja individualização se busca com o registro da marca - venda de
veículos - nem com as características inerentes ao serviço identificado", inviável
falar em vedação ao seu registro.
Igualmente, quanto ao registro marcário de indicação geográfica, a
vedação contida no artigo 124, inciso IX, da Lei 9.279/1996 não tem o alcance
pretendido pelo insurgente.
Diferentemente do mundialmente conhecido champagne - vinho branco
espumante - cujo nome do produto está atrelado à região administrativa de
Champagne-Ardenne/França, precursora de sua produção, o município de Curitiba
não tem notoriedade relacionada à especial qualidade dos veículos lá
comercializados. Tal como expressamente mencionado pelo relator, o vocábulo
"Curitiba" não ostenta as características próprias de indicação de procedência ou
denominação de origem cujo registro é vedado pela lei, configurando mero nome
geográfico registrável na categoria ora em exame (venda de veículos e
administração de shopping centers ), nos termos do art. 181 da LPI.
A despeito da concordância, ainda que parcial, quanto à fundamentação
expendida pelo relator, inexiste razão para a manutenção da inviabilidade de
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Superior Tribunal de Justiça
coexistência da marca mista "Curitiba" - aplicada em "Multimarcas" ou "Comércio de
Veículos" - e o nome empresarial da recorrente "Auto Shopping Curitiba".
Pois bem, quando falamos/ouvimos a palavra “marca” temos uma
definição natural do que vem a ser esse vocábulo. Essa ideia, do senso comum, nos
diz que marca é um símbolo, um sinal, um emblema, uma insígnia, enfim, uma
“identidade”.
Marca segundo definição do próprio Instituto Nacional de Propriedade
Industrial - INPI, constante de seu sítio na internet é: "todo sinal distintivo,
visualmente perceptível, que identifica e distingue produtos e serviços, bem como
certifica a conformidade dos mesmos com determinadas normas ou especificações
técnicas. A marca registrada garante ao seu proprietário o direito de uso exclusivo
no território nacional em seu ramo de atividade econômica. Ao mesmo tempo, sua
percepção pelo consumidor pode resultar em agregação de valor aos produtos ou
serviços."
Em linhas gerais, qualquer sinal ou combinação de sinais que tenha
capacidade distintiva poderá constituir uma marca. Podem ser palavras, letras,
combinação de cores, elementos figurativos (logos), nomes, numerais, bem como
qualquer combinação desses sinais.
Para um melhor controle dos registros, as marcas são classificadas de
acordo com dois critérios: i) quanto a sua natureza e; ii) quanto a sua forma de
apresentação.
Quanto à natureza, são subdivididas em marca de produto, marca de
serviço, marca coletiva e marca de certificação.
Já quanto a forma de apresentação, podem ser nominativas, figurativas,
mistas e tridimensionais.
É exatamente a interpretação dada a essa última classificação que está
sendo objeto da presente controvérsia, tanto que o e. relator especificamente frisou
que o julgamento deveria se abster da investigação acerca da aplicabilidade dos
princípios da anterioridade e da territorialidade da marca de titularidade da recorrida,
pois inexistente controvérsia acerca da precedência do registro, sendo
necessário se ater ao "alcance da proteção do registro do INPI em seu aspecto
qualitativo , considerando-se, essencialmente, o princípio da especialidade, o qual
importa exclusividade de uso no segmento mercadológico do detentor do direito
marcário ", motivo pelo qual se apresentam os conceitos respectivos fornecidos pelo
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próprio INPI:
Marca nominativa: é aquela constituída por uma ou mais palavras,
ou combinação de letras e/ou algarismos, sem apresentação fantasiosa.
Marca figurativa: é aquela constituída por desenho, figura ou qualquer
forma estilizada de letra e número, isoladamente.
Marca mista: é aquela constituída pela combinação de elementos
nominativos e figurativos ou de elementos nominativos, cuja grafia se
apresente de forma estilizada.
Marca tridimensional: é aquela constituída pela forma plástica de
produto ou de embalagem, cuja forma tenha capacidade distintiva em si mesma e
esteja dissociada de qualquer efeito técnico.
Consoante as definições acima referidas, observa-se que a presente
controvérsia subsume-se às marcas mistas e marcas nominativas. Nessa toada,
embora, em principio, seja admissível o registro de uma mesma marca nominativa
para produtos de classes diversas, o mesmo já não se dá com as marcas mistas,
pois nessas a imagem de um produto passa necessariamente para o outro na
percepção visual do consumidor, ou seja, no caso de marca mista, a parte figurativa
e estilizada não pode coincidir com a do produto/serviço em confronto.
Na hipótese ora em foco, é inegável que o INPI não procedeu ao registro
de marca nominativa "Curitiba", mas sim conferiu à autora o direito ao uso exclusivo
da marca mista, consoante certificado de registro constante de fls. 21.
Para que não pairem dúvidas acerca dessa modalidade registral,
extrai-se do acórdão recorrido o seguinte excerto:
A apelante realmente comprovou nos autos ser detentora da marca mista
(f. 17), assim entendida aquela que combina elementos nominativos e
figurativos relativamente ao nome fantasia "Curitiba Multimarcas", para o
ramo de comercio varejista de automóveis, camionetas e utilitários novos e
usados, em todo o território nacional. (...)
Sendo assim, não se pode negar o direito da apelante de usar a marca
mista de sua propriedade, em todo o território nacional, pois a proteção
conferida por lei ao detentor da marca visa não apenas garantir o seu
interesse, mas também proteger os consumidores de serem enganados
quanto ao produto que compram, ou aos serviços que lhes são prestados.
(...)
Na hipótese dos autos, portanto, fica claro que a utilização do vocábulo
"Curitiba", integrante da marca mista, pela ré, tipifica violação ao disposto
no artigo 129 da Lei de Propriedade Intelectual, pela reprodução parcial da
marca pré-registrada (...).
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Superior Tribunal de Justiça
legislação brasileira não prevê proteção específica, senão no âmbito da repressão à
concorrência desleal), aduzindo ser relevante, para a aferição de concorrência
desleal na forma de associação parasitária, a utilização figurativa da marca alheia
para o desvio de clientela. Afirmou que "saber se o uso da marca nominativa
isoladamente ou o logotipo da empresa autora - marca mista - teria o condão de
promover ou não a chamada associação parasitária, pela usurpação do Trade
Dress , demanda incursão aprofundada nas provas dos autos", e que tal providência
esbarra no óbice da súmula 7/STJ.
Independentemente do registro da marca conter o radical comum, os atos
dos concorrentes sempre poderão ser avaliados à luz das regras sobre concorrência
desleal, pois o princípio da liberdade de concorrência – pedra angular do impulso e
desenvolvimento do mercado – encontra baliza na lealdade negocial, dever
decantado da boa-fé objetiva e que deve nortear o agir das empresas no âmbito
comercial.
Com esteio no art. 195 da Lei de Propriedade Industrial (Lei nº 9.279/96),
configura-se a concorrência desleal na hipótese de imitação de marca, passível de
despertar confusão no consumidor. Impende ressaltar ser irrefutável que a similitude
visual de produtos/serviços, por meio da justaposição de cores e estilização
coincidente, conjugada com a identidade de público-alvo, promove inquestionável
confusão, porquanto desperta no consumidor a falsa idéia de estar adquirindo
produto/serviço outro.
O cenário fático-jurídico de concorrência desleal reclama o desenho de
um comportamento – patrocinado por um operador econômico e diagnosticado no
terreno negocial de certo produto ou serviço – que contrarie a conduta-dever que
necessita ser observada no duelo pela clientela, via expedientes que desafiem sua
idoneidade no mercado e, efetivamente, ou em potência, causem danos ao
concorrente.
Assim, a proteção conferida às marcas, para além de garantir direitos
individuais, salvaguarda interesses sociais, na medida em que auxilia na melhor
aferição da origem do produto e/ou serviço, minimizando erros, dúvidas e confusões
entre usuários. Essa proteção varia conforme o grau de conhecimento de que
desfruta a marca no mercado, podendo extravasar as limitações quanto à
territorialidade e especificidade, podendo, inclusive ser mitigada quando se verificar
o fenômeno do "extravasamento do símbolo" - marcas cujo conhecimento pelo
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Superior Tribunal de Justiça
público e/ou mercado ultrapassa o âmbito de proteção conferido pelo registro.
Nesse sentido:
COMERCIAL. MARCA. PROTEÇÃO. LIMITES. APROVEITAMENTO
PARASITÁRIO. REQUISITOS. COLIDÊNCIA COM SIGNOS
DISTINTIVOS SUJEITOS A OUTRAS MODALIDADES DE PROTEÇÃO.
AFERIÇÃO.
1. A proteção conferida às marcas, para além de garantir direitos
individuais, salvaguarda interesses sociais, na medida em que auxilia na
melhor aferição da origem do produto e/ou serviço, minimizando erros,
dúvidas e confusões entre usuários.
2. Essa proteção varia conforme o grau de conhecimento de que desfruta
a marca no mercado. Prevalecem, como regra, os princípios da
territorialidade e da especialidade. Esses princípios, no entanto,
comportam exceções, notadamente quando se verifica o fenômeno do
"extravasamento do símbolo", ou seja, marcas cujo conhecimento pelo
público e/ou mercado ultrapassa o âmbito de proteção conferido pelo
registro.
3. A LPI reconhece duas formas de "extravasamento do símbolo", atuando
no sentido de mitigar princípios informadores do registro de marcas. Na
primeira hipótese temos o que o art. 125 da LPI denomina marca de alto
renome, em que há temperamento do princípio da especialidade e no
segundo caso o que o art. 126 da LPI chama de marca notoriamente
conhecida, em que há abrandamento do princípio da territorialidade.
4. Exceção feita ao caso de alto renome, o registro da marca não confere
ao titular a propriedade sobre o signo ou sinal distintivo, mas o direito de
dele se utilizar, com exclusividade, para o desenvolvimento de uma
atividade dentro de um determinado nicho de mercado.
5. A caracterização do aproveitamento parasitário - que tem por base a
noção de enriquecimento sem causa prevista no art. 884 do CC/02 -
pressupõe, necessariamente, a violação da marca.
6. Para a aferição de eventual colidência entre marca e signos distintivos
sujeitos a outras modalidades de proteção - como o nome empresarial e o
título de estabelecimento - não é possível restringir-se à análise do critério
da anterioridade, mas deve também se levar em consideração os
princípios da territorialidade e da especialidade, como corolário da
necessidade de se evitar erro, dúvida ou confusão entre os usuários.
7. Recurso especial a que se nega provimento.
(REsp 1232658/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 12/06/2012, DJe 25/10/2012)
Ora, se o próprio Tribunal a quo afirmou não ter restado provado o fato
constitutivo do direito do autor relativamente à real existência de elementos
fático-jurídicos caracterizadores de proveito parasitário que evidenciassem ter a
empresa ré, por meio fraudulento, criado confusão entre serviços no mercado com o
objetivo de desviar a clientela de outrem em proveito próprio ou alheio, não há falar
na aplicação do referido óbice sumular.
Ademais, pela simples aplicação da legislação correlata, principalmente
os incisos XIX e XXIII do art. 124, e inciso III e IV do art. 195 da Lei 9.279/96, em
não tendo sido verificado, na presente hipótese, a existência de provas quanto à
reprodução/imitação, no todo ou em parte, de marca alheia registrada, "suscetível
de causar confusão ou associação com aquela marca alheia", inviável a
manutenção do acórdão recorrido.
Art. 124 - Não são registráveis como marca:
(...)
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Superior Tribunal de Justiça
XIX - reprodução ou imitação, no todo ou em parte, ainda que com
acréscimo, de marca alheia registrada, para distinguir ou certificar produto
ou serviço idêntico, semelhante ou afim, suscetível de causar confusão
ou associação com marca alheia;
XXIII - sinal que imite ou reproduza, no todo ou em parte, marca que o
requerente evidentemente não poderia desconhecer em razão de sua
atividade, cujo titular seja sediado ou domiciliado em território nacional ou
em país com o qual o Brasil mantenha acordo ou que assegure
reciprocidade de tratamento, se a marca se destinar a distinguir produto ou
serviço idêntico, semelhante ou afim, suscetível de causar confusão ou
associação com aquela marca alheia.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Relator para Acórdão
Exmo. Sr. Ministro MARCO BUZZI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. LUCIANO MARIZ MAIA
Secretária
Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : AUTO SHOPPING CURITIBA ADMINISTRADORA DE BENS LTDA
ADVOGADO : FERNANDO REZENDE TRIBONI E OUTRO(S)
RECORRIDO : C M COMÉRCIO DE VEÍCULOS LTDA
ADVOGADO : MURILO TÁVORA E OUTRO(S)
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Coisas - Propriedade - Propriedade Intelectual / Industrial - Marca
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Ministro Marco Buzzi, dando
provimento ao recurso especial, divergindo do relator, e os votos dos Ministros Raul Araújo, Maria
Isabel Gallotti e Antonio Carlos Ferreira, acompanhando a divergência, a Quarta Turma, por
maioria, deu provimento ao recurso especial, nos termos do voto divergente do Ministro Marco
Buzzi, que lavrará o acórdão. Vencido o relator que negava provimento ao recurso especial.
Votaram com o Sr. Ministro Marco Buzzi os Srs. Ministros Raul Araújo (Presidente),
Maria Isabel Gallotti e Antonio Carlos Ferreira.
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