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Tribunal Regional Eleitoral do Paraná

PJe - Processo Judicial Eletrônico

02/03/2022

Número: 0600098-14.2022.6.16.0000
Classe: REPRESENTAÇÃO
Órgão julgador colegiado: Colegiado do Tribunal Regional Eleitoral
Órgão julgador: Relatoria Dr. Roberto Ribas Tavarnaro
Última distribuição : 02/03/2022
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Pesquisa Eleitoral - Registro de Pesquisa Eleitoral
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
PARTIDO DOS TRABALHADORES DIRETORIO ESTADUAL LYGIA MARIA COPI (ADVOGADO)
DO PARANA (REPRESENTANTE) JEANCARLO DE OLIVEIRA COLETTI (ADVOGADO)
PRISCILLA CONTI BARTOLOMEU (ADVOGADO)
LUIZ EDUARDO PECCININ (ADVOGADO)
RADAR INTELIGENICA - EIRELI - EPP (REPRESENTADO)
Procurador Regional Eleitoral1 (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
42908 02/03/2022 15:52 RP Impugnacao pesquisa PT 2022 Petição
682
Excelentíssimo(a) Senhor(a) Doutor Juiz(a) Auxiliar1 Relator(a) do Egrégio Tribunal
Regional Eleitoral do Estado do Paraná

URGENTE

PEDIDO LIMINAR – RISCO DE PERECIMENTO DE DIREITO

IMPUGNAÇÃO À PESQUISA ELEITORAL PR-02644/2022

DIRETÓRIO REGIONAL DO PARTIDO DOS TRABALHADORES DO ESTADO DO PARANÁ2, de


agora em diante apenas REPRESENTANTE, vem, respeitosamente perante Vossa Excelência,
por intermédio de seus procuradores signatários, com fulcro no art. 96 e seguintes da Lei
n.º 9.504/97, cumulado com o art. 15. da Resolução do TSE n. 23.600/2019, propor
representação eleitoral com pedido liminar em face da empresa RADAR INTELIGÊNCIA
EIRELI - RADAR ESTATÍSTICA3, ora REPRESENTADA, conforme expõe, requer e fundamenta em
seguida.

1 § 3º O requerimento de que trata o caput tramitará obrigatoriamente no Sistema Processo Judicial


Eletrônico (PJe), devendo ser autuado na classe Petição (Pet), com indicação do número de identificação da
pesquisa e direcionado: I - nas eleições gerais, ao tribunal eleitoral ao qual compete o registro de
candidatura do cargo objeto da pesquisa, distribuindo-se o pedido a um dos juízes auxiliares;

2 Partido político devidamente registrado perante o Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Paraná,
pessoa jurídica de direito privado inscrita no CNPJ n. 75.719.740/0001-81, com sede na Alameda Princesa
Izabel n. 160, Bairro São Francisco, Curitiba/PR.
3 Pessoa jurídica de direito privado inscrita no CNPJ n. 00.481.961/0001-65, com sede à Avenida Julio Assis

Cavalheiro, 1400, Sala 03, Centro, Francisco Beltrão/PR.

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I. BREVE SÍNTESE FÁTICA

A REPRESENTADA postulou registro de pesquisa de opinião para as eleições para as


eleições gerais (estaduais e presidencial) de 2022, no Estado do Paraná. A pesquisa foi
registrada no sistema da Justiça Eleitoral sob n. PR-02644/2022, conforme documentos
anexos.

Como se sabe, a pesquisa deve cumprir as exigências da Res.-TSE n. 23.600/2019


(atualizada pela Resolução nº 23.676, de 16 de dezembro de 2021). Estando cumpridos
tais requisitos, o registro de pesquisa deve ser aprovado, tendo em vista que, em tese, não
cabe, a princípio, ao Poder Judiciário, imiscuir-se nos elementos postos pela empresa de
pesquisa.

Ocorre que o referido registro, realizado pela REPRESENTADA nem de longe


cumpriu com tais requisitos.

Assim, ante a ausência de adaptação da pretensão de registro às exigências da Res.-


TSE n. 23.600/2019, o registro não merece ser deferido para regular divulgação. São
diversas as falhas que desvirtuam a finalidade da pesquisa: apontar um resultado que
seja o retrato fiel da realidade política atual do Estado do Paraná.

Da maneira como formulada, é de se indeferir a pretensão registral.

II. MÉRITO. IMPUGNAÇÃO DA PESQUISA REGISTRADA. RESOLUÇÃO TSE N. 23.600/2019.

II.1 EXCLUSÃO DE PRÉ-CANDIDATOS JÁ DECLARADOS. VIOLAÇÃO À ISONOMIA DA DISPUTA.


DIREITO À INFORMAÇÃO DO ELEITOR.

Sabe-se que as eleições deste ano, assim como as de 2018, terão grande
participação e influência dos candidatos à presidência, sendo que provavelmente
ocorrerá outra polarização entre os apoiadores do “Presidente Lula” e de “Jair Bolsonaro”.

O candidato escolhido pelo Presidente da República Jair Bolsonaro é o Deputado


Federal Filipe Barros, que já se lançou oficialmente à disputa ao Governo Estadual, fato
amplamente noticiado pela imprensa local:

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https://www.gazetadopovo.com.br/parana/breves/bolsonarista-deputado-filipe-barros-
lanca-pre-candidatura-ao-governo-do-parana/

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https://24h.com.br/politica/eleicoes2022/parana-ja-tem-cinco-pre-candidatos-ao-
governo-do-estado-veja-quem-sao/

Ocorre que a questão P.9, bem como os cenários seguintes, ignoram totalmente
referida candidatura, não deixando qualquer escolha para o respondente, senão escolher
um dos três candidatos expostos (Ratinho Jr., Requião, Cesar Silvestri) ou escolher as
opções “nulo/branco” ou “não sabe/não opinou”.

Portanto, evidente que o resultado da pesquisa, se ignorado um dos possíveis


candidatos relevantes, cujo nome circula no Estado do Paraná e que, sabe-se, possui
afinidade ideológica com os outros dois (Silvestri e Ratinho), estará totalmente distorcido
da realidade.

Sabe-se que Resolução TSE n. 23.600/2019 impõe às pesquisas registradas que


somente “a partir das publicações dos editais de registro de candidatos, os nomes de todos
os candidatos cujo registro tenha sido requerido deverão constar da lista apresentada aos
entrevistados durante a realização das pesquisas”, o dever de isonomia de tratamento
impõe que as pesquisas retratem o cenário político mais fidedigno nas intenções de voto
também no período pré-eleitoral.

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Foi exatamente o precedente construído no caso ‘Selma Arruda’ que tornou mais
evidente a necessidade de respeito à igualdade de oportunidades no pleito também no
período pré-eleitoral:

“(...) 6. A propaganda eleitoral antecipada massiva, mesmo que não


implique violação explícita ao art. 36–A da Lei nº 9.504/1997, pode
caracterizar ação abusiva, sob o viés econômico, a ser corrigida por meio
de ação própria.
7. A produção de farto material de pré–campanha e de campanha, no
período imediatamente anterior ao eleitoral e com o investimento de
grande quantia de dinheiro, caracteriza o abuso do poder econômico
descrito no art. 22, XIV, da LC nº 64/1190 e, por consequência, implica a
cassação de todos os beneficiários bem como a decretação da
inelegibilidade dos diretamente envolvidos, porquanto possui gravidade
capaz de comprometer a lisura do pleito. (...)”.
(TSE, Recurso Ordinário nº 060161619, Relator Min. Og Fernandes,
Publicação: DJE Data 19/12/2019)

Tanto é possível se extrair tal exigência da normativa em vigor que o registro de


pesquisas eleitorais já passa a vigorar desde o dia 1º de janeiro do ano da eleição.
Evidentemente que as exigências impostas no período eleitoral também devem ser
observadas na chamada pré-campanha, sob pena de clara distorção de resultados das
intenções de voto.

As pesquisas eleitorais concretizam o direito à liberdade de informação do eleitor


e de toda a sociedade (art. 5º, XIV, CF88). Assim, possuem múnus público reconhecido
legalmente (registro obrigatório), sendo que distorções em sua coleta e divulgação podem
implicar em clara desinformação do eleitor, conforme conceito cunhado pela Resolução n.
23.610/2019:

“Art. 9º-A. É vedada a divulgação ou compartilhamento de fatos


sabidamente inverídicos ou gravemente descontextualizados que
atinja a integridade do processo eleitoral, inclusive os processos de
votação, apuração e totalização de votos, devendo o juízo eleitoral, a
requerimento do Ministério Público, determinar a cessação do ilícito, sem
prejuízo da apuração de responsabilidade penal, abuso de poder e uso
indevido dos meios de comunicação”.

Importante destacar que, neste momento, nenhum pretenso disputante ao


governo do estado possui registro de candidatura formalizado. Assim, é fundamental ao
instituto de pesquisa que seja, ao máximo, fidedigno à realidade política que pretende

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analisar, não excluindo do levantamento pré-candidatos declarados (como é Felipe
Barros) sob critérios unilaterais desconhecidos do próprio instituto de pesquisa.

Desta forma, evidente que existe grande probabilidade de distorção nos


resultados da pesquisa com a exclusão unilateral de notório e declarado pré-candidato,
nos termos da Resolução TSE 23.600/2019.

II.2. VIOLAÇÃO À IGUALDADE DE GÊNERO NO LEVANTAMENTO. ART. 2º RESOLUÇÃO TSE


23.600/2019. PORTARIA CONJUNTA TSE N. 01/2018.

O C. TSE deu um passo importante na promoção da igualdade de gênero na


política através do julgamento de Valença/PI, que reconheceu a possibilidade de
verificação da chamada fraude à cota de gênero imposta pelo art. 10, § 3º, da Lei Eleitoral
(REsp 14-9/PI, Rel. Henrique Neves da Silva).

A partir daí, foram várias as políticas propostas pela Corte na promoção da


igualdade de gênero (não SEXO), inclusive as dispostas para verificação das cotas na
Resolução TSE n. 23.609/2019:

Art. 17. (...)


§ 2º Do número de vagas resultante das regras previstas neste
artigo, cada partido político ou federação preencherá o mínimo de
30% (trinta por cento) e o máximo de 70% (setenta por cento) para
candidaturas de cada gênero (Lei nº 9.504/1997, art. 10, § 3º).
(Redação dada pela Resolução nº 23.675/2021)
§ 5º Para fins dos cálculos a que se referem os §§ 2º a 4º deste
artigo, será considerado o gênero declarado no registro de
candidatura, ainda que dissonante do Cadastro Eleitoral”.

A despeito da dispensa para retificação do cadastro eleitoral, a Portaria Conjunta


n. 01/2018, disciplinando a inscrição eleitoral de pessoas transgênero a partir de seu
nome social:

Art. 1º A inclusão do nome social no cadastro eleitoral observará as


seguintes regras:
I - nome social é a designação pela qual a pessoa travesti ou
transexual se identifica e é socialmente reconhecida e não se
confunde com apelidos;

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II - no Requerimento de Alistamento Eleitoral e no título, o nome
social deverá ser composto por prenome, acrescido do(s)
sobrenome(s) familiar(es) constante(s) do nome civil, não
podendo ser ridículo ou irreverente ou atentar contra o pudor;
(...)
IV - o nome civil da pessoa que declarou seu nome social deverá
constar do e-Título em página adicional, de modo a evitar
constrangimentos eventualmente decorrentes da exibição do
documento para outras finalidades que não exijam a apresentação
do nome civil;”
A partir daí, o TSE criou o observatório à violência política de gênero, bem como
emitiu a cartilha de combate à violência de gênero4, instituindo verdadeira política de não
discriminação às pessoas transsexuais, travestir, não binárias e de gêneros não
especificados.

Para o que importa aqui, a Resolução n. 23.600/2019 também trouxe o ímpeto de


inclusão política ao registro de pesquisas eleitorais, determinando que a estratificação
não se limite à segmentação dos eleitores ao mero “sexo” (diferente da própria Lei
n. 9.504/97), mas ao “GÊNERO” dos eleitores, conforme dispositivos expressos da
normativa:

“Art. 2º A partir de 1º de janeiro do ano da eleição, as entidades e as


empresas que realizarem pesquisas de opinião pública relativas às
eleições ou aos candidatos, para conhecimento público, são obrigadas,
para cada pesquisa, a registrar, no Sistema de Registro de Pesquisas
Eleitorais (PesqEle), até 5 (cinco) dias antes da divulgação, as seguintes
informações (Lei n° 9.504/1997, art. 33, caput, I a VII e § 1º): (...)
IV - plano amostral e ponderação quanto a gênero, idade, grau de
instrução, nível econômico do entrevistado e área física de realização do
trabalho a ser executado, bem como nível de confiança e margem de erro,
com a indicação da fonte pública dos dados utilizados; (...)
§ 7º A partir do dia em que a pesquisa puder ser divulgada e até o dia
seguinte, o registro deverá ser complementado, sob pena de ser a
pesquisa considerada não registrada, com os dados relativos: (....)
IV - em quaisquer das hipóteses dos incisos I, II e III deste parágrafo, ao
número de eleitores pesquisados em cada setor censitário e a composição
quanto a gênero, idade, grau de instrução e nível econômico dos
entrevistados na amostra final da área de abrangência da pesquisa
eleitoral”.

4 https://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2021/Dezembro/cartilha-incentiva-o-combate-a-
violencia-politica-de-genero

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Neste ponto, verifica-se do registro da pesquisa impugnada que a amostragem
somente separa os eleitores quanto a seu “sexo”, não “gênero”:

Observa-se do questionário que não há outra opção para indivíduos não


binários5, que não se identifiquem aos “sexos” biológicos e ainda que possuam identidade
social de gênero ou mesmo que não se sintam a vontade para responder a alternativa. Não
há opção de “outro” ou “nenhum” para especificar o gênero do eleitor entrevistao.

Pior: impõe a exclusão daqueles que não se encaixam em quaisquer das opções
binárias indicadas, minoria que, a despeito de a população LGBTQI+ representar cerca de
8 % (oito por cento) da população paranaense6.

Sobre o tema, é fundamental trazer à tona a importância da distinção de gênero,


não “sexo”, para inclusão política desse setor ainda amplamente discriminado da
sociedade. Conforme Relatório 2020-2021 de violência política contra a mulher,

5 “O termo não-binário refere-se às pessoas que não se percebem como pertencentes a um gênero
exclusivamente. Isso significa que sua identidade de gênero e expressão de gênero não são limitadas ao
masculino e feminino. Também chamadas de genderqueer, as pessoas que se consideram não-binárias
podem não se reconhecer com a identidade de gênero de homem ou mulher - ausência de gênero - ou podem
se caracterizar como uma mistura entre os dois. Ou seja, apesar de possuir os órgãos genitais de
determinado sexo, não se reconhecem totalmente com esse gênero”. Disponível em:
https://www.significados.com.br/nao-
binario/#:~:text=O%20termo%20n%C3%A3o%2Dbin%C3%A1rio%20refere,limitadas%20ao%20mascu
lino%20e%20feminino.

6 https://livre.jor.br/quantas-pessoas-gays-lesbicas-e-trans-vivem-nas-cidades-do-
parana/#:~:text=Aplicando%20a%20Escala%20Kinsey%20aos,8%25%20da%20popula%C3%A7%C3%
A3o%20do%20estado.

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produzido pela Transparência Eleitoral Brasil e pelo Observatório de Violência Política
Contra a Mulher7,

“Nesse sentido, é necessário destacar, de início, que a definição do ser


mulher é uma construção social que ultrapassa o sexismo e traz a
qualificação conotativa de que as mulheres devem ter um determinado
comportamento. (...) Tal assertiva implica a percepção segundo a qual a
identidade não é determinada por fatores biológicos. Na realidade, o
sujeito humano feminino é construído a partir de relações sociais,
sobretudo aquelas que identificam o seu local de desprestígio em relação
ao sujeito masculino. A percepção de que o gênero, enquanto produto
social, não se confunde com o sexo, concebido como padrão biológico,
acarreta uma série de implicações jurídicas e sociológicas. Um exemplo
é o fato de que a análise da violência política contra a mulher,
necessariamente, precisa considerar a ideia de gênero de forma
abrangente, incluindo mulheres cis e transgênero. Assim, a despeito
de ser comum a utilização dos termos “sexo” e “gênero” como
sinônimos no uso corrente da língua, inclusive em documentos
jurídicos e oficiais, há algumas décadas já é manifestada a
diferenciação desses conceitos, a fim de destacar que a ideia de
gênero recusa a rigidez de uma identidade limitada a partir de uma
divisão binária de corpos biologicamente definidos como homem e
mulher”.

Tal entendimento foi acolhido pelo TSE em resposta à Consulta n. 0604054-


58.2017.6.00.0000, no qual o relator, Ministro Tarcisio Vieira de Carvalho Neto
manifestou seu entendimento acerca da construção cultural do gênero, e da
interpretação do texto da lei de acordo com a proteção dos demais direitos da pessoa
humana. Assim, ainda que a palavra “sexo” se refira a questões biológicas (macho/fêmea),
pelo posicionamento da Justiça Eleitoral, deve-se considerar a construção cultural, ou
seja, a lógica de gênero.

Tal posição hoje é promovida concretamente pelo C. TSE através de todo o


arcabouço normativo de inclusão, acima visto, especificamente da Resolução TSE n.
23.600/2019.

A cartilha de Violência Política de Gênero, elaborada pelo C. TSE em conjunto com


várias instituições públicas e privadas, faz expressa referência formas de violência de
gênero não físicas como as aqui expostas:

7 https://transparenciaeleitoral.com.br/wp-content/uploads/2021/12/Relatorio-de-violencia-politica-
contra-a-mulher.pdf

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Assim, era fundamental ao registro da pesquisa que a amostragem se definisse
como “gênero”, além de conferir outras opções ao eleitor consultado, sem possibilidade
de sua exclusão a partir dos “sexos” feminino e masculino, como “outro” ou “prefiro não
dizer”.

O registro vai de encontro ao próprio cadastro dos eleitores do C. TSE, do qual


agora somente é possível obter os dados referentes ao gênero (não ao ‘sexo’) dos eleitores,
o que também leva a distorções na pesquisa:

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Assim, observa-se a amostragem indicada e o questionário apresentado aos(às)
eleitores(as) desconsidera a necessidade de apontamento de gênero do eleitor, não seu
“sexo”, em descumprimento expresso da Resolução TSE n. 23.600/2019 e da própria
política de prevenção à violência de gênero estabelecida pelo C. TSE desde 2018.

II.3. INCOMPATIBILIDADE QUANTO À SEGMENTAÇÃO NÍVEL ECONÔMICO EM COMPARAÇÃO


AO QUESTIONÁRIO.

A descrição de um plano amostral probabilístico deve especificar o universo de


investigação, as unidades amostrais, os critérios de estratificação, os procedimentos de
sorteio das unidades amostrais, as probabilidades de inclusão, os estimadores e os
respectivos erros amostrais. Desse modo, saberemos do que e de quem estamos falando
e avaliando os desvios esperados para as estimativas8.

Sendo assim, o plano amostral de uma pesquisa eleitoral deve conter o


planejamento do universo estudado com o fim permitir que as melhores decisões sejam
tomadas para garantir a representatividade dos grupos e subgrupos de interesse.

8 BOLFARINE, H.; BUSSAB, W. O. Elementos de Amostragem. São Paulo: ABE - Projeto Fisher, Edgard
Blücher, 2005.

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Na pesquisa ora questionada, a REPRESENTADA estratificou a população
paranaense por sexo (e não gênero, supra), faixa etária (idade), grau de instrução
(escolaridade) e nível econômico (renda).

Quanto ao nível econômico, o plano amostral foi assim estratificado da seguinte


forma:

“A amostra desta pesquisa será de 1.350 entrevistas, distribuídas


da seguinte forma: Sexo - masculino: 47%, feminino: 53%; Idade -
16 a 24 anos: 12%, 25 a 34 anos: 20%, 35 a 44 anos: 20%, 45 a 59
anos: 27%, mais de 59 anos: 21% ; Grau de Instrução ¿ De
analfabeto até ensino fundamental completo: 38%, Ensino médio
completo e incompleto: 41%, Ensino Superior completo e
incompleto: 21%; Nível Econômico - Sem rendimento até 2
salários mínimos: 36%, de 2 a 5 salários mínimos: 39%, mais
de 5 salários mínimos: 25%. Está prevista ponderação das
variáveis sexo, faixa etária, grau de instrução e nível econômico,
caso ocorram diferenças superior a margem de erro de 2.7 % entre
os resultados obtidos em campo e os percentuais previstos para a
amostra. O intervalo de confiança é de 95%, e a margem de erro é
de 2,7 pontos percentuais para mais ou para menos”.

Já assim consta no questionário:

Como se vê, a pergunta feita no questionário da uma opção extra de resposta


(“não informou”), ao passo que não há qualquer descrição do que é feito com os
questionários daqueles que não informam seu rendimento e esfacela qualquer
pretensão de cumprimento do plano amostral indicado.

Vale dizer que as demais perguntas dos questionários referentes às amostragens


de sexo (já argumentado), idade e escolaridade não apresentam essa opção, como o pleno
amostral apresentado prevê:

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Exemplificando: se um eleitor não informa sua renda familiar, ele não pode ser
enquadrado na pesquisa, mas não há qualquer orientação de descarte do levantamento
ou a destinação do questionário se esta for a resposta. Isso permite o aproveitamento ou
o descarte destes formulários da melhor forma que aprouver ao instituto REPRESENTADO,
permitindo a manipulação dos dados coletados.

Com a máxima vênia, mas observa-se que, da forma como apresentados os


questionários, o plano amostral indicado é meramente formal, impossível de ser
cumprido plenamente.

Ainda, não há que se falar em mero erro material, pois em verdade se há algum
erro na formulação do questionário é um erro crasso o qual inevitavelmente condena a
pesquisa como um todo ao fracasso.

Sendo assim, esse é mais um motivo para que a presente pesquisa não tenha
qualquer condição de ser publicizada, pois condenada a apresentar resultado divergente
do real.

II.4. DIVERGÊNCIAS NOS NOMES APRESENTADOS NO REGISTRO E AQUELES DOS

QUESTIONÁRIOS.

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Aqui, há mais um erro grave no registro da pesquisa impugnada.

No registro apresentado, constam os seguintes nomes para a intenção de votos


ao governo do estado do Paraná, dentre eles, o pré-candidato Roberto Requião está
apenas identificado como “Requião”:

Já na P. 10, o nome do mesmo pré-candidato está completo, como “Roberto


Requião”, tanto no enunciado quanto no questionário:

Já cartão laranja, novamente o nome do pré-candidato Roberto Requião é


apresentado ao interessado apenas como “REQUIÃO”, sem o prenome:

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Como se sabe, a indicação precisa e correta dos nomes dos pré ou candidatos
apresentados ao eleitor é fundamental, sem divergências e incongruências entre
perguntas e possibilidades de resposta. É pressuposto básico de qualquer
levantamento estatístico sério e que siga o rigor técnico científico esperado.

Deve se levar em conta que não é permitido ao entrevistador, no momento da


coleta, prestar qualquer esclarecimento ou correção manual das perguntas feitas, sob
pena de risco de manipulação ou indução da vontade do eleitor. Assim, se este apresenta
dúvida entre qual seria o “Requião” nos dois cenários apresentados, a dúvida não pode
ser resolvida pelo entrevistador.

Ainda que grande parte das pessoas identifique “Requião” como sendo o ex-
senador e ex-governador Roberto Requião, importante lembrar que seu filho também se
apresenta com o mesmo sobrenome e atualmente ocupa o cargo de Deputado
Estadual como Requião Filho, o que pode ser confundido por eleitores com menor
nível de informação e instrução:

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9

Nota-se, ainda, que o citado pré-candidato foi o único dos três a ter seu nome
apresentado de modo divergente entre questionário e disco de respostas, o que
viola claramente a necessidade de tratamento isonômico pelo levantamento, conforme
jurisprudência eleitoral:

“Representação contra pesquisa eleitoral - Decadência -


Inocorrência, eis que foi ela ajuizada dentro do prazo de cinco dias
do registro daquela. Pré-candidato que divulgou referida pesquisa
eleitoral, posteriormente suspensa, em sua página pessoal -
Legitimidade para figurar no polo passivo da representação
eleitoral, inexistindo decadência, pois esta não pode extinguir
direito que inexistia antes daquele ato. Pesquisa eleitoral -
Tratamento desigual dos pré-candidatos no momento da
formulação das perguntas, de forma a poder induzir as
respostas dos entrevistados. Plano amostral, outrossim, que não

9 https://www.requiaofilho.com.br/quem-sou

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cumpriu todos os requisitos previstos no art. 33, IV, da Lei de
Eleições, bem como no art. 2º, IV, da Resolução nº 23.549/2017 do
TSE, eis que ausente a ponderação relativa ao grau de instrução e
nível econômico dos entrevistados, e não restou demonstrada o
cumprimento da meta em relação às variáveis de sexo e idade.
Impossibilidade de sua divulgação, em razão da potencial
capacidade de gerar o desequilíbrio do pleito, com o eleitorado
tendo induzida ou influenciada, indevidamente, sua vontade.
Recursos improvidos.
(TRE/SP, Ação Cautelar nº 060067382, Relator Des. Afonso Celso
da Silva, DJESP Data 27/07/2018)

Assim, por evidente indicação contraditória e equivocada do nome do pré-


candidato, não há como se permitir a divulgação da pesquisa impugnada.

II.5. AUSÊNCIA DE SISTEMA INTERNO DE “CONTROLE” E “CONFERÊNCIA”.

Outro requisito para a realização da pesquisa é possuir, a empresa contratada, um


sistema interno de (1) controle e verificação, (2) conferência e (3) fiscalização da coleta
de dados e do trabalho de campo. Trata-se do requisito do inciso V, do art. 2º, da Res. 23.
600/2019 do TSE:

Art. 2º (...)
V - sistema interno de controle e verificação, conferência e fiscalização da
coleta de dados e do trabalho de campo;

Perceba, Excelência, que a lei não possui palavras inúteis. Não se tratam, os
termos utilizados, de meros sinônimos. Tampouco foi o legislador “caprichoso” ao utilizar
os termos. A norma tinha a finalidade clara de indicar três sistemas de controle da
pesquisa. Ao expor sobre os sistemas de controle, a REPRESENTADA apresenta a seguinte
explicação:

Todas as entrevistas serão conferidas individualmente, criticadas por


um profissional responsável pelo controle de qualidade da empresa e
posteriormente tabuladas em um software específico para este fim. Todo
o trabalho de coleta de dados (entrevistas) será devidamente coordenado
e fiscalizado por um profissional treinado com esse objetivo.
Utilizaremos grades de cotas de sexo, idade, grau de instrução e nível
econômico proporcionalmente, de acordo com o perfil do eleitor do

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universo pesquisado. Serão checados 20% dos questionários, por
telefone, solicitado junto ao respondente no momento da entrevista, com
sua plena concordância.

Portanto, dentre os três sistemas de controle (verificação, conferência e


fiscalização), a pesquisa impugnada apresenta apenas o sistema de conferência e
fiscalização (em percentual baixo, porque compreende apenas 20% dos questionários
utilizados), de modo absolutamente genérico e sem indicação do modo técnico como tais
serão realizados.

A ciência da Estatística nos ensina que a conferência diz respeito à trilha de


evidência documental referente ao procedimento de controle que se está testando:

A amostragem nos testes de observância tem a finalidade de verificar a


taxa de desvios aplicada a um determinado tipo de controle. (...) Para
tanto, faz-se necessária a existência de uma trilha de evidência
documental referente ao procedimento de controle que se está
testando.10

Ou seja, a empresa deve apresentar (e detalhar) o desencadear de atos


sucessivos que testam a eficiência do controle realizado. Trata-se do procedimento
de controle e verificação. NÃO HÁ informações quanto a tal procedimento, limitando-
se o registro a indicar que as entrevistas serao “criticadas por um profissional
responsável pelo controle de qualidade da empresa” e “tabuladas em um software
específico para este fim”.

Com a devida vênia, “criticadas” não é o mesmo que “conferidas”, “controladas” e


“fiscalizadas”. Igualmente, não há indicação de atuação do estatístico responsável pela
pesquisa no processo de coleta e processamento de dados, mas apenas de um
“profissional responsável pelo controle de qualidade da empresa”. Por fim, qual o
software ou método de conferência e fiscalização dos dados, os quais somente serão
“tabulados” “em um software específico para este fim”?

Nesse sentido, bem sedimentou recentemente o E. TRE/PR:

10CUNHA, Paulo Roberto da; BEUREN, Ilse Maria. Técnicas de amostragem utilizadas nas empresas de
auditoria independente estabelecidas em Santa Catarina. Revista Contabilidade & Finanças, vol.17 no.40
São Paulo Jan./Apr. 2006.

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RECURSO ELEITORAL. REPRESENTAÇÃO. ELEIÇÕES 2020. PESQUISA
ELEITORAL. IRREGULARIDADES NO PLANO AMOSTRAL.
ESTRATIFICAÇÃO DA AMOSTRA. NÍVEL ECONÔMICO. NÃO
OBSERVAÇÃO NO QUESTIONÁRIO. SISTEMA INTERNO DE CONTROLE.
INDICAÇÃO INSUFICIENTE. RECURSO NÃO PROVIDO.
1. Considera-se irregular a pesquisa que não observa na coleta de dados
(questionário) o parâmetro informado no registro da pesquisa no
PesqEle para estratificação da amostra em relação ao nível econômico
dos entrevistados.
2. A indicação do sistema interno de controle e verificação,
conferência e fiscalização da coleta de dados e do trabalho e campo,
nos termos do art. 2º, V, da Resolução nº 23.600/2019-TSE deve ser
clara e suficiente a demonstrar a fidelidade dos dados coletados.
3. Recurso não provido”.
(TRE/PR, RECURSO ELEITORAL 0600281-39.2020.6.16.0134, Rel. Dr.
Roberto Ribas Tavarnaro, Julgado em 06/11/2020)

Ou seja, a pesquisa em questão possui apenas mera fiscalização, o que não


garante a verificação dos resultados obtidos. Quando a Resolução TSE n. 23.600/2019
menciona a necessidade de explanação acerca do “sistema interno de controle e
verificação, conferência e fiscalização da coleta”, pretende muito mais do que a simples
consignação no pedido de registro da informação de que os questionários serão
“criticados” e “tabulados” por um “software específico”.

Necessário que se consigne: qual procedimento de controle; qual “ trilha de


evidência documental” analisada; quais os “testes de observância” realizados; qual “fator
de confiabilidade para o risco especificado de aceitação incorreta”.

Nada disso consta do pedido de registro. Não há qualquer segurança ou


credibilidade para a pesquisa.

Por tais razões, o levantamento não merece ter sua publicação permitida.

IV. PEDIDO LIMINAR. PRESENÇA DE ELEMENTOS PARA CONCESSÃO. RELEVÂNCIA DO DIREITO

INVOCADO E PREJUÍZO IRREPARÁVEL À PARTE COM A EVENTUAL DIVULGAÇÃO.

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Sabe-se que eventuais irregularidades verificadas no registro da pesquisa eleitoral
devem ser apuradas rigorosamente, pois o que está em risco é a própria idoneidade do
processo eleitoral que deve, tanto quanto possível, manter-se livre de manipulações e
falseamentos.
Deste modo, diante das evidentes irregularidades demonstradas, que
contaminam toda a pesquisa, pois distorcem a realidade e se valem de dados equivocados
e amostras não confiáveis, causando prejuízo à parte, impede, em absoluto, que seja
autorizada a divulgação da pesquisa, o que torna imperiosa a concessão de medida liminar
a fim de obstar a sua publicação.

Diante disso, dispõe o art. 16 da Resolução 23.600/2019:

Art. 16. O pedido de impugnação do registro de pesquisa deve ser


protocolizado por advogado e autuado no Processo Judicial Eletrônico
(PJe), na classe Representação (Rp), a qual será processada na forma da
resolução do Tribunal Superior Eleitoral que dispõe sobre as
representações, as reclamações e os pedidos de direito de resposta.
§ 1º Considerando a relevância do direito invocado e a
possibilidade de prejuízo de difícil reparação, poderá ser
determinada a suspensão da divulgação dos resultados da pesquisa
impugnada ou a inclusão de esclarecimento na divulgação de seus
resultados.

Assim, o fumus bonni juris ou relevância do direito resta amplamente atestado


pela argumentação acima exposta, demonstrando a inequívoca ausência de confiabilidade
da pesquisa registrada. Há claras irregularidades, sendo a mais gravosa delas a indicação
inválida do plano amostral e a ausência de fator de ponderação para nenhum dos níveis,
essencial para que o levantamento seja o retrato fiel da realidade política do Paraná.

O periculum in mora igualmente está presente, na medida em que a divulgação da


pesquisa se dará no próximo dia 03 de março de 2022 (quinta-feira). Assim, o aguardo
para o julgamento definitivo da presente impugnação pode causar danos irreparáveis às
lisura do processo eleitoral por si só.

É importante destacar aqui que não se está impondo qualquer ato de censura, mas
a comprovação de irregularidade foi tecnicamente demonstrada. Assim, é papel da Justiça

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Eleitoral fiscalizar toda informação que possa, de qualquer forma, desequilibrar o pleito e
afetar a lisura da disputa, quando em violação ao ordenamento jurídico eleitoral:

“AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO CAUTELAR. PESQUISA ELEITORAL.


IMPUGNAÇÃO. ISONOMIA. OFENSA. DIVULGAÇÃO. SUSPENSÃO.
RECURSO PENDENTE. PERDA DE OBJETO. PERIGO DA DEMORA
INVERSO. DESPROVIMENTO.
1. A decisão que suspende temporariamente a divulgação de
pesquisas não constitui ofensa ao direito de informação, nem
pode ser considerada teratológica, sem que se analise o caso
concreto, mormente quando há recurso pendente no qual a
questão está em discussão.
2. Uma vez divulgada a pesquisa sem o nome de um dos candidatos,
seus efeitos já se consumam na própria publicação. Assim, diante do
perigo da demora inverso, consubstanciado na irreversibilidade
dos efeitos de sua publicação, prudente aguardar o julgamento do
mérito do recurso em que se discute a questão.
3. Agravo regimental desprovido.
(TSE, Agravo Regimental em Ação Cautelar nº 2700, Acórdão de
09/09/2008, Relator Min. FELIX FISCHER, DJE Data 01/10/2008)

Desse modo, requer-se a concessão de liminar para que seja suspensa a


divulgação da pesquisa ora impugnada em razão de todas as irregularidades da mesma,
sob pena de multa por descumprimento a ser arbitrada em patamar razoável por este
Douto Juízo Eleitoral.

Por fim, além da necessária suspensão (liminar e definitiva) da divulgação dos


resultados da pesquisa irregular aqui impugnada, deve se pleitear também o acesso
integral a todos os questionários, documentos e informações coletadas relacionados ao
levantamento feito. Assim garante a Resolução TSE n.º 23.600/2019, em seu art. 13, §2º.

IV. PEDIDOS

Por todo o exposto, requer-se:

a) liminarmente, a suspensão imediata da divulgação da pesquisa


impugnada (PR-02644/2022) (art. 16, §§ 1º e 2º, da Res.-TSE n. 23.600/19 -
TSE), sob pena de multa diária para o caso de descumprimento, pela

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REPRESENTADA, nos termos do art. 5º, inciso V, art. 13, § 4º e art. 16 e parágrafos,
todos da Res.-TSE n. 23.600/19;

b) também liminarmente e sem prejuízo do pedido anterior, seja deferido


acesso, pelo REPRESENTANTE, ao sistema interno de controle, à verificação e à
fiscalização de coleta de dados, incluídos os referentes à identificação dos
entrevistadores e, por meio de escolha livre e aleatória de planilhas individuais,
mapas ou equivalentes, confrontar e conferir os dados publicados, preservada a
identidade dos entrevistados (art. 13, da Res.-TSE n. 13.600/2019), bem como
acesso ao relatório entregue ao solicitante da pesquisa e ao modelo do
questionário aplicado, para facilitar a conferência das informações divulgadas,
tudo nos termos do referido art. 13, devendo as informações serem entregues em
mídia (§ 8º, do art. 13), diretamente aos REPRESENTANTES;

c) a intimação do Ministério Público Eleitoral para atuar no feito como fiscal


da ordem jurídica; e

d) ao final, a total procedência da presente representação, confirmando a


liminar concedida e em toda a extensão lá requerida, sob a pena de multa pelo
descumprimento/reincidência da conduta.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Curitiba, 02 de março de 2022.

LUIZ EDUARDO PECCININ

OAB/PR 58.101

PRISCILA CONTI BARTOLOMEU

OAB/PR 97.632

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