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Justiça Federal da 1ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

19/12/2023

Número: 1002254-62.2022.4.01.3307
Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
Órgão julgador: Juizado Especial Cível e Criminal Adjunto à 1ª Vara Federal da SSJ de Vitória da
Conquista-BA
Última distribuição : 23/02/2022
Valor da causa: R$ 22.240,00
Assuntos: Pessoa com Deficiência
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
DRUCILA SANTANA PEREIRA (AUTOR) CINTIA DE JESUS SANTOS registrado(a) civilmente como
CINTIA DE JESUS SANTOS (ADVOGADO)
MARIA JOSE DE SANTANA (REPRESENTANTE)
ORLANDO DIAS JUNIOR (ADVOGADO)
INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL (REU)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
18011 11/10/2023 15:45 Sentença Tipo A Sentença Tipo A
50655
PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL
Subseção Judiciária de Vitória da Conquista-BA
Juizado Especial Cível e Criminal Adjunto à 1ª Vara Federal da SSJ de Vitória da Conquista-BA

SENTENÇA TIPO "A"


PROCESSO: 1002254-62.2022.4.01.3307
CLASSE: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL (436)
POLO ATIVO: DRUCILA SANTANA PEREIRA
REPRESENTANTES POLO ATIVO: ORLANDO DIAS JUNIOR - BA34857 e CINTIA DE JESUS SANTOS - BA38228
POLO PASSIVO:INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL

SENTENÇA

Dispensado o relatório, ante o disposto no art. 38 da Lei n.º 9.099/95,


aplicável à hipótese em face do contido no art. 1º da Lei n.º 10.259/01.

FUNDAMENTAÇÃO

1. A assistência social não constitui novidade no rol das preocupações das


sociedades humanas, e encontrou destacada atenção na Constituição Federal de 1988
que, em seu art. 3º, erigiu a solidariedade à categoria de objetivo fundamental da
República Federativa do Brasil.

Com esteio no aludido objetivo, atrelado à necessidade de preservação da


dignidade da pessoa humana, macroprincípio informador de todo o ordenamento jurídico
pátrio, ficou previsto no art. 203, V, da Constituição Federal, o amparo social ao idoso
e/ou portador de deficiência, nos seguintes e precisos termos:

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,


independentemente de contribuição à seguridade social e tem por
objetivos: (...) V – a garantia de um salário mínimo de benefício
mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem
não possuir meios de prover à própria manutenção ou tê-la provida
por sua família, conforme dispuser a lei.

A lei em questão é a Lei nº 8.742/93, a qual, em seu art. 20, estabeleceu os

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requisitos indispensáveis à concessão do referido benefício.

Da análise do arcabouço normativo em questão extraímos os seguintes


requisitos necessários para a concessão do benefício assistencial ao idoso ou ao
deficiente:

a) O beneficiário precisa ser pessoa com deficiência ou idoso com 65


(sessenta e cinco) anos de idade ou mais;

b) O beneficiário deve comprovar não possuir meios de prover a sua


própria subsistência e nem de tê-la provida por sua família, considerando-se a
referida incapacidade através da demonstração de que a renda mensal per capita seja
inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo.

Feito esses esclarecimentos, no caso dos autos a parte Autora requereu a


concessão de amparo social ao portador de deficiência.

2. A Autora preenche os requisitos para a concessão do benefício de


prestação continuada, previsto no art. 20 da Lei nº 8.742/93.

2.1. Não há controvérsia, no caso, sobre a existência da deficiência, uma vez


que, de acordo com o laudo médico pericial (Id n.º 1060814785), constatou-se que a
Periciada é portadora de Retardo Mental Moderado e Transtorno Bipolar (F 71 + F 31,
CID 10). Trata-se de transtorno mental permanente que causa déficit cognitivo,
principalmente no que tange a inteligência. Ainda, apresenta dificuldade para a realização
de atividade de vida diária de forma autônoma.

Para os efeitos legais, “considera-se pessoa com deficiência aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual,
em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva
na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas” (art. 20, § 2º, da
LOAS). Sendo que impedimento de longo prazo é aquele que produza efeitos pelo
prazo mínimo de 2 (dois) anos (art. 20, § 10, da LOAS).

Portanto, entendo presente o primeiro requisito exigido para a concessão do


benefício requerido pela parte Autora.

2.2. No que diz respeito à verificação do adimplemento do requisito


concernente à renda mensal per capita inferior a ¼ (um quarto) do salário-mínimo, é
importante mencionarmos que o STF na Reclamação 4154 assentou que “a definição
dos critérios a serem observados para a concessão do benefício assistencial
depende de apurado estudo e deve ser verificada de acordo com as reais condições
sociais e econômicas de cada candidato à beneficiário, não sendo o critério
objetivo de renda per capta o único legítimo para se aferir a condição de
miserabilidade”. (Rcl 4154 AgR, Relator Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, julgado em
19/09/2013, DJe-229 – 21.11.2013).

Ademais, o STF, em recente julgado, asseverou que “Em 1998, na ADI


1.232/DF, o STF havia decidido que o critério previsto no § 3° do art. 20 da Lei n°
8.742/93 era constitucional. Em 2013, ao apreciar novamente o tema no RE 567.985/MT,

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no RE 580963/PR e no Rcl 4374/PE, processos individuais julgados em conjunto, o STF
mudou de entendimento e afirmou que o referido § é parcialmente inconstitucional. Se
uma decisão proferida por outro órgão jurisdicional violar o que foi decidido pelo STF no
RE 567.985/MT, no RE 580963/PR e no Rcl 4374/PE caberá reclamação para o
supremo.”. (STF, Decisão monocrática, Rcl 18636, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em
10/11/2015, informativo 813).

Desse modo, levando em conta as reais condições socioeconômicas


apresentadas pelo núcleo familiar do Demandante, verifico a existência da condição de
miserabilidade. A perícia social (Id n.º 1134359262) foi conclusiva, na medida em que a
assistente social constatou que a parte Autora mora com o seu companheiro e que sua
manutenção é proveniente do Auxílio Brasil e, esporadicamente, da ajuda do seu
parceiro, que é ambulante e recebe, em média, R$ 400,00 reais.

Nesse sentido, destaca-se que os valores oriundos de programas sociais de


transferência de renda não são contabilizados na apuração da renda familiar per capita,
para fins de percepção do BPC/LOAS, nos termos do art. 4º, § 2º, inciso II, do
Regulamento do Benefício de Prestação Continuada, instituído pelo Decreto n.º
6.214/2007, com redação dada pelo Decreto n.º 7.617/2011.

É válido destacar, também, que o CadÚnico (Id n.º 1632963847), na época


da DER, encontrava-se devidamente atualizado.

Dessa forma, o deferimento do benefício em questão demonstra-se


imperioso.

3. Ademais, fixo a data de início do benefício na data imediatamente posterior


a cessação do último benefício recebido, ou seja, em 01/05/2021, tendo em vista que os
requisitos restaram preenchidos.

4. O pedido de tutela provisória, com fundamento na urgência, encontra


amparo legal no art. 300 do CPC. O referido dispositivo exige, cumulativamente, a
presença de dois requisitos: a) probabilidade do direito; e b) perigo de dano ou risco ao
resultado útil do processo. Além dos mencionados requisitos, caso o provimento tenha
natureza de tutela antecipada, exige-se que não exista perigo de irreversibilidade dos
efeitos da decisão (art. 300, §3º, CPC), ou seja, se os efeitos da decisão forem
irreversíveis, a tutela provisória de urgência, de natureza antecipada, não poderá ser
concedida.

4.1 O direito da Autora foi reconhecido em juízo de cognição exauriente,


ultrapassando a mera probabilidade do direito.

4.2 O perigo da demora, por sua vez, decorre de natureza alimentar do


benefício previdenciário que dialoga com o patrimônio mínimo e a dignidade da pessoa
humana (art. 1º, III, da CRFB).

CONCLUSÃO

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Ante o exposto, julgo procedente o pedido, extinguindo o presente feito
com resolução de mérito, condenando a Autarquia Ré a implantar o benefício assistencial
em favor da Autora, com DIB em 01/05/2021; e a pagar a quantia referente às parcelas
vencidas, desde a DIB, acrescida de juros e correção monetária, a serem calculadas
como preconiza o Manual de Orientação de Procedimentos para Cálculos na Justiça
Federal.

Concedo a antecipação da tutela vindicada para que o restabelecimento do


benefício seja cumprido no prazo de 60 (sessenta) dias, sob pena de aplicação de multa
diária no valor de R$ 50,00 (cinquenta) reais.

Defiro o benefício de justiça gratuita.

Incabível condenação em custas judiciais e honorários advocatícios, na forma


do art. 1º da Lei n.º 10.259/2001 c/c art. 55 da Lei n.º 9.099/95.

Certificado o trânsito em julgado, proceda à secretaria aos cálculos


necessários à expedição de RPV.

Após, arquivem-se os autos.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Vitória da Conquista, Bahia.

{Assinado eletronicamente}

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