Da Gramática e Etimologia da Palavra «Ser» à Questão da Essência do Ser
(Cap. II da Introdução à Metafísica de M. Heidegger).
1. “Temos de questionar porque é que esse facto, o de «o Ser» se manter para
nós apenas uma palavra nebulosa, volátil, é precisamente hoje pertinente [...] É por ser assim que questionamos o Ser. Porém a questão agora é a de saber se, ao partirmos do Ser enquanto conceito mais geral, alcançamos a essência do Ser”. (EM, pp. 47-48). 2. A Gramática e Etimologia da Palavra «Ser» são “uma clarificação fundamental da essência do Ser relativamente ao entrelaçamento da sua essência com a essência da linguagem”. (Ibidem, p. 63). É o questionamento da palavra «Ser» segundo a sua forma e significação (sentido). 3. “Modus infinitus” (-ó) traduz o indefinido (o infinito) e “in- apreensível; Oú - Ousia ou parousia – An-wesen (presente, presença). Parousia/An-wesen traduz o sentido de que algo está presente (presença) e se manifesta como fenómeno ou essencialidade (anwesenheit).
4. «Ser» significa para os Gregos: a consistência em sentido duplo:
1. O estar-erguido-em-si-mesmo enquanto o que surge de si mesmo (Physis). 2. Mas como tal «permanente», i.é, sendo constante, o permanecer e o repousar (ú)”. (Ibidem, p. 73).
5. “Colocamos a questão fundamental da metafísica: «Porquê é afinal ente e não
antes Nada?» Nesta questão fundamental vibra já a pré-questão: Qual a posição do Ser?” (...) O que queremos dizer com as palavras «Ser», «o Ser»? (...) Para nós, «o Ser» quase não passa de um mero som de palavra, um título desgastado (...) Respondemos a esta questão por via de dois caminhos... Da reflexão gramatical sobre a forma da palavra resultou: no infinitivo já não se manifestam os modos determinados de significação da palavra; eles confundem-se, dissolvem-se (...) A palavra torna-se um nome que designa algo de indefinido. Da reflexão etimológica sobre o significado da palavra resultou: aquilo que nós, hoje, e hoje desde há muito, denominamos com o nome «o Ser» é, relativamente ao seu significado, uma mistura niveladora de três significações de raízes diversas (Ibidem, p. 83). Assim, “do ponto de vista semântico, o verbo «Ser» contém... uma riqueza de conteúdo bem concreta... significando viver (segundo a raiz «es» presente nas formas «einai- Ser em grego», «esse – ser em latim», «ser», «sein – ser em alemão»), crescer ou surgir (segundo a raiz «bhu», presente em «be”, «bin – sou», «fuein – luzir, brilhar», «fui») e permanecer ou habitar (segundo a raiz «wes», presente nas formas germânicas «war – era/ foi», «gewesen- foi, ter sido» e «wesen – essenciar- essência»”. (Cf. Mafalda Blanc, Introdução à Ontologia, p. 14).