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O CONTADOR E A ÉTICA

PROFISSIONAL
AULA 6

Profª Daiane Lolatto


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, serão estudados os aspectos gerais da postura ética do


pesquisador na área contábil, a definição e as características de plágio,
copiador e pasticheiro, o autoplágio e as repercussões do plágio. Como uma
das possibilidades de atuação do profissional contábil é a área de pesquisa
científica e acadêmica, é fundamental saber determinados aspectos éticos que
devem ser obedecidos nesse contexto.
Segundo Antunes et al. (2011, p. 321), não existe um código de ética
formal para as pesquisas contábeis no Brasil que sirva como orientação de
conduta no processo de desenvolvimento da pesquisa ou de orientação de
alunos e nas relações entre os pesquisadores. Entretanto, existem normas
implícitas que orientam a conduta do pesquisador, ou seja, apesar de as leis
não serem destinadas especificamente às pesquisas, estão correlacionadas.
Um estudo de Leite et al. (2009) verificou se as questões éticas têm sido
levadas em conta no processo de pesquisa em administração. Os resultados
demonstraram que os respondentes associam a ética na pesquisa ao
compromisso moral do pesquisador e ao respeito às normas éticas. Foi
constatado que os pesquisadores se preocupam com o plágio e o anonimato
dos respondentes, concluindo-se que, apesar de a maioria dos pesquisadores
não conhecer os códigos de ética na pesquisa, acredita na importância da
discussão, elaboração, divulgação e aplicação.
A pesquisa científica é importante para o desenvolvimento da ciência
social da contabilidade, além de ser uma área de atuação desses profissionais.
No entanto, a construção da pesquisa deve seguir ou respeitar determinados
aspectos, que serão abordados ao longo desta aula. As regras em questão
envolvem toda a vida acadêmica, como as respostas discursivas em
avaliações, a elaboração de pesquisas e trabalhos acadêmicos, a elaboração
do relatório de estágio supervisionado e dos demais trabalhos acadêmicos.
O mesmo acontece com a vida profissional: as regras éticas devem ser
aplicadas no desenvolvimento de relatórios com informações a serem
disponibilizadas aos usuários internos e externos. Quando utilizados textos ou
frases construídos por outras pessoas nos relatórios, deve-se indicar
adequadamente a fonte dessa informação e a pessoa que a disponibilizou.
CONTEXTUALIZANDO

As questões éticas na pesquisa científica podem ser analisadas sob dois


aspectos. O primeiro refere-se aos efeitos da aplicação de conhecimentos
científicos na sociedade (evidências de que os investimentos ambientais
garantem maior retorno financeiro para a empresa e mais sustentabilidade
socioambiental). O segundo refere-se aos meios para obter o conhecimento no
universo da pesquisa científica (coleta de dados confiáveis). Nesse sentido,
quais as condutas éticas aplicadas em ambos os aspectos da pesquisa?

Saiba mais

Para entender mais sobre a conduta ética dos pesquisadores em


contabilidade, leia o artigo de Antunes et al. (2011) disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-
70772011000300006&lng=en&nrm=iso>.

TEMA 1 – ASPECTOS GERAIS DA POSTURA ÉTICA DO PESQUISADOR NA


ÁREA CONTÁBIL

A pesquisa científica surge de uma inquietação, algo que se quer


descobrir ou compreender melhor. Logo, ela é indispensável para o
desenvolvimento da sociedade, pois contribui para resolver um problema
relevante, bem como para a formação profissional e do ser humano envolvido
com a pesquisa. Contudo, se não desenvolvida eticamente, novos problemas
serão criados (como quebra de sigilo nas informações), por isso é necessário
identificar as questões éticas que podem surgir durante o desenvolvimento da
pesquisa.
A pesquisa precisa ser fundamentada em estudos precedentes de cunho
científico, pois as pesquisas científicas são validadas por outros pesquisadores,
ou seja, antes de um artigo científico ser publicado, por exemplo, ele passa por
uma avaliação, o que garante a veracidade do estudo. Também é importante
considerar que os estudos precedentes devem ser citados, uma vez que as
ideias não podem ser apropriadas como se fossem uma criação.
Outra situação ética que deve ser observada diz respeito ao
desenvolvimento da pesquisa em equipe. Todos os autores participantes
devem ser incluídos na obra, assim como uma mesma obra não pode ser

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submetida a vários periódicos. Há ainda outras situações, que serão abordadas
durante a aula.
A ética e a responsabilidade dos cientistas sobre o reflexo da ciência e
da tecnologia na sociedade são preocupações constantes. Nesse contexto, a
International Association for Accounting Education and Research (IAAER)
publicou o Global Code of Ethics for Accounting Educators – Código Global de
Ética para Educadores em Contabilidade. O documento trata das
responsabilidades na pesquisa acadêmica, conforme descrito no Quadro 1:

Quadro 1 – Responsabilidades na pesquisa acadêmica

Responsabilidades na Desenvolvimento da Periódicos científicos e


função de pesquisador pesquisa políticas de publicação
A função do pesquisador
Editores e revisores de
requer que as pesquisas Os educadores de
trabalhos científicos devem
desenvolvidas sejam contabilidade devem atribuir
assegurar a imparcialidade e
destinadas a melhorar a o crédito adequado à
a objetividade na avaliação
qualidade da educação e da propriedade intelectual.
dos trabalhos submetidos.
prática contábil.
Pesquisadores e escritores
Ao desenvolver pesquisas, contábeis devem preservar a O revisor de pesquisa
os educadores de originalidade em seu científica tem o dever de
contabilidade devem manter trabalho. A pesquisa divulgar conflitos de
um alto nível de científica requer objetividade, interesses para o conselho
desempenho profissional e honestidade e precisão nos editorial ou a comissão
moral. relatórios e a devida científica.
diligência.
A análise e a publicação das Editores de periódicos ou
pesquisas requerem uma As descobertas de plágio comissão científica devem
atitude profissional na devem ser comunicadas ao especificar os procedimentos
comunicação e na avaliação editor e empregador. para a submissão de
destas. trabalhos.
Os avaliadores de trabalhos
É necessário manter a científicos devem ser
confidencialidade das fontes positivos e respeitosos na
da pesquisa. comunicação dos resultados
aos autores.
Fonte: Adaptado de IAAER, [S.d.].

Sendo assim, nota-se a importância da ética no desenvolvimento da


pesquisa científica. A originalidade da produção científica e a relevância do
estudo são primordiais para a evolução da ciência contábil.
Creswell (2014, p. 132) relata que as questões éticas precisam ser
antecipadas e abordadas ativamente nos projetos de pesquisa, em pesquisas
qualitativas, quantitativas e mistas, e ainda em todas as etapas do estudo. A
ética, então, deve estar presente na contextualização do problema de
pesquisa, nos objetivos, na coleta de dados, na análise e na interpretação dos
dados, na redação e na divulgação da pesquisa.

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Pode-se ter como exemplo de projeto de pesquisa o seguinte:

a. Problema de pesquisa: qual o impacto da divulgação de informações


ambientais no resultado econômico-financeiro das empresas altamente
poluentes? Por meio dessa questão, nota-se a importância que os
resultados podem gerar para a sociedade e a estratégia das empresas.
b. Objetivos: identificar o reflexo da divulgação de informações ambientais
no resultado econômico-financeiro das empresas altamente poluentes. O
pesquisador poderá contribuir para o aumento da divulgação de
informações se o resultado for positivo, e, caso contrário, faz-se
necessário justificar o achado e garantir que as entidades continuem
investindo em ações sustentáveis.
c. Coleta de dados: os dados coletados precisam ser reais, não podendo
ser manipulados para encontrar os resultados oportunos. Nesse caso, a
coleta dos dados pode ser realizada por meio das demonstrações
contábeis publicadas pelas empresas.
d. Análise e interpretação dos dados: análise descritiva dos dados
coletados e comparação com estudos precedentes. A análise dos dados
não pode ter viés, eles precisam ser analisados de forma neutra.
e. Divulgação da pesquisa: o artigo deve ser submetido a apenas um
periódico, visto que a pesquisa deve ser única, exclusiva sobre aquele
assunto.

Para Oliveira e Martins (2019, p. 461), a aplicação de padrões éticos em


pesquisas compreendendo seres humanos traz, ao menos, três efeitos
práticos:

(a) assegurar que a pesquisa atende aos padrões internacionais de


integridade; (b) mitigar riscos ao pesquisador e à instituição
relacionados a possíveis ações judiciais de participantes que se
sentirem prejudicados pela participação nos estudos; e (c) aumentar
a validade e a relevância externa do estudo, o que poderá culminar
em maior possibilidade de obter financiamento e maior aceitação pela
comunidade científica.

Vale discutir também as etapas para a realização da pesquisa científica.

1.1 Etapas da pesquisa científica

O trabalho científico engloba todo tipo de trabalhos acadêmico-


científicos, como artigo científico, comunicação científica, dissertação de

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mestrado, ensaio científico, fichamento, informe científico, inventário
acadêmico, mapa conceitual, memorial, monografia, paper, plano de pesquisa,
pôster, pré-projeto de pesquisa, projeto de pesquisa, relatório, resenha,
resumo, tese de doutorado, trabalho de conclusão de grupo (Brasileiro, 2013,
p. 69-167). A diferença entre artigo científico e paper, por exemplo, consiste na
extensão do trabalho: enquanto o paper é um miniartigo, uma descoberta em
andamento, o artigo é um estudo completo. Inclui-se também nos tipos de
trabalho científico o estágio supervisionado.
Segundo Marconi e Lakatos (2019, p. 257), os trabalhos científicos
devem seguir as normas preestabelecidas e os objetivos a que se destinam, e
a pesquisa deve ser contribuir para novos conhecimentos, a compreensão de
certos problemas, além de servir de base para outros trabalhos. O artigo
científico, por exemplo, consiste na apresentação sucinta dos resultados
referentes a uma questão de pesquisa, contemplando novas ideias ou
abordagens de estudos já realizados que serão replicados em outro período ou
em outra base de dados.

TEMA 2 – PLÁGIO

Plagiar é uma atitude antiética que ocorre quando há a apropriação de


ideias de outros autores sem a devida citação da fonte. O plágio tem sido um
problema constante nas publicações científicas das mais diferentes áreas, e na
contabilidade não é diferente. De acordo com Krokoscz (2011), o plágio é uma
prática antiga que vem aumentando nos últimos anos por conta da internet.
Para o autor, copiar a ideia, a estrutura ou a pesquisa na íntegra, e até mesmo
partes de um trabalho, sem fazer a devida citação ou referência ao autor é
considerado plágio.
A citação é a inclusão de uma informação de outra fonte no corpo do
texto de forma direta ou indireta. Já as referências compreendem uma lista de
fontes pesquisadas e citadas no texto.
Citar a fonte garante a imunidade contra a acusação de plágio, mas
não é, de imediato, uma garantia contra uma acusação fundamentada em
direitos de propriedade (copyright) (Mattar Neto, 2008, p. 128). O direito de
propriedade vai além do plágio, que já é considerado crime, consistindo nos
direitos autorais, de modo que somente o autor de uma obra pode fazer uso
daquele texto, ou seja, o texto não pode ser citado em nenhuma outra
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publicação. Nesse contexto, qual a diferença entre plágio e violação de direitos
de propriedade?
O plágio é uma conduta imoral e antiética que consiste na apropriação
de um texto que pertence a outra pessoa. Frei Luca Pacioli (1494), por
exemplo, define o método das partidas dobradas determinando que para cada
débito existe um crédito de igual valor. Caso não fosse citado o autor da
definição, haveria um plágio.
A violação de direitos de propriedade (direitos autorais) pode ocorrer
mesmo que seja citada a fonte, visto que deriva da utilização ilícita dos direitos
de exclusividade. No referido caso, se o Frei Luca Pacioli tivesse um termo de
exclusividade, nenhum outro texto poderia apresentar essa definição, que seria
exclusiva dele, a não ser que houvesse uma justificativa para sua utilização,
como descrito na Lei de Direitos Autorias – Lei n. 9.610, de 19 de fevereiro de
1998 (Brasil, 1998).
Essa lei, em seu art. 46, incisos III e VIII, determina que:

Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais:


[...]
III - a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de
comunicação, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo,
critica ou polêmica, na medida justificada para o fim a atingir,
indicando-se o nome do autor e a origem da obra;
[...]
VIII - a reprodução, em quaisquer obras, de pequenos trechos de
obras preexistentes, de qualquer natureza, ou de obra integral,
quando de artes plásticas, sempre que a reprodução em si não seja
o objetivo principal da obra nova e que não prejudique a
exploração normal da obra reproduzida nem cause um prejuízo
injustificado aos legítimos interesses dos autores. (Brasil, 1998,
grifos nossos)

A citação pode ser utilizada para fundamentar o estudo, mas deve atingir
o objetivo proposto, não prejudicando os autores da obra original. Mattar Neto
(2008, p. 129) menciona a expressão fair-use (uso justo) utilizada pela
legislação norte-americana, que considera, para fins de reprodução de um
trecho de uma obra, “[...] o propósito e caráter do uso, a natureza do trabalho
reproduzido, a quantidade e a substancialidade do trabalho utilizado e os
efeitos gerados no potencial de mercado”.
O plágio e os direitos autorais se coadunam facilmente e devem ser
levados a sério no desenvolvimento de trabalhos acadêmicos e científicos, sob
pena de detenção e multa, como pode ser verificado no art. 184 do Código
Penal – Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 –, que estabelece:

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Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.
§ 1º Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com
intuito de lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de
obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem
autorização expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do
produtor, conforme o caso, ou de quem os represente:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 2º Na mesma pena do § 1º incorre quem, com o intuito de lucro
direto ou indireto, distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no
País, adquire, oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra
intelectual ou fonograma reproduzido com violação do direito de
autor, do direito de artista intérprete ou executante ou do direito do
produtor de fonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia de obra
intelectual ou fonograma, sem a expressa autorização dos titulares
dos direitos ou de quem os represente.
§ 3º Se a violação consistir no oferecimento ao público, mediante
cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que
permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para
recebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por quem
formula a demanda, com intuito de lucro, direto ou indireto, sem
autorização expressa, conforme o caso, do autor, do artista intérprete
ou executante, do produtor de fonograma, ou de quem os represente:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 4º O disposto nos §§ 1º, 2º e 3º não se aplica quando se tratar de
exceção ou limitação ao direito de autor ou os que lhe são conexos,
em conformidade com o previsto na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro
de 1998, nem a cópia de obra intelectual ou fonograma, em um só
exemplar, para uso privado do copista, sem intuito de lucro direto ou
indireto. (Brasil, 1940, grifos nossos)

2.1 Tipos de plágio

Segundo Krokoscz (2012, p. 39), não existe um consenso a respeito das


modalidades de plágio acadêmico, mas há um padrão internacional observado
nas orientações dadas pelas melhores universidades do mundo, conforme
apresentado no Quadro 2:

Quadro 2 – Tipos de plágio mais comuns no meio acadêmico

Tipologia internacional Adaptação Descrição


Reprodução literal de um texto original
Word for Word Plagiarism Plágio direto
sem identificação da fonte.
Reprodução das ideias de uma fonte
Paraphrasing Plagiarism Plágio indireto original com palavras diferentes da fonte
original, mas sem identificá-la.
Reprodução de fragmentos de fontes
Plágio diferentes que são misturados com
Mosaic Plagiarism
mosaico palavras, conjunções, preposições para
que o texto tenha sentido.
Apresentação de trabalhos como sendo
Plágio próprios, mas que na verdade foram
Collusion Plagiarism
consentido cedidos por outros (amigos, colegas,
parentes entre outros) ou comprados.
Reprodução de expressões, chavões ou
Plágio de
Apt Phrase Plagiarism frases de efeito elaboradas por outros
chavão
autores.

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Reprodução das citações apresentadas
Plágio de
Plagiarism em outros trabalhos, porém a fonte citada
fontes
não foi consultada pelo relator.
Reprodução de trabalhos próprios já
Self-plagiarism Autoplágio
apresentados em outras circunstâncias.
Fonte: Adaptado de Krokoscz, 2012, p. 39-55.

Para estudar o plágio com mais profundidade, é importante entender os


conceitos de copiador, pasticheiro e autoplágio.

TEMA 3 – COPIADOR E PASTICHEIRO

A primeira definição de pastiche foi feita na obra de Jameson


Postmodernism, or The Cultural Logic of Late Capitalism, em 1984. Jameson
(1984, p. 22) menciona que o desaparecimento do sujeito particular, com certa
dificuldade de encontrar um estilo próprio, transformou as práticas cotidianas
em algo denominado pastiche. A pastiche nada mais é do que uma imitação.
Puh (2019, p. 244) se refere ao pasticheiro como alguém com habilidade
de não ser descoberto como plagiador, ou seja, consiste no ato de plagiar e
ocultar o plágio trocando palavras por sinônimos e não citando o criador da
ideia. Dessa perspectiva, qual a diferença entre plagiador, copiador e
pasticheiro?
Diniz e Munhoz (2011, p. 20) consideram que, na comunicação
científica, “[...] o pastiche é a forma mais ardilosa de plágio, aquela que se
autodenuncia pela tentativa de encobrimento da cópia. O copista é alguém que
repete literalmente o que admira e não se crê capaz de reinventar”. Logo, o
plagiador é quem reproduz um texto sem a citação da fonte, o pasticheiro se
apropria da ideia de outro autor escondendo a sua origem e o copiador é
aquele que copia um texto na íntegra sem ao menos trocar as palavras e citar a
fonte pesquisada.
Sendo assim, o plágio consiste na apropriação indevida de uma parte
da obra ou da obra como um todo que infringe o direito de reconhecimento do
autor e a perspectiva de originalidade do leitor. Essa atitude viola as regras de
direitos de autoria na comunicação científica. Em contrapartida, há o pastiche,
que é uma forma mais desleal de plágio, pois, além de plagiar, o pasticheiro
encobre a cópia. Já a cópia é realizada pelo copista, que repete integralmente
o que admira.

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3.1 Diferença prática entre plágio, cópia e pastiche

Suponha que o autor Beltrano tenha publicado o seguinte texto:

A contabilidade consiste em uma ciência social que visa fornecer


informações suficientes para a tomada de decisões de diferentes usuários. A
escrituração dos fatos contábeis é realizada com base no método das partidas
dobradas. O método consiste no fato de que, para qualquer operação, há um
débito e um crédito de igual valor ou um débito (ou mais débitos) de valor
idêntico a um crédito (ou mais créditos). O método das partidas dobradas dá
origem ao Balancete de Verificação em que o total do débito deve ser igual ao
total do crédito.

Observe que em nenhum momento é informada a fonte de pesquisa. É


possível, então, identificar plágio, cópia e pastiche, a saber:

“A contabilidade consiste em uma ciência social que visa fornecer


informações suficientes para a tomada de decisões de diferentes usuários. A
escrituração dos fatos contábeis é realizada com base no método das partidas
dobradas”.
Pastiche: nesse trecho, não foi informado o criador do conceito e do
objetivo da contabilidade, apenas foi parafraseado o texto com base na ideia de
outros autores, mascarando o plágio.

“O método consiste no fato de que, para qualquer operação, há um


débito e um crédito de igual valor ou um débito (ou mais débitos) de valor
idêntico a um crédito (ou mais créditos)”.
Cópia: esse período no meio do texto pertence a Marion (2018, p. 157),
ou seja, a frase foi retirada da referida obra e copiada na íntegra.

“O método das partidas dobradas dá origem ao Balancete de Verificação


em que o total do débito deve ser igual ao total do crédito”.
Plágio: nesse caso, Marion (2018, p. 166) afirma que o balancete é
elaborado com base no método das partidas dobradas, portanto, como não foi
citada a fonte, considera-se plágio.

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TEMA 4 – AUTOPLÁGIO

O autoplágio consiste na prática de reutilização de alguns ou todos os


elementos de uma publicação anterior (por exemplo, texto, dados e imagens)
em uma nova publicação. Essa prática fica mais evidente quando um artigo
publicado anteriormente é publicado mais tarde com pouca ou nenhuma
modificação, o que se denomina duplicação (Roig, 2015, p. 16).
Pode-se associar o autoplágio a casos de reutilização de um trabalho
acadêmico realizado em determinada disciplina ou curso em outro que
demande a realização de um trabalho similar. Suponha que você esteja
cursando o curso de contabilidade e decida entregar um mesmo trabalho já
desenvolvido no curso de administração, por exemplo. Essa prática é
considerada um autoplágio e, assim como o plágio, é crime.
Segundo Andrade (2011, p. 83), “[...] em certas ocasiões não seria má
conduta duplicar um artigo se o autor obedecesse a política editorial da revista,
jornal ou evento e comunicasse a editores e leitores as diferenças entre os
artigos”. Isso quer dizer que, independentemente de ser o autor de uma obra,
ao replicá-la, é necessário identificar a fonte e as modificações realizadas,
mesmo que seja uma única frase.
Andrade (2011, p. 81) examinou o posicionamento dos pesquisadores
em contabilidade em relação à má conduta na pesquisa científica por meio de
um questionário, e identificou que 25,6% dos respondentes tinham
conhecimento de que um autor pode submeter “[...] um mesmo artigo a dois
periódicos, ou a um mesmo evento, fazendo apenas mudanças no título”.
O autoplágio não ocorre apenas em publicações de artigos, mas
também durante a formação acadêmica, ou seja, quando o estudante entrega
um mesmo trabalho para disciplinas distintas. Mesmo que o trabalho tenha sido
desenvolvido pelo estudante, a entrega em duplicidade caracteriza autoplágio.
Alguns pesquisadores ou estudiosos estão mais preocupados com o
cumprimento de metas ou aspecto quantitativo do que com a qualidade do
resultado gerado.
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq, [S.d.]) estabelece as diretrizes básicas para a integridade na atividade
científica, nas quais está previsto que “para evitar qualquer caracterização de

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autoplágio, o uso de textos e trabalhos anteriores do próprio autor deve ser
assinalado, com as devidas referências e citações”.

4.1 Caso prático de autoplágio

Suponha que um mesmo texto tenha sido publicado duas vezes com
títulos distintos, conforme segue:

A representação fidedigna da informação contábil vai de encontro ao


conservadorismo. À medida que o profissional contábil pode atribuir o menor
valor para o ativo e o maior para o passivo, há certa subjetividade e, assim,
interfere na fidedignidade da informação.
Título 1: O viés do conservadorismo na informação contábil

A representação fidedigna da informação contábil vai de encontro ao


conservadorismo. À medida que o profissional contábil pode atribuir o menor
valor para o ativo e o maior para o passivo, há certa subjetividade e, assim,
interfere na fidedignidade da informação.
Título 2: Conservadorismo versus representação fidedigna

Não há distinção entre os textos nem menção da origem da ideia,


portanto há autoplágio.

TEMA 5 – REPERCUSSÕES DO PLÁGIO

Com o número crescente de trabalhos plagiados, houve a necessidade


de aperfeiçoar os métodos de detecção de fraude. Diante disso, as ferramentas
desenvolvidas para a detecção de plágio são eficientes ao ponto de
compararem documentos mediante pesquisas de trechos da produção na
internet. Apesar da automação, ainda é necessário que seja realizada uma
análise individual para se certificar do plágio (Figura 1).

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Figura 1 – Análise e reflexão: o impacto do plágio

Ctrl-C

Ctrl-V
Qual o
impacto do
plágio na
carreira
acadêmica e
profissional?

Krokoscz (2012) menciona que regras institucionais produzem efeito


positivo no ambiente acadêmico. No entanto, quando o plágio é detectado,
deve-se tomar medidas para inibir a prática, isto é, são aplicadas sanções.
Segundo o autor, “a medida mais comum para lidar com casos de plágio é a
abertura de sindicância para apuração da ocorrência” (Krokoscz, 2012, p. 86).
A punição irá depender da gravidade do fato. Um estudante que
entregou um trabalho com partes plagiadas será penalizado de forma diferente
daquele que entregou o trabalho todo plagiado.
O plágio afeta tanto a moral do pesquisador quanto questões
financeiras. Pode haver a suspensão ou a reprovação na disciplina em que
houve plágio, a expulsão da instituição ou até a cassação do diploma, além das
punições penais descritas anteriormente. Plágio, portanto, nunca trará bons
resultados para a carreira acadêmica e profissional.
Você sabe como fazer citação e indicação de fontes? Veja como ficam
as citações de forma direta e indireta e as respectivas referências (Quadro 3):

Quadro 3 – Citações e referências

Citação direta Citação indireta Referência


Segundo Marion (2018, p.
Segundo Marion (2018, p.
21), “O Patrimônio Líquido, MARION, J. C.
21), o Patrimônio Líquido
portanto, é a medida Contabilidade básica. 12.
evidencia a verdadeira
eficiente da verdadeira ed. São Paulo: Atlas, 2018.
riqueza da empresa.
riqueza.”.
De acordo com Padoveze De acordo com Padoveze PADOVEZE, C. L. Manual
(2018, p. 3), “Patrimônio é o (2018, p. 3), o patrimônio de contabilidade básica:
conjunto de riquezas de compreende o conjunto de contabilidade introdutória e
propriedade de alguém ou riquezas pertencentes a um intermediária. 10. ed. São
de uma empresa (de uma sujeito ou uma entidade. Paulo: Atlas, 2018.

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entidade)”.
Conforme Iudícibus et al.
(2019, p. 13), é por meio do Conforme Iudícibus et al.
Balanço Patrimonial que “[...] (2019, p. 13), é por meio do IUDÍCIBUS, S. et al.
podemos apurar a situação Balanço Patrimonial que se Contabilidade introdutória.
patrimonial e financeira de apura a situação patrimonial 12. ed. São Paulo: Atlas,
uma entidade em e financeira de uma empresa 2019.
determinado momento, em um determinado período.
dentro de certas regras”.

Dessa forma, é possível verificar as diferenças básicas entre as citações


e as referências. No entanto, existem regras específicas que devem ser
seguidas, como as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT).

Saiba mais

Entenda melhor como funciona o sistema de citação nas normas ABNT


em <https://blog.fastformat.co/citacao-nas-normas-abnt/>.

TROCANDO IDEIAS

Apesar de existirem consequências éticas na prática do plágio, na


maioria das vezes são tomadas apenas medidas disciplinares, como
advertência verbal e, em casos mais extremos, a demissão do profissional.
Seria possível educar os pesquisadores aplicando apenas medidas
disciplinares?

NA PRÁTICA1

A pesquisa científica é importante para o desenvolvimento da ciência


social da contabilidade, além de ser uma área de atuação dos contadores. No
entanto, a construção da pesquisa deve seguir ou respeitar regras que
envolvem toda a vida acadêmica e profissional. Com base no texto abaixo, faça
uma citação direta e uma citação indireta.

Pode-se afirmar que o mercado de trabalho para o contador de alto


nível, hoje no Brasil, é, em média, um dos melhores entre os de
profissionais liberais, principalmente no sentido financeiro.
Nem sempre foi assim, mas, em virtude de várias fontes de pressão
que obrigam as empresas a aperfeiçoarem cada vez mais seu
processo de controle e planejamento, o papel do contador de nível
universitário está realmente assumindo uma importância que
naturalmente lhe deveria ser reservada numa entidade. Esse papel

1A resposta esperada para essa questão pode ser encontrada ao final deste material, logo
após a seção Referências.
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traz em si, além das capacitações técnicas e profissionais inerentes,
alta dose de ética, de prudência, de zelo, de severidade de costumes
e de integridade.
Fonte: IUDÍCIBUS, S. et al. Contabilidade introdutória. 12. ed. São
Paulo: Atlas, 2019, página 6.

FINALIZANDO

O estudo realizado por Oliveira e Martins (2019, p. 463) evidenciou que


“[...] determinadas práticas correntes usadas no processo de construção da
produção científica em Contabilidade no Brasil não atendem adequadamente
aos atributos de qualidade de uma boa pesquisa descritos na literatura”.
Entre as práticas antiéticas, há o plágio, a cópia, a pastiche e o
autoplágio. O plágio consiste na apropriação indevida de uma obra literária,
que infringe o direito de reconhecimento do autor e a perspectiva de
originalidade do leitor. Essa atitude viola as regras de direitos de autoria na
comunicação científica. Em contrapartida, há o pastiche, uma forma mais
desleal de plágio, pois, além de plagiar, o pasticheiro encobre a cópia. A cópia
é realizada pelo copista, que repete integralmente o que admira. Por fim, existe
o autoplágio, que é a prática de reutilização de alguns ou todos os elementos
de uma publicação anterior em uma nova publicação.
A repercussão dessas práticas é negativa, com consequências penais e
criminais, por isso não devem ser cogitadas no universo científico.

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REFERÊNCIAS

ANDRADE, J. X. Má conduta na pesquisa em Ciências Contábeis. 124 f.


Tese (Doutorado em Ciências Contábeis) – Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2011.

ANTUNES, M. T. P. et al. Conduta ética dos pesquisadores em contabilidade:


diferenças entre a crença e a práxis. Revista Contabilidade e Finanças, São
Paulo, v. 22, n. 57, p. 319-337, 2011. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-
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GABARITO

A citação direta poderia ser:


 De acordo com Iudícibus et al. (2019, p. 6), “pode-se afirmar que
o mercado de trabalho para o contador de alto nível, hoje no
Brasil, é, em média, um dos melhores entre os de profissionais
liberais, principalmente no sentido financeiro”.
Uma respectiva citação indireta seria:
 De acordo com Iudícibus et al. (2019, p. 6), o mercado de trabalho
para o contador de alto nível é um dos melhores no aspecto
financeiro.

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