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REVISTA
DO
TRIBUNAL
FEDERAL DE
RECURSOS
REVISTA
DO
TRIBUNAL
FEDERAL DE
RECURSOS

DIRETOR
MINISTRO ANTONIO DE pADUA RIBEIRO

Assessor
Bacharel José Acácio Viana Santos

REVISTA MENSAL

N? 99 (Julho de 1983)

Administração

Tribunal Federal de Recursos


Praça dos Tribunais Superiores - CEP 70.072
BRAStLIA - BRASIL
TRIBUNAL FEDERAL DE RECURSOS

Ministro JOSE Fernandes DANTAS - 29.10.76 - Presidente (*)


Ministro LAURO Franco LEITAO - 19.12.77 - Vice-Presidente (*)
Ministro ARMANDO Leite ROLLEMBERG - 29.7.63
Ministro Inácio MOACIR CATUNDA Martins - 18.3.66
Ministro JARBAS dos Santos NOBRE - 11.12.69
Ministro CARLOS Alberto MADEIRA - 19.12.77
Ministro Evandro GUEIROS LEITE - 19.12.77
Ministro WASHINGTON BOLiVAR de Brito - 19.12.77
Ministro Antônio TORRE AO BRAZ - 19.12.77
Ministro CARLOS MARIO da Silva VELLOSO - 19.12.77
Ministro OTTO ROCHA - 26.9.78
Ministro WILSON GONÇALVES - 22.11.78
Ministro WILLIAM Andrade PATTERSON - 3.8.79
Ministro ADHEMAR RAYMUNDO da Silva - 13.11.79
Ministro ROMILDO BUENO de Souza - 8.4.80
Ministro SEBASTIAO Alves dos REIS - 23.6.80
Ministro MIGUEL JERONYMO FERRANTE - 23.6.80
Ministro JosE CANDIDO de Carvalho Filho - 23.6.80
Ministro PEDRO da Rocha ACIOLI - 23.6.80
Ministro AMERICO Luz - 23.6.80
Ministro ANTONIO DE PADUA RIBEIRO - 23.6.80
Ministro CID FLAQUER SCARTEZZINI - 7.5.81
Ministro JESUS COSTA LIMA - 9.12.81
Ministro JOAO CESAR LEITAO KRIEGER - 1.9.82
Ministro GERALDO BARRETO SOBRAL - 16.12.82
Ministro HELIO PINHEIRO DA SILVA - 22.3.83

(*) Não integram as Turmas. Presidem os julgamentos nas Seções, onde têm, ape-
nas, voto de qualidade (item I, § I?, art. 22 e item I, art. 23, do RI).
SUMARIO

I - Jurisprudência ...................................... 1
II - Solenidades. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 235
IH - índice Sistemático. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 263
IV - índice Analítico... . .. . . .. . .. . . . .. .. .. . . . . . . .. . . . . .. . . 267
JURISPRUDÊNCIA
AGRAVO DE INSTRUMENTO N? 41.437 - RS
Relator; O Sr. Ministro Romlldo Bueno de Souza
Agravante: Cia. Vidraria Santa Marina
Agravada: União Federal
EMENTA
Tributário e Processual Civil.
Ação declaratória de inexistência de débito tri-
butário.
Depósito judicial do valor deste, para a suspen-
são de sua exigib1I1dade.
Compreensão, nesse valor (e no depósito) da
correção monetária, da multa de mora, dos juros e,
se for o caso, do encargo do art. I? do Decreto-Lei n?
1.025, de 21-10-69 combinado com o art. 3? do
Decreto-Lei n? 1.645, de 11-12-78.
Aplicação do art. 151, I e 11 do CTN, e arts. I? e
4? do Decreto-Lei n? 1.737, de 20-12-79.
ACORDA0 RELATORIO
Vistos e relatados os autos em que O Sr. Ministro Romildo Bueno de
são partes as acima indicadas: Souza: Cia. Vidraria Santa Marina
Decide a 4~ Turma do Tribunal Fe- propôs ação de rito ordinário contra
deral de Recursos, por unanimidade, a União Federal perante o MM. Juiz
negar provimento ao agravo, na for- Federal da 1~ Vara do Rio Grande
ma do relatório e notas taquigráficas do Sul, a fim de obter sentença de-
constantes dos autos que ficam fa- claratória de inexistência de débito
zendo parte integrante do presente afirmado pela ré, mediante lança-
julgado. mento, do valor de Cr$ 25.441,00 (fI.
8>'
Custas como de lei.
Brasília, 24 de março de 1982 (data
do julgamento) - Ministro Armando Na inicial, pediu a extração de
Rollemberg, Presidente - Ministro guia para depósito desse valor, em
Romildo Bueno de Souza, Relator. juízo (fI. 24).
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o D. Magistrado, contudo, deter- IV - em garantia, na licitação


minou que o depósito a ser feito é de perante órgão da administração
valor de Cr$ 1.284.069,00 (v. decisão pública federal direta ou autarquia
de fi. 44 e cálculo de fI. 43). ou em garantia da execução de
Irresignada, interpôs oportuna- contrato celebrado com tais ór-
mente (fis. 2 e 45) este agravo de gãos.
instrumento, em que postula «a re- § I? O depósito a que se refere o
forma do despacho agravado» (sic) inciso 111, do art. I?, suspende a
e «a elaboração de nova conta judi- exigibilidade do crédito da Fazen-
cial, esta constituída exclusivamente da Nacional e elide respectiva Ins-
do tributo, para fins de depósito» (fi. crição de Dívida Ativa.
4). . ................................ »
Regularmente processados, subi-
ram os autos, com as contra-razões, «Art. 4? O depósito, nos casos
mantida a decisão (fI. 53). dos inciso I, 11, lU e IV do art. I?,
O parecer da Subprocuradoria-Ge- será feito pelo valor monetaria-
ral é pelo desprovimento. mente atualizado do débito, neste
incluída a multa de mora, acresci-
É o relatório.
do dos juros de mora cabíveis e, se
o caso, do encargo previsto no art.
l~) do Decreto-Lei n~) 1.025, de 21 de
VOTO outubro de 1969, combinado com o
art. 3~) do Decreto-Lei n? 1.645, de
11 de dezembro de 1978».
O Sr. Ministro Romildo Bueno de
Souza (Relator): O Código Tributário Como se vê, a lei não outorga o be-
Nacional dispõe: nefício almejado pela agravante
(suspensão da execução), senão me-
«Art. 151. Suspendem a exigi- diante o depósito por ela ofertado, a
bilidade do crédito tributário: ser efetuado, contudo, tal como exi-
I - moratória; gido pela decisão agravada, que bem
II - o depósito do seu montante aplicou as normas legais pertinen-
integral; tes, acima transcritas.
................................. » Ante o exposto, nego provimento ao
O Decreto-Lei n? 1.737, de 20-12-79, recurso.
por sua vez, estatue:
«Art. I?: Serão obrigatoriamen- EXTRATO DA MINUTA
te efetuados na Caixa Econômica
B'ederal, em dinheiro ou em Obri-
gações Reajustáveis do Tesouro Ag n? 41.437 - RS. ReI.: Sr. Min.
Nacional - ORTN, ao portador, os Romildo Bueno de Souza. Agte.: Cia.
depósitos: Vidraria Santa Marina. Agdo.: União
I - relacionados, com efeito de Federal.
competência da Justiça Federal; Decisão: A Turma, por unanimida-
II - em garantia de execução de, negou provimento ao agravo.
fiscal proposta pela Fazenda Nél- (Em 24-3-82 - 4~ Turma).
cional; OS 81'S. Mins. Antônio de Pádua
III - em garantia de crédito da Ribeiro e Armando Rollemberg vota-
Fazenda Nacional, vinculado à ram com o Relator.
propositura de ação anulatória ou Presidiu o jUlgamento o Exmo. 8r.
declaratória de nulidade do débito; Min. Armando ROllemberg.
TFR - 99 3

AGRAVO DE INSTRUMENTO N? 42.575 - SP


Relator: O Sr. Ministro Armando Rollemberg
Agravante: CORTIPLAC - Com. Imp. de Cortiça Ltda
Agravada: União Federal
EMENTA
«Processo civil - Custas na Justiça Federal. O
inciso lI, do art. 10, do Regimento de Custas da Jus-
tiça Federal - Lei 6.032/74, que determinava o pa-
gamento, imediato, das custas judiciais, foi revoga-
do com o advento da Lei 6.789, de 28-5-80, cumprindo
ao Juiz, a partir desta data, proceder na forma do
disposto nos artigos 518 e 519 do CPC».
ACORDA0 Inconformado com tal decisum,
alega o agravante que com o ad-
Vistos e relatados os autos, em que vento da Lei n~ 6.789, de 28 de maio
são partes as acima indicadas: de 1980, que deu nova redação ao
Decide a 4~ Turma do Tribunal Fe- art. 15, da Lei n~ 6.032, de 30 de
deral de Recursos, por unanimidade, abril de 1974, faz-se necessário que
dar provimento ao agravo, na forma o Juiz, ao receber a apelação, pro-
do relatório e notas taquigráficas ceda na forma dos arts. 518 e 519,
constantes dos autos que ficam fa- do CPC.
zendo parte integrante do presente Permissa venia, correto é o en-
julgado. tendimento do agravante.
Custas como de lei.
De fato, antes do surgimento da
Bras1l1a, 27 de setembro de 1982 Lei n~ 6.789, de 28-5-80, as custas
(data do julgamento) - Ministro na Justiça Federal eram pagas no
Armando ROllemberg, Presidente e momento da apelação, de imedia-
Relator. to, ao teor do inc. lI, do art. 10, do
Regimento de Custas da Justiça
RELATORIO Federal - Lei n~ 6.032/74.
O Sr. Ministro Armando Entretanto, com a existência do
Rollemberg: A Subprocuradoria, em novo preceito, a partir de 28-5-80,
seu parecer, da lavra do Dr. Wagner que acrescentou o inciso IV, ao re-
Gonçalves, aprovado pelo Subprocu- ferido artigo 15, da Lei n~ 6.032/74,
rador João Boabaid de Oliveira Ita- o disposto no inciso lI, do art. 10,
pary, dá noticia da controvérsia pos- da mesma lei, foi revogado, já que
ta nos autos e sobre ela opina. «a lei posterior revoga a anterior
Eis o que dele consta: quando .. , seja com ela incom-
patível ou quando regule inteira-
«Trata-se de recurso de agravo mente a matéria de que tratava a
de instrumento apresentado contra lei anterior.» - § 1~, do art. 2~, da
decisão que, recebendo recurso de Lei de Introdução ao Código Civil.
apelação em desfavor de sentença
exarada em processo de embargos Em assim sendo, ao receber a
à execução, determinou o paga- apelação não pode o Juiz Federal,
mento, de imediato, das custas jU- de imediato, determinar o recolhi-
diciais. mento de custas, mas faz-se neces-
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sário obedecer ao disposto nos Federais a procederem na forma


arts. 518 e 519, do CPC, c/c o inc. dos preceitos antes mencionados
IV, da Lei n? 6.789, de 28-5-1980. (do CPC) com o advento da Lei n?
«Se de um lado o disposto no inc. 6.789/80, ressurgiu a imperativida-
H, art. 10, do Regimento de Cus- de de tais disposições, também pa-
tas, determina que o apelante pa- ra os r. Juízes Federais.
gará a «outra metade» das custas Por isso, o despacho de fls. me-
no prazo de 5 dias, sob pena de de- rece reforma. Deveria o d. magis-
serção, (tomando-se como base trado a quo, em recebendo o recur-
custas previamente contadas no so, declarar os efeitos em que o
ato de apresentação da inicial, - acolhe, dando vista ao apelado pa-
art. 10 e inc. 1); e se, de outro, o ra responder. Feito isso, passar-se-
disposto na nova lei (inc. IV, da n? iam os autos ao contador para, só
6.789/80) explícita que «os autos se- após, intimar o apelante para fazer
rão remetidos ao contador ... para o preparo.
contagem das despesas a serem Como são preceitos de ordem pú-
pagas pelo recorrente, como pre- blica, uma vez que prescritos em
paro», fica evidente que a nova lei lei, não pOde o d. Juiz singular
é revogadora, já que incompatível desprezá-los em homenagem à nor-
com o preceito revogado. ma, permissa venta, já revogada.
Como ensina, a propósito, o sau- Apesar de «disposição inútii», a
doso Vicente Rào, in verbis: «Revogam-se as disposições em
«Uma norma (disposição isola- contrário», do art. 3, da referida
da, ou lei, ou corpo de lei, ou códi- Lei n? 6.789/80, vem confirmar as
go, ou outro qualquer ato obrigató- razões antes aduzidas.
rio) pOde ser revogada por outra «Pelo conhecimento e provimen-
norma, expressamente, ou tacita- to do agravo.»
mente.» É o relatório.
VOTO
«Tacitamente, ou por via indire- O Sr. Ministro Armando Rollem-
ta, quando a nova norma dispõe so- berg (Relator): Adoto as razões
bre a mesma relação contemplada do parecer lido para dar provimen-
pela norma anterior, ou por modo to ao agravo e determinar o pro-
incompatível com a disposição an- cessamento da apelação interposta
tiga, ou criando uma disciplina no- pelo agravante do despacho que re-
va e total, a revelar, inequivoca- jeitou liminarmente os embargos de
mente a intenção de substituir uma devedor que ajuizara.
disciplina por outra.»
(in O Direito e a Vida dos Direi- EXTRATO DA MINUTA
tos, pág. 295, Ed. Resenha Tributá- Ag n? 42.575 - SP - ReI.: O Sr.
ria, 1976). Min. Armando Rollemberg. Agte.:
Ora, no caso, a nova norma CORTIPLAC - Com. Imp. de Corti-
abrange e é incompatível com o ça Ltda. Agda.: União Federal.
disposto do art. 10, inc. H, da Lei Decisão: A Turma, por unanimida-
n? 6.032/74, estando em consonân- de, deu provimento ao agravo. (Em
cia, aliás, com o disposto no art. 27-9-82 - 4~ Turma).
518 e 519, do CPC. Os Srs. Min. Carlos Mário Velloso
Assim, se o Regimento de Custas e Bueno de Souza votaram com o
da Justiça Federal, por ser lei es- Relator. Presidiu o julgamento o Sr.
pecial, não condicionava os Juízes Min. Armando Rollemberg.
TFR - 99 5

APELAÇAO CtVEL N? 32.524 - MG


Relator: O Sr. Ministro Sebastião Alves dos Reis
Apelante: Magnesita S/ A
Apelado: União Federal
EMENTA
Tributário - Imposto de renda - Estimulos fis-
cais - Cumulação.
Cumpridas as exigências das Leis n?s 4.663/65 e
4.862/65, são cumuláveis os incentivos conferidos por
um e outro diplomas legais, por não serem conflitan-
tes nem excludentes entre si. Incivil a sua prOibição
por simples inferência.
Precedentes deste Tribunal e da administração
fiscal.
Deu-se provimento ao recurso.
ACORDA0 autora, ora apelante, com fundamen-
to no art. 3?, lI, da Lei n? 4.663, de 3-
Vistos e relatados os autos, em que 6-65, art. 35, §§ 1? e 2?, I, da Lei n?
são partes as acima indicadas: 4.862, de 29-11-65 e art. 291 do Código
Decide a 5~ Turma do Tribunal Fe- de Processo Civil, Objetivava:
deral de Recursos, por unanimidade, «l - serem anulados os lança-
dar provimento ao recurso, para jul- mentos do débito fiscal indevido,
gar a ação procedente, nos termos referente ao Imposto de Renda Su-
do item (um) da inicial, invertidos plementar e respectiva multa -
os ônus da sucumbência, na forma mantendo-se os lançamentos ante-
dr relatório e notas taquigráficas riores, constantes da Declaração
constantes dos autos que ficam fa- de Rendimentos apresentada, acei-
zendo parte integrante do presente tos pela Repartição fiscal e já ob-
julgado. jeto de pagamento - e, assim,
Custas como de lei. reconhecendo-lhe o direito ao gozo
simultâneo dos benefícios previstos
Bras1l1a, 24 de maio de 1982 (data na Lei n? 4.862/65, art. 35, § 2?, I
do julgamento) - Ministro Moacir (Pagamento do Imposto à Taxa de
Catunda, Presidente Ministro 18%) e o previsto na Lei n?
Sebastião Alves dos Reis, Relator. 4.663/65, art. 3?, II <Dedução do lu-
cro operacional da reserva para
RELATORIO manutenção do capital de giro pró-
prio);
O Sr. Minsitro Esdras Gueiros:
Magnesita S.A., empresa de minera- ou alternativamente,
ção e indústria de -refratários, com «lI - serem anulados os lança-
sede em Montes Claros (MG), apela mentos do débito fiscal indevido,
da respeitável sentença de fls. referente ao Imposto de Renda Su-
130/143, do digno Juiz Federal Dr. plementar e respectiva multa,
João Peixoto de Toledo, pela qual determinando-se que seja revisto
julgou improcedente ação ordinária - sem aplicação de qualquer pe-
anulatória de débito fiscal, em que a nalidade - o cálculo do Imposto de
6 TFR - 99

Renda devido, de acordo com a nhecimento de que a autoridade


sua Declaração de Rendimentos do fiscal alterara a orientação ante-
exercício de 1966, mantendo-se a rior e apresentar sua reclamação;
dedução do lucro operacional, da «4.4 - não tendo havido qualquer
reserva para a manutenção do ca- inobservância de disposições le-
pital de giro próprio e aplicando-se gais, com referência à indicação
a taxa de 20% para este cálculo, de da receita bruta ou do lucro tribu-
acordo com o art. 3?, I, da Lei n? tável, é incabível a aplicação da
4.663, de 3-6-65, fazendo-se também multa prevista pelo art. 444, letra
nesse caso, a redução de 50% para e, do Regulamento do Imposto de
investimento na área de atuação Renda (Decreto n? 58.400, de 10 de
da SUDENE, de acordo com o art. maio de 1966).»
256 do Regulamento do Imposto de
Renda (Decreto n? 58.400/66) se- A União Federal ofereceu as
gundo já lhe reconheceu a 1~ Câ- contra-razões de fls. 100/10l.
mara do I? Conselho de Contribuin- Nesta instância, a ilustrada Sub-
tes; procuradoria-Geral da República ofi-
ciou às fls. 179/183, pedindo, em
«In - autorizar-lhe o levanta- síntese, a confirmação da respeitá-
mento do depósito em caução, sob vel decisão apelada.
as penas do art. 7?, § 5? da Lei n?
4.357, de 16-7-64; e, finalmente, Estudados os autos, encaminhei-os
ao eminente Sr. Ministro-Revisor,
«IV -- condenar a União Federal aguardando dia para o julgamento.
nas custas processuais e honorá- E o relatório.
rios advocatícios de 20% sobre o
valor da causa (fls. 2/18»). RELATORIO COMPLEMENTAR
Procurando demonstrar que não se
justificam os lançamentos feitos, O Sr. Ministro Sebastião Alves dos
com a cobrança do Imposto e multa, Reis: Ao relatório retro que adoto,
declara a apelante: acrescento que a douta inicial se las-
treia nos seguintes pressupostos de
«4.1 - é correta a interpretação direito e de fato alegados:
da comulatibilidade dos dois be- a) o lançamento impugnado, re-
nefícios, como aliás, admitiu ini- lativo a imposto de renda atinente
cialmente a Delegacia da Receita ao exerci cio de 1966, ano-base de
Federal; 1965, ao negar à autora o direito
«4.2 - tratando-se de altera- aos favores do art. 3? da Lei n?
ção em critérios interpretativos, 4.663/65, concernente à dedução do
não pode o Fisco aplicá-los, retroa- lucro bruto da parcela a título de
tivamente, para alcançar lança- reserva para manutenção do capi-
mentos já feitos e imposto devida- tal de giro próprio, e confirmar a
mente recolhido. multa de 30%, fê-lo ilegalmente,
«4.3 - mesmo que se admita a não pOdendo subsistir validamente;
possibilidade da revisão do lança- b) a suplicante aderiu ao regime
mento, teria aquela Delegacia, instituído pela Portaria Interminis-
dentro de seu próprio critério in- terial GB 71/65, tendo a CONEP,
terpretativo, de reabrir para o con- em sessão de 25-8-65, aprovado o
tribuinte a possibilidade da opção compromisso de manutenção de
entre os dois sistemas de be- preços firmados pela mesma (Res.
nefícios - o que a a. recorrente 205/65 - doc. 6); outrossim, de
fez, oportunamente, ao tomar co- acordo com o disposto no art. 35 §
TFR - 99 7

I? da Lei n? 4.862/65, cumpriu ela cesso de consulta da empresa


integralmente o compromisso de Alumínio Minas Gerais S.A. (doc.
manutenção de preço, no ano de 12);
1965, renovando o mesmo compro- d) tal entendimento, todavia, não
misso a ser observado em 1966, pOde prosperar, seja por ser legíti-
cumprindo-o até 31-12-66, conti- ma a cumulabilidade negada pela
nuando os seus preços de venda su- ré, seja porque essa orientação im-
jeitos ao controle do CIP, havendo porta em alterar critério interpre-
a CONEP fornecido o certificado tativo aceito pelo próprio órgão
referido no § 5? do art. 35 da Lei n? lançador, ao acolher, sem restri-
4.862/65 (docs. 7 e 8) oportunamen- ções, a declaração apresentada e o
te anexado à declaração respecti- auto-lançamento então operado,
va; de outro lado, na conformidade inovação insusceptível de aplica-
da Lei n? 4.663, de 3-9-65, e Decreto ção retroativa, sobretudo quando o
n? 56.967/65 (doc. 9), manteve os crédito tributário já fora extinto
registros exigidos pelo art. I? e seu pelo pagamento; outrossim, mes-
parágrafo único daquele diploma mo admitida a possibilidade de re-
legal e artigos I? e 2? do decreto visão do lançamento, teria aquele
aludido; durante o ano de 1965, a órgão de reabrir, para o contri-
autora apresentou um aumento de buinte, a faculdade de opção entre
quantidades vendidas em 1964 e os dois sistemas, e, por fim, é in-
seus preços de venda no mercado cabível a multa prevista pelo arti-
interno em 1965, não superaram go 444, e,do RIR de então; ao propó-
15% sobre os preços de fevereiro sito, reporta-se a douto parecer de
do mesmo ano; Ulhoa Canto, em que cada um des-
ses aspectos é minuciosamente
c) na sua declaração do examinado;
exercício de 1966 constaram o cál- Respondeu a União, às fls. 76/88,
culo do imposto de renda, à base sustentando a ilegitimidade da cu-
de 18%, de acordo com o art. 35 da mulação pretendida, reportando-se à
Lei n? 4.862/65, a dedução do lu- decisão do Conselho de Contribuintes
cro bruto da reserva para manu- proferida no processo administrativo
tenção do capital de giro próprio, respectivo, opondo a legalidade da
consoante o art. 3? da Lei n? revisão do lançamento operada com
4.663/65, e a menção de que preten- assento no art. 334 do Regulamento,
da a declarante gozar do benefício considerando as particularidades de
previsto no art. 34 da Lei n? tratar-se de autO-lançamento e de re-
3.995/61, pertinente a investimento visão sumária, no momento da acei-
na área da SUDENE; a repartição tação da declaração; de outro lado, a
lançadora recebeu a documenta- opção reclamada já se exauriu, ao
ção, sem reparos, mas posterior- ensejo da declaração, manifestando-
mente (dezembro de 1966) promo- se pelo artigo 35 da Lei n? 4.862/65 e
veu o lançamento suplementar ora autonotificando-se sob a alíquota de
impugnado, glosando a dedução so- 18%.
bre o lucro bruto da parcela refe- E o relatório complementar, dis-
rente à reserva para manutenção pensada a revisão.
do capital de giro próprio, ao fun-
damento de serem inacumuláveis
os benefícios dos dois sistemas em VOTO
causa, reportando-se, para tanto, à
decisão prOferida pelo Departa- O Sr. Ministro Sebastião Alves dos
mento de Rendas Internas, no pro- Reis (Relator): Pretende a autora -
8 TFR - 99

apelante desconstituir crédito tribu- Lei n? 4.663, de 3-6-65, a qual, depois


tário a que alude a intimação de de estabelecer parãmetros relativos
fI. 26, relativo a imposto de renda, à escrituração, produtividade míni-
multa e accessórios, exercício de ma e elevação máxima de preços
1966, sustentando a legalidade do seu (art. 1? e 2?), dispôs:
comportamento, ao pretender, na de- «art. 3? - As empresas que sa-
claração respectiva, a cumulação tisfizerem o disposto no artigo an-
dos benefícios fiscais constantes do terior gozarão cumulativamente
art. 3? da Lei n? 4.663/65 e § 2? do dos seguintes favores:
art. 35 da Lei n? 4.862/65, e, de outro
lado, não ser legítimo in casu rever a I - no exercíco de 1966, o im-
autoridade fazendária o lançamento posto de que trata o art. 37 da
primitivo, para cobrar diferença de Lei n? 4.506, de 30 de novembro
imposto e multa, seja porque se fun- de 1964 será cobrado à taxa de
daria em mera alteração do entendi- 20% (vinte por cento);
mento oficial anterior e só o erro de 11 - no mesmo exercício, a
fato ou material autoriza a revisão empresa poderá deduzir do lucro-
suplementar, seja porque aqui ocor- bruto, para efeito de determina-
reu a extinção anterior do crédito ção do lucro SUjeito ao imposto
com o pagamento respectivo; outros- referido no inciso anterior, a ma-
sim, mesmo admitida a inacumula- nutenção do capital de giro pró-
bilidade, assistir-Ihe-ia direito de ser- prio de que trata o art. 27 da Lei
lhe aberta a oportunidade de optar n? 4.357, de 16 de julho de 1964,
por um dos sistemas, não importando desde que não distribuído;
a sua adesão à CONEP em eleição
necessária do regime do § 2? do art. 111 - o imposto devido pela
35 da Lei n? 4.862/65, e abandono dos correção monetária do ativo imo-
benefícios do art. 3? da Lei n? bilizado será cobrado à razão de
4.663/65, e, por fim, a irretratabilida- 2% (dois por cento);
de da declaração pertinente à maté- IV - dispensa do pagamento
ria de fato, não impedindo a opção do imposto de renda devido sobre
posterior, se for o caso. as reservas excedentes do capital
A douta sentença recorrida, profe- social realizado, (art. 9? do.Regu-
rida por eminente Juiz Federal, hoje lamento baixado pelo Decreto n?
aposentado, Dr. João Peixoto Tole- 51.900, de 1963);
do, prestigiou as razões opostas pela Parágrafo único - As empresas
ré, perfilhando a tese da inacumula- que satisfizerem as condições do
bilidade dos benefícios, porque autõ- art. 2? farão suas declarações do
nomos na sua estruturação, fixou a imposto de renda, considerando os
legalidade do lançamento suplemen- favores fiscais concedidos por esta
tar, considerando cuidar-se de auto- lei.»
lançamento e de caráter sumário de
revisão, ao ensejo do recebimento da Paralelamente, prescreveu a Lei
declaração; outrossim, a opção re- n? 4.862, de 29-11-65:
clamada já se exa.uriu, ao «art. 35 - No exercício financei-
manifestar-se, na declaração apre- ro de 1967, o imposto de que trata o
sentada, pelo art. 35 da Lei n? art. 37 da Lei n? 4.506, de 30 de no-
4.862/65,' autonoficando-se sob a vembro de 1964, será cobrado à ra-
alíquota de 18%. zão de 23% (vinte três por cento)
Para a melhor condução da con- das empresas industriais e comer-
trovérsia, transcrevamos os disposi- ciais, contribuintes do imposto de
tivos legais pertinentes extraídos da consumo ou de vendas e consigna-
TFR - 99 9

ções que durante o ano civil de vistos; a Lei n? 4.663 exigiu o regis-
1966 satisfizerem o disposto no tro, nos livros próprios, das
item II do artigo anterior; quantidades e preços unitários das
§ 1~ As empresas mencionadas mercadorias vendjdas, aumento de
neste artigo, que tenham aderido ao vendas durante o ano de 1965, em rela-
Programa de Contenção de preços ção ao de 1964, igualou superior a
expressos na Portaria Interminis- 5% e não haver aumentado em mais
terial n? 71, de 23 de fevereiro de de 15%, de fevereiro de 1965 a 31 de
1965, gozarão, no exercício finan- dezembro seguinte os preços de ven-
ceiro de 1966, dos favores fiscais da no mercado interno; a Lei n? 4.862
enumerados no § 2?, desde que ob- reclama assumir a empresa que
servem as seguintes condições: houver aderido ao programa de con-
tenção de preços novo compromisso
a) assumam perante a Co- de estabilização a ser observado du-
missão Nacional de Estímulos à rante o ano de 1966, ao lado de ter
Estabilização de Preços (CO- cumprido integralmente o compro-
NEP), até 31 de janeiro de 1966, misso de 1965 e haver observado o
novo compromisso de estabiliza- compromisso de 1966; do confronto,
ção a ser observado durante o extrai-se que ambos os diplomas
ano de 1966; perseguem a política de contenção
b) tenham cumprido integral- de preços, mas a primeira acrescen-
mente o compromisso assumido ta um objeto novo - o do incremento
com relação ao ano civil de 1965; ao aumento da produtividade; ou-
c) observem totalmente até 31 trossim, a Lei n? 4.663 consagra a
de dezembro de 1966 o compro- dedução, no lucro bruto, para fins de
misso de estabilização assumido apuração do lucro tributável, da re-
nos termos da alínea; serva de manutenção do capital de
giro próprio, estímulo não concedido
§ 2? Os favores fiscais a que se na Lei n? 4.862; nesta, admite-se a
refere o parágrafo anterior são alíquota de 18% e, naquela, a de
cumulativamente os seguintes: 20%.
I - cobrança do imposto de Da prova dos autos, extrai-se que a
que trata o art. 27 do Lei n? 4.506,apelante aderiu ao regime instituído
de 30 de novembro de 1964, à ra- pela Portaria Interministerial GB-
zão de 18% (dezoito por cento) 71/65, havendo a CONEP, em sessão
calculado sobre o lucro do ano- de 23-8-65, aprovado o compromiSSO
base de 1965; de manutenção de preços firmado
II - cobrança do imposto devi- pela autora (of. CONEP-SUNAB n?
do pela correção monetária do 8.051/65 - doc. 5), conforme Res.
ativo imobilizado, realizado du- 205/65 (DO de 7-2-66, pág. 1.453
rante o ano de 1966, à razão de - doc. 6); conforme doc. 7, cumpria
2% (dois por cento); integralmente o compromisso de
man!ltenção de preços, no referente
1I1 - dispensa do pagamento ao ano de 1965, renovou para 1966 e
do imposto de 15% (quin;;-;e por cumpriu-o, por igual, tendo sido ex·
cento) devido pelas reservas exce- pedido o certificado próprio (doc. 8),
dentes do capital social» satisfazendo, assim, as exigên
Recolhe-se dos textos transcritos cias da Lei n? 4.862/65; paralela·
que ambos os diplomas legais conce- mente, de acordo com a Lei n?
deram estímulos fiscais aos contri- 4.663/65, manteve os registros ali re-
buintes que, no exercício de 1966, im- clamados; durante o ano de 1965
plementassem os requisitos ali pre- apresentou aumento de quantidades
10 TFR - 99

vendidas superior a 5% em relação a não conduz à exclusividade ou alter-


1964 e seus preços de venda, no mer- natividade dos incentivos, mas à sua
cado interno, entre fevereiro de 1965 cumulabilidade; de um lado, inexis-
a 31 de dezembro do mesmo ano não te, em qualquer dos dois diplomas
foram superiores a 15%. explícita ou implicitamente, disposi-
Por fim, a única restrição docu- tivo que proíba ou impeça a acumu-
mental, oposta pela ré, de que a auto- lação, não sendo civil, por via inter-
ra não teria apresentado a declara- pretativa, restringir a outorga; de
ção firmada pelo responsável legal e outro, porque ambos os estímulos
pelo Contador, com relação à varia- têm objetivos e condições próprias,
ção média dos preços, não pode pre- ensejando sanções diversas.
valecer, pois os documentos 9 e 10 Esta Egrégia Corte já teve oportu-
que acompanham a inicial compro- nidade, por mais de uma vez, de
vam que a declaração do imposto de apreciar a espécie, tendo sido seus
renda oferecida foi instruída com pronunciamentos uniformes, no sen-
aquele documento, constando ex- tido da predominância da tese da le-
pressamente da relação dos docu- git\midade da cumulação dos dois
mentos recebidos pela repartição. benefícios.
Demonstrado, dessarte, que a su- Esse foi o entendimento consagra-
plicante atendeu devidamente aos do na AC 33.905, de que foi Relator o
requisitos de um e outros sistemas, Ministro Armando Rollemberg, da
afastada qualquer dúvida acerca da antiga Terceira Turma, em aresto
matéria de fato, r:esta discutir-se a assim ementado:
tese da cumulabilidade dos incentivos
afirmada pela suplicante e repelida «Imposto de renda - Incentivos
pela suplicada. Fiscais das Leis n?s 4.663/65 e
4.862/65 .
Neste particular, de início, é de
assentar-se que ambos os diplomas Cumpridas as exigências de am-
condicionam a posição dos estímulos bos os diplomas legais, assiste ao
respectivos ao engajamento da em- contribuinte o direito à obtenção
presa na política de contenção de dos favores concedidos em ambos,
preços, mas enquanto a Lei n? pois não são eles conflitantes nem
4.862/65 impõe a adesão ao progra- excludentes entre si. Recurso de
ma da Portaria Interministerial n? Ofício e da União desprovidos».
(DJ. 27-5-75)
71 com assinatur~ de compromisso e
r~novação a Lei n? 4.663 não cogita de No mesmo sentido, da antiga Se-
tais reqUisitos; outrossim, a primeira gunda Turma, Relator o Ministro
centra-se na estabilização de preços, Carlos Mário Velloso, aresto unâni-
ao passo que a segunda persegue, me, na AMS n? 78.775, sob a seguinte
ainda, o aumento da produtividade; ementa:
de outro lado, aquela concede a de-
dução, no lucro tributável, a parcela «Estímulos Fiscais - Leis n?s
de manutenção do capital de giro 4.663, de 3-6-65, e 4.862, de 29-11-65.
próprio, o que não é repetido nessa;
uma reduz a alíquota para 20%, ou- Os incentivos fiscais concedidos
tra, para 18%. pelas Leis n?s 4.663/65 e 4.862/65
são distintos, nada impedindo a
Consoante se induz do paralelismo sua fruição cumulativa». (DJ 15-9-
esboçado, os dois sistemas, embora 77).
se tangenciem, são autônomos, auto-
nomia reconhecida pela própria ré e Ainda, sufragando a mesma orien-
que, ao revés do sustentado por ela, tação, o acórdão unânime tomado na
TFR -- 99 11

AC n? 30.701, da Quarta Turma, Re- No mesmo sentido, AC 1.7/703 (DO


lator o Ministro Carlos Mário Vello- 6-7-75, Seção IV 11017 e AC 1.7/715-
so. DO 6-7-76, Seção IV 1.019.
De outro lado, às fls. 39/69, Nesse contexto, restou informado o
encontra-se substancioso parecer do próprio alicerce em que se fundou o
cansa grado tribu ta ris ta Ulhoa Can- lançamento anulando.
to, prestigiando a tese ora sanciona- Por tudo quanto foi aduzido e de-
da. duzido, fixada a premissa da legiti-
Por igual, Erimá Carneiro, em sua midade de cumulação dos incentivos
monografia «Alterações no Regula- focalizados, e havendo a autora de-
mento do Imposto de Renda de monstrado devidamente haver satis-
1965», depois de mostrar as diferen- feito os requisitos condicionantes de
ças específicas entre os dois siste- um e outro sistemas, é de dar-se pro-
mas, conclui exatamente pela cumu- vimento ao apelo da recorrente, nos
lação dos benefícios respectivos (fI. termos do item I do pedido inverti-
36). dos os ônus da sucumbência constan-
Por derradeiro, enfatize-se que, te da inicial.
conforme comprovante junto ao Dou provimento ao recurso da au-
memorial oferecido pelo ilustre pa- tora, nos termos enunciados.
trono da autora, o 1? Conselho de
Contribuintes do Ministério da Fa-
zenda, através de sua Primeira Câ- EXTRATO DA ATA
mara, examinando, em grau de re-
curso, precisamente a consulta que AC n? 32.524 - MG - ReI.: Min.
dera origem à mudança de orienta- Sebastião Alves dos Reis. Apte.:
ção oficial, ensejadora do desenca- Magnesita SI A. Apda.: União Fede-
deamento do procedimento fiscal, ral.
culminado com o lançamento ora
impugnado, reformou a decisão de Decisão: A Turma, por unanimida-
primeira instância administrativa, de, deu provimento ao recurso, para
em acórdão ementado nesses ter- julgar a ação procedente, nos termos
mos: do item Hum) da Inicial, invertidos
os ônus da sucumbência. ( 5~ Turma
«Os estímulos fiscais previstos - JulgadO em 24-5-82).
nas Leis n? 4.663, de 3 de junho de
1965, não se confundem com os in- Votaram, com o Relator, os Srs.
centivos estabelecidos na Lei n? Ministros Pedro Acioli e Moacir Ca-
4.862, de 29 de novembro de 1965, tunda.
por integrarem sistemas distin- Presidiu o julgamento o Sr. Minis-
toS». (Res. Trib. 1968 pago 117). tro Moacir Catunda.

APELAÇÃO CtVEL N? 44.092 - PR


Relator: O Sr. Ministro Carlos Madeira
Apelantes: Jorge Salles Batarse e sua mulher
Apelada: Fundação Nacional do lndio (FUNAl)
EMENTA
Bens da União. Terras ocupadas pelos silvícolas.
Insuscetibilidade de usucapião.
12 TFR - 99

Terras destinadas, desde 1859, ao aldeamento de


silvícolas, na antiga província do Paraná, no Mu-
nicípio de São Jerônimo da Serra. Eram bens nacio-
nais, no Império (Aviso de 21 de julho de 1858) e são
bens da União, segundo o art. 4?, IV, da Constitui-
ção. Não podiam ser concedidas pelo Presidente da
Província, sendo insuscetíveis de usucapião.

ACORDA0 abandonaram suas terras há mais


de 30 anos, sendo ignorados os seus
Vistos e relatados os autos, em que domicílios e possíveis sucessores.
são partes as acima indicadas: Pedindo a justificação de sua pos-
Decide a 3~ Turma do Tribunal Fe- se, o autor requereu a citação do
deral de Recursos, por unanimidade, Promotor Público, dos confrontantes
negar provimento à apelação, na for- Indicados, do representante do Patri-
ma do relatório e notas taquigráficas mônio da União Federal, bem assim,
constantes dos autos que ficam fa- por edital, dos antigos proprietários
zendo parte integrante do presente e seus sucessores.
julgado. O Juiz de Direito ouviu duas teste-
Custas como de lei. munhas e julgou justificada a posse
Brasília, 15 de maio de 1981 (data do autor, determinando as citações
do julgamento) Min. Carlos requeridas.
Madeira, Presidente e Relator. O Dr. Promotor Público argüiu a
incompetência do Juízo, ao argu-
RELATORIO mento de que as terras usucapiendas
sempre se encontraram na posse
o Sr. Ministro Carlos Madeira indígena, conforme título cUja certi-
(Relator): Jorge Salles Batarse pro- dão juntou.
pôs, no Juízo de Direito da Comarca
de São Jerônimo' da Serra, ação de Também o SPU juntou documento,
usucapião de trezentos alqueires de informando que as terras são do
terra no lugar denominado Agua domínio da União.
Branca, no mesmo Município, com O Juiz de Direito declinou, então,
os limites e confrontações que indi- em favor da Justiça Federal.
cou, alegando que há mais de vinte O Juiz Federal da 1~ Vara do Pa-
anos os possui, mansa, pacífica e raná notificou a Fundação Nacional
ininterruptamente, por si e seus an- do Índio - FUNAI, que ingressou no
tecessores, tendo casas de moradia, feito fazendo o histórico das terras,
cafezais, plantações de cereais e fru- e deduzindo preliminares e razões de
tas. mérito em contestação à pretensão
Expôs o autor que dita área de ter- do autor.
ras foi adquirida ao Presidente da O Juiz saneou o feito e deferiu pro-
Província do Paraná por Paulino vas. Realizou-se a perícia, falando
Borges de Sampaio, Albino Casas de as partes sobre os laudos do perito e
Oliveira e Filisbino Borges de Sam- dos assistentes-técnicos.
paio, integrantes da ex-colônia mili-
tar de Jatay. Tais concessões foram Suscitou-se então conflito negativo
demarcadas no aldeamento de São de jurisdição, julgado improcedente
Jerônimo, como então era conhecida e, concluída a instrução, prestou o
a região, conforme títulos expedidos louvado esclarecimentos em audiên-
em 1877 e 1879. Esses proprietários cia.
TFR - 99 13

Por sentença, o Juiz Federal Mil- Província do Paraná, datados de no-


ton Luiz Pereira julgou improceden- vembro de 1877 e janeiro de 1879, ou-
te a ação, por considerar impres- torgando a Felisbino Borges dos San-
critíveis as terras pretendidas pelo tos, Albino Casas de Oliveira e Pau-
autor, condenando este ao pagamen- lino Borges, na ex-Colônia Militar de
to das custas e honorários do advo- Jatay, direito de propriedade sobre
gado da FUNAI e do Procurador da porções de terras no Aldeamento São
República, bem como os salários do Jerônimo. Na apelação, fica esclare-
peri.to e ainda as despesé}s feitas pe- cido que os outorgados eram inte-
la ré com seu assistente-técnico. grantes da ex-Colônia Militar de Ja-
Apelou o autor, explicitando que tay.
adquiriu a posse das terras de Ama- As Colônias Militares surgiram de
zino Gerbert, filho de Carlos Ger- uma memória apresentada em julho
bert, que ocupara as terras abando- de 1844, ao Ministro da Guerra, pelo
nadas pelos proprietários. A FUNAI Coronel J. J. Machado de Oliveira,
jamais teve posse das terras usuca- da qual resultou um regulamento,
piendas, pOis obteve o domínio em mandado baixar pelo Aviso de 30 de
1948 ou 1949, registrando-o em 1955. agosto de 1844, conforme informa
Contra-arrazoou a FUNAL Teixeira de Freitas, na 2~ edição do
seu Livro das Terras. Eram núcleos
Manifestou-se o Procurador da Re- de COlonização, formados nas
pÚblica e, nesta instância, a Subpro- províncias, sob administração mili-
curadoria-Geral da República opinou tar, nos quais cada colono recebia
pela confirmação da sentença. uma porção de terras com vinte bra-
É o relatório. ças de frente e Cinqüenta de fundo.
O Regulamento para fundação de
VOTO colônias militares na província do
Pará, baixado com o Decreto n? 622,
o Sr. Ministro Carlos Madeira de 22 de dezembro de 1849, foi man-
(Relator): Os croquis de fls. 108 e 137 dado. aplicar na Colônia Militar de
mostram as terras usucapiendas si- Jatay, por Aviso de 3 de abril de
tuadas claramente dentro da 2~ gle- 1857: segundo informa o mesmo Tei-
ba do Núcleo Indígena, na área ba- xeira de Freitas, ob. cit., p. 278.
nhada pelo córrego Agua Branca. Tem-se, assim, que a Colônia Militar
A dúvida reside em que o autor pa- de Jatay deve ter sido fundada nesse
rece dar as terras como originárias ano de 1857.
da Colônia Militar de Jatay, enquan- Ora, pela certidão de fls. 97/100,
to a FUNAI as identifica como a Fa- vê-se que a Fazenda São Jerônimo,
zenda São Jerônimo, primitivamente doada à Coroa pelo Barão de Antoni-
doada à Coroa pelo Barão de Antoni- na - que era o Coronel João da Sil-
na, em 1859, para a formação do al- va Machado, Senhor de terras, inte-
deamento de índios coroados. Essas ressado na colonização do Paraná -
terras foram cedidas gratuitamente situava-se na estrada que vai do mu-
ao Estado do Paraná, pelo Decreto- nicípio de Castro para as Colônias
Lei n? 7.692, de 30 de junho de 1945, Militar de Jatay e Silvícolas de São
mediante acordo entre o Governo Pedro Alcântara e Pirapó. Não se
Estadual e o Serviço de Proteção de confundia, portanto, com a Colônia
Índios, com a reserva de 4.840 hecta- Militar. E a finalidade da doação
res para o estabelecimento dos era exatamente a fixação dos
silvícolas, em uma ou mais glebas. silvícolas pelo aldeamento, de modo
O autor instruiu a inicial com cer- a evitar que lutassem com os colo-
tidões de atos do Presidente da nos estrangeiros que na época come-
14 TFR - 99

çavam a se estabelecer na pro- Ademais, o Regulamento de 24 de jU-


víncia. lho de 1845 não autorizava os Presi-
Ê evidente que o Barão de Antoni- dentes de Província a doar terras
na não pOderia doar, em junho de indígenas, pois apenas se referia a
1859, terras da Colônia Militar funda- organização de missões e de criação
da por volta de 1857. E as terras que de novas aldeias de índios.
doou à Coroa não poderiam ser con- Também não procede a alegação
cedidas, em 1877 e 1879, a ex- de que a FUNAI só adquiriu domínio
integrantes da Colônia Militar. Em sobre as terras em 1955, pelo regis-
primeiro lugar, porque a eles só po- tro imobiliário. A FUNAI não tem
diam ser concedidas terras da área terras. As terras ocupadas pelos
da própria Colônia; em segundo lu- silvícolas eram bens nacionais, no
gar, porque sendo as terras de al- Império, e são hoje bens da União,
deamentos indígenas incorporadas por força de dispositivo constitucio-
aos bens nacionais, só por ato do Go- nal (art. 4?, item IV, da Constitui-
verno Central pOdiam ser transferi- ção). São, assim, insuscetíveis de
das para o domínio privado; e, por úl- usucapião, tendo a FUNAI apenas o
timo, porque pelo Aviso de 24 de dever de defender a sua posse em fa-
março de 1854, aos Presidentes das vor dos silvícolas.
Províncias ficou vedada a concessão Nego provimento à apelação.
gratuita de terras, antes autorizadas
pelo art. 16 da Lei n? 514, de 28 de
outubro de 1848, na área de seis lé- EXTRATO DA MINUTA
guas em quadra transferidas pela
Coroa a cada Província. AC n? 44.092 - PR - ReI.: Min.
Carlos Madeira. Aptes.: Jorge Salles
Não tem, assim, fomento de Direi- Batarse e sua mulher. Apda.: Funda-
to o argumento de que as terras fo- ção Nacional do Índio (FUNA!).
ram concedidas com fundamento no
Regulamento de 24 de julho de 1845, Decisão: A Turma, por unanimida-
já estando no domínio privado quan- de, negou provimento à apelação.
do do advento da Lei n? 601, de 1850. (Em 15-5-81- 3~ Turma).
A concessão das terras foi feita em Votaram de acordo com o Relator
1877 e 1879, quando não mais tinha os Srs. Mins. Adhemar Raymundo e
vigência aquele Regulamento, nem Fláquer Scartezzini. Impedido o Sr.
os Presidentes de Províncias po- Min. Torreão Braz. Presidiu o julga-
diam concedê-las gratuitamente. mento o Sr. Min. Carlos Madeira.

APELAÇAO CíVEL N? 45.367 - SP


Relator: O Sr. Ministro José Néri da Silveira
Revisor: O Sr. Ministro José Dantas
Remetente: Juiz Federal da 6? Vara
Apelantes: Moinho Fanucchi e outros - Moinho Pacífico S.A. e SUNAB.
Apelados: Os mesmos
EMENTA
-SUNAB.
- Fixação de quotas de trigo dos moinhos.
Política intervencionista do Estado no que concerne
ao trigo.
TFR - 99 15

- Revisão com base no Decreto-Lei n? 210, de


27-2-1967, e a disciplina constante da Portaria n? 137,
de 7-3-1967.
Decisão do Supremo Tribunal Federal, no Re-
curso Extraordinário n? 70.800, a 30-9-1971. Sua ex-
tensão.
- Decreto-Lei n? 210/1967 que estabeleceu nor-
mas para o abastecimento de trigo, sua industriali-
zação e comercialização. Atribuições conferidas à
SUNAB.
- Revisão geral do parque moageiro do Pais.
Aferição da capacidade real de moagem de todos os
moinhos, mediante prova física, na conformidade da
disciplina estabelecida pela SUNAB. Decreto-Lei n?
210/1967, art. 15 e parágrafos. Portaria n? 137/1967,
da SUNAB. Sua legitimidade.
- O fato de existir situação anterior ao Decreto-
Lei n? 210/1967, já registrada e homologada pela SU-
NAB, quanto à capacidade de moagem dos moinhos,
não impedia, em princípio, disciplina diversa, sUjei-
tando as unidades moageiras a sistema novo de revi-
são e controle de sua capacidade real de operação,
como afirmou o STF, no RE n? 70.800, desde que
adotada disciplina uniforme e processada a revisão
segundo critérios gerais, ainda que daí pudesse ad-
vir diminuição da quota de participação no rateio,
dentro de cada zona, das quantidades de trigo desti-
nadas ao consumo.
- Quando no art. 15, § 2?, do Decreto-Lei n?
210/67, há alusão a unidade moageira, a referência é
ao moinho e não a cada uma de suas seções. A de-
terminação de funcionamento simultâneo das diver-
sas seções do moinho, ao ensejo da aferição de sua
capacidade real de moagem, não constitui ilegalida-
de da Portaria n? 137, da SUNAB, art. 24, alínea b),
n? 2). As normas dos arts. 18 e 19, do Decreto-Lei n?
210/67, não representam óbice à referida exigência,
já considerada válida nos Recursos Extraordinários
n?s 70.800, 71.424, 74.165 e 71.469.
- Se, quando da prova física a que submetido o
moinho, não possuía ele condições técnicas e apare-
lhamentos suficientes para funcionarem todas as
suas seções de moagem, simultaneamente, a culpa
não pode ser imputada à SUNAB, sendo certo que
cada moinho devia preparar-se para a aferição ofi-
cial de sua capacidade real, no prazo previsto no
Decreto-Lei n? 210/1967, não excedente a 31-12-1967.
Da mesma maneira, nenhuma responsabilidade po-
de ser imputada à SUNAB, ao praticar os atos de re-
visão da capacidade real do moinho, se este consu-
16 TFR - 99

mia, à época da prova, energia elétrica muito


aquém do que seria mister para funcionarem todas
as seções simultaneamente, resultando disso não
possuir o estabelecimento moageiro condições de
acionar todas as seções, ao mesmo tempo. Não há,
assim, aí, ver nulidade ou inexistência da vistoria da
SUNAB que aplicou a disciplina geral para todos os
moinhos. Constituía, outrossim, exclusivo encargo do
moinho preparar-se para a prova, segundo a Porta-
ria n? 137/1967. Não incumbia à SUNAB providen-
ciar, junto à concessionária de energia elétrica, para
que se fizessem as adaptações necessárias na rede e
nas instalações elétricas dos moinhos, a fim de estes
se encontrarem em condições técnicas indispensá-
veis à realização da prova física.
- Não é possível, assim, emprestar validade à
vistoria feita muito tempo após, fora do prazo pre-
visto em lei, em circunstâncias discutlveis, para
substituir a prova física oficial da SUNAB, realizada
segundo os critérios geraiS constantes da Portaria n?
137/1967.
O STF, nos Recursos Extraordinários 74.165 e
71.469, não admitiu, inclusive, vistoria ad perpetuam
rei memoriam processada em 1968, para prevalecer
sobre a prova física prevista no art. 15 do Decreto-
Lei n? 210/1967.
- Provimento à apelação da SUNAB e recursos
de moinhos litisconsortes, para reformar a sentença
e julgar a ação improcedente.
- Reconvenção também improcedente.
ACORDA0 Moinho Pacífico S.A., vencido o Sr.
Ministro-Revisor que a desprovia,
Vistos, relatados e discutidos estes nos termos do relatório e notas ta-
autos, em que são partes as acima in- quigráficas precedentes que ficam
dicadas: fazendo parte integrante do presente
julgado.
Decide a Quarta Turma do Tribu-
nal Federal de Recursos, por unani- Custas como de lei.
midade, negar provimento ao agravo Brasília, 4 de dezembro de 1978
no auto do processo, de Moinho (data do julgamento) - Ministro
Pacífico S.A .. Por maioria, dar pro- José Néri da Silveira, Presidente e
vimento às apelações da SUNAB e dos Relator.
moinhos litisconsortes, para refor-
mar a sentença e julgar a ação im-
procedente. Por maioria, dar provi- RELATORIO
mento parcial ao recurso de Moinho
Fanucchi e outros, nos termos do vo-
to do Relator, vencido, em parte, o O Sr. Ministro José Néri da
Sr. Ministro José Dantas que lhe ne- Silveira: O ilustre Dr. Juiz Federal a
gava provimento. Por maioria, em quo sumariou a matéria destes au-
julgar prejudicada a apelação de tos, às fls. 1433/1447, nestes termos:
TFR - 99 17

«Moinho Pacífico SI A. regular- declarando que as máquinas libe-


mente representada e qualificada, radas seriam definitivamente des-
propôs a presente ação contra a vinculadas da indústria tritícea;
Superintendência Nacional do Abas- que, para tanto, foi estabelecida
tecimento - SUNAB, alegando uma revisão geral nos moinhos,
que, por ato da antiga administra- tendo a lei fixado normas técnicas
ção daquela autarquia federal, para sua execução no art. 15, cujo
consubstanciada na Portaria n? § 1? estabeleceu o ano de 1967 para
1.471, de 15-1-1968, teve reduzida a a conclusão dos trabalhos revisio-
capacidade de moagem de sua in- nais; que as normas técnicas esta-
dústria moageira, localizada em belecidas em lei impunham os se-
Santos, em conseqüência do que foi gUintes critérios técnicos: cada
reduzido, nas mesmas proporções, unidade moageira deveria moer,
seu direito de comprar do Banco em média, a diária capacidade de
do Brasil S.A. trigo para moer; que moagem já registrada na SUNAB.
montou grande complexo moageiro E a prova, sempre segundo a lei,
no porto de Santos, com todas as constituiria na moagem, em cada
instalações previamente aprovadas seção, durante o tempo de uma ho-
pelas autoridades federais e que, ra. Obtida a quantidade de trigo na
depois de montadas, as máquinas moagem de uma hora, seria esta
foram vistoriadas, passando a fa- multiplicada por 24, a fim de se ob-
zer parte do parque moageiro na- ter a capacidade total do moinho,
cional e, assim, sua capacidade in- segundo o disposto pelos §§ 2? e 3?
dustrial foi permitida, declarada e do art. 15 do mencionado Decreto-
homologada pelo Poder Executivo Lei n? 210/67; que a SUNAB, atra-
para todos os efeitos de direito; vés da Portaria n? 137/67, alterou a
que dessa capacidade de moagem, lei, rebelando-se contra os critérios
oficialmente reconhecida, resulta o técnicos fixados naquele decreto-
seu direito de participar do rateio lei a pretexto de regUlamentá-lo;
de vendas do trigo; que não é de se que, contrariamente à lei, exigiu a
confundir capacidade de moagem SUNAB que a prova física fosse rea-
com cota de trigo; que a cota é li- lizada simultaneamente em todas
vremente fixada pelo Governo pa- as seções autônomas do moinho e,
ra cada região, dependendo da dis- em vez de observar o tempo de
ponibilidade do cereal e das neces- uma hora de moagem, segundo a
sidades do consumo, e a capacida- lei, exigiu-o por três horas, que vá-
de de moagem garante a cada em- rios moinhos tiveram, de imediato,
presa uma participação nessa co- dificuldades em obter mais energia
ta, para moer o trigo de acordo das companhias concessionárias de
com a maqUinaria que possui, cuja energia elétrica nas condições
montagem o Governo aprovou e ilegais exigidas, condições ilógicas
homologou; que sua maqUinaria que demandavam grandes altera-
tem capacidade muito superior à ções no sistema de abastecimento
parcela de trigo que lhe era atri- energético, de alto custo para os
buída, restando, em conseqüência, fornecedores, para o funcionamen-
grande capacidade ociosa não utili- to de apenas três horas de máqui-
zada na atividade operacional; nas que seriam, afinal, liberadas
que, tendo como objetivo liberar para jamais voltarem a moer tri-
precisamente a maqUinaria ociosa, go; que foi submetido à prova físi-
o Governo Federal baixou o ca do dia 6-9-1967, quando o forne-
Decreto-Lei n? 210/67, dispondo no cimento de energia elétrica foi su-
art. 16 deste diploma sobre tal libe- ficiente para acionar apenas três
ração e, no § 2? do mesmo artigo, das sete seções autônomas que
18 TFR - 99

possui, sem que lhe coubesse culpa nha registrada na SUNAB; que, com
pelo evento, eis que a deficiência base nesta capacidade de moagem,
era da concessionária de energia a ré autorizou-lhe a construção de
elétrica; que o próprio laudo da SU- novos, moderníssimos e grandes si-
NAB constatou que as sete seções los, cuja vistoria foi realizada no
estavam montadas em condições dia 5-1-1971 (fI. 328), tendo a SUNAB,
de funcionamento, mas as instala- nesse ano, declarado no laudo
ções elétricas da Companhia City a correta capacidade de moagem
de Santos, (as da rua), não supor- dela, autora, isto é, a que possuía
tavam a carga exigida para o não anteriormente, menos a liberação
usual funcionamento simultâneo de de 40% das máquinas ociosas, se-
todas as seções; que neste particu- gundo a mesma Portaria n?
lar a SUNAB desrespeitou seu pró- 1.471/68; que, em grau de recurso
prio regulamento, isto é, a Porta- extraordinário, as seguranças refe-
ria n? 137/67, porque não poderia ridas foram cassadas pelo C. Su-
naquela data proceder à prova físi- premo Tribunal Federal, sob o fun-
ca sem que todas as suas unidades damento que a vistoria ad perpe-
moageiras apresentassem condi- tuam rei memoriam fora realizada
ções indispensáveis ao processa- após a impetração do mandamus,
mento da vistoria, segundo o art. tendo porém a Excelsa Corte asse-
24, letra c, item 1, daquela porta- gurado a ela, autora, a via ordiná-
ria; que entre as condições indis- ria, onde poderia ser apreciada a
pensáveis estaria o fornecimento «vistoria» já realizada e outras
de energia elétrica pela concessio- provas que viessem a ser produzi-
nária que o prometeu para outro das no correr da instrução.
dia, em tempo, ainda, de ser feita
a prova durante o ano de 1967; que Faz a autora longa demonstra-
a SUNAB insistiu na prova física, ção dos textos e fundamentos le-
sem que houvesse as condições in- gais pertinentes, pedindo, final-
dispensáveis, tendo-a realizado, po- mente, a procedência da ação para
rém, em somente três seções e dei- assegurar o seu direito à capacida-
xando de realizá-la em quatro ou- de de moagem de 1.401 toneladas
tras; que, através de dois manda- por 24 horas, com a liberação de
dos de segurança, um contra a pro- 40% das máquinas ociosas e conse-
va física ilegal e outra contra o ato qüente declaração de que sua ca-
que se lhe seguiu, declarando me- pacidade definitiva da moagem é
nor capacidade de moagem do de 840 toneladas por 24 horas, con-
moinho, obteve a autora a conces- forme j á o declarou a própria
são da ordem pelo Egrégio Tribu- SUNAB em ato de 5-1-1971, poste-
nal Federal de Recursos que consi- rior, portanto, aos fatos aqui discu-
derou ilegais os atos da SUNAB, tidos.
em memoráveis julgamentos anexa-
dos à inicial; que, ad cautelam, Pede, ainda, a decretação da nu-
quando normalizado o fornecimento lidade da Portaria n? 137/67, tam-
de energia, ela, autora, requereu bém da lavra da ré, nos pontos em.
vistoria judicial que foi presencia- que derrogou a lei.
da pela própria ré, inclusive pelo
Presidente da Comissão da Visto-
ria Administrativa, que com o for- Pede mais perdas e danos para o
necimento de energia elétrica sufi- período em que ficar sem sua cota,
ciente para o fornecimento de cin- abrangendo prejuízos comerciais e
co seções, o seu moinho moeu trabalhistas decorrentes da dimi-
quantidade maior do que a que ti- nUição da capacidade operaCional;
TFR - 99 19

e, finalmente, pede mais, caso não sempre estimada, mas não assegu-
seja anulada a Portaria n? 137/67 rada; que reconhece que cada moi-
da SUNAB, que se declare seu di- nho, porém, terá direito de partici-
reito à capacidade de moagem par do rateio da cota na proporção
real, inclusive com fundamento na de sua capacidade de moagem,
própria portaria que obedecida foi mas a autora teria reconhecido os
na vistoria judicial e não na admi- defeitos da legislação antiga que
nistrativa. declarou cumprir. Não pode, em
conseqüência, reclamar direitos
com base nas leis passadas, tidas
Juntou aos autos os documentos pela própria autora como deficien-
de fls. 35 a 427 que compõem o pri- tes; que a capacidade ociosa surgiu
meiro volume. do expediente das indústrias de tri-
go em aumentar sua capacidade
nominal de moagem para poder
Regularmente citada, a Superin- participar, em maior escala, do ra-
tendência Nacional do Abastecimen- teio da cota; que a autora teria si-
to (SUNAB) contestou (fI. 433) do uma dessas empresas. Refere-
alegando: que a inicial desta ação se, ainda, à outra empresa, o Moi-
é semelhante à de outra ação pro- nho São Jorge, cujos diretores so-
posta por OCRIM S.A. - Produtos freram ruidoso processo criminal
Alimentícios, assinada pelo mesmo perante este mesmo juízo, pouco
advogado e também distribuída a importando tenha sido absolutória
este Juízo, e da qual junta cópia a sentença, pois se encontra em
para prevenir razões mais profun- grau de recurso no Egrégio Tribu-
das que poderão emergir, compro- nal Federal de Recursos (Nota: tal
vando um relacionamento de gran- decisão foi confirmada pelas Altas
de significação. Cortes da Justiça); que a autora
não foi fiel na citação dos §§ 3? e 2?
Quanto aos fatos, a ré afirma do artigo 15 do Decreto-Lei n?
que a Portaria n? 1.471/67 foi edita- 210/67. E mais, se a autora declara
da como mera conseqüência do que se achava pronta para realizar
art. 16 do Decreto-Lei n? 210/67 e a prova física, imediatamente após
da Portaria n? 137/67 que o regula- a edição do Decreto-Lei n? 210/67,
mentou; que o art. 15 do Decreto- por que não o estava no dia de sua
Lei n? 210/67 deu à SUNAB, expres- efetiva realização? Quanto à acu-
samente, poderes para regulamen- sação de ter a Portaria n? 137/67
tar a prova física a que teria de derrogado o Decreto-Lei n? 210/67
submeter-se todo o parque moagei- e, inconstitucionalmente, regula-
1'0; que se a autora teve reduzida mentado a lei, já é, a essa altura,
sua capacidade de moagem foi de chocante impertinência, uma
porque sua prova física, realizada vez que o Supremo Tribunal Fede-
em 6-9-1967, não justificou sua ca- ral já repeliu tais teses pelos votos
pacidade anteriormente registra- do Ministro Thompson Flores nos
da; que a capacidade de moagem Recursos Extraordinários n?s 70.800
não é intocável, estando sempre e 71.424. Diz que, efetivamente, a
sujeita à comprovação; que a pró- Portaria regulamentou o decreto-
pria autora se encarregou de de- lei, porque ele própro o determi-
monstrar tal verdade na petição nou. Se o Regulamento tivesse de
inicial (item 2.7); que segundo o ser baixado pelo Presidente da Re-
art. 9.? do Decreto-Lei n? 210/67, a pública, se resumiria a repetir o
cota de trigo distribuída aos moi- que estava na lei e seria desneces-
nhos no início de cada ano, será sário. Transcreve parecer de Hus-
20 TFR - 99

tre Procurador da República. E A douta Procuradoria da Repú-


volta a insistir no seu poder em re- blica subscreveu a contestação da
gulamentar a lei, invocando como ré (fI. 631 verso).
exemplos jurídicos a autonomia Inúmeros outros moinhos reque-
municipal, a segurança nacional, a reram o ingresso na lide como li-
Justiça Militar, que a Constituição tisconsortes passivos, argÜindo, de
manda serem regulamentadas por início, exceção de incompetência e,
lei. Assim, o Decreto-Lei n? 210/67 alguns deles, exceção de suspei-
podia autorizar a ela SUNAB a ção, antes mesmo de terem sido
baixar regulamento, o que é com- admitidos como partes, o que ense-
patível com o sistema legislativo jou o despacho deste Juízo, vazado
brasileiro; que o funcionamento si- nos segUintes termos (fIs. 685/91):
multâneo é exigido pela Portaria,
não pelo Decreto-Lei n? 210/67, «Vistos, etc.
mas se refere às seções do moinho O presente feito veio distribuído
e não às unidades moageiras. Por a esta Vara em 3-11-1971, tendo es-
outro lado, além da falta da ener- te Juízo proferido os seguintes
gia elétrica por parte da concessio- despachos R.A. (fI. 2) - e - «Cite-
nária, no dia da prova, as instala- se, dando-se vista à Procuradoria
ções elétricas da própria autora da RepÚblica» (fI. 450).
não estavam em condições de sub-
meter seu moinho à prova física; Antes de estabelecida a litis
que tais provas não podiam ser contestatio, o que se verificou ape-
transferidas ao bel-prazer de cada nas pela defesa da ré às fls. 464,
moinho; que a vistoria jUdicial não com documentos (fIs. 488 a 534) já
pode prevalecer, porque a admiti- existia nos autos o pedido dos: Moi-
la, todos os moinhos que tiveram nhos Fanucchi, Companhia Brasi-
sua capacidade reduzida na prova leira de Moagem, Dias Martins
física realizada em 1967, também S.A. Mercantil e Industrial, Moinho
viriam a Juízo fazer nova vistoria Curitibano S.A. (fls. 433/34) Moi-
e, se obtivessem melhor resultado, nho Progresso (fI. 439), Indústrias
pleiteariam novo registro de capa- Reunidas F. Matarazzo I.R.F.M.,
cidade; que isto pode acontecer Richard, Saigh Indústria e. Comér-
com qualquer moinho que tenha cio S.A., Moinho Fama S.A., Moinho
meios de preparar suas instala- de Trigo Pastifício Oeste Ltda., (fI.
ções, melhorando-as depois de 444), Moinho Jundiaí S.A. Moinho
1967. Mas a prova só poderia ser Graciosa S.A.,' Moinho Corbélia
realizada no decurso de 1967. E Ltda. (fI. 452), Carlos Weiss & Cia.
a que foi efetuada naquele ano de- Ltda. (fI. 458), Indústria e Comér-
verá prevalecer, não a judicial, cio Kunz S.A. (ti. 461), para inte-
realizada em 1968, fora do prazo da grarem a lide na qualidade de litis-
lei. Quanto aos silos, foram autori- consortes passivos necessários (fI.
zados porque tinha a autora insufi- 439).
ciência de capacidade de ensila- Não fora já o início deste tumul-
gem e a vistoria ali realizada por to processual, dada a apresentação
ela, SUNAB, tem validade somente de contestação inoportuna, antes
no que concerne aos silos. Conclui da apreciação do pedidO de ingres-
referindo-se a julgados do Supremo so na lide, mais tumultos vieram
Tribunal entre as mesmas partes aos autos através de exceções co-
nos mencionados processos de se- mo se verificam às fls. 536 e 539.
gurança e pede a improcedência Contudo, novos moinhos vieram
da ação. Junta os documentos de aos autos requerer admissão como
fls. 457/503. litisconsortes (fls. 544 a 551) a sa-
TFR - 99 21

ber: Moinho da Lapa SI A, Moinho cessanos, mas, sim, litisconsortes


Agua Branca SIA., Moinho Pont.a- irrecusáveis, embora falem em co-
grossense Indústria e Comércio, munhão de interesses.
Fábrica Lucinda SI A., Indústria e A fI. 962, não tendo este Juízo
Comércio SI A., Moageira e Agríco- ainda sequer prOferido qualquer
la, Carlos Guth SI A., Indústria e decisão, os Moinhos Fanucchi, Cia.
Comércio, Moinho Tupy Limitada Brasileira de Moagem, Dias Mar-
e Irmãos Massignan & Cia. E con- tins SI A. - Mercantil e Industrial,
testaram a ação. Moinho Curitibano SI A. e Moinho
O autor, por seus ilustres patro- Progresso SI A., voltaram aos autos
nos, ante o tumulto processual, e contestaram a lide.
protestou por falar sobre a contes- Verifica-se, assim, que os tercei-
tação da ré - após a decisão das ros requerentes não conseguiram
exceções de incompetência e im- definir-se; pediram ingresso como
pugnou (fls. 723/739) o ingresso de litisconsortes e, antes de serem ad-
terceiros na lide. mitidos como partes, opuseram ex-
ceções declinatória fori e, antes de
A fI. 836, vários moinhos se soli- decidido o pedido e a exceção, ar-
darizaram e ratificaram os termos gÜiram exceção de suspeição e, an-
das exceções e razões opostas pelO tes de decididos todos estes inci-
Moinho Progresso SI A. As fls. 837- dentes, contestaram a lide, acei-
v., a D. Procuradoria da Repúbli- tando, afinal, o foro e a jurisdição
ca, na qualidade de assistente, do Juízo.
subscreve a contestação da ré,
«reservando-se para tecer outras A fI. 991, a ré, com muita pro-
considerações, oportunamente, priedade, pediU preliminarmente o
após cumpridos os respeitáveis ordenamento do processo, tendo os
despachos» . seus ilustres patronos se insurgido
contra a «forma tumultuada pela
A fI. 838 novos moinhos também qual foram suscitados vários inci-
ratificaram a iniciativa do Moinho dentes, gerando um desordena-
Progresso SI A. A fI. 840, os Moi- mento prejudicial à causa, dificul-
nhos Richard Saigh Indústria e Co- tando seu curso e seu esclareci-
mento» (fls. 991).
mércio, Moinho Fama SI A, Moinho
de Trigo e Pastifício Oeste Ltda. e Embora concordando com a ad-
Moinho Globo Ltda. - Indústria e missão de litisconsortes, a ré en-
Comércio, apesar de, com exceção tende que, antes de admitidos co-
do Moinho Globo Ltda. - Indústria e mo partes, não poderiam ter opos-
Comércio, haverem praticado vá- to exceções. A D. Procuradoria da
rios atos no processo (pedido de li- República manifesta-se às fls.
tisconsórcio, contestação, exceção 1.002/1.006, subscrevendo as mani-
de incompetência) argüiram por festações da ré. Após este pequeno
derradeiro exceção de suspeição. A relatório, passo a ordenar o pro-
fI. 848, novos pedidos de litiscon- cesso, analisando numa ordem es-
sórcios passivos foram formulados tritamente pessoal, como segue: a)
pelos SI A., Moinhos Santistas Indús- o pedido de litisconsórcio: os
trias Gerais, Pastifício Selmi, Moi- terceiros argüiram exceção
nh().. Selmi-Dei SI A. - Indústria e declinatória for1 e exceção de sus-
Comércio, Moinho São Luiz Ltda., peição, esta com fundamento em
Júlio Fleming & Cia. Ltda. e Ce- fantasiosas referências à opinião
realista Guairacá Ltda., desta feita deste Juízo que teria se antecipado
não mais como litisconsortes ne- no julgamento da causa em con-
22 TFR - 99

versa com seus doutos patronos. A porque a lide se trava entre uma
opinião deste Juízo, não sobre a indústria moageira e a Superinten-
causa, mas sobre o litisconsórcio dência Nacional do Abastecimento
requerido, já é conhecida pelo úni- - SUNAB, e o objeto é um ato
co modo que se conhecem opiniões administrativo da Autarquia. Se os
de Juízes: nos despachos e nas sen- requerentes tivessem sido atingi-
tenças anteriormente prolatadas dos por atos iguais e pretendes-
em casos idênticos. Não convence- sem, em Juízo, a mesma repara-
ram os argumentos trazidos pelos ção, poderiam requerer admissão
requerentes e não vejo razão para ao lado da autora, por economia
alterar meu ponto de vista, já ma- processual. Mesmo assim, porém,
nifestado em outro feito, onde os o litisconsórcio não seria obrigató·
mesmos requerentes pretenderam rio, pois, nesse caso, o pedido se
obter a situação de litisconsortes. fundaria na segunda classe de cu-
Continuo não vislumbrando no in- mulação permitida pela lei, isto é,
vocado interesse dos requerentes a conexão de causas que permiti-
os pressupostos do art. 88 do CPC ria o litisconsórcio facultativo. Não
que justifiquem a constituição do ê, porém, o caso, pois os requeren-
litisconsórcio passivo requerido. As tes pretendem figurar no lado pas-
expressões «éomunhão de interes- sivo da lide, equiparando-se à ad-
ses», «conexão de causas» e «afini- ministração autárquica e protes-
dade de questões», usadas pela lei, tando por defender um ato admi-
admitem três classes de litiscon- nistrativo que, na opinião deles,
sórcios: os necessários, os irrecu- pOderia lhes beneficiar. Não há, à
sáveis e os facultativos impróprios. evidência, comunhão.
Não têm os terceiros comunhão al-
guma de interesse no objeto da li- Convém que se frise pretende-
de. Não são juridicamente solidá- rem os terceiros a defesa de um
rios com a ré, a sua presença não ato administrativo que poderá vir
é necessária para que a sentença a lhes beneficiar eventualmente e,
tenha validade, circunstância que não, necessariamente. Não se trata,
afasta o litisconsórcio Obrigatório. pois, de defender um ato que, se
anulado, poderá lhes prejudicar.
Segundo Câmara Leal, o litiscon- Há que se não confundir expectati-
sórcio necessário se verifica quan- va de benefícios, sujeita à vontade
do entre vários co-autores, ou en- livre da Administração, com pre-
tre vários co-réus que tenham um juízos ao patrimônio de terceiros;
interesse comum acerca do objeto no caso, não existe e nem existirá.
do litígio, há um vínculo tal de co-
munhão ou de solidariedade, que a Em caso análogo, já tive oportu-
sentença não possa ser eficazmen- nidade de decidir questão idêntica
te proferida sem a intervenção dos nos seguintes termos:
mesmos na causa» (CPC, pág.
122). Não há discrepância na dou- «Ademais, se de litisconsórcio
trina (Gabriel José Rezende Filho, obrigatório se tratasse, deveria a
«Diréito Processual Civil», vol. I, SUNAB ter por ele protestado, já
págs. 231/232, Pontes de Miranda, na contestação. Não o fez. Saneado
«Comentários ao Código de Proces- o feito, sem referência alguma à
so Civil», vol. lI, págs. 103, 104 e existência de comunhão de interes-
106, José Frederico Marques, «Ins- ses e a litisconsorciamento de ou-
tituições de Direito Processual Ci- tras partes, silenciou a ré, transi-
vil», vol. lI, págs. 185/186). Aqui tando em jutgado, para ela e para
não estamos diante dessa hipótese, a autora, a declaração de que o fei-
TFR - 99 23

to estava em ordem e, implicita- nhos legitimidade de figurarem ao


mente, não havia terceiros .a ser lado da SUNAB na lide contra esta
citados, dado o mesmo ter sido ir- movida e, de modo algum, como li-
recorrido. tisconsortes obrigatórios. Assim,
A própria União Federal reque- entendo que a pretensão dos moi-
reu sua exclusão como parte, pros- nhos de fls. e fls. e a qualidade de
seguindo como assistente. Atendi- litisconsortes e de assistentes (pois
da no saneador, não protestou a estes eqUivalem àqueles) não se
ré. justifica» (Processo n? 226/70.
Versa o feito sobre pretensão de Ação, Ordinária entre partes:
indústria moageira em obter repa- Ocrim SI A.. - Produtos Ali-
ração jUdicial contra ato adminis- mentícios contra SUNAB).
trativo da ré, praticado em pre- Nestes autos, os terceiros reque-
juízo de moinho de trigo, de pro- rentes, face ao Decreto-Lei n?
priedade da autora e localizado em 210/67, nenhum direito têm a exigir
Belém do Pará. A sentença não da ré que a cota de trigo, dimi-
atingirá terceiros e, muito menos nuída ou cortada da autora, lhes
em São Paulo, o que afasta a hipó- seja adjudicada, porque no rateio
tese de cumulação SUbjetiva de di- de cotas de trigo não há adjudica-
reitos no Objeto da lide. Injustificá- ção, nem direitos adquiridos. Se
vel, assim, a pretensão consorciaI houvesse, a autora teria direito
de outras indústrias. líquido e certo a manter a sua e es-
O Decreto-Lei n? 210, de 27-2-1967, ta ação não existiria.
dispôs, no parágrafo único do art. A SUNAB pode, se assim convier
9? e seguintes: ao interesse público, ratear na
«Desde que a partiCipação men- mesma Zona a cota tirada de uma
cionada neste artigo se refere à indústria (art. 9? do Decreto-Lei n?
quantidade de trigo, objeto de pre- 210/67) mas pode, igualmente,
visão, a cota atribuída aos moinhos destiná-la a outra Zona de Consu-
no início de cada ano, será sempre mo (art. 8?). Por isso, a lei é ex-
estimada mas não assegurada». pressa ao dizer que as cotas são
Não têm, pois, as indústrias estimadas, «mas não asseguradas»
moageiras direitos assegurados, (art. 9?, parágrafo único). Admitir-
direitos próprios a defender em se litisconsórcio passivo, na espé-
igualdade com os direitos públicos cie, seria, na hipótese de sucum-
da SUNAB, de forma a estabelecer bência da autora, admitir-se Igual-
o invocado litisconsórcio passivo mente que a sentença assegurasse
necessário pela comunhão de inte- aos terceiros a redistribUição da
resses. Só haveria o litisconsórcio cota que a autora vier a perder.
passivo compulsório se a sentença Haveria, assim, uma indébita in-
obrigatoriamente atingisse a todos terferência do Judiciário na Admi-
os réus que, com igualdade de di- nistração, quandO ao Juiz compete
reitos, tivessem a chamada comu- apenas julgar da legalidade ou ile-
nhão SUbjetiva de lides (José Fre- galidade dos atos administrativos
derico Marques, «Instituições de submetidos à sua apreciação. Se
Direito Processual Civil», voI. lI, forem estes declarados legais, e se
págs. 185/186, Se abra Fagundes, isto importar na disponibilidade
«Dos Recursos Ordinários em Ma- para a SUNAB da cota da autora,
téria Civil», pág. 178). não poderá a sentença ordenar à
A perspectiva de participar de ré que distribua essa mesma cota
um rateio de trigo, que é estimado, a terceiros que figurassem como li-
e não assegurado, não dá aos moi- tisconsortes. Decorre daí a sem-
24 TFR - 99

razão da aquiescência da ré ao re- «o interesse para a assistência de-


querimento dos terceiros, pois es- ve ser jurídico e não de fato, ou
taria ela se submetendo à preten- econômico, tão-somente».
são de empresas privadas e não
tem direito de imiscuir-se na admi- Nos idos tempos das velhas e
nistração pública. saudosas Arcadas, onde recebi dos
mestres, a quem nesta oportunida-
Neste feito, os terceiros, antes de rendo as minhas homenagens,
mesmo de decidido o requerimen- professores Vícente Ráo, Jorge
to de litisconsortes, causaram Americano, Mário Marzagão,
incrível tumulto ao andamento do Francisco Morato, Gabriel de Re-
processo, argüiram exceção de in- zende Filho e outros, aprendi que o
competência, de suspeição e, con- conceito de litisconsorte, em todas
traditoriamente, contestaram a as suas variações, está estreita-
ação que já completa seu 2? volu- mente ligado ao próprio conceito
me, com 1.007 páginas. da ação. Apenas aquele que tenha
ação pOde pleitear cumulação pro-
Ora, o litisconsórcio permitido cessual.
pela nossa lei processual civil não
visa a criar meios para a procras- No caso, é fácil entender que os
tinação do andamento da lide. Ao terceiros, isoladamente, nenhuma
contrário: «EI objeto deI litiscon- ação têm ou terão contra a autora
sorcio es abreviar y simplificar el ou contra a ré. Injustificada pois a
procedimiento y assegurar una re- pretensão de aparecerem como
solucion uniforme» (Adolfo Skonde, partes adesivas sem relação jurídi-
«Derecho Processual Civil», pág. ca própria a defender, razão pela
94, tradução espanhola da 5~ edi- qual indefiro o pedido de litiscon-
ção alemã - Barcelona - in Rev. sórcio dos moinhos já menciona-
dos Tribunais, vol. 209, pág. 486). dos.
De início, os terceiros se conduzi- b) Fala da autora sobre a contes-
ram de tal forma atrabiliária, al- tação da ré: Tem razão a ré ao im-
guns cometendo erros processuais pugnar o protesto que a autora fez
tão grosseiros que só se explicam para manifestar-se em outra opor-
pelo desejo de tumultuar o proces- tunidade sobre a contestação, pois
so e jamais pelo uso regular do di- aqui não houve suspensão da cau-
reito de postular em Juízo. sa, apesar dos inúmeros inciden-
tes.
Não lograram, porém, demons-
trar interesse jurídico no objeto do As exceções declinatória fori
litígio e o simples interesse comer- e de suspeição, apenas suspendem
cial futuro, sem relação de direito a causa quando opostas pelas par-
presente, não autoriza o litiscon- tes legítimas. Antes de admitidas
sórcio obrigatório por: não haver como partes os terceiros, não po-
comunhão, nem o irrecusável por dendo contestar, não poderiam
não haver conexão de causa. A es- igualmente excepcionar, como
te respeito, sirvo-me da lição do bem demonstraram autora e ré.
ilustre Ministro Jorge Lafayette No caso, o ilustre patrono da auto-
Guimarães, do Egrégio Tribunal ra foi pessoalmente intimado do
Federal de Recursos, no Mandado despacho de fls., ao retirar os au-
de Segurança n? 66.828 - SP (in tos do Cartório (art. 168 do CPC).
DJU de 24-8-71, pág. 4337) onde o Indefiro, pois, o protesto para falar
culto Magistrado deixou dito que sobre a defesa da ré.
TFR - 99 25

Deixo de apreciar as exceções Cumpra-se.


argüidas, a de competência e de P.I.
suspeição, dado que as mesmas fo-
ram opostas por partes não inte- São Paulo, 8 de fevereim de 1972
grantes da lide. - José Pereira Gomes Filho, Juiz
Federal da 6~ Vara».
Além do mais, mesmo que tives- Indeferidos os ingressos na lide,
sem sido admitidos ulteriormente um grupo de moinhos agravou de
como partes, a exceção de incom- instrumento que foi provido pelo
petência seria inoportuna porque a Egrégio Tribunal Federal de Re-
competência deste Juízo estaria cursos. Outro grupo requereu segu-
prorrogada pelo não excepcíona- rança, negada por unanimidade
mento por parte da ré e a exceção pelo Plenário daquela mesma Co-
de suspeição estaria prejudicada, lenda Corte. (fls. 693/764).
pois os excipientes voltaram aos
autos contestando a lide e, assim, A autora especificou provas à
aceitando a jurisdição recusada fI. 770 e a ré protestou por ouvir
(art. 186, CPC). testemunhas mas não as arrolou.
Não tendo, porém, qualidade. de Saneador, à 'fi. 772. Ficou indeferi-
parte, isto é, estando for~ da lIde, do o pedido de nova vistoria formu-
o terceiro não tem legitimIdade pa- lado pela autora, que agravou no
ra qualquer ato processual, ressal- auto do processo à fI. 775, tomado
vado o direito de recurso próprio por termo à fi. 777. Em apartado,
contra o indeferimento do ingresso a autora pediu medida cautelar in-
requerido. cidente requerendo fosse-lhe man-
tido d~rante o processo, o direito
Isto posto, concluo: de participar do rateio de trigo, a
fim de não ter que dispensar seus
a) rejeição do pedido de in- operários e prejudicar o forneci-
gresso no feito dos terceiros como mento de farinha ao pÚblico consu-
litisconsortes; midor. Negada a medida, houve
b) indeferimento de nova mani- apelação. Também em apartado
festação da autora sobre a contes- processou-se, já sob a vigência do
tação da ré; novo CPC, pedido de assistência
formulado por SI A Indústrias Reu-
c) não conhecimento das exce- nidas Francisco Matarazzo e ou-
ções argüidas. Assim, determino: tros, que dela desistiram tendo si-
do decretada a extinção do proces-
1) Desentranhamento das peti- so (Pedido de Assistência - n.
ções, procurações e documentos de 173).
fls. 433 a 437, 439 a 442, 444 a 450,
452 a 456, 458 a 459, 461 a 462, 536 a As empresas Moinho Lapa SI A,
537, 539 a 542, 544 a 709, 836 a 838, Moinho Agua Branca S/A, Moinho
840 a 843, 848 a 958, 962 a 970 e 972 Ponta grossense Indústria e Comér-
a 989, entregando-as às partes refe- cio Fábrica Lucinda SI A Indústria
ridas peças com as cautelas de es- e 'Comércio SI A, Moageira e
tilo. Agrícola, Carlos Guth SI A, Indú~­
2) Que a Secretaria renu~er~ o tria e Comércio, Moinho Tupy LI-
processo, mantendo-se o primeiro mitada e Irmãos Massaplan &
volume como está. eia., voltaram aos autos como li-
tisconsortes e contestaram o feito,
3) Após o cumprimento do pre- juntando os documentos de fls. 9041
sente despacho, voltem conclusos. 1.005.
26 TFR - 99

Contestaram o feito, ainda, as estabelecida pela Portaria n?


empresas Moinho Fanucchi, Com- 1.471167 da SUNAB, sobre a capaci-
panhia Brasileira de Moagem, dade de 1.401 toneladas e não sobre a
Dias Martins SI A Mercantil e In- que constou nessa Portaria,
dústrial, Moinho Curitibano SI A, deferindo-se à autora, afinal, a capa-
Moinho Progresso SI A, SI A Moi- cidade declarada pela própria ré no
nho Santista - Indústrias Gerais, documento de fls. 328 que deverá
Pastifíc'io Selmi, Moinho Selmi Dei prevalecer como registro e homolo-
SI A. Indústria e Comércio, Moinho gação. Excluo da condenação o pedi-
São Luiz Ltda. Júlio Flenik & Cia. do referente a perdas e danos, dado
Ltda., Cerealista Guairacá Ltda., que estes, se ocorreram, não o fo-
Moinho Ji.mdiaí SI A., Moinho Gra- ram comprovados neste feito. Conde-
ciosa SI A, Moinho Cordélia Ltda., no, em conseqüência, a ré e os litis-
Indústria e Comércio Kunz SI A, consortes passivos nas custas do
Carlos Weis & Cia. Ltda. (fls. 1.141, processo e honorários advocatícios
1.l49, 1.032/1.068, 1.l50 e 1.l67). O que os arbitro em 20% sobre o valor
Moinho Fanucchi, Cia. Brasileira da causa». Determinou-se, ainda,
de Moagem, Dias Martins SI A, por fim, a remessa dos autos ao
Mercantil e Industrial, Moinho Juízo ad quem.
Curitibano SI A, e Moinho Progres-
so SI A, ofereceram reconvenção às Apelaram os litisconsortes passi-
fls. 1.148, pedindo que a autora lhes vos. Moinho Fanucchi e outros, com
devolvesse o valor do trigo que re- suas razões, às fls. 1.477/1.494, plei-
cebeu durante o tempo que preva- teándo a reforma da r. decisão, para
leceu a segurança concedida pelo que seja proclamada a nulidade do
Egrégio Tribunal Federal de Re- feito porque o autor não foi intimado
cursos. A autora não foi intimada a acerca da reconvenção; no mérito,
falar sobre a reconvenção. As par- sustentam a improcedência da ação,
tes trouxeram aos autos novos do- pedindo seja julgada procedente a
cumentos, e a audiência se reali- reconvenção manifestada. Também
zou às fls. 1.307/1.313, com a ouvida recorreu Moinho Graciosa SI A, às
de quatro testemunhas da autora. fls. 1.496/1.512, pedindo a reforma da
A ré e os litisconsortes não produ- sentença, pleiteando a improcedên-
ziram prova em audiência. Aberto cia da inicial e a procedência da re-
o quarto volume, foram juntados convenção: (lê). SI A. Moinho Santis-
os memoriais referidos em audiên- ta - Indústrias Gerais e outras, às
cia. O memorial da ré está às fls. fls. 1.515/1.546, com os documentos
1.315/1.329. O da autora, às fls. de fls. 1.547/í.671, à sua vez, ape-
1.331/1.348. Os dos litisconsortes es- lam, invocando desconformidade da
tão, respectivamente, às fls. sentença com decisões do STF sobre
1.350/1.368, 1.370/1.408/1.418/1.4201 a matéria e pedindo a improcedên-
1.431. As partes desenvolvem os ar- cia da ação. Também, Moinho da
gumentos inicialmente debatidos, Lapa SI A e outros, às fls.
acrescentando comentários às pro- 1.674/1.692, e Moinho Jundiaí SI A e
vas ao longo da instrução.» outros, às fls. 1.695/1.711, e ainda a
A sentença, de fls. 1.448/1.474, jul- SUN AB (fls. 1. 7221 1. 734) , recorre-
gou procedente, em parte, a ação, ram, pleiteando a improcedência da
para reconhecer o direito da autora ação: (lê).
à sua capacidade de moagem homo-
logada pelo documento de fI. 52, com O autor, a seu turno, Moinho
o direito conseqüente da liberação de Pacífico SI A, com razões, às fls.
máquinas ociosas na percentagem 1.71411.719, recorre da parte da sen-
TFR - 99 27

tença que lhe negou indenização por Decreto-Lei n? 210/67, invocando,


perdas e danos, vindicando a proce- outrossim, como apoio de sua pre-
dência integral do pedido: (lê). tensão, na hipótese de não se dar pe-
Contra-arrazoaram Moinho da la nulidade argüida, prova física
Lapa S/ A. e outros, às fls. que procedeu, sob os critérios. da
1.736/1.737; Moinho Jundiaí S/A. e mencionada Portaria Super n? 137/67,
outros, às fls. 1.740/1.744; Moinho em vistoria ad perpetuam rei
Graciosa S/A., às fls. 1.746/1.750; SU- memorlam, em maio de 1968.
NAB, às fls. 1.753/1.755, e ainda o A demanda fora, antes, deduzida
Moinho Pacífico S/ A., às fls. em mandado de segurança, indeferi-
1.758/1.766, quanto ao apelo da SU- do em primeiro grau (fls. 113/119),
NAB, e às fls. 1.769/1.783, com os concedido por maioria de votos, pela
documentos de fls. 1.784/1.806, refe- colenda 3~ Turma desta Corte (AMS
rente mente ao apelo dos litisconsor- n? 63.280 - GB), a 24-2-1969, e cassa-
tes: (lê). da, afinal, a segurança, no Egrégio
A douta Subprocuradoria-Geral da Supremó Tribunal Federal, no julga-
República, em parecer de fls. mento do Recurso Extraordinário n?
1.810/1.811, na qualidade' de assisten- 70.800, a 30-9-1971, em aresto de que
te da SUNAB, opinou no sentido do Relator o ilustre Ministro Thompson
provimento do apelo da Autarquia, Flores, assim ementa do (fls.
jUlgando-se improcedente a ação: 1.615/1.616) :
(lê>.
«Mandado de Segurança.
É o relatório.
I - Fixação das cotas de trigo
dos moinhos. Revisão com base no
VOTO Decreto-Lei n? 210, de 27-2-1967, e
sua regUlamentação através da
O Sr. Ministro José Néri da Portaria n? 137, de 7-3-1967. Prova
Silveira (Relator): - Aforou o Moinho física para sua apuração.
Pacífico S/ A a presente ação ordi-
nária, a 3 de novembro de 1971, con- 11 - Legitimidade do Ministério
tra a SUNAB, «para o fim de ser re- Público para interposição de recur-
conhecido o direito do suplicante à so extraordinário, porque interessa-
sua anterior cota de 1.401 toneladas da a União Federal e, ademais,
por 24 horas, com a liberação de 40% frente à expressa dispOSição da Lei
de suas máquinas ociosas e a conse- n? 1.341/51, art. 38, n?s V e VI.
qüente homologação definitiva de IH - Decisão concessiva de
sua capacidade de moagem de 840 mandado de segurança. Ainda que
toneladas por 24 horas, conforme já obtida por maioria de votos, não
o declarou a SUNAB, em ato recente enseja a oposição de embargos in-
de 5 de janeiro de 1971», pleiteando, fringentes. Aplicação do art. 20 da
ainda, perdas e danos «para o perío- Lei n? 1.533/51. Súmula n? 294.
do em que o suplicante ficar sem sua Precedentes do Supremo Tribunal
cota, caso a SUNAB venha a dminuí- Federal não in firmados com o jul-
la após a cassação da segurança, gamento do RE n? 68.947 que admi-
;lerdas e danos que abrangerão des- tiu, na ação em questão, o recurso
de os prejuízos comerciais do supli- de revista. Motivação.
cante até os trabalhistas decorrentes
da diminuição de sua capacidade IV - Cotas de trigo. Sua fixação
operacional». Sustenta a nulidade da está SUjeita à revisão, na forma da
Portaria n? 137/67 da SUNAB, nos lei, o que afasta a existência de di-
pontos em que derrogou critérios do reito adquirido à sua instabilidade.
28 TFR - 99

v - Prova física. Atendo-se o re- 60 dias após a pUblicaçáo deste


gulamento estabelecido pela pró- decreto-lei e deverá realizar-se no
pria lei, às lindes por ela esta- decurso do ano de 1967.
tuídas, merece atendido, por isso § 2? - Será considerada como
aplicável o artigo 2L1, b, n? 2, da unidade moageira ajustada às dis-
Portaria n? 137, emergente do art. posições deste decreto-lei aquela
15 e seus parágrafos do Decreto- que moer, em média, por hora,
Lei n? 210. 1/24 (vinte e quatro avos) da capa-
VI - Se a prova física procedida cidade diária de moagem registra-
pela SUNAB concluiu que era mis- da na SUNAB na data de sua publi-
ter reduzir a cota que estava rece- cação, prOduzindo farinhas e
bendo o recorrido e, sendo comple- resíduos nas proporções de 78%
xos os fatos em que se funda ele (setenta e oito por cento) e 22%
para ver restabelecida a cota pri- (vinte e dois por cento), respecti-
mitiva, inidôneo é o mandado de vamente.
segurança para o fim pretendido. § 3? .- O moinho que não alcan-
VII - Negativa de vigência, es- çar o nível de produção descrito no
pecialmente do art. 1? da Lei n? parágrafo anterior terá a capaci-
1.533/51, verificada. dade de moagem reduzida para o
Dissídio, nesse passo, comprova- equivalente ao produto da multipli-
do. cação da quantidade média moída
Recurso conhecido e provido». uma hora por 24 (vinte e quatro).
Em seu douto voto, no mérito, ao § 4? - Se a quantidade de fari-
conhecer do apelo extremo e provê- nha produzida não atingir ao per-
lo, o eminente Ministro Thompson centual de 78% (setenta e oito por
Flores destacou (fls. 1.588/1.597), cento) de que trata o § 2? deste ar-
verbis: tigo, o moinho terá sua capacidade
de moagem reduzida de percentual
«O recorrido, quando adveio o igual à diferença apurada.
Decreto-Lei n? 210/1967, recebido
cota de trigo, segundo seu regisfro § 5? - Se os resultados da prova
no Ministério da Agricultura, cor- física de moagem foram superio-
respondente a sua capacidade ali res à capacidade registrada na da-
inscrita, como de 1.401 toneladas ta da publicação deste decreto-lei,
por 24 horas. ainda assim o moinho vistoriado
Todavia, impunha a nova legisla- não terá direito ao aumento des-
ção que cabia à SUNAB proceder ta.»
à revisão dessa capacidade, pelas Regulando a matéria, como lhe
razões sobejamente conhecidas, determinava a lei, expedida foi a
que norteavam a nova política di- Portaria n? 137, de 7 de março se-
tada com alusão ao trigo. guinte.
Por isso, estatuiu aquele diplo- E, dispondo sobre a referida pro-
ma, art. 15 e §§: va física, estatuiu em seu art. 24:
«Art. 15 - A capacidade real de «Art. 24 - Na revisão de que tra-
moagem de todos os moinhos será ta o art. 10, desta Portaria, a capa-
aferida mediante prova física cujo cidade real de moagem será feita
regulamento será estabelecido pela através de prova física em que se-
SUNAB. rão observadas as segUintes nor-
§ 1? - A revisão geral de que mas técnicas:
trata este artigo terá início até
TFR - 99 29

b) - Instalações. 137, de 1967, pela qual determinou


que a aferição da capacidade dos
Moinhos deveria ser feita por via
2) - todas as seções de moinhos de prova física, na totalidade das
funcionarão simultaneamente com instalações.
os respectivos equipamentos com-
pletos e instalados. Quanto ao Moinho impetrante -
embora a sua capacidade indepen-
desse de qualquer nova prova físi-
c) - Normas de procedimento. ca, eis que já estava homologada
em 1.401 toneladas por 24 horas -
3) - desde o início, até o fim da a prova física posteriormente exi-
prova: o moinho deverá estar fun- gida destinava-se a uma nova afe-
cionando em plena carga.» rição para liberar máqUinas por-
Realizaram-se provas, e não lo- ventura ociosas. Para isso, o impe-
grou o recorrido ver mantida sua trante pôs em condições de perfei-
capacidade de registro e, por isso, to funcionamento toda a capacida-
teve sua cota reduzida. de registrada. Aconteceu, porém,
que a SUNAB, ao arrepio do que
Procura ele invocar direito ad- prescrevia o Decreto-Lei n? 210, re-
quirido à cota primitiva; que a exi- solveu exigir, pela citada Portaria
gência regulamentar, no que alude n? 137, que a prova física do Moi-
à forma de aferir a capacidade, nho se fizesse simultaneamente em
transcendeu da lei, quando impôs a todas as unidades. Ora, como está
simultaneidade do funcionamento demonstrado nos autos, o Moinho
de todo o eqUipamento industrial; e impetrante, que é composto de sete
ainda, que motivo de força maior, secções, no dia da prova física não
qual seja, a falta de energia elétri- pôde ter em funcionamento simul-
ca obstou que fizesse a prova como tâneo todas as suas secções, por
lhe era exigida. falta de energia elétrica, conforme
Para conceder a segurança, foi mencionado antes, o que ocor-
fundamentou o ilustre Relator seu reu por circunstâncias inteiramen-
voto, no que considera substancial, te alheias à vontade da impetran-
fls. 428/30: te.
«Realmente, houve flagrante Assim, tornou-se evidente a ile-
ofensa a direito líquido e certo de galidade da exigência da SUNAB
Moinho impetrante, conforme de- que confundiu o funcionamento
monstrado na inicial, com apoio conjunto das máqUinas componen-
em documentação que a instruiu. tes de um determinado diagrama
com o funcionamento simultâneo
A verdade é que o Moinho impe- de todas as secções. Além do mais,
trante se submetera às exigências essa simultaneidade, que não fora
do sistema oficial, mantendo, para exigida no Decreto-Lei n? 210, não
tanto, unidades moageiras de mo- pOderia constar de qualquer Porta-
derno nível técnico, após o que ob- ria.
teve a necessária homologação de
uma quota de 1.401 toneladas por O que é verdade, porém, e que
24 horas. Ocorreu, porém, que ten- ante o comportamento errôneo da
do sido a SUNAB encarregada de autarquia impetrada na vistoria
fazer a aplicação da política gover- parcial que foi feita, cuidou o Moi-
namental, relativa à moagem de nho impetrante de realizar uma
milho, constante do Decreto-Lei n? «vistoria judicial» na qual teve a
210, de 27-2-67, baixou a Portaria n? cautela de arrolar, como testemu-
30 TFR - 99

nhas da diligência, os próprios fun- noch Reis, procurando mostrar que


cionários que integraram a Comis- diversos das espécies eram os ca-
são Revisora da SUNAB. Essa vis- sos invocados pelo relator; e, por
toria foi realizada com todos os éu- isso, originaram decisões diferen-
remas legais, verificando-se qué o tes, sem aplicação, pois. à hipótese
respectivo laudo, constante dos au- em jUlgamento.
tos, concluiu pela afirmação de 4. Verifica-se, assim, que o man-
que o Moinho agravado tem capa- dado resultou concedido, porque
cidade para moagem de 1.500,8 to- não poderia prevalecer a perícia
neladas por 24 horas, isto é, acima feita com base em regulamento
da anterior capacidade registrada que desatendeu à lei; e mais, que
e homologada que era de 1.401 to- prova outra, vistoria ad perpe-
neladas. Vale salientar que esse tuam rei memoriam, atestou a real
laudo foi unânime, pois está assi- capacidade do moinho, em conso-
nado inclusive pelo perito da pró- nância com o seu registro.
pria SUNAB.
Certo que, em assim procedendo,
Vê-se, portanto, que o digno Juiz a um só tempo negou o decisório
Federal, após bem examinar a ma- aplicação às normas antes reme-
téria, concedeu acertadamente a moradas.
segurança.
De fato.
Convém aqui lembrar que a pre-
sente hipótese é precisamente Direito adquirido havia com base
idêntica à que já foi nesta 3~ Tur- na cota registrada até que, como
ma apreciada em relação ao Moi- determinava a lei, outro coeficien-
nho Paulista Ltda, no Agravo n? te não resultasse apurado, como,
63.746, de que foi Relator o eminen- de resto, já era da legislação ante-
te Sr. Ministro Henoch Reis, quan- rior (Decreto n? 47.491/59, art. 9?l
do se deu ganho de causa àquele não havendo como dar dita cota
referido moinho, em decisão unâni- como imutável, segundo reconhe-
me, na sessão de 16 de dezembro ceu esta própria Corte em caso se-
do ano passado. melhante, nesse passo, o MS n?
9.077, do qual foi Relator o eminen-
Por outro lado, também em rela- te Ministro Gonçalves de Oliveira,
ção ao mesmo caso do Moinho em 24-1-62, cUja ementa dispõe: «A
Paulista Ltda., teve o nosso Tribu- distribuição de quotas de trigo aos
nal Pleno ocasião de apreciar, em moinhos está sujeita a revisões pe-
sessão de 21 de novembro do ano riódicas, na forma estabelecida em
findo, um agravo do art. 45 do Re- regulamento.» (RDA, voI. 69, pág.
gimento Interno, na Suspensão de 246).
Segurança n? 4.841, de que foi Re-
lator o eminente Sr. Ministro J. J. A revisão, assim, já era da legis-
Moreira Rabello, decidindo-se, en- lação primitiva, e a ela estava su-
tão, em favor do moinho agravan- jeito o recorrido, o que bem mos-
te, em virtude da prova existente tra que sua capacidade estaria
quanto à capacidade de moagem sempre subordinada à revisão.
exigida pela SUNAB, segundo vis- Dessa orientação não dissentiu o
toria ad perpetuam rei memoriam Decreto-Lei n? 210/67, e, dentro
que aquele citado moinho realiza- dele, situou-se a régulamentação,
ra, e já antes referida.» como lhe autorizava a própria lei,
Foi acompanhado pelo eminente e através do Orgão por ela precisa-
Ministro Cunha Melo. De ambos do, pois assim se deve considerar o
dissentiu o eminente Ministro He- poder regulamentador.
TFR - 99 31

Vale aqui a lição de Hely Lopes deduzidas da tribuna e dos alenta-


Melrelles - «Direito Administrati- dos memoriais oferecidos pelo re-
vo,» pág. 188: corrido.
«O regulamento, embora não 5. Em conclusão, rejeito as pre-
possa modificar a lei, tem a mis- judiciais e, conhecendo do recurso
são de explicá-la e de prover sobre em ambos os casos, dou provimen-
minúcias não abrangidas pela nor- to a cada um, para cassar a segu-
ma geral editada pelo Legislativo. rança concedida.»
Daí a oportuna observação de Me-
deiros Silva, de que «a função do Examinando a controvérsia, à sua
regulamento não é reproduzir, vez, o Ilustre Ministro Amaral San-
copiando-os literalmente, os ter- tos, após transcrever também parte
mos da lei. Seria um ato Inútil se do pronunciamento do Sr. Ministro
assim fosse entendido. Deve, ao Esdras Guelras, anotou que «A ques-
contrário, evidenciar e tornar tão sobre se o ato regUlamentador
explícito tudo aquilo que a lei en- da lei pode se extravasar dos limites
cerra. desta, resolvida pela negativa e no
Assim, se uma faculdade ou atri- caso, pela ilegalidade da Portaria, a
buição está implícita no texto le- meu ver é incensurável» (fls. 1.603),
gal, o regulamento não exorbitará, sinal ando adiante, que, <<liaS termos
se lhe der forma articulada e da Lei (Decreto-Lei n? 210), os crité-
explícita.» rios para a verificação da prova físi-
ca são os dos §§ 2? a 5?, do art. 15»
A exigência, pois, ateve-se à le·· (fls. 1.605). Noutro passo, observou
gal regulamentação. (fls. 1.606): «Se são esses os critérios
E só assim poderia, em verdade, que devem presidir a prova física,
ser provada a real capacidade do não vejo como neles se incluir a afe-
recorrido. rição da capacidade real de moagem
de um moinho pelo funcionamento
E por ela a redução de forneci- simultâneo de todas as suas secções
mento se fez. por três horas. A simultaneidade
Afastá-la para admitir prova ou- nasceu da Portaria, desatenta aos
tra e estranha à por lei exigida, co- critérios previstos na lei, exatamen-
mo acentuou o ilustre Ministro te no art. 15 e seus parágrafos, a que
Amarílio Benjamim ao admitir os a recorrente argÚi, ter sido negado
recursos, e mais, em vistoria pos- vigência. Ao contrário, o que o acór-
terior, e ainda, com precária docu- dão fez foi exatamente reconhecer a
mentação, dissentindo daquela, a vigência do art. 15 e seus parágrafos
toda evidência, afrontados foram o e considerar ilegal uma Portaria que
preceito do citado Decreto-Lei n? por ele se não pautara, pois acres-
210, em combinação com o Regula- centara um outro critério, o da si-
mento e, bem assim, o do art. I?, multaneidade, durante três horas de
da Lei n? 1.533/1951. movimentação de todas as secções
do moinho e, pois, daquelas que a
Este, com o sentido qu~ lhe atri- priori excediam da sua capacidade,
buem os julgados padrões indica- isto é, eram ociosas.»
dos, os quais, inclusive os desta
Corte, impõem para o uso do man- Quanto ao outro fundamento do
dado de segurança a certeza dos aresto então recorrido do TFR, após
fatos, o que, a toda evidência, ino- discorrer sobre a situação do moi-
corre na espécie, com base nos ele- nho, ora autor, proclamou o ilustre
mentos informativos constantes Ministro Amaral Santos (fls.
dos autos, e das próprias razões 1.607/1.608): «Mas o que não há dúvi-
32 TFR - 99

da é que as circunstâncias, que im- corrida,» embora a homologação da


pediram o fornecimento de energia capacidade moageira comunicada
suficiente para as quatro secções oficialmente ao ora autor, pela SU-
ociosas, corresponderam a colocar a NAB, a 12-10-1964 (fls. 142).
impetrante na impossibilidade mate- E concluiu seu douto pronuncia-
rial de funcionamento simultâneo de mento, nestes termos (fls. 1.612):
todas as unidades da fábrica, face à
insuficiência de energia elétrica «8. Em face do exposto, pedindo
ocorrida, independentemente de con- escusas pela extensão do voto, co-
trole da recorrida. Sustentar diver- nheço do recurso em parte e lhe
samente seria exigir-se o reexame dou provimento em parte, para re-
de provas. E não sendo este um re- duzir a segurança concedida à sim-
curso ordinário, mas sim extraordi- ples renovação da prova física pela
nário, tal reexame não é admitido SUNAB, respeitados os dispositivos
por pacífica jurisprudência do Tribu- do art. 15, §§ 2?, 3?, 4? e 5? do
nal (Súmula n? 279).» Decreto-Lei n? 210 de 1967,»
Dessa maneira, à «vistoria judi-
Já, entretanto, quanto à «vistoria cial» não conferiu, também, o Sr.
judicial» levada em conta no acór- Ministro Amaral Santos eficácia pro-
dão recorrido do TFR, como prova batória decisiva, no âmbito do man-
de a capacidade de moagem do Moi- dado de segurança, eis que trazida
nho Pacífico S.A. superar a anterior- aos autos, após as informações.
mente registrada, anotou o eminente Por sua vez, o ilustre Ministro
processualista, Ministro Amaral Djaci Falcão (fls. 1.613) teve em
Santos: «Não há dúvida que essa conta a complexidade da matéria,
prova, trazida aos autos posterior- envolvendo fatos controvertidos. Daí
mente às informações, não serve de também entender que «o mandado
supedâneo à segurança. Vê-se, po- de segurança era inidôneo para o
rém, que a decisão impugnada não deslinde da questão, ressalvado, é
lhe emprestou caráter de fundamen- evidente, o socorro à via ordinária.»
to ao dispositivo da mesma, mas tão-
só se valeu da aludida vistoria para Da análise, portanto, dos votos no
demonstrar materialmente que o Recurso Extraordinário n? 70.800,
comportamento da impetrada não ti- penso que não cabe asseverar que as
nha desculpa. Por outras palavras, questões fundamentais discutidas
se pelos demais fundamentos do nestes autos tenham sido deslinda-
acórdão, indubitável era o direito das definitivamente no jUlgamento
líquido e certo da impetrante, ainda do Alto Tribunal, a 30 de setembro
mais havia o argumento de que os de 1971.
cálculos da SUNAB, quanto à poten- Passo, assim, a examinar os as-
cialidade da recorrida, tinham base pectos de direito e de fato postos nos
errônea. Com isso, com acrescentar autos.
esse argumento, e não fundamento
da decisão, esta nada mais fez do O Decreto-Lei n? 210, de 27-2-1967,
que confortar-se desde logo com a que estabeleceu normas para o abas-
justiça da decisão» (fls. 1.608). Após tecimento de trigo, sua industrializa-
outras considerações, em torno do ção e comercialização, dando outras
fundamento do recurso extraordiná- providências, conferindo-se à SU-
rio, como também interposto por NAB atribuições amplas para traçar
dissídio pretoriano, afirmou, entre- normas de comercialização (art. 2?),
tanto, o Sr. Ministro Amaral Santos: definir a cota anual complementar
«Todavia reconheço que princípio de importação do trigo (art. 1?), dis-
adquirido não existe em favor da re- ciplinar os estoques reguladores
TFR - 99 33

(art. 5?, § 3?), determinar mistura, se possua atividade técnico-industrial


necessária, à farinha de trigo de autônoma aplicada na industrializa-
quaisquer outras farinhas panificá- ção de trigo em grão», proibiU o
veis (art. 6?), fixar, ao inicio de cada Decreto-Lei n? 210/1967, expressa-
ano, as quantidades básicas de trigo mente, em seu art. 13, a concessão
para as oito zonas de consumo pre- de autorização para a instalação de
vistas no art. 7?, «podendo redistri- novos moinhos e para aumento das
buir, entre as demais, durante o capacidades já existentes e registra-
período e se assim o impuserem as das, ou aquelas que vierem a ser fi-
necessidades do abastecimento, a~ xadas após a revisão prevista no art.
quantidades que eventualmente uma 15 e observada a norma do art. 16»,
ou mais zonas não venham a absor- embora restasse autorizada a SU-
ver» (art. 8?) rateando, antes de pro- NAB, ex vi do art. 18, a permitir des-
cedida a revisão geral do parque membramentos, incorporações e
moageiro do País, de que trata o ar- transferências de moinhos, desde
tigo 15, as quantidades de trigo desti- que, em qualquer dos casos, se o pe-
nadas ao consumo, dentro de cada dido envolver mudança de zona con-
zona, entre os moinhos ali instalados sumidora, atendidos reqUisitos que
e em funcionamento, proporcional- se prevêem no dito dispositivo e em
mente às respectivas capacidades seu parágrafO único, quanto às hipó-
mecânicas de moagem devidamente teses de desmembramentos.
homologadas e constantes dos regis-
tros existentes na SUNAB, na data De outra parte, a teor dos arts. 14,
da publicação do referido decreto-lei 19 e 23 do diploma em referência, os
(art. 9?) devendo, após ultimada a moinhos poderão ter canceladas au-
revisão em foco, distribuir-se o trigo tomaticamente as concessões então
destinado ao consumo, segundo existentes, contrárias aos termos do
os critérios do art. 10. Precisando, art. 13, bem como ser vistoriados pela
ainda, outros aspectos da políti- SUNAB, «sempre que julgar opórtu-
ca intervencionista do Estado no no e conveniente», e ainda ficar
campo da distribuição e industriali- passíveis das seguintes penalidades:
zação do trigo, o art. 11 do Decre- a) suspensão do fornecimento de tri-
to-Lei n? 210/1967 vedou opera- go, conforme regulamento que será
ções de revenda, cessão, permuta e estabelecido pela SUNAB, «se houve-
transferência de trigo em grão for- rem transgredido as normas regula-
necido peló Governo aos moinhos, doras da comerCialização e indus-
estipulãndo~se, de expresso, no pará- trialização do trigo», e b) cancela-
grafo único do art. 11 que «a adjudi- mento de registro se, «se apropria-
cação do trigo implica a obrigatorie- rem indebitamente do trigo perten-
dade de sua industrialização pelo cente ao Governo Federal» ou «se
moinho a que o mesmo for atribuído, permanecerem inativos, comprova-
exceto nos casos de incorporação de damente, por mais de doze (12) me-
uma ou mais unidades moageiras, ses».
dentro da mesma zona consumidora,
por períodos e critérios que a SU- Estabelecendo, de outro lado, que
NAB estabelecerá.» as quantidades de trigo destinadas
ao consumo, dentro de cada zona, se-
Após conceituar, para os efeitos de rão rateadas entre os moinhos nela
sua aplicação, no art. 12, como moi- existentes e em funcionamento, pro-
nho, «a unidade moageira detentora porcionalmente às respectivas capa-
de registro da SUNAB, com capaci- cidades de moagem, o Decreto-Lei
dade de moagem reconhecida e ho- n? 210, em seu art. 15 e parágrafos,
mologada por aquele órgão e que diSpôs:
34 TFR - 99

«Art. 15. A capacidade real de nhos, de tal modo que essa liberação
moagem de todos os moinhos será não importe em reduzir a capacida-
aferida mediante prova física cUjo de real de moagem do parque moa-
regulamento será estabelecido pela geiro nacional, em seu conjunto, a
SUNAB. nível inferior a 5.000.000 (cinco mi-
lhões) de toneladas métricas de trigo
§ I? A revisão geral de que tra- anuais», servindo, outrossim, o per-
ta este artigo terá início até 60 centual «para fixação da capacidade
(sessenta) dias após a pUblicação definitiva de moagem dos moinhos a
deste Decreto-Lei e deverá rea- qual passará a constar e a prevale-
lizar-se no decurso do ano de 1967. cer nos respectivos registros existen-
tes na SUNAB», sendo as máquinas
§ 2? Será considerada como uni- liberadas em razão dessas disposi-
dade moageira ajustada às disposi- ções consideradas definitivamente
ções deste decreto-lei. aquela que desvinculadas da indústria tritícea,
moer em média, por hora, 1/24 exceto quando se destinarem à re-
(vinte e quatro avos) da capacida- composição das instalações indus-
de diária de moagem registrada na triais de moinhos devidamente regis-
SUNAB na data de sua publicação, trados na SUNAB (§§ I? e 2? do art.
produzindo farinhas e resíduos nas 16).
proporções de 78% (setenta e oito
por cento) e 22% (vinte e dois por Diante das disposições do Decreto-
cento), respectivamente. Lei n? 210/1967, que conferiram à
§ 3? O moinho que não alcançar
SUNAB, de forma ampla, atribui-
o nível de produção descrito no pa- ções para a disciplina desses diver-
rágrafo anterior terá a capacidade sos aspectos da política intervencio-
de moagem reduzida para o equi- nista do Estado no que concerne ao
valente ao produto da multiplica- trigo, penso que a disciplina constan-
ção da quantidade média moída te da Portaria n? 137, não se pode ter
em uma hora por 24 (vinte e qua- como ilegítima. Senão, vejamos.
tro) . Cumpre entender, desde logo, em
face do regime objetivo de inter-
§ 4? Se a quantidade de farinhas venção estatal, que não há, em
produzidas não atingir ao percen- princípio, direito de quem obtém de-
tual de 78% (setenta e oito por cen- terminada forma de concessão a não
to) de que trata o § 2? deste artigo, ver modificado o sistema de regên-
o moinho terá sua capacidade de cia. Tal ocorre com os serviços con-
moagem reduzida de percentual cedidos.
igual à diferença apurada.
§ 5? Se os resultados da prova
Assim se dá em matéria de ativi-
física de moagem forem superiores dade econômica, lato sensu, sob in-
à capacidade registrada na data tervenção do Estado. No caso, o fato
da pUblicação deste decreto-lei ain- de existir situação anterior ao
da assim o moinho vistoriado não Decreto-Lei n? 210/1967, já registra-
terá direito ao aumento desta.» da e homologada pela SUNAB, quan-
to à capacidade de moagem dos moi-
Também, em conseqüência da re- nhos, não impedia, em princípio, dis-
visão cogitada no art. 15 referido, a ciplina diversa, sujeitando as unida-
nova disciplina legal previu, em seu des moageiras a sistema novo de re-
art. 16, que a SUNAB, efetuada a re- visão e controle de sua capacidade
visão, fixaria o percentual «em que real de operação, como afirmou o
considerará liberada parte do equi- STF, no RE n? 70.800, desde que ado-
pamento industrial ocioso dos moi- tada disciplina uniforme e processa-
TFR - 99 35

da a reVlsao segundo critérios ge- Mantém-se assim a sentença no


rais, ainda que daí pudesse advir di- ponto principal, da improcedência
minuição da quota de participação do pedido.
no rateio das quantidades de trigo
destinadas ao consumo. Não há di- Corrige-se apenas, e parcialmen-
reito adquirido a determinada quota te, a condenação em honorários,
de trigo a ser oposto à incidência do provendo-se em parte ao recurso
art. 15, do Decreto-Lei n? 210. dos réus.»
Nesse sentido, o TFR, dentre ou-
tras, afirmou na Apelação Cível n?
49.912 - DF, em aresto assim emen- De outro lado, à SUNAB foi confe-
tado: rida ampla competência para a dis-
Ciplina da revisão geral do parque
«Cotas de moagem de trigo dos moageiro do País prevista no art. 9?
moinhos. DisCiplina estabelecida do Decreto-Lei n? 210/1967, no que
pela administração pública. Fixa- concerne à aferição da capacidade
ção ou redução, de acordo com a real de moagem de todos os moi-
capacidade de cada estabelecimen- nhos, mediante prova física. As dis-
to, inexistência de direito adqUiri- posições dos §§ 2? e 3?, do art. 15, su-
do. Confirmação da sentença que so transcritos, não impediram esta-
julgou improcedente a ação de res- belecesse a SUNAB que a aferição
tabelecimento da cota anterior. seria proce:;;sada funcionando simul-
Provimento parcial ao recurso dos taneamente todas as seções do moi-
réus, sobre honorários de advoga- nho, durante três horas. O que pre-
do. viu o § 2? do artigo 15 foi apenas
O princípio assentado pela Lei n? considerar-se como unidade moagei-
1.522/51, de que é legítima a inter- ra ajustada às disposições do De-
venção do Estado no domínio eco- creto-Lei n? 210 aquela que moer,
nõmico, para assegurar a livre dis- em média, por hora 1/24 da capaci-
tribuição das mercadorias e servi- dade diária de moagem registrada
ços essenciais ao consumo, repele na SUNAB, na data de sua pUblica-
qualquer impugnação ao Decreto- ção. Ora, se a norma legal cogita de
Lei n? 210/67 e as providências média horária, isto significa que o
que, com o seu apoio, foram toma- processo de aferição deveria
das pela SUNAB, tendo por objeti- desenvolver-se por lapso de tempo
vo levantar a real capacidade dos superior a uma hora, a fim de
moinhos e, nessa base estabelecer apurar-se, ao término da prova, a
ou proceder à revisão da cota de média por hora de moagem. Tam-
moagem de trigo de cada empre- bém a exigência de todas as seções
sa. funcionarem, ao ensejo da aferição,
Dentro desse pensamento foi que não encontra óbice no Decreto-Lei n?
o Supremo Tribunal admitiu a re- 210. Certo é que, para este diploma
gularidade dos atos da SUNAB, no legal, consoante seu art. 12, unidade
cumprimento da disciplina sobre moageira é o moinho, como um todo,
as atividades tritícolas. e não cada seção operativa dele inte-
grante. Quando no § 2? do art. 15 há
Por outro lado, não se concebe alusão à unidade moageira, a refe-
direito adquirido à cota anterior- rência é ao moinho e não a cada
mente fixada. uma de suas secções. Dessa sorte,
Além disso, na espécie, a autora não vejo, na Portaria n? 137 da SU-
não conseguiu provar que a sua ca- NAB, ilegalidade quando se refere
pacidade de moagem corresponde ao funcionamento simultâneo das di-
à antiga cota. versas seções do mÓinho, às normas
36 TFR - 99

de procedimento e à apuração do re- proporções de 78% (setenta e oito


sultado, em dispondo, em seu art. 24, por cento) e 22% (vinte e dois por
verbis: cento) respectivamente;
«Art. 24. Na revisão de que tra- 2. o moinho que não alcançar o
ta o art. 10 desta Portaria, a capa- nível de produção descrito no pará-
cidade real de moagem será feita grafo anterior terá a capacidade
através de prova física em que se- de moagem reduzida para o equi-
rão observadas as seguintes nor- valente ao produto da multiplica-
mas técnicas: ção da quantidade média moída
em uma hora por 24 (vinte e qua-
tro »>.
«b) Instalações
Quanto a essas disposições, é ine-
2. Todas as seções de moinhos quívoco, já as considerou legitimas o
funcionarão simultaneamente com pretório Excelso, no julgamento,
os respectivos equipamentos com- não só dos Recursos Extraordinários
n~)s 70.800 e 71.424, de interesse do a.,
pletos e instalados.
nos termos antes comentados, mas
ainda dos Recursos Extraordinários
«C) Normas de procedimento n~'s 74.165 e 71.469, em junho e no-
vembro de 1972, respectivamente,
1. Inspeção prévia das instala- consoante se lê das cópias dos cor-
ções em confronto com os dados da respondentes acórdãos, de fls.
última medição existente nesta Su- 1547/1671.
perintendência para verificação Não posso, assim, data venta, aco-
das condições indispensáveis ao lher os fundamentos da sentença
processamento da vistoria; quando, às fls. 1.451 e seguintes, vê
2. . ............................ . ilegalidade na Portaria n? 137/1967,
da SUNAB, ao prever, na realização
3. desde o início até o fim da pro- da «prova fisica», devesse o moinho
va o moinho deverá estar funcio- fazer funcionarem simultaneamente
nando a plena carga; todas as seções.
4. a prova física terá início no Não cabe, à evidência, na espécie,
momento em que o representante invocar as normas dos arts. 18 e 19
do moinho .julgá-lo ajustado e terá do Decreto-Lei n~' 210, de 1967, para
a duração de três horas de fUljlclo- encontrar, aí, óbice à exigência da
namento ininterrupto para os moi- simultaneidade de funcionamento
nhos automáticos, com transporte das seções da unidade moageira
pneumático, ou mecânico, e de (moinho), ao ensejo da prova física
quatro horas para os moinhos não de que cogita o art. 15 do diploma re-
automáticos. também sem inter- ferido. E que, em realidade, no art.
rupção; 18 e seu parágrafo único, se trata de
d) Apuração de resultado. disciplina relativa a desmembra-
mentos, incorporações e transferên-
1. Será considerada como unida- cias de moinhos, não sendo de ex-
de moageira ajustada às disposi- trair da norma especial do parágra-
ções desta Portaria aquela que fo único do art. 18, ao preceituar que
moer, em média, por hora, 1/24 o desmembramento de moinhos só
(um inteiro e vinte e quatro avos) será admitido se «a parte a ser des-
da capacidade diária de moagem membrada e a que remanescer pos-
registrada nesta Superintendência, suírem, isoladamente, capacidade de
produzindo farinhas e resíduos nas moagem superior a 30 toneladas diá-
TFR - 99 37

rias, aferidas pela prova física insti- da SUNAB, em São Paulo, após a vi-
tuída neste decreto-lei», critério ge- gência do Decreto-Lei n? 210/67; e as
ral a ser seguido, quando da verifi- explicações detalhadas de um «ex-
cação da capacidade real de moa- pert» internacional em montagens
gem de todos os moinhos que, prece- de moinhos na Espanha, Alemanha,
dentemente já devería ter sido efe- Africa e América Latina. Todos são
tuada, tanto que, na parte final do unânimes em afirmar que o funcio-
parágrafo único do art. 18, se prevê namento conjunto, exigido pela regu-
a prévia fixação da capacidade defi- lamentação anterior, se referia às
nitiva de moagem de que trata o art. máqUinas componentes de um dia-
16. Também a regra do art. 19, res- grama de moagem. E que este for-
peitando a vistoria que a SUNAB ma uma única seção. Os técnicos de-
entenda por oportuTlO e conveniente monstraram que os moinhos pOdem
realizar nos moinhos, quando então ter uma única seção e, portanto, um
utilizará a mesma prova física, não único diagrama de moagem. Mas
significa definição de critérios exclu- tendo mais de uma seção, cada uma
sivos para dita prova, ao estipular delas terá seu diagrama próprio,
que serão aplicados os descritos nos com suas próprias máqUinas. Este
parágrafos 2?, 3?, 4? e 5? do art. 15; conjunto é uma seção que pode ter
do contrário, seria ter-se por esva- características inteiramente distin-
ziado o conteúdo da norma do art. tas das demais, inclusive pelas dife-
15, caput, que deferiu à SUNAB esta- rentes qualidades de trigo moído e
belecer a disciplina da mencionada pelas diferentes qualidades de fari-
«prova física». Ademais disso, qual nha produzida. «As seções funcio-
antes sinalei, a simultaneidade de nam independentes umas das outras
funcionamento das diversas seções e, no Brasil, por ser grande a capa-
da unidade moageira, durante lapso cidade ociosa das indústrias, os moi-
de três horas, não está em conflito nhos funcionam apenas com parte de
com as normas dos §§ 2?, 3? e 4? do suas seções que são utilizadas alter-
art. 15 predito. nativamente, «isto é, quando uma
das seções sofre qualquer desarranjo,
Nem é, outrossim, a meu pensar, o moinho utiliza-se de outra (fI. 492).
de acolher-se fundamentação basea- ImpreSSiona o esclarecimento técni-
da em depoimentos de testemunhas co (fI. 492) sobre o fato de que a li-
ou mesmo técnicos, por mais respei- berdade da capacidade ociosa, esta
táveis que sejam, a propósito da re- deve recair sobre seções autônomas,
gUlamentação da matéria, na vigên- com todas as suas instalações, inclu-
cia do Decreto n? 47.491/1959, para sive elétrica». Não obstante essas
afirmar a ilegalidade da explícita observações. que poderiam proceder
determinação do art. 24, b, n? 2, da no regime anterior, com o advento
Portaria n? 137/1967, que o colendo do Decreto-Lei n? 210, em seu art. 12,
Supremo Tribunal Federal já teve ao moinho, como um todo, é que se
ensejo de reconhecer como aplicável denominou unidade moageira, sendo
à prova física do art. 15 do Decreto- a essa unidade que se refere o pará-
Lei n? 210/1967. Com efeito, na deci- grafO 2? do art. 15. No § 3? do mesmo
são recorrida, o ilustre magistrado artigo, outrossim, sem margem a
de primeiro grau, às fls. 1.453/1.454, qualquer dúvida, o diploma legal em
observou: «Temos aí o depoimento referência assentou: «O moinho que
de um técnico responsável pela revi- não alcançar o nível de prOdução
são dos moinhos antes do Decreto- descrito no parágrafo anterior terá a
Lei n? 210/67, isto é, na vigência do capacidade de moagem reduzida pa-
Decreto n? 47.491/59; o testemunho ra o equivalente ao produto da multi-
do Presidente da Comissão Revisora plicação da quantidade média moída
38 TFR - 99

em uma hora por 24 (vinte e qua- no dispositivo. Releva conotar, de


tro)>>. Não há, pois, a meu ver, data outra parte, que, na cóndição de au-
venia, apoio no Decreto-Lei n? tarquia, se reconhece, na ordem
210/1967, para asseverar que unidade jurídica, à SUNAB criar normas
moageira é cada uma das seções do jurídicas, isto é, dispOSições de cará-
moinho e assim aferida há de ser a ter geral, abstrato e imperativo, des-
capacidade de moagem de cada se- de que, consoante o princípio da hie-
ção e não de todas as componentes rarquia das normas, não ultrapas-
do estabelecimento moageiro. sem os comandos contidos na lei.
Ademais, a impropriedade de técni-
Também Ja analisei atrás a ca legiSlativa não poderia ter a con-
questio referente ao tempo de dura- seqüência de tornar sem conteúdo a
ção da prova física, não podendo, regra legal do art. 15 citado. Aliás, o
por igual, adotar a conclusão da sen- STF já afastou qualquer debate nes-
tença, quando viu ilegalidade da te particular, em reconhecendo a le-
Portaria n? 137/1967, da SUNAB, ao gitimidade dessa disciplina editada
exigir moagem simultânea em todas pela SUNAB, o que, por si só, basta-
as seções e a prova física por três ria a não se considerar esse funda-
horas (fl. 1.456). mento da sentença.
Do mesmo modo, não é de acolher Ganha, entretanto, particular im-
o fundamento da sentença, ao ter co- portância, no desate da controvérsia,
mo «nulidade maior» (sic) a circuns- outra questão. A prova física, no
tância de Portaria haver regulamen- moinho autor, não se efetuou com o
tado a lei, o que considera inad- funcionamento simultâneo das sete
missível, em face da privativa com- seções nele existentes, mas, apenas,
petência do Presidente da República de três delas, e isso por deficiência
para baixar regulamentos. Em reali- de energia elétrica.
dade, cumpre visualizar a controvér- O Dr. Juiz Federal a quo exami-
sia, menos pelo nomen juris do ins- nou este aspecto da demanda, às fls.
trumento administrativo adotado e 1.468/1.474, nestes termos:
mais pela espécie da competência
atribuída pela lei ao ente autárquico «No caso dos autos, porém, a
encarregado de proceder à interven- questão de simultaneidade perde
ção do Estado nessa área do domínio relevo porque, mesmo considerada
econômico, o que a Constituição, no licita, não foi observada no moinho
art. 163, faculta seja realizado, me- da autora. A ré desrespeitou sua
diante lei federal, dessa natureza se própria portaria ao efetuar a prova
revestindo o Decreto-Lei n? 210/1967. física no moinho da autora, tendo
Com efeito, o art. 15 do diploma le- colocado em funcionamento apenas
gal em foco conferiu à SUNAB expe- três das sete seções existentes,
dir a disCiplina necessária ao proces- quando todas estavam em condi-
samento da prova física para a veri- ções de funcionamento. Esta inob-
ficação da capacidade real de moa- servância da própria exigência
gem de todos os moinhos do País. O prevista na Portaria, segundo o de-
emprego do termo «regulamento» pOimento do Presidente da Comis-
não há de ser fato suficiente a cas- são Revisora (fls. 1.311/1.313),
sar a competência referida, porque à deveu-se a temor de que os fusíveis
SUNAB não é dado regulamentar, se queimassem. Senão, vejamos,
stricto sensu, norma legal. Certo o «... que em outros casos, como no
termo «regulamento» está no art. 15 do Moinho São Jorge, a comissão
em exame, no sentido de expedir as colocou em funcionamento todas as
normas necessárias ao fim colimado seções simultaneamente e os
TFR - 99 39

fusíveís se incendiaram, tendo ha- mente da «Light», segundo a opi-


vido um princípio de incêndio nas nião dos técnicos componentes da
instalações do moinho; que em vir- própria comissão (fI. 1.312). Nota-
tude dessa deficiência do forneci- se que o moinho requereu, ainda
mento de energia elétrica a visto- em 1967, que fosse realizada, antes
ria no Moinho São Jorge foi sus- do término do ano, a vistoria legal,
pensa e a comissão voltou a efetuá- mas a ré silenciou, respondendo,
la depois de alguns dias, após a re- mais tarde, negativamente, porque
gularização da energia elétrica, in- o ano havia se escoado. Observa
clusive por parte da «Light». (fI. ainda o mesmo depoente que «as
1.312)). Anoto que, no caso acima sete seções estavam instaladas e
narrado, a deficiência das condi- em condições de funcionar» (fI.
ções elétricas apresentava-se nas 1.313): Conclui-se, portanto, que o
instalações do moinho e da moinho da autora, na verdade, não
«Light». No entanto, deu-se ao Moi- foi submetido a qualquer vistoria,
nho São Jorge a oportunidade de nem do Decreto-Lei n? 210/67, com
substituir suas instalações e de ob- o funcionamento alternado das se-
ter da «Light» reforma nas instala- ções por uma hora, nem a da Por-
ções externas. O Presidente da Co- taria n? 137/67, da SUNAB, com o
missão Revisora continua: «que no funcionamento de todas as seções
caso do Moinho Dias Martins fo- simultaneamente por três horas. A
ram colocadas em funcionamento «vistoria jUdiCial» veio, porém, de-
simultâneo todas as seções e os monstrar que, fornecida a energia
fusíveis também se queimaram, elétrica pela concessionária, o moi-
tendo a comissão suspenso a visto- nho moeu quantidade de trigo su-
ria que foi realizada dois ou três perior à capacidade registrada e,
dias depOis, após a comunicação com o funcionamento simultâneo
do moinho, diretamente à Comis- de apenas cinco seções, pelO tempo
são, informando que já estava apto estabelecido na Portaria. O mesmo
a submeter-se à prova». Presidente da Comissão Revisora
foi convocado como testemunha da
E explica «no caso do Moinho vistoria jUdicial e declara: (que
Pacífico, se fossem acionadas as a maquinaria do Moinho Pacífico,
sete seções simultaneamente, tam- por ocasião da vistoria judicial,
bém ocorreria sinistro equivalen- era exatamente a mesma que ali
te». Realmente, ao Moinho Pacífi- existia quando foi feita a vistoria
co não se deu a mesma oportunida- administrativa, não tendo havido
de. Por quê? Porque suas seções mOdificações» (fI. 1.311). Esta cir-
não foram acionadas simultanea- cunstância parece de importância,
mente, de acordo com a Portaria posto que de nada valeria a prova
n? 137/67, da própria ré. E não fo- jUdicial se tivesse havido alteração
ram também acionadas alternati- na maqUinaria registrada após a
vamente, ou melhor, não foram vistoria administrativa, como dei-
acionadas. Apenas três seções fo- xou registrado o Supremo Tribunal
ram postas em funcionamento, Federal ao surpreender tal inova-
porque a Comissão temeu que se ção no caso do Moinho da Bahia.
repetisse a queima de fusíveis Com relação à vistoria judicial
ocorrida com outros moinhos. Daí promovida pela autora, são de
o não funcionamento simultâneo. grande importância as declarações
Culpa à autora não cabia, porque o dos representantes da SUNAB às
próprio Presidente da Comissão fls. 274 e 275. O moinho da autora
declarou «que o problema havido tinha, na prova judicial, as mes-
com a prova física era exclusiva- mas máquinas e instalações, nas
40 TFR - 99

mesmas condições que as tinha no nhou o ritmo de desenvolvimento


dia da visita da SUNAB, fato que imposto a Santos pela demanda
está, aliás, atestado pelo laudo téc- dos usuários da força e luz. O moi-
nico que conferiu às máquinas em nho da autora disso não se ressen-
confronto com o registro (fls. tiu porque a grande capacidade
186/187, laudo assinado pelos peri- ociosa não exigia o fornecimento
tos da autora e da ré). Demonstra- total de energia, já que pOdia moer
do pelo próprio Presidente da Co- o trigo que lhe era reservado (28%
missão Revisora que o problema da capacidade homologada) com
da prova física (único motivo, a apenas algumas seções. Em 1967,
falta de energia) no dia da «visto- porém, preparado, como diz, para
ria» da SUNAB, era imputável ex- a vistoria administrativa, através
clusivamente à «Light», toma rele- da qual poderia liberar as máqUi-
vo o depoimento do engenheiro ele- nas ociosas, é colhido pela defi-
tricista (fl. 1.310) que declara que ciência «exclusivamente da
o Moinho Pacífico está capacitado «Light», segundo atesta o Presi-
a receber energia suficiente em dente da Comissão Revisora da
6.600 volts, mas que a «Light» não própria SUNAB. Em sã consciên-
pode fornecê-la por não ter, ela cia não se lhe pode imputar culpa
própria, instalações adequadas, e alguma, em que pese o brilhante
se o fizesse sofreria danos em seus eSforço de argumentação dos ilus-
cabos, prejudicando o fornecimen- tres patronos dos moinhos concor-
to para os demais consumidores da rentes, mas que não encontra gua-
zona portuária de Santos. A rida nos fatos aqui provados.
«Light» teria planos para fornecer Argumenta-se, ainda, que o Supre-
tal energia em 13.200 volts, mas so- mo Tribunal Federal teria deixado
mente dentro de 8, 9 ou 10 anos, o decidido no caso do Moinho Paulis-
que invalida a correspondência tro- ta não ser possível realização de
cada na época, posto que ainda ho- vistoria administrativa após o ano
je a concessionária não providen- de 1967, uma vez que o Decreto-Lei
ciou a modernização do sistema, n? 210/67 dispôs que as revisões de-
segundo a prova testemunhal. A veriam ser concluídas naquele ano.
mesma testemunha lembra que es- Foi, porém, a própria e Excelsa
ta deficiência de fornecimento da Corte que, em mais de um julgado,
«Light» existe há cerca de 10 anos deixou advertido que o caso do
o que demonstra não ter a conces- Moinho Pacífico, examinado nos
sionária acompanhado o cresci- recursos extraordinários n?s 70.800
mento do Porto de Santos a partir e 71.424, era inteiramente diverso
de 1965. Ora, está à fl. 52 a homo- dos demais casos levados ao co-
logação da capacidade de moagem nhecimento daquela Egrégia Cor-
do moinho da autora, por ato do te. No voto do Ministro Luiz Gallot-
Governo Federal, em outubro de ti (caso do Moinho Paulista)
1964. Agora, a prova testemunhal referindo-se a voto do Ministro
de especialista em eletricidade na Thompson Flores no caso do Moi-
região de Santos demonstra que há nho da Bahia, ficou declarado:
dez anos a «Light», ou a concessio- «Sua Exa., depois de mostrar que
nária da época, tinha condições de não se ajustavam à espécie as de-
fornecer suficiente energia para o cisões dos recursos extraordinários
moinho da autora acionar a capa- n?s 70.800 e 71.424, disse: Não me
cidade homologada, fazendo, se ne- valho, pois, daqueles decisórios pa-
cessário fosse, funcionar simulta- ra com eles dar solução aos pre-
neamente as sete seções. A realida- sentes recursos» (fI. 1.221) . Os
de e que a «Light» nâo acompa- acórdãos trazidos aos autos pelos
TFR - 99 41

litisconsortes passivos vieram ro- toria administrativa, a que devia


bustecer a posição da autora, pois ser submetido o moinho da autora,
que demonstram ter sido ela dis- simplesmente não se realizou.
tinguida pelo Supremo Tribunal,
não apenas porque apresentou as- Com efeito, a Comissão Reviso-
pecto distinto, mas e sobretudo, ra, que vinha de três ou quatro ex-
porque foi a única a ser expressa- periências anteriores, com queima
mente remetida à via ordinária pa- de fusíveis e princípio de incên-
ra provar sua alegação, donde se dios, não qUis acionar simultanea-
depreende que, uma vez provada, mente as sete seções do moinho
como foi, impõe-se a procedência vistoriado pela hipótese de que um
do pedido. Os demais moinhos, se- fusível viesse a se queimar. Ora,
gundo atestam os acórdãos que de- nos casos em que tal fato ocorreu,
cidiram seus casos, tiveram julga- nova prova era designada com pro-
mento final, trancada inclusive a vidências quanto ao fornecimento
ação ordinária, porque pediam no- de energia elétrica.
va vistoria administrativa, o que é
inatendível por força do próprio
Decreto-Lei n? 210/67. É bem ver- No caso da autora, por não ter
dade que, nestes autos, provou-se havido acionamento simultâneo
que a ré realizou vistorias adminis- das seções, não houve queima de
trativas inúmeras, depois de 1967, fusíveis e, assim, não lhe foi dada
uma delas até em 1974. Aliás, a a oportunidade de reclamar ener-
Portaria n? 1.471, da SUNAB (fI. gia da companhia fornecedora.
1250) no artigo 3?, anuncia que os Com isto, porém, a prova deixou de
«moinhos abaixo relacionados se- ser realizada, ou ao menos tenta-
rão objeto de prova física até 31-12- da, nos termos da própria Portaria
67», mas a própria portaria foi pu- n? 137/67. Porém, pela «via judi-
blicada em janeiro de 1968, o que cial», obteve nos termos legais, a
provocou a efetivação das vistorias declaração de sua capacidade de
após o prazo do Decreto-Lei n? moagem. Finalmente, é de particu-
210/67. A ré confessa, no documen- lar importância, na espécie, o do-
to de fls. 1273 a 1278, inclusive cumento de fls. 328/332 - intitula-
uma realizada em 1974 (fI. 1275). do: «Laudo de Vistoria, nos termos
Se os motivos expostos pela ré no do Decreto-Lei n? 210, de 27-2-67 e
documento de fls. 1273/1278 são Portarias Super n?s 137, de 7-3-67 e
válidos para justificar a realização 674, de 22-5-68». Neste laudo, pro-
de vistorias administrativas após duzido por vistoria realizada pela
31-12-67, maior razão existe quando ré, no moinho da autora, em 5 de
provada a necessidade de nova janeiro de 1971, está declarado que
prova física por ilegalidade na rea- a capacidade de moagem homolo-
lização da primeira, sobressaindo- gada e registrada é de 840.600 qui-
se, entre os motivos de força maior los (fI. 328) que é, precisamente
alegados pela ré, a falta de energia como observa a autora na inicial,
elétrica por culpa da concessioná- sua anterior capacidade de moa-
ria fornecedora. Na espécie, não se gem de 1.401 toneladas, menor 40%
trata de pretensão a nova prova da liberação legal das máqUinas
física administrativa por falta de ociosas. A própria ré, através de
condições do moinho em ter reali- comissão administrativa e técnica,
zado a primeira. Aqui, o fato é dis- declara que a capacidade de moa-
tinto, como bem o previU o Excelso gem da autora, registrada e homo-
Supremo Tribunal Federal. A pro- logada, é aquela reclamada na ini-
va dos autos demonstra que a vis- cial, e emite tal declaração no ano
42 TFR - 99

de 1971, o que implica na confissão Federal nos Recursos Extraordiná-


desta ação. Não é, portanto, rios n?s 74.165 e 71.469, como consta
atendível sua pretensão em fazer às fls. 1642 e 1659, apreciaram si-
prevalecer o resultado da prova tuação fática não coincÍdente com a
administrativa de 1967. Alega a ré ocorrida no Moinho Pacífico, porque,
que tal vistoria destinou-se à veri- nesses precedentes, ao ensejo das
ficação da capacidade de «ensila- provas físicas, os moinhos vistoria-
gem» e não de «moagem», mas a dos estavam com uma das seções
verdade é que o documento, na de- sem condições de funcionamento,
claração de dados sobre a unidade porque desmontada. A conseqüência
moageira vistoriada, fez constar a era imputável, desde logo, aos moi-
capacidade de moagem da autora, nhos que, consoante proclamou o Al-
nos termos do Decreto-Lei n? to Tribunal, deveriam estar prepara-
210/67 e Portaria n? 137/67, segun- dos para a revisão geral, desde 29 de
do se pode ler à fI. 328. O reconhe- abril de 1967, ou seja, a partir de
cimento é da própria ré que ao sessenta dias da pUblicação do
emitir tal declaração a ela se vin- Decreto-Lei n? 210/1967, havendo, in-
culou, principalmente porque está clusive, o saudoso Ministro Rodri-
escrito no Decreto-Lei n? 210/67 gues Alckmin, ao votar no RE n?
(artigo 20) que a capacidade de en- 71.469 (fls. 1666/1667) observado,
silagem é proporcional à capacida- verbis.
de de moagem, in verbis.
«Art. 20 - Será considerado sufi- «Vê-se que o moinho impetrante
ciente para os efeitos deste se apega a um fundamento tirado
decreto-lei o silo ou armazém di- da Portaria n? 137, sobre a realiza-
mensionado para guarda de trigo ção da prova física nas suas insta-
correspondente a 20 (vinte) vezes a lações que deveriam estar com
capacidade diária de moagem afe- seu equipamento completo e fun-
rida pela revisão a que se refere o cionando a plena carga, deduzindo
artigo 15 ou tantas vezes quantas daí - isolado esse texto da Porta-
bastem para atingir o mesmo re- ria - que, se na realização da pro-
sultado, tendo como fator a capaci- va não atendeu ela aos requisitos,
dade de moagém diária definitiva deveria ser renovada, ou só reali-
estabelecida nos termos do artigo zada no momento em que o moinho
16». pUdesse apresentar-se naquelas
condições. Mas, para isso, seria
Uma está vinculada à outra. As- preciso afastar, praticamente,
sim, o documento de fI. 328 com- aquele texto da Portaria que mar-
prova as duas. E, ao longo deste ca, primeiro, o prazo para que se
processo, a ré não produziu prova dê início à produção das provas
em contrário, pleiteando, apenas, físicas (esse é o prazo que os moi-
que prevalecesse, sobre essa prova nhos devem usar para estarem ap-
por ela própria fornecida, a visto- tos à prova) e, em segundo lugar,
ria de 1967, realizada, como se viu, esquece-se de que esse prazo, esta-
fora dos termos do Decreto-Lei n? belecido para a realização dessas
210/67 e da Portaria n? 137/67. Nes- provas, é concedido à SUNAB, pa-
se sentido impressiona o parecer ra que ela desempenhe essa ativi-
do prof. Adroaldo Mesquita, dade.
ex-Consultor-Geral da República,
às fls. 412/418».
Anotei que eram 452 os moinhos
Entendo, também, no particular, que deveriam ter sido submetidos
que as decisões do Supremo Tribunal à referida prova física. Ora, se a
TFR - 99 43

realização das mesmas só se pu- vem mantendo sua indústria em fun-


desse dar no momento em que ca- cionamento, ~(demonstrando que po-
da moinho entendesse estar habili- de moer e mói o trigo que lhe é atri-
tado a funcionar com todo o seu buído no rateio da Zona n? 7». E
equipamento, esse prazo concedido acrescenta: «Precisamente com base
à SUNAB seria prazo concedido nessa capacidade de moagem, a pró-
aos próprios moinhos. pria SUNAB autorizou-lhe a constru-
Parece-me, assim, que a visto- ção de novos, moderníssimos e gran-
ria, a prova física realizada dentro des silos, cuja vistoria foi realizada
do prazo que a leI fixa para a SU- a 5 de janeiro de 1971, quando a Au-
NAB, foi legítima, e se o moinho tarquia declara ter a suplicante a
não tinha, naquele momento, capa- capacidade de moagem homologada
cidade para funcionar com todo o de 840 toneiadas por 24 horas, isto é,
seu equipamento, não estava a SU- as 1.401 toneladas de sua homologa-
NAB obrigada a dar-lhe outra ção anterior, menos 40% das máqUi-
oportunidade, para que o moinho a nas liberadas em função da Portaria
convocasse em outra ocasião e re- n? 1.471/68 e da segurança concedida
petisse a prova». (fls. 15/16».
Acentuou-se, outrossim, nesses jul- Ao que se vê da Portaria da SUNAB,
gamentos, é certo, tratar-se de situa- n? 1.451, de 15-1-68, foi tida co-
ção diferente da examinada pelo co- mo capacidade real de moagem do
lendo Supremo Tribunal Federal, no a. 456.000 kg, em 24 horas, quandO a
RE n? 70.800, quando se apreciou o cifra anterior, homologada em 1964,
mandado de segurança do ora a. (fI. era de 1.401 toneladas no mesmo
1.644) . período (fi. 53).
Esta, portanto, a indagação: a pro- Fi de notar, do documento de fIs.
va física a que submetido o moinho 85/87 - Laudo de Vistoria da SUNAB,
autor, pela SUNAB, a 6-9-1967, foi de 6-9-1967, que aí se registrou nas
trregularmente realizada, descum- observações: «As restantes 4 (qua-
prindo-se, assim, a própria Portaria tro) secções se acham devidamente
n? 137/67, porque, em virtude de fal- instaladas e montadas, porém, não
ta de energia elétrica, não funciona- efetuaram a prova de capacidade
ram, simultaneamente, as sete sec- física, simultaneamente, por falta de
ções, mas apenas três? disponibilidade de força elétrica e al-
Afirma o a. que, «verificada a não guns acessórios» (fI. 87).
suficiência de energia elétrica, pelos De outra parte, realizada prova
próprios termos da lei, a SUNAB de- física a 2-7-1968, demonstrou o a. ca-
veria ter designado nova data, no de- pacidade de moagem de 1.500.800
curso daquele ano, para a reatzação quilos em 24 horas, consoante o Lau-
da prova~que, além do mais, exigia
inspeção prévia para sua realiza- do de Vistoria, ad perpetuam rei
ção.» memoriam, -firmado pelos peritos e
testemunhas, das quais um funcioná-
Observa que, na «vistoria jUdicial» rio do Banco do Brasil S.A. e outro
depois efetuada, mediante funciona- da SUNAB, Delegacia de São Paulo
mento simultâneo das sete secções, (fls. 186/187) esclarecendo-se, ainda,
demonstrou ter capacidade de moa- à fI. 188, que essa é a quantidade que
gem de 1.500 toneladas por 24 horas, o moinho autor pode moer, no estado
superior à capacidade 1.401 tonela- atual, destacando-se, ainda, que, a
das por 24 horas constantes de seu tanto, foram necessárias apenas cin-
registro (fI. 15). Destaca o autor, co secções em funcionamento simul-
ademais, na inicial, que, desde 1968, tãneo. Roberto Peixoto Lopes, fun-
44 TFR - 99

cionano do Banco do Brasil S.A., suficiente para uma demanda de


Presidente da «Comissão Aferidora e Kva. 6.000, quando seu consumo à
Revisora de Capacidade 7/1» (fI. época era de Kvas. 1.500, aproxima-
183) informou à fI. 274 que nessa vis- damente (sic). Esse aumento
toria «foram seguidas rigorosamente pleiteou-o para os fins de realização
todas as normas técnicas contidas no da prova fisica de moagem.
Decreto-Lei n? 210, de 27-2-67 e na Observa-se, de outra parte, que, em
Portaria Super n? 137, de 7-3-67,» ex- correspondência de 30-11-1967, o a.
plicitando, ainda, que «os critérios agradecia à concessionária o aumen-
adotados nesta vistoria são os mes- to de força para uma carga de 2.800
mos que foram adotados na ocasião Kva, em 6.600 volts, para o perído
das vistorias realizadas na Zona VII, entre 1 e 6 horas (fI. 154) «período es-
no decorrer do ano de 1967». Tam- se em que os demais consumidores
bém, nesse mesmo sentido, informou não estão utilizando-se de energia
Rubens de Carvalho, funcionário da elétrica;» afirmando, ainda, o pró-
SUNAB, presente aos trabalhos da prio a. que., com esse aumento, have-
«vistoria judicial» (fls. 187 e 275). ria possibilidade de «colocar em fun-
Em realidade, porém, o que os fa- cionamento mais uma secção do
tos assim indicados estão a apontar, moinho, para os fins de ser efetuada
a meu ver, é que, à época, o moinho a vistoria física de moagem prevista
do a. não possuía condições de fazer na Portaria Super n? 137, da SU-
funcionar, simultaneamente, suas NAB, e no Decreto-Lei n? 210, de 27-
sete secções. 2-1967.
Ao que observo, dessarte, do exa-
A prova física que, segundo o art. me da prova dos autos, não parece
15, § 1?, do Decreto-Lei n? 210, devia possível atribuir responsabilidade à
realizar-se até 31-12-1967, aconteceu, concessionária «Cidade de Santos»
no moinho a., em setembro, portan- pela falta de energia elétrica neces-
to, muitos meses já decorridos, des- sária ao funcionamento das diversas
de os sessenta dias previstos na pri- secções do moinho, como alegou o
meira parte do parágrafo 1? do cita- autor.
do art. 15. Vê-se que, já em março A anterior demanda de força elé-
de 1967, procurou o a. encontrar so- trica do moinho é que era inferior ao
lução às dificuldades de energia elé- que se faria necessário para o nor-
trica existentes no moinho (fI. 152), mal funcionamento das instalações
sendo informado das providências a de suas diversas secções. Ainda em
adotar, em carta de 2-5-1967 de «Ci- fins de 1967, com as providências
dade de Santos - Serviços de Eletri- adotadas, o a. somente estaria fazen-
cidade e Gás S.A.», onde a conces- do funcionar, como esclareceu, mais
sionária esclarecia que «a ligação uma das secções.
para os primeiros dias de maio pode-
rá ser concedida desde que esse moi- Não se pode considerar, dessarte,
nho providencie a substituição do que a vistoria administrativa da SU-
equipamento primário e a mudança NAB, em setembro de 1967, não se te-
de ligação dos transformadores para nha realizado, como o entendeu o
13.200 voltS» (fI. 153). Não possuía, Dr. Juiz a quo, porque, em realida-
assim, o a., em realidade, instala- de, o procedimento técnico se desen-
ções elétricas e utilização de força volveu dentro das condições existen-
elétrica bastantes ao regular funcio- tes no moinho do autor. Não houve
namento de todas as secções do moi- fato que caiba caracterizar como
nho. É o que se depreende, outros- força maior, em ordem a concluir-se
sim, do documento de fI. 152, em que que a prova física restou, parcial-
pediu à concessionária força elétrica mente, prejudicada. Se as sete sec-
TFR - 99 45

ções do estabelecimento moageiro do tanto. Vê-se que o próprio a. preten-


a. não funcionaram, simultaneamen- deu, inicialmente, suprir a falta de
te, é porque não havia condições pa- força elétrica no estabelecimento.
ra isso, como resulta meridiano da Houve confirmação da concessioná-
própria carta enviada à empresa ria, em maio de 1967, quanto a esse
concessionária. Nenhuma responsa- atendimento. Se em setembro de
bilidade pode ser imputada à Autar- 1967 não estava devidamente apto a
quia, ao praticar os atos de revisão fazer funcionarem as sete secções si-
da capacidade real de moagem do multaneamente, somente ao a. cabe
moinho autor. Este consumia ener- o ônus dessa situação. A SUNAB
gia elétrica muito aquém do que era cumpria tratar igualmente a todos
mister para funcionarem todas as os moinhos. Note-se, aliás, que, em
secções. Não é possível, de outra agosto de 1967, o a. fora advertido pe-
parte, pretender que a vistoria admi- la SUNAB de que devia estar prepa-
nistrativa houvesse de desprezar a rado para a vistoria, quando lhe res-
situação efetiva de funcionamento pondeu sobre a impossibilidade de
da empresa que não comportava se dilatar o" prazo, em ordem a que o a.
acionassem, simultaneamente, as di- fizesse substituições em seu ma-
versas secções. Se a exigência da si- quinário. De referir, outrossim, o do-
multaneidade, como examinado aci- cumento de fls. 1190, dirigido pela
ma, era legítima e constituiu critério concessionária de energia elétrica ao
geral, o que aconteceu, na verifica- moinho autor, em que se afirma; «O
ção da capacidade do moinho do a., aumento, em caráter permanente,
está em correspondência com a rea- de 1.500 Kva para 6.000 Kva, da car-
lidade de sua normal situação. Com ga de fornecimento de energia elétri-
efeito, à data da prova física, o Moi- ca a esse moinho dependerá de pedi-
nho Pacífico não possuía condições do expresso dessa empresa, com an-
de fazer acionar, simultaneamente, tecedência suficiente para permitir
todas as secções. Isso não pode ser obras de reforço do sistema alimen-
levado à responsabilidade da SUNAB tador desta concessionária, a serem
que, cumprindo suas atribuições, executadas em conformidade com os
apurou o que, de fato, existia na or- regulamentos específicos (Decreto
ganização moageira do autor. Daí n? 41.019, de 26-2-57, Decreto n?
por que não cabe dar pela nulidade 62.724, de 17-5-68 e Portaria n? 670,
do ato administrativo em causa. de 8-10-68, do MME) os quais pre-
vêem, entre outras, a assinatura de
Não merece, no particular, outros- contrato em que serão fixadas as
sim, guarida o argumento do a., em condições técnicas, financeiras e ta-
suas contra-razões, às fls. 1774/1775, rifárias do suprimento». Esse docu-
quando sustenta que a SUNAB, ao ve- mento é de 1972 e bem evidencia
rificar a insuficiência de energia elé- que, ainda a essa época, a energia
trica, deveria ter providenciado ou utilizada pelo a. era de apenas 1.500
mandado providenciar, com a con- Kva, quando em 1967 já se fazia re-
cessionária fornecedora de energia, ferência à necessidade de 6.000 Kva
m~jor suprimento. Ora, tal consti- para o funcionamento simultâneo
tuía encargo do proprietário do moi- das sete secções do moinho.
nho, como, de resto, reconheceu o
Pretório Excelso nos Recursos Ex- Daí por que, também, não são des-
traordinários n?s 71.469 e 74.165, aci- tituídas de fundamento as alegações
ma referidos. Aos moinhos incumbia de litisconsortes, quanto à maneira
se prepararem para a vistoria da SU- como se teria realizado a própria
NAB. Assegurou-lhes o Decreto-Lei n? vistoria ad perpetuam, com o funcio-
210, no art. 15, § 1?, sessenta dias a namento do moinho, na madrugada
46 TFR - 99

de 2-7-1968. No curso desta ação, de de que uma das secções, à época da


outra parte, não se realizou prova prova, estava desmontada, afir-
pericial abrangendo o exame de to- mando-se que cumpria ao moi-
dos os aspectos técnicos relativos ao nho ter adotado as providências, no
funcionamento das secções do moi- caso, para encontrar-se em condi-
nho autor, em ordem a tudo restar ções regulares. Assim também, a
eventualmente esclarecido. De todos meu pensar, se deve, na espécie,
é sabido, ademais, que na vistoria aqui, concluir, pois ao a. cabia ter
ad perpetuam rei memoriam, pela providenciado para que o moinho es-
natureza do processo, consoante de tivesse devidamente preparado, com
resto o destacou o Dr. Juiz, no despa- as instalações e a força elétrica ne-
cho homologatório; citando a lição cessárias ao funcionamento de suas
de Pontes de Miranda, a homologa- secções, tal como o fizeram os de-
ção «vale somente como manifesta- mais moinhos do País, todos subme-
ção judicial acerca de sua regulari- tidos às mesmas exigências. No ca-
dade formal, não importando na ad- so, reacentuo, não houve falta de
missibilidade e atendibilidade da energia elétrica, apenas no momento
prova produzida que será objeto de da prova, por motivo de força maior.
ação principal. Logo, não há que ho- O a. mantinha consumo de energia
mOlogar este ou aquele laudo, mas a elétrica bem inferior, cerca de um
vistoria no seu todo, cuja apreciação terço, apenas, da força necessária
só se tornará efetiva no processo que ao funcionamento de suas sete sec-
vier a instituir» (fI. 310). ções. Aliás, no julgamento do RE n?
Assim sendo, data venia, não te- 70.800, o Relator, ilustre Ministro
nho como jurídico desprezar os re- Thompson Flores, de certa forma, já
sultados da prova física realizada tivera por inviável a vistoria ad per-
pela SUNAB, de acordo com a deter- petuam rei memoriam processada
minação legal, no prazo previsto em pelo a., quando destacou (fls.
lei e segundo os critérios gerais da 1118/1119):
Portaria n? 137, adotados para todos «4) Verifica-se, assim, que o
os moinhos, e em seu lugar dar pre- mandado resultou concedido, por-
ferência à vistoria ad perpetuam rei que não poderia prevalecer a
memoriam feita em 2-7-1968, muitos perícia feita com base em regula-
meses, portanto, depois de vencido o mento que desatendeu à Lei; e
prazo da lei. É de sinalar, outrossim, mais 9ue prova outra, a vistoria ad
que análise dos autos dessa vistoria perpetuam rei memoriam atestou
me levou a observar que o próprio a real capacidade do moinho, em
procedimento, quanto às suas con- consonância com o seu registro.
clusões, não é induvidoso, no que
concerne à posição do perito da Certo que, em assim procedendo,
SUNAB, pelos esclarecimentos que a um só tempo, negou o decisório
manifestou às fls. 199/203, ensejando, aplicação às normas antes reme-
inclusive, contradita do a. (lê).
moradas.»
É de observar, ainda, que o colen-
do Supremo Tribunal Federal não Depois de discorrer sobre a legiti-
admitiu, nos Recursos Extraordiná- midade da revisão da cota registra-
rios 74.165 e 71.469 (fls. 1642 e 1659), da e da regulamentação da prova
vistoria ad perpetuam rei física, anotou (fI. 1120):
memoriam processada em 1968, pa-
ra prevalecer sobre a prova física «A exigência, pois, ateve-se à le-
prevista no art. 15 do Decreto-Lei n? gal regulamentação. E só assim
210/1967, sob a alegação do moinho poderia, em verdade, ser provada
TFR - 99 47

a capacidade do recorrido. E por De todo o exposto, concluo, data


ela a redução de fornecimento se venia, pela improcedência da de-
fez. manda aos fins colimados na peça
vestibular.
Afastá-la para admitir prova ou- Pelos fUndamentos acima, outros-
tra e estranha à por lei exigida, co- sim, que não me permitiram aceitar
mo acentuou o ilustre Ministro a vistoria ad perpetuam rei
Amarílio Benjamin ao admitir os memorlam, para suprir a prova físi-
recursos, e mais, em vistoria pos- ca realizada regularmente pela SU-
terior, e ainda com precária docu- NAB, no caso, nego, também, provi-
mentação, dissentindo daquela, a mento ao agravo no auto do proces-
toda a evidência, afrontados foram so, de fls. 775/776.
o preceito do citado Decreto-Lei n? Dou prOVimento à apelação da SU-
210, em combinação com o Regula- NAB (fls. 1721/1734), e aos recursos
mento, e, bem assim, o do art. I? dos moinhos litisconsortes, para re-
da Lei n? 1.533/1951». formar a sentença e julgar a ação
improcedente, condenada a autora a
pagar as custas e honorários de ad-
Por outro lado, não tenho como vogado de 20% sobre o valor dado à
acolhível o argumento final do Dl'. causa na inicial (fI. 34).
Juiz Federal a quo, segundo o qual a Em decorrência, julgo prejudicada
própria SUNAB, em 1971, reconhece- a apelação do autor, de fls.
ra a capacidade de moagem do a., à 1714/1719, interposta da parte da
base de 840.600 quilos de trigo por 24 sentença que lhe negou perdas e da-
horas .. Observaram, neste particu- nos.
lar, com razão, os litisconsortes, à Quanto ao recurso do moinho Fa-
fI. 1489: «Assim, se em 27-2-69, o ego nucchi e outros, que apresentaram
Tribunal Federal de Recursos deter- reconvenção (fls. 1148 e ss.) merece
minou fosse a capacidade de moa- provido, apenas, em parte, no que
gem do autor fixada em 840.600 qui- concerne à improcedência da ação.
los, conforme acórdão publicado no Não lhes dou provimento, todavia,
DJ de 16-9-69 e se só em 30-9-71 o co- quanto à reconvenção (f)s.
lendo Supremo Tribunal Federal re- 1477/1479).
vogou tal determinação, perfeita-
mente compreensível é que em visto- Exato é que a argüição de nulida-
ria levada a cabo pela SUNAB, no de da sentença, às fls. 1477, não me-
moinho do autor, em 5-1-71, para rece acolhida, especialmente diante
efeito de verificação de capacidade da manifestação do a., à fI. 1835,
de ensilagem apenas, figurasse no verbis:
respectivo laudo, como capacidade «1) O Moinho Fanucchi - eia.
de moagem do mesmo aquela de Brasileira de Moagem e outros li-
840.600 quilos, ainda em vigor, por tisconsortes, a fls. 1148 oferece-
determinação judicial. Tal não in- ram reconvenção ao pedido inicial.
duz, absolutamente, haver a SUNAB
reconhecido como sendo esta a real 2) Não houve despacho expresso,
capacidade de moagem do autor. determinando falasse o a. sobre a
( ... ). Se a vistoria de janeiro de 71 reconvenção. O certo é que, no cur-
fosse realizada após o jUlgamento so da lide, teve o postulante reite-
pelo Supremo Tribunal, evidente- radas vistas de todo o processo,
mente que a quantia nela consignada sem jamais argüir qualquer vício,
seria a da Portaria n? 1.471 e não perdendo assim oportunidade de
aquela». fazê-lo, na forma da lei.
48 TFR - 99

3) De qualquer sorte, quer neste de uma ou mais unidades moagei-


instante manifestar sua concordân- ras, dentro da mesma zona consu-
cia às razões de mérito pelas quais midora, por períodos e critérios
a r. sentença repeliu a pretensão que a SUNAB estabelecer.»
reconvencional (fl. 1449) declaran- Do exposto, a reconvenção é efeti-
do desistir de eventual e discutível vamente improcedente, como o reco-
direito a alegar nulidade por au- nheceu a sentença, sem necessidade,
sência de pronunciamento sobre a aqui, de se desenvolverem outras
reconvenção. » considerações em torno do pleito re-
No mérito, nenhuma prova fizeram convencional.
os litisconsortes reconvintes sobre
seu direito à diferença de trigo que
teria sido recebida a mais, pelo a., VOTO VENCIDO
não cabendo a isso chegar-se por
mera presunção de que essa quanti- O Sr. Ministro José Dantas Revi-
dade haveria de ser rateada, entre sor: - Senhor Presidente, os apelan-
os recorrentes e demais moinhos. tes Moinho Fanucchi e outros (fl.
Qual seria a parcela dos reconvin- 1476) suscitam a preliminar de nuli-
tes? Ademais no caso, a SUNAB en- d<ade da ação, desde a falta de inti-
tregou ao a. as quantidades de trigo mação da reconvenção ao autor, co-
reclamadas, enquanto duraram os mo manifestada na contestação de
efeitos da decisão concessiva do writ fl. 1148.
pelo Tribunal Federal de Recursos, Na verdade, a própria sentença
em virtude, pois, de provisão judi- atentou para a negligenciada intima-
cial de segunda instância, visto que ção; relevou-a, porém, à considera-
houvera, anteriormente, suspensão ção de que não se decreta nulidade
dos efeitos da liminar concedida e da em favor da parte beneficiada pelo
sentença do Dr. Juiz Federal. É o mérito (fI. 1449). Essa colocação pa-
que esclarecem os próprios recon· receria acertada, não fosse o caso de
vintes, às fls. 1148/1149: (lê). decisão sujeita a recurso e, por tal,
De outra parte, o pedido é para o possível a reforma da questão meri-
reconvindo restituir aos reconvintes tória. Dificultar-se-ia a ordem do jul-
e demais moinhos da Zona VII todas gamento de segundo grau, ao re-
as quantidades de trigo que recebeu meter-se para a final o conhecimen-
a maior, em detrimento dos demais. to da prejudicial, conforme os azares
Não só não pode prosperar, no méri- da decisão favorável ou não à parte
to, essa súplica reconvencional, co- beneficiada pelo mérito em I? grau.
mo a impediriam, nos termos em Entretanto, não resta dúvida de
que formulada, o art. 11 e seu pará- que a nulidade argüida resulta des-
grafo único, do Decreto-Lei n? prezível, desde que a parte a quem
210/1967, verbis: beneficiaria a prática do ato negli-
«Art. 11. Não serão permitidas genciado deu-se por satisfeita com a
operações de revenda, cessão, per- forma como foi processada a falada
muta e transferência de trigo em reconvenção.
grão fornecido pelo Governo, aos Desprezo, pois, a argüição, aliás,
moinhos. manifestada por quem não tem pro-
«Parágrafo único. A adjudicação veito na declaração de nulidade, afe-
de trigo implica a obrigatoriedade ta exclusivamente ao direito do au-
de sua industrialização pelo moi- tor.
nho a que o mesmo for atribuído, No mérito, dispenso-me de con-
exceto nos casos de incorporações siderações sobre a ilegalidade da
TFR - 99 49

malsinada Portaria 137/67 da Deveras, registrada a capacidade


SUNAB, dado que a própria senten- produtiva de sete seções moageiras,
ça, apesar de considerá-la, teve co- naquela época atendidas pelo regu-
mo irrelevante o pormenor para des- lar fornecimento de energia elétrica,
linde da controvérsia. como noticiado nos autos (depoimen-
to de fI. 1310) desde aí me parece,
o Juiz a quo fixou-se em que esta- como pareceu ao juiz a quo, que a
ria relevada a argüição de ilegalida- circunstância de temer-se a insufi-
de, pois que o autor submeteu-se à ciência da carga energética, no dia
prova física regulada pela Portaria. da vistoria, não bastava a que se
desse por improdutivas quatro da-
Correta nesse ponto, resta ver se quelas seções (depoimento do Presi-
a sentença também esteve na inter- dente da Comissão Revisora - (fI.
pretação da própria Portaria, como 1311) e da produção das três outras
ao escusar o a. da irrogação de res- se apurasse a média diária que a lei
ponsabilidade pela frustrada prova pediu em referência à unidade moa-
física requisitada sobre exigência do geira.
funcionamento simultâneo de todas
as seções do moinho.
É certo que se argumenta a depen-
No primeiro ponto, a meu ver, as dência da capacidade moageira para
diretrizes da examinada Portaria com a energia elétrica disponível. O
não comportam outra compreensão, argumento, porém, conferido no
além da que lhes empresta a SU- campo do indagado direito à prova
NAB, deveras, para avaliação da ca- de capacidade moageira nominal,
pacidade total de moagem, pelo mé- perde relevo em face dos lances cir-
todo da média horária considerada cunstanciais que se sucederam. Pri-
pelo art. 15, § 2?, do Decreto-Lei n? meiro, não se disse, a rigor, que a
210/67, a prova física havia, necessa- energia elétrica fornecida no dia da
riamente, de ser testada com o fun- prova fosse realmente insuficiente; o
cionamento simultãneo de todas as que se a notou, tal como analisado pe-
seções moedoras. la sentença, foi o temor de testar-se
o funcionamento simultâneo de todas
Não há falar-se em média da capa- as seções, visto que, noutra indús-
cidade de um conjunto, senão que to- tria, ocorrera a queima dos fusíveis
mada à base do confronto de seus di- (Moinho São Jorge). Segundo, frus-
versos setores, concomitantemente trado o funcionamento global do
operantes. Diferentes seria, se fosse moinho, apenas por esse temor (pois
o caso de medir-se a capacidade mé- não se destaca essa ou aquela inca-
dia de cada um dos setores operan- pacidade mecânica da unidade moa-
tes, e não da global capacidade da geira) o autor requereu, em tempo,
unidade moageira, da qual interessa lima nova prova, prevenindo a forne-
saber a produção conferida com o cedora para o fluxo de maior quanti-
registro anterior, tal como explicita- dade de energia, pelo que se afasta-
do no prefalado dispositivo legal. ria aquele temor, requerimento este
similar ao bem sucedido precedente
Por outro lado, porém, a meu ver, do Moinho São Jorge. Terceiro, si-
a prestação daquela prova física, lenciado o exame desse requerimen-
nos moldes como aconteceu no esta- to durante todo o restante do ano de
belecimento industrial do autor, rele- 1967, e depois indeferido ao só funda-
gou circunstâncias que haviam de mento de já se encontrar vencido o
merecer tratamento especial por ano previsto para tal prova, afinal o
parte do órgão fiscalizador. caminho aberto ao interessado era
50 TFR - 99

mesmo o da perícia judicial, de rea- de ser abstraída da apreciação judi-


lização conformada à quota energéti- cial, o seria até mesmo pela ressal-
ca possível de forneceimento pela va sentencial, ínsita no acórdão da
«Light.» Quarto, essa perícia judi- Suprema Corte, sobre dizer impró-
cial, apesar de ainda precária a dis- pria a discussão do direito do autor
ponibilidade de energia elétrica, por via do mandado de segurança,
prestou-se a revelar a capacidade do tanto mais com base em vistoria
funcionamento simultâneo de' cinco, posterior às informações, e assim
ao invés de apenas três daquelas se- ressalvada a via oridinária, afinal
ções moageiras, como se prestou à acionada pela autor.
apuração de média diária bastante
ao registro da produção antes reco- Portanto, parece-me incensurável
nhecida ao autor (fls. 186/187) tudo a decretada procedência da ação, em
isso com as mesmíssimas instala- detrimento do êxito da reconvenção.
ções mecânicas e elétricas do dia da Finalmente, examino a apelação
parcial vistoria administrativa (fls. do autor, no concernente a perdas e
274/275) . danos. No ponto, também tenho por
Tais lances circunstânciais, de fun- acertada a sentença.
damental importância para o desate Deveras, prova alguma se fez dos
da causa, a mim parecem relevar a prejUízos decorrentes do malsinado
alegação de confissão de incapacida- ato administrativo. E, nes.sa matéria
de das instalaçôes do autor, como se não basta intuir, como quer o apelan-
quer inferir do fato de sua antiga e te; é necessário provar-se factual-
constante solicitação para que a mente, o que não se atende pela re-
«Light» lhe fornecesse maior quanti- dução da linha de crédito e diminui-
dade de energia. E assim parecem ção da comercialização, hipotetica-
porque, mesmo sem atendimento mente consideradas pela apelante
dessa sua súplica, e no mesmo esta- para justificar o pedido.
do precário da disponibilidade de
energia, verificou-se a capacidade Em conclusão, nego provimento a
de funcionamento simultâneo de todos os recursos, com prejuízo do
cinco seções e não apenas daquelas agravo no auto de processo, inter-
três a que o órgão fiscalizador limi- posto pelo autor e, assim, confirmo
tou a sua vistoria. a sentença pelos seus própriOS fun-
damentos.
Defrontadas essas circunstâncias
factuais, cumpridamente provadas e
minuciosamente analisadas pela sen- VOTO
tença, deveras, é impossível negar-
se a perseguida capacidade de pro- O Sr. Ministro Carlos Madeira: Sr.
dução do moinho autor, contraposta Presidente, o processo não é fácil, eu
essa comprovação judicial aos par- poderia pedir vista para melhor vo-
ciais elementos de que se valeu o ór- tar. Entretanto, parece a mim, que
gão oficial para a discutida revisão há duas questões relevantes neste
do primitivo registro da capacidade processo: primeiro, a legalidade da
prOdutiva em causa. Portaria n? 137 da SUNAB; segundo,
a idoneidade ou não da vistoria reali-
Essa contraposição de provas, se zada pela SUNAB, em setembro de
não fosse autorizada por força mes- 1977, no moinho da autora.
mo do direito à jurisdição, assegura-
do à figura do dogma constitucional Quanto à legalidade, como V. Exa.
de que nenhuma lesão de direito po- muito bem ressaltou, a palavra «re-
TFR - 99 51

gulamento», inserta no caput do art. EXTRATO DA ATA


15, é imprópria, inclusive porque nos
§§ I? a 5? estão exatamente as nor- AC 45.367 - SP - ReI.: O Sr. Min.
mas regUlarmentares da prova. O José Néri da Silveira. Rev.: O Sr.
que o caput do art. 15 manda é que a Min. José Dantas. Remte.: Juiz Fe-
SUNAB especifique prova. deral da 6~ Vara. Aptos: Moinho Fa-
nucchi e outros; Moinhos Pacífico
S/A e SUNAB. Apdos: Os mesmos.
Essa impropriedade de linguagem
nesses decretos de fevereiro de 61
são comuns, a partir do Decreto-Lei Decisão: Por unanimidade, a Tur-
n? 200. De modo gue entendo o caput ma negou provimento ao agravo no
do art. 15 como se mandasse a SU- auto do processo, de Moinho Pacífico
NAB especificar a prova física, S.A. por maioria, deu provimento às
porque o regulamento da prova está apelações da SUNAB e dos moinhos
nos parágrafos. litisconsortes, para reformar a sen-
tença e julgar a ação improcedente,
Quanto à idoneidade da prova, pe- vencido o Sr. Min. Revisor. Por
ço vênia ao eminente Ministro José maioria, a Turma deu provimento
Dantas para acompanhar o voto de parcial ao recurso de Moinho Fanuc-
V. Exa. porque, como ficou provado chi e outros, nos termos do voto do
em documento, à época da prova a Relator, vencido, em parte, o Sr. Mi-
autora só tinha 1.500 Kva instalados, nistro José Dantas que lhe negava
e para instalar mais, a concessioná- provimento. Por maioria, a Turma
ria pediu a troca da instalação pri- julgou prejUdicada a apelação de
mária ou seja, troca de instalação Moinho Pacífico S.A., vencido o Sr.
que desse admissão à energia elétri- Ministro-Revisor que a desprovia.
ca. Além de eqUipamento primário Sustentou, oralmente, pela SUNAB,
ela pedia, também, um novo trans- o Dl'. José Mesquita Santos; pelos
formador de 13.500 volts que, segun- listisconsortes, o Dl'. Luis Carlos Pu-
do cálculo geralmente efetuado, da- jol; pelo Moinho Pacífico S/A, o Dr.
ria 6.000 volts de entrada - metade Paulo do Couto e Silva. Usou da pa-
da capacidade dela. Entretanto, no lavra, pela SUbprocuradoria-Geral da
dia da prova, ela não dispunha de República, o Exmo. Sr. Dr. Gildo
energia suficiente para fazer funcio- Corrêa Ferraz. (em 4-12-78 - 4~ Tur-
nar as seções de sua unidade. -E não ma).
podia fazê-lo na hora solicitada pela
SUNAB porque, quando ocorreu a
prova judicial, conforme acentuado Em relação ao agravo no auto do
num documento que V. Exa. leu, era processo, os Srs. Ministros José Dan-
exatamente numa hora de menor tas e Carlos Madeira votaram de
consumo, entre 1 e 6 da manhã. acordo como o Relator; quanto às
apelações da SUNAB e dos moinhos,
o Sr. Ministro Moacir Catunda votou
Tenl!o, assim, como idônea a prova de acordo com o Relator; quanto ao
da SUNAB, e limito-me a esses as- recurso do Moinho Fanucchi e ou-
pectos essenciais da questão, para tros, o Sr. Ministro Carlos Madeira
acompanhar o voto de V. Exa., in- votou in totum com o Relator; quan-
clusive, também, quanto à reconven- to ao do Moinho Pacífico S/A, tam-
ção, pois acho improcedente o pedi- bém votou com o Relator o Sr. Mi-
do de restituição de cotas, em face nistro Carlos Madeira. Presidiu o
mesmo do art. 11 do Decreto-Lei n? jUlgamento o Sr. Ministro José Néri
210. da Silveira.
52 TFR - 99

APELAÇAO C1VEL N? 45.682 - SP


Relator: O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro
Apelante: Rosa Zilberleib Casoy
Apelada: União Federal
EMENTA
Imposto sobre produtos industrializados. Socie-
dade Anônima. Responsabilidade do acionista-diretor
pelo seu recolhimento.
I - Em execução de crédito decorrente do
I.P.I., responde o dirigente de sociedade anônima
com seus bens particulares, na qualidade de respon-
sável por substituição, pois o produto da arrecada-
ção daquele tributo em fins diversos do seu recolhi-
mento aos cofres públicos, constitui crime de apro-
priação indébita, imputável a seus responsáveis le-
gais e, portanto, ato praticado com violação da lei.
11 - Aplicação do art. 135, lU, do C.T.N, dos
arts. 121, caput, e § 1?, 122, caput, do Decreto-Lei n?
2.627, de 26-9-40, ratificados pelo art. 158 e parágra-
fos da Lei n? 6.404, de 15-12-76; e do art. 2? do
Decreto-Lei n? 326, de 8-;5-67.
111 - Precedentes jurisprudenciais.
IV - Apelação desprovida.
ACORDA0 tria e Comércio Casoy S.A., objeti-
vando a cobrança do imposto sobre
Vistos relatados e discutidos estes produtos industrializados e acrésci-
autos, em que são partes as acima mos, a exeqüente pediu a citação,
indicadas: com a penhora de bens da executa-
Decide a Quarta Turma do Tribu- da, na pessoa dos seus sócios Rosa
nal Federal de Recursos, por unani- Zilberleib Casoy e Manoel Casoy,
midade, negar provimento à apela- cujos endereços e bens indicou (fI. 7).
ção, na forma do relatório e notas Indústria e Comércio Casoy S.A., e
taquigráficas anexas que ficam fa- Rosa Zilberleib Casoy deram-se por
zendo parte integrante do presente citados, tendo a segunda nomeada
julgado. oferecido à penhora, para garantia
Custas como de lei. do Juízo e para possibilitar a apre-
Brasília, 16 de junho de 1982 (data sentação oportuna dos embargos, o
do julgamento) - Ministro Armando imóvel descrito à fI. 9, sobre o qual
Rollemberg, Presidente - Ministro o ato constritivo se efetivou (fI. 14).
Antônio de Pádua Ribeiro, Relator. Rosa Zilberleib Casoy ofereceu
embargos (fls. 16-20). Após dizer
RELATORIO que, a fim de possibilitar a sua defe-
sa, se viu forçada a oferecer à pe-
O Sr. Ministro Antônio de Pádua nhora imóvel de sua propriedade,
Ribeiro: Em execução fiscal, que a alegou, citando jurisprudência, que
União Federal move contra Indús- «nos termos do Decreto-Lei n? 960 ou
TFR - 99 53

mesmo da Lei n? 5.172/66, o acionis- o INPS e os requerimentos de expe-


ta, como é o caso da embargante, só dição de ofícios a essas entidades fis-
pode responder pelo débito da socie- cais de nada valeram, apesar de rei-
dade anônima se provada a sua con- terados. Assinala que, tendo ocorrido
corrência para o débito em cobrança a venda de seus móveis e maquina-
ou sua participação e convivência ria (efetuada pelos operários) e a
com a infração fiscal». Disse que adjudicação do imóvel que constitma
tem o seu domicílio civil e residência o seu único patrimônio, não tem con-
na cidade do Rio de Janeiro e nunca dições financeiras ou patrimoniais
exerceu efetivamente qualquer ativi- para atender à execução. Argumen-
dade administrativa ou de gerência ta que os seus diretores sempre pro-
junto à devedora e que, por outro la- cederam com lisura, não cometendo
do, não foi provado e nem existe o qualquer excesso de mandato, mas,
menor indício no sentido de haver ao contrário, procuraram salvaguar-
participado, mesmo involuntaria- dar os interesses do erário público,
mente, de qualquer excesso ou omis- razão por que não se pode carrear-
são que viesse a justificar a cobran- lhes a responsabilidade pelos débitos
ça fiscal que ora se processa. Pede, da pessoa jurídica. Pede, por fim, a
por isso, em preliminar, que lhe seja improcedência dos embargos.
reconhecida sua condição de parte Acompanham os embargos os do-
ilegítima e, conseqüentemente, seja cumentos de fls. 25 a 80.
decretada a carência da ação quanto
a ela. Quanto ao mérito, assinala Após a realização da audiência de
que não possui elementos sólidos pa- instrução e julgamento em que fo-
ra discuti-lo. Todavia, à vista dos do- ram ouvidas três testemunhas (fls.
cumentos trazidos pela executada 111-114), assim decidiu o Dr. José
nos seus embargos, verifica-se que Américo de Souza MM. Juiz Federal
aquela sempre agiu com lisura, ten- em São Paulo (fI. 116):
do inclusive, denunciado ao MM «A embargante Rosa Zilberleib
Juiz-Presidente da 16~ Junta de Con- Casoy alega ser parte ilegítima,
ciliação e Julgamento de São Paulo porque não responde pela socieda-
seus débitos fiscais, requerendo de que deixou de operar.
àquele Juízo que oficiasse aos órgãos Sem dúvida, a jurisprudência lhe
competentes para que viessem parti- dá agasalho nesse passo. Ocorre
cipar da execução trabalhista, onde que ela, na qualidade de acionista,
o único bem da reclamada estava é representante legal da firm8
para ser levado a praça, que, após Indústria e Comércio Casoy S.A.
realizada, ensejou a sua adjudicação (fI. 10) ofereceu o bem, descrito à
a seus empregados por um valor que fI. 9, à penhora. De sorte que im-
representa a quinta parte da avalia- procede a argüição.
ção judicial. Concluiu por pedir a
improcedência da ação, se superada No mérito, a executada não con-
a preliminar argüida. testa a dívida. Apenas alega difi-
culdades financeiras.
Manifestou embargos, também, a Pelo exposto, julgo procedente o
executada (fls. 22-24). Após alegar executivo e subsistente a penhora,
ingentes dificuldades financeiras, as- condenando os executados no pedi-
sinala que o único imóvel que pos- do, sendo que os honorários ficam
suía foi adjudicado a seus emprega- excluídos».
dos pela quinta parte do valor da sua
avaliação. Aduz que a denúncia de Apelou Rosa Zilberleib Casoy (fls.
seus débitos para com as Fazendas 118-128). Argumenta que não «pode
Federal, Estadual e Municipal e com uma acionista de sociedade anônima
54 TFR - 99

ter seus bens penhorados e executa- resultantes de atos praticados com


dos e responder pelos seus débitos, excesso de poderes ou infração de
sem que tenha participado da sua lei, contrato social ou estatutos:
gerência, não tendo, pois, agido com
dolo ou culpa. Acrescenta que não «é
devida a cobrança de um imposto, IH - os diretores, gerentes, ou
quando a firma é detentora de um representantes de pessoas jurídi-
único bem, denuncia em juízo, pede cas de direito pr.ivado».
o concurso dos Orgãos do Governo, Tal preceito, aliás, está em harmo-
estes omitem, e o bem por determi- nia com a antiga Lei das Sociedades
nação judicial é adjudicado a tercei- por Ações, o Decreto-Lei n? 2.627, de
ros em nítido prejuízo aos Cofres Pú- 26 de setembro de 1940, cujos arts.
blicos». Após desenvolver os referi- 121, caput, e § I?, e 122, caput, reza-
dos enunciados, inclusive com cita- vam:
ção de jurisprudência, insiste em «Art. 121. Os diretores não são
que não exerceu atos de gerência, pessoalmente responsáveis pelas
pois o único diretor-gerente da socie- obrigações que contraírem em no-
dade que a administrou até o encer- me da sociedade e em virtude de
ramento das suas atividades foi o Sr. ato regular de gestão.
David Liess Filho, segundo a prova
colhida. A seguir, invoca todo o con- § I? Respondem, porém, civil-
teúdo dos seus embargos, bem como mente, pelos prejuízos que causa-
dos oferecidos pela empresa execu- rem, quando procederem:
tada, e conclui por pedir a reforma I - dentro de suas atribuições e
da sentença. poderes, com culpa ou dolo;
Contra-arrazoado o recurso (fls. 11 - com violação da lei ou esta-
129-129v.), subiram os autos e, neste tutos.»
Tribunal, a douta Subprocuradoria- «Art. 122. Os diretores são soli-
-Geral da República opinou no senti- dariamente responsáveis pelos pre-
do de que se lhe negue provimento, a juízos causados pelo não cumpri-
fim de ser confirmada a sentença mento das obrigações ou deveres
(fls. 134-135). impostos por lei, a fim de assegu-
Após a substituição da penhora por rar o funcionamento normal da so-
dinheiro, a pedido da acionista- ciedade, ainda que, pelos estatutos,
embargante (fls. 138-164, os autos, tais deveres ou obrigações não cai-
júntamente com outros mil e cem, bam a todos os diretores».
vieram-me redistribuídos em 25-6-80. Tais regras basilares, quanto à
Dispensada a revisão. responsabilidade dos administrado-
É o relatório. res, foram reafirmadas na nova Lei
das Sociedades por Ações, isto é, pe-
la Lei n? 6.404, de 15-12-76, cujo art.
VOTO 158 e parágrafos, assim, dispõem:
«Art. 158. O administrador não
é pessoalmente responsável pelas
O Sr. Ministro Antônio de Pádua obrigações que contrair em nome
Ribeiro (Relator): No tocante aos cré- da sociedade e em virtude de ato
ditos tributários, dispõe expressa- regular de gestão; responde, po-
mente o Código Tributário Nacional: rém, civilmente, pelos prejuízos
«Art. 135. São pessoalmente res- que causar, quando proceder:
ponsáveis pelos créditos corres- I - dentro de suas atribuições ou
pondentes a obrigações tributárias poderes, com culpa ou dolo;
TFR - 99 55

II - com violação da lei ou do em tese, crime de apropriação indé-


estatuto. bita e, portanto, ato praticado com
§ I? O administrador não é res- violação da lei (Decreto-Lei n? 326,
ponsável por atos ilícitos de outros de 8-5-67, art. 2?).
administradores, salvo se com eles Em tal caso, as pessoas indicadas
for conivente, se negligenciar em no artigo 135 são responsáveis, ao in-
descobri-los ou se~ deles tendo co- vés do contribuinte, pelo recolhimen-
nhecimento, deixar de agir para to do tributo (Aliomar Baleeiro, Di-
impedir a sua prática. Exime-se de reito Tributário Brasileiro, 8~ ed.
responsabilidade o administrador pág. 448, Forense, 1976).
dissidente que faça consignar sua Nesse sentido, tenho votado nesta
divergência em ata de reunião do Corte. É o que se depreende da
órgão de administração ou, não ementa que encima o acórdão profe-
sendo possível, dela dê ciência rido por esta Egrégia Turma, em 4-
imediata e por escrito ao órgão da 8-80, na AC n? 53.139-SP, de que fui
administração, ao conselho fiscal, Relator, em cujo voto cito preceden-
se em funcionamento, ou à III@;sem- tes:
bléia geral.
«Sociedade por quotas e respon-
§ 2? Os administradores são so- sabilidade limitada. IPI. Respon-
lidariamente responsáveis pelos sabilidade do sócio-gerente.
prejuízos causados em virtude do
não cumprimento dos deveres im- Em execução de crédito decor-
postos por lei para assegurar o rente do IPI, responde o sócio-
funcionamento normal da compa- gerente de sociedade por quotas e
nhia, ainda que, pelo estatuto, tais responsabilidade limitada com
deveres não caibam a todos eles. seus bens particulares, pois a utili-
zação do produto da arrecadação
§ 3? Nas companhias abertas, a daquele tributo, em fins diversos
responsabilidade de que trata o § do seu recolhimento aos cofres pú-
2? ficará restrita, ressalvado o dis- blicos, constitui crime de apropria-
posto no § 4?, aos administradores ção indébita, imputável aos res-
que, por disposição do estatuto, te- ponsáveis legais da firma
nham atribuição específica de dar <Decreto-Lei n? 326/67, art. 2?).
cumprimento àqueles deveres. Precedentes jurisprudenciais.
§ 4? O administrador que, tendo Provimento do recurso da em-
conhecimento do não cumprimento bargada e desprovimento do recur-
desses deveres por seu predeces- so dos embargantes».
sor, ou pelo administrador compe-
tente nos termos do § 3? deixar de Na espécie, a apelante procura
comunicar o fato à assembléia ge- eximir-se da sua responsabilidade,
ral, tornar-se-á por ele solidaria- ao argumento de que não era ela
mente responsável. quem exercia realmente as funções
de direção da executada, mas o Sr.
§ 5? Responderá solidariamente David Liess Filho, invocando, em
com o administrador quem, com o seu favor, o documento de fI. 108 e a
fim de obter vantagem para si ou prova testemunhal colhida.
para outrem, concorrer para a
prática de ato com violação da lei Penso, porém, que tais aspectos
ou do estatuto». internos relativos à administração
da sociedade não podem refletir
No caso específico, a dívida cobra- quanto a terceiros. No caso, a ape-
da refere-se a IPI, cujo não recolhi- lante não nega a sua condição de
mento, na época própria, constitui, acionista-diretora da executada, não
56 TFR - 99

tendo comprovado qualquer altera- tem o condão de afastar a liquidez e


ção nos seus atos constitutivos que, certeza do crédito, ora executado, e
juridicamente, ensejassem a sua re- a sua cobrança judicial.
tirada da gestão dos seus negócios. A questão relativa à adjudicação
do único imóvel da executada, por
Acresce que a acionista- preço, sensivelmente inferior ao da
recorrente, ao dar-se por citada e avaliação, em favor dos seus operá-
nomear bem à penhora, fê-lo «por si rios, nos autos de reclamação traba-
e como representante da firma In- lhista que contra ela moveram, cons-
dústria e Comércio Casoy S.A.» (fls. titui matéria estranha aos deslindes
9-10) . desta controvérsia. O fundamental
aqui é verificar se se acha, ou não,
Por tais razões, não há como ilidir, caracterizada a responsabilidade da
em face da lei, a sua responsabilida- acionista-apelante, na qualidade de
de pessoal pela dívida cobrada. diretora, pela dívida da executada.
De outra parte, quanto ao mérito, Configurada aquela responsabilida-
a executada e a apelante não negam de, consoante demonstrado, o seu
a existência do débito; procurou, patrimônio particular responde pelo
apenas, a primeira, para eximir-se, cumprimento da obrigação inadim-
da dívida, argumentar que está pas- plida da sociedade.
sando por ingentes dificuldades fi- Em face do exposto, nego provi-
nanceiras. Tal defesa, contudo, não mento à apelação.
APELAÇAO C1VEL N? 49.894 - PR
Relator: O Sr. Ministro Américo Luz
Apelante: Espólio de «Herbert Max Friedlaender»
Apelada: União Federal
EMENTA
Ação de anulação de débito fiscal. Imposto de
renda (exercício de 1969).
Pensão, de caráter indenizatório, paga pelo go-
verno alemão ao de cUjus, vitima de perseguição do
nazismo. Intributabilidade.
Aplicação do artigo 36, alínea «i», do RIR em vi-
gor na época. Inaplicabilidade do artigo 53 do mes-
mo Decreto n? 58.400/66.
Sentença reformada.
Apelação provida.
ACORDA0 constantes dos autos que ficam fa-
zendo parte integrante do presente
Vistos e relatados os autos, em que julgado.
são partes as acima indicadas: Custas como de lei.
Decide a 6'.' Turma do Tribunal Fe- Brasília, 25 de novembro de 1981
deral de Recurso, por unanimidade, (data do julgamento) - Min. José
dar provimento à apelação, na for- Fernandes Dantas Presidente
ma do relatório e notas taquígráficas Min. Américo Luz Relator.
TFR - 99 57

RELATORIO sulado Alemão, condições estas cu-


mulativamente exigidas para que
o Sr. Ministro Américo Luz: A sen- alguém possa fazer jus a tal pen-
tença do MM. Juiz Federal, Doutor são. Trata-se, destarte, de pensão
Hélio Callado Caldeira, explicita a especial, de caráter indenizatório.
controvérsia, in verbis (fls. 91/93):
Assim, «seja pelo aspecto indeni-
«O Espólio de Herbet Maz Frie- zatório, que indiscutivelmente tem
dlaender, por seu procurador judi- a pensão recebida, seja porque a
cial, em data de 21 de outubro de pensão era paga por motivo de in-
1975, ingressou neste Juízo com a capacidade profissional «por car-
presente Ação' Ordinária Declara- diopatia grave», a tributação pelo
tória e Anulatória de Lançamento imposto de renda não é possível de
Fiscal contra a União Federal, ser admitida. Isso, em razão do
alegarido, em resumo, o seguinte: preceito claro do Artigo 36, i do
Herbert Max Friedlaender, Regulamento do Imposto de Renda
quando em vida, percebeu do Go- anteriormente em vigor, que se ba-
verno Alemão uma pensão aspa ;ial seia no art. 178, IH da Lei Federal
por ter sido vítima da perseguição n? 1.711 e art. 17, IH da Lei Fede-
do Nazismo de Hitler. ral n? 4.506».
Todavia, «a fiscalização do im- Destarte, o lançamento fiscal, no
posto de renda não reconheceu o valor de Cr$ 12.309,52 (doze mil,
fim indenizatório da pensão espe- trezentos e nove cruzeiros e cin-
cial e considerou-a como tributável qüenta e dois centavos), levantado
pelo imposto de renda, de acordo contra o espólio-autor, não pode
com o lançamento p'ertinente ao subsistir.
exercício de 1969, ano-base de 1968.
A intributabilidade do rendimento Requer, ainda, o espÓlio-autor,
foi reconhecida pelo Delegado da para garantia da instância, seja
Receita Federal de Curitiba, po- admitido o depósito judicial de 100
rém, no julgamento do recurso ex (cem) Obrigações Reajustáveis do
officio, a Instãncia Superior refor- Tesouro Nacional, representadas
mou a decisão para impor a tribu- pelo Certificado n? 010114 no valor
tação. de Cr$ 13.338,00.
O rendimento percebido pelo de Requer, o autor, a citação da
cujus não pOde ser confundido com União Federal, na pessoa de seu
simples Pensão, pois esta nada representante legal, uma vez efeti-
mais é que uma retribuição a que vado o depósito, e a requisição do
alguém faz jus em virtude de con- processo administrativo fiscal n?
tribuições parceladas durante um 0980-05476/71 a fim de serem tras-
determinado período, enquanto que ladadas as peças necessárias, e
o de cujus não contribuiu com ab- uma vez processados o feito, seja o
solutamentenada para a formação mesmo julgado procedente para
do fundo ou monte que lhe possibi- anular o lançamento em tela,
litou o direito à pensão. condenando-se a ré no pagamento
das custas processuais e honorá-
Esta pensão lhe foi concedida, rios advocatícios.
não só em virtude de haver sofrido
perseguição do Nazismo, também Pagas pelo autor as custas pro-
por ter comprovado sua incapaci- cessuais (fls. 15-verso), lavrou-se
dade profissional, decorrente de termo de depósito das 100 Obriga-
«enfarte do miocárdio», atestado ções Reajustáveis do Tesouro Na-
por médico credencidado pelo Con- cional, oferecidas pelo mesmo (fl~.
58 TFR - 99

16), a título de garantia da instân- Curitiba (fls. 25/27). Pondera esta


cia, bem como o termo de entrega autoridade que os documentos jun-
do Depositário Público (fl. 17). tados pelo espÓlio-autor, no proces-
Citada a ré, na pessoa de seu re- so administrativo respectivo, não
presentante legal, contestou a ação comprovam que a pensão concedi-
(fls. 20/22), alegando, em síntese, o da pelo Governo Alemão tenha si-
seguinte: do em virtude de enfermidade so-
frida por Herbert Friedlaender, e
O depósito para garantia da ins- atestada como «enfarte do miocár-
tância não foi efetivado nos termos dio» e assim é inaplicável à espé-
do inciso IH, da Portaria GB-358, cie o artigo 36, inciso I do Decreto
de 26-10-71, do Exmo. Sr. Ministro n? 58.400/66 (RIR).
da Fazenda, «que determinam que
os depósitos em títulos da dívida Além do mais, segundo o artigo
pública federal serão feitos em re- 53 do RIR, então vigente, serão
partição da Secretaria da Receita classificados na cédula F os rendi-
Federal.» mentos produzidos no estrangeiro,
O espólio-autor, por outro lado, é qualquer que seja a sua natureza.
parte ilegítima ad processum para Portanto, mesmo se tratasse de
estar em Juízo, desde que não pro- uma indenização, e não pensão, ain-
vou que existe como tal, nem tam- da assim, caberia a tributação im-
pouco apresentou qualquer docu- posta ao espólio-autor.
mento comprobatório de ser Ro- Outro aspecto de primordial im-
meu Herbert Friedlaender, outor- portância, no caso, segundo a auto-
gante da procuração de fl. 7, inven- ridade administrativa, em cujos es-
tariante do aludido espólio. Destar- clarecimentos se estribou a ré, é
te, com fundamento no artigo 13 do que no Brasil, diferentemente de
CPC, e após decorrido o prazo fixa- outros países, se adota o princípio
do por este Juízo, não suprida a ir- de que é rendimento tributável to-
regularidade apontada, deve o pre- do rendimento obtido, exceto os ex-
sente processo 'Ser julgado extinto, pressamente excluídos. Portanto,
condenado o autor nas custas pro- de acordo com nossa legislação
cessuais e honorários advocatícios. Fiscal do Imposto de Renda, todo
Quanto aos documentos de fls. rendimento que não estiver ex-
10/12 estão redigidos, na íntegra, pressamente definido como não tri-
em língua estrangeira (alemão), butável, é tributável. Ora, segundo
não existindo, nos autos, tradução, o artigo 36 do RIR, a única indeni-
tal como determina o artigo 157 do zação excluída do conceito de ren-
CPC, e por isso mesmo, devem dimento tributável·· é a indenização
tais documentos, ser desentrimha- trabalhista. Daí decorre a impro-
dos destes autos. cedência da tese sustentada pelo
No mérito, assevera a ré não espólio-autor, também sob tal as-
ter a tese do autor nenhuma proce- pecto».
dência. «A quantia que recebia do A União interpôs agravo, que ficou
Governo Alemão não tinha conteú- retido (fl. 86 dos autos), atacando o
do indenizatório tratava-se, na despacho saneador de fl. 85 (lê).
verdade, de pensão tributável. Em
apoio de sua fundamentação, junta S. Exa. assim concluiu (fl. 97):
a ré o Parecer da Procuradoria da
Fazenda Nacional (fls. 23/24) e os «Julgo improcedente a presente
esclarecimentos prestados pelo Sr. Ação Anulatória de Lançamento
Delegado da Receita Federal de Fiscal, e em conseqüência, conde-
TFR - 99 59

no o autor nas custas processuais e10-5-1966), ao invés de interpretarem


honorários advocatícios que fixo adequadamente o art. 35, e, do aludi-
em 15% sobre o valor da causa». do diploma.
Apelou o autor, com as razões de Leio das razões de apelo (fls.
fls. 100/103, pretendendo a anulação 102/103) :
do lançamento fiscal que tributou «A sentença menciona o art. 53
pensão especial paga, em decorrên- RIR, para fundamentar a tributa-
cia de ter sido vítima de perseguição bilidade da pensão:
pelo regime nazista.
«Serão também classificados
Contra-razões às fls. 109/110. na cédula F os rendimentos pro-
Subidos os autos, manifestou-se a duzidos no estrangeiro, qualquer
douta Subprocuradoria-Geral da Re- que seja a sua natureza.» (fI. 95).
pública, opinando pelo conhecimento Não se apercebeu o prolator que
e improvimento do apelo (fls. a cédula F é própria para a decla-
115/116) . ração de certos rendimentos es-
Em pauta, sem revisão, é o relftó- pecíficos, como lucros dividendos e
rio. outras vantagens pagas por pes-
soas jurídicas a seus sócios, acio-
VOTO nistas, diretores, participantes etc.
Jamais pOderia ser incluído na cé-
o Sr. Ministro Américo Luz <Rela- dula F, rendimento como o de pen-
tor): I - Preliminarmente, a ilustra- são, mesmo pago por entidade es-
da Subprocuradoria-Geral da Repú- trangeira.
blica afirmou às fls.' 115/116: Se consultado o Regulamento do
«Verifica-se desde logo que o Imposto de Renda, com proprieda-
agravo retido deve ser tido como de, seria encontrado o preceito do
renunciado, face ao que prescreve art. 35, e, que diz:
a parte final do § I?, art. 522 do «Entrarão no cômputo do ren-
CPC. 1lJ que o recorrente não pediu dimento bruto, nas cédulas em
expressamente em suas razões a que couberem:
sua apreciação pelo Tribunal». e) Os rendimentos recebidos de
O equívoco em que incorreu o no- Governo estrangeiro por brasilei-
bre parecerista não afeta a prejudi- ros, quando correspondam a ati-
cial. Quem agravou foi a União e vidade exercida no território na-
não o autor, mas como aquela obte- cional».
ve vitória em primeira instância - e Ora, o recorrente, não exerceu
obviamente não apelou - o agravo quaisquer atividades em território
perdeu o seu objeto. JUlgo-o prejudi- brasileiro para perceber o rendi-
cado. mento. Como já se disse, recebeu
11 - De meritis, afigura-se-me que uma pensão especial em razão da
razão assiste ao apelante, quando ar- perseguição nazista e por ser por-
gumenta que a sentença, assim co- tador de moléstia incapacitante.
mo a decisão do Conselho de Contri- Lançou mão o MM. Dr. Juiz de
buintes, aquela baseada nesta, além Direito, para fundamentar sua sen-
de não reconhecer o caráter indeni- tença, de um dispositivo genérico
zatório da pensão em causa, para relativo a rendimentos de natureza
que a considerassem tributável apli- totalmente diversa, qual seja o do
caram preceito legal impróprio, o art. 53 do RIR, quando as pensões
artigo 53 do Regulamento do Impos- só podem ser capituladas na cédu-
to de Renda (Decreto n? 58.400, de la C e jamais na cédula F.
60 TFR - 99

o Conselho Federal de C;ontri- as alegações do apelante, quanto aos


buintes vem, ultimamente, dando fatos. E, quanto ao direito, ele tam-
provimento aos recursos interpos- bém o demonstrou.
tos por contribuintes em igualdade
de condições do recorrente como Dou, portanto, provimento à apela-
se vê do acórdão em anexo do qual ção e, em conseqüência, reformo a
se destaca a seguinte ementa: sentença de primeiro grau, para jul-
gar procedente a ação, nos termos
«Pensão recebida do Governo do pedido, com a inversão dos ônus
alemão, por perseguição sofrida da sucumbência.
durante o regime nacional-socia-
lista. É o meu voto.
Tem a natureza jurídica de in-
denização, e essa circunstância, EXTRATO DA MINUTA
mesmo não arrolada no art. 36, I,
do RIR, justifica suficientemente AC n? 49.894 - PR - ReI.: Sr.
a sua exclusão dos rendimentos Min. Américo Luz. Apte.: Espólio de
brutos na forma do artigo 36 «Herbert Max Friedlaender». Apda.:
caput, do RIR». (fotocópia em União Federal.
anexo).
Decisão: A Turma, por unanimida-
Como se vê, o própriO órgão de, deu provimento à apelação, para
criado para julgar, especifi- reformar a sentença e julgar proce-
camente, os casos de natureza dente a ação. Invertidos os ônus da
fiscal na esfera administrativa, sucumbência; da mesma forma, jul-
reconheceu, em caso semelhante gou prejudicado o agravo retido
a intributabllidade da pensão re- (Em 25-11-81 - 6~ Turma).
cebida pelo recorrente, bem co-
mo o caráter indenizatório do Participaram do julgamento os
qual esta se reveste». Srs. Mlns. José Dantas e Wilson
Gonçalves. Presidiu a sessão o Ex-
Todos os documentos trazidos aos mo. Sr. Mln. José Fernandes
autos comprovam, suficientemente, Dantas.

APELAÇÃO CtVEL N? 50.442 - MG


Relator: O Sr. Ministro William Patterson
Apelante: Maria de Lourdes Benfica
Apelada: Universidade Federal de Minas Gerais
EMENTA
Administrativo. Licença especial. Falta ao servi-
ço. Critério administrativo. Prescrição. Inocorrên-
cia.
A falta ao serviço repercute em diversos senti-
dos da vida funcional. A sua anotação pode ser obje-
to de exame, na oportunidade do pedidO de determi-
nada vantagem ou benefício. Se o direito recusado
foi a licença especial, a partir do indeferimento des-
TFR - 99 61

ta, conta-se o prazo para a incidência prescricional,


por isso que o cancelamento da falta, aqui, não é a
essência da pretensão.
Recurso provido, para que o MM. Juiz a quo
examine o mérito.

ACORDA0 servidora manifestasse impugnação.


Outras ocorrências na vida funcional
Vistos e relatados os autos, em que não receberam reclamação de qual-
são partes as acima indicadas: quer espécie. Invoca a prescrição.
Decide a 2~ Turma do Tribunal Fe- O Dl'. Antônio Fernando Pinheiro,
deral de Recursos, por unanimidade, eminente Juiz Federal da 5~ Vara da
dar parcial provimento à apelação, a Seção Judiciária do Estado de Minas
fim de que, afastado o óbice da pres- Gerais, acolheu a argüição de pres-
crição, o MM. Juiz dê prosseguimen- crição, julgando improcedente a
to à demanda, examinando o mérito ação (fI. 55).
do pedido, na forma do relawrio e Inconformada, apelOU a autora,
notas taqulgráficas constantes dos com as razões de fls. 56/58, argu-
autos que ficam fazendo parte inte- mentando ter inocorrido a prescri-
grante do presente julgado. ção do seu direito, porquanto a lesão
Custas como de lei. ao direito há de se entender o indefe-
BrasHia, 3 de outubro de 1980 (da- rimento da licença especial.
ta do julgamento) - Ministro Aldlr Contra-razões às fls. 60/68.
G. Passarinho, Presidente - Minis- Neste Tribunal, a douta
tro W1lliam Patterson, Relator. Subprocuradoria-Geral da RepÚblica
opinou pelo desprovimento do recur-
RELATORIO so (fls. 68/69).
o Sr. Ministro WUliam Patterson: 11:: o relatório, dispensada a revi-
Maria de Lourdes Benfica, funcioná- são, nos termos do art. 33, item IX,
ria da Universidade Federal de Mi- do Regimento Interno.
nas Gerais, propôs a presente ação
ordinária objetivando o cancelamen- VOTO
to da «falta não justificada», relativa
ao dia 24 de maio de 1963, para fins O Sr. Ministro William Patterson:
de ver declarado intacto o decênio Na verdade, o objeto da ação é o re-
de efetivo serviço, para fins de licen- conhecimento do direito à contagem
ça especial. integral do decênio, para fins de go-
Diz que o registro da falta é ile- zo da licença especial, conforme ex-
gal, porquanto resultante de soma de pressa menção na inicial. O exame
frações de atrasos, critério este não da ilegalidade da falta é matéria
previsto no ordenamento jurídico. que se confunde com a pretensão
Contestando, a Universidade afir- principal.
ma que houve falta e que, efetuado o O MM. Juiz a quo entendeu pres-
desconto no salário de maio de 1963, crito o direito, por não haver a auto-
nenhuma reclamação foi formaliza- ra, em tempo hábil, reclamado con-
da. Além do mais, em I? de junho de tra o registro da aludida falta. Com
1964, o tempo de serviço da interes- a devida vênia, tenho outra concep-
sada foi registrado em certidão, com ção sobre o assunto. Da anotação de
a respectiva anotação, sem que a uma falta ao trabalho, na· ficha indi-
62 TFR - 99

vidual do servidor, decorrem várias específico, ou seja, o exame da legi-


conseqüências. A primeira delas, a timidade da recusa à licença solici-
repercutir no interesse direto do tada.
mesmo, é o desconto no vencimento. O ilustre sentenciante, ao vincular,
Outra possível lesão será a conta- como essência do pedido, o estudo da
gem do tempo de serviço, para fins legalidade da medida administrati-
diversos, como, por exemplo, promo- va, quanto ao registro da falta, pro-
ção na categoria, enquadramento, clamou a punição, deixando de anevi-
adicional, bem assim toda e qual- sar os aspectos meritórios, isto é, as
quer melhoria em concorrência com circunstâncias da referida anotação,
os colegas, não esquecendo, eviden- conforme as versões das partes.
temente, a licença-prêmio, ora dese-
jada. Recusada a orientação no que con-
cerne ao instituto prescricional, a
questão terá de ser analisada sobre
É certo que ao funcionário é facul- o enfoque trazido aos autos, qual se-
tada a iniciativa de tentar cancelar o ja, o critério adotado pela ré, para
registro, desde quando dele tome co- considerar a falta do dia 24 de maio
nhecimento, procurandO evitar que de 1963.
venha a ter reflexos futuros. Toda- Ante o exposto, dou provimento,
via, não lhe poderá ser recusado dis- em parte, ao recurso, para que os
cutir o assunto, toda vez que um di- autos retornem à Vara de origem, de
reito venha a ser negado com supor- sorte a ser examinado o mérito.
te naquela falta. O que se há de ter
em vista, para os efeitos prescriciO-
nais, é a vantagem ou o benefício. EXTRATO DA MINUTA
Do indeferimento de um ou de outro
é que se deverá contar o prazo para
a incidência do instituto. A falta pas- AC n? 50.442 - MG - ReI.: Sr.
sará a ser discutida como causa do Min. William Patterson. Apte.: Ma-
pleito, como matéria de mérito, ria de Lourdes Benfica. Apda.: Uni-
marginalizada dos efeitos da carên- versidade Federal de Minas Gerais.
cia. Decisão: A Turma, por unanimida-
de, deu parcial provimento à apela-
No caso destes autos, os documen- ção, a fim de que, afastado o óbice
tos de fls. 33/36 dão notícia de que o da prescrição, o MM. Juiz dê prosse-
pedido, na esfera administrativa, te- guimento à demanda, examinando o
ve solução indeferitória em abril de mérito do pedido. (Em 3-10-80 - 2~
1973. Ajuizada a ação em junho de Turma).
1976, percebe-se, de pronto, não ter Os Srs. Mins. José Cândido e Aldir
sido ultrapassado o qÜinqüênio legal, Passarinho votaram com o Relator.
razão pela qual não se há de fazer Presidiu o julgamento o Sr. Min.
incidir a prescrição, para o propósito Aldir G. Passarinho.

APELAÇAO CtVEL N? 56.547 - SP


Relator: O Sr. Ministro Américo Luz
Remetente: Juízo de Direito da 1~ Vara de Rio Claro - SP.
Apelantes: Instituto Nacional de Previdência Social - INPS - Departa-
mento Autônomo de Agua e Esgoto de Rio Claro - SP .
. Apelados: Os mesmos
TFR - 99 63

EMENTA
Execução fiscal. Quotas de previdência. Autar-
quia municipal.
Não é inconstitucional a cobrança ao Município e
suas autarquias. O princípio da imunidade tributária
recíproca (C.F., art. 19, inc. IH, alínea «a») incide
quanto a impostos e não abrange taxas cobradas di-
retamente do pÚblico (art. 71, inc. I, da LOPS, C.F.,
art. 21, § 2?, inc. 1).
Sentença confirmada.
Remessa oficial e apelações improvidas.
ACORDA0 Suscita preliminares de carên-
cia, por inépcia da inicial, pois ha-
Vistos e relatados os autos, em que veria impossibilidade e inviabilida-
são partes as acima indicadas: de do pedido. É que, afirma,
Decide a Sexta Turma do Tribunal tratando-se de autarquia munici-
Federal de Recursos, por unanimi- pal, a quota de previdência não se-
dade, negar provimento a ambas as ria devida, não se lhe aplicando o
apelações e confirmar a sentença re- disposto no art. 79, IV, da Lei n?
metida, na forma do relatório e no- 3.807. Por outro lado, não haveria
tas taquigráficas constantes dos au- interesse processual, já que não ha-
tos que ficam fazendo parte inte- veria conflito de interesses a diri-
grante do presente julgado. mir. Também não haveria legiti-
midade de parte, quer ativa, quer
Custas como de lei. passiva.
Brasília, 24 de março de 1982 (data
do Julgamento) - Min. José Fernan- Requer ainda a denunciação da
des Dantas, Presidente - Min. lide à Prefeitura Municipal de Rio
Américo Luz, Relator. Claro, tendo em vista que a omis-
são do DAAE em não arrecadar a
RELATORIO quota de previdência derivou de
ato administrativo do então Prefei-
O Sr. Ministro Américo Luz: Eis o to Municipal, determinando ao ór-
sumário da espécie, constante da gão que assim procedesse, caben-
sentença (fls. 130/131): do, então, à MuniCipalidade, res-
ponder pelos riscos e encargos des-
«Tratam estes autos da execução ta ação. E, se entendido descaber
fiscal promovida pelo INPS contra a denunciação da lide, pede seja a
o Departamento Autônomo de Prefeitura Municipal chamada ao
Agua e Esgoto de Rio Claro para processo, nos termos dos arts. 77 e
haver-lhe a importância de Cr$ 78 do CPC.
356.559,61, relativa à quota Ide pre-
vidência não recolhida dos usuá- Preliminarmente ainda, invoca a
rios do serviço de água na época prescrição, de vez que já transcur-
devida, tudo conforme discrimina- sos mais de cinco anos da ocorrên-
do na certidão de dívida inscrita de cia do fato gerador, de acordo com
fl. 4. o art. 150, § 4? do Código Tributário
Nacional.
Citado (fI. 6), o réu embargou a
execução (fls. 7/17), com os docu- No mérito, impugna a pretensão
mentos de fls. 18/86. do autor que, ao pretender encar-
64 TFR - 99

regar o DAAE da arrecadação das nicípios criar impostos sobre o pa-


quotas de previdência, nos termos trimônio, a renda ou serviços uns
do art. 79, IV, da LOPS, o estaria dos outros.
equiparando a empresa concessio- Daí porque, roga, se não acolhi-
nária do serviço públi€o, o que não das as preliminares, sejam os em-
seria o caso. E que aquele órgão bargos acolhidos para se julgar
não prestaria serviços concedidos, improcedente a execução.
mas sim os pertinentes à autar-
quia, que é. Também não seria o O autor se manifestou sobre os
DAAE entidade encarregada de ar- embargos (fls. 88/102), juntando
recadar a quota de previdência, documentos (fls. 103/5).»
porque, a seu ver, no caso, teria O MM. Juiz de Direito da Comarca
havido por parte do Decreto n? de Rio Claro, Doutor Luis Gonzaga
48.959, de 19-9-60, artigo 227, I, a, de Arruda Campos, assim julgou (fI.
indevido alargamento do texto da 139) :
lei que pretendia regulamentar, in- «... ficam os embargos rejeita-
serindo entre as entidades encarre- dos, devendo o embargante respon-
gadas de arrecadar a quota de pre- der pelas custas processuais e ver-
vidência, a União, os Estados e os ba honorária de 10% sobre o valor
Municípios, com remição expressa dado à causa.»
ao artigo 9?, c, da Lei n? 593 que,
no entanto, não menciona qualquer Apelaram ambas as partes. O INPS,
daquelas entidades em seu texto. com as razões de fls. 141/143, plei-
teando a reforma da verba de hono-
Em conseqüência, essa disposi- rários advocatícios. O embargante,
ção seria flagrantemente inconsti- com as razões de fls. 146/152, preten-
tucional, por excedente da lei em dendo a improcedência da ação.
vigor. Contra-arrazoaram o embargante
e o INPS, às fls. 154/156 e 165/167,
Por outro lado, diz, ainda sob o respectivamente.
aspecto da inconstitucionalidade, Nesta instância, manifestou-se a
aos municípios é assegurada a au- douta SUbprocuradoria-Geral da Re-
tonomia no que concerne ao seu pública, reportando-se às razões do
peculiar interesse. Por isso, esta- exeqüente (fI. 170).
riam sujeitos apenas às limitações
constitucionais, não se sujeitando a Dispensada a revisão.
tributação quer da União, quer dos E o relatório.
Estados. Assim, pretender que os
municípios ou suas autarquias pos- VOTO
sam ser compelidos a arrecadar
quotas de previdência para a O Sr. Ministro Américo Luz (Rela-
União é expediente que não encon- tor): A erudita decisão recorrida in-
tra suporte legal. deferiu, por não caber na espécie o
chamamento ao processo ou a de-
Finalmente, afirma, a quota de nunciação da lide à Prefeitura Muni-
previdência seria um «adiciona!», cipal de Rio Claro, valendo-se seu
que se revestiria da forma de im- ilustre prolator da' lição de Celso
posto ou taxa, conforme o tributo Agrícola Barbi (trechos transcritos
ao qual adere (sic). Então, im- às fls. 132/3). Excluiu-a, portanto, da
possível seria sua incidência sobre relação processual. Repeliu, tam-
o serviço de água, porque, segundo bém, as preliminares de falta de in-
vedação constitucional, não podem teresse processual e ilegitimidade de
a União, os Estados e os Mu- parte, argüidas pelo embargante.
TFR - 99 65

Quanto à prejudicial de prescri- n? 48.959/60 e do art. 9?, a alínea c,


ção, disse o magistrado (fls. da Lei n? 593/48. Cita a opinião de
133/134): Mozart. V. Russomano sobre o al-
cance do artigo 142 da atual CLPS,
«Também inocorreu a prescrição concluindo por ser legítima a preten-
dos créditos. De início, como bem são do exeqüente.
salientou o INPS, em consonãncia
com o art. 221 da Consolidação das A matéria controvertida nos autos
Leis da Prev. Social, tal lapso só é de solução tranqüila na jurispru-
decorreria após cursos trinta anos dência desta Corte, conforme a tese
da constituição do crédito. Ade- defendida pelo INPS, hoje lAPAS.
mais é de ressaltar-se que, mesmo Colaciono os seguintes arestos:
que fosse pertinente o lapso qüin- 1. - na AC n? 62.842 - SP, relator
qüenal para a prescrição da execu- Ministro José Dantas, DJ de 19-2-81,
ção da quota previdenciária, como com esta ementa:
entendeu o embargante, nem as- «- Serviços municipais. Ao inci-
sim lhe beneficiaria o fato: é que o dir sobre os preços dos serviços
lapso prescricional atinge a rela- pÚblicos locais, a quota de previ-
ção jurídica creditícia entre o Fis- dência não padece inconstituciona"
co e o Contribuinte. Ora, a toda a lidade, consoante jurisprudência
evidência, o embargante não se do TFR.
erige à categoria de contribuinte, - Regime previdenciário próprio.
mas à mera condição de depositá- O fato da manutenção de regime
rio das quantias recebidas dos previdenciário, para seus servido-
usuários dos serviços de água. En- res não autoriza ao município
tão, obviamente, não se aplica ap~opriar-se da quota de preVidên-
aquele prazo prescricional especifi- cia, cujas imposição e destinação
co e sim (não fora o artigo 221 da específicas são da competência ex-
Consolidação das Leis Previdenciá- clusiva da União (CF art. 21, § 2?,
rias), o da prescrição ordinária I) .»
obrigacional, Isto é, de vinte anos.»
Embora não concorde com a fun- 2. - na AC n? 59.032 - SP, relator
damentação supratranscrita, por en- Ministro Antônio de Pádua Ribeiro,
tender que as contribuições previ- DJ de 2-4-81, ementado, verbls:
denciárias são espéCie do gênero tri- «MuniCípios - Quota de Previ-
buto e assim, sujeitas às normas dência.
dos arúgos 173 e 174 do Código Tri- I - A quota de previdência inci-
butário Nacional, no que concerne à de sobre os preços dos serviços que
decadência e à prescrição na espécie a municipalidade presta sem cará-
não se consumou o prazo pertinente ter fiscal e não padece de qualquer
a esses institutos. As competências eiva de ilegalidade ou de inconsti-
cobradas cobrem o período de 1972 tucionalidade.
(fevereiro) a 1973.Jtambém feverei-
ro), ut fI. 4. A NRQP data de 27-4-73, II - Apelação provida.»
a inscrição da díVida é de 7-2-74 e a
citação do executado efetivou-se em 3. - na AC n? 44.951 - SP, relator
19-5-76 (fI. 06 verso). Ministro José Néri da Silveira, DJ
de 1-10-81, assim ementado:
Quanto ao mérito, a sentença con- «Previdência Social.
tém longa e bem fundamentada ex-
posição sobre a exigibilidade da quo- - Quota de Previdência.
ta de previdência, in casu, fazendo a - As entidades de direito pÚblico
exegese do art. 227, l, a, do Decreto estão sujeitas ao recolhimento da
66 TFR - 99

quota de previdência nos serviços Ademais, In casu, não se cuida da


pÚblicos que prestam, onde previs- cobrança de taxa, mas preço públi-
ta sua incidência. co, por autarquia municipal, que o é
- Jurisprudência do TFR assen- a apelante.
te. Considero razoável a fixação dos
- Provimento ao recurso do honorários advocatícios em 10% (dez
INPS, negando-se provimento ao por cento) sobre o valor da causa,
apelO da ré.» mormente se o sucumbente é entida-
Contudo, a 1~ Turma do Colendo de municipal.
Supremo Tribunal Federal adotou Conheço a remessa ex offlcio,
decisão em sentido oposto, ao julgar mas, por confirmar a sentença,
o RE n? 71.040 - SP (DJ de 15-4-77), nego-lhe provimento, bem assim às
Relator o saudoso Ministro Rodri- apelações.
gues Alkmin. O voto de S. Exa., ape-
sar de concluir pelO não conhecimen- EXTRATO DA MINUTA
to do apelo extremo, é taxativo
quanto à inexigibilidade da Cota de AC n? 56.547 - SP (3.012.492)
Previdência aos Municípios. O vene- ReI.: Exmo. Sr. Min. Américo Luz.
rando acórdão veio ementado nestes Remte.: Juiz de Direito da 1~ Vara
termos: de Rio Claro. Aptes.: INPS e Depar-
«Cota de Previdência. tamento Autônomo de Agua e Esgoto
Não incidência sobre taxas co- de Rio Claro. Apdos.: Os mesmos.
bradas por Prefeitura Municipal. Decisão: A Turma, por unanimida-
Recurso Extraordinário não conhe- de, negou provimento a ambas as
cido.» apelações e confirmou a sentença re-
Não localizei outras decisões do metida. (Em 24-3-82 - 6~ Turma).
Excelso Pretório sobre o tema, de PartiCiparam do jUlgamento os
modo que, sigo a linha da jurispru- Exmos. Srs. Mins. José Dantas e
dência deste Tribunal, já que a aci- Wilson Gonçalves. Presidiu o julga-
ma referida, ao que me parece, se mento o Exmo. Sr. Min. José Fer-
constitui em entendimento isolado. nandes Dantas.

APELAÇAO CtVEL N~ 56.895 - RJ


Relator: O Sr. Ministro Adhemar Raymundo da Silva
Apelante: João Alves da Silva
Apelada: União Federal
EMENTA
Militar.
Se portador de doença grave, adquirida na ativa,
que o incapacita permanentemente para qualquer
atividade laborativa, faz jus à reforma, com proven-
tos do posto imediato.

ACORDA0 Decide a 3~ Turma do Tribunal Fe-


deral de Recursos, por unanimidade,
Vistos e relatados estes autos, em dar provimento à apelação, nos ter-
que são partes as acima indicadas: mos do voto do Sr. Ministro-Relator,
TFR - 99 67

na forma do relatório e notas taqui- ma, somente poderia ser feita com
gráficas constar~tes dos autos que fi- os proventos da mesma graduação,
cam fazendo parte integrante do pre- consoante o art. 108, item lI, 110,
sente julgado. item lI, 112, item V, 115, letra b e
Custas como de lei. 141, item IV, § 2?, da Lei n? 5.774/71;
que descabe o auxílio-invalidez, eis
Brasília, 12 de março de 1982 (data que tal benefício somente é concedi-
do julgamento) - Ministro Carlos do ao militar da ativa que tenha sido
Madeira, Presidente - Ministro reformado por incapacidade defini-
Adhemar Raymundo, Relator. tiva para qualquer trabalho, que ne-
cessite de internação permanente
RELATORIO em estabelecimento hospitalar, e
que dependa de assistência perma-
o Sr. Ministro Adhemar Raymun- nente de enfermagem.
do da Silva: João Alves da Silva pro-
pôs ação ordinária contra a União Réplica do autor, às fls. 26/28.
Federal, objetivando a revisão do Despacho Saneador, irrecorrido
ato de sua reforma para, em conse- (fl. 30).
qüência, ser considerado reformado Por sentença de fls. 46/50, o Dr.
com os proventos da graduação de 3? Juiz julgou improcedente a ação,
Sargento. condenando o autor nas custas e em
Alegou ter ingressado na Marinha honorários de 20% sobre o valor da
há mais de 22 anos, depois de rigoro- causa.
so exame médico, passandO a sofrer Apelou João Alves da Silva, dizen-
de dores na coluna, com conseqüente do ser falsa a informação do laudo
reforma na mesma graduação, por médico e que o ilustre julgador deci-
invalidez definitiva para o Serviço diu sem ouvi-lo; que o ilustre médi-
Ativo da Marinha; que a reforma em co, desconhecendo-o, depois de mais
causa foi efetivada erradamente, de 6 meses, quando o prazo era de 30
«considerando inclusive que a doen- dias, juntou a petição de fl. 44, infor-
ça não foi adquirida em serviço, ape- mando ao Juízo o seu não compare-
sar de seus 22 anos, 10 meses e 22 cimento.
dias de serviço», pelo que ajUíza a
presente, Objetivando a anulação da Contra-razões da União, às fls.
Portaria n? 2.311/75, para ser refor- 58/60.
mado com proventos de 3? Sargento Subiram os autos e, nesta Instân-
e os benefícios do auxílio-invalidez. cia, opinou a douta Subprocurado-
ria-Geral da República pelo não pro-
A inicial seguiram-se os documen- vimento do recurso.
tos de fls. 4/6.
E: o relatório.
Contestou a União (fls. 13/15), adu-
zindo que a pretensão em causa não VOTO
tem qualquer amparo legal, poiS o
motivo da reforma foi sua incapaci·
dade para continuar no Serviço Ati- O Sr. Ministro Adhemar
vo, em conseqüência de Escoliose Raymundo (Relator): A perícia judi-
Cervido Dorso Lombar Progressiva cial, in casu, é indispensável. O dig-
e de Hipertensão Arterial, constata- no Juiz, no despacho de fl. 30, deter-
das pela Junta Superior de Saúde; minou a sua realização, com desig-
que a enfermidade que o incapacitou nação de dia e hora para a diligência
não decorreu do Serviço por ele (fl. 30). Cumprido parcialmente o
prestado, mas sim de causa a ele despacho, foi marcado prazo para a
mesmo inerente; que, quanto à refor- apresentação dos laudos (Termos de
68 TFR - 99

fl. 41). Todavia, estes não vieram perícia iniciada, nos termos do voto
para os autos. Alega o perito judicial do Relator, devendo os autos baixa-
que o autor não compareceu. Diz o rem independentemente de acórdão.
autor, na apelação, que esteve no A fI. 75, o Dr. Domingos Ferreira
consultório do perito em companhia Gago Filho, indicado para funcionar
da sua esposa. Certo é que, iniciada como Perito do Juízo, tendo con-
a diligência, cumpria ao perito re- cluído a feitura do Laudo Médico pe-
querer ao Juiz providências para ticionou, requerendo a inclusão do
que o exame se ultimasse. A lei pro- mesmo aos autos do processo,
cessual é peremptória, no art. 427, encontrando-se este às fls. 76/81.
em estatuir que é dever do Juiz fixar
dia e hora para início da perícia, o Intimado a manifestar-se sobre o
que foi feito, e marcar prazo para Laudo, peticionou João Alves da Sil-
apresentação dos laudos. Está à fI. va, dizendo que a peça apresentada
41, que a diligência teve início, e pelo ilustre médico, concluiu ser ele,
marcou-se o pra;w de trinta dias pa- autor, portador de uma doença, en-
ra apresentação dos laudos. Mas, quadrada no art. 112, item IV e §§ 6?
surpreendentemente, o perito no- e 7~, da Lei n~ 5.774/71.
meado pelo Juiz, pela petição de fI. Pronunciou-se a União Federal,
44, leva ao conhecimento da autori- aduzindo que, ao contrário do que
dade que «o autor não compareceu alega o peticionário, o perito infor-
para a referida perícia». Então há, mou não haver relação de causa e
contradição entre o termo de fI. 41 e efeito entre a doença e o serviço mi-
a petição de fI. 44, pois, no dia desig- litar.
nado deveriam estar presentes os É o relatório.
peritos e o examinando. A diligência
tem o objetivo de propiciar o contac-
to da pessoa a ser periciada com os VOTO
peritos compromissados, oportunida-
de em que se inicia a diligência, que
se completa com a apresentação dos O Sr. Ministro Adhemar
laudos. Registre-se que o assistente Raymundo (Relator): O laudo com-
técnico da União, Dr. Edilson Pi- prova que o autor está incapacitado
mentel Batista, indicado à fl. 35, não para qualquer atividade laborativa
esteve presente ao início da vistoria, (folha n~ 81). Isso em decorrência da
nem assinou o termo de compromis- patologia osteo-articular, de que é
so, como é fácil constatar-se pela lei- portador. O perito oficial, em respos-
tura dos autos de fls. 41 e 42. ta a um dos quesitos, afirmou que o
Pelo exposto, meu voto é para se mal eclodiu, quando ele prestara
converter o julgamento em diligên- serviços à Marinha (folha n~ 78).
cia, a fim de que se realize a perícia,
na forma da lei. A doença incapacitante equipara-
se à espondiloartrose, um dos males
previstos na Lei n~ 5.774/71 (art. 112,
RELATORIO n? IV). É que, pelo parágrafo 6? do
artigo 112 da lei citada, toda doença
o Sr. Ministro Adhemar Raymun- que afeta a mobilidade, produzindo
do da Silva: Por acórdão de n. 68, a distúrbios graves e irreversíveis, de
Egrégia 3~ Turma do Tribunal Fede- modo a impossibilitar qualquer ativi-
ral de Recursos, apreciando a AC n~ dade para o trabalho, considera-se
56.895 - RJ, decidiu, por unanimida- paralisia. É o caso do autor. A doen-
de, converter o julgamento em dili- ça que o aflige, segundo atesta a
gência, a fim de que se efetuasse a perícia, é incapacitante, espondilo-
TFR - 99 69

patia, que seu caráter progressivo, EXTRATO DA MINUTA


no dizer do perito, levou-o a uma si-
tuação de permanente incapacidade. AC n? 56.895 RJ/RIP n?
3.070.883. Relator: Sr. Ministro Adhe-
Dou provimento à apelação, para mar Raymundo da Silva. Apte.: João
que o autor, reformado no posto de Alves da Silva. Apda.: União Fede-
cabo, faça jus aos proventos de ter-- ral.
ceiro sargento (Art. 114 da Lei n? Decisão: A Turma, por unanimida-
5.774/71). Pague a União as diferen- de, deu provimento à apelação, nos
ças salariais, estas devidamente cor- termos do voto do Sr. Ministro-
rigidas, a partir da Lei n? 6.899; ju- Relator. (3~ Turma, em 12-3-82.)
ros de mora, a partir da citação. Os Srs. Ministros Fláquer Scartez-
Custas pela União, e honorários de zini e Carlos Madeira votaram de
10% sobre o valor da condenação. acordo com o Sr. Ministro-Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro
É o meu voto. Carlos Madeira.
APELAÇAO CIVEL N? 57.013 - SP
Relator: O Sr. Ministro Antônio Torreão Braz
Remetente: Juízo Federal da 6~ Vara
Apelantes: União Federal e Henry Twidale - Auditoria Sociedade Civil
Ltda.
Apelados: Os mesmos
EMENTA
Direito Tributário. Imposto de renda. Sociedade
civil de prestação de serviços.
A circunstância de utilizar a entidade, sob qual-
quer regime jurídico, trabalho de terceiros para a
execução de serviços prOfissionais que constituam
seu objeto social, não desnatura a sua finalidade, em
ordem a subtrair-lhe o favor da alíquota reduzida
(Dec. n? 58.400/66, art. 248, § I?, «b»; Portaria n?
38/76, do Ministro da Fazenda).
Na repetição de indébito, a correção monetária é
calculada desde a data do pagamento (TFR, Súmula
n? 46).
Sentença reformada em parte.
ACORDA0 a sentença remetida, na forma do
relatório e notas taquigráficas cons-
Vistos e relatados os autos, em que tantes dos autos que ficam fazendo
são partes as acima indicadas: parte integrante do presente julgado.
Decide a 6~ Turma do Tribunal Fe- Custas como de lei.
deral de Recursos, por unanimidade, Brasília, 25 de outubro de 1982 (da-
dar provimento à apelação da auto- ta do julgamento) Ministro
ra, e negar provimento à apelação Antônio Torreão Braz, Presidente e
da União Federal, mantida, no mais, Relator.
70 TFR - 99

RELATORIO A Subprocuradoria-Geral da Repú-


blica opinou pelO arquivamento do
O Sr. Ministro Antônio Torreão processo (Decreto-Lei n? 1.893/81,
Braz: Henry Twidale - Auditoria art. 4?, II - fI. 89).
Sociedade Civil Ltda. moveu ação Sem revisão (RI, art. 33, IX).
contra a Fazenda Nacional, objeti-
vando a anulação de débito relativo É o relatório.
a imposto de renda, exercício de
1968, e a conseqüente restituiçã~ da
quantia de Cr$ 17.083,70, recolhldos VOTO
pela guia de fI. 13, devidamente cor-
rigida monetariamente.
Alegou improceder a cobrança do-
o Sr. Ministro Antônio Torreão
Braz (Relator): A autora cumulou
tributo pela alíquota de 30%, pois - dois pedidos: o de anulação do débi-
sendo uma sociedade civil prestado- to fiscal e o de restituição do impos-
ra de serviços - fazia jus à alíquota to recolhido.
de 11%, na conformidade do art. 248,
§ 1?, letra b, do Decreto n? 58.400/66. O Dr. Juiz entendeu inviável o pri-
meiro, porque o pagamento operou a
Contestou a ré, aduzindo, em preli- extinção do crédito tributário (CTN,
minar, carência do pedido anulató- art. 156, 1), mas julgou procedente o
rio, eis que extinto o débito pelo pa- segundo, subordinando, porém, _a
gamento, bem assim que a inicial correção monetária à não devoluçao
não se fez acompanhar dos estatutos do indébito no prazo de sessenta (60)
da sociedade; no mérito, que os ser- dias, a contar do trânsito em julgado
viços não eram prestados exclusiva- da decisão.
mente pelos sócios da postulante, co-
mo exigido em lei (fls. 26/36). Não vinga a preliminar da União
Federal, relativa à incompatibilida-
As fls. 65/67, foi juntado o contrato de dos pedidos, uma vez que eles
social da autora. preenchem os requisitos exigidos pe-
O Dr. Juiz Federal em exercício lo art. 292, § 1?, do CPC.
na 6~ Vara de São Paulo julgou a No mérito, verifica-se que a autora
postulante carecedora da ação anu- é uma sociedade civil, cujo objeto
latória e procedente a de repetição consiste na prestação de serviços
de indébito, para condenar a ré a profissionais concernentes a finan-
restituir o valor do imposto recolhi- ças, economia e peritagens (fI. 65),
do, acrescido de correção m,?netária, mas a Fazenda Nacional lhe negou o
se não efetivada a devoluçao em 60 direito à alíquota privilegiada previs-
dias após o trânsito em julgado (Lei ta no Regulamento do Imposto de
n? 4.357/64, art. 7?, §§ 4? e 5?), bem Renda (Decreto n? 58.400, de 10-5-66,
assim de juros da mora (CTN, art. art. 248, § 1?, b), sob o argumento de
167, parágrafo único), custas e hono- que «os serviços profissionais presta-
rários advocatícios de 10% sobre o dos pela empresa não são executa-
valor da condenação (fls. 71/73). dos exclusivamente pelos seus só-
Houve remessa de ofício e apela- cios, mas por estes e por outros téc-
ções da autora - pretendendo a nicos de idêntica profissão, estes me-
atualização do depósito desde a sua diante salário».
efetivação até o momento em que A circunstância assinalada não
devolvido (fls. 80/83) - e da União descaracteriza a natureza e a finali-
Federal, insistindo nas alegações an- dade do ente societário, nem lhe reti-
tes aduzidas (fls. 76/78). ra o favor legal, conforme jurispru-
Contra-razões da União às fI. 84. dência assente.
TFR - 99 71

Aliás, foi o que reconheceu o pró- Com estas considerações, dou pro-
prio Ministro da Fazenda, ao esta- vimento à apelação da autora para o
tuir, na Portaria n? 38, de 30-1-976, fim nela colimado e nego provimento
ser irrelevante, para o aludido fim, à apelação da União Federal, manti-
que a sociedade utilize, sob qualquer da no mais a sentença remetida.
regime jurídico, trabalho de tercei-
ros para a execução de serviços pro- EXTRATO DA MINUTA
fissionais que constituam seu objeto
social. AC n? 57.013 - SP - ReI.: Sr. Min.
Antônio Torreão Braz. Remte.: Juízo
Sobre o termo inicial da fluência Federal da 6~ Vara. Aptes.: União
da correção monetária, não andou Federal e Henry Twidale - Audito-
bem a r. sentença de inferior instân- ria Sociedade Civil Ltda. Apdos.: Os
cia, sendo de inteira procedência a mesmos.
impugnação da autora, à vista do
enunciado da Súmula n? 46, deste Co- Decisão: A Turma, por unanimida-
lendo Tribunal, in verbis: de, deu provimento à apelação da
autora, e negou provimento à apela-
«Nos casos de deVOlução do de- ção da União Federal, mantida, no
pósito efetuado em garantia de ins- mais, a sentença remetida. (Em 25-
tância e de repetição do indébito 10-82 - 6~ Turma).
tributário, a correção monetária é Participaram do julgamento os
calculada desde a data do depósito Srs. Ministros Wilson Gonçalves e
ou do pagamento indevido e incide Miguel Ferrante. Presidiu o julga-
até o efetivo recebimento da im- mento o Exmo. Sr. Min. Torreão
portância reclamada». Braz.

APELAÇAO C1VEL N? 57.197 - RJ


Relator: O Sr. Ministro Carlos Mário Velloso
Remetente Ex Officio: Juiz Federal da 2? Vara
Apelante: União Federal
Apelado: Rubens Dario Macedo de Alcântara
EMENTA
Administrativo. Funcionário. Disponibilidade.
Aproveitamento. Plano de claSSificação de cargos.
Lei n? 5.645/70, Decreto-Lei n? 1.341/74.
I - Funcionário em disponibilidade, em virtu-
de de ter sido declarado desnecessário o seu cargo,
na forma do disposto no Decreto-Lei n? 489, de 4-3-69,
art. I?, parágrafos I? e 2?, e Decreto n? 64.394, de 23-
4-69, artigo I?, parágrafos I? e 2? Inexistência de di-
reito à inclusão no Plano de Classificação de Cargos
da Lei n? 5.645, de 10-12-70, tendo em vista o disposto
nos seus arts. 8?, II, 9? e 12.
II - O aproveitamento do servidor em disponi-
bilidade, resulta no desaparecimento da causa impe-
ditiva do direito à inclusão que é a desnecessidade
do cargo. Dito aproveitamento autoriza afirmativa
72 TFR - 99

no sentido de ser necessário o cargo. Direito, assim,


à inclusão no PCC (Decreto-Lei n? 1.341/74, art. I?).
Direitos patrimoniais a partir da data do aproveita-
mento.
lU - Recurso provido, em parte.

ACORDA0 declarado promovido ao Nível 16-


C, no cargo de Oficial de Adminis-
Vistos, relatados e discutidos estes tração, do Quadro do Pessoal -
autos em que são partes as acima in- Parte Suplementar do Ministério
dicadas: do Trabalho;
Decide a 3~ Turma do Tribunal Fe- que a citada aposentadoria obe-
deral de Recursos, por unanimidade, deceu ao comando constitucional,
dar provimento parcial à apelação, vale dizer, à regra constante do §
na forma do relatório e- notas taqui- 1? do art. 177, verbis:
gráficas anexas que ficam fazendo «O servidor que já tiver satis-
parte integrante do presente julgado. feito ou vier a satisfazer, dentro
Custas como de lei. de um ano, as condições necessá-
Brasília, 28 de maio de 1979 (data rias para a aposentadoria nos
do julgamento) - Ministro Armando termos da legislação vigente na
Rollemberg, Presidente - Ministro data desta Constituição,
Carlos Mário Velloso, Relator. apresentar-se-á com os direitos e
vantagens previstos nessa legis-
RELATO RIO lação»;
que, ademais, na forma do dis-
o Sr. Ministro Carlos Mário posto no artigo 178, daquela Consti-
Velloso: A r. sentença recorrida, às tuição, sendo comprovadamente,
fls. 55/60, lavrada pelo MM. Juiz Fe- um ex-combatente da Força Expe-
deral Elmar Wilson de AgUiar Cam- dicionária Brasileira, assegurado
pos, assim relata a espéCie: lhe estava, entre outros benefícios,
«Rubens Dario Macedo de Alcân- a aposentadoria com proventos in-
tara, devidamente qualificado na tegrais aos 25 anos de serviço;
inicial, ajuizou a presente ação or- que, decorrido mais de um ano,
dinária contra a União Federal, pela Portaria n? 3.317 (doc. 4), o ti-
alegando: tular daquela Secretaria do Estado
resolveu tornar sem efeito sua apo-
que foi admitido em I? de dezem- sentadoria, em decorrência do que
bro de 1954 e lotado, de início, na ocorreu sua reversão à atividade,
extinta Comissão do Imposto Sindi- assumindo, assim, imediatamente,
cal, sendo, posteriormente, trans- suas funções, sendo, a segUir, por
ferido para o Quadro Suplementar conveniência da administração e
do Ministério do Trabalho, em vir- sem oportunidade de optar, coloca-
tude da Lei n? 4.589, de 1964, de- do em disponibilidade remunera-
sempenhando suas funções, inin- da, a partir de I? de agosto de
terruptamente, até junho de 1968; 1969, com apoio no § 2? do artigo 1?
que a 10 desse mês e ano, pela do Decreto-Lei n? 489;
Portaria n? 261, lhe foi concedida que essa disponibilidade perdu-
aposentadoria, de acordo como ar- rou até 23 de maio de 1975, data
tigo 177, § I? da Constituição do em que, pela Portaria n? 3.148, do
Brasil, de 24-1-67, tendo sido, nos Sr. Ministro do Trabalho, foi apro-
termos da Lei n? 3.906, de 19-6-61, veitado no serviço em cargo igual
TFR - 99 73

ao que tinha na disponibilidade, que, pelo exposto, a par de ser


em vaga emergente da aposenta- nula, de pleno direito, a disponibili-
doria de José D' Almeida Nobre; dade a que fora conduzido, espera
a procedência da ação, para o fim
que, em obediêncià ao determi- de ser a União Federal compelida
nado na Lei n? 5.645, de 10-12-70, a incluí-lo no Plano de Classifica-
submeteu-se a teste de avaliação ção de Cargos na Categoria Fun-
de treinamento, com resultado sa- cional Agente Administrativo -
tisfatório, sendo publicada lista Classe C (Nível 4), com a referên-
classificatória dos integrantes da cia de vencimentos de 32 a 36, com
clientela originária dos Grupos todos os direitos, vantagens e be-
aprovados nos respectivos proces- nefícios, diferença de vencimentos,
sos seletivos, onde figura sob n? acrescidos de juros de mora, a
540, a saber: Categoria Funcional partir de I? de novembro de 1974,
SA 0801 - Agente Administrativo custas e honorários de advogado,
- Classificação dos Habilitados no na base de 20%, do que apurado
Processo Seletivo; em execução da sentença.
que a situação funcional acima Juntou os documentos de fls. 7 a
enfocada em sua fiel e rigorosa se- 35.
qüência cronológica, a circunstân- Devidamente citada, ofereceu a
cia de não ter sido incluído no novo União Federal a contestação de fls.
Plano de Classificação de Cargos 40/42, pedindO a improcedência da
e, sobretudo, o convencimento de ação».
atender e satisfazer às exigências
legais endereçadas à espécie,
levaram-no a requerer, à guisa de A sentença, ao cabo, julgou proce-
medida reparadora, sua classifica- dente a ação, na forma do pedido.
ção para Cargos ou Empregos Efe- Os autos subiram, em razão do
tivos - Terceiro Grupo, Serviços prinCípio legal do duplo grau de ju-
Auxiliares SA 800 - Letra E, con- risdição e apelo da União Federal,
forme o processo administrativo n? às fls. 62/64.
115.064/76; Resposta às fls. 67/76.
que é oportuno evidenciar, para A douta SUbprocuradoria-Geral da
melhor equacionamento do proble- República oficiou às fls. 79/81, pela
ma, que nenhum dispositivo da Lei reforma da decisão recorrida. Desta-
n? 5.645, de 10-12-70, suprime ou ve- co do parecer:
da o direito dele à classificação, do
mesmo modo que a Instrução Nor-
mativa n? 26, de 26-8-74, do Diretor- «6. Data máxima venia, inexiste
Geral do DASP, não o enquadra qualquer dispositivo legal que as-
em qualquer de seus itens; segure ao autor o direito de exigir
que seu recurso na esfera admi- que a Administração o inclua no
nistrativa não prosperou sob a es- novo Plano, devendo ser ressaltado
peciosa alegação de que ele se en- que o suplicante, em disponibilida-
contrava em disponibilidade até a de em I? de novembro de 1974, não
data limite de 31-10-74, apesar da pOderia mesmo ter concorrido ao
circunstância do Ministério do Tra- Plano que retratou uma situação
balho, em março de 1975, ainda existente àquela data.
não ter efetivado a implantação do 7. O posterior aproveitamento do
novo Plano de Classificação de suplicante lhe abriu uma possibili-
Cargos; dade de inclusão em vaga existen-
74 TFR - 99

te, em órgão da administração di- «7. Em obediência ao recomen-


reta ou autárquica; mas não lhe dado pela Lei n? 5.645, de 10-12-70
assegurou, conforme ressaltado, o (doc. 9), que estabelece diretrizes
direito de exigir tal inclusão nesse para a Classificação de Cargos do
ou naquele órgão, condicionada Serviço Civil da União e Autar-
que está a mesma aos estreitos li- qUias Federais, o suplicante
mites da lotação aprovada pelo Se- submeteu-se a Teste de Avaliação
nhor Presidente da República, nos de Treinamento, com resultado sa-
termos do Decreto n? 74.448/74. tisfatório, como faz claro o Edital
8. De qualquer forma, ainda que, n? 6/75, do Sr. Diretor-Geral do De-
gratia argumentandi, direito hou- partamento do Pessoal do Ministé-
vesse, nada indica que essa inclu- rio do Trabalho, pUblicado no
são devesse ocorrer na classe «C» Dtârio Oficial, de 8-9-75, pág.11.752,
(final), como pede o autor, sem confirmado pela Portaria n? 290,
justificar» . divulgada em suplemento ao Bole-
tim do Pessoal n? 2, de 5-1-76, tor-
É o relatório. nando públiCO a lista classificató-
ria dos integrantes da clientela ori-
VOTO ginâria dos Grupos aprovados nos
respectivos processos seletivos, em
O Sr. Ministro Carlos Mârio cUjo rol figura o requerente, à fI.
Velloso (Relator): 110, número 540 - a saber: Catego-
ria Funcional SA 0801 - Agente
I Adminitrativo - Classificação dos
O autor, ora apelado, foi colocado Habilitados no processo seletivo
em disponibilidade em 1-8-69 (docs. 10, 11 e 12)). (fls. 3/4).
(Decreto-Lei n? 489, de 4-3-69, art. 1?,
§§ 1? e 2?; Decreto n? 64.394, de 23-4-
69, art. 1?, §§ 1? e 2?), por isso que o
seu cargo foi declRrado desnecessá- A r. sentença julgou procedente a
rio (fls. 14/16). ação, argumentandO assim, às fls.
58/60:
Perdurou a disponibilidade até 23-
5-75, «data em que, pela Portaria n?
3.148, .... o suplicante foi aproveita-
do». (Portaria n? 3.148, de 23-5-75, do «Sustenta a União Federal que,
Sr. Ministro do Trabalho, fI. 18). estando o autor em disponibilida-
Porque se encontrava em disponi- de, logicamente não se encontrava
bilidade até a data-limite de 31-10-74, em atividade a 1? de novembro de
não foi incluido no PCC. 1974, data-base para a implantação
Pediu o autor, na inicial, fosse a do Plano de Classificação de Car-
União Federal compelida a incluí-lo gos. Por outro lado, dessa disponi-
no PCC, na Categoria Funcional bilidade decorria claramente, para
Agente Administrativo, Classe «C» todos os efeitos, ser ele desneces-
(nível 4), com referência de venci- sário às atividades do Ministério a
mentos de 32 a 36, com todos os di- que pertencia, disto decorrendo a
reitos, vantagens e benefícios, dife- orientação do DASP, no sentido
rença de vencimentos, juros de mo- dos disponíveis ficarem excluídos
ra, a partir de 1-11-74. do Decreto n? 77.474/76, ex vi do
disposto no artigo 9?, item IH, do
Argumentou, ainda, sem contesta- Decreto-Lei n? 1.341/74, por isso
ção da ré: mesmo que tinha suspenso o víncu-
lo funcional.
TFR - 99 75

A argumentação contida na con- sem efeito, mas, de qualquer mo-


testação foi, todavia, acertadamen- do, feita com base no § 2? do art. I?
te refutada na réplica oferecida. do Decreto n? 64.394, de 23 de abril
Com efeito, apesar do disposto de 1969, cumpre ter em conta que o
no parágrafo único do artigo 2?, do artigo 5? desse diploma legal ex-
Decr!=to-Lei n? 1.341, de 1974, a si- pressamente declarara que «o ser-
tuaçao do autor Rubens Dario Ma- vidor em disponibilidade continua-
cedo de Alcântara era de certa rá vinculado, para todos os efeitos
maneira peculiar. Assim é que, se- inclusive o de recebimento de pro~
gundo o entendimento do DASP, ventos, ao órgâo de pessoal do Mi-
constante do expediente de fls. nistério ou da entidade da Admi-
32/35 (doc. n? 18), tornara-se ne- nistração indireta a que perten-
cessária uma revisão geral de to- cer».
dos os casos de disponibilidade que
tiveram por fundamento o Decreto-
Lei n? 489, de 4 de março de 1969,
adotando-se medidas entre as
quais, por exemplo, a exclusão da II
declaração de desnecessidade e si-
multânea anulação da disponibili- Em verdade, ao que me parece, ao
dade dos servidores que ostenta- funcionário em disponibilidade em
vam a situação de ex-combatente, razâo de ter sido declarado d~sne­
incompatível com a disponibilida- cessário o seu cargo, não assiste o
de. direito de ser incluído no Plano de
Classificação de Cargos da Lei n?
Portanto, se não foi esta anula- 5.645, de 10-12-70.
da, perdurando, ao revés, até maio
de 1975, o foi por erro ou incúria da É que citado Plano, que busca ins-
Administração, não devendo, em piração nas diretrizes para a refor-
conseqüência, ser o autor prejudi- ma administrativa do Decreto-Lei n?
cado. 200, de 1967, art. 94 e seu parágrafo
único, e consubstanciado na Lei n?
De fato, como assinalado, a sub- 5.645, de 10-12-70, não representa, na
missão dos poderes administrati- sua feição ontológica, aumento de
vos ao império da legalidade é um vencimento do pessoal civil' busca
dos aspectos predominantes do Es- sim, racionalizar o serviço, ~ediant~
tado de Direito, pelo que «não pode valorização do servidor, visando, so-
a Administração ultrapassar as bretudo, o cargo público e a necessi-
fronteiras da legalidade para dade do serviço. É ler, par-a se che-
acobertar-se nas regiões sombrias gar a essa conclusão, os arts. 8?, II,
do arbítrio. Quando abusiva a ação 9? e 12 da Lei n? 5.645/70.
da autoridade, mesmo discricioná-
ria: caracteriza-se o ato ilícito, sus- Ora, declarado desnecessário o
cetIvel de exame pela via judiciá- cargo ocupado pelo servidor, parece-
ria» (Ac: do TFR na AC n? 22.764 nos claro que tal situação não se
- SP, Relator Ministro J. J. Mo- coaduna com o estabelecido nos arti-
reira Rabello - in TFR, Jurispru- gos 8?, II, 9? e 12 da Lei n? 5.645/70.
dência, voI. 19, pág. 54). Em tal sentido, aliás, já decidiu a
Não colhe, por outro lado, in Egrégia 2~ Turma, na AMS n? 77.387
RJ, Relator o Sr. Ministro
casu, o argumento calcado na sus- Amarílio Benjamin. Também esta
pensão do vínculo funcional. Egrégia 3~ Turma, na AC n? 48.726
A disponibilidade do autor foi ir- - MG, de que fui relator, assim de-
regular e deveria ter sido tornada cidiu:
76 TFR - 99

«Administrativo. F'uncionário. de da Administração Federal Dire-


Disponibilidade. Plano de Classifi- ta ou Indireta ou da Administração
cação de Cargos. Lei n? 5.645, de Direta ou Indireta dos Estados ou
10-12-70. dos Municípios, ressalvada a hipó-
I - Funcionário em disponibili- tese de acumulação lícita existente
dade, em virtude ter sido declara- à data da vigência do Decreto-Lei
do desnecessário o seu cargo, na n? 489, de 4 de março de 1969».
forma do disposto no Decreto-Lei Ora, a suspensão do vínculo fun-
n? 489, de 4-3-69, art. 1?, §§ 1? e 2?, cional não se coadunaria com o tipo
e Decreto n? 64.394, de 23-4-69, arti- de proibição imposto no artigo suso
go I?, §§ I? e 2? Inexistência de di- transcrito.
reito à inclusão no Plano de Classi-
ficação de Cargos da Lei n? 5.645, Destarte, o argumento que me pa-
de 10-12-70, tendo em vista o dis- rece, realmente, procedente, assim
posto nos seus artigos 8?, lI, 9? e capaz de autorizar a afirmativa no
12. sentido de que ao funcionário em dis-
ponibilidade, em razão de ter sido
II - Recurso provido». (AC n? declarado desnecessário o seu cargo,
48.726 - MG, julgamento de 6-12- não assiste o direito de ser incluído
78) . no PCC da Lei n? 5.645, de 1970, é o
que se embasa nos artigos 8?, lI, 9? e
In 12 da Lei n? 5.645, de 1970, exatamen-
te como acentuado no parecer da
o argumento da ré, com base no douta Subprocuradoria-Geral çla Re-
art. 9?, IH, do Decreto-Lei n? 1.341, pública, lavrado pelo Dl'. Paulo Soll-
de 22-8-74, de que o autor não faria berger, às fls. 79/81.
jus ao que pede, porque estaria com
o seu vínculo funcional suspenso, em
razão da disponibilidade, não o aco-
lho, data venia. A disponibilidade IV
não suspende o vínculo funcional. O
Decreto n? 64.394" de 23-4-69, que re- Se é assim, se é correto afirmar
gulamenta o Decreto-Lei n? 489, de 4- que ao funcionário em disponibilida-
3-69, dispõe, expressamente, no seu de, em virtude de ter sido declarado
artigo 5?: desnecessário o seu cargo, na forma
«Art. 5? O servidor em disponi- do Decreto-Lei n? 489/69 e Decreto n?
bilidade continuará vinculado para 64.394/69, não assiste direito à inclu-
todos os efeitos, inclusive o de re- são no PCC da Lei n? 5.645/70, por-
cebimento de proventos, ao órgão que, declarado desnecessário o car-
de pessoal do Ministério ou da enti- go ocupado pelo servidor, parece
dade da Administração indireta a claro que tal situação não se coadu-
que pertencer». na com o estabelecido nos artigos 8?,
lI, 9? e 12, da citada Lei n? 5.645/70,
E tanto não há suspensão do víncu- também parece claro que, desapare-
lo funcional, que o referido Decreto cida a causa - a desnecessidade do
n? 64.394, de 23-4-69, estabeleceu, no cargo, com o subseqüente aproveita-
seu artigo 7?: mento do servidor - faltaria base ao
«Art. 7? Ao servidor posto em argumento. Vale dizer, aproveitado
disponibilidade será vedado, sob o servidor, assim necessário o cargo,
pena de demissão, exercer qual- ou o serviço do servidor (caso con-
quer cargo, função ou emprego ou trário persistiria a disponibilidade),
prestar serviços retribuídos me- assiste-lhe o direito ao enquadra-
diante recibo, em órgão ou entida- mento no PCC.
TFR - 99 77

Isto me parece, data venia, evi- no caso, e se temos presente que o


dente, face ao preceituado no artigo artigo 2? e seu parágrafo único, do
1? do Decreto-Lei n? 1.341, de 22-8-74, Decreto-Lei n? 1.341174, estabelece
que ordena: uma «data-básica» para aplicação
«Art. I? O Plano de Classifica- dos valores de vencimentos, pelo que
ção de Cargos, instituído com base não consagra a regra impeditiva de
nas diretrizes estabelecidas na Lei que fala a ré, conclusão outra não se
n? 5.645, de 10 de dezembro de 1970, pOde chegar, senão àquela de que é
será aplicado simultaneamente a procedente o pedido do autor, quan-
todos os Grupos de cargos efetivos do este afirma ter direito a ser in-
e às respectivas Categorias Fun- cluído no PCC.
cionais, bem assim à totalidade de A afirmativa última, todavia, im-
Orgãos integrantes da Administra- põe uma conclusão: se o art. 2?, pa-
ção Federal direta e Autarquias rágrafo único, do Decreto-Lei n?
que haj am preenchido as condições 1.341174, diz respeito à aplicação dos
estabelecidas nos itens I e II do ar- valores de vencimentos, e se na data-
tigo 8? da mesma Lei, respeitadas básica de tal implantação o autor es-
as normas deste Decreto-Lei». tava em disponibilidade, a tais valo-
Ora, o aproveitamento do autor res somente fará jus a partir do mo-
Impõe a afirmativa de que o seu car- mento em que foi aproveitado, em
go é necessário, ou que o seu serviço que foi declarado necessário, em
é necessário; dito aproveitamento re- conseqüência do aproveitamento, o
sulta na inclusão do mesmo na lota- seu cargo.
ção do órgão no qual foi servir. Aten- No particular, portanto, a sentença
dido estaria, assim, o item lI, do art. merece reforma.
8?, da Lei n? 5.645170, mesmo porque
não tenho ciência de que, num deter- v
minado órgão, dentro na sua lotação
de cargos, discriminaram-se alguns Merece reforma, também, a r.
para o enquadramento, separando-se sentença, quando ordena a inclusão
outros que não seriam enquadrados. do autor na classe «C» (final), com
Necessário o cargo, o que se deduz referência de vencimentos de 32 a
do ato de aproveitamento do autor, 36.
repete-se, atendido estaria o que es-
tá disposto no art. 8?, lI, da Lei n? Pode ser que seja este o direito do
5.645/70. autor. O certo é que tal direito, co-
mo bem escreve a douta Subprocu-
Isto, aliás, não foi contestado pela radoria-Geral da RepÚblica, não está
ré que argumentou, simplesmente, justificado.
que o autor não teria direito ao en-
quadramento, tão-somente porque se VI
encontrava em disponibilidade «na
data-básica da implantação do novo Em resumo: reconheço o direito do
Plano, ex vi do art. 2?, parágrafo autor a ser incluído no PCC, na Cate-
único, do Decreto-Lei n? 1.341174, ra- goria Funcional Agente Administra-
zão pela qual não foi incluído, como tivo, com efeitos patrimoniais a par-
é óbvio, no Decreto n? 77.474/76». tir da data do seu aproveitamento;
(Contestação, fI. 40). não seria possível reconhecer-se, já,
Todavia, se relembramos, como porque não demonstrado, que tal in-
retro tentamos demonstrar, que não clusão seja feita na Classe «C»
é pertinente a invocação do art. 9?, (nível 4), com referência de venci-
lU, do Decreto-Lei n? 1.341, de 1974, mentos de 32 a 36.
78 TFR - 99

Nestes termos, dou provimento ção, nos termos do voto do Sr.


parcial ao apelo. Ministro-Relator. (Em 28-5-79 - 3~
Turma).
EXTRATO DA ATA Os Srs. Ministros Armando Rol-
lemberg e Miguel Jerônymo Ferran-
te votaram de acordo com o Relator.
AC n? 57.197 - RJ - ReI.: Sr. Min. Compareceu para compor quorum
Carlos Mário Velloso. Remte.: Juiz regimental o Sr. Ministro Miguel Je-
Federal da 2~ Vara. Apte.: União Fe- rônymo Ferrante. ·Os Srs. Ministros
deral. Apdo.: Rubens Dario Macedo Lauro Leitão e Elmar Campos não
de Alcântara. compareceram, por motivo justifica-
Decisão: A Turma, por unanimida- do. Presidiu o jUlgámento o Sr. Mi-
de, deu provimento parcial à apela- nistro Armando Rollemberg.

APELAÇAO C1VEL N? 57.637 - MG


Relator: O Sr. Ministro Armando Rollemberg
Remetente: Juiz Federal da 3? Vara
Apelante: União Federal
Apelado: Pampulha Iate Clube
EMENTA
«Imposto de renda - Isenção relativa - Se o fa-
vor depende de reconhecimento da autoridade admi-
nistrativa, o respectivo efeito, por isso que apenas
declaratório, retroage, alcançando os lançamentos
efetuados desde a data da norma legal concessiva do
beneficio.
- Ação anulatória julgada procedente em sen-
tença que se confirma».

ACORDA0 RELATORIO
Vistos e relatados os autos, em que o Sr. Ministro Armando
são partes as acima indicadas: Rollemberg: Pampulha Iate Clube
propôs contra a União ação anulató-
Decide a 4~ Turma do Tribunal Fe- ria de débito fiscal, relativa a impos-
deral de Recursos, por unanimidade, to de renda dos exercícios de 1965 a
negar provimento à apelação, na for- 1970, argumentando que gozava de
ma do relatório e notas taquigráficas isenção do tributo, como entendera o
constantes dos autos que ficam fa- Conselho de Contribuintes em deci-
zendo parte integrante do presente são proferida em requerimento no
julgado. qual pleiteara o reconhecimento de
tal direito, decisão essa que, embora
Custas como de lei. de data posterior aos exercícios refe-
ridos, alcançava-os, pois tinha efeito
Brasília, 30 de junho de 1982 (data simplesmente declaratório, concedi-
do julgamento) - Ministro Armando do que fora o favor pelo art. 30 da
Rollemberg, Presidente e Relator. Lei n? 4.506, de 1964.
TFR - 99 79

A União contestou, alegando que a car se a isenção prevista na lei se


isenção reconhecida pelo Conselho aplica ao caso concreto do reque-
de Contribuintes ao autor, somente rente.
alcançara os exercícios posteriores a
tal reconhecimento, porque condicio- E adiante:
nada a este ato e, ainda, que no ca- «A falta do pedido de reconheci-
so concreto, os lançamentos haviam mento não prejudica o direito à
decorrido da inexistência de escrita isenção, mas SUjeita a pessoa
regular da autora que demonstrasse jurídica a ser lançada pelo impos-
o seu direito à isenção. to. O reconhecimento pode ser pe-
A sentença deu pela procedência dido depois do lançamento e, por
da ação, firmando-se, para tal, em ter efeito declaratório, importa no
ensinamento de José Luiz Bulhões cancelamento do lançamento ante-
Pedreira, invocado pela autora. A rior.
União apelou, foram oferecidas
contra-razões e, finalmente, já neste A ausência de reconhecimento,
Tribunal, a Subprocuradoria opinou ou do respectivo pedido, não impe-
pela reforma do julgado recorrido. de a pessoa isenta de se opor ao
lançamento com fundamento na
É o relatório. isenção outorgada na lei».
VOTO Citou, depois, acórdão do Conselho
de Contribuintes, assim ementado:
O Sr. Ministro Armando «Reconhecido o direito à isenção
Rollemberg (Relator): Como se viu prevista em lei, cancela-se débito
do relatório, a questão discutida nos anteriormente apuradO, mesmo re-
autos se resume ao exame do efeito, lativo a exercícios financeiros an-
no caso de isenção relativa, isto é, teriores.
cujo gozo depende de requerimento à
autoridade administrativa, do ato Considerando que este reconheci-
desta que a reconhece, isto é, se ori- mento, tendo efeito declaratório,
ginária, como obrigatoriamente é de aplica-se retroativamente, como
lei, nos casos em que o favor depen- vem decidindo este Conselho, in-
de do preenchimento de condições a clusive através do acórdão de n?
serem reconhecidas por ato da auto- 55.332, de 10-4-63». (DO - Seção IV
ridade administrativa, o efeito res- - Apenso n? 55 - 24-3-66 - pág.
pectivo se faz sentir desde a data da 216»>.
norma legal concessiva do benefício, Trouxe à colação, mais adiante,
ou se apenas alcança os fatos poste- decisão da 2~ Turma deste Tribunal,
riores ao dito ato da autoridade. que citou pela ementa, do seguinte
Trouxe a autora aos autos a opi- teor:
nião de José Luiz Bulhões Pedreira,
assim externada: «Isenção do imposto de renda
(artigo 23 do RIR/66). Reconhecido
«A Lei regUla o requerimento à o direito à isenção, fica cancelado
autoridade administrativa como o débito antes apurado, mesmo re-
pedido de reconhecimento, e não lativo a exercícios financeiros an-
de atribuição de isenção. A isenção teriores.»
decorre da lei, não nasce do ato
administrativo de reconhecimento A orientação adotada nos textos li-
que tem apenas efeito declaratório. dos é, sem dúvida, a exata, pois se a
É a oportunidade aberta à admi- isenção somente pOde ser concedida
nistração do imposto para verifi- por lei, desde o momento em que es-
80 TFR - 99

ta a estabelece, já não surge a obri- EXTRATO DA MINUTA


gação tributária com a ocorrência
do fato gerador, e, portanto, se for AC n? 57.637 - MG - ReI.: O Sr.
condicionada à demonstração do Min. Armando Rollemberg. Remte.:
preenchimento de determinadas con- Juiz Federal da 3~ Vara. Apte.:
dições a serem reconhecidas por au- União Federal. Apdo.: Pampulha Ia-
toridade administrativa, o ato desta te Clube.
apenas declara que, à data do fato Decisão: A Turma, por unanimida-
gerador, a obrigação não deveria ter de, negou provimento à apelação.
surgido e, portanto, anula o crédito (Em 30-6-82 - 4~ Turma).
fiscal porventura constituído.
Os Srs. Min. Carlos Mário Velloso
Correta, assim, a sentença ao jul- e Antônio de Pádua Ribeiro vota-
gar a ação procedente. ram com o Relator. Presidiu o jul-
mento o Sr. Min. Armando Rol-
Nego provimento à apelação. lemberg.

APELAÇAO CIVEL N? 60.558 - RS


Relator: O Sr. Ministro Miguel Jerônymo Ferrante
Apelante: SI A Extrativa Tanino de Acácia
Apelado: Banco Nacional de Habitação
EMENTA
Anulatória de débito - FGTS - Legitimado ad
processum, o INPS age como substituto processual,
representando, em Juízo, o B.N.H., na cobrança de
contribuições devidas ao FGTS. Apelação provida.

ACORDA0 RELATORIO
Vistos e relatados os autos, em que O Sr. Ministro Miguel Jerônymo
são partes as acima indicadas: Ferrante: S.A. Extrativa Tanino de
Acácia, qualificada nos autos, pro-
Decide a 6~ Turma do Tribunal Fe- pôs, no Juízo Federal da 2~ Vara da
deral de Recursos, por unanimidade, Seção Judiciária do Estado do Rio
dar provimento à apelação, para re- Grande do Sul, ação ordinária contra
formar a sentença, em ordem a que o Banco Nacional da Habitação; ob-
seja dado à autora prazo para a cita- jetivando seja decretada a ilegalida-
ção do lAPAS, nos termos do voto do de das notificações de débito relativo
relator e notas taquigráficas retro a contribuições ao Fundo de Garan-
que ficam fazendo parte integrante tia por Tempo de Serviço - FGTS -
do presente julgado. incidentes sobre valores pagos a tra-
balhadores rurais que, em nome do
Custas como de lei. réu, lhe está exigindo o Instituto Na-
cional da Previdência Social.
Brasília, 14 de abril de 1982 (data
do julgamento) - Ministro José Fer- Em suma, alega: que a obrigação
nandes Dantas, Presidente - Minis- de contribuir para o FGTS é decor-
tro Miguel Jerônymo Ferrante, Re- rência direta da existência de con-
lator trato de trabalho, regido pela CLT
TFR - 99 81

(Decreto-Lei n~ 5.452/43 e posterio- VOTO


res alterações); que, então, constitui
corolário que, se os contratos de tra- o Sr. Ministro Miguel Jerõnymo
balho dos trabalhadores rurais pres- Ferrante: Se o INPS, no que concer-
tadores de serviços nos setores ne ao Fundo de garantia por Tempo
agrícolas das empresas agrOindus- de Serviço - FGTS - «detém a legi-
triais, no períOdO da exigência em timação ativa, parece claro que res-
pauta, se achavam sob a égide do ponde pela contrapartida passiva».
Decreto-Lei n? 5.452/43, procedente Esse, o fundamento da sentença
seria a pretensão da ré, mas, caso recorrida. O BNH, contra o qual foi
contrário, não o seria; que, .até certoajuizada a demanda, seria estranho
período, os trabalhadores rurais em- à relação processual, não dispondo
pregados na agroindústria eram re- de qualquer hierarquia para decla-
gidos pela CLT; que, todavia, com o rar ilegais os atos do INPS.
advento do Estatuto do Trabalhador
Rural (Lei n~ 4.214) essa situação se Parece-me, todavia, que o INPS
modificou; que, quando da promul- tem o mandato que lhe confere a lei,
gação da lei do FGTS (1966) não limitado ao levantamento de débitos
mais se achavam os trabalhadores do FGTS, e sua cobrança adminis-
rurais das empresas agroindustriais trativa e judicial. É o que se infere
SUjeitos à CLT (1943) de vez que o do art. 20 da Lei n~ 5.107, de 13 de se-
EstatuJo do Trabalhador ,Rural_ tembro de 1966, que criou o Fundo
(1963), sem tomar em conta a finali- em tela (art. 58 do Regulamento bai-
dade da empresa, havia guindado os xado pelo Decreto n? 59.820, de 20 de
trabalhadores rurais para sua esfera dezembro de 1966). Legitimado ad
de incidência; que as remunerações processum, age o Instituto como
aos trabalhadores que desenvolvem substituto proc~ssual, representando
suas atividades no setor agrícola não o BNH, em Juízo, na cobrança das
geram a obrigação de efetuar depó- contribuições devidas ao Fundo.
sitos do FGTS, de vez que tais em- Trata-se, portanto, de representação
pregados são trabalhadores rurais. processual, instituída por lei, que,
além de não retirar ao representado
Em contestação, o réu alegou, pre- a legitimação decorrente de sua qua-
liminarmente, carecer de legitimida- lidade de gestor do Fundo, é restrita
de passiva ad causam, e, no mérito, à capacidade ativa de propor ação
a legitimidade da impugnada exigên- para cobrança das respectivas con-
cia. tribuições.
A sentença, à fI. 71, extinguiu o Contudo, embora limitada a repre-
processo com, fulcro no inciso VI do sentação que a lei atribui ao INPS,
art. 267 do Código de Processo Civil, afigura-se-me indispensável a sua
ao fundamento de carecer o réu, no partiCipação nas ações propostas
caso, de legitimidade passiva. contr'a o BNH, com objetivo de des-
Apelou a autora, com as razões de constituir débito relativo a contribui-
fls. 73/75 (lê:). ções devidas ao referido Fundo.
Sem contra-razões, subiram os au- Nas circunstâncias, paralelamente
tos e, nesta Instância, manifestou-se à legitimidade do BNH, emerge inte-
a Subprocuradoria-Geral da RepÚbli- resse do INPS, decorrente de sua
ca pelo prosseguimento do feito, a fI. responsabilidade pelo levantamento
79. do débito.
Pauta sem revisão (art. 33, item Daí, tenho que, sob esse aspecto,
IX, do RI). configura-se o litisconsórcio necessá-
É o relatório. rio, por isso que a sentença, caso dê
82 TFR - 99

pela procedência da ação, irá afetar EXTRATO DA MINUTA


a atuação delegada ao INPS,
obrigando-o ao desfazimento do ato AC n? 60.558 - RS - ReI.: Min.
constitutivo do débito. Miguel Jerônymo Ferrante. Apte.:
Em assim sendo, não se justifica a S.A. Extrativa Tanino de Acácia.
extinção do processo, sem o cumpri- Apdo.: Banco Nacional da Habita-
mento da providência ditada pelo pa- ção.
rágrafo único do art. 47 do CPC. Há
de se assinar, antes, prazo ao titular Decisão: A Turma, por unanimida-
da ação para que dentro dele promo- de, deu provimento à apelação, para
va a citação da autarquia responsá- reformar a sentença, em ordem a
vel pelo levantamento do débito anu- que seja dado à autora prazo para a
lando. citação do lAPAS, nos termos do vo-
to do relator (6? Turma - em 14-4-82).
Em face do exposto, dou provi-
mento à apelação, para reformar a
sentença recorrida, em ordem a que Participaram do julgamento os
a ação prossiga como acima explici- Srs. Mins. Américo Luz e José Dan-
tado,. tas. Presidiu o julgamento o Sr. Mi-
É o voto. nistro José Fernandes Dantas.
APELAÇAO CIVEL N? 61.450 - SP
Relator: O Sr. Ministro Moacir Catunda
Apelante: União Federal
Apelado: A. Domingues & Cia. Ltda.
EMENTA
Nas execuções fiscais promovidas pela Fazenda
Nacional, a verba honorária já está compreendida
no encargo de 20% previsto no art. í? do Decreto-Lei
n? 1.025/69.. - Execução fiscal. Honorários de advo-
gado. Taxa do Decreto-Lei n? 1.025/69. - A taxa de
20% prevista no Decreto-Lei n? 1.025/69 acresce as
importâncias, além dos demais ônus legais. Não ca-
be, porém, o pagamento de honorários de advogado
como verba específica, eis que já é atendido o
princípio da sucumbência com a referida taxa. Pro-
motor de Justiça representante da Fazenda Nacio-
naI, nas execuções. Pretensão a arbitramento de ho-
norários advocatícios. Descabimento e impossibili-
dade jurídica, face à vigência do Decreto-Lei n?
1.025/69, art. I?, combinado com o Decreto-Lei n?
1.645/78 - artigo 3?

ACORDA0 dar provimento, na forma do relató-


rio e notas taquigráficas constantes
Vistos e relatados os autos, em que dos autos que ficam fazendo parte
são partes as acima indicadas: integrante do presente julgado.
Decide a 5~ Turma do Tribunal Fe-
deral de Recursos, por unanimidade, Custas como de lei.
TFR - 99 83

Brasília, 27 de agosto de 1980 (data rior apenas revoga a anterior quan-


do julgamento) - Ministro Moacir do expressamente o declare, quando
Catunda, Presidente e Relator. seja com ela incompatível ou quando
regUle por completo a matéria de
que tratava a lei anterior - Lei de
RELATORIO Introdução ao Código Civil - art. I?
Tais hipóteses incorrem, no caso,
o Sr. Ministro Moacir Catunda: O segUindo-se porque a Constituição
Dr. Promotor Público de Santos, não tenha revogado o Decreto-Lei n?
Luiz José Prezia Oliveira, represen- 1.025/69.
tante da Fazenda Nacional nos autos
de execução fiscal contra A. Domin- Decidiu a antiga 2? Turma, verbis:
gues e Cia. Ltda., requereu o paga-
mento de honorários advocatícios «Nas execuções fiscais promovi-
que lhe foram arbitrados pelo juiz das pela Fazenda Nacional, a ver-
em 10%, com exclusão do encargo ba honorária já está compreendida
previsto no Decreto-Lei n? 1.025/69. no encargo de 20% previsto no art.
Subindo os autos por força da apela- I? do Decreto-Lei n? 1.025/69.
ção do Dr. Promotor Público (fls.
14/20), opina a Subprocuradoria-Ge- Agravo a que se nega provimen-
ral da República pela reforma da to.»
sentença.
E a 3~ Turma, em caso análogo:
:E:: o relatório.
«Execução Fiscal. Honorários de
advogado.
VOTO
Taxa do Decreto-Lei n? 1.025/69.
A taxa de 20% prevista no Decreto-
O Sr. Ministro Moacir Catunda: Lei n? 1.025/69 acresce as impor-
Conheço da remessa ex officio como tâncias, além dos demais ônus le-
se declarada tivesse sido, bem como gais. Não cabe, porém, o pagamen-
do recurso voluntário, e lhes dou to de honorários de advogado como
provimento, para reformaI; a su- verba específica, eis que já é aten-
maríssima decisão apelada que, na dido o princípio da sucumbência
execução fiscal, suprimiu o· encargo com a referida taxa.»
de 20%, do Decreto-Lei n? 1.025/69,
ao passo que arbitrou honorários de Face il sobrevivência da taxa de
advogado do Dr. Promotor de Justi- 20% do Decreto-Lei n? 1.025/69, pos-
ça, que representa a exeqüente, na teriormente denominada encargo -
comarca. Decretos-Leis n?s 1.569/77 - art. 3? e
1.645/78 - art. 3?, segue-se pela
O chamado encargo de 20%, do impossibilidade do arbitramento de
Decreto-Lei n? 1.025, é de natureza honorários advocatícios, nas execu-
remuneratória dos serviços inerentes ções, em prol do Dr. Promotor de
à cobrança da dívida ativa federal, Justiça, representante da exeqüente,
compreendendo-se, destarte, tam- pelo que dou provimento, para
bém como verba honorária, suprimi-la, com apoiO no instituto da
Decreto-Lei n? 1.645/78 - art. 3? e remessa ex officio e considerando a
convive com a atual redação do art. inexistência de lei em favor da impo-
126 da Constituição, pois a lei poste- sição.
84 TFR - 99

EMBARGOS INFRINGENTES NA AC N? 62.181 - PE


Relator: O Sr. Ministro Pedro da Rocha Acioli
Embargqntes: Departamento Nacional de Obras de Saneamento -
D.N.O.S. e município do Recife
Embargada: Plácido Jales & Filho
EMENTA
Processual civil. Embargos infringentes (cabi-
mento). Ação de interdito proibitório. - Conversão
em desapropriação indireta. Indenização.
1. Admitem-se embargos infringentes contra de-
cisão não unânime proferida em agravo retido que
ensejar decisão dé mérito entrosada com a matéria
da apelação.
2. A resolução de ação de interdito proibitório
em perdas e danos encontra apoiO na jurisprudência
que criou a figura da desapropriação indireta. A
convolação do rito procedimental se impõe em obsé-
qUio ao interesse da administração pública.
3. Indenização, fundada no laudo oficial e no do
assistente-técnico do Município do Recife, que se
mantém.
4. Embargos do D.N.O.S. conhecidos e rejeita-
dos. Não havendo divergência no julgamento do
acórdão embargado, no que toca à preliminar de ile-
gitimidade passiva do Município do Recife,
conhecem-se parcialmente dos embargos deste, rela-
tivamente aos itens da transformação do interdito
proibitório em desapropriação indireta e da extensão
da área indenizável e seu quantitativo em dinheiro,
porém rejeitados, nesta parte.

ACORDÃO Custas como de lei.


Brasília, 8 de junho de 1982 (data
Vistos, discutidos e relatados estes do julgamento) Ministro
autos, em que são partes as acima in- WaShington Bolivar de Brito, Presi-
dicadas: dente - Ministro Pedro da Rocha
Decide a 2~ Seção do Tribunal Fe- ACioli, Relator.
deral de Recursos, preliminarmente,
por maioria, conhecer integralmente RELATORIO
dos embargos do DNOS e, parcial-
mente, dos do MuniCípio do Recife;
no mébto, também por maioria, re- O Sr. Ministro Pedro da Rocha
jeitar ambos os embargos, na forma Acioli: O Departamento Nacional de
do relatório e notas taquigráficas Obras de Saneamento - DNOS, e o
constantes dos autos que ficam fa- Municíp~o do Recife interpõem 'Em-
zendo parte integrante do presente bargos Infringentes a acórdão da Eg.
julgado. QUinta 'Turma, no ponto em que:
TFR - 99 85

a) negou provimento a agravos ca nela instalada entregues à


retidos para manter decisão que sorte das enchentes, como fatos
convolou em desapropriação indi- da natureza, conduta que não de-
reta ação de interdito proibitório ve nem pode ser tolerada pelo di-
requerido por Plácido Jales & Fi- reito, até porque, de acordo com
lho; e a perícia, produzirá efeitos mais
b) fixou indenização devida à perniciosos ao ordenamento
terra nua em Cr$ 6.894.600,00 e à jurídico e danosos ao patrimônio
jazida, orçada em Cr$ 23.135.366,00, particular, do que os que tives-
quando o voto vencido aumentava sem resultado do apossamento
o primeiro valor para Cr$ material indevido.
9.247.330,54 e negava a segunda ru- 7?) A conduta do réu principal
brica. transferiu, paradoxalmente, ao
O acórdão atacado traz a seguinte proprietário, o ônus de promover
ementa: a desapropríação.
«1?) Interdito Proibitório. 8?) Indenização fixada, parte
2?) Terrenos declarados de uti- com apoio no laudo oficial, e par-
lidade pública, -necessários e im- te com base no do assistente-
prescindíveis à retificação do Rio técnico do Município do Recife.
Capibaribe, para prevenir en- Juros compensatórios indevi-
chentes danosas à cidade do Re- dos.
cife, a serem realizadas pelo Recursos providos, em parte»
DNOS e a Prefeitura do Recife, (Fls. 500/501).
solidariamente, nos termos do
convênio. A Turma, por maioria, embora co-
3?) Tentativa de penetração na nhecendo, negou, porém, provimento
propriedade particular para rea- aos agravos retidos do DNOS e do
lizar obras de alargamento do Município do Recife e, no mérito,
rio, com implicações sobre a ce- também por maioria, deliberou pro-
râmica, sem prévia e justa inde- ver parcialmente os recursos volun-
nização, obstada por interdito tários e a remessa ex off1cio (fi. 501)
proibitório. ficando vencido o Senhor Revisor,
4?) As disposições sobre reinte- Ministro Justino Ribeiro.
gração e manutenção de posse O voto líder do Senhor Ministro
aplicam-se ao interdito proibitó- Moacir Catunda assinalou que o
rio - CPC, art. 935 - sendo comportamento dos réus, ora embar-
legítima a conversão do último gantes, no interesse de executar as
em ação de perdas e danos, como obras de retificação do curso do Rio
desapropriação indireta. Capibaribe para prevenir enchentes
5?) Retrã-ção do réu princi- danosas à cidade do Recife, «confi-
pal, na execução da obra, sem gura situação peculiaríssima de en-
desapropriação regular, em re- trega da propriedade privada à for-
presália ao jnterdito proibitório., ça destruidora de fato da nature-
visto que a executou à montan- za, em ordem a justificar a conver-
te e à jusante da propriedade do são do interdito proibitório, em ação
autor. de perdas e danos, como desapro-
6?) Se é certo que o réu princi- priação indireta, pois se é certo que
pal não ocupou o imóvel, mate- o DNOS não ocupou a propriedade,
rialmente, menos certo não é materialmente, menos certo não é
que, com sua voluntária omissão, que em decorrência da voluntária
deixou a propriedade e a cerâmi- omissão (".) deixou a mesma pro-
86 TFR - 99

priedade entregue à sorte das águas, justamente enfocando a mesma ma-


conduta que não deve, nem pode ser téria de mérito ora sob reexame,
tolerada pelo direito» (fI. 482). confirmou o voto que havia proferido
No entanto, o Senhor Ministro Jus- no julgamento da apelação, ratifi-
tino Ribeiro afirma que «não houve cando o mesmo preço do metro qua-
ato positivo de desapossamento, so- drado, a mesma área que ocupará o
bre o qual a jurisprudência construiu DNOS, o mesmo valor da terra nua e
a chamada desapropriação indire- o mesmo valor da indenização atri-
ta.» E acrescentou não ser possível buída à jazida de argila, restando ao
«que o Judiciário, invadindo o pró- Município do Recife uma área urba-
prio plano da conveniência, obrigue nizável de 97.869,64 m', ao preço de
a Administração a realizar obras Cr$ 200,00 (fI. 536). O curioso é que
que ela, inicialmente obstada pela - vale acentuar - esse voto foi
própria ação da ex-apelada, agora acompanhado pelo Sr. Ministro Se-
considere dispensável» (FI. 491). bastião Reis, tanto quanto pelo Mi-
nistro Justino Ribeiro (fI. 540) que
Na divergência de mérito, o Se- antes havia divergido, fazendo desa-
nhor Ministro-Relator entendeu devi- parecer - ao que se percebe - a
da a indenização por conta da jazida discrepância do mérito sobre que se
de argila cuja exploração, que vinha fundam, em parte, os presentes em-
sendo feita desde antes do Código de bargos.
Minas pelos autores, não dependia
de autorização, com o que não con-
cordou o Revisor, quer pela falta de Os embargantes pugnam pelo aco-
clareza das provas a respeito do lhimento dos embargos arrimados
tempo de exploração, quer pelo nos argumentos do voto vencido,
. grande volume da reserva estimada acentuando que o autor forçou uma
pelo perito, sem considerar circuns- desapropriação em busca de um
tâncias naturais ponderáveis, além bom negócio; que as precauções de
de ter sido calculada a indenização ordem técnica tomadas evitarão da-
só pelo simples volume, por isso tudo nos à propriedade da apelada; que,
merecendo, nesse aspecto, uma dis- ao agasalho de lição do Prof. Miguel
cussão mais ampla. Reale, Barcello de Magalhães e ou-
Por fim, o Sr. Relator reduziu o tros, bem assim com apoio na juris-
valor do m' da terra nua, por se tra- prudência, assinalam não ser
tar de área não loteável, porém con- possível a conversão do interdito em
siderada pelo perito como loteada desapropriação indireta à míngua de
fosse, quando, em divergência, o Sr. apossamento pela Administração,
Revisor mantinha o preço por m' transcrevendo-se tópico do parecer
mais alto fixado na sentença e redu- da douta SGR, no sentido de que «i-
zia a extensão da área indenizável, nexistindo o pressuposto essencial do
sanando, no seu ver, erro aritmético interdito», não pode ele ser converti-
apontado pelas partes no laudo ofi- do em nada, senão indeferido (fI.
cial. 555). Finalmente, o Município do Re-
cife aponta como infringidos os arts.
Ressalte-se que o Município do Re- 264 e 294 do CPC e 159 do Código Ci-
cife, antes de interpor embargos in- vil (fI. 554). E concluem os embar-
fringentes, opôs embargos de decla- gantes por pedir a anulação do pro-
ração que foram parcialmente rece- cesso, a partir da audiência de ins-
bidos. trução e julgamento ou da sentença,
Na assentada do jUlgamento dos ou, quando não, a indenização se res-
declaratórios, o Senhor Relator, na trinja às áreas e valores constantes
parte em que acolheu o recurso e do voto vencido.
TFR - 99 87

Contrariando os embargos, Pláci- em torno das dimensões da área ex-


do J ales & Filho defende a inadmis- propriada foi dirimida através do
sibilidade dos infringentes, na parte jUlgamento dos Embargos de Decla-
referente à matéria Objeto do agravo ração, acolhidos parcialmente, po-
de instrumento retido. Assim o faz rém por unanimfdade de votos» (fls.
invocando o art. 530 do CPC que so- 600/601) .
mente admite embargos infringentes A douta SGR, ouvida, nada opinou,
de julgado não unânime proferido senão para ratificar as razões dos
em apelação e em ação rescisória. E embargos.
o agravo retido não constitui preli-
minar da apelação. Sua apreciação Sem revisão.
por primeiro é uma questão apenas É o relatório.
de ordem adotada para o julgamen-
to, permanecendo a individualidade VOTO PRELIMINAR
do recurso. E arrematou indicando a
Súmula n? 211 do Col. STF e ensina-
mentos de Barbosa Moreira, em so- O Sr. Ministro Pedro da Rocha
corro da sua tese. Aciol1 (Relator): A firma embargada
levanta a preliminar de:
Sustentando a conversão do inter-
dito, diz a embargada que a ação, à Incabimento dos infringentes, na
distância da Administração, indubi- parte que diz da matéria do agravo
tavelmente destruidora, alargou «o retido, objeto do julgamento do
rio à montante e à juzante das terras acórdão atacado.
exploradas ( ... ) a fim de que a cor- Impressiona a invocação da Súmu-
renteza fosse continuamente invadin- la n? 211 do Col. STF, a dizer:
do e solapando o terreno, até «Contra a decisão proferida so-
engolfá-lo de todo», revelando uma bre o agravo no auto do processo,
forma indireta e estranha de apossa- por ocasião do julgamento da ape-
mento, a justificar a convolação do lação, não se admitem embargos"
interditório em indenizatória por de- infringentes ou de nulidade.»
sapropriação indireta.
Na verdade, analisando bem os
No mérito, argumenta-se que, se precedentes dessa súmula, vê-se que
atendida a alteração do valor da ter- a sua aplicação só ocorre quando o
ra nua, como pretendido, resultará objeto do agravo retido se restringe
numa, indenização maior, revelando à matéria de ilegitimidade proces-
a não sucumbência da autarquia sual, sem interesse ao mérito da
embargante, neste particular, apelação. Basta conferir o RE n?
retirando-lhe a condição de parte 72.398-6 - MG, in DJ de 6-10-78,
vencida, conseqüentemente falta-lhe págs. 7.780/7.781, e RE n? 65.291 -
interesse para recorrer. No que toca BA (Tribunal Pleno), in RTJ 51/767.
à reserva de argila, a indenização No caso destes autos, a matéria
está SObejamente fundamentada, à objeto do agravo retido - relativa-
vista da pesquisa realizada pelo pe- mente à conversão do interdito proi-
rito e endossada pelO assistente- bitório em desapropriação indireta
técnico da embargada. - está umbilical mente ligada ao
E finaliza argumentando que hou- mérito da causa, assegurando o co-
ve efetivo desapossamento, posto nhecimento dos embargos infringen-
que «desapossar é excluir a posse tes in totum.
alheia, podendo essa exclusão «Se» - como diz Pontes de Miran-
realizar-se à distância», assinalando- da - «foi julgado agravo retido nos
se, por último, que «a divergência autos (art. 522, § I?) sendo a questão
88 TFR - 99

estranha à matéria da apelação, não téria, tenho ponto de vista conheci-


há embargos; se, porém, ainda que do, tal como votei no precedente in-
em artigo separado, o tribunal de vocado pelO Subprocurador-Geral da
apelação julgou do mérito, posto que República, Apelação n? 61.378, em
o dissesse matéria de agravo retido reunião desta Seção a 10-8-81.
nos autos, os embargos cabem.» Na ocasião, acompanhado, creio,
(<<Comentários ao Código de Proces- por dois ou três votos, disse eu em
so Civil», Tomo VII, 1~ edição, pág. votando conforme notas taquigráfi-
350, Forense - Rio, 1975.) No mes- cas apanhadas:
mo diapasão leciona, Sérgio Bermu-
des nos seus «Comentários», voI. «Senhor Presidente, com a devi-
VII, pág. 190, Ed. Revista dos Tribu- da vênia, não conheço dos embar-
nais, São Paulo, 1975. gos.
Rejeito, pois, a preliminar, para Tenho para mim que a letra do
conhecer de ambos os embargos em Código, no tocante aos embargos
toda sua extensão. por infringência verificada do jul-
gado proferido em apelação, tem
VOTO PRELIMINAR DE por necessária a qualificação de
CONHECIMENTO que o recurso julgado seja a apela-
ção. No caso do agravo retido, ape-
O Sr. Ministro Armando Rol- sar da vinculação salientada pelo
lemberg: Sr. Presidente, data ve- eminente Ministro-Relator, vê-se
nia dos eminentes Ministros que que a materia deduzida continua
me precederam, não conheço dos sendo a mesma do objeto do agra-
embargos na parte relativa à deci- vo, presa a decisão agravável, e
são do agravo retido. Faço-o tendo sem relação alguma com a senten-
em conta a jurisprudência a propósi- ça apeláveI.
to. Leio em Teotônio Negrão:
Resulta que o julgamento do
« .............................. . agravo não pode, com a devida vê-
Art. 530 7. Decisão proferida nia, ser confundido com o julga-
em agravo retido não comporta mento da apelação.
embargos infringentes (RT n?
485/97, JT A n? 37/46). Mas, se ao No caso, a Turma foi até muito
julgar o agravo, o tribunal, em feliz na especificação de prover o
realidade, apreciou matéria de mé- agravo e julgar prejudicada a ape-
rito da apelação e proferiu decisão lação; não houve nehum liame en-
não unânime, os embargos são tre a matéria do agravo e a maté-
cabíveis <RJT JESP n? 45/209: não ria da apelação.
conheceram, apesar de aceita esta A próposito, leio a anotação de
tese pelo relator)). precedentes, feita no art. 530 pelo
Vê-se que a maioria, vencido o re- eminente Professor Teotônio Ne-
lator, decidiu no sentido da Súmula grão, no seu festejadO «Código de
n? 211 do Egrégio Supremo Tribunal Processo», 8? edição:
Federal, relativa ao agravo no auto «Decisão proferida em agravo
do processo, e que é apliCável, no retido não comporta embargos
meu entender, ao agravo retido. infringentes <R T n? 485/97). Mas,
se ao julgar o agravo, o Tribunal
VOTO PRELIMINAR DE em realidade apreciou matéria
CONHECIMENTO de mérito da apelação ... os em-
bargos são cabíveis (RJTSSP n?
O Sr. Ministro José Dantas (Vo- 45/209); não conheceram, apesar
gal): Senhor Presidente, sobre a ma- de aceita esta tese pelo relator.»
TFR - 99 89

Quer dizer, até no caso em que o seu enunciado para aplicá-lo ao


relator identificava a matéria do agravo retido (RE n? 86.923, in
agravo com a matéria da apela- RTJ n? 96/723).
ção, o Egrégio Tribunal paulista Com estas ligeiras considera-
não conheceu de embargos, por in- ções, peço vênia ao relator para
cabíveis. não conhecer dos embargos, por
incabíveis» 2~ Seção, 18-8-81.
Então, volto ao caso presente pa-
ra dizer que não há nenhum liame Posteriormente a esse voto, depa-
daquela matéria, apenas agravá- rei decisão do STF sobre a espécie,
vel, com a matéria da apelação, conforme precedente da sua Egrégia
que a Turma sequer apreciou, por- Segunda Turma, assentado na vigên-
que a julgou prejudicada; ou seja, cia da Súmula 221 mesmo após o ad-
julgou prejudicado o recurso de vento do CPC de 1973, consoante a
apelação, dando-lhe ainda maior semelhança entre o antigo agravo no
autonomia, salientando ainda mais auto do processo e a nova figura do
a inteira autonomia do recurso de agravo retido - RE n? 86.923, Rela-
agravo, cujo julgado pela Turma é tor Min. Leitão de Abreu, in RTJ n?
definitivo. 96.723.
Na esteira desse precedente, e por-
Ademais, dando-se este trata- que nenhuma matéria meritória teve
mento ao agravo retido, estaremos apreço da decisão agravada (não é o
criando um duplo tratamento ao caso, pois, sequer de admitir-se
agravo de instrumento, duplicida- aquela ressalva debatida no tribunal
de que o Código de Processo não paulista), com a devida vênia, não
parece admitir. De fato, se o agra- conheço dos embargos, por incabível
vo subir logo - como é do seu des- quanto ao ponto destacado pelo
tino, do seu propósito, da sua fina- Ministro-Rela tor.
lidade e formalística ordinária -, a
sua decisão não será embargável. VOTO
Mas, se subir posteriormente, re-
tardadamente, retidamente, o re- O Sr. Ministro Carlos Mário
sultado seria embargável, o que Velloso: Sr. Presidente, quando do
me parece, data venta, inconciliá- julgamento do caso mencionado pelo
vel com a normatividade do recur- eminente Ministro José Dantas,
so de agravo, cuja estrutura repele alinhei-me entre os que conheceram
essa possibilidade de duas destina- dos embargos infringentes interpos-
ções diferentes, dois tratamentos tos do julgamento, por maioria, de
diversos, regulados segundo tome agravo retido (EAC n? 61.378 RS,
o seu rumo necessário e natural, Relator Ministro Moacir Catunda).
ou o rumo esporádico e excepcio- Não encerrei, entretanto, as mi-
nal de acostar-se à apelação. nhas reflexões, naquela assentada.
Continuei pensando a respeito do te-
Isto, a meu ver, até desarticula- ma e, ao que concluo, a razão está
ria a própria sistemática dos em- com a corrente liderada pelo emi-
bargos infringentes, recurso sabi- nente Ministro José Dantas.
damente reservado para discussão
final das matérias apeláveis. Acabo de ouvir o voto que S. Exa.
proferiu. Paracem-me irrespondíveis
Aliás, ao que me recordo, ainda os argumentos de S. Exa. Não é
agora o STF valoriza a sua Súmula possível que, do julgamento de um
n? 211 - referente ao agravo no agravo de instrumento que sobe ao
auto do processo - adaptando o Tribunal e não fique retido, não cai-
90 TFR - 99

bam embargos infringentes, e pos- dência nem sempre se mostra tão


sam, entretanto, caber esses mes- coerente com as linhas precisas dos
mos embargos infringentes se o institutos processuais, segundo a sua
agravo, ao invés de subir, de logo, feição teórica. Ficou muito claro, no
ao Tribunal, fica retido nos autos. tempo de vigênCia do Código de 1939,
o divórcio que se estabeleceu entre
O Sr. Ministro Américo Luz: Sr. Mi- doutrina e jurisprudência.
nistro Carlos Mário Velloso, V. Exa.
me permite?
Estabeleço uma distinção, data Voltando ao exemplo do Sr. Minis-
venia, partindo do pressuposto de tro Dantas: quando sobe à Turma
que o agravo retido é apreciado co- julgadora somente o agravo, o que
mo preliminar, por ocasião do julga- se verifica é que a Turma tem toda
mento da apelação. a sua atenção completamente volta-
De maneira que, se o Tribunal ul- da, tão-só para o agravo. QuandO a
trapassa essa preliminar e entra no Turma é solicitada a se pronunciar
mérito, parece-me embargável glo- sobre matéria de agravo retido, ela
balmente a decisão no Juízo apelató- o faz, como primeiro passo, para jul-
rio. gar a apelação, e freqüentemente
ocorre que o pronunciamento da
O Sr. Ministro Carlos Mário Turma - muitas vezes influído, por
Velloso: Se a matéria é própria do uma colocação menos rigorosa dos
agravo, fica ela exaurida no julga- temas - vem a reunir, como Objeto
mento do agravo, se agravo foi inter- de sua decisão, tema que é propria-
posto; se não houve interposição de mente de agravo, no rigor dos
agravo, então teria havido preclu- princípiOS, ou que, às vezes, não o é.
são.
De modo que a hípótese aventada O Sr. Ministro Carlos Mário
por V. Exa., Senhor Ministro Améri- Velloso: Veja V. Exa. a lógica do ar-
co Luz, não sei se seria possível gumento do Sr. Ministro Dantas. Se
ocorrer. o Tribunal, conhecendo do agravo
O Sr. Ministro Romildo Bueno de retido, a ele dá provimento, pode
Souza: Sr. Ministro Carlos Mário prejudicar o julgamento da apela-
Velloso, V. Exa. me permite? ção. Não pode negar V. Exa. que os
julgamentos são autônomos, vale di-
Tão-somente em homenagem ao zer, o julgamento do agravo retido e
caráter tão preciso do pronuncia- o julgamento da apelação não se
mento do Sr. Ministro José Dantas e confundem (CPC, art. 522, § 1?).
ao relevo do tema, em se tratando
de decisão desta Colenda Seção.
O Sr. Ministro Romildo Bueno de
Por ocasião de uma decisão seme- Souza: Senhor Ministro Velloso,
lhante, tomei posição diversa desta agradeço o aparte. Só ponderaria a
que é sustentada pelo eminente Sr. V. Exa. o segUinte: duvido que al-
Ministro Dantas. Na ocasião, salien- gum de nós encontrará em qualquer
tei as virtudes de coerência do seu monografia ou tratado sobre manda-
pronunciamento. do de segurança e na Lei do Manda-
Agora, pedi este aparte, Sr. Minis- do de Segurança que ele seja sucedâ-
tro Velloso, apenas para ponderar a neo de recurso; que ele seja meio de
V. Exa. que o exemplo trazido pelo atribuir a determinado recurso um
Sr. Ministro Dantas não me parece efeito que a lei não lhe deu. No en-
de valor decisivo. O que freqüente- tanto, este Egrégio Tribunal, reitera-
mente ocorre é que a nossa jurispru- damente, vem tomando conhecimen-
TFR - 99 91

to e decidindo mandado de seguran- de ordem, isto é, a ser desde logo es-


ça para uma finalidade que, no rigor clarecida, a fim de assegurar a con-
dos princípios, não está na lei. gruência do julgamento destes em-
E claro que o Tribunal pode fazê- bargos.
lo. Estou procurando apenas alertar 2. De fato, o Município do Recife,
o entendimento de que nem sempre ao deduzir as razões em que alicerça
a vida se realiza nos cânones da lei os presentes embargos infringentes,
e, muitas vezes, até os Tribunais se conclui por pleitear (fls. 560):
acham no dever de, ao julgar, ate- a) quanto à segunda preliminar, o
nuar os rigores da lei. provimento dos agravos retidos e,
O Sr. Ministro Carlos Mário em conseqüência, a anulação do pro-
VeIloso: E claro que vivemos ate- cesso, a partir da audiência de ins-
nuando os rigores da lei e, se não trução e julgamento (esta incluída);
fosse assim, bastaria instalar um b) relativamente ao mérito, caso
computador de 4~ geração na Praça não prospere a preliminar, que a in-
dos Três Poderes e iríamos nós to- denização fique restrita às áreas e
dos, Juízes, tirar férias. Mas é preci- valores admitidos pelo voto discre-
so distinguir entre construção juris- pante.
prudencial, que podemos e devemos
fazer, de construção legislativa que 3. Certo é que a divergência verifi-
ao Judiciário é vedado elaborar. cada no julgamento da apelação pela
Uma coisa não se confunde com a Colenda 5~ Turma se manifestou sob
outra e V. Exa. sabe bem disso. ambos estes aspectos: o d. voto do
Senhor Ministro Justino Ribeiro da-
O Código de Processo Civil deixa va provimento aos agravos que aver-
expresso que embargos infringentes baram de nulo o processo desde a
cabem de julgado não unânime pro- audiência; vencido nesta parte (fls.
ferido em apelação e em ação resci- 491); no mérito, isolou-se também
sória (CPC, art. 530). Em julgamen- dos votos predominantes, na maior
to tomado em agravo de instrumento extensão em que provia as apela-
não cabem embargos infringentes. ções.
Mas, Sr. Presidente, acho que nada
precisaria acrescentar, e nem quero 4. Eis por que a embargada susci-
acrescentar, para não fazer tautolo- tou preliminar de incabimento dos
gia, ao voto do eminente Ministro Jo- embargos, na parte em que impug-
sé Dantas. Reformulando, então, o nam o julgado nos agravos retidos,
ponto de vista que sustentei na as- aduzindo, a propósito, a Súmula 211
sentada anterior, no julgamento dos do Supremo Tribunal Federal.
Embargos Infringentes na Apelação 5. O Senhor Ministro Pedro da Ro-
Cível n~ 61.378 - RS, adiro à corren- cha Acioli, Relator destes embargos
te liderada pelo Sr. Ministro José infringentes, afasta a preliminar e
Dantas. conhece do recurso em toda a sua
Não conheço dos embargos infrin- extensão.
gentes interpostos do julgamento do
agravo retido. De fato, argumenta S.Exa. que a
aplicação da citada súmula somente
VOTO VISTA tem lugar «quando o objeto do agra-
vo retido se restringe à matéria de
QUESTAO DE ORDEM ilegitimidade processual, sem inte-
resse para o mérito da apelação».
O Sr. Ministro Romildo Bueno de
Souza: Senhor Presidente, cumpre- Neste ponto se reporta, aliás, a jul-
me, primeiramente, suscitar questão gados da Suprema Corte.
92 TFR - 99

6. A minuta do julgado, entretanto, Verifiquei também das anotações


não reflete satisfatoriamente aquilo da nossa secretaria que os embargos
que prevaleceu na primeira assenta- foram interpostos por dois motivos:
da do jUlgamento que ora prossegue, a) o que nega provimento aos agra-
pois ficou consignado (fI. 609): vos retidos para manter a decisão
«Após os votos dos Srs. Ministros que convolou em desapropriação in-
Relator Américo Luz, Moacir Ca- direta ação de interdito proibitório
tunda e Justino Ribeiro, conhecen- requerida por Plácido Jales e Filho;
do dos embargos, e dos Srs. Minis- e b) o que fixou indenização devida à
tros Armando Rollemberg, José terra nua em Cr$ 6.894.600,00 e à ja-
Dantas e Carlos Mário Velloso, que zida, orçada em Cr$ 23.135.237,00,
deles não tomavam conhecimento, quando o voto vencido aumentava o
pediu vista o Sr. Ministro Romildo primeiro valor para Cr$ 9.247.330,54
Bueno de Souza, aguardando os e negava a segunda rubrica. Como
Srs. Ministros Sebastião Reis e Mi- se vê, a segunda parte é o próprio
guel J. Ferrante». mérito da questão. Na primeira, os
Senhores Ministros, precisamente
7. Havendo inegável divergência pelo tecnicismo com que a ciência os
entre o voto vencido e o voto líder da dotou, ficaram retidos, ou seja,
apelação, também no tocante ao mé- detiveram-se na preliminar de co-
rito, penso ser imperioso se esclare- nhecimento. O destaque está eviden-
ça que os doutos votos dos Senhores ciado na própria minuta que tenho
Ministros Armando Rollemberg, Jo- em mãos. Por isto que, não obstante
sé Dantas e Carlos Mário Velloso, a observação do douto Ministro Ro-
tão-somente limitam o conhecimento mildo Bueno de Souza sobre sua apa-
deste recurso, ao afastar a matéria rente perplexidade, na verdade isto
decidida em agravo. não deve ocorrer, em razão das ano-
É aquilo que, parece, se coaduna tações da Mesa e das notas taquigrá-
com o estado da causa e que, não ficas do que efetivamente se passou;
obstante, é mister definir, para en- houve destaque da matéria, que se
caminhar com segurança a finaliza- prendeu, exclusivamente, ao conhe-
ção do julgamento. cimento, tal como esclareceu o Sr.
Submeto, pois, à decisão da Colen- Ministro Armando Rollemberg.
da 2~ Seção, esta questão de ordem. A matéria será esclarecida pelo
Ministro-Relator. Em face da ques-
QUESTAO DE ORDEM tão de ordem levantada pelo Sr. Mi-
nistro Romildo Bueno de SQuza,
O Sr. Ministro Washington Bolívar parece-me razoável que o eminente
de Brito (Presidente): Senhores Mi- Ministro-Relator declare, não obs-
nistros, trata-se de uma questão de tante ter dado um voto extenso,
ordem e, como tal, é de minha com- abrangente, se na verdade destacou
petência decidi-la. a preliminar, se ainda não havia en-
trado na segunda parte deste seu vo-
Por ocasião dos julgamentos, te- to. V.Exa., então, confirma que está
nho o hábito de fazer anotações e o nesta parte preliminar?
que consta no pro sente caso é o se-
guinte: preliminar de conhecimento
- conhecem os Senhores Ministros VOTO SOBRE
Pedro Acioli - Relator, Américo QUESTAO DE ORDEM
Luz, Moacir Catunda e Justino Ri-
beiro; não conhecem os Senhores. Mi- O Sr. Ministro Pedro da Rocha
nistros Armando Rollemberg, José Aciol1 (Relator): V.Exa. permite-me
Dantas e Carlos Mário Velloso. um ligeiro esclarecimento, para me-
TFR - 99 93

lhor condução do julgamento? É o cas mais salientes da causa e do pro-


seguinte: ao conhecer de ambos os cesso que, não obstante o estudo mi-
embargos em toda sua extensão, nucioso do eminente Relator da ape-
faço-o para apreciar o ponto da con- lação (digo-o com o maior apreço
trovérsia relativo à conversão do in- pelo nobre Ministro Moacir Catunda,
terdito proibitório em indenização cUjos votos recebemos como verda-
por apossamento indireto e para deiras lições) não transpareceram,
apreciar um segundo ponto, concer- contudo, no sereno e penetrante de-
nente à medida do quantum indeni- bate travado no seio da Colenda 5~
zatório. Turma; e não emergiram ali, naque-
O primeiro ponto, agora agitado la oportunidade (pelo que hoje per-
em embargos infringentes, foi apre- cebo) em razão mesmo da espessura
ciado e decid\do em sede de agravo do emaranhado de que se revestiu o
retido. Como já me manifestei, exemplar tumulto que estes autos
entendo que essa parte da controvér- documentam; tal, que só mercê da
sia, embora objeto de decisão ante- conjugação dos eSforços de muitos
rior proferida em agravo, está liga- se faz possível transpor os vencllhos
da ao mérito, por isso, a despeito da que obstruem o adequado conheci-
Súmula n? 211 do Col. STF, pode ser mento e decisão do caso.
reapreciada nos presentes embar- 9. Os precedentes, enquanto se so-
gos. mam, robustecem de tal modo cer-
tas proposições que estas, mesmo
VOTO (QUESTÁO DE ORDEM) equivocadas, tornam-se axiomáticas
e passam a expandir seus ma-
O Sr. Ministro Armando Rollem- leficios.
berg: Sr. Presidente, meu voto é no Não é demais que nos demos todo
sentido de não conhecer dos embar- o cuidado que a causa reclama, já
gos, por não serem cabíveis em rela- não somente por si mesma como,
ção à decisão proferida em agravo também, por aquilo em que possa
retido. vir a influir sobre nossos SUbseqüen-
tes pronunciamentos.
VOTO VISTA PRELIMINAR
Faço, pois, breve resumo dos fatos
O Sr. Ministro RomUdo Bueno de da causa.
Souza: Senhor Presidente, ao pedir 10. Plácido Jales & Filho propôs
vista destes autos, ante a divergên- ação de interdito proibitório, inicial-
cia que lavra entre nós a respeito mente, apenas contra o DNOS e o
dos termos em que cabe conhecer Município do Recife (fI. 2).
destes embargos infringentes, tinha Na petição inicial, após relatar a
em mente inteirar-me, de modo declaração de utilidade pÚblica para
mais acurado, apenas dos aspectos fins de desapropriação de extensa
do feito que guardassem relação área a abranger, entre outras, terras
mais íntima com a decisão prelimi- de sua propriedade e posse, assim
nar. resumiu os fundamentos jurídicos da
8. No entanto, à medida em que demanda e o pedido (fls. 3/4):
me fui familiarizando com a espécie,
fui também me apercebendo de peri- «Como tais obras, em outros lo-
pécias que de tal modo a singulari- cais da área desaproprianda, já co-
zam, a tal ponto que se me afigurou meçaram a ser executadas; como
de todo imprescindível aflorar aqui, tem sido, infelizmente, cada vez
pelo ângulo que despertou minha mais comum, entre nós, que o Po-
atenção, os contornos e característi- der Público antecipe o desapossa-
94 TFR - 99

mento ilícito à expropriação regu- tação dos réus, o mandado proibi-


lar; e como à autora não se ofere- tório requerido, embora sem comi-
ceu, ainda, qualquer valor indeni- nação da pena pecuniária».
zatório - resta-lhe o temor, cada 11. Como se vê, pedida foi, tão-só e
dia mais forte, da iminente inva- unicamente, a expedição do preceito
são de suas terras, como já suce- com a cominação da multa.
deu a outros na mesma área.
Insista-se: não se acrescentou pe-
O medo é compreensível, o receio dido cumulativo, de condenação dos
justo, a ameaça real. Sobretudo réus ao ressarcimento de perdas e
porque já houve, recentemente, em danos.
terreno vizinho ao da autora, o pre-
cedente assustador da turbação 12. Em verdade, penso que nem
ilícita que ensejou a impetração de mesmo se poderia admitir semelhan-
segurança perante essa Justiça Fe- te cumulação que envolveria, neces-
deral (Doc. n? 5). E, ainda mais, sariamente, a suposição de que o
porque as obras continuam, a cada preceito seria desrespeitado; e de
dia mais se aproximam das terras que a própria multa cominada pelo
da autora e máquinas já se pos- decreto judicial não incidiria, trans-
tam, ameaçadoramente, defronte à gredido que fosse o mandado.
sua sede (Docs. n? 6 e 7). Tal cumulação teria, portanto, co-
mo pressuposto inarredável, verda-
Assim comprovada a ameaça, e deiro absurdo; estaria, aliás, termi-
como tem a autora o justo receio nantemente excluída (CPC, art. 292,
de ser molestada em sua posse, § I?, 1); no caso, um pedido torna o
vem impetrar de V.Exa. que a se- outro supérfluo, desprovido de inte-
gure da violência iminente de tur- resse processual, já se vê.
bação ou esbulho, mediante man-
dado proibitório que comine aos 13. Vencidas as vacilações iniciais,
réus - caso transgridam o precei- o MM. Juiz proferiu o despacho per-
to - a pena pecul).iária de qUinhen- tinente à demanda, quando já tam-
tos mil cruzeiros (Cr$ 500.000,00) bém citados o DER-PE e o própriO
por dia, enquanto perdurar a tur- Estado de Pernambuco. Ei-lo (fI.
bação, nos termos do art. 932 do 112):
CPC.
«Expeça-se, liminarmente, man-
Pede, ademais, ante a urgência dado de interdito proibitório, sob a
que o caso requer, que o «mandado pena de Cr$ 200.000,00 (duzentos
proibitório», com a cominação da mil cruzeiros) diariamente,
pena pecuniária, seja liminarmen- pro rata entre os promovidos e li-
te concedido e expedido, inaudita tisconsortes, caso transgridam o
altera parte, uma vez que ao inter- que ora se faz determiI;lar e até ul-
dito proibitório, em que pese a re- terior deliberação judicial.
gra do art. 933, não se aplica, evi-
dentemente, a exigênci~ do art. Sim. E assegurado o direito de
928, parágrafo único do CPC, que propriedade, ex vi do disposto no
só se refere, especifiéamente, à art. 153, § 22, da Emenda Constitu-
manutenção e à reintegração. cional n? 1/69 e, de sua vez, cabe
ao Poder Público, mediante justa
Caso V. Exa., no entanto, resolva indenização, por necessidade ou
designar dia e hora para a audiên- utilidade pública, ou interesse so-
cia de justificação prévia a que cial, a ocupação do bem particu-
alude, incaput, o mencionado art. lar, mediante desapropriação, o
928, que mande expedir, com a ci- que não ocorreu».
TFR - 99 95

14. Nenhuma alteração do pedido Vejam-se, a propósito, os quesitos


ou da causa de pedir foi requerida trazidos pela autora (fls. 135/136);
(CPC, arts. 294 e 264 e parágrafo veja-se, ainda, a petição de fI. 147.
único). 17. Já aqui cabe, portanto, a ques-
E o saneador (fI. 130) é o seguinte: tão: era de se admitir a prova peri-
cial voltada à avaliação da área, co-
«Quanto ao aspecto das prelimi- mo se de expropriação se tratasse?
nares de legitimidade ad causam, Tenham-se em mente, a propósito,
será examinado por ocasião da os arts. 125, 128 e 426, I, do CPC.
sentença respectiva.
18. Na primeira parte da audiência
São as partes legítimas ad (fls. 264/5) suspenderam-se os traba-
processum e estão legalmente re- lhos a fim de se requisitarem os au-
presentadas, inclusive os litiscon- tos de ação de desapropriação movi-
sortes. da pelo DER-PE, em nome do
De seu turno, é legítimo, moral e DNER, contra Espólio de Belarmino
econômico, o interesse na deman- Vasquez Mendes, Rubem Lumack do
da. Monte e Jales & Irmão.
Dou o processo por saneado. A custo, a apensação se fez (fls.
339, 2? voI).
Defiro a produção da prova de
vistoria, com o arbitramento, a O exame desses autos apensos re-
testemunhal e a de depoimento vela que, em 14-5-62, pelo DER-PE,
pessoal dos representantes da fir- em nome do DNER, foi proposta
ma autora. ação de desapropriação perante a
Vara dos Feitos da Fazenda do Reci-
Nomeio perito do Juízo o Dr. Si- fe contra Belarmino Vasquez Men-
zenando Carneiro Leão, engenheiro des, Rubem Lumack do Monte e Ja-
civil, residente nesta capital, que les & Irmão, com pedido de imissão
deverá ser intimado e compromis- liminar do expropriante na posse.
sado. Como se vê, a autora desta ação de
interdito proibitório é uma das rés
Indiquem as partes e litisconsor- na expropriatória referida.
tes os seus assistentes-técnicos,
bem assim, formulem quesitos, tu- Esta demanda expropriatória foi
do no prazo comum de dez (10) contestada pela autora deste interdi-
dias, ex vi do disposto nos arts. 191to (fls. 31 e ss.) após o auto de imis-
e 421, § I?, incisos I e lI, do Cód. são do DNER na posse da área ex-
Proc. Civil». propriada; e a sentença de fI. 74, do
MM. Juiz Federal da 1~ Vara, em 8-
15. Como se vê, observado foi (des- 11-78, decretando sua extinção, as-
de o inicio, aliás) o rito procedimen- sim, na verdade, o fez, quando so-
tal ordinário (CPC, arts. 933, 930 e mente se pedira a desistência da
931). contestação (fls. 62/65 dos citados
16. E (fato verdadeiramente es- apensos).
pantoso) sem que o litígio tivesse so- 19. Cabe, aqui, a segunda questão:
frido qualquer modificação, a fase era admissivel a demanda de expro-
de instrução probatória, ao invés de priação indireta, pendente a expro-
se centralizar na alegada posse e na priatória?
afirmada ameaça de turbação, pas-
sou a cuidaI;' da avaliação da área 20. No prosseguimento dos traba-
descrita na Inicial e das construções lhos da audiência, a autora apresen-
nela existentes. tou memorial (lido na ocasião) em
96 TFR - 99

que pleiteava passasse a causa a ser agravos retidos teve lugar na pró-
decidida como ação de desapropria- pria audiência em que a decisão so-
ção indireta. bre a conversão foi proferida.
Eis, precisamente, o que se passou 23. Esta decisão, portanto, não so-
(lê o termo de fls. 365/368). freu preclusão.
A minuciosa e paciente leitura des- 24. Ao admitir, assim, a reclama-
te termo, de redação tão deficiente, da «conversão do feito» (estas as ex-
deixa em dúvida o intérprete: pressões empregadas) sensibilizou-
a) teria o D. Magistrado deferido, se o Magistrado, com certeza, pelo
tão-somente a juntada aos autos do ·precedente invocado pela autora (v.
memorial ofertado pela autora, da fls. 372/374), e que está a merecer
lavra do ilustre Prof. Torquato Cas- algumas palavras:
tro, a pedir a conversão da ação de a) cuida-se de sentença do mesmo
interdito proibitório em ação de de- ilustre Juiz, mantida (no que impor-
sapropriação indireta (ste)? ta para fim de confronto) pelo v.
Seria este o significado dos dizeres acórdão da E. 3~ Turma desta Corte,
do termo, verbis: «... entende por na AC n? 29.022 - Paraíba, de que
bem de receber... o memorial apre- foi Relator o eminente Ministro José
sentado pela autora, com seus funda- Néri da Silveira (fls. 387 e ss.);
mentos ali inseridos. Em face disso, b) tanto a sentença quanto o acór-
fica indeferido o pedido do DNOS, dão esclarecem, porém, enfatica-
acompanhado pelos demais promovi- mente, que ali se tratava de ação de
dos e litisconsortes, isto é, no que se reintegração de posse com pedido de
relaciona com o não recebimento do condenação ao «pagamento de per-
pedido da autora, na conversão do das e danos» (fI. 377) ou seja: «afo-
feito possessório em desapropriação rada como demanda possessória,
indireta»? (v. fI. 368, princípio). com pedido de restituição do imóvel
b) ou cumpriria concluir, ao con- e pagamento de perdas e danos,
trário, que o ilustre Juiz tenha logo converteu-a o Dr. Juiz Federal a quo
deferido a almejada conversão? em ação de desapropriação indireta,
eis que o DNOS ocupou o imóvel» ...
21. O próprio Magistrado, tempos (fI. 387).
depois, na continuação dos trabalhos
da audiência, interpretou seu pro- 25. No caso destes autos, ao con-
nunciamento. trário, a cumulação (inadmissível,
de fato, por incompatível com o pe-
Eis os dizeres: dido próprio do interdito proibitório)
«Em prosseguimento, disse o Dr. não foi sequer cogitada, senão unica-
Juiz manter, consoante mantém, o mente no prosseguimento dos traba-
despacho inserido à fI. 368, ou seja, o lhos da audiência de instrução e jul-
despacho agravado» (fI. 413, fim). gamento.
Isto prontamente exclui qualquer
22. Resta, por conseguinte, con- semelhança
cluir: do caso com o preceden-
te chamado à colação, pois, como fi-
a) a despeito da obscuridade do cou salientado, nestes autos tem-se
termo de fI. 368, o D. Magistrado, apenas interdito proibitório, puro e
em verdade, deferiu a pretendida simples (sem pedido cumulativo de
conversão, como S. Exa. mesmo es- ressarcimento) .
clareceu depois (fI. 413); 26. Admitida tal conversão pelo D.
b) como quer que seja (e S. Exa. o Juiz, como quer que seja, foi logo
confirma, ao manter o «despacho impugnada a decisão, por agravos
agravado» sic), a interposição dos (já se disse).
TFR - 99 97

Ficaram estes retidos nos autos, é A posse da autora no imóvel «Ce-


certo (pois a audiência é, em verda- râmica Poço Alto» ficou caracteri-
de, una e, por conseguinte, a senten- zada, nos autos, em toda a prova
ça estava para ser proferida). produzida.
E neste ponto se insere terceira O fato de o DNOS não se ter utili-
questão: era cabível, revestia-se de zado da desapropriação direta, por
sentido prático, àquela altura, a re- lei prevista, aproximando suas má-
clamada conversão? qUinas à escavação de terras e ar-
27. É bem verdade que, afinal, gila da autora (vide fls. 57 e 58),
veio a sentença com a seguinte significou ato que provocou justo
ementa (fI. 454): receio a esta, fazendo com que
buscasse o Judiciário para o inter-
«É cabível o interdito proibitório dito proibitório.
contra pessoa de direito público.
Dentro do afirmado pelo DNOS,
Não pode a administração públi- nos autos, em linhas gerais, o que
ca, direta ou descentralizada, de- se observa é que o mesmo, para as
sapossar alguém, salvo pela desa- suas obras, necessita de cerca de
propriação, nos trâmites legais. quatro hectares das terras da auto-
Não sendo pOSSível a continuida- ra, onde se faz incluir a argila do
de da medida do interdito proibitó- fabrico de tijolos e benfeitorias,
rio, converte-se o pedidO em per- fls. 3/54, tudo de propriedade e
das e danos, como desapropriação posse da promovente.
indireta, a título de indenização, Diante do significado da obra
sem que signifique decisão ultra que vem sendo realizada pelo
petita. - DNOS em sua utilidade pública,
28. É o próprio prolator da senten- não se admite a permanência do
ça que, como se vê pelo enunciado interdito" proibitório, além do inte-
acima, se apercebeu que a orien- resse público, mas não se há de
tação adotada trazia li lume a proibi- convir fique a autora sem o recebi-
ção de jUlgamento extra petita. mento da indenização correspon-
dente à entrega de suas terras,
E julgou (fI. 465): benfeitorias e jazida de argila no
ressarcimento ao prejUízo que lhe
«A ação teve o seu batismo como é causado e no respeito ao instituto
de interdito proibitório. Em sua da posse e da propriedade, motivo
marcha, contudo, houve a prova porque o interdito proibitório se faz
pericial, em ampla discussão, in- converter em desapropriação indi-
clusive com fixação dos valores da reta».
área, jazida de argila e das benfei-
torias, objetos da demanda». 29. Ambos os apelantes suscitaram
a nulidade da sentença por vício de
E adiante: decisão extra petita: o DNOS (fls.
473/79) e o Município do Recife (fls.
«Sim, competia ao DNOS ter pro- 410/11) .
movido a desapropriação, solici- 30. A questão, portanto, que ora se
tando imissão de posse provisória, oferece à decisão, segundo penso, é,
após efetuado o depósito que se fi- desde logo:
zesse arbitrar pelo Judiciário e não
por força, pura e simples, do De- Qual o recurso adequado à alega-
creto Municipal desapropria tório , ção de vício de julgamento extra
tentar fazer escavações em pro- petita?
priedade privada. Agravo?
98 TFR - 99

Apelação? devolutivo é total ou parcial quanto


Ou, em outras palavras, o fato de à extensão, e sempre integral
os réus terem interposto agravos re- quanto à profundidade».
tidos (irresignados com a decisão do A apelação total - registra Sea-
Magistrado, isto é, de julgar o inter- bra Fagundes - «é mais ampla
dito como expropriatória indireta) e que a parcial, apenas quanto ao co-
de terem, assim, afastado a preclu- nhecimento quantitativo da lide»
são, visto que, no mais, mantém o Juízo
este fato determina que a existên- ad quem na mesma posição, em
cia (ou não) do vício de julgamento face do litígio, que na apelação que
extra petita se torne objeto de agra- versar sobre todas as questões da
vo? res in judicio deducta» (op. cit.,
loco cit.).
Esta a questão, como se vê por tu-
do quanto procurei resumir. Esclarece ainda o ilustre proces-
sualista:
31. O tema é de indisfarçável atua-
lidade, pelo que está a reclamar nos- «Em relação às questões de or-
sa atenção. dem processual, pode o Juízo ad
quem, na apelação, apreciar, de
Não é demais ter em conta o que a ofício, ou mediante provocação do
doutrina vem sugerindo. recorrente, tudo quanto não esteja
A propósito, expõe Frederico Mar- precluso.
ques: Observa Alfonso Nigido que, se o
«A apelação é recurso de instân- Juiz de primeiro grau não podia
cia reiterada. Devolve-se, através decidir da demanda por não estar
dela, ao Juízo ad quem, o integral regular o processo, também não o
conhecimento da causa que foi de- pode o juiz de segundo grau: «si la
cidida no Juízo de primeiro grau. dem~nde était nuHe, et si, par con-
E o juiz do recurso aprecia, ampla- séquent, les prémiers juges ne pou-
mente, tanto as questões jurídicas vaient pas juger, les juges d'appel
como as quoestiones fac ti , ne peuvent pas plus juger» -, é o
cabendo-lhe analisar as provas e que ensinava Boimecase.
alegações das partes com poderes Disto resulta que, na apelação
idênticos aos do juiz a quo (Insti- plena, cabe ao Juízo ad quem, no
tuições, 1~ ed., Forense, Rio, 1960, exame e julgamento do litígio, não
IV, 152).
só o exame integral do meritum
E prossegue: causae, como ainda da regUlarida-
de da relação processual. Se não
«Somente se foi parcial o apelo, ocorreu preclusão, as nulidades in-
com a redução da pretensão litigio- sanáveis podem ser pronunciadas,
sa pelO recorrente é que a regra do com conseqüente decisão declara-
tantum devolutum quantum tória de absolutlo ab instantia.
appellatum restringe o campo de Quando, porém, a nulidade for
incidência dos poderes do juiz de suprível, o julgamento será con-
segundo grau. Esses poderes, no vertido em diligência.
entanto, continuam os mesmos,
embora atuando sobre superfície Aliás, é o que está disposto no
contenciosa de menor extensão, co- art. 877 e seu parágrafo, do Cód. de
mo ensina Machado Guimarães - Proc. Civil.
«o novo exame é sempre integral, Ainda neste passo a posição do
ainda que verse sobre parte da de- Tribunal ad quem é em tudo idênti-
manda. Pode-se dizer que o efeito ca à do juiz a quo no momento de
TFR - 99 99

proferir a decisão definitiva da sentença definitiva, apreciar, de


causa. Admissível é, também, que ofício ou mediante provocação do
o juiz do recurso declare nula a recorrente, tudo quanto não esteja
sentença, o que pode ocorrer por precluso. E neste passo, como tem
defeito do próprio ato decisório o juízo ad quem poderes idênticos
anulado ou por írregularidade da ao do juízo a quo, cabe-lhe, inclusi-
relação processual. Neste caso, re- ve, anular a sentença de primeiro
torna o processo ao Juízo de pri- grau, por irregularidade da rela-
meiro grau para que seja proferida ção processual e determinar, em
nova decísão, em que se não repita conseqüência, que nova sentença
o error in procedendo, que deu se profira depois de suprida nulida-
causa à anulação. Se o defeito não de sanável, ou depois de repetido
é da sentença anulada, mas do pro- ato nulo (retro, n?s 409 e 410), tudo
cedimento em que se insere, conforme está previsto no art. 560,
procede-se na forma prevista pelo parágrafo único.
citado art. 877 do Cód. de Proc. Ci- Além disso, a sentença pode ser
vil. anulada por defeito formal, para
Questões que podem, outrossim, que outra se profira sem os errores
ser apreciadas pelo Juízo ad quem, in procedendo que foram reconhe-
mesmo que omissas na sentença cidos existentes - o que, aliás, é
de primeiro grau, são aquelas per- decorrência do disposto nos arts.
tinentes às condições da ação, des- 248 e 249 do Código de Processo Ci-
de que, de maneira preclusiva, não vll, corroborado pelo que estatui o
foram decididas no saneador. Na- citado art. 560, parágrafo único».
da impede, por isso, que, tendo a
sentença apelada concluído pela .i!:: ainda:
procedência do pedido, reforme-a o «Também na apelação limitada,
Tribunal ad quem para declarar o cabe ao juízo ad quem exercer con-
autor carecedor da ação. Possível trole sobre os pressupostos de vali-
é, ainda, na apelação ilimitada, dade da sentença recorrida, dentro
que o Juízo do recurso dê provi- dos limites da preclusão e em har-
mento parcial a apelo interposto monia com o disposto no art. 267, §
contra decisão que julgou improce- 3? (retro, n? 448»> (Manual, 2~ ed.,
dente o pedido, para reconhecer Saraiva, 1976, III-14213).
tão-só a carência de ação. E pode
assim fazê-lo, independentemente Neste mesmo sentido a opinião do
de alegação do apelante nesse sen- Egrégio Amaral Santos:
tido» (Op. cit., págs. 156/8).
«Em ambos os casos, quer no de
Convém atentar para o fato de que sentença ultra pettta, quer no de
o advento do novo Código de Proces- sentença extra pettta, será ela ine-
so Civll em nada alterou estes ficaz e nula, ocorrendo que, no pri-
princípios. meiro caso, a nulidade poderá dei-
Tanto assim é que o citado Frede- xar de ser declarada quando a sen-
rico Marques, a propósito já da nova tença possa ser reduzida no juízo
lei, manteve a exposição aqui trans- superior, «sempre que a coisa ou o
crita e concluiu: valor sobre que recair a redução
estiver expressamente mencionado
«No que se relaciona com as na sentença» (Gabriel de Rezende
questões de ordem processual e Filho, Primeiras Linhas, 3~ ed.,
que se liguem à admissibilidade da Saraiva, 1979, lII-20).
tutela jurisdicional, pode o juízo ad
quem, na apelação plena contra E ainda:
100 TFR - 99

«No segundo caso, isto é, se a juízo ad quem, o qual, tais o se-


apelação for de sentença definiti- jam, poderá declará-la nula. Ver
va, como esta foi impugnada no n? 784» (Op. cit., págs. 104 e 106).
seu todo, caberá ao tribunal apre-
ciar e julgar todas as questões ven- 32. Posso, portanto, encaminhar
tiladas no processo, sejam de direi- minhas conclusões.
to ou de fato, de direito substancial Primeiramente, acentuo que nossa
ou de direito processual. lei processual mantém como um de
seus princípios informadores o
O conhecimento do tribunal da princípio dispositivo, segundo o qual
«matéria impugnada» não se res- o juiz deve julgar segundo o alegado
tringe ao que expressamente foi fo- e provado pelas partes. De fato, não
calizado na petição de recurso, tem ele poderes legítimos para ultra-
mas se estende a todas as questões passar os limites da res in judicium
que se comportam naquela maté- deducta que cumpre ao autor fixar.
ria. Daí dispor o § I?, do referido É a regra dos arts. 459 e 460 do CPC:
art. 515: «serão de apreciação e
julgamento pelo tribunal todas as «Art. 459. O juiz proferirá a sen-
questões suscitadas e discutidas no tença, acolhendo ou rejeitando, no
processo, ainda que a sentença não todo ou em parte, o pedido formu-
as tenha julgado por inteiro». Fi- lado pelo autor. Nos casos de extin-
cam sujeitas ao reexame, aprecia- ção do processo sem julgamento do
ção e julgamento do juízo da apela- mérito, o juiz decidirá em forma
ção até mesmo questões anteriores concisa.
à sentença recorrida, salvo aque- Parágrafo único. Quando o autor
las decisões que, impugnáveis por tiver formulado pedido certo, é ve-
agravo de instrumento, não o te- dado ao juiz proferir sentença
nham sido. Assim o determina o ilíquida».
art. 516 do mesmo Código. «Ficam
também submetidas ao Tribunal «Art. 460. É defeso ao juiz profe-
as questões anteriores à sentença rir sentença, a favor do autor, de
final, salvo as impugnáveis por natureza diversa da pedida, bem
agravo de instrumento». Quanto a como condenar o réu em quantida-
estas últimas, o juízo da apelação de superior ou em objeto diverso
não pOderá tomar conhecimento do que lhe foi demandado».
porque a falta de interposição de 33. A doutrina processual brasilei-
agravo de instrumento contra as ra, como resumidamente documen-
respectivas decisões fê-las preclu- tamos à luz de pronunciamentos de
sas». Machado Guimarães, Pontes de Mi-
randa, Frederico Marques, Amaral
E mais: Santos e Seabra Fagundes, esclarece
que a sentença que incorrer em ofen-
«Mas ao juízo da apelação se de- sa às regras apontadas se ressente
volve o conhecimento da causa e, de nulidade; e que esta pode e deve
com este, o da sentença apelada ser declarada pelo Tribunal, até
que também é objeto de seu exame mesmo de ofício, ao conhecer de
e apreciação. Donde o juízo da apelação.
apelação também considerar e de-
cidir quanto à sentença como ato 34. Doutra parte, o vício da senten-
processual. Assim, os vícios da ça (extra petita) que compromete
sentença recorrida, quanto à estru- sua validade e eficácia não dá ensejo
tura e quanto à sua inteligência, a agravo, senão que é motivo de ape-
são objeto de exame e decisão do lação.
TFR - 99 101

No caso, o VIClO extra petita foi ação em outra; e as apelações é que


apontado pelo d. voto do Senhor Mi- suscitaram o tema do vício e da nuli-
nistro Justino Ribeiro; cuida-se de dade da sentença.
matéria própria de apelação.
36. Efetivamente, o art. 522, § I? do
35. Concluo, pois, que não se reco- CPC manda que o Tribunal, «preli-
menda critério inspirado em puro minarmente, por ocasião do julga-
formalismo, a dizer que não cabem mento da apelação», conheça do
embargos infringentes em matéria agravo retido.
na qual a divergência se verificou
em julgamento de agravo. Tem-se, por conseguinte, que não
há distinção ontológica entre a deci-
Primeiro (permita-se-me) o hábito são do agravo retido e a decisão pre-
não faz o monge; no agravo ou fora liminar em apelação, se a matéria
dele, afastou-se (por maioria) a afir- decidida era própria de apelação.
mação de nulidade da sentença por
vício extra peUta. Na verdade, no caso dos autos, os
agravos não atacaram a sentença
Depois, decidida que fosse a maté· (nem poderiam fazê-lo): a sentença
ria em agravo, fato é que a mesma teve sua nulidade afirmada nas ape-
pertence à apelação: agravo de ins- lações.
trumento retido, no Código de Pro-
cesso Civil, não é recurso contra sen- 37. Como se vê, com muita razão,
tença. escreveu Pontes de Miranda:
Isto mesmo percebeu a jurispru- «Quando relembro minhas
dência, como informa Theotônio Ne- vigílias de juiz, certifico-me de que
grão, ao anotar: a sutileza das teorias, às vezes, es-
«Decisão proferida em agravo tá muito aqUém da sutileza dos ca-
retido não comporta embargos in- sos». (Tratado de Direito Interna-
fringentes (RT 485/97, JTA 37/46), cional Privado, Livraria José
Mas, se ao julgar o agravo o Tribu- Olympio, Ed. Rio, 1935, I, IX).
nal em realidade apreciou matéria Não basta, é bem de ver, atentar
de mérito da apelação e proferiu apenas para o enunciado da Súmula
decisão não unãnime, os embargos n? 211 do Supremo Tribunal, sem dis-
são cabíveis (RJTJESP 45/209: não cernir situações concretas que desa-
conheceram, apesar de aceita esta finam do padrão de que o enunciado
tese pelo relator») (Nota 7 ao art. cogitou.
530, CPC, lO? ed. RT. 1981, pág.
186) . É bem verdade que as matérias
processuais concernentes à nulidade
É difícil, em verdade, admitir que do processo (a partir de certo ponto)
o Tribunal, ao julgar agravo retido, e da sentença (por julgar extra
venha a ferir, ainda que de leve, o petita) foram argüidas expressa (e
merttum causae, dados os pressu- enfaticamente) pelos réus. Fizeram-
postos e a finalidade do agravo reti- no, aliás, reiteradamente: a) por
do. agravos retidos (que reputo desne-
cessários, no caso); b) por apelação.
Veja-se, no entanto, que, no caso
dos autos, na verdade, o que se veri- Se é certo que a Colenda 5~ Turma
fica é a decisão de matéria própria se pronunciou sobre o tema, a propó-
de preliminar de apelação, como se sito de decidir agravos retidos, não
fosse objeto de agravo retido, quan- menos certo e verdadeiro é que, ao
do, em verdade, o agravo se limitou assim proceder, exerceu seus pode-
a impugnar a conversão de uma res de Corte de Apelação: nem o
102 TFR - 99

agravo poderia impugnar a própria processo a partir da audiência de


sentença; só a apelação poderia fazê- instrução e julgamento, pelO fato de
lo. haver o ilustre Juiz a quo admitido a
Concluo: conheço dos embargos in- conversão do interdito proibitório em
fringentes em toda a sua extensão, desapropriação indireta.
ou seja, tanto ao pleitearem a nuli- Observe-se que nem mesmo o voto
dade da sentença, como ao pedirem vencido rejeita a possibilidade pro-
o mais amplo provimento das apela- cessual de conversão de ação posses-
ções, nos termos do d. voto vencido. sória em desapropriação indireta.
É como voto. Sustenta apenas que somente se jus-
tifica tal conversão quando houver
desapossamento do imóvel por ato
VOTO PRELIMINAR do Poder Público, circunstância que,
DE CONHECIMENTO no seu modo de entender, não ocor-
(ADITAMENTO) reu no caso in examen.
O Sr. Ministro Pedro da Rocha Nesse particular, estou em que o
Acioli (Relator): Levando em conta voto condutor bem apreciou e ade-
que a questão do convolamento do quadamente decidiu a controvérsia,
interdito prOibitório em desapropria- nos termos que seguem: (Lê) (fls.
tória indireta foi agitada e soluciona- 479/483) .
da em decisão proferida em agravo «Contra a decisão proferida na
de instrumento, esta questão não po- audiência de instrução e julgamen-
derá, agora, ser reapreciada, em to .............................. ..
grau de embargos infringentes, se
esta Eg. Seção houver por bem não acha-se vinculado à sorte do dito,
conhecer dos embargos, nesta parte. do DNOS.» (fls. 479/483).
Uma vez conhecidos, a matéria da
conversão será objeto de reaprecia- Subsidiando a tese sufragada pelO
ção. Mas se o Tribunal entender que eminente Ministro-Relator, trago as
não cabem, neste particular, os em- substanciosas impugnações dos em-
bargos, não se discute mais tal pro- bargados (fls. 568/584 e 585/601), das
blema, restringindo-se os embargos quais destaco:
ao âmbito da discussão tão-somente «a) houve efetivo desapossamen-
do quantum indenizatório. to do imóvel, ensejador do reco-
O prOblema da conversão foi agita- nhecimento judicial da expropria-
do, não só em agravo, como também ção indireta, por ato da autarquia
o foi em apelação, como se evidencia embargante, consistente na canali-
no relatório de fI. 559. Isso é mais zação do rio de modo que a corren-
uma razão para eu conhecer dos em- teza submetesse os terrenos a uma
bargos também neste ponto. contínua erosão, sendo ao final en-
golfados pelas águas;
VOTO MÉRITO b) desapossar é retirar ou ex-
o Sr. Ministro Pedro da Rocha cluir a posse, podendo isso
realizar-se à distância, inclusive
Acioli (Relator): Um primeiro ponto
dos embargos diz: através da destruição, total ou par-
cial, da coisa, ou das vias de aces-
Da divergência sobre a conver- so à coisa, ou da sua utilidade eco-
são da ação de interdito proibitório nômica, impossibilitando, pois, o
em desapropriação indireta. exercício dos poderes inerentes à
Reconheço descabida a pretensão propriedade e, com isso, expro-
das embargantes de ver anulado o priando de fato;
TFR - 99 103

c) qualquer das ações possessó- constante do voto vencido, proferido


rias - por serem elas intercam- pelo eminente Ministro Justino Ri-
biáveis e sujeitas ao princípio da beiro, naquela oportunidade.
conversibilidade no curso do pro-
cesso (CPC, art. 920) - possibilita VOTO
sua transformação em Desapro-
priação Indireta, quer se trate de O Sr. Ministro Armando Rol-
Manutenção de Posse, de Reinte- lemberg: Senhor Presidente, recebo
gração de Posse, ou de Interdito os embargos, pelos fundamentos do
Probitório». (fI. 584). voto do eminente Ministro Justino
Assentada a premissa de que hou- Ribeiro.
ve apossamento, cabe a conversão
aceita pela jurisprudência reconheci- VOTO
da no RE 76.372, in RTJ 67/609; AR
779, in RTJ 65/10; RE 63.833, in RTJ O Sr. Ministro Moacir Catunda:
61/385 e AC n? 43.804-PE, AC n? Rejeito os embargos, pelas razões do
47.521-RJ e AC n? 43.159-MG, voto proferido na Turma, que leio
entre outros julgados. (lê).
É bem verdade que a idéia de pos-
se, no direito moderno, diz de um po- VOTO
der de fato. É como pensa, por
exemplo, o Ministro José Carlos Mo- O Sr. Ministro José Dantas (Vo-
reira Alves, investigador incansável gal): Senhor Presidente, eu me con-
desse tema. No entanto, é indubitá- venço, pelo voto do Sr. Ministro
vel que, na hipótese dos autos, houve Moacir Catunda, que a obra pÚblica
um dano efetivo à propriedade parti- afetou a propriedade do imóvel, pre-
cular, cUjo comportamento das em- jUdicando o uso e gozo assegurado
bargantes acarretou um desapossa- ao seu proprietário.
mento de parte do imóvel a que se Desde esse fato, tão bem demons-
refere o presente feito. Mesmo que
as recorrentes não queiram a desa- trado pelo Relator, tenho que a espé-
propriação, a verdade é que o estado cie se recomenda regida pela lei das
atual em que se encontra a área desapropriações, a cUjo teor se sabe
abrangida pelas águas fluviais é ir- que o objeto de toda e qualquer ação
reversível. Impõe-se, dessa forma, a relativa a tal afetação se resolve em
reparação do dano, como convém na perdas e danos,
desapropriatória indireta. E foi o que o juiz mandou fazer, no
Rejeito ambos os embargos nesta caso sub judice, ao transformar a
parte. possessória em desapropriação indi-
reta, titulo este criado pela juris-
É como voto. prudência do Supremo Tribunal Fe-
deral para a dita ação sucedânea.
Por ela, ao invés de retornar o bem
VOTO ao proprietário, ao invés de retornar
a posse ao posseiro, resolve-se em
O Sr. Ministro Américo Luz: Sr. perdas e danos o gravame imposto
Presidente. Recebo os embargos, na ao bem pela obra pública.
apreciação da preliminar de mérito, Parece, portanto, com a devida vê-
com a vênia devida ao ilustre nia do não menos brilhante voto ven-
Ministro-Relator e aos que votaram cido na apelação. que o juiz decidiu
prevalentemente no julgamento da com acerto a discutida convolação
apelação, pois adoto a explicitação da ação.
104 TFR - 99

Rejeito os embargos nesta parte, nar. Ora, se não houve desapossa-


da maneira como a postularam am- mento, a questão difere por inteiro
bos os embargantes. do precedente confirmado por este
egrégio Tribunal, por sinal decidi-
VOTO do em I? grau pelo mesmo douto
Magistrado. É que no precedente,
O Sr. Ministro Carlos Mário como esclareçeu o DNOS à fI. 476,
Velloso: Senhor Presidente, em ra- houvera desapossamento, tratan-
zão do interdito proibitório, que foi do-se, além do mais e por isto
ajuizado pelo embargado, o Poder mesmo, de ação de reintegra-
Público parou as obras que seriam ção, e não, de interdito (fI. 477).
feitas na propriedade do mesmo. A 2. Quanto a perdurar ou não a
perícia, ao que ouvi, afirma que, em necessidade das obras de alarga-
razão disso, as águas do rio atingi- mento do rio, negada pelo DNOS à
rão a propriedade do embargado, ou fI. 479 e afirmada pela apelada à
essa propriedade ficará submersa, fI. 514 (numerada 424) é matéria
causando danos ao embargado, evi- de natureza técnica a ser discutida
dentemente. Parece-me que isso está se e quando houver demanda pro-
claro, nos autos, e foi ressaltado pelo posta com esse objetivo.
eminente Ministro Moacir Catunda.
A respeito dessa questão, diz a
Isso é bastante para tornar aplicá- apelada, chamando ao fato desa-
vel, no caso, o preceito inscrito no possamento indireto, que até um
art. 153, § 22, da Constituição, con- leigo pode prever a futura erosão
vertendo-se o interdito em expro- de suas terras em virtude das
priatória indireta, tendo em vista o obras realizadas acima e abaixo
princípio da economia processual delas. Afirma ela, verbis:
que domina todo o processo. «O fato, de resto, não é consta-
Com estas breves considerações, tação eminentemente técnica que
acompanho o voto do Sr. Ministro- escape à compreensão laica.
Relator. Qualquer leigo sabe que, alarga-
Rejeito os embargos. do e desobstruído o leito de um
rio, a montante e a jusante de de-
VOTO terminada área, as terras dessa
área «iriam constituir obstáculo
no leito do rio, que pouco a pouco
o Sr. Ministro Justino Ribeiro: Sr. iria proporcionando a erosão des-
Presidente, por ocasião do julgamen- sas mesmas terras, notadamente
to da AC n? 62.181-PE. como revisor, durante o inverno, quando a ca-
tive oportunidade de proferir o se- lha do rio funciona com maior
gUinte voto: volume d'água» (ainda o Perito
«Dou provimento aos agravos do do Juízo).
DNOS e do Município de Recife pa- O que fez o apelante, em suma,
ra anular o processo desde a deci- foi substituir a ação devida (o
são que converteu a ação de inter- apossamento mediante desapro-
dito proibitório em desapropriação priação) pela omissão criminosa
indireta. E o faço porque, como (o desapossamento por via da
bem esclareceram os apelantes ao erosão); foi, em outras palavras,
reiterar os agravos (fls. 474/476 e substituir as dragas pelo rio, ou
501/503), e a própria apelada o con- seja, deixar que este fizesse, de-
firma (fI. 514, numerada como 424) sordenadamente, o que aquelas
não houve desapossamento, até fariam com menor dano» (fI. 514,
porque o Dr. Juiz concedera a limi- numerada 424).
TFR - 99 105

No entanto, o DNOS sustenta que 107 da Constituição Federal) dano


precauções de ordem técnica fo- este que será fácil apurar a partir
ram tomadas e nenhum dano so- da perícia já feita, a qual servirá,
frerá a apelada. Eis nas próprias então, de prova pré-constituída. O
palavras do apelante: que não é possível é que o Judiciá-
«Convém observar, uma vez rio, invadindo o próprio plano da
mais, que, além do entendimento conveniência, obrigue a Adminis-
da própria autarquia federal ape- tração a realizar obras que ela, ini-
lante - que é um órgão de enge- cialmente obstada pela própria
nharia - à idêntica conclusão ação da apelada, agora considera
chegaram os estudos técnicos dispensá velo
realizados para o CONDEPE, do Dou provimento aos agravos pa-
Estado de Pernambuco, pelo ra anular o processo desde a audiên-
Consórcio ELC/ACQUA-PLAN, Clfl de fI. 365, em que se permitiu a
segundo os quais a descarga de conversão do interdito em desapro-
pico (rio Capibaribe) no ponto priatória indireta, devendo o Dl'.
em São Lourenço da Mata (mu- Juiz levar aquele a jUlgamento fi-
nicípio onde as águas do rio já nal, como de direito lhe parecer.»
chegam controladas pelas barra-
gens) foi reduzida a tal ponto (de 2. Como se vê, Sr. Presidente, a si-
2.671 m3/s para 838 m3/s) que tal tuação é muito clara: em tempo al-
valor «é compatível com a capa- gum a embargada se viu desapossa-
cidade de suporte da calha, antes da das terras que, até hoje, ocupa e
das obras de retificação e melho- usufrui. Portanto, não há base fática
ramentos realizados pelo DNOS» sobre a qual se possa construir a
(fls. 274/277). Isto vale dizer: o idéia de desapropriação indireta,
complexo de obras dispensou a que tem como pressuposto in arredá-
retificação do rio; com ele o Re- vel, quer na construção jurispruden-
cife - e com o Recife a proprie- cial, quer no precedente invocado, o
dade da autora - ficou livre do fato do desapossamento. No prece-
flagelo das enchentes de triste dente invocado, tratava-se de uma
memória ... » (fI. 475). ação de reintegração de posse, cUjo
nome por si só remete à existência
3. Admitido que haja algum exa- de anterior desapossamento. Aqui,
gero de ambas as partes, uma coi- ao contrário, tem-se ação de interdi-
sa resulta, porém, absolutamente to, cujo objetivo foi impedir, como
certa: não houve ato positivo de de- impediu, o ingresso da autarquia nas
sapossamento, sobre o qual a juris- terras da embargada. Há total e ma-
prudência construiu a chamada de- nifesta impossibilidade jurídica da
sapropriação indireta. Logo, razão pretendida conversão.
de ordem jurídica não havia para
se converter o interdito nessa espé- 3. É bom que se atente para a sin-
cie de desapropriação. gularidade da situação. A embarga-
da continua a ocupar e a explorar
Se, de futuro, a natureza vier a suas terras, inclusive fazendo ali
demonstrar que a apelada tem ra- funcionar uma olaria. No entanto, o
zão, aí sim, poderá ela pedir, não a Dl'. Juiz, a quo, estribado na simples
desapropriação indireta, que esta hipótese de que essas terras pode-
jamais ocorrerá em virtude de riam, no futuro, vir a ser solapadas
omissão do poder público, mas pelas águas, quer obrigar o Governo
uma indenização correspondente a expropriar essas terras. A simples
ao dano sofrido em virtude das inspiração de tal medida numa hipó-
obras realizadas pelo DNOS (art. tese já constituiria perigosíssimo
106 TFR - 99

precedente, a encorajar aventuras VOTO


do tipo a quantos possuam proprie-
dades vizinhas a obras públicas. Que O Sr. Ministro Romildo Bueno de
dizer-se, então, do caso concreto, em Souza: Senhor Presidente, estou de
que não só os pareceres técnicos do acordo com o Sr. Ministro Moacir
CONDEPE, do Estado de Pernam- Catunda, ao acentuar S. Exa. a pos-
buco, e do consórcio ELC/ ACQUA- sibilidade de, em demanda possessó-
PLAN afirmam a inexistência do ris- ria, ser cumulativamente pedida a
co como até o tempo já decorrido pa- condenação do réu ao ressarcimento
rece confirmar esses pareceres? de danos.
4.. Mas, mesmo que se admita, pelo Esta cumulação (admissível, sem
simples prazer de argumentar, que o dúvida, nas reintegrações e nas ma-
sinistro aventado venha a ocorrer, nutenções de posse, ante a possibili-
de nenhum modo se justificaria, dade de que o réu venha a permane-
muito menos agora, essa absurda cer na prática do esbulho) não me
desapropriação indireta. Como afir- parece, contudo, pertinente nos in-
mei na Turma, se tal ocorresse, só terditos proibitórios, como j á resu-
então estaria a embargada com jus- midamente procurei demonstrar.
ta pretensão contra o Estado. Mes-
mo assim, o título jurídico não seria Assinalo, porém, reiterando o que
a chamada desapropriação indireta, já frisei em meu voto preliminar, ao
pois não teria havido apossamento reproduzir o teor do pedidO constan-
pelo Estado, mas sinistro causado te da Inicial, que, no caso em exame,
por fenômeno natural desencadeado o pedidO (cumulativo) de condena-
em decorrência de obras públicas. O ção a ressarcimento de danos não foi
título jurídico seria o art. 107 da feito.
Constituição.
Acresce que, quando da audiência
5. Finalmente, é irrelevante o fato de instrução e julgamento, ao se pe-
de que na contestação ao interdito dir conversão de rito procedimental,
haja o DNOS afirmado sua intenção disso propriamente não se cuidava: o
de desapropriar. Nunca ninguém re- processo fora tratado, em verdade,
cusou ao poder estatal a faculdade pelo rito ordinário ... Na verdade, a
de, em qualquer fase do processo de autora deduziu, na fase final dos tra-
desapropriação, dela desistir. No ca- balhos de audiência, outra pretensão
so - é preciso que se diga - tal se (não contida na Inicial) para que o
deu exatamente em decorrência da magistrado se pronunciasse, na sen-
ação Intentada pela embargada, que tença, sobre essa nova demanda, de
obrigou o órgão público a alterar reparação de danos.
seus planos ele obra. Se a embarga-
da, provocadora da reviravolta, de- O Código de Processo Civil, no en-
pois caiu em si e compreendeu que tanto, estabelece:
agira preeipitamente, que a realiza- «Art. 264 - Feita a citação, é
çao das obras corno inicialmente pla- defeso ao autor modificar o pedido
nejadas, com a conseqüente ineleni- ou a causa de pedir sem o consen-
zaçao, lhe seria mais vantajosa, é timento do réu, mantendo-se as
outra questão. Caberia tão-somente mesmas partes, salvo as substitui-
resignar-se ao mea culpa. ções permitidas por lei.
6. Ante o exposto, com a devida
consideração às opiniões em contrá- Parágrafo único. A alteração
rio, mantenho o entendimento expen- do pedidO ou da causa de pedir em
dido na Turma e recebo os embar- nenhuma hipótese será permitida
gos. após o saneamento do processo».
TFR - 99 107

Como se vê, a se deixar de decla- servata lege: daí, porque não foi con-
rar a nulidade da sentença por haver testada; daí, porque não pode ser
julgado extra petita, decidindo de- aqui decidida.
manda que não foi oportunamente Peço vênia às doutas opiniões con-
proposta, configurar-se-á a desapli- trárias para receber os embargos e
cação do art. 264, parágrafo único do afirmar a nulidade da sentença por
CPC, admitindo-se, isto é, a mudan- vício do julgamento extra petita.
ça do pedido na audiência de instru-
ção e julgamento, depois de proferi- E como voto.
do, portanto (e precluso) o despacho
saneador. VOTO
Não experimento, por conseguinte, O Sr. Ministro Sebastião Alves dos
a mais mínima vacilação: a senten- Reis: Sr. Presidente, data venia,
ça é nula, por haver julgado causa acompanho o eminente Relator, con-
que não foi proposta e, assim, entrar forme votei no Juízo apelatório. Re-
em aberto conflito com os arts. 2?; jeito os embargos, no particular.
128; 264, e parágrafo único; 282, IV;
286; 292, § 1?,I; 293; 294 e 460, entre VOTO VISTA
outros, do CPC.
Era caso, portanto, de como tal O Sr. Ministro WaShington Bolívar
ser declarada em decisão prelimi- de Brito: Superada, por maioria, a
nar, ao se conhecer das apelações fase referente ao conhecimento dos
(mesmo, aliás, que os apelantes não presentes embargos infringentes, di-
tivessem averbado a nulidade). vergiram ainda os Srs. Ministros,
agora com igual número de votos,
E:is por que peço vênia para fi- quanto à indagação preliminar da
car de inteiro acordo com o d. voto possibilidade de conversão de inter-
vencido, do Senhor Ministro Justino dito proibitório em desapropriação
Ribeiro, que afirmou a nulidade: nu- indireta, solução dada pela r. senten-
lidade que, penso, deve ser restrita à ça de primeiro grau e acolhida pela
própria sentença, pois não me pare- Eg. 5~ Turma deste Tribunal, embo-
ce necessário estendê-la ao processo, ra sem unanimidade, sendo Relator
desde a audiência. o Sr. Ministro Moacir Catunda,
apoiado pelO SI'. Ministro Sebastião
Ressalvo, de qualquer modo, meu Reis, vencido o Sr. Ministro Justino
pensamento: quando quer que a au- Ribeiro, que anulava o processo a
tora (embargada) prove ter sofrido partir da audiência, inclusive.
dano patrimonial em virtude da rea-
lização das obras a que os autos se Nesta 2~ Seção, prestigiando a
referem, deverá ser admitida em maioria da Turma, rejeitando os em-
juízo a deduzir sua pretensão repa- bargos, encontram-se os Srs. Minis-
ratória, caso em que será proficien- tros Pedro Acioli, Relator, Moacir
temente auxiliada (tal salientou o Catunda, José Dantas, Carlos Mário
Senhor Ministro Justino Ribeiro) pe- Velloso e Sebastião Reis; recebem os
la prova já colhida nestes autos. embargos os Srs. Ministros Américo
Quer isto dizer que não estou a ne- Luz, Armando Rollemberg, Justino
gar o direito a tais reparações: Ribeiro, Romildo Bueno de Souza -
limito-me, isto sim, e exclusivamen- o que anula o processo apenas a par-
te, a declarar que estes autos não tir da sentença, inclusive - e Miguel
comportam pronunciamento (qual- Ferrante.
quer que seja) sobre tal pretensão Meu voto, portanto, nesta fase, de-
reparatória que não foi deduzida ve limitar-se ao desempate quanto
108 TFR - 99

ao ponto específico controvertido - tou decreto declaratório de utilidade


isto é - a possibilidade, ou não, de pública da área especificada que
conversão de interdito proibitório em abrange os terrenos da embargada e
desapropriação indireta. o primeiro deu início às obras de
dragagem e alargamento. A embar-
II gada, alegando justo receio de se ver
molestada em sua posse, em razão
Em apertada síntese, verifica-se do próprio decreto de declaração de
que o Sr. Ministro Justino Ribeiro, utilidade pública e de precedentes
desde a Turma, se opõe àquela con- havidos com vizinhos, isto é, de que
versão de ações, por entender não não obteria justa e prévia indeniza-
ter havido desapossamento, até por- ção, antes da execução dos trablb
que a autora, ora embargada, obti- lhos, ajuizou um interdito proibi-
vera a liminar no interdito proibitó- tório, obtendo liminar. O DNOS
rio, imprestáveis os precedentes jU- realizou obras a montante e a
diciais trazidos à colação, todos eles jusante. Após a realização da
partindo de uma reintegratória de perícia, na audiência, mediante me-
posse, valendo dizer que houvera de- morial, a autora pediu e obteve a
sapossamento, naqueles casos, o que conversão do feito em desapropria-
inocorre neste. Em seu douto voto ção indireta, resistindo os réus em
vista, o Sr. Ministro Romildo Bueno agravos retidos e, posteriormente,
de Souza sustentou que a autora não nas apelações interpostas da senten-
acrescentara, na Inicial, pedido cu- ça que consagrara a mudança, man-
mulativo de condenação dos réus ao dando indenizar.
ressarcimento de perdas e danos e Os embargantes dizem que não
que nem mesmo seria de admitir-se têm por que indenizar, pois não se
semelhante cumulação, por necessa- apossaram dos terrenos da embar-
riamente envolver a suposição de gada, nem havia mais necessidade
que o preceito seria desrespeitado e de desapropriar, ante as obras já
que a multa cominada não incidiria, realizadas, suficientes aos fins da
transgredido o mandado; assim, so- Administração.
bre ter como pressuposto verdadeiro
absurdo, estaria terminantemente A embargada sustenta que preci-
excluída (CPC, art. 292, § 1?, 1). Ade- samente essas obras, realizadas a
mais, nenhuma alteração do pedido montante e a jusante, deixaram seu
ou da causa de pedir fora requerida terreno sujeito à erosão, pela força
<CPC, arts. 294 e 264 e parágrafo das águas canalizadas do rio com a
único) . retificação do seu leito, ficando sua
terra como obstáculo.
Por sua singularidade, o desate da
IH causa envolve interessantes questões
de direito pÚblico e de direito priva-
A matéria fática merece rememo- do - isto é, de direito constitucional,
rada, embora de forma resumida, administrativo e processual, bem co-
em atenção à diretriz do antigo bro- mo de direito civil - todas, aliás, já
cardo damihi factum dabo tibi jus. versadas com saber e brilho, quer
O DNOS (1? embargante) e o Mu- pelos doutos patronos das partes,
nicípio do Recife (2? embargante) quer pelos não menos doutos Srs. Mi-
mediante convênio, resolveram pro- nistros.
mover o alargamento do leito do rio Presto a todos, entretanto, a home-
Capibaribe, como uma das providên- nagem de tentar justificar o meu
cias para diminuir, ou anular, os convencimento, especialmente àque-
efeitos das enchentes. O segundo edi- les de quem ousarei divergir.
TFR - 99 109

A Constituição assegura o direito indenização justa e a transferência


de propriedade, mas sem perder de do bem expropriado, uma vez pago e
vista sua função social (art. 153, § 22 levantado o preço, para o domínio do
e art. 160, inc. lIl). Assim ressalva expropriante.
as hipóteses de desapropriação por
necessidade ou utilidade pública, ou No caso dos autos, a Administra-
por interesse social, mas mediante ção expressou a vontade de desapro-
prévia e justa indenização; e, em ca- priar, editando decreto de declara-
so de perigo público iminente, esta- ção de utilidade pública, abrangendo
belece que as autoridades competen- as terras da embargada (fI. 55, I?
tes poderão usar da propriedade par- volume). Posteriormente, porém,
ticular, mediante indenização ulte- ante a resistência desta, revelada no
rior. interdito proibitório, bem como pelos
estudos e obras posteriores que em-
«A exegese do texto em epígrafe - preendeu, desinteressou-se pela ulti-
salienta Manoel Gonçalves Ferreira mação do procedimento, pois, com a
Filho - revela a previsão de duas realização dessas obras, já atingira
garantias diferentes para o direito o seu fim. Desse modo, não havia de-
de propriedade. Uma é a garantia de sapropriação direta, porque não a
conservação, outra, complementar promoveu, pelo procedimento nor-
da primeira, é a de compensação». mal, sendo perfeitamente admissível
(<<Comentários à Constituição Brasi- a desistência; nem indireta, por não
leira», Saraiva, 2~ ed., 3? voI. pág. ter havido o desapossamento.
103) .
Esse vocábulo, aliás, é o sustentá-
A desapropriação é «a forma con- culo da posição dos que se opuseram
ciliadora entre a garantia da pro- à conversão das ações, merecendo,
priedade individual e a função social portanto, um breve exame, tanto
dessa mesma propriedade, que exige mais quanto representa o contrário
usos compatíveis com o bem-estar da idéia de apossamento ou de ter
da coletividade», na síntese feliz de alguém a posse de alguma coisa e
Hely Lopes Meirelles (<<Direito Ad- chamar-se, por isso, possuidor.
ministrativo Brasileiro», 8? ed., RT,
pág.565). O conceito de posse, como se sabe,
Na desapropriação direta, ordiná- é dos mais tormentosos da doutrina
ria ou propriamente dita, a proprie- civilista, bastando mencionar, ape-
dade particular é sacrificada com nas, as duas grandes vertentes do
obediência a procedimento especial, pensamento jurídico - a teoria sub-
mediante préVia e justa indenização jetiva de Savigny e a objetiva, de
ao proprietário. Na desapropriação Von Ihering, caracterizando-se a pri-
indireta, criação pretoriana, é a ilici- meira pela conjugação do corpus
tude da conduta da Administração, com o animus, a intenção de ter a
despojando o proprietário dos seus coisa como sua, e a segunda, pela
direitos sobre a coisa, que leva à destinação econômica da', própria
obrigação de indenizar. coisa. Consigna Clóvis Beviláqua que
o nosso Código Civil «foi o primeiro
A desapropriação normal, como se a consagrar, inteira e francamente,
sabe, é procedimento administrativo a doutrina de Ihering sobre a posse»
que se realiza em duas fases, sendo (<<Código Civil dos Estados Unidos
a primeira, de natureza declaratóri~ do Brasil Comentado», Liv. Francis-
- a indicação da necessidade ou uti- co Alves, 1953, 9? Ed., voI. In, pág.
lidade pública, ou do interesse so- 5). HOje se reconhece, entretanto,
cial; e a segunda, de caráter execu- que «embora esse sistema não se
tório; compreende a estimativa da concilie com a doutrina SUbjetiva, fo-
110 TFR - 99

ram feitas a estas algumas conces- Assim, a solidez da afirmativa


sões, de sorte que a fidelidade ao ob- quanto ao desapossamento, mais
jetivismo não foi absoluta» (Orlando presa à teoria subjetivista de Sa-
Gomes, «Direitos Reais», 1~ ed., Fo- vigny, vai perdendo a nitidez dos
rense, pág. 35). Desse modo, nem se seus contornos, ante a realidade ob-
consagrou por inteiro, nem o fez jetiva do nosso Código Civil.
francamente, como o afirmou o ge- Nem procede a crítica que se lhe
nial projetista, diante das concessões costuma fazer de contemplar a pro-
à doutrina sUbjetiva. Na verdade, ao teção possessória, mais própria do
invés de definir a posse, preferiu o Código de Processo Civil, desde que
Código Civil identificar o possuidor, se lhe distingam os aspectos subs-
in verbis: tanciais dos processuais.
«Art. 485. Considera-se possui- «A singUlaridade da posse recla-
dor todo aquele que tem, de fato, o ma a disciplina de sua proteção no
exercício, pleno, ou não, de algum próprio corpo do Cód. Civil, desde
dos poderes inerentes ao domínio, que seja contida nos limites dentro
ou propriedade». dos quais não cabem regras pura-
mente formais. Ao contrário dos
Assim, admite o Código a possibili- outros direitos, a posse não se se-
dade de se ter posse, ainda que não para do fato que a origina. O pos-
seja pleno o seu exercício. Mais: ad- suidor, como esclarece Ihering,
mite o desdobramento da posse, em tem direito enquanto possui, quan-
direta e indireta (art. 486); admite a do está possuindo, de modo que, na
composse. como decorrência do con- posse, o fato é a condição perma-
ceito de que a posse é o exercício da nente do direito. Desta peculiarida-
propriedade e se pode haver domínio de da posse, resulta que a persis-
comum, também a posse pode dar-se tência da relação de fato é o reqUi-
pro indiviso. sito necessário do direito à prote-
ção». (Orlando Gomes, obro cit.,
A certeza em que assenta o pensa- págs. 108/109).
mento dos que afIrmaram não ter O denominado direito aos interdi-
havido desapropriação indireta, por- tos é um dos prinCipais efeitos da
que não houve desapossamento, pa- posse. E no próprio Código Civil que
rece defluir do conceito lógico- eles se matriculam e se distinguem,
formal de que a posse há de ser ex- contemplando o art. 499 os interditos
clusiva, isto é, o desapossamento de manutenção e de restituição, e o
consistiria, somente pOderia consis- art. 501, o interdito proibitório. E o
tir, no despojamento completo, ex- Código de Processo Civil diz como
cluindo o possuidor de sua posse. deve o possuidor proceder para ser
Um possuidor substituiria o outro. mantido na sua posse, em caso de
Ora, já vimos que essa afirmação turbação, ou reintegrado, no de es-
não encontra amparo na doutrina ci- bulho, ou ainda, quando houver justo
vilista, dado que a posse pode ser le- receio de vir a sofrer esbulho ou tur-
galmente desdobrada, podendo coe- bação, para pedir ao juiz que o segu-
xistir, sem se anularem, duas posses re da violência iminente, mediante
sobre a mesma coisa, posses parale- mandado proibitório, em que se co-
las, no dizer de Orlando Gomes mine ao réu determinada pena pecu-
(Obr. cit., pág. 62); como também é niária, caso transgrida o preceito
possível a composse, isto é, a posse (CPC, arts. 926 a 932).
simultânea, comum, no mesmo
grau, da mesma coisa, por diversos A tese defendida, brilhantemente,
possuidores. pelo eminente Ministro Justino Ri-
TFR - 99

beiro e pelos que o acompanharam, ça destruidora das águas, mediante


parte do pressuposto de que somente a erosão continuada e dirigida, quer
poderia haver desapropriação indire- pela sua tendência à expansão e ocu-
ta se tivesse havido desapossamento, pação efetiva das terras, quando
isto é, esbulho e, conseqüentemente, desborda do seu leito, foi claramente
a ação fosse outra - a reintegrató- positivada pela perícia. Ao quesito
ria - e não o interdito proibitório. formulado pela autora para esclare-
Mas já vimos que o instituto da cimento da natureza das obras reali-
posse se presta, no Direito brasilei- zadas pelo DNOS no leito e nas mar-
ro, a inúmeras situações de fato, das gens do Rio Capibaribe, a montante
quais se origina o direito. e a jusante da «Cerâmica Poço Al-
to», respondeu-se que a autarquia es-
Se é certo que a doutrina e a juris- tava realizando o alargamento da
prudência, ao que parece até aqui, calha daquele rio, para cem metros,
somente admitiram a conversão de com dragagem e retificação do leito,
ações para desapropriação indireta de conformidade com o projeto para
se resultar de ação reintegratória, esse fim elaborado, e que o material
que ante-supõe o perdimento da pos- proveniente da sucção vinha sendo
se, pelo denominado apossamento depositado, como aterro, a montante
administrativo, o esbulho da proprie- e a jusante da propriedade da auto-
dade particular (Cf. Hely Lopes Mei- ra. E à indagação sobre se a conclu-
relles, obro cit., pág. 566; Cretella Jú- são daquelas obras implicaria, ne-
nior, «Comentários às Leis da Desa- cessariamente. em realizá-las, tam-
Qropriação», 2~ ed., José Bus- bém, nas terras da autOl'a, res-
hatsky, págs. 32/33) daí por que se- pondeu-se afirmativamente, «uma
riam imprestáveis os precedentes jU- vez que não sendo feito assim,
diciais trazidos à colação pela em- tais terras iriam se constituir em um
bargada - não menos certo é que, obstáculo no leito do rio, que pouco a
resultando a desapropriação indireta pouco iria proporcionando a erosão
de construção jurisprudencial, nada dessas mesmas terras, notadamente
impede que se volte a construir, des- durante o inverno, quando a calha do
de que a situação de fato, por sua rio funcionará com maior volume
singularidade, assim o exija.- d'água, mesmo depois da construção
No caso dos autos, a autora resis- das obras para controle do rio, as
tiu à pretensão de desapropriar, sem barragens de Carpina e do Goitá,
o prévio pagamento da indenização das quais o alargamento da calha do
justa, ante os precedentes que ocor- Rio Capibaribe é uma delas». E
reram com os seus vizinhos, median- mais: que se tais obras não forem
te a utilização de interdito proibitó- realizadas «a tempo», nas terras da
rio, obtendo a liminar, porquanto autora, sendo executadas a montan-
comprovado o justo receio da violên- te e a jusante das mesmas, como se
cia iminente. A ação, porém, tomou fazia, as águas do Capibaribe pro-
o rito ordinário e não o peculiar de moveriam uma erosão constante e
interdito proibitório, ante a realiza- ininterrupta, cUjas conseqüências
ção de perícia, que comprovou a eram previsíveis, pois a própria Ce-
execução de obras a montante e a râmica está quase totalmente na fai-
jusante que deixaram os terrenos da xa dos cem (100) metros do que será
autora, ora embargada, à mercê da a nova calha do rio, tornando-se uma
ação hidráulica, multiplicada pela indústria condenada (Laudo pericial,
canalização das águas do rio e pela fls. 188/189).
retificação do seu curso.
A singular turbação, que se pode Nem se diga que a referência a es-
converter em esbulho, quer pela for, sa matéria de fato escapa ao âmbito
112 TFR - 99

restrito dos presentes embargos in- do nos autos, que o Poder Judiciário
fringentes, pois, ao contrário, preci- se viu compelido a compor, fazendo-
samente nesse ponto é que divergem o pela forma mais adequada, na hi-
a maioria da Eg. Turma e o eminen- pótese, isto é, convertendo o interdi-
te Ministro Justino Ribeiro, enten- to proibitório em desapropriação in-
dendo aquela que tal proceder confi- direta.
gurava a turbação, qUiçá o esbulho,
enquanto este afirma que não houve A tese de que somente poderá ha-
desapossamento, nem qualquer ato ver conversão de uma possessória
positivo do DNOS, nesse sentido. Te- em expropriatória indireta quando
nho que o ato pOSitivo é a realização se tratar de reintegração, não me
das obras, a montante e a jusante parece juridicamente correta, nem
das terras da embargada e a conse- jurisprudencialmente acertada, data
qüência lógica, previsível e prevista, venta.
de alagamento e destruição até mes- Primeiro, porque o interdito proi-
mo do prédio da olaria. bitório, um dos interditos possessó-
rios, embora tenha como pressupos-
Argumenta, ainda, o douto voto to o justo receio da violência iminen-
vencido, cuja prevalência se pede, te, de turbação ou esbulho, admite
que a omissão do Poder Público - que o fato temido (o esbulho ou a
já que inexistira desapossamento - turbação) possa ocorrer, tanto que o
jamais poderia dar lugar a desapro- réu será condenado a determinada
priação indireta, mas a uma indeni- pena pecuniária, «caso transgrida o
zação correspondente ao dano, nos preceito». Desse modo, ao contrário
termos do art. 107 da Constituição, do que argumenta o douto Ministro
dano fácil de apurar, segundo conce- Romildo Bueno de Souza, em seu
de o seu eminente autor, pela brilhante voto, o interdito proibitó-
perícia já feita, a qual serviria como rio, longe de partir do absurdo de
prova pré-constituída (fl. 580). Ouso que o preceito pode ser transgredido,
divergir desse entendimento, já que claramente contempla a hipótese
não se trata, a todas as luzes, de com uma sanção que pode, entretan-
omissão do Poder Público, mas de to, se revelar insuficiente à realiza-
atos pOSitivos e determinados, para ção da Justiça ou ao resguardo do
a consecução dos seus fins, pratica- princípio constitucional de amparo à
dos a montante e a jusante das ter- propriedade, como aqui ocorre. Se
ras da autora, mediante o uso de tal transgressão se opera por tal for-
máqUinas e, nestas, pela ação dirigi- ma que a propriedade do autor se
da e inteligente das forças da Natu- torne imprestável a sua destinação
reza. econômica, em verdade dela foi des-
pojado, desapossado, isto é, deixa de
exercer sobre ela um dos poderes
Assim, longe de estar o Poder Ju- inerentes ao domínio, sendo certo
diciário a invadir o sacrário admi- que isto poderá ocorrer, como já vi-
nistrativo da conveniência e da mos, no todo, ou em parte.
oportunidade, para obrigar a Aami-
nistração a fazer obras que ela ago- Em segundo lugar, é princípio ge-
ra julga dispensáveis, realiza aquele ral das ações possessórias - gênero
o seu papel mais relevante, como de que é espécie o interdito proibitó-
guardião e aplicador das normas rio - a conversibilidade dessas
constitucionais. A Administração se ações, como está previsto no art. 920
julga dispensada de realizar as do Código de Processo Civil. Isto
obras que a perícia entende indis- quer dizer que o juiz, presente deter-
pensáveis. Esse é o conflito positiva- minada situação de fato, deve outor-
TFR - 99 113

gar a proteção legal correspondente convertê-lo em desapropriação indi-


àquela cujos requisitos estejam pro- reta, já que qualquer ação, julgada
vados. Ao interdito proibitório, ade- procedente, se resolve em perdas e
mais, aplica-se o disposto na Seção danos, ex vllegls.
que o antecede, isto é, a Seção 11,
que cuida da manutenção e da rein- Ora, seria pura superfetação for-
tegração de posse, do Capítulo V do malística determinar a anulação do
Livro IV, Título I, do mesmo Códi- feito, quer a partir da audiência em
go. que se deu a conversão, quer a par-
Por outro lado, doutrina e juris- tir da sentença que a consagrou, pa-
prudência são acordes em que deve ra que todo o itinerário fosse repeti-
haver desapropriação indireta quan- do, para desaguar, fatalmente, no
do as obras realizadas pela Adminis- dever de indenizar já comprovado
tração causam inundações, isto é, pericialmente. O direito processual,
ocupação das terras pelas águas, co- por sua própria natureza, é apenas
mo no caso vertente, fatalmente um instrumento, um complexo de
ocorrerá; mais do que isto, as terras normas e princípios a serviço do di-
serão também gradativamente leva- reito material (Cf. «Teoria Geral do
das pelas águas, na ação contínua de Processo», de Antônio Carlos de
erodir, positivada nos autos como Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grino-
inexoravelmente determinada pelas ver e Cândido Dinamarco, 3~ tira-
obras do DNOS. A destinação econô- gem, ed. RT, págs. 16/17).
mica do imóvel - a exploração de
uma jazida, que vem desde 1928 - Ora, n.o caso. dos autos, o direito
será extinta, pelas mesmas razões. material - quer de altitude constitu-
cional, quer nas admiráveis constru-
E finalmente porque, em tema de ções do direito civil - ampara a pre-
desapropriação, se estatuiu que tensão da autora, ora embargada.
«qualquer ação, julgada procedente,
resolver-se-á em perdas e danos» A idéia de exclusividade, que se de-
(Decreto-Lei n? 3.365/41, art. 35, 2~ fendeu nos autos, quanto ao desapos-
parte). Assim, ainda que a autora samento, não se coaduna nem mes-
não tivesse cumulado o seu pedido mo com o instituto da desapropria-
com a condenação em perdas e da- ção. Com efeito, a desapropriação,
nos (CPC, art. 921, inc. I) como ano- na lição de Pontes de Miranda, pode
tou o douto Ministro Romildo Bueno ser total ou parcial, pois tanto pode
de Souza, uma vez chegando o juiz à privar o proprietário do bem, como
indeclinável necessidad~ de julgar poderá obstar-lhe a disposição plena.
proced~nte aquela demanda, resol- «Ali~s - diz ele - desapropriar não
ver-se-Ia ela, como qualquer é só atingir o poder de dispor.
outra ação, em perdas e danos, nos ter-Desapropria-se mesmo se se deixa a
mos da legislação especial. propriedade ao titular do direito, co-
mo, por exemplo, se só se lhe tira o
A hipótese dos autos, portanto, a uso» (<<Comentários à Constituição
meu ver, não era a de alteração do de 1967 com a Emenda n? 1 de 1969»,
pedido ou da causa de pedir, que não 2~ ed., RT, Tomo V, pág. 401). O
poderia ocorrer, como observou o mesmo consagrado Mestre deixa
eminente Sr. Ministro Romildo Bue- claro que «a desapropriação não é
no de Souza, mencionando o disposto modo de adquirir, é modo de perder
nos arts. 294 e 264 e seu parágrafo a propriedade» (obr. cit., Tomo cit.,
único, do CPC. O que fez o Juiz, ao pág. 418) ao contrário do que usual-
convolar o interdito proibitório, cuja mente se afirma. E como uma luva,
procedência deveria declarar, foi para o caso dos· autos, doutrina ele:
114 TFR - 99

«Se, por ocasião de extinção de pecialmente quando sobreviesse o


alguma atividade concedida ou período de maior volume, no inver-·
permitida, há prejuízo para algu- no.
ma empresa, como se a fábrica, ou É necessário - diz a perícia -
a exploração mineira, ou a compa- que se realizem, também, as obras
nhia de seguros, ou alguma outra de retificação nas terras da autora.
companhia tem de fechar, houve Para isto - argumenta a embarga-
desapropriação, a despeito da dis- da - tem ela direito a uma indeniza-
simulação. Desapropriou-se o di- ção que há de ser prévia e justa, nos
reito de explorar e talvez as insta- termos da Constituição. Ou ulterior,
lações, as propriedades e as ma- em caso de perigo iminente. Mas,
qUinarias não tenham outra apro- sempre indenização.
veitabilidade, ou não possam ter
aproveitabilidade que compense o Se a Administração desistisse de
investimento. Tudo isso, que se desapropriar, sem causar maiores
perde, há de ser indenizado» (Obr. conseqüências para a embargada, o
e tomo cits. pág. 411). interdito proibitório bastaria. Tal,
contudo, não se deu, comprovada-
A razão de ser da proteção posses- mente. Daí a conversão das ações,
sória «está no interesse da proprie- que foi pedida, ante o fato novo; e se-
dade, cUja defesa completa. A posse ria determinada, por força da lei, co-
é o reduto da propriedade, é a exte- mo anteriormente se viu, já que
rioridade desta, e não seria a pro- qualquer ação ~e resolve, em termos
priedade garantida em toda a sua de desapropriação, em perdas e da-
plenitude, nos termos constitucio- nos.
nais, se à sua visibilidade não se es- Assim longe de estar o Poder Judi-
tendesse a garantia da lei orgânica, ciário obrigan,do a Administração a
destinada precisamente a fazer efeti- desapropriar, esta, formalmente,
va a execução completa da Consti- tendo em vista o decreto de declara-
tuição» - segundo ensina Tito Ful- ção de utilidade pública, é que que-
gêncio (<<Da Posse e das Ações Pos- ria fazê-lo, para depois retrair-se, ao
sessórias», Forense, 4~ ed., pág. pretexto de que já não necessitava
209) . de empreender obras no terreno da
autora. De fato, as águas inteligente-
No caso dos autos, o interdito proi- mente canalizadas, realizariam o
bitório visava a impedir a execução projeto, ficando o previsível prejuízo
de obras no terreno da embargada, da autora, à conta das forças da Na-
sem indenização prévia, como ocor- tureza. Mas foi contra isso que ela se
rera com seus vizinhos. Expedida a insurgiu; e foi para remediar tal si-
liminar, a Administração não as em- tuação, que a r. sentença operou a
prendeu dentro das terras da auto- conversão das ações, com apoio da
ra, respeitando, aparentemente, o maioria da Eg. 5~ Turma deste Tri-
preceito. Entretanto, realizada a bunal.
perícia, positivou-se que as obras
Se a desapropriação indireta é
executadas a montante e a jusante construção
dessas terras, implicavam na canali- tirá uma formapretoriana, sempre admi-
zação direta da força destruidora para atingir a mesma nova de construir,
das águas, produzindo-lhe contínua desde que o intérprete nãofinalidade,
encontre
erosão, que solaparia os alicerces outra maneira de realizar a Justiça.
das próprias construções, quando do
alagamento, previsível e previsto, da Aliás, construir é o trabalho cons-
propriedade, pelo Capibaribe, em tante do jUiz a quem cabe dominan-
sua descida sÔfrega para o mar, es- temente revelar a lei e, especialmen-
TFR - 99 115

te, a maior de todas, a Constituição, «No que diz respeito aos erros
no inspirado dizer do Ministro Thom- materiais d~nunciados sob as le-
pson Flores (RTJ 54/460). tras c, d e e, ..................... .
perfaz a importância de Cr$
IV 54.426.194,00, que é o total da inde-
nização» (fls. 534/536).
Por todo o exposto, não obstante os
ensinamentos hauridos nos doutos Merece assinalar que a exploração
votos divergentes desse meu modõ da jazida remonta ao ano de 1928,
de ver a presente causa, especial- sem que os réus e até mesmo a Pre-
mente os brilhantes pronunciamen- feitura embargante tenham contes-
tos dos Srs. Ministros Justino Ribei- tado o fato ou a documentação com-
ro e Romildo Bueno de Souza, peço probatória. E o seu valor foi fixado
,Vênia para di,ssentir del~s e dos de- pelo perito oficial que usou da me-
mais que o acompanharam, ali- lhor técnica avaliatória para efeito
nhando-me entre aqueles que ado- de alcançar o seu justo e devido va-
taram as lições não menos brilhan- lor reparatório.
tes dos Srs. Ministros Moacir Catun- Como se vê, portanto, (e assinalado
da, Relator do acórdão embargado, no relatório), o próprio Ministro Jus-
e Pedro Acioli, Relator dos embar- tino Ribeiro, que divergiu no julga-
gos infringentes, para rejeitá-los. mento da apelação, terminou por
É o meu voto. acompanhar o entendimento do Se-
nhor Ministro Moacir Catunda, pro-
VOTO MÉRITO (CONT.) ferido na assentada de julgamento
dos embargos declaratórios, onde o
O Sr. Ministro Pedro da Rocha Ministro Catunda ratificou todos os
Acioli (Relator): Aprecio o segundo pontos sobre que divergiu o eminen-
ponto questionado em ambos os em- te Ministro Justino. Essa circunstân-
bargos, no tocante à cia, a rigor, revela que desaparecera
Divergência sobre a indenização a divergência sobre que se fundam
por conta da jazida de argila, a os embargos, fato que, aliado à apre-
respeito do valor atribuído à terra ciação que fiz da matéria discutida,
nua e sobre a área objeto do desa- me convence do acerto do voto líder
possamento. do Ministro Catunda, proferido por
Noutra parte, sustentam as em- ocasião do julgamento do recurso de
bargantes que a divergência entre os apelação, razão por que rejeito am-
votos vencedores e vencido reside, bos os embargos.
tanto nas áreas apontadas como in- É como voto.
denizáveis, como na exclusão, do va-
lor da indenização, da jazida (barro ADITAMENTO AO VOTO VENCIDO
para o fabrico de tijolos e telhas) as-
pecto esse que o voto vencido enten- QUANTO AOS EMBARGOS
de «demandaria também discussão DO DNOS
mais dilatada, em ação própria, e
não na conversão que se fez, do in- O Sr. Ministro Bueno de Souza: Se-
terdito em desapropriação». nhor Presidente, tendo ouvido com
A matéria enfocada teve desate in- toda a atenção o esplêndidO voto que
censurável pelo aresto embargado V. Exa. acaba de proferir (malgrado
(fI. 475) retificado, em parte, pelos em discrepância com meu entendi-
embargos declaratórios decididos às mento) e, muito embora, não haja
fls. 534/536, dos quais destaco: (lê) ensejo (e nem seria o caso) para no-
(fls. 534/536). vos debates sobre o tema, não posso,
116 TFR - 99

contudo, deixar de, distinguido como corresponder à natureza da causa,


fui com objeção feita a meu voto, no- ou ao valor da ação; caso em que
minalmente invocado por V. Exa., só não será indeferida, se puder
esclarecer o exato sentido de duas adaptar-se ao tipo de procedimento
proposições que fiz e que V. Exa., ao legal».
que me parece, interpretou de modo Portanto, a adaptação de uma pe-
discrepante de minha própria inten- tição inicial que aponta para rito im-
ção. próprio, de modo a afeiçoar o pro-
Primeiramente, acentuo que em cesso ao rito próprio não pode envol-
nenhum momento, em meu voto, ne- ver a alteração, pelo jUiz do objeto
guei a possibilidade de conversão de do processo; nem o seu consentimen-
rito especial possessório, seja a ou- to com a conduta do autor que, afi-
tro rito especial possessório, seja a nal, quer ver modificado o thema
rito ordinário. Isto, de fato, nunca decidendum, com surpresa para o
neguei; nunca pus em dúvida; como réu.
juiz, aliás, assim procedi várias ve- Por derradeiro, assinalo que a re-
zes; o que disse é que tal possibilida- ferência feita no art. 932 do CPC (a
de, a meu ver, não se estende ao in- que V. Exa. se referiu) à condena-
terdito proibitório. A razão é que, ção do réu, a ressarcimento ou à pe-
nas demais demandas possessórias, na pecuniária, convém seja tida em
o autor afirma a moléstia sofrida em sua inteireza, para clareza de meu
sua posse; e a moléstia possessória é voto.
sempre, por si mesma, causa sufi-
ciente para condenação à reparação Diz o preceito:
dos danos conseqüentes. «Art. 932 - O possuidor direto ou
Contrariamente, no interdito proi- indireto, que tenha justo receio de
bitório não há espaço para afirmar ser molestado na posse, pOderá im-
lesão à posse, afirmada que fosse a petrar ao juiz que o segure da tur-
lesão à posse, o pedido congruente só bação ou esbulho iminente, median-
poderia consistir na reintegração do te mandado proibitório, em que se
autor na posse ou em sua manuten- comine ao réu determinada pena
ção. pecuniária, caso transgrida o pre-
ceito.»
O segundo aspecto da assertiva
que fiz diz com os limites dos pode- A pena pecuniária é, portanto,
res do Juiz, ao adequar o trato de aquela mesma pedida na Inicial, em
qualquer demanda ao rito procedi- valor pecuniário (e não outro, de va-
mental apropriado. Tenho como cer- lor genérico a se liquidar na execu-
to que os poderes legítimos do Juiz, ção).
a propósito, são os de dirigir o pro- Somente para esclarecer este meu
cesso; não, porém, de instaurá-lo, pensamento, a fim de que não se ex-
nem de fixar (ampliando) o thema ponha a interpretações discrepantes,
decidendum. é que me permiti fazer este adita-
Se assim fizer, o juiz ofenderá o mento a meu voto, que mantenho,
disposto no CPC: com a devida vênia.
«Art. 295 - A petição inicial será
indeferida: VOTO

O Sr. Ministro Moacir Catunda:


Adicionado o voto de desempate do
v - quando o tipo de procedi- eminente Presidente da Seção, aos
mento, escolhido pelo autor, não demais proclamou-se resultado no
TFR - 99 117

sentido da rejeição dos embargos do Nos embargos declaratórios ale-


DNOS, por maioria, prosseguindo-se gou-se omissão do voto do vogal
os trabalhos no interesse do julga- - Min. Sebastião Reis, a respeito do
mento dos embargos infringentes do I? item, isto é, sobre a alegada ilegi-
Município do Recife. timidade do Município do Recife -
Chegada a vez de votar, pedi vista silenciando-se -hábil e tumularmente
dos autos, para rever detalhes do sobre o posicionamento do revisor
complicado processo, esmaecidos da Min. Justino Ribeiro - a propósito,
minoria em decorrência de tempo demorando aí o por que da falta de
decorrido desde seu julgamento, na pronunciamento do respectivo acór-
Turma, e hoje os apresento em me- dão sobre o assunto.
sa, dando prosseguimento ao jUlga- A repulsa do eminente revisor à
mento. alegação de ilegitimidade passiva,
Os embargos em causa desdo- no entanto, está explícita no item 3,
bram-se em três itens, os dois pri- do voto de fI. 582, a dizer:
meiros emergidos do julgamento do
agravo retido de fI. 401, sobre preli- «O Apelo do Município do Recife,
minares de: afora a preliminar do agravo, in-
siste na falta de legitimação passi-
1?) ilegitimidade passiva ad va (fI. 497) desatendível em face
causam, e da conversão do feito e da notícia
2?) nulidade da transformação de que, com o desaparecimento da
do interdito proibitório em desa- cerâmica, parte da área se torna-
propriação. ria própria do município.
O 3? item diz respeito com a exten- Quanto ao mérito, alega que em
são da área indenizável, e seu quan- face do convênio com o DNOS, to-
titativo, em dinheiro. da indenização porventura cabível
Consoante o extrato do jUlgamen- ficaria a cargo do Governo Fede-
to, na Turma, o resultado, então pro- ral. E repete argumentos já expen-
clamado , foi o seguinte, no que inte- didos pelo DNOS quanto à inocor-
ressa o julgamento: «Ainda na preli- rência de desapossamento (fls.
minar, conheceu-se dos agravos reti- 506/508, numeradas 416/418).
dos do DNOS e do Município do Reci-
fe, e negou-se-Ihes provimento. Deci- Tenho que a indenização, na par-
são por maioria, vencido o Sr. Min. te em que o Município seria favo-
Justino Ribeiro - fI. 588. recido com área de terra, seria de
sua responsabilidade perante a au-
O resultado do julgamento, infeliz- tora apelada, visto que, para esta,
mente, foi proclamado englobada- o convênio é indiferente. Por isto,
mente, sem que se desmembrasse o não dou razão ao apelante. Toda-
respeitante à preliminar de ilegitimi- via, ele se beneficIará da correção
dade passiva da dita, concernente à do erro aritmético do Perito, de
nulidade decorrente da conversão do início referido».
interdito possessório em desapro-
priação indireta, decretada pelo juiz O trecho transcrito, posto que inse-
durante a audiência de instrução e rido na rubrica do voto sobre o mé-
jUlgamento do ,Pltimo. rito, em realidade rejeita a prelimi-
nar de ilegitimidade passiva do mu-
Esse resultado foi reproduzido pe- nicípio, de maneira que o item em
la decisão que se lê no rodapé do causa foi solucionádo por unanimi-
acórdão de fI. 590 e assim foi publi- dade. Em conseqüência, não com-
cado. porta embargos infringentes.
118 TFR - 99

Relativamente ao segundo item A sentença se fixou na extensão


dos embargos, tocante à nulidade do de 39.273m 2 , registrada no laudo
processo, a partir da decisão tomada do vistor do Juízo - fl. 468 - e o
em audiência, que o converteu em voto condutor do acórdão a chance-
desapropriação indireta, tendo sido lou, nesta parte - só que a reduziu
decidido por maioria, conheço dos de 4.800mZ, correspondente à ca-
embargos infringentes e os rejeito, lha ou leito atual do rio, e encon-
pelas razões aduzidas do voto profe- trando a área de 34.473m', do inte-
rido na Turma, que servem aos em- resse das obras do DNOS - fl. 478
bargos do DNOS, assim como aos do - última linha, isto porque o se-
Município do Recife - lê. guimento de 4.800m' não pertence
No que toca ao terceiro e último à autora, e, portanto, não está
item, relacionado com a extensão da compreendida na faixa de
área indenizável, bem como ao mon- 132.342m 2 , de propriedade dela.
tante da indenização da responsabili- Daí se s'egue pela ir realidade do
dade do embargante, saiu exposta no erro material, apontado na letra c,
voto mérito nestes termos - lê - e pois a subtração da faixa ocupada
posteriormente -foi aclarada nos em- pelo leito do rio foi feita, como aci-
bargos dedaratórios, a dizer: ma exposto. O resultado da soma
das Pilrcelas de 34.473m 2 e
«No que diz respeito aos erros 4.800m 2 é mesmo 39.273m', de
materiais denunciados sob as le- maneira que a alegação em causa
tras C, D e E - afigura-se-me improcede totalmente.
oportuno anotar que o Decreto n?
10.788, do Prefeito do Município do No atinente ao erro encimado pe-
Recife, que declara de utilidade la letra d, consistente na omissão
pública, para efeito de desapro- do desconto de 35%, a título de per-
priação, com vista à execução das centagem a ser ocupada por ruas,
obras de retificação do rio Capiba- praças, etc., no caso de ser im-
ribe e urbanização das suas mar- plantado um loteamento no terreno
gens, os terrenos situados entre a cumpre anotar que o voto líder re-
Ponte da BR-101 e a Rua Leal de cusou terminativamente o desconto
Barros e entre a Rua Leal de Bar- em alusão, com apoio no Decreto-
ros e Igarassl'l, dá as coordenadas Lei n? 217/67 - art. 5? - não consi-
dós terrenos, mas não lhes define a derando a área questionada loteá-
extensão - fl. 55. vel, para fins de indenização - fl.
486 - discordando expressamente
É certo, no entanto, que a pro- da sentença que considerou o ter-
priedade dª autora está coberta reno loteável, com base no laudo
pelo decreto desapropriatório, e, oficial. Em conseqüência da mai-
bem assim, que ll}ede, toda ela, úscula rusticidade do terreno,
132.342,64m' - consoante a pe- desprezou o valor de Cr$ 412,69,
rícia judicial, na resposta dada por m2 - constante do último lau-
ao 7? quesito da autora - fl. 191 - do, e adotou o de Cr$ 200,00,
com a qual o assistente-técnico do por m 2 , indicado no laudo do
DNOS - concordou - fl. 246. assistente-técnico do Município do
As obras de alargamento e retifi- Recife.
cação do leito do rio ocuparão uma Rejeitado o desconto de 35% -
faixa de 39.273m>, segundo o peri- havia que tomado para base do
to do Juízo - fl. 189 - ou de cálculo do m 2 , da terra nua, a
38.250m', conforme o parecer do área total do terreno
assistente-técnico do DNOS - fl. 132.342,64m2 - fl. 191 - e não de
234. 112.491,25mz, de modo que neste
TFR - 99 119

ponto o voto incidiu em erro mate- Ê de ver que o Ministro Moacir


rial com a conseqüência de posicio- Catunda, a par de ter sido o relator
nar os resultados dos cálculos em do feito em grau de apelação, bem
contradição com sua premissa conhece os autos. Estando, assim, a
maior, consistente na tese da ina- cavaleiro, pôde, em boa hora, perce-
dequação do desconto de 35%, por- ber esse detalhe para o qual não foi
que a gleba não é loteável. dado o devido destaque, inclusive
nem o MuniCípio toca explicitamen-
Por estes motivos, e consideran- te nas razões· dos seus embargos in-
do a superfície da área questiona- fringentes, na argüição de ilegitimi-
da de 132.342mi, recebo, em par- dade, fazendo-o somente mediante
te, os embargos para reafirmar referência impl~cita.
que o DNOS ocupará da mesma Aderindo ao seu voto, neste parti-
uma área de 34.473m2 , valendo cular, também conheço parcialmen-
cada m Cr$ 200,00, no importe
2
te dos embárgos do Município do Re-
de Cr$ 6.894.600,00, e declarar cife, por considerar que, no que toca
que à Prefeitura do Recife, res- ao tema da ilegitimidade ad causam,
ta a área urbanizável que mede inocorre divergência a autorizar,
97.869,64m" ao preço de Cr$ neste setor, o cabimento dos infrin-
200,00, o que dá a importância de gentes.
Cr$ 19.573.928,00.
Em decorrência da retificação VOTO
do cálculo, reafirmo a condenação
do DNOS, na quantia certa de Cr$
34.852.266,00, sendo, pela terra O Sr. Ministro José Dantas (Vo-
Cr$ 6.894.600,00; pela jazida Cr$ gal): Senhor Presidente, posta a
23.135.366,00;· pelas benfeitorias, questão nos termos agora esclareci-
Cr$ 4.823.300,00, subtotal aquele dos pelo Ministro Moacir Catunda,
que, adicionado à parcela de Cr$ relativamente à particularidade do
19.573.928,00, da responsabilidade último dos recursos, também deste
do Município do Recife, perfaz a conheço, apenas parcialmente, e re-
importância de Cr$ 54.426.194,00 jeito os embargos totalmente.
que é o total da indenização.
Por estes motivos, recebo os em- VOTO VISTA
bargos, em parte, prejudicado o
equívoco denunciado na letra e, O Sr. Ministro Justino Ribeiro: Em
porque foi absolvido pela letra c.» sessão passada, pedi vista destes au-
tos e hoje trago meu voto.
RECONSIDERAÇAO PARCIAL DE Trata-se da questão referente às
obras realizadas pelO DNOS. com o
VOTO fim de eliminar o problema das
inundações provocadas pelo rio Capi-
O Sr. Ministro Pedro da Rocha baribe, em Recife.
Acioli (Relator): Senhor Presidente, Em sessões anteriores, após co-
concordo com o Sr. Ministro Moacir nhecidos, por maioria, ambos os em-
Catunda, na parte relativa à prelimi- bargos interpostos, houve-se por
nar de ilegitimidade ad causam em- bem colocar em destaque o recurso
butida no recurso do Município do do DNOS~ que terminou rejeitado
Recife. Faço-o aos fundamentos do por maioria. Entrou-se então a jul-
voto que S. Exa. acaba de proferir, gar os embargos do Município de
esclarecendo o que ocorre a respeito. Recife (certidões de fls. 699 v. e 701).
120 TFR - 99

Assim, inicialmente, peço licença suas inteligentes intervenções, ainda


para tentar esclarecer dúvida surgi- depende de ação futura da natureza.
da na sessão passada. Ao proferir Deseja-se, à força de simples previ-
voto de vista, o eminente Ministro são de fenômeno natural que poderá
Moacir Catunda, naturalmente por ocorrer ou não, obrigar o poder pú-
equívoco resultante do citado desta- blico a adquirir (é o termo próprio)
que, reapreciou a preliminar de ca- as terras da embargada, já que de-
bimento destes embargos do Mu- sapropriação, direta ou indireta, a
nicípio, o que levou o eminente decorrer de obras que o poder públi-
Ministro-Relator a retificar seu voto, co não realizou nem manifesta inte-
para igualmente deles não conhecer resse em realizar, jamais poderá ser
no tocante ã questão de ilegitimidade decretada judicialmente. O Judiciá-
passiva ad causam e conhecer quan- rio corrige os desvios da legalidáde
to à de conversão do interdito em de- praticados pelo administrador, não
sapropriação indireta (certidão de fI. lhe impõe critérios de conveniência.
701v.). Mormente em situação como a pre-
Todavia, essa preliminar de conhe- sente, em que a Administração alte-
cimento já estava decidida nesse rou seus planos de obra, não por má-
mesmo sentido, conforme certidões fé ou em represália, como se afir-
acima referidas. No momento, trata- mou em desrespeito à prova dos au-
se somente de receber ou não esses tos, mas em estrita obediência à de-
embargos. cisão de I? grau requerida pela pró-
pria embargada.
Feito este esclarecimento, passo
propriamente a proferir meu voto, a Preliminarmente, pois, acolho os
começar pela questão preliminar embargos para anular o processo.
alusiva à conversão do interdito nes-
ta desapropriatória indireta. Cairá, No mérito, o voto que proferi na
por certo, de modo meio insólito, es- Turma foi no sentido de corrigir o
te exame, nesta oportunidade, já que erro de cálculo do perito quanto à re-
esta questão foi resolvida nos em- dução de 35% na área, porém, man-
bargos do DNOS a, respeito, coinci- tido o mesmo critério, adotado por
dentes com os do Município. Mas o ele, de dar as terras como loteáveis,
erro, se houver, resulta do destaque com o correspondente valor de Cr$
dado àquele recurso. Sendo diversa 412,69 o metro quadrado, e não Cr$
a parte e tendo-se deixado explícito, 200,00, valor de terra não loteável,
naquele julgamento, que então não adotado pela maioria, correlativa-
se decidia o recurso do Município. mente não deduzindo aqueles 35%
não há como evitar, agora, o reexa- (fI. 581). Assim sendo, em verdade,
me da questão. Retorno, pois, à pre- parece ter razão a embargada quan-
liminar. E o faço, sem embargo da do diz que esta parte dg meu voto
consideração às respeitáveis opi- não convém ao MunicípiO embar-
niões em contrário, reiterando o en- gante. Mas nesta questão de conve-
tendimento que sustentei, vencido na niência não me cabe entrar. Nestes
Turma e nos ditos embargos do autos se diz que, por força de convê-
DNOS. Peço licença para reler o vo- nio, o dinheiro não sairá do Mu-
to, que é o seguinte (lê, fls. 578/580). nicípio, mas lhe será rel?assado pelo
DNOS. Cabe a cada um usar a arit-
Nada me ocorre acrescentar ago- mética e ver o que lhe convém. Em
ra, senão que, data maxima venia, meu voto, adotei um critério, com
não posso vislumbrar ato positivo de base no qual j á recebi os embargos
apossamento naquilo que, conforme do DNOS (fI. 699 v.) e que aqui man-
admite a própria embargada em tenho por coerência, coerência que
TFR - 99 121

de igual modo me faz receber estes Tenho, assim, que essa parte da
embargos na questão da indenização indenização demandaria também
da jazida, que exlcuí. discussão mais dilatada, em ação
A respeito da jazida, aliás, quero própria, e não na conversão que se
aproveitar a oportunidade para dei- fez, de interdito em desapropriató-
xar bem claro os fundamentos de ria. Concluo pela exclusão do
meu voto. A embargada procurou item» (fl. 582).
realçar apenas a questão da necessi- Ante o exposto, e reiterando o es-
dade, ou não, de autorização da la- clarecimento inicial de que no mo-
vra (fl. 687 e segs.). Mas este foi mento só se trata de receber ou não
apenas um dos fundamentos de meu estes embargos, que o conhecimento
voto, e o menos importante. O funda- já ficou decidido em outra assenta-
mento decisivo, inteligentemente da, meu voto é no sentido de recebê-
afastado do proscênio na impugna- los para, preliminarmente, anular o
ção da embargada, refere-se a três processo como dito, ou, no mérito,
outros pontos importantes, a saber: reduzir de 35% como loteável a área,
a) não dedução, na estimativa de ao preço, porém, de Cr$ 412,69 o me-
reserva feita pelo perito, das ex- tro quadrado, e excluir a indeniza-
trações realizadas pela embargada ção da jazida.
após a vistoria em que o mesmo É o voto.
se louvou, e que data de 1968;
b) a reposição de material feita VOTO VENCIDO
anualmente pelo rio, o que afasta-
ria o interesse na chamada «reser- O Sr. Ministro Bueno de Souza: Se-
va indicada»; e fnhor Presidente, fico, com a devida
c) impropriedade do critério de vênia, na conformidade do voto que
avaliação, pelo simples volume e acabamos de ouvir, do Senhor Minis-
não pela rentabilidade como é tro Justino Ribeiro, também no pon-
usual. to em que S. Exa. ressalta que, ten-
Reproduzo aqui esta parte do voto, do havido unanimidade, não cabe co-
diante da qual a outra não passa de nhecer dos embargos.
Simples adminiculo:
«Além disto, a reserva foi esti- VOTO PRELIMINAR
mada pelo Vistor Oficial a partir
do volume encontrado na tal pes- o Sr. Ministro Américo Luz: Quan-
qUisa de 1968, sem levar em conta to ao primeiro item, isto é, quanto à
a extração já feita ou por fazer, preliminar de ilegitimidade passiva
como é de praxe em tais casos, ad causam, apreciada no voto vista
porque as inundações anuais do rio do Ministro Moacir Catunda, meu
depositam novo material, assim voto é no sentido de dela não conhe-
renovando o estoque (fl. 193). Mas cer.
cumpriria esclarecer se tal fenô-
meno persistiu. Além do mais, se
assim o rio funcionava como gali- VOTO PRELIMINAR (2? item)
nha dos ovos de ouro, não interes-
sava à apelada a chamada «reser- O Sr. Ministro Américo Luz: Voto
va indicada» cUja indenização, ain- pela legalidade da transformação do
da assim, costuma-se calcular pela interdito em desapropriação indire-
rentabilidade, segundo a fórmula ta. Por:tanto, quanto a esse particu-
Hoskold, e não pelo simples volu- lar, mantenho meu voto, rejeitando
me. os embargos.
122 TFR - 99

VOTO Catunda e Justino Ribeiro, conhecen-


do dos embargos, e dos Srs. Mins.
o Sr. Ministro Américo Luz: Sr. Armando Rollemberg, José Dantas e
Presidente, reconsidero-me quanto à Carlos Mário Velloso, que deles não
primeira preliminar de ilegitimidade tomavam conhecimento, pediu vista
passiva ad causam, para acompa- o Sr. Min. Romildo Bueno de Souza,
nhar o Ministro-Relator, fazendo-o aguardando os Srs. Mins. Sebastião
integralmente. Reis e Miguel Jerônymo Ferrante.
Rejeito, in totum, os embargos. Usaram da palavra, pelo DNOS o
Dl'. Caio Monteiro de Barros Filho;
RECONSIDERAÇAO DE· VOTO pelo Município do Recife, o Dr. Car-
MERITO valho Neto; como assistente do
DNOS, o Dr. José Arnaldo Gonçalves
O Sr. Ministro Armando de Oliveira, Subprocurador-Geral da
Rollemberg: Sr. Presidente, reconsi- República, e pelos embargados, o Dr.
derando o meu voto, ponho-me de Torquato de Castro (em 15-12-81 - 2~
acordo com o Sr. Ministro Justino Seção. )
Ribeiro. Os Srs. Mins. Américo Luz, Moacir
Catunda e Justino Ribeiro votaram
RATIFICAÇAO DE VOTO ME RITO de acordo com o Relator. Impedido o
Sr. Min. Antônio de Pádua Ribeiro.
O Sr. Ministro Moacir Catunda: Ausente, por motivo justificado, o
Rejeito os embargos. Sr. Min. Wilson Gonçalves. Presidiu
o julgamento o Sr. Min. Washington
RATIFICAÇAO DE VOTO Bolivar de Brito.
O Sr. Ministro José Dantas (Vo- EXTRATO DA MINUTA
gal): Senhor Presidente, rejeitei am-
bos os embargos, tanto pela prelimi- EAC n? 62.181 - PE - ReI.: O Sr.
nar como pelo mÉlrito, com o enten- Min. Pedro da Rocha Acioli. Embg-
dimento de que as questões são tes.: Departamento Nacional de
iguais, como iguais são os funda- Obras de Saneamento - DNOS e
mentos deduzidos, apesar da diferen- Município do Recife. Embgda.: Plá-
ça dos recorrentes. cido Jales & Filho.
Decisão: Prosseguindo no julga-
VOTO mento, a Seção, preliminarmente,
por maioria, conheceu de ambos os
O Sr. Ministro Bueno de Souza: Se- embargos; no mérito, apreciando
nhor Presidente, recebo, em parte, inicialmente o recurso do DNOS,
os embargos; e, quanto ao mérito, posto em destaque no voto do Sr.
rejeito-os, in totum. Min.-Relator, após os votos dos Srs.
Mins. Pedro ACioli, Moacir Catunda,
EXTRATO DA MINUTA José Dantas, Carlos Mário Velloso e
Sebastião Alves dos Reis, rejeitando
EAC n? 62.181 - PE ReI.: O Sr. os embargos, e dos Srs. Mins. Justi-
Min. Pedro da Rocha Acioli. Embg- no Ribeiro, Américo Luz, Armando
tes.: Departamento Nacional de Rollemberg, Romildo Bueno de Sou-
Obras de Saneamento DNOS e za e Miguel Jerônymo Ferrante
Município do Recife. Embgda.: Plá- recebendo-os, pediu vista dos autos o
cido Jales & Filho. Sr. Min. Washington Bolívar de Bri-
Decisão: Após os votos dos Srs. to, a fim de proferir voto de desem-
Mins. Relator, Américo Luz, Moacir pate (em 16-3-82 - 2~ Seção).
TFR - 99 123

Os Srs. Mins. Moacir Catunda, Jo- tes.: Departamento Nacional de


sé Dantas, Carlos Mário Velloso e Obras de Saneamento - DNOS e
Sebastião Alves dos Reis votaram de Município do Recife. Embgda.: Plá-
acordo com o Relator. Não partici- cido Jales & Filho.
pou do julgamento o Sr. Min. Wilson
Gonçalves. Impedido o Sr. Min. An- Decisão: Prosseguindo no julga-
tônio de Pádua Ribeiro. Presidiu o mento, em apreciação aos embargos
julgamento o Sr. Min. Washington infringentes opostos pelo Município
Bolivar de Brito. do Recife, após os votos dos Srs.
Mins. Relator, que, nesta assentada,
EXTRATO DA MINUTA reconsiderou seu voto preliminar pa-
ra acompanhar o Sr. Min. Moacir
EAC n? 62.181 - PE - ReI.: O Sr. Catunda, o qual, em voto vIsta, não
Min. Pedro da Rocha Acioli. Embg- conhecia dos embargos, no ponto em
tes.: Departamento Nacional de que atacam a ilegitimidade passiva
Obras de Saneamento DNOS e ad causam, e deles conhecia quanto
Município do Recife. Embgda.: Plá- ao segundo item, isto é, de nulidade
cido Jales & Filho. da conversão do processo de interdi-
to proibitório em desapropriação in-
Decisão: Prosseguindo no julga- direta, e ao terceiro item, com refe-
mento, a Seção, pelo voto de desem- rência à extensão da área indenizá-
pate do Sr. Min.-Presidente, rejeitou vel e ao seu valor, rejeitando os refe-
os embargos do DNOS, vencidos os ridos embargos, no que foi acompa-
Srs. Mins. Justino Ribeiro, Américo nhado pelos Srs. Mins. Armando Rol-
Luz, Armando Rollemberg, Romildo lemberg, José Dantas e Carlos Má-
Bueno de Souza e Miguel Jerônymo rio Velloso. Pediu vista o Sr. Min.
Ferrante. Em prosseguimento e Justino Ribeiro, aguardando os Srs.
apreciando os embargos do Mu- Mins. Romildo Bueno de Souza, Se-
nicípio do Recife, após os votos dos bastião Alves dos Reis e Miguel Je-
Srs. Mins. Pedro ACioli, Relator, rônymo Ferrante (em 25-5-82 - 2~
Américo Luz e Armando Rollem- ,Seção. )
berg, rejeitando os embargos, pediu
vista o Sr. Min. Moacir Catunda, Os Srs. Mins. Moacir Catunda, Ar-
aguardando os Srs. Mins. José Dan- mando Rollemberg, José Dantas e
tas, Carlos Mário Velloso, Justino Carlos Mário Velloso votaram de
Ribeiro, Romildo Bueno de Souza, acordo com o Relator. Não partici-
Sebastião Alves dos Reis e Miguel pou do julgamento o Sr. Min. Wilson
Jerônymo Ferrante (em 11-5-82 - 2~ Gonçalves. Impedido o Sr. Min. An-
Seção). tônio de Pádua Ribeiro. Ausente, por
Os Srs. Mins. Américo Luz e Ar- motivo justificado, o Sr. Min. Améri-
mando Rollemberg votaram de acor- co Luz. Presidiu o julgamento o Sr.
do com o Relator, quanto ao mérito Min. Washington Bolívar de Brito.
dos embargos do Município do Reci-
fe. Ausente, por motivo justificado, o
Sr. Min. Wilson Gonçalves. Impedido EXTRATO DA MINUTA
o Sr. Min. Antônio de Pádua Ribeiro.
Presidiu o julgamento o Sr. Min.
Washington Bolívar de Brito. EAC n? 62.181 - PE - ReI.: O Sr.
Min. Pedro da Rocha Acioli. Embg-
EXTRATO DA MINUTA tes.: Departamento Nacional de
Obras de Saneamento - DNOS e
EAC n? 62.181 - PE - ReI.: O Sr. Município do Recife. Embgda.: Plá-
Min. Pedro da Rocha Acioli. Embg- cido Jales & Filho.
124 TFR - 99

Decisão: A Seção, apreciando ini- beiro e parcialmente os Srs. Mins.


cialmente a preliminar de cabimento Romildo Bueno de Souza e Miguel
dos embargos, na parte relativa à Jerônymo Ferrante que rece-
decisão do agravo retido, conheceu biam os embargos daquele Mu-
de ambos os recursos, por maioria, nicípio quanto à segunda preliminar,
vencidos os Srs. Mins. Armando Rol- mas os rejeitavam no tocante à ide-
lemberg, José Dantas, Carlos Mário nização (em 8-6-82 - 2~ Seção.)
Velloso e Sebastião Alves dos Reis; Na primeira preliminar de conhe-
decidiu a questão de ordem suscita- cimento, votaram com o Relator os
da pelo Sr. Min. Romildo Bueno de Srs. Mins. Américo Luz, Moacir Ca-
Souza, esclarecendo, após informa- tunda, Justino Ribeiro, Romildo Bue-
ções prestadas pelo Sr. Min.-Relator no de Souza e Miguel Jerônymo Fer-
e demais pronunciamentos na res- rante. Nas preliminares referidas no
pectiva assentada, que a discussão voto vista do Sr. Min. Moacir Catun-
se travava em torno de preliminar da, votaram de acordo com o Rela-
de conhecimento do recurso que fora tor os Srs. Mins. Américo Luz, Moa-
destacada quando se iniciou o julga- cir Catunda, José Dantas, Carlos
mento; examinando as preliminares Mário Velloso e Sebastião Alves dos
referidas no voto vista do Sr. Min. Reis. Com relação aos embargos do
Moacir Catunda, conheceu parcial- DNOS, votaram com o Relator os
mente dos embargos do Município do Srs. Mins. Moacir Catunda, José
Recife, por maioria, vencidos os Srs. Dantas, Carlos Mário Velloso, Sebas-
Mins. Justino Ribeiro, Romildo Bue- tião Alves dos Reis e Washington
no de Souza, Armando Rollemberg e Bolívar de Brito, em voto de desem-
Miguel Jerônymo Ferrante; pelo vo- pate. Quanto aos embargos do Mu-
to de desempate do Sr. Min.- niCípio do Recife, votaram com o
Presidente, rejeitou os embargos do Relator os Srs. Mins. Américo Luz,
DNOS, vencidos os Srs. Mins. Justi- Moacir Catunda, José Dantas, Car-
no Ribeiro, Américo Luz, Armando los Mário Velloso e Sebastião Alves
ROllemberg, Romildo Bueno de Sou- dos Reis. Não participou do julga-
za e Miguel Jerônymo Ferrante; e, mento o Sr. Min. Wilson Gonçalves.
ainda por maioria, também rejeitou Impedido o Sr. Min. Antônio de Pá-
os embargos do Município do Recife, dua Ribeiro. Presidiu o julgamento o
vencidos integralmente os Srs. Mins. Sr. Min. WaShington Bolívar de
Armando Rollemberg e Justino Ri- Brito.

APELAÇAO CIVEL N? 65.202 - BA


Relator: O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro
Apelantes: Raimundo de Oliveira Queiroz e sua mulher
Apelada: Caixa Econômica Federal- CEF
EMENTA
Execução fundada em título extrajudicial. Des-
cabimento da denunciação à lide. Penhora de bem
imóvel pertencente a avalista. Exclusão da meação
da sua mulher. Aplicação do art. 3? da Lei n?
4.121/62.
I - O aval consubstancia dívida de favor que
não reverte em benefício do casal. Por isso, os bens
TFR - 99 125

comuns do cônjuge, em tal caso, só respondem até o


limite da sua meação.
II - Não cabe proceder à denunciação à lide
em processo de execução.
In - Apelação provida no que concerne à
recorrente-mulher e desprovida no tocante ao
recorrente-varão.

ACORDA0 ção da ação para cobrança execu-


tiva; ilegitimidade passiva para a
Vistos, relatados e discutidos estes causa do avalista, que não é deve-
autos, em que são partes as acima in- dor, mas apenas responsável pelo
dicadas: pagamento; excesso de penhora.
Decide a Quarta Turma do Tribu-
nal Federal de Recursos, por unani- 2.1. Quanto ao mérito, insurgem-
midade, dar provimento parcial ao se contra a cobrança da chamada
recurso, na forma do relatório e no- taxa de permanência, o que torna
tas taquigráficas anexas que ficam ilíquida a dívida e que não há mo-
fazendo parte integrante do presente ra dos devedores, mas da própria
julgado. embargada, que recusou receber o
Custas como de lei. pagamento, segundo o desejo ma-
nifestado pelo outro avalista em
Brasília, 27 de abril de 1981 (data efetivá-lo e, por fim, que a embar-
do julgamento) - Ministro Carlos gada, ao contratar o empréstimo,
Mário Velloso, Presidente - Minis- não tomara os cuidados devidos
tro Antônio de Pádua Ribeiro, Rela- quanto à capacidade financeira do
tor. emitente do título, assumindo o ris-
co do seu não cumprimento.
RELATORIO
3. A embargada impugnou, sus-
o Sr. Ministro Antônio de Pádua tentando preliminares de não ad-
Ribeiro: Leio na sentença (fls. 75- missão dos embargos e, responden-
76): do às argüições dos embargantes
«L Raimundo de Oliveira Quei- diz da regularidade da sua repre-
roz e sua mulher Edmar Pinto Cos- sentação em Juízo e afirma que to-
ta Queiroz oferecem embargos à dos os responsáveis, emitente e
execução que lhes move a Caixa avalistas, foram citados e não efe-
Econômica Federal, para a co- tuaram o pagamento e nem no-
brança de dívida representada por mearam bens à penhora, pelo que
título cambial, visando os embar- fez ela, embargante, a indicação
gantes a desconstituição do aludido daquele que conhecia, que é o que
título. foi apreendido, para garantia da
2. Alegam, em processos distin- execução, acentuando por fim, a
tos e em preliminares, que a responsabilidade dos avalistas pela
exeqüente-embargada não se acha dívida.
devidamente representada, em vir-
tude de defeitos da procuração, 4. Determinei a reunião de todos
apresentada por fotocópias, que os processos de embargos, para
não estão devidamente autentica- um só julgamento, pois que desne-
das; denunciam à lide o emitente cessária a produção de qualquer
do título e o outro avalista; prescri- prova.»
126 TFR - 99

Apreciando a controvérsia, assim antiquação, podendo cobrar a im-


decidiu o Dr. Francisco Dias Trinda- pugnada comissão de permanên-
de (fls. 76-77): cia, nos limites fixados pelo Conse-
«5.1. «Não merece guarida qual- lho Monetário Nacional. E juros e
quer das preliminares argüidas pe- outros encargos, legalmente pre-
los embargantes, porquanto a em- vistos, incidem sobre dívidas como
bargada, empresa pública, é repre- a que é objeto da execução, sem
sentada judicialmente por seu cor- afetar-lhe a certeza e liquidez, co-
po de advogados, notoriamente mo reiteradamente decidem os di-
acreditado na Justiça Federal, on- ferentes graus do Poder Judiciário.
de tem o seu foro exclusivo, 5.2.1. Por outro lado, não seria
apresentando-se, por isso mesmo, caso de aceitar-se a argüida mora
excessiva a juntada de procura- em receber, imputada à embarga-
ções em todos os feitos em que a da, porquanto, segundo demons-
mesma é parte; o emitente e outro tram os documentos trazidos com
avalista do título cambial que ins- os embargos, o que se pretendeu
trui a execução já foram citados, foi uma composição em torno da
não se justificando, pois, que o se- dívida a que se referem os autos,
jam novamente, em virtude de li- em meio a outras, que era lícito à
tisdenunciação incabível, não ocor- credora recusar.
re a invocada prescrição, porquan-
to os devedores foram citados an- 5.2.2. Sem foros de procedência,
tes do decurso do prazo respectivo igualmente, a argumentação de
e a citação, posterior, da embarga- que a embargada não teria adota-
da - mulher se deu, não em função do medidas de segurança para a
do título, mas da circunstância de operação que realizou, porquanto a
haver recaído a penhora em bem própria exigência de aval repre-
imóvel; não há distinguir, como, de senta a mais usual garantia em ca-
resto, não o fazem os embargan- sos que tais.
tes, entre emitente e avalista quan-
to à responsabilidade pelo paga- 6. Isto posto, e pelo que mais
mento da dívida 'em execução e, consta dos autos, julgo não prova-
por último, apresenta-se extempo- dos os embargos e determino o
rânea a argüição de excesso de pe- prosseguimento da execução, con-
nhora, só oponível depois da ava- denados os embargantes ao paga-
liação, não sendo, porém, de des- mento das custas e honorários de
prezar a circunstância de que o advogado, em favor da embarga-
imóvel penhorado já é objeto de da, fixados estes em vinte por cen-
outro processo de execução, hipote- to do valor final da execução.»
cado que se diz à própria Caixa
embargada. Inconformados, apelaram os em-
bargantes (fls. 79-82), sustentando,
5.2. Os embargos têm, sem qual- em síntese, a prescrição da ação; a
quer dúvida, finalidade protelató- iliquidez do título executório; nulida-
ria da execução, o que, de si, pode- de do processo por falta de citação
ria ter ensejado a sua rejeição li- de litisconsortes; necessidade de de-
minar. Já é por demais sabido que nunciação da lide aos litisconsortes;
os entes que integram o sistema fi- exclusão da execução da meação da
nanceiro nacional, entre os quais a recorrente-mulher; e cerceamento
ora embargada, por força de dispo- de defesa.
sitivo da Lei n? 4.595/64, acham-se
a coberto de disposições da vetusta Contra-arrazoado o recurso (fls.
Lei de Usura, já sem eficácia por 84-87), subiram os autos e. neste Tri-
TFR - 99 127

bunal, opina a douta Subprocurado- ram citados antes do decurso do pra-


ria-Geral da República pelo prosse- zo respectivo e a citação, posterior,
guimento do feito. da embargada-mulher se deu, não
É o relatório. em função do título, mas da circuns-
tância de haver recaído a penhora
VOTO PRELIMINAR em bem imóvel», segundo aduz a
sentença. De fato, o vencimento da
o Sr. Ministro Antônio de Pádua promissória ocorreu em 9-4-73 e o
Ribeiro: Preliminarmente, proponho ajuizamento da demanda se deu em
a conversão do julgamento em dili- 23-10-73, com a citação do avalista-
gência, a fim de serem requisitados embargante em 14-12-73, muito antes
os autos do processo de execução, do decurso do prazo prescricional.
para que possa, com melhor conheci- De outra parte, não há divisar, no
mento dos fatos, apreciar as ques- caso, prescrição intercorrente, vez
tões suscitadas na apelação. que o processo executório não ficou
paralisado por período superior a
RELATORIO três anos, tendo, aliás, ocorrido al-
gum atraso na sua tramitação em
o Sr. Ministro Antônio de Pádua razão da dificuldade de localizar
Ribeiro: O julgamento deste proces- bens penhoráveis, motivo por que,
so foi convertido em diligência por inclusive, foi expedida carta precató-
esta Egrégia 4~ Turma, em sessão ria com tal objetivo. Para se chegar
de 29-10-80, a fim de que fossem re- a essa conclusão, basta que se com-
quisitados os autos do processo de pulsem os autos em apenso.
execução, com intuito de possibili- Outrossim, a cobrança da taxa de
tar, com melhor conhecimento dos permanência, nos limites fixados pe-
fatos, o exame das questões suscita- lo Conselho Monetário Nacional, por
das na apelação. entidade SUjeita ao sistema financei-
Cumprida a diligência (fI. 103), re- ro nacional e, por força da Lei n?
leio o relatório anteriormente feito, 4.595/64, excluída do campo de inci-
para rememorar os termos da con- dência da chamada Lei de Usura,
trovérsia (lê: fls. 95 a 98). não tem o condão de desfigurar a li-
É o relatório. qUidez e certeza do título executório.
A citação de litisconsortes, na es-
VOTO pécie, é despicienda, por não se con-
figurar hipótese de litisconsórcio ne-
I cessário, tanto mais que o emitente
O Sr. Ministro Antônio de Pádua do título executado e o outro avalista
Ribeiro (Relator): Sustentam os em- foram citados (certidão de fls. 20 v.,
bargantes, em seu recurso, prescri- autos em apenso).
ção da ação; iliquidez do título exe- Não cabe denunCiação à lide em
cutório; a nulidade do processo por processo de execução, pOis neste não
falta de citação dos litisconsortes; há sentença. É o que se depreende
necessidade de denunciação à lide do art. 76 do Código de Processo Ci-
dos litisconsortes; exclusão da exe- vil. Neste sentido, votei no Ag. 41.519
cução da meação da recorrente- - SP (Ac DJ 26-3-81, pág. 2466), do
mulher; e cerceamento de defesa. qual fui Relator.
II
Finalmente, não restou demonstra-
do qualquer cerceamento ao direito
A alegada prescrição inocorreu na de defesa, não sendo suficiente para
espécie, porquanto «os devedores fo- caracterizá-lo o julgamento anteci-
128 TFR - 99

pado da lide, especialmente no caso, decorrente de aval é dívida de favor


em que os embargantes não esclare- e, portanto, em nada podia resultar
ceram, de forma cabal, a necessida- em benefício do casal. Dai a perfeita
de de produção de outras provas e pertinência do art. 3~ da Lei n~ 4.121,
de realização de audiência. de 27-8-62, nestes termos:
«Pelos títulos de dívida de qual-
IH quer natureza, firmados por um só
dos cônjuges, ainda que casados
Contudo, merece provimento o re- pelo regime de comunhão univer-
curso no que diz respeito à exclusão sal, somente responderão os bens
da meação da recorrente- particulares do signatário e os co-
embargante. muns até o limite de sua meação.»
Cabe aduzir, nesse ponto, que a
apelante utilizou-se, erroneamente, IV
dos embargos à execução, quando o
remédio processual adequado são os Pelo exposto, dou provimento à
embargos de terceiro (Código de apelação, quanto à recorrente, para
Processo Civil, art. 1.046, § 3~). o fim de receber os seus embargos,
Conheço, porém, dos embargos à nos termos assinalados, invertidos os
execução como se fossem embargos ônus decorrentes da sucumbência; e
de terceiro, desde que oferecidos lhe nego provimento, no que concer-
dentro do prazo e atendidos os seus ne ao recorrente-varão.
pressupostos. Ademais, tal conver-
são não resulta em qualquer prejuízo EXTRATO DA MINUTA
para o direito de defesa. Assim, pro-
cedo, informado no sistema da vi- AC n~ 65.202 - BA - (3182843)
gente Lei Adjetiva que abomina toda ReI.: Sr. Min. Antônio de Pádua Ri-
espécie de formalismo, adotando a beiro. Apelantes: Raimundo de Oli-
forma não como fim em si mesma, veira Queiroz e sua mulher. Apela-
mas como meio de alcançar uma fi- da: Caixa Econômica Federal -
nalidade. CEF.
Com esse entender, dou provimen- Decisão: A Turma, por unanimida-
to ao recurso, no tocante à de, deu provimento parcial ao recur-
recorrente-embargante, para excluir so, nos termos do voto do Sr.
da penhora a metade do valor do Ministro-Relator (Em 27-4-81 - 4~
imóvel em que ela recaiu (fls. 51 v e Turma).
52 dos autos em apenso), correspon- Os Srs. Ministros Carlos Mário
dente à sua meação. Velloso e Romildo Bueno de Souza
Com efeito, o embargante Raimun- votaram com o Relator. Impedido o
do de Oliveira Queiroz, esposo da Exmo. Sr. Ministro Armando Rol-
recorrente-mulher, é simples avalis- lemberg. Presidiu o julgamento o
ta do título executado (fls. 4v, autos Exmo. Sr. Ministro Carlos Mário
em apenso). Como se sabe, dívida Velloso.

APELAÇAO C1VEL N? 66.232 - GO

Relator: O Sr. Ministro William Patterson


Apelante: Caixa Econômica Federal
Apelado: Banco de Crédito Real de Minas Gerais SI A
TFR - 99

EMENTA
«Administrativo. Caixa Econômica Federal. Ge-
rente. Endosso ou aval em cheque. Responsab1l1da-
de.
o aval ou endosso dado por gerente da Caixa
Econômica Federal assume a garantia que a legisla-
ção especifica assinala. A proibição contida no Regi-
mento não pode prevalecer em relação a terceiros,
servindo, apenas, como instrumento para o direito à
regressividade, resultante do princípio da responsa-
bilidade objetiva (art. 107, da Constituição Federal).
Sentença confirmada.»

ACORDA0 ges e Jerônimo Antônio da Silva,


qualificados na Inicial, alegando,
Vistos e relatados os autos, em que em resumo, o seguinte:
são partes as acima indicadas:
a) no dia 7 de junho de 1968, a
Decide a 2~ Turma do Tribunal Fe- agência de Itumbiara - GO, do
deral de Recursos, por unanimidade, Banco réu, recebeu em depósito,
negar provimento à apelação, confir- para crédito da conta de Júlio
mando a sentença, na forma do rela- Geraldo Bo:r;ges, o cheque n?
tório e notas taquigráficas constan- 986043, da limportância de Cr$
tes dos autos que ficam fazendo par- 50.000,00 (cinqüenta mil cruzei-
te integrante do presente julgado. ros), emitido em 28-5-68, por Ju-
Custas como de lei. lio Geraldo Borges, na condição
Brasília, 8 de maio de 1981 (data de procurador de João Gonçalves
do julgamento) - Ministro Aldir Borges, contra o Banco da Bahia
Passarinho, Presidente - Ministro SI A, pagável na praca de Goiâ-
W1lliam Patterson, Relator. nia;
b) o gerente do Banco réu libe-
rou saques sobre o depósito antes
RELATÓRIO da cobrança do cheque junto ao
banco sacado;
o Sr. Ministro William Patterson: c) o referido cheque fora en-
A Caixa Econômica Federal propôs dossado pelo gerente da agência
ação declaratória contra o Banco de da autora em Itumbiara, Sr. Je-
Crédito Real de Minas Gerais SI A e rônimo Antônio da Silva, mas em
litisconsortes passivos, Júlio Geraldo caráter pessoal e não como re-
Borges, João Gonçalves Borges e Je- presentante ou preposto da auto-
rônimo Antônio da Silva, alegando o ra, em vista de proibição legal;
seguinte:
d) dito cheque fora devolvido,
«Caixa Econômica Federal de com recusa de pagamento, pelo
Goiás, então autarquia federal, via banco sacado, sob a alegação de
de advogado regularmente consti- divergência de assinatura do
tuído, propôs a presente Ação De- emitente;
claratória contra Banco de Crédito
Real de Minas Gerais SI A e contra e) o Banco réu cobrou do ge-
os litisconsortes passivos Julio Ge- rente da autora em Itumbiara o
raldo Borges, João Gonçalves Bor- pagamento da importância re-
130 TFR - 99

presentada pelo cheque, invocan- didos, principalmente aquele que


do a qualidade de endossante do pertine com a falta de poderes do
aludido gerente; seu gerente para endossar ou avali-
f) não tendo sido feito o paga- sar, em nome do órgão. Tece críti-
mento, porque indevido, o Banco cas ao v. decisório, quanto à análise
réu promoveu o protesto do títu- das provas. Invoca a natureza jurídi-
lo, tendo sido sustado ~o protesto, ca autárquica, na ocasião da ocor-
em processo cautelar, mediante rência, para afirmar que, a teor do
depósito pela autora da impor- disposto no art. 15, do Código Civil,
tância questionada (autos em não pode ser responsabilizada por
apenso); atos de exclusivo envolvimento pes-
soal do seu funcionário, mesmo por-
g) não há responsabilidade ci- que o cheque j amais circulou em
vil da autora pela cobertura do seus setores. Finaliza acentuando
referido cheque, de que não é que não se caracterizou o aval ou en-
avalista nem endossante, escla- dosso, mas, tão-somente, o abono de
recendo que tal título de crédito assinatura.
não foi depositado em nenhuma
agência, departamento ou depen- Contra-razões às fls. 348/351.
dência sua; Neste Tribunal, a douta Subprocu-
h) o gerente da agência da au- radoria-Geral da República pediu o
tora não tinha poderes para assu- prosseguimento do feito (fI. 355).
mir em seu nome obrigações É o relatório, dispensada a revi-
cambiárias, tais como avais, en- são, nos termos do art. 33, item IX,
dossos, etc.; do Regimento Interno.
1) o ato praticado pelo gerente
da autora é nulo de pleno direi- VOTO
to».
Requer a autora a declaração de
o Sr. Ministro William Patterson:
Júlio Geraldo Borges assinou, na
insubsistência, quanto à mesma, do qualidade de procurador de João
endosso ou aval no cheque referen- Gonçalves Borges, um cheque no va-
ciado. lor de Cr$ ;)0.000,00, emitido contra o
Os réus contestaram. O banco ale- Banco da Bahia, depositando-o em
ga que a responsabilidade da Caixa sua conta no Banco de Crédito Real
é manifesta, uma vez que seu pre- de Minas Gerais que passou a libe-
posto formalizou a garantia. Jerõni- rar saques, de imediato, porque, se-
mo AnWnio da Silva 'diz que não foi gundo alega, estava o mesmo garan-
avalista, nem endossante, pOis ape- tido pelo endosso do gerente da auto-
nas abonou a assinatura do emiten- ra.
te. Júlio Geraldo Borges e João Gon-
çalves Borges não apresentaram de- A responsabilidade da Caixa e seu
fesa. envolvimento no caso dependem da
natureza jurídica da garantia decor-
Encerrada a instrução processual, rente do ato de seu funcionário.
sentenciou o eminente Juiz Federal O cheque questionado encontra-se
da Seção Judiciária do Estado de anexado à fI. 40, por cópia autentica-
Goiás, Dr. Darci Martins Coelho, jul- da. Consta do verso a assinatura do
gando improcedente o pedido (fI. Gerente, aposta em local própriO de
337). carimbo da «Caixa Econômica Fede-
Recorreu a Caixa Econômica Fe- ral». Assim, desde logo há que se
deral, com as razões de fls. 341/345, afastar a possibilidade de atuação
renovando os argumentos já expen- pessoal do servidor, porquanto agiu
TFR - 99 131

em nome da Repartição, pois assim bial, ressalvada, é claro, a ação


identificado, e quando estava em da pessoa jurídica contra o dire-
pleno exercído de suas funções. tor.
Qualquer que' seja o valor daquela 2. O legítimo portador de tal
participação, forçoso é reconhecer título pode, com ele, habilitar-se
que o ato está vinculado às atribui- na concordata da sociedade que
ções do cargo que ocupava, sendo ir- por essa forma se obrigou.
recusável, portanto, a aplicação do
princípio da responsabilidade objeti- 3. Recurso extraordinário não
va, ínsito no art. 107, da Constituição conhecido». (RE N? 69.522, 31-10-
Federal, tanto mais que era a ape- 75, RTJ n? 76/487).
lante, na portunidade, um ente au- «Nota promissória. AvaI assi-
tárquico. nado por diretor em nome da so-
ciedade. Não obstante contrariar
Caberia indagar, desta forma, so- o contrato social que exigia a as-
bre a natureza do ato e suas conse- sinatura dos dois diretores, váli-
qÜências jurídicas. O MM. Juiz a da é a obrigação contraída com
quo considerou que se cuida de aval. terceiro de boa fé, ressalvada a
Fundamenta sua convicção, com ação regressiva da sociedade
apoio em doutrina e jurisprudência. contra o diretor. Inteligência do
Vale, por oportuno, transcrever o se- art. 46, da Lei n? 2.044 e do art. 5?
gUinte lance da r. sentença: da Lei Uniforme.
«A propósito do aval prestado Recurso extraordinário a que
por diretores de sociedades, com se nega provimento.» (RE n?
infringência dos respectivos estatu- 70.830,14-9-71 - RTJ n? 59/218).
tos ou contratos sociais, é pacífic'a
a jurisprudência no sentido de sua Ainda que nãp estivesse configu-
validade perante terceiros de boa rado o aval, ter-se-ia no caso o cha-
fé, como demonstram os seguintes mado endosso 'de garantia, assim
arestos do Egrégio Supremo Tribu- definido por de Plácido e Silva:
nal Federal: «Assim se diz do endosso que é
«Sociedade Comercial. Ava. dado simplesmente para reforçar a
dado por sócio-gerente, em nome garantia do título, tornando-o ban-
da firma, dentro do estabeleci- cável ou para satisfazer exigência
mento. Embora contrariando o da pessoa, que o vai negociar.
contrato, é válida a obrigação Na realidade, não participando
cambial contraída com terceiro embora esse endossante de favor
de boa fé, ressalvada a ação da de qualquer operação sobre o títu-
sociedade contra o sócio. lo, confunde-se com o endossante
normal, dificilmente, sem um exa-
2. Recurso extraordinário a me especial, máxime de escrita,
que o STF nega conhecimento.» podendo dizer-se que é diverso do
mE 70.969, 8-6-76, RTJ n? endosso comum, pois que a fórmu-
80/513) . la por que se efetiva é um todo
«Aval que o diretor de sociedade Igual aos endossos ordinários.»
comercial apõe, no nome desta, (<<Vocabulário Jurídico», ed. 1967,
em promissória, dentro do esta- Forense, voI. 11, p. 600).
beleclmento, no caso de o toma- Tanto o aval como o endosso são
dor achar-se de boa fé. Mesmo formas de garantia da obrigação
contrariando o contrato social, é camblária. O avallsta responde so-
vállda sobredita obrigação cam- lldariamente com os demais coo-
132 TFR - 99

brigados (Waldemar Ferreira, consoante o magistério de Paulo


«Tratado de Direito Comercial», 8? Restiffe Neto (in «Lei do Cheque»,
vol., Saraiva, 1962, p. 212). pág. 85), que mais adiante, arrema-
«Tem endosso efeito dúplice: ta:
a) opera a transferência da o aval exprime-se pela aposição
propriedade da letra de câmbio; da assinatura do avalista, encima-
da de fórmula livre para a sua de-
b) torna o endossante solidaria- signação, ou em branco.
mente responsável, com o acei-
tante e outros coobrigados, pelo Se não indicar a quem é presta-
aceite e pagamento» (Waldemar do, considera-se prestado ao saca-
Ferreira, obra citada, p. 247). dor. Se não houver limite expresso,
«Do endosso não resulta so- compreende o montante do cheque.
mente a transferência de pro- De regra, o aval figura no rosto
priedade mas também a garantia do cheque, pOdendo também cons-
da realização pontual da presta- tar do verso. A assinatura que não
ção cambiária. seja do sacador aposta na face an-
«Por força desta garantia, o terior do cheque é tida como aval
endossante assume em face dos (ob, cit. pág. 870)
endossatários ulteriores, a res- In casu, ocorreu o que se denomi-
ponsabilidade solidária pelo acei- na aval em branco, caracterizado
te e pelo pagamento da letra.» pelo simples lançamento, no título,
(José Maria Whi.taker, «Letra de da assinatura do avalista (cfr. Car-
Câmbio,» 6~ ed. RT, p. 142). los Fulgêncio da Cunha Peixoto, «O
Registre-se que, em regra, o Cheque», vol. 2, pago 357).
aval é ato de favor. Mas no caso, Mas, ainda que se admita cuidar a
foi um meio encontrado por Jerôni- hipótese de «endosso», a garantia do
mo para que Júlio obtivesse o nu- pagamento é uma conseqüência da
merário necessário à cobertura legislação específica (art. 18), que
dos cheques sem fundos, retidos ressalva a circunstância quando hou-
por Jerônimo na agência da auto- ver estipulação em contrário.
ra, que ele dirigia. Advirta-se, porém, que o endosso se
A autora tirou proveito da opera- dá em cheque nominativo com cláu-
ção: ressarciu-se dos saques a des- sula à ordem (cf. Ementário Foren-
coberto feitos por Júlio Geraldo se, Agosto, 1958, Ano X, n? 117), o
(fls. 88, 92 e 95/171). que não ocorre na espéCie.
Não há como excluir a responsa- Portanto, quer se trate de aval,
b1l1dade da autora.» quer se cuide de endosso, a respon-
Não resta a menor dúvida que o sabilidade é uma conseqüência ine-
pagamento de um cheque pode ser vitável.
garantido por aval, podendo ser ofe- No particular, o Banco liberou os
recido por terceiros, com exceção, saques atento à garantia decorrente
apenas, do sacado. «o aval, que é do ato formalizado pelo gerente da
ato cambial e, por isso, abstrato, autora.
constitui-se de uma declaração uni-
lateral de vontade, formalizada no A prOibição regimental para a
próprio título e somente nele, em- atuação de seus servidores, no que
prestável por qualquer pessoa capaz, concerne a endossos e avais, não po-
desde que não seja o sacado, em ga- de servir de argumento para que a
rantia da obrigação do avalizado», Caixa seja exonerada dos encargos
TFR - 99 133

em relação a terceiros. Será ele váli- EXTRATO DA MINUTA


do para lhe assegurar o direito de
regressividade. AC n? 66.232 - GO (Registro n?
Os autos dão notícia, em lances 3.198.235) - ReI.: Sr. Min. William
ressaltados no v. decisório, que o en- Patterson. Apte.: Caixa Econômica
volvimento das pessoas e as ligaçôes Federal. Apdo.: Banco de Crédito
destas conduzem à convicção de que Real de Minas Gerais SI A.
a liberação da importância deposita- Decisão: A Turma, por unanimida-
da, com o cheque, deu-se com a cer- de, negou provimento à apelação,
teza de que o título estava garantido confirmando a sentença. (Em 8-5-81
com o aval, manifestado pelo pre- - 2~ Turma).
posto da apelante. Os Srs. Mins. José Cândido e Aldir
Ante o exposto, nego provimento Passarinho votaram com o Relator.
ao recurso, para confirmar a senten- Presidiu o julgamento o Sr. Min.
ça de primeiro grau. Aldir Passarinho.

EMBARGOS NA APELAÇAO C1VEL N? 66.248 - SP


Relator para o Acórdão: O Sr. Ministro Wilson Gonçalves
Relator Originário: O Sr. Ministro Justino Ribeiro
Embargantes: Richelieu Castilho Sabino e Cônjuge
Embargada: Companhia Energética de São Paulo - CESP
EMENTA
Desapropriação. Execução de Sentença. Juros.
Os juros devidos a partir da imissão de posse,
conforme remançosa jurisprudência, são os compen-
satórios, devidos à taxa de 12% ao ano.
Provimento dos embargos.

ACORDA0 RELATORIO
Vistos e relatados estes autos, em O Sr. Ministro Justino Ribeiro:
que são partes as acima indicadas: Trata-se de embargos infringentes
Decide a 2~ Seção do Tribunal Fe- opostos ao v. acórdão pelo qual a e.
deral de Recursos, por maioria, re- 4? Turma, acolhendo parcialmente
ceber os embargos, na forma do re- apelo da CESP, reformou sentença
latório e notas taquigráficas constan- de liqUidação em expropriatória, pa-
tes dos autos que ficam fazendo par- ra estabelecer que onde a decisão
te integrante do presente julgado. exeqüenda falara em juros mo-
ratórios, embora mandando calculá-
Custas como de lei. los desde a posse, não se podia em
Brasília, I? de junhO de 1982. <Data execução entender que se tratasse
do julgamento) Ministro da categoria jurídica de juros com-
Washington BoHvar de Brito, Presi- pensatórios, fazendo incidir a taxa
dente - Ministro Wilson Gonçalves, de 12% ordinariamente atribuída a
Relator pl Acórdão. estes.
134 TFR - 99

2. Para maior clareza, leio o Rela- Verifico, na verdade, que, de


tório do v. acórdão embargado (lê, qualquer maneira, há um claro na
fls. 210/211). condenação a ser preenchido no
3. O voto vencedor, do eminente procedimento de liquidação: ou a
Ministró Carlos Mário Velloso (Rela- sentença preencheria esse claro (e-
tor), é o seguinte, na parte que inte- nunciando a taxa a ser observada
ressa aos embargos: para o cálculo do valor dos juros
«No que tange aos juros, devem devidos, de 6%, por se achar corre-
ser calculados à taxa de 6% ao ta a sentença ao designar estes ju-
ano. ros como moratórios); ou a senten-
ça haveria de dispor que a taxa é
É que a sentença, expressamen- de 12% (porque devesse preponde-
te, mandou acrescer à indenização rar, no preenchimento do claro, o
os juros moratórios, sem mencio- outro subsídio fornecido pela pró-
nar a taxa. É verdade que, ao esta- pria sentença, quando estabeleceu
belecer a data de contagem de tais o termo inicial da incidência destes
juros, fixou-a a partir da imissão juros de modo a qualificá-los como
na posse. Isso poderia indicar que compensatórios) .
a sentença quis se referir a juros
compensatórios, pois estes Estava, portanto, o juiz da liqui-
calculam-se a partir da imissão na dação da indeclinabilidade de efe-
posse. tuar contribuição indispensável pa-
ra integrar o julgado.
Cumpria à parte, então, apresen-
tar embargos de declaração (CPC, S. Exa. optou, ao fazê-lo, por se
art. 464), o que não fez. situar no contexto da sentença, a
extrair dela a sua força essencial,
E porque as apelações não cuida- na conformidade da regra romana
ram do tema, a Turma, no julga- (scire leges non est verba earum
mento delas, silenciou-se, a respei- tenere, sed vim ac potes ta tem ) .
to, e a sentença não estava sujeita
ao duplo grau de jurisdição obriga- Nesta contingência, inclino-me pe-
tório, já que a expropriante é uma la proposição sustentada pelos ape-
mista. lantes, quando entendem que o cla-
Devem os juros, pois, ser calcu- ro (que se não pode negar na sen-
lados à taxa de 6% ao ano. Incidi- tença) deva ser preenchido segun-
rão a partir da imissão na posse, do o sentido do seu preceito, para
tal como decidiu a sentença. Toda- reconhecer que os juros são com-
via, até a data do laudo, são calcu- pensatórios; e que, nestas condi-
lados sobre o valor simples da in- ções, a respectiva taxa deva ser de
denização e, desde então, sobre o 12%» (fls. 217/218).
referido valor corrigido monetaria- 5. Os embargos, em longa e bem
mente. elaborada petição (fls. 227/238), pe-
Nesta parte, dou provimento ao dem a prevalência do entendimento
apelo». (fI. 215). desse voto vencido no sentido de que
o claro da sentença se deve preen-
4. Ficou vencido o eminente Minis- cher com a conceituação dos juros
tro Romildo Bueno de Souza, com o compensatórios, e sustentam que o
seguinte voto: acórdão embargado teria divergido
«Peço vênia para divergir de V. das Súmulas n?s 74 deste Tribunal e
Exa., Sr. Ministro Carlos Mário 164 do Pretório Supremo, nas quais
Velloso, o que faço com o maior se cristalizou que esses juros, e não
apreço que sempre tenho por seus os moratórios, é que se contam des-
pronunciamentos. de a posse.
TFR - 99 135

Frisam ainda os embargos que a ra melhor se ajusta à lógica, condi-


hipótese é de erro material, cor- cionada que está à liquidez da dívi-
rigível a qualquer tempo, indepen- da.
dentemente de embargos declarató- Mas a sentença aludiu expressa-
rios. mente a juros moratórios, assim
6. Admitidos pelo despacho de fI. nem deixando propriamente um cla-
238v, os embargos foram impugna- ro, pois estes têm a taxa estabeleci-
dos a fls. 243/247. da em lei, que é de 6% (art. 1.062, do
7. A União se manifestou à fI. 250, Código Civil) e, quanto à data de in-
como assistente da embargada. cidência, pOdia o Juiz optar por ou-
tra que não a da jurisprudência as-
É o relatório, dispensada a revi- sentada.
são.
3. Por outro lado, em que pese ao
brilhantismo da petição de embar-
VOTO gos, não consigo ver no caso um erro
material. POderia haver error ln
O Sr. Ministro Justino Ribeiro (Re- iudicando. Teria o Juiz omitido parte
lator): Segundo o douto voto vencido, do pedido constante da contestação
ao estabelecer a condenação em ju- dos expropriados, que falava nas
ros moratórios sem lhes apontar a duas espécies de juros, ou, tendo de-
taxa, ao mesmo tempo mandando cidido acolher tal pedido somente
contá-los desde a posse, a sentença quanto aos juros moratórios, teria
exeqüenda teria deixado um claro errado no fixar-lhes a incidência, ad-
que tanto pOderia ser preenchido, pe- mitido que a este respeito não dis-
lo juiz da liquidação, explicitando a crepasse da jurisprudência, ou, ain-
taxa de 6%, correspondente a esses da, o erro estaria na qualificação
juros, como tomando o outro jurídica desses juros. Em qualquer
subsídio fornecido pela sentença - a dessas hipóteses, sempre estaríamos
incidência a partir da posse - e as- diante de error in iudicando, cor-
sim qualificando tais juros como rigível somente através do recurso
compensatórios, à taxa de 12%. próprio, no caso a apelação dirigida
2. Peço licença, entretanto, para ao Tribunal na fase de conhecimen-
divergir desse pensar. Se a sentença to.
houvesse aludido a juros simples- Quanto a isto, considero lapidar a
mente, sem lhes apontar a espécie, seguinte passagem do voto do emi-
teríamos sem dúvida um claro nente Ministro Antônio de Pádua Ri-
preenchível das duas maneiras: po- beiro:
deríamos chamá-los compensatórios
ou moratórios, pois legalmente não é «A meu ver, porém, a qualifica-
rígido o termo inicial de incidência ção jurídica dos juros pela senten-
de qualquer deles, sendo que a juris- ça, se incorreta, implica em erro r
prudência é que estabeleceu para os in iudicando, cUja não impugna-
compensatórios a data da posse e ção, através da via recursal, ense-
para os moratórios, a do trânsito em ja a formação da preclusão máxi-
julgado. Sobre isto, devemos ter ma, não se tratando, pois de sim-
sempre em vista que a mesma juris- ples inexatidão material». (fI. 221).
prudência, nas demandas diversas 4. Não tendo os embargantes pro-
da expropriatória, estabeleceu a in- videnciado a correção desse erro por
cidência dos moratórios desde a Ini- ocasião do recurso próprio, ou mes-
ciaI, assim dando prevalência ao § 2? mo através de embargos declarató-
do art. 1.536 do Código Civil sobre rios perante o próprio Juiz de 1?
seu art. 1.064, no qual a idéia de mo- grau enquanto com jurisdição sobre
136 TFR - 99

o processo de conhecimento, a ques- justa, não me parece razoável, data


tão ficou trancada pela coisa julgada venia dos eminentes votos proferidos
ou preclusão máxima, e não se pOde pela maioria da Turma e agora tão
agora interpretar a sentença de mo- bem expostos pelo eminente Relator
do a alterar a qualificação jurídica - que se interprete o dispositivo da
dos juros, por ela mencionados, a sentença de modo que não corres-
menos que pela lei outro dado da ponda a esse conceito da justa inde-
mesma sentença, em contradição nização. Evidentemente, há na pró-
com esse, devesse prevalecer. E is- pria denominação de juros morató-
to, como se viu, não ocorre. rios, a partir da imissão de posse,
5. Assim sendo, com a devida con- um indício veemente de que a inten-
sideração ao eminente Ministro ven- ção do julgador era dar os juros
cido, fico com a maioria da Turma e compensatórios, porque jamais S.
rejeito os embargos. Exa. poderia dar a partir dessa data
juros moratórios, ante a jurisprudên-
cia firmada neste Tribunal (Súmula
VOTO n? 70, do TFR). Então, vamos ter, a
rigor, juros híbridos: moratórios
o Sr. Ministro Wilson Gonçalves: quanto à percentagem e compensa-
Sr. Presidente: A matéria dos em- tórios quanto ao tempo de seu cálcu-
bargos vem sendo tratada com rela- lo ou de sua fluência.
tiva freqüência na Turma a que te- De modo que, não obstante os ar-
nho a honra de pertencer. E lá, se- gumentos exarados pelos votos ven-
guidamente, voto no sentido de que cedores e pelo eminente Relator, a
os juros incluídos na condenação, quem acostumei-me a admirar des-
quando têm o termo a quo na data de que entrei nesta Casa, não vejo
da imissão de posse, são, conceitual- razão para mudar o meu ponto de
mente, juros compensatórios. Há vista, principalmente porque os ju-
várias decisões desse teor e, se não ros compensatórios, sendo uma par-
me falha a memória, não há diver- cela da indenização, não pOdem ser
gência na egrégia 6~ Turma. confundidos com juros moratórios.
Aqui, evidentemente, vê-se um cla- Se não estou em equívoco, ouvi a
ro ou uma lacuna, como conceituou o afirmação de que o Juiz que julgou a
douto voto vencido, ou talvez um liquidação é o mesmo que proferiu a
equívoco na redação do tópico. sentença exeqüente. Então, estaría-
Precisa-se saber, em primeiro lugar, mos adivinhando o pensamento do
qual a finalidade dos lucros compen- Juiz diferentemente do seu pensa-
satórios. Eles correspondem, no meu mento.
modo de entender, a lucros cessan-
tes pela perda da posse e a sua utili- Demais, com a devida vênia, não
zação em favor do órgão exproprian- aceito a tese de preclusão ou da coi-
te. sa jUlgada, pois que a matéria não
foi discutida. Não há, pois, falar-se
Ora, uma interpretação restritiva no princípio constitucional da coisa
que atribua a esses juros, que com- julgada para confrontá-lo com o da
pensam a posse da terra desapro- justa indenização.
priada, o caráter de moratórios,
além de fugir dos princípios Se a sentença houvesse dito «juros
aplicáveis à espécie, vai de encontro, moratórios de 6%» e não tivesse sido
choca-se frontalmente com o concei- interposto recurso, o argumento po-
to de justa indenização. Se o preceito deria ser aceitável, embora o erro
constitucional assegura que a indeni- técnico continuasse evidente. Mas
zação na desapropriação deve ser não há taxa de juros na determina-
TFR - 99 137

ção sentencial, e isso foi muito bem na posse, ainda antes que esta Casa
posto em relevo pelo voto do ilustre tivesse fixado o entendimento de que
Ministro Romildo Bueno de Souza. os juros compensatórios devam inci-
De forma que, na verdade, é uma dir desde esse evento.
omissão, em que, talvez, as partes A segunda consideração que dese-
também tenham culpa, porque não jo aduzir é a de que a construção ju-
recorreram, mas nunca pode se ad- risprudencial a que me refiro, ao
mitir, no meu modo de ver, a preclu- preconizar a condenação a juros
são de uma matéria que não foi dis- compensatórios incidentes desde a
cutida. Ao Juiz da liquidação, ou se- Imissão na posse tem a fundamentá-
ja, da execução, caberia muito bem, la o reconhecimento, rigorosamente
dando sentido exato àquela determi- técnico e científico-processual, de
nação, considerá-los como compen- que, ao contestar a ação de desapro-
satórios e, conseqüentemente, atri- priação, o réu, em verdade, formula
buir a taxa que é hoje dominante na verdadeiro pedido em sentido
Jurisprudência dos nossos Tribunais. próprio, como se articulasse recon-
Com essas ligeiras considerações e venção, poiS pede mais do que aquilo
com a devida vênia do eminente Re- que o poder público lhe ofertou: pro-
lator, recebo os embargos. cede, portanto, como se fosse autor.
A jurisprudência evoluiu, por con-
VOTO seguinte, para reconhecer que a ação
de desapropriação pode dar ensejo à
O Sr. Ministro Romildo Bueno de cumulação de demandas.
Souza: Senhor Presidente: Por acrés-
cimo ao meu sucinto voto-vencido e Dois, na verdade, podem ser os de-
com a máxima consideração para trimentos patrimoniais causados ao
com as doutas opiniões contrárias, expropriado, a saber, a tomada da
peço vênia para ressaltar apenas sua propriedade e a antecipação do
três aspectos do tema, em comple- expropriante no gozo, uso e posse da
mentação das razões que resumi na coisa, antes de que o expropriado se,-
assentada da apelação. ja devidamente reparado (como
quer a Constituição), de modo pleno
Pertence à tradição da doutrina e antecipado.
brasileira o entendimento tranqÜilo e
firme de que não há incidência de ju- Quando, portanto, se trata de en-
ros moratórios senão sobre dívida tregar ao expropriado o valor a que
certa de valor líqUido; pois, enquanto tem direito, já não basta ter em vis-
não se evidencia a existência de dívi- ta somente o valor da indenização
da líquida e vencida, não há mora de correspondente à coisa (o que às ve-
pagamento, dado que a mora pressu- zes impropriamente se designa pre-
põe conduta culposa do devedor, se- ço e que preço não é); impõe-se,
gundo a regra romana in illiquidls também, considerar o dano patrimo-
non f1t mora. nial decorrente da antecipada (e,
portanto, injusta) perda da posse.
E verdade que o Código Civil ate- Por isso é que a jurisprudência
nuou o rigorismo dessa regra tradi- dispensou até mesmo o pedido; e,
cional, como se observa pelo dispos- amparada na Constituição (que re-
to no art. 1.536, § 2? do Código Civil. clama indenização justa), recomen-
A luz deste entendimento, dou a condenação a juros compensa-
patenteia-se a deficiência técnica da tórios, nessas hipóteses. Na verdade,
sentença, no ponto em que se refere ao instituir esta cláusula (mesmo
à condenação a juros moratórios a sem pedido) de condenação a juros
contar da imissão do expropriante compensatórios, a jurisprudência
138 TFR - 99

adimpliu sua mora no tocante ao te com a pOSlçao que venho susten-


preceito constitucional que manda tando a respeito da matéria, na 6~
que a indenização seja justa, com- Turma, com a devida venia do ilus-
pleta e antecipada, pois como tal não tre Relator, acolho os embargos, na
se conceituaria, se se desconhecesse linha do voto proferido pelo ilustre
o fato de que o expropriante se apo- Ministro Wilson Gonçalves.
derou do bem expropriado e impediu
o particular de continuar no respec- VOTO
tivo gozo sem, contudo, antecipar a
indenização, em manifesto desres-
peito ao imperativo da lei maior. O Sr. Ministro Pedro da Rocha
Concluo, recordando o tópico das Aciol1: Sr. Presidente, o meu enten-
Institutas de Gaio, no Livro IV, em dimento adere ao ponto de vista do
que o grande jurisconsulto romano Sr. Ministro Wilson Gonçalves, as-
se refere ao anacronismo das ações sim em consonância com o voto ven-
da lei, reportando-se ao episódio do cido.
foro em que certo cidadão propôs de- Com efeito, o erro material da sen-
manda para ver seu vizinho cqnde- tença é corrigível em qualquer opor-
nado a cortar os ramos de uma àrvo- tunidade. Neste caso, a correção se
re que pendiam sobre a sua proprie- impõe em obséquio mesmo do pre-
dade; e perdeu a demanda (esclare- ceito constitucional da justa indeni-
ce Gaio), porque falou videira, ao in- zação.
vés de falar árvore. Por isso (con- Ademais, observa-se que os juros
clui Gaio), as ações da lei caíram no moratórios decorrem do próprio jul-
ódio do povo. gado, diferentemente dos compensa-
Com estes acréscimos, peço vênia tórios que se concedem por título
para, (a despeito das doutas opiniões jurídico diverso.
contrárias e sem embargo das res- Recebo os embargos.
peitáveis divergências que a questão
comporta), permanecer no rumo que E como voto.
resumi no voto v,encido; razão pela
qual acolho os embargos. VOTO
VOTO O Sr. Ministro Américo Luz: Sr.
Presidente: Acolho a tese do erro
O Sr. Ministro Sebastião Alves dos material, constante do douto voto
Reis: Sr. Presidente, coerente com a vencido no juízo apelatório, mesmo
orientação que adoto na egrégia 5~ porque, na ilustrada 6?' Turma, a
Turma, peço licença ao eminente orientação tem sido essa, conforme
Ministro-Relator para divergir de S. sustentou o eminente Ministro Wil-
Exa., acompanhando o Ministro Wil- son Gonçalves.
son Gonçalves na sua fundamenta- Fico com a tese sufragada pelo Su-
ção, bem como nos significativos premo Tribunal Federal no RE
subsídios trazidos pelo eminente Mi- 87.158 - MG - 2~ Turma, segundo a
nistro Romildo Bueno de Souza. qual, decisão que manda pagar juros
Recebo os embargos. moratórios, em vez de compensató-
rios, a partir da imissão provisória
VOTO do expropriante na posse, cometE)
erro técnico. Leio a ementa.
O Sr. Ministro Miguel Jeronymo «Juros compensatórios e juros
Ferrante: Senhor Presidente, coeren- moratórios.
TFR - 99 139

Correm os primeiros a partir da O eminente Ministro Romildo Bue-


imissão ou tomada de posse, e até no de Souza invocou, inclusive, texto
a citação da ação, respectivamente de Gaio, texto citado com freqüência
na desapropriação direta e na indi- pelOS romanistas, para combater a
reta. Decisão que manda pagar ju- exacerbação do formalismo, que al-
ros moratórios, em vez de compen- cançou o processo romano no perío-
satórios, a partir da imissão provi- do das ações da lei. Contudo, não há
sória do expropriante na posse, co- confundir formalismo com forma.
mete erro técnico». «Forma - disse o grande Montes-
Colho do Memorial apresentado quieu - é o preço que cada cidadão
pelos ilustres patronos dos embar- paga para ter a sua própria liberda-
gantes: de».
«Além do mais, «advirta-se, de Por isso é que, adstrito ao caso dos
início, que para obter fosse a inde- autos não nego que os juros concedi-
nização que lhe é devida completa- dos a partir da imissão da posse se-
da pelos juros compensatórios, jam compensatórios, e não morató-
desnecessário era qualquer pedido rios. Não vejo, porém, como
do recorrente, seja na contestação, concedê-los em fase de liquidação de
seja em qualquer outro termo pro- sentença.
cessual CRE n? 75.474 - GB, STF O Sr. Ministro Miguel Jerônymo
- 2~ Turma, Relator o Sr. Ministro Ferrante: - Então, porque não exer-
Raphael de Barros Monteiro, Aud. cer a Justiça? Não é melhor a justi-
de Publ. 6-6-73»>. ça rever com justiça?
Ora, nos ja fixamos nas Súmulas O Sr. Ministro Antônio de Pádua
n?s 70 e 74 que os juros moratórios Ribeiro: Eminente Ministro Ferran-
devem ser contados a partir do trãn- te, justiça em termos tão amplos
sito em julgado da sentença e os conduz à injustiça.
compensatórios a partir da data da
imissão de posse. Ora, se o Juiz, na O Sr. Ministro Miguel Jerônymo
sentença, manda contar a partir da Ferrante: Não é ampla, justiça é
data da imissão de posse, tomo esses bom senso. Aí no caso é bom senso.
\
juros como compensatórios, não só O Sr. Ministro Antônio de Pádua
nos termos das Súmulas citadas, co- Ribeiro: ... Justiça olvidando texto
mo, também, aplicando a de n? 164 expresso constitucional descamba
do Excelso Pretório. para a injustiça. Os Tribunais quan-
Data venia do Sr. Ministro- do começam a atuar, sem se aferem
Relator, recebo os embargos. a textos legais expressos, postergan-
do regras constitucionais em vigor,
VOTO desde a Constituição do Império, es-
tão a seguir orientação que não se
O Sr. Ministro Antônio de Pádua coaduna com os melhores critérios
Ribeiro: Sr. Presidente: A vibrante de distribuição da justiça.
fundamentação dos eminentes Minis- O Sr. Ministro Romildo Bueno de
tros que estão a receber os embar- Souza: Esta crítica de V. Exa., en-
gos é, apenas, de ordem substancial, tão, se dirige a todo o passado da
esquecendo-se das limitações com nossa jurisprudência, quando se ne-
que neste instante nos deparamos: gava a conceder esses juros compen-
estamos a apreciar matéria Objeto satórios. Então, parece que já é tem-
de liqUidação de sentença, que tem po de nós, até quem sabe, suprirmos
como pressuposto a existência de a alguma demora? Porque a verda-
coisa julgada. de é que em muitas apelações, as
140 TFR - 99

Turmas concedem os juros mesmo E mais: não se trata de caso de er-


que eles não tenham sido expressa- ro material. E ainda que de erro ma-
mente reclamados, e, neste caso, terial se tratasse, tive ensejo no meu
não concedeu. voto proferido na Turma de aduzir
que só tinha poderes jurisdicionais
o Sr. Ministro Antônio de Pádua para corrigi-lo o magistrado prolator
Ribeiro: ". Mas o fazem, eminente da sentença, enquanto a competên-
Ministro, na fase de conhecimento. cia para conhecimento da causa não
Não desconheço que numerosos são se tivesse transferido, por via de re-
os precedentes desta Corte no senti- curso, para outro órgão jurisdicional
do liberal de conceder os juros com- ou não se tivesse dado início à sua
pensatórios, na fase de conhecimen- execução. Nesse sentido, invoquei a
to, mesmo que não pedidos na con- autoridade do eminente processualis-
testação. Isso se dá sob a invocação ta, Ministro aposentado do Supremo
do princípio constitucional da justa Tribunal Federal, Moacir Amaral
indenização e com base no entendi- Santos, que, em seus Comentários ao
mento de que os juros compensató- Código de Processo Civil, diz (Foren-
rios integram a indenização. Afora se, 1976, pág. 448):
isso, acredito que será ir muito além «Competente para corrigir a sen-
invocar-se o texto constitucional com tença é o própriO juiz que a profe-
tamanha amplitude a ponto de ofen- riu. Trata-se de esclarecer uma de-
der a outra regra constitucional ex- claração. «E esclarecer uma de-
pressa. Invoca-se o princípio da in- claração é ato que só pelO decla-
denização e viola-se a regra do res- rante pode ser exercido» (Lopes da
peito à coisa julgada. A função do Costa).
Judiciário, a meu ver, no caso, .é
exatamente a de harmonizar os dois A correção pode fazer-se a qual-
princípios. Há de se procurar fixar quer tempo, enquanto a competên-
a indenização mais justa possível, cia para conhecimento da causa
mas sem ultrapassar os limites da não se tenha transferido, por via
coisa julgada, de' forma que, sob a de recurso, para outro órgão juris-
invocação de um princípiO, se ofenda dicional ou não se tenha dado
outro princípio. Lembre-se que o Có- início à execução de sentença.
digo de Processo Civil, no seu art. Far-se-á a correção por Simples
610, é expresso ao dizer: «É defeso, despacho, sem que se altere a
na liquidação, discutir de novo a li- substância do julgado. Qualquer al-
de, ou modificar a sentença, que a teração da substância do julgado
julgou». extravasa dos limites permitidos
pelo art. 463, n? 1».
Mais, ainda, Sr. Presidente. No ca Em conclusão: com a devida vê-
so, não se trata de simples erro ma- nia, por respeitar a coisa jUlgada,
terial; o que se discute é a qualifica- acompanho o eminente Ministro-
ção jurídica dos juros, se moratórios Relator, rejeitando os embargos.
ou compensatórios, pois a sentença
erroneamente os qualifiCOU como QUESTAO PRELIMINAR
moratórios, mas não foi recorrida e
nesse ponto transitou em julgado. o Sr. Ministro WaShington Bolívar
Por isso, como podemos a esta altu- de Brito: Nos termos do art. 84, II do
ra, em fase de liquidação de senten- Regimento Interno deste Tribunal,
ça, alterar a natureza dos juros já fi- submeto' à egrégia 2~ Seção uma
xados em termos definitivos por de- questão de ordem suscitada pela
cisão não impugnada. Companhia Energética de São Paulo
TFR - 99 141

S.A. - CESP - em requerimento a publicação da pauta antecedeu


que mandei juntar, por linha, para mais de 48 horas à sessão em que o
deliberação, nos seguintes termos, processo foi chamado.
(lê) . Com estas breves considerações,
A Secretaria prestou as seguintes resolvendo a questão de ordem, inde-
informações (lê). firo o pedido da CESP.
Passo a colher os votos.
VOTO QUESTÃO DE ORDEM
VOTO QUESTÃO DE ORDEM VENCIDO
O Sr. Ministro José Dantas (Vo-
gal): Sr. Presidente, na forma do O Sr. Ministro Antônio de Pádua
precedente lembrado, proferido pela Ribeiro: Peço vênia para discordar
6~ Turma, entendo que ao prazo con- da maioria, uma vez que meu enten-
tado por hora não se pode aplicar a dimento é divergente.
contagem sob forma da exclusão de No sistema do Código de Processo
um dia, regra até incompatível com Civil anterior, havia preceito expres-
a premência das horas a contar. so no sentido de que os prazos conta-
Daí que permaneço com o entendi- dos por hora corriam minuto a minu-
mento de ser o caso da norma subs- to. O Código atual não diSpôs sobre a
tancial contida no Código Civil ao matéria. Cinge-se a dizer, generica-
propósito - art. 125, § 4? mente, no art. 184, § 2?, que «os pra-
De maneira que rejeito a argüição zos somente começam a correr a
de nulidade do julgamento. partir do primeiro dia útil após a in-
timação».
QUESTÃO DE ORDEM Diante desse contexto, é de ver-se
que se o Código não estabelece ex-
pressamente termo inicial da conta-
O Sr. Ministro Carlos Mário gem do prazo que corre por hora,
Velloso: Sr. Presidente, o Regimento não cabe, neste ensejo, limitar esse
Interno, art. 83, estabelece que a pu- termo inicial, mas aplicar a regra
blicação da pauta de Julgamento an- geral citada. Outro entendimento im-
tecederá 48 horas, pelo menos, à ses- plica, em concreto, em suprimir o
são em que os processos possam ser direito de defesa.
chamados e será certificada nos au- Insisto. O Código de 1939, no seu
tos. O dispositivo processual regi- art. 27, parte final, adotava a seguin-
mental em apreço repete· a idéia te regra: «Os prazos fixados .por ho-
constante do § 1? do art. 552 do Códi- ra contar-se-ão de minuto a minuto».
go de Processo Civil. Tanto o Regi-
mento quanto o Código não estabele- Veio o Código atual e não diz mais
cem que o advogado terá um prazo isso. Só afirma o segUinte: «os pra-
de 48 horas a partir da pUblicação zos somente começam a correr a
até a realização do julgamento. Não. partir do 1? dia útil após a intima-
O que se estabelece é que a publica- ção».
ção da pauta antecederá 48 horas, Que prazos são estes? Tanto os
pelo menos, à sessão de julgamento. prazos que correm por dia, quanto
Destarte, não me parece apliCável, os prazos que correm por hora. Ou-
no caso, a regra do art. 184, § 2?, do tro entendimento, a meu ver, impli-
Código de Processo Civil. Assim, ca, em termos práticos, em estabele-
conforme deixou claro a Secretaria cer um grande cerceamento ao direito
da Seção, atendeu-se ao dispositivo de defesa. Imaginem V. Exas., e não
processual regimental, por isso que podemos desconhecer a realidade do
142 TFR - 99

País, que dificilmente um advogado o ponto de vista a que me reporto é


do Rio, de São Paulo ou do Rio Gran- exatamente no sentido da tese que
de do Sul, terá condição de ter co- estou defendendo.
nhecimento em tempo útil, da publi- Portanto, com a devida vênia e
cação de uma pauta de julgamento. com essas ponderações, meu voto é
Com efeito, na Capital da República, no sentido de declarar a nulidade do
o Diário da Justiça só circula na processo, por falta da intimação do
parte da tarde de sexta-feira. E advogado da embargada no prazo
mais: é do conhecimento geral que a previsto, em consonância com o arti-
distribuição desses jornais oficiais é go 184, § 2?, do Código de Processo
feita, em regra, pelo Correio. Então, Civil.
por mais otimismo que se tenha, di-
ficilmente antes do sábado o advoga- VOTO
do recebe esse jornal. Entender que
o prazo começa a contar desde O Sr. Ministro WaShington Bolívar
sexta-feira e na segunda-feira o de Brito: Cuida-se de interpretar se
causídico estará intimado da pauta os juros referidos na sentença são
de Julgamento, significa tornar im- moratórios - como nela foram deno-
possível o seu deslocamento até esta minados - ou compensatórios - co-
Capital para produzir o direito de de- mo esclareceu o Juiz quando homo-
fesa do seu constituinte. logou o cálculo de liqUidação.
Aliás, lendo o Código de Teotônio Discute-se, assim, o próprio con-
Negrão, que mais que um Código é ceito de uns e outros.
um verdadeiro comentário ao Código
de Processo Civil atual, encontrei ci- Ao comentar o art. 1.062, ensinou
tação ã precedente, neste sentido: Beviláqua, com a costumeira conci-
«A falta de disposição expressa são:
no Código de Processo Civil, os «Os juros podem ser compensa-
prazos fixados por horas também tórios, que são os frutos do capit!ll
se contam de acordo com caput do empregado, e moratórios, que sao
artigo 184». a indenização pelo retardamento
no pagamento da dívida. Os com-
E, portanto, a partir do primeiro pensatórios são, ordinariament~,
dia útil após a intimação. convencionais, e, isto é, estabeleCI-
O Sr. Ministro Miguel Jerõnymo dos por contrato; os moratórios po-
Ferrante: Essa decisão que V. Exa. dem ser legais, ou convencionais».
acaba de citar é justamente contrá- (Código Civil, vol. IV, 8~ ed., Liv.
ria; é a favor da tese defendida ... Franc. Alves, pág. 219, grifos do
Autor).
O Sr. Ministro Antônio de Pádua Apontam os estudiosos que o vocá-
Ribeiro: Perfeito, é mencionada de- bulo «juro» deve provir de jus, juris,
cisão divergente. (De Plácido e Silva, «Vocabulário
O Sr. Ministro Miguel Jerônymo Jurídico», vol. In, pág. 903, 4~ ed.,
Ferrante: Não, está dito que essas Forense), ou de jura (Pontes de Mi-
duas decisões são divergentes. A opi- randa, «Comentários ao Código de
nião do Teotônio Negrão é essa, mas Processo Civil», Forense, 1976, Tomo
a jurisprudência tem sido divergen- IX, pág. 521). Ou seja - direitos e
te, em apoio à tese sustentada pelO não usura, como lembra o mesmo
Sr. Ministro José Dantas. Pontes. Em verdade, todo juro re-
presenta uma compensação ao pro-
O Sr. Ministro Antônio de Pádua prietário do capital compensação pe-
Ribeiro: Há decisão divergente, mas la demora no pagamento, ou pela
TFR - 99 143
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privação dos frutos que dele resulta- compensatórios, realizando, aliás, o
riam. Mas essa compensação há de preceito constitucional, do pagamen-
ser entendida dentro de uma grada- to do justo preço, que, além do mais,
ção - isto é, simplesmente morató- deveria ter sido prévio, e não o foi.
rios, quando resultantes da demora Não tenho, portanto, dúvida algu-
no pagamento, ou francamente com- ma em desempatar a presente vota-
pensatórios, quando derivam da ne- ção no sentido em que me orientam
cessidade de repor o proprietário na a Constituição Federal e a própria
situação em que deveria sempre ter jurisprudência predominante neste e
estado, isto é, usufruindo do seu ca- no Egrégio Supremo Tribunal Fede-
pital, do qual foi, momentânea ou ral, não me sentindo preso à impre-
permanentemente, privado. cisão terminológica do juiz, pois não
Na desapropriação - vale dizer - se pode sobrepor o erro ou a falta de
na perda da propriedade, que se dá técnica ao claro preceito constitucio-
em caráter definitivo reconhece a ju- nal.
risprudência duas espécies de juros, Ante o exposto, embora rendendo
devidos de conformidade com crité- minhas homenagens àqueles que dis-
rios estabelecidos e em que o fator cordam desse ponto de vista com ar-
tempo entra sempre como predomi- gumentos doutrinariamente valiosos,
nante na determinação do seu con- é certo, mas sem o condão de resol-
ceito diferenciado e, até mesmo, na ver, com justiça, o caso concreto,
forma e ocasião do pagamento. alio-me àqueloutros que consideram
Com efeito, dizem as Súmulas n?s compensatórios e, pois, à razão de
70 e 74 desta Corte e a Súmula n? 12% (doze por cento) os juros comi-
164, do Egrégio Supremo Tribunal nados na sentença e bem esclareci-
Federal: dos na decisão homologatória do cál-
«Súmula n? 10: Os juros mo- culo.
ratÓrios, na desapropriação, fluem Recebo os embargos.
a partir do trânsito em jUlgado da Ê o meu voto.
sentença que fixa a indenização».
«Súmula n? 74: Os juros compen-
satórios, na desapropriação, inci- EXTRATO DA MINUTA
dem a partir da imissão na posse e
são calculados, até a data do lau-
do, sobre o valor simples da inde- EMB Na AC n? 66.248 - SP
nização e, desde então, sobre o re- ReI.: O Sr. Min. Justino Ribeiro.
ferido valor corrigido monetaria- Embargantes: Richelieu Castilho Sa-
mente». bino e Cônjuge. Embargada: Compa-
nhia Energética de São Paulo -
«Súmula n? 164: No processo de CESP.
desapropriação, são devidos juros Decisão: A 2? Seção, por maioria,
compensatórios desde a antecipada recebeu os embargos, vencidos os
imissão de posse, ordenada pelO Srs. Mins. Justino Ribeiro, Antônio
juiz, por motivo de urgência». de Pádua Ribeiro, Armando Rollem-
Assim, quando o juiz declara que berg, Moacir Catunda, José Dantas e
são devidos juros desde a imissão na Carlos Mário VeIos o (Em 1?-6-82
posse, isto é, desde que o proprietá- - 2? Seção).
rio dela foi privado, bem assim dos Os Srs. Mins. Romildo Bueno de
seus frutos e rendimentos, a outra Souza, Sebastião Reis, Miguel Je-
espéCie de juros não pode estar fa- rônymo Ferrante, Pedro da Rocha
zendo referência senão aos juros Acioli, Américo Luz e Washington
144 TFR - 99

Bolívar de Brito, em voto de desem- vrará o acórdão. Presidiu o julga-


pate, votaram de acordo com o Sr. mento o Sr. Min. Washington Bolívar
Ministro Wilson Gonçalves, que la- de Brito.

APELAÇAO CIVEL N? 70.715 - PR


Relator: O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro
Apelante: Anadeles Mozer
Apelado: Banco Central do Brasil
EMENTA
Processual civil. Execução hipotecária. Código
Civil, arts. 815 e 816. Aplicação.
I - Se a adquirente do imóvel hipotecado não
notificou o credor hipotecário no sentido de remi-lo
e, de outra parte, o credor hipotecário não foi cha-
mado a comparecer à escritura de alienação daque-
le bem, a execução deve ser promovida, como o foi,
contra os antigos proprietários do imóvel, arcando a
adquirente com os ônus decorrentes da sua omissão.
11 - Apelação desprovida.
ACORDA0 bem como a fim de ser suspensa a
segunda praça já designada para o
Vistos, relatados e discutidos estes dia seguinte ao seu ajuizamento.
autos, em que são partes as acima
indicadas: Fora aquele ato constritivo proce-
dido por determinação do Juiz de Di-
Decide a Quarta Turma do Tribu- reito de São Jerônimo da Serra em
nal Federal de Recursos, por unani- cumprimento à carta precatória, que
midade, negar provimento à apela- lhe foi dirigida pelo Juiz da 3~ Vara
ção, na forma do relatório e notas da Justiça Federal, Seção Judiciária
taquigráficas anexas que ficam fa- do Panará, extraída dos autos da
zendo parte integrante do presente execução que o Banco Central do
julgado. Brasil move contra Manoel Farinha
Custas como de lei. Martins, Luzia Maria Martins e
Brasília, 9 de novembro de 1981 Otacílio Cândido Carlos.
(data de jUlgamento) - Ministro Ocorre que aqueles embargos fo-
Armando Rollemberg, Presidente - ram, liminarmente, rejeitados pelo
Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Juízo deprecado, através da seguinte
Relator. decisão (fls. 2-2v):
RELATORIO «R.A. por dependência. O pre-
sente procedimento é eivado de
O Sr. Ministro Antônio de Pá- malícia por parte do embargante,
dua Ribeiro: Anadeles Mozer, na porquanto ao adquiridr o imóvel a
qualidade de senhora e possuidora, ser praceado teve conhecimento do
opôs embargos de terceiro para ônus hipotecário que pesava sobre
livrar-se da penhora de imóvel de o mesmo. Uma vez que a execução
sua propriedade, descrito na Inicial, se relaciona justamente ao ônus.
TFR - 99 145

de conhecimento do embargante, o jus disponendi, muito embora o


aliás é o que consta da própria es- gravame acompanhe a coisa hipote-
critura de compra e venda junta- cada; que, na execução hipotecária,
da, não há como acatar os embar- deve figurar no pólo passivo o adqui-
gos. rente do imóvel hipotecado, em caso
Assim, rejeito liminarmente os de alienação anterior à execução, se-
presente embargos de terceiros, gundo Pontes de Miranda (Tratado,
seguindo-se normalmente a execu- voI. 20, pág. 20) e Carlos Mário S.
ção. Pereira (<<Instituições de Direito Ci-
vil», voI. IV /271) ou, então, o deve-
Intime-se. dor e o adquirente, como litisconsor-
Em 21 de outubro de 1980 - João tes, segundo ensina Washington de
Maria Brandão, Juiz de Direito. Barros Monteiro (Curso Direito das
Coisas, pág. 359); o que não se pode
Em tempo: O recebimento dos admitir é que se possa levar adiante
embargos, no caso, representaria a uma execução por hipoteca, cujo ob-
supressão dos efeitos da hipoteca, jeto fora transferido, por matrícula
uma vez que a garantia hipotecá- imobiliária, publicamente, pois, um
ria domina todos os direitos reais ano antes da propositura da ação,
registrados posteriormente. sem que dela se dê notícia ao adqui-
Em 21 de outubro de 1980 - João rente; que a execução é nula, desde
Maria Brandão Juiz de Direito». que dirigida contra quem não tem le-
gitimidade passiva para por ela
Apelou a embargante (fls. 13/17). responqer; que a sua legitimidade
Diz, em síntese, que sabia achar-se o passiva emerge do art. 815, § I?, do
imóvel penhorado hipotecado ao Código· Civil, que outorga ao adqui-
Banco Central. Ocorre que o credor rente do imóvel hipotecado o direito
hipotecário promoveu a execução de remi-lo. Justifica, a seguir, o ca-
contra os devedores hipotecários, bimento dos embargos de terceiro,
que foram citados e intimados dos argumentando que, embora devesse,
demais atos judiciais, inclusive da obrigatoriamente, ser parte na exe-
praça, por editais. Acresce que, em- cução, não o foi. Conclui por pedir
bora sabendo que o imóvel questio- seja decretada a nulidade da execu-
nado não mais pertencesse aos exe- ção.
cutados e sim à embargante não pro- Contra-arrazoou o Banco Central
moveu, propositadamente ou por er- do Brasil (fls. 20-24), aduzindo, em
ro processual, a sua citação, tam- síntese, que não houve notificação do
pouco a sua intimação das praças credor quanto à SUbstituição havida
designadas para os dias 7 e 21-10-80, na pessoa do devedor e, muito me-
na tentativa de tomar-lhe pela ínfi- nos, anuência de sua parte relativa-
ma dívida representada pelo título mente à SUb-rogação, e que o crédito
executivo um imóvel que vale no executado é garantido por direito
mínimo Cr$ 3.000.000,00. Aduz que, real, exercido erga omnes e, mais
por sorte, tomou conhecimento da li- que isso, providO de seqüela, o ,que
citação já na véspera da 2~ praça, lhe propicia o exercíco contra quem
tendo oposto os presentes embargos, quer que venha a deter o bem grava-
pelo que a referida praça foi suspen- do, seja por que título for.
sa, mas que, para sua surpresa, no
dia seguinte, foram rejeitados limi- Subindo a esta Corte, os autos
narmente. Sustenta, em seguida: que vieram-me distribuídos em 11-5-8l.
o devedor hipotecário não está inibi- Dispensada a revisão.
do de alienar o imóvel hipotecado,
visto que o aludido ônus não lhe tira É o relatório.
146 TFR - 99

VOTO Se o terceiro adquirente não efe-


tua a remição, ou não paga a dívi-
O Sr. Ministro Antônio de Pádua da hipotecária, sujeitar-se-á à exe-
Ribeiro (Relator): O credor hipote- cução do imóvel: Um dos carac-
cário em face do adquirente do bem terísticos da hipoteca é precisa-
hipotecado pode, a meu ver, assumir mente a seqüela, por via da qual
as seguintes posições: pode o credor executar o imóvel
a) comparecer à escritura de ven- onde quer que se encontre. O direi-
da, se chamado, para receber o que to é exercitável adversus quem-
lhe é devido, dar qUitação e autori- cumque possessorem. O Credor
zar o cancelamento do ônus (Código ajUizará, pois, a execução contra o
Civil, art. 849, l); devedor, fazendo recair a penhora,
ou seqüestro, sobre o imóvel hipo-
b) ser notificado dentro de trinta tecado e transmitido a terceiro.
dias do contrato pelo adquirente, se
este pretender remir a hipoteca, pa- Quando vendido o bem gravado,
ra forrar-se aos efeitos da sua execu- comparece geralmente o credor hi-
ção (Código Civil, art. 815, § I?); potecário à escritura para receber
o que lhe é devido, dar quitação e
c) inocorrentes as hipóteses ante- autorizar o cancelamento do ônus.
riores, propor a execução contra o Não atendido no ato de alienação,
devedor, fazendo recair a penhora pOde ele executar o imóvel, quando
sobre o imóvel hipotecado e transmi- vencida a dívida. Dirigirá então a
tido a terceiro; cobrança contra o primitivo deve-
d) não atendido no ato da aliena- dor, fazendo penhorar, ou seqües-
ção, a que tenha comparecido, exe- trar, o bem alienado. Nesse caso,
cutar o imóvel, quando vencida a citar-se-ão para os termos da ação
dívida, citando-se, nesse caso, para o devedor e o adquirente. Se o pro-
os termos da ação, o devedor e o ad- duto da execução não bastar para
quirente. integrar satisfação do exeqüente,
voltar-se-á este contra o devedor,
H novamente, a fim de assegurar o
direito conferido pelo art. 767, da
Nessa linha de idéias, argumenta lei civil. Mas o terceiro adquirente
Washington de Barros Monteiro não tem qualquer responsabilidade
(Curso de Direito Civil, 3? volume, pela liquidação do restante da dívi-
Saraiva, 18? edição, 1979, págs. da.
407/408) : Com mais forte razão, assegura-
«Ao adquirente do imóvel hipo- se também ao credor o direito de
tecado cabe igualmente o direito execução, quando feita a alienação
de remi-lo (art. 815). Se o adqui- do imóvel hipotecado, à sua reve-
rente qUiser forrar-se aos efeitos lia. Em qualquer hipótese, a venda
da execução de hipoteca, notificará é válida; porém, a hipoteca não se
judicialmente, dentro de trinta extingue, continuando a produzir
dias, o seu contrato aos credores seus efeitos jurídicos; apenas se
hipotecários, propondo, para a re- garante ao adquirente, como se
mição, no mínimo, o preço por que viu, o direito de remir o imóvel
adquiriu o imóvel. gravado.»
A notificação executar-se-á no
domicílio inscrito (art. 846, pará- IH
grafo único), ou por editais, se ali
não estiver o credor (art. 815, § Na espeCle, segundo resulta dos
I?) . autos, a adquirente dp imóvel hipote-
TFR - 99 147

cado não notificou o credor hipotecá- sofrer expropriação do imóvel me-


rio no sentido de remi-lo e, de outra diante licitação ou penhora, o que
parte, o credor hipotecário não foi pagar a hipoteca, o que por causa
chamado a comparecer à escritura da adjudicação, ou licitação, de-
de alienação daquele bem. Por isso, sembolsar com o pagamento da hi-
a execução deveria ser promovida, poteca importância excedente à
como o foi, contra os antigos pro- da compra e o que suportar custas
prietários do imóvel, arcando o ad- e despesas judiciais» (Ver art. 985,
quirente com os ônus decorrentes da n? 1I).
sua omissão (Código Civil, art. 816 §§
2? e 3?), ressalvado o seu direito de
ação regressiva contra os vendedo- IV
res, assegurado pelo § 4? do art. 816
daquele Código, nestes termos:
«Disporá de ação regressiva con- Por tais fundamentos, nego provi-
tra o vendedor o adquirente, que mento à apelação.

APELAÇAO CtVEL N? 72.031 - MT


Relator: O Sr. Ministro Miguel Jerônymo Ferrante
Apelante: Taco - Transportes Aéreos Centro Oeste S/ A.
Apelado: lAPAS
EMENTA
Embargos do Devedor. Competência do lAPAS.
Quota de Previdência. Taxi Aéreo. Contribuições.
- Com o advento da Lei 6.439, de 1977, passou ao
lAPAS a competência para promover a arrecada-
ção, fiscalização e cobrança das contribUições e de-
mais recursos destinados à Previdência Social
- Na forma da Resolução n? 298/71, baixada pelo
Conselho Superior do extinto Departamento Nacional
da Previdência Social, a quota de previdênCia não
incidia sobre serviços de táxi aéreo. Prevalência
desse ato normativo, que Obrigava a administração,
enquanto não se operou sua revogação pela Portaria
36/76, da Secretaria da Previdência Social, não po-
dendo subsistir, até então, levantamento de débito
concernente à mencionada quota de previdênCia vin-
culada à prestação de serviços de táxi aéreo, tanto
mais na ausência de prova de haver sido a mesma
arrecadada dos usuários, no período fiscalizado.
- Procedência da execução, no que tange à dívi-
da correspondente a contribuições normais, sobre a
qual silenciam os embargos e as razões de recurso.
Sentença em parte reformada.
Apelação parcialmente provida.
148 TFR - 99

ACORDA0 custas do processo e em honorários


advocatícios arbitrados em 15% so-
Vistos e relatados os autos, em que bre o quantum exigido.
são partes as acima indicadas: ApelOU a embargante, em suma
Decide a 6~ Turma do Tribunal Fe- reiterando as alegações dos embar-
deral de Recursos, por unanimidade, gos (lê).
dar provimento à apelação, para re- Contra-razões, a fls. 74/76.
formar, em parte, a sentença e redu-
zir o débito exeqüendo, na forma do A Subprocuradorla-Geral da Repú-
relatório e notas taqulgráficas retro blica opina pela confirmação do de-
que ficam fazendo parte integrante cisório, à fi. 82.
do presente julgadO. Pauta sem revisão (art. 33, item
Custas como de lei. IX do R.I.).
Brasília, 3 de março de 1982 (data É o relatório.
do julgamento) - Ministro José Fer-
nandes Dantas, Presidente - Minis- VOTO
tro Miguel Jerônymo Ferrante, Re-
lator. O Sr. Ministro Miguel Jerõnymo
Ferrante: A sentença recorrida re-
jeitou, com propriedade, a prejudi-
RELATORIO cial suscitada.
Na realidade, a competência do
o Sr. Ministro Miguel Jerõnymo Instituto Nacional de Previdência
Social - INPS, para promover a ar-
Ferrante: Cuida-se de embargos recadação, fiscalização e cobrança
opostos por Taco - Transportes Aé- das contribuições e demais recursos
reos Centro Oeste S.A., qualificada destinados à Previdência Social, pas-
nos autos, à execução que lhe move sou, com o advento da Lei n? 6.439,
o IAP AS - Instituto de Administra- de 1977, a ser do lAPAS - Instituto
ção Financeira da Previdência So- de Administração Financeira da
cial, no Juízo Federal da Seção Judi- Previdência e Assistência Social.
ciária do Estado de Mato Grosso, pa-
ra cobrança de crédito relativo à No mérito, tem-se que a execução
quota de previdência. compreende débitos relativos: a) à
«quota de previdência», vincul~da à
Em suma, alega a embargante: prestação de serviços de táxi aéreo
preliminarmente, que sendo o INPS (períodos de 1/68; 6/69 a 9/69; '1./70 a
e o IAP AS autarquias distintas, cada 3/71; 4/71 a 6/71; 7/71 a 9/74; 12/74; 1
uma com personalidade jurídica, a a 12/75; 2 e 3/76; e b) a: contribuições
cobrança de crédito daquele não po- normais (períodos de 12/75; e de 3 a
de ser feita por este último; que, as- 8/76) .
sim, é parte ilegítima para promo-
ver a presente execução. E, no méri- Quanto ao primeiro, concernente à
to: que a execução não pode prospe- quota de previdência, não há como
rar, porque fundada em crédito ine- prevalecer a pretensão da exeqüen-
xistente, visto como a quota de pre- te. Com efeito, a Resolução n? 298,
vidência exigida se refere ao período de 1971, do Conselho Diretor do ex-
em que a mesma não era devida, pe- tinto Departamento Nacional de Pre-
las razões que expende. vidência Social, dispôs, com arrimo
em pareceres técnicos, que a essa
Os embargos foram julgados im- quota, prevista no art. 71 da Lei n?
procedentes, pela sentença de fls. 3.807, de 1960, e fixada pelO art. 166,
66/77, condenada a embargante nas item I, letra «a», do Regulamento
TFR - 99 149

Geral da Previdência Social, baixa- ta de previdência não incidia, em se


do com o Decreto n? 60.501, de 1967, tratando de serviços de táxi aéreo,
em 10% sobre as «tarifas» de trans- inexistindo, portanto, o crédito a es-
portes aéreos, não incidia, sobre os se titulo cobrado. Tanto mais, quan-
serviços de táxi aéreo. Esse ato nor- do não há nos autos qualquer prova
mativo de órgão superior da Previ- de haver a embargante arrecadado,
dência Social nada mais fez do que dos usuários, no período fiscalizado,
estabelecer a inteligência e o alcan- a quota em foco.
ce da norma legal, excluindo da Não obstante, se no partiCUlar des-
abrangência desta os táxis aéreos, merece a execução, o mesmo não
que não possuem tarifas. A interpre- ocorre no que tange à dívida corres-
tação que ditou prevaleceu, sem dú- pondente às contribuiçôes normais.
vida, obrigando a administração, até Os embargos e as razoes de apela-
o advendo da Portaria n? 36, de 24-9- ção silenciam a esse respeito, preva-
76, do Secretário de Previdência So- lecendo a validade da exigência à
cial, que a revogou. Mais tarde, em míngua de qualquer contestação ou
16-2-77, o Decreto-Lei n? 1.505, afas- elemento probatório que a infirme.
tou a incidência da referida quota de
preVidência sobre transportes aéreos Em conseqüência, dou parcial pro-
(art. 2?, I). vimento à apelação para reformar,
em parte, a sentença recorrida, em
A propósito da matéria, enfatizou ordem a julgar improcedente a exe-
o Ministro Jorge Lafayette Guima- cução tão-só quanto à cobrança do
rães, em voto proferido no julgamen- débito relativo à quota de previdên-
to do Agravo de Petição n? 36.816 - cia. Ocorrendo sucumbência recípro-
MG, referindo-se à prefalada Resolu- ca, custas e honorários advocatícios,
ção n? 298: estes à taxa arbitrada no decisório,
«Assim, reconhecido ficou, no serão proporcionalmente distri-
âmbito da Previdência Social e por buídos e compensados entre as par-
decisão de órgão superior, obriga- tes, nos termos do art. 21, caput do
tória para o INPS, a inexigibilida- Código de Processo Civil.
de da Quota de Previdência em Ê o voto.
causa, em relação aos táxis aé-
reos, e no particular assiste razão EXTRATO DA MINUTA
à agravante.
A alegação, constante do pare- AC n? 72.031 - MT (Registro n?
cer da Subprocuradoria-Geral da '3.294.820) - ReI.: O Sr. Ministro Mi-
República, de que a norma admi- guel Jer6nymo Ferrante. Apte.: Ta-
nistrativa não obriga o Judiciário, co - Ttansp. Aéreos Centro Oeste
se é exata, não tem adequaçao à S.A. Apdo.: lAPAS.
espécie, pois não se pretende que o Decisão: A Turma, por unanimida-
Juiz esteja obrigado a respeitar a de, deu prOVimento à apelação, para
interpretação ali consagrada, mas reformar, em parte, a sentença e re-
somente que o INPS, diante da de- duzir o débito exeqüendo, nos termos
cisão do Conselho do DNPS, que do voto do Relator. (6~ Turma-
para o mesmo é obrigatória, não Em: 3-3-82).
pode exigir dita quota.»
Participaram do jUlgamento os
Destarte, razão assiste à embar- Srs. Ministros José Dantas e Wilson
gante quando sustenta, à invocação Gonçalves, na ausência justificada
da dita Resolução, que, no período do Sr. Ministro Américo Luz. Presi-
levantado - de janeiro de 1969 a diu o julgamento o Exmo. Sr. Minis-
março de 1976 - a mencionada quo- tro José Fernandes Dantas.
150 TFR - 99

APELAÇAO CtVEL N? 72.785 - RS


Relator: O Sr. Ministro Bueno de Souza
Apelante: União Federal
Apelada: Indústria de Confecções e Malha São Francisco Ltda.
EMENTA
Processual Civil.
Execução fiscal.
Suspensão do processo, quando não é encontrado
o executado nem são achados bens penhoráveis.
Disposição aplicáveis, do CPC e da Lei n? 6.830,
de 22-9-80.
Recursos.
Agravo de instrumento.
1. O fato de não ser encontrado o executado (ou
o representante legal da empresa executada); ou a
inexistência de bens que possam ser arrestados ou
penhorados não autoriza o cancelamento dos regis-
tros relativos ao feito, providência que supõe a extin-
ção do processo.
2. O arquivamento a que se refere o art. 4?, § 2?
da Lei n? 6.830, de 22-09-80, é providência meramente
administrativa; tanto que o § 4? assegura o prosse-
guimento da execução, desde que encontrados bens
que bastem para a garantia de juízo.
3. Depende o arquivamento, aliás, da suspensão
do processo por lapso de um ano (art. 40, citado, §
2?).
4. A extinção do processo, ao contrário, depende
de sentença (CPC, art. 795).
5. O recurso cabível contra o indevido cancela-
mento de registro é o de agravo de instrumento.

ACORDA0 Brasília, 16 de junho de 1982 (data


do julgamento) - Ministro Armando
Vistos e relatados os autos, em que Rollemberg, Presidente - Ministro
são partes as acima indicadas: Bueno de Souza, Relator.
Decide a 4~ Turma do Tribunal Fe-
deral de Recursos, por unanimidade, RELATORIO
não conhecer do recurso, na forma
do relatório e notas taquigráficas O Sr. Ministro Bueno de Souza:
constantes dos autos que ficam fa- Nos autos da execução fiscal movida
zendo parte integrante do presente pela União Federal contra Indústria
julgado. de Confecções de Malha São Fran-
Custas como de lei. cisco Ltda., o oficial de justiça certi-
TFR - 99 151

ficou não ter encontrado o estabele- O § 3?, por sua vez, ressalva que,
cimento da executada no local indi- encontrado o devedor ou achados
cado, nem bens que pudesse ser ar- que sejam seus bens, quantos pos-
restados, razões pelas quais restituiu sam bastar, «serão desarquivados os
o mandado, sem cumprimento (fls. autos para prosseguimento da execu-
08, v.). ção.»
A exeqüente requereu a suspensão 3. Já se vê que o arquivamento dos
do processo, «enquanto aguarda in- autos somente terá lugar após decor-
formações da Junta Comercial» (fI. rido um ano desde a suspensão do
11). processo de execução; e, bem assim,
O MM. Juiz Federal da 5~ Vara de que tanto a suspensão do processo
Porto Alegre, com base no art. 40, § quanto o arquivamento dos autos
2?: da Lei..n? 6.830, de 22-9-80, e «sem constituem providências incon-
prejuízo do disposto no § 3? do já ci- fundíveis com a extinção do processo
tado art. 40», determinou o arquiva- (esta, sim, dependente de sentença
mento dos autos, «após as baixas e terminativa, como estabelece o art.
anotações de praxe» (fI. 12). 795 do CPC, aplicável ao caso em fa-
Apelou a exeqüente (fls. 13/16), ir- ce do art. I? da lei especial).
resignada com a determinação de 4. Na verdade, o arquivamento de
baixa dos registros, por entender autos se destina tão-somente a dis-
que essa providência implica em pensar o escrivão ou diretor de se-
verdadeira extinção do processo e cretaria de efetuar as sucessivas e
enseja a executada à obtenção de inúteis conclusões dos autos ao juiz;
certidões negativas da distribuição. é medida de ordem meramente prá-
Pede a reforma da decisão, a fim tica, de administração do processo e
de que dela não venha a resultar a dos serviços de secretaria.
extinção de seu crédito.
O recurso foi regularmente proces- Já o cancelamento de registros,
sado. providência também de caráter me-
ramente administrativo, tem como
A Subprocuradoria-Geral da Repú- pressuposto indeclinável o encerra-
blica insiste em que seja provido. mento do processo; fato que, no en-
É o relatório. tanto, no caso não se configura, eis
que a decisão se reporta explicita-
mente ao citado art. 40, § 3?, que
VOTO precisamente assegura o pro~segui­
mento da execução.
O Sr. Ministro Bueno de Souza 5. Impõe-se concluir que não há
<Relator): O Art. 40 da Lei n? 6.830, sentença nestes autos (CPC, art. 162,
de 22-9-80, cogita da suspensão do § I?), contra a qual se pudesse ape-
processo de execução fiscal, enquan- lar (CPC, art. 513); senão, apenas,
to não for localizado o devedor ou decisão interlocutória (CPC, art. 162,
quando não forem encontrados bens § 2?), da qual somente se admite
que possam ser penhorados. Em agravo de instrumento (CPC, art.
qualquer dessas hipóteses (dispõe), 522).
«não correrá o prazo de prescrição.»
2. O § 2? do citado dispositivo esta- 6. Acresce que, ao contrário do que
belece que, perdurando a mesma si- se verifica em hipóteses semelhan-
tuação, após o decurso de um ano, tes, a presente apelação não foi ma-
«o jUiz ordenará o arquivamento dos nifestada no prazo para interposição
amos.» de agravo de instrumento.
152 TFR - 99

Eis por que dela não cabe conhe- União Federal. Apda: Indústria de
cer, na conformidade de nossos pre- Confecções e Malha São Francisco
cedentes (vejam-se, inter plures, as Ltda.
AACCs n?s 67.180-PB e 72.960-RS, jul-
gadas em 9-11-81 e 5-5-82, respectiva- Decisão: A Turma, por unanimida-
mente, das quais fui Relator). de, não conheceu do recurso. (Em
Em conclusão, não conheço do re- 16-6-82 - 4~ Turma).
curso. Os Srs. Mins. Antõnio de Pádua
Ribeiro e Armando Rollemberg vota-
EXTRATO DA MINUTA ram com o Relator.
AC n? 72.785 - RS (2904454) Presidiu o julgamento o Exmo. Sr.
ReI.: Sr. Min. Bueno de Souza. Apte.: Min. Armando Rollemberg.

APELAÇAO C1VEL N? 75.726 - MS


Relator: O Sr. Ministro Justino Ribeiro
Relator para o acórdão: O Sr. Ministro Sebastião Alves dos Reis
Apelante: Empresa de Navegação Miguéis S/ A
Apelada: Superintendência Nacional da Marinha Mercante SUNA-
MAM.
EMENTA
Processo Civil. Decisão proferida em exceção de
incompetência. Recurso.
Cabe agravo de instrumento da decisão que jul-
gar exceção de incompetência, quer acolhendo-a
quer recusando-a (CPC art. 522 e 308/9).
Precedentes deste Tribunal e do alto Pretório.
Apelação não conhecida.

ACORDA0 Brasília, 3 de maio de 1982 (data


do julgamento) - Ministro Moacir
Vistos e relatados os autos, em que Catunda, Presidente Ministro
são partes as acima indicadas: Sebastião Alves dos Reis, Relator.
Decide a Quinta Turma do Tribu-
nal Federal de Recursos, por maio- RELATORIO
ria, prosseguindo o julgamento, não
conhecer do recurso de acordo com
os votos dos Srs. Mins. Sebastião O Sr. Ministro Justino Ribeiro:
Reis e Pedro Acioli, vencido o Rela- Execução ajuizada pela Superinten-
tor que dele conhecia, na forma do dência Nacional da Marinha Mer-
relatório e notas taquigráficas cons- cante contra Empresa de Navegação
tantes dos autos que ficam fazendo Miguéis S.A., foi remetida à Seção
parte integrante do presente julgado. de Mato Grosso da Justiça Federal,
em virtude de acolhimento, pela
Custas como de lei. Dra. Juíza da 1~ Vara Federal elo
TFR - 99 153

Rio de Janeiro, de exceção declina- clsao interlocutória e despacho, re-


tória de foro apresentada pela ré (fl. servando aquela para o ato que põe
22). Da Justiça Federal de Mato termo ao processo, decidindo ou não
Grosso foram os autos ao Dl'. Juiz o mérito. Assim, o ato pelo qual o
de Direito da Comarca de Corumbá, Juiz resolve sobre sua competência
domicílio da ré, por entender o Dl'. pode entrar na categoria de sentença
Juiz Federal que a hipótese se en- ou de decisão interlocutória. É deci-
quadrava no art. 126 da Constituição são interlocutória se o Juiz, afirman-
(fl. 30). Nesta altura, quem excep- do sua competência, dá prossegui-
cionou foi a Sunamam, dizendo que a mento ao feito, porque aí nada sofre
hipótese não era de Execução Fiscal a relação processual; é porém, sen-
e, sim, de Execução por Título Ex- tença, se a nega, visto que então ele
trajudicial, não sendo aplicável o próprio se retira do vértice do ângu-
art. 15 da Lei n? 5.010/66. O Dl'. Juiz lo processaI, ou mesmo da extremi-
acolheu a exceção e mandou que os dade da linha reta inicialmente for-
autos retornassem à Justiça Federal mada pela simples petição inicial
de Mato Grosso (fls. 56/57). (como, por exemplo, se se dá por in-
Dessa decisão interpôs a empresa competente antes de mandar citar o
ré o presente apelo, que, após passar réu). Naquele caso, a relação pro-
pelo egrégio Tribunal de Justiça do cessual - ou o processo no seu con-
Estado, veio ter a este egrégio Tri- teúdo jurídico - se mantém, neste
bunal. ele se extingue, isto é, a decisão lhe
põe termo, pela saída do Juiz.
2. As razões da apelante estão a
fls. 60/64. A Sunamam, ao invés de Isto fica bem inteligível nesta pas-
contra-arrazoar, entrou com pedido sagem singela mas de clareza e pre-
de reconsideração do despacho que cisão latina, deixada pelo saudoso
recebera o apelo, sob alegação de Pontes de Miranda:
que o recurso próprio seria o de «Num e noutro caso, resolve-se
agravo (fl. 66). Sem apreciar o méri- quanto à formação da relação
to desse pedido, o Dl'. Juiz mandou jurídica processual; porém, se aco-
intimar a apelante a ratificar o ape- lhida ou repelida (refere-se à exce-
lo já recebido e, caso o fizesse, que ção de incompetência), a decisão é
se remetessem os autos à superior suscetível de recurso de apelação
instância (fls. 67v.). A apelante rati- ou de agravo de instrumento.»
ficou (fl. 68). (Pontes de Miranda: «Comentá-
É o relatório, dispensada a revi- rios ao Código de Pr.ocesso Civil»,
são. Tomo IV, pág. 146.
Opinião em contrário se depara
VOTO PRELIMINAR em José Carlos Barbosa Moreira
(<<O Novo Processo Civil Brasileiro
O Sr. Ministro Justino Ribeiro (Re- - Processo de Conhecimento», 2~
lator): Conquanto formulada inade- ed., pág. 72), que entende sujeita a
quadamente em pedido de reconside- agravo tanto a decisão que rejeita
ração, penso que se deve examinar a como a que acolhe a exceção.
preliminar de não cabimento de ape- 2. Só o fato de divergirem juristas
lo, por sua relevância. É o que passo desse tomo já bastaria para ao me-
a fazer. nos se aplicar ao caso o princípio da
2. O CPC vigente espancou as dú- fungibilidade dos recursos. Mas, sem
vidas que a respeito existiam, defi- embargo da consideração devida ao
nindo claramente, em seu art. 162, eminente Desembargador da Justiça
os atos judiciais como sentença, de- do Rio de Janeiro, penso que a opi-
154 TFR - 99

nião do mestre Pontes de Miranda se Ao ensejo, S. Exa. prestigiou a te-


ajusta melhor aos princípios científi- se de Pontes de Miranda, nesses ter-
cos. Quando o Juiz acolhe exceção, mos, que leio.
ou por outro motivo se dá por incom- Em face da relevâl~cia da matéria,
petente, ele se retira da relação pro- pedi vista dos autos e ora os ponho
cessual e, pois, a ela põe termo. É em mesa para prosseguir no julga-
de ver que, bem a propósito, o art. mento.
311 do CPC diz:
Ao que me foi possível recolher, a
«Julgada procedente a exceção, jurisprudência dos nossos tribunais
os autos serão remetidos ao juiz vêm-se inclinando no sentido de que
competente.» o recurso hábil a atacar a decisão
Isto é, vão os autos, não o proces- que acolhe exceção de incompetên-
so, que este (no sentido de relação cia é o agravo de instrumento, pre-
processual) recebeu seu termo com visto no art. 522 do Código de Pro-
a saída do Juiz. Pode até dar-se que cesso Civil, como se vê do ven. ares-
não haja nem remessa dos autos, se to unânime da egrégia Primeira
a manifestação do Juiz não ocorreu Turma do alto pretório, ementado
em exceção, caso em que não está nesses termos:
obrigado a dizer de quem a compe- «Exceção de incompetência. Ca-
tência e a parte, se o quiser, terá de be agravo de instrumento da deci-
iniciar outro processo noutro juízo. são que a julgar, quer acolhendo-a,
3. No caso concreto, estou em que quer rejeitando-a e o Tribunal
mais próprio teria sido a apelante competente para conhecer do agra-
suscitar logo o conflito de competên- vo é aql,lele ao qual o Juiz de pri-
cia, porque a decisão apelada foi no meiro grau está subordinado juris-
sentido de restituir os autos ao Juiz dicionalmente (RTJ 93/401)).
Federal, que também já se dera por Paralelamente, assim entendeu es-
incompetente. Mas ela optou pelo re- te egrégio Tribunal, por mais de
curso de apelação, e o fez, a meu uma vez, consoante se vê dos r. pre-
ver, com seguro apoiQ no art. 513 do cedentes abaixo transcritos, em suas
CPC, pois em verdade se trata de ementas:
sentença, como aliás foi denominada
pelo seu douto Prolator. «Exceção de incompetência. Sen-
4. Conheço, pois, do apelO. do o recurso cabível o de agravo
de instrumento (art. 522 do CPC),
posto que não houve sentença ter-
minativa do feito, com ou sem jul-
VOTO VISTA gamento do mérito (art. 267 e 269)
e não sendo sequer possível
converter-se apelação interposta
O Sr. Ministro Sebastião Alves dos em agravo de instrumento, até
Reis: Controverte-se nos presentes porque o prazo para oferecimento
autos em torno da adequação do re- desde já se achava esgotado, não
curso de apelação, manifestado con- se conhece da apelação (antiga 3~
tra decisão que acolhe exceção de in- Turma - ReI. Min. Aldir Passari-
competência, havendo o eminente nho - D.J. 22-5-78).
Relator, forte no ensinamento de «Processo Civil - Agravo de Ins-
Pontes de Miranda, dado pela sua trumento - Decisão proferida em
propriedade processual, embora res- exceção de incompetência.
salvasse a existência de abalizada
corrente em contrário, liderada por I - O recurso adequado contra
Barbosa Moreira. decisão em exceção de incompe-
TFR - 99 155

têncla (EPC art. 306 e 307) é o aceitação superveniente de compe-


agravo de instrumento (CPC, art. tência pelo Juízo para o qual houve a
522 e arts. 308 e 309). declinação ou pela decisão que for
proferida no conflito que toca ao últi-
II - No caso, mesmo que se ad- mo levantar.
mitisse a fungibilidade do recurso,
não pOderia o mesmo ser conheci- A luz desses pressupostos e com o
do, porque apresentado fora do acatamento que sempre devo às ma-
prazo de 5 (cinco) dias (CPC, art. nifestações do Min. Justino Ribeiro,
523). o meu entendimento in casu é o de
que o recurso cabível é o de agravo
11I - Apelação não conhecida» de instrumento e como a apelação
(idem, ReI. Min. Carlos Veloso - interposta se deu após cinco dias da
Ac. n? 49.663 - D.J. 24-5-79). intimação respectiva, não conheço
da mesma concessa venia.
Ainda, no mesmo sentido é o pen-
samento dominante nos Tribunais
Paulistas (RT 500/148, 491/140, EXTRATO DA MINUTA
487/150, 444/202.
De outro lado, a opinião dominante AC n? 75.726 - MS - ReI.: Sr.
entre os comenta dores do nosso esta- Min. Justino Ribeiro. ReI. p/acór-
tuto processual guarda o mesmo en- dão: o Sr. Min. Sebastião Alves dos
tendimento (Barbosa Moreira, Com. Reis. Apte.: Empresa de Navegação
V/550; Hélio Tornaghi - Com. 1/361; Miguéis S.A. Apda.: Sunamam.
Frederico Marques, Manual de Di-
reito Processual 2/85; Silveira Noro- Decisão: A Turma por maioria,
nha - Agravo de Instrumento, pág: prosseguindo o julgamento, não co-
175. nheceu do recurso de acordo com os
votos dos Srs. Mins. Sebastião Reis e
Filio-me a essa corrente que vem Pedro Acioli. (5~ Turma em 3-5-82).
prevalecendo na doutrina e na juris-
prudência, por entender data venia O Sr. Min. Pedro Acioli votou de
que a decisão acolhedora da exceção acordo com o Sr. Min. Sebastião
de incompetência não é terminativa, Reis. Vencido o Sr. Min. Relator Jus-
não põe fim ao processo, não extin- tino Ribeiro. Lavrará o acórdão o Sr.
gue a relação processual que conti- Min. Sebastiãó Reis. Presidiu o jul-
nua in fieri dependente de integra- gamento o Exmo. Sr. Ministro
ção posterior que se operará ou pela Moacir Catunda.

APELAÇAO ClVEL N? 76.113 - PR


Relator: O Exmo. Sr. Ministro Lauro Leitão
Remetente: Juízo Federal da 2~ Vara - PR
Apelante: União Federal
Apeladl;>s: Albertina Mendes Santos e outros
EMENTA
Administrativo e Processual Civil. Ato Adminis-
trativo. Nulidade. Vencimentos. Diferenças. Valor
da Causa.
156 TFR - 99

Na petição inicial, datada de 13-11-1980, o valor


dado à causa foi de Cr$ 8.350,00. Julgada procedente
a ação, os autos subiram em razão dé apelação da
União Federal e do recurso de ofício.
Todavia, nos termos dos artigos 1? e 4? da Lei n?
6.825, de 22-9-1980, a r. sentença é in susceptível de
apelação e pelo que dela não se conhece, prejudica-
da a remessa ex officio.
ACORDA0 SA-800, que abrange a categoria
funcional de Agente Administrati-
Vistos e relatados estes autos, em vo, código SA-801 classe E, D e C,
que são partes as acima indicadas: distribuídas em níveis 6, 5 e 4 res-
Decide a Primeira Turma do Tri- pectivamente;
bunal Federal de Recursos, por una- que passaram a integrar o grupo
nimidade, não conhecer da apelação, de serviços auxiliares ocupando a
na forma do relatório e notas taqui- categoria de Agente Administrati-
gráficas constantes dos autos que fi- vo nos nívies SA-801.6, SA-801.5 e
cam fazendo parte integrante do pre- SA-801.4, em razão de haverem sido
sente julgado. submetidos a concurso interno de
Custas como de lei. caráter seletivo;
Brasília, 25 de fevereiro de 1983 Ao implantar o plano de classifi-
(data do julgamento) - Ministro cação de cargos, a que se refere o
Lauro Leitão, Presidente e Relator. Decreto n? 1.445, de 13 de fevereiro
de 1976, os autores foram posicio-
nados nos códigos SA-801, classes
RELATORIO C, B, e A, nas referências 32, 29 e
24, a partir de I? de março de 1976,
o Sr. Ministrd Lauro Leitão: Al- conforme se verifica pelos demons-
bertina Mendes Santos e Outros, trativos funcionais fornecidos pela
qualificados na Inicial, propuseram própria administração do pessoal,
ação ordinária, perante o MM. Dr. em que estão lotados os autores;
Juiz Federal da 2~ Vara, Seção Judi- Em conseqüência daquela errô-
ciária do Estado do Paraná, contra a nea aplicação das determinações
União Federal, objetivando a co- legais, a ré passou a pagar aos au-
brança de diferenças de seus venci- tores vencimentos relativos a refe-
mentos e a declaração de nulidade rências diversas daquelas atri-
do ,ato administrativo que permitiu buídas aos seus níveis, do que re-
os vencimentos a menor dos autores sultou sensíveis prejuízos para os
e a recondução das referências origi- autores.»
nárias.
Citada, a União Federal ofereceu
Alegaram, pois, os autores, em contestação em que pediu fosse de-
resumo: clarada a extinção do processo, face
«que são funcionários públicos e de ao disposto no art. 267, VI, do CPC,
acordo com o Decreto n? 77.474, de ou julgada improcedente a ação.
23 de abril de 1976, foram tanspos- O MM. Dr. Juiz determinou que as
tos ou transformados os seus car- partes especificassem provas.
gos passando a integrar o Grupo
de Serviços auxiliares, instituído Os autores declararam que não ti-
pelo Decreto n? 71.236, de 11 de ou- nham provas a produzir e pediram o
tubro de 1972, que gerou o Código julgamento antecipado da lide.
TFR - 99 157

A União Federal requereu a junta- A União Federal, todavia, não se


da de documentos, o que foi feito. conformando com a r. sentença, dela
apelou para este egrégio Tribunal,
Os autores sobre eles se manifes- juntando, desde logo, suas razões.
taram e, ainda, juntaram documen-
tos. Os autores ofereceram contra-
razões e juntaram mais documentos.
A ré, então, se pronunciou sobre Nesta. instância, a douta Subprocu-
os mesmos e juntou novos documen- radoria-Geral da República, ofician-
tos. do no feito, afirma a inexistência de
O MM. Magistrado determinou que direito adquirido a ser resguardado
as partes especificassem provas. e opina pelo provimento do apelo.
Sem revisão, de acordo com o art.
Os autores trouxeram aos autos 33, IX, do RI desta colenda Corte.
provas documentais. mo relatório.
A União Federal requereu, a título
de prova, a juntada de acórdãos des- VOTO
ta egrégia Corte.
Na Inicial, datada de 13-11-1980, foi o Sr. Ministro Lauro Leitão: Se-
atribuído à causa o valor de Cr$ nhor Presidente: Como consta destes
8.350, relativo a cada Autor. autos, na petição inicial, datada de
O MM. Dr. Juiz, finalmente, deci- 13 de novembro de 1980, foi atribuído
dindo a espécie, proferiu a r. senten- à causa o valor de Cr$ 8.350, relativo
ça de fls., que tem a seguinte conclu- a cada autor.
são: Convém frisar que, no litisconsór-
cio originário, em que vários autores
«Julgo procedente a ação nos acionam o mesmo réu para a cobran-
termos do pedido e em conseqü,ên- ça de parcelas iguais, formando-
cia, condeno a ré a pagar aos aa., se o chamado cúmulo subjetivo, de-
as diferenças pleiteadas (vencidas ve prevalecer, para estimativa do
e vincendas), conforme se apurar valor da causa, apenas, o pretendido
em execução, inclusive reflexos por um deles, e não a soma global
nos proventos dos aposentados, das cotas em débito.
acrescidos de juros a contar da ci-
tação, bem como honorários de ad- Trata-se de hipótese diferente da
vogado que fixo, modicamente, que ocorre no cúmulo objetivo (art.
consoante § 4?, do art. 20, do CPC, 259, IH, CPC), na qual há soma de
em Cr$ 10.000,00 (dez mil cruzei- pedidos.
ros), sendo certo que, aos em ativi- A respectiva setença foi prolatada
dade, deverá a mesma, até que im- em 18 de dezembro de 1981.
plante em folha, pagar a diferença A Lei n? 6.825, de 22 de setembro
devida. Declaro, outrossim, nulo o de 1980, em seus artigos I? e 4?, pre-
ato administrativo que determinou ceitua:
o descesso de vencimento dos a.a.,
determinando sejam estes recon- «Art. I? O art. 475, incisos H e
duzidos funcionalmente às referên- In, do Código de Processo Civil,
cias anteriores e corretamente es- não se aplica à sentença contra a
tabelecidas, com a aplicação dos União nas causas de valor igualou
índices de correção monetária, na inferior a 100 (cem) Obrigações
forma da Lei n? 6.899/81, a todas 'Reajustáveis do Tesouro Nacional»
as prestações vencidas. P.R.I. Re- «Art. 4? Das sentenças profe-
messa de ofício.» ridas pelos juízos federais em cau-
158 TFR - 99

sas de valor igualou inferior a 50 Assim, o efeito retroativo é a apli-


(cinqüenta) Obrigações Reajustá- cação no passado, enquanto que o
veis do Tesouro Nacional, em que efeito imediato é a aplicação no pre-
sej am interessadas na condição de sente.
autoras, rés, assistentes ou opoen- O Código Civil, em seu artigo 6?,
tes a União, autarquias e empresas proíbe o efeito retroativo.
pÚblicas federais, só se admitirão
embargos infringentes do julgado e O legislador só poderá dar à lei
embargos de declaração. efeito retrooperante, fazendo-o ex-
pressamente.
§ I? Os embargos infringentes O princípio da irretroatividade
do julgado, instruídos, ou não, com tem, em verdade, o sentido da prote-
documentos novos, serão deduzi- ção individual.
dos, perante o mesmo Juízo, em
petição fundamentada, no prazo de Assim, « a não retroatividade das
10 (dez) dias, contados na forma leis é a regra dominante em direito,
do art. 605, do Código de Processo porque elas se destinam a regular os
Civil. casos futuros; o efeito retroativo ex-
presso é uma exceção,» consoante a
§ 2? Ouvido o embargado, no lição de Planiol, Ripert e Paul Es-
prazo de 5 (cinco) dias, serão os au- mein.
tos conclusos ao Juiz, que, dentro Não se deve, destarte, admitir a
de 10 (dez) dias, os rejeitará ou re- retroatividade da lei, a não ser que
formará a sentença. resulte de cláusula expressa.
§ 3? Os embargos declarató- A Constituição Federal, em seu ar-
rios serão opostos em petição, sem tigo 153, § 3?, assegura o respeito ao
audiência da parte contrária, na direito adquirido, ao ato jurídico per-
forma dos arts. 464 e 465, do Código feito e à coisa julgada.
de Processo CiviL»
Não apresentando, embora, um
A expressão «JUIZOS federais,» conceito de direito adquirido, a Lei
constante do citado' artigo 4?, em vez Maior quer significar, com tais ex-
de «juízes federais,» está a demons- pressões, que a lei dispõe para o fu-
trar que a norma se estende aos ma- turo e que não prejudicará o direito
gistrados estaduais que exercem ju- adquirido.
risdição federal. A Jurisprudência desta 1~ Turma
Como se sabe, as leis processuais vinha se orientando no sentido de
têm aplicação imediata. que o valor dado à causa, na Inicial,
e cujas decisões tivessem sido profe-
Não quer isto significar, entretan- ridas antes do advento da Lei n?
to, que elas tenham aplicação re- 6.825/80, para efeito de alçada, deve-
troativa em relação às sentenças riam ter aquele valor convertido em
proferidas antes da vigência da lei ORTNs à data das mesmas decisões.
nova. Todavia, o egrégio Plenário do
Assim, os recursos das decisões de TFR, ao apreciar incidente de uni-
I? grau devem ser processados, nos formização de jurisprudência, enten-
termos da lei vigente à data em que deu, por maioria, que, para efeito de
tiverem sido proferidas. fixação de alçada, as causas ajuiza-
das, memo antes do advento da Lei
Cumpra que se faça a distinção en- n? 6.825/80, deveriam ter seu valor
tre efeito retroativo e o efeito ime- convertido em ORTN, à data de sua
diato da lei. entrada em vigor. É certo, porém,
TFR - 99 159

que não foi uniformizada a jurispru- União para legislar sobre: «b) di-
dência, com a edição da respectiva reito civil, comercial, penal, pro-
súmula, por não haver sido atingido cessual, eleitoral, agrário, maríti-
o quorum necessário. Mas ficou tra- mo, aeronáutico, espacial e do tra-
çada a orientação da maioria de nos- balho.»
sa egrégia Corte.
De outra parte, a 1~ Seção deste A Lei n? 6.825, de 22-9-80, dispôs,
egrégio Tribunal, em sessão realiza- especificamente, sobre matéria
da no dia 17 do mês de novembro de processual civil, revogando as nor-
1982, apreciando os embargos infrin- mas que lhe forem contrárias, sem
gentes na AC n? 35.450 - Sergipe, qualquer ressalva ao suposto direi-
decidiu, por maioria, rejeitar os alu- to adquirido pelas partes em
didos embargos, nos termos do voto litígio. Examinada à luz dos méto-
- vista do eminente Sr. Ministro Jo- dos de interpretação, observa-se
sé Cãndido, que então frisou: que o propósito do legislador foi
possibilitar maior celeridade do
«o fulcro da controvérsia reside, jUlgamento dos processos que em-
como se vê do voto vencido, na im- pilhavam o Tribunal Federal de
possibilidade jurídica de aplicação Recursos e as seções jUdiciárias da
da Lei n? 6.825, de 22-9-80, às ações Justiça Federal. É o que diz, ex-
julgadas antes de sua vigência. pressamente, a epígrafe da lei em
É o caso dos autos, no qual a exame. Ela não ressalvou os pro-
sentença recorrida foi prolatada cessos cujas sentenças já haviam
em 28-2-73, e remetida ao Tribunal, sido prolatadas antes de sua vigên-
tão-só em virtude do art. 475, inc. cia, e se o fizesse, teria delimitado
lI, do CPC, por sinal, inaplicável à o seu raio de incidência, tornando-
hipótese dos autos, porque o venci- se inexpressiva e incapaz de aten-
do foi o INPS que não chegou a re- der o atropelo dos julgamentos na
correr da decisão de primeiro área da Justiça Federal de 1~ Ins-
grau. tância e no TFR, objetivo por ela
A matéria cinge-se, portanto, ao visado.
princípio do duplo grau de jurisdi- Diga-se de outra parte que, a ri-
ção, aqui imposto, obrigatoriamen- gor, a lei nova não retirou das par-
te, pela lei processual. tes a sua capacidade de recorrer,
O ilustre Ministro Aldir Passari- mas estabeleceu um recurso novo,
nho, em sua defesa, recorre à lição o de embargos infringentes do jul-
de Galeno Lacerda, sobre o cha- gado, perante o juiz da causa, to-
mado direito processual adquirido, mando por base o inexpressivo va-
quando afirma, verbls: lor que lhe foi atribuído.»
«Vimos que o direito subjetivo ao A propósito da tese questionada, o
recurso nasce do dia em que a sen- egrégio STF decidiu:
tença é proferida. Se nesta data,
por exemplo, o acórdão era «EMENTA: Processual. Duplo
«possível de revista», porque di- Grau de Jurisdição Obrigatório.
vergente do de outra Câmara do Lei n? 6.825/80. Aplicação Imedia-
mesmo Tribunal, o recurso pOderá ta. Resolução n? 25/80 do TFR.
ser interposto, pouco importa surja
a pUblicação do acórdão depois de Firmou-se a jurisprudência do
revogado a revista». Supremo Tribunal Federal, tal co-
mo já ocorria no Tribunal Federal
A Constituição Federal, em seu de Recursos, que as sentenças pro-
art. 8?, define a competência da feridas contra a União Federal em
160 TFR - 99

causas cUjo valor não ultrapasse Com a ressalva do meu ponto de


os limites previstos na Lei n? vista pessoal, no sentido de que os
6.825/80, não se encontram obriga- recursos devem ser processados de
toriamente sUjeitas ao duplo grau acordo com a lei processual vigente
de jurisdição, pois os preceitos de à data da sentença de I? grau, voto
tal diploma legal devem ter aplica- em sintonia com a orientação da
ção imediata, nos termos fixados maioria do egrégio TFR.
na Resolução n? 25 do Tribunal Fe-
deral de Recursos, ainda que a Em face do exposto, não conheço
sentença tenha sido proferida ante- da apelação e julgo prejudicada a
riormente àquela lei. Não se tem remessa ex officio. Determino, em
considerado que em tais casos haja conseqüência, a baixa dos autos ao
direito adquirido processual em fa- Juízo de origem, para que ali o re-
vor da União. Ressalva do ponto de curso seja processado como de em-
vista do relator que entende inapli- bargos infringentes.
cável a lei em relação às sentenças
anteriores à sua vigência.» (RE n? E o meu voto.
96.591-2 - MG - 2~ Turma do STF
- DJ 22-10-82).
E oportuno lembrar que, à data da EXTRATO DA MINUTA
vigência da Lei n? 6.825/80, 100
ORTN representavam Çr$ 64.423,00 e AC N? 76.113 - PR - Relator: Sr.
50 ORTN Cr$ 32.211,50. Ministro Lauro Leitão. Remetente:
De notar, ainda, que a Súmula n? Juízo Federal da 2~ Vara - PRo
34, do egrégio TFR, a propósito do Apelante: União Federal. Apeladas:
duplo grau de jurisdição, uniformi- Albertina Mendes Santos e Outros.
zando a jurisprudência, enuncia:
«o duplo grau de jurisdição Decisão: A Turma, por unanimida-
(CPC, art. 475, lI) é aplicável, de, não conheceu da apelação (Em
quando se tratar de sentença pro- 25-2-83 - 1~ Turma).
ferida contra a União, o Estado e o
Município, só incidindo, em rela- Os Srs. Ministros Otto Rocha e Pe-
ção às autarquias, quando estas fo- reira de Paiva votaram com o Rela-
rem sucumbentes na execução da tor. Presidiu o julgamento o Sr. Mi-
dívida ativa (CPC, art. 475, lI!).» nistro Lauro Leitão.

APELAÇAO CIVEL N? 77.215 - BA


Relator: O Sr. Ministro Evandro Gueiros Leite
Apelante: União Federal
Apelado: José Cidreira Fontes.
EMENTA
Funcionário público. Aposentadoria. Efeitos pre-
téritos (quando cabem).
A regra está contida na Portaria n? 433/73, do
Egrégio Tribunal de Contas da União, quanto à vi-
gência da aposentadoria, isto é, a partir da data da
publicação do ato no DO (Cf. AC n? 54.539, DJ de 20-
TFR - 99 161

5-82). Excetuam-se, porém, os casos de dupla apo-


sentadoria, se o servidor já se encontrar aposentado
por uma delas e houver sido afastado do serviço de
forma legal. Os proventos retroagem à data do desli-
gamento.
Recurso desprovido. Sentença confirmada. Pro-
cedência da ação.

ACORDA0 em parte a ação, porque, reconhe-


cendo prescritas as parcelas anterio-
Vistos e relatados os autos, em que res a 25 de agosto de 1976, contudo
são partes as acima indicadas: mandou pagar os proventos em atra-
Decide a 2~ Turma do Tribunal Fe- so a partir de 25 de setembro de
deral de Recursos, por unanimidade, 1976,
negar provimento ao recurso e con- «... cujo montante deverá ser
firmar a sentença que julgou proce- apurado em liquidação de senten-
dente a ação, na forma do voto e no- ça, acrescido de juros de mora in-
tas ta qui gráficas precedentes que in- cidentes a partir da data da cita-
tegram o presente julgado. ção (11-11-81, fI. 21 v.), corrigido
Custas como de lei. monetariamente a partir da vigên-
cia da Lei n? 6.899/81. Condeno ain-
Brasília, 22 de outubro de 1982 (da- da a vencida a devolver ao a. as
ta do julgamento) Ministro custas por ele desembolsadas e a
Evandro Gueiros Leite, Presidente- pagar a verba honorária que arbi-
Relator. tro em 10% sobre o valor apurado
na liquidação.» (fI. 20).
RELATO RIO
A União Federal apelou, à fI. 22,
O Sr. Ministro Evandro Gueiros sem novos argumentos. O a. apre-
Leite (Relator): José Cidreira Fon- sentou contra-razôes em louvores à
tes é ferroviário e já obteve a dupla sentença (fls. 24/25). Aqui no 'l'ribu-
aposentadoria, pelo INPS e pelo Te- nal a douta :Subprocuradoria-Geral
souro Nacional. Contudo, está postu- da República deu parecer pelo provi-
lando receber os proventos atrasa- mento do recurso, sustentando que a
dos, o que lhe vem sendo negados aposentadoria somente surte efeitos
pela União Federal, contra a qual a partir do ato que a concede (fI. 29,
propôs esta ação ordinária. Dr. Paulo A. F. Sollberger).
A defesa alega o cumprimento de Pauta sem revisão.
Portaria do Tribunal de Contas (n~ É o relatório.
433/73), onde está dito que a vigên-
cia dos proventos, nos casos de du-
pla aposentadoria, é a partir da pu- VOTO
blicação no Diário Oficial da União,
não se admitindo, de acordo com o O Sr. Ministro Evandro Gueiros
Parecer B-35, da Consultoria-Geral Leite (Relator): A sentença afirma
da República, que portaria não tem força de lei. E
«.. . que eles sej am concedidos a citada pela União Federal afronta
desde a data da aposentadoria pre- a sistemática da inatividade (fI. 19).
videnciária.» (fI. 16) Comenta, à fI. 19, o seguinte:
Sentença da Dra. Eliana Calmon a) se o servidor requer aposenta-
Alves da Cunha, julgando procedente doria e permanece no cargo até a
162 TFR - 99

concessão, é óbvio que os proventos tém por força de requerimento e


e demais efeitos da inatividade só à após o desligamento (anterior) do
data do ato passam a vigorar; beneficiário, não.
b) se, entretanto, o servidor já se Nego provimento ao recurso e con-
acha afastado do serviço de forma firmo a sentença.
legal, pois foi aposentado pelo INPS, É como voto.
a segunda aposentação (estatutá-
ria), se concedida, retroage à data EXTRATO DA MINUTA
do desligamento. AC n? 77.215 - BA - Rel.: O Sr.
Estou de acordo com essa argu- Ministro Evandro Gueiros Leite. Ap-
mentação, pois assim temos decidido te.: União Federal. Apdo.: José Ci-
nos casos de dupla aposentadoria de dreira Fontes.
ferroviário, sempre levando em con- Decisão: A Turma, por unanimida-
ta a data do desligamento. de, negou provimento ao recurso e
O Parecer cita, a fl. 30, decisão na confirmou a sentença que julgou pro-
AC n? 54.539, onde está dito que a cedente a ação. (Em 22-10-82 - 2~
ação objetivando conferir efeito re- Turma).
troativo a ato de aposentadoria, com Os Srs. Ministros William Patter-
ressarcimento de prejuízo, não tem son e José Cândido votaram com o
base jurídica (fl. 30). Sr. Ministro-Relator. Presidiu o jul-
Modus in rebus. A aposentadoria gamento o Sr. Ministro Evandro
normal, sim. Mas aquela que se ob- Gueiros Leite.

APELAÇAO CtVEL N?77.916 - RJ


Relator: O Sr. Ministro Wilson Gonçalves
Apelante: Cia. Brasileira de Participações e Investimentos Veplan Resi-
dência.
Apelado: Conselho Regional de Economia - CRE.
EMENTA
Conselho Regional de Economia. Registro.
Apelação que se conhece. O valor atribuído à
ação supera o teto estipulado nas Leis n?s 6.825 e
6.830, de 1980.
Do estudo dos autos conclui-se que a apelante não
presta a terceiros serviços próprios, específicos, de
economista.
Não tem, assim, aplicabilidade ao caso, a Súmu-
la n? 96 deste Tribunal.
Provimento do recurso.
ACORDÃO dar provimento à apelação, na forma
do relatório e notas taquigráficas
Vistos e relatados estes autos. em constantes dos autos que ficam fa-
que são partes as acima indicadas: zendo parte integrante do presente
Decide a Sexta Turma do Tribunal julgado.
Federal de Recuros, à unanimidade, Custas como de lei.
TFR - 99 163

Brasília, 4 de outubro de 1982 (da- 3? do Decreto n? 31. 794, o que impli-


ta do julgamento) Ministro ca na obrigatoriedade do registro re-
Antonio Torreão Braz, Presidente clamado.
Ministro Wilson Gonçalves, Relator. Dispensada a revisão, nos termos
do art. 33, IX, do Regimento Interno.
É o relatório.
RELATO RIO
VOTO
o Sr. Ministro Wilson Gonçalves:
Recorre a Cia. Brasileira de Partici- O Sr. Ministro Wilson Gonçalves:
pações e Investimentos Veplan - Há questão preliminar a decidir.
Residência, inconformada com a r. A apelante assevera, inicialmente,
sentença que julgou improcedentes que este é o recurso cabível, eis que
os embargos opostos à execução fis- o valor do débito cobrado, na data do
cal que lhe move o Conselho Regio- ajuizamento da execução, Cr$
nal de Economia, para haver quan- 37.473,00 (trinta e sete mil, quatro-
tia proveniente de anuidades e mul- centos e setenta e três cruzeiros),
tas. supera 50 (cinquenta) Obrigações
Entendeu o MM. Juiz sentenciante Reajustáveis do Tesouro Nacional -
que, em face das atividades desen- ORTNs. (fl. 96).
volvidas pela embargante, estaria Já o apelado entende que o recurso
ela enquadrada na obrigatoriedade próprio seria o de embargos infrin-
enunciada na Súmula n? 96 deste Tri- gentes, nos termos do art. 34 da Lei
bunal. n? 6.830, de 22 de setembro de 1980,
Com base no art. 2? de seu estatuto porque o valor da causa não é supe-
social, defende-se a embargante, ao rior a 50 ORTNs na data da interpo-
argumento de que não é, nem nunca sição do recurso.
foi, uma sociedade de crédito, finan- O invocado art. 34 não é mais do
ciamento e investimento, mas sim, que uma reprodução, adaptada, do
uma companhia holding das empre- art. 4? da Lei n? 6.825/80.
sas do denominado grupo Veplan-
Residência, desenvolvendo, sempre É de salientar-se que o dispositivo
através de suas subsidiárias ou me- em foco suscitou, de início, hesitação
diante a participação no capital de ou discordância de interpretação
outras empresas, diversas ativida- quanto à data a ser considerada pa-
des, inclusive financeiras. Ela pró- ra cálculo do valor da causa: se a da
pria, no entanto, não é uma socieda- sua propositura ou a da interposição
de de crédito' e financiamento, que do recurso.
torne necessáito seu registro no Con- O exame mais acurado da matéria
selho Regional de Economia. leva à adoção do critério relativo à
Em suas contra-razões o apelado época do ajuizamento da demanda.
sustenta, em preliminar, o não cabi- Para tanto, concorrem argumentos
mento da apelação, vez que o valor que me parecem valiosos.
da causa é inferior a 50 ORTNs, na Com efeito, o art. 6? da aludida Lei
data da interposição do recurso. n? 6.825 estabelece:
No mérito, pugna pela prevalência «Na execução de dívida ativa da
da sentença, uma vez que as ativida- União e das autarqUias federais, o
des previstas nos itens I, IV e VIII valor da causa será o do crédito
do art. 2? do já referido estatuto so- inscrito nos termos da lei, moneta-
cial, encaixam-se no disposto no art. riamente atualizado e acrescido de
164 TFR - 99

multa e juros de mora e demais «Art. 14. Só poderão exercer a


encargos legais, na data da distri- profissão de economista os profis-
buição.» sionais devidamente registrados
Não dispõe de modo diferente o § nos CREP pelos quais será expedi-
I? do cito art. 34: da a carteira profissional.
«Para efeitos deste artigo, Parágrafo único - Serão tam-
considerar-se-á o valor da dívida bém registrados no mesmo órgão
monetariamente atualizado e as empresas, entidades e escritó-
acrescido de multa e juros de mo- rios que explorem, sob qualquer
ra e demais encargos legais, na forma, atividades técnicas de Eco-
data da distribuição.» nomia e Finanças.»
Além disto, cabe salientar que o De sua vez, o Decreto n? 31.794, de
valor da causa deve ser definido na 17 de novembro de 1952, regulamen-
fase da constituição da lide, por- tando a profissão de Economista, es-
quanto ao autor compete indicá-lo na tabelece, nos seus arts. 3? e 8?:
petição inicial (CPC, art. 259) e ao «Art. 3? - A atividade profis-
réu impugná-lo no prazo da contesta- sional privativa do economista
ção (CPC, art. 261). exercita-se liberalmente ou não,
Versando sobre alçada, a Súmula por estudos, pesquisas, análises,
n? 502 do Supremo Tribunal Federal relatórios, pareceres, perícias, ar-
leva em conta a data do ajuizamento bitragens, laudos, esquemas ou
do pedido. certificados sobre os assuntos com-
O valor do débito executado, se- preendidos no seu campo profissio-
gundo salienta a própria sentença, é nal, inclusive por meio de planeja-
de Cr$ 37.473,00 (trinta e sete mil, mento, implantação, orientação,
quatrocentos e setenta e três cruzei- supervisão ou assistência dos tra-
ros) (fI. 91). balhos relativos às atividades eco-
nômicas ou financeiras, em em-
O processo não esclarece a data da preendimentos públicos, privados
distribuição da execução, nem lhe ou mistos, ou por quaisquer outros
foram apensos os autos principais. meios que objetivem, técnica ou
Mas, se tomarmos com referência o cientificamente, o aumento ou a
oferecimento dos embargos, que é conservação do rendimento econô-
posterior à execução, mesmo assim mico.»
o valor da causa supera as 50
ORTNs, cujo montante àquela época «Art. 8? As sociedades que se
era de Cr$ 624,25 (seiscentos e vinte organizarem para a prestação de
e quatro cruzeiros e vinte e cinco serviços profissionaiS, menciona-
centavos). dos no Capítulo anterior, só pode-
rão ser constituídas por economis-
Mesmo que se adote como ponto tas devidamente registrados no
de referência a data da vigência da competente CREP e no pleno gozo
aludida Lei n? 6.825, de 22 de setem- de seus direitos.»
bro de 1980, ainda assim a situação
não se altera. Interpretando estes e outros diSpo-
sitivos referentes ao exercício da
Assim, conheço da apelação. profissão de Economista, este Egré-
Passo à análise do mérito. gio Tribunal, no Incidente de Uni-
formização de Jurisprudência na
A Lei n? 1.411, de 13 de agosto de Apelação Cível n? 65.890 - RJ, deci-
1951, que dispõe sobre a profissão de diu, por maioria absoluta, o segUin-
Economista, estatui no seu art. 14: te:
TFR - 99 165

I - Administrativo. Economista. VIII - Participação em empreen-


Conselho Regional de Economia. dimentos comerciais, industriais
Registro. Companhias de Crédito ou agropecuários em geral. Pará-
Financiamento e Investimento: grafo Único A Companhia pode-
Corretoras e Distribuidoras de rá realizar todas ou quaisquer das
Títulos e Valores Mobiliários. Lei atividades constantes de seu objeto
n? 1.411, de 13-8-1951, art. 14, pará- social, através de Divisões a serem
grafo único. Decreto n? 31.794, de criadas pelo Conselho de Adminis-
17-11-1952, art. 8? Resolução n? 875, tração, ou por meio de subsidiá-
de 11-10-1974, do Conselho Federal rias, ou ainda, partiCipações de ca-
de Economia. II - TFR, Súmula n? pital» .
96. III - Processual Regimental.
Tribunal Federal de Recursos: Em torno desse dispositivo estatu-
maioria absoluta de seus mem- tário, a recorrente desenvolve longa
bros. argumentação, cUja transcrição me
I - As companhias de crédito, fi- sinto no dever de fazer para melhor
nanciamento e investimento, corre- posicionamento da intrincada contro-
toras e distribuidoras de títulos e vérsia.
valores mobiliários estão sujeitas a Eis o texto ipsis l1tteris:
registro nos Conselhos Regionais
de Economia. «Verifica-se, portanto, que a
II - Jurisprudência uniformiza- apelante não é uma sociedade de
da e sumulada. Súmula n? 96, economistas, nem,:tampouco, prati-
TFR.» ca atos privativos à profissão de
economistas, razão pela qual ja-
Cumpre, a esta altura, verificar se mais se registrou no Conselho Re-
a apelante, pela sua atividade, defi- gional de Economia e, por isso
nida nos respectivos estatutos, se in- mesmo, se insurge contra a co-
clui entre as companhias de crédito, brança que ora lhe é feita sem
financiamento e investimento, corre- qualquer embasamento legal. Na
toras e distribuidoras de títulos e va- verdade, a executada não presta,
lores mobiliários. nem nunca prestou, a terceiros ser-
Os seus objetivos sociais estão in- viços compreendidos na esfera pri-
dicados no Artigo 2? dos menciona- vativa do economista. Pratica sim
dos estatutos, in verbis: as atividades que lhe são próprias
e determinadas por lei, o que não a
«Artigo 2? A companhia tem obriga a ter registro nos quadros
por objeto: I - a indústria imobi- do apelado.
liária e toda a prestação de servi-
ços referentes fi compra, venda e A prosperar a absurda pretensão
administração de imóvel; II - a do Conselho Regional de Economia
indústria de construção; III - a e ter-se-ia a inusitada situação de
prestação de serviços de engenharia uma sociedade comercial, pelo fato
e de arquitetura; IV - atividades de ter na sua equipe de funcioná-
financeiras e de seguros, sempre rios um economista, um advogado
através de subsidiárias ou da par- ou um contador, preCisar
ticipação de capital; V - ativida- registrar-se no Ç>rganismo de clas-
des hoteleiras e de turismo: VI - se respectivo. É 'óbvio, é curial que
promoção e exploração de «shop- uma sociedade da natureza e fina·
ping centers»; VII - atividade de lidade da apelante não está obriga-
propaganda, promoção e pUblicida- da a se registrar no Conselho Re-
de, sempre através de subisidiá- gional de economia ou na Ordem
rias, ou participação de capital; dos Advogados.
166 TFR - 99

Veja-se ainda que segundo esta- outras atividades -, é plenamente


belece o art. 8? do Decreto n? válida, ainda que ditas sociedades,
31. 794, de 17-11-1952 «as sociedades para a consecução de seus fins, ne-
que se organizarem para a presta- cessitem efetuar estudos de viabili-
ção de serviços profissionais, men- dade econômico-financeira.
cionados no capítulo anterior - a A rigor, não poderia ser outro o
atividade profissional privativa do tratamento legal, já que a efetua-
economista -, só poderão ser ção daqueles estudos, por si só,
constituídas por economistas devi- não caracteriza a empresa como
damente registrados no competen- sociedade de economistas (fls. 100
te CREP e no pleno gozo de seus a 101).
direitos».
Dos diversos itens que indicam a
E, o ·art. 10 do citado Decreto n? finalidade da Companhia, o único
31.794/52, prevê que «as sociedades que revela afinidade com a profissão
a que alude o -art. 8? promoverão o de economista é o número IV, que
registro prévio de que trata o § compreende atividades financeiras e
único do art. 14, da Lei n? 1.411, de de seguros, mas sempre através de
13 de agosto de 1951, ficando obri- subsidiárias ou da participação de
gadas a comunicar ao CREP com- capital. Nunca, portanto, como ativi-
petente quaisquer alterações ocor- dade própria.
ridas posteriormepte.
Vê-se, claramente, que os supra- Vale trasladar outro trecho das ra-
citados dispositivos legais se refe- zões da embargante:
rem às sociedades civis de traba- «Na verdade, a ora apelante é
lho profissional, e sem cunho co- uma companhia holding das em-
mercial, constituídas unicamente presas do denominado grupo
por economistas, que se organizam Veplan-Residência, desenvolvendo,
e adquirem personalidade jurídica sempre através de suas subsidiá-
com o registro de seus contratos rias ou mediante a participação no
nos competentes Conselhos Regio- capital de outras empresas, diver-
nais de Economia. sas atividades, inclusive financei-
Tais sociedades uniprofissionais, ras. Ela própria, no entanto, não é
é bom frisar, se caracterizam pelo uma sociedade de crédito e finan-
fato de terem por Objeto exclusivo ciamento, que torne, no entender
a prestação de serviços técnico- da maioria desse E. Tribunal, ne-
científicos, isto é, por se dedica- cessário seu registro no Conselho
rem à prática de atividades técni- Regional de Economia» (fls. 97-98).
cas de economia e finanças. Do estudo que realizei,
Não há, de outro lado, na legisla- debruçando-me sobre os elementos
ção que regUla a profissão de eco- constantes dos autos, cheguei à con-
nomista (Lei n? 1.411, de 13-8-1951, clusão de que a apelante não presta
cuja redação foi parcialmente mo- a terceiros serviços próprios, es-
dificada pela Lei n? 6.021, de 3-1-74, pecíficos, de economista.
e regulamentada pelo Decreto n? Data venta, divirjo da orientação
31.794, de 17-11-1952) qualquer men- do ilustre Dr. Juiz a quo, pois, no
ção a outros tipos de sociedades, meu modesto entendimento, não se
que não aquelas uniprofissionais, aplica à espéCie a S.úmula resultante
acima identificadas. do aludido Incidente de Uniformiza-
Tal afirmação, - de que a legis- ção de Jurisprudência.
lação própria não exige o registro Diante do exposto, dou provimento
de sociedades que se dediquem a à apelação para julgar procedentes
TFR - 99 167

os embargos à execução, condenan- tos - Veplan-Residência. Apdo.:


do o embargado no reembolso das Conselho Regional de Economia -
custas e na verba advocatícia de CRE.
10% (dez por cento) sobre o valor da Decisão: A Turma, por unanimida-
causa, atenta a círcunstância de que de, deu provimento à apelaçâo, nos
se trata de uma autarquia federal. termos do voto do Relator. (Em 4-10-
82 - 6~ Turma).
EXTRATO DA MINUTA Os Srs. Ministros Miguel Ferrante
e Américo Luz, participaram do jul-
AC n? 77.916 - RJ - ReI.: Sr. Min. gamento. Presidiu o jUlgamento o
Wilson Gonçalves. Apte.: Cia. Brasi- Exmo. Sr. Ministro Antonio Torreão
leira de Participações e Investimen- Braz.
APELAÇAO CtVEL N? 79.367 - SP
Relator: O Sr. Ministro José Cândido
Apelantes: Celina Cardoso Xavier e INPS
ApeladOS: Os mesmos
EMENTA
Previdência Social. Viúva. Pensão cancelada em
virtude de segundo matrimônio. Restabelecimento
necessário.
Não basta outro casamento para extingüir o di-
reito da viúva à cota da pensão deixada pelo seu fa-
lecido esposo (art. 58, item lI, da CLPS). Para isso,
é necessário que o novo matrimônio proporcione à
ex-pensionista uma vida melhor, de modo a justifi-
car a perda do benefício previdenciário.
No presente caso, a prova dessa melhoria não
foi feita pelo INPS. Ao contrário, os autos revelam
que a postulante não tem outro rendimento, e que o
seu marido vive com umà aposentadoria de meio sa-
lário mínimo e que o casal está passando por sérias
dificuldades.
Mantida a sentença que restabeleceu a pensão
da postulante, ficando reformada apenas para deter-
minar que os honorários advocatícios sejam pagos
na forma do art. 260 do Código de Processo Civil.
ACORDA0 Ministro-Relator, na forma do rela-
tório e notas taquigráficas constan-
Vistos e relatados os autos, em que tes dos autos que ficam fazendo par-
são partes as acima indicadas: te integrante do presente julgado.
Decide a 2~ Turma do Tribunal Fe- Custas como de lei.
deral de Recursos, por unanimidade, Brasília, 9 de novembro de 1982
negar provimento ao recurso do (data do jUlgamento) Ministro
INPS e dar parcial provimento ao da William Patterson, Presidente - Mi-
a., tudo nos termos do voto do Sr. nistro José Cândido, Relator.
168 TFR - 99

RELATÓRIO Inconformada, apelou a a. com as


razões de fl. 48, visando a reforma
o Sr. Ministro José Cândido: O da sentença no referente a honorá-
MM. Juiz de Direito da Comarca de rios de advogado.
Dois Córregos expôs a controvérsia O INPS, também irresignado, ape-
nos seguintes termos: lou com as razões de fl. 51, susten-
«Celina Cardoso Xavier, também tando que o art. 58, lI, da CLPS é
conhecida por Celina Cardoso Dan- claro ao dispor que a penSionista que
tas, ajuizou a presente ação de res- convola novas núpcias terá a pensão
tabelecimento de benefício contra cancelada.
o Instituto N acionaI de Previdência Contra-razões à fl. 54.
Social - INPS.
É o relatório.
De acordo com a Inicial, a a.
passou a perceber pensão nos ter- VOTO
mos do art. 13, I, da Consolidação
das Leis Previdenciárias, em vir- O Sr. Ministro José Cândido (Rela-
tude da morte de José da Silva Go- tor): O MM. Julgador a quo decidiu
mes, seu companheiro durante 20 a causa em favor da a., sob os se-
anos. Em 14-12-79, a suplicante guintes fundamentos, verbis:
veio a se casar com Rosalvo Fer-
reira Xavier, sob o regime de se- «Todavia, a própria Jurisprudên-
paração obrigatória de bens, nos cia do Tribunal Federal de Recur-
termos do art. 258, parágrafo úni- sos tem abrandado o rigor da legis-
co, 11, do Código Civil. Em decor- lação, admitindo a manutenção da
rência do casamento a requerente pensão, a despeito do casamento
veio a perder o benefício previden- da beneficiária. A esse respeito, os
ciário a que fazia jus. julgados trazidos à colação pela a.
são bastantes ilustrativos.
A Inicial veio acompanhada de
documentos, sendo atribuída à de- No caso em tela, a cessação do
manda o valor de Cr$ 100.000,00. pagamento do benefício veio a
O réu contestou a ação, alegando criar sérias dificuldades financei-
que o art. 58, lI, da Consolidação ras à a .. Nesse sentido basta confe-
determina a extinção da cota de rir os depoimentos das testemu-
pensão pelo casamento da pensio- nhas ouvidas em Juízo. A prova
nista do sexo feminino. prodUZida demonstra que a reque-
O processo foi saneado e na au- rente não possui outros rendimen-
diência de instrução e jUlgamento tos além da pensão previdenciária
foram ouvidas duas testemunhas que veio a perder com o casamen-
arroladas pela a .. Encerrada a ins- to. O seu marido vive igualmente
trução as partes apresentaram ale- de aposentadoria, percebendo im-
gações finais, reiterando suas posi- portância correspondente a meio
ções anteriores.» salário mínimo. Diante dessas in-
formações fica evidente que a ren-
Sentenciando, às fls. 41/43, julgou da disponível é insuficiente para a
procedente a ação, condenando a su- manutenção do casal.
pllcada a restabelecer o benefício a
partir da data do cancelamento. Ar- Acrescente-se ainda que a supli-
cará, ainda, com as custas, honorá- cante tem 58 anos de idade e o seu
rios advocatícios, estes arbitrados marido 66, circunstância que torna
em 10% dos atrasados, e correção praticamente inviável o exercício
monetária que será computada a de qualquer atividade remunerada
partir da vigência da Lei n? 6.899/81. por parte dos cônjuges.
TFR - 99 169

Diante dos elementos trazidos mônio, desde que não se comprove


para o processo, impõe-se a prola- que a mulher melhorou de situação
ção de uma decisão que possibilite econômrca, de modo a dispensar o
um abrandamento da legislação auxílio previdenciário.
previdenciária, conforme tem au- Na hipótese dos autos, isso não
torizado a Jurisprudência do Egré- aconteceu. Feito o segundO casamen-
gio Tribunal Federal de Recursos. to, sem motivo para se cancelar a
A aplicação pura e simples do dis- pensão, logo depois foi ele desfeito,
positivo legal com que o réu emba- de modo a possibilitar o divórcio
sa sua contestação viria a criar consensual, de que trata o art. 40, da
uma situação injusta para a a., o Lei n? 6.515, de 26-12-77 (fI. 11v.L
que é inteiramente inadmissível» Portanto, o art. 58, item lI, da CLPS
(fI. 42). não pode ser aplicado de forma pura
Está certa a decisão de primeiro e simples, porque importaria em fo-
grau ao restabelecer o pagamento mentar o concubinato em prejUízo do
da pensão. Esta egrégia Turma, já matrimônio que é a forma regular
decidiu, em caso semelhante, pela de constituição da família brasileira.
procedência do pedido. Comprovado que a postulante resi-
Faço juntar aos autos, como razão de atualmente na casa dos seus pais
de decidir, o voto por mim proferido e vive às suas expensas, justo se tor-
na AC n? 77.404 - SP, julgada em 6- na o restabelecimento da pensão dei-
8-82. xada pelo seu primeiro marido.
Não assiste, portanto, ao INPS Com essas considerações, dou pro-
qualquer razão quando pede a refor- vimento à apelação para reformar a
ma da sentença. sentença de primeiro grau, e conde-
O recurso da a. merece, por sua nar o INPS a restabelecer o paga-
vez, ser provido, em face da regra mento da pensão que lhe é devida,
também aceita pelo Tribunal, quanto desde a data do seu cancelamento,
ao pagamento dos honorários advo- com os acréscimos de juros e corre-
catícios, no caso em jUlgamento. ção monetária (esta de acordo com
a Súmula n? 71 do TFR até a vigên-
Com essas considerações, nego cia da Lei n? 6.899/81). Condeno-o
provimento à apelação do INPS. Dou ainda à reposição das custas e ao pa-
provimento ao recurso da a. para re- gamento de honorários advocatícios
formar a sentença, parcialmente, a à base de 10% (dez por cento) sobre
fim de determinar que a condenação o valor da condenação.
em honorários seja apurada na for-
ma do art. 260, do Código de Proces- É o meu voto.
so Civil, isto é, 10% (dez por cento)
sobre a soma das prestações venci- EXTRATO DA MINUTA
das e mais doze das vincendas.
No mais, mantenho a r. sentença.
AC n? 79.367 - SP - ReI.: Sr. Mi-
É o meu voto. nistro José Cândido. Aptes.: Celina
Cardoso Xavier e INPS. Apdos.: Os
VOTO mesmos.
Decisão: A Turma, por unanimida-
o Sr. Ministro José Cândido (Rela- de, negou provimento ao recurso do
tor): Tenho votado, em casos seme- INPS e deu parcial provimento ao da
lhantes, no sentido de assegurar a a., tudo nos termos do voto do Sr.
pensão devida à viúva pelo INPS, Ministro-Relator. (Em 9-11-82 -- 2~
ainda que ocorra o segundo matri- Turma).
170 TFR - 99

Os Srs. Ministros Jesus Costa Li- mente o Sr. Ministro Evandro Guei-
ma e William Patterson votaram ros Leite. Presidiu o julgamento o
com o Relator. Ausente justificada- Sr. Ministro W1lliam Patterson.
APELAÇAO CRIMINAL N? 4.163 - MA
Relator: O Sr. Ministro Peçanha Martins
Revisor: O Sr. Ministro Washington Bolívar
Apelante: Justiça Pública
Apelado: Eunice Soares de Oliveira Paula.
EMENTA
Denúncia que se fundamentou no art. 331 do Có-
digo Penal.
Discussão entre servidores que não redundou em
desacato.
absolvição da acusada (art. 386, VI do Código de
Processo Penal).
ACORDA0 Diz a denúncia que, em 13 de ja-
neiro do ano em curso, aproxima-
Vistos, relatados e discutidos estes damente às 15 horas, a acusada
autos, em que são partes as acima in- aproximou-se do guichê de vales
dicadas: postais no prédio-sede da Empresa
Decide a 1~ Turma do Tribunal Fe- Brasileira de Correios e Telégra-
deral de Recursos, por unanimidade, fos, para receber o valor corres-
negar provimento, ao recurso para pondente a um cheque postal.
confirmar a sentença, na forma do Contudo, a servidora Mariléia de
relatório e notas taquigráficas cons- Castro Viana Serra constatou que o
tantes destes autos que ficam fazen- nome constante na Carteira de
do parte integrante do presente jul- identidade não conferia com o que
gado. constava no cheque, pois neste fora
Custas como de lei. omitido o sobrenome «Paula»,
Brasília, 12 de setembro de 1980 recusando-se a efetuar o pagamen-
(data do julgamento) - Ministro to, conforme instruções a respeito.
Peçanha Martins; Presidente e Rela- Dirigiu-se então a denunciada ao
tor. gerente que liberou o pagamento
do vale. Recebido o valor, irritada
RELATORIO com a exigência feita, a acusada
passou a desacatar a funcionária
com palavras obscenas constantes
O Sr. Ministro Peçanha Martins: A do inquérito, lançando uma bolsa
sentença a quo relatou a matéria da contra a cabeça da funcionária
seguinte forma: ofendida.
«Eunice Soares de Oliveira Pau-
la, devidamente qualificada, foi de- Recebida a denúncia, foi a de-
nunciada pelo Ministério Público nunciada interrogada às fls. 36/39,
Federal como incursa nas sanções tendo oferecido defesa prévia às
do art. 331 do Código Penal. fls. 41/44.
TFR - 99 171

Foram ouvidas as testemunhas VOTO


arroladas pelo Ministério Público
Federal, achando-se o depoimento O Sr. Ministro Washington Bolívar
da ofendida, às fls. 51/53, de Fran- de Brito (Revisor): Sr. Presidente:
cisca das Chagas Moreira de Cas- Poderia, pura e simplesmente, con-
tro, à fl. 54, de Maria Salete Silva, firmar a r. sentença e negar provi-
à fI. 55, e de José Raimundo Nona- mento à apelação, para, acolhendo o
to Nascimento, à fI. 56. Ilustrado parecer da Subprocurado-
Na ata de audiência de fI. 50, foi ria-Geral da República, fazer justiça
proferido despacho saneador, desig- à re. A atitude é cômoda, mas não é
nando audiência para ouvida das técnica.
testemunhas de defesa e realização
do debate oral. A absolvição se deu com funda-
Os depoimentos das testemunhas mento no art. 386, inciso VI, do Cód.
Maria Alves Silva e Ariston Cha- de Proc. Penal - isto é, «não existir
gas Apoliano estão, respectivamen- prova suficiente para a condena-
te, às fls. 61/62 e 63 e os debates ção.»
orais às fls. 64 a 66».
Ocorre que a absolvição deveria
Decidindo, o Dr. Juiz Federal jul- dar-se com fundamento no inciso IH,
gou improcedente a denúncia «não do mesmo artigo - «não constituir o
existir prova suficiente para a con- fato infração penal». Ou pelo menos,
denção», (art. 386 do CPP) e decre- não constituir o fato a infração penal
tou a absolvição da acusada. pela qual foi a ré denunciada - de-
Inconformado o Ministério Público sacato.
apelou, com razões de fls. 76/79.
Contra-razões de fls. 85/86. Com efeito, diz o art. 331, do Códi-
go Penal:
Nesta Instância, a douta SUbprocu-
radoria-Geral da República opinou «Art. 331. Desacatar funcionário
pelo improvimento do recurso. público (grifei) no exercício da
É o relatório. função ou em razão dela».
Trata-se de delito inserto no
VOTO Capítulo II, do Título XI - «dos cri-
mes praticados por particular contra
a administração geral».
O Sr. Ministro Peçanha Martins
(Relator): O ilustre Juiz Dr. José de Ora, empregado dos Correios e Te-
Castro Meira, com fundamento no légrafos, que é empresa pública, en-
Art. 386, VI, do Código de Processo tidade de direito privado (Decreto-
Penal, absolveu a acusada por falta Lei n? 200/67, art. 5?, inc. II;
de prova suficiente para a condena- Decreto-Lei n? 509/69, art. I?), não é
ção. funcionário público.
Li os depoimentos e outras peças
dos autos e também não vislumbrei O equívoco talvez advenha do dis-
prova de desacato, mas de discussão posto no art. 327, e seu parágrafo
em termos um tanto acalorados en- único, do Código Penal, que estabele-
tre duas funcionárias. cem:
Na conformidade, pois, do parecer
da Subprocuradoria-Geral da Repú- «Art. 327 Considera-se funcio-
blica, nego provimento ao recurso narlO público, para os efeitos pe-
para confirmar a sentença. nais, quem, embora transitoria-
172 TFR - 99

mente ou sem remuneração, exer- não comete o delito de desacato


ce cargo, emprego ou função públi- (art. 331).» (Ü grifo é do original,
ca». obro e vols. cits., pág.259).
«Parágrafo único - Equipara-se É de Nelson Hungria, mestre inol-
a funcionário público quem exerce vidável do Direito Penal, a lição, de-
cargo, emprego ou função em enti- pois de esclarecer que as entidades
dade paraestatal.» paraestatais são as autarquias:
Acontece que esta é uma disposi- «Cumpre, porém, notar que a
;ão geral do Capítulo antecedente, equiparação é tão-somente para os
que regula os «crimes praticados por efeitos penaiS concernentes aos cri-
funcionário público contra a admi- mes em que o funcionário é sujei-
nistração em geral» (Tit. XI, Capo to ativo (isto é, somente em rela-
I). Não abrange a equiparação os ção aos crimes chamados funcio-
delitos do Capítulo lI, entre os quais nais). Se assim não fosse, o art.
está o desacato, nem tal equiparação 327 teria de figurar como disposi-
compreende o slJjeito passivo do de- ção geral do Tít. XI, e não apenas
lito, mas somente o sujeito ativo, o do respectivo capo 1». «<Comentá-
próprio agente. Por outro lado e ain- rios ao Código Penal», voI. IX,
da que fosse uma definição abran- pág. 401, Forense, 1958, grifos do
gente do sUjeito passivo, como que- original) .
rem alguns tratadistas, entre os
quais Heleno Fragoso (<<Lições de Assim, além de ter sido a discus-
Direito Penal», 1965, IV /1064), so- são, de que teria resultado o preten-
mente estariam nela enquadrados os dido desacato, entre duas emprega-
das entidades paraestatais, isto é, das de uma empresa pública, entida-
das autarquias, que são também de de direito privado, a equiparação
pessoas jurídicas de direito público; jamais poderia servir para investir
jamais das empresas pÚblicas e so- qualquer delas na posição de sujeito
ciedades de economia mista, que são passivo de desacato, pois não são
de direito privado. Esta é, aliás, a li-
funcionárias públicas, para os efei-
ção dos doutos. tos penais, mesmo sob forma equipa-
Comentando o parágrafo único do rada. De notar que ambas são em-
art. 327, diz Magalhães Noronha pregadas da mesma empresa públi-
(<<Direito Penal», voI. 4?, pág. 257,ca. Se ambas fossem funcionárias,
ed. Saraiva, 1971): inexistiria o desacato, porque ambas
representariam a Administração,
«Tem-se em vista aqui órgãos trabalhando no mesmo serviço e sen-
descentralizados da administração do de igual categoria.
pública, dotados de personalidade
jurídica toda própria; refere-se a Por essas considerações, mante-
lei às autarquias» (grifei). nho a absolvição da ré, ora apelada,
mas pelo fundamento do inciso IH do
E mais adiante: art. 386, do Código de Processo Pe-
nal, pois o fato que lhe foi imputado,
«Necessário, entretanto, é obser- evidentemente, não constitui infra-
var que essa equiparação é feita ção penal. De notar que uma coisa é
exclusivamente tendo em vista os absolver-se alguém por não ser a
efeitos penais, quando aqueles em- prova suficiente para a condenação
pregados forem sujeitos ativos do (inciso VI), o que pressupõe, em te-
crime. Dessarte, se alguém v.g., se, a aceitação da existência do deli-
ofender um emprega"do de entidade to, e outra, muito diversa, é a hipóte-
paraestatal, no exercício da função, se de absolvição por ausência de ti-
TFR - 99 173

picidade, isto é, o fato imputado não EXTRATO DA MINUTA


constitui crime, bem mais ampla do
que a anterior. ACr n? 4.163 MA (3.197.670)
Nego provimento à apelação. ReI.:. Sr. Min. Peçanha Martins.
Rev.: Sr. Min. WaShington Bolívar.
VOTO Apte.: Justiça Pública. Apdo.: Euni-
·ce Soares de Oliveira Paula.
o Sr. Ministro Otto Rocha: Sr. Pre-
sidente, data venia, estou de inteiro Decisão: Por unanimidade, negou-
acordo I com o eminente Ministro se provimento ao recurso para
Washington Bolívar, entendendo não confirmar-se a sentença. (Em 12-9-80
caracterizado o crime previsto no -1~ Turma).
art. 331, porquanto o servidor dos
correios e telégrafos não era funcio-
nário público. Os Srs. Ministros WaShington
Bolívar e Otto Rocha votaram de
Isto posto, também nego provi- acordo com o Sr. Min.-Relator. Nâo
mento, com fundamento no Inciso III compareceu, por motivo justificado,
do art. 386, do Código de Processo o Sr. Min. Pereira de Paiva. Presi-
Penal. diu o jUlgamento o Exmo. Sr. Min.
Ê o meu voto. Peçanha Martins.

APELAÇAO CRIMINAL N? 5.394 - RJ


Relator: O Sr. Ministro Antônio Torreâo Braz
Revisor: O Sr. Ministro Adhemar Raymundo
Apelante: Mário Villa Tibabisco
Apelada: Justiça Pública
EMENTA
Direito Penal.
Circulação de moeda falsa (Côd. Penal, art. 289,
§ I?).
Para a configuração do delito, é indispensável
que o agente tenha ciência da falsidade da moeda.
Prova insuficiente neste sentido.
Apelação provida.

ACORDA0 go de Processo Penal, na forma do


relatório e notas taquigráficas cons-
Vistos e relatados os autos, em que tantes dos autos que ficam fazendo
são partes as acima indicadas: parte integrante do presente julgado.
Decide a 3~ Turma do Tribunal Fe- Custas como de lei.
deral de Recursos, por unanimidade,
dar provimento à apelação para re- Brasília, 12 de março de 1982 (data
formar a sentença e absolver o réu do julgamento) - Ministro Carlos
da imputação que lhe foi feita, com Madeira, Presidente Ministro
fundamento no art. 386, VI, do Côdi- Antônio Torreão Braz, Relator.
174 TFR - 99

RELATORIO A Subprocuradoria-Geral da Repú-


blica opinou pelo não provimento do
o Sr. Ministro Antônio Torreão recurso (fls. 139/140).
Braz: O Ministério Público denun- É o relatório.
ciou Mário Villa Tibabisco, de nacio-
nalidade colombiana, como incurso VOTO
no art. 289, § I?, do Código Penal, em
razão do fato delituoso assim descri- O Sr. Ministro Antônio Torreão
to na peça inaugural (fI. 2): Braz (Relator): Senhor Presidente,
«No dia 2 de setembro deste ano, na instrução, a prova consistiu no
o denunciado foi preso no interior depoimento de uma testemunha que
do Hotel Intercontinental, nesta ci- presenciou a apreensão das cédulas
dade, porque tentava passar duas em poder do réu (fls. 72/73). Este,
notas falsas de cem dólares. durante o interrogatório em juízo,
não negou o fato, mas esclareceu
Procedida em seguida a uma que adquirira setecentos (700) dóla-
busca no quarto do hotel em que o res de um desconhecido em Bogotá,
mesmo estava hospedado, na Av. na suposição de serem autênticos, às
Gomes Freire 130, naquele local vésperas da sua viagem de turismo
ainda foram encontradas pelos po- ao Brasil (fls. 58/59).
liciais mais cinco notas falsas de
cem dólares. Para a configuração do crime defi-
nido no art. 289, § I?, do Código Pe-
O denunciado confessou, por oca- nal, é indispensável que o agente te-
sião da prisão em flagrante, que nha consciência da falsidade da
adquiriu as referidas cédulas sa- moeda. Quando a introdução na cir-
bendo que eram falsas, no total de culação se dá em grande escala, o
três mil dólares, tendo conseguido dolo como que se presume, transpa-
trocar no Brasil diversas delas». rece claramente da própria conduta
Interrogado o réu, seu defensor ilícita. O mesmo não ocorre, todavia,
apresentou alegações preliminares quando se trata de porção pouco ex-
(fls. 58/59 e 61), seguindo-se a inqui- pressiva, em atividade isolada de in-
rição de uma testemunha arrolada trodução no meio circulante.
pela acusação (fls. 72/73). A defesa Nesta última hipótese, já não so-
não arrolou testemunhas. bressai o propósito do agente e, en-
Apresentadas as razões finais (fls. tão, a consciência da falsidade há
75v. e 77/83), o Dr. Juiz Federal em de ficar demonstrada de maneira
exercício na 4~ Vara do Rio de Janei- iniludível, por isso que, com o incre-
ro proferiu sentença (fls. 121/122), mento do turismo em âmbito inter-
condenando o acusado a três (3) nacional, a procura de moeda forte
anos de reclusão e multa de quatro no comércio paralelo não constitui
mil cruzeiros, nos termos da capitu- novidade e em suas malhas pode
lação constante da denúncia. envolver-se, involuntariamente, pes-
soa ingênua ou de honorabilidade
Apelou a defesa, argüindo, em pre- acima de qualquer suspeita.
liminar, a nulidade da sentença que
não estaria fundamentada; e, no mé- Pois muito bem. No caso concreto,
rito, postulando a absolvição em fa- não resultou patenteada essa cons-
ce da inexistência de dolo, visto co- ciência da falsidade, ao menos em
mo o apelante acreditava que os dó- termos convincentes. É verdade que
lares eram autênticos (fls. 130/133). as declarações do imputado, no in-
quérito policial, dão a entender que
Contra-razões à fI. 135. ele conhecia a qualidade dos dólares
TFR - 99 175

adquiridos. Esta versão, entretanto, De modo que, diante de uma confis-


ele afastou na fase do contraditório. são prestada na polícia, que não en-
Deste modo, na escolha entre as contra respaldo em qualquer outro
duas peças que se confrontam, ine- elemento de prova, até porque ela
xistindo outra prova em sentido própria se retratou em juízo, invali-
oposto, visto como a única testemu- dando o ato anterior, acompanho o
nha ouvida presenciou tão-somente a eminente Ministro-Relator para,
apreensão das cédulas, eu' dou prefe- diante da dúvida que tenho quanto
rência à última, sem tergiversar. E ao fato incriminado, absolver o réu.
o faço não só por razões óbvias, mas
também como imperativo da presun-
ção de inocência que milita em favor VOTO
do réu.
O Sr. Ministro Flaquer Scartezzlni:
Asseverou a defesa, nas razões de Senhor Presidente, verifica-se pelo
apelação, que em Bogotá, como em relatório do eminente Ministro-
toda Colômbia, «o câmbio é livre, Revisor que, na realidade, não há
sendo vendido nas ruas, nas esqui- elemento capaz de informar a cons-
nas e mesmo nos bares, qualquer ti- ciência, por parte do agente, da prá-
po de moeda estrangeira». 'l'al cir- tica do crime que lhe foi imputado.
cunstância obriga a exigir prova De modo que, como esse crime só é
mais robusta do dolo em crimes des- punido a título de dolo, não há como
sa natureza, em ordem a evitar con- se demonstrar caracterização do
denações injustas, notadamente em mesmo.
se tratando de pessoa jovem que se Acompanho o voto do eminente
supõe inexperiente. Ministro-Relator para absolver o
réu, também, pela ausência de pro-
A vista do exposto, dou provimento va, com base no art. 386, VI, do Có-
à apelação para reformar a sentença digo Penal.
e absolver o apelante da imputação
que lhe é atribuída, com fundamento É o meu voto.
no art. 386, inciso VI, do Código de
Processo Penal. EXTRATO DA MINUTA

VOTO (REVISOR) ACr n~ 5.394 - RJ - ReI.: Sr. Min.


Antônio Torreão Braz. Revisor: O Sr.
Min. Adhemar Raymundo. Apte.:
o Sr. Ministro Adhemar Mário Villa Tibabisco. Apda.: Justi-
Raymundo (Revisor): Senhor Presi- ça Pública.
dente, tinha até me demorado no Decisão: A Turma, por unanimida-
exame da precária fundamentação, de, deu provimento à apelação para
em que o Juiz, com base na prova, reformar a sentença e absolver o réu
segundo diz, condenou o réu e, tam- da imputação que lhe foi feita, com
bém, na alegação da defesa de que fundamento no art. 386, VI, do Códi-
precárias são as razões que levaram go de Processo Penal. (Em 12-3-82 -
o julgador na fixação da pena. Mas, 3~ Turma).
no exame do mérito, como bem
acentua V. Exa., a única testemunha Os Srs. Mins. Adhemar Raymundo
ouvida se reporta apenas ao fato de e Flaquer Scartezzini votaram com o
cientificar como ocorreu a apreen- Relator. Presidiu o julgamento o Sr.
são das cédulas falsas. Mais nada. Min. Carlos Madeira.
176 TFR - 99

APELAÇAO CRIMINAL N? 5.508 - PE


Relator: O Sr. Ministro Fláquer Scartezzini
Revisor: O Sr. Ministro Carlos Madeira
Apelante: Pedro Antônio Flor
Apelada: Justiça Pública
EMENTA
Penal. Descaminho. Comprovação.
- Mercadoria éstrangeira, ante o exame mer-
ceológico,· desacompanhada de documentos hábeis a
comprovar sua legitima introdução no País e maco-
nha plantada e colhida pelo agente, apreendida em
poder do mesmo.
- Assim, ante a existência de infrações autôno-
mas sem conexão entre elas, rejeita-se a preliminar
de nulidade da sentença argüida pelo réu.
- Comprovadas a materialidade, a autoria e an-
tijuridicidade do delito de descaminho, impõe-se a
condenação.
- Diante da não individualização da pena im-
posta ao réu, reduz-se a mesma para 1 ano de reclu-
são, por se tratar de agente primário e de bons ante-
cedentes.
- Apelo parcialmente provido.
ACORDA0 RELA 'J'ÓRIO
Vistos e relatados estes autos em O Sr. Ministro Fláquer Scartezzini:
que são partes as acima indicadas: Adoto o relatório de fls. 73/74 do Dr.
Juiz Federal da 2~ Vara da Seção Ju-
Decide a Terceira Turma do Tri- diciária de Pernambuco, nestes ter-
bunal Federal de Recursos, por una- mos:
nimidade, rejeitar a preliminar de
nulidade do processo; no mérito, ain- «O Ministério Público Federal
da unanimemente, dar parcial provi- denunciou Pedro Antônio Flor, co-
mento à apelação para reduzir a pe- nhecido por Pedrosa e qualificado
na a um (1) ano de reclusão, nos ter- nestes autos pelo fato de, em uma
mos do relatório e notas taquigráfi- diligência policial realizada em
cas anexas que ficam fazendo parte sua residência no Município de Be-
integrante do presente julgado. tânia, terem sido encontrados 38
relógios de marca «Orienb> e de
Custas como de lei. origem estrangeira e que à época
foram avaliados em Cr$ 112.600,00
(cento e doze mil e seiscentos cru-
Brasília, 29 de junho de 1982 (data zeiros). Que o denunciado, em cuja
do julgamento) - Ministro Carlos propriedade rural a Polícia Fede-
Madeira, Presidente Ministro ral houvera comparecido naquela
Fláquer Scartezzini, Relator. diligência para investigar localiza-
TFR - 99 177

ção de plantio de maconha sonalidade, seus antecedentes, a


(cannabls sativa) e que na verdade intensidade do dolo, circunstân-
encontrou naquela fazenda diver- cias, motivos e conseqüências do
sas sacas da referida erva, adqui- crime, aplicar-lhe como pena bási-
riu tais relógios como pagamento ca a de 2 (dois) anos de reclusão,
da parte de um traficante de ma- pena esta que converto em definiti-
conha e por uma partida do mes- va.
mo produto. Que tais relógios se
encontravam desacompanhados de Custas por conta do réu, cujo no-
qualquer documentação e pela sua me deverá ser lançado no rol dos
quantidade autoriza concluir-se culpados.
que se destinavam à comercializa- Deixo de beneficiar o réu com o
ção. sursis e a possibilidade de recorrer
Foi o réu incurso nas penas do em liberdade por não provar nem
art. 334, I? d do CPB. sua primariedade, nem as condi,
O Inquérito Policial nasceu da ções exigidas no art. 57, do CPB.
portaria de fl. 5, vindo aos autos, Expeça-se o competente manda-
na fase policial, «o auto de apre- do de prisão, ficando a Colônia Pe-
sentação e apreensão, o auto de nal de Itamaracá designada para o
qualificação e interrogatório do in- réu cumprir sua pena privativa de
diciado, seu boletim de vida pre- liberdade» .
gressa, o laudo pericial do exame
merceológico, as declarações pres- Inconformado, apelou o réu, ar-
tadas por Fernando Barros de Sou- güindo, preliminarmente, nulidade da
za Ramos, Sulman Pimentel dos decisão por compreender que, na es-
Santos, Édson Marques de Alcân- pécie, havia conexão entre o delito
tara e o relatório da autoridade po- de descaminho e o de tráfico de en-
licial. torpecente previsto na Lei n? 6.368,
A Denúncia foi recebida à fl. 28, pelo qual foi condenado pelo I. Juízo
aos 20-11-79, tendo o réu, após devi- da Comarca de Betânia, Estado de
damente citado, sido interrogado Pernambuco, à pena de três (3) anos
às fls. 37 e 37v. e apresentado sua de reclusão, sendo-lhe concedido o
defesa ~révia. As testemunhas de benefício da prisão-albergue, decisão
acusação, às fls. 42 a 44, enquanto esta já transitada em julgado.
as de defesa o foram às fls. 62 e 63.
Nada se requereu no prazo do art. No mérito, pediU sua absolvição
499 do CPPB. Em suas alegações sob a fundamentação de que a prova
finais, o MPF pede pela condena- testemunhal produzida pela acusa-
ção do réu, enquanto a defesa pede ção é suspeita, porque prestada ex-
sua absolvição com base no art. clusivamente por dois policiais, por-
386, V, do CPPB». tanto, insuficiente para permitir sua
condenação.
Concluiu o ínclito julgador mono-
crático, após examinar as peças Afinal pede, não sendo considera-
existentes nos autos, por condenar o da nula a decisão e não havendo con-
réu, dizendo! verbls: cordância com suas alegações, seja-
«Diante de tais fatos, devida- lhe concedida suspensão condicional
mente comprovados, não, há como da pena, com fundamento no art. 57,
deixar de condenar o réu Pedro incisos I e II do Código Penal, por
Antônio Flor, como condenado o te- ser primário 'ao tempo em que come-
nho, nas penas do art. 334, I?, d, do teu a infração e portador de bons an-
CPB, e assim, atendendo sua per- tecedentes.
178 TFR - 99

Contra-razões foram apresentadas Nenhum elemento existe para in-


pelo representante do Ministério PÚ- formar que tenham sido praticados
blico, afirmando pela mantença da por várias pessoas em concurso, ou
decisão (fls. 94/95). que uma infração tivesse sido prati-
Subiram os autos e, nesta Superior cada para ocultar ou permitir a im-
Instância, manifestou-se a douta punidade de outra, ou vantagem em
Subprocuradoria-Geral da República relação a ela.
pela confirmação da r. sentença de Por último, tratando-se de figuras
primeiro grau. delituosas completamente indepen-
E o relatório. dentes, .uma infração referente a tó-
xico e tráfico interno de entorpecen-
te, outra de infração praticada por
VOTO PRELIMINAR particular contra a administração
geral, mais se constata a inexistên-
cia de nexo entre elas e entre as pro-
O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini: vas, nem a comprovação do crime
Argúi preliminarmente o réu em previsto no art. 12, § I?, II, da Lei n?
suas alegações finais a nulidade da 6.368 (cultivo e colheita de planta
decisão, por compreender que, na destinada à preparação de entorpe-
espécie, havia conexão entre o deli- cente) pelo qual foi condenado o réu,
to de descaminho e o previsto na Lei ora apelante, pelo Juízo de Direito
n? 6.368. da Comarca de Betânia (fls. 86/87),
A conexão ocorre quando há liga- teve qualquer reflexo na dos feitos
ção entre duas ou mais infrações, noticiados nestes autos.
através de um nexo ou de um víncu- A meu ver, autônomas foram as
lo, que torne necessária a junção dos infrações, sem nenhuma conexão en-
processos, para possibilitar maior tre elas.
conhecimento das provas às partes, Contudo, tão-somente para argu-
e fornecer ao juiz maiores condições mentar, ainda que dúvida houvesse
para apreciação dos fatos. sobre inexistência de interligação
O Código de Processo Penal esta- dos fatos delituosos noticiados, nesta
belece nos três itens do artigo 76.' os oportunidade não mais se poderia
casos em que será a competência de- admitir a pretensão do réu, uma vez
terminada pela conexão, em razão que, no processo para apuração dos
das pessoas, da infração penal e da fatos equiparados ao tráfico de en-
prova. torpecente de que foi acusado o ora
Nenhuma das hipóteses se consta- apelante, foi prOferida sentença e se
ta nos presentes autos, onde o réu foi tornou definitiva (fI. 88).
acusado da prática de descaminho Assim, rejeito a preliminar argüi-
por haver sido apreendido em seu da pelo réu.
poder objetos (relógios) alienígenas,
desacompanhados dos documentos
necessários à comprovação de have- VOTO MERITO
rem sido ilegitimamente introduzi-
dos no País. O Sr. Ministro Fláquer Scartezzini:
Na oportunidade apreenderam-se, No mérito, incensurável a r. decisão
outrossim, sacos contendo maconha em reconhecer a responsabilidade
que havia sido plantada e colhida pe- penal do ora apelante.
lo acusado. Com ele foram apreendidos trinta
Não há qualquer ligação entre as e oito relógios, de comprovada ori-
infrações delituosas. gem alienígena, desacompanhados
TFR - 99 179

da documentação fiscal necessária a xada acima do mínimo legal, há que


legitimar sua introdução no ter- ter plenamente justificada a acerba-
rit9rio do país. ção.
O número e a diversificação de Não é suficiente, apenas, que o jUl-
modelos (fls. 13/15) demonstram cla- gador repita as expressões contidas
ramente que se destinavam ao no mandamento legal.
exercício de atividade comercial. O MM. Juiz impôs ao réu pena-
A estória engendrada pelo acusado base acima do mínimo legal,
na ocasião em que foi interrogado limitando-se à invocação genérica
judicialmente, procurando escapar à do artigo 42 da lei penal, aludindo de
responsabilidade do ato ilegal prati- forma vaga à personalidade do réu,
cado, não passou de meras palavras, a seus antecedentes, sem apresentar
sem qualquer sustentáculo nas pro- qualquer justificativa à elevação da
vas trazidas para o bojo dos autos. pena.
Por outro lado, a alegação de que, Não houve, a meu ver, individuali-
com o perdimento da mercadoria zação da pena. Além do que, verifico
alienígena em situação ilegítima, ser o réu primário, e nenhuma in-
apreendida em seu poder, a favor da formação há, sequer, sobre seus an-
União, não houve qualquer prejuízo, tecedentes.
é circustância que em nada altera ou Com estas considerações, reduzo a
elide sua responsabilidade. pena imposta para um ano de reclu-
A injuricidade que levou a efeito são, dando, assim, provimento par-
não está arrolada entre os crimes cial ao apelo do réu.
patrimoniais. Ê o meu voto.
Concretiza-se o delito com a satis-
fação de qualquer das modalidades ADITAMENTO AO VOTO
previstas no mandamento legal (le-
tra d, § I?, art. 334), sendo objeto es- O Sr. Ministro Fláquer Scartezzini:
trangeiro ilegalmente introduzido no Não concedo a suspensão coridicional
país, o que, evidentemente, ocorreu da pena, porque há elementos que
no caso dos autos, conforme se cons- demonstram, positivamente, que ele
tata pela apreensão dos Objetos poderá praticar outros delitos. Por-
alienígenas encontrados em poder do tanto, não atende às determinações
réu, desacompanhados de documen- dispostas no art. 57 do Código Penal.
tação legal, o que se demonstrou no Não concedo a suspensão condicio-
exame pericial e com prova existen- nal da pena.
te no processo.
Ê o meu voto.
Inconteste restou provada a mate-
rialidade, autoria e antijuricidade
praticada pelo réu, o que determina VOTO
seja-lhe imposto decreto condenató-
rio na forma da lei. O Sr. Ministro Carlos Madeira
(Revisor): Na diligência policial le-
Entretanto, ainda que responsável vada a efeito na propriedade do réu,
penalmente, a pena-base que lhe foi foram encontrados, além de sacos
imposta na r. decisão merece ser contendo maconha, 38 relógios es-
modificada. trangeiros que teria'm sido recebidos
Ê entendimento pacífico na doutri- em pagamento, numa venda daquele
na e na jurisprudência, conforme se entorpecente a um terceiro.
tem evidenciado em todos os jUlga- Havia, assim, perfeita conexão
mentos, que a pena-base, quando fi- probatória, nos termos do art. 76,
180 TFR - 99

III, do Código de Processo Penal, o delito se enquadra no disposto


que aconselhava a unidade do pro- na letra d, do § I?, do art. 334, do Có-
cesso. E competente para o julga- digo Penal - adqUirir, receber ou
mento seria o Juiz Federal, tendo ocultar, em proveito próprio ou
em vista a regra do item IV, do art. alheio, mercadoria estrangeira sem
78, do mesmo Código. documentação legal.
Não atendida essa regra de econo- A pena foi, entretanto, acima do
mia processual, resta verificar se há mínimo legal, sem a necessária fun-
a nulidade alegada pelo apelante. damentação, pelO que a reduzo para
um ano, negando, porém, a suspen-
Creio que não. Não se trata de nu- são condicional da pena, em face de
lidade cominada, e o réu não a ar- fatos posteriores já noticiados nos
güiu, quer na defesa prévia, quer autos.
nas alegações finais. Tratando-se de
delitos sujeitos a ritos processuais Dou, assim, parcial provimento à
distintos, sendo de ressaltar-se que, apelação, nos termos acima.
no crime de tóxico, os prazos são
bem reduzidos, havia conveniência EXTRATO DA MINUTA
em ser este· julgado pelo Juiz Esta-
dual, já que não se tratava de tráfico ACr n? 5.508 - PE - ReI.: Min.
internacional, e o de descaminho, pe- Fláquer Scartezzini. Rev. Min. Car-
lo Juiz Federal. los Madeira. Apte.: Pedro Antônio
Flor. Apda.: Justiça Pública.
A argüição de nulidade na apela- Decisão: A Turma, por unanimida-
ção é completamente extemporânea. de, rejeitou a preliminar de p.ulidade
No mérito, tem-se que com o ape- do processo; no mérito, ainda unani-
lante foram encontrados relógios es- memente, deu parcial provimento à
trangeiros sem documentação legal, apelação para reduzir a pena a um
dados inicialmente como recebidos (1) ano de reclusão. (Em 29-6-82 - .
em pagamento de maconha vendida 3~ Turma).
a um terceiro. A retratação em juízo Votaram de acordo com o Relator
de que a mercadoria pertenceria a os Srs. Ministros Carlos Madeira e
um filho que vive fora não ficou Torreão Braz. Presidiu o julgamento
comprovada. o Sr. Min. Carlos Madeira.

APELAÇAO EM MANDADO DE SEGURANÇA N? 79.707 - SP


Relator: O Sr. Ministro Moacir Catunda
Apelante: União Federal
Apelada: Indústria Tapetes Atlântida SI A «IT A»
EMENTA
Processual Civil e Tributário. Mandado de Segu-
rança. Decadência. Importação.
I. Mandado de Segurança. O prazo decadencial
só tem início após a existência de ato completo, ope-
rante e exeqüível, vale dizer, não é o conhecimento
oficioso do ato a ser impugnado que deve dar início
ao prazo para a impetração.
TFR - 99 181

2. Importação. As mercadorias incluídas na


Categoria-Geral não estão sujeitas a licença prévia,
sendo inaplicáveis as sanções do inc. I, do art. 60,
da Lei 3.244/57.
Antecedentes do TFR.
ACORDA0 despacho emanado para sanar a
eventual irregularidade, o que no
Vistos e relatados os autos em que caso presente não ocorreu.
são partes as acima indicadas: De igual forma, não se configu-
Decide a 5~ Turma do Tribunal Fe- rou a decadência do direito à impe-
deral de Recursos, por unanimidade, tração. O impetrante é o titular do
negar provimento ao recurso e à re- direito subjetivo para o qual é soli-
messa ex officio, para manter a de- citada a proteção judicial. O prazo
cisão, na forma do relatório e notas decadencial para amparar seu di-
taquigráficas constantes dos autos reito só tem início após a existên-
que ficam fazendo parte integrante cia de ato completo, operante e
do presente julgado. exeqüível. Como salienta Hely Lo-
Custas como de lei. pes Meirelles, in «Mandado de Se-
gurança e Ação Popular», - Edito-
Brasília, 25 de fevereiro de 1981 ra Revista dos Tribunais - 1965,
(data do julgamento) - Ministro pág.25:
Moacir Catunda, Presidente e Rela-
tor. «Não é, pois, o conhecimento
oficioso do ato ou a sua comuni-
RELATORIO cação direta ao interessado que
O Sr. Ministro Moacir Catunda: deve marcar o início do prazo pa-
Reporto-me ao relatório de fls. 80/81. ra a impetração, mas sim o mo-
mento em que se tornou apto a
Convertido o jUlgamento em dili- produzir os seus efeitos lesivos
gência, preliminarmente, para que a ao impetrante».
impetrante comprovasse no juízo de
origem sua capacidade processual, e No mérito, cuida-se de examinar
cumprida a exigência, subiram os a possibilidade de exigir penalida-
autos. de, por parte da Administração
Pública, pelo embarque de merca-
E:: o relatório. dorias relacionadas em um único
documento cambial e amparadas
VOTO por guias de importação já venci-
das.
O Sr. Ministro Moacir Catunda: A
sentença apelada julgou a espécie Na verdade, não há expressa
com estas razões: proibição de modo a configurar
«Rejeito as preliminares suscita- fraude cambial a hipótese ora sub
das pela douta Procuradoria da judice. A interpretação extensiva é
República. vedada para casos de imposição de
penalidade; o principio nullum cri-
No tocante à incapacidade pro- men nulla poena sine lege é aplicá-
cessual, a impetrante está legal- vel também no campo tributário.
mente representada por advogado
com procuração devidamente for- Dessa forma, não é licito à Ad-
malizada. Além disso, a sanção ministração, sponte propria, impor
prevista no artigo 13 é a aplicável sanções sem a anterior previsão le-
à hipótese do não cumprimento do gal.
182 TFR - 99

Isto posto, concedo a segurança. rança n? 58.239 (DJ de 17 de junho


Sujeitando-se esta decisão ao du- de 1969, pág. 2.644) do qual foi Rela-
plo grau de jurisdição, subam os tor o Ministro Godoy Ilha:
autos, oportunamente, ao Egrégio «As mercadorias incluídas na
Tribunal Federal de Recursos. Categoria-Geral não estão sujei-
Custas ex lege. tas a licença prévia, sendo inapli-
cáveis as sanções do inciso I do
Feita a transcrição da sentença, art. 60, da Lei n? 3.244/57».
resolvo:
2?) Donde conclui-se que:
1?) Julgar sem objeto a preliminar
de insuficiência de representação, a) A impetrante, autuada, não
face ao resultado da diligência que teve nenhuma responsabilidade
comprovou possuir o advogado sig- quanto ao fato de a Exportadora
natário do pedido, poderes bastantes ter feito embarcar as mercadorias
para representar a impetrante; num mesmo conhecimento.
2?) declarar sem procedência a b) Sendo as mercadorias impor-
alegação de decadência, pelas ra- tadas, agrupadas na Categoria-Ge-
zões mesmas da sentença, com as ral, estavam dispensadas, natu-
quais estou de acordo, e ralmenteda licença prévia.
3?) confirmar a sentença, no méri- c) Não havendo nenhuma impug-
to, visto que suas razões de julgar nação dos valores dos bens impor-
coincidem, no substancial, com a ju- tados, não há que se falar em infra-
risprudência do Tribunal citada e ção cambial e, conseqüentemente é
transcrita na petição vestibular, desprovido de estribo legal o alega-
verbls: do no Auto de Infração, quando
diz: «da maneira como foram im-
«20. Por outro lado, o Tribunal portadas, as partes e peças de re-
Federal de Recursos já decidiu posição, estavam sujeitas a emis-
que «o fisco não pode aplicar a são de Guia de Importação previa-
multa cambial de 100% sobre o va- mente ao seu embarque no exte-
lor da mercadoria, no caso de mer- rior, mas como isso não ocorreu,
cadorias da categoria - geral im- ficou caracterizada uma importa-
portada - sem licença prévia.» ção não licenciada, tornando-se a
21. A sentença do TFR afirma importadora passível da multa
também que «a multa cambial prevista no art. 60, item I da Lei n?
aplicada pelos Orgãos aduaneiros 3.244/57.»
c~m por cento sobre o valor da
Ademais, a importação estava
mercadoria --e ilegal porque a ex- acobertada por guias, posto que ven-
tinção da sobretaxa sobre a Cate- cidas, consoante as informações.
goria-Geral ditada pela Resolução
n? 9 do Banco do Brasil tornou ina- Estando de acordo com as razões
plicável o artigo da lei que insti- da sentença, nego provimento aos
tuiu a multa. «(Agravo em Manda- recursos, para manter a decisão re-
do de Segurança n? 71.227, por una- corrida.
nimidade de votos, tendo sido Re-
lator o Ministro Jarbas Nobre da EXTRATO DA MINUTA
2? Turma».
E noutro trecho: AMS n? 79.707 - SP - ReI.: Min.
«23. Ratificando tudo o que aci- Moacir Catunda. Apte.: União Fede-
ma foi dito, transcrevemos o Acór- ral. Apda.: Indústria Tapetes Atlân-
dão proferido no Mandado de Segu- tida S.A. - ITA.
TFR - 99 183

Decisão: Por unanimidade, negou- Os Srs. Mins. Justino Ribeiro e Se-


se provimento ao recurso e à remes- bastião Reis votaram com o Rela-
sa ex officio, para manter a decisão. tor. PresidiU o julgamento o Exmo.
(Em 25-2-81 - 5? Turma). Sr. Ministro Moacir Catunda.

MANDADO DE SEGURANÇA N? 89.257 - DF


Relator: O Sr. Ministro Washington Bolívar de Brito
Requerente: Laborterápica Bristol SI A
Requerido: Exmo. Sr. Ministro de Estado da Fazenda
EMENTA.
Tributário. Importação. Equipamentos destina-
dos à Pesquisa Científica. Pena de perdimento. Se-
gurança ~oncedida.
1) Assim como no direito penal, no tributário
também domina o princípio da legalidade, somente
sendo punível o fato típico, isto é, se a infração cor-
responder ao descrito no preceito legal.
2) Se os equipamentos importados não estavam
expostos à venda, nem depositados ou em circulação
comercial no País, mas cumprindo destinação de
pesquisa científica no Laboratório da impetrante, a
hipótese não se enquadra na legislação pertinente'à
pena de perdimento (Dec-Lei 1.445/76, art. 23, inc.
IV; Dec-Lei 37/66, art. 105, inc. X), embora sUjeita a
importação irregular aos tributos devidos e multa.
3) Segurança concedida.
ACORDA0 impetrou mandado de segurança
contra ato do Exmo Sr. Ministro da
Vistos e relatados os autos em que Fazenda que decretou a pena de per-
são partes as acima indicadas. dimento de vários eqUipamentos
Decide o Plenário do Tribunal Fe- científicos, que se encontravam no
deral de Recursos, por unanimidade, seu Laboratório de Metabolismo e
deferir o mandado de segurança, na Farmacocinética, apreendidos sob a
forma do relatório e notas taquigrá- alegação de que teriam ingressado no
ficas constantes dos autos que ficam País de maneira irregular, apreen-
fazendo parte integrante do presente são que se deu no dia 9 de novembro
julgado. de 1978, por agentes da Polícia Fede-
ral em São Paulo.
Brasília, 4 de setembro de 1980
<Data do julgamento.) Ministro Em 14 de março de 1979, os agen-
José Néri da Silveira, Pres~dente - tes da Receita !<'ederal formaliza-
Ministro Washington Bol1var de ram a apreensão desses equipamen-
Brito, Relator. tos, com fundamento nos arts. 23, in-
ciso IV, e 25, do Decreto-Lei n? 1.455,
RELATORIO de 7 de abril de 1976, combinadps
com o art. 105, inc. X, do Decreto-Lei
o Sr. Ministro WaShington Bolívar n~ 37/66. Na mesma data, lavrou-se
de Brito: Laboherápica Bristol SI A. auto de infração, exigindo-se a multa
184 TFR - 99

administrativa no valor de Cr$ d) a inconstitucionalidade da pena


1.177.445,00 - correspondente a 100% de perdimento, no caso, por se tratar
do valor da mercadoria. prevista no de eqUipamento científico, se confi-
art. 169 do Decreto-Lei n? 37/66, com guraria por contrariar o§ 23 do art.
a redação dada pela Lei n? 6.562, de 153 da Constituição - pois a apreen-
18 de setembro de 1978. são cerceia o livre exercício profis-
Aberto o inquérito policial, por for- sional, tendo em vista que esses bens
ça da mencionada apreensão, a im- serão empregados em pesquisas
petrante recolheu os tributos inci- científicas (fls. 1 a 14).
dentes sobre os equipamentos, moti- Esclarece que j amais teve a in-
vando a extinção da punibilidade dos tenção de lesar ao Erário, com-
envolvidos, decretada pelo titular da provando-o com o pagamento
3~ Vara da Justiça Federal em São dos tributos devidos e declara que
Paulo. não se furta a pagar a multa que lhe
Paralelamente, nos processos ad- foi imposta, uma vez que aguarda,
ministrativos decorrentes dos autos apenas, a autorização do Fisco para
de apreensão e infração, a impetran- recolhê-la.
te se propôs-a efetuar o recolhimento Juntou documentos.
da multa imposta, com a conseqüen-
te liberação das mercadorias. Entre- Por entender presentes os seus
tanto, foi surpreendida com a publi- pressupostos, concedi a medida limi-
cação no Diário Oficial do Estado de nar, suspendendo a execução do ato
São Paulo do dia 11 de dezembro de impugnado (fI. 38).
1979, de edital em que dava notícia
de que a autoridade apontada como Em suas informaçôes, a digna au-
coatora decretara a pena de perdi- toridade inquinada de coatora escla-
mento dos bens, com fundamento no receu (fls. 41/52) que a apreensão se
parágrafo único do art. 23 do dera porque os bens eram de proce-
Decreto-Lei n? 1.455/76. dência estrangeira, não tendo a im-
petrante provado sua importação re-
Entende que esse procedimento fe- gular. Instaurados os dois procedi-
re direito líquidO e certo seu, reme- mentos - o policial e o administrati-
diável por mandado de segurança, vo fiscal, o funcionário da impetran-
ante a ameaça iminente de aliena- te, Dr. José Ximenes, ante o depósi-
ção dos equipament9s, por força do to efetuado na Caixa Econômica, à
.
disposto no Decreto-Lei n? 1.455/76.
Funda-se a impetração nas seguin-
ordem do Juízo, viu extinta Slla puni-
bilidade no primeiro deles; no admi-
tes alegaçôes: nistrativo fiscal, a impetrante reco-
nheceu seu comportamento faltoso
a) ilegalldade da imposição de du- pela inexistência de comprovantes
pla penalidade - a pena de perdi- de importação regular, alegando, en-
mento e a multa; tretanto, boa-fé; tal alegação, toda-
b) ainda que admitida a imposição via, e inverossímel, já que se trata
de duas penas para a mesma infra- de uma empresa multinacional, con-
ção, a hipótese dos autos não se en- trolada pela Bristol-Myers Company,
quadraria na definição dada pelo com departamento próprio para cui-
dispositivo pretensamente infringido; dar de suas importações, que são
constantes.
CJ a inconstitucionalidade da pena
de perdimento, tal como prevista no Juridicamente, também não lhe
Decreto-Lei n? 1.455/76, verdadeiro assiste razão: quanto à pena de per-
confisco; vedado pelo art. 153, § 11, dimento de bens, sua constitucionali-
da Lei Fundamental. dade j á ficou estabelecida por este
TFR - 99 185

Tribunal no MS n? 81.313-DF, de que c) mesmo que admitida a imposi-


foi Relator o Sr. Ministro José Dan- ção de duas penas para a mesma in-
tas. fração, a hipótese dos autos não se
Por outro lado, para a aplicação de enquadraria na definição dada pelo
qualquer penalidade em decorrência dispOSitivo pretensamente infringido;
de descumprimento de obrigação tri- d) inconstitucionalidade da pena
butária, despiciendo é o elemento de perdimento, no caso, por se tratar
subjetivo - dolo ou culpa - pois a de eqUipamentos de pesquisa, neces-
responsabilidade é objetiva, como sários ao livre exercício profissional
assente na legislação, doutrina e ju- da impetrante.
risprudência. Além disso, distintas as Quanto à inconstitucionalidade da
instãncias administrativa e penaL pena de perdimento de bens, previs-
Cita precedentes desta Corte. As ta no parágrafo único do art. 23 do
sanções pecuniárias foram aplicadas Decreto-Lei n? 1.455/76, este Tribu-
em decorrência de infrações distin- nal, a partir do MS n? 81.313, de que
tas: a muIta de 100% sobre o valor foi Relator o eminente Ministro José
da mercadoria, decorre do fato da Dantas (RTFR 57/3), firmou seu en-
importação dela sem gUia de impor- tendimento no sentido da constitucio-
tação ou documento equivalente, en- nalidade dessa pena, confrontando a
quanto que a de perdimento foi pela inteligência dos dispOSitivos da legis-
infringência de fazer importação re- lação ordinária pertinente com a do
gular. Em conseqüência, não assiste art. 153, § 11, segunda parte, da
à impetrante qualquer direito à de- Constituição Federal. Já são inúme-
volução da mercadoria apreendida. ras as decisões desta Corte, na estei-
A ilustrada Subprocuradoria-Geral ra daquele julgamento, motivo pelo
da República, em parecer firmado qual, a elas me reportando, me dis-
pelo Dr. Nélson Parucker, aprovado penso de tecer quaisquer outras con-
pelo Dr. Geraldo Fonteles (fls. siderações, para rejeitar o argumen-
54/56), opina pela denegação da se- to.
gurança. Quanto à alegação de ilegalidade
Ê o relatório. da imposição de dupla penalidade -
a pena de perdimento e a multa -
VOTO «pela mesma infração» , no dizer da
impetrante, tenho que lhe deu res-
O Sr. Ministro Washington Bolívar posta convincente a argumentação
de Brito (Relator); Muito embora as constante do parecer lavrado pelo
bem elaboradas informações da au- Dr. Lindenberg da Mota Silveira,
toridade tida como coatora somente Coordenador da Defesa da Fazenda
hajam reconhecido dois fundamentos Nacional, aprovado pelo Procurador-
na impetração, conforme verifiquei Geral da Fazenda Nacional em
pelo exame da petição inicial e exc exercício, Dr. Wagner Pires de Oli-
pus no relatório, o mandado de segu- veira, e adotado, como informações,
rança se embasa em quatro, que su- pelo impetrado.
mariamente recordo, em ordem a Com efeito, contra-argumentou-se
facilitar a argumentação: que não se trata da mesma infração,
a) inconstitucionálidade da pena mas, ao revés, de infrações distintas
de perdimento, prevista no Decreto- e, por isso mesmo, punidas com san-
Lei n? 1.455/76; ções pecuniárias diversas:
b) ilegalidade da imposição de du- - a multa de 100% é imposta co-
pla penalidade - a pena de perdi- mo penalidade pela importação de
mento e a multa; mercadoria.
186 TFR - 99

«sem guia de importação ou do- tro o fato punido é o fato típico, isto
cumento equivalente, que implique é, que corresponda a uma disposição
a falta de depósito ou a falta de pa- legal, com exatidão.
gamento de quaisquer ônus finan- Ora, no caso dos autos, trata-se,
ceiros ou cambiais», nos termos da sem sombra de dúvida, de equipa-
Lei n? 6.562/78, que deu nova reda- mentos científicos,' de uso necessário
ção ao art. 169 do Decreto-Lei n? à impetrante, tanto que se encontra~
37/66; va'ffi no seu Laboratório de Pesquisas.
- a pena de perdimento - estabe- Não estavam expostos à venda, nem
lecida no parágrafo único do art. 23 meramente depositados, para serem
do Decreto-Lei n? 1.455 - tem como vendidos posteriormente, nem se en-
pressuposto o dano ao Erário decor- contravam em circulação comercial
rente das infrações que o menciona- no país.
do artigo enumera. Aliás, renomados cientistas brasi-
Impressionaram-me, entretanto, o leiros declararam que tais equipa-
terceiro e o quarto argumentos. mentos, fora do laboratório, o instru-
Diz a impetante que, mesmo admi- mental apreendido não teria qual-
tida a imposição de duas penas cu- quer utilidade.
mulativamente - a multa e o perdi- Disse o Professor José Carlos Bar-
mento - a hipótese dos autos não bério, da Faculdade de Ciências Far-
se enquadraria na definição dada pe- macêuticas da Universidade de São
lo dispositivo pretensamente infrin- Paulo:
gido, o art. 23, inciso IV, do Decreto-
Lei n? 1.455, que estabelece: «uma indústria farmacêutica,
qualquer que seja ela, ao adquirir
«Art. 23 - Consideram-se da- equipamentos do tipo dos constan-
no ao Erário as infrações relativas tes da lista, não pode ter outro ob-
às mercadorias: jetivo em vista, se não o de equi-
par seus laboratórios de pesquisas.
Pois, fora desses laboratórios, con-
IV - enquadradas nas hipóteses fesso, não lhes vejo nenhuma outra
previstas· nas alíneas a e b do pa- utilidade» (fI. 32). E mais adiante
rágrafo único do artigo 104 e nos (fI. 33):
incisos I a XIX do artigo 105 do
Decreto-Lei n? 37, de 18 de novem- <mão consigo enxergar, nas li-
bro de 1966.» nhas de produção de uma indústria
farmacêutica, equipamentos que
Deu-se como infringido o art. 105, não sejam as clássicas máquinas
inciso X, do Decreto-Lei n? 37/66, que para comprimidos, drageadoras,
reza: ferramentadores, concentradores,.
conjuntos para dipodermia, esteri-
«Art. 105 - Aplica-se a pena de lizadores, máquinas para embalar
perda da mercadoria: e acondicionar.
Por isso, a presença de instru-
X - estrangeira, exposta à ven- mentais do tipo do importado, como
da, depositada ou em circulação sejam, Medidor de pH, Fluoríme-
comercial, no país, se não for feita tro, Enzimógrafo, Cromatógrafo
prova de sua importação regular.» líquido e Espectrofotômetro, de-
monstra, na verdade, a existência
Assim como no direito penal, no de área destinada à pesquisa e evi-
tributário também domina o dencia claramente a intenção e os
princípio da legalidade. Num e nou- propósitos dessa pesquisa, quando
TFR - 99 187

alinha entre os equipamentos, um constituir o ato administrativo de


Cintilador líquido, para detecção perdimento, por falta de motivo, de-
de partículas beta.» terminando a liberação do eqUipa-
E o Professor Luiz Trabulsl, titu- mento apreendido, desde que pagos
lar do Departamento de Microbiolo- todos os tributos devidos por sua im-
gia, Imunologia e Parasltologla da portação regular, e multa, como pe-
Escola Paulista de Medicina, tam- nalidade pela infração já cometida.
bém atestou que o Departamento de Ê o meu voto.
Pesquisas da Impetrante, sob a dire-
ção do Dr. José Xlmenes, vem dando
àquela Escola colaboração do mais VOTO VISTA
alto nível, pelo fornecimento, desin-
teressadamente, de matéria-prima e O Sr. Ministro Carlos Mário
reagentes de difícil obtenção, entre Velloso: Leio o relatório elaborado
muitos outros que enumera, todos de pelo eminente Ministro W. Bolívar,
importância fundamental para as te- Relator (lê).
ses de Mestrado e de Doutorado (fI. No seu voto, o eminente Ministro-
35). Relator rejeitou a alegação de in-
Casa-se esse argumento da impe- constitucionalidade da pena de per-
trante com o da inconstitucionalida- dimento de bens, prevista no pará-
de da atitude de decretação do perdi- grafo único do art. 23 do Decreto-Lei
mento de equipamentos indispensá- n? 1.455/76, invocando jurisprudênéia
veis ao livre exercício profissional, deste Egrégio Plenário, a partir do
no caso, o desenvolvimento das pes- MS 81.313, relator o Sr. Ministro José
quisas, a cargo do seu Laboratório Dantas (RTF R 57/3). Rejeitou, ou-
de Metabolismo de Drogas e Farma- trossim, a alegação de ilegalidade
cocinética, infringindo a garantia da imposição de dupla penalidade -
prevista no art. 153, § 23, da Carta a pena de perdimento e a multa - já
Magna. que ocorreriam., no caso, duas infra-
ções (Decreto-Lei n? 37/66, art. 169,
Ora, desde que não se trata de com a redação da Lei n? 6.562/78;
mercadoria de importação proibida, Decreto-Lein? 1.455/76, art. 23, pará-
mas, ao revés, necessária ao desen- grafo único). Todavia, entendeu S.
volvimento tecnológico e científico Exa. q!l~ a hipótese dos autos não se
do ramo farmacêutico no País, não enquadraria na definição dada pelo
vislumbro dano ao Erário com o pa- dispositivo que se diz infringido, o
gamento, já efetuado, dos impostos art. 23, IV, do Decreto-Lei n? 1.455/76,
devidos e seus gr3vames e o que ain- c.c. art. 105, X, do Decreto-Lei 37/66.
da se dispõe a fazer a impetrante, is- Ê que, no caso, «trata-se, sem som-
to é, o pagamento da multa de 100% bra de dúvida, de equipamentos
do seu valor (fls. 9/10). Prejuízo científicos, de uso necessário à impe-
maior, talvez, será a ida a leilão de trante, tanto que se encontravam no
tais eqUipamentos, que têm mercado seu Laboratório de Pesquisas» e que
restrito e, com isto, pela lei da ofer- «não estavam expostos à venda, nem
ta e da procura, eventual aviltamen- meramente depositados, para serem
to de preço que não chegue, sequer, vendidos posteriormente, nem se en-
a cobrir o valor da multa que a im- contravam em circulação comercial
petrante, desde logo, se dispõe a pa- no país.» Depois de invocar o depoi-
gar, para ver liberado o equipamen- mento de dois cientistas, concluiu o
to. eminente Ministro-Relator:
Por todas essas considerações, de- «Ora, desde que não se trata de
firo o pedido de segurança, para des- mercadoria de importação proibi-
188 TFR - 99

da, mas, ao revés, necesárla ao de- perda da mercadoria (Decreto-Lei


senvolvimento tecnológico e n? 1.455/76, art. 23, IV, parágrafo
científico do ramo farmacêutico no único; Decreto-Lei n? 37, de 1966,
País, não vislumbro dano ao Erá- art. 105, X), ou de tornar possível a
rio com o pagamento, já efetuado, liberação da mercadoria, tendo em
dos impostos devidos e seus grava- vista a revogação do art. 5? do
mes e o que ainda se dispõe a fazer Decreto-Lei n? 399, de 1968, pelo art.
a Impetrante, isto é, o pagamento 41 do Decreto-Lei n? 1. 455/76, mes-
da multa de 100% do seu valor (fls. mo porque não é causa excludente
9/10). Prejuízo maior, talvez, será da responsabilidade civil a decisão
a ida a leilão de tais equipamentos, que julga extinta a punibilidade
que têm mercado restrito e, com (Cód. de Processo Penal, art. 67,
isto, pela lei da oferta e da procu- m.
ra, eventual aviltamento de preço,
que não chegue, sequer, a cobrir o II - Autonomia das instâncias
valor da multa que a impetrante, cível e penal, ou reconhecimento cio
desde logo, se dispõe a pagar, para caráter autonômico da responsabi-
ver liberado o equipamento. lidade civil e penal (Cód. Civil, art.
1.525; Cód. de Processo Penal, art.
Por todas essas considerações, 66),
defiro o pedido de segurança, para
desconstituir o ato administrativo III - Quanto às mercadorias cu-
de perdimento, por falta de moti- ja aquisição foi legítima, não se
vo, determinando a liberação do justifica a pena de perda.
equipamento apreendido, desde
que pagos todos os tributos devidos IV - Segurança deferida, par-
por sua importação regular, emul- cialmente.».
ta, como penalidade pela infração Reitero o entendimento manifesta-
já cometida.» do no voto que proferi por ocasião de
Pedi vista dos autos e os trago, a julgamento do citado MS 86.159-DF.
fim de retomarmos o julgamento.
No MS n? 86.159-DF, de que fui re- No caso, todavia, a situação não é
lator, esta Egrégia Corte decidiu: idêntica à que foi examinada e deci-
«Tributário. Importação. Pena dida no MS 86.159-DF.
de Perda da Mercadoria. Decreto- O eminente Ministro-Relator, no
Lei n? 1.455, de 1976, art. 23, IV, pa- seu voto, não defere a segurança ao
rágrafo único; Decreto-Lei n? 37, de argumento de terem sido pagos os
1966, art. 105, X; pagamento de tri- tributos, na instância criminal, para
butos com a finalidade de extinção o efeito de extinção da punibilidade.
da punibilidade (Decreto-Lei n?
157, de 1967, art. 18, § 2?; Súmula O argumento de S. Exa. é no senti-
n? 560, do STF). Responsabilidade do de que, no caso, não teria ocorri-
Civil e Responsabilidade Criminal: do o fato típico imponível: os bens
Autonomia. Código Civil, art. 1.525; «não estavam expostos à venda, nem
Código de Processo Penal, arts. 66 meramente depositados, para serem
e 67. vendidos posteriormente, nem se en-
I - O pagamento dos tributos e contravam em circulação comercial
demais gravames, com a finalida- no país.» A hipótese de incidência,
de de ser obtida a extinção da pu- pois, descrita, em abstrato, no art.
nibilidade no crime de descaminho 105, X, do DecretO-Lei n? 37, de 1966,
(Decreto-Lein? 157, de 1967, art. 18, não se realizara, em concreto:os
§ 2?; Súmula n? 560, do STF), não eqUipamentos científicos foram
tem o condão de elidir a pena de apreendidos dentro do laboratório de
TFR - 99 189

pesquisas da impetrante, certo que Reqte.: Laborterápica Bristol SI A.


ali se encontravam cumprindo a sua Reqdo.: Exmo. Sr. Ministro de Esta-
finalidade. do da Fazenda.
Concordo com o entendimento do Decisão: O Tribunal Federal de
eminente Ministro-Relator. Recursos, em Sessão Plena, por una-
A infração fiscal, no caso, nimidade, deferiu o mandado de se-
acomoda-se, simplesmente, na hipó- gurança. (Em'4-9-80 - T. Pleno).
tese inscrita no art. 169 do Decreto- Os Srs. Mins. Torreão Braz, Carlos
Lei n? 37/66, com a redação da Lei Mário Velloso, William Patterson,
n? 6.562/78. Romildo Bueno de Souza, Hermillo
Desde que pagos todos os tributos Galant, 'Pereira de Paiva, Sebastião
incidentes sobre a importação e a Reis, Miguel Jerônymo Ferrante,
multa de 100% do valor da mercado- Pedro Acioli, Antônio de Pádua Ri-
ria - o que se dispõe a fazer a impe- beiro, Armando Rollemberg, Moacir
trante - pode o equipamento ser li- Catunda, Aldir G. Passarinho, José
berado. Dantas, Lauro Leitão e Carlos Ma-
deira votaram com o Relator. Não
Dou minha adesão ao douto voto do participaram do julgamento os Srs.
eminente Ministro-Relator. Mins. Otto Rocha, Wilson Gonçalves,
Adhemar Raymundo, José Cândido,
EXTRATO DA MINUTA Américo Luz, Jarbas Nobre, Peça-
nha Martins, Gueiros Leite e Justino
MS n~ 89.257 -DF - ReI.: Minis- Ribeiro. Presidiu o julgamento o Sr.
tro Washington Bolívar de Brito. Ministro José Néri da Silveira.

REMESSA EX OFFICIO N? 89.379 - SP


Relator: O Sr. Ministro Fláquer Scartezzini
,Remetente: Juízo Federal da 9? Vara
Partes: Valdemar Pereira e Conselho Regional de Farmácia do Estado
de São Paulo
EMENTA
Administrativo. Conselho Regional de Farmácia.
Provisionamento.
- Comprovado documentalmente que o prático
farmacêutico preenche todos os requisitos exigidos
no art. 57 da Lei n? 5.991/73, regulamentada pelo
Dec. 74.170/74, art. 59, faz jus ao reconhecimento de
seu provisionamento.
- Sentença mantida.

ACORDA0 nimidade, connecer da remessa e


confirmar a sentença, na forma do
Vistos e relatados estes autos, em relatório e notas taquigráficas ane-
que 'são partes as acima indicadas: xas que ficam fazendo parte inte-
Decide a Terceira Turma do Tri- grante do presente julgado.
bunal Federal de Recursos, por una- Custas como de lei.
190 TFR - 99

Brasília, 16 de março de 1982 (data física, e não à sua farmácia. As-


do julgamento) - Ministro Carlos sim, sendo arbitrário o ato impug-
Madeira, Presidente Ministro nado, requer o presente
Fláquer Scartezzini, Relator. mandamus, objetivando a sua anu-
lação, pleiteando ainda a Medida
RELATORIO Liminar.
o Sr. Ministro Fláquer Scartezzini: Procuração e documentos a fls.
Trata-se de Mandado de Segurança, 6/41.
cujo relatório, da lavra do Dr. Juiz
Federal da Seção Judiciária de São
Paulo, assim se lê, verbis. (fls. 2. Informações: O impetrante foi
55/57) . provisionado, na forma do art. 57
da Lei n? 5.991/73, para assumir a
«Valdemar Pereira, qualificado responsabilidade técnica da Far-
no pedido inicial e devidamente re- mácia São Vicente, de sua proprie-
presentado na forma da lei, impe- dade. Tendo requerido e obtido bai-
tra Mandado de Segurança, com xa de sua responsabilidade técnica
medida liminar, contra ato do Sr. por aquela farmácia, não tem di-
Presidente do Conselho Regional reito de convalescer o seu registro.
de Farmácia do Estado de São O senso de continuidade de traba-
Paulo, pelos seguintes fundamen- lho é a base para autorizar a provi-
tos: são. No momento em que o provi-
1. O impetrante obteve seu provi- sionado pede baixa de sua respon-
sionamento, nos termos da lei, sabilidade, evidencia o propósito
habilitando-se a assumir a respon- de se ter desinteressado pelo favor
sabilidade técnica para' farmácia da lei. O art. 57 da citada lei não
da sua propriedade ou co- eqUipara o provisionado ao farma-
propriedade. Pelo que exerceu a cêutico. O provisionado, com apoio
responsabilidade técnica da Far- no art. 57 citado, não pode convali-
mácia São Vicente, de sua proprie- dar seu registro, porque desapare-
dade, estabelecidá na rua Itapicu- ce a característica básica do inten-
ru n? 887, nesta Capital. No início to legal: assegura ao beneficiário
do corrente ano de 1979, requereu e continuidade no trabalho. O art. 57
obteve baixa de sua responsabili- só permite o provisionamento para
dade por aquela farmácia. Em 31 aquele que fosse proprietário ou
de maio de 1979, adquiriu a Far- co-proprietário de farmácia em no-
mácia Droga Rama Ltda, passan- vembro de 1960, isto é, da Farmá-
do a ser sócio majoritário. Subme- cia São Vicente e não da Farmácia
teu a alteração contratual ao visto Droga Rama Ltda, porque dela não
prévio da autarquia impetrada. era proprietário ou co-proprietário
Esta, inexplicavelmente, indeferiu em 11-11-60. Não pode o benefício
a alteração contratual, o que não é concedido especificamente para
de sua competência. Foi informado exercício de responsabilidade de
de que, tendo sido provisionado pa- uma farmácia ser entendido para
ra a Farmácia São Vicente, não todo o país. Isto seria eqUiparação
poderia transferir a sua responsa- ao farmacêutico. Cita e comenta
bilidade técnica daquela farmácia legislação pertinente ao caso. Não
para outra. Inaceitável esta afir- cabe, pois, ao impetrante o favor
mação da autoridade impetrada, da nova responsabilidade pretendi-
conforme Parecer do Professor da, por falta de amparo legal. Pelo
Moacyr Amaral Santos. O provisio- que espera seja denegada a Segu-
namento foi conferido à sua pessoa rança.
TFR - 99 191

3. A douta Subprocuradoria da Fica esta decisão sujeita ao du-


República opina pela concessão da plo grau de jurisdição.
Segurança.
Custas na forma da lei.
Em seguida, entendeu que o art. 14
da Lei n? 3.820 de 11-11-60, estendeu Sem recurso voluntário, subiram
a todos os integrantes dos diversos os autos e, nesta Superior Instância,
Quadros, e nestes se encontram os a douta SUbprocuradorla-Geral da
farmacêuticos provisionados, a prer- República opina pelo prosseguimen-
rogativa do exercício profissional em to do feito, sem prejuízo de manifes-
todo o território nacional. tação posterior.
E assim, neste mesmo entender, E o relatório.
diz:
«1. Conclui-se destas considera-
ções que a prerrogativa do VOTO
exercício profissional é concedida
(como não podia deixar de ser) no
plano pessoal, não no plano real ou O Sr. Ministro Fláquer Scartezzini:
local. A profissão se relaciona com Sr. Presidente, diz o art. 57, da Lei
o indivíduo que a exerce e não com n? 5.991/73, verbis:
o local ou estabelecimento em que «Os práticos e oficiais de farmá-
se exerceu. cia, na forma da lei, que estiverem
em plena atividade e provarem
2. Provisionado que tenha sido, manter a propriedade ou co-
tal qualidade se aderiu à pessoa, propriedade de farmácia em 11 de
que a podia carregar por todo o novembro de 1960, serão provisio-
país, e não ao estabelecimento co- nados pelO Conselho Federal e Con-
mercial, entendido este como cor- selhos Regionais de Farmácia pa-
poralidade material de meios para ra assumir a responsabilidade téc-
exercício pessoal da profissão. nica do estabelecimento.»
3. Ora, no caso presente não se Foi o supracitado diploma legal
discute quanto às condições de ca- (Lei n? 5.991/73) regulamentado pelo
pacidade profissional. Decreto n? 74.170/74, o qual, em seu
artigo 59, disciplinou os elementos
O que pretende a autoridade im- necessários à comprovação, estabe-
petrada é que o impetrante não lecendo:
possa jamais se desvincular do es-
tabelecimento em que vinha exer- «Art. 59: Para o provisionamento
cendo sua profissão, sob pena de de que trata o artigo 57 da Lei n?
perder a qualificação profissional. 5.991/73, de 17 de dezembro de
Ora, este simples enunciado revela 1973, deverá o interessado satisfa-
a pretensão da AutarqUia impetra- zer os seguintes requiSitos, me-
da de destruir a liberdade do diante petição dirigida ao Conselho
exercício profissional.» Regional de Farmácia:
I - Provar que é prático de far-
Com esta linha de pensamento, mácia ou oficial de farmácia, por
conclui: meio de título legalmente expedido
«Por estes fundamentos e por tu- até 19 de dezembro de 1973;
do o mais que dos autos consta, II - Estar em plena atividade
concedo a segurança, para decre- prOfissional, comprovada mediante
tar a nulidade do ato impugnado contrato social ou outro documento
pelO impetrante. hábil.
192 TFR - 99

111 - Provar a condição de pro- Foi proprietário de farmácia desde


prietário ou co-proprietário de far- 16-4-75, até início de 1979, quando re-
mácia ou drogaria em 11-11-60.» quereu sua baixa conforme se vê do
doc. de fi. 9. Em seguida, isto em 31
Pelas análises das disposições de maio do mesmo ano (1979) foi ad-
transcritas e as demais contidas nos mitido como sócio majoritário na
citados diplomas, entendo que o fim Farmácia Droga Rama Ltda, confor-
social da lei foi permitir o provisio- me documento de fI. 10, ali conti-
namento, como prático e oficial de nuando até a data da propositura da
farmácia, daqueles que exerciam es- ação.
ta atividade e eram proprietários ou
co-proprietários de farmácia ou dro- No particular, constato que o im-
garia em 11-11-60. petrante preencheu todos os requisi-
tos legais.
Visou o legislador regularizar si- Diante do exposto, não há como
tuações fáticas, de acordo com a deixar de reconhecer o provisiona-
nossa realidade social, fazendo com mento do impetrante, previsto no ar-
que o Estado reconhecesse a expe- tigo 57 da Lei n? 5.991/73, regulamen-
riência e dedicação dos que se dispu- tada pelo Decreto n? 74.170/74, pelo
seram durante tanto tempo a ativi- que confirmo integralmente a sen-
dade realmente útil à coletividade, tença por seus jurídicos fundamen-
face à carência então existente de tos.
profissionais nesta área diretamente E o meu voto.
ligada à saúde pública.
Ademais, reporto-me ao trecho da
r. sentença monocrática que diz, EXTRATO DA MINUTA
verbis: (fls. 59/3).
«Ora, no caso presente não se REO n? 89.379 - SP - ReI.: Sr.
discute quanto às condições de ca- Min. Fláquer Scartezzini. Remte.:
pacidade profissional. Juízo da 9~ Vara. Partes.: Valdemar
Pereira e Conselho Regional de Far-
O que pretende a autoridade im- mácia do Estado de São Paulo.
petrada é que o· impetrante nãc
possa j amais se desvincular do es- Decisão: A Turma, por unanimida-
tabelecimento em que vinha exer- de, conheceu da remessa e confir-
cendo sua profissão, sob pena de mou a sentença. (Em 16-3-82 - 3~
perder a qualificação profissional. Turma).
Ora, este simples enunciado revela Os Srs. Mins. Carlos Madeira e
a pretensão da Autarquia impetra- Torreão Braz votaram com o Rela-
da de destruir a liberdade do tor. Presidiu o julgamento o Sr. Min.
exercício profissional.» Carlos Madeira.

APELAÇAO EM MANDADO DE SEGURANÇA N? 89.989 - PE


Relator: O Sr. Ministro José Cândido
Remetente: Juízo Federal da 2? Vara-PE
Apelante: Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assis-
tência Social
Apelado: Aderson Pacheco Nicodemos
TFR - 99

EMENTA
Mandado de Segurança. Médico Militar da Ati-
va. Aprovação em Concurso. Contrato com o
INAMPS.
O impetrante é médico-m1l1tar da Polícia de
Pernambuco. O Estatuto da Corporação permite que
o integrante do seu Quadro de Saúde exerça ativida-
de técnico-profissional, no meio civil, «desde que tal
prática não prejudique o serviço» (art. 28, § 3?). Es-
sa regra é idêntica à da Circular do Presidente do
Instituto Nacional de Previdência Social, datada de
2-5-75, que autorizava a contratação de médicos-mili-
tares da ativa que estivessem prestando, àquela épo-
ca, serviços avulsos à autarquia.
A Constituição Federal não cria dificuldades. O
art. 99, inc. IV, permite a acumulação «de dois car-
gos de médico». O disposto no art. 93, parágrafo 4?,
não tem aplicação à hipótese dos autos, porque o
cargo de médico da autarquia, sob regime celetista,
não é «cargo pÚblico permanente, estranho à sua
carreira».
Não há incompatibilidade no exercício cumulati-
vo dos dois empregos de médico, diante da Constitui-
ção Federal.
Sentença confirmada.

ACORDA0 trou mandado de segurança contra


ato da Diretora do Departamento Re-
Vistos e relatados os autos, em que gional de Pessoal do INAMPS ale-
são partes as acima indicadas: gando, em resumo, que sendo
Decide a 2~ Turma do Tribunal Fe- médico-militar e atendendo à convo-
deral de Recursos, por maioria, ven- cação feita pelo DASP, através de
cido o Sr. Ministro William Patter- Edital, foi aprovado e classificado
son, negar provimento à apelação e em concurso pÚblico para preenchi-
. confirmar a sentença, prejudicada mento de vaga na especialidade de
a remessa necessária, na forma do re- Clínica Geral.
latório e notas taquigráficas constan- No entanto, com surpresa para o
tes dos autos que ficam fazendo parte impetrante, não pode assinar Contra-
integrante do presente julgado. to de Trabalho sob a alegação de que
Custas como de lei. era médico-militar.
Brasília, 11 de setembro de 1981 A seguir refere-se à tempestivida-
(data do julgamento) - Ministro de e ao cabimento da medida pleitea-
Evandro Gueiros Leite, Presidente- da e, no méritó; invoca em seu favor o
Ministro José Cândido, Relator. art. 99 da ConstitUição Federal que,
em seu item IV, admite a acumula-
RELATORIO ção de dois cargos privativos de mé-
dico, invoca, também, o art. 28 do Es-
O Sr. Ministro José Cândido: tatuto dos Policiais Militares de Per-
Aderson Pacheco Nicodemos impe- nambuco.
194 TFR - 99

Concedida a liminar, oficiou-se à Por parte da Constituição Federal


autoridade apontada como coatora não vejo dificuldades. O art. 99, inc.
para informar, tendo a mesma pres- IV, permite a acumulação «de dois
tado suas informações às fls. 40/41. cargos de médico». Por seu turno, o
O MM. Juiz Federal da 2? Vara, parágrafo 4?, do art. 93, proíbe espe-
Dr. Petrúcio Ferreira da Silva, sen- cificamente, que o militar da ativa
tenciando às fls. 46/48, julgou proce- seja empossado «em cargo pÚblico
dente o mandado de segurança para permanente, estranho à sua carrei-
conceder a ordem. ra», sendo, em razão disso, imediata-
mente transferido para a reserva. É
Inconformado, apelou o Instituto de de indagar-se: como será possível
Administração Financeira da Previ- admitir-se que o exercício paralelo
dência e Assistência Social com as da atividade profissional do médico
razões de fls. 51/52: (lê). seja diferente, porque exercida no
Contra-razões às fls. 57/58. «meio militar» e no «meio civil»?
Nesta instância, a douta Subprocu- Do ponto de vista jurídico o caso é
radoria-Geral da República opinou semelhante ao dos professores, nas
pela reforma da sentença. hipóteses dos incs. I, H e IH, do art.
É o relatório. 99, onde se ajusta a situação dos au-
tos. O Estatuto Político exige apenas
Ementa a correlação e a compatibilidade de
horário. A esse respeito não há
Médico-militar da Ativa. Contra- obstáculo no processo.
to com o Instituto Nacional de As- Ao admitir essa interpretação, vou
sistência Médica da Previdência além dos que transferem a reprimen-
Social. da da acumulação para a entidade
Aprovação em concurso. militar, tal como decidiu a sentença,
com apoio da antiga 4~ Turma, desta
egrégia Corte, no julgamento da
VOTO AMS-83.296 - PE - Relator Ministro
Carlos Madeira (fI. 5). Não vejo in-
O Sr. Ministro José Cândido (Rela- compatibilidade no exercício cumula-
tor): Tenho posição favorável à r. tivo dos dois empregos de médico, co-
sentença. No julgamento do Recurso mo pretendido na Inicial.
Ordinário 4.423 - RJ, em 20-2-81, de A apelação da autarquia repisa os
que fui Relator, votei no sentido de argumentos já vencidos pelo MM.
que não há impedimento constitucio- Julgador a quo, sem qualquer inova-
nal na hipótese em exame. ção.
O impetrante é médico-militar da Isto posto, nego provimento ao ape-
Polícia de Pernambuco. O Estatuto lo da autarquia.
da Corporação permite que o inte-
grante do seu Quadro de Saúde exer- Mantenho a r. sentença. Prejudica-
ça atividade técnico-profissional, no da a remessa.
meio civil, «desde que tal prática não É o meu voto.
prejudique o serviço», (art. 28, § 3?).
Essa regra é idêntica à da Circular VOTO
do Presidente do Instituto Nacional
de Previdência Social, datada de 2-5-
75, que autorizava a contratação de O Sr. Ministro Evandro Gueiros
médicos-militares da ativa que esti- Leite: Acompanho o Sr. Ministro-
vessem prestando, àquela época, ser- Relator, para confirmar a sentença e
viços avulsos à autarquia. negar provimento à apelação, coe-
TFR - 99 195

rentemente com votos antes proferi- «Não tenho dúvidas em confir-


dos não só na 4~ como nesta 2~ Tur- mar a respeitável sentença por três
ma. motivos, por mim sempre adotados
Vou além da decisão sob exame, nestes casos. O art. 93, § 4?, da CF,
achando que, embora o militar da não se dirige à autoridade impetra-
ativa tenha um capítulo à parte na da para impedi-la de nomear o can-
Constituição Federal, que lhe proíbe didato aprovado. O problema é do
o exercício de cargo na vida civil, en- próprio candidato no seu relaciona-
tendo que não se desvia o militar da mento com a Arma a que pertence.
sua atividade precípua quando exer- Senão, vejamos:
ce tarefas de médico. «Art. 93. § 4? O militar da ativa
Protestando juntar meus votos an- empossado em cargo público per-
teriores a respeito do assunto, acom- manente, estranho à sua carreira,
panho, como disse, o eminente será imediatamente transferido pa-
Ministro-Relator. ra a reserva, com os direitos e de-
veres definidos em lei.»
VOTO Acrescente-se que o impetrante
fez· concurso para médico-
O Sr. Ministro Evandro Gueiros empregado, o que não se concebe
Leite (Relator): Já tenho votado di- como sendo «cargo pÚblico perma-
versamente da respeitável sentença, nente», conforme está no texto.
conforme se lê do acórdão junto à fI. Nem o seu trabalho no emprego se-
45, da antiga 4~ Turma, com a seguin- ria estranho à carreira de médico-
te ementa: militar.
«Contrato de Trabalho - Empre- A autoridade impetrada admite
gado Médico. Militar da ativa - em suas informações que não tem
Acumulação não proibida. Não des- nada a ver com o impedimento
caracteriza o pacto laboral, entre o constitucional, mas confessa
empregado médico e a autarquia subordinar-se às determinações do
empregadora, o fato de ser ele tam- Ministério Militar, condicionando o
bém médico-militar da ativa. A contrato do trabalho à sua prévia
tanto não vai o impedimento cons- aprovação (fI. 14).
tante do art. 93, § 4?, da CF, que co- Tal comportamento é por demais
gita de cargo público permanente e peculiar, por dois motivos. A subor-
estranho à carreira, que não é ape- dinação de um Ministério a outro e
nas militar. De qualquer modo, em o critério abusivo de permitir o
se tratando de médico, a possibili- MP AS a inscrição do candidato e
dade de acumulação afina com a até mesmo a sua aprovação, para
exceção contida no art. 99, inc. IV, depois negar-lhe o emprego.
da CF, observadas as condições do
seu § I? (TFR - Ac. unãn. da 4~ Veja-se, como palavra final, se
Turma, pubI. no DJ de 17-10-79 - tenho ou não razão:
RO n? 3.679 - RS - ReI.: Min. «Conforme enfatiza o referido
Evandro Gueiros Leite - INPS vs. Parecer Reservado, dispositivo do
Farjalla Catan.» (Fls. 45). Estatuto dos Militares, aprovado
Recentemente, em caso idêntico, pela Lei n? 5.774, de 23-12-71, o qual
votei do mesmo modo, ao confirmar autoriza os oficiais titulados dos
sentença do Dr. Gregório Marques, quadros ou serviços de saúde e de
do Rio de Janeiro, na AMS n? 90.714 veterinária o exercício de ativida-
- RJ, com a seguinte fundamenta- des técnico-profissionais no meio
ção: civil, desde que tal prática não pre-
196 TFR - 99

judique o serviço, deve ser entendi- nho à carreira, que não é apenas
do como atividades que visam a de- militar. De qualquer modo, em se
senvolver a prática profissional des- tratando de médico, a possibilidade
ses oficiais no meio civil, mas nun- de acumulação afina com a exce-
ca no pÚblico civil». (fI. 15). ção contida no art. 99, inciso IV, da
Faço minhas as aguçadas obser- CF, observadas as condições do seu
vações da respeitável sentença, as § I? Anotação da Carteira ProfIs-
quais transcrevo para uma melhor sional que se impõe, na hipótese,
ilustração do voto: por comprovada a relação empre-
gatícia.» (In Ementário do TFR,
«No caso, o impetrante foi apro- voI. 4, pág. 44).
vado em concurso pÚblico e contra-
tado pelo INAMPS como médico. O impetrado não informou que
existe incompatibilidade de horá-
O art. 99, inciso IV, da Carta rios que impossibilite a contratação
Magna excetua da vedação de acu- do impetrante, conforme estatui o
mulação de cargos e funções públi- art. 99, § I?, da EC n? 1/69.»
cas a de dois cargos privativos de
médico. Dou provimento ao recurso do im-
petrante e reformo a sentença para
Ora, observando o disposto nos §§ conceder a segurança.
I? e 2? do mencionado art. 99, não há
vedação nenhuma à contratação do E o meu voto.
impetrante como empregado do
INAMPS para o exercício de servi- VOTO
ço inerente à profissão de médico.
O Sr. Ministro Evandro Gueiros
Evidencia-se, portanto, a diferen- Leite (Relator): Não tenho dúvidas
ça entre emprego pÚblico e cargo em confirmar a respeitável sentença
público, entre funcionário pÚblico e por três motivos, por mim sempre
empregado público, entre servidor adotados nestes casos.
contratado pelo regime da CLT e
funcionário estatutário; nada obsta, O Art. 93, § 4?, da CF, não se dfri-
portanto, que o INAMPS contrate o ge à autoridade impetrada para
impetrante para o emprego a que impedi-la de nomear o candidato
fez jus por sua aprovação no con- aprovado. O problema é do próprio
curso pÚblico a que se submeteu. candidato no seu relacionamento
com a Arma a que pertence.
Cingindo-me ao exame do tema
como se acha posto e em face do Senão, vejamos:
nosso direito positivo, inclino-me «Art. 93. § 4? O militar da ativa
pela solução do acórdão do Egrégio empossado em cargo pÚblico per-
Tribunal Federal de Recursos pro- manente, estranho à sua carreira,
ferido no julgamento do RO n? 3.679 será imediatamente transferido pa-
-RS: ra a reserva, com os direitos e de-
«Trabalho - Acumulação - Mé- veres definidos em lei.»
dico - Militar da Ativa. Acrescente-se que o impetrante fez
Ementa: Não descaracteriza o concurso para médico-empregado, o
pacto laboral, entre o empregado que não se concebe como sendo «car-
médico e a autarquia empregado- go público permanente», conforme
ra, o fato de ser ele também está no texto. Nem o seu trabalho no
médico-militar da ativa. A tanto emprego seria estranho à carreira de
não vai o impedimento constante do médico-militar.
art. 93, § 4?, da CF, que cogita de A autoridade impetrada admite em
cargo pÚblico permanente e estra- suas informações que não tem nada a
TFR - 99 197

ver com o impedimento constitucio- contratado pelo regime da CLT e


nal, mas confessa subordinar-se às funcionário estatutário; nada obsta,
determinações do Ministério Militar, portanto, que o INAMPS contrate o
condicionando o contrato do trabalho impetrante para o emprego a que
à sua prévia aprovação (fI. 14). fez jus por sua aprovação no con-
Tal comportamento é por demais curso público a que se submeteu.
peculiar, por dois motivos. A subordi- Cingindo-me ao exame do tema
nação de um Ministério a outro e o como se acha posto e em face do
critério abusivo de permitir o MP AS nosso direito positivo, inclino-me
a inscrição do candidato e até mesmo pela solução do acórdão do Egrégio
a sua aprovação, para depois negar- Tribunal Federal de Recursos pro-
lhe o emprego. ferido no julgamento do RO n? 3.679
Veja-se, como palavra final, se te- -RS:
nho ou não razão: «Trabalho - Acumulação - Mé-
«Conforme enfatiza o referido dico - Militar da Ativa.
Parecer Reservado, dispositivo do Ementa: Não descaracteriza o
Estatuto dos Militares, aprovado pacto laboral, entre o empregado
pela Lei n? 5.774, de 23-12-71, o qual médico e a autarquia empregado-
autoriza os oficiais titulados dos ra, o fato de ser ele também médi-
quadros ou serviços de saúde e de co-militar da ativa. A tanto não vai
veterinária o exercício de ativida- o impedimento constante do art. 93,
des técnico-profissionais no meio § 4?, da CF, que cogita de cargo pú-
civil, desde que tal prática não pre- blico permanente e estranho à car-
jUdique o serviço, deve ser entendi- reira, que não é apenas militar. De
do como atividades que visam a de- qualquer modo, em se tratando de
senvolver a prática profissional médico, a possibilidade de acumu-
desses oficiais, no meio civil, mas lação afina com a exceção contida
nunca no pÚblico civil.» (FI. 15). no art. 99, inc. IV, da CF, observa-
Faço minhas as aguçadas observa- das as condições do seu § I? Anota-
ções da respeitável sentença, as ção da Carteira Profissional que se
quais transcrevo para uma melhor impõe, na hipótese, por comprova-
Ilustração do voto: da a relação empregatícia» (In
Ementário do TFR, voI. 4, pág. 44).
«No caso, o impetrante foi apro-
vado em concurso pÚblico e contra- O impetrado não informou que
tado pelo INAMPS como médico. existe incompatibilidade de horá-
rios que impossibilite a contratação
O art. 99 inciso IV da Carta do impetrante, conforme estatui o
Magna excetua da vedação de acu- art. 99 § I? da Emenda Constitucio-
mulação de cargos e funções públi- nal no 1/69.» (FI. 20).
cas a de dois cargos privativos de
médico. Já votei de igual maneira em ou-
tros casos. Junte-se por cópia o voto
Ora, observando o disposto nos §§ proferido na AMS n? 89.991/RJ.
I? e 2? do mencionado art. 99, não há Nego provimento ao recurso. Con-
vedação nenhuma à contratação do firmo a sentença, prejudicada a re-
impetrante como empregado do messa necessária.
INAMPS para o exercício de servi-
ço inerente à profissão de médico.
Evidencia-se, portanto, a diferen- VOTO
ça entre emprego pÚblico e cargo
público, entre funcionário pÚblico e O Sr. Ministro Evandro Gueiros
empregado público, entre servidor Leite (Relator): Não é verdade o que
198 TFR - 99

sustenta o lAPAS, isto é, que a CF moramento e especialmente aos ofi-


veda ao militar médico a acumula- ciais dos Quadros ou Serviços de Saú-
ção de outra função pÚblica de médi- de (fls. 47, 49 e 50), destacando-se o
Co também. Não lhe socorre o Pare- seguinte item:
cer CJ/MPAS/n? 048/79, de sua Con- «5.1 - Ao militar da ativa da MB
sultoria Jurídica, que se reporta a ou em função de atividade é proibi-
uma acumulação qualquer, que não a do o exercício de qualquer ativida-
de médico, como no caso dos autos. de remunerada no meio civil, com
O art. 93: § 4?, da CF, não se dirige vinculação empregatícia, exceto
à autoridade impetrada para impedi- aos Oficiais do Quadro de Magisté-
la de nomear o candidato aprovado. rio e aos Oficiais dos Quadros de
O problema é do próprio candidato no Serviços de Saúde, cUjas situações
seu relacionamento com a Arma a estão citadas no item 4.2 e seus su-
que pertence. Acrescente-se que o bitens.» (FI. 50);
impetrante fez concurso para c) No requerimento em que solici-
médico-empregado, o que não se con- tou permissão para se inscrever no
cebe como sendo «cargo público per- concurso a ser realizado pelo DASP,
manente». Nem o seu trabalho no o impetrante obteve o seguinte des-
emprego seria estranho à carreira de pacho: «Deferido de acordo com a
médico-militar. Portaria n? 0069, de 13-1-76, do MM.
A autoridade impetrada admite a (Boletim 13-76-807-BR») (fI. 58).
sua subordinação às determinações
do Ministério Militar, condicionando A propósito, o Ministro Carlos
o contrato de trabalho a prévia apro- Madeira, votando na antiga 4~ Tur-
vação. Tal comportamento é por de- ma, da qual fiz parte, assim também
mais peculiar. A subordinação de um entendeu a colocação do problema,
Ministério a outro e o critério abusivo dizendo que a autoridade civil não po-
de permitir-se a inscrição do candi- de recusar a admissão do militar em
dato e até mesmo a sua aprovação, emprego permanente, uma vez que a
para depois negar-lhe o emprego. incompatibilidade deve ser pronun-
ciada pela autoridade militar compe-
Mas o pior é quando se verifica que tente (AMS n? 83.296/PE, em 14-2-79
a autoridade impetrada quer ser -fl.40).
mais realista do que o rei, embora
em prejuízo do reino. Os autos estão Estou de acordo com a respeitável
refertos da prova de que a situação sentença, dela afastando-me apenas
do impetrante é mais regular do que no tocante à cláusula do condiciona-
o comportamento do INAMPS, a sa- mento da investidura ao cumprimen-
ber: to do disposto no art. 93, § 4?, da CF.
a) A Lei n? 5.774/71, que é o Estatu- Assim, dou p~ovimento ao recurso
to dos Militares, admite, no seu art. do impetrante, enquanto nego ao do
33, § 3?, que os oficiais titulados dos lAPAS, prejudicada a remessa ne-
Quadros ou Serviços de Saúde e de cessária.
Veterinária exerçam atividade É o meu voto.
técnico-profissional no meio civil, pa-
ra aperfeiçoamento prático (fI. 41); VOTO VOGAL
b) A «Pessomarinst» n? 077.607,
que trata das atividades remunera- O Sr. Ministro W1lliam Patterson:
das extramarinha, exercidas por mi- Sr. Presidente: Dou provimento à
litares da ativa ou em funções de ati- apelação, para cassar a segurança.
vidade e civis da MB, permite tais Nenhuma dificuldade se apresenta-
atividades em benefício do seu apri- ria, para o deferimento da pretensão,
TFR - 99 199

não fosse a condição de militar do su- VeIloso, DJ de 5-9-79; AMS n? 83.426


plicante, e, principalmente, em pleno - PE, ReI.: Min. Lauro Leitão, DJ de
exercício de suas atividades. 26-3-80 e AMS n? 90.297 - PE, DJ de
Com efeito, dispõe o § 4?, do art. 93, 4+79).
da Carta Magna: No Egrégio Supremo Tribunal Fe-
«Art. 93 ....................... . deral, a matéria recebeu idêntico tra-
tamento, consoante dá notícia re-
§ 4? O militar da ativa empossa- centíssimo acórdão pertinente ao Ag.
do em cargo pÚblico permanente, (ag.Reg.) n? 82.316 - PE, Relator, o
estranho à sua carreira, será ime- Ministro Rafael Mayer (julgamento
diatamente transferido para a re- em 7-4-81), de cuja ementa se lê:
serva, com os direitos e deveres de- «Acumulação de cargos. Militar-
finidos em lei.» Médico. Constituição Federal, Art:
A primeira impugnação, ao impac- 99, IV Onaplicação).
to desse preceito, seria a circunstân- A condição funcional dos milita-
cia de não se cuidar de cargo público, res é específica e distinta dos servi-
stricto sensu. dores civis, não se lhe podendO atri-
A objeção não alcança maiores buir a qualificação de funcionários
preocupações, tendo em vista o públicos. A acumulação de cargos
princípio ínsito no § 2?, do art. 99, da civis por militares tem regência es-
Lei Fundamental, que equipara, para pecífica no texto constitucional
efeitos de acumulação, cargos, fun- (art. 93, §§). Interpretação do art.
ções ou empregos em autarquias, 33, § 3?, do Estatuto dos Militares.»
empresas pÚblicas e sociedades de Do voto condutor do aresto referen-
economia mista. Sendo assim, a ex- ciado merece destaque o seguinte
pressão contida no citado § 4?, do art. trecho:
94, não pode afastar os empregos ce- «A distinção entre os dois regi-
letistas, mesmo porque contém nor- mes é feita de maneira clara e in-
ma restritiva do exercício de ativida- confundível no próprio texto consti-
des estranhas à carreira militar. tucional, ao dispor sobre um e outro
A outra ponderação estaria na apli- em capítulos separados e em disci-
cabilidade da disciplina do art. 99, da plina jurídica peculiar a cada cate-
Constituição Federal, que autoriza a goria. Essa distinção continua e se
acumulação de dois cargos privati- desdobra, no plano da lei ordinária,
vos de médico, não sendo, destarte, na existência de uma legislação es-
legítimo criar obstáculos ao alcance tatutária civil e uma legislação es-
da regra. tatutária militar, autônomas e bas-
A jurisprudência desta colenda tantes em si.»
Corte vem convergindo no sentido de
fazer prevalecer as disposições do § E, mais adiante, afirma:
4?, do art. 93, da Lei Maior, em ques- «A evidência tanto mais se Impõe
tões dessa natureza. O parecer da quanto o capitulo constitucional so-
Subprocuradoria-Geral da Repúbll- bre as Forças Armadas tem nor-
ca, da lavra do digno Subprocurador- mas própr-Ias sobre acumulação,
Geral, Dl'. Paulo A. F. Sollberger, ci- bastantes em si, e diversas das que
ta diversos acórdãos nessa linha de são endereçadas aos funcionários
concepção mo n? 3.137, ReI.: Min. (art. 93, §§ 4?, 5? e 6?). Corretamen-
José Dantas, DJ de 28-8-79; AC n? te, o acórdão recorrido constata a
46.506, ReI.: Min. José Néri da Silvei- incidência dessas normas à situa-
ra, Ementário TFR, voI. 1, pág. 30; ção dos agravantes, e não aquelou-
RO n? 4.092, ReI.: Min. Carlos Mário tra.»
200 TFR - 99

VOTO fazer prevalecer as disposições do §


4?, do art. 93, da Lei Maior, em ques-
O Sr. Ministro William Patterson: tões dessa natureza. O parecer da
Trata-se de militar-médico da ativa Subprocuradoria-Geral da RepÚbli-
que deseja ser admitido em emprego ca, da lavra do digno
da especialidade, no INAMPS, com SUbprocurador-Geral, Dl'. Paulo A.
fundamento na regra do art. 99, IV, F. Sollberger, cita diversos acórdãos
da Constituição Federal, que permi- nessa linha de concepção (RO n?
te a acumulação de dois cargos pri- 3.137, ReI.: Min. José Dantas, DJ de
vativos de médico. 28-8-79; AC n? 46.506, ReI.: Min. José
Nenhuma dificuldade se apresen- Néri da Silveira, Ementário TFR,
taria, para o deferimento da preten- voI. 1, pág. 30; RO n? 4.092, ReI.:
são, não fosse a condição de militar Min. Carlos Mário Velloso, DJ, de 5-
do suplicante, e, principalmente, em 9-79; AMS n? 83.426 - PE, ReI.: Min.
pleno exercício de suas atividades. Lauro Leitão, DJ de 26-3-80 e AME
n? 90.297 - PE, DJ de 4-4-79).
Com efeito, dispõe o § 4?, do art.
93, da Carta Magna: No Egrégio Supremo Tribunal Fe-
deral, a matéria recebeu idêntico
«Art. 93 ....................... . tratamento, consoante dá notícia re-
«4? O militar da ativa empos- centíssimo acórdão pertinente ao Ag.
sado em cargo público permanen- (ag.Reg.), n? 82.316 - PE, Relator o
te, estranho à sua carreira, será Ministro Rafael Mayer (julgamento
imediatamente transferido para a em 7-4-81), de cuja ementa se lê:
reserva, com os direitos e deveres «Acumulação de cargos. Militar-
definidos em lei.» Médico. Constituição Federal Art.
A primeira impugnação, ao impac- 99, IV CInaplicação).
to desse preceito, seria a circunstân- A condição funcional dos milita-
cia ele não se cuidar de cargo públi- res é específica e distinta dos ser-
co, strlcto sensu. vidores civis, não se lhe podendo
A objeção não .alcança maiores atribuir a qualificação de funcioná-
preocupações, tendo em vista o rios públicos. A acumulação de
princípio ínsito no § 2?, do art. 99, da cargos civis por militares tem re-
Lei Fundamental, que equipara, pa- gência específica no texto constitu-
ra efeitos de acumulação, cargos, cional (art. 93, §§). Interpretação
funçües ou empregos em autarquias, do art. 33, § 3?, do Estatuto dos MI-
empresas públicas e sociedades de litares.»
economia mista. Sendo assim, a ex- Do voto condutor do aresto refe-
pressão contida no citado § 4?, do renciado merece destaque o seguinte
art. 93, não pode afastar os empre- trecho:
gos celetistas, mesmo porque contém
norma restritiva do exercício de ati- «A distinção entre os dois regi·
vidades estranhas à carreira militar. mes é feita de maneira clara e in·
confundível no próprio texto consti-
A outra ponderação estaria lia tucional, ao dispor sobre um e ou-
aplicabilidade da disciplina do art. tro em capítulos separados e em
99, da Constituição Federal, que au- disciplina jurídica peculiar a cada
toriza a acumulação de dois cargos categoria. Essa distinção continua
privativos de médico, não sendo, e se desdobra, no plano da lei ordi-
destarte, legítimo criar obstáculos nária, na existência de uma legis-
ao alcance da regra. lação estatutária civil e uma legis-
A jurisprudência desta colenda lação estatutária militar, autôno-
Corte vem convergindo no sentido de mas e bastantes em si.»
TFR - 99 201

E, mais adiante, afirma: EXTRATO DA MINUTA

«A evidência tanto mais se im- AMS n? 89.989 PE Rel.: Min.


põe quanto o capítulO constitucio- José Cândido. Remte.: Juízo Federal
nal sobre as Forças Armadas tem da 2~ Vara. Apte.: lAPAS. Apdo.:
normas próprias sobre acumula- Aderson Pacheco Nicodemos.
ção, bastantes em si, e diversas Decisão: A Turma, por maioria,
das que são endereçadas aos fun- vencido o Sr. Ministro William Pat-
cionários (art. 93, §§ 4?, 5? e 6?). terson, negou provimento à apelação
Corretamente, o acórdão recorrido e confirmou a sentença, prejudicada
constata a incidência dessas nor- a remessa necessária (2~ Turma
mas à situação dos agravantes, e 11-9-81) .
não aqueloutra.» O Sr. Ministro Evandro Gueiros
Leite votou com o Relator. Presidiu
Ante o exposto, dou provimento ao o julgamento o Sr. Ministro Evandro
recurso, para cassar a segurança. Gueiros Leite.

APELAÇAO EM MANDADO DE SEGURANÇAN?93.940-RJ


Relator: O Sr. Ministro Pedro da Rocha Aciolí
Remetente: Juízo Federal da 9? Vara - RJ
Apelante: Banco Central do Brasil
Apelada: Casa Nunes Martins S.A. Importadora e Exportadora
EMENTA
Tributário. Imposto Sobre Operações de Câmbio.
Dec.-Lei1.783, de 1980, art. 1?, Inc. IV. Importações
provenientes de países-membros da ALALC/ ALADI
ou do GATT. Principio da igualdade de tratamento.
CTN, art. 98.
1. A cobrança do imposto previsto no art. 1?, inc.
IV, do Dec.-Lei 1.783, de 1980, sobre as operações de
câmbio relativas às importações de produtos origi-
nários de paises signatários do Tratado de Montevi-
déu ou do GATT (General Agreement on Tariffs and
Trade) pode representar uma restrição capaz de fe-
rir o principio da igualdade de tratamento, é certo.
Entretanto, somente mediante um estudo técnico-
econômico seria possível aferir-se se realmente
ocorre o fenômeno econômico da restrição, a nível
de provocar um favorecimento ao similar nacional
ou suficiente a produzir uma distorção competitiva
no âmbito da ALALCI ALADI ou entre os países-
membros do Acordo Geral. -
2. A discussão, ademais, envolve aspectos de
política econômica externa; afeta à direção superior
da administração federal, a quem compete negociar
as condições de comércio exterior.
202 TFR - 99

3. Não há,_ por isso mesmo, afastar a aludida


exigência tributária, na hipótese em comento, à
míngua de norma interna que, nesse sentido, favore-
ça o particular. Tal não fere o art. 98 do CTN, mes-
mo porque o Tratado de Montevidéu, de 1960, e o
Acordo Geral (GATT), por conterem formulações le-
gais genéricas, se inserem na categoria de tratados
normativos, podendo lei interna superveniente'
negar-lhes aplicação, à vista do delineamento consti-
tucional.
4. Provimento do recurso; segurança cassada.

ACORDA0 Sustenta-se a inconstitucionalidade


dos sobreditos diplomas, seja porque·
Vistos, relatados e discutidos estes não seria permitida a criação ou ma-
autos, em que são partes as acima joração de .tributo através de
indicadas: decreto-lei senão mediante lei formal,
Decide a 5? Turma do Tribunal Fe- seja pelo fato de que, estando o im-
deral de Recursos, por unanimidade, posto em questão sujeito ao princípio
dar provimento ao recurso voluntá- da anterioridade, não haveria falar
rio e à remessa oficial, para cassar em urgência, pressuposto básico que
a segurança, na forma do relatório e legitima a edição de decreto-lei (CF,
notas taquigráficas constantes dos art. 55). Entretanto, o fundamento de
autos que ficam fazendo parte inte- maior peso da impetração reside no
grante do presente julgado. argumento de que não incide o im-
posto sobre operações de câmbio re-
Custas como de lei. lativo a importações, sob pena de
Brasília, 8 de novembro de 1982 afronta ao Tratado de Montevidéu, de
(data do julgamento) Ministro 1960, que instituiu a ALALC, cujo
Moacir Catunda, Presidente - Mi- art. 21 veda a diferença de trata-
nistro Pedro da Rocha ACioli, Rela- mento, pelas leis do país, entre bens
tor. estrangeiros oriundos de signatários
do Acordo e produtos similares na-
RELATORIO cionais. De igual modo, também não
incide quanto a operações de câmbio
I vinculadas à importação d~ merca-
o Sr. Ministro Pedro da Rocha dorias provenientes de país-membro
Acioli: Trata-se de remessa ex do GATT, que contém disposição se-
officio e apelação voluntária de sen- melhante (Parte n, art. lII, c/c, o
tença que concedeu mandado de se- art. VIII). Nessa linha de idéia,
gurança, requerido com o fito de invoca-se a regra do art. 98 do CTN e
afastar-se a cobrança do imposto so- o preceito da Súmula n? 575, do STF,
bre operações de câmbio relativo à no sentido de reconhecer-se a preva-
i'mportaçâo de mercadorias estran- lência dos Tratados Internacionais
geiras originárias de país signatá- sobre a legislação tributária domés-
rio do Tratado de Montevidéu (A- tica. Sob tal enfoque, diz-se que o
LALC/ ALADO ou de país-membro imposto em apreço onera as impor-
do GATT, exigido de acordo com o tações, produzindo um efeito restriti-
Decreto-Lei n? 1.783/80, art. 1?, IV, e vo, quando as restrições tributárias
Decreto-Lei n? 1.844/80, tendo este ao comércio internacional reduzem-
último majorado a alíquota de 15 pa- se exclusivamente aos impostos so-
ra 25%. bre o comércio exterior (importação
TFR - 99 203

e exportação), e que a cobrança do 3. A esse respeito, discute-se a va-


imposto estaria maltratando a cláu- lidade das regras dos acordos e tra-
sula de nação mais favorecida. tados internacionais em face do di-
A concessão do «writ» ensejou ape- reito interno. A discussão é desenvol-
lo. que foi devidamente respondido. vida em torno da regra inscrita no
art. 98 do CTN, a dizer:
Em sua defesa, alega o Banco
Central do Brasil que a disposição do «Os tratados e convenções inter-
Tratado de Montevidéu, sobre a eli- nacionais revogam ou modificam a
minação gradual de barreiras alfan- legislação tributária interna e se-
degárias, é de caráter programático, rão observadas pela que lhes so-
acrescentando não ser exato que o brevenha.»
imposto alcance somente bens im- Tenho para mim que, in casu, não
portados, não havendo qualquer pro- se trata de prevalência de normas
teção relativamente a produtos na- internas sobre as internacionais, ou
cionais. Com referência ao texto do vice-versa. A discussão há de
GATT, aduz-se não haver nenhum resolver-se em termos de interpreta-
obstáculo legal a vedar o uso do IOF ção das normas do GATT (Parte 11,
como instrumento extrafiscal, não art, IH, c/c o art. VIII) e da ALALC
compadecendo o texto constitucional (art. 21). Vale dizer, não há impossi-
a regra do art. 98, in fine, do CTN. bilidade de cobrança do IOF sobre
Ademais, a~ disposições do GATT as operações de câmbio vinculadas
não são rígidas, devendo ser objeto às importações, não por prevalência
de negociação entre os Estados con- das regras das convenções que insti-
tratantes as eventuais infrações ao tuíram a ALALC e o GATT sobre a
Acordo. lei interna, mas por inexistir, no
Nesta Instância, a douta SGR opi- meu entender, atrito manifesto entre
nou pela orientação defendida pelo elas. É o que aprecio a seguir.
Banco Central. 4. Argumenta-se que a cobrança
É o relatório. do imposto, em caso que tal, maltra-
ta a cláusula de nação mais favore-
cida. Pretende-se, vale acentuar, a
VOTO vantagem concernente ao comércio,
assegurada nas convenções referi-
o Sr. Ministro Pedro da Rocha das, consistente no mesmo trata-
Aciol1 (Relator): A respeito da argüi- mento dado ao produto nacional si-
ção de inconstitucionalidade do milar.
Decreto-Lei n? 1.783/80, o Plenário 5. Não estou convencido de que a
desta Egrégia Corte, como é sabido, cobrança do IOF, na hipótese em
já se pronunciou (Matéria constitu- apreço, representa um tratamento
cional apreciada na AMS 91. 322-SP, produto nacional.
in DJ de 18-2-82).
6. Há de ponderar-se que o produ-
Não cabe ao Tribunal, ao meu ver" tor nacional também paga IOF nas
rever sua decisão, mesmo sob a in- operações de empréstimos, toda vez
vocação de fundamento novo. que toma dinheiro emprestado para
2. Ultrapassada essa questão, res- expandir as suas atividades ou para
ta a examinar a exigência do impos- suprir seu capital de giro. Neste ca-
to sobre as operações de câmbio, ne- so, a empresa nacional repassa os
cessárias às importações de merca- custos do dinheiro para o preço do
dorias provenientes dos países-mem- produto. Mas, dir-se-ia: é impossível
bros da ALALC, hoje ALADI, e saber se tal fenômeno ocorre em ter-
membros do GATT. mos de similar nacional e a nível de
204 TFR - 99

elidir qualquer favorecimento. Na VOTO VISTA


verdade, é impossível aferir. ESSE
impossibilidade traduz-se em dúvi- O Sr. Ministro Moacir Catunda:
da. Na dúvida, porém, não deve o Após os votos do eminente relator e
Judiciário conceder a segurança. do insigne ministro vogai, dando pro-
7. Há mais. É notório que, em ra- vimento ao recurso, para càssar a
zão da generalizada crise econômica segurança, pedi vista dos processos
por que passa o mundo, há uma ten- alusivos à exigência do IOF, com ba-
dência de os países se protegerem, se no Decreto-Lei n? 1.783, de 18-4-80,
seja através de medidas cambiais, se- na redação dada pelo Decreto-Lei n?
ja por outras vias, praticadas em 1.844, de 30-12-80, para formar juízo
proteção ao sistema econômico de sobre os diferentes pontos questiona-
cada um. dos nos diversos recursos relatados
na assentada, verificando que em al-
8. Diante dessa circunstância, é guns o pedido se funda exclusiva-
curial que os possíveis desrespeitos mente na alegação de infringência
às cláusulas internacionais sejam so- ao princípio de legalidade - Consti-
lucionados por meio de negociações tuição, arts. 19, I, e 153, § 2? e 29; e
entre os países membros da ALALC noutros, em que a exigência afronta
(hoje ALADl) ou do GATT, confor- a norma do art. 98, do Código Tribu-
me o caso. tário Nacional, visto que os produtos
9. Sabemos que, na prática, as me- Objeto dos respectivos contratos de
didas individuais tomadas por um câmbio seriam procedentes, ora de
país-membro são estudadas com países signatários do GATT, ora da
profundidade por setores especializa- zona da ALALC.
dos daquelas organizações. As ve-
zes, diante dos interesses éonflitan- No que toca ao primeiro grupo de
tes, são feitas concessões que aten- processos, sou por que a matéria con-
dam ao mercado, tendentes a alcan- tida nos mesmos já é vencida e supe-
çar, mediante negociações, a acomo- rada no Tribunal, que, ao examinar
dação da comunidade econômica. a argüição de inconstitucionalidade
do Decreto-Lei n? 1.783/80, assentou,
10. Vê-se, assim, que a solução .J em princípio, tese no sentido de po-
encaminhada a nível de política eco- der o legislador instituir tributo atra-
nômica externa, mas da responsabi- vés de decreto-lei.
lidade da alta Administração do
país. Em voto vista, proferido na opor-
11. A discutida cobrança não fere tunidade - cópia junta - e a cujm
direito individual do contribuinte, fundamentos me reporto - filiei-me
porque não há norma tributária de à corrente que não depara vulnera-
índole doméstica que desautorize a ção aos textos constitucionais invo-
exigência fiscal em apreço. O que cados, em ato instituidor do tributo
existe é uma discussão que há de emanado do Executivo, via decreto-
agitar-se no plano da política inter- lei, - e aprovado pelo Legislativo,
nacional, fora do âmbito jurisdicio- com o que adquire predicamentos da
nal. A vista disso, não pode o Poder lei.
Judiciário atender à pretensão do
impetrante. Relativamente ao segundo grupo
de processos, posto que tivesse so-
12. Por tais motivos, dou provi- brestado o jUlgamento de numerosos
mento ao recurso voluntário e à re- recursos idênticos, de que sou rela-
messa oficial para cassar a seguran- tor, a pedir parecer específico da
ça. douta Subprocuradoria-Geral da Re-
É como voto. pública, resolvi também apresentá-
TFR - 99 205

los logo em mesa, por haver forma- As preliminares saíram fielmente


do convicção no sentido da impro- resumidas pelo eminente Relator,
priedade da alegação de ofensa nos segUintes itens:
a tratado internacional, seja do «- ilegitimidade paSSiva da au-
GATT, seja da ALALC, por isso que toridade requerida;
o sistema destes incide de modo pri-
mordial e preponderante, sobre im- - ausência de ato a justificar o
portação, com vistas a obter trata- alegado justo receio que ensejasse
mento aduaneiro igualitário para os a impetração do mandamus;
produtos oriundos dos países onde - descabimento da ação manda-
domiciliadas as partes contratantes, mental, a teor do art. 5? da Lei n?
ao passo que os diplomas legais 1.533/ 51, a conta de que no proces-
questionados irradiam providências so administrativo para cobrança
de natureza tipicamente cambial, do IOF, da decisão de primeira
não confundíveis com as providên- instância cabe recurso voluntário,
cias sediadas nos tratados interna- total ou parcial, com efeito suspen-
cionais. sivo (Res. n? 619 - Seção 9, item
29); e, finalmente:
Estas, em resumo, as razões pelas
quais não rastreando ilegalidade na - ilegitimidade processual ad
exigência impugnada, nem direito causam da impetrante, argüida
líquido e certo da impetrante, dou pela douta SGR.»
provimento ao recurso, para cassar Na oportunidade da vista, tendo
a segurança, prometendo, nos votos meditado demoradamente sobre a
a serem proferidos nos processos de matéria, adoto os fundamentos do
que sou relator, dar maior desenvol- voto preliminar de S.Exa., sem qual-
vimento ao assunto. quer restrição, tais como estão ex-
postos nas fls. 179, usque, 183 - lê.
No atinente ao mérito, a matéria
VOTO VISTA restringe-se ao exame das duas pro-
posições segUintes:
O Sr. Ministro Moacir Catunda: Ao 1~) se, face ao princípio constitu-
ensejo da apreciação, pela 5~ Tur- cional da legalidade, é válida a cria-
ma, deste incidente de inconstitucio- ção de tributo via decreto-lei; e,
nalidade do Decreto-Lei n? 1.783, de 2~) se, considerado o princípio da
18-4-80, por ofensa ao art. 153, § 29, anterioridade, o IOF (ou ISOF), po-
da Constituição, aderi ao voto do em i- de ser instituído e exigido no próprio
lente Relator, sem explicitação de exercício financeiro em que foi cria-
fundamentos, tanto no tocante às do, e, bem assim, se suas alíquotas
preliminares, como no atinente áo podem ser alteradas, e exigidas, no
mérito. dito exercício.
O Decreto-Lei n? 1.783, de 18-4-80, No Tribunal Pleno cindiram-se as
que dispõe a respeito do Imposto so- opiniões, tendo os Ministros Relator,
bre Operações de Crédito, Cãmbio e Américo Luz, Cid Fláquer Scartezzini
Seguro e sobre operações relativas a e Armando Rollemberg admitido a in-
Títulos e Valores Mobiliários, foi bai- constitucionalidade, e também Justino
xado pelo Sr. Presidente da Repúbli- Ribeiro, situando-a, porém, não no
ca, tendo em vista o art. 55, item lI, Decreto-Lei n? 1.783/80, e, sim, na Re-
da Constituição, e os artigos 63 a 67 solução n? 610, e na Circular n? 523, am-
do Código Tributário Nacional, con- bas do Banco Central, ao passo que o
soante vai dito no cabeçalho do mes- eminente Ministro Antônio de Pádua
mo - fI. 19. Ribeiro, em longo voto vista, divergin-
206 TFR - 99

do, deu pela inconstitucionalidade do data da sua pubHcação - art. 4?


aludido diploma legal, sob os argumen- (DO de 22-4-80), foi aprovado pelo
tos, em resumo, de qu~ o IOF, (melhor Congresso Nacional, passando. des-
dizendo o ISOF), consIderada sua tra- tarte, a traduzir a vontáde concor-
dição, bem como sua função extrafis- dante dos dois Poderes, Executivo e
cal, de instrumento de manipulação de Legislativo - em ordem a adquirir
política de crédito, é tributo não sub- predicamentos de lei, como que a
misso ao princípio de anterioridade, Constituição, nos arts. 19, I, e 153, §
improcedendo, portanto, a alegada ei- 29, para que o tributo seja instituído
va de inconstitucionalidade, em termos válidos.
Da minha parte, e com as vênias
Posto que me tivesse inclinado pe- devidas ao voto do douto Ministro
la solução da sentença, sem declara- Justino Ribeiro, ante os termos taxa-
ção de voto, quando o assunto foi tivos e terminantes do art. 4?, enten-
agitado na Turma, resolvi, conside- do que foi baixado para produzir,
rando sua relevância e a divergência efeitos no mesmo exercício de 1980, e
surgida no Pleno, pedir vista dos au- nunca para que o imposto fosse exi-
tos, para melhor exame, concluindo gido somente no de 1981, não tendo a
pela improcedência da alegação con- Resolução n? 610, assim como a Cir-
tida na 1~ proposição, concernente cular n? 523, ambas do Banco Cen-
ao vício de ilegalidade, isto com tral, exorbitado do seu comando, até
apoio nos arts. 55, item lI, e 41, da porque foram baixadas para exe-
Constituição, na redação das Emen- cutá-lo, no mesmo exercício, em per-
das 1/69 e 8/77, pelos quais o Presi- feita consonância com a urgência da
dente da República, em casos de ur- arrecadação, chamada na exposição
gência ou de interesse público rele- de motivos do questionado decreto-
vante, e desde que não haja aumento lei.
de despesa, poderá expedir decretos-
.leis sobre as seguintes matérias: O Tribunal, ao julgar a AMS n? 77.
1- Omissis; 267 - SP -DJU de 9-9-77 - pág.
II - Finanças Públicas; inclusi- 6.111, adotou esse entendimento, e ou-
ve normas tributárias. tra não é a orientação do Supremo
Tribunal Federal, documentada nos
Ora, sendo a criação de tributo RE. n? 74.096/SP - R'PJ (62/819 e
matéria compreendida, induvidosa- 62.789 - RTJ 44/55.
mente, na locação normas tributá-
rias, incerteza fundada não pode Relativamente à Proposição n? 2,
existir sobre a competência do Exe- tocante à violação do princípio de
cutivo, para instituí-lo por decreto- anterioridade, 'pressupõe, para ser
lei, tanto mais que, consoante o § I?, decidida, o exame do art. 65, da Lei
do art. 55, «publicado o texto, que te- n? 5.172, de 25-10-66 - Código Tribu-
rá» Vigência imediata, o decreto-lei tário Nacional, invocado no cabeça-
será submetido pelo Presidente da lho do Decreto-Lei n? 1.783/80, a sa-
República ao Congresso Nacional, ber se foi revogado pela Emenda
que o aprovará ou rejeitará dentro Constitucional n? 1/69 - bem como o
de 60 dias, a contar do seu recebi- da alegada repristinação do mesmo,
mento, não podendO emendá-lo; se pela Emenda Constitucional n? 8, de
nesse prazo não houver deliberação, 1977.
o texto será tido por aprovado.
No caso, tudo indica que o decreto- O artigo em causa, inserto na Se-
lei questionado, publicado com a ção IV - Imposto sobre Operações
cláusula de que entrará em vigor na de Crédito, Câmbio e Seguro, e soore
TFR - 99 207
--------------------------~

Operações Relativas a Títulos e Va- A Emenda Constitucional n? 8/77,


lores Mobiliários, - tem a seguinte que deu ao § ~9, do art. 153, da Cons-
redação: tituição, nova redação, igualmente
«o Poder Executivo pode, nas não o mencionou, como se verifica
condições e nos limites estabeleci- do respectivo texto, verbis:
dos em lei, alterar as alíquotas ou «Nenhum tributo será. exigido
as bases de cálculo do imposto, a ou aumentado sem que a lei o esta-
fim de ajustá-lo aos objetivos da beleça, nem cobrado em cada
pOlítica monetária.» exercício, sem que a lei que o hou-
Dito dispositivo teve amparo no § ver instituído ou aumentado esteja
I?, do artigo 14, da Emenda Consti- em vigor antes do início do
tucional n? 18/65, in verbis: exercício financeiro, ressalvados a
tarifa alfandegária e a de trans-
«Art. 14 Compete à União o porte, o imposto sobre produtos in-
imposto: dustrializados e outros especial-
I - Sobre operações de crédito, mente indicados em lei comple-
câmbio e seguro, e sobre opera- mentar, além do imposto lançado
ções relativas a títulos e valores por motivo de guerra e demais ca-
mobiliários. sos previstos nesta Constituição.»
11 ............................. . Como se verifica do texto transcri-
§1? - O Poder Executivo pode, to, o Imposto sobre Operações, Cré-
nas condições e nos limites estabe- dito, Câmbio e Seguro e sobre Ope-
lecidos em lei, alterar as alíquotas rações relativas a Títulos e Valores
ou as bases de cálculo do imposto, Mobiliários, da competência privati-
nos casos do n? I deste artigo, a va da União (Constituição, art. 21,
fim de ajustá-lo aos Objetivos da item VI e CTN - art. 63), não figura
política monetária.» na relação de exceções expressas ao
A Constituição de 1967 acolheu, posto .dedaimportação,
princípio anualidade, a saber: im-
tarifas de
vendo-o no artigo 22, § 2?, assim: transportes, impostos so,?re produtos
«Art. 22 Compete à União de- industrializados, impostos lançados
cretar impostos sobre: por motivos de guerra, nem nos de-
mais casos previstos nesta Constiui-
ção, isto é, - imposto de exportação
VI - Operações de crédito., câm- - art. 21,II, in fine; - imposto úni-
bio, seguro, ou relativas a títulos co incidente sobre impQrtação de
ou valores mobiliários; bens - art. 21, VIII; - contribuições
parafiscais - art. 21, § 2~.
§ 2? - É facultado ao Poder Exe De fora parte estes, a Constituição
cutivo, nas condições e nos limites não prevê outros casos de impostos
estabelecidos em lei, alterar as não sujeitos ao princípio da anuali-
alíquotas ou as bases de cálculo dade. E porque da data da Emenda
dos impostos a que se referem os Constitucional n? 8/77 a esta parte
n!'s I, lI:' e VI, a fim de ajustá-los não se editou lei complementar a
aos objetivos da política cambial e propósito, sou por que o decreto-lei
de comércio exterior, ou de políti- em causa não se ajusta ao figurino
ca monetária» constitucional.
A emenda Constitucional n? 1/69, Hugo de Brito Machado, Professor
contudo, não o encampou em seu tex- da Universidade de Fortaleza e Juiz
to, sendo completamente silente a Federal no Ceará, no ~eu precioso
respeito. «Curso de Direito Tributário,» edita-
208 TFR - 99

do em 197}J, ao examinar a alteração Constituição; Lei Complementar re-


da redação do § 29, do art. 153, da voga exclusivamente Lei Comple-
Constituição, em conjugação com a mentar Lei Ordinária revoga ou su-
disciplina do IOF, já perguntava: prime 'somente Lei Ordinária;
Decreto-Lei revoga Decreto-Lei, e
«Segundo o CTN, o Poder Execu- assim por diante, tudo no mesmo
tivo pode, nas condições e nos limi- nível hierárquico legislativo, de sor-
tes estabelecidos em lei, alterar as te que por ela o art. 65, do CTN, não
alíquotas e as bases de cálculo des- teria sido revogado. Sua eficácia é
te imposto, a fim de ajustá-lo aos que teria sido comprometida pela
objetivos da política monetária Emenda Constitucional de 1969, com
(CTN - art. 65). Essa regra do a conseqüência de que ficara em es-
CTN tinha fundamento no art. 14, § tado letárgico, de onde saíra por
1?, da Emenda 18 à Constituição de obra da Emenda n? 8/77, que lhe res-
1946, e depois, no art. 22, § 1?, da taurara o prejudicado de eficácia,
Constituição de 1967. Não há, toda- tornando-o de novo operante.
via, na Emenda n? 1, de 1969, qu.al-
quer dispositivo em que se possa A douta sentença recorrida não ado-
fundamentar o art. 65 do CTN. tou a jUdiciosa teoria, e nenhum dos
votos proferidos neste plenário a
A Emenda n? 8, de 14 de abril de prestigiaram, sendo que a sentença,
1967, alterando o § 29 do art. 153, assim como o voto do eminente rela-
elasteceu o campo dos chamados tor, citam copiosos textos doutriná-
tributos flexíveis, ou, em outras rios no sentido de que todo o mate-
palavras, ampliou as exceções aos rial legislativo existente considera-se
princípios da legalidade e da ante- revogadQ, no que contrariar os novos
rioridade da lei ao exercício finan- preceitos constitucionais. A nova re-
ceiro correspondente. Incluiu nas gra constitucional extingue a lei, ex-
exceções, além dos impostos como tingue o decreto do Executivo, regu-
tal mencionados na própria Consti- lamento, aviso, costume, e o mais
tuição, outros especialmente indi- que lhe for contrário, segundo o ensi-
cados em lei complementar. Teria namento de Carlos Maximiliano. A
essa ampliação a virtude de conva- nível de lei ordinária, há o preceito
lidar o art. 65 do CTN, ou estaria do § 3?, do art. 2?, da Lei de Introdu-
ele revogado pela Emenda n? 1. de ção ao Código Civil, de que - salvo
1969?» dispositivo em contrário - a lei revo-
A resposta à indagação do ilustre gada não se restaura por ter a lei re-
autor, feita com intuitos puramente vogadora perdido a vigência. Em
científicos, tivêmo-Ia logo no ano se- doutrina é pacífiCO o ensinamento de
guinte, de 1980, no sentido da revoga- que a represtinação há de ser sem-
ção, através de centenas de senten- pre expressa, e nunca presumida. E
ças proferidas em mandados de se- porque a Emenda Constitucional n?
gurança contra a aplicação do 8/77 não contém preceito algum vali-
Decreto-Lei n? 1.783/80, no mesmo dando o art. 65 do CTN, entendo que
exercício, e outras, pouquíssimas, persiste a revogação operada pela
em sentido contrário, isto é, reconhe- Emenda Constitucional n? 1/69, dada
cendo o convalescimento do citado a incompatibilidade deste ordena-
art. 65, com apoio na doutrina da re- mento constitucional com o anterior,
cepção, exposta pelo Prof. Kelsen, isto é, com o instrumentado na Cons-
pela qual o novo ordenamento rece- tituição de 1967.
be, isto é, adota certas normas do De outra parte, a jurisprudênci~
velho ordenamento. Por essa doutri- do Supremo Tribunal Federal se fl-
na - Constituição revoga somente xou no sentido de que leis anteriores
TFR - 99 209

à Constituição, e contrárias a elas, Só é possível alterar aquilo que já


são revogadas, por força do existe. E porque o legislador federal
princípio de incompatibilidade, con- ordinário nunca instituiu base de cál-
forme restou documentado pelo dou- culo ou alíquota sobre operações de
to patrocínio da impetrante trazendo câmbio, entendo que o Decreto-Lei
à colação o inteiro teor do acórdão n? 1.783/80, o que fez, realmente, foi
do Tribunal Pleno, no RE. n? 81.122, instituir nova tributação, com base
- fl.31 e também pelo voto do emi- no revogado e também inadequado
nente Ministro Pádua Ribeiro, quan- art. 65 do CTN, que conferia ao Exe-
do cita as Representações n? 1.106- cutivo autoridade para alterar tribu-
SP - Relator Ministro Moreira Al- to já existente.
ves - RTJ 95/993 e 969-DF - Rela- No relativo ao argumento de que o
tor Ministro Antônio Neder - DJ de IOF, por sua tradição, pode ser inse-
26-6-81. Fico de acordo com essa rido, via construção, no elenco dos
orientação. impostos não submissos ao princípiO
da anterioridade, cumpre relembrar
Ora, tendo o art. 65, do CTN - lei que abrange certa área já tributada
complementar, que dizia poder o pelo antigo Imposto de Selo, que
Executivo alterar nas condições e li- sempre foi acorrentado ao princípio
mites estabelecidos em lei, as constitucional da anualidade, o que
qlíquotas ou as bases de cálculo do opera no sentido da debilitação do
argumento em causa.
imposto, a fim de ajustá-lo aos objeti-
vos da politica monetária, sido ·revo- Ainda a propósito de que o tributo
gado irremissivelmente, e portanto não deve submissão ao princípio da
expelido do mundo jurídico, entendo anterioridade, em decorrência da
que o legislador não foi bem inspira- sua função extrafiscal, destinando-se
do, juridicamente falando, quando o o produto da arrecadação dele à for-
invocou como sustentáculo do mação de reservas monetárias, a
decreto-lei, até porque lei revoga- igual do que se dá com o imposto de
da não se presta a ap·oiar ato legÍsla- importação - vale relembrar que a
tivo, decisão administrativa, judi- Emenda Constitucional no 18/65 -
cial, ou o que seja. E o defeito se art. 14, § 2?, determinava que a re-
agiganta face à constatação de que ceita líquida do imposto destina-se à
sobre operações de câmbio, e de títu- formação de reservas tributárias,
los e valores mobiliários, inexistia tendo o CTN, no art. 67, reproduzido
alíquota ou base de cálculo, visto o princípio da obrigatoriedade da
que a União até a data do referido destinação do imposto, àquele fim,
decreto-lei não utilizara sua compe- bem assim como a Lei n? 5.143, de
tencia, 'para instituir imposto, a 20-10-66 - art. 14.
propósito. E que a Lei n? 5.143/66, que A Emenda Constitucional n? 1/69,
instituiu o Imposto sobre Operações no art. 21, § 4?, no entanto, mudou o
Financeiras, refere-se somente a tom da linguagem, quando preceitua
operações de crédito e seguro, dei- que a lei «poderá» destinar a receita
xando inteiramente em branco a fai- dos impostos enunciados nos itens II
xa ocupada pelas operações de câm- e VI deste artigo à formação de re-
bio e títulos e valores mobiliários, servas monetárias, ou de capital pa-
prevista na Constituição e no Código ra programas de desenvolvimento
Tributário Nacional - Lei Comple- econômico, estabelecendo, desse mo-
mentar que «não institui tributo». do, uma simples faculdade. .
Ele apenas estabelece regras a se-
rem argüidas pelo legislador ordi- O que constituía obrigação do le-
nário na instituição dos tributos». gislador oratnário, no sistema da
210 TFR - 99

Emenda Constitucional n? 18/65, to- aos argumentos compendiados no


talmente albergado pelo da Consti- erudito voto do eminente Ministro
tuição de 1967, foi convertido em fa- Antônio de Pádua Ribeiro, atendida
culdade, pela Emenda Constitucional a conjuntura, são relevantes e res-
n? 1/69. peitáveis, mas considerado o ordena-
mento jurídico pOSitivo a propósito,
O Decreto-Lei n? 1.783/80, invocan- não me sinto animado a segui-las,
do, no seu preâmbulo, a norma do pelo que o meu voto é julgando
art. 67, do CTN, destina o respecti- inconstitucional o Decreto-Lei n?
vo produto à formação de reservas 1.783, de 18-4-81, por ofensa ao § 29,
monetárias, a serem administradas do art. 153, da Constituição, em rela-
pelo Banco Central, e não pela Se- ção ao exercício de 1980.
cretaria da Receita Federal, seguin-
do, desse modo, o mesmo roteiro da
Lei n? 5.143, de 20-10-66, art. 14, de EXTRATO DA MINUTA
maneira a dar conseqüência prática
à função extrafiscal do tributo, que AMS n? 93.940 - RJ - ReI.: Sr.
pertence, irrecusavelmente, sob esse Min. Pedro da Rocha Acioli. Remte.
enfoque, à mesma família do impos- Ex Officio: Juízo Federal da 9~ Vara
to de importação, não sujeito ao - RJ. Apte.: Banco Central do Bra-
princípio da anualidade, o que não é sil. Apda.: Casa Nunes Martins S.A.
bastante a autorizar a declaração ju- Importadora e Exportadora.
dicial de que também o IOF lhe está Decisão: Prosseguindo-se o julga-
jungido, mormente em se conside- mento, por unanimidade, déu-se pro-
rando os invencíveis obstáculos re- vimento ao recurso voluntário e à re-
presentados pelo art. 153, § 2?, da messa oficial, para cassar a segu-
Constituição, na redação da Emenda rança. (Em 8-11-82 - 5~. Turma).
n? 8/77, e falta de lei complementar.
Os Srs. Mins. Moacir Catunda e
As razões do recorrente, assim co- Sebastião Reis votaram de acordo
mo as do parecer da Subprocurado- com o Relator. Presidiu o julgamen-
ria-Geral da RepÚblica, conjugadas to o Sr. Min. Moacir Catunda.

MANDADO DE SEGURANÇA N? 95.602 - DF


Relator: O Sr. Ministro Leitão Krieger
Requerente: Paulo Fernando Pereira de Oliveira
Requerido: O Exmo. Sr. Ministro de Estado da Fazenda.
EMENTA
1 - Comunicação da decisão ministerial na pes-
soa do advogado sem poderes para tal, mas apenas
para agir em juízo. Entendeu-se ser imprescindível
a intimação pessoal do interessado. Preliminar de
intempestividade rejeitada.
2 - A transferência da propriedade ou uso, ocor-
rida antes de cinco anos e sem o préviO recolhimento
dos tributos, sujeita o veículo à pena de perdimento,
nos exatos termos do art. 105, XIII, do Decreto-Lei
n? 37/66.
TFR - 99 211

In casu, a motocicleta foi adquirida pelo impe-


trante sem a satisfação dessas exigências legais.
Legítima a penalidade imposta. Segurança denega-
da.

ACORDÃO 76 (doc. 3), em data anterior, portan-


to, à vigência do Decreto-Lei n? 1.455,-
Vistos e relatados estes autos em de 7 de abril de 1976.
que são partes as acima indicadas:
Decide o Tribunal Federal de Re- Alega o impetrante a inexistência
cursos, em Sessão Plena, prelimi- de norma proibitiva, à época do de-
narmente, por maioria, tomar co- sembaraço aduaneiro, da transferên-
nhecimento do mandado de seguran- cia do veículo. Nulo se torna, por
ça, vencidos os Srs. Ministros Ar- conseguinte, o ato ministerial que
mando Rollemberg e Carlos Mário motivou a pena de perdimento. Pede
Velloso que não conheciam da impe- o deferimento da segurança ora im-
tração, e o Sr. Ministro Bueno de petrada, com a conseqüente libera-
Souza que julgava incabível a preli- ção da mercadoria apreendida.
minar. No mérito, o Tribunal, por
unanimidade, indeferiu o mandado As informações de fls. 11/14 de-
de segurança, na forma do relatório zem, em síntese, que o referido
e notas taquigráficas constantes dos veículo ingressou no território nacio-
autos que ficam fazendo parte inte- nal em nome do importador originá-
grante do presente julgado. rio, com isenção de impostos, ao
Custas como de lei. abrigo do diploma já referido na ini-
Brasília, 11 de novembro de 1982 cial. Ocorre que o benefício era con-
(data do julgamento) - Ministro dicionado pela não alienação ou
Jarbas Nobre, Presidente - Minis- transferência do veículo, a qualquer
tro Leitão Krieger, Relator. título, pelo lapso de tempo de cinco
anos, conforme expressa o art. 44,
clc o inciso lI, do parágrafo único,
RELATORIO do Decreto n? 61.324, de 11 de setem-
bro de 1967, que aprovou o Regula-
o Sr. Ministro Leitão Krieger: mento para o controle aduaneiro de
Paulo Fernando Pereira de Oliveira bagagem procedente do exterior.
impetra Mandado de Segurança con- Alega, ainda, o impetrado que o im-
tra o Senhor Ministro da Fazenda petrante tinha conhecimento da ilici-
que lhe aplicou a pena de perdimen- tude de seu ato, posto que, já como
to de uma motocicleta, marca Ron- segundo adquiren.te 1ia motocicleta,
da, calcada aquela autoridade no ao atualizar o emplacamento da mes-
art. 23, parágrafo único, do Decreto- ma, o fez em nome do vendedor ori-
Lei n? 1.455, de 1976. ginário, ou seja, do própriO importa-
Consoante o articulado na inicial, dor. Ocorreu, destarte, violação de
a motocicleta em causa foi importa- norma tributária pelo não recolhi-
da por João Rodrigues da Silva, mento dos tributos a que a operação
Isenta dos impostos de importação e estava sujeita; inquestionável, por-
produtos i~dustrializados, em face tanto, a pena de perdimento expres-
do art. 13, inc. IH, letra b do sa no Decreto-Lei n? 1.455/76, art. 23,
Decreto-Lei n? 37, de 18 de novembro inciso IV, remissiva a dispositivos
de 1966; e da Portaria Ministerial - legais vigentes, no caso, aos incisos I
GB-269/70, tendo a entrada na Zona a XIX, todos do art. 105 do Decreto-
Franca de Manaus ocorrido em 19-3- Lei n? 37, de 1966.
212 TFR - 99

No final da peça contestatória, o Decreto-Lei n? 37, de 18 de novembro


impetrado argúi a intempestividade de 1966. Mas, tal benefício foi condi-
da impetração. O prazo decadencial cionado à não transferência do
conta-se a partir do conhecimento da veículo a terceiros, pelo prazo de
decisão ministerial na pessoa de seu cinco anos, sem o pagamento dos tri-
advogado - (29 de setembro de butos e outros gravames.
1981) - e a impetração foi oferecida A motocicleta foi adquirida pelo
em 29 de janeiro de 1982, quando já impetrante sem a satisfação dessas
transcorrido o prazo fatal de 120 exigências legais e o mesmo a em-
dias. Insiste em que,assim, não há placou em Fortaleza ainda sob o no-
direito líquido e certo a amparar o me do primeiro adquirente, para
impetrante, como também, o socorro forrar-se ao pagamento daqueles tri-
heróico de que se valeu, via Manda- butos, com isso sujeitando-se à pena
do de Segurança, por interposto in- de perdimento, como disposto no art.
tempestivamente. 105, XIII, do Decreto-Lei n? 37/1966.
A douta Subprocuradoria-Geral da A matéria tem sido freqüentemen-
RepÚblica, em parecer da lavra do te apreciada por este Tribunal, que
Dl'. Geraldo Andrade Fonteles, perfi- nesse sentido tem decidido, ao que
lhou a preliminar de decadência le- se vê do acórdão da 4~ Turma, Ape-
vantada nas informações; no mérito, lação Cível n? 53.252, relator o emi-
opina pela denegação do mandamus. nente Ministro José Fernandes Dan-
É o relatório. tas; acórdão na Apelação Cível n?
90.010, da 5~ Turma, relator o emi-
VOTO nente Ministro Sebastião Alves dos
Reis; isto, além de várias outras de-
cisões que se conformam com as ci-
O Sr. Ministro Leitão Krieger (Re- tadas.
lator): Entendo improcedente a ale- Pelos motivos dados e entendendo
gação de que a medida foi tomada a procedentes os argumentos daquelas
destempo, por decorrido o prazo de- doutas decisões, denego a seguran-
cadencial. ça.
Ao que se vê de fl. 19, foi dado co-
nhecimento da decisão ministerial, VOTO PRELIMINAR VENCIDO
não ao interessado" mas sim a seu
advogado, unicamente. A procura- O Sr. Ministro Armando Rollem-
ção ao último outorgada não lhe con- berg: Sr. Presidente, data venia do
fere pOderes para tal (fl. 4), mas eminente Ministro-Relator, não co-
apenas para agir em juízo. Entendo nheço do mandado. Se o advogado
que era imprescindível a intimação constituído pelO impetrante teve co-
pessoal do interessado dos termos da nhecimento do ato atacado no man-
decisão referida. dado de segurança, a partir de tal
Conheço, por isso, da impetração. data começou a correr o prazo de
decadência.
Embora isso, quanto ao mérito,
não é de ser deferida a medida im-
petrada. VOTO PRELIMINAR VENCIDO
É que o veículo em causa, prove-
niente da Zona Franca de Manaus, O Sr. Ministro Carlos Mário Vel-
ali deu entrada com isenção dos im- loso: Sr. Presidente, parece-me que
postos de importação e sobre produ- ocorreu a decadência, porque a par-
tos industrializados, dado o disposto te é defendida no processo adminis-
no art. 13, inc. IIl, letra b, do trativo por int.ermécIio de advogéldo.
TFR - 99 213

Proferida a decisão, houve intima- Decisão: O Tribunal, preliminar-


ção ao advogado e, evidentemente, é mente, por maioria, tomou conheci-
a partir daí que se conta o prazo. mento do mandado de segurança,
vencidos os Srs. Ministros Armando
Com a devida vênia, acompanho o Rollemberg e Carlos Mário Vello.so
voto do Sr. Ministro Armando Rol- que não conheciam da impetração, e,
lemberg. Não conheço do pedido, o Sr. Ministro Bueno de Souza que
porque tenho como ocorrente a deca- julgava incabível a preliminar. No
dência do direito à impetração. mérito, o Tribunal, por unanimida-
de, indeferiu o mandado de seguran-
ça. (Em 11-11-82 - Sessão Plena).
VOTO VENCIDO
Na preliminar, votaram. com o Re-
O Sr. Ministro Bueno de Souza: Se- lator, os Srs. Ministros José Dan-
nhor Presidente, afasto, com a deví- tas, Carlos Madeira, Gueiros Leite,
da vênia, a própria preliminar de Torreão Braz, Moacir Catunda, Wash-
não conhecimento, que tenho por in- ington Bolívar, Otto Rocha, Wilson
cabível. Gonçalves, William Patterson, Adhe-
mar Raymundo, Sebastião Reis, Mi-
guel Jerônymo Ferrante, José Cân-
EXTRATO DA MINUTA dido, Antônio de Pádua Ribeiro e
Costa Lima. No mérito, além dos
Srs. Ministros que acompanharam o
MS n? 95.602 - DF. Relator: Sr. Relator na preliminar, votaram os
Ministro Leitão Krieger. Requeren- Srs. Ministros Armando Rollemberg
te: Paulo Fernando Pereira de Oli- e Carlos Mário Velloso. Presidiu o
veira. Requerido: Exmo. Sr. Minis- julgamento o Sr. Ministro Jarbas
tro de Estado da Fazenda. Nobre.

APELAÇAO EM MANDADO DE SEGURANÇA N? 96.545 - RJ


Relator: O Sr. Ministro Otto Rocha
Remetente: Juizo Federal da 9~ Vara - RJ
Apelante: Departamento Nacional de Estradas de Rodagem
Apelada: Rio Ita Ltda.
EMENTA
Transporte Coletivo - Alteração de Itinerário.
A mOdificação do itinerário pretendida por em-
presa de ônibus que explora o percurso entre Rio de
Janeiro e Itaperuna. via Pirapetinga (MG), fundado
o pedido na entrega ao tráfego do trecho melhorado
e na construção da Ponte Rio-Niterói, encontra am-
paro no disposto no art. 16, do flp.creto n? 68.961/71,
atendidas que foram as exigências nele contidas.
Preliminares repelidas.
Apelo improvidO.
214 TFR - 99

ACORDA0 A digna autoridade impetrada


prestou as informações de fls. 49/57,
Vistos e relatados estes autos em insurgindo-se preliminarmente con-
que são partes as acima indicadas: tra a concessão de liminar e salien-
Decide a Primeira Turma do Tri- tando a precariedade da permissão
bunal Federal de Recursos, por una- detida pela impetrante, revogável a
nimidade, negar provimento à apela- qualquer mom~nto, sem direito ~.
ção, na forma do relatório e notas continuidade ou indenização, fal-
taquigráficas constantes dos autos tando-lhe, portanto legítimo inte-
que ficam fazendo parte integranté resse ad causam. No mérito, taxa de
do presente julgado. arbitrária a atitude da impetrante,
que mudou parte do itinerário da li-
Custas como de lei. nha que lhe foi permitida sem auto-
Brasília, 17 de dezembro de 1982 rização da autoridade competente,.
(data do julgamento) - Ministro sem desistir do percurso anterior e
Lauro Leitão, Presidente - Ministro em prejuízo de empresas congêne-
Otto Rocha, Relator. res. Acentua; também, que não ocor-
rem, no caso, os motivos autorizado-
RELATORIO res dessa mudança de itinerário, tais
como a impraticabilidade do itinerá-
rio aprovado,. ou entrega recente ao
o Sr. Ministro otto Rocha: A em- tráfego de nova estrada ou trecho
presa de transporte Rio Ita Ltda. im- melhorado, constituindo a pretensão
petrou segurança contra o Diretor de em estabelecer os serviços comple-
Transporte Rodoviário do DNER, mentares previstos no art. 44, I, do
com o objetivo de compeli-lo a defe- Regulamento, que demandam uma
rir pedido de alteração de itinerário série de providências administrati-
e criação de seccionamentos em li- vas para sua aprovação.
nha que explora, entre o Rio de Ja-
neiro (RJ) e Itaperuna (RJ), via Pi- Por despacho de fI. 144. indeferiu o
rapetinga (MG), para que se apro- MM. Juiz a admissão como litiscon-
veite dos benefícios trazidos pela sortes passivas das empresas Auto
Ponte Rio-Niterói, e alargamento da Viação Natividade Ltda., Empresa
Rodovia BR-10l. Brasil S/ A - Transporte Turismo e
da Transturismo Rio Minho Ltda.,
Embasa o seu pedido no disposto por não terem demonstrado de que
no art. 16 do Decreto n? 68.691/71 que modo a sentença pOderia interferir
regulamentou os serviços rodoviá- na relação jurídica existente entre
rios interestaduais e internacionais elas e a impetrante.
,de transporte coletivo de passagei-
ros, alegando ser tal dispositivo ta- A seguir, prolatou a r. sentença de
xativo em garantir e assegurar à fls. 145/152, concedeu a segurança e
transportadora a concessão da linha ordenou a remessa de ofício. Para
pelo novo itinerário, desde que satis- assim decidir, entendeu que a pre-
feitas as exigências nele expressas. tensão encontra-se amparada, em to-
Impugna a argüição de concorrên- dos os seus termos, pelO invocado
cia alegada por duas empresas, es- art. 16 do Decreto n? 68.961/71 ' e le-
clarecendo que nenhum prejuízo traz vou em consideração as diversas
sua pretensão às linhas por elas ex- manifestações das Prefeituras inte-
ploradas. ressadas a favor da manutenção dos
novos serviços.
Instruíram a inicial os documentos
de fls. 10 a 41, e houve deferimento Apelou o DNER (fls. 155/161). Ar-
de liminar (fI. 2). gúi em suas razões a nulidade da
TFR - 99 215

sentença, diante da não admissão de di da liminar, estou em que, a esta


litisconsortes passivos e da inviabi- altura, após a sentença, irrelevante
lidade do mandado de segurança tornou-se tal argüição.
contra o ato administrativo impug- Ademais, na oportunidade da con-
nado. No mérito, pede a sua refor- cessão da liminar, conformou-se a
ma, por conflitar frontalmente com ora apelante, não usando ela do pe-
toda a disciplina jurídica atinente à dido de ordem legal, qual seja, o
matéria. da suspensão da medida (Lei n?
As contra-razões de apelado vie- 4.348/64, art. 4?).
ram às fls. 166/171. No que concerne à terceira, nuli-
A Subprocuradoria opina pela re- dade da decisão, pela não admissão
jeição das preliminares do recurso, de outras empresas como litisconsor-
mas pede a cassação da segurança e tes passivas, bem respondeu o des-
extinção do feito, por irregularidade pacho indeferitório de fl. 144, verbts:
da representação processual. No mé- «Indefiro a admissão do Auto
rito, o parecer é pelo provimento do Viaçâb Natividade Ltda., da Em-
apelo (fls. 178/182). presa Brasil S/ A - Transporte Tu-
Ê o relatório. rismo, e da Transturismo Rio Mi-
nho Ltda., como assistentes litis-
VOTO consorciais passivas. As requeren-
tes não demonstraram de que mo-
do poderá a sentença, a ser prola-
O Sr. Ministro otto Rocha (Rela- tada, interferir na relação jurídica
tor): Sr. Presidente: As razões do existente entre elas e a impetran-
apelo argúem preliminares, quais te, que, ao contrário, defende direi-
sejam: to próprio.
1. ausência de prévia distribui- Além do mais, em face da nova
ção; redação ao art. 19 da Lei n?
2. concessão de medida liminar, 1.533/51, dada pelo art. I? da Lei n?
em frontal descumprimento ao in- 6.071/74, não mais é admissível a
ciso II do art. 7? da Lei n? 1.533/51; assistência em mandado de segu-
rança, de vez que, a teor do citado
3. nulidade da decisão recorrida, artigo, só as normas processuais
pela não admissão de outras em- relativas ao litisconsórcio se apli-
presas como litisconsortes passi- cam ao «writ» constitucional.
vas; e,
No caso, não se trata de litiscon-
4. inviabilidade da via do manda- sorte necessário (art. 47 do CPC);
do de segurança para atacar o ato e, como facultativo, é ele inad-
impugnado. missível depoiS de notificada a au-
Quanto à primeira, o item IV do toridade (art. 264 do CPC). Os pe-
Provimento n? 98, do Conselho da didos só vieram aos autos depois
Justiça Federal, permite, nos casos de prestadas as informações».
urgentes, a distribUição fora da au- Finalmente, a quarta e última pre-
diência, «feita a conseqüente com- liminar, qual seja, a da inviabilidade
pensação». do mandado de segurança, também
Neste sentido foi o despacho de fl. não pode prosperar.
2, ordenando a remessa dos autos ao O Tribunal tem apreciado a maté-
CIP, para distribuição, procedendo- ria em discussão, como faz certo o
se à compensação. acórdão proferido nos autos da AMS·
No que respeita à segunda prelimi- n? 78.146, de que foi Relator o emi-
nar, qual seja a de concessão de me- nente Ministro Jarbas Nobre.
216 TFR - 99

É o que também restou afirmado mente o disposto nos arts. 12, IV, d e
no voto do eminente Ministro Wil- 16, do Regulamento aprovado pelo
liam Patterson, ao Julgar, na E. Se- Decreto n? 68.961/71, que dispõem:
gunda Turma, os autos da AMS n?
89.259 - RJ, verbis: «Art. 12. Independem de con-
corrência:
«Aparentemente, na espécie, não
se vislumbra certeza e liquidez do
direito reclamado, pela própria na-
tureza da relação jurídica. Dentro IV - As seguintes modificações
de uma normalidade administrati- nos serviços:
va a reparação cogitada não en- d) Alteração de itinerário em de-
contraria abrigo no rito sumário do corrência de impraticabilidade do
«writ», principalmente pela inter- itinerário aprovado ou entrega ao
ferência do Judiciário em matéria trânsito de nova estrada, ou trecho
que per tine com a conveniência do melhorado, atendido o disposto nos
Poder Público. artigos 15 e 16».
Acontece, porém, que a hipótese «Art. 16. A alteração do itine-
dos autos apresenta lances que rário decorrente da entrega ao
conduzem à convicção de um direi- tráfego de nova estrada ou tre-
to estratificado, em decorrência cho melhorado, que possibilite o
dos antecedentes fáticos, levando à atendimento mais confortável ou
solução indicada pela impetrante e econômico ao usuário, garantirá
que repousa em normas regula- à transportadora, mantidos os
mentares válidas, principalmente terminais anteriores, a concessão
o art. 12 do Decreto n? 68.961, de 20 de linha pelO novo itinerário, des-
de julho de 1971, que dispõe sobre o de que:
transporte coletivo de passageiros, I - Desista, expressamente,
ao dispor, verbis: da exploração da linha pelO itine-
«Art. 12. Independem de con- rário anterior;
corrência:
II - Se obrigue, quando se tra-
tar de linha seccionada, a tam-
IV - As seguintes modifica- bém executar o serviço pelo iti-
ções nos serviços: nerário anterior, até que o aten-
dimento das localidades interme-
a) fusão de linhas interesta- diárias esteja asseguradO, seja
duais exploradas pela mesma por adaptação das característi-
transportadora, por período supe- cas de linhas porventura existen-
rior a 2 (dois) anos, quando ex- tes, seja pela implantação de no-
clusiva nas linhas a se fundirem vas linhas;
e não houver outra transportado- IH - Não se estabeleça, com a
ra explorando a linha resultante, alteração do percurso, a explora-
desde que, a critério do DNER, ção de mercados intermediários
não ocasione concorrência ruino- já servidos por outras transpor-
sa a outra transportadora que tadoras, ou que, isoladamente,
execute a mesma ligação, por ou- permitam a implantação de no-
tro itinerário e, ainda, sem pre- vos serviços».
juízo do atendimento dos merca-
dos intermediários». E prossegue a sentença:
Quanto ao mérito, um dos funda- «Como se vê, quando se tratar de
mentos do pedido, acolhido pela res- simples alteração de itinerário,
peitável sentença apelada, foi justa- mantidos os terminais da linha, é o
TFR - 99 217

próprio regulamento quem a admi- Só há uma forma de se concilia-


te, independentemente de concor- rem as disposições, aparentemente
rência pública. antagônicas, dos itens I e H do art.
Não se discute que a entrega da 16 citado: é considerar-se que o
Ponte Rio-Niterói, se bem que item I pertine às linhas diretas, en-
ocorrida já há algum tempo, repre- quanto o item II diz respeito às li-
sentou uma outra e melhor opção nhas seccionadas.
para os usuários da linha da impe- Mas ainda que não pUdesse o
trante atingirem o ponto de desti- pleito da impetrante ser atendido
no, o mesmo ocorrendo com a du- com base no art. 16 do Regulamen-
plicação e melhoria das pistas da to (só admitir para argumentar),
BR-101, entre Niterói e Magé (Ma- ainda assim sê-to-ia pelo art. 44, I,
nilhas), o que é fato notório. do mesmo diploma, indicado pela
O que o impetrado alega, contu- autoridade impetrada, já que as li-
do, é que a impetrante não desis- nhas supostamente afetadas pela
tiu, como exigido no item I do art. modificação parcial de itinerário
16 do Regulamento, da exploração não são interestaduais, como a da
da linha pelo itinerário anterior. impetrante, mas intermunicipais,
estando, portanto, subordinadas ao
Ora, como se vê dos documentos poder concedente estadual, e não
oficiais de fls. 19/20, a linha «Rio aoDNER.
de Janeiro-Itaperuna» não é linha
direta, mas seccionada. Ora, bem explica a impetrante,
as secções estabelecidas, em fun-
Assim sendo, não me parece ção da alteração do itinerário, li-
cabível, neste caso, exigir-se da gam Municípios do Estado de Mi-
transportadora a desistência da nas Gerais (Pirapetinga, Volta
operação pelo itinerário anterior, Grande, Estrela Dalva e Além Pa-
como condição para a exploração raíba) a outros, do Rio de Janeiro
do novo percurso, pois o item H do (Magé, Alcântara e Niterói), não
art. 16 é claro ao dizer que a alte- se compreendendo como possa
ração de itinerário é possível desde ocorrer a concorrência ruinosa a
que a empresa que alude a autoridade.
«se obrigue, quando se tratar Em verdade, o que tanto o art.
de linha seccionada, a também 16, IH, como o art. 44, I, do Regu-
executar o serviço pelo itinerário lamento coíbem é que, com a mo-
anterior, até que o atendimento dificação do percurso da linha, se
das localidades intermediárias estabeleça a exploração de merca-
esteja assegurado, seja por adap- dos intermediários já servidos por
tação das características de li- outras transportadoras.
nhas porventura existentes, seja
pela implantação de novas li- No caso, as empresas impugnan-
nhas». tes certamente que não exploram
Portanto, a desistência da explo- os mercados intermediários cita-
ração da linha pelo itinerário ante- dos, mas executam, apenas, linhas
intermunicipais no Estado do Rio
rior, a que deu tanta ênfase o im- de Janeiro, que não atingem os
petrado, e que seria a condição do municípios mineiros apontados.
art. 16 não satisfeita pelo impe-
trante, era inexigível no caso, pois Diga-se, para mais, que as pró-
a linha «Itaperuna-Rio de Janeiro» prias informações não foram
não é executada em caráter direto, explícitas a esse respeito, apenas
mas com diversos seccionamentos alegando de forma vaga e genérica
no percurso. que as alterações do itinerário pre-
218 TFR - 99

tendidas gerariam concorrência da sentença de primeiro grau, o que


ruinosa a diversas empresas, sem, me leva a confirmá-la, pelos seus
contudo, sequer mencioná-las ou próprios fundamentos. .
esclarecer o porquê dessa sua afir- Ante o exposto, nego provimento à
mação, tão distante da realidade, apelação.
quando se vê a total diversidade
dos itinerários, expressa no mapa É o meu voto.
de fl. 41.
Ora, diante da clareza do texto EXTRATO DA MINUTA
legal, afirmar que
«a alteração de itinerário de- AMS n? 96.545 - RJ - Rel.: O Sr.
corrente da entrega ao tráfego de Ministro Otto Rocha. Remte.: Juízo
nova estrada (no caso, a Ponte Federal da 9~ Vara. Apte.: DNER.
PresIdente Costa e Silva) ou tre- Apda.: Rio !ta Ltda.
cho melhorado (a duplicação da
BR-101, no trecho percorrido) ... Decisão: A Turma, por unanimida-
garantirá à transportadora ... a de, negou provimento à apelação (1~
concessão da línna pelo novo iti- Turma, 17-12-82).
nerário ... » (art. 16)
Os Srs. Ministros Leitão Krieger e
não vejo como desatender ao pe- Lauro Leitão votaram com o Rela-
dido inicial». tor. Ausente o Sr. Ministro Pereira
As razões do recurso não conse- de Paiva. Presidiu o julgamento o
guem abalar os sólidos fundamentos Exmo. Sr. Ministro Lauro Leitão.

HABEAS CORPUS N? 5.478 - DF


Relator: O Sr. Ministro Leitão Krieger
Impetrante: Cláudio Monteiro
Impetrado: Juízo Federal da 1~ Vara - DF
Paciente: Jason Fernandes Reis.
EMENTA
Indiciados os adquirentes sucessivos de uma ar-
ma furtada ao Departamento de Policia Federal,
com exclusão do paciente, não constitui constrangi-
mento ilegal promoção do Ministério Público para
indiciamento também daquele, acolhida pelo Juízo
de primeiro grau. Denego a ordem.

ACORDA0 constantes dos autos que ficam fa-


zendo parte integrante do presente
Vistos e relatados estes autos em julgado.
que são partes as acima indicadas: Custas como de lei.
Decide a Primeira Turma do Tri- Brasília, 15 de outubro de 1982 (da-
bunal Federal de Recursos, por una- ta do julgamento) - Ministro Lauro
nimidade, denegar a ordem, na for- Leitão, Presidente - Ministro Leitão
ma do relatório e notas taquigráficas Krieger, Relator.
TFR - 99 219

RELATORIO cente ao Departamento de Polícia


Federal. Instaurado o Inquérito para
o Sr. Ministro Leitão Krieger: elucidação dos fatos, apurou-se que
Cláudio Monteiro, brasileiro, casado, dita arma havia sido furtada no inte-
advogado, inscrito na OAB, Seção do rior de uma residência situada no
Distrito F~deral, sob o n? 1.666, com Guará 11, pelo indivíduo Lindomar
escritório no SRTS, Edifício Venâncio Pereira de Jesus. A partir de então o
2.000, bloco B, 4? andar, loja 422, nes- revólver foi adquirido, sucessiva-
ta capital, em extensa petição, impe- mente, por diversas pessoas, dentre
tra Ordem de Habeas Corpus em as quais Jason Fernandes Reis, o
prol de Jason Fernandes Reis, brasi- qual figura como o penúltimo dos ad-
leiro, casado, agente de polícia, da quirentes da arma. Os envolvidos na
Secretaria de Segurança Pública, do trama delituosa foram interrogados
Distrito Federal, domiciliado e resi- e qualificados criminalmente, com
dente à Quadra 4, Conjunto M, Casa exceção do paciente que só foi sub-
16-Fundos, do Setor Sul do Gama, metido a interrogatório. O Dl'. Dele-
DF, alegando, em resumo, o seguin- gado que presidiu o Inquérito, ao ela-
te: borar o relatório, houver por bem ex-
Sofre o paciente coação ilegal por cluir Jason do Inquérito, deixando de
ato do MM. Juiz Federal da 1~ Vara identificá-lo crlminalmente (fI. 64).
desta capital, em razão de ter aquele Recebendo os autos do Inquérito, o
Magistrado deferido promoção do ilustre Procurador da República re-
Ministério Público no sentido de que quereu a baixa para diligência, a
baixassem os autos do Inquérito à fim de que se incluísse o paciente no
autoridade policial para'indiciamen- Inquérito, no que foi atendido pelo
to do policial, ora paciente, Assim se emérito julgador.
manifestou o Ministério Público: «Os É o relatório.
elementos constantes nos autos do
Inquérito Policial parecem ser sufi-
cientes a que seja indiciado, nos ter- VOTO
mos da lei, igualmente o policial Ja-
son Fernandes Reis (fls. 13). Re- O Sr. Ministro Leitão Krieger:
quer, pois, a V. Exa. a baixa dos au- (Relator): Conheço da impetração,
tos, em diligência, para que seja in- mas denego a ordem.
diciado, no Inquérito, o Agente de As> que se viu, a autoridade poli-
Polícia acima nomeado». cial que presidiu ao Inquérito indiciou
Juntou o impetrante vários docu- outros adquirentes sucessivos da ar-
mentos. ma pertencente ao Departamento de
Polícia Federal, deixando de fazê-lo
Solicitadas informações, prestou- relativamente ao paciente, sob a ale-
as o ilustrado Juiz, esclarecendo que gação de que «não houve má-fé» por
o Inquérito se encontra no Depar- parte do mesmo (fI. 64). Ora, tinha o
tamento de Polícia Federal (fls. paciente, mais que qualquer outro
25/26) . dos indiciados adquirentes da arma,
Chamada à fala, a douta Sub- dada sua condição de policial, o de-
procuradoria-Geral opina pela de- ver de cercar a aquisição das caute-
negação da ordem (fls. 68/70). las necessárias. E note-se que no re-
Nessa peça, aquele órgão do MP, vólver estava gravado o emblema do
junto a este Egrégio Colegiado, com Departamento de Polícia Federal
precisão sintetiza os fatos: «Colhe-se (fI. 29).
das peças que instruem estes autos Da própria narrativa da impetra-
que foi furtado um revólver perten- ção, de logo se verifica não poder ela
220 TFR - 99

prosperar. Somente se poderá falar Agiu o ilustrado Juiz com acerto e


em ausência de justa causa, quando cumprindo as prescrições legais.
o indiciamento não tem motivação É o meu voto.
legal, o que não se dá na espécie.
Trata-se de matéria de fato, ina- EXTRATO DA MINUTA
preciável via habeas corpus. Á auto-
ridade pOlicial lícito não era, ante- HC n? 5.478 - DF - Relator: O Sr.
cipando-se ao pronunciamento do Ministro Leitão Krieger. Impte.:
Ministério Público e do Juiz, con- Cláudio Monteiro - Impdo.: Juízo
cluir, em última análise, pela ino- Federal da 1~ Vara - DF. Pacte.:
cência do paciente. Jason Fernandes Reis.
Decisão: A Turma, por unanimida-
Bem andaram, o representante do de, denegou a ordem. (Em 15-10-82
Ministério Público ao requerer, e o - 1~ Turma).
ilustrado Juiz apontado como coator
ao deferir, como lhe cumpria, o indi- Os Srs. Ministros Lauro Leitão e
ciamento do paciente. Otto Rocha votaram com o Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro
Não há coação ilegal alguma. Lauro Leitão.

EMBARGOS DE DIVERGENCIA NO
RECURSO ORDINARIO N? 4.274 - MG
Relator: O Sr. Ministro Otto Rocha
Embargante: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT
Embargado: Márcio de Almeida Machado
EMENTA
Reclamação trabalhista. QÜinqüênio anterior à
opção. Jornada de Trabalho.
- A percepção dos qüinqüênios completados no
regime anterior à opção, constitui direito adquirido
do servidor, incorporado aos seus vencimentos.
- O acréscimo de 45 minutos na jornada diária
de trabalho, para se completar as 48 horas semanais
constantes do contrato laboral e que não vinham
sendo cumpridas, não constitui alteração unilateral,
como pretendido.
- Embargos parcialmente recebidos.
ACÓRDÃO Ministros William Patterson, José
Cândido e Gueiros Leite que rejeita-
Vistos e relatados estes autos em ram totalmente os Embargos, na
que são partes as acima indicadas: forma do relatório e notas taquigrá-
Decide a Primeira Seção do Tribu- ficas constantes dos autos que ficam
nal Federal de Recursos, por maio- fazendo parte integrante do presente
ria, receber em parte os Embargos, julgado.
apenas no relativo à questão do ho-
rário reclamado, vencidos os Srs. Custas como de lei.
TFR - 99 221

Brasília, 3 de novembro de 1982 horas diârias de serviço, sem obri-


(data do julgamento) - Ministro gação de comparecimento aos sâ-
José Dantas, Presidente - Ministro bados. Repentinamente, resolveu,
Otto Rocha, Relator. para que o empregado continuasse
com o sâbado livre, acrescer horas
RELATORIO no seu expediente, a título de com-
pensação.
o Sr. Ministro Otto Rocha: I Cufda-
se de embargos divergentes opostos A continuidade da alteração do
ao V. acórdão da E. 2~ Turma deste regime por período superior a um
Tribunal, postulando a embargante,
I ano, teve reflexo no contrato, crian-
Empresa Brasileira de Correios e do para o reclamante uma situa-
Telégrafos, a sua mOdificação na ção definida. Comentando a com-
parte em que concedeu qÜinqüênios pensação de horas, Amauri Masca-
a ex-funcionârio públiCO optante pelo ro Nascimento adverte (Compên-
regime celetista e que considerou co- dio de Direito do Trabalho, pâg.
mo horas extras aquelas acrescenta- 445):
das à jornada diâria para se alcan-
çar, em 5 (cinco) dias apenas, as «Trata-se, portanto, de prorro-
quarenta e oito horas semanais de gação bilateral, porque depende
trabalho. da concordância dos trabalhado-
res, formal porque só é consti-
Admitido o recurso, o embargado tuída mediante acordo escrito ou·
deixou de oferecer impugnação no convenção coletiva, independente
prazo legal (fI. 136). de outra causa jurídica a não ser
É o relatório. a vontade dos interessados ... »
E que tais pressupostos inexis-
VOTO tem, no particular, comprova o
simples ajuizamento desta Recla-
O Sr. Ministro Otto Rocha <Rela- mação.
tor): Sr. Presidente: Preliminarmen-
te, conheço dos embargos, uma vez No que respeita ao pedido de
comprovada a divergência jurispru- qüinqüênio, o decisório não me
dencial. parece correto, por isso que enten-
No que tange ao mérito, o voto do de forma diversa, consoante
condutor do acórdão, da lavra do manifestei-me no RO n~ 4.347-MG,
eminente Ministro William Patter- verbis:
son, estâ assim concebido:
«Quanto aos qÜinqüenios ante-
«A douta sentença de primeiro riores à opção, vale dizer, aque-
grau merece ser confirmada em les auferidos sob a égide da legis-
parte,como se verâ a seguir. lação estatutâria, entendo que a
Com efeito, o prolongado regime sentença deu correta interpreta-
de carga (40 horas semanais) a ção à Lei n? 6.184, de 1974, por is-
que vinha sendo submetido o re- so que não rechaçando este diplo-
clamante, por deliberação da pró- ma, de modo expresso, aquela
pria reclamada, conduz, sem som- vantagem, hâ de se entender ad-
bra de dúvida, à alteração tâcita da quirido o direito de continuar
clâusula contratual que exigia 48 percebendo, não em decorrência
horas de trabalho, por semana. da nova situação, o que seria in-
Durante mais de um ano, a Em- viâvel, mas por força do
presa exigiu, a despeito do instru- prinCípio realçado. É o que se lê
mento consensual, tão-somente, 8 do decisum:
222 TFR - 99

«o silêncio da Lei n? 6.184/74, da ressalva, é evidente que não


que aliás não foi editada especifi- se poderá, aí, reconhecer a ga-
camente para o pessoal da ECT, rantia do direito pretérito.»
jamais poderia ensejar a esta Finalment~, no que tange ao pe-
empresa a supressão do adicio- dido de rescisão indireta, a senten-
nal de tempo de serviço. Referi- ça deu, a meu juízo, a interpreta-
do adicional era já um direito ad- ção correta, ao assinalar:
quirido, incorporado ao patrimô-
nio das reclamantes, conquistado «No que se refere à alteração
através de vários anos de traba- do contrato de trabalho, para ge-
lho continuado. A lei assegurou rar o pedido de rescisão, com as
aos servidores que optassem pelo penas pedidas, também não tem
regime da CLT o tempo de servi- razão o· reclamante, pois só isso,
ço anterior, para todos os efeitos. corrigível pela indenização, não
Assegurou a contagem em dobro pode constituir motivo para a
da licença especial não gozada, o rescisão contratual, sobretudo se
direito a férias de trinta dias, for considerado que não há ne-
por que não teria assegurado os nhum dolo da empregadora em
qÜinqüênios já conquistados?
r
relação ao ato de mudança de ho-
Além do mais, a gratificação re- rário, cuja mudança está até
cebida depois de algum tempo in- mesmo comprovada como mu-
tegra a remuneração, mesmo no dança partida do órgão central e
regime trabalhista. de caráter geral.
Não entendo o ato da empresa
É evidente que, tendo o recla- como ato capaz de gerar uma
mante mudado de regime de tra- despedida e, muito menos, injus-
balho, não continuará a adquirir ta.»
novos qüinqüênios que o novo re- Ante o exposto, dou provimento
gime não ll.ossibilita. Mas os parcial ao recurso do reclamante,
qÜinqüênios adquiridos no regi- tão-somente para reconhecer devi-
'me anterior têm que ser respei- dos os qüinqüênios adquiridos an-
tados e foram assegurados por tes da opção.»
lei como direitos já conquistados.
A reclamante faz jus a continuar Como se viu, no que respeita à
perceb~ndo tantos qÜinqüênios postulação de indenização por horas
quantos aqueles que já haviam extras, pela alteração da carga ho-
vencido quando da opção. Seu va- rária, assim justificou o voto do emi-
lor, é evidente, irá sendo reajus- nente Ministro Patterson:
tado à medida da alteração sala- «Com efeito, o prolongado regi-
rial, pois que é fixado na base me de carga (40 horas semanais) a
percentual. Do contrário estar- que vinha sendo submetido o Í'e-
se-ia desfigurando o instituto. clama,nte, por deliberação da pró-
Não há aquisição de novos qÜin- pria reclamada, conduz, sem som-
qÜênios porque não é instituto do bra de dúvida, à alteração tácita
regime trabalhista.» da cláusula contratual que exigia
48 horas de trabalho, por semana.
Advirta-se, por oportuno, que a Durante mais de um ano, a Em-
solução restringe-se aos servido- presa exigiu, a despeito do instru-
res amparados pela Lei n? 6.184, mento consensual, tão-somente, 8
de cUjos termos depreende-se o horas diárias de serviço, sem obri-
alcance dessa vantagem. Para gação de comparecimento aos sá-
outros, em que a lei de opção na- bados. Repentinamente, resolveu,
TFR - 99 223

para que o empregado continuasse que o empregador lhe determinar


com o sábado livre, acrescer horas inicialmente ou no curso do contra-
no seu expediente, a título de com- to.»
pensação.» Inicialmente, o empregador man-
Acolheu, o eminente Relator, o en- teve as 8 horas diárias, mas sem tra-
tendimento da sentença de que hou- balho aos sábados, o que não dariam
ve, após lapso de tempo superior a as 48 horas semanais.
um ano, com trabalho de segunda à Posteriormente, «no curso do con-
sexta, de oito horas diárias, sem tra-trato», prorrogou de 45 minutos as 8
balho aos sábados, modificação, al- horas diárias, para atingir as 48 ho-
teração do contrato escrito. ras semanais, sem trabalho aos sá-
Com a devida vênia, neste parti- bados, o que não redundou, efetiva-
cular o meu entendimento discrepa do mente, em aumento da jornada, pois
ali esposado, para harmonizar-se não se ultrapassaram as 48 horas se-
com o do acórdão divergente, trazido manais.
à colação, ou seja, o acórdão proferi- Não há, pois, que se falar em alte-
do pela E. 4~ Turma, nos autos do ração do contrato laboral.
RO n? 4.267-MG, Relator o eminente
Ministro José Dantas, e cUja ementa Quanto aos qüinqüêniOS anteriores
proclama: à opção, ou sejam, aqueles percebi-
dos sob o pálio da legislação estatu-
«Trabalhista. Horas extras. tária, estou em que bem decidiu o v.
Não extrapOlam o salário normal acórdão embargado ao reconhecê-los
os quarenta e cinco minutos acres- devidos.
cidos à jornada diária com o fim Cuida-se de gratificação pro labore
de alcançar-se, em apenas cinco facto que, por isso, incorpora-se aos
dias, o total das contratadas qua- vencimentos do servidor, à medida
renta e oito horas semanais de tra- que a vai conquistando.
balho» (cfr. ac. pub. no DJ de 14-5-
80). Os dois acórdàos apontados como
Em verdade, eis o teor da cláusula divergentes, da lavra do eminente
do contrato firmado pela reclamada Ministro Aldir G. Passarinho, resta-
e reclamante, no que concerne à ram superados, com decisão do Tri-
jornada de trabalho: bunal Pleno, ao julgar os ERO n?
3.317, também de Minas ~GeraiS., e
«5~ -Jornada - Horário - Tur- também embargante a Empresa
no. Brasileira de Correios e Telégrafos
O empregado é admitido para Eis a ementa do respectivo acór-
prestar a jornada de 8 horas por dão:
dia, no total de 48 horas semanais,
no horário que o empregador lhe «Trabalho - ECT. - Opção pelo
determinar, incialmente ou no cur- regime CLT - Adicional por tem-
so do contrato, e ciente de que o po de serviço - QÜinqüêniO - Di-
empregador mantém turnos diur- reito adquirido.
no, noturno e misto de trabalho, I - Servidor estatutário que faz
sendo obrigação do empregado opção pelo regime CLT. O direito
prestar serviços em qualquer de- adqUirido diz respeito aos qüinqüê-
les, a critério do empregador»: nios completados antes da opção.
Como se vê, expressamente, da A partir desta, subordinada a rela-
cláusula supratranscrita, a jornada ção de trabalho a novo regime
é de 8 horas por dia, no total de 48 jurídico, não há invocar legislaçào
horas semanais, mas «no horário pertinente ao regime anterior. O
224 TFR - 99

que se garante é o direito adquiri- partes ou dissídio coletivo, conforme


do, ou seja, a percepção dos qüin- assinalado na doutrina noticiada no
qüênios completados no regime an- meu pronunciamento.
terior, isto é, até a opção, não os Ante o exposto, rejeito os embar-
direitos por adquirir. gos.
11 - Embargos rejeitados» (ac.
pub. no DJ de 26-3-80). VOTO
Aliás, o próprio Ministro Passari-
nho, como se vê à fI. 113 destes au- O Sr. Ministro Fláquer Scartezzini:
tos, votou acompanhando, com res- Sr. Presidente, acompanho o Sr.
salva do seu ponto de vista, o voto do Ministro-Relator, data venia do Sr.
Relator; em face, como salientou, da Ministro William Patterson. Entendo
decisão do Tribunal Pleno, acima que não houve alteração do contrato
mencionada. de trabalho. O acréscimo de 45 mi-
nutos nada mais fez do que comple-
Com estas considerações, recebo tar as 48 horas, o que já era admiti-
parcialmente os embargos, a fim de do pelo contrato.
reformar o V. acórdão recorrido
apenas na parte que entendeu altera- É o meu voto.
do o contrato de trabalho do recla-
mante, ora embargado, mantendo-o EXTRATO DA MINUTA
no que se refere aos qüinqüênios, de-
vidos que são os completados antes ERO n? 4.274 - MG - ReI.: O Sr.
da opção. IMinistro Otto Rocha. Embgte.: Em-
presa Brasileira de Correios e Telé-
É o meu voto. grafos - ECT. Embgdo.: Márcio Al-
meida Machado.
Decisão: A Seção, por maioria, re-
VOTO VENCIDO EM PARTE cebeu em parte os Embargos, ape-
nas no relativo à questão do horário
reclamado, vencidos os Srs. Minis-
O Sr. Ministro William Patterson: tros William Patterson, José Cândi-
Sr. Presidente, data venia, mante- do e Gueiros Leite que rejeitavam to-
nho o meu voto proferido na Turma. talmente os Embargos.· Em 3-11-82
Lembro-me muito bem do caso e -1~ Seção).
sei que a ECT sempre se socorre do Não tomaram parte no julgamento
acórdão do eminente Ministro José os Srs. Ministros Adhemar Raymun-
Dantas a respeito desse assunto. do e Pereira de Paiva.. Os Srs. Minis-
Todavia, neste caso, entendi que o tros Fláquer Scartezzini, Costa Li-
prolongado tempo (mais de 1 ano), ma, Leitão Krieger, Lauro Leitão e
da prestação laboral, nas condições Carlos Madeira votaram de acordo
indicadas, operou uma alteração tá- com o Sr. Ministro-Relator. Presidiu
cita do contrato, que só pode ser mo- o julgamento o Exmo. Sr. Ministro
dificada mediante acordo escrito das José Dantas.

RECURSO ORDINARIO N? 5.294 - DF


Relator: O Sr. Ministro Carlos Madeira
Recorrente: União Federal
Recorrido: Raimundo José Correia de Araújo
TFR - 99

EMENTA
Direito do Trabalho. Rescisão Indireta do Con-
trato de Trabalho. Necessidade da Prévia Reclama-
ção.
O parágrafo 3? do art. 483 da CLT, ao estabele-
cer que o empregado poderá pleitear a rescisão de
seu contrato de trabalho, nas hipóteses de descum-
primento de obrigações contratuais por parte do em-
pregador e de redução de trabalho de modo a afetar
os salários, permanecendo ou não no serviço até de-
cisão final do processo, pressupõe a formação deste
para afastar-se do emprego. A man.1festação da von-
tade de rescindir o contrato, feita· em juizo, há de
ser feita antes do afastamento do empregado. De ou-
tra forma, não teria sentido a cláusula «até decisão
final do processo», bastando facultar-se ao emprega-
do pleitear a rescisão, permanecendo ou não em ser-
viço.

ACORDA0 Alegou o impetrante que durante


os quase quatro anos que trabalhou
Vistos e relatados os autos em que para o órgão, ficou à margem tanto
são partes as acima indicadas: da legislação trabalhista como do re-
Decide a 3~ Turma do Tribunal Fe- gime estatutário, deixando o empre-
deral de Recursos, por unanimidade, gador de cumprir obrigações contra-
dar parcial provimento ao recurso, tuais, como a anotação da Carteira
para excluir da condenação a indeni- de Trabalho, pagamento de 13? salá-
zação por tempo de serviço, na for- rio e outras. Tal situação constitui
ma do relatório e notas taquigráficas lesão aos direitos do empregado, que
constantes dos autos que ficam fa- enseja a rescisão indireta do contra-
zendo parte integrante do presente to, pleiteável quando assim for jUl-
julgado. gada conveniente.
Custas como de lei. De 28 de agosto a 27 de setembro
de 1978, substituiu o Chefe de Divi-
Brasília, 6 de abril de 1982 (data são de Serviços Gerais sem, contudo,
do julgamento) Min. Carlos receber o s;;tlário correspondente a
Madeira, Presidente e Relator. esse cargo. Mas tal fato lhe dá direi-
to à indenização com base no valor
RELATORIO desse salário.
O Sr. Ministro Carlos Madeira Além das verbas indenizatórias, o
(RelatOr): EmpregadO admitido pa- recláinante pede o recolhimento do
ra exercer funções administrativas FGTS e das contribuições previden-
na Coordenação Nacional do Ensino ciárias.
AgropeCUário, em dezembro de 1974, A União Federal contestou em au-
tendo deixado, por opção, a relação diência, alegando que, na realidade,
de emprego em 30 de outubro de o reclamante abandonou o emprego
1978, ajUiZOU reclamação trabalhista, em 30 de outubro de 1978. Para a
em novembro desse ano, pleiteando rescisão indireta do contrato de tra-
indenização, férias, 13? salário e di- balho, havia necessidade de ser dada
ferença salarial. ciência ao empregador. Não houve,
226 TFR - 99

assim, a denúncia do contrato. O re- A rescisão indireta é sempre ope


clamante deixou o emprego no órgão judieis; o empregado tem que mani-
reclamante para ir trabalhar na festar seu intuito de resolver o con-
TERRACAP. trato em juízo. E essa manifestação
No que toca à diferença salarial há de ser feita na constância do con-
por substituição, invoca a reclamada trato de trabalho, se a causa é o des-
o Prejulgado 36 do TST, para susten- cumprimento de Obrigações contra-
tar que a substituição foi em caráter tuais por parte do empregador. Ape-
eventual, não dando direito a essa nas o empregado é dispensado de
verba. Daí resulta a incorreção do aguardar em serviço a decisão final
cálculo da indenização. do processo.
Pede, afinal, a improcedência da A cláusula final do § 3? do art. 483,
ação. aludindo à permanência ou não do
Replicou o reclamante. empregado no serviço até final deci-
são do processo, pressupõe a forma-
Realizada nova audiência e não al- ção deste, para o afastamento do
cançada a conciliação, o Juiz Fede- emprego. De outra forma, não teria
ral da 1~ Vara de Brasília, por sen- sentido a referência ao final do pro-
tença, julgou procedente a ação, pa- cesso; bastaria dizer que o emprega-
ra deferir indenização, férias propor- do pode pleitear em jUízo a rescisão
cionais de 1978, 13?s salários de 1976, do seu contrato, permanecendo ou
1977 e proporcional de 1978, na base não no serviço.
salarial de Cr$ 6.930,00.
Recorreu a União. Não há, portanto, como caracteri-
Contra-arrazoou o reclamante. zar a rescisão indireta, até porque o
reclamante, ao deixar o serviço do
A Subprocuradoria-Geral da Repú- órgão reclamado, foi logo trabalhar
blica opinou pela reforma da senten- em outra entidade pública, do Go-
ça, a fim de que seja reconhecido o verno do Distrito Federal.
direito apenas à anotação da Cartei-
ra de Trabalho do reclamante e a Descabe, assim, a indenização
percepção de verbas trabalhistas pleiteada.
não prescritas.
Mas, configurada a relação de em-
É o relatório. prego pela prestação de serviço por
VOTO mais de três anos, tem o reclamante
O Sr. Ministro Carlos Madeira direitos aos 13? salários não pagos e
(Relator): A Lei n? 4.825, de 1965, às férias proporcionais de janeiro a
acrescentou ao art. 483 da CLT o § outubro de 1978.
3?, que autoriza o empregado plei-
tear a rescisão de seu contrato de A base salarial dessas verbas inde-
trabalho e o pagamento das respecti- nizatórias é a de Cr$ 6.930,00 e não a
vas indenizações, permanecendo ou correspondente ao salário da Chefia,
não no serviço até final decisão do eventualmente exercida pelo recla-
processo. mante, durante um mês.
A lei veio dar solução a dúvidas Proposta a reclamação em 1978,
quanto ao procedimento do emprega- devidos são os 13?s salários de 1976,
do que resolve desfazer o contrato de 1977 e proporcionais de 1978.
trabalho, em virtude de falta de
cumprimento, pelo empregador, das Dou provimento ao recurso ordiná-
obrigações contratuais, ou de redu- rio, para reformar parcialmente a
ção do trabalho por peça ou tarefa sentença e excluir da condenação a
de forma a afetar o salário. indenização por tempo de serviço.
TFR - 99 227

EXTRATO DA MINUTA so, para excluir da condenação a in-


d~nização por tempo de serviço
RO n? 5.294 DF - ReI.: Min. (Em 6-4-82 - 3? Turma).
Carlos Madeira. Recte.: União Fede- Votaram de acordo com o Relator
ral. Recdo.: Raimundo José Correia os Srs. Ministros Torreão Braz e
de Araújo. Adhemar Raymundo. Presidiu o jul-
Decisão: a Turma, por unanimida- i gamento o Sr. Ministro Carlos Ma-
de, deu parcial provimento ao recur- deira.

RECURSO ORDINARIO N? 5.763 - PE


Relator: O Sr. Ministro Evandro Gueiros Leite
Recorrentes: Irene de Souza e outros
Recorrido: lAPAS.
EMENTA
Trabalhista. Revisão de atos administrativos
empregatícios, com fulcro no art. 5? da CLT, combi-
nado com o art.165, lU, da Constituição Federal.
Reclamação proposta por enfermeiras concursa-
das e posicionadas em referência abaixo da preten-
dida. Sendo os contratos lavrados e assinados em
1976 e a demanda ajuizada em 1981, opera a prescri-
ção e com ela a perda do direito à revisão dos atos
administrativos empregatícios. Não se trata na hipó-
tese do ressarcimento de parcelas de trato sucessi-
vo, quando a prescrição não tem alcance total.
Sentença reformada no concernente à relevação
da prescrição.

AÇORDAO RELATOR 10
Vistos e relatados os autos em que O Sr. Ministro Evandro Gueiros
são partes as acima indicadas: Leite (Relator): Reclamação traba-
Decide a 2~ Turma do Tribunal Fe- lhista proposta por Irene de Souza e
deral de Recursos, por unanimidade, outros contra o Instituto Nacional de
dar provimento ao recurso dos recla- Assistência Médica da Previdência
mantes e acolher a argüição de pres- Social (INAMPS), objetivando eqUi-
criação da reclamação, reformando, paração salarial com o paradigma
nesta parte, a sentença, na forma do Nelice José Ferreira. Alegam haver
voto e notas taquigráficas preceden- prestado o mesmo concurso pÚblico
tes que integram o presente julgado. C-5, para o cargo de enfermeiro,
sendo que alguns foram admitidos
Custas como de lei. na referência 42 e os reclamantes na
referência 33, muito embora idênti-
Brasília, 29 de outubro de 1982 (da- cos o cargo e a função. Por isso,
ta do julgamento) Ministro pleiteiam diferenças salariais com
Evandro Gueiros Leite reflexos nas férias, 13° salário e
Presidente-Relator. FGTS, com juros e correção monetá-
228 TFR - 99

ria, sem prejuízo das promoções que ram na referência 33. Em conse-
tiveram desde a admissão. qüência, pois, da correção do ato ad-
O IAP AS juntou contestação em ministrativo sub censura, que ale-
audiência (fls. 128/131), impugnan- gam encontrar-se eivado de desvio
do o valor da causa. No mérito ale- isonômico, postulam equiparação sa-
gou a admissão dos reclamantes larial.
após o advento do Decreto-Lei n? Examinando os autos, verifico, a
1.445/76. Alegou ainda prescrição partir de fl. 11 e seguintes até 102,
bienal e pediu a improcedência da que os reclamantes iniciarám as
ação, por ter quadro de pessoal 9r- suas atividades no Instituto na mes-
ganizado em carreira. Em réplica, os ma data em que assinaram os con-
reclamantes se opuseram parcial- tratos de trabalho, todos eles data-
mente aos termos da contestação. O dos de 1976 e indiscutivelmente de
Dl'. Juiz Federal fixou o valor da natureza trabalhista, conforme se lê
causa em Cr$ 50.000,00 para cada re- dos respectivos preâmbulos. Ditos
clamante. A reclamada afirmou não instrumentos resultaram da realiza-
haver admitido pessoas provenientes ção de concursos pelo DASP e deles
de um mesmo concurso em referên- consta, na cláusula primeira, o in-
cias diferentes. Foi ouvido o para- gresso de cada um dos autores como
digma e as partes falaram em alega- Enfermeiro, Código LT-NS-904,
ções finais, sem nada acrescentar. Classe A, Ref. 33.
Não foi possível a conciliação (fls. Nelice José Ferreira, embora ad-
125/127) . mitida antes, em 29 de abril de 1975,
O processo seguiu os seus trâmites também se su6meteu ao mesmo con-
e o Dr. Juiz Federal julgou improce- curso dos reclamantes e, exatamen-
dente a ação, condenando os recla- te por causa dele, teve anotada a na-
mantes nas custas processuais (fls. tureza do seu emprego e alterada a
141/147) . sua classificação para a. referência
Recorreram os autores pleiteando n? 42, na mesma data de ingresso
a reforma da sentença (fls. 151/155). dos demais colegas, no ano de 1976,
Contra-razões pela manutenção (fls. conforme se vê dos documentos tra-
172/173). Subiram os autos e a douta zidos com a inicial, às fls. 109/110.
Subprocuradoria-Geral da República Enquanto isso, os reclamantes
se manifestou de acordo com os pro- ajuizaram esta reclamatória em 6 de
nunciamentos da entidade pública março de 1981, mais de cinco anos
(fI. 177). depois dos atos que pretendem modi-
É o relatório. ficar (fl. 2), razão por que à sua si-
tuação aplica-se o art. 11 da CLT,
onde está prevista a prescrição em
VOTO dois anos do direito de pleitear a re-
paração de qualquer ato infringente
de dispositivo nela contido. Os atos
o Sr. Ministro Evandro Gueiros infringentes seriam os instrumentos
Leite (Relator): Os autores preten- de contrato em exame, incluindo-se
dem, como ponto nodal do pedido, o de Nelice José Ferreira. E o dispo-
primeiramente a atualização de sitivo violado seria o art. 5? da CLT,
suãs referências funcionais, porque c/c o art. 165 da Constituição Fede-
alguns que participaram do mesmo ral.
concurso que eles, foram admitidos
na referência 42, citando-se Nelice Reza o art. 5?:
José Ferreira, considerada paradig- «Art. 5? . A todo trabalho de
ma, enquanto os reclamantes fica- igual valor corresponderá salário
TFR - 99 229

igual, sem distinção de sexo». (CF sentença, se o fez fugir da equipara-


art. 165, lII). ção do art. 461 da CLT, mas negada
quando o empregador tiver pessoal
Embora os reclamantes depre- organizado em quadro de carreira
quem revisão salarial, não podem (como a autarquia-ré - art. 461, §
fugir, porém, ao principal objeto do 2?), não o livrou, porém, de perquirir
pedido, que por si mesmos- expres- a validade dos atos. empregatícios,
sam na inicial: «devendo os recla- onde a pretendida afronta ao art. 5?
mantes serem tidos como admitidos teria de ser primeiramente reconhe-
na referência 42 - atual 211 - cida. De qualquer modo, conclui o
aplicando-se a cada um deles as pro- Dl'. Juiz, a habilidade não foi sufi-
moções a que fizeram jus durante o ciente para encobrir a equiparação
período, para fins de atualização» sUbjacente, tão-somente pela indica-
(fI. 5, alínea a). Se tivessem ingres- ção de paradigma.
sado em juízo antes da fluência do
biênio, então pOderiam pedir a revi- Por tais razões, dou provimento ao
são do ato impugnado. E, em conse- recurso do reclamado e acolho a ar-
qüência, a equiparação dos salários. güição de prescrição da reclamação.
Reformo a sentença nessa parte.
Daí por que, levando em conta es.. É como voto.
ses fatos, que se aliam à disposição
do art. 11 citado, acolho a argüição EXTRATO DA MINUTA
de prescrição, ~ feita oralmente, na
audiência de fI. 125, pelo procurador
do reclamado, sem causa para RO n? 5.763 - PE - ReI.: O Sr.
relevá-la, como fez a respeitável Ministro Evandro Gueiros Leite.
sentença, argumentando com o· fato Rectes.: Irene de Souza e outros.
de que «a prescrição só alcança as Recdo.: lAPAS.
parcelas de trato sucessivo, que fi- Decisão: A Turma, por unanimida-
quem, no tempo, aquém dos dois de, deu provimento ao recurso dos
anos do ajuizamento da reclamató- reclamantes e acolheu a argüição de
ria. (Omissis). Vindo a vencer no pe- prescrição da reclamação, refor-
dido, a prescrição só será reconhe- mando, nesta parte, a sentença.
cida nesses termos, não em caráter (Em 29-10-82 - 2? Turma).
total, como quer o reclamado» (fI. Os Srs. Ministros William Patter-
144) . son e José Cândido votaram com o
Sr. Ministro-Relator. Presidiu o jul-
A habilidade do ilustre patrono dos gamento o Exmo. Sr. Ministro
reclamantes, conforme realçada na Evandro Gueiros Leite.
PROVIMENTOS DO CONSELHO
DA JUSTIÇA FEDERAL
PROVIMENTO N? 250, DE 13 DE 11
ABRIL DE 1983
A remessa dos processos para a
O Ministro Jarbas Nobre, Presi- sede far-se-á mediante relação, de-
dente do Conselho da Justiça Fede- vendo ser acompanhados das fichas
ral, no uso de suas atribuições legais de controle de andamento.
e
III
Considerando estar marcada para
o próximo dia 22 do corrente mês a Declarar suspensas as atividades
solenidade de instalação da sede' da da Seção JUdiciária de Rondônia, no
Seção JUdiciária do Estado de Ron- dia 22 de abril de 1983.
dônia, localizada à Rua Getúlio Var-
gas n? 2.891, em Porto Velho, o que IV
recomenda a adoção de medidas no
sentido de lhe serem imediatamente Fixar o expediente diário, no
remetidos os processos que se encon- período de 7 às 12 e 16 às 19 horas.
tram ajuizados. Cumpra-se. PUblique-se . Registre-
Considerando que, para um perfei- se - Ministro Jarbas Nobre, Presi-
to atendimento às partes, será ne- dente.
cessário o completo ordenamento de
todos os trabalhos referentes à mu- PROVIMENTO N? 251, DE
dança a ser efetivada; 14 DE ABRIL DE 1983
Considerando a necessidade de se
conservar acessíveis aos jurisdicio- o Ministro Jarbas Nobre, Presi-
nados os instrumentos de garantia dente do Conselho da Justiça Fede-
da liberdade e defesa dos direitos in- ral, no uso de suas atribuições le-
dividuais; resolve: gais,
Considerando que, nos órgãos in-
cumbidos de realização de despesas,
I deverão ser adotadas medidas de
contenção dentro da linha de austeri-
dade que· vem sendo desenvolvida
Designar o MM. Juiz Federal, Dr. pelo Governo;
lImar Nascimento Galvão, para Considerando que as despesas ju-
exercer os encargos de Presidente diciais com realização de diligências
da Comissão de Instalação da Seção são repassadas às partes (Lei n?
JUdiciária de Rondônia. 6.032, de 30 de abril de 1974);
234 TFR - 99

Considerando, ainda, a decisão qualquer Comarca do Estado, caso


proferida pelo Conselho naJ~essão de em que deverão proceder na forma
2 de março de 1983 (Proc. 1.331-CE); do disposto do art. 42, § -1?, da Lei n?
Considerando que o serviço de ma- 5.010, de 30 de maio de 1966;
lote vem funcionando com regulari-
dade e, diariamente, centralizado IV
em Brasília, resolve:
Nas designações de Juízes para
I
responder pelo expediente da Seção
que não seja a sua, sem prejuízo da
respectiva jurisdição, o Diretor de
Recomendar aos MM. Juízes Fede- Secretaria enviará os autos e demais
rais Diretores do Foro que baixem, elementos ao Juiz designado, por
anualmente, a Portaria prevista nas malote endereçado a Brasília, com
observações da Tabela IV; da Lei n? indicação da Seção Judiciária a que
6.032, de 30 de abril de 1974; devam ser encaminhados, cabendo à
Secretaria do Conselho tomar as pro-
n vidências necessárias;
Na hipótese de ser mantida a en- V
tão existente, o Dr. Juiz oficiará ao
Conselho da Justiça Federal, comu- Ficam ressalvadas as hipóteses
nicando tal circunstância; em que for necessária a presença
física do Juiz para a prática de atos
In destinados a evitar perecimento do
direito ou assegurar a liberdade de
Recomendar aos Juízes Federais locomoção, pelo tempo necessário
que se abstenham da prática de de- para adoção destas medidas.
signar Oficiais de Justiça Avaliado- Cumpra-se. Publique-se. Registre-
res para cumprhrtento de atos ou di- se - Ministro Jarbas Nobre, Presi-
ligências a serem efetivados em dente.
SOLENIDADES
PLENARIO

ATA DA 4~ SESSÃO lentissimo Senhor Ministro Coqueijo


EXTRAORDINARIA, .Costa, do Tribunal Superior do Tra-
EM 26 DE AGOSTO DE 1982 balho, e o Excelentissimo Senhor De-
HOMENAGEM AO sembargador Luiz Vicente Cernic-
EXCELENTtSSIMO SENHOR chiaro, Presidente do Tribunal Re-
MINISTRO ALDIR GUIMARÃES gional Eleitoral do Distrito Federal,
PASSARINHO para a composição da Mesa. Em se-
guida, o Excelentissimo Senhor
Aos vinte e seis dias do mês de Ministro-Presidente, após referir-se
agosto de mil novecentos e oitenta e às autoridades componentes da Me-
dois, às quatorze horas, na Sala de sa e às demais autoridades presen-
Sessões do Tribunal Federal de Re- tes e representadas, proferiu as se-
cursos, presentes os Excelent1s~Jmos gUintes palavras:
Senhores Ministros Jarbas Nobre,
Presidente do Tribunal, Armando «Esta Sessão, em sua primeira
Rollemberg, Moacir Catunda, José parte, se destina a homenagear o Sr.
Dantas, Lauro Leitão, Carlos Madei- Ministro Aldir Passarinho, pela sua
ra, Gueiros Leite, Washington nomeação para exercer o cargo de
Bolívar, Torreão Braz, Carlos Mário Ministro do Supremo Tribunal Fede-
Velloso, Justino Ribeiro, otto Rocha, ral.
William Patterson, Adhemar Ray- Em nome do Tribunal falará o Sr.
mundo, Bueno de Souza, Pereira de Ministro Gueiros Leite, a quem con-
Paiva, Sebastião Reis, Miguel Je- cedo a palavra».
rônymo Ferrante, José Cândido, Pe-
dro Acioli, Américo Luz, Antônio de O Exmo. Sr. Ministro Gueiros Lei-
Pádua Ribeiro, Fláquer Scartezzini e seja- como
te: «Para onde quer que se vá e
for que se vá, só uma coi-
Jesus Costa Lima, presentes, ainda,
o Excelentíssimo Senhor Doutor Ge- da sa interessa: nós ouvimos a música
raldo Andrade Fonteles, Vida» (Theodor Fontane, Fontes
Subprocurador-Geral da República e de Alegria - Moraes Editora, Lis-
o Secretário do Plenário, Bel. José boa).
Alves Paulino, foi aberta a Sessão. A ida de Aldir Passarinho para a
Ao início dos trabalhos, o Exce- Suprema Corte, por mais que nos
lentíssimo Senhor Ministro Presiden- atinja, ao Tribunal como a todos os
te convidou o Excelentíssimo Senhor seus amigos, contudo resultou de
Ministro José Néri da Silveira, do uma lembrança feliz de quem o es-
Supremo Tribunal Federal, o Exce- colheu. A idéia é de Musset: uma
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lembrança feliz é, talvez, mais ver- repelindo o exotismo de certas in-


dadeira na terra do que a própria fe- fluências totalitárias, esboçadas de
licidade. Qualquer escolha acertada, dentro para fora da Corte, pela hi-
dentro dos critérios do que é bom pertrofia de certos poderes que uma
aos olhos humanos, por certo fará estranha lei preconizou, mas que a
recair a sua glória também sobre o sabedoria dos seus mais altos e dig-
responsável pela escolha, como um nos intérpretes houve por bem tem-
gratificante lampejo de sabedoria. perar. As instituições humanas,
falíveis que são, muitas vezes so-
O egoísmo das pessoas, que pode frem dessas influências e pressões,
apresentar também o seu lado positi- mas felizmente episódicas. Já houve
vo, impele-as muitas vezes a reações tempo na história da Corte em que
aparentemente suspeitas. Se bem se subverteu o próprio Estado de Di-
soubéssemos nós que se preparavam reito pela admissão da «justiça pri-
os caminhos de Aldir para a partida, vada» de uma das partes, quando as
a realidade ainda se nos apresentava decisões eram executadas, muitas
remota, exatamente porque não nos vezes, policialmente. Mas tal se
satisfazia a idéia. Faltava-nos um constitui apenas numa fase transitó-
pouco mais de altruísmo para enten- ria, de certos «erros de perspecti-
der a imperiosidade do afastamento, va», pois de logo sobreveio o repúdio
se aqui ficaríamos sem a sua compa- à concepção abdicante da «justiça de
nhia, amizade e colaboração, desfal- braços cruzados», para evitar-se o
cado o Tribunal de um dos seus mais conceito aviltante do «Juiz estafeta»,
lúcidos juízes, o companheiro que fez com delegação, ao simples Questor,
e fará da sua prudência como julga- das funções judicantes do Cônsul.
dor a sábia regra de conduta, no Jamais certas vicissitudes consegui-
apego à sobriedade de decisões con- rão abalar os alicerces da Suprema
sentâneas e uniformes, sem que Corte e do próprio regime, se os
também a jurisciência deixasse de Juízes que a compõem se porem da
ter nelas o seu dévido lugar. mesma estirpe daqueles que o nosso
Não nos cabe, porém, submeter as Tribunal forneceu, como capazes de
elevadas aspirações alheias às retirar certas nevroses que cegam
egoísticas limitações do nosso com- os olhos de ver outras feridas e ou-
portamento individual, como contra- tros males, elevando-se, ainda mais,
estímulo ao estímulo edificante. Lo- à condição de instrumento do nobre
go nos guia o espírito e ergue-o des- ministério, que é o da defesa da or-
tes pesos fundos, como dizia Beetho- dem jurídica, que também se con-
ven, transportando-nos, pelo funde com a própria ordem política.
exercício da superação, aos páramos
inspirados do mais puro sentimento Deixa-se aqui a aridez das arengas
de segurança que se deve comprazer institucionais e retoma-se o fio ini-
no reconhecimento de u'a necessida- cial desta fala, onde ficou dito que só
de da vida. uma coisa interessa à sensibilidade
dos homens bem formados: que ou-
A grandeza da missão constitucio- çamos a música da Vida, na repeti-
nal do Supremo Tribunal Federal, ção de que a despedida aqui é um
que se situa acima das suas limita- processo vital, sem pensamentos re-
ções, em função do princípio institu- cônditos ou sombrios. Podemos dei-
cional da federatividade, encontrará xar os nossos cuidados com Deus,
no seu novo Ministro um dos mais porque nesse caso não haveremos de
sólidos esteios. Legalista por índole, nos preocupar com os caminhos fu-
Aldir Passarinho estará, sem dúvi- turos, pois isso não nos pertence.
da, na estaca dos que como ele vêm Lembro-me de outras despedidas e
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de algumas que não chegaram a forno quente a branda variedade de


acontecer. Isso aconteceu quando o quitanda oculta. Mas a alva toalha
nosso antigo grupo se foi encantando que cobre essas coisas que apete-
por outros caminhos. Lembro, então, cem, foi sempre a renda e bordado
de Hamilton Bittencourt Leal, de sobre a nossa arrebatadora vontade.
Maria Rita Soares de Andrade, de Nem sempre é possível fazer-se o
Renato do Amaral Machado e de que se quer. E eu lembro, a propósi-
Jorge Lafayette Pinto Guimarães. to, que nos nossos habituais lanches,
Grandes nomes, grandes vidas. o companheiro Aldir olhava fascina-
Amigos fiéis e libertos. Escolhas que do o sortimento de um tabuleiro dife-
valeram, como a de Aldir, coroas de rente. Mas aquele «Seu» Bilico, a figu-
louros dos que a fizeram. Deles se ra criada pelo poeta e que nos pare-
poderá dizer que teriam aprendido ce até como um bandido de cinema,
de Tólstoi a conhecida lição: ensina já fora antes e arrematara as am-
aos homens que há alguma coisa ne- plas coleções do tabuleiro. Foi sem-
les que os ergue acima desta vida, pre o aIter ego deste homem, que
mesmo com as suas pressas, os seus soube evitar com sacrifício as coisas
prazeres e medos. fúteis e escolher as úteis, sóbrio e
forte diante das facilidades do mun-
Bem me agradaria enveredar na do. Mas, se evitou as atenções do ta-
rememoração de momentos sérios e buleiro do poeta, por outro lado se
alegres das nossas vidas, desde o fez presente nos banquetes figurados
início de uma jornada conjunta de das maiores variedades de proble-
tanta e tão árdua atividade jUdican- mas levados ao seu julgamento. Néri
te. Mas é de praxe falar-se em tais da Silveira disse-o bem, quando es-
ocasiões do homenageado. Não sou creveu introdução à obra Ministros
adepto, contudo, de biografias, pois do Tribunal Federal de Recursos
raramente as leio, porque são ári- (Dados Biográficos), o que simboli-
das. Nem tenho os pendores de um zam as fotografias e a indicação dos
Vargas Llosa, que nos deu a conhe- figurantes de uma galeria de antigos
cer pessoalmente a figura de um An- Ministros por ele inaugurada. Não só
tônio Conselheiro que Euclides da os vínculos que prendem todos os
Cunha nos apresentou por carta. momentos da história do Tribunal e
Nem de um Alexandre Dumas dos de seu devotado trabalho à causa
velhos tempos, que nos fez conhecer, inexcedível da Pátria, que é a admi-
reservadamente, nos bastidores da nistração da Justiça. Sirva essa pu-
História, Carlota Corday, Robespier- blicação - disse ele - para o futu-
re ou Desmoulins. Mas, o que é pre- ro, como fonte de pesquisa sobre a
ciso fazer, que se faça, muito embo- Corte, a quantos lhe deram a contri-
ra pouco resistindo àquela tendência buição de seu trabalho, sem lazeres,
para falar apenas de certos memo- com idealismo e vontade de servir.
riais poéticos, na inspiração de Car-
los Drumond de Andrade, o poeta Entre esses nomes incluo o de Al-
dos nossos queridos mineiros Paiva, dir, que figura nessa obra de regis-
Sebastião, Otto, Justino, Carlos Má- tro que William Patterson mandou
rio, Pádua e qUiçá Américo Luz, pois editar por sua Revista, idéia vitorio-
ele falou de um tabuleiro de quitan- sa de Carlos Mário. Não será preciso
da, com pão de queijo, rosca- repetir as vastas notas de um
brevidade, broa de fubá e tudo que é currículo afortunado, porque nelas,
gostoso: eu vou comprar, dizia ele na mesmo assim, não seria possível
pessoa do menino, eu vou comer o abarcar a imensidão dos trabalhos
dia inteiro ea vida inteira o sortimen- do amigo que se despede, nem seria
to deste tabuleiro. E como cheira a eu tampouco capaz de alinhá-los
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aqui. Mas outras há que têm vida da presidência. Mas, além disso, AI-
própria e saltam do passado, para dir também participou da adminis-
amenizar a rotina estiolante do jul- tração colegiada do Tribunal e da
gador, identificando-lhe a personali- Justiça de primeira instância, sendo
dade em face dos desafios enfrenta- por vários anos um dos mais bri-
dos. Assim foi no primeiro e único lhantes representantes da Corte jun-
Júri Federal de que dou conta, quan- to ao Tribunal Superior Eleitoral, de
do a lei nos atribuía julgar o assassi- onde veio para assumir a Vice-
no de um chinês, por outro estran- Presidência, cabendo-lhe nesse car-
geiro, em navio também estrangei- go desincumbir-se com a sua reco-
ro, fora das águas territoriais brasi- nhecida proficiência no pertinente às
leiras e que aportava por acaso em decisões nos recursos extraordiná-
porto nosso. Sempre ensinei aos rios. No TSE deixou a sua marca,
meus pacientes alunos que a Jurisdi- juntamente com o seu companheiro
ção é ampla e abstrata e que se con- José Fernandes Dantas, a quem sau-
cretiza na Competência, u'a pequena dou em sua posse aqui. Lembro de
fatia daquela, mas que, na Justiça um editorial do Jornal do Brasil es-
Federal, pela vontade dos que a refi- crito em conseqüência de importante
zeram, a fatia era exatamente a au· voto seu sobre filiação partidária,
sência de competência que nos falta. assunto palpitante àquela época.
mas tão-somente nas causas aciden-
tais e nas falências. Muito da ativi- Encaminha-se agora Aldir Passa-
dade de Aldir transbordou das fron- rinho à Suprema Corte para reforçá-
teiras de sua condição de Juiz Fede- la com o seu saber, discrição e luci-
ral para o cenário jurídico do País. dez. Estamos felizes na medida do
No anonimato do Juiz que processa e possível. Mas plenamente honrados.
julga e faz, no sentido popular, «a Faço minhas, por oportunas, as pa-
copa e a cozinha» dos processos, lavras de Décio Miranda, quando
sem que o seu nome seja sequer saudou alhures outra figura excep-
lembrado em outros graus, Aldir ob- cional dos nossos fastos jurídicos. Se
teve marcantes vitórias judicantes, me fosse dado principiar estas pala-
impondo-se até mesmo à considera- vras, pela revelação de impressões
ção do Supremo Tribunal Federal, que marcam o nosso espírito, diria
para onde agora se dirige. Aconte- que o meu longo convívio de profis-
ceu, por exemplo, com a prevalência são e amizade com Aldir Passarinho
de sua opinião sobre o tráfico e ven- me proporcionou este pensamento:
da de entorpecentes, em conflito de um «gentleman» nascido no Piauí.
competência que suscitou. A Estrada Nada de arrebatamentos tropicaiS
de Ferro Central do Brasil por certo na conduta, no gesto e na palavra:
que ainda hoje estaria passando por Nenhuma explosão de violência, de
empresa pública perante os pretó- ira ou fastio. Nunca o arrebatamento
rios, se ele persistentemente não desabrido ou esfuziante. Sempre, ao
procurasse mudar-lhe as vestimen- contrário, o equilíbrio da atitude, a
tas. Na imensidão dos nossos julga- indignação forte quando irresistível,
mentos, em que a quantidade absor- contida nos limites da firmeza. A ca-
ve a qualidade, somente as produ- da passo, a correta reflexão, o senti-
ções de boa cepa vêm à tona. Eu mento trazido em firme e ponderada
mesmo sou testemunha da autorida- medida (Palavras do Min. Décio Mi-
de e respeitabilidade das interven- randa. Homenagem do TSE ao Min.
ções do Ministro Aldir Passarinho Pedro Gordilho, Sessão de 19-8-82).
em todos os setores desta Corte, des-
de que juntos trabalhamos na 2~ Tur- Melhores dias hão de vir. Tudo
ma e na 1~ Seção, sob a sua autoriza- tem de servir aos que permanecem
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firmes. Coração, criança antiga, so- Senhor Ministro Aldir Passarinho -


fre e suporta. Assim falou Chritian e a que se associa o Ministério Públi-
Morgenstern. Aproveito-lhe as pala- co Federal, que, muito afetivamente,
vras e repito o texto áureo: coração, por mim interpreta,' - postulação,
criança antiga, sofre e suporta as que espero ver acolhida, Sr. Presi-
saudades dos teus antigos, que se fo- dente, não como interposição de uma
ram antes e te fizeram nascer e inconformidade, mas como um re-
crescer a partir de Floriano, nas curso adesivo, enquanto seja venci-
longínquas terras piauienses. Lá dei- do, em não traduzir com fidelidade
xaste a marca dos teus pés nas es- de acerto, que a realidade reclama,
tradas vicinais, à beira dos rios da à proclamação dos méritos incontes-
infância. Das caminhadas voltaste à tes do eminente homenageado,
casa e ao aconchego de tantos cuida- O fundamento deste recurso
dos e temores, para encontrar a deli- esteia-se na carência de maior parti-
cadeza de sentimentos como a de cipação em todos os fatos de sua vi-
uma folha de malva que se guarda da comum, como da sua atividade
no livro de rezas, perfumando o pen- intelectual e administrativa,
samento de Deus. Mas, a folha verde
da meninice feneceu no abandono da Como Subprocurador-Geral da Re-
segurança e do amor, para assumir pública sei, todavia, que, na vivência
a vida, com um bilhete que se deixa deste Egrégio Tribunal de Justiça,
no velador e se dirige ao passado: Aldir Passarinho é um dos tantos
homem do meu tempo, tenho pressa. mestres que aqui convivem, cheio de
Mas ai dos que, na pressa do encon- sabedoria jurídica, ensinando a arte
tro com a vida, erram os passos ou de julgar pela conquista do Direito.
tropeçam. Bem-aventurado porém, o De V. Exa., Sr. Ministro, posso di-
que, deixando o lar antigo, um novo zer o mesmo que Mansur Chal11ta, o
encontra e o forja em companhia de apresentador de Khalil Gibran, disse
u'a ajudadora como Yesis, sábia, a respeito do filósofo seu patrício: «O
bondosa e amiga, quase que escondi- seu convívio intelectual apazigúa as
da pelo amontoado dos seus talentos dúvidas do coração, alimenta a fé na
e na dissimulação dos simples. Dela superioridade espiritual do homem,
se pOderá dizer, na linguagem dos nesse estilo ao mesmo tempo cheio
santos, ter sido aquela que não foi ti- de vida e de simplicidade, cUja fonte
rada da cabeça do varão para é a natureza em suas inspirações
dominá-lo, nem dos seus pés para mais límpidas e amáveis».
ser por ele calcada, mas do seu lado, No seu mister de jurista sempre
de perto do coração e sob os seus soube ser o defensor da ordem esta-
braços, para ser por ele amada e belecida, através do respeito às leis,
protegida. não incondicionalmente, mas assina-
Ao amigo que nos deixa, as mi- lando, quando oportuno, as suas im-
nhas homenagens. Ao amigo e cole- perfeições, maxime, atingindo a sua
ga, Ministro Jarbas Nobre, que me elaboração técnica; porém, como
fez a honrosa escolha para falar, os Juiz, adaptando a essência de seus
meus agradecimentos. E também a preceitos à guarda do Direito e à
todos que me conseguiram ouvir». verdade conjuntural da justiça que
O Exmo. Sr. Doutor Geraldo An- elas buscam encontrar em coinci-
drade Fontelles (Subprocurador- dência com a razão.
Geral da República): - «Sirva de Neste instante posso, igualmente,
preãmbulo à minha oração, nesta emitir uma opinião pessoal em torno
homenagem que o Tribunal Federal da conduta ética do eminente Juiz,
de Recursos ora presta a V. Exa., ao revelar nos seus jUlgamentos a
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eficácia deontológica da missão pela aplaudem, de pé, com um misto de


conveniência e harmonia preserva- saudade e também de alegria pelo
dor a da ordem instituída. Isto é, no triunfo alcançado.
meu entender, o comportamento do Vislumbro o seu vulto imperturba-
dever ser e não do dever ideal. do, sem empOlgação, acolher, sere-
Prelecionou-se alhures que, se éI no, os louros do vento, porque, cien-
personalidade é a consagração de te, ser fruto do seu esforço, obtendo
um valor, necessário se torna, para a merecida promoção ao Pretório
possuir este valor e vê-lo reconheci- Excelso, e, ao mesmo tempo, sentin-
do, adquiri-lo e merecê-lo. do aquela certeza proclamada por
Em precisamente, o caso de V. Exa. Carneiro Leão., - grande educador
pátrio - de que «a vitória sem es-
Os tribunais são templos consagra- forço é uma vitória sem glória».
dos ao culto do direito, seus Minis-
tros são intérpretes da paz social; Finalmente, ao encerrar esta elo-
suas decisões, bálsamos que apazi- cução, por se ajustar à figuração
gúam conflitos humanos de interes- derradeira, invoco o capítulo da
ses materiais e morais. Por isso, no «Despedida» de Khalil Gibran, assim
confronto dos votos realizam-se, nes- como o vejo, insigne Ministro Aldir
ses templos, diuturnamente, um Passarinho, no prbscênio, ao recitá-
aprendizado e um magistério, solidi- lo a quantos estão presentes nesta
ficador da Justiça, num determinado solenidade; «Adeus, povo de Orpha-
momento histórico da vida de um po- lase. O dia já se foi. E está se cer-
vo. rando sobre nós como o nenúfar se
cerra sobre seu próprio amanhã. O
Sua passagem pelo Tribunal Fede- que aqui nos foi dado, nós o conser-
ral de Recursos caracterizou-se pela varemos. Mais um curto instante, e
constante aprendizagem e ensina- a minha nostalgia começará a reco-
mento do Direito. lher argila e espuma para um novo
Emerge, tal fato, da aplicação do corpo».
diSCípUlo que V. Exa. soube ser - «O meio dia nos abrasa, a nossa
estudioso, dedicado, inteligente e sonolência transformou-se em pleno
pertinaz - como da prudência e da despertar, e devemos nos separar.
sabedoria do mestre, recolhida e eri- Se nos encontrarmos outra vez no
gida, já então, com amor e discerni- crepÚSCUlo da memória, conversare-
mento para ser ministrada como so- mos de novo e cantarás para mim
berbo exemplo, no percurso ascen- uma canção mais profunda. E se
sional por todos os caminhos da jUdi- nossas mãos se encontrarem noutro
catura. sonho, construiremos mais uma tor-
V. Exa. nessa marcha cadenciada, re no céu».
dedicou todos os momentos de sua O Exmo. Sr. Dr. Alcino Guedes da
vida, honrada e disciplinada, à dis- Silva (Representante da Ordem dos
tribuição da Justiça. Afinou-se no Advogados do Brasil, Seção do Dis-
mesmo compasso de dedicação, de trito Federal): - «Exmo. Sr. Minis-
amor às letras jurídicas, aos mais tro Jarbas Nobre, digno Presidente,
consagrados vultos realizadores do Exmos. Srs. Ministros do Tribunal
Direito neste Tribunal e no Brasil. Federal de Recursos, Exmo. Sr. Mi-
A sua despedida dos trabalhos des- nistro José Néri da Silveira, digno
ta Casa se opera tal qual apoteótica representante do Supremo Tribunal
finalização de um cenário, onde to- Federal, Sr. Ministro Coqueijo Cos-
Jos, voltados para o intérprete au- ta, digno Vice-Presidente do Tribu-
têntico do papel que se lhe destinou, nal Superior do Trabalho, Exmo. Sr.
______________________~T~F~R~~9~9__________________~243

Desembargador Luiz Vicente Cernic- desde 1951 até 1964, quando então foi
chiaro, digno Presidente do Tribunal nomeado para a magistratura fede-
Regional Eleitoral do Distrito Fede- ral, naquela cidade.
ral, Srs. Ministros, Srs. Juízes, Srs.
Procuradores, Srs. Conselheiros, au- Advogado exemplar, competente,
toridades aqui presentes e represen- militou com brilhantismo na profis-
tadas, Senhoras e Senhores e meus são como no Direito Securitário,
. colegas. Não deveria estar aqui, Sr. Previdenciário, Trabalhista, espe-
Presidente, nesta hora, este humilde cialmente no Direito Administrativo
advogado, mas um outro de melhor Brasileiro, onde possui trabalhos pu-
oratória que viesse demonstrar as blicados. Sua trajetória como magis-
qualidades do digno homenageado, trado dispensa maiores elogios, por-
porquanto somente ontem à tarde é que os que me antecederam bem de-
que recebi a incumbência de repre- monstram sua luminosa passagem
sentar a Seccional do Distrito Fede- na cidade do Rio de Janeiro e, tam-
ral nesta justa e merecida homena- bém nesta Casa, sendo desnecessá-
gem. Mas, Senhor Presidente, rio repetir. Todavia, os votos proferi-
tratando-se de quem se trata, isto é, dos traduzem induvidosamente sua
do ilustre Ministro Aldir Guimarães capacidade e, particularmente, estão
Passarinho, não tive dúvida em acei- a enriquecer os anais desta Casa.
tar esta honrosa designação, tal a Por outro lado, não poderia deixar,
alegria de vê-lo guindado, pelos seus Sr. Presidente, de fazer uma menção
próprios méritos. à Colenda Supre- especial do que ouvi por ocasião da
ma Corte. sua posse neste Tribunal. Quem o
Portanto, venho em nome dos cole- saudou foi o não menos ilustre - au-
gas de Brasília e por que não dizer, sente desta Casa por força da Divina
em nome daqueles dó Rio de Janei- Providência - Ministro Jorge Lafay-
ro, de onde sou oriundo, como o é ette Pinto Guimarães, que a 12 de
também o nosso homenageado, Mi- setembro de 1974, assim se manifes-
nistro Aldir G. Passarinho. Sim, ê tou: «Conseguiu V. Exa., Ministro
grande nossa alegria, pois S. Exa. Aldir G. Passarinho, nas numerosas
não vai se afastar de Brasília - esta decisões proferidas, assim o demons-
despedida é de sua atuação - pois trou, o justo equilíbrio entre o res-
continuaremos a gozar de sua com- peito e a fidelidade à lei, e a necessi-
panhia, porquanto irá compor a Su- dade de esta ser interpretada, evi-
prema Corte. tando o predomínio do frio texto,
mas sem sObrepor ao texto legal as
Dessa forma, Sr. Presidente, a ale- suas convicções e tendências pes-
gria nossa é redobrada não só por- soais, do que posso dar o meu teste-
que S. Exa. irá honrar as suas tradi- munho».
ções na Suprema Corte, como tam-
bém, com ele continuaremos a con- Senhor Presidente, tais palavras
viver nesta Capital. Deveria eu, pa- confortam e animam a todos nós.
ra ser mais breve, ler alguns traços Não tenho dúvidas quanto à atuação
da personalidade do Ministro Aldir de S. Exa. perante o Supremo Tribu-
G. Passarinho, em especial do seu nal Federal, pois será um Prolonga-
currículo, que é rico em qualidade mento de sua brilhante trajetória
como portador de títulos de real va- nesta Casa. Saberá ele, como disse o
lor. Todavia, procurarei ser breve e Ministro Jorge Lafayette, «cumprir
demonstrar o que foi a atuação do o mesmo dever de distribuir justiça,
Ministro Aldir G. Passarinho como de assegurar a exata aplicação das
advogado, durante 13 anos na cidade leis», tal como nós somos testemu-
do Rio de Janeiro. S. Exa. militou nhas desde a sua posse.
244 TFR - 99

Portanto, foi prestigiado o Tribu- E. Tribunal Regional Eleitoral, Ex-


nal, está de parabéns o Supremo Tri- mo. Sr. Dr. Geraldo Andrade Fonte-
bunal Federal, e estamos certos de les, Subprocurador -Geral da Repú-
que o homenageado honrará a ale- blica, Exmo. Sr. Juiz· Pinto de Go-
gria dos eminentes juízes de carrei- dOY, Exmos. Srs. Procuradores e no-
ra, ao lado dos expoentes da advoca- bres advogados, Exmos. Juízes Fe-
cia e da cátedra universitária, que derais. Senhores funcionários. Meus
passaram pelo Supremo Tribunal Senhores. Minhas Senhoras.
Federal. Cerca de oito anos atrás, fui rece-
Antes de terminar, Sr. Presidente, bido nesta C. Corte, saudando-me em
quero prestar uma singela homena- seu nome, o Sr. Ministro Jorge Lafay- I
gem à companheira de todas as ho- ette Guimarães - que tanto a ilus-
ras, Dra. Yesis Amoedo Guimarães trou - com palavras de amizade,
Passarinho, e ao seu filho, Dr. Aldir compreensão e estimulo. Hoje, nesta
Guimarães Passarinho Júnior, aqui homenagem, ouço, em nome do Tri-
presentes, com os quais o nosso ho- bunal, a mensagem de fé e também
menageado forma uma exemplar de incentivo, generosa, do Sr. Minis-
família, digna de todos os nossos elo- tro Gueiros Leite, ambos diletos
gios. amigos, companheiros dos primeiros
Finalmente, Sr. Presidente, rogo a dias da Justiça Federal no então Es-
Deus que continue a iluminar os pas- tado da Guanabara. E à sua voz se
sos do Ministro Aldir Passarinho, juntam - e soam-me no coração -
que o conserve digno da nossa admi- as orações formosas do Dr. Geraldo
ração, do nosso respeito e dos nossos Fonteles, pelo Ministério Público, e
elogios como acabamos de ouvir na do Dr. Alcino Guedes, representando
brilhante oração do Ministro Evan- a OAB do Distrito Federal.
dro Gueiros Leite. Nesse lapso de tempo, como se es-
Que o Pai Celeste o segure nos coaram rápidos os anos!
seus braços, iluminando a sua mente Período igual - diferença de me-
e possa ele, ao findar a sua jornada, ses apenas - permaneci como Juiz
afirmar, como o apóstolo Paulo: «A- Federal naquele mesmo Estado, e
cabei a carreira, guardei a fé;» des- igualmente célere escoou o tempo:
de agora me está reservada a coroa. Pouco mais de três lustros assim
da Justiça a qual o Senhor, justo já percorri no exercício da magistra-
juiz, naquele dia dará aos seus fiéis. tura, a somarem-se a outros tantos
É o que tinha a dizer». anos de advocacia, também de estu-
O Exmo. Sr. Ministro Aldir Gui- do, de labor intenso, mas sempre
marães Passarinho: - «Exmo. Sr. gratificantes. E tudo parece que foi
Ministro-Presidente Jarbas Nobre, ontem.
Exmo. Sr. Ministro Néri da Silveira, Mas não desejo falar, nesta soleni-
representante do E. Supremo Tribu- dade que me é tão cara, de coisas
nal Federal, Exmo. Sr. Ministro Co- penosas como o tempo que passa, co-
queijo Costa, representando o E. Tri- mo a vida que flui nos limit.es de um
bunal Superior do Trabalho, Exmos. gabinete, nem dos trabalhos de que
Srs. Ministros deste E. Tribunal Fe- juntos participamos, das noites mal
deral de Recursos, Exmo. Sr. Dr. Al- .dormidas, das horas de repouso ou
varo Campos, representando a Ex- de lazer que tiramos de nós: mesmos
ma. Sra. Ministra da Educação e e dos nossos entes queridos - os
Cultura, Professora Esther de Fi- mais sacrificados - das nossas dúvi-
gueiredo Ferraz, Exmo. Sr. Dr. Luiz das, da nossa constante, permanen-
Vicente Cernicchiaro, Presidente do te, às vezes até angustiante preocu-
TFR - 99 245

pação de julgar com acerto, da nos- contando sobre a desolação em seu


sa intranqüilidade, nem sempre rara Estado, as chuvas ausentes por lon-
por sabermos que o destino dos ou- gos meses, o gado morrendo, o de-
tros está, muitas vezes, em nossas sespero de populações famintas; e
mãos. outro, também daquelas sofridas
1lJ que tudo isso - que tantos des- plagas, defendendo a constitucionali-
conhecem - é nossa rotina, nosso dade da lei que favorecia o ingresso
cotidiano, o nosso dia a dia, que nos de filho de agricultores em cursos
absorve cada vez mais, que faz com superiores, lembram-se todos, tor-
que o tempo flua com rapidez sur- nando o seu voto mais que peça
preendente, e nós à margem, vendo- jurídica, uma página literária de
o passar sem lhe compreendermos a .emoção e sentimento,na sensibilida-
'pressa, quando é a intensidade de de de quem conhece o drama nordes-
nosso labor que o faz ir-se assim, tino, as suas dificuldades. Outros,
sem que o percebamos. mais sensíveis ao problema das mi-
norias indígenas, nas diversas ques-
O que eu desejo aqui é dizer dos tões que a respeito aqui se tem deba-
raros valores deste Tribunal. tido, especialmente em jUlgamento
Difícil encontrar-se, creio, em um memorável de que todos se recor-
colegiado como este, com vinte e se- dam. E ainda outros, chegados de ci-
te membros - e em que a tônica são dades alegres, praianas, ou altamen-
os debates e as divergências, por te industrializadas, mas também co-
força mesmo de nossas funções - nhecedores dos seus problemas so-
tanta harmonia de convívio e, no jul- ciais e econômicos, suas misérias e
gar, tanta responsabilidade. De vá- suas paixões. E vemos a preocupa-
rios Estados são os seus Juízes, tra- ção geral também em torno de te-
zendo cada um em si~poisé da natu- mas de direitos sociais, procurando-
reza humana - as influências do seu se a humanização da lei ante os seus
ambiente, dos seus costumes, de fins maiores, em interpretações
suas tradições, de suas vivências. E construtivas que possibilitam ao Juiz
sendo esta uma Corte nacional, é acompanhar as modificações de seu
bom que assim seja, pOis são' provei- tempo.
tosas à melhor qualidade das deci-
sões as experiências colhidas no Todos, provindos dos diversos qua-
meio social e cultural em que se drantes do País, do Acre ao Rio
moldaram suas personalidades. Há, Grande do Sul, têm sido sensíveis
com isso, maior dinamismo, maior aos magnos problemas que aqui são
criatividade, troca ampla de infor- debatidos, com a só e única preocu-
mações, possibilitando melhor com- pação de fazer Justiça.
preensão dos problemas brasileiros,
o que é essencial ao Juiz.
Este Tribunal, Srs. Ministros,
As perspectivas, os enfoques dos meus senhores, tem-se engrandecido
que vêm dos pampas, acostumados através dos anos, pela cultura dos
ao sopro do minuano, sensíveis aos seus membros e pela independência
problemas das fronteiras sulinas, dos seus julgados, sem que nunca
nem sempre se identificam com os lhes tomasse a preocupação de não
daqueles que provêm das imensidões descontentar poderosos e, sempre
do Norte ou das regiões do Nordeste, que necessário, com aquela cora-
estes com visão de emigrantes bati- gem, de que nos fala Calamandrei,
dos pelas secas, de capinzais cresta- de ser justo parecendo injusto, que
dos, de fazendas agonizantes. Já vi mais exige do que ser injusto para
colega nosso de olhos marejados, salvar as aparências.
246 TFR - 99

É que sempre também deve estar aqui se objetiva como valor mais al-
alerta o Juiz, e também demonstran- to, sempre perseguido, é que as deci-
do coragem moral, para que não se- sões sejam sábias e justas.
ja injusto apenas para mostrar que é Dentro de breves dias, assumirei
independente. uma das onze cátedras mais altas do
Neste Tribunal, chamado, como é Poder Judiciário do País. Assumirei
de sua competência, para dirimir o cargo bastante cônscio das dificul-
questões de interesse do Poder Pú- dades que enfrentarei, das altas res-
blico, estas lições de grandeza e de ponsabilidades que me serão impos-
independência são uma constante, tas. Devo mesmo dizer-lhes que, co-
jamais havendo vacilações em dar- locando em confronto as preocupa-
se razão ao particular, se ele a tem, ções que tenho e a alegria de chegar
como reconhecê-la em favor do Es- ao posto mais elevado da magistra-
tado, se for o caso. Os exemplos es- tura, não vacilarei em afirmar que
tão aí, freqüentes e momentosos. aquelas sobrepujam esta. Mas o pos-
to, de honra tamanha, é o coroa-
E é essa a causa do seu maior re- mento da carreira de um magistrado
nome que sempre devemos preser- e só resta ao que a ele ascende, tudo
var. fazer para não desmerecê-lo, mas
Deixo este Tribunal com grande para dignificá-lo. E é o que prometo
saudade, tantos e tão bons momen- fazer, dedicando todo o meu empe-
tos aqui também passei, no compa- nho em justificar a escolha do meu
nheirismo ameno e compreensivo nome pelo Governo da República e a
em que aqui vivemos. E não fora is- sua aprovação pelo ilustre Senado
so, impossível: suportar-se a imensa Federal, no qual não se elevou ne-
responsabilidade e o volume de tra- nhuma manifestação contrária à in-
balho que a todos onera. E o deixo, dicação.
também, com a tranqüila certeza de Senhor Presidente, Ministro Jar-
haver cumprido os compromissos bas Nobre. Tal como o Ministro Dé-
que assumi ao nele ingressar, sem a cio Miranda, irei para o Supremo
nenhum faltar, de nenhuma transi- Tribunal Federal deixando esta Cor-
gência me acusando a consciência, te, sem chegar a sua Presidência.
de nenhum rigor que não tivesse co- Mas a Vice-Presidência propor-
mo adequado. cionou-me a possibilidade de conhe-
E quanto aqui aprendi nesses oito cer este Tribunal sob ângulos ou-
anos que se completarão em breves tros e mais me aproximou de Vos-
dias! sa Excelência e de sua obra ad-
ministrativa. Não quero, por isso
Algumas vezes reformulei concei- mesmo, deixar que me passe a opor-
tos e retifiquei pontos de vista ante tunidade de dizer que Vossa Exce-
as ponderações de colegas que ha- lência está realizando uma obra ex-
viam visualizado o problema sob ou- celente, em seqüência harmoniosa à
tro ângulo que a mim havia passado reconhecidamente magnífica admi-
despercebido E, posso dizê-lo; ja- nistração do Sr. Ministro Néri da Sil-
mais sacrifiquei à vaidade de não veira, seu antecessor. Vários tentos
retificar-me o resultado de um julga- tem marcado V. Exa., não sem à
mento. Não são as vaidades que nos custa de enormes sacrifícios pes-
tranqüilizam, mas o termos procura- soais, contrariando muitas vezes seu
do acertar. Não é só meu, entretan- próprio modo de ser e do qual V.E-
to, este mérito, pois tenho visto o xa. é tão cioso, como ter obtido para
mesmo acontecer com outros. O con- o próximo exercício elevadas verbas
senso a respeito é geral, pois o que para o reequipamento e melhoria
TFR - 99 247

das instalações da Justiça Federal, A minha lembrança saudosa àque-


mas entre os êxitos alcançados dois les com quem convivi neste Tribu-
apenas - como lhe disse certa vez nal, e que tanto dignificaram esta
- já seriam bastantes para colocá-lo Corte, já aposentados, os Ministros
entre os grandes Presidentes desta Henrique D'Avila, Esdras Gueiros,
Corte. Refiro-me à obtenção de novo Jorge Lafayette, Paulo Távora, Os-
prédio para a Seção JUdiciária de car Corrêa Pina, Márcio Ribeiro e
São Paulo, empreitada a que se lan- Peçanha Martins, amigos tão caros
çou com empenho máximo e só por - Jorge Lafayette, para mim, um
isso vencedora, e que veio a resolver verdadeiro irmão - e àqueles cole-
o angustiante problema com que se gas nossos, vultos singulares de
debatia aquela importantíssima Se- Juízes e de varões, os Ministros
ção e, ainda, a celebração de convê- Amarílio Benjamin e Hermillo Gal-
nio com a Caixa Econômica Federal, lant, os quais a mão do destirio con-
permitindo a aquisição da casa pró- duziu a páramos mais altos.
pria pelos servidores mais humildes Ainda desejo agradecer aos exce-
da Casa. Outros, vários outros pode- lentes funcionários deste Tribunal,
riam ser citados, mas apenas se tor- dos vários escalões, poiS todos traba-
nam suficientes aqueles menciona-
dos para que possa ver de logo o lham para o objetivo comum, sem
Vice-Presidente que for eleito, e que cUja valiosaaqui colaboração ser-me-ia
irá suceder Vossa Excelência, em impossível
são.
cumprir minha mis-
meu lugar, como sua tarefa será fa-
cilitada. E, por último, uma palavra de
amor e gratidão a Yesis, minha es-
Vou concluir, senhores, que esta já posa querida, e ao meu filho, meu
vai longe e é prudente ser breve, amigo, que leva meu nome e que só
com a promessa que igualmente fa- me tem dado alegrias, a eles que
ço de que, de minha parte, tudo farei tanto se têm sacrificado com a dura
para conservar e ainda mais estrei- vida de magistrado que tenho leva-
tar os laços de fraterna amizade 10, e a cujo estímulo, carinho e com-
que com todos aqui mantenho, e lhes preensão tanto devo os êxitos que te-
dizer que, nas minhas forças, no Su- nho obtido, com a graça de Deus,
premo Tribunal Federal, me empe- sempre tão generoso. E uma home-
nharei para o crescente prestígio do nagem aos meus pais, já falecidos,
JUdiciário e procurando colaborar, que me moldaram o caráter e me
inclusive, para que os Tribunais Su- deram o exemplo de trabalho, honra-
periores do País encontrem denomi- dez e perseverança.
nadores comuns nos interesses ge- E ao ir para o Supremo Tribunal
rais para seu maior fortalecimento e Federal, faço-o com humildade, re-
grandeza. cordando o final de uma poesia do
Aos amigos que espontaneamente poeta não só
João Passos Cabral, que leio
pela beleza dos versos, mas
procuraram levar o meu nome à ainda em homenagem à Seção Judi-
consideração do Sr. Presidente da ciária da Justiça
República, sem que nada lhes pedis- Janeiro, onde fuiFederal do Rio de
Juiz
se, mas até de certo modo lhes difi- anos, na pessoa da Juíza Mariavários
por
cultando a tarefa, ao Governo do Soares de Andrade, rara figuraRita de
Piauí, aos políticos daquele Estado, mulher e minha querida colega ali
à sua Seção Regional da Ordem dos desde os primeiros dias:
Advogados e à Associação dos Ma-
gistrados, que do mesmo modo pro- «Julgar os homens ... que missão
cederam, o meu muito obrigado. imensa! Tão grande que eu não sei,
248 TFR - 99

amigos meus, se nos pertence a Krieger e Geraldo Sobral, presentes,


nós, ou se pertence às intenções re- ainda, o Excelentíssimo Senhor Dou-
cônditas de Deus ... » tor Geraldo Andrade Fonteles,
Muito obrigado a todos». Subprocurador-Geral da República e
o Bel. José Alves Paulino, Secretário
O Sr. Ministro Jarbas Nobre (Pre- do Plenário, foi aberta a Sessão. Ao
sidente): - «Agradeço a presença início dos trabalhos, o Excelentíssi-
dos ilustres Magistrados que com- mo Senhor Ministro-Presidente con-
põem esta Mesa, agradeço às de- vidou os Excelentíssimos Senhores
mais autoridades que se fizeram Ministros Aldir Guimarães Passari-
presentes e agradeço, também, às nho, do Supremo Tribunal Federal;
Senhoras e aos Senhores que nos Ministro José Guilherme Vilela, do
honraram com sua presença nesta Tribunal Superior Eleitoral; Ministro
Sessão de homenagem.» José Fragomeni, do Superior Tribu-
Declaro encerrada a Sessão que nal Militar, e o Desembargador An-
prosseguirá, normalmente, após o in- tônio Honório Pires de Oliveira Jú-,
tervalo. nior, do Tribunal de Justiça do Distri-
Encerrou-se a Sessão de homena- to Federal e dos Territórios para a
gem às 16:00 horas. composição da Mesa. Em seguida, o
Excelentíssimo Senhor Ministro-
Tribunal Federal de Recursos, 26 Presidente, após referir-se às autori-
de agosto de 1982 - Ministro Jarbas dades componentes da Mesa e às de-
Nobre, Presidente - Bel. José Alves mais autoridades presentes e repre-
Paulino, Secretário do Plenário. sentadas, proferiu as seguintes pala-
vras:
«Declaro aberta esta Sessão Sole-
ATA DA 2:' SESSAO ne na qual o Tribunal Federal de Re-
EXTRAORDINÁRIA cursos apresentará as suas despedi-
EM 10 DE MARÇO DE 1983 das ao Ministro Pereira de Paiva,
recentemente aposentado por ter
HOMENAGEM AO atingido a idade limite fixada pela
EXCELENTiSSIMO SENHOR Constítuição Federal.
MINISTRO JOS~ PEREIRA
DE PAIVA Convido o Senhor Ministro Pereira
de paiva a ter assento nesta Mesa.
Aos dez dias do mês de março do
ano de mil novecentos e oitenta e Falará em nome do Tribunal o Se-
três, às treze horas e trinta minutos, nhor Ministro Otto Rocha, a quem
na Sala de Sessões do Tribunal Fede- concedo a palavra.»
ral de Recursos, presentes os Exce- O Exmo. Sr. Ministro otto Rocha
lentíssimos Senhores Ministros Jar- «Honrou-me sobremaneira o Tribu-
bas Nobre, Presidente do Tr~bunal, nal encarregando-me de transmitir,
Armando Rollemberg, Moacir Ca- ao 'nosso estimado colega e amigo,
tunda, José Dantas, Lauro Leitão!., Ministro Pereira de Paiva, as nossas
Carlos Madeira, Gueiros Leite, Wash- despedidas, no momento em que, por
ington Bolívar, Torreão Braz, Car- imperativo de ordem constitucional,
los Mário Velloso, Otto Rocl:la, Wil- deixa o nosso convivio diário, afetuo-
son Gonçalves, Willlam Patterson, so e ameno, atributos estes que com
Adhemar Raymundo, Bueno de Sou- denodo, zelo e carinho, temos manti-
za, Sebastião Reis, Miguel Ferrante, do, sob a benção e a graça divinas.
José Cândido, Pedro Acloli, Amérlco
Luz, Antônio de Pádua Ribeiro, Flá- O nosso homenageado, natural das
quer Scartezzlni, Costa Lima, Leitão Minas Gerais, nasceu na cidade de
TFR - 99 249

Abre Campo, onde ali concluiu o cur- mo Pereira de Paiva, também é pro-
so primário e, posteriormente o gi- digioso na grande virtude de fazer
nasial, na cidade de Carangola. amigos.
Bacharelou-se em Direito pela Fa- Como bom mineiro, possui Pereira
culdade de Direito da Universidade de Paiva todas aquelas característi-
Federal de Minas Gerais, tendo cas que alguém já disse, marcam o
exercido a advocacia em várias co- caráter do mineiro: «Ser mineiro é
marcas de seu Estado, destacandoc ter simplicidade e pureza, humilda-
se as de São João Del Rey, Abre de e modéstia, coragem e bravura.»
Campo e Belo Horizonte. Aqui na Corte, soube manter o seu
Antes de abraçar a jUdicatura, foi elevado conceito de varão ilustre,
redator da conceituada Revista Co- honrado, trabalhador, independente,
mercial de Belo Horizonte; Delegado justo e bom.
Regional de Polícia, em Alvinópolis; Seus julgamentos seguros, bem
Prefeito de Abre Campo, sua terra avaliando os mÚltiplos aspectos ven-
natal. tilados nos processos, sempre con-
A partir de 1947, ingressa na Ma- cluíam em acórdãos notavelmente
gistratura, como Juiz Municipal, perficientes, demonstrando aquelas
exercendo suas funções nas comar- enunciadas qualidades, próprias que
cas de Capelinha, Nova Rezende e são de um autêntico juiz.
Teófilo Otoni. Estas minhas modestas palavras,
Elevado ao cargo de Juiz Substitu- não as tomo como uma despedida.
to e transformado em Juiz de Direi- Conforta-me, e mesmo alegra-me,
to, foi titular da 2~ Vara da Fazenda ter ouvido neste Plenário, há bem
Pública Federal, Estadual e Munici- poucos dias, dizer o nosso homena-
pal, onde serviu de 1954 a abril de geado: que deixa o Tribunal de direi-
1967, ocasião em que fora nomeado to, mas não o deixa de fato.
Juiz Federal da 1~ Vara da Seção Aqui sempre estará partilhando do
Judiciária do Estado de Minas Ge- nosso convívio sadio e fraterno, com
rais. o qual ele tanto se identificou.
Conheci Pereira de paiva há mais Ao finalizar, peço licença aos
de 15 (quinze) anos, quando fomos meus eminentes pares para relem-
nomeados e empossados, em 25 de brar palayras do então nosso colega,
abril de 1967, Juízes Federais: eu, na o Exmo. Sr. Ministro José Néri da
2~ Vara da Seção Judiciária do Dis- Silveira, quapQQ, em nome do Tribu-
trito Federal, e ele na 1~ Vara da Se- nal, despedia-se, em sessão especial
ção Judiciária do Estado de Minas como esta, do eminente Ministro Es-
Gerais. dras Gueiros.
Depois, a partir de junho de 1980, Disse ele: «É digno, ao meu pen-
tive o prazer e a ventura de com ele sar, do respeito de seus pares e dos
conviver mais de perto, nomeado concidadãos o magistrado que, pre-
que fora Ministro desta Corte e de- servando a independência e a inte-
signado membro da 1~ Turma, onde gridade, não incorre no grande peca-
também atuava eu, sob a presidên- do do juiz, no dizer de Calamandrei,
cia de outro Ministro da mesma têm- ql,1e é a soberba, e pode chegar, ao
pera, dos mesmos predicados, das fim de sua missão, convicto de que
mesmas virtudes, o sempre lembra- «só há uma glória» como proclamou
do com carinho - o nosso ines- Ruy Barbosa, «verdadeiramente dig-
quecível Peçanha Martins - que, co- na deste nome: - é a de ser bom.»
250 TFR - 99

. Estas palavras harmonizam-se, A fecundidade aludida dimana do


emolduram-se nesta figura ímpar largo tempo em que serviu à Justiça
deste magistrado a quem ora rende- comum e à federal, nos 33 anos de
mos nossas mais carinhosas home- atuação em juízos singúlares, acres-
nagens. cidos de mais três anos neste Egré-
Rogo ao Altíssimo, com fervor, pa- gio Colegiado, tendo prolatado mais
ra que os seus anos de existência se- de 20 mil decisões, nas quais impri-
jam bem longos, concedendo-lhe as- miu o timbre de sua feição pessoal.
sim a graça de, por muito tempo Pronunciamentos marcados de acu-
mais, gozar do convívio dos entes rada sensibilidade de Juiz íntegro e
que lhe são caros: - sua querida imparcial.
mãe, seus filhos e netos e para a ale- Sirva de pedestal a essas qualifica-
gria de todos nós, seus colegas e ções de sua judicatura, o título de
amigos do Tribunal. «personalidade de Destaque Judiciá-
O Exmo. Sr. Ministro Jarbas rio» do ano de 1977, reconhecido pelo
Nobre (Presidente): «Em nome do su'frágio do Clube dos Advogados de
Ministério Público falará o Exmo. Minas Gerais, em 1978.
Sr. Subprocurador-Geral da Repúbli- Uma das características que res-
ca, Doutor Geraldo Andrade Fonte- salta de seu brasão judicante, não
les.» está na preciosidade das ilustrações
O Exmo. Sr. Dr. Geraldo Andrade doutrinárias ou teóricas, as quais ce-
Fonteles (Subprocurador-Geral da dem lugar ao bom senso e à lógica
República): «Exmo. Sr. Ministro Pe- do direito, desataviado de dialéticas
reira de Paiva. A inadimplência da magisteriais.
idade, leva V. Exa. à aposentadoria A sua oora é simples e vivaz como
compUlsória, enquanto induz ao sóbrio e imponente é a sua indivi-
Egrégio Tribunal reunir-se nesta dualidade.
sessão especial para homenageá-lo, Amigo franco e, posto que reserva-
rendendo-lhe significativo preito de do, de franca sociabilidade. Tais
amizade e de anteciparia saudade. qualidades j á o identificam com o
O Ministério Público Federal, pre- bom entender da distribuição da Jus-
sente ao evento, comunga do senti- tiça, à qual serviu, afeiçoando a
mento do Tribunal, corretamente compreensão do Direito à concepção
traduzido nas palavras próprias e de Pietro Cogliolo, segundo esse pas-
marcantes, proferidas pelo seu ilus· so lapidar de sua lição. «O Direito é
tre companheiro de cátedra magis- um fenômeno social. Por isso, deve
tratural, o ilustre Ministro Otto Ro- examinar-se na sociedade. Não é
cha. movido pelo puro raciocínio do ho-
De nossa parte, nos quedamos de- mem, mas pelas necessidades do po-
sejosos de enriquecer o Cântaro de vo livre; vive nas suas condições tan-
fluidos, já decantados nos ricos con- to econômicas como pSIcológicas,
ceitos expendidos relativamente à tanto materiais, (!omo morais. Por
sua pessoa e à sua vida pública. isso, nâo é invariável e absoluto; mu-
Na verdade, quem bem conhece as da com o mudar do povo, dos luga-
facetas de sua personalidade de ho- res e dos tempos, e per:manece fixo
mem e de Juiz nobre no cumprimen- enquanto estão fixas todas conjuntu-
to de sua missão, não pode deixar de ras aue o criaram.»
sentir-se feliz ao ouvir e, a um tem- E preciso que existam Juízes que
po, proclamar os louros que coroam saibam colocar nas suas sentenças o
toda uma vida de exemplos fecun- conteúdo da Justiça. Aqueles que as-
dos. sim procedem realizam o Direito em
TFR - 99 251

,plena harmonia existencial do conú- cia, como forma ideal da convivên-


bio entre a lei e a sociedade. Aper- cia de uma nação politicamente or-
feiçoa aquela na fonte salutar da ju- ganizada, traz ínsita a negatividade
risprudência, aprimora esta no con- de autonomia e de atuação harmôni-
,senso da ordem progressista, para a ca entre esses Poderes.
redenção do bem comum. Impõe-se, com todo rigor, conside-
A sublimação das idéias superio- rações reciprocas entre os três Pode-
res da vida: democracia, liberdade e res, assegurada a independência de
Igualdade são as metas da felicidade cada um, conforme ordenamento da
humana, assim já preconizada nesta Carta de Princípios. Há de haver -
excelsa valoração, ditada pelo emi- presente aquela consideração - pa-
,nente Ministro Márcio Ribeiro, em ridade de direitos, vantagens e prer-
ocasião idêntica à em que, neste rogativas entre os titulares maiores
momento, passa V. Exa., da representatividade de cada Po-
Disse S. Exa: «Além do aperfei- der, podendo-se daí aferir a autori-
çoamento das almas, o caminho está dade dos princípios e da ordem
em fazer a explicitação dos jurídica erigida como equilíbrio e es-
princípios, transformando-se institui- tabilidade política e social.
ções jurídicas que passam a ser ob- São esses princípios úteis e neces-
servadas por todos.» sários que guarnecem a sala de visi-
Não se empobrecem as sentenças ta da Constituição. No mesmo
que afastam o psiquismo e a paixão edifício também mourejam os obrei- I

dos homens, inclusive quando estes ros da Oficina do Direito, onde pode-
se colocam em posição de modelar a mos divisar o ilustre Ministro Perei-
vontade dos que adotam uma filoso- ra de Paiva, como um operário pa-
fia autocrática. drão.
Nas decisões dos Juízes e Tribu- Entrementes, ouso alongar-me,
nais, aquém da missão julgadora, as- por oportuno ao destaque, para anuir
pira à serenidade e à honradez de que, ao lado da missão da magistra-
propósitos, e além destas virtudes, à tura, coopera o Ministério Público
independência com a qual se mate- na realização do primado da Justiça
rializa a presença institucional de Ambas as instituições - magis-
Poder Judiciário. Posicionamentc tratura e Ministério Público - care-
que sempre foi adotado por V. Exa. cem de independência, para o provi-
Destacamos comentários sobre in- sionamento de suas reais necessida-
dependência, por ser esta a força do des, quer de ordem material, quer de
repúdio à submissão, à contempori- ordem funcional, o que não deixa de
zação viciosa, seja do agente da lei, implicar em quebra preceituaI da
seja da própria norma, quando ins- Carta Magna.
culpida sob inspiração autocrática. Do lado do Judiciário patenteia-se
«Direito repele o autoritarismo». a inferioridade de vencimentos, em
Bem disse o ilustre Dr. Samir Had- confronto com os dos outros Poderes,
dad, Procurador da República, em como o próprio desequilíbrio entre a
recente «Oração do Paraninfo» no diferenciação dos seus órgãos, a pon-
Estado do Piauí. to de ferir o princípio da hierarqui-
zação dos mesmos,.e também da já
Qualquer preponderância de von- evidenciada hostilização ao princípio
tade de um Poder sobre os outros, da isonomia.
instituídos na realização do pacto so-
cial, como batizado por Montes- Da parte do Ministério Público Fe-
quieu, para caracterizar a Democra- deral, além desse aspecto, mais se
252 TFR - 99

ressente ele de independência nos se- Estado de Minas Gerais, e ali encon-
guimentos de sua ação, de sorte que trei três Juízes que dentre outros
demanda modificação de potestade chamaram a minha atenção: Márcio
na sua atuação, quando emitir traba- Ribeiro, Edésio Fernandes e, logo
lho de natureza técnica, nos limites após, Pereira de Paiva.
em que se atenha à sua destinação Edésio Fernandes chegou à Corte
precípua de fiscal da lei e guardião Mineira e sempre abrilhantando a
da Constituição. Seria recomendá- jUdicatura do Estado de Minas' Már-
vel, para evitar o próprio desgaste cio Ribeiro chegou, também, àquela
do Governo e da Administração PÚ- Corte e depois foi nomeado para este
blica, proporcionar-lhe, como a lógi- Tribunal em cuj a posse tive ocasião
ca indica, apuração de exação do
cumprimento do dever, dos agentes de dizer o que disse do saudoso Míl-
da.Administração Pública. ton Campos, modesto como é do gos-
to dos mineiros e austero como con-
V. Exa., Senhor Ministro Pereira vém à República. .
de J:>aiva, deixa o Tribunal, ainda
sob essa visão panorãmica, prestes, Os mineiros destacam-se na vida
ao que se espera, de ser banido com pÚblica com aquele perfil traçado
a verdade democrática, acalentada pelo Ministro Otto Rocha: em todas
na alma do povo. as atividades em que eles se sobres-
A sua despedida se dá sob os saem, o fazem sempre com modés-
auspícios de uma recomendação con- .t1a, mas com indiscutível indepen-
fortadora pelo cumprimento do de- dência. Exemplo disso, para não ir
ver, pela higidez física, que lhe pro- em passado muito longinguo, na .su-
porcionarão a participação na felici- prema Corte, Lafayete de Andrada,
dade familiar, cujos folguedos hão Gonçalves de Oliveira, Vilas Boas e
de lhe preencher os vazios da trafe- Vitor Nunes. Leal. Nesta Corte,Már-
tória árdua que acaba de cumprir. cio Ribeiro, Décio Miranda, que hoje
abrilhanta o Supremo Tribunal e es-
Deus o acompanhe.» te notável Ministro, que conheci há
30 anos, e que me honra com sua
O Exmo. Sr. Ministro Jarbas amizade, cuj a delicadeza e educa-
Nobre (Presidente): «Como repre- ção, mal conseguem esconder a sóli-
sentante da Ordem dos Advogados da cultura jurídica, Otto Rocha. Não
do Brasil, Seção do Distrito Federal foi apenas neste Poder que os minei-
usará da palavra o Conselheiro Dr: ros se tornaram notáveis, nos outros
Fernando Figueiredo de Abranches.» dois Poderes, podemos citar, como
O Exmo. Sr. Dr. Fernando Figuei- exemplo, Milton Campos que foi
redo Abranches (Conselheiro da Or- mais à lei do que dos homens que
dem dos Advogados do Brasil - Se- deixou a pasta da Justiça do Es'tado,
ção do Distrito Federal): «O destino, porque não quis assinar o «AI 2» e
que é um conjunto de fatos e cir- que teve o pudor de não aceitar um
cunstâncias impostos pela força dos Cargo na Suprema Corte, num dos
acontecimentos, quis que o Presiden- convites, porque participara do au-
te da Ordem dos Advogados do Bra- mento dos seus membros e, no se-
sil, Seçã~ do Distrito Federal, fosse gundo, porque achava que a sua ida-
um mineIro e pudesse designar um de já não permitiria qJle ele desse a
outro ex-presidente e ex-líder da contribuição que o Pretório Excelso
classe para saudar um coestaduallo merece.
que se despede desta Egrégia Corte. E agora, nos nossos dias, depois do
Na década de 50, saindo da cidade memorável pleito de 15 de novem-
de Barbacena, cheguei à Capital do bro, permitido pelo ilustre Presiden-
TFR - 99 253

te João Batista de Figueiredo, o Se- mas, por outro lado, também, não
nador Tancredo Neves vem dando, permitiu que o particular por ele o
como denota a imprensa, a marca in- fosse.
discutível do grande estadista do Nesse seu exercício da judicatura,
nosso pais. deu a cada um o que é seu. Não é
Pereira de Paiva seguiu, como cansativo lembrar, porque é um pen-
juiz, o exemplo desses mineiros ilus- samento que deve estar sempre pre-
tres que se destacaram nos três Pode- sente, gue os juízes julgam os ho-
res da República. Sempre entendi, mens e os advogados julgam os
não sei se erradamente, na modéstia juízes.
dos meus conhecimentos, na páli- O voto da classe dos advogados de
da sombra da vida que vivo, que Brasília, expressado modestamente
exercer a judicatura, nada mais é do pela minha palavra trôpega, é de que
que exercitar a formação e a refor- V. Exa. foi um grande Juiz e V. Exa.
mulação da jurisprudência, cujo con- pode retornar à vida particular por-
ceito não há melhor, apesar da críti- que soube honrar Minas Gerais e a
ca dos autores que o consideram até judicatura do nosso país.»
visível, mas que está no Direito Ro-
mano e que é a pedra angular do dOi- O Exmo. Sr. Ministro Jarbas
reito moderno. Jurisprudência est Nobre (Presidente): «Em nome da
dlvlnarum ad comanarum rerum no- Turma de Formatura do Ministro
ticia just ad quem just clencla. Pereira de paiva falará o Dr. Petrô-
nio Muzzi.»
O conhecimento das coisas divi-
nas, segundo alguns, é o direito natu- O Exmo. Sr. Dr. Petrõnio Muzzl:
ral que na minha opinião é aquele «Vim das Minas Gerais para levá-lo
sexto sentido que o jurista tem, e a de volta.
notícia das coisas humanas são os Vim como representante do nosso
fatos da vida que se transformam em Paraninfo da Turma dos anos 40,
fatos jurídicos e que o juiz aplica co- ainda vivo e saudoso, o Professor
mo conhecimento do direito para que João Franzen de Lima, que ao refe-
faça dele a ciência do justo e do in- renciar o grande tribuno Pedro Alei-
justo. Esse foi o caminho seguido xo, no aniversário dos 55 anos do
por V. Exa., Ministro Pereira de «Estado de Minas Gerais», ocorrido
Paiva, em todos esses anos que te- anteontem, assim o colocou e nós o
nho acompanhado a sua vida, por- colocamos também como «uma vida
que, muito embora tenha vindo para trabalhosa, cheia de aspectos
Brasília nos idos de 1960, compareci difíceis, mas com um só traço de
à sua posse como juiz e mais tarde, unidade na sua atuação e no seu
nesta Corte, venho acompanhando comportamento: a serenidade, a hon-
seus votos e seus acórdãos bem co- ra, o escrúpulo, a dignidade que im-
mo as suas sentenças lá em Minas primiu sempre a todas as suas tare-
Gerais, os quais demonstram que V. fas.»
Exa. seguiu aqueles três princípios,
também do Direito Romano, enun- Vim em nome de uma Turma de
ciados por Vere ano que, ao lado de Bacharéis em Direito, dos anos 40,
Paulo Celso foi um dos. corifeus des- da nossa velha Faculdade de «Afon-
se direito honesti vlveri alterum non so Pena», que conhecem V. Exa. há
elederi sunc ist buere. quase 50 anos, desde os idos de 1936
e ao traço de unidade dito pelo Pro-
V. Exa. viveu honestamente como fessor João Franzen de Lima, nós
juiz e como homem. Como juiz não agora podemos dizer como o dissera
deixou que o Estado fosse lesado o Ministro Leitão Krieger nas pala-
254 TFR - 99

vras de despedida da 1~ Turma dos que V. Exa. dissera, cheio de ~spi­


Senhores Ministros a que V. Exa. nhos e com muitas chagas. Nos o
pertencera: . «o Ministro Pereira de acompanhamos desde os idos de
Paiva é depositário de uma suave e 1936, quando V. Exa., para pagar os
doce argamassa, que liga as almas, estudos, era um soldado raso da
ligação que se traduz na amizade.» Polícia Militar de Minas, indo depois
V. Exa., agradecendo as palavras a Sargento; abandonando a farda foi
de despedida da 1~ Turma dos Se- ser Estatístico, do hoje IBGE; depois
nhores Ministros, assim se expressa- de formado, foi advogar e logo de-
ra: «venho de muito longe, não d~ pois nomeado Juiz Municipal da .Fa-
distância física, mensurável por qUi- zenda Pública do Estado de Mmas
lômetros, ma:;! de longínquos recan- Gerais depois Juiz de Direito; quan-
tos, das camàdas menos afortuna- do da instalação no Brasil, da Justi-
das onde tudo parece perder-se nas ça Federal fora V. Exa. o primeiro
dim'ensôes infinitas da própria vida.» Juiz Feder~l da Seção Judiciária de
Palavras proferidas pelo então Mi- Minas, e por fim, culminara sua car-
nistro Gama e Silva, quando da im- reira de magistrado, vindo para este
plantação da Justiça Federal no Augusto Tribunal. Quando em Minas
Brasil, e em Minas Gerais, fora V. estava V. Exa. recebera da Câmara
Exa. o primeiro Juiz nomeado. E é Municipal de Belo Horizonte, no dia
verdade o que V. Exa., completando 19 de junho de 1970, o título de cida-
o Ministro Gama e Silva, disse agora dão Honorário de Belo Horizonte.
que em sendo um desconhecido e Mas mesmo V. Exa. exercendo a ju-
sem' um protetor na vida pública, dicatura nesta Casa, lá em Belo Ho-
«percorrera uma caminhada c?m rizonte, lembraram de V. Exa., a Se-
muitos espinhos que feriam as maos ção da Ordem dos Advogados do
de V. Exa. e muitas chagas lhe co- Brasil de Minas, na conferição da
briram o rosto». Somos testemunhas medalha do mérito judiciário, e o
oculares dessa sua caminhada, e pa- que faz V. Exa. na sua simplicidade
ra traçá-la, permita V. Exa. que leia de Juiz: - diz que o Instituto e a
desta Tribuna, versificando, o perfil OAB escolheram V. Exa. inadverti-
que lhe dera o nosso orador da ',l'ur- damente e até imerecidamente, e
ma de 40, Félix Fernandes Filho, que aquela medalha era da Justiça
quando estávamos no 5? ano da Fa- Federal de Minas Gerais.
culdade, traduzindo o que era, o que Ministro Pereira de Paiva, assim
seria e acaba de ser V. Exa.: - como em 1936, V. Exa. aprendera
«Disse Jesus, o tímido cordeiro, ao meia-volta-volver, é chegado o mo-
pregar o EVangel~o à humani?ad~: mento de V. Exa. volver às Minas
«os derradeiros hao de serpnmel- Gerais, e aqui queremos nós da Tur-
ros» e isso acontece até na Faculda- ma de 40 comungar com V. Exa. a
de. Quem hoje traço a golpe de buril, situação em que se acha i~êntica à
amigo e companheiro predileto, sen- daquele minerador do Te]uco, que
do dos derradeiros no perfil, foi dos minerou a vida inteira sem nada
primeiros no meu primo afeto. conseguir e, no dia em que ele en-
Conheci-o de farda e de galança, e o controu uma gema sem jaça, no fun-
vi depois de espada e de balança ... a do da bateia, ele olhou para cima e
justiça e o direito. A força e a lei. disse: louvado Nosso Senhor Jesus
Hoje trabalha no recenseamento, on- Cristo por ter tido a felicidade de
de se impôs à força do talento, como vir até esta Casa da Justiça, de tra-
ornamento dessa ilustre grei.» balhar com pessoas tão dignas, tão
Ministro Pereira de Paiva, o cami- dedicadas, tão honestas e tão honra-
nho de V. Exa. fora justamente o das.
TFR - 99 255

Alea jacta est. V. Exa. lançou a Durante anos longos e penosos, fo-
.arte, e temos certeza cairá para Be- mos agentes da prerrogativa divina
o Horizonte. Lá V. Exa. fará jus ao de julgar nossos semelhantes, em
cítulo de belo-horizontino querido; lá cumprimento da lei que obriga e
irá se encontrar com o nosso Padri- compele.
nho João Franzen, com seus 90 anos
em plena forma advocatícia, e por Um dia seremos nós compelidos a
fim, estaremos nós, seus colegas de nos submeter ao mesmo império da
Turma, todos na faixa dos 70 anos, lei, como um projeto aprovado por
alguns doentes e outros militando decurso do prazo, pela fatalidade do
até hoje na Justiça.» tempo inexorável.
É a inversão do dístico latino.
O Exmo. Sr. Ministro Jarbas
Nobre (Presidente): - «Concedo a Ducor, non duco.
palavra ao Senhor Ministro Pereira Sou conduzido, não conduzo mais.
de Paiva.» Sou julgado, já não julgo.
O Exmo. Sr. Ministro Pereira de Há um momento no itinerário do
Palva: «Meus companheiros de des- caminheiro que lhe parece ver
tino, meus pares, meus amigos. levantar-se à frente de seus passos
Compareço a esta reunião tocado uma montanha escura, que se eleva
de um sentimento conflitante, misto abruptamente, onde se pode ler a le-
de alegria velada por uma sombra genda sombria - «daqui não passa-
de discreta amargura. rás.»
Alegria de participar de uma reu- É num momento assim, quando
nião em família; amargura de sa- vaf, se completando a palavra da vi-
ber que acontece pela última vez. da, que me volto sobre o caminho
Sinto-me como igual ao marcenei- percorrido e vejo, de longe, marcos
ro de urnas funerárias, que um dia luminosos que assinalam momentos
fabricará sua própria urna. in apagáveis vividos durante a cami-
nhada e que formaram o acervo de
Creio que todos nesta Casa, de vi- lembranças consoladoras para os
vência pessoal ou por ouvir dizer, co- passos findos.
nhecem o estranho fenômeno.
Moribundos, para cUja recupera- E é precisamente nesta hora que
ção não se vislumbra a mais longín- planto, no chão de meu caminho, o
qua esperança, de repente, com uma marco lUminoso que assinala o mo-
expressão iluminada, um brilho es- mento fáustico da minha vida, em
tranho nos olhos amortecidos, falam sua hora crepuscular.
de uma melhora inesperada. Nesta Casa, o último pouso de uma
A família, em torno do leito, se longa jornada, sob cujo teto se aga-
alegra e Se mostra contagiada por salha o microcosmo humano do Bra-
aquele lampejo de esperança. sil, tenho guardado irrestrita fideli-
dade ao chão do berço, à silhueta de
Mas, intimamente, todos choram. montanhas alcantiladas, esbatidas
Todos sabem que aquele clarão fu- contra a linha do horizonte, contor-
gaz é a última visita da saúde. nos da minha formação telúrica e
A alegria que nesta hora me inun- sentimental, que gizaram as linhas
da a alma não me engana o coração, da minha índole de mineiro, uma pe-
porque sei que se trata simplesmen- culiaridade do homem da montanha,
te de uma última visita da felicidade que cedo aprende a se prevenir con-
que desfrutei no convívio amável e tra a surpresa da escalada nas cur-
fraternal desta Casa. vas dos caminhos.
256 TFR - 99

Não estranha que a besta da sela, comerciante e sua mercadoria, o ad-


antes que a sofreguidão do cavalo, ventício esporádico que a espaços in-
sej a a alimária de sua preferência, certos percorre a região do garimpo.
por sua marcha segura, sua resistên- O estranho que vem do desconheci-
cia e rusticidade, e, sobretudo, pela do e na certeza de comprar sua mer-
acuidade instinta que a previne do cadoria ao preço da necessidade.
perigo, sempre iminente nas riban-
ceiras e nas armadilhas dos atolei- Entretanto, se o trato continuado
ros. vem a estabelecer confiança e inti-
midade, não há mais a indagar.
Graciliano Ramos, quando exami-
nava uma obra literária para efeito De então, para toda a vida, a pala-
de premiação, ao fim da primeira vra é a lei; a promessa é dívida a se
leitura já tinha formada a certeza de resgatar sem tergiversação.
se tratar de obra de mineiro, «com Ao tempo do Brasil Colônia, os rei-
tanto subir e descer.» nóis concentraram incansáveis es-
O livro era Sagarana. O autor,
forços e atenção na província de Mi-
Guimarães Rosa. nas.
Em verdade, quem se interessaria
E, é justamente esse subir e des- pela implantação de projetos agrope-
cer, que vem a se constituir na pri- cuários de maturação tardia e alea-
meira forma de condicionamento do tória, quandO o ouro e o diamante se
homem à circunstância da áspera to- ofereciam praticamente à flor da
pografia das Gerais. terra?
Por tudo isso, o mineiro não é ho- Por isso, Minas foi ciumenta mente
mem de anoitecer e não amanhecer. preservada de adventícios, graças à
vigilância de feitores e intendentes
Não é homem de se mudar ao sa- da Metrópole além mar.
bor dos ventos, porque sempre lhe Essa tarefa sempre foi providen-
seria penoso levar mesmo os trastes cialmente facilitada pela situação
sumários de seu dia a dia, o que não mediterrânea da província, que ti-
acontece ao homem da planície. nha no Rio de Janeiro seu porto de
As linhas mestras do comporta- escoamento de riquezas colhidas à
mento do mineiro são determinadas mãos cheias.
pelo estilo de vida do minerador, que Em caminho de volta, chegavam
aprende a ser sozinho, como se im- mercadorias importadas da Inglater-
põe ao faiscador de ouro e do dia- ra, em regime de monopólio.
mante. Fala-se em todo o Brasil da relu-
Desse isolamento decorre também tância do mineiro em pagar imposto.
a saga da sacralidade da palavra AqUi, também, se identificam as
empenhada, resultante natural de origens e raízes profundas do pouco
um jeito de viver no fundo de grotas
e noriegas, longe sempre da civiliza- que há de verdade nessa crença que
ção do papel, dos registros escritos. enriquece o anedotário do Brasil.
E que o minerador tinha consciên-
Falsifica-se uma assinatura. Nun- cia do despoj amento da riqueza de
ca, porém, a palavra de fé. seu País por dominadores de fora.
E também do contexto desse viver Assim, é natural que eles não le-
solitário e de natureza peculiar da vantassem até o entusiasmo a obe-
atividade mineradora que se deve in- diência a capatazes e intendentes.
vestigar as origens da tão decantada
desconfiança do minerador, sempre Mais facilmente se compreende e
em estado de alerta em relação ao se aceita que os mineradores tentas-
TFR - 99 257

sem algum expediente que frustras- Foi esse sentimento de nacionali-


se, ao menos em parte, o·'rítmo da dade que deu alento aos primeiros
espoliação. gritos de independência, com Felipe
dos Santos.
Assim, o que parece um ato conde-
nável, para o sentimento e com- Só ele explica a audácia de arros-
preensão dos homens daquele tempo tar com o dominador, até o sacrifício
não haveria cr.ime nem pecado apro- e o martírio, o que projeta luz sobre
priação de migalhas do muito que se a epopéia gloriosa da Inconfidência,
levava para fora, para sempre. que antecipou de anos o brado do
Ipiranga e fez que o raiar da liberda-
Essa apropriação clandestina, tão de não fosse tão tardio e, mais que
pouco relevante, era vista como ato tudo, se fizesse mansamente porque
de patriotismo e não chegava a ator- o tributo de sangue e sofrimento e
mentar a consciência do minerador martírio se resgatava antecipada-
a soldo, pela certeza dos cem anos mente.
de perdão. Assim se explica também por que
Um mineiro, hoje integrado à gale- todos os movimentos cívicos que mu-
ria dos imortais, cunhou a frase que daram os rumos da história do Bra-
correu o Brasil de ponta a ponta: sil nasceram de Minas, desde a Re-
«Mineiro só é solidário no câncer.» volução de 30 ao Movimento de mar-
ço de 1964.
Descontado o exagero evidente, a Em ambos os episódios, esteve
«Butad» fala desse homem de pouco presente a inspiração motivadora
visitar o vizinho do outro lado do dos sentimentos da Pátria.
morro; esse homem de fala reticente
e mansa, que «magina», que «assun- Em ambos os momentos, os co-
ta» antes de falar suas poucas pala- mandantes vitoriosos entregaram as
vras; esse homem desconfiado de aspadas triunfantes e nada reivindi-
quem se aproxima para lhe com- caram para Minas.
prar, a qualquer preço, o ouro arran- No primeiro, para entronizar no
cado da terra, o diamante garimpado poder um homem do sul.
a duras penas no leito do rio;· esse
homem avisado e prudente que leva No segundo, para levar à presidên-
bornal de farofa ao desl'ocar, mesmo cia um brasileiro do norte, de saudo-
à pouca distância; esse minerador sa memória.
solitário, que traz no inconsciente Por causa do isolamento intencio-
um legado ancestral - a nostalgia nal que os portugueses impuseram a
da solidão dos garimpeiros. Minas, o Estado é, ainda hoje, a
província dos tempos coloniais.
Em compensação, e porque sentiu
muito cedo o jugo dos dominadores, Basta uma inspeção ligeira sobre o
o mineiro forjou no cadinho de cala- mapa do Brasil para se sentir a si-
dâ revolta, o anseio libertárl0, o gos- tuação.
to da independência, a repulsa extin- A começar pelo extremo sul, o Rio
tiva a qualquer forma de dominação. Grande tem um povo de fala tão ca-
O homem de Minas, por que ma- racterística que dele se poderia di-
drugou no entendimento de que sua zer, «na qual quando ímagina, com
Pátria era vítima de espoliação por pouca corrupção crê que é do Pa-
parte dos colonizadores, madrugou raguai.»
também no sentimento da nacionali- Pouco adiante, está Santa Catari-
dade, no amor à Pátria, sem estrei- na fortemente influenciada pela cul-
tezas regionalistas. tura alemã, com alta percentagem
258 TFR - 99

de oriundos germânicos, mesmo a sidade exaustiva e sudorífera dos


despeito dos tempos já distantes dos paulistas, seja assim por desafeição
primeiros colonos; ao esforço, gosto pelo lazer.
São Paulo é modelado, etnografi- É que baianos e cariocas, que vi-
camente, pelo italiano, predominan- vem com um pé na terra outro no
do amplamente sobre colonos de ou- mar, diante de sua grandeza, seu
tras origens, como o japonês. bramir incessante, seu rumorejar
O Rio de Janeiro é o PortugUês, soturno, aprendem a valiar a escas-
desde os grandes empórios de secos sa dimensão do homem, «esse bicho
e molhados até o estivador do cais e da terra, tão pequeno.»
carregador do mercado. Aprendem a valiar o nada da vida
O Paraná não tem ainda uma indi- e do mundo, ao sentir, como Baude-
vidualidade marcante e definida. É laire, que o mar é o infinito relativo
um caldeirão para onde converge o que lembra o infinito total.
Brasil de todos os quadrantes. É quando um som de música ao
O Espírito Santo, réplica sul-ame- longe canta aos ouvidos desatentos
ricana de Portugal, que a terra aper- dos litorâneos dos mares do sul e do
ta e o mar alarga, é onde os minei- norte: «A vida é bela, a vida e um
ros vão em formação de exércitos in- dia» e a que viver é participar e não
vasores se consolar de sua nostalgia estar apenas vivo.
atávica do mar. Voltando ao mapa do Brasil, vem
A Bahia, sem desdouro para nin- agora Pernambuco, última fronteira
guém, é uma prOjeção demográfica do Norte.
e espiritual do continente irmão, des- A ninguém surpreende encontrar
de os ritos religiosos até os condi- ao acaso das ruas uma mulata de
mentos típicos de sua mesa incon- traços delicados, porte elegante,
fundível. olhos verdes, a testemunhar os trin-
É o país ensolarado, onde a pala- ta anos de domínio holandês.
vra cadente de Ruy zurziu o látego' Daí para frente, começa o Nordes-
do abolicionismo, até o canto condo- t~, uma região inteira unida pelos
reiro de Castro Alves, em «Vozes da vínculos comuns dos mesmos desa-
Africa.» fios, que o nordestino aprendeu a en-
Por falar em Bahia, convém assi- frentar com bravura e estoicismo.
nalar, de passagem, que o homem É o sertanej'o, o forte, que não so-
baiano transportou para os mares do fre o «raquitismo anêmico do ho-
norte a alma livre e descuidada do mem do litoral.»
homem carioca.
Tangido pela inclemência do céu,
Sob um clima de ardência tropical, nas longas estiagens, se afasta do
o carioca e o baiano têm a mesma flagelo, rumo às amenidades climá-
faSCinação pelo mar, a mesma «non- ticas do sul, deixando na poeira do
chalance», em face da vida, como chão a marca de seus pés.
quem diz que o melhor patrimôniO
desta vida é a vida mesmo. Mas, logo volta na esteira dos pró-
prios passos, pisando com renovadas
Mas não se há dlzer que aquela esperanças o chão molhado das pri-
compostura despreocupada desses meiras chuvas.
brasileiros, ambos adoradores de Ie-
manjá, ambos enfeitiçados do mes- A volta é uma constante invariável
mo feitiço, gente que ri da opero- na saga do Nordeste. Essa é a tônica
TFR - 99 259

dominante do folclore nordestino, crença piedosa e ingênua das mães


eternizado em duas páginas musi- de meu tempo, para que eu tivesse
cais de tocante beleza. sempre a cor de uma rosa a atestar
A canção imortalizada pelo velho a saúde,. a mesma rosa vermelha
Gonzaga, fala à Rosinha nestes ver- que floresce no rosto, a testemunhar
sos de tocante lirismo: «Quando o a situação de embaraço e vergonha.
verde de teus olhos se espalhar na Creio que se cumpriu a primeira
plantação, eu voltarei pro meu ser- parte do vaticínio.
tão.» Apenas a primeira parte, pois con-
É o caboclo retirante prometendo to entre os poucos motivos de orgu-
voltar. lho de minha vida, nunca haver me
Em outra canção, também famo- envergonhado dos meus atos, que to-
sa, o caboclo que ficou suplica à dos assumi, sempre com altanaria.
amada que se foi para o Sul: «Marln- Lá delxel também, no mesmo
gá, Marlngá, volte aqui pro meu ser- chão, o poço azul da minha infância,
tão, prá de novo o coração do cabo- onde costumo me debruçar para ver,
clo assossegá.» no espelho da água, a Imagem do
Este é o Nordeste, onde o povo de- menino que nunca me desertou do
safia o destino, com amor e esperan- coração
ça. Ao me despedir dos amigos, que
Meus queridos colegas. por diferentes caminhos chegaram a
Sei que me demoro, exaustivamen- esta Casa de Justiça, quero dizer
te, no que era justo esperar apenas que a todos me afeiçoei sem discri-
palavras de despedida de um mem- minação, pela aml4ade, pela admi-
ração, pela cultura, pelo senso de
bro da família JUdiciária do Tribu- responsabilidade em face ao dever,
nal, que ora se despede. pelo amor ao trabalho.
Talvez, inconscientemente, esta fa- Em Brasília, na mesma medida
la demorada é um artifício para pro- em que se alargam os horizontes de
longar a emoção de viver um mo- vastos crepúsculos sanguíneos,
mento apoteótico, grato ao meu co- ampliou-se minha visâQ deste País
ração. continente, milagre de unidade sem
Ao firmar com Meflstófeles o pac- dialetos, sem cismas religiosos, sem
to que lhe restituiria a glória da ju- intolerância e discriminação por mo-
ventude, Fausto incluía esta cláusu- tivo de credo, de raça e de cor.
la: «Se me chegar momento a que eu A essa unidade, acrescento o orgu-
possa dizer, Fica! Tu és tão bom!» lho de saber que nasce em Minas o
Também eu estou alongando esse Rio São Francisco que, sem separar,
momento tão bom que eu daria, co- divide tantos Estados do Brasil.
mo Fausto, um pouco da minha al- Voltando agora ao pequeno mundo
ma, mesmo sem a contrapartida de da minha infância, emendando as
voltar aos doirados anos da juventu- pontas da vida, já adiantado no ca-
de. minho que leva à segunda infância,
Falei exaustivamente sobre o mi- depois do convívio na pequena comu-
neiro, esse introvertido, para dizer nidade que se abriga neste Tribunal,
que esta despedida é o prelúdio da versão miniaturizada da ONU, com
volta ao chão do berço, onde deixei representantes de tantos Estados do
sepultos os restos mumificados do Brasil, posso dizer como o ex-
cordão umbilical, ao pé· de uma ro- Ministro PorteI a «Sou mineiro. Es-
seira de rosas vermelhas, segundo a tou brasileiro». E é como brasileiro,
260 TFR - 99

não apenas como mineiro que me Geral da República, a quem sempre


despeço dos amigos, colegas e com- admirei pela sua alta cultura, inteli-
panheiros, sem lhes dizer um melan- gência e independência.
cólico adeus, na certeza de que tam-
bém, como na canção que diz que «a Suas palavras, tão elogiosas, de
vida é um eterno voltar» voltarei a um amigo tão sincero, me inclina-
rever a casa que foi um pouco mi- ram a comandar meu ego profundo
nha, onde hoje deixo uma cadeira para que contenha o impulso de se
que apenas simbolicamente se diria exaltar além dos limites de seu me-
vaga, pois, em verdade, todas as ve- recimento.
zes em que minha alma vaguear pe- Por essas palavras tão gratifican-
los caminhos de um passado recente, tes, meu caro Dr. Geraldo Fonteles,
há de se deter certamente nesta ca- muito obrigado.
sa, último passo de sua peregrinação
de quase cinqüenta anos de devota- Ao Sr. representante da Ordem
mento integral ao apostolado da Jus- dos Advogados do Brasil, o eminente
tiça, sobre o qual me diz o coração Dr. Fernando Figueiredo Abranches,
ter sido eu um apóstolo humilde, digo-lhe que, ser saudado por um
mas fiel e dedicado. causídico do quilate de V. Exa.,
Senhores Ministros: constitui um coroamento total de mi-
nha vida profissional, pOis são pala-
Sensibilidade até a mais funda vras proferidas por um advogado
emoção, pelas referências desvane- que pensa, estuda, trabalha, luta, é
cedoras, inspiradas mais pela gene- leal, tolera, tem paciência, tem fé,
rosidade que pelas credenciais de esquece e ama a sua profissão.
mérito do homenageado, agradeço
com toda minha alma., ungida de sin- Finalmente, ao amigo e colega de
ceridade, as palavras enaltecedoras Turma Petrônio Muzzi, do Espírito
proferidas pelo amigo e colega, Mi- Santo, digo, de início, que atendo ao
nistro Otto Rocha, 'que falando em seu apelo e, conseqüentemente, volto
nome dos colegas do Tribunal, suas a Belo Horizonte. Volto para o meio
palavra.s valem pela mais eloqüente da nossa turma e dos nossos paren-
das consagrações, porque Vindas dos tes. Agradeço, do fundo do coração,
lábios de um Juiz nacionalmente suas palavras e sua atenção, vindo
consagrado por sua tradição de aus- aqui assistir a minha posse e a esta
teridade, a que se deve aliar o nome homenagem de hoje.
de jurista corajoso, cuja coragem
constitui, sem dúvida, prenda máxi- Assim, posso dizer, sem ferir a
ma do verdadeiro julgador. modéstia, que tive, nesta tarde, um
momento de apoteose, verdadeira
Nunca faltou-lhe o ânimo de efren- hora triunfal.
tar os descontentes e, muito menos,
a visão percuciente para descobrir, Do fundo do coração, com a alma
com facilidade, no emaranhado dos impregnada de sinceridade, muito
fatos e das leis, o direito do litigante, obrigado a todos.
com a nítida voz de sua consciência
e do dever de juiz. Tenho dito.»
Por tudo isso, obrigado meu caro o Exmo. Sr. Ministro Jarbas
Otto. Nobre (Presidente): «Agradeço a
Com a mesma sinceridade e a presença das autoridades componen-
mesma emoção agradeço as pala- tes da Mesa, bem como das autori-
vras de carinho do eminente Dr. Ge- dades presentes e representadas, dos
raldo Fonteles, DD. Subprocurador- advogados e funcionários da Casa.
TFR - 99 261

o homenageado receberá os cum- Mártires Coelho, o Exmo. Sr. Presi-


primentos na sala contígua a este dente do Tribunal Superior do Tra-
Plenário. balho, Ministro Carlos Alberto Bara-
ta Silva e o Exmo. Sr. Consultor-
Declaro encerrada a Sessão.» Geral da República, Dr. Paulo César
Encerrou-se a Sessão às 14:30 ho- Cataldo para a composição da Mesa.
ras. Em seguida, o Excelentíssimo Se-
nhor Ministro-Presidente, após
Tribunal Federal de Recursos, 10 referir-se às autoridades componen-
de março de 1983 - Ministro Jarbas tes da Mesa e às demais autoridades
Nobre, Presidente - Bel. José Alves presentes e representadas, proferiu
Paulino, Secretário do Plenário. as seguintes palavras:
O Exmo. Sr. Ministro Jarbas
PLENARIO Nobre (Presidente): Esta Sessão So-
lene se destina a empossar o Dr. Hé-
lio Pinheiro da Silva no cargo de Mi-
ATA DA SESSAO SOLENE DE nistro do Tribunal Federal de Recur-
POSSE DO EXMO. SR. MINISTRO sos.
HÉLIO PINHEIRO DA SILVA, Para introduzir Sua Excelência
EM 22 DE MARÇO DE 1983 no recinto deste Plenário, designo a
comissão composta pelos Senhores
Aos vinte e dois dias do mês de Ministros Armando Rollemberg e
março do ano de mil novecentos e Moacir Catunda.»
oitenta e três, às dezesseis -horas, na Prestado o compromisso regimen-
Sala de Sessões do Tribunal Federal tal, lido e assinado o termo de posse,
de Recursos, presentes os Exce- o Excelentíssimo Senhor Ministro-
lentíssimos Senhores Ministros Jar- Presidente declarou empossado o
bas Nobre, Presidente do Tribunal, Excelentíssimo Senhor Ministro Hé-
Armando Rollemberg, Moacir Ca- lio Pinheiro da Silva, convidando-o a
tunda, José Dantas, Lauro Leitão, tomar assento na bancada do Plená-
Carlos Madeira, Gueiros Leite, Wash- rio, ao lado do Excelentíssimo Se-
ington Bolívar, Torreão Braz, Car- nhor Ministro Leitão Krieger.
los Mário Velloso, otto Rocha, Wil-
son Gonçalves, William Patterson, A seguir, o Excelentíssimo Senhor
Adhemar Raymundo, Bueno de Sou- Ministro.-Presidente disse:
za, Antônio de Pádua Ribeiro, Flá-
quer Scartezzini, Costa Lima, Leitão «As autoridades componentes da
Krieger e Geraldo Sobral. Presentes, Mesa, às autoridades presentes, Se-
ainda, o Excelentíssimo Senhor Dou- nhoras e Senhores, o Tribunal Fede-
tor Geraldo Andrade Fonteles e o Se- ral de Recursos agradece a honra de
cretário do Plenário, Bacharel José tê-los nesta Sessão Solene e convida
Alves Paulino, foi aberta a Sessão. a todos para que compareçam à sala
Ao início dos trabalhos, o Exce- contígua a este Plenário, onde o em-
lentíssimo Senhor Ministro-Presiden- possado receberá cumprimentos e
te convidou o Excelentíssimo Senhor será servido o coquetel.
Ministro Aldlr Passarinho, represen- Declaro encerrada a Sessão.»
tante do Presidente do Supremo Tri-
bunal Federal, o Exmo. Sr. Ministro Tribunal Federal de Recursos, 22
de Estado da Justiça, Dr. Ibrahim de março de 1983 - Ministro Jarbas
Abi-Ackel; o Exmo. Sr. Procurador- Nobre, Presidente - Bel. José Alves
Geral da República, Dr. Inocêncio Paullno, Secretário do Plenário.
lNDICE SISTEMATICO
I - JURISPRUDENCIA

Agravo de Instrumento
41.437-RS ReI.: Min. Romildo Bueno de Souza .............. RTFR 99/1
42.575-SP ReI.: Min. Armando ROllemberg ................. RTFR 99/3

Apelação Clvel - Embargos


32.524-MG ReI.: Min. Sebastião Alves dos Reis ............. . RTFR 99/5
44.092-PR ReI.: Min. Carlos Madeira ....................... . RTFR 99/11
45.367-SP ReI.: Min. José Néri da Silveira* ................ . RTFR 99/14
45.682-SP ReI.: Min. Antônio de Pádua Ribeiro ............. ' RTFR 99/52
49.894-PR ReI.: Min. Américo Luz ......................... . RTFR 99/56
50.442-MG ReI.: Min. William Patterson .................... . RTFR 99/60
56.547-SP ReI.: Min. Américo Luz ......................... . RTFR 99/62
56.895-RJ ReI.: Min. Adhemar Raymundo ................. . RTFR 99/66
57.013-SP ReI.: Min. Antônio Torreão Braz ................ . RTFR 99/69
57.197-RJ ReI.: Min. Carlos Mário Velloso ................. . RTFR 99/71
57.637-MG ReI.: Min. Armando Rollemberg ................ . RTFR 99/78
60.558-RS ReI.: Min. Miguel Jerônymo Ferrante ........... . RTFR 99/80
61.450-SP ReI.: Min. Moacir Catunda ...................... . RTFR 99/82
62.181-PE ReI.: Min. Pedro da Rocha Acioli ................ . RTFR 99/84
65.202-BA ReI.: Min. Antônio de Pádua Ribeiro ............ . RTFR 99/124
66.232-GO ReI.: Min. William Patterson .................... . RTFR 99/128
66.248-SP ReI.: Min. Wilson Gonçalves ..................... . RTFR 99/133
70.715-PR ReI.: Min. Antônio de Pádua Ribeiro ............ . RTFR 99/144
72.031-MT ReI.: Min. Miguel Jerônymo Ferrante ........... . RTFR 99/147
72.785-RS ReI.: Min. Romildo Bueno de Souza ............. . RTFR 99/150
75.726-MS ReI.: Min. Sebastião Alves dos Reis ............. . RTFR 99/152
76.113-PR ReI.: Min. Lauro Leitão ......................... . RTFR 99/155
77.215-BA ReI.: Min. Evandro Gueiros Leite ............... . RTFR 99/160
77.916-RJ ReI.: Min. Wilson Gonçalves ..................... . RTFR 99/162
79.367-SP ReI.: Min. José Cândido ......................... . RTFR 99/167

Apelação Criminal
4.163-MA ReI.,: Min. Peçanha Martins** ................... . RTFR 99/170
5.394-RJ ReI.: Min. Antônio Torreão Braz ................ . RTFR 99/173
5.508-PE ReI.: Min. Fláquer Scartezzini ................... . RTFR 99/176
* Indicação do Gabinete do Ministro Carlos Mário Velloso.
** Indicação do Gabinete do Ministro WaShington Bolívar de Brito.
266 TFR - 99

Apelação em Mandado de Segurança - Mandado de Segurança -


Remessa Ex Offlcio
79.707-SP ReI.: Min. Moacir Catunda ...................... . RTFR 99/180
89.257-DF ReI.: Min. Washington Bolivar de Brito ...... '" .. RTFR 99/183
89.379-SP ReI.: Min. Fláquer Scartezzini ................... . RTFR 99/189
89.989-PE ReI.: Min. José Cândido ............. " .......... . RTFR 99/192
93.940-RJ ReI.: Min. Pedro da Rocha Acioli ................ . RTFR 99/201
95.602-DF ReI.: Min. Leitão Krieger ....................... . RTFR 99/210
96.545-RJ ReI.: Min. otto Rocha ............... " .......... . RTFR 99/213
Habeas Corpus
5.478-DF ReI.: Min. Leitão Krieger RTFR 99/218
Recurso Ordinário, Embargos, Remessa Ex Officio
4.274-MG ReI.: Min. otto Rocha ........................... . RTFR 99/220
5.294-DF ReI.: Min. Carlos Madeira ....................... . RTFR 99/224
5.763-PE Rei.: Min. Evandro Gueiros Leite ............... . RTFR 99/227

II - PROVIMENTOS DO CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL


Provimento n? 250, de 13 de abril de 1983 RTFR 99/233
Provimento n? 251, de 14 de abril de 1983 RTFR 99/233

III - SESSOES - PLENARIO


Ata da 4? Sessão Extraordinária, em 26 de agosto de 1982 - Ho-
menagem ao Exmo. Sr. Min. Aldir Guimarães Passarinho ...... RTFR 99/237
Ata da 2? Sessão Extraordinária, em 10 de março de 1983 - Ho-
menagem ao E·xmo. Sr. Min. José Pereira de Paiva ............. RTFR 99/248
Ata da Sessão Solene de Posse do Exmo. Sr. Min. Hélio Pinheiro
da Silva, em 22 de março de 1983 ................................ RTFR 99/261
lNDICE ANALITICO
A
Trbt Ação anulatória de débito fiscal. Imposto de renda. Pensão de caráter in-
denizatório. Intributabilidade. Aplicação do art. 36 do RIR em vigor na
época e inaplicabilidade do art. 53 do mesmo Decreto 58.400/66. AC 49.894-
PR - RTFR 99/56
PrCv Ação de interdito proibitório. Conversão em desapropriação indireta. In-
denização. Embargos infringentes. EAC 62.181-PE - RTFR 99/84
CT Acumulação. Mandado de Segurança. Médico-militar da ativa. Contrato
com o INAMPS. AMS 89.989-PE - RTFR 99/192
Adm Aferição de capacidade real de moagem. SUNAB. Fixação de quotas de
trigo dos moinhos. Revisão. Decreto-Lei 210/67 e Portaria 137/67. Exten-
são de decisão do STF. Situação anterior ao Decreto-Lei 210/67. AC.45.367-
SP - RTFR 99/14
PrCv Agravo de instrumento. Execução fiscal. Suspensão do processo. Recur-
sos. Disposições aplicáveis, do CPC e da Lei 6.830/80. AC 72.785-RS -
RTFR 99/150
Adm Alteração do itinerário. Transporte coletivo. AMS 96.545-RJ - RTFR
99/213
PrCv Anulatória de débito. FGTS. AC 60.558-RS - RTFR 99/80
PrCv Aplicação dos arts. 815/16. Execução hipotecária. Código Civil. AC 70.715-
PR - RTFR 99/144
PrCv Aplicação da Lei 4.121/62. Execução. Título extrajudicial. Denunciação à
lide. Penhora de bem pertencente a avalista. Exclusão da meação da mu-
lher. AC 65.202-BA - RTFR 99/124
Prev Aposentadoria. Funcionário público. AC 77.215-BA - RTFR 99/160
Adm Aproveitamento. Plano de Classificação de Cargos. Funcionário. Disponi-
bilidade. Lei 5.645/70. Decreto-Lei 1.341/74. AC 57.197-RJ -- RTFR 99/71
CT Autarquia municipal. Execução fiscal. Quotas de previdência. Não é in-
constitucional a cobrança ao Municipio e suas autarquias. AC 56.547-SP -
RTFR 99/62

B
Ct Bens da União. Insuscetibilidade de usucapião. Art. 4?, IV, C.F. AC 44.092-
PR - RTFR 99/11

c
Adm Caixa Econõmica Federal. Gerente. Endosso ou aval em cheque. Respon-
sabilidade. AC 66.232-GO - RTFR 99/128
270 TFR - 99

Prev Cancelamento de pensão. Restabelecimento. Viúva. AC 79.367-SP - RTFR


99/167
Pen Circulação de moeda falsa. Configuração do delito. ACr 5.394-RJ - RTFR
99/173
PrCv Código Civil. Aplicação dos arts. 815/16. Execução hipotecária. AC 70.715-
PR - RTFR 99/144
PrCv Competência do lAPAS. Quota de previdência. Táxi aéreo. Contribuições.
Embargos do devedor. AC 72.031-MT - RTFR 99/147
Trbt Comunicação. Intimação pessoal do interessado. Transferência de pro-
priedade ou uso. Satisfação das exigências legais. Pena de perdimento.
Decisão ministerial. Art. 105, XIII. Decreto-Lei 37/66. MS 95.602-DF -
RTFR 99/210
Pen Comprovação de descaminho. Mercadoria estrangeira. ACr 5.508-PE -
RTFR 99/176
Pen Configuração do delito. Circulação de moeda falsa. ACr 5.394-RJ - RTFR
99/173
Adm Conselho Regional de Economia. Registro. Prestação de serviços a tercei-
ros. AC 77.916 - RTFR 99/162
Adm Conselho Regional de Farmácia. Provisionamento. Lei 5.991 e Decreto
74.710/74. REO 89.379-SP - RTFR 99/189
PrPen Constrangimento ilegal. Indiciamento. HC 5.478-DF - RTFR 99/218
Contenção de despesas. Estabelecimento de normas. Provimento n? 251,
de 14-4-83 - RTFR 99/233
Ct Contrato com o INAMPS. Acumulação. Mandado de segurança. Médico-
militar da ativa. AMS 89.989-PE - RTFR 99/192
Tr Contrato de trabalho. Prévia reclamação. Rescisão indireta. RO 5.294-DF
- RTFR 99/224
PrCv Conversão em desapropriação indireta. Embargos infringentes. Ação de
interdito próibitório. EAC 62.181-PE - RTFR 99/84
Trbt Correção monetária. Sociedade civil de prestação de serviços. Trabalho
de terceiros. Imposto de renda. AC 57.013-SP - RTFR 99/69
Trbt Cumulação de incentivos. Imposto de renda. Estimulos fiscais. Leis
4.663/65 e 4.862/65. AC 32.524-MG - RTFR 99/5
PrCv Custas. Justiça Federal. Revogação da Lei 6.032/74. Lei 6.789/80. CPC.
Arts. 518/19. AG 42.575-SP - RTFR 99/3

D
Trbt Débito tributário. Depósito judicial. Suspensão de exigibilidade. Com-
preensão no valor e no depósito, da correção monetária, dos juros e, se for
o caso, do encargo do art. 1? do Decreto-Lei 1.025/69 c/c art. 1? do
Decreto-Lei 1.645/78. Aplicação do art. 151, I e 11 do CTN e Arts. 1? e 4? do
Decreto-Lei 1.737/79. AG 41.437-RS - RTFR 99/1
prCv Decisão em exceção de incompetência. Recurso. Cabe agravo de instru-
mento da decisão que julgar exceção de incompetência, quer acolhendo-a,
quer recusando-a CPC arts. 522 e 308/9. AC 75.726-MS - RTFR 99/152
Trbt Decisão ministerial. Comunicação. Intimação pessoal do interessado.
Transferência de propriedade ou uso. Satisfação das exigências legais.
Pena de perdimento. Art. 105, XIII, Decreto-Lei 37/66. MS 95.602-DF -
RTFR 99/210
Pen Denúncia. Desacato. Discussão entre servidores. ACr 4.163-MA - RTFR
99/170
TFR - 99 271

PrCv Denunciação à lide. Penhora de bem pertencente a avalista. Exclusão da


meação da mulher. Aplicação do art. 3? da Lei 4.121/62. Execução. Título
extrajudicial. AC 65.202-BA - RTFR 99/124
Trbt Depósito Judicial. Suspensão de exigibilidade. Débito tributário. Com-
preensão no valor e no depósito, da correção monetária, dos juros e, se for
o caso, do encargo do art. I? do Decreto-Lei 1.025/69 c/c art. I? do
Decreto-Lei 1.645/78. Aplicação do art. 151, I e 11 do CTN e arts. I? e 4? do
Decreto-Lei 1.737/79. AG 4l.437-RS - RTFR 99/1
Pen Desacato. Discussão entre servidores. Denúncia. ACr 4.163-MA - RTFR
99/170
Cv Desapropriação. Execução de sentença. Juros. EAC 66.248-SP - RTFR
99/133
Adm Diferenças de vencimentos. Valor da causa. Nulidade de ato administrati-
vo. AC 76.113-PR - RTFR 99/155
Pen Discussão entre servidores. Denúncia. Desacato. ACr 4.163-MA - RTFR
99/170
Adm Disponibilidade. Aproveitamento. Plano de Classificação de Cargos. Fun-
cionário. Lei 5.645/70. Decreto-Lei l.341/74. AC 57.197-RJ -- RTFR 99/71

E
PrCv Embargos do devedor. Competência dO lAPAS. Quotas de previdência.
Táxi aéreo. Contribuições. AC 72.031-MT - RTFR 99/69
PrCv Embargos Infringentes. Ação de Interdito proibitório. Conversão em desa-
propriação Indireta. Indenização. EAC 62.1.81-PE - RTFR 99/84
Adm Endosso ou aval em cheque. Responsabilidade. Caixa Econômica Federal.
Gerente. AC 66.232-GO - RTFR 99/128
Trbt Equipamento destinado à pesquisa cientlfica. Pena de perdimento. Impor-
tação. MS 89.257-DF - RTFR 99/183
Estabelecimento de normas. Contenção de despesas. Provimento 251, de
14-4-83 - RTFR 99/233
Trbt Estlmulos fiscais. Cumulação de Incentivos. Imposto de renda. Leis
4.663/65 e 4.862/65. AC 32.524-MG - RTFR 99/5
PrCv Exclusão da meação da mulher. Aplicação do art. 3? da Lei 4.121/62. Exe-
cução. Título extrajudicial. Denunciação à lide. Penhora de bem perten-
cente a avalista. AC 65.202-BA - RTFR 99/124
PrCv Execução. Título extrajudicial. Denunciação à lide. Penhora de bem per-
tencente a avalista. Exclusão da meação da mulher. Aplicação do art. 3?
da Lei 4.121/62. AC 65.202-BA - RTFR 99/124
Trbt Execução Fiscal. Honorários de advogado. Taxa do Decreto-Lei l.025/65.
AC 6l.450-SP - RTFR 99/82
Ct Execução fiscal. Quotas de previdência. Autarquia municipal. Não é in-
constitucional a cobrança ao Município e suas autarquias. C.F., arts. 19,
lU, a e 21, § 2?, 1 - LOPS - Art. 71, I AC56.547-SP - RTFR 99/62
PrCv Execução fiscal. Supensão do processo. Recursos. Agravo de Instrumento.
Dlsposíções aplicáveis do CPC e da Lei 6.830/80. AC 72.785-RS - RTFR
99/150
PrCv Execução hipotecária. Código Civil. Aplicação dos Arts. 815 e 816. AC
70.715-PR - RTFR 99/144
Cv ExeGução de sentença. Juros. Desapropriação. EAC 66.248-SP - RTFR
99/133
272 TFR - 99

F
Adm Falta ao serviço, Prescrição, Licença especial. AC 50.442-MG - R'I'FR
99/60
PrCv F,G,T,S, Anulatória de débito, AC 60,558-RS - RTFR 99/80
Adm Fixação de quotas de trigo dos moinhos, SUNAB, Aferição da capacidade
de moagem, Revisão, Decreto-Lei 210/67 e Portaria 137/67, Extensão de
decisão do STF, Situação anterior ao Decreto-Lei 210/67, AC 45,367-SP -
RTFR 99/14
Adm Funcionário, Disponibilidade, Aproveitamento, Plano de Classificação de
Cargos, AC 57,197-RJ - RTFR 99/71
Prev Funcionário público, Aposentadoria, AC 77,215-BA - RTFR 99/160

G
Adm Gerente, Endosso ou aval em cheque, Responsabilidade, Caixa Exonômi-
ca Federal. AC 66,232-GO - RTFR 99/12fl

H
Trbt Honorários de advogado, Taxa do Decreto-Lei 1.025/65, Execução Fiscal.
AC 61.450-SP - RTFR 99/82

I
Trbt IPI. Sociedade anônima, Responsabilidade de acionista-diretor, Aplicação
do art, 135, IH - CTN, Arts, 121 e § I? e 122, caput, do Decreto-Lei
2,627/40 ratificados pelo art. 158 e §§ da Lei 6.404/76 e do art. 2? do
Decreto-Lei 326/67, AC 45,682-SP - RTFR 99/52
PrCv Indenização, Embargos infringentes, Ação de interdito proibitório, Con-
versão em desapropriação indireta, EAC 62,181-PE - RTFR 99/84
PrPen Indiciamento, Constrangimento ilegal. HC 5.478-DF - RTFR 99/218
Trbt Importação, Equipamentos destinados à pesquisa científica, Pena de per-
dimento, MS 89,257-DF - RTFR 99/183
PrCv Importação, Mandado de segurança, Prazo decadencial. Mercadorias in-
cluídas na categoria geral não estão sujeitas a licença prévia, sendo ina-
plicáveis as sanções do inciso I do art. 60, da Lei 3,244/57, AMS 79,707-SP
- RTFR 99/180
Trbt Importação, Países membros da ALALC/ALADI ou do GATT, Princípio
da igualdade de tratamento, Imposto sobre operações de câmbio, Decreto-
Lei 1.783/80 - CTN, art. 98, AMS 93,940-RJ - RTFR 99/201
Trbt Imposto de renda, Estímulos fiscais, Cumulação de incentivos, Leis
4,663/65 e 4,862/65, AC 32,524-MG - RTFR 99/5
Trbt Imposto de renda, Isenção relativa, AC 57,637-MG - RTFR 99/78
Trbt Imposto de renda, Pensão de caráter indenizatório, Intributabilidade,
Ação anulatória de débito fiscal. Aplicação do art. 36 do RIR e, vigor na
época e inaplicabilidade do art. 53 do mesmo Decreto 58,400/66, AC 49,894-
PR - RTFR 99/56
Trbt Imposto de renda, Sociedade civil de prestação de serviços, Trabalho de
terceiros, Correção monetária, AC 57,013-SP - RTFR 99/69
Trbt Imposto sobre operações de câmbio, Importação, Países membros da
ALALC/ ALADI ou do GATT, Princípio da igualdade de tratamento,
Decreto-Lei 1.783/80 - CTN, art. 98, AMS 93,940-RJ - RTFR 99/201
Instalaçã0 de seção judiciária, Providências administrativas, Provimento
n? _250, de 13-4-83, CJF - RTFR 99/233
TFR - 99 273

Ct Insuscetibilidade de usucapião. Bens da União. Art. 4?, IV, C.F. AC 44.092-


PR - RTFR 99/11
Trbt Intimação pessoal do mteressado. Transferência de propriedade ou uso.
Satisfação das exigências legais. Pena de perdimento. Decisão ministe-
rial. Comunicação. Art. 105, XIII. Decreto-Lei 37/66. MS 95.602-DF -
RTFR 99/210
Trbt Intributabilldade. Ação anulatória de débito fiscal. Imposto de renda. Pen-
são de caráter indenizatório. Aplicação do art. 36 do RIR em vigor na épo-
ca e inaplicabilidade do art. 53 do mesmo Decreto 58.400/66. AC 49.894-PR
- RTFR 99/56
Trbt Isenção relativa. Imposto de renda. AC 57.637-MG - RTFR 99/78

J
Tr Jornada de trabalho. Reclamação trabalhista. Qüinqüênio anterior à op-
ção. EDRO 4.274-MG - RTFR 99/220
Cv Juros. Desapropriação. Execução de sentença. EAC 66.248-SP - RTFR
99/133
prCv Justiça Federal. Revogação da Lei 6.032/74. Custas. Lei 6.789/80 - CPC,
arts. 518 e 519. AG 42.575-SP - RTFR 99/33

L
Adm Licença especial. Falta ao serviço. Prescrição. AC 50.442-MG - RTFR
99/60

M
Ct Mandado de segurança. Médico-militar da ativa. Contrato com o
INAMPS. Acumulação. AMS 89.989-PE - RTFR 99/192
PrCv Mandado de segurança. Prazo decadencial. Importação. Mercadorias in-
cluídas na categoria geral não estão sUjeitas a licença prévia, sendo ina-
plicáveis as sanções do inciso I do art. 60, da Lei 3.244/57. AMS 79.707-SP
- RTFR 99/180
Ct Médico-milltar da ativa. Contrato com o INAMPS. Acumulação. Mandado
de segurança. AMS 89.989-PE - RTFR 99/192
Pen Mercadoria estrangeira. Comprovação de descaminho. ACr 5.508-PE -
RTFR 99/176
Adm Militar. Reforma. Proventos do posto imediato. AC 56.895-RJ - RTFR
99/66

N
Adm Nulidade de ato administrativo. Diferenças de vencimentos. Valor da cau-
sa. AC 76.113-PR - RTFR 99/155

p
Trbt Países membros da ALALC/ALADI ou do GATT. Princípio da igualdade
de tratamento. Imposto sobre operações de câmbio. Importações.
Decreto-Lei 1.783/80. CTN. Art. 98. AMS 93.940-RJ - RTFR 99/201
Trbt Pena de perdimento. Decisão ministerial. Comunicação. Intimação pes-
soal do interessado. Transferência de propriedade e uso. Satisfação das
exigências legais. Art. 105. XIII. Decreto-Lei 37/66. MS 95.602-DF - RTFR
99/210
274 TFR - 99

Trbt Pena de perdimento. Importação. Equipamento destinado à pesquisa


científica. MS 89.257-DF - RTFR 99/183
PrCv Penhora de bem pertencente a avalista. Exclusão da meação da mulher.
Aplicação do art. 3? da Lei 4.121/62. Execução. Titulo extrajudicial. De-
nunciação à lide. AC 65.202-BA - RTFR 99/124
Trbt Pensão de caráter indenizatório. Intributabllidade. Imposto de renda.
Ação anulatória de débito fiscal. Aplicação do art. 36 do RIR em vigor na
época e inaplicabilldade do art. 53 do mesmo Decreto 58.400/66. AC 49.894-
PR - RTFR 99/56
Adm Plano de Classificação de Cargos. Funcionário. Disponibilidade. Aprovei-
tamento. Lei 5.645170. Decreto-Lei 1.341174. AC 57.197-RJ - RTFR 99171
PrCv Prazo decadencial. Importação. Mandado de segurança. Mercadorias In-
cluídas na categoria geral não estão SUjeitas a licença prévia, sendo ina-
plicáveis as sanções do inciso I do art. 60, da Lei 3.244/57. AMS 79.707-SP
- RTFR 99/180
Adm Prescrição. Licença especial. Falta ao serviço. AC 50.442-MG - RTFR
99/60
Adm Prestação de serviços a terceiros. Conselho Regional de Economia. Regis-
tro. AC 77.916-RJ - RTFR 99/162
Tr Prévia reclamação. Rescisão indireta. Contrato de trabalho. RO 5.294-DF
- RTFR 99/224
Trbt Principio a igualdade de tratamento. Imposto sobre operações de câmbio.
Importações. Paises membros da ALALC/ALADI ou do GATT. Decreto-
Lei 1.783/80. CTN. Art. 98. AMS 93.940-RJ - RTFR 99/201
Adm Proventos do posto Imediato. M1l1tar. Reforma. AC 56.895-RJ - RTFR
99/66
Providências administrativas. Instalação de seção judiciária. Provimento
n? 250, de 13-4-83. CJF - RTFR 99/233
Adm Provislonamento. Conselho Regional de Farmácia. Lei 5.991173 e Decreto
74.710174. REO 89.379-SP - RTFR 99/189

Q
Tr Qüinqüênio anterior à opção. Jornada de trabalho. Reclamação trabalhis-
ta. EDRO 4.274-MG - RTFR 99/220
prCv Quota de previdência. Táxi aéreo. Contribuições. Embargos do devedor.
Competência do lAPAS. AC 72.031-MT - RTFR 99/147
ct Quotas de previdência. Autarquia municipal. Execução fiscal. Não é in-
constitucional a cobrança ao Município e suas autarquias. CF, Arts. 19,
IH, a e 21, § 2?, I. LOPS, art. 71, L AC 56.547-SP - RTFR 99/62

R
Tr Reclamação trabalhista. QÜinqüêniO anterior à opção. Jornada de traba-
lho. EDRO 4.274-MG - RTFR 99/220
Tr Reclamação trabalhista. Revisão de atos administrativos. RO 5.763-PE -
RTFR 99/227
PrCv Recursos. Agravo de instrumento. Execução fiscal. Suspensão do proces-
so. Disposições aplicáveis do CPC e da Lei 6.830/80. AC 72.785-RS - RTFR
99/150
TFR - 99 275

PrCv Recurso. Decisão em exceção de Incompetência. Cabe agravo de Instru-


mento da decisão que julgar exceção de Incompetência, quer acolhendo-a,
quer recusando-a. CPC, arts. 522 e 308/9. AC 75.726-MS - RTFR 99/152
Adm Reforma. Proventos do posto Imediato. Militar. AC 56.895-RJ RTFR
99/66
Adm Registro. Prestação de serviços a terceiros. Conselho Regional de Econo-
mia. AC 77.916-RJ - RTFR 99/162
TI' Rescisão Indireta. Contrato de trabalho. Prévia reclamação. RO 5.294-DF
- RTFR 99/224
Adm Responsabilidade. Caixa Econômica Federal. Gerente. Endosso ou aval
em cheque. AC 66.232-GO - RTFR 99/128
Trbt Responsabilidade de acionista-diretor. IPI. Sociedade anônima. Aplicação
do art. 135, IH, CTN. Arts. 121, § I? e 122, caput, do Decreto-Lei 2.627/40
ratificados pelo art. 158 e §§, da Lei 6.404/76 e do art. 2? do Decreto-Lei
326/67. AC 45.682-SP - RTFR 99/52
Prev Restabelecimento de pensão. Cancelamento. Viúva. AC 79.367-SP - RTFR
99/167
TI' Revisão de atos administrativos. Reclamação trabalhista. RO 5.763-PE -
RTFR 99/227
PrCv Revogação da Lei 6.032/74. Custas. Justiça Federal. Lei 6.789/80. CPC,
arts. 518/19. AG 42.575-SP - RTFR 99/3

s
Trbt Satisfação das exigências legais. Pena de perdimento. Decisão ministe-
rial. Comunicação. Intimação pessoal do Interessado. TranSferência de
propriedade ou uso. Art. 105, XIII. Decreto-Lei 37/66. MS 95.602-DF -
RTFR 99/210
Trbt Sociedade anônima. Responsabilidade de acionista-diretor. Aplicação do
art. 135, IH do CTN. Arts. 121, § I? e 122, caput, do Decreto-Lei 2.627/40,
ratificados pelo art. 158 e §§, da Lei 6.404/76 e do art. 2? do Decreto-Lei
326/67. AC 45.682-SP - RTFR 99/52
Trbt Sociedade civil de prestação de serviços. Trabalho de terceiros. Correção
monetária. Imposto de renda. AC 57.013-SP - RTFR 99/69
Solenidade. Homenagem ao Exmo. Sr. Mln. Aldlr G. Passarinho - RTFR
99/237
Solenidade. Homenagem ao Exmo. Sr. Mln. José Pereira de Palva -
RTFR 99/248
Solenidade. Posse do Exmo. Sr. Mln. Hélio Pinheiro da Silva - RTFR
99/261
Adm SUNAB. Fixação de quotas de trigo dos moinhos. Aferição de capacidade
real de moagem. Revisão. Decreto-Lei 210/67 e Portaria 137/67. Extensão
de decisão do STF. Situação anterior ao Decreto-Lei 210/67. AC 45.367/SP
- RTFR 99/14
Trbt Suspensão de exigibilidade. Débito tributário. Depósito judicial. Com-
preensão no valor e no depósito, da correção monetária, dos juros e, se for
o caso, do encargo do art. I? do Decreto-Lei 1.025/69 c/c art. I? do
Decreto-Lei 1.645/78. Aplicação do art. 151, I e H do CTN e arts. 1? e 4? do
Decreto-Lei 1.737/79. AG 41.437-RS - RTFR 99/1
PrCv Suspensão do processo. Recursos. Agravo de Instrumento. Execução fis-
cal. Disposições aplicáveis do CPC e da Lei 6.830/80. AC 72.785-RS -
RTFR 99/150
276 TFR - 99

T
Trbt Taxa do Decreto-Lei 1.025/65. Execução fiscal. Honorários de advogado.
AC 61.450-SP - RTFR 99/82
prCv Táxi aéreo. Contribuições. Embargos do devedor. Competência do lAPAS.
Quota de previdência. AC 72.031-MT - RTFR 99/147
PrCv Título extrajudicial. Denunciação à lide. Penhora de bem pertencente a
avalista. Exclusão da meação da mulher. Aplicação do art. 3? da Lei
4.121/62. Execução. AC 65.202-BA - RTFR 99/124
Trbt Trabalho de terceiros. Correção monetária. Sociedade civil de prestação
de serviços. Imposto de renda. AC 57.013-SP - RTFR 99/69
Trbt Transferência de propriedade ou uso. Satisfação das exigências legais.
Pena de perdimento. Decisão ministerial. Comunicação. Intimação pes-
soal do interessado. Art. 105, XIII, Decreto-Lei 37/66. MS 95.602-DF -
RTFR 99/210
Adm Transporte coletivo. Alteração do itinerário. AMS 96.545-RJ - RTFR
99/213
v
Adm Valor da causa. Nulidade de ato administrativo. Diferenças de vencimen-
tos. AC 76.113-PR - RTFR 99/155
Prev Viúva. Cancelamento de pensão. Restabelecimento. AC 79.367-SP - RTFR
99/167

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