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Princípios Gerais de Direito

I Parte – O Direito: Introdução e Enquadramento

Capítulo 1 – O Direito: Noção, Classificação e Características


1. Razão do ser do Direito
1.1 Caracterização e definição de sociedade

 “O homem como unidade autónoma”

Pode o homem viver isolado? Apenas na base da sobrevivência, dado que o homem é
um ser eminentemente social.

NOTA: O Homem como ser social é um ser político


➔ Nos diversos domínios sociais em que ocorre a integração do Homem, este
desempenha uma função de participação na satisfação de necessidades coletivas,
estando delimitados os seus direitos e os seus deveres recíprocos perante o grupo.

Sociedade: Um conjunto de pessoas que compartilham propósitos, gostos,


preocupações e costumes, e que interagem e exercem entre si, que se ajudam e
completam, e que constituem uma comunidade.

A sociedade é um objeto de estudo comum entre as ciências sociais. É um grupo de


indivíduos que formam um sistema semiaberto, no qual a maior parte das interações é
feita com outros indivíduos pertencentes ao mesmo grupo.

O significado geral de sociedade refere-se simplesmente a um grupo de pessoas vivendo


juntas numa comunidade organizada, o que implica a existência de um grupo de pessoas
com semelhanças étnicas, culturais, políticas, religiosas ou mesmo pessoas com um
objetivo comum, qualquer um que seja, e está implícito no significado de sociedade que
os seus membros compartilham interesses ou preocupações mútuas sobre um
determinado objetivo que é de todos comum. No fundo, o conceito de sociedade
pressupõe um conjunto de virtudes cívicas dos seus membros para atingirem um escopo
de realização comum.

Tipos de sociedade:
➔ MICRO SOCIEDADE – ex: vizinhança, junta de moradores, etc
➔ MACRO SOCIEDADE – ex: União Europeia, um país, as diversas organizações
internacionais de que o Estado é Parte integrante: ONU; OTAN

Conceito de “sociedade” pressupõe a verificação dos 3 elementos que o caracterizam:


1) Uma forma conjugada de atuação – exige que os membros do grupo social,
qualquer ele que seja, hajam concertadamente (harmoniosamente), de forma
interdependente, mediante uma atuação concatenada (ligada) ou conjugada de esforços
de forma a atingirem o fim ou escopo (alvo) social que é inerente à criação e
subsistência da sociedade.

2) A existência de finalidades ou objetivos comuns – refere-se à existência de


finalidades ou objetivos que são comuns a todos os membros da sociedade (o clube de
bairro, o município, o país ou a organização europeia). Todos se comportam de forma
relacionada com vista a satisfazer individualmente ou em grupo as diversas
necessidades do conjunto social.

3) A estabilidade ou caráter permanente – impõe um caráter estável ou permanente,


laços de perenidade, uma continuidade na relação de pertença face ao todo social, de
forma a que a ligação existente não seja temporalmente volátil ou inconstante face à
passagem do tempo.

Onde há Homem há sociedade, E Onde há sociedade há direito


---> Logo Onde há Homem há direito.

HOMEM-SOCIEDADE-DIREITO = interligados

 1.2. A Ordem Jurídica enquanto ordem social



Direito: Sociedade; Território do Estado; Sistema de normas
jurídicas; Ordem jurídica; Regulamentação normativa da vida do
Homem em sociedade; Ordem social

➔ Numa sociedade existem regras de conduta impostas para a


sobrevivência de todos os seus membros e se nos fixarmos no
conceito de sociedade nacional com o país, com Portugal, onde
ressaltam normas cuja aplicação se estende a todo o conjunto
estadual.
➔ O sistema de normas aplicável é identificado com o Direito, com a ordem jurídica,
por causa da regulamentação normativa da vida do Homem em sociedade.

Tipos de ordens: Natural e Social

Ordem natural -> leis da natureza: absolutas, inalteráveis e


invioláveis
Ordem social -> leis; regras de conduta social, normas jurídicas:
imperativas e obrigatórias, mas violáveis

Dois tipos de ordem social:


1) Ordem de mero facto
- Destina-se a analisar e a explicar realidades sociais;
- Situa-se no campo do “ser” ou de “aquilo que é”;
- A observação de certos factos sociais pode conduzir à obtenção
de leis que caracterizam e descrevem a realidade social. ex: análise geral das situações
de aborto para entender mais
acerca da situação, apontando para a eficácia ou para a ineficácia da lei penal aplicável
neste domínio

2) Ordens éticas normativas (Ordem jurídica; Ordem religiosa;


Ordem moral; Ordem de trato social)

Ordem de Mero Facto Vs Ordem Ética Normativa


➔ A ordem ética normativa já não tem por objetivo a analise dos
fenómenos de compreensão da realidade social;

➔ Com base na análise dos fenómenos de compreensão da realidade social, isto é,


apoiando-se na ordem de mero facto, a ordem ética normativa destina-se a regular
condutas humanas, às quais imprime orientações determinadas com um certo sentido de
atuação;

➔ A ordem ética normativa situa-se no campo do “dever ser” ou de “aquilo que deve
ser”, ao contrário da ordem de mero facto, que “é”;
➔ Utiliza a norma para regular a vida do homem em sociedade, quer dirigindo
comportamentos, quer impedindo a verificação de situações socialmente indesejáveis.

1.3. As Ordens Éticas Normativas

1.3.1) Ordem jurídica/do direito


- Integra-se na ordem social;
- Comporta normas de conduta;
- Caracteriza-se pela imperatividade das suas normas;
- É violável (pressupõe a existência de leis, que são imperativas e
obrigatórias, mas também são passíveis de violação, tendo que possuir mecanismos
aptos a sancionar essa violação);
- Destina-se a regular os aspetos juridicamente relevantes dos comportamentos do
Homem na sua vida em sociedade;
- Atribui responsabilidades, direitos e obrigações, dirigindo-se à conduta externa do
individuo, ao contrário das outras normas que se dirigem precipuamente à intenção
interna, ao processo psicológico.

Características:
➔ Heterónoma (é imposta exteriormente e por uma autoridade
competente, mesmo contra a vontade dos seus destinatários);
➔ Bilateral (opera entre indivíduos ou partes que se encontram em
relação);
➔ Coercível (é suscetível de aplicação pela força, se necessário).

NOTAS: Esta comporta normas éticas ou de conduta, mas não é a única. A


O.E.N é a que se destina a regular os aspetos juridicamente relevantes dos
comportamentos da vida do homem em sociedade.

As outras ordens éticas normativas também contemplam normas


éticas ou de conduta – mas não regulam a atividade jurídica;

A norma jurídica, a norma do direito, compara-se com as normas das outras ordens
éticas normativas: começa por se dirigir à intenção interna, ao processo psicológico de
formação de vontade. A diferença é que abrange também a conduta externa do
indivíduo. Faz relevar a concretização da vontade.

Outras ordens éticas normativas são:


➔ Autónomas (o meu comportamento depende só de mim);
➔ Unilaterais (só 1 lado, o meu e sem relação com os outros);
➔ Incoercíveis

1.3.2) Ordem religiosa


- Disciplina a relação do Homem com a Divindade – um ou mais seres
transcendentes;
- Propaga a fé em função de uma orientação determinada da religião,
como sucede com a vontade revelada por Deus;
- As mais importantes e influentes religiões são: o cristianismo, o
islamismo, o judaísmo.
- Imposição ao Homem de condutas externas;
- Imposição individual de uma firme convicção interior;
- Arrependimento individual e interiorização das sanções se forem
violadas condutas que produzam ofensa ao bem comum;
- Interiorização de sanções por sacerdotes;
- Procuram não praticar o que é repudiado e condenado pela religião;
- O objetivo da salvação;
- Palavra de Deus como lei.

Deste modo, a moral religiosa é um fator determinante no controlo do individuo e da


sociedade.

Esta ordem é:
➔ Autónoma (é imposta pela própria consciência do Homem);
➔ Unilateral (apenas diz respeito ao indivíduo);
➔ Incoercível (não é exigível, nem fiscalizável; reduz-se a um mero
dever de consciência)

1.3.3) Ordem Moral


- A ordem moral visa a realização plena do Homem, também do ponto
de vista da interiorização de condutas;
- Deriva da palavra latina “mores”, que significa “relativo aos
costumes”;
- Identifica-se com as tradições e com os bons costumes;
- Regras de convívio;
- A semelhança que o Direito tem com a moral é que ambas são formas
de controlo social.

Moral: “É um conjunto de regras de conduta consideradas como


válidas, éticas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupos
ou pessoas determinadas, ou seja, regras
estabelecidas e aceites pelas comunidades humanas durante determinados períodos de
tempo.”

Existem algumas teorias que podem explicar o campo de aplicação entre o direito e a
moral:

Relações entre o Direito e a Moral:

Teoria do
Teoria dos Teoria dos Círculos Mínimo Ético
Círculos Secantes Concêntricos

-> Teoria dos Círculos Secantes (Claude du Pasquier): O direito e a moral


coexistem, não se separam. Há um campo de competência comum onde há regras com
qualidade jurídica e que têm caráter moral – toda a norma jurídica tem um conteúdo
moral, mas nem todo o conteúdo moral tem necessariamente um conteúdo jurídico;

-> Teoria dos Círculos Concêntricos (Jeramy Bentham): O direito está totalmente
incluído no campo da moral. O campo da moral é mais amplo que o campo do direito e
este subordina-se à moral – “toda a norma jurídica tem um conteúdo moral, mas nem
todo o conteúdo moral tem caráter jurídico” - O campo da moral é mais amplo do que o
campo do Direito e este subordina-se à moral.

-> Teoria do Mínimo Ético (Georg Jellinek): O direito representa apenas o mínimo de
moral obrigatório para que a sociedade possa sobreviver – “o direito é um conjunto
mínimo de regras morais obrigatórias para a sobrevivência da moral e, por
consequência, da sociedade” – esta teoria reconhece que muitas normas escapam ao
domínio da moral (ex: a norma do Código da Estrada que impõe a condução à direita).
Sendo o direito e a moral realidades autónomas, a verdade é que o direito deve conter
um mínimo ético que o justifique e legitime.

A moral está antes do direito; aquilo que é permitido pelo direito nem sempre está de
acordo com a moral.

A moral tem por objetivo o comportamento humano regido por regras e valores morais,
que se encontram gravados nas nossas consciências.

Daí que nenhum código de leis torna o Homem responsável pela sua culpa quando age
contra as regras morais.

- Não difere da religião e da moral, no que diz respeito à interiorização das condutas
humanas.

- Embora o direito e a moral sejam realidades autónomas e separadas, não deixam de ter
pontos de contacto e até alguma interdependência, nalguns casos. O direito há-de
possuir, assim, um mínimo ético que o justifique, que o legitime e que permita
compreender a razão de ser da sua criação.

A ordem moral é:
➔ Autónoma (é imposta pela própria consciência do Homem);
➔ Unilateral (apenas diz respeito ao indivíduo);
➔ Incoercível (não é exigível, nem fiscalizável; reduz-se a um mero dever de
consciência).

1.3.4) Ordem de Trato Social

- Integra a ordem social e também reveste natureza ética e normativa, por se destinar a
regular comportamentos da vida em sociedade, embora não seja tida como necessária
para a sua subsistência e conservação;
- Não difere da religião e da moral, no que diz respeito à interiorização das condutas
humanas;
- As suas regras são espontâneas, variam consoante o meio em que se encontram e
dependem da educação, da condição social e do nível cultural de cada um;
- As suas sanções são flutuantes, voláteis e indeterminadas, não passando normalmente
de reparos e de simples censuras;
- Este tipo de regras de comportamentais não foram criadas por um órgão legislativo;
- Variam consoante o meio em que se aplicam;
- Em caso de violação cria-se uma ideia errada de determinada pessoa, mas isso não
traduz qualquer comportamento verdadeiramente castigador ou sancionatório.

➔ Autónoma (é imposta pela própria consciência do Homem);


➔ Unilateral (apenas diz respeito ao indivíduo);
➔ Incoercível (não é exigível, nem fiscalizável; reduz-se a um mero dever de
consciência)

Nota: A ordem religiosa, a ordem moral, a ordem de trato social e a ordem jurídica são
meras ordens sociais, mas a ordem jurídica, o Direito, é a única que pressupõe de
exterioridade, exige a existência de uma ação humana, para que seja juridicamente
relevante, ao passo que as restantes ordens pertencem ao mundo da interioridade.

2. NOÇÃO, DIMENSÃO E CARACTERÍSTICAS DO DIREITO


2.1 NOÇÃO DE DIREITO

Definição: O Direito, enquanto realidade equiparada à ordem jurídica é um conjunto


sistemático de normas (de caráter jurídico) adotadas por órgãos próprios, de acordo com
processos formalmente aptos a emiti-las, e que serve para regular a vida do Homem em
sociedade. “A norma jurídica é uma norma (palavra, cujo significado próprio é
‘esquadro’), afirma-se dum modo particular que é uma ‘regula’ (uma ‘régua’, uma
regra); esta, por sua vez um ‘canon’ (uma medida). ‘Esquadro’ (‘norma’), ‘régua’
(‘regula’) e cânone, tudo são medidas para valorar as coisas.” - Sebastião Cruz, Direito
Romano (Ius Romanum), 1984.

➔ Origem etimológica do direito: Na sua origem etimológica, a palavra “direito” vem


do latim “directus, a, um”, escrito também como “ius” ou “jus” (o que segue regras pré-
determinadas ou dado preceito) e que em latim clássico correspondia a “IVS” (a
fórmula religiosa), derivada de “Ioues” ou “Iovis” (Zeus), a forma antiquíssima do Deus
“Jupiter”. As regras do direito, impostas através das normas jurídicas, são imperativas,
destinam-se a atingir a satisfação do bem comum e são imprescindíveis à sobrevivência
da sociedade. Ainda no período romano o termo “directum” passou a corresponder ao
Direito.
“Directum” vem de “dirigere”, que tem origem em “regere”, “reger” (“governar”),
donde, os termos latinos “rex”, “regula” e outros. Em português, o termo evoluiu para
“direto” (1277) e depois para “dereyto” (1292), seguido de “dereito” (que ainda hoje se
mantém no dialeto mirândes, em galego, navarro e aragonês), até chegar à grafia atual,
“direito”, a partir do séc. XIII. Os vocábulos “right” em inglês e “recht” em alemão têm
origem germânica (“right”), com proveniência no indo-europeu “reg-to” (“movido em
linha reta”) – termo que está na origem do latim
“rectus, a um”.

➔Origem simbólica do direito


(Mitologia egípcia; mitologia grega; mitologia romana)

1) Mitologia Egípcia
➔ Na mitologia egípcia, Maat ou Maet é a Deusa da Justiça e do
Equilíbrio, a norma eterna que rege o universo. É a precisão, a verdade, a ordem e a
retidão. A principal obrigação dos faraós egípcios era fazer com que Maat se cumprisse
para que não reinasse a desordem e a iniquidade.
➔ Maat, filha de Rá, o deus Sol, era representada por uma mulher
jovem, que exibia na cabeça uma pluma, que identificava a pluma
ou a pena de avestruz, também conhecida como a pena de Maat ou
ainda “a pena da verdade”.
➔ De acordo com “O Livro dos Mortos”, era Maat quem pesava todos os que
chegassem ao salão subterrâneo do “Julgamento das Almas”.
➔ Punha-se uma pluma de avestruz num dos pratos da “Balança de Osíris” durante o
“julgamento da alma”. No prato oposto colocava-
se o coração do morto, que devia ser tão leve como a pena de Maat, para ter direito à
imortalidade. Com os pratos em equilíbrio, o morto podia festejar com as divindades e
os espíritos dos mortos.
➔ Se o coração fosse mais pesado, a alma do morto seria devorada por Ammit (parte
hipopótamo, parte leão, para crocodilo).

2) Mitologia Grega
➔ De acordo com a mitologia grega, o direito era associado à deusa “Dikê”, filha de
Zeus (o “Deus do Olimpo”) e de Thémis.
➔ Dikê era a deusa dos julgamentos e da justiça, vingadora das violações da lei.
➔ A deusa Dikê era representada por uma mulher, de pé, descalça, com os olhos bem
abertos (metaforizando a sua busca pela verdade). Com a mão direita sustentava uma
espada desembainhada e apontada para cima (simbolizando a força, elemento tido por
inseparável ao direito) e na mão esquerda sustentava uma balança de dois pratos (a
igualdade procurada pelo
direito), sem que o fiel da balança estivesse ao meio. O fiel só iria para o meio após a
realização da justiça, do ato tido por justo.
➔ O direito era declarado (ora por inspiração da deusa, ora por ordem
de Zeus) quando os dois pratos da balança estivessem nivelados (“ison”), com o fiel ao
meio.
➔ Nesta aceção, para os gregos, o justo (direito) era identificado com
o igual (igualdade).

3) Mitologia Romana
➔ A deusa Iustitia, filha de Jupiter (em latim Deus Pater, também
chamado de Jove ou Jovis), era o deus romano do dia, do céu e do
trovão e o rei dos deuses na mitologia romana.
➔ A deusa Iustitia era representada por uma mulher, de pé, descalça,
com os olhos vendados (metaforizando a imparcialidade). Com a
mão direita sustentava uma espada desembainhada apontada para
baixo (acentuando a presença discreta da força, a utilizar quando
necessário) e na mão esquerda sustentava uma balança de dois pratos (a igualdade
procurada pelo direito), sem que o fiel da balança estivesse ao meio. O fiel só iria para o
meio após a realização da justiça, do ato tido por justo.
➔ A deusa iustitia deveria estar de pé durante a exposição do direito (no momento da
realização do jus).
➔ Quando o fiel da balança (‘examen’) estivesse ao meio na vertical (‘rectum’),
perfeitamente a prumo (examen ‘de rectum’), e com os dois pratos da balança iguais
(‘bilances aequales’).
➔ Pela representação simbólica, a declaração do direito (no sentido de realização da
justiça), ocorre por via da expressão “de rectum”.
➔ Que deu origem a “derectum”, que domina a palavra ‘ius’.
➔ Daí as expressões nas línguas românicas: derectum, directum, dereito, diritto, droit,
direito, etc.

➔ Aceções do Direito: O direito é uma palavra que se reveste de várias aceções, que
vão da antiguidade clássica aos tempos modernos, e pode ser referido com 4 sentidos
diferentes:
1)Sentido normativo: Corresponde à norma, conjunto de
normas jurídicas, conjunto de princípios jurídicos ou ao ordenamento jurídico em geral.
É neste sentido que se fala no Direito Português, no Direito Internacional ou no Direito
da Saúde, por exemplo. É nesta expressão que se insere o termo “ordem
jurídica” ou ordenamento jurídico, tendo em vista a realização da ordem social segundo
a justiça, de forma a atribuir a cada um aquilo que é seu, e também o sistema jurídico ou
ordenação jurídica, enquanto unidade ou conjunto sistemático de normas.

2)Sentido Objetivo: Significa aquilo que é justo, a própria coisa


justa. É o objeto, o conteúdo ou o âmbito do direito em sentido
normativo. É neste sentido que se refere o direito de propriedade
como o direito que, em geral, os proprietários têm sobre as coisas
que lhes pertencem (ex: código civil – capitulo I – secção I – artigo 874 - Compra e
venda é o contrato pelo qual se transmite a propriedade de uma coisa, ou outro direito,
mediante um preço).

3)Sentido Subjetivo: O poder ou a faculdade jurídica reconhecida a um determinado


sujeito, ou seja, uma faculdade de agir ao abrigo de uma norma jurídica relativamente a
uma certa coisa ou pessoa. No domínio do direito subjetivo, pode reter-se que se
entende o Direito numa relação pessoalizada, subjetivada, em que a propósito de
determinado direito em termos objetivos se concretiza a relação de forma a pessoalizá-
la, a permitir a certas pessoas especificamente consideradas a atribuição concreta de
determinados direitos.

4)Saber Jurídico: Este é identificado com o Direito no sentido de jurisprudência,


enquanto ciência do direito ou a arte do justo, que visa discernir o que é justo, declará-lo
e promover a sua realização. É usual a utilização de expressões da linguagem comum
para referir
o direito, como saber jurídico.

2.2 A TRIPLA DIMENSÃO DO DIREITO


• Facto, valor, norma jurídica = DIREITO

• Teoria tridimensional do direito (Miguel Reale) 1968


➔ Todo o facto da vida social (acontecimentos, ações) possuiu um valor (aspeto
axiológico) e para tal uma determinada norma jurídica.

Aceitando uma tríplice dimensão do direito é de defender a alteração da ordem:


• FACTO - O direito começa por eleger certos factos sociais como relevantes para
serem passíveis de regulação jurídica.
• NORMA - O direito regula os factos que considera juridicamente relevantes através
da norma jurídica.
• VALOR - O direito há-de implicar, não só formal, como também do ponto de vista
material, que as suas normas sejam objeto de uma certa orientação em função de
valores, de padrões axiológicos. Neste sentido, o acento tónico é colocado na valoração
da norma e não na valoração do facto.

Nota: A tripla dimensão da realidade jurídica é indiscutível e muito pertinente, embora


se justifique uma alteração e uma reordenação dos seus elementos integradores, por
forma a obter-se um alinhamento lógico diferente, desta vez assente no facto, na norma
e no valor, respetivamente.

2.3. CARACTERÍSTICAS DO DIREITO


-> Necessidade: A exigência da ordem jurídica para a sobrevivência da sociedade;

-> Alteridade: Também designada por intersubjetividade/bilateralidade, esta pressupõe


da existência de uma integração social do Homem, de uma relação de interdependência
entre vários homens e mulheres, por isso é que a essência da justiça é referir-se a
outrem;

-> Imperatividade: Esta é essencial ao Direito já que se trata de uma ordem ética
normativa dotada de regras jurídicas. Ordena e regula determinados comportamentos
sociais e exige que os mesmos sejam voluntariamente cumpridos, caso contrário é
possível a sua imposição recorrendo à força. Ainda que esta possa ser violável, também
possuiu punição a quem “viola” e não perde a sua natureza;

-> Coercibilidade: Possibilidade de imposição coativa, se necessário pela


força e contra a vontade dos seus destinatários, das normas e sanções jurídicas;

-> Exterioridade: Diz respeito a ações e coisas exteriores e traduz-se na


demonstração dos comportamentos interiorizados pelo Homem, numa manifestação de
vontade revelada, numa atuação que vá para além dos pensamentos, para que certa
conduta material ou comportamento fáctico possa revelar do ponto de vista jurídico. O
que significa que o Direito não intervém na ausência de comportamentos exteriorizados,
embora não deixe de abranger o plano íntimo das meras intenções no caso de existir
uma manifestação externa de certa vontade juridicamente relevante. Com este sentido, o
Direito é dirigido à ordenação da conduta de outrem, não versa toda a matéria da virtude
moral, mas apenas das ações exteriores das coisas (a relevância dos comportamentos
exteriorizados e impostos externamente através de órgãos próprio).

3. LEGITIMAÇÃO MATERIAL DO DIREITO

➔ Duas correntes de pensamento para a compreensão do Direito

Direito Positivo Direito Natural

3.1 Direito Positivo ou Positivismo Jurídico


➔ É uma doutrina para a qual só é direito o que está regulado pelo Estado, o que está
convertido em norma jurídica, neste sentido, o que está positivado.
➔ A sua tese básica afirma que o direito constitui um produto da ação e vontade
humana (direito positivo) e não da imposição da natureza ou Deus, como afirma a
corrente oposta, o jusnaturalismo.
➔ O direito moderno é imposto pela vontade humana concretizada através do Estado e
destinada a regular a conduta dos seres humanos no seio social e de acordo com as
finalidades humanas (aspecto teológico).
➔ Fenómenos como a moral e a justiça são alheios ao direito, uma vez que são noções
relativas, mutáveis no tempo e sem força política para se imporem à vontade do Estado.

3.2 Direito Natural

➔ O direito natural (em latim, “ius naturali”) é identificado com a corrente de


pensamento designada por jusnaturalismo. É uma teoria que postula a existência de um
direito cujo conteúdo é estabelecido pela natureza e, portanto, é válido para qualquer
lugar e para qualquer tempo;
➔ É universal;
➔ Trata-se de um direito da natureza que antecede e subordina o direito positivo, de
origem política ou social, que não deveria entrar em conflito com as regras do direito
natural e, se entrar, corre o risco de perder a sua validade intrínseca. Neste sentido, o
direito natural é imutável ao longo dos tempos;
3.3- O sentido ético do Direito
-> O Direito carece de um sentido ético para a sua legitimação material intrínseca, para
que um mero conjunto de exigências formais corresponda a uma certa razão que
justifique o Direito existente em certo momento. Isto é uma lição que e retira da História
e muito especialmente do enquadramento jurídico e alegada justificação dada aos atos
mais bárbaros praticados.

-> Pode dizer-se, no confronto entre as duas principais correntes de pensamento


filosófico do Direito, que o positivismo teve o seu apogeu no século XIX, no decurso do
qual a experiência demonstrou que normas adotadas por órgãos competentes de acordo
com processos formais aptos a emiti-las, só por si, não constituem qualquer razão de
Direito ou qualquer sentido valorativo que seja suscetível de o legitimar.

(Exemplo do nazismo ver livro)

3.4. Os valores prosseguidos pelo Direito: A JUSTIÇA; A


SEGURANÇA JURÍDICA; A PROTEÇÃO DA CONFIANÇA LEGÍTIMA

➔ O sentido ético do Direito, que é responsável pela legitimação material intrínseca das
normas jurídicas, não deixa de contemplar alguns valores de suma importância para o
sistema jurídico. É, antes de tudo, o caso da justiça, e depois, o caso da segurança
jurídica, e ainda o caso da proteção da confiança legítima.

3.4.1. A Justiça
➔ A justiça é um valor umbilicalmente inseparável do Direito, havendo uma relação
essencial;
➔ A ordem jurídica é uma ordem de convivência humana, segundo a justiça;
➔ O Direito é a própria coisa justa;
➔ A lei, enquanto norma jurídica e, portanto, a mais importante fonte do Direito, não
nada mais do que uma regra que serve de medida
da justiça e que prescreve a sua realização e que, além disso, indica a retidão da
conduta;
➔ O Direito procede da Justiça;
➔ A Justiça é sinonimo de virtude em geral, de soma de todas as virtudes, consistindo
em cada um fazer o que lhe compete, daí que o Homem justo seja um Homem bom e
virtuoso (sentido muito amplo);
➔ A Justiça corresponde ao conjunto de virtudes sociais, que regem as relações entre os
homens em sociedade e que os impelem a combater o bom combate (sentido comum);
➔ A justiça restringe-se à divisão de bens entre homens na comunidade social,
atribuindo a cada o que lhe é devido e que lhe pertence (sentido restrito);
➔ Tribunais = onde se aplica e realiza o Direito, uma “casa justa”

3.4.2. O princípio da segurança jurídica

➔ O princípio de segurança jurídica ou da certeza jurídica constitui um princípio geral


de Direito que é basilar do nosso sistema normativo e que se retira da noção de Estado
de Direito Democrático;
➔ A exigência da certeza do Direito traduz um valor essencial que impõe uma
obrigação de informação que recai sob o Estado legislador acerca da determinação
prévia dos cenários e quadros normativos aplicáveis;
➔ A estabilidade do sistema jurídico para que este evolua sem sobressaltos, inclui a
utilização de regras hermenêuticas destinadas à interpretação e integração de lacunas
que revistam uma aplicação comum, como a disponibilização de um regime normativo
próprio no que concerne à aplicação das leis no tempo ou ao fenómeno da sua sucessão
temporal;
➔ Certeza jurídica;
➔ Estabilidade;
➔ Previsibilidade;
➔ Obrigação de informação, que recai sobre o Estado e, dentro deste, sobre quem
exerce o poder legislativo, dever o mesmo que se relaciona com a necessidade de
conhecimento das leis em momento anterior à sua entrada em vigor;
➔ Imposição de normas positivas, gerais e abstratas, isto é, de leis escritas, adotadas no
âmbito de um quadro normativo preciso (que evite as chamadas normas em branco) e
com um conteúdo abrangente, isto é, dirigidas a categorias de sujeitos indeterminados;
➔ Lei sujeita a publicação - eficaz;
➔ Falta de publicação – sanção; ineficaz;
➔ No âmbito dessa função informativa temos matérias compiladas em livros que visam
facilitar o conhecimento (ex: código civil);
➔ Para a segurança e certeza do Direito também reveste particular acuidade a forma
como se encontram estabelecidas as regras hermenêuticas, ou seja, as regras especificas
relativas à interpretação das leis e à integração das lacunas, por um lado à aplicação das
leis no tempo ou ao fenómeno da sucessão das leis, por outro lado;
➔ A integração das lacunas da lei torna-se premente quando existam buracos ou vazios
legislativos, ou seja, casos que a lei não preveja;
➔ Relativamente à aplicação das leis no tempo também existem regras próprias
previstas na legislação civil, a lei só dispõe para o futuro, ou seja, ainda que lhe seja
atribuída eficácia retroativa, presume-se que ficam ressalvados os efeitos já produzidos
pelos facos que a lei se destina a regular;
➔ Litispendência

3.4.3. O princípio da confiança legítima

➔ Um dos valores imanentes ao Direito e indispensável para que cada um saiba com o
que conta na realização das suas finalidades humanas, assentes na fidúcia das relações
sociais e na aparência da boa fé como apoio firme do mundo jurídico;
➔ A vida em sociedade pressupõe uma base de sólida confiança na convivência
humana;
➔ É imperioso que as pessoas confiem umas nas outras e que o sistema a garanta;
➔ O princípio da confiança postula uma ideia de proteção da confiança dos cidadãos e
da comunidade na ordem jurídica e na atuação do Estado, o que implica um mínimo de
certeza e de segurança no direito das pessoas e nas expetativas que lhes são
juridicamente criadas;
➔ Baseia-se na expetativa de que os outros hajam de modo esperado, normal;
➔ É a necessidade de convivência social que pressupõe que o homem medio confie nas
situações da vida criadas por outras pessoas nas mais variadas situações;
➔ Verdade real sujeita a registo público para fornecer conhecimento genérico à
população;
➔ Confiança;
➔ Confiança legítima;
➔ Proteção da confiança legítima.
Parte 1, Capítulo 2- Sistemas e Ramos do Direito
1.Os Sistemas de Direito

Parte 1, Capítulo 2- Sistemas e Ramos do Direito


1.Os Sistemas de Direito

Os Antigos
Sistemas de Os Modernos
Direito Sistemas de
Direito

1.1.Os Antigos Sistemas de Direito


➔ Compilação de leis civis egípcias, o Código de Ur-Nammu, o Código de
Hammurabi, o Código de Manu

➔ A sistemática do Direito e a sua organização em famílias jurídicas subjaz à própria


história do Direito e está ligada ao desenvolvimento das mais antigas civilizações;
➔ Direito da antiguidade clássica egípcia - primeira compilação de leis civis egípcios
(3000 a.C.) divididas em 12 livros e baseadas no conceito de Maat, caracterizada pela
tradição, pela retórica, pela igualdade social e pela imparcialidade;

➔ No que diz respeito ao advento da codificação do direito antigo, o mais antigo texto
legal é o Código de Ur-Nammu, redigido por volta de 2100 a.C. Ur-Nammu foi o rei
que reunificou a região da Mesopotâmia e que promoveu a primeira compilação de leis
do direito sumério. Descreve costumes antigos transformados em leis e enfatiza as
penas pecuniárias para diversos delitos, ao invés de penas castigadoras

➔ O Código de Hammurabi é erradamente conhecido como o mais antigo texto legal,


embora seja o texto jurídico, quase completo, mais antigo (1760 a.C). Em 1760 a.C. o
rei Hammurabi determinou a codificação de todo o direito babilónico e a sua inscrição
em pedra, para que o povo o pudesse ver no mercado: o que originou o Código de
Hammurabi. Estava inscrito em pedra para o povo ver no mercado, com a famosa lei de
talião = retaliação; “Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé”;
reciprocidade do crime;

➔ 1500 anos depois surge o Código de Manu, que é parte de uma coleção de 12 livros
bramânicos, que se constitui na legislação do mundo indiano e vem estabelecer o
sistema de castas na sociedade Hindu. Foi redigido em forma poética, através de versos,
sob forte
motivação religiosa e política, e transmite a ideia de valores, como a Verdade, a Justiça
e o Respeito.

➔ Tal como no direito do antigo Egito, poucas fontes sobreviveram e muito se perdeu
com o passar do tempo. A influência dos exemplos jurídicos mais antigos foi, portanto,
pequena. No entanto, o advento da nova escrita desenvolvida a partir dos fenícios, que
foi
necessário para o comercio, permitiu uma expansão homogénea do Direito num mundo
cada vez mais interligado. A nova escrita permite ultrapassar as dificuldades do sistema
cuneiforme sumério e do sistema hieroglífico egípcio, influencia os alfabetos aramaico,
hebraico e arábico e, mais tarde, grego e romano, o que ajuda à expansão do direito;

➔ Com o advento da nova fonética, regista-se como o mais antigo conjunto de leis
relevante para os modernos sistemas do direito, muito provavelmente, a Torá do Velho
Testamento (As Escrituras Hebraicas (o Antigo Testamento) constituem a primeira parte
da bíblia cristã e a totalidade da bíblia hebraica e foram compostas em hebraico e
aramaico. Inclui os Livros da Lei, os livros dos profetas, e os escritos) Na forma de
imperativos morais, como os Dez Mandamentos (imperativos morais que contêm
recomendações para uma boa sociedade);

➔ O documento de maior relevo do Direito Antigo é a Lei das XII Tábuas, que surge
em Roma, nos anos 451 a.C. a 449 a.C., na senda de uma obra codificadora de grande
envergadura, para impor o direito a todo o império. Foi escrita em 12 partes (em 12
tábuas de madeira), divididas em fragmentos ou leis;

➔ O Corpus Juris Civilis Romani foi a A maior compilação jurídica jamais feita do
direito, entre 530 d.C. e 565 d.C., que acompanha o período áureo do Imperador
Justiniano I, que a ordenou, com o desejo de “estabelecer a unidade na diversidade”,
tomando por base o direito romano clássico;

➔ O conhecimento do direito romano perdeu-se na Europa Ocidental durante a Idade


Média, mas a disciplina foi redescoberta a partir do século XI, quando juristas
medievais, conhecidos por glosadores, começaram a pesquisar e a usar conceitos dos
textos jurídicos
romanos. O importante trabalho dos glosadores, na tradução, anotação e compilação
manuscrita dos grandes textos antigos – responsável pelo desenvolvimento do direito
em todo o mundo;

➔ Na Inglaterra Medieval, os juízes reais começaram a desenvolver um conjunto de


precedentes que viria a tornar-se a Common Law. Aos poucos, formou-se na Europa
medieval a Lex Mercatoria, que permitia aos mercadores comerciar com base em
práticas padronizadas. A Lex Mercatoria, percursora do direito comercial moderno,
enfatizava a liberdade de contratar e a alienabilidade da propriedade. Quando o
nacionalismo recrudesceu nos séculos XVIII e XIX, a Lex Mercatoria foi incorporada
no direito interno dos diversos países do continente europeu nos respetivos códigos
civis.

➔ O Código Napoleónico (um dos primeiros e mais influentes códigos civis da história)
e o Código Civil Alemão tornaram-se as leis civis mais conhecidas e influentes;

1.2.Os Modernos Sistemas de Direito

➔ O Sistema Romano-Germânicos e o Sistema Anglo-Saxónico

➔ O que antecede serve para observar a evolução que o Direito sofreu, desde a
antiguidade clássica, ao longo das civilizações, desaguando na pluralidade de
ordenamentos jurídicos estatuais modernos;

➔ Os dois principais sistemas jurídicos ou famílias do Direito da atualidade são aqueles


anteriormente referidos, que exercem maior influência geográfica entre os países que os
integram, perante outros sistemas como o dos direitos socialistas, o direito muçulmano,
etc;

➔ Relativamente ao sistema romano-germânico: a sua zona de influência geográfica


engloba a maior parte dos países europeus (à exceção do Reino Unido e da Irlanda do
Norte); toda a América central e latina; grande parte de África (francófona), Japão e
Indonésia. Esta vasta zona de influência geográfica decorre,
naturalmente, da importância que as famílias de Direito dominantes na Europa tiveram e
ainda hoje manifestam ter nas suas antigas colonias ou províncias ultramarinas,
entretanto descolonizadas e autonomizadas, como o Brasil e Africa em relação a
Portugal, e etc;

➔ Aspetos peculiares: Assenta no primado da lei (a fonte do Direito de maior


relevância é a lei, conferindo, portanto, destaque especial à lei escrita e genérica), tem
preferência dos sistemas de direitos codificados (sistematizados pelas diferentes
matérias) e apresenta um elevado grau de apuramento técnico;
➔ No que concerne ao sistema anglo-saxónico: Este é formado a partir do direito
originário da Inglaterra após a conquista normanda e surge da necessidade de criação de
um sistema de direito comum (common law) aplicável não só a todo o reino como a
toda a área de influência do vasto Império Britânico e por essa razão, aí assenta a pedra
angular do ordenamento inglês.

- A sua zona de influência geográfica abrange

 Na europa: o reino unido da grã-bretanha e da irlanda do norte


(inglaterra, escócia, país de gales, irlanda do norte) e a república
Da irlanda.
 Na américa: américa do norte (estados unidos e canadá).
 África e médio oriente: (antigos países de domínio britânico)
 Índia
 Territórios ultramarinos britânicos;

➔ A base desta família é jurisprudencial (case law) e assenta na regra do stare decisis, a
regra do precedente (“the rule of precedent”);

➔ A lei (statute law) não é desconhecida como fonte do direito, mas a sua essência é de
natureza jurisprudencial e casuística.

2. Os Ramos do Direito

 Direito público e direito privado

 Direito substantivo e direito processual

 Direito interno, direito da união europeia e direito internacional

➔ A classificação dos ramos do direito é, mais ou menos, universal e existe


independentemente dos sistemas jurídicos onde são aplicados;

➔ Os ramos do Direito implicam a existência de um conjunto de princípios e de normas


que são específicos de determinado conjunto de matérias e que encontra uma arrumação
de acordo com a lógica própria de cada ramo, que normalmente, corresponde
a um sistema codificado de normas;

➔ Posto isto, é usual as próximas distinções entre tipos de direito ocorrerem

2.1 Direito Público e Direito Privado

➔ Distinção: Os interesses públicos que são relativos ao Estado e à sociedade em geral,


e que merecem ter uma posição privilegiada, por um lado, e os interesses privados, da
esfera privada ou particular, decorrentes da relação entre duas ou mais pessoas, por
outro lado;
➔ Critérios para delimitar o interesse público do interesse privado: o critério dos
sujeitos (que é determinado pela qualidade de cada interveniente) e o critério do
interesse preponderante (que depende do interesse específico e da razão de ser que
motiva a intervenção do Estado ou de qualquer ente público em determinada relação
estabelecida com um particular);

➔ O direito divide-se em vários ramos de acordo com as relações sociais que regula;

➔ Ramos do direito agrupam-se no direito público e direito privado.


São critérios de distinção:

➔ a) Natureza dos interesses públicos é o que tutela as relações em que esta presente o
interesse publico, são normas do direito público as que tem como objetivo a satisfação
de interesses públicos;

➔ b) Qualidade dos sujeitos (direito publico é o que se aplica as relações jurídicas em


que pelo menos um dos sujeitos intervenientes é um sujeito publico);

➔ c) Posição dos sujeitos na relação jurídica (são normas do direito publico as que
regulam relações em que o Estado ou qualquer ente publico intervém, dotado do seu
poder de “ius imperium”; critério mais adequado)

- Ramos, ver no livro –

2.2 Direito Substantivo e Direito Processual

➔ Distinção: O direito substantivo ou material refere-se aos ramos do


Direito que regulam princípios e normas jurídicas privativas de
determinada área ou conjunto de matérias e que se encontra normalmente
codificado com o nome dado à disciplina de que se ocupa. Relativamente
ao direito processual, esse refere-se, por sua vez, a cada um dos ramos do
direito substantivo ou material em movimento, ou seja, à dinâmica do
processo e à sua tramitação nos tribunais na área correspondente ao direito
substantivo ou
material. Esta distinção tanto se refere ao direito público como ao privado,
já que não os separa.

2.3 Direito Interno, Direito da União Europeia, Direito


Internacional

2.3.1 Direito Interno


➔ É o direito do Estado, denominado também de direito nacional, e o que
rege as relações jurídicas que se processam no território do Estado
português, ou seja, o Direito Português;

➔ Tanto pode ser direito público, como é, exemplificando, o Direito


Constitucional ou o Direito Penal, como pode ser direito privado, como é,
por exemplo, o caso do Direito Civil ou do Direito do Trabalho;

➔ Esta noção exige a compreensão da importância do conceito de


território para a definição da própria noção de Estado e para a aplicação do
Direito num determinado país;

➔Num contexto político, o termo território refere-se à superfície terrestre


de um Estado, seja ele soberano ou não. É definido como espaço físico
sobre o qual o Estado exerce o seu poder soberano ou, por outras palavras,
é o âmbito de validade da ordem jurídica estatal;

➔De acordo com as teorias gerais do Estado, da diplomacia, das relações


internacionais e da nacionalidade, o território é uma das condições para a
existência e reconhecimento de um país;

➔ A noção de Estado pressupõe a existência de uma pessoa de direito


internacional e implica as seguintes características, geralmente aceites sem
reservas:

➔ Daí que o reconhecimento internacional do Estado ocorra quando existe


soberania, por isso há determinados casos de entidades soberanas que não
são consideradas Estados:

➔ Estados sem território (Autoridade Nacional Palestina; Ordem de


Malta)
➔ Nações sem território (etnias ciganas)
➔ Estados com territórios não soberanos:
➔ Estados federados (EUA, Brasil)
➔ Estados dependentes, exíguos ou vassalos (Mónaco, Liechtenstein,
Andorra)
➔ Estados semissoberanos (antiga Confederação Helvética);
➔ O caso especial do Estado do Vaticano: Através de uma concordata
celebrada em 11.02.1929 entre a República da Itália e a cidade-Estado do
Vaticano (os “Pactos Lateranenses”), este ficou a “Cidade-Estado do
Vaticano”: Artigo 3.o da Concordata: “É reconhecida a existência do
Estado da cidade do Vaticano sob a soberania do Romano Pontífice”

➔ Noção de “território” do Estado: Sendo este um espaço físico onde é


exercido o poder soberano do Estado ou o âmbito de validade da ordem
jurídica estatal, a dimensão desta noção compreende a superfície terrestre,
as águas interiores, as águas territoriais e o espaço aéreo correspondente

➔ Plataforma Continental: A chamada Plataforma Continental


geológica diz respeito à porção do leito e subsolo das áreas submarinas que,
com início na linha de costa, se estendem em declive suave até uma
profundidade média algures entre os 200 e os 300 metros, na transição com
o talude continental. O conceito jurídico de plataforma continental ficou
expresso na CNUDM, nomeadamente no n.o 1 do artigo 76.o da
Convenção,
segundo o qual, a plataforma continental de um estado costeiro “(...)
compreende o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem além
do seu mar territorial, em toda a extensão do prolongamento natural do seu
território terrestre, até ao bordo exterior da margem continental ou até uma
distância de 200 milhas marítimas das linhas de base a partir das quais se
mede a largura do mar territorial, nos casos em que o bordo exterior da
margem continental não atinja essa distância". No entanto, e nos termos do
n.o 4 do artigo 76.o da Convenção, o Estado costeiro poderá estabelecer o
limite exterior da sua plataforma continental para além das 200 milhas
náuticas de acordo com critérios científicos. Portugal submeteu, em 2009,
na Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC) a demarcação
dos limites exteriores da sua plataforma continental para além das 200
milhas náuticas.
A plataforma continental exterior foi submetida considerando 3 regiões: a
região oriental, compreendendo a extensão da plataforma relativa ao
arquipélago da Madeira e Continente, a região ocidental, compreendendo a
extensão relativa ao arquipélago dos Açores e a região do Banco da Galiza
que é uma área de interesse comum entre Portugal Espanha, ainda não
divida por acordo bilateral.
O Estado costeiro exerce direitos de soberania sobre a plataforma
continental para efeitos de exploração e aproveitamento dos seus recursos
naturais, sendo os mesmos exclusivos, no sentido de que, se o Estado
costeiro não explora a plataforma continental ou não aproveita os recursos
naturais da mesma, ninguém pode empreender estas atividades sem o seu
expresso consentimento.

➔ Águas Interiores Marítimas: Esta zona marítima corresponde às


massas de água que se encontram localizadas entre a linha de base reta e a
linha de costa, para fora das embocaduras dos rios e rias. De acordo com
Bessa o total de águas interiores marítimas é de 6.508 Km2 no Continente,
6.082 Km2 no arquipélago dos Açores e 825 Km2 no arquipélago da
Madeira.

➔ Mar Territorial: No Mar Territorial, o Estado costeiro exerce


soberania sobre o leito do mar, subsolo marinho e pleno controlo sobre a
massa de água e espaço aéreo sobrejacente. Os navios militares e de Estado
gozam de imunidade e todos os demais estão sujeitos à jurisdição do
Estado costeiro, gozando, todavia, do direito de passagem inocente,
definida por ser contínua, ordeira e rápida, de acordo com regras de
segurança e proteção ambiental que o Estado costeiro define. A dimensão
da área do mar territorial de Portugal, considerando todas as parcelas do
território, é de cerca de 50.957 Km2, dos quais 16.460 Km2 correspondem
à parcela do continente, 23.663 Km2 à parcela do arquipélago dos Açores e
10.834 Km2 à parcela do arquipélago da Madeira

➔ Zona Contígua: A Zona Contígua estende-se a partir do limite exterior


do mar territorial até às 24 milhas náuticas, medidas a partir das linhas
base. De acordo com o artigo n.o 33 da CNUDM, o Estado costeiro exerce,
nesta zona, a jurisdição que estabeleceu para o território nacional e mar
territorial, prevenindo e combatendo a criminalidade. A Zona Contígua já
se encontra integrada na Zona Económica exclusiva (ZEE, descrita abaixo)
e, como tal, já não integra o Domínio Público Marítimo.

➔ Zona Económica Exclusiva (ZEE): Esta zona marítima, adjacente ao


mar territorial, não poderá ultrapassar as 200 milhas náuticas, contadas a
partir das linhas de base. A ZEE inclui a zona contígua. Na ZEE, os
Estados costeiros, exercem a sua soberania e jurisdição nos termos
previstos na CNUDM, detendo o direito a explorar, gerir e conservar os
recursos naturais aí existentes, vivos e não vivos, das águas sobrejacentes
ao leito do mar, do leito do mar e seu subsolo, incluindo a exploração e
aproveitamento dos recursos energéticos renováveis, a partir do vento, das
ondas e das correntes marinhas. Os Estados costeiros podem, assim na
ZEE, autorizar, construir e
regular a construção de infraestruturas para aproveitamento dos recursos
naturais, incluindo a possibilidade de instalação de ilhas artificiais. Podem
definir zonas de segurança, regra geral até ao máximo de 500 m a partir dos
limites dessas infraestruturas que, devem ser observadas pelos navios em
trânsito. A ZEE portuguesa compreende 3 subáreas: subárea do continente
(287 521 Km2), subárea dos Açores (930 687 Km2 ) e subárea da Madeira
(442 248 Km2).
➔ No que diz respeito ao conceito de território é usual considerar-se
quer o princípio do pavilhão ou da bandeira, quer o fenómeno da
extraterritorialidade do Estado, através do qual se considera haver
uma extensão do território do Estado no que diz respeito, de modo
particular, quer às embaixadas e missões diplomáticas quer aos
funcionários diplomáticos;

➔ O princípio do pavilhão ou da bandeira constitui um caso de


verdadeira extensão quanto à noção de território do Estado. Por
força deste princípio, aplica-se o direito nacional e a jurisdição
portuguesa é competente para apreciar um ato ilícito cometido a
bordo de um navio ou de uma aeronave que arvorem pavilhão ou bandeira
portuguesa. Daí que um crime cometido a bordo de uma aeronave de frota
dos transportes aéreos portugueses (TAP ou Flytap Portugal) estacionada
na placa internacional do aeroporto de NY, se considere cometido em
território português, com todas as consequências que daí advêm;

➔ O conceito de extraterritorialidade é aplicável à atividade diplomática


(embaixadas e diplomatas) e constitui uma ficção jurídica e não um caso de
verdadeira extensão do território do Estado, para efeito de aplicação do
direito nacional. Uma missão diplomática é o conjunto de diplomatas e
outros funcionários encarregues de representar um Estado soberano ou uma
organização internacional junto de outro Estado ou organização. O Estado
que envia a missão diplomática é designado por “Estado Acreditante” e o
que a recebe é designado por “Estado acreditador” ou “Estado acreditado”.
Hoje em dia, praticamente todas as missões diplomáticas têm a categoria de
embaixada, fazendo com que esses termos sejam basicamente equivalentes.
Estes termos são usados, na prática, para se referirem a uma missão
permanente, ou seja, ao escritório de representação diplomática de um
Estado ou organização instalado na cidade capital/sede de outro Estado ou
organização. No entanto, as instalações não gozam de privilégios, nem
estão sob soberania do estado acreditante, pelo contrário, mantêm-se sob
tutela do estado acreditador, apesar da posse de privilégios especiais pela
Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, como são os casos da
imunidade a leis locais e a impossibilidade das autoridades do estado
acreditador poderem entrar nas instalações de uma missão sem autorização
do estado acreditante, sob pena de declaração de guerra.

2.4Direito da União Europeia (originário e derivado)

 DIREITO ORIGINÁRIO OU PRIMÁRIO


- Os Tratados -
I. Tratados originários
II. Tratados de revisão
III. Tratados de alargamento

 DIREITO DERIVADO OU SECUNDÁRIO


- Os atos das Instituições -
I. Regulamentos
II. Diretivas
III. Decisões

➔ O direito da U.E refere-se ao conjunto de princípios e de normas


jurídicas que caracterizam uma ordem jurídica própria e com características
especificas, que tanto se distingue do direito internacional como do direito
interno de cada Estado-Membro;

➔ Na sua origem encontra três primitivas Comunidades Europeias:

➔ A Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CA), de 1951;

➔ A Comunidade Económica Europeia (CEE), de 1957;

➔ A Comunidade Europeia da Energia Atómica (EA), de 1957;

➔ De todas estas, só se mantém a EA (CA extinta após o Tratado de Paris


e a CEE substituída por CE), foi assimilada na atual União e o seu tratado,
assinado em Roma, em 1957, foi convertido no atual tratado – TFUE);

➔ Do ponto de vista das fontes do Direito da União Europeia, na


construção do atual edifício normativo a União Europeia assenta em dois
tratados: Tratado da União Europeia (TUE) e o Tratado sobre o
Funcionamento da União Europeia (TFUE);

➔ Os tratados originários que instituíram as três primitivas Comunidades


(CA,CE,EA), bem como os dois tratados em que assenta a atual União
(TUE e TFUE), e os demais tratados quer de revisão quer de adesão de
novos Estados-Membros, constituem o chamado direito originário ou
primário, por contraposição ao direito derivado ou secundário, em que
derivam atos jurídicos típicos das Instituições: regulamentos, diretivas,
decisões, recomendações e os pareceres;

➔ A União é uma organização supracional integrada por Estados-Membros


soberanos e que tem por destinatários vários sujeitos do direito:
➔ (1) as Instituições e os órgãos da União (através das quais a organização
assume e manifesta a sua vontade normativa);

➔ (2) os Estados-Membros (os países europeus democráticos que


começaram por integrar as primitivas Comunidades e depois a União, ou
aqueles que, mais tarde, conseguiram assegurar a respetiva adesão);

➔ (3) os particulares (empresas e indivíduos a quem direta ou


indiretamente se aplicam as pertinentes regras de direito);

➔ As Instituições, que assumem uma posição privilegiada face aos órgãos


da União (equivalente à posição de supremacia que ocupam os órgãos de
soberania face aos demais órgãos do Estado, no contexto nacional), são
sete:

 ➔ Parlamento Europeu;

 ➔ Conselho Europeu;

 ➔ Comissão;

 ➔ Tribunal de Justiça da União Europeia;

 ➔ Banco Central Europeu;

 ➔ Tribunal de Contas.

2.5 Direito Internacional (Público e Privado)

DIREITO INTERNACIONAL DIREITO INTERNACIONAL


PÚBLICO PRIVADO
(relações entre Estados e/ou (conflitos de estrangeiros ou
organizações internacionais) de leis no espaço)

2.5.1 Direito Internacional Público


➔ É constituído por normas adotadas no quadro interestadual por
processos fixados pelo costume ou por tratados internacionais;

➔ É o ramo do Direito que se aplica às relações entre os Estados soberanos


na ordem internacional e também às relações entre Estados soberanos e as
organizações internacionais de que aqueles fazem parte;

➔ O Estado é dotado de soberania e esta manifesta-se de duas maneiras,


segundo o seu âmbito de aplicação:
a) na vertente interna de aplicação da soberania, o Estado encontra-
se acima dos demais sujeitos de direito, constituindo-se na autoridade
máxima existente no seu território;
b) na vertente externa o Estado está em pé de igualdade com os
demais Estados soberanos que constituem a comunidade ou a sociedade
internacional;

➔Essa dicotomia entre as vertentes externa e interna do âmbito da


aplicação da soberania do Estado reflete-se, também, na natureza da norma
jurídica, conforme ele seja proveniente do direito interno ou do direito
internacional;

➔ No direito interno, a norma emana do Estado ou é por este aprovada. O


Estado impõe a norma jurídica interna e garante uma sanção no caso de
violação (relação de subordinação);

➔ O mesmo não sucede no direito internacional, no qual os Estados são


juridicamente iguais (princípio da igualdade jurídica dos Estados) e,
portanto, não existe uma entidade central e superior ao conjunto dos
Estados, com a prerrogativa de impor o cumprimento da ordem jurídica
internacional e de aplicar uma sanção para essa violação;

➔ Os sujeitos de Direito (Estados), aqui, diferentemente do caso do direito


interno, produzem, eles mesmos, diretamente, a norma jurídica que lhes
será aplicada, o que constitui uma relação de coordenação;

2.5.2 Direito Internacional Privado

➔ Este é, por sua vez, a disciplina que se dedica ao estudo do conflito de


leis no espaço;
➔ É o ramo do Direito que se dedica, pois, ao conjunto de normas jurídicas
criado por uma autoridade política autónoma, que dispõe de uma ordem
jurídica autónoma, com o propósito de resolver esses conflitos;

➔ Em termos simples, trata-se de um conjunto de regras de direito interno


que indica ao juiz local que lei – se a do foro se a estrangeira, ou entre 2
estrangeiras – deverá ser aplicada a um caso que envolva ou tenha relação,
através de um determinado elemento de conexão, com mais do que um
país;

➔ A possibilidade do juiz de um país (juiz do foro) aplicar leis estrangeiras


decorre da necessidade de se reconhecerem factos e atos jurídicos
constituídos noutros países e cuja negação pelo juiz do foro causaria ou
poria em causa a resolução do conflito, consubstanciando verdadeira e
inaceitável denegação de justiça;

➔ No caso português, o direito internacional privado encontra-se regulado


no próprio código civil (artigos 14o a 65o), no âmbito de um capítulo
intitulado de “Direitos dos Estrangeiros e conflitos de leis”;

➔ Ao estudo dos conflitos de leis no espaço muitas vezes são


acrescentadas ao escopo do Direito Internacional Privado normas de direito
interno referentes ao conflito de jurisdições, à nacionalidade e à condição
jurídica do estrangeiro;

➔ O interesse prático deste ramo do direito e o conjunto de regras que


Portugal criou, à semelhança de muitos outros países que partilham a
mesma matriz cultural e jurídica, servem para evitar conflitos semelhantes
em situações em que poderia ser hipoteticamente aplicada mais do que uma
lei proveniente de mais do que um ordenamento jurídico estadual.
• II PARTE- AS FONTES, O SISTEMA LEGISLATIVO E A
DIMENSÃO NORMATIVA DO DIREITO
Parte 2, Capítulo 1- O Sistema de Fontes do Direito

1.Enquadramento e noção
➔A temática das fontes – em que sobressai a lei – adquire enorme
relevância com a codificação do direito privado, a partir do séc. XIX já que
o direito legislado ou positivado passa a ter um valor significativo;

➔ As fontes do direito são, neste sentido, as formas de expressão do direito


positivo sendo caracterizadas como os meios de exteriorização e
reconhecimento das normas jurídicas;

A expressão “fontes A origem ou causa do


de direito” direito
corresponde:

O repositório de onde se extrai a informação e o


próprio conhecimento do direito

A lei, sendo a mais importante fonte no interior da família romano-


germânica, em que se insere o ordenamento jurídico português, não é a
única, nem tão pouco a interpretação e aplicação da lei é imune a outras
fontes do direito de menor recorte que influenciam decisivamente o seu
sentido e o seu alcance – como é o caso dos PGD, da jurisprudência, do
costume, da doutrina e da equidade, entre outros;

➔ As fontes do direito permitem a alusão a diversas expressões com


significados diferentes:
• Sentido histórico: Os primórdios ou as circunstâncias que estão na
origem remota da regra do direito
Ex: Artigo 292.o CRP – Incriminação e julgamento dos agentes e
responsáveis da PIDE/DGS

• Sentido sociológico: Os condicionalismos e paradigmas sociais que


determinam o surgimento de certas realidades jurídicas em
determinada sociedade.

Ex: Artigo 293.o CRP – Reprivatização de bens nacionalizados depois de


25 de abril de 1974

• Sentido lógico ou sistemático: Compreende a relação existente


entre segmentos normativos entre si coerentes.
Ex: CRP TÍTULO II – DIREITOS, LIBERDADES E GARANTIAS
Capítulo I – Direitos, liberdades e garantias pessoais
Artigo 24.o - Direito à vida

• Sentido teleológico: Corresponde à última ratio da norma jurídica, à


última vontade do legislador;
Ex: CRP
TÍTULO II – DIREITOS, LIBERDADES E GARANTIAS
Capítulo I – Direitos, liberdades e garantias pessoais
Artigo 24.o - Direito à vida

• Sentido orgânico: Os órgãos do Estado competentes para emitir e


adotar as regras jurídicas
Ex: Artigo 161.o CRP – Competência política e legislativa da
Assembleia da República
Artigo 198.o CRP – Competência legislativa do Governo

• Sentido instrumental: Os instrumentos ou textos legislativos onde


se encontram as normas jurídicas, agrupadas entre si e sistematizadas
em função de certas matérias.
Ex: CRP; Código Civil;
• Sentido técnico-jurídico ou formal: Os modos de formação e de
revelação da vontade jurídica.

2.Fontes em sentido imediato/direto e mediato/indireto


2.1 Modos de formação da vontade jurídica: Sentido direto ou
imediato
➔ As fontes imediatas ou diretas correspondem a uma expressão
metafórica utilizada para descrever os modos de formação das normas
jurídicas, ou seja, a sua entrada no sistema de ordenamento. Está, neste
sentido, em causa o resultado de um processo próprio apto a produzir e a
emitir a vontade jurídica; o que quer dizer que, por natureza, não será
espontâneo, mas sim produzido de acordo com procedimentos previamente
estabelecidos e através de fases bem delimitadas que permitem alcançar um
processo legiferante típico que está na origem das normas jurídicas,
adotadas pelos órgãos competentes. Trata-se, por excelência, de um
produto da vontade do Estado em que a lei adquire elementar
preponderância. A lei, a par da norma corporativa, encontra-se inserida na
categoria das fontes imediatas ou diretas pelo próprio legislador.

➔ A lei: Para a lei está estabelecida uma definição própria (artigo 1o, no2
– CC), de acordo com a qual todas as disposições genéricas provindas dos
órgãos estaduais competentes. Com esta amplitude, as leis bastam-se com
um conteúdo genérico no que diz respeito à sua aplicação, que pode
abranger todo o tipo de matérias, sem exceção.

➔ As normas corporativas: Correspondem às regras ditadas pelos


organismos representativos das diferentes categorias morais, culturais,
económicas ou profissionais, no domínio das suas atribuições, bem como
os respetivos estatutos e regulamentos internos

➔ A nossa legislação não equipara as leis às normas corporativas, já que as


distingue do ponto de vista da sua desigual importância: as normas
corporativas não podem contrariar as disposições legais de caráter
imperativo. Daí que as leis – que não podem deixar, por natureza, de
receber caráter imperativo – tenham, por definição, primazia e uma
natureza superior

2.2 Modos de revelação da vontade jurídica: Sentido indireto ou


mediato
➔ Podem considerar-se nesta categoria as seguintes fontes do direito,
indicadas por ordem de importância decrescente:
- PGD
- Jurisprudência
- Costume
- Doutrina
- Os usos
- Equidade

2.2.1 Os princípios gerais de direito

➔ São princípios que inspiram, dão significado e melhor permitem


compreender a realidade jurídica.

➔ No âmbito desta fonte de direito distinguem-se os princípios gerais de


direito de natureza material e os de natureza formal;

➔ Natureza material: São princípios que revestem um caráter valorativo,


são as pedras angulares do sistema.

Exemplos: o princípio da segurança jurídica; o princípio da proteção da


confiança legítima;

➔ Natureza formal: São princípios a que o sistema jurídico deve


obediência e que se encontram vertidos em norma.
Exemplo: o princípio da legalidade;
➔ Dentro da categoria relativa aos princípios gerais de natureza formal é
também possível de distinguir os princípios gerais de aplicação genérica
(aplicação genérica) e os de aplicação especial (aplicação especifica)

2.2.2. A Jurisprudência:
➔ Ciência ou arte do justo;

➔ Importância crescente nos sistemas jurídicos europeus

2.2.3. O Costume:
➔ Uma prática social reiterada, acompanhada da convicção da sua
obrigatoriedade;

➔ O costume é integrado por dois elementos que o geram e justificam: um


elemento material (A prática reiterada de um certo comportamento social-
repetição constante de uma determinada prática social) e um elemento
psicológico (A convicção subjetiva de que tal prática é obrigatória e que
comporta valores essenciais para uma sociedade);
➔ Para que o costume seja considerado fonte de direito é necessário
que seja:

 CONTÍNUO – factos não esporádicos, têm que ser específicos

 CONSTANTE – repetição dos factos sem alteração de sentido nem


pode deter dúvidas
 OBRIGATÓRIO – não depende da simples vontade das partes
interessadas nem pode ser facultativo
 NÃO ILÍCITO – não pode traduzir um sentido contrário ao direito
nem pode consubstanciar uma prática contrária à moral ou aos bons
costumes dominantes

➔ O costume integra o direito costumeiro, formado a partir do conjunto


dos costumes espontâneos e vigentes numa certa sociedade;

➔ É dividido em dois modos fundamentais:

Quanto ao conteúdo:
Quanto à natureza: a) Costume prater legem (vai além da lei)
a) Costume popular b) Costume secundum legem(secunda a lei)
b) Costume erudito c) Costume contra legem (contrário à lei –
exige a alteração da lei)

2.2.4. A doutrina:
➔ É o resultado do estudo de professores, investigadores, pensadores,
juristas e filósofos aplicado ao campo jurídico;

2.2.5. Os Usos
(Artigo 3 – CC):
➔ 1. Os usos que não forem contrários aos princípios da boa fé são
juridicamente atendíveis quando a lei o determine.

➔ 2. As normas corporativas prevalecem sobre os usos.

➔ Os usos apresentam dois requisitos para poderem ser fonte de


direito:
➔ 1. Um requisito formal – Para serem juridicamente atendíveis, deve
haver uma expressa remissão na lei;

➔ 2. Um requisito material – Só relevam os usos que não forem


contrários aos princípios da boa fé

2.2.6 A Equidade
➔ É a adaptação da regra existente à situação concreta, em
observância a critérios de justiça e de igualdade

Arrumação de ideias:

➔ A lei é uma fonte formal direta, estadual e principal.


➔ O costume é uma fonte formal indireta, não estadual e acessória.
Parte 2, Capítulo 2- O Sistema Legislativo

1.Princípio da separação dos poderes: Desde o iluminismo surgido com a


Revolução Francesa que os poderes, anteriormente pertencidos ao monarca,
se descentralizaram e foram atribuídos a diferentes órgãos do Estado, o que
é uma evolução acompanhada pelas democracias;

➔ Poder legislativo (faz leis – Assembleia; governo (limitado));

➔ Poder executivo (atividade administrativa/executiva do Estado –


Governos nacionais);

➔ Poder judicial (administração da justiça -Tribunais);

2. Os atos legislativos: lei, decreto-lei, decreto legislativo


regional
2.1. A Lei
➔ Representa a mais importante expressão do poder legislativo do Estado.
Por lei, entende-se, o preceito jurídico escrito, emanado do órgão
legislativo e dotado de caráter geral e obrigatório;
➔ É toda a norma geral de conduta que disciplina as relações de facto
incidentes no Direito, cuja observância é imposta pelo poder estadual;

➔ Em tese, a lei constitui a vontade do povo, sendo elaborada por um


órgão com poderes legislativos que é eleito pelo;

➔ A aplicação da lei respeita uma hierarquia:

 O plano Constitucional – A Constituição


 O plano legislativo- as leis e os decretos-leis (os decretos legislativos
regionais)
 O plano infra legislativo- Portarias, circulares, despachos, posturas
municipais,etc.

Existem 3 critérios para o relacionamento e distinção entre leis,


desde a sua origem, conteúdo ou designação:

➔ Critério da hierarquia: lei superior revoga lei inferior (lex superior


derogat legi inferiori);

➔ Critério da especialidade: lei especial revoga lei geral (lex specialis


derogat legi generali);

➔ Critério do tempo: lei posterior ou lei nova revoga lei anterior (lex
posterior derogat legi priori).

➔ A lei é o ato normativo típico emanado da Assembleia da República,


contrapõe-se ao decreto-lei, que é o órgão normativo típico do Governo;

➔ Sendo da competência do órgão legislativo, podemos identificar


diversos tipos de leis, quanto à designação formal dos atos:
- Lei constitucional
- Lei orgânica
- Lei em sentido próprio

Do ponto de vista das suas competências, a Assembleia possui competência


legislativa (no interior distingue-se a reserva absoluta e a reserva relativa);

➔ Reserva absoluta (artigo 164 - CRP): pressupõe a competência


exclusiva da Assembleia da República para legislar, o que quer dizer que
não a pode partilhar com qualquer outro órgão do Estado É da exclusiva
competência da Assembleia da República legislar sobre as seguintes
matérias:
a) Eleições dos titulares dos órgãos de soberania;
b) Regimes dos referendos;
c) Organização, funcionamento e processo do Tribunal Constitucional;
d) Organização da defesa nacional, definição dos deveres dela decorrentes
e bases gerais da organização, do funcionamento, do reequipamento e da
disciplina das Forças Armadas;
e) Regimes do estado de sítio e do estado de emergência;
f) Aquisição, perda e reaquisição da cidadania portuguesa;
g) Definição dos limites das águas territoriais, da zona económica exclusiva
e dos direitos de Portugal aos fundos marinhos contíguos;
h) Associações e partidos políticos;
i) Bases do sistema de ensino;
j) Eleições dos deputados às Assembleias Legislativas das regiões
autónomas;
l) Eleições dos titulares dos órgãos do poder local ou outras realizadas por
sufrágio directo e universal, bem como dos restantes órgãos
constitucionais;
m) Estatuto dos titulares dos órgãos de soberania e do poder local, bem
como dos restantes órgãos constitucionais ou eleitos por sufrágio directo e
universal;
n) Criação, extinção e modificação de autarquias locais e respectivo
regime, sem prejuízo dos poderes das regiões autónomas;
o) Restrições ao exercício de direitos por militares e agentes militarizados
dos quadros permanentes em serviço efectivo, bem como por agentes dos
serviços e forças de segurança;
p) Regime de designação dos membros de órgãos da União Europeia, com
excepção da Comissão;
q) Regime do sistema de informações da República e do segredo de Estado;
r) Regime geral de elaboração e organização dos orçamentos do Estado,
das regiões autónomas e das autarquias locais;
s) Regime dos símbolos nacionais;
t) Regime de finanças das regiões autónomas;
u) Regime das forças de segurança;
v) Regime da autonomia organizativa, administrativa e financeira dos
serviços de apoio do Presidente da República.

➔ Reserva relativa (artigo 165 – CRP): pressupõe a competência


exclusiva da Assembleia da República para legislar, apesar dessa
exclusividade, trata-se de matérias de menor significado que, por isso, já
podem ser ou diretamente assumidas pelo parlamento ou, em alternativa,
delegadas ao Governo mediante certas condições. É da exclusiva
competência da Assembleia da República legislar sobre as seguintes
matérias, salvo autorização ao Governo:
a) Estado e capacidade das pessoas;
b) Direitos, liberdades e garantias;
c) Definição dos crimes, penas, medidas de segurança e respectivos
pressupostos, bem como processo criminal;
d) Regime geral de punição das infracções disciplinares, bem como dos
actos ilícitos de mera ordenação social e do respectivo processo;
e) Regime geral da requisição e da expropriação por utilidade pública;
f) Bases do sistema de segurança social e do serviço nacional de saúde;
g) Bases do sistema de protecção da natureza, do equilíbrio ecológico e do
património cultural;
h) Regime geral do arrendamento rural e urbano;
i) Criação de impostos e sistema fiscal e regime geral das taxas e demais
contribuições financeiras a favor das entidades públicas;
j) Definição dos sectores de propriedade dos meios de produção, incluindo
a dos sectores básicos nos quais seja vedada a actividade às empresas
privadas e a outras entidades da mesma natureza;
l) Meios e formas de intervenção, expropriação, nacionalização e
privatização dos meios de produção e solos por motivo de interesse
público, bem como critérios de fixação, naqueles casos, de indemnizações;
m) Regime dos planos de desenvolvimento económico e social e
composição do Conselho Económico e Social;
n) Bases da política agrícola, incluindo a fixação dos limites máximos e
mínimos das unidades de exploração agrícola;
o) Sistema monetário e padrão de pesos e medidas;
p) Organização e competência dos tribunais e do Ministério Público e
estatuto dos respectivos magistrados, bem como das entidades não
jurisdicionais de composição de conflitos;
q) Estatuto das autarquias locais, incluindo o regime das finanças locais;
r) Participação das organizações de moradores no exercício do poder local;
s) Associações públicas, garantias dos administrados e responsabilidade
civil da Administração;
t) Bases do regime e âmbito da função pública;
u) Bases gerais do estatuto das empresas públicas e das fundações públicas;
v) Definição e regime dos bens do domínio público;
x) Regime dos meios de produção integrados no sector
cooperativo e social de propriedade;
z) Bases do ordenamento do território e do urbanismo;
aa) Regime e forma de criação das polícias municipais.
2. As leis de autorização legislativa devem definir o objecto, o
sentido, a extensão e a duração da autorização, a qual pode
ser prorrogada.
3. As autorizações legislativas não podem ser utilizadas mais
de uma vez, sem prejuízo da sua execução parcelada.
4. As autorizações caducam com a demissão do Governo a
que tiverem sido concedidas, com o termo da legislatura ou
com a dissolução da Assembleia da República.
5. As autorizações concedidas ao Governo na lei do
Orçamento observam o disposto no presente artigo e, quando
incidam sobre matéria fiscal, só caducam no termo do ano
económico a que respeitam.
➔ O exercício da reserva relativa ou concorrencial de competência
legislativa entre a Assembleia da República e o Governo pode
permitir a este último intervir por via de um decreto-legislativo,
mediante autorização daquela (artigo 198 – CRP)

Compete ao Governo, no exercício de funções legislativas:


a) Fazer decretos-leis em matérias não reservadas à Assembleia
da República;
b) Fazer decretos-leis em matérias de reserva relativa da
Assembleia da República, mediante autorização desta;
c) Fazer decretos-leis de desenvolvimento dos princípios ou das
bases gerais dos regimes jurídicos contidos em leis que a eles se
circunscrevam.
2. É da exclusiva competência legislativa do Governo a matéria
respeitante à sua própria organização e funcionamento.
3. Os decretos-leis previstos nas alíneas b) e c) do n.o 1 devem
invocar expressamente a lei de autorização legislativa ou a lei de
bases ao abrigo da qual são aprovados.
➔ O exercício desta competência faz-se por via de certos atos de
delegação que, mais propriamente, tomam o nome de leis de
autorização legislativa;

➔ Está estabelecido para tais atos um regime próprio que determina


diversos requisitos do ponto de vista material e formal. Quanto aos
materiais pode destaca-se o conteúdo e quanto aos requisitos
formais, enunciam-se os condicionalismos relativos à sua execução
e ao regime de caducidade.

➔ As leis de autorização legislativa, do ponto de vista do seu


conteúdo, não configuram cheques em branco, uma vez que
definem as condições materiais relativas à sua aplicação, que
incluem: 1) o objeto, 2) o sentido, 3) a extensão, 4) a duração da
autorização, a qual pode ser prorrogada;

➔ Assim, poderemos estar a falar de uma lei de autorização legislativa


que conceda ao Governo competência para legislar (por ex, no
domínio da alínea c do no1 do artigo 165 da CRP):

➔ Artigo 165 – CRP:


É da exclusiva competência da Assembleia da República legislar
sobre as seguintes matérias, salvo autorização ao Governo:
a) Estado e capacidade das pessoas;
b) Direitos, liberdades e garantias;

c) Definição dos crimes, penas, medidas de segurança e


respectivos pressupostos, bem como processo criminal;
d) Regime geral de punição das infracções disciplinares, bem
como dos actos ilícitos de mera ordenação social e do respectivo
processo;
e) Regime geral da requisição e da expropriação por utilidade
pública;
f) Bases do sistema de segurança social e do serviço nacional de
saúde;
g) Bases do sistema de protecção da natureza, do equilíbrio
ecológico e do património cultural;
h) Regime geral do arrendamento rural e urbano;
i) Criação de impostos e sistema fiscal e regime geral das taxas e
demais contribuições financeiras a favor das entidades públicas;
j) Definição dos sectores de propriedade dos meios de produção,
incluindo a dos sectores básicos nos quais seja vedada a
actividade às empresas privadas e a outras entidades da mesma
natureza;
l) Meios e formas de intervenção, expropriação, nacionalização e
privatização dos meios de produção e solos por motivo de
interesse público, bem como critérios de fixação, naqueles casos,
de indemnizações;
m) Regime dos planos de desenvolvimento económico e social e
composição do Conselho Económico e Social;
n) Bases da política agrícola, incluindo a fixação dos limites máximos e
mínimos das unidades de exploração agrícola;
o) Sistema monetário e padrão de pesos e medidas;
p) Organização e competência dos tribunais e do Ministério Público e
estatuto dos respetivos magistrados, bem como das entidades não
jurisdicionais de composição de conflitos;
q) Estatuto das autarquias locais, incluindo o regime das finanças locais;
r) Participação das organizações de moradores no exercício do poder local;
s) Associações públicas, garantias dos administrados e
responsabilidade civil da Administração;
t) Bases do regime e âmbito da função pública;
u) Bases gerais do estatuto das empresas públicas e das fundações públicas;
v) Definição e regime dos bens do domínio público;
x) Regime dos meios de produção integrados no sector cooperativo e social
de propriedade;
z) Bases do ordenamento do território e do urbanismo;
aa) Regime e forma de criação das polícias municipais.

2. As leis de autorização legislativa devem definir o objecto, o sentido, a


extensão e a duração da autorização, a qual pode ser prorrogada.
3. As autorizações legislativas não podem ser utilizadas mais de uma vez,
sem prejuízo da sua execução parcelada.
4. As autorizações caducam com a demissão do Governo a que tiverem
sido concedidas, com o termo da legislatura ou com a dissolução da
Assembleia da República.
5. As autorizações concedidas ao Governo na lei do Orçamento observam o
disposto no presente artigo e, quando incidam sobre matéria fiscal, só
caducam no termo do ano económico a que respeitam.

➔ Em matéria de definição dos crimes, penas, medidas de segurança, bem


como dos atos ilícitos de mera ordenação social e do respetivo processo - o
objeto;

➔ Neste caso concreto, no que diz respeito a alterações às chamadas


medidas de coação e de garantia patrimonial, no âmbito do processo penal
– o sentido;

➔ Pretendendo que seja alargado o regime de prisão preventiva, enquanto


medida privativa da liberdade – a extensão;

➔ Sendo concedida a competente autorização por um prazo máximo de


180 dias – a duração da autorização;

➔ Para alem disso, as leis de autorização legislativa definem as condições


formais relativas à sua aplicação, que se relacionam com a execução e a
caducidade;

➔ No que diz respeito à sua execução, as autoridades legislativas não


podem ser utilizadas mais de uma vez, sem prejuízo da sua execução
parcelada;

➔ Relativamente ao seu regime de caducidade, as autorizações legislativas


caducam em três situações especificas de verificação alternativa: 1) o termo
da legislatura, 2) a demissão do Governo a que tiverem sido concedidas, 3)
a dissolução da Assembleia da República.

➔ A conceção deste sistema assenta numa atividade legislativa


concorrencial entre a Assembleia e o Governo;

➔ Se o Governo legislar para alem das exigências materiais e formais


referidas atuara desprovido de competência legislativa, pelo que o decreto-
lei respetivo carecerá de validade, traduzindo uma ilegalidade
consubstanciada num ato normativo contrário à Constituição, ou seja,
inconstitucional;
➔ O próprio decreto-lei adotado no uso de uma lei de autorização
legislativa já deve expressamente referir a autorização que está na origem
da sua competência, o que, de certo modo, permite confrontar os textos em
causa para aferir da compatibilidade entre a lei e o decreto-lei, já que é
inteiramente dependente daquela.

2.2 O decreto-lei
➔ O decreto-lei é o ato normativo do Governo, contrapõe-se à lei, que é o
órgão normativo da Assembleia da República. É, portanto, outro dos atos
legislativos do Estado;

➔ O texto constitucional refere-se à competência do Governo relativa ao


exercício de funções legislativas, conferindo-lhe a possibilidade de adotar
decretos-leis no âmbito de qualquer uma de três prerrogativas:

Importa analisar melhor estes 3 planos de atuação para melhor entender o


sentido e o alcance dos poderes legislativos deste órgão de soberania e
perceber se são semelhantes ou diferentes aos que pertencem ao
parlamento;

NOTA: PARLAMENTO=ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA


➔ O Governo carece de uma verdadeira competência legislativa própria,
intervém com um conteúdo residual;

➔ Cabe-lhe, a título principal, fazer decretos-leis em matérias não


reservadas à Assembleia e não tem áreas de atuação definidas;

➔ Só lhe é exclusiva matéria que diz respeito à sua organização e


funcionamento

➔ A A.R adquire mais importância do que o Governo, do ponto de vista


legislativo, quer pela sua origem que pelo conjunto de atribuições que lhe
são conferidas pela lei fundamental do Estado;

➔ ORIGEM: A.R é um órgão eletivo de soberania cujos titulares são


designados por sufrágio direto, secreto e periódico, com participação de
partidos políticos, democraticamente eleita e representa todos os
portugueses. Já o Governo é o órgão de condução da política geral do pais e
o órgão superior da administração pública, é formado com base nos
resultados eleitorais havidos para as eleições legislativas

2.3 O Decreto Legislativo Regional

➔ Atos legislativos próprios das regiões autónomas

Artigo 112.o, n.o 1, CRP


➔ São atos legislativos as leis, os decretos-leis e os decretos
legislativos regionais;

Artigo 112.o, n.o 4, CRP


➔ Os decretos legislativos têm âmbito regional e versam sobre
matérias enunciadas no estatuto político-administrativo da respetiva região
autónoma que não estejam reservadas aos órgãos de soberania, sem
prejuízo do disposto nas alíneas b) e c) do n.o 1 do artigo 227;

(ver resto no livro)

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