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Ética, Deontologia e Direito da Comunicação, 3º Ano do Curso de

Licenciatura em Tecnologia, Multimédia e Comunicação (TMC), II Semestre, 2023-2024.

Moralidade e Computação: se é realmente necessária uma ética na computação


(“Computer ethics”)?
Pirataria, privacidade, robôs, inteligência artificial, pirataria informática, ciberpornografia,
cibersexo, vírus, worms, cavalos de Troia, escutas telefónicas, decência nas comunicações,
censura, jogos de guerra, Guerra das Estrelas (agora designada por Defesa de Mísseis
Balísticos), auto-estradas da informação, ciberterrorismo, a Internet (e as suas utilizações para
o bem e para o mal), tecnoestresse - tudo isto faz parte do mundo informático atual.
O computador introduziu muitas mudanças significativas nos nossos estilos de vida. Ninguém
- nem mesmo um recluso que se autodenomina "homem bomba" e que deseja destruir grande
parte da tecnologia moderna - deixa de ser afetado por estas mudanças, que levantam sérias
questões sociais e morais. Os computadores podem melhorar algumas áreas de interesse
humano, como a eficiência, mas também têm o potencial de agravar outras áreas problemáticas,
como a desigualdade. Este livro surgiu da constatação de que o advento do computador criou
novos problemas morais e deu uma nova dimensão a problemas antigos e persistentes. O livro
aponta quais são essas áreas de preocupação e estabelece uma base para atacar esses problemas.
(...) A ética informática é importante para todos. Aqueles que serão profissionais em áreas que
envolvem computadores têm a responsabilidade de estar cientes das questões morais que os
computadores levantam e ter conhecimentos sobre como encontrar soluções viáveis para as
mesmas. Mas, todos na sociedade atual são afectados pelos computadores. Todos nós devemos
aprender sobre as suas possibilidades de melhorar as condições e sobre os perigos que
apresentam. O objetivo deste livro é familiarizar os leitores com estas potencialidades e dar-
lhes uma base ética para as abordarem. Para fazer uma analogia com um conhecido jogo de
computador, há masmorras para explorar e dragões para matar (ou fazer amizade). Bem-vindo
à grande aventura!
(...) A tecnologia informática é outro domínio em que se registaram mudanças espantosas nas
últimas quatro décadas. No espaço de poucos anos, o computador mudou tremendamente as
nossas vidas - a forma como fazemos negócios, a forma como fazemos compras e a forma
como as empresas e as agências governamentais mantêm registos e analisam dados. Essas
mudanças podem afetar a nossa privacidade, os nossos empregos e talvez até a nossa liberdade.
(...) Mas as questões mais prementes da ética informática estão relacionadas com invasões de
privacidade, questões de propriedade intelectual, responsabilidade profissional, fiabilidade do
computador (especialmente em situações potencialmente perigosas), crimes informáticos
(incluindo desvio de fundos, roubo de software, vírus informáticos e outras invasões de
sistemas, e crimes reais contra computadores), um ambiente de trabalho em mudança,
ciberterrorismo e ameaças insidiosas de controlo governamental que fazem lembrar o "Big
Brother" de Orwell em 1984.
(...) As áreas da ética aplicada podem trazer-nos novos problemas com os quais nos devemos
debater, mas não houve grandes avanços no pensamento moral e na teoria ética em paralelo
com os avanços tecnológicos em curso. Em 1959, C. P. Snow escreveu sobre as "duas culturas"
- a comunidade científica e a das humanidades - e os problemas que surgem devido à falta de
comunicação entre elas. Henry M. Boettinger, controlador assistente da AT&T, escreveu em
1
1970: "Os humanistas devem entrar em diálogo com os cientistas, não como diletantes
amadores, negativos e benfeitores, mas como parceiros iguais numa forma moderna da
dialética socrática" (Boettinger, 1970, p. 46).
Walter Maner, que terá sido o primeiro a utilizar a expressão "ética informática", salientou
que as questões que se colocam no domínio da ética informática se dividem em quatro
categorias:

1. A tecnologia informática pode agravar certos problemas éticos tradicionais (como, por
exemplo, a criação de novas vias para a invasão da privacidade).
2. A tecnologia pode transformar problemas éticos familiares em "problemas análogos mas não
familiares", como a alteração dos critérios de propriedade de um "original" (fotografia, obra
literária, etc.).
3. Pode criar novos problemas que são exclusivos do domínio da informática (por exemplo,
computadores que tomam decisões estratégicas no campo de batalha ou outras sem intervenção
humana).
4. Em alguns casos (os autores dizem que são "raros"), a nova tecnologia pode aliviar os
problemas morais existentes. O exemplo que me vem à mente aqui, embora não seja o de
Maner, é o de que a análise informática pode permitir projecções mais precisas das
consequências futuras de diferentes escolhas - por exemplo, no que diz respeito ao ambiente
ou às respostas ao terrorismo - e, assim, permitir uma escolha moral mais informada (Pecorino
e Maner, 1985, pp. 327-28).

(...) O Computer Ethics Institute é um grupo de pessoas interessadas de muitas áreas, incluindo
negócios, educação, religião, políticas públicas e computadores. O Instituto formulou um
conjunto de directrizes para a utilização do computador:
Dez mandamentos da ética informática

1. Não utilizarás um computador para prejudicar outras pessoas.


2. Não interferir no trabalho informático dos outros.
3. Não deves bisbilhotar os ficheiros informáticos dos outros.
4. Não utilizarás o computador para roubar.
5. Não utilizarás o computador para prestar falso testemunho.
6. Não copiarás nem utilizarás software proprietário pelo qual não tenhas não tenha sido pago.
7. Não deve utilizar os recursos informáticos de outras pessoas sem autorização ou sem a
devida indemnização.
8. Não te apropriarás da produção intelectual de outrem.
9. Não deves pensar nas consequências sociais do programa estás a escrever ou do sistema
que estás a conceber.
10. Pensa sempre no computador de forma a garantir a consideração e o respeito pelos teus
semelhantes.
Stacey L. Edgar (2003). Morality and Machines. Perspectives on Computer Ethics, Jones
and Bartlett Publishers, 2nd edition, Prefácio e pp-1-8.

Questões para análise e discussão:


1. Em que sentido a moralidade, ética e o Direito devem fazer parte da computação?
2. Quais deveriam ser, par si, os 5 princípios ético-morais, que consideraria fundamentais nos
usos do computador enquanto tecnologia de comunicação mutimediática?
3. Podem a ética normativa e a ética da alteridade ser relevantes para a computação?
4. Como avalia os Dez mandamentos da ética informática do Computer Ethics Institute no
contexto do diálogo entre duas as culturas (humanidades e tecnologias)?
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