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Noções Fundamentais de Direito

Conceito e problemas fundamentais do Direito


® Conceito de Direito
Castro Mendes define direito como “o sistema de normas de conduta social, assistido de proteção
coativa”.
O Direito decorre de duas premissas Ubi homo, ibi societas: o homem tem uma natureza
eminentemente social.
Ubi societas, ibi ius: onde existe uma sociedade tem
de existir direito.

Ubi homo, ibi societas


A necessidade de o Homem viver em sociedade deve-se à:
- Necessidade vital e psicológica;
- Necessidade de segurança;
- Necessidade económica;
- Necessidade de defesa militar;
- Necessidade política.

Ubi societas, ibi ius


Com o objetivo de obstar à anarquia e ao caos, existe uma autoridade social que recebe o poder
diretivo destinado a:
- Estabelecer regras de conduta (poder normativo);
- Tomar decisões em relação aos problemas do quotidiano (poder decisório);
- Impor regras de conduta e as decisões tomadas, aplicando sanções a quem não as cumprir (poder
sancionatório).

Como seria a vida dos Homens em sociedade sem a autoridade social?


® Jean Jacques Rosseau
- Todos os Homens nascem livres e iguais vivendo em contacto com a Natureza.
- O progresso material trouxe consigo e civilização e com ela a corrupção.
- No status naturalis os Homens tornam-se egoístas e a segurança insuportável.
- Para estabelecer a felicidade havia um contrato social – “os Homens obrigaram-se a submeterem-se
à volonté générale que, traduzindo as suas vontades, implica a sujeição de cada indivíduo à sua própria
vontade” – que oferecia segurança e bem-estar.
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® Thomas Hobbes
- O Homem é egoísta e procura obter vantagens só para si à custa dos outros, gerando guerras.
- No status naturalis, os Homens viviam em guerra contínua, portando-se como lobos de si mesmos –
homo homini lupus.
- Com a celebração do contrato social, os Homens renunciam à sua liberdade e submetem-se à
autoridade do Estado em troca de proteção – “os Homens construíram, através de pactum de sujeição,
o Estado, ao qual cederam os seus direitos para obterem a segurança e o fim da luta”.

® John Locke
- Em cada Homem há aspetos bons e maus, tendências para a prática do bem e tendências para a
prática do mal.
- No status naturalis, a maioria respeita as Leis da Natureza. No Estado de Natureza todo o indivíduo
possuí dois direitos fundamentais – preservar tudo o que lhe pertence e julgar os outros e puni-los.
- Celebração de um contrato social e consequente criação de uma autoridade social com o poder de
governar a comunidade – Estado de Sociedade.

Outros sentidos do Direito


® Direito Objetivo
Conjunto de regras de conduta que se impõem a todos os Homens, estabelecidas objetivamente e a
que todos devem obediência. São normas jurídicas de conduta social com proteção coativa – Norma
de Agir. Exemplo: Direito Civil

® Direito Subjetivo
Vantagens, faculdades, poderes que, por aplicação das regras de direito objetivo, são atribuídas a
pessoas determinadas. É a faculdade ou o poder, reconhecido pela ordem jurídica a uma pessoa, de
exigir ou pretender de outra um determinado comportamento positivo (facere = fazer) ou negativo
(non facere = não fazer) – Faculdade de Agir.
Exemplo: facere – contrato de prestação de serviços
Exemplo: non facere – invasão de propriedade privada (o indivíduo não o pode fazer)

® Direito Potestativo
É a faculdade ou o poder, reconhecido pela ordem jurídica a uma pessoa por ato livre de sua vontade,
só por si ou por um ato de autoridade pública (decisão judicial), produzir determinados efeitos jurídicos
que inevitavelmente se impõem a outra pessoa, adversário ou contraparte.
Exemplo: Casamento gera o direito ao divórcio (mesmo que o outro não queira é possível ter o
divórcio).

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Direito e Estado
O Estado só pode ser de Direito e o Direito só pode ser supraestadual ou intraestadual.

Função Política - Definição e prossecução pelos órgãos do poder


Povo - Conjunto de pessoas submetidas à ordem jurídica político dos insteresses essenciais da coletividade.
estatal
Elementos

Funções
Função Legislativa - Prática de atos legislativos pelos órgãos
Território - Elemento material, espacial ou físico do Estado, constitucionalmente competentes.
marcado por fronteiras, que podem ser naturais ou artificiais, e
que compreende a superfície do solo que o Estado ocupa, o
espaço fluvial, marítimo, lacustre e aéreo Função Jurisdicional - Julgamento de litígios suscitados por
conflitos entre interesses privados e públicos.

Poder Político - Organização necessária ao exercício do Função Administrativa - Satisfação das necessidades coletivas
poder político que, por virtude de prévia opção política ou legislativa, se entende
que incumbe ao Estado prosseguir.

O direito entre as ordens normativas


Norma jurídica Norma da natureza ou lei física
- Distinguem-se com carácter imperativo à - Referem-se explicativamente aos fenómenos
vontade do Homem, podendo ser violadas. naturais, não tendo sentido falar-se em
- Intersubjetividade: Regula as relações entre os obediência.
Homens para assegurar o respeito pela justiça, Normas morais
pela segurança e pelos direitos humanos. - Intrasubjetividade: Respeita a conduta isolada
- O Direito é bilateral. do Homem.
- Tem relevância exterior, ou seja, pressupõe - A Moral é unilateral.
sempre uma exteriorização. - Tem relevância interior (basta o simples
- Finalidades: Estabelecimento de regras pensar).
essenciais de uma sociedade, visando a - Finalidades: Aperfeiçoamento individual;
convivência harmoniosa. realização do bem.
- Essência: compatibilizar interesses - Essência: Consciência ética/pessoa consigo
conflituantes. mesma.
- Coercibilidade material: obrigam todos os - Coercibilidade psíquica (remorso).
cidadãos, sob a ameaça de sanções temporais ou Norma religiosa
terrenas. - Criadas por um Ser transcendente.
- Estabelece regras essenciais para o convívio - Regula as relações entre os crentes e Deus, bem
social. como as relações entre os crentes.
- Criada pelos Homens. - Não é coercível materialmente: obrigam apenas
os crentes e são dotadas de sanções espirituais
ou intraindividuais.
Norma de Trato Social
- Aperfeiçoa o convívio social, tonando-o mais
ameno e cordial.
- Não é coercível (reprovação social).

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Relações entre a ordem jurídica e as demais ordens normativas
® Assume e jurisdiciza algumas ordens normativas, incorporando-as na ordem jurídica (relações de
coincidência);
Exemplo: Não matar.
® Coloca-se numa posição neutra ou de indiferença em relação à maior parte das normas de outras
ordens (relações de indiferença), nomeadamente, no que toca à ordem religiosa e de cortesia;
Exemplo: Dar esmola a um pobre.
® Mantém relações próximas com as normas morais;
® Pode ter relações de conflito.
Exemplo: Abortar.

Direito Natural e Direito Positivo


® Direito Positivo
“Ius civitate positum”, isto é, “o direito posto na sociedade” representa o conjunto de normas jurídicas
reguladoras de convivência humana que, neste momento, estão a vigorar em Portugal ou que alguma
vez vigoraram numa comunidade, expressas nos códigos e leis avulsos (independentes) que formam o
direito positivo.

® Direito Natural
É definido como o direito que devia vigorar porque assenta na dignidade humana e representa o
reflexo imediato na justiça. Regras fundadas na essência humana e, por conseguinte, não localizadas
nem no tempo, nem no espaço, não estão vertidas em nenhum código, nem foram gizadas pela mão
humana.
O Direito Natural deve nortear o Direito Positivo.

Jusnaturalismo e Positivismo Jurídico


® Jusnaturalismo
- O Direito Natural existe e é superior ao Direito Positivo, condicionando-o;
- Doutrina jurídica dominante desde o século V a.C. até ao século XVI d.C.;
- Contestação nos séculos XIX e XX, com o movimento filosófico do positivismo jurídico.

® Positivismo Jurídico
Explica que o Direito Natural não pode ser considerado direito porque:
- Não pode ter origem divina, já que Deus não existe;

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- Não é promulgado por nenhuma autoridade social legitimada e reconhecida para o fazer;
- O seu conteúdo é desconhecido e não há qualquer consenso;
- Não é uma lei eterna e universal, válida e imutável em todas as épocas e em todos os lugares;
- A violação das suas regras não acarreta a imposição de sanções.

O debate permanece, mas os defensores de ambas as correntes não aceitam, passivamente, como
cidadãos, qualquer Direito Positivo.
A divergência encontra-se no ponto de saber se as leis, porque contrárias ao Direito Natural, são
inválidas, pelo que não se lhes deve obediência.
Ver Art. 8º, nº2 do Código Civil.

Os fins do Direito

Segurança

Declarações
Justiça dos Direitos
Humanos

® Justiça
- Primeiro e principal fim do Direito;
- Dever ser para o Direito “uma bússola e um farol”;
- Noção: a justiça é o conjunto de valores que impõem quer ao Estado, quer aos cidadãos no sentido
de dar a cada um o que lhe é devido, e o critério geral acerca do que, em nome da justiça, é ou não
devido a cada um, deve ser definido em função da dignidade da pessoa humana.
- Modalidades Comutativa – visa corrigir os desequilíbrios que se verifiquem nas relações
contratuais e nos atos involuntários ilícitos interpessoais.
Distributiva – rege a repartição dos bens comuns pelos membros da sociedade
segundo o critério de igualdade proporcional.
Geral ou legal – rege a participação dos membros da sociedade nos encargos
comuns segundo critérios de igualdade proporcional.

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- Equidade: forma de solução de conflitos jurídicos que assenta na aplicação da Justiça conforme as
circunstâncias específicas de cada caso – fazer justiça de forma justa (igual). Art. 4º do Código Civil.

® Segurança
- A segurança internacional, sem a qual não haverá paz entre povos;
- A segurança pública interna, sem a qual não há ordem nem tranquilidade pública;
- A segurança individual, que as autoridades e a polícia devem garantir para prevenir a prática de crimes
contra a vida, a liberdade ou a propriedade das pessoas;
- A segurança socioeconómica, que se consegue através do estímulo à poupança individual e do recurso
às companhias de seguro;
- A segurança jurídica, que impõem a criação de mecanismos capazes de contribuir para a certeza do
Direito.

® Declarações dos Direitos Humanos


Ideia jusnaturalista que se vem afirmando desde o século XVIII: declaração dos direitos subjetivos que
devem ser reconhecidos em toda a parte a todo o Homem, por derivarem da natureza deste.

Elementos do conceito de Direito


Considerando a definição de Direito como o sistema de normas de conduta social, assistido de proteção
coativa, podemos concluir que tal noção assenta em três ideias fundamentais:
1. Sistema;
2. Norma;
3. Proteção Coativa.

O Direito como sistema


O Direito é um sistema normativo, ou seja, é um conjunto articulado e coerente de normas jurídicas
ditadas por princípios e orientadas para certos fins.
Porque:
1. O conjunto de regras ou normas se encontra articulado em termos de coerência, em torno de
uma ideia central – a ideia de Direito (coerência);
2. As duas regras objetivas têm de ser interpretadas de acordo com certos critérios lógicos e
técnicos, em harmonia com a sua função num dado conjunto (objetividade técnica; harmonia);
3. Os casos omissos têm de ser resolvidos de harmonia com determinados métodos integradores,
que em última análise se reconduzam à descoberta e aplicação do “espírito do sistema” – Arts.
8º e 10º, nº3 do Código Civil;

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4. O conjunto das normas que o compõem está organizado, enquadrado e enformado por
princípios gerais (coerência entre as normas legais e os princípios do direito);
5. Se preocupa em assegurar, tanto quanto possível, “uma interpretação e aplicação uniformes
do direito” – Art. 8º, nº3 do Código Civil – estando previstos diversos modos de garantir a
uniformização da jurisprudência;
6. Nele vigora o princípio da plenitude da ordem jurídica – Arts. 8º, nº1 e 10º do Código Civil e
20º da Constituição da República Portuguesa.

Caracteres e aspetos do sistema jurídico


® Coercibilidade
Uso da força para poder executar a norma jurídica aplicada, mesmo que contra a vontade dos
destinatários.
Exemplo: Alguém fugiu da prisão, a polícia é obrigada a usar a força e a capturar a pessoa mesmo que
ela não queira.

® Âmbito da aplicação
O Direito atua ao impor condutas (positivas ou negativas);
ao permitir (autonomia da vontade).

® Equidade

® Princípio da plenitude da ordem jurídica


- Dos princípios que enformam o sistema jurídico, dada a sua generalidade, podem extrair-se as
soluções para a maioria das questões jurídicas não previstas positivamente;
- É possível resolver os casos não previstos diretamente na lei, através da integração de lacunas, nos
termos do Art. 10º do Código Civil;
- Arts. 8º, nº1 do Código Civil e 20º da Constituição da República Portuguesa

Conceito e estrutura da norma jurídica em sentido estrito


Noção: É um elemento do conceito de Direito e traduz-se na “ligação de uma estatuição à previsão de
um evento ou situação”.
Estrutura Previsão – é a representação da vida social que se pretende regular. Exemplo:
Matei um homem
Estatuição – a conduta que há de ser prosseguida quando a hipótese
apresentada na previsão se concretizar. Exemplo: Segundo a lei é homicídio.
Sanção – é a consequência da violação da estatuição. Exemplo: Prisão.
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Caracteres da norma jurídica em sentido estrito
1. Hipoticidade: os efeitos jurídicos que estatui só se produzem se se verificarem os factos previstos.
2. Generalidade: a norma jurídica aplica-se a uma categoria abstrata de pessoas:

Generalidade vertical: uma norma aplica-se sucessivamente a todos os que ocupem


determinado cargo. Exemplo: Presidente da República.
Generalidade horizontal: a norma aplica-se simultaneamente a todos os que estão em
certa situação. Exemplo: Não posso fumar na escola.
3. Abstração: a norma jurídica aplica-se não a um caso concreto, mas a um número indeterminado
de situações subsumíveis à categoria prevista.
4. Imperatividade: corresponde à estatuição. A norma é uma obrigação, um imperativo ou um
comando.
5. Violabilidade: as normas dirigem-se aos Homens, que são seres livres e que, por isso, muitas das
vezes, violam as normas.
6. Outros apontados pela doutrina: bilateralidade/alteridade, coercibilidade.

Classificação da norma jurídica lato sensu


® Normas éticas (obrigação)
- Em face de determinada situação deve seguir-se determinada conduta.
- Existe um dever.
- O ato contrário é ilícito e implica uma sanção.
Exemplo: Se estragarem alguma coisa que pertença a uma determinada pessoa terão de a indemnizar.
Art. 483º do Código Civil.

® Normas técnicas (faculdade)


- Dada uma determinada previsão, a conduta é um meio de realizar certo fim.
- Não se trata de um dever, mas de um ónus.
- O ato contrário não é ilícito, mas acarreta apenas uma sanção em sentido impróprio do termo (uma
desvantagem).
Exemplo: Se quiserem sair da sala podem fazê-lo, mas não ouvirão a matéria. Art. 413º do Código Civil.

® Normas de estatuição material


- Projetam o seu comando sobre a vida social, ou seja, a sua estatuição reporta-se a atos dessa vida.
Exemplo: Art. 1323º do Código Civil.

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® Normas de estatuição jurídica
- Normas cujo conteúdo se esgota no plano jurídico.
- Estatui-se algo, mas sob a forma de consequência jurídica.
Exemplo: Art. 130º do Código Civil.

® Normas imperativas
- Impõem um dever, uma conduta.
• Normas percetivas
- Normas onde estamos a classificar a relação com a vontade do destinatário.
- Quando a conduta que impõem é uma ação, um facere.
Exemplo: Art. 1320º, nº2 do Código Civil.
• Normas proibitivas
- Estão associadas ao Direito Penal.
- Quando a conduta que impõem é uma omissão, um non facere.
Exemplo: Art. 1347º do Código Civil.

® Normas imperativas
- Permitem ou autorizam certos comportamentos.
• Normas facultativas – Permitem ou facultam certos comportamentos, reconhecendo
determinados poderes ou faculdades e deixando ao arbítrio do indivíduo praticar ou não esses
atos.
Exemplo: Permissão pura – Art. 1036º do Código Civil.
ExemplConcessão de autonomia da vontade – Art. 223º do Código Civil.
• Normas supletivas – Só se aplicam aos negócios jurídicos se as partes não tiverem excluído a
sua aplicação ou não tiverem previsto o regime a aplicar.
Exemplo: Art. 772º do Código Civil.
• Normas interpretativas – Esclarecem o sentido do trecho com valor jurídico.
Exemplo: Normas interpretativas da lei – Art. 349º do Código Civil.
Normas interpretativas da negação jurídica – Art. 2227º do Código Civil.

® Normas autónomas
- Podem produzir efeitos só por si e contêm em si valoração jurídica, imperativa ou permissiva.
Exemplo: Art. 1323º do Código Civil.

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® Normas não autónomas
- Para produzir efeitos jurídicos, têm que se ligar a outras normas.
Exemplo: Normas interpretativas, normas remissivas.

® Normas gerais
- São aquelas que constituem o regime regra aplicável à generalidade das situações ou relações
jurídicas de um determinado tipo.
Exemplo: Art. 219º do Código Civil.

® Normas especiais
- São as que, em termos de concordância as normais gerais, regulam uma espécie de situações ou
relações jurídicas, tendo exatamente em conta particularidades que tipifiquem tais relações.
Exemplo: Normas de Direito Comercial – Art. 7º, nº3 do Código Civil.

® Normas excecionais
- São as que, em contradição com as normas gerais, disciplinam, um setor restrito de relações jurídicas.
Exemplo: Arts. 11º e 875º do Código Civil.

® Normas universais
- São aquelas que se aplicam a todo o território de um Estado.

® Normas regionais
- São as que se aplicam apenas a uma certa fração de território do Estado, em certa região.

® Normas locais
- São as que se aplicam apenas a uma certa fração do território do Estado, em certa localidade.

® Normas de interesse e ordem pública


- Regulam os altos interesses sociais que se confundem com o Bem Comum e, portanto, não podem
ver a sua aplicação afastada pela vontade dos destinatários dela.

® Normas de interesse e ordem privada


- Regulam interesses dos particulares e, por conseguinte, podem ser afastadas pela vontade dos seus
destinatários.

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® Norma perfeita
- Prevê que certa situação é nula e determina a nulidade do ato contrário.
- Nulidade, sem pena.

® Norma imperfeita
- Não têm sanção.

® Norma mais que perfeita


- Determina a invalidade e ainda aplica uma pena aos infratores.
- Nulidade e pena.

® Norma menos que perfeita


- Leis que não estabelecem a invalidade, mas determinam a não produção do efeito.
- Sanção sem nulidade.

Proteção Coativa
A coercibilidade consiste na possibilidade ou suscetibilidade de aplicar sanções, pela força se for
necessário, assegurada pelo aparelho estadual, ou seja, sou obrigado a cumprir o que está na lei.
A Proteção Coativa, isto é, os meios adotados em defesa da ordem jurídica podem ser de duas espécies:
• Tais meios podem atuar antes de ocorrer a conduta que viola a estatuição da norma jurídica,
com o objetivo de evitar essa violação – Proteção Preventiva.
• Os meios podem atuar após a violação da norma, tendo então como principal fim repor a
situação como existia antes da violação e reprimir o agente violador, mas, visando também,
genericamente os comportamentos contrários aos comandos normativos – Proteção
Repressiva – Sanção Coativa.

Proteção Repressiva: a sanção


A sanção é uma consequência desfavorável normativamente prevista para o caso de violação de uma
regra, e pela qual se reforça a imperatividade desta. É uma reação da ordem jurídica perante a
inobservância das normas. Podem ser de duas espécies:
• Sanções Materiais – o aspeto mais relevante é a alteração da situação da vida social. Exemplo:
Perder a casa.
• Sanções Jurídicas – o aspeto mais relevante é a consequência imposta pela ordem jurídica,
projeta-se sempre primariamente no plano jurídico.

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Sanções Materiais
® Sanções Compulsórias
São aquelas que visam, embora tardiamente, coagir o infrator a adotar a conduta de vida e que a
violação não se prolongue no tempo por isso, cessam logo que a norma jurídica desrespeitada seja
observada.
- Sanção Pecuniária Compulsória – O infrator terá de pagar uma coima por cada dia que estiver em
incumprimento.
Exemplo: Art. 829º A do Código Civil.
- Direito de Retenção – Direito de reter algo até o pagamento dos danos causados estar restabelecido.
Exemplo: Reter uma bola que partiu o meu vidro. Arts. 754º e seguintes do Código Civil.
- Cumprimento Coativo – Direito que pode ser usado por outra pessoa.
Exemplo: Obrigar alguém a entregar algo. Art. 828º do Código Civil.

® Reintegração ou Sanções Reconstrutivas


- Sanção material reintegradora por reconstituição natural
- Execução Específica – Executar alguma coisa que alguém não fez.
Exemplo: Arts. 827º, 828º, 829º e 830º do Código Civil.
- Sanção material reintegradora por equivalente ou sucedâneo pecuniário
Exemplo: Art. 566º do Código Civil.

® Reparação ou Sanções Compensatórias


- Compensação por danos morais/danos não patrimoniais
Exemplo: Art. 496º do Código Civil.

® Sanções Punitivas
São aquelas que punem quem pratica qualquer coisa contrária à lei.
- Criminais
- Civis – Arts. 1649º e 2034º do Código Civil.
- Disciplinares
Exemplo: Eu sou solicitador, não posso ter uma imobiliária, se tiver vai sofrer uma situação disciplinar.
- Contraordenacionais

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Sanções Jurídicas
® Inexistência Jurídica
Ocorre quando nem sequer se verifica qualquer materialidade de certo ato jurídico e, neste caso, nem
sequer produz quaisquer efeitos, não havendo sequer necessidade de um reconhecimento da sua
invalidade.
Exemplo: Um ato aconteceu ma nem sequer tem nexo esse ato existir.

® Invalidade
O ato existe materialmente, mas sofre de um vício que conduz a que não produza os efeitos jurídicos
a que tende.
- Nulidade
- Anulabilidade

® Ineficácia em sentido estrito


Supõe que o ato não possui qualquer vício intrínseco, mas não obedece a um requisito extrínseco, a
algo exterior ao ato em si, tal como a lei o configura, mas de que depende a sua eficácia. Nesse caso, o
ato pode não produzir quaisquer efeitos ou apenas parte dos seus efeitos jurídicos.

NOTA:
• Pode ser suspensiva (ineficaz no sentido suspensivo)
Exemplo: Pago-te o café quando fizeres as cadeiras todas.
• Pode ser resolutiva (a eficácia suspende-se quando a condição deixar de se
verificar)
Exemplo: Enquanto tiveres aproveitamento escolar, pago-te as propinas.

Nulidade (Artigo 286º do Código Civil)


- Opera ipso iure.
- Tutela o interesse público.
- O negócio nulo não produz efeitos ab initio (o negócio nulo funciona como se nunca tivesse existido,
nunca é confirmável).
- É arguível por qualquer interessado (pode ser pedido por qualquer pessoa).
- A todo o tempo.
- Pode ser oficiosamente declarada pelo tribunal.
- Não é confirmável.
- É consequência dos seguintes vícios:
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• Vícios de forma (Art. 220º do Código Civil)
• Vícios do objeto (Art. 280º, nº1 do Código Civil)
• Falta de vontade (Art. 246º do Código Civil)
• Contrariedade à lei (Art. 240º do Código Civil)
Exemplo: A venda de um imóvel a um menor. Os pais não podem confirmar a compra mais tarde
porque esta já era nula no momento em que aconteceu.

Anulabilidade (Artigo 287º do Código Civil)


- Tutela o interesse particular.
- O negócio anulável produz efeitos, embora, precariamente, pois podem ser retroativamente
destruídos se for invocada a anulabilidade.
- Para declarar a anulabilidade é necessário recorrer a uma ação.
- Por quem tenha legitimidade.
- No prazo de um ano.
- É confirmável (Art. 288º do Código Civil).
- Decorre dos seguintes fatores:
• Incapacidade do agente
• Vícios da vontade (Arts. 251º e 252º do Código Civil)
Exemplo: Pedido da anulação de um contrato por uma terceira pessoa. Venda de uma casa com
contrato feito num guardanapo (que não é possível) e, uma terceira pessoa não interveniente no
processo, mas que tenha conhecimento da situação pede juridicamente a anulabilidade do
contrato.

Proteção Preventiva
® Procedimentos Cautelares
Exemplo: Eu vou pedir alguma coisa em tribunal para evitar que o um direito seja violado.

Justiça Privada, Autotutela ou Tutela Privada do Direito


- Ação Direta (Art. 336º do Código Civil)
A Ação Direta é legítima quando decorrem os seguintes pressupostos:
1. Se destine a realizar ou assegurar o próprio direito;
2. Seja impossível recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais;
3. Seja indispensável para evitar a inutilização prática desse direito;
4. O agente não pode exceder o necessário para evitar o prejuízo, ou seja, deve haver
racionalidade de meios;
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5. Não pode sacrificar interesses superiores aos que o agente visa assegurar ou realizar.
- Legítima Defesa (Art. 337º do Código Civil)
A defesa é legítima quando concorrem os seguintes pressupostos:
1. Agressão ilegal, injusta ou ilícita – é a ilegalidade desta que justifica que o agredido,
defendendo-se, agrida por sua vez, com fim de obstar a que o mal se consume;
2. Em execução ou iminente/atualidade – se é agressão passada, não se justifica a reação; se é
futura, poderá recorrer-se aos meios coercitivos; não há agressão apenas nos casos em que o
agente ameaça de qualquer forma a integridade física do ofendido;
3. Contra a pessoa ou património do agente ou de terceiro – a agressão pode dirigir-se contra a
pessoa ou o património do defendente ou de terceiro;
4. Impossível recorrer à força pública – só é admitida quando não for possível recorrer à
autoridade pública;
5. Existir racionalidade dos meios empregues – o prejuízo causado pelo ato não deve ser
manifestamente superior ao que resultar da agressão.
Exemplo: Se alguém me estiver a agredir eu posso agredi-lo também como maneira de me
defender.
- Erro acerca dos respetivos pressupostos (Arts. 336º até 338º do Código Civil)
- Estado de Necessidade (Art. 339º do Código Civil)

Uma característica do Estado de Necessidade é a reação sobre a esfera jurídica de outrem por quem
está ameaçado por um perigo que não resulta de agressão alheia. Com isto se distingue da legítima
defesa que é necessariamente a reação contra a agressão alheia, atual e iminente.
O Estado de Necessidade difere da ação direta porque esta visa a conservação prática de um direito,
enquanto naquele se procura evitar a consumação ou ampliação de um dano.
- Consentimento do lesado (Art. 340º do Código Civil)
- Direito de Resistência (Art. 21º da Constituição da República Portuguesa)
- Defesa da Posse (Art. 1277º do Código Civil)
- Defesa da Propriedade (Art. 1314º do Código Civil)
- Direitos Reais (Art. 1315º do Código Civil)
- Tribunais Arbitrais (Art. 209º, nº2 da Constituição da República Portuguesa)
- Segurança Privada

Sentidos da expressão “fonte do direito”


® Sentido filosófico
É empregue como significando o fundamento da obrigatoriedade das normas jurídicas.

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® Sentido sociológico
Atende ao fator que determinou o aparecimento da norma e condicionou o seu conteúdo.
Exemplo: Porque é que é obrigatório usar cinto de segurança?

® Sentido político ou orgânico


Traduz os órgãos encarregados de emanar ou produzir as normas jurídicas.
Exemplo: Governo/Câmaras Municipais

® Sentido instrumental
Significa a sede material, o texto ou diploma legislativo que contem as normas jurídicas.

® Sentido técnico-jurídico ou formal


Fontes do direito são os modos de formação e de revelação das normas jurídicas.

Fontes iuris essendi, fontes diretas ou imediatas Fontes iuris cognoscendi, fontes indiretas ou
mediatas

Geram dinamicamente normas jurídicas


Dão a conhecer estaticamente normas jurídicas
(permitem conhecer o Direito, não geram normas)
Lei
Costume
Jurisprudência (o que vem dos tribunais)
Doutrina (conhecimento passado por um estudioso
do Direito)
Tipos de fontes do Direito
® Lei
Foi criada para regular a nossa vida em sociedade. É a norma jurídica decidida e imposta por uma
autoridade com poder para o fazer na sociedade política.

® Costume
Prática reiterada e habitual de uma conduta quando chega a ser encarada como obrigatória pela
generalidade dos seus membros. O costume não se pode sobrepor à lei pois, este tende a desaparecer
e a ser substituído pela lei.
Exemplo: O António costuma acender as luzes da minha cidade todos os dias, se alguém novo chegar
à cidade saberá que é costume ser o António a acender as luzes.
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® Jurisprudência
Conjunto de orientações que, em matéria de determinação e aplicação da lei, decorrem da atividade
prática de aplicação do direito.

® Doutrina
É a atividade de estudo teórico ou dogmático do Direito.

® Mais fontes do Direito


• Guerras e Revoluções;
• Tratados Internacionais;
• Princípios Gerais de Direito (são máximas ou fórmulas que exprimem as grandes orientações e
valores que caracterizam uma dada ordem jurídica ou de um certo ramo de direito);
• Regulamentos Administrativos;
• Praxes Administrativas;
• Convenções coletivas de trabalho;

Lei: Aspeto Estático


Art. 1º, nº1 do Código Civil
A expressão lei pode ser entendida com vários sentidos, nomeadamente:
• Em sentido moral, a expressão lei é entendida como o conjunto dos princípios que regem todos
os seres humanos;
Exemplo: Lei da Gravidade, Lei da Vida.
• Em sentido latíssimo, a expressão lei identifica-se com o Direito, ou seja, é toda e qualquer
regra jurídica;
• Em sentido lato, a expressão lei é entendida como norma jurídica criada de certa forma,
nomeadamente por decisão e imposição de uma autoridade com poder para o efeito, por
oposição ao costume;
• Em sentido intermédio, a expressão lei é entendida enquanto oposta a regulamentos;
• Em sentido estrito, reconduz-se apenas às leis emanadas da Assembleia da República por
oposição aos decretos-leis emanados do Governo.

® O que caracteriza a lei como fonte de Direito Positivo?


1. Origem: a lei deriva direta e unilateralmente – é um ato jurídico unilateral – do Estado, a sua
criação, emanação dos órgãos estatais/poder legislativo.
2. Fim: destina-se a produzir Direito; é uma fonte voluntária, consciente, refletida; é um ato
intencionalmente dirigido a esse objetivo.
3. Forma escrita.
4. Forma solene: observando um processo legislativo.

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® Definições de Lei
• Galvão Telles – “Lei é um ato de Estado tendente á criação de direito.”
• Cabral de Moncada – “Lei é a forma que reveste a norma jurídica quando estabelecida e
decretada de uma maneira oficial e solene pela autoridade de um órgão expressamente
competente para esse efeito.”
• Freitas de Amaral – “Lei é um ato unilateral do Estado ou de uma região autónoma que de
forma escrita e solene cria, modifica ou distingue norma jurídicas com uma posição hierárquica
imediatamente abaixo da Constituição.”

® Lei material e lei formal


• Lei material – é aquela que possui um conteúdo normativo (isto é, que contém uma ou mais
normas gerais e abstratas), seja qual for a sua norma externa. Exemplo: É maior aquele que
atingir 18 anos.
• Lei formal – é a que se reveste das formas destinadas por excelência ao exercício da função
legislativa do Estado, ou seja, a atividade exercida pelos órgãos aos quais a Constituição atribui
o poder legislativo, que são três:
1. Assembleia da República – Leis
2. Governo – Decretos-Leis
3. Assembleias Legislativas Regionais – Decretos Legislativos Regionais
Existem leis que podem ser formais, leis que podem ser materiais e ainda leis que podem ser tanto
formais como materiais. Exemplo: Leis do Código Civil.
Ver Art. 112º da Constituição da República Portuguesa

Hierarquia das Leis

CRP
Direito Internacional, Geral,
Convencional e decorrente da UE
Leis e Decretos-Leis

Decretos Legislativos Regionais

Decretos Regulamentares

Portarias

Regulamentos da Autarquias Locais

® CRP (Constituição da República Portuguesa)


É a lei fundamental do Estado que estabelece os princípios basilares da organização política e do
ordenamento jurídico nacional, bem como os direitos e deveres fundamentais do Estado. Arts. 3º, nº3;
204º e 277º da Constituição da República Portuguesa.
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® Direito Internacional, Geral, Convencional e decorrente da União Europeia
• Direito Internacional;
• Convenção de Tratados Internacionais;
• Normas da União Europeia.
Arts. 8º, nº1, 2 e 4; 161º i); 197º c) e 277º, nº2 da Constituição da República Portuguesa

® Leis e Decretos-Leis
Arts. 112º, nº2; 161º c) e 198º, nº1 da Constituição da República Portuguesa.
Assembleia da República
• Leis Constitucionais: Arts. 166º, nº1 e 161º a) da Constituição da República Portuguesa.
• Leis Orgânicas: Arts. 164º a) a f) e 166º, nº2 da Constituição da República Portuguesa.
• Leis Simples: Arts. 166º, nº3 e 161º b) a h) da Constituição da República Portuguesa.
Monções – Arts. 166º, nº4 e 163º c) e d) da Constituição da República Portuguesa.
Resoluções – Arts. 166º, nº5 e 179º, nº3 c) e f) da Constituição da República Portuguesa.
Reservas – Arts. 164º; 161º e 165º da Constituição da República Portuguesa.
Decretos-Leis – Arts. 198º, nº1 e 200º d) da Constituição da República Portuguesa.
NOTA: Em relação às Leis e aos Decretos-Leis, quando há situações de opinião contrária, aquela que é
válida é a mais recente. Existem as seguintes regras:
1. Superioridade
2. Posterioridade
3. Especialidade

® Decretos Legislativos Regulamentares


Arts. 112º, nº4 e 227º, nº1 a) e c) da Constituição da República Portuguesa.

® Decretos Regulamentares
• Resolução Conselho de Ministros
• Portarias
• Despachos

® Regulamentos das Autarquias Locais


Art. 241º da Constituição da República Portuguesa.

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Lei: Aspeto Dinâmico
O processo legislativo, ou seja, o processo de elaboração das leis comporta diversas fases ou
momentos fundamentais:
1. Elaboração – Art. 167º da Constituição da República Portuguesa
2. Aprovação – Art. 168º da Constituição da República Portuguesa
3. Promulgação – Art. 134º a) e b) da Constituição da República Portuguesa – Veto – Art. 136º
da Constituição da República Portuguesa – Referendo – Art. 140º, nº1 da Constituição da
República Portuguesa
4. Publicação – Art. 119º da Constituição da República Portuguesa; Art. 5º, nº2 do Código Civil
5. Entrada em vigor – Art. 5º, nº2 do Código Civil – Vacatio Legis (Período entre a publicação e a
entrada em vigor, pode ser: 5 dias após o dia da publicação; à meia noite do dia seguinte à
publicação ou numa data à escola do legislador)

Cessação de vigência das leis


® Caducidade
Há um limite temporal ínsito na própria norma: de maneira direta ou indireta, ela mesma marca o
período da sua vigência, de modo que, decorrido esse período, perde valor, morre, sem que o
legislador nada diga (Art. 7º, nº1, 1ª Parte do Código Civil).
Leis Transitórias – Impossibilidade factual da situação abstrata desenhada na previsão.
Exemplo: Depois das Guerras Coloniais é atribuído um subsídio de 250€ aos
combatentes, a lei foi publicada, as pessoas vão morrendo e quando todos morrerem a
lei caduca, já não existe ninguém a quem atribuir subsídios.
Leis Temporárias – Do conteúdo da lei consta, seja a indicação do período de tempo
durante o qual estará em vigor, seja a determinação de uma data limite para a sua
vigência.
Exemplo: Durante 2 anos o IVA passará a ser de 25% (quando os 2 anos chegarem ao
fim o IVA volta aos 23%).

® Revogação
Traduz-se no afastamento da lei por outra lei posterior, de valor hierárquico igual ou superior. Art.
7º, nº1, 2ª Parte do Código Civil. A ordem de prioridade não se define pela entrada em vigor mas sim
pela data de publicação. Art. 7, nº3 e 4 do Código Civil.
Revogação Expressa – Um preceito da nova lei designa uma lei anterior e a declara
revogada (Art. 7º, nº2, 1ª Parte do Código Civil).
Revogação Tácita – Não há revogação expressa, mas as normas da lei posterior são
incompatíveis com as da anterior (Art. 7º, nº2, 2ª Parte do Código Civil).

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Exemplo: Existe uma lei que foi publicada em 1998 que diz que a idade permitida para
se começar a conduzir é aos 18 anos mas, em 2018 saiu uma nova lei que diz que a idade
permitida para começar a conduzir é aos 20 anos. As duas leis são incompatíveis, logo,
a nova lei é a que entra em vigor e a lei antiga desaparece.
Revogação de Sistema – Tem lugar quando o legislador pretende que um determinado
diploma legal incidente sobre uma determinada matéria (Art. 7º, nº2, 3ª Parte do
Código Civil).
Exemplo: Se fosse criado um Código do Consumidor todas as leis sobre os Direitos do
Consumidor seriam revogadas e só o Código passaria a vigorar.

Relação Jurídica
É toda a relação da vida social disciplinada pelo Direito e que consiste na atribuição a um sujeito de
um direito subjetivo e na adstrição de outro sujeito a uma vinculação jurídica.

Lado Ativo Lado Passivo

Direito Subjetivo propriamente dito Dever jurídico (norma cria uma


necessidade de realizar uma certa
conduta ativa ou passiva)
Exemplo: Direito à imagem; devemos
respeitar este direito tal como o
Direito à vida.

Direitos Relativos (direitos de Dever Jurídico


crédito) – opõe-se a 1 pessoa Exemplo: Se eu tiver a dever dinheiro
à Maria, tenho o dever jurídico de
Exemplo: Alguém me deve 50€.
lhe o dar.

Direito Absoluto (direitos reais e Obrigação passiva universal


direitos de personalidade) – Opõem- Exemplo: Direito à vida.
se a todas as pessoas

Sujeição (submissão às alterações


Direito Potestativo que a vontade do sujeito ativo tenha
produzido na esfera jurídica do
sujeito passivo)

Elementos da Relação Jurídica


1. Sujeitos Pessoas Singulares
Pessoas Coletivas

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• Personalidade Jurídica (Art. 66º do Código Civil) traduz-se na aptidão para ser titular autónomo,
ser sujeito, de relações jurídicas. – Qualidade
• Capacidade de Gozo de Direitos é a medida de direitos e vinculações de que a pessoa é
suscetível de ser titular (Art. 67º do Código Civil). Todos os direitos estão na nossa esfera
jurídica. – Titularidade
Exceções: Arts. 1601º, 1850º, 1913º e 2189º do Código Civil.
• Capacidade de Exercício de Direitos é a medida dos direitos e vinculações que a pessoa pode
exercer por si, pessoal e livremente. – Exercício: aquilo que está na minha esfera jurídica e não
podemos fazer (menores e interditos – Pessoas a fazer por mim; imobilizado – Pessoa a assistir.)
Exemplo: Um menor não pode comprar uma casa mas pode ter uma em seu nome (alguém lha
pode dar).

2. Objeto
• Objeto imediato é o que dá origem à relação jurídica, ou seja, é o nexo formado pelo direito
subjetivo, por um lado, e pela vinculação, por outro.
• Objeto mediato corresponde à realidade sobre que recai o poder do sujeito ativo, realidade
essa que pode ser uma coisa, uma prestação, uma pessoa, ou um direito.

3. Facto Jurídico
É o acontecimento, o evento a que o Direito confere um efeito, uma consequência jurídica:
constituir uma relação jurídica, ou modifica-la, ou extingui-la.

4. Garantia
Traduz-se na suscetibilidade que é conferida ao sujeito ativo de recorrer à força se necessário por
intermédio dos órgãos do Estado para tal competentes para exercer o direito que lhe é conferido
o que se consegue impondo ao sujeito passivo a conduta que corporiza o respetivo dever ou sujeitá-
lo às consequências do eventual incumprimento.
NOTA: Só se verifica uma relação jurídica se se verificar estes 4 elementos.

Direito Público e Direito Privado


® Direito Público
Respeita as relações estabelecidas entre os particulares e o Estado ou outros entes públicos, sendo
igualmente o direito interno do Estado, da sua orgânica, em que são dominantes os interesses públicos,
e que se fundam em relações de autoridade, de disparidade e de heteronomia.

® Direito Privado
Respeita as relações entre particulares, fundadas na igualdade jurídica, na liberdade ou autonomia.

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® Critérios Distintivos
1. Critério ou teoria dos interesses
• Serão normas de Direito Público as normas que tutelam ou prosseguem um interesse público.
• Serão normas de Direito Privado aquelas que visam tutelar ou satisfazer interesses individuais.
Crítica: Todo o Direito, Público e Privado, visa proteger simultaneamente interesses públicos e
interesses particulares.

2. Critério da posição de supraordenação (supremacia) e infraordenação (subordinação) ou de


natureza do sujeito da relação jurídica
• Direito Público disciplinaria as relações entre entidades que estão numa posição de supremacia
e subordinação, ou seja, tratar-se-ia das normas dirigidas ao Estado ou a outras pessoas a ele
equiparadas.
• Direito Privado regularia as relações entre entidades numa posição relativa de igualdade ou
equivalência, ou seja as normas que visassem os particulares.
Crítica: Por vezes, o Direito Público regula relações entre entidades numa relação de equivalência
ou igualdade; por outra via, o Direito Privado regula situações onde existem posições relativas de
supraordenação e infraordenação.

3. Critério ou teoria dos sujeitos ou da qualidade dos sujeitos da relação jurídica


• O Direito Público é constituído pelas normas que estruturam o Estado ou outros entes públicos
dotados de prerrogativas de autoridade ou disciplinam as relações desses entes munidos de ius
imperii entre si ou com os particulares.
• O Direito Privado é o que regula as relações estabelecidas entre particulares ou entre
particulares e o Estado ou outros entes públicos, mas intervindo o Estado ou outros entes
públicos em veste de particular, isto é, desprovidos de ius imperii, de poder soberano ou poder
de autoridade.

® Mas qual o interesse prático da distinção entre Direito Público e Direito Privado?
- Interesse de ordem científica na sistematização e no lógico agrupamento de normas jurídicas.
- Interesse no próprio plano da aplicação do direito, por exemplo:
• Em determinadas situações, determina as vias jurídicas a que o particular lesado pelo Estado
deve recorrer ou vice-versa, isto é, determina o tribunal competente, em razão da matéria, para
apreciar a lide (tribunais judiciais/tribunais administrativos).
• Por outro lado, a responsabilidade civil decorrente de uma atividade de órgãos, agentes ou
representantes do Estado está sujeita a um regime diverso, consoante os danos sejam
caudados no exercício de uma atividade de gestão pública ou de uma atividade de gestão
privada. Se os danos resultam de uma atividade de gestão pública, os pedidos de indemnização
são apreciados por um tribunal administrativo e o regime de responsabilidade está previsto em
lei especial. Se os danos resultarem de uma atividade de gestão privada, será o pedido
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apresentado nos tribunais judiciais e o regime está previsto nos Arts. 500º e 501º do Código
Civil.

NOTA:
Privado + Privado = Direito Privado Público + Público = Direito Público
Público + Privado = Direito Público Privado + Público = Direito Privado

Interpretação da Lei
- Noção: É a investigação intelectual para a determinação ou fixação do exato sentido e alcance da lei,
com vista à sua aplicação. Art. 9º do Código Civil.

Classificações da Interpretação da Lei


® Classificação quanto ao agente ou quanto à sua Fonte e Valor
1. Interpretação legal – feita pelo legislador, mediante a chamada “lei interpretativa”. Art. 13º do
Código Civil.
a) Interpretação autêntica – realizada por uma lei interpretativa de valor hierárquico igual ou
superior à lei interpretada; tem força obrigatória geral.
b) Interpretação oficial – realizada por uma lei interpretativa de inferior valor hierárquico; tem
valor vinculativo restrito à cadeira hierárquica subordinada ao órgão criador da lei
interpretativa.

2. Interpretação judicial, prática ou jurisprudencial – realizada por entidade com funções


judiciais, que aplica a lei aos casos concretos para tal efeito submetidos à sua apreciação; força
vinculativa circunscreve-se ao caso concreto a que a lei se aplicou.

3. Interpretação doutrinal, teórica ou particular – aquela cujo agente não é legislador nem atua
no decurso de função judicial; tem mero valor persuasivo.

® Classificação quanto aos resultados


1. Interpretação declarativa – conduz à constatação de coincidência entre a letra e o espírito da
lei.
Esta pode ter dois sentidos:
• Lato – Homem e Mulher | Filho e Filha
• Restrito – Homem | Filho

2. Interpretação extensiva – conduz à conclusão de que a letra se situa aquém do espírito da lei
(Art. 1462º, nº1 do Código Civil).

3. Interpretação restritiva – conclui que a letra da lei foi além do espírito da lei (Art. 282º, nº1 do
Código Civil).
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