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ORDENS NORMATIVAS
O homem vive necessariamente na companhia de outros homens com os quais
estabelecem várias relações, e por isso é necessário que o seu comportamento seja
disciplinado por normas ou regras de organização e conduta.
Estas normas pertencem ao mundo cultural e caracterizam-se pela sua referência a
valores ou por adequarem meios a fins.
As principais ordens normativas são: ORDEM RELIGIOSA, ORDEM MORAL, ORDEM DE
TRATO SOCIAL e ORDEM JURÍDICA
1. ORDEM RELIGIOSA
São criadas por um Ser transcendente e ordenam as condutas dos crentes nas suas
relações com Deus. São normas:
- INSTRUMENTAIS: preparam ou tornam possível o que não pertence ao mundo terreno.
- INTRA-INDIVIDUAIS: destinam-se directa e fundamentalmente ao íntimo do homem
crente.
- SANÇÕES: as suas sanções pertencem ao foro exclusivo das igrejas, e por isso dizem
respeito à crença e à fé numa vida ultra-terrena na qual cada homem receberá a retribuição da
sua conduta. O remorso é um exemplo de forma de sanção.
As normas religiosas constituem, do ponto de vista religioso, deveres do homem para
com Deus e não para com outros homens.
Aqui podem-se encontrar as normas que regulam a organização e a prática religiosa
das comunidades de crentes, que têm um caracter positivo e são criadas pela hierarquia
eclesiástica. A sua violação pode determinar a aplicação de sanções religiosas, que por sua vez
varia segundo as épocas históricas da civilização.
2. ORDEM MORAL
A moral é constituída pelo conjunto de preceitos, concepções e regras altamente
obrigatórias para com a consciência e pelos quais se rege a conduta dos homens numa
sociedade.
Caracteriza-se pela interioridade, absolutidade e espontaneidade, pois a sua esfera de
aplicação vai até onde pode chegar as projecções da consciência humana.
A moral diferencia-se do direito por se ocupar do que se processa no plano do
pensamento e da consciência (actos internos) em vez do plano exterior. A moral goza de uma
superioridade que lhe permite intervir na criação, interpretação e aplicação do direito e impor
exigências formais como o caracter geral, a publicidade, a não retroactividade e a clareza das
normas jurídicas.
4. ORDEM JURÍDICA
A ideia de direito postula uma ordem justa e, por isso, não é possível defini-lo sem uma
referência à justiça que lhe transmite validade. A ordem jurídica é um complexo de regras,
instituições e órgãos.
Isto leva à ideia de um direito relativamente estável num certo tempo, constituído por
um conjunto de normas correlacionadas entre si, que se denomina de direito positivo ou
objectivo.
O direito positivo tem algumas características:
- NECESSIDADE: Resulta da natureza social do homem. O ser humano precisa de
comunicar, produzir e consumir bens, pois o homem realiza-se pela convivência com os outros.
Para isto, a sociedade precisa de um conjunto de normas jurídicas que disciplinem o seu
comportamento.
- ALTERIDADE: O direito disciplina a conduta do homem enquanto vive em sociedade.
As normas são feitas para nós mas em função dos outros.
- IMPERATIVIDADE: As normas jurídicas são imperativas, de cumprimento obrigatório.
A sua essência é um dever-ser a que devemos obedecer.
- COERCIBILIDADE: Susceptibilidade de aplicação pela força das sanções prescritas pelo
direito. É a possibilidade de aplicar uma determinada sanção a quem violar uma norma
jurídica. Contudo, a coercibilidade não está sempre presente nas sanções.
- EXTERIORIDADE: As normas jurídicas disciplinam comportamentos que se
manifestam exteriormente e por isso tem de ser conhecidas.
- ESTATALIDADE: O direito é o Estado como situação fixada e por isso reduz a criação e
aplicação das normas jurídicas ao mesmo.
1. DIREITOS SUBJESCTIVOS
a. PRIVADOS
O direito subjectivo é a faculdade ou o poder, reconhecido pela ordem jurídica a uma
pessoa, de exigir ou pretender de outra pessoa um determinado comportamento positivo ou
negativo, ou de produzir determinados efeitos jurídicos que inevitavelmente se impõem a
outra pessoa.
O direito subjectivo traduz a exigência de uma concepção do mundo que é própria do
individualismo. Este pode-se dividir em várias modalidades:
- DIREITO SUBJECTIVO EM SENTIDO ESTRITO: Baseia-se na definição inicial de direito
subjectivo.
- DIREITO POTESTATIVO: Faculdade ou poder de produzir efeitos jurídicos que se
impõem à contraparte. Estes podem ser:
- CONSTITUTIVOS: Sucede quando o proprietário de um terreno encravado
(prédio dominante) exerce o seu direito potestativo de exigir a constituição de uma servidão
de passagem através de terreno (prédio serviente) que se intervém entre aquele e a via
pública.
- MODIFICATIVOS: Sucede quando um dos cônjuges, em perigo de perder o
que é seu pela má administração do outro, exerce o seu direito potestativo de pedir a simples
separação de bens.
- EXTINTIVOS: Sucede quando um dos cônjuges requer o divórcio invocando a
separação de facto por um ano sem interrupção.
2. FIGURAS AFINS
INTERESSES JURÍDICOS: São interesses tutelados pela ordem jurídica a que não
correspondem direitos subjectivos. Podem consistir na subjectiva pretensão a um bem
susceptível de satisfazer uma necessidade ou na relação entre a necessidade e o bem capaz de
a satisfazer.
FACULDADES EM SENTIDO ESTRITO: São possibilidades da ordem jurídica de agir sem
constituir direitos subjectivos. São alheias aos direitos subjectivos.
DIREITOS REFLEXOS: São situações em que se encontra uma pessoa que ainda não tem
um direito subjectivo mas conta vir a ter.
3. FINS DO DIREITO
JUSTIÇA
A justiça que aqui se trata é a justiça que pretende ordenar a vida dos homens na
sociedade em que se integram. Tem as seguintes características:
- IMPESSOALIDADE: Estabelece um limite e uma medida, diferenciando-se do amor e
da caridade, que não conhecem limites nem medida.
- DINAMISMO: É uma categoria do mundo cultural em contínua evolução. O Direito é
injusto porque é sempre um direito imperfeito, e a justiça não encontra nele uma realização
completa.
- ALTERIDADE: A justiça orienta-se para o social. Encontra-se no plano de intercessão
das vidas pessoais e sociais.
SEGURANÇA JURÍDICA
A segurança jurídica constitui uma finalidade do direito. É uma figura que o liberalismo
destacou e constituiu a preocupação nuclear das doutrinas do pacto social a que os homens
primitivos teriam recorrido para afastarem a insegurança da guerra de todos contra todos.
A segurança pode ser entendida no sentido de:
- ORDEM IMANENTE À EXISTÊNCIA E AO FUNCIONAMENTO DO SISTEMA JURÍDICO:
Traduz o estado de ordem e de paz que a ordem jurídica tutela prevendo e reprimindo os
actos de agressão contra pessoas e bens.
- CERTEZA DO DIREITO: É a segurança que nos permite prever os efeitos jurídicos dos
nossos actos e planear a vida em bases razoavelmente firmes.
- SEGURANÇA PERANTE O ESTADO: Ideia de Estado do Direito. É tutelada pelo
princípio da legalidade que limita a acção do Estado.
- SEGURANÇA SOCIAL: Traduz as exigências do direito ao trabalho e à libertação da
necessidade e do temor. Procura assegurar a todo o ser humano a base material do seu
sustento.
NAÇÃO
A nação é uma comunidade que assenta numa convivência mais ou menos longa de
homens ligados pela mesma convivência. Permite que os homens se ajudem mutuamente ao
longo do tempo, fornecendo-lhes valores que acrescentam e transmitem de geração em
geração e constituem uma herança que enriquece e serve de apoio firme e orienta a vida
física.
A nação tem uma conexão muito estreita com o Estado, embora a sua natureza de
comunidade inorganizada logo nos diga que há nações não organizadas em Estados e Estados
cujos limites não coincidem com os de uma Nação.
ESTADO
O Estado constitui um conjunto de direitos e deveres, um estrato social, dignidade,
propriedade e boa ordenação. O estado tem em si três elementos essenciais:
- POVO: Conjunto de cidadãos ou nacionais, de pessoas ligadas ao Estado pelo vínculo
jurídico de nacionalidade que lhes reconhece o gozo de direitos políticos.
- TERRITÓRIO: Espaço onde o povo é senhor de se reger segundo as suas leis,
executadas por autoridade própria com exclusão da intervenção de outros povos. Integra o
território terrestre, aéreo e marítimo.
- PODER POLÍTICO: Faculdade exercida por um povo de instituir órgãos que exerçam o
senhorio de um território e nele criem e imponham normas jurídicas, dispondo de meios de
coacção.
ESTADO E DIREITO
ESTADO DE DIREITO: Estado que realiza a concepção personalista de justiça. O direito
fundamenta-o e define as suas competências.
5. FUNDAMENTO
POSITIVISMO
É uma atitude intelectual de todos os tempos. Pode-se dividir em positivismo legalista
ou exegético, positivismo científico ou conceitual, positivismo normativista e positivismo
sociológico.
O Direito Positivo é o sistema de normas de conduta social, assistidas de protecção
coactiva. São leis que se formam na sociedade.
1. NORMA JURÍDICA
A norma jurídica é um elemento fundamental do direito, na sua função de ordenar a
convivência humana. É constituída por duas fases:
- PREVISÃO: Faz-se uma previsão susceptível de decorrer na vida da sociedade.
Quando se cria uma norma prevê-se uma situação. Depois de prever, o legislador deve criar as
consequências dessa situação.
- ESTATUIÇÃO: Estabelece-se uma sanção para quem não cumprir as normas.
CARACTERISTICAS
A norma jurídica apresenta as seguintes características: (pag 142)
- HIPOTETICIDADE: Só quando o direito subjectivo se torna em objectivo é que os
efeitos previstos se concretizam.
- GENERALIDADE: A norma é geral porque se dirige a todos os membros da ordem
jurídica e não a um determinado conjunto de destinatários. porque não se dirige a nenhum
caso em específico.
- ABSTRAÇÃO: A norma prevê condutas de modo abstracto, ou seja, disciplinam um
número indeterminado de casos e situações. Não se destinam a casos singulares ou
individuais.
- IMPERATIVIDADE: A norma jurídica impõe uma determinada conduta social através
de um comando ou de uma ordem. Existem contudo, normas que podem ser facultativas, não
impondo qualquer comportamento.
- VIOLABILIDADE: A norma pode ser violada, ou seja, a norma tem como característica
ser cumprida, mas como pode ser violada é por isso que a coercibilidade pode existe. Mesmo
que se viole a norma, ela não deixa de existir e mais tarde tem de ser igualmente cumprida.
- BILATERALIDADE: A norma tem de ter por regra dois destinatários: o sujeito de um
dever e o titular do direito correlativo.
- HETERONIMIA: O direito resulta da cultura da sociedade. É uma questão cultural e só
se consegue mudar quando a cultura evolui.
- COERCIBILIDADE: Acontece quando a norma tem de ser imposta pela força para
impedir ou reprimir a violação de uma norma jurídica. As pessoas cumprem as normas não
porque querem, mas porque sabem as consequências.
VALIDADE ESPACIAL
- UNIVERSAIS: Aplicam-se em todo o território do Estado (leis e decretos-leis).
- REGIONAIS: Só se aplicam numa determinada região (decretos legislativos regionais):
- LOCAIS: Aplicam-se apenas no território de uma autarquia local (posturas
municipais).
Quanto à SANÇÃO, esta nem sempre está presente nas normas jurídicas, e quando
está, as normas são denominadas de sancionatórias. As sanções podem ser:
- RECONSTITUTIVAS: Restabelecem a situação que existiria se a norma jurídica não
tivesse sido violada. Pode ser:
- RECONSTITUIÇÃO EM ESPÉCIE: Repõe a situação anterior à violação da norma
sem o recurso a algum bem inexistente nesse momento.
- EXECUÇÃO ESPECÍFICA: Realização da prestação imposta pela norma
ofendida.
- INDEMINIZAÇÃO ESPECÍFICA: Repõe a situação com um bem que não sendo o
que foi danificado, permite desempenhar a mesma função.
- COMPENSATÓRIAS: Estabelecem uma situação que se considera valorativamente
equivalente à situação que existia antes da violação da norma jurídica. É a indeminização de
danos causados a que o transgressor fica obrigado, indeminização essa que pode cobrir os
danos emergentes e também os lucros cessantes.
- PUNITIVAS: Aplicam um mal ao infractor como castigo da violação de uma norma
jurídica. Funcionam quando os valores fundamentais da ordem jurídica são desrespeitados.
Podem ser:
- CRIMINAIS: São as mais graves, pois correspondem a violações que a ordem
jurídica considera criminosas.
- CIVIS: São condutas indignas.
- DISCIPLINARES: Infracção de deveres de determinadas categorias
profissionais no exercício da respectiva actividade laboral.
- CONTRA-ORDENACIONAIS: Punem com coimas certas condutas susceptíveis
de lesarem interesses fundamentais.
- PREVENTIVAS: Visam afastar futuras violações cujo receio é justificado pela prática de
um determinado ilícito.
- COMPULSÓRIAS OU COMPULSIVAS: Procuram que o infractor adopte a conduta
devida e que a violação não se prolongue. Cessam logo que a norma jurídica desrespeitada
seja observada.
2. TUTELA
a. TUTELA PÚBLICA
A tutela pública é a função que o Estado desempenha para tornar efectivas as normas
jurídicas através de um aparelho cuja estrutura não é inteiramente homogénea. É fruto de
uma longa evolução que assinala a passagem gradual da utilização da força bruta para o da
força juridicamente assinalada.
TUTELA PREVENTIVA
Funciona antes da violação do direito e procura evitá-la. O seu campo é muito vasto:
- A autoridade pública limita e sujeita a autorização prévia certas actividades para evitar danos
sociais a que podiam conduzir.
- As sanções jurídicas são negativas e funcionam como um importante factor dissuasório da
violação das normas jurídicas.
- As medidas de segurança permitem travar a acção de certas categorias de pessoas
particularmente perigosas e curar essa aptidão.
- Os procedimentos cautelares procuram evitar que se produza uma lesão grave e dificilmente
reparável.
TUTELA REPRESSIVA
A tutela repressiva funciona depois de consumada a violação do direito e consiste na
reacção traduzida na aplicação de uma sanção. Relaciona-se com a coercibilidade: a
susceptibilidade de aplicação coactiva final de sanções com expressão física, se as regras forem
violadas.
A coercibilidade não constitui a essência de normas jurídicas: esta é que deriva
daquela e só será legítima se a norma jurídica o for. A coercibilidade é um instrumento de
eficácia do direito que requer um poder social organizado dotado da força necessária que o
direito legitima.
TRIBUNAIS
A tutela pública realiza-se principalmente através da intervenção dos tribunais,
falando-se assim de tutela ou garantia judiciária.
Os tribunais são órgãos de soberania com competência para administrar a justiça em
nome do povo. Pertence-lhes o exercício da função jurisdicional do Estado que se traduz na
aplicação da Constituição e das outras normas jurídicas, para dirimirem os conflitos não só
entre interesses privados mas tem entre interesses privados e públicos.
Para desempenhar esta função, os tribunais têm independência (os juízes só
obedecem à lei), imparcialidade (os juízes julgam de forma livre e descomprometida dos
interesses dos litigantes) e passividade (os juízes não podem resolver conflito de interesses
que a acção pressupõe sem que uma das partes tenha pedido e a outra tenha sido
devidamente chamada a deduzir oposição.
Para além do Tribunal Constitucional e do Tribunal de Contas, existem duas categorias
de tribunais estaduais: tribunais judiciais e tribunais administrativos e fiscais. Os tribunais
judiciais dividem-se numa estrutura hierárquica:
- TRIBUNAIS DE 1ª INSTÂNCIA: Tribunais de comarca;
- TRIBUNAIS DE 2ª INSTÂNCIA: Tribunais de relação;
- SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
As garantias administrativas resultam da institucionalização de mecanismos que
controlam a sua actividade e que se distribuem em:
- GARANTIAS PETITÓRIAS (direito de petição, representação, queixa e oposição
administrativa);
- GARANTIAS IMPUGNATÓRIAS (reclamação, recurso hierárquico, recurso hierárquico
impróprio e recurso tutelar);
MINISTÉRIO
O ministério é um órgão constitucional da administração da justiça. Tem autonomia
em relação aos demais órgãos do poder central, regional e local. Dispõe de estatuto próprio e
é constituído por um corpo de magistrados responsáveis e hierarquicamente subordinados. A
sua gestão e o exercício da acção pertencem à Procuradoria-Geral da República.
a. TUTELA PRIVADA