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Renata Cortez

Pós-Graduação "Advocacia Cível"

Ordem dos Processos nos Tribunais

Renata Cortez
Aula 8:

Reclamação

- Art. 988 a 993 do CPC


- Reclamação nos Tribunais
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_ aula 8
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_ parte I
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Reclamação

- Fundamento constitucional:
- Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente,
a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
- I - processar e julgar, originariamente:
- l) a reclamação para a preservação de sua competência
e garantia da autoridade de suas decisões;
- Art. 103-A, §3º. Do ato administrativo ou decisão judicial que
contrariar a súmula [vinculante] aplicável ou que indevidamente
a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que,
julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a
decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja
proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso.
Reclamação

- Fundamento constitucional:
- Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
- I - processar e julgar, originariamente:
- f) a reclamação para a preservação de sua competência
e garantia da autoridade de suas decisões;
- 111-A, §3º. Compete ao Tribunal Superior do Trabalho processar
e julgar, originariamente, a reclamação para a preservação de
sua competência e garantia da autoridade de suas decisões.
Reclamação
- Prevista nos arts. 988 a 993 do CPC.
- Natureza jurídica no STF:
- A natureza jurídica da reclamação não é a de um recurso, de
uma ação e nem de um incidente processual. Situa-se ela no
âmbito do direito constitucional de petição previsto no artigo
5º, inciso XXXIV da Constituição Federal. Em consequência, a sua
adoção pelo Estado-membro, pela via legislativa local, não
implica em invasão da competência privativa da União para
legislar sobre direito processual (art. 22, I da CF). 2. A
reclamação constitui instrumento que, aplicado no âmbito dos
Estados-membros, tem como objetivo evitar, no caso de ofensa
à autoridade de um julgado, o caminho tortuoso e demorado
dos recursos previstos na legislação processual, inegavelmente
inconvenientes quando já tem a parte uma decisão definitiva.
Reclamação
- Prevista nos arts. 988 a 993 do CPC.
- Natureza jurídica no STF:
- Visa, também, à preservação da competência dos Tribunais de
Justiça estaduais, diante de eventual usurpação por parte de
Juízo ou outro Tribunal local. 3. A adoção desse instrumento
pelos Estados-membros, além de estar em sintonia com o
princípio da simetria, está em consonância com o princípio da
efetividade das decisões judiciais. (ADI 2212, Relator(a): ELLEN
GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 02/10/2003, DJ 14-11-2003
PP-00014 EMENT VOL-02132-13 PP-02403)
Reclamação
- Prevista nos arts. 988 a 993 do CPC.
- Natureza jurídica no STF:
- “Como tive o ensejo de enfatizar na oportunidade da prolação
do ato decisório ora questionado, a reclamação, não se
desconhece, qualquer que seja a natureza que se lhe atribua –
ação (PONTES DE MIRANDA, “Comentários ao Código de
Processo Civil”, tomo V/384, Forense), recurso ou
sucedâneo recursal (MOACYR AMARAL SANTOS, RTJ 56/546-
548; ALCIDES DE MENDONÇA LIMA, “O Poder Judiciário e a Nova
Constituição”, p. 80, 1989, Aide), remédio incomum (OROSIMBO
- NONATO, “apud” Cordeiro de Mello, “O Processo no Supremo
Tribunal Federal”, vol. 1/280), incidente processual (MONIZ
DE ARAGÃO, (...)
Reclamação
- Prevista nos arts. 988 a 993 do CPC.
- Natureza jurídica no STF:
- “A Correição Parcial”, p. 110, 1969), medida de direito
processual constitucional (JOSÉ FREDERICO MARQUES,
“Manual de Direito Processual Civil”, vol. 03, 2ª parte, p. 199,
item n. 653, 9ª ed., 1987, Saraiva) ou medida processual de
caráter excepcional (RTJ 112/518-522, Rel. Min. DJACI
FALCÃO) –, configura instrumento de extração
constitucional (CF, arts. 102, I, ‘l’, e 103-A, § 3º), não obstante a
origem pretoriana de sua criação (RTJ 112/504), revestida de
múltiplas funções, tal como revelado por precedentes desta
Corte (RTJ 134/1033, v.g.) e definido pelo novo Código de
Processo Civil (art. 988), as quais, em síntese,
compreendem:
Reclamação

- Prevista nos arts. 988 a 993 do CPC.


- Natureza jurídica no STF:
- (a) a preservação da competência global do Supremo Tribunal
Federal, (b) a restauração da autoridade das decisões
proferidas por esta Corte Suprema e (c) a garantia de
observância da jurisprudência vinculante deste Tribunal
Supremo (tanto a decorrente de enunciado sumular vinculante
quanto a resultante dos julgamentos da Corte em sede de
controle normativo abstrato), além de atuar como expressivo
meio vocacionado a fazer prevalecer os acórdãos deste
Tribunal proferidos em incidentes de assunção de
competência”.
Reclamação
- Prevista nos arts. 988 a 993 do CPC.
- Natureza jurídica no STF:
- E M E N T A: RECLAMAÇÃO – AUSÊNCIA DE INVOCAÇÃO, NO
CASO, DE QUALQUER DAS HIPÓTESES LEGITIMADORAS DO
ACESSO À VIA RECLAMATÓRIA – IMPROCEDÊNCIA –
INADEQUAÇÃO, ADEMAIS, DO EMPREGO DO INSTRUMENTO
PROCESSUAL DA RECLAMAÇÃO COMO SUCEDÂNEO DE AÇÃO
RESCISÓRIA, DE RECURSOS OU DE AÇÕES JUDICIAIS EM GERAL –
PRECEDENTES – INCOGNOSCIBILIDADE DA RECLAMAÇÃO
RECONHECIDA PELA DECISÃO AGRAVADA – LEGITIMIDADE –
RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. (Rcl 31900 AgR, Relator(a):
CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 12/04/2019,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-084 DIVULG 23-04-2019 PUBLIC 24-
04-2019)
Reclamação
- Prevista nos arts. 988 a 993 do CPC.
- Natureza jurídica no STF:
- “Dessa perspectiva, começo por discorrer a respeito da natureza
jurídica da reclamação, que, salvo melhor juízo, não
encontra um consenso doutrinário e jurisprudencial (...).
Todavia, em meu sentir, entendo que a própria Constituição
Federal de 1988 sinaliza não ser a reclamação constitucional i)
recurso, uma vez que não foi incluída entre as hipóteses de
competência recursal do STF (incisos II e III dos arts. 102), nem
ii) incidente processual, ante a possibilidade de ser ajuizada
em face de autoridade administrativa diretamente (art. 103-
A, § 3º), sem a necessidade de prévia provocação do Poder
Judiciário por meio de ação típica.
Reclamação
- Prevista nos arts. 988 a 993 do CPC.
- Natureza jurídica no STF:
- Entendo, assim, que esse importante instrumento, que visa
garantir, em regra, a autoridade da interpretação dada pela
Corte à Constituição, tem natureza jurídica de ação
constitucional.
- Como bem destacou o Ministro Gilmar Mendes, ao julgar a Rcl
nº 5.470/PA, “[a] adoção de uma forma de procedimento
sumário especial para a reclamação tem como razão a própria
natureza desse tipo de ação constitucional, destinada à
salvaguarda da competência e da autoridade das decisões do
Tribunal, assim como da ordem constitucional como um todo”.
(trechos do voto do Relator).
Reclamação
- Prevista nos arts. 988 a 993 do CPC.
- Natureza jurídica no STF:
- EMENTA: A Lei nº 8.038/93 foi derrogada pela Lei nº
13.105/2015 (art. 1.072, IV), alcançando a expressa revogação,
dentre outros, dos arts. 13 a 18 do diploma legislativo de 1990,
passando o instituto da reclamatória a estar abalizado pelos arts.
988 a 993 do novel diploma processual, com previsão da
instauração do contraditório (CPC, art. 989, III).
- Embora ambos os institutos possuam sedes materiae na Lei nº
13.105/2015, a litigância de má-fé e os honorários
sucumbenciais distinguem-se tanto na ratio de sua instituição
quanto no beneficiário do provimento. 3. Cabimento da
condenação em honorários advocatícios quando verificada a
angularização da relação processual na ação reclamatória.
Reclamação

- Prevista nos arts. 988 a 993 do CPC.


- Natureza jurídica no STF:
- Embargos declaratórios acolhidos para, suprindo a omissão, fixar
os honorários de sucumbência em 10% (dez por cento) sobre o
valor do benefício econômico perseguido nos autos em
referência (art. 85, §2º, do CPC), cuja execução deverá ser
realizada no juízo de origem. (Rcl 25160 AgR-ED, Relator(a):
EDSON FACHIN, Relator(a) p/ Acórdão: DIAS TOFFOLI, Segunda
Turma, julgado em 06/10/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-023
DIVULG 07-02-2018 PUBLIC 08-02-2018).
Reclamação

- Prevista nos arts. 988 a 993 do CPC.


- Natureza jurídica no STJ:
- “A Reclamação constitucional prevista nos artigos 102, I, l, e 105,
I, f, da CF/1988 tem por objetivo resguardar as competências dos
Tribunais e preservar a autoridade de suas decisões. Possui
natureza jurídica de ação, somente podendo ser utilizada em
casos expressamente autorizados na legislação processual, nos
termos do art. 988 do CPC/2015 c/c art. 13 da Lei 8.038/1990.
(Rcl 4.543/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 13/02/2019, DJe 02/08/2019)
Reclamação
- Prevista nos arts. 988 a 993 do CPC.
- Natureza jurídica no STJ:
- A reclamação prevista no art. 105, I, "f", da Constituição Federal
é instituto que não tem natureza jurídica de recurso, nem de
incidente processual, mas sim de direito constitucional de
petição, previsto no artigo 5º, XXXIV, da Constituição Federal.
Precedentes. Exatamente por não ter natureza jurídica de
recurso, não se aplica à reclamação o óbice relativo ao princípio
da unirrecorribilidade. Da mesma forma, considerando-se que a
reclamação não interrompe o prazo recursal, não há como
impedir a interposição concomitante de recurso para essa
finalidade. (Rcl 19.838/PE, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/04/2015, DJe 06/05/2015)
Reclamação

- Prevista nos arts. 988 a 993 do CPC.


- Legitimidade: Caberá reclamação da parte interessada ou do
Ministério Público;
- Finalidades:
- preservar a competência do tribunal (ex.: admissibilidade da
apelação);
- garantir a autoridade das decisões do tribunal;
- garantir a observância de enunciado de súmula vinculante e de
decisão do Supremo em controle concentrado de
constitucionalidade;
- (...)
Reclamação

- Caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério Público


para:
- (...)
- garantir a observância de acórdão proferido em julgamento de
IRDR ou de IAC.
- As hipóteses em destaque compreendem a aplicação
indevida da tese jurídica e sua não aplicação aos casos que a
ela correspondam.
Reclamação

- Cabe reclamação para o STJ das decisões das turmas recursais?


- Não é cabível reclamação diretamente contra decisão de Turma
Recursal ou da Presidência da TNU com a finalidade de discutir
contrariedade à jurisprudência dominante ou sumulada do STJ.
Nesse sentido: AgInt na Rcl 36.827/PR, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, Primeira Seção, DJe 18/6/2019; e AgInt na Rcl
33.990/SP, Rel. Min.Og Fernandes, Primeira Seção, DJe 1/2/2018.
(Rcl 32.098/RN, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 23/09/2020, DJe 28/09/2020)
Reclamação

- Cabe reclamação para o STJ das decisões das turmas recursais?


- Nos termos do art. 18 da Lei 12.153/2009, o Pedido de Uniformização de
Interpretação de Lei só é cabível em relação a decisões divergentes
proferidas por Turmas Recursais dos Juizados Especiais da Fazenda
Pública, sobre questões de direito material, inexistindo previsão legal
para uniformização de decisões discordantes entre Turmas Recursais dos
Juizados Especiais Cíveis, como sucede no caso.
- Por sua vez, a competência do Superior Tribunal de Justiça somente se
instaura quando Turmas Recursais dos Juizados Especiais da Fazenda
Pública de diferentes Estados derem à lei federal interpretações
divergentes ou quando a decisão de Turma Recursal dos Juizados
Especiais da Fazenda Pública contrariar súmula da Corte Superior (Lei
12.153/2009, art. 18, § 3º). (AgInt no PUIL 1.807/BA, Rel. Ministro RAUL
Reclamação

- Cabe reclamação para o STJ das decisões das turmas recursais?


- A Resolução n. 3/2016 atribuiu às câmaras reunidas ou às seções
especializadas, do respectivo Tribunal de Justiça, a competência
para processar e julgar, em caráter excepcional, até a criação das
turmas de uniformização, as reclamações que visam a dirimir
divergência entre acórdão prolatado por turma recursal estadual
e jurisprudência do STJ. (AgInt na Rcl 39.961/AL, Rel. Ministro
ANTONIO CARLOS FERREIRA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
20/04/2021, DJe 26/04/2021)
Reclamação

- Cabe reclamação para o STJ das decisões das turmas recursais?


- A Lei n. 12.153/2009, que trata dos Juizados Especiais da Fazenda
Pública, disciplina um sistema próprio de uniformização
jurisprudencial, mediante o denominado pedido de
uniformização de interpretação de lei, o qual poderá ser
processado e julgado tanto pelo Poder Judiciário local quanto
pelo Superior Tribunal de Justiça, a depender da divergência
apontada.
- Conforme o entendimento desta Corte superior, cabe à Turma
Recursal, no incidente de competência do STJ, processar o
pedido, intimar a parte recorrida para respondê-lo e, após,
remeter os autos a este Tribunal.
Reclamação

- Cabe reclamação para o STJ das decisões das turmas recursais?


- Hipótese em que o reclamante apresentou o pedido de
uniformização de interpretação de lei na Turma Recursal, o qual
não foi conhecido ao fundamento de que deveria ter sido
protocolado diretamente no STJ, adotando-se, portanto,
conclusão contrária à jurisprudência consolidada.
- A imposição do referido óbice ao conhecimento do pedido de
uniformização de interpretação de lei evidencia a usurpação da
competência do STJ a ensejar a procedência da reclamação.
- Pedido procedente. (Rcl 41.060/CE, Rel. Ministro GURGEL DE
FARIA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/05/2021, DJe
31/05/2021)
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_ aula 8
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_ parte II
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Reclamação

- Pode ser proposta perante qualquer tribunal.

- Julgamento compete ao órgão jurisdicional cuja competência se


busca preservar ou cuja autoridade se pretenda garantir.

- É inadmissível a reclamação:
- proposta após o trânsito em julgado da decisão reclamada;
- proposta para garantir a observância de acórdão de recurso
extraordinário com repercussão geral reconhecida ou de acórdão
proferido em julgamento de recursos extraordinário ou especial
repetitivos, quando não esgotadas as instâncias ordinárias.
Reclamação

- Reclamação e precedente vinculante:


- Cabimento:
- súmula vinculante;
- decisão do STF em controle concentrado de
constitucionalidade;
- Acórdão em IRDR e IAC;
- Tese de repercussão geral?
- A alegação de descumprimento de tese firmada em
repercussão geral exige o esgotamento das vias
ordinárias (art. 988, § 5º, II, do CPC/2015). (Rcl 32686
AgR, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Primeira Turma,
julgado em 08/06/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-156
DIVULG 22-06-2020 PUBLIC 23-06-2020)
Reclamação
- Reclamação e precedente vinculante:
- Tese de recurso repetitivo?
- 1. De acordo com o art. 988, IV, do CPC/2015, cabe reclamação
para garantir a observância de decisão proferida em
incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR) e
em assunção de competência (IAC).
- 2. É incabível a reclamação do art. 988, IV, do CPC/2015
visando à aplicação, pelos Tribunais de segunda instância,
de julgado repetitivo do STJ, exceto se a decisão proferida for
inobservada na origem e disser respeito às mesmas partes que
compõem a reclamação.
- 3. Agravo interno desprovido. (AgInt na Rcl 31.565/DF, Rel.
Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 08/03/2017, DJe 16/03/2017)
Reclamação
- Reclamação e precedente vinculante:
- Tese de recurso repetitivo?
- Notícia: Terceira Seção acolhe reclamação contra não
aplicação de repetitivo; relator critica “resistência estéril”
- A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) julgou
procedente reclamação ajuizada pelo Ministério Público
contra o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS), que
persiste em adotar entendimento incompatível com a
interpretação da corte superior sobre a consumação do
crime de roubo.
- Para o relator do processo, ministro Rogerio Schietti Cruz, a
não aplicação de teses definidas em recurso repetitivo ou
em súmulas do STJ configura “resistência estéril” prejudicial
ao sistema de Justiça.
Reclamação
- Reclamação e precedente vinculante:
- Tese de recurso repetitivo?
- O caso que motivou a reclamação envolveu um réu
condenado em primeiro grau pelo roubo de celular, crime
previsto no artigo 157, parágrafo 2º, inciso I, do Código Penal.
Ao julgar a apelação da defesa, o tribunal gaúcho considerou
que o crime ocorreu na modalidade tentada, porque logo
após o réu foi perseguido e detido por uma testemunha,
motivo pelo qual não obteve a posse mansa e pacífica do
celular “sequer por instantes”.
Reclamação
- Reclamação e precedente vinculante:
- Tese de recurso repetitivo?
- Com isso, o TJRS reduziu a pena, de seis anos, cinco meses e
dez dias em regime inicial fechado, para quatro anos, um mês e
29 dias em regime semiaberto.
- Segundo o ministro Rogerio Schietti, o entendimento adotado
pelo tribunal gaúcho é contrário à jurisprudência consolidada
do STJ, pois exigiu a posse “mansa e tranquila” do objeto para
a configuração do crime de roubo circunstanciado. Por essa
razão, considerou procedente a reclamação para cassar a
decisão do tribunal estadual.
Reclamação

- Reclamação e precedente vinculante:


- Tese de recurso repetitivo?
- Ao julgar o Recurso Especial 1.499.050, sob o rito dos recursos
repetitivos, em outubro de 2015, a Terceira Seção do STJ
estabeleceu que “consuma-se o crime de roubo com a inversão
da posse do bem, mediante o emprego de violência ou grave
ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida a
perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa
roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou
desvigiada”.
- A tese pode ser conferida na página de repetitivos do STJ (tema
número 916).
Reclamação
- Tese de recurso repetitivo?
- De acordo com o relator, “é injustificável que, depois de firmadas
teses em recurso representativo de controvérsia, bem como em
enunciado de súmula, se persista na adoção de um
entendimento incompatível com a interpretação dada por este
superior tribunal”.
- “Nenhum acréscimo às instituições e ao funcionamento do
sistema de Justiça criminal resulta de iniciativas desse jaez, que
apenas consagram resistência estéril a uma necessária divisão de
competências entre órgãos judiciários”, disse Schietti, lembrando
que o sistema reserva ao STJ o papel de interpretar, em última
instância, o direito federal infraconstitucional.
- Rcl 33.862/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 09/08/2017, DJe 16/08/2017
Reclamação
- Reclamação e precedente vinculante:
- Cabimento:
- Tese de recurso repetitivo?
- Reclamação contra acórdão do TJ/SP que manteve a
decisão que negou seguimento a REsp em razão da
conformidade do acórdão com entendimento do STJ em
REsp repetitivo.
- Em sua redação original, o art. 988, IV, do CPC/2015
previa o cabimento de reclamação para garantir a
observância de precedente proferido em julgamento de
"casos repetitivos", os quais, conforme o disposto no art.
928 do Código, abrangem o incidente de resolução de
demandas repetitivas (IRDR) e os recursos especial e
extraordinário repetitivos.
Reclamação
- Reclamação e precedente vinculante:
- Cabimento:
- Tese de recurso repetitivo?
- Todavia, ainda no período de vacatio legis do CPC/15, o
art. 988, IV, foi modificado pela Lei 13.256/2016: a
anterior previsão de reclamação para garantir a
observância de precedente oriundo de "casos
repetitivos" foi excluída, passando a constar, nas
hipóteses de cabimento, apenas o precedente oriundo de
IRDR.
- Houve, portanto, a supressão do cabimento da
reclamação para a observância de acórdão proferido em
recursos especial e extraordinário repetitivos, em que
pese a mesma Lei 13.256/2016, paradoxalmente, tenha
acrescentado um pressuposto de admissibilidade -
consistente no esgotamento das instâncias ordinárias - à
hipótese que acabara de excluir.
Reclamação

- Reclamação e precedente vinculante:


- Cabimento:
- Tese de recurso repetitivo?
- Sob um aspecto topológico, à luz do disposto no art. 11
da LC 95/98, não há coerência e lógica em se afirmar
que o parágrafo 5º, II, do art. 988 do CPC, com a redação
dada pela Lei 13.256/2016, veicularia uma nova
hipótese de cabimento da reclamação. Estas hipóteses
foram elencadas pelos incisos do caput, sendo que, por
outro lado, o parágrafo se inicia, ele próprio, anunciando
que trataria de situações de inadmissibilidade da
reclamação.
Reclamação
- Reclamação e precedente vinculante:
- Cabimento:
- Tese de recurso repetitivo?
- De outro turno, a investigação do contexto jurídico-
político em que editada a Lei 13.256/2016 revela que,
dentre outras questões, a norma efetivamente visou ao
fim da reclamação dirigida ao STJ e ao STF para o
controle da aplicação dos acórdãos sobre questões
repetitivas, tratando-se de opção de política judiciária
para desafogar os trabalhos nas Cortes de superposição.
- Outrossim, a admissão da reclamação na hipótese em
comento atenta contra a finalidade da instituição do
regime dos recursos especiais repetitivos, que surgiu
como mecanismo de racionalização da prestação
jurisdicional do STJ, perante o fenômeno social da
massificação dos litígios.
Reclamação
- Reclamação e precedente vinculante:
- Cabimento:
- Tese de recurso repetitivo?
- Nesse regime, o STJ se desincumbe de seu múnus
constitucional definindo, por uma vez, mediante
julgamento por amostragem, a interpretação da Lei
federal que deve ser obrigatoriamente observada pelas
instâncias ordinárias. Uma vez uniformizado o direito, é
dos juízes e Tribunais locais a incumbência de aplicação
individualizada da tese jurídica em cada caso concreto.
- Em tal sistemática, a aplicação em concreto do
precedente não está imune à revisão, que se dá na via
recursal ordinária, até eventualmente culminar no
julgamento, no âmbito do Tribunal local, do agravo
interno de que trata o art. 1.030, § 2º, do CPC/15. (Rcl
36.476/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE
ESPECIAL, julgado em 05/02/2020, DJe 06/03/2020)
Reclamação
- Reclamação e precedente vinculante:
- Cabimento:
- Cabimento em caso de distinção e superação de
precedente?
- Dierle Nunes e Marina Carvalho Freitas. In: https://www.conjur.com.br/2019-jan-
07/opiniao-uso-reclamacao-superacao-precedentes.
- “Cabimento de novo recurso especial ou novo recurso
extraordinário contra a decisão de não provimento do
agravo interno, como forma de acessar o tribunal
superior e, principalmente, garantir aos jurisdicionados o
direito de suscitar argumentos para a superação dos
precedentes”.
Reclamação
- Reclamação e precedente vinculante:
- Cabimento:
- Cabimento em caso de distinção e superação de precedente?
- “Didier Jr. e Cunha defendem o cabimento de reclamação contra a
decisão que julga o agravo interno, interposto contra a decisão de
inadmissibilidade do recurso especial ou extraordinário. Os dois
juristas citados sustentam o cabimento de reclamação contra a
decisão que aplicar indevidamente a tese jurídica ao caso concreto,
por não observar a possibilidade de superação ou as distinções
fáticas no caso concreto”.
- “Defendemos que o cabimento de reclamação para a superação de
tese adotada por tribunal superior, e firmada em repercussão geral
ou em recurso repetitivo, não encontra respaldo em nosso
ordenamento. Não há respaldo para o cabimento da reclamação,
com base no §4°, quando a tese for firmada sob o regime dos
recursos repetitivos ou em sede de repercussão geral”.
Reclamação
- Reclamação e precedente vinculante:
- Cabimento:
- Cabimento em caso de distinção e superação de
precedente?
- “A reclamação foi desenvolvida como um instrumento
para garantia e reforço da autoridade das decisões,
confirmando o precedente, e não para ensejar a sua não
aplicação ou a superação de seu entendimento. Oliveira
Júnior menciona que a expressão "aplicação indevida da
tese jurídica", prevista no §4° do art. 988, se refere às
situações em que o julgador não interpretou
corretamente a tese veiculada no precedente, não
abrangendo as hipóteses em que a tese é sequer
aplicável, em razão de distinção fática ou possibilidade de
superação do entendimento”.
Reclamação
- Reclamação e precedente vinculante:
- Cabimento:
- Cabimento em caso de distinção e superação de precedente?
- Rcl. n° 28605/DF no STF (trata da reclamação como meio de
acesso ao tribunal superior para a superação de
precedentes): “Na hipótese de existirem, no caso concreto,
peculiaridades que impossibilitem a aplicação adequada da
norma de interpretação extraída do precedente e demandem
pronunciamento específico do tribunal superior acerca da
matéria constitucional no caso concreto (distinção) ou na
hipótese de ser necessária a revisitação dos fundamentos do
precedente, em razão de alteração do ordenamento jurídico
ou das circunstância fático-históricas que impactaram a
interpretação da norma (superação), é necessário dar a palavra
ao tribunal superior (uma vez que é ele o responsável pelo
manejo de seus próprios precedentes), o que é aqui
possibilitado através da reclamação”.
Reclamação

- A reclamação deverá ser instruída com prova documental e dirigida ao


presidente do tribunal.

- Assim que recebida, a reclamação será autuada e distribuída ao


relator do processo principal, sempre que possível.

- A inadmissibilidade ou o julgamento do recurso interposto contra a


decisão proferida pelo órgão reclamado não prejudica a reclamação.
Reclamação

- Ao despachar a reclamação, o relator:


- requisitará informações da autoridade a quem for imputada a
prática do ato impugnado;
- se necessário, suspensão para evitar dano irreparável;
- determinará a citação do beneficiário da decisão impugnada, que
terá prazo de 15 (quinze) dias para apresentar a sua contestação.

- Cabe sustentação oral (art. 937, VI, do CPC).


Reclamação
- Qualquer interessado poderá impugnar o pedido do reclamante.

- Na reclamação que não houver formulado, o MP terá vista do


processo por 5 dias, após o decurso do prazo para informações e
para o oferecimento da contestação pelo beneficiário do ato
impugnado.

- Julgando procedente a reclamação, o tribunal cassará a decisão


exorbitante de seu julgado ou determinará medida adequada à
solução da controvérsia.

- O presidente do tribunal determinará o imediato cumprimento da


decisão, lavrando-se o acórdão posteriormente.
Reclamação

- Transcendência dos motivos determinantes no STF


- Na sistemática da Lei nº 8.038/1990 e do CPC/1973, a
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou-se no
sentido contrário à adoção da teoria da transcendência
dos motivos determinantes de suas decisões, ao menos
para o fim de ajuizamento de reclamação
constitucional. Na vigência do CPC/1973, portanto,
limitou-se a eficácia vinculante das decisões à sua parte
dispositiva, ou seja, a vinculação do precedente atingiria
apenas a declaração de constitucionalidade ou
inconstitucionalidade daquela determinada norma
infraconstitucional.
Reclamação
- Transcendência dos motivos determinantes no STF
- Ainda que superado o óbice da intranscendência, o
pedido não prosperaria. Portanto, não existe, no caso,
aderência estrita entre o ato reclamado e os paradigmas
invocados, que viabilize o conhecimento do pedido. E em
se tratando de alegação de violação a decisão dotada de
efeito vinculante, o Supremo Tribunal Federal entende
que há necessidade de relação de aderência estrita
entre o ato impugnado e o paradigma supostamente
violado. (Rcl 11473 AgR, Rel. Min. ROBERTO BARROSO,
julgado em 17/03/2017, Dje de 29-03-2017).
Reclamação
- Transcendência dos motivos determinantes no STF
- À míngua de identidade material entre os paradigmas
invocados e o acórdão reclamado, não há como divisar a
alegada afronta à autoridade de decisão deste Supremo
Tribunal Federal, mormente porque a exegese
jurisprudencial conferida ao art. 102, I, “l”, da Magna
Carta rechaça o cabimento de reclamação fundada na
tese da transcendência dos motivos determinantes.
- (Rcl 22470 AgR, Relator(a): ROSA WEBER, Primeira
Turma, julgado em 24/11/2017, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-282 DIVULG 06-12-2017 PUBLIC 07-12-2017)
Reclamação
- Transcendência dos motivos determinantes no STF
- É improcedente a reclamação que trate de situação que
não guarda relação de estrita pertinência com o
parâmetro de controle.
- A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal se
consolidou no sentido de ser incabível reclamação
fundada na teoria da transcendência dos motivos
determinantes de acórdão com efeito vinculante. 3.
Agravo regimental a que se nega provimento.
- (Rcl 16619 AgR, Relator(a): EDSON FACHIN, Primeira
Turma, julgado em 06/10/2015, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-209 DIVULG 19-10-2015 PUBLIC 20-10-2015 RTJ
VOL-00237-01 PP-00126)
Reclamação

- Transcendência dos motivos determinantes no STF


- A jurisprudência desta Corte é contrária à chamada
“transcendência” ou “efeitos irradiantes” dos motivos
determinantes das decisões proferidas em sede de
controle abstrato de normas. Precedentes. Reclamação
30509/TO
Reclamação
- Diferente da hipótese de cabimento da reclamação por
violação de tese de repercussão geral!!!
- Reclamação nº 26300 (decisão monocrática do Ministro
Ricardo Lewandowski de 23.02.2017):
- Com efeito, antes da entrada em vigor do CPC/2015, a
jurisprudência desta Suprema Corte era pacífica em
considerar incabíveis reclamações que apontassem como
paradigma um leading case de repercussão geral.
- Entretanto, após a entrada em vigor do CPC/2015,
passou a ser cabível a reclamação na qual se indique
como parâmetro de controle um leading case de
repercussão geral, desde que esgotadas as instâncias
ordinárias (art. 988, § 5º, II, do CPC/2015).
Reclamação

- “a excepcionalidade assinalada na decisão proferida por


esta Suprema Corte, sob a sistemática da repercussão
geral, não ficou caracterizada, pois não foi feito pelos
julgadores o mero juízo de compatibilidade do conteúdo
das questões do concurso com o previsto no edital do
certame, havendo, de fato, substituição da banca
examinadora pelo Poder Judiciário, que, para reconhecer
o “erro de correção”, foi além do controle de legalidade,
fazendo interpretação da questão e alterando as notas
atribuídas aos candidatos. Verifica-se, portanto, que a
decisão reclamada descumpriu a orientação firmada
por este Tribunal, no julgamento do RE 632.853-RG/CE
(Tema 485)”.
Reclamação
- Cabimento de honorários advocatícios?
- Sendo exercício do direito de petição, caberia a condenação em
custas e honorários advocatícios?
- Não angularizada a relação processual mediante a citação
do beneficiário do ato impugnado (art. 989, III, do CPC/15),
em razão do indeferimento liminar da petição inicial da
reclamação, é incabível a fixação de honorários advocatícios
de sucumbência. (AgInt nos EDcl na Rcl 41.372/SP)
- Quando angularizada a relação processual instaurada pelo
ajuizamento da reclamação, é cabível a fixação de
honorários de sucumbência, na linha do entendimento do
Supremo Tribunal Federal (Rcl 24.417 AgR/SP e Rcl 24.464
AgR/RS) e da jurisprudência deste Tribunal Superior. (EDcl
na DESIS no AgInt na Rcl 37.445/DF)
Reclamação
- Cabimento de honorários advocatícios?
- Sendo exercício do direito de petição, caberia a condenação em
custas e honorários advocatícios?
- A colenda Primeira Turma desta SUPREMA CORTE, no
julgamento da Rcl 24.417 AgR, Rel. Min. ROBERTO
BARROSO, concluiu pela possibilidade da fixação de
honorários advocatícios nas reclamações ajuizadas na
vigência do Código de Processo Civil de 2015, haja vista a
instituição de contraditório prévio à decisão final, previsto
no art. 989, III, do mencionado diploma legal.
- O colegiado também estabeleceu que o cumprimento da
condenação em honorários deverá ser realizado nos autos
do processo de origem, quando se tratar de impugnação de
decisão judicial. (Rcl 31296 ED).

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