Você está na página 1de 9

Economia Política – Escolas de Pensamento

Na história do pensamento econômico, uma escola de pensamento


econômico é um grupo de pensadores econômicos que compartilham
uma perspetiva comum sobre o funcionamento das economias. Embora os
economistas nem sempre se encaixem em escolas particulares,
particularmente nos tempos modernos, classificar economistas em escolas
de pensamento é comum. O pensamento econômico pode ser dividido em
três fases: pré-moderno (greco-romano , indiano, persa, islâmico e
imperial chinês), início moderno (mercantilista, fisiocratas) e moderno
(começando com Adam Smith e a economia clássica no final do século
XVIII). A teoria econômica sistemática foi desenvolvida principalmente
desde o início do que é chamado de era moderna.

 Antiguidade e Idade Média

A nível económico, na antiguidade (Grécia antiga) tinha-se a ideia de que o


trabalho era indigno, porque era praticado por escravos e tirava tempo á
política, para alem de ser uma economia assente numa agricultura de
subsistência e no comercio da troca de excedentes. Com o Império
Romano, observam-se algumas mudanças, com uma economia de troca
mais intensa, pela extensão do território romano, associado a um
desenvolvimento e construção de obras publicas que permitiu a
dinamização do comércio.
Em 476 d.c, com a queda do grande Império Romano, a imperalidade
romana vai ser transferida para a Cristandade (Igreja), continuando a
observar-se uma economia muito fragmentada, orientada pela matiz
cristã em que o trabalho é digno e há uma grande importância do
comércio local com a realização de feiras (Flandres, champagne), onde
compareciam várias pessoas de diversos cantos do mundo. Vão surgir
ideias, como com São Tomás de Aquino, seguindo a matriz cristã, que irá
valorizar a propriedade privada para o uso e bem comum. É na idade
\Média que se encontra as sementes da mudança tecnológica,
institucional, relações de poder, etc daquilo que vem a ser o Capitalismo.

 A idade da razão (Mundo Moderno e pensamento científico)

Com a transição para o século XVI, com o fim da Idade Média e o início da
Modernidade, observa-se uma época de grandes transformações, aliado
ao: - Renascimento: expansão ultramarina;
- Desenvolvimento de novas rotas comerciais;
- Reforma Protestante: individualismo; prosperidade; mérito;
- Mudanças políticas: enfraquecimento dos feudos e formação de uma
economia integrada;
- Política económica centralizada;
- Reforço do espírito científico.

A partir da Revolução Industrial vamos ter uma transição de uma


economia feudal (Antigo Regime) para uma mais integrada, e
posteriormente no século XVIII o Capitalismo. No entanto até essa altura
observamos a prática/ política económica centrada e centralizada, o
Mercantilismo, assente no enriquecimento dos Estados através afluxo de
metais preciosos.

Princípios básicos do mercantilismo

 Forte intervenção do Estado na actividade económica;

 A riqueza é tanto maior quanto as reservas de metais preciosos (muitos países

proíbem a exportação de ouro e prata).

 Riqueza estática: a acumulação de riqueza e de poder são jogos de soma nula.


 Importância das manufacturas: maior valor acrescentado que o comércio de
matérias-primas; termos de troca (Colbert); Tratado de Methuen (1703):
 Objectivos da política económica: exportações superiores (subsidiadas pelo
Estado) às importações (desencorajadas mediante instrumentos protecionistas
como as tarifas), para permitir alcançar uma balança comercial favorável e o
respectivo enriquecimento.

 Política comercial restritiva: restrições às importações e pactos coloniais


(Navigation Acts de Inglaterra; colónias só deveriam realizar comércio com as
respectivas metrópoles; proibição de exportação de matérias-primas).

 • Política industrial: selecção dos sectores a desenvolver, com apoios públicos


(Colbert em França; Leis Pragmáticas em Portugal, 1677).

 • Políticas demográficas: controlo salarial (teoria do valor trabalho, manter


salários baixos para garantir a competitividade dos produtos) e crescimento
populacional.

 • Grandes limitações: tendência para gerar conflitos entre os Estados (Guerras


Anglo-Holandesas e Franco-Holandesa).

Embora partilhando as características de base, é possível distinguir três modelos


diferentes de Mercantilismo:
 – “o Bulionismo, praticado essencialmente por Portugal e Espanha, assentava
na acumulação de metais preciosos trazidos pelos navegadores dos territórios
da América do Sul e de África;

 – O Colbertismo ou industrialismo, praticado em França, que não explorava


directamente os metais, mas apostava no desenvolvimento do sector industrial
como forma de acumular esses metais, por via da manutenção de uma balança
comercial forte e excedentária;

 – O Mercantilismo Comercial e Marítimo, por acção britânica, que se tornou


na base da industrialização britânica, assente no desenvolvimento das trocas
comerciais e no domínio das rotas marítimas.”

É a partir desta transição do Mercantilismo para o Capitalismo que vão


resultar as diversas escolas da economia política clássica, A Escola Clássica
Liberal (Adam Smith e dos Iluministas Escoceses), Escola do Nacionalismo
Economico e Escola Marxista. Estas são as principais escolas de economia
política até á fragmentação no final do século XIX, com a Escola
Neoclássica, onde se foca apenas no funcionamento dos mercados.

¶ A Escola Clássica

Principais pensadores: Adam Smith; David Ricardo; Thomas


Malthus; Jean-Baptiste Say; Jonh Stuart Mill

Adam Smith antes de escrever uma das suas obras mais célebres(A riqueza
das nações), realizou uma viagem pela Europa (França), onde teve contacto
com vários autores fisiocratas.

Fisiocracia – corrente onde a agricultura era a base da economia e fonte de


riqueza. Critica o comercio e serviços como sendo uma classe estéril, algo
diferente e contra o liberalismo.

Estes autores consideram que, a economia devia de funcionar como a


“corrente sanguínea” no nosso corpo, ou seja, sem entraves, pelo que vao
enunciar um princípio laissez-faire, laisse passer, base do liberalismo
económico, e acabando por influenciar Adam Smith.

- A escola clássica: o contexto do Iluminismo Escocês


A Escócia torna-se, no século XVIII, o epicentro do pensamento económico
(absorve as ideias fisiocratas). No Iluminismo Escocês pontificaram Francis
Hutcheson, David Hume, Bernard Mandeville, Adam Ferguson e Adam
Smith. A principal preocupação destes autores prendia-se com a
formulação dos princípios liberais ancorada numa extensa compreensão
do desenvolvimento social e da natureza humana, e não apenas em
generalizações históricas.

São estes autores que vão desenvolver um estudo abrangente e


sistemático do liberalismo, vão dar corpo ao liberalismo que encontramos
de forma ainda esboçada, prendendo-se a sua maior preocupação com a
formulação dos princípios liberais ancorados na compreensão do
desenvolvimento social e da natureza humana, isto é, o que é que leva as
nações a prosperarem mais que outras

Grande questão do Iluminismo Escocês

Este iluminismo foi um movimento intelectual que procurou fazer uma


síntese entre diversas dicotomias, ao mesmo tempo que aprofundou uma
distinção entre a esfera publica e privada, entre outros, algo que durante
a Antiguidade Clássica não se fazia.

Hoje me dia, o entendimento que se tem sobre sociedade civil, é que é


tudo o que não é o Estado, sendo aceite por alguns, e por outros aceitam
que tudo é sociedade civil. Ora, para os gregos a ideia de sociedade civil
significava o mesmo que sociedade política, não havia uma separação
entre a economia, política e vida doméstica (o público e o privado),
pensamento que durou vários séculos. Foi com os iluministas escoceses
que essa distinção veio a ser concretizada, para estes não era apenas o
aquilo não é Estado nem política, mas também o fundamento das
sociedades que historicamente tem determinadas trajetórias e aquelas
que são sociedades modernas e que se desenvolvem através da indústria,
do comercio, etc, essas tornam-se também sociedades civis, mas também
civilizadora. O próprio comércio é entendido como uma atividade que
civiliza os seres humanos, que nos leva a entrar em trocas, e portanto é no
mercado que nos temos um espaço de interação voluntaria.

O Iluminismo Escocês opera a distinção entre as esferas pública e privada


que é constitutiva da moderna ideia de sociedade civil. O conceito de
sociedade civil é desenvolvido como uma tentativa de realizar “uma
síntese entre um número de oposições em desenvolvimento que se
faziam sentir cada vez mais na vida social,” nomeadamente entre “o
indivíduo e o social, o privado e o público, o egoísmo e o altruísmo, bem
como entre uma vida governada pela razão e uma governada pelas
paixões, que de facto se tornaram constitutivas da nossa existência no
mundo moderno”

Fundamentando a ideia de sociedade civil nas “afeições morais e simpatia


natural” dos indivíduos, o Iluminismo Escocês sublinha a propensão
humana para o reconhecimento mútuo e para a troca, que está no cerne
do mercado livre. Ou seja, a sociedade civil é perspectivada como um
“espaço de interacção humana” cujos “atributos morais derivam do
próprio homem,” e não de uma “realidade transcendente.” Partindo desta
perspectiva, por um lado, Mandeville sustenta que num determinado
contexto institucional dirigido por estadistas sagazes os vícios privados
podem ser transformados em benefícios públicos, ao passo que Smith
teoriza a mão invisível.

 Objectivo: estudar as causas do desenvolvimento dos países e de como a


riqueza se distribuía entre os indivíduos.

 Liberalismo e individualismo (racionalidade): crítica ao mercantilismo.

 Elemento central: teoria do valor trabalho (que retém do mercantilismo).

 Baseia-se no conceito de concorrência perfeita como estrutura preferencial de


mercado.

 O papel do Estado: criar o ambiente para os agentes económicos


desenvolverem de forma eficiente a sua actividade (condições de concorrência
equitativas); proteger os direitos de propriedade; investir na educação; obras
públicas; emissão de moeda, defesa; justiça; segurança.

Adam Smith
Filósofo moral, considerado pai da economia moderna e do liberalismo económico.

 Teoria dos Sentimentos Morais (1759). Maltez (1991 II, 220-2): “o equilíbrio da
ordem é marcado pelo princípio da simpatia, que ele considerava como aquele
onde o indivíduo só se conhece a si mesmo por intermédio do julgamento que
faz do outro e daquele que o outro faz dele, base do sentido social e da
própria divisão do trabalho e das trocas. Segundo Adam Smith, a simpatia leva
os homens a tentar obter a aprovação de outros homens, residindo aí a
origem das normas objectivas e das regras jurídicas.”
Adam Smith desenvolve a ideai do Espetador Imparcial, que corresponde
à ideia de que temos uma voz interior que nos diz o que está certo e o que
está errado. Isto é relevante porque nas relações humanas e económicas,
haja formas de algo ser considerado moralmente errado, e isto surge
como forma de corretor dos nossos comportamentos.

Para Adam Smith existiram quatro períodos da evolução humana: a caça, a pecuária, a
agricultura e o comércio. E este último é que teria gerado uma sociedade civil ou
comercial, produto de uma espécie de revolução silenciosa que teria ocorrido na
Europa e que minou as anteriores instituições sociais.

- “Cabe, com efeito, a Adam Smith a elaboração de um pensamento económico


estruturalmente concorrencial, marcado por uma concepção de ordem natural que
assume um nítido carácter psicológico: «o esforço uniforme, constante e ininterrupto
de cada homem para melhorar a sua condição», o que seria «frequentemente
bastante poderoso para manter o progresso natural das coisas [...], mau grado as
extravagâncias dos governos e os maiores erros da administração.»”

Esta ideia de sociedade civil que se vem a desenvolver de forma natural à milhares de
anos, pela interação voluntaria de indivíduos, empresas, consumidores,
comerciantes,etc é uma ideia central do Liberalismo que emana o conceito de Ordem
Espontanea.

Ordem social onde os seus elementos se organizam e cooperam de forma


voluntaria e espontâneo sem coesão por parte do Estado. Diz respeito à
manutenção de 3 coisas: Integridade física; Cumprimento de
acordos/contratos7promessas; Prosseguimento, por parte dos indivíduos, dos
seus objetivos;

 Maltez (1991 II, 220-2): “Nestes termos considera a espontaneidade das


relações económicas, onde a oferta se adapta naturalmente à procura. A
ordem natural teria, pois, como base psicológica, o interesse individual:
«afastando completamente todos os sistemas de preferência ou de restrição,
estabelece-se por si mesmo o sistema evidente e simples da liberdade natural.
Cada homem, desde que não transgrida as leis da justiça, tem absoluta
liberdade para seguir o seu interesse da maneira como lhe convier e pôr o seu
trabalho e o seu capital em concorrência com os de qualquer homem ou de
qualquer classe de homens».
 “Para além deste princípio, Smith salientava cinco condicionantes à conduta
humana: amor próprio, ânsia de liberdade, instinto de propriedade, hábito de
trabalho e propensão para a troca.”

 Maltez (1991 II, 220-2): “Daí considerar que o Estado não deve intervir na vida
económica, concluindo que «não há dois caracteres que pareçam mais opostos
do que os do comerciante e do governo».
Intervir ≠ Regular

Para Adam Smith o Estado não deve intervir mas sim regular a atividade económica, a
não ser e caso de crise ou catástrofe.

 “Em Jurisprudence or Notes from the Lectures on Justice, Police, Revenue and
Arms, lições de 1766, proferidas em Glasgow, atribuía ao Estado quatro
funções: justiça, defesa, receitas públicas (fiscalidade) e polícia, entendendo
por esta última «a regulação das partes inferiores do Governo, isto é, a higiene,
a segurança, o mercado ou a abundância dos géneros». (...).

 “Considera também que a intervenção económica do Estado, porque obtida


através de regulamentos, contraria a opulência pública quando devia ser
marcada pela divisão do trabalho e pelo self-interest. Assim, defende a
separação do económico e do político baseando-se na autonomia do
económico.”

 Maltez (1991 II, 220-2): “Já em An Inquiry into the Nature and Causes of the
Wealth of Nations, de 1776, atribui três deveres ao Estado: o dever de defesa
(«proteger a nação contra a violência e a invasão de outras nações
independentes»), o dever de justiça («proteger tanto quanto possível todos os
membros da nação contra os ataques mesmo legais de todos outros, ou seja,
manter uma legislação imparcial») e um terceiro dever, até então não
referido: «criar e manter certas obras ou estabelecimentos públicos de que
uma sociedade retira imensas vantagens, mas que são, contudo, de tal
natureza que não podem ser construídos ou conservados por um ou vários
particulares, sabendo que, para estes, o lucro nunca lhes reembolsaria as
despesas».”

 Maltez (1991 II, 220-2): “O sistema smithiano de «liberdade natural e de justiça


perfeita» constitui, assim, uma forma de liberalismo ético ou deontológico,
marcado por um efectivo modelo normativo, que não deixa de exigir um
Estado interventor nos domínios da educação.

 “Para Smith, o Estado como deve ser é o Estado «trazido pelo curso natural das
coisas», um Estado que apenas tem que se preocupar em estabelecer «paz,
impostos leves e uma administração razoável da justiça», um curso natural
das coisas onde «a difusão geral da riqueza pelas classes mais baixas» é igual
a uma «difusão da liberdade e da felicidade».”

 Carla Guapo Costa (2010, 97): Smith “procurou demonstrar que a riqueza das
nações resultava da actuação dos indivíduos que, movidos pelo seu interesse
próprio (self interest), promoviam o crescimento económico e a inovação
tecnológica, com benefícios para toda a sociedade. A ‘mão invisível’ acabava
por gerar o bem-estar social.

 “Smith acreditava que a iniciativa privada deveria agir livremente, com pouca
ou nenhuma intervenção governamental; a competição livre entre os diversos
fornecedores levaria, inevitavelmente, à queda do preço das mercadorias, mas
também a constantes inovações tecnológicas, no afã de baixar os custos de
produção e vencer os concorrentes. Neste contexto, e como retém a premissa
mercantilista de que o valor do bem era conferido pela quantidade de trabalho
nele incorporada, a divisão do trabalho, na senda da especialização, deveria
constituir uma forma primordial de desenvolvimento económico.”

A Mão invisível

 O conceito da mão invisível de Smith é referido três vezes em todos os seus


escritos, apenas uma vez em A Riqueza das Nações, e não foi aprofundado por
Smith.

 É uma metáfora para descrever como o interesse próprio contribui para o


benefício de terceiros e expressa uma ideia comum aos Iluministas Escoceses.

 Bernard Mandeville: vícios privados, virtudes públicas.

 Adam Ferguson: “[as] nações deparam-se com instituições que são de facto o
resultado da acção humana mas não da execução de qualquer plano humano.”
(Friedrich Hayek popularizou esta expressão, ordem espontânea.)

 Smith: cada indivíduo esforça-se por aplicar o seu capital e o seu trabalho de
modo que a sua produção tenha o valor máximo. Geralmente, não pretende
promover o interesse público, nem sabe quanto o está a promover. É, assim,
levado a “promover um fim que não era parte da sua intenção” e que, como
Smith assinala, “Nem sempre é pior para a sociedade que esse fim não fosse
parte desta [intenção]. Ao promover o seu próprio interesse ele promove
frequentemente o da sociedade mais eficazmente do que quando pretende
realmente promovê-lo.”

 Segundo esta ideia, o livre funcionamento do mercado, assente num sistema


de preços que determina as quantidades a serem procuradas e oferecidas, gera
automaticamente o equilíbrio económico.
Adam Smith – Especialização, acumulação de capital e crescimento económico

 Smith sublinha a importância da especialização (divisão do trabalho) e da


formação (antecedente da teoria do capital humano) e a acumulação de capital
como fontes do crescimento económico.

 Smith apresenta o famoso exemplo da produção de alfinetes: se uma fábrica


dispuser de 10 trabalhadores, eles conseguem produzir até 48000 alfinetes por
dia, se a especialização no fabrico dos mesmos se dispersar por 18 tarefas. Ou
seja, teremos uma produtividade média de 4800 alfinetes/trabalhador/dia.
Sem a divisão do trabalho, pode chegar-se ao extremo de um trabalhador
produzir um alfinete por dia.

 A formação: aprendizagens mais complexas devem ser compensadas por


salários mais elevados.

Síntese do Mecanismo Económico:

Você também pode gostar