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Processo nº 0769103-11.2018.8.05.0001
Como ensina Araken de Assis, “os remédios catalogados no art. 38, caput, da Lei
6.830/1980 não constituem questão prejudicial externa à execução e, assim, não a suspendem (art.
313 V, a, do NCPC)”1. O art. 784 do CPC dispõe que “a propositura de qualquer ação relativa a
débito constante de título executivo não inibe o credor de promover-lhe a execução”. Disso decorre a
regra segundo a qual a deflagração de ação autônoma que tenha por objeto o débito constante de
título executivo é, a princípio, irrelevante para o curso da execução.
Justamente por isso, o STJ tem entendimento consolidado no sentido de que “nos
casos em que há concomitantemente ação anulatória de débito fiscal e execução fiscal, a suspensão
desta somente é permitida mediante o oferecimento de garantia do juízo”2. Há muito, aliás, esse
entendimento vem sendo adotado pela Corte Superior. Vejamos:
A ação anulatória de débito fiscal tem conexão com a ação de execução, assim,
podemos concluir que sempre há prejudicialidade entre elas. A prejudicialidade
capaz de ensejar a paralisação da execução só se configura quando está o débito
garantido pela penhora ou pelo depósito. (STJ, 2ª Turma, REsp 851.607/RS, rel.
Min. Eliana Calmon, j. 07/10/2008, DJe 29/10/2008) (grifamos)
Nesse sentido, aliás, deve ser compreendido o art. 38 da LEF, na parte em que
exige que a ação anulatória autônoma seja “precedida do depósito preparatório do valor do
débito”. Bem se sabe que não é possível exigir o depósito preparatório como requisito de
admissibilidade, a condicionar o exercício do direito de ação; mas é perfeitamente possível exigi-
lo como pressuposto para a suspensão de exigibilidade do crédito tributário3.
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STJ, 2ª Turma, AgRg no REsp 1413540/RS, rel. Min. Humberto Martins, j. 08/05/2014, DJe 15/05/2014 (acrescentamos o itálico).
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Tema 241 dos Recursos Especiais Repetitivos: “O depósito prévio previsto no art. 38, da LEF, não constitui condição de
procedibilidade da ação anulatória, mas mera faculdade do autor, para o efeito de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, nos termos do
art. 151 do CTN, inibindo, dessa forma, o ajuizamento da ação executiva fiscal” (STJ, Primeira Seção, REsp 962.838/BA, rel. Min. Luiz Fux, j.
25/11/2009, DJe 18/12/2009).
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Por idênticas razões, o mesmo raciocínio deve ser aplicado se o
contribuinte/devedor ajuíza demanda autônoma para discussão de determinado crédito tributário:
não se lhe pode exigir a prévia garantia do débito como requisito de admissibilidade, a
condicionar o exercício do direito de ação; mas, se o contribuinte/devedor pretende que tal
demanda autônoma seja recebida como se embargos à execução fossem, ensejando a suspensão
do curso da execução fiscal, é inevitável concluir que tal pretensão depende da prévia garantia
do débito, sob pena de burla à regra do art. 16, §1º, da LEF.
Mas não só isso. Não basta que o juízo esteja garantido, nos termos do art.9º da
LEF, para que suspenda o curso da execução. É preciso mais.
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STJ, 2ª Turma, REsp 1153771/SP, rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 12/04/2012, DJe 18/04/2012.
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I.2. JUÍZO DE VEROSSIMILHANÇA E PERIGO DE DANO IRREPARÁVEL (ART.919, §1º,
CPC C/C REsp REPETITIVO 1.272.827/PE, TEMA 526)
No caso concreto discute-se a respeito dos efeitos ordinários em que devem ser
recebidos os embargos à execução fiscal, esta já garantida por penhora, previstos
no art. 16 da Lei n. 6.830/80 - Lei de Execuções Fiscais - LEF, se com ou sem
efeito suspensivo sobre a execução fiscal em andamento. Isto é, discute-se se a
garantia da execução somada ao oferecimento dos embargos é suficiente para a
suspensão da execução fiscal, como ocorria na letra do art. 739, §1º e 791, I, do
Código de Processo Civil de 1973 (ambos redação dada pela Lei n. 8.953/94)
antes do advento da Lei n. 11.382/2006, ou há ainda a necessidade de que o
executado demonstre a relevância de seus argumentos (fumus boni juris) e que o
prosseguimento da execução poderá lhe causar dano de difícil ou incerta
reparação (periculum in mora), conforme o exige o art. 739-A, §1o, do CPC/73,
incluído pela Lei n. 11.382/2006.
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STJ, 1ª Seção, REsp 1272827/PE, rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 22/05/2013, DJe 31/05/2013.
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No caso dos autos, ao contrário do que aqui sustentado, o Tribunal de Origem
concluiu que, para se atribuir o efeito suspensivo aos embargos do devedor na
execução fiscal, basta que a execução esteja garantida. O acórdão, portanto, merece
reparo, pois como condicionantes do efeito suspensivo dos embargos do devedor
estão ainda os juízos de relevância da argumentação (fumus boni juris) e perigo
de dano irreparável ou de difícil reparação (periculum in mora), a teor da
aplicação subsidiária do art. 739-A do CPC/73 (incluído pela Lei n. 11.382/2006)
à LEF. (grifamos)
A tese vinculante (CPC, art. 927, III) está sintetizada no Tema 526, a saber: