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Notas distintivas do Direito

O Direito não se constitui como o único instrumento de


controle social. Ao seu lado perfilam-se, nessa condição, a
moral, a religião e as regras de trato social. Entretanto, o
Direito se distingue destes outros instrumentos de controle
social por quatro características: (I) ser imperativo, (II)
poder ser heterônomo, (III) ser coercitivo e (IV) ter
bilateralidade atributiva . Condivide com os outros
instrumentos de controle social a imperatividade e a
heteronomia. Condivide com as normas éticas a
coercitividade. A bilateralidade atributiva é
característica exclusiva do Direito, atribuindo-lhe um
imperativo atributivo.

Imperatividade
Uma vez que as normas jurídicas criam obrigações jurídicas, o
Direito é imperativo. Tais obrigações obrigam o que fazer ou
deixar de fazer. Entretanto, é forçoso ressaltar que esta
imperatividade não corresponde a uma simples decorrência da
força de autoridade. A imperatividade do Direito é expressão
axiológica do querer social, conforme certeira definição de
Miguel Reale.

Heteronomia
Heteronomia é antônimo de autonomia. O Direito é
heterônomo porque, diferentemente da moral, a obrigação
jurídica é indiferente a adesão interior dos sujeitos ao
conteúdo das suas normas. Ele deseja ser cumprido com a
vontade, sem a vontade e até contra a vontade do obrigado. A
heteronomia confere validade objetiva e transpessoal (MR) às
regras jurídicas. Apesar de própria do Direito, entretanto, a
heteronomia não é específica ou exclusiva do Direito. Este não
se distingue da moral por ser heterônomo, mas por poder ser.

Coercibilidade
O Direito é uma norma coercível, podendo invocar a força do
Estado para “forçar” (obrigar) o cumprimento das obrigações
jurídicas. Esta coercibilidade, materializada na força, pode dar-
se através da força em ato (coação) ou da força em
potência (coerção). Em ato é a força acontecendo, enquanto em
potência é o vir a ser da força. Disto deriva, para a ciência do
Direito, a Teoria da coação e a Teoria da Coercibilidade.

Teoria da coação
Para os adeptos dessa teoria, tais como Hans Kelsen, a força
em ato não seria algo circunstancial, mas essencial ao Direito.
Para estes, portanto, não há direito destituído de coação.
Prestigiada na época do predomínio positivista, esta teoria é
alvo hoje de críticas contundentes. A principal delas diz
respeito ao reconhecimento de que as regras jurídicas são, na
maioria dos casos, cumpridas espontaneamente, ocorrendo a
sanção como um acidente, um extraordinário. Se a norma
jurídica é anterior à coação, portanto, primeiro existe e só
depois pode ser violada, o que invalida a Teoria da Coação, que
enxerga a força em ato como algo imanente ao Direito.

Teoria da coercibilidade
Segundo esta teoria o Direito não é propriamente coercitivo,
mas coercível. O uso da força, para esta teoria, não é uma
efetividade, mas uma possibilidade. Portanto, a foça própria do
Direito é a coerção, a força em potência, sendo a coação um
caso limite, que só se manifesta na hipótese das regras
jurídicas serem descumpridas. Assim, podemos dizer que a
coercibilidade é essencial ao Direito, enquanto a coercitividade
lhe é circunstancial.

Bilateralidade atributiva
É a essência do Direito, constituindo o cerne da relação
jurídica. Uma relação jurídica só ocorre quando se dá uma
interação entre dois ou mais sujeitos de direito. A necessária
presença destes dois lados constitui a bilateralidade. No
interior dessa bilateralidade ocorre uma relação
intersubjetiva que é objetivamente proporcional. Ambos,
a relação intersubjetiva e a proporção objetiva, geram
a atributividade, isto é, uma exigibilidade garantida que por
sua vez é a dialética entre direito e dever. A bilateralidade
atributiva, portanto, pressupõe sempre um sujeito jurídico
ativo, sujeito do direito, e um sujeito jurídico passivo, sujeito
de uma obrigação/dever.
Paralelo entre Direito, Religião e Moral.

O Direito, por poder ser heterônomo, dispensa a interiorização


da norma, enquanto para a Moral essa interiorização, isto é,
esta adesão voluntária, é indispensável; A religião é
obviamente autônoma, aderindo o crente de forma subjetiva e
voluntária à norma religiosa; As normas de trato social, por sua
vez, são heterônomas, pois não precisam ser praticadas com
sinceridade. Moral e religião são autônomos; Direito e Normas
de Trato Social são heterônomos. Seria, então, o Direito, uma
mera norma de trato social? Obviamente não. Este se distingue
justamente por “poder ser” heterônomo, perfilando ao lado
dessa característica a coercibilidade, sendo, entre as formas de
controle social, a única constituída por um imperativo-
atributivo: impõe um dever (imperativo) e atribui a faculdade
de exigir garantidamente o cumprimento deste dever
(atributivo). Distingue-se também o Direito por ser o único
instrumento de controle social que é coercível. Os demais são
incoercíveis. Relativamente a unilateralidade e bilateralidade,
do ponto de vista ôntico, isto é, do ponto de vista do sujeito,
toda relação social é bilateral, porque, como visto, somos seres
sociais que tendemos ao agrupamento e à interação.
Entretanto, o que distingue o direito é o fato de ser, não
ontologicamente, mas axiologicamente, bilateral. A relação
jurídica, com sua bilateralidade atributiva, realiza um valor e
atribui uma obrigação que é objetivamente proporcional aos
lados. Restaria ainda, em termos destas notas distintivas do
Direito, perceber que a normas de trato social também são
axiologicamente bilaterais. Entretanto não se igualam ao
Direito porque não são atributivas.

Síntese da lição:
Esta lição mostra o Direito emergindo como uma forma
específica e particular de controle social. Se nas primeiras
lições a abordagem era genérica, podendo ser sinteticamente
revelada nos silogismos “onde o homem, ali a sociedade” e
“onde a sociedade, ali o Direito”, agora se distingue o Direito
das outras formas de controle social. Para esta distinção, é
fundamental perceber que o Direito, por ser a única forma de
controle social dotada de bilateralidade atributiva, é a única
forma, também, que tem um imperativo-atributivo. Neste
último aspecto, é relevante entender que a coercibilidade (força
em potência) é essencial ao Direito, enquanto a coercitividade
(força em ato) lhe é circunstancial.

Fichamento da lição V.
Direito, Moral e Religião
Esta seção é dedicada a enfrentar o que alguns já chamaram de
“cabo dos náufragos e das tempestades das Ciências Jurídicas”
– a análise comparativa do Direito e da Moral. Quanto à forma,
esta distinção já está clara: o Direito é heterônomo e a Moral
autônoma; O Direito é coercitível e a Moral é incoercitível. O
Direito é bi-lateral atributivo e a Moral, ainda que seja
bilateral, é não-atributiva. A questão que resta, portanto, é
quanto ao conteúdo de um e outro. Quanto a este aspecto, fala-
se das teorias (I) de Thomasius, (II) do Mínimo Ético e (III)
dos Círculos secantes.

Teoria de Thomasius (Sec. XVII e XVIII)


Jurista alemão, Thomasius conformou a questão da diferença
entre Direito e Moral em termos de uma antítese entre Foro
Íntimo e Foro Externo. O conteúdo da moral seria dado por
tudo o que acontece no foro íntimo, aí não podendo intervir o
Direito. Por consequência, ao Direito seriam reservados os
acontecimentos do foro externo. Esta teoria encontrou terreno
fértil no século XVIII, quando a humanidade lutava para pôr
termo ao absolutismo, mas é facilmente criticável hoje frente
ao fato de que não há ações humanas que sejam puramente
exteriores. A intenção, pertencente ao foro íntimo, é
indispensável ao Direito penal, por exemplo. A separação
radical entre Moral e Direito solapou a fertilidade desta teoria.

Teoria do mínimo ético


Para os defensores dessa teoria as normas morais são
cumpridas espontaneamente, embora convivam
inevitavelmente com as violações. Estabelece-se então o
Direito como uma sub-região da Moral. Ele seria um mínimo
ético armado de poder para se fazer cumprir. A crítica a essa
teoria, por sua vez, parte da negação a que o Direito seja
apenas uma parte da moral, pois nem tudo que é jurídico é
moral. Existem atos juridicamente lícitos do ponto de vista
legal que não o são do ponto de vista moral e vice-versa.

Teoria dos círculos secantes


Parte do pressuposto de que entre Direito e Moral não existe
separação absoluta e nem identificação absoluta. Possuem um
campo de competência comum e ao mesmo tempo uma área
particular. Direito e moral são conceitos que se distinguem
mas não se separam. Esta teoria, ao conciliar Direito e Moral,
ao mesmo tempo circunscrevendo suas especificidades, é a
mais consensual no âmbito da doutrina jurídica atualmente.

Síntese da lição:
Esta lição acentua a anterior. Se naquela aprendemos os
aspectos que distinguem o Direito em relação a todos os outros
instrumento de controle social, nesta tomamos
especificamente o Direito e a Moral – dois sub-domínios da
ética – para mostrar que Direito e Moral se complementam
mutuamente, embora se distingam. Nisto reside o erro de
Thomasius – que enxergou Moral e Direito como formas
distintas e autônomas entre si – e da teria do mínimo ético,
que colocou o Direito apenas como um sub-domínio da Moral.
Os círculos secantes, por sua vez, conciliaram esta questão
mostrando que Direito e moral são conceitos que se distinguem
mas não se separam.
Fichamento da lição VI.
Sanção jurídica
Sanção corresponde a uma forma de garantir o cumprimento
das normas. Ela é comum a todos os instrumentos de controle
social.

Noção de sanção
A sanção é o correlato de toda e qualquer sanção ética, não
dizendo respeito à validade da norma, mas à sua eficácia. É
própria do mundo da cultura, não podendo-se falar em sanção
para transgressão de leis físicas. A sanção é volitiva, sendo
“toda consequência que se agrega intencionalmente a uma
norma” para buscar o seu cumprimento.

Sanção e coação
A coação, como visto, é a força em ato. É, portanto, a sanção
concreta ou sanção de ordem física. Quem não acata a norma,
sofre a sanção; quem não aceita a sanção, sofre a coação. A
coação, portanto, é a aplicação forçada da sanção.
Espécies de sanção
A cada preceito ético corresponde uma sanção. O remorso ou a
salvação ultraterrena são sanções religiosas; O remorso,
entendido como um auto-censura, também pode ser uma
sanção moral de “foro íntimo”. Mas a sanção moral pode ser
também de natureza social, como a marginalização de alguém
por transgressão a uma norma moral.

Sanção jurídica
É externa aos sujeitos, institucional e organizada de forma
pré-determinada, o que nos permite saber de antemão a que
sanções estamos expostos se violarmos uma norma jurídica. A
norma jurídica também pode ser penal e premial, tendo,
portanto, uma natureza binada.
Síntese da lição:
Esta lição retoma a problemática da força em ato e da força em
potência, ainda que em nenhum momento faça menção
explícita aos termos. Dedicada especificamente a lecionar
sobre sanção, encaminha-se para a acentuação da distinção
entre a coação de outros instrumentos de controle social, tais
como a Moral e a Religião, e aquela própria do Direito – a
coação jurídica. Mostra, então, que a sanção jurídica é (I)
latente, (II) tem natureza binada, podendo ser penal ou
premial e (III) é organizada de forma pré-determinada.

Fichamento da lição VII.


Estrutura Tridimensional do Direito
Tridimensionalidade genérica
Concebe o fato, o valor e a norma de forma abstrata e
separada. O sociologismo jurídico se ocuparia do fato,
o moralismo jurídico do valor e o normativismo abstrato da
norma. Na tridimensionalidade genérica a correlação, isto é, a
existência integrada destes três fatores é desprezada e
desperdiçada.
Tridimensionalidade específica
Devida especialmente ao jurista Miguel Reale, concebe o
Direito como algo integradamente trino – factual, axiológico e
normativo.

Tridimensionalismo jurídico de Miguel Reale


Constitui tridimensionalismo concreto (porque fato-valor-
norma estão sempre presentes e correlacionados,
independente do foco de análise do fenômeno jurídico) e
dinâmico (porque fato-valor-norma se relacionam de forma
funcional e dialética)

Teses
a) Fato (acontecimento social que envolve interesses básicos
para o homem e, por isso, compõe os assuntos regulados pela
ordem jurídica), valor (elemento moral do Direito) e norma
(padrão de comportamento ou de organização social imposto
aos indivíduos) são três dimensões essenciais do Direito.
Estão sempre presentes e dialeticamente correlacionadas em
qualquer expressão da vida jurídica.
b) Existe uma interação dinâmica e dialética dos três
elementos, de modo que cada um só alcança sentido no
conjunto, esta interação constitui o que Reale denomina
de dialética de complementaridade. Fato e valor são
irredutíveis um ao outro (polaridade) mas, para sua realização,
se exigem mutuamente (implicação). A norma realiza
dialeticamente a polaridade e a implicação de um em outro.
Síntese da lição:
Do meu ponto de vista esta é a mais importante lição de
propedêutica jurídica. Constitui, a meu ver, aprendizado
indispensável compreender a dialética realeana e o modo como
ela se distingue de suas congêneres hegeliana e marxista,
ambas operadas em termos de sínteses fechadas. A síntese na
dialética realeana é aberta, o que permite ver o Direito – e por
consequência a norma jurídica – como algo dinâmico, que
pode variar no tempo. Eu poderia exemplificar essa diferença
do seguinte modo: na dialética marxista, as contradições
(antitética) do modo de produção capitalista só podem
conduzir diaeticamente ao modo de produção socialista e este,
por sua vez, ao modo de produção comunista, realizando
terminativamente a evolução da história. Vê-se que a síntese é
fechada, fatalista, teleológica. A síntese só pode ser isto, nunca
aquilo. Miguel Reale, de forma genial, tomou este modelo mas
manteve as sínteses abertas. Por exemplo: entre um
assassinato (fato) e a forma axiológica como a sociedade o
enxerga (valor) existe uma antítese que tende a valorar
negativamente o crime. Entretanto, há casos, configuradores
de exceção, em que o linchamento de um estuprador, por
exemplo, pode tender a receber uma valoração positiva. Se nos
mantivéssemos apenas no âmbito da antítese entre o
assassinato e sua valoração social, nenhuma garantia teríamos
quanto às prescrições para aquele crime. Estas variariam
perigosamente de situação para situação, relativizando-se
absolutamente. É aí que, dialeticamente, a norma entra na
equação realeana como a terceira parte de um corpo que só se
realiza plenamente de forma trina: a antítese entre o
assassinato (fato) e sua recepção social (valor) são
dialeticamente conformados numa prescrição (norma). Esta
última não é algo fechado, muda ou pode mudar a depender da
visão axiológica que cada sociedade, em cada tempo, tenha do
fato. Mas, ainda que aberta, a norma enquanto síntese entre
fato e valor vai sempre ser garantidora de um ordenamento
jurídico pré-determinado.
Fichamento da lição VIII.
Definição do Direito
Existe uma definição nominal, meramente semântica, e
uma definição real para o Direito. Do ponto de vista nominal,
origina-se do latim directus, como qualidade do que está reto,
não tem inclinação ou curvatura. A palavra provém de uma
metáfora segundo a qual uma figura geométrica – a linha reta
= régua – adquiriu sentido moral e em seguida jurídico (regra);
do ponto de vista de uma definição real, Direito pode receber
uma definição analítica, na qual fazemos a decomposição do
todo jurídico em suas partes constituintes e as definimos
isoladamente; e uma definição sintética, que nos dá uma
definição unitária da realidade jurídica.
Definições analíticas
Direito-ciência: Trata-se do Direito como setor especializado
do conhecimento humano, correspondendo a um conjunto
sistematizado de princípios. Ex. “eu estudo Direito”

Direito-fato social: É o Direito como fenômeno histórico-


cultural, sendo, neste sentido, um dos domínios da sociologia
e/ou da história.

Direito-Norma: É um conjunto de regras jurídicas de uma dada


comunidade. Exemplo: “o direito penal brasileiro é muito
brando e complacente”.

Direito faculdade: É o poder que a personalidade jurídica tem


de fazer ou deixar de fazer alguma coisa. Exemplo: “O direito
de ir e vir é um princípio constitucional no Brasil”

Direito justo: Corresponde ao sentido axiológico da palavra,


podendo dizer respeito ao bem devido a alguém ou à qualidade
de estar em conformidade com as exigências da justiça. No
primeiro sentido, pode ser exemplificado com a frase “é direito
da doméstica ter seu contrato de trabalho formalizado”; para o
segundo caso pode ser exemplificado com a frase “você não
pode discriminá-lo apenas pelo fato de ele ser deficiente”.

Definição sintética:
As noções de gênero e diferença são fundamentais para a
definição sintética do Direito, na medida em que permitem
pensar tanto as generalidades que o aproximam de uma
espécie (formas de controle social) quanto as diferenças
específicas (notas distintivas) que o distinguem naquela
espécie. Do ponto de vista de uma definição sintética do
Direito, ele genericamente se perfila ao lado de outras normas
éticas – Moral, Religião, Normas de trato social – mas ao
mesmo tempo destas se distingue por ser o único instrumento
de controle social que possui bilateralidade atributiva.

Síntese da lição:
Esta lição, como se vê, tem dois objetivos bastante claros:
esmiuçar a polissemia da palavra direito, no âmbito das
definições analíticas e, ao mesmo tempo, do ponto de vista
sintético mostrar as especificidades do Direito em relação a
outras formas de controle social. A lição permite, a pretexto da
definição de Direito, retomar a velha fórmula grega que separa
as coisas em termos de definições nominais (definitio nominis)
e definições reais (definitio régio). As definições analíticas
pertenceriam ao mundo das definições nominais, enquanto a
definição sintética pertenceria ao mundo das definições reais.
Ambas definições reafirmam a pujança da teoria da
tridimensionalidade do Direito.

Fichamento da lição IX.


Formação e manifestação do Direito
Esta lição introduz a segunda parte do livro e, portanto, passa
de uma dimensão sociológica do Direito, no interior da qual se
estudou os elementos constitutivos do fenômeno jurídico, para
uma dimensão que lança luz sobre o ordenamento jurídico a
partir da Norma Jurídica.

Formação do Direito
Um variado conjunto de (I) fatores sociais e de (II) valores
concorrem para a formação do Direito. Didaticamente
organiza-se esta empiria precursora do Direito em termos
de dados reais (da natureza física), dados históricos (costumes,
legislação, doutrina e jurisprudência), dados racionais
(reinterpretação do Direito natural clássico) e os dados ideais
(aspiração humana por um continuado aprimoramento do
Direito). Estes dados não são ainda o Direito, mas é deles que o
Direito emerge.
I – Fatores
Fatores sociais, econômicos, religiosos, políticos, morais e
naturais são relevantes na formação do Direito.

II – Valores
Para além dos fatores e conjugadamente com estes os
elementos axiológicos são fundamentais para o formação do
Direito. Estes elementos axiológicos são os valores sociais, tais
como o desejo de viver em uma sociedade em que se dê a cada
um o que é seu (valor justiça), que se organize e disciplina a
força (valor ordem) que se garanta a continuidade das relações
(valor segurança) e em que haja concórdia (valor paz).

Manifestação do Direito
O Direito se manifesta através da Norma, não se podendo
confundir esta com o seu suporte (o Diário Oficial, p. Ex). E
norma no sentido aqui utilizado é lato sensu, isto é, diz
respeito a diversos meios de manifestação do direito: a
legislação, o costume jurídico, a jurisdição e os negócios
jurídicos.
Teoria das fontes do Direito
Existe discrepância doutrinária sobre este tema. Alguns
autores atribuem status de fonte tanto à fonte material (meios
de formação) quanto à fonte formal (formas de manifestação),
distinguindo-as ontologicamente. Outros, entre os quais o
autor em estudo, consideram fontes exclusivamente os meios
de expressão do Direito na vida social. Para estes, ainda que o
conhecimento do sentido da fonte do Direito exija uma reflexão
sobre suas causas e pressupostos materiais, toda fonte é
necessariamente formal, o que inutiliza a distinção entre fonte
material e fonte formal.
Pressupostos e elenco das fontes do Direito
Sendo os meios pelos quais as regras jurídicas se manifestam,
as fontes pressupõem um poder (pois as fontes do Direito são
sempre dotadas da capacidade de obrigar) e a capacidade de
inovar (introduzir algo de novo com caráter obrigatório no
direito existente).

Quatro fontes do Direito


Só quatro são as fontes do Direito: o processo legislativo
(poder legislativo), o costume jurídico (consuetudinário da
vida coletiva), a jurisdição (poder judiciário e o negócio
jurídico (poder negocial).

Síntese da lição:
Esta lição favorece um duplo aprendizado ao bacharelando em
Direito: por um lado, ensina a superar a ideia positivista de que
existem fontes materiais e fontes formais do Direito,
lecionando que toda fonte jurídica é formal, na medida em que
a fonte é a manifestação; por outro lado, justamente em razão
desta primeira lição, ensina que não há exatamente um ponto
de corte entre formação e manifestação do Direito, na medida
em que este é dinâmico, encontrando-se em constante processo
de formação e transformação. Sendo fluxo, a fonte não pode
ser outra coisa que não aquilo através de que o Direito se
manifesta socialmente, tal como metaforizado pelo autor,
elevando-se do subsolo para a superfície.

Fichamento da lição X.
A norma jurídica
Como visto, especialmente na lição VII, é da correlação fático-
axiológica que se origina a norma. As normas jurídicas,
portanto, são abstraídas da realidade social em função dos
fatos que se quer disciplinar e dos valores que se quer
consagrar. Do ponto de vista do direito em elaboração
(legislatura), há sempre uma pressão axiológica (V),
relacionada com uma situação fática (F) e por diversas normas
possíveis (NP). Quando sancionado o projeto legislativo
vencedor, dá-se a passagem de uma das NPs à Norma Jurídica
Legal (NJ). Sob tudo isso revela-se a co-participação do poder
(P) na gênese de uma norma jurídica.

Conceito de Norma Jurídica


Norma Jurídica é a proposição enunciativa de uma forma de
organização ou de conduta, que deve ser seguida de maneira
objetiva e obrigatória, tal como lecionado por Miguel Reale.
Normas Princípios e Regras
Quanto ao aspecto material as proposições jurídicas ou normas
podem ser distinguidas em termos de norma-princípio e
norma-regra. Sob a égide do Jusnaturalismo e do Positivismo
Jurídico os princípios foram reduzidos a sua dimensão ético-
valorativa. Apenas com o Pós-positivismo os princípios seriam
elevados à categoria de normas jurídicas e passariam a ser
vistos como um gênero do qual as Normas-Princípios e as
Normas-Regras são espécies. Os princípios são normas com
grau de generalidade relativamente ato, enquanto as regras são
mandamentos específicos. Mas a distinção é apenas
qualitativa, dizendo respeito às suas aplicabilidades. Quanto
ao conflito, entre regras este é resolvido no âmbito da
validade jurídica, enquanto no âmbito do princípio a colisão é
resolvida axiologicamente: a precedência de um princípio
sobre o outro não implica validade, mas oportunidade
circunstancial, dependendo das circunstâncias do caso
concreto.
Estrutura da norma jurídica
Para o positivismo jurídico, toda norma é um juízo hipotético:
se for A – deve ser B. Com isso, a norma fica reduzida à sua
sanção saneadora. Para Reale esta visão é correta apenas para
as normas de conduta, não alcançando as normas de
organização. Decorre, portanto, para o Pós-positivismo, que as
normas podem expressar um juízo categórico, para o caso das
normas de conduta, ou um juízo hipotético, para as normas de
organização. Estas últimas têm caráter instrumental e visam
ao funcionamento dos órgãos do Estado; as primeiras se
dirigem ao disciplinamento do comportamento dos indivíduos
ou grupos sociais. A endonorma enuncia um dever e impõe
uma conduta (se for A – deve ser B); a perinorma, extrapola a
extensão hipotética da endonorma para he acrescer a sanção
pela. Asim, esquematicamente temo Se for A – deve ser B; se
não B – deve ser SP). E há ainda a perinorma positiva (sanção
premial).
Síntese da lição:
A lição aqui caminha em dois sentidos: por um lado, permite
um esclarecimento, ainda que elementar, das diferenças entre
o positivismo jurídico e o pós-positivismo, inclusive
retomando, a pretexto da estrutura da norma jurídica, a lição
sobre a dialética realeana; por outro lado, especificamente em
relação à norma, permite perceber como a superação do
positivismo jurídico possibilitou configurar as normas jurídicas
como um gênero jurídico no interior do qual co-existem as
normas-princípio e as normas-regra. A lição permitiu ainda
pensar o confazimento das normas não mais em termos do
legislador, mas de sua estrutura interna, do que decorreu a
aprendizagem das especificidades entre endonorma,
perinorma e perinorma positiva.

Fichamento da lição XI.


Classificação da norma jurídica
A norma jurídica foi recebendo, ao longo dom tempo, uma
classificação crescentemente complexa, podendo ser
classificadas (I) quanto ao conteúdo, (II) quanto à extensão
espacial, (III) quanto à vontade das partes, (IV) quanto à
sanção, (V) quanto à amplitude ou extensão pessoal, (VI)
quanto à aplicabilidade, (VII) quanto à natureza das
disposições, (VIII) quanto à sistematização e (IX) quanto às
fontes.

Síntese da lição:
Trata-se, como se pode ver, de NOVE classificações distintas,
as quais, juntas, comportam TRINTA subclassificações. Trata-
se de conteúdo de memorização que exigirá, por um lado, a
própria prática forense e, por outro lado, a constante consulta
aos manuais. Para além disso, apenas um esforço de
memorização que, pessoalmente, julgo perdulário e
dispensável.

Fichamento da lição XII.


Norma jurídica legal
A norma jurídica legal – a lei – não é fonte do direito, posto
que ela é o próprio direito. Isto porque “a lei não é a origem do
processo legislativo, mas o resultado da atividade legislativa.
Na sua acepção genérica a norma jurídica é “a relação
necessária que resulta da natureza das coisas”, tal como
definido por Montesquieu. Mas a lei é apenas uma das espécies
da norma jurídica, não se podendo confundir ambas como
sendo sinônimas. No sentido técnico, tal como atribuído por
Reale, lei é “uma regra escrita constitutiva de direito”. No atual
sistema constitucional brasileiro a fonte legal é o processo
legislativo, do qual pode resultar sete modalidades de lei:
Emendas constitucionais, Leis complementares, Leis ordinária,
Leis delegadas, Medidas provisórias, Decretos legislativos,
Resoluções. A Constituição é a lei maior e se sobrepõe a todos
eles.
Síntese da lição:
Esta lição, ainda que retome aspectos da lição anterior,
enquadra-se com maior adequação à propedêutica jurídica, na
medida em que exige mais raciocínio do que memória. Ela
basicamente situa, distinguindo e hierarquizando, a norma
jurídica legal, para tanto utilizando como lastro pontuais
retornos às fontes do Direito e à natureza das normas. A lição
também permite situar a constituição como lei maior que não
se confunde com o processo constitucional e/ou com as
emendas constitucionais. Ela se sobrepõe soberanamente às
sete modalidades de lei.

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