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LEITURA DO CATHEXIS

Analise Transacional
Tratamento de Psicoses

JACQUI LEE SCHIFF

em colaboração com

Aaron Schiff
Ken Mellor
Eric Schiff
Shea Schiff
David Richman
Joel Fishman
Linda Wolz
Cheryl Fishman
Diane Momb

Harper & Row, Publisher, Inc.


New York Evanston San Francisco

1
CONTEÚDO

Prefácio..................................................................................... 3
1. Introdução................................................................................. 5
2. Passividade.............................................................................. 10
3. Estados do Ego........................................................................ 33
4. Desenvolvimento da Criança................................................... 43
5. Quadro de Referência e Redefinição....................................... 61
6. Patologia.................................................................................. 89
7. Regressão e Reparentalização................................................107
8. Filosofia de Tratamento............................................................118

2
ANÁLISE TRANSACIONAL

TRATAMENTO DE PSICOSES

Prefácio

Cathexis Institute é uma organização educacional que dá ênfase à pesquisa e


aos e aos experimentos sobre a gênese e tratamento de transtornos psiquiátricos
incapacitantes. Uma característica singular da organização é o livre fluxo de idéias e
observações entre pacientes e equipe, e o envolvimento ativo dos pacientes na
identificação de características e confronto daqueles problemas que pesquisamos.
Desejamos externar nossa profunda apreciação a todos aqueles que têm contribuído
para o nosso entendimento.
Embora este material tenha sido desenvolvido no correr de muitos anos, foi
redigido, na sua maior parte, num fim de semana intensivo de redação. Participaram
deste fim de semana J. Fishman, E. Mellor. A. Schiff, S. Schiff, T. Steckel e T. Wilson.
Todos são membros da equipe profissional do Cathexis Institute, com exceção de A.
Schiff, que pertence à Equipe do Instituto de Análise Transacional das Montanhas
Rochosas.
Não foi nosso objetivo incluir discussões abrangentes de qualquer das questões
apresentadas. Optamos por apresentar um esboço geral de nossas idéias numa forma
suficientemente coerente para ser útil a outros profissionais, e, ao mesmo tempo,
proteger nossos textos, para podermos ensinar livremente nossas idéias e técnicas. É
nossa esperança que a maior parte do material aqui apresentado continue a ser
desenvolvido em forma de livro ou em publicações profissionais.
A Análise Transacional é nosso quadro básico de referência e, no
interesse da concisão, supomos que nossos leitores já tenham tomado algum contato
com Análise Transacional.
Embora o nosso foco principal seja o tratamento de distúrbios psiquiátricos
severos (aqueles que incapacitam), nossa própria experiência e a de muitos outros na

3
utilização deste material têm demonstrado a aplicabilidade da teoria e das técnicas no
tratamento de outros problemas menos incapacitantes.
O material tem sido também utilizado extensivamente em programas gerais de
atualização própria, realizados para aumentar ou estimular o funcionamento autônomo,
como também pôr organizações industriais para o aumento de sua eficiência.
Devido ao contínuo fluxo de idéias entre equipe, estagiários e pacientes, é difícil
atribuir crédito de partes específicas do material entre os principais colaboradores.
Contudo, esses colaboradores estão aqui relacionados de acordo com a quantidade da
contribuição aqui utilizada. O material da Passividade originou-se com A. Schiff e J.
Schiff, que contribuíram ativamente para a maioria das idéias apresentadas. K. Mellor e
E. Schiff desenvolveram grande parte da discussão sobre Desqualificação; J. Schiff é o
principal responsável pelo material da Parentalização e do desenvolvimento da criança e
E. Schiff contribuiu para o desenvolvimento do material das técnicas regressivas e da
estrutura do quadro de referência. K. Mellor e S. Schiff desenvolveram o material de
Redefinição; J. Fishman, K. Mellor e S. Schiff contribuíram para as outras idéias aqui
apresentadas e especificamente para os elementos do quadro de referência. Linda Wolz
contribui para o material catatônico e C. Fishman e D. Momb para o material da histeria.
Desenvolver este material durante diversos anos em trabalho de grupo foi muitas
vezes divertido (e algumas vezes não), mas a participação e o desenvolvimento pessoal
envolvido foram particularmente gratificantes para todos nós, e a utilização deste
material, para um tratamento mais efetivo de pacientes que cuidamos, tem sido uma
fonte contínua de excitação e estímulo.

Jacqui Lee Schiff

4
Capítulo Um
INTRODUÇÃO
O Instituto Cathexis é uma organização interdisciplinar fundada para
congregar profissionais interessados em fazer pesquisa sobre a origem social,
cultural e psicológica de distúrbios emocionais severos, bem como o seu
tratamento psicoterapêutico, além do treinamento de outros profissionais na
utilização das teorias e técnicas desenvolvidas. Atualmente existem dois
programas, um em Hollywood e outro em Oakland (Califórnia), que se dedicam à
pesquisa, através de programas de tratamento experimental e treinamento de
profissionais. Além disto, há vários centros de tratamento e treinamento que
estão usando e expandindo o trabalho já feito no Instituo Cathexias. Embora o
Instituto tenha continuado o trabalho pioneiro de sua fundadora Jacqui Schiff
sobre o problema da esquizofrenia, os modelos teóricos e técnicas de tratamento
desenvolvidas são aplicáveis a uma ampla gama de problemas, como os
encontrados em escolas, comunidades religiosas, estruturas organizacionais e
educação de crianças.
Quando Moe e Jacqui Schiff levaram o primeiro jovem esquizofrênico para
sua casa em 1965, não previam os desenvolvimentos que iriam ocorrer. Naquele
estágio, muito pouco se sabia sobre o tratamento eficaz da esquizofrenia. Pouco
tempo depois, a “família” havia crescido para 15, e o processo de
Reparentalização se iniciava quando experiências com a decatexização do
Estado de Ego do Pai permitiram resultados positivos. Durante esta fase foram
colhidas informações sobre processos patológicos, estruturas externas e
intervenções necessárias para tratá-los com êxito. Aconteceram sucessos
dramáticos e fracassos frustrantes.
Os resultados deste período foram publicados por J. Schiff, A. Schiff e três
outros membros da família no “Transactional Analysis Bulletin” de julho de 1969. Em
1
seu artigo “Reparentalizando esquizofrênicos’’ Jacqui Schiff descreveu a situação do
tratamento da família, o abandono das crianças pelos pais naturais, o estabelecimento

1
“Reparenting Schizophrenics”, Transactional Analysis Bulletin, Vol. 8. Nº 31 (July, 1969).

5
da relação primária com uma nova mãe e as mensagens iniciais essenciais para a
realização disso.
Um aspecto essencial do meio ambiente era a expectativa de relações abertas e
a falta de segredo. O artigo definia a estrutura da esquizofrenia como um sistema
fechado de mensagens inter-relacionadas e adaptações em cada Estado do Ego,
discutia o que era conhecido sobre os quadros de referência da paranóia, catatonia e
hebefrenia, e destacava o problema seletivo comum a todos os esquizofrênicos
(desordem de pensamento).
A regressão era reconhecida terapeuticamente útil, porém ainda era incerto que
tipo e quanto apoio eram útil, seguro e apropriado. Muitos pontos daquele artigo foram
modificados ou elaborados na fase seguinte de desenvolvimento. O artigo de A. Schiff
descrevendo os processos de troca das adaptações patológicas do Pai antigo para
adaptações mais saudáveis do novo Pai (antes de uso extensivo de técnicas
regressivas) está também incompleto, porém em essência, está correto.
O passo seguinte caracteriza-se pelo desenvolvimento e publicação de modelos
teóricos que integravam os dados coligidos até então; explicava algumas falhas e
fornecia a orientação para futuras pesquisas. Em resposta as perguntas apresentadas
por Eric, o paciente mais regressivo encontrado até aquela data (e que mais tarde seria
Eric Schiff), o uso de técnicas regressivas foi explorado e expedido muito além de
qualquer coisa até então tentada. A realidade das necessidades urgentes da Criança
dentro de cada esquizofrênico começou a ser reconhecida integralmente.
Concomitantemente a exploração das novas técnicas regressivas, iniciou-se um exame
intensivo do problema da Passividade. Havia alguns pacientes nos quais - apesar do
esforço conjunto - não tinha sido possível interromper um padrão de Comportamentos
Passivos. Obviamente, a Passividade estava sendo reforçada. Esta pesquisa culminou
com a publicação do artigo “Passividade’’, da autoria de Aaron e Jacqui Schiff 2, no qual
a estrutura e a dinâmica da Síndrome da Passividade eram definidas em termos de
Simbiose (patológica), Desqualificação, Grandiosidade e condutas passivas. O artigo
esquematiza o tratamento que foi desenvolvido sobre essas bases teóricas.

2
“Passivity”, Transactional Analysis Journal 1, Nº 1 (January 1971).

6
Naturalmente, a pesquisa sobre a Passividade não parou aí e à medida que se
aprendia tanto a teoria, como o tratamento, estes se expediram e modificaram-se. A
primeira apresentação em profundidade da pesquisa sobre esquizofrenia foi a
publicação de “All My Children” 3, em 1970, de Jacqui Schiff e Beth Day. O uso da
regressão foi explicado e expandido como também o processo geral de
Reparentalização.
Pela primeira vez foi discutido o grau de envolvimento íntimo entre o terapeuta e
o paciente. Num clima psiquiátrico, no qual um gesto carinhoso era considerando
altamente impróprio, onde a transferência e contratransferência deveriam ser
enfrentadas de lados opostos de uma escrivaninha, as idéias apresentadas na literatura
inicial sobre Reparentalização foram consideradas chocantes.
A controvérsia sobre os métodos e teorias intensificou-se e a pesquisa teve que
continuar numa atmosfera de antagonismo que muitas vezes ameaçou a sobrevivência
da família. Com o tempo, a controvérsia foi abrandando. A eficácia das técnicas e a
validade das teorias foram observadas e aceitas. Outros a têm usado com resultados
semelhantes àqueles obtidos pelos Schiff. Uma parte da controvérsia centrava-se no
uso do diagnóstico e categorias de diagnóstico que eram considerados como suporte
de um sistema destrutivo de rotulação. Os pesquisadores no Cathexis Institute têm
sustentado que, se um termo de diagnóstico designa uma síndrome observável cuja
origem e estrutura é conhecida, uma estrutura na qual a diagnose não é considerado
relevante para o estado de oqueidade, ela simplesmente define o conjunto da dinâmica
e problemas inter-relacionados que o paciente e o terapeuta poderão então resolver
juntos. A esquizofrenia é considerada um problema solúvel no Instituto Cathexis.
À medida que a controvérsia declinava, começou a aumentar a demanda da
comunidade profissional para maior acesso à pesquisa e para o treinamento dos
métodos e técnicas da família Schiff. Esta mudança de enfoque do tratamento para a
pesquisa e treinamento foi facilitada pela energia e estímulo da equipe do Cathexis
Foi desenvolvido um programa de laboratório para pacientes de ambulatório, em
resposta aos pedidos para pesquisa e treinamento, como também à necessidade óbvia

3
All My Children (New York: M. Evans and Publishing Co., Inc., 1970).

7
de ter diversas estruturas de tratamento além do programa residencial utilizado nos
estágios iniciais.
Em 1971, foi aberta a Escola Cathexis em Danville, Califórnia, para crianças
incontroláveis das escolas públicas. Em 1973, a escola foi transferida para Oakland,
para expandir suas instalações e serviços. Atualmente este programa parece ser uma
abordagem promissora e uma alternativa viável para hospitalização para muitas
pessoas. Aspectos vitais dos programas iniciais foram incorporados com sucesso na
estrutura dos pacientes de ambulatório, especialmente a ênfase nos relacionamentos
abertos, ausência de segredo e uma participação de responsabilidades entre o
indivíduo e o grupo que inclui terapeutas como membros do grupo.
Novo material teórico significativo está sendo desenvolvido com o uso dos
recursos já mencionados. O interesse na Passividade tem continuado e trabalhos estão
sendo expandidos e elaborados nesse sentido. Houve importante progresso na
compreensão do conceito “quadro de referência” e na exploração e definição de
quadros específicos de referência para o pensamento envolvido nestas estruturas
associativas patológicas. Outro foco de interesse tem sido as formas como as pessoas
redefinem a realidade, especialmente em situações de pressão, a fim de obter uma
realidade com a qual se sentem mais confortáveis e podem enfrentar com mais
confiança com sua capacidade de solucionar problemas. Foi construído um modelo que
fornece uma visão clara do papel e da dinâmica da Redefinição. Outras áreas em que
têm sido desenvolvidas teorias mais significativas são a da histeria, paranóia,
hebefrenia e desordens maníaco-depressivas e obsessivo-compulsivos.
A partir de uma tentativa inicial e inesperada em 1965, o Cathexis Institute
tornou-se uma organização dedicada à exploração e solução de problemas tão
evidentes no campo da saúde mental e distúrbios emocionais debilitantes. A meta é
cura e os sucessos obtidos até agora indicam que é uma meta atingível. Há atualmente
numerosos centros de tratamento e treinamento utilizando o trabalho do Cathexis e a
conscientização internacional está crescendo.
Isto acrescenta uma dimensão importante e estimulante à pesquisa, da qual
novas idéias e um “feedback” útil já estão em desenvolvimento, além de fornecer ajuda
a muita gente que até agora não podia contar com ela.

8
O Cathexis Institute está empenhado na educação profissional e pública e no
desenvolvimento de recursos no campo da saúde mental que utiliza novas e criativas
filosofias de tratamento. Este compêndio está sendo publicado para levar adiante esse
objetivo.

Passividade
Introdução

Partindo do pressuposto que um organismo sadio é reativo, o enfoque básico


para pesquisa tem sido como as pessoas não fazem coisas (respondem a estímulos),
ou não as fazem eficazmente. Passividade em sentir, pensar ou fazer rompe o
equilíbrio do funcionamento social e resulta em angústia interna ou perturbações no
comportamento.

Vemos a Passividade como consequência de dependência não resolvida


(Simbiose), a Desqualificação como mecanismo e a Grandiosidade (distorção da
realidade) como fornecedora da justificativa.

SIMBIOSE

Definição
Uma Simbiose ocorre quando dois ou mais indivíduos se comportam como se
constituíssem uma única pessoa. Esta relação é caracterizada estruturalmente pelo fato
de nenhum dos indivíduos catectizar o conjunto completo de Estados de Ego. Embora a
Simbiose seja tratada como patológica, é importante lembrar que cada relação
significativa terá, num certo momento, um elemento de Simbiose. O conhecimento
funcional de Simbiose possibilita ao terapeuta ensinar ao paciente como agir na solução
de problemas, como utilizar a transferência a serviço das metas de tratamento e fazer
intervenções rápidas e agudas nas transações.

9
Simbiose saudável

Simbiose é uma ocorrência natural entre pais e filhos. Desde a concepção até que os
filhos estejam suficientemente amadurecidos para prover o próprio alimento, vestuário,
casa e Carícias, a Simbiose é necessária para sua sobrevivência. Se este
relacionamento é rompido, um substituto deve ser fornecido.

Eric Berne4 definiu saúde mental como uma capacidade para Espontaneidade,
Consciência e Intimidade. Uma Simbiose pode promover estas capacidades quando
faltam os indivíduos informações, habilidades mentais e físicas ou Carícias. Exemplos
disto são crianças, que não podem providenciar estas coisas para si mesmas; ou
pessoas física ou intelectualmente limitadas; ou ainda pessoas com uma depressão
reativa.
Simbiose patológica

Uma Simbiose torna-se patológica quando ela interfere no desenvolvimento das


três capacidades mencionadas. Um exemplo disto é a “mãe asfixiante” que,
constantemente inunda a criança com “afeição”. A Espontaneidade é prejudicada
porque a criança não tem oportunidade para iniciar o afeto. A Intimidade é prejudicada
porque a oferta e aceitação do afeto não são bilaterais. A criança não tem tempo e
motivação para explorar o mundo. O tempo e a energia da criança são estruturados
pela demanda de afeto da mãe.

Em geral a Simbiose é disfuncional quando ela interfere na sobrevivência ou


satisfação. A sobrevivência é prejudicada primeira pelo estabelecimento de uma
relação na qual cada um tem apenas uma parcela das habilidades ou estruturas
internas que são necessárias. Por consequência, uma ameaça para um é uma ameaça
para ambos. Em segundo lugar, as opções de cada indivíduo são limitadas devido à
necessidade de proteger o outro na Simbiose. Em terceiro, a eficácia em solucionar um
problema está limitada por se ter apenas uma visão de cada questão envolvida, em
oposição a duas visões para checagem. Todavia, em cada um destes casos, a

4
Eric Berne, Games People Play (New York: Grove Press, 1974), p. 184.

10
sobrevivência precisa ser a questão específica, porque a extensão em que uma pessoa
é menos competente interfere na sua satisfação. A incapacidade de sentir a
independência causa prejuízo tanto social quanto psicologicamente.

Relação com os Jogos


Os Jogos são: tentativas de restabelecer as relações simbióticas que as crianças não
resolveram com seus pais, ou é uma reação de raiva àquelas relações. O
restabelecimento dá um sentimento de segurança. Ou as crianças estão em posição de
serem cuidadas ou elas são competentes cuidadores. No primeiro caso, elas não têm
que se preocupar com os problemas porque estes são de responsabilidade de outra
pessoa. No segundo caso, elas não têm que se preocupar porque não são mais
problemas delas. Elas percebem o problema como pertencente à outra parte, para
quem estão bondosamente dando assistência.

Os Jogos que resultam de raiva do relacionamento simbiótico reforçam-no por não


colocarem um fim a ele, continuando-o por não esgotar a raiva. Essencialmente essas
pessoas estão afirmando o relacionamento simbiótico e reagindo com raiva a essa
afirmação. Isto é uma tentativa de passar a responsabilidade de solucionar o
relacionamento simbiótico para outros participantes do Jogo.
Os relacionamentos simbióticos podem ser vistos estrutural ou funcionalmente. A
adequação do aspecto a ser utilizado na análise depende do problema que está sendo
analisado.

Aspecto Estrutural
Os relacionamentos que resultam de uma Simbiose ou são competitivos ou são
complementares.
Num relacionamento competitivo, cada pessoa está competindo pela mesma posição
na Simbiose, por exemplo, a de uma criança dependente (vide fig. 2).
Neste caso, haverá frequentemente uma escalação de raiva, Agitação, Incapacitação,
etc.
Num relacionamento complementar, ambos os elementos concordam com suas
posições mútuas. (Vide fig. 1)

11
P
P

A A

C C

Exemplo:

Mãe: “Jonhny, eu sei que é difícil pra você ficar juntos dos seus
irmãos, mas você deveria ao menos tentar”

Jonhny: “Mas mamãe, eu tenho tentado e eu simplesmente não


consigo suportá-lo”.

Fig. 1 Simbiose Complementar

P P

C C

Exemplo:
Marido: “Se eu lhe disse uma vez, eu disse uma
centena de vezes...”.
Esposa: “Espera aí! Você nunca disse isso antes”.

Fig. 2 Simbiose Competitiva

O objetivo daquela escalada numa relação competitiva é definir que parte


conseguirá a posição que é considerada mais favorável por ambos, quando o
relacionamento complementar está estabelecido.
Numa Simbiose estrutural de primeira ordem, o relacionamento é aquele em que
ambas as partes excluem estados totais de ego ou desqualificam algum aspecto de um
Estado do Ego. Eles se relacionam ou através de contaminações ou de exclusões.

12
No exemplo competitivo, ambos percebem a mesma posição como preferível
para definir a realidade. Eventualmente um cederá ou ambos renunciarão ao
relacionamento.
Uma Simbiose estrutural de segunda ordem é mais incapacitante do que uma de
primeira ordem. Qualquer um dos modelos acima citados pode ser utilizado, sendo que
cada modelo é fixado na infância. Por exemplo: se as mães exigem que os filhos
atendam às necessidades delas, os filhos podem achar que devem atender aos desejos
da mãe para sobreviver. (Ver capítulo 5 – Quadro de Referência Esquizofrênico) Isto
pode conduzir a um desenvolvimento acelerado de A1 e P1.
O padrão deste tipo de Simbiose ocorre inicialmente como mostrado na fig. 3.

Aspecto Funcional
A Simbiose funcional ocorre quando as pessoas decidem que a função é mais
importante do que os Estados de Ego. Isto pode ser moderado ou rigoroso. O “Script”
dos papéis do sexo masculino e feminino é uma variação branda. Exemplo: “Como o
homem desta casa, ficarei fora da cozinha, e como a mulher, você ficará fora da
oficina”. Isto pode ser traduzido assim: “Posso usar meu Adulto na oficina, mas não na
cozinha”. “Você pode usar o seu Adulto na cozinha, mas não na oficina”.
Uma estrutura familiar maníaco-depressiva é uma variação extrema. (Ver
capítulo 6 Quadro de Referência maníaco-depressivo).

Mãe

P2

P1

P1 C2
A1

C1

C1
Filho

Fig. 3 Exemplo de Simbiose de Segunda Ordem


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Intervenção
É importante ter em mente que relações simbióticas são lábeis. Posições papeis
e os contratos simbióticos estão frequentemente mudando. A intensidade de uma
Simbiose muda com o grau de ameaça percebido e com a confiança dos indivíduos de
que eles possam lidar com sucesso com os problemas que estão enfrentando.
Compreender a função de uma Simbiose é vital para que o tratamento tenha
sucesso. A manobra fundamental está dirigida para transferir responsabilidade de um
problema para outra pessoa ou outras pessoas. Depois de cuidadosa análise do Jogo e
dos problemas simbióticos que lhe dão origem, o terapeuta deve decidir como o
contrato terapêutico seria mais eficazmente atingido: (1) aceitando a Simbiose e
trabalhando com ela; (2) confrontando-a; (3) ou interrompendo-a pela transferência do
problema de volta ao paciente.

Comportamentos Passivos
Nós identificamos quatro tipos de comportamento passivo utilizados para
estabelecer relacionamentos simbióticos patológicos. São eles:

(1) Não fazer nada (inércia);


(2) Superadaptação;
(3) Agitação;
(4) Incapacitação ou violência.

Esses comportamentos são as manifestações externas que acompanham o


mecanismo interno e os processos de Desqualificação, Grandiosidade e desordens de
pensamentos a serem discutidos. O uso de qualquer um desses Comportamentos
Passivos é uma tentativa para estabelecer uma Simbiose e qualquer resposta a eles é
necessariamente simbiótica. No tratamento, o objetivo é responder ao comportamento
de maneira que os pacientes reajam ativamente e que o terapeuta possa sair da
Simbiose o mais depressa possível. Uma conduta ativa envolve pensar, agir e sentir

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autonomamente. Sem Desqualificação, os pacientes estabelecem metas separadas,
visualizam como atingi-las, pensam sobre o que estão fazendo e agem.
Definição
Os Comportamentos Passivos são as ações externas e internas que as pessoas
empregam para evitar respostas autônomas aos estímulos, problemas ou opções, a fim
de satisfazer suas necessidades ou atingir objetivos dentro da estrutura de
relacionamentos simbióticos patológicos.

Não fazer nada (inércia)


Envolve uma não reação a estímulos, problemas ou opções. Em lugar da energia
do paciente ser dirigida para a ação, é utilizado para inibir reações. Embora não
fazendo nada, os pacientes estão usualmente conscientes de estarem desconfortáveis
e conscientes de sua própria identidade, mas pensam pouco sobre o que está
ocorrendo.
Exemplo: Bill diz para Jerry: - “Estou zangado porque você está atrasado”. Jerry
parece apavorado e nada responde. Enquanto Bill aguarda uma resposta, ele vai
ficando cada vez mais desconfortável e pode ter impulsos para socorrer Jerry (como
perguntar: “O que você esteve fazendo?”) ou então para persegui-lo.

Superadaptação
Quando as pessoas se superadaptam, não identificam seus próprios objetivos,
porém aceitam os objetivos declarados de outras pessoas ou fantasiam que objetivos
são esses sem, entretanto, refletir sobre sua relevância ou significância. Como estão
superadaptadas, as pessoas frequentemente parecem muito serviçais e por isso, a
Superadaptação consegue muito esforço dos outros. A Superadaptação opõe-se à
adaptação, na qual as pessoas pensam e fixam seus próprios objetivos em relação a
uma avaliação real da situação.
Este é o comportamento passivo mais difícil de identificar. Contudo, é o mais
acessível a tratamento, porque as pessoas superadaptadas podem receber um grande
número de informações objetivas sobre suas habilidades, capacidades, situação e

15
consequências de seu comportamento. Este procedimento confronta a sua
Desqualificação de uma forma que torna difícil continuar a desqualificar.
Além disso, dos quatro Comportamentos Passivos, a Superadaptação é o que
ocorre mais reflexão. Isto pode ser usado para levar as pessoas à adaptação através
de afirmações feitas pelo Pai ou Adulto, do tipo: “Você pode pensar” ou “Você pode agir
com eficiência” ou “Você pode decidir seus próprios objetivos” ou “Você pode resolver
problemas”.
Exemplos: 1) Joe resolveu ir a loja fazer algumas compras. No momento em que
ia saindo, pedem-lhe para aparar a grama do jardim, o que ele faz imediatamente sem
dizer uma palavra. 2) Mary está reclamando por ter que carregar uma porção de
pacotes e Jane pega alguns deles sem que Mary lhe tenha pedido.
Um método para confrontar a Superadaptação é apresentar aos pacientes
expectativas absurdas e até ridículas como tentativa para fazê-los utilizar seu próprio
Adulto para definir o que é apropriado e o que não é apropriado; isto provavelmente
resultará numa exteriorização de raiva e romperá a Simbiose.

Agitação
A Agitação envolve pessoas empenhadas em atividade repetitiva e sem nenhum
objetivo. Caracteriza-se pelos indivíduos agitados sentirem uma sensação incômoda de
formigamento. Esses comportamentos de evitação são usados para consumir a
energia. O pensamento é confuso e improdutivo e as pessoas ficam intensamente
inquietas. Elas sentem que a Simbiose está sendo ameaçada e sabem que precisam
“fazer alguma coisa” efetiva, porém acham que são inadequadas. Frequentemente, a
Agitação é sinal de iminente Incapacitação ou violência e seu significado não deve ser
subestimado. A energia aumenta para evitar um comportamento descontrolado.
Usando-se uma série de afirmações calmas e firmes (do Adulto), tais como:
“Acalme-se. Sente-se. Agora pense sobre o que está acontecendo”, acompanhadas de
Carícias físicas, consegue-se interromper o aumento dessa energia antes que ela seja
descarregada. Isto restaura o comportamento superadaptado do qual os pacientes
podem mudar para ação adaptada que é eficaz na solução de problemas que estão
sendo desqualificados.

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Durante o tratamento, os pacientes podem ser treinados a catectizar seu próprio
Pai para obter este resultado. A mudança da Agitação para o comportamento
superadaptado parece ser um passo necessário, porque não parece ser possível
catectar o Adulto dos pacientes enquanto eles estão agitados.
Uma ocorrência interessante e relevante para a Agitação é a maneira diferente
de como as pessoas sentem a sensação da Agitação. Muitas, talvez a maioria, relatam
que a Agitação é uma sensação “elétrica” ou “formigante” específica que sentem como
uma reação vibratória sobre a pele. Outras apenas sentem a Agitação no
comportamento. Parece que a Agitação é uma conduta oralmente determinada e para
alguns indivíduos é utilizada como sentimento transferido. Nesses casos, o
comportamento agitado é usado para negar e transferir os sentimentos para outra
pessoa. A pessoa que captar estes sentimentos não sente raiva, medo ou culpa. Este
problema parece ter-se originado de uma decisão durante o estágio oral quando a
criança sente sua nutriz agitada e aprende a escalar a Agitação como mecanismo de
controle. A Agitação tende a estar associada com estruturas masoquistas. Não temos
ainda trabalhado muito com o tratamento do problema com esta visão do mecanismo,
mas podemos antecipar que o tratamento consiste em colocar o indivíduo em contato
com a sensação primária. Seria importante assegurar que o Adulto está consciente que
não é necessário para ninguém estar continuamente agitado, pois que a experiência da
Criança pode ser que e todas as relações sociais envolvem mudanças de Agitação e
que a pessoa pode funcionar adequadamente mesmo sentindo a sensação.
Exemplos: 1) movimento repetitivo do corpo, como bater ligeiramente com as
pontas dos dedos continuamente; 2) andar no quarto de um lado para o outro; 3)
gaguejar ou tartamudear; 4) fumar; 5) pensamento repetitivo.

Incapacitação ou violência
Incapacitação ou violência é a descarga de energia armazenada quando as
pessoas estão sendo passivas. Num momento de percepção ou de real interrupção na
Simbiose, a incapacidade é uma tentativa para reforçá-la. Não ocorre nenhuma reflexão
durante a descarga, e os indivíduos não assumem nenhuma responsabilidade pelo seu
comportamento.

17
Na violência, a intervenção consiste em conter a escalada até que a energia
esteja descarregada. Depois disto, os terapeutas reescrevem o Script dos pacientes.
De um modo geral, não encontramos nenhuma forma de catectar o Adulto dos
pacientes enquanto a descarga não tenha terminado. Entretanto, com pacientes que
incorporam uma nova figura Parental, um estímulo que catectiza com sucesso o Pai
interromperá a escalada e abrirá o caminho para o catectis do Adulto. Especialmente
depois que a descarga de energia tenha ocorrido, os pacientes têm mais probabilidades
de se tornarem acessíveis para trabalhar. Eles terão muito de Criança catectizada e o
seu Adulto será facilmente catectizável. Neste ponto, espera-se que os pacientes
assumam a responsabilidade pelo comportamento inadequado e eles devem receber
informações sobre como a dinâmica e as consequências da escalada foram percebida
pelos outros. Um aspecto importante da violência é que as Carícias acontecem
externamente – ou outros acariciam ou acariciaram os pacientes pelo comportamento.
Mudar a economia de Carícias dos pacientes acerca do comportamento é
significante: por exemplo, dar Carícias negativas ao invés de positivas.
Quando os pacientes intensificam a incapacidade, eles estão usando uma forma
superadaptada de violência. Durante a escalada há normalmente muitas auto Carícias
que ajudam a mantê-la e depois da escalada é provável que não haja interesse em
pensar sobre ela. A melhor técnica para induzir os pacientes a pensarem na
incapacidade e assumirem a responsabilidade por sua escalada parece ser a retirada
de apoio e a recusa de cuidar deles enquanto estiverem incapacitados. Remover a
fonte externa de Carícias e cortar a recompensa simbiótica aumenta a probabilidade
dos pacientes assumirem a responsabilidade pelo comportamento.
Exemplos:

- Incapacidade: desmaio, dores de cabeça e vômitos;

- Violência: agressão física sobre pessoas ou propriedades/bens


Uma vez que as pessoas aprendem a ser passivas em suas famílias, identificar a
natureza do comportamento e suas possíveis origens poderá fornecer um acesso direto
à natureza de suas primeiras relações e o estágio de desenvolvimento em que foram
adotadas inicialmente.

18
Desqualificação
Definição
Desqualificação é um mecanismo interno que leva pessoas a minimizarem ou
ignorarem alguns aspectos de si próprias, de outras pessoas, ou a realidade. Nossa
posição é que há uma realidade consensualmente definível e que a Desqualificação
envolve um quadro de referência que deforma ou é inconsciente com essa realidade.
Pela Desqualificação, as pessoas podem manter e reforçar um quadro de referência
disfuncional, praticar Jogos e levar adiante seus Scripts, ao mesmo tempo em que
tentam reforçar ou confirmar relações simbióticas com outros. A Desqualificação não é
operacionalmente observável. Não obstante, podemos perceber algumas
manifestações de Desqualificação como Comportamentos Passivos, Redefinição de
transações, transações ulteriores e comportamentos nas posições do “Triângulo
Dramático” de Karpmann 5.
É importante lembrar que essas manifestações exteriores originam-se da
Desqualificação, mas não são desqualificações em si próprias.

Classificação das desqualificações


As desqualificações têm sido classificadas de acordo com a área, tipo e modo. As três
áreas que as pessoas desqualificam são elas próprias, outros e a situação. Em
qualquer uma dessas áreas, três tipos de Desqualificação podem ser identificados:

- Desqualificação de estímulos

- De problemas

- E/ou opções.
A negação de sentimentos, por exemplo, pode ser assim classificada:

- Área desqualificada: o Self

- Tipo de Desqualificação: estímulo

5
Karpman, S. B., “Fairy Tales and Script Drama Analysis,” Transactional Analysis Bulletin 7, N° 26 (April 1968).

19
Há quatro modos em que cada tipo de Desqualificação pode ocorrer:
1. A existência de estímulos, problemas ou opções são desqualificadas. Por exemplo:
ignorar a dor envolve uma Desqualificação do próprio estímulo.
Da mesma forma algumas pessoas poderiam desqualificar a própria existência de um
problema, ou a existência de qualquer opção para resolver um problema ou atingir uma
meta.
2. O significado de um estímulo, problema ou opção pode ser desqualificado. Aqui,
alguns indivíduos poderão reconhecer um estímulo, problema ou opção, porém
minimizam ou desvirtuam sua importância ou a relevância para a situação, para si
próprio ou para outros.
3. As possibilidades de mudanças relacionadas aos estímulos, problemas e opções
poderão ser desqualificadas. Assim, haverá uma Desqualificação da mutabilidade do
estímulo, como por exemplo: “Estou sempre com fome (estímulo interno); é genético”.
A solubilidade dos problemas pode ser desqualificada:
“As pessoas não podem trabalhar quando são aleijadas”; e a viabilidade de opções
pode ser desqualificada: “Você simplesmente não pode falar quando está zangado”.

4. Que alguma pessoa (ele próprio ou os outros) pode fazer algo diferente ou eficiente.
Isto é, indivíduos podem desqualificar sua própria habilidade de outra pessoa de reagir
diferentemente aos estímulos, de resolver problemas ou agir segundo opções acordo
com o quadro 1, três relacionamentos foram identificados:

1. De modo geral, para cada tipo de Desqualificação, uma Desqualificação em


qualquer um dos quatro modos envolve desqualificações em todos os outros
abaixo dele no quadro.

Por exemplo: pessoas que desqualificam um estímulo, em geral desqualificarão


também o significado do estímulo, a mutabilidade e sua habilidade de reagir
diferentemente ao estímulo. (vide flecha no quadro)

20
TABELA I – Relação entre Tipos e Modos de Desqualificação

2. De modo geral, em qualquer fileira no QUADRO, a Desqualificação de um tipo


envolve desqualificações de todos os tipos a sua direita. Por exemplo: pessoas que
desqualificam a dor (estímulo) negarão a existência de um problema como também de
opções para solucionar o problema relacionado com a dor (vide flecha horizontal no
QUADRO UM).
3. Desqualificações que ocorrem em qualquer ponto do QUADRO envolvem, também,
desqualificações na linha abaixo a esquerda e na linha acima a direita (vide flechas
diagonais no QUADRO UM). Por exemplo: se uma mãe desqualificada a importância do
choro de um bebê (estímulo) fechando a porta do quarto do bebê, ela está também
desqualificando a existência de um problema com o bebê. Da mesma forma, se ela diz:
“O bebê chora sempre; não há nada a fazer”, ela está desqualificando sua própria
habilidade e a do bebê para reagir ao estímulo, negando a solubilidade do problema e a
importância de opções. (Isso não fará nenhuma diferença).
Em geral, crianças que crescem em ambientes nos quais a Desqualificação está

21
sistematicamente na posição do canto esquerdo superior ou próximo a ele no QUADRO
UM desenvolvem a patologia mais incapacitante.

Desqualificação e pensamento
Todas as desqualificações estão fora da consciência e prejudicam um pensamento
efetivo. Elas envolvem o pensamento das pessoas numa Contaminação ou com uma
Exclusão. Isso limita o funcionamento do Adulto. As limitações são especialmente
aparentes na integração de processos internos e externos. O indivíduo ao jogar será
incapaz de lidar com uma questão particular em pauta, descrevendo:
1. Meus pensamentos, sentimentos e ações relevantes;
2. Os pensamentos, sentimentos e ações de outros;
3. Os aspectos relevantes da situação da realidade.
Este tipo de seleção de problemas aparecerá sempre quando os indivíduos jogam. Há,
necessariamente, uma Desqualificação identificável e um consequente exagero em
alguns outros aspectos importantes.
A identificação do mecanismo interno tipicamente usado por essas pessoas é útil no
diagnóstico para estabelecer programas de tratamento.

Intervenções de tratamento
Cada vez que uma Desqualificação é confirmada por uma resposta, segue-se um Jogo.
O tratamento, portanto, tem a intenção de confrontar a Desqualificação numa maneira
direcional gradual. A direção geral no tratamento é do externo para o interno e depois
para uma integração de ambos, embora isto não deva ser considerado um programa
rígido. O tratamento se inicia ajudando os pacientes a identificarem as manifestações
externas, tais como as transações, os comportamentos, os Jogos que resultam de suas
desqualificações.
O segundo passo é focalizar as áreas, tipos e modos de Desqualificação; o foco aqui se
refere à dinâmica interna. O empenho dos pacientes na Desqualificação pode ser
identificado como um terceiro passo, visando diminuir o empenho deles no
comportamento da Desqualificação. O passo final será consolidar o empenho do
paciente em comportamentos e transações sem Desqualificação, e sentindo o forço

22
positivo como consequência de seus próprios comportamentos. A integração interna-
externa ocorre aqui.
Intervenções terapêuticas usadas durante cada um dos quatro passos acima descritos
podem ser planejadas para evitar que uma intervenção caia em cima ou abaixo de
qualquer diagonal indicada no QUADRO UM. Se a intervenção não está acima da
diagonal ao longo da qual aquela pessoa está desqualificando, a própria intervenção
será desqualificada. Assim, o foco do tratamento tende a caminhar do alto do canto
esquerdo do QUADRO para a base do canto direito, enfocando cada diagonal como
uma fase no tratamento. As fases de tratamento estão indicadas no QUADRO UM por
um T. Cada fase tem aspectos característicos que poderão necessitar de atenção.
T1: conscientização (interna ou externa)
T2: significado da conscientização, definição do problema.
T3: conscientização de mudança (geral), definição do significado do problema,
conscientização e definição de opções relacionadas.
T4: conscientização das habilidades pessoais para mudar, para definir soluções do
problema, para selecionar as possíveis opções para ação.
T5: conscientização da habilidade pessoal de solucionar problemas (opções de
ação), seleção de opções viáveis.
T6: conscientização de potencial pessoal de ação e a própria ação.
Essas questões vão desde a conscientização de aspectos de si próprio, de outros ou da
realidade, até pensar sobre essa conscientização, a fim de definir problemas e opções
para solucioná-los, chegando a ação efetiva dessas opções. Desqualificação,
Grandiosidade ou desordens de pensamento podem interferir em qualquer estágio e
deverão ser tratados quando ocorrem.

Grandiosidade
Grandiosidade é um mecanismo interno envolvendo um exagero (maximização ou
minimização) de alguns aspectos de si próprio, de outros ou da situação. Por exemplo,
a afirmação: “Eu estava tão apavorado que não pude pensar”, envolve uma
maximização da importância do sentimento, como também uma minimização das
habilidades da pessoa para pensar quando apavorada.

23
Funções da Grandiosidade
A Grandiosidade é usada pelas pessoas para justificar a manutenção da Simbiose. Por
exemplo, se o quadro de referência de um indivíduo impede o pensamento quando
assustado, então a solução do problema deve vir do ambiente (salvação). Além disso, a
Grandiosidade é uma compensação para a auto percepção desses indivíduos como
inadequados. Se estiverem “morrendo de medo”, essas pessoas evitam tratar dos
medos relacionados com sua inadequação para enfrentar a situação que se apresenta.
O pensamento subjacente à Grandiosidade envolve uma posição enganadora de “Eu
não posso suportar” e causa um deslocamento de responsabilidade para outros e / ou
para a situação.

Distúrbios de Pensamento
Processos internos e externos
A definição de Eric Berne de funcionamento saudável como espontâneo consciente e
íntimo 6 (6) descreve um indivíduo que realizou uma integração funcional de processos
internos e externos. Processos internos são aquelas atividades que são elaboradas
dentro da cabeça do indivíduo. Processos externos é a integração comportamental do
indivíduo com o ambiente. Conscientização refere-se à análise do Adulto de alguém em
relação ao ambiente. A Espontaneidade ocorre de forma segura quando o indivíduo
pode antecipar a interferência do Adulto e do Pai, se a reação espontânea for
imprudente. Intimidade requer uma estrutura de valor em que é possível se relacionar
com partes do ambiente externo (pessoas e situações) partindo de uma posição de
confiança e vulnerabilidade.
Distúrbios ocorrem quando as pessoas agem essencialmente a partir de um quadro de
referência interno ou tentam adaptar-se totalmente a situações externas sem relacioná-
las com o quadro de referência interno, ou ainda quando a interpretação de dados é
atípica, tornando difícil uma aliança entre o que é interno e o que é externo.
Exemplos:
Indivíduos que são superadaptados ou excessivamente competitivos dão uma ênfase
6
Berne, Games People Play

24
excessiva às situações externas; indivíduos que são egocêntricos ou rebeldes
funcionam a partir de uma referência interna; e indivíduos cujo aprendizado forneceu-
lhes definições únicas de atividade interna ou externa serão incapazes de integrar as
duas.
Uma manifestação importante de mau funcionamento do pensar sobre processos
internos e externos será demonstrada na estruturação do tempo e das metas. Quando
há uma ênfase excessiva nas situações externas, surgirão problemas com motivação,
pois nesse caso a atividade está apenas indiretamente integrada ao sentimento. O
quadro de referência interno resultará numa avaliação ineficaz da realidade externa e
alcançar as metas tornar-se-á difícil em relação à visão omissa ou distorcida das
situações. Os indivíduos com informações distorcidas sentir-se-ão confusos nas áreas
de informações distorcidas quando tentarem relacionar-se com outros e,
provavelmente, desistirão, a fim de evitar a sensação de estarem sendo
sobrecarregados. Por exemplo: indivíduos que não sentem fome somática
provavelmente não a compreendem e assim sentem-se incapazes de participar de
atividades sociais relacionadas com a satisfação de comer, ou comer pode tornar-se
um comportamento de Agitação, resultando em superalimentação.

Problemas de seleção
A dificuldade em integrar informações em estruturas significativas de pensamento é
normalmente demonstrada como uma dificuldade de selecionar informações relevantes
e integrá-las em uma “gestalt” funcional. À medida que se torna mais disfuncional,
parece que um foco significativo para o mecanismo do distúrbio está ligando o corpo
caloso e a não integração das duas partes do cérebro. Parece que há uma relação
identificável entre dominância cerebral e aqueles processos que serão excluídos a
serviço da patologia.
(vide Capítulo 7).

Super detalhamento
Acerca de qualquer problema é possível sobrecarregar-se com um excessivo número
de estímulos, relevantes e irrelevantes, e dar peso grande erroneamente a detalhes. O

25
resultado é uma série de série de detalhes maciçamente confusos. Este é o mecanismo
mais comum para o pensamento ineficaz.

Super generalização
Perguntas do tipo: “Qual é o significado de vida?”, “Quem é você?”, “Você me ama
mesmo?” são típicas de pensamento supergeneralizado. O problema, pela sua
definição, torna-se tão geral que é esmagador em seu peso, logicamente irrespondível
ou semanticamente sem sentido.

Escaladas
Jogos se dão em variados níveis de payoff. O significado de cada payoff pode ser
definido internamente de acordo com a maneira como está a serviço do Script.
Entretanto, o envolvimento bem sucedido num Jogo geralmente depende de se
encontrar um parceiro complementar. Os dois jogadores devem então estabelecer um
nível mutuamente satisfação de payoff (tudo sem uma discussão direta do problema).
Se um dos jogadores reluta em entrar no Jogo no nível do payoff desejado pelo outro, é
provável que surjam tentativas para manipular ou redefinir a situação de maneira a
satisfazer o jogador que quer um nível mais alto de payoff.
Exemplo: Uma discussão conjugal sobre o uso do carro da família pode ser escalada a
uma questão envolvendo separação e divórcio. Nesse caso, o problema original não é
mais o foco do pensamento e as metas apropriadas são desqualificadas em relação ao
problema original.
A escalada pode resultar numa saída de um dos jogadores para quem as apostas
ficaram muito altas (destrutivas) para integração no Script. O jogador que ficar procura
então outro parceiro. Uma alternativa utilizada por indivíduos psicóticos, e por algumas
desordens particularmente destrutivas usualmente não consideradas psicóticas
(exemplo: histeria), é continuar a escalada numa tentativa frenética de obter uma
resposta em qualquer parte do ambiente.
Um dos usos importantes do material de Desqualificação é reconhecer a escalada nos
estágios iniciais, de forma que seja possível a intervenção antes que haja uma perda

26
total de funcionamento.

Fantasia
A fantasia é decisiva para o pensamento efetivo. Por exemplo: a memória é uma
fantasia que foi definida como tendo sido real. A antecipação de fatos e a preparação
fácil (estruturação) para esses fatos vêm da fantasia. As percepções envolvem muita
fantasia. Por exemplo: olhando-se para uma mesa de um ângulo do qual as quatro
pernas não são visíveis, muitos de nós não têm dificuldade em identificar o objeto como
uma mesa. Utilizamos a fantasia para definir aquela parte do objeto que não pode ser
vista. Muito de nossa conceituação, aquela parte de nosso pensamento que deriva do
pequeno Professor (Adulto na Criança = A1): é uma estrutura fantasiosa. O Estado do
Ego de Pai é incorporado como uma fantasia.
Perturbações na fantasia têm probabilidade de ter sérias consequências. A pessoa
pode ter dificuldade em definir a realidade, ter alucinações ou ilusões, e terá,
certamente, problemas para antecipar e planejar futuros eventos. A organização torna-
se esmagadoramente difícil para pessoas que não têm disponível um mecanismo
produtivo de fantasia.
A utilização da fantasia a serviço do pensamento pode ser ensinada com relativa
facilidade; torna-se mais difícil limitar a fantasia a serviço dos Jogos.

Origem das desordens mentais


Consideramos o pensamento como uma adaptação que é aprendida em resposta a
exigências do ambiente. Alguns indivíduos, devido a deficiências biológicas, limitações
de estimulações ambientais ou aprendizado incorreto, não têm tido sucesso no
desenvolvimento de um pensamento socialmente funcional.
Para muitas pessoas com problemas de pensamento há questões de Script que são
quase sempre acompanhadas por informações errôneas: “Pensar é um trabalho duro”,
ou Injunções como: “Pense sobre alguma outra coisa”, “Não se preocupe com isso”.
Geralmente isto é acompanhado por problemas externos no processo de adaptação
causado por exigências parentais excessivas, insuficientes ou impróprias
(inadequadas).

27
Consideramos que o pensamento eficaz está ligado a uma confortável solução anal. O
Adulto começa a agir como um Estado do Ego autônomo entre as idades de dois e três
anos com essa solução e a catexização do Adulto nesse estágio é estruturada como
resultado do conflito sentido pelas crianças na integração das exigências internas.
Quando as crianças fazem um contrato social, decidem que vão partilhar o mundo com
outros, estas sentem necessidade de integrar muito mais dados a suas percepções.
Isto exige um passo adiante em termos de pensamento; o padrão resultante fornece um
conjunto para pensamento posterior (para os Jogos).
Às vezes o distúrbio de pensamento é utilizado como meio de evitar outros problemas
ou compensar outros problemas. Exemplo disso são a atividade intensificada,
pensamento ou sensações como meios de evitar ou simplesmente nunca pensar sobre
um sentimento particular em relação ao qual possa não haver suficiente controle.

CONCLUSÃO:
O material sobre Passividade fornece um quadro de referência conceitual para lidar
com a maioria dos problemas de tratamento e mostrou-se útil em diversas outras
situações.

A solicitação de atividade, envolvimento e solução de problemas que é intrínseca à


utilização deste material, facilita o funcionamento social efetivo na maioria dos
contextos.

Capítulo Três

ESTADOS DO EGO

Introdução
Pacientes com distúrbios psicológicos incapacitantes desenvolveram estruturas
internas que não lhes permitem integrar experiências internas e externas de maneira
funcional. A cura da esquizofrenia e de outros distúrbios incapacitantes sérios não é
possível sem um modelo que possibilite, tanto ao terapeuta como ao paciente, integrar

28
as diversas sensações, pensamentos, impulsos, inibições e valores numa “Gestalt”
claramente compreensível. A análise estrutural nos fornece esse modelo7.
O modelo tem, entretanto, maiores implicações para o tratamento. A
manipulação seletiva dos estados do ego, atenção aos recursos de energia disponíveis
para os indivíduos na sua utilização de estados do ego e controle dos conteúdos dos
estados do ego através de reforço ambiental causando o desenvolvimento de novas
respostas condicionadas fornece-nos maiores estratégias para intervenção.

Características dos Estados do Ego


O Estado do Ego Pai contém “definições” sobre o mundo, a criança e sobre o
relacionamento da criança com o mundo. Exemplo: “Você vai ser o melhor jogador de
cartas do mundo”. Fornece prescrições e conselhos: “Água parada não move moinho”.
Demanda ações ou remete a ações: “Não fique aí, faça alguma coisa”. Além disto,
contém regras e programas para a realização de certas tarefas. Exemplo: “Para
resolver um problema você precisa defini-lo”.
O Estado do Ego Adulto é um programador de dados e um banco de dados. Ele
usa a estrutura de Pai para a solução de problemas. Não é auto - catexizante.
Somente quando o Pai ou a Criança solicitam que o Adulto pense sobre alguma coisa
ele o fará.
Muitas pessoas mantêm seu Adulto funcionando até certo ponto todo o tempo.
Isto porque é uma adaptação básica de sobrevivência.
Tanto o Pai como o Adulto são adaptações. Elas estão estruturadas a partir do
ambiente externo e estão sujeitas a influências culturais. Permitem que o indivíduo
armazene e selecione dados e torna possível seguir metas de longo alcance quando há
um conflito entre a procura dessas metas e a obtenção de recompensa imediata.
A Criança é percebida pelas pessoas saudáveis como a parte mais real de suas
personalidades. Ela contém toas as experiências que as pessoas tiveram. É também o
depósito dos Jogos que aprendeu de seus pais. A Criança é o Estado do Ego mais
inteligente. Sua principal preocupação é como maximizar a recompensa ou o conforto e
minimizar o desconforto.
7
Berne, E.Transactional Analysis in Psychotherapy (New York: Grove Press, 1961), Part I.

29
Desenvolvimento e Incorporação dos Estados do Ego
Observamos três categorias de fenômenos entre o nascimento e seis a oito
meses de idade. A primeira constitui as reações reflexas a estímulos, tanto internas
(choro de fome) como externas (ser colocado ao seio para amamentação).
A segunda categoria diz respeito as referências ou recusas que parecem ser
intrínsecas a uma experiência particular (não gostar de cenoura passada na peneira). A
terceira são as preferências ou recusas que estão condicionadas. (O choro se extingue
como uma reação à fome num bebê pré - hebefrênico).
Esses fenômenos funcionais correspondem a C0, A0 e P0 (nesta ordem), na
‘‘NOMENCLATURA ESTRUTURAL PADRONIZADA’’ de Berne8. Nesta idade, as
crianças vivenciam as ocorrências internas e a realidade externa na media em que uma
ocorrência externa faz imediatamente contato com elas. Esta estrutura de terceira
ordem (vide fig.4) torna-se útil na conceituação da motivação. Ela pode ser usada para
rastrear os vários passos de interação dos estados do ego até chegar a Criança
Natural.

C2
P0

C1 A0
C0

Fig. 4 Desenvolvimento e Incorporação dos Estados do Ego

8
Berne, E., “Standard Nomenclature”, Transactional Analysis Bulletin 8, nº 32 (October 1969): 111-112

30
Assim, P2 pode dizer: “Meninos não têm medo”, e A1 pode adaptar-se, escalando
a raiva sobre o medo, porém o objetivo de tudo isto é cuidar do medo como sentido em
AO.
O resto da personalidade se desenvolve a partir de C1, A1 e P1 que começam a
se desenvolver nos bebês à medida que eles aprendem a manipular o mundo social e
material durante período de meia infância. A2 começa a funcionar entre as idades de
dois a três anos com a exigência dos pais em relação às crianças para que estas façam
coisas que não estão motivadas a fazer. A fim de realizar essas tarefas, as crianças
precisam aprender a pensar objetivamente sobre estas. P2 é exteriorizado
primeiramente como uma estrutura autônoma entre as idades de nove a dez anos. Isto
é uma tentativa de defender a fantasia de seus pais, que as crianças mantêm em P1 e
com qual elas controlam o comportamento.
Exemplo: Joãozinho, de 4 anos, diz: “Minha mãe não me deixa fazer isso”. Como isso
não é muito convincente, Joãozinho aprende, quando chega a 9 ou 10 anos, a dizer:
“Você não deve fazer isso! Pare com isso”!
Catexização
O Estado do Ego Criança é a fonte de toda energia e está no controle
catexização. Muito do conteúdo da Criança são adaptações, enquanto que o conteúdo
total dos estados do ego de Adulto e de Pai são adaptações. Psicopatologia pode ser
considerada como o desenvolvimento de adaptações, ao ponto destas controlarem a
Criança ao invés da Criança controlar as adaptações.
A função destas adaptações é assegurar a sobrevivência. O Pai define quadros
de referência, cultura e valores para a Criança. O Adulto processa os dados dentro do
quadro de referência a pedido da Criança ou do Pai. Para algumas pessoas em certas
situações, o Pai e Adulto nada contribuem para a sobrevivência da Criança (e, portanto
perdem qualquer energia que eles possam ter) ou são ameaças diretas para a
sobrevivência da Criança.
Exemplo: Joãozinho, de 4 anos, grita no meio da noite que há um tigre embaixo de sua
cama. O pai pode entrar e dizer: “Vamos dar uma olhada. Veja, não há nenhum tigre
embaixo de sua cama. Torne a dormir”. De tais incidentes, Joãozinho pode tirar uma
definição de Pai que essa fantasia pode ser real e que deve ser verificada. Se o pai

31
(esperamos) sabe que realmente não há nenhum tigre embaixo da cama, a energia que
ele gasta procurando por ele é perdida. A mesma coisa é verdade para Joãozinho
quando mais tarde na vida ele não puder fazer uma distinção automática entre suas
fantasias e a realidade.
Supondo-se que o pai de Joãozinho responda: “Joãozinho, tigres existem apenas
nos zoológicos. Eles não vivem embaixo das camas de garotinhos. Volte a dormir”. O
Pai definirá que algumas coisas são apenas fantasias e que não precisam ser
investigadas. Se o pai de Joãozinho for sensível a este fato como um sinal da
necessidade do filho por Carícias do pai, ele poderia estruturar o tempo de forma que
ele e Joãozinho pudessem relacionar-se de maneira gratificante.
Numa personalidade de funcionamento sadio a distribuição de energia pode ser
operacionalmente pensada como na Fig. 5, com variações de até 5%. Nem o Pai, nem
o Adulto podem sozinhos, inibir a Criança de fazer o que ela deseja ou influenciá-la a
fazer o que não quer fazer. Somente quando o Pai e Adulto concordam com uma linha
de ação, através da avaliação independente ou da Contaminação, a Criança pode ser
destronada. A única opção da Criança neste caso seria contaminar o Adulto, a fim de
anular a decisão. Ou retirar energia dos outros dois estados do ergo. Esta retirada de
energia pode ser feita através da Exclusão ou da descatexização.

20%
Pai

Adulto
35%

Criança
45%

Fig. 5. Distribuição de Energia Entre os Estados de Ego

32
Contaminação
Todas as pessoas contaminam seus Adultos com Pai ou a Criança. Nos
distúrbios graves, essas contaminações são especialmente importantes na distribuição
de energia. Usando as percentagens dadas na fig. 5 como base, é possível traçar as
mudanças significativas no comportamento de um garoto que saiu de casa para ir ao
colégio e foi diagnosticado como esquizofrênico durante o primeiro ano.
Quando ele estava em casa, a mãe e o pai estruturavam a vida doméstica
rigorosamente. Suas roupas, sua alimentação e o horário eram cuidados pela família. O
garoto tinha que agir de acordo, não pensar em ficar zangado, nunca se encolerizar e
obter boas notas na escola. Nesse ambiente aberrante seus estados do ego eram
funcionais em seu alinhamento.
Entretanto, o garoto sentia certa falta de estabilidade sempre que estava longe
de casa. Quando ele chegava ao colégio não tinha seus pais para organizar
rigidamente sua vida e então começou a usar o seu Estado do Ego Pai para fazer isso
por ele. A fim de praticar este controle e censurar a “maldade do mundo” e seus
próprios impulsos Não/Ok, que seus pais censuravam em casa, ele teve que usar uma
Contaminação de Pai (vide Fig. 6).
Neste ponto, tornou-se uma ameaça para a sua estrutura interna até mesmo
pensar em se zangar pela rigidez com que teve que viver. Assim, não pensava sobre
isto. Depois de cerca de seis meses, sua Criança cansou-se do funcionamento rígido,
colecionando um número suficiente de selos de zanga e decidiu apresentá-los. Isto foi
feito através de Contaminação do seu Adulto pela sua Criança e foi o começo de uma
batalha pelo controle entre seu Pai e sua Criança. Seu Pai dizia: “A única maneira de
sobreviver é ser bom (faça o que eu digo)”, e sua Criança dizia: “A única maneira de
sobreviver é se eu tiver meus sentimentos“. Isto não foi considerado conciliável, mas
sim mutuamente exclusivo. Neste ponto, seu Adulto tornou-se inútil como processador
independente de dados.

33
P 25%

5%

30%

C 45%

FIG. 6. Distribuição da energia no início da Contaminação


pelo Pai (Depois que o jovem sai de casa)

Os estímulos externos eram apenas tratados do ponto de vista de suas


consequências para precária estrutura interna. (vide Fig. 7).

Exclusões
Outra solução possível para o dilema deste jovem teria sido excluir seu Pai. A
Exclusão de um Estado do Ego é normalmente uma tática de desespero. Entretanto, é
uma solução espontânea comum em relação a um Estado do Ego que ameaça à
sobrevivência do organismo; num ambiente de tratamento que inclui Reparentalização
como uma opção, é uma prescrição viável. A Exclusão de Pai também ocorre quando
uma pessoa está optando pela posição de Criança numa Simbiose. Quando for este o
caso, a Exclusão poderá desaparecer naturalmente se ninguém estiver com vontade de
entrar na Simbiose. É importante distinguir entre esta razão para uma Exclusão de Pai
e a primeira.
A Exclusão do Adulto acontece em três casos. O primeiro é quando o Adulto do
indivíduo está contaminado pelo Pai de tal forma que a pessoa acha difícil distinguir
entre os dois estados do ego sem uma intervenção externa. Neste caso a Exclusão
está ligada à Exclusão do Pai. Um exemplo leve deste tipo de Exclusão é a decisão de
Scarlet O’hara no livro “E o vento levou”: “Não vou pensar nisso hoje; pensarei

34
amanhã.” Se a Exclusão do Pai é decidida como um procedimento terapêutico é
preferível antes descontaminar o Adulto. Contudo, em alguns casos funciona melhor
iniciar a Exclusão, qualquer que seja a extensão em que os dois estados do ego
possam ser separados, a fim de reduzir conflitos internos.
O segundo tipo de Exclusão do Adulto ocorre quando a pessoa tem uma clara
injunção de não pensar: “Não é bonito pensar sobre essas coisas”, ou “Não pense!
Faça!” Neste caso os pais definiram o pensar como estando fora da lista de opções
numa situação particular.
O terceiro caso novamente envolve uma tentativa de estabelecer uma Simbiose
na qual a outra pessoa torna-se responsável por um problema, porque esta é a pessoa
que pensa. Isto ocorre em alguns Jogos como: “Puxa! O senhor é um professor
maravilhoso” e “estúpido”!
A Exclusão da Criança é dinamicamente mais complicada do que Exclusão dos
outros estados do ego. Para que isto seja feito o Estado de Ego Criança que está sendo
excluído terá que dar o seu apoio. Com os outros estados do ego isto não é necessário.
A decisão de excluir o Estado de Ego Criança baseia-se na conclusão que a fonte de
um problema é ter sentimentos. A criança crê que a sobrevivência depende da
ausência destes sentimentos. No tratamento, isto é uma questão muito volátil.
Geralmente essas pessoas terão pouca ou nenhuma opção socialmente aceitável para
seus sentimentos. Por exemplo: a pessoa cuja única opção de comportamento para a
raiva é o homicídio. No caso de uma Exclusão de criança, é importante que as áreas do
problema sejam identificadas e que seja formulado um plano para tratá-las antes de
qualquer tentativa de romper a Exclusão. Não é aconselhável romper uma Exclusão
sem precauções e acompanhamento.

35
30%
P

10%

A
15%

10%

C
55%

Distribuição da energia no estágio final de uma dupla Contaminação


(O menino fica irritado com os controles internos e os Estados de Ego entram em conflito
pelo controle da energia).
Fig. 7. Dupla Contaminação

Decatexação
A decatexação de um Estado de Ego é distintamente diferente de uma Exclusão.
Exclusão envolve a retirada de catexis desligada. A decatexização envolve a retirada
tanto da catexia ligada como da desligada9. Só é possível decatexar o Estado do Ego
da criança decidindo morrer. Por exemplo: os clássicos monges budistas que mandam
notas de sua própria morte. A descatexização do Adulto é também uma ocorrência
muito rara. Isto porque o Adulto está relacionado muito intimamente com a criança.
Primeiramente é catexizado como um Estado do Ego independente, entre as idades de
dois e três anos e normalmente é parte da identificação da pessoa consigo mesma.
A descatexização do Pai é outro assunto. O Pai é sentido por muito as pessoas
como sendo externo a elas próprias. Entre os esquizofrênicos é muitas vezes
caracterizado como outra entidade em suas cabeças com a qual eles têm que lutar.
Neste último caso, a descatexização, além de ser possível, é muitas vezes espontânea.

Conclusão
Com qualquer pessoa na qual as contaminações ou exclusões são extensivas,
ou em quem a descatexização ocorreu ou é provável que ocorra, é vital que as
consequências de qualquer mudança sejam levadas em consideração. Além do mais,
9
Berne, Transactional Analysis in Psychotherapy, Chapter 3. Exemplo: Descartes: “Eu penso, logo eu existo”.

36
os planos de tratamento devem considerar a reação energética volátil que sempre é
possível quando uma homeostase patológica é perturbada dentro e entre estados do
ego.

Capítulo Quatro

O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

Introdução
A função da Parentalização é criar uma criança saudável para a maturidade e
independência. Para a realização desta tarefa é necessário proceder à formulação de
uma Simbiose saudável, seguida pela solução passo - a - passo dessa Simbiose, num
grau consistente com a função e biologia da criança e com as exigências do ambiente
em que a criança vive.

Parentalização
Certamente a primeira responsabilidade dos pais é proteger seus filhos de ameaças
físicas à sua sobrevivência ou desenvolvimento saudável. De uma maneira simples,
isso significa cuidar para que os filhos tenham alimento, calor e abrigo. Como, durante
algum tempo, as crianças são incapazes de antecipar fatos futuros ou planejar metas
em longo prazo, os pais executam essas funções em relação a muitos aspectos do
bem-estar físico, como a nutrição, exercícios, cuidados médicos e odontológicos. A
atividade dos pais nessas áreas será incorporada no Pai dos filhos como mensagens:
“cuide de Você” e “Você é importante”, e também na criança como treinamento de um
hábito. À medida que as crianças crescem, elas assumem uma responsabilidade
crescente por essas funções que exigem um planejamento antecipado, e a realização
efetiva dessas funções é um indício da autonomia das crianças e a conscientização de
seu valor.
Outra responsabilidade dos pais é facilitar a função social de seus filhos. Durante o
período de maturação há tarefas identificáveis no aprendizado social que são mais
compatíveis com a maturação biológica de uma criança e as exigências do ambiente
social. Se essas tarefas não forem realizadas com sucesso na idade exata, a

37
conscientização posterior da deficiência e a eventual solução ou não - solução do
problema será, provavelmente, dispendiosa em termos de recursos de energia, em
relação às tarefas de desenvolvimento daquele momento e a oqueidade da criança.
Num recém-nascido, os estados do ego podem ser visualizados como espaços vazios.
À medida que o bebê observa, aprende e crescem, os espaços são preenchidos. Os
pais influem grandemente sobre o tipo de mensagens, definições e idéias que serão
incorporadas em cada Estado do Ego (quadro de referência). É conveniente que os
pais estejam conscientes de seus objetivos para seus filhos e que esses objetivos
sejam construídos refletidamente à luz das exigências antecipadas para um
funcionamento saudável em relação às demandas internas e externas.
É necessário que a estrutura parental seja sensível e coerente para prover uma
proteção adequada, não somente para o bem-estar físico da criança, mas também para
fixar um clima no qual a criança possa crescer em segurança, testar limites e
experimentar o máximo desenvolvimento de Espontaneidade e criatividade. Deverá
haver oportunidade para Intimidade e também para privacidade, confiança na
capacidade para solução de problemas e confiança na posição OK das pessoas de fora
e do ambiente social amplo.
As mensagens importantes para cada criança incorporar são:
- Você pode solucionar problemas.
- Você pode pensar.
- Você pode fazer coisas.
Em cada estágio as Carícias são importantes.
As crianças precisam sentir tanto as Carícias positivas como as negativas. No final da
Simbiose, o total deveria ser significativamente positivo, porém durante estágios
particulares de desenvolvimento, as Carícias negativas podem ser mais
consistentemente adequadas. Mesmo nesses casos, uma criança obtém Carícias
positivas do empenho e envolvimento dos pais. Depois do estágio oral é importante que
as Carícias sejam de alguma forma condicional, isto é relevantes tanto para o aspecto
interno como externo da criança, a fim de facilitar a conscientização social e também
para garanti-la que a criança tenha uma conscientização segura do cuidado
incondicional dos pais.

38
Um erro frequente na Parentalização ocorre quando as crianças não recebem
mensagens suficientes sobre “o que fazer”. Quase que inevitavelmente elas
incorporarão as mensagens de “não faça”. Contudo, elas podem não ter capacidade
para usar essas mensagens sem as mensagens prescritivas referentes às opções
socialmente aceitáveis para comportamento efetivo. Uma oferta exagerada de
mensagens de proibições não ajudará o funcionamento efetivo e há alta probabilidade
de resultar em Agitação. Uma boa regra para se praticar é, sempre que se disser às
crianças o que não deve ser feito, dizer também o que deve ser feito. Isto criará
confiança em sua própria posição OK e capacidade para resolver problemas e
estabelecerá uma estrutura para testar limites, ensinando também a pensar.
É importante que os progenitores sejam potentes. As crianças precisam ter Pais em
suas mentes que podem exigir que fizessem coisas que elas não querem fazer e que
as impedirão de fazer coisas que não deveriam fazer. Os “deveriam” verbais podem
apenas fornecer uma estrutura para crianças não serem OK se elas souberem o que
são esses “deveriam” e forem incapazes de realizá-los. Entretanto, à medida que as
crianças crescem, elas devem assumir responsabilidade para se obrigar a fazer a coisa
“certa” e experimentar fazer a coisa “errada”. Os pais devem ser suficientemente
flexíveis para permitir aos filhos fazerem isso e reagir com Carícias apropriadas
positivas ou negativas.

Estágios de Desenvolvimento
Pré-natal
Provavelmente, os fatos mais decisivos durante este período são os que acontecem
com os pais. Para muitas famílias a gravidez é um período de “stress”. Num momento
em que os pais necessitam organizar um reservatório de Carícias que estejam
disponíveis para a nutrição das necessidades da criança, pressões externas pode criar
uma situação em que haja escassez de Carícias, diminuição de contatos sociais e
reduzida compreensão das necessidades da própria criança dos pais.
É importante que os pais não desqualifiquem seu próprio conforto, preocupações e
ambivalência durante o período pré-natal.

39
Enquanto os pais reagirem à tensão e procurarem ativamente solução para suas
preocupações, é maior a possibilidade de tornar-se viável o estabelecimento de uma
Simbiose saudável com o infante.
As circunstâncias mais destrutivas que temos visto são aquelas em que um ou ambos
os pais começam reprimido os sentimentos e a criança nasce num clima onde a maior
característica é a falta de reações nos estados do ego da criança dos pais. Isto vai
resultar numa nutrição que será realizada a partir de uma posição não-OK de uma
programação parental.
Para os bebês, as experiências mais importantes deste período são as experiências
com ritmos. As crianças sentem os ritmos de seu próprio corpo como também os do
corpo de sua mãe. Esta percepção de ritmos e a segurança e conforto que associam os
ritmos ao ambiente pré-natal são importantes no desenvolvimento da estrutura das
idades posteriores e fornecem um recurso constante para a gratificação e renovação de
confiança.
Nascimento
As pessoas que revivem o nascimento, seja em regressão ou sob hipnose, geralmente
não relatam sentir o nascimento como doloroso. A estranheza da experiência é
assustadora. A inesperada ausência de estrutura e ritmos no momento do nascimento
real fornece uma associação das sensações que nós chamamos medo de uma perda
de estrutura, fato sobre o qual o indivíduo não tem controle. A sufocação e dificuldades
com a respiração nos primeiros poucos momentos de vida são sentidas pela criança
como uma tentativa desesperada para restabelecer aqueles ritmos (ou alguns ritmos)
que assinalarão a restauração de conforto e segurança.
Primeiros seis meses
A coisa mais importante que acontece nos primeiros poucos meses de vida do bebê é
que ele descobre que existe. Ele aprende que há uma parte do mundo que é ele e uma
parte que não é. Enquanto descobre esses extremos, a parte que ele é parece estar em
expansão por um tempo; atinge o final deste estagio acreditando que é provável que
seu ser continue a se expandir para receber mais de seu ambiente. Entretanto, já
começa a descobrir limitações impostas pelas fontes externas me sua atividade e fica
intrigado e ofendido por isso.

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Os ritmos continuam a ter a maior importância e a ser fonte de segurança; o choro, a
amamentação, o balanço, a própria respiração e a de sua mãe, reforçam esta
associação.
Todavia, algumas experiências não rítmicas começam a ter significado, e isto assinala a
formação inicial da Simbiose. A primeira dessas experiências não-ritmicas a ter
importância é a percepção do cheiro, dos olhos e sorriso da mãe. Também, a algumas
atividades que começaram como retemos e ocorreram como reflexos, por exemplo,
choro e ato de mamar, começam a ser influenciadas pelo aprendizado social. Quando
os bebês estão entre três e cinco meses, muitos comportamentos são propositais, quer
dizer, são realizados para produzir reações específicas do ambiente externo. Os bebês
têm modelos de reações associados aos comportamentos e o que eles sentem é que
sua atividade produz a reação desejada (quando o faz).
Isto fornece as primeiras associações com o fazer coisas e solucionar problemas e
estabelecer as bases para o Script nessas áreas.
Quando os comportamentos rítmicos não produzem os resultados desejados, é
provável que eles se intensifiquem por um período de tempo; este modelo estabelece o
quadro de referência para aqueles comportamentos que mais tarde chamamos de
Agitação. O desenvolvimento precoce deste comportamento explica a qualidade pobre
de pensamento e a inabilidade para catexisa da numa idade muito jovem para utilizar o
adulto.
A associação entre a sensação de fome (estímulo interno), a atividade de chorar, bater
os braços e mamar (ponte comportamental entre o interior e o exterior), e a obtenção
do alimento (resposta do exterior) é decisiva. É o primeiro passo no aprendizado do
bebê para pensar, o passo de muitas no Script sobre a importância da atividade. É a
fonte inicial de muitas mensagens incorporadas sobre tensão, a utilização de energia e
a decisão de confiar no mundo ou não. É provável que num estágio posterior seja
traduzido numa posição básica concernente à posição OK do Self e das necessidades
da criança.
Coisas que podem funcionar errado:
1- Super-responsividade que requerem das crianças a utilização de energia mínima,
não as ajuda a desenvolver tolerância para a frustração.

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2- Super-alimentação que resulta em desconforto associado com gratificação.
3- Não-associação da fome com a gratificação de comer. Isto pode ocorrer algumas
crianças com limitações, ou crianças nascidas prematuramente, especialmente se
amamentadas com sonda. Também ocorrerá com crianças negligenciadas ou em
situações de pobreza em que a alimentação está provavelmente associada à
disponibilidade de comida.
4- Amamentação relutante. Se a mãe está tensa durante a amamentação é possível
que o fluxo do leite seja insatisfatório e frustrante para o bebê.
5- Amamentação agitada. Se a pessoa que está amamentando não está confortável
durante a amamentação, Agitação se transfere para a criança.
6- A falta de Carícias durante a amamentação. A amamentação mecânica é sentida
pelo bebê como não - natural e não - gratificante.
Simbiose
A mãe normal sente sua dependência na Simbiose num grau máximo durante o último
estágio da gravidez, e daí para frente ela vai sentindo como um estado de dependência
gradualmente decrescente. Durante as primeiras semanas de vida do bebê,
especialmente se a criança recebe amamentação do seio da mãe, a Simbiose é sentida
pela mãe em alto grau e não pelo bebê, que está inconsciente de qualquer coisa
exterior.
Entre um e dois meses, o bebê começa a sentir a Simbiose como uma ligação
específica à pessoa que amamenta usualmente a mãe, e a partir daí até os dois ou três
anos de idade, não é aconselhável uma separação longa entre a criança e a pessoa
que dá a alimentação.
Aproximadamente de seis meses de idade até após o início do segundo ano, as
crianças vão entrando num novo estágio de independência. Tornam-se ágeis,
desenvolvem controle sobre seu corpo, descobrem muita coisa sobre como ele
funciona e o que farão (ou não farão). A dentição e as mordidas são importantes. É
outra conexão entre o interior e o exterior e envolvem um órgão muito importante: a
boca. Sorrir e balbuciar também são importantes; a fala vai se tornando seqüências
significativas, tanto como é ouvida quanto como é tentada.

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Ocorre uma quantidade enorme de aprendizado em relação ao ambiente externos
quando as crianças começam a explorar. Motivação, conscientização de sensações
internas e interação com o ambiente na base desses estímulos internos são da maior
importância. Muitas tarefas de percepção também são realizadas nesse tempo e a
estrutura da fantasia, que mais tarde será necessária para pensar, memorizar e
organizar, é iniciada (o Pequeno Professor).
Simbiose
A Simbiose é sentida mais significativamente pelos bebês perto de oito meses de idade.
Nesse momento eles estão conscientes de sua dependência. A tentativa da mãe de ir
embora é sentida como uma perda inexplicável e incrível, produzindo sua primeira
experiência com o pensar. A frustração deste estado de coisas motiva o bebê para se
tornar independente de maneira que a ameaça de separação (abandono ou rejeição)
em idades posteriores é sentida em nível de frustração que é tolerável para a criança
(não ameaça de vida). Outras características deste estágio para a criança cuja
Simbiose está se procedendo de maneira satisfatória é a crescente autodefinição, o
desmame, a atividade exploradora e a auto alimentação.
Para os pais, este período pode ser frustrante. Os filhos, à medida que crescem os
dentinhos, se lambuzam, babam, tornam-se mais movimentados e apelam menos para
a parte nutritiva da Criança dos pais.
O cuidado de uma criança neste período é mais provavelmente uma programação de
pai, com uma diminuição em eficiência e empenho.
Se isto não for sentido em nível muito elevado, poderá ser produtivo, tanto para os pais
como para o bebê, em termos de autonomia crescente, o que é mutuamente
satisfatório. Entretanto, pode produzir-se uma sensação de culpa nos pais como
resultado de falta de reação ao filho e isto pode resultar em aumento de
Desqualificação e não envolvimento. O filho pode reagir a esta sensação de culpa dos
pais das seguintes maneiras: choramingando, escalando (raiva), ou tornando-se
passiva e superadaptada.
O final do período de 0 a 2 anos*

*
Nota do tradutor: o termo em inglês “infancy” foi traduzido por ”período de 0 a 2 anos” por se tratar desta fase, porém não haver termo equivalente em
português. A tradução por “infância” poderia levar a entendimento errôneo.

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Um novo período emerge depois que as crianças estabeleceram sua autonomia nas
áreas de locomoção e auto alimentação, quando a angústia da dentição diminui e elas
tentam ser mais ou menos livres de certas restrições artificiais, como os berços e
grades. Previamente as crianças estabeleceram que existissem e podem fazer coisas.
Nesta época (inicia-se aos 12/15 meses de idade), começam a descobrir outras coisas
para fazer. A curiosidade emerge como uma força impulsora e elas ficam
esperançosas, ou mesmo convencidas, que quando completarem sua exploração do
universo, elas terão controle sobre todas as coisas. O rápido aprendizado que ocorre
nesse tempo reforça esta expectativa. No dia - a - dia, as crianças vão aprendendo
muito num mundo relativamente pequeno, e mesmo que esse grau de aprendizado
continuasse num ambiente que não se expande, poder-se-ia assumir que elas se
tornariam os reis de tudo que estão examinando.
As crianças que estão aprendendo a andar ficam ocupadas na investigação de
problemas como: aonde vão as coisas quando eu não posso vê - las? Quanta vez pode
obter sorrisos em resposta ao meu sorriso? Elas gostam que o mundo esteja em ordem
e fecharão compulsivamente gavetas e portas. Quando as coisas não acontecem como
esperavam, reagem, muitas vezes, mais com indignação do que com medo. Os objetos
animados e inanimados não são diferenciados e quando elas têm experiências
negativas em seu ambiente, sentem pesar e frustração, como se a desfeita fosse
intencional. Estão começando a descobrir, mas ainda não entendem que algumas ou a
maioria das ocorrências frustrantes são de fato intencionais da parte das pessoas que
as criam no ambiente (o que algumas vezes não é sentido como muito nutritivo).
Essas crianças, contudo, assumem que quando tiverem feito todo o aprendizado, que
se sentem compelidas a realizar, o que é compensador, terão esses fenômenos sob
controle.
A questão aqui é o controle e a posição básica é ingenuamente otimista. Com
Parentalização saudável, o ambiente externo oferece apoio incondicional e Carícias, e a
criança é interessante, espontânea e receptiva.
Simbiose
À medida que o estágio mais difícil da primeira infância vai ficando no passado, a
criança torna-se cada vez mais receptiva socialmente e a parentização pode começar

44
a ser verbal, exigindo menos dispêndio de energia no cuidado da criança. Os pais
podem novamente sentir-se positivos e educadores em relação à criança. Assim, inicia-
se um modelo, o que provavelmente ocorrerá em toda a infância, de um gratificante
estágio depois de um estágio mais difícil. Os estágios difíceis são importantes na
promoção da quebra da Simbiose tanto para os pais como para o bebê, e os estágios
mais gratificantes têm a função de manter o investimento progressivo no
relacionamento e no reforço do investimento da criança em procurar Carícias positivas.
Os terríveis dois anos
À medida que a conscientização do ambiente externo amadurece, os bebês começam a
suspeitar de uma assustadora possibilidade. Durante muito tempo eles agiram como se
tudo o que é externo para eles ficaria eventualmente sob o controle. Todavia, na
medida em que vão crescendo, seu ambiente também vai se alargando, e enquanto
solucionam problemas, novos problemas continuam a se apresentar. Começa a ficar
evidente que as coisas não acontecem como era esperado.
As pessoas são as mais difíceis para compreender e controlar. Os bebês são
compelidos a interagir com as pessoas devido à sua contínua dependência, porém a
tendência desses estranhos para interferir com a gratificação dos bebês não está sendo
resolvida com sucesso. Um dia a resposta surge. Os bebês não são mais capazes de
evitar a conscientização angustiante que o mundo não gira ao redor deles; que outras
pessoas estão separadas e têm sentimentos e necessidades, exatamente como eles.
Eles reagem com raiva. Uma parte pode ser biológica, mas muito dela é de afronta e
frustração pela descoberta de uma exigência onde deverão renunciar a uma parte da
autonomia que estavam antecipando. Ficam deprimidos mal-humorados e têm acessos
de raiva. Provocam novamente para se assegurarem da verdade da situação. Como
resultado desta provocação, há uma escalada de exigências externas para
reconhecimento. Os pais decidem que, desde que este mau comportamento é
obviamente deliberado, o bebê já está em idade suficiente para aprender a comportar-
se e começam a exigir esse comportamento. As crianças reagem a essas exigências
com mais afrontas, mantendo-se num crescente estado de perturbação.
Obviamente, este estado de coisas não pode continuar indefinidamente, pois é muito
desconfortável tanto para a criança como para os pais. Se o relacionamento é

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saudável, e a criança tem consciência dos pais como uma fonte necessária de Carícias
e alimentação e se os pais são razoáveis, consistentes e determinados em suas
exigências, a criança decidirá e se adaptará a elas. Como resultado desta adaptação, o
bebê faz um contrato social: renunciará à autonomia a troco de certas recompensas
externas e aprenderá a partilhar o mundo com todo o resto das pessoas que também
têm direitos.
Abre-se uma visão totalmente nova do aprendizado. As reações espontâneas aos
estímulos externos não mais funcionarão; em muitos casos, as crianças devem
negociar para determinar como podem obter o que querem sem infringir mais do que o
necessário no que os outros querem. Elas terão que aprender o que fazer com os
sentimentos e uma parte desse aprendizado virão da experimentação. Experimentarão
diferentes sensações, sua expressão e produtividade para descobrirem quais serão as
reações.
Observarão também o que os outros fazem e os imitarão. Terão que aprender a
diferenciar as sensações em categorias de apropriadas e inadequadas, conforme
possam esperar por uma reação positiva às suas expressões. Caso contrário, ficarão
com as sensações para as quais não há saída comportamental.
As questões do Script incluem as decisões sobre o quanto os pequenos darão o que
eles esperam obter e o quanto terão que pensar a fim de fazer isso. Uma resolução
nesse estágio precipita a catexia do Adulto como um Estado de Ego autônomo,
separado do A1 (Pequeno Professor). A necessidade de lembrar-se a fim de atingir
todas as novas expectativas é uma fonte importante de motivação, e algumas crianças,
quando não há resoluções bem sucedidas, não começam a atualizar seu Adulto
integral neste momento.
Simbiose
Ë importante que os pais se permitam um elo total de afeto em seu relacionamento com
a criança, utilizando seus sentimentos para ajudar a criança sentir a necessidade de
conformidade social, ao mesmo tempo em que ainda oferecem proteção de seus
cuidados e de alimentação. Muitas decisões não salutares neste estágio, no qual os
pais permitem ou encorajam a criança a demonstrar sua própria rebeldia, ou são
relutantes em fazer exigências, resultam em Jogos e desordens de pensamento. Outro

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provável erro é a comunicação de expectativas muito cedo, resultando em
superadaptação e experiência incompleta do conflito nesse momento.
Os três anos confiantes
A criança rabugenta e exigente de 2 anos transforma-se numa criança agradável e
espontânea que, claramente, não é mais um bebê. A pessoa em miniatura está
avidamente incorporando a cultura. Pedaços de informações, tais como: meninos
crescem para serem homens; policiais põem pessoas na cadeia; negócios não podem
ser para meninas; são absorvidos. Este é o último ano de aprendizado
extraordinariamente rápido que é característico do Pequeno Professor e é utilizado para
intensificar as novas adaptações sociais, fornecendo à criança uma visão da cultura. Ao
mesmo tempo, há muita observação e incorporação do ritual social.
Simbiose
Este é um estágio, caracterizado por Carícias mútuas e convívio familiar em que as
afeições são facilmente demonstradas.
O contato físico continua a ser importante para a criança, o que é gratificante
para os pais. Os agrados trocados e o tempo despendido em ensinar e explicar também
são importantes.
Os temíveis quatro anos
As crianças estão crescendo.
Supervisão constante e “feedback” encontram problemas que devem enfrentar
independentemente. Reconhecem o mundo como um enorme local que apresenta
muitas exigências e paradoxos conflitantes; suas definições da realidade são ainda
fluidas; elas t6em dificuldades em diferenciar memória, fantasia e sonhos; e há grande
reforço para a sua confusão sobre como as coisas funcionam. As crianças recebem
informações distorcidas como: elas não podem suportar aspargos; ou Papai Noel traz
presentes somente para crianças boas (e depois ganham presentes mesmo quando se
comportam mal), e que a virtude normalmente é recompensada.
Internamente, as crianças experienciam um grande impulso para aprender a controlar
seu ambiente, porém estão se tornando cada vez mais conscientes da necessidade de
se controlarem em relação ao ambiente e apresentarem aqueles comportamentos
adaptativos que resultarão em solução de problemas a Carícias. A ambição das

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crianças excede seu sucesso. Descobrem, então, um novo mecanismo para forçar a
adaptação. Utilizando uma combinação de fantasia e sensação de medo, aprendem a
criar fantasias para intimidar-se a conformar-se. Além disso, as fantasias podem ser
usadas como punição quando a Parentalização externa é insuficiente. Chamamos a
este mecanismo de Pai Bruxo e sua função é fornecer controles internos quando a
criança sente os controles externos inadequados em relação à tensão ou ameaça
ambiental. Assim, crianças que não estão obtendo Parentalização suficientemente firme
em áreas em que o resultado é o bem-estar e a segurança, têm mais probabilidades de
sentirem dificuldades neste estágio (pesadelos e medos excessivos), e crianças que
sentem, uma estrutura externa segura terão menos dificuldades, Contudo, muitas
crianças fazem a experiência utilizando o medo como forma de motivação e também de
gratificação (especialmente quando há probabilidade de estar ligada à Carícias).
Simbiose
Os pais provavelmente sentirão ambivalência quanto à urgência com a qual a criança
exige proteção e segurança no que diz respeito às fantasias e medos que devem Ter
sido criados na sua mente infantil. Há impulsos para dar conforto e segurança e outros
impulsos para exprimir irritação pela irracionalidade das exigências. Provavelmente
ambas as reações são úteis às crianças e apenas uma poderia ser destrutiva. Ë
importante assegurar às crianças que elas têm recursos internos com os quais podem
lidar com as exigências sociais (que elas adquiriam o treinamento do hábito e podem
enfrentar expectativas externas apropriadas à sua idade). As crianças devem ser
encorajadas a começar a encontrar soluções aos seus próprios problemas.
Exemplo: “Não acredito que haja um tigre embaixo da sua cama. Se você pensa isso,
então acho que está inventando e assim pode também imaginar o que fazer com ele”.
Crianças de 5 a 8 anos
O primeiro passo autônomo é dado num mundo muito mais amplo quando as crianças
iniciam sua vida escolar. A escola maternal pode ter dado algum preparo para lidar com
processos de grupos, mas o ambiente protetor de uma escola maternal é bem diferente
das sensações iniciais de estar por conta própria. As crianças agora têm que competir
pelas Carícias e atenção dos adultos e dos seus colegas com backgrounds e pontos de
vista diferentes, e necessariamente têm que confiar em si próprias para resolver os

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problemas. Elas incorporaram uma grande quantidade do Pai exterior que agora
descobrem ser inútil; pela primeira vez estão conscientes que seu Pai e o dos outros
pode ser diferentes e reconhecem que mesmo incorporado uma estrutura não irão
solucionar todos os problemas. São vulneráveis às críticas externas ou caçoadas e
seus sentimentos ressaltam como um dedo latejante. Em muitas situações não saberão
como se proteger para não serem magoadas. Na realidade, para muitas crianças, pode
não haver permissão para fazer isso, pois se espera que elas sejam vulneráveis à
crítica de pessoas além delas mesmas (pais e companheiros).
Simbiose
Geralmente os pais sentem alívio ao ver a independência crescente de seus filhos
porque exigem menos tempo e atenção. É possível que, pela primeira vez, os
problemas das crianças não envolverão ativamente os pais, embora ele possa estar
ciente de problemas que estão ocorrendo. O que as crianças necessitam dos pais é
serem reconfortadas de que elas podem explorar independentemente formas de
resolver seus problemas e ter permissão para se protegerem contra mágoas por
estarem conscientes das razões e for menos vulnerável.
Exemplo: “Você não precisa tomar tão seriamente tudo o que as pessoas dizem. Muitas
vezes elas dizem coisas só para chamar a atenção ou parecerem importantes. A
criança pode também precisar de permissão para examinar e talvez violar Injunções
parentais prévias: “Não gostaria que você fosse o tipo de pessoa que prefere lidar com
as questões agredindo, embora possam surgir situações em que você decida agredir
porque pode ser a melhor coisa a fazer naquele momento. Como não poderei estar
sempre por perto para decidir esse tipo de coisas, você terá que resolver sozinha”.
De 8 a 12 anos
Este período é orientado para a atividade. As crianças se resguardam contra
sentimentos em favor de outras funções. Os valores dos pais são comparados entre
grupos de crianças: “Outros garotos não precisam trabalhar para receberem suas
mesadas”. E há considerável alteração do Estado de Ego do Pai. A Parentalização é
tipicamente solicitada aos outros na comunidade (professores, chefes de escoteiros,
padres, os pais dos amigos).

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As crianças estão adquirindo novas opções para relacionamentos e testando limites. A
agressão e competição são violentas. Encontros escalados com colegas e autoridades
são, muitas vezes, provocados à medida que as crianças estão desenvolvendo
mecanismos internos de defesa para a proteção de sua Criança. As habilidades são
importantes sendo que muitas mensagens do Script a respeito de fazer coisa vêm deste
estágio.
Mais ou menos no fim deste período, o Estado de Ego Pai é catexável como um Estado
de Ego autônomo e, na maior parte do tempo, as crianças estão muito conscientes do
Script.
Simbiose
É provável que os pais achem este período exacerbante. Poderá parecer como se a
criança estivesse ativamente se defendendo ou desafiando os valores dos pais na
maior parte do tempo, e até certo ponto, isto é verdade. Contudo, a função de fazer isso
tem menos a ver com os valores particulares envolvidos e é mais relevante para os
recursos internos que a criança está desenvolvendo e com os quais vai enfrentar
problemas no futuro.
É importante que os pais permaneçam envolvidos, expressem seus sentimentos e
façam exigências contínuas para aceitação. No final deste período, depois que o
Estado de Ego Pai está integralmente catexável, a criança deveria ser encorajada a
considerar os problemas de interação social, não simplesmente em termos de
consequências, ou causa e efeito, mas de uma orientação de valor.
Exemplo: “Sugiro que você pense sobre a discussão com o Joãozinho para saber que
espécie de amigo você é e que tipo de pessoa ou amigo você quer ser”.
Adolescência
A adolescência tem como meta de desenvolvimento, ao fim deste período, a
capacidade de autonomia física da criança. Estas deverão ser capazes de se manter na
cultura econômica e socialmente e ter recursos para obter gratificação.
Logo no início deste estágio, os jovens provavelmente reexperienciam o conflito
restante das etapas de desenvolvimento não solucionadas dos estágios anteriores. As
mudanças físicas e mudanças na própria imagem são fontes de conflito e confusão. As
questões de adequação são enfrentadas inicialmente de uma posição de pouca

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confiança. Os garotos esperam o melhor e receiam o pior; estão ocupados com a tarefa
de definir um lugar para eles próprios no mundo dos adultos. Os valores são uma
questão importante e em meados da adolescência o indivíduo poderá agir mais a partir
de uma estrutura de valor do que uma estrutura de regra. Isto provavelmente envolverá
algumas experiências, tendo como objetivo ou forçar mais Parentalização das figuras
externas de autoridade em áreas em que os valores não são funcionais, ou forçar
questões de autoafirmação (decisões sobre o tipo de pessoa que o indivíduo de
tornará).
Há um aprofundamento do potencial para Intimidade. Os jovens sentem um redespertar
de seus sentimentos, e mais uma vez são vulneráveis às definições exteriores, porém,
com os recursos acrescentados para a auto proteção que eles adquiram durante o
estágio anterior de desenvolvimento. A aproximação emerge como uma preocupação
sobre o sexo e os adolescentes iniciam suas experiências sexuais. É provável que
surjam confusões e problemas num nível progressivo, talvez devido à urgência da
maturidade iminente.
Simbiose.
Os pais devem reagir a cada criança como um indivíduo. Conforme o envolvimento
anterior da criança nas interações familiares, alguns jovens podem necessitar mais
Intimidade e envolvimento durante este período de que outros. Muitos precisam
encontrar seu próprio caminho e fazer seus próprios erros. Os pais devem,
naturalmente, assegurar que esses erros não sejam desastrosos para o futuro do
jovem, salvo nos casos em que houve negligência anterior, a autoridade deve ser
usada com pouca frequência neste período. Ao contrário, os jovens podem sentir uma
conscientização crescente de que seus pais são pessoas independentes deles, de seus
problemas e necessidades e sentem as exigências dos pais como parte das exigências
do ambiente externo, as exigências talvez tendo ênfase especial (ou nenhuma ênfase),
conforme as necessidades dos jovens e a qualidade de relacionamento que eles têm
com os pais. As reações dos pais neste estágio variam. Alguns relutam em sentir a
separação; outros ficam satisfeitos de ter transferido sua responsabilidade e estão
ansiosos por ver os filhos independentes. Seja qual for a reação dos pais e dos filhos
uns com os outros, é importante que os jovens ingressem num período de

51
estabelecimento de sua independência de uma posição em que sabem que seus pais
esperam que ele tenha sucesso na resolução dos problemas.
Idade adulta jovem
O período que se segue imediatamente à separação física, a fase do jovem adulto, é
geralmente difícil para muitos indivíduos, especialmente em nossa cultura móvel em
que a separação pode ser de considerável distância.
As principais questões neste período são o estabelecimento de uma economia
independente de Carícias, realização de autonomia econômica e utilização dos valores
culturais preferencialmente aos valores parentais.
Este tem constituído a preocupação especial para muitos indivíduos, nos últimos anos,
devido às mudanças nos valores culturais em certas áreas com o papel social,
comportamento sexual usa de drogas, responsabilidades conjugais e parentais e
valores econômicos.
Simbiose
Para muitos pais o mais difícil é a adaptação dos valores adotados por seus filhos como
consequência de mudança social. Pais e filhos precisam chegar a um contrato que
permita que cada um tenha valores autônomos, que é o que estruturará um
relacionamento baseado no respeito mútuo. Frequentemente os pais recusam-se,
teimosamente, a aceitar os valores diferentes de seus filhos; contudo, com a mesma
frequência, os pais tentam adaptar-se a estilos de vida que não são aceitáveis aos seus
sistemas de valores, desqualificando o desconforto. As relações mais salutares ocorrem
quando pode haver discussões francas sobre as diferenças e quando são enfrentados
compromissos que são mutuamente aceitáveis.
Fixações
Quando as fases de desenvolvimento não são realizadas com o sucesso, o indivíduo
tem dificuldade em prosseguir para os estágios de desenvolvimento subseqüentes.
Seguindo a adolescência, haverá indicações acentuadas apontando aqueles estágios
ao qual muita da energia da Criança ainda está ligada.
No espaço disponível aqui, não é possível apresentar um guia completo ao leitor para
compreender com a técnica regressiva poderia ser útil na ajuda ao paciente para
dispersar suas fixações, fazendo-o sentir novos envolvimentos parentais externos.

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Indivíduos que têm problemas desde os dois anos de idade poderão apresentar muito
comportamento oral, Agitação e baixa qualidade de pensamento. Eles podem ser muito
sugestionáveis e adaptáveis e usar a negação como um mecanismo de defesa quando
o problema se origina na infância precoce ou tardia.
Os distúrbios da primeira infância têm mais probabilidade de serem caracterizados
pelas brigas e projeções. A boca é identificada como parte mais sensitiva do corpo e há
mais probabilidades de terem impulsos para chupar ou morder. Os sentimentos não são
muito discriminados uns dos outros.
O estágio de dois anos é caracterizado pelo negativismo como: “Não quero”, ou “Não
posso”, ou “Não faço”, e a justificativa (Grandiosidade) é “Não me incomodo”!”, O
convite é:“ Experimente exigir de mim!”.
Os problemas que se originam no estágio de 3 a 8 anos geralmente se demonstram
como super sensibilidade, medo, manipulações e ingenuidade social. As questões dos
8 até 12 anos também são negativistas, muitas vezes agressivas - passivas, porém
diferentes do negativismo dos dois anos, porque as reações são menos primitivas e
mais orientadas para o trabalho.
Exemplo: A criança raramente acaba de fazer as coisas. Geralmente, nesta idade, as
atitudes são Script e podem ser identificadas como Injunções parentais específicas.
As reações dos adolescentes estão relacionadas com superficialidades, com falta de
orientação de valores e de auto definição. São indivíduos que têm dificuldades em
identificar seu lugar na sociedade, e podem ser identificados com subgrupos de
indivíduos de funcionamento dúbio.
Todos esses distúrbios podem ser recompensados numa infinidade de maneiras,
porém, numa estrutura de tratamento em que há proteção e permissão para as pessoas
fazerem o que precisam fazer, as reações podem emergir prontamente. Uma
precaução: algumas vezes os indivíduos mantêm catexia no estágio anterior ao qual o
problema poderia ser encontrado como um meio de assegurar conforto contínuo e um
máximo de funcionamento. Nesse caso, a técnica regressiva não seria útil na
exploração do Estado do Ego que é mais prontamente catexável, e isto não é uma
verdadeira fixação.

53
Em geral, os pacientes sabem o que estão fazendo e o porquê, e, novamente, se
estrutura de tratamento oferece uma solução para o problema, é provável que eles se
aproveitem disso, embora seu envolvimento possa inicialmente ser cauteloso e confuso
para o terapeuta.

Capítulo Cinco

QUADRO DE REFERÊNCIA E REDEFINIÇÃO

Uma grande proporção do tratamento do Cathexis Institute tem consistido em trabalho


orientado para uma maior reorganização da estrutura da personalidade e em reescrever
o Script. O conceito desenvolvido para compreender a Síndrome da Passividade (vide
capítulo Dois), a teoria do desenvolvimento (vide capítulo Quatro), informações sobre a
estrutura e a dinâmica das diferentes patologias (vide capítulo seis) e teoria geral da
comunicação e personalidade em AT, fornecem inúmeros processos específicos para o
uso neste tratamento. Contudo , quando se tratar de uma mudança maior, é útil Ter
uma perspectiva mais ampla que incluí e integra esses processos específicos. Os
conceitos de “quadro de refer6encia” e “Redefinição” dão duas dessas perspectivas,
além de fornecer referências específicas para as percepções dos pacientes.
Quadro de referência
Cada um dos Estados de Ego de uma pessoa tem suas próprias características
estruturais e funcionais cujas origens podem ser claramente identificadas (vide capítulo
três). Além disso, os Estados de Ego integrados funcionalmente num todo que é
característico da pessoa global. O QUADRO DE REFERÊNCIA se refere a esta matriz
global estrutural e funcional.
Definição
Quadro de referência de um indivíduo é a estrutura de respostas (caminhos neurais)
associada (condicionadas) que integra os diferentes Estados de Ego em resposta a
estímulos específicos.
Estrutura e função
O quadro supre o indivíduo com um conjunto total de ações perceptivas, conceituais e
afetiva, que é usado para definir o self, os outros e o mundo, tanto estrutural como

54
dinamicamente. Em outras palavras, é o quadro de referência dentro do qual o
indivíduo responde a certas perguntas como: “Como sei que existo?” e “Quem sou?”
Pode ser imaginado como a membrana que circunda os Estados de Ego ligando-se e
agindo como um “filtro” da realidade. (vide fig.8).

Q
de
A R

Fig. 8 Quadro de Referência

As opções de Script são definidas pelo quadro de referência que é originalmente


aprendido dos pais e determina a estrutura do pensamento, da solução de problemas e
outros comportamentos adaptáveis.
O quadro de referência é tanto transacional quanto psicodinâmico (vide fig. 9). Os
vetores entre os Estados de Ego de cada indivíduo representam os caminhos da
catexia (deslocamentos de energia). Os vetores entre os indivíduos representam
transações. Cada estímulo ou resposta é concebido a partir do quadro de referência do
ouvinte. As transações da Criança Natural entre pessoas ocorrem quando um quadro
de referência é compartilhado ou abandonado.

55
Quadro de Referência e Redefinição

P P
C
Q Q

A A
de de
R R

CN CA CA CN

Fig. 9 Estrutura e Dinâmica do Quadro de Referência

Parece que isso pode ocorrer mais em transações não verbais e poder-se-ia ver
Intimidade abrangendo uma parte desse tipo de transações, enquanto as lutas pela
sobrevivência envolvem outras.
A personalidade é estruturada com a Criança Natural como a fonte da motivação e com
o Pai, Adulta e Criança Adaptada funcionando como estruturas adaptáveis dentro do
quadro de referências de definições da realidade que foram aprendidas através da
experiência social (vide capítulo Três e Quatro).
Intervenção
As mudanças no quadro de referência resultam de:
1) A Criança, tornado-se desconfortável com o quadro de referência atual,
procura informações do Adulto, e novas permissões;
2) A Criança, tornando-se desconfortável com o atual quadro de referência,
procura novas permissões; ou
3) Uma estrutura Parental (externa) “impondo” um novo quadro de referência.
Em todos os casos, a mudança do quadro de referência somente é completa quando as
novas definições estão integradas nos três Estados de Ego como o Pai - Ok, Adulto -
factual e Criança que soluciona problemas.

56
A Reparentalização envolve uma maciça reorganização do quadro de referência (vide
capítulo seis). Contudo, uma mudança menos complexa, pode ser realizada para
aqueles pacientes com os quais a Contaminação não é uma complicação maior,
através do alinhamento do Adulto e da Criança numa redecisão. Esta intervenção
envolve a adaptação e novas informações fornecidas externamente, que deverão ser
sistematicamente praticadas a fim de estabelecer novos padrões de associação (10). O
paciente então procurará ativamente o novo Pai para confirmar a redecisão.
O papel do Pai no quadro de referencia de uma pessoa é fundamental significância.
Sua importância surge da influência dos progenitores ou outros educadores sobre as
definições no início da infância. A função definitiva do Pai é, ao menos, tão significativa
quanto as suas funções protetoras e crítica. Além disso, ela é especialmente relevante
para o quadro de referência porque as definições parentais estabelecem os parâmetros
para todos os pensamentos, sensações e comportamentos se uma pessoa. Por
exemplo: o Pai define como a Criança pode obter Carícias; define o significativo de
“oqueidade” e “Não - oqueidade” e como cada um destes se aplica à Criança e também
o significativo de palavras como “bom”, “mau”, “bonito”, “difícil”, “desejo”, e
“necessidade”.
No tratamento, algumas situações determinantes do quadro de referência do paciente e
que estão sob sistemática mudança pela eliminação ou Redefinição seletiva de
palavras de referência (como ok, adequado, quero), podem ocasionar mudanças
importantes no pensamento e comportamento.
Exemplo: Um paciente demonstrou medo de ser inadequada num trabalho. Foi-lhe dito
para deixar de usar qualquer medida interna de “adequada” e, em lugar disso, definir
apenas metas específicas relacionadas a critérios estipulados claramente e definidos
externamente (como exemplo quotas de produção). A ansiedade foi reduzida e a
eficiência aumentada.
As transações entre as pessoas, para serem significativas, requerem concordância
sobre um quadro de referência, ou pelo menos, suposição de que há um acordo. Por
exemplo: duas pessoas discutindo se uma terceira é OK, ambas aceitam como um
quadro de referência que algumas pessoas não são OK. Todavia, a não ser que elas
determinem o que cada uma entende por “ser OK”, pode ocorrer falta de comunicação

57
pelo fato de cada pessoa assumir que a outra está utilizando um quadro de referência
idêntico.
Na análise de Jogos é importante determinar as posições adaptáveis nos Jogos. O
movimento inicial num Jogo pode ser estabelecido pelo jogador em qualquer posição
(Vítima, Perseguidor ou Salvador)11, e o Jogo é confirmado (a segunda Desqualificação)
quando os outros jogadores adaptam-se ao quadro de referência apresentado pelo
iniciador.
Exemplo: Perseguidor: “Você não é OK porque...”
Vítima: “Lamento...”
Salvador: (para o perseguidor): “Você poderia ser mais compreensivo”.
(para a vítima): “Ele não deveria?”
Neste exemplo, o perseguidor define algumas pessoas como não-OK, a vítima confirma
essa suposição e o Salvador também a confirma, porém usa o pai numa tentativa de
redefinir a situação.
Clinicamente é útil determinar a natureza do quadro de referência e identificar as
posições adaptáveis (quem está se adaptando ao quadro de referência de quem). O
passo seguinte é conseguir que as pessoas definam verbalmente seu próprio quadro de
referência. Este procedimento catexa o adulto, rompe a Simbiose (vide capítulo Dois) e
também fornece uma oportunidade para verificar se há falsas informações. É também
um meio de confrontar os Jogos de uma maneira não ameaçadora e é produtivo ao
ensinar as pessoas a confrontarem Jogos num contexto social. Exemplo: “o que a
palavra “violência” significa para você?”
Existem quadros de referência característicos associados a certos diagnósticos. São
característicos porque as Injunções e decisões características são fatores pré -
determinantes no desenvolvimento da patologia, que também influencia a possível
estrutura de contaminações e exclusões. A familiaridade com o quadro de referência
associado a uma patologia específica fornece um ponto estruturado de intervenção
(vide Capítulo sete).
Uma das considerações interessantes sobre a importância do quadro de referência é
que os indivíduos com quadros de referência não convencionais parecem Ter opções
que não estão disponíveis à maioria das pessoas em nossa sociedade. Ao trabalhar

58
com pessoas diagnosticadas como esquizofrênicas, por exemplo, temos visto exemplos
de não aceitação de dor, controle do sistema nervoso vegetativo, produção intencional
de ferimentos internos e exemplos notáveis de curas. Fenômenos como a produção
miraculosa de estígmas ou a capacidade de andar sobre brasas (ambas as ocorrências
bem documentadas) parecem relevantes.
A habilidade dos terapeutas (professores, clérigos ou chefes de escoteiros) para
redefinir o quadro de referência depende da potência com que os seus Estados de Ego
de pai, Adulto e Criança são percebidos pela Criança da pessoa. Em muitas situações
isto depende da potência com que são utilizados. Num tratamento efetivo, a
Redefinição é programada pelo Adulto e não é compreendida até que haja uma
compreensão completa (a que for possível) do quadro de referência do paciente e como
este pode ser prejudicial ao bem-estar do paciente.
Os terapeutas precisam estar informados de seu quadro de referência e também
cientes que há muitos quadros de referência que são funcionais.
A pergunta - “O que é realmente real?” é, necessariamente, uma consideração
continuada. (vide Fig. 10: Quadro de referência e posições de Jogos).

Perseguidor – impõe Salvador – apresenta Quadro de


Quadro de Referência ou Referência baseado no existente
adapta-se Quadro de ou estabelece um novo Quadro
Referência da Vítima. de Referência (Competitivo).

Fig. 10. Quadro de referência e Posições de Jogo

59
REDEFINIÇÃO
Definição
A Redefinição refere-se ao mecanismo que as pessoas usam para manter uma visão
estabelecida de si próprias, de outras pessoas e do mundo (quadro de referência) a fim
de levar adiante seus Scripts. É o mecanismo interno que as pessoas utilizam para se
defender contra os estímulos que não são compatíveis com seus quadros de referência,
redefinindo os estímulos para que se ajuste a este.
Seus três componentes são: a Desqualificação, a Grandiosidade e as desordens de
pensamento (vide capítulo Dois).
Até este momento, surgiram diversas generalizações do nosso trabalho. Primeiramente,
por um lado, parece que sempre as pessoas redefinem, seu comportamento é de Jogo
ou de Script. Por outro lado, quando as pessoas não estão redefinindo, porém agindo e
reagindo a estímulos como eles são na realidade, podem estar comportando-se
automaticamente. Em segundo lugar, a Redefinição é usada com os quatro
Comportamentos Passivos para confirmar ou reforçar o tipo de relacionamento
simbiótico que as pessoas necessitam para levar adiante seus Scripts. Em terceiro
lugar, quando as pessoas redefinem, suas opções são limitadas pela estrutura dos
relacionamentos simbióticos que a sua Redefinição e comportamento estabelecem;
quando não estão redefinindo, podem definir e agir com suas próprias opções sem
aquelas restrições.
Na terapia há muitas redefinições óbvias. A própria terapia é uma ameaça ao quadro de
referência e sob esta ameaça, as pessoas tendem a externar muito de seus
pensamentos que, de outra forma, manteriam para si próprias. Parece que quanto mais
a terapia é confrontante, mais óbvias se tornam as redefinições.
Exemplo de uma Redefinição óbvia:
A: “Você está jogando comigo”.
B: “Não estou. Estou apenas sentado aqui tentado aqui tentando conversar com
você é que está jogando”.
Com um reconhecimento mínimo da questão que A levanta, B redefine a questão,
primeiro falando e, segundo, dizendo a que ele é o jogador. Se B for bem sucedido, a
Redefinição desviará a ameaça para A, que provavelmente começará a defender-se em

60
vez de manter-se na questão original. Contudo, há muitos outros exemplos menos
óbvios.
A Redefinição é mais óbvia quando os quadros de referência das pessoas são
inconsistentes e ameaçados. Por outro lado, quando há acordo nos quadros de
referência de duas pessoas, suas redefinições podem continuar incontestadas.
Terapeuticamente, o problema é confrontar o processo de forma que as pessoas
fiquem cientes do que estão fazendo e empenhem-se em não repeti-lo. Acreditamos
que um enfoque quíntuplo usado simultaneamente no tratamento parece produzir os
melhores resultados. Focalizamos a base simbiótica da Redefinição que isola três
relações redefinidas distintas: os componentes internos do mecanismo, os aspectos
transacionais da Redefinição e os aspectos comportamentais; focalizamos ainda seis
diferentes papéis adotados quando as pessoas redefinem.
Base simbiótica
Originalmente, as pessoas dependem da obtenção do que necessitam no
relacionamento simbiótico com suas mães e outras pessoas importantes que tomam
conta delas. Quando tudo vai bem, esta Simbiose é rompida à medida Que as crianças
aprendem a pensar independentemente e a assumir responsabilidade pelas suas
próprias percepções, pensamentos, sensações e comportamentos, tornando-se
indivíduos autônomos. Sempre que esta autonomia é solapada pela programação dos
pais e consequentes decisões da criança, alguns aspectos da Simbiose permanecem
intactos, numa forma mórbida e restrita de opção.
Inicialmente, um bebê necessita da Simbiose para sobreviver e sobrevivência
permanece equiparada até certo ponto alguns aspectos não solucionados da Simbiose.
Para atender às necessidades que estão relacionados da Simbiose. Para atender às
necessidades que estão relacionadas com os remanescentes da Simbiose. As pessoas
continuam a agir mais tarde na vida, em relação aos outros, como o faziam nos
relacionamentos originais, pois não têm consciência de outras opções possíveis. Por
consequência, selecionam ativamente pessoas que se relacionarão com elas de forma
semelhante e tentam obter daquelas, espontaneamente não fariam isso, a mesma
forma de relacionamento.

61
Mesmo na vida adulta os riscos são os mesmos. Uma ameaça aos relacionamentos
simbióticos posteriores é sentida como uma ameaça para sobrevivência: no mesmo
nível em que foi percebida quando a pessoa era criança. A reação da pessoa depende
do grau de ameaça sentida era criança. A reação da pessoa depende do grau de
ameaça sentida quando uma injunção importante do certa na infância. Assim, por
exemplo, diante de uma injunção “Não pense”, pensar envolve alguma coisa que vai
desde certo desconforto a uma ansiedade suprimida. Contudo, a realidade é que as
pessoas adultas podem obter melhor satisfação de suas necessidades pelo
relacionamento simbiótico patológico.
Qualquer outra percepção real ou implícita é uma Redefinição da realidade.
A Simbiose, portanto, é a causa e o efeito da Redefinição, enquanto a sobrevivência ou
a satisfação das necessidades é a meta e a motivação. Até certo ponto, isto explica a
experiência de insegurança ou inadequação no presente, que está relacionada
diretamente com o passado não solucionando e com o futuro desejado, porém incerto.

Mecanismo interno

Necessitamos filtrar e estruturar os estímulos (internos e externos) a fim de


compreendê-los de maneira a nos possibilitar obter aquilo que precisamos. À medida
que crescemos, aprendemos, a saber, quais são os estímulos importantes, qual o seu
significado e como estruturar estímulos importantes, qual o seu significado e como
estruturar estímulos relacionados em “gestalts” sobre os quais podemos agir
eficazmente. Quando este aprendizado nos leva a ignorar certos estímulos, distorcer
sua importância, ou colocá-los em “Gestalt” que distorceram a realidade, de maneira
que ficamos simbioticamente dependentes ou limitamos irrealisticamente nossa opção
então estará redefinindo.
Os três componentes do mecanismo são a Desqualificação, Grandiosidade e
desordens de pensamento. Todos operam simultaneamente para produzir uma visão
redefinida de nós mesmos, de outras pessoas e do mundo. O aparecimento de cada
um deles é um sinal que a Redefinição está ocorrendo e cada um deles é um sinal que
a Redefinição está ocorrendo e cada um pode tornar-se útil do tratamento (vide capítulo
dois).

62
O tipo e o modo de Desqualificação indicam o grau da patologia na Redefinição. A
quantidade de distorção produzida pela Grandiosidade está relacionada ao grau de
ameaça que a pessoa sente em resposta aos estímulos da Redefinição, isto é, a
ameaça à Simbiose. As desordens d de pensamento estão relacionadas com
problemas e definições de opções e, consequentemente, com as possíveis ações da
pessoa.
Exemplo: Susie, uma garota hebefrênica, pediu alguma coisa para comer. Disseram-lhe
que esperasse cinco minutos até que a comida estivesse pronta. Imediatamente ela
tornou-se violenta. Depois do incidente, ela relatou: “Pensei que você quisesse me
matar” (Grandiosidade) “Você disse que eu não podia comer” (Desqualificação que
haviam lhe dito que “esperasse” – mais patológico porque foi uma Desqualificação de
estímulos no mais alto nível). “Agora me lembro de que você me pediu que esperasse
antes e que me alimentou quando disse que faria. Eu não pensei nisso.” (excesso de
detalhes sobre um incidente específico, sem considerar sua experiência mais geral).
Ter sido solicitada para esperar foi redefinido numa resposta potencialmente homicida.

Transações Redefinidas

Temos visto que pessoas com quadro de refer6encia conflitantes ou inconsistentes


usam dois tipos distintos de transações quando redefinem. Sempre que essas
transações ocorrem alguém está redefinido. Elas são tangenciais (divergentes) e
bloqueadoras (obstruidoras), e podem ser usada em qualquer Estado de Ego, embora
se for usada pelo Adulto sem conscientização disso, a pessoa está em uma
Contaminação. Em ambos os tipos de transações, o enfoque do estímulo é diferente do
enfoque da resposta. O que responde desqualifica alguns aspectos do estímulo e
desvia a questão. Quanto mais sutil for o desvio, menos probabilidade tem de ser
detectado. Por outro lado, como estas transações geralmente são complementares,
frequentemente parece estar em ordem.

Transações Tangenciais

Transações Tangenciais são transações em que o estímulo e a resposta se dirigem a


diferentes questões, ou se dirigem a mesma questão, porém, de perspectiva diferente.

63
As conversas que envolvem essas transações, quando são completadas, caracterizam-
se por uma constante mudança de enfoque, fora da questão que está sendo discutida,
especialmente a questão original.
Os participantes parecem estar no “falando no passado” um com o outro e não um
“para” o outro. Essas conversas podem girar em círculos, repetidamente, com um ou
ambos os participantes, que confusamente admitem de vez em quando que “Eu estive
desta forma antes”, ou “Isto não está levando a nada”. A questão permanece sem
direção no meio de todas as perspectivas e de outras questões.
Significativamente, ninguém confronta de forma eficaz as mudanças, e a maioria das
pessoas envolvidas parece Ter “esquecido” a questão original.
Exemplo:

1. A: Quem fez isso?


B: Aconteceu antes do jantar. (mudança de quem para quando)

2. A: Você fará isso?


B: Serei capaz de fazer (um dia talvez).
(Mudança de intenção para potencial)

3. A: O que você vai fazer sobre isso?


B: Já tentei fazer x. (mudança de futuro para o passado).

4. A: Você lava o carro.


B: Eu quero lavar a louça. (mudança de carro para louça).

Uma pessoa habilidosa pode prolongar discussões, usando essas transações durante
longos períodos.

Transações Bloqueadoras (ou obstrutivas)

Transações Bloqueadoras são transações em que o objetivo de se levantar uma


questão é evitando pelo desacordo sobre a definição da questão. São, com frequência,
o primeiro movimento numa cadeia de Transações Redefinidas e geralmente são
competitivas.

64
Em geral, são usadas em um contexto no qual há uma definição aceita da questão. Os
participantes desqualificam isto, e a conversa atola-se em pontos super -detalhados e
super - generalizados de definição em lugar de tratar da questão.
Exemplo:

1. A: Pare de se agitar e pense.


B: Eu não estava me agitando. Estava apenas marcando o ritmo da canção em
minha cabeça. (definição de Agitação).

2. A: Você está fazendo alguma coisa? (está ativo)


B: Sim, estou pensando. (definição de fazer alguma coisa)

Constatamos que essas transações podem envolver qualquer um dos Estados de Ego.
Quando eles ocorrem sem serem confrontadas, todos aqueles que estão envolvidos
estão qualificando. Isto significa que estão agindo em exclusões do Pai ou Criança ou
de contaminações. Eles discutem entre si “convencidos” de seu ponto de vista. Com
cada Transação, a Desqualificação progride e eles começarão a sentir desconforto sem
saber a sua origem. O desconforto é o preço que as pessoas pagam pela Redefinição.
Suas necessidades não foram adequadamente preenchidas.
Na Redefinição de uma Contaminação de Pai, o Pai drena energia do Adulto da pessoa
cujas percepções estão distorcidas pelas prescrições, definições, suposições e valores
do Pai. De uma Contaminação da Criança, as percepções do Adulto da pessoa são
distorcidas através da filtragem destas pelas decisões da Criança sobre sentimentos,
desejos e necessidades, decisões que são mais importantes para o presente. Quando
se exclui o Pai ou a Criança, o Adulto da pessoa não está sendo social, um psicológico
e um simbiótico. As mensagens básicas do nível simbiótico estão relacionadas com as
posições preferidas dos jogadores na Simbiose (Criança ou Pai/Adulto); o nível
psicológico leva mensagens ulteriores relacionadas às características da Simbiose na
situação em que as pessoas se encontram; e o nível social contém as palavras reais
que estão sendo usadas.
Para diagramar claramente essas transações, combinamos o diagrama transacional
normal de transações ulteriores com o diagrama estrutural da Simbiose (vide capítulo
dois) e uma variação da abordagem de Ernst para transações duplas envolvendo

65
contaminações (12) (vide fig. 11,12e13). Os contornos contínuos ao redor dos Estados
de Ego mostram a posição preferida de cada pessoa na Simbiose com o outro, num
determinado momento. As flechas pontilhadas referem – se às mensagens de nível
social. (Quando as exclusões estão envolvidas, as mensagens de nível psicológico e
social coincidiram, e os contornos do Adulto são pontilhados para a pessoa com a
Exclusão).
(12) Ernst, F.H. Jr., Who’s Listening, Addresso’set (Vallejo, California, 1968)

Relações Redefinidas
Nosso entendimento de Transações Redefinidas destaca três tipos importantes de
relações redefinidas:
• Simbióticas
• Pai – competitivo
• Criança – competitiva
Os tipos são importantes porque a dinâmica de cada um é diferente e os processos de
tratamento necessários para interrompê-los com sucesso também são diferentes.
Esses relacionamentos são mais ou menos transitórios. Numa relação progressiva
entre duas pessoas, é provável que elas entrem nos três tipos de relacionamento em
momentos diferentes. Quando o relacionamento é uma forma Criança - competitiva, as
pessoas competirão para ver que vai conseguir seus desejos ou exprimir sentimentos.
No relacionamento Pai – competitivo, a competição é sobre que vai definir a situação e
assumir responsabilidade pela outra pessoa.
Em ambos os tipos de competição a meta é restabelecer o relacionamento simbiótico.
Além disso, enquanto estiver trocando posições na Simbiose de tempos, cada uma
parece demonstrar uma preferência geral por umas delas. A posição que ocupam num
determinado momento dependerá do “contrato simbiótico” no seu relacionamento
global: o contrato para conseguir a satisfação das necessidades da Criança; tratar com
os sentimentos, pensamentos e decidir quem é responsável por eles em determinadas
situações. Onde houver acordo, é provável que o tipo simbiótico de relacionamento
esteja presente. Por exemplo: “Meu marido cuida das finanças da família. Eu cuido da
casa”. Onde houver desacordo, é provável que apareçam os tipos Criança - competitiva

66
ou Pai - competitivo. Exemplo de Criança - competitiva: “Sempre lutamos por dinheiro”.
Exemplo de Pai - competitivo: “Nunca concordamos sobre o que é melhor para as
crianças“.
As combinações especiais desses três tipos de relacionamentos que as pessoas
adotam os Jogos que elas praticam com quem querem jogar, onde decidem, quando
fazem isso, e suas posições preferidas nas Simbioses são determinadas, em primeiro
lugar, pela natureza da Simbiose original em que estavam envolvidos quando crianças
e, em segundo lugar, suas decisões programadas. Com esta interpretação, a
continuação posterior das programações e Jogos que as pessoas praticam é vistos
como uma sequência progressiva de relacionamentos simbióticos ou competitivos,
estabelecidos com o objetivo de assegurar uma relação simbiótica.

Tipo simbiótico

O paradigma transacional deste tipo de relação redefinida está demonstrando na Fig.


11 (Não serão apresentadas figuras para as Simbioses envolvendo exclusões).

A
R

C C

A. B.

Fig. 11. Paradigma Transacional de Relacionamento de


Redefinição - Tipo Simbiótico

Neste tipo de relacionamento, A e B geralmente esperam que B cuide de A, defina


situações e faça as reflexões, expresse sentimentos, exigências sobre as necessidades
e assuma apenas responsabilidade simulada pelas percepções, pensamentos,
sensações, comportamentos e a realização dessas necessidades. As necessidades e
sensações, comportamentos e a realização dessas necessidades. AS necessidades e
sensações da Criança são desqualificadas por B¸ e as habilidades do Adulto e do Pai

67
são desqualificadas por A. Ambos colecionam selos cada Transação envolvendo essas
qualificações. A economia de Carícias do relacionamento pode envolver Carícias
positivas e/ou negativas. No Triângulo Dramático de Karpman, A tende a ser uma
vítima ativamente provocativa ou passiva, enquanto B tende a ser salvador ou o
Perseguidor. A opera de uma Contaminação de Criança (Exclusão) e B de uma
Contaminação de Pai (Exclusão ) .
Nível social: A: “X é a forma como as coisas são".
B: “Você está enganado. É Y. (ou: Sim, Você está certo. Bem feito)”.
Nível psicológico: ( entre Pai e Criança).
A: (C para P): “Não posso pensar por mim mesmo (Não sou responsável pelas minhas
sensações, ações, etc.) Faça isso por mim”. “(Diga que está OK)”.
B: (P para C): “Você tem razão. Posso ver isso é verdade. Farei isso por você” (Está
OK).
Nível simbiótico:
A: Na posição da Criança que está “sendo cuidada” (geralmente como vítima)
porque “não está” ok.
B: Na posição de Pai/Adulto “cuidando” de A (geralmente como Salvador ou
Perseguidor porque “A não está OK”).
É este tipo de relacionamento, ou uma Simbiose evidente, que as pessoas tentam
estabelecer, confirmar ou reforçar pela Redefinição.
A percebe esta estrutura de relacionamento como a única forma de obter a satisfação
de suas necessidades na situação. Da mesma forma, a Criança de B, apesar de
desqualificar necessidades será realizada nesta situação pela tentativa de realizar as
necessidades de A.
Tipo Pai - competitivo
Este tipo de relação redefinida está baseado numa competição para a posição de
Pai/Adulto na Simbiose (vide fig.12)

68
S
P
P R
S

R
A A

C C

A. B.

Fig. 12. Paradigma Transacional de Relacionamento de


Redefinição - Tipo Pai Competitivo

Os riscos de competição são a “questão da sobrevivência” porque na Simbiose se


superadaptam à sua definição da situação, questões ou ocorrências. Ambas estão
desqualificando sentimentos e necessidades e estão colecionando selos para justificar
as escaladas que usarão para estabelecer a Simbiose com elas na posição de
Pai/Adulto, As Carícias podem ser positivas ou negativas e as pessoas podem ocupar
qualquer uma das três posições no Triângulo Dramático de Karpman, tenta em geral
ocupar a mesma posição no Jogo ao mesmo tempo, havendo, normalmente, um
desacordo sobre o quadro de referência.
Ambas operam das contaminações de Pai (exclusões).
Nível social:
A: “Isto é o que está acontecendo aqui”.
B: “Acho que você está errado. O que acontece é isto”.
Nível psicológico: (geralmente P para P, algumas vezes cruzado P-C, P-C).
A: “X é como as coisas deveriam ser aqui”.
B: “Y é como deveria ser”.
Nível simbiótico:
A: Na posição de Pai/Adulto esperando que B o deixe cuidar de B porque “não
está ok” e de maneira que ele possa “cuidar” de si próprio.
B: N aposição de Pai/Adulto esperando o mesmo que A.
A competição termina durante um tempo quando A e B separam-se, ou quando um
deles se superadaptam ao outro e desloca-se numa Contaminação da Criança,
(Exclusão) estabelecendo assim a Simbiose.

69
Como cada um colecionou selos, o estágio e para encontros competitivos adicionais no
futuro. Quanto mais a “questão da sobrevivência” é intensamente sentida por ambas as
pessoas, mais escalados poderão ser estes encontros. Os encontros de A e B podem
variar de uma troca ligeiramente irritada para violência física.

Tipo Criança - competitiva

A competição neste tipo de relação redefinida é para a posição da Criança neste tipo de
relação redefinida é para a posição da criança na Simbiose (vide figura 13).

Novamente a Simbiose está ameaçada e os riscos giram ao redor da “questão da


sobrevivência”. Cada um pede para ser “cuidado” simbioticamente e está
desqualificando a responsabilidade pessoal. Eles colecionam selos em cada
Transação, envolvendo essas desqualificações para justificar a escalada que usarão
para forçar a questão. As Carícias podem ser positivas ou negativas. As posições
favoritas no Triângulo Dramático de Karpman parecem ser a vítima e o Perseguidor e,
geralmente, ambos tentam ocupar a mesma posição simultaneamente.

P
P

A A
S

R
S
C C

A. B.

Fig. 13. Paradigma Transacional de Relacionamento de


Redefinição - Tipo Criança Competitiva

A competição mais intensa tende a se desenvolver ao redor da posição de vítima.


Normalmente há um desacordo sobre o quadro de referência e tanto A como agem a
partir contaminações da Criança (exclusões).

70
Nível social:

A: “X é a forma como as coisas estão aqui”.

B: “Não é. As coisas são Y”.

Nível psicológico: (Geralmente C-C, algumas vezes cruzado C-P-C-).

A: “Quero as coisas aqui como X, Ou mais! (Cuidado!)”

B: “Eu as quero como Y. Você tenha cuidado!”

Nível simbiótico:

A: Numa posição de Criança tentando forçar B “cuidar” de A por “não estar” OK.

B: Numa posição de Criança tentando forçar o mesmo A.

Quando a competição é intensa ela rapidamente torna-se uma questão de quem


será o primeiro a dar lugar para as escaladas da Criança do outro.

A competição cessa, pelo menos temporariamente, quando A e B separam-se , ou


quando um deles desloca-se para a posição Pai/Adulto. Os “perdedores” irão
provavelmente à procura de alguém que possa cuidar deles simbioticamente o mais
rápido possível. Dos 3 tipos de relações redefinidas parece que este é o mais explosivo
potencialmente. A amplitude para a qual as partes estão preparadas a escalada é
novamente determinada pelo grau de intensidade com o qual estão sentindo sua
sobrevivência ameaçada dentro da Simbiose.

As Transações Redefinidas ocorrem em todos os três tipos de relacionamento.


Contudo, Transações Tangenciais e Bloqueadoras parecem muito mais frequentes nos
dois tipos competitivos, porque o tipo simbiótico envolve expectativas complementares.
Ambas as pessoas concordam pelo menos com algumas das Redefinições básicas
para as Simbioses, enquanto o tipo competitivo envolve expectativas conflitantes. As
redefinições básicas para as Simbioses, enquanto o tipo competitivo envolve

71
expectativas conflitantes. A Redefinição é usada para “solucionar” o conflito forçando a
questão dentro do relacionamento ou “forçando” uma terceira pessoa a intervir
simbioticamente.

Comportamentos

Todos esses três tipos de relacionamentos são caracterizados por deslocamentos de


responsabilidade, pensamento, sentimento e inquietação. Os deslocamentos são
conseguidos pelo uso dos quatro Comportamentos Passivos: Fazer nada,
superadaptação, Agitação e Incapacitação ou violência. A Agitação crescente é um dos
sinais mais seguros de que a Redefinição está ocorrendo em situações em que as
pessoas parecem estar pondo igual energia numa discussão. A Agitação pode ser
verbal, de corpo ou de pensamento agitado. Contudo, cada um dos quatro
comportamentos, combinados com o uso das Transações Tangenciais e bloqueadoras,
podem ser usados para conseguir o desvio. Logo que o desvio é conseguido,
estabelece a Simbiose.

Papéis redefinidos

Consideramos que os Jogos e Scripts são representantes a partir de seis papéis


distintos:

Protetor (Caretaker)

Trabalhador Incansável (Hard Worker)

Virtuoso Irado (Angry Righteous)

Faltoso Irado (Angry Wrongdoer)

Virtuoso Aflito (Woeful Righteous)

Faltoso Aflito (Woeful Wrongdoer)

72
Esses papéis são trocados e adaptados à serviços do Script. A característica de
cada um pode ser descritas em termos de Jogos relacionados.

Quando um papel, um papel, uma pessoa coleciona selos a fim de mudar para outro
quando o Script o exigir. Os papéis estão dinamicamente relacionados e, apesar das
pessoas poderem mudar de um para qualquer outro dos cinco, elas parecem mudar
segundo uma ordem de preferência. Algumas mudanças podem ser previstas
focalizando-se os dois níveis de posição no Jogo associado com cada papel. A primeira
refere-se à posição no Jogo ocupada abertamente. A Segunda refere-se ou a uma
posição no Jogo que as pessoas pretendem ocupar, ou que estão defendendo, ou à
posição que elas estão realmente ocupando a nível psicológico, mas estão se
escondendo atrás de uma posição aberta. (Uma pessoa com um bom controle social
pode atuar de acordo com a posição de nível psicológico, e a posição de nível
psicológico no nível simbiótico).

As possíveis mudanças entre os papéis e suas posições de Jogo associados são


apresentadas no Hexágono de Redefinição (vide fig. 14) As letras acima barras (/) no
quadro referem-se à posição de nível social de cada papel, e as letras embaixo das
barras referem-se às posições de nível psicológico.

Os Jogos favoritos dos Trabalhadores Incansáveis são frequentemente: “Veja como


estou tentando duro”.

Apresentam-se como se estivesse pondo muita energia nas coisas. O nível social elas
estão Salvando. O grupo e o terapeuta (esposa, auxiliares do trabalho) supostamente
não terão que investir muita energia para ajudá-las.

73
Salvador

S
P V

Virtuoso P/V V/P Faltoso Irado


Irado

Virtuoso (P)/V Faltoso Aflito


V/P
Aflito Perseguidor no passado

S
V P

Trabalhador Incansável

FIG. 14. Hexágono da Redefinidor Mostrando


Papéis e Posições Redefinidoras

Todavia, as questões necessárias para resolver um problema serão cuidadosamente


evitadas. No nível psicológico, os Trabalhadores duros estarão se defendendo contra
alguma coisa, ou visando algo, ou realmente ocupando as posições de vítima ou de
perseguidor.
Os trabalhadores Incansáveis tendem a agir a partir de uma Contaminação da criança
ou de Exclusão.
Os protetores geralmente fazem o Jogo de “Estou apenas tentando ajudar você.” Sua
posição à nível social é de salvador, enquanto as posições de nível psicológico são
vítima ou perseguidor.
Eles “cuidam” dos outros, não importa se os outros pedem para ser cuidados ou não, e
tendem a agir a partir de uma Contaminação de Pai ou Exclusão.
Os virtuosos Irados apresentam uma posição de nível social facilmente identificável
como Perseguidor. Tendem a fazer o Jogo do “Agora te peguei, seu filho da p...” e

74
geralmente vêm de uma Contaminação de Pai ou agem com Exclusão do Pai. No
psicológico eles defendem, visam ou ocupam a posição de vítima.
Os virtuosos aflitos se sentem martirizados e tendem a fazer o Jogo do “Veja o que eles
estão me fazendo” e “Não é horrível?”. No nível social estão na posição de vítima,
enquanto no nível psicológico a posição é Perseguidor. Os Virtuosos Aflitos tendem a
vir de uma Contaminação da Criança ou Exclusão.
Os Faltosos Irados apresentam a posição de Vítima no nível social, porém insinuam
muito claramente uma perseguição real ou potencial a nível psicológico. Eles tendem a
agir de uma Contaminação de Criança ou Exclusão e a fazer uma variação do Jogo do
“Chute-me (se você tiver coragem)”, procurando oportunidades para gritaria.
Os Faltosos Aflitos fazem caracteristicamente o Jogo do “Pobre de min! Chute-me” e o
“Não me chute, por favor!”. É provável que eles tenham sido Perseguidor no nível social
ou psicológico antes de mudar para esse papel. O nível pode ser Vítima ou aparecer
inexpressivo, e a posição a nível psicológico é de Vítima. Quase sempre agem de uma
Contaminação de Criança ou Exclusão.
Temos verificado que os relacionamentos são competitivos quando duas pessoas
tentam relacionar-se simbioticamente, partindo da mesma posição na Simbiose, e que
este tipo de competição pode ser intensificado por tentativas simultâneas para ocupar a
mesma posição no Jogo. Em termos de posição de Jogo no hexágono, os
relacionamentos não competitivos são formados ao longo das seis linhas que delineiam
o hexágono e ao longo das linhas que formam a estrela de seis pontas dentro dele.
Os relacionamentos competitivos ao redor das posições do Jogo ocorrem entre o
Faltoso Irado e o Virtuoso Aflito, às vezes entre o Virtuoso Irado e o Faltoso Aflito, e
entre pessoas tentando ocupar a mesma posição no hexágono cada um em relação ao
outro. O relacionamento entre o Protetor e o Trabalhador Incansável pode ser
competitivo ou não competitivo. Como se pode observar na figura 14, as posições nos
níveis social e psicológico nos papéis permitem o desenvolvimento e fluxo de Jogos e
Scripts dentro da estrutura de relacionamentos simbióticos.

75
Tratamento
Quando as pessoas redefinem é um sinal seguro de que algo que está acontecendo é
uma ameaça aos quadros de referência. A chave no tratamento é identificar o que está
sendo ameaçado. Quando isto é identificado, as pessoas estão numa posição de fazer
o que é necessário a fim de solucionar o conflito entre sua visão da realidade e daí
desistirem de seu empenho no problema. Durante este trabalho poderão continuar
ativamente a redefinir, uma vez que o próprio trabalho pode manter a ameaça.
Em nosso trabalho, focalizamos os cinco aspectos de Redefinição discutida.
Primeiramente, quando uma questão é levantada ou emerge como importante,
quaisquer tentativas para usar Transações Tangenciais ou bloqueadoras para desviar a
atenção da questão, são confrontadas. O terapeuta precisa estar ciente das questões e
resistir à qualquer tentativa para redefini-las, enfocando novamente as questões se a
Redefinição ocorrer.
Se outra questão importante emerge no trabalho, esta precisa ser especificada como
relacionada à primeira questão e discutida em relação a ela.
Exemplos deste tipo de confrontação:
- “Penso que você está redefinindo. Gostaria que você respondesse à minha
pergunta (fique com a questão original).”
- “Sim, posso ver como isto é importante. Gostaria de discutir isso mais tarde,
depois que acabarmos a primeira questão.”
- “Isso não é uma resposta ao que eu disse. Você pode responder ao que eu
disse?”
Em segundo lugar, verificamos que ao fazer qualquer intervenção que confronte
redefinição, os Estados de Ego que o terapeuta usa são extremamente importantes.
Aparentemente, intervenções muito semelhantes podem ter resultados diferentes. O
fator importante é que o terapeuta precisa evitar relacionar-se dentro de uma estrutura
simbiótica patológica, pois se ele entrar numa Simbiose patológica com a pessoa que
está sendo confrontada, a Redefinição pode ser confirmado posteriormente.
A fim de evitar que se estabeleça uma Simbiose patológica, o terapeuta deve confrontar
pessoas que estão agindo numa Contaminação de Pai ou Exclusão, diferentemente das
pessoas numa Contaminação de Criança ou Exclusão. Ele precisa Ter os três Estados

76
de Ego disponíveis e não agir a partir de contaminações ou exclusões. Isto feito, a
confrontação efetiva parece então depender da ênfase dada a cada Estado de Ego.
Resultados ótimos parecem derivar de: primeiro, de uma observação do Adulto seguida
de um relatório do Adulto sobre o Estado de Ego do terapeuta que combina com o
Estado de Ego de Exclusão ou de Contaminação da pessoa, ou finalmente, o terapeuta
diretamente catexando aquele Estado de Ego.
Exemplos de tais encontros seriam os seguintes:
1- Paciente: (Exclusão e Contaminação da Criança)
Terapeuta: “Penso que você está fazendo... (Adulto) e estou constrangido por
que... (Adulto relata sobre a Criança).”
Ou “Penso que você está fazendo (Adulto) e estou zangado (ou assustado,
triste, feliz) por que”... (Criança).
2- Paciente: (Exclusão ou Contaminação de Pai)
Terapeuta: “Penso que você está fazendo... (Adulto relata sobre o Pai)”.
Ou “Penso que você está fazendo... (Adulto) e você deveria (vai...) (Pai)”.
Quando mais intensamente os pacientes os pacientes são catexados em Pai ou em
Criança, mais intensamente o terapeuta necessita vir do mesmo Estado de Ego.
Com efeito, o que o terapeuta faz é usar as características competitivas das Simbioses
para estimular os pacientes a mudar de Estado de Ego, pensar e assumir
responsabilidade para satisfazer suas próprias necessidades de forma adequada.
Pelo fato da competição simbiótica poder conduzir a escalada, o terapeuta poderá Ter
necessidade de usar o Estado de Ego Pai com pessoas em Estado de Ego de Criança,
e usar o Estado de Ego de Criança com pessoas em Pai, porém usá-los somente o
necessário para conter a escalada.
Quando os pacientes estão pensando e assumindo responsabilidade por eles próprios,
pode-se fazer o trabalho sobre redefinições, contaminações ou exclusões; sobre
mudanças de pensamento, sentimentos e responsabilidade; sobre os papéis adotados;
e sobre o empenho deles em tudo isso. Observamos que os resultados são melhores
quando os pacientes são informados de tudo, porque isso fornece uma estrutura para
pensar sobre o problema e sua solução.

77
Outra orientação é útil. Se qualquer pessoa tem uma declaração para fazer, é
importante que seja colocada como uma declaração. Se for uma pergunta, deve ser
feita diretamente. Fixar isto como regras básicas ajuda a acentuar a autonomia e
responsabilidade individual para atender suas necessidades. Por exemplo: uma
resposta a “Quero saber o que você está pensando” é provável que seja simbiótica,
enquanto uma resposta para “Você poderia me dizer o que está pensando?” não é. É
útil, portanto, confrontar quaisquer declarações ou questões subentendidas e fazer com
que sejam ditas diretamente.
Em terceiro lugar, ao trabalhar sobre redefinições é preciso dar atenção à
Desqualificação, Grandiosidade e desordens de pensamento envolvidas. A
conscientização disso ajuda as pessoas a entrarem em contato com as questões
internas que não importantes para elas na situação (vide capítulo Dois).
Em quarto lugar, os Comportamentos Passivos ou são confrontados diretamente (cap.
Dois) ou pelo uso de uma “salvação seletiva”. Usamos a salvação seletiva nos
encontros iniciais com pessoas, como forma de evitar uma escalada de qualquer
comportamento passivo e ao mesmo tempo provendo as pessoas com uma estrutura
de solução - de - problemas que as ajudará a enfrentar as situações em que estão. Não
é uma Salvação no sentido clássico, porque o terapeuta tem o conhecimento Adulto do
que está sendo feito e das prováveis consequências. Ao usar esta técnica, é essencial
que ninguém seja considerado como “Não OK” no encontro. Um exemplo: pessoas que
não estão pensando (isto é, jogam o “Estúpido”) no qual é óbvio que poderiam pensar
se decidissem a isto. O terapeuta diz: “Gostaria de parar aqui e dar a vocês algum
tempo para pensar sobre X, sobre o qual falaremos mais tarde.” (X é a definição de
terapeuta sobre o que deverá ser pensado).
Por último, achamos muito útil ensinar os papéis redefinidos. Ao fazer isso, é
conveniente ter uma cópia do hexágono da Redefinição para as pessoas se reportarem.
A identificação de pessoas nesses papéis, muitas vezes, significa que as redefinições
são identificadas, o que de outra maneira poderia ser perdido, especialmente quando
as pessoas têm quadros de referência compatíveis. Algumas vezes, redefinir o papel de
uma pessoa é mais óbvio do que as redefinições. Tendo identificado o papel, as

78
posições, dissimulada ou evidente, da pessoa no Jogo tornam-se claras e podem
continuar a ser trabalhadas.
A natureza da posição de nível psicológico, isto é, se a posição é o objetivo da pessoa,
seja defendendo-se contra, ou agindo por é especialmente importante ao empenho das
pessoas ao adotar o papel naquele momento. Além disso, trabalhar o papel,
Frequentemente abre um caminho direto para a base do Script do que a pessoa está
fazendo.

Capítulo Seis

PATOLOGIA
Diagnóstico
O diagnóstico é importante. É usado para definir o problema terapêutico e nos permite
relacionar as informações sobre intervenções bem sucedidas de um paciente para
outro. Fornece ao terapeuta um quadro de referência para permitir que ele se
comunique com o paciente de forma bem sucedida.
Exemplo:
Paciente: Fico assustado quando coisas comem casas.
Terapeuta: Não há nada a respeito de comer sobre o que você precise temer
Paciente: Mas a coisa podia comer o mundo inteiro e então nós todos
desapareceríamos.
Terapeuta: Comer e desaparecer nunca estão juntos e não há probabilidade
nenhuma de você ser comido. Muito poucas pessoas são comidas por alguma coisa.
Paciente: Jonas foi comido pela baleia.
Terapeuta: Um exemplo não torna muito provável. Seja como for, mesmo na
história, Jonas não desapareceu. Se você parar de pensar em coisas que o assustam e
exaurem, poderia explicar-me o que você viu que de fato o assustou.
Paciente: Bem, eu vi aquela grande máquina que estava comendo a casa. Ela
tinha uma boca enorme e estava triturando grandes pedaços.
Terapeuta: Ah! Você se refere a uma escavadeira. Aquilo não é uma boca. É
uma máquina que as pessoas usam para tirar terra...

79
Esse diálogo ocorreu com um paciente hebefrênico. Os hebefrênicos geralmente têm
ilusões sobre comer. Dado não haver contato prévio com o paciente, um terapeuta que
está familiarizado com o quadro de referência hebefrênica poderia começar, nos
primeiros momentos de contato, a fazer intervenções significativas em relação às más
informações e estrutura de ilusões.
Além disso, o paciente excitado e admirado por ter finalmente encontrado um terapeuta
que “compreende” e não desqualifica suas percepções, terá mais probabilidade de
entrar num contrato significativo.
Os diagnósticos assim utilizados não são apenas rótulos; consequentemente, é
importante que não sejam atribuídos vagamente. Os pacientes são Frequentemente
encaminhados com uma série inteira de rótulos e não vemos diagnósticos mudando
nada. As estruturas de personalidade são incorporadas durante o início da infância e ao
mesmo tempo em que lá pode haver camadas de defesas, os mecanismos básicos e as
estruturas de pensamento são consistentes. Os diagnósticos comumente usados não o
são por nós, porque, em nossa experiência, eles não descrevem categorias distintas.
Além disto, preferimos trabalhar com pacientes que não diagnosticamos com sucesso,
do que aplicar uma classificação que poderia ser incorreta. É importante que os
diagnósticos e categorizações não sejam usados rigidamente e que as diferenças
individuais sejam reconhecidas.
Quadro de referência competitivo
A Simbiose patológica estabelece inevitavelmente uma competição.
As questões são:
• Como vou conseguir o que quero se não há o suficiente à disposição?
• Como vou conseguir o que quero se você não me dá?
• O que vou ganhar se fizer isso?
Para a maioria das pessoas em nossa sociedade, um quadro de referência competitiva
é inevitável. As comparações estão tão estruturadas em nosso pensamento que, para
muitos de nós, torna-se quase que impossível pensar sem elas. Para alguns indivíduos,
a cultura familiar exagera a competição, acentuando as semelhanças ou as diferenças.
A maioria das pessoas compete a partir de uma expectativa de perder, pois

80
aprenderam a competir muito cedo, quando ganhar era improvável. Assim, elas
incorporam auto definições que são contrárias ao sucesso e à vitória.
Os pais que estabelecem a estrutura competitiva, da mesma maneira, vêem-se como
perdedores devido ao conflito que o problema engrendra. Dessa forma, todo mundo
acaba na posição de vítima, a posição no Jogo que é a mais reforçada socialmente.
Dentro dessas estruturas familiares, pais e filhos competem para ser vítima, cada um
tentando definir o outro Perseguidor, cada um aventurando-se em ocasionais excursões
como Perseguidor, escalando assim o Jogo, e depois voltando para a posição de
Vítima, a fim de ficar OK. O Salvador está na posição de “ganhador”. Usando o pai, o
Salvador é capaz de definir rigorosamente tanto o Perseguidor Não OK, como a pobre
Vítima, perpetuando dessa maneira o Jogo e assegurando seu sucesso constante.
A antítese para a competição é a fixação de metas que são independentemente
definidas e realísticas para os indivíduos e sua situação de vida. Metas que são revistas
pelo Adulto fornecem um quadro de referência, no qual o sucesso é possível, mesmo
provável e estar OK não é um problema.
Oqueidade é, em si mesmo, um conceito competitivo, não tendo uma utilidade
intrínseca. É um conceito externamente incorporado, usado para manipular a criança
para a conformidade social e, geralmente, não está relacionado a metas especificas,
tais como Carícias ou realizações. A oqueidade geralmente não envolve um sistema
interno de valores que forneceria uma estrutura de funcionamento, mas sim fornece
uma estrutura para a autocrítica, culpa e sofrimento.
Uma estrutura de tratamento para ser efetiva deveria; primeiro: deixar de enfatizar a
competição; segundo: assegurar às pessoas que elas podem obter aquilo que
necessitam por si próprias, não a expensas de outra pessoa e terceiro: deve
interromper o empenho em obter Carícias de Vítima. A Agitação, que parece ter grande
importância para as estruturas competitivas, é um principal foco de tratamento.
Esquizofrenia
A esquizofrenia é caracterizada por um sistema fechado de mensagens no Pai,
adaptações correspondentes na Criança e um Adulto que está mal informado. Dado um
quadro de referência internamente consistente, como é ditado pelo Pai e uma Criança
adaptada a ele, o Adulto não adquire ou usa informações que são compatíveis com o

81
Pai. As adaptações são o resultado de reforço de modelos adaptados de padrões de
respostas adaptativas sobre questões de sobrevivência, tais como Carícias e
sentimentos, que geralmente são mal adaptadas às necessidades do indivíduo.
Com uma Criança que percebe a patologia como necessária à sobrevivência, um Pai
que confirma isto e um Adulto incapaz de contradizê-lo, a pessoa não tem saída do
esquema sem intervenção externa. (vide Fig. 15).
Os não psicóticos têm mecanismos que lhes permitem ajustar-se a desconfortos,
através de forma que se relacionam com a realidade exterior; os mecanismos podem
ou não dar resultado, porém eles lidam com algo externo às pessoas. Os psicóticos não
vivenciaram suficiente consistência entre seu quadro de referência e o mundo exterior
para desenvolver estes mecanismos. Por isso, em situações de desconforto ou tensão,
são incapazes de encontrar uma correlação suficiente entre os dois para capacitá-los a
continuar a funcionar em relação ao problema da realidade. Retiram-se, então, para um
quadro de referência que se relaciona somente com a sua experiência interna ou, às
vezes, quando estão tentando relacionar-se à realidade externa, abrigam-se numa
posição superadaptada, excluindo comumente sua Criança.

FIG. 15. Mensagens Básicas e Adaptações na Esquizofrenia

82
Conscientização conectada
Parece que a integração das atividades dos hemisférios do cérebro tem considerável
significado para esquizofrenia.
Poderá haver fatores genéticos relevantes e há, com certeza, fatores ambientais. A falta
de integração resulta em percepções confusas e distorcidas, embora às vezes originais
e criativas, em ruptura e explosão dos mecanismos de fantasia indispensáveis para o
pensamento e em utilizações incomuns de energia.
Um hemisfério pode conter as percepções internas de emoções que agem como um
foco para a energia emocional gerada. O outro hemisfério pode agir como um receptor -
transmissor onde a energia emocional gerada é analisada e canalizada para o ambiente
com as palavras que é o instrumento principal de comunicação dos seres humanos dos
nossos dias. A descarga desta energia está relacionada com a sobrevivência, e se a
energia é contida por um período suficiente de tempo, as pessoas implodem
emocionalmente. Estas poderão atingir um ponto em que há um bloqueio interno
esmagador da corrente de energia se tiverem sido reforçadas externamente na não
expressão de sentimentos. As psicoses podem ser consideradas como tentativas para
descarregar a energia gerada pelas percepções internas de emoções e pelos conflitos
resultantes de tentativas mal sucedidas para mudar os estímulos ambientais.
Esta descarga e a subsequente reorganização do “self” é um mecanismo básico de
sobrevivência dos seres humanos, análogo à mudança de casca ou de pele vista em
quase todo o reino animal (serpentes, lagostas, borboletas, etc.). Drogas torazine,
prolixon, estelazine, melaril, etc. (fenotiozinas) evitam que as pessoas mudem sua
antiga “pele” e assim são definitivamente autodestrutivas por não permitirem que os
indivíduos que entram numa “psicose” completem esta transformação psicológica e
espiritual. As pessoas que utilizam tais drogas não conseguem encontrar seu “self”
natural, Criança Natural, e ficam sujeitas aos desconfortáveis efeitos colaterais dessas
drogas que reforçam sua não - oqueidade. Essas pessoas enfrentam o risco de um
dano cerebral permanente criado pela fenotiozina, chamado “Dicinésia tardia”, cujos
sintomas são movimentos musculares lentos, distorcidos e incontroláveis,
especialmente ao redor da boca. Há provas de que o malogro em integrar os
hemisférios direto e esquerdo do cérebro é importante para a dicotomia e a polarização

83
das percepções das pessoas. Em comunicação este problema pode envolver “blocos
aprendidos” entre os lados direito e esquerdo do cérebro, envolvendo o “corpus
callosum”. O “corpus callosum” é a grande rede de nervos que liga os hemisférios
cerebrais direito e esquerdo.
A regressão pode ser considerada como uma volta individual ao ponto, no processo de
maturação, onde os blocos foram criados e a tentativa para trabalhar através desses
blocos num novo ambiente. Uma grande parte do trabalho efetuado em nossos
programas envolve técnicas para facilitar isso. Outra técnica que parece envolver um re
- enganchamento dos hemisféricos e a remoção do bloco são as resoluções
hebefrências que envolvem uma violenta descarga de tonturas e raiva.
Hebrefenia
A hebrefonia é a mais regressiva das esquizofrenias e tradicionalmente tem os piores
prognósticos. Contudo, a Reparentalização mostrou-se eficaz com 15 desses
pacientes. Existem muito mais hebefrênicos do que os geralmente diagnosticados em
parte porque há relutância em usar este diagnóstico e em parte porque as fenotiazinas
suprimem seletivamente as tonturas como um sintoma.
A personalidade é estruturada ao redor de um sistema de negações. Isto serve para
manter a pessoa fragmentada de modo que certas necessidades e sentimentos que
não são permitidos, pois representam uma ameaça à sobrevivência, podem ser
mantidos fora da consciência. A estrutura pode diagramada para explicar o sistema de
negação (Vide Fig. 16).
Há evidência “prima facie” que o malogro para integrar os dois hemisféricos do cérebro,
envolvendo “bloqueios” no “corpus callosum”, é relevante para a dicotomia e para as
percepções individuais de todas as questões como forma polarizadas.
Sob o aspecto de desenvolvimento, a criança não aprende a identificar a sensação de
fome por causa da alimentação precoce ou dificuldades de alimentação. Outra
característica importante do passado destes pacientes é o excessivo uso de
“chiqueirinhos” ou outras restrições artificiais (geralmente até a idade de 3 a 4 anos).
Isto resulta numa extrema superadaptação, sendo Desqualificação e o não
reconhecimento à questão.

84
A situação do “chiqueirinho” significa que a mãe pode simplesmente ir embora e a
criança não tem recurso. Resulta também em que poucos controles normais internos
são desenvolvidos durante este período, o que deixa o paciente com problemas
urgentes de controle de impulso.

raiva
Pai Tolo
(inútil) Cri
anç

FIG. 16. Estrutura de Personalidade Hebefrênica

A fome é uma questão progressiva e por isso bocas são extremamente importantes. A
realidade é definida competitivamente, a partir de referenciais internos. A Passividade é
alternada com rompantes frenéticos de energia nos estágios mais ativos do distúrbio.
Esses pacientes são facilmente envolvidos no tratamento por causa de sua extrema
adaptabilidade, significa que são atraentes para os terapeutas, e sua extrema
regressividade resulta em reações prontas às técnicas regressivas. No início do
tratamento a melhora dramática é característica. Depois, há períodos longos de fuga,
rebelião e conflitos. Além disso, é necessário constante atenção ao aprendizado que é
relevante para a integração das duas partes do cérebro e necessária para a eventual
interrupção da dicotomia.
Uma das dificuldades no tratamento deste distúrbio é a extrema sedução dos pacientes
e que resulta em considerável contratransferência. O paciente comunica um nível de
necessidade muito forte e um investimento profundamente positivo no relacionamento.
Ocorrem então comportamentos inesperados (fuga, furtos de coisas do terapeuta,
danos propositais) que revelam empenho pouco sincero no relacionamento. Aconselha-

85
se aos terapeutas não se envolverem muito nesses relacionamentos e evitarem
qualquer cuidado excessivo com os pacientes.

Catatonia
A catatonia é caracterizada por um total retardamento comportamental Frequentemente
entremeado com períodos de violência ou fuga. Esses comportamentos, que ocorrem
simultaneamente com uma possibilidade de suicídio, são respostas à pergunta: “Como
vou escapar deste mundo não OK?”.
Geralmente a dinâmica é disfarçada por uma cobertura histérica.
Os sintomas mais facilmente reconhecíveis são as tentativas persistentes de
isolamento e uma aparência cerosa.
Qualquer demanda para um envolvimento pessoal significativo é vista como uma
ameaça à existência. Isto é porque ameaça diretamente o controle de isolamento dos
pacientes que acham que “deixar alguém interferir” é o mesmo que dar a essa pessoa
controle direto sobre sua sobrevivência. Entretanto, este é o único caminho para seguir
num tratamento. As Carícias podem, algumas vezes, obter envolvimento voluntário
devido à urgência com que os pacientes sentem fome de Carícias; todavia, o
envolvimento em estágios iniciais tem probabilidade de aumentar e declinar, mesmo
dentro de circunstâncias ótimas. Obteve-se sucesso com dois pacientes não
voluntários, porém com muita persuasão e estimulação.
Uma vez que o distúrbio se origina no início da infância como resultado de interações
negativas e imprevisíveis com o meio ambiente, é importante que os pacientes sejam
fisicamente acariciados, ajudados e tranqüilizados. A fixação ocorre na última parte da
infância, quando as crianças sentem-se incapazes de fazer qualquer coisa funcionar e
falham em desenvolver a expectativa de que serão capazes de controlar e dirigir o
mundo. A luta do controle característica do 3° ano, é então internalizada e se exterioriza
como um mecanismo interno.
Este conflito é elaborado durante o estágio dos 8 aos 12 anos, e o terapeuta pode sentir
a disputa constante. A disputa representa uma tentativa de isolamento disfarçado em
relacionamento. Os pacientes deveriam ser impedidos de discutir e encorajados a se
relacionarem espontaneamente com a situação.

86
O nascimento é um fato importante. A criança deseja não ter nunca nascido e a
regressão é, para o último período de conforto, o tempo do pré - nascimento. A decisão
de nascer, e por consequência desistir do isolamento, é Frequentemente exteriorizada,
e a decisão para viver no mundo é eventualmente baseada na confiança de que as
coisas serão melhores no mundo como é apresentado pelo terapeuta.
Pode haver uma perturbação alimentar (anorexia) e é importante para o paciente
identificar a natureza suicida disso.
Exige-se um contrato de não suicídio e de não fuga. É Frequente requerer-se ou exigir-
se restrição física, confirmando que a fuga não é uma opção. Terapeutas que tiveram
sucesso com esses pacientes relatam que há muito envolvimento nas lutas originais de
controle (contendas, repressão e alimentação à força).
Um diagrama preliminar da estrutura catatônica mostra o Estado de Ego da Criança de
uma pessoa dividido em três áreas funcionais (Vide Fig. 17).

Fig. 17 Catatonia

Há uma série de comportamentos da Criança Adaptada, AC1, que são socialmente


adequados, e também uma série de comportamentos patológicos que encapsulam os
comportamentos desqualificados da Criança Natural, seus sentimentos, necessidades e

87
desejos. Estas adaptações patológicas agem como uma barreira permeável de energia
ao redor da Criança Natural desqualificada. Em certas circunstâncias o acesso à
Criança desqualificada através desta barreira é relativamente fácil, enquanto em outros
casos, a barreira parece impermeável. Contudo, em muitas circunstâncias, o acesso é
mais facilmente conseguido identificando e reagindo aos aspectos da Criança Natural
não encapsulada pela AC2.
Paranoide
Ocorre a paranóia quando o paciente escala habitualmente a raiva sobre o medo. Há
uma injunção do Script proibindo o sentimento do medo e uma prescrição
recomendando uma raiva extremada como reação apropriada para as situações de
medo. Na esquizofrenia do tipo paranóide, é usada uma Contaminação de Pai para
manter a posição de Virtuoso Irado. Além disso, o Adulto está mal informado e o
paciente está convicto de que as pessoas são imobilizadas pelo medo, a ponto de
ficarem totalmente incapacitadas para solucionar qualquer problema. A má informação
pode ser posteriormente complicada por delírios (Contaminação da Criança) durante os
episódios agudos.
Sob o aspecto do desenvolvimento, o distúrbio parece começar em meados do estágio
oral (8 a 15 meses). À medida que a criança se movimenta, aparece a dentição, come
sólidos, lambuza-se com fezes, etc., a mãe (ou outra fonte primária de nutrição) reage
com culpa por não gostar de criança e se retrai (o que é sentido pela criança como
rejeição). A criança aprende a evitar a rejeição pela obtenção de uma reação culposa
(Salvação) e assim aprende a preferir a posição de Vítima no Triângulo Dramático de
Karpman. A mãe, geralmente, reforça a preferência pela posição de Vítima na sua
tomada de papel de mártir (Vítima defendendo-se do Perseguidor), muitas vezes
competindo com a Criança pela posição de Vítima.
A Criança aprende a escalar os sentimentos de várias maneiras. Há duas posições
básicas, ambas reforçando a atitude NÃO OK de Vítima: sofrer levemente (choro,
incapacidade física, “Não é horrível?”) e a crise: As dinâmicas são ensinadas
separadamente. Por exemplo: o choro é recompensado quando o bebê é tirado do
berço ou do quadrado depois de longos períodos de sofrimento leve, e a crise ou
escalada de alto nível pode ser ensinada por cócegas até que a criança fique histérica.

88
Ao fazer o trabalho de regressão, é sempre evidente que a criança em regressão não
está OK e em sofrimento. Geralmente, o indivíduo tem extrema dificuldade em soltar o
controle da bexiga e suportará dores cruciantes causadas pela retenção da urina (isto
raramente ocorre em nível significativo em outras patologias).
Quando há catexização espontânea para Criança num paciente paranóico, o sofrimento
é demonstrado por choros, nariz escorrendo e babas.
Isto é feito com tal exagero que muitas vezes o terapeuta ou o grupo sente reações de
rejeição e de pouca simpatia. É provável que eles reajam com culpa, super - adaptação
e cuidados, duplicando dessa forma a situação original.
Uma resposta mais terapêutica é notar o sofrimento, reagir com cuidados imediatos
juntamente com críticas, dar a atenção que o comportamento está solicitando e deixar
claro que o comportamento Não OK é desnecessário e inaceitável. O paciente deve ser
tranqüilizado de que a rejeição não é uma possibilidade. “Pare de choramingar; você
não precisa ficar Não OK para conseguir atenção dos outros. Não vamos rejeitá-lo.”
Uma dinâmica importante na paranóia é o “segredo”. O segredo é uma fantasia
edipiana que uma garota ou garoto de 5 anos magoado e assustado constrói para
explicar porque a mãe não gosta dele ou dela. A identificação com animais é uma parte
provável desta fantasia.
Exemplo: Uma paciente que era chamada “macaquinha” acreditava que era macaco;
outra, que era chamada “son of a bitch” (filho de uma cadela), esperava tornar-se um
lobo.
Apesar das provas em contrário, os pacientes que não parecem significantemente
delirantes, se apegarão a essas fantasias. A maioria dos comportamentos patológicos
são comportamentos adaptados para se defender contra a representação da fantasia.
Este mecanismo de defesa pode ser efetivamente representado aos pacientes como
uma bolha no Estado de Ego Criança. Isto não significa que deva ser estruturalmente
ou teoricamente rigoroso.
Assim, descrevemos o paranóico como aquele que tem uma série de comportamentos
socialmente apropriados, CA1, (vide Fig. 18); uma série de comportamentos
socialmente inadequados bizarros relacionados à fantasia animalística na bolha.

89
Muitos desejos, necessidades e sentimentos da Criança Natural estão encerrados na
bolha e são definidos pelo paciente como Não OK.

Fig. 18 A Bolha paranóide

Temos tido resultados positivos fazendo a catexização dos pacientes na fantasia da


bolha, confrontando a besteira (ou tolice) de seu comportamento e persuadindo-os a
manter a catexização lá, de maneira a nos permitir fazer um contato direto com a
criança Natural.
Num nível não psicótico, a paranóia é comumente chamada de Jogo do “Chute-me”.
Esses pacientes obtêm reações negativas dos terapeutas e grupos devido à sua
aparente posição de ingenuidade. A estrutura do “Chute-me” resulta de uma
Redefinição interna de Carícias de maneira que as Carícias negativas são sentidas
tanto como positivas, quanto como negativas. Esta manipulação de Carícias é
enganadora e difícil de confrontar no tratamento, porque raramente é identificável
transacionalmente. O paciente necessita aprender a identificar as Carícias positivas a
fim de desistir da necessidade de Carícias negativas.
Histeria
A personalidade histérica é caracterizada por rompantes emocionais, superadaptação,
frivolidade aparente geralmente fingida, e atenção exagerada a questões de
aparências.

90
Parece que muitas dessas características se desenvolvem no estágio médio - oral,
quando se espera que a criança seja esperta, doce, bonitinha, bem comportada e que
viva conforme a fantasia da mãe de como o bebê deveria ser. Adaptando-se a esta
expectativa, a criança aprende a ocupar-se da mãe e de outros a fim de obter o
atendimento de suas necessidades.
O diagrama funcional da Criança histérica (Vide Fig. 19) serve para explicar muitos
fenômenos ocorridos com esses indivíduos.

Criança Natural

Criança Criança
Super Adaptada
Adaptada

FIG. 19. Histeria

O histérico tem a tendência para desqualificar os sentimentos da Criança Natural e


muda para uma posição de superadaptação ou adaptação, em lugar de lidar com os
sentimentos vivenciados. Este mecanismo resulta de certas mensagens de P2 tais
como: “Seja forte”, e “Mostre-se bem” e de algumas Injunções como: “Não demonstre
seus sentimentos”, e “Não pense”.
Os sentimentos, desejos e necessidades da Criança Natural são percebidos como Não-
OK pelo histérico, e, por conseguinte, ele tende a evitar o contato com eles ou
demonstrá-los. Em lugar disso, agindo pela fantasia de expectativas exteriores, o
histérico esforça-se para agradar, se eficiente e aparentar bom aspecto.
Como estas operações envolvem frustração das necessidades da Criança Natural, a
raiva reprimida vai formar a Criança Superadaptada.
As crises raivosas características fornecem uma liberação para esta energia e são
vistas como comportamentos da Criança Adaptada. Tipicamente, o repertório dos
comportamentos da Criança Adaptada faz surgir uma reação negativa dos outros e

91
confirma a posição existencial de “Não há jeito de conseguir minhas necessidades
preenchidas”.
Depois da escalada da Criança Adaptada, parece que a Criança Natural torna-se
acessível para a Parentalização. A meta no tratamento é persuadir o Histérico a
decatexar a patologia da Criança Superadaptada e catexar a Criança Adaptada. Os
comportamentos disfuncionais, particularmente as Transações Redefinidas, são
confrontados e espera-se que o paciente defina e realize seus desejos sem estabelecer
relação com as adaptações disfuncionais.
Mania depressiva
O distúrbio maníaco - depressivo está ilustrado na fig. 20.
Negação

Maníaca Depressiva

Negação

Fazendo coisas

FIG. 20. Maníaco–Depressiva

A principal dinâmica é que devido ao quadro de referencia competitiva na família na


qual uma função específica somente pode ser exercida por um membro da família, é
negada a possibilidade de fazer coisas com sucesso, coisas essas que são feitas por
outros. Como os sentimentos são geralmente propriedade funcional de outro membro
da família, a expressão da Criança Livre torna-se um problema esmagador nos
momentos em que a tensão do ambiente faz surgir os sentimentos. Além disso, raiva e
medo são problemas sérios para o paciente que somente pode expressá-los dentro da
estrutura de escalada patológica (a partir da posição “Eu não estou fazendo nada”).
Sob o aspecto de desenvolvimento, a questão mais significativa é a competição entre a
pessoa nutritiva e a Criança sobre quem está se evitando a Agitação. Isto continua à

92
medida que a Criança cresce e se complica pelas mensagens confusas e inconscientes
dos pais a respeito de como fazer as coisas. Um exemplo considerado significativo por
quase todos estes pacientes é ser alimentado com colher. Geralmente essas crianças
são alimentadas por outros muito além do estágio em que a maioria dos bebês já se
alimenta sozinhos e a alimentação apresenta conflito de alto nível, resultando em
Agitação tanto para o bebê como para a mãe.
Quando os pacientes são maníacos, eles são notados pelos outros como muito
agitados, embora afirmem que se sentem bem. Contudo, as pessoas ao redor sentirão
a Agitação.
O papel das mulheres é geralmente salvar e é possível que as Carícias somente sejam
percebidas da posição de Vítima quando são salvas externamente. O sexo é
importante, porém, apenas praticável como sugestivo em contextos grandiosos ou
bizarros.
A questão é a existência e as opções acessíveis aos pacientes para estabelecer sua
existência são muito limitadas. O tratamento consiste em ampliar as opções para
reconhecimento em fazer coisas, aumentando as habilidades e encorajando essas
pessoas a fixarem suas metas, atingi-las com sucesso e reconhecerem estas
realizações. Essas criaturas desqualificam a realidade externa num alto nível o que
facilita a Desqualificação das realizações e também servem de expressão de poder
dentro do contexto de um quadro de referência competitivo. Isto é importante para
confrontar, porque a questão de fazer coisas não pode ser abordada com sucesso
enquanto os pacientes não tiverem certa consciência da realidade.
O Obsessivo – compulsivo
A principal característica dos antecedentes da família de pacientes obsessivos -
compulsivos é a briga à distância.
Os membros da família permanecem em quartos separados e gritam uns com os
outros. Isto é significativo, em vista do pavor que os pacientes têm da proximidade e de
sua própria raiva ou impulsos violentos. Todavia, esses são projetados fora do ego e
para fora do ambiente externo.

93
Quanto ao aspecto de desenvolvimento, este distúrbio é semelhante ‘a paranóia na
origem, sendo a principal diferença que a pessoa nutritiva compensou os impulsos de
rejeição tornando-se superprotetora.
Nutrição, raiva e medo são assuntos importantes. Carícias físicas e de apoio são
também muito importantes no tratamento e à medida que o paciente começa a ter
permissão para ter sentimentos e ainda aproximar-se, em geral devido à vontade do
terapeuta em fazer isso, os impulsos de raiva começam a emergir e serem tratados. O
tratamento destes casos parece ser relativamente fácil. Um problema é que muitas
vezes os terapeutas têm dificuldades em dominar os impulsos de afastarem-se dos
pacientes, os quais eles sentem como pouco interessantes.
Depressão
A depressão como está considerando aqui, é vista como uma condição caracterizada
pelo desânimo emocional e isolamento mais do que a situação justifica. Como
mecanismo, envolve uma diminuição geral de respostas e inibição, tanto da
experimentação interna aos estímulos, quanto de resposta a eles, seja afetivo ou
comportamental.
Fazer coisas é um ponto focal no quadro de referência. A dificuldade específica em
fazer coisas varia com os indivíduos como uma questão de Script, porém o problema
geral é o mesmo; as pessoas se sentem incapazes, sem vontade, ou desinteressadas
em fazer coisas. A falta de vontade é a posição mais honesta e a expressão mais direta
do negativismo, porém é verdade também que algumas pessoas podem eventualmente
tornarem-se tão deprimidas que não são capazes de fazer coisas sem uma ajuda.
O negativismo entre as idades de dois e três anos pode representar uma falta de
resolução no conflito de socialização. Como essas pessoas sabem que a zanga não é
apropriada e a sua expressão somente resultará em uma resposta negativa ou
desqualificada do ambiente, a alternativa preferida é a depressão. Outros sentimentos
como o medo e o pesar, podem ser a fonte de dificuldade. O tratamento é lento, porque
o problema inicial envolve conseguir que os pacientes fiquem suficientemente ativos,
para começar a trabalhar com as questões atuais. Isto requer incitação contínua,
encorajamento, salvação e o uso de Carícias negativas e positivas (embora essas
últimas sejam muito provavelmente desqualificadas). Eventualmente, o negativismo ou

94
outros problemas poderão surgir e serão acessíveis a tratamento se a estrutura de
tratamento fornecer recursos que os pacientes reconheçam como relevantes.
Distúrbios de caráter
Indivíduos com uma personalidade de distúrbio de caráter ou incorporaram um mínimo
do Estado de Ego Pai ou incorporaram um Pai atípico. Para compensar a inadequação
da incorporação de Pai, A2 e A1 são vistos como altamente desenvolvidos. Assim, o
comportamento é geralmente controlado através do estabelecimento da relação com
consequências específicas do problema e não com qualquer estrutura de valores
generalizada Parental. Os pacientes com uma personalidade de distúrbios de caráter
usam também mecanismos de Pai Bruxo para se intimidar a ter comportamentos
apropriados (Vide Capítulo Quatro: “Os temíveis quatro anos.”).
Para aqueles com distúrbios de caráter, as questões então se tornam assim: “Existe
alguma maneira que eu possa imaginar para vencer isto?” ou “isto é muito assustador
para eu tentar?”.
Diferentemente do esquizofrênico que experienciaram uma Simbiose patológica, as
pessoas com desordens de caráter nunca estabeleceram completamente uma
Simbiose primária sendo a separação da mãe ou inconsistência as causas prováveis.
Personalidade inadequada
Alguns pacientes passaram os primeiros poucos anos de vida sem distúrbios sérios e
então vivenciaram algum trauma externo, como a morte de um pai e uma mudança
drástica na experiência de vida, para a qual a criança mostrava-se incapaz de se
adaptar.
Ocorreu a fixação e eventualmente a criança tornou-se socialmente disfuncional, em
geral como resultado de falta de Parentalização (os problemas mais comuns são
Carícias ou disciplina). Quando a falta de Parentalização e a experiência são
identificadas e supridas, o indivíduo pode seguir em frente.
Fobias
A pessoa fóbica é irracionalmente medrosa de objetos e acontecimentos. Sua reação
tende ser o isolamento e a adoção de uma posição apelativa, um tanto desamparada. A
pessoa sente dificuldade em estruturar o tempo e energia, em fazer coisas. E em ficar
envolvido no mundo. O medo progride histericamente como um mecanismo de fuga.

95
Esses indivíduos tentam manter uma posição passiva dependente em relação ao
mundo e usam seu medo como justificação. Essencialmente, se incapacitam porque
acham que não podem fazer nada.
O tratamento consiste em insistir para que os pacientes mantenham-se ativos e
envolvidos em qualquer atividade que eles escolham.
Deve ser dada muita atenção à estruturação do tempo e no ensino sobre o que fazer e
como fazer conforme as situações.
A meta é ampliar suas habilidades para se relacionarem adequadamente com o mundo
e há uma expansão progressiva de expectativas para esse envolvimento.
Outros problemas
Alcoolismo e abuso de drogas, desvios sexuais são típicos de uma classe de problemas
vistos como estruturas de defesa cobrindo uma patologia subjacente.
Essas adaptações derivam tanto das Injunções de Script do indivíduo e mensagens
como também do comportamento visto nos modelos parentais.
O tratamento envolve a identificação das dinâmicas subjacentes e o ataque direto a
essas dinâmicas.

Capítulo Sete

REPARENTALIZAÇÃO E REGRESSÃO

Definição
A Reparentalização é um método usado no tratamento de psicoses. Envolve a
total descatexização do Estado de Ego do Pai incorporado originalmente e a
Reparentalização e reposição dessa estrutura com uma nova estrutura Parental. Esse
processo de reposição é facilitado pela habilidade do psicótico em descatexar total e
permanentemente o Estado de Ego de Pai originalmente incorporado. Esta
descatexização do Pai é encarada como uma decisão da Criança de remover toda
energia (ligada ou não)13 recebida do Pai. Essas pessoas sentem-se como não
possuidoras de Pais acessíveis. A energia retirada do Pai fica então disponível para a
incorporação de novo Pai. Uma parte da energia é liberada neste processo, porque a
13
Berne, Transactional Analysis in Psychoterapy, pp. 40-41.

96
ativação da estrutura de defesa contra as ameaças do antigo Pai não é mais
necessária.
O Pai contém todos os parâmetros de definição dentro dos quais essas pessoas
funcionam (quadro de referência) e essa remoção as deixa vulneráveis.
A completa descatexização de Pai não é recomendável a não ser que haja uma
estrutura externa de apoio adequada na qual as pessoas possam confiar. Além disso,
se os indivíduos sentirem que o ambiente não é suficientemente capaz de suportar uma
total descatexização de Pai, a perda de estrutura que eles antevêem pode impedir essa
total descatexização. Eles terão possibilidades de conservar disponível um Pai
suficiente para facilitar o funcionamento dentro do ambiente. Outro modo de
Reparentalização que tem sido utilizado leva em conta esses fatores e é usado
principalmente em ambulatórios, onde não é possível um apoio total de descatexização
do Pai. Num ambiente de ambulatório, os indivíduos gradualmente excluem o Pai
antigo, removendo passo a passo a energia desligada do Pai, porém usada
funcionalmente, deixando intacta a energia ligada (estrutura). Assim a antiga estrutura
Parental permanece como um recurso para manter a estabilidade da energia, porém,
não é usada funcionalmente. A nova estrutura Parental é então gradualmente
incorporada e, quando for suficiente para que os pacientes possam usá-la sozinha,
torna-se prático descatexar integralmente o antigo Pai anteriormente excluído. Todo
este processo envolve uma reorganização mais gradual do quadro de referência do
indivíduo.
Motivação para Descatexização
Tanto o quadro de referência do psicótico como o do não psicótico é encarado
como estruturas de adaptação para a Criança Natural. O quadro de referência tinha
valor para a sobrevivência na família original e, por consequência, é Frequentemente
observado um13 considerável empenho mesmo nos quadros de referência
disfuncionais. Isto explica, ao mesmo tempo parcialmente, porque pacientes podem
experimentar grande conflito na descatexização de seus Pais. Embora desconfortável,
seu valor de sobrevivência passado pode eclipsar o desconforto sentido.

13
Berne, Transactional Analysis in Psychotherapy, pp. 40-41.

97
As decisões para substituir o quadro de referência derivam da Criança Natural.
Assim, a gratificação fantasiada do uso do novo quadro de referência, juntamente com
informações, confiança e apoio das figuras do novo Pai é importante numa decisão do
indivíduo para desinvestir na ativação da antiga estrutura Parental. Quanto mais
disfuncional for o quadro de referência, provavelmente menos positivo é o empenho
que o indivíduo tem o Pai que contém os parâmetros de definição para aquele quadro
de referência. Assim, se o quadro de referência do indivíduo evidencia-se disfuncional
em testes da realidade, é provável que haja muito pouco empenho para manter essa
estrutura.
Aplicações não psicóticas
A facilidade para a descatexização Parental integral não é vista em pacientes não
psicóticos. Para os indivíduos não psicóticos, os parâmetros de definição pelo Pai
originalmente incorporado permitem um quadro de referência que é de certa forma
funcional e, consequentemente, gratificante. À medida que o quadro de referência é
funcional, a gratificação daí derivada fornece um reforço positivo para manter a
estrutura Parental incorporada. Este empenho na estrutura Parental pode, assim,
impedir a descatexização integral dessa estrutura. O problema do tratamento então
consiste em preencher novas mensagens Parentais específicas, definições e razões
para efetuar modificações no quadro de referência da pessoa. Este processo é
chamado Parentalização.
Parentalização
A Parentalização, quando usada com pacientes não psicóticos, não exige uma
descatexização integral Pai. O quadro de referência é modificado pelo fornecimento de
mensagens Parentais específicas, definições e razões para efetuar mudança no quadro
de referência. É importante que as mensagens Parentais dadas relacionam-se com
todos os três Estados de Ego para efetuar um quadro de referência integrado. Assim,
as razões e informações devem ser dadas em relação às mensagens do Pai (Adulto), e
as adaptações da Criança devem ser ensinadas e reforçadas pela experiência. Se as
novas mensagens de Pai forem inconsistentes com os de dados da realidade, as
adaptações da criança a essas mensagens podem não ser gratificantes, não ocorrerá
reforço para adaptação às mensagens, e o indivíduo pode desqualificá-las.

98
Na Parentalização, a pessoa pode usar fantasia para desqualificar certas
mensagens Parentais. O processo, geralmente referido como “engaiolamento do Pai”,
envolve uma fantasia da pessoa em aprisionar Estado do Ego de Pai numa gaiola.
Funcionalmente, a pessoa seletivamente desqualifica as mensagens anteriores do Pai.
Se as novas mensagens, as razões e as adaptações demonstram-se gratificantes, o
indivíduo persistirá na Desqualificação das mensagens antigas e continuará a ativar a
construção do novo Pai.
Simbiose
Descatexização, Desqualificação seletiva ou Exclusão do Pai envolve a pessoa impor
uma Simbiose sobre os outros. Para que ocorra um tratamento afetivo, o terapeuta
entra na Simbiose, quando parentalizar ou reparentalizar, a fim de facilitar o trabalho do
paciente pela Simbiose e alcançar autonomia. Quando uma regressão está envolvida, a
Reparentalização é feita no contexto do desenvolvimento normal da infância onde os
desejos da Criança são atingidos; as mensagens de Pai, definições e limites são
incorporadas e as informações são aprendidas no Adulto.
Regressão
A regressão tornou-se um processo importante e instrumento valioso no tratamento de
perturbações psicóticas. De fato, é duvidoso se o sucesso que se tem alcançado teria
sido possível sem a utilização integral desta característica do distúrbio.
Definições
A regressão psicótica é um processo no qual a Criança é catexada a uma idade muito
infantil (geralmente antes de um ano). Ocorrem mudanças fisiológicas identificáveis e a
regressão é bloqueada no sentido de que a pessoa não pode catexar um Estado de
Ego da Criança Natural, isto é, espontaneamente reativa, de mais idade do que a idade
em regressão. É neste sentido que o termo regressão seria usado Frequentemente
neste trabalho.
As regressões não-psicóticas parecem ser de três tipos distintos porém relacionados:
1º) A pseudo - regressão é um processo que inicialmente parece ser uma total
regressão psicótica, porém, não fica bloqueada na forma que as regressões psicóticas
ficam, e os pacientes podem sair da regressão (e geralmente fazem). Isto pode ocorrer
porque essas pessoas não são psicóticas e, por consequência, não têm disponíveis os

99
mecanismos necessários ou porque não tomaram a decisão indispensável para utilizar
esses mecanismos.
2º) A regressão como uma catexização temporária da Criança numa determinada
idade é um processo no qual os pacientes deslocam uma grande quantidade de energia
para o Estado de Ego da Criança e usam apenas energia para o Pai e Adulto no grau
equivalente ao que possuíam na idade catexada.
3º) Regressão adaptável é processo no qual os paciente reagem a um estímulo
ambiental ou um complexo de estímulos com uma catexização relativa ou
absolutamente fixa da Criança. Estes fenômenos podem ser observados no caso de
pessoas que se tornaram não funcionais em resultado de trauma físico em Casas de
Saúde, em que pacientes mais velhos reagem à dependência forçada com uma
catexização adaptável à Criança. Neste último caso, é provável que haja componentes
fisiológicos para a regressão, como também psicológicos.
Dinâmica de regressão
A regressão em pacientes psicóticos ocorre em razão de tensão interna ou
externa que pode ser ou não ser objetiva. Quer dizer: essas pessoas podem não estar
sentindo a tensão em resposta a alguma parte de realidade externa, mas sim em
resposta a sua própria interpretação a partir de um quadro de referência mal-adaptado
ou desviado. A tensão pode ser quase que exclusivamente interna quando a
personalidade é tão desorganizada que esses indivíduos estão apenas ocupados com
experiências delirantes ou alucinantes. Por outro lado, a tensão pode ser resultado de
uma situação externa que exige deles uma reação a um nível em que são incapazes ou
que viola as Injunções do Script original e por isso ameaça sua existência.
A regressão é um processo decidido. Em resposta ao “stress”, as pessoas
decidem utilizar fisiológicos que comumente não são acessíveis e decidem reativar as
experiências e as reações da Criança muito jovem. Elas se tornam essencialmente um
bebê de novo. A regressão geralmente é acompanhada por mudanças fisiológicas
definidas: as mulheres com frequência param de menstruar e os homens cessam de
ejacular. Algumas vezes há reativação de reflexos infantis. No entanto, muitas
características sexuais secundárias não são mudadas, como por exemplo, o
crescimento da barba nos homens.

100
Não obstante, em pessoas muito regressivas, muitas dessas características não terão
se desenvolvido total ou parcialmente.
Embora a regressão seja um resultado da decisão pela Criança, desde que
tenha sido tomada e o processo começado, os pacientes não podem deter seu
progresso. Podem sair da Criança regredida e utilizar outros Estados de Ego, porém
não podem catexar uma Criança espontaneamente reativa mais velha do que a idade
que aquela que está em regressão.
Há quatro estruturas típicas de regressão:
1. Pai descatexizado;
2. Pai excluído: parcial ou total;
3. Adulto excluído: parcial ou total;
4. Nenhuma Exclusão.
1. Pai descatexizado:
Na maioria das vezes, esta estrutura é vista em uma situação familiar de tratamento de
apoio, utilizando as técnicas desenvolvidas no Cathexis Institute. Ocasionalmente, os
próprios pacientes descobrirão este procedimento, caso em que provavelmente eles
parecem ter uma desordem de caráter.
Estruturalmente, essas pessoas têm um Estado de Ego de Adulto e uma Criança. Esta
não é geralmente uma boa posição de onde começar uma regressão porque a Criança
está ainda perturbada e a patologia pode interferir com a utilidade terapêutica da
regressão.
2. Pai excluído:
Comumente, as pessoas excluirão o Estado de Ego Pai, pelo menos nos primeiros
estágios da regressão, ou porque é uma estrutura patológica que elas consideram
prejudicial à segurança e/ou bem-estar da criança, ou, se elas foram reparentalizadas e
têm um novo Estado de Ego Pai, este será inconsistente com suas experiências como
um infante.
Muitas vezes a Exclusão é apenas parcial, com a catexização do Pai apenas ocasional
ou seletivamente. Este pode ser o caso com indivíduos que estão bastante confusos e
desorganizados, tornando difícil ou mesmo impossível a estabilidade da catexis. Pode
ser também o caso numa regressão em apoio, quando há questões essenciais de

101
confiança da nova mãe deixadas sem solução antes de se realizar a regressão. Além
disso, a Exclusão pode ser apenas parcial por contrato, quando é necessário, para uma
pessoa numa regressão com apoio, manter o funcionamento ocasional e limitado em
um nível mais duro; daí o uso de outros Estados de Ego.
3. Adulto Excluído
Adulto é comumente excluído pelas mesmas razões da Exclusão de Pai. Ele é
percebido como prejudicial ou discrepante com a Criança. É também improvável que os
pacientes possam catexar um Adulto não contaminado, pelo menos nos estágios muito
iniciais da regressão anteriores a dois anos de idade. Mais uma vez, a Exclusão pode
ser apenas parcial pelas mesmas razões da Exclusão de Pai.
4. Nenhuma Exclusão de Estado de Ego
Se os pacientes são bastante desorganizados, pode não ser capaz de excluir ou
podem não escolher a Exclusão do Pai ou do Adulto (que poderiam estar muito
contaminados). Esta situação pode ser observada em pacientes hospitalizados há
longo tempo, o que reforçou o comportamento adoidado como um mecanismo de
sobrevivência. Também dentro de uma estrutura de apoio, os pacientes podem
ocasionalmente regredir sem um acordo ou contrato prévio e ter que continuar a
funcionar, porém isto somente é possível se eles já tiverem um Pai e um Adulto
relativamente não contaminado.
Internamente, a Criança reage à tensão baseada em uma decisão anal tomada em
reação às exigências e pressões do conflito de socialização, quando com dois anos de
idade (vide capítulo Quatro). Duas decisões aparentemente conflitantes são tomadas
naquela idade: uma, conseguir o mais rapidamente possível reduzir a dependência
através da qual a Criança é vulnerável às experiências do Pai; a outra, que a Criança
preferiria ficar desamparada a enfrentar o conflito que dará tão pouca gratificação em
sua resolução, pois que o relacionamento da Criança com a mãe já é insatisfatório. O
aparente conflito não é sentido como um problema importante da realidade porque a
segunda decisão apenas se torna relevante em níveis mais elevados de tensão. A
primeira é muito frequentemente usada com defesa contra a segunda, pela tentativa de
negar os sentimentos e necessidades da Criança. A fig. 21 diafragma estruturalmente a
segunda no momento da regressão.

102
Seria melhor sair dessa
Situação (de stress)

Se eu fosse pequeno isto


não seria um problema e
alguém poderia cuidar de
mim.

Inconfortável e apavorado
(necessitando de consolo)

Fig. 21 Jogos antes da regressão

A Criança somática, C1, controla o início da fisiologia da regressão. Isto é feito em


resposta a um nível suficiente de desconforto quando P1 e A1 identificam a situação
como bastante ameaçadora e aprece não haver outras opções viáveis. Em relação ao
ambiente externo, a regressão é uma tentativa de eliciar uma resposta simbiótica com a
qual a Criança conseguirá ser cuidada de alguma maneira, embora não seja o tipo de
cuidado de que está necessitada. Internamente é uma tentativa de aliviar o desconforto
pela catexização de um Estado de Ego para o qual os estímulos tensionais nada
significam.

Regressão como uma técnica terapêutica

No passado houve tentativas para utilizar a regressão psicótica como um


instrumento terapêutico. Entretanto, tiveram sucesso limitado, sendo pouco reconhecido
o valor de se apoiar o aspecto regressivo dos distúrbios psicóticos. Para a maioria, a
regressão tem sido considerada com apreensão e aversão. Informava-se aos pacientes
que os comportamentos eram patológicos, inaceitáveis e destrutivos. Talvez fosse

103
verdade que a regressão fosse destrutiva num ambiente de um hospital estatal ou
instituição semelhante, onde praticamente ninguém desejava aceitar nem mesmo ouvir
a queixa dos pacientes de que suas necessidades eram legítimas e que precisavam ser
preenchidas antes que eles pudessem amadurecer para uma idade adulta saudável.
Aqueles que aceitavam, em geral, relutavam Frequentemente em fornecer a estrutura e
o envolvimento exigidos. Além do mais, instituições não são locais ideais educar
crianças.
As características de regressão de apoio e de não apoio são normalmente
profundamente diferentes. Os pacientes tipicamente regressivos, num ambiente de não
apoio, serão percebidos como pessoas de conduta esquisita, sem que façam nenhuma
distinção entre “conduta maluca” e comportamentos e reações consistentes com as
necessidades de um bebezinho. Os pacientes também podem não distingui-los,
claramente, porque muito daquele “comportamento maluco” é uma tentativa para obter
alguma resposta de um ambiente que sistematicamente os desqualifica.
Já o quadro apresentado por uma pessoa regressiva, num ambiente preparado
para fornecer apoio e proteção e responder aquelas necessidades, é completamente
diferente. Ã primeira vista, os comportamentos parecerão incomuns devido à
discrepância entre o tamanho físico, a maturidade antecipada e a manifestação de
necessidades infantis. Muitos observadores, entretanto, ajustam-se à pessoa como um
bebê ou uma criança, e não como alguém agindo como maluco.
As exigências para apoiar uma regressão variam com o grau em que é possível
e desejável ou necessário apoiar. Grosso modo, a distinção seria entre programas
integralmente apoiados, parcialmente apoiados e de ambulatórios.
Para uma regressão integralmente apoiada, é necessário um ambiente protetor
com supervisão contínua (pelo menos nos estágios iniciais), com uma figura parental
claramente fixada no papel de educador para cumprir as condições da Simbiose. É
provável que esta figura seja uma mulher, embora isso não esteja completamente
fixado. O cenário mais propício seria uma família na qual a pessoa já tenha um
relacionamento positivo forte com a nova mão e pai. Normalmente, outros arranjos são
possíveis, embora com alguma diminuição da eficácia.

104
Numa regressão parcialmente apoiada é necessário prover uma estrutura como
a que foi descrita acima, para os primeiros dois anos de desenvolvimento, depois dos
quais a pessoa pode reassumir certo grau de funcionamento mais amadurecido numa
escala limitada. A fim de manter o funcionamento, essa pessoa “necessitará ser
pequeno” e fazer uma catexização total para criança, ao menos uma parte de cada dia.
Se isto não for feito, haverá uma escalada de patologia dentro de uma semana, à
medida que a pessoa se desloca para uma compensação ou para uma “maluquice”
evidente. Ambas as reações são terapeuticamente contraproducentes. Os resultados
do apoio parcial são terapeuticamente incompletos ou comumente dramáticos, pois
certas questões ficaram sem solução devido à limitação do tempo despendido na
catexização total para Criança.
Embora o trabalho com regressão na base de paciente de ambulatório não seja
recomendável, torna-se necessário em determinadas ocasiões. No caso de um
paciente regredir sem um contrato (e todos os pacientes regressivos devem ser
informados para não fazer isto e a mensagem reforçada), o terapeuta deverá optar por
fornecer o máximo de apoio possível. Isto exigirá ao menos um contato diário como o
terapeuta ou outra pessoa protetora, a fim de satisfazer algumas das necessidades da
Criança e apoiar a pessoa em funcionamento contínuo. Os resultados nesta situação
não têm probabilidades de ser muito terapêuticos, porém é possível manter o paciente
fora de uma situação hospitalar que poderia ser mais prejudicial.
Por essas razões, é importante para a pessoa incorporar proibições irrestritas
contra a regressão, se não houver um contrato e uma estrutura adequada para fornecer
proteção.
Em oposição, entretanto, as técnicas regressivas podem ser usadas com
pacientes de ambulatório com bastante sucesso. Muitos pacientes podem ser mantidos
em hospitalização, evitando-se uma regressão improdutiva para a utilização de um
programa que permita à pessoa catexar a Criança por diversas horas regularmente,
três a cinco vezes por semana. Nesta situação. As necessidades do jovem estão sendo
satisfeitas, e a estrutura fornece tal alívio que o nível de tensão não excede a tolerância
do paciente (vide capítulo oito).

105
A regressão psicótica deverá ser, normalmente, para uma idade anterior ao início da
patologia, antes de um ano de idade. A pessoa então prosseguirá através da sequência
do desenvolvimento da maturação, numa taxa média de um ano por três a seis
semanas. O modelo típico é apresentar os comportamentos mal-adaptados ou
patológicos para obter reforço negativo e certo nível de extinção; depois mudar para as
mesmas áreas de desenvolvimento, a fim de adquirir nova experiência mais consoante
com o bem-estar e eventual sucesso da pessoa. É importante que o terapeuta tenha
disposição para fornecer o “feedback” negativo, pois muitas vezes o paciente não
consegue apontar seus próprios comportamentos mal-adaptados.
Este capítulo, de forma alguma exaure as informações sobre regressão ou seu
uso terapêutico, porém fornece de fato informação básica sobre a estrutura, dinâmica e
bases de regressão. É nosso desejo que mais programas sejam estabelecidos que
utilizem as características regressivas de muitos distúrbios psicóticos como um
instrumento terapêutico e que seja reconhecido como a mais saudável das opções
disponíveis para aqueles indivíduos.

Capítulo Oito

FILOSOFIA DO TRATAMENTO

Reforçar nossas intervenções com pacientes é uma filosofia experimentalmente


e conscientemente formulada. Existem dois componentes essenciais: os pacientes
sabem, cognitivamente e/ ou visceralmente, do que precisam fazer para ficar bem; e
sabem que podem assumir responsabilidades pelo seu funcionamento durante o
tratamento, se tiverem um ambiente de apoio enquanto desenvolvem novas estruturas
internas e opções de comportamento. Nossa estrutura de tratamento e intervenção é
programada de acordo com essas idéias.
Os pacientes psicóticos têm demonstrado consistentemente que escalarão
comportamentos relacionados aos problemas. Isto ocorre geralmente pelo desejo
desesperado que alguém de fora defina, compreenda e confronte problema que o
paciente, devido a uma desordem de pensamento, é incapaz de resolver. Os

106
comportamentos são considerados imediatamente sintomáticos do problema ou como
uma parte da estrutura de defesas do paciente para evitar o problema.
Exemplo: Um paciente hebefrênico, a quem se incumbiu a tarefa de resolver um
quebra cabeças, tem probabilidades de tornar-se perturbado e agitado, em geral sobre
qualquer questão irrelevante à tarefa.
Confrontando-se os comportamentos, a patologia subjacente ou as necessidades
são expostas e podem ser tratadas. Isto implica, naturalmente, em uma estrutura de
tratamento e equipe interessada em lidar com a patologia. Frequentemente, dada essa
estrutura e equipe, os pacientes são capazes de conceituar o que eles necessitam e
fazer planos com a equipe para a solução dos problemas. A análise transacional é
usada como uma teoria unificada de personalidade e comunicação a fim de facilitar o
pensamento dos pacientes e da equipe de tratamento.

Além disso, vemos os pacientes, especialmente aqueles com distúrbios de


comportamento, distúrbios emocionais ou Incapacitação para pensar, como indivíduos
cujas experiências de vida não os deixaram adequadamente preparados para a
competição autônoma. Eles aprenderam inúmeras formas disfuncionais de comportar-
se e isso representa as primeiras opções para a solução de problemas. Entretanto, a
maioria deles sente um impulso imperativo para ficar bem e, estando num ambiente que
seja totalmente oposto ao comportamento patológico e que force a solução autônoma
de problemas, o desejo pela saúde floresce. Os pacientes rapidamente começam a
incorporar adaptações novas e mais funcionais de pensamento, de sentimentos, de
ações e solução de problemas.

Para nossa filosofia, é importante que usemos estrutura em lugar de


medicamentos. Pela organização de pesquisas, descobrimos que a medicação
confunde bastante as reações afetivas e comportamentais, a ponto de interferir
seriamente em nossas metas. Além do mais, não encontramos nenhuma justificativa
para a utilização de medicação relacionada com o bem-estar do paciente e seu
funcionamento social. No decorrer do tratamento isto continua a ser verdadeiro se o
paciente tiver contatos constantes com um ambiente que não reforça os Jogos
patológicos e confronta consistentemente as desqualificações.

107
Todos os nosso pacientes, desde cedo na vida, têm necessidades não satisfeitas
quando o desenvolvimento cognitivo e afetivo normal foi frustrado. Seu nível e tipos de
funcionamento são muitas vezes equivalentes aos de uma criança. Ao planejar um
ambiente que forneça apoio suficiente para tais indivíduos, achamos conveniente fixar
as expectativas de acordo com a capacidade dos pacientes para um funcionamento
saudável e não de acordo com a idade cronológica deles. Quer dizer, enquanto se
espera que os pacientes se comportem socialmente de maneira apropriada fora da
estrutura do tratamento, dentro do ambiente protegido eles podem livremente tornar-se
crianças de uma idade em que podem se empenhar, com proteção adequada, (catexia
na Criança) na solução espontânea de problemas.

A idade cronológica torna-se irrelevante e parece mais que estamos dirigindo um


jardim da infância para crianças super-crescidas. Com este tipo de apoio, os pacientes
não pareciam mais ter que se segurar e assim pode aplicar energia a solução de
problemas mais relevantes.

A estrutura do tratamento é programação Parental. Acreditamos que é impossível


ensinar as pessoas como viver sem detalhes definições orientadas de valores pelos
quais viver. Tipos de mensagens Parentais representativas são: “Você pode resolver
problemas” ou “Espera-se que você pense” e “Não é OK você desqualificar-se ou
desqualificar os outros ou a realidade”.

O que é básico para a nossa estrutura geral é a presunção de que há uma realidade
objetiva que as pessoas podem observar e definir mutuamente. Esta posição empírica é
adotada conscientemente, sabendo-se que pode haver exceções filosóficas e
experimentais sobre certos aspectos. Consideramos esta abordagem essencial para os
pacientes até que eles estejam bem no decorrer do tratamento, porque afirmações
como: “Ninguém pode saber o que você está sentindo ou pensando se você não disser
ou não mostrar o que sente”, ou “Não é OK dizer mentiras”, são afirmações que se
aplicam a questões muito reais relacionados à existência e identidade para a nossa
população de pacientes. São evitadas barreiras e especulações filosóficas até mais
tarde em favor de uma afirmação convincente que pode ser usada pelos nossos
pacientes em seu dia-a-dia.

108
Expostos a esta estrutura, os pacientes são encorajados a incorporar um novo
Estado de Ego Pai. Dá-se também apoio positivo ao desenvolvimento de novas
adaptações funcionais da Criança, com as quais os pacientes tornam-se capazes de
definir-se internamente e enfrentar as exigências sociais. Para esta finalidade é
importante que o estilo de vida promovido dentro da estrutura terapêutica seja
compatível com o da comunidade vizinha. Isto facilita aos pacientes fazerem as
transferências necessárias para o funcionamento adequado, à medida que eles saem
das estruturas de tratamento e mudam para a sociedade maior.

A maioria dos pacientes tem que aplicar energia neste processo porque eles
tendem a usar rigidamente suas estruturas incorporadas (como fazem as crianças em
determinadas idades), até que descubram o que realmente funciona e tenham se
tornado suficientemente corajosos para iniciar a experimentação. A inflexibilidade
apresenta um problema substancial de tratamento. Muitos dos pacientes tendo
conseguido alguma coisa que funciona (mesmo imperfeitamente ) ficam relutantes em
considerar a possibilidade de que ainda não conseguiram a resposta mais favorável e
definitiva, e que devem continuar refletindo e mudando à medida que encontram novas
experiências de vida.

Outro aspecto importante de nossa estrutura terapêutica é a relatividade do ambiente.


Em toda a nossa sociedade, as pessoas aprendem a desqualificar diversos aspectos de
seu próprio comportamento e de outros, no interesse de um relacionamento livre de
conflitos. O resultado é que muitas pessoas estão inconscientes do efeito que causam
sobre outras, e quando têm dificuldades em comportar-se adequadamente, essas
dificuldades são frequentemente, desqualificadas. O comportamento amalucado é
geralmente resultado dessa Desqualificação, porque a única opção que muitos
indivíduos disfuncionais percebem é escalar um comportamento inadequado até que
não seja mais desqualificado. Isto é de fato verdadeiro porque tais indivíduos
geralmente não estão familiarizados com a proteção ou reação de cuidados dos outros.
Essas não eram uma parte importante de sua experiência e, consequentemente, esses
indivíduos ficam inseguros em obter compreensão dos outros naquilo que lhes parece
uma competição para reconhecer e confirmar a existência. Além disso, sentem que o

109
reconhecimento necessitado deve ser obtido de um mundo basicamente rejeitador. Os
resultados deste problema são, muitas vezes, estranhos. Num ambiente reativo, no
qual a meta é confrontar todas as aparências de patologia, observamos que mesmo as
pessoas mais doentes “agem amalucadamente“ somente durante uma pequena parte
do tempo e geralmente apenas para resolver um problema. Há um relacionamento
claramente inverso entre o nível de maluquice e o nível da confrontação. Quando um é
alto, o outro é baixo.

A fim de assegurar que o nível constante de “feedback” externo seja mantido, tanto a
equipe como os pacientes devem estabelecer um compromisso de contrato de
confrontação geral. O contrato é para confrontar e ser confrontado a partir de uma
posição de proteção. Esta poderá ser para si própria ou para a pessoa que está sendo
confrontada.

Cuidado para si próprio envolve simplesmente uma afirmação: “O que você está
fazendo me deixa desconfortável. Quero que você pare com isso e...” Isto está baseado
em uma suposição de que as pessoas que estão interagindo provocam efeitos umas
sobre as outras e podem ser consideradas responsáveis por esse efeito. Considera-se
também correto confrontar de uma posição de cuidado para a outra pessoa, isto é:
“Acho muito errado que você esteja fazendo isso, porque não dará certo para você”,
porém essas transações devem ser verificadas com cuidado devido à possibilidade de
deslocar sentimento ou outros conteúdos simbióticos.

A confrontação que não deixa a pessoa bem deve ser por sua vez confrontada como
uma expressão inadequada de hostilidade. Espera-se que cada confrontação seja
específica sobre os comportamentos envolvidos e sobre os sentimentos que a pessoa
que está fazendo a confrontação está tendo, e há expectativa de uma reação
apropriada. Espera-se também que a pessoa que está sendo confrontada pense sobre
as questões e responda apropriadamente. Esta pessoa poderia assumir a
responsabilidade por aqueles comportamentos, os quais se concorda serem
inadequado, vindo através da compreensão do Jogo envolvido, lidando a outra pessoa
de forma a facilitar futuros relacionamentos, e assumindo um compromisso claro para
uma mudança especificada.

110
Os contratos são importantes. Contudo, muitos de nosso pacientes na fase inicial do
tratamento, estão bastante disfuncionais para tornarem um contrato geral de tratamento
sem significado. Por esta razão, preferimos iniciar com um contrato “leve” e
posteriormente fazer um contrato mais específico, ou fazer minicontratos, à medida que
o tratamento progride.

Mudanças básicas de poder ocorrem em relacionamentos terapêuticos. Os pacientes,


em geral, desejam investir os terapeutas com autoridade e responsabilidade as quais
os mesmos têm relutância em aceitar. Nossa política é aceitar os investimentos de
poder (transferência) dos pacientes até o ponto em que achamos possível utilizá-los
para o bem deles. Em geral, nossa filosofia de que os pacientes sabem o que
necessitam é considerada relevante. Se o poder é útil no desenvolvimento da
capacidade de relacionar-se, confiar e aceitar proteção, isto pode certamente ser
considerado desejável. Se Jogos estão envolvidos, podemos confrontá-los e os
pacientes podem aprender pela experiência. Talvez o que eles necessitem é desfazer-
se do poder para que possam lutar para recuperá-lo. Qualquer que seja o motivo da
tentativa para estabelecer a Simbiose considerou mais apropriado fazer alguma coisa
do que Não fazer nada com os sentimentos e necessidades envolvidos.

Depois, naturalmente, o poder é devolvido aos pacientes, embora os relacionamentos


possam ter significância progressiva se a transferência for completa.

Finalmente, no tratamento, todas as facetas da vida e da forma de viver são


consideradas potencialmente relevantes.

O Instituo Cathexis torna-se cada vez mais conhecido pelo seu uso de técnicas
regressivas que estão baseadas na teoria do desenvolvimento da criança e na gênese
da patologia relacionada com estágios específicos do desenvolvimento. Contudo, o
enfoque e a estrutura teórica do trabalho são muito mais amplos. Cada um dos fatores
culturais, sociais, psicodinâmicos e biológicos, pode tornar-se o foco específico de
tratamento. A perspectiva pode ser relacioná-los a fenômenos atuais e locais ou a
experiência passadas e projeções futuras.

111
Criança
Pai
P
AdaptadaC
Desqualificador
(homicida)

CCriança
A.
B.
C
A
P
R
S

CA1
superadap
A

tada
CA2 Nossa equipe sugeriu que a seguinte citação de Lord Buckley seja usada para
Bolha
Criança descrever nossas idéias sobre a intervenção terapêutica:
“Se você chega até algo e não pode fazê-lo, você está lá ao menos, não está?”14

Operamos a partir de uma posição básica que é OK chegar até algo e que então
deveríamos fazer alguma coisa. Muitas vezes o que fazemos importa menos do que
nosso desejo de estarmos envolvidos, de entrarmos na luta com os pacientes, de
emprestar-lhes nossos recursos de energia e pensamento quando os deles falham, e
reforçar sua autonomia quando eles estiverem capacitados para funcionar. Não
achamos necessário ser simpáticos com os pacientes se a simpatia interferir com a

CA
Vítima – clareza. Duvidamos que seja possível para qualquer um ficar bem enquanto estiver
adaptação ao
Quadro de
Referência do mantendo um investimento irreal em conforto, seja o conforto do paciente, seja do
Quadro de
Referência
definindo a outra
terapeuta. Lidamos com questões tão primitivas como vômitos, fezes e violência e
pessoa como
tentamos lidar com elas de maneira sensível e sensata. Usamos todos os nossos
recursos pessoais e queremos atingir todas as necessidades dos pacientes,
Fig. B. 12
Paradigma
A
necessidades que podemos compreender e responder.
Transacional
de
Relacionament
o de
Ao iniciar a redação deste capítulo, preparamos uma lista detalhada de todas as coisas
Redefinição -
que fazemos. Decidimos depois que as coisas específicas, que estão mudando
constantemente como nossa equipe muda e nossas idéias tornam-se mais claras, são
irrelevantes para o objetivo deste trabalho. O conceito de intervenção, introduzindo-nos
entre os pacientes e suas operações ineficientes com o ambiente, de forma cuidadosa
e convincente, descreve o que tentamos realizar. Quando somos bem sucedidos é
estimulante e aprendemos muito. Quando falhamos, é lamentável, porém assim mesmo
ainda aprendemos. Há muita coisa que já sabemos, e muito ainda por descobrir.

Cathexis reader - transactional analysis treatment of psychosis


Jacqui Lee Schiff, in collaboration with Aaron W. Schiff ... [et al].

Published: 1975 by Harper & Row in New York

MATERIAL TRADUZIDO PARA FINS DIDÁTICOS.

14
The Best of Lord Buckley (Los Angeles: Vaya Records, 1951).

112

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