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EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES, DO

EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Assinado de forma digital


FLAVIA CALADO por FLAVIA CALADO
PEREIRA:002982 PEREIRA:00298232260
Dados: 2022.01.28
32260 18:51:11 -03'00'

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Ref.: Inq. 4878/DF

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RANDOLPH FREDERICH RODRIGUES ALVES, brasileiro, Senador da República,
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portador da cédula de identidade nº 050360, inscrito no CPF sob o nº 431.879.432-68, com


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endereço profissional na Praça dos Três Poderes, Palácio do Congresso Nacional, Senado
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Federal, Anexo I, 9º andar, vem, por intermédio de seu advogado, na qualidade de terceiro
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interessado, e com fundamento no art. 5º, XXXIV, “a”, da Constituição Federal, apresentar
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PEDIDOS em face do Sr. Jair Messias Bolsonaro, Presidente da República, pelos fatos e
fundamentos que passa a expor.
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Este Senador peticionou ao STF, em 5 de agosto de 2021, ao tomar conhecimento do


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acesso indevido do Sr. Presidente da República a inquérito da Polícia Federal e documentos


do TSE sigilosos. Vale transcrever a petição anterior:

Não é novidade alguma que o Senhor Jair Bolsonaro deseja ter a Polícia
Federal, instituição relevante para o Estado Democrático de Direito, aos
seus pés, o que é objeto do inquérito em epígrafe, aberto a partir das
manifestações do ex-Ministro da Justiça, Sérgio Moro, por ocasião de seu
pedido de exoneração. Esta é apenas mais uma área em que o Presidente da
República mostra seus anseios autoritários, como muito bem vem
denunciando a Oposição ao seu Governo.

O presente inquérito encontrava-se suspenso desde 27/09/2020 até a


definição acerca da (im)possibilidade de depoimento por escrito do
Presidente da República na condição de investigado, mas foi renovado ao
ser prorrogado por mais 90 dias em 27/07/20211. Com efeito, Vossa
Excelência muito bem determinou a retomada das investigações em
30/07/20212.

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Dessa forma, forçoso que se reconheça que, na data de ontem, o Presidente

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da República forneceu ao inquérito mais uma prova cabal de que, após a
saída do ex-Ministro da Justiça, conseguiu efetivamente alcançar seus

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objetivos. Isto porque divulgou em suas redes sociais a íntegra de um
inquérito sigiloso em andamento na Polícia Federal. Veja-se3 4:
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http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=469620&ori=1
2
https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=470187&ori=1
3
https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1423077930998112260. Acesso em 05/08/2021, às 8h47.
4
https://www.facebook.com/211857482296579/posts/2516129801869324/?d=n. Acesso em
05/08/2021, às 8h47.
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Ora, como o Presidente da República teve acesso a tal inquérito, senão por
intermédio de alguma autoridade da própria Polícia Federal? Para além da
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necessária investigação pela devassa indevida do sigilo das investigações -


ainda em curso, pelo que há nítido prejuízo na publicização dos documentos
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-, o que se pretende aqui é a investigação acerca da conduta que permitiu ao


Presidente o acesso a tais documentos. Isso porque não pode o Presidente,
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pelo simples fato de ser Presidente, acessar qualquer investigação que


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queira, na medida em que as autoridades policiais e judiciárias têm a


autonomia funcional para conduzirem seus procedimentos de apuração
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criminal sem interferências indevidas.


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Com efeito, o que quer o Presidente ao acessar documentos sigilosos de


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investigação ainda em curso? Num exercício interpretativo, não é demais


concluir que almeja tão somente levar a Polícia Federal a guinar por
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determinada direção investigativa - tentativa de concluir por uma suposta e


inverídica vulnerabilidade do sistema eleitoral, por exemplo -, no afã de ver
justificado seu anseio pelo nefasto debate de fraudes eleitorais que insiste
em permear no seio da sociedade brasileira.

Assim, Bolsonaro comete, ao que parece, crimes - interferir na PF e


vazar documentos sigilosos de investigação em curso - no ímpeto de
cometer outros tantos - produção de notícias falsas em detrimento da higidez
do sistema eleitoral brasileito. Trata-se da estratégia mais brilhante do
mandatário máximo da República: o crime pelo crime.

Assim, diante do exposto, solicitamos a Vossa Excelência, na qualidade de


Ministro responsável pela condução do Inquérito 4831, a juntada de mais
essa prova inequívoca de interferência do Presidente da República na
Polícia Federal, bem como que seja questionado sobre o seu acesso ao
Inquérito.

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Solicitamos, no mesmo sentido, que seja determinada, em tutela de urgência,

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a exclusão dos links5 das redes sociais em que divulgada a informação

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sigilosa, bem como do link6 disponibilizado pelo Presidente da
República com a informação, em evidente crime, conforme o disposto em

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quatro oportunidades pelo Delegado Victor Neves Feitosa Campos (páginas
67, 69, 71 e 207), conforme os próprios arquivos:
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Termos em que pede deferimento.


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Vossa Excelência, atento aos graves fatos ocorridos, determinou a remoção dos links e
a abertura do presente inquérito para apuração da conduta do Sr. Presidente da República.
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Outrossim, para fins de instrução, Vossa Excelência havia determinado que o Presidente da
República prestasse depoimento presencial na data de hoje, 28/01/2022, às 14h, na

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Notas de rodapé 3 e 4.
6
https://brasileiros.social/uploads/2020.0043195_Autos_Principais_ate_fls._384_2021.07.23.pdf.
Acesso em 05/08/2021, às 8h48.
Superintendência da Polícia Federal, em Brasília7. Segundo consta, a Advocacia-Geral da
União (AGU) foi regularmente intimada da respectiva decisão.

Não obstante, conforme amplamente divulgado pela mídia, o Sr. Jair Messias
Bolsonaro, demonstrando seu mais cristalino desprezo pelo Poder Judiciário e reiterando seu
costumeiro ataque às instituições democráticas e republicanas, optou por desobedecer a
ordem exarada por Vossa Excelência e faltar ao depoimento8.

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Em vão, para atender aos caprichos do Chefe do Poder Executivo Federal em não

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colaborar com as investigações, a AGU protocolou recurso, requerendo que a dita autoridade

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não fosse obrigada a comparecer ao depoimento. A medida intempestiva e de caráter
meramente protelatório foi prontamente indeferida, devido à ocorrência de preclusão lógica

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entre a conduta de um Presidente da República que inicialmente concorda expressamente em
prestar depoimento pessoal, porém, quando a medida é enfim agendada e determinada, opta
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por brincar e agir com desdém frente a este Eg. Supremo Tribunal Federal.
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Mais do que um óbice ao curso das investigações, em verdade, o ordenamento


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jurídico, no art. 330 do Código Penal, enquadra essa conduta como crime de desobediência:
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Desobediência
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Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público:


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Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.


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Ainda, é evidente que tal conduta, para além de significar verdadeiro crime comum -
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de desobediência -, também se amolda às balizas legais e constitucionais afetas ao crime de


responsabilidade (Lei nº 1.079, de 1950), a ter seu eventual processamento no Legislativo
Federal. Para que não restem dúvidas, veja-se o dispositivo legal pertinente:

7
Disponível em:
https://g1.globo.com/politica/noticia/2022/01/27/moraes-determina-que-bolsonaro-preste-depoimento-
nesta-sexta-sobre-vazamento-de-inquerito.ghtml. Acesso em 28.01.2022.
8
Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/01/bolsonaro-vai-faltar-a-depoimento-na-pf-dizem-integrant
es-do-planalto.shtml. Acesso em 28.01.2022.
Art. 12. São crimes contra o cumprimento das decisões judiciárias:

1 - impedir, por qualquer meio, o efeito dos atos, mandados ou decisões do


Poder Judiciário;

Ou seja, não se trata de uma conduta inofensiva, mas verdadeiramente afrontosa a


todo o ordenamento constitucional posto, exigindo a tomada de todas as medidas cabíveis
para ser reprimida e para que não venha a se repetir.

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Nestes termos, em face desse novo abuso cometido pelo Sr. Presidente da República,

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em verdadeiro ato de desrespeito à estatura dos Poderes da República, requeiro que este Eg.
Supremo Tribunal Federal adote as medidas cabíveis para a competente persecução criminal

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no bojo dessa conduta típica, ilícita e culpável do Sr. Jair Bolsonaro.

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Termos em que pede deferimento.


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Brasília, 28 de janeiro de 2022


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Randolfe Rodrigues
Senador da República (Rede/AP)
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Flávia Calado Pereira


OAB/AP nº 3864

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