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I – ORDEM SOCIAL

Segundo Aristóteles, o homem é um animal político, pois nasceu para viver em


comunidade (polis). O homem que vivia absolutamente isolado, sem uma comunidade social
mais ou menos extensa, não é homem: é um nada – unus homo, nullus homo.
O homem pertence a dois mundos:
- MUNDO NATURAL: O homem é uma parte constituinte do todo.
- MUNDO CULTURAL: O homem é construído pela sua inteligência e trabalho. Mundo
constituído por seres humanos e bens que produzem para viver e obterem melhores
condições de vida.
É no mundo cultural que o homem afirma a sua racionalidade que se manifesta nas
realizações de uma vida que decorre em convivência.

ORDENS NORMATIVAS
O homem vive necessariamente na companhia de outros homens com os quais
estabelecem várias relações, e por isso é necessário que o seu comportamento seja
disciplinado por normas ou regras de organização e conduta.
Estas normas pertencem ao mundo cultural e caracterizam-se pela sua referência a
valores ou por adequarem meios a fins.
As principais ordens normativas são: ORDEM RELIGIOSA, ORDEM MORAL, ORDEM DE
TRATO SOCIAL e ORDEM JURÍDICA

1. ORDEM RELIGIOSA
São criadas por um Ser transcendente e ordenam as condutas dos crentes nas suas
relações com Deus. São normas:
- INSTRUMENTAIS: preparam ou tornam possível o que não pertence ao mundo terreno.
- INTRA-INDIVIDUAIS: destinam-se directa e fundamentalmente ao íntimo do homem
crente.
- SANÇÕES: as suas sanções pertencem ao foro exclusivo das igrejas, e por isso dizem
respeito à crença e à fé numa vida ultra-terrena na qual cada homem receberá a retribuição da
sua conduta. O remorso é um exemplo de forma de sanção.
As normas religiosas constituem, do ponto de vista religioso, deveres do homem para
com Deus e não para com outros homens.
Aqui podem-se encontrar as normas que regulam a organização e a prática religiosa
das comunidades de crentes, que têm um caracter positivo e são criadas pela hierarquia
eclesiástica. A sua violação pode determinar a aplicação de sanções religiosas, que por sua vez
varia segundo as épocas históricas da civilização.

2. ORDEM MORAL
A moral é constituída pelo conjunto de preceitos, concepções e regras altamente
obrigatórias para com a consciência e pelos quais se rege a conduta dos homens numa
sociedade.
Caracteriza-se pela interioridade, absolutidade e espontaneidade, pois a sua esfera de
aplicação vai até onde pode chegar as projecções da consciência humana.
A moral diferencia-se do direito por se ocupar do que se processa no plano do
pensamento e da consciência (actos internos) em vez do plano exterior. A moral goza de uma
superioridade que lhe permite intervir na criação, interpretação e aplicação do direito e impor
exigências formais como o caracter geral, a publicidade, a não retroactividade e a clareza das
normas jurídicas.

3. ORDEM DE TRATO SOCIAL


As normas de trato social (usos sociais, regras de etiqueta, normas convencionais,
costumes) são usos ou convencionalismos sociais destinados a tornar a convivência mais
agradável. Dirigem a maioria dos nossos actos e revestem-se de duas características:
- IMPESSOAIS: Têm origem em usos ou práticas sociais regularmente observadas.
- COATIVAS: Impõem-se através da pressão exercida pelo grupo social a que se
pretende, e a sua inobservância é punida com sanções, como a perda de prestígio, etc.
Têm semelhança com as normas jurídicas, pois são vinculativas e gozam de sanção e
coacção. O que as separa é o facto de que a sanção e coacção na ordem de trato social são
informais.

4. ORDEM JURÍDICA
A ideia de direito postula uma ordem justa e, por isso, não é possível defini-lo sem uma
referência à justiça que lhe transmite validade. A ordem jurídica é um complexo de regras,
instituições e órgãos.
Isto leva à ideia de um direito relativamente estável num certo tempo, constituído por
um conjunto de normas correlacionadas entre si, que se denomina de direito positivo ou
objectivo.
O direito positivo tem algumas características:
- NECESSIDADE: Resulta da natureza social do homem. O ser humano precisa de
comunicar, produzir e consumir bens, pois o homem realiza-se pela convivência com os outros.
Para isto, a sociedade precisa de um conjunto de normas jurídicas que disciplinem o seu
comportamento.
- ALTERIDADE: O direito disciplina a conduta do homem enquanto vive em sociedade.
As normas são feitas para nós mas em função dos outros.
- IMPERATIVIDADE: As normas jurídicas são imperativas, de cumprimento obrigatório.
A sua essência é um dever-ser a que devemos obedecer.
- COERCIBILIDADE: Susceptibilidade de aplicação pela força das sanções prescritas pelo
direito. É a possibilidade de aplicar uma determinada sanção a quem violar uma norma
jurídica. Contudo, a coercibilidade não está sempre presente nas sanções.
- EXTERIORIDADE: As normas jurídicas disciplinam comportamentos que se
manifestam exteriormente e por isso tem de ser conhecidas.
- ESTATALIDADE: O direito é o Estado como situação fixada e por isso reduz a criação e
aplicação das normas jurídicas ao mesmo.

O direito positivo é um conjunto de normas necessárias à convivência humana que se


inspiram e fundamentam na ideia de justiça e têm na coercibilidade uma condição de eficácia.
II – ORDEM JURÍDICA

1. DIREITOS SUBJESCTIVOS

a. PRIVADOS
O direito subjectivo é a faculdade ou o poder, reconhecido pela ordem jurídica a uma
pessoa, de exigir ou pretender de outra pessoa um determinado comportamento positivo ou
negativo, ou de produzir determinados efeitos jurídicos que inevitavelmente se impõem a
outra pessoa.
O direito subjectivo traduz a exigência de uma concepção do mundo que é própria do
individualismo. Este pode-se dividir em várias modalidades:
- DIREITO SUBJECTIVO EM SENTIDO ESTRITO: Baseia-se na definição inicial de direito
subjectivo.
- DIREITO POTESTATIVO: Faculdade ou poder de produzir efeitos jurídicos que se
impõem à contraparte. Estes podem ser:
- CONSTITUTIVOS: Sucede quando o proprietário de um terreno encravado
(prédio dominante) exerce o seu direito potestativo de exigir a constituição de uma servidão
de passagem através de terreno (prédio serviente) que se intervém entre aquele e a via
pública.
- MODIFICATIVOS: Sucede quando um dos cônjuges, em perigo de perder o
que é seu pela má administração do outro, exerce o seu direito potestativo de pedir a simples
separação de bens.
- EXTINTIVOS: Sucede quando um dos cônjuges requer o divórcio invocando a
separação de facto por um ano sem interrupção.

Os direitos subjectivos podem-se classificar em:


- INATOS E NÃO INATOS: Inatos são os direitos que nascem com a pessoa, e que assim
não os precisa de adquirir. Não inatos são os restantes direitos que se adquirem
posteriormente. São não inatos, o direito ao nome e o direito moral de autor.
- ESSENCIAIS E NÃO ESSENCIAIS: São essenciais os direitos indissoluvelmente ligados à
pessoa, e não essenciais os direitos concebíveis sem a pessoa.
- PESSOAIS E PATRIMONIAIS: São pessoais os direitos irredutíveis a valor pecuniário e
patrimoniais os direitos susceptíveis de avaliação pecuniária.
- ABSOLUTOS E RELATIVOS: São direitos absolutos os que concedem ao seu titular um
poder directo e imediato sobre uma pessoa ou bem. São bens relativos os que versam
directamente sobre uma conduta duma pessoa e indirectamente sobre um bem ou coisa.
- DISPONÍVEIS E INDISPONÍVEIS: São disponíveis os direitos que se podem desligar do
seu titular, e indisponíveis os que são intransmissíveis.
- SIMPLES E COMPLEXOS: São simples os direitos que se traduzem numa pretensão e
prestação específica, e complexos os direitos construídos por um feixe de possibilidade de
actuação.

Direito de direcção: São direitos subjectivos, acompanhados de deveres e onde o seu


titular não é livre de exercer as faculdades ou poderes, mas também tem de actuar.
b. PÚBLICOS
Os direitos subjectivos públicos são direitos que os cidadãos podem invocar contra o
Estado e que se relacionam com a limitação jurídica do poder político.

2. FIGURAS AFINS

INTERESSES JURÍDICOS: São interesses tutelados pela ordem jurídica a que não
correspondem direitos subjectivos. Podem consistir na subjectiva pretensão a um bem
susceptível de satisfazer uma necessidade ou na relação entre a necessidade e o bem capaz de
a satisfazer.
FACULDADES EM SENTIDO ESTRITO: São possibilidades da ordem jurídica de agir sem
constituir direitos subjectivos. São alheias aos direitos subjectivos.
DIREITOS REFLEXOS: São situações em que se encontra uma pessoa que ainda não tem
um direito subjectivo mas conta vir a ter.

3. FINS DO DIREITO

JUSTIÇA
A justiça que aqui se trata é a justiça que pretende ordenar a vida dos homens na
sociedade em que se integram. Tem as seguintes características:
- IMPESSOALIDADE: Estabelece um limite e uma medida, diferenciando-se do amor e
da caridade, que não conhecem limites nem medida.
- DINAMISMO: É uma categoria do mundo cultural em contínua evolução. O Direito é
injusto porque é sempre um direito imperfeito, e a justiça não encontra nele uma realização
completa.
- ALTERIDADE: A justiça orienta-se para o social. Encontra-se no plano de intercessão
das vidas pessoais e sociais.

A justiça tem alguns elementos lógicos:


- PROPORCIONALIDADE: Há na justiça uma ideia de proporção. O direito positivo
concretiza-a entre os factos e as consequências, entre o que se dá e o que se recebe, entre o
que se exige e o que se presta.
- IGUALDADE: Implica que sejam igualmente tratados os casos iguais e desigualmente
o que é diferente.
- ALTERIDADE: A justiça valoriza as condutas socialmente relevantes, dirigidas aos
outros com quem nos relacionamos.

A justiça tem várias modalidades. Pode ser:


- COMUTATIVA: Visa corrigir os desequilíbrios que se verifiquem nas relações
contratuais e nos actos involuntários e ilícitos interpessoais. É a justiça das relações de
coordenação e pertence ao direito privado.
- DISTRIBUTIVA: Rege a repartição dos bens comuns pelos membros da sociedade. É a
distribuição à situação dos sujeitos.
- GERAL OU LEGAL: Rege a participação dos membros da sociedade nos encargos
comuns, segundo o critério da igualdade proporcional.

A equidade desempenha um papel importante na justiça porque é considerada a


justiça do caso concreto. Cabe-lhe assim as seguintes funções:
- DULCIFICADORA: Suaviza o rigor da lei, humaniza o direito com certos valores.
- RESULTÓRIA: É um critério de decisão dos casos. O Juiz decide segundo a sua
consciência.
- FLEXIBILIZADORA: Ajusta a norma jurídica ao caso a decidir.
- INTERPRETATIVO-APLICADORA: Adequa a norma geral e abstracta ao caso porque
aquela é feita em função desta que a justifica e exige que seja adequada ao caso decidindo.
- INTEGRADORA: Constitui um factor a ponderar no processo de integração das
lacunas.
- CORRETIVA: Corrige, modifica ou restringe a lei, afastando soluções absurdas.

SEGURANÇA JURÍDICA
A segurança jurídica constitui uma finalidade do direito. É uma figura que o liberalismo
destacou e constituiu a preocupação nuclear das doutrinas do pacto social a que os homens
primitivos teriam recorrido para afastarem a insegurança da guerra de todos contra todos.
A segurança pode ser entendida no sentido de:
- ORDEM IMANENTE À EXISTÊNCIA E AO FUNCIONAMENTO DO SISTEMA JURÍDICO:
Traduz o estado de ordem e de paz que a ordem jurídica tutela prevendo e reprimindo os
actos de agressão contra pessoas e bens.
- CERTEZA DO DIREITO: É a segurança que nos permite prever os efeitos jurídicos dos
nossos actos e planear a vida em bases razoavelmente firmes.
- SEGURANÇA PERANTE O ESTADO: Ideia de Estado do Direito. É tutelada pelo
princípio da legalidade que limita a acção do Estado.
- SEGURANÇA SOCIAL: Traduz as exigências do direito ao trabalho e à libertação da
necessidade e do temor. Procura assegurar a todo o ser humano a base material do seu
sustento.

RELÇAO ENTRE JUSTIÇA E SEGURANÇA JURÍDICA


Há necessidade de afastar desigualdades reais em que a própria lei se empenha ao
recorrer a conceitos indeterminados.
Não pode haver segurança à margem da justiça: o homem inseguro sentir-se-á
injustamente tratados. Deste modo, se a justiça exige o respeito pela personalidade humana, a
perda de segurança produz a degradação da pessoa.

4. NAÇÃO, ESTADO E DIREITO

NAÇÃO
A nação é uma comunidade que assenta numa convivência mais ou menos longa de
homens ligados pela mesma convivência. Permite que os homens se ajudem mutuamente ao
longo do tempo, fornecendo-lhes valores que acrescentam e transmitem de geração em
geração e constituem uma herança que enriquece e serve de apoio firme e orienta a vida
física.
A nação tem uma conexão muito estreita com o Estado, embora a sua natureza de
comunidade inorganizada logo nos diga que há nações não organizadas em Estados e Estados
cujos limites não coincidem com os de uma Nação.

ESTADO
O Estado constitui um conjunto de direitos e deveres, um estrato social, dignidade,
propriedade e boa ordenação. O estado tem em si três elementos essenciais:
- POVO: Conjunto de cidadãos ou nacionais, de pessoas ligadas ao Estado pelo vínculo
jurídico de nacionalidade que lhes reconhece o gozo de direitos políticos.
- TERRITÓRIO: Espaço onde o povo é senhor de se reger segundo as suas leis,
executadas por autoridade própria com exclusão da intervenção de outros povos. Integra o
território terrestre, aéreo e marítimo.
- PODER POLÍTICO: Faculdade exercida por um povo de instituir órgãos que exerçam o
senhorio de um território e nele criem e imponham normas jurídicas, dispondo de meios de
coacção.

O Estado tem funções primárias e secundárias:


(Primárias – as que os órgãos do poder político do Estado podem realizar)
- FUNÇÃO POLÍTICA: Definição e prossecução dos interesses essenciais da
colectividade, realizando as opções para o efeito consideradas mais adequadas.
- FUNÇÃO LEGISLATIVA: Prática de actos legislativos pelos órgãos constitucionalmente
competentes na forma prevista na Constituição.
(Secundárias – decorrem das funções primárias)
- FUNÇÃO JURISDICIONAL: Julgamento de litígios suscitados por conflitos entre
interesses privados ou públicos e privados, e punição da violação das normas jurídicas.
- FUNÇÃO ADMINISTRATIVA: Satisfação das necessidades colectivas que se entende
que incumbem ao Estado prosseguir.

ESTADO E DIREITO
ESTADO DE DIREITO: Estado que realiza a concepção personalista de justiça. O direito
fundamenta-o e define as suas competências.

5. FUNDAMENTO

JURISNATURALISMO – DIREITO NATURAL


O jurisnaturalismo fundamenta o direito positivo num direito superior: o Direito
Natural. Pode-se dividir em duas concepções:
- JURISNATURALISMO TRANSCENDENTE: Atribui a Deus a criação do Direito Natural. É
a ideia de um Deus pessoal e legislador supremo.
- JURISNATURALISMO RACIONALISTA: Dispensa Deus e fundamenta o Direito Natural
na razão humana. Considera absurda a ideia de que o Direito Natural existiria mesmo se Deus
não existisse. A razão humana ocupa o lugar de Deus e constrói um Direito Natural
essencialmente laico a partir da natureza racional do homem.

POSITIVISMO
É uma atitude intelectual de todos os tempos. Pode-se dividir em positivismo legalista
ou exegético, positivismo científico ou conceitual, positivismo normativista e positivismo
sociológico.
O Direito Positivo é o sistema de normas de conduta social, assistidas de protecção
coactiva. São leis que se formam na sociedade.

III – NORMATIVIDADE JURÍDICA

1. NORMA JURÍDICA
A norma jurídica é um elemento fundamental do direito, na sua função de ordenar a
convivência humana. É constituída por duas fases:
- PREVISÃO: Faz-se uma previsão susceptível de decorrer na vida da sociedade.
Quando se cria uma norma prevê-se uma situação. Depois de prever, o legislador deve criar as
consequências dessa situação.
- ESTATUIÇÃO: Estabelece-se uma sanção para quem não cumprir as normas.

CARACTERISTICAS
A norma jurídica apresenta as seguintes características: (pag 142)
- HIPOTETICIDADE: Só quando o direito subjectivo se torna em objectivo é que os
efeitos previstos se concretizam.
- GENERALIDADE: A norma é geral porque se dirige a todos os membros da ordem
jurídica e não a um determinado conjunto de destinatários. porque não se dirige a nenhum
caso em específico.
- ABSTRAÇÃO: A norma prevê condutas de modo abstracto, ou seja, disciplinam um
número indeterminado de casos e situações. Não se destinam a casos singulares ou
individuais.
- IMPERATIVIDADE: A norma jurídica impõe uma determinada conduta social através
de um comando ou de uma ordem. Existem contudo, normas que podem ser facultativas, não
impondo qualquer comportamento.
- VIOLABILIDADE: A norma pode ser violada, ou seja, a norma tem como característica
ser cumprida, mas como pode ser violada é por isso que a coercibilidade pode existe. Mesmo
que se viole a norma, ela não deixa de existir e mais tarde tem de ser igualmente cumprida.
- BILATERALIDADE: A norma tem de ter por regra dois destinatários: o sujeito de um
dever e o titular do direito correlativo.
- HETERONIMIA: O direito resulta da cultura da sociedade. É uma questão cultural e só
se consegue mudar quando a cultura evolui.
- COERCIBILIDADE: Acontece quando a norma tem de ser imposta pela força para
impedir ou reprimir a violação de uma norma jurídica. As pessoas cumprem as normas não
porque querem, mas porque sabem as consequências.

As normas jurídicas têm de ser agrupadas em várias categorias. Entre elas:

RELAÇÃO COM A VONTADE DOS SEUS DESTINATÁRIOS:


- IMPERATIVAS OU INJUNTIVAS: A sua aplicação não depende da vontade das
pessoas. Impõe-se-lhe exigindo um comportamento que pode ser positivo ou negativo. Podem
ser:
- PRECEPTIVAS: Impõem uma conduta (ex. indeminização dos danos
resultantes da violação ilícita).
- PROIBITIVAS: Proíbem uma conduta (ex. casamento de menores de 16 anos).
- PREMISSIVAS OU DISPOSITIVAS: Permitem ou autorizam certos comportamentos.
Podem ser:
- FACULTATIVAS OU ATRIBUTIVAS OU CONCESSIVAS: Permitem ou facultam
certos comportamentos reconhecendo determinados poderes ou faculdades (ex. proprietário
goza plenamente do direito de uso, fruição e disposição das coisas que lhe pertencem).
- INTERPRETATIVAS: Determinam o alcance e o sentido de certas expressões
ou declarações negociais susceptíveis de dúvida.
- SUPELATIVAS: Suprem a falta de manifestação da vontade das partes sobre
determinados aspectos de um negócio jurídico que carecem de regulamento (ex. não havendo
convenção em contrário, as despesas do contracto de compra e venda ficam a cargo do
comprador.

VALIDADE ESPACIAL
- UNIVERSAIS: Aplicam-se em todo o território do Estado (leis e decretos-leis).
- REGIONAIS: Só se aplicam numa determinada região (decretos legislativos regionais):
- LOCAIS: Aplicam-se apenas no território de uma autarquia local (posturas
municipais).

AMBITO PESSOAL DA VALIDADE


- GERAIS: Estabelecem o regime-regra para o sector de relações que disciplinam.
- ESPECIAIS: Consagram uma disciplina nova ou diferente para círculos mais restritos
de pessoas, coisas ou relações.
- EXCEPCIONAIS: consagram um regime oposto ao regime-regra, num sector restrito.

PLENITUDE DO SEU SENTIDO


- AUTÓNOMA: Expressam um sentido completo, possuem um conteúdo independente
do de outras normas jurídicas.
- NÃO AUTÓNOMA OU REMISSIVAS: Não têm um sentido completo e remetem para
outra ou outras normas. A remissão pode ser feita de maneiras diferentes:
- REMISSÃO ESPECÍFICA: Referem expressamente a norma ou normas para que
remetem. Pode ser:
- MODIFICATIVA: A norma não só remete para outra mas também modifica o seu alcance: -
Restritiva: a norma jurídica para que a norma remete é restringida; - Ampliativa: a norma
remete para outra e amplia o seu alcance.
- NÃO MODIFICATIVA: A norma limita-se a remeter para outra que a completa, sem modificar
o seu alcance: - Intra-sistemática: a norma jurídica remete para outra norma do mesmo
sistema jurídico; Extra-sistemática: a norma jurídica remete para sistemas jurídicos diferentes.
- REMISSÃO IMPLICÍTA: A norma jurídica não remete expressamente para
outra norma. Podem ser:
- FICÇÕES LEGAIS: O legislador determina que um determinado facto ou situação é ou se
considera como se fosse igual ao facto ou situação prevista noutra lei.
- PRESUNÇÕES LEGAIS: O legislador dispõe que, provada a existência de um determinado
facto, se considere também provada a existência de outro.

Quanto à SANÇÃO, esta nem sempre está presente nas normas jurídicas, e quando
está, as normas são denominadas de sancionatórias. As sanções podem ser:
- RECONSTITUTIVAS: Restabelecem a situação que existiria se a norma jurídica não
tivesse sido violada. Pode ser:
- RECONSTITUIÇÃO EM ESPÉCIE: Repõe a situação anterior à violação da norma
sem o recurso a algum bem inexistente nesse momento.
- EXECUÇÃO ESPECÍFICA: Realização da prestação imposta pela norma
ofendida.
- INDEMINIZAÇÃO ESPECÍFICA: Repõe a situação com um bem que não sendo o
que foi danificado, permite desempenhar a mesma função.
- COMPENSATÓRIAS: Estabelecem uma situação que se considera valorativamente
equivalente à situação que existia antes da violação da norma jurídica. É a indeminização de
danos causados a que o transgressor fica obrigado, indeminização essa que pode cobrir os
danos emergentes e também os lucros cessantes.
- PUNITIVAS: Aplicam um mal ao infractor como castigo da violação de uma norma
jurídica. Funcionam quando os valores fundamentais da ordem jurídica são desrespeitados.
Podem ser:
- CRIMINAIS: São as mais graves, pois correspondem a violações que a ordem
jurídica considera criminosas.
- CIVIS: São condutas indignas.
- DISCIPLINARES: Infracção de deveres de determinadas categorias
profissionais no exercício da respectiva actividade laboral.
- CONTRA-ORDENACIONAIS: Punem com coimas certas condutas susceptíveis
de lesarem interesses fundamentais.
- PREVENTIVAS: Visam afastar futuras violações cujo receio é justificado pela prática de
um determinado ilícito.
- COMPULSÓRIAS OU COMPULSIVAS: Procuram que o infractor adopte a conduta
devida e que a violação não se prolongue. Cessam logo que a norma jurídica desrespeitada
seja observada.

2. TUTELA
a. TUTELA PÚBLICA
A tutela pública é a função que o Estado desempenha para tornar efectivas as normas
jurídicas através de um aparelho cuja estrutura não é inteiramente homogénea. É fruto de
uma longa evolução que assinala a passagem gradual da utilização da força bruta para o da
força juridicamente assinalada.

TUTELA PREVENTIVA
Funciona antes da violação do direito e procura evitá-la. O seu campo é muito vasto:
- A autoridade pública limita e sujeita a autorização prévia certas actividades para evitar danos
sociais a que podiam conduzir.
- As sanções jurídicas são negativas e funcionam como um importante factor dissuasório da
violação das normas jurídicas.
- As medidas de segurança permitem travar a acção de certas categorias de pessoas
particularmente perigosas e curar essa aptidão.
- Os procedimentos cautelares procuram evitar que se produza uma lesão grave e dificilmente
reparável.

TUTELA REPRESSIVA
A tutela repressiva funciona depois de consumada a violação do direito e consiste na
reacção traduzida na aplicação de uma sanção. Relaciona-se com a coercibilidade: a
susceptibilidade de aplicação coactiva final de sanções com expressão física, se as regras forem
violadas.
A coercibilidade não constitui a essência de normas jurídicas: esta é que deriva
daquela e só será legítima se a norma jurídica o for. A coercibilidade é um instrumento de
eficácia do direito que requer um poder social organizado dotado da força necessária que o
direito legitima.

TRIBUNAIS
A tutela pública realiza-se principalmente através da intervenção dos tribunais,
falando-se assim de tutela ou garantia judiciária.
Os tribunais são órgãos de soberania com competência para administrar a justiça em
nome do povo. Pertence-lhes o exercício da função jurisdicional do Estado que se traduz na
aplicação da Constituição e das outras normas jurídicas, para dirimirem os conflitos não só
entre interesses privados mas tem entre interesses privados e públicos.
Para desempenhar esta função, os tribunais têm independência (os juízes só
obedecem à lei), imparcialidade (os juízes julgam de forma livre e descomprometida dos
interesses dos litigantes) e passividade (os juízes não podem resolver conflito de interesses
que a acção pressupõe sem que uma das partes tenha pedido e a outra tenha sido
devidamente chamada a deduzir oposição.
Para além do Tribunal Constitucional e do Tribunal de Contas, existem duas categorias
de tribunais estaduais: tribunais judiciais e tribunais administrativos e fiscais. Os tribunais
judiciais dividem-se numa estrutura hierárquica:
- TRIBUNAIS DE 1ª INSTÂNCIA: Tribunais de comarca;
- TRIBUNAIS DE 2ª INSTÂNCIA: Tribunais de relação;
- SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
As garantias administrativas resultam da institucionalização de mecanismos que
controlam a sua actividade e que se distribuem em:
- GARANTIAS PETITÓRIAS (direito de petição, representação, queixa e oposição
administrativa);
- GARANTIAS IMPUGNATÓRIAS (reclamação, recurso hierárquico, recurso hierárquico
impróprio e recurso tutelar);

MINISTÉRIO
O ministério é um órgão constitucional da administração da justiça. Tem autonomia
em relação aos demais órgãos do poder central, regional e local. Dispõe de estatuto próprio e
é constituído por um corpo de magistrados responsáveis e hierarquicamente subordinados. A
sua gestão e o exercício da acção pertencem à Procuradoria-Geral da República.

a. TUTELA PRIVADA

A tutela privada é a defesa de direitos, realizada pelos particulares nas situações


excepcionais legalmente previstas. Está dividida em várias situações:
(AUTOTUTELA)
- DIREITO DE RESISTÊNCIA: Faculdade de resistir a qualquer ordem que ofenda os nossos
direitos, liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão se não for possível
recorrer à autoridade pública.
- DIREITO DE RETENÇÃO: Faculdade que o credor goza de reter uma coisa do devedor para o
coagir a cumprir a sua obrigação.
- ACÇÃO DIRECTA: Recurso à força para evitar a inutilização prática de um direito, no caso de
ser impossível recorrer aos meios coercivos normais. Expressa:
- Direito do próprio agente: direito daquele que vai actuar para fazer valer o seu
próprio direito.
- Evidência da indiferença desse direito: existência de evidência que comprove a
utilização desse direito. Tem de se exercer o direito próprio nesse momento por um motivo
justificável que seja aceite.
- Indispensabilidade do Estado: para que o direito que é seu não fique injustificável
tem de ter um motivo. O seu direito deve ser aquilo que tem de fazer, ou seja, a acção tem de
ser indispensável.
- Impossibilidade de recurso a meios coercivos normais: este direito é válido quando
não é possível recorrer, em tempo útil aos meios coercivos normais.
- Proporcionalidade de meios: tem de haver possibilidade de meios. O valor daquilo
que o agente vai executar tem de ser superior ao que pôs em causa para lá chegar.
- LEGITIMA DEFESA: Acto que afasta uma agressão actual ou iminente ilícita contra a pessoa
ou património do agente ou de terceiros. A agressão tem de ser e conter:
- Ilícita |
- Actual |- A agressão tem de ser ilícita e ao mesmo tempo actual. Tem de estar a
acontecer nesse momento e não momentos mais tarde.
- Física ou patrimonial: pode-se usar a legítima defesa com os meios que forem
proporcionais à agressão.
- Indispensabilidade da acção: a acção tem de ser indispensável.
- Impossibilidade de recurso a meios coercivos normais: a acção é indispensável
porque não é possível recorrer a meios coercivos normais.
- Proporcionalidade de direitos: os meios usados têm de ser apenas para afastar a
agressão e não para colocar o agressor em estado grave. Está em causa o perigo eminente.
- ESTADO NECESSIDADE: É o perigo eminente que nos permite usar a acção para o afastar.
Expressa:
- Eminência de um perigo |
- Actualidade do perigo | - está em causa um perigo eminente que seja actual
- Susceptibilidade de causar dano ao próprio ou a terceiros: tem de poder causar dano
a si mesmo ou a outros.
- Ser o dano causado pelo perigo manifestamente superior ao da acção: esse dano tem
de ser superior ao acto ou dano que seria se tentássemos afastar esse perigo.
- Indispensabilidade da acção: a acção tem de ser indispensável.
- Impossibilidade de recurso a meios coercivos normais: a acção é indispensável
porque não é possível recorrer a meios coercivos normais.
- Proporcionalidade de direitos: os meios usados têm de ser apenas para afastar a
agressão e não para colocar o agressor em estado grave. Está em causa o perigo eminente.

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