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Santos Justo
1. A ordem religiosa
Quem é a fonte? Deus é o criador da ordem religiosa. Para que existe a ordem
religiosa? Para que o Homem se aproxime cada vez mais de Deus, para viver de acordo
com as normas de Deus (ex. de normas: não matar, amar o próximo como a si mesmo).
Essas normas apresentam 3 características:
1. Elas são instrumentais: se os Homens cumprirem essas normas gozarão da
felicidade eterna, é um instrumento para ter acesso a essa felicidade eterna.
2. Elas são intra-individuais: destinam-se diretamente e fundamentalmente ao
interior do homem crente; são normas que pertencem à nossa consciência.
3. A sanção: uma reação desfavorável a quem violou uma regra. A sanção na
perspetiva da interioridade é, por exemplo, o remorso que é uma sanção
imediata. Essas sanções pertencem exclusivamente à igreja e são insuscetíveis
de imposição pelo Estado.
Em Roma, no direito romano, havia uma deusa que administrava o direito, chamada
Iustitia. Fidès (da deusa Fides) que significa fé em português, podia ser boa ou má e
tinha uma intervenção nos contratos jurídicos: isto confirma a grande influência que a
ordem religiosa tinha na ordem jurídica.
IN DUBIO PRO REO: na dúvida absolve-se, não se condena. É preferível absolver um
criminoso a condenar um inocente no caso da ausência de provas. Na Idade Média,
depois do 5º século, não havia esse princípio. Como resolviam? Recorriam a uma figura
jurídica: ORDALIOS-JUIZOS de Deus, uma prova judiciária utilizando a prática do ferro
incandescente. Se houvesse sinais de cura tempos depois, eram sinais de Deus (de
inocência) e o suspeito era absolvido. Caso contrário era condenado. Nesse período
aplicava-se esse método pois a religiosidade do povo era muito grande, o que prova a
influência da ordem religiosa na ordem jurídica. Na Idade contemporânea, essa
influência continua presente (ex. do casamento católico, pelo civil e na igreja). O
direito muçulmano também vai buscar à religião o conteúdo dos seus critérios
normativos.
2. A ordem moral
O que é a moral? É um conjunto de preceitos, conceções e regras altamente
obrigatórios para com a nossa consciência, pelos quais se rege a conduta dos homens
numa sociedade e que dispensam a intervenção do Estado. A sanção de quem violou
uma norma moral é uma sanção interna (remorsos, desgosto...).
Características: a moral é espontânea e interior.
Importância da ordem moral para a jurídica: a moral está antes e acima do direito. O
que dá fundamento ao direito? A moral.
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moral ocupa-se do que se processa no plano do pensamento e da consciência, que são
atos internos. Ou seja, só o que se projeta no mundo exterior fica sujeito à intervenção
do poder público e nenhum cidadão pode ser processado pelo simples facto de pensar.
Este critério de Thomasius é, no entanto, insuficiente pois o direito não dispensa a
apreciação de fatores internos pois são estes que determinam comportamentos
externos. Surgiram outros critérios:
• critério da perspetiva: aquilo que não passa de dentro de nós não tem
projeção externa. Aquilo que tem projeção externa, as ações externas,
pertencem ao direito. As ações internas pertencem à moral. Este critério
permitiu que o Estado nunca pudesse controlar os nossos pensamentos.
Ele sofre, no entanto, a censura de que à moral não basta o elemento interno,
é necessário também o externo pois ela exige que atuemos manifestando e
executando os nossos propósitos. E ao direito não basta o elemento externo,
também lhe interessam os motivos da ação humana: também interessa o lado
interno pois precisamos de saber por exemplo quem é culpado, e a culpa é um
elemento interno.
• critério da forma ou dos meios: a moral não é coercível, as suas normas não se
aplicam pela força (ninguém se torna bom à força). Mas as normas jurídicas são
coercíveis: aplicam-se pela força.
Este critério também não satisfaz plenamente. Exemplo do artigo 402º do CC: a
obrigação natural não goza de coercibilidade Þ nem todo o direito é coercível!
• critério do mínimo ético. Tudo o que é direito é moral, mas nem tudo o que é
moral é direito.
Crítica: será que tudo o que é direito é moral? Há direito que é insensível à
moral (normas jurídicas moralmente indiferentes), ex. circulação automóvel em
Portugal e em Inglaterra. Há também direito que é contra a moral. Quando um
negócio produz efeitos imediatamente é chamado de negócio inter vivos, mas
há negócios que só produzem efeitos depois da morte: negócio jurídico mortis
causa, ex. testamento. Artigo 2194º CC: é moral, mas não é jurídico porque o
testamento não produz efeitos nenhuns. Esta situação mostra que o direito
nem sempre é moral.
• critério da imperatividade: a moral, porque visa a perfeição pessoal, é
simplesmente imperativa, ou seja, limita-se a impor deveres; o direito é, por
sua vez, imperativo-atributivo: impõe deveres e reconhece direitos
correlativos. Por isso fala-se da unilateralidade da moral e da bilateralidade do
direito.
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uma norma de trato social passou a ser uma norma jurídica (exemplo espanhol do
funcionário e a gorjeta).
O direito combate a tirania dos usos, combate os maus costumes abolindo-os: artigo
1401º do CC
4. A ordem jurídica
O que é a ordem jurídica? O direito. O que é o direito? É um conjunto de normas que
estão ao serviço da justiça e da segurança. Características desta ordem:
• A necessidade. Ubi societas, ibi ius: onde há sociedade, fatalmente existe
direito. As normas jurídicas são necessárias para disciplinar o comportamento
dos indivíduos em sociedade.
• A alteridade. O direito pressupõe uma convivência, todo o ser humano interage
e é interdependente do outro.
• A imperatividade. A essência da ordem jurídica é um dever-ser a que devemos
obedecer incondicionalmente sem a possibilidade de escolhermos entre o seu
cumprimento ou a sua inobservância.
• A coercibilidade: é a suscetibilidade de aplicação pela força das sanções
prescritas pelo direito, ou seja, é a possibilidade de aplicar uma determinada
sanção a quem violar uma norma jurídica.
• A exterioridade: as normas jurídicas disciplinam comportamentos que se
manifestam exteriormente.
• A estatalidade. O pluralismo jurídico afirma que, ao contrário, nem todo o
direito é criado ou aplicado pelos órgãos estatais. O Estado não tem o
monopólio da criação do direito nem a exclusividade da sua aplicação: são
vários os tribunais internacionais e internos que não pertencem ao Estado Þ
podemos então recusar que a estatalidade seja uma dimensão essencial do
direito.
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• Teoria da vontade
Para Savigny o direito subjetivo é um instrumento que permite a liberdade de
ação, o livre desenvolvimento da vontade autónoma. A expressão final é a de
Windscheid, que entende o direito subjetivo como a nossa vontade
juridicamente protegida. Surgem então várias críticas:
a) A vontade dos menores e dos deficientes mentais não é juridicamente
protegida pois não sabem o que querem e, todavia, são titulares de direitos
subjetivos.
b) Há direitos temporariamente sem titular, ou seja, não há vontade, ex.
herança jacente ou nascituro (direitos cujo titular se aguarda que nasça).
Uma pessoa que morre e deixa bens é chamada “de cuius” ou causante
porque dá causa à herança e é o autor da herança. (Uma pessoa que morre
e não deixa bens: mortuus).
Os herdeiros são chamados a aceitar ou recusar: aceitam, são donos.
Enquanto não aceitam, a herança diz-se jacente pois ainda não tem dono.
c) Pode o trabalhador renunciar as suas férias? Não, o objetivo é de proteger
o trabalhador: direito cuja renúncia não produz consequências jurídicas.
d) As pessoas coletivas têm também direitos subjetivos, mas não têm uma
vontade psicológica ou humana; logo, não poderiam ser titulares desses
direitos.
e) O titular dum direito subjetivo pode não querer exigir o seu cumprimento.
Se dependesse da vontade, esse direito devia extinguir-se, o que não
sucede.
Podemos então concluir que há direito sem vontade. Windscheid reconhece,
mas diz que a vontade não é psicológica, mas normativa: a vontade do
ordenamento jurídico. É aí que a teoria perde a sua essência e a especificidade
do direito subjetivo perde sentido.
• Teoria normativista: Kelsen. O direito subjetivo é o reflexo de um dever.
Quando alguém tem um dever de prestar alguma coisa, surge o reflexo de um
direito de exigir esse cumprimento noutra pessoa. Temos deveres, os reflexos
desses deveres são os direitos subjetivos. O ponto de partida são os direitos de
onde resultam deveres. Crítica: o direito subjetivo não é independente, é esse
direito subjetivo que está dependente do dever (ex. os direitos a que
correspondem os deveres conjugais).
• Teorias negativistas: um dos autores dessas teorias é Karl Larenz. O Homem faz
parte da sociedade, e a sociedade é que tem direitos, o Homem não. O Homem
tem deveres numa comunidade e só secundariamente tem certas faculdades
(não direitos subjetivos) necessárias ao cumprimento desses deveres. (Esse
homem aderiu a várias doutrinas de Hitler...)
• Teoria do interesse: Ihering, rival de Savigny. Ele considera que o direito
subjetivo é constituído por dois elementos igualmente importantes. Um, formal
(a proteção ou a tutela que a lei confere); e outro, material: o interesse em
sentido amplo. Ele vai caracterizar então o direito subjetivo como um interesse
juridicamente protegido. Surgem também várias críticas à cerca desta teoria:
a) O credor pode não ter interesse ao exigir que o devedor pague, mas o
direito de exigir persiste. O interesse não é essencial ao direito subjetivo
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pois se aquele faltasse, não existiria direito subjetivo, ora ele continua a
existir, mesmo não havendo presença de interesse.
b) Há interesses juridicamente protegidos a que não correspondem direitos
subjetivos como por ex. a vacinação. Não dispomos de um direito subjetivo
à vacinação do vizinho.
c) Quem protege o interesse de um menor? Os direitos subjetivos? Não. É o
estatuto de incapacidade que o faz, para a proteção do mesmo. O
ordenamento jurídico pode proteger interesses não através da concessão
de direitos, mas restringindo a capacidade dos indivíduos.
d) Há casos em que o interesse e o direito pertencem a pessoas diferentes:
num contrato a favor de um terceiro A promete a B pagar uma certa
quantia a C; o direito subjetivo pertence a B e o interesse a C.
Podemos concluir que o direito subjetivo não é um interesse juridicamente
protegido. Está em causa uma pessoa abstrata, um modelo, uma média: bonus
pater familias, o homem médio, a figura jurídica à qual o direito recorre. Mas o
interesse dessa figura não é o interesse de todos.
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Direitos absolutos e relativos: os direitos absolutos são direitos de exclusão porque
impõem à generalidade das pessoas (erga omnes) o seu respeito e abstenção, são
poderes diretos e imediatos sobre uma pessoa ou coisa. Os direitos relativos são
direitos de colaboração: exigem a colaboração da pessoa que se obrigou, são poderes
através de um comportamento.
Direitos disponíveis e indisponíveis: os direitos disponíveis são os direitos que se
podem desligar do seu titular (direitos patrimoniais) e os indisponíveis são
intransmissíveis (direito de personalidade e alguns direitos de família).
Direitos simples e complexos: simples são aqueles que se traduzem numa pretensão e
numa prestação específica como o direito de crédito em que o devedor se obriga a
restituir determinada quantia de dinheiro, e complexos aqueles que são constituídos
por um feixe de possibilidades de atuação, como o direito das responsabilidades
parentais. Ex. de direito subjetivo simples: contrato de depósito (artigo 1185º CC);
direito subjetivo complexo: direito de propriedade sobre animais (artigo 1305º CC)
O que são direitos subjetivos públicos? São direitos que os cidadãos podem invocar
contra o Estado, quer exigindo uma certa atuação quer impondo limites ao exercício
dos seus poderes, ex. direito à segurança social.
Origem e evolução
Na idade média, o rei era o guardião da justiça, ou seja, era “impensável” que ele
pudesse agir contra o bem das pessoas. Em consequência, os direitos subjetivos
públicos não existiam porque o bem-estar das pessoas estava assegurado pelo Rei.
Qual a sua natureza jurídica?
• Doutrina contratualista ou jusnaturalista: os Homens começaram por viver no
estado natureza. Depois eles tornaram-se guerreiros, passaram a exercer força
uns contra os outros e para acabar com esse estado de guerra, eles juntaram-se
e fizeram o pacto social. Nesse pacto social criaram o estado civil para garantir
os direitos subjetivos públicos. Ambos Locke e Rousseau partiram dessa base,
mas chegaram a soluções diferentes: Locke à fundamentação do liberalismo e
Rousseau à apologia da democracia.
Locke: no status naturalis, os homens eram titulares de direitos naturais.
Faltava uma ordem política organizada que se encarregasse de dirigir os litígios
e de defender os direitos. Por isso, através dum contrato social criaram o
Estado (status civilis).
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Rousseau: a natureza generosa dava tudo aos homens, ou seja, os homens não
eram dependentes dos outros, eram livres, iguais. Os homens viviam felizes,
em harmonia e em paz na status naturalis. Surgiu a propriedade privada com
um homem insensato que determinou um espaço como só dele. Com essa
propriedade privada nasceu a desigualdade e o desejo de domínio dos homens.
Para remediar isso, a humanidade teve que passar do status naturalis ao status
civilis: através dum contrato social, os homens cederam ao Estado os direitos
que possuíam no status naturalis e o Estado devolveu-lhos transformados em
direitos civis, ou seja, garantidos e protegidos por leis: daí nascem os direitos
subjetivos (públicos). Crítica: o estado natureza nunca existiu e contraria a
natureza sociável do homem.
• Doutrina da autolimitação: o estado é soberano, goza de soberania, tem um
poder quase ilimitado, limita-se a si próprio e então reconhece os nossos
direitos subjetivos públicos. Crítica: se o estado se autolimita, também pode
deixar de autolimitar-se. Não se autolimitando, os indivíduos ficam à sua
mercê. Jellineck diz que “os direitos subjetivos públicos existem na medida em
que o Estado não pode deixar de traçar limites a si próprio, enquanto Estado de
direito”. Mas Ihering, o autor desta doutrina, diz que o estado é obrigado a
limitar-se, por causa do peso da comunicação social, que pode destruir um
governo. Ele diz que se trata de um problema político e não jurídico.
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Tema 4- Fins do direito
O direito serve para realizar, satisfazer certos fins: realizar a justiça e a segurança.
A justiça
O que é a justiça? A vontade constante e perpétua de entregar a cada um o seu
direito, aquilo que é seu- Ulpianus, jurisconsulto
Características:
• A impessoalidade: a justiça não é criada por nós, é criada na sociedade.
Corresponde a uma realidade cultural.
• O dinamismo: a justiça não é uma totalidade finita, mas uma categoria do
mundo cultural em contínua evolução.
• A alteridade: o outro. Visa disciplinar as nossas relações com os outros.
Modalidades da justiça:
• Comutativa ou corretiva: justiça que corrige os desequilíbrios nas relações
contratuais. Assegura a equivalência entre prestações ou entre dano e
indemnização, atribuindo a cada um o que é seu (suum cuique tribuere).
• Distributiva: distribuição que o Estado faz para nós em função do critério da
necessidade ou do mérito, ela rege a repartição dos bens comuns pelos
membros da sociedade, segundo um critério de igualdade proporcional.
• Geral ou legal: é a justiça do direito público/fiscal. Quem recebe menos, paga
menos. Quem recebe mais, paga mais (baseando-se sempre no critério da
igualdade proporcional).
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A equidade: Aristóteles. É a justiça dos casos concretos e opõe-se à justiça vista como
uma intenção normativa de carácter geral.
Funções:
• Dulcificadora: suaviza o rigor, a dureza da lei. Dura lex, sed lex= a lei é dura,
mas é lei. Humaniza o direito com certos valores ou sentimentos (compaixão,
indulgência, etc.)
• Integradora: problemas na vida cuja previsão não existe: lacuna. Constitui um
fator a ponderar no processo de integração das lacunas.
• Corretiva: corrige, modifica ou restringe a lei, afastando soluções absurdas.
• Resolutória ou decisória: constitui um critério de decisão dos casos, em
substituição das soluções pré-estabelecidas nas normas jurídicas.
• Flexibilizadora: ajusta a norma jurídica ao caso a decidir.
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Tema 5- Nação, Estado e Direito
O que é uma nação? É uma comunidade de carácter cultural, que assenta numa
convivência mais ou menos longa de homens ligados pela mesma etnia, pela mesma
língua e pelas tradições sedimentadas naquela convivência. Trata-se duma realidade
com uma dimensão simultaneamente natural e cultural: aquela corresponde a
exigências naturais da vida humana; esta constitui a cristalização de valores
intelectuais e morais que um povo encarna e aspira realizar.
A nação permite que os homens se ajudem mutuamente ao longo do tempo,
fornecendo-lhes valores que acrescentam e transmitem de geração em geração. Ela
também imprime um carácter particular que individualiza e distingue os seus membros
com específicos modos de ver, de pensar e de atuar.
Podemos ver numa comunidade nacional algumas notas que a permitem caracterizar:
• É uma forma de vida. Todo o homem possui uma “dimensão nacional” que é
um dos fatores na formação da sua personalidade
• É uma comunidade total cimentada pelos seus valores e pode compreender
pequenas comunidades de carácter económico, cultural, idiomático, etc.
• Os valores aí realizados e cristalizados constituem a sua cultura. Há sempre
uma especificidade que não deve prejudicar as suas dimensões universais
• Os vínculos nacionais não se fundamentam num “contrato social”, estendem-se
do passado ao presente e prolongam-se no futuro: há uma continuidade, uma
tradição
A Nação não é um valor supremo: os valores nacionais nunca devem prejudicar o valor
universal mais elevado que se chama Humanidade.
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Elementos estruturantes do Estado:
• Povo – conjunto dos cidadãos ou nacionais, ou seja, de pessoas ligadas ao
Estado pelo vínculo jurídico de nacionalidade que lhes reconhece o gozo de
direitos políticos de eleger e serem eleitos.
Não é população, pois essas são as pessoas que habitam num certo território,
mas podem não ter certos direitos políticos se não forem nacionais, ou seja,
não são povo.
• Território – o povo fixa-se num certo espaço territorial constituído pelo solo,
subsolo, espaço aéreo e plataforma marítima. É limitado por fronteiras e define
o âmbito da competência no espaço dos seus órgãos supremos.
É o espaço onde o povo é “senhor de se reger segundo as suas leis, executadas
por autoridade própria com exclusão da intervenção de outros povos”.
Sem território não há estado: o povo nómada não tem território, logo não tem
estado.
• Poder soberano – é o princípio do poder limitado pelo direito interno e
internacional e pela moral. É um poder político autónomo com faculdade de
instituir órgãos que exerçam o senhorio de um território e nele criem e
imponham normas jurídicas, dispondo dos necessários meios de coação.
Poder político = soberania. Os Estados federados (Brasil, EUA) não são
verdadeiros Estados porque estão sujeitos a constituições federais e não
podem estabelecer relações internacionais próprias: não são absolutamente
independentes, logo não há soberania.
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2. Função administrativa: executa as leis, executa os nossos interesses. Esta
função está sujeita ao princípio da legalidade: a administração no que faz tem
de respeitar a lei, não pode agir arbitrariamente. É uma tarefa cometida a
órgãos interdependentes, dotados de iniciativa e parcialidade na realização do
interesse público e com titulares amovíveis e responsáveis pelos seus atos.
O Estado de direito
É o Estado que atua pelas normas do direito, que respeita as normas jurídicas, que
obedece ao direito. O Estado de direito tem na juridicidade a sua essência: ubi civitas,
ibi ius. O direito fundamenta-o e define as suas competências.
Na sua história podemos destacar 3 etapas:
• A luta contra o arbítrio judicial: o liberalismo foi buscar à Idade Média
argumentos contra o arbítrio que os juízes gozavam na administração da
justiça. Os juízes estavam acima da lei para poderem ser independentes e
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imparciais, e só aplicariam bem o direito se estivessem acima da lei. Eles
tratavam os fortes com brandura e os fracos com dureza.
Os abusos dos juízes foram invocados no século 18 na defesa da estrita
vinculação do juiz à lei.
• A instauração duma justiça administrativa que controle os atos da
administração. Traduz um protesto contra a prática administrativa do Estado
absoluto que tratava os fracos com uma desigualdade enorme e os poderosos
com pura simpatia. Significa também um voto de confiança na justiça.
• A institucionalização dum controlo jurisdicional das leis, pois os legisladores
faziam leis injustas. Implica a consideração de que o legislador deve respeitar
um direito superior que a Constituição consagra, e podendo o ato legislativo ser
inconstitucional, impõe-se a sua apreciação por uma instância jurídica (em
Portugal, por uma jurisdição constitucional específica).
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arbítrio: o juiz é guiado pela norma jurídica para chegar a uma resolução jurídica. Ela é
um critério fundamental e indispensável da aplicação das leis. É uma unidade, um
instrumento de segurança do comércio jurídico.
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Quanto à sua relação com a vontade dos seus destinatários, as normas jurídicas
podem ser:
1. Imperativas (injuntivas ou cogentes): a sua aplicação não depende da vontade
das pessoas. Impõem-se-lhe, exigindo um comportamento que pode ser
positivo (facere) ou negativo (non facere); por isso, podemos classificá-las em:
a) Precetivas – impõem-nos uma conduta. Sucede, por exemplo, com a norma
que determina que os contratos devem ser pontualmente cumpridos (406
CC)
b) Proibitivas – proíbem uma conduta. Sucede com grande parte das normas
penais; com a norma que proíbe o casamento a quem tenha idade inferior a
16 anos ou a quem é casado (1601 CC)
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Em relação ao âmbito de validade pessoal, as normas jurídicas classificam-se em:
1. gerais ou comuns – estabelecem um regime regra para o setor de relações que
disciplinam, aplicadas a todas as pessoas (219 CC)
2. excecionais – consagram um ius singulare, ou seja, são normas opostas ao
regime regra, num setor restrito. São aquelas que exigem escritura pública ou
documento particular autenticado em determinados negócios jurídicos (875 e
947 CC). Estas normas exigem aquilo que as outras não exigem.
3. especiais: normas que se aplicam a um círculo restrito de pessoas. São
diferentes, mas não opostas às regras comuns, ex. das normas do direito
comercial que regem os comportamentos dos comerciantes.
Uma regra comum não pode revogar uma regra especial, salvo declaração do
legislador (7, nº3 CC)
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norma sobre a responsabilidade do mutuante que remete para a
que se ocupa da responsabilidade do comodante (1151 e 1134
CC)
2. Extra-sistemática – a norma jurídica remete para sistemas
jurídicos diferentes (estranhos ou estrangeiros). É o caso das
normas do Direito Internacional Privado que remetem para
outra ordem jurídica (14 e 65 CC)
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sofrer com a invalidade do casamento e com uma pena de prisão devido a
bigamia.
• Leis perfeitas, leges perfectae – só determinam a invalidade dos atos contrários
à norma. Esta lei destrói o ato transgressor. Sucede com a compra e venda e a
doação de bens imóveis sem escritura pública ou documento particular
autenticado (875 CC), a compra e venda é, nesse caso, nula.
• Leis menos do que perfeitas, leges minus quam perfectae – não estabelecem a
invalidade do ato contrário, mas determinam que não produzirá todos os seus
efeitos. Ou seja, aplica uma sanção a quem violou uma norma jurídica, mas
essa sanção é menor. É o caso do casamento dum menor, com mais de 16 anos
de idade, sem a autorização dos pais ou do tutor: o casamento é válido, mas o
menor não deixa de o ser quanto à administração de bens que leve para o casal
ou adquira posteriormente a título gratuito (1649 CC).
• Leis imperfeitas, leges imperfectae – norma jurídica cuja violação não é
sancionada. Essa norma é imperfeita: é o caso da violação de uma obrigação
natural (402 CC).
Sanção
Do latim sanctio – ação de sancionar e sancire – tornar algo inviolável.
Correntemente, fala-se de consequência negativa ou reação desfavorável da ordem
jurídica ao incumprimento duma norma jurídica. Trata-se da sanção dita negativa, que
se traduz na privação de um bem. Menos correntemente, refere-se como sanção uma
reação favorável ao cumprimento duma norma jurídica. É a sanção positiva ou premial,
que se traduz na atribuição de prémios ou recompensas.
A sanção nem sempre está presente nas normas jurídicas: as obrigações naturais,
porque não são judicialmente exigíveis, não a admitem. Podemos concluir que a
sanção não é essência da norma jurídica.
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ação judicial e a sentença substitui a compra e venda e vai produzir os
efeitos dessa mesma.
c) Indemnização especifica: repõe a situação com um bem que, não sendo o
que foi danificado, permite desempenhar a mesma função. Será o caso de
alguém que é obrigado a restituir um objeto igual ao que destruiu (566 CC)
Especial referência merece a ineficácia jurídica, porque o seu carácter de sanção não é
pacificamente reconhecido. Estamos perante uma reação da ordem jurídica que
impede que os atos jurídicos desconformes com a lei produzam todos ou alguns
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efeitos jurídicos que, em condições normais, produziriam. A ineficácia jurídica
comporta as seguintes modalidades:
1. Inexistência jurídica – ocorre quando nem sequer aparentemente se verifica
uma qualquer materialidade (um corpus) de certo ato jurídico. Trata-se de
casos muito graves em que para o direito nada há e, por isso, nenhum efeito
jurídico pode produzir-se. Sucede com o casamento celebrado sem a
declaração da vontade de um ou ambos os nubentes
3. Ineficácia em sentido restrito – ocorre quando o ato que transgrediu a lei não
produz todos (270 CC) ou parte dos seus efeitos jurídicos (1649 CC)
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suscetibilidade de sermos sujeitos de direitos e obrigações é definida por
personalidade jurídica.
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O aparelho estatal
• Os tribunais
Organização judicial
É uma estrutura constituída por vários tribunais. Além do Tribunal Constitucional e de
Contas, existem fundamentalmente duas categorias de tribunais estaduais: os
tribunais judiciais e os tribunais administrativos e fiscais.
Os tribunais judiciais escalonam-se numa estrutura hierárquica, que funciona com vista
à interposição de recursos dos tribunais inferiores para os superiores. Assim, seguindo
a ordem crescente, temos:
1. Tribunais de primeira instância ou de comarca, em todos os concelhos. Se
houver recurso duma decisão tomada por esse tribunal, é reencaminhado para
um tribunal superior de segunda instância.
2. Tribunais de segunda instância, que se denominam tribunais de Relações. Estes
vão avaliar e julgar as decisões. Se houver ainda recurso, é reencaminhado para
o tribunal superior a todos ou outros.
3. Supremo Tribunal de Justiça, é único.
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Para se recorrer, é preciso que se cumpra a alçada do tribunal: se o valor do
processo do tribunal de comarca for inferior a 5 000 euros, não há recurso para
o tribunal de relação. Se o valor do processo do tribunal de relação for inferior
a 30 000 euros, também não se pode recorrer para o tribunal supremo de
Justiça.
• A Administração Pública
A tutela administrativa é contra a própria administração, ou seja, os próprios atos
administrativos, as decisões da administração pública; ao abrigo da lei que resolve um
problema concreto.
Garantias administrativas
As garantias graciosas resultam da institucionalização, no seio da Administração
Pública, de mecanismos que controlam a sua atividade; por isso, tornam-se efetivas
através da atuação dos seus órgãos. Distribuem-se por 3 grandes grupos:
1. Garantias petitórias – visam prevenir a lesão de direitos ou interesses
legalmente protegidos dos cidadãos e não pressupõem, em regra, um ato
administrativo. Compreendem:
a) o direito de petição: é a faculdade que cada um de nós tem reconhecida
pela ordem jurídica de pedir à administração pública de fazer algo que não
fez, ou seja, que tome determinadas decisões
b) o direito de representação: é a faculdade de fazer uma exposição,
manifestando uma opinião contrária à dum órgão da Administração Pública
ou chamando a atenção duma autoridade administrativa para certa
situação ou ato, com vista à sua revisão ou à ponderação das suas
consequências
c) o direito de queixa: é a faculdade de denunciar qualquer
inconstitucionalidade ou ilegalidade, bem como o funcionamento anómalo
de qualquer serviço, a fim de que sejam adotadas medidas contra os
responsáveis, por ex. um processo disciplinar contra um funcionário público
d) o direito de oposição administrativa: é a faculdade reconhecida às pessoas,
cujos direitos ou interesses legalmente protegidos possam ser lesados por
atos a praticar num procedimento administrativo, de nele intervirem,
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contestando quer os pedidos dirigidos à Administração quer os projetos
que esta divulgue ao público (pedir para ponderar, alterar, anular)
Tutela jurisdicional
A CRP garante aos cidadãos, perante a AP, uma “tutela jurisdicional efetiva dos seus
direitos ou interesses legalmente protegidos”, nomeadamente para obterem o
reconhecimento desses direitos ou interesses e para impugnarem os atos
administrativos que os lesem. Essa tutela é efetivada, em regra, através dos tribunais
administrativos.
• Tutela não graciosa, contenciosa ou jurisdicional: impugnamos um ato
administrativo e não se resolve ® recorremos ao tribunal para que condene a
administração pública a realizar aquilo que não fez.
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Ministério Público
O MP é um órgão constitucional da administração da justiça. Goza de autonomia em
relação aso demais órgãos do poder central, regional e local, mas não é um órgão de
soberania nem se confunde com os órgãos do poder judicial porque não tem
competência para praticar atos materialmente jurisdicionais. No âmbito da justiça
administrativa, goza de vastos poderes processuais.
Dispõe de estatuto próprio e é constituído por um corpo de magistrados, responsáveis
e hierarquicamente subordinados. Na base o procurador da república (nos tribunais),
acima os procuradores-gerais adjuntos (nos distritos), depois o vice-procurador geral
da república e acima o procurador-geral da república. A sua gestão e o exercício da
ação disciplinar pertencem à Procuradoria-Geral da República.
Funções do MP
1. Representa o Estado
2. Exerce a ação penal – o MP é quem leva um crime ao juiz através dum
processo, é quem cuida dos processos penais para depois os submeter ao juiz.
Tem conhecimento do crime e inicia o processo por sua própria iniciativa.
Um crime público é, por exemplo, um homicídio.
No caso duma difamação, o MP pode ter conhecimento dela, mas se não
houver queixa da vítima difamada ele não atua – crime semipúblico
Se fizerem queixa e acusarem um advogado por ofensa à integridade física, é
um crime particular.
Jurisdição e Administração
Como os órgãos da AP também aplicam o direito, é necessário distinguir a Jurisdição
da Administração.
A Jurisdição traduz-se na apreciação e decisão duma situação jurídica concreta a cargo
de órgãos do Estado independentes e imparciais, nos termos dum processo organizado
e disciplinado pela lei. Pelo contrário, a Administração é desempenhada por órgãos
que são parte nas suas decisões.
Por outro lado, a decisão ou sentença é proferida sob um ponto de vista
exclusivamente jurídico, enquanto à Administração cumpre implementar as diretivas
políticas do Governo.
• Ação direta – é o recurso à força para evitar a inutilização prática dum direito,
no caso de ser impossível recorrer aos meios coercivos normais (ex. tribunal).
Pode consistir na apropriação, destruição ou deterioração duma coisa. O
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agente não pode, todavia, exceder o necessário para evitar o prejuízo nem
sacrificar interesses superiores aos que visa realizar (ex. a vida). 336 do CC
• Legítima defesa – é o ato que afasta uma agressão atual ou iminente ilícita
contra a pessoa ou património do agente ou de terceiro, quando não for
possível recorrer à autoridade pública e o prejuízo causado não exceder
manifestamente o que puder resultar da agressão (337 CC).
Ela depende, portanto, dos seguintes pressupostos:
a) Uma agressão ilegal e atual ou iminente
b) Contra a pessoa ou património de quem reage ou de terceiro
c) Impossibilidade de recurso à autoridade pública
d) Racionalidade dos meios de defesa, ou seja, proporcionalidade entre esta e
a violência sofrida. No entanto, se o excesso de legítima defesa for devido a
perturbação ou medo não culposo do agente, o ato considera-se
igualmente justificado. 337 nº2 CC
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1. Fontes de produção, exsistendi – órgãos que produzem o direito, ex.
parlamento, governo, assembleia legislativa da Madeira e dos Açores,
autarquias locais...
2. Fontes de juridicidade, manifestandi – são os modos de formação ou produção
das normas jurídicas e manifestam-se pelas leis, decretos-leis, etc.
3. Fontes de conhecimento, cognoscendi – são os textos onde se encontram as
normas jurídicas, são os textos que lemos para conhecermos o direito. O mais
importante é a CRP e de seguida o CC.
Terá legitimidade uma lei dizer quais são as fontes do direito se a própria lei é uma
dessas fontes? Não, só quem não é fonte é que pode dizer quais são as fontes: é o caso
da consciência ético-jurídica do povo.
Fontes voluntárias
A lei
É o conjunto de princípios que regem todos os seres. Limitando-nos ao campo do
direito, importa distinguir várias aceções: a lei como sinónimo do direito; a lei como
um dos modos de formação das normas jurídicas; e a lei como diploma emanado da
AR por oposição aos decretos-leis do Governo.
Enquanto fonte do direito, a lei é frequentemente definida como “toda a norma
escrita proveniente dos órgãos estaduais competentes”. Porém, não devemos
confundir as normas jurídicas com os textos legais: nem toda a lei contém direito, pois
o fim da lei é ordenar a vida em sociedade e não especificamente a criação do direito.
Distinguem-se dois sentidos:
1. A lei formal – é um diploma emanado do órgão legislativo; documento escrito.
Um exemplo de lei puramente formal é aquela que atribui a competência do
parlamento ao governo para legislar sob determinada matéria.
2. A lei material – aqui é o conteúdo que está em causa. É um diploma com
sentido normativo, que impõe um dever ser.
Um exemplo de lei puramente material é a do aumento das rendas; não
respeita a forma, mas também conteúdo.
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Classificação das leis
Atendendo à solenidade, as leis podem classificar-se em:
a) Solenes
1. Leis constitucionais
2. Leis ordinárias: leis e decretos-leis
3. Decretos legislativos regionais
b) Não solenes
1. leis emanadas dos órgãos centrais do Estado
2. leis elaboradas pelos órgãos locais do Estado
3. leis das regiões autónomas
4. leis das autarquias
O nosso código civil exclui os diplomas das autarquias locais das fontes do direito. Não
sendo órgãos do Estado nem entidades corporativas, os seus diplomas não são leis
nem normas corporativas: não são, portanto, fontes do direito.
Todas as leis não solenes não podem contrariar as que são solenes.
2. as leis ordinárias:
a) as leis e os decretos-leis – estabelecem, em regra, as normas, princípios e
institutos para a resolução dos problemas. Têm igual valor.
b) os decretos legislativos regionais – têm âmbito regional e versam sobre
matérias enunciadas no estatuto político-administrativo da respetiva região
autónoma (Madeira e Açores) que não estejam reservadas aos órgãos de
soberania
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sentido amplo se considera legislativo e não devem violar o disposto numa lei
ou decreto-lei sob pena de ilegalidade.
Seguindo a ordem hierárquica decrescente, são regulamentos:
1. o decreto regulamentar do governo – ajudam a detalhar as leis sem
contradizê-las, já que apenas regulamentam ou executam o que foi ditado
por leis ordinárias ou constitucionais)
2. a resolução do Conselho de Ministros – ato legislativo de efeito interno e
conteúdo concreto. Pode ser de carácter político, processual, legislativo ou
administrativo
3. a portaria – ato administrativo ordinário, ou seja, ato que tem como
finalidade disciplinar o funcionamento da AP ou a conduta dos seus agentes
4. o despacho normativo – regulamento administrativo aprovado por membro
do Governo
Resolução de conflitos
Pode suceder que das leis se retirem normas jurídicas conflituantes: se existirem várias
soluções para o mesmo problema, teremos de escolher uma. Neste caso, importará
recorrer aos critérios da:
1. superioridade: aplica-se a lei superior a uma lei inferior
2. posteridade: aplica-se a lei mais recente; tem a presunção de que é mais
perfeita
3. especialidade: aplica-se a lei especial que prevalece sobre a lei geral, exceto se
outra for a intenção inequívoca do legislador
Todavia, podem surgir conflitos que estes critérios não permitam resolver. Nesse caso,
não se aplica critério nenhum e estamos perante uma lacuna de colisão: o juiz é que
vai criar a norma para o caso concreto, ou seja, é uma aplicação da lei no tempo.
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que fixará as formas de publicidade e as consequências da sua falta. Entretanto, o CC
estabelece que “a lei só se torna obrigatória depois de publicada do DR”.
Porém, porque nem todas as leis são publicadas no jornal oficial e sendo irrecusável a
sua obrigatoriedade a partir da publicação nos termos legalmente estabelecidos,
importa interpretar restritivamente aquela disposição do CC.
Vacatio legis
A vacatio legis é o tempo que decorre entre a publicação e a entrada em vigor da lei,
considerado necessário para que a lei possa ser conhecida e interpretada, pois há leis
mais complexas que outras. Se o legislador não fixar a vacatio legis, são 5 dias no
continente e 8 nas autarquias locais.
Retificações
Pode suceder que o texto publicado do DR divirja do texto real. Importa, por isso, fazer
as necessárias retificações:
1. as retificações de lapsos gramaticais, ortográficos, de cálculo ou de natureza
análoga ou para correção de erros materiais provenientes de divergências
entre o texto original e o texto de qualquer diploma publicado na 1ª série do
DR devem ser publicadas na mesma série do DR que publicou a lei retificada
2. devem provir do órgão que aprovou o texto original
3. só serão admitidas até 60 dias após a publicação do texto retificado
4. reportam os seus efeitos à data da entrada em vigor do texto retificado
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As normas corporativas
O que é uma norma corporativa? São leis não desempenhadas por corporações pois
hoje não existem, mas por entidades competentes que desempenham de algum modo
uma atividade muito próxima da das corporações antigamente.
Tais normas constituem leis em sentido material. Disciplinam determinados setores da
vida social, são ditadas por entidades competentes e devem obedecer às formas
estabelecidas para a criação normativa.
O nosso código civil continua a considerar as normas corporativas fontes imediatas do
direito (1 nº1 e 2 CC), mas há quem entenda que essas normas estão revogadas pela
constituição: o regime corporativo sendo abolido, essas normas estão revogadas (1
nº2 CC)
Cessar a vigência de uma lei é fazer interpretação ab-rogatória.
Jurisprudência
No direito romano, eram as decisões dos jurisconsultos, os cientistas do direito.
Entende-se hoje por jurisprudência o conjunto das decisões em que se exprime a
orientação constante seguida pelos tribunais (sobretudo superiores) ao julgarem os
casos concretos que lhes são submetidos. A orientação constante corresponde ao
facto de uma decisão tomada hoje por um juiz ficar para se aplicar aos casos do
mesmo género futuramente.
São fontes do direito português? Não são, pois não estão previstas em lado nenhum
como fonte do direito português. Apesar de ser uma orientação constante, um tribunal
pode afastar-se dessa orientação e dar outra sentença, porque não é fonte de direito.
A jurisprudência só é fonte de direito quando os tribunais constitucionais declaram a
inconstitucionalidade ou a ilegalidade duma lei ou duma norma.
Doutrina
A doutrina são as opiniões dos jurisconsultos acerca duma questão de direito, expostas
em tratados, manuais, livros, artigos, etc. É o pensamento jurídico, é a ciência jurídica
– a dogmática.
No direito romano a doutrina foi durante muito tempo a grande fonte do direito.
Constituem exemplos os contratos: a criação destes foi feita pelos jurisconsultos
romanos.
O nosso código civil não consagra o pensamento jurídico dos jurisconsultos como fonte
do direito, mas isso não impede que o seja, pois o que não faltam são normas que
provenham do pensamento jurídico dos jurisconsultos antigos, ainda que não dito
expressamente. A doutrina não é uma fonte formal, mas sim
material.
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Fontes não voluntárias
As fontes não voluntárias não manifestam a vontade específica, como vimos nas fontes
voluntárias.
a) Costume
O costume tem sido definido como uma prática social constante observada com o
sentimento ou convicção de que é juridicamente obrigatória. Trata-se duma fonte
anónima do direito, cujas normas têm a sua eficácia automaticamente assegurada.
A doutrina romano-canónica vê no costume dois elementos fundamentais:
1. Corpus (elemento material ou objetivo) – é uma prática social reiterada.
Também se denomina uso
2. Animus (elemento espiritual ou subjetivo) – é a consciência, a convicção ou
reconhecimento, pelos membros do grupo social, de que aquela prática é
juridicamente obrigatória
Fundamento da obrigatoriedade
O costume é vinculativo porquê? A doutrina tradicional, que procura fundamentar a
obrigatoriedade do costume, dispersa-se por várias teorias. Destacamos as que
consideram o costume:
• Produto da vontade do legislador – o costume e a lei derivam da voluntas
legislatoris; tão-só diferem na forma como se manifesta: expressa, na lei; tácita,
no costume
• Expressão direta da consciência do povo e, portanto, a fonte genuína do
direito. É o entendimento da Escola Histórica de Savigny, para quem o direito é
uma criação espontânea do espírito do povo
• Autorização do Estado – em si e por si, o costume não é fons iuris, porque a sua
juridicidade é atribuída pelo Estado através da lei
Relação costume-lei
Embora a lei seja atualmente a fonte do direito predominante, não está acima do
costume. Na sua relação com a lei, o costume pode ser:
1. Secundum legem – a norma que a interpretação retira do costume tem o
mesmo sentido da norma extraída da lei. Fala-se também de costume
confirmativo ou interpretativo
2. Praeter legem – a norma consuetudinária disciplina matérias que a lei não
previu. Fala-se também de costume integrativo
3. Contra legem – a norma jurídica, que o costume oferece, esta em oposição à
norma legal; assim como uma lei pode revogar um costume, também este pode
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fazer cessar a vigência duma lei anterior que lhe seja contrária. Diferente é o
desuso: uma prática (corpus) a que falta a convicção da sua obrigatoriedade
(animus); por isso, não extingue a lei
O uso
O uso é uma prática mais ou menos constante e reiterada, mas desacompanhada do
sentimento ou convicção da sua obrigatoriedade jurídica: há um corpus, mas falta o
animus para ser costume e, portanto, fonte autónoma do direito.
No entanto, o ordenamento jurídico não pode fechar os olhos a muitos usos sociais.
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Técnica jurídica – A interpretação
Modalidades
Existem duas grandes modalidades de interpretação:
1. Autêntica – dimana duma “fonte” não hierarquicamente inferior à que se
interpreta. Ocorre através duma lei (dita interpretativa) que se integra na lei
interpretada. Trata-se da explicitação legislativa duma lei duvidosa, carecida de
esclarecimento, que tem a força vinculativa de lei.
2. Doutrinal – é a interpretação feita por qualquer pessoa. Compreende a
interpretação:
• Jurisdicional – feita pelo tribunal, que vai interpretar a lei e retirar a
norma jurídica para resolver o problema.
• Administrativa – a cargo da Administração Pública
• Particular – feita por qualquer pessoa não jurista (nós que somos
obrigados a conhecer a lei)
• Doutrinal propriamente dita – realizada por jurisconsultos e juristas.
A primeira só tem efeito vinculativo no processo em que tem lugar. A
segunda tem eficácia meramente interna na AP e, portanto, não vincula
os particulares. E a força das duas últimas baseia-se na autoridade
intrínseca (saber socialmente reconhecido) das razões invocadas. O
jurista fundamenta a decisão que toma com os seus conhecimentos.
Objetivo da interpretação
• Teoria subjetivista – defendida nomeadamente por Savigny
Segundo esta teoria, a interpretação jurídica visa apreender e reconstruir o
pensamento ou a vontade real do legislador que se exprime no texto da lei.
Na sua base está o entendimento do direito como um conjunto de imperativos ou
comandos-regras imputáveis a um poder que se titula e personaliza no legislador, que
os imporia por livre decisão. Ou seja, o legislador faz as leis, manifesta a sua vontade:
interpretar a lei é saber, é conhecer a vontade do legislador.
Podemos considerar, na teoria subjetivista, as seguintes orientações:
1. Em relação ao tempo ou momento em que o pensamento ou a vontade do
legislador releva, temos o subjetivismo:
a) Historicista – atende ao momento da feitura da lei
b) Atualista – preocupa-se em determinar qual seria a vontade do legislador
no momento em que a lei é interpretada
2. Quanto à relação do pensamento ou vontade do legislador com a letra da lei,
temos o subjetivismo:
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a) Moderado – a vontade do legislador deve refletir-se no texto da lei, ainda
que minimamente
b) Extremo – o pensamento ou a vontade do legislador é determinante
mesmo sem aquela base literal mínima, isto é, com indiferença total do
texto
As críticas enfraqueceram e prepararam a superação da teoria subjetivista.
Destacamos as principais: o Estado e o poder político são realidades institucionais e
não pessoais e, portanto, carecem de vontade psicológica; o legislador é um termo
cómodo que personifica entidades muito complexas e nem sempre é fácil ou mesmo
possível determinar a sua vontade; e reduzindo a interpretação jurídica à vontade do
legislador, atribui-se à lei um âmbito mais pobre e, por isso, amplia-se o recurso à
integração das lacunas.
Será que a lei é fruto da vontade exclusiva do legislador? O legislador é que faz a lei
certo, mas essa lei expressa a cultura de um povo, ou seja, a lei também é fruto da
vontade do povo.
Elementos da interpretação
A interpretação jurídica realiza-se através de elementos, meios, fatores ou critérios,
que devem utilizar-se harmónica e não isoladamente. O primeiro são as palavras em
que a lei se expressa (elemento literal); os outros constituem os elementos
correntemente denominados lógicos (histórico, racional e teleológico).
• Elemento literal – são as palavras em que a lei se exprime; é a letra da lei.
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Constitui o ponto de partida da interpretação jurídica e desempenha duas
funções:
1. Negativa (ou de exclusão) – afasta a interpretação que não tenha uma base
de apoio mínimo na letra da lei. É a teoria da alusão
2. Positiva (ou de seleção) – privilegia sucessivamente, de entre os vários
significados possíveis, o técnico-jurídico, o especial e o fixado pelo uso geral
da linguagem
• Elementos lógicos
I. Elemento histórico
Na base deste elemento está a ideia de que a ordem jurídica tem unidade e
coerência jurídico-sistemática, pelo que a compreensão duma norma postula a
cognição das normas afins ou paralelas.
Com efeito, as normas jurídicas relacionam-se por:
a) Subordinação – é a relação entre uma norma e os princípios gerais do
sistema jurídico, cujo conhecimento auxilia o seu esclarecimento
b) Conexão – é a relação entre normas contíguas que formam o contexto da
norma
c) Analogia – é a relação entre preceitos semelhantes que integram outros
institutos. As normas não contíguas chamam-se “lugares paralelos”
Este relacionamento determina que, na interpretação duma fonte, tenhamos
presente que a norma jurídica a retirar não está isolada. Temos o exemplo do
contrato de comodato, que é constituído por várias normas. Não o podemos
conhecer sem conhecer todas as normas relacionadas com ele.
Resultados da interpretação
Cotejando a letra com o “espírito” da lei é possível realizar as seguintes espécies de
interpretação da lei:
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• Interpretação declarativa – é a interpretação em que o sentido ou “espírito” da
lei coincide perfeitamente com o significado das suas palavras. Será lata ou
restrita se o sentido literal fixado for o mais amplo ou restrito (ex.: a palavra
homem pode significar ser humano masculino – sentido restrito; e ser humano
independentemente do sexo – sentido lato)
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A integração
• Lacuna
Entende-se por lacuna a ausência duma norma jurídica que permita resolver uma
situação da vida social que reclama uma solução jurídica.
Não há lacuna quando é necessário criar um direito mais perfeito – convoca-se o
legislador para fazer uma lei, não é o jurista que o fará. A necessidade de aperfeiçoar o
direito não se considera uma lacuna: é tarefa do legislador e não do jurista.
Espécies
As lacunas compreendem várias espécies.
Segundo uma perspetiva, há lacunas:
1. Voluntárias – a inexistência de disciplina jurídica é querida pelo legislador
2. Involuntárias – o legislador não previu o caso que reclama solução jurídica e,
por isso, não elaborou a correspondente lei
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Em relação à estrutura da norma jurídica, podemos ter lacunas:
1. de previsão – traduzem-se na falta de previsão de uma determinada situação
de facto
2. de estatuição – manifestam-se na ausência de consequências que o direito
atribui à verificação duma situação de facto
• Integração
A integração é a atividade intelectual destinada a encontrar a solução jurídica para
uma lacuna.
A sua necessidade resulta da pax social que o direito deve irrecusavelmente assegurar
para permitir a convivência humana.
Processos intra-sistemáticos
a) Analogia
A analogia é o raciocínio ou operação mental que, partindo de certas semelhanças
observadas, conclui que existem outras. Funda-se na semelhança entre dois
objetos e, por isso, a analogia não produz uma certeza absoluta, mas mera
probabilidade.
Assim, se sabemos que os elementos a, b e c são comuns aos objetos A e B, poder-
se-á, por analogia, concluir que o elemento d, que observamos em A, também
pertence a B.
Trata-se dum raciocínio composto de indução (permite obter um princípio geral
que contém a ratio comum aos casos análogos) e de dedução (realiza a conclusão
analógica).
Utilizada pelo pensamento jurídico, podemos definir a analogia (jurídica) como o
raciocínio que, argumentando com a semelhança entre um caso omisso (lacunoso)
e outro contemplado no ordenamento jurídico, estende àquele a solução deste.
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Natureza. Fundamento
É necessário considerar a ratio da disposição a aplicar e averiguar se a sua extensão
se justifica: se compreende, também, a situação a disciplinar. Por outro lado, os
factos devem merecer a mesma valoração, importando considerar não todos os
seus aspetos, mas, tão-só, os elementos decisivos. Se a diferença for essencial, a
semelhança cessa e a analogia deixa de funcionar.
Espécies
Dentro da analogia, distinguem-se tradicionalmente a:
1. Analogia legis (da lei) – é a operação mental que, partindo de uma norma
jurídica concreta, purifica a sua ideia fundamental através da eliminação dos
elementos não essenciais e, depois, aplica-a aos casos lacunosos, os quais só se
distinguem da situação prevista naquela norma em pontos secundários
2. Analogia iuris (do direito) – é a operação mental que, partindo duma
pluralidade de normas jurídicas, desenvolve, por indução, um princípio geral do
direito que, depois por dedução, aplica ao caso lacunoso
Limites
O recurso à analogia está proibido em determinadas matérias:
• Nas normas penais positivas – são as regras incriminatórias, onde o princípio
nullum crimen sine lege, nulla poena sine lege (se não há lei, não há crime)
implica a proibição de fundar a condenação e a punição numa lei que apenas
mediatamente seja aplicável
• No direito fiscal – segundo o princípio da legalidade fiscal, os impostos devem
ser criados e disciplinados nos seus elementos essenciais através de lei. E, em
obediência a este princípio, as suas lacunas são inintegráveis absolutamente
• Nas normas excecionais – porque disciplinam somente determinadas situações,
não comportam aplicação analógica
O recurso à analogia está igualmente proibido quando a lei fixa uma enumeração
completa; reserva expressamente certo regime a casos específicos; e nas leis
restritivas de direitos, liberdades e garantias.
Processos extra-sistemáticos
a) Normativos
Segundo esta via, as lacunas integrar-se-iam através de normas que os órgãos com
competência legislativa deviam elaborar. O juiz comunicaria a existência duma
situação lacunosa ao legislador e este dar-lhe-ia a norma jurídica necessária.
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Com efeito, logo se impuseram razões práticas: a excessiva morosidade; a
dificuldade de legislar com base apenas numa situação; e o não conhecimento
antecipado da lei pelos interessados.
A via dos processos normativos foi afastada.
b) Discricionários
Segundo este sistema, a integração das lacunas ocorreria quando se atribui a uma
entidade administrativa o poder de resolver, com base em razões de oportunidade
ou conveniência, determinadas situações. Porém, apenas se oferece uma solução
in concreto e não disposições genéricas (normas jurídicas): por isso, esgotando-se a
decisão no caso sub iudice, não se aplica às situações do mesmo género que surjam
no futuro. A via da solução discricionária não afasta as lacunas futuras.
c) Equitativos
Além de outras funções, e equidade desempenharia também uma função
integradora: a de ponderar as circunstâncias do caso (lacunoso) que reclama uma
solução jurídica.
Porém, este entendimento está superado e coloca-se, hoje, o caso concreto no
centro das preocupações da metodologia jurídica. Em consequência, a equidade é
entendida como um momento da concreta realização do direito.
Sendo a justiça do caso concreto, a equidade está presente na aplicação das
normas jurídicas e, portanto, não constitui um processo de integração.
O desenvolvimento do direito
• A concreta realização do direito. Perspetiva metodológica
Atualmente, enfatiza-se o caso concreto decidendo como condicionante e
determinante da interpretação.
Reduzida a interpretação jurídica a um momento da concreta realização do direito, a
nova metodologia jurídica não reconhece uma distinção essencial entre a
interpretação e a integração e, por isso, fala-se de “desenvolvimento do direito”.
• Novos resultados
a) Interpretação corretiva – ocorre quando a norma jurídica abrange outras
hipóteses que o espírito da lei não comporta. O intérprete verifica que as
circunstâncias determinantes da formulação da lei se alteraram e, por isso,
corrige o texto da lei para realizar a sua intenção prática, considerando que
o legislador não teria querido a norma se tivesse previsto esse resultado.
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segurança social. Ela tem direito à indemnização calculada segundo os anos
de vida do homem. Ele foi atropelado aos 70 anos, mas a idade média de
morte dos homens é 75. O direito alemão manda estender a reforma até
aos 75 anos do marido, ou seja, a mulher tem direito a mais 5 anos de
reforma depois da morte do marido. Se a mulher vivesse mais do que esses
5 anos? Só tem reforma durante mais 5 anos, e os outros? O supremo
tribunal alemão considerou que a mulher tem reforma enquanto vive.
É um atropelo à letra da lei determinado pelo espírito da lei: estendeu-se a
interpretação muito para além do sentido literal da lei.
Santos Justo