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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina

PJe - Processo Judicial Eletrônico

15/03/2024

Número: 0600002-21.2024.6.24.0092
Classe: REPRESENTAÇÃO
Órgão julgador: 098ª ZONA ELEITORAL DE CRICIÚMA SC
Última distribuição : 05/02/2024
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Pesquisa Eleitoral - Divulgação de Pesquisa Eleitoral Sem Prévio Registro
Segredo de Justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Advogados
PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA - PDT -
MUNICIPAL - FORQUILHINHA - SC (REPRESENTANTE)
MARCELO RAMOS PEREGRINO FERREIRA (ADVOGADO)
JOSE CLAUDIO GONCALVES (REPRESENTADO)

Outros participantes
PROMOTOR ELEITORAL DO ESTADO DE SANTA
CATARINA (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
122187125 14/03/2024 Sentença Sentença
16:52
JUSTIÇA ELEITORAL
098ª ZONA ELEITORAL DE CRICIÚMA SC

REPRESENTAÇÃO (11541) Nº 0600002-21.2024.6.24.0092 / 098ª ZONA ELEITORAL DE CRICIÚMA SC


REPRESENTANTE: PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA - PDT - MUNICIPAL - FORQUILHINHA - SC
Advogado do(a) REPRESENTANTE: MARCELO RAMOS PEREGRINO FERREIRA - SC12309
REPRESENTADO: JOSE CLAUDIO GONCALVES

SENTENÇA

Vistos, etc.
Trato de representação visando a impugnação de divulgação de pesquisa eleitoral com pedido de
antecipação de tutela proposta por PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA
MUNICIPAL–FORQUILHINHA–SC, contra JOSÉ CLÁUDIO GONÇALVES.
Narrou o Representante ter o Representado, atual Prefeito do município de Forquilhinha, nos dias
30/01/2024 e 02/02/2024, divulgado pesquisas eleitorais para as Eleições Municipais de 2024 sem registro
perante à Justiça Eleitoral, por meio de entrevistas em programa de rádio.
Requereu, assim, a concessão de tutela antecipada a fim de determinar a suspensão imediata da divulgação
das pesquisas não registradas.
No mérito, pleiteou seja convertida a liminar em permanente e a condenação do Representado à multa
prevista no art. 17 da Res. TSE n. 23.600/2019.
O pedido liminar foi deferido (ID 122169706).
Regularmente citado/intimado (ID 122171506 e 122172391), o Representado deixou transcorrer in albis o
prazo para apresentação de defesa (ID 122174984).
Com vista dos autos, nos termos do art. 19 da Resolução TSE nº 23.608/2019, o Ministério Público Eleitoral
manifestou-se pela procedência da representação, tornando definitiva a liminar concedida no ID 122169706,
bem como condenando o representado ao pagamento de multa, nos termos do artigo 33, §3º, da Lei n.
9.504/97, e artigo 17, da Resolução n. 23.600/19, em valor não inferior a R$ 53.205,00, ou seja, o mínimo
legal.
Requereu ainda seja aplicada a multa mencionada na decisão do ID 122169706, por não ter o representado
cumprido a determinação judicial.
Vieram os autos conclusos.
É o relatório do essencial.
Decido:
Cuido de representação visando a impugnação de divulgação de pesquisa eleitoral com pedido de
antecipação de tutela proposta por PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA
MUNICIPAL–FORQUILHINHA–SC, contra JOSÉ CLÁUDIO GONÇALVES.
An initio, verifico não ter o Requerido apresentado resposta ou defesa, embora regularmente citado, atraindo
para si os efeitos da revelia. Conduto, a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo Representante é
relativa, devendo o magistrado apreciar os demais elementos de prova existentes nos autos. Nesse sentido:
“[...] Revelia. Confissão ficta. Presunção relativa. [...] 2. A presunção de veracidade advinda da revelia não é

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absoluta, cabendo ao magistrado sopesar os fatos narrados na inicial em cotejo com as provas produzidas, a
fim de formar sua livre convicção sobre o mérito da causa (art. 131 do CPC). [...]”
(Ac. de 6.10.2011 no Rp nº 422171, rel. Min. Marcelo Ribeiro.)

No caso ora em comento, ficou comprovado ter o o Representado, atual Prefeito do município de
Forquilhinha, nos dias 30/01/2024 e 02/02/2024, divulgado pesquisas eleitorais para as Eleições Municipais
de 2024 sem registro perante à Justiça Eleitoral, por meio de entrevistas em programa de rádio. Estas
entrevistas foram reproduzidas em canais do YouTube e do Spotify e permanecem disponibilizadas nestas
mídias digitais. Divulgam, em síntese, pesquisas de opinião pública relativas às eleições ou aos candidatos,
contrariando as disposições estabelecidas pela Resolução TSE n. 23.600/2019, conforme reproduzidas
abaixo:

"Programa Denis Luciano - Rádio Em Dia com a Cidade 89.1 FM (Criciúma) no dia
02/02/2024 (.....) 1:40:16 “Eu estava dizendo pra você, eu tenho pesquisa com três
institutos diferentes, três. Um eu tenho 92%, o outro 91% e o outro 88%. Então eu diria
pra você com toda certeza, com toda garantia, que a aprovação do meu governo não
baixa de 90%. Agora tem um grande fator Denis, a rejeição do governo. Nenhum dos três,
a rejeição. Você rejeita o governo Neguinho. A forma do governo Neguinho de
administrar nenhum dos três passa de 8%. Tá entendendo? Então eu tenho 8% da
população que rejeita o nosso governo. E nós tamos investindo Denis em obras em todos
os bairros. Eu quero dizer pra você que eu tenho mais 50 milhões de reais pra investir em
obras ainda em 2024.” (...) (.....) 1:57:26 “Adversário o Denis a gente não escolhe, a
gente se vence. Então, deixa eu dizer uma coisa para você, as pesquisas mostram assim
uma situação muito ruim para os meus adversários eleitoral. O Walmir Rampinelli na
espontânea não passa de 1 (um) ponto. Seu Rodrigo na espontânea não passa de 2
(dois)pontos. Quando chega na estimulada que tem vários candidatos seu Walmir
Rampinelli não passa de 3, 4 pontos, seu Rodrigo Minotto não passa de 5. Quando bota
Neguinho e Walmir Rampinelli no pior cenário dá 72 a 15, o pior cenário. Quando bota
Neguinho e Rodrigo Minotto o pior cenário, o pior cenário dá 68 a 16, 17. Então eles têm
que melhorar muito os índices de pesquisa deles.”

"Programa Adelor Lessa Rádio Som Maior FM 100.7 (Criciúma) do dia 30 janeiro: (.....)
39:10 “Eu tenho três estudos de pesquisa diferentes, não é um. Meu governo tem 90% de
aprovação. Porque quando eu recebi um eu desconfiei, ai eu fiz o segundo, desconfiei, a
eu fiz o terceiro, fechou. Eu tenho 90% de aprovação. Só que as pessoas querem ver o
prefeito na rua, então eu vou melhorar essa minha comunicação com a sociedade e
continuar trabalhando.” (...)

Em consulta ao PesqEle não consta registro de pesquisa eleitoral referente ao município de Forquilhinha.
Deveras, como destacado na decisão liminar, o objeto das declarações difundidas pelo Representado, sobre
o percentual de aprovação da população em relação à sua gestão pública e o percentual de pretensão de
votos referente a seus adversários no pleito eleitoral que se aproxima, cuja origem menciona ter sido feito
por meio de pesquisas por ele contratadas, macula a regra imposta na Resolução TSE n. 23.600/2019:

“Art. 2º A partir de 1º de janeiro do ano da eleição, as entidades e as empresas que


realizarem pesquisas de opinião pública relativas às eleições ou às candidatas e aos
candidatos, para conhecimento público, são obrigadas, para cada pesquisa, a registrar,
no Sistema de Registro de Pesquisas Eleitorais (PesqEle), até 5 (cinco) dias antes da
divulgação, as seguintes informações (Lei n° 9.504/1997, art. 33, caput, I a VII e § 1º) :

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I - contratante da pesquisa e seu número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas
(CPF) ou no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ); II - valor e origem dos
recursos despendidos na pesquisa, ainda que realizada com recursos próprios; III -
metodologia e período de realização da pesquisa; IV - plano amostral e ponderação
quanto a gênero, idade, grau de instrução, nível econômico da pessoa entrevistada e área
física de realização do trabalho a ser executado, bem como nível de confiança e margem
de erro, com a indicação da fonte pública dos dados utilizados; V - sistema interno de
controle e verificação, conferência e fiscalização da coleta de dados e do trabalho de
campo; VI - questionário completo aplicado ou a ser aplicado; VII - quem pagou pela
realização do trabalho com o respectivo número de inscrição no CPF ou no CNPJ; VIII -
cópia da respectiva nota fiscal; IX - nome da(o) profissional de Estatística responsável
pela pesquisa, acompanhado de sua assinatura com certificação digital e o número de seu
registro no Conselho Regional de Estatística competente;

Não bastasse, a conduta de divulgar pesquisa sem o prévio registro das informações de que trata o artigo 33
da Lei de Eleições (Lei n. 9.504/1997), em razão dos prejuízos que causa à normalidade do pleito eleitoral,
sujeita os responsáveis a aplicação de multa, no valor de R$ 53.205,00 (cinquenta e três mil, duzentos e
cinco reais) a R$ 106.410,00 (cento e seis mil, quatrocentos e dez reais) (Lei nº 9.504/1997, arts. 33, § 3º , e
105, § 2º) .
Nesse sentido já decidiu o colendo Superior Tribunal Eleitoral:

“[...] Pesquisa eleitoral. Divulgação sem prévio registro. 1. A divulgação de pesquisa


eleitoral, sem prévio registro na Justiça Eleitoral, em grupo do Whatsapp, configura o
ilícito previsto no art. 33, § 3º, da Lei 9.504/97. 2. Para que fique configurada a
divulgação de pesquisa eleitoral, sem prévio registro na Justiça Eleitoral, nos termos do
art. 33, § 3º, da Lei 9.504/97, basta que tenha sido dirigida para conhecimento público,
sendo irrelevante o número de pessoas alcançado pela divulgação e sua influência no
equilíbrio da disputa eleitoral. 3. O acórdão desta Corte, proferido no julgamento do
REspe 74-64, rel. Min. Dias Toffoli, DJE de 15.10.2013 -no qual se assentou que a
emissão de opiniões políticas em páginas pessoais de eleitores no Facebook ou no Twitter
não caracteriza propaganda eleitoral -, não se aplica aos casos de pesquisa eleitoral, sem
prévio registro [...]” (Ac. de 30.5.2017 no AgR-REspe nº 10880, rel. Min. Admar
Gonzaga.)

A divulgação de pesquisas referentes às eleições, sobre a intenção de votos ou aprovação da gestão pública
do atual governante, interessado em reeleição, sem o obrigatório registro no órgão competente, como
determina a Resolução TSE n. 23.600/2019, influencia eleitores, violando princípios que devem ser
observados no processo eleitoral, como o da Publicidade, da Transparência e da normalidade das eleições.
Instituições, partidos políticos, candidatos, imprensa e agências de publicidade devem seguir a
transparência e a acessibilidade de informações aos eleitores,preservando a divulgação correta de dados
relevantes referentes ao pleito eleitoral.
Como salientado na decisão id. 122164769, a normalidade do pleito é um dos vetores essenciais do processo
eleitoral democrático, e as regras atinentes à divulgação de pesquisas eleitorais tem por finalidade assegurar
um ambiente eleitoral equilibrado e justo, no qual os eleitores possam exercer seu direito ao voto de forma
consciente e livre de influências indevidas.
Conforme esclarecem Velloso e Agra (2020, p. 24), a obrigatoriedade de registro de pesquisas e testes
eleitorais é imprescindível “[...] para evitar manipulações à consulta popular, por meio de pesquisas
previamente preparadas, em que, por exemplo, um entrevistador consulta somente cidadãos de uma região
que, tradicionalmente, apoiam determinado partido ou candidato, o que produz um resultado errôneo no
material auferido”. [VELLOSO, Carlos Mário da S.; AGRA, Walber de M. Direito eleitoral - propaganda
eleitoral. São Paulo: Editora Saraiva, 2020. E-book. ISBN 9786555593235. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555593235/. Acesso em: 16 fev. 2024.
Enquadrando-se a conduta do Representado à regra prevista no artigo 33, §3º, da Lei n. 9.504/97, e artigo

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17, da Resolução n. 23.600/19, e ausente maiores elementos, aplico multa em seu patamar mínimo, qual
seja, R$ 53.205,00.
Por fim, verifico que o Representado deixou de cumprir a determinação judicial contida no Id 122164769,
motivo pelo qual deve ser mantida a medida.
Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE a representação proposta por PARTIDO DEMOCRÁTICO
TRABALHISTA MUNICIPAL–FORQUILHINHA–SC para condenar o representado JOSÉ CLÁUDIO
GONÇALVES ao pagamento de multa no valor de R$ 53.205,00 [Cinquenta e três mil, duzentos e cinco
reais], com base no art. 33, §3º, da Lei n. 9.504/97, e art. 17, da Resolução n. 23.600/19.
Tendo em vista o descumprimento da decisão liminar id 122164769, condeno o representado JOSÉ
CLÁUDIO GONÇALVES ao pagamento de multa no valor de R$10.000,00 (Dez mil reais).
Publique-se, registre-se e intimem-se.
Após o prazo legal para pagamento, comunique-se a Procuradoria da Fazenda Nacional para inclusão em
dívida ativa da União.

Criciúma/SC, 14/03/2024.

(Datado e assinado eletronicamente)


JÚLIO CÉSAR BERNARDES
Juiz eleitoral

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Num. 122187125 - Pág. 4

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