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Tribunal de Justiça da Paraíba

PJe - Processo Judicial Eletrônico

10/02/2023

Número: 0800391-72.2017.8.15.0311
Classe: APELAÇÃO CÍVEL
Órgão julgador colegiado: 4ª Câmara Cível
Órgão julgador: Des. Romero Marcelo da Fonseca Oliveira
Última distribuição : 09/11/2021
Valor da causa: R$ 20.000,00
Processo referência: 0800391-72.2017.8.15.0311
Assuntos: Erro Médico
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
VALERIA FEITOSA DE LIMA SILVA (APELANTE) CLODOALDO JOSE DE LIMA (ADVOGADO)
DANIEL CANDIDO DE LIMA (ADVOGADO)
MARIA DAS GRACAS DINIZ CABRAL (ADVOGADO)
RODOLFO CRISTIANO DA SILVA (APELANTE) CLODOALDO JOSE DE LIMA (ADVOGADO)
DANIEL CANDIDO DE LIMA (ADVOGADO)
MARIA DAS GRACAS DINIZ CABRAL (ADVOGADO)
GILBERTO MARINHO DE SOUSA (APELADO) TACIANO FONTES DE OLIVEIRA FREITAS (ADVOGADO)
ESTADO DA PARAIBA (APELADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
13441 17/10/2018 23:11 gilb pdf Documento de Comprovação
490
EXCELENTÍSSIMO SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA 2ª
VARA DA COMARCA DE PRINCESA ISABEL/PB

Autos nº: 0800391-72.2017.815.0311

GILBERTO MARINHO DE SOUSA, devidamente


qualificado nos autos da AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR ERRO
MÉDICO, vem apresentar CONTESTAÇÃO E RECONVENÇÃO
aos articulados da demanda em epígrafe nos seguintes termos:

1. RESUMO DA INICIAL

Alega os promoventes que em 23 de abril de 2015 foi realizada,


durante um parto cesáreo uma cirurgia de “Ligadura Tubária
Bilateral” arbitrariamente na Autora resultando no impedimento da
mesma em gerar filhos.

Com base nesses supostos acontecimentos o autor requer:

a) A condenação do réu ao pagamento da indenização de 20.000,00


(vinte mil reais) por danos morais;

b) A condenação do réu ao pagamento das custas e honorários


advocatícios à base de 20 %;

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PRELIMINARMENTE

DA INCOMPETÊNCIA EM RAZÃO DO LUGAR

O réu tem sua sede fixada na cidade de Patos, sendo


portanto tal endereço o seu domicílio legal, a teor do que
prescreve o art. 75, IV, do Código Civil.

Em que pese ser a autora sabedora dessa situação –tanto


que qualificou corretamente a ré na peça vestibular, e requereu
sua citação no endereço deste escolheu ela erroneamente o foro
da cidade de Princesa Isabel, Paraíba para a propositura da
presente ação, infringindo, desse modo, os arts. 46, caput, e 53,
III, “a”, do CPC, segundo os quais:

“Art. 46

A ação fundada em direito pessoal ou em direito real


sobre bens imóveis será proposta, em regra, no foro de
domicílio do réu”.

A disposição legal é de clareza solar, Excelência, não


deixando margem à dúvida de que, para figurar no polo passivo
da relação processual, a pessoa jurídica deverá ser demandada
no local de sua sede, nos precisos termos dos dispositivos legais
retrocitados e do art. 75, IV, do Código Civil, sendo este, no caso
dos autos, a cidade de Patos, Paraíba, para onde o processo
deverá ser remetido.

Ainda que em se tratando de ação envolvendo reparação


de dano, o foro competente continua a ser o do domicílio do réu,
ou o do lugar do ato ou fato, no caso, a cidade de Patos , Paraíba,
onde o evento gerador da imputação teria ocorrido, a teor do
que dispõe a alínea “a”do inciso IV do art. 53, do CPC, jamais o
da residência da autora, o qual foi escolhido aleatoriamente e
não poderá prevalecer sobre aqueles previstos nas regras
processuais.

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Dessa maneira, o acatamento da presente preliminar de
exceção de incompetência relativa é medida impositiva,
pugnando a ré, por conseguinte, que V.Exa. remeta os autos
para redistribuição do processo para uma das Varas Cíveis da
Comarca de Patos, Paraíba, que são as competentes para
processar e julgar o feito.

DOS FATOS

DA RUPTURA UTERINA

A ruptura uterina é considerada umas das mais graves


complicações em obstetrícia podendo ocasionar morte materna e
morte fetal intrauterina. Ocorre de maneira espontânea e o resultado
pode ser a expulsão do feto para dentro da cavidade peritoneal.

A autora já havia passado por um parto cesáreo anteriormente,


e adentrou a maternidade com dores no baixo ventre, indicativo de
ruptura uterina, que fora constatada posteriormente, sendo então
indicação para a realização da cesárea.

Nesse sentido ensina a literatura médica:

“Entre as principais causas da rotura uterina estão o uso de


uterotônicos, traumatismos abdominais, parto obstruído,
multiparidade, placenta percreta, gravidez gemelar e
hiperdistensão uterina. No entanto, é considerado como maior
fator de risco a essa complicação a presença de cicatriz uterina e a
realização de partos cesáreos, este último classificado como o
maior causador dos casos de rotura uterina tornando-o uma
complicação cada vez mais temível.” (grifo nosso) (RESENDE;
MONTENEGRO, 2012; FEDERAÇÃO BRASILEIRA DAS
ASSOCIAÇÕES DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA, 2011;
BRASIL, 2010; DAVID; XAVIER, 2011).

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Documento juntado pela autora no id evidenciando a rutura uterina e atestado por
outro médico (Almi Soares Cavalcante – CRM ).

Segue em anexo artigo científico onde se comprova tudo que se


encontra alegado em relação ao procedimento no caso de rutura
uterina.

DO PRINCIPIO DA BENEFICIÊNCIA

O réu, como médico, possui obrigação ética de maximizar o


benefício e minimizar o prejuízo, e durante a realização do parto da
Autora, buscou a todo momento, garantir o ato médico mais seguro
para a mesma e ao nascituro.

Ainda que dadas as circunstâncias da RUPTURA UTERINA,


conseguiu realizar o parto seguro para a mãe e o filho, tendo que, no
entanto, realizar a esterilização da mãe, pois não foi possível suceder
a sutura uterina, buscando evitar um quadro hemorrágico que
colocasse em jogo a saúde da mãe.

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Ressalte-se que uma vez rompida a musculatura do
útero não se reconstitui de modo que caso a autora
engravidasse novamente poderia ter o órgão rompido,
morrendo instantaneamente de hemorragia incontrolável,
razão pela qual não houve outra conduta a ser tomada
senão a de esterilizá-la de imediato.

Conforme o Art. 10 da Lei nº 9.263/96:

Art. 10. Somente é permitida a


esterilização voluntária nas
seguintes situações:

II - risco à vida ou à saúde da


mulher ou do futuro
concepto, testemunhado em
relatório escrito e assinado por
dois médicos.

§ 2º É vedada a esterilização
cirúrgica em mulher durante os
períodos de parto ou aborto,
exceto nos casos de
comprovada necessidade,
por cesarianas sucessivas
anteriores. (grifo nosso)

Vemos o Capítulo I do Código de Ética Médica, que trata os


Princípios Fundamentais, entre eles:

VI - O médico guardará absoluto


respeito pelo ser humano e
atuará sempre em seu benefício.
Jamais utilizará seus
conhecimentos para causar
sofrimento físico ou moral, para
o extermínio do ser humano ou
para permitir e acobertar
tentativa contra sua dignidade e
integridade.

Com a bagagem de anos de prática e estudos médicos, o Réu


jamais realizaria tal ato sem que tivesse plena certeza de sua

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necessidade para o bem-estar da mãe e do filho. Este que tem como
maior objetivo proteger a vida.

Em Artigo publicado pela Revista Médica de Minas Gerais:

“As prioridades no tratamento


são a retirada do feto que pode
estar na cavidade peritoneal
agravando o prognóstico e a
correção da hemorragia, quando
já foram retirados o feto e a
placenta. A seguir, deve ser
decidido se o reparo será
suficiente ou se é necessária a
histerectomia.”

DO MÉRITO

a) RESPONSABILIDADE MÉDICA

Não há de se falar em Responsabilidade Civil do médico, pois


como bem ensina Gonçalves: “Comprometem-se os médicos a tratar
o cliente com zelo, utilizando-se dos recursos adequados, não se
obrigando, contudo, a curar o doente. Serão, pois, civilmente
responsabilizados somente quando ficar provada qualquer
modalidade de culpa: imprudência, negligência ou imperícia”.

Dispõe ainda o CDC em seu artigo 14, § 4º que

“A responsabilidade pessoal dos


profissionais liberais será apurada
mediante verificação de culpa”.

No mesmo sentido já decidiu o TJ – RS:

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL MÉDICO-


HOSPITALAR. FRATURA COM DESVIO VOLAR E
DEFORMIDADE NO PUNHO DIREITO. DEMONSTRAÇÃO DE
QUE FORAM ADOTADOS OS PROCEDIMENTOS MÉDICOS

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RECOMENDADOS PARA O CASO. INEXISTÊNCIA DE ERRO
MÉDICO. A responsabilidade do estabelecimento hospitalar, mesmo
sendo objetiva, é vinculada à comprovação da culpa do médico, sob
pena de não haver erro médico indenizável. Em que pese o ocorrido,
não há elementos nos autos que demonstrem um agir negligente,
imprudente ou imperito do corpo médico do nosocômio réu.
Demonstração de que o profissional adotou os procedimentos
recomendados para o caso. Inexistência de violação a dever de
cuidado objetivo. Ausência de imperícia. (Apelação Cível Nº
70049622954, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Leonel Pires Ohlweiler, Julgado em 24/04/2013).

Fica assim demonstrada a isenção de responsabilidade civil do


réu com fulcro nos artigos acima e no artigo 951 do CPC. Diante de
uma situação de obrigação de meio do médico observou-se e
constatou-se que não há presença dos elementos de culpa –
negligência imprudência ou imperícia.

b) DO DANO MORAL

Visto que não há Responsabilidade Civil do Réu pois não se tem


a constatação dos pressupostos da culpa, tampouco conduta ilícita,
visto que, dada a situação, o médico tomou a atitude necessária, ao
cumprir sua obrigação de cuidar, logo não cabe o pagamento
indenizatório em face de danos morais, sem a caracterização da
conduta ilícita.

DA RECONVEÇÃO

Que o réu é profissional médico e por má-fé ou pelo mínimo


conhecimento da arte médica por parte da autora se encontra
processado por “erro médico” quando na verdade foi ele quem tomou
a atitude mais correta e indicada ao caso.

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O erro médico seria justamente o contrário, deixar a paciente
com o útero rompido e suturado com a possibilidade de ter outra
gestação e vir a óbito.

Ou seja, se há um erro a ser analisado este é jurídico e não


médico e nasce da indústria do dano moral.

Evidente que ser processado com a imputação de erro médico


é causa eficiente de dano moral, de modo que este não sendo
reconhecido se impõe para parte reconvinda indenizar o reconvinte
em danos materiais (despesas com a defesa) e morais.

Assim, pugna pela condenação da autora/reconvinda no


pagamento das despesas decorrentes da defesa do réu no importe de
R$ 2.000,00 (dois mil reais), além de danos morais em favor deste
no importe de R$ 10.000,00 (dez mil reais)

Assim, requer a citação da parte RECONVIDA para querendo


contestar a presente Reconvenção.

Ato contínuo pugna pela IMPROCEDÊNCIA da demanda


principal.

Dá-se à reconvenção o valor de R$ 12.000,00.

Nestes termos, pede deferimento.

Patos, 25 de setembro de 2018.

Taciano Fontes
OAB/PB 9.366

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