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3VARCRITAG
3ª Vara Criminal de Taguatinga
Área Especial Setor C Norte Único, 1º ANDAR, ALA SUL, SALA 162, Taguatinga Norte (Taguatinga),
BRASÍLIA - DF - CEP: 72115-901
Telefone: 61 3103-8030 Horário de atendimento: 12:00 às 19:00
E-mail: 3vcriminal.tag@tjdft.jus.br
SENTENÇA
Vistos etc.
O Ministério Público ajuizou a presente Ação Penal em desfavor do Acusado MÍRCIO ANTÔNIO
ALVES, qualificado nos autos, imputando-lhe a prática de atos delituosos previstos no art. 121, §§ 3º e 4º
(c/c art. 13, caput e art. 2º, “a”, todos do Código Penal, porque segundo consta da denúncia de ID
51113769:
[...]”
A denúncia, acompanhada do inquérito policial e do rol de testemunhas, foi recebida no dia 25.01.2019
(ID 51113925).
O Réu foi devidamente citado/intimado (ID 51113934) e apresentou resposta à acusação (ID 51113940).
Em decisão de ID 49260102, este Juízo, não vislumbrando hipótese de absolvição sumária do Acusado,
determinou a designação de data para audiência de instrução e julgamento.
Na audiência de instrução e julgamento foram ouvidas as seguintes pessoas: Alessandra Erica Miranda,
Edilson Silva dos Santos, Elieni Martins de Oliveira e Tomaz Meneses Filho (ID 51114021).
A testemunha Sebastião Rodrigues de Oliveira foi ouvida por meio de carta precatória (ID 52480488).
Na fase do art. 402, do Código de Processo Penal, as partes nada requereram (ID 77356765).
Em sede de alegações finais, por memoriais, o Ministério Público sustentou e requereu, em síntese, que...
“além das provas testemunhais colhidas ao longo da instrução processual confirmarem os fatos
imputados na inicial, inclusive durante a fase judicial, o prontuário médico elaborado pelo denunciado
deixa claro que não foi investigada a causa do sangramento apresentado por Alessandra em 10/9/2014
(ID 51113835, p. 21 e 22), pois o denunciado deixou de realizar o exame clínico especular (com vistas a
identificar a origem do sangramento) e de solicitar exame complementar com vistas a averiguar a
vitalidade fetal e a auxiliar na investigação da(s) causa e consequência(s) do sangramento no binômio
mãe-filho; Em vez de agir conforme a boa literatura médica, o denunciado prestou um atendimento
incompleto e essa falta foi determinante para a piora gradativa da vitalidade fetal, que culminou no óbito
intraútero; Importa esclarecer que, conforme explicado pela testemunha Dr. Sebastião Rodrigues de
Oliveira, obstetra que atendeu Alessandra no Hospital Regional de Ceilândia (HRC) e constatou o
descolamento prematuro de placenta de grande monta, baixíssima frequência cardíaca fetal e
necessidade urgente de fazer a cesariana; que na assistência prestada pelo réu não foi feito o essencial
para garantir o bem-estar fetal; Inaceitável é o médico obstetra responsável pelo pré-natal, que
acompanhava a paciente desde o terceiro mês da gestação, diante de um sangramento vaginal na
segunda metade da gestação, inclusive comprovado em exame clínico, deixar de usar os meios
Por sua vez, a Defesa do Acusado aduziu e postulou, em suma: “... O Acusado dispensou
todos os cuidados necessários à parturiente; Não existe nos autos prova cabal que a morte do feto da
paciente Alessandra deu-se pelo agir do Acusado, haja vista que esta foi prontamente atendida, medicada
e orientada. O próprio prontuário médico ID-51113835 (fls.84/87), demonstra a orientação feita pelo
Acusado. As Alegações do esposo da paciente Alessandra, o Sr. Edilson que afirmou em depoimento que
ligou diversas vezes para o acusado é mentiroso. Ademais, não existe no bojo dos autos qualquer prova
material sequer indiciárias destas supostas ligações, o que demonstra que trata-se tais alegações de
natureza falaciosa. que paciente Alessandra estava em sua terceira gestação e detinha conhecimentos
sobre a evolução da gravidez e suas peculiaridades; que vale ressaltar que o Acusado já havia exigido o
exame ecográfico da paciente Alessandra, tendo o mesmo sido realizado em 23/08/20147 (fls. 21 dos
autos físicos) insertos no inquérito de ID n.º 51113774 – fls. 24). Nada havia anormalidade em referido
exame que apontasse um conduta ativa do Acusado para antecipação do parto da paciente Alessandra.
Em razão da limitação do local e do horário, o Acusado orientou a paciente a procurar o pronto socorro;
que pela prova dos autos restou demonstrado que a paciente Alessandra não seguiu as orientações do
acusado (vide prontuário médico); que não há comprovação de que a paciente adquiriu os medicamentos
prescritos ou que de fato ligou para o acusado após seu atendimento preliminar; que pelo prontuário
médico ID-51113835 (fls.84/87), existe a prova clara da orientação dada pelo Acusado para a paciente
buscar o pronto socorro. Assim, não pode ser imputada a demora do atendimento da paciente Alessandra
ao acusado após esta deixar seu consultório. Ademais, pela prova testemunhal colhida no ID52114536,
restou demonstrado que a paciente Alessandra deixou o consultório do acusado sem que este tivesse feito
a segunda avaliação hemodinâmica e de vitalidade fetal e, como, está já estava orientada previamente a
É o relatório
Decido
II
Trata-se de ação penal pública incondicionada, imputando ao Acusado MÍRCIO ANTÔNIO ALVES,
qualificado nos autos, a prática de atos delituosos previstos no art. 121, §§ 3º e 4º (c/c art. 13, caput e § 2º,
“a”, todos do Código Penal, cuja tramitação, mormente a sua instrução, deu-se de forma válida e regular,
observando-se os mandamentos constitucionais do contraditório e da ampla defesa, não havendo questões
preliminares ou prejudiciais a serem analisadas, de modo que passo ao exame do mérito.
E no mérito, encerrada a instrução, pode-se adiantar que a denúncia há de ser julgada procedente.
[...]
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de
regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não
procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o
homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14
(quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
[...]”
“Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa.
Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)
[...]
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O
dever de agir incumbe a quem: (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
[...]”
No caso em tela, a materialidade restou provada, em face tanto dos documentos (Portaria de Instauração
de Inquérito Policial; Comunicação de Ocorrência Policial; Termos de Declarações; Documentos
Diversos, ID 51113774; Documentos Diversos, ID’s 51113793 e 51113821; Prontuário Médico –
Paciente Alessandra Érica Miranda, ID 51113843; Laudo de Exame de Corpo de Delito, ID 51113901;
Parecer Técnico, ID 51113924), quanto pelos depoimentos das testemunhas ouvidas, constantes dos
autos.
Com efeito, o próprio Acusado MÍRCIO ANTÔNIO ALVES, em Juízo, embora apresentando a versão
que lhe pareceu mais conveniente, não negou os fatos, ou seja, admitiu ter atendido a Vítima lá no
Hospital, quando declarou:
Não é verdadeira a acusação. Mais ou menos por volta de 20 horas o marido dela ligou dizendo que ela
estava com sinal de sangue, mas sem dor. Faltava ainda três meses e meio para o bebê nascer. Informou a
eles que procurassem o pronto socorro mais próximo de sua residência, pois a clínica do depoente não
tinha condições de fazer qualquer atendimento do tipo. Ainda assim, depois de meia hora, a mulher
chegou carregada pelo marido em sua clínica. Então prestou o atendimento, sendo feita a ficha. Ela não
apresentava dor no abdômen. Pediu a ela para que aguardasse mais meia hora para ver se pioraria ou não
o sangramento. Indicou a eles que se encaminhassem ao pronto-socorro mais próximo imediatamente,
tendo passado uma receita também. Voltou a atender outros pacientes e deixou-a no consultório ao lado
em repouso. Quando voltou, ela já tinha ido embora, não sendo feita sua reavaliação. Posteriormente,
ficou sabendo que o marido teria a levado para um hospital próximo. O descolamento prematuro de
placenta não tem motivo definido e costuma ser grave. É diagnosticado pela presença de muita dor e
endurecimento do abdômen, sendo que ela não apresentava estas condições. Pode ter ou não dilatação do
colo uterino, mas ela não apresentava (ID 77358921).
Assim, a Vítima ALESSANDRA ERICA MIRANDA, mãe do nascituro, pessoa que, como paciente, foi
atendida pelo Acusado na Clínica São Marcos em Taguatinga/DF, em Juízo, corroborando as informações
prestadas na fase policial, foi firme nas suas afirmações, confirmando a materialidade e a autoria do delito
narrado na denúncia, ou seja, deixou claro que o Acusado, na condição de Médico, não lhe deu o
atendimento necessário em face do seu estado de saúde, quando asseverou:
Até o dia do acontecido o atendimento foi tranquilo. Na mesma semana já tinha procurado o médico pois
já tinha sentido algumas dores, ele disse que era dor de estômago e prescreveu dois medicamentos. Foi
duas vezes na semana do ocorrido. No começo da outra, foi quando passou mal. Teve hemorragia no dia,
estava sangrando muito, esperou seu marido chegar e foram à clínica. Lá, tiveram de subir as escadas,
ainda que seu marido estivesse com a perna machucada, pois o doutor disse que não poderia descer para
fazer o atendimento. Subiram e lá ele fez o procedimento padrão, escutou os batimentos do bebê, botou o
aparelho e estranhou os batimentos no aparelho pois estavam muito baixos. Disse para Mircio que achava
aquilo estranho e que acreditava necessitar de uma ecografia, devido ao sangramento. Mircio apenas
passou medicamentos, então foi à farmácia e voltou para casa. Seguiu com dores em casa, cochilava e
acordava e a todo momento seu esposo em contato com Mircio, questionando, até o momento em que não
aguentava mais as dores, estava tendo contrações e decidiram ir até o HRC, onde foram atendidos de
imediato pelo Dr. Sebastião, o qual falou que não sabia por que Mircio teria feito isto com a depoente. No
HRC, fizeram o atendimento com uma urgência muito grande, pois a depoente e o bebê estavam correndo
grandes riscos. Chegou a tomar os medicamentos prescritos na noite do ocorrido. A causa, segundo Dr.
Sebastião foi o deslocamento total da placenta. Pelo período, tanto a depoente como o bebê corriam risco
de vida. Não se recorda se levou os exames pedidos pelo médico na semana. Todos os exames que fez
foram apresentados a Mircio. Ele orientou a depoente que caso o sangramento piorasse, devia a depoente
ir ao hospital. Seguiu o que o médico pediu a todo momento, por isso não foi até o hospital anteriormente.
Não foi feita a necropsia do bebê, não viu mais o Dr. Sebastião após o parto de seu bebê (ID’s 52114634,
52114744, 52114816, 52114842).
No mesmo sentido foram as declarações da testemunha EDILSON SILVA DOS SANTOS, esposo de
ALESSANDRA e genitor do nascituro, pessoa que acompanhou os atendimentos recebidos pela Vítima
feitos pelo Denunciado, o qual, em Juízo, confirmando as informações de ALESANDRA e os indícios da
fase policial, esclareceu que o Acusado, conquanto tendo sido informado sobre a real situação da Vítima,
não tomou as providências necessárias, de modo que tiveram que procurar um outro profissional da saúde,
ou seja, asseverou:
Subiu com ela para serem atendidos, tentou fazer com que o médico atendesse lá embaixo, mas ele disse
que não poderia descer. O médico auferiu os batimentos, o depoente o avisou que ela teria perdido muito
sangue, até encharcou o lençol de sangue. No diagnóstico Mircio disse que estava tudo normal, indicou
apenas repouso e um medicamento para parar o sangramento. Não se recorda se escutou os batimentos do
bebê. Compraram os remédios e voltaram para casa, seguiu em contato com Mircio e falava que o
sangramento persistiu e ela seguiu passando mal, ficando branca e o sangramento não parou. Por volta de
três, falou novamente com Mircio e este disse para leva-la para um hospital. Levou-a para o HRC,
prontamente o médico a levou para dentro, perguntou a quanto tempo ela estava sangrando e já pediu a
ecografia, e operou em sequência. Não se recorda o nome do médico. Foi orientado por um médico,
E confirmando que o estado de saúde da Vítima ALESSANDRA não era bom e que a mesma necessitava
de atendimento especial, com procedimentos específicos para a sua situação, tem-se as declarações da
testemunha SEBASTIÃO RODRIGUES DE OLIVEIRA, Médico que atendeu a referida Vítima no
Hospital Regional de Ceilândia, o qual deixa claro que houve omissão por parte do Acusado, Dr.
MÍRCIO, quando, diante da situação da Vítima não tomou todas as providências necessárias para o caso.
Confira:
Não se recorda deste caso específico, mas nas condições que a paciente se encontrava, é comum ser
pedido um exame ecográfico. Normalmente é feito este exame. Baixa frequência do feto é um sintoma
que se caracteriza ser necessário uma cesárea. O sangramento vaginal apresentado era um sinal clínico de
alerta para o obstetra-assistente. O exame ginecológico especular é um método propedêutico importante
para a análise de sangramento vaginal em gestantes. Na hora que viu a paciente já não era indicado o
medicamento prescrito pelo réu no caso dela. O descolamento prematuro da placenta é uma urgência
obstétrica e este pode ocasionar sangramento vaginal. A internação hospitalar era indicada para a paciente
baseada no quadro clínico que a mesma se encontrava. Era indicada a realização de ultrassonografia
quando a mesma chegou. Pelo tempo em que a gestação já havia decorrido, o indicado era que ocorresse o
parto, dado que ele já tem chance de sobrevivência (ID’s 52480514, 52480527, 52480569, 52480594,
52480607, 52480651, 52480676).
Por outro lado, as demais testemunhas ouvidas não trouxeram informações capazes de afastar as
responsabilidades do Acusado no caso sob comento.
Assim, a testemunha ELIENI MARTINS DE OLIVEIRA, pessoa que trabalhava no Hospital com o
Acusado, em Juízo, esclareceu o seguinte:
A primeira vez que Alessandra foi até o hospital ela não era paciente, apenas tinha ido lá para conversar
com o Dr. Mircio, ela nunca pagou pelas consultas. Fica acompanhando Mircio. Viu que ela chegou com
o esposo carregando, Mircio orientou para que a depoente levasse a gestante a um consultório ao lado e
que já iria lá ver sua condição. Mircio examinou a gestante, ele auferiu os batimentos e para a depoente
tudo estava na normalidade. Mircio falou para a gestante esperar, pois a agenda daquele dia estava muito
lotada, então faria mais alguns atendimentos e voltaria para atender novamente. Ela foi embora antes que
fosse reavaliada. Só hospitais de emergência fazem exames ecográficos na parte da noite (ID 52114536).
E a testemunha TOMAZ MENESES FILHO, pessoa que também trabalhava no Hospital, em Juízo,
apenas declarou:
Nesses termos, à luz do conjunto probatório, não se tem nenhuma dúvida de que entre os dias 10 e 11 de
setembro de 2014, na Clínica São Marcos em Taguatinga/DF, o Acusado MÍRCIO ANTÔNIO ALVES,
agindo de forma negligente, realmente violou regras técnicas e dever de cuidado e proteção decorrentes
de sua condição de médico, até porque, como bem ponderado pela Ilustre Representante do Ministério
Público em suas alegações finais, “o prontuário médico elaborado pelo denunciado deixa claro que não
foi investigada a causa do sangramento apresentado por Alessandra em 10/9/2014 (ID 51113835, p. 21 e
22), pois o denunciado deixou de realizar o exame clínico especular (com vistas a identificar a origem do
sangramento) e de solicitar exame complementar com vistas a averiguar a vitalidade fetal e a auxiliar na
investigação da(s) causa e consequência(s) do sangramento no binômio mãe-filho (ID 51113924, p.6). Em
vez de agir conforme a boa literatura médica, o denunciado prestou um atendimento incompleto e essa
falta foi determinante para a piora gradativa da vitalidade fetal, que culminou no óbito intraútero” (ID
79316486).
Portanto, a materialidade e a autoria delitivas restaram devidamente demonstradas, não havendo que se
falar em aplicação do princípio in dúbio pro reo, de modo que, sem maiores delongas, as teses defensivas
não encontram amparo no conjunto probatório.
Por outro lado, não vejo nos autos qualquer circunstância que exclua a ilicitude do fato ora analisado ou
que exclua ou diminua a imputabilidade do Acusado que, pois, era imputável, tinha plena consciência dos
atos delituosos que praticou e era exigível que se comportasse de conformidade com as regras técnicas da
sua profissão de médico.
Assim, forçoso é concluir que os atos do Réu MÍRCIO ANTÔNIO ALVES, noticiados nos autos,
realmente correspondem ao tipo penal descrito pelo art. 121, §§ 3º e 4º (c/c o art. 13, caput e § 2º, “a”),
ambos do Código Penal.
No que se refere à fixação do valor mínimo para reparação dos danos materiais causados pela infração,
nos termos da novel redação do Código de Processo Penal (inciso IV do artigo 387), dada pela Lei n.
11.719, de 20 de junho de 2008, publicada no DOU de 23.06.2008, verifico não ser possível no presente
caso. Como visto acima, encerrada a instrução, não restou esclarecido nem mesmo por aproximação, o
valor decorrente de danos materiais causados pela infração, não sendo possível fixar qualquer valor,
mesmo que mínimo, a título de reparação de danos materiais, de modo que deixo essa questão (danos
materiais) para ser resolvida na esfera cível, se for o caso.
Contudo, no que concerne à fixação de valor referente aos danos morais, tenho que tal medida é possível.
Como se pode verificar, o Ministério Público fez pedido nesse sentido quando do oferecimento da
III
Isto posto, JULGO PROCEDENTE a denúncia, para CONDENAR o Réu MÍRCIO ANTÔNIO
ALVES, devidamente qualificado nos autos:
1) ao pagamento da quantia de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais), como valor mínimo, a título de
reparação de danos morais causados pela infração ora analisada, em favor de ALESSANDRA ÉRICA
MIRANDA e seu esposo EDILSON SILVA DOS SANTOS;
2) nas penas do art. 121, §§ 3º e 4º (c/c o art. 13, caput e § 2º, a), ambos do Código Penal.
Cumprindo exigência do art. 93, inciso IX, da Constituição Federal, e observando as diretrizes do art. 68
do CPB, passo à dosimetria da pena.
Assim, tendo em vista os termos do art. 59, do mesmo Código Penal, e considerando que: 1) a
culpabilidade está devidamente caracterizada na vontade do Réu quando da prática do crime; 2) o
Acusado possui bons antecedentes, ou seja, conforme se verifica da sua FAP, não ostenta outras
condenações transitadas em julgado por fato anterior (ID 81161114); 3) a conduta social do Réu é
ajustada ao meio em que vive (não há informação em sentido contrário); 4) a personalidade do Acusado
não é voltada para a prática de atos delituosos; 5) os motivos do crime sob comento não restaram
devidamente esclarecidos; 6) as circunstâncias favorecessem ao Acusado, uma vez que o crime foi
praticado em situação normal para o tipo em tela; 7) as consequências do fato foram ruins, mas foram as
normais para o tipo penal; 8) o comportamento da Vítima, ao que consta, não colaborou à prática do ato
delituoso, fixo a pena-base em 01 (um) ano de detenção.
Na terceira fase, não vislumbro a presença de causas de diminuição da pena. Por outro lado, constato que
o crime em tela resultou de inobservância de regra técnica de profissão por parte do Acusado, na sua
condição de Médico. Portanto, com base no § 4º, do art. 121, do Código Penal, elevo a pena para 01 (um)
ano e 04 (quatro) meses de reclusão, pena esta que torno definitiva, por não haver causas outras de
redução ou de elevação da pena, a serem consideradas.
O Réu MÍRCIO ANTÔNIO ALVES, cumprirá a pena, desde o início, em regime aberto, nos termos do
art. 33, § 2º, alínea “c”, do Código Penal.
Condeno o Réu MÍRCIO ANTÔNIO ALVES, ainda, ao pagamento das custas processuais, ressaltando
que eventual causa de isenção deverá ser analisado pelo Juízo das Execuções Penais.
O Réu, ao que se sabe, é primário, isto é, não possui condenação com trânsito em julgado. Assim, pelo
que consta, entendo que suas condições subjetivas permitem que a pena privativa de liberdade seja
substituída por outras restritivas de direitos. Nesses termos, tendo por base os arts. 43 e seguintes, do
Código Penal, na sua atual redação, substituo a pena privativa de liberdade por duas outras restritivas de
direitos, penas estas a serem estabelecidas pelo Juízo das Execuções penais.
Após o trânsito em julgado, oficie-se ao TRE para os fins do art. 15, inciso III, da Constituição Federal e
expeça-se carta de guia ao Juízo das Execuções Penais.
P. R. I.
Juiz de Direito