Você está na página 1de 298

ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S

SEMANA 01
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

AVISO IMPORTANTE
O material será disponibilizado com os dados pessoais do participante, em área de acesso restrita. O
compartilhamento indevido de materiais da PREPARAÇÃO EXTENSIVA - DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA
9 ensejará a interrupção imediata do serviço, bem como adoção das medidas cabíveis.

Qual a duração do curso?

A PREPARAÇÃO EXTENSIVA - DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9 é dividida em 30 semanas. A


cada 05 semanas, teremos 01 de revisão.

Qual o principal material da preparação e quando ele é enviado?

O principal material da nossa preparação é o e-book dividido em metas com doutrina e questões
sobre o tema. Este material será disponibilizado na nossa plataforma sempre aos finais de semana para que
vocês possam utilizá-lo ao longo da semana.

Quais materiais serão disponibilizados no curso?

1- E-book de doutrina e questões - Este e-book é dividido em metas, que correspondem aos
dias da semana em que o aluno deve cumprir. No início de cada meta, disponibilizamos os artigos
relacionados ao tema, ao passo que no final disponibilizamos questões de concursos anteriores para
treinamento (disponibilizado semanalmente);
2- E-book de Súmulas por assunto - Este e-book visa orientar nosso aluno, a partir de um
cronograma, a realizar uma leitura das principais súmulas dos Tribunais Superiores (disponibilizado
integralmente no início do curso);
3- E-book de Lei Seca - Compilamos as principais leis, que possuem grande incidência em
concursos de Delegado de Polícia e que são específicas para o seu concurso. Esse e-book visa, através de um
cronograma elaborado por nossa equipe, organizar o estudo tão importante da lei seca (disponibilizados
semanalmente).
4- E-book de Jurisprudência - Selecionamos os principais julgados mais recentes para facilitar o
seu estudo. Com o cronograma criado pela nossa equipe, você estudará os principais informativos de uma
maneira constante e leve (disponibilizados semanalmente).
5- E-book de questões comentadas autorais – Como forma de consolidação do estudo,
disponibilizaremos nas semanas de revisão questões autorais no formato C e E dos assuntos estudados
durante as 5 semanas que antecederam às semanas de revisão.

Como eu devo me guiar com este material?

Isto é bem intuitivo. No E-book principal (doutrina e questões), cada meta se refere a um dia
da semana (Meta 1, Segunda-feira; Meta 2, terça-feira, etc). O final de semana deve ser reservado para a
revisão da semana, através da leitura dos artigos indicados no início de cada meta.
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Acreditamos que o melhor método de estudo é a partir da edificação de uma base de


conhecimento pautada no tripé doutrina – lei seca – jurisprudência, aliada à constante resolução de questões
objetivas.
Por isso, aconselhamos que se inicie o dia estudando a meta do dia (E-book principal doutrina
e questões). No momento do estudo não tente resumir a matéria, pois nossas metas diárias já suprirão esta
necessidade. O ideal é que tome notas inteligentes em post-its e façam grifos para a revisão. Notas
inteligente são aquelas que sem precisar esgotar o tema faz com que você relembre os principais pontos. A
organização das suas anotações é crucial para sua aprovação.
Atendendo sugestões, explicaremos melhor como vocês devem se guiar com esse material:
Passamos a indicar no Caderno de Doutrina, antes de iniciar a meta, os artigos correspondentes,
além dos dispositivos que reputamos mais relevantes e com maior probabilidade de estar na sua prova.
A leitura desses dispositivos fará parte do ciclo de revisão semanal proposto pelo curso (leitura
realizada aos finais de semana).
Encerrado o estudo da doutrina passe para a resolução dos exercícios e súmulas selecionadas.
Até aqui foi feito o mais importante.
Após tudo isso, se sobrar tempo, é hora de ler a lei seca do caderno de leis. Essa tarefa de
repetição de leitura de artigos não demandará muito tempo por dia e é essencial para a sua aprovação.
Lembramos que os artigos indicados nos cadernos de Lei seca não correspondem à meta
justamente para que vocês sempre leiam mais vezes a letra da lei, independentemente de ter estudado o
tema ou não.
Estamos abertos a críticas e sugestões. Este é um processo coletivo no qual a participação de
vocês é fundamental para que a preparação para a prova seja potencializada. Evite a possibilidade de ter
a sua posse impedida em razão compartilhamento ilegal e indevido do material deste material sem
autorização.
Vamos Juntos!
Equipe Dedicação Delta.

Prezado(a) aluno(a),

Caso possua alguma dúvida jurídica sobre o conteúdo disponibilizado no curso, pedimos que utilize a sua
área do aluno. Há um campo específico para o envio de dúvidas.
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Sumário
META 1 ............................................................................................................................................................ 10
DIREITO PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS ............................................................................................. 10
1. CONCEITO, CARACTERÍSTICAS, OBJETO, FUNÇÕES E DIVISÕES DO DIREITO PENAL ................................... 11
2. ENCICLOPÉDIA DAS CIÊNCIAS PENAIS ......................................................................................................... 18
2.1 Direito Penal X Criminologia X Política Criminal ..................................................................................................... 19
2.2 Seletividade - Criminalização Primária e Secundária (Zaffaroni) ............................................................................ 19
3. DIREITO PENAL DO AUTOR E DIREITO PENAL DO FATO .............................................................................. 20
4. GARANTISMO PENAL (FERRAJOLI)............................................................................................................... 21
4.1 Conceito ................................................................................................................................................................. 21
4.2. Garantias primárias e secundárias ........................................................................................................................ 21
4.3 Máximas do garantismo ......................................................................................................................................... 22
5. DIREITO PENAL DO INIMIGO ....................................................................................................................... 23
5.1 Velocidades do Direito Penal (Jesús-Maria Silva Sánchez) ..................................................................................... 24
6. FONTES DO DIREITO PENAL ........................................................................................................................ 25
7. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL: .................................................................................................................. 30
7.1 Princípios Relacionados com a Missão Fundamental do Direito Penal .................................................................. 30
7.1.1 Princípio da Exclusiva Proteção de Bens Jurídicos ........................................................................................... 30
7.1.2 Princípio da Intervenção Mínima ..................................................................................................................... 31
7.1.3 Princípio da Insignificância ou da Bagatela ...................................................................................................... 35
7.2 Princípios Relacionados com o Fato do Agente ..................................................................................................... 53
7.2.1 Princípio da Ofensividade/Lesividade .............................................................................................................. 53
7.2.2 Princípio da Alteridade .................................................................................................................................... 54
7.2.3 Princípio da Exteriorização ou Materialização do Fato .................................................................................... 54
7.2.4 Princípio Da Legalidade Estrita Ou Reserva Legal ............................................................................................ 54
7.2.5 Princípio da Anterioridade ............................................................................................................................... 58
7.2.6 Princípio da Vedação ao Bis In Idem ................................................................................................................ 58
7.2.7 Princípio da Adequação Social ......................................................................................................................... 58
7.3 Princípios Relacionados com o Agente do Fato ..................................................................................................... 60
7.3.1 Princípio da Responsabilidade Pessoal / Da Pessoalidade / Da Intranscendência Da Pena ............................ 60
7.3.2 Princípio da Responsabilidade Subjetiva ......................................................................................................... 60
7.3.3 Princípio da Culpabilidade ............................................................................................................................... 61
7.3.4 Princípio da Proporcionalidade ........................................................................................................................ 61
7.3.5 Princípio da Limitação das Penas ou da Humanidade ..................................................................................... 62
7.2.6 Princípio da Confiança ..................................................................................................................................... 62
QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................... 64
META 2 ............................................................................................................................................................ 70
DIREITO PROCESSUAL PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS ....................................................................... 70
1. PROCESSO PENAL CONSTITUCIONAL........................................................................................................... 72
2. PRETENSÃO PUNITIVA ................................................................................................................................. 73
3. SISTEMAS DO PROCESSO PENAL ................................................................................................................. 74
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

4. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO PENAL ................................................................................... 78


4.1 Princípios Constitucionais Explícitos....................................................................................................................... 78
4.1.1 Princípio da Presunção da Inocência ............................................................................................................... 78
4.1.2 Princípio da Igualdade Processual ou Paridade de Armas ............................................................................... 85
4.1.3 Princípio da Ampla Defesa ............................................................................................................................... 85
4.1.4 Princípio da Plenitude da Defesa ..................................................................................................................... 89
4.1.5 Princípio do In Dubio Pro Reo .......................................................................................................................... 89
4.1.6 Princípio do Contraditório ou Bilateralidade da Audiência ............................................................................. 90
4.1.7 Princípio da Publicidade ................................................................................................................................... 91
4.1.8 Princípio da Vedação das Provas Ilícitas .......................................................................................................... 94
4.1.9 Princípio da Economia Processual, Celeridade Processual e Duração Razoável Do Processo ......................... 95
4.1.10 Princípio do Devido Processo Legal ............................................................................................................... 95
4.1.11 Juiz Imparcial ou Natural ............................................................................................................................... 96
4.2 Princípios Constitucionais Implícitos ...................................................................................................................... 98
4.2.1 Princípio do Nemo Tenetur Se Detegere (Princípio De Que Ninguém Está Obrigado A Produzir Prova Contra Si
Mesmo) ..................................................................................................................................................................... 98
4.2.2 Princípio da Iniciativa das Partes ................................................................................................................... 106
4.2.3 Duplo Grau de Jurisdição ............................................................................................................................... 106
4.2.4 Princípio da Oficialidade ................................................................................................................................ 106
4.2.5 Princípio da Oficiosidade ............................................................................................................................... 106
5. OUTROS PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL .............................................................................................. 107
5.1 Princípio da Oralidade .......................................................................................................................................... 107
5.2 Indivisibilidade da Ação Penal Privada ................................................................................................................. 107
5.3 Comunhão da Prova ............................................................................................................................................. 107
5.4 Impulso Oficial ...................................................................................................................................................... 107
6. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL ............................................................................................................... 108
6.1 Aplicação da Lei Processual no Tempo ................................................................................................................. 108
6.2 Aplicação da Lei Processual no Espaço: ................................................................................................................ 109
6.3 Aplicação da Lei Processual em Relação às Pessoas ............................................................................................ 110
7. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL ........................................................................................... 113
8. FONTES ...................................................................................................................................................... 115
8.1 Fonte Material, Substancial ou de Produção ....................................................................................................... 115
8.2 Fonte Formal, Cognitiva ou de Cognição .............................................................................................................. 116
QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................. 117
META 3 .......................................................................................................................................................... 123
DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ......................................................... 123
1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS.................................................................................................................. 125
2. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS .................................................................................................. 129
2.1 Direitos x Garantias x Remédios Constitucionais: ................................................................................................ 129
2.2 Direitos Fundamentais x Direitos Humanos ......................................................................................................... 130
2.3 Geração dos direitos fundamentais: .................................................................................................................... 131
2.4 Características dos direitos fundamentais .................................................................................................... 136
2.5 Dimensão dos Direitos Fundamentais .................................................................................................................. 137
2.6 Desdobramentos da dimensão objetiva dos DF`s ................................................................................................ 138
2.7 Direitos individuais implícitos e explícitos ............................................................................................................ 139
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

2.9 Destinatários ........................................................................................................................................................ 141


2.10 Os Direitos Fundamentais Na Constituição Federal De 1988 ............................................................................. 142
2.10.1. Não taxatividade dos direitos fundamentais e tratados de direitos humanos........................................... 143
2.10.2. Hierarquia Dos Tratados Internacionais De Direitos Humanos .................................................................. 143
2.11 Alguns direitos individuais – rol do art. 5º ......................................................................................................... 144
3. DIREITOS SOCIAIS ...................................................................................................................................... 184
QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................. 193
META 4 .......................................................................................................................................................... 200
DIREITO ADMINISTRATIVO: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS ........................................................................ 200
1. ORIGEM, NATUREZA JURÍDICA E OBJETO DO DIREITO ADMINISTRATIVO ................................................ 201
2. EVOLUÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO ............................................................................................... 201
3. INFLUÊNCIAS DO DIREITO ESTRANGEIRO.................................................................................................. 202
4. CRITÉRIOS DA ADMINISTRAÇÃO:............................................................................................................... 203
5. SENTIDOS DA ADMINISTRAÇÃO ................................................................................................................ 204
5.1 Administração Pública Extroversa e Introversa .................................................................................................... 205
5.2 Tendências atuais do Direito Administrativo ....................................................................................................... 206
5.3 Transadministrativismo ........................................................................................................................................ 206
6. FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO..................................................................................................... 206
7. INTERPRETAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO ...................................................................................... 209
8. SISTEMAS DE CONTROLE DA ATUAÇÃO ADMINISTRATIVA ....................................................................... 210
9. REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO ........................................................................................................ 210
9.1 Princípios x Regras ................................................................................................................................................ 211
9.2 Princípios Explícitos do Direito Administrativo .................................................................................................... 212
10. PRINCÍPIOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO ............................................................................................. 212
10.1 Legalidade (Juridicidade) .................................................................................................................................... 212
10.2 Princípio Da Impessoalidade .............................................................................................................................. 214
10.3 Princípio da Moralidade ..................................................................................................................................... 216
10.4 Princípio da Publicidade ..................................................................................................................................... 219
10.5 Princípio da Eficiência ......................................................................................................................................... 221
11. OUTROS PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS ................................................................................................ 222
11.1 Princípio da Razoabilidade e Proporcionalidade ................................................................................................ 222
11.2 Princípio da Supremacia do Interesse Público Sobre o Privado (Princípio da Finalidade Pública) ..................... 222
11.3 Princípio da Autotutela ou Sindicabilidade ........................................................................................................ 223
11.4 Princípio Da Continuidade Do Serviço Público ................................................................................................... 226
11.5 Princípio da Motivação ....................................................................................................................................... 231
11.6 Princípio da Ampla Defesa e Contraditório ........................................................................................................ 233
11.7 Princípio da Segurança Jurídica e Legítima Confiança ........................................................................................ 234
11.8 Princípio da Intranscendência Subjetiva das Sanções ........................................................................................ 235
QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................. 238
META 5 .......................................................................................................................................................... 245
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI DE LAVAGEM DE CAPITAIS ...................................................................... 245


1. CONTEXTO HISTÓRICO DA LEI nº 9.613/98 ............................................................................................... 245
2. CONCEITO E EXPRESSÃO “LAVAGEM DE DINHEIRO” ................................................................................ 245
3. GERAÇÕES DA LEI DE LAVAGEM E LEI Nº 12.883/2012 ............................................................................. 246
4. BEM JURÍDICO TUTELADO ......................................................................................................................... 253
5. FASES DA LAVAGEM .................................................................................................................................. 253
6. ACESSORIEDADE DA LAVAGEM DE CAPITAIS ............................................................................................ 255
7. DOS SUJEITOS DO DELITO .......................................................................................................................... 259
7.1 Sujeito ativo .......................................................................................................................................................... 259
7.2 Sujeito Passivo ...................................................................................................................................................... 260
8. DOS CRIMES DE "LAVAGEM" OU OCULTAÇÃO DE BENS, DIREITOS E VALORES ....................................... 260
9. ASPECTOS PROCESSUAIS DA LEI DE LAVAGEM DE CAPITAIS..................................................................... 265
9.1 Colaboração Premiada ......................................................................................................................................... 265
9.2 Ação Controlada e Infiltração de Agentes ............................................................................................................ 266
10. EFEITOS DA CONDENAÇÃO ...................................................................................................................... 272
11. AFASTAMENTO DO SERVIDOR PÚBLICO COMO EFEITO AUTOMÁTICO DO INDICIAMENTO: ................. 273
12. COMPETÊNCIA ......................................................................................................................................... 276
13. NÃO APLICAÇÃO DO ART. 366, CPP NA LEI DE LAVAGEM DE CAPITAIS .................................................. 276
QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................. 288
META 6 – REVISÃO SEMANAL........................................................................................................................ 293
Direito Penal: Noções Iniciais e Princípios .................................................................................................................. 293
Direito Processual Penal: Noções Iniciais e Princípios................................................................................................ 294
Direito Constitucional: Direitos e Garantias Fundamentais ....................................................................................... 295
Direito Administrativo: Noções Iniciais e Princípios ................................................................................................... 297
Legislação Penal Especial: Lei de Lavagem de Capitais .............................................................................................. 298
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA SEMANA 01


META DIA ASSUNTO
1 SEG DIREITO PENAL: Noções Iniciais e Princípios
2 TER DIREITO PROCESSUAL PENAL: Noções Iniciais e Princípios
3 QUA DIREITO CONSTITUCIONAL: Direitos e Garantias Fundamentais
4 QUI DIREITO ADMINISTRATIVO: Noções Iniciais e Princípios
5 SEX LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: Lei de Lavagem de Capitais
6 SÁB/DOM [REVISÃO SEMANAL]

ATENÇÃO

Gostou do nosso material?

Lembre de postar nas suas redes sociais e marcar o @dedicacaodelta.

Conte sempre conosco.

Equipe DD
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

META 1

DIREITO PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS

E aí, pessoal! Vamos começar os estudos da melhor matéria do direito e que ainda é “carro chefe”
em concurso para Delegado de Polícia?
Para ajudá-los, a Equipe Dedicação Delta fez um raio X minucioso dos assuntos mais cobrados pelas
bancas em geral, para que vocês fiquem de sirene ligada quando forem estudá-los.
São eles:

TEMAS Nº de questões e % de incidência

Noções Iniciais e Princípios de Direito Penal 86 (9,71%)


A Lei Penal e sua Aplicação e Conflito Aparente
51 (5,76%)
de Normas
Teoria do Crime 179 (20,21%)

Ação Penal e Causas de Extinção da Punibilidade 54 (6,10%)

Concurso de Pessoas e Concurso de Crimes 66 (7,44%)

Teoria Geral da Pena 65 (7,33%)

Crimes contra a Pessoa 120 (13,55%)

Crimes Contra o Patrimônio 107 (12,08%)

Crimes contra a Dignidade Sexual 37 (4,18%)

Crimes contra a Paz Pública 7 (0,79%)

Crimes contra a Fé Pública 27 (3,04%)

Crimes contra a Administração Pública 87 (9,81%)


Total de questões analisadas: 886
-
(100%)

Isso NÃO quer dizer que os demais temas podem ser ignorados, vez que as bancas inovam mais a
cada dia! Representa apenas que tais assuntos merecem uma atenção especial, combinado?

10
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, II
⦁ Art. 5º, XLI, XLII, XLIII, XLIV, XLV e XLVII
⦁ Art. 5º, XXXIX
⦁ Art. 5º, §3º
⦁ art. 7º, X
⦁ Art. 22, I e §único
⦁ art. 227, § 4º

CP
⦁ Art. 1º
⦁ Art. 59
⦁ Art. 71

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Art. 8°, itens 2 e 5, CADH
⦁ Art. 8º, item 4 do Pacto de São José da Costa Rica

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

⦁ Art. 5º, XLI, XLII, XLIII, XLIV, XLV e XLVII, CF/88


⦁ Art. 5º, XXXIX, CF/88
⦁ Art. 22, I e §único, CF/88
⦁ Art. 1º, CP

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 599-STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública.

1. CONCEITO, CARACTERÍSTICAS, OBJETO, FUNÇÕES E DIVISÕES DO DIREITO PENAL

A) CONCEITO:

Conjunto de normas que objetiva definir os crimes, proibindo ou impondo condutas, sob a ameaça
de imposição de pena ou medida de segurança, e a criar normas de aplicação geral.
Segundo Cleber Masson (2017, p. 3) é “o conjunto de princípios e regras destinados a combater o
crime e a contravenção penal, mediante a imposição de sanção penal”.

11
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Importa salientar que “sanção penal” é gênero, do qual são espécies as penas e as medidas de
segurança.

#CAIEMPROVA: Diz-se que a pena é a 1ª via do direito penal, a medida de segurança é a 2ª e a reparação do
dano é a 3ª.

É um ramo do Direito Público, vez que suas normas são indisponíveis, impostas e dirigidas a todas as
pessoas.
Além disso, o Estado é o titular do direito de punir e por isso sempre figura como sujeito passivo das
infrações penais, ainda que de forma mediata.
Ainda sobre o conceito de direito penal:

• Aspecto Formal: O direito penal é um conjunto de normas que qualifica certos comportamentos
humanos como infrações penais, define os seus agentes e fixa as sanções as lhe serem aplicadas.
• Aspecto Material: O Direito Penal refere-se a comportamentos considerados altamente reprováveis
ou danosos ao organismo social, afetando bens jurídicos indispensáveis à própria conservação e
progresso da sociedade.
• Aspecto Sociológico: O direito penal é mais um instrumento do controle social de comportamentos
desviados, visando a assegurar a necessária disciplina social. Em suma, sob aspecto dinâmico, o
Direito Penal é mais um instrumento de controle social visando assegurar a necessária disciplina para
a harmônica convivência dos membros da sociedade (TJ/PR).

Aprofundando o enfoque sociológico

 A manutenção da paz social demanda a existência de normas destinadas a estabelecer diretrizes


(regras).
 Quando violadas as regras de conduta, surge para o Estado o dever de aplicar sanções civis ou penais
(infrações).
 Nessa tarefa de controle social atuam vários ramos do Direito.
 Quando a conduta atenta contra bens jurídicos especialmente tutelados, merece reação mais severa
por parte do Estado, valendo-se do Direito Penal (soldado de reserva).
 O que diferencia a norma penal das demais é a espécie de consequência jurídica (pena privativa de
liberdade).

B) CARACTERÍSTICAS:

12
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

De acordo com Cleber Masson (2017, p. 5), o Direito Penal é uma ciência cultural, normativa,
valorativa, finalista, de natureza predominantemente sancionatória, e fragmentária.

⦁ I – Ciência: Suas regras estão contidas em normas e princípios, que por sua vez, formam a dogmática
jurídico-penal.
⦁ II – Cultural: o Direito Penal é uma ciência do “dever ser”, ao contrário das ciências naturais, que
cultuam o “ser”;
⦁ III – Normativa: o objeto principal é o estudo da lei penal (Direito positivo);
⦁ IV – Valorativa: sua aplicação não está pautada em regras matemáticas de certo ou errado, mas sim
em uma escala de valores que são sopesados a partir de critérios e princípios próprios do Direito
Penal. Dessa forma, esse ramo do direito valoriza hierarquicamente as suas normas;
⦁ V – Finalista: o objetivo do direito penal é a proteção de bens jurídicos fundamentais, o que torna a
sua missão prática, e não simplesmente teórica
⦁ VI – Sancionatória: o Direito Penal é predominantemente sancionador porque não cria bens
jurídicos, mas acrescenta proteção penal aos bens jurídicos disciplinados por outros ramos do
Direito. No entanto, é possível que ele seja também constitutivo, quando protege interesses não
regulados por outras áreas do Direito, como o uso indevido de drogas
⦁ VII – Fragmentária: o Direito Penal não tutela todos os valores ou interesses, mas somente os mais
importantes para a manutenção e o desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade.

C) OBJETO DE PROTEÇÃO DO DIREITO PENAL:

Bens Jurídicos penais: “é a coisa, o valor, o atributo espiritual ou intelectual cujo usufruto e gozo são
reconhecidos como significativamente relevantes. Primeiro, para o efetivo desenvolvimento pessoal de seu
titular e, depois e em consequência, para todo o corpo social, de que é exemplo o meio ambiente
ecologicamente equilibrado” (PACELLI, 2017, p. 61). O legislador seleciona os bens jurídicos a serem
defendidos pelo Direito Penal. No entanto, NÃO se pode falar em discricionariedade ampla e irrestrita, pois
os bens jurídicos mais importantes são tratados na Constituição. Logo, a Constituição possui a seguinte
missão:
⦁ Orienta o legislador, ao eleger valores considerados indispensáveis à manutenção da sociedade;
⦁ Impede que o legislador viole direitos fundamentais atribuídos a toda pessoa humana (Visão
Garantista Do Direito Penal).

D) FUNÇÕES DO DIREITO PENAL:


Na atualidade, a doutrina divide a missão do direito penal em duas, quais sejam:

a) Missões mediatas:

13
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

• Instrumento de Controle Social ou de preservação da paz pública (Papel intimidador)


• Limitação ao poder de punir estatal ou Função de Garantia – garantia dos cidadãos contra o arbítrio
estatal, vez que só podem ser punidos por atos previstos como infração penal e por pena também
determinada em lei.
 Para Franz Von Liszt “o Código Penal é a Magna Carta do delinquente”;

Obs: Se, de um lado, o Estado controla o cidadão, impondo-lhe limites para a vida em sociedade, de outro
lado, é necessário também limitar o seu próprio poder de controle, evitando a punição abusiva (evitando a
hipertrofia da punição).

b) Missão imediata:

Aqui, é necessário lembrarmos do funcionalismo penal, que trará as duas correntes de mais destaque
acerca do tema (anote esses nomes na testa):
• Funcionalismo teleológico (moderado) – Claus Roxin (Predomina)
 A missão do Direito Penal é a proteção dos bens jurídicos mais relevantes;
 Se a proteção de determinado bem jurídico não é indispensável ao indivíduo e à manutenção
da sociedade, não deve incidir o direito penal, mas outros ramos do direito;
 Para Roxin, o Direito Penal não veio para trazer valores éticos, morais;
 Ele entende que essa seria a função exclusiva;
 É chamado teleológico porque busca a finalidade do direito penal.
• Funcionalismo sistêmico (radical) – Günter Jakobs
 A missão do Direito Penal é assegurar a vigência do sistema, protegendo o império da norma.
 Ele discorda de Roxin por entender que, quando o indivíduo é punido pela infração penal
praticada, o bem jurídico já foi violado, ou seja, não está protegido, não sendo esta, portanto,
a função do direito penal. Sua função seria demonstrar que a norma continua vigorando e
deve ser obedecida.
 Assim, “o bem não deve ser representado como um objeto físico ou algo do gênero, e sim,
como norma, como expectativa garantida”. (Direito Penal e Funcionalismo, 2005, p.33-34)
 E ainda, entende ele que quem deliberada e reiteradamente viola a lei penal, de forma grave
e duradoura, deve ser tratado como “não-cidadão”, como inimigo da sociedade, por não
cumprir sua função no corpo social, não fazendo jus às garantias previstas pela norma a qual
tal sujeito infringe.
 Ao delinquente-cidadão, seria aplicado o direito penal do cidadão, ao passo que ao
delinquente inimigo, seria aplicado o Direito Penal do Inimigo (tópico específico mais à
frente)

14
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

#APROFUNDANDO: Vamos a uma tabelinha com mais características das duas vertentes do
funcionalismo para fixarmos as diferenças?

FUNCIONALISMO PENAL

• Finalidade do Direito Penal: proteção de bens jurídicos


indispensáveis. Não veio para trazer valores éticos,
morais.
• Moderado: o direito penal tem limites impostos pelo
FUNCIONALISMO TELEOLÓGICO
próprio direito penal e demais ramos do direito.
(Características: Moderado,
• Dualista: convive em harmonia com os demais ramos do
dualista, de política criminal ou
Direito. Reconhece o sistema jurídico em geral.
racional teleológico)
• De política criminal: aplica a lei de acordo com os anseios
ROXIN
da sociedade. Se adapta à sociedade em que ele se
insere.
• Racional teleológico: movido pela razão e em busca de
sua finalidade.

• Finalidade do Direito Penal: é a proteção das normas


penais, assegurar o império da norma. É punir. Aplicar a
lei.
• A sociedade que deve se ajustar ao Direito Penal.
FUNCIONALISMO SISTÊMICO • Para ele, o Direito Penal é:
(Características: - Radical: só reconhece os limites impostos por ele
Radical, monista e sistêmico) mesmo;
JAKOBS - Monista: é um sistema próprio de regras e de valores
Direito Penal do Inimigo que independe dos demais.
- Sistêmico: é autônomo (independe dos demais ramos),
autorreferente (todas as referências e conceitos que
precisa busca do próprio direito penal) e se autoproduz.
• Quem viola reiterada e deliberadamente a norma = não-
cidadão / inimigo = não tem direitos.

Outras funções do Direito Penal (Masson):


• Função criadora ou modificadora de costumes. Disseminação ético-social de valores. Efeito
“moralizador”. Visa garantir o mínimo ético que deve existir em toda coletividade;

15
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

 É uma função educativa, que visa estimular os cidadãos a se conscientizarem e protegerem


bens que ainda não foram tidos pela sociedade como fundamentais (ex: crimes contra o meio
ambiente).
 Esta função é bastante discutida, pelo fato de a doutrina divergir se o estado deveria ou não
se utilizar do direito penal como meio de educação. Há quem entenda que tal objetivo deve
ser alcançado pela interação social e não por coação.

• Simbólica – não produz efeitos externos, mas somente na mente dos cidadãos e governantes, sendo
uma função inerente a todas as leis, não apenas ao Direito Penal;
 Enquanto os governados pensam que a contenção da criminalidade e as medidas necessárias
para tanto estão sob o controle das autoridades, os governantes ficam com a sensação de
terem feito algo e adiam a efetiva resolução do problema, retirando, ao longo do tempo, a
credibilidade do direito penal.
 Geralmente é manifestada pelo “direito penal do terror”, que se apresenta de duas formas:
* Inflação legislativa (direito penal de emergência) – em que são criados tipos penais
desnecessários para dar resposta a qualquer tipo de problema;
* Hipertrofia do Direito Penal – aumentando desproporcional e injustificadamente as
penas em casos pontuais, como se isso, por si só, fosse impedir a prática do crime.
• Motivadora de comportamento conforme a norma – a ameaça de imposição de sanções motiva os
indivíduos a se comportarem de acordo com a lei, para que não sofram suas penalidades;
• Redução da violência estatal – pois, embora legítima e necessária, a pena não deixa de ser uma
agressão ao indivíduo, devendo, portanto, restringir-se aos casos necessários e legais.
• Promocional de transformação social – auxiliando em mudanças que garantirão a evolução da
comunidade.

B) CLASSIFICAÇÕES DO DIREITO PENAL:

1. Direito Penal Fundamental (Primário): é o conjunto de normas e princípios do Direito Penal


aplicáveis genericamente, inclusive às leis penais especiais. É composto pelas normas da Parte Geral
do Código Penal e, excepcionalmente, algumas normas de amplo conteúdo previstas na Parte
Especial, como os conceitos de domicílio (art. 150, §§4º e 5º) e funcionário público (art. 327);
2. Direito Penal Complementar (Secundário): corresponde à legislação penal extravagante.

16
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

3. Direito Penal Comum: é o conjunto de normas penais aplicável indistintamente a todas as pessoas,
como o Código Penal;
4. Direito Penal Especial: é o conjunto de normas penais aplicável apenas a pessoas determinadas que
preencham certas condições legais. São exemplos o Código Penal Militar e o Decreto-lei nº 201/1967
(crimes de responsabilidade dos prefeitos);

5. Direito Penal Geral: é o conjunto de normas penais aplicáveis em todo o território nacional. Essas
normas são produzidas privativamente pela União (art. 22, I, da CF);
6. Direito Penal Local: é o conjunto de normas penais aplicáveis somente a determinada parte do
território nacional. A existência dessas normas somente é possível se houver autorização da União
por lei complementar para que os Estados legislem sobre questões específicas de Direito Penal (art.
22, parágrafo único, da CF);

7. Direito Penal Objetivo: é o conjunto de leis penais em vigor;


8. Direito Penal Subjetivo: é o direito de punir (ius puniendi), que pertence exclusivamente ao Estado
e nasce quando uma lei penal é violada;

9. Direito Penal Substantivo: é o direito penal material, propriamente dito. É o que consta no Código
Penal.
10. Direito Penal Adjetivo: também chamado de “formal” (grave as nomenclaturas), é o direito
processual penal.

#SELIGA: Direito Penal de Intervenção

Abordado por Hassemer. Segundo ele, o direito penal deve se preocupar apenas com os bens jurídicos
individuais, tais como a vida, patrimônio, propriedade, etc., bem como de infrações penais que causem
perigo concreto.
Por outro lado, se o intuito da previsão da infração é proteger apenas bem jurídico difuso, coletivo ou de
natureza abstrata, não deveria ser considerada uma infração penal. Deveria ser regulada por um sistema
jurídico diverso, com sanções mais brandas que as do direito penal, sem risco de privação da liberdade do
infrator, mas aplicadas também por uma autoridade judiciária, de forma mais célere e ampla, podendo ser
até mais efetiva, para não tornar o direito penal inócuo e simbólico. Exemplo no BR: Lei 8429/92.
Este seria o direito de intervenção.
O direito de intervenção estaria acima do direito administrativo, mas abaixo do direito penal.
Para o autor, de um lado, o Direito Penal, dada sua gravidade, não pode ser utilizado para a tutela de bens
jurídicos difusos, coletivos, transindividuais etc. Lado outro, sabe-se que as autoridades administrativas não
17
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

possuem a independência necessária para a aplicação das penalidades. Por isso, propõe o Direito de
Intervenção.
Há críticas acerca de tal posicionamento na doutrina, pela dúvida de como seria a legitimidade e como atuaria
o direito de intervenção, bem como se tais sanções seriam suficientes para tutelar bens importantes que se
caracterizam como coletivos, difusos ou de natureza abstrata.

2. ENCICLOPÉDIA DAS CIÊNCIAS PENAIS

O estudo do crime, do criminoso e da sanção penal é o objeto de várias ciências, tendo sido chamadas
por José Cerezo Mir de “enciclopédia de ciências penais”.
A doutrina não é uníssona acerca de quantas ou quais exatamente seriam elas, mas, para o nosso
estudo, as mais importantes são a dogmática, a criminologia e a política criminal.

I – DOGMÁTICA PENAL: tem por objetivo interpretar de forma sistemática o direito penal, entendendo o
sentido das normas e aplicando-o de forma lógico-racional (não emocional).

Obs.: Dogmática ≠ Dogmatismo: Dogmatismo é a aceitação cega de verdades tidas como absolutas e
imutáveis (deve ser desprezado). Se opõe à ideia de ciência, que admite flexibilização, na qual estaria
enquadrada a dogmática.

II – CRIMINOLOGIA: A criminologia, de acordo com Luiz Flávio Gomes e Antônio Molina, é uma ciência
empírica (estuda o que “é”, ao contrário do direito penal, que estuda o que “deve ser” – caracterizando-se
como uma ciência valorativa e normativa) e interdisciplinar (observa diversos fatores: econômicos, políticos,
sociais, religiosos etc), a qual estuda o crime, a vítima, o criminoso e o controle social. Suas constatações se
dão a partir da observação daquilo que acontece na realidade social, na experiência.

Ps.: Gravando as palavras-chave sobre as características da criminologia, que são diversas das do
direito penal, vocês já matam várias questões!

III – POLÍTICA CRIMINAL: trabalha com estratégias e mecanismos de controle social da criminalidade, para
que os bens jurídicos relevantes sejam protegidos. Possui a característica de vanguarda, pois orienta a criação
e a reforma das leis, a partir de uma análise crítica acerca destas estarem ou não cumprindo os fins a que se
propõem, considerando dados obtidos por outros ramos (como a criminologia).
Funciona como “filtro” entre a letra fria da lei e a realidade social. Revela as leis que “pegam” e as que não.

18
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

2.1 Direito Penal X Criminologia X Política Criminal

O ponto mais cobrado desse tópico é, sem dúvidas, a diferença entre direito penal, criminologia e
política criminal.

DIREITO PENAL CRIMINOLOGIA POLÍTICA CRIMINAL


Ciência normativa e valorativa, que
Ciência empírica e
analisa os fatos humanos Trabalha as estratégias e meios
interdisciplinar, que estuda o
indesejados e define quais devem de controle social da
crime, o criminoso, a vítima e o
ser tipificados como crime ou criminalidade.
controle social.
contravenção.
Ocupa-se do crime enquanto Ocupa-se do crime enquanto Ocupa-se do crime enquanto
norma. fato. valor.
Ex: Quais fatores contribuem para Ex: Estuda como diminuir os
Ex: Define o crime de roubo.
o crime de roubo. casos de roubo.

* #NÃOCUSTALEMBRAR:
Vitimologia: é o estudo da vítima em seus diversos planos. Inicialmente, a análise era quanto às formas de
contribuição da vítima para a prática dos crimes. Modernamente, tal estudo preocupa-se também com a
proteção destas no momento posterior à prática do crime, como por exemplo com a sua reinserção na
sociedade. No direito brasileiro, temos o exemplo da composição dos danos civis (art. 74, parágrafo único,
Lei 9.099/95) #TERCEIRAVIA
Ademais, uma das circunstâncias judiciais que deve ser considerada na fixação da pena base é o
comportamento da vítima (art. 59, CP).

2.2 Seletividade - Criminalização Primária e Secundária (Zaffaroni)

Sobre a seletividade, define Zaffaroni:

“Ao menos em boa medida, o sistema penal seleciona pessoas ou ações, como
também criminaliza certas pessoas segundo sua classe e posição social. [...] Há
uma clara demonstração de que não somos todos igualmente ‘vulneráveis’ ao
sistema penal, que costuma orientar-se por ‘estereótipos’ que recolhem os
caracteres dos setores marginalizados e humildes, que a criminalização gera
fenômeno de rejeição do etiquetado como também daquele que se solidariza ou
contata com ele, de forma que a segregação se mantém na sociedade livre. A
posterior perseguição por parte das autoridades com rol de suspeitos
permanentes, incrementa a estigmatização social do criminalizado
19
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

(ZAFFARONI;PIERANGELI, 2011, p. 73).” (Guarda relação com o movimento do


labeling approach / teoria da reação social / da rotulação social / do etiquetamento
social – tema que deve ser estudado de modo mais aprofundado na matéria de
criminologia.)

Nesse contexto, o processo de criminalização pode ser dividido em dois:

a) Criminalização primária: É a elaboração e sanção das leis penais, introduzindo formalmente no


ordenamento jurídico a tipificação de determinadas condutas.
b) Criminalização secundária: É a ação punitiva que recai sobre pessoas concretas. Quando recai sobre
o indivíduo a persecução penal após ser a ele atribuída a prática de um ato primariamente
criminalizado. É praticada pela Polícia e Poder Judiciário.

* ATENÇÃO: Além do momento da elaboração e aplicação da norma, a seletividade também vai se


mostrar presente no momento da execução da pena.

#SELIGA: Você sabe o que é Direito Penal Subterrâneo e Direito Penal Paralelo? Referem-se aos sistemas
penais paralelos e subterrâneos.
De acordo com Zaffaroni, “sistema penal é o conjunto das agências que operam a criminalização primária e
a criminalização secundária ou que convergem na sua produção”.

Direito Penal Paralelo: Como o sistema penal formal do Estado não obtêm êxito em grande parte da
aplicação e exercício do poder punitivo, outras agências apropriam-se desse espaço e o exercem de modo
paralelo ao estado (criando sistemas penais paralelos). Ex.: médico que aprisiona doentes mentais;
institucionalização pelas autoridades assistenciais dos morados de rua etc).

Direito Penal Subterrâneo: ocorre quando as instituições oficiais atuam com poder punitivo ilegal,
acarretando abuso de poder. Ex.: institucionalização de pena de morte (execução sem processo),
desaparecimentos, torturas, extradições mediante sequestro, grupos especiais de inteligência que atuam
fora da lei etc.

3. DIREITO PENAL DO AUTOR E DIREITO PENAL DO FATO

Direito Penal do Fato – Adotado pelo Ordenamento Penal Brasileiro – consiste que o direito penal
deve punir condutas , ou seja, fatos, praticados pelos indivíduos que sejam lesivas a bens jurídicos de
terceiros. Pune-se o fato. A base para esse princípio está no Estado de Direito.
Importante frisar que se considera circunstâncias relacionadas ao autor, especificamente quando da
análise da pena. Ex: art. 59 do CP; Reincidência.
20
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Está atrelado ao Princípio da exteriorização ou materialização do fato, pelo qual o Estado só pode
incriminar condutas humanas voluntárias (fatos). Assim, ninguém pode ser castigado por seus pensamentos,
desejos ou meras cogitações ou estilo de vida.
O princípio da exteriorização serviu para o legislador acabar com as infrações penais que
desconsideravam esse mandamento. Ex: Mendicância (art. 60 L.C.P. – abolido), tal crime adotava o direito
penal do autor.
Por sua vez, o direito Penal do autor consiste na punição do indivíduo baseada em seus
pensamentos, desejos e estilo de vida, condições pessoais, do modo de ser, grau de culpabilidade
(reprovabilidade), antecedentes do autor, está interligado ao Direito Penal do Inimigo. Aqui teríamos uma
inobservância do princípio da exteriorização do fato.

Obs:. Coculpabilidade e coculpabilidade ás avessas (Zaffaroni)


coculpabilidade é corresponsabilidade do Estado no cometimento de determinados delitos, praticados por
cidadãos que possuem menor âmbito de autodeterminação diante das circunstâncias do caso concreto,
principalmente no que se refere a condições sociais e econômicas do agente, o que enseja menor reprovação
social, segundo o princípio da coculpabilidade, o Estado-juiz haveria de considerar como atenuante as
condições sócio-econômicas do réu no momento na aplicação da pena. Veja que o artigo 66 do Código Penal
autoriza ao Juiz esse postulado, através da, chamada pela doutrina, atenuante inonimada. A outra face da
teoria da coculpabilidade pode ser identificada como a coculpabilidade às avessas, por meio da qual defende-
se a possibilidade de reprovação penal mais severa no tocante aos crimes praticados por pessoas dotadas de
elevado poder econômico, e que abusam desta vantagem para a execução de delitos, em regra
prevalecendo-se das facilidades proporcionadas pelo livre trânsito nos centros de controle político e
econômico.

4. GARANTISMO PENAL (FERRAJOLI)

4.1 Conceito

Para Ferrajoli, “o garantismo é entendido no sentido do ESTADO CONSTITUCIONAL DE DIREITO, isto


é, aquele conjunto de vínculos e de regras racionais impostos a todos os poderes na tutela dos direitos de
todos, representa o único remédio para os poderes selvagens”.

4.2. Garantias primárias e secundárias

O autor distingue as garantias em duas grandes classes: as garantias primárias e as garantias


secundárias:

• Garantias primárias – limites e vínculos normativos: Consistem nas proibições e obrigações, formais
e substanciais, impostos na tutela dos direitos, ao exercício de qualquer poder;

21
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

• Garantias secundárias – diversas formas de reparação: Subsequentes às violações das garantias


primárias, diz respeito à anulabilidade dos atos inválidos e a responsabilidade pelos atos ilícitos.
- Ex: a CF prevê como garantia primária que não haverá pena de banimento. O legislador não a
observa e comina tal pena a determinado crime. Neste caso, será utilizado o controle de
constitucionalidade, previsto na própria constituição como garantia secundária, julgando o ato nulo.

* ATENÇÃO: Para o garantismo de Ferrajoli, o juiz não é um mero aplicador da lei, um mero
executor da vontade do legislador ordinário. Ele é, antes de tudo, o guardião de direitos fundamentais.

4.3 Máximas do garantismo

 Questão cobrada na 2ª fase do concurso para o cargo de Delegado do Estado do


Mato Grosso do Sul em 2017

• Nulla poena sine crimine: somente será possível a aplicação de pena quando houver, efetivamente, a
prática de determinada infração penal;
• Nullum crimen sine lege: a infração penal deverá sempre estar expressamente prevista na lei penal;
• Nulla lex (poenalis) sine necessitate: a lei penal somente poderá proibir ou impor determinados
comportamentos, sob a ameaça de sanção, se houver absoluta necessidade de proteger determinados
bens, tidos como fundamentais ao nosso convívio em sociedade, (direito penal mínimo);
• Nulla necessitas sine injuria: as condutas tipificadas na lei penal devem, obrigatoriamente, ultrapassar
a sua pessoa, isto é, não poderão se restringir à sua esfera pessoa, à sua intimidade, ou ao seu
particular modo de ser, somente havendo possibilidade de proibição de comportamentos quando
estes vierem a atingir bens de terceiros;
• Nulla injuria sine actione: as condutas tipificadas só podem ser exteriorizadas mediante a ação do
agente, ou omissão, quando previsto em lei;
• Nulla actio sine culpa: somente as ações culpáveis podem ser reprovadas;
• Nulla culpa sine judicio: é necessário adoção de um sistema nitidamente acusatório, com a presença
de um juiz imparcial e competente para o julgamento da causa;
• Nullum judicium sine accusatione: o juiz que julga não pode ser responsável pela acusação;
• Nulla accusatio sine probatione: fica a cargo do acusador todo o ônus probatório, que não poderá ser
transferido para o acusado da prática de determinada infração penal;
• Nulla accusatio sine defensione: deve ser assegurada ao acusado a ampla defesa, com todos os
recursos a ela inerentes.

#ATENÇÃO! Em que consiste o garantismo penal integral?

22
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

O Direito penal deve se prestar a garantir não somente os direitos e garantias dos acusados, mas
todos os direitos e deveres previstos na Constituição. Em que pese não se possa tolerar violações
arbitrárias e desproporcionais aos direitos daquele sob o qual recai o jus puniendi estatal, não se pode
também deixar de proteger outros bens que também são juridicamente relevantes para a sociedade.
Tudo isso deve passar pelo crivo da proporcionalidade.

Desse modo, o garantismo divide-se em:


a) Garantismo negativo: visa limitar a função punitiva do Estado, que deve ser aplicada
estritamente aos casos necessários e em medida adequada, consistindo na proibição de excesso.
b) Garantismo positivo: busca evitar a impunidade e garantir que os bens jurídicos relevantes à
sociedade sejam efetivamente protegidos, caracterizando-se pela proibição da proteção insuficiente.
Quando apenas o garantismo negativo é observado, surge o chamado “garantismo hiperbólico
monocular” (grave este nome). Hiperbólico: por ser aplicado de modo desproporcional e exagerado.
Monocular: por enxergar apenas um lado, opondo-se ao garantismo integral.

5. DIREITO PENAL DO INIMIGO

a) Conceito: Aquele que viola o sistema deve ser considerado e tratado como inimigo. O delinquente,
autor de determinados crimes, não é ou não deve ser considerado como cidadão, mas como um “cancro
societário”, que deve ser extirpado (Munhoz Conde).
Jakobs fomenta o Direito Penal do inimigo para o terrorista, traficante de drogas, de armas e de
seres humanos e para os membros de organizações criminosas transnacionais (vide lei 12.850/2013).
Destaque-se que nem todo criminoso é inimigo, apenas uma parcela reduzida de criminosos é que
entra neste rol.

b) Características do direito penal do inimigo:


• Antecipação da punibilidade com a tipificação de atos preparatórios: O legislador é impaciente, não
aguarda o início da execução para punir o agente);
• É um direito penal prospectivo e não retrospectivo, na medida em que se pune o inimigo pelo o que
ele poderá fazer, em razão do perigo que representa;
• O inimigo não é visto como um sujeito de direitos, pois perdeu seu status de cidadão;
• Pune-se o inimigo pela sua periculosidade e não pela sua culpabilidade, como é no direito penal
comum;
• Criação de tipos de mera conduta;
• Previsão de crimes de perigo abstrato: normalmente, pode haver crimes de perigo abstrato, mas
sem abusos, flexibilização o princípio da lesividade;
• As garantias processuais aplicadas ao inimigo são relativizadas ou até mesmo suprimidas.

23
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

• Flexibilização do Princípio da Legalidade: é a descrição vaga dos crimes e das penas. A descrição
genérica de um crime permite a punição de mais condutas/comportamentos;
• Inobservância dos Princípios da Ofensividade: relação com a criação de crimes de perigo abstrato)
e da Exteriorização do Fato (relação com o direito penal do autor);
• Preponderância do Direito Penal do autor: Flexibilização do princípio da exteriorização do fato;
• Desproporcionalidade das penas;
• Surgimento das chamadas “leis de luta ou de combate”: Exemplo - Lei 8.072/90 e Lei 12.850/2013.
Alguns doutrinadores sustentam que tais leis têm predicados de direito penal do inimigo;
• Endurecimento da Execução Penal: O regime disciplinar diferenciado é um resquício do direito penal
do inimigo;

*ATENÇÃO: O Direito Penal do inimigo também é conhecido como a “terceira velocidade do Direito
Penal”. Isto porque se aplica a pena de prisão e também por ser extremamente célere, já que suprime
direitos e garantias.

5.1 Velocidades do Direito Penal (Jesús-Maria Silva Sánchez)

Segundo, Cleber Masson (2017, p. 111) a teoria das velocidades do direito penal “parte do
pressuposto de que o Direito Penal, no interior de sua unidade substancial, contém dois grandes blocos,
distintos, de ilícitos: o primeiro das infrações penais às quais são cominadas penas de prisão (direito penal
nuclear), e o segundo, daqueles que se vinculam aos gêneros diversos de sanções penais (direito penal
periférico)”.

• Primeira velocidade: Direito Penal “da prisão”, aplicando-se penas privativas de liberdade como
resposta aos crimes praticados, com a rígida observância das garantias constitucionais e processuais.
Aplicada a delitos graves.
• Segunda velocidade: Direito penal reparador. São aplicadas aqui penas alternativas à prisão, como
restritivas de direitos ou pecuniárias, de forma mais rápida, sendo admissível, para tanto, uma
flexibilização proporcional dos princípios e regras processuais. Aplicável a delitos de menor
gravidade.
 Foi tema da prova discursiva do concurso de Delegado do Espírito Santo em 2019!
• Terceira velocidade: Novamente temos aqui a prisão por excelência. Contudo, difere-se da primeira
por permitir a flexibilização e até a supressão de determinadas garantias. Aplicada aos delitos de
maior gravidade.
• Remete ao direto penal do inimigo, já explicado acima.
• Também poderiam constituir exemplos a Lei de Crimes Hediondos e a Lei de Organizações Criminosas
na legislação pátria.

24
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

• Quarta velocidade: Neopunitivismo. Ligada ao direito internacional. É o processamento e


julgamento pelo TPI de chefes de Estado que violarem tratados e convenções internacionais de tutela
de Direitos Humanos e praticarem crimes de lesa-humanidade, de modo que, por esta razão, se
tornarão réus perante o referido tribunal e terão, dentro do contexto, suas garantias penais e
processuais penais diminuídas.
• Quinta velocidade: hodiernamente, já se fala em Direito Penal de 5ª (quinta) velocidade, que trata
de uma sociedade com maior assiduidade do controle policial, o Estado com a presença maciça de
policiais na rua, no cenário onde o Direito Penal tem o escopo de responsabilizar os autores, diante
da agressividade presente em nossa sociedade de relações complexas e, muitas vezes, (in)
compreensíveis. #PERTINÊNCIATEMÁTICA

6. FONTES DO DIREITO PENAL

 Foi tema de prova oral do concurso de Delegado de Polícia de Minas Gerais em


2018

São as formas pelas quais o direito penal é criado e, posteriormente, manifestado.

a) Fonte Material: Diz respeito à criação do Direito Penal. Via de regra, é a União, art.22, I, da CF/88, pois
“compete privativamente à União legislar sobre direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho”.
*Atenção: O artigo 22, parágrafo único, CF/88, prevê que “Lei Complementar poderá autorizar os
Estados a legislar sobre questões específicas relacionadas neste artigo”, o que permite entender que
abarca, inclusive, o Direito Penal. Então podemos ter uma lei complementar autorizando o estado a legislar
sobre questões específicas de direito penal. É chamada DELEGAÇÃO EM PRETO – pois essa lei
complementar não pode delegar genericamente. Têm que ser pontos específicos/questões específicas.

Obs.: Medida provisória pode versar sobre direito penal?


R.: A EC 32/01 inseriu dispositivo expresso na CF/88 vedando a edição de medida provisória versando
sobre direito penal. Até 2001 não existia regra expressa na CF/88 vedando a edição de medida provisória
sobre matéria penal. Tanto que o próprio STF, antes dessa EC 32, apreciou o RE 254.818/PR – 2000,
especificando que MP não poderia versar sobre direito penal, exceto se favorável ao réu.

Esse julgado (2000), anterior à EC 32/2001, que estabeleceu ser possível a edição de medida
provisória quando favorável ao réu, subsistiria após a EC 32/01, considerando que, com essa EC, passou-se a
vedar, de forma abstrata, a edição de medida provisória sobre matéria penal?

25
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

R.: A doutrina e a jurisprudência são pacíficas no sentido de que é possível a edição de medida
provisória versando sobre direito penal quando favorável ao réu, de modo que o entendimento exarado no
bojo do RE 254.818 subsistiria após a edição da EC 32/01.

b) Fonte Formal: Diz respeito à aplicação do Direito Penal. Esse ponto varia um pouco de doutrinador para
doutrinador.

DOUTRINA CLÁSSICA DOUTRINA MODERNA


Imediata: Imediata:
• Lei (Desdobramento do princípio da • Lei
reserva legal, que prevê a criação de • Constituição Federal
crime e cominação de penas como • Tratados Internacionais de Direitos Humanos
um monopólio da lei. Aqui, estamos • Jurisprudência
falando em lei ordinária). • Princípios
• Atos administrativos (complementos de normas
penais em branco).

*Porém, até mesmo aqui, a única fonte formal que pode


criar tipos penais e culminar penas é a lei (reserva legal).
O restante é fonte não-incriminadora.
Mediatas: Mediatas:
• Costumes • Doutrina
• Princípios gerais do Direito
• *Alguns colocam atos
administrativos.
Fonte informal:
• Costumes

i. Lei - É o único instrumento normativo capaz de criar infração penal e cominar sanção penal (única
fonte formal imediata incriminadora).

ii. Constituição Federal – Não cria infração penal e não comina sanção penal (nem pena, nem medida
de segurança).

 Pergunta (fase oral MP/SP) – Se a lei pode criar crimes e cominar penas, por que a CF, que é uma norma
superior à lei, não pode fazer isso (afinal, quem pode o mais pode o menos)? Em razão de seu processo

26
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

moroso de alteração. Ademais, a CF não pode criar crime e nem alterar pena, pois o seu processo de
alteração é super rígido e incompatível com as necessidades do direito penal.

 CUIDADO! A Constituição Federal, porém, fixa alguns patamares abaixo dos quais a intervenção penal
não se pode reduzir. São os chamados “mandados constitucionais de criminalização” (patamares
mínimos). Exemplos de mandados constitucionais de criminalização:

Art.5º, XLI, CF – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e


liberdades fundamentais.
Art. 5º, XLII, CF – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível,
sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei. (Observe que o constituinte disse que
quem vai criar o crime de racismo é a lei, mas quando esse crime for criado, a lei
deve puni-lo com, no mínimo, reclusão, qualquer que seja a pena).
Art.5º, XLIII, CF – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou
anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

 Pergunta de Concurso: (MP/GO): Existe mandado constitucional de criminalização implícito ou tácito?


R: De acordo com a maioria, existem mandados constitucionais de criminalização implícitos, com a
finalidade de evitar a intervenção insuficiente do Estado (imperativo de tutela). No mais, sustenta a maioria
que sim, decorrente do nosso sistema jurídico de proteção dos direitos humanos. Por exemplo, a nossa
Constituição, ao garantir o direito à vida, está, implicitamente, determinando a criminalização do homicídio
(se todos têm direito à vida, não se pode permitir que o homicídio não seja crime).

iii. Tratados Internacionais de Direitos Humanos (TIDH)


Como é sabido, os TIDH entram no ordenamento interno podendo ostentar 02 status:
⦁ Se recepcionados com quórum de emenda constitucional, têm status de emenda;
⦁ Se o TIDH for recepcionado com quórum comum, terá status infraconstitucional, porém supralegal.

ATENÇÃO: Os tratados internacionais podem ser classificados como fonte do direito penal apenas
quando incorporados ao direito interno. Se versar sobre direitos humanos e for aprovado seguindo o rito
de emendas constitucionais, terá força normativa de emendas constitucionais (art. 5º, §3°, CF). Caso não
siga tal rito, terá força de norma supralegal.

iv. Jurisprudência
Não cria crime; não comina pena. Mas, na prática, às vezes, a jurisprudência cria o direito penal.
Ademais, revela Direito Penal podendo inclusive ter caráter vinculante. Um exemplo disso é o caso do crime
27
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

continuado, em que a jurisprudência define o que são condições de tempo e lugar para fim de definição da
continuidade delitiva. A condição de tempo é de 30 dias de intervalo entre as infrações; a condição de lugar
também é definida pela jurisprudência.

Art. 71, CP – Quando o agente, mediante mais de uma ação e omissão, pratica 2 ou
mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de
execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como
continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou
a mais grave, se diversas, aumentada em qualquer caso, de 1/6 a 2/3.

Obs: Súmulas vinculantes – Elas também são fontes do direito penal.

a. Princípios - Não criam crime nem cominam pena. Mas vários são os julgados absolvendo ou
reduzindo pena com base em princípios. Ex: Princípio da Insignificância – causa de atipicidade
material.

 Iremos aprofundar o estudo sobre os princípios mais adiante.

b. Atos administrativos - Fonte formal imediata quando complementam norma penal em branco. Ex:
Lei de drogas é complementada por uma Portaria da ANVISA.

c. Doutrina: Para alguns autores, a doutrina não é fonte do direito penal por não ter força cogente, ou
seja, não ser revestida de obrigatoriedade.

d. Costumes
• Costume é a repetição de um comportamento (elemento objetivo) em face da crença na sua
obrigatoriedade (elemento subjetivo).
≠ de hábito, que consiste na mera repetição de comportamento (elemento objetivo), mas sem
a crença na sua obrigatoriedade.
• Costume não cria crime, não comina pena, só a Lei pode criar crimes e cominar penas, em razão do
princípio da legalidade (veda-se o costume incriminador).

Princípio da Legalidade x Costumes:


A lex scripta, uma das funções de garantia do princípio da legalidade – como veremos adiante - proíbe que
se utilize dos costumes como fonte incriminadora do direito penal (impossibilidade de utilizar costumes
para incriminar condutas ou cominar penas). Portanto, os costumes não têm o condão de criminalizar
condutas e nem cominar penas.
Qual a função dos costumes no direito penal?
28
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

De acordo com Nilo Batista e Zaffaroni, os costumes têm uma função integrativa ou integradora. Isso quer
dizer que os costumes desempenham a função de integrar a atribuição de sentidos de determinadas
expressões do tipo penal, em especial os elementos normativos do tipo. Trata-se de uma função
interpretativa/hermenêutica. Por exemplo: Art. 233, CPP – crime de ato obsceno. Quem vai determinar o
sentido de ato obsceno? Vai ser determinado pelo sentido compartilhado pela sociedade, de forma reiterada.
É um conceito normativo porque exige um juízo de valor, e esse juízo de valor é um juízo temperado e
contextualizado de acordo com a prática social da comunidade. Portanto, a função integrativa dos costumes
atua de forma muito mais efetiva nos elementos normativos do tipo (que exigem valoração).

• Espécies de costumes:
i. Costume secundum legem (costume interpretativo): possui a função de auxiliar o interprete
a entender o conteúdo da lei. Por exemplo, ato obsceno (art. 233 do CP). Vai depender do
ambiente em que o ato foi praticado e dos costumes locais para que ele seja assim
considerado ou não.
ii. Costume contra legem (costume negativo): é chamado de DESUETUDO. É aquele que
contraria uma lei, mas não a revoga.Ex.: Venda de CDs piratas.
iii. Costume praeter legem (costume integrativo): é aquele usado para suprir as lacunas da lei.
É válido, mas só pode ser usado no campo das normas penais não incriminadoras e apenas
para favorecer o agente. Ex.: a circuncisão em meninos de determinadas religiões não é
considerada crime.

#SELIGA: Existe costume abolicionista?


▪ 1ª Corrente: Admite-se o costume abolicionista, aplicado nos casos em que a infração penal não mais
contraria o interesse social. Defende a função derrogatória dos costumes. Ex. Para esta corrente, o
jogo do bicho não é mais contravenção penal.
▪ 2ª Corrente: Diz que não existe costume abolicionista. Quando o fato já não é mais indesejado pela
sociedade, o juiz não deve aplicar a lei. Ex: Para esta corrente, o jogo do bicho permanece
formalmente típico, porém não aplicável, sem eficácia social (não tem tipicidade material).
▪ 3ª Corrente (PREVALECE): Entende que não existe costume abolicionista. Enquanto não revogada
por outra lei, a norma tem plena eficácia. É a que prevalece e está de acordo com a lei de introdução
às normas do direito brasileiro. Ex. Jogo do bicho continua tipificado como contravenção penal,
sendo aplicável no caso concreto.

* ATENÇÃO: Para aqueles que não adotam a tese do costume abolicionista, é possível o uso do
costume segundo a lei (costume interpretativo), que vai servir para aclarar o significado de uma palavra,
de um texto.

29
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

7. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL:

Princípios são os valores fundamentais que inspiram a criação e a manutenção do sistema jurídico.
No caso dos princípios penais, eles vão orientar a atuação do legislador na elaboração da legislação penal e
do operador do direito em sua aplicação.
De acordo com o Professor Delegado Marcus Montez, esses princípios têm a chamada “força
normativa, força de impor ao legislador, intérprete, partes, particular. Nesse sentido, princípio não é apenas
aquele “princípio geral de direito”, pelo contrário, ele tem força cogente e impositiva”.
A função dos princípios é limitar o poder de punir do Estado. Isso porque, o Estado, por natureza, é
arbitrário, pois invade a esfera de liberdade do indivíduo. Então o Direito Penal é visto como instrumento de
contenção do Estado, que vai tolher o Estado ao máximo visando garantir a liberdade do sujeito, garantias
mínimas para ele possa desenvolver direitos de 1ª geração.
Por fim, vale relembrar que a maioria dos princípios está constitucionalizada, seja implícita ou
explicitamente, de modo que é possível utilizar tais princípios para efetuar controle de constitucionalidade.

 Além das questões de concursos que tratam diretamente dos princípios, o simples fato de entender
os valores que eles trazem nos orientam muito no raciocínio necessário para a solução de muitas outras,
por isso é um tema que não pode ser negligenciado, ok?

7.1 Princípios Relacionados com a Missão Fundamental do Direito Penal

7.1.1 Princípio da Exclusiva Proteção de Bens Jurídicos

O Direito Penal deve servir apenas e tão somente para proteger bens jurídicos relevantes (Roxin).
Ademais, nenhuma criminalização é legítima se não busca evitar a lesão ou o perigo de lesão a um bem
juridicamente determinado. Impede que o Estado utilize o Direito Penal para a proteção de bens ilegítimos.
Assim, não pode incriminar pensamentos ou intenções, questões morais, éticas, ideológicas,
religiosas ou finalidades políticas. Para a teoria constitucional do Direito Penal, aliás, a referida eleição de
bens jurídicos deve refletir os valores constitucionais, a exemplo do homicídio, que tutela o direito
fundamental à vida.
Dessa forma, o princípio da proteção aos bens jurídicos defende que o direito penal deve servir
apenas para proteger bens jurídicos relevantes, bens jurídicos indispensáveis ao convívio em sociedade.
Mas o que é bem jurídico?
R.: Trata-se de um tema extremamente controvertido, de modo que vamos tentar simplificá-lo para
melhor compreensão.
Para Luiz Regis Prado, bem jurídico é um ente material ou imaterial, haurido do contexto social, de
titularidade individual ou metaindividual, reputado como essencial para a coexistência e o desenvolvimento
do homem em sociedade.
30
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Por sua vez, Luis Greco e Roxin se filiam ao mesmo conceito, mas usam expressões diferentes.
• Roxin – bem jurídico será a relação real da pessoa com um valor concreto, reconhecido pela
comunidade.
• Luis Greco – bem jurídico são dados fundamentais para a realização pessoal dos indivíduos ou para
a subsistência do sistema social nos limites da ordem constitucional
Nesse sentido, para conceituar bem jurídico, é imprescindível levar 2 pontos em consideração:
1) Fundamento do bem jurídico: o conceito de bem jurídico tem que ter como ponto central,
como fundamento, a importância do bem àquela pessoa. Tem que ser um bem de
importância vital, fundamental, de modo que a existência dessa pessoa ou seu bem-estar
estejam ameaçados com a criminalização daquela conduta.
2) Titularidade do bem jurídico: É importante saber quem é o titular desse bem jurídico. Para
quem o BJ tem essa importância fundamental?

* ATENÇÃO: A espiritualização dos bens jurídicos no Direito Penal (Roxin) revela uma evolução
quanto à proteção dos bens jurídicos dentro do Direito Penal. Em um momento inicial, apenas os crimes
de dano contra bens jurídicos individuais possuíam relevância no âmbito penal. Modernamente, o Direito
Penal antecipou a tutela, assumindo um papel preventivo, passando a punir os crimes de perigo contra
bens supraindividuais (como por exemplo, a tipificação de crimes ambientais).
- Parcela da doutrina critica essa expansão da tutela penal na proteção de bens jurídicos de caráter
difuso ou coletivo. Argumenta-se que tais bens são formulados de modo vago e impreciso, bem como, que
não seria esse o papel do direito penal, que deve ser utilizado apenas como última ratio, havendo outras
searas que poderiam solucionar tais questões, em razão dos princípios que estudaremos a seguir.

Confira a dica do professor Marcelo Veiga:

https://youtu.be/zE14JCcjH6g

7.1.2 Princípio da Intervenção Mínima

31
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

a) Origem histórica: Declaração dos direitos do homem e do cidadão (1789)


No art. 8º desse diploma, temos a imposição de que o direito penal deve estabelecer penas estrita e
evidentemente necessárias. Isso, de certa forma, traz a ideia originária do princípio da intervenção mínima:
pois o Direito Penal só deve intervir quando for estrita e evidentemente necessária

b) Introdução
O direito penal só deve ser aplicado quando a criminalização de um fato é estritamente necessária à
proteção de determinado bem ou interesse, não sendo suficientemente tutelado por outras searas do
direito. O direito penal é o último grau de proteção jurídica.
Em outras palavras: O direito penal em um Estado Democrático de Direito atua como última ratio/
ultima razão/ ultima saída. Isso porque o direito penal só deve atuar quando os outros ramos do direito já
tenham fracassado na tentativa de solucionar aquele conflito. Não pode ser usado como prima ratio

ILÍCITOS EM GERAL

ILÍCITOS
PENAIS

Como na figura, nem tudo o que é ilícito caracteriza um ilícito penal, mas apenas uma pequena
parcela. Porém, todo ilícito penal será também ilícito perante as demais searas do direito.
Ex.: se um funcionário público pratica crime, isso sempre configurará também uma infração
administrativa. Porém, a recíproca não é verdadeira. Nem toda infração administrativa encontrará uma
correspondente tipificação penal.
Obs.: Trata-se de um princípio um implícito na CF/88, que pode ser retirado, principalmente, do
princípio da dignidade da pessoa humana. (art. 1º, III, CF/88)

c) Destinatários de finalidade: dois são os destinatários do referido princípio:


• Legislador (no plano abstrato);
• Aplicador do direito (no plano concreto).
Nessa linha, temos que a intervenção mínima deve ser observada tanto pelo legislador, no momento
de selecionar as condutas que passaram a ser tuteladas pelo Direito Penal, como também, deve ser
observado pelo aplicador do direito no caso em concreto.
32
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

d) Finalidade do princípio da intervenção mínima: trata-se de um reforço ao princípio da reserva legal,


posto que não é suficiente que tenha lei prevendo aquela conduta como criminosa, é necessário
ainda que a intervenção penal cominada pela lei seja efetivamente necessária.

Rogério Sanches argumenta que “o princípio da intervenção mínima tem duas faces: orienta quando e onde
o direito penal deve intervir (neocriminalização); por outro lado, também orienta quando e onde o direito
penal deve deixar de intervir (abolitio criminis)”. A abolitio criminis é fenômeno verificado sempre que o
legislador, atento às mutações sociais (e ao princípio da intervenção mínima), resolve não mais incriminar
determinada conduta, retirando do ordenamento jurídico-penal a infração que a previa, julgando que o
Direito Penal não mais se faz necessário à proteção de determinado bem jurídico.

Do princípio da intervenção mínima decorrem dois outros princípios:

7.1.2.1 Fragmentariedade
O direito penal é fragmentário pois é visto como um sistema descontínuo de ilicitudes. Ou seja: o
direito penal não pode e nem tem como criminalizar todas a condutas existentes, mesmo que sejam ilícitos
do direito (não só ilícitos penais, mas ilícitos civis também)
Nesse contexto, a fragmentariedade prevê que somente devem ser tutelados pelo direito penal os
casos de relevante lesão ou perigo de lesão aos bens jurídicos fundamentais para a manutenção e o progresso
do ser humano e da sociedade.
Direciona-se ao legislador, ao plano abstrato, quando da eleição de condutas que devem ou não ser
tipificadas.

Já caiu em prova essa passagem do Ferrajolli:

“A intervenção mínima tem como ponto de partida a característica da fragmentariedade do direito penal.
Este [fragmentariedade] se apresenta por meio de pequenos flashs, que são pontos de luz na escuridão do
universo. Trata-se de um gigantesco oceano de irrelevância, ponteado por ilhas de tipicidade, enquanto o
crime é um náufrago à deriva, procurando uma porção de terra na qual se possa achegar”

#SELIGA: Em que consiste a fragmentariedade às avessas? Ocorre nas situações em que o direito penal
perde o interesse em uma determinada conduta, inicialmente tida por criminosa, por entende-la
desnecessária, com a evolução da sociedade e modificação de seus valores, ocorrendo a abolitio criminis,
sem prejuízo de sua tutela pelos demais ramos do direito. É um juízo negativo, o crime existia e deixa de
existir.
Ex.: Adultério, que era crime tipificado no art. 240 do CP e deixou de ser em 2005, quando a Lei nº 11.106
revogou o tipo penal.
33
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

7.1.2.2 Subsidiariedade

A subsidiariedade é corolário da intervenção mínima e está ligada à autonomia do Direito Penal.


Somente após se constatar que outros meios de solução social dos conflitos não são aptos a dirimi-los, é que
serão utilizados modelos coercitivos de que dispõe o Direito Penal.
Assim, a intervenção penal fica condicionada ao fracasso dos demais ramos do direito, funcionando
como um soldado de reserva.
Direciona-se ao aplicador do direito, no plano concreto, devendo ser aplicado apenas quando todos
os demais ramos se revelarem impotentes. O crime já existe, mas precisamos saber se a aplicação da lei penal
é necessária no caso concreto.
Nas palavras do professor Cleber Masson:

A atuação do Direito Penal é cabível unicamente quando os outros ramos do Direito


e os demais meios estatais de controle social tiverem se revelado impotentes para
o controle da ordem pública. Projeta-se no plano concreto – em sua atuação prática
o Direito Penal somente se legitima quando os demais meios disponíveis já tiverem
sido empregados, sem sucesso, para proteção do bem jurídico. Guarda relação com
a tarefa de aplicação da lei penal.

Conceitos atrelados à subsidiariedade:


⦁ Roxin – direito penal seria o remédio sancionador extremo. Ou seja: o direito penal só deve atuar
após os outros ramos do direito. Quando os demais ramos atuam e não resolvem o conflito, seria
legítimo ao Direito Penal atuar sobre a característica da subsidiariedade, uma das faces da
intervenção mínima.
⦁ Muñoz Conde – direito penal é aplicável unicamente quando fracassam as demais barreiras
protetoras do bem jurídico pré-dispostas por outros ramos do direito.

STJ (HC 197.601/RJ) O Direito Penal deve ser encarado de acordo com a principiologia constitucional. Dentre
os princípios constitucionais implícitos figura o da subsidiariedade, por meio do qual a intervenção penal
somente é admissível quando os demais ramos do direito não conseguem bem equacionar os conflitos
sociais.

Aprofundando para uma discursiva...


Conflito aparente de normas: Segundo Rogério Greco, o conflito aparente de normas penais é aquele que
ocorre quando duas normas aparentam incidir sobre o mesmo fato. Ele é dito aparente, pois na verdade não
existe conflito algum – efetivamente, não existe um conflito ao se aplicar a norma ao caso concreto. Existem
princípios, capazes de solucionar os conflitos aparentes de normas penais:
34
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

a) Subsidiariedade - Temos uma norma subsidiária e uma norma primária, e só se aplica a norma
subsidiária caso a norma primária não possa ser aplicada, ou seja, uma norma menos grave
(subsidiária), que descreve um crime autônomo, e uma norma mais grave (primária), que descreve
uma segunda conduta e que prevalecerá sobre aquela.
b) Especialidade - Estaremos diante de dois tipos penais, um específico e um genérico, ambos
aparentemente adequados para o caso concreto. Entretanto, pela regra da especialidade,
prevalecerá o tipo penal específico!
c) Consunção - O princípio da consunção está diretamente relacionado com a absorção de um delito
por outro. Ou seja, existe uma relação de fins e meios (um delito é o meio para que se chegue ao
outro) ou mesmo de necessidade (um crime é uma fase para o outro, sendo necessária sua execução
para que se pratique o segundo tipo penal).
d) Alternatividade - Temos o chamado princípio da alternatividade, que, por sua vez, é bastante simples.
Aqui temos um tipo penal chamado de misto alternativo (cuja conduta possui várias formas, ou seja,
vários verbos). Nesses casos, mesmo que o agente pratique vários dos núcleos em um mesmo
contexto, responderá por apenas um crime!

7.1.3 Princípio da Insignificância ou da Bagatela

 Caiu na prova de Delegado de Polícia do Mato Grosso do Sul em 2017

a) Introdução, Origem e Conceito

Inicialmente, cumpre destacarmos que o referido princípio não encontra previsão na legislação, mas
pacificamente admitido pela Jurisprudência do STF e do STJ.
Surge no Direito Romano. “De minimus nun curat praetor”. Os juízes e os tribunais não cuidam do
que é mínimo, insignificante. Porém no direito romano só era utilizado no tocante ao direito privado. No
direito penal é incorporado apenas na década de 1970, através dos estudos de Claus Roxin. Segundo Cleber
Masson (Direito Penal Esquematizado) “Em outras palavras, o Direito Penal não deve se ocupar de assuntos
irrelevantes, incapazes de lesar o bem jurídico legalmente tutelado. Na década de 70 do século passado, foi
incorporado ao Direito Penal pelos estudos de Claus Roxin”.
Ressalta-se que o princípio da Insignificância decorre da fragmentariedade, de modo que o Direito
Penal só vai intervir nos casos de relevante lesão, quando for indispensável para a proteção de determinado
bem jurídico, e quando não houver como proteger o bem jurídico como os outros ramos do direito.
Nesse sentido, o princípio da insignificância traduz a ideia de que não há crime quando a conduta
praticada pelo agente é insignificante, não é capaz de ofender ou colocar em perigo o bem jurídico tutelado
pela norma penal.

b) Finalidade
35
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

O STF expressamente reconhece como finalidade desse princípio a “interpretação restritiva da lei
penal” (olha que termo bonito para aparecer na sua prova), ou seja, o princípio da insignificância deve
diminuir a intervenção penal, no sentido de ignorar as condutas irrisórias que não se revelam capazes de
ofender o bem jurídico tutelado pelo tipo penal.

c) Natureza Jurídica: Causa de Exclusão da tipicidade (atipicidade) material. Ou seja: torna o fato atípico
por ausência de tipicidade material.

#TRADUZINDO:
TIPICIDADE PENAL = tipicidade formal + tipicidade material.
Tipicidade formal: juízo de adequação do fato à norma (analisa se o fato praticado na vida real, se amolda,
se encaixa ao modelo de crime descrito na lei penal).
Ex.: Sujeito subtrai um iogurte de um hipermercado. Como subtraiu coisa alheia móvel, o fato se adequa ao
tipo penal de furto.
Tipicidade material: é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido.
No exemplo acima, em que pese tenha havido a tipicidade formal, o ato praticado não foi capaz de causar
lesão relevante ao bem protegido, vez que o valor de um iogurte não faria a menor diferença no patrimônio
de um hipermercado, não havendo, portanto, tipicidade material.

Mas atenção: NÃO É SÓ O VALOR que deve ser analisado para que seja reconhecida a insignificância
da conduta! Existem outros requisitos que devem ser observados, conforme jurisprudência consolidada da
Suprema Corte.
Ademais, valor insignificante e pequeno valor não são sinônimos. Por vezes, em casos de furto, por
exemplo, a questão apresenta um bem de um valor baixo, mas não irrisório/insignificante, que servirá apenas
para caracterizar a causa de diminuição de pena do furto privilegiado, mas não excluirá a tipicidade material,
seja pelo fato de o valor ser pequeno, mas não irrisório, seja por não preencher algum outro requisito. Então
fique de olho!
Sobre os valores, não há nenhuma tese fixa sobre. É necessário analisar o contexto. Porém,
analisando as decisões proferidas, o STF tem aceito como insignificantes normalmente valores que que giram
em torno de 10% do salário mínimo, com variações para mais e para menos (é só uma ideia). Já como
pequeno valor, para o privilégio, admite-se o valor de até 1 salário mínimo integral (raciocínio aplicável aos
demais delitos que admitem o privilégio).

d) Requisitos para o reconhecimento da insignificância (de acordo com STF)


REQUISITOS OBJETIVOS (DICA DE MEMORIZAÇÃO: MARI):
i. Mínima Ofensividade da conduta do agente;
ii. Ausência de Periculosidade social da ação;
iii. Reduzido grau de Reprovabilidade do comportamento;
36
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

iv. Inexpressividade da Lesão jurídica provocada.

REQUISITOS SUBJETIVOS
v. Condições pessoais do agente
vi. Condição da vítima

Obs.: Os requisitos, tanto de ordem objetiva e quanto de natureza subjetiva, devem ser avaliados no caso
concreto.

ATENÇÃO: Esse tema foi objeto de cobrança na prova de Delegado do Paraná recentemente.

2021 – NC UFPR – PC-PR – Delegado de Polícia


Se uma conduta não representa uma ofensa relevante ao bem jurídico contemplado no tipo penal,
entende-se que ela é materialmente atípica em razão do princípio da insignificância. Um exemplo de situação
que poderia ser abrangida pelo princípio seria a subtração de um pacote de batatas de um supermercado.
São requisitos estabelecidos pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal para a incidência do princípio
da insignificância, EXCETO:

a) mínima ofensividade da conduta do agente.


b) nenhuma periculosidade social da ação.
c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento.
d) inexpressividade da lesão jurídica provocada.
e) ausência de interesse da vítima na persecução penal.

Gabarito: Letra E

Confira a dica do professor Marcelo Veiga:

https://youtu.be/PIsJOsWA84c

37
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Vejamos algumas casuísticas importantes em relação ao princípio da insignificância:

a) PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA x AGENTE REINCIDENTE


Em regra, o STF e o STJ afastam a aplicação do princípio da insignificância aos acusados reincidentes
ou de habitualidade delitiva comprovada. Vale ressaltar, no entanto, que a reincidência não impede, por si
só, que o juiz da causa reconheça a insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto
(STF. Plenário. HC 123108/MG, HC 123533/SP e HC 123734/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em
3/8/2015; STJ. 5ª Turma EDcl-AgRg-AREsp 1.631.639- SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 19/05/2020)

Obs.: Ao criminoso habitual, tanto o STF como o STJ, costumam negar a aplicação

Informativo 575, STJ. A reiteração criminosa inviabiliza a aplicação do princípio da


insignificância nos crimes de descaminho, ressalvada a possibilidade de, no caso
concreto, as instâncias ordinárias verificarem que a medida é socialmente
recomendável. Assim, pode-se afirmar que: Em regra, não se aplica o princípio da
insignificância para o agente que praticou descaminho se ficar demonstrada a sua
reiteração criminosa (criminoso habitual). Exceção: o julgador poderá aplicar o
referido princípio se, analisando as peculiaridades do caso concreto, entender
que a medida é socialmente recomendável. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.217.514-RS, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 9/12/2015 (Info 575).

Assim, de acordo com o caso concreto, é possível sim aplicar a insignificância mesmo para réus
reincidentes. Veja recentes julgados em que os Tribunais Superiores aplicaram o princípio da insignificância
mesmo havendo a reincidência.

Em regra, a habitualidade delitiva específica (ou seja, o fato de o réu já responder


a outra ação penal pelo mesmo delito) é um parâmetro (critério) que afasta o
princípio da insignificância mesmo em se tratando de bem de reduzido valor.
Excepcionalmente, no entanto, as peculiaridades do caso concreto podem justificar
o afastamento dessa regra e a aplicação do princípio, com base na ideia da
proporcionalidade. É o caso, por exemplo, do furto de um galo, quatro galinhas
caipiras, uma galinha garnizé e três quilos de feijão, bens avaliados em pouco mais
de cem reais. O valor dos bens é inexpressivo e não houve emprego de violência.
Enfim, é caso de mínima ofensividade, ausência de periculosidade social, reduzido
grau de reprovabilidade e inexpressividade da lesão jurídica. Mesmo que conste em
desfavor do réu outra ação penal instaurada por igual conduta, ainda em trâmite,
a hipótese é de típico crime famélico. A excepcionalidade também se justifica por
38
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

se tratar de hipossuficiente. Não é razoável que o Direito Penal e todo o aparelho


do Estado-polícia e do Estado-juiz movimente-se no sentido de atribuir relevância
a estas situações. STF. 2ª Turma. HC 141440 AgR/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado
em 14/8/2018 (Info 911).

É possível aplicar o princípio da insignificância para o furto de mercadorias avaliadas


em R$ 29,15, mesmo que a subtração tenha ocorrido durante o período de repouso
noturno e mesmo que o agente seja reincidente. Vale ressaltar que os produtos
haviam sido furtados de um estabelecimento comercial e que logo após o agente
foi preso, ainda na porta do estabelecimento. Objetos furtados: R$ 4,15 em
moedas, uma garrafa de Coca-Cola, duas garrafas de cerveja e uma garrafa de pinga
marca 51, tudo avaliado em R$ 29,15. STF. 2ª Turma. HC 181389 AgR/SP, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 14/4/2020 (Info 973).

É possível aplicar o princípio da insignificância para furto de bem avaliado em R$


20,00 mesmo que o agente tenha antecedentes criminais por crimes patrimoniais

É possível a aplicação do princípio da insignificância para o agente que praticou o


furto de um carrinho de mão avaliado em R$ 20,00 (3% do salário-mínimo), mesmo
ele possuindo antecedentes criminais por crimes patrimoniais. STF. 1ª Turma. RHC
174784/MS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 11/2/2020 (Info 966).

Pergunta: e ao multirreincidente, é possível aplicação do princípio da insignificância?


Em regra, NÃO. Mas atenção ao julgado recentíssimo do STJ (19/05/22):

1. A multirreincidência específica, via de regra, afasta a aplicação do princípio da


insignificância no crime de furto. Entretanto, em casos excepcionais, nos quais é
reduzidíssimo o grau de reprovabilidade da conduta, tem esta Corte Superior
admitido a incidência do referido princípio, ainda que existentes outras
condenações.
2. O furto simples, em um supermercado, de quatro barras de chocolate, avaliadas
em R$26,92 – quantia que corresponde a 2,77% do salário-mínimo vigente à época
-, restituídas à Vítima, traz excepcionalidade que autoriza o reconhecimento da
atipicidade material da conduta.
3. Agravo regimental da Defesa provido para, conhecendo do agravo, negar
provimento ao recurso especial do Ministério Público. (AgRg no AREsp
1899839/MG, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR CONVOCADO

39
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

DO TRF 1ª REGIÃO), Rel. p/ Acórdão Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado
em 19/04/2022, DJe 19/05/2022)

É possível a aplicação ao réu reincidente quando o crime anterior tutelava bem jurídico distinto
patrimônio, é o que o STF chamou de TEORIA DA REITERAÇÃO NÃO CUMULATIVA DE CONDUTAS DE
GÊNEROS DISTINTOS (*termo de prova).

Entendendo a fonte da expressão acima que foi utilizada no seguinte julgado do STF:

TURMA HABEAS CORPUS 114.723, MINAS GERAIS


RELATOR : MIN. TEORI ZAVASCKI

FURTO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INCIDÊNCIA. VALOR DOS BENS


SUBTRAÍDOS. INEXPRESSIVIDADE DA LESÃO. CONTUMÁCIA DE INFRAÇÕES
PENAIS CUJO BEM JURÍDICO TUTELADO NÃO É O PATRIMÔNIO.
DESCONSIDERAÇÃO. ORDEM CONCEDIDA. 1. Segundo a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal, para se caracterizar hipótese de aplicação do denominado
“princípio da insignificância” e, assim, afastar a recriminação penal, é indispensável
que a conduta do agente seja marcada por ofensividade mínima ao bem jurídico
tutelado, reduzido grau de reprovabilidade, inexpressividade da lesão e nenhuma
periculosidade social. 2. Nesse sentido, a aferição da insignificância como requisito
negativo da tipicidade envolve um juízo de tipicidade conglobante, muito mais
abrangente que a simples expressão do resultado da conduta. Importa investigar o
desvalor da ação criminosa em seu sentido amplo, de modo a impedir que, a
pretexto da insignificância apenas do resultado material, acabe desvirtuado o
objetivo a que visou o legislador quando formulou a tipificação legal. Assim, há de
se considerar que “a insignificância só pode surgir à luz da finalidade geral que dá
sentido à ordem normativa” (Zaffaroni), levando em conta também que o próprio
legislador já considerou hipóteses de irrelevância penal, por ele erigidas, não para
excluir a tipicidade, mas para mitigar a pena ou a persecução penal. 3. Trata-se de
furto de um engradado que continha vinte e três garrafas vazias de cerveja e seis
cascos de refrigerante, também vazios, bens que foram avaliados em R$ 16,00 e
restituídos à vítima. Consideradas tais circunstâncias, é inegável a presença dos
vetores que autorizam a incidência do princípio da insignificância. 4. À luz da teoria
da reiteração não cumulativa de condutas de gêneros distintos, a contumácia de
infrações penais que não têm o patrimônio como bem jurídico tutelado pela
norma penal não pode ser valorada, porque ausente a séria lesão à propriedade
alheia (socialmente considerada), como fator impeditivo do princípio da

40
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

insignificância. 5. Ordem concedida para restabelecer a sentença de primeiro grau,


na parte em que reconheceu a aplicação do princípio da insignificância e absolveu
o paciente pelo delito de furto.

Ressalta-se ainda que, em 2018 e 2019, os Tribunais Superiores tinham encontrado uma espécie de
“meio termo” entre a aplicação do princípio da insignificância e a reincidência do agente.
Isso porque, no caso concreto, o juiz via que, pelo critério objetivo, o réu faria jus à insignificância,
mas que os critérios subjetivos não estariam preenchidos, em razão da reincidência. Então, considerando a
proporcionalidade, o STF criou um “meio termo”: ao invés de absolver por atipicidade material da conduta,
aplicou outros institutos mais benéficos, como a substituição da pena privativa de liberdade por pena
restritiva de direitos. Vejamos os julgados em que os Tribunais Superiores aplicaram esse entendimento:

Possibilidade de aplicar o regime inicial aberto ao condenado por furto, mesmo


ele sendo reincidente, desde que seja insignificante o bem subtraído. A
reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância
penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto. No entanto, com base no
caso concreto, o juiz pode entender que a absolvição com base nesse princípio é
penal ou socialmente indesejável. Nesta hipótese, o magistrado condena o réu, mas
utiliza a circunstância de o bem furtado ser insignificante para fins de fixar o regime
inicial aberto. Desse modo, o juiz não absolve o réu, mas utiliza a insignificância
para criar uma exceção jurisprudencial à regra do art. 33, § 2º, “c”, do CP, com base
no princípio da proporcionalidade STF. 1ª Turma. HC 135164/MT, Rel. Min. Marco
Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 23/4/2019 (Info 938).

STF reconheceu que o valor econômico do bem furtado era muito pequeno, mas,
como o réu era reincidente, em vez de absolvê-lo aplicando o princípio da
insignificância, o Tribunal utilizou esse reconhecimento para conceder a pena
restritiva de direitos
Em regra, o reconhecimento do princípio da insignificância gera a absolvição do réu
pela atipicidade material. Em outras palavras, o agente não responde por nada. Em
um caso concreto, contudo, o STF reconheceu a insignificância do bem subtraído,
mas, como o réu era reincidente em crime patrimonial, em vez de absolvê-lo, o
Tribunal utilizou esse reconhecimento para conceder a substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos. Em razão da reincidência, o STF
entendeu que não era o caso de absolver o condenado, mas, em compensação,
determinou que a pena privativa de liberdade fosse substituída por restritiva de

41
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

direitos. STF. 1ª Turma. HC 137217/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 28/8/2018 (Info 913).

#PENSANDONADISCURSIVA - Justificativas

A favor da aplicação da insignificância ao reincidente: se a natureza jurídica é de causa de exclusão de


tipicidade, deve ser analisado o FATO e não os atributos do agente, sob pena de se utilizar o direito penal do
autor. O fato não poderia ser típico para uma pessoa e atípico para outra. Ou é típico ou não é. O momento
de analisar as condições pessoais do agente é apenas em eventual e futura fixação de pena.
Contra a aplicação da insignificância ao reincidente: Se o agente é infrator contumaz, com personalidade
voltada a práticas delitivas, fazer uso da insignificância seria incentivá-lo ao contínuo descumprimento da
norma, fazendo do crime um meio de vida. O valor de um bem, isoladamente, até poderia ser insignificante,
mas o “todo” não seria e isso caracterizaria reprovabilidade e ofensividade. O intuito do princípio não é
legitimar esse tipo de conduta, mas afastar do campo de incidência do direito penal, desvios mínimos e
isolados.

b) INSIGNIFICÂNCIA x FURTO QUALIFICADO

STF/STJ: Via de regra, entendem não ser possível a aplicação do princípio da insignificância no furto
qualificado, pois falta o requisito do reduzido grau de reprovabilidade do comportamento. No entanto,
recentemente, o Plenário do STF analisou a questão e entendeu que não há como fixar tese sobre isso, que
também deve ser analisado caso a caso. (STF-HC 123108/MG).
Ressalta-se que, em um julgado recente, o STJ entendeu pela aplicação do referido princípio, à luz da
análise do caso concreto. Veja:

Em regra, não se aplica o princípio da insignificância ao furto qualificado, salvo


quando presentes circunstâncias excepcionais que recomendam a medida. A
despeito da presença de qualificadora no crime de furto possa, à primeira vista,
impedir o reconhecimento da atipicidade material da conduta, a análise conjunta
das circunstâncias pode demonstrar a ausência de lesividade do fato imputado,
recomendando a aplicação do princípio da insignificância. STJ. 5ª Turma. HC
553872-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 11/02/2020 (Info
665).

CASO CONCRETO JULGADO PELO STJ


(Situação hipotética) - Adriana e Janaína, em concurso de pessoas, subtraíram dois
pacotes de linguiça, um litro de vinho, uma lata de refrigerante e quatro salgados
42
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

de um supermercado. Os bens subtraídos foram avaliados em R$ 69,23. As duas


foram presas no estacionamento do supermercado e não houve prejuízo para o
estabelecimento.
O Ministério Público ofereceu denúncia contra elas pela prática de furto
qualificado, tipificado no art. 155, § 4º, IV, do Código Penal. A defesa pediu a
absolvição com base na aplicação do princípio da insignificância. O juiz, contudo,
negou o pedido argumentando que não se pode aplicar o princípio da
insignificância no caso de furto qualificado.
Como regra, a aplicação do princípio da insignificância tem sido rechaçada nas
hipóteses de furto qualificado, tendo em vista que tal circunstância denota, em
tese, maior ofensividade e reprovabilidade da conduta. Deve-se, todavia,
considerar as circunstâncias peculiares de cada caso concreto, de maneira a
verificar se, diante do quadro completo do delito, a conduta do agente representa
maior reprovabilidade a desautorizar a aplicação do princípio da insignificância.
No caso concreto, a 5ª Turma do STJ aplicou o princípio da insignificância e absolveu
as acusadas. Afirmou-se que “muito embora a presença da qualificadora possa, à
primeira vista, impedir o reconhecimento da atipicidade material da conduta, a
análise conjunta das circunstâncias demonstra a ausência de lesividade do fato
imputado, recomendando a aplicação do princípio da insignificância.”

(Sim, amigo concurseiro, nem o STF se entende! Você não está sozinho nessa! Mas a você, cabe entender a
situação e analisar a melhor alternativa, a forma como cada uma está descrita, na hora de marcar. Se for
prova discursiva ou oral, exponha ambos posicionamentos.)

c) INSIGNIFICÂNCIA x BENS JURÍDICOS DIFUSOS/COLETIVOS

Em regra, se o bem jurídico é difuso ou coletivo, os tribunais superiores vêm entendendo pela NÃO
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA, pois se estaria atingindo a coletividade e, portanto, não
caberia a insignificância da lesão.
Além disso, normalmente os crimes contra bens jurídicos difusos/coletivos são crimes de perigo
abstrato, motivo pelo qual, de “perigo presumido” pelo legislador.

▪ Tráfico de drogas – não aplicação do princípio, por se tratar de crime de perigo abstrato (perigo
presumido, de acordo com a jurisprudencia do STJ), sendo irrelevante a quantidade de droga
apreendida. HC 318926, STJ – 2015

43
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

#QUESTÃODEPROVA: Delta ES – 2019: Foi considerada correta a seguinte afirmativa: “ainda que com pouca
quantidade de droga o princípio da insignificância não incide no crime de tráfico de drogas, não sendo
fundamento para recomendação de arquivamento do inquérito policial por atipicidade”.

▪ Porte de drogas para consumo pessoal – tema controvertido.


 Amplamente majoritário + jurisprudência do STJ – impossibilidade da insignificância em razão de se
tratar de crime de perigo abstrato. STJ, 6ª T, RHC 35920-DF (INFO 541)
 STF tem um precedente isolado admitindo a aplicação da insignificância (o que não indica posição
consolidada do STF). (STF, 1ª T, HC 110475/2012)

▪ Crime de moeda falsa: Inaplicabilidade do princípio, AINDA QUE SEJA 1 ÚNICA NOTA DE PEQUENO
VALOR, uma vez que se trata de crime contra a fé pública, havendo o interesse do Estado e da
coletividade em não ter a fé pública abalada por aquela falsificação. Considerando que se trata de
um bem jurídico coletivo difuso “fé pública”, não se leva em consideração somente o aspecto
material/patrimonial do bem falsificado, mas sim um bem coletivo. Essa argumentação se aplica aos
outros crimes contra a fé pública

▪ Crimes ambientais: Em regra, nos crimes com bem jurídico difuso/coletivo, não se aplica o princípio
da insignificância, pois a lesividade/exposição a perigo transcende o aspecto individual. No entanto,
nos crimes ambientais, essa regra é invertida, uma vez que os tribunais superiores adotam como
regra a possibilidade de aplicação do princípio da insignificância em crimes ambientais, devendo
ser analisadas as circunstâncias específicas no caso concreto para verificar a atipicidade da conduta
em exame/verificar se aquela conduta não gerou efetivamente um perigo ao meio ambiente. (Info
816)

É possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes ambientais,


devendo ser analisadas as circunstâncias específicas do caso concreto para se
verificar a atipicidade da conduta em exame. STJ. 5° Turma. AgRg no AREsp
654.321/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 09/06/2015. É
possível aplicar o princípio da insignificância para crimes ambientais. STF. 2ª Turma.
Inq 3788/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 1°/3/2016 (Info 816).

 Exceção à regra específica dos crimes ambientais: pela jurisprudência amplamente


dominante, não se pode aplicar o princípio da insignificância ao crime de pesca ilegal. – STF,
1ª TURMA, HC 122560/SC (2018) – Info 901

O princípio da bagatela não se aplica ao crime previsto no art. 34, caput c/c
parágrafo único, II, da Lei 9.605/98: Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja
44
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

proibida ou em lugares interditados por órgão competente: Pena - detenção de um


ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Parágrafo único.
Incorre nas mesmas penas quem: II - pesca quantidades superiores às permitidas,
ou mediante a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não
permitidos; Caso concreto: realização de pesca de 7kg de camarão em período de
defeso com o uso de método não permitido. STF. 1ª Turma. HC 122560/SC, Rel.
Min. Marco Aurélio, julgado em 8/5/2018 (Info 901).
Outro caso concreto: realização de pesca com rede de oitocentos metros e
apreensão de oito quilos de pescados. STF. 2ª Turma. HC-AgR 163.907-RJ. Relª Min.
Cármen Lúcia, julgado em 17/03/2020.

Obs: apesar de a redação utilizada no informativo original ter sido bem


incisiva (“O princípio da bagatela não se aplica ao crime previsto no art. 34,
caput c/c parágrafo único, II, da Lei 9.605/98”), existem julgados tanto do STF
como do STJ aplicando, excepcionalmente, o princípio da insignificância para
o delito de pesca ilegal. Deve-se ficar atenta(o) para como isso será cobrado
no enunciado da prova.
Fonte: dizer o Direito

No entanto, há hipóteses em que a própria jurisprudência flexibiliza a exceção da pesca ilegal, como,
por exemplo:

• O STJ (Info 602 – 6ª Turma. RESP 1409051 – 2017) afirmou, de forma excepcional, pela aplicação do
princípio da insignificância no caso de pesca ilegal, na hipótese em que o indivíduo pescou 1 único
peixe e devolveu esse peixe vivo ao rio, não havendo um prejuízo efetivo ao meio ambiente.
• Se a pessoa é flagrada sem nenhum peixe efetivamente pescado, mas portando consigo
equipamentos de pesca, em um local onde essa atividade é proibida. Nessa hipótese
pontual/casuística, temos discussão nos tribunais superiores, pois há 2 julgados da mesma turma em
sentidos opostos:
 SIM (possibilidade de aplicação da insignificância) - STF (info 816) – STF, 2ª Turma, inq.
3788/DF (2016)
 NÃO – STF (info 845 – 2016) – não pode aplicar

Embora sejam julgados anteriores ao informativo 901, pode ser interessante abordar em uma
prova discursiva/oral.

d) INSIGNIFICÂNCIA x CRIMES TRIBUTÁRIOS E DESCAMINHO

45
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Em regra, o princípio da insignificância se aplica aos crimes tributários federais e de descaminho


[também é um crime tributário] quando o crédito tributário não ultrapassar o limite de 20.000 reais, a teor
do disposto no art. 20 da Lei 10.522/02 com as atualizações efetivadas pelas portarias nº 75 e 130 do
Ministério da Fazenda.

Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho


quando o débito tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00
(vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, com as
atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas do Ministério da
Fazenda. STJ. 3ª Seção. REsp 1.709.029/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado
em 28/02/2018 (recurso repetitivo).

Observações importantes:

1) O valor máximo para aplicar o princípio da insignificância é de 20 mil reais (e agora, tanto para o
STF como para o STJ).

Explicação para adotar o valor de 20 mil reais: (Fonte: Dizer o Direito)


 Esse valor foi fixado pela jurisprudência tendo como base a Portaria MF nº 75, de 29/03/2012, na
qual o Ministro da Fazenda determinou, em seu art. 1º, inciso II, “o não ajuizamento de execuções
fiscais de débitos com a Fazenda Nacional, cujo valor consolidado seja igual ou inferior a R$
20.000,00 (vinte mil reais).”
 Em outros termos, essa Portaria determina que, até o valor de 20 mil reais, os débitos inscritos como
Dívida Ativa da União não serão executados.
 Com base nisso, a jurisprudência construiu o seguinte raciocínio: ora, não há sentido lógico permitir
que alguém seja processado criminalmente pela falta de recolhimento de um tributo que nem sequer
será cobrado no âmbito administrativo-tributário. Se a própria “vítima” não irá cobrar o valor, não
faz sentido aplicar o direito penal contra o autor desse fato.
 Vale lembrar que o direito penal é a ultima ratio. Se a Administração Pública entende que, em razão
do valor, não vale a pena movimentar a máquina judiciária para cobrar a quantia, com maior razão
também não se deve iniciar uma ação penal para punir o agente.

2) O princípio da insignificância aplica-se somente aos crimes tributários federais!!! Não se aplica aos
crimes tributários estaduais!
Esse valor de 20 mil para aplicação da insignificância deve ser considerado para tributos FEDERAIS!!!
(Info 540, STJ), de modo que esse parâmetro não serve para tributos estaduais/municipais. Isso porque o art.
20 a Lei 10522, bem como as portarias, regram a questão tributária da União. Assim, caso se aplicasse essa
regra no plano estadual, haveria uma ingerência indevida na autonomia dos estados.
46
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Não pode ser aplicado para fins de incidência do princípio da insignificância nos
crimes tributários estaduais o parâmetro de R$ 20.000,00 (vinte mil reais),
estabelecido no art. 20 da Lei 10.522/2002, devendo ser observada a lei estadual
vigente em razão da autonomia do ente federativo. STJ. 5ª Turma. AgRg-HC
549.428-PA. Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/05/2020.

3) Não se aplica o princípio da insignificância ao crime de contrabando!!! (Somente se aplica ao crime


de descaminho!!!)
Não se aplica porque o objeto sobre o qual recai a conduta proibida no crime de contrabando é
“mercadoria proibida”, e não a mera sonegação. Assim, o bem jurídico tutelado não é apenas a questão
financeira do ente estatal, mas também a saúde pública/incolumidade pública, uma vez que o estado, por
motivos de saúde pública/incolumidade pública, proíbe a importação ou exportação de determinada
mercadoria. (Crime pluriofensivo).

STJ. 3ª Seção. REsp 1688878-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
28/02/2018 (recurso repetitivo).

STF. 1ª Turma. HC 137595 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 07/05/2018.

STF. 2ª Turma. HC 155347/PR, Rel. Min. Dias Tóffoli, julgado em 17/4/2018 (Info
898).

Exceção: No STJ, temos um precedente ISOLADO em sentido contrário, admitindo a aplicação do


princípio da insignificância ao crime de contrabando de pequena quantidade de medicamento destinada a
uso próprio. Trata-se de um caso extremamente específico em que o STJ reconheceu a mínima ofensividade
da conduta do agente, ausência periculosidade da ação, reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento e inexpressividade da lesão jurídica provocada, autorizando excepcionalmente a aplicação
do princípio da insignificância.

STJ, 5ª T, EDcl no AgRg no Resp 1708371/PR – 2018

e) INSIGNIFICÂNCIA x CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


• STF - Antes não admitia, mas possui decisões recentes admitindo, como por exemplo, em caso de
peculato.
• STJ – Possui entendimento sumulado negando a aplicação (súmula 599).

47
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Súmula 599-STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a


administração pública.

Porém, STF e STJ admitem nos crimes contra a Administração Pública praticados por particulares, a
exemplo do descaminho, que, apesar de ser um crime tributário, topograficamente, estão inseridos no título
dos Crimes contra a Administração Pública, então cuidado em prova!

ATENÇÃO: HC 642.831 - Segundo a 5ª turma do STJ, o alto grau de reprovabilidade da conduta do


cidadão que oferece dinheiro ao agente de trânsito para evitar o exame do bafômetro é suficiente para
impedir a aplicação do princípio da insignificância e a consequente absolvição por atipicidade da conduta.
Ressalta-se uma peculiaridade do caso em tela: Depois da tentativa de suborno, o exame de alcoolemia deu
resultado negativo. No entanto, tal circunstância também não foi suficiente para aplicar o princípio da
insignificância ao caso.

#QUESTÃODEPROVA: Na prova de Delta ES – 2019, foi considerada INCORRETA a seguinte alternativa:


“Segundo o STJ, nenhum dos crimes contra a administração pública admite a incidência do princípio da
insignificância”. A questão foi objeto de vários recursos e a banca não anulou justamente por ter utilizado a
palavra “nenhum” e ser aplicável ao descaminho. Além disso, tinha outra que era “mais certa” que essa. É
como já havíamos falado. Tem que pensar na mais certa! Fique de olho nas palavras-chave ou se a banca
pediu o entendimento sumulado.

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA – ENTENDIMENTOS JURISPRUDENCIAIS:


1. STF/STJ: para aplicação do princípio da insignificância, considera-se a capacidade econômica da vítima (STJ-
Resp. 1.224.795).

2. STF/STJ: admitem a aplicação a atos infracionais.

3. STF: O princípio da insignificância pode ser reconhecido mesmo após o trânsito em julgado da sentença
condenatória (STF-HC 95570).

4. “Flanelinha” e exercício da profissão sem registro competente: STF admite a aplicação (Info. 699).

5. STF/STJ NÃO admitem o princípio da insignificância nos crimes contra a fé pública, mais precisamente, nos
crimes de moeda falsa (STF-HC105.829).

6. STF/STJ: Não se aplica o princípio da insignificância aos delitos praticados em situação de violência doméstica
(STJ-HC 33195/MS; STF-RHC 133043/MT).

7. STF/STJ: Ao Tráfico internacional de armas e munições não se aplica o princípio da insignificância (STF-HC
97777), de igual modo é inaplicável aos crimes de posse e porte de arma de fogo (STJ-HC 338153/RS). Obs.: É
atípica a conduta daquele que porta, na forma de pingente, munição desacompanhada de arma. (STF - HC

48
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

133984/MG)

8. Crimes contra a vida, lesões corporais, crimes praticados com violência ou grave ameaça à pessoa, crimes
sexuais, tráfico de drogas – nenhum admite.

9. Porte de drogas para uso (art. 28 da LD) – Majoritariamente, o STF e o STJ não aplicam a insignificância, nem
mesmo em se tratando de quantidades ínfimas, pelo fato de ser crime de perigo presumido e o bem tutelado
ser a saúde pública. No entanto, há um antigo julgado isolado do STF permitindo a aplicação.

10. Violação de direito autoral – não se aplica.

11. Apropriação indébita previdenciária:


ANTES: havia divergência entre o STJ e o STJ.
AGORA: tanto o STF como o STJ afirmam que é inaplicável o princípio da insignificância ao crime de apropriação
indébita previdenciária.
Não se aplica o princípio da insignificância para o crime de apropriação indébita previdenciária. Não é possível a
aplicação do princípio da insignificância aos crimes de apropriação indébita previdenciária e de sonegação de
contribuição previdenciária, independentemente do valor do ilícito, pois esses tipos penais protegem a própria
subsistência da Previdência Social, de modo que é elevado o grau de reprovabilidade da conduta do agente que
atenta contra este bem jurídico supraindividual. O bem jurídico tutelado pelo delito de apropriação indébita
previdenciária é a subsistência financeira da Previdência Social. Logo, não há como afirmar-se que a reprovabilidade
da conduta atribuída ao paciente é de grau reduzido, considerando que esta conduta causa prejuízo à arrecadação
já deficitária da Previdência Social, configurando nítida lesão a bem jurídico supraindividual. O reconhecimento da
atipicidade material nesses casos implicaria ignorar esse preocupante quadro. STF. 1ª Turma. HC 102550, Rel. Min.
Luiz Fux, julgado em 20/09/2011. STF. 2ª Turma. RHC 132706 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/06/2016.
STJ. 3ª Seção. AgRg na RvCr 4.881/RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/05/2019

12. Crimes ambientais:


STJ: É possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes ambientais, devendo ser analisadas as
circunstâncias específicas do caso concreto para se verificar a atipicidade da conduta em exame (STJ AgRg no AREsp
654.321/SC).
STF: Já negou em situação de pesca ilegal, a um indivíduo flagrado junto a outras três pessoas, POR TRÊS VEZES
CONSECUTIVAS, em embarcação motorizada, praticando pesca em local proibido e com redes de arrasto de fundo
(HC 137652).
- Já negou em caso de realização de pesca de 7kg de camarão em período de defeso com o uso de método não
permitido (HC 122560/SC).
- A partir do caso acima, publicou a seguinte redação no Info 891: O princípio da bagatela não se aplica ao crime
previsto no art. 34, caput c/c parágrafo único, II, da Lei 9.605/98 (pesca ilegal).
- No entanto, existem julgados tanto do STF como do STJ aplicando, excepcionalmente, o princípio da insignificância
para este delito. Atente-se ao comando da questão!

13. É possível aplicar o princípio da insignificância para a conduta de manter rádio clandestina? Para o STJ NÃO,
mesmo que seja de baixa potência, por ser crime formal de perigo abstrato. Para o STF SIM, em situações
excepcionais, se for operada em baixa frequência.

49
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Súmula 606-STJ: não se aplica o princípio da insignificância aos casos de transmissão clandestina de sinal de
internet via radiofrequência que caracterizam o fato típico previsto no artigo 183 da lei 9.472/97. (O STF tem um
julgado publicado em informativo em sentido contrário, ou seja, aplicando, mas a maioria das decisões é no
mesmo sentido do STJ.)

14. STJ – Info 672/2020: Não se admite a incidência do princípio da insignificância na prática de estelionato
qualificado por médico que, no desempenho de cargo público, registra o ponto e se retira do hospital.
Cinge-se a controvérsia a saber acerca da possibilidade do trancamento de ação penal pelo reconhecimento de crime
bagatelar no caso de médico que, no desempenho de seu cargo público, teria registrado seu ponto e se retirado do
local, sem cumprir sua carga horária. A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça não tem admitido, nos casos
de prática de estelionato qualificado, a incidência do princípio da insignificância, inspirado na fragmentariedade do
Direito Penal, em razão do prejuízo aos cofres públicos, por identificar maior reprovabilidade da conduta delitiva.
Destarte, incabível o pedido de trancamento da ação penal, sob o fundamento de inexistência de prejuízo expressivo
para a vítima, porquanto, em se tratando de hospital universitário, os pagamentos aos médicos são provenientes de
verbas federais. AgRg no HC 548.869-RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em
12/05/2020, DJe 25/05/2020

#ATENÇÃO: Delegado pode aplicar o princípio da insignificância?


Para o STJ NÃO! Apenas o juiz pode. HC 154.949/MG. Assim, a autoridade policial estaria obrigada a
efetuar a prisão em flagrante, submetendo a questão à análise de autoridade judiciária.
No entanto, parte da doutrina, a exemplo de Cleber Masson, posiciona-se contra tal entendimento,
pelo fato de tratar a insignificância de afastamento da tipicidade do fato. E ora, se o fato não é típico para o
juiz, também não será para delegado!
Para esta segunda corrente, principalmente na análise da legalidade da prisão em flagrante, o
delegado não só poderia, como DEVERIA analisar a presença dos elementos que traduzem a insignificância,
vez que não seria razoável ratificar a prisão de quem subtraiu um pão de queijo de uma padaria, por exemplo,
sob pena de inobservância de vários princípios, como lesividade, proporcionalidade, subsidiariedade,
intervenção mínima.
No estado de São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, no Seminário Integrado de Polícia Judiciária,
foram aprovadas súmulas que orientam a atuação dos delegados nesse sentido. O estado do Paraná, embora
não possuam súmulas, utilizam as do Rio de Janeiro, de modo que os delegados de polícia lá aplicam o
princípio da insignificância!
A solução para que você, caro aluno, resolva a questão, é analisar a forma como isso está sendo
questionado. Se a pergunta for sobre o STJ, delegado não pode. Se a questão afirmar de forma mais próxima
ao entendimento doutrinário, for de um estado como o de São Paulo que já se posicionou sobre o tema ou
for silente sobre a fonte e essa opção “parecer a mais certa”, tome partido da carreira e marque a que
permite a análise pelo delegado.

50
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Para finalizar o estudo deste princípio, precisamos ainda fazer uma última diferenciação: BAGATELA
PRÓPRIA X BAGATELA IMPRÓPRIA1, o que faremos com a ajuda do Dizer o Direito.

INFRAÇÃO BAGATELAR PRÓPRIA INFRAÇÃO BAGATELAR IMPRÓPRIA


= PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA = PRINCÍPIO DA IRRELEVÂNCIA PENAL DO FATO

A situação nasce penalmente relevante. O fato é


A situação já nasce atípica. típico do ponto vista formal e material.
O fato é atípico por atipicidade material. Em virtude de circunstâncias envolvendo o fato e o
seu autor, consta-se que a pena se tornou
desnecessária.

O agente tem que ser processado (a ação penal


O agente não deveria nem mesmo ser processado deve ser iniciada) e somente após a análise das
já que o fato é atípico. peculiaridades do caso concreto, o juiz poderia
reconhecer a desnecessidade da pena.

Não tem previsão legal no direito brasileiro. Está previsto no art. 59 do CP, conforme a doutrina.

Enquanto para a infração bagatelar própria já nasce irrelevante por se tratar de conduta
materialmente atípica, “a infração bagatelar imprópria é aquela que nasce relevante para o Direito penal,
mas depois se verifica que a aplicação de qualquer pena no caso concreto apresenta-se totalmente
desnecessária” (GOMES, Luiz Flávio; Antonio Garcia-Pablos de Molina. Direito Penal Vol. 2, São Paulo: RT,
2009, p.305)”.
Em outras palavras, o fato é típico, tanto do ponto de vista formal como material. No entanto, em
um momento posterior à sua prática, percebe-se que não é necessária a aplicação da pena. Logo, a
reprimenda não deve ser imposta, deve ser relevada (assemelhando-se ao perdão judicial.
Porém, ao contrário do instituto mencionado, as situações em que a bagatela imprópria é aplicável
não estão expressamente previstas.
Segundo LFG, este instituto possui fundamento legal no direito brasileiro (porém, de forma implícita
e “genérica” – termos nossos). Trata-se do art. 59 do CP que prevê que o juiz deverá aplicar a pena “conforme
seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime”.
Dessa forma, se a pena não for mais necessária, ela não deverá ser imposta (princípio da
desnecessidade da pena conjugado com o princípio da irrelevância penal do fato).

1
Fonte: https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2015/01/ebook-princc3adpio-da-
insignificc3a2ncia-vf.pdf
51
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

A bagatela imprópria foi acolhida pela 5ª Turma do STJ, confirmando decisão da 1ª e 2ª instâncias
judiciais no AgRg no AREsp 1423492 / RN (decisão publicada 29/05/2019)

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. POSSE ILEGAL


DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. CRIME SEM
VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA. DELITO COMETIDO HÁ MAIS DE 12 ANOS.
INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA BAGATELA IMPRÓPRIA. REQUISITOS PREENCHIDOS.
DESNECESSIDADE DA PENA. REEXAME DO CONJUNTO PROBATÓRIO. APLICAÇÃO
DA SÚMULA N. 7 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – STJ. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO. 1. Entendo as instâncias ordinárias ser desnecessária a punição do
acusado, porque presentes os requisitos para a aplicação do princípio da bagatela
imprópria, para se concluir de forma diversa, seria imprescindível o reexame do
conjunto probatório dos autos, o que não é viável em recurso especial. Incidente a
Súmula n. 7/STJ. 2. Agravo regimental desprovido.

SIMPLIFICANDO:
– Princípio da insignificância ou da bagatela própria – O fato já nasce atípico, por atipicidade
material.
Natureza jurídica bagatela própria: Causa Supralegal de extinção de tipicidade material, devendo ser
analisado em conexão com os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima.
O princípio da insignificância impróprio pressupõe uma análise do que ocorreu após a prática do
crime até o momento do julgamento. Exemplo: o réu se casou, teve filhos, tem uma empresa com mais de
50 funcionários. Nesses casos o juiz reconhece a existência do crime, mas conclui que a pena não é
necessária. Aqui não há causa supralegal de exclusão de tipicidade, há causa supralegal de extinção de
punibilidade. O Estado reconhece o crime, mas conclui pela desnecessidade da punição, ela não é mais
vantajosa para a sociedade.
A análise da pertinência da bagatela imprópria há de ser realizada, obrigatoriamente, na situação
fática, jamais no plano abstrato. Atente-se também para a necessidade de se observar que a bagatela
imprópria tem como pressuposto inafastável a não incidência do princípio da insignificância (próprio). Afinal,
se o fato não era merecedor da tutela penal em decorrência da sua atipicidade, descabe enveredar pela
discussão acerca da necessidade ou não da pena.
Natureza jurídica bagatela imprópria: Causa supralegal de extinção de punibilidade. O estado
reconhece o crime, mas conclui pela desnecessidade da pena, a punição não é vantajosa para a sociedade.

CAIU NA PROVA PC-MS – 2021 – Delegado de Polícia! Apesar de serem conceituadas de maneira diferente,
a bagatela própria e a imprópria, sob o ponto de vista pragmático, geram a mesma consequência, que é a
exclusão da tipicidade material. (Item incorreto) Como mencionado acima, bagatela própria é causa de
exclusão de tipicidade material e bagatela imprópria causa da exclusão da punibilidade.

52
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

7.2 Princípios Relacionados com o Fato do Agente

7.2.1 Princípio da Ofensividade/Lesividade

A doutrina mais especializada aponta uma fundamentação implícita ao princípio da lesividade na


ideia de dignidade da pessoa humana, no sentido de que não se pode instrumentalizar ou objetificar o
homem. Então, quando o Estado criminaliza condutas sem que haja ofensa ou ao menos perigo de ofensa a
um bem jurídico tutelado, está colocando o homem (que está recebendo aquela reprimenda) como
instrumento para a consecução de outra finalidade que não a proteção do próprio homem (ex.: um controle
social que não é legítimo).
Nesse contexto, para que ocorra o delito, é imprescindível a efetiva lesão ou perigo de lesão ao bem
jurídico tutelado.

Crime de dano: exige efetiva lesão ao bem jurídico. (Ex.: homicídio, exige a lesão morte).
Crime de perigo: contenta-se com o risco de lesão ao bem jurídico. (Ex. abandono de
incapaz/omissão de socorro).
a. crime de perigo concreto - o risco de lesão deve ser demonstrado.
b. perigo abstrato: o risco de lesão é absolutamente presumido por lei.
Temos doutrina entendendo que o crime de perigo abstrato é inconstitucional, pois o perigo não
pode ser presumido, mas comprovado. Presumir-se prévia e abstratamente o perigo, significa, em última
análise, que o perigo não existe. Para os adeptos dessa corrente, os crimes de perigo abstrato violariam o
princípio da lesividade. Essa tese, no entanto, hoje não prevalece no STF. No HC 104.410, o Supremo
decidiu que a criação de crimes de perigo abstrato não representa, por si só, comportamento
inconstitucional, mas proteção eficiente do Estado.
Ex.: Embriaguez ao volante – STF decidiu que o ébrio não precisa dirigir de forma anormal para
configurar o crime – bastando estar embriagado (crime de perigo abstrato).
Ex.: Arma desmuniciada – STF – jurisprudência atual – crime de perigo abstrato – demanda efetiva
proteção do Estado.

Nesse sentido, considerando que o princípio da ofensividade exige que, do fato praticado, ocorra
lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado, é certo concluir que o direito penal não deve se ocupar de
questões éticas, morais, religiosas, políticas, filosóficas. Assim, em razão do princípio da lesividade, PROÍBE-
SE:
 A criminalização de pensamentos e cogitações (direito à perversão)
 A criminalização de condutas que não tenham caráter transcendental (vedação à autolesão)
 A criminalização de meros estados existenciais (criminalização da pessoa pelo que ela é – ex:
revogação da contravenção de mendicância).
53
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Aprofundando para prova discursiva...

O princípio da lesividade está diretamente ligado à ideia de bem jurídico, com a chamada: teoria do bem
jurídico. Na vertente do funcionalismo teleológico e racional (Roxin), a teoria do BJ ganha um destaque muito
grande em toda a sistemática penal como uma forma de limitar o poder de punir do estado, como uma forma
de limitar a incidência de tipos penais
São de 4 ordens/ funções e garantias do princípio da lesividade
1) Proibição de incriminar uma atitude interna – motivo pelo qual não se pune a cogitação (fase interna do
inter criminis)
2) Proibição de incriminar condutas que não excedam o âmbito do autor – motivo pelo qual não se pune a
autolesão.
3) Proibição de incriminar simples estados ou condições existenciais - tendo em vista que nosso ordenamento
Jurídico adota o direito penal do fato – e não direito penal do autor.
4) Proibição de incriminar condutas desviadas que não afetam qualquer bem jurídico - motivo pelo qual não
se pune o crime impossível e, em regra, os atos preparatórios.

7.2.2 Princípio da Alteridade

Subprincípio do princípio da lesividade. Dispõe que a conduta deve necessariamente atingir, ou ameaçar
atingir, bem jurídico de terceiro para ser criminalizada. Deve transcender a esfera do próprio agente. Por
isso, o direito penal não pune a autolesão.
Ex.: o artigo 28 da Lei 11.343/06 NÃO tipifica o USO de drogas porque apenas afetaria o usuário. Tipifica o
porte ou similares (guardar, ter em depósito, transportar etc).

7.2.3 Princípio da Exteriorização ou Materialização do Fato

O Estado só pode incriminar condutas humanas voluntárias, fatos, atos lesivos. Ninguém pode ser
castigado por seus pensamentos, desejos ou meras cogitações ou estilo de vida. Esse princípio busca impedir
o direito penal do autor. Decorrência do princípio da lesividade.

7.2.4 Princípio Da Legalidade Estrita Ou Reserva Legal

Encontra previsão no art. 5º, XXXIX da CFRB/88 e no art. 1º do CP: “Não há crime sem lei anterior
que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. Assim, a lei em sentido estrito tem o monopólio na
criação de crimes e cominação de penas – que só serão aplicados a condutas posteriores à sua vigência, não
podendo haver criação de crimes e penas por costumes ou analogias, tampouco tipificação de condutas
genéricas.
54
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Ademais, a lei precisa ser anterior, escrita, estrita, certa (taxativa) e necessária.
A legalidade subdivide-se em:

o Legalidade formal: corresponde à obediência aos trâmites procedimentais previstos pela CF para
que determinado diploma legal possa vir a fazer parte do ordenamento jurídico.
o Legalidade material: pressupõe não apenas a observância das formas e procedimentos impostos
pela CF, mas também, e principalmente, o seu conteúdo, respeitando-se as suas proibições e
imposições para a garantia dos direitos fundamentais por ela previstos.

A doutrina trabalha com uma dupla face do princípio da legalidade. Ora legitimando o Estado, ora
limitando esse poder de punir. Veja:

1) Funções constitutivas - em que eu garanto ao Estado a possibilidade de criminalizar condutas e


cominar penas. Aqui estou trabalhando com o plano da legalidade no sentido de legitimar o Estado
a exercer seu direito de punir através da criminalização de conduta e cominação de penas.
Quando falamos em legalidade na função constitutiva, estou abrangendo a legalidade não só na pena
cominada, mas na pena aplicada e pena executada também.
• Princípio da legalidade direcionado ao legislador – ao cominar as penas
• Princípio da legalidade direcionado ao aplicador do direito – quando o juiz veda que se aplique um
regime de cumprimento de pena mais severo do que o previsto pelo legislador, por exemplo.
• Princípio da legalidade direcionado à Administração Penitenciária - Os órgãos não podem executar
pena diversa daquela prevista em lei e aplicada pelo juiz.

Enunciado da I Jornada de Direito Penal e Processo Penal CJF/STJ

Enunciado 13: O princípio da legalidade impõe que se observe, quando da soma


das penas, o cálculo diferenciado para fins de progressão de regime.

2) Funções de garantia (face de garantia) – busca limitar o poder de punir do estado trazendo garantias
mínimas ao cidadão perante o estado. Exclui penas ilegais por exemplo. Nesse ponto, o princípio da
legalidade se desdobra em 4 máximas:
a) Lex scripta: A lex scripta proibi que se utilize dos costumes como fonte incriminadora do direito penal
b) Lex stricta: proibição do emprego da analogia in malan partem
c) Lex Praevia: Representa o princípio da anterioridade penal: veda a criminalização ex post facto
d) Lex certa (aspecto material do princípio da legalidade): A lex certa materializa a proibição de o
legislado formular tipos penais genéricos, vazios, vagos, etc. (Princípio da taxatividade)

Confira a dica do professor Marcelo Veiga sobre princípio da legalidade:


55
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

https://youtu.be/NGC5PQ7VMOA

Caiu no MPE-PR (2017) - Dentre as proibições derivadas do princípio da legalidade, a fórmula lex scripta
representa a proibição do costume como fundamento de criminalização ou de punição de condutas, e a
fórmula lex certa representa a proibição de indeterminação, de forma a excluir a indefinição e a obscuridade
de leis penais – ASSERTIVA CORRETA!

CESPE/2019 (PRF): A norma penal deve ser instituída por lei em sentido estrito, razão por que é proibida, em
caráter absoluto, a analogia no direito penal, seja para criar tipo penal incriminador, seja para fundamentar
ou alterar a pena. Item Errado.

Fundamentos do princípio da legalidade:


o Político: vinculação do executivo e do judiciário às leis, o que impede o exercício do poder punitivo
com base no livre arbítrio.
o Democrático: o parlamento, escolhido pelo povo, que é responsável pela criação dos tipos
definidores dos crimes.
o Jurídico: a lei deve ser prévia e clara, pois produz efeito intimidativo.

* ATENÇÃO: Medida provisória não pode criar crimes nem penas, mas STF admite para favorecer
o réu (RE 254818/PR).

* ATENÇÃO²: os princípios da reserva legal (estrita legalidade) e o da legalidade são considerados


como sinônimos por parte da doutrina, enquanto outra corrente defende que se diferenciam nos seguintes
aspectos:

56
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

RESERVA LEGAL (estrita legalidade) LEGALIDADE

Art. 5°, XXXIX, CF, “não há crime sem lei Art. 5, II, CF, “ninguém será obrigado a fazer
anterior que o defina, nem pena sem prévia ou deixar de fazer alguma coisa senão em
cominação legal”. virtude de lei”.

Exige lei em sentido estrito (no caso do Exige lei em sentido amplo (abrange qualquer
direito penal, lei ordinária) - a lei deve ser espécie normativa, ou seja, lei delegada,
criada de acordo com o processo legislativo medida provisória, decreto, etc.).
previsto na CF e deve tratar de matéria
constitucionalmente reservada à lei

7.2.4.1 Mandados de Criminalização e Reserva Legal

Em que pese a criação de crimes e cominação de penas seja exclusiva da lei em sentido estrito, a
Constituição Federal estabelece mandados explícitos e implícitos de criminalização, ou seja, situações em
que é obrigatória a intervenção do legislador penal.
Conforme já afirmado pelo STF, “A Constituição de 1988 contém significativo elenco de normas que,
em princípio, não outorgam direitos, mas que, antes, determinam a criminalização de condutas (CF, art. 5º,
XLI, XLII, XLIII, XLIV; art. 7º, X; art. 227, § 4º)” (HC 102.087/MG).
Podem ser de duas espécies:

MANDADOS DE CRIMINALIZAÇÃO EXPRESSOS MANDADOS DE CRIMINALIZAÇÃO


IMPLÍCITOS/TÁCITOS
A ordem está explícita no texto constitucional. A ordem está implícita no texto constitucional. É
retirada da do “espírito” do texto da CF, de sua
interpretação sistemática.
Ex.: Art. 5º, XLII: “a prática do racismo constitui crime Ex: combate à corrupção no poder público.
inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, Embora a CF não tenha determinado expressamente a
nos termos da lei”. criminalização dessa conduta, isso pode ser extraído dos
valores que ela traz, como por exemplo, do artigo 1º
(por ser República, que significa “coisa pública”) e do
art. 37, dos princípios da Adm. Pública (LIMPE).

Tema recente: Até 2016, o crime de terrorismo ainda não tinha sido concretizado na legislação brasileira.
Pela Lei 13.260/16, houve o cumprimento desse mandado de criminalização.

57
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

#VAICAIR: O que seria mandado de criminalização por omissão? Consiste na hipótese do art. 5º, XLIII da CF,
que determina que a omissão, nos casos de crimes hediondos e equiparados, deve ser punida.

A título de conhecimento, há ainda os “mandados internacionais de criminalização”, que também podem


ser expressos, quando essa “ordem” está presente em tratados de direitos humanos ratificados pelo Brasil,
e implícitos, quando advém de uma decisão/sentença de tribunal internacional.

7.2.5 Princípio da Anterioridade

Exteriorizado nos mesmos dispositivos que podemos extrair o princípio da reserva legal.
De acordo com o princípio da anterioridade, a lei penal apenas se aplica a fatos praticados após a sua
entrada em vigor.
Daí, por consequência lógica, deriva a sua irretroatividade, não se aplicando a fatos pretéritos, nem
mesmo os praticados durante a vacatio legis, SALVO se benéfica ao acusado.
Nesse sentido, temos o art. 5º XL da CF, dispondo que “a lei penal não retroagirá, salvo para
beneficiar o réu”.

7.2.6 Princípio da Vedação ao Bis In Idem

Tem previsão no art. 8º, 4 do Pacto de São José da Costa Rica, incorporado ao nosso ordenamento
jurídico pelo Dec. 678/1992.
Proíbe que o agente seja punido duas vezes pelo mesmo fato, inclusive sopesando a mesma situação
ou circunstância para agravar a pena em mais de um momento da dosimetria. Como exemplo, temos a
Súmula 241 do STJ proíbe o uso de uma única reincidência como circunstância judicial desfavorável e como
agravante, pois haveria violação a este princípio.

7.2.7 Princípio da Adequação Social

Idealizado por Hans Welzel, este princípio traz a ideia de que as condutas tidas por socialmente
adequadas não poderiam constituir delitos, pois o tipo penal implica em uma seleção de comportamentos
reprováveis cuja sociedade realiza um desvalor da ação e do resultado. Dessa forma, não caberia a
criminalização de comportamentos nos quais não há esse desvalor.
Comporta duas vertentes, reduzindo a abrangência do tipo penal.
1. Se o fato está de acordo com a norma, mas não está de acordo com o interesse social, a conduta
deverá ser tida como atípica.
2. Também deve ser direcionado ao legislador. Isso porque, se a conduta está de acordo com a
sociedade, o legislador não pode criminalizar esta conduta, orientando o parlamentar a como
proceder na definição dos bens jurídicos a ser tutelados.
58
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Há 3 correntes sobre a natureza jurídica do princípio da adequação social:

1. Excludente da tipicidade (doutrina majoritária): A adequação social exclui a tipicidade material


da conduta, uma vez que não seria crime uma vez que a conduta não é socialmente reprovável./
é socialmente adequada. De acordo com Toledo, "a adequação social exclui desde logo a conduta
em exame do âmbito de incidência do tipo, situando-a entre os comportamentos normalmente
permitidos, isto é, materialmente atípicos". O autor cita o exemplo de lesões corporais causadas
por um pontapé em partidas de futebol.

2. Excludente da ilicitude - Há doutrinadores minoritários dizendo que seria uma excludente da


ilicitude (no plano da ilicitude material). O problema é que hoje não se divide mais ilicitude
material e ilicitude formal. Então a tipicidade material da conduta acaba antecipando algumas
análises que seriam feitas na ilicitude

3. Regra geral de hermenêutica/princípio geral de interpretação: A jurisprudência caminha de


forma tranquila e dominante no sentido de que a adequação social deve sofrer uma aplicação
restritiva no direito penal, comportando 2 vertentes:
• 1ª vertente – voltada ao legislador (função seletiva) – vertente meramente
orientadora, pois busca orientar o legislador para que esse não selecione condutas
socialmente adequadas para serem criminalizadas.
• 2ª vertente – voltada ao intérprete (função interpretativa limitadora) – traduz uma
regra geral de hermenêutica/ princípio geral de interpretação. Assim, em havendo várias
interpretações possíveis, pela adequação social, exclui a incidência do tipo penal das
hipóteses que são socialmente adequadas.

APROFUNDANDO PARA PROVA DISCURSIVA:


Crítica da doutrina: Essa aplicação restritiva (solução dada pela jurisprudência) acaba esvaziando a própria
força normativa dos princípios em geral e, sobretudo, do princípio da adequação social. E uma vez esvaziando
a força normativa do princípio da adequação social, deixa-se de utilizar um princípio (mesmo implícito na
CF/88) como parâmetro para controle de constitucionalidade.

Há forte crítica na doutrina acerca deste princípio, pelo fato de adotar um critério impreciso, inseguro
e relativo.

Importante saber que, segundo o STJ, o princípio da adequação social não afasta a
tipicidade da conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas, como se verifica do
enunciado da Súmula 502 do STJ: Súmula 502 - "Presentes a materialidade e a
59
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

autoria, afigura-se típica, em relação ao crime previsto no art. 184, § 2°, do CP, a
conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas".

CESPE/2018 - A fim de garantir o sustento de sua família, Pedro adquiriu 500 CDs e DVDs piratas para
posteriormente revendê-los. Certo dia, enquanto expunha os produtos para venda em determinada praça
pública de uma cidade brasileira, Pedro foi surpreendido por policiais, que apreenderam a mercadoria e o
conduziram coercitivamente até a delegacia. Com referência a essa situação hipotética, julgue o item
subsequente. O princípio da adequação social se aplica à conduta de Pedro, de modo que se revoga o tipo
penal incriminador em razão de se tratar de comportamento socialmente aceito.
Item incorreto

7.3 Princípios Relacionados com o Agente do Fato

7.3.1 Princípio da Responsabilidade Pessoal / Da Pessoalidade / Da Intranscendência Da Pena

De acordo com esse princípio, a responsabilidade penal é sempre uma responsabilidade pessoal, que
não pode ultrapassar a pessoa do autor do crime, motivo pelo qual se proíbe o castigo penal pelo fato de
outrem. Somente o condenado é que terá de se submeter à sanção que lhe foi aplicada pelo Estado.
No entanto, os efeitos secundários extrapenais da sentença penal condenatória (obrigação de
reparar o dano e decretação de perdimento de bens), podem se estender aos sucessores até o limite da
herança.

Art. 5º, XLV da CF – “nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a


obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos
da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do
patrimônio transferido”.

Desse princípio decorre:


• OBRIGATORIEDADE DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA ACUSAÇÃO: É proibida a denúncia genérica, vaga ou
evasiva, embora nos Crimes Societários, os Tribunais flexibilizam essa obrigatoriedade;
• OBRIGATORIEDADE DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA.

7.3.2 Princípio da Responsabilidade Subjetiva

Não basta que o fato seja materialmente causado pelo agente, o agente somente pode ser
responsabilizado se o fato tiver sido querido, assumido ou previsto. Não há responsabilidade penal sem dolo
ou culpa.

60
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Questão: Polícia Civil do DF – Concurso Delegado Civil 2ª Fase – temos doutrina anunciado dois CASOS de
responsabilidade penal objetiva (autorizados por lei):

• 1º Embriaguez voluntária - Crítica: A teoria da actio libera in causa que permite a punição do agente
completamente embriagado, não sendo a embriaguez acidental, exige não somente uma análise
pretérita da imputabilidade, mas também da consciência e vontade do agente. Exige
responsabilidade subjetiva.
• 2º Rixa qualificada. *qualificado pela lesão grave e morte. Independentemente de quem tenha
causado a lesão ou morte, todos responderão pela rixa qualificada. Crítica: só responde pelo
resultado agravador, isto é, o crime de lesão, quem atuou com dolo, evitando-se responsabilidade
penal objetiva.

7.3.3 Princípio da Culpabilidade

Só pode o Estado impor sanção penal ao agente imputável (penalmente capaz), com potencial
consciência da ilicitude (possibilidade de conhecer o caráter ilícito do comportamento), quando dele exigível
conduta diversa (podendo agir de outra forma).
Confira a dica do professor Marcelo Veiga:

https://youtu.be/0RP8wpUwu2M

7.3.4 Princípio da Proporcionalidade

Exige que se faça um juízo de ponderação sobre a relação existente entre o bem que é lesionado ou
posto em perigo (gravidade do fato) e o bem de que alguém pode ser privado (gravidade da pena). Toda vez
que, nessa relação, houver um desequilíbrio acentuado, haverá desproporção. Ou seja, a pena deve ser
proporcional à gravidade do fato.

61
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

O presente princípio apresenta uma dupla face, pois de um lado proíbe o excesso (garantismo
negativo), enquanto de outro lado não admite a proteção insuficiente (garantismo positivo) – já estudamos
também no tópico do garantismo.

STJ (AI no HC 239.363/PR): A intervenção estatal por meio do Direito Penal deve
ser sempre guiada pelo princípio da proporcionalidade, incumbindo também ao
legislador o dever de observar esse princípio como proibição de excesso e como
proibição de proteção insuficiente.

Ressalta-se que o princípio da proporcionalidade incide no plano legislativo, judicial e no da execução


da pena. Segundo tal princípio, a sanção penal deve ser vantajosa para o corpo social, e trazer mais vantagens
do que desvantagens (proporcionalidade em sentido estrito); além disso, deve ser adequada e necessária à
finalidade do direito penal

Já caiu em prova: Delegado de Polícia Civil do Mato Grosso do Sul (2017) - Com relação aos princípios de
Direito Penal e à interpretação da lei penal, assinale a alternativa correta.
a) A interpretação autêntica contextual visa a dirimir a incerteza ou obscuridade da lei anterior.
b) Não se aplica o princípio da individualização da pena na fase da execução penal.
c) A interpretação quanto ao resultado busca o significado legal de acordo com o progresso da ciência.
d) O princípio da proporcionalidade tem apenas o judiciário como destinatário cujas penas impostas ao autor
do delito devem ser proporcionais à concreta gravidade.
e) A interpretação teleológica busca alcançar a finalidade da lei, aquilo que ela se destina a regular.

Gab. E. No tocante a assertiva D, o equívoco da questão consiste em afirmar que tem como destinatário
apenas o judiciário. Em verdade, o princípio da proporcionalidade tem como destinatário o legislativo,
judiciário e o juízo da execução da pena

7.3.5 Princípio da Limitação das Penas ou da Humanidade

Princípio da humanidade ou princípio da humanidade das penas, nada mais é do que o princípio da
dignidade da pessoa humana no Direito Constitucional. Este princípio é transportado para o Direito Penal, e
ganha uma nomenclatura diferente: humanidade.
Assim, a CF prevê, em seu art. 5º, XLVII, que não haverá penas de morte (salvo em caso de guerra
declarada), de caráter perpétuo, de trabalhos forçados, de banimento ou cruéis.

7.2.6 Princípio da Confiança

62
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

O princípio da confiança, abordado por parte da doutrina, surgiu na Espanha, com aplicação inicial
aos crimes de trânsito. Segundo este princípio, quem atua observando as regras de trânsito, possui o direito
acreditar que as demais pessoas irão agir também de acordo com as normas. Assim, quando aquele que
continua avançando no sinal verde e acaba colidindo com outro veículo que avançou no sinal vermelho, agiu
amparado pelo princípio da confiança, não tendo culpa, já que dirigia na expectativa de que os demais
respeitariam as regras de sinalização.
Atualmente é aplicado no Brasil para os crimes em geral.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
- Direito Penal – Parte Geral – Volume 1 – 13ª edição – Cleber Masson;
- Sinopse nº1 – Direito Penal – Parte geral – 7ª edição – Alexandre Salim e Marcelo André de Azevedo;
- Aulas do módulo do professor Delegado de Polícia Marcus Montez
- Dizer o Direito (https://www.dizerodireito.com.br/);

63
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

QUESTÕES PROPOSTAS

1 - 2022 - FGV - PC-AM - FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de Itália como sinônimo de Estado constitucional democrático,
Polícia - Edital nº 01 surgindo o garantismo.

O princípio da insignificância é admitido na doutrina e na Sobre esse modelo, é correto afirmar que
jurisprudência em relação ao delito de
A-o princípio da legalidade exige a descrição da conduta
A-descaminho. proibida de maneira precisa e determinada, mas não exerce
B-uso de documento falso. influência na filtragem axiológica feita pelo juiz.
C-supressão de documento. B-o princípio da culpabilidade, sob a lógica da análise
D-roubo simples. jurisdicional focada somente na conduta praticada, permite a
E-contrabando. aplicação do instituto da reincidência.
C-o princípio da materialidade da conduta exige que a
conduta criminosa praticada gere alteração sensorial no
2 - 2022 - FGV - PC-AM - FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de
mundo dos fatos, impedindo um resultado meramente
Polícia - Edital nº 01
normativo.
D-o princípio da proteção suficiente, numa perspectiva
O princípio da insignificância é compatível com o furto
garantista positiva, endossa a função estatal de proteção
praticado
suficiente de direitos fundamentais a partir do Direito Penal.
E-o princípio da lesividade reforça a vedação a abusos de um
A-por escalada.
sistema estatal representado na concepção de efetividade
B-por arrombamento.
sem validade.
C-durante o repouso noturno.
D-em concurso de pessoas.
E-por clandestinidade. 5 - 2021 - FUMARC - PC-MG - FUMARC - 2021 - PC-MG -
Delegado de Polícia Substituto

3 - 2022 - FGV - PC-AM - FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de


Acerca dos princípios que limitam e informam o Direito Penal,
Polícia - Edital nº 01
é CORRETO afirmar:

Assinale a opção que corresponde a bem jurídico coletivo


A-Em atenção ao princípio penal da lesividade, a Constituição
aparente.
Federal proíbe as penas de morte, salvo em caso de guerra
declarada, e as consideradas cruéis.
A-Meio ambiente equilibrado.
B-Em observância ao princípio da legalidade, a lei penal, na
B-Administração estatal da justiça.
modalidade stricta, permite a analogia em in malam partem.
C-Incolumidade pública.
C-O princípio da adequação social funciona como causa
D-Ordem econômica.
supralegal de exclusão da tipicidade, não podendo ser
E-Relações de consumo.
considerado criminoso o comportamento humano
socialmente aceito e adequado, que, embora tipificado em
4 - 2022 - FGV - PC-AM - FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de
lei, não afronte o sentimento social de justiça.
Polícia - Edital nº 01
D-O Superior Tribunal de Justiça, em decisão baseada no
princípio da individualização das penas, firmou entendimento
Fruto da herança dos postulados iluministas, a partir da
no sentido de que pena cumprida em condição indigna pode
segunda metade dos anos 1970, um novo modelo normativo
ser contada em dobro.
de garantia aos direitos sociais, civis e políticos é lapidado na

64
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

6 - 2021 - FAPEC - PC-MS - FAPEC - 2021 - PC-MS - Delegado D-Considera-se praticado o crime no lugar onde se produziu
de Polícia ou deveria produzir-se o resultado. O Código Penal, quanto a
essa regra, adotou a teoria do resultado.
Sobre as hipóteses de aplicação do princípio da insignificância E-A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o
pelas Cortes Superiores, assinale a alternativa correta. período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a
determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua
A-O princípio da insignificância pode ser aplicado para atos vigência, salvo se vier norma posterior mais benéfica, tendo
infracionais. em vista o princípio da retroatividade da norma penal em
B-A infração bagatelar pode ser reconhecida para o crime de benefício do réu.
moeda falsa.
C-Em crime de roubo, se o valor do bem subtraído por 8 - 2021 - FAPEC - PC-MS - FAPEC - 2021 - PC-MS - Delegado
irrisório, pode ser aplicado o princípio da insignificância. de Polícia
D-De acordo com o Superior Tribunal de Justiça, para fins de
incidência do princípio da insignificância nos crimes Como regra, a lei penal brasileira aplica-se aos fatos ocorridos
tributários estaduais, deve ser utilizado o parâmetro de R$ em território nacional. Isso porque o Código Penal adotou, em
20.000,00 (vinte mil reais), estabelecido no art. 20 da Lei seu artigo 5º, caput, o princípio da territorialidade temperada
Federal nº 10.522/2002, independentemente de previsão ou mitigada. Todavia, existem algumas situações nas quais a
diversa na legislação estadual. lei penal brasileira será aplicada a fatos havidos no
E-Não existe nenhum precedente, nem do STJ, nem do STF, estrangeiro, ou seja, em locais submetidos à soberania
aplicando o princípio da insignificância ao crime de porte de externa ou mesmo em territórios em que país algum exerce
drogas para consumo pessoal (art. 28 da Lei nº 11.343/06), seu poder soberano, como é o caso da Antártida. A isso, dá-
visto tratar-se de delito de perigo presumido ou abstrato e a se o nome de extraterritorialidade. Para sanar tais dúvidas, o
pequena quantidade de droga faz parte da própria essência Código Penal estipulou regramento próprio, e a doutrina
do delito em questão. pátria previu princípios aplicáveis à extraterritorialidade.
Tendo como parâmetro esses fundamentos, assinale a
7 - 2021 - FAPEC - PC-MS - FAPEC - 2021 - PC-MS - Delegado alternativa correta.
de Polícia
A-Os crimes que, por tratado ou convenção, o Brasil obrigou-
À luz do que dispõe a parte geral do Código Penal Brasileiro se a reprimir, se cometidos no estrangeiro, podem se sujeitar
(Decreto-lei nº 2.848/1940), assinale a alternativa correta. à lei penal brasileira, ainda que o agente seja absolvido ou
condenado no território distinto do nacional, pois se trata de
A-A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira extraterritorialidade incondicionada.
produz na espécie as mesmas consequências, pode ser B-Pelo princípio real, da proteção ou da defesa, ficam sujeitos
homologada no Brasil, para obrigar o condenado à reparação à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes
do dano, a restituições e a outros efeitos civis e, ainda, contra a vida ou a honra do Presidente da República,
sujeitá-lo à medida de segurança. tratando-se de hipótese de extraterritorialidade
B-A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira incondicionada.
produz na espécie as mesmas consequências, pode ser C-Os crimes praticados contra a administração pública,
homologada no Brasil, para, dentre outras hipóteses, sujeitar qualquer que seja o sujeito ativo, ficam sujeitos à lei penal
o condenado ao cumprimento de penas restritivas de brasileira caso praticados no estrangeiro,
direitos. independentemente de qualquer condição, Incidindo o
C-A pena cumprida no estrangeiro é computada na pena princípio da defesa ou real ou da proteção.
imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou é D-Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no
atenuada, quando idênticas. estrangeiro, os crimes de genocídio, quando o agente for
brasileiro ou domiciliado no Brasil. Trata-se de aplicação do

65
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

princípio da justiça universal ou cosmopolita e hipótese de B-O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra
extraterritorialidade incondicionada. a administração pública, conforme entendimento sumulado
E-Configura hipótese de extraterritorialidade condicionada do Supremo Tribunal Federal.
crime ocorrido no estrangeiro, em navios e em aeronaves de C-O princípio da presunção de inocência impede a execução
natureza pública ou privada, aplicando-se o princípio da provisória da sentença condenatória, inclusive em se
representação ou da bandeira. tratando de penas restritivas de direitos.
D-Segundo entendimento jurisprudencial, medida provisória
9 - 2021 - FAPEC - PC-MS - FAPEC - 2021 - PC-MS - Delegado não pode tratar sobre Direito Penal, nem mesmo para
de Polícia beneficiar o réu, pois nesse ramo jurídico prevalece o
princípio da legalidade estrita.
Para evitar a dupla punição por fato único, a doutrina e a E-Apesar de serem conceituadas de maneira diferente, a
jurisprudência admitem determinados princípios que foram bagatela própria e a imprópria, sob o ponto de vista
elencados para resolver conflito de normas penais pragmático, geram a mesma consequência, que é a exclusão
aparentemente aplicáveis à mesma hipótese. Com relação a da tipicidade material.
esses princípios, assinale a alternativa correta.
11 - 2021 - NC-UFPR - PC-PR - NC-UFPR - 2021 - PC-PR -
A-São princípios do conflito aparente de normas: Delegado de Polícia
especialidade, subsidiariedade, consunção e alteridade.
B-São requisitos do conflito aparente de normas: pluralidade A Constituição da República proíbe as penas de morte (salvo
de condutas, relevância causal das condutas, liame subjetivo em caso de guerra declarada) e as consideradas cruéis (art.
e identidade de crime, como regra para todos os envolvidos. 5º, inc. XLVII, alíneas ‘a’ e ‘e’, respectivamente), além de
C-O conflito aparente de normas é também conhecido pela assegurar às pessoas presas o respeito à integridade física e
doutrina como conflito de leis penais no tempo. moral (art. 5º, inc. XLIX). Tais preceitos constitucionais
D-O princípio da consunção pode ser aplicado expressam o princípio penal da:
exemplificativamente para hipóteses de crime progressivo,
progressão criminosa, antefato impunível e pós-fato A-humanidade.
impunível. B-intervenção mínima.
E-Para ser reconhecido o princípio da consunção, é C-insignificância.
indispensável que o crime-fim tenha uma pena maior ou mais D-adequação social.
severa do que aquela prevista para o crime-meio, conforme E-lesividade.
decidido pelo Superior Tribunal de Justiça.
12 - 2021 - NC-UFPR - PC-PR - NC-UFPR - 2021 - PC-PR -
10 - 2021 - FAPEC - PC-MS - FAPEC - 2021 - PC-MS - Delegado Delegado de Polícia
de Polícia
Sobre a aplicação da lei penal no tempo, assinale a alternativa
De acordo com a doutrina clássica, especialmente a de Robert INCORRETA.
Alexy, princípios são espécies de normas jurídicas, definidos
como “mandamentos de otimização aplicáveis na maior A-O que determina se a lei é mais favorável ao réu e com isso
medida possível”. Em relação aos princípios do Direito Penal, pode retroagir é a sua aplicação ao caso concreto (e não a
assinale a alternativa correta. análise da norma em abstrato).
B-Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa
A-Pelo princípio da materialização do fato (nullun crimen sine de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e
actio), o Estado pode incriminar condições existenciais, desde os efeitos penais da sentença condenatória.
que o faça por meio de lei e a conduta ameace gravemente C-Segundo o critério presente em nossa legislação, o crime é
determinados bens jurídicos. considerado cometido no momento do resultado, ainda que
a conduta tenha ocorrido anteriormente.

66
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

D-Como regra, a lei penal se aplica aos fatos ocorridos aspectos externos do material, e é desnecessária a
durante a sua vigência, ou seja, em geral não possui extra- identificação dos titulares dos direitos autorais violados ou
atividade. daqueles que os representem.
E-A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o E-O crime de estupro de vulnerável se configura com a
período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor de
determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua catorze anos, sendo irrelevante eventual consentimento da
vigência. vítima para a prática do ato, sua experiência sexual anterior
ou existência de relacionamento amoroso com o agente.
13 - 2021 - INSTITUTO AOCP - PC-PA - INSTITUTO AOCP -
2021 - PC-PA - Delegado de Polícia Civil 15 - 2021 - INSTITUTO AOCP - PC-PA - INSTITUTO AOCP -
2021 - PC-PA - Delegado de Polícia Civil
De acordo com o autor alemão Jakobs, o direito penal do
inimigo pode ser caracterizado por quais elementos? Em relação ao Direito Penal, assinale a alternativa correta.

A-Punição retrospectiva; desproporcionalidade das penas; e A-A interpretação analógica consiste na aplicação, ao caso
relativização ou supressão de garantias processuais. não previsto em lei, de lei reguladora de caso semelhante.
B-Punição retrospectiva; proporcionalidade das penas; e B-A lei penal excepcional é aquela que tem o seu termo final
relativização ou supressão de garantias processuais. explicitamente previsto em data certa do calendário. É
C-Punição prospectiva; desproporcionalidade das penas; e espécie de lei intermitente, sendo autorrevogável e dotada
relativização ou supressão de garantias processuais. de ultratividade.
D-Punição contemporânea; desproporcionalidade das penas; C-O princípio da consunção se concretiza em quatro
e relativização ou supressão de garantias processuais. situações: crime continuado, crime progressivo, progressão
E-Punição prospectiva; proporcionalidade das penas; e criminosa e atos impuníveis.
relativização ou supressão de garantias processuais. D-Aos crimes conexos e aos crimes plurilocais, quanto ao
lugar do crime, não se aplica a teoria da ubiquidade.
14 - 2021 - INSTITUTO AOCP - PC-PA - INSTITUTO AOCP - E-No tocante aos efeitos de sentença estrangeira
2021 - PC-PA - Delegado de Polícia Civil condenatória para a caracterização da reincidência no Brasil,
é imprescindível a sua homologação pelo STJ, não bastando
De acordo com o Direito Penal, assinale a alternativa apenas a sua existência e eficácia no exterior.
INCORRETA.
16 - 2021 - INSTITUTO AOCP - PC-PA - INSTITUTO AOCP -
A-Aplica-se a lei brasileira ao crime de homicídio cometido na 2021 - PC-PA - Delegado de Polícia Civil
Argentina contra o Presidente da República do Brasil. Trata-
se de hipótese de extraterritorialidade incondicionada, dada No tocante ao Direito Penal, assinale a alternativa correta.
a incidência do princípio da representação.
B-A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da A-É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria
extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito relativa a Direito Penal (art. 62, §1º, I, alínea b, CF). Nada
condenatório. obstante, o STF firmou jurisprudência no sentido de que as
C-Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do medidas provisórias podem ser utilizadas na esfera penal,
bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda desde que benéficas ao agente.
que por breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao B-O fundamento político do princípio da reserva legal revela
agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a a aceitação pelo povo, representado pelo Congresso
posse mansa e pacífica ou desvigiada. Nacional, da opção legislativa no âmbito criminal.
D-Para a configuração do delito de violação de direito autoral C-Com a evolução da sociedade e a modificação dos seus
e a comprovação de sua materialidade, é suficiente a perícia valores, determinados comportamentos, inicialmente típicos,
realizada por amostragem do produto apreendido, nos podem deixar de interessar ao Direito Penal. Nesse caso,

67
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

pode-se afirmar que ocorreu a chamada desmaterialização encontrar Gabriela, que lhe o esperava na rodoviária, Tício
(liquefação) de bens jurídicos no Direito Penal. combinou com a jovem uma viagem a passeio para o Espírito
D-O princípio da fragmentariedade se projeta no plano Santo. Ao ingressarem no ônibus que os levaria de São Paulo
concreto, isto é, em sua atuação prática, o Direito Penal para o Espírito Santo, Tício afirmou para Gabriela que iria
somente se legitima quando os demais meios disponíveis já matá-la. Todavia, dada a calma de Tício, a jovem achou que
tiverem sido empregados, sem sucesso, para proteção do se tratava de uma brincadeira. Durante o trajeto, Tício,
bem jurídico. ofereceu a ela uma bebida contendo substância que causava
E-A primeira manifestação do princípio da personalidade da a perda dos sentidos. Após Gabriela beber e dormir, sob
pena no Brasil ocorreu já no período republicano, com o efeito da substância, enquanto passavam pela BR-101, no Rio
advento do Código Penal de 1890. de Janeiro, Tício passou a desferir golpes com a faca no peito
da jovem. Quando chegou ao destino, Tício se entregou para
17 - 2021 - INSTITUTO AOCP - PC-PA - INSTITUTO AOCP - polícia, e Gabriela, embora tenha sido socorrida, veio a óbito
2021 - PC-PA - Delegado de Polícia Civil ao chegar ao Hospital.

Em relação ao Direito Penal, assinale a alternativa correta. O crime descrito no texto foi praticado, de acordo com a lei
penal, no momento
A-A criminalização primária possui duas características:
seletividade e vulnerabilidade, as quais guardam íntima A-da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do
relação com o movimento criminológico do labeling resultado. Trata-se, portanto, do momento em que Tício
approach. desferiu os golpes em Gabriela.
B-Consoante a jurisprudência do STF, é aplicável o princípio B-em que o agente se prepara para a promoção da conduta
da insignificância ao crime de moeda falsa, desde que seja de criminosa. Ou seja, trata-se do momento em que Tício
pequena monta o valor posto em circulação. planejou e adquiriu as ferramentas necessárias ao
C-A Política Criminal preocupa-se com os aspectos cometimento do crime.
sintomáticos, individuais e sociais do crime e da C-em que a autoridade policial toma conhecimento do crime.
criminalidade, isto é, aborda cientificamente os fatores que Ou seja, quando Tício se entregou para a polícia.
podem conduzir o homem ao crime. D-em que é alcançada a consumação do crime. Trata-se,
D-As fontes de conhecimento são os órgãos portanto, do momento da morte de Gabriela, que ocorreu no
constitucionalmente encarregados de elaborar o Direito hospital.
Penal. No Brasil, essa tarefa é exercida precipuamente pela E-da ação ou omissão, se este for concomitante ao resultado.
União e, excepcionalmente, pelos Estadosmembros. Não sendo possível determiná-lo, no presente caso, em razão
E-Em homenagem ao princípio da reserva legal (art. 5º, XXXIX, da separação temporal entre a conduta e o resultado.
CF), os tratados e as convenções internacionais não podem
criar crimes nem cominar penas, ainda que já tenham sido 19 - 2019 - Instituto Acesso - PC-ES - Instituto Acesso - 2019
internalizados pelo Brasil. - PC-ES - Delegado de Polícia - Anulado

18 - 2019 - Instituto Acesso - PC-ES - Instituto Acesso - 2019 João Carlos, 30 anos, brasileiro, com residência transitória na
- PC-ES - Delegado de Polícia - Anulado Argentina, aproveitando-se da aquisição de material
descartado por uma indústria gráfica falida, passou a fabricar
Tício, morador do Rio de Janeiro, começou a namorar moeda brasileira em território argentino. Para garantir a
Gabriela, uma jovem moradora da cidade de São Paulo. Com diversidade da moeda falsificada, João imprimia notas de 50
o passar do tempo e os efeitos da distância, Tício, motivado e de 100 reais. Ao entrar em território brasileiro João foi
por ciúmes, resolveu tirar a vida de Gabriela. Pôs-se então a revistado por policiais que encontraram as notas falsificadas
planejar a prática do crime em sua casa, no Rio de Janeiro, em meio a sua bagagem. João foi acusado da prática do crime
tendo adquirido uma faca, instrumento com o qual planejou previsto no artigo 289 do Código Penal.
executar o crime. No dia em que seguiu para São Paulo para

68
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

De acordo com as teorias que informam a aplicação da lei últimos anos. Por conta dessa informação, será preciso
penal brasileira no espaço, é correto dizer que, nesse caso, promover uma política pública em âmbito penal que
cabe a aplicação reverbere na diminuição de tal letalidade. (BATISTA, Nilo.
Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro. 11. ed. Rio de
A-da lei argentina, em atenção à regra da territorialidade, Janeiro: Revan, 2007)
uma vez que o crime fora praticado na Argentina.
B-incondicionada da lei brasileira, uma vez que o crime Identifique a alternativa correta que contenha os princípios
cometido atenta contra a fé pública. que fundamentam o Direito Penal, e que mostrem que sua
C-condicionada da lei brasileira, pelo fato de a conduta ter observância se torna importante para o embasamento da
sido cometida em território argentino. referida política pública.
D-condicionada da lei brasileira, já que a conduta integra dois
ordenamentos jurídicos.
E-da lógica da extraterritorialidade, já que o fato ocorreu em A-Mínima letalidade/ letalidade controlada/ tutela civil e
território argentino. tutela penal/ livre iniciativa.
B-Mínimo proporcional/ reserva do possível/ humanidade/
20 - 2019 - Instituto Acesso - PC-ES - Instituto Acesso - 2019 lesividade.
- PC-ES - Delegado de Polícia - Anulado C-Legalidade / proporcionalidade / penalidade / legítima
defesa.
O sistema penal é composto por órgãos de naturezas jurídicas D-Intervenção mínima/ legalidade / lesividade / adequação
distintas com funções, dentre outras, de caráter investigativo, social.
repressivo, jurisdicional e prisional. É sabido que os números E-Devido processo legal/ contraditório e ampla defesa/
de letalidade no exercício de tais funções, tanto de civis proximidade de jurisdição / proporcionalidade.
quanto de agentes do sistema penal têm aumentado nos

Respostas2

2
1: A 2: E 3: C 4: D 5: C 6: A 7: A 8: D 9: D 10: C 11: A 12: C 13: C 14: A 15: D 16: A 17: E 18: A 19: B 20: D
69
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

META 2

DIREITO PROCESSUAL PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS

Olá pessoal. Antes de começarmos o estudo do nosso material, é importante lembrar que vários
dispositivos da L.13964/19 estão com a eficácia suspensa. Decidimos deixar os apontamentos no material
para o caso do STF julgar o mérito da ADI 6298.

Medidas cautelares concedidas para suspender sine die a eficácia:

(a) Da implantação do juiz das garantias e seus consectários (Artigos 3º-A, 3º-B, 3º-C, 3º-D, 3ª-E, 3º-F,
do Código de Processo Penal);

(b) Da alteração do juiz sentenciante que conheceu de prova declarada inadmissível (157, §5º, do
Código de Processo Penal);

(c) Da alteração do procedimento de arquivamento do inquérito policial (28, caput, Código de


Processo Penal); e

(d) Da liberalização da prisão pela não realização da audiência de custodia no prazo de 24 horas
(Artigo 310, §4°, do Código de Processo Penal);

Ei, pessoal! Vamos partir agora para o estudo da disciplina de Direito Processual Penal. Da mesma
forma, a Equipe Dedicação Delta também fez um raio X minucioso dos assuntos mais cobrados pelas bancas
em geral, para que vocês fiquem de sirene ligada quando forem estudá-los.
São eles:

TEMAS Nº de questões e % de incidência

Noções Iniciais e Princípios 90 (10,40%)

Inquérito Policial 159 (18,37%)

Juiz de Garantias 0 (0%)

Ação Penal 67 (7,74%)

Jurisdição e Competência 87 (10,04%)

Das Provas 156 (18,02%)

Prisão 131 (15,13%)

70
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Liberdade Provisória, Fiança e Medidas Cautelares Reais 43 (4,96%)


Questões Prejudiciais e Processos Incidentes, Sujeitos do
Processo, Comunicação dos Atos Processuais, Emendatio e 64 (7,39%)
Mutatio Libeli
Tribunal do Júri 16 (1,83%)

Nulidades, Recursos e Meios Autônomos de Impugnação 53 (6,12%)


Total de questões analisadas: 866
(100%)

Isso NÃO quer dizer que os demais temas podem ser ignorados, vez que as bancas inovam mais a
cada dia! Representa apenas que tais assuntos merecem uma atenção especial, combinado?
Vamos nessa?

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, XL
⦁ Art. 5º, LIII, LV, LVI e LVII
⦁ Art. 5º, LX e LXIII
⦁ Art. 5º, XXXVIII, “a”
⦁ art. 5°, XXXVII
⦁ Art. 53
⦁ art. 93, IX
⦁ Art. 129, I

CPP
⦁ Art. 1º e 2º
⦁ Art. 3º, 3ª-A e 3º-B
⦁ Art. 185, §2º
⦁ Art. 212 e 217
⦁ Art. 260 e 261
⦁ Art. 283
⦁ Art. 792

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Art. 8°, itens 2 e 5, CADH
⦁ Art. 347, CP

71
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

⦁ Art. 305, CTB

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

⦁ Art. 5º, LIII, LV, LVI e LVII, CF/88


⦁ Art. 5º, LX e LXIII, CF/88
⦁ Art. 93, IX, CF/88
⦁ Art. 1º e 2º, CPP
⦁ Art. 3º, 3ª-A e 3º-B, CPP

1. PROCESSO PENAL CONSTITUCIONAL

O Processo Penal Brasileiro deve observância às normas previstas na Carta Magna. Devem as normas
processuais serem interpretadas a partir de uma filtragem constitucional. Interessante apontar a reflexão
de Daniel Sarmento e Claudio Pereira de Souza Neto sobre a constitucionalização do Direito:

A constitucionalização do Direito envolve dois fenômenos distintos, que podemos


chamar de ‘constitucionalização inclusão’ e de ‘constitucionalização releitura’. [...]
A constitucionalização releitura liga-se a impregnação de todo o ordenamento
pelos valores constitucionais. Trata-se de uma consequência de propensão dos
princípios constitucionais de projetarem uma eficácia irradiante, passando a
nortear a interpretação da totalidade da ordem jurídica. Assim, os preceitos legais,
os conceitos e institutos dos mais variados ramos do ordenamento, submetem-se
a uma filtragem constitucional: passam a ser lidos a partir da ótica constitucional,
o que muitas vezes impõe significativas mudanças na sua compreensão e aplicação
concretas. (SOUZA NETO, Cláudio Pereira; SARMENTO, Daniel. Direito
Constitucional: Teoria, História e Métodos de Trabalho. Belo Horizonte: Fórum,
2017. p. 44)

Nesse sentido, é possível falar em algumas características decorrentes da constitucionalização:


• O juiz não pode requisitar provas, depois da manifestação pelo arquivamento feita pelo MP (STF);
• O juiz não pode substituir o MP em sua função probatória, em que pese, certa liberdade de produção
conferida ao juiz pelo CPP;
• O interrogatório do réu deve perder a sua característica de prova, passando a ser exclusivamente
meio de defesa.

72
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Se a perspectiva teórica do Código de Processo Penal era nitidamente autoritária, prevalecendo


sempre a preocupação com a segurança pública, como se o Direito Penal constituísse verdadeira política
pública, a Constituição da República de 1988 caminhou em direção diametralmente oposta.
Enquanto a legislação codificada pautava-se pelo princípio da culpabilidade e da periculosidade do
agente, o texto constitucional instituiu um sistema de amplas garantias individuais, a começar pela afirmação
da situação jurídica de quem ainda não tiver reconhecida a sua responsabilidade penal por sentença
condenatória passada em julgado:
“ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória” (art. 5º, LVII, CF).

Nesse sentido, a constituição deve passar a ser a pré-compreensão valorativa do intérprete o dever
ser normativo do mundo real, que é o ser. Nesta direção é o que o professor Rubens Casara propõe a
interpretação prospectiva do processo penal, ou seja, toda a interpretação deve ter por objetivo a
construção do projeto constitucional, deve buscar a radical e incansavelmente, a realização de valores
consagrados na constituição.
Como decorrência da interpretação prospectiva do processo penal, há uma preocupação com a
tutela de direitos fundamentais, o que dá espaço ao garantismo penal. Ressalta-se que Ferrajoli é o ícone
do garantismo. Princípios do sistema garantista:
• Jurisdicionalidade (nulla poena, nulla culpa sine iudicio): representa a exclusividade do poder
jurisdicional, direito ao juiz natural, independência da magistratura e exclusiva submissão à lei.
• Inderrogabilidade do juízo: no sentido de infungibilidade e indeclinabilidade da jurisdição.
• Separação das atividades de julgar e acusar (nullum iudicium sine accusatione);
• Presunção de inocência;
• Contraditório (nulla probatio sine defensione): é um método de confrontação da prova e
comprovação da verdade entre acusação e defesa.

2. PRETENSÃO PUNITIVA

• Conceito:
Segundo Gustavo Badaró consiste no poder do Estado de exigir, de quem comete um delito, a
submissão à sanção penal. Através da pretensão punitiva, o Estado procura tornar efetivo o direito de punir
(ius puniendi), exigindo do autor do crime, que está obrigado a sujeitar-se à sanção penal, o cumprimento
dessa obrigação, que consiste em sofrer as consequências do crime e se concretiza no dever de abster-se de
qualquer resistência contra os órgãos estatais aos quais cumpre executar a pena. Porém, tal pretensão não
poderá ser voluntariamente resolvida sem um processo, não podendo nem o Estado impor a sanção penal,
nem o infrator submeter-se à pena.
Assim sendo, tal pretensão já nasce insatisfeita.

73
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Ex.: art. 121, CP → pena de 6 a 20 anos (direito de punir em abstrato).


A partir do momento que alguém pratica o delito, o direito de punir deixa o plano abstrato e entra
no plano concreto, de modo que surge para o Estado o direito de punir o indivíduo. Nasce a pretensão
punitiva.

• Finalidades do Processo Penal:


• Pacificação social obtida com a solução do conflito;
• Viabilizar a aplicação do direito penal;
• Garantir ao acusado, presumidamente inocente, meios de defesa diante de uma acusação.

3. SISTEMAS DO PROCESSO PENAL

“A estrutura do processo penal variou ao longo dos séculos, conforme o predomínio


da ideologia punitiva ou libertária. Goldschmidt afirma que a estrutura do processo
penal de um país funciona como um termômetro dos elementos democráticos ou
autoritários de sua Constituição” (LOPES, 2018, p. 27).

De modo geral, a doutrina costuma separar o sistema processual inquisitório do acusatório pela
titularidade atribuída ao órgão da acusação: inquisitorial seria o sistema em que as funções de acusação e de
julgamento estariam reunidas em uma só pessoa (ou órgão), enquanto o acusatório seria aquele em que tais
papéis estariam reservados a pessoas (ou órgãos) distintos.

a) SISTEMA INQUISITÓRIO:
As funções de acusar e julgar estão concentradas em um mesmo sujeito processual.
Nesse sistema há a perda da imparcialidade do magistrado, o qual, simultaneamente exerce todas
as funções (acusa, defende e julga). Além disso, verifica-se o risco de eventual abuso de poder (crítica).
Além disso, no sistema inquisitório a gestão da prova cabe ao juiz, podendo fazê-lo tanto na fase
inquisitorial quanto na fase do processo. Nesse sentido, verifica-se a inexistência do contraditório.
São características, ainda, o caráter escrito e sigiloso da instrução processual.

Características:
i. As funções de acusar, defender e julgar se encontram concentradas em uma única pessoa, o
chamado de juiz inquisidor;
ii. Não há que se falar em contraditório, o qual nem sequer seria concebível em virtude da falta de
contraposição entre acusação e defesa;

74
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

iii. O juiz inquisidor é dotado de ampla iniciativa probatória, de modo que possui liberdade para
determinar, de ofício, a colheita de provas, seja no curso das investigações, seja no curso do processo
penal, independentemente de sua proposição pela acusação ou pela defesa, de modo que a gestão
das provas compete ao juiz que, a partir da prova do fato e tomando como parâmetro a lei, podia
chegar à conclusão que desejasse;
iv. Vigora o princípio da verdade real e, em decorrência dele, o acusado não era considerado sujeito de
direito, sendo tratado, em verdade, como mero objeto do processo, daí por que se admitia, inclusive,
a tortura como meio de se obter a verdade absoluta.

Na atualidade, a concentração de poderes nas mãos do juiz e a iniciativa probatória dela decorrente
é incompatível com a garantia da imparcialidade (CADH, art. 8º §1º) e com o princípio do devido processo
legal.
Com a reforma (Lei 13.964/19), ao menos em tese, o juiz não possuirá mais a iniciativa probatória
que antes era prevista no CPP (art. 3º-A do CPP).

b) SISTEMA ACUSATÓRIO:
As funções serão exercidas por partes distintas. As funções de acusar, defender e julgar são
atribuídas a pessoas diversas. No referido sistema haverá respeito ao contraditório.
O acusado deixa de ser considerado mero objeto e passa a configurar como sujeito de direitos.
A gestão da prova cabe as partes e, em um sistema acusatório puro, o juiz não poderia produzir
prova de ofício. Porém, parte da doutrina aduz que o juiz pode produzir prova de ofício, restrito a fase
processual e de forma residual, não sendo permitida a produção, contudo, na fase investigatória.
São características, ainda, a prevalência do caráter público e oral da instrução processual.

Características:
i. Caracteriza-se pela presença de partes distintas, contrapondo-se acusação e defesa em igualdade de
condições e ambas se sobrepondo um juiz, de maneira equidistante e imparcial. Aqui, há uma
separação das funções de acusar, defender e julgar. O processo caracteriza-se, assim, como legítimo
actum trium personarum.
ii. A gestão da prova recai precipuamente sobre as partes. Na fase investigatória, o juiz só deve intervir
quando provocado.

Antes do advento da Lei 13.964/19, havia divergência na doutrina:


• Geraldo Prado - afirma que, em um sistema acusatório puro, o juiz não pode produzir provas de ofício
de maneira nenhuma, independentemente de ser na fase investigatória ou na fase processual.
• Eugênio Paccelli, Gustavo Badaró (posição majoritária e Jurisprudência) - juiz pode produzir prova de
ofício, mas apenas na fase processual e desde que de forma residual.

75
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Em outras palavras: O magistrado não será o protagonista na produção de provas, sua atuação deve
ter caráter complementar e subsidiário. Nesse sentido, o art. 212 do CPP:

Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha,


não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação
com a causa ou importarem na repetição de outra já respondida. Parágrafo único.
Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar a inquirição.

No entanto, o Pacote Anticrime retirou do juiz a iniciativa probatória (Art.3º-A do CPP), entregando
ao juiz de garantias a competência para decidir sobre a produção de provas cautelares durante a
investigação.

CPP. Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do
juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de
acusação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)
Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da
investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha
sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário, competindo-lhe
especialmente:
[...]
VII - decidir sobre o requerimento de produção antecipada de provas consideradas
urgentes e não repetíveis, assegurados o contraditório e a ampla defesa em
audiência pública e oral;

Assim sendo, a doutrina vem advogando no sentido de que, com o advento do Pacote Anticrime, o
juiz não poderá mais agir de ofício em nenhuma das fases, seja na fase investigatória ou na processual, de
modo que inúmeros artigos do CPP estariam tacitamente revogados. Entretanto, é importante aguardar a
posição da jurisprudência sobre o tema.

iii. O princípio da verdade real é substituído pelo princípio da busca da verdade, devendo a prova ser
produzida com fiel observância ao contraditório e a ampla defesa;
iv. A separação das funções e a iniciativa probatória residual à fase judicial preserva a equidistância que
o magistrado deve tomar quanto ao interesse das partes, sendo compatível com a garantia da
imparcialidade e com o princípio do devido processo legal;
v. O sistema acusatório é o adotado pela Constituição Federal e pelo CPP:

CF - Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:


I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;
76
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

A função de acusar nas ações penais públicas é do Ministério Público, materializando assim o sistema
acusatório, haja vista que a própria CF outorgou a titularidade da persecução penal ao referido órgão, por
excelência.

SISTEMA INQUISITÓRIO SISTEMA ACUSATÓRIO


Não há separação das funções de acusar, defender e Separação das funções de acusar, defender e julgar. Por
julgar, que estão concentradas em uma única pessoa, consequência, caracteriza-se pela presença de partes
que assume as vestes de um juiz inquisidor. distintas (actum trium personarum), contrapondo-se
acusação e defesa em igualdade de condições,
sobrepondo-se a ambas um juiz, de maneira
equidistante e imparcial.

Como se admite o princípio da verdade real, o O princípio da verdade real é substituído pelo princípio
acusado não é sujeito de direitos, sendo tratado da busca da verdade, devendo a prova ser produzida
como mero objeto do processo, daí por que se admite com fiel observância ao contraditório e à ampla defesa.
inclusive a tortura como meio de se obter a verdade
absoluta.

O juiz inquisidor é dotado de ampla iniciativa A gestão da prova recai precipuamente sobre as partes.
acusatória e probatória, tendo liberdade para Na fase investigatória, o juiz só deve intervir quando
determinar de ofício a colheita de elementos provocado, e desde que haja necessidade de intervenção
informativos e de provas, seja no curso das judicial.
investigações, seja no curso da instrução processual.

Durante a instrução processual, prevalece o A separação das funções e a iniciativa probatória residual
entendimento de que o juiz tem certa iniciativa restrita à fase judicial preserva a equidistância que o juiz
probatória, podendo determinar a produção de deve tomar quanto ao interesse das partes, sendo
provas de ofício, desde que o faça de maneira compatível com a CF/88.
subsidiária.

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCMG 2021): Em relação às características do sistema acusatório, analise as afirmativas:


I. Gestão da prova na mão das partes e não do juiz, clara distinção entre as atividades de acusar e julgar, juiz
como terceiro imparcial e publicidade dos atos processuais.

77
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

II. Ausência de uma tarifa probatória, igualdade de oportunidades às partes no processo e procedimento é,
em regra, oral.
III. O processo é um fim em si mesmo e o acusado é tratado como mero objeto, imparcialidade do juiz e
prevalência da confissão do réu como meio de prova.
IV. Celeridade do processo e busca da verdade real, o que faculta ao juiz determinar de ofício a produção de
prova.

Itens considerados corretos: I e II.

c) SISTEMA MISTO, ACUSATÓRIO FORMAL OU FRANCÊS:


Para este sistema, há duas fases distintas: uma primeira fase inquisitorial, destinada a investigação
preliminar e, em seguida, teria uma segunda fase, que se aproxima mais ao sistema acusatório.
• Investigação preliminar: polícia judiciária;
• Instrução preparatória: juiz de instrução;
• Julgamento: apenas nesta última fase há contraditório e ampla defesa.

Segundo Renato Brasileiro, é chamado de sistema misto porquanto o processo se desdobra em duas
fases distintas: a primeira fase é tipicamente inquisitorial, com instrução escrita e secreta, sem acusação e,
por isso, sem contraditório. Nesta, objetiva-se apurar a materialidade e a autoria do fato delituoso. Na
segunda fase, de caráter acusatório, o órgão acusador apresenta a acusação, o réu se defende e o juiz julga,
vigorando, em regra, a publicidade e a oralidade.

4. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO PENAL

4.1 Princípios Constitucionais Explícitos

4.1.1 Princípio da Presunção da Inocência

a) Previsão legal: art. 5°, LVII, CF/88 e art. 8°, §2°, CADH.

Art. 5°, LVII, CF/88 – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado
de sentença penal condenatória → presunção de não culpabilidade.

Art. 8°, §2°, CADH – Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma
sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa → presunção
de inocência.

Observações:

78
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

• CADH possui status normativo supralegal, ou seja, está abaixo da CF, mas acima da legislação
infraconstitucional;
• Sempre que se faz uma leitura da legislação infraconstitucional, deve-se sujeitá-la tanto ao controle
de constitucionalidade como ao controle de convencionalidade;
• Ao contrário da CF/88, a Convenção Americana fala em presunção de inocência, e o faz de maneira
muito semelhante aos outros tratados internacionais de direitos humanos.

Há quem utilize como sinônimos as expressões: presunção de inocência, presunção de não


culpabilidade e estado de inocência.

b) Conceito:

Segundo Renato Brasileiro, o princípio da presunção de inocência: “consiste no direito de não ser
declarado culpado, senão após o transito em julgado de sentença penal condenatória - ou, na visão do STF
(HC 126.292, ADC 44 e 43 e ARE 964.246 RG/SP): “após a prolação de acordão condenatório por Tribunal de
Segunda instância” -, ao término do devido processo legal, em que o acusado tenha se utilizado de todos os
meios de prova pertinentes para a sua defesa (ampla defesa) e para a destruição da credibilidade das provas
apresentadas pela acusação (contraditório)”.
Segue explicando o doutrinador: “No ordenamento pátrio, até a entrada em vigor da CF 88, esse
princípio somente existia de forma implícita, como decorrência da cláusula do devido processo legal. Com a
CF 88, o princípio da presunção de não culpabilidade passou a constar expressamente do inciso LVII do art.
5º” (LIMA, 2017, p. 43).

c) Dimensões:

O princípio da presunção de inocência (ou presunção de não culpabilidade) compreende duas regras
fundamentais:

1. Dimensão Interna ao processo: O princípio da presunção de inocência se manifestando dentro do


processo.
I- Regra probatória (in dubio pro reo): A parte acusadora tem o ônus de demonstrar a
culpabilidade do acusado além de qualquer dúvida razoável, logo, não é o acusado que deve
comprovar sua inocência;
II- Regra de tratamento: o Poder Público está impedido de agir e de se comportar em relação
ao acusado como se ele já houvesse sido condenado.

2. Dimensão externa ao processo: O princípio da presunção de inocência se manifestando fora do


processo.
79
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Essa dimensão é especialmente destacada no tratamento dado pela impresna. O princípio


da presunção de inocência e as garantias constitucionais da imagem, dignidade e privacidade
demandam uma proteção contra a publicidade abusiva e a estigmatização do acusado,
funcionando como limites democráticos à abusiva exploração midiática em torno do fato
criminoso e do próprio processo judicial.

Caso J. vs. Peru

Esse caso foi decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Nesse caso, a Corte
responsabilizou o Peru por violação ao estado de inocência, previsto no art. 8.2 da CADH.
A Sra. J. foi presa durante o cumprimento de medida de busca e apreensão residencial. Foi
processada por terrorismo e associação ao terrorismo, em virtude de suposta vinculação com o grupo
armado Sendero Luminoso. Foi absolvida em junho de 1993. Logo após ser solta, deixou o território
peruano. Em dezembro do mesmo ano, a Corte Suprema Peruana cassou a sentença absolutória,
determinou um novo julgado e decretou sua prisão.
Para a CIDH, os distintos pronunciamentos públicos das autoridades estatais, sobre a culpabilidade
de J. violaram o estado de inocência, princípio determinante que o Estado não condene, nem mesmo
informalmente, emitindo juízo perante a sociedade e contribuindo para formar a opinião pública,
enquanto não existir decisão judicial condenatória.
Para a Corte, a apresentação da imagem da acusada para a imprensa, escrita e televisiva, ocorreu
quando ela estava sob absoluto controle do Estado, além de as entrevistas posteriores também terem sido
levadas a cabo sob conhecimento e controle do Estado, por meio de seus funcionários. A Corte acentuou
não impedir o estado de inocência que as autoridades mantenham a sociedade informada sobre
investigações criminais, mas requer que isso seja feito com a discrição e a contextualização necessárias, de
tal modo a garantir o estado de inocência.
Assim, fazer declarações públicas, sem os devidos cuidados, sobre processos penais, gera na
sociedade a crença sobre a culpabilidade do acusado.

Consequências de tais regras:


• Ônus da prova: em regra da acusação.
• Prisões cautelares: a privação cautelar da liberdade de locomoção somete se justifica em hipóteses
estritas, ou seja, a regra é que o acusado permaneça em liberdade durante o processo, enquanto
que a imposição de medidas cautelares pessoais é a exceção.

d) Limite temporal

Até quando o sujeito é presumidamente inocente?

80
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Em 2016, no bojo do HC 126.292, o Plenário do STF entendeu que, a partir do momento que um
acórdão condenatório fosse proferido por um Tribunal de 2ª Instância, a pena já poderia ser executada,
mesmo na pendência de REsp ou RE. Essa prisão a que o indivíduo estaria sendo submetido seria uma prisão
penal, e não prisão cautelar.
Ou seja, o STF passou a defender que a execução provisória da pena após a confirmação da sentença
em segundo grau não ofende o princípio constitucional da presunção de inocência. Isso porque a
manutenção da sentença condenatória pela segunda instância encerra a análise de fatos e provas que
assentaram a culpa do condenado, o que autoriza o início da execução da pena, até mesmo porque os
recursos extraordinários ao STF e ao STJ comportam exclusivamente discussão acerca de matéria de direito.
A decisão do STF acima foi muito criticada pela doutrina, tendo em vista que a CF é clara ao prever
“ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado (...)”, não havendo margens para outra
interpretação.
Em 2019 houve overruling e o STF decidiu que o cumprimento da pena somente pode ter início com
o esgotamento de todos os recursos. Portanto, atualmente, é proibida a execução provisória da pena.
No dia 07/11/2019, o STF, ao julgar as ADCs 43, 44 e 54 (Rel. Min. Marco Aurélio), retornou para a
sua posição antiga e afirmou que o cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de
todos os recursos. Assim, é proibida a execução provisória da pena.
Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes do trânsito em julgado (antes do esgotamento
de todos os recursos), no entanto, para isso, é necessário que seja proferida uma decisão judicial
individualmente fundamentada, na qual o magistrado demonstre que estão presentes os requisitos para a
prisão preventiva previstos no art. 312 e art. 313 do CPP.
Dessa forma, o réu até pode ficar preso antes do trânsito em julgado, mas cautelarmente
(preventivamente), e não como execução provisória da pena.

Ao julgar as ações declaratórias de constitucionalidade 43, 44 e 54, em 7/11/2019,


o Plenário do STF firmou o entendimento de que não cabe a execução provisória
da pena. A 1ª Turma do STF aplicou esse entendimento em um caso concreto no
qual o réu estava preso unicamente pelo fato de o Tribunal de Justiça ter
confirmado a sua condenação em 1ª instância, não tendo havido, contudo, ainda,
o trânsito em julgado. Logo, o STF, afastando a possibilidade de execução provisória
da pena, concedeu a liberdade ao condenado até que haja o esgotamento de todos
os recursos. STF. 1ª Turma. HC 169727/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
26/11/2019 (Info 961).

A nova decisão do STF é vinculante? SIM. A decisão do STF foi proferida em ADC, que declarou a
constitucionalidade do art. 283 do CPP.

81
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Para o STF, é possível o início do cumprimento da pena caso somente reste o julgamento de recurso sem
efeito suspensivo (ex: só falta julgar Resp ou RE)? É possível a execução provisória da pena?

Até fevereiro de 2009, o STF entendia que era possível


1ª PERÍODO a execução provisória da pena.
ATÉ FEV/2009: Assim, se o réu estivesse condenado e interpusesse
SIM recurso especial ou recurso extraordinário, teria que
iniciar o cumprimento provisório da pena enquanto
É POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA aguardava o julgamento.

No dia 05/02/2009, o STF, ao julgar o HC 84078


(Rel. Min. Eros Grau), mudou de posição e passou a
entender que não era possível a execução provisória da
2ª PERÍODO pena.
Obs: o condenado poderia até aguardar o julgamento
DE FEV/2009 A FEV/2016: do REsp ou do RE preso, mas desde que estivessem
NÃO previstos os pressupostos necessários para a prisão
preventiva (art. 312 do CPP).
NÃO É POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA Dessa forma, ele poderia ficar preso, mas
PENA cautelarmente (preventivamente), e não como
execução provisória da pena.
Principais argumentos:
• A prisão antes do trânsito em julgado da condenação
somente pode ser decretada a título cautelar.
• A execução da sentença após o julgamento do recurso
de apelação significa restrição do direito de defesa.
• A antecipação da execução penal é incompatível com
o texto da Constituição.
Esse entendimento durou até fevereiro de 2016.

No dia 17/02/2016, o STF, ao julgar o HC 126292 (Rel.


Min. Teori Zavascki), retornou para a sua primeira
posição e voltou a dizer que era possível a execução
provisória da pena.
Principais argumentos:
• É possível o início da execução da pena condenatória
após a prolação de acórdão condenatório em 2º grau e

82
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

isso não ofende o princípio constitucional da presunção


3º PERÍODO: da inocência.
• O recurso especial e o recurso extraordinário não
DE FEV/2016 A NOV/2019: possuem efeito suspensivo (art. 637 do CPP). Isso
SIM significa que, mesmo a parte tendo interposto algum
desses recursos, a decisão recorrida continua
É POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA produzindo efeitos. Logo, é possível a execução
provisória da decisão recorrida enquanto se aguarda o
julgamento do recurso.
• Até que seja prolatada a sentença penal, confirmada
em 2º grau, deve-se presumir a inocência do réu. Mas,
após esse momento, exaure-se o princípio da não
culpabilidade, até porque os recursos cabíveis da
decisão de segundo grau ao STJ ou STF não se prestam
a discutir fatos e provas, mas apenas matéria de direito.
• É possível o estabelecimento de determinados limites
ao princípio da presunção de não culpabilidade. Assim,
a presunção da inocência não impede que, mesmo
antes do trânsito em julgado, o acórdão condenatório
produza efeitos contra o acusado.
• A execução da pena na pendência de recursos de
natureza extraordinária não compromete o núcleo
essencial do pressuposto da não culpabilidade, desde
que o acusado tenha sido tratado como inocente no
curso de todo o processo ordinário criminal,
observados os direitos e as garantias a ele inerentes,
bem como respeitadas as regras probatórias e o
modelo acusatório atual.
• É necessário equilibrar o princípio da presunção de
inocência com a efetividade da função jurisdicional
penal. Neste equilíbrio, deve-se atender não apenas os
interesses dos acusados, como também da sociedade,
diante da realidade do intrincado e complexo sistema
de justiça criminal brasileiro.
• “Em país nenhum do mundo, depois de observado o
duplo grau de jurisdição, a execução de uma

83
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

condenação fica suspensa aguardando referendo da


Suprema Corte”.

No dia 07/11/2019, o STF, ao julgar as ADCs 43, 44 e 54


(Rel. Min. Marco Aurélio), retornou para a sua segunda
posição e afirmou que o cumprimento da pena somente
4º PERÍODO: pode ter início com o esgotamento de todos os
recursos.
ENTENDIMENTO ATUAL: Assim, é proibida a execução provisória da pena.
NÃO Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes
do trânsito em julgado (antes do esgotamento de todos
NÃO É POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA os recursos), no entanto, para isso, é necessário que
PENA seja proferida uma decisão judicial individualmente
fundamentada na qual o magistrado demonstre que
estão presentes os requisitos para a prisão preventiva
previstos no art. 312 do CPP.
Dessa forma, o réu até pode ficar preso antes do
trânsito em julgado, mas cautelarmente
(preventivamente), e não como execução provisória da
pena.
Principais argumentos:
• O art. 283 do CPP, com redação dada pela Lei nº
12.403/2011, prevê que “ninguém poderá ser preso
senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária competente,
em decorrência de sentença condenatória transitada
em julgado ou, no curso da investigação ou do
processo, em virtude de prisão temporária ou prisão
preventiva.”. Esse artigo é plenamente compatível com
a Constituição em vigor.
• O inciso LVII do art. 5º da CF/88, segundo o qual
“ninguém será considerado culpado até o trânsito em
julgado de sentença penal condenatória”, não deixa
margem a dúvidas ou a controvérsias de interpretação.
• É infundada a interpretação de que a defesa do
princípio da presunção de inocência pode obstruir as
atividades investigatórias e persecutórias do Estado. A

84
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

repressão a crimes não pode desrespeitar e transgredir


a ordem jurídica e os direitos e garantias fundamentais
dos investigados.
• A Constituição não pode se submeter à vontade dos
poderes constituídos nem o Poder Judiciário embasar
suas decisões no clamor público.

Tabela via @dizerodireito para facilitar a compressão sobre evolução jurisprudencial deste tema.

4.1.2 Princípio da Igualdade Processual ou Paridade de Armas

As partes devem ter em juízo as mesmas oportunidades de atuação no processo e devem ser tratadas
de forma igualitária, na medida da sua igualdade. Segundo Norberto Avena (2017, p. 53): “As partes, em
juízo, devem contar com as mesmas oportunidades e ser tratadas de forma igualitária. Tal princípio constitui
desdobramento da garantia constitucional assegurada no art. 5.º, caput, da Constituição Federal, ao dispor
que todas as pessoas serão iguais perante a lei em direitos e obrigações. Não obstante o sistema
constitucional vigente seja proibitivo de discriminações, em determinadas hipóteses é flexibilizado o
princípio da igualdade”.

4.1.3 Princípio da Ampla Defesa

Segundo Renato Brasileiro (2017, p. 54), a ampla defesa pode ser vista como um direito sob a ótica
de que privilegia o interesse do acusado, todavia, sob o enfoque publicístico, no qual prepondera o interesse
geral de um processo justo, é vista como garantia.

Art. 5º, LV, da CF: “Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios
e recursos a ela inerentes”.

“O direito de defesa está ligado diretamente ao princípio do contraditório. A defesa


garante o contraditório e por ele se manifesta” (LIMA, 2017, p. 54).

A ampla defesa divide-se em autodefesa e defesa técnica:

• AUTODEFESA: é aquela exercida pelo próprio acusado, em momentos cruciais do processo.


Compreende:
1. Direito de audiência;
2. Direito de presença;
85
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

3. Capacidade postulatória autônoma.

1. Direito de audiência: É o direito de ser ouvido no processo. Ou seja: é o momento que o acusado
tem para apresentar a sua versão dos fatos e tentar formar a convicção do magistrado quanto a sua
inocência.

Obs.: Quando estudarmos o interrogatório judicial, veremos que, hoje, na visão da doutrina, o
interrogatório judicial tem natureza jurídica de meio de defesa. Isso porque, no interrogatório, ele tem o
direito de ficar em silêncio.

2. Direito de presença: Direito de estar presente/acompanhar os atos processuais.


E se o acusado estiver preso em outra unidade da federação. Ainda assim ele tem assegurado o
direito de presença? R.: SIM! O direito de presença é universal. O direito não deixa de valer só porque o
acusado está preso em outro lugar.
Atualmente, o art. 185, §2°, CPP, permite a realização de audiência mediante videoconferência.
Assim, a videoconferência preserva o direito de presença, ao mesmo tempo que evita o deslocamento do
preso.
Ressalta-se que, embora a doutrina garantista entenda que a inobservância desse direito deveria
acarretar nulidade absoluta, a jurisprudência vem entendendo que se trata de nulidade relativa, devendo-se
comprovar o prejuízo.

A alegação de necessidade da presença do réu em audiências deprecadas, estando


ele preso, configura nulidade relativa, devendo-se comprovar a oportuna
requisição e também a presença de efetivo prejuízo à defesa. O pedido, no caso, foi
indeferido motivadamente pelo juiz de primeiro grau, diante das peculiaridades do
caso concreto, em especial diante da periculosidade do réu, e da ausência de
efetivo prejuízo. Ordem denegada. (STF, 1ª Turma, HC 100.382/PR, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, j. 08/06/2010, Dje 164 02/09/2010).

Obs.: O direito de presença tem natureza relativa. Ou seja, há situações em que o direito de presença pode
causar constrangimento à vítima ou às testemunhas. Nesse caso, se não for possível realizar a audiência
mediante videoconferência, o acusado será retirado da audiência. Se for essa a decisão do magistrado, deve
haver fundamentação, e essa fundamentação deve constar da ata da audiência para evitar futura nulidade.

Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor,
ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique
a verdade do depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente na
impossibilidade dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na
86
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

inquirição, com a presença do seu defensor. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de
2008).

Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previstas no caput deste artigo
deverá constar do termo, assim como os motivos que a determinaram. (Incluído
pela Lei nº 11.690, de 2008).

Revela-se lícita a retirada dos acusados da sala de audiências, se as testemunhas


de acusação demonstram temor e receio em depor na presença dos réus. Se o
patrono do paciente não apresentou nenhuma irresignação quanto aos termos da
assentada, havendo assinado e concordado com seu conteúdo, resulta preclusa a
arguição de qualquer vício a macular o ato de ouvida das testemunhas de acusação.
Ordem denegada”. (STF, 1ª Turma, HC 86.572/PE, Rel. Min. Carlos Britto, j.
06/12/2005, DJ 30/03/2008)

3. Capacidade postulatória autônoma do acusado: Devido à importância da liberdade de locomoção,


o ordenamento jurídico confere ao acusado uma capacidade postulatória autônoma para praticar
certos atos processuais, ainda que ele não seja profissional da advocacia. Ou seja: mesmo que o
acusado não seja advogado, ele pode praticar alguns atos processuais.
Ex.: o acusado pode interpor recursos; provocar incidentes da execução (livramento condicional,
progressão de regime, etc.); impetrar habeas corpus.

• DEFESA TÉCNICA: Direito de ser representado por advogado.


A defesa técnica é indisponível e irrenunciável. Mesmo que o acusado, desprovido de capacidade
postulatória, queira ser processado sem defesa técnica, e ainda que seja revel, deve o juiz providenciar a
nomeação de defensor.

Art. 261 do CPP: Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado
ou julgado sem defensor.

Súmula 523, STF: no processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta,
mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.

Súmula 707, STF: constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para


oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a
suprindo a nomeação do defensor dativo.

87
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Súmula 708, STF: é nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos
autos da renúncia do único defensor, o réu não foi previamente intimado para
constituir outro.

STF: A ausência de defensor, devidamente intimado, à sessão de julgamento não


implica, por si só, nulidade processual. STF. 1ª Turma. HC 165534/RJ, rel. orig. Min.
Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 3/9/2019 (Info 950).

Aspectos da ampla defesa:


• Positivo: representa a efetiva utilização dos instrumentos, dos meios e modos de produção,
esclarecimento ou confrontação de elementos de prova relacionados à materialidade da infração
criminal e à autoria;
• Negativo: impede a produção de elementos probatórios de elevado risco ou com potencialidade
danosa à defesa do réu.

Consequências da ampla defesa:


• Apenas o réu tem direito à revisão criminal, nunca a sociedade;
• O juiz deve sempre fiscalizar a eficiência da defesa do réu.

Há possibilidade de o acusado exercer sua própria defesa técnica? R.: Desde que o acusado seja
profissional da advocacia, ou seja, desde que esteja regularmente inscrito nos quadros da OAB.

Nas ações penais originárias, a defesa preliminar (L. 8.038/90, art. 4º), é atividade
privativa dos advogados. Os membros do Ministério Público estão impedidos de
exercer advocacia, mesmo em causa própria. São atividades incompatíveis (L.
8.906/94, art. 28). Nulidade decretada. (STF, 2ª Turma, HC 76.671/RJ, Rel. Min.
Nelson Jobim, j. 09/06/1998, DJ 10/08/2000).

É possível o patrocínio da defesa técnica de dois ou mais acusados pelo mesmo defensor. Em outras
palavras: Um único advogado pode defender 2 ou mais acusados? R.: SIM! Mas desde que não haja
colidência de teses pessoais. Ex.: A e B estão sendo acusados do mesmo crime. Um único advogado pode
defendê-los, mas desde que as teses de defesa sejam semelhantes. Se A ou B negarem ser autor do delito,
há colidência de interesses pessoais. Obs.: Cabe ao juiz e ao MP fiscalizarem isso.

Hipótese em que o paciente e seu filho foram acusados de tráfico de drogas, sendo
que o filho imputava a responsabilidade penal a seu pai e ambos foram
patrocinados pelo mesmo advogado. O defensor apresentou alegações finais
defendendo apenas o filho e acusando o pai. Havendo teses defensivas
88
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

conflitantes, fica clara a impossibilidade de que pai e filho fossem patrocinados pelo
mesmo advogado. É evidente, assim, o conflito de interesses e a colidência de
defesa, que provocou prejuízo ao paciente, haja vista a condenação à reprimenda
de 12 (doze) anos de reclusão”. (STJ, 6ª Turma, HC 86.392/PA, Rel. Min. Maria
Thereza de Assis Moura, j. 25/05/2010)

4.1.4 Princípio da Plenitude da Defesa

Aplicado especificamente ao Tribunal do Júri.


• A atenção do juiz com a efetividade da defesa do réu deve ser ainda maior;
• É possível apresentar nova tese na tréplica;
• Ampliação do tempo de defesa nos debates sem que igual direito seja concedido ao MP.

4.1.5 Princípio do In Dubio Pro Reo

Envolve regra de tratamento que milita em favor do acusado. O juiz só pode proferir decreto
condenatório se não existirem dúvidas acerca da autoria e materialidade do delito, sendo indispensável um
juízo de certeza para a condenação.
Se houver dúvida na interpretação de determinado artigo de lei processual penal, deve ser
privilegiada a interpretação que beneficie o réu.

STJ: O princípio NÃO tem aplicação nas fases de oferecimento da denúncia e na


prolação de decisão de pronúncia do Tribunal do Júri, em que, como regra,
prevalece o princípio do in dubio pro societate.

STF: Recentemente, proferiu julgado crítico ao princípio do in dubio pro societate


na decisão da fase de pronúncia.
Penal e Processual Penal. 2. Júri. 3. Pronúncia e standard probatório: a decisão de
pronúncia requer uma preponderância de provas, produzidas em juízo, que
sustentem a tese acusatória, nos termos do art. 414, CPP. 4. Inadmissibilidade in
dubio pro societate: além de não possuir amparo normativo, tal preceito ocasiona
equívocos e desfoca o critério sobre o standard probatório necessário para a
pronúncia. 5. Valoração racional da prova: embora inexistam critérios de valoração
rigidamente definidos na lei, o juízo sobre fatos deve ser orientado por critérios de
lógica e racionalidade, pois a valoração racional da prova é imposta pelo direito à
prova (art. 5º, LV, CF) e pelo dever de motivação das decisões judiciais (art. 93, IX,
CF). 6. Critérios de valoração utilizados no caso concreto: em lugar de testemunhas
presenciais que foram ouvidas em juízo, deu-se maior valor a relato obtido somente
89
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

na fase preliminar e a testemunha não presencial, que, não submetidos ao


contraditório em juízo, não podem ser considerados elementos com força
probatória suficiente para atestar a preponderância de provas incriminatórias. 7.
Dúvida e impronúncia: diante de um estado de dúvida, em que há uma
preponderância de provas no sentido da não participação dos acusados nas
agressões e alguns elementos incriminatórios de menor força probatória, impõe-se
a impronúncia dos imputados, o que não impede a reabertura do processo em caso
de provas novas (art. 414, parágrafo único, CPP). Primazia da presunção de
inocência (art. 5º, LVII, CF e art. 8.2, CADH). 8. Função da pronúncia: a primeira fase
do procedimento do Júri consolida um filtro processual, que busca impedir o envio
de casos sem um lastro probatório mínimo da acusação, de modo a se limitar o
poder punitivo estatal em respeito aos direitos fundamentais. 9. Inexistência de
violação à soberania dos veredictos: ainda que a Carta Magna preveja a existência
do Tribunal do Júri e busque assegurar a efetividade de suas decisões, por exemplo
ao limitar a sua possibilidade de alteração em recurso, a lógica do sistema bifásico
é inerente à estruturação de um procedimento de júri compatível com o respeito
aos direitos fundamentais e a um processo penal adequado às premissas do Estado
democrático de Direito. 10. Negativa de seguimento ao Agravo em Recurso
Extraordinário. Habeas corpus concedido de ofício para restabelecer a decisão de
impronúncia proferida pelo juízo de primeiro grau, nos termos do voto do relator.
(ARE 1067392, Relator(a): GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em
26/03/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-167 DIVULG 01-07-2020 PUBLIC 02-07-
2020)

4.1.6 Princípio do Contraditório ou Bilateralidade da Audiência

É o direito de ser intimado e se manifestar sobre fatos e provas.

Art. 5º, LV, da CF: “Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios
e recursos a ela inerentes”.

Elementos:
• Direito à informação;
• Direito de participação.

Nesse sentido, a parte tem direito à informação (por isso a grande importância dos atos de
comunicação, citação, intimação e notificação) e o direito à participação (a parte precisa ter o direito de
90
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

contrariar). Portanto, o contraditório seria a necessária informação às partes e a possível reação a atos
desfavoráveis.

Espécies:
• Contraditório para a prova (contraditório real): É o contraditório realizado na formação do elemento
de prova, sendo indispensável que sua produção ocorra na presença do órgão julgador e das partes.
 Ex.: Prova testemunhal. A prova testemunhal é produzida em contraditório real, pois ambas
as partes estarão presente para acompanhar a produção da prova, podendo questionar as
testemunhas, não apenas quanto a sua credibilidade, mas também quanto aos fatos.
• Contraditório sobre a prova (contraditório diferido/postergado): É a atuação do contraditório após
a formação da prova.
 Ex.: Interceptação telefônica. É claro que o acusado e seu advogado jamais podem tomar
ciência antecipada quanto a uma interceptação telefônica em curso. Nesse caso, o
contraditório será conferido quando concluída a interceptação. Portanto, concluída a
interceptação, a mídia será juntada aos autos, assim como eventual relatório e laudo de
gravação. É nesse momento que a defesa poderá exercer o contraditório.

Observação:
Se o promotor oferece uma denúncia e essa denúncia é rejeitada pelo juiz, é quase que intuitivo
que a acusação irá recorrer (RESE no âmbito do CPP e apelação no âmbito dos juizados especiais).

O acusado precisa ser intimado quanto a esse recurso? R.: SIM! Na condição de acusado, ele tem o
interesse de que a decisão de rejeição de denuncia seja mantida pelo tribunal. Por isso dele deve ser
intimado para que constitua um defensor para apresentar contrarrazões.

Nesse sentido, entendimento sumulado do STF.


SUM 707 do STF: Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer
contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor
dativo.

4.1.7 Princípio da Publicidade

Trata-se de um princípio claramente ligado ao caráter democrático do processo penal. Isso porque,
a partir do momento que se assegura o princípio da publicidade, a ideia é de que a publicidade vai
proporcionar o controle da sociedade sobre a atividade jurisdicional.
Alguns doutrinadores dizem que o princípio da publicidade funciona como uma garantia de segundo
grau ou garantia de garantia (Ferrajoli). Garantia de segundo grau porque, na verdade, a publicidade
proporciona o controle sobre outras garantias. Assim, a partir do momento em que se dá publicidade ao
91
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

processo, poderemos analisar se as outras garantias também foram respeitadas (ex.: juiz natural,
contraditório, ampla defesa, etc.).

• Previsão legal: art. 93, IX, CF/88, art. 5°, LX, CF/88, art. 8°, 5, CADH, art. 792, CPP.

Art. 93, IX, da CF - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão
públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei
limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados,
ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do
interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;

Art. 5º, LX, da CF - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais
quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;

A requerimento do MP, o juiz deferiu que fossem oficiadas as companhias aéreas,


telefônicas e instituições bancárias para requisição de informações sobre viagens
feitas pelo réu e sobre os locais onde foram utilizados os seus cartões de crédito e
telefones celulares. O magistrado autorizou tais medidas sem qualquer
fundamentação. O STJ reconheceu que a decisão foi nula por ausência de
motivação. Embora não sejam absolutas as restrições de acesso à privacidade e
aos dados pessoais do cidadão, é imprescindível que qualquer decisão judicial
explicite os seus motivos (art. 93, IX, da CF). As diligências invasivas de acesso a
dados (bancários, telefônicos e de empresa de transporte aéreo), para serem
deferidas, precisam ser motivadas com a menção à necessidade e
proporcionalidade das diligências. STJ. 6ª Turma. REsp 1133877-PR, Rel. Min. Nefi
Cordeiro, julgado em 19/8/2014 (Info 545).

• Regra: Publicidade ampla, permitindo a todos o acesso ao processo e não apenas às partes e aos
procuradores.
Dessa publicidade ampla se extrai 3 direitos:
1) Direito de assistência à realização dos atos processuais: o público, as partes e os advogados
podem acompanhar os atos processuais;
2) Direito de narração dos atos processuais: da mesma forma que pode assistir, pode descrever
os atos processuais;
3) Consulta dos autos: qualquer pessoa pode acessar os autos.

• Exceção: Publicidade restrita, com fundamento na própria CF/88 que prevê, em algumas situações,
a possibilidade de restrição da publicidade. Será uma publicidade restrita apenas às partes e a seus
92
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

advogados ou, apenas, a seus advogados. Pois, vez ou outra, o direito à intimidade deve prevalecer
sobre o direito à informação.

Art. 8º, item 5, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos – “O processo


penal deve ser público, salvo no que for necessário para preservar os interesses da
justiça”;

Art. 792 do CPP - As audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra,


públicos e se realizarão nas sedes dos juízos e tribunais, com assistência dos
escrivães, do secretário, do oficial de justiça que servir de porteiro, em dia e hora
certos, ou previamente designados.

§1° Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar


escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou o
tribunal, câmara, ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte ou do
Ministério Público, determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando
o número de pessoas que possam estar presentes.
§2o As audiências, as sessões e os atos processuais, em caso de necessidade,
poderão realizar-se na residência do juiz, ou em outra casa por ele especialmente
designada. (regra caiu em desuso).

Art. 234-B do CP - Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título


[crimes sexuais] correrão em segredo de justiça.

No caso de processo penal que tramita sob segredo de justiça em razão da


qualidade da vítima (criança ou adolescente), o nome completo do acusado e a
tipificação legal do delito podem constar entre os dados básicos do processo
disponibilizados para consulta livre no sítio eletrônico do Tribunal, ainda que os
crimes apurados se relacionem com pornografia infantil. Muito embora o delito de
divulgação de pornografia infantil possa causar repulsa à sociedade, não constitui
violação ao direito de intimidade do réu a indicação, no site da Justiça, do nome de
acusado maior de idade e da tipificação do delito pelo qual responde em ação
penal, ainda que o processo tramite sob segredo de justiça. STJ. 5ª Turma. RMS
49920-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 2/8/2016 (Info 587).

ATENÇÃO: Na visão dos Tribunais Superiores o segredo de justiça está dentro da cláusula de reserva de
jurisdição (STF: MS 27.483/DF). Ou seja, quando o segredo de justiça for decretado pelo juiz, somente o
próprio juiz ou uma autoridade jurisdicional superior poderá remover esse segredo de justiça.
93
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Ex.: CPI dos grampos. A CPI quis ter acesso a todos os processos que tinham interceptação telefônica. O STF
não deixou, pois, se há interceptação telefônica, é uma hipótese de publicidade restrita, então somente uma
autoridade jurisdicional pode remover o segredo de justiça.

STF - MS 27.483/DF: “Comissão Parlamentar de Inquérito não tem poder jurídico


de, mediante requisição, a operadoras de telefonia, de cópias de decisão nem de
mandado judicial de interceptação telefônica, quebrar sigilo imposto a processo
sujeito a segredo de justiça. Este é oponível a Comissão Parlamentar de Inquérito,
representando expressiva limitação aos seus poderes constitucionais”. (STF,
Tribunal Pleno, MS 27.483/DF, Rel. Min. Cezar Peluso, DJe 192 09/10/2008).

4.1.8 Princípio da Vedação das Provas Ilícitas

É vedado o uso de provas ilícitas no processo.

Art. 5º, LVI, da CF: São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos.

O reconhecimento da prova ilícita ou da prova ilegítima que enseja a nulidade absoluta tem como
consequência imediata o desentranhamento dos autos e sua inutilização, para que não se possa influenciar
indevidamente o convencimento do magistrado.

Cuidado! O que deve ser desentranhado dos autos é a PROVA, e não os autos processuais que fazem
menção à prova ilícita. Assim já decidiu o STF:

As peças processuais que fazem referência à prova declarada ilícita não devem
ser desentranhadas do processo. Se determinada prova é considerada ilícita, ela
deverá ser desentranhada do processo. Por outro lado, as peças do processo que
fazem referência a essa prova (exs: denúncia, pronúncia etc.) não devem ser
desentranhadas e substituídas. A denúncia, a sentença de pronúncia e as demais
peças judiciais não são "provas" do crime e, por essa razão, estão fora da regra que
determina a exclusão das provas obtidas por meios ilícitos prevista art. 157 do CPP.
Assim, a legislação, ao tratar das provas ilícitas e derivadas, não determina a
exclusão de "peças processuais" que a elas façam referência. STF. 2ª Turma. RHC
137368/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 29/11/2016 (Info 849).

Contudo, a prova ilícita NÃO será inutilizada quando:


94
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

1) Pertencer licitamente a alguém;


2) Prova ilícita consistir no próprio corpo de delito em relação àquele que praticou um crime para obtê-
la.

Obs.: O STF começou a admitir, excepcionalmente, a utilização da prova ilícita em benefício do réu inocente
que produziu prova para a sua absolvição.

 Iremos aprofundar o tema quando tratarmos de Teoria Geral das Provas.

4.1.9 Princípio da Economia Processual, Celeridade Processual e Duração Razoável Do Processo

Trata-se do princípio que ensejou a edição da EC 45/04, responsável por introduzir a razoável
duração do processo enquanto direito fundamental no art. 5, LXXVII, CF.
Assim, a duração razoável do processo corresponde à busca pelo equilíbrio: o processo não pode ser
moroso ao ponto de ensejar a impunidade, mas também não tão célere de modo a inobservar as garantias
do acusado.
Apresenta algumas consequências:
• As prisões cautelares devem persistir por tempo razoável, enquanto presentes as necessidades;
• Possibilidade de utilizar a carta precatória itinerante;
• A suspensão do processo, havendo questão prejudicial, só deve ser feita quando há caso de difícil
solução.

Veja a dica do professor Tiago Dantas:

https://youtu.be/W1KoG7UnrJw

4.1.10 Princípio do Devido Processo Legal

É um princípio expressamente previsto na Constituição Federal.

95
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Art. 5, LIV, da CF - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal.

“O devido processo legal é o estabelecido em lei, devendo traduzir-se em sinônimo


de garantia, atendendo assim aos ditames constitucionais. Com isto, consagra-se a
necessidade do processo tipificado, sem a supressão e/ou desvirtuamento de atos
essenciais” (TÁVORA, 2017, p. 68).

Subdividido em:
• Aspecto material ou substancial: Ninguém será processado, senão por crime previsto em lei;
• Aspecto processual ou procedimental: Atrelado à possibilidade de produzir provas.

4.1.11 Juiz Imparcial ou Natural

a) Previsão constitucional: art. 5°, XXXVII e LIII, CF/88

Art. 5º, XXXVII, da CF: não haverá juízo ou tribunal de exceção;

Art. 5º, LIII, da CF: ninguém será processado nem sentenciado senão pela
autoridade competente;

b) Conceito

Consiste no direito que cada cidadão possui de conhecer antecipadamente a autoridade jurisdicional
que o processará e o julgará. A ideia do juiz natural está relacionada com a imparcialidade. Isso porque, a
partir do momento em que a competência é estabelecida de maneira prévia e abstrata, de certa forma é
possível proteger a imparcialidade daquele magistrado.

c) Regras de Proteção que derivam do Juiz Natural

Do princípio do juiz natural derivam 3 regras fundamentais:


• Só podem exercer jurisdição os órgãos instituídos pela Constituição;
• Ninguém pode ser julgado por órgão instituído após o fato;
• Entre os juízes pré-constituídos vigoram regras de competência que excluem qualquer tipo de
discricionariedade.

96
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Obs.1: Convocação de juízes de 1º grau para substituir desembargadores não viola o princípio do juiz
natural.

Não ofende o princípio do juiz natural à convocação de juízes de primeiro grau


para, nos casos de afastamento eventual do desembargador titular, compor o
órgão julgador do respectivo Tribunal, desde que observadas as diretrizes legais
federais ou estaduais, conforme o caso. Precedentes do STF e do STJ. Na hipótese
em tela, o Tribunal de Justiça paulista procedeu a convocações de juízes de primeiro
grau para formação de Câmaras Julgadoras, valendo-se de um sistema de
voluntariado, sem a observância da regra legal instituída (Lei Complementar n.º
646/90 do Estado de São Paulo), qual seja, a de realização de concurso de remoção,
tornando nula a atuação do magistrado de primeiro grau convocado nessas
circunstâncias. Ordem concedida para anular o julgamento do recurso de apelação,
determinando a sua renovação por Turma Julgadora, com a observância da lei de
regência. (STJ, 5ª Turma, HC 111.919/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 18/11/2008, Dje
02/02/2009).

Obs.2: Julgamento por turma (ou câmara) composta, em sua maioria, por juízes convocados não viola o
princípio do juiz natural.

Esta Corte já firmou entendimento no sentido da constitucionalidade da Lei


Complementar 646/1990, do Estado de São Paulo, que disciplinou a convocação de
juízes de primeiro grau para substituição de desembargadores do TJ/SP. Da mesma
forma, não viola o postulado constitucional do juiz natural o julgamento de
apelação por órgão composto majoritariamente por juízes convocados na forma
de edital publicado na imprensa oficial. Colegiados constituídos por magistrados
togados, que os integram mediante inscrição voluntária e a quem a distribuição de
processos é feita aleatoriamente. Julgamentos realizados com estrita observância
do princípio da publicidade, bem como do direito ao devido processo legal, à ampla
defesa e ao contraditório. Ordem denegada. (STF, Pleno, HC 96.821/SP, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, j. 08/04/2010).

É pacífico o entendimento deste Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal


Federal no sentido de ser perfeitamente possível a convocação de juízes de
primeiro grau para substituírem desembargadores nos Tribunais, quando, em
conformidade com a legislação de regência, não há qualquer ofensa à Constituição
Federal. O caso em apreço não se amolda à hipótese acima, tendo em vista tratar-
se de ação penal originária, porquanto, em última análise, refere-se às
97
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

prerrogativas dos membros do Ministério Público que, por expressa previsão


constitucional (art. 96, inciso III), possuem foro privilegiado por prerrogativa de
função. Prevendo o Regimento Interno do Tribunal de Justiça Estadual, vigente à
época do julgamento do paciente, de que era necessária a presença de pelo menos
dois terços de seus membros na sessão de julgamento, viola o princípio do juiz
natural quando o referido quórum é completado com juízes de primeiro grau
convocados. (STJ, 6ª Turma, HC 88.739/BA, Rel. Min. Haroldo Rodrigues, j.
15/06/2010).

 O tema será aprofundado quando falarmos de Competência, tendo em vista que são assuntos
diretamente ligados entre si.

4.2 Princípios Constitucionais Implícitos

4.2.1 Princípio do Nemo Tenetur Se Detegere (Princípio De Que Ninguém Está Obrigado A Produzir Prova
Contra Si Mesmo)

a) Conceito

A garantia da não autoincriminação consiste no direito de não produzir prova contra si próprio, essa
garantia vem sendo muito cobrada em prova no termo em latim “nemo tenetur se detegere” que está
positivado no artigo 8º, g, do Pacto de São José da Costa Rica, garantindo à pessoa o “direito de não ser
obrigado a depor contra si mesma, nem a declarar-se culpada”.

b) Previsão Normativa:

Na CF/88 (art. 5º, LXIII), através da menção ao direito ao silêncio, que é um dos desdobramentos do
princípio do nemo tenetur se detegere.

Art.5º, LXIII, CF - O preso será informado de seus direitos, entre os quais o de


permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;

Na CADH (art.8º, item 2, alínea “g”):

Artigo 8º, item 2, CADH – (...) durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena
igualdade, às seguintes garantias mínimas:(...) g) direito de não ser obrigado a
depor contra si mesma, nem a declarar-se culpada; e

98
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

c) Titularidade

A CF faz referência ao preso, mas como se trata de um direito fundamental, a interpretação deve ser
feita de maneira extensiva. Desta forma, o titular é o indivíduo suspeito, investigado, indiciado pela
autoridade policial bem como o acusado pelo MP, pouco importa se está preso ou solto.
• Abrange o suspeito, investigado, indiciado ou o acusado.
• A testemunha tem a obrigação de dizer a verdade, sob pena de responder pelo crime de falso
testemunho. Entretanto, se das perguntas a ela formuladas puder resultar uma autoincriminação,
também poderá invocar este princípio (Info 754 STF).
• O imputado deve ser advertido acerca do direito de não produzir prova contra si mesmo, sob pena
de ilicitude das provas obtidas.

Art. 5º, LXIII, da CF - O preso será informado de seus direitos, entre os quais o de
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado.

d) Desdobramentos do Princípio da Não Autoincriminação

1) Direito ao silêncio

Consiste no direito de não responder às perguntas formuladas pela autoridade, funcionando como
espécie de manifestação passiva de defesa. É uma forma de se exercer a autodefesa.

2) Inexigibilidade de dizer a verdade ou direito de mentir

Cuidado! Mentiras defensivas são toleradas pelo ordenamento jurídico, porém mentiras agressivas,
incriminadoras de 3º NÃO estão sob o manto do direito de defesa.

3) Direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminá-lo

Consiste no direito de não adotar comportamentos ativos que colaborem com a atividade
persecutória do Estado.
Por comportamento ativo, entende-se um “fazer” por parte do acusado, a exemplo do fornecimento
do padrão vocal para realização de exame de espectrograma; fornecimento de material escrito para exame
grafotécnico; exame de bafômetro.
Nesse sentido a jurisprudência:

99
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

(...) O privilégio contra a autoincriminação, garantia constitucional, permite ao


paciente o exercício do direito de silêncio, não estando, por essa razão, obrigado a
fornecer os padrões vocais necessários a subsidiar prova pericial que entende lhe
ser desfavorável. Ordem deferida, em parte, apenas para, confirmando a medida
liminar, assegurar ao paciente o exercício do direito de silêncio, do qual deverá ser
formalmente advertido e documentado pela autoridade designada para a
realização da perícia. (STF, 2ª Turma, HC 83.096/RJ, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ
12/12/2003 p. 89).

Acerca da recusa ao teste do bafômetro, nas palavras de Renato Brasileiro de Lima:

O fato de o art. 277, § 3º, do CTB, prever a aplicação de penalidades e medidas


administrativas ao condutor que não se sujeitar a qualquer dos procedimentos
previstos no caput do referido artigo é perfeitamente constitucional. Ao contrário
do que ocorre no âmbito criminal, em que, por força do princípio da presunção de
inocência, não se admite eventual inversão do ônus da prova em virtude de recusa
do acusado em se submeter a uma prova invasiva, no âmbito administrativo, o
agente também não é obrigado a produzir prova contra si mesmo, porém, como
não se aplica a regra probatória que deriva do princípio da presunção de inocência,
a controvérsia pode ser resolvida com base na regra do ônus da prova, sendo que
a recusa do agente em se submeter ao exame pode ser interpretada em seu
prejuízo, no contexto do conjunto probatório, com a consequente imposição das
penalidades e das medidas administrativas previstas no art. 165 do CTB. (LIMA,
Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 81-
82).

Atualmente, há teste de bafômetro ativo (não é obrigado a realizar, pois pode acarretar
autoincriminação) e teste de bafômetro passivo, em que é colocado um objeto próximo ao agente, capaz de
captar, por meio da respiração, o teor alcoólico. Este último, por não demandar qualquer comportamento
do agente, pode ser realizado, mesmo contra sua vontade.
Tratando-se de comportamentos passivos, em que o agente se sujeita a prova, não há proteção do
referido princípio, a exemplo do reconhecimento de pessoas e coisas.

O STF entendeu que o direito a não autoincriminação não assegura ao acusado o direito de ocultar ou falsear
a sua identidade (1ªT, RE n2 561.704, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe 64 02/04/2009).

No mesmo sentido, o STJ, possui entendimento sumulado. SUM 522: A conduta de atribuir-se falsa
identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa.
100
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

4) Direito de não produzir nenhuma prova incriminadora invasiva

É preciso realizar uma distinção entre a prova invasiva e a prova não invasiva, visto que apenas aquela
encontra proteção no princípio ora analisado.
• Prova invasiva - Implica na penetração do organismo humano e na extração de uma parte dele. Como
exemplo, podemos citar: coleta de sangue, soprar bafômetro.
• Prova não invasiva - É aquela em que não há penetração no organismo humano. Admite-se a coleta,
mas não deve ser retirada do corpo. Por exemplo, o fio de cabelo coletado de um pente. O mesmo
vale para a coleta de lixo, de placenta descartada (caso Glória Trevi).

Caso Glória Trevi: o STF entendeu pela a legalidade da determinação de coleta da placenta no
procedimento médico do parto da cantora chilena G. T., a fim de que fosse possível, posteriormente, a
realização do exame de DNA, de modo a dirimir a dúvida quanto a quem era o pai da criança. Nessa situação,
a intervenção médica era necessária e não houve a coleta à força da placenta, uma vez que esta é expelida
do corpo humano como consequência natural do processo de parto.

(...) Coleta de material biológico da placenta, com propósito de se fazer exame de


DNA, para averiguação de paternidade do nascituro, embora a oposição da
extraditanda. (....) Mantida a determinação ao Diretor do Hospital Regional da Asa
Norte, quanto à realização da coleta da placenta do filho da extraditanda. (...) Bens
jurídicos constitucionais como “moralidade administrativa”, “persecução penal
pública” e “segurança pública” que se acrescem, - como bens da comunidade, na
expressão de Canotilho, - ao direito fundamental à honra (CF, art. 5°, X), bem assim
direito à honra e à imagem de policiais federais acusados de estupro da
extraditanda, nas dependências da Polícia Federal, e direito à imagem da própria
instituição, em confronto com o alegado direito da reclamante à intimidade e a
preservar a identidade do pai de seu filho. (...) Mérito do pedido do Ministério
Público Federal julgado, desde logo, e deferido, em parte, para autorizar a
realização do exame de DNA do filho da reclamante, com a utilização da placenta
recolhida, sendo, entretanto, indeferida a súplica de entrega à Polícia Federal do
“prontuário médico” da reclamante. (STF, Tribunal Pleno, Rcl-QO 2.040/DF, Rel.
Min. Néri da Silveira, DJ 27/06/2003 p. 31).

Ressalta-se que o raio-x, segundo o STJ (HC 149.146/SP), é considerado prova não invasiva. Logo,
poderá ser realizado mesmo contra a vontade do indivíduo.
Nesse sentido, Renato Brasileiro explica que no caso das chamadas “mulas”, que transportam drogas
no organismo humano, não é possível obrigar a pessoa a realizar uma cirurgia para retirada ou que ela
101
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

consuma algum tipo de remédio para expelir o conteúdo da droga. É possível, no entanto, a realização de um
raio-x, que é modalidade de prova não invasiva.

(...) A Constituição Federal, na esteira da Convenção Americana de Direitos


Humanos e do Pacto de São José da Costa Rica, consagrou, em seu art. 5º, inciso
LXIII, o princípio de que ninguém pode ser compelido a produzir prova contra si.
Não há, nos autos, qualquer comprovação de que tenha havido abuso por parte
dos policiais na obtenção da prova que ora se impugna. Ao contrário, verifica-se
que os pacientes assumiram a ingestão da droga, narrando, inclusive, detalhes da
ação que culminaria no tráfico internacional da cocaína apreendida para a Angola,
o que denota cooperação com a atividade policial, refutando qualquer alegação de
coação na colheita da prova. Ademais, é sabido que a ingestão de cápsulas de
cocaína causa risco de morte, motivo pelo qual a constatação do transporte da
droga no organismo humano, com o posterior procedimento apto a expeli-la,
traduz em verdadeira intervenção estatal em favor da integridade física e, mais
ainda, da vida, bens jurídicos estes largamente tutelados pelo ordenamento.
Mesmo não fossem realizadas as radiografias abdominais, o próprio organismo, se
o pior não ocorresse, expeliria naturalmente as cápsulas ingeridas, de forma a
permitir a comprovação da ocorrência do crime de tráfico de entorpecentes. (...)
Ordem denegada. (STJ, 6ª Turma, HC 149.146/SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado
em 05/04/2011).

ATENÇÃO! Nemo tenetur se detegere e a prática de outros ilícitos.


O princípio nemo tenetur se detegere não tem natureza absoluta, podendo constituir conduta
criminosa, determinados comportamentos empregados a pretexto de estarem amparados pelo referido
princípio. Assim, apesar de ninguém ser obrigado a produzir provas contra si mesmo, nenhum direito pode
ser usado como escudo protetor para a realização de atividades ilícitas. Nesse sentido, vejamos alguns
exemplos.

Ex1.: Crime de Fraude Processual (art. 347, CP).


Fraude processual Art. 347 - Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil
ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a
erro o juiz ou o perito:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal,
ainda que não iniciado, as penas aplicam-se em dobro.

102
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Foi o que aconteceu no caso do Casal Nardoni, acusado e condenado por fraude processual. A defesa,
no caso deste crime específico (alteração da cena do crime), alegou o princípio do nemo tenetur se detegere,
afirmando que ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Entretanto, tal princípio não dá
direito à pessoa de cometer outras infrações para se eximir da anterior.

O Superior Tribunal de Justiça assim se pronunciou no habeas corpus impetrado em


favor de A. N. e A. C. J, denunciados pelo homicídio triplamente qualificado de
Isabela Nardoni, e também por fraude processual, em decorrência da alteração do
local do crime: (...) O direito à não auto-incriminação não abrange a possibilidade
de os acusados alterarem a cena do crime, inovando o estado de lugar, de coisa ou
de pessoa, para, criando artificiosamente outra realidade, levar peritos ou o próprio
Juiz a erro de avaliação relevante (...). (STJ, 5 Turma, HC 137.206/SP, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, j. 01/12/2009, DJe 01/02/2010).

Ex2.: Fuga do local de ocorrência de trânsito (art. 305 do CTB).

Art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à


responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída: Penas - detenção, de
seis meses a um ano, ou multa.

No caso de crimes de trânsito, o afastamento do condutor do local do acidente enseja algumas


divergências. Alguns doutrinadores consideram que tal crime seria inconstitucional. Entretanto, no fim de
2018, o STF considerou este crime constitucional, afirmando que o condutor tem o dever de permanecer no
local, mas não é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Vejamos:

(...) “A regra que prevê o crime do art. 305 do CTB é constitucional posto não
infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e as
hipóteses de exclusão de tipicidade e de antijuridicidade”. À semelhança do que já
fora decidido pelo Supremo no julgamento do RE 640.139, quando se afirmou que
o princípio constitucional da autoincriminação não alcança aquele que atribui falsa
identidade perante autoridade policial com o intuito de ocultar maus antecedentes,
prevaleceu o entendimento de que não há direitos absolutos e que, no sistema de
ponderação de valores, há de ser admitida certa mitigação, até mesmo do princípio
da não autoincriminação. Na visão da Corte, a exigência de permanência no local
do acidente e de identificação perante a autoridade de trânsito não obriga o
condutor a assumir expressamente sua responsabilidade civil ou penal e tampouco
enseja que seja aplicada contra ele qualquer penalidade caso assim não o proceda.
Na verdade, a depender do caso concreto, a sua permanência no local pode até
103
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

constituir um meio de autodefesa, na medida em que terá a oportunidade de


esclarecer, de imediato, eventuais circunstâncias do acidente que lhe sejam
favoráveis. (STF, Pleno, RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. 14/11/2018).

 Iremos aprofundar um pouco mais o tema na aula de Teoria Geral da Prova.

Obs1.: O Aviso de Miranda é uma construção do direito norte-americano, segundo o qual, o policial, no
momento da prisão, deve relatar para o preso os seus direitos, sob pena de invalidação do que por ele for
dito. Conforme leciona Renato Brasileiro (2017, p. 71), os “Miranda Warnings” têm origem no julgamento
Miranda V. Arizona, em que a Suprema Corte americana firmou o entendimento de que nenhuma validade
pode ser conferida às declarações feitas pela pessoa à polícia, a não ser que antes tenha sido claramente
informada de:
I- Que tem o direito de não responder;
II- Que tudo o que disser pode vir a ser utilizado contra ela;
III- Que tem o direito à assistência de defensor escolhido ou nomeado.

Obs2.: O art. 2º, §6º, da Lei nº 7.960/89 (prisão temporária) prevê que, efetuada a prisão, a autoridade
policial informará o preso dos direitos previstos no art. 5º da Constituição Federal, por meio de uma nota de
ciência.

Entendimentos do STF:
1. O acusado não está obrigado a fornecer padrões vocais necessários a subsidiar prova pericial de
verificação de interlocutor (HC 83.096/RJ).
2. O acusado não está obrigado a fornecer material para exame grafotécnico (HC 77135/SP).
3. Configura constrangimento ilegal a decretação de prisão preventiva de indiciados diante da recusa
destes em participarem de reconstituição do crime (HC 99.245/RJ).

Vamos aprofundar o assunto:


Há na jurisprudência diversas manifestações acerca do dever de advertência. Como exemplo, os
casos em policiais gravaram conversa informal com o preso, sem que lhe fosse avisado acerca do seu direito
ao silêncio.

(...) Gravação clandestina de “conversa informal” do indiciado com policiais.


Ilicitude decorrente - quando não da evidência de estar o suspeito, na ocasião,
ilegalmente preso ou da falta de prova idônea do seu assentimento à gravação
ambiental - de constituir, dita “conversa informal”, modalidade de “interrogatório”
sub-reptício, o qual - além de realizar-se sem as formalidades legais do
interrogatório no inquérito policial (CPP, art. 6º, V) -, se faz sem que o indiciado seja
104
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

advertido do seu direito ao silêncio. O privilégio contra a autoincriminação - nemo


tenetur se detegere -, erigido em garantia fundamental pela Constituição - além da
inconstitucionalidade superveniente da parte final do art. 186 CPP. - Importou
compelir o inquiridor, na polícia ou em juízo, ao dever de advertir o interrogado do
seu direito ao silêncio: a falta da advertência - e da sua documentação formal - faz
ilícita a prova que, contra si mesmo, forneça o indiciado ou acusado no
interrogatório formal e, com mais razão, em “conversa informal” gravada,
clandestinamente ou não. (...). (STF, 1ª Turma, HC 80.949/RJ, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence, DJ 14/12/2001).

Ilicitude de gravação ambiental sem o conhecimento do preso.


PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. INVESTIGAÇÃO
POLICIAL. EXERCÍCIO DO DIREITO DE PERMANECER CALADO MANIFESTADO
EXPRESSAMENTE PELO INDICIADO (ART. 5º, LXIII, DA CF). GRAVAÇÃO DE CONVERSA
INFORMAL REALIZADA PELOS POLICIAIS QUE EFETUARAM A PRISÃO EM
FLAGRANTE. ELEMENTO DE INFORMAÇÃO CONSIDERADO ILÍCITO. VULNERAÇÃO
DE DIREITO CONSTITUCIONALMENTE ASSEGURADO. INAPLICABILIDADE DO
ENTENDIMENTO NO SENTIDO DA LICITUDE DA PROVA COLETADA QUANDO UM
DOS INTERLOCUTORES TEM CIÊNCIA DA GRAVAÇÃO DO DIÁLOGO. SITUAÇÃO
DIVERSA.
DIREITO À NÃO AUTOINCRIMINAÇÃO QUE DEVE PREVALECER SOBRE O DEVER-
PODER DO ESTADO DE REALIZAR A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL. (HC 244.977/SC, Rel.
Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 25/09/2012, DJe
09/10/2012)

Em relação à imprensa, podemos citar duas correntes:


▪ 1ªC: Há doutrinadores que afirmam que este dever de advertência vale para todos, inclusive
para os particulares, seria a aplicação da eficácia horizontal dos direitos fundamentais.
Portanto, a imprensa teria a obrigação de advertir o agente acerca do seu direito de
permanecer calado.
▪ 2ºC: STF, no entanto, não adota tal posicionamento. Assim, o dever de advertência vale
apenas para o Estado. Nesse sentido:

(...) Alegação de ilicitude da prova, consistente em entrevista concedida pelo


paciente ao jornal “A Tribuna”, na qual narra o modus operandi de dois homicídios
perpetrados no Estado do Espírito Santo, na medida em que não teria sido
advertido do direito de permanecer calado. Entrevista concedida de forma

105
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

espontânea. Constrangimento ilegal não caracterizado. Ordem denegada. (STF, 2ª


Turma, HC 99.558/ES, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 14/12/2010).

4.2.2 Princípio da Iniciativa das Partes

É vedada a propositura de ação penal pelo magistrado, reservando-se essa iniciativa apenas à
parte. Em conformidade com o sistema acusatório, o juiz não pode iniciar um processo penal sem
provocação anterior (nemo judex actore ou ne procedat judex ex officio).
Entretanto, a doutrina aponta duas exceções ao princípio da iniciativa das partes. O juiz pode agir
de ofício:
a) Quando a situação disser respeito ao direito de liberdade do agente, o que se verifica na expedição
de habeas corpus de ofício (art. 654, § 2º, CPP); e
b) Quando se tratar do início da execução penal (art. 195, Lei 7.210/84).

4.2.3 Duplo Grau de Jurisdição

NÃO é princípio constitucional expresso, embora exista doutrina que defenda ser decorrência da
ampla defesa.
Além disso, decorre de direitos previstos em tratados de direitos humanos, como o já mencionado
Pacto de São José da Costa Rica que, em seu art. 8.2, h, dispõe que: “(...) durante o processo, toda pessoa
tem, em plena igualdade, o direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior.”

4.2.4 Princípio da Oficialidade

A atividade de persecução criminal deve ocorrer por órgão oficial. Aplicável à ação penal pública.

4.2.5 Princípio da Oficiosidade

As autoridades incumbidas da persecução penal devem agir de ofício, ou seja, independentemente


de provocação, salvo exceções. Ex.: crimes de ação penal condicionada ou de ação penal de iniciativa privada.

 Será aprofundado no tema Ação Penal.

Cuidado! NÃO confunda os princípios da oficialidade e oficiosidade, visto que apesar da


denominação similar, possuem conceituações distintas conforme apontado acima.

106
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

5. OUTROS PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL

5.1 Princípio da Oralidade

A prova oral prevalece sobre a escrita. Desse princípio decorre:

• Princípio da Concentração: Toda a colheita de prova e julgamento devem ocorrer em uma única
audiência.
• Princípio da Imediaticidade: O magistrado deve ter contato direto com a prova produzida.
• Princípio da Identidade Física do Juiz: O juiz que instrui o processo deve julgá-lo.

5.2 Indivisibilidade da Ação Penal Privada

NÃO pode o ofendido escolher contra qual agente ofertará a ação penal privada.

ATENÇÃO: Para o STF, a ação penal pública é divisível, pois o MP pode, até sentença final, incluir
novos agentes por aditamento à denúncia ou oferecer nova ação penal, caso já prolatada sentença no
feito. Todavia, para doutrina majoritária, prevalece a indivisibilidade.

 Será aprofundado no tema Ação Penal.

5.3 Comunhão da Prova

Uma vez produzida, a prova não pertence mais a parte que a produziu, mas ao processo. Nesse
sentido, o magistrado pode valer-se de uma prova produzida pela parte para proferir decisão em seu
desfavor, de acordo com o seu livre convencimento motivado.

5.4 Impulso Oficial

Atrelado aos princípios da obrigatoriedade e indeclinabilidade da ação penal.


Uma vez iniciado, o processo tem curso por impulso oficial, ou seja, o juiz, de ofício, dará andamento
ao processo até o seu fim, objetivando a prolação de uma decisão final. Assim, não é possível a paralisação
do procedimento pela inércia ou omissão das partes, caminhando-se para a resolução do litígio de forma
definitiva, enquanto objetivo do processo.

107
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

6. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL

6.1 Aplicação da Lei Processual no Tempo

É o estudo do direito intertemporal, ou seja, o direito que regula a sucessão de leis no tempo.

a) Normas de Direito Penal:


Princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa, do qual deriva o princípio da ultratividade da
lei penal mais benéfica. A lei nova só vai valer para os crimes praticados a partir daquele momento.

Art. 5, XL, da CF – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

b) Normas de Direito Processual Penal

Existem duas espécies de normas de Direito Processual Penal.


• Norma genuinamente processual;
• Norma processual material, mista ou híbrida.
Dependendo da espécie de norma processual penal os critérios de aplicação serão diferentes.

1) Norma genuinamente processual - São aquelas que cuidam de procedimentos, atos processuais,
técnicas do processo. Ou seja, não dizem respeito a pretensão punitiva. Nesse caso, o critério a ser
aplicado é o previsto no art. 2°, CPP (princípio da aplicação imediata).

Art. 2º. A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos
atos realizados sob a vigência da lei anterior.

Pelo princípio do efeito imediato, a lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da
validade dos atos praticados sob a vigência da lei anterior. Como consequência, a lei processual penal será
aplicada de imediato, seja benéfica ou maléfica (não se aplica o princípio da retroatividade da lei benéfica,
como ocorre no Direito Penal).
Portanto, do princípio da aplicação imediata derivam 2 regras fundamentais:
1ª - A lei genuinamente processual tem aplicação imediata;
2ª - A vigência dessa nova lei não invalida os atos processuais anteriores. Se o ato processual
já foi praticado e foi em consonância com a lei processual vigente, significa que o ato é válido,
não devendo ser anulado só porque houve a superveniência de uma nova lei.
Assim, o ordenamento jurídico brasileiro adota o sistema do isolamento dos atos do processo
(tempus regit actum), segundo o qual a lei será aplicada unicamente em relação ao ato processual e, uma
vez praticado este, a nova lei processual já poderá ter incidência sobre os atos futuros.
108
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

2) Norma processual material (mista ou híbrida) - São aquelas que possuem caráter dúplice, de direito
penal e de processo penal.
Norma processual material (mista) = norma de direito penal + norma de direito processual penal.
• Normas Penais - São aquelas que cuidam do crime, da pena, da medida de segurança, dos efeitos da
condenação e do direito de punir do Estado. Ex.: causas extintivas da punibilidade.
• Normas Processuais Penais - São aquelas que versam sobre o processo desde o seu início até o final
da execução ou extinção da punibilidade.
Assim, se um dispositivo legal, embora inserido em lei processual, versa sobre regra penal, de direito
material, a ele serão aplicáveis os princípios que regem a lei penal, de ultratividade e retroatividade da lei
mais benigna.
Conclusão: Quando se tratar de norma processual mista, o critério a ser aplicado é o critério do
direito penal, ou seja, irretroatividade da lei mais grave e ultratividade da lei mais benigna.
• Se o aspecto penal for benéfico: prevalece o aspecto penal, e a lei retroage por completo;
• Se o aspecto penal for maléfico: a lei NÃO retroage.

ATENÇÃO! Normas heterotópicas são aquelas em que, apesar de seu conteúdo conferir-lhe uma
determinada natureza, encontra-se prevista em diploma de natureza distinta. Ou seja, é uma norma penal
colocada no CPP, ou então norma processual penal colocada no CP.

Nas palavras de Noberto Avena: Há determinadas regras que, não obstante previstas em diplomas
processuais penais, possuem conteúdo material, devendo, pois, retroagir para beneficiar o acusado. Outras,
no entanto, inseridas em leis materiais, são dotadas de conteúdo processual, a elas sendo aplicável o critério
da aplicação imediata (tempus regit actum). É aí que surge o fenômeno denominado de heterotopia, ou seja,
situação em que, apesar de o conteúdo da norma conferir-lhe uma determinada natureza, ela se encontra
prevista em diploma de natureza distinta. Tais normas não se confundem com as normas processuais
materiais. Enquanto a heterotópica possui uma determinada natureza (material ou processual), em que pese
estar incorporada à diploma de caráter distinto, a norma processual mista ou híbrida apresenta dupla
natureza, vale dizer, material em uma determinada parte e processual em outra. Ex.: o direito ao silêncio do
acusado em interrogatório apesar de estar previsto no Código de Processo Penal possui conteúdo material.

6.2 Aplicação da Lei Processual no Espaço:

“Ao contrário do que ocorre no Direito Penal, onde se trava longa e complexa
discussão sobre a extraterritorialidade da lei penal, no processo penal a situação é
mais simples. Aqui vige o princípio da territorialidade. As normas processuais
penais brasileiras só se aplicam no território nacional, não tendo qualquer
possibilidade de eficácia extraterritorial” (LOPES, 2018. p. 72).
109
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Pelo art. 1º, CPP, há o princípio da territorialidade absoluta, decorrência da soberania, razão pela
qual o CPP vale em todo território nacional, SALVO nas hipóteses excludentes da jurisdição criminal brasileira,
casos em que o CPP possui aplicação subsidiária.

Art. 1º - O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este


Código, ressalvados:
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de
Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do
Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade;
III - os processos da competência da Justiça Militar;
IV - os processos da competência do tribunal especial;
V - os processos por crimes de imprensa.
Parágrafo único - Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos
nºs. IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo
diverso.

6.3 Aplicação da Lei Processual em Relação às Pessoas

Conforme art. 1º, do CPP, é possível que sejam instituídas imunidades da lei processual penal, seja
em virtude de tratados internacionais (imunidade diplomáticas e de chefes de governos estrangeiros) ou por
regras constitucionais (imunidades e regras de competência).

I. Imunidades Diplomáticas: Objetivam garantir o livre exercício dos representantes diplomáticos, e são
atribuídas em função do cargo, e não da pessoa. O Tratado de Viena assegura a imunidade de jurisdição penal
do diplomata e seus familiares, para que se sujeitem à jurisdição do Estado que representa.

Abrangência:
• Chefes de governo ou Estado estrangeiro, sua família e membros de sua comitiva;
• Embaixador e família: Imunidade absoluta;
• Funcionários das organizações internacionais (ONU) quando em serviço;
• Agentes consulares, apenas quanto aos crimes relacionados com a sua função (Cuidado!).

ATENÇÃO:
• A imunidade não subtrai o diplomata da investigação, mas do processo e julgamento em território
brasileiro.
• As embaixadas NÃO são extensão do território que representam, mas são invioláveis.
110
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

• É possível ao país renunciar à imunidade do agente diplomático, mas o agente não pode renunciar
por iniciativa pessoal, já que a imunidade se fundamenta no interesse da função.

II. Imunidades Parlamentares: É uma prerrogativa para o desempenho das funções de deputados e
senadores de legislar e fiscalizar o Poder Executivo. Podem ser absolutas ou relativas.

• Imunidade absoluta (material, substancial, real, inviolabilidade ou indenidade): Prevê o art. 53, da
CF/88, que deputados e senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas
opiniões, palavras e votos.
1. Para STF, a imunidade é causa de atipicidade.
2. A abrangência dessa imunidade deve ser analisada:
∘ Se ofensa proferida nas dependências da casa legislativa, o nexo funcional é
presumido, há imunidade3;
∘ Se a ofensa é proferida fora das dependências da casa legislativa, o nexo funcional NÃO
é presumido, deve ter relação com o exercício do mandato e o ofendido deve
comprovar a inexistência de nexo com o mandato.

• Imunidade relativa (formal): É possível subdividi-la:


(1) Para a prisão: Relacionada à prisão dos parlamentares e ao processo. Os parlamentares passam a ter
imunidade formal para a prisão a partir do momento em que são diplomados pela Justiça Eleitoral
(antes da posse), configurando o termo inicial para a atribuição de imunidade formal para a prisão.
∘ Os parlamentares só poderão ser cautelarmente presos nas hipóteses de flagrante de crime
inafiançável (“estado de relativa incoercibilidade pessoal dos congressistas” – Celso de Melo)
→ Nesse caso, os autos deverão ser encaminhados a Casa Parlamentar respectiva, no prazo
de 24h para que, pelo voto (aberto) da maioria absoluta de seus membros, resolva sobre a
prisão.
∘ Nota-se que a aprovação pela Casa é condição necessária para a manutenção da prisão em
flagrante delito de crime inafiançável. Logo, há duas hipóteses:
1) Se a Casa decidir pela não manutenção do cárcere, a prisão deverá ser
imediatamente relaxada;

3
Sobre a presunção da imunidade por palavras e expressões proferidas dentro da Casa Parlamentar, o STF,
no Inq 3932/DF e Pet 5243/DF, de Relatoria do Min. Luiz Fux, julgado em 21/06/2016 (INF 831), recebeu
denúncia contra o Dep. Jair Bolsonaro, pela incitação ao crime, ao pronunciar, em acalorada discussão no
plenário, que a também Dep. Federal Maria do Rosário “não merecia ser estuprada”. Para melhor
compreensão de interessante julgado, sugerimos a leitura:
http://www.dizerodireito.com.br/2016/07/entenda-decisao-do-stf-que-recebeu.html
111
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

2) Se a Casa mantiver a prisão em flagrante, os autos deverão ser encaminhados, no


prazo de 24h, ao STF.

(2) Para o processo: Oferecida denúncia, o Ministro do STF poderá recebê-la sem prévia licença da Casa
Parlamentar. Após o recebimento da denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido
após a diplomação, o STF dará ciência a Casa respectiva que, por iniciativa de partido político nela
representado e pelo voto da maioria absoluta de seus membros, decidirá sustar o andamento da
ação.
O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de 45 dias do seu
recebimento pela mesa diretora, e a sustação do processo suspende a prescrição enquanto durar o
mandato.
Obs.: NÃO há mais imunidade formal para crimes praticados ANTES DA DIPLOMAÇÃO.

• Prerrogativa de foro: Desde a expedição de diploma, deputados e senadores serão julgados pelo STF
pela prática de qualquer tipo de crime. Casos:
i. Infração cometida durante o exercício da função parlamentar: A competência será do STF,
sendo desnecessário pedir autorização a Casa respectiva, bastando dar ciência ao Legislativo,
que poderá sustar o andamento da ação.

Se os fatos criminosos que teriam sido supostamente cometidos pelo Deputado


Federal não se relacionam ao exercício do mandato, a competência para julgá-los
não é do STF, mas sim do juízo de 1ª instância. Isso porque o foro por prerrogativa
de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e
relacionados às funções desempenhadas (STF AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgado em 03/05/2018). STF. 1ª Turma. Inq 4619 AgR-segundo/DF, Rel.
Min. Luiz Fux, julgado em 19/2/2019 (Info 931).

ii. Infração cometida antes ou após o encerramento do mandato: NÃO há foro por prerrogativa
de função.
As normas da Constituição de 1988 que estabelecem as hipóteses de foro por prerrogativa de função
devem ser interpretadas restritivamente, aplicando-se apenas aos crimes que tenham sido praticados
durante o exercício do cargo e em razão dele.
Assim, por exemplo, se o crime foi praticado antes de o indivíduo ser diplomado como Deputado
Federal, não se justifica a competência do STF, devendo ele ser julgado pela 1ª instância mesmo ocupando o
cargo de parlamentar federal.
Além disso, mesmo que o crime tenha sido cometido após a investidura no mandato, se o delito não
apresentar relação direta com as funções exercidas, também não haverá foro privilegiado.
Foi fixada, portanto, a seguinte tese:
112
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante
o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas. STF. Plenário. AP
937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018.

ATENÇÃO! No caso de Natan Donadon, entendeu-se que a renúncia ao cargo, para que haja
prescrição, seria fraude processual inaceitável, frustrando a atuação jurisdicional do Estado, razão pela
qual NÃO haveria a problema em ser julgado pelo STF. A prorrogação do foro, nesse contexto, visa evitar
a denominada Ciranda de Processos.

 O assunto será aprofundado quando estudarmos competência.

ESQUEMA SOBRE IMUNIDADES:

PARLAMENTAR IMUNIDADE JULGAMENTO

Deputados Federais e Imunidade absoluta e Julgados pelo STF, inclusive


Senadores relativa. nos crimes dolosos contra a
vida.
Deputados estaduais Imunidade absoluta e Julgados pelo TJ, inclusive nos
relativa. crimes dolosos contra a vida.
Vereadores Só possuem imunidade Julgados pelo Juiz ou TJ (a
absoluta, e o foro especial depender da Constituição
depende de previsão na CE. Estadual), mas nos crimes
dolosos contra a vida são
submetidos a Júri popular.

7. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL

• Previsão legal: art. 3°, CPP

Art. 3° do CPP - A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação


analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.

• Considerações importantes sobre o art. 3°, CPP

(1) O que é interpretar?

113
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

R.: É buscar o sentido da lei, é descobrir o seu significado. Não interessa a vontade do legislador, mas
sim o sentido da lei.

(2) Interpretação quanto ao resultado


Quanto ao resultado, podemos trabalhar com ao menos 4 (quatro) espécies de interpretação:
a) Declaratória - O intérprete não amplia e nem restringe o significado da lei, ou seja, o significado da
lei corresponde à sua literalidade.
b) Restritiva - Conclui-se que a lei disse mais do que pretendia dizer, por isso ela deve sofrer uma
restrição na hora de sua interpretação.
c) Extensiva - A lei disse menos do que pretendia dizer, por isso ela deve ser interpretada
extensivamente para abranger outras situações (art. 3, CPP).
Art. 3o - A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação
analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.

Ex.: hipóteses de cabimento do RESE do art. 581, CPP. Essas hipóteses, hoje, estão desatualizadas.
Então as hipóteses de cabimento do RESE devem ser interpretadas de maneira extensiva para abranger
outras situações.

d) Progressiva - Busca adaptar o texto da lei à realidade social vigente naquele determinado momento.
O art. 68, CPP prevê que o MP pode promover a ação civil ex delito em favor de vítima pobre. Quando
a CF/88 entrou em vigor, houve quem dissesse que esse artigo era inconstitucional, pois o MP não poderia
pleitear interesses individuais disponíveis.
O STF disse que esse artigo estaria sujeito a uma inconstitucionalidade progressiva. Logo, enquanto
não houver defensoria pública em todos os estados, o artigo continua válido.

(3) Analogia
A analogia está no art. 3°, CPP na expressão: “aplicação analógica”. Assim, no âmbito processual
penal a analogia é admitida. Então, quando se trata de uma norma genuinamente processual penal, a
analogia pode ser usada, independentemente de ser em bonam partem ou em malam partem (≠ direito
penal, em que só é admitida a analogia in bonam partem).

Obs.: Analogia ≠ Interpretação Extensiva.


• Analogia - É um método de integração (busca suprir lacunas);
• Interpretação extensiva - É um método de interpretação.
Na analogia, há uma lacuna na norma. Por isso, busca-se suprir tal lacuna valendo-se de um
dispositivo pensado para um caso semelhante. Enquanto na interpretação extensiva existe norma legal, que,
no entanto, será interpretada de norma extensiva.

114
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

(4) Aplicação supletiva e subsidiária do novo CPC ao processo penal.


O CPC 2015 pode ser aplicado no Processo Penal? R.: SIM.
O art. 15 do CPC diz que, na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou
administrativas, aplica-se o CPC. Porém, o CPC não fez menção à possibilidade de utilizá-lo no processo penal.
Entretanto, o art. 15 pode ser objeto de interpretação extensiva, para que possamos entender que
o NCPC pode ser aplicado supletiva e subsidiariamente aos processos criminais.

Art. 15, CPC - Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas
ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e
subsidiariamente.

Obs.: Só pode aplicar o CPC no processo Penal quando houver lacuna. Pois é diante da omissão que se pode
valer da analogia com o CPC. Assim, se houver disposição legal expressa no CPP, não é possível aplicar o
CPC!

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCRJ 2022): Após o advento do neoconstitucionalismo e como seu consequente reflexo, os
princípios adquiriram força normativa no ordenamento jurídico brasileiro, e a eficácia objetiva dos direitos
fundamentais deu novos contornos ao direito processual penal. A respeito desse assunto, assinale a opção
correta à luz do Código de Processo Penal.

No que diz respeito à interpretação extensiva, admitida no Código de Processo Penal, existe uma norma que
regula o caso concreto, porém sua eficácia é limitada a outra hipótese, razão por que é necessário ampliar
seu alcance, e sua aplicação não viola o princípio constitucional do devido processo legal (item considerado
correto).

8. FONTES

As fontes correspondem à origem do direito processual penal, que se divide em espécies.

8.1 Fonte Material, Substancial ou de Produção

As fontes materiais dizem respeito ao órgão responsável pela criação de normas jurídicas sobre
determinada matéria. Conforme estabelecido no art. 22, I, CF compete privativamente à União legislar sobre
Processo Penal. Contudo, nos termos do art. 22, §único, CF, lei complementar federal pode autorizar Estados
e o Distrito Federal a legislar sobre questões específicas.

115
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

A União, os Estados e o Distrito Federal possuem competência concorrente para legislar sobre
procedimentos em matéria processual, conforme preconiza o art. 24, XI, CF.

8.2 Fonte Formal, Cognitiva ou de Cognição

As fontes formais dizem respeito ao instrumento de exteriorização da regulamentação de


determinada matéria. Nesse sentido, no âmbito do processo penal, podem ser:
• Imediata ou Direta: Constituição Federal, leis infraconstitucionais e os tratados, convenções e regras
de direito internacional.
• Mediata ou Indireta: analogia, costumes e princípios gerais de direitos (art. 3, CPP).

116
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

QUESTÕES PROPOSTAS

1 - 2022 - FGV - PC-AM - FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de D-A autoridade policial deve prosseguir com as investigações,
Polícia - Edital nº 01 pois a Lei n.º 13.491/2017 não se aplica aos policiais militares,
mas tão somente aos militares das Forças Armadas.
No processo penal, a prerrogativa da contagem de prazos em E-A autoridade policial deve prosseguir com as investigações,
dobro compete e os atos investigatórios praticados anteriormente
permanecem válidos, não se aplicando o princípio
A-aos integrantes da assistência judiciária organizada e constitucional da irretroatividade da lei mais gravosa.
mantida pelo Estado.
B-aos defensores dativos. 3 - 2022 - CESPE / CEBRASPE - PC-RJ - CESPE / CEBRASPE -
C-aos núcleos de prática jurídica pertencentes às 2022 - PC-RJ - Delegado de Polícia
universidades.
D-aos institutos de direito de defesa. Após o advento do neoconstitucionalismo e como seu
E-ao Ministério Público. consequente reflexo, os princípios adquiriram força
normativa no ordenamento jurídico brasileiro, e a eficácia
2 - 2022 - CESPE / CEBRASPE - PC-RJ - CESPE / CEBRASPE - objetiva dos direitos fundamentais deu novos contornos ao
2022 - PC-RJ - Delegado de Polícia direito processual penal. A respeito desse assunto, assinale a
opção correta à luz do Código de Processo Penal.
Em janeiro de 2017, policiais militares em serviço
apreenderam fuzis e revenderam para traficantes de drogas, A-No Código de Processo Penal, admite-se, dado o princípio
de modo que foi instaurado inquérito para apurar crime de do tempus regit actum, a aplicação da interpretação
comércio ilegal de arma de fogo (art. 17, caput, da Lei n.º extensiva, mas não a da interpretação analógica.
10.826/2003). Considerando essa situação hipotética, B-No que diz respeito à interpretação extensiva, admitida no
assinale a opção correta com base no advento da Lei n.º Código de Processo Penal, existe uma norma que regula o
13.491/2017 e na jurisprudência majoritária do Superior caso concreto, porém sua eficácia é limitada a outra hipótese,
Tribunal de Justiça. razão por que é necessário ampliar seu alcance, e sua
aplicação não viola o princípio constitucional do devido
A-A autoridade policial deve declinar de imediato da sua processo legal.
atribuição e remeter ao órgão com atribuição perante a C-A analogia, assim como a interpretação analógica, não é
Justiça Militar, porém se desentranhando os atos admitida no Código de Processo Penal em razão do princípio
investigatórios anteriormente praticados, que devem ser da vedação à surpresa e para não violar o princípio
refeitos devido ao princípio constitucional da irretroatividade constitucional do devido processo legal.
da lei mais gravosa. D-Ante os princípios da proteção e da territorialidade
B-A autoridade policial deve declinar de imediato da sua temperada, não se admite a aplicação de normas de tratados
atribuição, remeter ao órgão com atribuição perante a Justiça e regras de direito internacional aos crimes cometidos em
Militar, e os atos investigatórios praticados anteriormente território brasileiro.
permanecem válidos, não se aplicando o princípio E-No Código de Processo Penal, o princípio da
constitucional da irretroatividade da lei mais gravosa proporcionalidade é expressamente consagrado, tanto no
C-A autoridade policial deve prosseguir com as investigações, que se refere ao aspecto da proibição do excesso quanto ao
mas os atos investigatórios praticados anteriormente devem aspecto da proibição da proteção ineficiente.
ser refeitos devido ao princípio constitucional da
irretroatividade da lei mais gravosa. 4 - 2022 - CESPE / CEBRASPE - PC-PB - CESPE / CEBRASPE -
2022 - PC-PB - Delegado de Polícia Civil

117
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

No processo penal brasileiro, a revisão pro societate A-Imagine que o réu Alexander foi condenado a uma pena de
5 (cinco) anos de reclusão, no regime inicial fechado, como
A-permite que o réu seja indiciado e processado mais de uma incurso no crime de roubo majorado (art. 157, § 2º, do Código
vez pelo mesmo fato. Penal). Alexander foi intimado da sentença e, com isso, tem o
B-não é admitida, mesmo que o réu tenha sido absolvido prazo de 5 (cinco) dias para interpor recurso de apelação. Se,
injustamente por decisão já transitada em julgado. nesse ínterim, nova lei entrar em vigor, alterando esse prazo
C-é admitida quando a sentença absolutória for proferida por para 2 (dois) dias, deve ser considerado este prazo, ainda que
juízo incompetente. menor, porque, no Direito Processual Penal, vige regra
D-não admite o reexame de sentença que extingue a diversa daquela aplicável ao Direito Penal em tema de
punibilidade com base em falsa certidão de óbito do réu. retroatividade de leis.
E-é assegurada devido à possibilidade do Poder Judiciário de B-As normas híbridas ou mistas devem retroagir para
rever os próprios atos de ofício quando eivados de nulidade. beneficiar o réu, constituindo exceção à regra prevista no art.
2º, caput, do Código de Processo Penal.
5 - 2021 - FUMARC - PC-MG - FUMARC - 2021 - PC-MG - C-Diversamente do Direito Penal, no processo penal vige
Delegado de Polícia Substituto apenas o princípio da territorialidade, inexistindo
doutrinariamente hipóteses de extraterritorialidade. Isso
Em relação às características do sistema acusatório, analise as porque a atividade jurisdicional é um dos aspectos da
afirmativas: soberania nacional, logo, não pode ser exercida além das
fronteiras do respectivo Estado.
I. Gestão da prova na mão das partes e não do juiz, clara D-Imagine que o Presidente da República esteja sendo
distinção entre as atividades de acusar e julgar, juiz como processado por suposta prática de crime de responsabilidade.
terceiro imparcial e publicidade dos atos processuais. Como regra, em tal processo, deve ser observado e aplicado
II. Ausência de uma tarifa probatória, igualdade de o Código de Processo Penal, porque é o diploma legal que
oportunidades às partes no processo e procedimento é, em incide em casos havidos no território nacional.
regra, oral. E-Imagine que um Ministro de Estado esteja sendo
III. O processo é um fim em si mesmo e o acusado é tratado processado por suposta prática de crime de responsabilidade.
como mero objeto, imparcialidade do juiz e prevalência da Como regra, em tal processo, deve ser observado e aplicado
confissão do réu como meio de prova. o Código de Processo Penal, porque é o diploma legal que
IV. Celeridade do processo e busca da verdade real, o que incide em casos havidos no território nacional.
faculta ao juiz determinar de ofício a produção de prova.
7 - 2021 - FAPEC - PC-MS - FAPEC - 2021 - PC-MS - Delegado
São VERDADEIRAS apenas as afirmativas: de Polícia

A-I e II. Em relação aos princípios do direito processual penal


B-I e IV. abordados pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal,
C-I, III e IV. marque a alternativa correta.
D-II e III.
A-Viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do
6 - 2021 - FAPEC - PC-MS - FAPEC - 2021 - PC-MS - Delegado devido processo legal a atração por continência ou conexão
de Polícia do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de
um dos denunciados.
O Direito Processual Penal possui regramento específico para B-No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade
resolver questões sobre qual lei será aplicada no tempo e/ou absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova
no espaço. Sobre o tema, marque a assertiva correta. de prejuízo para o réu.

118
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

C-A renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem E-ausência de interesse da vítima na persecução penal.
a assistência do defensor, impede o conhecimento da
apelação por este interposta. 10 - 2021 - FGV - PC-RN - FGV - 2021 - PC-RN - Delegado de
D-No mandado de segurança impetrado pelo Ministério Polícia Civil Substituto
Público contra decisão proferida em processo penal, é
dispensável a citação do réu como litisconsorte passivo. No curso da instrução processual penal, verifica-se que uma
E-Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para das provas colhidas fora obtida de forma ilegal. Essa
oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da ilegalidade é alegada pela defesa, e o Ministério Público
denúncia, salvo se houver nomeação de defensor dativo. manifesta-se concordando com a ilegalidade apontada. O
juízo reconhece a ilegalidade da prova em decisão
8 - 2021 - FAPEC - PC-MS - FAPEC - 2021 - PC-MS - Delegado fundamentada. Com base no exposto, é correto afirmar que
de Polícia o juízo:

Sobre conceito, finalidade e fontes do processo penal, A-deverá determinar o desentranhamento da prova ilícita,
assinale a alternativa correta. assim como aquelas direta e exclusivamente decorrentes dela
e, uma vez preclusa a decisão, determinar a destruição das
A-A competência para legislar sobre direito processual penal provas, prosseguindo nos demais atos processuais;
é concorrente entre a União, os Estados e o Distrito Federal. B-deverá determinar o desentranhamento da prova ilícita,
B-Direito processual penal é o ramo do direito público que assim como aquelas direta e exclusivamente decorrentes dela
compreende princípios e normas definidoras de condutas e, uma vez preclusa a decisão, determinar seu
criminosas com previsão de determinada sanção. desentranhamento dos autos principais a fim de serem
C-É possível que os Estados legislem sobre questões autuadas em apartado;
específicas de direito processual penal, desde que C-não deverá desentranhar a prova inadmissível do processo,
autorizados por lei complementar editada pela União. mas apenas indicar quais são exatamente as páginas que
D-Os tratados e convenções internacionais são considerados deverão ser desconsideradas para efeito de elaboração da
fontes materiais do direito processual penal. posterior sentença. Deverá ainda determinar a redistribuição
E-O direito processual penal é sub-ramo do Direito Penal. Por do processo em razão de seu impedimento, eis que a lei
isso que é chamado de “Direito Penal adjetivo”. Logo, não determina que o juiz que conhecer do conteúdo da prova
possui autonomia científica. declarada inadmissível não poderá proferir a sentença;
D-não deverá desentranhar a prova inadmissível do processo,
9 - 2021 - NC-UFPR - PC-PR - NC-UFPR - 2021 - PC-PR - mas apenas indicar quais são exatamente as páginas que
Delegado de Polícia deverão ser desconsideradas para efeito de elaboração da
posterior sentençae, uma vez preclusa a decisão,
Se uma conduta não representa uma ofensa relevante ao prosseguirnos demais atos processuais;
bem jurídico contemplado no tipo penal, entende-se que ela E-deverá determinar o desentranhamento da prova ilícita,
é materialmente atípica em razão do princípio da assim como aquelas direta e exclusivamente decorrentes
insignificância. Um exemplo de situação que poderia ser dela,e, uma vez preclusa a decisão, determinar a destruição
abrangida pelo princípio seria a subtração de um pacote de das provas e determinar a redistribuição do processo em
batatas de um supermercado. São requisitos estabelecidos razão de seu impedimento, eis que a lei determina que o juiz
pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal para a que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível
incidência do princípio da insignificância, EXCETO: não poderá proferir a sentença.

A-mínima ofensividade da conduta do agente. 11 - 2021 - FGV - PC-RN - FGV - 2021 - PC-RN - Delegado de
B-nenhuma periculosidade social da ação. Polícia Civil Substituto
C-reduzido grau de reprovabilidade do comportamento.
D-inexpressividade da lesão jurídica provocada.

119
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

O direito processual penal é regido por diversos princípios, D-A requisição de instauração de inquérito policial pelo
dentre os quais o do nemo tenetur se detegere, pelo qual Ministério Público.
ninguém será obrigado a produzir prova contra si mesmo. E-Inquérito instaurado por comissões parlamentares.
Com base no princípio em questão e na jurisprudência dos
Tribunais Superiores: 13 - 2018 - CESPE / CEBRASPE - PC-SE - CESPE - 2018 - PC-SE
- Delegado de Polícia
A-a atribuição de falsa identidade pelo suspeito ou
investigado, ainda que em situação de autodefesa, configura Julgue o item seguinte, relativo aos direitos e deveres
fato típico; individuais e coletivos e às garantias constitucionais.
B-a recusa do investigado em prestar informações quando
intimado em sede policial poderá justificar, por si só,o seu Em caso de perigo à integridade física do preso, admite-se o
indiciamento pela autoridade policial; uso de algemas, desde que essa medida, de caráter
C-as provas que exijam comportamento passivo do excepcional, seja justificada por escrito.
investigado não poderão ser produzidas sem sua
concordância; Certo
D-a alteração de cena do crime pelo agente não configura Errado
fraude processual;
E-apenas o preso poderá valer-se do direito ao silêncio, não
14 - 2018 - VUNESP - PC-SP - VUNESP - 2018 - PC-SP -
se estendendo tal proteção aos investigados.
Delegado de Polícia

12 - 2019 - Instituto Acesso - PC-ES - Instituto Acesso - 2019 Tício está sendo processado pela prática de crime de roubo.
- PC-ES - Delegado de Polícia - Anulado Durante o trâmite do inquérito policial, entra em vigor
determinada lei, reduzindo o número de testemunhas
A referida classificação do sistema brasileiro como um possíveis de serem arroladas pelas partes no procedimento
sistema acusatório, desvinculador dos papéis dos agentes ordinário.
processuais e das funções no processo judicial, mostra-se A respeito do caso descrito, é correto que
contraditória quando confrontada com uma série de
elementos existentes no processo.” (FERREIRA. Marco A-não se aplica a lei nova ao processo de Tício em razão do
Aurélio Gonçalves. A Presunção da Inocência e a Construção princípio da anterioridade.
da Verdade: Contrastes e Confrontos em perspectiva B-a lei que irá reger o processo é a lei do momento em que
comparada (Brasil e Canadá). EDITORA LUMEN JURIS, Rio de foi praticado o crime, à vista do princípio tempus regit actum.
Janeiro, 2013). Leia o caso hipotético descrito a seguir. C-em razão do sistema da unidade processual, pelo qual uma
única lei deve reger todo o processo, a lei velha continua
O Ministro OMJ, do Supremo Tribunal Federal, rejeitou o ultra-ativa e, por isso, não se aplica a nova lei, mormente por
pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), de ser esta prejudicial em relação aos interesses do acusado.
arquivamento do inquérito aberto para apurar ofensas a D-não se aplica a lei revogada ao processo de Tício em razão
integrantes do STF e da suspensão dos atos praticados no do princípio da reserva legal.
âmbito dessa investigação, como buscas e apreensões e a E-não se aplica a lei revogada porque a instrução ainda não se
censura a sites. Assinale a alternativa INCORRETA quanto a iniciara quando da entrada em vigor da nova lei.
noção de sistema acusatório.

15 - 2018 - FUNDATEC - PC-RS - FUNDATEC - 2018 - PC-RS -


A-Inquérito administrativo instaurado no âmbito da Delegado de Polícia - Bloco II
administração pública.
B-A determinação de ofício de instauração de inquérito
Considerando a disciplina da aplicação de lei processual penal
policial pelo juiz.
e os tratados e convenções internacionais, assinale a
C-A Instauração de inquérito policial pelo Delegado de Polícia.
alternativa correta.
120
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

A-A lei processual penal aplica-se desde logo, conformando Aplicar-se-á a lei processual penal, nos estritos termos dos
um complexo de princípios e regras processuais penais arts. 1o , 2o e 3o do CPP,
próprios, vedada a suplementação pelos princípios gerais de
direito. A-aos processos de competência da Justiça Militar.
B-A superveniência de lei processual penal que modifique B-ultrativamente, mas apenas quando favorecer o acusado.
determinado procedimento determina a renovação dos atos C-retroativamente, mas apenas quando favorecer o acusado.
já praticados. D-desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados
C-A lei processual penal não admite interpretação extensiva, sob a vigência da lei anterior.
ainda que admita aplicação analógica. E-com o suplemento dos princípios gerais de direito sem
D-Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem admitir, contudo, interpretação extensiva e aplicação
demora, à presença de um juiz ou outra autoridade analógica.
autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito a
ser julgada dentro de um prazo razoável ou a ser posta em 18 - 2018 - CESPE / CEBRASPE - PC-MA - CESPE - 2018 - PC-
liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. MA - Delegado de Polícia Civil
E-Em caso de superveniência de leis processuais penais
híbridas, prevalece o aspecto instrumental da norma. No que se refere às provas no processo penal, julgue os itens
a seguir.
16 - 2018 - VUNESP - PC-BA - VUNESP - 2018 - PC-BA -
Delegado de Polícia I Em atendimento ao princípio da legalidade, no processo
penal brasileiro são inadmissíveis provas não previstas
De acordo com a jurisprudência sumulada do Supremo expressamente no CPP.
Tribunal Federal, II Caso a infração tenha deixado vestígio, a confissão do
acusado não acarretará a dispensa da prova pericial.
A-a imunidade parlamentar estende-se ao corréu sem essa III Havendo evidências da participação do indiciado em
prerrogativa (Súmula 245). organização criminosa, a autoridade policial poderá
B-para requerer revisão criminal, o condenado deve recolher- determinar a quebra do sigilo da sua comunicação telefônica
se à prisão (Súmula 393). como forma de instruir investigação criminal.
C-só é licito o uso de algemas em casos de resistência e de IV A prova obtida por meios ilícitos não constitui suporte
fundado receio de fuga ou perigo à integridade física própria jurídico capaz de ensejar sentença condenatória, ainda que
ou alheia, por parte do preso ou terceiros, sem, contudo, corroborada pela confissão do acusado.
necessidade de a autoridade policial justificar a utilização por
escrito (Súmula Vinculante 11). Estão certos apenas os itens
D-é direito do defensor, no interesse do representado, ter
acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados A-I e II.
em procedimento investigatório realizado por órgão com B-l e III.
competência de polícia judiciá- ria, digam respeito ao C-II e IV.
exercício do direito de defesa (Súmula Vinculante 14). D-I, III e IV.
E-a homologação da transação penal prevista no art. 76 da Lei E-II, III e IV.
no 9.099/95 faz coisa julgada material e, descumpridas suas
cláusulas, retorna-se à situação anterior, possibilitando ao 19 - 2018 - CESPE / CEBRASPE - PC-MA - CESPE - 2018 - PC-
Ministério Público a continuidade da persecução penal MA - Delegado de Polícia Civil
(Súmula Vinculante 35). Na esfera da legislação processual penal, a repristinação

17 - 2018 - VUNESP - PC-BA - VUNESP - 2018 - PC-BA - A-somente se aplicará por força de decisão judicial
Delegado de Polícia fundamentada.

121
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

B-é aplicável somente nos processos de competência a defesa do acusado negou a autoria. Ao proferir a sentença,
originária dos tribunais. o juízo do feito constatou a insuficiência de provas capazes de
C-somente se aplicará se houver expressa determinação justificar a condenação do acusado.
legal.
D-é inaplicável, por suas características. Nessa situação hipotética, para fundamentar a decisão
E-somente se aplicará se apresentar manifesta vantagem absolutória, o juízo deveria aplicar o princípio do
para o réu.
A-estado de inocência.
20 - 2018 - CESPE / CEBRASPE - PC-MA - CESPE - 2018 - PC- B-contraditório.
MA - Delegado de Polícia Civil C-promotor natural.
D-ne eat judex ultra petita partium.
O MP de determinado estado ofereceu denúncia contra um E-favor rei.
indivíduo, imputando-lhe a prática de roubo qualificado, mas

Respostas4

4
1: A 2: B 3: B 4: B 5: A 6: B 7: B 8: C 9: E 10: A 11: A 12: B 13: C 14: E 15: D 16: D 17: D 18: C 19: C 20: E
122
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

META 3

DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

Ei, galerinha! Agora vamos partir para o estudo da disciplina de Direito Constitucional. Abaixo, o raio
X da Equipe do Dedicação Delta, dos assuntos mais cobrados pelas bancas em geral:

TEMAS Nº de questões e % de incidência

Direitos e Garantias Fundamentais 73 (9,78%)

Teoria Constitucional 105 (14,08%)

Princípios Fundamentais 13 (1,74%)

Direitos da Nacionalidade 16 (2,14%)

Direitos Políticos 22 (2,95%)

Remédios Constitucionais 42 (5,63%)

Organização do Estado 58 (7,78%)

Estado de Defesa e de Sítio e Segurança Pública 75 (10,05%)

Poder e Processo Legislativo 92 (12,34%)

Poder Executivo 28 (3,75%)

Poder Judiciário 43 (5,76%)

Controle de Constitucionalidade 87 (11,67%)

Ordem Social 38 (5,10%)

Ordem Econômica e Financeira 15 (2,01%)

Funções Essenciais da Justiça 15 (2,01%)

Administração Pública - Aspectos Constitucionais 24 (3,21%)


Total de questões analisadas: 746
(100%)

123
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 1º, III
⦁ Art. 3º
⦁ Art. 4º, 5º, 6º e 7º
⦁ Art. 8º a 11º

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Lei 9296/96 (Lei de interceptação telefônica)
⦁ Lei 9.455/97 (Lei de tortura)
⦁ Lei 7716/90 (Lei de racismo)
⦁ Lei 12.037/09 (Lei do Identificação criminal)
⦁ Lei 12.016/09 (Lei do Mandado de Segurança)
⦁ Lei. 13.300/16 (Lei do Mandado de Injunção)
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

PRINCIPAIS INCISOS DO ART. 5º, CF/88:


⦁ Inc. I, II, IV
⦁ Inc. III e XLII (leitura conjunta com a Lei 7716/90)
⦁ Inc. VIII (leitura conjunta com o art. 15, IV, CF/88)
⦁ Inc. XI (leitura conjunta com os arts. 3-B, XI; 240, §1º e 243 do CPP)
⦁ Inc. XII (leitura conjunta com a Lei 9296/96)
⦁ Inc. XVI a XXI (muito cobrados em prova objetiva!)
⦁ Inc. XXXIII a XXXV
⦁ Inc. XXXVII (leitura conjunta com o inc. LIII – princípio do juiz natural)
⦁ Inc. XXXIX e XL (leitura conjunta com o art. 1º e 2º do CP)
⦁ Inc. XLIII a LV (leitura obrigatória!)
⦁ Inc. LVI (leitura conjunta com o art. 157, CPP)
⦁ Inc. LVII e LX
⦁ Inc. LVIII (leitura conjunta com o art. 3º, 4º e 5º da Lei 12.037/09)
⦁ Inc. LXI a LXVII (leitura conjunta com os art. 301 a 310, CPP)
⦁ Inc. LXVIII
⦁ Inc. LXIX e LXX (leitura conjunta com a Lei 12.016/09)
⦁ Inc. LXXI (leitura conjunta com a Lei 13.300/16)
⦁ Inc. LXXII a LXXVIII
⦁ §§1º e 3º

124
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 444-STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-
base.
Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem
de pessoa com fins econômicos ou comerciais.
Súmula 2-STJ: Não cabe o habeas data (CF, art. 5º, LXXII, letra "a") se não houve recusa de informações
por parte da autoridade administrativa.
Súmula vinculante 1-STF: Ofende a garantia constitucional do ato jurídico perfeito a decisão que, sem
ponderar as circunstâncias do caso concreto, desconsidera a validez e a eficácia de acordo constante do
termo de adesão instituído pela Lei Complementar nº 110/2001.
Súmula 654-STF: A garantia da irretroatividade da lei, prevista no art. 5º, XXXVI, da Constituição da
República, não é invocável pela entidade estatal que a tenha editado.
Súmula 280-STJ: O art. 35 do Decreto-Lei n° 7.661, de 1945, que estabelece a prisão administrativa, foi
revogado pelos incisos LXI e LXVII do art. 5° da Constituição Federal de 1988.
Súmula vinculante 25-STF: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do
depósito.
Súmula 419-STJ: Descabe a prisão civil do depositário infiel.

1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

São decididos antes da elaboração do texto, no momento de construção das normas. Têm natureza
de vetores interpretativos que imprimem coesão, harmonia e unidade ao sistema.

O que é o preâmbulo e qual a sua natureza jurídica?


O preâmbulo é a parte precedente da CF. Segundo o STF, é mero vetor interpretativo do que se acha
inscrito no texto constitucional. Não possui força normativa, logo, não pode ser parâmetro nem objeto de
controle de constitucionalidade.

“Preâmbulo da Constituição: não constitui norma central. Invocação da proteção de Deus: não se trata de
norma de reprodução obrigatória na Constituição estadual, não tendo força normativa.” (ADI 2.076, Rel.
Min. Carlos Velloso, julgamento em 15-8-2002, Plenário, DJ de 8-8-2003.)

* ATENÇÃO – PRINCÍPIOS QUE REGEM AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS (ART. 4º):

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais


pelos seguintes princípios:

125
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica,
política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma
comunidade latino-americana de nações.

OUTROS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

Os Princípios Constitucionais estão presentes não só no art. 5º, mas em diversos dispositivos, a
exemplo dos princípios tributários, previstos no art. 150, e dos princípios expressos da Administração Pública
(art. 37). Assim, atentem-se brevemente aos princípios da dignidade da pessoa humana, legalidade e
isonomia, sem prejuízo dos demais que se inserem na Carta Magna – e serão tratados nas matérias
específicas:

a) Dignidade da pessoa humana: Define Luis Roberto Barroso que o “princípio da dignidade humana
expressa um conjunto de valores civilizatórios que se pode considerar
incorporado ao patrimônio da humanidade. Dele se extrai o sentido mais nuclear dos direitos
fundamentais, para tutela do mínimo existencial e da personalidade humana, tanto na dimensão física como
na moral”. Pode-se acrescentar também que a dignidade humana possui um enfoque moral, consistente na
máxima de Kant segundo a qual o homem é um fim em si mesmo, e um enfoque material, relativo à
manutenção do mínimo existencial. Decorre do aludido princípio, por exemplo, a impenhorabilidade do bem
de família. É considerado um “super-princípio”.

Fique atento à jurisprudência (tema cobrado na prova de Delegado de Polícia do Paraná – 2021):

A omissão injustificada da Administração em providenciar a disponibilização de banho quente nos


estabelecimentos prisionais fere a dignidade de presos sob sua custódia.
A determinação de que o Estado forneça banho quente aos presos está relacionada com a dignidade
da pessoa humana, naquilo que concerne à integridade física e mental a todos garantida.

126
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

O Estado tem a obrigação inafastável e imprescritível de tratar prisioneiros como pessoas, e não
como animais.
O encarceramento configura pena de restrição do direito de liberdade, e não salvo-conduto para a
aplicação de sanções extralegais e extrajudiciais, diretas ou indiretas.
Em presídios e lugares similares de confinamento, ampliam-se os deveres estatais de proteção da
saúde pública e de exercício de medidas de assepsia pessoal e do ambiente, em razão do risco agravado de
enfermidades, consequência da natureza fechada dos estabelecimentos, propícia à disseminação de
patologias.
STJ - REsp 1.537.530-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, por unanimidade, julgado
em 27/04/2017, DJe 27/02/2020.

b) Legalidade: O princípio da legalidade significa que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
algo que não esteja previamente estabelecido na própria CR e nas normas jurídicas dela derivadas. O
princípio da legalidade, desta forma, se converte em princípio da constitucionalidade (Canotilho),
subordinando toda atividade estatal e privada à força da Constituição.

I. Legalidade x Reserva Legal: O princípio da reserva legal é um desdobramento da legalidade, que impõe e
vincula a regulação de determinadas matérias constantes na constituição à fonte formal do tipo lei.

II. Acepções do princípio da legalidade:

1) Para particulares: Somente a lei pode criar obrigações, de forma que a inexistência de lei proibitiva
de determinada conduta implica ser ela permitida.
2) Para a Administração Pública: O Estado se sujeita às leis, e deve atuar em conformidade à previsão
legal. O administrador público só poderá agir dentro daquilo que é previsto e autorizado por lei.

c) Isonomia: Segundo bem definiu Rui Barbosa, “a regra da igualdade não consiste senão em quinhoar
desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à
desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade (...). Tratar com desigualdade a iguais, ou a
desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real”. Logo, é possível extrair:
• Isonomia formal: Igualdade perante a lei;
• Isonomia Material: Tratar os desiguais na medida de sua desigualdade.

STF – São inconstitucionais as normas que proíbem homossexuais de doar sangue.


Viola o direito à igualdade e não discriminação proibir que homossexuais doem
sangue. Com esse entendimento, o Plenário do Supremo Tribunal Federal declarou
a inconstitucionalidade de normas com esse teor. (ADI. 5.543/2020)

127
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

STF - A lei que veda o exercício da atividade de advocacia por aqueles que
desempenham, direta ou indiretamente, atividade policial, não afronta o princípio
da isonomia. STF. Plenário. (ADI 3541/2014)

É possível estabelecer critérios diferenciadores para admissão de candidato em concursos públicos?

A jurisprudência vem admitindo algumas hipóteses de discriminação, podendo ocorrer em relação à idade,
sexo, altura, etc, desde que sejam observados dois requisitos:
1) Previsão legal anterior definindo os critérios de admissão para o cargo; e
2) Razoabilidade da exigência, decorrente da natureza das atribuições do cargo a ser preenchido.

Nesse sentido, já decidiu o STF: A candidata que esteja gestante no dia do teste físico possui o direito de fazer
a prova em uma nova data no futuro.

É constitucional a remarcação do teste de aptidão física de candidata que esteja grávida à época de sua
realização, independentemente da previsão expressa em edital do concurso público. STF. Plenário. RE
1058333/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/11/2018 (repercussão geral).

Sob o pretexto da observância do princípio constitucional da isonomia, é possível ao Poder Judiciário


estender benefício fiscal a contribuinte não alcançado pela norma concessiva?
Não. Porque sob o pretexto de concretizar a isonomia tributária, não pode o judiciário estender benefício
fiscal sem que haja previsão legal específica. Caso pudesse, o judiciário estar-se-á imiscuindo em função típica
do legislativo, isto é, estaria o judiciário atuando como legislador positivo.

Ações Afirmativas
A Carta Magna busca a igualdade material. Para aplicação do princípio da isonomia, são necessárias as ações
afirmativas, a exemplo: mercado de trabalho da mulher, cotas de vagas sem serviços públicos, cotas em
universidades, cotas para afrodescendentes.

Atenção ao julgado recente: Info. 994 do STF - PRINCÍPIO DA IGUALDADE E PENSÃO POR MORTE
É inconstitucional lei que preveja requisitos diferentes entre homens e mulheres para que recebam pensão
por morte. É inconstitucional, por transgressão ao princípio da isonomia entre homens e mulheres (art. 5º, I,
da CF/88), a exigência de requisitos legais diferenciados para efeito de outorga de pensão por morte de ex-
servidores públicos em relação a seus respectivos cônjuges ou companheiros/companheiras (art. 201, V, da
CF/88). STF. Plenário. RE 659424/RS, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 9/10/2020 (Repercussão Geral –
Tema 457) (Info 994).

Atenção ao julgado recente: Info. 973 do STF - PRINCÍPIO DA IGUALDADE E SISTEMA DE COTAS
128
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

É inconstitucional lei distrital que preveja percentual de vagas nas universidades públicas reservadas para
alunos que estudaram nas escolas públicas do Distrito Federal, excluindo, portanto, alunos de escolas
públicas de outros Estados da Federação.
Veja que o STF não proibiu o sistema de cotas para alunos de escolas públicas, mas sim para alunos somente
do DF (determinada localidade) violando a isonomia.
No mesmo sentido: STF. Plenário. ADI 4868, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020.

Atenção ao julgado recente: Info 985 do STF – ISONOMIA E BENEFÍCIO DO BOLSA FAMÍLIA
O Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda, voltado a famílias de todo o País, de modo
a fazer frente a situação de pobreza e vulnerabilidade; logo, não se pode fazer restrição em relação à região
ou ao Estado do beneficiário. Os Estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio
Grande do Norte ajuizaram ação cível originária, em face da União, com pedido de tutela provisória,
questionando a redução de recursos do Programa Bolsa Família destinados à Região Nordeste. O Min. Marco
Aurélio (relator) deferiu medida cautelar determinando que: a) a União disponibilize dados que justifiquem
a concentração de cortes de benefícios do Programa Bolsa Família na Região Nordeste, bem assim dispense
aos inscritos nos Estados autores tratamento isonômico em relação aos beneficiários dos demais entes da
Federação. b) não haja cortes no Programa enquanto perdurar o estado de calamidade pública; c) a liberação
de recursos para novas inscrições seja uniforme considerados os Estados da Federação. O Plenário do STF
referendou a medida cautelar concedida. STF. Plenário. ACO 3359 Ref-MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 5/8/2020 (Info 985).

2. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS5

2.1 Direitos x Garantias x Remédios Constitucionais:

• Direitos: São normas de conteúdo declaratório da existência de um interesse, de uma vantagem. Ex:
direito à vida, à propriedade;
• Garantias: normas de conteúdo assecuratório, que servem para assegurar o direito declarado. As
garantias são estabelecidas pelo texto constitucional como instrumento de proteção dos direitos
fundamentais e writs constitucionais. São também chamadas de instrumentos de tutela das
liberdades e ações constitucionais.

5
Para aprofundamento no assunto, consultar:
http://www.stf.jus.br/repositorio/cms/portaltvjustica/portaltvjusticanoticia/anexo/joao_trindadade__teoria_geral_d
os_direitos_fundamentais.pdf

129
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

DIREITOS FUNDAMENTAIS GARANTIAS FUNDAMENTAIS


NORMAS QUE PROTEGEM os bens jurídicos INSTRUMENTOS que buscam proteger os
fundamentais de uma sociedade direitos fundamentais
Tem valor intrínseco, neles mesmos Tem valor instrumental

• Remédios Constitucionais: Embora todo remédio constitucional seja uma garantia, nem toda
garantia é um remédio constitucional, porque este é um instrumento processual que tem por
objetivo assegurar o exercício de um direito. Ex: Habeas Corpus, Mandado de Segurança.

ATENÇÃO: Alguns dispositivos constitucionais contêm direitos e garantias no mesmo enunciado. O


art. 5º, X, estabelece a inviolabilidade do direito à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas,
assegurando, em seguida, o direito à indenização em caso de dano material ou moral provocado pela sua
violação.

Súmula 647-STJ: São imprescritíveis as ações indenizatórias por danos morais e materiais
decorrentes de atos de perseguição política com violação de direitos fundamentais ocorridos durante o
regime militar. STJ. 1ª Seção. Aprovada em 10/03/2021.

2.2 Direitos Fundamentais x Direitos Humanos

Embora materialmente ambos objetivem a proteção e a promoção da dignidade da pessoa humana,


não se confundem:
• Direitos Humanos: são direitos reconhecidos no âmbito internacional.
• Direitos fundamentais: são direitos reconhecidos no plano interno de um determinado Estado.
Preferencialmente, positivados na CF.

DIREITOS FUNDAMENTAIS DIREITOS HUMANOS


FORMAL Encontram previsão formal Encontram fundamento
FUNDAMENTO DE nas constituições nos Tratados
VALIDADE/JURÍDICO Internacionais;
Exemplo: Declaração
Universal dos Direitos
Humanos da ONU

MATERIAL Estabelecem o conjunto de Buscam a proteção da


LIGADA AO CONTEÚDO bens jurídicos básicos, pessoa
essenciais de uma humana(exclusivamente).

130
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

FINALIDADE DE CADA UM DOS sociedade, não se limitando Não há que se falar em


INSTITUTOS à proteção da pessoa física direito

Como se classificam as normas constitucionais de direitos fundamentais quanto à eficácia e


aplicabilidade?
Pela classificação de José Afonso da Silva e considerando não haver direito fundamental absoluto,
as normas não possuem eficácia plena, podendo apresentar, conforme a hipótese, eficácia contida (ou
restringível) ou limitada. Nesse sentido, a doutrina majoritária defende que a maioria das normas seriam
de eficácia contida, enquanto que a maior parte daquelas que reconhecem os direitos sociais seriam de
eficácia limitada.

2.3 Geração dos direitos fundamentais:

Trata-se de classificação dos direitos fundamentais que tem como critério o contexto histórico em
que surgiram, a ordem cronológica de reconhecimento e afirmação dos direitos fundamentais.

ATENÇÃO: Classificar os direitos em gerações sugere a ideia de superação, de que as gerações mais
novas suplantam as anteriores. Isso está equivocado! O ideal é falar em dimensões.
Direitos fundamentais são indivisíveis. Possuem relação entrei si de fortalecimento mútuo e não, de
exclusão mútua. O surgimento de uma nova geração de direitos tem o viés de fortalecer a geração já
existente. Ex.: direito à educação fortalece o direito de liberdade de expressão.
Explica Dirley da Cunha:
“Falar em “gerações” ou “dimensões” de direitos corresponde a uma sucessão
temporal de afirmação e acumulação de novos direitos fundamentais. Isso leva, por
conseguinte, a uma consequência fundamental: a irreversibilidade ou
irrevogabilidade dos direitos reconhecidos, aliada ao fenômeno da sua
complementariedade. O progressivo reconhecimento de novos direitos
fundamentais consiste num processo cumulativo, de complementariedade, onde
não há alternância, substituição ou supressão temporal de direitos anteriormente
reconhecidos”.

Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte alternativa: Na evolução das conhecidas dimensões
dos direitos fundamentais, há, sucessivamente, substituição de direitos na medida do atingimento de novos
estágios.

1) DIREITOS DE PRIMEIRA GERAÇÃO OU PRIMEIRA DIMENSÃO (individuais ou negativos):

131
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Surgem no contexto histórico das revoluções liberais, burguesas, diante do nascimento do


constitucionalismo liberal. – Séc. XIX. Grandes Marcos dos direitos de 1ª dimensão:
 Inglaterra – 1.215 – Magna Carta
 EUA – 1.776 – Declaração de Independência Americana
 EUA – 1.787 – Constituição Americana
 França – 1.789 – Revolução Francesa
 França – 1.791 – Constituição Francesa

Estão relacionados à luta pela liberdade e segurança diante do Estado. Trata-se de impor ao Estado
obrigações de não-fazer e se relacionam às pessoas, individualmente. Ex: propriedade, igualdade formal
(perante a lei), liberdade de crença, de manifestação de pensamento, direito à vida etc.
Obs.1: São chamados também de direitos negativos ou direitos de defesa.
Obs.2: O fundamento dos direitos de 1ª geração/dimensão é a IGUALDADE FORMAL.

2) DIREITOS DE SEGUNDA GERAÇÃO OU SEGUNDA DIMENSÃO (sociais, econômicos e culturais ou


direitos positivos):
Surgem no final do século XIX e início do século XX, diante do fenômeno do constitucionalismo social
(ligado ao movimento do socialismo). Grandes Marcos:
 Constituição Mexicana de 1917
 Constituição Alemã de Weimar de 1919
 Rússia – 1.917/18 – Declaração do Povo Oprimido e Trabalhador – Revolução Russa
 Constituição Brasileira de 1934.

São os direitos de grupos sociais menos favorecidos, e que impõem ao Estado uma obrigação de
fazer, de prestar (por isso são chamados de direitos prestacionais). São direitos que buscam viabilizar, através
do Estado, a satisfação das necessidades básicas dos indivíduos como forma de lhes proporcionar uma vida
digna. Ex: saúde, educação, moradia, segurança pública.
Os direitos sociais elencados no art. 6º da CF/88 são exemplos clássicos de direitos de 2ª
geração/dimensão:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a


moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.

Cuidado! O direito a transporte foi incluído no rol pela EC. 90/2015.

132
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Observação: A teoria da reserva do possível é uma limitação fática e jurídica oponível à realização dos direitos
fundamentais, sobretudo os de cunho prestacional. Como é cediço, o Estado não possui recursos materiais
ilimitados, o que leva os administradores a realizarem escolhas trágicas, alocando esses recursos em ações
prioritárias. O limite da reserva do possível é o mínimo existencial, núcleo da dignidade da pessoa humana. -
Nesse contexto, a reserva do possível deve ser analisada sob três aspectos:

I- Disponibilidade fática dos recursos para efetivação dos direitos fundamentais.


II- Disposibilidade jurídica dos recursos, mediante autorização orçamentária.
III- Razoabilidade e proporcionalidade da prestação, levando-se em consideração a universalização da
demanda, não apenas o indivíduo. Nesse sentido, não se pode exigir judicialmente do Estado uma prestação
que não possa ser concedida a todos os indivíduos que se encontrem em situação idêntica, sob pena de
violação do princípio da isonomia.

Obs.1: O fundamento dos direitos de 2ª geração é a IGUALDADE MATERIAL.

Obs.2: O efeito bipolar dos direitos de 2ª dimensão e princípio da vedação ao retrocesso


Os Direitos de 2ª geração (direitos sociais) não possuem apenas um viés positivo, mas também um
viés negativo.

• Viés negativo - Fruto da vedação ao retrocesso.→ Uma vez implementado o direito de 2ª dimensão
por medida estatal, o próprio Estado passa a ter o dever de se abster de retornar ao status a quo de
quando o direito ainda não tinha efetividade. O indivíduo também tem o direito e exigir um não fazer
estatal com o intuito de preservar o direito fundamental já efetivado. Em outras palavras: não pode
promover um retrocesso social revogar ou enfraquecer normas que já alcançaram o grau de
densidade normativo adequado. Ex.: 13º salário.
• Viés positivo – Aqui a ideia não é só manter o status quo, mas também implementar/desenvolver
novos direitos sociais. E, enquanto não for implementado, o indivíduo possui o direito de exigir um
atuar do Estado com o intuito de realizá-lo. (Ideia de direitos prestacionais)

3) DIREITOS DE TERCEIRA GERAÇÃO OU TERCEIRA DIMENSÃO (difusos e coletivos):

Surgem na 2º metade do séc. XX, no pós 2ª Guerra, ligados aos movimentos de melhoria da qualidade
de vida dos cidadãos. São direitos transindividuais, isto é, direitos que são de várias pessoas, mas não
pertencem a ninguém isoladamente. Transcendem o indivíduo isoladamente considerado. Possuem caráter
indivisível e são titularizados por toda a coletividade. Ex.: direito ao meio ambiente
São também conhecidos como;
• DIREITOS DE FRATERNIDADE
• Direitos metaindividuais (estão além do indivíduo)
133
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

• Direitos supraindividuais (estão acima do indivíduo isoladamente considerado).

Dirley da Cunha - destinam-se à proteção, não do homem em sua individualidade,


mas do homem em coletividade social, sendo, portanto, de titularidade coletiva ou
difusa.

Vamos esquematizar?
Direitos de 1ª Direitos de 2ª Direitos de 3ª
GERAÇÃO/DIMENSÃO GERAÇÃO/DIMENSÃO GERAÇÃO/DIMENSÃO
Surgem com revoluções Surgem no final do século XIX e 2º metade do séc. XX, no pós
CONTEXTO liberais, burguesas, diante do início do século XX, diante do 2ª Guerra, ligados aos
HISTÓRICO nascimento do fenômeno do movimentos de melhoria da
constitucionalismo liberal. – constitucionalismo social. qualidade de vida dos cidadãos
Séc. XIX.
MARCOS Inglaterra – 1.215 – Magna Constituição Mexicana de 1917
Carta Constituição Alemã de Weimar
EUA – 1.776 – Declaração de de 1919
Independência Americana Rússia – 1.917/18 – Declaração
EUA – 1.787 – Constituição do Povo Oprimido e
Americana Trabalhador – Revolução Russa
França – 1.789 – Revolução Constituição Brasileira de
Francesa 1934.
França – 1.791 – Constituição
Francesa
SINÔNIMOS direitos negativos, direitos de direitos sociais, econômicos e difusos e coletivos
abstenção. culturais direitos metaindividuais
Direitos positivos, direitos direitos supraindividuais
prestacionais
FUNDAMENTO Igualdade FORMAL Igualdade MATERIAL FRATERNIDADE
CONCEITO Buscam limitar o poder estatal, São direitos que impõem ao São direitos transindividuais,
impondo ao Estado obrigações Estado uma obrigação de fazer, isto é, titularizados por toda a
de não-fazer e se relacionam às de prestar. coletividade, não pertencendo
pessoas, individualmente. Buscam viabilizar, através do a uma pessoa isoladamente.
Estado, a satisfação das
necessidades básicas dos Possuem caráter indivisível.
indivíduos como forma de lhes
proporcionar uma vida digna.

134
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

EXEMPLOS Propriedade, igualdade formal Saúde, educação, moradia, Direito ao meio ambiente
(perante a lei), liberdade de segurança pública.
crença, de manifestação de
pensamento, direito à vida

NOVAS GERAÇÕES/DIMENSÕES DE DIREITOS FUNDAMENTAIS:

4) DIREITOS DE QUARTA GERAÇÃO OU QUARTA DIMENSÃO

Há autores que se referem a essa categoria, mas ainda não há consenso na doutrina sobre qual o
conteúdo desse tipo de direitos.

Segundo o autor Paulo Bonavides os direitos de quarta dimensão seriam fruto do processo de
globalização dos direitos fundamentais, no sentido de uma universalização desses direitos no plano
institucional, o que corresponde à última fase da institucionalização do Estado Social, de forma a sacramentar
a evolução democrática e social alcançada até então6.

• Direitos à democracia participativa – A democracia participativa ou semidireta é uma democracia


indireta, mas que conta com instrumentos de participação direta do povo no processo político. Esses
mecanismos de participação direta integrariam o rol dos direitos de quarta dimensão:
 Plebiscito,
 Referendo,
 Iniciativa popular de lei,
 Ação popular, etc.

• Direito à informação - consequência do próprio regime democrático, conjugado com a forma


republicana de governo. Garante o direito à transparência e, consequentemente, o direito à
informação (exemplo: lei de acesso à informação; art. 5º, XXXIII, CF)

• Direitos ligados às questões de bioética.

• Direitos ao pluralismo (art. 1º, CF)

6O Estado Social ou Estado do Bem-estar Social (Welfare State) surgiu como forma de reação à crise do Estado liberal,
notadamente em razão das desigualdades sociais vivenciadas à época. Os direitos sociais e econômicos passam a ser contemplados
de modo mais amplo, como corolários da igualdade material, sendo, posteriormente classificados como direitos fundamentais de
segunda geração.
135
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

5) DIREITOS DE QUINTA GERAÇÃO OU DIMENSÃO: Direito à paz.

Obs.: Crítica doutrinária às “novas gerações” de direitos fundamentais


Parcela da doutrina critica a classificação de outras gerações de direito, pois seriam direitos já
existentes aplicados, hoje, a um novo contexto social, diante da evolução da sociedade.

Ingo Salert – “trazer novas dimensões é dar destaque ao direito, não trata o direito
como um mero desdobramento de um outro direito que já está nas 3 dimensões
anteriores, de modo a facilitar a sua efetivação e proteção. Ex.: questões de bioética
trabalham com direitos básicos como direito à integridade, ao próprio corpo e
dignidade.”

2.4 Características dos direitos fundamentais

• Historicidade: o que se entende por direitos fundamentais varia de acordo com o momento histórico,
não são conceitos herméticos e fechados, variando no tempo e no espaço. Emergem progressivamente
das lutas que o homem trava por sua própria emancipação.
• Inalienabilidade: são direitos sem conteúdo econômico patrimonial, não podem ser comercializados ou
permutados.
• Imprescritibilidade: são sempre exigíveis, ainda que não exercidos;
• Irrenunciabilidade: o indivíduo pode não exercer os seus direitos, mas não pode renunciá-los, de modo
geral.
• Relatividade: não são direitos absolutos. Se houver um choque entre os direitos fundamentais, serão
resolvidos por um juízo de ponderação ou pela aplicação do princípio da proporcionalidade.

De acordo com o Professor Bruno Pinheiro, parte da doutrina aponta que existem Direitos
Fundamentais Absolutos:
a) Direito a Não Tortura (apontado por Norberto Bobbio)
b) Direito a Não Escravidão
c) Direito a Não Extradição do Brasileiro Nato (art. 5º, LI, CF) → apontado por Carlos Ayres Brito;

TEORIA DA RESTRIÇÃO DAS RESTRIÇÕES (= LIMITAÇÃO DAS LIMITAÇÕES)


- É teoria alemã, adotada no Brasil pelo STF;
- Uma das características dos direitos fundamentais é que eles são relativos, ou seja, podem sofrer limitações.
Porém, essas restrições devem ser feitas com critérios e de forma excepcional a não esvaziar o seu núcleo
essencial. Conclusão: Pode haver restrições aos direitos fundamentais, mas essas restrições devem ser
restritas, não atingindo seu núcleo essencial.
- Só podem ser impostas restrições se obedecerem aos seguintes requisitos:
136
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Requisito formal: Os direitos fundamentais só podem ser restringidos em caráter geral por meio de normas
elaboradas por órgãos dotados de atribuição legiferante conferido pela CF/88. A restrição deve estar
expressa ou implicitamente autorizada.
Requisitos materiais: para a restrição ser válida, deve observar aos princípios:
- Não retroatividade;
- Proporcionalidade;
- Generalidade e abstração;
- Proteção do núcleo essencial.

Já caiu em prova e foi considerada CORRETA a seguinte alternativa: Os direitos fundamentais podem ser
restringidos por atos normativos infraconstitucionais, desde que seja respeitado o seu núcleo essencial.

• Personalidade: não se transmitem.


• Concorrência e cumulatividade: são direitos que podem ser exercidos ao mesmo tempo.
• Universalidade: são universais, destinando-se a todos os seres humanos, indiscriminadamente.
Independentemente, de as nações terem assinado a declaração, devem ser reconhecidos em todo o
planeta, independentemente, da cultura, política e sociedade.

De acordo com o Professor Bruno Pinheiro, é a característica da Universalidade


que fundamenta a interpretação extensiva do art. 5º, caput da CF, permitindo a
aplicação dos direitos fundamentais aos apátridas, aos estrangeiros não residentes
no país.

• Proibição de retrocesso: não se pode retroceder nos avanços históricos conquistados. Os direitos
fundamentais são o resultado de um processo evolutivo, marcado por lutas e conquistas em prol da
afirmação de posições jurídicas concretizadoras da dignidade da pessoa humana e, por isso, uma vez
reconhecidos, não podem ser suprimidos, ou abolidos ou enfraquecidos

2.5 Dimensão dos Direitos Fundamentais

a) Dimensão subjetiva: Os direitos fundamentais conferem aos seus titulares o poder de exigir algo, seja
ação ou omissão.
Ex.: omissão - respeitar a autonomia da vontade, sem interferir na religião, política, etc
Ex.: ação - exigir do Estado uma atuação comissiva, exigir ações para garantir educação, saúde, etc.

b) Dimensão objetiva: Os direitos fundamentais encarnam valores que permeiam toda a ordem jurídica,
condicionam e inspiram a interpretação e aplicação de outras normas (EFICÁCIA IRRADIANTE) e criam
dever geral de proteção sobre os bens salvaguardados. Assim, a dimensão objetiva dos direitos
137
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

fundamentais consiste em atribuir a estes importância máxima dentro do Ordenamento Jurídico: eles
são a base, o eixo axiológico de todo o ordenamento jurídico.

2.6 Desdobramentos da dimensão objetiva dos DF`s

A dimensão objetiva atribui força aos direitos fundamentais, que passam a ser a diretriz para a
aplicação e interpretação das normas:

1) Eficácia interpretativa dos direitos fundamentais:


Com a dimensão objetiva, os direitos fundamentais ganham um reforço na sua juridicidade,
ganhando força no Ordenamento Jurídico e, além disso, se tornam normas de eficácia irradiante, que, tendo
como base o princípio da dignidade da pessoa humana, irradia para todo o Ordenamento Jurídico, vinculando
os 3 Poderes do Estado, seja para o Legislativo ao elaborar a lei, seja para a Administração Pública ao
“governar”, seja para o Judiciário ao resolver eventuais conflitos.
Valores morais incorporados nos princípios constitucionais que devem irradiar por todo o
ordenamento jurídico.
Gera o dever do interprete de promover a filtragem constitucional

2) Eficácia horizontal dos direitos fundamentais:


Com a evolução da teoria dos direitos fundamentais, atualmente é reconhecida a incidência também
na relação entre particulares, em igualdade de armas. Logo, pode se definir a incidência e necessidade de
observância de todos os direitos fundamentais nas relações privadas (PARTICULAR X PARTICULAR). O STF já
reconheceu a aludida eficácia;.
Em outras palavras: a eficácia horizontal dos direitos fundamentais consiste na possibilidade de
aplicação dos direitos fundamentais nas relações jurídicas estritamente privadas.
Em relação à eficácia horizontal dos direitos fundamentais, pode-se destacar 2 teorias:

1) Eficácia indireta ou mediata: os direitos fundamentais são aplicados de maneira reflexa, tanto em
uma dimensão proibitiva e voltada para o legislador, que não poderá editar lei que viole direitos
fundamentais, como, ainda, positiva, voltada para que o legislador implemente os direitos
fundamentais, ponderando quais devam aplicar-se às relações privadas;
2) Eficácia direta ou imediata: alguns direitos fundamentais podem ser aplicados às relações privadas
sem que haja a necessidade de “intermediação legislativa” para a sua concretização.

Precedentes em que o STF reconheceu a eficácia horizontal dos direitos fundamentais:

· RE 160.222 – Entendeu que constitui constrangimento ilegal a revista intima em mulheres em fábrica
de lingerie.
138
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

· RE 175.161 – Contrato de consorcio que prevê devolução nominal de valor já pago em caso de
desistência viola o devido processo legal substantivo - proporcionalidade e razoabilidade.
· RE 158.215 – Violação ao princípio do devido processo legal na hipótese de exclusão de associado de
cooperativa sem direito à defesa.

A eficácia dos direitos fundamentais pode também pode ser:

• Vertical: Aplica-se à tradicional ideia de limitação de poder do Estado e respeito aos direitos dos
indivíduos, conferindo direitos básicos e garantias aos indivíduos. Há um poder superior (Estado), em
face do indivíduo, em posições diferentes (ESTADO X PARTICULAR);

TEORIA DOS QUATRO STATUS DE JELLINECK


São as possíveis relações do indivíduo com o Estado:
• Passivo: O indivíduo encontra-se em posição de subordinação com relação aos poderes públicos;
• Ativo: É o poder do indivíduo de interferir na formação da vontade do Estado, sobretudo através do
voto;
• Negativo: O indivíduo pode agir livre da atuação do Estado, podendo autodeterminar-se sem
ingerência estatal (abstenção estatal);
• Positivo: É a possibilidade do indivíduo exigir atuações positivas do Estado em seu favor.

• Diagonal: Teoria desenvolvida por Sérgio Gamonal, e consiste na incidência e observância dos
direitos fundamentais nas relações privadas marcadas por desigualdade de forças, ante a
vulnerabilidade de uma das partes. Na hipótese, embora as partes teoricamente estejam em posição
equivalente (PARTICULAR X PARTICULAR), na prática há império do poder econômico, a exemplo de
demandas consumeristas e trabalhistas. O TST já adotou a eficácia diagonal em alguns julgados,
inclusive.

2.7 Direitos individuais implícitos e explícitos

Os direitos individuais podem ser explícitos ou implícitos.

• Explícitos: são aqueles previstos expressamente no texto da Constituição Federal. Como exemplo,
os contidos no art. 5° da CF. e seus incisos, em especial os previstos no caput do mencionado artigo,
como a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

• Implícitos: O reconhecimento decorre de interpretação do texto da Lei das Leis. Isto se evidencia
pela leitura do art. 5º, parágrafo 2º, que reconhece a existência de outros direitos individuais

139
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

"decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais de que a
República Federativa do Brasil seja parte".

 Eventual novo direito individual criado por meio de emenda constitucional é considerado cláusula
pétrea?
NÃO. Segundo Gilmar Mendes, devemos ter em mente que as cláusulas pétreas “se fundamentam
na superioridade do poder constituinte originário sobre o de reforma”, de maneira que somente o primeiro
pode criar obstáculos à atuação do segundo. Não faria sentido, do ponto de vista lógico, permitir que o
poder reformador crie limites invencíveis a si mesmo.
Assim, conclui Gilmar Mendes que “não é cabível que o poder de reforma crie cláusulas pétreas.
Apenas o poder constituinte originário pode fazê-lo”. Caso EC crie um novo direito fundamental, este não
será cláusula pétrea.
É preciso distinguir, contudo, a situação em que uma EC apenas especifica, detalha ou incrementa
um direito fundamental já criado, sem inovar no rol de direitos. Nesse caso, ainda que introduzida por EC, a
novidade é considerada cláusula pétrea. Para Gilmar Mendes “é o que se deu, por exemplo, com o direito à
prestação jurisdicional célere somado ao rol do art. 5º da Constituição pela EC 45/04. Esse direito já existia,
como elemento necessário do direito de acesso à justiça – que há de ser ágil para ser efetiva – e do princípio
do devido processo legal, ambos assentados pelo constituinte originário”.

Classificação dos direitos individuais explícitos:


• Direitos individuais e coletivos: direitos ligados ao conceito de pessoa humana e sua própria
personalidade, com, por exemplo, vida, dignidade da pessoa humana, honra, liberdade, etc. Estão
espalhados pela CF, mas uma grande parte consta no art. 5º, CF/88;

• Direitos sociais: Caracterizam-se como verdadeiras liberdades positivas, de observância obrigatória


em um Estado Social de Direito, tendo por finalidade a melhoria das condições de vida aos
hipossuficientes;
• (Iremos especificar melhor no próximo tópico)

• Direitos de nacionalidade: nacionalidade é o vínculo jurídico político que se liga a um indivíduo


acerto e determinado Estado fazendo deste individuo um componente do povo, da dimensão pessoal
deste Estado, capacitando - o a exigir sua proteção e sujeitando - o ao cumprimento de deveres
impostos;

• Direitos políticos: conjunto de regras que disciplina as formas de atuação da soberania popular. São
direitos públicos subjetivos que permitem ao indivíduo o exercício concreto da liberdade de
participação nos negócios políticos do Estado;
140
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

• Direitos relacionados à existência, organização e participação em partidos políticos: a Constituição


Federal regulamentou os partidos políticos como instrumentos necessários e importantes para
preservação do Estado Democrático de Direito, assegurando-lhes autonomia e plena liberdade de
atuação, para concretizar o sistema representativo.

2.9 Destinatários

Os destinatários das normas dos direitos individuais, que são os direitos fundamentais, é o ser
humano, o indivíduo. Isso porque os direitos fundamentais surgiram com o intuito de proteção do indivíduo
em face das arbitrariedades do Estado.
Segundo dispõe o art. 5º, caput da CF/88, os destinatários dos direitos fundamentais elencados na
Carta Maior são: os brasileiros e os estrangeiros residentes no Brasil.

CF/88 Art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

 E os estrangeiros não residentes no Brasil que apenas se encontram em trânsito no solo nacional?
R.: Para a doutrina, os estrangeiros não residentes no Brasil também são destinatários de direitos
fundamentais! Veja:

Dirley da Cunha - “ O artigo 5º, caput deve ser interpretado a partir da unidade da
Constituição, para se entender que todas as pessoas, físicas ou jurídicas, nacionais
ou estrangeiras, com residência ou não no Brasil, são destinatárias dos direitos e
garantias fundamentais previstas na CF, salvo quando a própria Carta Maior excluir
algumas delas.”

Professor Bruno Pinheiro - A característica da universalidade dos direitos


fundamentais fundamenta a interpretação extensiva do art. 5º, caput da CF,
permitindo a aplicação dos direitos fundamentais aos apátridas, aos estrangeiros
não residentes no país.

Já caiu em prova e foi considerada CORRETA a seguinte afirmativa: Os direitos previstos no art. 5º da Carta
Federal também têm sido deferidos pelo Supremo Tribunal Federal mesmo aos estrangeiros não residentes.

141
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

 Pessoas jurídicas são titulares de direitos fundamentais?


R.: Para a maioria da doutrina e o STF, SIM! Pessoa Jurídica de Direito Privado e Pessoa Jurídica de
Direito Público podem ser titulares, bastando analisar casuisticamente quais direitos fundamentais se
compatibilizam com a condição de pessoa jurídica.

Atenção (1): existem direitos fundamentais catalogados na CF que são concebidos especificamente
para as pessoas jurídicas. – art. 5º, XIX, XXI, etc.

XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas


atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito
em julgado;
XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm
legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;

Atenção (2): pessoas jurídicas de direito público, apesar de integrar o Estado (polo passivo dos
direitos fundamentais), gozam de direitos fundamentais, desde que compatíveis com a sua condição. Ex.:
sigilo bancário (art. 5º, X da CF/88) - pessoa jurídica de direito privado de direito privado goza, mas a pessoa
jurídica de direito público não.

Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte alternativa: Os direitos e as garantias individuais
não são assegurados às pessoas jurídicas, uma vez que elas possuem dimensão coletiva.

2.10 Os Direitos Fundamentais Na Constituição Federal De 1988

A CF de 88 estabeleceu um rol compromissório de direitos fundamentais que condensa diversas


ideologias consagradas em direitos de 1º , 2ª e 3ª dimensões.
Nos aproximamos do denominado liberalismo igualitário, que busca se equilibrar entre a proteção
das liberdades civis e a redução das desigualdades sociais.

Obs.1: Princípio da indivisibilidade - os direitos das diferentes gerações não se excluem, na verdade,
se interpenetram, sofrendo influência mútua. Ou seja, uma geração fortalece o advento da outra.

Obs.2: Não há hierarquia entre os direitos fundamentais.

Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte afirmativa. Há hierarquia entre os direitos
fundamentais, estando o grau de importância definido a partir da posição topográfica do direito na
Constituição Federal.

142
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

2.10.1. Não taxatividade dos direitos fundamentais e tratados de direitos humanos

O ordenamento jurídico brasileiro adotou um sistema aberto de direitos fundamentais no Brasil, não
se podendo considerar taxativo o rol do artigo 5º.

Art. 5º, § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem


outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

Ingo Sarlet faz a seguinte divisão:


a) Direitos formalmente constitucionais → os incluídos pelo Poder Constituinte originário no catálogo
de direitos fundamentais (estão presentes no art. 5º ou no título II da CF)
b) Direitos materialmente constitucionais → direitos que não se encontram no rol formal da CF, mas
possuem status de fundamentais haja vista seu conteúdo jusfundamental (não importando o local
de positivação). A baliza para saber qual conteúdo confere a norma status de direito fundamental é
a dignidade da pessoa humana.

A cláusula materialmente aberta prevista no §2º do art. 5º da CF/88 decorre do reconhecimento da


dignidade da pessoa humana como fundamento do Estado (art. 1º, III). A consequência disso é que o rol de
direitos fundamentais é meramente exemplificativo.

2.10.2. Hierarquia Dos Tratados Internacionais De Direitos Humanos

O art. 5º, §3º da CF foi introduzido pela EC 45/2004 (conhecida como reforma do Poder Judiciário).
Esse dispositivo prevê que os tratados internacionais sobre direitos humanos que observarem o
procedimento de incorporação análogo ao das Emendas Constitucionais terão paridade normativa, isto é:
terão status normativo de emendas constitucionais.
Que procedimento de incorporação é esse?
• Aprovação em cada Casa do Congresso Nacional,
• Em 2 turnos de votação
• Com pelo menos 3/5 dos votos dos respectivos membros.

 E os tratados internacionais de direitos humanos que não observarem o procedimento especial do


art. 5º, §3º da CF, não sendo aprovados pelo quórum constitucional?

143
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

R.: Segundo a doutrina majoritária e o Supremo Tribunal Federal, os Tratados Internacionais de


Direitos Humanos internalizados sem a observância do art. 5, §3º da CF terão hierarquia normativa
supralegal: acima das leis e abaixo da Constituição.
Esse status normativo de supralegalidade tem o efeito de bloquear a legislação infraconstitucional
que com eles seja incompatível, análise de compatibilidade que é chamado de controle de convencionalidade
pela doutrina especializada.

Por fim, os Tratados Internacionais que não versam sobre direitos humanos terão hierarquia
infraconstitucional, com status normativo equivalente à lei ordinária.

RESUMINDO:
Tratado internacional SOBRE DIREITOS
HUMANOS, aprovado pelo mesmo rito da
Emenda Constitucional (art. 5º, §3º) Status normativo de emenda constitucional.

Tratado internacional SOBRE DIREITOS


HUMANOS, aprovado com quórum Status normativo de supralegalidade: superior
diverso das emendas constitucionais às leis e inferior à Constituição.

Tratados Internacionais QUE NÃO Independente do procedimento e quórum de


VERSAM SOBRE DIREITOS HUMANOS votação, terão status normativo de leis
ordinária.

Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte afirmativa: Os tratados e convenções internacionais
sobre direitos humanos aprovados no Congresso Nacional serão equivalentes a Lei Complementar.

2.11 Alguns direitos individuais – rol do art. 5º

A. DIREITO À VIDA:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

Está relacionado à existência física de um ser humano. O art. 5º, caput, da CF assegura a
inviolabilidade do direito à vida em relação ao Estado e em relação aos demais indivíduos.

144
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Inviolabilidade difere de irrenunciabilidade: a inviolabilidade diz respeito à proteção de um direito


em face de outras pessoas, enquanto que a irrenunciabilidade diz respeito à proteção de um direito em face
do próprio titular.
O direito à vida compreende o direito ao mínimo necessário a uma existência digna, que abrange:

1. Direito à integridade física: direito à saúde, vedação de pena de morte, proibição do aborto,
etc;
2. Direito à condições materiais e espirituais mínimas necessárias a uma existência digna.

• Dupla acepção do direito à vida (NOVELINO, 2017, p. 325):

1. Acepção positiva: está associada ao direito à existência digna, que assegura o acesso a bens
e utilidades indispensáveis para isso. Ela não se limita ao mínimo existencial, pois garante
também pretensões de caráter material e jurídico, de modo que os poderes públicos devem
adotar medidas positivas de proteção da vida, de amparo material e de emissão de normas
protetivas;

2. Acepção negativa: é o direito assegurado a todo e qualquer ser humano de permanecer vivo.
É um direito de defesa e um pressuposto elementar para o exercício de todos os demais
direitos. Uma decorrência dessa acepção é a proibição da pena de morte (art. 5º, XLVII, “a”,
da CF).

Atenção! Não existe direito fundamental absoluto, todos são relativos, de modo que nenhum
direito fundamental está hierarquicamente em superioridade em relação a outro. Ora, se não existe direito
fundamental absoluto e se todos eles são relativos, não se pode admitir que o direito à vida esteja
hierarquicamente superior a qualquer outro, pelo simples fato de ser direito à vida.

A ponderação de direitos depende de uma análise no caso concreto (nunca em abstrato). Exemplo
de que o direito à vida não é um direito absoluto: existência da pena de morte no ordenamento jurídico
brasileiro.

JURISPRUDÊNCIA SOBRE DIREITO À VIDA:

1) ADI 3510 – Pesquisa em Células Tronco Embrionárias


O art. 5º da Lei de Biossegurança autoriza a utilização do material biológico para fins de pesquisa,
terapia, etc., desde que sejam embriões inviáveis, ou, ainda que embriões viáveis, com mais de três anos de
armazenamento.

145
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Art. 5o É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco


embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e
não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições:
I - sejam embriões inviáveis; ou
II - sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta
Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem
3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento.
§ 1o Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores.
§ 2o Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou terapia
com células-tronco embrionárias humanas deverão submeter seus projetos à
apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética em pesquisa.
§ 3o É vedada a comercialização do material biológico a que se refere este artigo e
sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei no 9.434, de 4 de fevereiro
de 1997.

O art.5º foi impugnado na sua constitucionalidade, porque se chegou a cogitar eventual violação da
dignidade da pessoa humana, por considerar que o ser humano estaria sendo tratado como coisa
Decisão do STF: o STF concluiu, por votação bastante apertada, que as pesquisas com célula-tronco
embrionária, nos termos da lei, não violam o direito à vida. A constatação de que a vida começa com a
existência do cérebro (segundo o STF e sem apresentar qualquer análise axiológica ou filosófica) estaria
estabelecida, também, no art. 3.º da Lei de Transplantes, que prevê a possibilidade de retirada de tecidos,
órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento depois da morte desde que se
constate a morte encefálica.
Conclusão: O art. 5° da Lei 11.105/2005 (Lei de Biossegurança) é plenamente constitucional, não
havendo qualquer violação ao direito à vida. Isso porque o art. 5° toma os cuidados necessários, usa
efetivamente as pesquisas científicas para fins terapêuticos, etc., sem trazer nenhum efeito deletério ou
coisificante para a pessoa que forneceu o material biológico.

2) ADPF 54 – Aborto de Feto Anencéfalo


Desconsiderando os aspectos moral, ético ou religioso, tecnicamente, em relação à interrupção da
gravidez de feto anencéfalo, desde que se comprove, por laudos médicos, com 100% de certeza, que o feto
não tem cérebro e não há perspectiva de sobrevida.
Nessa linha de desenvolvimento, o STF, para seguir a lógica do julgamento anterior (célula-tronco),
teria de autorizar a possibilidade de antecipação terapêutica do parto. A imposição estatal da manutenção
de gravidez cujo resultado final será irremediavelmente a morte do feto vai de encontro aos princípios
basilares do sistema constitucional, mais precisamente à dignidade da pessoa humana, à liberdade, à
autodeterminação, à saúde, ao direito de privacidade, ao reconhecimento pleno dos direitos sexuais e
reprodutivos de milhares de mulheres.
146
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

O STF, então, julgou procedente o pedido formulado para declarar a inconstitucionalidade de


interpretação segundo a qual a interrupção da gravidez de feto anencéfalo é conduta tipificada nos arts. 124,
126 e 128, I e II, todos do Código Penal.
Em outras palavras: o STF excluiu qualquer interpretação no sentido de que a interrupção da
gestação de feto anencéfalo pudesse ser catalogada como aborto. Justamente por isso fala-se que não se
trata de aborto, mas sim de uma interrupção da gestação em razão da inexistência de uma vida possível.
A discussão aqui não é sobre a descriminalização do aborto, mas sim sobre um mínimo existencial
(acepção positiva do direito à vida), que envolve a autodeterminação da mulher em face de uma eventual
tortura.

3) HC 124.306 - Interrupção voluntária da gestação no primeiro trimestre:


O STF conferiu interpretação conforme à Constituição aos arts. 124 a 126 do Código Penal para excluir
do seu âmbito de incidência a interrupção voluntária da gestação efetivada no primeiro trimestre. Os
Ministros entenderam que a criminalização, nessa hipótese, viola diversos direitos fundamentais da mulher,
bem como o princípio da proporcionalidade, nos temos do voto do Min. Barroso (HC 124.306, j. 29.11.2016,
DJE de 17.03.2017).

B. DIREITO À IGUALDADE:

Está previsto no art. 5º, caput inciso I da CF/88:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...).

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta


Constituição;

a) Concepções da igualdade:
• Concepção formal: é a igualdade perante a lei e perante o Estado. Por essa concepção, a igualdade
impede que os indivíduos sejam tratados pelos poderes públicos de maneira diversa. Trata-se de
uma concepção estática e negativa, insuficiente para solucionar as desigualdades sociais;
• Concepção material: representa o tratamento igual dos iguais e o tratamento desigual daqueles em
situações desiguais. Por essa concepção, a igualdade deve adotar critérios distintivos justos e
razoáveis, de modo que os poderes públicos devem adotar medidas concretas para reduzir ou
compensar desigualdades.

147
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

IGUALDADE FORMAL IGUALDADE MATERIAL


É a igualdade perante a lei e perante o É o tratamento igual dos iguais e o
Estado, impedindo que os indivíduos sejam tratamento desigual aos desiguais na medida
tratados pelos poderes públicos de maneira em que se desigualam.
diversa
Deve adotar critérios distintivos justos e
razoáveis, de modo que os poderes públicos
devem adotar medidas concretas para
reduzir ou compensar desigualdades

Confira a dica da Professora Thaianne:


https://youtu.be/f6uK8WsoSnM

b) Dimensões da igualdade (NOVELINO, 2017, p. 340):

• Dimensão objetiva: é a igualdade compreendida como princípio material estruturante do Estado


brasileiro que impõe o tratamento igual para os iguais e desigual para os desiguais, bem como ações
voltadas à redução das desigualdades sociais e regionais;
• Dimensão subjetiva: confere a indivíduos e grupos posições jurídicas de caráter negativo (proteção
contra diferenciações ou igualizações arbitrárias) e de caráter positivo (direito a exigir determinadas
prestações materiais e jurídicas destinadas à redução de desigualdades).

Certo é que, no atual Estado Democrático de Direito, deve-se buscar, não somente a igualdade formal
(consagrada no liberalismo clássico), mas, principalmente, a igualdade material. Isso porque, no Estado social
ativo, efetivador dos direitos humanos, imagina-se uma igualdade mais real perante os bens da vida, diversa
daquela apenas formalizada em face da lei.
Vejamos alguns exemplos de ações afirmativas reconhecidas pelo STF:

◘ Cotas raciais:

148
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

O STF, na ADPF 186, considerou constitucional a política de cotas étnico-raciais para seleção de
estudantes da Universidade de Brasília (UnB). Além disso, o STF declarou o reconhecimento da
proclamação na Constituição da igualdade material, sendo que, para assegurá-la, “o Estado poderia lançar
mão de políticas de cunho universalista — a abranger número indeterminado de indivíduos — mediante
ações de natureza estrutural; ou de ações afirmativas — a atingir grupos sociais determinados — por meio
da atribuição de certas vantagens, por tempo limitado, para permitir a suplantação de desigualdades
ocasionadas por situações históricas particulares.
Ainda, o STF declarou que “é constitucional a reserva de 20% das vagas oferecidas nos concursos
públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública direta
e indireta. É legítima a utilização, além da autodeclaração, de critérios subsidiários de heteroidentificação,
desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditório e a ampla defesa”.

◘ PROUNI – Programa Universidade para Todos:


O STF julgou constitucional o PROUNI, como importante fator de inserção social e cumprimento do
art. 205 da CF/88, que estatui ser a educação direito de todos e dever do Estado e da família. Ainda, o
programa encontra-se em sintonia com diversos dispositivos da Constituição que estabelecem a redução de
desigualdades sociais.

◘ Lei Maria da Penha:


O STF julgou procedente a ADC 19, para declarar a constitucionalidade dos arts. 1.º, 33 e 41 da Lei n.
11.340/2006 (Lei Maria da Penha), tendo por fundamento o princípio da igualdade, bem como o combate ao
desprezo às famílias, sendo considerada a mulher a sua célula básica.
Na mesma assentada, por maioria e nos termos do voto do Relator, o STF julgou procedente a ADI
4.424, para, dando interpretação conforme os arts. 12, I, e 16, ambos da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da
Penha), declarar a natureza incondicionada da ação penal em caso de crime de lesão, pouco importando a
extensão desta, praticado contra a mulher no ambiente doméstico.

C. DIREITO À DIGNIDADE:
É um valor, um princípio, servindo como parâmetro para a definição dos direitos formal e
materialmente fundamentais.

ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL7


- Inspiração: Corte Constitucional Colombiana.
- Definição: Quadro insuportável de violação massiva de direitos fundamentais, agravado pela inércia
continuada das autoridades.

7
Para aprofundamento do julgado: http://www.dizerodireito.com.br/2015/09/entenda-decisao-do-
stf-sobre-o-sistema.html
149
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

- Pressupostos:
• Violação generalizada e sistemática de direitos fundamentais;
• Inércia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar a
conjuntura;
• Situação que exige a atuação de uma pluralidade de autoridades públicas.

Análise pelo STF em ADPF (PSOL X União e Estados) – Concessão parcial de liminar para:
• Obrigar a União a liberar o saldo acumulado no FUNPEN;
• Implementação pelos juízes e Tribunais da audiência de custódia, no máximo em 90 (noventa)
dias;

• Responsabilidade dos três poderes e de todos os entes Federativos.
• No julgado, entendeu-se que incumbiria ao STF retirar os demais poderes da inércia, coordenando ações
para resolver os problemas e monitorar resultados. Porém, NÃO cabe ao Judiciário definir o conteúdo
dessas políticas públicas (Ex: Medidas judiciais para abater o tempo de prisão).

IMPORTANTE: Transexuais e travestis com identificação com gênero feminino poderão optar por cumprir
pena em presídio feminino ou masculino.

Em 19.03.2021, o ministro Luís Roberto Barroso ajustou os termos de medida cautelar deferida em junho de
2019, na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 527, de modo a determinar que
presas transexuais e travestis com identidade de gênero feminino podem optar por cumprir penas em
estabelecimento prisional feminino ou masculino. Nesse último caso, elas devem ser mantidas em área
reservada, como garantia de segurança.
Segundo Barroso, essa evolução de tratamento dado à matéria no âmbito do Poder Executivo decorre do
diálogo institucional ensejado pela judicialização da matéria, que permitiu uma “saudável interlocução” com
associações representativas de interesses desses grupos vulneráveis, o Executivo e o Judiciário.
Ele acrescentou não haver “dúvida” de que a solução sinalizada por ambos os documentos se harmoniza com
o quadro normativo internacional e nacional de proteção das pessoas LGBTI, no sentido de ser dever dos
Estados zelar pela não discriminação em razão da identidade de gênero e orientação sexual, bem como de
adotar todas as providências necessárias para assegurar a integridade física e psíquica desses grupos quando
encarcerados.
No Brasil, disse ele, o direito das transexuais femininas e travestis ao cumprimento de pena em condições
compatíveis com a sua identidade de gênero decorre, em especial, dos princípios constitucionais do direito
à dignidade humana, à autonomia, à liberdade, à igualdade, à saúde, e da vedação à tortura e ao
tratamento degradante e desumano. Decorre também da jurisprudência consolidada no STF no sentido de

150
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

reconhecer o direito desses grupos a viver de acordo com a sua identidade de gênero e a obter tratamento
social compatível com ela.
O ministro ressaltou ainda que, dentre os Princípios de Yogyakarta, documento aprovado em 2007 pela
comunidade internacional com o objetivo de produzir standards específicos para o tratamento da população
LGBTI, o de número 9 recomenda que, caso encarceradas, essas pessoas possam participar das decisões
relacionadas ao local de detenção adequado à sua orientação sexual e identidade de gênero.
Fonte: Site do STF

D. DIREITO À SAÚDE
A saúde é direito de todos e dever do Estado (art. 196 da CF/88), SENDO assegurada por meio de
políticas sociais e econômicas que busquem:
• A redução do risco de doença e de outros agravos; e
• O acesso universal e igualitário às ações e serviços voltados à sua promoção, proteção e
recuperação.

Quando se fala na dimensão objetiva do direito à saúde, isso significa que, independentemente de
um caso concreto, existe um dever jurídico geral do Poder Público de concretizar medidas para garantir as
políticas públicas de saúde.
Cuidar da saúde da população é uma competência COMUM que deve ser exercida por todos os entes
federados.

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios:
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas
portadoras de deficiência;

Quando se fala em “cuidar da saúde” isso abrange, obviamente, adotar medidas para salvar vidas e
garantir a higidez física das pessoas ameaçadas ou acometidas pelo novo coronavírus (Covid-19). Vale
relembrar que, no plano administrativo, esse dever é materializado por meio do Sistema Único de Saúde –
SUS, previsto no art. 198, da CF/88:

Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as
seguintes diretrizes:
I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem
prejuízo dos serviços assistenciais;
III - participação da comunidade.
151
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

O SUS é compatível com o federalismo cooperativo, adotado pelo Brasil, segundo o qual existe um
entrelaçamento de competências e atribuições dos diferentes níveis governamentais. Veja a explicação do
Professor Márcio Cavalcante:

A União tem o papel de coordenar as atividades do setor: A União exerce aquilo que a doutrina
denomina de “competência de cooperação” e que consiste na obrigação constitucional de “planejar e
promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações”
(art. 21, XVIII, CF/88). Assim, compete à União assumir a coordenação das atividades do setor, incumbindo-
lhe, em especial, “executar ações de vigilância epidemiológica e sanitária em circunstâncias especiais, como
na ocorrência de agravos inusitados à saúde, que possam escapar do controle da direção estadual do SUS ou
que representem risco de disseminação nacional”, conforme estabelece o disposto no art. 16, III, “a”, e
parágrafo único, da Lei nº 8.080/90 (Lei Orgânica da Saúde).

União é responsável pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI): Dentro desse papel de
coordenar as atividades, a União tem a competência de elaborar, por intermédio do Ministério da Saúde, o
Programa Nacional de Imunizações (art. 3º da Lei nº 6.259/75). O Ministério da Saúde coordenará e apoiará,
técnica, material e financeiramente, a execução do programa, em âmbito nacional e regional (art. 4º, caput).
As Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, por sua vez, irão executar as ações do programa nos seus
respectivos territórios. Vale ressaltar que o Governo Federal divulgou, em 16/12/2020, o Plano Nacional de
Imunizações contra a covid-19.

Estados-membros, DF e Municípios também podem atuar para suprir lacunas ou omissões: Não
obstante constitua incumbência do Ministério da Saúde coordenar o PNI, tal atribuição não exclui a
competência dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios de também atuarem porque se trata,
conforme já explicado, de competência comum (art. 23, II, da CF/88). O ideal é que todas as vacinas seguras
e eficazes sejam incluídas no PNI e que a União coordene nacionalmente o programa, de maneira a imunizar
uniforme e tempestivamente toda a população. No entanto, o STF entende que é possível a atuação conjunta
das autoridades estaduais e locais para o enfrentamento da covid, especialmente para suprir lacunas ou
omissões do governo federal.

Nesse sentido, considerando a imensa relevância sobre o tema, é importantíssimo ficar atento às
últimas jurisprudências pertinentes:

◘ Estados, Distrito Federal e Municípios podem importar vacinas?

1) Em princípio, as vacinas a serem oferecidas contra a covid-19 são aquelas


incluídas no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação elaborado pela
152
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

União; 2) Se o plano for descumprido pela União ou se ele não atingir cobertura
imunológica tempestiva e suficiente contra a doença, os Estados, DF e Municípios
poderão dispensar (conceder) à população as vacinas que esses entes possuírem,
desde que tenham sido previamente aprovadas pela Anvisa; 3) Se a Anvisa não
expedir a autorização competente, no prazo de 72 horas, os Estados, DF e
Municípios poderão importar e distribuir vacinas que já tenham sido registradas
nos EUA (EUA), na União Europeia (EMA), no Japão (PMDA) ou na China (NMPA).
Além disso, tais entes poderão também importar e distribuir quaisquer outras
vacinas que já tenham sido aprovadas, em caráter emergencial (Resolução
DC/ANVISA 444, de 10/12/2020), pela ANVISA.

Nas exatas palavras do STF: Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no caso


de descumprimento do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra
a Covid-19 ou na hipótese de cobertura imunológica intempestiva e insuficiente,
poderão dispensar às respectivas populações: a) vacinas das quais disponham,
previamente aprovadas pela Anvisa; e b) no caso não expedição da autorização
competente, no prazo de 72 horas, vacinas registradas por pelo menos uma das
autoridades sanitárias estrangeiras e liberadas para distribuição comercial nos
respectivos países, bem como quaisquer outras que vierem a ser aprovadas, em
caráter emergencial. STF. Plenário. ADPF 770 MC-Ref/DF e ACO 3451 MC-Ref/MA,
Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/2/2021 (Info 1006).

◘ STF estendeu a vigência das medidas de combate à covid-19 elencadas na Lei 13.979/2020 e que
estavam previstas para terminar em 31/12/2020

A prudência — amparada nos princípios da prevenção e da precaução — aconselha


que continuem em vigor as medidas excepcionais previstas nos arts. 3º ao 3º-J da
Lei nº 13.979/2020, dada a continuidade da situação de emergência na área da
saúde pública. STF. Plenário. ADI 6625 MC-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 6/3/2021 (Info 1008).

Explicação via Dizer o Direito:

O Min. Ricardo Lewandowski, no dia 30/12/2020, proferiu decisão monocrática


estendendo a vigência de diversos dispositivos da Lei nº 13.979/2020 que
estabelecem medidas sanitárias para combater à pandemia da Covid-19. Ao
analisar a cautelar, o Ministro Ricardo Lewandowski observou que, por prudência,
as medidas excepcionais previstas na Lei nº 13.979/2020 devem continuar, por
153
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

enquanto, a fim de poder continuar combatendo a pandemia. O dispositivo da


decisão ficou assim redigido: “Em face do exposto, defiro parcialmente a cautelar
requerida, ad referendum do Plenário desta Suprema Corte, para conferir
interpretação conforme à Constituição ao art. 8º da Lei n° 13.979/2020, com a
redação dada pela Lei 14.035/2020, a fim de excluir de seu âmbito de aplicação as
medidas extraordinárias previstas nos arts. 3°, 3°-A, 3°-B, 3°-C, 3°-D, 3°-E 3°-F, 3°-G,
3°-H e 3°-J, inclusive dos respectivos parágrafos, incisos e alíneas.” STF. Decisão
Monocrática. ADI 6625, Rel. Min. Ricardo Lewandoski, julgado em 30/12/2020.

Referendo da cautelar
No dia 06/03/2021, o Plenário do STF se reuniu e decidiu referendar a medida
cautelar.
A pandemia do coronavírus, longe de ter arrefecido o seu ímpeto, na verdade
encontra-se em franco recrudescimento, aparentando estar progredindo, inclusive
em razão do surgimento de novas cepas do vírus, possivelmente mais contagiosas.
A moléstia, portanto, segue infectando e matando pessoas, em ritmo acelerado,
especialmente as mais idosas, acometidas por comorbidades ou fisicamente
debilitadas. Dessa forma, é plausível considerar que a verdadeira intenção dos
legisladores tenha sido a de manter as medidas profiláticas e terapêuticas
extraordinárias, preconizadas no referido diploma normativo, pelo tempo
necessário à superação da fase mais crítica da pandemia, mesmo porque, à época
de sua edição, não lhes era dado antever a surpreendente persistência e letalidade
da doença.

Interpretação conforme do artigo que trata sobre a vigência da Lei


O STF decidiu conferir interpretação conforme à Constituição ao art. 8º da Lei nº
13.979/2020, a fim de excluir de seu âmbito de aplicação as medidas
extraordinárias previstas nos arts. 3º, 3º-A, 3º-B, 3º-C, 3º-D, 3º-E, 3º-F, 3º-G, 3º-H
e 3º-J, inclusive dos respectivos parágrafos, incisos e alíneas.

Isso significa que toda a lei continua vigorando?


NÃO. O STF afirmou que deveria ser prorrogada a vigência dos seguintes
dispositivos:
· art. 3º: as nove principais medidas de combate à pandemia acima listadas;
· arts. 3º-A, 3º-B, 3º-C, 3º-D, 3º-E, 3º-F, 3º-G, 3º-H: obrigação de uso da máscara e
suas regras;

154
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

· art. 3º-J: medidas adotadas pelo poder público e pelos empregadores ou


contratantes para preservar a saúde e a vida de todos os profissionais considerados
essenciais ao controle de doenças e à manutenção da ordem pública.

◘ Poder Público pode determinar a vacinação compulsória contra a Covid-19 (o que é diferente de
vacinação forçada)

O STF julgou parcialmente procedente ADI, para conferir interpretação conforme à


Constituição ao art. 3º, III, “d”, da Lei nº 13.979/2020. Ao fazer isso, o STF disse que
o Poder Público pode determinar aos cidadãos que se submetam,
compulsoriamente, à vacinação contra a Covid-19, prevista na Lei nº 13.979/2020.
O Estado pode impor aos cidadãos que recusem a vacinação as medidas restritivas
previstas em lei (multa, impedimento de frequentar determinados lugares, fazer
matrícula em escola), mas não pode fazer a imunização à força. Também ficou
definido que os Estados-membros, o Distrito Federal e os Municípios têm
autonomia para realizar campanhas locais de vacinação. A tese fixada foi a
seguinte: (A) A vacinação compulsória não significa vacinação forçada, por exigir
sempre o consentimento do usuário, podendo, contudo, ser implementada por
meio de medidas indiretas, as quais compreendem, dentre outras, a restrição ao
exercício de certas atividades ou à frequência de determinados lugares, desde que
previstas em lei, ou dela decorrentes, e (i) tenham como base evidências científicas
e análises estratégicas pertinentes, (ii) venham acompanhadas de ampla
informação sobre a eficácia, segurança e contraindicações dos imunizantes, (iii)
respeitem a dignidade humana e os direitos fundamentais das pessoas; (iv)
atendam aos critérios de razoabilidade e proporcionalidade, e (v) sejam as vacinas
distribuídas universal e gratuitamente; e (B) tais medidas, com as limitações acima
expostas, podem ser implementadas tanto pela União como pelos Estados, Distrito
Federal e Municípios, respeitadas as respectivas esferas de competência. STF.
Plenário. ADI 6586, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 17/12/2020.

◘ É ilegítima a recusa dos pais à vacinação compulsória de filho menor por motivo de convicção filosófica

É constitucional a obrigatoriedade de imunização por meio de vacina que,


registrada em órgão de vigilância sanitária, (i) tenha sido incluída no Programa
Nacional de Imunizações ou (ii) tenha sua aplicação obrigatória determinada em lei
155
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

ou (iii) seja objeto de determinação da União, estado, Distrito Federal ou município,


com base em consenso médico-científico. Em tais casos, não se caracteriza violação
à liberdade de consciência e de convicção filosófica dos pais ou responsáveis, nem
tampouco ao poder familiar. STF. Plenário. ARE 1267879/SP, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgado em 16 e 17/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 1103) (Info 1003).

◘ União não pode requisitar seringas e agulhas que já foram contratadas pelo Estado-membro para o
plano estadual de imunização e que ainda estão na indústria, apesar de já terem sido empenhados

É incabível a requisição administrativa, pela União, de bens insumos contratados


por unidade federativa e destinados à execução do plano local de imunização, cujos
pagamentos já foram empenhados. A requisição administrativa não pode se voltar
contra bem ou serviço de outro ente federativo. Isso para que não haja indevida
interferência na autonomia de um sobre outro. STF. Plenário. ACO 3463 MC-Ref/SP,
Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 8/3/2021 (Info 1008).

◘ STF determinou que governo deveria detalhar a ordem de preferência na vacinação dentro dos grupos
prioritários (quem deveria ser vacinado primeiro dentro do grupo prioritário)

A pretensão de que sejam editados e publicados critérios e subcritérios de


vacinação por classes e subclasses no Plano de Vacinação, assim como a ordem de
preferência dentro de cada classe e subclasse, encontra arrimo: • nos princípios da
publicidade e da eficiência que regem a Administração Pública (art. 37, da CF/88);
• no direito à informação que assiste aos cidadãos em geral (art. 5º, XXXIII, e art.
37, § 2º, II); • na obrigação da União de “planejar e promover a defesa permanente
contra as calamidades públicas” (art. 21, XVII); • no dever incontornável cometido
ao Estado de assegurar a inviolabilidade do direito à vida (art. 5º, caput), traduzida
por uma “existência digna” (art. 170); e • no direito à saúde (art. 6º e art. 196). STF.
Plenário. ADPF 754 TPI-segunda-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 27/2/2021 (Info 1007).

◘ É dever do Poder Público elaborar e implementar plano para o enfrentamento da pandemia COVID-
19 nas comunidades quilombolas

O STF determinou que a União elaborasse plano de combate à Covid-19 para


população quilombola, com a participação de representantes da Coordenação
Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – Conaq.
156
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Além disso, o STF deferiu pedido para suspender os processos judiciais,


notadamente ações possessórias, reivindicatórias de propriedade, imissões na
posse, anulatórias de processos administrativos de titulação, bem como os recursos
vinculados a essas ações, sem prejuízo dos direitos territoriais das comunidades
quilombolas até o término da pandemia. STF. Plenário. ADPF 742/DF, Rel. Min.
Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 24/2/2021 (Info
1006).

◘ STF determina que governo federal adote medidas para conter o avanço da Covid-19 entre indígenas

A associação “Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e seis partidos


políticos ajuizaram arguição de descumprimento de preceito fundamental
alegando que o Poder Público estava falhando na proteção dos povos indígenas
com relação à pandemia da Covid-19. Os autores apontaram uma série de atos
comissivos e omissivos do Poder Público que, segundo eles, estavam causando alto
risco de contágio e de extermínio dos povos indígenas. Os requerentes apontaram
que tais atos violam a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/88), o direito
à vida (art. 5º, caput) e o direito à saúde (arts. 6º e 196), além do direito de tais
povos a viverem em seu território, de acordo com suas culturas e tradições (art.
231). Na ação, os autores pedem a realização de diversas medidas necessárias para
a proteção dos povos indígenas. O Min. Roberto Barroso (relator) deferiu
parcialmente a medida cautelar para que a União implemente, em resumo, as
seguintes providências: Quanto aos povos indígenas em isolamento ou povos
indígenas de recente contato: 1. Criação de barreiras sanitárias, que impeçam o
ingresso de terceiros em seus territórios; 2. Criação de Sala de Situação, para gestão
de ações de combate à pandemia quanto aos Povos Indígenas em Isolamento e de
Contato Recente. Quanto aos povos indígenas em geral: 1. Inclusão de medida
emergencial de contenção e isolamento dos invasores em relação às comunidades
indígenas ou providência alternativa, apta a evitar o contato. 2. Imediata extensão
dos serviços do Subsistema Indígena de Saúde. 3. Elaboração e monitoramento de
um Plano de Enfrentamento da COVID-19 para os Povos Indígenas Brasileiros pela
União. O Plenário do STF referendou a medida cautelar concedida. STF. Plenário.
ADPF 709 Ref-MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 3 e 5/8/2020 (Info
985).

157
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

◘ TCU (Acórdão nº 534/2021. Plenário. Relator: Min. benjamin Zymler. Julgado em 17.03.2021).

“Na aquisição de vacinas, insumos, bens e serviços de diversas naturezas


destinados à vacinação contra Convid-19, não há óbice jurídico a que o Estado
brasileiro aceite eventual cláusula que estabeleça a limitação ou exoneração da
empresa fornecedora quando ao dever de indenizar os cidadãos em razão de danos
causados pelas vacinas, de modo que a obrigação pelo pagamento seja assumida,
total ou parcialmente, pelo Poder Público”.

OUTROS JULGADOS IMPORTANTES ACERCA DO DIREITO À SAÚDE:

Inconstitucionalidade da Lei 13.269/2016, que autorizou o uso da


fosfoetanolamina sintética
É inconstitucional a Lei nº 13.269/2016, que autorizou o uso da fosfoetanolamina
sintética ("pílula do câncer) por pacientes diagnosticados com neoplasia maligna
mesmo sem que existam estudos conclusivos sobre os efeitos colaterais em seres
humanos e mesmo sem que haja registro sanitário da substância perante a ANVISA.
Ante o postulado da separação de Poderes, o Congresso Nacional não pode
autorizar, atuando de forma abstrata e genérica, a distribuição de medicamento.
Compete à ANVISA permitir a distribuição de substâncias químicas, segundo
protocolos cientificamente validados. O controle dos medicamentos fornecidos à
população leva em conta a imprescindibilidade de aparato técnico especializado,
supervisionado pelo Poder Executivo. O direito à saúde não será plenamente
concretizado se o Estado deixar de cumprir a obrigação de assegurar a qualidade
de droga mediante rigoroso crivo científico, apto a afastar desengano,
charlatanismo e efeito prejudicial. STF. Plenário. ADI 5501/DF, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 23/10/2020(Info 996).

Pulverização aérea de inseticida contra Aedes aegypti precisa de autorização


prévia de autoridades sanitária e ambiental e comprovação científica da eficácia
da medida
O art. 1º, § 3º da Lei nº 13.301/2016 prevê, como uma das medidas para combater
o Aedes aegypti, que o poder público fica autorizado a fazer a pulverização, por
meio de aeronaves, de produtos químicos para matar o mosquito: § 3º São ainda
medidas fundamentais para a contenção das doenças causadas pelos vírus de que
trata o caput: IV - permissão da incorporação de mecanismos de controle vetorial
por meio de dispersão por aeronaves mediante aprovação das autoridades
158
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

sanitárias e da comprovação científica da eficácia da medida. O STF deu


intepretação conforme a esse dispositivo dizendo que, além da comprovação
científica e da aprovação das autoridades sanitárias (mencionadas expressamente
no texto da lei), é necessário também que haja a aprovação das autoridades
ambientais. A aprovação das autoridades sanitárias e ambientais competentes e a
comprovação científica da eficácia da medida são condições prévias e inafastáveis
à incorporação de mecanismo de controle vetorial por meio de dispersão por
aeronaves. STF. Plenário. ADI 5592/DF, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o ac.
Min. Edson Fachin, julgado em 11/9/2019 (Info 951).

Fornecimento pelo Poder Judiciário de medicamentos não registrados pela


ANVISA 1. O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos
experimentais. 2. A ausência de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) impede, como regra geral, o fornecimento de medicamento por decisão
judicial. 3. É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem
registro sanitário, em caso de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido
(prazo superior ao previsto na Lei 13.411/2016), quando preenchidos três
requisitos: a) a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no
caso de medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras); b) a existência de
registro do medicamento em renomadas agências de regulação no exterior; e c) a
inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil. 4. As ações que
demandem fornecimento de medicamentos sem registro na Anvisa deverão
necessariamente ser propostas em face da União. STF. Plenário. RE 657718/MG,
rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em
22/5/2019 (repercussão geral) (Info 941).

Responsabilidade pelo fornecimento do medicamento ou pela realização do


tratamento de saúde O tratamento médico adequado aos necessitados se insere
no rol dos deveres do Estado, porquanto responsabilidade solidária dos entes
federados. O polo passivo pode ser composto por qualquer um deles,
isoladamente, ou conjuntamente. A fim de otimizar a compensação entre os entes
federados, compete à autoridade judicial, diante dos critérios constitucionais de
descentralização e hierarquização, direcionar, caso a caso, o cumprimento
conforme as regras de repartição de competências e determinar o ressarcimento a
quem suportou o ônus financeiro. As ações que demandem fornecimento de
medicamentos sem registro na ANVISA deverão necessariamente ser propostas em
face da União. STF. Plenário. RE 855178 ED/SE, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac.
Min. Edson Fachin, julgado em 23/5/2019 (Info 941).
159
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

E. DIREITO À INTEGRIDADE

A Carta Magna proíbe a prática lesões, psíquica e moral (provocação de dor interna e sofrimento).
Ademais, veda a prática da tortura, bem como qualquer tipo de comercialização de órgãos, tecidos e
substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento (art. 199, §4º).

F. PROIBIÇÃO DA TORTURA

Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante


(art. 5º, III, da CF).

• Não esquecer que parcela da doutrina defende que o direito de não ser torturado (inciso III do art. 5º
da CF) é um exemplo de direito fundamental absoluto, sendo uma exceção à característica da
relatividade dos direitos fundamentais.

• Uso de algemas e a Súmula Vinculante 11: “o uso legítimo de algemas não é arbitrário, sendo de
natureza excepcional, a ser adotado nos casos e com as finalidades de impedir, prevenir ou dificultar a
fuga ou reação indevida do preso, desde que haja fundada suspeita ou justificado receio de que tanto
venha a ocorrer, e para evitar agressão do preso contra os próprios policiais, contra terceiros ou contra
si mesmo. O emprego dessa medida tem como balizamento jurídico necessário os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade” (HC 89.429, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 22.08.2006, DJ de
02.02.2007).

Súmula Vinculante nº 11: Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de


fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte
do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade
da prisão ou do ato processo a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil
do Estado.

Fique atento à jurisprudência!

A tortura de preso custodiado em delegacia praticada por policial constitui ato de improbidade
administrativa que atenta contra os princípios da administração pública. Para o STJ, é injustificável que a
tortura praticada por servidor público, um dos atos mais gravosos à dignidade da pessoa humana e aos
direitos humanos, seja punido apenas no âmbito disciplinar, civil e penal, afastando-se a aplicação da Lei da
Improbidade Administrativa.
160
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

G. DIREITO À PRIVACIDADE – DIMENSÕES

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,


assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;

• Intimidade: é o direito de estar só;


• Vida privada: é o direito do indivíduo de ser do modo que quiser, sem a intervenção de outrem.
• Honra: Ligada à honra objetiva (visão da sociedade) e honra subjetiva (visão da própria pessoa).
• Imagem: É a representação da pessoa, por meio de desenhos, fotografias.

A MP 954/2020 exorbitou dos limites traçados pela Constituição ao autorizar a


disponibilização dos dados pessoais de todos os consumidores dos serviços STFC
e SMP, pelos respectivos operadores, ao IBGE
A MP 954/2020 determinava que, durante a emergência de saúde decorrente do
covid-19, as empresas de telefonia fixa e móvel deveriam fornecer ao IBGE os dados
dos seus clientes: relação dos nomes, números de telefone e endereços. Segundo
a MP, essas informações seriam utilizadas para a produção das estatísticas oficial,
com o objetivo de realizar entrevistas não presenciais com os clientes das
empresas. As informações disciplinadas pela MP 954/2020 configuram dados
pessoais e, portanto, estão protegidas pelas cláusulas constitucionais que
asseguram a liberdade individual (art. 5º, caput), a privacidade e o livre
desenvolvimento da personalidade (art. 5º, X e XII). Sua manipulação e tratamento
deverão respeitar esses direitos e os limites estabelecidos pela Constituição. A MP
954/2020 exorbitou dos limites traçados pela Constituição porque diz que os dados
serão utilizados exclusivamente para a produção estatística oficial, mas não
delimita o objeto da estatística a ser produzida, nem a finalidade específica ou a
sua amplitude. A MP 954/2020 não apresenta também mecanismos técnico ou
administrativo para proteger os dados pessoais de acessos não autorizados,
vazamentos acidentais ou utilização indevida. Diante disso, constata-se que a MP
violou a garantia do devido processo legal (art. 5º, LIV, da CF), em sua dimensão
substantiva (princípio da proporcionalidade). STF. Plenário. ADI 6387, ADI 6388, ADI
6389, ADI 6390 e ADI 6393 MC-Ref/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 6 e
7/5/2020 (Info 976).

O direito à retratação e ao esclarecimento da verdade possui previsão na


Constituição da República e na Lei Civil, não tendo sido afastado pelo Supremo
161
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Tribunal Federal no julgamento da ADPF 130/DF. O princípio da reparação integral


(arts. 927 e 944 do CC) possibilita o pagamento da indenização em pecúnia e in
natura, a fim de se dar efetividade ao instituto da responsabilidade civil. Dessa
forma, é possível que o magistrado condene o autor da ofensa a divulgar a sentença
condenatória nos mesmos veículos de comunicação em que foi cometida a ofensa
à honra, desde que fundamentada em dispositivos legais diversos da Lei de
Imprensa. STJ. 3ª Turma. REsp 1771866-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 12/02/2019 (Info 642).
Fonte: Dizer o Direito

• Privacidade e Sigilo bancário e fiscal: O STF admite a quebra do sigilo pelo Judiciário ou por CPI (federal
ou estadual, mas não municipal), mas resiste a que o MP possa requisita-la diretamente, por falta de
autorização legal específica, salvo a hipótese de existir procedimento administrativo investigando
utilização indevida de patrimônio público.

LC 105/2001 E QUEBRA DE SIGILO PELA ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA8


- A Lei Complementar n.º 105/2001 atribui a agentes tributários, no exercício do poder de fiscalização, o
poder de requisitar informações referentes a operação e serviços das instituições financeiras,
independente de autorização judicial. Inicialmente, nos autos do RE 389808, o STF entendeu NÃO ser
possível o afastamento do sigilo.

- Recentemente, o STF entendeu possível o repasse das informações dos bancos para o Fisco, pelos
seguintes argumentos, pois as informações são remetidas ao Fisco em caráter sigiloso e permanecem de
forma sigilosa na Administração Tributária, inacessível a terceiros, não pode ser considerado violação do
sigilo.

Dados obtidos com a quebra de sigilo bancário não podem ser divulgados
abertamente em site oficial.
Os dados obtidos por meio da quebra dos sigilos bancário, telefônico e fiscal devem
ser mantidos sob reserva.
Assim, a página do Senado Federal na internet não pode divulgar os dados obtidos
por meio da quebra de sigilo determinada por comissão parlamentar de inquérito
(CPI). STF. Plenário. MS 25940, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 26/4/2018 (Info
899).
Fonte: Dizer o direito.

8
Para aprofundamento, sugerimos leitura do julgado comentado pelo Dizer o Direito:
http://www.dizerodireito.com.br/2016/02/a-receita-pode-requisitar-das.html
162
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

• Privacidade, produção de relatórios de inteligência e vinculação ao interesse público – ADPF


722/DF:

Os órgãos do Sistema Brasileiro de Inteligência, conquanto necessários para a


segurança pública, segurança nacional e garantia de cumprimento eficiente dos
deveres do Estado, devem operar com estrita vinculação ao interesse público,
observância aos valores democráticos e respeito aos direitos e garantias
fundamentais. Nesse contexto, caracterizam desvio de finalidade e abuso de poder
a colheita, a produção e o compartilhamento de dados, informações e
conhecimentos específicos para satisfazer interesse privado de órgão ou de agente
público (1). Na hipótese, a utilização da máquina estatal para a colheita de
informações de servidores com postura política contrária ao governo caracteriza
desvio de finalidade e afronta aos direitos fundamentais da livre manifestação do
pensamento, da privacidade, reunião e associação, aos quais deve ser conferida
máxima efetividade, pois essenciais ao regime democrático. Ademais, os órgãos de
inteligência de qualquer nível hierárquico de qualquer dos Poderes do Estado,
embora sujeitos ao controle externo realizado pelo Poder Legislativo (2),
submetem-se também ao crivo do Poder Judiciário, em respeito ao princípio da
inafastabilidade da jurisdição (3). Com base nesses entendimentos, o Plenário, por
maioria, julgou procedente o pedido para confirmar a medida cautelar e declarar
inconstitucionais atos do Ministério da Justiça e Segurança Pública de produção ou
compartilhamento de informações sobre a vida pessoal, as escolhas pessoais e
políticas, e as práticas cívicas de cidadãos, servidores públicos federais, estaduais e
municipais identificados como integrantes de movimento político, professores
universitários e quaisquer outros que, atuando nos limites da legalidade, exerçam
seus direitos de livremente expressar-se, reunir-se e associar-se. STF, ADPF 722,
Plenário, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento 13.5.2022.

H. INVIOLABILIDADE DE DOMICÍLIO:

XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem


consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial

 A casa é asilo inviolável. Qual é o conceito de casa?


R.: Segundo o STF e doutrina, casa abrange não só o domicílio como também todo lugar privativo,
ocupado por alguém, com direito próprio e de maneira exclusiva, mesmo sem caráter definitivo ou habitual.
163
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

STF - “Para os fins da proteção jurídica a que se refere o art. 5.º, XI, da Constituição
da República, o conceito normativo de ‘casa’ revela-se abrangente e, por estender-
se a qualquer aposento de habitação coletiva, desde que ocupado (CP, art. 150, §
4.º, II), compreende, observada essa específica limitação espacial, os quartos de
hotel (...)” (RHC 90.376)

A abrangência do conceito alcança:


▪ O escritório de trabalho,
▪ O estabelecimento industrial,
▪ Clube recreativo
▪ Quarto de hotel.
▪ Quarto de motel.
▪ Automóveis quando usados para fins de moradia;
▪ Barcos quando usados para fins de moradia.
▪ Bens públicos de uso especial não abertos ao público como gabinetes de prefeitos, gabinete do
delegado de polícia.

Inf. 549 do STJ (2014):Afirmou que o gabinete do delegado de polícia encontra-se


inserido no conceito de “casa” previsto no inciso III do §4º do art. 150 do CP. Logo,
invasão ao seu gabinete constitui crime de violação de domicílio.

CP, Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a


vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas
dependências:
§ 4º - A expressão "casa" compreende:
I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou
atividade

* ATENÇÃO - Exceções ao direito à inviolabilidade do domicílio:


(1) Em caso de flagrante delito, a qualquer momento;
(2) Em caso de desastre ou para prestar socorro;
(3) Através de autorização judicial, durante o dia.

Fique atento à jurisprudência:

164
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

O ingresso regular da polícia no domicílio, sem autorização judicial, em caso de


flagrante delito, para que seja válido, necessita que haja fundadas razões (justa
causa) que sinalizem a ocorrência de crime no interior da residência. A mera
intuição acerca de eventual traficância praticada pelo agente, embora pudesse
autorizar abordagem policial, em via pública, para averiguação, não configura, por
si só, justa causa a autorizar o ingresso em seu domicílio, sem o seu consentimento
e sem determinação judicial. STJ. 6ª Turma. REsp 1574681-RS, Rel. Min. Rogério
Schietti Cruz, julgado em 20/4/2017 (Info 606).
Fonte: Dizer o Direito

C) Direito Às Liberdades

Abrange as liberdades física, de pensamento, de locomoção.

A) LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO – Art. 5º, IV e V

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;


V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização
por dano material, moral ou à imagem;

A Constituição assegurou a liberdade de manifestação do pensamento, vedando o anonimato. Se


durante a manifestação do pensamento se cause dano material, moral ou à imagem, assegura-se o direito
de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização.
Conforma salienta Pedro Lenza, o inciso IV estabelece uma espécie de “cláusula geral” que, em
conjunto com outros dispositivos, asseguram a liberdade de expressão nas suas diversas manifestações:
a) liberdade de manifestação do pensamento (incluindo a liberdade de opinião);
b) liberdade de expressão artística;
c) liberdade de ensino e pesquisa;
d) liberdade de comunicação e de informação (liberdade de “imprensa”);
e) liberdade de expressão religiosa

• Marcha da Maconha (ADPF 187) – as marchas da maconha vinham sendo reprimidas pela polícia, sob a
ótica de que elas geravam apologia ao crime, vez que o uso de maconha é criminalizado. Este
entendimento viola a liberdade de expressão, porque não se confunde a apologia a droga e o seu uso
com a defesa da descriminalização ou ainda da inconstitucionalidade da criminalização. Em um Estado
Democrático de Direito se entender que o povo não possa se manifestar pela descriminalização de
uma conduta, evidentemente é se viver em um Estado que não pode ser chamado de Democrático de
Direito. Em um regime que presa pela liberdade de expressão tem que dar a opção da população se
165
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

manifestar pela descriminalização de determinada conduta.

• Delação anônima (Inq. 1957) – o STF já decidiu não ser possível a utilização da denúncia anônima, pura
e simples, para a instauração de procedimento investigatório, por violar a vedação ao anonimato,
prevista no art. 5.º, IV. Nada impede, contudo, que o Poder Público provocado por delação anônima
adote medidas informais destinadas a apurar, previamente, em averiguação sumária, com prudência e
discrição, a possível ocorrência de eventual situação de ilicitude penal, desde que o faça com o objetivo
de conferir a verossimilhança dos fatos nela denunciados, em ordem a promover, então, em caso
positivo, a formal instauração da persecutio criminis, mantendo-se, assim, completa desvinculação desse
procedimento estatal em relação às peças apócrifas”.

• Tatuagem e o concurso público – “as pigmentações de caráter permanente inseridas voluntariamente


em partes dos corpos dos cidadãos configuram instrumentos de exteriorização da liberdade de
manifestação do pensamento e de expressão, valores amplamente tutelados pelo ordenamento jurídico
brasileiro (CRFB/88, art. 5.°, IV e IX)”. Assim, “o Estado não pode desempenhar o papel de adversário da
liberdade de expressão, incumbindo-lhe, ao revés, assegurar que minorias possam se manifestar
livremente”

Tema 838 da repercussão geral, fixou as seguintes teses: “(i) os requisitos do edital
para o ingresso em cargo, emprego ou função pública devem ter por fundamento
lei em sentido formal e material; (ii) os editais de concurso público não podem
estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo situações excepcionais em
razão de conteúdo que viole valores constitucionais” (RE 898.450, Plenário, Rel.
Min. Luiz Fux, j. 17.08.2016, DJE de 31.05.2017).

• Liberdade de expressão e imunidade parlamentar – Já estudamos que os direitos fundamentais não


possuem caráter absoluto. Em julgado recentíssimo, a Segunda Turma do STF reafirmou esse
entendimento ao entender que a liberdade de expressão não alcança a prática de discursos dolosos,
com intuito manifestamente difamatório ou injurioso:

A liberdade de expressão não alcança a prática de discursos dolosos, com intuito


manifestamente difamatório, de juízos depreciativos de mero valor, de injúrias
em razão da forma ou de críticas aviltantes. É possível vislumbrar restrições à livre
manifestação de ideias, inclusive mediante a aplicação da lei penal, em atos,
discursos ou ações que envolvam, por exemplo, a pedofilia, nos casos de discursos
que incitem a violência ou quando se tratar de discurso com intuito
manifestamente difamatório. A garantia da imunidade parlamentar não alcança
os atos praticados sem claro nexo de vinculação recíproca entre o discurso e o
166
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

desempenho das funções parlamentares. Isso porque as garantias dos membros


do Parlamento são vislumbradas sob uma perspectiva funcional, ou seja, de
proteção apenas das funções consideradas essenciais aos integrantes do Poder
Legislativo, independentemente de onde elas sejam exercidas. No caso, os
discursos proferidos pelo querelado teriam sido proferidos com nítido caráter
injurioso e difamatório, de forma manifestamente dolosa, sem qualquer hipótese
de prévia provocação ou retorsão imediata capaz de excluir a tipificação, em tese,
dos atos descritos nas queixas-crimes. Com base nesses entendimentos, a Segunda
Turma, por maioria, ao dar provimento a agravos regimentais, recebeu queixas-
crimes pelos delitos dos arts. 139 e 140 do Código Penal. Pet 8242 AgR/DF, Pet 8259
AgR/DF, Pet 8262 AgR/DF, Pet 8263 AgR/DF, Pet 8267 AgR/DF e Pet 8366 AgR/DF,
relator Min. Celso de Mello, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes, julgamento
em 3.5.2022.

B) LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA, CRENÇA E CULTO – ART 5º, VI a VIII)

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre


exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de
culto e a suas liturgias;

VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas


entidades civis e militares de internação coletiva;

VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de


convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal
a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Assegura-se a inviolabilidade da liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre


exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.

▪ Liberdade de crença: é a liberdade de pensamento de foro íntimo em questões de natureza


religiosa, incluindo o direito de professar ou não uma religião, de acreditar ou não na existência
de um, em nenhum ou em vários deuses (art. 5º, VI); e
▪ Liberdade de consciência em sentido estrito: é a liberdade de pensamento de foro íntimo em
questões não religiosas.

Obs.: o art. 5º, VII, da CF também assegura, nos termos da lei, a prestação de assistência
religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva.
167
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

C) LIBERDADE DE ATIVIDADE INTELECTUAL, ARTÍSTICA, CIENTÍFICA OU DE COMUNICAÇÃO – ART. 5º, IX


DA CF

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,


independentemente de censura ou licença;

É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,


independentemente de censura ou licença.
Veda-se a censura de natureza política, ideológica e artística (art. 220, § 2.º), porém, apesar da
liberdade de expressão acima garantida, lei federal deverá regular as diversões e os espetáculos públicos,
cabendo ao Poder Público informar sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais
e horários em que sua apresentação se mostre inadequada.
Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação,
sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição,
observado o disposto nesta Constituição.
§ 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.
§ 3º Compete à lei federal:
I - regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar
sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários
em que sua apresentação se mostre inadequada;
II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de
se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem
o disposto no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços
que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.

D) LIBERDADE DE PROFISSÃO – ART. 5º, XIII

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as


qualificações profissionais que a lei estabelecer;

Assegura a liberdade do exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as


qualificações profissionais que a lei estabelecer.
Trata-se de norma constitucional de eficácia contida, podendo a legislação infraconstitucional limitar
o seu alcance, fixando condições ou requisitos para o pleno exercício da profissão.

168
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

O STF entendeu desnecessária a exigência de diploma de jornalista (RE


70563), bem como a exigência de inscrição em Conselho Profissional, como
condição ao exercício de profissão artística de músico (RE 635023).

A exigência de que o leiloeiro preste caução para o exercício da profissão é


compatível com a Constituição, não havendo ofensa ao art. 5º, XIII, tendo em
vista que a garantia é necessária para resguardar eventuais danos ao patrimônio
de terceiros. Os arts. 6º a 8º do Decreto nº 21.981/1932 exigem que o indivíduo
que quiser exercer a profissão de leiloeiro preste uma garantia (caução). A
exigência de garantia para o exercício da profissão de leiloeiro, prevista nos arts. 6º
a 8º do Decreto 21.981/1932, é compatível com o art. 5º, XIII, da Constituição
Federal de 1988. Isso porque o leiloeiro lida diariamente com o patrimônio de
terceiros, de forma que a prestação de fiança como condição para o exercício de
sua profissão busca reduzir o risco de dano ao proprietário, o que reforça o
interesse social da norma protetiva, bem como justifica a limitação para o exercício
da profissão. STF. Plenário. RE 1263641/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o
ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 9/10/2020 (Repercussão Geral – Tema
455) (Info 994).

A restrição imposta pela Lei 13.021/2014, no sentido de que apenas


farmacêuticos legalmente habilitados podem figurar como responsáveis técnicos
de farmácias e drogarias, não é incompatível com o 5º XIII, da Constituição
Federal
Surgem constitucionais os artigos 5º e 6º, inciso I, da Lei nº 13.021/2014, no que
previsto ser do farmacêutico a responsabilidade técnica por drogaria. STF.
Plenário.RE 1156197, Rel. Marco Aurélio, julgado em 24/08/2020 (Repercussão
Geral – Tema 505) (Info 991 – clipping).

Cuidado - a jurisprudência do STF admite a regulamentação por lei de atividades que possam trazer
danos a terceiros, atividades profissionais cuja falta de técnica traga o risco de “atingir negativamente a
esfera pública de outros indivíduos ou de valores ou interesses da própria sociedade” (ADI 3.870, 2019).
Nessas situações, a lei poderá disciplinar, restritivamente, impondo regras ao exercício da profissão.

E) LIBERDADE DE INFORMAÇÃO – ART. 5º, XIV e XXXIII

XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte,


quando necessário ao exercício profissional;

169
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob
pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado;

▪ Liberdade de informação jornalística:


A CF/88 consagrou expressamente o princípio da publicidade como um dos vetores imprescindíveis
à Administração Pública, conferindo-lhe absoluta prioridade na gestão administrativa e garantindo pleno
acesso às informações a toda a sociedade.
À consagração constitucional de publicidade e transparência corresponde a obrigatoriedade do
Estado em fornecer as informações necessárias à sociedade. O acesso às informações consubstancia-se em
verdadeira garantia instrumental ao pleno exercício do princípio democrático.
Assim, salvo situações excepcionais, a Administração Pública tem o dever de absoluta transparência
na condução dos negócios públicos, sob pena de desrespeito aos arts. 37, caput, e 5º, XXXIII e LXXII, da CF/88,
pois “o modelo político-jurídico, plasmado na nova ordem constitucional, rejeita o poder que oculta e o poder
que se oculta”.

É necessária a manutenção da divulgação integral dos dados epidemiológicos


relativos à pandemia da Covid-19. A interrupção abrupta da coleta e divulgação de
importantes dados epidemiológicos, imprescindíveis para a análise da série
histórica de evolução da pandemia (Covid-19), caracteriza ofensa a preceitos
fundamentais da Constituição Federal, nomeadamente o acesso à informação, os
princípios da publicidade e da transparência da Administração Pública e o direito à
saúde. STF. Plenário. ADPF 690/DF, ADPF 691/DF e ADPF 692 /DF, Rel. Min.
Alexandre de Moraes, julgados em 13/03/2021 (Info 1009).

STF determina que Ministério da Saúde faça a divulgação integral de dados sobre
Covid-19 A redução da transparência dos dados referentes à pandemia de COVID-
19 representa violação a preceitos fundamentais da Constituição Federal,
nomeadamente o acesso à informação, os princípios da publicidade e transparência
da Administração Pública e o direito à saúde. STF. Plenário. ADPF 690 MC-Ref/DF,
ADPF 691 MC-Ref/DF e ADPF 692 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 20/11/2020 (Info 1000).

É inconstitucional o art. 6º-B da Lei nº 13.979/2020, incluído pela MP 928/2020,


porque ele impõe uma série de restrições ao livre acesso do cidadão a
informações

170
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

É inconstitucional o art. 6º-B da Lei nº 13.979/2020, incluído pela MP 928/2020,


porque ele impõe uma série de restrições ao livre acesso do cidadão a informações.
O art. 6º-B não estabelece situações excepcionais e concretas impeditivas de acesso
à informação. Pelo contrário, transforma a regra constitucional de publicidade e
transparência em exceção, invertendo a finalidade da proteção constitucional ao
livre acesso de informações a toda sociedade. STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF,
ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgados em 30/4/2020 (Info 975).

Violam a CF/88 os atos de busca e apreensão de materiais de cunho eleitoral e a


suspensão de atividades de divulgação de ideias em universidades públicas e
privadas. São inconstitucionais os atos judiciais ou administrativos que determinem
ou promovam:
• o ingresso de agentes públicos em universidades públicas e privadas;
• o recolhimento de documentos (ex: panfletos);
• a interrupção de aulas, debates ou manifestações de docentes e discentes
universitários;
• a realização de atividade disciplinar docente e discente e a coleta irregular de
depoimentos desses cidadãos pela prática de manifestação livre de ideias e
divulgação do pensamento nos ambientes universitários ou em equipamentos sob
a administração de universidades públicas e privadas.
STF. Plenário. ADPF 548 MC-Ref/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
31/10/2018 (Info 922).

Jornal poderá acessar dados sobre mortes registradas em ocorrências policiais


Caso concreto: o jornal Folha de São Paulo pediu para que o Governo do Estado
fornecesse informações relacionadas a mortes registradas pela polícia em boletins
de ocorrência. O pedido foi negado sob o fundamento de que, apesar de terem
natureza pública, esses dados deveriam ser divulgados com cautela e não seriam
indispensáveis para o trabalho jornalístico. O STJ não concordou e afirmou que não
cabe à administração pública ou ao Poder Judiciário discutir o uso que se pretende
dar à informação de natureza pública. A informação, por ser pública, deve estar
disponível ao público, independentemente de justificações ou considerações
quanto aos interesses a que se destina. Não se pode vedar o exercício de um direito
– acessar a informação pública – pelo mero receio do abuso no exercício de um
outro e distinto direito – o de livre comunicar. Em suma: veículo de imprensa
jornalística possui direito líquido e certo de obter dados públicos sobre óbitos

171
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

relacionados a ocorrências policiais. STJ. 2ª Turma. REsp 1852629-SP, Rel. Min. Og


Fernandes, julgado em 06/10/2020 (Info 682).

▪ Liberdade de informação x direito ao esquecimento


O direito ao esquecimento é o direito que uma pessoa possui de não permitir que um fato, ainda que
verídico, ocorrido em determinado momento de sua vida, seja exposto ao público em geral, causando-lhe
sofrimento ou transtornos. Veja a definição dada por Anderson Schreiber:
“(...) o direito ao esquecimento é, portanto, um direito (a) exercido
necessariamente por uma pessoa humana; (b) em face de agentes públicos ou
privados que tenham a aptidão fática de promover representações daquela pessoa
sobre a esfera pública (opinião social); incluindo veículos de imprensa, emissoras
de TV, fornecedores de serviços de busca na internet etc.; (c) em oposição a uma
recordação opressiva dos fatos, assim entendida a recordação que se caracteriza, a
um só tempo, por ser desatual e recair sobre aspecto sensível da personalidade,
comprometendo a plena realização da identidade daquela pessoa humana, ao
apresenta-la sob falsas luzes à sociedade.” (Anderson SCHREIBER. Direito
ao esquecimento e proteção de dados pessoais na Lei 13.709/2018. In: TEPEDINO,
G; FRAZÃO, A; OLIVA, M.D. Lei geral de proteção de dados pessoais e suas
repercussões no direito brasileiro. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019, p.
376).

A discussão quanto ao direito ao esquecimento envolve um conflito aparente entre a liberdade de


expressão/informação e atributos individuais da pessoa humana, como a intimidade, privacidade e honra,
passando por recente evolução jurisprudencial. Veja:
O STJ reconheceu o direito ao esquecimento em dois julgados principais: O caso “Aída Curi” (REsp
1.335.153-RJ) e a situação da “chacina da Candelária” (REsp 1.334.097-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgados em 28/5/2013), hipótese em que entendeu que tal direito que deveria ser exercido de forma
compatível com a intimidade e da honra das pessoas. Ressalta-se, contudo, que o deferimento ou não do
direito ao esquecimento sempre dependeu da análise do caso concreto e da ponderação dos interesses
envolvidos.

O direito ao esquecimento, também é chamado de “direito de ser deixado em paz”


ou o “direito de estar só”. Nos EUA, é conhecido como the right to be let alone e,
em países de língua espanhola, é alcunhado de derecho al olvido. É o caso, por
exemplo, da apresentadora Xuxa que, no passado fez um determinado filme do
qual se arrepende e que ela não mais deseja que seja exibido ou rememorado por
lhe causar prejuízos profissionais e transtornos pessoais. Sem dúvida nenhuma, o
principal ponto de conflito quanto à aceitação do direito ao esquecimento reside
172
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

justamente em como conciliar esse direito com a liberdade de expressão e de


imprensa e com o direito à informação.

Em março de 2013, na VI Jornada de Direito Civil do CJF/STJ, foi aprovado um


enunciado defendendo a existência do direito ao esquecimento como uma
expressão da dignidade da pessoa humana. Veja: “Enunciado 531: A tutela da
dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao
esquecimento.”

Vale ressaltar, ainda, que o STJ possui o entendimento no sentido de que, quando os registros da
folha de antecedentes do réu são muito antigos, admite-se o afastamento de sua análise desfavorável, em
aplicação à teoria do direito ao esquecimento:

Quando os registros da folha de antecedentes do réu são muito antigos, como no


presente caso, admite-se o afastamento de sua análise desfavorável, em aplicação
à teoria do direito ao esquecimento. Não se pode tornar perpétua a valoração
negativa dos antecedentes, nem perenizar o estigma de criminoso para fins de
aplicação da reprimenda, pois a transitoriedade é consectário natural da ordem das
coisas. Se o transcurso do tempo impede que condenações anteriores configurem
reincidência, esse mesmo fundamento - o lapso temporal - deve ser sopesado na
análise das condenações geradoras, em tese, de maus antecedentes. STJ. 6ª Turma.
HC 452.570/PR, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 02/02/2021.

No entanto, recentemente, o tema passou por uma evolução jurisprudencial. Isso porque o STJ
passou a relativizar o direito ao esquecimento, ao passo que o STF passou a entender pela sua
incompatibilidade com a Constituição Federal. Confira:

O chamado direito ao esquecimento, apesar de ser reconhecido pela


jurisprudência, não possui caráter absoluto.
Em caso de evidente interesse social no cultivo à memória histórica e coletiva de
delito notório, não se pode proibir a veiculação de matérias jornalísticas
relacionados com o fato criminoso, sob pena de configuração de censura prévia,
vedada pelo ordenamento jurídico pátrio. Em tal situação, não se aplica o direito
ao esquecimento. STJ. 3ª Turma. REsp 1.736.803-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 28/04/2020 (Info 670).

Atenção ao recente (11/02/2021) julgado do STF, Plenário. Repercussão Geral –


Tema 786
173
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

É incompatível com a Constituição a ideia de um direito ao esquecimento, assim


entendido como o poder de obstar, em razão da passagem do tempo, a divulgação
de fatos ou dados verídicos e licitamente obtidos e publicados em meios de
comunicação social analógicos ou digitais. Eventuais excessos ou abusos no
exercício da liberdade de expressão e de informação devem ser analisados caso a
caso, a partir dos parâmetros constitucionais – especialmente os relativos à
proteção da honra, da imagem, da privacidade e da personalidade em geral – e as
expressas e específicas previsões legais nos âmbitos penal e cível. STF. Plenário. RE
1010606/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/2/2021 (Repercussão Geral –
Tema 786) (Info 1005).

Explicação via dizer o direito:


A previsão ou aplicação de um “direito ao esquecimento” afrontaria a liberdade
de expressão.
O “direito ao esquecimento” caracteriza restrição excessiva e peremptória às
liberdades de expressão e de manifestação de pensamento e ao direito que todo
cidadão tem de se manter informado a respeito de fatos relevantes da história
social, bem como equivale a atribuir, de forma absoluta e em abstrato, maior peso
aos direitos à imagem e à vida privada, em detrimento da liberdade de expressão,
compreensão que não se compatibiliza com a ideia de unidade da Constituição.

A liberdade de expressão não é absoluta, no entanto, a sua restrição pela mera


passagem do tempo não encontra ampara no ordenamento jurídico
O ordenamento jurídico brasileiro está repleto de previsões constitucionais e legais
voltadas à proteção da personalidade, com repertório jurídico suficiente a que esta
norma fundamental se efetive em consagração à dignidade humana. Em todas
essas situações legalmente definidas, é cabível a restrição, em alguma medida, à
liberdade de expressão, sempre que afetados outros direitos fundamentais, mas
não como decorrência de um pretenso e prévio direito de ver dissociados fatos ou
dados por alegada descontextualização das informações em que inseridos, por
força da passagem do tempo. A existência de um comando jurídico que eleja a
passagem do tempo como restrição à divulgação de informação verdadeira,
licitamente obtida e com adequado tratamento dos dados nela inseridos, precisaria
estar prevista, de modo pontual, em lei.

Mesmo se reconhecendo que não existe direito ao esquecimento, a honra,


privacidade e direitos da personalidade permanecem protegidos por outros
instrumentos
174
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

A ordem constitucional protege a honra, a privacidade e os direitos da


personalidade e oferece, pela via da responsabilização, proteção contra
informações inverídicas, ilicitamente obtidas ou decorrentes do abuso no exercício
da liberdade de expressão. Essa proteção se estende tanto para o âmbito penal
como cível.

Jurisprudências pertinentes:
◘ É constitucional lei estadual que permite o sacrifício de animais em cultos de religiões de matriz
africana.
STF. Plenário. RE 494601/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em
28/3/2019 (Info 935).

Esse julgado foi cobrado na última prova de Delegado de Polícia do Paraná (2021):
2021 – NC UFPR – PC-PR – Delegado de Polícia
É inconstitucional a lei de proteção de animais que, a fim de resguardar a liberdade religiosa, permite
o sacrifício ritual de animais em cultos religiosos. (item incorreto).

◘ É inconstitucional a resolução do Conselho Federal de Psicologia que proíbe a comercialização e o uso


dos testes psicológicos para indivíduos que não sejam psicólogos

Ao restringirem a comercialização e o uso de testes psicológicos aos profissionais


regularmente inscritos no Conselho Federal de Psicologia (CFP), o inciso III e os §§
1º e 2º do art. 18 da Resolução 2/2003-CFP acabaram por instituir disciplina
desproporcional e ofensiva aos postulados constitucionais relativos à liberdade de
manifestação do pensamento (art. art. 5º, IV, IX e XIV, da CF/88) e de liberdade de
acesso à informação (art. 220, da CF/88). STF. Plenário. ADI 3481/DF, Rel. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 6/3/2021 (Info 1008).

◘ Viola a liberdade de expressão a decisão de retirar da Netflix o especial de Natal do Porta dos Fundos
porque seu conteúdo satiriza crenças e valores do cristianismo

Retirar de circulação produto audiovisual disponibilizado em plataforma de


“streaming” apenas porque seu conteúdo desagrada parcela da população, ainda
que majoritária, não encontra fundamento em uma sociedade democrática e
pluralista como a brasileira. STF. 2ª Turma. Rcl 38782/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 3/11/2020 (Info 998).

175
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

◘ A proibição da entrevista com Adélio Bispo, autor da facada contra Jair Bolsonaro, não significou
censura nem restrição indevida à liberdade de imprensa

A decisão judicial que proibiu a realização de entrevista com Adélio Bispo, autor
da facada contra Jair Bolsonaro, não significa restrição indevida à liberdade de
imprensa nem representa censura prévia. Logo, essa decisão não configura ofensa
ao entendimento firmado pelo STF na ADPF 130, que julgou não recepcionada a
Lei de Imprensa (Lei nº 5.250/67). A decisão judicial impediu a entrevista com o
objetivo de proteger as investigações e evitar possíveis prejuízos processuais,
inclusive quanto ao direito ao silêncio do investigado. Além disso, a decisão teve
como finalidade proteger o próprio custodiado, que autorizou a entrevista, mas
cuja sanidade mental era discutível na época, tendo sido, posteriormente,
declarado inimputável em razão de “transtorno delirante persistente”. STF. 1ª
Turma. Rcl 32052 AgR/MS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/4/2020 (Info
973).

◘ Decisão judicial que determina retirada de matéria jornalística de blog

Uma decisão judicial determinou a retirada de matéria de “blog” jornalístico, bem


como a proibição de novas publicações, por haver considerado a notícia ofensiva à
honra de delegado da polícia federal. Essa decisão afronta o que o STF decidiu na
ADPF 130/DF, que julgou não recepcionada a Lei de Imprensa. A ADPF 130/DF pode
ser utilizada como parâmetro para ajuizamento de reclamação que verse sobre
conflito entre a liberdade de expressão e de informação e a tutela das garantias
individuais relativas aos direitos de personalidade. A determinação de retirada de
matéria jornalística afronta a liberdade de expressão e de informação, além de
constituir censura prévia. Essas liberdades ostentam preferência em relação ao
direito à intimidade, ainda que a matéria tenha sido redigida em tom crítico. O
Supremo assumiu, mediante reclamação, papel relevante em favor da liberdade de
expressão, para derrotar uma cultura censória e autoritária que começava a se
projetar no Judiciário. STF. 1ª Turma. Rcl 28747/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
red. p/ ac. Min. Luiz Fux, julgado em 5/6/2018 (Info 905). Sobre o mesmo tema:
STF. 1ª Turma. Rcl 22328/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 6/3/2018 (Info
893).

◘ É inconstitucional norma que proíbe proselitismo em rádios comunitárias.


176
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

É inconstitucional o § 1º do art. 4º da Lei nº 9.612/98. Esse dispositivo proíbe, no


âmbito da programação das emissoras de radiodifusão comunitária, a prática de
proselitismo, ou seja, a transmissão de conteúdo tendente a converter pessoas a
uma doutrina, sistema, religião, seita ou ideologia. O STF entendeu que essa
proibição afronta os arts. 5º, IV, VI e IX, e 220, da Constituição Federal. A liberdade
de pensamento inclui o discurso persuasivo, o uso de argumentos críticos, o
consenso e o debate público informado e pressupõe a livre troca de ideias e não
apenas a divulgação de informações. STF. Plenário. ADI 2566/DF, rel. orig. Min.
Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 16/5/2018 (Info
902).
Fonte: Dizer o direito.

◘ Biografias não autorizadas

O STF entendeu na ADI 4815 que, para ser publicada uma biografia, NÃO é
necessária autorização prévia do indivíduo biografado, das demais pessoas
retratadas, nem de seus familiares, porque a autorização prévia seria uma forma
de censura, incompatível com a liberdade de expressão consagrada pela CF/88.
Se o biografado ou qualquer outra pessoa retratada entenda ter os seus direitos
violados, terá direito à reparação, não apenas por meio de indenização pecuniária,
mas também por outras formas, a exemplo da publicação de ressalva, de nova
edição com correção, de direito de resposta etc.

▪ Liberdade artística e os veículos de comunicação social: É ampla liberdade na produção da arte.

* ATENÇÃO: Embora exista a liberdade artística, o Poder Público poderá estabelecer


faixas etárias recomendadas, locais e horários para a apresentação. Ao mesmo tempo, lei
federal deverá estabelecer meios para que qualquer pessoa ou família possa defender-se de
programações de rádio e televisão que atentem contra os valores éticos vigentes (art. 220,
§3º, I e II).

E) LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO:

É o direito de ir e vir, amparado por habeas corpus

XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer


177
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

Perceba que a liberdade de locomoção no território nacional é livre NOS TEMPOS DE PAZ.

Existem 4 hipóteses de exceção a liberdade de locomoção:


(1) Em caso de prisão em flagrante ou prisão por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar (art. 5º, LXI da
CF)
(2) Durante o estado de defesa (art. 136, 3º,I da CF) o decreto poderá estabelecer restrição ao direito
de reunião, ainda que exercida no seio das associações.
(3) Durante o estado de sítio decretado com fundamento no art. 137, I, da CF, poderão ser tomadas
contra as pessoas as medidas de obrigação de permanência em localidade determinada (art. 139, I
da CF); detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns (art. 139,
II da CF); suspensão da liberdade de reunião (art. 139, IV da CF).
(4) Declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira (hipóteses de
decretação de estado de sítio – art. 137, II da CF), a liberdade de locomoção também poderá ser
restringida ou suspensa (art. 138, caput da CF).

Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte afirmativa: A liberdade de locomoção é desenhada
como possibilidade de ingresso, circulação interna e saída do território nacional, sendo preservada mesmo
com a decretação de estado de sítio com fundamentação em comoção grave de repercussão nacional. A
liberdade de locomoção apenas é restringida com advento da declaração de guerra.

F) LIBERDADE DE REUNIÃO:

XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao


público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra
reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido
prévio aviso à autoridade competente;

É o agrupamento organizado de pessoas de caráter transitório, com uma determinada finalidade.


O exercício válido do direito de reunião deve satisfazer os requisitos constitucionais
✓ Reunião pacífica

178
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

✓ Sem armas
✓ Em locais abertos ao público
✓ Dispensa autorização, mas deve haver aviso prévio aviso à autoridade competente
✓ Não pode frustrar outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local

O que se entende por aviso prévio para os fins do direito de reunião do art. 5º,
XVI, da CF/88?
O STF fixou a seguinte tese: A exigência constitucional de aviso prévio
relativamente ao direito de reunião é satisfeita com a veiculação de informação
que permita ao poder público zelar para que seu exercício se dê de forma pacífica
ou para que não frustre outra reunião no mesmo local. STF. Plenário. RE 806339,
Rel. para acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 14/12/2020 (Repercussão Geral –
Tema 855).

G) LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO:
Agrupamento de pessoas, organizado e permanente, para fins lícitos. Abrange:
∘ Direito de associar-se a outras pessoas para a formação de uma entidade;
∘ Aderir a uma associação já formada;
∘ Desligar-se da associação;
∘ Autodissolução das associações.

Atenção (1): o direito de associação somente é livre se:


• For para fins lícitos
• Não tiver caráter paramilitar.

XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter


paramilitar;

Atenção (2):
• Associações são criadas independentemente de autorização
• Cooperativas devem ser criadas na forma da lei, mas independem de autorização;

XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem


de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;

Atenção (3): A CF/88 veda qualquer interferência estatal no funcionamento das associações e cooperativas.
179
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem


de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;

Atenção (4): As associações:


• Podem ser dissolvidas de forma compulsória por decisão judicial, mas apenas após o trânsito em
julgado.
• Podem ter suas atividades suspensas por decisão judicial, não sendo exigido o trânsito em julgado.

XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas


atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito
em julgado;

XX - Ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;


XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para
representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;

H) DIREITO DE PROPRIEDADE

XXII - é garantido o direito de propriedade;


XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;

É garantido pela Constituição, mas não é absoluto, uma vez que a propriedade poderá ser
desapropriada. É necessário também a propriedade cumpra sua função social, atendendo aos interesses da
coletividade e não apenas do proprietário.
• É garantido o direito de propriedade (art. 5º, XXII).
• A propriedade atenderá a sua função social (art. 5º, XXIII).
• A lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por
interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos na
Constituição (art. 5º, XXIV).
• No caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular,
assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano (art. 5º, XXV).

Obs.: Impenhorabilidade da pequena propriedade rural.


Dispõe o art. 5º, XXVI que “a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada
pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade
produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento”
Quanto ao tema, decidiu o STJ que a pequena propriedade rural é impenhorável mesmo que o imóvel
não sirva de moradia ao executado e a sua família. Ou seja, o devedor não precisa morar lá, bastando que
180
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

sua família ali labore. Tal impenhorabilidade se presta não apenas a garantir o direito à moradia, mas também
tem por objetivo assegurar o direito fundamental de acesso aos meios geradores de renda, porquanto a
pequena propriedade
Ademais, também entendeu-se que a pequena propriedade é impenhorável, mesmo que a dívida
executada não seja oriunda da atividade produtiva do imóvel. Se o sujeito usar o dinheiro para comprar um
carro ou financiar outra atividade, anda assim permanece a impenhorabilidade. Entendeu o Tribunal que,
por se tratar de direito fundamental, deve ser dada a interpretação que garanta a máxima efetividade do
direito discutido. Se a CF não permite a penhora para dívidas oriundas da própria atividade produtiva, com
mais razão também será impenhorável com débitos de outra natureza (REsp 1.591.298/RJ – 2015).

I) DIREITO DE PETIÇÃO E DE OBTENÇÃO DE CERTIDÕES

XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:


a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade
ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e
esclarecimento de situações de interesse pessoal;

Caso o pedido de certidão não seja atendido, o remédio constitucional cabível será o mandado de
segurança e não o habeas data.
O direito de certidão não é absoluto, pois pode ser negado em caso de o sigilo ser imprescindível à
segurança da sociedade ou do Estado.

J) INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO

A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito (art.
5º, XXXV, da CF).

Não se confunde com o direito de petição, já que este consiste em um direito de participação política
que não demanda a demonstração de interesse processual ou lesão a direito pessoal.
Exceção à regra da inafastabilidade da jurisdição: O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à
disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em
lei (art. 217, §1º, da CF).

K) IRRETROATIVIDADE DA LEI

A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada
(art. 5º, XXXVI, da CF).
181
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Conceitos (art. 6º da LINDB):


I- Direito adquirido: direito que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aquele cujo
começo do exercício tenha termo prefixo ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem;
II- Ato jurídico perfeito: ato já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou;
III- Coisa julgada: decisão judicial de que não caiba mais recurso.

Súmula 654-STF: A garantia da irretroatividade da lei, prevista no art. 5º, XXXVI, da


Constituição da República, não é invocável pela entidade estatal que a tenha
editado

L) PRINCÍPIO DA PESSOALIDADE

Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a


decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido (art. 5º XLV, da CF).

O princípio da pessoalidade tem duas dimensões:


1) Dimensão negativa: impede que sanções de natureza penal extrapolem o âmbito estritamente
pessoal do infrator, vedando a imposição de pena a terceiros;
2) Dimensão positiva: impõe o dever de expor circunstancialmente as condutas responsáveis pelo
ilícito, bem como de narrar com clareza o grau de participação dos acusados.

A veiculação de matéria jornalística sobre delito histórico que expõe a vida


cotidiana de terceiros não envolvidos no fato criminoso, em especial de criança e
de adolescente, representa ofensa ao princípio da intranscendência
Matéria jornalística que, sob o pretexto de noticiar crime histórico, expõe a
intimidade do atual marido e dos filhos da condenada, pessoas que não têm relação
direta com o fato, ofende o princípio da intranscendência ou da pessoalidade da
pena, descrito no art. 5º, XLV, da CF/88 e no art. 13 do Código Penal. Isso porque,
ao expor publicamente a intimidade dos referidos familiares em razão do crime
ocorrido, a reportagem compartilhou dimensões evitáveis e indesejáveis dos
efeitos da condenação então estendidas à atual família da ex-condenada.
Especificamente quanto aos filhos, menores de idade, ressalta-se a Opinião
Consultiva n. 17, de 28 de agosto de 2002 da Corte Interamericana de Direitos
Humanos, que entende que o melhor interesse das crianças e dos adolescentes é
reconhecido como critério regente na aplicação de normas em todos os aspectos

182
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

da vida dos denominados “sujeitos em desenvolvimento”. STJ. 3ª Turma. REsp


1736803-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 28/04/2020 (Info 670).

É inconstitucional lei estadual que proíba a Administração Pública de contratar


empresa que tenha tido empregado condenado por crime ou contravenção
relacionados com a prática de atos discriminatórios
É inconstitucional lei estadual que proíba que a Administração
Públicacontrateempresa cujo diretor, gerente ou empregado tenha sido
condenado por crime ou contravenção relacionados com a prática de atos
discriminatórios. Essa lei viola os princípios da intransmissibilidade da pena, da
responsabilidade pessoal e do devido processo legal. STF. Plenário. ADI 3092, Rel.
Marco Aurélio, julgado em 22/06/2020 (Info 987 – clipping).

M) PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA:

XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:


a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;

A aplicação do princípio ocorre em três âmbitos:

• Plano legislativo: dirige-se ao legislador no momento da fixação dos limites mínimos e máximos da pena,
do regime de cumprimento e dos benefícios que podem ser concedidos ao infrator.
• Plano judicial: o magistrado, ao aplicar a pena, deve definir, fundamentadamente, a sua quantidade
conforme os parâmetros legais, o regime inicial e os benefícios aplicáveis;
• Plano executório: no momento da execução penal, deverá ser definido o estabelecimento prisional de
cumprimento da pena, tendo em conta a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado (art. 5º, XLVIII,
da CF).

* Obs.: Súmula Vinculante nº 56: A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do
condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados
no RE 641.320/RS.

183
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

3. DIREITOS SOCIAIS

São direitos de 2ª geração. A Constituição define no art. 6º quais são os direitos sociais:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a


moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.

• Direitos dos trabalhadores: Os direitos relativos aos trabalhadores são de duas ordens:
• Direitos dos trabalhadores nas suas relações individuais de trabalho: São os direitos dos
trabalhadores do art. 7º da CF, cujo dispositivo recomendamos leitura atenta. Dentre esses direitos,
destacamos:

· Direito ao trabalho: Infere-se do valor social do trabalho como fundamento da República


(art. 2º) e demais dispositivos constitucionais;
· Garantia do emprego: É a proteção da relação de emprego contra despedida arbitrária ou
sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória,
entre outros direitos, impedindo-se, dessa forma, a dispensa injustificada, sem motivo
socialmente relevante. É norma de eficácia contida.

ATENÇÃO: A EC 72/2013 ampliou os direitos dos empregados domésticos!

 É possível a efetivação de direitos sociais pelo poder judiciário?


R.: Embora seja prerrogativa dos Poderes Legislativo e Executivo formular e executar políticas
públicas, o STF entende possível a efetivação de direitos sociais via Poder Judiciário, excepcionalmente,
sobretudo nas hipóteses de políticas públicas definidas pela própria Constituição.

Vejamos algumas jurisprudências (importantíssimas) sobre o tema:

◘ STF determinou que governo deveria detalhar a ordem de preferência na vacinação dentro dos grupos
prioritários (quem deveria ser vacinado primeiro dentro do grupo prioritário)

O Poder Judiciário, em situações excepcionais, pode determinar que Administração Pública adote
medidas concretas, assecuratórias de direitos constitucionalmente reconhecidos essenciais, como é o caso
da saúde. O Ministério da Saúde divulgou o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a
Covid-19 (2ª edição) e nele consta a população que seria imunizada prioritariamente e a estimativa de doses

184
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

necessárias. No entanto, não foi detalhado adequadamente qual a ordem de cada grupo, dentro de um
universo de milhões de pessoas.
O STF afirmou que, diante dessa lacuna, seria previsível que o Poder Judiciário seria acionado em
múltiplias ações nas quais pessoas dentro de um mesmo grupo pediriam prioridade, gerando inúmeras
decisões judiciais, algumas conflitantes, o que provocaria insegurança jurídica.
Além disso, foi ressaltado o perigo decorrente da ausência de discriminação categorizada dos
primeiros brasileiros que seriam vacinados. Na visão do STF, faltaram parâmetros aptos a guiar os agentes
públicos na difícil tarefa decisória diante da enorme demanda e da escassez de imunizantes.

A pretensão de que sejam editados e publicados critérios e subcritérios de


vacinação por classes e subclasses no Plano de Vacinação, assim como a ordem de
preferência dentro de cada classe e subclasse, encontra arrimo: • nos princípios da
publicidade e da eficiência que regem a Administração Pública (art. 37, da CF/88);
• no direito à informação que assiste aos cidadãos em geral (art. 5º, XXXIII, e art.
37, § 2º, II); • na obrigação da União de “planejar e promover a defesa permanente
contra as calamidades públicas” (art. 21, XVII); • no dever incontornável cometido
ao Estado de assegurar a inviolabilidade do direito à vida (art. 5º, caput), traduzida
por uma “existência digna” (art. 170); e • no direito à saúde (art. 6º e art. 196). STF.
Plenário. ADPF 754 TPI-segunda-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 27/2/2021 (Info 1007).

◘ Judiciário pode determinar a realização de obras de acessibilidade em prédios públicos

O Poder Judiciário pode condenar universidade pública a adequar seus prédios às


normas de acessibilidade a fim de permitir a sua utilização por pessoas com
deficiência. No campo dos direitos individuais e sociais de absoluta prioridade, o
juiz não deve se impressionar nem se sensibilizar com alegações de conveniência e
oportunidade trazidas pelo administrador relapso. Se um direito é qualificado pelo
legislador como absoluta prioridade, deixa de integrar o universo de incidência da
reserva do possível, já que a sua possibilidade é obrigatoriamente, fixada pela
Constituição ou pela lei. STJ. 2ª Turma. REsp 1607472-PE, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 15/9/2016 (Info 592).
Fonte: Dizer o Direito

◘ Judiciário pode determinar a realização de obras emergenciais em estabelecimento prisional

É lícito ao Poder Judiciário impor à Administração Pública obrigação de fazer,


consistente na promoção de medidas ou na execução de obras emergenciais em
185
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

estabelecimentos prisionais para dar efetividade ao postulado da dignidade da


pessoa humana e assegurar aos detentos o respeito à sua integridade física e moral,
nos termos do que preceitua o art. 5º, XLIX, da CF, não sendo oponível à decisão o
argumento da reserva do possível nem o princípio da separação dos poderes. STF.
Plenário. RE 592581/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 13/8/2015
(repercussão geral) (Info 794).
Fonte: Dizer o Direito

◘ Judiciário pode obrigar administração pública a manter quantidade mínima de medicamento em


estoque

A Administração Pública pode ser obrigada, por decisão do Poder Judiciário, a


manter estoque mínimo de determinado medicamento utilizado no combate a
certa doença grave, de modo a evitar novas interrupções no tratamento. Não há
violação ao princípio da separação dos poderes no caso. Isso porque com essa
decisão o Poder Judiciário não está determinando metas nem prioridades do
Estado, nem tampouco interferindo na gestão de suas verbas. O que se está
fazendo é controlar os atos e serviços da Administração Pública que, neste caso, se
mostraram ilegais ou abusivos já que, mesmo o Poder Público se comprometendo
a adquirir os medicamentos, há falta em seu estoque, ocasionando graves prejuízos
aos pacientes. Assim, não tendo a Administração adquirido o medicamento em
tempo hábil a dar continuidade ao tratamento dos pacientes, atuou de forma
ilegítima, violando o direito à saúde daqueles pacientes, o que autoriza a ingerência
do Poder Judiciário. STF. 1ª Turma. RE 429903/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 25/6/2014 (Info 752).
Fonte: Dizer o Direito

PRAZO PRESCRICIONAL PARA COBRANÇA EM JUIZO DO FGTS


- A jurisprudência entendia que o prazo prescricional era de 30 anos, conforme súmula 362 do TST:
Súmula 362-TST: É trintenária a prescrição do direito de reclamar contra o não-recolhimento da
contribuição para o FGTS, observado o prazo de 2 (dois) anos após o término do contrato de trabalho.
- No entanto, em 2014, o STF alterou o seu posicionamento e passou a adotar o prazo prescricional de 05
(cinco) anos, ao reconhecer a natureza trabalhista da verba, pelo art. 7º, XXIX:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social:
(...)

186
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de CINCO
anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de DOIS anos após a extinção do contrato de
trabalho;

DIREITOS COLETIVOS DOS TRABALHADORES: Exercidos pelos trabalhadores coletivamente ou no interesse


de uma coletividade deles, previstos nos arts. 8-11. Destacamos:

▪ Organização sindical: O art. 8º, da CF/88 institui ampla autonomia coletiva para a fundação e direção
desse ente associativo, não podendo o Estado intervir ou condicionar o exercício desse direito. Pode,
contudo, ser exigida a inscrição do sindicato em órgão próprio (Ministério do Trabalho), bem como
admite-se que a lei disponha genericamente sobre regras básicas de organização sindical.

O art. 522 da CLT, que prevê um número máximo empregados que podem ser
dirigentes sindicais, é compatível com a CF/88 e não viola a garantia da liberdade
sindical
O art. 8º, VIII, da CF/88 prevê que os dirigentes sindicais não podem ser demitidos,
salvo se cometerem falta grave. O art. 522 da CLT prevê um número máximo
empregados que podem ser dirigentes sindicais. Assim que a CF/88 foi promulgada,
alguns doutrinadores começaram a sustentar a tese de que o art. 522 da CLT não
teria sido recepcionado pela Carta Constitucional. Isso porque o inciso I do art. 8º
da Constituição prevê que a liberdade sindical, ou seja, proíbe que o poder público
interfira na organização dos sindicatos. O TST e o STF não concordaram com essa
tese. A liberdade sindical tem previsão constitucional, mas não possui caráter
absoluto. A previsão legal de número máximo de dirigentes sindicais dotados de
estabilidade de emprego não esvazia a liberdade sindical. Essa garantia
constitucional existe para que possa assegurar a autonomia da entidade sindical,
mas não serve para criar situações de estabilidade genérica e ilimitada que violem
a razoabilidade e a finalidade da norma constitucional garantidora do direito. Logo,
o art. 522 da CLT foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988. STF. Plenário.
ADPF 276, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 15/05/2020.

▪ Direito de substituição processual: A CF/88 previu a possibilidade de os sindicatos ingressar em juízo


na defesa de direitos e interesses coletivos e individuais da categoria, em hipótese de substituição
processual, pois o sindicato ingressa em nome próprio na defesa de interesses alheios.

▪ Greve: Previsto no art. 9º, cabe aos trabalhadores decidir a oportunidade de exercê-lo e os interesses
que devam por meio dele defender. Outrossim, prevê que a lei definirá os serviços ou atividades

187
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, inclusive


responsabilizando os abusos cometidos.

 Cuidado! Policial civil não pode fazer greve!!!


O exercício do direito de greve, sob qualquer forma ou modalidade, é vedado aos
policiais civis e a todos os servidores públicos que atuem diretamente na área de
segurança pública. É obrigatória a participação do Poder Público em mediação
instaurada pelos órgãos classistas das carreiras de segurança pública, nos termos
do art. 165 do CPC, para vocalização dos interesses da categoria.
STF. Plenário. ARE 654432/GO, Rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 5/4/2017 (repercussão geral) (Info 860).

ATENÇÃO - Para servidores públicos civis: Como não existe lei específica sobre o assunto para
servidores públicos civis, o STF conferiu efeitos concretos aos Mandados de Injunção ajuizados pelos
Sindicatos de Servidores Civis. Por maioria, conheceu dos mandados de injunção e propôs a solução para
a omissão legislativa com a aplicação, no que couber, da Lei 7.783/89, que dispõe sobre o exercício do
direito de greve na iniciativa privada.

IMPORTANTE:
O estudo da jurisprudência acerca do tema: “Direitos Fundamentais” é imprescindível, diante da elevada
cobrança em provas. Nesse sentido, abaixo transcreveremos algumas jurisprudências cuja leitura é
importantíssima!

Cota de tela para filmes nacionais nos cinemas é constitucional


O Plenário do STF entendeu que a norma é um mecanismo que protege a indústria
nacional do audiovisual e amplia o acesso à cultura. Por maioria de votos, o Plenário
do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou constitucionais as normas que reservam
um número mínimo de dias para a exibição de filmes nacionais nos cinemas
brasileiros, a chamada “cota de tela”, e a regra que determina que 5% dos
programas culturais, artísticos e jornalísticos sejam produzidos no município para
o qual foram outorgados os serviços de radiodifusão. As questões foram analisadas
nesta quarta-feira (17), respectivamente, no Recurso Extraordinário (RE) 627432 e
no RE 1070522, com repercussão geral (Temas 704 e 1013).
Cota de tela

A cota de tela foi criada pela Medida Provisória (MP) 2228/2001. Embora nunca
tenha sido votada pelo Congresso, a MP permanece em vigor, pois foi editada antes
da publicação da Emenda Constitucional (EC) 32/2001, que limitou a validade das
188
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

medidas provisórias. Em relação às anteriores à sua publicação, elas ficam em vigor


até que sejam revogadas ou que o Congresso Nacional delibere sobre elas, o que,
neste caso, não ocorreu.
No RE 627432, o Sindicato das Empresas Exibidoras Cinematográficas do Estado do
Rio Grande do Sul sustenta que a MP 2228/2021, regulamentada pelo Decreto
4.945/2003, fere, entre outros, o princípio da isonomia, porque não há
determinação similar para outros segmentos do setor cultural, como livrarias ou
emissoras de rádio e TV.

Incentivo à cultura nacional


Para o relator, ministro Dias Toffoli, a cota de tela é mecanismo para proteger obras
brasileiras e possibilitar a exibição da produção audiovisual nacional em salas de
cinema. Seu propósito é social e econômico, pois fomenta a indústria nacional,
amplia a concorrência no setor e promove geração de empregos. Ele lembrou que,
do ponto de vista econômico e estratégico, a medida é necessária, uma vez que o
domínio internacional na exibição de filmes implica constante drenagem de
recursos para fora do país.
Segundo o relator, a MP 2228/2001 não fere a liberdade de iniciativa das empresas
de exibição de filmes nem o princípio da isonomia, conforme alegado pelo
sindicato, mas apenas proporciona o acesso do público à produção cultural
nacional. Toffoli lembrou que a Constituição Federal determina que o Estado deve
ter forte presença para incentivar a cultura nacional, e se a política pública
implementada pela cota de tela, por um lado, impõe uma restrição às empresas
que administram salas de cinema, por outro favorece o desenvolvimento
econômico, com o estímulo à produção audiovisual brasileira. Assim, não há
qualquer inconstitucionalidade sob a ótica das liberdades econômicas. Ele
destacou, ainda, que, segundo os dados oficiais sobre frequência a salas de cinema,
não há qualquer encargo excessivo às empresas do setor.
Fonte: Site do STF

Não é possível atrelar-se ao salário mínimo o valor alusivo a benefício social e os


respectivos critérios de admissão
Lei estadual criou um benefício assistencial e previu que seu valor seria o do salário
mínimo vigente. Tal previsão, em princípio, viola o art. 7º, IV, da CF/88, que proíbe
que o salário mínimo seja utilizado como referência (parâmetro) para outras
finalidades que não sejam a remuneração do trabalho. No entanto, o STF afirmou
que seria possível conferir interpretação conforme a Constituição e dizer que o
dispositivo previu que o valor do benefício seria igual ao salário mínimo vigente na
189
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

época em que a lei foi editada (R$ 545). Após isso, mesmo o salário mínimo
aumentando nos anos seguintes, o valor do benefício não pode acompanhar
automaticamente os reajustes realizados sobre o salário mínimo, considerando que
ele não pode servir como indexador. Em suma, o STF determinou que a referência
ao salário mínimo contida na lei estadual seja considerada como um valor certo que
vigorava na data da edição da lei, passando a ser corrigido nos anos seguintes por
meio de índice econômico diverso. Com isso, o benefício continua existindo e será
necessário ao governo do Amapá apenas reajustar esse valor por meio de índices
econômicos. STF. Plenário. ADI 4726/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
10/11/2020 (Info 998).

A EC 20/98 ampliou a proibição do trabalho infantil ao elevar de 14 para 16 anos


a idade mínima permitida para o trabalho; essa alteração é constitucional e tem
por objetivo proteger as crianças e adolescentes
A norma fundada no art. 7º, XXXIII, da Constituição Federal, na alteração que lhe
deu a Emenda Constitucional 20/1998, tem plena validade constitucional. Logo, é
vedado “qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de
aprendiz, a partir de quatorze anos”. STF. Plenário. ADI 2096/DF, Rel. Min. Celso de
Mello, julgado em 9/10/2020 (Info 994).

O art. 522 da CLT, que prevê um número máximo empregados que podem ser
dirigentes sindicais, é compatível com a CF/88 e não viola a garantia da liberdade
sindical
O art. 8º, VIII, da CF/88 prevê que os dirigentes sindicais não podem ser demitidos,
salvo se cometerem falta grave. O art. 522 da CLT prevê um número máximo
empregados que podem ser dirigentes sindicais. Assim que a CF/88 foi promulgada,
alguns doutrinadores começaram a sustentar a tese de que o art. 522 da CLT não
teria sido recepcionado pela Carta Constitucional. Isso porque o inciso I do art. 8º
da Constituição prevê que a liberdade sindical, ou seja, proíbe que o poder público
interfira na organização dos sindicatos. O TST e o STF não concordaram com essa
tese. A liberdade sindical tem previsão constitucional, mas não possui caráter
absoluto. A previsão legal de número máximo de dirigentes sindicais dotados de
estabilidade de emprego não esvazia a liberdade sindical. Essa garantia
constitucional existe para que possa assegurar a autonomia da entidade sindical,
mas não serve para criar situações de estabilidade genérica e ilimitada que violem
a razoabilidade e a finalidade da norma constitucional garantidora do direito. Logo,
o art. 522 da CLT foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988. STF. Plenário.
ADPF 276, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 15/05/2020.
190
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

É inconstitucional lei municipal que proíba a divulgação de material com


referência a “ideologia de gênero” nas escolas municipais
Compete privativamente à União legislar sobre diretrizes e bases da educação
nacional (art. 22, XXIV, da CF), de modo que os Municípios não têm competência
para editar lei proibindo a divulgação de material com referência a “ideologia de
gênero” nas escolas municipais. Existe inconstitucionalidade formal. Há também
inconstitucionalidade material nessa lei. Lei municipal proibindo essa divulgação
viola: • a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte
e o saber (art. 206, II, CF/88); e • o pluralismo de ideias e de concepções
pedagógicas (art. 206, III). Essa lei contraria ainda um dos objetivos fundamentais
da República Federativa do Brasil, que é a promoção do bem de todos sem
preconceitos (art. 3º, IV, CF/88). Por fim, essa lei não cumpre com o dever estatal
de promover políticas de inclusão e de igualdade, contribuindo para a manutenção
da discriminação com base na orientação sexual e identidade de gênero. STF.
Plenário. ADPF 457, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 27/04/2020.

Essa jurisprudência foi cobrada na última prova de Delegado de Polícia do Paraná:

2021 – NC UFPR – PC-PR – Delegado de Polícia


Atendendo ao interesse local, os municípios podem editar lei que proíba a divulgação de materiais com
menção à ideologia de gênero nas escolas municipais. (item incorreto).

Se o indivíduo possui contra si uma condenação criminal transitada em julgado,


ele não poderá ser vigilante, mesmo que já tenha cumprido a pena há mais de 5
anos
Viola o princípio da presunção de inocência o impedimento de participação ou
registro de curso de formação ou reciclagem de vigilante, por ter sido verificada a
existência de inquérito ou ação penal não transitada em julgado. Assim, não
havendo sentença condenatória transitada em julgado, o simples fato de existir um
processo penal em andamento não pode ser considerada antecedente criminal
para o fim de impedir que o vigilante se matricule no curso de reciclagem. STJ. 2ª
Turma. REsp 1597088/PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/08/2017. A
existência de condenação criminal transitada em julgado impede o exercício da
atividade profissional de vigilante por ausência de idoneidade moral. STJ. 2ª Turma.
REsp 1666294-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 05/09/2019 (Info 658).

191
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Referência Bibliográficas:
Pedro Lenza. Direito Constitucional Esquematizado.
Marcelo Novelino. Curso de Direito Constitucional.
Dirley da Cunha Junior. Curso de Direito Constitucional.
Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino. Direitos Constitucional Descomplicado
João Trindade. Teoria Geral dos Direitos Fundamentais. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/repositorio/cms/portaltvjustica/portaltvjusticanoticia/anexo/joao_trindadade__teori
a_geral_dos_direitos_fundamentais.pdf
Julgados comentados do site Dizer o Direito. http://www.dizerodireito.com.br/

192
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

QUESTÕES PROPOSTAS

1 - 2022 - FGV - PC-AM - FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de 3 - 2022 - CESPE / CEBRASPE - PC-RJ - CESPE / CEBRASPE -
Polícia - Edital nº 01 2022 - PC-RJ - Delegado de Polícia

João, brasileiro com vinte anos de idade e que jamais Acerca dos direitos fundamentais, assinale a opção correta.
solicitara o seu alistamento eleitoral, requereu, à Secretaria
de Estado de Segurança Pública do Estado Alfa, informações A-A fundamentalidade material dos direitos fundamentais
a respeito de auditoria realizada pelo órgão competente de decorre da circunstância de serem os direitos fundamentais
controle interno nas contratações realizadas pelo órgão. elemento constitutivo da Constituição material, contendo
Acresça-se que, no bojo desse requerimento, João não decisões fundamentais sobre a estrutura básica do Estado e
indicou a finalidade em que essas informações seriam da sociedade.
utilizadas. B-A noção da fundamentalidade material não permite a
abertura da Constituição a outros direitos fundamentais não
À luz da sistemática vigente, é correto afirmar que o constantes do seu texto.
requerimento de João deve ser C-A noção da fundamentalidade formal não permite a
abertura da Constituição a outros direitos fundamentais não
A-indeferido, pois as informações solicitadas são exclusivas constantes do seu texto.
para o uso interno. D-A fundamentalidade material não possui aplicabilidade
B-indeferido, pois somente o cidadão pode ter acesso às imediata.
informações almejadas. E-A noção da fundamentalidade formal dos direitos
C-indeferido, já que não foi declinada em que finalidade as fundamentais não os submete aos limites formais e materiais
informações seriam utilizadas. do poder de reforma constitucional.
D-deferido, sendo irrelevante o fato de João não ser cidadão
e de não indicar a finalidade das informações. 4 - 2022 - CESPE / CEBRASPE - PC-RJ - CESPE / CEBRASPE -
E-deferido, desde que João, após a devida provocação, 2022 - PC-RJ - Delegado de Polícia
indique em que finalidade as informações serão utilizadas.
Com relação à teoria dos direitos fundamentais e à sua
2 - 2022 - CESPE / CEBRASPE - PC-RJ - CESPE / CEBRASPE - aplicação no direito constitucional brasileiro, assinale a opção
2022 - PC-RJ - Delegado de Polícia correta.

De acordo com o entendimento do STF, salvo em caso de A-Segundo a jurisprudência, os direitos fundamentais são
flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, a polícia absolutos, inalienáveis e imprescritíveis, cabendo ao
judiciária só pode invadir domicílio alheio sem consentimento intérprete o dever de concordância prática para acomodar os
do morador, a fim de apreender quaisquer objetos que eventuais conflitos entre eles.
possam interessar à investigação criminal, se atendidos dois B-A superproteção conferida pelo art. 60, § 4.º, IV (direitos e
requisitos constitucionais que respeitam o princípio do(a) garantias individuais), aos direitos fundamentais limita-se ao
disposto no art. 5.º, da Constituição, em deferência ao
A-sigilo. princípio democrático.
B-legalidade. C-Os tratados internacionais de direitos humanos, após a EC
C-ampla defesa. n.º 45/2004, devem seguir o mesmo procedimento de
D-reserva da jurisdição. emenda à Constituição para que possam ser incorporados ao
E-privacidade. direito brasileiro.
D-Os direitos fundamentais de primeira geração (ou
dimensão) são denominados de direitos sociais, que

193
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

demandam um fazer por parte do Estado, e foram


inaugurados com as revoluções burguesas do século XVIII. A-Para garantir a efetividade do princípio da igualdade, a
E-O método de solução de conflitos entre direitos Constituição Federal de 1988 não prevê nenhuma norma que
fundamentais constitucionalmente previstos, em caso de trate homens e mulheres de maneira diferenciada. O
colisão, é a ponderação de interesses; o legislador, contudo, mencionado princípio da igualdade deve ser considerado de
por força do princípio democrático, pode resolver conflitos forma absoluta, não se admitindo, em nenhuma hipótese,
por meio da lei, efetuando a ponderação em abstrato. qualquer forma de diferenciação entre os sexos.
B-O princípio constitucional da igualdade está direcionado
5 - 2022 - CESPE / CEBRASPE - PC-RJ - CESPE / CEBRASPE - exclusivamente ao legislador, pois o Poder Legislativo é o
2022 - PC-RJ - Delegado de Polícia responsável pela formatação do ordenamento jurídico a
partir das regras estabelecidas no art. 59 e seguintes da
A respeito da figura denominada Estado de coisas Constituição Federal de 1988.
inconstitucional, é correto afirmar que C-O princípio da igualdade está direcionado exclusivamente
aos órgãos da administração pública, considerando-se ser ela
A-não se trata de medida reconhecida pela jurisprudência do a responsável por aplicar o ordenamento jurídico no caso
Supremo Tribunal Federal, que apenas admite o controle concreto, mediante atos administrativos, visando à realização
judicial de políticas públicas por meio de ações individuais ou do interesse público.
coletivas, mas não controle por controle concentrado de D-Embora o princípio da igualdade esteja direcionado a toda
constitucionalidade. a administração pública, é possível que, em determinadas
B-encontra fundamento nos casos de inadimplemento situações, mesmo que não haja um motivo legitimador,
reiterado de direitos fundamentais pelos poderes do Estado, ocorram certas diferenciações na seleção de candidatos a
sem que haja possibilidade de remédio para vias tradicionais, ocuparem cargos públicos. Nesse caso específico, a
ocasião em que o tribunal assume o papel de coordenador de administração pública disporá de discricionariedade ilimitada
políticas públicas por meio da denominada tutela para escolher os candidatos mais aptos, observando que os
estruturante. agentes públicos que ocupam cargos na estrutura do Estado
C-é um dos mecanismos do sistema constitucional de crises, são os responsáveis pela realização do interesse público.
figurando ao lado do Estado de Defesa e do Estado de Sítio, E-Analisando-se o princípio da igualdade com relação ao
que somente pode ser instaurado após a convocação do particular, verifica-se que este não poderá tratar os demais
Conselho da República, e permite a suspensão de certos membros da sociedade de maneira discriminatória, atingindo
direitos fundamentais, como o da liberdade de locomoção. direitos fundamentais por meio de condutas
D-é medida importada do Tribunal Constitucional da preconceituosas, sob pena de responsabilização civil e até
Colômbia, por meio do qual o Supremo Tribunal Federal mesmo criminal, quando o ato for tipificado como crime.
declara a existência de uma violação massiva a direitos Assim, é vedado ao particular, na contratação de
fundamentais, mas que se restringe a papel exclusivamente empregados, por exemplo, utilizar qualquer critério
simbólico. discriminatório com relação a sexo, idade, origem, raça, cor,
E-a declaração do Estado de coisas inconstitucional é inviável religião ou estado civil.
em sede de controle concentrado de constitucionalidade,
tendo-se em vista que, nesse modelo, somente se aprecia o 7 - 2022 - CESPE / CEBRASPE - PC-RJ - CESPE / CEBRASPE -
conteúdo da lei em tese em face do parâmetro constitucional. 2022 - PC-RJ - Delegado de Polícia

6 - 2022 - CESPE / CEBRASPE - PC-RJ - CESPE / CEBRASPE - O estudo dos princípios que regem a interpretação
2022 - PC-RJ - Delegado de Polícia constitucional, em especial os da razoabilidade e da
proporcionalidade, estabelece que as normas da Constituição
Com relação ao direito à igualdade, expressamente previsto Federal de 1988 devem ser analisadas e aplicadas de modo a
no art. 5.º da Constituição Federal de 1988, assinale a opção permitir que os meios utilizados estejam adequados aos fins
correta. pretendidos, devendo o intérprete buscar conceder aos bens

194
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

jurídicos tutelados uma aplicação justa. Considerando isso, Brasil determinados direitos. A respeito desse assunto,
assinale a opção correta. assinale a opção correta.

A-Com base nos princípios que dão sustentação a uma A-Embora o ordenamento jurídico estabeleça que as pessoas
interpretação sistemática do texto constitucional, é correto jurídicas são detentoras de personalidade jurídica, o texto
afirmar que os direitos e garantias constitucionais devem ser constitucional garante a plenitude de direitos apenas às
considerados absolutos, sendo possível invocar a norma de pessoas físicas. Sendo assim, as pessoas jurídicas têm seus
maneira irrestrita, em razão do que dispõe a dignidade da direitos garantidos apenas com base na legislação
pessoa humana, um dos fundamentos da República infraconstitucional.
Federativa do Brasil. B-O texto constitucional é claro ao prever que apenas os
B-O princípio da harmonização tem por objetivo promover a estrangeiros residentes no Brasil dispõem de todos os direitos
harmonia entre os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. garantidos aos brasileiros. Assim, os estrangeiros não
Apesar dos Poderes serem independentes, a harmonia entre residentes no Brasil estarão submetidos apenas ao
eles é de fundamental importância para que o Estado ordenamento jurídico de seu país de origem.
brasileiro realize seus objetivos, na forma do que estabelece C-Os direitos e garantias fundamentais destinam-se à
o art. 3.º da Constituição Federal de 1988. proteção do ser humano em sua totalidade. Assim, uma
C-Em razão do que preceitua o princípio da concordância interpretação teleológica e lógico-sistemática permite
prática, pode-se dizer que, na ocorrência de conflito entre afirmar que os direitos e garantias fundamentais têm como
bens jurídicos garantidos por normas constitucionais, o destinatários não apenas os brasileiros, mas também os
intérprete deve priorizar a decisão que melhor os harmonize, estrangeiros, residentes ou não no Brasil, e apátridas, caso se
de forma a conceder a cada um dos direitos a maior encontrem dentro do território nacional.
amplitude possível, sem que um deles acabe por impor a D-Decisão recente do Supremo Tribunal Federal reconhece
supressão do outro. como beneficiários dos direitos e garantias fundamentais
D-O princípio da harmonização permite afirmar que, em razão acolhidos pela Constituição Federal de 1988 não somente os
dos axiomas que fundamentam a República Federativa do brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil, mas também
Brasil, o intérprete da Constituição deverá sempre observar a os estrangeiros de passagem pelo território brasileiro, desde
supremacia do interesse público, evidenciado, nesse caso que haja, nesse caso, tratado internacional entre o Brasil e o
específico, o caráter absoluto dos direitos e garantias país de origem do estrangeiro, para que ele tenha
fundamentais. preservados seus direitos.
E-Em se tratando de conflito entre a liberdade de expressão E-Uma análise sistematizada do texto constitucional permite
na atividade de comunicação e a inviolabilidade da intimidade afirmar que os estrangeiros não residentes no Brasil são
da vida privada, da honra e da imagem das pessoas, como detentores de direitos, limitados, no entanto, àqueles que
quando um jornal impresso publica notícias que são de dizem respeito à vida e à integridade física, em razão do que
interesse público, mas que acabam por invadir a esfera dispõe o inciso III do art. 1.º da Carta Política, ao tratar da
privada de alguém, o intérprete do texto constitucional dignidade da pessoa humana como princípio fundamental da
deverá sempre optar pelo interesse público, descartando o República Federativa do Brasil.
interesse privado.
9 - 2022 - CESPE / CEBRASPE - PC-PB - CESPE / CEBRASPE -
8 - 2022 - CESPE / CEBRASPE - PC-RJ - CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-PB - Delegado de Polícia Civil
2022 - PC-RJ - Delegado de Polícia
Suponha que, em determinada operação policial, entenda ser
O caput do art. 5.º, iniciando o Título II da Constituição necessária a entrada forçada em domicílio de determinada
Federal de 1988, referente aos direitos e garantias pessoa, com a realização de busca e apreensão, no período
fundamentais, estabelece, de forma expressa, que todos são noturno, sem mandado judicial, por supostamente estar
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, ocorrendo situação de flagrante delito. Nessa situação, as
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no razões para a entrada domiciliar devem ser justificadas

195
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Em virtude do crime que cometeu onze meses atrás no Estado


A-a posteriori, e, se consideradas ilícitas, haverá do XZ, “Beta” estava morando num quarto de hotel. A
responsabilidade disciplinar e penal da autoridade policial, autoridade policial, avisada do local do seu esconderijo,
embora os atos praticados sejam considerados válidos. invadiu o quarto e efetuou a prisão de “Beta” durante o dia,
B-a posteriori, e, se consideradas ilícitas, haverá conforme prevê a Constituição Federal, porque
responsabilidade disciplinar, civil e penal da autoridade
policial, e os atos praticados serão considerados nulos. A-“Beta” encontrava-se em flagrante delito e, assim, a polícia
C-antes da entrada, e, se consideradas ilícitas, os atos podia ingressar no quarto, mesmo sem autorização judicial
praticados serão considerados nulos, e a autoridade policial para efetuar a prisão.
deverá responder disciplinarmente, mas não na esfera civil ou B-a polícia tem poder suficiente para ingressar e efetuar a
penal. prisão no interior de quarto de hotel, por não se enquadrar
D-antes da entrada, e, se consideradas ilícitas, a autoridade no conceito constitucional de “casa”, portanto, inviolável.
policial deverá responder civil e penalmente, ainda que os C-dada a prática de crime, podia ingressar no local, mesmo
atos praticados sejam considerados válidos. sem autorização judicial para efetuar a prisão.
E-antes da entrada, e, se consideradas ilícitas, haverá D-estava amparada por determinação judicial fundamentada,
responsabilidade disciplinar, civil e penal da autoridade que permitia seu ingresso na casa para efetuar a prisão.
policial, embora os atos praticados sejam considerados
válidos. 12- 2021 - FUMARC - PC-MG - FUMARC - 2021 - PC-MG -
Delegado de Polícia Substituto
10 - 2021 - FUMARC - PC-MG - FUMARC - 2021 - PC-MG -
Delegado de Polícia Substituto O delegado de polícia requisitou para o Juiz de Direito
competente a violação do sigilo da correspondência, das
Centenas de delegados civis do Estado ZW reuniram-se na comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
sede do Sindicato dos Delegados local, representante dos telefônicas de um sujeito que está sendo investigado
interesses dessa categoria. O sindicato está legalmente criminalmente pela prática de determinado delito. Nos
constituído e em funcionamento há três anos. Depois de termos da Constituição Federal, este pedido poderá ser
longo período sem reajustes na sua remuneração, em deferido apenas para
assembleia geral convocada especialmente para deliberar a
respeito das medidas a serem adotadas pelos sindicalizados, A-a quebra do sigilo de comunicações telefônicas.
decidiram adotar providências concernentes a manifestações B-os casos de quebra de sigilo de correspondência,
de rua, em frente à Assembleia Legislativa, de maneira comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
pacífica e organizada. Ao ser comunicado sobre as reuniões telefônicas.
acima, o Governador de Estado respondeu ao Sindicato dos C-os casos de quebra de sigilo de dados, comunicações
Delegados que as estava indeferindo, dando ordem expressa telefônicas e comunicações telegráficas.
para que elas não fossem realizadas. Dentre os remédios D-os casos de quebra do sigilo de correspondência e
constitucionais abaixo, o adequado à iniciativa do Sindicato, comunicações telefônicas.
para assegurar os direitos dos filiados, sem necessidade de
dilação e instrução probatórias, é: 13 - 2021 - FAPEC - PC-MS - FAPEC - 2021 - PC-MS - Delegado
de Polícia
A-Ação Popular.
B-Mandado de Injunção coletivo. A respeito dos direitos e das garantias fundamentais, assinale
C-Mandado de Segurança coletivo. a alternativa correta.
D-Mandado de Segurança individual.
A-Segundo expressa previsão constitucional, todos são iguais
11 - 2021 - FUMARC - PC-MG - FUMARC - 2021 - PC-MG - perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
Delegado de Polícia Substituto garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

196
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à


igualdade, à segurança e à propriedade (art. 5º, caput). Em De acordo com o texto da Constituição Federal (CF) e os
que pese a literalidade do dispositivo, o STF, dando-lhe entendimentos dominantes dos tribunais superiores, assinale
interpretação extensiva, reconhece aos estrangeiros, ainda a alternativa INCORRETA.
que não residentes no País, a condição de titulares de todos
os direitos fundamentais consagrados no corpo da A-São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
Constituição. imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo
B-É livre a manifestação de pensamento, garantido o dano material ou moral decorrente de sua violação, podendo
anonimato. inclusive a pessoa jurídica sofrer dano moral, conforme
C-Tendo em vista o fato de que ninguém pode ser privado de entendimento sumulado do STJ.
direitos por motivo de crença religiosa, de convicção filosófica B-É livre a expressão da atividade intelectual, artística,
ou política, o STF tem entendido que é legítima a recusa dos científica e de comunicação, independentemente de censura
pais à vacinação compulsória de filho menor por motivo de ou licença, sendo inexigível, segundo o STF, o consentimento
convicção filosófica. de pessoa biografada relativamente a obras biográficas
D-O crime de tortura é, por disposição constitucional, literárias ou audiovisuais.
inafiançável e imprescritível. C-É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
E-São inafiançáveis e imprescritíveis os crimes de racismo e a assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida,
ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas
constitucional e o Estado Democrático, sendo que, em se liturgias, já tendo o STF decidido que o ensino religioso
tratando de racismo, sua pena será obrigatoriamente a de facultativo nas redes públicas de ensino, ainda que
reclusão. confessional, não viola o Estado laico.
D-É livre a criação de associações e, na forma da lei, a de
14 - 2021 - FAPEC - PC-MS - FAPEC - 2021 - PC-MS - Delegado cooperativas previamente autorizadas pelo órgão estatal,
de Polícia devendo a exclusão de associados respeitar o devido
processo legal, segundo o STF.
Sobre a ação popular, o habeas corpus e o habeas data, E-Não haverá penas cruéis, e o STJ já decidiu que a omissão
assinale a alternativa correta. injustificada da Administração em providenciar a
disponibilização de banho quente nos estabelecimentos
A-O STF entende cabível habeas corpus em processo de prisionais fere a dignidade de presos sob sua custódia.
impeachment de Presidente da República. Gabarito Comentado (1)
B-Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória à
pena de multa ou relativo a processo em curso por infração 16 - 2021 - FAPEC - PC-MS - FAPEC - 2021 - PC-MS - Delegado
penal a que a pena pecuniária seja a única cominada. de Polícia
C-É cabível habeas corpus em relação a punições disciplinares
militares. O processo penal é disciplina emanada da Carta Republicada
D-Qualquer pessoa é parte legítima para propor ação popular de 1988, sendo que grande parte de seus institutos e
que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de princípios podem ser encontrados no rol de direitos e
entidade de que o Estado participe, à moralidade garantias fundamentais (art. 5º). Partindo de tais premissas,
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e tendo por base o texto legal/constitucional e a jurisprudência
cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de dos Tribunais Superiores, assinale a alternativa correta.
custas judiciais e do ônus da sucumbência.
E-O habeas data é o instrumento apto a tutelar o direito A-A tese da legítima defesa da honra pode ser defendida no
líquido e certo à obtenção de certidão. processo penal, em especial no Tribunal do Júri, tendo em
vista o princípio da plenitude de defesa, previsto
15 - 2021 - FAPEC - PC-MS - FAPEC - 2021 - PC-MS - Delegado expressamente na Constituição Federal.
de Polícia

197
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

B-Se um advogado for escolhido para ser nomeado A respeito dos direitos fundamentais previstos na
Desembargador pelo quinto constitucional, no caso de ele Constituição Federal e a sua compreensão contemporânea, é
responder a inquérito policial, poderá ser impedido de tomar correto afirmar:
posse no cargo.
C-Para o agravamento da pena-base, é permitida a utilização A-No caso de iminente perigo público, a autoridade
de ações penais em andamento, porquanto o magistrado competente poderá usar de propriedade particular,
possui liberdade para, dentro dos limites legais, individualizar assegurada ao proprietário indenização ulterior,
a pena do réu conforme seus maus antecedentes. independentemente de dano.
D-A lei processual penal não retroagirá, salvo para beneficiar B-A desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou
o réu. por interesse social, será precedida de indenização justa a ser
E-A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de paga com títulos da dívida pública.
graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de C-O direito à privacidade assegura a proteção da esfera
entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos privada da pessoa, inclusive o direito de estar só, mas não
como crimes hediondos, por eles respondendo os abrange a autodeterminação informativa.
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se D-A liberdade de reunião pode ser exercida por pessoas que
omitirem. se reúnam sem armas e não frustrem outra reunião
anteriormente convocada para o mesmo local, desde que
17 - 2021 - NC-UFPR - PC-PR - NC-UFPR - 2021 - PC-PR - haja aviso e autorização da autoridade competente.
Delegado de Polícia E-A omissão injustificada da Administração Pública em
A proteção e promoção dos direitos fundamentais pode providenciar a oferta de banhos quentes nos
ocorrer por diversos meios, tais como a criação de instituição estabelecimentos prisionais fere a dignidade de presos sob
e a garantia de meios processuais para sua tutela. Além disso, sua custódia.
a Constituição Federal prescreveu mandamentos para
criminalizar ou para punir condutas violadoras dos direitos 19 - 2021 - FGV - PC-RN - FGV - 2021 - PC-RN - Delegado de
fundamentais. A respeito desse tema, assinale a alternativa Polícia Civil Substituto
correta.
A Associação Alfa obteve decisão favorável, transitada em
A-A prática do racismo constitui crime inafiançável, sujeito a julgado, em mandado de injunção coletivo ajuizado com o
pena de reclusão, sendo a sua prescrição prevista em lei. objetivo de assegurar o exercício de certos direitos por seus
B-O Supremo Tribunal Federal declarou a omissão associados, os quais se mostravam pertinentes com suas
inconstitucional relativa da lei que pune o abuso, a violência finalidades. A decisão determinou a aplicação, por analogia,
e a exploração sexual da criança e do adolescente. de uma lei já existente. Após o trânsito em julgado, a
C-Os danos e as ameaças ao patrimônio cultural serão Associação Alfa tomou conhecimento de que diversos
punidos, com penas de reclusão e multa, na forma da lei. associados, anos antes, embora tenham tomado ciência
D-Constitui crime afiançável e imprescritível a ação de grupos comprovada do mandado de injunção coletivo, não
armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o desistiram dos mandados de injunção individuais que tinham
Estado Democrático. ajuizado. Além disso, poucos anos depois do trânsito em
E-Foi reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal a mora do julgado, foi editada a norma regulamentadora, a Lei nº YY,
Congresso Nacional para incriminar atos que violem direitos que se mostrava mais desfavorável aos beneficiários que a
dos integrantes da comunidade LGBTI+. decisão judicial.
À luz desse quadro, a decisão favorável à Associação Alfa:
18- 2021 - NC-UFPR - PC-PR - NC-UFPR - 2021 - PC-PR -
Delegado de Polícia A-não beneficia os associados que não requereram a
desistência das demandas individuais e continua a disciplinar
os direitos a que se refere mesmo após a Lei nº YY;

198
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

B-beneficia os associados que não requereram a desistência argumento de que a investigação dizia respeito a uma
das demandas individuais e continua a disciplinar os direitos perigosa organização criminosa, o que levou à decretação do
a que se refere mesmo após a Lei nº YY. sigilo,para que fosse assegurado o êxito das investigações.
C-não beneficia os associados que não requereram a A decisão está:
desistência das demandas individuais e a Lei nº YY produz
efeitos ex nunc. A-incorreta, pois deveria ser assegurado o direito de acesso
D-beneficia os associados que não requereram a desistência aos elementos já documentados, associados ao direito de
das demandas individuais e a Lei nº YY produz efeitos ex tunc; defesa;
E-beneficia os associados que não requereram a desistência B-correta, pois, no caso concreto, a ponderação dos valores
das demandas individuais e a Lei nº YY produz efeitos ex nunc. envolvidos conduz à preponderância do interesse público;
C-correta, desde que a decretação do sigilo tenha sido
20 - 2021 - FGV - PC-RN - FGV - 2021 - PC-RN - Delegado de devidamente fundamentada;
Polícia Civil Substituto D-incorreta, pois o sigilo do inquérito policial é incompatível
com o princípio republicano;
Maria, advogada de João, compareceu à Delegacia de Polícia E-incorreta, pois o sigilo do inquérito policial não é oponível a
da Circunscrição XX, e requereu vista do Inquérito Policial nº nenhum advogado.
123, no qual seu cliente figurava como um dos investigados.
O requerimento foi negado pelo delegado de polícia sob o

Respostas9

9
1: D 2: D 3: A 4: E 5: B 6: E 7: C 8: C 9: B 10: C 11: D 12: B 13: E 14: B 15: D 16: E 17: E 18: E 19: C 20: A
199
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

META 4

DIREITO ADMINISTRATIVO: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, X, XXXIII e LX
⦁ Art. 5º, LV
⦁ Art. 37, caput e §1º
⦁ Art. 37, VII
⦁ Art. 93, IX
⦁ Art. 41
⦁ Art. 169, §3º

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Art. 4º e 11, IV, Lei 8429/92
⦁ Art. 6º, 32 e 37 da lei 8987/95
⦁ Art. 3º e 58, da Lei 8666/93
⦁ Art. 2º, 50, 53 e 54 da Lei 9784/99

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!


⦁ Art. 37, caput e §1º, CF/88 (importantíssimo!)
⦁ Art. 5º, LV e LX
⦁ Art. 6º, §1º e §3º lei 8987/95
⦁ Art. 2º, caput da Lei 9784/99 (análise comparativa com o art. 37, caput da CF/88 e art. 3º da Lei
8666/93)
⦁ Art. 53 da Lei 9784/99

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 633-STJ: A Lei nº 9.784/99, especialmente no que diz respeito ao prazo decadencial para a revisão
de atos administrativos no âmbito da Administração Pública federal, pode ser aplicada, de forma
subsidiária, aos estados e municípios, se inexistente norma local e específica que regule a matéria.
Súmula vinculante 13-STF: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou
por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa
jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão
ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na Administração Pública direta e indireta em qualquer

200
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, compreendido o ajuste mediante
designações recíprocas, viola a Constituição Federal.
Súmula 473-STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam
ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
Súmula 346-STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos.
Súmula 6-STF: A revogação ou anulação, pelo Poder Executivo, de aposentadoria, ou qualquer outro ato
aprovado pelo Tribunal de Contas, não produz efeitos antes de aprovada por aquele tribunal, ressalvada
a competência revisora do judiciário.

1. ORIGEM, NATUREZA JURÍDICA E OBJETO DO DIREITO ADMINISTRATIVO

O Direito Administrativo compõe o ramo do Direito Público, pois tem como características e
princípios marcantes a supremacia do interesse público (relações jurídicas verticalizadas), a
indisponibilidade do interesse público e a legalidade.
Segundo Maria Sylvia Zanella di Pietro, o Direito Administrativo nasceu no fim do século XVIII e início
do século XIX, não significando que inexistia, anteriormente, normas administrativas, uma vez que onde quer
que exista o Estado há órgãos encarregados do exercício de funções administrativas.
Nesse sentido, o Estado é pessoa jurídica de direito público, ainda que atuando na seara do direito
privado. Logo, o Estado pode atuar tanto no direito público quanto no direito privado, no entanto, sempre
ostenta a qualidade de PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO.
O Direito Administrativo tem por objeto as relações por ele disciplinadas, a saber:
a) relações internas entre órgãos e entidades administrativas;
b) relações entre a administração e seus agentes;
c) relações entre a administração e os seus administrados;
d) atividades administrativas exercidas por prestadores de serviços públicos.

2. EVOLUÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO

• Administração Patrimonialista: Não havia diferença entre os interesses pessoais dos agentes
públicos e os interesses da própria administração.
• Administração Burocrática: Superou o patrimonialismo ao adotar o princípio da impessoalidade.
Foram criados rígidos controles sobre a atuação dos agentes públicos. Formou-se a burocracia, onde
os agentes públicos devem obedecer aos procedimentos determinados e a rígida hierarquia e a
separação de funções.

201
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

• Administração Gerencial: É o modelo adotado na Administração moderna. Busca superar o modelo


burocrático por meio da adoção do princípio da eficiência, que tem as seguintes consequências
principais:
∘ Utilização do controle de resultados substituindo o controle de meios;
∘ Maior autonomia dos agentes/órgãos/entidades públicas;
∘ Serviço orientado para o cidadão;
∘ Utilização de indicadores de desempenho.

Administração Pública Dialógica: Segundo Ronny Charles, Administração pública dialógica é uma
tendência identificada em algumas atividades administrativas, notadamente na prestação de serviços
públicos e contratações de grandes empreendimentos, que consiste na abertura de diálogo com os
administrados, permitindo que eles colaborem para o aperfeiçoamento ou a legitimação da atividade
administrativa.

3. INFLUÊNCIAS DO DIREITO ESTRANGEIRO

Às vezes cai em prova e ajuda a resolver determinadas questões, motivo pelo qual é importante abrir
um tópico rápido acerca das influências do direito estrangeiro no direito administrativo brasileiro.

• Direito alemão - o direito administrativo brasileiro herdou a inspiração para aplicação do princípio da
segurança jurídica, especialmente sob o aspecto subjetivo da proteção à confiança.

• Direito francês - herdou o conceito de serviço público, a teoria dos atos administrativos com o atributo
da executoriedade, as teorias sobre responsabilidade civil do Estado, o princípio da legalidade, a teoria
dos contratos administrativos, as formas de delegação da execução de serviços públicos, a ideia de que
a Administração Pública se submete a um regime jurídico de direito público, derrogatório e exorbitante
do direito comum, que abrange o binômio autoridade/liberdade.

• Direito italiano - recebeu o conceito de mérito, o de autarquia e entidade paraestatal (dois vocábulos
criados no direito italiano). Os autores italianos (ao lado dos alemães) também contribuíram para a
adoção de um método técnico-científico.

• Direito inglês (sistema da common law) - o direito administrativo brasileiro herdou o princípio da
unidade de jurisdição, o mandado de segurança e o mandado de injunção, o princípio do devido
processo legal, inclusive, mais recentemente, em sua feição substantiva, e que praticamente se
confunde com o princípio da razoabilidade. Em fins do século XX, também herdou do sistema common
law o fenômeno da agencificação e a própria ideia de regulação.

202
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

4. CRITÉRIOS DA ADMINISTRAÇÃO:

O direito administrativo é ramo jurídico, e como tal, se dedica ao estudo das regras e normas, sendo
caracterizada como ciência normativa, impositiva que define os limites dentro dos quais a gestão pública
pode ser executada. Várias foram as correntes/teorias que buscaram definir o direito administrativo. Nessa
linha, vejamos as principais delas:

a) Corrente Legalista/Exegética/Empírica: O direito administrativo seria o conjunto da legislação


administrativa existente no país. Se limitava a fazer compilação de leis que tratassem da função
administrativa e desconsiderava doutrina e jurisprudência.

Crítica: A grande crítica do critério legalista foi desconsiderar a carga normativa dos princípios. Dessa forma
só era valorado o que estivesse em lei.

b) Critério do Poder Executivo/Italiano/Subjetivista: O Direito Administrativo seria um complexo de leis


disciplinadoras da atuação do poder executivo. Assim, o objeto do direito administrativo seria toda
atuação do Poder Executivo

Crítica: O Direito Administrativo não se resume à disciplina do Poder Executivo, afinal, todos os Poderes
administram, embora, para alguns, isso constitua missão atípica. E mais: no Poder Executivo, nem tudo é
objeto do Direito Administrativo, como são as funções de governo, regidas pelo Direito Constitucional.

c) Critério das Relações Jurídicas: O Direito Administrativo é a disciplina das relações jurídicas entre a
Administração e o particular. Assim, todas as relações entre o Estado e o Administrado seria função
administrativa.

Crítica: Devemos recordar que outros ramos do direito, de igual modo, regulam a relação jurídica
entre particular e Estado, por exemplo, os contratos privados pactuados que são regidos pelo direito civil.

d) Critério do Serviço Público (França): O Direito Administrativo teria por objetivo a disciplina jurídica dos
serviços públicos. Ou seja, a função administrativa seria a instituição, organização e prestação do serviço
público. → Escola do Serviço Público (Leon Duguit).
• Sentido amplo (Leon Duguit): Inclui todas as atividades do Estado;
• Sentido Estrito (Gaston Jeze): Inclui apenas atividades materiais. (Leia-se: aquela de dentro para
fora, com a finalidade de satisfação das necessidades coletivas).

Crítica: Referido conceito é bastante restrito, isto porque, na atualidade, a ideia de prestação de
serviço público vem sofrendo restrições, de modo que a administração pública não se limita tão somente
203
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

a execução dessa prestação. O Estado faz muitas atividades além da mera prestação do serviço público,
sendo este último apenas uma das facetas. Por exemplo, atua na exploração de atividade econômica na
busca do interesse público.

e) Critério Teleológico ou Finalístico: O Direito Administrativo é sistema de princípios jurídicos que regula
as atividades do Estado para o cumprimento dos seus fins. Assim, o Direito Administrativo deve ser
conceituado como toda atuação do Estado com finalidade pública.

Crítica: Essa posição apresenta-se como a mais correta, porém não consegue abranger
integralmente o conceito da matéria, de forma que não é adotada de forma majoritária.

f) Critério Negativista: Esse critério surgiu da dificuldade de identificar o objeto do Direito Administrativo.
Assim, o Direito Administrativo seria conceituado por exclusão, a partir do que ele não era.

Crítica: não posso definir algo pelo que ele não é. Embora não tenha um erro grosseiro, ele não
pode ser usado como forma de conceituação do direito administrativo

g) Critério Funcional: O Direito Administrativo é ramo jurídico que estuda e analisa a disciplina da função
administrativa, esteja ela sendo exercida pelo Executivo, Legislativo, Judiciário ou por delegação estatal.
Segundo Hely Lopes Meirelles, o direito administrativo pode ser definido como conjunto harmônico
de princípios que regem os órgãos, os agentes e a atividade pública para realização dos fins desejados pelo
Estado de forma DIRETA, CONCRETA e IMEDIATA.
• Direta: não se confunde com a função jurisdicional, que é indireta por depender de provocação.
Desse modo, ao se falar que a atuação é direta quer-se dizer que ela atua de ofício, não dependendo
de provocação. Reitero, NÃO depende de provocação para que haja atuação administrativa, ela é
DIRETA.
• Concreta: diferente da legislativa, que é geral e abstrata - não atinge pessoas específicas, a função
administrativa é concreta porque se materializa em casos concretos.
• Imediata: realiza os fins do Estado (necessidades do Estado). Quem define os fins do Estado, por sua
vez, é o Direito Constitucional.

5. SENTIDOS DA ADMINISTRAÇÃO

A expressão Administração Pública pode ser analisada sob seu aspecto formal/ subjetivo/ orgânico
ou sob seu aspecto material/objetivo.

204
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

a) Formal, Orgânico ou Subjetivo: É o conjunto de órgãos e funções estatais no exercício da função


administrativa. – Importa apenas quem realiza a atividade, sendo irrelevante qual a atividade por
eles desempenhada.

“O sentido subjetivo, formal ou orgânico da Administração Pública compreende


pessoas jurídicas, órgãos e agentes públicos que são incumbidos de exercer uma
das funções estatais: a função administrativa”

b) Material, Funcional ou Objetivo: Se confunde com função administrativa, sendo a atividade


administrativa exercida pelo Estado.

“Por sua vez, administração pública (em letra minúscula), considerada com base no
critério material ou objetivo se confunde com a função administrativa, devendo ser
entendida como atividade administrativa exercida pelo Estado, designando a
atividade consistente na defesa concreta do interesse público”.

• A Administração Pública, em sentido amplo, objetivamente considerada, compreende a função


política + função administrativa.

TAREFAS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:


➢ Prestação de serviços públicos;
➢ Exercício do Poder de Polícia;
➢ Regulação de atividades de interesse público (fomento);
➢ Controle da atuação do Estado

Resumindo...
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM SENTIDO ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM SENTIDO
FORMAL, ORGÂNICO OU SUBJETIVO MATERIAL, FUNCIONAL OU OBJETIVO:
Conjunto de órgãos e agentes no exercício da É a própria atividade administrativa
função administrativa. desempenhada pelo Estado.

5.1 Administração Pública Extroversa e Introversa

Diogo de Figueiredo Moreira Neto diferencia esses termos da seguinte forma:


I- Administração Introversa: corresponde à atividade-meio da Administração. É instrumental, atende
ao interesse público secundário e não atinge diretamente os cidadãos. Logo, envolve as relações entre a
Administração e seus agentes. Também é atribuída a todos os órgãos administrativos;

205
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

II- Administração Extroversa: corresponde à atividade-fim da Administração. É finalística, atende ao


interesse público primário e atinge diretamente os cidadãos. Logo, envolve as relações entre a Administração
e os particulares. É atribuída apenas aos entes políticos. Exemplo: poder de polícia.

Vamos Aprofundar um pouco?

5.2 Tendências atuais do Direito Administrativo

Para Rafael Oliveira (2018, p. 58), o Direito Administrativo tem sofrido profundas transformações,
cabendo destacar as seguintes mutações e tendências:
a) Constitucionalização e aplicação do princípio da juridicidade;
b) Relativização de formalidades e ênfase no resultado;
c) Elasticidade do Direito Administrativo, com diálogo com outras disciplinas;
d) Consensualidade e participação;
e) Processualização e contratualização da atividade administrativa;
f) Publicização do Direito Civil e privatização do Direito Administrativo; e
g) Aproximação entre a Civil Law e a Common Law.

5.3 Transadministrativismo

Diogo de Figueiredo Moreira Neto adota a tese de que existe um novo ramo do Direito Administrativo
denominado transadministrativismo.
O transadministrativismo é a disciplina jurídica das relações assimétricas de poder que se
institucionaliza consensualmente fora e além do Estado.
Trata-se de um direito administrativo transnacional, fenômeno semelhante ao
transconstitucionalismo.
Para Diogo de Figueiredo, o direito administrativo global é um gênero, do qual o direito
administrativo transestatal (transadministrativismo) é espécie. O transadministrativismo refere-se
exclusivamente ao produto normativo desses centros de poder transestatais: aqueles que se originam de
necessidades ordinatórias das diversas sociedades, que não são providas pelos Estados.

6. FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO

A doutrina costuma apontar a existência de cinco fontes principais deste ramo do Direito, quais
sejam: a lei, a jurisprudência, a doutrina, os princípios gerais e os costumes.

206
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

▪ LEI – Fonte Primária – qualquer espécie normativa (lei em sentido amplo);


· A lei se apresenta como sendo a fonte primária do direito administrativo, pois inova no
ordenamento jurídico. A atuação administrativa tem que ser pautada pela lei, só existe a
atuação do administrador se houver permissivo legal nesse sentido (princípio da legalidade).
· Em se tratando de Direito Administrativo, a lei deve ser interpretada em sentido amplo, de
modo a abarcar não só a lei em sentido estrito, mas também as normas constitucionais, os
regulamentos administrativos e os tratados internacionais. O administrador público deve
obediência à lei e ao Direito (princípio da juridicidade).

▪ JURISPRUDÊNCIA – Fonte Secundária – julgamentos reiterados no mesmo sentido. Súmula é a


consolidação da Jurisprudência.
· A jurisprudência se traduz na reiteração de julgados dos órgãos do judiciário, travando uma
orientação acerca de determinada matéria. Trata-se de fonte secundária do D.
Administrativo, de grande influência na construção e consolidação desse ramo.

▪ DOUTRINA – Fonte Secundária – forma o sistema teórico de princípio aplicável ao Direito Positivo.
· É fonte secundária. Refere-se a lição dos mestres e estudiosos da matéria, ensejando a
formação de arcabouço teórico. É fonte interpretativa, sistema teórico. Expõe uma
interpretação sobre aquela determinada matéria ou lei, ao estabelecer o que provavelmente
a referida buscava, ou seja, sua razão/sentido.

▪ PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO – estão na base da disciplina/alicerce. Exs.: Ninguém pode causar
dano a outrem. É vedado o enriquecimento ilícito. Ninguém pode se beneficiar da própria torpeza.

▪ COSTUMES – Práticas reiteradas da autoridade administrativa. Lembre-se que o costume não cria e
nem exime obrigação.
· Elementos do costume:
- Elemento objetivo: repetição de condutas;
- Elemento subjetivo: Convicção de sua obrigatoriedade.
· Espécies de costumes:
- Secundum legem: previsto ou admitido pela lei;
- Praeter legem: preenche as lacunas normativas, possuindo caráter subsidiário;
- Contra legem: Se opõem à norma legal.

Obs.: Para o autor Rafael Carvalho, “ressalvado o costume contra legem, o costume é fonte
autônoma do Direito Administrativo. A releitura do princípio da legalidade, com a superação do positivismo,
a textura aberta de algumas normas jurídicas e a necessidade de consideração da realidade social na

207
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

aplicação do Direito demonstram que os costumes devem ser considerados como fontes do Direito
Administrativo”, pg. 25.

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCRJ 2022): Os princípios constitucionais do direito administrativo podem ser aplicados
diretamente pelo gestor público, mas não em sentido contrário à lei (contra legem), ainda que o interesse
público aponte neste sentido (item considerado incorreto).

COSTUME SOCIAL COSTUME ADMINISTRATIVO


De acordo com Matheus Carvalho, “os Na dicção de Matheus Carvalho: “o costume
costumes sociais se apresentam como um administrativo é caracterizado como prática
conjunto de regras não escritas, que são, reiteradamente observada pelos agentes
todavia, observadas de modo uniforme por administrativos diante de determinada situação
determinada sociedade, que as considera concreta. A prática comum na Administração Pública é
obrigatórias. Ainda considera-se fonte admitida em casos de lacuna normativa e funciona como
relevante do Direito Administrativo, tendo em fonte secundária de Direito Administrativo, podendo
vista a deficiência legislativa na matéria”. gerar direitos para os administrados, em razão dos
princípios da lealdade, boa-fé, moralidade
administrativa, entre outros”.

▪ PRECEDENTES ADMINISTRATIVOS – Pressupõe a prática reiterada e uniforme de atos


administrativos em situações similares. A teoria dos precedentes administrativos é aplicada em
relações jurídicas distintas que apresentam identidade subjetiva e objetiva.
A força vinculante do precedente administrativo decorre da segurança jurídica, e pode ser afastada
pela Administração em duas situações, hipóteses em que se pode aplicar a TEORIA DO PROSPECTIVE
OVERRULING:
• Quando o ato invocado pelo precedente for ilegal;
• Quando o interesse público, devidamente motivado, justificar a alteração do entendimento
administrativo.
O precedente administrativo, em princípio, só é exigível quando estiver em compatibilidade com a
legislação. Porém, excepcionalmente, mesmo em relação a atos ilegais, os precedentes administrativos
retiram a sua força vinculante dos princípios da legítima confiança, segurança jurídica e boa-fé.

Resumindo...

208
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

FONTE PRIMÁRIA 1) Lei - em sentido material/amplo: qualquer espécie normativa


1) Jurisprudência
FONTES 2) Doutrina
SECUNDÁRIAS 3) Costumes - secundum legem e praeter legem
4) Princípios Gerais do Direito.

1) Constituição
FONTES FORMAIS 2) Lei
3) Regulamento e outros atos normativos da Administração
Pública.
5) Jurisprudência (sem efeito vinculante)
FONTES MATERIAIS 6) Doutrina
7) Costumes - secundum legem e praeter legem
8) Princípios Gerais do Direito.

7. INTERPRETAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO

A interpretação em Direito Administrativo deve se pautar em 3 (três) pressupostos básicos, quais


sejam:

(1) Desigualdade entre a administração e o particular (desigualdade jurídica) - Toda vez que se
interpreta uma norma do direito administrativo, devemos recordar que existe uma desigualdade
jurídica, posto que a Administração atua com supremacia em face ao particular (princípio da
supremacia do interesse público sobre o privado).
(2) Presunção de legitimidade dos atos praticados pela Administração - Os atos praticados pela
administração são presumivelmente legítimos, ou seja, presume-se que ele foi praticado em
conformidade com o ordenamento jurídico (lembre-se: atributo do ato administrativo: presunção de
legitimidade e de veracidade, trata-se de presunção relativa).
(3) Necessidade de discricionariedade – A discricionariedade é indispensável para que o administrador
possa concretizar a norma geral e abstrata prevista.

Obs.: Analogia NÃO pode ser utilizada para fundamentar a aplicação de sanções ou gravames aos
particulares, especialmente no campo do poder de polícia e poder disciplinar.
* Para Diogo de Figueiredo Moreira Neto, a analogia não é permitida no Direito Administrativo,
em razão do princípio da legalidade. Admitir a analogia seria permitir que a Administração impusesse uma
obrigação não prescrita em lei.
* Para Alexandre Santos de Aragão, é possível a utilização da analogia no Direito Administrativo
quando a aplicação da regra com base na analogia for suficiente para regular determinado caso concreto
209
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

e ao mesmo tempo atender às finalidades da Constituição. No entanto, a analogia com base em outra
disciplina jurídica não é possível, tendo em vista o princípio da legalidade.

8. SISTEMAS DE CONTROLE DA ATUAÇÃO ADMINISTRATIVA

a) Sistema Francês (contencioso administrativo)


• Dualidade de jurisdição;
• Proíbe o conhecimento, pelo Poder Judiciário, de atos ilícitos praticados pela Administração, ficando
os atos sujeitos à jurisdição especial do contencioso administrativo.

b) Sistema Inglês (Sistema de jurisdição única)


• Todos os litígios podem ser resolvidos na justiça comum;
• Sistema adotado pelo Brasil – contudo, já houve a previsão do tribunal constitucional de contencioso
no Brasil na EC 7/77, mas nunca foi implementado.

9. REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO

É o conjunto de regras e princípios que regem a Administração Pública. Celso Antônio Bandeira de
Mello defende a existência de verdadeiras “PEDRAS DE TOQUE” no Direito Administrativo, quais sejam:

• Princípio da supremacia do interesse público sobre o privado: Os interesses coletivos devem


prevalecer ao interesse particular;
• Princípio da indisponibilidade do interesse público: O interesse público não se encontra à livre
disposição do administrador.

Vamos aprofundar um pouco?


Conforme Rafael Carvalho, o fenômeno da constitucionalização do ordenamento jurídico abalou alguns dos
mais tradicionais dogmas do Direito Administrativo, a saber: a) a redefinição da ideia de supremacia do
interesse público sobre o privado e a ascensão do princípio da ponderação de direitos fundamentais. A
partir dessa distinção, a doutrina tradicional sempre apontou para a superioridade do interesse público
primário (e não do secundário) sobre o interesse privado. Atualmente, no entanto, com a relativização da
dicotomia público x privado, a democratização da defesa do interesse público e a complexidade
(heterogeneidade) da sociedade atual, entre outros fatores, vêm ganhando força a ideia de “desconstrução”
do princípio da supremacia do interesse público em abstrato. Portanto, não existe um interesse público
único, estático e abstrato, mas sim finalidades públicas normativamente elencadas que não estão
necessariamente em confronto com os interesses privados, razão pela qual seria mais adequado falar em
“princípio da finalidade pública”, em vez do tradicional “princípio da supremacia do interesse público”, o que

210
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

reforça a ideia de que a atuação estatal deve sempre estar apoiada em finalidades públicas, não egoístas,
estabelecidas no ordenamento jurídico. A atuação do Poder Público não pode ser pautada pela supremacia
do interesse público, mas, sim, pela ponderação e máxima realização dos interesses envolvidos.

Interesse público primário x Interesse público secundário


O interesse público primário é aquele relacionado à satisfação das necessidades coletivas (justiça,
segurança, bem comum do grupo social etc.), perseguido pelo exercício das atividades-fim do Poder Público,
enquanto o interesse público secundário corresponde ao interesse individual do próprio Estado, estando
relacionado à manutenção das receitas públicas e à defesa do patrimônio público, operacionalizadas
mediante exercício de atividades-meio do Poder Público (Ricardo Alexandre, 2018).

9.1 Princípios x Regras

a) Princípios: Hoje são consideradas normas jurídicas primárias. Assim seu estudo ganhou força e
importância nos últimos anos.
· Possuem grau de abstração maior do que as regras, pois admitem uma série indefinida de
aplicações.
· São mandamentos de otimização, que determinam a realização de algo na maior medida
possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes, admitindo aplicação
gradativa.
· Colisão de princípios: ponderação de interesses no caso concreto.
· Condensam os valores fundamentais da ordem jurídica, e se irradiam sobre todo o sistema
jurídico, garantindo-lhe harmonia e coerência.
· Categorias:
✓ Princípios fundamentais: Representam decisões políticas estruturais do Estado,
servindo de matriz para todas as demais normas constitucionais.
✓ Princípios gerais: Em regra, são importantes especificações dos princípios
fundamentais, possuindo menor grau de abstração e irradiando-se sobre todo
ordenamento jurídico. Ex: Princípio da isonomia e da legalidade.
✓ Princípios setoriais ou especiais: Se aplicam a determinado tema, capítulo ou título da
Constituição. Ex: L.I.M.P.E – Art. 37 CF (princípios explícitos da Constituição/88).
b) Regras:
· Direcionam-se a situações determinadas.
· O conflito de regras é resolvido na dimensão da validade (“tudo ou nada”), ou seja, a regra é
válida ou inválida, a partir dos critérios de especialidade, hierarquia e cronológico (Dworkin).
· Em alguns casos, o conflito entre regras pode ser resolvido pela dimensão do peso e, não
necessariamente, pelo critério de validade. Ex: vedação à concessão de liminar contra a
Fazenda que esgote o objeto do litígio.
211
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

9.2 Princípios Explícitos do Direito Administrativo

Assim denominados pois constam expressamente no art. 37 da CF/88. São eles: [LIMPE]
• Legalidade
• Impessoalidade
• Moralidade
• Publicidade
• Eficiência

Obs.: Além dos princípios expressos pelo Direito Administrativo existem princípios implícitos (ou
reconhecidos) extraídos pela interpretação sistemática, reconhecidos pela jurisprudência e doutrina.

PRINCÍPIOS EXPRESSOS PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS


• Legalidade • Princípio da Razoabilidade e Proporcionalidade
• Impessoalidade • Princípio da Supremacia do Interesse Público Sobre o
• Moralidade Privado (Princípio da Finalidade Pública)
• Publicidade • Princípio da Autotutela ou Sindicabilidade
• Eficiência • Princípio Da Continuidade Do Serviço Público
• Princípio da Motivação
• Princípio da Ampla Defesa e Contraditório
• Princípio da Segurança Jurídica e Legítima Confiança
• Princípio da Intranscendência Subjetiva das Sanções

10. PRINCÍPIOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO

10.1 Legalidade (Juridicidade)

Pelo princípio da legalidade, a atuação da administração pública subordina-se à lei, de modo que o
agente público somente poderá fazer o que proclama a lei. Assim, não havendo previsão legal, está proibida
a atuação do ente público e qualquer conduta praticada de forma arbitrária por ele.
Ressalta-se que a legalidade no âmbito do direito administrativo não se confunde com a legalidade
privada, em que é permitido fazer tudo que não é proibido (autonomia privada). Ex.: O princípio da legalidade
veda à administração a prática de atos inominados, embora estes sejam permitidos aos particulares.

212
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

LEGALIDADE ADMINISTRATIVA LEGALIDADE PRIVADA


A atuação da administração pública subordina- Vigora a autonomia privada. Por isso, o particular
se à lei, de modo que o agente público somente pode fazer tudo aquilo que a lei não proibir. Só deve
poderá fazer o que proclama a lei deixar de fazer se estiver expressamente proibido
em lei.

Note a flagrante diferença entre os regimes jurídicos de direito público e direito privado, posto que,
neste último é possível realizar tudo o que a lei não proíbe, ao passo que, no primeiro, o administrador
somente pode atuar mediante previa autorização legal.

O princípio da legalidade comporta dois desdobramentos:


(1) Supremacia da lei: A lei prevalece e tem preferência sobre os atos da Administração.
· Relaciona-se com a doutrina da NEGATIVE BINDUNG (VINCULAÇÃO NEGATIVA), segundo a
qual a lei representa uma limitação à vontade do Administrador.
(2) Reserva de lei: o tratamento de certas matérias deve ser formalizado necessariamente pela
legislação.
· Relaciona-se com a POSITIVE BINDUNG (VINCULAÇÃO POSITIVA), condiciona a validade da
atuação dos agentes públicos à prévia autorização legal.
Atualmente, prevalece a ideia da vinculação positiva da Administração à lei, ou seja, a atuação do
administrador depende de prévia habilitação legal para ser legítima.

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCRJ 2022): Os princípios constitucionais do direito administrativo não se limitam à lista do art.
37 da CF, embora impliquem, ontologicamente, comandos genéricos incapazes de vincular positivamente a
ação administrativa (item considerado incorreto).

Considerações importantes:
• A legalidade deve ser reinterpretada a partir da constitucionalização do Direito Administrativo.
• Por ser submissa ao princípio da legalidade, a Administração, não pode levar a termo interpretação
extensiva ou restritiva de direitos, quando a lei assim não o prever de modo expresso.
• A legalidade encontra-se inserida no denominado PRINCÍPIO DA JURIDICIDADE, que exige a
submissão da atuação administrativa à lei e ao Direito → Exige-se compatibilidade com o BLOCO DE
LEGALIDADE. Pelo princípio da juridicidade, deve se respeitar, inclusive, a noção de legitimidade do
Direito.

ATENÇÃO AOS CONCEITOS:

213
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

I) Juridicidade: Compatibilidade com todo ordenamento jurídico;


II) Legalidade: Verificar se o ato se compatibiliza com as exigências formais ou padrões materiais
da lei;
III) Legitimidade: É o ato que observa não só as formalidades prescritas ou não defesas em lei, mas
se há adequação aos princípios da boa administração, dentro de padrões razoáveis, morais e dos princípios
constitucionalmente reconhecidos.
IV) Economicidade: Foco no binômio custo/ benefício em face do meio utilizado para satisfação
social, junto ao controle de eficiência da gestão financeira, para atingir melhor índice de resultado.

O que é o PRINCÍPIO DA RESPONSIVIDADE?


Consoante entendimento de Diogo de Figueiredo, a responsividade é um dos princípios modernos que
norteia a atuação da Administração Pública. Determina que, ao atuar, a Administração não obedeça
apenas à legalidade, mas também à legitimidade e ao princípio democrático, ou seja, que atue de modo a
atender os anseios da população. É, então, inegavelmente, um dever jurídico autônomo dos agentes do
Poder Público para, ao perfazerem suas escolhas discricionárias, observarem as demandas da sociedade.

 Há exceções ao princípio da legalidade administrativa?


Segundo o Prof. Celso Antônio Bandeira de Melo (Curso de Direito Administrativo, 26ª Ed., pág. 105
e 126-136), é possível apontar três restrições excepcionais ao princípio da legalidade:
a) Estado de defesa;
b) Estado de sítio e
c) Medida provisória.
Nesses três casos, deve a Administração atuar, mesmo que não haja lei regulamentando sua atuação,
o que revela a mitigação da obrigatoriedade do princípio da legalidade.

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCRJ 2022): Os princípios constitucionais do direito administrativo podem justificar decisões
administrativas sem a intermediação da lei, tal como aconteceu com a interpretação feita pelo Conselho
Nacional de Justiça acerca de nepotismo (item considerado correto).

10.2 Princípio Da Impessoalidade

Pelo princípio da impessoalidade, a atuação da administração pública deve ser imparcial, não visando
beneficiar ou prejudicar pessoa determinada, tendo em vista que a sua atuação está voltada à busca do
interesse público em geral.

214
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Obs.: Para o professor Hely Lopes Meirelles (doutrina minoritária), o princípio da impessoalidade nada mais
é que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao administrador público que só pratique o ato para
atingir o objetivo indicado expressa ou virtualmente pela norma de direito, de forma impessoal. Cuidado!
Em que pese não ser a doutrina que prevalece atualmente, posto que a doutrina moderna entende que os
princípios da impessoalidade e da finalidade não se confundem (são autônomos), tal questão já foi cobrada
para prova de Delegado de Polícia, motivo pelo qual devemos ficar atentos!

O princípio da impessoalidade possui duas acepções:

i. Igualdade ou Isonomia: A Administração deve dispensar tratamento impessoal e isonômico aos


particulares para atender a finalidade pública. Ex.: realização de concurso público é uma forma de
observar o princípio da igualdade ou isonomia e princípio republicano*.

*APROFUNDANDO: Desde a edição da Constituição da República Federativa do Brasil,


efetivou-se, dentro da ordem constitucional jurídica vigente, o princípio
republicano, que consagra a igualdade de acesso aos cargos e empregos públicos a
todos os brasileiros natos e naturalizados, bem como aos estrangeiros na forma da lei,
conforme dicção do art. 37, I, da CRFB.

ii. Proibição de promoção pessoal: Vedação do exercício da máquina pública para atingir interesses
particulares. Veja o art. 37, §1º da CF/88:

“A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos


públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não
podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção
pessoal de autoridades ou serviços públicos”.

 Atenção! O §1º do art. 37 da CF despenca em


prova!

JURISPRUDÊNCIA. STF. RE. 191668. Supremo entendeu que a inclusão de slogan de partido político na
publicidade dos atos governamentais também ofende o art. 37§1º da Constituição Federal.

Sobre o tema, destaca-se a jurisprudência recente do STF:


O § 1º do art. 37 da CF/88 não admite flexibilização por norma infraconstitucional
ou regulamentar
Está em desconformidade com a Constituição Federal a previsão contida na Lei
Orgânica do Distrito Federal que autoriza que cada Poder defina, por norma

215
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

interna, as hipóteses pelas quais a divulgação de ato, programa, obra ou serviço


públicos não constituirá promoção pessoal. Essa delegação conferida viola o § 1º
do art. 37 da CF/88, que não admite flexibilização por norma infraconstitucional ou
regulamentar. É de se conferir interpretação conforme à Constituição ao § 6º do
art. 22 da Lei Orgânica do Distrito Federal para que a divulgação de atos e iniciativas
de parlamentares seja tida como legítima apenas quando efetuada nos ambientes
de divulgação do mandatário ou do partido político, não se havendo de confundi-
la com a publicidade do órgão público ou entidade. STF. Plenário. ADI 6522/DF, Rel.
Min. Cármen Lúcia, julgado em 14/5/2021 (Info 1017).

Obs.: Segundo Odete Medauar, os princípios da impessoalidade, moralidade e publicidade tem ligação
profunda, mais que isso, há uma instrumentalização recíproca. Dessa forma, a impessoalidade é considerada
um meio para atuações dentro da moralidade, enquanto a publicidade vai dificultar medidas contrárias à
moralidade e impessoalidade, além da moralidade administrativa implicar observância da impessoalidade e
da publicidade.

10.3 Princípio da Moralidade

O princípio da moralidade traduz a ideia de honestidade, obediência a princípios éticos, boa-fé,


lealdade, boa administração, correção de atitudes. É diferente da moralidade comum (certo e errado do
convívio social) por ser mais rígida, exigindo a correção de atitudes e a boa administração. Trata-se, portanto,
da atuação segundo padrões éticos de probidade e decoro.
Nessa esteira, segundo Matheus Carvalho (Manual de D. Administrativo, 2014), “trata-se de princípio
que exige a honestidade, legalidade, boa-fé de conduta no exercício da função administrativa, ou seja, a
atuação não corrupta dos gestores públicos, ao tratar com a coisa de titularidade do Estado”.
Odete Medauar aponta que a ação popular é um dos instrumentos constitucionais para sancionar a
inobservância da moralidade, uma vez que pode ser proposta por qualquer cidadão para anular ato lesivo à
moralidade administrativa.

 A prática do nepotismo na Administração Pública viola o princípio da moralidade?


R.: De acordo com o STF, nepotismo significa “proteção”, “apadrinhamento”, que é dado pelo
superior para um cônjuge, companheiro ou parente seu, contratado para o cargo ou designado para a função
em virtude desse vínculo. Isso ofende a moralidade. Ressalta-se que o nepotismo é vedado em qualquer dos
Poderes da República por força dos princípios constitucionais da impessoalidade, eficiência, igualdade e
moralidade, independentemente de previsão expressa em diploma legislativo. Assim, o nepotismo não exige
a edição de uma lei formal proibindo a sua prática, uma vez que tal vedação decorre diretamente dos
princípios contidos no art. 37, caput, da CF/88 (STF Rcl 6.702/PR-MC-Ag).

216
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

No entanto, o STF tem afastado a aplicação da SV 13 (que veda o nepotismo) a cargos públicos de
natureza política. Assim, a jurisprudência do STF, em regra, tem excepcionado a regra sumulada e garantido
a permanência de parentes de autoridades públicas em cargos políticos, sob o fundamento de que tal prática
não configura nepotismo.
Exceção: poderá ficar caracterizado o nepotismo mesmo em se tratando de cargo político em 2 casos:
1) Caso fique demonstrada a inequívoca falta de razoabilidade na nomeação por manifesta ausência de
qualificação técnica ou inidoneidade moral do nomeado. STF. 1ª Turma. Rcl 28024 AgR, Rel. Min.
Roberto Barroso, julgado em 29/05/2018.
2) Em casos de fraude à lei.

Súmula vinculante 13-STF: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em


linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade
nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção,
chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança
ou, ainda, de função gratificada na Administração Pública direta e indireta em
qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios,
compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição
Federal. (MUITO IMPORTANTE!)

Dissecando a Súmula Vinculante 13 para facilitar a memorização:

 Quem não pode ser nomeado?


R: Cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive,
da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica, investido em cargo de direção, chefia ou
assessoramento
▪ Cônjuge,
▪ Companheiro
▪ Parente em linha reta,
▪ Parente colateral até o 3ª grau, inclusive
▪ Parente por afinidade até o 3º grau, inclusive
➢ da autoridade nomeante ou
➢ de servidor da mesma pessoa jurídica, investido em cargo de direção, chefia
ou assessoramento

 Não pode ser nomeado para o que?


R.: Para o exercício de cargo em comissão ou de confiança, ou, ainda, de função gratificada na Administração
Pública direta e indireta, em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas viola a Constituição Federal
217
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

▪ Cargo em comissão
▪ Cargo em confiança
▪ Função gratificada

Vamos relembrar...
CARGO EM COMISSÃO CARGO EM CONFIANÇA ou FUNÇÃO DE
CONFIANÇA
Cargo baseado na confiança, de livre Cargo também baseado na confiança,
nomeação e livre exoneração para atividades de direção, chefia e
(exoneração ad nutum), para assessoramento. No entanto, somente
atividades de direção, chefia e quem ocupa cargo efetivo pode ser
assessoramento. Pode ser ocupado por nomeado.
qualquer pessoa, mas deve ser
guardado um percentual para quem já
é de carreira.

CF, Art. 37, V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores


ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores
de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se
apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

 E o nepotismo cruzado? Também é vedado?


A parte final da súmula proíbe o nepotismo no ajuste, mediante redesignações recíprocas. Não pode na
mesma pessoa jurídica, mas também não pode trocar de parentes, não pode nepotismo cruzado. A União
concede um cargo comissionado para um primo do governador, e o governador para um irmão do
presidente. Redesignações recíprocas é o nepotismo cruzado, o que é vedado.
A Lei nº 14.230/2021 passou a prever expressamente que a prática do nepotismo configura ato de
improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os


princípios da administração pública a ação ou omissão dolosa que viole os
deveres de honestidade, de imparcialidade e de legalidade, caracterizada por
uma das seguintes condutas: (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
(...)
XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por
afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor
da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou

218
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou,


ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
compreendido o ajuste mediante designações recíprocas; (Incluído pela Lei
nº 14.230, de 2021)

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCRN 2021): A Lei Orgânica da Polícia Civil do Estado Alfa foi alterada pela Assembleia
Legislativa, de maneira que foi inserido um artigo dispondo que é vedado ao servidor público ocupante de
cargo efetivo ou comissionado servir sob a direção imediata de cônjuge ou parente até segundo grau civil.
De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a norma mencionada é inconstitucional em
relação aos ocupantes de cargos efetivos eis que normas inibitórias do nepotismo não têm como campo
próprio de incidência os cargos efetivos sob pena de violação ao concurso público (item considerado correto).

10.4 Princípio da Publicidade

O princípio da publicidade, impõe a divulgação e exteriorização dos atos do poder público,


guardando relação com o princípio democrático, ao possibilitar o controle social sobre os atos públicos. Em
outras palavras: a atuação da Administração pública deve ser sempre o mais transparente possível!
Inclusive, atualmente, nos moldes da LIA – Lei de Improbidade Administrativa, constitui-se em ato
de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública, negar
publicidade aos atos oficiais.
Ressalta-se, ainda, que a publicidade também representa condição de eficácia dos atos
administrativos, de modo que estes só começam a produzir efeitos a partir de sua publicidade. Assim,
enquanto o ato não é publicado, o particular não toma conhecimento deste, e sem tomar ciência, não pode
praticar e/ou observá-lo. Logo, não tem capacidade de ser eficiente, daí porque se fala que a publicidade é
um pressuposto de eficácia.

Requisito de eficácia dos atos administrativos = capacidade de produção de seus efeitos

Excepcionalmente, é possível restringir a publicidade em determinados caso, conforme preceitua o


art. 5º da CF/88:
• Art. 5º, X (são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas). O
administrador não pode, com fundamento na publicidade, violar tais valores, sob pena de indenizar
os lesados.

219
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,


assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;

• Art. 5º, XXXIII (segurança do Estado ou da sociedade).


XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo
da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;

• Art. 5º, LX (processos que correm em sigilo). Em processos tanto judiciais quanto administrativos.
Ex. processo administrativo no âmbito do CRM sobre erro médico de determinado médico. Só publica
quando se tem o resultado.
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa
da intimidade ou o interesse social o exigirem;

Frise-se que a Lei nº 12.527/11 (Lei de Acesso à informação) prevê a possibilidade de restrição ao
fornecimento de informações, se imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado.
Por fim, com fundamento no princípio da publicidade, o STF decidiu ser legítima a possibilidade de
divulgação de vencimentos dos servidores públicos com relação nominal. Veja:

STF (Info 782): É legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido pela
Administração Pública, dos nomes de seus servidores e do valor dos
correspondentes vencimentos e vantagens pecuniárias. A divulgação dos
vencimentos dos servidores, a ser realizada oficialmente, constitui informação de
interesse público que não viola a intimidade e a segurança deles, uma vez que esses
dados dizem respeito a agentes públicos em exercício nessa qualidade.

Enunciado 15 da I Jornada de Direito Administrativo CJF/STJ: A administração


pública promoverá a publicidade das arbitragens da qual seja parte, nos termos da
Lei de Acesso à Informação.

Mazza afirma que a publicidade dos atos administrativos tem a finalidade de: exteriorizar a vontade
da Administração Pública divulgando seu conteúdo para conhecimento público; presumir o conhecimento
do ato pelos interessados; tornar exigível o conteúdo do ato; desencadear a produção de efeitos do ato
administrativo; dar início ao prazo para interposição de recursos; indicar a fluência dos prazos de prescrição
e decadência; impedir a alegação de ignorância quanto ao conteúdo do ato, e; permitir o controle de
legalidade do comportamento.

220
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

10.5 Princípio da Eficiência

O princípio da eficiência foi inserido pela EC 19/98 para substituir a Administração Pública burocrática
pela gerencial, tendo em vista a necessidade de efetivação célere das finalidades públicas elencadas no
ordenamento jurídico.
Nesse sentido, o princípio da eficiência exige que a atividade administrativa seja exercida com
presteza, perfeição e rendimento funcional, sua aplicação orienta e serve de fundamento para a construção
de uma concepção de Administração Pública Gerencial.
A eficiência ganhou roupagem de direito expresso, mas ela já era exigida como princípio implícito e
já existia de forma expressa no art. 6º da lei 8987/95, que trata de serviço público. Esse art. 6º traz o conceito
de serviço adequado, exigindo a eficiência. Vejamos:

Art. 6º - Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado


ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas
pertinentes e no respectivo contrato.
§1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade,
eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e
modicidade das tarifas.

A concretização dos resultados deve ser realizada por:


(1) Planejamento: plano de ação, orçamento e prioridades;
(2) Execução: medidas concretas para satisfação dos resultados;
(3) Controle: órgãos controladores não devem se restringir à legalidade formal na análise da juridicidade
da ação administrativa, devendo levar em conta os demais princípios e alcance dos resultados.
 Obs: trata-se de norma de aplicabilidade imediata.

Exemplos de aplicação determinando a observância da aplicação da eficiência: O art. 41 da CF


demonstra a exigência da eficiência na atividade administrativa, ao exigir avaliação especial de desempenho,
assim como a avalição periódica, que depende de regulamentação por lei, pendente ainda.
- avaliação especial de desempenho - art. 41, §4º, “como condição para aquisição da estabilidade, é
obrigatória a avaliação especial de desempenho por comissão instituída para esse fim”.
- avaliação periódica de desempenho - art. 41, III, da CF “mediante procedimento de avaliação
periódica de desempenho, na forma da lei complementar, assegurada ampla defesa”.
- regra limitadora com gastos de pessoal (art. 169, CF).

221
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

11. OUTROS PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS

11.1 Princípio da Razoabilidade e Proporcionalidade

A razoabilidade é a coerência, lógica, congruência, equilíbrio, tendo sempre por base o padrão do
homem médio. Ela proíbe os excessos, as condutas insensatas. O administrador tem que agir com bom senso,
com equilíbrio.
Para os administrativistas, o princípio da proporcionalidade está embutido no princípio da
razoabilidade, pois prevalece a tese de fungibilidade dos princípios.

Obs.: não se esqueça que estamos diante de um princípio implícito, ok?

Subdivide-se em 03 subprincípios:
i. Adequação ou idoneidade: o ato estatal deverá contribuir para a realização do resultado pretendido.
ii. Necessidade ou exigibilidade: caso existam duas medidas adequadas para alcançar o fim perseguido,
o Poder Público deve adotar a medida menos gravosa aos direitos fundamentais.
iii. Proporcionalidade em sentido estrito: é a ponderação, no caso concreto, entre o ônus imposto pela
atuação estatal e o benefício por ela produzido, razão pela qual a restrição ao direito fundamental
deve ser justificada pela importância do princípio ou direito.

ATENÇÃO!
O princípio da proporcionalidade é, ainda, um limite à discricionariedade do legislador, que, muitas
vezes, ultrapassa uma linha tênue e se torna arbitrariedade (a qual é vedada no ordenamento jurídico
brasileiro). Assim, mesmo que se trate de um ato administrativo discricionário, se tal ato não obedecer ao
princípio da proporcionalidade/razoabilidade, será possível a interferência do Poder Judiciário sem que
isso acarrete violação à Separação de Poderes. Isso porque tais princípios, embora implícitos, são princípios
constitucionais que decorrem do devido processo legal. Nesse caso, o Poder Judiciário realiza o controle
de legalidade em sentido amplo, isto é, o controle do ato em relação a leis infraconstitucionais e à própria
CF. Por esse motivo a doutrina trata desses princípios como limitadores da liberdade e discricionariedade
do administrador.

11.2 Princípio da Supremacia do Interesse Público Sobre o Privado (Princípio da Finalidade Pública)

O interesse público divide-se em (doutrina italiana):

i. Interesse público primário: Necessidade de satisfação das necessidades coletivas. É o interesse com
as necessidades sociais;

222
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

ii. Interesse público secundário: É o interesse do próprio Estado, enquanto sujeito de direitos e
obrigações, ligando-se à noção de interesse do erário. É o interesse do Estado com si próprio, como
pessoa jurídica de direito público que é.

Assim, pelo princípio, há uma primazia de soluções e decisões que atendam ao interesse coletivo, em
detrimento do interesse de um único indivíduo ou grupo seleto de indivíduos.

11.3 Princípio da Autotutela ou Sindicabilidade

Pelo princípio da autotutela, também denominado de sindicabilidade, a administração pública tem a


prerrogativa de rever os seus próprios atos independentemente de provocação, seja para revogá-los ou para
anulá-los, fala-se que este controle pode ser de legalidade ou de mérito. Quando ilegal o ato será anulado,
quando inoportuno ou inconveniente será revogado.
Ressalta-se que o princípio da autotutela não afasta a possibilidade de controle de legalidade pelo
Poder Judiciário (não afasta a tutela jurisdicional), em razão do Sistema de Jurisdição Uma.

- Ato ilegal → ANULAÇÃO → efeitos ex tunc;


- Ato inconveniente/inoportuno → REVOGAÇÃO → efeitos ex nunc;

Súmula 346 STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus
próprios atos.

Súmula 473 STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados
de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-
los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.

Enunciado 20 da I Jornada de Direito Administrativo CJF/STJ: O exercício da


autotutela administrativa, para o desfazimento do ato administrativo que produza
efeitos concretos favoráveis aos seus destinatários, está condicionado à prévia
intimação e oportunidade de contraditório aos beneficiários do ato.

Cuidado (1): Não confundir autotutela com autoexecutoriedade!


• Autotutela: Designa o poder-dever de corrigir ilegalidades e de garantir o interesse público dos atos
editados pela própria Administração;
• Autoexecutoriedade: Prerrogativa de imposição da vontade administrativa, independentemente de
recurso ao Poder Judiciário.

223
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Cuidado (2): Não confundir autotutela com tutela!


• Autotutela: o princípio da autotutela autoriza a administração a realizar controle dos seus atos,
podendo anular os ilegais e revogar os inconvenientes ou inoportunos, independentemente de
decisão do Poder Judiciário.
• Tutela: pelo princípio da tutela, a administração exerce controle sobre pessoa jurídica por ela
instituída, com o objetivo de garantir a observância de suas finalidades institucionais. (= supervisão
ministerial = controle finalístico)

 A Administração Pública deve observar algum requisito quando for anular atos ilegais?
O STF possui entendimento no sentido de que, a despeito deste poder-dever de anular os atos ilegais,
se a invalidação do ato administrativo repercutir no campo de interesses individuais, faz-se necessária a
instauração de processo administrativo que assegure o devido processo legal e a ampla defesa (Informativo
763 do STF).
A Administração Pública pode anular seus próprios atos quando estes forem ilegais. No entanto, se a
invalidação do ato administrativo repercute no campo de interesses individuais, faz-se necessária a
instauração de procedimento administrativo que assegure o devido processo legal e a ampla defesa. Assim,
a prerrogativa de a Administração Pública controlar seus próprios atos não dispensa a observância do
contraditório e ampla defesa prévios em âmbito administrativo. STF. 2ª Turma. RMS 31661/DF, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 10/12/2013 (Info 732). STF. Plenário. MS 25399/DF, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 15/10/2014 (Info 763).
Além disso, o art. 54 da lei 9.784/99 estipula que o direito da Administração de anular os atos
administrativos de que decorram efeitos favoráveis aos destinatários decai em 5 anos, contados da data em
que foram praticados, salvo comprovada má fé.

Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que


decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da
data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.

Trata-se, portanto, de um prazo para o exercício da autotutela. Ressalta-se que, em princípio, a Lei
nº 9.784/99 deveria regular apenas e unicamente o processo administrativo no âmbito da Administração
Federal direta e indireta. O processo administrativo na esfera dos Estados e dos Municípios deve ser tratado
por meio de legislação a ser editada por cada um desses entes, em virtude da autonomia legislativa que
gozam para regular a matéria em seus territórios.
No entanto, o STJ entende que, se o Estado ou o Município não possuir em sua legislação previsão
de prazo decadencial para a anulação dos atos administrativos, deve-se aplicar, por analogia integrativa, o
art. 54 da Lei nº 9.784/99. Essa conclusão é baseada nos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.
O entendimento acima resultou na edição da Súmula 633 do STJ. Vejamos:

224
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Súmula 633-STJ: A Lei 9.784/99, especialmente no que diz respeito ao prazo


decadencial para revisão de atos administrativos no âmbito da administração
pública federal, pode ser aplicada de forma subsidiária aos Estados e municípios se
inexistente norma local e específica regulando a matéria.

Veja uma recente jurisprudência mitigando esse prazo decadencial de 5 anos:

Mesmo depois de terem-se passado mais de 5 anos, a Administração Pública pode


anular a anistia política concedida quando se comprovar a ausência de
perseguição política, desde que respeitado o devido processo legal e assegurada
a não devolução das verbas já recebidas
No exercício do seu poder de autotutela, poderá a Administração Pública rever os
atos de concessão de anistia a cabos da Aeronáutica com fundamento na Portaria
1.104/1964, quando se comprovar a ausência de ato com motivação
exclusivamente política, assegurando-se ao anistiado, em procedimento
administrativo, o devido processo legal e a não devolução das verbas já recebidas.
Ex: 2003, João, ex-militar da Aeronáutica, recebeu anistia política, concedida por
meio de portaria do Ministro da Justiça. Em 2006, a AGU emitiu nota técnica
fazendo alguns questionamentos sobre a forma indevida pela qual estavam sendo
concedidas anistias políticas, dentre elas a que foi outorgada a João. Em 2011, o
Ministro da Justiça determinou que fossem revistas as concessões de anistia de
inúmeros militares, inclusive a de João. Em 2012, foi aberto processo administrativo
para examinar a situação de João e, ao final, determinou-se a anulação da anistia
política. Mesmo tendo-se passado mais de 5 anos, a anulação do ato foi possível,
seja por força da parte final do art. 54 da Lei nº 9.784/99, seja porque o prazo
decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado
afronta diretamente a Constituição Federal. STF. Plenário. RE 817338/DF, Rel. Min.
Dias Toffoli, julgado em 16/10/2019 (repercussão geral – Tema 839) (Info 956). É
possível a anulação do ato de anistia pela Administração Pública, evidenciada a
violação direta do art. 8º do ADCT, mesmo quando decorrido o prazo decadencial
contido na Lei nº 9.784/99. STJ. 1ª Seção. MS 19070-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes
Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, julgado em 12/02/2020 (Info 668).

No mesmo sentido: STF. Plenário. RE 817338/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/10/2019
(repercussão geral – Tema 839) (Info 956).
Ademais, o prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado
afronta diretamente a Constituição Federal. Veja:

225
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Não existe direito adquirido à efetivação na titularidade de cartório quando a


vacância do cargo ocorre na vigência da CF/88, que exige a submissão a concurso
público (art. 236, § 3º). O prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se
aplica quando o ato a ser anulado afronta diretamente a Constituição Federal. O
art. 236, § 3º, da CF é uma norma constitucional autoaplicável. Logo, mesmo antes
da edição da Lei 8.935/1994 ela já tinha plena eficácia e o concurso público era
obrigatório como condição para o ingresso na atividade notarial e de registro. STF.
Plenário. MS 26860/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 2/4/2014 (Info 741).

Além disso, recentemente, STF decidiu que, em regra, o prazo decadencial para que a Administração
anule atos administrativos inválidos é de 5 anos, aplicável a todos os entes federativos, por força do princípio
da isonomia, ou seja:

É inconstitucional lei estadual que estabeleça prazo decadencial de 10 (dez) anos


para anulação de atos administrativos reputados inválidos pela Administração
Pública estadual. STF. Plenário. ADI 6019/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do
acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 12/4/2021 (Info 1012).

Por fim, em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse público nem prejuízo a
terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria
Administração.

11.4 Princípio Da Continuidade Do Serviço Público

A atuação administrativa, buscando atender da melhor forma o interesse público, preconiza que a
atividade do Estado deve ser prestada de forma contínua, ou seja, sem interrupções, motivo pelo qual o
princípio da continuidade veda a interrupção na prestação dos serviços públicos.
Está expressamente previsto no art. 6º, § 1º, da Lei n. 8.987/95 (Lei de Serviços Públicos), e seu
fundamento reside no fato de a prestação de serviços públicos ser um dever constitucionalmente
estabelecido (art. 175 da CF/88), localizando-se, portanto, acima da vontade da Administração Pública, que
não tem escolha entre realizar ou não a prestação.

Art. 6o Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado


ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas
pertinentes e no respectivo contrato.
§ 1o Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade,
eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e
modicidade das tarifas.

226
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

CF, Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime
de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços
públicos.

Entretanto, o art. 6º, § 3º, da Lei n. 8.987/95, de acordo com o entendimento doutrinário majoritário
e da jurisprudência do STJ, autoriza o corte no fornecimento do serviço, após prévio aviso, nos casos de:
a) razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e
b) inadimplemento do usuário.

§ 3o Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em


situação de emergência ou após prévio aviso, quando:
I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e,
II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.

§ 4 A interrupção do serviço na hipótese prevista no inciso II do § 3º deste artigo


não poderá iniciar-se na sexta-feira, no sábado ou no domingo, nem em feriado ou
no dia anterior a feriado. (Incluído pela Lei nº 14.015, de 2020)

Obs.: O aviso prévio dado através de comunicado em rádio de amplo alcance satisfaz as condições de aviso
prévio, haja vista se tratar de um dos meios mais populares e o de maior alcance público, motivo pelo qual
há de se reconhecer a validade e eficácia do ato administrativo. Veja a jurisprudência do STJ nesse sentido:

Em regra, o serviço público deverá ser prestado de forma contínua, ou seja, sem
interrupções (princípio da continuidade do serviço público). Excepcionalmente,
será possível a interrupção do serviço público nas seguintes hipóteses previstas
no art. 6º, § 3º da Lei n.º 8.987/95: a) Em caso de emergência (mesmo sem aviso
prévio); b) Por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações, desde que
o usuário seja previamente avisado; c) Por causa de inadimplemento do usuário,
desde que ele seja previamente avisado. Se a concessionária de energia elétrica
divulga, por meio de aviso nas emissoras de rádio do Município, que haverá, daqui
a alguns dias, a interrupção do fornecimento de energia elétrica por algumas horas
em virtude de razões de ordem técnica, este aviso atende a exigência da Lei nº
8.987/95? SIM. A divulgação da suspensão no fornecimento de serviço de energia
elétrica por meio de emissoras de rádio, dias antes da interrupção, satisfaz a
exigência de aviso prévio, prevista no art. 6º, § 3º, da Lei nº 8.987/95. STJ. 1ª
Turma. REsp 1270339-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 15/12/2016 (Info
598).
227
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Obs.: A interrupção por inadimplemento do usuário não pode paralisar serviços essenciais, como, por
exemplo, corte de energia elétrica do hospital público/iluminação pública. Nos chamados “serviços
essenciais”, mantém-se o serviço e prossegue com a cobrança paralelamente.

Nesse sentido, vale destacar que, recentemente, o STJ entendeu que é possível o corte de energia
elétrica por fraude no medidor, DESDE que sejam observados alguns requisitos.
Na hipótese de débito estrito de recuperação de consumo efetivo por fraude no aparelho medidor
atribuída ao consumidor, desde que apurado em observância aos princípios do contraditório e da ampla
defesa, é possível o corte administrativo do fornecimento do serviço de energia elétrica, mediante prévio
aviso ao consumidor, pelo inadimplemento do consumo recuperado correspondente ao período de 90
(noventa) dias anterior à constatação da fraude, contanto que executado o corte em até 90 (noventa) dias
após o vencimento do débito, sem prejuízo do direito de a concessionária utilizar os meios judiciais ordinários
de cobrança da dívida, inclusive antecedente aos mencionados 90 (noventa) dias de retroação. STJ. 1ª Seção.
REsp 1412433-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/04/2018 (recurso repetitivo) (Info 634).
NOVIDADE LEGISLATIVA - Lei nº 14.015/2020 Alterou a Lei nº 8.987/95 e a Lei nº 13.460/2017 para deixar
mais explícito que é possível a interrupção do serviço público em caso de inadimplemento do usuário, desde
que ele seja previamente avisado.

Podem ser apontados diversos desdobramentos normativos decorrentes do princípio da


continuidade dos serviços públicos, dentre os quais:

a. O direito de greve dos servidores públicos será exercido nos termos e nos limites definidos em lei
específica (art. 37, VII, da CF). Lembre-se que o policial civil não pode fazer greve!!!

Policias civis são proibidos de fazer greve. O exercício do direito de greve, sob
qualquer forma ou modalidade, é vedado aos policiais civis e a todos os servidores
públicos que atuem diretamente na área de segurança pública. STF. Plenário. ARE
654432/GO, Rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 5/4/2017 (repercussão geral) (Info 860).

Explicação via Dizer o Direito (muito importante para fundamentar em uma prova discursiva!)

Direito de greve é incompatível com a carreira policial


Não é possível compatibilizar que o braço armado do Estado faça greve porque isso
colocaria em risco a segurança pública, a ordem e a paz social. Os integrantes das
carreiras policiais possuem o dever de fazer intervenções e prisões em flagrante,
sendo isso inconciliável com o exercício da greve. Como já afirmado, não há
228
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

possibilidade de nenhum outro órgão da iniciativa privada suprir a atividade


policial. Se esta entra em greve, não há como sua função ser substituída.
Vale ressaltar que a atividade policial, além de ser importantíssima por si só, se for
paralisada, afetará também as atribuições do Ministério Público e do próprio Poder
Judiciário.

Greve não é direito absoluto


A greve não é um direito absoluto e, neste caso, deverá ser feito um balanceamento
entre o direito de greve e o direito de toda a sociedade à segurança pública e à
manutenção da ordem pública e paz social.
Neste caso, há a prevalência do interesse público e do interesse social sobre o
interesse individual de uma categoria. Por essa razão, em nome da segurança
pública, os policiais não podem fazer greve.
Importante destacar que a ponderação de interesses aqui não envolve direito de
greve X continuidade do serviço público. A greve dos policiais é proibida não por
causa do princípio da continuidade do serviço público (o que seria muito pouco),
mas sim por conta do direito de toda a sociedade à garantia da segurança pública,
à garantia da ordem pública e da paz social.

b. Restrição à aplicabilidade da exceptio non adimpleti contractus, pois o contratado só pode


interromper a execução do contrato após atraso superior a 2 (dois) meses, contado da emissão da
nota fiscal, dos pagamentos ou de parcelas de pagamentos devidos pela Administração por despesas
de obras, serviços ou fornecimentos (art. 137, §2º, IV, da Lei n. 14.133/2021);
c. Possibilidade de intervenção na concessionária para garantia de continuidade na prestação do serviço
(art. 32 da Lei n. 8.987/95);

Art. 32. O poder concedente poderá intervir na concessão, com o fim de assegurar
a adequação na prestação do serviço, bem como o fiel cumprimento das normas
contratuais, regulamentares e legais pertinentes.
Parágrafo único. A intervenção far-se-á por decreto do poder concedente, que
conterá a designação do interventor, o prazo da intervenção e os objetivos e limites
da medida

d. Ocupar provisoriamente bens móveis e imóveis e utilizar pessoal e serviços vinculados ao objeto do
contrato nas hipóteses de: i) risco à prestação de serviços essenciais; ii) necessidade de acautelar
apuração administrativa de faltas contratuais pelo contratado, inclusive após extinção do contrato.
(art. 104, da Lei n. 14.133/2021);

229
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Art. 58. O regime jurídico dos contratos administrativos instituído por esta Lei
confere à Administração, em relação a eles, a prerrogativa de:
V - nos casos de serviços essenciais, ocupar provisoriamente bens móveis, imóveis,
pessoal e serviços vinculados ao objeto do contrato, na hipótese da necessidade de
acautelar apuração administrativa de faltas contratuais pelo contratado, bem como
na hipótese de rescisão do contrato administrativo.

e. Reversão de bens do concessionário indispensáveis à continuidade do serviço (art. 36 da Lei n.


8.987/95);

Art. 36. A reversão no advento do termo contratual far-se-á com a indenização das
parcelas dos investimentos vinculados a bens reversíveis, ainda não amortizados
ou depreciados, que tenham sido realizados com o objetivo de garantir a
continuidade e atualidade do serviço concedido

f. Encampação do contrato de concessão mediante a retomada do serviço pelo concedente (art. 37 da


Lei n. 8.987/95);

Art. 37. Considera-se encampação a retomada do serviço pelo poder concedente


durante o prazo da concessão, por motivo de interesse público, mediante lei
autorizativa específica e após prévio pagamento da indenização, na forma do artigo
anterior.

g. Necessidade de institutos como a suplência, a delegação e a substituição para preencher as funções


públicas temporariamente vagas.

JURISPRUDÊNCIA EM TESE – STJ

É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando


inadimplente o usuário, desde que precedido de notificação.

É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais por razões de


ordem técnica ou de segurança das instalações, desde que precedido de
notificação.

É ilegítimo o corte no fornecimento de energia elétrica quando puder afetar o


direito à saúde e à integridade física do usuário.

230
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando


inadimplente pessoa jurídica de direito público, desde que precedido de notificação
e a interrupção não atinja as unidades prestadoras de serviços indispensáveis à
população.

É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando


inadimplente unidade de saúde, uma vez que prevalecem os interesses de proteção
à vida e à saúde.

É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando a


inadimplência do usuário decorrer de débitos pretéritos, uma vez que a interrupção
pressupõe o inadimplemento de conta regular, relativa ao mês do consumo.

É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais por débitos de


usuário anterior, em razão da natureza pessoal da dívida.

É ilegítimo o corte no fornecimento de energia elétrica em razão de débito irrisório,


por configurar abuso de direito e ofensa aos princípios da proporcionalidade e
razoabilidade, sendo cabível a indenização ao consumidor por danos morais.

É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando o débito


decorrer de irregularidade no hidrômetro ou no medidor de energia elétrica,
apurada unilateralmente pela concessionária.

O corte no fornecimento de energia elétrica somente pode recair sobre o imóvel


que originou o débito, e não sobre outra unidade de consumo do usuário
inadimplente.

11.5 Princípio da Motivação

Impõe à Administração Pública o dever de indicação dos pressupostos de fato e de direito que
determinaram a prática do ato (art. 2º, parágrafo único, VII, da Lei n. 9.784/99). Assim, a validade do ato
administrativo está condicionada à apresentação por escrito dos fundamentos fáticos e jurídicos
justificadores da decisão adotada.

Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da


legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade,
ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
231
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os


critérios de:
VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão;

Trata-se de um mecanismo de controle sobre a legalidade e legitimidade das decisões da


Administração Pública
Está previsto no art. 93, X, da CF/88 e no art. 50 da Lei 9.784/99. Apesar de haver divergência, a
corrente majoritária defende que a motivação é obrigatória tanto nos atos vinculados quanto nos atos
discricionários.
A motivação deve ser apresentada simultaneamente ou no instante seguinte à prática do ato.
Motivação intempestiva (posterior) ou extemporânea (anterior) causa nulidade do ato administrativo. Ainda,
a motivação deve ser explícita, clara e congruente.
O princípio da motivação comporta exceção, por exemplo, nomeação ou exoneração (exoneração
"ad nutum") de cargos comissionados. A exoneração "ad nutum" refere-se àquela aplicável aos ocupantes
de cargo em comissão, e prescinde (abstrai/não precisa) de motivação da Administração.
No entanto, se mesmo essa motivação sendo “desnecessária”, a Administração optar por motivá-la,
estará vinculada aos motivos que explicitou no ato, em decorrência da chamada: TEORIA DOS MOTIVOS
DETERMINANTES. Isso porque os motivos vinculam todo o ato, e se não forem respeitados, o ato torna-se
nulo.

Observações importantes:
• Motivação aliunde ou per relationem – É aquela indicada fora do ato, consistente em concordância com
fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas. Ou seja, a motivação aliunde
corre todas as vezes que a motivação de um determinado ato remete à motivação de ato anterior que
embasa sua edição.
Ex.: parecer opina pela possibilidade de prática de ato de demissão de servidor, ao demitir o servidor, a
autoridade não precisa repetir os fundamentos explicitados pelo parecer, bastando, na fundamentação
do ato de demissão, declarar a concordância com os argumentos expedidos no ato opinativo

• Motivação x Motivo x Móvel:


· Motivo = fato que autoriza a realização do ato administrativo;
· Motivação = exigência de explicitação, de enunciação dos motivos.
· Móvel = intenção declarada pelo agente como justificativa para a prática do ato.

232
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

11.6 Princípio da Ampla Defesa e Contraditório

Por força do princípio do contraditório, as decisões administrativas devem ser tomadas considerando
a manifestação dos interessados. Para isso, é necessário dar oportunidade para que os afetados pela decisão
sejam ouvidos antes do resultado final do processo.
O princípio da ampla defesa assegura aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, a
utilização dos meios de prova, dos recursos e dos instrumentos necessários para defesa de seus interesses
perante o Judiciário e a Administração.

Art. 5º, LV, CF.: aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios
e recursos a ela inerentes.

Ao garantir o direito à ampla defesa “com os meios e recursos a ela inerentes”, o art. 5º, LV, da
Constituição Federal incluiu, no bojo do dispositivo, o princípio do duplo grau, verdadeiro desdobramento da
ampla defesa.
Sobre os princípios do contraditório e da ampla defesa, foi editada a Súmula Vinculante 3 do STF:

“Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o


contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou
revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a
apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e
pensão”.

Veja a recente jurisprudência sobre o tema:

Em caso de irregularidades do Estado-membro em convênio federal, a União


somente poderá inscrever o ente no SIAFI, no CADIN e no CAUC após o término
do processo de prestação de contas especial, observados os princípios
constitucionais da ampla defesa e do contraditório
O cadastro restritivo não deve ser feito de forma unilateral e sem acesso à ampla
defesa e ao contraditório. Isso porque, muitas vezes, a inscrição pode ter, além de
motivação meramente financeira, razões políticas. Assim, ao poder central (União)
é possível suspender imediatamente o repasse de verbas ou a execução de
convênios, mas o cadastro deve ser feito nos termos da lei, ou seja, mediante a
verificação da veracidade das irregularidades apontadas. Isso porque o cadastro
tem consequências, como a impossibilidade da repartição constitucional de verbas
das receitas voluntárias. A tomada de contas especial, procedimento por meio do
233
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

qual se alcança o reconhecimento definitivo das irregularidades, com a devida


observância do contraditório e da ampla defesa, tem suas regras definidas em lei.
Ao final, é possível tornar o dano ao erário dívida líquida e certa, e a decisão tem
eficácia de título executivo extrajudicial. STF. Plenário. ACO 2892 AgR/DF, rel. orig.
Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/9/2019
(Info 951).

11.7 Princípio da Segurança Jurídica e Legítima Confiança

Segundo Maria Di Pietro, o direito administrativo brasileiro herdou do direito alemão (já caiu em
prova) a inspiração para aplicação do princípio da segurança jurídica, especialmente sob o aspecto subjetivo
da proteção à confiança.

• Segurança jurídica: abarca dois sentidos:


· Objetivo: estabilização do ordenamento jurídico;
· Subjetivo: proteção a confiança das pessoas em relação às expectativas geradas por
promessas e atos estatais. É princípio autônomo.

• Segurança jurídica x Legítima confiança


· Segurança jurídica: possui caráter amplo, aplicado às relações públicas e privadas;
· Legítima confiança: tutela apenas a esfera jurídica do particular, protegendo-o da atuação
arbitrária do Estado.

A noção de proteção da confiança legítima aparece como uma reação à utilização abusiva de normas
jurídicas ou atos administrativos que surpreendam bruscamente o seu destinatário. Um exemplo de
aplicação do princípio da legítima confiança diz respeito à impossibilidade de devolução de valores recebidos
de boa-fé por servidores públicos, em virtude de errônea interpretação de lei pela Administração:

STJ (Info 579): Os herdeiros devem restituir os proventos que, por erro operacional
da Administração Pública, continuaram sendo depositados em conta de servidor
público após o seu falecimento. Não se analisa aqui se o herdeiro estava ou não de
boa-fé. O herdeiro é obrigado a devolver porque ele não tem qualquer razão
jurídica para ficar com aquele dinheiro em prejuízo da Administração Pública. Não
havia nenhuma relação jurídica entre o herdeiro e o Estado. O fundamento aqui é
o princípio que veda o enriquecimento sem causa (art. 884 do CC).

Requisitos para configurar a confiança legítima:


• Ato da administração suficientemente conclusivo para gerar no administrado confiança:
234
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

· De que a Administração atuou corretamente;


· De que a conduta do afetado é lícita na relação jurídica que mantém com a Administração;
· Confiança do afetado de que as suas expectativas são razoáveis.
• Presença de signos externos que orientam o cidadão a adotar determinada conduta;
• Ato da administração que reconhece ou constitui uma situação jurídica individualizada, cuja
durabilidade é confiável;
• Causa idônea para provocar a confiança do afetado;
• Cumprimento, pelo interessado, dos seus deveres e obrigações no caso.

Quando NÃO se aplica o princípio da confiança legítima:


• Hipóteses de má-fé do administrado;
• Não pode existir mera expectativa de direitos pelo interessado.

11.8 Princípio da Intranscendência Subjetiva das Sanções

O princípio da intranscendência subjetiva significa que não podem ser impostas sanções e restrições
que superem a dimensão estritamente pessoal do infrator e atinjam pessoas que não tenham sido as
causadoras do ato ilícito
Na jurisprudência do STF encontramos dois exemplos de aplicação desse princípio em casos
envolvendo inscrição de Estados e Municípios nos cadastros de inadimplentes da União:

• 1ª acepção: quando a irregularidade foi praticada pela gestão anterior


Existem julgados do STF afirmando que se a irregularidade no convênio foi praticada pelo gestor
anterior e a gestão atual, depois que assumiu, tomou todas as medidas para ressarcir o erário e corrigir as
falhas (exs: apresentou todos os documentos ao órgão fiscalizador, ajuizou ações de ressarcimento contra o
antigo gestor etc.), neste caso, o ente (Estado ou Município) não poderá ser incluído nos cadastros de
inadimplentes da União.
Assim, segundo esta acepção, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções proíbe a
aplicação de sanções às administrações atuais por atos de gestão praticados por administrações
anteriores.
Segundo o Min. Luiz Fux, “não se pode inviabilizar a administração de quem foi eleito
democraticamente e não foi responsável diretamente pelas dificuldades financeiras que acarretaram a
inscrição combatida”. Logo, deve-se aplicar o princípio da intranscendência subjetiva das sanções, impedindo
que a Administração atual seja punida com a restrição na celebração de novos convênios ou recebimento de
repasses federais. Nesse sentido: STF. 1ª Turma. AC 2614/PE, AC 781/PI e AC 2946/PI, Rel. Min. Luiz Fux,
julgados em 23/6/2015 (Info 791).

235
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

O STJ comunga também desse entendimento, exigindo sempre que a gestão sucessora tenha tomado
as providências cabíveis à reparação dos danos eventualmente cometidos. Por isso, editou a súmula 615.
Vejamos:
Súmula 615-STJ: Não pode ocorrer ou permanecer a inscrição do município em cadastros restritivos fundada
em irregularidades na gestão anterior quando, na gestão sucessora, são tomadas as providências cabíveis à
reparação dos danos eventualmente cometidos.

• 2ª acepção: quando a irregularidade foi praticada por uma entidade do Estado/Município ou pelos
outros Poderes que não o Executivo
Além do caso acima explicado, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções pode ser
aplicado também nas situações em que uma entidade estadual/municipal (ex: uma autarquia) descumpriu
as regras do convênio e a União inscreve não apenas essa entidade, como também o próprio ente
(Estado/Município) nos cadastros restritivos.
Nesse sentido: (...) O postulado da intranscendência impede que sanções e restrições de ordem
jurídica superem a dimensão estritamente pessoal do infrator. Em virtude desse princípio, as limitações
jurídicas que derivam da inscrição, em cadastros públicos de inadimplentes, das autarquias, das empresas
governamentais ou das entidades paraestatais não podem atingir os Estados-membros, projetando, sobre
estes, consequências jurídicas desfavoráveis e gravosas, pois o inadimplemento obrigacional – por revelar-
se unicamente imputável aos entes menores integrantes da administração descentralizada – só a estes pode
afetar.

Os Estados-membros e o Distrito Federal, em consequência, não podem sofrer


limitações em sua esfera jurídica, motivadas pelo só fato de se acharem
administrativamente vinculadas a eles as autarquias, as entidades paraestatais, as
sociedades sujeitas a seu poder de controle e as empresas governamentais
alegadamente inadimplentes e que, por tal motivo, hajam sido incluídas em
cadastros federais (CAUC, SIAFI, CADIN, v.g.). (...) STF. Plenário. ACO 1848 AgR, Rel.
Min. Celso de Mello, julgado em 06/11/2014.

Poder Executivo não pode ser incluído nos cadastros de inadimplentes da União
por irregularidades praticadas pelos outros Poderes ou órgãos autônomos
A imposição de sanções ao Poder Executivo estadual em virtude de pendências de
órgãos dotados de autonomia institucional e orgânico-administrativa, tais como o
Ministério Público estadual, constitui violação do princípio da intranscendência, na
medida em que o Governo do Estado não tem competência para intervir na esfera
orgânica dessa instituição autônoma. O Poder Executivo não pode ser impedido de
contratar operações de crédito em razão do descumprimento dos limites setoriais
de despesa com pessoal por outros poderes e órgãos autônomos (art. 20, II, e 23, §
236
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

3º, da Lei de Responsabilidade Fiscal). STF. Plenário. ACO 3072, Rel. Ricardo
Lewandowski, julgado em 24/08/2020 (Info 991 – clipping).

A União é parte legítima para figurar no polo passivo das ações em que Estado-
membro impugna inscrição em cadastros federais desabonadores e/ou de restrição
de crédito
Caso concreto O Estado do Amapá possui débitos com o INCRA e com o IBAMA,
duas autarquias federais. Em razão desses débitos, o Estado foi inserido no SIAFI,
no CADIN e no CAUC, cadastros de inadimplência mantidos pela União. Tanto o
INCRA como o IBAMA ajuizaram execução fiscal para cobrar os débitos e o Estado
expediu precatórios, que, no entanto, ainda estão pendentes de pagamento. O
Estado do Amapá ajuizou ação cível originária contra a União pedindo a exclusão
do Estado dos cadastros restritivos. Legitimidade da União para figurar no polo
passivo A União é parte legítima para figurar no polo passivo das ações em que
Estado-membro impugna inscrição em cadastros federais desabonadores e/ou de
restrição de crédito, mesmo que os débitos sejam decorrentes de dívidas com
entidades federais (e não com a administração direta). Isso porque os Sistemas
SIAFI/CAUC/CADIN são organizados e mantidos pela União, conforme suas leis de
regência, do que decorre a legitimidade desta para figurar no polo passivo.
Manutenção nos cadastros viola o princípio da razoabilidade É indevida a inscrição
do Estado-membro nos cadastros desabonadores em decorrência de pendências
administrativas relativas a débitos já submetidos a pagamento por precatório. Isso
porque a CF/88 já previu que, em caso de descumprimento do pagamento do
precatório, existe a possibilidade de intervenção federal no ente inadimplente.
Logo, é incompatível com o postulado da razoabilidade onerar duplamente o
Estado-membro, tanto com a possibilidade de intervenção federal quanto com a
sua inscrição em cadastros desabonadores. STF. Plenário. ACO 3083, Rel. Ricardo
Lewandowski, julgado em 24/08/2020 (Info 991 – clipping).

Referências bibliográficas:
- Rafael Carvalho Resende Oliveira. Curso de Direito Administrativo
- Matheus Carvalho: Manual de Direito Administrativo
- José Santos Carvalho Filho. Curso de Direito Administrativo

237
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

QUESTÕES PROPOSTAS

1 - 2022 -CESPE / CEBRASPE -PC-RJ -CESPE / CEBRASPE - 2022 fundamentação de que esta possui contrato com o Município
- PC-RJ - Delegado de Polícia de Campo Grande para a prestação de serviço de limpeza e
jardinagem, hipótese em que recebeu, no período
Os princípios constitucionais do direito administrativo compreendido entre 1 de janeiro de 2021 e 30 de setembro
de 2021 (data da realização da sessão pública da abertura de
A-podem ser aplicados diretamente pelo gestor público, mas certame), a importância de R$ 6.000.000,00 (seis milhões).
não em sentido contrário à lei (contra legem), ainda que o Em que pese não ter juntado documento comprovando esse
interesse público aponte neste sentido. fato, o Estado de Mato Grosso do Sul realizou diligência e
B-podem justificar decisões administrativas sem a identificou a procedência da alegação. IV - A Administração
intermediação da lei, tal como aconteceu com a interpretação Pública que tenha realizado determinado pagamento a
feita pelo Conselho Nacional de Justiça acerca de nepotismo. servidor público, em razão de interpretação equivocada de
C-são enumerados taxativamente no caput do art. 37 da CF, lei, não poderá exigir a restituição do respectivo valor.
que define seus limites e possibilidades. Assinale a alternativa correta.
D-não se limitam à lista do art. 37 da CF, embora impliquem,
ontologicamente, comandos genéricos incapazes de vincular A-Princípio da autotutela – princípio do formalismo
positivamente a ação administrativa. extremado – princípios da oficialidade e da verdade material
E-são imponderáveis, porquanto enunciam máximas – princípio da boa-fé.
fundamentais para a compreensão do direito B-Princípio do devido processo legal – princípio do
administrativo.A formalismo exacerbado – princípios da oficialidade e da
verdade material – princípio da boa-fé.
C-Princípio da autotutela – princípio do formalismo
2 - 2021 - FAPEC -PC-MS -FAPEC - 2021 - PC-MS - Delegado
moderado – princípios da oficialidade e da verdade material
de Polícia
– princípio da participação.
D-Princípio da autotutela – princípio do formalismo
Dos cenários abaixo apresentados, assinale a alternativa
moderado – princípios da oficialidade e verdade material –
correta que informa os princípios que fundamentam a prática
princípio da boa-fé.
do ato delineado.
E-Princípio do devido processo legal – princípio do formalismo
I - O Secretário do Estado de Saúde, quando do recebimento
moderado – princípios da oficialidade e verdade material –
do processo licitatório deflagrado para fins de aquisição de
princípio da boa-fé.
medicamento, na modalidade pregão, identificou que fora
exigido como requisito de habilitação técnica o Certificado de
Boas Práticas de Distribuição e/ou Armazenagem, o qual não 3 - 2021 - FGV - PC-RN - FGV - 2021 - PC-RN - Delegado de
Polícia Civil Substituto
encontra amparo legal, hipótese em que declarou nulo o
procedimento desde a publicação do ato convocatório,
determinando, por conseguinte, a exclusão desse requisito. II A Lei Orgânica da Polícia Civil do Estado Alfa foi alterada pela
- Em determinado procedimento licitatório, o pregoeiro, Assembleia Legislativa, de maneira que foi inserido um artigo
verificando equívocos na composição da planilha de custo da dispondo que é vedado ao servidor público ocupante de cargo
prestação de serviço com dedicação de mão de obra, com efetivo ou comissionado servir sob a direção imediata de
fundamento no artigo 43, §3º, da Lei nº 8.666/1993, solicitou cônjuge ou parente até segundo grau civil. De acordo com a
à empresa classificada na licitação por menor preço o jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a norma
refazimento da planilha de custo, condicionando a mencionada é:
observação do valor global proposto (valor final ofertado). III
- A Empresa Canarinho Ltda. apresenta recurso contra ato de A-constitucional, porque existe presunção de ofensa aos
habilitação da Empresa Cenourinha Eireli, sob a princípios expressos da administração pública da
impessoalidade e da moralidade;
238
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

B-constitucional, porque está de acordo com os princípios da obstante informa ao agente administrativo que o interesse
administração pública e a súmula vinculante que veda o público prevalece sobre interesses privados.
nepotismo,e é aplicável para todos os entes federativos; E-São princípios de direito administrativo a moralidade
C-constitucional,porque cada Estado da Federação tem administrativa, a supremacia do interesse público, a
autonomia para ampliar livremente as hipóteses de motivação, a publicidade e transparência, a
nepotismo previstas em súmula vinculante; proporcionalidade e razoabilidade administrativas.
D-inconstitucional, porque os ocupantes de cargos efetivos
ou comissionados no âmbito da polícia civil são considerados 5- 2019 - Instituto Acesso - PC-ES - Instituto Acesso - 2019 -
agentes políticos e, por isso, não incide a súmula vinculante PC-ES - Delegado de Polícia - Anulado
que proíbe o nepotismo;
E-inconstitucional em relação aos ocupantes de cargos A administração pública, no Brasil, é regida por uma série de
efetivos eis que normas inibitórias do nepotismo não têm princípios. Tendo em vista a natureza jurídica destes
como campo próprio de incidência os cargos efetivos sob princípios, leia as afirmativas a seguir.
pena de violação ao concurso público.
I - Legalidade, publicidade, impessoalidade, moralidade e
4 - 2019 - Instituto Acesso - PC-ES - Instituto Acesso - 2019 eficiência são classificadas, pela doutrina, como princípios
- PC-ES - Delegado de Polícia - Anulado expressos da administração pública por possuírem previsão
normativa inserta no texto da Constituição da República
“O Direito Administrativo, como é entendido e praticado Federativa do Brasil de 1988 com aplicação direta ao campo
entre nós, rege efetivamente não só os atos do Executivo, do direito administrativo.
mas também os do Legislativo e os do Judiciário, praticados II - O princípio da eficiência da administração se aplica ao
como atividade paralela e instrumental das que lhe são servidor, para efeito de sua aptidão ao cargo, durante o
específicas e predominantes, isto é, a de legislação e a de estágio probatório e ao logo do exercício de sua vida
jurisdição. O conceito de Direito Administrativo Brasileiro, funcional.
para nós, sintetiza-se no conjunto harmônico de princípios III - Campanhas ou informes de órgãos públicos que
jurídicos que regem os órgãos, os agentes e as atividades apresentem slogans de promoção pessoal do agente público
públicas tendentes a realizar concreta, direta e violam diretamente o princípio constitucional da moralidade
imediatamente os fins desejados pelo Estado.” (MEIRELLES, administrativa.
Hely Lopes. O Direito Administrativo Brasileiro. 29ª ed., São IV - A supremacia do interesse público é considerada, pela
Paulo: Malheiros Editora, 2004.) doutrina, como um princípio implícito da administração
pública
Assinale a alternativa INCORRETA: V - Um princípio é considerado implícito ao direito
administrativo em razão de este ser aplicável ao campo da
A-Autorização, permissão e concessão são formas de o Estado administração pública, ainda que tal princípio seja próprio a
autorizar, permitir e conceder aos particulares a exploração um outro campo do direito.
de bens e serviços públicos.
B-A legalidade administrativa é diferente da legalidade civil, Marque a alternativa correta:
uma vez que aquela dita o limite da atuação do administrador
público, conforme imposto pela lei e esta permite ao A-Todas as afirmativas estão corretas, à exceção da III.
particular aquilo que a lei não proíbe. B-Todas as afirmativas estão corretas, à exceção da I.
C-O poder de polícia decorre da capacidade administrativa e C-Todas as afirmativas estão corretas, à exceção da V.
concede também a prerrogativa de função legislativa para a D-Todas as afirmativas estão corretas, à exceção da IV.
positivação de tipos penais em âmbito de direito penal aos E-Todas as afirmativas estão corretas, à exceção da II.
agentes de estado que possuem esse poder.
D-O princípio da supremacia do interesse público, não 6 - 2018 - VUNESP - PC-SP - VUNESP - 2018 - PC-SP -
desconsidera os interesses particulares/individuais, não Delegado de Polícia

239
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Os princípios administrativos podem ser utilizados para fins Sobre os princípios da Administração Pública, é CORRETO
de controle de constitucionalidade dos atos administrativos afirmar que:
pelo Poder Judiciário, sendo o que se observa na alternativa
a seguir: A-a efetivação de pagamento de precatório em
desobediência à ordem cronológica traduz violação ao
A-a nomeação de cônjuge da autoridade nomeante para o princípio da impessoalidade, à luz do qual é vedada a atuação
exercício de cargo em comissão ou de confiança na administrativa dissociada da moral, dos princípios éticos, da
Administração Pública do Estado viola a Constituição Federal. boa-fé e da lealdade.
B-o ato administrativo eivado de ilegalidade deverá ser B-em consonância com o princípio da legalidade, estatuído no
revogado pelo administrador público, em obediência ao artigo 37, caput, da CR/88, a Administração Pública pode
princípio administrativo da discricionariedade. fazer tudo o que a lei não proíbe.
C-ao titular do cargo de procurador de autarquia exige-se a C-não são oponíveis às Sociedades de Economia Mista, haja
apresentação de instrumento de mandato para representá-la vista que essas sociedades são regidas pelo regime de direito
em juízo. privado.
D-não é possível a autotutela sobre os atos administrativos D-o princípio da supremacia do interesse público não se
após a sua impugnação no Poder Judiciário. radica em dispositivo específico da CR/88, ainda que
E-o princípio da pessoalidade é corolário da isonomia e da inúmeros aludam ou impliquem manifestações concretas
legalidade, sendo centrais à ação administrativa. dele.

7- 2018 - VUNESP - PC-SP - VUNESP - 2018 - PC-SP - 9 - 2018 - FUNDATEC - PC-RS - FUNDATEC - 2018 - PC-RS -
Delegado de Polícia Delegado de Polícia - Bloco II

O conceito de Administração Pública possui vários sentidos, Sobre os princípios da Administração Pública, analise as
sendo correto afirmar que: seguintes assertivas:

A-sob o sentido formal, a Administração Pública deve ser I. A prisão em flagrante delito de um indivíduo, sob o enfoque
entendida como o conjunto de funções administrativas de não depender de prévia manifestação do poder judiciário,
exercidas pelo Estado. é uma manifestação concreta do princípio da autotutela
B-sob o sentido objetivo, entende-se como Administração administrativa.
Pública a estrutura orgânica do Estado, definidora do II. O uso moderado e progressivo da força, modulador da ação
conjunto de estruturas de competências legalmente policial, encontra fundamento no princípio da
definidas. proporcionalidade, que tem por objetivo evitar que a
C-sob o sentido empreendedor, a Administração Pública é o atividade coercitiva do Estado seja exercida em intensidade
conjunto de funções administrativas exercidas pelo Estado de superior à estritamente necessária para restabelecer a ordem
forma empreendedora, visando o atingimento das suas e a segurança pública.
finalidades. III. No âmbito administrativo, o acesso à informação, por se
D-sob o sentido material, a Administração Pública deve ser tratar de um direito público subjetivo de envergadura
entendida como a atividade administrativa exercida pelo constitucional, derivado do princípio da publicidade e da
Estado. transparência, não comporta sigilo como exceção.
E-sob o sentido material, entende-se como Administração IV. A utilização, por parte do servidor público, para fins
Pública o conjunto de órgãos do Estado, isto é, a estrutura privados, de um bem regularmente apreendido no âmbito de
estatal. uma investigação criminal caracteriza violação ao princípio da
impessoalidade, sob o enfoque da finalidade, impondo o
8 - 2018 - FUMARC - PC-MG - FUMARC - 2018 - PC-MG - enquadramento de tal conduta em ato de improbidade
Delegado de Polícia Substituto administrativa.

240
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

primordial de atender ao interesse público, ao bem-estar


Quais estão corretas? coletivo. Além disso, pode-se dizer que o direito público
somente começou a se desenvolver quando, depois de
A-Apenas I. superados o primado do Direito Civil (que durou muitos
B-Apenas I e II. séculos) e o individualismo que tomou conta dos vários
C-Apenas II e IV. setores da ciência, inclusive a do Direito, substituiu-se a ideia
D-Apenas III e IV. do homem como fim único do direito (própria do
E-Apenas II, III e IV. individualismo) pelo princípio que hoje serve de fundamento
para todo o direito público e que vincula a Administração em
10 - 2018 - FUNDATEC - PC-RS - FUNDATEC - 2018 - PC-RS - todas as suas decisões [...].
Delegado de Polícia - Bloco II Dl PIETRO, Maria Sylvia Zaretla. Direito Administrativo. 30.ed.
Sao Paulo: Atlas, 2017, p 96.
Acerca da formação histórica do Direito Administrativo,
analise as seguintes assertivas: Diante disso, as "pedras de toque" do regime jurídico-
administrativo são
I. O Direito Administrativo tem origem na Idade Média,
período histórico em que a vontade do monarca passa a se A-a supremacia do interesse público sobre o interesse privado
subordinar à lei. e a impessoalidade do interesse público.
II. O direito francês se notabiliza como a principal influência B-a supremacia do interesse público sobre o interesse privado
na formação do Direito Administrativo brasileiro, de onde e a indisponibilidade do interesse público.
importamos institutos importantes como o conceito de C-a indisponibilidade do interesse público e o princípio da
serviço público, a teoria dos atos administrativos, da legalidade.
responsabilidade civil do estado e da submissão da D-a supremacia da ordem pública e o princípio da legalidade..
Administração Pública ao princípio da legalidade. E-a supremacia do interesse público e o interesse privado e o
III. Devido à organização do Estado brasileiro, composto por princípio da legalidade.
diferentes entes políticos dotados de competências
legislativas próprias para disciplinar suas atividades 12 - 2017 - IBADE - PC-AC - IBADE - 2017 - PC-AC - Delegado
administrativas, a codificação do Direito Administrativo em de Polícia Civil
âmbito nacional se torna inviável.
Acerca dos princípios que informam o Direito Administrativo
Quais estão corretas? Brasileiro, é correto afirmar que a(o):

A-Apenas I. A-nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha


B-Apenas III. reta, colateral ou por afinidade, até o quarto grau, inclusive,
C-Apenas I e II. da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa
D-Apenas II e III. jurídica investido em cargo de direção, chefia ou
E-I, II e III. assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de
confiança ou, ainda, de função gratificada na Administração
11- 2017 - FAPEMS - PC-MS - FAPEMS - 2017 - PC-MS - Pública direta e indireta em qualquer dos poderes da União,
Delegado de Polícia dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
compreendido o ajuste mediante designações recíprocas,
De acordo com o texto a seguir o direito público tem como viola a Constituição Federal.
objetivo primordial o atendimento ao bem-estar coletivo. B-Supremo Tribunal Federal já possui pacífica jurisprudência
no sentido de que o Chefe do Poder Executivo Estadual pode
[...] em primeiro lugar, as normas de direito público, embora nomear parentes em linha reta, a exemplo de uma filha, para
protejam reflexamente o interesse individual, têm o objetivo o cargo de Secretária de Estado, porque se trata de uma

241
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

escolha política e o fato do cargo de Secretário de Estado ser da igualdade, não se exigindo a edição de lei formal para
de natureza política torna esta nomeação insuscetível de coibir a sua prática.
controle. E-De acordo com o princípio da eficiência, a administração
C-princípio da publicidade considera-se atendido sempre que pode revogar seus próprios atos, quando eivados de vícios
houver a publicação de atos no Diário Oficial, sendo, por que os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos.
conseguinte, desnecessária qualquer medida adicional por Também pode anulá-los, por motivo de conveniência ou
parte da Administração Pública. oportunidade, hipótese na qual devem ser respeitados os
D-princípio da legalidade tem idêntica aplicação para os direitos adquiridos.
particulares e para a Administração Pública, significando a
possibilidade de realização de atos que não sejam vedados 14 - 2016 - CESPE / CEBRASPE - PC-PE - CESPE - 2016 - PC-
pelo ordenamento jurídico. PE - Delegado de Polícia
E-Supremo Tribunal Federal possui entendimento no sentido
de que vedar o acesso de qualquer cidadão a cargo público Considerando os princípios e fundamentos teóricos do direito
tão somente em razão da existência de relação de parentesco administrativo, assinale a opção correta.
com servidor público que não tenha competência para o
selecionar ou o nomear para o cargo de chefia, direção ou A-As empresas públicas e as sociedades de economia mista,
assessoramento, ou que não exerça ascendência hierárquica se constituídas como pessoa jurídica de direito privado, não
sobre aquele que possua essa competência é, em alguma integram a administração indireta.
medida, negar um dos princípios constitucionais a que se B-Desconcentração é a distribuição de competências de uma
pretendeu conferir efetividade com a edição da Súmula pessoa física ou jurídica para outra, ao passo que
Vinculante n° 13, qual seja, o princípio da impessoalidade. descentralização é a distribuição de competências dentro de
uma mesma pessoa jurídica, em razão da sua organização
13 - 2016 - CESPE / CEBRASPE - PC-PE - CESPE - 2016 - PC- hierárquica.
PE - Delegado de Polícia C-Em decorrência do princípio da legalidade, é lícito que o
poder público faça tudo o que não estiver expressamente
Tendo como referência a jurisprudência majoritária do STF proibido pela lei.
acerca dos princípios expressos e implícitos da administração D-A administração pública, em sentido estrito e subjetivo,
pública e do regime jurídico-administrativo, assinale a opção compreende as pessoas jurídicas, os órgãos e os agentes
correta. públicos que exerçam função administrativa.
E-No Brasil, por não existir o modelo da dualidade de
A-Se houver repasse de verbas federais a município, a jurisdição do sistema francês, o ingresso de ação judicial no
aplicação desses recursos pelo governo municipal não será Poder Judiciário para questionar ato do poder público é
objeto de fiscalização do órgão controlador federal, dado o condicionado ao prévio exaurimento da instância
princípio da autonomia dos entes federados. administrativa.
B-A alteração, por meio de portaria, das atribuições de cargo
público não contraria direito líquido e certo do servidor 15 - 2015 - VUNESP - PC-CE - VUNESP - 2015 - PC-CE -
público investido no cargo, diante da inexistência de direito Delegado de Polícia Civil de 1a Classe
adquirido a regime jurídico.
C-A administração pública não pode, mediante ato próprio, Em grandes centros urbanos brasileiros, observa-se um
desconsiderar a personalidade jurídica de empresa fiscalizada desafio na questão da mobilidade urbana, ou seja, uma
por tribunal de contas; a esse caso não se aplica a doutrina constante tensão entre o transporte de caráter individual e o
dos poderes implícitos. transporte coletivo. Diante dos congestionamentos
D-Segundo o STF, a vedação ao nepotismo decorre crescentes, por qual dos princípios implícitos da
diretamente de princípios constitucionais explícitos, como os Administração Pública o administrador público deve se guiar
princípios da impessoalidade, da moralidade administrativa e para constituir uma política que privilegie o transporte
coletivo em detrimento do transporte individual?

242
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

17- 2014 - ACAFE - PC-SC - ACAFE - 2014 - PC-SC - Delegado


A-Pelo princípio da Inteligibilidade. de Polícia
B-Pelo princípio da Razoabilidade.
C-Pelo princípio do Interesse Público. Considere a definição de Direito Administrativo e assinale a
D-Pelo princípio da Eficiência. alternativa correta.
E-Pelo princípio da Alocação.
A-É o conjunto dos princípios jurídicos de direito público que
16 - 2015 - VUNESP - PC-CE - VUNESP - 2015 - PC-CE - tratam da Administração Pública, suas entidades, órgãos e
Delegado de Polícia Civil de 1a Classe agentes públicos.
B-É o conjunto dos princípios jurídicos de direito público que
Considere a charge. têm como estudo o Serviço Público.
C-É o conjunto dos princípios jurídicos de direito público que
regem as relações jurídicas entre órgãos do Estado.
D-É o conjunto dos princípios jurídicos de direito público e
privado que tratam da Administração Pública, suas entidades,
órgãos e agentes públicos.
E-É o conjunto dos princípios jurídicos de direito público e
privado que têm como estudo os atos do Poder Executivo.

18 - 2014 - NUCEPE - PC-PI - NUCEPE - 2014 - PC-PI -


Delegado de Polícia

Terêncio, delegado de polícia, atendia com presteza e


gentileza apenas algumas pessoas na cidade na qual exercia
seu mister. Terêncio feria o seguinte princípio da
A prática de nepotismo, além de ser uma atitude antiética,
administração pública:
fere qual dos princípios explícitos da Administração Pública?
E qual é a restrição imposta por esse princípio?
A-autotutela.
B-razoabilidade.
A-Fere o princípio da impessoalidade. Ou seja, ao
C-publicidade
representante público é proibido privilegiar pessoas
D-moralidade
específicas.
E-eficiência
B-Fere o princípio do poder. Ou seja, um agente público não
pode fazer uso do seu cargo ou função em benefício de
19 - 2014 - Aroeira - PC-TO - Aroeira - 2014 - PC-TO -
parentes ou conhecidos.
Delegado de Polícia
C-Fere o princípio da eficiência. Ou seja, os funcionários
públicos devem prezar pelo bem público e pelo bom uso dos
recursos do Estado. Determinado Delegado de Polícia, no intuito de fazer
D-Fere o princípio da eficácia. Ou seja, os agentes públicos promoção pessoal com pretensões políticas, convoca a
devem primar pelo interesse coletivo e pelo bom uso dos imprensa para comunicar a prisão de marginal procurado,
recursos do Estado. ressaltando as próprias qualidades profissionais e que o êxito

E-Fere o princípio da legalidade. Ou seja, o funcionário da operação decorre de mérito seu (da autoridade). A

público em suas funções e atribuições pode, em situação descrita revela flagrante ofensa ao princípio da:

determinados casos previsto em Lei, empregar parentes.


A-moralidade
B-impessoalidade.
C-razoabilidade.
243
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

D-publicidade. desvio de poder. Essa temática serve, portanto, de lastro para


o desenvolvimento do princípio constitucional administrativo
20 - 2014 - VUNESP - PC-SP - VUNESP - 2014 - PC-SP -
Delegado de Polícia A-explícito da moralidade administrativa.
B-explícito da legalidade.
Desde antigas eras do Direito, já vingava o brocardo segundo C-implícito da supremacia do interesse público sobre o
o qual “nem tudo o que é legal é honesto” (non omne quod privado.
licet honestum est). Aludido pensamento vem a tomar relevo D-implícito da finalidade administrativa.
no âmbito do Direito Administrativo principalmente quando E-implícito da motivação administrativa.
se começa a discutir o problema do exame jurisdicional do

Respostas10

10
1: B 2: D 3: E 4: C 5: A 6: A 7: D 8: D 9: C 10: D 11: B 12: E 13: D 14: D 15: C 16: A 17: A 18: D 19: B 20: A
244
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

META 5

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI DE LAVAGEM DE CAPITAIS

PRINCIPAIS ARTIGOS

Lei 9613/98 (leitura importantíssima!!!)


Art. 1º, §§ 3º, 4º, 5º e 6º - leitura do §5º conjugada com o art. 4º da Lei 12.850/2013
Art. 2º, II, III, §§1º e 2º - leitura do §2º conjugada com o art. 366 do CPP
Art. 4º
Art. 4º-A e 4º-B
Art. 7º
Art. 9º
Art. 17-D

1. CONTEXTO HISTÓRICO DA LEI nº 9.613/98

A origem da Lei de Lavagem de Capitais está ligada à Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico
de Drogas, celebrado no ano de 1988, em Viena. Explicamos: na referida Convenção percebeu-se que, como
a lavagem de capitais é meio para dissimular a movimentação do dinheiro ilícito obtido com o tráfico de
drogas, seria necessária uma maior repressão das movimentações financeiras, surgindo, assim, a
criminalização da Lavagem de Capitais.
A convenção em questão foi ratificada pelo Brasil por meio do Decreto nº 154/1991, assumindo o
compromisso de criminalizar a lavagem de capitais, o que acontece somente anos depois, em 1998 com a Lei
nº 9.613/98.

2. CONCEITO E EXPRESSÃO “LAVAGEM DE DINHEIRO”

Essa expressão “Lavagem de Dinheiro” tem origem no Direito norte-americano nos idos de 1920 –
na cidade de Chicago – “Money Laundering”. Em alguns países é usada a expressão Branqueamento de
Capitais (Portugal e Espanha).

Aprofundando: Vamos fazer um link com a criminologia?


Os crimes de lavagem de capitais integram as chamadas “cifras douradas”, que são as infrações
penais praticadas pela elite e que não são reveladas ou apuradas, envolvendo delitos tipicamente do
“colarinho branco” (sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, crimes eleitorais, etc.)

245
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Lavagem é um método pelo qual dinheiro ilícito é inserido no sistema financeiro, com a aparência de
ter sido obtida de maneira lícita. Em outras palavras: é dar aparência de dinheiro limpo ao dinheiro sujo.

3. GERAÇÕES DA LEI DE LAVAGEM E LEI Nº 12.883/2012

A doutrina acaba fazendo diferenciação entre gerações de leis de lavagem de capitais. Veja:

a) Leis de 1ª Geração:
O único crime antecedente era o delito de tráfico de drogas, ou seja, a primeira geração traz ideia
das primeiras leis de lavagem de capitais e isso se deu em razão da Convenção acima citada. Assim, somente
se podia falar em lavagem de capitais se o crime antecedente fosse de tráfico de drogas.

b) Leis de 2ª Geração:
Ao longo dos anos o legislador observou que a imprescindibilidade da criminalização da lavagem de
capitais, percebendo que o delito de tráfico de drogas não era o único capaz de gerar grande quantidade de
dinheiro. Por esse motivo, optou por ampliar o rol dos crimes antecedentes, porém, este rol continuou sendo
taxativo. Só haveria o crime de lavagem de capitais se a infração antecedente fosse uma das infrações abaixo:

Art. 1º da Lei de Lavagem: “Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização,


disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores
provenientes, direta ou indiretamente, de crime:
I - de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas afins;
II – de terrorismo e seu financiamento;
III - de contrabando ou tráfico de armas, munições ou material destinado à sua
produção;
IV - de extorsão mediante seqüestro;
V - contra a Administração Pública, inclusive a exigência, para si ou para outrem,
direta ou indiretamente, de qualquer vantagem, como condição ou preço para a
prática ou omissão de atos administrativos;
VI - contra o sistema financeiro nacional;
VII - praticado por organização criminosa.
VIII – praticado por particular contra a administração pública estrangeira”

Obs.: Para a doutrina majoritária, a Lei nº 9.613/98, em sua redação originária, era uma lei de
segunda geração, pois previa um rol taxativo de crimes que configuravam como infração antecedente e
produtora da lavagem.

c) Leis de 3ª Geração:
246
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Preveem que qualquer crime capaz de gerar bens ou valores pode ser considerado crime
antecedente do crime de lavagem de capitais.
Atualmente, a Lei nº 9.613/98, com a redação dada pela Lei nº 12.683/12, é classificada como uma
lei de 3ª geração, pois passou a criminalizar a lavagem como fruto de qualquer infração penal – seja crime
ou contravenção penal – produtora de bens, direitos e valores capazes de serem ocultados/dissimulados.
A reforma suprimiu o antigo rol taxativo de crimes antecedentes e ampliou a abrangência dos
antecedentes da lavagem: agora qualquer infração penal é capaz de, em tese, figurar como antecedente.

1ª GERAÇÃO O crime de tráfico de drogas era a única infração penal antecedente na lavagem de capitais

2ª GERAÇÃO Existe um rol taxativo de infrações penais antecedentes.

3ª GERAÇÃO Admitem lavagem de dinheiro de qualquer infração penal antecedente.

Em suma: a partir da Lei nº 12.683 de 2012, qualquer delito (crime ou contravenção) pode funcionar
como antecedente da lavagem, desde que se trate de infração penal produtora de bens ou valores.

Já caiu em prova e foi considerada correta a seguinte alternativa: A lei brasileira que criminaliza a lavagem
de dinheiro classifica-se como de terceira geração, pois admite que o delito de lavagem de dinheiro pode ter
como precedente qualquer ilícito penal.

4. INOVAÇÕES TRAZIDAS PELA LEI 12.683/12

Além da supressão do rol taxativo de crimes antecedentes, outras mudanças foram trazidas pela Lei
nº 12.683/12, vejamos:

INOVAÇÃO 1:
ANTES: somente havia lavagem de dinheiro se a ocultação ou dissimulação fosse de bens, direitos ou valores
provenientes de um crime antecedente.
AGORA: haverá lavagem de dinheiro se a ocultação ou dissimulação for de bens, direitos ou valores
provenientes de um crime ou de uma contravenção penal. Desse modo, a lavagem de dinheiro continua a
ser um crime derivado, mas agora depende de uma infração penal antecedente, que pode ser um crime ou
uma contravenção penal.

INOVAÇÃO 2:
ANTES: a lei brasileira listava um rol de crimes antecedentes para a lavagem de dinheiro fazendo com que o
Brasil, segundo a doutrina majoritária, estivesse enquadrado nas legislações de segunda geração.

247
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

AGORA: qualquer infração penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro. A legislação brasileira de
lavagem passa para a terceira geração.

INOVAÇÃO 3:
ANTES: a Lei de Lavagem afirmava que havia uma autonomia entre o julgamento da lavagem e do crime
antecedente, não esclarecendo se esta autonomia era absoluta ou relativa nem o juízo responsável por
decidir a unificação ou separação dos processos.
AGORA: a alteração deixou claro que a autonomia entre o julgamento da lavagem e da infração penal
antecedente é relativa, de modo que a lavagem e a infração antecedente podem ser julgadas em conjunto
ou separadamente, conforme se revelar mais conveniente no caso concreto, cabendo ao juiz competente
para o crime de lavagem decidir sobre a unidade ou separação dos processos.

INOVAÇÃO 4:
ANTES: a Lei nº 9.613/98 não explicitava se havia o crime de lavagem no caso de estar extinta a punibilidade
da infração penal antecedente.
AGORA: a alteração trouxe regra expressa no sentido de que poderá haver o crime de lavagem ainda que
esteja extinta a punibilidade da infração penal antecedente. Vale ressaltar que já havia julgado do STJ nesse
sentido, a despeito da omissão legal. A inovação, contudo, é produtiva para que não haja qualquer dúvida
quanto a esse aspecto.

INOVAÇÃO 5:
ANTES: a Lei nº 9.613/98 afirmava simplesmente que o art. 366 do CPP não se aplicava aos processos de
lavagem de dinheiro, sem explicar qual seria o regramento a ser adotado.
AGORA: a alteração reafirmou que não se aplica o art. 366 do CPP à lavagem de dinheiro, deixando claro
que, se o acusado não comparecer nem constituir advogado, será nomeado a ele defensor dativo,
prosseguindo normalmente o feito até o julgamento.

INOVAÇÃO 6:
ANTES: a redação original da Lei mencionava que o juiz poderia decretar a apreensão ou o sequestro de bens,
direitos ou valores. Por conta dessa menção restrita à apreensão e ao sequestro, havia divergência na
doutrina se seria possível o juiz determinar também a hipoteca legal e o arresto.
AGORA: a nova Lei acaba com a polêmica considerando que afirma que o juiz poderá decretar medidas
assecuratórias, terminologia mais ampla que pode ser vista como um gênero que engloba todas essas
espécies de medidas cautelares. Além disso, a nova Lei deixa claro que podem ser objeto das medidas
assecuratórias os bens, direitos ou valores que estejam em nome do investigado (antes da ação penal), do
acusado (após a ação penal) ou de interpostas pessoas; e deixa expresso que somente podem ser objeto de
medidas assecuratórias os bens, direitos ou valores que sejam instrumento, produto ou proveito do crime
de lavagem ou das infrações penais antecedentes.
248
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

INOVAÇÃO 7:
ANTES: a Lei previa que o sequestro e a apreensão deveriam ser levantados se a denúncia não fosse oferecida
no prazo de 120 dias.
AGORA: foi revogada essa previsão. No caso do sequestro, o CPP prevê que ele será levantado se a ação
penal não for intentada no prazo de 60 dias. Essa regra agora deve ser aplicada também aos processos de
lavagem de dinheiro.

INOVAÇÃO 8:
ANTES: não havia previsão expressa de constrição de bens para custear a reparação dos danos decorrentes
da infração ou para pagamento de prestação pecuniária, multas e custas, o que gerava divergências na
doutrina e jurisprudência.
AGORA: há previsão expressa de que sejam decretadas medidas assecuratórias sobre bens, direitos ou
valores para reparação do dano decorrente da infração penal antecedente ou do crime de lavagem ou ainda
para pagamento de prestação pecuniária, multa e custas do processo.

INOVAÇÃO 9:
ANTES: não havia previsão expressa de alienação antecipada para os processos de lavagem de dinheiro.
AGORA: as medidas assecuratórias são medidas cautelares reais que visam resguardar o patrimônio do
acusado, para que, posteriormente, possa suportar os efeitos da condenação, bem como, permitir o seu
confisco ao término da persecutio criminis. Com o advento da Lei nº 12.683/2012, passou-se a admitir a
“alienação antecipada” (art. 4º) como uma das medidas assecuratórias. Se o réu for absolvido, o valor será
restituído, por outro lado, se for condenado, o Estado fará o confisco do valor.

INOVAÇÃO 10:
ANTES: se a parte prejudicada conseguisse provar que os bens, direitos ou valores apreendidos ou
sequestrados possuíam origem lícita eles deveriam ser restituídos.
AGORA: mesmo se a parte conseguir provar que os bens, direitos ou valores constritos possuem origem lícita,
ainda assim eles podem permanecer indisponíveis no montante necessário para reparação dos danos e para
o pagamento de prestações pecuniárias, multas e custas decorrentes da infração penal. Em outras palavras,
o simples fato de ter origem lícita não autoriza a liberação de bens apreendidos.

INOVAÇÃO 11:
ANTES: o art. 7º, I, previa, como efeito da condenação, o perdimento de bens, direitos e valores que tinham
sido objeto de lavagem de dinheiro.
AGORA: a nova redação do art. 7º, I é mais ampla e prevê, como efeito da condenação, o perdimento de
bens, direitos e valores relacionados, direta ou indiretamente, à prática de lavagem de dinheiro, inclusive
aqueles utilizados para prestar a fiança. A nova Lei aumenta, assim, as possibilidades de perdimento.
249
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

INOVAÇÃO 12:
ANTES: o art. 7º, I, previa que o perdimento dos bens, direitos e valores objetos de lavagem de dinheiro
ocorria sempre em favor da União.
AGORA: a nova redação do art. 7º, I prevê que o perdimento dos bens, direitos e valores relacionados com
a lavagem de dinheiro pode ocorrer em favor da União ou do Estado.
O perdimento será em favor da União se o crime de lavagem, no caso concreto, for de competência federal.
Por outro lado, o perdimento será revertido para o respectivo Estado se o processo criminal por lavagem, na
situação específica, for de competência da Justiça Estadual.

INOVAÇÃO 13:
ANTES: a Lei previa a obrigação de comunicar operações suspeitas para as pessoas físicas apenas em algumas
situações específicas, como as trazidas pelos incisos IX a XII do parágrafo único do art. 9º.
AGORA: a Lei prevê, de forma genérica, que todas as pessoas físicas que trabalham com as atividades listadas
no art. 9º estão sujeitas às obrigações previstas nos arts. 10 e 11.

INOVAÇÃO 14:
Os incisos I, X e XII do parágrafo único do art. 9º tiveram sua redação modificada e foram incluídas seis novas
atividades (incisos XIII a XVIII) cujas pessoas que as exercem passam a ter as obrigações previstas nos arts. 10
e 11 da Lei de Lavagem.

INOVAÇÃO 15:
A Lei ampliou as obrigações previstas no art. 10 da Lei de Lavagem e que devem ser cumpridas pelas pessoas
de que trata o art. 9º.

OBS.1: Ampliação das pessoas físicas/jurídicas responsáveis pela comunicação de operações suspeitas –
art. 9º. O legislador estabelece para essas pessoas o dever de conhecer seus clientes – Know Your Costumer.
É interessante fazer a leitura do art. 9º da Lei (na íntegra). São espécies de verdadeiros garantidores, posto
que têm o dever de conhecer o cliente, e adotar mecanismos, de modo a impedir que sua operação seja
utilizada como estratégia para o crime de lavagem de capitais.

DAS PESSOAS SUJEITAS AO MECANISMO DE CONTROLE (Redação dada pela Lei nº


12.683, de 2012)

Art. 9º. Sujeitam-se às obrigações referidas nos arts. 10 e 11 as pessoas físicas e


jurídicas que tenham, em caráter permanente ou eventual, como atividade
principal ou acessória, cumulativamente ou não:

250
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

I - A captação, intermediação e aplicação de recursos financeiros de terceiros, em


moeda nacional ou estrangeira;
II – A compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou
instrumento cambial;
III - a custódia, emissão, distribuição, liquidação, negociação, intermediação ou
administração de títulos ou valores mobiliários.

Parágrafo único. Sujeitam-se às mesmas obrigações:


I – As bolsas de valores, as bolsas de mercadorias ou futuros e os sistemas de
negociação do mercado de balcão organizado
II - As seguradoras, as corretoras de seguros e as entidades de previdência
complementar ou de capitalização;
III - as administradoras de cartões de credenciamento ou cartões de crédito, bem
como as administradoras de consórcios para aquisição de bens ou serviços;
IV - As administradoras ou empresas que se utilizem de cartão ou qualquer outro
meio eletrônico, magnético ou equivalente, que permita a transferência de fundos;
V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing), as empresas de fomento
comercial (factoring) e as Empresas Simples de Crédito (ESC); (Redação dada pela
Lei Complementar nº 167, de 2019)
VI - as sociedades que efetuem distribuição de dinheiro ou quaisquer bens móveis,
imóveis, mercadorias, serviços, ou, ainda, concedam descontos na sua aquisição,
mediante sorteio ou método assemelhado;
VII - as filiais ou representações de entes estrangeiros que exerçam no Brasil
qualquer das atividades listadas neste artigo, ainda que de forma eventual;
VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorização de órgão
regulador dos mercados financeiro, de câmbio, de capitais e de seguros;
IX - as pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras, que operem no Brasil
como agentes, dirigentes, procuradoras, comissionárias ou por qualquer forma
representem interesses de ente estrangeiro que exerça qualquer das atividades
referidas neste artigo;
X - as pessoas físicas ou jurídicas que exerçam atividades de promoção imobiliária
ou compra e venda de imóveis;
XI - as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem jóias, pedras e metais
preciosos, objetos de arte e antigüidades.
XII - as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem bens de luxo ou de alto valor,
intermedeiem a sua comercialização ou exerçam atividades que envolvam grande
volume de recursos em espécie;
XIII - as juntas comerciais e os registros públicos;
251
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

XIV - as pessoas físicas ou jurídicas que prestem, mesmo que eventualmente,


serviços de assessoria, consultoria, contadoria, auditoria, aconselhamento ou
assistência, de qualquer natureza, em operações:
a) de compra e venda de imóveis, estabelecimentos comerciais ou industriais ou
participações societárias de qualquer natureza;
b) de gestão de fundos, valores mobiliários ou outros ativos;
c) de abertura ou gestão de contas bancárias, de poupança, investimento ou de
valores mobiliários
d) de criação, exploração ou gestão de sociedades de qualquer natureza,
fundações, fundos fiduciários ou estruturas análogas;
e) financeiras, societárias ou imobiliárias; e
f) de alienação ou aquisição de direitos sobre contratos relacionados a atividades
desportivas ou artísticas profissionais;
XV - Pessoas físicas ou jurídicas que atuem na promoção, intermediação,
comercialização, agenciamento ou negociação de direitos de transferência de
atletas, artistas ou feiras, exposições ou eventos similares;
XVI - as empresas de transporte e guarda de valores;
XVII - as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem bens de alto valor de origem
rural ou animal ou intermedeiem a sua comercialização;
XVIII - as dependências no exterior das entidades mencionadas neste artigo, por
meio de sua matriz no Brasil, relativamente a residentes no País.

Vamos aprofundar para a prova discursiva?


É possível impor o dever de comunicar operações suspeitas de lavagem de capitais às autoridades
competentes aos advogados? Até que ponto esse suposto dever de comunicação é compatível com o sigilo
constitucional inerente ao exercício da advocacia?

De acordo com entendimento do STJ (HC 50.933), o exercício da advocacia não é causa de imunidade
em relação à lavagem de capitais. Nesse sentido, embora a lei não seja clara em relação ao advogado, parte
da doutrina entende que é possível inseri-lo no inciso XIV do art. 9º, em razão das atividades prestadas.
Entretanto, a OAB entendeu que os advogados não estariam incluídos entre as referidas pessoas.
Outra parte da doutrina ainda divide:
∘ Advogados de representação contenciosa: são advogados que atuam na defesa de seus clientes em
um processo judicial. Nesse caso, não estão obrigados a comunicar operações suspeitas, sob pena
de violação ao sigilo constitucional, inerente à advocacia.
∘ Advogados de operação: diz respeito à atividade de consultoria jurídica não processual (empresarial;
tributária). Nesse caso, diante do dever do “know your customer”, existe a obrigação de
comunicação de operações suspeitas.
252
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

4. BEM JURÍDICO TUTELADO

Acerca dessa matéria, existem quatro correntes na doutrina:

∘ 1ª Corrente: O bem jurídico tutelado é o mesmo bem jurídico tutelado pelo crime antecedente.
Obs.: Quando se estava na primeira geração de leis de lavagem era possível sustentar essa corrente
considerando que havia apenas um crime que importaria na lavagem.

∘ 2ª Corrente - Roberto Bertibal: A lavagem de capitais tutela a administração da justiça. A lavagem


de capitais é muito semelhante ao crime de favorecimento real – art. 349, CP – crime este que está
incluído dentre aqueles contra a administração da justiça, uma vez que a pratica de lavagem torna
mais difícil a recuperação do produto direto ou indireto da infração antecedente.

∘ 3ª Corrente – crime pluriofensivo: São dois os bens jurídicos tutelados pela lei de lavagem de capitais.
Tutela-se tanto o bem jurídico tutelado pelo crime antecedente (saúde pública, patrimônio, etc.)
como a ordem econômico-financeira.

∘ 4ª Corrente – posição majoritária: Afirma ser a ordem econômico-financeira o bem jurídico tutelado
pela lei de lavagem de capitais, considerando a ofensa até mesmo à livre concorrência.

Corrobora o professor Renato Brasileiro (2020):

“De acordo com a doutrina majoritária, funciona a lavagem como obstáculo à


atração de capital estrangeiro, afetando o equilíbrio do mercado, a livre
concorrência, as relações de consumo, a transparência, o acúmulo e o
reinvestimento de capital sem lastro em atividades produtivas ou financeiras lícitas,
turbando o funcionamento da economia formal e o equilíbrio entre seus
operadores. Representa, enfim, um elemento de desestabilização econômica.
Trata-se, portanto, de crime contra a ordem econômico-financeira”.

5. FASES DA LAVAGEM

A lavagem de dinheiro consiste num complexo de operações, composto de três fases (*colocação,
ocultação/dissimulação e integração), realizados com a finalidade específica de mascarar a origem ilícita de
determinados bens, tornando-os aparentemente lícitos.

253
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

As três fases não são totalmente independentes. Há uma interpenetração entre elas, de modo que
nem sempre os contornos de cada uma dessas fases podem ser reconhecidos de forma precisa. Ainda que
as fases se confundam, a divisão é útil para compreender o fenômeno. Veja:

1ª FASE - INTRODUÇÃO OU COLOCAÇÃO (PLACEMENT)

Consiste na introdução do dinheiro ilícito no sistema financeiro, dificultando a identificação da


procedência dos valores de modo a evitar qualquer ligação entre o agente e o resultado obtido com a prática
do crime antecedente. A colocação é o estágio primário da lavagem e, portanto, o mais vulnerável à sua
detecção, razão pela qual devem as autoridades centrar o foco dos maiores esforços de sua investigação
nessa fase da lavagem. Diversas técnicas são utilizadas nesta fase, tais como:
• Smurfing ou estruturação: O fracionamento de grandes quantias em pequenos valores, que escapam
do controle administrativo imposto às instituições financeiras (art. 10, II, c/c art. 11, II, a, da Lei
9.613/98) - procedimento esse conhecido como smurfing. (Questão Delta UEG 2013)
• Mescla (Commingling): o agente mistura seus recursos ilícitos com os lícitos de uma empresa
verdadeira, e depois apresenta o volume total com proveniente da receita lícita da empresa. Utiliza
desde logo os recursos obtidos ilegalmente na própria empresa para pagamento de pessoal, etc., de
forma a dificultar o rastreamento.
• A utilização dos valores ilícitos em estabelecimentos comerciais que usualmente trabalham com
dinheiro em espécie e aplicações financeiras.
• Remessas ao exterior através de mulas.
• Transferências eletrônicas para paraísos fiscais.
• Conversão do valor ilícito por moeda estrangeira etc.
• Troca de notas de menor valor por de maior valor para reduzir o montante físico de papel-moeda.
• Aquisição de bens, móveis ou imóveis com valores superfaturados.
• Aquisição de bens inexistentes etc.

2ª FASE - DISSIMULAÇÃO OU OCULTAÇÃO (LAYERING)

É a lavagem propriamente dita. Nessa fase, pretende-se construir uma nova origem lícita, legítima
do dinheiro, por meio da prática de condutas que buscam impedir a descoberta da procedência ilícita dos
valores, espalhando-os em diversas operações e transações financeiras de diversas empresas e instituições
financeiras nacionais e estrangeiras.

254
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

3ª FASE - INTEGRAÇÃO (INTEGRATION)

Com a aparência de lícitos, os valores são formalmente incorporados ao sistema econômico, por
meio da criação, aquisição ou do investimento em negócios lícitos, ou compra de bens. Utilizam-se
instituições financeiras que movimentam grande volume de dinheiro

IMPORTANTE: A ocorrência do crime de lavagem de capitais não está condicionada à presença concomitante
das três etapas supracitadas, de modo que a integração dos bens/direitos/valores já com a aparência de
lícitos é mero exaurimento do crime, o especial fim de agir. (RHC 80.816/STF)

Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte alternativa: O crime de lavagem de bens, direitos
ou valores é composto por três fases: a colocação (placement), a ocultação (layering) e a integração
(integration), devendo todas estarem configuradas para o enquadramento da conduta na figura criminosa.
(DPC/RS-2018)

Já caiu em prova e foi considerada CORRETA a seguinte assertiva: A fase da lavagem de capitais, de acordo
com as definições do COAF, em que são realizados diversos negócios e movimentações financeiras, a fim de
impedir o rastreamento e encobrir a origem ilícita dos valores é denominada pela doutrina de ocultação.
(DPC/AC-2017)

6. ACESSORIEDADE DA LAVAGEM DE CAPITAIS

O delito de lavagem de dinheiro é crime acessório, também conhecido como “tipo parasitário”, ou
seja, depende necessariamente da prática de uma infração penal antecedente, podendo tal infração penal
consistir em crime ou em contravenção penal. Nesse sentido, preleciona Renato Brasileiro:

“A tipificação do crime acessório, diferido, remetido, sucedâneo, parasitário ou


consequencial de lavagem de capitais está atrelada à prática de uma infração
penal antecedente que produza o dinheiro, bem ou valor, que será objeto de
ocultação. Deveras, pela própria leitura do caput do art. 1° da Lei n° 9.613/98, com
redação determinada pela Lei n° 12.683/12, percebe-se que o substantivo -infração
penal- funciona como verdadeira elementar do art. 1°, existindo uma relação de
acessoriedade objetiva entre as infrações. Portanto, a ausência da infração penal
antecedente acaba por afastar a própria tipicidade do delito de lavagem de
capitais”.

255
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Cuidado para não confundir a dependência do crime antecedente para a configuração do delito de
lavagem de capitais (acessoriedade), com o processamento dos delitos. Isso porque os processos não
precisam necessariamente tramitar juntos, sendo essa junção uma faculdade do magistrado. Veja:

Art. 2º O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei:


II - independem do processo e julgamento das infrações penais antecedentes, ainda
que praticados em outro país, cabendo ao juiz competente para os crimes previstos
nesta Lei a decisão sobre a unidade de processo e julgamento; (Redação dada pela
Lei nº 12.683, de 2012)

Ressalta-se, contudo, que essa autonomia do processo e julgamento do crime de lavagem em relação
à infração penal antecedente consagrada no inciso II do art. 2º não é absoluta, mas sim relativa. Isso porque,
como a infração penal antecedente funciona como elementar do crime de lavagem, sua existência deve ser
analisada pelo juiz como uma questão prejudicial homogênea.
Ademais, é importante destacar que, embora o crime de lavagem de capitais seja um crime acessório
(parasitário), não há necessidade de condenação judicial anterior para que reste caracterizado o delito de
lavagem de capitais. Na verdade, basta que a infração penal anterior seja TÍPICA e ILÍCITA. É que a doutrina
chama de ACESSORIEDADE LIMITADA DA LAVAGEM DE CAPITAIS. Vamos entender...
O que isso significa?
R.: Na esfera da participação criminal, denomina-se acessoriedade limitada o grau de dependência
segundo o qual só se pode castigar a conduta do partícipe quando o fato principal for típico e ilícito. O que
a doutrina faz é transportar esse conceito para o crime de lavagem de capitais, entendendo que haverá o
DELITO DE LAVAGEM DESDE QUE A INFRAÇÃO PENAL ANTERIOR SEJA TÍPICA E ILÍCITA.

Qual a consequência prática disso?


R.: Ora, se pela Acessoriedade Limitada o delito de lavagem de capitais subsiste desde que a infração
penal anterior seja típica e antijurídica, haverá crime de lavagem mesmo que haja a exclusão da culpabilidade
da infração anterior. Por outro lado, se houver a exclusão da ilicitude da infração anterior, o delito de lavagem
restará prejudicado, tendo em vista que faltará o elemento “antijuridicidade” exigido pela Teoria da
Acessoriedade Limitada.
Veja a explicação do professor Renato Brasileiro sobre o tema:

“Dependendo a lavagem de uma conduta antecedente que seja típica e ilícita,


afasta-se a possibilidade de condenação pelo delito de lavagem se acaso o autor
da infração antecedente for absolvido com fundamento na prova da inexistência
do fato (CPP, art. 386, I), não haver prova da existência do fato (CPP, art. 386, 11),
não constituir o fato infração penal (CPP, art. 386, III), ou quando existirem

256
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

circunstâncias que excluam o crime ou mesmo se houver fundada dúvida sobre a


existência de causas excludentes de ilicitude (CPP, art. 386, VI, 1 ª parte). (...)
Em sentido contrário, conclui-se que subsiste a possibilidade de tipificação do
crime de lavagem de capitais ainda que presente uma causa excludente da
culpabilidade em relação à infração antecedente (v.g., inimputabilidade, erro de
proibição inevitável, inexigibilidade de conduta diversa). A título de exemplo,
mesmo que o autor da infração precedente seja absolvido em virtude de coação
moral irresistível, circunstância que isenta o réu de pena, continua sendo possível
a tipificação do crime de lavagem de capitais, nos termos do art. 2°, § 1 1 °, da Lei
nº 9.613/98. Na mesma linha, consistindo a punibilidade em mera consequência do
delito, forçoso é concluir que a incidência de uma causa extintiva da punibilidade
não tem o condão de retirar o caráter delituoso da conduta antecedente. Portanto,
pelo menos em regra, incidindo uma causa extintiva da punibilidade (e.g.,
prescrição, morte do agente, pagamento do débito tributário) em relação à
infração precedente, nada impede a condenação pelo crime de lavagem.”

Vamos esquematizar para facilitar a compreensão?

INEXISTÊNCIA DO FATO O DELITO DE LAVAGEM FICARÁ PREJUDICADO, pois seu


NÃO CONSTITUIR O FATO INFRAÇÃO PENAL processamento depende de uma infração penal que seja, ao
CAUSAS QUE EXCLUAM O CRIME menos, TÍPICA E ILÍCITA.
CAUSA EXTINTIVA DA ILICITUDE

CAUSA EXTINTIVA DA CULPABILIDADE Não impedem a configuração do crime de lavagem. Ou seja: O


CAUSA EXTINTIVA DA PUNIBILIDADE * CRIME DE LAVAGEM SUBSISTE mesmo que haja exclusão da
culpabilidade ou da punibilidade da infração penal anterior

* ATENÇÃO: Em regra, as causas extintivas da punibilidade do crime anterior não impedem a condenação
pelo delito de lavagem. Entretanto, há 2 exceções: (i) anistia; e (ii) abolitio criminis.
Assim, a abolitio criminis e a anistia, em que pese serem causas extintivas da punibilidade, se
incidirem na infração penal antecedente, impedirão a punição pelo crime de lavagem de capitais. Isso
porque em ambas as hipóteses a conduta antecedente deixa de ser considerada crime, alterando a qualidade
dos produtos (bens, direitos e valores) provenientes da conduta até então criminalizada, ou seja, deixa de
ser um produto ilícito. Portanto, se com a abolitio criminis e a anistia não há mais infração penal antecedente,
muito menos produtos ilícitos a serem mascarados, não subsiste a possibilidade de condenação por crime
de lavagem por atipicidade da conduta.

257
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Em relação à acessoriedade do crime de lavagem de capitais, deve-se atentar ao que a doutrina


chama de JUSTA CAUSA DUPLICADA, que consiste na necessidade de instruir a ação penal do crime de
lavagem de capitais com indícios suficientes da existência da infração anterior.
Explicamos: Quando se oferece a denúncia em face do crime de lavagem de capitais, a Lei nº 9.613
exige, não apenas o lastro probatório mínimo do crime de lavagem de capitais, mas também a demonstração
do lastro probatório mínimo acerca da infração penal antecedente. Veja:

Art. 2º. (...) § 1o A denúncia será instruída com indícios suficientes da existência da
infração penal antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta Lei, ainda que
desconhecido ou isento de pena o autor, ou extinta a punibilidade da infração penal
antecedente.

Nas palavras de Renato Brasileiro:

“Outrossim, em se tratando de crimes de lavagem de capitais, não basta


demonstrar a presença de lastro probatório quanto à ocultação de bens, direitos
ou valores, sendo indispensável que a denúncia também seja instruída com suporte
probatório demonstrando que tais valores são provenientes, direta ou
indiretamente, de infração penal, tal qual disposto no art. 1 º, caput, da Lei nº
9.613/98, com redação determinada pela Lei nº 12.683/12. Tem -se aí o que a
doutrina chama de justa causa duplicada, ou seja, lastro probatório mínimo quanto
à lavagem e quanto à infração antecedente”

É importante fixar:
▪ O delito de lavagem de dinheiro não absorve a infração penal antecedente.
▪ Embora seja um crime parasitário, o delito de lavagem é atribuído ao acusado em concurso material
com a infração penal antecedente.
▪ Os fatos são puníveis ainda que desconhecido ou isento de pena o autor.
▪ Os fatos são puníveis ainda que extinta a punibilidade da infração antecedente.
▪ O crime de lavagem de capitais exige a justa causa duplicada: lastro probatório mínimo em relação à
lavagem + infração penal antecedente.

Caiu na prova de Delegado de Polícia Federal 2021: “Em relação ao disposto na Lei nº 9.613/98, que se
refere à lavagem de dinheiro, julgue os itens: É requisito específico da denúncia a existência de indícios
suficientes da ocorrência do crime antecedente cuja punibilidade não esteja extinta. GABARITO: ERRADO.

Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte alternativa:

258
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

No crime de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, para se tipificar a conduta praticada, é
necessário que os bens, direitos ou valores provenham de crime anterior e que o agente já tenha sido
condenado judicialmente pelo crime previamente cometido.
R.: ERRADO! Inobstante seja o crime de lavagem de capitais crime acessório, também denominado de
parasitário, não há necessidade de condenação judicial anterior para que o crime reste caracterizado e/ou
seja punido pelo delito de lavagem de capitais. Nesse sentido, veja o que dispõe a legislação: Art. 2º, II da Lei.

Já caiu em prova e foi considerada CORRETA a seguinte afirmativa: Conforme a jurisprudência do STJ, não
impede o prosseguimento da apuração de cometimento do crime de lavagem de dinheiro a extinção da
punibilidade dos delitos antecedentes.
R.: CERTO! Uma vez ocorrendo a extinção da punibilidade do crime antecedente ao de lavagem de capitais,
não haverá impedimento para o processamento do crime de lavagem de capitais. Nesse sentido, o art. 2º,
§1º da Lei.

7. DOS SUJEITOS DO DELITO

7.1 Sujeito ativo

Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa.

Observações importantes:
• Pessoa jurídica pode praticar crime de lavagem?
Não. Em que pese ser possível a prática de crime de lavagem por pessoa jurídica, uma vez que se
trata de crime contra a ordem econômico-financeira (majoritariamente) e, portanto, com assento no art.
175, §3º da CF/88, fato é que a Lei de lavagem de capitais não prevê essa responsabilidade penal da pessoa
jurídica.

• Autor do crime antecedente também pode responder por lavagem? Há punição na autolavagem?
Há divergência doutrinária:

1ª posição – Delmanto: Defende que o próprio autor da infração penal antecedente não pode ser
responsabilizado penalmente pelo crime de lavagem por 2 argumentos de base:
- A lavagem configura um post factum impunível, é um mero exaurimento do delito precedente.
Responsabilizá-lo pelos dois delitos, em concurso material, configuraria bis in idem.
- Garantia da não autoincriminação: a lavagem de capitais não configura crime para o autor do crime
antecedente pois está acobertada pelo direito que o acusado tem de não produzir provas contra si
mesmo.

259
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

2ª posição – Majoritária (STF/STJ): O autor do crime antecedente pode ser responsabilizado pelo
crime de lavagem de capitais. É o que a doutrina chama de autolavagem. Argumentos:
- Afirma que não se pode aplicar o Princípio da Consunção diante da tutela de bens jurídicos distintos
– o tráfico, por exemplo, tutela a saúde pública e lavagem a ordem econômica. Assim, como os bens
jurídicos são distintos, não se pode aplicar o princípio da consunção.
- Alega que o direito de não produzir provas contra si mesmo não dá ao agente a possibilidade de
praticar novos delitos. Caso o agente pratique ambos os delitos: crime antecedente e lavagem de
dinheiro, claramente têm-se o concurso material.

• O sujeito ativo do crime de lavagem de capitais é necessariamente o sujeito ativo do crime


antecedente?
A participação no crime antecedente não é condição obrigatória para que se possa ser sujeito ativo
do crime de lavagem de capitais, desde que o agente tenha consciência da origem ilícita dos valores. (RMS
16.813/STJ).

7.2 Sujeito Passivo

O sujeito passivo do delito de Lavagem de Capitais depende da posição adotada quanto ao bem
jurídico tutelado: Será:
• A sociedade - se for considerada a ordem econômico-financeira como o bem jurídico tutelado.
• O Estado - caso considere a Administração da Justiça como o bem jurídico tutelado.

8. DOS CRIMES DE "LAVAGEM" OU OCULTAÇÃO DE BENS, DIREITOS E VALORES

Art. 1º. Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição,


movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou
indiretamente, de infração penal.

Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa.

§ 1o Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização de bens,


direitos ou
valores provenientes de infração penal:
I - os converte em ativos lícitos;
II - os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garantia, guarda, tem em
depósito, movimenta ou transfere;
III - importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos verdadeiros.
§ 2o Incorre, ainda, na mesma pena quem:
260
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

I - utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores


provenientes de infração penal;
II - participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de que sua
atividade principal ou secundária é dirigida à prática de crimes previstos nesta Lei.

(a) Características gerais: Em linhas gerais podemos caracterizar os crimes acima como:
• Crimes comuns: não se exigindo qualquer característica do sujeito ativo, que inclusive pode ser o
autor da infração penal, tendo em vista que o STF admite a figura da “autolavagem”.
• Tipo penal misto alternativo: uma vez que a prática de duas ou mais condutas do tipo penal não
gera concurso de crimes.
• De natureza formal: já que se consumam com a ocultação ou dissimulação de bens, não se exigindo
que estes sejam introduzidos de forma lícita no sistema econômico.

(b) Tipo objetivo:


• Dissimular: disfarçar, escamotear, tornar pouco perceptível.
• Ocultar: esconder a coisa, tirar de circulação, subtrair da vista. Consuma-se com o simples
encobrimento. Para que se possa falar em lavagem de capitais, é necessário que a ocultação ocorra
com o objetivo de lhe conferir uma aparência licita, e não meramente esconder a coisa objeto de
subtração.

É importante frisar que, na modalidade “ocultação”, a lavagem de dinheiro tem natureza de crime
permanente, influenciando no lapso do termo prescricional e possibilitando a prisão em flagrante do agente.

STF – O delito de lavagem de bens, direitos ou valores, previsto no art. 1° da lei


9.613/98, quando praticado na modalidade ocultação tem natureza jurídica de
crime permanente. A característica básica dos delitos permanentes está na
circunstância de que a execução desses crimes não se dá em momento definido e
especifico, mas em um alongar temporal. (STF. 1°Turma. AP863/SP)

Já caiu em prova e foi considerada CORRETA a seguinte assertiva: De acordo com o entendimento atual do
Supremo Tribunal Federal sobre a matéria, o crime de lavagem de bens, direitos ou valores, praticado na
modalidade de ocultação, tem natureza de crime permanente, logo, a prescrição somente começa a contar
do dia em que cessar a permanência. (DPC/RS-2018)

Observações importantes:
• Os delitos elencados nos incisos I a III do art. 1º, §1º são de natureza subsidiária. Se atingirem o
especial fim de agir (ocultação/dissimulação), responderão pelo caput e não, pelo §1º.

261
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

• O tipo previsto no art. 1º, §2º, I não se confunde com a receptação qualificada do art. 180, §1º do
CP:
- Receptação qualificada é crime próprio, exigindo que o autor exerça com habitualidade a atividade,
fato que não se opera no crime de lavagem de capitais. Qualquer pessoa que use o objeto material
do crime em atividade econômica ou financeira, mesmo sem habitualidade, pratica o crime de
lavagem.
- Na receptação qualificada o autor não pode participar do crime antecedente, ao passo que na
lavagem de capitais, é perfeitamente possível a autolavagem,
• O tipo penal previsto no art. 1º, §2º, II prevê punição de qualquer forma de contribuição à pratica de
lavagem. Pune de forma autônoma o que já seria possível com a norma de extensão subjetiva
prevista no art. 29 do CP. Renato brasileiro coloca no nome de “associação para fins de lavagem de
capitais”.

(c) Elemento subjetivo: o crime de lavagem é punido exclusivamente à título de dolo.


• Redação originária da Lei nº 9.613/98: O dolo tinha que abranger o conhecimento acerca de um dos
crimes antecedentes listados nos revogados incisos do art. 1º. Não bastava a ciência de que os
produtos/proventos ocultados eram frutos de crime.
• Atual redação: Sem o rol exaustivo de crimes antecedentes, basta que o agente tenha consciência
de que os valores são provenientes de infração penal, dispensa-se o conhecimento detalhado das
circunstâncias do crime antecedente.

Pergunta-se: Exige-se o dolo específico?


De acordo com a doutrina majoritária, SIM! Todas as figuras típicas da Lei de Lavagem exigem, não
apenas o DOLO GENÉRICO (ocultar/ dissimular o produto direto ou indireto de infração penal), mas também
o DOLO ESPECÍFICO (reciclar o produto direto/indireto da infração penal antecedente, dando a ele uma
aparência lícita por meio de diversos atos de mascaramento), mesmo não estando expresso nos art. 1º, caput
e §2º. É justamente a presença do especial fim de agir (elemento subjetivo especial) que diferencia o crime
de lavagem de capitais do crime de favorecimento real, visto que ambos possuem o mesmo dolo genérico:
tornar seguro o proveito do crime.

Pergunta-se: Admite-se o dolo eventual para os crimes de lavagem de capitais ou apenas o dolo
direto?
R.: Em regra, sim! A única figura que não admite o dolo eventual é a prevista no art. 1º, §2º, II, tendo
em vista que só haverá punição se o agente SOUBER da origem ilícita. Veja:

II - participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de que sua


atividade principal ou secundária é dirigida à prática de crimes previstos nesta Lei.

262
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

IMPORTANTE: Teoria da cegueira deliberada ou Teoria das instruções da avestruz ou Teoria da evitação da
consciência
 Foi objeto da prova discursiva do concurso de Delegado de Polícia do Rio
Grande do Sul em 2018

Essa teoria tem origem na jurisprudência norte americana e tem incidência nos casos em que o
agente tem consciência da provável ilicitude dos bens, direitos e valores, por ele ocultados ou dissimulados,
mas, ainda assim, deliberadamente, cria diversos mecanismos impedir o aperfeiçoamento da representação
acerca do fato. Ou seja: o agente, deliberadamente, se recusa a saber a origem ilícita dos valores para que
possa, posteriormente, alegar que “não sabia de nada”, buscando, afastar o elemento subjetivo necessário.
Ora, se o agente pode ter consciência sobre a origem ilícita do dinheiro e escolhe não buscar essa
informação de forma mais aprofundada, ele demonstra nitidamente indiferença em relação ao bem jurídico
protegido, da mesma forma que demonstra indiferença quem age com dolo eventual. Nesse caso, como o
agente assume o risco de produzir o resultado, deverá responder pelo crime de lavagem de capitais a título
de dolo eventual.
Nas palavras do professor Renato Brasileiro (2020):

“Segundo a doutrina, essa teoria fundamenta-se na seguinte premissa: o indivíduo


que, suspeitando que pode vir a praticar determinado crime, opta por não
aperfeiçoar sua representação sobre a presença do tipo objetivo em um caso
concreto, reflete certo grau de indiferença em face do bem jurídico tutelado pela
norma penal tão elevado quanto o daquele que age com dolo eventual, daí por que
pode responder criminalmente pelo delito se o tipo penal em questão admitir a
punição a título de dolo eventual. (...)

No Brasil, a teoria da cegueira deliberada foi efetivamente utilizada para


fundamentar as condenações por lavagem de capitais nos autos do Processo
Criminal nº 2005.81.00.014586-0, relativo à subtração da quantia de R$
164.755.150,00 (cento e sessenta e quatro milhões, setecentos e cinquenta e cinco
mil, cento e cinquenta de reais) do interior do Banco Central do Brasil localizado na
cidade de Fortaleza/CE. Referida teoria foi utilizada como fundamento para a
condenação de dois empresários, proprietários de uma concessionária de
veículos, pela prática do crime do art. 1 º, V e VII, § 1 º, I, § 2°, I e II, da Lei 9.613/98,
em virtude de terem recebido a quantia de R$ 980.000,00 (novecentos e oitenta
mil reais), em notas de cinquenta reais em sacos de náilon, pela compra de 11
(onze) veículos, dentre eles 03 (três) Mitsubish 1200, 02 (dois) Mitsubish Pajero
Sport, e 01 (um) pajero Full, sendo que os acusados teriam recebido a quantia sem
263
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

questionamento, nem mesmo quando a quantia de R$ 250.000,00 (duzentos e


cinquenta mil reais) foi deixada pelo intermediário para "futuras compras", tendo
também se abstido de comunicar às autoridades responsáveis a movimentação
suspeita.”

Em linhas gerais, são requisitos para aplicação da teoria da cegueira deliberada:


• A consciência por parte do agente no sentido de que os valores possam ter origem ilícita;
• Que o agente deliberadamente crie mecanismos que obstem a sua plena consciência da origem ilícita
do dinheiro ou deixe de buscar informações que lhe permitam concluir por tal origem.

(d) Objeto material: O objeto material da lavagem de dinheiro são bens, dinheiro ou valores obtidos
direta ou indiretamente de uma infração penal antecedente.
• Produto direto: É o resultado imediato do delito. São os bens que chegam as mãos do criminoso
como resultado direito do crime. Ex.: objeto furtado, dinheiro obtido com a corrupção passiva, etc.
• Produto indireto: É o resultado obtido em virtude da utilização do produto direto. É o proveito obtido
pelo criminoso como resultado da transformação, substituição ou utilização econômica do produto
direto do delito.

OBS.1: Se os bens, valores e direitos forem provenientes de ilícitos civis ou ilícitos administrativos, não há a
configuração do crime de lavagem. Exemplo: atos de improbidade.

OBS.2: Lavagem em cadeia ou lavagem da lavagem: Com o advento da Lei nº 12.683/2012, qualquer infração
penal pode figurar como crime antecedente da lavagem de capitais (inclusive, uma outra lavagem de
capitais). Nesse sentido, a lavagem em cadeia é a lavagem de capitais que tem como infração penal
antecedente um outro crime de lavagem de capitais.

(e) Consumação e tentativa


O crime se consuma com a prática do primeiro ato de mascaramento dos valores ilícitos, sendo
dispensável o êxito definitivo da ocultação, e a realização de operações de grande vulto ou de grande
complexidade.
Lembre-se que a consumação independe do aperfeiçoamento das três etapas da lavagem (colocação
– dissimulação – integração). A fase da integração constitui o mero exaurimento do crime.
Por fim, por se tratar de crime plurissubsistente, a tentativa é perfeitamente possível. Havendo a
tentativa, deve haver a diminuição de pena.

264
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Art. 1º. (...) §3º: “A tentativa é punida nos termos do parágrafo único do art. 14 do
Código Penal.”

Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte afirmativa:


Em crimes de lavagem de dinheiro, dada a natureza do delito praticado, é incabível a tentativa.
R.: ERRADO. O crime de lavagem de dinheiro admite tentativa, nos termos do art. 1º, § 3º, da Lei nº 9.613/98.

(f) Causas de aumento de pena

§ 4o A pena será aumentada de um a dois terços, se os crimes definidos nesta Lei


forem cometidos de forma reiterada ou por intermédio de organização criminosa.

São causas de aumento de pena:


1) Crime praticado de forma reiterada: praticar um crime de forma reiterada é sinônimo de praticar
um crime de forma habitual.

Cuidado para não confundir habitualidade criminosa com crime habitual!


Na habitualidade criminosa há pluralidade de crimes, sendo a habitualidade, uma característica do
agente. Por outro lado, no crime habitual, a prática de um ato isolado não é crime, ou seja, crimes habituais
são aqueles delitos em que se exige a prática reiterada de uma mesma conduta

2) Praticado por meio de organização criminosa


Lembre-se que não há bis in idem a condenação pelo crime de lavagem de capitais majorada pelo
§4º do art. 1º em concurso material com o crime de organização criminosa previsto na Lei 12.850/13, já que
se tratam de objetividade jurídicas completamente distintas.

9. ASPECTOS PROCESSUAIS DA LEI DE LAVAGEM DE CAPITAIS

9.1 Colaboração Premiada

Art. 1º. (...) § 5o A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em
regime aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-
la, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou
partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando
esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais, à identificação dos
autores, coautores e partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto
do crime.

265
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Os benefícios da colaboração premiada são concedidos de acordo com o grau de colaboração dado
pelo delator. São BENEFÍCIOS trazidos pela lei de lavagem de capitais:

1) Diminuição da pena de 1 a 2/3 e fixação do regime inicial aberto;


2) Substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, mesmo que não preenchidos
os requisitos do art. 44 do CP;
3) Perdão judicial como causa extintiva da punibilidade.

CONTRIBUIÇÕES POSSÍVEIS: são contribuições alternativas e não cumulativas:


1) Apuração das infrações penais: Renato Brasileiro diz que, como a Lei não especificou a infração penal
(se antecedente ou o próprio crime de lavagem), o ideal é concluir que o colaborador deve fornecer
informações sobre todas as infrações para as quais tenha concorrido: só infração antecedente, só
lavagem de capitais ou ambas.
2) Identificação dos demais autores e partícipes: Renato Brasileiro ensina que, como o legislador
utilizou a conjunção aditiva “e”, somente será considerada a colaboração que ajude na identificação
de todos os que concorreram para a pratica delituosa.
3) Localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime.

 É importante decorar, pois muitas provas objetivas costumam trocar os benefícios/resultados da


colaboração premiada na Lei de Lavagem de capitais com os benefícios/resultados da colaboração
premiada na Lei de Organização Criminosa ou Lei de Drogas, por exemplo!

Pergunta-se: Cumpridos os requisitos legais, o magistrado poderia negar-se a aplicar os benefícios


previstos na Lei? Trata-se de mera faculdade do juiz?
Adimplidos os requisitos legais, não restaria liberdade ao magistrado no que concerne à aplicação ou
não do benefício legal. O juiz até pode valorar a quantidade de redução por exemplo, mas não negar a
aplicação do benefício legal.

9.2 Ação Controlada e Infiltração de Agentes

Art. 1º. (...) § 6º Para a apuração do crime de que trata este artigo, admite-se a
utilização da ação controlada e da infiltração de agentes. ” (NR)

O §6º foi inserido pelo Pacote Anticrime (Lei 13.964/2019), passando a inserir, de forma expressa, a
ação controlada e a infiltração de agentes como meios de obtenção de provas nos crimes de lavagem de
capitais.

266
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Note que não houve regulamentação específica a respeito da operacionalização dessas modalidades
de investigação, de modo que pensamos que deve ser aplicado todo o regramento utilizado na lei de
organização criminosa, legislação que detalha a forma de aplicação dessas duas modalidades investigativas.
A seguir vamos rever algumas informações importantes acerca desses dois institutos.

10.2.1 Infiltração de agentes

(a) Conceito e previsão normativa: A infiltração de agentes é o meio extraordinário de obtenção de


provas, previsto no art. 10, § 3°, da Lei n° 12.850/13, que permite a infiltração do agente de polícia em
organização criminosa com o fim de verificar o seu funcionamento, hierarquia, estrutura, divisão de tarefas,
os delitos por ela praticados, quem são seus integrantes e suas respectivas rotinas e localização, bem como
demais elementos que úteis à repressão da criminalidade organizada.
(b) Prazo da infiltração: A autorização da infiltração de agentes pode ser concedida pelo prazo de
até 6 (seis) meses, sem prejuízo de eventuais renovações, desde que comprovada sua necessidade, por
decisão fundamentada, comprovando a necessidade da medida.
Caso haja necessidade de renovação de prazo, esta deve se dar antes do decurso do prazo fixado na
decisão originária, evitando-se uma solução de continuidade na realização da infiltração. Se a infiltração se
prolongar por período "descoberto" de autorização judicial, os elementos probatórios aí obtidos devem ser
considerados inválidos, por violação ao preceito do art. 10, caput, da Lei n° 12.850/13, que demanda prévia
autorização judicial para a execução da infiltração de agentes.

(c) Espécies de infiltração: A doutrina norte-americana aponta a existência de duas espécies de


infiltração:

- Light cover: espécie de infiltração mais branda, que não demora mais de 6 (seis) meses. Não demanda
inserção contínua e permanente.

- Deep cover: são infiltrações que se prolongam por mais de 6 (seis) meses, necessitando de uma imersão
mais profunda e complexa no seio da organização criminosa.

A infiltração pode ocorrer de maneira preventiva ou repressiva.

(d) Fases da infiltração: A operação infiltração policial pode ser subdividida em: (i) Recrutamento; (ii)
Formação; (iii) Imersão; (iv) Especialização da infiltração; (v) Infiltração propriamente dita; (vi) Seguimento;
(vii) Pós-infiltração e (viii) Reinserção.

267
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

(e) Legitimidade para requerer: Tem-se como legitimados o Delegado de Polícia e o Ministério
Público. Sendo que, se requerida pelo MP no curso da ação penal, deve-se requerer também a manifestação
técnica do delegado.

Art. 10. A infiltração de agentes de polícia em tarefas de investigação, representada


pelo delegado de polícia ou requerida pelo Ministério Público, após manifestação
técnica do delegado de polícia quando solicitada no curso de inquérito policial, será
precedida de circunstanciada, motivada e sigilosa autorização judicial, que
estabelecerá seus limites.
§ 1º Na hipótese de representação do delegado de polícia, o juiz competente, antes
de decidir, ouvirá o Ministério Público.

(f) Limites e alcance da decisão: É preciso haver um limite investigatório que consiste no mandado
de infiltração com autorização extensiva expressa - artigo 11.
∘ Espacial: é preciso saber a base territorial até pela delimitação da competência (artigo 11 da
LCO).
∘ Temporal: art. 10, §3º diz que a infiltração será autorizada por até 06 meses, sem prejuízo de
eventuais renovações, desde que comprovada sua necessidade.

(g) Fragmentariedade e Subsidiariedade: a medida somente será admitida se a prova não puder ser
produzida por outros meios. Portanto, a infiltração deve ser ultima ratio.

(h) Plano de organização da infiltração: Trata-se de documento técnico pelo qual a polícia mostrará
ao Judiciário e ao MP no que consiste a operação. Deve acompanhar o pedido para que alcance o magistrado
e lhe dê ciência do caso, bem como propicie o controle externo e interno da atividade policial.
(i) Segredo de Justiça: O art. 10, caput, da Lei n° 12.850/13, ao se referir à autorização judicial da
infiltração de agentes, deixa evidente que se trata de decisão sigilosa. Por sua vez, o art. 12, caput, da referida
Lei, prevê que o pedido de infiltração será sigilosamente distribuído, de forma a não conter informações que
possam indicar a operação a ser efetivada ou identificar o agente que será infiltrado, porquanto tais dados
serão entregues diretamente ao magistrado.
(j) Sustação da operação: A preocupação do legislador com a proteção da integridade física e da
própria vida do agente infiltrado, fica evidenciada diante do dispositivo constante do art. 12, § 3°, da Lei n°
12.850/13, que dispõe: "Havendo indícios seguros de que o agente infiltrado sofre risco iminente, a
operação será sustada mediante requisição do Ministério Público ou pelo delegado de polícia, dando-se
imediata ciência ao Ministério Público".
Se o início da infiltração está condicionado à concordância do agente policial e à prévia autorização
judicial, a sustação das operações deverá ocorrer de imediato, antes mesmo de qualquer requisição do

268
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Ministério Público ou do Delegado de Polícia, da mesma forma que o agente policial tem o direito de recusar
ou fazer cessar a atuação infiltrada a qualquer tempo.

(k) Responsabilidade criminal do agente infiltrado: O art. 13, parágrafo único, da Lei n° 12.850/13,
dispõe expressamente que "não é punível, no âmbito da infiltração, a prática de crime pelo agente infiltrado
no curso da investigação, quando inexigível conduta diversa.
Nesse sentido, Renato Brasileiro preceitua que, no caso de o agente ser coagido a praticar outros
crimes, sob pena de ter sua verdadeira identidade revelada, o ideal é concluir pela inexigibilidade de conduta
diversa, com a consequente exclusão da culpabilidade, desde que respeitada a proporcionalidade e mantida
a finalidade da investigação.
Desta feita, excluindo-se apenas a culpabilidade do injusto penal praticado pelo agente infiltrado,
isso significa dizer que subsiste a tipicidade e ilicitude da conduta, permitindo, por meio da TEORIA DA
ACESSORIEDADE LIMITADA, a punição dos demais integrantes da organização criminosa pelas infrações
penais praticadas.
(l) Infiltração de agentes na internet como modalidade de investigação prevista na Lei 12.850/13:
Com a entrada em vigor da Lei 13964/19, mais um dispositivo foi incluído genericamente como modalidade
investigativa: a infiltração de agentes na internet. Vejamos o tratamento legislativo a respeito da matéria.

Art. 10-A. Será admitida a ação de agentes de polícia infiltrados virtuais, obedecidos
os requisitos do caput do art. 10, na internet, com o fim de investigar os crimes
previstos nesta Lei e a eles conexos, praticados por organizações criminosas, desde
que demonstrada sua necessidade e indicados o alcance das tarefas dos policiais,
os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e, quando possível, os dados de
conexão ou cadastrais que permitam a identificação dessas pessoas. (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º Para efeitos do disposto nesta Lei, consideram-se: (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
I - dados de conexão: informações referentes a hora, data, início, término, duração,
endereço de Protocolo de Internet (IP) utilizado e terminal de origem da
conexão; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - dados cadastrais: informações referentes a nome e endereço de assinante ou
de usuário registrado ou autenticado para a conexão a quem endereço de IP,
identificação de usuário ou código de acesso tenha sido atribuído no momento da
conexão. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º Na hipótese de representação do delegado de polícia, o juiz competente,
antes de decidir, ouvirá o Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)

269
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

§ 3º Será admitida a infiltração se houver indícios de infração penal de que trata o


art. 1º desta Lei e se as provas não puderem ser produzidas por outros meios
disponíveis. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 4º A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de
eventuais renovações, mediante ordem judicial fundamentada e desde que o total
não exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja comprovada sua
necessidade. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 5º Findo o prazo previsto no § 4º deste artigo, o relatório circunstanciado,
juntamente com todos os atos eletrônicos praticados durante a operação, deverão
ser registrados, gravados, armazenados e apresentados ao juiz competente, que
imediatamente cientificará o Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
§ 6º No curso do inquérito policial, o delegado de polícia poderá determinar aos
seus agentes, e o Ministério Público e o juiz competente poderão requisitar, a
qualquer tempo, relatório da atividade de infiltração. (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)
§ 7º É nula a prova obtida sem a observância do disposto neste artigo. (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)

Esquematizando...

INFILTRAÇÃO POLICIAL
LEI DE DROGAS LEI DO CRIME ECA LEI DE LAVAGEM (ART. 1O, § 6º)
(ART. 53, I) ORGANIZADO (ARTS. 190-A A 190- INCLUÍDO PELA LEI ANTICRIME
(ARTS. 10 A 14) E)

Não prevê prazo Prazo de 6 meses, podendo Prazo de 90 dias, Não prevê prazo máximo.
máximo. ser sucessivamente sendo permitidas
prorrogada. renovações, mas o
prazo total da
infiltração não
poderá exceder 720
dias.
Não disciplina Só poderá ser adotada se a Só poderá ser Não disciplina procedimento a
procedimento a ser prova não puder ser adotada se a prova ser adotado.
adotado. produzida por outros meios não puder ser
disponíveis.

270
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

produzida por outros


meios disponíveis.

É cabível a infiltração A infiltração de


policial virtual (lei agentes ocorre
anticrime) apenas na internet.

10.2.2. Ação controlada

A ação controlada consiste no retardamento da intervenção do aparato estatal no flagrante, que


deve ocorrer num momento mais oportuno sob o ponto de vista da investigação criminal.
Em outras palavras: A ação controlada funciona como uma autorização legal para que a prisão em
flagrante seja retardada ou protelada para outro momento, que não aquele em que o agente está em uma
situação de flagrância (CPP, art. 302). Tem-se uma mitigação do flagrante obrigatório.
Trata-se de uma importante técnica especial de investigação, prevista expressamente na Lei de
Drogas (art. 53, II), na Lei de Lavagem de Capitais (Lei n° 9.613/98, art. 4°B, com redação dada pela Lei n°
12.683/12) e na nova Lei das Organizações Criminosas (Lei n° 12.850/13, art. 8º).
Geralmente, essa técnica especial de investigação costuma ser utilizada com mais frequência em
relação a delitos permanentes, notadamente crimes de posse que não sofrem qualquer alteração de quadro
derivada do retardo da intervenção do aparato estatal, permitindo, ademais, a prisão em flagrante enquanto
não cessar a permanência (CPP, art. 303).
Ressalta-se que a ação controlada deve ser executada pela autoridade policial com a máxima cautela,
de modo a se evitar que os autores da infração penal escapem da persecução penal. Nesse sentido, a Lei n°
12.850 deixa claro que o procedimento investigatório deve ser levado a efeito mediante observação e
acompanhamento das ações praticadas por organizações criminosas.
Desnecessidade de prévia autorização judicial
Diversamente das Leis de Drogas e de Lavagem de Capitais, a Lei n° 12.850/13 não faz referência
expressa à necessidade de prévia autorização judicial para a execução da ação controlada quando se tratar
de crimes praticados por organizações criminosas.
Conforme o disposto no art. 8°, § 1°, da Lei n° 12.850/13, o retardamento da intervenção policial ou
administrativa será previamente comunicado ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus
limites e comunicará ao Ministério Público.
A comunicação imediata ao juiz competente também é importante para afastar a responsabilidade
criminal das autoridades por eventual crime de prevaricação nas hipóteses em que a situação de flagrante
se dissipar.

271
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Em suma: A nova Lei das Organizações Criminosas em momento algum faz menção à necessidade de prévia
autorização judicial. Refere-se tão somente à necessidade de prévia comunicação à autoridade judiciária
competente.

Se a ação controlada envolver transposição de fronteiras (delitos transnacionais), o retardamento da


intervenção policial ou administrativa somente poderá ocorrer com a cooperação das autoridades dos
países que figurem como provável itinerário ou destino do investigado, de modo a reduzir os riscos de fuga
e extravio do produto, objeto, instrumento ou proveito do crime
Entrega vigiada
É uma das técnicas mais tradicionais de ação controlada que tem por objetivo a identificação do
maior número possível de agentes do esquema criminoso, bem como localização dos ativos ocultos, e
descoberta de outras fontes de prova.
Conforme o art. 2°, alínea "i", da Convenção de Palermo, entrega vigiada é a técnica que consiste em
permitir que remessas ilícitas ou suspeitas saiam do território de um ou mais Estados, os atravessem ou neles
entrem, com o conhecimento e sob o controle das suas autoridades competentes, com a finalidade de
investigar infrações e identificar as pessoas envolvidas na sua prática.

10. EFEITOS DA CONDENAÇÃO

Art. 7º São efeitos da condenação, além dos previstos no Código Penal:


I - a perda, em favor da União - e dos Estados, nos casos de competência da Justiça
Estadual -, de todos os bens, direitos e valores relacionados, direta ou
indiretamente, à prática dos crimes previstos nesta Lei, inclusive aqueles utilizados
para prestar a fiança, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé;
II - a interdição do exercício de cargo ou função pública de qualquer natureza e de
diretor, de membro de conselho de administração ou de gerência das pessoas
jurídicas referidas no art. 9º, pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade
aplicada.

§ 1o A União e os Estados, no âmbito de suas competências, regulamentarão a


forma de destinação dos bens, direitos e valores cuja perda houver sido declarada,
assegurada, quanto aos processos de competência da Justiça Federal, a sua
utilização pelos órgãos federais encarregados da prevenção, do combate, da ação
penal e do julgamento dos crimes previstos nesta Lei, e, quanto aos processos de
competência da Justiça Estadual, a preferência dos órgãos locais com idêntica
função.

272
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

§ 2o Os instrumentos do crime sem valor econômico cuja perda em favor da União


ou do Estado for decretada serão inutilizados ou doados a museu criminal ou a
entidade pública, se houver interesse na sua conservação.

Aqui é importante nos atentarmos para alguns detalhes;


• A interdição para exercício de cargo ou função pública é efeito específico da condenação, ou seja, não
se trata de um efeito automático, devendo ser motivado na sentença.
• Não se exige motivação para o confisco de bens, ou seja, trata-se de efeito genérico da sentença.

STF - A interdição prevista no art. 7, II da lei de lavagem de dinheiro pode ser


aplicada para Deputado Federal condenado pela prática do referido crime (STF. 1°
Turma. Ap 863/SP)

11. AFASTAMENTO DO SERVIDOR PÚBLICO COMO EFEITO AUTOMÁTICO DO INDICIAMENTO:

Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado, sem
prejuízo de remuneração e demais direitos previstos em lei, até que o juiz
competente autorize, em decisão fundamentada, o seu retorno. (Incluído pela Lei
nº 12.683, de 2012)

Dispositivo introduzido pela Lei 12.683/12.


Trata-se de previsão extremamente criticada pela doutrina, que alega a sua inconstitucionalidade
com base em 2 argumentos:

(1) Violação a regra de julgamento da garantia constitucional de presunção de inocência: Antecipação


da culpa, pior, sem que ao menos tenha sido oportunizado o direito a se manifesta sobre os motivos
pelos quais é investigado. Equipara aquele está sendo investigado àquele condenado por sentença
penal condenatória transitada em julgado.

(2) Violação do princípio da Jurisdicionalidade: Ao prever o efeito imediato fruto do ato de


indiciamento, que é realizado por uma autoridade não judiciária, permite-se que seja imposta uma
medida de natureza cautelar sem a analise in concreto da sua real necessidade, adequação e
proporcionalidade.

Nessa toada, recentemente o STF entendeu pela INCONSTITUCIONALIDADE do referido dispositivo.


Veja:

273
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

É inconstitucional a previsão legal que determina o afastamento do servidor


público pelo simples fato de ele ter sido indiciado pela prática de crime
É inconstitucional a determinação de afastamento automático de servidor público
indiciado em inquérito policial instaurado para apuração de crimes de lavagem ou
ocultação de bens, direitos e valores. Com base nesse entendimento, o STF
declarou inconstitucional o art. 17-D da Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei nº
9.613/98): Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor público, este será
afastado, sem prejuízo de remuneração e demais direitos previstos em lei, até que
o juiz competente autorize, em decisão fundamentada, o seu retorno. O
afastamento do servidor somente se justifica quando ficar demonstrado nos autos
que existe risco caso ele continue no desempenho de suas funções e que o
afastamento é medida eficaz e proporcional para se tutelar a investigação e a
própria Administração Pública. Tais circunstâncias precisam ser apreciadas pelo
Poder Judiciário. STF. Plenário. ADI 4911/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o
ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/11/2020 (Info 1000).

Explicação via Dizer o Direito11:


• Afastamento deve ser apreciado pelo Poder Judiciário
O afastamento do servidor somente se justifica quando ficar demonstrado nos autos que existe risco
caso ele continue no desempenho de suas funções e que o afastamento é medida eficaz e proporcional para
se tutelar a investigação e a própria Administração Pública. Tais circunstâncias precisam ser apreciadas pelo
Poder Judiciário.
A necessidade concreta de afastar o servidor pode ocorrer a partir de representação da autoridade
policial ou do Ministério Público, na forma de medida cautelar diversa da prisão, conforme preveem os arts.
282, § 2º, e 319, VI, do CPP.

• Afronta ao princípio da proporcionalidade


O indiciamento representa a análise técnico-jurídica do Delegado de Polícia que concluiu pela
probabilidade do crime objeto da investigação. Trata-se, contudo, de um juízo prévio (pré-processual) e não
vinculante. Logo, tendo em vista as características do sistema acusatório, o Ministério Público não está
obrigado a seguir o indiciamento realizado pela autoridade policial.
Pelo art. 17-D, o afastamento do servidor estaria automaticamente vinculado ao indiciamento, que
é uma atividade discricionária da autoridade policial, ocorrendo independentemente do início da ação penal
e da análise dos requisitos necessários para a efetivação dessa grave medida constritiva.
Afastar o servidor nesses moldes, com o mero indiciamento, viola o princípio da proporcionalidade.

11
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É inconstitucional a previsão legal que determina o afastamento do servidor público pelo
simples fato de ele ter sido indiciado pela prática de crime. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/22cdb13a83f73ccd1f79ffaf607b0621>. Acesso em: 07/01/2021
274
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

O ato de indiciamento não gera e não pode gerar efeitos materiais em relação ao indiciado, já que se
trata de mero ato de imputação de autoria de natureza preliminar, provisória e não vinculante ao titular da
ação penal.

• Presunção de inocência
A presunção de inocência exige que a imposição de medidas coercitivas ou constritivas aos direitos
dos acusados, no decorrer de inquérito ou processo penal, seja amparada em requisitos concretos que
sustentam a fundamentação da decisão judicial impositiva, não se admitindo efeitos cautelares automáticos
ou desprovidos de fundamentação idônea.

• Violação à isonomia
Vale ainda mencionar um último argumento: a norma do art. 17-D viola também o princípio da
isonomia. Isso porque ela faz uma distinção sem sentido entre acusados que foram previamente indiciados
de acusados que não foram indiciados.
O inquérito policial e o indiciamento são dispensáveis, ou seja, o MP pode oferecer a denúncia
mesmo que não sejam realizados. Isso significa que a norma do art. 17-D cria uma distinção sem sentido: os
acusados que foram previamente indiciados pela autoridade policial estarão afastados de suas funções. Por
outro lado, os acusados que foram denunciados sem prévio indiciamento irão permanecer, em regra, no
exercício de seus cargos.
Existem normas jurídicas que determinam o afastamento, mas não com o mero indiciamento
Importante destacar que existem normas no ordenamento jurídico nacional que preveem o
afastamento de servidor investigado por crimes graves, mas exigem representação da autoridade policial ou
do Ministério Público, bem como decisão judicial fundamentada para a imposição da medida, verificando-se
sua necessidade e proporcionalidade no confronto entre os interesses públicos e os interesses individuais do
investigado.
Cite-se, por exemplo, o art. 2º, § 5º, da Lei de Organização Criminosa (Lei nº 12.850/2013), que prevê
a reserva de jurisdição para o afastamento cautelar de servidor público:
Art. 2º (...)
§ 5º Se houver indícios suficientes de que o funcionário público integra organização
criminosa, poderá o juiz determinar seu afastamento cautelar do cargo, emprego
ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à
investigação ou instrução processual.

No mesmo sentido, o art. 56, § 1º, da Lei nº 11.343/2006:

Art. 56. Recebida a denúncia, o juiz designará dia e hora para a audiência de
instrução e julgamento, ordenará a citação pessoal do acusado, a intimação do
Ministério Público, do assistente, se for o caso, e requisitará os laudos periciais.
275
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

§ 1º Tratando-se de condutas tipificadas como infração do disposto nos arts. 33,


caput e § 1º, e 34 a 37 desta Lei, o juiz, ao receber a denúncia, poderá decretar o
afastamento cautelar do denunciado de suas atividades, se for funcionário público,
comunicando-se ao órgão respectivo.

Percebe-se que tais normas, instituídas para o combate de crimes tão graves quanto a lavagem ou
ocultação de capitais, determinam que o afastamento do servidor, além de depender de decisão judicial,
deve fundar-se em juízo de valor específico, qual seja, o prejuízo à investigação criminal, à instrução
processual e, por que não, à reiteração criminosa, decorrentes da manutenção do servidor público em suas
funções.
Daí que o afastamento, considerando a necessidade de fundamentação específica da decisão, não
pode ser consequência automática prevista em lei para o ato administrativo do indiciamento, ou mesmo o
recebimento da denúncia oferecida, obedecendo-se, com isto, ao princípio constitucional da
proporcionalidade das medidas restritivas de direitos.

12. COMPETÊNCIA

Em regra, a competência é da Justiça comum estadual, salvo quando envolver uma das hipóteses
previstas no art. 109 da CF/88 ou em quando a infração penal antecedente for de competência da Justiça
Federa.
• Regra: Justiça Estadual
• Exceção: Justiça Federal nas hipóteses do art. 109, CF ou quando o crime antecedente for da JF.

13. NÃO APLICAÇÃO DO ART. 366, CPP NA LEI DE LAVAGEM DE CAPITAIS

O art. 366 do CPP prevê que, nos casos de citação por edital frustrada do acusado, o processo e o
curso do prazo prescricional ficam suspensos.
Tal previsão visa, basicamente, preservar o direito à ampla defesa, em especial o direito de presença
e de audiência, desdobramentos da autodefesa.

Art. 366, CPP. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir
advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo
o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for
o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.

No entanto, O art. 2º, §2º da Lei de Lavagem de Capitais prevê expressamente a não aplicação do
art. 366, CPP nos processos que apuram crimes de lavagem.

276
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Art. 2º. (...) § 2º No processo por crime previsto nesta Lei, não se aplica o disposto
no art. 366 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo
Penal), devendo o acusado que não comparecer nem constituir advogado ser citado
por edital, prosseguindo o feito até o julgamento, com a nomeação de defensor
dativo. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

Logo, ainda que haja citação por edital frustrada, o processo e o prazo prescricional não são
suspensos, permanecem correndo, devendo ser constituído um defensor dativo.
A ratio dessa vedação, de acordo com a exposição de motivos, seria garantir maior efetividade no
combate à lavagem de capitais.

DICA:
- Provas Objetivas: Deve afirmar que não se aplica o art. 366, CPP, em razão do princípio da especialidade.
- Posição crítica da doutrina para prova dissertativa: Inconstitucionalidade desse dispositivo por violação
ao princípio da ampla defesa e do contraditório.

Caiu na prova de Delegado de Polícia Federal 2021: “Em relação ao disposto na Lei nº 9613/98, que se refere
à lavagem de dinheiro, julgue os itens: Ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional do
acusado citado por edital que não comparecer nem constituir advogado”. GABARITO: ERRADO.

15. JURISPRUDÊNCIA SOBRE O TEMA

Não configura o crime de lavagem a conduta do agente que esconde as notas de


dinheiro recebido como propina nos bolsos do paletó, na cintura e dentro das
meias. Não configura o crime de lavagem de dinheiro (art. 1º da Lei nº 9.613/98) a
conduta do agente que recebe propina decorrente de corrupção passiva e tenta
viajar com ele, em voo doméstico, escondendo as notas de dinheiro nos bolsos do
paletó, na cintura e dentro das meias. Também não configura o crime de lavagem
de dinheiro o fato de, após ter sido descoberto, dissimular (“mentir”) a natureza, a
origem e a propriedade dos valores. STF. 1ª Turma. Inq 3515/SP, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 8/10/2019 (Info 955).

Na denúncia pelo crime de lavagem de dinheiro, não é necessário que o


Ministério Público faça uma descrição exaustiva e pormenorizada da infração
penal antecedente. Se o Ministério Público oferece denúncia por lavagem de
dinheiro, ele deverá narrar, além do crime de lavagem (art. 1º da Lei nº 9.613/98),
qual foi a infração penal antecedente cometida. Importante esclarecer, contudo,
que não é necessário que o Ministério Público faça uma descrição exaustiva e
277
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

pormenorizada da infração penal antecedente, bastando apontar a existência de


indícios suficientes de que ela tenha sido praticada e que os bens, direitos ou
valores que foram “lavados” (ocultados ou dissimulados) sejam provenientes desta
infração. Assim, a aptidão da denúncia relativa ao crime de lavagem de dinheiro
não exige uma descrição exaustiva e pormenorizada do suposto crime prévio,
bastandoa presença de indícios suficientes de que o objeto material da lavagem
seja proveniente, direta ou indiretamente, de infração penal. STJ. Corte Especial.
APn 923-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/09/2019 (Info 657).

Não se deve reconhecer a consunção entre corrupção passiva e lavagem quando


a propina é recebida no exterior por meio de transação envolvendo offshore na
qual resta evidente a intenção de ocultar os valores. Eduardo Cunha foi
condenado pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de
divisas, por ter solicitado e recebido dinheiro de uma empresa privada para
interferir em um contrato com a Petrobrás. A propina teria sido acertada entre o
indivíduo chamado “IC”, proprietário da empresa beneficiada, e “JL”, ex-Diretor
Internacional da Petrobrás. O pagamento foi realizado mediante transferências
para contas secretas no exterior. O STF entendeu que não se podia reconhecer a
consunção entre a corrupção passiva e a lavagem, considerando que não houve
simples pagamento da propina para interposta pessoa, mas sim pagamento
mediante utilização de contas secretas no exterior em nome de uma offshore, de
um lado, e de um trust, de outro, e da realização de transação por meio da qual a
propina foi depositada e ocultada em local seguro. Logo, ficou demonstrada da
autonomia entre os delitos. STF. 2ª Turma. HC 165036/PR, Rel. Min. Edson Fachin,
julgado em 9/4/2019 (Info 937).

Recebimento de propina em depósitos bancários fracionados pode configurar


lavagem. Pratica lavagem de dinheiro o sujeito que recebe propina por meio de
depósitos bancários fracionados, em valores que não atingem os limites
estabelecidos pelas autoridades monetárias à comunicação compulsória dessas
operações. Ex: suponhamos que, na época, a autoridade bancária dizia que todo
depósito acima de R$ 20 mil deveria ser comunicado ao COAF; diante disso, um
Deputado recebia depósitos periódicos de R$ 19 mil para burlar essa regra. Para o
STF, isso configura o crime de lavagem. Trata-se de uma forma de ocultação da
origem e da localização da vantagem pecuniária recebida pela prática do crime
antecedente. STF. 2ª Turma. AP 996/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
29/5/2018 (Info 904).

278
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Simples fato de ter recebido a propina em espécie não configura lavagem de


dinheiro. O mero recebimento de valores em dinheiro não tipifica o delito de
lavagem, seja quando recebido pelo próprio agente público, seja quando recebido
por interposta pessoa. STF. 2ª Turma. AP 996/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado
em 29/5/2018 (Info 904).

Pena pode ser aumentada se o crime de lavagem envolveu grandes somas de


valores. Se a lavagem de dinheiro envolveu valores vultosos, a pena-base poderá
ser aumentada (“consequências do crime”) tendo em vista que, neste caso,
considera-se que o delito violou o bem jurídico tutelado de forma muito mais
intensa do que o usual. STF. 1ª Turma. AP 863/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado
em 23/5/2017 (Info 866).

Pena pode ser aumentada se a lavagem de dinheiro ocorreu por meio de várias
transações financeiras envolvendo diversos países. A pena-base pode ser
aumentada, no que tange às “circunstâncias do crime”, se a lavagem de dinheiro
ocorreu num contexto de múltiplas transações financeiras e de múltipla
transnacionalidade, o que interfere na ordem jurídica de mais de um Estado
soberano. STF. 1ª Turma. AP 863/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 23/5/2017
(Info 866).

Reprovabilidade do crime cometido por “homem público” é maior. Se um


Deputado Federal que exerce mandato há muitos anos é condenado, o órgão
julgador poderá aumentar a pena-base atribuindo destaque negativo para a
“reprovabilidade”. A circunstância de o réu ser homem de longa vida pública,
acostumado com regras jurídicas, enseja uma maior reprovabilidade em sua
conduta considerando a sua capacidade acentuada de conhecer e compreender a
necessidade de observar as normas. STF. 1ª Turma. AP 863/SP, Rel. Min. Edson
Fachin, julgado em 23/5/2017 (Info 866).

Forma de impugnação contra a decisão que decreta a medida assecuratória


prevista no art. 4º da Lei de Lavagem de Dinheiro. É possível a interposição de
apelação, com fundamento no art. 593, II, do CPP, contra decisão que tenha
determinado medida assecuratória prevista no art. 4º, caput, da Lei nº 9.613/98
(Lei de lavagem de Dinheiro), a despeito da possibilidade de postulação direta ao
juiz constritor objetivando a liberação total ou parcial dos bens, direitos ou valores
constritos (art. 4º, §§ 2º e 3º, da mesma Lei). O indivíduo que sofreu os efeitos da
medida assecuratória prevista no art. 4º da Lei nº 9.613/98 tem a possibilidade de
279
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

postular diretamente ao juiz a liberação total ou parcial dos bens, direitos ou


valores constritos. No entanto, isso não proíbe que ele decida não ingressar com
esse pedido perante o juízo de 1º instância e queira, desde logo, interpor apelação
contra a decisão proferida, na forma do art. 593, II, do CPP. STJ. 5ª Turma. REsp
1585781-RS, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 28/6/2016 (Info 587)

Pratica lavagem de dinheiro o sujeito que recebe propina por meio de depósitos
bancários fracionados, em valores que não atingem os limites estabelecidos pelas
autoridades monetárias à comunicação compulsória dessas operações. (STF.
2°Turma. AP 996/DF)

Não se deve reconhecer a consunção entre corrupção passiva e lavagem de


dinheiro quando a propina é recebida no exterior por meio de transações
envolvendo offshore na qual resta evidente a intenção de ocultar os valores (STF.
2° Turma, HC160536/PR)

JURISPRUDÊNCIA EM TESES DO STJ


EDIÇÃO N. 166: DO CRIME DE LAVAGEM – I

1) É desnecessário que o autor do crime de lavagem de dinheiro tenha sido autor


ou partícipe da infração penal antecedente, basta que tenha ciência da origem
ilícita dos bens, direitos e valores e concorra para sua ocultação ou dissimulação.

Princípio da autonomia - O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro


é regido pelo princípio da autonomia. Isso significa que, para a denúncia que imputa
ao réu o delito de lavagem de dinheiro ser considerada apta, não é necessária prova
concreta da ocorrência da infração penal antecedente, bastando a existência de
elementos indiciários de que o capital lavado seja decorrente desta infração penal
(STF. 1ª Turma. HC 93.368/PR, DJe de 25/8/2011).

2) Nos crimes de lavagem de dinheiro, a denúncia é apta quando apresentar justa


causa duplicada, indicando lastro probatório mínimo em relação ao crime de
lavagem de dinheiro e à infração penal antecedente.

No caso do delito previsto no art. 1º da Lei n. 9.613/98, a aptidão da denúncia é


aferida a partir da verificação da presença de elementos informativos suficientes
que sirvam de lastro probatório mínimo que apontem a materialidade e ofereçam
indícios da autoria da prática de atos de ocultação ou de dissimulação da origem
280
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

dos bens ou valores. Além disso, a inicial acusatória deve trazer elementos que
sinalizem a existência de infração penal antecedente, demonstrando a chamada
justa causa duplicada. STJ. 5ª Turma. HC 525.790/MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, julgado em 15/10/2019.

3) A aptidão da denúncia relativa ao crime de lavagem de dinheiro não exige uma


descrição exaustiva e pormenorizada do suposto crime prévio, bastando, com
relação às condutas praticadas antes da Lei nº 12.683/2012, a presença de
indícios suficientes de que o objeto material da lavagem seja proveniente, direta
ou indiretamente, de um daqueles crimes mencionados nos incisos do art. 1º da
Lei nº 9.613/98. (Info 657).

4) O crime de lavagem de dinheiro, ANTES DAS ALTERAÇÕES PROMOVIDAS PELA


LEI N. 12.683/2012, estava adstrito aos crimes descritos no rol taxativo do art. 1º
da Lei n. 9.613/1998.

Vale ressaltar que, se o crime tiver sido praticado antes da Lei nº 12.683/2012, o
Ministério Público deverá narrar um crime antecedente que se amolde a um dos
incisos do art. 1º segundo a redação que vigorava antes da novidade legislativa.
Nesse sentido: “(...) tendo o crime sido praticado antes da alteração legislativa [da
Lei 12.683/2012], a denúncia [deve ter] o cuidado de imputar ao paciente a conduta
conforme previsão legal à época dos fatos” (STJ. 5ª Turma. HC 276.245/MG, DJe
20/06/2017).

5) O tipo penal do art. 1º da Lei nº 9.613/98 é de ação múltipla ou plurinuclear,


consumando-se com a prática de qualquer dos verbos mencionados na descrição
típica e relacionando-se com qualquer das fases do branqueamento de capitais
(ocultação, dissimulação, reintrodução), não exigindo a demonstração da
ocorrência de todos os três passos do processo de branqueamento.

6) O crime de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, tipificado no art.


1º da Lei nº 9.613/1998, constitui crime autônomo em relação às infrações penais
antecedentes.

7) Embora a tipificação da lavagem de dinheiro dependa da existência de uma


infração penal antecedente, é possível a autolavagem - isto é, a imputação
simultânea, ao mesmo réu, da infração antecedente e do crime de lavagem -,
desde que sejam demonstrados atos diversos e autônomos daquele que compõe
281
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

a realização da primeira infração penal, circunstância na qual não ocorrerá o


fenômeno da consunção.

É também a posição do STF:

(...) 2. O sistema jurídico brasileiro não exclui os autores do delito antecedente do


âmbito de incidência das normas penais definidoras do crime de lavagem de bens,
direitos ou valores, admitindo, por consequência, a punição da chamada
autolavagem. É possível, portanto, em tese, que um mesmo acusado responda,
concomitantemente, pela prática dos delitos antecedente e de lavagem,
inexistindo bis in idem decorrente de tal proceder.
3. Nada obstante, a incriminação da autolavagem pressupõe a prática de atos de
ocultação, dissimulação ou integração autônomos ao delito antecedente, ainda que
se verifique, eventualmente, consumações simultâneas.
4. A consunção constitui critério de resolução de conflito aparente de normas
penais incidente em casos em que a norma consuntiva contemple e esgote o
desvalor da consumida, em hipótese de coapenamento de condutas. Assim,
eventual coincidência temporal entre o recebimento indireto de vantagem
indevida, no campo da corrupção passiva, e a implementação de atos autônomos
de ocultação, dissimulação ou integração na lavagem, não autoriza o
reconhecimento de crime único se atingida a tipicidade objetiva e subjetiva própria
do delito de lavagem. (...) STF. 2ª Turma. HC 165036, Rel. Min. Edson Fachin,
julgado em 09/04/2019.

8) O crime de lavagem de bens, direitos ou valores, quando praticado na


modalidade típica de ocultar, é permanente, protraindo-se sua execução até que
os objetos materiais do branqueamento se tornem conhecidos, o que evidencia a
atualidade necessária à decretação da prisão preventiva (STJ/2021)

O delito de lavagem de bens, direitos ou valores, previsto no art. 1º da Lei nº


9.613/98, quando praticado na modalidade de ocultação, tem natureza de crime
permanente. A característica básica dos delitos permanentes está na circunstância
de que a execução desses crimes não se dá em um momento definido e específico,
mas em um alongar temporal. Quem oculta e mantém oculto algo, prolonga a ação
até que o fato se torne conhecido. Assim, o prazo prescricional somente tem início
quando as autoridades tomam conhecimento da conduta do agente. STF. 1ª Turma,
julgado em 23/5/2017 (Info 866).

282
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

9) A aquisição de bens em nome de pessoa interposta caracteriza-se como


conduta, em tese, de ocultação ou dissimulação, prevista no tipo penal do art. 1º
da Lei n. 9.613/1998, sendo suficiente, portanto, para o oferecimento da
denúncia.

Ex.: determinado agente político recebe vantagem indevida (“propina”)


proveniente de corrupção passiva e, com o dinheiro, adquire imóveis que estão em
nome de familiares e empregados usados como “laranja”.

Cuidado para não confundir: O mero recebimento da vantagem indevida por meio
de interposta pessoa não é conduta apta a configurar o delito de lavagem de
capitais (STF. 2ª Turma. AP 996, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 29/05/2018).

10) A realização, por período prolongado, de sucessivos contratos de empréstimo


pessoal para justificar ingressos patrimoniais como se renda fossem - sem que se
esclareça a forma e a fonte de pagamento das parcelas, acrescidas de juros, e sem
que isso represente, em nenhum momento, uma correspondente redução do
padrão de vida do devedor - é apta a configurar, em tese, ato de dissimulação da
origem ilícita de valores, elemento constituinte do delito de lavagem de dinheiro,
que extrapole o mero recebimento de vantagens indevidas

Nesse sentido: STJ. Corte Especial. APn 940/DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
06/05/2020.
A pessoa toma o empréstimo para justificar a entrada das quantias em sua conta
bancária e depois salda essas dívidas em dinheiro, com recursos provenientes da
infração penal antecedente.

EDIÇÃO N. 167: DO CRIME DE LAVAGEM - II

1) No crime de lavagem de dinheiro que envolve grande quantidade de agentes


residentes em diversas unidades da federação, a regra de competência do local
onde se realizaram as operações irregulares será afastada para, em homenagem
aos princípios da razoável duração do processo e da celeridade de sua tramitação,
dar lugar ao foro do domicílio do investigado.

Em regra, a competência para processar e julgar o crime de lavagem de dinheiro é


do Juízo do local onde foram realizadas as operações irregulares. Entretanto, tendo
as operações financeiras sido realizadas em instituição localizada em Foz do

283
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Iguaçu/PR (conta CC5), o STJ, diante das peculiaridades - número elevado de contas
de depositantes domiciliados em diversos Estados da Federação-, vem decidindo,
em homenagem ao princípio da duração razoável do processo, pela competência
do Juízo do domicílio dos investigados. STJ. 3ª Seção. CC 93.991/SP, Rel. Min. Jorge
Mussi, julgado em 09/06/2010.

2) A autoridade judiciária brasileira é competente para julgar os crimes de


lavagem ou ocultação de dinheiro cometidos, mesmo que parcialmente, no
território nacional, bem como na hipótese em que os crimes antecedentes
tenham sido praticados em prejuízo da administração pública, ainda que os atos
tenham ocorrido exclusivamente no exterior.

Caso concreto: para cometer a lavagem de dinheiro, os réus se utilizaram de uma


offshore constituída no exterior e também de contas bancárias de uma instituição
financeira localizada em outro país. Mesmo assim, o STJ considerou que a Justiça
brasileira teria competência para julgar a causa considerando que os agentes
fizeram uso de uma empresa sediada no Brasil, tendo praticado os crimes
antecedentes em nosso país. STJ. 5ª Turma. HC 221.108/PR, Rel. Min. Jorge Mussi,
julgado em 11/03/2014.
Praticados os crimes antecedentes ao delito de lavagem de dinheiro em prejuízo da
Administração Pública brasileira - especificamente, contra o patrimônio da
Petrobras -, ainda que porventura os atos de lavagem tenham-se realizado
exclusivamente no estrangeiro, subsiste a competência do Poder Judiciário
brasileiro para processar e julgar os fatos, a teor do art. 7º, I, “b”, do CP.

O Brasil comprometeu-se em tratados e convenções internacionais a combater o


crime de lavagem de capitais oriundos de crimes de corrupção (Convenção sobre
Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais
Internacionais, incorporada pelo Decreto n. 3.678/2000, e Convenção das Nações
Unidas contra a Corrupção, ratificada pelo Decreto n. 5.687/2000).

Desse modo, também se aplica, ao caso, a disposição do art. 7º, II, “a”, do CP (crime
praticado no estrangeiro que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a
reprimir), porquanto os crimes imputados efetivamente teriam como delito
antecedente atos de corrupção já processados e julgados perante a jurisdição
brasileira. STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 112.868/PR, Rel. Min. Leopoldo De Arruda
Raposo (Desembargador convocado do TJ/PE), julgado em 19/11/2019.

284
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

3) Compete ao juízo processante do crime de lavagem de dinheiro, apreciar e


decidir a respeito da união dos processos (art. 2º, II, da Lei nº 9.613/98),
examinando caso a caso, com objetivo de otimizar a entrega da prestação
jurisdicional.

4) O reconhecimento da extinção da punibilidade pela prescrição da infração


penal antecedente não implica atipicidade do delito de lavagem (art. 1º da Lei nº
9.613/98).

5) O delito de evasão de divisas é autônomo e antecedente ao crime de lavagem


de capitais, não constituindo este mero exaurimento impunível daquele, nem
consunção entre os abordados crimes.

O agente que praticou o crime contra o sistema financeiro nacional (art. 22 da Lei
nº 7.492/96) pode também ser sujeito ativo do delito de lavagem de capitais (art.
1º da Lei nº 9.613/98), não constituindo este mero exaurimento impunível do
primeiro crime e tampouco ficando caracterizado o bis in idem em decorrência da
dupla punição. São condutas independentes, cada qual tipificada autonomamente,
inexistindo, no ordenamento jurídico, qualquer previsão excluindo a
responsabilidade do autor do crime antecedente pelo delito posterior. STJ. 6ª
Turma. REsp 1222580/PR, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 20/03/2014.

6) A prática de organização criminosa (art. 1º, VII, da Lei nº 9.613/98) como crime
antecedente da lavagem de dinheiro é atípica antes do advento da Lei nº
12.850/2013, por ausência de descrição normativa.

7) Por ser atípico, não se pode invocar a substituição do crime de organização


criminosa por associação criminosa (art. 288 do Código Penal - CP), pois este não
estava incluído no rol taxativo da redação original da Lei nº 9.613/1998.

8) Nos crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, é legítima a


exasperação da pena-base pela valoração negativa das consequências do crime
em decorrência da movimentação de expressiva quantia de recursos envolvidos
que extrapole o elemento natural do tipo.

A elevada complexidade dos mecanismos de lavagem de dinheiro utilizados e o


montante total movimentado pela empreitada criminosa autorizam a valoração
negativa das circunstâncias e consequências do crime, para exasperar e pena-base.
285
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1866173/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
30/03/2021.

9) A incidência simultânea do reconhecimento da continuidade delitiva (art. 70


do CP) e da majorante prevista no § 4º do art. 1º da Lei nº 9.613/98, nos crimes
de lavagem de dinheiro, acarreta bis in idem.

Art. 1º (...) § 4º A pena será aumentada de um a dois terços, se os crimes definidos


nesta Lei forem cometidos de forma reiterada ou por intermédio de organização
criminosa.

10) Os familiares e parentes próximos de pessoas que ocupem cargos ou funções


públicas relevantes - consideradas pessoas politicamente expostas - PPE, nos
termos do art. 2º, da Resolução nº 29, de 19/12/2017, do COAF - sujeitam-se ao
controle estabelecido nos arts. 10 e 11 da Lei nº 9.613/98 a fim de ser apurada a
possível prática de lavagem de dinheiro.

11) O art. 1º, § 5º, da Lei nº 9.613/98 trata da delação premiada, ato unilateral,
praticado pelo agente que, espontaneamente, opta por prestar auxílio tanto à
atividade de investigação, quanto à instrução procedimental, independente de
prévio acordo entre as partes interessadas, cujos benefícios não podem
ultrapassar a fronteira objetiva e subjetiva da demanda, dada sua natureza
endoprocessual.

O art. 1º, § 5º, da Lei 9.613/98 trata da delação premiada (unilateral), que tem a
característica de ato unilateral, praticado pelo agente que, espontaneamente, opta
por prestar auxílio tanto à atividade de investigação, quanto à instrução
procedimental, sendo que o referido instituto, diferentemente da colaboração
premiada (que demanda a bilateralidade), não depende de prévio acordo a ser
firmado entre as partes interessadas. A correta hermenêutica a ser conferida ao
instituto, direciona-se no sentido de que não há como expandir os benefícios
advindos da delação premiada, eis que unilateral, para além da fronteira objetiva e
subjetiva da demanda posta à apreciação, eis que possuem natureza
endoprocessual, sob pena de violação ou afronta ao princípio do Juiz natural. STJ.
5ª Turma. AgRg no REsp 1765139/PR, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em
23/04/2019.

286
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

12) A atuação de promotores auxiliares ou de grupos especializados, como o


Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), na
investigação de infrações penais, a exemplo do crime de lavagem de dinheiro, não
ofende o princípio do promotor natural, não havendo que se falar em designação
casuística.

13) Nos crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, a autoridade


policial e o Ministério Público têm acesso, independentemente de autorização
judicial, aos dados meramente cadastrais de investigados que não são protegidos
pelo sigilo constitucional (art. 17-B da Lei nº 9.613/98).

14) É possível o deferimento de medida assecuratória em desfavor de pessoa


jurídica que se beneficia de produtos decorrentes do crime de lavagem, ainda que
não integre o polo passivo de investigação ou ação penal.

15) Não há óbice à aplicação imediata das medidas assecuratórias previstas no


art. 4º da Lei nº 9.613/98 e implementadas pela Lei nº 12.683/2012, por se
tratarem de institutos de direito processual a luz do princípio tempus regit actum.

Bibliografia
Legislação Criminal Especial Comentada. Volume Único. Renato Brasileiro de Lima. 8ª edição. 2020
Leis Penais Especiais. Volume único. Gabriel Habbib. 10ª edição. 2018
Anotações do curso do professor Marcos Paulo Dutra (2016).

Dizer o Direito.

287
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

QUESTÕES PROPOSTAS

1 - 2022 - FGV - PC-AM - FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de II A ação de agentes de polícia infiltrados virtuais somente é
Polícia - Edital nº 01 admitida com o fim de investigar os crimes previstos na Lei
n.º 12.850/2013 e outros a eles conexos.
Ainda em relação às medidas assecuratórias da Lei nº III Para a apuração do crime de lavagem ou ocultação de bens,
9.613/98, no que toca ao standard de prova (ou modelos de direitos e valores, admite-se a utilização da ação controlada e
constatação) para o seu deferimento, é correto afirmar que a da infiltração de agentes.
lei exige
Assinale a opção correta.
A-indícios veementes.
B-indícios fortes. A-Nenhum item está certo.
C-indícios suficientes. B-Apenas o item I está certo.
D-fundadas razões. C-Apenas o item II está certo.
E-prova cabal. D-Apenas os itens I e III estão certos.
E-Apenas os itens II e III estão certos.

2 - 2022 - FGV - PC-AM - FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de


Polícia - Edital nº 01 4 - 2021 - FUMARC - PC-MG - FUMARC - 2021 - PC-MG -
Delegado de Polícia Substituto

Em relação às medidas assecuratórias da Lei nº 9.613/98,


assinale a afirmativa correta. Sobre as disposições processuais especiais da Lei nº
9.613/1998 (que dispõe sobre os crimes de "lavagem" ou
A-No arresto são atingidos bens quaisquer adquiridos com ocultação de bens, direitos e valores, e dá outras
proventos do crime. providências), é INCORRETO afirmar:
B-No arresto são atingidos bens de origem ilícita e final
perdimento. A-No curso das investigações de crimes de lavagem de bens,
C-No sequestro são afetados bens lícitos do réu, servindo direitos ou valores, ordens de prisão ou medidas
como garantia patrimonial para ressarcimento. assecuratórias de bens, direitos ou valores poderão ser
D-Na hipoteca legal são afetados bens de origem ilícita e final suspensas pelo juiz, ouvido o Ministério Público, quando a sua
perdimento, para posterior ressarcimento. execução imediata puder comprometer as investigações.
E-No sequestro são atingidos bens móveis e imóveis, ainda B-No processo por crime previsto na Lei nº 9.613/1998, não
que transferidos a terceiros. se aplica o disposto no art. 366 do CPP, devendo o acusado
que não comparecer nem constituir advogado ser citado por
edital, prosseguindo o feito até o julgamento, com a
3 - 2022 - CESPE / CEBRASPE - PC-RJ - CESPE / CEBRASPE -
2022 - PC-RJ - Delegado de Polícia nomeação de defensor dativo.
C-O processo e o julgamento dos crimes previstos na Lei nº
9.613/1998 independem do processo e julgamento das
Com relação à investigação e aos meios de obtenção de
infrações penais antecedentes, ainda que praticados em
prova, julgue os itens a seguir.
outro país, cabendo ao juiz competente para os crimes
previstos nesta Lei a decisão sobre a unidade de processo e
I A infiltração virtual de agentes de polícia será autorizada
julgamento.
pelo prazo de até seis meses, sem prejuízo de eventuais
D-O processo e o julgamento dos crimes previstos na Lei nº
renovações, mediante ordem judicial fundamentada, desde
9.613/1998 não são da competência da Justiça Federal nas
que o total não exceda a 720 dias e seja comprovada sua
hipóteses em que a infração penal antecedente for de
necessidade.
competência da Justiça Federal, tendo em vista serem crimes
autônomos.
288
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Nessa situação hipotética, sobre a disciplina imposta pela Lei


5 - 2021 – NC UFPR – PC-PR – Delegado de Polícia 9.613/98 e as garantias processuais, está correto afirmar que
caso Hans Staden não comparecesse ou não constituísse
Sobre o crime de lavagem de dinheiro, nos termos da Lei nº advogado:
9.613/1998, com as alterações advindas da Lei nº
12.683/2012, assinale a alternativa correta. a)seria citado por edital e o feito seria continuado até o
julgamento, sendo um defensor dativo nomeado para a
a) A lavagem de dinheiro tipifica a conduta de ocultar ou defesa técnica.
dissimular a natureza, origem, localização, disposição, b)tal motivo, de acordo com a Lei 9.613/98, seria o suficiente
movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores para a sua condução coercitiva.
provenientes, direta ou indiretamente, de crime, não c)seria citado por edital e o feito seria suspenso assim como
abrangendo a contravenção penal como hipótese de infração o curso do prazo prescricional.
penal antecedente. d)tal motivo, de acordo com a Lei 9.613/98, seria o suficiente
b) O crime de lavagem de dinheiro não admite a modalidade para a decretação de sua prisão preventiva.
tentada. e)tal motivo, de acordo com a Lei 9.613/98, seria o suficiente
c) Não é possível a imputação simultânea, ao mesmo réu, da para a decretação de sua prisão temporária.
infração antecedente e do crime de lavagem, ainda que sejam
verificados atos diversos e autônomos daquele ato que 7 - 2018 - CESPE - Polícia Federal - Delegado de Polícia
compõe a realização da primeira infração penal.
d) Não é necessário que o autor do crime de lavagem de Com referência à interceptação de comunicação telefônica,
dinheiro tenha sido autor ou partícipe da infração penal ao crime de tráfico ilícito de entorpecentes, ao crime de
antecedente, basta que tenha ciência da origem ilícita dos lavagem de capitais e a crimes cibernéticos, julgue o seguinte
bens, direitos e valores e concorra dolosamente para sua item.
ocultação ou dissimulação.
e) Não é qualquer crime que pode ser considerado Situação hipotética: Álvaro, servidor público federal, foi, por
antecedente da lavagem, mas apenas aqueles previstos em cinco anos, presidente da comissão de licitações de
rol taxativo determinado órgão público federal. Em diversas ocasiões,
Álvaro recebeu valores e bens para favorecer empresas nos
6 - 2019 - Instituto Acesso - PC-ES - Delegado de Polícia certames licitatórios, e os transferiu para o patrimônio de
Flávio, seu irmão, que os utilizava nos negócios da empresa
Hans Staden é um famoso colecionador e vendedor de artigos da família, com vistas a ocultar o ingresso desses recursos e a
raros de antiguidade, em especial obras de arte da região sua origem ilícita. Assertiva: Nessa situação, Álvaro e Flávio
Bávara da Alemanha. Para comemorar suas recentes responderão pelo crime de lavagem de capitais, e será da
aquisições, fez uma exposição na cidade de seus avós, uns dos justiça federal a competência para processar e julgar a ação
primeiros colonos alemães no Brasil, Sontag Martins, na serra penal.
capixaba. Lá pode vender algumas dessas obras, todavia, em
especial pelo clima de festividades, não deu seguimento ao ( ) Certo ( ) Errado
seu procedimento de venda com o devido cadastramento dos
compradores e demais detalhes próprios das obrigações e 8 - 2018 - FUMARC - PC-MG - Delegado de Polícia
responsabilidades dispostas no art. 10 da Lei 9.613/98.
Ao passar dos dias, ainda com sua consciência pesada por não Em relação aos aspectos processuais da lei de lavagem de
cumprir o procedimento padrão, pensa em viajar pela Europa dinheiro (Lei 9.613/98), pode-se afirmar:
e evitar o desdobramento de qualquer Ação Penal que se
inicie, pois crê que “se não for achado, qualquer processo a)A alienação de bens objeto de medidas assecuratórias
ficará suspenso aguardando minha volta”. depende da existência de trânsito em julgado de sentença
condenatória.

289
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

b)A competência para o julgamento do delito de lavagem de colaborarem com a investigação ou processo criminal, deverá
dinheiro será da justiça federal. o delegado de polícia, independente de anuência da pessoa
c)A denúncia deverá ser instruída com indícios suficientes da protegida, ou de seu representante legal, providenciar a sua
existência de infração penal antecedente. inclusão em programas especiais organizados para a proteção
d)A persecução penal em juízo depende da comprovação, especial a vítimas e a testemunhas.
mediante sentença condenatória, de infrações penais b)Para a punição dos crimes previstos na Lei nº 9.613/1998,
antecedentes. exige-se a punibilidade da infração penal antecedente, ainda
que desconhecida a sua autoria.
9 - 2018 - FUNDATEC - PC-RS - Delegado de Polícia c)Não constitui direito do agente infiltrado recusar ou fazer
cessar a atuação infiltrada conforme disposto na Lei nº
A respeito das condutas incriminadas pela Lei nº 9.613/1998, 12.850/2013.
denominada Lei de Lavagem de Dinheiro, analise as assertivas d) Proceder-se-á à alienação antecipada para preservação do
que seguem: valor dos bens sempre que estiverem sujeitos a qualquer grau
de deterioração ou depreciação, ou quando houver
I. De acordo com o entendimento atual do Supremo Tribunal dificuldade para sua manutenção, ouvido o proprietário ou
Federal sobre a matéria, o crime de lavagem de bens, direitos possuidor direto do bem objeto da medida assecuratória, nos
ou valores, praticado na modalidade de ocultação, tem termos da Lei nº 9.613/1998.
natureza de crime permanente, logo, a prescrição somente e) Em caso de indiciamento de servidor público, este será
começa a contar do dia em que cessar a permanência. afastado, sem prejuízo de remuneração e demais direitos
previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em
II. O crime de lavagem de bens, direitos ou valores é decisão fundamentada, o seu retorno, nos termos da Lei nº
composto por três fases: a colocação (placement), a 9.613/1998.
ocultação (layering) e a integração (integration), devendo
todas estarem configuradas para o enquadramento da 11 - 2018 - CESPE - PC-MA - Delegado de Polícia
conduta na figura criminosa.
III. A pena será aumentada de um a dois terços, quando forem A colaboração premiada nos casos de lavagem de capitais
constatadas várias transações financeiras, soma de grandes
valores e, além disso, houver prova de que o sujeito integre a)será válida somente se o colaborador indicar a autoria do
organização criminosa. crime antecedente que originou a lavagem de ativos.
b)será nula se não contar com a participação do órgão
Quais estão corretas? julgador na elaboração do acordo.
c)tem como benefício, entre outros, a substituição da pena
a)Apenas I. privativa de liberdade por penas restritivas de direitos.
b)Apenas II. d)constitui meio de prova que pode embasar, isoladamente,
c)Apenas III. posterior sentença condenatória.
d)Apenas I e III. e)pode ocorrer apenas na fase processual, no curso da
e)I, II e III. competente ação penal.

10 - 2018 - FUNDATEC - PC-RS - Delegado de Polícia 12 - 2017 - CESPE - PJC-MT - Delegado de Polícia

Considerando a disciplina das leis de Proteção a Vítimas e a A respeito do crime de lavagem de dinheiro praticado ao se
Testemunhas, Lavagem de Dinheiro e Organizações adquirir bens com o produto de crime antecedente,
Criminosas, assinale a alternativa correta. perpetrado por organização criminosa de que o agente seja
integrante, assinale a opção correta.
a)Em caso de vítimas ou testemunhas de crimes que estejam
coagidas ou expostas a grave ameaça em razão de

290
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

a)O juiz poderá decretar medidas assecuratórias sobre bens, c)A colaboração premiada de que trata a Lei de Lavagem de
direitos ou valores para a reparação de dano decorrente do Dinheiro poderá operar a qualquer momento da persecução
branqueamento de capitais, mas não daquele decorrente da penal, até mesmo após o trânsito em julgado da sentença.
infração penal antecedente. d)É vedada a imposição de multa por infração administrativa
b)O juiz não poderá determinar, por iniciativa própria, a ambiental cominada com multa a título de sanção penal pelo
alienação antecipada de bens constritos, sob a alegação de mesmo fato motivador, por violação ao princípio do non bis
preservação do valor desses bens. in idem.
c)Se o agente acordar com a justiça a colaboração premiada, e)A prática de homicídio culposo descrita no Código de
poderá obter o perdão judicial, mesmo que o acordo ocorra Trânsito enseja a aplicação da penalidade de suspensão da
posteriormente à sentença. permissão para dirigir, pelo órgão administrativo
d)No caso de colaboração premiada, as proposições do competente, mesmo antes do trânsito em julgado de
acordo serão formuladas pelo juiz, juntamente com o MP e eventual condenação.
com o delegado de polícia, e, se for aceito, o acordo será
homologado judicialmente. 15 - 2016 - FUNCAB - PC-PA - Delegado de Polícia
e)O juiz poderá decretar medidas assecuratórias de bens,
direitos ou valores do investigado, independentemente de Entre as alternativas a seguir, assinale a correta.
requerimento do MP ou representação do delegado de
polícia. a)A legislação brasileira que cuida da lavagem de dinheiro é
considerada uma lei de segunda geração.
13 - 2017 - IBADE - PC-AC - Delegado de Polícia b)O reconhecimento do delito de lavagem de dinheiro opera
a absorção do crime anterior por este, em virtude do
A fase da lavagem de capitais, de acordo com as definições do concurso aparente de normas.
COAF, em que são realizados diversos negócios e c)Somente responde por lavagem de dinheiro quem também
movimentações financeiras, a fim de impedir o rastreamento foi autor do crime antecedente.
e encobrir a origem ilícita dos valores é denominada pela d)A Lei nº 9.613, de 1998, não prevê expressamente o
doutrina de: sequestro de bens em nome do investigado , restando , para
a medida assecuratória, a aplicação subsidiária das normas
a)ocultação. processuais.
b)colocação e)A fase de layering, ou dissimulação, na lavagem de dinheiro,
c)destinação é aquela em que se busca dar aos recursos financeiros a
d)evaporação aparência de legítimos, à qual se sucede a fase de integração
e)integração. (integration).

14 - 2017 - CESPE - PC-GO - Delegado de Polícia 16 - 2013 - CESPE - DPF - Delegado de Polícia

Em relação às disposições expressas nas legislações No que diz respeito aos crimes previstos na legislação penal
referentes aos crimes de trânsito, contra o meio ambiente e extravagante, julgue o item subsequente.
de lavagem de dinheiro, assinale a opção correta.
O crime de lavagem de capitais, delito autônomo em relação
a)Em relação aos delitos ambientais, constitui crime omissivo aos delitos que o antecedam, não está inserido no rol dos
impróprio a conduta de terceiro que, conhecedor da conduta crimes hediondos.
delituosa de outrem, se abstém de impedir a sua prática.
b)Para a caracterização do delito de lavagem de dinheiro, a ( ) Certo ( ) Errado
legislação de regência prevê um rol taxativo de crimes
antecedentes, geradores de ativos de origem ilícita, sem os 17 - 2013 - CESPE - DPF - Delegado de Polícia
quais o crime não subsiste.

291
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

No que diz respeito aos crimes previstos na legislação penal 19 - 2013 - CESPE - DPF - Delegado de Polícia
extravagante, julgue o item subsequente.
No que se refere aos crimes de lavagem de dinheiro, julgue o
O crime de lavagem de capitais, consoante entendimento item subsecutivo com base no direito processual penal.
consolidado na doutrina e na jurisprudência, divide-se em
três etapas independentes: colocação (placement), A simples existência de indícios da prática de um dos crimes
dissimulação (layering) e integração (integration), não se que antecedem o delito de lavagem de dinheiro, conforme
exigindo, para a consumação do delito, a ocorrência dessas previsão legal, autoriza a instauração de inquérito policial
três fases. para apurar a ocorrência do referido delito, não sendo
necessária a prévia punição dos acusados do ilícito
( ) Certo ( ) Errado antecedente.

18 - 2013 - CESPE - DPF - Delegado de Polícia ( ) Certo ( ) Errado

No que se refere aos crimes de lavagem de dinheiro, julgue o 20 - 2013 - CESPE - DPF - Delegado de Polícia
item subsecutivo com base no direito processual penal.
No que se refere aos crimes de lavagem de dinheiro, julgue o
Compete à justiça federal processar e julgar os acusados da item subsecutivo com base no direito processual penal.
prática de crimes de lavagem de dinheiro, uma vez que a
repressão a esses crimes é imposta por tratado internacional. Conforme a jurisprudência do STJ, não impede o
prosseguimento da apuração de cometimento do crime de
( ) Certo ( ) Errado lavagem de dinheiro a extinção da punibilidade dos delitos
antecedentes.

( ) Certo ( ) Errado

Respostas12

12
1: C 2: E 3: D 4: D 5: D 6: A 7: C 8: C 9: A 10: E 11: C 12: E 13: A 14: C 15: E 16: C 17: C 18: E 19: C 20: C
292
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

META 6 – REVISÃO SEMANAL

Direito Penal: Noções Iniciais e Princípios

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, II
⦁ Art. 5º, XLI, XLII, XLIII, XLIV, XLV e XLVII
⦁ Art. 5º, XXXIX
⦁ Art. 5º, §3º
⦁ art. 7º, X
⦁ Art. 22, I e §único
⦁ art. 227, § 4º

CP
⦁ Art. 1º
⦁ Art. 59
⦁ Art. 71

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Art. 8°, itens 2 e 5, CADH
⦁ Art. 8º, item 4 do Pacto de São José da Costa Rica

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

⦁ Art. 5º, XLI, XLII, XLIII, XLIV, XLV e XLVII, CF/88


⦁ Art. 5º, XXXIX, CF/88
⦁ Art. 22, I e §único, CF/88
⦁ Art. 1º, CP

293
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Direito Processual Penal: Noções Iniciais e Princípios

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, XL
⦁ Art. 5º, LIII, LV, LVI e LVII
⦁ Art. 5º, LX e LXIII
⦁ Art. 5º, XXXVIII, “a”
⦁ art. 5°, XXXVII
⦁ Art. 53
⦁ art. 93, IX
⦁ Art. 129, I

CPP
⦁ Art. 1º e 2º
⦁ Art. 3º, 3ª-A e 3º-B
⦁ Art. 185, §2º
⦁ Art. 212 e 217
⦁ Art. 260 e 261
⦁ Art. 283
⦁ Art. 792

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Art. 8°, itens 2 e 5, CADH
⦁ Art. 347, CP
⦁ Art. 305, CTB

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

⦁ Art. 5º, LIII, LV, LVI e LVII, CF/88


⦁ Art. 5º, LX e LXIII, CF/88
⦁ Art. 93, IX, CF/88
⦁ Art. 1º e 2º, CPP
⦁ Art. 3º, 3ª-A e 3º-B, CPP

294
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Direito Constitucional: Direitos e Garantias Fundamentais

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 1º, III
⦁ Art. 3º
⦁ Art. 4º, 5º, 6º e 7º
⦁ Art. 8º a 11º

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Lei 9296/96 (Lei de interceptação telefônica)
⦁ Lei 9.455/97 (Lei de tortura)
⦁ Lei 7716/90 (Lei de racismo)
⦁ Lei 12.037/09 (Lei do Identificação criminal)
⦁ Lei 12.016/09 (Lei do Mandado de Segurança)
⦁ Lei. 13.300/16 (Lei do Mandado de Injunção)
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

PRINCIPAIS INCISOS DO ART. 5º, CF/88:


⦁ Inc. I, II, IV
⦁ Inc. III e XLII (leitura conjunta com a Lei 7716/90)
⦁ Inc. VIII (leitura conjunta com o art. 15, IV, CF/88)
⦁ Inc. XI (leitura conjunta com os arts. 3-B, XI; 240, §1º e 243 do CPP)
⦁ Inc. XII (leitura conjunta com a Lei 9296/96)
⦁ Inc. XVI a XXI (muito cobrados em prova objetiva!)
⦁ Inc. XXXIII a XXXV
⦁ Inc. XXXVII (leitura conjunta com o inc. LIII – princípio do juiz natural)
⦁ Inc. XXXIX e XL (leitura conjunta com o art. 1º e 2º do CP)
⦁ Inc. XLIII a LV (leitura obrigatória!)
⦁ Inc. LVI (leitura conjunta com o art. 157, CPP)
⦁ Inc. LVII e LX
⦁ Inc. LVIII (leitura conjunta com o art. 3º, 4º e 5º da Lei 12.037/09)
⦁ Inc. LXI a LXVII (leitura conjunta com os art. 301 a 310, CPP)
⦁ Inc. LXVIII
⦁ Inc. LXIX e LXX (leitura conjunta com a Lei 12.016/09)
⦁ Inc. LXXI (leitura conjunta com a Lei 13.300/16)
⦁ Inc. LXXII a LXXVIII

295
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S


§§1º e 3º
SEMANA 01/30
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

296
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Direito Administrativo: Noções Iniciais e Princípios

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, X, XXXIII e LX
⦁ Art. 5º, LV
⦁ Art. 37, caput e §1º
⦁ Art. 37, VII
⦁ Art. 93, IX
⦁ Art. 41
⦁ Art. 169, §3º

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Art. 4º e 11, IV, Lei 8429/92
⦁ Art. 6º, 32 e 37 da lei 8987/95
⦁ Art. 3º e 58, da Lei 8666/93
⦁ Art. 2º, 50, 53 e 54 da Lei 9784/99

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!


⦁ Art. 37, caput e §1º, CF/88 (importantíssimo!)
⦁ Art. 5º, LV e LX
⦁ Art. 6º, §1º e §3º lei 8987/95
⦁ Art. 2º, caput da Lei 9784/99 (análise comparativa com o art. 37, caput da CF/88 e art. 3º da Lei
8666/93)
⦁ Art. 53 da Lei 9784/99

297
ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS SANTOS 02683463308 ROMILDO JONAS DOS S
PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA – TURMA 9

SEMANA 01/30

Legislação Penal Especial: Lei de Lavagem de Capitais

PRINCIPAIS ARTIGOS

Lei 9613/98 (leitura importantíssima!!!)


Art. 1º, §§ 3º, 4º, 5º e 6º - leitura do §5º conjugada com o art. 4º da Lei 12.850/2013
Art. 2º, II, III, §§1º e 2º - leitura do §2º conjugada com o art. 366 do CPP
Art. 4º
Art. 4º-A e 4º-B
Art. 7º
Art. 9º
Art. 17-D

298

Você também pode gostar