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Introdução ao Estudo do Direito- Professora Catarina Salgado

Aula Nº1- Aula teórica

Método de avaliação- Novembro irá ser realizado um exercício/teste semelhante ao


que encontraremos numa frequência tendo em conta que as frequências começam no
final de novembro e início de dezembro

O que é o Direito?

O Direito decorre na vida do Homem em sociedade, não há sociedade sem Homem e


sem Direito. Para convivermos em sociedade é necessário haver
condutas/comportamentos e regras estabelecidas para que nos saibamos comportar
e conviver em sociedade/com os nossos pares. O Homem é um animal/ser social. O
Direito é assim inerente à vida do homem, à sociedade e às relações dos individuais.

O ser e o dever ser, o que é?

- O ser é a ordem natural é algo que não conseguimos controlar, ou é ou não é, são
assim pela natureza das coisas, não é possível regular a ordem da natureza. Pode ter
ou não ter relevância para o Direito.

- O dever ser advém das ordens normativas, existem 4 ordens normativas

Ordem moral- Relaciona-se com o plano interior, tem haver com a nossa consciência,
há decência moral, tem haver com o nosso relacionamento connosco próprios,
criamos condutas de moralidade (Apesar de ser distinta da ordem jurídica, esta pode
ser relevante à ordem jurídica e ao Direito, Artigo 280 do CC Nº2, Artigo 282)

Ordem religiosa- Advém de alguma religião como o próprio nome indica. Não é
moral, pode haver ordens morais, mas não são de índole religiosa

Ordem do trato social- Está relacionada com interação com os outros segundo o seu
estrato social do individuo com quem interagimos. Remete às formas de tratamento
em função das ocasiões, esta não é estanque, tomemos por exemplo o facto de ser
comum homens irem de fato e ténis para o casamento. É frequente oferecer
presentes no casamento, usar um tipo de vestuário, são assim regras ditadas por todos.
No caso de haver algum tipo violação destas condutas/”costumes” pode existir diversas
sanções, porém não nenhuma sanção pela força.

Ordem jurídica- Constituída por princípios e valores, intersubjetiva, baseia-se no


relacionamento com os outros. Em determinadas sociedades ocidentais, a ordem
jurídica é a mais relevante, porém há casos como a ordem jurídica muçulmana da
arábia saudita, entre outros países submetem-se e a sua principal fonte são os textos
religiosos, o alcorão neste caso em específico. O que é a ordem jurídica para nós pode
não a mesma coisa que é para outros indivíduos de sociedades e países diferentes, a
ordem jurídica não é universal.
Existem 5 aspetos de classificação da ordem jurídica-

Coercibilidade- A imposição de sanções através da força devido à violação de condutas


sociais- esta simboliza a principal característica da ordem jurídica. Principal
característica da ordem jurídica, capacidade de imposição de sanções através da força
após violações das condutas. Suscetibilidade de aplicação de sanções face ao não
cumprimento das normas, há assim a possibilidade de impor sanções

Heteronímia- Criado por outro individuo e não pelo destinatário.

Exterioridade- Primordialmente há preocupação com os factos e não com as intenções.


Há preocupação com o que é exterior. O Direito observa a intenção, mas temos de ver
em que campo o Direito vai ver, no caso de um crime como o do homicídio, se este for
realizado com intenção a sanção será maior, naturalmente. Em conclusão a maioria dos
casos o Direito preocupa-se com os factos e não com as intenções.

Dinamismo- Esta característica corresponde à capacidade do Direito se ir atualizando e


adaptando consoante a necessidade. Imaginemos que o Direito é uma carroça e que os
cavalos representam a sociedade, tendo isto em conta, o Direito por vezes puxa a
sociedade ou então a atualidade/sociedade puxa o Direito. No caso a lei Ângela que
remetia ao direito de ser mãe com o esperma do seu marido que já havia falecido, aqui
houve uma atualização, o Direito foi puxado pela sociedade.

Imperatividade- Esta característica impõe comandos, estes por sua vez podem ser
comandos de obrigatoriedade ou de proibição.

Existem 2 perspetivas sobre o que é o Direito

Perspetiva objetiva/cientifica- A ciência jurídica tem por objeto de estudo as


regras/condutas/comportamentos, genericamente falando/lacto senso que regulam as
vidas das pessoas/indivíduos em sociedade

Perspetiva subjetiva/pessoal- Poder conferido ao titular desse mesmo direito para agir
de uma determinada forma por vontade própria e provocar consequências jurídicas na
esfera jurídica do outro indivíduo, independemente da vontade desse outro ente.
Assim sendo, a pessoa que detém esse poder pode assim obrigar o outro individuo a
realizar determinado tipo de ação por obrigação ou por omissão. Todos nós desde o
momento em que nascemos até à nossa morte temos diversos direitos como o direito
à propriedade, a casar, a divorciar, rescindir um contrato, entre outros, seguindo
sempre as normas e a legislação que está em vigor no momento.

O Direito tem uma linguagem própria, devido a este facto o Direito utiliza diversos
conceitos, existindo assim três tipos de ordem de conceito:

Conceito jurídicos- Estes são criados pelo Direito em si, por exemplo o conceito de
culpa é específico, pode ser usado no âmbito penal, civil, entre outros, assim como
conceito de contratos jurídicos/negócio jurídico que são acordos bilaterais ou
unilaterais.

Conceitos comuns- O Direito vai transformar este tipo de conceito do senso comum e
que são utilizados no nosso quotidiano para conceitos jurídicos que podem estar
presentes nos códigos e outro tipo de legislação como o conceito de água e conceito
de enxame de abelhas que estão presentes no Código Civil.

Conceitos de incompetência- Esta divisão é feita pelo professor regente Pedro Romano
Martinez, são conceitos que vai buscar (Perguntar à regente/Ver no livro) por exemplo
quando algum individuo afirma incompetência por parte do tribunal no tempo
demorado para encerrar determinado processo não está a chamar nomes aos juízes ou
aos advogados, apenas está a referir que o tribunal não pode executar determinada
ação daí afirmarem a incompetência.

No segundo semestre- Iremos abordar a interpretação naturalista, ou seja, a forma de


interpretação para que determinada norma/lei que seja atualizada às circunstâncias
em que está a ser debatida

Aula Nº2- Aula teórica

Livro de Introdução ao Estudo de Direito- Miguel Teixeira de Sousa (MTS)


Ipsis verbis- Exatamente o que está no livro

O Direito é uma realidade humana, as regras jurídicas têm como destinatário as


pessoas, regulam cada vez mais realidades que não são das pessoas, como por
exemplo os animais, ambiente, mar e entre outros. As sanções por força não podem
ser aplicadas às arvores, a um animal, entre outros.

O destinatário devem ser os humanos, pois só os humanos é que podem cumprir ou


violar alguma norma jurídica, o livre arbítrio é uma característica que permite este
tipo de condutas a capacidade de escolher determinadas condutas

O direito é uma das ordens normativas relacionado do dever ser

Existem duas formas/modelos para os nossos comportamentos e condutas em


sociedade, sendo estes os seguintes:

O primeiro modelo é o a forma individual em função das regras

O segundo modelo é quando as pessoas se agrupam-se/juntam-se em grupo ou em


instituições que nos protegem e têm fins comuns
O que distingue os grupos das instituições?

Grupos- São conjuntos de indivíduos que se reagrupam e interagem entre si com vista
para um bem comum, deixou de ser um interesse individual, não existe uma
coordenação, estabilidade e função especifica, pois, as pessoas privilegiam mais os
seus interesses e desejos. São um agrupados de forma espontânea e aleatória.

Instituições- Apesar de terem o mesmo fim que os grupos, e de formarem um


interesse comum que se sobrepõe aos individuais, são agrupados de forma não
espontânea. Há um fim último. Existe coordenação e organização ao contrário dos
grupos. Já nas instituições tendem proteger mais as pessoas e os seus interesses,
formam um interesse coletivo e estes sobrepõem se aos interesses individuais

Existem 5 tipos de instituições, sendo estas as seguintes:

Instituição familiar- Função especifica- O principal fim desta é o desenvolvimento da


personalidade humana, as pessoas integram a instituição familiar de forma a
desenvolverem a sua identidade. Há o surgimento novas formas de família ao longo do
tempo que antes eram impensáveis.

Instituições políticas- Função específica- Prosseguir o bem comum, o bem da


sociedade em geral. Não seguem os interesses individuais, há um interesse
supraindividual.

Instituições religiosas- Função específica- Perseguem os fins religiosos, fins comuns


gerais

Instituições culturais- Função específica- Principal fim relativo à cultura/de índole


cultural, supraindividual (Prevalece sobre os interesses e vontades dos seus
membros)

Instituições económicas- Função específica- Na produção e distribuição de bens com


fins económicos, tem de haver um equilíbrio entre os trabalhadores e empregadores

A instituição tem uma ordem própria, um interesse supraindividual, acima da


vontade e interesses dos demais, diferencia-se dos grupos pois este não tem este tipo
de organização.

O Direito não regula tudo o que acontece, nem tudo aquilo que acontece é
juridicamente relevante, o Direito só dá valoração caso esta seja necessária.

Quando é que o Direito considera absolutamente necessário intervir? - Quando as


ordens normativas não conseguem resolver a questão, quando a restante ordem
normativa não é apta, não consegue resolver aquela situação ou responde de forma
deficiente as ordens normativas a ordem jurídica intervém - Aplica-se o princípio da
subsidiariedade- O Direito e a ordem jurídica são subsidiárias relativamente as demais
ordens normativas, isto é, só deve intervir quando as outras ordens normativas não
conseguem.

Ordens de razão (Justificam o princípio da subsidiariedade)


• O ser humanos seguem mais facilmente uma regra/ordem quando esta não nos é
imposta de forma forçada.
• Se o Direito pretendesse controlar tudo, ao invés de ter uma função agregadora,
tinha uma função desestabilizadora e fraturada, pois nem todos
temos a mesma opinião em diversas matérias visto que não pensamos da mesma
forma, uns manifestam desagrado e outros concordam.

Por exemplo- O Direito Penal é subsidiário visto que as demais não regulam de forma
tão coerciva. Só se regula através do Direito Penal, o que não se conseguir regular irá
tentar com que seja regulado através das outras áreas do direito.
O direito e a ordem jurídica são subsidiarias

Existem dois tipos de normas, entre as quais estão

A normas imperativas- São as normas que têm de ser mesmo seguidas, são
obrigatórias; Dentro deste tipo de normas existem outros dois tipos:
Imperativas máximas – Representam um limite máximo- Por exemplo- Horário de
trabalho de 8 horas por dia, 40 horas semanais. É possível contratar alguém que
trabalhe menos horas semanais, 25 ou 30 horas, mas as 40 horas semanais não podem
ser excedidas;
Imperativas mínimas – Representam um limite mínimo- Salário mínimo, tem de se
pagar este vencimento mínimo obrigatoriamente, pode ser pago mais sem qualquer
problema, mas se for abaixo não pode ocorrer;

Normas supletivas- São normas que existem, mas podem ser afastadas se ambas as
partes assim o entenderem e quiserem- Está consagrado no artigo 405 Nº1 do CC que
basicamente afirma que dentro dos limites eu posso fazer tudo o que quiser desde que
não esteja proibido, somos detentores de livre-arbítrio. Assim sendo dentro dos limites
legais cabe a ambas as partes decidirem o que querem fazer

O Direito funciona com proibições, permissões e com áreas que não quer regular,
remetendo ao nosso livre-arbítrio/autonomia regular e decidir o que fazer

Principais funções do Direito e ordem jurídica, são 4 as funções do Direito e da ordem


jurídica, sendo estas as seguintes:

-Função constitutiva- Há determinadas realidades que se não fosse o Direito estas não
existiam. Se um determinado facto não estiver previsto que é crime então este não
pode ser considerado como tal; Há conceitos jurídicos se não fosse o Direito estes não
existiam (Como o caso de negócio jurídico, contrato, validade e entre outros) Está aqui
clara esta função, o Direito orienta as pessoas para determinar o tipo de condutas
porque sabemos que estas terão determinadas consequências

-Função política- Havendo Direito evita-se a anarquia e desorganização, evitando que


vivamos como marginais e selvagens. Criando-se regras de convivência em sociedade
de modo a prevenir que cada individuo faça o que quiser segundo a sua vontade. Assim
segundo esta função está decretado o Estado de Direito democrático no artigo 2º da
CRP

-Função social- Nesta função existem duas perspetivas:


Relações entre os indivíduos- Os comportamentos/condutas que podem ser
permitidas, proibidas ou obrigatórias;
Relação entre os estados e os indivíduos- Por um lado aquilo que o Estado dá aos
indivíduos, no caso saúde, educação e entre outros; E por outro lado o que os
indivíduos dão ao Estado impostos, discurso de John F. Kennedy

-Função pacificadora- Está relacionada com o facto de o ser humano ser um animal
social bom ou mau por natureza. Ao regular os comportamentos/condutas, ao criar
consequências para evitar a própria violência da sociedade. Determina meios para a
resolução de conflitos, por exemplo como é o caso dos tribunais através aplicação das
sanções para quem viola, sabemos que não podemos matar nem roubar, mas caso o
façamos sabemos que sofreremos determinadas consequências, se estas não
existissem então iriamos continuar a não cumprir esta regras.

Há dois tipos de sanções, sendo estas a sanção retributiva- Quebramos uma regra e
tivemos uma má conduta então irás pagar por esse mesmo mal que causaste, obtendo
uma consequência, um pouco a ideia de olho por olho, dente por dente;
Há ainda a sanção preventiva- Quando sofremos determinada sanção por um
comportamento que tivemos sabemos qual será a consequência subjacente, assim isto
ajuda a que não voltemos a ter este tipo de conduta.

Aula Nº3

Quais são as relações entre o Estado e o Direito, entre o Direito e a Moral, entre o
Direito e a Justiça?

Quando se levanta a questão acerca da relação entre o Estado e o Direito surgem


duas questões- Qual dos dois que deve prevalecer? O Estado ou o Direito?
E será que há Direito fora do Estado?

Em resposta à primeira pergunta, já sabemos que não há Estado sem Direito, todo o
Estado precisa de Direito, assim tanto pode prevalecer o Estado ou o Direito. Se for
um Estado de Direito democrático apesar deste ditar a maioria das regras que rege
na sociedade este tem de se submeter aos princípios e ao Direito- Por exemplo
respeitar o princípio da separação tripartida dos poderes que está prevista na CRP no
Artigo 2. Já se for um Estado absolutista o que vai prevalecer é o Estado sobre o
Direito, este é que emana o Direito. Isto não significa que o Estado em certas
matérias possa ditar as regras, mas há limites impostos pelo Direito que não podem
ser ultrapassados.

Acerca da segunda pergunta, esta está relacionada com fontes de direito, ou seja, de
onde vem o direito. Existem fontes do Direito que não vem do Estado, são fontes de
Direito Privado como o costume, contrato, convenções coletivas, entre outras, como
está previsto no Artigo 405 do CC; Por outro lado temos Direito que vem fora do
Estado como por exemplo o Direito Comunitário e o Direito Internacional, tratados e
acordos que tem de ser aceites pelos países signatários, simboliza o Direito
supraestadual;

Qual a relação Direito e da moral- De uma forma generalizada o Direito está ligado
aos atos externos e a moral ao interior/interioridade; A moral visa o fim das pessoas,
da consciência de cada um, ao passo que o Direito visa a justiça. A moral impõem-se
internamente na consciência das pessoas, enquanto o Direito impõe-se ao que é
exterior; Os contratos também são de exterioridade, assim como o costume que é feito
por muitas pessoas dentro de uma determinada sociedade.

A moral tem valores éticos bastante alargados e mais extensos do que o Direito,
enquanto o Direito em termos de valores éticos em tem um nível muito menor do que
a moral- O Direito vai que ter três tipos/ordens de regras:

1ª- Regras que vão ao encontro da moral


2ª- Regras que contrariam a moral- Como o caso do aborto e da eutanásia
3ª- Regras que não têm nada a ver com a moral, são amorais- Como o código da
estrada

A relação do Direito e Justiça


- A justiça tem várias modalidades, esta não é um princípio absoluto, tem de ser
conjugada com outros princípios como a segurança e eficiência. Existem diversas
modalidades da justiça:

Modalidades da justiça
-Justiça distributiva- Assenta na ideia de igualdade, tem de haver uma distribuição
equitativa de bens materiais ou imateriais, o Direito tem de distribuir estes bens por
todos os membros da sociedade de forma igualitária.

-Justiça comutativa- Tem haver com as transações entre os indivíduos, se há um que dá


o outro também dá, há uma prestação dos dois lados; Está presente no Artigo 282

-Justiça legal- É a determinação legal de como a justiça vai ser atuar e ser realizada, ou
seja, como a comunidade pode beneficiar dessa mesma justiça,
-Justiça geral- O interesse individual vai coincidir com o interesse comum. Por exemplo-
As questões das alterações climáticas, a justiça de todos, de cada um de nós

-Justiça social- É a conjunção da justiça distributiva e legal, é a ideia

-Justiça material- Tem de ter em conta o caso concreto, a justiça não se faz apenas em
temas genéricos, mas também em função daquela situação em concreto- 437 CC- A
parte oposta pode se opor ao pedido; Por exemplo no caso de despedimento por justa
causa tem de ser olhado pelo caso concreto, quem decide é o tribunal

Divisão do Direito subjetivo-

Direito subjetivo- Lacto senso/Sentido amplo:


Direito subjetivo stricu sensu ou Direito potestativo

Direito subjetivo strictu sensu- Há o poder de um titular que lhe é conferido por direito

Direito potestativo- Consiste em provocar consequências jurídicas ao outro na sua


esfera jurídica. Podem ser constitutivos, modificativos e extintivos (divórcio)

Distinção da expectativa jurídica e da expectativa

Expectativa jurídica- Expectativa devia ter consequências jurídicas e é tutelada pelo


direito (Exemplo- Herdar o património dos pais após a morte dos pais) - Artigo 877
serve para não haver uma forma de “deserdar” os filhos

Expectativa normal- Não é tutelada pelo direito (Exemplo- Saber se vai herdar alguma
coisa no testamento, mas este pode ser revogado ou alterado a qualquer altura)

Pequenas notas:
-Possível regresso do Professor Regente Pedro Romano Martinez no dia 19 de outubro-
Principal tema da dessa aula será a linguagem jurídica
-No dia 3 de outubro pequena interrupção na aula, as psicólogas do GAP falarão com
os alunos na aula teórica

Aula Nº4

A ordem jurídica responde de forma censitária (Imperatividade/Coatividade) através


do desvalor do ato – Dirigido ao ato jurídico ou normativo que foi praticado em
violação do dever/ser – Ou da sanção – Dirige-se não ao ato, mas ao agente que
praticou essa conduta. Contudo, a ordem jurídica pode impor as sanções pela força
(Coercibilidade).

Desvalores dos atos- Forma sancionatória de responder a quem viola o dever ser,
coatividade, dirigido ao ato jurídico que foi praticado.
Sanções- Estas são impostas através da força, sentido de coercibilidade, dirige-se ao
agente que praticou determinada conduta.

No entanto, estas caraterísticas não definem obrigatoriamente ordem jurídica. É


possível haver ordem jurídica sem elas. Exemplo 1- Obrigação natural (onde não
existe coercibilidade ou coatividade); 2- Deveres de respeito, assistência, mútuos
entre cônjuges; 3- Normas descritivas, que definem determinadas situações e
condutas, não sujeitas a sanções.

De forma mais específica e profunda:

1- Exemplo de obrigação natural- Artigo 402, se não for cumprida não tem
qualquer tipo de sanção, uma divida que já prescreveu, está na ordem
jurídica, mas não tem

2- Exemplo de deveres de respeito, assistência, mútuos entre cônjuges- Artigo


1672- Os cônjuges têm deveres recíprocos para com o outro, desapareceu a
culpa no caso do divorcio, não há desvantagem para um nem para outro

3- Normas descritivas – Descrevem determinadas condutas

Artigo 1, 2 e seguintes- Constituem as fontes do Direito, há aqui uma imperatividade,


não há uma sanção aqui, não está aqui nem coatividade nem coercibilidade

Tipos de desvalores dos atos:

Ilicitude- Contrariedade à ordem jurídica, a um conjunto de princípios que constitui


como o abuso de direito e colisão de direitos- Artigo 334- Abuso de direito e artigo
335- Colisão de direitos- Abuso de direito- Estou a usar um determinado Direito que a
lei me confere para atingir um fim que a lei não pretende- Exemplo- Venire contra
factum proprium- Ser contraditório- Está relacionado com a boa-fé, bons costumes e
entre outros. Desconformidade de uma conduta com uma regra jurídica quando
agente atua de forma voluntária, sendo um dos elementos da responsabilidade
jurídica.

Ilegalidade- Como o próprio nome indica é contra lei, in lacto sensu/em sentido amplo,
é apenas um ato que é contra lei e este tem um desvalor. Contrariedade de um ato
jurídico à lei - todo o ato que viola a lei é ilegal. Geralmente, é tomada numa
concepção mais restrita, ligada apenas a determinados atos, comportando como
modalidades a inexistência, a invalidade e a ineficácia.

Inexistência- Forma grave de desvalor, afeta de tal forma o ato que não se pode dizer
que ato existe; Por exemplo um ato normativo ao qual falta a promulgação por parte
do PR- Artigo 137 da CRP; Ato jurídicos- Artigo 1628- a) - Casamento inexistente-
Casamento celebrado que não tinha poderes para ser celebrado. Forma mais grave de
ilegalidade. O vício que afeta o ato é considerado tão grave que, juridicamente, se
considera que nada existe – Por exemplo: Ato normativo em que falte, quando exigida,
a promulgação ou assinatura do Presidente

Invalidade- Desconformidade menos grave do que a inexistência. Comporta as


modalidades da nulidade e da anulabilidade. Distingue-se em dois tipos de invalidade:

-Nulidade- É mais grave que a anulabilidade, em regra o ato não produz nenhum
efeito, tem como regime geral no código civil- Artigo 286; A nulidade é invocada a
qualquer momento e é invocável por qualquer pessoa que seja interessada; Exemplo
de nulidade no ato de simulado- Artigo 240. Decorre da violação dos interesses mais
relevantes, sendo invocável a todo o tempo em tribunal e podendo, por ele, ser
oficiosamente reconhecida (286 CC)

Anulabilidade- O ato não produz efeitos se a anulabilidade for declarada, tem como
regime geral no código civil- Artigo 287; A anulabilidade tem um prazo para ser
invocada, pode variar de situação para situação, Efeitos retroativos- Artigo 289;
Exemplo de anulabilidade- Negócios jurídicos por menores são anuláveis- artigo 125.
Decorre da violação de interesses menos relevantes e tem de ser arguida pelos
interessados dentro de um prazo, sendo sanável pelos mesmos mediante
confirmação ou ratificação (288/1 CC)

Ineficácia- Decorre de uma irregularidade verificada no processo de formação do ato,


existe, porém, não produz qualquer tipo de efeitos; Exemplo de um ato jurídico
ineficaz- Representação sem poderes- Prevista no artigo 268- a representação sem
poderes é ineficaz para o representado, e o abuso de poderes de representação,
detém uma irregularidade e este não produz efeitos para algo e para uma
determinada pessoa- Exemplo- falta de publicação do ato normativo- 119 Nº2 CRP, 5
Nº1 no CC- Este é totalmente ineficaz. Surge, geralmente, através de uma situação de
inoponibilidade de um ato (existente e válido) a certas pessoas

Aula Nº5- 03/10/2023

Sanções- Reações da ordem jurídica face ao incumprimento de determinadas normas


por parte dos sujeitos/agentes/pessoas- Natureza humana do direito por estas serem
aplicadas às pessoas

Estas são aplicadas e não tem de estar na mesma norma que o dever ser, numa
norma pode estar a sanção e o dever ser

Tipos de modalidades das sanções

Preventivas- Pretende prevenir que a pessoa que já tenha prevaricado não o volte a
fazer- Artigo 781 do CC. Visam prevenir a violação da regra jurídica - ex: se o devedor
faltar a uma das prestações a que está obrigado isso importa o vencimento de todas as
prestações ainda em dívida.

Compulsórias- Pretendem que após cometer uma prevaricação que essa pessoa que
tenha o comportamento e conduta desejada- Artigo 250 Código penal secção 4 e 5.
Pretende levar o infractor a adotar, depois da infração, o comportamento devido – Por
exemplo- A pena de prisão ou multa imposta ao devedor que não cumpre a obrigação
de pagar a pensão de alimentos pode ser dispensada pelo tribunal se a obrigação vier a
ser cumprida

Reconstitutivas- Pretendem reconstituir a situação da pessoa como se não tivesse


existido violação especifica- Artigo 830 CC e artigo 562 do CC. Destinam-se a
reconstituir a situação que existiria caso o agente não tivesse violado a regra.

 Reconstituição Natural ou Específica: Reparação de um dano através da


reposição do lesado na situação que existiria se a lesão não se tivesse verificado
(art. 562) – Por exemplo- A estraga o relógio de B, logo constitui-se na
obrigação de entregar outro relógio a B.

 Execução Específica: Consiste em obter, através do recurso ao tribunal, a


prestação a que o devedor está obrigado – Por exemplo- Se o devedor está
obrigado a entregar um carro, o credor pode requerer, em execução, que a
entrega lhe seja feita (art. 827 CC)

Compensatórias- Apenas existem sanções compensatórias quando não existe a


possibilidade de uma sanção reconstitutiva, esta faz-se sempre através uma
indemnização, tendo por base princípio da subsidiariedade- Artigo 566 do CC.
Destinam-se a colocar o lesado numa situação equivalente à que existiria se a regra
jurídica não tivesse sido violada, atribuindo-lhe um sucedâneo dessa situação. Operam
através de uma obrigação de indemnização do lesado que é fixada em dinheiro. São
subsidiárias às sanções reconstitutivas (art. 566 CC), dado que a indemnização só é
fixada em dinheiro, podendo reparar danos patrimoniais ou não patrimoniais, quando
a reconstituição natural não é possível, não repare integralmente os danos ou seja
excessivamente onerosa para o devedor.

 Danos Patrimoniais: Podem ser economicamente avaliados

 Danos Não Patrimoniais: Danos resultantes da lesão de bens sem expressão


económica

Punitivas- Pretendem punir o individuo devido de ao facto de este ter violado a ordem
do dever ser, estas acontecem através de penas de prisão ou multa. Consistem na
imposição de uma pena ao infrator da regra jurídica, que pode ser civil, disciplinar,
contraordenacional ou criminal.
 Pena Civil: Valem no domínio do direito privado – Por exemplo- Indignidade
sucessória (Artigo 2034 CC), por exemplo, aquele que cometeu homicídio
doloso contra o autor da sucessão não pode ser herdeiro da vítima

 Pena Disciplinar: Corresponde a uma infração disciplinar que é aplicada por


entidades providas de poder disciplinar, sendo sempre determinada em função
da gravidade da conduta – Por exemplo- Poder da entidade patronal
relativamente ao trabalhador de o demitir

 Pena Contraordenacional: Coima, ou seja, montante pecuniário que deve ser


pago pelo infrator – Por exemplo- Multa de estacionamento

 Pena Criminal: Aplicada ao agente de um crime - Por exemplo- Pena de prisão


(Artigo- 41 CP)

Aula Nº6- 10/10/2023

Tutela Jurídica
Os tribunais não detêm o monopólio do Direito. O mesmo é feito, praticado e
defendido todos os dias na praça pública, através da aceitação tácita das regras
impostas pelo mesmo pelos cidadãos.
No entanto, convém distinguir entre a aplicação do Direito por outrem ou pelo
próprio sujeito:

Heterotutela- Um decisor, que é estranho às partes e que vai decidir sobre uma
situação concreta, pensando logo nos tribunais. A heterotutela designa a aplicação do
Direito por um terceiro, sendo o mesmo imparcial e independente. O caso
paradigmático da mesma são os Tribunais.

Autotutela- Excecionalmente admite-se que o sujeito faça valer o seu direito sem
necessidade de recurso aos meios judiciais de heterotutela. Não há autotutela contra
autotutela, visto que a mesma visa atuar contra uma ilicitude. são os próprios que
decidem sobre uma situação concreta

Heterotutela e autotutela

Heterotutela:
- A heterotutela designa a aplicação do Direito por um terceiro, sendo o mesmo
imparcial e independente. O caso paradigmático da mesma é os Tribunais.

São tipos de heterotutela:


Heterotutela judiciaciária- Aplicação do direito pelos tribunais- artigos 20 e 202 Nº1 da
CRP. A aplicação do Direito feita pelos tribunais (202º CRP), guiados pela
independência e imparcialidade. Dependendo do litígio, pode o caso ser relegado a
tribunais internacionais. Não obstante, os tribunais nacionais seguem uma hierarquia e
organização própria:

A atividade judicial é regulada pelo Conselho Superior de Magistratura:

1- Tribunal Constitucional: Fora da hierarquia normal, controla a


constitucionalidade das leis; Artigo 221 da CRP e artigo 30 daquela lei-
Controlo da constitucionalidade e legalidade. Não pode haver recurso
para o TC, visto este não fazer parte da hierarquia normal. Porém, uma
decisão inconstitucional pode ser alvo de petição para o mesmo.
2- Supremo Tribunal de Justiça: Órgão superior da hierarquia, com secção
civil, penal e social. Artigo 210 da CRP e do artigo 31 da lei 62/2013 de
26 de agosto da estrutura de organização
3- Tribunais da Relação (segunda instância) (5): secção civil, penal entre
outras dependendo do tribunal; Tribunais da relação 5 locais- Lisboa,
Porto, Coimbra, Évora e Guimarães.
4- Tribunais da Comarca incluem tribunais de competência genérica e
especializada (primeira instância): Tribunais da comarca e de
competência alargada- Podem se dividir em 2 tipos- Competência
generalizada/genérica (qualquer assunto) e competência especializada é
um nicho de matéria, tem uma determinada especializada num assunto
(tribunais de trabalho, de família e menores)

Tribunais internos- Regulada na autorização do sistema de organização- 62/2013 de 26


de agosto, critério de independência e a imparcialidade

Tribunais internacionais como o caso do tribunal dos direitos do homem, supremo


tribunal de justiça internacional e tribunal internacional penal

Tipo de tribunais administrativos e fiscais:

1- Tribunal de contas- Este fiscaliza a regularidade e legalidade das receitas e


despesas públicas- Artigo 214 da CRP e 149 daquela lei
2- Supremo tribunal administrativo
3- Tribunal central administrativo sul e norte (Lisboa e Porto)
4- Tribunais de círculos e tributários (Matéria fiscal)

Extrajudicial de resolução de conflitos, seguintes matérias família, sucessões e


trabalho- Têm um valor reduzido

Arbitral/arbitragem- Previstos no artigo 209º Nº2 da CRP, tendo em vista, por acordo
das partes, recorrem a tribunais privados. Tem várias modalidades, necessária- há uma
obrigatoriedade como a lei impõe o recurso à arbitragem, voluntaria- é necessário que
as partes tenham demonstrado a sua vontade em submeter a sua situação à
arbitragem.

Arbitragem institucionalizada- Centros de arbitragem


Ad hoc criada com efeito- Tribunais arbitrais
Heterotutela eclesiástico- 2004- Muitas vezes sobre questões de casamentos
canónicos, aplicando Direito Canónico, dependendo também do Direito Português e
dos tribunais da relação.

Heterotutela administrativa- Litígios específicos decididos pela entidade administrativa


competente, como reapreciação da liquidação de imposto por um tribunal fiscal.
Defende os particulares e os interesses do Estado e entidades públicas.
Não tem de ser imparcial, e a intervenção policial conta como heterotutela
administrativa.

Outros meios de heterotutela alternativos- Os meios alternativos oferecem a


vantagem de serem, muitas vezes, a forma mais rápida de resolução de litígios:

- Arbitragem: Referida anteriormente;


- Mediação: As partes confiam a um terceiro independente e imparcial a aproximação
dos seus interesses conflituantes. O mediador aconselha as partes;
- Conciliação: Uma mediação onde o conciliador tem papel mais ativo, propondo
soluções às partes de solução do litígio;
- Julgados da paz: Ponderam questões de pequena importância (muitas vezes de
consumo) e não faz parte da carreira judicial, muitas vezes não havendo recurso para
primeira instância (Artigo 209 da CRP e artigo 51 da lei 62/2013 de 26 de agosto)

Aula Nº7 12/10/2023

Autotutela- Serve para que as pessoas possam ver as suas liberdades e garantias
salvaguardados/acautelados, no momento exato em que estão a ser atropelados,
possam nos prevenir

Legitima defesa, estado de necessidade e ação direta

Direito à resistência- Tem um conceito amplo, constitucionalmente protegido, está


previsto no artigo 21 e 271 N3 CRP, direito de não acatar ordens que ofendam os
direitos, liberdades e garantias das pessoas e desde que as pessoas não possam
recorrer em tempo o útil aos termos normais (meios de heterotutela).

Problemas do direito à resistência- É um conceito amplo que, entretanto, leva a outros


dois conceitos, este conceito acaba por se concretizar numa destas duas ideias:

 Legitima defesa
 Ação direta
 Estado de necessidade

Por exemplo- Durante a pandemia grande parte das ordens e medidas e não eram
legitimas, tinham o direito de não acatar enquanto o estado de emergência não foi
decretado, usando o direito de resistência

Legitima defesa- É um mecanismo de autotutela, está previsto 337 do CC mas o 338


também importa para que os pressupostos estejam legitimamente preenchidos, se
algum deles não estiver preenchidos então este não é legitima defesa

Justificação- É um ato lícito, significa que está de acordo com a norma jurídica, um ato
lícito não comporta o mecanismo de autotutela, não há autotutela contra um ato licito

O que é a agressão? - É um comportamento humano dominado pela vontade

Principais exceções no caso da agressão- Existem determinados momentos em que a


omissão pode ser equiparada a ação de agressão

Por exemplo- Se alguém cria um determinado risco, essa pessoa tem um dever de
acabar com esse risco ou minimizar o risco, tal comportamento ou conduta pode ser
considerada um ato de agressão

A agressão tem de ser atual? O que é isto? – A agressão é o que está a acontecer no
momento, mas será que pode haver outros casos que não esteja a acontecer, mas que
seja atual? Sim, no caso da iminência da agressão. Se não impedíssemos esta
agressão isto faria com que as pessoas sofressem a agressão ou a única agressão
dessa situação (agressão instantânea). Este conceito não é elástico, ou seja, não
permite no caso as agressões passadas, que já aconteceram, agressões futuras,
prevemos que vão acontecer podem acontecer e até serem ameaçados, mas podem
nem acontecer e não esta a acontecer nem na iminência de acontecer

Caso de violência de doméstica- Não, a pessoa vai ter de recorrer a meios normais, se
não funcionam isso já é outra coisa, já houve jurisprudência por isso, não é possível

A agressão é sempre contra a pessoa ou contra o património da pessoa

O prejuízo não pode ser manifestamente superior à agressão do agressor (ação ilícita),
que a ação de legitima defesa do defensor (ação licita) não pode ser maior do que a do
agressor, respeitando o principio da proporcionalidade- É um meio utilizado- Dentro
dos meios ao meu dispor (defensor) e que sejam eficazes para repelir/reagir à
agressão, o sujeito deve utilizar o menos gravoso, evitar a ideia de vingança- e bem
jurídico- o bem jurídico que está a ser atingido com a agressão e que o bem jurídico
que vou atingir não seja superior à ação do recetor
Excesso e erro são conceitos coisas diferentes
Se o princípio da proporcionalidade não estiverem a ser cumpridos, ou seja, se este
tiver sido atingido ou atacado, então podemos ter excesso. Este está consagrado no
artigo 337º N2, saber o porque ter havido excesso. Se não for por medo ou por outro
sentimento acaba por ser ilícito na medida do excesso. O excesso pode ainda ser
intensivo ou extensivo, ou seja, se o meio ou a forma como o meio é usado são
excessivos ou se o excesso se prolonga no tempo, respetivamente.

Artigo 487 do CC- Se houver perturbação ao medo, se foi culposo é ilícito, se for não
culposa então é lícito segundo o artigo 337 N2

Aula Nº8

Artigos 338- Erros acerca dos pressupostos da ação direta ou da legítima defesa-
Erros de legitima defesa, atuam na mesma forma que ação direta
A doutrina discute se a questão do 338 apesar de referenciar a legitima defesa da ação
direta, se é admissível aplicar o estado de necessidade- estado de necessidade
potestativo. O agente está em erro contra uma figura de autotutela.

A pessoa que está a agir em legitima defesa está a cometer um erro, mas quando um
ou mais pressupostos não se verificam, porém estes verificam-se apenas na cabeça
dele e não na realidade. Logo está em erro sobre os pressupostos da legitima defesa.
Sendo que é possível o agente estar em erro e em excesso- O artigo prevê que o
agente incorre do dever de indemnizar, à exceção se o erro é desculpável ou não
vendo no artigo 487- Culpa. Se for desculpável não tem obrigação de indemnizar,
porém o ato continua a ser ilícito e é passível de agir em legitima defesa. Já se não for
desculpável tem a obrigação de indemnizar o lesado

Estado de necessidade- Artigo 339º

Presente no artigo 33º do CP e 339º CC, consiste no sacrifício de bens e interesses de


terceiros para afastar um perigo atual que resulte em lesão de bens e interesses e
bens do próprio ou terceiros. É enformado pelo postulado de solidariedade entre as
pessoas, retirando-se a ilicitude do ato se os interesses e bens forem superiores aos
sacrificados.
Aceita-se se: Houver um perigo atual; Ameaça de um bem jurídico em resultado do
perigo; previsão de dano superior ao sacrificado. Assim, o EN visa evitar a consumação
ou a ampliação de um dano.
Por contrário à legítima defesa, atua-se contra factos da natureza ou de animais e
outras situações de perigo de um dano (LD apenas reage contra agressão), visto que
“perigo” vem de uma realidade não humana ou de uma ação humana, mas que carece
de vontade, como uma pessoa sonâmbula.
A repartição dos danos deverá ser feita tendo em conta se a algum dos
intervenientes é imputável a situação, de acordo com a equidade.
No caso do estado de necessidade putativo, pode se aplicar o artigo 338º do CC.
Ocorre quando há um perigo de um dano, este constituiu o primeiro pressuposto.
Não tem de ser um dano patrimonial, é possível que seja um dano pessoal. Grande
diferença do primeiro pressuposto entre a legitima defesa e estado de necessidade é
que para este primeiro tem de ser atual, ou seja, ou está a acontecer ou estamos numa
questão de eminência já para este último pode. Respeitando sempre o princípio da
proporcionalidade- Aquele que vou utilizar para remover o perigo tem de ser
manifestamente inferior daquele que vai resultar do perigo, enquanto nos outros
dois pode ser superior, mas não manifestamente superior

Artigo 339º N2- Não obstante a existir uma ação lícita o agente é obrigado a
indemnizar,

Acão direta- Artigo 336º

A ação direta consiste no uso da força para realizar ou assegurar o próprio direito.
Está presente no artigo 336º, 1314º do CC e 31º Nº2 do CP, podendo ser uma causa
de exclusão da ilicitude, pois o facto é praticado no exercício de um Direito.
Assegurando a defesa de um direito, admite-se se: Não for possível recorrer aos meios
coercivos normais; Não exceda o estritamente necessário; Não se sacrifiquem
interesses superiores. A necessidade é causada por um facto humano ou natural,
desde que não seja considerado perigo ou agressão.
Distingue-se da legítima defesa por poder dizer respeito a uma violação já
consumada, mas que ainda permite reação. Distingue-se do estado de necessidade
por visar a conservação tática de um direito. Se houver erro, deve o prejuízo causado
ser alvo de indemnização, 338º CC, salvo se o erro for desculpável.

Só age em ação direta quem quiser assegurar o seu próprio direito, algo que é
diferente da legitima defesa. Não há figura da atualidade, é possível agir contra
outras ações que já estejam consumadas. É possível reassegurar aquele direito

Artigo 336º N2- Pode ocorrer através da apropriação de uma coisa alheia, destruição
ou deterioração de uma coisa alheia do indivíduo.

Principais pressupostos da ação direta


 Risco de inutilização – Prática do direito
 Existência de um direito
 Indispidencialidade- ser único meio possível
 Proporcionalidade na ótica do bem jurídico- se não for proporcional a ação
direta é licita
Direito de Retenção- Presente no artigo 754º e 755º do CC, permite a um devedor, que
disponha de crédito sobre o seu credor, o direito de não efetuar a sua prestação,
mantendo a coisa que deveria entregar, desde que diretamente conectados. Assim o
direito de retenção está previsto no artigo 754º e seguintes. O artigo 754º obriga que
a coisa esteja relativamente relacionada com a divida que existe.

Aula Nº10

Terça-feira- Não há aula teórica

Exceção de não cumprimento- Artigo 428 e seguintes- Ocorre quando uma das partes
recusa o serviço de prestação. É uma relação jurídica de carácter sinalagmático, recorre
ao pagamento das prestações por ambas as partes, por exemplo de um contrato de
compra e venda. A prestação que o agente vai dizer que não cumpriu não o pode fazer
se este já a tiver de cumprir. Não pode ser invocada pela parte que não quer cumprir a
prestação inicial e os prazos das prestações os permitirem.

Compensação- Artigo 847- Opinião da regente acerca da compensação, esta considera


que não é autotutela, é apenas um mecanismo extrajudicial; Ambos são credores e
devedores, por exemplo A deve 100 e o B deve 100, assim admite-se a hipótese de
haver assim uma compensação, extinguindo-se assim as dívidas de ambos. Principal
requisito deve ser requerido judicialmente, se já tiver prescrito existe é uma obrigação
natural e não uma obrigação judicial, é extinto estas dívidias segundo o artigo 854

Relações de vizinhança- Não é necessária uma intervenção judicial por parte dos
tribunais, existem diversos exemplos como por exemplo- Artigo 1322- Enxame de
abelhas- O proprietário tem o direito de capturar essas abelhas que saiam da colmeia;
Por exemplo- 1349- É possível para efeitos de construção ou manutenção colocar um
andaime que esteja a ocupar a entrada ou espaço de outra pessoa noutro prédio,
desde que seja fundamental e crucial para a construção ou manutenção;

Greve- Artigo 530º do CT (Código de Trabalho) - Uma abstenção concertada da


prestação de trabalho a efetuar por uma pluralidade de trabalhadores com vista à
obtenção de fins comuns, previsto no artigo 57º CRP e 530º e seguintes do CT. Justifica
o incumprimento do contrato de trabalho.

Fim da autotutela

Prescrição
a extinção de direitos subjetivos em virtude do seu não exercício durante um
determinado tempo- a pessoa que é titular desse direito ao fim desse tempo o direito
prescreve, artigo 304 n1, ao devedor é que interessa a prescrição, quando chegar ao
prazo final o devedor tem o direito de não pagar a divida que tinha
Razões da ideia de extinção de Direito Subjetivo no decurso do tempo:

1- Segurança jurídica- Se os direitos subjetivos durassem infinitamente geraria


incerteza, assim o Direito extingue-se ao fim de um tempo porque o seu titular
não o utilizou

2- O facto de a ordem jurídica dar uma consequência jurídica à inércia que o


titular tem, se o titular nada fez para exigir esse direito não deve a ordem
jurídica continuar a protegê-lo

Artigo 298- Nem todos os direitos estão sujeitos a prescrição, segundo o artigo 298º
N1- Os direitos que não são disponíveis, N2- Aqueles direitos que a lei afirmar e
reiterar que não é possível ser passível a prescrição, N3- Direitos reais não prescrevem
de forma extintiva, mas vamos saber melhor isso para o ano em Direitos Reais;

O regime legal da prescrição é imperativo, não há espaço para as partes/margens


convencionarem coisas diferentes nos contratos. Artigo 300- Os negócios jurídicos
destinados a modificar os prazos legais da prescrição são nulos;

A renúncia à prescrição só é admitida após a situação ser declarada nula


Artigo 304- Admite que a renuncia à prescrição de forma tácita, depois do prazo passar
a pessoa pagou então esta renunciou de forma tácita à prescrição; Artigo 303-
Invocação da prescrição

Prazos de prescrição:

Prazo ordinário- Prazo comum está previsto artigo 309- 20 anos, não são específicos
então este é o ordinário/vulgar

Prazo de 5 anos- Previsto no artigo 310, aplica-se a essas situações previstas

Prazo de 3 anos- Artigo 488- Tem haver com a responsabilidade extracontratual e com
o direito à indemnização

Existem as prescrições presuntivas, de presunção- Artigo 349- Presume-se que aquela


dívida foi paga, porém não temos a certeza disso, apenas supomos que já foi paga;
Artigos 312 e seguintes, em especial o artigo 316- Prescrição de 6 meses; Artigo 317-
prescrição de 2 anos; Esta pode ser ilidida admitindo prova em contrário

A partir de quando é que começa a contar o prazo?

Artigo 306 N1- Em princípio, a contagem da prescrição começa a ser feita a partir do
momento em que o direito pode ser exercido
N2- Condição- Quando sou sujeito a um contrato, algo que é futuro e que eu não
tenho a certeza que se vai realizar; Termo- É um facto futuro, ou seja, é totalmente
certo. Pode ser inicial para começar alguma coisa ou final para finalizar
N2- Se houver uma condição que condicione o início de algum direito só quando essa
se verificar é que o direito existe

Aula Nº12

Noções gerais acerca das fontes do direito:

Fontes de Direito- O direito brota/existe por causa das fontes

É uma noção técnica bastante definida e simboliza uma conceção bastante informativa

Podemos afirmar que as fontes de direito são modos de revelação de critérios


normativos de decisão de casos concretos. Assim por critérios normativos entendem-
se critérios abstratos e gerais, encontramo-los nas regras jurídicas

Um artigo presente Código Civil é uma fonte de direito, os artigos são a fonte do
direito, só depois de fazer a interpretação dos artigos do CC é que descobrimos a
regras jurídicas. As próprias fontes são criadas, a AR aprova uma lei, está assim
iminentemente a aprovar uma fonte de direito

Lei (Fonte de produção) -> Direito (Decreto, ou seja, fonte produzida) -> Portaria do
ministro

O decreto de lei ou a lei é fonte produzida, mas é também fonte de produção

Uma pergunta pertinente é sobre qual será a fonte de produção da CRP? Será que
esta pergunta tem alguma resolução/solução/resposta?

Qual a linguagem das fontes do direito, não é uma linguagem descritiva, linguagem
prescritiva por exemplo quando aquelE causa um dano deve indemnizar. É uma
linguagem performativa e não descritiva, está a criar uma realidade que antes não
existia- Podendo concluir que não há Direito sem linguagem

Distinção entre fontes intencionais e não intencionais:


- Intencionais- São por exemplo as leis, decretos de lei aprovados na AR pelo Governo,
querem e agem no sentido de concretizar estas mesmas fontes; Processo de formação
dominado por ato jurídico. Criação de Direito por ato legislativo, jurisprudência, ciência
do Direito.

- Não intencional- São por exemplo os costumes- Estes são práticas sociais reiteradas
que ganham convicção de obrigatoriedade; Não é dominado por ato jurídico- Costume.

Distinção entre fontes mediatas e imediatas- É uma regra básica se há fontes


imediatas também haverá fontes mediatas:

-Imediatas- Fontes do direito por si mesma, tem juridicidade própria, são absolutas;
Têm força vinculante própria.

-Mediatas- Fontes do direito que são atribuídas por outra fonte do direito; Apenas
adquirem força vinculante por remissão de outras fontes.

Em suma estas duas têm a mesma importância, nenhuma é superior à outra

Fontes internas e externas- ordenamento jurídico

-Fontes internas- Fontes que provém de dentro do próprio Estado

-Fontes externas- Convenções/tratados internacionais como é o caso da UE e ONU

Distinção fontes simples e complexas

Fontes simples- Fonte que provém da lei

Fontes complexas- Fonte original da lei, porém tem mais alguma coisa que acrescenta
à fonte como por exemplo uma lei aprovada pela Assembleia da República

Interpretação no tempo- É a interpretação do próprio criador da lei/legislador- Decorre


uma interpretação por parte do criador/legislador como já referido
Novação da fonte de direito – A fonte de uma determinada situação é a mesma,
porém aparece noutro diploma legal, por exemplo no caso de aparecer a mesma
medida no orçamento de estado para 2023 e para 2024, sendo assim fonte complexa

Principais funções do Estado- Função legislativa (Fazer leis, no sentido material),


função administrativa/regulamentar e função jurisdicional- Esta leva a criações de
fontes de direito? Qual a resposta, sim ou não?

Sistema jurídico anglo-saxónico- Por exemplo: A Inglaterra, EUA e antigas colónias


inglesa- Para estes a jurisprudência é fonte do Direito, funciona a regra do precedente
que vincula os tribunais a agirem da mesma forma como agiram anteriormente, se
houver um caso análogo está assim vinculado ao precedente do juiz que decidiu.

Sistema jurídico continental/romano-germânico- Por exemplo: Portugal- As decisões


dos tribunais não são vinculativas, não constituiu precedentes e não revela um critério
normativos de decisão. Não quer isto dizer que a jurisprudência não tenha um papel
fundamental e importante na ordem jurídica, aliás porque o tem, não como fonte,
mas como modo de conhecimento do Direito

Função jurisdicional- Remete para a jurisprudência, decisões dos juízes e dos tribunais

Aula Nº13

Prescrição e caducidade, o que são? - Estas são consequências jurídicas do decurso do


tempo e levam cessação e extinção dos direitos subjetivos

Quando acontece à prescrição? Quando o titular não exerce o direito no tempo que
está descrito a fazer

Nem todos os direitos são objeto de prescrição e de caducidade- Artigo 298º

Prescrição, aproveitamento artigos 301 e 302

Os prazos podem ser alvo de suspensão (Durante a causa de suspensão o prazo não
inicia nem decorre, está congelado, não mexe) e interrupção (Factos determinantes
que levam a que o tempo que tenha decorrido da prescrição até à altura da
interrupção volte ao início, não seja contado e volte ao dia um)

O que leva a uns prazos serem suspensão? Este fenómeno ocorre quando
determinada situação ou relação entre pessoas, por exemplo o credor e o devedor,
durante que aquela situação ou relação decorra é razoável e faz sentido que não seja
possível valer o seu direito
Por vezes ocorre a suspensão devido a motivos de orça maior ou dolo do obrigado- É
assim causa objetiva- Artigo 321º

Suspensão por causas subjetivas - Varia de sujeito para sujeito- Artigo 318º até 320º

O que leva a serem o caso de interrupção? - Factos e não situações, tem haver com
um facto que há uma intenção clara de exercer o seu direito/dever e o devedor tem a
obrigação de o cumprir

Artigos no âmbito da prescrição

Artigos 323º e seguintes – Artigo 323º- A prescrição ocorre por citação ou notificação
judicial de qualquer ato daquele que exprima direta ou indiretamente a intenção de
exercer/fazer valer o seu direito

Artigo 324º- Perante um determinado litígio pode-se recorrer a um tribunal


extrajudicial, no caso um tribunal arbitral- faz sentido que haja aqui uma interrupção

Artigo 325º- Aquele contra quem o direito possa ser utilizado é o devedor, no caso da
relação devedor e credor, como o pagamento parcial da divida- Leva a interrupção do
prazo da prescrição

Artigos no âmbito da caducidade- Artigos 328º até ao 333º

A prescrição mata o Direito ao passo que na caducidade o Direito morre de morte


natural- Visão da doutrina maioritária

Caducidade- Pode ter fonte convencional, as partes podem celebrar negócios que
prevejam casos de caducidade

Artigo 330- Consagra que são validos negócios onde se extinguisse e mude-se a
caducidade; Executam-se direitos indisponíveis – Estes não podem ter prazos maiores
que os casos de prescrição

Concluindo assim que a caducidade tem prazos mais curtos- São prazos às vezes com
cerca de um ano, seis meses ou até trinta dias.
Em princípio segundo o artigo 329º a caducidade não está sujeita nem à interrupção
nem à suspensão salvo e caso a lei o determine

Exceções- Artigo 330 N2- No caso de dúvida das partes podemos aplicar as causas de
prescrição

Temos ainda como exemplo de caducidade vários casos no nosso Código Civil:

Artigo 125º- Menores e a questão da anulabilidade dos atos realizados por estes

Artigo 297º- Inviolabilidade dos atos

Artigo 333 Nº1- Possibilidade de ser alegada em qualquer fase do processo

As cinco famílias jurídicas mais importantes e relevantes

Família romano-germânica- Civil law- Regras jurídicas gerais e absolutas, a lei é uma
fonte primordial, há a defesa dos direitos subjetivos como a igualdade, liberdade e
solidariedade; O direito nasce do topo para a base- Resolução de casos concretos a
partir de regras gerais e abstratas; elevada influência por parte do direito romano (Ius
Romanum). As ordens jurídicas parte do sistema romano-germânico, como a
portuguesa, formaram-se pela receção do direito romano. Esta verificou-se, além de
nos territórios que pertenciam ao Império Romano, noutros que nunca fizeram. Por via
da colonização e outros eventos, o sistema expandiu-se para outras zonas do globo,
como África, a América Latina e o Extremo Oriente.

Características:
Fontes:
 Lei: Principal fonte de direito, o que motivou a elaboração de constituições
políticas e a codificação das principais áreas jurídicas

 Costume e Jurisprudência: Apresentam um papel secundário

Técnica Científica: Conceção do direito como um sistema, do que resulta que as leis
são abstratas, gerais e que a analogia entre o caso omisso e o regulado é o primeiro
critério da integração de lacunas

Codificação:

 Código: Sistema ordenado de regras jurídicas respeitantes a uma


determinada matéria

Causas da Codificação:
 Ideológicas: Jusracionalismo e ideias de sistematização, ordenação
e abstração que decorrem desta orientação jusfilosófica.

 Políticas: Demonstração de um poder político, favorecimento da unificação


política e definição de regimes universais não discriminatórios
Vantagens e desvantagens da Codificação:

Vantagens: Facilidade no acesso ao direito vigente, a sistematização e ordenação das


matérias e a orientação do aplicador na solução de casos concretos.

Desvantagens: Rigidez da regulamentação jurídica e fixidez da doutrina, pois tende a


seguir as soluções dos códigos.

Distinção entre Direito Público e Direito Privado:

 Critério do Interesse: O direito público respeita a interesses públicos e o direito


privado a interesses privados. Contra este critério costuma se invocar a
dificuldade de distinguir entre os interesses públicos e privados

 Critério da Qualidade dos Sujeitos: O direito público tem como sujeitos entes
públicos e o direito privado regula relações entre particulares. Contra pode
dizer-se que os sujeitos públicos podem, por vezes, atuar como particulares –
Por exemplo: Estado compra um carro para um Ministério

 Critério da Posição dos Sujeitos: No direito público os entes públicos intervêm


dotados de poderes de soberania e no direito privado os sujeitos, ainda que
públicos, intervêm numa posição de paridade para com os interessados.
Critério habitualmente seguido.

Família anglo saxónica- Common law- Não tem influência do direito romano, o direito
nesta família funciona da base para o topo- O direito surge em como consequência da
jurisprudência, esta é fonte de direito enquanto para a família romano-germânica não
o é; A solidariedade é rara e a boa-fé escassa; Concluindo assim que o precedente é
importante e a jurisprudência é fonte de direito como já referido.

Formação:

 Common Law: O direito romano chegou a vigorar nas Ilhas Britânicas, mas foi
erradicado pelos normandos em 1066. Na falta de direito vigente, as decisões
dos tribunais assumiram um papel primordial, ficcionando-se que se fundavam
num pretenso direito comum a todos – A common law
 Equity: A common law revelou-se insuficiente para resolver satisfatoriamente
todos os casos concretos, pelo que no século XV o chanceler passou a decidir,
em nome do rei, certos casos que não podiam ser resolvidos pela common law

Características:

Jurisprudência: Assume um papel determinante como fonte de direito, pois que


funciona nele a regra do precedente

 Regra do Precedente: O precedente fixado pelos tribunais superiores na


decisão de casos concretos é vinculativo para os tribunais inferiores quando
estes apreciem casos análogos.

■ Ratio decidendi: Máxima que fundamenta a decisão e que a torna vinculativa para os
outros tribunais

■ Obiter dicta: Considerações colaterais relativamente à ratio decidendi que não se


tornam vinculativas

Técnica Jurídica: Em comparação com o sistema romano-germânico, este sistema


manifesta uma menor preocupação com a sistematização do direito e com o carácter
abstrato e geral das regras jurídicas. Também a doutrina e as Universidades
apresentam um papel menos relevante para a evolução e construção do direito

Família muçulmana/islâmica- Fontes de Direito são de cariz religioso, não há


separação entre o direito e a religião; A sharia onde o Alcorão ou Corão pertencem são
a principal fonte de direito; Não há igualdade nem liberdade como sabemos,
desigualdade entre a homens e mulheres e escassez de liberdade; Princípio da
solidariedade presente nesta família- Por exemplo não é possível cobrar juros.

Formação: Ligação estreita entre o direito e a religião. A religião muçulmana comporta,


além de alguns dogmas, regras de comportamento: a lei divina que define as
obrigações do Homem perante Deus e do Homem perante os seus semelhantes.

Características:

 Base Religiosa: As fontes do direito romano estão na religião

 Adaptação à Realidade: A necessidade de adaptar o direito muçulmano à


evolução dos tempos levou a que o costume tenha assumido alguma
importância como fonte de direito, também a autonomia privada tem sido
utilizada para contornar algumas proibições impostas pelo direito muçulmano
(contrato de seguro ou empréstimos a juros)
Família hindu- Assim como a família muçulmana/islâmica as suas fontes de direito com
base na sua religião, no caso é o Hinduísmo.

Família chinesa- Sistema jurídico onde não existe liberdade, é influenciado pela família
romano-germânica e os seus valores.

Aula Nº13

Fontes do direito- Delimitação das Fontes de Direito

Delimitação positiva

Fontes do Direito: São modos de revelação de critérios normativos de decisão de casos


concretos, ou seja, modos de revelação de regras jurídicas. Essenciais para construção
do sistema jurídico, que, sem as fontes, não existe.

Formação da Fonte de Direito: É pelo modo de formação distinguimos entre regra de


origem consuetudinária, jurisprudencial ou legal.

 Fonte Originária: Não tem nenhuma outra fonte de direito como fonte,
coincidindo, quase sempre, com a Constituição.
 Fontes Derivadas: Fontes produzidas com fundamento noutras

Limites das Fontes: Para conhecer o Direito não é suficiente consultar as fontes: é
crucial atender a realidades não fontes de direito (jurisprudência e doutrina) -
distinção entre fontes do direito e de conhecimento do direito

Linguagem Performativa: Os enunciados performativos (ou ilocutórios) podem ser


muito distintos, mas todos apresentam uma característica comum: A construção de
uma nova realidade. Como consequência são insuscetíveis de ser qualificados como
verdadeiros ou falsos.

Funções do Estado: O Estado exerce, através de órgãos próprios, uma função


legislativa, executiva e jurisdicional. Num plano abstrato, em todas essas funções é
possível a formação de fontes do direito.
 Poder Jurisdicional: Exercido pelos tribunais que resolvem os casos concretos.
No direito romano-germânico os tribunais não têm a função de criar fontes,
mas a de controlar a sua conformidade legal

 Controlo da Legalidade ou Constitucionalidade pelos Tribunais: Coloca-


se num outro plano, pois a atribuição de eficácia obrigatória geral à
declaração de inconstitucionalidade ou ilegalidade de uma norma é uma
contrapartida necessária da vinculatividade da regra - Sô pode deixar de
vigorar no ordenamento jurídico por uma decisão dotada da mesma
vinculatividade.

 Acceptatio Legis: As fontes de Direito não podem ser consideradas fora da


ordem social que integram, necessitando de aceitação social.

Modalidades:

Intencionais e Não Intencionais:

 Intencionais: Têm na sua origem um ato normativo. Processo de formação


dominado por ato jurídico. Criação de Direito por ato legislativo, jurisprudência
ou ciência do Direito – Por exemplo- A lei.

 Não Intencionais: Têm a sua origem num facto não voluntario de produção
normativa. Não é dominado por ato jurídico – Por exemplo: O costume

Mediatas e Imediatas: Não há uma relação necessária entre a distinção e a hierarquia


das fontes (Há até fontes mediatas de hierarquia superior)

 Imediatas: São fontes por si próprias, não necessitando de nenhuma fonte que
as qualifique como tal, possuindo juridicidade própria. Têm forca vinculante
própria. Se têm força vinculante própria não resulta do artigo 1º/1 CC – Este
preceito deve ser entendido como uma proposição descritiva, que se limita a
reconhecer as leis e as normas corporativas como fontes do Direito.

 ART. 1/1 DO CC: As fontes imediatas do direito são as leis e as normas


corporativas
 Principal problema: Se este artigo qualifica as leis e as normas
corporativas como fontes imediatas, então estas não podem ser
definidas como aquelas que possuem uma juridicidade própria e
autónoma de qualquer qualificação por outra fonte
- Resolução do professor Miguel Teixeira de Sousa - Este artigo não visa
qualificar as leis e as normas corporativas como fontes imediatas, mas apenas
enumerar as fontes imediatas da ordem jurídica portuguesa

 Não Mediatas: São qualificadas como tal por uma fonte imediata, retirando daí
a sua juridicidade. Só adquirem forca vinculante por remissão de outras fontes.

Internas e Externas:

 Internas: Têm origem nessa mesma ordem jurídica

 Externas: Têm origem noutra ordem jurídica, vigorando através de regras de


receção, podendo ser impostas por um sistema a outro sistema - Ocorre
quando um sistema é subordinado perante outro.

Simples e Complexas:

Simples: Provém de um único facto normativo

Complexas: São constituídas por um facto originário e por um facto posterior à


produção da fonte, como a novação da fonte por outro facto originário ou a sua
modificação por interpretação autêntica.

 Novação: A regra contida na fonte mantém-se, mas com alteração do facto


normativo – Por exemplo: Uma lei consagra uma solução que já constava de
um decreto-lei ou existia na ordem normativa como costume, assim, a regra
mantém-se, mas com alteração do facto normativo

 Interpretação autêntica: Interpretação realizada por uma outra fonte de


direito da mesma ou de hierarquia superior, passando a ser constituída pelo
facto originário e pelo facto superveniente de interpretação

Delimitação negativa

 Doutrina: Decorre do trabalho dos juristas sobre a lei e manifesta-se na opinião


sobre a solução de um certo problema jurídico.

 Direito português: A doutrina não é fonte de direito, todavia molda o direito


vigente, exercendo uma forca persuasiva sobre os tribunais e os outros
aplicadores do direito.
 Jurisprudência: Resultado da atividade decisória dos tribunais na resolução dos
casos concretos. A jurisprudência apenas tem um papel fulcral no Direito. O
que não é fonte de direito- A doutrina não é fonte de direito

 Funções da jurisprudência: A decisão do tribunal na apreciação de um caso


concreto pode ser vinculativa para casos análogos, constituindo precedente
obrigatório e tornando-se fonte de direito. Contudo, nos sistemas romano-
germânicos o princípio é que as decisões dos tribunais não são precedentes
vinculativos.

 Papel da jurisprudência: É reconhecido que o juiz, longe de ser um autómato,


aplica a lei a casos concretos, construindo a sua decisão a partir das fontes e
desempenhando uma função enformadora da ordem jurídica. Não sendo fonte
de direito, a jurisprudência é uma fonte de conhecimento do direito, adaptando
os textos legais à evolução dos tempos e concretizando conceitos
indeterminados.

Tipos de jurisprudência:

Jurisprudência constante- Os tribunais vão seguindo coerente e alicerçadas em


anteriores

Jurisprudência uniformizada- O supremo tribunal afirma que aquela matéria deve ser
resolvida de uma maneira universal face a decisões matéria processual, laboral

 Uniformização da Jurisprudência: É admissível no âmbito do processo civil, do


processo penal e do contencioso administrativo.

 Valor da Uniformização: A jurisprudência uniformizada não é obrigatória para


os tribunais, não podendo ser considerada uma fonte de direito, em todo o
caso tem um grande valor persuasivo.

■ Princípio da confiança (Artigo 2º CRP):

● Eficácia Retroativa: A jurisprudência uniformizada tem uma eficácia retroativa, dado


que é aplicada a factos praticados e situações constituídas antes dessa uniformização.
Para evitar a violação deste princípio, o tribunal que proferir a decisão de
uniformização deve restringir a sua eficácia retroativa

● Limite à Liberdade de Decisão: Em certas hipóteses, este princípio pode constituir


um limite à liberdade de decisão do tribunal.
 Conversão dos Assentos: Na versão originária do Código Civil, o art. 2o
estabelecia que “nos casos declarados na lei, podem os tribunais fixar, por meio
de assentos, doutrina com forca obrigatória geral”. Todavia, este preceito foi,
pelo Tribunal Constitucional, declarado inconstitucional por violar o art 112/5
da CRP.

Jurisprudência constitucional/vinculativa/normativa- No âmbito da fiscalização da


constitucionalidade, decide a favor ou contra do caso de inconstitucionalidade, é com
forca obrigatória geral quando existe fiscalização

Modalidades das fontes de direito

Fontes externas

Direito Internacional Público:

 Direito Internacional Comum: Constituído pelo costume internacional e pelos


princípios gerais de direito reconhecidos pelas nações civilizadas, sendo parte
integrante do direito português (artigo 8º/1 da CRP)

 Direito Internacional Convencional: Constituído pelas convenções


internacionais, que, quando ratificadas ou aprovadas, vigoram na ordem
jurídica portuguesa depois de publicadas (artigo 8º/2 da CRP), e por outros
instrumentos de harmonização e unificação legislativa que são, ou se tornam
vinculativos para os Estados, vigorando diretamente na ordem interna, quando
tal se encontrar estabelecido nos respetivos tratados institutivos (art. 8/3 da
CRP).

Direito Europeu: Recebido na ordem jurídica portuguesa pelo artigo 8º/4 da CRP

Modalidades:

 Direito Europeu Originário: Constituído pelos tratados que estão na origem da


União Europeia

 Direito Europeu Derivado: Constituído pelo direito proveniente dos órgãos das
instituições europeias - designadamente o Conselho Europeu, a Comissão
Europeia e o Parlamento Europeu
■ Principais fontes:

● Regulamentos: Têm um carácter geral, sendo obrigatórios em todos os seus


elementos e diretamente aplicáveis em todos os Estados-membros

● Diretivas: Vinculam o Estado-membro destinatário quanto ao resultado a alcançar,


deixando às instâncias nacionais a competência quanto à fonte e aos meios,
necessitando de um ato de transposição

● Decisões: Obrigatórias em todos os seus elementos para os seus destinatários

Princípios Fundamentais:

 Princípio da Subsidiariedade: A União Europeia intervém apenas se, e na


medida em que os objetivos não possam ser suficientemente realizados pelos
Estados-membros, mas possam ser melhor alcançados ao nível europeu.
 Princípio do Primado: O direito europeu prevalece sobre o direito interno dos
Estados-membros.
 Princípio do Efeito Direto: Os efeitos imediatos, produzidos pelo direito
europeu na esfera dos indivíduos, devem ser respeitados pelo direito europeu

Fontes internas imediatas

Lei: Disposições genéricas dos órgãos estaduais competentes (Artigo 1º⁄2 CC)

Leis Materiais e Formais: Pode acontecer que as leis sejam materiais e formais em
simultâneo, mas também que sejam apenas um ou o outro.

 Lei Material: Enunciado linguístico cujo significado é uma regra jurídica


 Lei Formal: Enunciado linguístico cujo significado é uma regra jurídica e que
emana de um órgão com competência legislativa e, portanto, de um ato
legislativo (artigo 112º/1 da CRP).

Atos Normativos: A toda a lei está subjacente um ato normativo.

 Ato Legislativo: Decorre do exercício de uma competência legislativa que dá


origem a uma lei em sentido formal. São uma tipologia taxativa, pois nenhuma
lei pode criar outras categorias de atos legislativos, nem conferir a atos de
natureza não legislativa o poder de, com eficácia externa, interpretar, integrar,
modificar, suspender ou revogar qualquer um dos seus preceitos (Artigo 112º/5
da CRP)

 Ato Regulamentar: Decorre do exercício de uma competência regulamentar e


produz um regulamento. Exceto no caso dos regulamentos independentes (art.
112/6 in fine da CRP), do ato regulamentar deve constar a lei que ele visa
regulamentar ou que define a competência para a sua emissão (art. 112º/7 da
CRP). Não estão abrangidos pelo numerus clausus do 112º/5 da CRP.

 Atos Atípicos: Decretos do Presidente da República, resoluções da Assembleia


da República e decretos dos Representantes da República nas Regiões
Autónomas.

Âmbito Territorial:

 Leis Centrais: Produzidas pelos órgãos de soberania e destinadas a vigorar em


todo o território nacional - podem provir do Governo ou da Assembleia da
República
 Leis Regionais: Emanadas dos órgãos legislativos das Regiões Autónomas dos
Acores e da Madeira
 Leis Locais: Produzidas pelas autarquias locais. Só podem revestir-se de
carácter regulamentar, devendo obedecer à CRP, às leis e aos regulamentos
emanados das autarquias de grau superior ou das entidades com poder tutelar.

Características: O carácter abstrato e geral da lei garante que casos idênticos são
decididos de uma forma idêntica, assegurando a igualdade dos destinatários perante a
lei (artigo 13º/1 CRP). Estas são características comuns da lei, pois a lei que é abstrata
também é geral.

Abstração: A lei vale para uma pluralidade indeterminada de casos. A abstração da lei
impõe que ela se refira a factos futuros.

■ Leis com retroconexão: Utilizam factos passados na sua previsão

■ Leis retroativas: Regulam factos passados. A lei não é abstrata

Generalidade: Implica que a lei vale para uma pluralidade indeterminada de


destinatários.

 Não essencialidade desta característica:

● Leis Individuais: Têm destinatários determinados – Por exemplo: Uma lei que
impõe um encerramento de um hotel por falta de condições de salubridade
● Leis Coletivas: Dirigem-se a um conjunto determinável de pessoas – Por
exemplo: Uma lei que se destina aos trabalhadores de uma empresa

 Lei falsamente

● Genérica: Possui na sua letra uma pluralidade indeterminada de


destinatários, mas, apenas certas pessoas preenchem a sua previsão

● Individual: Apesar da sua formação parecer individual, ela possui na


realidade vários destinatários – Por exemplo: As leis referentes aos poderes do
Presidente

Normas Corporativas: Normas ditadas pelos organismos representativos das


diferentes categorias morais, culturais, económicas ou profissionais, no domínio das
suas atribuições, bem como os respetivos estatutos e regulamentos internos (artigo
1º⁄2 CC) – Por exemplo: Regulamentos da Ordem dos Advogados quanto às inscrições

 Valor: Subordinam-se à lei (artigo 1º⁄3 CC).

Costume: Uso que é assumido pelo agente com a convicção da sua juridicidade

Elementos: Para que seja relevante não é necessária à sua consagração legal, pois isso
pressuporia uma subordinação à lei, nem é necessária a sua receção e imposição pelos
órgãos públicos. O costume só deixa de vigorar quando desaparece algum dos seus
elementos, ou quando se forma um costume contrário.

○ Fáctico (Externo ou Quantitativo): Uso, que é uma prática social reiterada. Um uso
contrário à boa-fé́ e contrário à lei nunca pode servir de base à formação de uma fonte
consuetudinária (art. 3/1 CC)

○ Normativo (Interno ou Qualitativo): Convicção de juridicidade, decorrente do


sentimento de que algo deve ser, ou não deve ser, porque tal corresponde ao direito.

Formação do costume:

1. Aparece o Uso: Quando um comportamento se torna habitual, esta


habitualidade resulta de uma mera repetição e é ditada apenas por “fazer o
que todos fazem”
2. Forma-se a Convenção Social: Quando o hábito é acompanhado de uma ideia
de obrigatoriedade, já pertencendo a convenção ao domínio de uma ordem
normativa
3. Constitui-se o Costume: Quando a convenção social é completada pela
convicção de juridicidade, ou seja, quando se forma a convicção de que a
convenção social requer uma tutela jurídica
4. Extinção do Costume: Verifica-se quando: desaparece o uso; permanece o uso,
mas deixa de haver uma convenção social; permanecem o uso e a convenção
social, mas desaparece a convicção da sua juridicidade.

Modalidades:
○ “Secundum Legem”: A regra consuetudinária coincide com a legal, pelo que o
costume realiza apenas uma função declarativa da lei

○ “Praeter Legem”: Completa a lei, integrando, nomeadamente, eventuais lacunas,


indo além do que a lei dispõe, mas sem a contrariar - estabelece uma relação de
complementaridade

○ “Contra Legem”: Contraria a lei, estabelecendo com ela uma relação de oposição e
implicando a cessação da sua vigência. Pode formar-se quando há a consciência de que
a lei contrária está em vigor ou quando se forma a convicção de que esta já tinha
cessado a sua vigência.

■ Desuso: O costume contra legem não deve ser confundido com o desuso. Quando se
forma um costume contra legem, constitui-se uma regra consuetudinária contrária à
lei, ou seja, cria-se algo positivo. Diferentemente, quando há desuso, verifica-se
apenas a não aplicação de uma regra, sendo algo somente negativo.

Relevância Legal: Apesar de não se referir a nenhuma das modalidades do costume, a


lei não o ignora como fonte de direito. O art. 348/1 CC impõe à parte que invoca, em
juízo direito consuetudinário o ónus da sua prova, demonstrando que o costume é
fonte no ordenamento jurídico português. Além disso, vários preceitos legais se
referem ao costume ou a costumes. Quanto maior a relevância atribuída à lei, menor a
do costume, e vice-versa.

 Secundum Legem”: Se a regra legal e a regra consuetudinária são coincidentes,


é natural que a lei não tome posição sobre este tipo de costume
 “Praeter Legem”: As formas de integração de lacunas estabelecidas no art. 10
CC não preveem o costume praeter legem, todavia, não têm de o fazer, pois, se
houver um costume praeter legem que supra as insuficiências da lei, não há́
nenhuma lacuna
 “Contra Legem”: É a omissão de qualquer referência que permite concluir que
ele é fonte.

Costume Jurisprudencial: O professor Miguel Teixeira de Sousa considera que é fonte


de direito e que tem os mesmos elementos que o costume geral, ainda que reconheça
a dificuldade de fornecer exemplos.
Fontes internas mediatas

Usos: Um dos elementos do costume, participando nessa fonte imediata.

Condições de Relevância: Os usos que não forem contrários aos princípios da boa fé́
são juridicamente atendíveis quando a lei o determina (Artigo 3º/1 CC), podendo ser
afastados pelas normas corporativas (Artigo 3º/2 CC), mesmo aqueles recebidos pela
lei.

Uso e Costume: O uso não possui nenhum valor próprio, só podendo ser fonte de
direito quando uma fonte imediata lhe atribuir essa qualidade. Já o costume conjuga o
uso e a convicção de juridicidade, sendo esta imanente ao costume.

Jurisprudência Normativa: Os acórdãos com força obrigatória geral são fonte de


direito, constituindo a jurisprudência normativa. Esta fonte de direito refere-se a um
valor negativo, dado que impede, através de um juízo de ilegalidade ou
inconstitucionalidade, que seja, de outra fonte de direito, retirada uma regra jurídica.

Fontes do Direito Privadas: Só se pode falar de fontes privadas quando as respetivas
regras têm uma eficácia externa e, por isso, podem ser invocadas por terceiros ou
opostas a terceiros. Resultam de um reconhecimento, pela lei, da autonomia privada
(Artigo 405º/1 CC)

Fontes Supraestaduais, Infraestaduais e Paraestaduais

 Fontes Supraestaduais: Processos de criação de normas específicos da


comunidade internacional e de outras comunidades supraestaduais. Fontes do
Direito Internacional Público – costume internacional (Práticas reiteradas de
Estados), o tratado internacional (acordo de vantagens), a decisão de
organização internacional e a jurisprudência internacional – recebidas na
ordem interna e as fontes do Direito da União Europeia – regulamentos como
atos normativos de caráter geral e obrigatório, aplicação direta na ordem
interna; diretivas como atos normativos que vinculam mas na ordem interna há
liberdade de escolher o meio para os alcançar (carecem de transposição para a
ordem jurídica – legislação interna); Decisões como atos administrativos sendo
obrigatórias.

 Fontes Infraestaduais: Alcance limitado a um certo setor da sociedade


estadual. Base territorial ou pessoal.
 Fontes Paraestaduais: Transcendem ordem jurídica estadual, mas não
constituem processos de criação de normas específicos da comunidade
internacional.

Significado dos preceitos legais sobre fontes do Direito


Legislador de 1966 -> Leis e normas corporativas são fontes imediatas de Direito.
Ignora a existência de costume. Conceção de Direito de pendor positivista legalista –
conjunto de regras emanadas do Estado.

Problema de conhecimento científico: Quais os modos por que são criadas as regras
jurídicas que ordenam a vida social. A teoria das fontes não pode restringir o seu
trabalho e deve apreciar globalmente quais são as fontes de Direito, mesmo não sendo
consagradas pelo legislador.

Aspeto de regulação jurídico-positiva: Quem deve ser reconhecido como tendo o


poder de criar regras jurídicas e como se devem formar. Regula os processos da sua
própria modificação. Problema de dimensão constitucional – primazia das normas da
Constituição formal. Mas, não se resolve os problemas apenas com estas normas.

 Conceção normativa da comunidade – Consciência jurídica geral sobre


quais os processos idóneos para gerarem regras jurídicas -> “Regra de
reconhecimento” última em que assentam todas as outras sobre a
produção jurídica, que não se identifica necessariamente com as regras
legais sobre as fontes do Direito.
 Essas regras legais são a definição da posição do poder político face aos
modos de criação do Direito.
 Preceitos constitucionais mencionam somente a lei como fonte, embora
alguns reconheçam a existência de outras fontes, mas não o costume
como fonte de Direito, mas também não veda o seu reconhecimento,
sem prejuízo da primazia da lei (num conflito de fontes, a lei prevalece).
Não reconhece a jurisprudência e no 203º até se opõe ao precedente
vinculativo. Mas não se exclui, nem a ciência do Direito.

Constituição impõe a primazia da lei com fonte interna do Direito, mas com exceção
de certas decisões do Tribunal Constitucional, nada determina sobre as outras fontes
internas do Direito. Intérprete numa posição delicada, pois da primazia da lei como
fonte interna do Direito, tal como ela decorre da Constituição, não resulta que a
relevância do Direito consuetudinário interno e de outras eventuais fontes do direito
dependa da legislação ordinária.

Lima Pinheiro: Na falta de indicações por parte do legislador constitucional ou de


normas hierarquicamente superiores, as normas da legislação ordinária sobre fontes
do Direito e, entre elas, as que constam dos primeiros artigos do Código Civil, devem
constituir o ponto de partida (ver o art. 8.o CC e os arts. 3.o/1 e 4.o do Estatuto dos
Magistrados Judiciais – Lei no 21/85, de 30/7).
A Jurisprudência constitucional/vinculativa/normativa- No âmbito da fiscalização da
constitucionalidade, decide a favor ou contra do caso de inconstitucionalidade, é com
forca obrigatória geral quando existe fiscalização

Fiscalização concreta- Artigo 280 da CRP- Ocorre quando num determinado processo
que está a decorrer, alguém suscita um problema de constitucionalidade, este
problema não pode ser resolvido de instância que está a ser resolvido, tem de ser
resolvido sim pelo TC (Tribunal constitucional). Existe aqui um caso/situação em
concreto e por isso é uma fiscalização concreta

Fiscalização abstrata- Artigo 281 da CRP- Decidindo a favor da inconstitucionalidade o


tribunal de constitucional vai se aplicar a todas as situações, aqui não há um caso em
Lei- Principal fonte de Direito do nosso sistema jurídico -> Lima Pinheiro

Noção de Lei
Toda a regra (indeterminabilidade dos sujeitos na aplicação) geral emanada do poder
político, seja ele um poder central, regional ou local (lacto sensu)

 O artigo 1º/2 CC limita a lei às regras provindas de órgãos estatais e diz que é
fonte imediata de Direito (corroborado pelo artigo 112º CRP)
 Apenas a regra ou complexo de regras formado de certo modo e não o modo
de criação em si (que é um processo)

A lei caracteriza-se por:


 Atos normativos de um órgão do poder político – Uma declaração de vontade tendo
por objeto a criação de regras gerais e que obedece a uma das formas legalmente
estabelecidas (mais importante é o ato legislativo praticado no exercício da função
legislativa)

 Competência do órgão que pratica o ato

 Formalização do ato num texto escrito

Leis Materiais e Leis Formais

Leis Materiais

 Aceção ampla: Todo o ato normativo do poder político (legislativo ou


regulamentar/administrativo) -
Ato normativo emanado do poder político (Decreto-Lei)

 Aceção mais restrita: Apenas criada no exercício da função legislativa – só as


que são formalmente leis e dotadas de generalidade
Ato normativo praticado no exercício da função legislativa (Lei da AR)
Leis Formais
 Sentido amplo: As que adotam a forma de um ato legislativo
o Não são leis os atos normativos regulamentares (Caráter subordinado) como
as resoluções do Conselho de Ministros, despachos e portarias.

 Sentido restrito: Só é lei o diploma normativo emanado da AR (Artigo 166º


CRP) – primazia da AR (Artigo 161º) Lei emanada da Assembleia da República.
o Admite a hipótese de haver leis em sentido formal que não são leis em
sentido material – atos praticados em forma legislativa que não contém regras gerais,
ou, inversamente, atos normativos que não obedecem a uma forma legalmente
estabelecida.

 Consequências de tais vícios, resolvem-se, em princípio, com base no regime


aplicável em função do conteúdo do ato praticado.

Lei Constitucional
Contrapõe-se à lei ordinária pois resulta de um poder superior de autoconformação do
Estado – poder constituinte.
A lei ordinária tem de ser conforme com a lei constitucional sob pena de inexistência
ou invalidade (art. 277.o/1 CRP).

Atos Normativos Autónomos

Direito infraestadual – Centros jurígenos independentes do poder político


(Autónomos)

Regras emanadas de organizações sociais


- Organizações com fins específicos e com estatuto regulador, portadoras dum certo
sentido normativo.

 Regras que regulam aspetos internos do seu funcionamento e das relações dos seus
membros

 Estado pode reconhecer ou não como regras jurídicas.

- O reconhecimento legal não lhes altera, por si, o seu caráter autónomo.
- O reconhecimento pode ser tácito e permite que os órgãos do Estado ajam
coercivamente.
- Pode apenas permitir ou tolerar.

 A segunda parte do artigo 1/2 CC caducou com a abolição do sistema corporativo –


preceito que reconhece que muitas organizações produzem regras jurídicas
autónomas.
- O preceito ainda pode encontrar aplicação fora do sistema corporativo.
- São fontes intencionais de Direito (atos normativos de entes autónomos) mas não ao
mesmo nível que a lei.

Não são atos emanados de um poder político

Regras geradas pela autonomia coletiva do Direito do Trabalho

Estado respeita a autonomia, mas exerce o controlo necessário – a autonomia privada,


através de um acordo de vontades, é fonte de normas jurídicas.

Nem sempre essa vinculação é negocial, pois é votada pela maioria.

Atos normativos do poder infraestadual

 Órgãos das regiões autónomas têm competência para praticar atos normativos –
têm poder legislativo.

 Autarquias locais têm competência regulamentar – leis em sentido material na


aceção ampla, mas não pelo disposto no artigo 1/2 C

Referencias à lei

Muitas vezes se utiliza lei no sentido de ordem jurídica - inclui a lei em sentido
material, o costume e outras fontes do Direito.

Afora casos excecionais (Artigo 674º/2 do CPC), a utilização da palavra “lei” em cada
preceito legal pode colocar um problema de interpretação. Necessidade de fixar, entre
os vários sentidos possíveis da palavra, o que releva para a regra jurídica em presença.

Artigo 18/2 CRP (Restrição de direitos, liberdades e garantias) – que conceito relevante
de lei? Resposta na CRP -> Artigo 165º/1, só podem ser restringidos pela competência
legislativa da AR, ou governo, mediante autorização da AR.

 Conceito de lei em sentido formal amplo e, simultaneamente, em sentido


material

Constituição distingue por vezes a lei formal de outros atos normativos – Por exemplo:
Artigos 3º/3 e 241º. Mas na Constituição a palavra “lei” também é utilizada em sentido
material amplo – por exemplo, nos artigos 13º/1 e 203º
Modernas constituições tendem a sujeitar os aspetos fundamentais da ordem jurídica
à lei formal. O conceito relevante tem de ser fixado com base nos elementos e critérios
gerais de interpretação.

Vícios do ato legislativo

Vícios legislativos que tornam as leis inexistentes (para uma lei vigorar tem que ser
válida, eficaz e temporalmente vigente):

 Falta de votação de uma pretensa lei na Assembleia da República;


 Falta de promulgação ou assinatura pelo Presidente da República de atos da
Assembleia da República ou do Governo (Artigo 137º CRP);
 Falta de referenda do Governo de atos do Presidente da República (Artigo 140º
CRP);
 Usurpação da função legislativa por um órgão que não a pode exercer;
 Segundo alguns autores, a violação do conteúdo essencial de direitos
fundamentais.

Existência da lei ≠ Validade da lei (Problema de formação stricto sensu)


Lei inexistente não vincula órgãos públicos e particulares, nem as decisões judiciais.

Invalidade decorre de:

 Inconstitucionalidade – Lei viola a constituição sem que esta violação


determine a sua existência (existe uma lei inconstitucional)

 Ilegalidade – Lei viola outra lei ordinária hierarquicamente superior.

Nos negócios jurídicos pode ocorrer por:

 Nulidade – Quando o negócio não produz efeitos desde o início, invocável a


todo o tempo e declarada oficiosamente pelo tribunal.

 Anulabilidade – Não traduz falha estrutural do negócio. Ato anulável produz


efeitos (como se fosse válido) até à anulação. Se a anulabilidade for arguida
esses efeitos serão retroativamente destruídos (Artigo 289º/1 CC); mas se não
o forem tornam-se definitivos.

A lei inconstitucional – afora os casos de inexistência – é nula. É uma nulidade


atípica.
 Pode ser objeto de declaração de inconstitucionalidade pelo Tribunal
Constitucional, que produz efeitos desde a sua entrada em vigor.

 Pode ser invocada num processo por algumas entidades públicas– salva de
alguns efeitos da lei inconstitucional (Artigo 282º/4 CRP)

 O mesmo regime se aplica à invalidade das leis ilegais, nos casos em que o
Tribunal Constitucional tem competência para fiscalizar esta ilegalidade.

Ineficácia

 Existente e válida e não produz efeitos jurídicos


 Originária: Se não chegou a produzir efeitos. Art. 119º/2 CRP -> Falta de
publicidade de qualquer ato normativo dos órgãos de soberania, das regiões
autónomas e do poder local implica a sua ineficácia.
 Superveniente: Pode produzir efeitos e tornar-se ineficaz – Suspensão,
cessação e termo de vigência.

Processo de feitura das leis

1. Iniciativa legislativa
2. Discussão
3. Aprovação
4. Promulgação
5. Publicidade e entrada em vigor

Publicação

A regra jurídica estabelece norma de conduta – Só o pode fazer se for conhecida dos
seus destinatários.

Deve haver publicação de qualquer ato – Princípio geral extraído da ordem lógica (Não
se pode pedir que se cumpra sem dar a conhecer) e do caráter normativo do artigo
6ºCC – necessidade de clareza da lei.

O desconhecimento da lei é juridicamente irrelevante -> Artigo 6º CC

As leis têm de ser publicadas no Diário da República sob pena de serem ineficazes,
não produzindo efeitos jurídicos (Artigo 119º/2 CRP) – Publicação é requisito de
eficácia. O no3 determina as formas de publicidade dos atos que não precisam de ser
publicados em jornal oficial e as suas consequências.
Atos legislativos, os atos regulamentares da AR e das Assembleias Regionais, os atos
regulamentares do Governo e dos seus membros e os decretos regulamentares
regionais dos Governos das Regiões Autónomas – Sujeitos a publicação no DR.
O art. 5o CC foi revogado tacitamente pelo art. 119º CRP e pela Lei Formulária 74/98.

As convenções internacionais têm eficácia na ordem interna se publicadas no Diário da


República (artigos 8º/2 e 119º/1/B CRP).

Não estão sujeitas a publicação no Diário da República as normas emanadas de


organizações internacionais de que Portugal seja parte ao abrigo dos respetivos
tratados institutivos (art. 8.o/3 CRP).
Os atos da UE são publicados no Jornal Oficial da União Europeia.

Retificações (Artigo 5º Lei Formulária)

Correção de falhas técnicas, lapsos ou outros erros na reprodução do texto do ato


normativo (Artigo 5º/1 L. 74/98) -> Retifica-se mediante declaração do órgão que
aprovou o texto original e tem de ser publicado na série do Diário da República em que
tiver sido publicado o texto a retificar.

O conteúdo da lei não pode ser alterado!

Declarações de retificação: Até 60 dias após publicação do texto retificando, sob pena
de nulidade do ato de retificação (Artigo 5º/2 e /3).

Retificação tem eficácia retroativa: reportam os efeitos à data da entrada em vigor do


texto retificado.
Se, entretanto, tiverem sido praticados atos com efeitos jurídicos relativos ao texto
original, estes estão ressalvados (princípio da segurança jurídica) - A atribuição de
eficácia retroativa não obsta à ressalva dos efeitos já produzidos (Artigo 12º/1 CC).

Por analogia legis o artigo 13º/1 pode-se aplicar às leis retificadas.

Texto é retificado antes da entrada em vigor da lei, o prazo de vacatio legis conta a
partir da publicação da retificação.

Se fosse retificada e entrasse em vigor no período de vacatio legis da lei retificada, era
a retificada que valeria. Se a retificada tivesse um período de vacatio legis quando a
retificada já estava em vigor, ainda se reporta a esta.

Entrada em Vigor
Após satisfazer o último requisito de validade e eficácia – A publicação – dá-se o
culminar do processo legislativo, momento a partir do qual o ato normativo produz
efeitos.

Começo de Vigência:

 Vacatio Legis – Intervalo entre a publicação e a entrada em vigor.

 Começa a vigorar na data que ela própria fixar (Artigo 2º/1 Lei 74/98), que não pode
ser anterior à sua publicação.

 Não pode começar a vigorar no dia em que é publicada (Artigo 2º/1 Lei 74/98) –
como a lei 74/98 é uma lei ordinária, pode ser derrogada por ato normativo de nível
equivalente que determine a vigência imediata.

 Pode subordinar a entrada em vigora à publicação de um diploma futuro.

 Prazo supletivo: 5 dias – contados a partir do dia seguinte à publicação do diploma


(Artigo. 279º/B, sendo que a contagem dos prazos é regulada em 296º CC)

 Conforme o caráter da lei, o legislador pode estabelecer o período que achar mais
adequado (entrada em vigor de códigos – mais dilatado, ou como em casos de
inadiável urgência de calamidade nacional ou situações em que se pretenda evitar a
frustração dos objetivos lei).

Suspensão de Vigência

Se não está sujeita a prazos de vigência, a lei permanece tendencialmente para


sempre. A lei pode ser suspensa.

Casos de Ineficácia superveniente da Lei.

 Produz efeitos iniciais, mas vem a tornar-se eficaz

 A lei continua a existir e é válida, mas deixa de produzir efeitos por um certo tempo.
o Expressa: Resultado de lei suspensiva
o Tácita: Resultado da lei que revoga um regulamento, implica a suspensão da lei
regulamentada.

 Após expirar o prazo de suspensão ou eliminado o condicionamento, a lei suspensa


retoma a sua vigência.
Cessação de Vigência

 Lima Pinheiro: Não é caso de ineficácia.

 Caducidade – Quando a lei deixa de reunir os pressupostos da sua própria aplicação


– superveniência de um facto jurídico. Por exemplo: Reinserção dos militares da guerra
x, quando estiverem todos reinseridos ou mortos, caduca.

o Pode ser um facto cronológico ou de outra ordem.


o Parte da doutrina diz que só pode caducar se existir uma impossibilidade absoluta
e definitiva dos pressupostos.

 Costume Contra Legem – Discussão se atinge vigência normativa ou mero limite


indesejável à sua efetividade.

 Desuso – Desconformidade entre os padrões sociais de conduta e critério de conduta


contido na regra jurídica. Não prejudica a vigência embora limite a sua efetividade
social

 Revogação – Forma normal de cessação de vigência da lei por efeito de um ato


normativo posterior de hierarquia igual ou superior à lei revogada.
o A lei revogada é excluída da ordem jurídica atual.
o Não se presume o renascimento da lei revogada (devido à revogação da revogação –
(Artigo 7º/4 CC), não tem efeito repristinatório.
Pode não ter ainda regime. Por exemplo: A lei 1 está em vigor, lei 2 revoga lei 1, lei 3
revoga lei 2 e não instaura regime. Temos uma lacuna que tem de ser integrada, há um
vazio de Direito temporário.

Modalidades de Revogação

1. Expressa: A lei declara que revoga uma lei anterior


2. Tácita: Incompatibilidade de regras da lei antiga e da lei nova, a nova revoga a
antiga.
3. Global: Nova lei regula completamente um ramo do direito – se for essa a
intenção do legislador. Revogação sistemática em que globalmente todo o
sistema é alterado. Por exemplo: Decreto lei que aprovou CC
4. Individual: Revoga especificamente uma parte da matéria.
5. Total: Cessa a lei anterior – Abrogação
6. Parcial: Cessa apenas uma parte (um artigo) – Derrogação
7. Substitutiva: Declara a cessação de vigência da lei anterior, mas substitui-a por
um novo regime jurídico. A revogação tácita é sempre substitutiva.
8. Simples: Diz apenas que está revogada.
A lei revogada não tem de estar em vigor – podem rever-se leis suspensas. Podem
mesmo rever-se leis que não entraram em vigor, não atinge a eficácia – daí que se
aceite que a revogação não é um caso de cessação de vigência.

A revogação de uma lei pode desencadear a caducidade de outra quando:

1. A revogação de uma lei priva de âmbito de aplicação outra lei, esta lei caduca;
2. A revogação de uma lei caduca a lei que a regulamentava;
3. A revogação da lei que impõe uma obrigação de conduta implica a caducidade
da lei que estabeleça a sanção aplicável à sua violação.

Para verificar a revogação:

 Critério Temporal: Sucessão das leis no tempo – lei nova revoga a lei antiga (a
partir da data da publicação).
 Critério Hierárquico: Se a segunda lei em termos de hierarquia pode revogar a
lei 1 (Artigo 112º CRP)
 Critério Material: Qual das modalidades de revogação houve – se há ou não
incompatibilidade de vigência de outras leis, pode não haver (Logo não há
revogação tácita) e apenas se acrescentam requisitos.

Lei Geral não revoga Lei Especial – Artigo 7º/3 CC

Definido pelo alcance da previsão – Todas as previsões que cabem na norma especial,
cabem, prima facie, na norma geral (Critério estrutural ou formal).

 Mas nem todas as situações abrangidas pela previsão da norma geral estão
dentro do domínio de aplicação da norma especial.
 A lei atende a circunstâncias particulares, criando um regime diferente em
função desta “especialidade”.
 Como a nova lei geral não atende à especialidade de certas situações, o regime
especial mantém-se.
 No entanto, pode haver uma reapreciação das circunstâncias particulares que
justificavam a “especialidade” e que, segundo a nova valoração, não justificam
a manutenção de regimes especiais.
 O que justifica a não revogação da lei especial por lei geral é a especialidade
substancial, que decorre do estabelecimento de um regime específico mais
adequado a circunstâncias particulares e não uma especialidade meramente
formal (que têm o formato de lei especial, mas não aborda matérias
efetivamente especiais)
O legislador só pode revogar se for essa a sua “intenção inequívoca” – que tem de
demonstrar, que é seguramente o sentido da lei. Em dúvida, não se revoga e continua
em vigor.

Revogação e Hierarquia das Leis


Uma lei só pode revogar leis de hierarquia idêntica ou inferior. Por exemplo: Uma lei
ordinária não pode revogar uma norma da Constituição.

Costume- É fonte de Direito

Noção de costume

A institucionalização das relações sociais, em que as pessoas criam expectativas face


ao comportamento uma das outras, requerem mais que práticas sociais reiteradas
(usos) – certas relações têm de se basear na imposição de deveres e reconhecimento
de direitos.

 Costume: É uma prática reiterada com convicção de vinculatividade – A lei não


se limita a impor deveres, também pode atribuir direitos, regular o estado das
pessoas ou estabelecer requisitos de validade de negócios jurídicos

 A um comportamento normal generaliza-se a convicção de vinculação jurídica


(que a conduta é prescrita pela ordem jurídica) - Não basta a convicção de se
estar obrigado, é necessária uma convicção de se estar obrigado ou vinculado
juridicamente.

 Pelo seu conteúdo, o costume tem de participar validamente no sistema


jurídico.

 Menezes Cordeiro: Costume deve ser reconhecível como Direito, para a


sociedade considerada. Nessa medida, ele terá́ de ser reconduzível a uma
harmonia de conjunto, integrando princípios gerais. A prática que se exprima
num mero exercício da força, num puro arbítrio aleatório ou numa
manifestação chocante para a comunidade não é Direito nem, logo, costume
jurídico. Critério da compatibilidade com o Direito no seu todo – Lima Pinheiro:
não é um pressuposto, mas sim um requisito para a sua validade.

o Designa o modo de criação de regras


o Designa as regras = Direito Consuetudinário

Lima Pinheiro: Discorda da doutrina que diz que só́ é fonte de direito se costume for
reconhecido pelo poder político pois os costumes ainda não atingiram o estádio de
organização estadual e têm caráter jurídico. E vigoram regras que não foram criadas
por órgãos do poder político. Em princípio, é a aplicação do costume na decisão
jurisdicional que pressupõe a sua vigência. Pode haver práticas divergentes entre
jurisdições de diferente natureza.

A sua validade material tem de ser compatível com as normas e princípios de fontes
hierarquicamente superiores.

Modalidades do costume

 Costume Internacional

 Costume Interno

o Geral – Aplicação estadual


o Local – Apenas em certa parte do território
o Tradicional – Direito arcaico que se forma espontaneamente expressando as
estruturas sociais
o Jurisprudencial – Prática judicial que se integrou na “consciência jurídica geral”

 Oliveira Ascensão: funda-se num uso, não praticado pelos interessados, mas
pelos órgãos judiciais

 Costume Transnacional – Extravasa a ordem jurídica estadual, mas não é fonte de


Direito Internacional. Por exemplo: Costume comercial internacional

Significado prático

A validade prática do costume é inversamente proporcional à importância da lei –


depende dos países e de qual a primazia da fonte de direito.

 O Direito que prossiga um fim inovador, um fim transformador, subordinado à


condução política do país, é fundamentalmente lei – o Costume acompanha a
evolução, mas não se pode “antecipar” à realidade, apenas se molda (sem os
desfasamentos da lei).

A lei é o meio de ação essencial do poder sobre a vida social. A norma legal tem um
grau de certeza jurídica, precisão e cognoscibilidade dificilmente comparável ao das
regras geradas pelo costume.

A lei não é hierarquicamente superior ao costume.


 O costume assume uma valia prática e regula setores amplos da vida social (a
efetividade social da regra costumeira está automaticamente assegurada pois
assenta na prática e nas convicções dos membros da sociedade).

Primazia teórica do costume e prática da lei – Se entendermos que a determinação


das fontes do Direito e da sua hierarquia depende, em última instância, da conceção
normativa que integra a consciência da comunidade jurídica, admitimos que a regra de
reconhecimento última tem natureza consuetudinária. Mas se resultar que a lei tem
primazia sobre o costume infraconstitucional, estamos a admitir a primazia prática da
lei.

Relações Costume e Lei

A validade da regra consuetudinária também tem de ser controlada, sendo


compatibilizada com os direitos fundamentais consagrados na constituição: donde
parte a hierarquia das fontes. Do art. 203o vem que os tribunais apenas estão sujeitos
à lei -> Esta prevalência da lei não significa que a relevância do costume dependa da lei
ordinária. A vigência do costume não depende de ser reconhecido ou, sequer,
tolerado, pela lei.

 Lima Pinheiro: O costume vigora desde que seja válido: 1) Não contrarie a lei e
2) Seja conforme aos princípio gerais de Direito – Posição de iure constituto
também adota por Dias Marques

 Castro Mendes, Castanheira Neves, Teixeira de Sousa: A validade do costume


não depende da conformidade com a lei – Posição dominante da doutrina que
não se enquadra com a prática real dos juristas

 Freitas do Amaral, Afonso Pereira: Diferenciação de soluções conforme a mais


justa para o caso

Ponto de vista das relações com a lei em sentido material amplo, e como fonte
estadual ou infraestadual.

 Secundum Legem: Quando uma prática social é observada como costume, apesar de
se conformar com o disposto na lei; Segundo a lei, não diz nada diferente da lei

 Maioria das regras jurídicas (Família romano-germânica) é observada na


suposição que estas constituem lei vigente, mesmo que não a saibam
identificar.

 Praeter Legem: Quando o costume vai além da lei, regulando matéria não
disciplinada legalmente; Não contraria a lei, mas acrescenta qualquer coisa vai mais
alem, ou seja, vai para além da lei
 Segundo o art. 10o CC, o costume não tem uma função integradora
 As regras consuetudinárias são regras vigentes, perante a conceção normativa
da consciência geral que concretiza a ordem jurídica.
 Se é abrangido por regra jurídica, a situação está prevista e não há lacuna a ser
integrada.

 Contra Legem: Quando o costume contraria o disposto na lei; É contrária à lei

 Aceite pela maioria da doutrina


 Não se pode ignorar a divergência entre a determinação legal e o padrão
social de conduta definido pelo costume
 Os órgãos públicos têm que respeitar a lei mas não podem ignorar a
existência do costume.
 Permite-se a divergência de solução
 Lima Pinheiro: A segurança jurídica deve prevalecer – Não se pode admitir o
costume contra legem, nas regras de trânsito, por exemplo.

Relevância do Costume

O CC não reconhece o costume como fonte de Direito. Este diploma afasta não só a
relevância do costume contra legem (Artigos 1º e 7º/1), como nega uma função
interpretativa ou integradora ao costume praeter legem (CP artigos 9º e 10º).
No entanto, no art. 348.o CC o legislador admitiu que o costume pode, em certos
casos, ser fonte do Direito. Examinemos esta disposição.

Em geral o tribunal tem a obrigação de conhecer o Direito aplicável, não recaindo


sobre as partes o ónus da sua prova. Face às dificuldades que, porém, pode suscitar a
averiguação do Direito consuetudinário, do Direito local e do Direito estrangeiro, seria
concebível que fosse posto a cargo da parte que o invoca o ónus da sua prova.

Mas não foi este o caminho seguido pelo legislador: embora as partes tenham um
dever de colaboração com o tribunal na determinação do seu conteúdo (art. 348.o/1
CC), o Direito consuetudinário, o Direito local e o Direito estrangeiro são, como a lei
interna, de conhecimento oficioso (art. 348.o/1 e 2).

Sem se se reconhecer, em geral, que o costume é fonte do Direito, admite-se que o


possa ser em certos casos.

Há alusões a “costumes” nos artigos 1400º e 1401ºCC (Divisão e aproveitamento das


águas), mas põe-se em dúvida que se trate de verdadeiro costume.
Na legislação avulsa surgem diversos exemplos de remissão para o costume. Por
exemplo, a Lei dos Baldios (Lei Nº 68/93, de 4/9, alterada pela Lei Nº 89/97, de 30/7,
pela Lei Nº 72/2014, de 2/9), manda atender aos usos e costumes quanto ao uso e
fruição e à administração dos baldios, designadamente (designadamente artigos 1º/5,
5º/1, 10º/3 e 11º/1).

Naturalmente que o costume poderá valer, à face da lei, como uso, nos casos em que
os usos relevam por forca da lei. A remissão legal para os usos é, em larga medida,
uma forma encoberta de permitir a relevância do costume, sem, porém, reconhecer a
sua existência.

Aplicação pelos órgãos públicos

Os órgãos públicos de aplicação do Direito estão sujeitos às normas sobre a produção
jurídica e aos critérios de hierarquização das fontes expressamente estabelecidos na
Constituição e, em princípio, na lei ordinária, ou que deles se podem inferir.
Por conseguinte, os tribunais estaduais e outros órgãos públicos devem decidir os
casos que lhes são submetidos segundo a lei e, nos casos em que a lei o permite,
segundo o costume (o que inclui os casos em que a lei remete para os “usos”).

Os órgãos públicos devem aplicar o costume praeter legem dentro dos limites fixados
pelos valores fundamentais e princípio gerais do sistema.

Os órgãos públicos não devem aplicar costume ordinário contra legem. Em todo o
caso, a aplicarem lei contrária ao costume, estes órgãos poderão ter em conta a
divergência entre a determinação legal e a regra consuetudinária.

Aula Nº15

Três grupos na frequência

I- Caso prático

II- Casos prático

III- Frase para comentar ou pergunta teórica

Reflexão Filosófica

Importa refletir sobre a essência e fim do Direito. O que é o justo? Por que
aplicamos certas soluções jurídicas? Primeiramente, a filosofia debruça-se no porquê
de haver Direito, tal já foi analisado. Cabe atender a cada uma das correntes filosóficas
que exploram a justificação do direito.

Jusnaturalismo
Para esta corrente, o Direito fundamenta-se no direito natural, uma ordem
superior não escrita e universal. Assim, normas positivadas que se afastem desta
ordem natural não são Direito.

Assim, estas escolas tentam legitimar o Direito positivo olhando para um


Direito Natural em hierarquia de supremacia. Para estes, o Direito Natural é uma
legalidade universal, um conjunto de leis que preside à harmonia física e moral do
universo. Critério de legitimidade que permite aferir a justiça ou injustiça do Direito
Positivo.

A fundamentação do direito como de origem natural ou divina designa as


escolas jusnaturalistas transcendentes. Nestas, o Direito Natural obtém-se através da
observação do mundo natural, reflexo das leis divinas (Escola Medieval de São Tomás
de Aquino ou Greco-Romana) ou de leis naturais (Platão e Aristóteles e Ulpiano).

A Escolástica espanhola, com o contributo de Hugo Grotius, começou a


contestar esta conceção divina do Direito natural, que acabou por dar origem à escola
jusnaturalista racionalista. Nesta, a ratio humana ocupa o lugar de Deus na definição
do Direito Natural.

A dificuldade de apontar uma ordem natural universal levou a críticas ao pensamento


naturalista que, não obstante o seu declínio e incerteza, perdura no espírito dos
juristas.

Positivismo

O Direito é auto-justificativo, sendo fundamentado nas suas próprias regras. As


regras estão legitimadas pela sua produção, i.e., pela racionalidade humana. Assim,
codificou-se o Direito e limitou-se a abrangência da sua interpretação, num sistema
jurídico sem lacunas e pleno.

Na origem desta teoria encontra-se o pensamento contratualista, que elimina o


Direito Natural. Destacam-se autores como Hobbes, Rousseau, Kant. Destaca-se,
ainda, a Escola Histórica, à qual pertence Savigny, onde o Direito forma-se a partir do
Volksgeist, a vontade do povo, e o desenvolvimento dos seus princípios na ordem
jurídica positivada. O Volksgeist, ao contrário do Direito Natural, é dinâmico e
histórico, pelo que traduz a essência do povo que lhe dá origem.

Nestas correntes encontra-se, ainda, o positivismo jurídico, fruto do cientismo


do século XIX, que repudia qualquer noção de Direito Natural e que, aliada às escolas
anteriores, atribui ao legislador a capacidade de emitir um juízo crítico sobre a justiça
ou injustiça do Direito. Assim, o Direito nada mais é que um comando do legislador
que, através da lei, fonte única de Direito, forma normas gerais e abstratas a serem
aplicadas aos casos concretos por um juiz reduzido a mero técnico de leis.

As críticas aos positivismos consistem na noção do secamento da essência do


Direito, a justiça e ordem. O Homem não é perfeito e, como tal, os sistemas criados
pelo mesmo não o serão. Mais, cada povo cria naturalmente sistemas de regras
baseados em “deveres-ser” com fundamento na sua identidade própria, pelo que a
visão do Direito de Kelsen e das escolas escandinávicas retiram ao Direito partes da
sua identidade, os conceitos de justiça. O Estado não é o único criador de Direito, mas
um sujeito do mesmo, um instrumento, que ajuda na criação de uma ordem normativa
tendo em vista um objetivo, mormente chamado justiça.

Outra crítica consiste na reductio ad Hitlerum, que vê nas atrocidades nazis a


incapacidade dos positivistas que evitar a máxima dura lex sed lex, produto do seu
pensamento.

Como tal, as novas escolas positivistas começaram a admitir valores superiores


na ordem jurídica, mesmo que olhando para o mesmo de forma diferente que os
naturalistas olham para o Direito Natural.

Novas Correntes

Têm surgido novas escolas jusracionalistas com base no positivismo jurídico,


como a neokantiana, neohegeliana e histórica. Surgem ainda escolas que repudiam o
positivismo, escolas de realismo jurídico (limita o Direito aos factos jurídicos e a sua
valoração e relação causa-efeito), jurisprudência analítica (reduz o Direito à aplicação
judicial), antifilosófica, neoliberal (foco na rejeição da metafísica e na eficiência),
neopositivismo relativista constitucional e irracional.

Novos jusnaturalismos focam o Direito Natural na chamada “natureza das


coisas”, sendo de destaque o contributo de autores como Stammler e Radbruch.
Assim, Ascensão define, com Erich Wolff, a natureza das coisas como a ordem que está
na essência de toda a criação, obtida através da observação de uma sociedade. O
Direito Natural é uma ordem que está na essência dos seres. Assim, é variável, mas
não relativa.

Novos positivismos têm justificado o Direito com base no órgão que provêm.
Porem, tal vem na aceitação de um valor universal, a da legitimidade democrática,
pelo que redunda num jusnaturalismo inseguro.

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