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REVISTA

DO
TRI_BUNAL
FEDERAL DE
RECURSOS

DIRETOR:

MINISTRO JORGE LAFAYETTE GUIMARÃES

Secretário:

BACHAREL ROBERTO WAGNER MONTEIRO

REVISTA TRIMESTRAL

N.O 37 (Outubro a Dezembro de 1972)

Administração:
Tribunal Federal de Recursos - Praça dos Tribunais Superiores
Brasília - Brasil
MINISTROS:

ARMANDO LEITE ROLLEMBERG - Presidente

MÁRCIO RIBEIRo - Vice-Presidente

. VASCO HENRIQUE D'ÁVILA

AMÉRICO GoOOY ILHA

AMARÍLIo AROLDO BENJAMIN DA SILVA

ESDRAS DA SILVA GUEIROS

INÁCIO MOAcm CATUNDA MARTINS

HENOCH DA SILVA REIS

ÁLVARO PEÇANHA MARTINS

DECIO MmANDA

JOSÉ NÉRI DA SILVEmA

JARBAS DOS SANTOS NOBRE

JORGE LAFAYETE GUIMARÃEs


SUMARIO

Jurisprudência .................................................... . 3
Despachos em Recursos Extraordinários ............................ . 179
Ato do Conselho da Justiça Federal ................................ . 193
índice Sistemático ................................................ . 196
índice Alfabético ................................................. . 202
APELAÇÃO CíVEL N.o 28.388 - GB
Relator - O Ex.mo Sr. Min. José Néri da Silveira
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Márcio Ribeiro
Apelantes - Cia. Armadora Brasileira, Cia. de Seguros Phoenix Pernambucana
e outros
Apelados - Os mesmos

EMENTA
Seguros Marítimos.
Tribunal Marítimo: natureza e atribuições.
Exegese do art. 18, da Lei n.O 2.180, de 5-2-1954, em
face do art. 153, § 4.°, da Emenda Constitucional n.o 1,
de 1969.
Livre é, em princípio, ao Poder Judiciário conhecer
da matéria decidida pelo Tribunal Marítimo; suas de-
cisões não têm efeito de coisa julgada. As conclusões, de
natureza técnica, do Tribunal Marítimo, Inscrevem-se,
entretanto, no particular, entre as provas de maior va-
lia, devendo merecer a mais aestacada consideração, de
juízes e tribunais, por tratar-se de órgão oficial e espe-
cializado. Sem prova mais convincente em contrário, na-
da autoriza se desprezarem as conclusões técnicas do Tri-
bunal Marítimo.
Ação de cobrança de seguro marítimo procedente.
Naufrágio julgado pelo Tribunal Marítimo como decor-
rente de fortuna do mar, não convencendo as alegações
em contrário das seguradoras, no sentido de tratar-se de
"naufrágio fraudulento".
Os juros moratórios devem ser conta,dos a partir do
décimo sexto dia da entrega da documentação do sinistro
(Cód. Com., art. 730).
Improcedente pedido de lucros cessantes, em face do
disposto no art. 162, do Decreto-lei n.O 2.063, de 7 de
março de 194:0.
Correção monetária do valor do seguro contratado;
sua inadmissão no caso concreto. No regime anterior à
Lei n.O 5.488, de 27-3-1968, operava o art. 182, do Decre-
to-lei n.O 2.06'3, de 7-3-1940, como norma prefixadora da
indenização máxima, estabelecendo limite à responsabi-
liàade de segurador, embora não estivesse vedada a es-
tipulação de cláusula de correção monetária, no contra-
to de seguro. Natureza do ",;:t. 14, do Decrf::to-Iei n.O 73,
de 21-11-1966.
Sem cláusula expressa no contrato de seguro, so-
mente é cabível correção monetária nesta matéria, na
vigência da Lei n.o 5.488, de 27-8-1geS, a qual não inci-
dirá, em se tratando de contrato que lhe for anterior.

Vistos, relatados e discutidos estes au- de Recursos, por unanimidade, em ne-


tos de Apelação Cível n 9 28.388, da gar provimento aos recursos do IRB e
Guanabara, em que são ?artes as acima das seguradoras, e, nos termos do voto
indicadas, do Sr. Ministro Relator, em dar provi-
Acordam os Ministros que compõem mento ao recurso da Armadora para al-
a Terceira Turma do Tribunal Federal terar o termo inicial da contagem de
-4-
juros, na forma do relatório e notas ta- vê às fls. 468/499, acerca do que fa-
qui gráficas, que ficam fazendo parte in- laram, ainda, a Cia. Phoenix de Pernam-
tegrante do presente julgado. Custas de buco e o IRB (fls. 544/545). Novo
lei. pronunciamento da autora às fls.
Brasília, 14 de outubro de 1970. - 547/548. Replicada foi, também, a
Márcio Ribeiro, Presidente; José Néri da contestação posterior da Cia. de Segu-
Silveira, Relator. ros Phoenix Paulista (fls. 350/358),
vindo os documentos de fls. 560/56l.
RELATÓRIO Ainda posteriormente, deferiu-se à auto-
ra t r a z e r os documentos de fls.
O Sr. Min. José Néri da Silveira (Re- 564/567.
lator): A Companhia Armadora Brasi-
leira, estabelecida na cidade do Rio de Saneador, irrecorrido, às fls. 574.
Janeiro, moveu ação ordinária de co- Ao ensejo da audiência de instrução
brança de valor de seguro contra a Cia. e julgamento, ofereceu a autora memo-
de Seguros Phoenix Pernambucana, Cia. rial, junto aos autos (fls. 580/591).
de Seguros Phoenix Paulista e Instituto Novas alegações trouxeram os réus às
de Resseguros do Brasil. Pleiteiam: fls. 595/599, e a autora, às fls. 601/603.
a) pagamento do valor correspondente Sumariou os fundamentos de fato e
ao seguro ("corrigido monetariamente de direito invocados pela autora e réus,
e com os competentes juros de mora"), nas peças aludidas, o Dr. Juiz a quo, às
ou alternativamente; b) pagamento do fls. 606/609, nestes termos:
valor correspondente ao custo de um
navio de idêntico tipo daquele que é "Esse navio naufragou em 23 de
objeto do seguro; c) lucros cessantes, julho de 1965, durante a viagem
representados pelo que deixou a supli- que fazia do porto de Manaus ao
cante de auferir pela não exploração do de Belém do Pará, rebocado pelo
navio, desde a data em que, podendo navio "Ponta da Armação". Tinha
e devendo pagar o valor do seguro, os seguro sobre o "casco, aparelhos e
suplicados não o fizeram (16-9-65), até demais pertences", com cobertura
a data da execução; d) juros de mora, dos riscos de perda total, despesas
calculados a partir de 16 de setembro de socorro e salvamento, conforme
de 1965 (Cód. Comercial, art. 730) ; apólices 402.633 e 073, emitidas
e) custas e honorários de advogado, es- em 19 de julho de 1965.
tes de 20% sobre o valor da condenação.
Instruiu a inicial com os documentos de Apesar do evento, as primeiras
fls. 6/3l. suplica das, embora reconhecendo o
direito da suplicante, não pagaram,
Contestaram Phoenix Pernambucana nem consignaram, a importância
e o Instituto de Resseguros do Brasil, às devida, alegando aguardar autori-
fls. 39/60, trazendo aos autos cópia zação do IRB, que, por sua vez,
xerox do Processo n 9 5.ll5, do Tribunal escudava-se, para tanto, no fato de
Marítimo (fls. 63/356), inclusive agra- estar em andamento no Tribunal
vo interposto pelo IRB (fls. 357/480). Marítimo processo tendente à apu-
A Cia. de Seguros Phoenix Paulista ração da culpa do sinistro.
contestou, às fls. 500/537, instruindo Mas o Tribunal Marítimo, em de-
sua defesa com "parecer sobre as cau- cisão final, nos autos do Agravo in-
sas do afundamento do navio "Navin- terposto do despacho que indeferiu
sul" (fls. 539/542). embargos, decidiu, unanimemente,
Réplica da autora às fls. 452/467, rejeitar também o Agravo interpos-
apensando farta documentação, que se to, mantendo o indeferimento e li-
-5-
quidando, de vez, com a procrasti- 1964, Cr$ 49.000,00, feita em pa-
nação do terceiro suplicado, fican- gamentos mensais. Em 1962 já fora
do decidido que o sinistro ocorrera avaliado por peritos do IRB em
em virtude de fortuna do mar. Cr$ 24.000,00, e segurado em outra
Pediu a aplicação do art. 730, do Companhia por Cr$ 30.000,00, con-
Código Comercial, com a procedên- trato que vigorou até 1963. A par-
cia da ação e suas conseqüências, tir daí esteve novamente segurado
que relacionou às fls. 4, letras a/e. por Cr$ 45.000,00, de julho a ou-
tubro. Ao mudar de dono, desco-
Citados, contestaram os réus, a briu o IRB que o mesmo teria sido
primeira e o último conjuntamente, irregularmente segurado no exte-
às fls. 39/60, juntando documentos rior pela importância de ....... .
(fls. 61/437). E a segunda às fls. Cr$ 160.000,00 (DL. 2.063, art. 77,
500/537, todos sob o mesmo pa- §§ 19 e 29 ), seguro vencido em 5
trocínio. de fevereiro de 1965. Fora indire-
A matéria das contestações, em tamente avaliado depois do sinistro
resumo, é a seguinte: (fls. 9) por US$ 145.000,00. E
ninguém o comprou quando ofere-
a) Preliminarmente se argüiu o cido à venda em Manaus por preço
limite da responsabilidade da pri- compreendido entre 120 a 150 mil
meira ré, que é de metade da im- cruzeiros novos.
portância exigida (fls. 13), e a de-
ficiência na instrução da causa, a Daí o comprovado excesso.
que faltam documentos essenciais, Salientou, ainda, o critério ado-
tais como o inteiro teor da apólice tado para a cobertura do seguro,
(fls. 12/13), o Diário Náutico e que foi de perda total, admitindo o
os autos de ratificação do protesto segurado, previamente, apenas o
marítimo devidamente homologa- naufrágio, o que é indicativo da
da. Por outro lado, defendeu a po- fraude, levando-se em conta que,
sição de simples litisconsorte neces- em casos de reboque, a primeira e
sário do IRB nas ações de seguro, necessária garantia seria a cobertu-
-sempre que tiver responsabilidade ra por avaria particular.
no pedido, não respondendo dire-
tamente pelo montante assumido Quanto ao sinistro, o desencon-
em resseguro, sob pena de nulida- tro dos relatos dos tripulantes leva
de da sentença que o condenar. E a uma conclusão média sobre as
considerou irrelevante, em face dos suas pretendidas causas. Ficou as-
documentos de fls. 14 e 15, a ale- sente a inexistência de mau tempo
gação da inicial de que houvesse à data do evento, que não seria
reconhecimento, por parte das se- possível o entrechoque danifica-
guradoras, do pretendido direito dor pelo bom peiamento dos bar-
da segurada. ' cos e o afundamento em face da
estanqueidade dos compartimen-
b) De meritis, defendeu-se a
tos de carga. O serviço de meteo-
boa-fé dos pactos e se argüiu a nuli- rologia assegurava para o dia e ho-
dade do contrato, por falsidade da ra do sinistro tempo bom (fls. 49).
segurada (arts. 677, 678 e 679, Có- Sobre a avaria causadora do de-
digo Comercial) . sastre, fenda ou rutura de chapa
O valor do navio, para efeito de do costado pelo lado de bombordo
seguro, foi eJlCcessivo, levando em na altura da casa de máquinas, a
Iconta o preço da sua aquisição em sua existência esbarra diante de
-6-

certas evidências apresentadas em tuado no exterior, a fim de que se


laudos técnicos, como o do coman- pos~a conferir, no vernáculo, ~ ex!;-
dante Wilson Accioly Ayres, dos berancia da cobertura requenda.
por~os do Pará e Am.apá, e. pelas Decidindo a demanda, o ilustre Juiz
pencias de escafandna reallZadas Federal Evandro Gueiros Leite, em lon-
no casco submerso do "Navinsul". ga sentença (fls. 606/623), julgou p;~
Há que considerar, ainda, a oca- cedente a ação para condenar os reus
sião do sinistro, propícia à partida "nos limites da responsabilidade direta
do navio de Manaus sem controle ou indireta de cada um, ao pagamento
razoável, devido à substituição do do valor correspondente ao seguro, com
comandante da Capitania por João juros de mora, a partir da notificação
Félix da Silva, Capitão-Tenente para o pagamento (mora 80lvendi tipi-
afeito a concessões e de vida pre- camente contratual), custas e honorá-
gressa pouco recomendável (fls. rios advocatícios (Lei n 9 4.632/65), es-
54, item 8.3). Foi ele quem subs- tes arbitrados em 5% sobre o valor da
critou, em 13 de julho de 1965, logo execução" . Entendeu, ainda, o culto
após a sua investidura no cargo, o magistrado:
!Certificado de vistoria do barco an-
tes da saída. "Não há correção monetária porque
a Lei n 9 5.488, de 27 de agosto de 1968,
A vida funcional da segurada que a instituiu nestes casos, é posterior
(fls. 55/6), os resultados d? ~­ ao evento e à demanda." Decidiu, por
quérito instaurado na CapItama último: "Não há lucros cessantes, ten-
dos Portos do Pará, no qual inter- do-se em conta a sua não cobertura pe-
veio o terceiro contestante, e a fal- la Apólice, matéria resolvida na l~i
ta de exame de mérito, pelo Tribu- (art. 182, DL. 2.063/40), ta~to ~~lS
nal Marítimo, da representação do que a inavegabilidade do naVIO Slms-
IRB, do que resultou na apuraç~ão trado antes prejuízos acarretava que
de culpa eventual da tripulaçao, lucros" .
são outros aspectos comprometedo-
res da pretensão ajuizada. Apelaram os réus, às fls. 625/626, de-
duzindo as razões do recurso, às fls.
Finalmente, o valor da indeniza- 627 a 637 (registrando, aqui, o equ~voco
ção deve corresponder ao do obje- na numeração das folhas, a partIr da
to segurado; não mais. O seguro de n 9 630, que consta como 670 ... ),
excessivo deverá ser reduzido ao nestes termos: (lê).
seu efetivo valor por uma questão
de ordem pública, mesmo havendo Recorreu, também, a autora, às fls.
acordo entre segurador e segurado 679, razoando às fls. 682/695, nestes
em determinada soma, segundo termos: (lê).
dispõem os arts. 693, 700 e 701, do Contra-razões da autora às fls.
Código Comercial, citando-se, tam- 6991713, assim resumidas: (lê).
bém, a melhor doutrina.
Na condição de apeladas, falaram os
Pedem os réus a improcedência réus, às fls. 7181722, sustentando o des-
da ação, por nulidade do seguro, cabimento da correção monetária e lu-
viciado de fraude, requerendo a se- cros cessantes, bem assim a não
gunda contestante, às fls .. 536, a majoração da verba honorária arbitrada
exibição, pela autora, do lIvro de em 5% .
. bordo (diário de navegação), para
prova da ratificação do protesto Intervindo no feito, a União pediu a
marítimo, bem como do seguro efe- reforma da sentença, "para a correta
-7-
observância do art. 1.437 do Código responsabilidades, cada uma, na pro-
Civil" (fls. 725/726). porção de 50% da importância segurada
(does. de fls. 12 e 13).
Nesta Superior Instância, oficiou a
douta Subprocuradoria-Geral da Re- As "Condições Gerais" do seguro es-
pública, às fls. 737, pleiteando, tam- tão descritas no documento de fls. 468.
bém, a reforma da decisão recorrida, Prevê-se, aí, cobertura das perdas ou
nos termos do pronunciamento do Dr. danos sofridos pelo objeto segurado,
Procurador da República, na Guanaba- "resultantes de tempestades, naufrágio,
ra (fls. 725). encalhe, abalroação ( ... ), ou qualquer
outra fortuna do mar ou acidentes for-
É o relatório. tuitos em viagem ou portos ( ... )". No
item 3.1 está inserto: "Respeitado o
VOTO disposto nos arts. 693 e 701, do Código
o Sr. Min. José Néri da Silveira Comercial Brasileiro, o valor ajustado
(Relator): Os réus, em recurso, preten- por esta apólice prevalecerá, em caso
dem reforma integral da sentença, com de sinistro, como valor do objeto segu-
a improcedência da ação. rado, independentemente de qualquer
nova avaliação". No que concerne à
A autora apela do respeitável decisó- regulação e liqüidação dos sinistros,
rio de primeiro grau, na parte concer- ajustado se fez, veJ"bís: "À Seguradora
nente à "inadmissão da correção mo- reserva-se o direito de aguardar o pro-
netária, de lucros cessantes, do valor nunciamento do Tribunal Marítimo so-
atual do navio e da baixa percentagem bre as causas, natureza e extensão do si-
dos honorários advocatícios" ( sic ), e, nistro, sempre ~ue o julgar necessário".
ainda, quanto à contagem dos juros de Também, nas 'Condições Particulares",
mora. às fls. 13, ficou explicitado que o paga-
mento de sinistros seria, à vista, "de-
Vejamos. pois de autorização do Instituto de Res-
A Cia. Armadora Brasileira celebrou seguros do Brasif'.
iContrato de seguro marítimo com as Pois bem, durante a viagem, compre-
rés, emitindo, em 19-7-1965, a Cia. de endida no perímetro de cobertura do
Seguros Phoenix Pernambucana a Apó- seguro naufragou o barco em foco, a
lice n 9 402.688. Trata-se de seguro "so- 28-7-1965, nas proximidades do Farol
bre o casco, aparelhos, maquinismos e do Mandií, Estado do Pará.
demais pertences do navio "Navinsul",
Apreciando as causas, natureza e ex-
construído de aço em 1943, com 774
toneladas brutas de registro", sendo de tensão do sinistro, o colendo Tribunal
Marítimo, na forma da lei, assim se pro-
Cr$ 500.000.000,00 ( quinhentos mi-
nunciou, em acórdão, de 26-9-1967 (fls.
lhões de cruzeiros velhos) a importân-
cia segurada e compreendendo a cober- 328/332), publicado no DOU, de
20-10-1967, às fls. 16v.:
tura "os riscos de perda total e despesas
de SOCOrrO e salvamento do barco, du- "Vistos, relatados e discutidos os
rante a viagem, a reboque, do porto de autos.
Manaus, Estado do Amazonas, para o O navio-tanque nacional "Navin-
de Belém, Estado do Pará", devendo o sul", de propriedade da Companhia
reboque efetuar-se pelo navio nacional Armadora Brasileira S.A., com se-
"Ponta da Armação". Do total do se- de na Guanabara, em viagem de
guro comprometeram-se participar as Manaus para Belém, rebocado pe-
companhias seguradoras rés, assumindo lo navio "Ponta da Armação", nau-
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fragou às 12,11 horas do dia 28 de Conseqüentemente, sendo o na-
julho de 1965, nas proximidades do vio moderno e totalmente elétrico,
farol de Mandií. a bomba de esgoto também parou.
De acordo com as peças dos au- O "Navinsul" tinha os tanques de
tos, o "Navinsul", que se encontra- óleo combustível elevados, e situa-
va atracado em Manaus, aguarda- dos nos bordos, além de não possuir
va uma oportunidade de ser rebo- fundos duplos, sendo sua estabili-
cado para Belém, onde deveira ser dade precária, e obrigando a que
submetido a docagem e reparos. fossem lastrados os tanques de car-
Por solicitação do armador, a ga para mantê-lo estável. Assim, a
c.P.P. do Amazonas autorizou ° reserva de flutualidade diminuía, o
que é normal em navios-tanques.
reboque do "Navinsul" pelo "Ponta
da Armação", após ser inspeciona- Com a penetração de grande volu-
do pela comissão de vistoria, e o me dágua na praça das máquinas,
cumprimento das exigências feitas a embarcação soçobrou com rapi-
pela dita comissão. dez, impedindo houvesse tempo
para que fosse tomada medida de
A viagem, com o navio rebocado maior segurança, como seja o re-
a contrabordo, por boro este do boque do navio para um local mais
"Ponta da Armação", transcorria raso, ou a colocação de uma cami-
normal, embora os dois navios fos- sa de colisão.
sem batendo costado contra cos-
tado, motivado pelo sistema de re- O naufrágio foi testemunhado
boque usual no Amazonas, e as pelas tripulações dos navios ·'Pon-
condições do tempo. ta da Armaçãd' ( rebocador) e
"Rio Piabanha", o qual, navegando
Ao se aproximar a composição nas imediações do Mandií, o seu
do farol do Mandií, sendo um local capitão observou o risco em que
abrangido e relativamente manso, estava o "Navinsul", determinando
os práticos deliberaram, de acordo fosse arriada uma baleeira para
com os capitães, modificar o re- prestar auxílio à tripulação em pe-
boque para arrastão. rigo.
Ao iniciarem as manobras, foi
notado que o "Navinsul", ao perder Após o naufrágio do "Navinsul",
o apoio do costado do rebocador, em local de 17 metros de profundi-
começou a adernar rapidamente dade, foi colocada uma bóia de-
para bombordo, sendo dado o alar- marcando o lugar, seguindo os náu-
me de água aberta na praça de má- fragos para Belém, a bordo do
quinas. "Ponta da Armação".
A tripulação, sob as ordens do Na c.P.P. de Belém foi instaura-
comandante tentou localizar e ve- do inquérito, o qual concluiu pela
dar o veio dágua, cuja origem era fortuna do mar. Decorridos 18 dias
em algum ponto do costado de da conclusão do inquérito, o Capi-
bombordo. tão dos Portos determinou a rea-
As bombas de esgoto foram pos- bertura do inquérito, sendo rein-
tas em funcionamento, sem que pu- queridas as tripulações, não apre-
dessem diminuir o volume dágua, sentando nada de novo. O encar-
o qual, atingindo o nível do motor regado do inquérito, em sua segun-
auxiliar de energia elétrica, o para- da conclusão, incoerentemente,
lisou. considerou responsáveis pelo nau-
-9-

frágio o Capitão do «Navinsul", por vais, as 9ua~s não fizeram nenhu-


não haver providenciado uma bom- ma exigencla nesse sentido. Se
ba de esgoto de capacidade sufici- tanto não bastasse, a defesa trou-
ente para o navio, e as companhias xe aos autos um documento pro-
seguradoras por haverem segurado vando que os armadores, por sua
o navio em valor que considerava livre decisão e previdência, colo-
excessivo. caram a bordo uma bomba de es-
Vistorias em dia e perícia nos au- goto, como complemento da já
tos, sem resultado útil. existente.
Documentação diversa anexada Com esta prova desaparece a
ao inquérito. culpa do Capitão, nos termos da
Publicado o edital de notifica- representação.
ção, o Instituto de Resseguros do Quanto ao chefe-de-máquinas,
Brasil representou contra Salvador foi representado, pela sua ausência
Rama Pardal, e outros, sendo a na praça de máquinas. Argumenta
representação rejeitada, por não a defesa, com a concordância do
estar concorde com as peças dos Tribunal que, estando o navio com
autos. Determinou, porém, o Tri- guarnição reduzida, sem máquina
bunal, fosse oferecida representa- propulsora, não havia condição
ção contra o Segundo-Piloto Ito Fi- nem razão para a permanência
gueira Filho, comandante do «N a- ininterrupta do chefe-de-máquinas
vinsul", com base na conclusão do na praça de motores do navio. Era
inquérito, e contra João Batista, mantida constante vigilância nas
chefe-de-máquinas, por estar au- instalações de máquinas. Por oca-
sente da praça de máquinas. sião do acidente estava de serviço
A douta Procuradoria aditou à um carvoeiro, o qual, assim que a
representação determinada pelo água atingiu um nível que permi-
Tribunal mais um representado, o tiu ser notada, deu o alarme, após
que foi rejeitado pela Relator, em o que o Capitão, o chefe-de-má-
despacho, agravado e julgado pelo quinas e os demais tripulantes
Tribunal, que por unanimidade acorreram ao local e envidaram to-
manteve a manifestação do Rela- dos os esforços no sentido de con-
tor. trolar a invasão das águas, cujo cau-
dal era superior ao rendimento das
Citados, os representados fica- bombas de esgoto."
ram revéis, sendo defendidos por
advogado de ofício. Verifica-se, portanto, que o so-
çobro do "Navinsul" decorreu dos
Julgamento independente de seguintes fatores:
alegações finais.
«Deficiência de estabilidade do
A representação determinada navio, por construção; a invasão
pelo Tribunal contra o capitão do da água haver ocorrido no com-
"Navinsul" se prende à conclusão partimento de máquinas, atin-
do inquérito, que o considera res- gindo o nível do motor auxiliar, e
ponsável, por não dotar o navio de conseqüentemente paralizando as
uma bomba de esgoto de grande bombas de esgoto; a rapidez com
capacidade. que a água invadia a praça de
Ocorre, porém, que o navio fora máquinas, bem como a dificulda-
vistoriado pelas autoridades na- de de localizar o ponto exato por
-10 -

onde penetrava a água; o ader- cisório final do colendo Tribunal Maríti-


namento do navio para bombor- mo.
do, pondo em risco a segurança
do rebocador, que se viu na con- A teor do art. 13, I, da Lei n 9 2.180,
tingência de se separar do rebo- de 5 de fevereiro de 1954, dentre ou-
cado; o soçobro rápido, aliado à tros, compete, ao Tribunal Marítimo, jul-
situação do navio de estar sem gar os acidentes e fatos da navegação,
propulsão própria, impedido de definindo-lhes a natureza e determinan-
tentar um encalhe de emergên- do-lhes as causas, circunstâncias e. ex-
cia." Isto pôsto, deve o acidente tensão, indicando os responsáveis e apli-
ser considerado como decorren- cando-lhes as penas 'estabelecidas na Lei
te de fortuna do mar, inevitável, referida. A sua vez, estabelece o art. 18,
nas condições em que ocorreu, do mesmo diploma legal, verbis:
estando os representados isentos
de culpa. "Art. 18. As decisões do Tri-
bunal Marítimo, nas matérias de
Acordam os juízes do Tribunal sua competência, têm valor probató-
Madtimo, por unanimidade de rio e se presumem certas, sendo
votos, a) quanto à natureza e ex- suscetíveis de reexame pelo Poder
tensão do acidente: socobro de Judiciário, somente nos casos pre-
navio rebocado; perícia' nos au- vistos na alínea a, do inciso III, do
tos; prejuízos não avaliados; b) art. 101 da Constituição (1946)".
quanto à causa determinante:
água aberta em decorrência dos Órgão autônomo, auxiliar do Poder
embates contra o costado do re- J ~diciário, embora deste não integrante,
bocador; c) em julgar o aciden- VInculado ao Ministério da Marinha, no
te decorrente. de fortuna do que se refere ao provimento de pessoal
mar." militar e de recursos orçamentários para
pessoal e material destinados ao seu
Interpôs o IRB embargos infringen-
funcionamento (Lei n 9 2.180, art. 19 ),
tes contra o referido acórdão, inadmi-
é certo que as decisões do Tribunal Ma-
tidos, às fls. 353, por não enquadrável rítimo não fazem coisa julgada, poden-
o recurso no art. 106, da Lei n 9 2.180/
do ser apreciadas pelo Poder Judiciá-
1954, decisão essa que ensejou Agravo, rio "e reformadas se contrárias à evi-
ut art. 111, II, a, do mesmo diploma, dência" (Rev. Forense, vaI. CIX, p.90) .
.afinal, também, rejeitado (fls. 427). Como decidiu o egrégio Supremo Tri-
Ora, contra a final decisão do Tribu- bunal Federal, no Rec. Extr. 6.271, in
nal Marítimo de que o acidente deve Rev. For., VaI. XCVIII, pág. 79, em
'ser considerado "como decorrente de julho de 1943:
fortuna do mar, inevitável nas condi-
ções em que ocorreu, estando os repre- "A lei não pode suspender a
sentados isentos de culpa", qual desta- competência natural do Poder Ju-
quei no relatório, reagem as companhias diciário, para atribuir procedência
seguradoras rés, juntamente com o IRB, forçada de manifestação aos tribu-
sustentando fraude no naufrágio, pro- nais quase judiciais, cuja função é
vocação dolosa do acidente. a de se ministrar provas ao Poder
Judiciário. O que eles ministram
Em ordem a enfrentar o apelo dos não é julgamento; é perícia, é pro-
réus, cumpre, por primeiro, ver da via- va, ainda que de poder quase ir-
bilidade de reexame do impugnado de- resistível de persuasão".
-11

Nesse sentido, o insígne Waldemar É que, à vista do art. 141, § 49, da Lei
Ferreira escreveu: Maior de 1946, do art. 150, § 49, da Car-
«Embora composto de juízes, não ta Política de 1967, e art. 153, § 49, da
se entrosou no Poder Judiciário, Emenda Constitucional n 9 1, de 1969,
mantendo-se à ilharga do Poder vale entender que somente órgãos do
Executivo, como simples órgão ad- Poder JudiciáriO estão investidos da fun-
ministrativo e técnico. Não mais ção jurisdicional, em sua plenitude. É o
do que isso. Não é órgão judiciá- princípio de una lex una jurisdictio. O
rio; mas sim auxiliar dos juízes e regime entre nós adotado, como mostrou
tribunais comuns, na matéria de Francisco Campos, é o da supremacia da
sua competência". lei, o do nule of law, em que a compe-
petência da justiça vai até onde chega
E, em outro passo, após registrar a a da legislação, de forma que, em ha-
competência ampla do Tribunal Maríti- vendo «na lei a aplicação, sobre a apli-
mo, no regime da Lei n 9 2.180, de 5 de cação desta lei", possível é instaurar-se,
fevereiro de 1954, sinalou: perante o Judiciário, "um juízo conten-
''Espraiou-se a matéria da com- cioso, de caráter final e conclusivo, e,
petência do Tribunal Marítimo, co- conseguintemente, de efeitos obrigató-
mo se acaba de verificar; e essa é rios para os demais poderes". Como
matéria cheia de dificuldades, por- observou, nesse sentido, o eminente Pro-
que tal tribunal, não obstante dece- fessor Alfredo Buzaid, "quaisquer outros
pada sua denominação do adjetivo, ( órgãos), criados em lei ordinária, sem
que inicialmente o caracterizava, o necessário lastro constitucional, para
nem por isso deixou de ser órgão funções jurisdicionais, terão, quando
simplesmente administrativo, sem muito, o quase judicial power, nunca,
nenhuma das funções pertinentes, porém, o exercício pleno da jurisdição".
por dispositivos da Constituição Fe- E prossegue: "No que tange ao proces-
deral, aos órgãos do Poder Judiciá- so propriamente dito, o que se tira, co-
rio. É o que nunca se deve perder mo consectário jurídico do art. 141, §
de vista, no apreciar as suas deci- 49, é a regra de que só através do devido
sões." processo legal pode ser apreciada a pre-
tensão que se funda na argüição de ato
E remata, diante dos arts. 18 e 19, da lesivo a direito individual. A lei cOns-
Lei n 9 2.180, de 19'54, verbis: titucional impede que seja tirado do Ju-
"A decisão do Tribunal Marítimo, diciário o julgamento de pretensão fun-
proveniente de órgão administrati- dada em lesão a direito individual, por-
vo, mas técnico, não judiciário, ins- que a atividade específica deste, que é a
creve-se entre as provas de maior jurisdição, pressupõe sempre, como o di-
valia. Não tem, como se pretendeu, zia Alfredo Rocco, "um órgão indepen-
efeitos conclusivos de molde a va- dente e imparcial, um contraditório re-
ler como coisa julgada. Isto não. gular, e, finalmente, um procedimento
preestabelecido com formas capazes de
Opera como laudo de técnicos, de assegurar a resolução justa do litígio"
autoridade imensa; mas juízes e tri- (apud, Revista de Direito Processual Ci-
bunais, em face de outros elementos vil, 29 voI., págs. 17 e 18) .
probatórios, podem propender por
estes, havendo-os como mais con- Dessa sorte, estou em que, em prin-
vincentes" (apud, Instituições de cípio, livre é ao Poder Judiciário conhe-
Direito Comercial, 4~ ed., voI. IV, cer da matéria dos autos, em toda a sua
págs. 96 a 102) . extensão) mas, em concreto, há de aten-
- 12-

tar-se para o pronunciamento do Tribu- Dessa maneira, o egreglO Tribunal


nal Marítimo como de imensa autorida- Marítimo pronunciou-se, após conhecer
de técnica. Tal decisão reveste-se do va- a realidade dos fatos em tomo do aci-
lor probatório, ex lege. Embora, à vista dente com o barco "Navinsul", devida-
do antes exposto, se haja de emprestar mente inteirado de documentos e decla-
ao art. 18, da Lei n 9 2.180/1954, exege- rações. Houve exame da matéria, com
se que o tome compatível com a regra zelo e ciência das provas existentes. Não
do art. 153, § 4 9 , da Emenda Constihl- têm, assim, razão, data venia, as com'Ja-
cional 9 1, de 1969, força é entender que nhias seguradoras e o IRB, quando in_ .L

as conclusões de natureza técnica do co- vestem contra o acórdão do Tribunal


lendo Tribunal Marítimo hão de merecer Marítimo, nos termos que o fazem, den-
a mais destacada consideração. Trata-se tre outros, às fls. 674, afirmando que es-
de órgão oficial, especializado. Assim, se órgão "não julgou o sinistro pelo con-
de resto, já decidiu este Tribunal, na junto de provas, tendo arbitrariamente
Apelação Cível n 9 22.154-GB (fls. 498) . desconhecido elementos essenciais a uma
decisão justa sobre o sinistro".
Pois bem, na espécie dos autos, as
conclusões do acórdão do Tribunal Ma- Exame detido dos autos não me con-
rítimo estão decalcadas em abundante venceu da procedência da argumenta-
prova documental e testemunhal, com ção, embora veemente, dos réus, no sen-
amplo debate de matéria, consoante se tido de contrariar o acórdão do Tribu-
verifica do processo respectivo, por có- nal Marítimo, quanto à causa determi-
pia, às fls. 63 a 429. Foram-lhe presen- nante do soçobro do navio: "água aber-
tes os elementos do inquérito que reali- ta em decorrência dos embates contra o
zou a Capitania dos Portos do Pará e costado do rebocador." Ora, dizem os
Amapá, em Belém, quer os da primeira réus, não houve furo ou fenda no costa-
fase, encerrada com o relatório, de fls. do do "Navinsul". Mais: "a água que
133/136, e despacho do Sr. Capitão dos foi encontrada na praça de máquinas só
Portos, às fls. 139, quer os da segunda poderia ser posta por mãos criminosas"
fase, com a reabertura do inquérito, or- (fls. 415). Louvam-se, é certo, os réus,
denada às fls. 140, tendo em vista, en- basicamente, em inspeções de escafan-
tão, a intervenção do IRB, encaminhan- dros que concluem pela inexistência de
do "os planos bem como fotocópias dos "fenda no costado".
autos de ratificação do protesto maríti- Pois bem, em longo memorial ofereci-
mo" (fls. 142/175), encontrando-se o do à Turma, pela autora, da lavra do
segundo relatório, às fls. 234/243, com eminente professor Galeno Lacerda, a
novo despacho do Sr. Capitão dos Por- precariedade desse elemento probatório,
tos (fls. 244), bem assim a defesa pe- invocado pelos réus, é sustentada, com
rante esta última autoridade, do então indiscutível vantagem, nestes termos:
comandante do "Navinsul" (fls ...... .
245/251). Houve, de outra parte, en- "As inspeções dos escafandros não
caminhamento pela Procuradoria junto servem de base, porque seu exame
ao Tribunal Marítimo da representação do casco foi parcial, e sem nenhu-
do IRB, sustentando haver sido o aci- ma condição de visibilidade. Como
dente provocado dolosamente, envol- confessa o escafandrista Miguel
vendo a responsabilidade da proprietária Santana da Silva, às fls. 130, seu
e armadora do navio, do comandante, exame, pelo ato, limitou-se à altura
chefe-de-máquinas e do foguista. E, ain- de 2,lOm, correspondente à de seu
da, representou, às fls. 277/278, a alu- braço erguido, a partir do leito do
dida Procuradoria. rio. Ora, o navio calava 12 pés
- 13-

quando naufragou (fls. 112), isto é, tema de reboque, quando é verificado


só a parte submersa contava 3,96m. que "o navio fazia água na praça de má-
de altura. quinas, pelo lado de bombordo" (fls.
110 e 111). Outro fato parece certo nos
Além disto, como se vê do rela- autos: "O navio adernou por bombor-
tório de fls. 135, "na água desta do". Em seu memorial, quanto a essa
área ( Amazonas), depois de dois circunstância, argumenta a autora, com
metros de profundidade (e o navio razão: "Ao separar-se do rebocador, on-
naufragou a 17 metros) perde-se de se escorava por esse lado, 100'0 se
totalmente a visibilidade devido à inclinou no mesmo sentido, o qu~ sig-
escuridão da mesma". nifica, evidentemente, que a água en-
Quanto à segunda inspeção, nela trou por bombor·do, pouco interessando
se confessa que foi "rigorosa pelo se através da chapa do costado, se de
tato, único elemento com que contá- curvatura com o fundo."
vamos para identificação de obje-
Não vejo, nos autos, data venia, ele-
tos, já que a visibilidade era nula",
e que encontrou o navio "com ape- mentos que permitam corroborada a
nas três metros de casco nas obras afirmação dos réus de que teria havido
abertura da válvula do fundo, a fim de
vivas acima do nível da areia, isto é,
o navio naufragar. É preciso ter pre-
já estava em grande parte soterrado
sente a situação do "Navinsul" quando
no fundo do rio. Nestas condições,
do naufrágio, eis que sofrera anterior-
como afirmar-se, peremptoriamente,
mente encalhe, com graves avarias. O
que não existem fendas, quer no "Termo de Vistoria", de fls. 83, de
costado, quer, principalmente, nas 13-7-1965, realizada na Capitania dos
chapas de curvatura deste com o Portos, em Manaus, revela que neces-
fundo do navio, chapas que, na ver- sitava o barco, à época, de reparos, que
dade, jamais foram examinadas, se atenderiam, precisamente em Belém
após o sinistro, por quem quer que Pará, arrolando, sob númer; 12, a exi~
. ?.. "
seja gência de "docar o navio para exame e
De outro lado, partira o navio de Ma- posterior reparo do casco." Por que não
naus preso, por bombordo, ao costado poderia, então, realmente, ter aconteci-
do "Ponta da Armação", segundo o sis- do alguma rotura em ponto mais debi-
tema de reboque aconselhado para o litado do casco, em virtude dos choques
Amazonas, qual se depreende dos autos. referidos com o navio rebocador? Data
A Ata de Deliberação, de fls. 100, evi- venia, a conclusão técnica do Tribunal
dencia a normalidade da viagem, até o Martimo é aceitável, à míngua de pro-
momento em que motivos de ordem téc- vas convincentes em prol da tese dos
nica aconselhavam passar o "Navinsur' réus, quando afirma que a causa deter-
a ser rebocado pela popa. Ora, tal evi- minante do sinistro foi "água aberta em
dentemente devia ter resultado de al- decorrência dos embates contra o cos-
te:ações ~as cor:dições gerais da viagem. tado do rebocador". Exato é, conforme
DIante dISSO, nao recuso a procedência os autos, que tais embates vinham ocor-
da primeira versão das testemunhas e rendo, e de maneira a preocupar os co-
?os registros de bordo, segundo a qual mandantes dos navios, e mesmo a levá-
ISSO aconteceu porque, em face de tem- los a modificar o sistema de reboque,
poral e ventos desfavoráveis, os navios com vistas a evitá-los.
começaram "a se entrechocarem" (fls. Outro aspecto da defesa dos réus me-
101). A operação desenvolvia-se de for- rece destaque. Sustenta-se que a autora
ma regular no sentido de alterar o sis- segurou o "N avinsul" por quantia muito
-14 -

excedente ao valor do barco, vendo-se, objeção se fez, por parte dos réus, quan-
aí, outrossim, indício do animus da au- to a este aspecto, o que, à evidência, se
tora de locupletar-se, ilicitamente, com imporia, se procedente, como questão
o naufrágio, antes concebido, máxime vestibular, argüível ab initio.
porque as garantias foram de riscos de Os documentos de fls. 14 e 15 reve-
perda total. lam, ao contrário, que a Companhia
Às fls. 231/232 consta o histórico dos Phoenix Pernambucana, Líder, manifes-
seguros do casco do navio em foco, re- tando-se favoravelmente ao "pagamento
latado pelo IRB, nestes termos: (lê). da perda total" (sic), nenhum reparo
À sua vez, a autora rebate o argumen- faz, quanto ao valor do seguro. Tam-
to, provando o ajuste de seguro, no ex- bém, o próprio Instituto de Resseguros
terior, do navio, em fevereiro de 1964, do Brasil, em correspondência enviada
por Cr$ 300.000,00, contrato celebrado à Cia. Líder, consoante se vê às fls. 561,
no mercado inglês, notoriamente exi- nada opõe quanto a essa questão, infor-
gente. Trata-se do barco classificado pe- mando, apenas, que, "não tendo havido
lo Bureau Veritas, portador da "Cruz de ainda decisão definitiva do Tribunal Ma-
Malta de P Classe" (fls. 60). Esse se- rítimo sobre o sinistro, não pode ser au-
guro, no exterior, é fato admitido pelo torizado o pagamento da indenização".
IRB, às fls. 48, estando, outrossim, com- Depreende-se desses elementos que a in-
provado por documentos que ofereceu a vocação em tela somente se propôs
autora, juntamente com o memorial, já quando os réus resolveram discutir o pa-
citado. gamento do seguro, não aceitando a de-
Extrai daí a autora, na peça firmada cisão favorável à autora, por parte do
por seu patrono, Dr. Galeno Lacerda, Tribunal Marítimo.
ilação que a tenho como, em parte, ra- De outra parte, se é certo, em face do
zoável, verbis: "Ora, decorridos um ano disposto no art. 693 do Código Comer-
e meio, exatamente, quando o País mer- cial, que, em princípio, admissível é, em
gulhou na sua pior crise inflacionária, seguro marítimo, impugnação do valor
segurar o mesmo bem, em julho de 1965, segurável, isso se há de aceitar, nos ter-
por Cr$ 500.000,00, significa estimá-lo, mos da lei, de forma limitada. Como,
na verdade, por valor real abaixo do re- na espécie, ensina Pontes de Miranda, "a
conhecido pelo seguro anterior, pois nes- ação que se há de propor é ação consti-
te período o índice de inflação no Bra- tutiva negativa, de eficácia limitada ao
sil foi superior a 100%, como é notório." excesso de valoração antes da cobrança
É certo que não procede, inteiramente, a judicial do seguro, ou em reconvenção."
observação, data venia, se considerarmos E aduz: "O ônus de alegar e provar é do
que, de fato, à época do seguro ora im- segurador. Se a espécie entra no que se
pugnado o barco se encontrava com seu prevê no art. 671, há ônus de prova,
valor depreciado pelas avarias sofridas, para o segurado, do embarque das fa-
havia pouco tempo. De qualquer forma, zendas; porém essa matéria é estranha à
porém, cumpre entender que, no contra- do art. 693 (Supremo Tribunal Federal,
to de seguro, a proposta há de ser ana- 2 de abril de 1924, R. de D., p. 173).
lisada pela seguradora. Há elementos no Em outro passo, registra o festejado
sentido de não ser despropositado o va- mestre: "Ao segurador cabe, nos casos
lor do seguro, que as rés contrataram em que pode impugnar o valor segurá-
com a autora para cobertura de riscos vel que fora dado, alegar e provar o que
concernentes a uma viagem do navio. atingiria a determinação negociaI ( ... ).
Releva, aqui, sinalar que, na fase ini- Os precos são fixados conforme os meios
cial da liquidação do sinistro, nenhuma de pro;a que os arts. 693 e 698 do Códi-
-15 -

go Comercial apontam. A avaliação po- reparo para um emprego permanente e


de ser feita conforme os princípios" altamente remunerador?".
(apud, Tratado de Direito Privado, voI. Por último, no que concerne à condu-
45, § 4.938, pág. 367 a 369) . ta do comandante e demais membros da
tripulação do barco, proclamou o egré-
Dessa maneira, a alegação dos réus gio Tribunal Marítimo a sua nenhuma
não poderia, a rigor jurídico, sequer, ser responsabilidade, quanto ao acidente.
aqui apreciada, tal como a fizeram, sem Não encontrei, outrossim, nos autos, pro-
forma legítima de processo. Não seria, vas bastantes a poder contestar essas
ademais, em matéria qual a presente, ilações do colendo Tribunal Marítimo.
cabível aceitar a impugnação do valor
segurável, a partir de meras referências, Do exposto, não há como deixar, data
sem apoio em prova documental ou téc- venia, de garantir à autora, o recebimen-
nica idônea. to do valor do seguro contratado com as
rés. A ação é procedente, qual a julgou
Quanto à assertiva das seguradoras e a sentença recorrida. As companhias em
do IRB sobre a situação econômico-fi- foco devem pagar o seguro, cumprindo o
nanceira da autcra, como elemento in- contrato que fizeram com a autora. Ne-
diciador do sinistro fraudulento, não po- go, assim, provimento ao recurso das rés
de ter melhor sorte, pois vinha ela ope- e IRB.
rando com seus barcos, à época do nau- Examino, agora, a apelação da autora.
frágio do "Navinsul". Este, após repa- Devem responder as rés, também, pe-
ros, em Belém, ao que se deduz dos la mora no pagamento. Neste sentido,
autos, seria utilizado pela Armadora. adoto, aqui, a orientação do egrégio Su-
Ademais, neste particular, a observação premo Tribunal Federal, no julgamento
constante do memorial da autora é pro- do Recurso Extraordinário n? 47. 598-GB
cedente. Ei-Ia: "A verdade é que, na (R. T . J ., voI. 33, págs. 628 e seguintes) .
época, não havia armador brasileiro que Já o art. 182, do Decreto-lei n? 2.063,
estivesse em bom estado econômico. O de 7-3-1940, dispunha:
caos dirigido, anterior à Revolução de
64, a todos combalira. Eram as greves "Os contratos de seguros em ge-
contínuas do pessoal marítimo ou por- ral devem estipular a indenização
tuário; era o péssimo e lento serviço nos máxima pela qual é a sociedade
portos, acrescido do furto permanente seguradora responsável, e além da
das cargas; era, enfim, a demagogia ofi- qual nenhum pagamento será feito
cial dos fretes baixos e deficitários. Os a não ser o de juros de mora, em
armadores brasileiros lutaram brava- que possa ser condenada, no caso
mente contra estes fatores. Não fora a de ação judicial."
Revolução, teriam sucumbido. Esta, po- Ora, o art. 730, do Código Comercial,
rém, lhes trouxe novas esperanças, po- reza, verbis:
sitivadas, felizmente, no surto que hoje
se verifica em nossa Marinha Mercante. "O segurador é obrigado a pagar
O naufrágio do "Navinsul" ocorreu, exa- ao segurado as indenizações a que
tamente, quando mais concretas se tor- tiver direito, dentro de quinze dias
navam estas alvíçaras, diante das medi- da apresentação da conta, instruÍ-
das saneadoras adotadas pelo novo Go- da com os documentos respectivos,
verno. Por que haveria, pois, a Armado- salvo se o prazo do pagamento ti-
ra, de pô-lo ao fundo? Por que haveria ver sido estipulado na apólice."
de destruir o instrumento de trabalho e No caso concreto, quanto ao pagamen-
de renda, há pouco adquirido, em vias de to de sinistros, ficou ajustado, como lu-
- 16-

gar, a cidade do Rio de Janeiro, devendo da responsabilidade dos segurado-


efetuar-se, em moeda nacional, à vista, res. Era, pois, devido o seguro, após
depois da autorização do Instituto de o prazo de quinze dias da entrega
Resseguros do Brasil. da documentação do sinistro. A
Sucede, porém, que o IRB decidiu não partir desse momento ficaram os
autorizar tal pagamento. Sua condição seguradores e o ressegurador em
é, porém, de co-responsável, nos limites mora. Desde aquele momento de-
do contrato, conforme entendimento do vem fluir os j u r o s moratórios"
excelso Supremo Tribunal Federal na (Rev. Trím. Jur., vol. 33, págs. 634
decisão antes referida, examinando es- e 635).
pécie em tudo similar à dos autos. Des- Entendo, também, nesses termos.
tacou, então, o eminente Min. Victor Inadmitiu a sentença a pretensão da
Nunes Leal: autora de lucros cessantes "em virtude
"Como o Instituto era coobriga- da injusta demora no pagamento do se-
do pelo seguro, parece lógico que guro" (síc), como sustenta. Procede a
a operação de examinar e aprovar invocação do art. 182, do Decreto-lei
tais documentos não podia ficar ao n 9 2.063, de 1940, na espécie, pois há,
seu arbítrio, nem quanto ao resul- aqui, estipulação da indenização máxi-
tado, nem quanto à sua duração ma (Cr$ 500.000,00). Fixou o contrato
(Código Civil, art. 115, in fine). O de seguro, assim, o valor exato do res-
exame dessa documentação, pelo sarcimento. Pelo retardo culposo no pa-
Instituto, é apenas uma cautela, gamento, condenadas são as rés a satis-
para que o seguro não seja pago fazer juros da mora. Essa sua responsa-
indevidamente. Mas não é da apro- bilidade de índole contratual e oriun-
vação que resulta a obrigação de da da lei.
pagar. Essa obrigação deriva do
contrato, verificada a condição da Retoma-se, nestes autos, porém, a
ocorrência do sinistro. Há fatos que questão da responsabilidade de nature-
za extracontratual do IRB, por haver
eximem o segurador da responsa- retardado, culposa ou dolosamente, a
bilidade. Mas não é da verificação
execução do contrato firmado pelas se-
de não terem ocorridos os fatos ex-
guradoras com a autora. Estou em que,
cludentes que deriva a obrigação de
reconhecendo-se que ao ressegurador se
pagar o seguro. Essa obrigação de- estendem as (jbrigaçães' derivadas do
flui do sinistro, desde que não te-
contrato, a ele se aplica, também, a nor-
nham ocorrido aqueles fatos exclu-
ma da limitação do risco assumido, tal
dentes. E a obrigação é, por lei, exi-
qual sucede com as seguradoras (RE
gível quinze dias após a apresenta-
n 9 47.598 - GB., cit.).
ção dos documentos comprobató-
rios do sinistro. No caso, feito o Além disso, inaplicáveis à espécie dos
inquérito pelas autoridades compe- autos os arts. 1.059 e 1.069, do Código
tentes, na Bahia, como houvesse Civil, porém, a regra do art. 1.061, do
suspeita quanto à causa do sinistro, mesmo diploma, verbis:
o Instituto resolveu aguardar o "As perdas e danos, nas obriga-
pronunciamento do Tribunal Ma- ções de pagamento em dinheiro,
rítimo Administrativo. Mas tanto consistem nos juros da mora e
aquele inquérito como esta decisão custas, sem prejuízo da pena con-
concluíram que o naufrágio resultou vencional."
de fortuna do mar. Verificou-se, Por igual, não prospera o apelo da
pois, que não havia causa ilidente autora, quando reclama da omissão da
- 17-

sentença, referentemente ao pedido Vejamos, agora, o apelo da autora, em


constante da inicial, em ordem a serem ordem a receber o valor do seguro, cor-
condenadas as rés "a ressarcir à Ape- rigido monetariamente.
lante quantia igual à diferença entre o Negou-lhe tal a sentença, nestes ter-
preço de um barco da classe do "Na- mos:
vinsul", na data da execução, e o seu "Não há correção monetária por-
valor na data do evento" (fls. 688). For- que a Lei n 9 5.488, de 27 de agosto
mulou a autora, na peça introdutória, de 1968, que a instituiu nestes ca-
pedido alternativo: ou o valor do seguro sos, é posterior ao evento e à de-
(corrigido monetariamente e com os manda" (fls. 622/623).
competentes juros de mora), ou "paga-
mento do valor correspondente ao custo Da longa e brilhante sustentação acer-
de um navio de idêntico tipo daquele ca deste pedido, feita pelo ilustre pro-
que é objeto do seguro". A sentença fessor gaúcho Galeno Lacerda, no me-
atendeu a primeira alternativa, parcial- morial já muitas vezes citado, destaco as
mente: valor do seguro e juros da mora, passagens seguintes:
sem correção monetária. Ora, a autora, "19 - A correção monetária, em
em sua apelação, recorre da não outorga princípio, só pode ser autorizada
do valor do seguro, corrigido monetária- por lei. Imperativos fundamentais
mente, mas, também, mantém o segundo de ordem pública assim o exigem.
pedido alternativo. Tenho este, data 29 - Quanto ao ressarcimento de
venia, como prejudicado, diante da acei- danos patrimoniais, cabe a atualiza-
tação da autora do decisório, quanto ao ção do valor, quando o objeto for
valor do seguro e juros, pretendendo, coisa a repor, substituir ou repa-
ainda e agora, a correção monetária. rar, e não se realizar a prestação in
Mas, mesmo examinando a segunda al- natura. Nesta hipótese, a correção
ternativa, não haveria como acolhê-la, monetária não chega a existir como
pois o contrato de seguro tem cobertura problema. Ela decorre da própria
dos riscos precisamente definida, e cabe, natureza jurídica do objeto, segun-
pois, entender excludente da postulação do os ensinamentos da doutrina
de um "navio novo". O contrato de se- mais autorizada e de textos expres-
guro fixou, na espécie, valor exato do sos da lei civil. Deste modo, não
ressarcimento. N esse sentido, anota há por que falar em discrição dos
Pontes de Miranda: tribunais, extra legem.
"O modo de ressarcimento é, de Vê-se, pois, que, em última análi-
ordinário, em soma de dinheiro, que se, o objeto do ressarcimento no se-
corresponde ou se tem como cor- guro de bens patrimoniais, ou é di-
respondente à perda que o segura- retamente a coisa, quando ressarcÍ-
do sofre. O contrato de seguro pode vel in natura, ou indiretamente a
estabelecer modo diferente de se mesma coisa, quando substituível
ressarcir. Se não houve cláusula ex- pelo respectivo valor monetário.
pressa entende-se que não se pode Na verdade, seguram-se valores
exigir a prestação em natura. Vale reais, não valores nominais. O limite
a cláusula de alternatividade: em constante da apólice presume, evi-
dinheiro ou em natura, a favor de dentemente, a estabilidade da moe-
qualquer dos contraentes. Se não da, a correspondência entre a ex-
disse quem tem a escolha, entende- pressão nominal desta e o valor real
se o segurador" (op. cit., § 4.921, segurado, no momento da realização
págs. 319/320). do contrato.
-18 -

Se essa correspondência desapa- termos das considerações que acima


recer devido à depreciação mone- apresentamos.
tária futura, não pode o segura- Pela segunda, aquela em que nos
dor locupletar-se à custa do segu- situamos, a atualização decorre da
rado, tomando irrisória a finalida- circunstância de tratar-se, no caso,
de do seguro, pela inversão, a seu de débito de coisa, substituída pelo
benefício, do valor real do prejuízo, sucedâneo monetário, segundo equi-
único realmente segurado, segundo valência real, e não nominal.
a intenção das partes e a razão de Entendemos que essa equivalên-
ser do contrato, em mero valor no- cia é a única que se ajusta à natu-
minal, tanto mais ridículo e mes- reza do contrato de seguro. Ade-
quinho quanto maior a inflação e mais, seria absurda a diversidade
mais dilatada a mora, causada pelo de "substância" aquisitiva de moeda
próprio segurador, no pagamento entre valor de premio e valor de
do valor sinistrado! indenização.
Acresce outra circunstância de- O valor-limite nominal constante
cisiva. É que, em matéria de se- da apólice pressupõe moeda estável
guro, há uma correspondência téc- e ausência de mora do segurador.
nica, atuarial, em termos reais, en- Inexistindo uma e outra, dito limite
tre valor do premio e valor segu- carece de sentido e entra em con-
rado. tradição flagrante com o objeto e o
Ora, no caso concreto, o premio fim da instituição do seguro, toda
foi pago com base no valor econô- ela polarizada no sentido da reali-
mico, real, de um navio. Essa vin- dade dos valores.
culação exige, agora, evidentemen- Não se coloca, pois, no caso, ao
te, como contraprestação, o paga- contrário do que decidiu a senten-
mento do valor econômico, real de ça, a questão da retroatividade, da
hoje, do mesmo objeto. Lei nº 5.488, nem há necessidade
Tratando-se de dever de indeni- de sua aplicação, para concluir-se,
zar coisa, como acontece no seguro, como concluímos, pelo cabimento
na desapropriação, no dano provo- da correção monetária da indeniza-
cado por ato ilícito, de duas uma: ção devida, na espécie, pelo segu-
ou se repõe coisa análoga em es- rador.
pécie, como, aliás, chegou a pre-
tender o IRB, no caso, mas com a A existência da lei, contudo, por
recuperação da própria coisa, ou si só, constitui credencial bastante
se paga em dinheiro o valor desta para abonar tudo quanto acima se
no dia do pagamento. disse, porque evidencia que as te-
ses aqui expostas merecem, pela
Mesmo que, no Brasil, não hou- sua importância, o conforto da po-
vesse lei a respeito, a solução pelo lítica econômica do Governo, em
reajustamento do débito do segu- face dos gravíssimos problemas
rador encontra apoio em qualquer decorrentes da inflação. Ademais,
das duas posições doutrinárias que a simples presença da lei, embora
podem ser tomadas para solução do formalmente não a aplique, serve,
problema. Pela primeira, a indeni- no caso, para colocar à vontade a
zação devida pelo segurador é con- jurisprudência, ela que vem im-
siderada dívida de valor, e não de pondo, em determinadas hipóteses,
dinheiro. Atualizável, portanto, nos mesmo na ausência de norma ex-
-19 -

pressa, inúmeras ruturas aos pa- aplicação do prinCIpIO da equiva-


drões do nominalismo." lência das prestações que é ineren-
te aos contratos comutativos. Ao
Em que pese a brilhantíssima argu- contrário, a "teoria das dívidas de
mentação do eminente patrono da au- valor" não se fundamenta nem na
tora, data venia, entendo que não lhe é imprevisão das partes, nem no
possível conceder correção monetária do prejuízo excessivo de um dos con-
valor do seguro contratado. tratantes, que gera o enriquecimen-
Técnicas distintas conhece o direito to do outro. Na dívida de valor o
contemporâneo para garantir a coneção pagamento da quantia em dinheiro
monetária ou a revalorização dos cré- não é o fim do débito, mas apenas
ditos: a teoria da imprevisão, a teoria o meio de solvê-lo, variando, assim,
das dívidas de valor e a cláusula núme- o seu valor monetário, de acordo
ro-índice ou cláusula de escala móvel com as condições gerais do mer-
(Arnold Wald, in Rev. dos Tribunais, cado, de tal modo que a quantia
v. 364, pág. 24; Pontes de Miranda, Tra- paga possa atender à finalidade
tado de Direito Privado, §§ 2.920, desejada. Nela não se deve um
3.172 a 3.175 e 5.347; Amílcar de quantum, mas um quid.
Araújo Falcão, in Revista Forense, v. Finalmente, a cláusula nÚIDero-
209, págs. 67 e segs.; Caio Mário da índice ou cláusula de escala móvel
Silva Pereira, apud, Revista dos Tribu- não apresenta uma correção mone-
nais, v. 234, págs. 3-18, e Revista Fo- tária decorrente necessariamente da
rense, voI. 157, págs. 50-59'; Orlando lei, nem se justifica pela especial
Gomes, Influência da Inflação nos Con- finalidade do débito, sendo apenas
tratos, in Revista Forense, v. 200, pág. o reflexo da vontade das partes que
18; Ascarelli, Problemas das Sociedades se precaveram contra a inflação,
Anônimas e Direito Comparado, 1945, introduzindo no ato jurídico uma
São Paulo, págs. 195, 184; Amoldo Me- cláusula de reajustamento ( ... ).
deiros da Fonseca, in Caso Fortuito e O pagamento é feito em dinheiro
a Teoria da Imprevisão; Othon Sidou, mas o montante depende da apli-
A Cláusula Rebus Sic Stantibus no Di- cação de um índice (custo de vi-
reito Brasileiro, 1962, págs. 71 e segs) . da, preços por atacado ou varejo
de determinadas mercadorias) ao
Observa, a este propósito, Arnold valor inicialmente fixado" ( apud,
Wald, que "são técnicas diferentes al- Revista dos Tribunais, vol. 364,
mejando as mesmas finalidades, mas págs. 24 e 25).
caracterizando-se pela existência de
pressupostos diversos e funcionando Entre nós, a coneção monetária de-
com uma variação de densidade". E, a corrente da teoria da imprevisão já
seguir, explica: apresenta uma experiência trintenária,
consagrada em textos legislativos (De-
"A teoria da imprevisão pressu- creto-lei n 9 24.150, de 1934, Lei de Lu-
põe a oconência de modificações vas, art. 31; Decreto federal n 9 309,
substanciais, imprevisíveis e inevi- de 1961, no plano do direito público
táveis, que levam uma das partes (condições para o reajustamento dos
a arcar com uma obrigação exoes- contratos decorrentes de imprevisão);
sivamente onerosa, enquanto o ou- Lei federal n 9 4.370, de 28-7-1964 (re-
tro contratante se beneficia com um visão dos contratos administrativos); o
verdadeiro enriquecimento sem cau- art. 322 do anteprojeto de Código das
sa. Corrige a teoria da imprevisão Obrigações de autoria dos eminentes
os desequilíbrios que perturbam a Mins. Orosimbo Nonato, Filadelfo Aze-
- 20-

vedo e Hahnemann Guimarães contem- de 27 de dezembro de 1954, em que de-


plava a revisão em virtude de imprevi- terminava a revisão de uma indenização
são), e em esplêndidos estudos doutri- de acordo com as modificações sofridas
nários, valendo mencionados, dentre no futuro pelo salário-mínimô' (apud,
muitos outros, os de Jair Lins (A Cláu- Revista dos Tribunais, vol. 364, pág.
sula Rebus Sic Stantibus', in Revista 26). Dos exemplos de dívidas de valor
Forense, voI. XL, págs. 512 e segs.); mencionam-se as relativas a alimentos
Eduardo Espínola (A Cláusula Rebus entre parentes ou entre cônjuges desqui-
Sic Stantibus no Direito Contemporâ- tados e a responsabilidade civil no caso
neo, em Direito, voI. I, págs. 7 a 34; de falecimento da vítima de ato ilícito
Artur Rocha, Da Intervenção do Estado ou de diminuição de sua capacidade de
nos Contratos Concluídos, Irmãos Pon- trabalho. No campo do direito público,
getti, Rio de Janeiro; Asgar Soriano de foi utilizada a noção de dívida de valor
Oliveira, Da Cláusula Rebus Sic Stan- para fundamentar o reajustamento das
tibus, Recife, 1940; Arnoldo Medeiros indenizações decorrentes de desapro-
da Fonseca, Caso Fortuito e a Teoria priações, mesmo antes da Lei n 9 4.686,
da Imprevisão, 3<). ed., Rio, 1958; Alfre- de 21 de junho de 1965. Nesse sentido,
do de Almeida Paiva, Aspectos do Con- Pontes de Miranda, Tratado de Direito
trato de Empreitada, Rio, 1955, págs. Privado, t. XXVI, págs. 296 e segs.;
55 a 72; Oscar Saraiva, Os Contratos de acórdão do Tribunal de Justiça de São
Empreitada e a Aplicação da Cláusula Paulo, de 8-3-1962, in Revista de Direito
Rebus Sic StanUbus no Direito Admi- Administrativo, voI. 80, pág. 158. Tam-
nistrativo, in Revista de Direito Admi- bém, no atinente às indenizações oriun-
nistrativo, voI. I, fasc. I, pág. 36, e Caio das de acidentes do trabalho, idêntica
Tácito, O Contrato Administrativo e a invocação se vem fazendo ( Marigildo
Teoria da Imprevisão, in Revista Fo- de Camargo Braga, Teoria das Dívidas
rense, voI. 155, pág. 97; Othon Sidou, de Valor em Acidentes de Trabalho, R.
op. cito de Janeiro; Arlindo de Oliveira Britto,
O Salário-Base para o Cálculo da Inde-
No que concerne à teoria das "dívi- nização nos Acidentes de Trabalho, in
das de valor", inobstante já admitida Revista Jurídica, voI. 63, págs. 13 a 19).
pela doutrina brasileira (San Tiago Sustenta a doutrina que a revisão na
Dantas, Problemas do Direito Positivo, dívida de valor é inerente ao próprio
1953, pág. 28; Arnold Wald, op. cit.; instituto. Pelo simples fato de ser uma
Washington de Barros Monteiro, Curso dívida de valor, o débito é modificado
de Direito Civil, DireitO' das Obriga- na sua expressão monetária sempre que
ções, São Paulo, voI. I, 1960, pág. 81; ocorre qualquer diferença entre a soma
Pontes de Miranda, Tratado de DireitO' pecuniária que o representa e o valor
Privado, tXXVI, 2<). ed., 1959, pág. 295; ou poder aquisitivo devido ao credor.
Amílcar de Araújo Falcão, in Revista Quando a dívida é de valor, não se pre-
Forense, voI. 209, pág. 68), observai cisa de regra jurídica de revalorização
Arnold Wald que "comemora apenas da moeda, nem de cláusula adaptativa.
entre nós o seu décimo aniversário".; A dívida já é de valor, e não de coisa
Defendida na doutrina estrangeira por, ou serviços; de modo que não é de pen-
autores como Arthur Nussbaum, Tulio, sar-se em adaptação. Não se deve "x',
Ascarelli e T. A. Mann, não logrou, com a cláusula de se adaptar o objeto
ainda, uma sistematização adequada e a índice. Deve-se "x', conforme o ín-
definitiva. "Localizamos a sua primei- dice (Pontes de Miranda, Tratado, t.
ra aplicação no direito brasileiro, numa XXVI, § 3.n3; Arnold Wald, Teoria
sentença do Professor Sampaio Lacerda, das Dívidas de Valor, ed. 1959, pág. 21).
- 21-

No que concerne à correção monetá- certos contratos, Mas, como as estipula-


ria através das cláusulas de escala mó- ções desse teor recusam ou restrinO"em
b '
vel, impende, por primeiro, distinguir nos seus efeitos, o curso forçado da moe-
estas das cláusulas denominadas "mo- da, são geralmente proibidas" (op. cit.,
netárias" . pág. 20). Registra, ainda, o citado Amíl-
As cláusulas de escala móvel, cláusu- car de Araújo Falcão que a proibição da
las escalares, cláusulas de escalonamento cláusula-ouro, prata ou outra semelhante
ou número-Índice (clauses d' échelle radica no fato de visar ela "a de alguma
mobile, escalator clauses, slideng scales, forma substituir o próprio meio de pa-
index clause) consistem na indexação do gamento", o qual, "ao invés de servir-se
valor das prestações, com base em um do veículo normal da moeda, toma como
fator, número ou índice de revisão au- elemento de cotejo ou de concretização
tomático, em geral correspondente à de- exatamente aquilo que o chamado "curso
preciação da moeda, à elevação do custo forçado para todos os pagamentos", le-
de vida ou a circunstâncias relacionadas galmente estabelecido, quis impedir, isto
com uma ou com a outra, salário-míni- é, a convertibilidade em ouro, seja pelo
mo, valor da mão-de-obra, custo dos Estado ou pelo Banco emitente (curso
materiais de construção, etc. Essas cláu- forçado puro e simples), seja nas rela-
sulas são dinâmicas, posto que a revisão ções entre credor e devedor (curso for-
se faz a cada passo e pelas próprias par- çado para todos os pagamentos). Por isso
tes, sem necessidade de intervenção do mesmo é que a cláusula-ouro e seus
juiz, por isso que a adaptability ou de- sucedâneos são designados como cláusu-
terminação da d.ívida importa numa sim- las monetárias" (op. cit., pág. 70).
ples operação aritmética, tendo por fator Ora, com a aplicação da cláusula de
o índice preestabelecido. A cláusula de escala móvel, não se tem em vista o ins-
escala móvel comporta ainda uma moda- trumento ou meio de pagamento, mas
lidade ou variante, que é a da cláusula apenas a substância do débito. Pondera,
de reabertura (re-openning), ou de tole- outrossim, Arnold Wald, que a cláusula
rância, em que se fixa um certo limite de escala móvel não "restringe nos seus
dentro do qual o reajustamento da pres- efeitos o curso forçado do mil-réis pa-
tação não se fará ou a cuja superação se pel" (leia-se, hoje, curso forçado do cru-
condiciona a revisão desta (efr. Nus- zeiro-papel). "Efetivamente, já concei-
sbaum, Derecho Monetario Nacional e tuamos o curso forçado como inconverti-
Internacional, trad. Ed. Arayu, B. Aires, tibilidade do papel-moeda. Decretando
1954, pág. 421). o curso forçado, o Estado dispensa o
banco emitente de trocar por ouro as
Observa Amilcar de Araújo Falcão, notas emitidas. Não há dúvida que a
op. cit., p. 69, que "em um caso como escala móvel, não se tem em vista o ins-
no outro a cláusula escalar é diversa fixar o montante da dívida, o pagamen-
da cláusula-ouro, valor-ouro, ouro-ágio,
to será feito em cruzeiros-papel, não
divisa estrangeira e demais cláusulas mo-
havendo violação dos dispositivo legais
netárias sucedâneas destas". E assere:
que impusera mo curso forçado" (A
''Por isso mesmo, a proibição da cláusu- Cláusula de Escala Móvel, págs. 145 e
la-ouro e cláusulas semelhantes de modo 146).
nenhum contagia a estipulação da sli-
ding scalé'. Anota, a esse propósito, Or- Dessa sorte, a proibição da cláusula-
lando Gomes, que "o recurso à cláusula- ouro pelo Decreto n 9 23.501, de 27 de
ouro ou seus sucedâneos, divisas estran- novembro de 1933, não importa em res-
geiras ou valores-divisas, seria um pro- trição à cláusula de escala móvel. Pontes
cesso apto a evitar o desequilíbrio em de Miranda, nesse sentido, pondera que,
- 22-

«quando o Estado estabelece o curso le- em São Paulo,. no mês de janeiro de


gal, ou o curso forçado da moeda, de 1955, e considerado por Arnold Wald o
modo nenhum se refere ao valor aquisi- primeiro entre nós, especialmente dedi-
tivo do momento. O conceito de valor cado à matéria, Caio Mário da Silva Pe-
aquisitivo é estranho àqueles conceitos reira, após afirmar-se defensor da escala
de curso legal e de curso forçado. A móvel, "usada com moderação" e «fora
cláusula-ouro ofende a regra jurídica do das hipóteses de contrariedade ao prin-
curso forçado, porque, ao parecer do cípio de supremacia da ordem pública",
legislador, se nega o valor que o curso sustenta, entretanto, que "o Poder Le-
forçado supôs. As cláusulas que nada gislativo deverá votar proposição admi-
têm com as cláusulas monetárias pro- tindo a cláusula escala móvel e discipli-
priamente ditas são atinentes ao valor nando-a em função das diversas espécies
aquisitivo de elementos que não são de contrato em que deva ter cabimento"
moedas, nem padrão" (apud, Tratado de (apud, Estabelecimento de Cláusula de
Direito Privado, t. XXVI, § 3173, págs. Escala Móvel nas Obrigações em Di-
295 e 296). Anota, ademais, Arnold nheiro, A valorização dos créditos em
wald, in Teoria das Dívidas de Valor, ;p. face do fenômeno inflacionário", in Re-
70, que, apesar de, no Direito Brasileiro, vista Forense, voI. 157, pág. 59). Con-
estar estabelecido o curso forçado, "não signa Caio Mário, nessa linha, a lição de
há nenhum dispositivo legal que impeça Michel Vasseur:
que se tome em consideração, nos con- "Les solutíons qu'il nous a semblé
tratos ou nas sentenças, a depreciação devoir comporter montrent que la
do poder aquisitivo da moeda". concilíatíon recherchée entre les ne-
Após amplo exame da matéria, conclui cessités d' ordre économique et cel-
Arnold Wald que "a nossa legislação não les de la justice est susceptible ir
proíbe expressamente a cláusula de es- être réalísée en dehors de tout arbi-
cala móvel, já que esta não restringe traire. Cette conciliation postule
nem limita os efeitos da lei sobre o curso sans doute que soit limité le champ
forçado, permitindo a circulação do cru- d'aplicatíon des clauses monétaires
zeiro pelo seu valor legal. Entende-se et partículier de 7:échelle mobile,
neste sentido o valor legal como relação mais cetis concilíation n'a de chan-
entre o cruzeiro e o ouro ou as moedas ce de satisfaire out à la fois 7:ordre
estrangeiras, e não o poder aquisitivo et la justíce que si le legislateur
do padrão monetário. Não sendo proi- l'effecteur lui-même à la condition
bida, a cláusula deve ser considerada vá- que solent prises les mensure qui
lida". Observa, outrossim, que "os nossos empécheront les clauses monétaíres
magistrados reconhecem as modificações de ressembler à une piqúre de mor-
do poder aquisitivo da moeda e tentam phine dont les efets servaient sans
restabelecer o equilíbrio entre as presta- lendemais". (apud, Les droít des
ções, rompido pela depreciação da moe- clauses monétaires et les enseigne-
da ( ... ). O estudo da legislação e da ments de 7: économíc politique, in
jurisprudência nos leva pois a reconhecer Revue Trimestrielle de Droit Civil:',
amplamente a cláusula de escala móvel, 1952, págs. 413 e segs.)"
salvo o caso de leis especiais que a proí-
Hoje, em face da volumosa legislação
bam em determinados domínios" (apud,
existente no Brasil, principalmente a
A Cláusula de Escala Móvel, pág. 153;
partir da Revolução de 31 de Março de
também, 166 e 231). 1964, acerca de correção monetária, for-
Em trabalho apresentado ao IV Con- ça é concluir pela franca admissibilida-
gresso Jurídico Nacional, que se realizou de, quer no direito privado, quer no di-
-23-

reito público, do emprego da técnica da v. 50, pág. 476). Em outro passo, anota o
escala móvel, no domínio do contrato em festejado jurista: "Os intérpretes têm de
geral. A posição da doutrina antes apon- assentar que, em qualquer negócio jurí-
tada, no sentido de ser válida a utiliza- dico, cuja lex specialis não lhe vede, po-
ção da cláusula escalar, nada obstando de ser inserta a cláusula de correcão do
à sua legitimidade a proibição de esti- valor monetário conforme os coefi~ientes
pular-se a cláusula-ouro ou seus sucedâ- aprovados pelo Conselho Nacional de
neos, está, agora, ineguivocamente, con- Economia" (Tratado, v. 50, pág. 477)
fortada por essa orientação legislativa, (cf., nesse sentido, a Lei n 9 4.602, de
onde se consagra a escala móvel. 16-3-65).

Consoante, com propriedade, anotou Em matéria de seguro, entretanto,


Amílcar de Araújo Falcão, "o que re- cumpre notar, como o fez o eminente
sulta da indexação do contrato é sim- Min. Victor Nunes Leal, no RE n 9
plesmente a atualização da substância 47.598-GB, que a limitação da respon-
da dívida, que a desvalorização da moe- sabilidade, ressalvadas as exceções ex-
da ou o encarecimento do custo de vida pressas, é essencial a esse tipo de con-
podem tornar completamente irreal e trato. "De outro modo, a economia do
inconsciente, se não se lhe introduzir a negócio de seguro ficaria subvertida. Ela
ventilação escalonar" (op. cit., pág. 72). se baseia em cálculos atuariais, que es-
Repita-se, outrossim, com Arnold tabelecem correspondência estatística,
Wald, que, no sentido de liberdade das entre o valor do premio e o montante.
estipulações de reajustamento de confor- do risco assumido. Para garantir a esta-
midade com a cláusula-índice ou de es- bilidade desse ramo de negócio, que é
cala móvel, se tem manifestado a nossa .de interesse coletivo, o contrato de se-
melhor doutrina (Rev. dos Tribunais, v. guro está sujeito a rigorosa disciplina
364, pág. 30). legal. Dependem suas cláusulas de
aprovação da autoridàde administrativa,
Washington de Barros Monteiro ensi- e são passíveis de anulação as alterações
na que a licitude da cláusula de escala feitas com preteriçãv dessa formalida-
móvel "não pode ser posta em dúvida, de" (R.Tl, voI. 33, pág. 631).
uma vez que não contraria qualquer
princípio legal de ordem pública" (in Quanto à limitação da responsabili-
Cttrso de Direito Civil, Direito das Obri- dade do segurador, dispõe, à sua vez,
gações, voI. I, 1960, pág. 81). A seu o art. 182, do Decreto-lei n 9 2.063, de
turno, Pontes de Miranda afirma que a 7-3-1940:
função protetiva da cláusula de conven- "Os contratos de seguros em ge-
ção de valor monetário é do mais alto ral devem estipular a indenização
alcance para a tranqüilidade social, não máxima pela qual é a sociedade se-
apresentando incoveniente (Tratado, v. guradora responsável, e além da
50, pág. 483). Em outro passo doutrina qual nenhum pagamento será feito
Pontes de Miranda, a propósito da larga a não ser o de juros de mora, em
produção legislativa sobre correção mo- que possa ser condenada, no caso
netária entre nós, que as leis recentes, de ação judicial."
nesse particular, são meramente explici-
tantes, tendo "por fito pôr em relevo que Cumpre ver, aí, no regime anterior
não é contra o direito vigente (o estado à Lei n 9 5.488, norma legislativa pre-
atual do sistema jurídico) o que elas edi- fixadora da indenização máxima, esta-
tam ou o que o fazem para pôr em uso belecendo limite à responsabilidade do
o que não se tem praticado" (Tratado, segurador.
- 24-

Pontes de Miranda, antes da Lei n Q qualquer neg6cio jurídico, cuja lex spe-
5.488, de 27-8-1968, escreveu, verbw: cialw não lho vede, pode ser inserta a
"A fixação do valor segurado é cláusula de corrreção do valor monetá-
elemento essencial do contrato, rio, conforme os coeficientes aprovados
mesmo se coincide com o valor se- pelo Conselho Nacional de Economia"
gurável, isto é, o valor do bem. Se (apud, Tratado de Direito Privado, voI.
o bem cresce de valor e o seguro 50, pág. 477).
foi do valor que ele tinha, não se Daí, outrossim, por que compreendo
tem de ressarcir o dano acima do a vigente regra do art. 14, do Decreto-
que foi estabelecido. O aumento do lei n9 73, de 21 de novembro de 1966,
valor do bem não faz mais elevado que autoriza "a contratação de seguros
o valor segurado, que, se foi o do com a cláusula de correção monetária
bem ao tempo da conclusão do con- para capitais e valores, observada a
trato de seguro, não acompanha a equivalência atuarial dos compromissos
elevação do valor" (op. cit., págs. futuros assumidos pelas partes contra-
309 e 310, § 4.919). tantes, na forma das instruções do Con-
Nega, assim, Pontes de Miranda, con- selho Nacional de Seguros Privados",
soante o reconhece o ilustre firmatário tão-s6 como norma meramente explici-
do memorial da autora, possa a indeni- tante, no dizer de Pontes de Miranda,
zação do sinistro estar sujeita a correção acerca das leis recentes nesse particular,
monetária, em caso de desvalorização da "tendo por fito pôr em relevo que não
moeda, de modo a poder ultrapassar o é contra o direito vigente (o estado
valor nominal consignado na ap6lice. atual do sistema jurídico) o que elas edi-
Tenho, é certo, à vista do antes expos- tam ou o que o fazem para pôr em uso
to, quanto às cláusulas de correção mo- o que não se tem praticado" (Tratado,
netária, que não seria vedada sua esti- v. 05, pág. 476).
pulação, diante do disposto no art. 1.460, Ora, in hoc casu, inexiste estipulação
do C6digo Civil, verbw: de correção monetária, tal como seria
"Quando a ap6lice limitar ou par- possível, segundo o direito então vigen-
ticularizar os riscos do seguro, não te.
responderá por outros o segurador." Sem cláusula expressa, incidiam a nor-
Nem há, outrossim, extrair do art. 182, ma do art. 182, do Decreto-lei n 9 2.063,
do Decreto-lei n 9 2.063, de 1940, enten- de 1940, definindo o limite da responsa-
dimento diverso, pois, aí, apenas, o que bilidade do segurador, e ainda a do art.
se estabelece é a estipulação da indeni- 1.460, do C6digo Civil.
zação máxima, em cujo âmbito prevista Em face disso, data venia, não seria
poderia estar a cláusula correcional viável garantir, como pretende, em mag-
avançada. nífica exposição, o ilustre jurista do Rio
Aliás, como destacamos acima, antes Grande do Sul, professor Galeno Lacer-
da abundante legislação que adota a da, correção monetária, sem lei que a
correção monetária, a liberdade das es- assegurasse, muito embora os judiciosos
tipulações de reajustamento, de confor- argumentos expendidos E1m seu favor.
midade com a cláusula-índice ou de es- Assim, sem cláusula expressa no con-
cala m6vel era consagrada pela doutrina trato de seguro, somente cabe, data ve-
e jurisprudência, somente excepcionadas nia, a pretensão de correção monetária,
as hip6teses de vedação por lei especial. neste campo, na vigência da Lei n Q
Conforme anotou Pontes de Miranda: 5.488, de 27 de agosto de 1968, que a
"Os intérpretes têm de assentar que, em instituiu nos casos de liquidação de si-
- 25-

nistros cobertos por contratos de segu- ficiente aparelhamento de incidência da


ros. Lei n 9 5.488, nestes termos:
Rezam o art. 19 e parágrafos do diplo- "A lei pertinente à matéria (n9
ma em foco: 5.488) é de 27 de agosto de 1968,
posterior ao sinistro, que o~orre~
"Art. 19 A indenização de si-
em 1965. Entretanto, o que e maIS
nistros cobertos por contratos de
mais importante, pois difere de ou-
se<Turos de pessoas, bens e respon-
tros institutos na espécie, tal lei ex-
sabilidades, quando não efetuada pressamente não é auto-executável,
nos prazos estabelecid~s n~ f~TI?a depende de disposições do executi-
do § 29 deste artigo, fIcara sUjeita
vo, fixando-lhe as condições essen-
à correção monetária, no todo ou
ciais de aplicabilidade, como esta-
na parte não paga. tui no art. 19 :
§ 19 A correção monetária será § 29 O Conselho Nacional de
devida, a partir do término dos re- Seguros Privados fixará os prazos
feridos prazos e calculada na base a que se refere este artigo e estabe-
dos coeficientes fixados para a cor- lecerá as condições que se fizerem
reção das Obrigações Reajustáveis necessárias à sua aplicação e à exe-
do Tesouro Nacional. cução desta Lei.
§ 29 O Conselho Nacional de Portanto, nos seus próprios ter-
Seguros Privados fixará os prazos mos, a lei é inaplicável, inexeqüí-
a que se refere este artigo e esta- vel."
belecerá as condições que se fize- Dessa sorte, não há senão negar a cor-
rem necessárias à sua aplicação e reção monetária pretendida pela autora.
à execução desta Lei.
Por derradeiro, quanto aos honorários
§ 39 A incidência da correção advocatícios, fixados em 5% sobre o va-
monetária sobre o valor da indeni- lor da execução, também mantenho a
zação não exonera as entidades se- sentença. Cumpre observar que o valor
guradoras, co-seguradoras e resse- do seguro, a ser pago pelas rés, é de
gurado~as de outras sanç?~s 9-~~' Cr$ 500.000,00. Não houve prova teste-
na especie, lhes forem aphcaveIs. munhal ou pericial, em Juízo. Embora
Ora tratando-se de negócio jurídico, inegável a complexidade da causa, o
o contrato de seguro, força é, desde 10- montante de honorários advocatícios se-
<TO, entender que, tornado ato jurídico rá razoável, convindo ponderar que seu
b
perfeito, .
no regime antenor à L'e1 n·o arbitramento pelo juiz há de fazer-se
5.488/1968, não seria possível invocá- com parcimônia.
la para ampliar o limite d~ r~spo~sabi­ De todo o exposto, nego provimento
lidade do segurador, na hqmdaçao do à apelação das Companhias Segurad?-
sinistro. A incidência da lei nova é obs- ras e Instituto de Resseguros do BrasIl,
tada pelo preceito constitucional inserto e dou provimento ao recurso da autora,
no art. 141, § 39 , da Lei Magna de apenas no aue concerne ao cômputo dos
1946, art. 150, § 39, da Carta Política juros moratórios, que detennino se fa-
de 1967 e no art. 153, § 39, da Emenda ça a partir do 169 dia após a apresen-
Constitucional n9 1, de 1969. tação dos documentos do sinistro (Có-
Releva, ainda, observar a judiciosa digo Comercial, art. 730), já devida-
consideração trazida pelo culto patro- mente comprovada nos autos (fls. 14).
no das Rés e IRB, Dr. Luiz Bousquet Quanto ao mais, mantenho as conclu-
de Berrêdo, às fls. 719, quanto a insu- sões da sentença.
- 26-

VOTO Interpretação das Leis Tributárias, re-


O Sr. Min. Márcio Ribeiro (Revisor): corda-se de que na interpretação da lei,
Mantenho a sentença recorrida, de fls. de um modo geral, se deve ter em boa
606/622, pelos seus fundamentos: (lê). conta a realidade das coisas. Temos no
Brasil, felizmente hoje com menos in-
O próprio excesso do seguro não fi- tensidade, um novo fenômeno sócio-eco-
cou demonstrado, pois não houve ava- nômico, qual seja a desvalorização da
liação do objeto segurado para apura- nossa moeda. Se fizermos um pequeno
ção de seu preço atual. balanço na história do mundo, vamos
Concordo com o Relator, entretanto, encontrar, aqui e ali, medidas tendentes
quanto à modificação do termo inicial à correção monetária e à atualização do
para os juros. valor aquisitivo da moeda. A Alemanha,
ao que me consta, já alterou a sua moeda
Nego provimento aos recursos do IRB pelo menos três vezes. Teve o "marco",
e das seguradoras, e dou provimento, em o "reichmark' e a~ora o "deutschmark".
parte, ao da armadora, nos termos do Nós iá tivemos o 'conto de réis", o "cru-
voto do Relator. zeiro;', o "cruzeiro novo", e agora esta-
VOTO (VENCIDO, EM PARTE) mos outra vez com o "cruzeiro". Dentro
O Sr. Min. Jarbas Nobre: Não vejo das medidas de ordem geral, desde 1964,
fraude no naufrágio. Acompanho, as- com a Lei n 9 4.357, tivemos entre nós
sim, o eminente Ministro Relator. criado o instituto da correção monetária.
Inicialmente, ele foi usado tão-só para
Com referência ao valor do seguro, a atualização dos débitos fiscais. E a
também estou de acordo com S. Ex?. A propósito do efeito ex tunc ou ex nunc
seguradora tinha plenos meios para im- da correção monetária, temos a Lei n 9
pugná-lo. No entanto, aceitou o seguro 4.862, que, de modo expresso, mandou
e recebeu os premios adequados. O con- excluir da correção os débitos apura-
trato é bilateral: firmou-o, recebeu o que dos anteriormente à data da vigência
por ele era devido, e está obrigado a da Lei n 9 4.357, que, se não me falha
contraprestar. Portanto, com relação ao a memória, é de 15 de julho de 1964.
recurso da seguradora, nego provimen- Eis, portanto, aqui, um exemplo da apli-
to. cação retroativa da lei. Na desapropria-
No que diz respeito aos juros mora- ção, a correção monetária foi adotada,
tórios, estou de acordo com o voto do e muito se discutiu sobre se ela alcan-
eminente Ministro Néri da Silveira. çava as expropriações processadas ante-
riormente à sua vigência. Eu mesmo, co-
Referentemente aos lucros cessantes,
mo Juiz Federal, tive oportunidade de,
entendo que os mesmos não são devidos
talvez em primeira mão, salvo engano,
na espécie dos autos.
mandar corrigir monetariamente uma
No que diz respeito à correção mone- desapropriação requerida antes da lei
tária, data venia dos votos já proferidos, da correção monetária, sentença esta
serei vencido pela seguinte ordem de que, creio, está publicada na Revista de
idéias: li e leio, sempre que posso, um Direito Público, volume V. Nessa opor-
livro que considero clássico, embora tunidade, voltei a focalizar o método de
trate o mesmo de matéria tipicamente interpretação da realidade das coisas.
tributária, pois traz dentro dele um te-
ma altamente interessante. Refiro-me ao Outro exemplo de correção monetá-
livro de Vanoni, que tem tradução bra- ria, além dos já expostos: no débito fis-
sileira feita por Rubens Gomes de Sou- cal, é a partir da vigência da Lei 4.357.
za. Nesse livro, cujo título é Natureza e Há dispositivo expresso na Lei n 9 4.862.
- 27-

Nos processos expropriatórios, ela tem to fiscal, em processo de desapropria-


aplicação retroativa. Nos processos tra- ção, seja ele decorrente de atualização
balhistas, a lei fixa o prazo em que ela de valor de vantagens, os Índices corre-
deve ser contada. Presentemente, a cor- cionais devem ser aplicados retroativa-
reção foi mandada aplicar aos contra- mente.
tos de seguros. Lamento ter que discordar dos emi-
Acho que para o legislador esta é uma nentes Ministros que me antecederam
pedra de toque. Infelizmente, dolorosa- na votação, principalmente por não ser
mente, no Brasil, somos campeões em eu um componente desta Turma. Dou
tentar desmoralizar institutos. O nosso provimento à apelação da autora.
instituto do cheque quase desaparece
pelo mau uso. O contrato de seguro é DECISÃO
outra fonte de atritos. Todos temos ex- Como consta da ata, a decisão foi a
periência disto: quando seguramos nos- seguinte: A unanimidade, negaram pro-
sos carros, enfrentamos, sistematicamen- vimento aos recursos do IRB e das se-
te, aborrecimentos com as companhias guradoras, e, nos termos do voto do Sr.
de seguros, quando precisamos delas, Ministro Relator, deram provimento ao
porque são mestras em não honrar com- recurso da Armadora para alterar o ter-
promissos assumidos. mo inicial da contagem de juros, venci-
O Instituto de Resseguros do Brasil, do em parte o Sr. Min. Jarbas Nobre,
parece, gostou ou prefere adotar este que dava provimento também para
sistema. Recebe os prêmios e não presta conceder correção monetária. Impedido
os seguros, convenientemente. o Sr. Min. Esdras Gueiros. Usaram da
Com referência à lei que mandou palavra o Dr. Galeno Lacerda e o Dr.
aplicar os índices correcionais aos con- Henrique F. de Araújo. O Sr. Min. Már-
tratos de seguro, dentro do entendimen- cio Ribeiro votou com o Sr. Ministro
to vigente do instituto, nos vários casos Relator. O Sr. Min. Henoch Reis não
em que a Lei permite sua aplicação, a compareceu, por motivo justificado. O
tendência é sempre a de dar efeito re- Sr. Min. Jarbas Nobre compareceu para
troativo a essa cláusula. Entendo que, completar quorum em face do impedi-
de modo geral, toda vez em que a lei mento do Sr. Min. Esdras Gueiros. Pre-
manda corrigir monetariamente qual- sidiu o julgamento o Sr. Min. Márcio Ri-
quer valor, seja ele decorrente de débi- beiro.

APELAÇÃO CÍVEL N.o 28.464 - PR


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Annando Rollemberg
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Decio Miranda
Apelante - Instituto Brasileiro do Café
Apelado - Companhia Floresta de Annazéns Gerais
EMENTA
Instituto Brasileiro do Café. Contrato de depósito de
café. Mercadoria não devolvida. Indenização devida. Va-
lor a ser apurado na execução da sentença, tendo em
conta o preço pelo qual o Instituto adquiriria o produto
na data do término do contrato.

Vistos, relatados e discutidos estes Decide a Segunda Turma dt; Tribunal


autos, em que são partes as acima in- Federal de Recursos, por un:mimidade,
dicadas, dar provimento parcial ao recurso, nos
- 28-

termos do voto do Sr. Ministro Relator, "Considerando que a ação propos-


na forma do relatório e notas taquigrá- ta é apta e correta a via eleita pa-
ficas precedentes, que ficam fazendo ra os fins colimados;
parte integrante do presente julgado. Considerando que o contrato de de-
Custas de lei. pósito, de forma inequívoca, do-
Brasília, 31 de maio de 1971. - Go- cumentadamente, está provado;
doy Ilha, Presidente; Armando Rollem- Considerando que cumpria à ré, co-
berg, Relator. mo fiel depositário, a obrigação de
entregar a mercadoria recebida em
RELATÓRIO depósito, quando esta fosse recla-
O Sr. Min. Armando Rollemberg (Rp- mada pelo depositário;
lator): O' Instituto Brasileiro do C3.fé Considerando que a ré, apesar de
propôs ação de depósito contra a Com- reclamadas pelo autor, não devol-
panhia Floresta de Armazéns Gerais, se· veu 5.277 sacas de café cru em grão,
diada em Curitiba, para obter desta a parcela de uma porção maior, cons-
entrega de 5.277 sacas de café, de pe- tituída de lotes anteriores que che-
sos variados, que depositara em poder garam a totalizar 54.456 sacas;
da mesma. Considerando que, embora a ré de-
Esclareceu que verificara antes falta- positasse, depois de judicialmente
rem no armazém da ré 3.494 sacas de citada, a quantia de 1.769 sacas,
café e exigira da mesma a reposição, mais a quantia de NCr$ 8.770,00
não sendo atendida, sob a alegação de (oito mil setecentos e setenta cru-
que a falta referida se devia a ação de zeiros novos), esta importância em
"caruncho de tulha", o que afastava a dinheiro a título de garantia das
sua responsabilidade, e daí o ajuiza- 3.508 sacas faltantes do volume pe-
mento da ação, na qual pediu a entre- dido de 5.277, que alegou terem si-
ga ou depósito das 5.277 sacas ou o seu do devastadas pelo caruncho, a for-
equivalente em dinheiro, que estimou ça maior não ficou comprovada nos
em NCr$ 159.784,40, tomando por base autos;
o preço de NCr$ 5,30 por dez quilos, Considerando que a justa estima-
segundo cotação oficial da Bolsa Oficial tiva de preço para o café não de-
de Valores do Paraná. volvido foi fixada em NCr$ 3,80 por
Contestando, a ré alegou que a rli- saca de 60 quilos, partindo-se da
minuição verificada no café depositado verificação, no documento de fls. 9,
se deveu à praga do caruncho, o que ~a­ que os 3.267.360 quilos ali anota-
racterizava força maior e vício da mer- dos equivalem a 54.456 sacas de
cadoria isentando-a de responsabilida- 60 quilos cada uma;
de. Insurgiu-se, depois, contra o preço Considerando que a quebra alega-
estimado para a mercadoria, afirmando da pela ré, de muito, excedeu as
ser de Cr$ 2,50 por saca e promoveu percentagens admitidas pelo autor
o depósito de 1.769 sacas e da impor- (doc. fls. 66);
tância de NCr$ 8.770,00 que correspon-
dia ao valor de 3.508 sacas. Considerando que a prescrição ex-
Processou-se a instrução de- processo tintiva da obrigação de indenizar o
e afinal o MM. Juiz prolatou sentença café não devolvido não ocorreu;
na qual após anaJ;sar as razões aduzi- Considerando que a ré, valendo-se
das pelas partes e a prova produzida, de quebra percentual tolerada pe-
concluiu: lo autor (doc. fls. 66), calculando
- 29-

sobre o total depositando 54.456 firma ré, mercê de sua subordina-


sacas, já subtraíra, por antecipa- ção às disposições expressas do De-
ção, 3.494 sacas (doc. fls. 24), nes- creto n 9 1.102, de 21-11-1903, per-
ta ocasião, por conta do mesmo per- sonificada juridicamente como fiel
centual referido, não mais deve ser depositária, em julgar, como julgo,
atendido outro desconto ou que- procedente a ação, a fim de con-
bra, porque seria concordar em re- dená-la: 19 ) à restituição de 5.277
petição ou renovação de subtração sacas de café cru em grão, com 60
percentual, agora, não mais sobre quilos cada uma, que foram depo-
o total originário, e sim sobre as sitadas pelo autor nos armazéns
5.277 sacas e que terminaria por da mesma ré, conforme recibo rle
resultar, na verdade, numa percen- depósito n 9 4/033 (fls. 9), ou 3U-
tagem superior àquela fixada libe- jeitar-se, obrigatoriamente, ao pa-
ralmente pelo autor e constante às gamento de NCr$ 3,80 (três cruzei-
fls. 66; ros novos e oitenta centavos), por
Considerando, mais, que das 5.277 unidade, faltando quantia em di-
sacas de café pedidas, quando ci- nheiro equivalente à cada uma das
tada judicialmente, a ré depositou sacas não restituídas;
1.769 sacas (auto de fls. 145), das 29 ) nos juros legais de 6% (seis por
quais, por serem podres e impró- cento) ao ano, sobre o total que
prias para o consumo, foram sub- vier a ser apurado em dinheiro, a
traídas 269 sacas daquelas 1.769, partir da data da citação, caso ve-
na realidade, para os efeitos de de- nha ao invés de restituir o café, a
pósito aproveitável e útil aos fins pagar o preço equivalente e arbi-
da ação, sobraram só 1.500 sacas trado como estimativa justa de in-
(laudos de fls. 172, na resposta da- denização à mercadoria não resti-
da ao quesito n 9 1; laudo de fls. tuída;
173, resposta dada ao quesito r. 9
1); 39 ) aos honorários de advogado, os
Considerando, assim, que 1.500 (sa- quais arbitro em NC$ 1.000,00 (mil
cas ), conforme auto de fls. 145, es- cruzeiros novos), o que faço aten-
tão depositadas e são restituíveis, dendo ao princípio da sucumbên-
do total reclamado de 5.277 sacas, cia e ao efetivo trahalho desenvol-
para satisfazê-lo, cumpre-lhe, ain- vido, pelo advogado do autor, nos
da, restituir mais 3.777 sacas de 60 autos;
quilos, ou ficar, em caso contrário, 4 9 ) nos honorários dos Srs. Peri-
obrigada em pagá-las ao preço uni- tos, na importância de NCr$ 250.00
tário de NCr$ 3,80, ou seja, preço (duzentos e cinqüenta cruzeiros no-
justo, desde que a desvalorização vos), para cada um; bem assim,
do café depositado (auto de f1s. condeno-a ao pagamento das custas
145) não foi total e sim de 67%, processuais. Por fim,
existindo, desta forma, um sald,.)
aproveitável de 23% (laudo de Fls. em termos, oficie-se ao MM. Dr.
172, resposta dada ao quesito n 9 4); Juiz da 2a. Vara da Fazenda PÚ-
Considerando o exame dos laudos blica, da justiça local, solicitando-
periciais presentes nos autos e tu- lhe que determine, para ficar a dis-
do o mais que do processo consta, posição deste Juízo, a transferên-
hei por bem, cia da quantia de NCr$ 8.770,00
com fundamento nas razões espo- (oito mil setecentos e setenta cru-
sadas nesta decisão, entendendo a zeiros novos), depositados, naq ue-
- 30-

le Juízo, pela ré, conforme consta a ser devolvido em moeda pelo deposi-
do auto de fls. 85 e cuja importân- tário, o dia 15 de novembro de 1965,
cia foi colocada na agência do Ban- pois, argumentou, depois dessa data
co Nacional do Paraná e Santa Ca- prosseguiu vigente por prazo indeter-
tarina S., A.,,, pIOr ordem daquele minado o contrato do depósito;
mesmo JUIZO.
b) quando considerou o valor fixado
Dessa decisão apelou apenas o Ins- em documentos nos quais se consigna-
tituto Brasileiro do Café insurgindo-~e va a pauta fixada pelo Estadc, do Para-
contra o valor atribuído pela sentença ná para cobrança de tributo e não o
à mercadoria objeto do depósito, ale- constante da certidão da Bolsa Oficial
gando que para tal se alicerçara em do- de Valores como sendo a cotação do dia
cumentos sem autenticidade, e que, de 15 de novembro de 1965.
qualquer forma, não espelhavam a rea-
lidade por indicarem valores adotados N a primeira parte o recurso não pro-
pelo Estado do Paraná para efeito de cede porque mesmo admitida a tese de-
cobrança de tributo, quando se deveria fendida pelo apelante de que o contm-
ter considerado a cotação da Bolsa Ofi- to de depósito, cujo prazo terminara a
cial de Valores. Mirmou ainda não se 12 de novembro de 1965 - (doc. de fls.
justificar a adoção da data de 15 de 9), prorrogara-se por tempo indetermi-
novembro de 1965 como aquela em que nado, o pedido feito na inicial foi de
a devolução da mercadoria deveria s-::r indenização tendo em conta o valor da
feita, pois, argumentou, sendo o contra- mercadoria no ano de 1965.
to de depósito contrato real, somente Este o pedido:
ao se operar a tradição da coisa ao de-
positante estaria extinto e, assim, se fin- "Não tendo sido satisfeito, por-
do o prazo, o depositário continuou a tanto, na reposição da mercadoria,
guardar a mercadoria, prorrogara-se por o Instituto Brasileiro do Café re-
prazo indeterminado. quer a expedição de carta precató-
ria à Comarca de Paranaguá, para
Pediu afinal que a liquidante do da- a citação da Companhia Floresta
no fosse remetida para a execução quan- de Armazéns Gerais, que naquela
do seriam apurados devidamente, le- cidade mantém domicílio à Av. Ar-
vando-se em conta conhecimentos ma- thur de Abreu n9 29, devendo a di-
rítimos e certificados de seguro, do· ligência ser cumprida na pessoa de
cumentos realmente representativos do seu Diretor Presidente, Sr. Emídio
valor da mercadoria. da Rosa Neto, ou de seu Diretor
Oferecidas contra-razões os autos vie- Superintendente, Sr. José de Aze-
ram a esta instância, tendo a Subpro- vedo Barroso, que é o substituto
curadoria pedido o provimento dos re- eventual do primeiro, para o fim
cursos. de, consoante o artigo 367 do Có-
digo de Processo Civil, serem ali en-
É o relatório.
tregues em Juízo, ou depositadas,
VOTO dentro de 48 horas, as aludidas ..
5.277 sacas de café da safra 60/61,
O Sr. Min. Armando Rollemberg (Re- remanescente dos lotes E. . ..... .
lator): Em dois pontos insurgiu-se o 095/PE. 123 e 128 - ER 3040, com-
Instituto Brasileiro do Café contra a ponentes do recibo de depósito n 9
sentença, a saber: 4/033, ou o seu equivalente em di-
a) quando adotou, como data base nheiro, que o autor estima em Cr$
para a fixação do valor da mercadoria 159.784.400 (cento e cinqüenta e
- 31-

nove milhões, setecentos e oitenta e Dou, por isso, provimento parcial 80


quatro mil e quatrocentos cruzei- recurso para determinar que se proceda
ros ), tomando por base o preço de na execução à apuração do valor pelo
Cr$ 5.300 por dez quilos, segundo qual seria adquirida, no mercado inter-
cotação da Bolsa Oficial de Valore-s no, em 12 de novembro de 1965, o tot'll
do Paraná". de sacas não devolvido pela ré, da sa-
Se a cotação do café aí apontada foi fra 61/62.
de Cr$ 5,30 por dez quilos e, para com- VOTO
prová-la, juntou certidões do ano de O Sr. Min. Decio Miranda (Revisor):
1965 (fls. 90/97), foi porque entendeu Minhas notas indicam plena concordân-
que a data final do depósito teria que cia com o voto do Sr. Ministro Relator,
ser considerada para a fixação do preço visto que o valor deve ser verificado
do café a ser indenizado. em execução, pelos motivos expostos.
Quanto ao segundo ponto da apela-
DECISÃO
ção, porém, assiste-lhe razão. A senten-
ça arrimou-se, para fixar o preço em Como consta da ata, a decisão foi a
novembro de 1965, em valores indica- s'eguinte: Deu-se provimento parcial ao
dos em despachos de exportação quan- recurso, nos termos do voto do Sr. Mi-
do, resolvendo-se a obrigação do depo- nistro Relator, por decisão unânime. Os
sitário com a devolução da mercadoria Srs. Mins. Decio Miranda e Godoy Ilha
ou o pagamento do valor pelo qual é votaram de acordo com o Sr. Ministro
adquirida, ter-se-ia que levar em conta Relator. Não compareceu por motivo
o preço pelo qual o IBC no mercado justificado o Sr. Min. Jarbas Nobre. Pre-
interno adquiriria igual quantidade de sidiu o julgamento o Sr. Min. Godoy
café. Ilha.

APELAÇÃO CÍVEL N.o 28.515 - GB


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Armando Rollemberg
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Decio Miranda
Recorrente - Juízo Federal da 2~ Vara, ex otticio
Apelantes - INPS, Arnaldo Lopes Sussekind e outros
Apelado - Lieselotte Henke Von HutschIer

EMENTA
Alienação de imóvel do ex-IAPB, na vigência do De-
creto n.o 34.828/53. O direito do segurado classificado em
concorrência pública a ver ultimada a transação, pelo pre-
ço e nas condições fixadas no edital, não podia ser preju-
dicado por procrastinação da Administração e nem pela
legislação superveniente. Inadmissível, de outro lado, anu-
lar-se a venda de um só apartamento, por isso que a lici-
tação só poderia ser anulada, toda ela, se interesse público
o justificasse. Ação popular improcedente.

Vistos, relatados e discutidos estes au- Decide a Segunda Turma do Tribu-


tos, em que são partes as acima indi- nal Federal de Recursos, preliminar-
cadas, mente, à unanimidade, negar provimen-
- 32-

to aos agravos no auto do processo for- cisão sobre a venda do imóvel. No mé-
mulados por Arnaldo Lopes Sussekind e rito, afirmou que a operação fora feita
Luciano Carvalho; julgar prejudicado o em atenção a despacho do Sr. Ministro
agravo no auto do processo peticionado do Trabalho e Previdência Social, não
por Roberto Eiras Furquim Werneck e cabendo ao IAPB senão executá-lo.
rejeitar a argüição de nulidade da sen- Acrescentou que tanto não contribuiu
tença recorrida. No mérito, dar provi- para a venda que, tendo o Conselho Di-
mento aos recursos para reformar a sen- retor do Departamento Nacional da Pre-
tença e julgar improcedentes as ações, vidência Social negado autorização para
nos termos do voto do Sr. Ministro Re- a mesma, ela, autarquia, não recorreu
lator, também por unanimidade, na for- de tal decisão, antes tendo determinado
ma do relatório e notas taquigráficas a reavaliação do imóvel, ao qual fora
procedentes, que ficam fazendo parte atribuído o valor de Cr$ 37.000,00.
integrante do presente julgado. Custas
de lei. O réu Luciano Carvalho alegou:
a) ilegitimida,de ad causam da auto-
Brasília, 19 de março de 1971. - Go- ra por ser de nacionalidade alemã e,
doy Ilha, Presidente; Armando Rollem- daí, não haver instruído a inicial com
berg, Relator. a prova da cidadania brasileira;
RELATÓRIO b) ainda ilegitimidade da autora para
propor ação popular porque, sendo lo-
o Sr. Min. Armando Rollemberg (Re- catária do imóvel vendido a ele, con-
lator): Lieselotte Henk Von Hutscheler testante, com a demanda, realmente,
propôs ação popular contra o INPS, Rô- pretendia impedir o êxito da ação de
mulo Carneiro Campello e Luciano de despejo já ajuizada e, assim, procurava
Carvalho, para anular a venda do Apar- preservar interesse particular, quando o
tamento 1004, da Av. N.S. de Copaca- exercício da ação proposta era reservado
bana n 9 664, na cidade do Rio de Ja- à defesa de interesse público.
neiro, feita pelo IAPB ao último réu, e
cuja escritura fora assinada por Rômulo c) que, no mérito, a ação era impro-
Carneiro Campello. cedente, pois a venda do apartamento
se fizera em atenção a concorrência rea-
Alegou que o imóvel referido, cujo lizada em 1960, na qual ele, contestante,
valor, em 1966, era de Cr$ 50.000,00 a fora classificado em 19 lugar, vindo a
Cr$ 60.000,00, havia sido vendido por concretizar-se anos depois em conse-
Cr$ 1.750,00, constituindo a operação, qüência de empecilhos burocráticos que
assim, ato lesivo ao patrimônio da autar- haviam sido criados. Argüiu, ainda, que
quia. a ação estava prescrita, desde que o pra-
Feitas as citações, os três réus con- zo para a propositura ter-se-ia que con-
testaram a ação. tar da data em que realizada a inscrição
para a compra do apartamento, fora-lhe
O INPS, preliminarmente, pediu fosse reconhecido o direito à mesma.
absolvido de instância por não ter sido
a inicial instruída com a prova de cida- Rômulo Carneiro Campello contestou
dania da autora, como exigido pelo art. afirmando que apenas cumprira ordens
19 , inciso In, da Lei n 9 4.717, de 1965, superiores ao firmar, pelo IAPB, a escri-
e, ainda, por não haver sido requerida tura de venda do imóvel.
a citação de litisconsortes passivos ne- Após opinar a Procuradoria da Repú-
cessários, que indicou como sendo todos blica, que manifestou interesse no pros-
aqueles que haviam participado da de- seguimento da ação, a autora pediu a
-33-

citação do Sr. Arnaldo Lopes Sussekind, crição de associados candidatos à com-


Ministro do Trabalho, que autorizara a pra de apartamentos e, embora classi-
venda, e dos Srs. Edgard Rocha Costa, ficado em 19 lugar, o réu Luciano de
José Barbosa, José Pessoa Cavalcanti e Carvalho não lograra, por dificuldades
Roberto Eiras Furquim Werneck, os que foram criadas, adquirir o apaFtamen-
dois primeiros membros do Conselho to que escolhera, embora houvesse luta-
Administrativo do IAPB e os dois últi- do por isso todo o tempo, logrando êxito
mos membros do Conselho Diretor do com o despacho proferido por ele, con-
Departamento Nacional da Previdência testante, o qual, para efetiva reparação
Social. do direito, determinara fosse a operação
Novas contestações foram então apre- efetuada pelo valor da avaliação da épo-
sentadas. ca da inscrição.
Oposta réplica pela autora, foi profe-
José Pessoa· Cavalcanti alegou que,
embora houvesse votado aprovando a rido despacho saneador que na sua par-
venda, a autorização para a mesma fora te decisória dispôs:
do órgão ao qual pertencia e, assim, não "Tantas são as preliminares com
respondia por ela. No mérito, sustentou que os réus pretendem impedir o
a correção do ato que se pretendia anu- exame do mérito, que se faz indis-
lar. pensável metodizá-las segundo um
Roberto Eiras Furquim Werneck ar- critério de prioridade para exame
güiu, preliminarmente, faltar à autora adequado.
interesse legítimo para propor ação po- I - As do IAPB ficaram preju-
pular pois, inspirada como estava em dicadas no curso ulterior do feito,
interesse pessoal, não podia utilizar a com a vinda do título eleitoral do
via processual escolhida. Ainda em pre- A. (fls. 139) e pela citação de todas
liminar, sustentou que, tendo tão-somen- as pessoas mencionadas na contes-
te presidido a reunião na qual o Conse- tação.
lho Diretor do DNPS opinara sobre a
venda, era parte ilegítima para respon- n - Reponta prioritária, por mo-
der à ação. No mérito, defendeu a lega- tivos óbvios, aquela de incompetên-
lidade e correção do ato impugnado. cia do Juízo, com que acenou o ex-
Ministro de Estado, invocando o
Arnaldo Lopes Sussekind alegou: art. 92 da Carta de 46. Esta é im-
a) incompetência do Juízo de P. ins- procedente. O foro privilegiado só
tância para processar a ação, por ter existe para o processo penal. Para
sido citado para esta em atenção a ato a ação cível não têm os Ministros
que praticara na qualidade de Ministro qualquer prerrogativa. Em se tra-
de Estado, sendo competente para julgá- tando de ação popular, segundo o
la, assim, o Egrégio Supremo Tribunal estabelecido no art. 59 da Lei núme-
Federal; ro 4.717, e consoante o preceito
constitucional do art. 119, n 9 I, com-
b) ser a autora carecedora de ação, pete à Justiça Federal de 1;:t instân-
por não dispor de condição para con- cia processar este feito. Não se co-
correr à compra do apartamento cuja gita de procedimento criminal. Se,
venda fora deliberada em 1960, época eventualmente, no curso da lide,
em que somente associado, condição que emergirem provas da infringência
não preenchia, poderia adquiri-lo. da lei penal, ou da prática de crime
e) quanto ao mérito que, em 1960, o de responsabilidade, proceder-se-á
IAPB fizera publicar editais para a ins- na forma do art. 15, da Lei n 9 4.717
- 34-

e, aí, terá oportunidade a declina- teresse econômico, uma vez que não
tória. Civilmente, o argumento res- poderia ela candidatar-se à aquisi-
ponde como um cidadão qualquer. ção do imóvel, por não possuir os
IH - Seguem-se, em ordem de requisitos exigidos.
preferência, as preliminares que en- O interesse processual de que fala
volvem os pressupostos da ação e a o art. 29 do c.P.c. não é, apenas,
legitimidade ativa. o de natureza econômica, mas, tam-
Dentre estas, prefere a de inépcia bém, o moral, e principalmente este,
da inicial, na qual o réu sustenta em hipótese como a dos autos. Cum-
que a anulação de ato administra- prindo, a mais disso, recordar que
tivo não é postulável em ação po- por disposição expressa da lei, em
pular e que esse seria o desiderafum se tratando de ação popular, a legi-
da A. timação decorre da simples cidada-
nia (Lei n 9 4.717, art. 19 e seu
De início, é mister emendar o § 39 ), sendo presumido o interesse
erro de fato contido na assertiva. O de quem prova ser eleitor.
que nesta ação se pede não é a anu-
lação de ato administrativo, mas, IV - Restam as preliminares que
declaração de nulidade de ato jurí- dizem com a legitimidade passiva
dico - compra e venda. O equívoco de alguns réus. Elas foram manifes-
do suscitante é, aliás, inconseqüente tadas pelos conselheiros do DNPS
para a decisão, mas deve ser corri- e, também, pelo contestante Rômulo
gido como homenagem ao perfeito Campello.
balizamento do debate. N o que tange às primeiras, po-
dem ser resumidas na tese de que
A ação popular é meio hábil para os votos individuais por eles pro-
declarar a nulidade, ou anular qual feridos não seriam responsabilizá-
quer ato administrativo ou jurídico. veis pela ultimação do negócio in-
O que importa não é a natureza quinado de danoso aos cofres da
do ato, mas suas conseqüências. instituição. Sustentam: o que influiu
Desde que lesivo do patrimônio de para a venda não foi o voto - sim-
pessoa jurídica de direito público, ples opinião pessoal - mas o acór-
de sociedade de economia mista, ou dão que apurou o vencido no de-
de qualquer das entidades mencio- bate em reunião, conforme se apu-
nadas no art. 19 da Lei n 9 4.717, ra de sua ata, cuja cópia vem acos-
o ato é atacável pela ação popular. tada a uma das contestações.
Não é, pois, inepta a inicial. Um deles pede mesmo a sua subs-
tituição processual pelo Conselho
Outrossim, a circunstância de ha- Diretor do DNPS, esquecido de
ver possível coincidência entre o que este não tem personalidade ju-
°
interesse privado e fim desejado rídica; não é autarquizado; integra
obter pela ação popular, não des- a estrutura administrativa do Mi-
virtua esta, nem impede o seu em- nistério do Trabalho, ao qual está
prego. subordinado como órgão da admi-
Desamparada, também, a preli- nistração centralizada.
minar do contestante Arnaldo Lo- Deslembrados estão esses argu-
pes Sussekind, aspirando seja tran- mentos de que o acórdão é a soma
cada à autora a via eleita, sob o dos pronunciamentos vencedores e
fundamento de falta de legítimo in- sem a maioria por eles composta,
-35 -

não teria sido aquela a decisão fi- res qual seja o interesse mediato
nal. do Banco Nacional da Habitação
na presente demanda; quer como
Não tem consistência, nem con- órgão normativo do Sistema Finan-
teúdo, a alegada excludente. Foi a ceiro da Habitação (art. 89 , n 9 II e
maioria composta pelos contestan- art. 17, n 9 I, da Lei n 9 4.780, de
tes que contribui para a venda im- 21-9-64), quer, principalmente, por
pugnada e, portanto, devem eles in- ser o beneficiário indireto da ven-
tegrar o litisconsórcio passivo, nos da cujo produto há de ser conver-
estritos termos do que estabelece o tido em letras imobiliárias, das
art. 69 da Lei n 9 4.717, esse texto quais é ele o emissor (art. 65, § 2 9,
é de absoluta claridade, determi- do mesmo diploma legal).
nado a citação de quantos tenham
emprestado contribuição - mesmo Dê-se, por isso, ciência desta de-
por omissão para a efetivação do manda àquela autarquia, ficando-
ato. lhe facultado, se julgar convenien-
te, nela ingressar elegendo a posi-
Entre o voto de um conselheiro ção litisconsorcial que atenda a seus
e um parecer técnico de qualquer interesses e finalidades.
servidor, só existe distinção hierár-
quica, sendo assemelháveis peran- Retifique-se a distribuição para
te o dispositivo legal aplicando. excluir Rômulo Carneiro Campello
Acolho, entretanto, a preliminar e incluir, como litisconsortes pas-
levantada pelo representante da sivos: Roberto Eiras Furquim Wer-
autarquia no ato da outorga da es- neck, José Pessôa Cavalcanti, Arnal-
critura de venda. Este deve ser ex- do Lopes Sussekind, José Barbosa
cluído do feito; sua intervenção fi- e Edgard Rocha Costa.
cou adstrita a representar o vende- Designe a Secretaria dia e hora
dor na assinatura do contrato de para conferência das fotocópias.
alienação, já decidida, em instân-
cia superior. Limitou-se a cumprir As partes são legítimas e estão
uma ordem que se afigurava, for- bem representadas, exceto quanto
malmente, legítima. Naquela opor- aos réus José Barbosa e Edgard
tunidade, não cumpria ao funcio- Rocha Costa. Citados por edital,
nário repudiar a delegação mesmo estes não contestaram.
que o ato lhe parecesse censurá- Cumpro o que ordena a alínea b,
vel, visto como a hipótese já fora, do § 19, do art. 80 do C.P.c., no-
longamente, debatida nos escalões meando-lhes curador dativo, o Dr.
superiores e culminara em decisão Lauro Coutinho Salazar, com escri-
ministerial. tório na rua Debret n 9 79 -79 an-
dar - Telefones: 32-3934 e 42-9044.
Excluo, dessarte, o réu Rômulo
Carneiro Campello da demanda. N o mais, processo em ordem, sem
Pague a A. os honorários de seu nulidades ou irregularidades a de-
advogado os quais arbitro em .... clarar, ou sanear.
NCr$ 25,00, atendendo ao que es- Reconheço o interesse de agir.
tabelece o art. 64 do c.P.c..
Defiro prova pericial para a qual
Decididas as preliminares, cum- deverão as partes formular quesitos
pre mencionar circunstâncias que e indicar peritos no prazo de 15
passou despercebida aos contado- dias.
- 36-

Pelos RR., um só louvado. "É mister resumir alguns fatos an-


Quesitos do Juízo: tecedentes da operação para melhor
método da apreciação.
19 - Qual o valor venal do apar-
tamento 1. 004 da avenida Copa- Tomando por base as contesta-
cabana n 9 664, em março de 1966 e ções apresentadas por José Pessoa
qual o seu valor atual, discriminan- Cavalcanti e Roberto Eiras Fur-
do a parte correspondente às ben- quim Werneck, e combinando-as
feitorias daquela que representa a com a documentação trazida aos au-
fração ideal do terreno? tos, tanto por estes contestantes co-
mo pelo INPS, pode se chegar ao
29 - Qual o valor histórico, mo- seguinte roteiro: em 1959 o !APB
netariamente corrigido e tecnica- decidiu por à venda alguns de seus
mente depreciado pelo tempo de apartamentos situados nos edifícios
construção, correspondente à cons- Menescal e Acácias. Inscreveram-se
trução? os candidatos e Luciano de Carva-
39 - Qual o preço da compra da lho teria sido classificado em pri-
fração ideal correspondente ao apar- meiro lugar. Alguns candidatos in-
tamento e qual a sua atualização conformados (Francisco de Paula
pelos índices de desvalorização da Gurgel Dutra e José Mendonça)
moeda, indicando os Srs. assisten- manifestaram recurso contra a clas-
tes técnicos se houve valorização sificação. Com isto retardou-se a es-
imobiliária no local? colha de apartamentos, terminando
a questão por ser submetida ao
Em igual prazo manifestem-se as Conselho da Previdência Social,
partes se pretendem produzir ou- quando o Conselheiro Cristovão
tras provas pelas quais hajam pro- Moura, tendo verificado que as ope-
testado e traga o IAPB certidão ou rações se estariam fazendo com
cópia de inteiro teor, do laudo omissão de requisito essencial, qual
mencionado às fls. 64. seja, a autorização do DNPS pre-
A seguir, abra-se vista ao M.P.F. cedida de prévio parecer do Con-
selho Fiscal da autarquia, propôs a
Cumprindo este despacho, vol- suspensão das operações sugestão
tem-me os autos conclusos." que foi recusada pelo Colégio (do-
cumentos de fls. 26/28).
Agravaram no auto do processo Ar-
naldo Lopes Sussekind, Roberto Eiras Inconformado, o Conselheiro re-
Furquim \Vemeck e Luciano Carvalho correu para o Conselho Diretor, que
para verem vitoriosas as preliminares deu provimento ao seu recurso pa-
suscitadas nas contestações e rejeitadas ra suspender a operação, por con-
pelo despacho saneador. Argúi ainda o siderar, inclusive, ilegal a forma de
primeiro agravante a nulidade do despa- concorrência levada a efeito, com
cho agravado porque publicado com de- infringência da Lei do Inquilinato
satenção ao art. 168 do Cód. de Proc. e do próprio Decreto n 9 1.222, de
Civil. Já o último recorrente insurgiu- 22-6-62, que ordenava a venda dos
se também contra a não apreciação da imóveis do Plano "B" a terceiros.
argüição de prescrição da ação.
N essa oportunidade o Conselho
Seguiu-se a prova pericial e, afinal, já considerou anulável uma futura
o MM. Juiz prolatou sentença cuja par- venda feita na modalidade preten-
te decisória passo a ler: dida pelo IAPB (vide documen-
- 37-

to de fls. 30/34). Inconformado No que pese o empenhado esfor-


com essa decisão, recorreu Lucia- ço dos ilustrados patronos dos réus,
no de Carvalho e o mesmo órgão a operação não tem fulcro legal,
opinou pelo encaminhamento do re- não tem amparo moral e nem a pro-
curso ao Ministro de Estado, com palada justificação social.
parecer pelo seu provimento (vide
docs. de fls. 37/43). Ela é aberrante, ilegal, imoral e
contrária aos fins da previdência.
Foi então o processo encaminha- A pretexto de se atender às fina-
do ao Consultor Jurídico do Minis- lidades sociais com que são adqui-
tério que, em longo parecer que se ridos ou construídos os imóveis do
estende de fls. 44 a 62, sugeriu que Plano "B", o que se está fazendo é
a questão fosse encaminhada à obrigar todos os contribuintes do
Consultoria-Geral da República, Instituto a pagar o imóvel de um
tendo em vista a edição intercorren- privilegiado.
te da Lei n 9 4.380, que estabeleceu
nova~ normas para alienação dos Não tem laivo de admissibilida-
imóveis pertencentes à Previdência de pretender-se vender, contrarian-
Social. O réu Arnaldo Lopes Sus- do expressamente o art. 65 da Lei
sekind repudiu o parecer do seu n 9 4.380, de 21 de agosto de 1964
Consultor e, reconhecendo o alega- e os Decretos n 9s 55.738, de 4-2-65,
do direito de Luciano de Carvalho, 55.955, de 20-4-65,56.527, de 30 de
mandou que se lhe vendesse, pelo junho de 1965 e 56.793, de 27-8-65,
preço de 1959, o apartamento a cuja um imóvel pertencente ao INPS,
compra se habilitara. por menos de um vigésimo do seu
valor notório e reconhecido unani-
Esta operação se viria a concre- memente.
tizar pela escritura de fls. 8/11.
O desrespeito ao dispositivo legal
A primeira questão a ser exami- é afrontoso, quando se recorda que
nada, por se tratar de preliminar de o caput do art. 65, expressamente,
mérito, é aquela levantada às fls. proibiu que as entidades de Previ-
dência Social, a partir da data da
73, pelo réu Luciano de Carvalho, lei, realizassem quaisquer negócios
envolvendo a possível prescrição do imobiliários a não ser na conformi-
direito da autora. dade dos regulamentos baixados em
decorrência de nova disciplina de
Para chegar a essa conclusão, fez alienações.
ele retrotrair a data da alienação à
abertura de concorrência, o que é O argumento de que a venda do
um evidente absurdo. imóvel em questão tivesse sido ini-
ciada anteriormente é de um prima-
Só a partir da prática do ato anu- rismo agressivo. É elementar que o
lando é que se inicia o qüinqüênio contrato de compra e venda, só pe-
prescricional estabelecido no art. 21 las arras, se considera encetado e,
da Lei n 9 4.717. mesmo assim, salvo a ocorrência de
Não há, pois, que cogitar de pres- cláusula impeditiva do arrependi-
crição. mento, pode ele ser desfeito, me-
diante a perda do sinal, ou sua de-
A questão a enfrentar, agora, é volução em dobro, conforme desis-
a da legitimidade da alienação. tente seja comprador ou vendedor.
-38 -
No caso dos autos não havia ne- vale dizer com o patrimônio dos
nhum negócio, mas uma simples segurados do IAPB.
tratativa em que Luciano de Carva- A perícia realizada nos autos cor-
vendesse o apartamento. roborou a estimativa dos técnicos
N em mesmo uma esperança de do Instituto.
direito havia em favor do candida- Os laudos não discrepam 'em re-
to, pois como já havia decidido o conhecer que, na data da venda,
DNPS, a concorrência fora irregu- o preço total pago pelo réu era su-
lar porque não precedida da auto- ficiente para pagar, somente, a va-
rização dese órgão, nem do parecer ga na garagem correspondente ao
do Conselho Fiscal do Instituto. apartamento. O próprio assistente
O imóvel foi vendido em 17-3-66, técnico do réu, embora errando nas
quando já estava em vigor o De- operações aritméticas mais elemen-
creto n 9 56.793, de 1965, que con- tares, e se contradizendo, é o pri-
solidara a matéria contida nos De- meiro a encontrar um valor supe-
cretos n 9s 55.738, de 4-2-65 e ... rior a NCr$ 25.000,00 para o apar-
55.955, de 20-4-65, regulamentando tamento na data da escritura, e is-
o art. 65 e seus parágrafos da Lei so mesmo depois de cometer toda
n 9 4.380, de 21-8-64. a sorte de enganos no cálculo. Se
O art. 29 desse Decreto fixou, de retificados esses erros do laudo
forma ofuscantemente clara, que (fls. 307), verificaremos que o va-
operações de venda só podiam ser lor proposto por esse engenheiro
efetuadas pelo é, na realidade, de NCr$ 28.600,00,
"valor atual do imóvel, determi- desde que, ao multiplicar 16x1 en-
nado através de avaliação, procedi- controu ele 26.
da de acordo com as normas baixa- As fls. 326 havia estimado a ta-
das pela Resolução 132, de 4-2-65, xa de depreciação de 1% ao ano e
do Conselho Diretor do Departa- na página imediata, ao aplicá-la
mento Nacional da Previdência So- aos 16 anos que teria o imóvel na
cial, que aprovou o Ato U ormativo data da negociação, depreciou-o de
n 9 20 e que integra o presente de- 26%, encontrando o índice arbitrá-
creto;" rio de 0,74, que na realidade é 9,84
Só a ofensa a essas disposições (multiplicador da avaliação con-
legais e regulamentárias é bastante temporânea - NCr$ 34.032,00).
para invalidar a operação, que tem O perito dos litisconsortes, embo-
contra si, ainda, insustentável as- ra procure minimizar a avaliação,
pecto moral. Nenhuma avaliação se é forçado a convir que, em março
fez; nem segundo o figurino do Ato de 1966, o apartamento valeria 20
Normativo n 9 20, adotado pela Re- vezes mais do que os irrisórios ...
solução n!? 132, nem de acordo com NCr$ 1.750,00 que por ele foi ven-
quaisquer outros critérios. Embora dido (fls. 286).
nos autos já houvesse um laudo da-
tado do ano anterior, gritando um É de notar que os valores desse
valor de NCr$ 37.000,00, foi o imó- laudo são parcimoniosos (NCr$ ..
vel transferido a Luciano de Car- 35.500,00) e a contestação do '"
valho pelo preço de NCr$ 1.750,00, IAPB já nos fala de um laudo
nessa altura meramente simbólico, anterior à venda - realizado pela
para esconder uma verdadeira doa- própria autarquia em 15 de dezem-
ção feita às custas da autarquia, bro de 1965 - arbitrando o preço
- 39-

daquela propriedade em NCr$ ... sem atualização do valor do imó-


37.000,00. vel e afastado seu atual ocupan-
Apesar de reiteradamente deter- te ... " (fls. 61).
minada pelo Juízo a vinda aos au- E isso após haver consignado no
tos de uma cópia desse laudo, o § 25 de seu longo trabalho (fls.
INPS deixou de atender à re- 56) que algumas normas legais,
comendação; nela também não in- embora com grande retardamento
sisti porque, face aos valores resul- e certa irregularidade, terminaram
tantes da perícia, isso só poderia por ser cumpridas. Duas, porém,
conduzir a um resultado ligeira- ficaram desatendidas: avaliação e
mente superior àquele a que che- preferência do inquilino.
gou o Dr. José Geraldo Pereira da
Costa, louvado do INPS, em seu É, ainda, o Dr. Marcelo Pimen-
trabalho técnico às fls. 286 e se- tel quem, analisando cuidadosa-
guintes. mente o processo administrativo,
Uma coisa é, sem dúvida, certa. põe a descoberto todas as irregu-
O valor do imóvel em 1966 era su- laridades ali praticadas, mostrando
perior a NCr$ 35.000,00 e, talvez, a eiva original de nulidade com
fosse bem superior a isto. Apesar que nasceu e malsinada concorrên-
desse valor notório e reconhecido, cia.
foi alienada a unidade ao Sr. "Lu- Desde a origem, a licitação foi
ciano de Carvalho pela irrisória irregular e não obedeceu aos re-
quantia de NCr$ 1.750,00, num ato clamos da legislação vigente à épo-
de evidente dilapidação do patri- ca, a qual é, inclusive, transcrita
mônio autárquico. Isso sem cogitar nos §§ 23 e 24 do opinamento do
do fato de ter sido a venda feita Consultor Jurídico do Ministério
contra o direito da autora que, na (Vide fls. 50/6) que em certo tre-
qualidade de ocupante que era do cho assinala:
prédio, tinha a preferência para sua "Assim, a publicação do edital de
aquisição, assegurada pelo § 89 do concorrência já foi feita em plena
art. 65 da Lei n9 4.380, cuja lo- vigência do dispositivo legal ora
cação dá prioridade aos que eram reproduzido e, portanto, com o pre-
"atuais inquilinos". sumível conhecimento dos interes-
Entretanto, essa questão não foi sados, uma vez que a ninguém é
levantada pela autora e nem pode- dado ignorar a lei, sendo de notar
ria ser objeto de ação popular, co- que a avaliação dos imóveis ofere-
mo direito personalíssimo que é. Se cidos, datando de 18-10-57, já es-
aqui o consigno é tão-só para carac- tava, a nosso ver, desatualizada, à
terizar mais uma afronta à lei, repe- época da publicação do referido
tidamente violada nessa operação edital (fev. 1960)".
ruinosa para os cofres do INPS. O mesmo parecerista chama a
Aliás, o parecerista do Ministério atenção da autoridade para a cir-
do Trabalho, também, já havia cunstância de que os preceitos vio-
alertado o titular da pasta para es- lados (art. 55 do Dec. n 9 54, de
sa ofensa ao direito individual que 12-9·34; inciso XVII do art. 22 do
resultaria de uma decisão favorá- Dec-Iei n 9 8742, de 19-1-46 e art.
vel ao então recorrente Luciano 10 do Dec. n 9 34.828, de 17-12-53)
de Carvalho, quando concluiu pela haviam sido, intercorrentemente,
impossibilidade da operação, repetidos 'e reforçados pela Lei Or-
- 40-

gamca da Previdência Social e seu o Ministro de Estado reformasse a


Regulamento (art. 89 n 9 XVIII da decisão tomada pelo colegiado.
Lei n 9 3.807, de 28-8-60 e art. 135 Quanto à mais importante exigên-
do Decreto n 9 48. 959-A, de .... cia - o preço da operação - esse
19-9-60, bem como pelos atos ulte- nem objeto de consideração foi,
riores sobre a matéria, a saber: De- apegando-se os opinantes mais às
creto n 9 52. 742, de 23-10-63; .... questões formais do que à imora-
D.G.M. 787, de 26-3-62; Decreto n 9 lidade constrangedora de uma ven-
1.222, de 22-6-62; Lei n 9 3.912, da por quantia ridícula e ilegalida-
de 3-7-61 e, finalmente, a Lei n 9 de ofuscante da avaliação revelha
4380, de 21· 8-64, que instituiu o de 10 anos, com a moeda corroída
Sistema Financeiro da Habitação pela inflação desenfreada desse pe-
criou o BNH e fixou a política
ríodo (1957 a 1966).
de habitação do Governo).
A dolorosa verdade a dizer é que,
lnteradamente, esses atos nor- mesmo os que sempre repudiaram
mativos condicionaram a alienação
essa vergonhosa dilapidação, jamais
do patrimônio das autarquias pre- tiveram a necessária coragem de
videnciárias a: apontar de frente a insustentável
a) autorização específica do doação do patrimônio público, pre-
Ministro ou do DNPS; ferindo, cômoda e timidamente, co-
b) parecer prévio dos Cbnse- locar obstáculos burocráticos no seu
lhos; caminho à espera de ver surgir al-
guém com a disposição de cumprir
c) preço correspondente ao va- o seu elementar dever, ponto co-
lor do imóvel na data da opera- bro à manobra paciente e longa-
ção. mente arquitetada contra os inte-
Com pequenas alterações redacio- resses do IAPB.
nais foram sempre exigíveis essas Esta matéria que, à primeira vis-
três condições para qualquer venda ta, poderá parecer de cunho mera-
de imóveis pertencentes aos lAPso mente ético, necessita ser objeto de
No caso do apartamento 1.004 exame porque irá desaguar naque-
do edifício Menescal, nenhuma de- la questão da solidariedade passi-
las foi respeitada na origem, e ape- va que precisa ser decidida.
nas as duas primeiras, depois de Cumpre saber qual a participa-
muitas tergiversações, negaças e ção de cada um dos réus para o
obstáculos, vieram a ser objeto de ato anulando, tendo em vista o
alguns "remendos" administrativos, conteúdo do caput do art. 69 da
feitos a posteriori, mais no sentido Lei n 9 4.717, que delimita a legiti-
de contornar do que cumprir os midade passiva na ação popular, fa-
mandamentos. zendo-a alcançar quaisquer autori-
dades, funcionários, ou administra-
O parecer foi obtido (melhor seria
dizer extorquido ao Conselho Fis- dores que hajam autorizado, apro-
cal do IAPB) por meio de co- vado, retificado ou praticado o ato
nhecida mecânica do fato consuma- impugnado, ou quantos hajam, por
do e a autorização do DNPS omissão dado oportunidade à le-
não chegou a vir, limitando-se a são.
uma opinião daquele colégio (con- O que vemos nos autos é que o
tra "8U próprio acórdão), para que Conselho Diretor do DNPS,
- 41

quando foi chamado a decidir, no verifica que o seu Conselho Dire-


exercício de suas atribuições legais, tor, ao emitir parecer pelo provi-
fêlo pela recusa de autorização mento do recurso manifestado con-
para a venda do apartamento em tra o próprio julgado, extravasou
questão, ou de quaisquer outros sua competência legal, já exaurida
" .. , do referido edifício que se pelo decurso do prazo de 30 dias
encontram nas condições do pre- dentro dos quais lhe era lícito co-
sente" (fls. 34). nhecer do recurso e reapreciar a
Essa a decisão, tomada em matéria.
10-6-64, e da qual não recorreu o É caso típico de perda de juris-
IAPB, conformando-se, portanto, dição por não cumprimento de
com a negativa. condição de tempo. O que o re-
Porém, Luciano de Carvalho re- gulamento consagra é um princí-
correu e o mesmo órgão colegiado, pio comum de direito - a deca-
quase um ano depois, invocando o dência do poder de julgar, quan-
disposto no § 29 do artigo 58 do do excedido o prazo assinado na
Regulamento do DNPS, enca- lei. Ou o órgão colegiado dentro
minhou o recurso ao Ministro, com em 30 dias reexamina a questão e
parecer contrário a seu acórdão (!), julga o recurso, ou decai de sua
conforme Resolução n 9 495/65 (fls. competência e encaminha ao Minis-
42/3). tro o processo.
O Regulamento a que se refere A Resolução 495/65 é, pois, uma
essa Resolução foi aprovado pelo superfetação inócua naquela parte
Decreto n 9 51.087, de 31-7-61, e em que decide encaminhar o ape-
assim está concebido o dispositi- lo à instância superior e uma he-
vo em questão: resia fátua na parte em que opina.
"O D N P S instruirá o recur- Remeter o recurso ao Ministro
so no prazo máximo de 30 dias, do Trabalho era imperativo regula-
com o que for indispensável, enca- mentário que se cumpriria adminis-
minhando-o, findo esse prazo, à trativamente com um simples des-
instância superior. pacho do próprio Diretor-Geral do
§ 19 - ....... omissis ....... . DNPS ou do Presidente do Con-
selho Diretor deste.
§ 29 - O DNPS poderá, no Pronunciar-se no sentido do aco-
mesmo prazo referido neste artigo, lhimento, foi uma extravagância ir-
reformar sua decisão, em face do regular, despropositada e passível
recurso apresentado; caso em que de censura ética.
deLxará este de ser encaminhado à
instância superior." O que se vê na contradição do
Conselho é um comportamento que
A instância superior (definitiva lhe não honra a firmeza e denota
e última na expressão do regula! certa felonia.
mento) referida no caput da dispo-
sição, é o Ministro do Trabalho e Quando o colegiado praticou ato
Previdência Súdal (art. 55 do De- de seu ofício, decidindo o recurso
creto n 9 51.087). do Oonselheiro Cristóvão MOUTa,
tomou a cautela de cobrir-se com
Pela leitura dessas disposições do uma decisão que, mal ou bem, se
regulamento do DNPS logo se afinasse com a lei e repudiu a ven·
-42-

da. No momento em que podiam Tem, pois, razão o Dr. advogado


os srs. conselheiros ser responsabi- dativo dos revés, quando afirma o
lizados pelo ato que praticavam, caráter opinativo do pronunciamen-
ficaram prudentemente do lado são, to do CD e sua inanidade para o
mas quando a responsabilidade já desfecho da questão administrati-
não lhes poderia ser atribuída, in- va.
sinuaram a seu superior a prática
da ilegalidade, deixando entrever A responsabilidade exclusiva da
no parecer gratuito e clandestino operação é imputável ao réu Arnal-
um arrependimento, ou confissão do Lopes Sussekind que, como Mi-
de erro na decisão revisanda. nistro de Estado, repelindo o pare-
cer técnico do seu consultor, hou-
Mas, a verdade a reconhecer - ve por bem anular a decisão final
infelizmente - é que essa condu- do Conselho Diretor do DNPS,
ta, embora censurável, não encon- consubstanciada na Resolução 590,
tra moldura na definição do art. e ordenou a venda ruinosa.
69 da Lei n 9 4.717, e sou obrigado o próprio IAPB que, a prin-
a excluir do litisconsórcio passivo cípio, colocou-se nas hostes dos que
os membros do Conselho Diretor desejavam a venda, terminou por
do DNPS. conformar-se com a decisão con-
trária do CD, e dela não recor-
o malsinado "parecer" da Resolu- reu o Presidente da Junta Int·erven-
ção 495 não é mais do que uma tora que geria os destinos da au-
simples intromissão inconseqüente tarquia quando da propositura da
para a decisão final do caso, não ação e definiu-se no sentido da pro-
se a podendo enquadrar como apro- cedência da ação, com o despacho
vação, autorização, ratificação ou exarado no ofício do dr. Procura-
prática de ato lesivo, nem como dor, às fls. 21.
atitude omissa que tenha dado
oportunidade à lesão (art. 69 da Fi"ada a legitimidade passiva ad
Lei n 9 4.717). causam, restrita ao INPS, ao
beneficiário do negócio e àquele
Não é menos verdade que o des- que o autorizou sob sua inteira e
pacho ministerial (fls. 22/3) invo- exclusiva autoridade, há que ver
cou aquele pronunciamento e até qual a conseqüência da procedên-
procurou emprestar-lhe foros de cia da ação popular.
julgamento, chamando-o de "deci- Esse ponto da questão é mais im-
são unânime" e concluiu dizendo portante para o deslinde da ação
que acolhia nos termos que se con- em apenso do que propriamente da
tinha, a "proposta" do CD-DNPS principal.
(fls. 22). Mas o fato é que, na al-
tura, só a autoridade ministerial po- O réu Luciano de Carvalho, con-
deria decidir a venda e o CD do testando a ação de consignação, de-
DNPS já havia esgotado sua atri- fende a tese de que mesmo quando
buição legal na Resolução 00- procedente a ação popular, seria
DNPS 590, de 10-6-64 (fls. 33 e ele o credor dos alugueres produ-
34), toda ela calculada no irreto- zidos pelo imóvel desde a data da
cável voto do revisor - conselheiro imissão de posse concedida pela
Furquim Werneck - que se encon- escritura até a anulação da trans-
tra às fls. 30/3,2. crição do domínio, por quanto es-
- 43-

taríamos frente a hip6tese de anu- minando a operação de nulidade ir-


labilidade e não de nulidade. reparável.
Evito entrar nessa tormentosa Como ato nulo, nenhum efeito po-
tertúlia doutrinária face às dispo- deria gerar a compra e venda de-
sições claras da lei nova. Mas for- sastrosa para a autarquia ré. A es-
çoso é consignar que a sutil distin- critura de fls. 8/11 corporifica um
ção pretendida pelo ilustrado fir- ato Írrito que está a exigir a ne-
matário daquela contestação, mes- cessária declaração de nulidade
mo quando coubesse a hermenêuti- com os seus consentâneos l6gicos.
ca das regras substantivas de nosso O primeiro corolário da decisão
direito civil (arts. 145 a 158 do é o mérito da ação, apenas. Se a
C6d. Civil) não conduziria ao re- alienação é nula, nunca operou de
sultado desejado. O art. 158 é so- direito a transferência de domínio,
larmente claro, ao dispor que mes- nem da posse, do im6vel de pro-
mo a anulação do ato jurídico res- priedade do extinto IAPB, que,
titui as partes ao status quo ante e portanto, é o credor dos alugueres,
s6 diante da impraticabilidade des- que se encontram depositados à
sa reposição é que se cogita da re- disposição deste Juízo.
paração indenizat6ria.
O réu Luciano de Carvalho lo-
No caso dos autos, estão consig- grou, no curso da ação popular,
nadas todas as prestações do ar- despejar a autora desta e obteve
rendamento e, portanto, nem há co- a posse do apartamento, consoante
gitar de restabelecimento de situa- se verifica da certidão de fls. 151
ção, visto como não chegou ela a e 152 dos autos em apenso.
se constituir no que concerne ao
pagamento, diante da providência A partir de então, passou ele a
cautelar da devedora, depositando ocupar o imóveL pertencente ao
à disposição do Juízo os alugueres. INPS, pelo que deverá indeni-
zar a essa autarquia o uso do apar-
Com a Lei n 9 4.717, pela primei- tamento, a partir de setembro de
ra vez houve uma definição tão ca- 1967, quando desalojou a locatária
suística de atos nulos (art. 29 e 49 ) do mesmo, privando o locador da
e nesse elenco a venda do aparta- receita correspondente.
mento 1.004 do edifício Menescal
se tipifica, iteradamente, tanto pe- Dada a natureza especial da ação
la forma, como pelo conteúdo: "ví- popular, e tendo em vista os princí-
cio de forma" (alínea b do art. 2), pios que a regulam, deverá o réu
"ilegalidade do objeto" (alínea c, Luciano de Carvalho restituir, des-
idem), "desvio de finalidade" (alí- de logo, ao INPS, a posse do
nea e do mesmo dispositivo) e ain- apartamento 1.004, do edifício Me-
da, "venda com desobediência a nescal (§ 49, do art. 14, da Lei n 9
normas legais e regulamentares 4717).
(alínea a do inciso V do art. 49 ),
efetuada por "preço inferior ao cor- Isto posto, julgo procedente a
ação de Consignação em Pagamento
rente no mercado, na época da ope-
ração" (alínea c, idem). de aluguéis contra o Instituto Nacio-
nal da Previdência Social - credor
Ora, não há, portanto, como he- da obrigação - e subsistente os de-
sitar diante desta convergência de p6sitos feitos, com força liberat6ria
dispositivos legais categ6ricos, ful- de pagamento, condenando os dois
- 44-

réus desta ação, solidariamente, no Condeno o segundo réu a resti-


pagamento das custas do processo e tuir ao primeiro a posse do im6ve~
dos honorários de advogado da au- para o que ordeno se expeça o com-
tora que, atendendo ao que precei- petente mandado de reintegração (§
tua o art. 64 do C.P .C. (redação 4 9 do art. 14). Solidariamente, pa-
da Lei n 9 4632, de 1965) arbitro em garão os três réus à autora as cus-
20% do total dos dep6sitos efetua- tas do processo e os honorários de
dos. seu advogado, que arbitro em 10%
do valor atribuído ao apartamento
Desta parte da sentença, que não no laudo do perito do INPS e fls.
envolve a ação popular, mas tão-s6 286, (NCr$ 60.360,00), tendo em
a ação de consignação em pagamen- vista o que dispõe o art. 64 do
to, recorro de ofício. C . P . C ., com a redação que lhe foi
Julgo, também, procedente a dada pela Lei n 9 4632, de 1965, e
Ação Popular proposta por Lieselot- art. 12 da Lei n 9 4717, de 29-6-65".
te Hanke Von Hutschler contra o Apelaram da sentença todos os réus
Instituto Nacional de Previdência condenados.
Social, Luciano de Carvalho e Ar-
naldo Lopes Sussekind, e improce- Arnaldo Lopes Sussekind sustentou em
dente pelos motivos anteriormente seu recurso:
expostos, contra José Pessoa Caval- a) nulidade da audiência de instru-
canti, Roberto Eiras Furquim Wer- ção e julgamento porque realizada sem
neck, José Barbosa e Edgar Rocha que no despacho que a designou hou-
Costa, para o fim de declarar nula vesse constado o nome dele, réu, ou de
a compra e venda feita pelo primei- seu advogado;
ro réu ao segundo, pela escritura b) incompetência do Juízo de 1'!- ins-
lavrada em 17-3-66 às fls. 88, do tância para processar e julgar ele, opo-
Livro 513 do 89 Ofício de Notas ente, que ao tempo dos fatos era Minis-
desta cidade, servindo a presente tro de Estado e, ao ser proposta a ação,
decisão, se e quando transitada em Ministro do Tribunal Superior do Tra-
julgado, como instrumento hábil balho;
para cancelamento do eventual re-
gistro imobiliário da operação. c) no mérito, reiterou as alegações
já feitas em favor da legalidade do ato
Condeno o primeiro réu a resti- atacado pela autora, invocou decisões ju-
tuir ao segundo a importância de diciais em casos idênticos e parecer da
NCr$ 1.750,00, dele recebida con- Consultoria-Geral da República. Argüiu,
forme declaração constante da escri- afinal, que o preço teria que ser consi-
tura de compra e venda. derado na data da avaliação e, se por-
ventura fora baixo, cabia a culpa ao
Condeno o segundo réu a pagar avaliador, que não havia sido chamado
ao primeiro, a título de indeniza- ao processo como devido.
ção pela ocupação do apartamento,
a partir de outubro de 1967, a quan- Luciano Carvalho argüiu:
tia que se apurar em execução - a) :nulidade da sentença porque pro-
(art. 14 da Lei n 9 4717). latada ap6s audiência de instrução e jul-
gamento para a qual não se intimara
Aos dois litisconsortes fica ressa- realmente as partes, face a não publica-
valdo o direito à eventual compen- ção dos seus nomes ou dos nomes dos
sação de seus créditos. advogados;
- 45-

b) ter sido proferida decisão extra VOTO


petita, porque determinada a restituição O Sr. Min. Armando Rollemberg (Re-
do imóvel ao INPS, quando tal provi- lator) : 1. Arnaldo Lopes Sussekind
dência não havia sido pedida; agravou no auto do processo alegando
c) ser nula a sentença, ainda, por- nulidade do despacho saneador porque:
que incompetente o seu prolator, desde a) a intimação do mesmo fora feita
que, tendo sido a ação popular distribuÍ- sem indicação do nome de todos os
da à 3ª' Vara da Fazenda Pública e, pos- advogados interessados, o que quase lhe
teriormente, à 3ª' Vara da Justiça Fe- fizera perder o prazo para agravar, obri-
deral, o MM. Juiz da 2.a Vara, ao qual gando o seu procurador a fazê-lo de afo-
fora distribuída ação de consignação em gadilho;
pagamento proposta pela autora da ação
popular contra ele, apelante, solicitou b) ser incompetente o seu prolator
que os autos desta última lhe fossem re- para proferi-lo, pois, tratando-se de ação
metidos, e deu-se por competente para em que ele, agravante, era parte e na
o julgamento respectivo, quando não ha- qual se discutia a validade de ato que
via conexão entre as duas ações, não de- praticara como Ministro do Trabalho, a
pendendo o julgamento de uma da de- competência era do Egrégio Supremo
cisão que viesse a ser proferida na ou- Tribunal Federal. Desta última Corte,
tra e inexistindo possibilidade de solu- acrescentou, seria também a competên-
ções contraditórias ou excludentes e sem cia, considerando-se a sua posição de Mi-
que as partes fossem rigorosamente as nistro do Tribunal Superior do Traba-
mesmas, pois muitos dos réus da ação lho.
popular não intervinham na ação con- Ambas as argüições não procedem.
signatória;
d) que, quanto ao mérito, assentou- Não procede a primeira, de nulidade
se a sentença em duas assertivas impro- da intimação do despacho saneador, por-
cedentes, tais sejam as de que não hou- que sanada com a apresentação tempes-
vera contrato de compra e venda em tiva do próprio agravo no auto do pro-
1960 por ausência de arras e de que a cesso.
legislação da época referida proibia a Igualmente improcedente é a últimil,
venda na forma por que fora feita, pois porque na ação popular o que se colima
as arras não constituíam elemento essen- é a anulação de ato administrativo que
cial à formação do contrato e a legisla- o agravante praticou como Ministro de
ção que invocou, toda ela de 1964 e Estado, e o privilégio de foro previsto
1965, não era aplicável à operação reali- na Constituição é restrito ao processo e
zada em 1960. julgamento de crimes comuns e de res-
Em sua apelação, o INPS sustentou a ponsabilidade, não alcançando o exame
lisura da operação realizada com o réu da legalidade de quaisquer atos dos Mi-
Luciano Carvalho, afirmando ter ela nistros de Estado.
obedecido à legislação aplicável na épo- 2. Quanto ao agravo no auto do pro-
ca em que iniciou, não havendo como cesso interposto por Roberto Eiras Fur-
invocar-se legislação posterior. quin Werneck, tenho-o por prejudicado.
Contra-arrazoadas as apelações, os au- Argüiu o agravante, ali, ser parte ilegíti-
tos vieram a este Tribunal, onde a Sub- ma na causa desde que cingira-se a pre-
procuradoria ofereceu parecer pela con- sidir reunião do Conselho Diretor do
firmação da sentença. INPS, na qual se deliberara submeter ao
É o relatório. Ministro do Trabalho o processo de ven-
- 46-

da do apartamento a Luciano Carvalho, te, quer improcedente - como con-


não havendo, portanto, praticado ato setâneo lógico da conclusão.
que o tornasse responsável pela mesma Cumpre ao Juiz evitar a prola-
venda. A sentença excluiu da ação o ção de decisões conflitantes e na
agravante acolhendo as suas razões e, as- forma do art. 133, n 9 IV, do c.P.c.,
sim, o recurso perdeu o objeto. a conexão é elemento determinador
3. Finalmente, é improcedente o da competência, mesmo quando a
agravo no auto do processo apresentado parte não oponha a exceção formal
por Luciano Carvalho. prevista no art. 182 da lei objetiva
civil.
A Lei n 9 4.717, de 29 de junho de
1965, ao regular a ação popular, dispôs É, portanto, indispensável unifi-
que qualquer cidadão seria parte legíti- car o Juízo, e para tanto cumpre
ma para pleitear a anulação ou a decla- apurar a anterioridade da citação, a
ração de nulidade de atos lesivos ao pa- fim de ser atendida a regra do inci-
trimônio público, e não excluiu aquele so I do art. 166 do C.P.c.
que tivesse interesse pessoal na anula- Traga o autor, portanto, em cinco
ção do ato, que, assim, tem legitimida- dias, certidão da juntada do manda-
de para propô-la. do citatório aos autos da ação popu-
Quando à argüição de que, alegada a lar, para saber qual a jurisdição pre-
prescrição, não fora tal alegação aprecia- venta".
da no despacho saneador, foi bem repe- Tenho como corretos os argumentos
lida pelo MM. Juiz quando declarou aduzidos e, por isso, os adoto.
que, tratando-se de preliminar de méri-
to, o momento próprio para examiná-la 4. Meu voto, assim, quanto aos
é por ocasião da sentença. agravos no auto do processo, é negando
provimento aos recursos de Arnaldo Lo-
,Improcede também a alegação feita no pes Sussekind e Luciano Carvalho e jul-
agravo no auto do processo interposto gando prejudicado o de Roberto Eiras
na ação de consignação em pagamento, Furquim Werneck.
de que o MM. Juiz seria incompetente
para processar e julgar a ação popular, 5. Passo ao exame das apelações.
por ter sido esta distribuída ao MM. Juiz Nestas, em preliminar, os recorrentes
Federal da 3ª' Vara, e não haver cone- Arnaldo Lopes Sussekind e Luciano Car-
xão com a ação de consignação em paga- valho argúem a nulidade da sentença
mento capaz de justificar a unificação do recorrida, por não haverem sido intima-
Juízo. No despacho em que avocou a dos regularmente para a audiência de
ação popular, o MM. Juiz assim justifi- instrução e julgamento, publicado que
cou a providência: foi o aviso a respeito, no Diário Oficial,
«No que tange à conexão de cau- sem a inclusão,- quer de seus nomes,
sas tem, em verdade, razão o seu quer dos nomes de seus advo~ados. Não
argüente. Não é possível deixar de indicam, porém, qual o prejUlzo que te-
ria decorrido de tal fato, o que seria
reconhecer que a sentença a ser
necessário para a declaração de nulida-
proferida na ação popular irá pre- de da sentença inadmissível como é o
julgar esta cuja característica de reconhecimento de nulidade sem pre-
processo secundário é emergente. O juízo.
credor da autora irá repontar do
aresto que decidir a outra demanda 6. Rejeito, por isso, tal preliminar.
- quer seja ela julgada proceden- Passo ao exame do mérito.
- 47-

o Consultor Jurídico do Ministério demais unidades foram notificados


do Trabalho, Dr. Marcelo Pimentel, ao de que as mesmas seriam vendidas,
oferecer parecer sobre o processo relati- preferencialmente, a segurados do
vo à venda do apartamento ao apelante IAPB (vaI. 4, fls. 53/55), e, nos
Luciano de Carvalho, fez relato da ma- dias 13 e 14 de fevereiro de 1960,
téria que me permite transcrever: se deu a publicação de um edital
de abertura de inscrições, em con-
''Pára melhor apreciação da ma-
corrência, com a citada finalidade,
téria, impõe-se ligeiro retrospecto
do caso presente. E, assim, verifi- e onde figuravam 3 (três) aparta-
mentos do edifício Menescal e 14
camos, imediatamente, que este pro-
( quatorze) do edifício das Acácias
cesso se arrasta desde 30 de agos-
to de 1957, quando a Divisão Patri- (vaI. 4, fls. 56/58).
monial Imobiliária do Departamen- O valor atribuído aos apartamen-
to de Inversões do IAPB levou tos n 9s 201, 1. 001 e 1. 004, do edifí-
ao conhecimento do Diretor do De- cio Menescal, foi de Cr$ 4.300,00,
partamento que os 5 (cinco) apar- para os dois primeiros e Cr$ .....
tamentos, de propriedade da autar- 1.750,00, para o último, isto é, o de
quia aludida, no edifício Menescal, número 1.004, escolhido pelo segu-
estavam locados em condições de rado Luciano Carvalho, classificado
baixa rentabilidade, isto é, não aten- em 19 lugar, com a faculdade de op-
diam ao disposto no § 19, do art. 37, tar por um apartamento em qual-
do Decreto n 9 34.828, de 17-12-53, quer dos dois edifícios, ainda que,
in verbis: condicionalmente, em um deles, até
a liberação da unidade efetivamen-
Art. 37 ..................... ,..
te pretendida.
§ 19 - Na locação de que trata
este artigo, será adotada, para de- Em despacho, de 10-10-60, apro-
terminação do valor locativo, a taxa vado parecer do Procurador-Geral
mínima de 109b a/a sobre o valor (fls. 81, voI. 49 ), o Presidente da
atual do imóvel". autarquia já referida determinou
Ifosse excluído da concorrência o
Em 6-7-57 (voI. 4, fls. 14), o en- apartamento n 9 1.001, do edifício
tão Presidente da instituição con- Menescal, ocupado por Leão Gon-
cordou com a medida proposta pelo dim de Oliveira, que alegou sua
Departamento de Inversões, de .... qualidade de segurado e conseqüen-
4-9-57 (vol. 4, fls. 14/15), no sen- temente o direito de preferência pa-
tido de ser feita a avaliação dos ra a compra do aludido imóvel, fi-
imóveis mencionados e autorizada cando sujeitas, apenas, às normas
sua venda, tendo sido a dita avalia- da concorrência, no edifício citado,
ção realizada em 18-10-57 (vol. 4, as unidades de n 9s 201 e 1.004, lo-
folhas 16/23), e aprovada; após pa- cadas, respectivamente, aos não se-
recer jurídico, em 19-12-58,pela pre- gurados - Joaquim Cunha e Israel
sidência (vol. 4, fls. 28) e, a seguir, Egon Sporer, que já haviam sido no-
em 15-1-59, pelo Conselho Fiscal tificados, como dissemos linhas
(voI. 4, fls. 32/33). atrás.
Estabeleceu-se prioridade a favor Em 19-10-60, dois anos depois da
dos segurados locatários, que dese- avaliação, o Presidente da entidade
jassem adquirir os apartamentos por previdenciária aprovou a classifica-
eles ocupados, e os inquilinos das ção dos concorrentes à compra dos
- 48-

mencionados apartamentos (voI. 49, vando-se, todavia, o direito de es-


folhas 86) e a Delegacia da Guana- colha no tocante às do edifício Me-
bara foi autorizada a tomar as pro- nescal (voI. 49, fls. 99/100 e vol.
vidências, que permitisse aos segu- 59, fls. 38).
rados classificados a escolha dos
apartamentos desejados, caso não Começou aí a odisséa do interes-
houvesse a interposição dos recur- sado, pois, como foi dito, apesar de
sos, que pudessem afetar seu ime- não afetarem os recursos impetra-
diato atendimento (voI. 49, fls. '" -dos sua privilegiada classificação
87/88). (1 9 lugar em ambas as concorrên-
cias ), o processo foi retido para exa-
N os dias 19 e 10 de novembro de me e julgamentos dos aludidos re-
1960, os segurados Francisco de cursos, enquanto nova legislação
Paula Gurgel Dutra e José Mendon- previdenciária sobrevinha implan-
ça interpuseram recursos, que abso- tando-se a Lei Orgânica da Previ-
lutamente não afetariam a situação dência Social (Lei n 9 3.807, de 26
do 19 classificado, pois, o primeiro de agosto de 1960) e Regulamento
recorrente protestava, unicamente, Geral da Previdência Social, apro-
contra a retirada do apartamento n 9 vado pelo Decreto n 9 48. 959-A, de
1.001, do edifício Menescal, da con- 19-9-60, como numerosas e profun-
corrência, em favor de Leão Gon- das modificações estruturais, inclu-
dim de Oliveira, e o segundo, colo- sive a criacão dos Conselhos Admi-
cado no 51 lugar, com 118 pontos, nistrativos,' empossados em dezem-
acreditava ter direito a mais 31 pon- bro de 1960, e, em 31-1-61, o início
tos, que, se computados, permiti- do governo de outro Presidente da
riam sua classificação no 129 lugar República e a substituição do Mi-
(Proc. MTPS 103.133/62, fls. 1/2 e nistro de Estado, conselheiros, dire-
3/4, voI. 59). tores, etc., que, por sua vez, 8 (oito)
meses depois, com a renúncia do
Embora a carta n9 2.054/61, da então Chefe de Estado, eram, tam-
Administração Central do IAPB, bém, substituídos, com grave pre-
dirigida à Delegacia da Guanabara, juízo da administração recém-estru
em 4-4-61 (voI. 4, fls. 100), esclare- turada, de modo que, só a 21-5-63,
cesse que "ao segurado Luciano foram apreciados os multireferidos
Carvalho, colocado em 19 lugar, em recursos (vaI. 59, fls. 60/61).
ambas as concorrências - edifício
das Acácias e edifício Menescal", Com efeito, pela Resolução n? ..
"não sendo possível liberar a alie- 565/63, de 21-5-63, o Conselho Ad-
nação daquele último edifício", po- ministrativo, que dirigia o IAPB,
deria o mesmo, se o desejasse, "es- deliberou, por unanimidade, deixar
colher apartamento no edifício das de tomar conhecimento da preten-
Acácias, condicionalmente, desde são de Francisco Paula Gurgel Du-
que prefira ele adquirir um do edi- tra, atribuir a José Mendonça, não
fício Menescal", houve por bem o 31 pontos, como pedira, mas 20,
interessado não fazer uso dessa prer- num total de 138, e, vencido o Con-
rogativa, "a fim de proporcionar selheiro Cristóvão de Moura, "con-
imediata chamada de outro segura- siderar pacífico o direito do segura-
do classificado" e apresentou, por do Luciano Carvalho no tocante à
carta, sua desistência em relação às aquisição do apartamento n 9 1.004,
unidades do edifício Acácias, reser- pelo qual optou, pelo valor de Cr$
- 49-

1.750,00 (hum milhão setecentos e 32/33), pediu, em 29 de julho de


cinqüenta mil cruzeiros), ,preço 1963, novo pronunciamento do mes-
constante do Edital de inscrição mo órgão, o que ocorreu em
(voI. 59, fls. 66). 21-9-63, confirmando os termos da
Em 4-6-63, pelo Ofício C. A.- primeira manifestação, e, a .....
522/63, o IAPB, por seu Conse- 22-10-63, o Departamento supra-
lho Administrativo, solicitou ao .... mencionado deu provimento ao re-
DNPS a indispensável autoriza- curso do Conselheiro Moura, ne-
°
ção para vender ao interessado di- gando a autorização pleiteada, pe-
la Resolução n 9 .590/64, de 10-6-64,
to apartamento n 9 1.004, ao mesmo
tempo que encaminhava recurso do ora reformada pela de n 9 495/65,
Conselheiro vencido contra a deci- de 25-5-65, submetida à apreciação
são vencedora, a qual foi reiterada, do Ministro do Estado.
na oportunidade, estando, assim, re- Deve, ainda, ser lembrado que,
digido o item 5 do mencionado ofí- nesse espaço de tempo, ocorreu a
cio: revolução de 19 de abril de 1964,
e novas modificacões se verifica-
"Quanto ao aspecto referente ao riam na administr~ção federal, in-
valor da alienação deve ser respei- clusive no que concerne às entida-
tado aquele constante dos Editais, des paraestatais, de maneira que a
princípio já consagrado inclusive nova administracão do 1APB, des-
por esse colendo Conselho Diretor conhecendo o ponto de vista de-
ao autorizar a alienação de unida- fendido pela anterior, decidiu não
des do edifício das Acácias em con- recorrer da citada Resolução n 9
dições semelhantes" (fls. 67/68, 590/64, do DNPS (volume 49, fls.
voI. 59). 92), a qual só logrou ser reforma-
Abrindo um parêntesis, convém da em virtude de recurso do pró-
ressaltar que, pelo ofício G.A. prio segurado (Proc. MTPS n 9
1. 085/61, de 10-11-61, foram enca- 103.133/62, fls. 82/87) ".
minhados ao DNPS os processos Do relato que vimos de transcrever,
B II - 315/60, acompanhado de verifica-se que a alienação dos aparta-
C-73 (49 vol.), e o PA-06-771, de mentos que o 1APB possuía no edifício
1960, sendo os dois últimos rela- das Acácias e no edifício Menescal foi
cionados, respectivamente, à alie- promovida de acordo com o Decreto n 9
nação dos apartamentos do edifÍ- 34.828, de 17 de dezembro de 1953, que
cio Menescal e à inscrição de Leão dispôs sobre as operações imobiliárias
Gondim de Oliveira (fls. 133/138), das instituições de Previdência Social,
sem que, infelizmente, tivesse ha- o qual, à época, regia a hipótese. Es-
vido qualquer pronunciamento so- tabelecia o citado diploma legal:
bre a venda pretendida, permane-
"Art. 10. As operações do Pla-
cendo os aludidos processos, até
no B compreenderão os financia-
9-7-62, em poder do CSPS, para
mentos a segurados, com finalida-
onde foram encaminhados, sob a
de de proporcionar-lhes, mediante
invocação do § 39, do art. 94, da
condições especiais, a aquisição,
Lei Orgânica da Previdência So- construção, conservação, reforma e
cial.
ampliação de imóvel para moradia
Em 4-6-63, o DNPS, apesar de própria e, bem assim, a encampa-
aprovação anterior do Conselho ção de dívida hipotecária contraÍ-
Fiscal, em 15-1-59 (voI. 49, fls. da para os mesmos fins.
- 50-

§ 1Q As instituições poderão Social, para venda dos imóveis das ins-


oferecer à venda aos respectivos se- tituições de previdência, não era dada
gurados, para moradia própria e em cada caso isolado, e sim para a rea-
mediante autorização e instruções lização das operações dos diversos pla-
especiais, imóveis de sua proprie- nos e, daí, dispor no art. 46:
dade, observada, no caso de lotes "As instituições enviarão ao De-
de terrenos, à obrigatoriedade da partamento Nacional da Previdên-
assinatura simultânea do contrato cia Social nas épocas oportunas:
de financiamento para construção
de casa. a) o plano anual de operações
imobiliárias juntamente com a pro-
§ 29 A venda a que alude o pa- posta orçamentária;
rágrafo anterior será feita pelo va-
lor atual do imóvel, à data da ope- b) relatório semestral sintético
ração. do desenvolvimento das operações
imobiliárias, acompanhado de ficha
Art. 11. As operações deste cadastral, segundo modelo pelo
plano serão promovidas por inicia- Departamento Nacional de Previ-
tivas dos segurados, mediante ins- dência Social;
crição para esse fim, periodicamen-
te autorizada, em editais públicos, c) relatório anual das operações
observados, na classificação dos efetuadas durante o exercício, dos
candidatos, critérios gerais de pre- resultados financeiros obtidos e das
ferência. normas adotadas em sua execução".
§ 19 Na fixação dos critérios ge- Considerando que o direito à compra
rais de preferência serão obrigato- do apartamento 1.004 do edifício Me-
riamente considerados os encargos nescal por Luciano Carvalho, que se
de família, além de outros requisi- classificara em 19 lugar, não foi contes-
tos que forem estabelecidos, a Juí- tado na época, tendo sido a concretiza-
zo da Instituição. ção da venda retardada em conseqüên-
§ 29 Serão classificados em rela- cia de recursos interpostos por outros
ção especial, com direito de priori- candidatos e relativos a outros aparta-
dade, os segurados ex-combatentes mentos do mesmo prédio, o exame da
e, mediante instruções do Departa- obediência das normas legais regulado-
mento Nacional de Previdência So- ras da matéria, em relação a ele, há de
cial, os que estiverem obrigados a ser feito apreciando a regularidade da
alienação em 1960, relativa às 17 uni-
desocupar, dentro de curto prazo,
o imóvel em que residirem". dades dos dois edifícios, o das Acácias
e o Menescal, e não legislação posterior,
O edital a que se refere o art. 11 foi como entendeu o MM. Juiz prolator da
publicado em fevereiro de 1960 (fls. sentença recorrida.
78) e, em outubro do mesmo ano, foi Ora, o que se verifica no processo é
aprovada a classificação dos candidatos que não foi impugnada a alienação de
que se haviam inscrito para a compra unidades promovida pelo IAPB em
dos apartamentos, ficando classificado 1960, e sim, a concretização da venda
em 19 lugar o apelante Luciano Carva- de uma delas, que se retardara por mo-
lho. tivos estranhos à vontade do associado
Do mesmo diploma legal, de outro que melhor se classificara na concorrên-
lado, se verifica que a autorização pelo cia para a aquisição respectiva, impug-
Departamento Nacional de Previdência nação de sua vez arrimada em normas
- 51-

legais que não vigoravam, na época em as repartições federais ou autar-


que se promovera a alienação conjunta quias que nela devem ter sede, pre-
das unidades. valece a situação anterior, e com-
petente é o Juízo da Fazenda do
Ao meu ver, data venia do eminen- lugar onde se acha efetivamente
te julgador de 1~ instância, que na sua sediada a repartição, embora de
passagem pela magistratura federal re- fure, devem estar nesta Capitaf'.
velou qualidades excepcionais, houve
desvio, na apreciação de matéria, do Voto - Embora não subscreva
ponto fundamental da questão, pois o o entendimento da r. sentença,
que se deveria discutir, para decidir da quando invoca o art. 1.512 do Có-
legalidade ou não do ato do Sr. Minis- digo Civil, que rege hipóteses di-
tro do Trabalho que determinou a rea- versas, julgamos, contudo, que me-
lização da venda do imóvel pelo preço lhor cabimento tem a regra do art.
fixado na concorrência realizada em 1.080, do mesmo Código, nOs ter-
1960, não era a conformidade de tal mos do qual
venda a regras posteriores àquela con- "A proposta de contrato obri-
corrência, e sim se do fato de ter sido ga o proponente, se o contrário
classificado em 19 lugar na oportunida- não resultar dos termos dela, da
de referida resultara direito adquirido natureza do negócio, ou das cir-
do associado à aquisição do imóvel, ou cunstâncias do oaso".
a obrigação, para a Administração, de N a hipótese, as circunstâncias do
efetivar a venda respectiva. caso vêm precisamente em favor do
8. Em caso absolutamente idêntico, impetrante, desde que, como de-
relativo por sinal à aquisição de apar- monstram os pareceres exarados
tamento objeto da mesma licitação da- pelos próprios serviços jurídicos do
quela de que tratam os autos, esta IAPB, as condições propostas para
Turma, em julgamento do qual foi re- a venda dos apartamentos, a um
lator o saudoso Ministro Oscar Saraiva, dos quais se candidatara o impe-
considerou assistir direito ao associado trante, haviam sido antes aprova-
à obtenção de complementação da ven- das, inclusive pelo órgão fiscal e
da, pelo preço da concorrência, decisão de controle da Previdência que é
que veio a ser confirmada, por unani- o Departamento Nacional de Pre-
midade, pelo Egrégio Supremo Tribu- vidência Social.
nal Federal. Não havia, portanto, motivo pa-
ra variar das condições estipuladas
Foi o seguinte o voto do Sr. Ministro pelos órgãos competentes, e já
Oscar Saraiva apreciando o Agravo em
,aplicadas em relação a outros se-
Mandado de Segurança n 9 39.595, da
gurados candidatos, impondo-se ao
Guanabara:
impetrante, isoladamente, condição
"Voto preliminar. A preliminar mais gravosa, tanto mais quanto
de incompetência do foro do Es- nenhuma culpa lhe cabe pelo in-
tado da Guanabara, não procede. devido retardamento da ultimação
Tem o Tribunal, por sua maioria, da transação. Pelo exposto, nego
entendimento diverso daquele que provimento aos recursos."
prevaleceu no precedente invoca- Bastaria, assim, o precedente judicial
do, e também esse é o meu ponto invocado para alicerçar decisão dife-
de vista. Enquanto não transferi- rente da proferida na 1~ instância nO
das para a nova Capital Federal, processo presente.
- 52-

9. Considero necessário, porém, te- o ato do Sr. Ministro do Trabalho à


cer outras considerações. época, assim, o apelante Arnaldo Lo-
pes Sussekind, nada mais fez que aten-
A venda de imóveis pertencentes a der o direito conseqüente da aplicação
pessoas jurídicas de direito público re- da lei.
veste-se de peculiaridades que implicam
em surgimento de direitos diversos dos 10. Esta conclusão realmente choca
conseqüentes da aceitação de oferta de à primeira vista, considerado o aspecto
venda de bem de particular. que impressionou o MM. Juiz de P ins-
tância, isto é, vir a ser vendido em
Assim, em certos casos, como ocorria 1965, por preço de 1960, portanto, mui-
com a alienação de imóveis dos Insti- to inferior ao real na época, um bem
tutos de Previdência, pelo plano B, o de uma instituição pública. A repara-
Decreto n 9 34.328, de 1953, em vigor ção para essa anomalia, porém, não po-
em 1960, quando foi feita a licitação deria correr à conta do segurado da
de que participou o apelante Luciano previdência, que viu procrastinado pe-
Carvalho, determinava a venda de imó- la Administração o atendimento do seu
veis residenciais aos segurados, median- direito, e sim por ela deveriam respon-
te licitação e por preço correspondente der os responsáveis por tal procrastina-
ao valor da época. Com isso, o legisla- ção, que eles, sim, desobedeceram a lei.
dor retirava da Administração dos Ins-
titutos a possibilidade, não somente de 11. Por essas razões, dou provimen-
venderem os imóveis a estranhos à pre- to aos recursos para reformar a senten-
vidência, mas, ainda, sujeitava-a fazê- ça e julgar improcedente a ação popu-
lo ao associado que apresentasse condi- lar e a ação de consignação em paga-
ções melhores que os demais, obedeci- mento e condenar a autora nas custas
dos critérios predeterminados, aferidos de ambos os processos e honorários de
em licitação pública. advogado de 10% sobre o valor atribuí-
do à ação popular.
De tal situação decorre que, realiza-
da tal licitação e concluída a classifi- VOTO
cação dos candidatos, aqueles em rela- O Sr. Min. Decio Miranda (Revisor):
ção aos quais não houvesse impugnação Os agravos no auto do processo não
passavam desde logo a ter direito à merecem provimento. Não cabia aten-
aquisição do apartamento, que não lhes der-se à alegada incompetência da Jus-
poderia ser negada pela administração, tiça de primeira instância, por ser de
salvo se, por motivo de interesse públi- Ministro de Estado o ato impugnado.
co, viesse a ser anulada toda a licitação. A competência privativa do Supremo
Entender-se o contrário seria admitir-se Tribunal Federal, no particular, não vai
a burla à lei que determinara a licita- além do processo e julgamento dos cri-
ção pois, realizada esta, a administra- mes comuns e de responsabilidade.
ção ficaria com arbítrio para respeitá-
la tão-somente em relação aos licitantes A restante matéria dos agravos no
de sua preferência. auto do processo ficou prejudicada, re-
solvida na sentença final.
Portanto, se o apelante Luciano Car-
valho foi classificado em 19 lugar e, Passo ao mérito.
quanto à sua posição, nenhuma impug- Trata-se de ação popular movida pe-
nação foi apresentada, surgiu-lhe da la mesma pessoa que em interesse di-
classificação o direito à compra do imó- reto e pessoal, de natureza econômica,
vel nas condições fixadas no edital. na anulação da escritura de compra e
- 53-

venda que resultou do ato administra- Ao Ministro certamente pareceram


tivo acoimado de lesivo ao patrimônio profundamente injustas a preterição e
de entidade pública. a delonga da consideração do direito do
Desde o primeiro passo, ficou visível concorrente classificado em primeiro
a natureza do interesse da autora: pro- lugar.
pôs simultâneamente ação popular pa- Em vez de, comodamente, como tan-
ra anular a escritura de compra e ven- tas vezes acontece, abrigar-se a uma das
da e ação de consignação em pagamen- alternativas da conclusão do parecer,
to para obter quitação dos aluguéis do preferiu examinar o assunto, ele pró-
mesmo apartamento. prio, jurista e dos mais acatados.
Sobe de ponto a revelação desse in- E proferiu o despacho fundamenta-
teresse com a circunstância de que, do, de 3-12-65, fls. 22/3, em que, consi-
anulada a venda, a autora, como inqui- derando anteriores manifestações admi-
lina, possivelmente passaria a titular de nistrativas sobre o caso e "a necessária
direito à compra do imóvel, consoante igualdade de tratamento entre os se-
os §§ 19 e 89 do art. 65 da Lei n 9 4.380, gurados em idênticas condições, reco-
de 21-8-64. nheceu o direito do segurado.
Ora, a ação popular é instrumento Ainda que a hipótese porventura
do cidadão, prerrogativa de natureza comportasse outra solução, como tão
política; não um mero instrumento pro- incisivamente parece à douta sentença
cessual acrescentado ao arsenal de de- apelada, é bem de ver que o ato pra-
fesa de direitos patrimoniais. ticado pelo Ministro de Estado se apre-
Entendo que a autora era carecedo- sentava razoável, desvestido de qual-
ra da ação. quer eiva de dolo ou culpa, podendo,
quando muito, inserir-se entre aqueles
Quando assim não fosse, a ação era, muitos atos da margem de erros em que
a meu ver, improcedente. só não incide o administrador excessi-
O então Ministro do Trabalho impa- vamente tímido e inoperante.
cientou-se, justamente, com a demora a Para que o ato seja anulado por via
que a administração pública submetia de ação popular, não basta a condição
o concorrente que lograra o primeiro de que, praticado por outra forma, ou
lugar na concorrência com que se ha- adotada outra solução, melhor teria si-
viam posto à venda, em princípio de do a alternativa para o Erário.
1960, pelo menos dezessete apartamen-
tos de propriedade do IAPB (fls. 78). Seria isso intolerável restrição à in~
dispensável liberdade de optar o admi-
Estava-se já em fins de 1965, e o nistrador, entre soluções plausíveis, por
douto Consultor Jurídico do Ministério aquela que melhor lhe parece confor-
ainda propunha ou a reforma da ante- mar-se aos princípios de legalidade e
rior decisão do DNPS ou nOva delonga, de justiça.
a audiência do Consultor-Geral da Re-
pública, fls. 62, sem deixar, contudo, O ato, para ser anulado, há de ser
de reconhecer "a privilegiada classifi- lesivo, não assim considerado porque,
cação" do interessado e o fato de que, praticado de outra forma, podia render
então, pelo menos 27 apartamentos ha- mais para o Erário, ou acarretar menos
viam sido vendidos a outros conCOrren- despesa, mas por importar em sacrifí-
tes, nas condições de preço constantes cio injustificado do patrimônio público,
do edital de 26 de fevereiro de 1960. derivado de dolo ou culpa.
-54-
N o caso dos autos, o ato impugnado, agora acrescido de maior valor ou de
além de razoável do ponto de vista ju- correção monetária.
rídico, atendia à regra moral, da igual- O despacho do Sr. Ministro do Tra-
dade com que a administração deve balho, Arnaldo Sussekind, se me oferece
tratar as pessoas em idênticas condi- inatacável e, principalmente, justo.
ções.
Dou provimento às apelações para
Considero, pois, improcedente a ação, julgar improcedente as ações. Estou de
se não vingar a tese de ser dela care- acordo em que os honorários advoca-
cedora a promovente. tícias sejam de 10%.
Assim, dou provimento às apelações
para julgar improcedentes as ações po- DECISÃO
pular e de consignação em pagamento,
condenando a autora nas custas e ao Como consta da ata, a decisão foi a
pagamento de honorários de advogado seguinte: Preliminarmente, à unanimi-
de 10% sobre o valor dado à causa na dade, negou-se provimento aos agravos
inicial, que se dividirá pelos réus, na no auto do processo formulados por Ar-
proporção que for apurada em exe- naldo Lopes Sussekind e Luciano Car-
cução. valho; julgou-se prejudicado o agravo
VOTO no auto do processo peticionado por Ro-
berto Eiras Furquim Wernek e rejeitou-
O Sr. Min. Jarbas Nobre: O apelante se a argüição de nulidade da sentença
Luciano Carvalho cumpriu todas as exi- recorrida. De meritis, deu-se provimen-
gências impostas à época à aquisição de to aos recursos para reformar a senten-
apartamento de entidade de previdênda ça e julgar improcedentes as ações, nos
social. Conseguiu o 19 lugar. Não rece- termos do voto do Sr. Ministro Relator.
beu a escritura definitiva por causas Decisão unânime. Os Srs. Mins. Decio
alheias à sua vontade. Seria altamente Miranda e Jarbas Nobre votaram de
injusto que o preço da alienação fosse acordo com o Sr. Min. Godoy Ilha.

APELAÇÃO CÍVEL N.o 28.530 - GB


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Moacir Catunda
Apelante - Elza Cardoso da Silva
Apelado - IPASE
EMENTA
Readaptação. Provado o desempenho ininterrupto,
por mais de dois anos de atribuições estranhas ao cargo
de que o funcionário é titular, e próprias ao que vem
exercitando, e satisfeitos os demais requisitos legais pro-
cede o pedido de readaptação. A lei posterior, que re-
gulamenta o exercício profissional de estatistico, não
se aplica às situações individuais constituídas anterior-
mente.

Vistos, relatados e discutidos estes to ao recurso para julgar procedente a


autos, em que são partes as acima in- ação, nos termos do voto do Sr. Ministro
dicadas, Relator, por unanimidade de votos, tu-
Decide a Primeira Turma do Tribu- do na forma do relatório e notas taqui-
nal Federal de Recursos dar provimen- gráficas precedentes, que ficam fazen-
- 55-

do parte integrante do presente julgado. tente, a União Federal às fls. 83,


Custas de lei. nada acrescentando aos pronuncia-
Brasília, 20 de outubro de 1971. - mentos do réu. Despacho saneadúr
Henrique d:Ávila, Presidente; Moacir às fls. 93, irrecorrido, tendo-se rea-
Catunda, Relator. lizado a audiência de instrução e
julgamento com observância das
RELATÓRIO formalidades legais, como se veri-
fica do termo de fls. 94."
o Sr. Min. Moacir Catunda (Rela- A apelante, não se conformando com
tor) : Sr. Presidente. A espécie dos
autos foi assim exposta pelo Dr. Juiz a sentença, apelou apresentando suas
a quo: razões.
"Vistos, etc. . ................ . o IPASE, às fls. 12.3/132, também
Elza Cardoso da Silva, brasilei- apresentou suas razões, tendo a União
ra, solteira, funcionária pública, re- Federal, assistente no feito, adotado A
sidente nesta cidade, propõe a pre- subscrito as razões do mesmo.
sente ação ordinária contra o Ins- N esta superior instância, o feito re-
tituto de Previdência e Assistência cebeu parecer da douta Subprocurado-
dos Servidores do Estado, objeti- ria-Geral da República, onde a mesma
vando a condenação do R. a pro- pede a confirmação da sentença.
ceder a sua readap:ação no cargo É o relatório.
de Estatístico, a partir de 20-7:65,
data do indeferimento de seu pe- VOTO
dido administrativo nesse sentjdo,
assegurando-lhe - pede - todos os O Sr. Min. Moacir Catunda (Reh-
direitos e vantagens inerentes ao tor): Conforme se apura do relatório,
cargo, além de juros de mora, ho- trata-se de ação ordinária colimando ~
norários de advogado na base de obter a condenação do réu a proceder
20% sobre o total da condenação e à readaptação da autora, cujo cargo é
custas. Instruiu a inicial com os do- de Escriturário, no de Estatístico, a par-
cumentos de fls. 8 a 14. Citado re- tir da data do indeferimento do seu pe-
gularmente, o órgão previdenciário dido na área administrativa, em 20 de
ofereceu a contestação de fls. 21 a julho de 1965. .
28, rebatendo a pretensão ao A., O argumento, acatado pela sentença,
pedindo a improcedência da ação, de que a réplica, dizendo que a ação
com as conseqüentes cominações visa ao reconhecimento do direito à re-
da lei, peça que veio acompanha- adaptação, e adoção de providências pa-
da pelos documentos de fls. 29 a ra sua efetivação, através de Decreto do
31. Replicou a A. às fls. 34 e 38, tra- Presidente da República, importou na
zendo mais os documentos de fls. alteração do pedido, não procede, dat'l
39 a 42, sobre os quais se manifes- venia, porque este ao cabo de contas
tou o réu às fls. 44 .:l 53. Foi requi- somente adquire expressão formal após
sitado o processo administrativo do a edição do ato presidencial.
qual se trasladou as peças que se
vê às fls. 65 a 69, indicadas pela A , Tratando-se de consideração feita a
tendo o R. dispensado a indicação latere, com desígnio de esclarecer a pre-
(fls. 76) . Juntos mais tarde os d0- tensão ajuizada, cujo núcleo permane-
cumentos de fls. 51/82, sobre os ceu incólume, não me parece tenha im-
mesmos se pronunciou a A. às fls. portado em modificação do que fora pe-
87 e 88. Manifestou-se como assis- dido inicialmente.
- 56-

No que se prende à alegação de ca- I - o desvio de função adveio e


rência de ação, por falta de esgotamen- subsiste por necessidade absoluta
to da instância administrativa, também do serviço.
não se mostra relevante porque o direito
positivo não impõe a restrição ao servi- U - dura, pelo menos, há dois
dor cujo interesse haja sido lesado em anos, sem interrupção.
decorrência de ato administrativo. lU - a atividade foi ou está sen-
N o caso concreto em que se alegou do exercida de modo permanente
o preenchimento dos requisitos de fato
necessários à readaptação como Esta- IV - as atribuições do cargo
tístico bem antes da Lei n 9 3.780/60 e ocupado são perfeitamente diver-
muito antes da Lei n 9 4.739/65, o pe- sas, e não, apenas, comparáveis ou
dido da autora foi indeferido em 20-7- afins, variando somente de respon-
1965, fls. 13 e 44/53, sob o fundamento sabilidade e de grau.
único de que não possui habilitação pro- V - o funcionário possui as ne-
fissional. Sendo certo que a legislação cessárias aptidões e habilitações pa-
anterior à Lei n 9 4.739/65 não previa ra o desempenho regular do novo
a exigência, entendo que o ato impug- cargo em que deva ser classifica-
nado haja caracterizado ofensa a inte- do."
resse juridicamente protegido, capaz de
ser posto logo sob o exame do Judiciá- Argumenta a apelante, pela palavra
rio, mesmo porque a ilustre instância do seu ilustre patrono, à base da prova
administrativa, reativada através de pe- documental:
dido de reconsideração se quedou inerte, "Eminente julgador: ressalta dos
de 1967 a esta parte, por motivos os docs. de fls. 12, 30, 31, 65 e 69/69v,
mais diferentes, sem condições, porém, notadamente do de fls. 69/69v, a
nenhum deles, examinado isolado ou satisfação, pela apelante, dos pres-
conjuntamente, de explicar a imolação supostos fáticos enumerados nos
do direito individual. arts. 43 e 44 da Lei n 9 3.780. Com
N o mérito, há que conferir os arts. efeito, está comprovado naquelas
43 e 44 da Lei n 9 3.780, de 1960, os peças processuais que a funcionária
quais dispõem assim: demandante desempenhou, de 1955
Art. 43. Será readaptado o fun- a 1963, ininterruptamente, atribui-
cionário que venha exercendo, inin- ções estranhas à sua série de classe
terruptamente, e por prazo superior ( escriturário) e próprias de Esta-
a 2 (dois) anos, atribuições diver- tístico (fls. 9-12, 30-31, 65 e 69) e
sas das pertinentes à classe em que que:
for enquadrado, ou haja exercido 1) o desvio de função adviera e
estas atribuições até 21 de agosto subsistira por necessidade absolu-
de 1959, por mais de 5 (cinco) ta do serviço (fls. 69);
anos ininterruptos.
Parágrafo único. Ao funcionário 2) a atividade como estatística
fica assegurado o direito de optar fora e continuava a ser exercida de
pela situação decorrente do enqua- modo permanente (IB);
dramento, dentro do prazo de 180 3) as atribuições desempenhadas
dias. no biênio do desvio são perfeita-
Art. 44. Caberá a readaptação mente diversas - e não apenas com-
quando ficar expressamente com- paráveis ou afins - das de Escritu-
provado que: rário (IB);
- 57-

4) a readaptanda comprovou pos- zão do induvidoso desempenho do car-


suir as necessárias aptidões para o go de Estatístico, de 1955 a 1963, a lei
desempenho regular do cargo de nova juridicamente não há que incidir
Estatístico, tanto que dirigira se- sobre ela, como há decidido este Tri-
ções incumbidas exclusivamente de bunal, noutros casos. E de que a admi-
assuntos ligados à Estatística (fls. nistração também se orienta nesse rit-
9-12, 30-31, 65 e 69). mo, sejam provas os pareceres da dou-
ta Consultoria-Geral da República, ver-
Quanto à prova de habilitação bis:
profissional, para o exercício do car-
go de Estatístico, não havia como "O funcionário que preencheu
exigir da readaptanda, pois, confor- as condições previstas na Lei para
me se viu, nenhuma lei prescrevia, ver consagrada sua readaptação,
em 1963, a obrigatoriedade de pos- não pode vê-la denegada pela su-
se de diploma, em tais casos. O De- perveniência de ato legal posterior,
creto n 9 4.370, de 29-11-60 - que tanto mais que o atraso na consu-
regulamentou o instituto da rea- mação daquele benefício foi cau-
daptação - é assaz elucidativo, no sado pela própria administração".
particular:
Parecer n 9 278-H, de 30-11-1965
"Artigo 13 - fls. 14).

Parágrafo único. A readaptação "Readaptação. É legítima a exi-


para a classe que, por força de lei, gência de diploma para o exercí-
exige habilitação profissional, fica- cio de cargo em que há lei ante-
rá na dependência da apresenta- rior ao desvio de atribuições, esta-
ção pelo funcionário de diplomas, belecendo esse requisito".
atestados, certificados de curso ou
outros documentos idôneos, a juízo (Parecer n 9 746-H, de 9-68 - DO
da Divisão de Seleção e Aperfeiçoa- de 11-10-1968, página n9 8916. Do-
mento do Departamento Adminis- cumento junto n 9 2)."
trativo do Serviço Público".
Por esses motivos, o meu voto é co-
Ora, se não havia lei a eXIgrr a nhecendo do recurso e dando-lhe pro-
apresentação do Diploma de Esta- vimento para, reformando a sentença.
tístico, não podia o IPASE inter- julgar o pedido de readaptação como
romper o processamento da readap- estatístico procedente, com efeitos pa-
tação da sua funcionária, apenas trimoniais à data da citação.
com a alegação de não possuir ela
tal título." DECISÃO

E não havia Lei porque a de n 9 Como consta da ata, a decisão foi a


4.739, de 15 de julho de 1965, que re- seguinte: À unanimidade, deu-se provi-
gulamentou o exercício da profissão de mento ao recurso para julgar proceden-
Estatístico, foi a primeira a impor a exi- te a ação, nos termos do voto do Sr.
gência para o exercício do cargo públi- Ministro Relator. Os Srs. Mins. Peçanha
co daquela denominação. Martins e Jorge Lafayette Guimarães
votaram com o Sr. Ministro Relator. Pre-
E como a situação da autora se cons- sidiu o julgamento o Sr. Min. Henrique
tituíra em data muito anterior, em ra- áAvila.
58 -

APELAÇÃO CíVEL N.o 28.833 - MG


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Jarbas Nobre
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Godoy Ilha
Recorrente de Ofício - Juiz Federal da 3\'0 Vara
Apelante - INPS
~elados - Espólio de Pedro José ROdrigues e outra
EMENTA
Previdência Social. Detentor de doença cardíaca gra-
ve, que o acometeu antes de se ter filiado ao INPS.
Auxílio-doença devido, visto como, nestes casos, o que
importa é a data da incapacidade laborativa, decorrente
da moléstia e de sua evolução.
Interpretação do art. M, da LOPS, que foi indevida-
mente alterado pelo Regulamento.
Direito do segurado à aposentadoria-invalidez.
Falecido que é, as vantagens pecuniárias devem ser
atribuídas aos seus beneficiários, herdeiros ou sucessores.
Recurso denegado.

Vistos, relatados e discutidos estes au- a conceder-lhe o benefício pleiteado, a


tos, em que são partes as acima indi- partir da data do requerimento, pagan-
cadas, do-lhe todas as prestações vencidas e as
Decide a Segunda Turma do Tribunal vincendas, acrescidas. das cotas relati-
Federal de Recursos, por unanimidade vas ao salário-família pelos 4 filhos me-
de votos, negar provimento, na forma nores de 14 anos que tem, abono espe-
do relatório e notas taquigráficas pre- cial (13 9 salário) e demais direitos de-
cedentes, que ficam fazendo parte inte- correntes da concessão do benefício, tu-
grante do presente julgado. Custas de do reajustado, de acordo com as alte-
lei. rações do salário-mínimo já havidas e
que vieram no curso da lide, e enquanto
Brasília, 25 de abril de 1972. - Go- durar o benefício, além do tratamento
doy Ilha, Presidente; Jarbas Nobre, Re- médico que necessita, previsto na Lei
lator. Orgânica, mais custas do processo e ho-
RELATÓRIO norários advocatícios de 15% sobre o que
se apurar em execução. O Instituto-réu
o Sr. Min. Jarbas Nobre (Relator): foi citado e contestou a ação. No curso
Pedro José Rodrigues move a presente da lide, como se vê da petição de fls. 33,
ação ordinária contra o Instituto N acio- subscrita por Claudemira Maria de J e-
naI de Previdência Social argüindo que, sus, Marta Rodrigues, Nilsa das Graças
como segurado do INPS, requerera auxí- Rodrigues, Pedro José Rodrigues Filho,
lio-doença, mas seu requerimento fora Luiz Rodrigues, Nélson da Conceição
indeferido sem maiores explicações; que, Rodrigl.j.es, Nilse de Jesus Rodrigues e
entretanto, tal indeferimento não se jus- Nilzete de Jesus Rodrigues, sabe-se que
tifica, visto como o autor estava real- o autor veio a falecer.
mente doente, estado em que ainda se
encontra, como pretende provar através Não obstante este evento, a perícia
das receitas e atestados que junta. As- médica que fora deferida pelo MM. Juiz
sim sendo, pede o autor a procedência da causa foi levada a efeito, como se vê
da ação, para o fim de condenar o réu do laudo de fls. 54 e 58, que respondeu
- 59-

aos quesitos referentes a assuntos não doença e da aposentadoria-invalidez não


relacionados com o autor, em vida. Pela é propriamente a doença. Sim, a inca-
sentença que está às fls. 67 a 74, a ação pacidadt para o trabalho, que pode re-
foi julgada procedente, tendo o INPS sultar de uma enfermidade, ou não. Des-
sido condenado a conceder ao autor o te modo, face à regra contida no § 49 ,
auxílio-doença a que tinha direito, man- item I, art. 64, da Lei Orgânica da Pre-
tido até a data do seu óbito, devido vidência Social, é irrelevante que a
aos seus sucessores habilitados, além de doença se tenha manifestado antes da
juros à taxa legal, contados da citação filiação do interessado ao regime previ-
inicial, tudo como for apurado na denciário. De lembrar-se o que está nos
execução. laudos de fls. A doença que acometeu
Houve recurso ex officio e o INPS o autor obedece a uma evolução variá-
apelou. vel, podendo ser lenta ou rápida. Mais:
Neste Tribunal, emitiu parecer a Sub- a incapacidade laborativa pode não ser
procuradoria-Geral da República que contemporânea à manifestação patológi-
pede provimento ao apelo a fim de que ca. Deste modo, ela pode surgir depois,
seja reformada a sentença da Primeira com o agravamento da moléstia.
Instância e julgada improcedente a ação. É certo que o Regulamento-Geral da
É o relatório. Previdência Social procurou, de certo
VOTO modo, restringir o alcance do disposto
O Sr. M in. Jarbas Nobre (Relator): no art. 64, da Lei Orgânica, ao substi-
O fato do autor ser detentor de doença tuir a expressão "segurado que for aco-
cardíaca grave antes de ter-se filiado metido" por "segurado que, após ingres-
ao INPS, não impedia que o mesmo pas- sar no sistema da Previdência Social, for
sasse a receber auxílio-doença. Uma dis- °
acometido". Como visto, Regulamento
tinção merece ser feita no que diz res- extravazou a Lei, restringindo o alcance
peito à hipótese dos autos. desta. Assim, a disposição regulamentar
não pode ter eficácia.
Ao que se lê no disposto no art. 64,
§ 49 , inciso I, da Lei Orgânica, a con- Todos os laudos médicos que instruem
cessão de aposentadoria por invalidez o processo são unânimes em concluir
ao segurado que for acometido de car- que o autor, enquanto vivo, estava inca-
diopatia grave, independe de carência. pacitado para o trabalho, destacando
De observar-se, ainda, que o Instituto, que essa incapacidade se manifestara em
ao cientificar o autor do indeferimento fins de novembro de 1967. Face a isto,
do pedido administrativo, fundou-se em o autor tinha direito à aposentadoria-in-
outro argumento que não o de carência, validez, ao invés de simplesmente auxÍ-
pois, como se vê do memorando de fls. lio-doença. Se vivo fosse o autor, certa-
18, dito indeferimento se fizera em vir- mente teria deferida essa aposentadoria.
tude do início de sua doença ser ante-
rior ao seu ingresso na Previdência So- Falecido que é, porém, dúvida ne-
cial. nhuma há que as vantagens pecuniárias
decorrentes do indeferimento da conces-
Como destacado na sentença, o que são dessa aposentadoria terão que ser
importa no caso não é a data do início atribuídas a seus beneficiários, herdeiros
da doença, mas sim a data da incapa- ou sucessores. Assim sendo, outro cami-
cidade laborativa decorrente da doença nho não resta tomar senão negar pro-
e de sua evolução. vimento à apelação manifesta pelo Ins-
O qUt garante ao segurado da Pre- tituto, e confirmar a sentença recorrida,
vidência Social o benefício do auxílio- em toda a integridade.
- 60-

DECISÃO unânime. Os Srs. Mins. Godoy Ilha e


Amarílio Benjamin votaram de acordo
Como consta da ata, a decisão foi a com o Sr. Ministro Relator. Presidiu o
seguinte: Negou-se provimento. Decisão julgamento o Min. Godoy Ilha.

APELAÇÃO CíVEL N.o 29.224 - SP


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Decio Miranda
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Jarbas Nobre
Recorrente - Juízo de Direito dos Feitos da Fazenda Pública da Comarca de
Santos
Apelante - INPS (IAPM)
Apelado - Raul Marinho de MesqUita
EMENTA
Previdência social. 1) A competência atribuída a
Juíz estadual, art. 125, § 3.° da ConstitUição, para as
causas que têm por objeto benefício de natureza pecuniá-
ria da previdência social, não exige a presença obriga-
tória, no feito, da União Federal como assistente da
autarqUia previdenciária, bastando a citação da própria
autarqUia. 2) Abono de permanência do segurado, ex-
combatente, ex-assalariado da Marinha Mercante, hoje
contribuinte da categoria de "trabalhador autônomo",
como Prático da Barra do Porto de Santos. Interpreta-
ção da Lei n.o 4.297, de 23-12-63, que assegura, aos ex-
combatentes, aposentadoria na previdência social após
25 anos de serviço, na base do salário integral realmente
percebido. A regra vale também para os segurados au-
tônomos, que não percebem salários, mas estipêndios de
outra natureza. Vale tanto para a aposentadoria quanto
para o abono de permanência. O estipêndio do autôno-
mo beneficiado pela Lei não está adstrito ao limite do
salário base, de que trata o art. 77 da LOPS. Mas, por
isso mesmo que não encontra limites na lei, o estipêndio
do autônomo, nesse caso, há de ficar submetido a uma
instância de prova da sua normalidade, através de in-
formações das fontes pagadoras, comparação com os ren-
dimentos declarados para efeito de imposto de renda,
e outras, a fim de que se não cometam abusos contra a
previdência social. Caso dos autos: declaração de esti-
pêndio, como "Prático de Barra", igual a mais de 45 ve-
zes o maior salário-mínimo do Pais, é mais ae 4,3 vezes
o vencimento de um Juíz Federal substituto. Remessa,
à fase da execução, da fixação do montante verdadeiro,
para as restituições ou compensações devidas.

Vistos, relatados e discutidos estes au- parte, aos recursos, na forma do relató-
tos, em que são partes as acima indi- rio e notas taquigráficas precedentes,
cadas, que ficam fazendo parte integrante do
Decide a Segunda Turma do Tribunal presente julgado. Custas de lei.
Federal e de Recursos, por unanimida-
de, repelir a preliminar de incompetên- Brasília, 27 de setembro de 1971.
cia do Juiz prolator da sentença recor- Godoy ITha, Presidente; Decio Miranda,
rida; no mérito, dar provimento, em Relator.
- 61-

RELATÓRIO Assim, considero irrelevante o não ter


O Sr. 1'.1.in. Decio Miranda (Relator): funcionado o Procurador da República,
A tese discutida nestes autos é a seguin- que, de resto, a autarquia, aciona:da, po-
te: Pode o ex-combatente, autorizado deria ter convocado em seu auxílio, sem
pela Lei n 9 4.297/63, aposentar-se na deslocar a competência.
previdência social após 25 anos de ser- Rejeito a preliminar do parecer da
viço e pela média dos salários realmente Subprocuradoria-Geral da República.
percebidos, contribuir, sem limite al- Passemos ao mérito.
gum, sobre estipêndios de trabalhador
autônomo, e sobre esses estipêndios, O autor ficou com direito a aposen-
também sem qualquer limitação, per- tadoria previdenciária aos 25 anos de
ceber abono de permanência? serviços e com provento igual ao salá-
rio integral realmente percebido, pela
Leio a petição inicial, a informação média durante os 12 meses anteriores à
do INPS de fls. 20 fine a 21, a sentença respectiva concessão, de acordo com a
de fls. 36/39, do Juiz de Direito da Co- Lei n 9 4.297, de 23-12-63.
marca de Santos, Dr. Olavo Zampol, a
apelação do INPS. Sustenta o INPS que essa regra: a)
Nesta Instância, a Subprocuradoria- não vale para segurados autônomos,
Geral da República opina pela nulidade mas apenas para os assalariados, empre-
de todo o processado, por falta de cita- gados; b) vale para a aposentadoria,
ção da União Federal, assistente obri- mas não para o abono de permanência.
gatória da autarquia previdenciária. Assim, em termos absolutos, não tem
É o relatório. razão o apelante quanto à primeira pro-
posição. Empregados, de um lado, e tra-
VOTO balhadores autônomos, de outro, são
enumerados em incisos diversos, I e IV
O Sr. Min. Decio Miranda (Relator): respectivamente, do art. 59 da Lei nú-
A ação foi ajuizada em 20-6-69 na Vara mero 3.807/60, mas, na regra sobre apo-
Privativa dos Feitos das Fazendas Públi- sentadoria, art. 3~, e na regra sobre
ras, da comarca de Santos, que, ao tem- contribuições, art. 69, são tratados na
po, já era competente para os feitos re- mesma chave, sem distinção entre uns
ferentes a benefícios previdenciários de e outros, como segurados em geral.
natureza pecuniária, art. 15, IH, da Lei
n 9 5.010, de 30-5-66. Também a segunda proposição não
tem fomento na lei. O abono de per-
De qualquer sorte, hoje seria compe- manência é direito substitutivo de qual-
tente o Juiz que proferiu a sentença, quer aposentadoria (art. 32, § 3 9 ).
nos termos do § 39 do art. 125 da Cons-
tituição, segundo a E. Constitucional Ainda sustenta o INPS que a contri-
n Q 1, de 17-10-69'. buição e o benefício do autor hão de
O mencionado dispositivo constitucio- ficar condicionados ao chamado salá-
nal não subordina a competência aí ins- rio-base, que o DNPS tem atribuição de
tituída à assistência que a União Fe- fixar para os autônomos em geral, con-
deral, nos demais casos, por dispositi- soante o art. 77.
vo de lei ordinária, deve prestar à au- Ainda nesse ponto não tem razão.
tarquia previdenciária, e que, prestada Adotar o chamado salário-base para o
a qualquer autor ou réu, faz a causa ex-combatente, hoje segurado autôno-
passar para a competência da Justiça mo, seria desatender à Lei n 9 4.297, ci-
!Federal. tada, que lhe assegura contribuição e
- 62-

benefício de aposentadoria pelo "salá- venham a perceber. Essa aposenta-


rio integral realmente percebido". doria só poderá ser concedida após
Essas proposições do INPS, sustenta- decoridos 36 meses de contribuições
das nos autos, são lastreadas, até certo sobre o salário integral.
ponto, nas Resoluções do Conselho Di- § 2Ç> Será computado, como
retor do DNPS nÇ>s 21, de 12-1-68, pu- tempo de serviço integral, para efei-
blicada no DO de 8-8-68, pág. 6.970; to de aposentadoria, o período em
e 94, de 1-3-68, esta última inspiradora que o segurado esteve convocado
da Ordem de Serviço nÇ> IPR - 201.1, para o serviço militar durante o
de 24-4-68, do Presidente do INPS, pu- conflito mundial de 1939-1945.
blicada no Boletim de Serviço nÇ> 80, de
Art. 29 O ex-combatente, apo-
26-4-68. Aquela e:xclui o abono de per-
sentado de Instituto de Aposenta-
manência; estas duas últimas conside-
ram nulas as contribuições excedentes doria e Pensões ou Caixa de Apo-
sentadoria e Pensões, terá seus pro-
do salário-base, para os autônomos, ou
excedentes do teto, para os emprega- ventos reajustados ao salário inte-
gral, na base dos salários atuais e
dores.
futuros, de idêntico cargo, classe,
Mas o INPS tem razão em não admi- função ou categoria da atividade a
tir o valor absoluto do estipêndio de- que pertencia, ou na impossibilida-
clarado pelo hoje segurado autônomo, de dessa atualização, na base dos
antigo assalariado, ex-combatente, para aumentos que seu salário integral
efeito de abono de permanência. teria, se permanecesse em ativida-
Dispõe a Lei nÇ> 4.297, de 23-12-63, de, em conseqüência de todos os
citada: dissídios coletivos ou acordos entre
empregados e empregadores pos-
"Art. 1Ç> Será concedida, após teriores à sua aposentadoria. Tal
25 anos de serviço, a aposentado- reajuste também se dará todas as
ria sob a forma de renda mensal vezes que ocorrerem aumentos sa-
vitalícia, igual à média do salário lariais, conseqüentes a dissídios co-
integral realmente percebido, du- letivos ou a acordos entre empre-
rante os 12 meses anteriores à res- gados e empregadores, que pode-
pectiva concessão, ao segurado ex- riam beneficiar ao segurado se em
combatente de qualquer Instituto atividade."
de Aposentadoria e Pensões ou Cai-
xa de Aposentadoria, com qualquer Da conjunção desses dispositivos vê-
idade, que tenha servido, como se que na aposentadoria o reajustamen-
convocado ou não, no teatro de ope- to dos estipêndios se faz na base dos
rações da Itália no período de 1944 salários que o aposentado perceberia,
à 1945, ou que tenha integrado a se estivesse em atividade.
Força Aérea Brasileira ou a Mari- Isso introduz um critério de norma-
nha de Guerra ou a Marinha Mer- lidade, que não há de faltar tanto para
cante, e tendo nestas últimas par- o abono de permanência quanto para o
ticipado de comboios e patrulha- segurado autônomo.
mento.
§ 1Ç> Os segurados, ex-comba- Ora, no caso dos autos estamos longe
tentes, que desejarem beneficiar~se da normalidade.
dessa aposentadoria, deverão reque- Há indício, veemente, de que o se-
rê-la, para contribuírem até o limi- gurado exagera seus ganhos como "Prá-
te do salário que perceberem e que tico da Barra", e, se assim for, a ma-
-63-

nutenção da sentença importará em en- nesse caso: o pedido de informações às


riquecimento ilícito, em detrimento da fontes pagadoras, à repartição do im-
previdência social. posto de renda, à repartição municipal
Vejamos. que arrecada imposto sobre serviços, o
depoimento de pessoas conhecedoras
Declara ele que no mês de abril de das atividades do Porto, etc.
1969 percebeu estipêndios, como "Práti-
co da Barra", no montante de ....... . Assim, dou provimento, em parte, à
NCr$ 6.058,58, fls. 24. apelação do INPS para mandar que em
execução se apure o real montante dos
Isso seria, não 10 salário-mínimos, co- ganhos mensais do autor, desde quando
mo estabelece a lei para os segurados passou a contribuir como autônomo, ser-
em geral, mas 46 vezes tanto o maior vindo essa apuração para limite das con-
salário-mínimo vigente no país, que en- tribuições e dos benefícios, e, ainda,
tão era de NCr$ 129,60! para eventual restituição ou compensa-
Seria mais 4,3 vezes o vencimento de ção de contribuições e prestações efe-
um Juiz Federal substituto, então de tuadas a maior.
NCr$ 1.400,00. É o meu voto.
Com esse estipêndio que me parece DECISÃO
superestimado para efeitos previdenciá-
rios, o autor conseguiria, pagando 8% de Como consta da ata, a decisão foi a
contribuição mensal, ou seja, ....... . seguinte: Repelida a preliminar de in-
NCr$ 484,53, obter NCr$ 1.514,63 de competência do Juiz prolator da sen-
abono de permanência, mensalmente. tença recorrida; de meritis, deu-se pro-
vimento, em parte, aos recursos, nos
Na mesma época, a aposentadoria termos do voto do Sr. Ministro Rela-
máxima da previdência social seria de tor. Decisão unânime. Os Srs. Mins. Jar-
NCr$ 1.296,00. bas Nobre e Godoy Ilha votaram com o
Haverá meios seguros para verificar Sr. Ministro Relator. Presidiu o julga-
a veracidade da declaração de salário, mento o Sr. Min. Godoy Ilha.

APELAÇÃO CÍVEL N.o 29.269 - GB


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Decio Miranda
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Jarbas Nobre
Apelante - Thibaud Gibbs & Cia.
Apelada - Carlos Pereira Indústrias Químli.cas S.A
EMENTA
Propriedade industrial. Marca de indústria e co-
mércio. Marcas "Gibbs" e "Gibi", para artigos de per-
fumaria e toucador. Ainda colocando-se o examinador
na posição do consumidor ingênuo ou despreocupado, o
cotejo não revela colidência das marcas, bem distintos
os caracteres gráficos e fônicos de uma e outra.

Vistos, relatados e discutidos estes Decide a Segunda Turma do Tribu-


autos, em que são partes as acima indi- nal Federal de Recursos, por unanimi-
cadas, dade, negar provimento, na forma do
- 64-

relat6rioe notas taquigráficas preceden- ponente indissociável a expressão


tes, que ficam fazendo parte integrante indústria brasileira, que a acompa-
do presente julgado. Custas de lei. nha.
Brasília, 3 de setembro de 1971. Aliás, a autora não cogita da pos-
Godoy Ilha, Presidente; Decio Miranda, sível semelhança gráfica das mar-
Relator. cas, parecendo haver implicitamen-
RELATÓRIO te admitido não haver colisão sob
O Sr. Min. Decio Míranda (Relator): esse aspeto. Onde ela insiste é na
Thibaud Gibbs & Cia., sociedade anôni- homofonia entre as duas palavras,
ma francesa, proprietária da marca asseverando soar a sua marca co-
"Gibbs", da classe 48, artigos de perfu- mo se fosse o plural da palavra
maria e toucador, inclusive sabões per- adotada pela ré.
fumados, move a Carlos Pereira Indús- O seu empenhado esforço está
trias Químicas S.A., sociedade anônima em convencer da s'imilitude dos
brasileira, ação anulat6ria da marca sons.
"Gibi", destinada a distinguir produtos Diz ser "Gibis" (plural de Gibi)
da mesma classe. a pronuncia correta de "Gibbs", en-
A sentença, do Juiz Federal Dr. Re- quanto a ré sustenta que a marca
nato de Amaral Machado, depois de da autora soaria "Guibs". Ao que
anotar os sucessos que trouxeram esta replica a autora que a letra "g"
causa ao Tribunal como Apelação Cível na língua francesa tem o mesmo va-
n 9 20.103, julgou improcedente a ação, lor do que na nossa, portanto s6
nestes termos: quando seguida de "u" é que ad-
quiriria o som de "gue". Procura
"Cinge-se a questão a apurar a argumentar que sem o "u", s6 nas
alegada colidência entre marcas re- línguas germânicas o "g" soa da-
gistradas para distinguir produtos quela forma.
da mesma classe.
Poderá parecer pretencioso dis-
A homomorfia entre palavras po- cutir a pronuncia do nome pr6prio
de ser gráfica ou fônica, conforme com o seu titular. "Gibbs" é pa-
sejam elas homônimas hom6grafas, tronímico do titular ou fundador da
ou homônimas hom6fonas. empresa. Poder-se-á, pois, dizer que
No caso pode afastar-se, desde ninguém melhor do que a autora
logo, a indagação referente à ho- saberia como pronunciar este nome.
mografia, certo não haver como con- Entretanto, a explicação não con-
fundir "Gibbs" com "Gibi", mesmo vence. Deve-se consignar desde lo-
porque em se tratando de marcas é go que, embora sendo francesa a
importante, para distingui-las, a firma e mesmo que francês tenha
apresentação gráfica peculiar que nascido o Sr. Thibaud, seu sobre-
ostentam. N esse ponto, qualquer nome não é dessa origem. Bem mais
das duas feições gráficas que toma provavelmente, é saxônico. É pos-
o nome adotado pela autora como sível que tenha afrancesado a sua
sua marca de comércio, é muito pronuncia e todos sabemos o quan-
peculiar e elaborado (fls. 19 e 22), to é, no particular, displicente o
contrastando com a despretenciosa francês para com a pronuncia das
apresentação daquela registrada outras línguas, pronunciando qual-
pela ré, mesmo sem indagar se nes- quer uma segundo as suas regras
ta marca se integraria como com- de fonética.
- 65-

Isto poderia levar a admitir-se a do processo e nos honorários de


pronuncia "gibbs", mas nunca "gi- advogado que arbitro em NCr$ ..
bis" e isto porque tendo uma só 100,00, considerando as circunstân-
vogal a palavra não pode ser oxíto- cias a ponderar nessa fixação, inclu-
na. Em qualquer língua ela há de sive a obsolescência do valor atri-
ser átona, não pode haver preva- buído à causa no remoto ano de
lência de sílabas onde só uma exis- 1963 (art.64 do C.P.c.) com a re-
te. dação da Lei n 9 4.632."
A autora quer fazer um dissílabo (Fls. 106/109).
com uma só vogal o que importaria
em atribuir valor tônico a uma con- Apelou a autora, alegando: a) não ob-
soante, o que aberra a qualquer servou a sentença a regra capital do exa-
prosódia, francesa, portuguesa ou me de colidência de marcas, segundo a
de qualquer língua. qual deve o Juiz colocar-se na posição
Tanto faz que se atribua ao "g" o do consumidor; b) o consumidor médio
som lingual-palatal, equivalente ao no Brasil, não versado em gramática,
"j", ou som gutural de a - o - u, pronuncia a palavra "Gibbs" à sua ma-
a palavra "Gibbs" há de ser sempre neira, isto é, como "Gibis", transforman-
átona, "gibbs" ou "guibss", e nunca do a palavra "Gibbs" em dissílaba; c)
oxítona, "gibis" ou "guibis". recomendam os autores, como Clovis
Só por um esforço deformativo, Costa Rodrigues, Breuer Moreno, Ga-
mas inteiramente artificial, é que ma Cerqueira, além de colocar-se o exa-
se poderia pronunciar o nome da minador no lugar do comprador, levar
autora como pretende ela. em conta a natureza do produto; d) tem
assentado a jurisprudência que, para
Dessarte, se o grafismo difere, a
apreciar confusão entre marcas, se de-
sonoridade não se confunde e a con-
ve ter em conta a ingenuidade dos com-
formação das marcas não se asse-
pradores ou o consumidor despreocupa-
melha, não há porque admitir a pos-
do; e) trata-se, no caso, de produtos que
sibilidade de engano do comprador
estão ao alcance de qualquer compra-
frente aos produtos de fabricação
dor, em farmácias, drogarias, perfuma-
das litigantes.
rias.
Finalmente, cumpre não esquecer,
que o fato de já existir a marca da A Subprocuradoria-GeraI da Repúbli-
ré desde 1958 sem até hoje a autora ca oficia pelo não provimento.
se tenha sentido molestada ou seu É o relatório.
comércio pela possível concorrência
VOTO
- pelo menos nenhu!ma providência
concreta parece haver tomado além O Sr. Min. Decio Miranda (Relator):
da propositura desta ação - é prova No aportuguesamento, ou melhor, no
ancilar, na inocorrência de conflito abrasileiramento popular de nomes es-
comercial. trangeiros, não ocorre, ou pelo menOs
Não se caracteriza, pois, ofensa não nos lembramos de hipótese em que
ao direito imaterial de 'Thibaud tenha ocorrido a transmudação da síla-
Gibbs e Cia.", protegido pelos regis- ba em que recai a acentuação tônica.
tros n9 s 201.038 e 257.219, com a Essa singularidade, se ocOrresse em
outorga do registro 212.541 a Car- relação à palavra "Gibbs", alegada pe-
los Pereira Indústrias Químicas S.A .. la autora-apelante, carecia de ser de-
Isto posto, julgo improcedente a monstrada por meio da prova idônea,
ação e condeno a autora nas custas que não foi trazida aos autos.
-66-

A sentença não desconsiderou, no co- DECISÃO


tejo das duas marcas, as regras reco-
mendadas pela doutrina e pela juris- Como consta da ata, a decisão foi a
prudência, a que se refere a apelante. seguinte: Negou-se provimento, unani-
E desse cotejo, feito com muita acui- memente. Os Srs. Mins. Jarbas Nobre e
dade, resultou para o Dr. Juiz, como
resulta para mim, a certeza da não coli- Godoy Ilha votaram com o Sr. Ministro
dência das duas marcas. Relator. Presidiu o julgamento o Sr. Min.
Nego provimento. Godoy Ilha.

APELAÇÃO CÍVEL N.o 29.416 - GB


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Decio Miranda
Revisor - O Ex.mo Min. Jarbas Nobre
Recorrente - Juízo Federal da 2<' Vara, ex offício
Apelantes - Ivan D'Albuquerque Câmara e outros e União Federal
.Alpelados - Os mesmos
EMENTA
Militares. Oficiais transferidos para a reserva re-
munerada. Gratificação de "abono militar". Substituída
pela Lei n.O 4.328, de 30-4-64. Não há ofensa ao direito
adquirido quando a lei nova, com propósito simplifica-
dor, substitui certas prestações por uma outra, embora
de maior generalidade, com visível proveito do titular
daquelas.

Vistos, relatados e discutidos estes 69 e segs. da Lei n 9 1.316, de 20-1-51,


autos, em que são partes as acima indi- que havia sido incorporado aos proven-
cadas, tos da inatividade e que deixou de ser
Decide a Segunda Turma do Tribunal satisfeito pela Administração sob o fun-
Federal de Recursos, por unanimidade, damento de que a citada vantagem foi
dar provimento aos recursos de ofício e extinta pelo novo Código de Venc~en­
da ré, para julgar improcedente a ação tos e Vantagens dos Militares (Lei n 9
'8, prejudicada a apelação dos autores,
4.328, de 30-4-64).
na forma do relatório e notas taquigrá- A sentença do Juiz Federal Dr. Rena-
ficas precedentes, que ficam fazendo to de Amaral Machado, entende que a
parte integrante do presente julgailo. nova "Gratificação Militar de Catego-
Custas de lei. ria A" deve ser deduzida a anterior, con-
Brasília, 14 de de maio de 1971. - sistente no "Abono Militar", já intocável
Godoy Ilha, Presidente; Decio Miranda, pelo direito adquirido, mas nunca supri-
Relator. mida esta, a pretexto de se pagar outra,
RELATÓRIO mesmo que maior.
O Sr. Min. Decio Miranda (Relator): Dentro desse entendimento, julgou a
Os autores, oficiais superiores da reser- ação "procedente, mas, tão-só, para o
va remunerada do Exército, propõem fim de condenar a ré a restabelecer o
ação contra a União Federal para obter pagamento das vantagens já incorpora-
o restabelecimento do pagamento do das aos proventos dos autores, sem pre-
"abono militar" de que tratam os arts. juízo da sua compensação na gratifica-
- 67-

ção de função militar de categoria "A" a VOTO


que, por ventura, tenham direito". O Sr. Min. Decio Miranda (Relator).
Apelaram os autores (lê fls. 67/9). Ao princípio de que os proventos da
Apelou a União (lê fls. 71). inatividade se regulam pela lei vigente
Nesta Instância, a Subpocuradoria-Ge- ao tempo da aposentadoria ou da refor-
ral da República opina pela improcedên- ma corresponde, em contrapartida, o do
cia da ação, em parecer do Procurador direito adquirido às parcelas que com-
Dr. Cícero Fernandes, do qual extraímos põem aqueles proventos.
os seguintes trechos: A alterabilidade dessas parcelas é
2. "Ora, é hoje princípio assente constitucionalmente prevista numa dada
em doutrina e jurisprudência que o circunstância: quando, por motivo de
funcionário público, civil ou militar, alteração do poder aquisitivo da moeda,
não tem adquirido à permanência se modificarem os vencimentos da ativi-
de determinadas vantagens. O seu dade (Constituição 1969 arts. 93 § 89
direito está vinculado aos efeitos da e 102 § 19 ).
norma jurídica em vigor e, se ela so- Mas, na Lei n 9 4.328, de 30-4-64, com
fre revogação, extingue-se o direito propósito simplificador, praticou-se re-
por ela conferido, em face da res- formulação integral do complexo siste-
pectiva subordinação às modifica- ma de estipêndios militares.
ções do estatuto legal. E, para beneficiar os inativos em fór-
6. De mais a mais, é preciso mula mais generosa que aquela da Cons-
notar que os AA. não sofreram qual- tituição (art. 193 da então vigente), es-
quer prejuízo com as modificações tendeu-se-lhes a Gratificação de Fun-
introduzidas pela citada Lei n 9 ção Militar de Categoria A, de 100%, cria-
4.328/64, mas, ao contrário tiveram da no art. 18, muito superior à soma
considerável aumento na importân- das várias gratificações antes recebidas,
cia global de seus estipêndios, como e cujo pressuposto básico é a unifica-
mostram os autos e já é conhecido ção das vantagens previstas na legisla-
desse E. Tribunal, através de ques- ção anterior.
tões em lugar das vantagens supri-
midas (20 e 30%) obtiveram outra Aboliram-se, conseqüentemente, todas
de maior valor, a gratificação de as antigas vantagens, gratificações, adi-
função militar (100%). cionais, acréscimos, complementos, re-
vogadas as disposições legais pertinen-
7. Assinale-se, por último, que tes (arts. 192 e 193).
o único argumento da demanda,
em que se faz forte a v. sentença de Em tal situação nova, não há que in-
19 grau, é o de se tratar de vanta- vocar a garantia do direito adquirido a
gens "incorporáveis" aos proventos. prestações que não foram suprimidas
Trata-se, como se vê, de argumen- com detrimento do inativo, mas, ao
to que beneficiaria apenas aos inati- contrário, substituídas com proveito no-
vos, sendo esta, aliás, a razão por tório e substancial.
somente eles se insurgem contra a Note-se que, recentemente, ainda se
extinção das aludidas vantagens. acrescentou, aos proventos dos inativos,
Daí que, atendidos em sua preten- definidos na Lei n 9 4.328/64, o "adi-
são, passariam a perceber mais que cional de inatividade" do Decreto-lei n 9
seus colegas de igual posto da ati- 434, de 23-1-69.
va" (fls. 82/84). Dir-se-á que as gratificações suprimi-
É o relatório. das eram específicas, correspondentes a
- 68-

determinadas situações da vida do mili- prestações anteriores, mas mandando


tar em atividade, e a atual, que as subs- compensá-las na atribuição da nova gra-
titui, é genérica, concedida com abstra- tificação, chega na prática, a resultado
ção daquelas situações. equivalente ao da improcedência da
Essa circunstância terá representado ação.
um benefício adicional para quem não Penso, data venia, chegar diretamente
exibisse aquelas condições, mas não um a esse resultado.
prejuízo para quem as tenha demons-
Pelo exposto, dou provimento à ape-
trado, ao tempo de sua reforma. Pode-
lação da União, e considero prejudicada
riam queixar-se de ofensa ao direito ad-
a apelação dos autores.
quirido os autores, se a nova lei tivesse
mandado estender a todos os inativos a DECISÃO
sua gratificação de "abono militar"?
Como consta da ata, a decisão foi a
Em suma, não há ofensa ao direito ad- seguinte: Deu-se provimento aos re-
quirido quando a lei nova, com propósi- cursos de ofício e da ré para julgar im-
to simplificador, substitui certas presta- procedente a ação e, prejudicada a ape-
ções por uma outra, embora de maior lação dos autores. Decisão unânime. Os
generalidade, com visível proveito do ti- Srs. Mins. Jarbas Nobre e Godoy Ilha
tular. votaram de acordo com o Sr. Ministro
A douta sentença apelada, dando ênfa- RelatoT. Presidiu o julgamento o Sl1.
se ao que considera direito adquirido às Min. Godoy Ilha.

APELAÇÃO CíVEL N.o 29.574 MG


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Annando Rollemberg
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Decio Miranda
Apelantes - João Milton Henrique e s/mulher
Apelada - Caixa Econômica Federal de Minas Gerais
EMENTA
Caixa Econômica Federal. Contrato de mútuo. Dé-
bito subordinado a termo incerto; hipótese em que se
torna exeqüível.

Vistos, relatados e discutidos estes RELATÓRIO


autos, em que são partes as acima in- O Sr. Min. Armando Rollemberg (Re-
dicadas, lator): A sentença, em seu relatório, dá
Decide a Segunda Turma do Tribu- exata notícia da divergência posta n05
nal Federal de Recursos, por unanimi- autos, pela forma seguinte:
dade, negar provimento, na forma do
"A Caixa Econômica Federal de
relatório e notas taquigráficas,\ prece-
Minas Gerais propõe a presente
dentes, que ficam fazendo parte inte-
ação executiva hipotecária contra o
grante do presente julgado. Custas de
Dr. João Milton Henrique e sua
lei.
mulher, qualificados na inicial, com
Brasília, 31 de maio de 1971. - Go- a finalidade de cobrar dos mesmos
doy Ilha, Presidente; Armando Rollem- a dívida, no valor de NCr$ 591,32
berg, Relator. (quinhentos e noventa e um cru-
- 69-

zeiros novos e trinta e dois centa- bem como de que tenha a exeqüen-
vos) , compreendendo o principal, te promovido o pagamento total
juros compensatórios e moratórios das parcelas de financiamento; o
vencidos, seguros e multa contra- título exeqüendo nada prova nesse
tual, acrescida de juros vincendos sentido e nenhuma documentação
e consectários de direito, com fun- há que demonstre os elementos ou
damento no item V do art. 298 do pressupostos mínimos do pedido; o
cpc. contrato respectivo não foi ajusta-
do pura e simplesmente, pois con-
2. Consoante a inicial, através tém um termo a quo, para início
de escritura pública de re-ratifica- da exigibilidade das prestações vin-
ção de consentimento de hipótese, cendas - a entrega total da quan-
para financiamento de construção tia mutuada, junto a uma condição
do "Conjunto Kubitscheck", nesta suspensiva, evento futuro e incer-
Capital, lavrada no livro de notas
to, dada a sua natureza de ato pú-
171 do Tabelião Everardo Vieira,
em 10-3-58, às fls. 1/96v., regular- blico, estranho a vontade das par-
mente inscrita, conforme documen- tes, constante da baixa da constru-
to anexo, a exeqüente tornou-se ção, fornecida pela Prefeitura Mu-
credora dos executados da quantia nicipal não poderia a exeqüente
emprestada de NCr$ 230,00 (du- entregar a quantia mutuada, na sua
zentos e trinta cruzeiros novos), sob parcela. final, antes da baixa da
garantia do apartamento 3422, Blo- construção; ao mesmo tempo, o dia
co B, do referido conjunto; pela da entrega funciona como termo
escritura mencionada, os suplicados inicial para o exercício do direito
autorizaram expressamente à supli- da exeqüente, e como condição sus-
Icante a promover "o depósito da pensiva este termo incerto (incer-
quantia mutuada, em conta de de- tus quando) dependia necessaria-
pósitos vinculados, no Banco Mi- mente de outro acontecimento fu-
neiro da Produção S.A., de confor- turo e incerto, condicionado o ato
midade com as autorizações do De- do Poder Público; sob o primeiro
partamento de Engenharia da cre- aspecto, a obrigação existe, mas
dora, à disposição e em favor do ainda inexigível, sob o segundo, o
Incorporador; promovido o paga- o direito não existe, não foi adqui-
mento das parcelas de financia- rido, configurando-se a situação co-
mento, com integralização total da mo simples spes debitum iri; sob
quantia mutuada, em 7-11-62, es- qualquer dos ângulos, a ação é in-
tão os suplicados em débito para viável, carecendo a exeqüente do
com a suplicante, desde 7-12-62, direito respectivo; ainda que de-
no montante e desdobramentos monstrado ficasse ter a exeqüente
discriminados às fls. 3, decorrendo pago a incorporadora, ficariam a
daí a presente ação. seu ônus os prejuízos decorrentes
do pagamento prematuro; paga-
3. Após citação e penhora mento antecipado é mera liberali-
( 10/3v.), os executados contesta- dade do exeqüente, sem responsa-
ram a ação, argüindo a inexistên- bilidade para os exeqüentes; se
cia nos autos de prova no sentido mora houvesse, demandaria do A.
de que os devedores tenham auto- constituição prévia, sendo caso de
rizado o depósito da quantia mu- mora ex persona a não ex re, os
tuada, em favor do incorporador, juros moratórios, exacerbados de
- 70-

1% ao ano, não seriam devidos, a obras, com ratificação dos devedo-


qualquer título. res (cláusula 9ª' ), circunstância,
4. A exeqüente replicou às fls. igualmente, significativa na carac-
20/1, contra-argumentando que in terização da executoriedade do
casu a condição suspensiva estaria crédito ajuizado; aliás, ainda que se
superada pela; superveniência da, admitisse para argumentar a ale-
paralisação das obras, evento para gação da falta da baixa da constru-
o qual, de nenhuma forma, concor- ção, esta só seria oponível, no caso
reu a exequente; o compromisso de edificação desenvolvida em rit-
entre o incorporador e os executa- mo normal; na hipótese, o argu-
dos é res inter alias acta em face mento perderia consistência, já pe-
da A. e só exigível por iniciativa la paralisação anômala das obras,
dos réus, omissos, nesse particular; por mais de 10 anos, já pela inércia
os autos foram saneados às fls. 24; dos executados, à vista da omissão
em despacho irrecorrido, com res- do incoI1porrudor, deixando de com-
salva do exame oportuno do pedi- pelí-lo a executar o pactuado entre
do de carência; foi juntado o ofí- ambos res inter alias, em favor da
cio-resposta de fls. 29; foram ane- exeqüente.
xados aos autos os documentos de Por esses fundamentos, julgo
fls. 35/52, inclusive certidões das procedente a ação intentada, sub-
r. sentenças dos eminentes colegas sistente a penholra de fls., para
Dr. Carlos Mário da Silva Velloso condenar os executados a pagarem
e Dr. Gilberto de Oliveira Lomô- à exeqüente a dívida ajuizada,. na
naco; em audiência, a A. reportou- importância de NCr$ 591,32 (qui-
se ao anteriormente alegado, e os nhentos e noventa e um cruzeiros
executados insistiram na iliquidez novos e trinta e dois centavos),
da dívida, comentando o fato novo compreendendo as parcelas de
da última prestação ter sido repre- prlincipal, juros, seguros e multa
sentada por juros vencidos, em fla- contratual, conforme discriminação
grante violação ao pacto primitivo. de fls. 3, acrescida de juros que se
vencerem até o dia do efetivo pa-
.o MM. Juiz, Dr. Sebastião Alves dos gamento, e custas. Deixo de con-
Reis, fez detida análise das alegações denar em honorários de advogado,
aduzidas pelas partes e concluiu: por compreendidos na multa con-
À luz dessas premissas, torna-se tratual. Custas ex lege.
irrelevante a argüição da falta da Os réus apelaram reiterando a ale-
baixa da construção (fls. 29), ou da gação de que tendo sido prevista no
conclusão da mesma, estando devi- contrato condição suspensiva para a exi-
damente configurada a exigibilida- gibilidade da obrigação, isto é, baixa
de do crédito, com o evento do dé- da construção, fornecida pela Prefeitu-
bito da última parcela a ser entre- ra de Belo Horizonte, não realizada a
gue, nos termos do avençado, des- mesma condição somente poderia ela
cabendo falar-se em liberalidade da ser afastada se houvesse prova de que
credora. os executados tivessem obstado malicio-
samente o implemento respectivo.
12. Ademais, vê-se da escritu-
ra de fls. 34v., cláusula 8ª', poste- O recurso foi contra-arrazoado e em
rior às de fls. 33, que fora estipu- seu desfavor opinou a Subprocurado-
lado o prazo de 3 anos, a partir ria-Geral.
de 30-10-56, para conclusão das É o relatório.
-71-
VOTO sejo a considerar-se exeqüível a dívi-
O Sr. Min. Armando Rollemberg da, tanto mais quanto a ação foi pro-
( Relator): Ao fixar-se no contrato de posta quando já eram decorridos quase
mútuo que a dívida se tornaria exigível dez anos da data do contrato.
quando fosse dada baixa da construção Nego provimento ao recurso.
pela Prefeitura de Belo Horizonte, não
VOTO
se estabeleceu uma condição suspensi-
va e sim um termo incerto para a exi- O Sr. Min. Decio Miranda (Revisor):
bilidade do pagamento da dívida, des- A baixa da construção, na Prefeitura,
de que não se subordinara o aludido era encargo dos devedores, pelas pes-
pagamento a evento incerto quanto à soas a quem confiaram a obra. A Cai-
sua ocorrência mas, tão-somente, ao mo- xa, financiadora, não responde pelos
mento em que se daria. atos dos incorporadores e construtores.
Ficou dependendo este momento, de Nego provimento.
sua vez, de providências dos apelantes
DECISÃO
que cometeram a execução da obra a
terceiros, os quais se comprometeram a Como consta da ata, a decisão foi a
entregá-la no prazo de três anos. Não seguinte: Negou-se provimento, por de-
tendo sido cumprido tal prazo, aos réus cisão unânime. Os Srs. Mins. Decio Mi-
cabia a adoção de medidas para com- randa e Godoy Ilha votaram de acordo
pelir o incorporador a terminar a obra, com o Sr. Ministro Relator. Não COm-
o que não fizeram, sendo de conside- pareceu por motivo justificado o Sr.
rar-se, portanto, como o fez a sentença Min. Jarbas Nobre. Presidiu o julga-
que, com tal procedimento, deram en- mento o Sr. Min. Godoy Ilha.

APELAÇãO CíVEL N.o 29.827 - ES


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Márcio Ribeiro
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Esdras Gueiros
Recorrente de Ofício - Juiz Federal no Estado
Apelante - Prefeitura Municipal de Vitória
Apelado - Instituto Brasileiro do Café
EMENTA
Imposto de Indústrias e Profissões. Imunidade.
CF/46, art. 31, V. A imunidade constitucional das autar-
quias não permite que sobre elas incidam impostos di-
retos, como o de indústrias e profissões.
Ação de cobrança ajuizada pela Prefeitura Munici-
pal de Vitória contra o IBC.

Vistos, relatados e discutidos estes au- tegrante do presente julgado. Custas de


tos, em que são partes as acima indíca- lei.
das, Brasília, 20 de setembro de 1972.
Decide a Terceira Turma do Tribunal Márcio Ribeiro, Presidente e Relator.
Federal de Recursos, à unanimidade,
RELATÓRIO
negar provimento aos recursos, na for-
ma do relatório e notas taquigráficas O Sr. Min. Márcio Ribeiro (Relator):
precedentes, que ficam fazendo parte in- Ação ordinária ajuizada pela Prefeitura
-72 -

Municipal de Vitória contra o IBC para profissões é tributo direto, cUJa Imposi-
dele haver o pagamento de Cr$ ..... . ção viria, necessariamente, perturbar a
140.523,63, de imposto de indústrias e atividade da autarquia ré, na sua voca-
profissões e acréscimos dos exercícios de ção de órgão protetor do principal pro-
1960 a 1963. duto da economia brasileira.
A inicial especifica que se trata de im- O eminente Min. Oswaldo Trigueiro,
posto de indústrias e profissões, exporta- que no julgamento do MS n 9 16.539, ES,
ção de café. ao princípio da imunidade abriu exce-
Defendeu-se o réu invocando: a imu- ção para o imposto de vendas e consig-
nidade constitucional recíproca, que, se- nações, em aditamento a seu voto, en-
gundo a jurisprudência prevalente no tretanto observou:
Supremo Tribunal Federal, alcança as "Na prática, penso que a norma
autarquias; e a isenção do DL n 9 somente pode ter aplicação indis-
6016/43. cutida quando se trata de impostos
Afinal, a sentença de fls. 79/86, da la- diretos. Não se compreenderia, com
vra do Juiz Federal, Dr. Romário Ran- efeito, que uma entidade autárquica
gel, julgou improcedente a ação e con- fosse compelida a pagar, por exem-
denou em custas e honorários advocatí- plo, o imposto de indústria e pro-
cios, fixados em Cr$ 2.000,00, a auto- fissões, o imposto de renda ou o im-
ra. posto de transmissão sobre a com-
Esta, secundando recurso necessário, pra de prédio destinado à instala-
ção de sua sede."
apela, com as razões de fls. 91/94, res-
pondidas às fls. 125/126 pelo apelado. Tratava-se, justamente, de exportação
de café pelo IBC para outros pontos do
A Subprocuradoria-Geral da Repúbli- País, através do porto de Vitória e, as-
ca opina pela confirmação da sentença. sim, a conclusão de que para os impos-
É o relatório. tos diretos a norma constitucional tem
aplicação indiscutida, solucionou, por
VOTO antecipação, a hipótese ora em julga-
O Sr. Min. Márcio Ribeiro (Relator): mento, confirmando o ponto de vista da
A sentença está brilhantemente vazada sentença recorrida.
nos seguintes termos: (lê às fls. 75/86). Aliás, na evolução do princípio da
Mantenho-a pelos seus fundamentos. imunidade os impostos diretos permane-
ceram proibidos. Veja-se, por exemplo, o
Estes encontram apoio não só na Sú- AC n 9 34, art. 3 9, § IV, que tratando
mula 73 como na própria decisão do justamente de exploração do comércio
Supremo Tribunal Federal, que a auto- pelas entidades de direito público, en-
ra juntou às fls. 95/119, para reforçar tretanto, sujeitou-as apenas ao imposto
suas razões de apelação. sobre circulação de mercadorias.
Sendo as autarquias simples descen- A imposição direta viria a atingir em
tralizações do serviço público, a juris- cheio as autarquias, no seu patrimônio,
prudência não podia deixar de se orien- renda e serviços, e, portanto, a despeito
tar no sentido de que o princípio da da restrição do art. 20, § 19 da CF /67,
imunidade recíproca as compreende. ou 19, § 19 da atual, continua sendo ve-
Quanto ao problema dos atos não dada pelo princípio da imunidade.
abrangidos pela imunidade, não inter- As autarquias praticam atos que estão
fere, no caso, com a aplicação da Súmu- de acordo com as suas finalidades es-
la 73, porque o imposto de indústria e senciais, e outros que não o estão.
-73 -

Mas a taxação direta viria atingir uns EXTRATO DA ATA


e outros. Ergo, constitucionalmente, não
pode existir. AC. n 9 29.827 - ES. ReI. Sr. Min.
Márcio Ribeiro, Revisor o Sr. Min. Es-
N ego provimento aos recursos. dras Gueiros. Recte: Juiz Federal no
VOTO
Estado. Apte: Prefeitura Municipal de
Vitória. Apdo: Instituto Brasileiro do
O Sr. M in. Esdras Gueiros (Revisor): Café (IBC).
Sr. Presidente.
Decisão: À unanimidade, negaram
Entendo que a sentença deve ser con-
provimento aos recursos. Usou da pala-
firmada, pois, na verdade, o Instituto
vra o Dr. Arnaldo Brandão (apdo) (em
Brasileiro do Café goza da imunidade
20-9-72 - Terceira Turma).
tributária prevista na Constituição, dado
que os negócios de café que ele realiza Os Srs. Mins. Esdras Gueiros e Néri
constituem uma das suas finalidades es- da Silveira votaram com o Sr. Ministro
senciais. °
Relator. Não compareceu Sr. Min. He-
No caso dos autos, tratava-se de expor- noch Reis, por motivo justificado. Presi-
tação de café, feita pelo Instituto. diu o julgamento o Sr. Min. Márcio Ri-
Nego provimento aos recursos. beiro.

APELAÇÃO CíVEL N.o 30.695 - GB


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Márcio Ribeiro
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Esdras Gueiros
Recorrente - Juízo Feder.al da 3" Vara, ex officio
Apelantes - Almir Vieira de Souza e União Federal
Apelados - Os mesmos
EMENTA
Militar. Reforma com promoção. Lei n.O 2.370/54,
arts. 27, 30, d, 31 e 33, b.
A paralisia facial, incapacitante para o serviço mi-
litar, inclui-se entre as moléstias que dão direito à re-
forma da praça com qualquer tempo de serviço e pro-
moção ao posto sUbseqüente.

Vistos, relatados e discutidos estes au- RELATÓRIO


tos, em que são partes as acima indica-
das, O Sr. M in. Márcio Ribeiro (Relator):
Decide a Terceira Turma do Tribunal Almir Vieira de Souza, reservista de Iª'
Federal de Recursos, por unanimidade categoria, acionou a União a fim de
de votos, dar provimento em parte à ape- obter reforma, com promoção a 39 sar-
lação, de conformidade com as notas gento, e, na inatividade, a 29 sargento,
taquigráficas precedentes, que fazem por ter-se incapacitado, por moléstia,
parte integrante do presente julgado. adquirida durante o serviço militar, e da
Custas de lei. qual não estava curado quando foi con-
Brasília, 14 de junho de 1972. - Már- siderado licenciado, por terminação de
cio Ribeiro, Presidente e Relator. seu tempo de serviço.
74 -

Disse o autor, na inicial, que: prio perito da União, concluiu-se ter


''Estando cumprindo uma escala .sido o autor, durante a prestação de
de serviço, para a qual se achava de- seu serviço militar, atingido por para-
vidamente escalado, quando sentiu- lisia facial reputada grave, e que, sem
se mal, tomando o seu rosto, do la- dúvida, tornou-o absolutamente incapaz
do esquerdo, completamente ador- para a vida militar.
mecido, e por tal motivo baixou ao Aliás, o seu perito e o desempatador
hospital, e aí permaneceu cerca de consideram-no incapaz de prover a pró-
1 (um) mês e pouco". pria subsistência. Nesse ponto, aquele
Apoiou-se nos arts. 27, c, 30, c, 33, § perito diverge. Isto, porém, não im-
19 , a, da Lei n 9 2370/54 e 19 da Lei porta.
n 9 3.067/56.
Tratando-se, incontestavelmente, de
A causa foi contestada às fls. 14: (lê). paralisia grave, incapacitante para o
serviço militar, o autor estava portegido
Submetido o autor a perícia médica,
pelo disposto no art. 30, d, da Lei n 9
conforme laudos de fls. 69/80, 104/107 e 2.370, com direito, portanto, a reforma
116/125, afinal, com apoio nessa prova,
com qualquer tempo de serviço, e na
o Juiz proferiu a sentença de fls. . ..... , graduação imediata, que é a de 39 sar-
135/137, reformando-o no posto em que gento, nos termos dos arts. 31 e 33, b,
se encontrava, com as vantagens da gra- do mesmo diploma.
duação superior, ou seja, de cabo, des-
de a data do seu licenciamento, com o Da promoção a 29 sargento, segundo
pagamento de atrasados acrescidos de a Lei n 9 3.067/56, não cogitou seu re-
juros da mora. Condenou a ré nas custas curso voluntário.
e em honorários fixados em Cr$
1.000,00. Quanto aos honorários foram conce-
didos sem motivação, e a meu ver com
Apela o autor, com as razões de fls. excessiva parcimônia.
139/142, para obter a graduação de 39
sargento e a elevação dos honorários na Dou, pois, provimento, em parte, ao
base de 20% sobre o que for apurado na recurso do autor, para lhe conceder a
execução; e apela a ré, com as razões graduação a 39 sargento, com todos os
de fls. 149/151, "para o fim de ser jul- consectários jurídicos, e para elevar os
gada improcedente a ação". Contra-ra- honorários a 20% sobre o valor da cau-
zões às fls. 145/147 e 153/157. sa: nego provimento ao recurso neces-
A Subprocuradoria-Geral da Repúbli- sário e ao apelo da ré.
ca, no parecer de fls. 161/162, é pelo
DECISÃO
provimento do apelo da União, prejudi-
éado o do autor. Como consta da ata, a decisão foi a
A sentença consignou o necessário re- seguinte: À unanimidade, deram provi-
curso de ofício, que cumpre, também, mento em parte à apelação do autor nos
apreciar. termos do voto do Sr. Ministro Relator e
negaram provimento ao recurso neces-
É o relatório. sário e ao apelo da ré. Os Srs. Mins.
VOTO
Esdras Gueiros e Henoch Reis votaram
de acordo com o Sr. Ministro Relator.
O Sr. Min. Márcio Ribeiro (Relator): Presidiu o julgamento o Sr. Mm. Már-
Dos laudos médicos, inclusive o do pró- cio Ribeiro.
-75 -

APELAÇÃO CÍVEL N.o 30.964 - RS


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Moacir Catunda
Recorrente - Juízo Federal da 3" Vara, ex officto
Apelante - Companhia Brasileira de Armazenamento (CIBRAZEM)
Apelado - Empresa Vasques de Imunízação Ltda. (EVSIL)
EMENTA
O prazo de um ano para a prescrição da ação do
empreiteiro contra o comerciante, previsto no art. 445 do
CÓdigo Comercial de 1850, não incide sobre as empresas
públicas ou sociedades de economia mista governamen-
tais, sem fins especulativos e organizadas com vistas a
regular o abastecimento das populações nacionais.
Empreitada. Imunização. Expurgo. Distribuição.
O credor de coisa certa não pode ser obrigado a
receber outra, ainda que mais valiosa.

Vistos, relatados e discutidos estes lada por lei federal e sob controle
autos, em que são partes as acima in- da União, sediada no Rio de Janei-
dicadas, ro e com Agência nesta capital, à
Decide a Primeira Turma do Tribu- rua Vigário José Inácio, n 9 346, pa-
·nal Federal de Recursos, preliminar- ra fins de obter a paga de serviços
mente, repelir a prejudicial de prescri- prestados em imunização de parti-
ção, por maioria de votos; de meritis, das de arroz armazenadas em di-
dar provimento em parte a ambos os versos locais.
recursos, nos termos do voto do Sr.
Ministro Relator, por unanimidade, tu- Alega a autora que, em 16 de ju-
do na forma do relatório e notas taqui- nho de 1966, foi contratada pela ré
gráficas precedentes, que ficam fazen- para efetuar serviços de imuniza-
do parte integrante do presente julga- ção de grande quantidade daquela
do. Custas de lei. cereal, mediante o preço estabele-
cido de sessenta e cinco centavos
Brasília, 10 de dezembro de 1971. por saca, atingindo o total dos ser-
- Henrique á Avila, Presidente; Moacir viços a soma de trinta e quatro
Catunda, Relator. mil e treze cruzeiros e setenta e
RELATÓRIO dois centavos, tendo o representan-
te da ré, em trinta de março daque-
O Sr. Min. Moacir Catunda (Relator): le mesmo ano, visado o compro-
O Dr. Juiz a quo expôs e solucionou a vante, tudo de conformidade com
:matéria dos autos nos seguintes ter- autorização do Banco do Brasil S.A.,
mos: financiador da suplicada (doc. fls.
"Empresa Vasques de Imuniza- 9). Foi, entretanto, surpreendida
ção Ltda., firma comercial estabe- com a negativa da suplicada em pa-
lecida nesta cidade, à rua Caldas gar o serviço, sob pretexto de exa-
Júnior, n 9 347, por advogado devi- gero na fixação do preço, quando
damente constituído nos autos, mo- este havia sido precedido de toma-
ve ação ordinária de cobrança con- da junto a firmas locais, oferecen-
tra a Companhia Brasileira de Ar- do maiores vantagens a autora. Es-
mazenamento - CIBRAZEM, so- gotados que foram os meios ami-
ciedade de economia pública regu- gáveis para obter aquilo a que tem
-76 -

direito, viu-se na contingência de acrescenta, a contestação de tal


promover a ação, com fundamento procedimento não resulta dúvida,
no art. 1.219 do Código Civil, com- após exame judicial do mesmo na
binado com os arts. 291 e seguin- reclamatória formulada por um dos
tes do Código de Processo. Pede empregados da ré, encarregado dos
a condenação da requerida ao pa- armazéns, Homar Fernandes Alves,
gamento do principal, honorários segundo se verifica dos julgados
de advogado e demais pronuncia- da Justiça do Trabalho. Finaliza a
ções legais. contrariedade reiterando o acolhi-
Citados regularmente aré e o mento da preliminar de prescrição
ilustrado autor, digo, doutor Pro- e pedindo seja a ação julgada im-
curador da República, limitou-se procedente, com a condenação da
este a ratificar, em todos seus ter- autora nas custas e honorários de
mos, a contestação oferecida pela advogado.
primeira, na qual se sustenta, em Replicou a autora aos termos da
suma, o seguinte: contestação, como se vê de fls. 41/
Preliminarmente, a prescrição da 42, impugnando a argüição preli-
ação em face dos termos do art. minar sob o argumento de não se
448 do Código Comercial, já que aplicar à espécie a norma do art.
decorridos mais de um ano da en- 448 do Código Comercial, como
trega dos serviços, terminados em demonstraria nos debates orais, de
20 de junho de 1966, segundo afir- vez que a ré não provou, nem pro-
ma a própria inicial de 10 de feve- vará, sua condição de comerciante.
reiro de 1969. Acrescenta que realizou os traba-
No que tange ao mérito, impro- lhos de acordo com instruções re-
cede a ação por não ter sido reali- cebidas (docs. de fl. 8) e que a
zado o serviço autorizado, mais sim decisão da Justiça de Trabalho não
outro, ·de valor muito inferior, que fez coisa julgada e nem decidiu a
não interessava à ré, o que tudo matéria ora em discussão, que fo-
constitui meio fraudulento para ge à sua competência, não tendo
o b t e r vantagens indevidas da sequer a suplicante sido parte na-
União. O arroz objeto dos serviços quele feito. Quem contratou o tra-
ora cobrados destinava-se a regu- balho foi a ré e não o Banco do
lar o abastecimento e preço no Brasil, não tendo a primeira apre-
mercado do País e, por isso, ficou sentado qualquer documento com-
armazenado por períodos maiores probatório de suas alegações, an-
ou menores, o que determinou pro- tes confirmando expressamente ha-
vidências para sua conservação. ver a autora prestado os serviços e
Autorizado o expurgo pelo Banco não ter recebido o preço, o que im-
do Brasil, foi procedida tomada de porta em locupletamento ilícito por
preços, tendo a autora usado pro- parte da suplicada. Estranha não
cesso diferente, qual seja nebuli-
ter a ré, em tempo hábil, vistoriado
zação pelo método Swing-fog, que
não era o autorizado, além de ser los serviços, somente a destempo
dez vezes inferior ao preço do ti- vindo manifestar sua desconformi-
po de serviço realmente encomen- dade com a encomenda. De outro
dado. Tendo a autora apresenta- lado, não providenciou no depósi-
do conta de serviços que não pres- to, em juízo, do quanto que enten-
tou, foi negado o pagamento. Aliás, dia devido, como justa retribuição.
-77 -

o processo foi saneado, fls. 43, aos que receber em dep'ósito ou


em despacho irrecorrido, tendo si- com títulos referidos no item VI,
do relega:do para decisão final o do art. 59".
problema prescricional. Realizada Quando muito, poderia a ré in-
a audiência de instrução e julga- vocar, mas no caso sem maior pro-
mento, nela foram tomados depoi- veito, por não decorridos cinco
mentos de duas testemunhas da anos, o prazo prescricional abriga
autora e uma da ré, tendo sido dis- a Fazenda Pública e entidades pa-
pensadas mais duas testemunhas da raestatais.
primeira. Encerrada a instrução,
as partes debateram a causa, ten- Rejeito, assim, a prefaciaI de
do, na ocasião, a ré juntado o do- prescrição, passando ao exame do
cumento de fls. 85/87. Após, vie- mérito da questão.
ram os autos conclusos para sen- Trata-se, já foi dito, de contrato
tença. de empreitada. E de empreitada
É o relatório. Tudo bem exanH- mista, de lavor e fornecimento de
nado, passo a decidir: material.
Importa apreciar, antes do mais, Alega a ré que a autora, emprei-
a preliminar de prescrição. teira, se afastou das instruções e
Dúvida não há que a espécie regras técnicas, empregando o sis-
versa um contrato de empreitada, tema de "nebulização", bem mais
regido pelos arts. 1.237 e seguintes barato, quando deveria proceder
do Código Civil. ao '~expUlI"go" ou "fumigação" do
É a empreitada um contrato pu- cereal, operação bem mais dispen-
ramente civil e, como tal, subordi- diosa.
nado à prescrição no Código Civil Revela acentuar que a ré, muito
estabelecida. Não dispondo esse embora tal argüição, não trouxe a
Código sobre prazo mais escasso no lume qual o preço comum por es-
art. 178, segue-se que a prescrição, te último processo. Sabe-se que o
no caso, é a das ações pessoais, preço contratado pela autora, após
prevista no art. 177. Não está a tomada do dito mercado, foi de
empreitada sujeita à prescrição de Cr$ 0,65 por saca de arroz. Teria
prazo curto. Sua prescrição é a co- a ré confortado suas argüições se
mum (Rev. Forense, voI. 150, pág. tivesse carreado para os autos pro-
304; idem, voI. 120, pág. 432). va de que a fumigação do cereal,
Sem falar na parte final do art. com os materiais apropriados, im-
448 do C. de Comércio, o prazo portava naquele preço, dez vezes
previsto naquele dispositivo jamais superior ao serviço e material efe-
aproveitaria à ré, pois esta não é tivamente prestados pela autora.
comerciante. Bem ao contrário, seu Essa prova não existe e nem ela se
estatuto, aprovado em Assembléia- deduz das decisões trabalhistas in-
Geral Extraordinária de 13 de no- vocadas pela ré. Não há, assim,
vembro de 1964, alterado poste- elementos que permitam afirmar
riormente (D.O.U. de 14 de julho tenha a autora cobrado mais do
de 1965, pág. 6.647), expressamen- que lhe era devido.
te estipula: «É vedado à Compa- De outro lado, a teor do disposto
nhia comercial, financiar ou de no art. 1.243 do Código Civil, não
qualquer forma transacionar com desejando enjeitar a encomenda,
mercadorias ou produtos idênticos poderia também a ré recebê-la com
- 78-

abatimento do preço, para tal até A promovida, inconformada com a


mesmo depositando em juízo aque- respeitável decisão proferida, interpôs
le que lhe parecesse realmente de- recurso de apelação.
vido. A promovente apresentou suas contra-
Entretanto, em que pesem várias razões às fls. 104, subindo os autos a este
providências que poderia tomar, Egrégio Tribunal Federal de Recursos.
chamou-se a autora ao silêncio, so- Nesta Superior Instância, a douta
mente rompido, muitos meses mais Subprocuradoria-Geral da República
tarde, quando foi aos embargos às manifestou-se pela improcedência da
pretensões de seu empregado, ma- ação.
nifestadas perante a Egrégia Justi- É o relatório.
ça do Trabalho. Somente então foi
que argüiu, em feito a que foi to- VOTO (PRELIMINAR)
talmente alheia a autora, vícios na O Sr. Min. Moacir Catunda (Rela-
prestação do lavor e na qualidade tor): Ao que consta da Lei Delegada
do material empregado. Ora, acei- n 9 7/62, que autorizou a constituição
ta a obra, é princípio firmado, não da apelante, não será possível reconhe-
pode ela ser recusada posteriormen- cer-se-Ihe a qualidade de comerciante,
te, nem pedido abatimento no pre- segundo o conceito do Código Comer-
ço. cial de 1850, cuja tônica é a idéia de lu-
As testemunhas da autora ates- cro e de especulação. Sem minimizar o
tam que o cereal "nebulizado" re- objetivo da atividade privada do comer-
sultou completamente limpo de ciante, entendo que as finalidades emi-
"gorgulhos", tendo sido posterior- nentemente públicas que informam os
mente vendidos para outras praças programas e planos do governo, com
do País e exportado para a Polô- vistas a regular o abastecimento das po-
nia e Peru, sem que surgisse qual- pulações nacionais, executados pela ape-
quer reclamação de parte dos com- lante, sem intuitos especulativos, cons-
pradores (fls. 49v e 8Ov). Aliás, tituem obstáculo de monta ao reconhe-
a suplicada não traz qualquer ele- cimento da qualidade de comerciante,
mento que deponha contra a efi- que invoca com o propósito de se bene-
ciência do serviço prestado. ficiar da prescrição anual das ações para
Pelas razões expostas e mais que pagamento de empreitada mercantil, na
dos autos consta, julgo procedente forma do art. 448 do Código Comercial.
De outra parte, é vedado à companhia
a ação para condenar, como conde- comercial financiar ou de qualquer for-
no, a ré, ao pagamento à autora da ma transacionar com as mercadorias ou
quantia de trinta e quatro mil e produtos idênticos aos que receber em
treze cruzeiros e setenta e dois cen- depósito, anota sentença, com apoio nos
tavos (Cr$ 34.013,72), acrescida estatutos da apelada, o que fortalece o
Ide juros de mora, contados a par- argumento contrário à qualidade de co--
Itir da citação, à taxa de seis por merciante, invocada por ela.
Icento (6%) ao ano, custa e honorá-
rios advocatícios, que arbitro em O meu voto preliminar é rejeitando
a prescrição.
quinze por cento (15%) sobre o
sobre o total da condenação. VOTO (MÉRITo)
Registre-se. Publique-se em au- O Sr. Min. Moacir Catunda (Relator):
diência já designada. Ao que consta do pedido, a quantia ob-
Recorro, de ofício, ao Egrégio jeto de cobrança é proveniente da exe-
Tribunal Federal de Recursos." cução do contrato de empreitada para
-79 -

serviços de imunização em diversas par- gou improcedente a reclamação traba-


tidas de arroz, totalizando mais de 600 lhista ajuizada pelo dito empregado,
mil sacas, confiadas à guarda e conser- contra a ré.
vação da ré, pelo Banco do Brasil, na A recusa do pagamento da importân-
qualidade de agente financeiro da Co-
cia do serviço de imunização, mediante
missão de Financiamento da Produção.
simples nebulização c o m máquina
A empreitada foi precedida de coleta Swíng-fog, sob o argumento de que a
de preços, argumenta a inicial, para ser- empreitada, e seu preço, foram aceitos
viço de expurgo, objeta a ré, na confor- para expurgo, tem base na decisão da
midade da autorização que lhe foi dada ré, que mandou fazer coleta de preços
pelo Banco do Brasil, no dia 15 de ju- para expurgo no produto armazenado,
nho de 1966. de acordo com a ordem do Banco do
O gerente da ré, Sr. Antonio Wilthem Brasil.
da Rocha, fls. 51 e 71, no mesmo dia O parecer do Chefe da Seção de Cer-
mandou o memorandum do Banco do tificação de Sementes do Ministério da
Brasil ao seu Coordenador para os as- Agricultura esclarece as diferenças en-
suntos de arroz, fls. 66 e 71, Sr. Homar tre imunização, expurgo ou fumigação e
Fernandes Alves, para providenciar de nebuIização, nos termos seguintes:
acordo com tomada de preço, fls. 9. Este
"decidiu pela entrega do serviço à fir- "1 9 ) Imunização - palavra apli-
ma Evil, de comum acordo com a gerên- cada incorretamente pelos leigos
cia," como declarou no depoimento de quando refere-se ao expurgo ou fu-
fls. 67, ao preço de Cr$ 0,65, por unida- migação; qualquer produto com es-
de, no mesmo dia 15, visto que já no dia ta propriedade, devido a sua eleva-
seguinte, 16, a autora procedia a fumi- da tOxidez, não poderia ser aplicado
gação de arroz, com aparelho Swing-fog, no controle das pragas dos produtos
fls. 59, e extraía as notas fiscais do ser- vegetais armazenados destinados ao
viço de imunização do produto deposi- consumo humano e de animais.
tado em cinco dos dez armazéns nomea- 29 ) Expurgo ou Fumigação - é
dos no Item I, da inicial, fls. 10 e 15. aquela operação em que é empre-
O serviço foi feito em 12 horas e 40 gado um fumigante ou gás, ou a
minutos, nos dez armazéns, conforme se mistura de um ou mais fumigantes
apura dos documentos de fls. 56 usque no combate às pragas de produtos
65, sob a fiscalização do coordenador, armazenados, sendo a aplicação rea-
fls. 66 e 71, o qual, no dia 30, autenticou lizada em um ambiente hermético
a relação do serviço de imunização, ou para evitar o escapamento de gás,
fatura, com remissão à ordem do Banco mantendo, deste modo, uma concen-
do Brasil apresentada pela autora, na tração letal aos insetos durante o
importância total de Cr$ 34.013.720,00, tempo de exposição. O expurgo po-
fls. 8, não-obstante se achasse em gozo de ser realizado no interior de câma-
de férias, desde o dia 20 de junho, fls. ras de expurgo, sob painéis ou lonas
66 e 7l. de expurgo, em silos, porões da na-
vios, vagões de estrada de ferro,
Em decorrência da mudança de dire-
etc ...
ção da ré, em Porto Alegre, o coordena-
dor para assuntos de arroz, ao voltar de 39 ) N ebulização - nesta operação
suas férias, estava despedido, por ter fitossanitária, uma solução oleosa do
visado fatura de serviço não prestado, inseticida é atomizada finamente
fls. 49, como proclamou a Justiça do Tra- por um jato de ar ou gases de esca-
balho, nas duas instâncias, quando jul- pe em alta velOcidade, sendo em-
- 80-

pregados nesta operação os seguin- A promovente, no mês de julho de


tes nebulizadores: 1966, através de sua nova administração,
a = Mícrojet recusando pagar a quantia apresentada
b = Swing-fog, Tifa, Dyna-fog . pela promovida porque o serviço não
A testemunha Dulphe Pinheiro Ma- se fizera de acordo com o contrato, im-
chado Filho, categorizado engenheiro plicitamente o enjeitou. E despedindo,
na mesma época, o empregado que au-
agrônomo, no seu elucidativo depoimen- tenticou a fa.tura. do servi90 realizado
to de fls. 82, disse assim: Cn:::l

desacordo com as especificações, deu


"que, concorda inteiramente com os mais ênfase à sua decisão de rejeitar a
conceitos formulados às fls. 54 e 55, obra.
pelo Chefe da S.C.E.R., do Minis-
tério da Agricultura, os quais escla- De outra parte, a alegação de que o
recem o que sejam "expurgo ou fu- serviço de imunização por nebulização,
migação" e "nebulização", sistema preservando o produto, teria produzido
swing-fog"; P.R. - que, devido ao resultado equivalente ao de expurgo,
preço do material empregado, o de- justificando-se, desse modo, o pagamen-
poente estima o preço da nebuliza- to da conta apresentada, não procede,
ção em apenas 10% daquele que de- ao que tenho, porque sendo a ré credora
ve corresponder ao expurgo ou fu- do serviço de expurgo, coisa certa, não
migação, pois este último processo pode ser obrigada a receber outra, ain-
é muito mais dispendioso. O Dr. da que mais valiosa, consoante a regra
Procurador da República nada re- do art. 863 do Código Civil.
quereu. Com a palavra o Dr. Pro- Antes do serviço objeto da cobrança,
curador da República por ele foi o arroz armazenado fora imunizado duas
perguntado: P .R. - que, o proces- vezes, uma das quais pela autora, que
so de expurgo ou fumigação, para é empresa especializada no ramo, daí
fins de imunização de cereais, é se seguindo que a boa conservação, pro-
muitíssimo mais eficiente do que o piciadora da venda do mesmo para o
material empregado, que o gás tem exterior, não tenha sido resultado da
muito mais penetração, atingindo imunização feita por último, somente.
toda a massa a ser imunizada, ao Como quer que seja, a imunização,
passo que o processo de nebulização realizada por último, tendo aderido ao
já não apresenta tamanha capacida- produto e concorrido indubitavelmente
de de penetração, razão pelo qual, para sua conservação, com vantagem
o primeiro processo é muito mais para a ré, há que ser indenizado no seu
eficiente." justo valor, pois não será lícito à ré lo-
Ante o documento de fls. 8, conjuga- cupletar-se à custa da autora.
do às provas de natureza técnica e tes- Por esses motivos, dou provimento aos
temunhal, força será convir em que a recursos, em parte, para, julgando inde-
simples nebulização do produto não cor- vida a quantia cobrada, determinar a
responde ao serviço de expurgo que a apuração da quantia devida, por arbi-
autora contratara. tramento, que se fará na execução do
"Concluída a obra de acordo com o julgado, atendidos os elementos dos au-
ajuste, ou o costume do lugar, o dono é tos e outros, a juízo dos peritos.
obrigado a recebê-la. Poderá, porém, É o meu voto.
enjeitá-la, se o empreiteiro se afastou
VOTO - PRELIMINAR (VENCIDO)
das instruções recebidas e dos planos
dados, ou das regras técnicas em traba- O Sr. Min. Jorge Lafayette Guima-
lhos de tal natureza, reza o art. 1.242 trães: Sr. Presidente, meu voto é, com a
do C. Civil." devida vênia, acolhendo a preliminar,
- 81-

porquanto, das definiç6es constantes no O Sr. Min. Jorge Lafayette Guima-


Dec.-Lei n 9 200, tanto empresa pública rães: Mas em qualquer das duas há ex-
como sociedade de economia mista pres- ploração de atividade econômica e ado-
supõem atividade comercial. tada a forma de sociedade por ações,
Quanto à sociedade de economia mis- quer se trate de empresa pública ou de
ta, diz o art. 59, lU, do Decreto-Lei n 9 soci:edade de economia mista, por lei a
200, na redação do Decreto-Lei n 9 900, sociedade será comercial (art. 29, pará-
de 1969: grafo único do Decreto-lei n 9 2.627, de
"Sociedade de Economia Mista 1940) .
- a entidade dotada de personali- O Sr. Min. Peçanha Martins: É como
dade jurídica de direito privado, se fosse um serviço de autarquia, que
criada por lei para a exploração de não deixa de ser da administração públi-
atividades econômicas, sob a forma ca, uma espécie de anel que se despre-
de sociedade anônima, cujas ações endeu da administração.
com direito a voto pertençam em
maioria à União ou a entidades da O Sr. Min. Moacir Catunda: Os esta-
Administração Indireta". tutos da CIBRAZEM são expressos ao
Quanto à empresa pública, afirma o proibi-la de qualquer atividade comer-
art. 59, U, do mesmo diploma, também cial; ela só armazena. Não vende e nem
na redação do Decreto-lei n 9 900: compra. O estatuto é expresso a respeito.
"Empresa Pública - a entidade O Sr. M in. Jorge Lefayette Guima-
dotada de personalidade jurídica de rães: Com a devida vênia, fico vencido.
direito privado, com patrimônio e DECISÃO
capital exclusivo da União, criada
por lei para a exploração de ativi- Como consta da ata, a decisão foi a
dade econômica que o Governo seja seguinte: Preliminarmente, repeliu-se a
levado a exercer por força de con- prejudicial de prescrição, vencido o Sr.
tingência ou de conveniência admi- Min. Jorge Lafayette Guimarães, e de
nistrativa, podendo revestir-se de meritis, deu-se provimento em parte a
qualquer das formas admitidas em ambos os recursos, nos termos do voto
direito". do Sr. Ministro Relator, à unanimidade.
O Sr. Min. Peçanha Martins: Mas há O Sr. Min. Peçanha Martins votou in
diferença entre empresa pública e socie- totum com o Sr. Ministro Relator. Presi-
dade de economia mista. V. Exª' mesmo diu o julgamento o Sr. Min. Henrique
ressaltou ... d'Ávila.
APELAÇÃO CÍVEL N.o 31.199 - SP
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Henrique d'Avila
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Moacir Catunda
Apelante - Masayuki Ezaki
Apelado - Conselho Federal de Farmácia
EMENTA
Oficial de Farmácia licenciado. Tem direito a ins-
crição como provisionado para assumir a responsabili-
dade técnica de farmácia de sua propriedade (art. 33
da Lei n.O 3.820, de 11-11-60); não fazendo jus, por
outro lado, à prerrogativa de exercer sua atividade e
manter propriedade de farmácias em todo o território
nacional.
Vistos, relatados e discutidos estes Decide a Primeira Turma do Tribu-
autos, em que são partes as acima in- nal Federal de Recursos, à unanimida-
dicadas, de, negar provimento, na forma do re-
- 82-

latório e notas ta qui gráficas preceden- pelo Serviço Nacional de Fiscaliza-


tes, que ficam fazendo parte integrante ção da Medicina ou pelas reparti-
do presente julgado. Custas de lei. ções sanitárias competentes dos Es-
Brasília, 2 de junho de 1972. - H en- tados e Territórios, e sua condição
rique a:Ávila, Presidente e Relator. de proprietário de farmácias data
mais de 10 anos, sendo-lhes, po-
R:Er.A.TÓRIO rém, vedado o exercício das demais
atividades privativas da profissão
O Sr. Min. Henrique a:Ávila (Rela- de farmacêutico"; que o suplicante
tor): A espécie de que se cogita nos era proprietário de farmácia há
autos foi assim exposta pelo MM. Jul- mais de 10 anos, na data da vigên-
gador a quo (fls. 192 a 193): cia da lei, conforme os documentos
"Masayuki Ezaki, qualificado às juntos aos processos administrati-
fls. 2, promove a presente ação or- vos dos Conselhos Regionais e Fe-
dinária contra o Conselho Regio- deral de Farmácia; que, quer por
nal de Farmácia, alegando, em sín- atender a todos os requisitos do
tese: que requereu à suplicada sua art. 33 da Lei n 9 3.820/60, quer por
inscrição como oficial de farmácia ser oficial de farmácia provisionado
provisionado, com fundamento no de conformidade com a Lei n 9
art. 33 da Lei n 9 3.820/60, com vi- 1.741/51, deve o suplicante ser ins-
gência a partir de março de 1961; crito para assumir a responsabili-
que seu pedido foi indeferido e o dade de técnico-profissional de far-
recurso interposto, junto ao Conse- mácia de sua propriedade, em todo
lho Federal de Farmácia, teve ne- o território nacional, pelas razões
gado seu provimento; que, em con- que expende".
seqüência, foi inscrito como oficial
de farmácia licenciado, nos termos A demanda correu seus trâmites de
da Lei n 9 1.472/51, com a faculda- direito, depois de contestada, sem maio-
de de assumir a responsabilidade res dificuldades ou percalços. E, afi-
técnica da Farmácia Nova, de sua nal, o MM. Julgador a quo a reputou
~TocedeIl!te em parte, arrolando para
propriedade, instalada em Ibira-
rema - SP, sem direito a locomo- tanto as considerações constantes de fls.
ção; que o indeferimento de seu 195 a 200.
pedido, bem como a aludida inscri- Ei-Ias:
ção restritiva que lhe concederam,
ferem, flagrantemente, seus direitos, "No caso, o autor, com arrimo no
limitando o âmbito de suas ativi- dispositivo transcrito, pleiteou, c~
dades à cidade onde atualmente as mo oficial de farmácia licenciado, a
exerce; que, dispõe o art. 33 da Lei sua inscrição no Conselho Regio-
n 9 3.820, de 11-11-1960, com vigên- nal de Farmácia de São Paulo para
cia a partir de março de 1961: "os assumir a responsabilidade técnico-
práticos e oficiais de farmácia, já profissional de farmácia de sua
habilitados na forma da lei, poderão propriedade. A pretensão, contudo,
ser provisionados para assumirem foi-lhe indeferida, não logrando êxi-
a responsabilidade técnic~profis­ to, também, o recurso que interpôs
sional para farmácia de sua pr~ para o Conselho Federal de Far-
priedade, desde que, na data da mácia.
vigência desta lei, os respectivos O fundamento de ambas as de-
certificados de habilitação tenham cisões administrativas foi a falta de
sido expedidos há mais de 6 anos preenchimento do requisito relativo
- 83-

à propriedade de farmácia há mais mais de 10 anos como dono do


de 10 anos, na data da vigência da neg6cio, a contar de 19 de janeiro
lei. de 1951, quando assumiu a direção
do estabelecimento farmacêutico;
Agora, essa razão de decidir lIDais de 8 anos com a farmácia
constitui o objeto da controvérsia. regularizada em nome da firma
Ora, pelas provas carreadas pa- "M. Ezaki & Cia. Ltda."
ra os autos, constata-se que o au- Qual a data que deve prevalecer
tor adquiriu, em 19 de janeiro de para os efeitos do mencionado di-
1951, de Plínio Aparecido de Bar- ploma legal?
ros, a farmácia denominada "N0-
va", situada em Ibirarema, Comar- Entende o réu que, antes de
ca de Palmital, neste Estado, pa- 1952, não estavam cumpridas as
gando, inicialmente, do preço ajus- formalidades impostas pela lei pa-
tado de Cr$ 115.000,00, quantia ra a abertura de um estabelecimen-
de Cr$ 75.000,00, e comprometen- to farmacêutico, e, daí, a carência
do-se a liqüidar o restante dentro de respaldo legal à pretensão. In-
de 15 meses daquela data. voca, a propósito, o disposto no §
29 do precitado art. 33 que dispõe:
O recibo de fls. 161 comprova a "Não gozará do benefício con-
transação. cedido neste artigo o prático ou
oficial de farmácia estabelecido
N a mesma data, assumiu a dire- com farmácia, sem a satisfação de
ção do neg6cio, como o atestam todas as exigências legais ou regu-
testemunhas e o pr6prio Plínio lamentares vigentes na data da pu-
Aparecido de Barros (fls. 25 e 120), blicação desta lei".
bem como o fato de ter passado a
escriturar, em substituição ao ven- Entretanto, essas exigências le-
dedor, o livro de receituário do es- gais ou regulamentares se reFerem,
tabelecimento. obviamente, a situação do candi-
dato e não à pmva de propriedade
Em 27 de março de 1952, cons- da farmácia. Essa prova, não sendo
tituiu ele com D. Adélia Nicolau qualificada, não estava, ao tempo
Stefan uma sociedade por quotas em que a lei entrou em vigor, con-
de responsabilidade limitada, sob dicionada à regularidade da situa-
a razão social de "M. Ezaki & Cia. ção sanitária do estabelecimento.
Ltda." para a exploração da far- Na espécie, a circunstância de
mácia em tela (fls. 14). Em 19 de haver sido expedido alvará de fun-
janeiro de 1957, a sociedade foi cionamento da farmácia, em data
transformada em nome coletivo, posterior à aquisição da mesma, é
sob a denominação de "M. Ezaki & irrelevante para o deslinde da ques-
Cia.", com a retirada de Adélia tão, posto que não pode interferir
Stefan e a admissão de Masanora na questionada prova de proprie-
Ezaki (fls. 15). dade. São situações distintas, a re-
Ainda em 1952, foi expedido, pe- gularidade sanitária e a proprieda-
lo 6rgão competente, para dita far- de da farmácia.
mácia, o Alvará n 9 2.165 (fls. 42) . E, indubitavelmente, o autoil", co-
mo oficial de farmácia licenciado
Assim, o autor, à época da edi- desde 1949, estava em situação re-
ção da Lei n9 3.820, tinha: gular.
- 84-

Por outro lado, ao advento da lei, Considerados no seu conjunto -


era dono de fan;nácia que se en- recibo, escrituração do livro de re-
contrava regularizada em nome de oeitas e testemunhos constituem
que lha vendeu. elementos hábeis e convincentes da
Essa pro~iedade, bastante para propriedade em questão.
os efeitos da lei, resulta plenamen- Todavia, a pretensão do autor
te provada, desde 19 de janeiro de de exercer suas atividades em todo
1951. o território nacional não se ajusta
IRealmente. ao entendimento da lei. De fato,
É inegável que o autor entrou o art. 33 o que concede é tão-so-
na posse da farmácia e passou a mente a provisão aos práticos e ofi-
dirigi-la como proprietário a par- ciais de farmácia "para assumirem
tir de então. O recibo de fls. 161, a responsabilidade técnico-profis-
como já acentuado, atesta a opera- sional" de farmácia de que forem
ção havida, e como se não bastas- proprietários, já sem as limitações
se há o citado livro de receituário a eles impostas pela legislação per-
a comprovar, à saciedade, que o tinente. Não autoriza, de modo al-
vendedor se afastara do estabele- gum, a transferência de localidade.
cimento e o entregara ao compra- Assim, o autor, oficial de farmá-
dor. O registro das receitas come- cia licenciado, poderia, nos termos
çou a ser feito por este, e tal fato da Lei n 9 1472, de 22 de novembro
não ocorreria, é lógico, se não fos- de 1951, obter, como obteve, licen-
se o dono do negócio. Não o per- ça para abrir farmácia em localida-
mitiria, está claro, o farmacêutico de onde nenhuma houvesse legal-
responsável. Há ainda a prova tes- mente estabelecida com farmacêu-
temunhal a corroborar essa verda- tico diplomado.
de, inclusive as declarações do ven-
dedor - Plínio Aparecido de Bar- )3:ssa a mens legis, não compor-
ros - de que vendeu a farmácia tando o texto o elastério que se lhe
do autor "em dezembro de 1950, quer emprestar.
mas cuja transação verificou-se em Ex positis, considerando o mais
princípio de 1951". que dos autos consta e os princí-
Lembre-se en passant, como já pios de direito pertinentes a espé-
ensinava o emérito João Monteiro, cie, julgo em parte procedente a
que a prova testemunhal é tanto ação para, reconhecendo ao autor
instrumento de indução lógica o direito que lhe assegura o art. 33,
quanto a escrita. Ela é admitida da Lei n 9 3.820, de 11 de novembro
na medida em que possa levar o de 1960, compelir o réu - Conse-
juiz à convenção. E é o que ocorre lho Regional de Farmácia de São
na hipótese. O simples testemunho Paulo - a inscrevê-lo como provi-
não seria suficiente ao reconheci- sionado para assumir a responsabili-
mento da propriedade do negócio dade de técnico-profissional de far-
farmacêutico que ora se discute, mácia de sua propriedade em Ibi-
mas este testemunho é valioso na rarema, Comarca de Palmital, nes-
medida em que corrobora outras te Estado. Condeno mais o réu
provas dessa propriedade, provas nas custas e honorários advocatí-
escritas, incontestáveis, como o re- cios que desde logo arbitro em vin-
cibo de aquisição e a escrituração te por cento (20%) sobre o valor
do livro de receitas. da causa".
- 85-

De fls. 203 a 205, o autor ofereceu ao VOTO


julgado embargos de declaração, onde O Sr. Min. Henrique d'Avila (Rela-
pretendeu, para evitar dúvidas em sua tor): Estou em que o MM. Julgador
execução, que se esclarecesse que o réu a quo, reportando-se aos elementos de
ao inscrevê-lo nos termos do art. 33 da prova constantes dos autos, decidiu com
Lei n 9 3.820/60, não poderia sujeitá-lo acerto a espécie neles controvertida.
a cláusula restritiva "sem direito a con-
cessão" . Na realidade, assegurou ao autor ora
Dito apelo, todavia, veio a ser recusa- apelante o que lhe era devido, segundo
do pelo despacho de fls. 206, sob o o preceituado no art. 33 da Lei n 9 3.820,
fundamento de que todos os aspectos de 11-11-60; e não o atendeu quanto à
da questão foram apreciados, inclusive, prerrogativa que pretendia usufruir no
quanto à inteligência e alcance do art. sentido de exercer sua atividade e man-
33 da Lei n 9 3.820/60. E, por isso, re- ter a propriedade de farmácia em todo
jeitou os embargos declaratórios inter- território nacional. Se me afigura que
postos. esta exegese dada pelo Dr. Juiz a quo
E, a seguir, irresignado, apelou o au- à lei em referência é certa, jurídica e
tor com as razões de fls. 208 a 215, insuscetível de contradita; razão por
onde insiste pelo reconhecimento de seu que, meu voto é no sentido de manter a
propósito, recusado pelo Dr. Juiz a quo respeitável e bem elaborada decisão re-
nos embargos declaratórios. corrida por seus próprios fundamentos,
E, o réu, Conselho Federal de Far- negando provimento ao apelo dela in-
mácia, ofereceu as contra-razões de fls. terposto.
DECISÃO
218 a 219, onde pugna pelo não provi-
mento do apelo. Como consta da ata, a decisão foi a
E, por seu turno, oficiando de fls. seguinte: Negou-se provimento. Deci-
227, a douta Subprocuradoria manifes- são unânime. Os Srs. Mins. Moacir Ca-
ta-se pela manutenção da sentença re- tunda e Peçanha Martins votaram com
corrida. o Sr. Ministro Relator. Presidiu o jul-
É o relatório. gamento o Sr. Min. Henrique d'Avíla.
APELAÇÃO CÍVEL N.o 31.401 - PE
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Márcio Ribeiro
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Esdras Gueiros
Recorrente de Ofício - Juízo Federal da l~ Vara
Apelantes - INPS e Antônio Feliciano Gomes dos Santos e outros
Apelados - Os mesmos
EMENTA
Ferroviário.
Desde que aposentado após a encampação da Fer-
rovia pelo Estado, tem direito aos beneficios do regímen
estatutário, tais como o reajustamento da Lei n.o ••••
4.242/63" aumento da Lei n. o 4.069/62, abono da Lei n.o
3.5'31/59 e abono de emergência da Lei n.9 1. 765/52, além
do acréscimo de salário-família.
Prescrição. Não revogada a lei concessiva, nem ne-
gado, na via administrativa o direito do servidor, a pres-
crição, relativa à sua remuneração, atinge apenas as
prestações mensais que datarem de mais de 5 anos.

Vistos, relatados e discutidos estes Decide a Terceira Turma do Tribu-


autos, em que são partes as acima indi- nal Federal de Recursos, à unanimida-
cadas, de, dar provimento em parte à apela-
- 86-

ção dos autores, nos termos do voto do suporte as Leis 4.069/62, 4.242 (aumen-
Sr. Ministro Relator, e negar ao recur- to de 40% e reajustamento no salário-
so de ofício e ao apelo do INPS, na família), concedo-os na forma enuncia-
forma do relatório e notas taquigráfi- da na sentença. Condeno o Instituto-
cas precedentes, que ficam fazendo par- réu, hoje Instituto Nacional da Previ-
te integrante do presente julgado. dência Social, ao pagamento de 5% so-
Custas de lei. bre o valor que se apurar na liqüidação,
Brasília, 9 de agosto de 1972. - Már- de honorários de advogado. Recorro de
cio Ribeiro, Presidente e Relator. ofício ao Colendo Tribunal Federal de
Recursos." Secundando esse recurso,
RELATÓRIO apela o INPS, com as razões de fls.
878/884, a fim de ser absolvido de to-
O Sr. Min. Márcio Ribeiro (Relator): das as sanções que lhe foram impostas
"Antônio Feliciano Gomes dos Santos pela sentença. Os autores, com as ra-
e vários outros ferroviários aposenta- zões de fls. 868/876, também haviam
dos, inclusive grande número de litis- apelado, a fim de obter a total proce-
consortes, todos servidores da Rede Fer- dência da ação. Não foi dada às partes
roviária do Nordeste, vieram aJuízo oportunidade de oferecer contra-razões.
contra o IAPFESP, a fim de lhes ser as- A Procuradoria da República subscre-
segurado perceber: 19 ) o abono de veu as razões do INPS. Nesta Instân-
emergência da L. 1.765/52, art. 20, le- cia a Subprocuradoria-Geral, alegando
tra b; 2. 9 ) abono provisório (30%) da
que essa autarquia é parte ilegítima pa-
L. 3.531/59, art. 29, letra l e § 29; 39 ) ra responder aos termos da ação, "es-
aumento de 40% e aumento de nível sa- pera o provimento dos recursos de ofí-
larial decorrente dos arts. 39 e 79 da L. cio e voluntário e o improvimento do
4.069/62; 49 ) reajustamento (70%) da
recurso dos autores, para o fim de se-
L. 4.242/63, arts. 39, §§ 19, 29 e 9 9 rem eles julgados carecedores da ação."
A causa foi contestada pelo IAPFESP
e pela Rede Ferroviária do Nordeste, A esse relatório feito por mim, acres-
que o Juiz mandara citar para integrar cento que, em sessão de 8-4-70, a Tur-
a instância (fls. 296 e 334, lê). Afinal, ma converteu o julgamento em diligên-
pela sentença de fls. 855/867, o Juiz cia, para mandar integrar a lide pela
Federal da Iª' Vara, Dr. Artur Barbosa citação da União Federal.
Maciel, após exato relatório e esmerada Embora julgasse que a União Fe-
fundamentação, acolheu o pedido da deral rora citada regularmente pelo en-
inicial, nestes termos: "Julgo, em parte, tão Juiz dos Feitos da Fazenda Nacio-
procedente a ação para conceder os be- nal (fls. 904, lê), o Dr. Juiz Federal
nefídos acima citados, aos AA., median- da Iª' Vara cumpriu o Acórdão.
te o seguinte: 1 - Somente terão direi-
to aos benefícios, qualquer deles, os A douta Subprocuradoria-Geral da
funcionários que se aposentaram na Re- República, às fls. 906, também reconhe-
de Ferroviária do Nordeste, da data de ceu que já fora citada e que adotava
sua encampação até o momento. Essa as razões do INPS. E acrescentou:
seleção, em face do avultado número de "Assim, entende que, já agora
AA., será feita na fase de execução de não lhe cabe contestar a ação pro-
sentença. 2 - Os direitos pertinentes posta, porque sobre este assunto,
à Lei 1.765/52, considero-os prescritos. no tempo hábil, já falou a União,
3 - Os decorrentes da Lei 3.531/59 só por seu Procurador."
são devidos a partir da citação válida, Em seguida, os autores, o INPS e a
nesta postulação. 4 - Os que têm por Rede Feroviária Federal S.A., ratifica-
- 87-

ram suas razões anteriores, e o Juiz República, não teria cabimento anular
proferiu nova sentença, com a mesma a sentença.
fundamentação e a mesma conclusão da
primeira. A divisão de encargos entre a autar-
quia e a União tornou-se questão inter-
Dessa decisão apelaram o INPS com na da Administração Pública Federal.
as razões de fls. 930/937 e os autores
com as de fls. 938/944. Contra-razões Passemos ao mérito.
destes às fls. 946/949. Baseado em parecer do Min. Gonçal-
A Rede Ferroviária Federal S.A. e a ves de Oliveira, então Consultor-Geral
Procuradoria da República adotaram as da República, o Juiz considerou legiti-
razões do INPS. mados para a ação apenas os autores
A Subprocuradoria-Geral da Repúbli- aproveitados até julho de 1950, data em
ca, assistente no feito, que cessou o regime da administração
privada da "Great Wester.".
" ... espera o provimento dos recur-
sos de ofício e o voluntário do É indiscutível o acerto jurídico dessa
INPS e conseqüentemente o impro- orientação.
vimento do recurso dos autores,
para o fim de serem eles julgados A transformação da empresa em ór-
gão da administração direta do Estado
carece dores da ação."
não modificou a situação dos emprega-
É o relatório. dos já fora de exercício; e não os dei-
VOTO
xou ao desamparo, como pretendem as
razões de apelação dos autores. Eles,
O Sr. Min. Márcio Ribeiro (Relator): simplesmente, continuaram no regime
Do cumprimento e resultado da diligên- trabalhista em que se aposentaram be-
cia ficou parecendo que esta fora fruto neficiando-se suas aposentadorias pelo
de um engano. INPS dos aumentos atinentes a esse
Entretanto, numa ação em que o regime.
INPS, como contestante, atribuía a res- Às vantagens do regime estatutário é
ponsabilidade parcial do que lhe era que tais empregados foram sempre
imputado à União, essa, realmente, pre- alheios.
cisava ser citada como parte. E não o
fora porque a ação não havia sido pro- Já quanto à prescrição divirjo da
posta contra ela. A inicial pediu, ape- orientação adotada pelo Juiz.
nas, a intimação pelos meios regulares
do Sr. Dr. Procurador da República Tanto o abono provisório da L.
para i~tervir no processo «se assim en- 3.531/59, como o abono de emergência
tender. da L. 1.765/52, foram conferidos, em
caráter definitivo, como acréscimo de
A "citação" do Dr. Procurador da vencimentos e, se essas leis não foram
República (fls. 294) não passara de revogadas, nem o direito a ditos abonos
simples notificação. negado, expressamente, segue-se que a
Pareceu-me, aliás, diante da contes- prescrição incidente, no caso, é apenas
tação, que o INPS não poderia ser de- a qüinqüenal sobre as respectivas pres-
mandado isoladamente, sem a citação tações mensais, contado o prazo retroa-
da União para integrar a instância. tivamente a partir da citação inicial.
Já agora, porém, diante dos termos do Dos honorários advocatícios não se
pronunciamento do Dr. Procurador da pode dizer tenham sido arbitrados em
- 88-

porcentagem insuficiente, dado o gran- DECISÃO


de número de autores e litisconsortes Como consta da ata, a decisão foi a
admitidos no processo. seguinte: À unanimidade, deram pro-
Dou, pois, provimento, em parte, à vimento em parte à apelação dos auto-
apelação dos autores para modificar os res, nos termos do voto do Sr. Ministro
itens dois e três (2 e 3) do dispositivo Relator, e negaram ao recurso de ofício
da sentença, considerando prescrita, e ao apelo do INPS. Usou da palavra
apenas, as prestações mensais que da- o Dr. Paulo Gontijo. Os Srs. Mins.
tarem de mais de 5 anos, anteriores à Esdras Gueiros e Henoch Reis votaram
citação inicial. Nego provimento ao re- com o Sr. Ministro Relator. Presidiu o
curso necessário e ao apelo do INPS. julgamento o Sr. Min. Márcio Ribeiro.

APELAÇÃO CÍVEL N.o 31.618 - RS


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Henoch Reis
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. José Néri da Silveira
Recorrente - Juiz Federal da 2'l- Vara, ex offioio
Apelantes - Clara Adália Cabeda Alencastre e outras e União Federal
Apeladas - as mesmas
EMENTA
Servidor público. Readaptação como Agente Fiscal
do Imposto de Renda. Satisfeitas as exigências legais,
faz jus o servidor à pretendida readaptação. Sentença
que se confirma, em parte.

Vistos, relatados e discutidos estes Alegam, em resumo: que, embora


autos, em que são partes as acima in- ocupante de cargo de nível inferior,
dicadas, vêm desempenhando funções típicas do
cargo em que pretendem a readaptação
Decide a Terceira Turma do Tribu- - Agente Fiscal do Imposto de Renda
nal de Recursos, dar provimento, em - que, administrativamente, a preten-
parte, ao recurso de ofício e voluntário ,são foi indeferida, apesar do parecer fa-
da União, unanimemente, na forma do vorável do Grupo de Trabalho do Mi-
relatório e notas taquigráficas prece- nistério da Fazenda; que se encontram
identes, que ficam fazendo parte inte- desviadas dos cargos próprios há vários
grante do presente julgado. Custas de ,anos, ultrapassando, assim, o prazo exi-
lei. gido por lei para caracterizar o institu-
to da readaptação.
Brasília, 17 de abril de 1972. - Már-
,cio Ribeiro, Presidente; Henoch Reis, Adiantam que chegaram a perceber,
,Relator. durante dois anos, os vencimentos devi-
R.ELATÓRIO dos aos agentes fiscais do imposto de
renda; que, apesar de haverem produ-
, O Sr. Min. Henoch Reis (Relator): zido, no processo administrativo, toda
,Clara Adália Cabeda Alencastre e ou- a prova exigida pela legisIação perti-
,tras propuseram a presente ação ordi- nente, os pedidos foram imotivadamen-
'nária contra a União Federal, pleitean- te arquivados, devido a interferência
!do sua readaptação no cargo de Agen- de uma Comissão de Fiscais; que já
'te Fiscal do Imposto de Renda. postularam em Juízo, onde obtiveram
- 89-

,ganho de causa, com sentença confir- Subindo os autos a esta superior ins-
mada pelo Tribunal Federal de Recur- tância, deles se deu vista à douta Sub-
<;os, posteriormente anulada pelo Supre- procuradoria-Geral da República, que
mo Tribunal Federal (R.E. n'? 54.008) opinou pela reforma da sentença, a fim
em virtude da falta de "pronunciamen- de que a ação seja julgada improce-
to prévio do Executivo". Fundamentam dente.
o pedido com as Leis n 9S 3.780/60 e
4.242/63. Estudados os autos, encaminhei-os ao
meu digno Revisor, aguardando dia pa-
A ré contestou o pedido às fls. 14/15, ra julgamento.
em que sustenta:
É o relatório.
a) que a amostragem constante dos
processos administrativos não compro- VOTO
vou no tempo o desempenho de atri-
buições próprias do cargo em que pre- o Sr. Min. H enoch Reis (Relator):
tendem ser readaptadas; Sr. Presidente, li com atenção, como
de costume, todas as peças dos presen-
b) que não está comprovado o des- tes autos, e cheguei à mesma conclu-
vio funcional por prazo superior a dois são que O ilustrado Juiz, Dr. Hermillo
anos, ininterruptamente, até 17 de ju- Galant, com apenas um reparo quan-
lho de 1963, ou interpolado durante to à extensão que deu à readaptação
,cinco anos; das Autoras.
, c) que também não está comprova- A decisão está assim redigida:
do houvesse sido o desvio funcional por
!necessidade absoluta do serviço, bem "O deslinde da controvérsia
Icomo inexiste prova de aptidão e habi- existente nestes autos se resume na
litação das autoras para o desempenho apreciação da prova. A contesta-
regular do novo cargo. ção não discute a fundamentação
Foram apensados aos autos os proces- jurídica do pedido. Sustenta ape-
sos administrativos referentes às cinco nas que as postulantes não produ-
postulantes. ziram provas suficientes para a
configuração exata do instituto da
Despacho saneador irrecorrido. readaptação. Data venia, com o
Por sentença de fk 41/44, a ação foi exame detido que fiz de todos os
julgada procedente, nos termos do pedi- processos administrativos em apen-
do, com exceção do pedido de correção so, cheguei à conclusão em senti-
monetária e percentagem de honorários do contrário, isto é, comprovaram
de advogado, que a sentença fixou em cumpridamente todos os requisitos
10% sobre os atrasados. exigidos por lei para alcançarem a
pleiteada readaptação. Para exem-
A par do recurso de oHcio, apelaram plificar, vejamos a vasta amostra-
a União Federal, com as razões de fls. gem referente a serviços pertinen-
49/50, advogando a reforma da senten- tes à fiscalização executados pela
ça para julgar a ação improcedente, e primeira postulante, Clara Adália
as autoras, com as razões de fls. 51/52, Cabeda Alencastre (Processo n'?
pleiteando seja a União Federal conde- 109.854/69) : os documentos de
nada ao pagamento de juros de mora e fls. 8 a 20 firmados por graduados
o restabelecimento da percentagem de funcionários do Ministério da Fa-
20% de honorários de advogado do pe- zenda, inclusive Delegado Seccio-
dido inicial. nal dd I. R. , demonstram cabal-
- 90-

mente o exerClClO das funções de o Parecer, constante por c6pia


Agente Fiscal do Imposto de Ren- mimeografada de todos os proces-
da, no período exigido por lei, du- sos administrativos, de autoria de
rante dois anos consecutivos ou cin- dois fiscais e que serviu de base
co intercalados, antes de 17 de ju- para o arquivamento administrativo
lho de 1963; b) o desvio funcional dos pedidos, foi fulminado pela
se verificou "por absoluta necessi- Orientadora da equipe de Agentes
dade de serviço e por não existir Fiscais, Sra. Maria Aparecida Fi-
na Repartição outros funcionários gueira da Costa, como se vê da
de carreira para tal fim", afirma transcrição de fls. 25. Pelo ex-
textualmente o Delegado Ornar posto, julgo procedente a ação, nos
Castro de Castro (fls. 8); outro termos do pedido, com exceção do
Delegado Regional, às fls. 186, pedido de atualização pela corre-
atesta, em dezembro de 1968, o des- ção monetária, que não cabe no
vio funcional, "até a presente data, caso, e a percentagem de honorá-
por necessidade absoluta do servi- rios profissionais, que devem ser
ço" (síc); c) a aptidão para o de- pagos pela Ré, percentagem essa
sempenho das funções foi demons- qu~, fixo em 10% sobre os atrasa-
trada, entre tantos, por execução dos.
destes serviços: exame de escrita
mercantil (fls. 30), lavratura de Como se vê, Sr. Presidene, o DI.
auto de infração (fls. 94 e 97), lau- Juiz a quo examinou minuciosamente
do de exame de escrita (fls. 104), todos os ângulos da controvérsia, anali-
conferência de declaração de ren- sando os documentos existentes nos vo-
dimentos de pessoa físi~a e jurídica lumosos processos administrativos apen-
(fls. 107/109), lançamentos ex of- sos a estes autos.
fício, etc. Penso, todavia, que os efeitos da rea-
As demais postulantes apresenta- daptação aqui decretada não devem re-
ram documentação semelhante, troagir à data pleiteada na inicial, mo-
oriunda das mesmas fontes, qUie tivo por que dou provimento, em parte,
considero idônea, por conhecer pes- ao recurso de ofício e ao voluntário da
soalmente alguns dos signatários. União, para determinar que os venci-
Estão assim distribuídos os docu- mentos e vantagens atribuídas às Auto-
mentos: Célia Portilho Bueno, pro- ras, em virtude da readaptação, tenham
início a partir da citação inicial.
cesso n 9 109'.852/69, de fls. 27 a
120 e 126 a 136; Maria da Concei- Quanto à apelação das suplicantes,
ção MaUe Bon Book, de fls. 24 a nego-lhes provimento.
37; 45 a 144; Sonia Martins, fls. 19 É o meu voto.
a 141; Nilza Pinto, de fls. 36 a
235. Esta última folha referente a VOTO
um Parecer datado ainda de 1968.
Para caracterizar ainda mais as O Sr. Min. José Néri da Silveira (Re-
funções que exerciam, em desvio visar): Sr. Presidente. As autoras pedem
funcional, todas elas portavam car- readaptação como Agentes Fiscais do
teira que as identificavam como Imposto de Renda. São detentoras de
Agente Fiscal do Imposto de Ren- cargos de escrevente-datil6grafo e escri-
da, assinadas pelo Delegado Regio- turário.
nal e o Chefe da Fiscalização (fls. Em 1961, em torno de idêntica pos-
21/22) . tulação, ingressaram em juízo, vencendo
- 91-

em primeiro grau e neste Tribunal. O "3. Ora, num processo de rea-


Supremo Tribunal Federal cassou a de- daptação, a amostragem e os perío-
cisão no Recurso Extraordinário número dos de desvios em que devam ser
54.008, porque não houvera prévia ma- situados, assim como a especifica-
nifestação administrativa, conforme se ção das atribuições, são fatais para
depreende dos acórdão insertos na Re- definição do direito do readaptan-
vista Trimestral de Jurisprudência, vo- do. Como poderíamos situar a es-
lumes 33, pág. 26 e 35, pág. 403. pecificação e os exemplos típicos
de tarefas para uma readaptação
Em virtude da sentença concessiva de no cargo de AFIR (Agente Fiscal
segurança antes referida, cujo funda- do Imposto de Renda), como uma
mento foi o princípio da isonomia, che- conceituação e interpretação expres-
garam as autoras a perceber as vanta- sa no 29 semestre de 1968 e 19 se-
gens correspondentes ao cargo de Agen- mestre de 1969, quando a lei exige
te Fiscal do Imposto de Renda por dois que o período de desvio tem que
anos. Em decorrência disso, também, se- estar situado na faixa de 1954 a
gundo alega a Administração, é que ob- 1963 e que nessa época existia uma
tiveram Carteira de Identidade para legislação própria aplicável ao
atuação junto a firmas como Agentes caso?
Fiscais. A legislação aplicável ao caso é
a seguinte: Decreto n 9 32.250, de
A questão proposta nos autos, em seu 18-11-55 (art. 59, letra g); Decreto
mérito, pertine ao exercício, ou não, por n 9 40.702, de 31-12-56 (art. 137, §
parte das autoras, das atribuições con- 19 ); Decreto n 9 47.379, de 7-12-51
cernentes ao cargo pretendido. Segundo ( art. 138, § 19 ); Decreto-lei n Q
a Administração, o trabalho por elas de- 1.920, de 19-12-62 (art. 13, letra e);
sempenhado não se enquadra no que Decreto n 9 51.900, .de 10-04-63 (art.
constitui as atribuições preponderantes
138, § 19 ).
de Agente Fiscal do Imposto de Renda.
É certo que não é necessário, na realdap- 4. Nos dispositivos de lei, acima
tação, haja o readaptando desempenha- citados, estão expressos claramente:
do todas as funções do cargo em que "Compete privativamente aos Agen-
pretenda ser readaptado, sendo suficien- tes Fiscais do Imposto de Renda" e
te o exercício de uma parte substancial mais adiante:
e fundamental das atribuições caracte- "Os agentes fiscais do imposto
rísticas do loeus funeionalis desejado, de renda farão a revisão das de-
por essa via. clarações de rendimentos dos
contribuintes e das guias de reco-
Há nos autos, sem dúvida, alguma di- lhimento apresentadas pelas fon-
vergência entre as partes, no que res- tes, informarão os processos que
peita à legislação definidora das atribui- lhes forem distribuídos."
ções do Agente Fiscal do Imposto de Outras observações faz a ilustra-
Renda. É certo, porém, que, na instância da Orientadora do DASP sobre a
administrativa, contraditando o funda- matéria no referido parecer, dando,
mento do despacho indeferitório, segun- pois, colorido especial à total pro-
do o qual não provaram, pela amostra- dência da ação (vide parecer às fls.
gem das tarefas realizadas, terem efeti- 2:37/239 do Processo Adm. de Nilza
vamente estado em desvio de função, a Pinto - proc. n 9 18.964/66).
Sra. Orientadora da Equipe de Agentes "3. Salienta-se, ainda que os dois
Fiscais, às fls. 26 dos autos, observou: processos administrativos remetidos
- 92-

evidenciam o cumprimento pelas buições que se compreendem nas alíneas


autoras de todos os requisitos exigi- de a a i, dentre as quais são de destacar
dos por lei. O pedido de readap- as seguintes:
tação de Adália teve início em 17 b) realizar o controle diretO' dO'
de dezembro de 1965 e o de Nilza impostO' sujeitO' à retenção nas fon-
em igual data. Em ambos, há pa- tes (Decreto n 9 38.250, art. 59, b).
recer favorável à readaptação do
DASP, através da Chefe da Equipe d) realizar as diligências ne-
e Supervisor (Vide fls. 240-v. do cessárias para apuração da proce-
proc. de Nilza Pinto e 133-v. de dência das deduções e abatimen-
Clara .AJdália Cabeda Alencastre). tos feitos nas declarações das pes-
soas físicas, especialmente os rela-
4. Os processos administrativos tivos a encargos de família, juros
das demais autoras possuem a mes-
de dívidas pessoais e pagamentos
;ma instrução e o mesmo desfecho.
a médicos e dentistas (DecretO' n 9
5. Face ao exposto, pedem as 38.250, art. 59, d).
autoras seja julgada procedente a
ação, nos termos da inicial, reque- e) efetuar as perícias de conta-
rendo, desde já, seja marcada au- bilidade e demais diligências ne-
diência de instrução e julgamento e cessárias à fiscalização do imposto
requisitados os demais processos de renda (DecretO' n9 38.250, art.
administrativos do Sr. Secretário da 59, e).
Receita Federal, no Estado da Gua- g) representar sobre irregulari-
nabara, conforme informação de fls. dades decorrentes da aplicação
17 dos autos." deste regulamento, quando não
Dessa sorte, na esfera administrativa, possam ser objeto de auto de in-
há o parecer, sem dúvida qualificado, fração."
da Sra. Orientadora da Equipe de Agen- Vê-se daí que, segundo a legislação
tes Fiscais, em prol da pretensão das então em vigor, nãO' se fazia necessáriO',
autoras, deixando claro que o desvio de para que houvesse, em verdade, desem-
função e amostragem das tarefas de- penho de atividade de Agente Fiscal
sempenhadas deveriam ser examinados do Imposto de Renda, que o funcio-
na quadra em que teriam ocorrido, e nário estivesse sempre em serviço de
não de acordo com legislação editada fiscalização externa, fora da reparti-
posteriormente, isto é, de 1968 a 1969. ção. Na repartiçãO', poderia reexami-
Se é certo que, de acordo com a nova nar declarações de contribuintes, de-
legislação, as atribuições desempenha- clarações de renda, denunciar irregula-
das pelas autoras e consideradas como ridades decorrentes da aplicação do
desvio de função, antes correspondiam regulamento, examinar O' desconto, o
à AFIR, e hoje não mais correspondem, controle direto do Imposto de Renda
exato é que, para o deslinde da questão, sobre a retenção na fonte.
inteira razão assiste à Sra. Orientadora
da Equipe de Agentes Fiscais, quando Realmente, o funcionário administra-
sustenta que a legislação invocável é a tivo podia estar em contínuo desempe-
vigente à época em que a verificação de nho dessas tarefas e ser considerado em
desvio de função se deu. Neste sentido, desvio de função, exercendo atribuições
consoante os arts. 137 do Decreto n 9 atinentes a Agente Fiscal do Imposto
40.702, de 1956, 138 do Decreto n9 de Renda. Se é verdade, como sustenta
47.373, de 1959, e 138 do Decreto n 9 a União, que as funções que considera
51.900, de 1963, são semelhantes às atri- preponderantes de lavratura de autos e
-93-

realização de perícias contábeis não pa- são do pedido vestibular. Refiro-me aQ


recem provadas nos atos como realiza- termo a quo de asseguração do direito à
das no período de que se cogita na ini- percepção de vencimentos correspon-
cial, certo é que provado ficou, con- dentes ao cargo de AFIR.
soante a análise feita na sentença, que A orientação do Supremo Tribunal Fe-
as autoras exerceram, se não todas, deral, como se pode ver do Recurso em
muitas das funções concernentes a Agen- Mandado de Segurança n 9 17.211 -
te Fiscal do Imposto de Renda, que en- Relator, Ministro Adalício Nogueira -
tão constituiam o núcleo ocupacional do D. J., de 29 de novembro de 1968, pá-
cargo em foco. gina 5.049, quanto a essa matéria, é a
Há, em favor das autoras - e este seguinte: (lê)
considero argumento de menor impor- Se é exato que o art. 46 da Lei núme-
tância - o fato de terem elas desempe- ro 3.780 pertine à concessão da rea-
nhado, devidamente tituladas, inclusive daptação na órbita administrativa, -
com credencial da repartição, todos os quando tal se dá por força de provisão
serviços próprios de Agente Fiscal do judicial, não me parece possível que o
Imposto de Renda. Repito que empresto decisum tenha extensão mais larga do
pouca importârncia a esse argumento, que aquela prevista na regra do artigo
porque o fato decorreu da sentença de 46 da Lei de Reclassificação de Cargos.
Primeira Instância, no antes referido Se, aí, for deferido o pedido, a readapta-
mandado de segurança, que foi executa- ção somente será eficaz a partir da pu-
da imediatamente pela repartição, con- blicação do decreto. Não tenho como
siderando-as readaptadas. pO'ssível que, negado no plano adminis-
Se o Supremo Tribunal Federal cassou trativo e concedido judicialmente, essa
essas decisões de primeiro e segundo outorga judicial retropere à data do pe-
graus, tudo o que delas decorreu não dido na instância administrativa. ComO'
pode ser invocado em favor das autoras não teria essa eficácia se fosse ali defe-
para a comprovação do desvio das fun- rido, não compreendo viável emprestar-
ções de seu cargo. Mas, parece-me que lhe tal condão de resultar da sentença.
aquelas atribuições que de fato realiza- Entendo que, deferida a readaptação na
ram, no período antes assinalado, como instância judicial, hãO' de ser invO'cados
bem destacou a sentença e resulta do os princípios gerais quanto à eficácia da
pronunciamento da Sra. Orientadora da sentença. Normalmente, na ação ordiná-
Equipe de Agentes Fiscais, pela conti- ria, o efeito da sentença, quando dá pela
nuação com que se deu o exercicio des- procedência da ação, é a partir da ci-
sas funções e pela necessidade de servi- tação inicial. Logo, parece-me que, no
ço também comprovada nos autos, du- caso das readaptações por via de deci-
rante o período do desvio, em verdade são judicial, duas sãO' as soluções possí-
são suficientes para que se mantenha veis: ou se concedem os atrasados a par-
nesta Instância o acolhimento da pre- tir da citação inicial, ou entãO' a partir
tensão das autoras. do trânsito em julgado do acórdãO' con-
firmatório da readaptação. Prefiro, nes-
N esse sentido, quanto ao mérito, sa alternativa, ficar com a regra geral,
acompanho o Relator, reconhecendo o emprestando eficácia à sentença de rea-
direito à readaptação. daptação desde a citação inicial. Em
Há, entretanto, outro aspecto posto verdade, se a União contestou O' feito,
na inicial, que me parece merecer des- assumiu o ônus eventual de uma decisãO'
taque neste momento, em relação ao desfavorável. Parece que, cO'm isso, nãO'
qual, data venia, não empresto a exten- se desrespeita o art. 46 da Lei n 9 3.780,
- 94-

e se assegura à parte, que foi forçada a eminente Ministro Relator, que, neste
vir a juízo, o reconhecimento do direito; particular, acompanho.
tal como nas demais ações ordinárias, a
partir desse termo se assegura a preten- DECISÃO
são ao autor tido como vitorioso. Como consta da ata, a decisão foi a
Dou, pois, provimento em parte ao seguinte: Por unanimidade, deram pro-
recurso de ofício e ao voluntário da vimento em parte, ao recurso de ofício
União para conceder os vencimentos e e voluntário da União Federal para que
vantagens atrasados, relativos ao cargo os efeitos da readaptação fossem conta-
em que se reconhece a readaptação dos dos a partir da citação dos autores. Os
autores, desde a citação inicial. No que Srs. Mins. Néri da Silveira e Márcio Ri-
concerne ao recurso dos autores, nego- beiro votaram com o Sr. Ministro Rela-
lhes provimento, acolhendo os funda- tor. Presidiu o julgamento o Sr. Min.
mentos da sentença e os do voto do Márcio Ribeiro.

APELAÇÃO CíVEL N.o 31.989 - SP


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Jorge Lafayette Guimarães
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Henrique d'Avila
Apelante - Armando Bordenal
Apelado - INPS
EMENTA
Previdência Social. Despesas com tratamento mé-
dico. O reembolso das despesas de tratamento depende
de "comprovada urgência" (art. 121, VIII, Decreto n.o
42.959-Af60); negada esta urgência, pelo INPS, sem
que o segurado haja efetuado prova da mesma, impro-
cedente é a ação.

Vistos, relatados e discutidos estes au- julgou improcedente a ação ordinária


tos, em que são partes as acima indica- pelo mesmo movida contra o INPS, e
das, que é do teor seguinte:
Acordam os Ministros que compõem a
Primeira Turma do Tribunal Federal de "Armando Bordenal, brasileiro,
Recursos, por unanimidade, em negar casado, comerciante aposentado, re-
provimento ao recurso, na forma do re- sidente e domiciliado em ltu, neste
latório e notas taquigráficas precedentes, Estado, propôs a presente ação
que passam a integrar este julgado. contra o Instituto N acionaI de
Custas de Lei. Previdência Social - INPS - vi-
sando a cobrança da quantia de
. Brasília, 19 de junho de 1972. - H en- Cr$ 370,34 (trezentos e setenta cru-
rique a: Avila, Presidente; Jorge La- zeiros e trinta e quatro centavos),
fayette Pinto Guimarães, Relator. alegando, em síntese que: a impor-
tância ora cobrada foi dispendida
RELATÓRIO
com o tratamento médico cirúrgico
O Sr. Min. Jorge Lafayette Guimarães de sua esposa Dª' Zaida Bordenalle,
(Relator): Recorre Armando Bordenal submetida a uma operação em Itu,
da sentença de fls. 42/43, do Juiz Fe- pelo médico Dr. Enio Chiereghini,
deral Dr. Celso Dias de Moura, que sem prévia autorização do Instituto
95 -

réu, dada a sua urgência na forma Entre os documentos apresentados


do art. 121, incisos I, H e IH do no processo (fls. 36), verifica-se o
Regulamento Geral da Previdência parecer em que se estribou a auto-
Social baixado com o Decreto ridade administrativa para indeferir
n 9 48. 959-A, de 19-9-60; . arts. 111 o pedido de reembolso, vasado nos
e 112 do Decreto n 9 60.501, de seguintes termos: "Nada no presen-
14-3-67, e nova redação dada pelo te processo nos leva à convicção de
Decreto n 9 60.998, de 13-7-67, jun- urgência, vide atestado de fls. 9, fala
tando, na ocasião, todos os compro- em fibroma uterino porém nunca
vantes do alegado, havendo o réu em complicação hemorragia-uteri-
informado ao autor haver indeferi- na, etc., etc. que tomasse a inter-
do o pedido de reembolso ora for- venção de urgência imediata". As-
mulado em Juízo, por falta de am- sim, nos termos da legislação vigen-
paro legal, pelo que, inconformado te e sua respectiva regulamentação
com a negativa do réu, requer a sua deveria o autor se valer dos servi-
citação para os termos da presente ços médicos do Instituto em Cam-
ação. Com a inicial apresenta o do- pinas, ou nesta Capital. A prova a
cumento de fls. 4, requerendo a re- ser feita cabalmente pelo autor de-
quisição do processo administrativo. veria se restringir exclusivamente à
Citado o executado foi contestado o urgência extrema da operação a que
feito às fls. 9/11, com apresentação se submetera sua esposa, na cida-
dos documentos de fls. 12/15. O de local de sua residência, onde
processo foi saneado às fls. 19 tendo nem mesmo existia posto médico
sido designada a audiência de exi- do SAMDU, como o explícita em
bição do processo administrativo, suas razões, na audiência de instru-
na qual (fls. 25), o autor requereu ção e julgamento. Ao judiciário não
fossem trasladados os documentos compete estender a lei para os
que se encontram às fls. 28/33. O casos de exceção ainda que legal
Instituto réu requer a juntada do senão comprovados à sociedade.
documento de fls. 36. Designada a Isto posto e de tudo o mais que do
audiência de instrução e julgamen- processo consta julgo improceden-
to a ela compareceram as partes e te a ação, condenando o autor no
a Procuradoria da República pela pagamento das custas e honorários
União Federal, como assistente. É o de advogado, que fixo em Cr$ 50,00
relatório. Passo à Decisão: Pretende (cinqüenta cruzeiros)."
o autor reembolso da quantia relati- Na apelação, sustenta o autor-apelan-
va às despesas a que dispendeu com te que como resulta da referência ao
o tratamento médico cirúrgico de item III, do art. 121, do Decreto núme-
sua esposa, submetida a operação ro 48. 959-A, de 1960, embora tenha feito
na cidade de Itú, sem prévia auto- alusão a urgência, não pretende receber
rização cio réu dada a urgência e o valor integral do tratamento médico,
gravidade com que se apresentou cujo pagamento, em tais casos, é asse-
seu caso. Contesta o réu não assis- gurado pelo art. 121, VIII, mas sim o
tir ao autor tal direito de vez que o pagamento parcial destas despesas, na-
quadro apresentado pela autora, quele inciso previsto, decorrente do re-
conforme ficou depreendido do gime de '1ivre escolha", havendo a sen-
atestado médico apresentado, não tença incorrido em equívoco.
se revestia da extrema gravidade e Com as razões de apelado de fls. 47,
urgência mencionadas pelo autor. subiram os autos, e a douta Subprocura-
- 96-

daria-Geral da República proferiu o pa- to, para os casos de urgência, em outro


recer de fls. 51, pelo não provimento da inciso - o de n 9 VIII.
apelação.
Realmente os incisos I, II e III não
É o relatói'io. se referem ao reembolso integral, con-
cedido para os casos de urgência.
VOTO
Mas, da leitura da inicial, evidencia-
O Sr. Min. Jorge Lafayette Guima- se que apesar da invocação àqueles in-
rães ( Relator) : A sentença apelada cisos, o que pediu o autor foi o paga-
bem decidiu a espécie, merecendo a mento integral, pelo Instituto, das des-
confirmação, pelos seus própi'ios e ju- pesas com o tratamento médico de sua
rídicos fundamentos, já lidos quando esposa, como ressalta do seguinte tre-
do relatório. cho:
Não há prova alguma que justifique "O autor requereu àquela Enti-
o reembolso das despesas de tratamen- dade, em 29 de março de 1968, o
to, referentes à esposa do autor, que de- pagamento de NCr$ 370, 345, na
pendei'ia de "comprovada urgência", forma de reembolso de igual quan-
segundo o art. 121, VIII, do Regulamen- tia que foi obrigado a gastar com
to aprovado pelo Decreto n 9 48.959-A, o tratamento médico cirúrgico de
de 1960, vigente na data do tratamento sua esposa ... "
médico em causa, cuja data o autor não
declarou, mas há de ser anterior a abril Por conseguinte, havendo dispen-
de 1966, quando foi requerido o respec- dido no tratamento NCr$ 370, 345, pre-
tende "reembolso de igual quantia", isto
tivo reembolso, segundo a sua petição,
é, reembolso integral, somente cabível
por ele próprio anexada por cópia (fls.
28) . nos casos de urgência, conforme o já
citado art. 121, VIII.
Negado dito reembolso, pela Previ- Ainda mais, juntou o autor a cópia
dência Social, sob fundamentação de de petição dirigida ao INPS, em mar-
não haver dita urgência, pelo que de- ço de 1968 (fls. 28), onde se faz refe-
veria ter o autor procurado o SAMDU rência a pedido anteriormente formu-
ou os serviços médicos do Instituto, em lado para
outras localidades (fls. 3), cumpria ao
mesmo fazer a prova em contrário à "reembolso da quantia total de
alegação, justificando a urgência, indis- NCr$ 370,345, que foi obrigado a
pensável ao recebimento das despesas fazer com a operação e tratamento
efetuadas. urgente d e sua esposa ... "
É o que bem sustentou a sentença. e diante do indeferimento daquele é
que propôs reembolso na base legal da
Na apelação, atribuindo equívoco ao fórmula rem. X 10%, isto é, reembolso
ilustre Dr. Juiz a quo, procura o autor
yariar de fundamento, quanto à sua sal. mín.
pretensão, que não mais seria a "urgên- parcia~ o que não mais repetiu na ini-
cia"; alega que como resulta da invoca- cial da ação.
ção aos itens I, II e III, do art. 121,
pretende apenas o reembolso de parte Não há, pois, como sustentar que em
das despesas, como decorre do regime Juízo pretendia o ora apelante tão so-
de '1ivre escolha", no tratamento médi- mente o reembolso parcial, do art. 121,
co, estando o reembolso integral previs- VIII, do Regulamento.
- 97-

Assim sendo, nego provimento à ape- são unarume. Os Srs. Mins. Henrique
lação. d'Ávila e Moacir Catunda votaram de
DECISÃO acordo com o Sr. Ministro Relator. Pre-
Como consta da ata, a decisão foi a sidiu o julgamento o Sr. Min. H enrí-
seguinte: Negou-se provimento. Deci- que irÁvila.

APELAÇÃO CíVEL N.o 32.268 - GH


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Jarbas Nobre
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Godoy Ilha
Recorrente - Juiz Federal da 5~ Vara, ex otticio
Apelante - União Federal
Apelado - Ademir Ignácio Machado
EMENTA
Reforma de militar, portador de epilepsia temporal,
incapacitado definitivamente para o serviço, sem poder
prover os meios de subsistência. Devidos os proventos
de 3.° Sargento, visto como sua incapacidade decorreu
de acidente sofrido quando incorporado, embora fora
de instrução. Aplicação do disposto no § 3.°, art. 28 e
sua letra d, combinado com o art. 3,1 e seu § 2.°, letra
d, tudo da Lei n.o 4.902/65. Sentença confirmada.

Vistos, relatados e discutidos estes gado definitivamente incapaz para o


autos, em que são partes as acima indi- serviço.
cadas,
Ao invés de ser reformado, foi ape-
Decide a Segunda Turma do Tribu- nas licenciado do serviço ativo vivendo,
nal Federal de Recursos, por unanimi- atualmente, na dependência de outras
dade de votos, negar provimento, na pessoas, visto como não possui meios
forma do relatório e notas taquigráfi- para se manter e nem pode exercer
cas precedentes, que ficam fazendo par- qualquer atividade.
te integrante do presente julgado.
Custas de lei. Contestando o feito, a ré nega tenha
Brasília, 23 de junho de 1972. - Go- o autor sofrido o alegado acidente em
doy Ilha, Presidente; Jarbas Nobre, Re- serviço.
lator. Doutro lado assevera que ao licen-
RELATÓRIO
ciar, após a conclusão do tempo, o au-
tor, este foi julgado apto pela Junta
O Sr. M in. JaJ'bas Nobre (Relator): Médica que o examinou.
Ademir Ignácio Machado move a pre-
sente ação ordinária contra a União Fe- A ação foi julgada parcialmente pro-
deral em que pleiteia sua reforma de cedente para que o autor passe a per-
acordo com o disposto no art. 27, letra ceber, desde o seu licenciamento, os
c, art. 30, letras b e c, e art. 33, §§ 19 proventos correspondentes à graduação
e 2 9, letra b, da Lei n9 2.370, de 9-12-54. de 39 sargento.
Isto porque, como expõe, ingressou Isto porque o Dr. Juiz considerou-0
nas fileiras da Aeronáutica quando, em enquadrado na hipótese prevista no §
instrução, ao dar um salto fraturou o 39, art. 28, da Lei n 9 4.902/65, sendo-
crâneo e, em razão do acidente, foi jul- lhe aplicável o disposto no art. 28, le-
- 98-

tra d combinado com o art. 31 e seu § mentos militares a respeito induz a


29, letra b. que se conclua não ter tal jogo de
Há recurso ex officio e apelação futebol - se realmente houve este
da ré. - sido parte de instrução militar.
Aliás, nenhuma prova sobre este
A Subprocuradoria-Geral da Repú- ponto foi produzida, e nem mes-
blica pede a reforma do decisório. mo que tivesse havido a partida de
É o relatório.
futebol. É lícito, entretanto, admitir
VOTO
embora não em serviço - pelo sur-
gimento dos sintomas que o levaram
O Sr. Min. Jarbas Nobre (Relator): à hospitalização.
O documento de fls. 47, originário do
Hospital Central do Exército - Clínica E embora o laudo médico do Dr.
Psiquiátrica, datado de 21-8-66, dá notÍ- Perito da ré seja do sentido de que
cia de que o autor sofre de epilepsia as características da doença são as
temporal, é incapaz definitivamente pa- mesmas desde a infância, os outros
ra o serviço militar, e não pode prover laudos, inclusive o do HCE não cor-
os meios de subsistência. roboram este ponto de vista.
Estranhamente, dois dias depois Anote-se, a respeito, que o autor
(23-8-66), foi ele julgado apto pelo Ser- é praça de 3 de fevereiro de 1964
viço de Clínica Psiquiátrica do Hospital e o exame médico no HCE é de
Central da Aeronáutica, podendo ser li- agosto de 1966, pelo que é cabível
cenciado por conclusão de tempo. ponderar que os sintomas da doen-
ça, se existentes anteriormente ao
Submetido a perícia, o Perito da ré ingresso na Aeronáutica, deveriam
deu-o como um "débil mental leve. Per- ter sido notados não apenas quanto
sonalidade esquizóide com núcleo histe- da inspeção de saúde inicial - às
róide", 'estado este que não tem relação vezes realmente falha - mas tam-
de causa e efeito com o acidente por ele bém durante os trinta meses de ser-
sofrido, "pois os distúrbios permanentes viço, antes do seu internamento."
que apresenta remontam à infância."
Ante tais apreciações, concluiu o Dr.
J á o Perito do autor, encontra nexo
Juiz no sentido de que
causal entre o acidente e a doença.
"se pode concluir ter a doença sur-
O expert do Juiz tem o autor na conta
gido quando se encontrava ele in-
de um débil mental. Personalidade es- corporado às Forças Armadas e, em
quizóide. Epilepsia temporal. conseqüência de acidente, embora
No que se refere ao acidente, afirma não ocorrido durante instrução."
o autor ter de ocorrido em instrução, (fls. 86)
em jogo de futebol que disputava, oca- O ora apelado é um alienado mental,
sião em que levou uma cabeçada de um segundo o laudo de seu Perito que me-
colega. receu a preferência do Dr. Juiz, dentro
A tal propósito, com absoluta proprie- do conceito adotado pelo art. 28, § 3 9,
dade assinala a Sentença, às fls. 85/86, da Lei n 9 4.902/65, aplicável à espécie:
que: "Considera-se alienação mental
"em nenhum momento afirma - todo caso de distúrbio mental ou
salvo na inicial - que o jogo de neuro-mental grave e persistente, no
futebol fazia parte de instrução. A qual, esgotados os meios habituais
falta de registro nos seus assenta- de tratamento, permaneça alteração
- 99-

completa ou considerável na perso- habituais de tratamento com a pen:na-


nalidade destruindo a autodetermi- nência da alteração mental observada no
nação do pragmatismo e tornando o autor.
indivíduo total e permanentemente Entendo que sim, como pareceu tam-
inválido para qualquer trabalho. bém ao Dr. Juiz.
Ficam excluídas do conceito de
alienação mental as epilepsias psi- Como por ele assinalado (fls. 88)
quicas e neurológicas, assim julga- "se o HCE deu baixa nos autos,
das pelas juntas médicas de saúde." embora o julgasse incapaz defini-
Lê-se na Sentença às fls. 87, que a tivamente para prover os meios de
saúde mental do autor foi seriamente sua subsistência, é de entender-se
abalada, tendo havido alteração de sua que foram esgotados os meios habi-
personalidade, posto que se tornou inca- tuais de tratamento ... "
capaz para prover os meios de subsis- Isto posto, mantenho a sentença recor-
tência, como prevê a última parte do rida, para, na forma do disposto no § 39,
aludido dispositivo. A redução do seu art. 28, combinado com os arts. 28, letra
pragmatismo há que ser considerada, d, e 31 e seu § 29, letra b, da Lei n 9
deste modo, em grau tal que o inclui na 4.902/65, considerar reformado o autor
categoria prevista no mencionado art. com os proventos da graduação de 39
28, § 39, da Lei n9 4.902, de 1965, pois a sargento, proventos estes devidos desde
doença o levou àquele estado de incapa- o dü de seu licenciamento, custas e
cidade para prover a própria subsistên- juros moratórios e verba honorárias de
cia que caracteriza exatamente o grau de 5% sobre os atrasados que forem apu-
sua desordem mental. rados.
N o que se refere ao nexo causal aci- É o meu voto
dente-doença, fico, ainda aqui, com a
decisão recorrida, eis que, na forma do DECISÃO
disposto no art. 28, e, da Lei n 9 4.902, a
incapacidade pode resultar de acidente Como consta da ata, e decisão foi a
ou doença sem relação de causa e efeito seguinte: Negou-se provimento, por de-
com o serviço. cisão unânime. Os Srs. Mins. Godoy
Ilha e Amarílio Benjamin votaram com o
Há a examinar, por derradeiro, se no Sr. Ministro Relator. Presidiu o julga-
caso presente, foram esgotados os meios mento o Sr. Min. Godoy Ilha.

APELAÇÃO CíVEL N.o 32.578 - GB


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Moacir Catunda
Recorrente - Juiz Federal da Primeira Vara, ex o/ficio
Apelante - União Federal
Apelada - Juliette Diotti
EMENTA
Militar. Curso Especial de Saúde. Tendo em vista
a documentação oferecida e a satisfação das condições
estabelecidas em lei para a obtenção do benefício re-
questado, é de se negar provimento ao recurso neces-
sário, confinnando-se a decisão concessiva do pedido.
Vistos, relatados e discutidos estes au- Decide a Primeira Turma do Tribunal
tos, em que são partes as acima indica- Federal de Recursos, à unanimidade,
das, negar provimento, na forma do relatório
- 100-

e notas taquigráficas precedentes, que prontamente requereu ao Minis-


ficam fazendo parte integrante do pre- tro da Aeronáutica tais benefícios,
sente julgado. Custas de lei. mas seu requerimento recebeu o se-
guinte despacho:
Brasília, 12 de junho de 1972. - Hen-
rique d' Ávila, Presidente e Relator. "Arquive-se, aguardando a re-
gula~entação da Lei. À D.P.
RELATÓRIO Aer.,
O Sr. Min. Henrique d'Ávila (Rela- que a lei em questão é auto-aplicá-
tor): A espécie controvertida nos autos vel, não existindo nela nenhum con-
foi assim exposta e decidida pelo MM. dicionamento à prévia expedição de
Dr. Juiz a quo: regulamento para sua execução, ra-
zão por que poderia ter sido aplica-
"Juliette Diotti, devidamente qua- da de imediato na Aeronáutica,
lificada na inicial, propôs a presen- como foi na esfera do Ministério
te Ação Ordinária contra a União do Exército;
Federal, alegando:
que sua matrícula no Curso Espe-
que é sub oficial da Aeronáutica, cial de Saúde deveria ter sido feita
tendo sido incluído na Força Aérea independentemente de exame de
Brasileira em 10-7-1945; admissão, a que não estava sujeito,
bastando que satisfizesse os requisi-
que é cirurgião dentista, formado tos estabelecidos no § 19 do artigo
pela Faculdade de Farmácia e 19, vale dizer, que contasse mais de
Odontologia de São Luiz, no Esta- cinco anos de efetivo serviço e me-
do do Maranhão, cujo curso con- nos de trinta e oito de idade e es-
cluiu em dezembro de 1953, sendo tivesse apto, mediante inspeção de
o seu diploma registrado no Minis- saúde.
tério da Educação e Cultura, sob n 9
9.306, Livro O-ll, fls. 24-v, e na se- Pediu, pelo exposto, a procedên-
ção competente da Diretoria do Pes- cia da ação para o fim de ser matri-
soal da Aeronáutica em 12-8-1959; culado no Curso de Saúde da For-
que, com a promulgação da Lei ça Aérea Brasileira, promovido ao
n 9 3.579, de 10-7-1959, cujo artigo posto de capitão do Quadro de Ofi-
19 determinou que: ciais Médicos, uma vez que, se ti-
vesse sido à época em que formulou
"Aos oficiais do A.A.O., oficiais aquele requerimento, estaria presen-
auxiliares - subtenentes - subofi- temente gozando os direitos corres-
ciais e sargentos das Forças Ar- pondentes àquele posto.
madas, com mais de 5 (cinco)
anos de efetivo serviço nas suas Pediu, por fim, a condenação da
corporações, diplomas em Medi- União Federal ao pagamento de
cina, Odontologia, Farmácia e atrasados, sobre quaisquer títulos,
Veterinária, por escolas ou facul- das custas processuais e de honorá-
dades oficialmente reconhecidas, rios de advogado.
ficam asseguradas 60% (sessenta Citada, ofereceu a União Federal
por cento) das vagas anualmen- a contestação de fls. 17/19, argüin-
te existentes nos cursos de forma- do, preliminarmente, ser o autor
ção de Oficiais da Escola de Saú- carecedor da ação, que, no mérito,
de daquelas especialidades das deve ser julgada improcedente.
suas respectivas corporações". Réplica às fls. 21/23.
- 101

Saneador irrecorrido deixou para obediência, por sinal, ao decidido


esta oportunidade o exame daquela pelo Egrégio Tribunal de Recursos.
prejudicial. Nada vejo de temerário na ação
Audiência de instrução e julga- proposta, que, ao revés, se me afi-
mento realizada a 14 deste mês. gura traduzir um legítimo direito do
Tudo visto e examinado: autor.
A argumentação produzida na de- Nestas condições, pelos elemen-
fesa da ré, inclusive na preliminar tos de convicção que os autos ofe-
argüida, é de todo improcedente. recem, rejeitando a preliminar, jul-
go procedente a presente ação para
Demonstrou o autor, com efeito, condenar a União Federal na for-
ter bastante legitimidade para a ma do pedido - letras a e d do
propositura desta ação deixando item 18 da inicial -, sendo os hono-
evidenciado seu interesse econômi- rários de advogado na base de 20%
co e moral no que nela pleiteou. (vinte por cento) e tudo conforme
apurado em execução.
Contava ele, à época da promul-
gação da Lei n 9 3.579, de 10-7-59, Custas ex lege."
menos de 38 anos de idade e mais Dessa decisão recorreu de ofício seu
de 5 de efetivo serviço e fora con- ilustrado prolator.
siderado apto em inspeção de saú-
de a que se submetera três dias an- Inconformada apelou a União Federal,
tes, conforme se vê de suas altera- com as razões constantes de fls. 50 a 53
ções (fls. 8). (lê ).
O apelo foi contraarrazoado de fls.
Tinha, em conseqüência, inteira 55 a 57 (lê).
procedência e oportunidade o seu
pedido ao Ministério da Aeronáu- Os autos vieram ter a esta Superior
tica, com base no § 19 do art. 19, Instância onde a douta Subprocuradoria-
para que lhe fossem concedidos os Geral da República exarou o seguinte
benefícios daquele diploma legal, parecer às fls. 62:
que, por sinal, e justamente para os "A douta sentença de fls. se apóia
candidatos pertencentes àquele se- exclusivamente em v. decisão desse
tor das forças armadas portadores E. Tribunal, noticiada às fls. 25, e
de diplomas de cirurgião-dentista, cujo teor, inexplicavelmente omiti-
mandou ficassem agregados ao qua- do pela inicial, ainda não se encon-
dro de oficiais médicos, até a cria- tra nos autos.
ção dos respectivos quadros (§ 29 ),
ao passo que para os da Marinha Ora, não tendo o A. argumento ou
estabeleceu a exigência de um es- prova capazes de ilidir os seguros
tágio de oito meses (§ 2 9 ). termos da contestação de fls. 17, e
como não é possível interpretar-se
Aliás, a propósito, obteve o autor uma decisão por simples notícia ex-
pelo Mandado de Segurança n 9 .. traída dos papéis administrativos
19.373, liminar quanto ao proble- evidentemente possíveis de erros,
ma de sua agregação (fls. 21), mas requeremos, preliminarmente, seja
continuou sem solução, ou melhor, o autor compelido a trazer o teor do
obteve novos indeferimentos em v. acórdão desse E. Tribunal, o que
outros requerimentos que formulou lhe cumpria fazer com a Inicial e,
para obtenção de matrícula e em não, pela forma ambígua como fez.
- 102-

Protestamos por nova vista, após desnecessária a diligência postulada no


a diligência. Se, porém, a mesma parecer da douta Subprocuradoria-Geral
não for aceita, desde já fique assen- da República.
tado que o fato mesmo de esse Co- E, quanto ao mérito, meu voto é no
lendo Tribunal haver mandado sentido de negar provimento a ambos
agregar o autor, se é que mandou os recursos para que subsista a decisão
mesmo, depõe contra o presente pe- recorrida por seus fundamentos, que se
dido. Com efeito, se há agregação é entremostram acertados e jurídicos.
porque não há quadro de dentista,
como resulta do próprio texto da lei N a realidade, tendo em vista a do-
invocada (cf. 19 da publicação jun- cumentação oferecida, o autor satisfez,
ta às fls. 58). E se não há quadro, a meu ver, as condições estabelecidas
como se faltar nas promoções que em lei para a obtenção do benefício pç>r
a inicial reclama? ele requesitado.
O parecer, assim, é pela diligên- É o meu voto.
cia, preliminarmente, se não, que no
mérito se dê provimento ao recur- DECISÃO
so, pois nada nos autos lastreia Como consta da ata, a decisão foi a
concretamente o direito postulado". seguinte: Negou-se provimento. Deci-
É o relatório. são unânime. Os Srs. Mins. Moacir Ca-
tunda e Jorge Lafayette Guimarães vo-
VOTO
taram com o Sr. Ministro Relator. Presi-
O Sr. Min. Henrique aÁvila (Rela- diu o julgamento o Sr. Min. Henrique
tor): Preliminarmente, reputo inócua e aÁvila.

APELAÇÃO CíVEL N.o 32.668 - SP


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Peçanha Martins
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Jorge Lafayette Guimarães
Recorrente de Ofícto - Juiz Federal da 6~ Vara
Apelante - Instituto Nacional de Previdência Social
Apelado - Vincenzo Marsella
EMENTA
Aposentadoria previdenciária. Cancelamento poste-
rior sem motivo plaUSível. Recursos unanimemente im-
providos.

Vistos, relatados e discutidos estes au- RELATÓRIO


tos, em que são partes as acima indi-
cadas, O Sr. Min. Peçanha Martins (Rela-
tor): O Dr. Juiz assim relatou a ma-
Decide a Primeira Turma do Tribunal téria em debate:
Federal de Recursos negar provimento,
decisão unânime, na forma do relatório "Vincenzo Marsella propôs a
e notas taquigráficas precedentes, que presente ação ordinária contra o
ficam fazendo parte integrante do pre- Instituto Nacional de Previdência
sente julgado. Custas de lei. Social (INPS) alegando em sínte-
se que era sócio da "Carbonfitex
Brasília, 26 de junho de 1972. - H en- Indústria e Comércio Ltda." com
rique aÁvila, Presidente; Peçanha Mar- a retirada mensal de 10 salários-
tins, Relator. mínimos e, nessas condições, vinha
-103 -

contribuindo para o INPS e sofren- os pagamentos, pelo valor corrigi-


do o desconto na fonte do impos- do, assim como as mensalidades da-
to de renda (docs. de fls. 8 a 30). qui por diante; pagas custas, hono-
Em dezembro de 1967 requereu a rários e juros moratórios sobre os
sua aposentadoria por velhice, que atrasados. Contestando a ação, o
foi concedida a p~rtir de 7-6-68 réu esclarece que o pedido do au-
(doc. de fls. 39). Mas como os pro- tor, constante do item 13, n 9 39 ,
ventos da aposentadoria não corres- da inicial, está relacionado com a
pondiam aos salários de contribui- aposentadoria por velhice que plei-
ção porque o INPS levou em con- teou e obteve como filiado ao
ta o teto estabelecido no Regula- IAPC, cuja documentação, ao pri-
mento do Imposto de Renda, o au- meiro exame, foi considerada boa.
tor impetrou mandado de seguran- Acontece que o benefício é passí-
ça perante o Juízo da 4~ Vara, que vel de revisão, podendo ser sus-
foi concedido, sendo, porém, cas- pensos os pagamentos indevidos, se
sado pelo Egrégio Tribunal Federal comprovada a falsidade. No caso
de Recursos. E no decorrer do pro- foram cometidas irregularidades,
cessamento do mandado de segu- acarretando a nulidade do benefí-
rança o INPS suspendeu o paga- cio. O autor se filiou ao IAPe
mento dos proventos que o autor quando já não podia mais fazê-
vinha recebendo sem nenhuma co- lo, porque contava cinqüenta anos
municação escrita. O autor tomou de idade. De sorte que as contri-
conhecimento verbal de que sua buições para o aludido instituto
aposentadoria fora cancelada por- foram indevidas, não gerando di-
que o INPS reexaminou sua inscri- reito, dada a nulidade da inscri-
ção e a considerou irregular. No ção, em face do art. 22, Decreto
entanto, entende o autor que sua n 9 60501/67. O que é nulo nenhu-
inscrição é regular porque contava ma conseqüência jurídica poderá
tempo de serviço, conforme anota- produzir. Por outro lado, o fato de
ções na sua Carteira Profissional o autor ter trabalhado para "A Voz
(fls. 40). Além disso, contribuía do Vale do Paraíba" não está de-
para o antigo IAPC e para o IAPI. monstrado, em face do documen-
Mas, segundo consta, o INPS não to de fls. 54, que destrói a anota-
considerou o tempo de serviço ção na Carteira Profissional de fls.
prestado em "A Voz do Vale do 40. E o tempo de serviço se com-
Paraíba" porque esta empresa não prova tendo em vista a disposição
teria contribuído para os cofres do art. 52, do Decreto número
previdenciais. Tudo isso, segundo 60.501/67. E por essa disposição
consta, contrariando a presunção não é possível contar o tempo no
que milita em favor do autor de IAPC quando já foi contado no
regularidade da situação. Por es- IAPI, além de não ser permitida a
crito o INPS não informa nada e concessão cumulativa de benefí-
recusa-se a pagar os proventos da cios, em face do art. 134, do Regu-
aposentadoria por velhice. Assim, lamento Geral da Previdência. Ma-
vale-se o autor da presente ação nifestando-se sobre os documentos
para compelir o réu a pagar-lhe a apresentados pelo réu, às fls. 52/55,
aposentadoria, pelo valor corrigi- o autor esclarece que o seu direito
do, a partir de 7-6-68 a 31-5-69; de obter o benefícios da aposen-
a pagar a aposentadoria de junho tadoria pela legislação anterior es-
de 1969, quando foram suspensos tá assegurado pelo art. 162 da
- 104-

LOPS. De modo que a filiação do Nesta Instância pronunciou-se a Sub-


autor ao antigo IAPC, em caráter procuradoria-Geral da República, às fls.
obrigatório, antes da LOPS, estabe- 121/122, pelo provimento dos recur-
leceu o seu vínculo àquele Institu- sos.
to, independente do seu vínculo ao É o relatório.
IAPI. O autor trabalhava para a
VOTO
firma "J. Araújo Costa" desde 1951,
anotando-se na sua carteira essa O Sr. Min. Peçanha Martins (Rela-
circunstância, a partir de 1-7-1955. tor): O autor e ora apelado requereu,
Trabalhou, também, para "J. Ca- em dezembro de 1967, na sua qualida-
ruso Mac Donald & Cia. Ltda." e de de empregador e de filiado ao an-
para a "A Voz do Vale do Paraí- tigo Instituto de Aposentadoria e Pen-
ba", conforme documentação de sões dos Comerciários, aposentadoria
fls. 59/87. Quanto ao documento por velhice, que lhe foi concedida seis
firmado por Waldemar Duarte, é meses depois, como positivam os db-
evidente que o foi por coação mo- cumentos de fls. 38 e 39. Este benefí-
ral. O INPS rebateu os argumen- cio foi posteriormente cancelado, em
tos do autor dizendo que não se junho de 1969, por força de revisão le-
aplica o art. 162 da LOPS, porque vada a efeito pelo Instituto Nacional
ele não foi filiado ao IAPC, em de Previdência Social, que teria cons-
face do documento de fls. 162. Sa- tatado várias irregularidades no respec-
neado o processo (fls. 92), reali- tivo processo administrativo.
zou-se a audiência de instrução e Sem dúvida que a Administração PÚ-
julgamento na qual foram ouvidas blica pode declarar a nulidade dos seus
duas testemunhas. Em seguida, as próprios atos. Esta é a doutrina consa-
partes debateram a causa, juntan- grada pela Jurisprudência tranqüila do
do o autor o documento de fls. Supremo Tribunal e já consubstanciada
98." no enunciado de n 9 346 da Súmula. Ao
Sentenciando julgou procedente a ação Poder Judiciário, porém, desde que
para determinar ao réu que pague ime- provocado, cabe examinar e decidir da
diatamente a aposentadoria concedida sua legalidade.
ao autor na base de Cr$ 337,00 men- No caso, a aposentadoria foi cance-
sais, nos termos do título de fls. 39, lada, segundo alega o réu, por estes
que pague todos os atrasados a par- dois motivos:
tir de junho de 1969, data da suspen- " 19 ) o autor não podia filiar-
são dos pagamentos, acrescidos dos ju- se ao antigo IAPC, por isso que
ros de mora, que corrija, em execução, contava, na época, mais de cinl-
o valor da aposentadoria com base nos qüenta anos;
salários de contribuição, que pague as
custas e honorários de advogado do 29 ) por ser fictícia a sua cola-
autor na base de 10% (dez por cento) boração no Jornal "A Voz do Vale
sobre o valor da causa. do Paraíba".
Mas improcedem ambos. É que os
Houve recurso de ofício.
autos comprovam que o autor, desde
Inconformado apelou o INPS, às fls. 1955, trabalhou em "J. Araújo & Cia",
109, aduzindo as razões de fls. 110/113. na qualidade de viajante cobrador, e,
posteriormente, em outras firmas co-
Contra-arrazoou o autor às fls ..... merciais, inclusive como sócio de "Car-
115/117. bonfitex Indústria & Comércio Ltda.".
- 105-

Teria, pois, que ser um dos filiados do nal, pág. 140), está hoje consagrada em
IAPC, como empregador, o que foi re- nosso direito positivo, pois a Lei n9 4.717,
conhecido pelo próprio INPS, tal como de 1955, ao disciplinar a ação popular,
se vê de fls. 32 da sua Carteira Pro- no art. 29 relacionou os casos de nuli-
fissional (doc. de fls. 49). E reconhe- dade, e no art. 39 admitiu a anulabili-
cendo ao autor a qualidade de segu- dade de outros atos, que se não com-
rado empregador, claro que teve em preendam nas especificações daquele,
vista a sua admissão anterior ao adven- segundo as prescrições legais e enquan-
to da LOPS, cujo art. 162, como adver- to compatíveis com a natureza dos
te a sentença recorrida, assegurou to- mesmos, a hipótese dos autos será, sem
dos os direitos aos segurados das ins- dúvida, de nulidade, abrangida na alí-
tituições que se extinguiram em vir- nea d, do citado art. 29, que menciona
tude da unificação. a "inexistência dos motivos", o que
N o que conceme à declaração de fls. ocorre,
, . nos termos do seu parágrafo
55, o segundo motivo do cancelamen- umco:
to, tenho-a como um papelucho. Wal- " . .. quando a matéria de fato
demar Duarte, o seu signatário, não ou de direito, em que se fundamen-
foi levado a Juízo, como ainda acen- ta o ato, é materialmente inexis-
tua a sentença, para confirmá-la, o que tente ou juridicamente inadequada
poderia redundar, como é óbvio, em ao resultado obtido;"
processo penal e cadeia. Cabível, pois, é a declaração da nu-
Por estes motivos nego provimento lidade, pela própria Administração.
aos recursos para confirmar as conclu- O art. 59, lU, da Lei 3.807, de 1960,
sões da sentença recorrida. proíbe a filiação de titulares de firmas
individuais ou sócios que contem 50
VOTO anos de idade, no ato da inscrição.
O Sr. Min. Jorge Lafayette Guima- Este dispositivo, porém, tem sido
rães (Revisor): A tese proclamada pela atenuado na sua aplicação, acentuando
sentença, de que seria necessária a pro- Marcelo Pimentel, Hélio C. Ribeiro e
positura de ação pelo INPS para anu- Moacyr D. Pessoa (A Previdência So-
lar a inscrição do autor, ora apelado, e cial Brasileira Interpretada, pág. 31),
a sua conseqüente aposentadoria, não que:
pode ser acolhida. "Essa restrição obviamente não
A faculdade de anulação, pela Admi- atinge os empregadores que ante-
nistração, de seus atos, é reconhecida, riormente, por qualquer circuns-
pela doutrina e jurisprudência, estan- tância, já contribuíam para a Pre-
do hoje, inclusive, afirmada na Súmu- vidência Social e não perderam a
la n 9 346, do Supremo Tribunal Fe- qualidade de segurado antes de
deral. completar aquela idade limite."
Argumenta a sentença com a distin- Seguindo, por sua vez, essa orienta-
ção entre ato administrativo nulo e ato ção, é que o art. n 9 357, do Regulamen-
administrativo anulável, limitando a to aprovado pelo Decreto n 9 60. 5Ql, de
aplicação do princípio contido na Sú- 1967, como o fazia o art. 509, do Re-
mula 346 aos primeiros. gulamento anterior (Decreto n 9 48.959-
A, de 1960), dispõe que o limite de ida-
Na verdade, porém, se esta distinção, de aludido não se aplica aos que já
que era objeto de larga controvérsia na sendo segurados obrigatórios passaram
doutrina, bem resumida por José Afon- ou vieram a passar à condição de em-
so da Silva (Ação Popular Constitucio- pregadores.
- 106-

Ora, como declara a sentença ( fls. limite de idade. De forma que seu
104): status jurídico era o de filiado ao
"Realmente o autor já era filia- IAPC, como o era, também, ao
do do IAPC desde 1955, conforme IAPI. E podia sê-lo aos dois insti-
se vê das anotações em sua Cartei- tutos previdenciais até sua unifica-
ra, inclusive por "J. Araújo & Cia." ção".
e pelo próprio W aldemar Duarte
representando o Jornal "A Voz do N essas condições, e acompanhando o
Vale do Paraíba" (1960 e 1962). voto do eminente Ministro Relator, ne-
N essa ocasião não havia limite de go provimento aos recursos.
idade. Só mais tarde foi estabele- DECISÃO
cido pelo art. 59, da Lei n 9 3.807/60
(LOPS ). Por isso, não tem razão Como consta da ata, a decisão foi a
o réu quando reclama que o autor seguinte: Negou-se provimento. Deci-
se filiou ao IAPC quando já não são unânime. Os Srs. Mins. Jorge La-
mais podia fazê-lo porque contava fayette Guimarães e Henrique d'Ávila
mais de 50 anos de idade. Não é votaram ,com o Sr. Ministro Relator.
isso. O autor já era filiado ao rAPe Presidiu o julgamento o Sr. Min. H en-
antes da LOPS, quando não havia rique d'Ávila.

APELAÇÃO CRIMINAL N.o 1. 744 - GB


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Henoch Reis
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. José Néri da Silveira
Apelante - José Avelino Fernandes dos Santos
Apelada - Justiça Pública
EMENTA
Recurso provido para o fim de reduzir de um terço
a pena imposta ao réu, pelo reconhecimento de tentati-
va, fixando-a, assim, em oito meses de detenção, e,
suprimindo a proibição de fornecimento aos órgãos da
administração direta e indireta, para que, a propósito,
prevaleça o que determinar o Poder Executivo.

Vistos, relatados e discutidos estes au- RELATÓRIO


tos, em que são partes as acima indi- O Sr. Min. H enoch Reis (Relator):
cadas, O Dr. 79 Procurador da República na
Decide a Terceira Turma do Tribu- Guanabara denunciou o comerciante
nal Federal de Recursos, preliminar- José Avelino Fernandes dos Santos e o
mente, conhecer do recurso e, no mé- servidor público José Firmino da Silva,
rito, dar provimento em parte, à ape- o primeiro, pelo delito de corrupção
lação, unanimemente, na forma do re- ativa (art. 333 do C. P.), por oferecer
latório e notas taquigráficas preceden- ilícita vantagem pecuniária ao segundo,
tes, que ficam fazendo parte integran- no tocante ao fornecimento de aves e
te do presente julgado. Custas de lei. ovos ao Hospital do antigo IAPTEC, no
Brasília, 1 de março de 1972. - M ár- qual o segundo denunciado exercia a
cio Ribeiro, Presidente; Henoch Reic;, função de encarregado do depósito da
Relator. dispensa. Este último foi denunciado
-107 -

como incurso nas penas do art. 317 tentativa, fixando-a, assim, em 8 meses
(corrupção passiva). de detenção, suprimindo-se a proibi-
ção de fornecimento aos órgãos da ad-
Encerrada a instrução criminal, pro-
ministração direta e indireta, para que,
latou a ilustrada Dra. Juíza da 4'!- Vara
a propósito, prevaleça o que determi-
Federal a sentença de fls. 210/213, por
nar o Poder Executivo.
via da qual entendeu parcialmente pro- Examinados os autos, encaminhei-os
vada a denúncia, reconhecendo-a pro- a meu digno Revisor, que pediu dia
cedente quanto ao réu José Avelino para julgamento.
Fernandes dos Santos. Absolveu o se-
gundo denunciado. É o relatório.

Quanto ao primeiro denunciado, des- VOTO (PRELIMINAR)

classificou o crime que lhe fora atri- O Sr. Min. Henoch Reis (Relator):
buído pela denúncia, para o de "fraude O Dr. 49 Subprocurador-Geral da Re-
na entrega de coisa", previsto no art. pública, no Parecer de fls. 228/229, le-
171, § 29, inciso IV, e condenou-o à vantou a preliminar de intempestivida-
pena de 1 (hum) anO de detenção, con- de, na interposição do recurso de Ape-
cedendo-lhe o sursis (art. 155, § 29, do lação, e o fez nos seguintes termos:
Código Penal). (lê ).

Inconformado, apelou José Avelino Data venia, prefiro conhecer da Ape-


Fernandes dos Santos, com as razões de lação, rejeitando a preliminar, pois o
fls. 219/221, requerendo, preliminar- Dr. Advogado do réu manifestou inten-
mente, a anulação do processo, a partir ção inequívoca de recorrer da sentença,
das razões finais, tendo em vista que a comparecendo em Cartório no último
sentença reconheceu nova definição ju- dia do prazo, e apresentou posterior-
rídica do fato, não permitindo a defesa mente as razões do apelo.
fazer prova em contrário. É meu voto na preliminar.
No mérito, advogou o provimento da
VOTO (MÉRITo)
apelação, para o absolver.
O Sr. Min. H enoch Reis (Relator):
Contra-razões, fls. 222 a 223, pela A respeito do mérito, assim se pronun-
confirmação da sentença. ciou a douta Subprocuradoria-Geral da
Subindo os autos a este Tribunal, República: (lê, fls. 229/233).
deles se deu vista à douta Subprocura-
Estou de pleno acordo com os argu-
doria-Geral da República que, prelimi-
mentos e a conclusão deste Parecer.
narmente, opinou pelo não conhecimen-
to da apelação, por sua manifesta in- Vale lembrar, ainda, no que tange à
tempestividade; e, no mérito, no senti- nova definição jurídica do crime adota-
do de se prover a Apelação, para o fim. da pela douta sentença, que o fato nar-
de reduzir de um terço a pena imposta rado na denúncia se ajusta à perfeição
ao apelante, pelo reconhecimento de ao ilícito penal definido no item IV, do
- 108-

parágrafo 29 , do art. 171, do Código dentro do qüinqüídio. Retirou os autos


Penal. do cartório - e este fato está certifi-
Assim se refere a denúncia quanto cado. O advogado declarou que assim
ao ato atribuído ao ora apelante: o fazia para arrazoar a apelação, por-
quanto iria recorrer. Podia, é certo, en-
" .. , na qualidade de comerciante,
tão, desde logo, ter apelado por termo
fornecedor de aves e ovos ao Hos-
nos autos.
pital do antigo IAPTEC, forneceu
os mencionados alimentos com Prefiro, Sr. Presidente, conhecer tam-
acréscimo nas notas fiscais de 30 bém da apelação.
galinhas e 60 dúzias de ovos". (sÍG).
No mérito, o Dr. Subprocurador-Ge-
Aí está, pois, caracterizado o crime
ral da República opinou pela condena-
pelo qual a sentença condenou o recor-
ção do réu como incurso no crime de
rente, a saber, - "defraudar substân-
estelionato (Código Penal, art. 171) e
cia, qualidade ou quantidade de coisa
também pela substituição da pena de
que deve entregar a alguém". reclusão pela de detenção, aplicando o
E, na instrução do processo, foi esse disposto no art. 171, § 29 , do mesmo di-
o fato sobre o qual depuseram as tes- ploma. Parece, entretanto, que incidiria
temunhas e que foi apurado. Não hou- também, na espécie, o § 39 do art. 171,
ve, desta sorte, nenhuma surpresa para que preceitua: "a pena será aumentada
o réu, até porque, como acentua Espí- de 1/3 se o crime for cometido em de-
nola Filho, o acusado "tomou a si, no trimento de entidade de direito público,
processo, fazer a despesa a respeito da instituto de economia popular, assistên-
ação violada e, não, do delito aí capitu- cia social ou beneficência".
lado". (Código Pnocesso Penal Anotado,
vol. 49, pág. 60). No caso, trata-se de Hospital do ex-
Com estas considerações, dou provi- IAPTEG. Não houve, porém, recurso do
mento, em parte, à apelação, a fim de Ministério Público Federal. Apenas com
reduzir de um terço a pena imposta ao essa observação, acompanho o voto do
réu, pelo reconhecimento da tentativa, eminente Ministro Relator.
fixando-a em oito (8) meses de deten- DECISÃO
ção, e suprimindo a proibição de forne-
cimento aos órgãos da administração di- Como consta da ata, a decisão foi a
reta e indireta, para que, sobre o as- seguinte: Preliminarmente, e por deci-
sunto, prevaleça o que determinar o Po- são unânime, conheceram do recurso, no
der Executivo. mérito, deram provimento, em parte, à
É meu voto.
apelação nos termos do voto do Sr.
Ministro Relator. Os Srs. Mins. Márcio
VOTO Ribeiro, Néri da Silveira e Esdras Guei-
O Sr. M in. José Néri da Silveira (Re- ros votaram com o Sr. Ministro Relator.
visor): Intimado o réu a 5 de agosto, Presidiu o julgamento Sr. Min. Márcio
compareceu seu advogado em cartório Ribeiro.
- 109-

APELAÇÃO CRIMINAL N.o 1.925 - MG


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Esdras Gueiros
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Henoch Reis
Apelante - Bruno Iglésias Simal
Apelada - Justiça Pública
EMENTA
Apropriação indébita. Funcionário pÚblico (art. 312,
§ 1.0, do Código Penal). Justiça Pública versus Bruno
Iglésias Simal. Ação penal baseada em processo admi-
nistrativo regularmente realizado e em inquérito policial
legalmente feito. Comprovação do delito através da ins-
trução criminal. Confissão do réu. Inexistência da ale-
gada nulidade do processo administrativo, feita pelo réu
em seu apelo. Inocorrência, por outro lado, da alegada
extinção da punibilidade, pois a prescrição pela pena
concretizada na sentença não retroage à data do crime,
mas à data da denúncia (jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal, in Rec. de Habeas Corpus n.o 48.287,
D.J. de 25-9-70, pág. 4.412). Desprovimento do apelo
para confirmação da sentença condenatória. Decisão
unânime.

Vistos, relatados e discutidos estes do citado Departamento, no período de


autos, em que são partes as acima indi- agosto a outubro de 1965, vendendo al-
cadas, guns desses materiais a terceiros e re-
Decide a Terceira Turma do Tribu- tendo outros em seu poder, tudo con-
nal Federal de Recurso, por unanimi- forme declarações que espontaneamen-
dade, negar provimento à apelação, na te prestou à Comissão de Inquérito ins-
forma do relatório e notas taquigráfi- taurada para apuração dos fatos.
cas precedentes, que ficam fazendo par- Nesta instância, pronunciou-se a dou-
te integrante do presente julgado. ta Subprocuradoria-Geral da República,
Custas de lei. por órgão do digno Subprocurador, Dr.
Henrique Fonseca de Araujo, às fls.
Brasília, 16 de agosto de 1972. - Es- 396/399, opinando pela confirmação da
dras Gueiros, Presidente e Relator. sentença.
RELATÓRIO Estudados os autos, encaminhei-os ao
O Sr. Min. Esdras Gueiros (Relator): eminente Sr. Ministro Revisor, aguar-
Apela o réu Bruno Iglésias Simal da dando dia para julgamento.
sentença de fls. 364/369, proferida pelo É o relatório.
digno Juiz Federal Dr. Carlos Mário da VOTO
Silva Velloso, pela qual julgou proce-
dente a denúncia oferecida contra o O Sr. M in. Esdras Gueiros (Relator):
mesmo réu, condenando-o como incurso Sr. Presidente:
nas sanções do art. 312 do Código Pe- Inconformado com a sentença que o
nal, para cumprimento da pena de 2 condenou como incurso nas sanções do
anos de reclusão e bem assim à perda da art. 312, § 19 , do Código Penal (a pro-
função pública como servidor do DNER, priação indébita), para cumprimento
pelo fato de ter subtraído, valendo-se da pena de 2 anos de reclusão e perda
do cargo, e em proveito próprio, diver- do cargo que exercia no DNER, apelou
sos materiais e objetos de propriedade o réu Bruno Iglésias Simal, alegando a
-110 -

irregularidade do decisório porque cal- inquérito. O certo é que o de-


cado em procedimento administrativo nunciado foi ouvido no inquéri-
que considera nulo, bem como por se to, foi acareado com outro indi-
ter o Juiz baseado apenas no inquérito ciado e ofereceu defesa (fls.
policial, e ainda por se haver consuma- 366)."
do em seu favor a prescrição da ação 8. Acrescente-se que, a i n d a
com base na pena in concreto. que nulo fosse o inquérito adminis-
Nenhum dos argumentos utilizados trativo, não afetaria a validade do
pelo réu ora apelante tem qualquer processo, já que se trata de peça
procedência jurídica, como bem o de- meramente informativa, secundada,
monstrou a douta Subprocuradoria-Ge- no caso, pelo inquérito policial.
ral da República no seu Parecer de fls.
396/399. 9. Por outro lado, é uma in-
verdade a asserção do acusado
Importa aqui transcrever parte do consoante a qual a decisão punitiva
bem fundamentado Parecer, por onde restringiu-se somente ao inquérito
se verá a fragilidade das argüições do policial.
apelante com pretender vulnerar a res- 10. No caso presente, o réu
peitável sentença de fls. 364/369, da la- confessou no inquérito administra-
vra do digno Juiz Federal Dr. Carlos tivo (fls. 50/52 e 126); ainda no
Mário da Silva Velloso. Diz a douta
procedimento administrativo, em
Subprocuradoria, in verbis: momento de acareação, diz-se o
6. "O apelante, ao recorrer, na- único culpado nos fatos desabona-
da mais fez do que reiterar os mes- dores (fls. 114); na fase policial,
mos argumentos expendidos em mantém-se como autor do delito
alegações finais, irretorquivelmen- (fls. 24 - v.); e, finalmente, em Juí-
te enfrentados e repelidos pela zo, voltou a sustentar sua culpabi-
acertada decisão condenatória. lidade, querendo de novo estendê-
7. Assim, a "sonhada" nulida- la a Ademir Raimundo da Silva
de do procedimento administrati- (fls. 273).
vo, com argumentação concreta e 11. Neste ponto, exata a inter-
convincente, fulminou-a o MM. Dr. pretação do ilustrado Ministro Már-
Juiz Federal a quo, verbis: cio Ribeiro que, apreciando a Ape-
"A nulidade alegada do pro- lação Criminal n? 1.560, ementou,
cesso administrativo, não proce- com procedência, verbis:
de, data venia, desde que trami- "Confissão (CPP, art. 197). A
tou de conformidade com as nor- confissão, mesmo extrajudicial,
mas legais que regem dita espé- desde que coerente com outras
cie. Ao contrário do alegado pe- provas do processo, pode justifi-
la defesa, o réu nele foi ouvido, car a condenação do réu". (DI
declarou o que quis e, ao final, de 27-4-71, pág. 1. 727).
ensejou-se-Ihe oportunidade para (Omissis)
defesa (fls. 45, 50, 113, 119 e
126 dos autos). Finalmente, 13. É inexata, pois, a argu-
apresentou a Comissão de Inqué- mentação da defesa acerca de con-
rito o seu relatório. Se o acusa- denação baseada somente no in-
do não desejou, na esfera admi- quérito policial.
nistrativa, constituir defensor, 14. Resta-nos apenas examinar
isto não resulta em nulidade do a improcedente alegação da extin-
-111-

ção da punibilidade, pela prescri- pedido de habeas corpus impetra-


ção. do em favor do paciente, consoan-
15. Com efeito, intenta-o o te telex às fls. 282.
apelante afirmando que entre a 19. Do que fica assente, so-
data do fato e o recebimento da mos pelo conhecimento e despro-
denúncia "medeou o tempo de qua- vimento do recurso, para que se
tro anos e seis meses" (fls. 388). confirme a resp. sentença recorri-
da".
16. Ora, a jurisprudência de
nossos Tribunais, enfeixada na pa- Eis as conclusões do Parecer da ilus-
lavra definitiva do Colendo Supre- trada Subprocuradoria, com as quais es-
mo Tribunal Federal, é remansosa tou de inteiro acordo.
no sentido de que a prescrição pe- N ego, portanto, provimento ao apelo
la pena em concreto não retroage do réu para confirmar in totum a res-
à data do fato. peitável sentença apelada.
17. Eis, neste diapasão, emen-
ta da lavra do ínclito Ministro Bar- DECISÃO
ros Monteiro, verbis: Como consta da ata, a decisão foi a
"Habeas Corpus. Prescrição pe- seguinte: A unanimidade, negaram pro-
la pena concretizada. Não retroa- vimento à apelação. Usou da palavra o
ção à data do crime, mas à data Dr. Henrique Fonseca de Araujo. Os
da denúncia". Srs. Mins. Henoch Reis, Néri da Silvei-
(Rec. H. Corpus n 9 48.287, ra e Peçanha Martins votaram com o
D.]. de 25-9-70, pág. 412). Sr. Ministro Relator. O Sr. Min. Már-
cio Ribeiro não compareceu, por moti-
18. Aliás, neste sentido, a pre- vo justificado. O Sr. Min. Peçanha Mar-
tensão do apelante já foi afastada, tins compareceu para completar quo-
em decisão da Egrégia Terceira rum regimental. Presidiu o julgamento
Turma deste Tribunal, ao denegar o Sr. Min. Esdras Gueiros.

APELAÇÃO ~~~~ N.O 1.960 - PI


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Peçanha Martins
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Jorge Lafayette Guimarães
Apelante - José Gomes de Alencar
Apelado - Justiça Pública
EMENTA
Crime do art. 334, § 1.0, alinea c, do CÓdigo Penal.
Ocultação dolosa de mercadorias estrangeiras destinadas
ao comércio. Deu-se provimento parcial ao recurso para
reduzir a pena ao grau minimo. Decisão unânime.

Vistos, relatados e discutidos estes dade, dar provimento ao recurso, para


autos, em que são partes as acima in- reduzir a pena imposta ao réu a um (1)
dicadas, ano de reclusão, na forma do relatório
e notas taquigráficas precedentes, que
Decide a Primeira Turma do Tribu- ficam fazendo parte integrante do pre-
nal Federal i(lle Recursos, por unanimi- sente julgado. Custas de lei.
- 112-

Brasília, 15 de dezembro de 1971. - . constituinte, ou no caso de conde-


Henrique aÁvila, Presidente; Peçanha nação que esta seja no grau míni-
Martins, Relator. mo do dispositivo penal infrigido".

RELATÓRIO O Dr. Juiz Federal julgou proceden-


te a denúncia e condenou o réu à pe-
o Sr. Min. Peçanha Martins (Rela- na de dois anos de reclusão, como in-
tor): A sentença recorrida assim expõe curso no art. 334, § 19, alínea c, do Có-
o caso destes autos: digo Penal.
"O Exmo. Sr. Dr. Procurador da O réu apelou.
República, com a inicial de fls. 2, Nesta Instância a douta Subprocura-
que tem por égide o competente doria-Geral da República ofereceu o
inquérito policial, denunciou pe- parecer de fls. 94 e seguintes pugnando
rante este Juízo, José Gomes de pelo conhecimento e provimento par-
Alencar, qualificado na referida ini- cial do recurso.
cial, como incurso nas penas do art. É o relatório.
334, § 19, alínea c, do Código Pe-
nal, porque no dia 14 de junho
VOTO
do corrente ano, foi preso por ele-
mentos da Polícia Federal, na pro- o Sr. Min. Peçanha Martins (Rela-
ximidade da ponte que liga Tere- tor): O apelante pede a reforma da sen-
sina a Timon (MA), conduzindo tença para que este Tribunal o absol-
considerável quantidade de reló- va, ou estabeleça a pena no grau míni-
gios e alguns anéis, tudo desacom- mo do art. 334 do Código Penal. A pro-
panhado de documentação e oriun- va do crime está dentro nos autos, in-
da, dita mercadoria, da Zona Fran- clusive pelo que consta do interrogató-
ca de Manaus. Citado e acudindo rio de fls. 36, usque fls. 37, por isso que
ao chamooo judicial, o réu compa- os trezentos e cinqüenta e quatro reló-
receu a Juízo, sendo interrogado gios e vinte e um anéis de procedência
depois de previamente qualificado. estrangeira escondidos sob o tapete do
No prazo legal, através de procura- seu carro foram adquiridos sem do-
dor bastante, o denunciado apre- cumentação legal e seriam revendidos.
sentou a defesa prévia de fls. 38 a Prova em contrário não se realizou, tes-
40. Instaurado o sumário de culpa, temunhal ou documental objetivando ili-
foram ouvidas apenas testemunhas dir a ocultação dolosa, característica do
arroladas pelo Ministério Público, delito.
uma vez que o réu não apresentou
provas. Cumprido o art. 499 do Mas, no tocante à pena, assiste razão
Código do Processo Penal, sem que ao apelante, como aliás ressalta o pare-
as partes nada requeressem, falou cer da ilustre Subprocuradoria-Geral da
o Exmo. Sr. Dr. Procurador da Re- República. É que sendo o acusado um
pública que emitiu o parecer de primário e possuindo bons antecedentes,
fls. 69, solicitando a condenação do a pena aplicável não podia ultrapassar
denunciado no mínimo da pena do grau mínimo.
prevista, à falta de agravante ou
atenuante. A seguir, o ilustre pro- Isto posto, dou provimento parcial ao
curador do réu, apresentou as suas apelo para reduzir a pena a um ano de
alegações finais de fls. ~1 a 72, reclusão, nos termos do referido pare-
pedindo, afinal, absolvição do seu cer.
113 -

VOTO mativa, e resulta das próprias declara-


O Sr. Min. Jorge Lafayette Guimarães
ções de acusado, do pagamento dos im-
(Revisor): A autoria e materialidade do postos.
delito estão devidamente provados, e re- Também o encontro das mercadorias
sultam das próprias declarações do ocultas numa pasta, debaixo do tapete
acusado-apelante. do automóvel, já no Piauí, é bastante
Não nega este a posse e propriedade significativa.
das mercadorias apreendidas, os relógios
Por outro lado, o art. 39 do Decreto-
de procedência estrangeira, segundo o
lei n 9 288, de 1967, considera contra-
laudo de fls. 18/19, adquiridas na Zona
bando a saída de mercadoria da Zona
Franca de Manaus, e trazidas para o
Franca de Manaus, sem autorização le-
Piauí, onde ocorreu a apreensão, sem
. gal, e no caso o apelante detinha mer-
pagamento dos impostos, sendo encon-
cadorias que introduziu clandestinamen-
tradas ocultas debaixo do tapete do au-
te no país, correspondendo a sua trans-
tomóvel.
ferência da Zona Franca para o restan-
Também, sendo o acusado ourives, e te do território nacional a uma impor-
em se tratando de jóias e relógios, a fi- tação, como resulta ainda dos arts. 69
nalidade comercial já estaria evidencia- e 79 , do citado Decreto-lei n 9 288, de
da; mas, além disso, confessou o mes- 1967, considerada a aludida Zona, para
mo, no interrogatório em Juízo, que foi os efeitos fiscais, como situada fora do
a São Luiz, Maranhão, para vender bi- território nacional.
juterias, e não o conseguindo, dirigiu-se
a Manaus, onde adquiriu ditas merca- Dou, porém, provimento à apelação
dorias, sendo-lhe esclarecido pelo vende- do acusado, de acordo com o parecer
dor, não haver obstáculo à sua negocia- da Subprocuradoria-Geral, para reduzir
ção fora da Zona Franca, uma vez que a pena ao grau mínimo - um ano de
fossem pagas os impostos, o que bem reclusão - uma vez que não há, nem a
demonstra a finalidade comercial da sentença aponta, qualquer circunstância
aquisição. capaz de justificar sua fixação acima do
mínimo.
Aliás, de modo explícito, no auto de
prisão em flagrante (fls. 6), havia o DECISÃO

acusado afirmado que trocou a merca- Como consta da ata, a decisão foi a
doria que possuía e levara à Manaus seguinte: À unanimidade, deu-se provi-
para venda, pelos relógios em causa. mento ao recurso, para reduzir a pena
A invocação a erro de fato é no caso imposta ao réu a um (1) ano de reclu-
inadmissível, e resultaria, segundo o ape- são. Os Srs. Mins. Jorge Lafayette Gui-
lante, da afirmativa feita pelo vendedor marães, Henrique d'Avila e Moacir Ca-
das mercadorias, em Manaus, de que po- tunda votaram com o Sr. Ministro Re-
deria negociá-las fora da Zona Franca, lator. Presidiu o julgamento o Sr. Min.
pois dependeria o fato, segundo dita afir- Henrique d'Ávila.
-114 -

APELAÇÃO CRIMINAL N.o 1.962 - PB


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Amarílio Benjamin
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Decio Miranda
Apelante - Justiça Pública
Apelados - Raimundo Nilson Pires e outro
EMENTA
Controle exercido pelO mc. Acusação de apropria-
ção de café distribuído à empresa industrial dos indi-
ciados. Improcedência da denúncia.
I - O crime previsto no art. 2.1' do Decreto-lei n.o
47/66 consiste em despachar por rodovia, ferrovia ou
fazer transitar, por qualquer meio, café de comercializa-
ção proibida. Não havendo, nos autos, prova de todos
os seus elementos constitutivos, dá-se pelo indeferimento
da acusação.
II - Somente comete o crime de apropriação in-
débita aquele que se assenhoreia de coisa alheia móvel,
não o proprietário. Improcedência da ação. (Sentença
de fls. 185)."
Vistos, relatados e discutidos estes au- Opinando às fls. 209/210, a douta Sub-
tos, em que são partes as acima indica- procuradoria-Geral manifesta-se pela
das, confirmação da sentença.
Decide a Segunda Turma do Tribunal É o relatório.
Federal de Recursos, por unanimidade, VOTO
negar provimento, na forma do relatório O Sr. Min. Amarílio Benjamin (Rela-
e notas ta qui gráficas anexas, que ficam tor): O caso dos autos consiste no se-
fazendo parte integrante do presente guinte:
julgado. Custas de lei.
Brasília, 17 de maio de 1972. - Godoy O primeiro denunciado era proprietá-
Ilha, Presidente; Amarílio Ben;amin, rio da Torrefação e Moagem Maringá,
Relator. na cidade de Santa Rita. Recebia a quo-
RELATÓRIO
ta mensal de 50 sacas de café. O segun-
O Sr. Min. Amarílio Ben;amin: O Dr. do acusado teria adquirido o estabeleci-
Procurador da República ofereceu de- mento e o Ministério Público atribui-lhe
núncia, perante o Dr. Juiz Federal do conivência no desvio do café.
Estado da Paraíba, contra Raimundo Em junho de 1967, fiscais do Institu-
Nilson Pires e Gerson Mouzinho de Bri- to Brasileiro do Café, indo à torrefação,
to como incursos no art. 29 do Decreto- constaram diversas irregularidades. O
lei n 9 47/66, c/ c o art. 171 e 168 do Có- termo de visita foi assinado por um pre-
digo Penal, sob a imputação de se terem posto, fls. 11. Nesta mesma inspeção, os
apropriado de uma partida de café sobre fiscais consideraram intocáveis 123 sacas
a qual pesava a classificação de "into- de café. Posteriormente, em nova fisca-
cável", por parte de fiscais do IBC. lização, não foi encontrado mais nada.
Lavrou-se, em conseqüência, auto de in-
A sentença de fls. 185/191 absolveu os
fração, fls. 12, considerando-se que teria
réus, entendendo, o Dr. Juiz, não ficarem
havido desvio para outros fins.
configurados os delitos, mas apenas o ilí-
cito administrativo. Releva destacar que, ainda desta vez,
Apela o Dr. Procurador da República o denunciado, dono da torrefação, não
às fls. 195/198, insistindo na condenação estava presente.
dos acusados. Procedeu-se ao sumário, e, na defesa,
Contra-razões às fls. 202/205. os acusados se esforçaram por demons-
-115 -

trar que o café foi usado na atividade recorrida. Salientamos a mais que a de-
normal da indústria. claração de intocável, lançada à merca-
Seja como for, o Dr. Juiz os absolveu, doria pela fiscalização, carece de qual-
porque não considerou existente o cri- quer efeito jurídico. Até mesmo a apre-
me, fls. 185/19l. ensão e depósito que a Subprocuradoria
O parecer da Subprocuradoria-Geral aventa como providências que poderiam
da República é pela confirmação da sen- ter sido utilizadas, na oportunidade, se-
tença, fls. 209/210. riam discutíveis, pois não teriam sido
De fato, o Dr. Juiz reconheceu que, precedidas de declaração de perda, pela
não existindo prova do desvio, não ca- autoridade competente. Em conclusão,
bia aplicar o art. 29 do Decreto-lei n 9 negamos provimento.
47. Primeiro, o dispositivo tem em vista VOTO
despacho ou trânsito por qualquer meio; O Sr. Min. Decio Miranda (Revisor):
e segundo, a ação deve referir-se a café Meu voto é pela confirmação da senten-
não comercializáveI. Tais hipóteses nun- ça absolutória, reportando-me aos seus
ca estiveram definidas nos autos. Não se próprios fundamentos e aos do parecer
provou também descaminho e não se proferido, nesta Instância, pelo Procu-
pode, tais considerações pertencem ain- rador da República Dr. Francisco de As-
da à sentença, reconhecer que houve sis Toledo, aprovado pelo Dr. 49 Subpro-
apropriação porque, na verdade, o café, curador-Geral da República.
na situação em que se encontrava, per-
tencia aos acusados. Fora disso, admi- DECISÃO
nistrativamente, dadas as ocorrências, a Como consta da ata, a decisão foi a se-
cota de café de que dispunha a fábri- guinte: Negou-se provimento, por deci-
ca foi suspensa, o que exclui, pela san- são unânime. Os Srs. Mins. Decio Miran-
ção própria, a consideração de pena por da, Jarbas Nobre e Godoy Ilha votaram
desobediência - art. 330 do Código Pe- com o Sr. Ministro Relator. Presidiu o
naI. Estamos de acordo com a sentença julgamento o Sr. Min. Godoy Ilha.

APELAÇãO CRIMINAL N.o 1.966 - MT


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Esdras Gueiros
Apelante - Justiça Pública
Apelados - Said Mohamad Birani e outro (Chaleb Mohamad Birani)
EMENTA
Apelação criminal. Denúncia pelos crimes de falsifi-
cação ideológica (art. 299 do Cód. Penal), fraude da lei
sobre estrangeiros (art. 310), corrupção paSSiva (art.
317), corrupção ativa (art. 333) e uso de documento falso
(art. 304). Sentença condenatória contra um dos réus
(Idio Nemésio de Barros) e absolutória quanto aos outros
dois (Said Birani e Chaleb MOhamad Birani). Apelo da
Justiça Pública quanto à parte absolutória da sentença.
Parecer da Subprocuradoria-Geral da República pelo pro-
vimento da apelação. Reforma, em parte, da sentença,
para condenar também os dois réus antes absolvidos à.
pena total de dois anos e quatro meses para cada um,
como incursos nos arts. 304 e 333 do Código Penal. De-
cisão unânime.
Vistos, relatados e discutidos estes au- Decide a Terceira Turma do Tribu-
tos, em que são partes as acima indica- nal Federal de Recursos, por unanimi-
das, dade, dar provimento em parte à ape-
- 116-

lação, nos termos do voto do Sr. Minis- Houve apelação parcial do Minis-
tro Relator, na forma do relatório e no- tério Público (fls. 228), devidamen-
tas taquigráficas precedentes, que ficam te arrazoada (fls. 235/243), restri-
fazendo parte integrante do presente ta à parte absolutória da sentença e
julgado. Custas de lei. oportunamente contra-arrazoada às
Brasília, 21 de agosto de 1972. - Már- fls. 248/25l.
cio Ribeiro, Presidente; Esdras Gueiros, A defesa de Idio Nemésio de Bar-
Relator. ros ingressou, igualmente, com ape-
RELATÓRIO lação (fls. 229), mas, não tendo o
O Sr. Min. Esdras Gueiros (Relator): réu se recolhido à prisão, consoante
Adoto, como relatório, o que está feito informação de fls. 252 -v.,proferiu o
no Parecer da douta Subprocuradoria- MM. Juiz o despacho de fls. 253
Geral da República, às fls. 256/257, in declarando deserto o recurso, ex vi
verbís: do disposto no art. 594 do C. P.
Penal.
"Idio Nemésio de Barros, Said Bi-
rani e Chaleb Mohamad Birani fo- Assim, Eg. Tribunal, a matéria
ram denunciados, o primeiro por em exame restringe-se à apelação
falsificação ideológica ( art. 299), parcial do Ministério Público."
fraude de lei sobre estrangeiros (art. N o mérito, depois de bem analisar a
310) e corrupção passiva (art. 317), prova dos autos, a douta Subprocurado-
os dois últimos por corrupção ativa ria-Geral da República opina pelo pro-
(art. 333) e uso de documento falso vimento da apelação do Ministério PÚ-
(art. 304). blico, com a seguinte conclusão:
Teve o processo curso inicial pe- "O parecer é, pois, pelo provi-
rante a Justiça Comum, mas foi pos- mento da apelação para condena-
teriormente remetido à Justiça Fe- rem-se os réus à pena mínima de
deral do Estado de Mato Grosso, um ano de reclusão para o delito
em virtude do V. acórdão do E. Tri- do art. 304, bem como à pena base
bunal de Justiça daquele Estado de um ano de reclusão pelo delito
(fls. 69 dos autos em apenso), reco- do art. 333, aumentada de um ter-
nhecendo o interesse da União em ço, ou seja, quatro meses, diante do
matéria de fraude de lei sobre es- disposto no parágrafo único do mes-
trangeiros. mo artigo, o que dará um total de
Oferecida nova denúncia pelo Dr. dois anos e quatro meses de reclu-
Procurador da República (fls. 2), e são para cada um destes acusados,
recebida pelo MM. Juiz Federal a serem cumpridas em estabeleci-
(fls. 92), seguiu-se a instrução que, mento penal adequado."
afinal, culminou cqm a r. sentença Examinados os autos, encaminhei-os
de fls. 207/220 condenando Idio N e- ao eminente Sr. Ministro Revisor, aguar-
mésio de Barros pelos delitos dos dando dia para julgamento.
arts. 299 e 317, a dois anos e seis
meses de reclusão, multa e custas, É o relatório.
e absolvendo os outros dois réus. VOTO

Expedido mandado de prisão con- O Sr. Min. Esdras Gueiros (Relator):


tra o réu condenado (fls. 222), não Sr. Presidente.
pode ser cumprido por estar ele em Do estudo que me foi dado fazer da
local incerto e não sabido, confor- prova dos autos, estou em que é proce-
me se atesta às fls. 224. dente a argumentação do Parecer da
- 117-

douta Subrprocuradoria-Geral da Repú- Como, no caso, a condenação não


blica, no sentido da condenação dos dois admite sequer fiança, a apelação de
réus antes absolvidos, como incursos nas fls. 229 e 245 deve, data venia, re-
sanções dos arts. 304 e 333 do Código putar-se inexistente."
Penal, com a aplicação da pena total de Mérito:
dois anos e quatro meses para cada um.
"O recurso do Ministério Públi-
Assim está posta a questão no Pare- co objetiva apenas a condenação de
cer da lavra do digno Procurador Dr. Said Birani e Chaleb Mohamad Bi-
Francisco de Assis Toledo, referendado rani pelo delito de corrupção ativa
pelo douto Subprocurador Dr. Henri- e de uso de documento falso, por
que Fonseca de Araújo: não concordar o Dr. Procurador da
"Diga-se, todavia, inicialmente, República caro a r. sentença de Pri-
que, no tocante à fixação da compe- meria Instância na parte em que
tência e ao problema do não-cabi- considerou inexistente o ofereci-
mento da apelação de réu foragido, mento de vantagem indevida, rela-
agiu-se corretamente. tivamente ao primeiro delito, e au-
sente o dolo quanto ao segundo.
Com efeito, havendo a denúncia
incluído na capitulação dos delitos E, com efeito, E. Tribunal, o fun-
a figura do art. 310 ("atribuir a es- damento da r. sentença, neste aspec-
trangeiro falsa qualidade, para pro- to, é realmente esse, in verbis: (fls.
mover-lhe a entrada em território 216/217) :
nacional") a competência era real- "A corrupção, pois, houve. So-
mente da Justiça Federal, ex vi do licitou e recebeu o numerário dos
disposto no art. 125, X, da Carta estrangeiros Said e Chaleb Bira-
Magna ("crimes de ingresso ou per- ni. Estes, embora tenham concor-
manência irregular de estrangei- dado com o "preço", e feito o pa-
ro ... "). Nem se diga que a absol- gamento, não podem ser defini-
vição por esse delito, com a qual dos como corruptores. Não ofe-
concordou o Ministério Público, ceram ou prometeram vantagem
deslocaria a competência para o jul- ÍJ.ldevida a funcionário público.
gamento dos demais, visto como, in Apenas atenderam no que lhes
Ca8U, a falsificação de documento foi solicitado. Pela sistemática do
público com o objetivo manifesto nosso diploma penal, não existe
de propiciar a "permanência irregu- a bilateralidade entre a corrupção
lar de estrangeiro no país" é tam- passiva e a ativa, constituindo am-
bém, data venia, de competência fe- bas crimes distintos e indepen-
deral, por incidência do preceito dentes. Se o particular não cor-
constitucional retrocitado. rompeu o funcionário público
Relativamente à apelação do réu que, todavia, dele solicitou e re-
condenado e foragido, não pode ser recebeu vantagens indevidas, não
ela realmente conhecida por falta há que falar em corrupção ativa
de ocorrência de condição estabele- ainda que se puna pela prática da
cida no art. 594 do CPP, in verbis: passiva, o próprio funcionário. Se-
gundo ensinamentos de Heleno
"O réu não poderá apelar sem Cláudio Fragoso, "não se pode
recolher-se à prisão, ou prestar afirmar que haja participação no
fiança, salvo se condenado por crime de corrupção passiva, pois
crime de que se livre solto", quem dá não pode conCOrrer na
-118 -

ação de receber". Os dois últimos mento pela expedição das cartei-


acusados apenas deram o dinhei- ras; que Chaleb disse ao depoen-
ro que antes lhes fora solicitado te que da outra vez, quando esti-
pelo primeiro. Não fizeram quais- vera para tirar o primeiro do-
quer oferecimentos ou promessas. cumento, pagara a Idio N emésio
A exigência partiu mesmo de Idio a importância de trezentos con-
N emésio. Houve, pois, apenas, de- tos; que tanto Chaleb como Said
lito por parte deste". nãe) demonstraram estar aborreci-
dos por tal pagamento, mesmo
E mais adiante (fls. 217): porque disseram-lhe os irmãos Bi-
"Quanto ao fato atribuído aos rani que ainda ficara barato, uma
estrangeiros de que tenham feito vez que em São Paulo estavam
uso dos documentos falsificados exigindo para o mesmo serviço
ou alterados, também se nos afi- mais de dois milhões."
gura irrelevante. Embora, real-
mente, Said e Chaleb tenham fei- Esse fato está confirmado em
to uso dos documentos, como parte pelo depoimento de fls. 175,
nos dão notícia os autos, todavia de Youssef Aci Dahroi, onde se afir-
não o fizeram com dolo, pois que ma:
ignoravam a irregularidade da ". " que os Birani ainda disse-
sua expedição". ram que o homem encarregado de
tal expedição lhes havia solicitado
Posta a questão nestes termos, pa- a importância de quatrocentos cru-
rece-nos, data venia, que a r. sen- zeiros" ...
tença merece reforma no tópico em
exame. Houve, pois, "solicitação", "acor-
do", "pagamento" e "recebimento",
Vejamos. entre intraneus e extraneus, de sor-
Está provado nos autos que Idio te que ao pedido correspondreu uma
Nemésio, condenado por falsifica- aquiescência, à entrega do dinheiro
ção e corrupção passiva, recebeu seguiu-se o recebimento.
cerca de oitocentos cruzeiros dos Assim, como não há prova nos
acusados Said e Chaleb para a fal- autos de qualquer "exigência", mas
sificação ideológica das certidões apenas de "solicitação", por parte
de fls. 22 e 23; e tais certidões fo- do acusado !dio, a única conclu-
ram entregues, isto é, usadas peran- são possível é a de que a aquies-
te a Delegacia de Estrangeiros, em cência "espontânea" dos acusados
São Paulo (fls. 9/10). Said e Chaleb a essa solicitação,
para a formalização do "acordo",
Por outro lado, relata a testemu- aliás cumprido posteriormente por
nha KhaltJb Mohamad Dahronge ambas as· partes, equivale a uma
(fls. 173): perfeita "promessa de vantagem"
". .. que nesta ocasião o de- (art. 333), pois a ação bilateral em
poente assistiu quando Chaleb e foco pode ser perfeitamente desdo-
Said pagaram ao réu Idio Nemé- brada em dois momentos, a saber:
sio a importância de quinhentos "1 Q) O pedido:
cruzeiros; que o depoente não viu "Peço-lhes que me dêem oito-
se Idio N emésio solicitou, ou não, centos cruzeiros de vantagem"
aquela importância para paga- (Corrupção passiva, art. 317).
-119 -

"29 ) A promessa: art. 333, aumentada de um terço,


ou seja, quatro meses, diante do
"Sim. Prometemos-lhes essa van- disposto no parágrafo único do
tagem, se nos conseguir os do- mesmo artigo, o que dará um total
cumentos falsos" (Corrupção ativa, de dois anos e quatro meses de
art. 333). reclusão para cada um destes
acusados, a serem cumpridos em
Só no oaso da concussão se pode estabelecimento penal adequado."
prescindir do segundo momento,
pois o elemento volitivo de extra- Pelo cotejo que fiz da prova dos au-
neus cede lugar ao metus publicae tos, chego à mesma conclusão do Pare-
potestatis. cer aqui transcrito, pois em verdade os
dois réus Said Birani e Chaleb Moha-
Finalmente, afigura-se-nos, a mad Birani, pelos atos delituosos que
respeito do uso de documento falso, praticaram, não mereciam ser absolvi-
que não sendo possível, diante da dos.
prova colhida, negar-se a materia-
lidade do delito, o dolo dos acusa- Assim é que dou provimento à apela-
dos emerge das próprias circunstân- ção do Ministério Público para, refor-
cias do delito. mando, em parte, a respeitável sentença
de fls. 207/220, condenar os referidos
Moravam em São Paulo, onde se acusados à pena mínima de um ano de
pode obter, até com mais facilida- reclusão para o delito do art. 304 do
de que no longínquo Estado de Código Penal, bem como à pena base
Mato Grosso, a regularização da es- de um ano de reclusão pelo delito do
tada ou permanência no país. art. 333 do mesmo Código, aumentada
de um terço, isto é, de quatro meses,
Por que, então, iriam optar pela face ao disposto no parágrafo único do
viagem àquela unidade da federa- mesmo artigo, num total de dois anos
ção? e quatro meses de reclusão para cada
um dos ditos acusados.
Fala-se que lá o preço do do- É o meu voto.
cumento seria mais reduzido, pois
"em São Paulo estavam exigindo
EXTBATO DA ATA
para o mesmo serviço mais de dois
milhões" (fls. 173). A Cr. n 9 1966 - Mato Grosso. ReI.
Mas, se assim é, o que parece Sr. Min. Esdras Gueiros. Rev. Sr. Min.
óbvio é que os acusados estavam Henoch Reis. Apte: Justiça Pública.
mesmo pretendendo um "serviço" Apdos: Said Mohamad Birani e outro
anormal, ou seja, documentos fal- (Chaleb Mohamad Birani).
sos, pois, pelas vias lícitas e ordi-
nárias, com toda certeza, não iriam Decisão: À unanimidade, deram pro-
pagar tanto. vimento em parte à apelação, nos ter-
mos do voto do Sr. Ministro Relator
O parecer é, pois, pelo provimen- (em 21-8-72 - Terceira Turma).
to da apelação para condenarem-
se os réus à pena mínima de um Os Srs. Mins. Henoch Reis, Néri da
ano de reclusão para o delito do Silveira e Márcio Ribeiro votaram com
art. 304, bem como à pena base de o Sr. Ministro Relator. Presidiu o jul-
um ano de reclusão pelo delito do gamento o Sr. Min. Márcio Ribeiro.
- 120-

APELAÇÃO CRIMINAL N.o 1.984 - CE


Relator - Ex.mo Sr. Min. Amarílio Benjamin
Revisor - Ex.mo Sr. Min. Decio Miranda
Apelante - Justiça Pública
Apelado - Raul Barbosa Carneiro
EMENTA
Apelação Criminal. Conhecimento. Incompetência da
Justiça Federal. Crime atribuído a parlamentar.
Não constando dos autos, notificação pessoal ao Re-
presentante do Ministério Público, da sentença, art. 390
do Código de Processo Penal, a apelação deve ser co-
nhecida, tomando-se a sua data como a da noticia da
decisão.
De meritis, deve proclamar-se a incompetência
da Justiça Federal, pois havendo o fato criminoso sido
praticado quando o requerido exercia o mandato de
deputado federal, a competência, para o processo, é do
Supremo Tribunal, de acordo com a Constituição.

Vistos, relatados e discutidos estes nistério da Saúde a diversas enti-


autos, em que são partes as acima in- dades de assistência social, no Es-
dicadas, tado do Ceará, ficou devidamente
Decide a Segunda Turma do Tribu- constatado que citadas viaturas fo-
nal Federal de Recursos, preliminar- ram propositadamente desviadas de
suas reais finalidades a que se des-
mente, conhecer do recurso para dar
provimento, declarar incompetente a tinavam, para serem empregadas,
Justiça Federal, Primeira Instância, pa- criminosamente, em campanha elei-
toral, no interior do Estado.
ra apreciar e julgar o processo e deter-
As mencionadas ambulâncias
minar a remessa dos autos ao Egrégio
Supremo Tribunal Federal, na forma eram enviadas ao Ceará, por inter-
das notas taquigráficas anexas, que fi- médio do Sr. Raul Barbosa Carnei-
cam fazendo parte integrante do pre- ro, e, tão logo chegavam a esta
sente julgado. Custas de lei. capital, eram distribuídas pelo de-
nunciado, indevidamente, com fi-
Brasília, 16 de junho de 1972. - Co- nalidades políticas.
doy Ilha, Presidente; Amarílio Ben-
jamin, Relator. Que além de apropriar-se ilegal-
mente de algumas ambulâncias, o
RELATÓRIO denunciado Raul Barbosa Carneiro,
para obter vantagens ilícitas, tro-
O Sr. Min. Amarílio Benjamin (Re- cava um veículo por outro e, ainda,
lator): Este o relatório da sentença: ardilosamente, adaptava kombis já
(fls. 187) usadas e as entregava às pessoas
"No foro Estadual, o represen- que representavam as instituições
tante do Ministério Público ofere- de assistência social.
ceu denúncia contra Raul Barbosa Usando este recurso ilícito, Raul
Carneiro, brasileiro, casado, comer- Barbosa Carneiro substituía e des-
ciante, residente nesta Capita~ ale- viava, em seu próprio proveito ou
gando: de terceiros, as ambulâncias tipo
Instaurado lnquérito Policial Mi- Kombi doadas pelo Ministério da
litar, para apurar o desvio deam- Saúde às entidades beneficentes do
bulâncias "kombis", doadas pelo Mi- Estado do Ceará.
- 121-

As conclusões do Inquérito Po- lendo Supremo Tribunal Federal. En-


licial Militar mostram, irrefutavel- tende que, com a entrada em vigor da
mente, que os fatos imputados ao Emenda Constitucional n 9 1, de 17 de
denunciado Raul Barbosa Carneiro outubro de 1969, cujo art. 119, I, a,
se enquadram na figura da apro- atribui ao Egrégio Supremo Tribunal
priação indébita e do estelionato. Federal a competência originária para
N estas condições, esta Promoto- processar e julgar deputados, nos cri-
ria Pública denuncia Raul Barbosa mes comuns, não poderia o MM. Juiz
Carneiro como incurso nas penas ter prosseguido com a ação penal, pois
dos arts. 168 e 171 do Código Pe- seu poder jurisdicional cessara no mo-
nal, combinados com o art. 51 do mento em que se estabeleceu a com-
referido Código Penal. petência originária da Suprema Corte.
Nos termos do art. 45 da Consti- É o relatório.
tuição Federal, foi solicitada à Câ- VOTO (PRELIMINAR)
mara dos Deputados licença para O Sr. Min. Amarílio Benjamin (Re-
processar Raul Barbosa Carneiro, lator): A sentença apelada foi proferi-
por ser membro do Congresso Na-
da a 31-8-71, tendo sido publicada no
cional. Esta licença foi negada.
"DO" a 13 de setembro, conforme
Nessa época, o processo foi consta de fls. 193. O representante do
enviado à Justiça Federal. Ministério Público apelou a 23 de se-
Tão logo terminou o mandato do tembro. Em virtude disso, argúi-se a in-
denunciado, foi o mesmo citado e tempestividade do recurso.
interrogado, na forma da lei, ofe- Não obstante, não acolho a prelimi-
recendo defesa prévia, fls. 127 e nar. De acordo com o art. 390 do Có-
130 dos autos. digo de Processo, o Chefe da Secreta-
N a instrução depuser,am sete (7) ria ou, na estrutura anterior, o Escri-
testemunhas, quatro de acusação e vão, dará notícia pessoal ao representan-
três de defesa. te do Ministério Público da decisão que
tenha sido prolatada. Essa formalidade
Finda a instrução, as partes apre-
não foi cumprida nos autos. Em face
sentaram suas razões finais."
disso, não há por que se deixar de co-
Decidindo a controvérsia, o Dr. Juiz nhecer da apelação do Ministério PÚ-
houve por bem julgar improcedente a blico, partindo-se do pressuposto de
denúncia para absolver o acusado. que, não se tendo observado o manda-
Recorreu o Ministério Público às fls. mento legal, o Ministério Público, pre-
193/196. sumidamente, tomou ciência da senten-
ça na data em que recorreu. No caso
Contra-razões às fls. 199/202, insur- dos autos, o problema assume certa
gindo-se o apelado contra a intempes- importância, porque somente através do
tividade do recurso. exame do recurso é que o Tribunal po-
Manifestando-se às fls. 210/211, a derá apreciar o subseqüente tema da
douta Subprocuradoria-Geral opina, pri- competência, uma vez que, possivel-
meiramente, pela tempestividade do mente, como iremos ver, se trata de
apelo e, em segundo lugar, para que competência do Supremo Tribunal Fe-
se dê provimento parcial ao recurso pa- deral.
ra o efeito de anularem-se os atos pra- VOTO (MÉRITo)
ticados a partir de fls. 154, inclusive a O Sr. Min. Amarílio Benjamin (Rela-
sentença, remetendo-se os autos ao Co- tor): Conhecendo do recurso, o meu
- 122-

voto é para lhe dar provimento, no sen- autos ao Supremo Tribunal FederaL a
tido de declarar a incompetência da alta Corte estabelecerá a orientação
Justiça Federal para apreciar e julgar adequada, conforme o seu alto enten-
o processo. dimento.
Fora de nenhuma dúvida, os fatos Esse é o meu voto.
que são atribuídos ao apelante tiveram VOTO
lugar quando o mesmo desempenhava O Sr. Min. Decio Miranda (Revisor):
o mandato de Deputado Federal, tan- Conhecendo do recurso, visto não ter
to que na época em que foi requerida sido pessoalmente intimado da sentença
a licença para processá-lo, o Parlamen- o representante do Ministério Público,
to indeferiu, fls. 106. Deixando o man- acolho a preliminar que leve à com-
dato, o processo retomou o seu curso, petência originária do Egrégio Supre-
até que sobreveio a Constituição Fe- mo Tribunal Federal para o processo
deral de 1969, que estabelece, no art. e julgamento desta ação penal.
119, item I, a competência do Supremo
Tribunal para processar e julgar, ori- DECISÃO
ginariamente, nos crimes comuns, os Como consta da ata, a decisão foi a
Deputados e Senadores. seguinte: Preliminarmente, conheceu-se
do recurso para dar-lhe provimento, de-
Não há, portanto, como evitar-se que, clarando-se incompetente a Justiça Fe-
na hipótese, a jurisdição da Suprema deral, Primeira Instância, para apreciar
Corte tenha que prevalecer. Não me e julgar o processo e determinou-se a
preocupa a extensão do provimento, se- remessa dos autos ao Egrégio Supremo
ja como pediu o Ministério Público, seja Tribunal Federal. Decisão unânime. Os
com o alcance propugnado pelo emi- Srs. Mins. Decio Miranda, Jarbas Nobre
nente advogado. Declarada por nós a e Godoy Ilha votaram de acordo com o
incompetência da Justiça de Primeira Sr. Ministro Relator. Presidiu o julga-
Instância para o caso, e remetidos ou mento o Sr. Min. Godoy Ilha.

APELAÇÃO CRIMINAL N.o 2.004 - SP


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Esdras Gueiros
Apelante - Alfredo Rozendo da Silva ou Alfredo Rozeno da Silva
Apelada - Justiça Pública
EMENTA
Crime de furto (art. 155, § 1.0 do Código Penal).
Condenação do réu, na primeira instância, à pena de
2 anos de reclusão, e, face à periCulosidade do acusado,
a mais 2 anos de medida de segurança. Apelo do réu
alegando suposta nulidade do processo e não caracteri-
zação do furto apenas por portar o objeto. Improcedên-
cia das alegações. Apelo desprovido para confirmação
da sentença. Decisão unânime.
Vistos, relatados e discutidos estes forma do relatório e notas taquigráficas
autos, em que são partes as acima indi- precedentes, que ficam fazendo parte
cadas, integrante do presente julgado. Custas
de lei.
Decide a Terceira Turma do Tribu- Brasília, 23 de agosto de 1972. - Már-
nal Federal de Recursos, à unanimi- cio Ribeiro, Presidente; Esdras Gueiros,
dade, negar provimento à apelação, na Relator.
-123 -

RELATÓRIO VOTO

O Sr. Min. Esdras Gueiros (Relator):


o Sr. Min. Esdras Gueiros (Relator): Sr. Presidente.
Apela o réu Alfredo Rozendo da Silva
da respeitável sentença de fls. 75/79, Após bem examinar a prova dos au-
proferida pelo douto Juiz Federal Dr. tos o digno Juiz Federal ora recorrido
Paulo Pimentel Portugal, pela qual jul- assim concluiu sua sentença:
gou o apelante incurso nas sanções do
art. 155, § 19, combinado com o art. 12, "Nestas condições julgo procedente
inciso II, do Código Penal, condenan- a denúncia de fls. 2 para condenar
do-o à pena de dois anos de reclusão Alfredo Rozendo da Silva ou Al-
e à multa de cinco cruzeiros e custas fredo Rozeno da Silva a cumprir,
do processo, bem como, dada a peri- em estabelecimento penal adequa-
culosidade do acusado (art. 76, inciso do, a pena de dois anos de reclu-
II, do mesmo Código), à medida de são e à multa de Cr$ 5,00, bem co-
segurança por dois anos, após o cum- mo a pagar as custas do processo;
primento da já citada pena de reclusão, outrossim, dada a periculosidade
tudo nos termos do art. 93, inciso I, do do acusado (art. 76, inciso II, do
Código Penal. O réu fora denunciado cód. Penal), legalmente presumida
pela prática de furto qualificado, por (art. 78, inciso IV), aplico também
haver, no dia 4-8-71, às 3:00 horas, pe- ao condenado, para após o cumpri-
netrado no navio "Rafael", atraoado no mento da pena de reclusão (art.
Porto de Santos, e dali furtado um rá- 82, inciso I), medida de seguran-
dio portátil japonês do camarote do tri- ça por dois anos, nos termos do
pulante de nome Geneid FosbeII, sendo art. 93, inciso I, do Cód. Penal;
interpelado e preso pelos policiais de na fixação da pena detentiva para
serviço quando procurava ultrapassar o crime praticado, se consumado,
o portão de saída dos armazéns 7 e dados os antecedentes do réu e sua
8, conduzindo o produto do furto. reincidência específica (fls. 67), es-
tabeleci a pena base em três anos
No seu apelo sustenta o réu, pre- de reclusão; aumentei-a de um ter-
liminarmente, que é nulo o processo, ço, à vista da exacerbação obriga-
a partir do interrogatório, eis que não tória do art. 155, § 19 do Código
Penal, o que daria quatro anos de
teria sido intimado o seu defensor para reclusão; reconhecendo, entretanto,
a apresentação de defesa preVIa, e, a tentativa, já que o acusado não
quanto ao mérito, procura demonstrar teve a disponibilidade da cousa
que a simples detenção da res furtiva furtada, de valor elevado, diminuí-
não induz subtração. a só pela metade, dentro do per-
missivo do art. 12, parágrafo úni-
Nesta Instância a douta Subprocura- co do Código Penal, dadas as cir-
doria-Geral da República, em seu Pa- cunstâncias."
recer de fls. 101/104, demonstra a im- Rebatendo as alegações do apelante,
procedência das alegações do apelante. assim se pronunciou a douta Subpro-
Estudados os autos, encaminhei-os ao curadoria-Geral da República, no seu
Parecer de fls. 102/104:
eminente Sr. Ministro Revisor, aguar-
dando dia para julgamento. "3. Recorre o acusado, susten-
tando, em preliminar, a nulidade do
É o relatório. processo, a partir do interrogató-
- 124-

rio, posto que seu defensor não via", tanto assim que habilit.a o
fora intimado à apresentação da próprio réu a oferecê-la, verb'tS:
defesa prévia e, no mérito, afirma "Art. 395. O réu ou seu de-
que a mera detenção da res furtiva fensor poderá, logo após o in-
não induz subtração. terrogatório ou no prazo de três
4. Data venia, improcedem am- dias, oferecer alegações escritas
bas as alegações. e arrolar testemunhas."
5. É de se esclarecer, pronta- 10. In casu, prejuízo algum so-
mente, que o MM. Dr. Juiz a quo, freu a defesa que, dispondo dos
ao deliberar a imediata expedição prazos para diligências, e ofere~en­
de precatória para a inquirição das do alegações finais, sequer COgItou
testemunhas da acusação, ressalvou desta irregularidade processual.
a pertinência da apresentação da 11. Não constituiria, de qual-
defesa prévia, em tempo oportu- qur forma, ausência de defesa, mas
no. Conforme consta do Termo de simples deficiência, o que não
acarret~ria nulidade senão diante
Deliberação, verbi8:
da prova de prejuízo, nos termos
"Em seguida, pelo MM. Juiz da Súmula n 9 523, verbi8:
foi dito que: sem prejuízo da de- "Súmula 523 . N o processo
fesa prévia, determinava-se ex- penal a falta de defesa constitui
pedisse precatória ... " (fls. 41). nulidade absoluta, mas a sua de-
6. Ainda, o ilustre patrono do ficiência só o anulará se houver
réu foi devidamente intimado da prova de prejuízo para o réu."
precatória (fls. 59-v), compareceu
12. 'Quanto ao mérito, os tes~e-
à audiência de inquirição de teste-
munhos coligados (fls. 60/61) sao
munhas (fls. 61), e, devidamente coerentes, registrando a presença
notificado para a requisição de di-
do réu, sozinho, no local do evento,
ligências, assumiu conduta passiva,
trazendo a res furtiva (fls. 13), e
nada requerendo (fls. 65-v).
tentando evadir-se com a mesma,
7. Como o defensor dativo não uma vez inquirido pela vigilância
apresentasse alegações finais, o policial.
MM. Juiz nomeou outro, ad hoc,
13. A alegação do apelante de
para que as apresentasse (fls. 71),
que detinha o rádio furtado, sim-
que realmente o fez, nada argüindo,
plesmente porque um colega, de
daí porque precluiu o direito de
nome Gilberto, pedira-lhe para se-
suscitar nulidade decorrente de fal-
gurá-lo, é frase solta, sem qualqu_er
ta de defesa prévia, nesta superior
instância, conforme expressamente respaldo nestes autos, q~e nao
apresentam qualquer depOImento
prescreve o art. 571, lI, do Código
de Processo Penal. do "Gilberto", figura simplesmente
imaginária.
S. Por outro lado, a simples 14. Do que fica assente, ~omos
omissão em oferecer prévia não é pelo conhecimento e desprovlillen-
suficiente para configurar vício in- to do recurso interposto, para que
sanável, se disto não advier pre- seja confirmada a bem lançada de-
juízo efetivo à defesa. cisão condenatória, não compor-
9. Neste sentido, o próprio Có- tando sequer a redução da pena,
digo Processo Penal ?á m~str~s em face de se tratar de furto qua-
concretas da pouca ImportancIa lificado e da comprovada reinci-
consignada à chamada "defesa pré- dência específica do apelante."
- 125-

Manifesto-me de inteiro acordo com o processo "se houver prejuízo para o


este Parecer, pois em verdade não há réu".
como se cogitar de nulidade do proces-
so pela ausência de defesa prévia, da- Acolhendo as razões do Parecer, ne-
do que essa ausência há que ser im- go provimento ao apelo para confirmar
putada ao próprio réu e seu defensor, a respeitável sentença de fls. 75/79.
certo como é que o MM. Juiz, ao de-
terminar a expedição de precatória pa- EXTRATO DA ATA
ra inquirição das testemunhas de acusa- ACr. n9 2.004 - SP. ReI: Sr. Min. Es-
ção, deixou clara a oportunidade para dras Gueiros. Rev: Sr. Min. Hénoch
que o defensor do réu oferecesse tal Reis. Apte: Alfredo Rozendo da Silva
defesa, principalmente porque foi ele ou Alfredo Rozeno da Silva. Apda:
em seguida intimado da precatória, Justiça Pública.
comparecendo à audiência de inquiri-
ção, oportunidades em que não se ma- Decisão: À unanimidade, negaram
nifestou. provimento à apelação (em 23-8-72 -
Conforme bem o salientou a Subpro- Terceira Turma).
curadoria, nenhum prejuízo para o réu
resulta da não apresentação de defesa Os Srs. Mins. Henoch Reis, Néri da
prévia, tendo invocado a Súmula n 9 523 Silveira e Márcio Ribeiro votaram com
do Colendo Supremo Tribunal Federal, o Sr. Ministro Relator. Presidiu o jul-
onde se diz que tal omissão só anulará gamento o Sr. Min. Márcio Ribeiro.

APELAÇÃO CRIMINAL N.o 2.062 - RJ


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Esdras Gueiros
Apelante - Paulo Leitão Júnior
Apelada - Justiça Pública
EMENTA
Peculato (art. 312 do Código Penal). Apelação do
réu, pretendendo desclassificação para a modalidade de
peculato culposo. Inexistência da extinção da punibili-
dade, tal como pretendia, sob a alegação de ter havido
ressarcimento do dano. No caso dos autos o réu é res-
ponsável direto pela apropriação, não cabendo em seu
favor a figura do peculato culposo, eis que para tanto
teria de ocorrer apenas sua atitude desidiosa, ensejando
que terceira pessoa lograsse causar o prejuÍZo pecuniá-
rio à Administração, e, na hipótese, não se provou a exis-
tência de qualquer terceiro. Parecer da Subprocuradoria-
Geral da República pela confirmação da sentença. Ape-
lação desprovida. Decisão unânime.

Vistos, relatados e discutidos estes dentes, que ficam fazendo parte inte-
autos, em que são partes as acima in- grante do presente julgado. Custas de
dicadas, lei.
Decide a Terceira Turma do Tribunal
Federal de Recursos, à unanimidade, Brasília, 23 de agosto de 1972. -
negar provimento à apelação, na forma Márcio Ribeiro, Presidente; Esdras
do relatório e notas taquigráficas prece- Gueiros, Relator.
-126 -

RELATómo do Código Penal, se se tratasse da hipó-


o Sr. Min. Esdras Gueiros (Relator): tese do § 29, isto é, de caso em que o
Apela o réu Paulo Leitão Júnior da funcionário "concorre culposamente para
sentença de fls. 197/203, pela qual o o crime de outrem". Observe-se que o §
MM. Juiz Federal Victor de Magalhães 39 invocado refere-se expressamente aos
c.R. Júnior o condenou à pena de dois casos "do parágrafo anterior", que é pre-
anos de reclusão, grau mínimo do art. cisamente o 29, e na hipótese dos autos
312 do Código Penal, após denunciado não se cuida de peculato culposo, e sim
por apropriação indébita da importân- doloso.
cia de Cr$ 2.304,64, quando no exercí- Quanto à desclassificação para o pe-
cio das funções de Chefe da Agência culato culposo, segundo pretende o ape-
Postal de Imbariê, Estado do Rio de lante, bem demonstrou o douto Subpro-
Janeiro, apropriação essa, em sua maio- curador, Dr. Henrique Fonseca de Araú-
ria, proveniente de valores de registra- jo, a improcedência da pretensão, assim
dos que deixava de remeter aos desti- se expressando:
natários. "A razão é bastante simples: na
Pretende o réu, em seu apelo, a des- modalidade culposa do peculato,
classificação do delito que lhe foi im- mister se impõe seja conhecido o
putado para o da modalidade culposa terceiro que, com a desídia do fun-
do peculato, e, ainda, dado que houve cionário, logrou obter vantagem pa-
o ressarcimento do dano, pede seja de- trimonial, em detrimento do erário
clarada a extinção da punibilidade, se- público.
gundo o disposto no art. 312, § 39 do Vale dizer, no peculato culposo a
Código Penal. atuação delituosa do funcionário
Nesta Instância a douta Subprocura- não se configura por si só, pois exi-
doria-Geral da República, em seu Pa- ge que, em decorrência da negli-
recer de fls. 226/228, após demonstrar gência do servidor, outrem dela se
a improcedência da pretensão do ape- aproveite, em detrimento da Fazen-
lante, opina pela confirmação da res- da Pública.
peitável sentença recorrida. Insofismável a redação do art.
Estudados os autos, encaminhei-os ao 312, § 29 , do Código Penal, verbis:
eminente Sr. Ministro Revisor, aguar- "§ 29 Se o funcionário con-
dando dia para julgamento. corre culposamente para o crime
É o relatório. de outrem".
VOTO No caso dos autos está evidencia-
do que somente o réu executava os
O Sr. Min. Esdras Gueiros (Relator): serviços da seção de valores, cumu-
Sr. Presidente. lativamente com a Chefia da Agên-
A douta Subprocuradoria-Geral da cia Postal de Imbariê. Ele mesmo
República demonstrou em seu Parecer reconhece, verbis:
de fls. 226/228 a nenhuma procedência ". .. tendo anteriormente exer-
das alegações do apelante. cido suas funções na A.P.T. de
Quanto à alegação de ter ocorrido a Imbariê, como Agente, e cumula-
extinção da punibilidade, pelo ressarci- tivamente como encarregado da
mento do dano, é evidente que não tem Seção de Valores" (fls. 53).
qualquer consistência jurídica, pois a Além do mais, os levantamentos a
pretendida extinção só teria pertinência, fls. 13/17 e fls. 63/65, não elididos
conforme se deduz do § 39 do art. 312 pelo réu, não deixam dúvidas, no
-127 -

tocante à realidade do alcance per- Henoch Reis. Apte: Paulo Leitão Júnior.
petrado". Apda: Justiça Pública.
Acolho, assim, a argumentação da
Decisão: À unanimidade, negaram
douta Subprocuradoria-Geral para con-
firmar a respeitável sentença condenató- provimento à apelação (em 23-8-72 -
ria, negando provimento ao apelo do Terceira Turma).
réu.
EXTRATO DA ATA
Os Srs. Mins. Henoch Reis, Néri da
Silveira e Márcio Ribeiro votaram com
ACr. n'? 2.062 - Rio de Janeiro. ReI: o Sr. Ministro Relator. Presidiu o julga-
Sr. Min. Esdras Gueiros. Rev: Sr. Min. mento o Sr. Min. Márcio Ribeiro.

CONFLITO NEGATIVO DE JURISDIÇÃO


N.o 904 - PR
Relator - O Ex.mO Sr. Min. Amarmo Benjamin
Suscitado - Juiz de Direito da Comarca de Foz do Iguaçu
Suscitante - Juiz Federal da 2" Vara - Seção do Paraná
Partes - Amilcar da Silva Pires, José Ferroni e outros
EMENTA
Ação envolvendo terras de fronteira. Juizo compe-
tente. Conflito de jurisdição. Julgamento prejUdicado. Em
princípio, a Justiça Federal é competente para julgar
ação entre particulares envolvendo terras de fronteira,
que são do dominio da União. Entretanto, acórdão do
Supremo Tribunal, que recusa a possibilidade da União
intervir, já em grau de recurso extraordinário, prejudi-
ca o incidente de incompetência levantado no processo.

Vistos, relatados e discutidos estes au- "Numa possessória em curso na


tos, em que são partes as acima indica- Comarca de Foz de Iguaçu, orde-
das, nada pelo Juiz de Direito a desocu-
Decide o Plenário do Tribunal Federal pação do imóvel dentro de 45 dias
de Recursos, por maioria, julgar preju- (fls. 42), o Juiz Federal requisitou
dicado o conflito, na forma do relatório da Corregedoria os autos, que lhe
e notas taquigráficas precedentes, que foram encaminhados (fls. 48), a pe-
ficam fazendo parte integrante do pre- dido do IBRA. Este sustenta a com-
sente julgado. Custas de lei. petência do Juízo Federal (fls. 51)
e pretende excluir autor e réus
Brasília, 16 de março de 1972. - Már- (fls. 64), oferecendo embargos de
cio Ribeiro, Presidente; Amarílio Benja- terceiro. Uma das partes alegou jul-
min, Relator. gado já existente da Justiça Estadu-
al, que não poderia ser reexaminado
RELATÓRIO pelo Juiz Federal (fls. 73), enquan-
to outra pleiteava do mesmo magis-
o Sr. Min. Amarílio Benfamin (Rela- trado a declaração de nulidade do
tor): No Supremo Tribunal, onde esti- processo ab initio (fls. 74).
veram os autos, a espécie foi assim rela-
tada pelo Sr. Min. Aliomar Baleeiro: 2. Interveio a União, às fls. 122,
(fls. 140/142): ao lado do IBRA.
-128 -

Despachou o Juiz Federal às fls. Destarte, está superada a irregu-


125, declarando impossível resolver gularidade decorrente do fato de
a controvérsia nestes autos, porque haver o IBRA peticionado direta-
a ação principal pendia de recurso mente a S. Ex'\ que deve, assim,
extraordinário no STF. Em conse- julgar os embargos de terceiro em
qüência, mandou que os autos fos- que a autarquia (fls. 130) conver-
sem restituídos à Corregedoria da teu sua petição.
Justiça do Estado. Pela improcedência do conflito.
3. Voltou à carga o IBRA, insis- É o relatório.
tindo na competência do Juiz Fe-
deral e pedindo reconsideração do Decidindo o problema, o Pretório Ex-
despacho já referido (fls. 126/130). celso proclamou a competência, para o
caso, deste Tribunal. A distribuição in-
O juiz manteve o despacho de re- dicou para relatar a matéria o Sr. Minis-
messa dos autos à Justiça Estadual tro Armando Rollemberg, a quem subs-
(fls. 131). Agravou 0 IBRA, às fk tituímos. Estavam os autos com a Sub-
132. procuradoria-Geral, quando Amílcar da
4. Despachou, então, o Juiz Fe- Silva Pires e outros, partes da ques-
deral, às fls. 138: tão a que se refere a controvérsia, nos
comunicaram, por petição - fls. 150 -
"Julgo caracterizado o conflito
que o Supremo Tribunal, apreciando o
de jurisdição a que se refere (l
recurso extraordinário de seus conten-
Art. 114, inciso I, letra e, da C0IlS- dores, assentara no respectivo acórdão
tituição Federal, por se encontrar,
(fls. 157):
ainda, pendente de julgamento
perante o Egrégio Supremo Tri- "Terras de fronteira - 1. Elas são
bunal Federal o recurso extraor- de domínio da União, mas esta não
dinário interposto contra o acór- pode oferecer oposição em litígio
dão proferido pelo Tribunal de entre particulares, já em grau de
Justiça deste Estado nos autos da recurso extraordinário, que se limi-
ação principal de manutenção de ta à questão federal no quadro dos
posse sob o n 9 228/61 requerida fatos aceitos pelo Tribunal recorri-
por José Ferroni e outros contra o do.
General Amílcar da Silva Pires e 2. Recurso extraordinário não
outros, além das demais razões já conhecido por falta de pressupos-
aduzidas nos despaohos anterio- tos".
res deste Juízo".
Os requerentes salientaram em seu
5. Pronunciou-se o eminente requerimento que o presente conflito
Dr. Decio Miranda, pela Procurado- estava assim superado pelo aresto da
ria Geral da República, às fls. 138: Alta Corte, e que a execução em vista
"Como antes reconhecera o deveria prosseguir em Foz do Iguaçu.
MM. Juiz suscitante em seu r. Ouvimos o Dr. Subprocurador-Geral,
despacho de fls. 72, o atendimen- que emitiu parecer no sentido de estar
to à requisição dos autos traz im- prejudicado o conflito, diante do que
plícito o reconhecimento, pela proclamara o Supremo Tribunal.
Justiça do Estado, da alteração
VOTO
da competência em favor de S.
Exa. (art. 119, I, da Constitui- O Sr. Min. Amarílio Benjamin (Rela-
ção )." tor): Temos, preliminarmente, que não
- 129-

haja conflito a considerar. Propôs-se o tram pendentes de julgamento pe-


IBRA, perante o Dr. Juiz Federal da rante o Egrégio Tribunal de Justi-
2<). Vara, no Paraná, a intervir como ter- ça do Estado.
ceiro na execução da ação de manuten-
ção de posse entre José Ferroni e ou- . Assim, não há como processar e
tros e Amílcar da Silva Pires e outros Julgar os artigos de oposição ofere-
em andamento na comarca de Foz d~ cidos pelo IBRA, com fundamen-
Iguaçu (fls. 50/52), enquanto recurso to no art. 102 e seguintes do Cód.
extraordinário tramitava no Sumo Pre- de Processo Civil, os quais pres-
tório. O Dr. Juiz Federal requisitou os supõem a existência dos respectivos
autos de correição parcial em torno do Autos da Ação a que os mesmos se
assunto que se achavam com o Desem- referem, neste Juízo, o que não é o
bargador-Conegedor, mas nada disse caso, consoante foi demonstrado.
sobre os autos da ação n 9 228/61, que A oposição oferecida pelo Insti-
se encontravam na Iª' instância. Houve tuto Brasileiro de Reforma Agrária
petições contraditando a pretensão do somente poderá ser admitida pela
IBRA - fls. 68, 73, 77 e 78 - este repli- instância e:n que se encontrar pen-
cou - fls. 111/114, com apoio da União, dente de Julgamento o recurso in-
fls. 122/124 até que o Dr. Juiz proferiu terposto contra a decisão proferida
o despacho de fls. 125/125v: nos Autos da Ação principal, con-
soante dispõe o art. 105 do Cód. de
"Verifico, após detido exame, que Processo Civil.
estes autos vieram para esta V ara
como decorrência do ofício deste Ex positís, impossível seria a este
Juízo n 9 82/68 dirigido ao Exmo. Juízo pretender processar e julgar
Sr. Desembargador Corregedor-Ge- os artigos de oposição oferecidos pe-
ral da Justiça do Estado do Paraná, lo Instituto Brasileiro da Reforma
no qual era solicitada a remessa dos Agrária, serodiamente perante esta
Autos sob o n 9 228/61, da Ação de primeira instância judiciária da Jus-
Manutenção de Posse, em que são tiça Federal, quando a ação princi-
partes José Ferroni e outros e Ge- pal se encontra aguardando o julga-
neral Amílcar da Silva Pires e ou- mento do recurso extraordinário in-
tros, bem como os Autos da Correi- terposto e admitido perante o Su-
ção Parcial n 9 51/68, que se pro- premo Tribunal Federal.
cessou perante o Egrégio Tribunal Mediante ofício, restituam-se es-
de Justiça do Estado do Paraná. tes Autos ao Exmo. Sr. Desembar-
Ocorre, porém, que somente foi gador Corregedor-Geral da Justiça
encaminhado para este Juízo o pro- do Estado do Paraná, com as ho-
cesso referente à Correição Parcial, menagens deste Juízo, dando-se bai-
cujo julgado estava sendo executa- xa na distribuição para compensa-
do no Juízo da Comarca de Foz do ção posterior".
Iguaçu. Pediu o IBRA reconsideração - fls.
Ora, a petição do IBRA, de fls. 50 126/130 - mas o Dr. Juiz não o atendeu:
~que 52, alude à sua pretensão de "Ciente do despacho proferido às
lllgr~s~ar no feito. com artigos de fls. 125 destes autos, o Instituto
oposlçao, para efeIto de excluir au- Brasileir~ .de Reforma Agrária-
tor e réu na Ação de Manutenção IBRA - mSIste na sua adlDÍssão no
de Posse já aludida, sob n 9 228/6,1, feito, na qualidade de terceiro se-
autos esses que, todavia, se encon- nhor e legítimo possuidor das ter-
- 130-

ras questionadas e nos exatos ter- o recurso extraordinário interposto


mos do art. 707 e seguintes do Có- contra o acórdão proferido pelo Tri-
digo de Processo Civil. bunal de Justiça deste Estado nos
autos da ação principal de manu-
É impossível a este Juízo Federal tenção de posse sob o n Q 228/61 re.-
de P instância processar e julgar querida por José Ferroni e outros
tais embargos, cujo conhecimento é contra o General Amílcar da Silva
da competência e jurisdição do juí- Pires e outros, além das demais ra-
zo da execução, em Foz do Iguaçu. zões já aduzidas nos despachos an-
Mantendo o meu despacho ante- teriores deste Juízo.
rior, no sentido de que os presentes
Remetam-se, portanto, os presen-
Autos devam retornar ao Juízo de
tes autos ao Excelso Pretório, com
Origem, por intermédio da douta
as cautelas legais".
Corregedoria-Geral da Justiça do
Estado, uma vez que este Juízo Fe- Relacionados tais acontecimentos, vê-
deral da 1~ Instância não pode re- se logo à primeira vista que não há por
ver atos do Tribunal de Justiça do parte do Dr. Juiz de Direito de Foz do
Estado do Paraná, ainda que conse- Iguaçu qualquer manifestação. Como o
qüente à Correição Parcial. conflito resulta necessariamente de dois
juízes se dizerem competentes ou in-
Tal entendimento vem de ser
competentes, para o mesmo feito, segue-
confirmado pelo Egrégio Supremo
Tribunal Federal no julgamento do se que na espécie tal não ocorre.
do Conflito de Jurisdição n Q 4.692, Normalmente, dever-se-ia não conhe-
de Pernambuco, suscitado pelo cer do conflito e recomendar ao Dr. Juiz
MM. Juiz Federal da P Vara, que Federal que fizesse processar o agravo
decidiu pela competência do Tribu- interposto. Contudo, sendo manifesto
nal Regional do Trabalho da 6~ que o recurso não lograria êxito, mesmo
Região (DJ n Q 99, de 2-6-69). que a intervenção estivesse regular, é
mais prático declarar-se prejudicado to-
As conseqüências da execução do da a matéria, diante do que decidiu o
julgado pelo MM. Dr. Juiz de Direi- Supremo Tribunal.
to de Foz do Iguaçu devem ser ava-
liadas, medidas e pesadas por S. VOTO (VENCIDO)
Ex~ face às razões já expostas pelo
IBRA. O Sr. Min. José Néri da Silveira (Re-
lator): Sr. Presidente. Se nos autos não
Cumpra-se o meu despacho de está configurada a existência de conflito
fls. 125, in fine." entre juízes, conforme ouvi do voto do
eminente Relator, tenho que a primeira
Daí surgiu um agravo de Petição, do conclusão de S. Ex~ é que há de acolher-
IBRA, fls. 132/134 - ao qual, no entan- se. Não é caso de conhecer do conflito
to, o Dr. Juiz redargüiu com o despacho de jurisdição. Quando se julga prejudi-
de fls. 135: cado, admite-se, em princípio, que o
conflito existia e fato subseqüente fê-lo
"Julgo caracterizado o conflito de desaparecer. Daí conhecer-se do confli-
jurisdição a que se refere o art. 114, to, para o fim de considerá-lo prejudi-
inciso I, letra e, da Constituição Fe- cado.
deral, por se encontrar, ainda, pen-
dente de julgamento perante o No caso concreto, há um prius. É que
Egrégio Supremo Tribunal Federal não houve conflito.
-131-

Logo, o meu voto é no sentido de ciam. Não tomou parte no julgamento o


não tomar conhecimento deste conflito Sr. Min. Henoch Reis. Os Srs. Mins. Es-
de jurisdição. dras Gueiros, Moacir Catunda, Peçanha
DECISÃO Martins e Jarbas Nobre votaram com o
Como consta da ata, a decisão foi a Sr. Ministro Relator. Impedido o Sr.
l>eguinte: Julgou-se prejudicado o confli- Min. Decio Miranda. Não compareceu o
to, contra os votos dos Srs. Mins. Néri Sr. Min. Godoy Ilha, por motivo justifi-
da Silveira, Jorge Lafayette Guimarães e cado. Presidiu o julgatmento o Sr. Min.
Henrique d'Avila, que dele não conhe- Márcio Ribeiro.

CONFLITO NEGATIVO DE JURISDIÇÃO


N.o 1.276 - PR
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Peçanha Martins
Suscitante - Juiz Auditor da 5~ Circunscrição Judiciãria Militar
Suscitado - Juiz de Direito da Comarca de Nova Esperança
Partes - Usina Hidrelétrica de Florai Ltda. e Honório Fagtan e outros
EMENTA
Conflito de jurisdição. Não tendo havido incitamen-
to à paralisação de serviços públicos por parte dos acusa-
dos, não se configura o crime do art. 33, V, do Dec.-lei
n.o 314, de 1967. Procedência do conflito e competência
ao Dr. Juiz de Direito suscitado.

Vistos, relatados e discutidos estes muiltos anos, pela Usina Hidrelé-


autos, em que são partes as acima in- trica de Floraí Ltda. 2. Acontece,
dicadas, porém, que o Prefeito da mesma
Decide o Tribunal Federal de Re- cidade, Honório Fagan, autorizou a
cursos, em Sessão Plena, por unanimi- Companhia Paranaense de Eletri-
dade, conhecer o conflito e declarar cidade - COPEL - a proceder à
competente o Juiz de Direito da Co- cravação de postes e instalação de
marca de Nova Esperança, na forma do fios para o fornecimento de luz e
relatório e notas taquigráficas prece- força àquela cidade. 3 . Quando
dentes, que ficam fazendo parte inte- se achava terminado esse serviço,
grante do presente julgado. Custas de pronto para entrar em funciona-
lei. mento o fornecimento de energia,
Br:asília, 25 de novembro de 1971 - não tendo sido possível um acordo
Márcio Ribeiro, Presidente; Peçanha entre a antiga fornecedora e a Pre-
Martins, Relator. feitura, quanto à indenização devi-
da à primeira, o Prefeito, em dias
RELATÓRIO de janeiro de 1967, mandou arran-
car os postes e fios da antiga con-
O Sr. Min. Peçanha Martins (Rela- cessionária, o que, pela ocorrência
tor): O parecer da douta Subprocura- de um curto-circuito, determinou a
doria-Geral da República bem relata o paralisação do fornecimento de luz
caso dos autos: e força à cidade. 4. No dia ime-
"O fornecimento de energia elé- diato, passou o fornecimento de
trioa à cidade de Floraí, no Estado energia a ser feito pela COPEL,
do Paraná, vinha sendo feito, há tendo o Prefeito mandado recolher
- 132-

ao depósito da Prefeitura os postes co de fornecimento de luz e ener-


e fios da antiga concessionária e gia, senão o de tomar efetiva a
que por sua ordem haviam sido re- substituição de um concessionário
tirados. 5. Em conseqüência, a por outro, que, já no dia imediato,
antiga concessionária representou à passou a executar aquele serviço.
autoridade judiciária, o Dr. Juiz de 14. É evidente que o crime de-
Direito da Comarca de Nova Es- finido no art. 13 da então vigente
perança, que determinou a abertu- Lei de Segurança, para sua con-
ra do presente inquérito policial, figuração, como deixaram certo as
que, concluído, foi remetido àque- seguintes, que mantiveram a mes-
la autoridade. 6. Com vista aos ma figura criminosa, dependia de
autos, manifestou-se o Dr. Procura- uma motivação decorrente de in-
dor pela competência da Justiça conformismo político-social, o que,
Militar, por ver configurado na nem de leve, se pode ver na con-
conduta do Prefeito o crime defi- duta do indiciado. 15. Os crimes
nido no art. 13 da Lei de Segu- porventura configurados na con-
rança então vigente (Lei n 9 .... duta do indiciado são, sem dúvida,
1. 802/53), que encontra correspon- ida competência da Justiça Esta-
dente no art. 33, V, do Decreto-lei dual, dos quais, porém, pelo fale-
n 9 314/67, e no art. 39, V, do De- cimento do indiciado, restariam
creto-lei n 9 898/69. 7. Acolhen- apenas conseqüências ide ordem ci-
do esse parecer, o Dr. Juiz de Di- vil. 16. Nessas condições, opi-
reito determinou a remesa dos au- namos no sentido de que se julgue
tos à Auditoria da 5ª' Circunscrição procedente o conflito, declarando a
Judiciária Militar; uma vez aí, o competência do Dr. Juiz de Direito
Dr. Promotor Militar emitiu pare- suscitado."
cer pela competência da Justiça É o relatório.
comum, o qual mereceu o acolhi- VOTO
mento do Dr. Juiz Auditor, que O Sr. Min. Peçanha Martins (Rela-
suscitou o presente conflito nega- tor): Os acusados, o antigo Prefeito já
tivo de jurisdição. 8. Subiram os falecido e alguns dos servidores da Pre-
autos, então, ao egrégio Tribunal feitura, não cometeram crime previsto
Federal de Recursos, onde deles se no art. 33, inciso V, do Dec.-Iei de n 9
deu vista a esta Subprocuradoria- 314, que define os crimes contra a se-
Geral da República. 9. Inicial- gurança nacional e a ordem política e
mente, há que acentuar ter o in- social, pois não incitaram a paralisação
quérito perdido todo o interesse do de serviços públicos ou atividades es-
ponto de vista penal, pois que veio senciais. Os postes da antiga fornecedo-
a falecer o indiciado Honório Fa- ra de energia elétrica foram arrancados
gano 10. Não há dúvida, porém, pelos prepostos da Prefeitura por ordem
que não se pode vislumbrar na con- do Prefeito falecido, cuja conduta, co-
duta do Prefeito e dos que agiram mo acentuado no parecer da Sub-
por sua ordem, o crime definido procuradoria~Geral da República, não
no art. 13 da Lei n9 1.802/53, ver- teve por finalidade a paralisação do
bis: "Art. 13 - Instigar, preparar, Serviço. Este esteve paralisado por ocor-
dirigir ou ajudar a paralisação de rência de curto-circuito, mas restabele-
serviços públicos ou de abasteci- cido no dia seguinte.
mento da cidade." 13. Ora, a Assim, o meu voto é pela procedên-
conduta do Prefeito não tinha por cia do conflito e competência do Dr.
fim a paralisação do serviço públi- Juiz de Direito, o suscitado.
-133 -

DECISÃO da, Néri da Silveira, Jarbas Nobre, Jor-


ge Lafayette Guimarães, Henrique
Como consta da ata, a decisão foi a d'Avila, Godoy Ilha, Amarílio Benjar-
seguinte: Por unanimidade, conheceram min, Esdras Gueiros, Moacir Catunda
do conflito e declararam competente o e Henoch Reis votaram com o Sr. Mi-
Juiz de Direito da Comarca de Nova nistro Relator. Presidiu o julgamento o
Esperança. Os Srs. Mins. Decio Miran- Sr. Min. Márcio Ribeiro.

CONFLITO NEGATIVO DE JURISDIÇÃO


N.o 1.286 - DF
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Godoy TIha
Suscitante - Juiz Auditor da ll'lo Circunscrição Judiciária Militar
Suscitado - Juiz de Direito da 2'lo Vara Criminal da Comarca de Itumbiara
Partes - Sebastião Xavier Júnior e outros
EMENTA
Conflito Negativo de Jurisdição. Fatos ditos subver-
sivos contra as autoridades e a edilidade municipais, não
configurados como atentatórios à Lei de Segurança Na-
cional. Resíduos de crimes comuns da competência da
justiça local. Procedência do conflito suscitado pelo
Conselho Permanente da 11" Circunscrição Militar, nesta
capital.

Vistos, relatados e discutidos estes ofereceu ao Juiz Auditor daquela Re-


autos, em que são partes as acima in- gião denúncia contra Sebastião Xavier
dicadas, Júnior e mais oito indiciados como in-
Decide o Plenário do Tribunal Fe- cursos no art. 89 da Lei n 9 1.802/53,
deral de Recursos, por unanimidade, jul- com remissão ao art. 26 do Decreto-lei
gar competente o Dr. Juiz de Direito n 9 898/69 (Lei de Segurança Nacional).
da 2'!- Vara Criminal da Comarca de Instrui a denúncia o inquérito poli-
Itumbiara. Os Srs. Mins. Amarílio Ben- cial mandado proceder pelo Secretário
jamin, Esdras Gueiros, Moacir Catunda, de Segurança Pública de Goiás para
Henoch Reis, Peçanha Martins, Decio apurar fatos di'tos subversivo" ocorri-
Miranda, Néri da Silveira, Jarbas No- dos na cidade de Itumbiara, naquele
bre, Jorge Lafayette Guimarães e Hen- Estado, e cujo inquérito fora, inadver-
rique d'Avila votaram com o Sr. Mi- tidamente, enviado à Justiça Estadual
nistro Relator. Não compareceu o Sr. em Goiânia, quando deveriam ser con-
Min. Armando Rollemberg (Presiden- clusos ao Juiz da Comarca de Itumbia-
te), por motivo justificado. Presidiu o ra e, por promoção do Ministério PÚ-
julgamento o Sr. Min. Márcio Ribeiro. blico, foram os autos enviados a esta
Custas de lei. comarca, cujo titular, acolhendo mani-
Brasília, 13 de abril de 1972. - Már- festação do Ministério Público, reme-
cio Ribeiro. Presidente; Godoy Ilha, Re- teu-os à Auditoria da 4'!- Região Mili-
lator. tar, em Juiz de Fora, perante à qual
foi oferecida a denúncia, recebida pe-
RELATÓRIO lo respectivo Auditor.
O Sr. Min. Godoy Ilha (Relator): O Apesa,[' dos fatos atribuídos aos acusa-
Procurador Militar da 4'!- Região Militar dos terem ocorrido em 19 de janeiro de
- 134-

1966, sem outra providência processual, E determinou a remessa dos. autos ao


acabaram os autos sendo enviados à Juízo da Comarca de Itumbiara, de
Auditoria de Guerra da 1l~ Região Mi- conformidade com o decidido pelo Con-
litar, recentemente instalada nesta Ca- selho (lê fls. 261).
pital, tendo o ilustre Auditor desta lIª- O ilustrado 49 Subprocurador da Re-
Circunscrição Judiciária, inobstante ha- pública pronunciou-se nestes termos:
ver determinado a expedição de carta
precatória ao Juiz de Direito da Co- '<Data venia, nãO' tem razão o
marca de Itumbiara, para interrogató- douto Conselho de Justiça. Os fatos
rio dos réus ali domiciliados e mandar atribuídos aos denunciados, tal co-
expedir edital de citação dos réus que mo vem descritos na denúncia,
não foram encontrados, acabou por aco- configuram, de forma inequívO'ca,
lher a exceção de incompetência levan- crime contra a segurança nacional,
tada pelos acusados e houve por susci- definido no art. 89 da Lei de Se-
tar este Conflito Negativo de Jurisdi- gurança Nacional, então vigente.
ção, pela decisão de fls. 264, assim re- Assim definia o crime a Lei n 9
digida: 1.802/53 verbi8:
"O presente processo foi envia- "Art. 89 Opor-se, diretamente
do à Justiça Militar, oriunda da 2~ e por fato, à reunião ou livre fun-
Vara de Itumbiara, em decorrência cionamento de qualquer dos pode-
do despacho de fls. 201, verso e res políticos da União. Pena - re-
202, do MM. Dr. Juiz de Direito clusão de dois a oito anos, quando
que, acolhendo parecer do Dr. Pro- o crime for cometido contra poder
curador Militar, julgou a Justiça Co- da União ou dos Estados, reduzida,
mum incompetente. da metade, quando se tratar de
Examinando-se a peça acusató- poder municipal."
ria, depois de algumas referências Em nenhuma outra definição pe-
iniciais, o Dr. Procurador entra no nal se enquadra a conduta dos
cerne da questão, ou seja, diver- acusados, tal como se acha descrita
gência de natureza política entre na denúncia, podendo-se apenas di-
o Prefeito que saía e o Prefeito elei- zer que teria o crime ficado sob
to e que iria tomar posse. a forma tentada, uma vez que não
lograram os agentes impedir o fun-
Portanto, notamos tratar-se de donamento do Poder Legislativo
brigas políticas de cidades do m- Municipal.
terior e que nada tem com a se-
gurança nacional É verdade, porém, que o fato, à
época da denúncia, deixara de
Em sessão do dia 8 de junho, o constituir crime pela Lei de Segu-
Conselho, com parecer favorável da rança Nacional então vigente, pois
ProcuradOlria Militar, por maioria o art. 26 desta, dado pela denún-
de votos, julgou a Justiça Militar cia como correspondente ao art. 89
para conhecer do presente feito, is- da Lei n 9 1.802/53, não mais con-
to é, incompetente para conhecer templa os Poderes Executivo e Le-
o feito (fls. 261). gislativo do Município, verbi8:
Assim sendo, suscito o presente "Art. 26. Impedir ou tentar im-
Conflito Negativo de Jurisdição, pedir, por meio de vi01ência ou
determinando a remessa dos autos ameaça de violência, o livre exer-
ao Egrégio Tribunal Federal de Re- cício de qualquer dos Poderes da
'cursos." União ou dos Estados".
- 135-

Assim, caberia ao douto Conse- tão em exercício para realização de uma


lho de Justiça da Auditoria da 1P operação de crédito de vinte milhões
Região Militar, se entendesse pro- de cruzeiros com o Banco do Estado
cedente essa alegação, determinar de Goiás, quando estava prestes a se
o arquivamento do processo, o que, concluir o seu mandato, e que os in-
na verdade, somente ele pode fa- diciados atribuíram a propósitos frau-
zer, pois que, indiscutivelmente, à dulentos do chefe do executivo muni-
época dos fatos, estes incidiam na cipal e anunciaram um pronunciamen-
sanção do invocado art. 8 9 da Lei to público dos candidatos eleitos a rea-
n 9 1.802/53. lizar-se na data apontada na denúncia,
o que determinou providências toma-
N essas condições, opinamos no das pelo Presidente da edilidade junto
sentido de que se julgue improce- às autoridades policiais, o que evitou
dente o conflito, declarando-se a qualquer ato de violência contra os
competência da douta Auditoria da edis, ou tumultuar a sessão da Câmara.
lI'!- Região Militar para conhecer
da denúncia e julgar como enten- O inquérito determinado pelo Secre-
der de direito." tário de Segurança do Estado foi diri-
gido com evidente parcialidade, mas da
É o relatório. prova colhida não se apurou, em ver-
dade, atos de subversãõ atentórios da
VOTO segurança nacional.

o Sr. Min. Godoy Ilha (Relator): Houve manifesto excesso de lingua-


Em que pese o douto parecer da ilus- gem, de expressões injuriosas e difama-
trada 4~ Subprocuradoria-Geral da Re- tórias à boa fama e à honra dos diri-
pública, estou em que procede o con- gentes municipais e dos membros da
flito. respectiva Câmara, mas, do que colhi da
leitura do inquérito, é que não ficou
Os fatos expostos na denúncia ocor- de modo nenhum caracterizada a figu-
reram num clima de exacerbação polí- ra prevista no art. 89 da primitiva Lei
tica, nos primeiros dias do mês de ja- de Segurança (Lei n 9 1.802/53), en-
neiro de 1966, anós a realização de dis- tão vigente, a de opor-se diretamente
putado pleito municipal, em que saí- e por fato à reunião ou livre funciona-
ram vencedores os candidatos da opo- mento dos poderes municipais.
sição, e o inquérito policial que se ins-
taurou, em virtude de representação fei- De resto, quando do oferecimento da
ta pelo Prefeito em exercício no muni- denúncia, em 15 de dezembro de 1969,
cípio de Itumbiara, no Estado de Goiás, já estava em vigor a nova Lei de Se-
e pelos vereadores da Câmara Munici- gurança (Decreto-lei n 9 898, de 15 de
pal com o mandato a se extinguir (lê setembro do mesmo ano), que excluía a
fls. 10), visou, precipuamente, as pes- tipicidade do crime imputado aos de-
soas do Prefeito, Vice-Prefeito e Verea- nunciadores, ao definir no seu art. 26
dores então eleitos e em véspera de se como tal, "impedir ou tentar impedir"
empossarem nos respectivos cargos, os por meio de violência ou ameaça de vio-
quais, com os outros denunciados, ini- lência, o livre exercício de qualquer dos
ciaram uma campanha popular, sobre- poderes da União ou dos Estados", ex-
tudo através da rádio local, contra a cluindo da conceituação penal os pode-
aprovação pela Câmara Municipal de res municipais, como, de igual modo, o
um projeto enviado pelo Prefeito en- fizera o Decreto-lei n 9 314, de 13 de
- 136-

março de 1967, no seu art. 24, que re- solveu determinar baixa em diligência
vogara a Lei n 9 802/53. a fim de apurar sobre possível partici-
pação dos acusados no processo em ati-
Tanto é assim, que a denúncia, ao vidades comuno-subversivas" (textual),
imputar aos acusados a infração do art. como se vê da ata de fls. 241. Neste
89 da Lei n 9 1.802, fez remissão ex- sentido, determinou o Auditor, às fls.
pressa ao art. 26 do citado Dec.-Iei n 9 250, que se oficiasse nos termos da sua
898/69, "atendido o princípio da benig- minuta, cujo cumprimento foi certifica-
nidade legal" (sic, fls. 3), quando dis- do em 12 de março de 1971. A 7 de
so não se tratava, mas da retroativida- abril, que se aguardasse a resposta do
de da lei nova, da lex melior, princípio ofício de fls. 250, despacho reiterado
tradicional na doutrina e expressamen- em 26 de abril (fls. 250), no que não
te consignado no art. 29 do C6d. Penal, foi atendido e levou o Conselho a aco-
verbis: lher a execução da incompetência sus-
citada pelos acusados às fls. 237 (lê).
"Art. 29 Ninguém pode ser pu-
nido por fato que a lei posterior O resíduo da ação penal limitou-se
deixa de considerar crime, cessan- aos crimes previstos no art. 331 do C6d.
do em virtude dela a execução e Penal (desacato à autoridade ou funcio-
os efeitos penais da sentença con- nário no exercício da função ou em ra-
denat6ria. zão dela), ou de injúria ou difamação
contra funcionário ou autoridade no
"Parágrafo 19 - A lei posterior, exercício da sua função e em razão dela
que de outro modo favorece ao (art. 138 e 139 c/c art. 141, todos do
agente, aplica-se ao fato não defi- C6d. Penal).
nitivamente julgado e, na parte
em que comina pena mais rigoro- Tratam-se, à toda a evidência, de
sa, ainda ao fato julgado por sen- crimes comuns, da <competência da Jus-
tença irrecorrível." tiça local.
Ao contrário, quando a lei nova agra- Dou por procedente o conflito para
va a situação do agente, dá-se a irre- reconhecer a competência do Juiz da
troatividade da lei penal, como já inscri- 2lJ. Vara da Comarca de ltumbiara, no
to na pr6pria "Declarações dos Direitos Estado de Goiás, por prevenção.
do Homem e do Cidadão", da Re-
volução Francesa. DECISÃO

Não se tendo verificado, na specie Como consta da ata, a decisão foi a


iuris, o crime de subversão, como o pro- seguinte: Por unanimidade de votos,
clamou o insuspeito depoimento do Vi- julgou-se competente o Dr. Juiz de Di-
gário da Par6quia (fls. 51, in fine) e reito da 2lJ. Vara Criminal da Comarca
colhe-se da proclamação do prefeito de ltumbiara. Os Srs. Mins. Amarílio
eleito pela Rádio Difusora de Itumbia- Benjamin, Esdras Gueiros, Moacir Ca-
ra (fls. 70 - lê), no pr6prio dia das tunda, Henoch Reis, Peçanha Martins,
ocorrências ditas subversivas, resulta Decio Miranda, Néri da Silveira, Jar-
manifesta a incompetência do foro mi- bas Nobre, Jorge Lafayette Guimarães
litar. e Henrique d'Ávila votaram com o Sr.
Ministro Relator. Não compareceu o Sr.
Já na sessão de 4 de março de 1971, Min. Armando Rollemberg (Presiden-
o Conselho Permanente da Junta da 11lJ. te), por motivo justificado. Presidiu o
Circunscrição Militar, nesta Capital, "re- julgamento o Sr. Min. Márcio Ribeiro.
- 137-

PETI'ÇÃO DE HABEAS CORPUS N.o 2.619 - DF


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Peçanha Martins
Paciente - Hayrton de Mello Vianna
Impetrante - João Ribeiro de Morais
Habeas corpus. Sentença nula por faltar o relatório
e não estabelecer relação com a defesa dos acusados. Or-
dem concedida sem prejuízo da ação penal. Decisão
unânime.

Vistos, relatados e discutidos estes "Sr. Ministro: Em atendimento


autos, em que são partes as acima indi- ao Ofício n 9 2.073, datado de
cadas, 3-9-71, informo a V. Er., que os
Decide o Tribunal Federal de Re- autos da Ação Penal movida pela
cursos, em Sessão Plena, por unanimi- Justiça Pública contra Hayrton
dade, conceder a ordem para anular a Mello Vianna e outros já subiram
sentença condenatória por ausência de para o Egrégio Tribunal Federal
fundamentação legal, estendida a me- de Recursos, ali dando entrada no
dida aos demais CÓ-úéus condenados, dia 19 deste mês e ano. Assim, está
como de direito, na forma do relató- este Juízo impossibilitado de pres-
rio e notas taquigráficas precedentes, tar as informações solicitadas. En-
que ficam fazendo parte integrante do vio a V. Ex~ cópia da sentença
presente julgado. Custas de lei. proferida na mencionada ação pe-
naI."
Brasília, 17 de setembro de 1971. -
Henrique ([Ávila, Presidente; Peçanha A douta Subprocuradoria-Geral da
Martins, Relator. República ofereceu o parecer de fls. 75,
usque fls. 76, opinando pela denegação
RELATÓRIO da ordem.
O Sr. Min. Peçanha Martins (Rela-
É o relatório.
tor): O ilustre advogado Dr. João Ri-
beiro de Morais impetra a presente or- VOTO
dem de habeas corpus em favor da
Hayrton de Mello Viana, preso no Nú- O Sr. Min. Peçanha Martins (Rela-
cleo de Custódia de Brasília em virtu- tor): Limitou-se o ilustre Dr. Juiz co-
de de sentença condenatória em pro- ator no enviar, a título de informações,
cesso criminal que correu perante a 2~ o teor da sentença que proferiu no pro-
Vara da Justiça Federal desta Capital. cesso criminal, já remetido a esta Ins-
Alega, em síntese, nulidade da sen- tância em virtude de apelação (fls. 47).
tença que deixou de observar formali- Este fato, porém, tendo em vistas as
dade essencial consignada no art. 381, argüições contidas no pedido, não im-
lI, do Código de Processo Penal, pois pede que esta Turma decrete a nulida-
não se refere à defesa produzida no de da decisão e conceda a ordem para
relatório que não existe, nem na parte que o paciente, um primário, readquira
decisória, citando Magalhães Noronha a sua liberdade.
e José Frederico Marques. Está dito no parecer da douta Sub-
O Dr. Juiz inquinado de coator pres- procuradoria-Geral da República:
tou informações através do ofício de fls. "Quanto à defesa, é certo, que
47, nestes termos: dela não se fez "exposição suscin-
- 138 -

ta", em capítulo a parte. Preferiu seguimento da ação penal, estendida


o Juiz ir examinando os funda- aos demais co-réus.
mentos da defesa e, paralelamente,
VOTO
os refutando. Talvez não seja a,
melhor técnica, mas atende com O Sr. Min. Jorge Lafayette Guima-
vantagem à exigência legar' (fls. rães: Sr. Presidente, eu não acolheria
76). a nulidade da sentença pelo fato de
não se destacar, no relatório, a defesa,
Data venia, Sr. Presidente, nem em com as alegações feitas, o que a lei de-
capítulo à parte, nem esporadicamente, termina e é de boa técnica.
a sentença menciona uma só palavra Se o Juiz, na fundamentação, abor-
relativamente à defesa do paciente. Nas dasse a matéria suscitada pela defesa,
suas 26 laudas começa transcrevendo eu consideraria a decisão válida por
a longa denúncia e decide preliminar ausência de prejuízo. Seria uma senten-
argüida pelo defensor de Novais Gon- ça deficiente no aspecto técnico, mas
çalves Mendes, um dos co-réus. Entran- perfeitamente válida~
do, logo em seguida, no capítulo que
designou de mérito, transcreve parte do O eminente Sr. Ministro Relator, po-
relatório do processo administrativo e rém, fez um resumo do que contém a
depoimentos de outros co-réus. E, após sentença. Pelo que ouvi, realmente não
breves considerações quanto ao inqué- há referência aos argumentos de defe-
rito, a este volve transcrevendo parte sa. Nestas condições, sou levado a con-
do relatório do seu presidente, aponta ceder a ordem.
a atividade de cada um dos réus den- DECISÃO
tro de certos períodos e termina, ino-
pinadamente, julgando procedente a Como consta da ata, a decisão foi a
denúncia e condenando. Uma sentença seguinte: À unanimidade, foi concedi-
assim proferida, sem relatório, e sobre- da a ordem para anular a sentença
tudo sem estabelecer a menor relação condenatória por ausência de funda-
com a impugnação ou defesa dos acusa- mentação legal, estendida a medida aos
dos, não tem força para determinar a demais co-réus de condenados, como de
prisão de ninguém. direito. Os Srs. Mins. Jorge Lafayette
Guimarães, Henrique d'Ávila e Moacir
Isto posto, o meu voto é no sentido Catunda votaram com o Sr. Ministro
de decretar a nulidade da sentença e Relator. Presidiu o julgamento o Sr.
conceder a ordem sem prejuízo do pros- Min. Henrique d'Ávila.

RECURSO DE HABEAS CORPUS N.o 2.689 - SP


Relator - O Ex.mO Sr. Min. Henrique d'Avila
Recorrente - Juiz Federal da 3" Vara, ex officio
Recorrido - André Beaujard
EMENTA
Prisão sob simples suspeita de sentença condenató-
ria no estrangeiro. Inexistência de ordem escrita de
autoridade competente que autorize a custódia. Habeas
corpus. Sua concessão.

Vistos, relatados e discutidos estes Decide a Primeira Turma do Tribu-


autos, em que são partes as acima in- nal Federal de Recursos, à unanimida-
dicadas, de, negar provimento, na forma do re-
- 139-

latório e notas ta qui gráficas preceden- que se encontra, sendo certo que
tes, que ficam fazendo parte integran- não foi detido em estado de fla-
te do presente julgado. Custas de lei. grância, nem se encontra à disposi-
ção do Ministério da Justiça nem
Brasilia, 3 de março de 1972. - Hen- de autoridades militares.
rique á Ávíla, Presidente e Relator.
A detenção do paciente, sob a
RELATÓRIO suspeita de que possui condena-
ção na França, da forma que foi
o Sr. Min. Henrique d'Ávila (Rela- produzida, é ilegal diante da sis-
tor): A espécie foi assim exposta e temática penal pátria, mesmo que
decidida pelo MM. Julgador a quo: se constate a posteriori que real-
mente é procurado pela polícia
"O bacharel Tubertino Ferreira francesa (fls. 11). O que se de-
Rios impetra a presente ordem em preende das informações prestadas
favor de André Beaujard, ambos pela digna polícia é de que ele está
devidamente qualificados no peti- preso enguanto se aguarda confir-
tório, alegando que o mesmo se mação de decreto condenatório ex-
encontra detido ilegalmente, numa pedido pela Justiça Francesa. Repi-
evidente coação, há mais de 72 ho- ta-se, pa'fa que dúvida não rema-
ras, à disposição do Delegado Che- nesça: o paciente está preso pela
fe da Polícia Federal. suspeita de ter sido condenado em
Requisitadas, vieram para os au- outras terras. Sua detenção, curial-
tos as informações de fls. 7/8, mente, diante da legislação brasi-
acompanhadas dos documentos de leira, só poderia ser realizada após
fls. 9 usque 14, onde se alega em a constatação desse aludido deci-
síntese que: numa operação con- sório. Aliás, só para constar, o pró-
junta, fisco-policial, o paciente foi prio paciente, em declarações poli-
detido aos 18 de novembro último, ciais, sequer esclarece corretamen-
sendo encaminhado para a Polícia te tal fato (fls. 14).
Federal, onde efetivamente se en-
Pelo exposto, e pelo mais que
contra, "ao findar o expediente" do
dos autos consta, concedo a pre-
último dia 19; que se encontra de-
sente ordem de habeas corpus, re-
tido o paciente, de nacionalidade
querida em favor de André Beau-
francesa, porque sobre ele pesa a
jard, devidamente qualificado na
suspeita de ter sido condenado em
inicial, pela ilegalidade de sua pri-
seu país de origem, estando dili- são".
genciando, junto à Interpol, a au-
toridade apontada por coatora, a Dessa decisão recorreu de ofício seu
confirmação desta notícia; que, di- ilustrado prolator. Os autos vieram ter
ante de tais fatos, requer "um adia- a esta Superior Instância, onde a douta
mento para a apreciação e julga- Subprocuradoria-Geral da República,
mento do pedido" (fls. 8), a fim em parecer da lavra do eminente 49-
de que possa cumprir sua missão. Subprocurador-Geral da República,
É o relatório, passo a decidir. Dr. Henrique Fonseca de Araújo, as-
sim se pronuncia:
Constata-se, de pleno, que con-
tra o paciente inexiste qualquer or- "O MM. Juiz Federal da 3ª Vara
dem escrita, de autoridade compe- de São Paulo concedeu ordem de
tente, que autorize a custódia em habeas corpus em favor de André
- 140-

Beaujard, por reconhecer que a sua VOTO


prisão, sob simples suspeita de que O Sr. Min. Henrique aÁvila (Rela-
estaria condenado em seu país de tor): Adotando o parecer da douta
origem - França - constituiria Subprocuradoria-Geral da República e
constrangimento ilegal. Recorreu levando em conta o manifesto constran-
de ofício. gimento ilegal de que soma o paciente,
Na verdade, as informações da meu voto é no sentido de negar provi-
autoridade policial não autorizavam mento ao recurso para manter a decisão
manter preso o paciente, uma vez recorrida, que se me afigura acertada e
que a prisão se dera por simples jurídica.
suspeita de que se encontraria ele DECISÃO
condenado por sentença proferida Como consta da ata, a decisão foi a
na França. seguinte: Negou-se provimento. Decisão
Nessas condições, opinamos no unânime. Os Srs. Mins. Moacir Catunda,
sentido de que se negue provimen- Peçanha Martins e Jorge Lafayette Gui-
to ao recurso de ofício." marães votaram com o Sr. Ministro Rela-
tor. Presidiu o julgamento o Sr. Min.
É o relat6rio. Henrique a Ávila.

HABEAS CORPUS N.o 2.690 - PR


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Moacir Catunda
Paciente - Dalto Barreto Rodrigues
Impetrante - Cari de Oliveira Chaves
EMENTA
Habeas corpus. Certidão de Oficial de Justiça.
Fé Pública. citação por edital depende realmente da exaus-
tão dos meios de que disponha o Oficial de Justiça, para
encontrar o acusado. No caso dos autos, a precatória, as-
sim como o mandato, não oferecendo qualquer elemento
onde o acusado pudesse ser encontrado, salvante o n.o
7.186, onde não o foi, explicam a certidão do Oficial de
Justiça, de que se achava em lugar não sabido.
Vistos, relatados e discutidos estes au- habeas corpus liberat6rio em favor de
tos, em que são partes as acima indica- Dalto Barreto Rodrigues, ora preso na
das, Penitenciária de Porto Alegre, em de-
Decide a Primeira Turma do Tribunal corrência de carta precat6ria expedida
Federal de Recursos, por unanimidade em cumprimento à sentença de um ano
de votos, denegar a ordem, na forma do de reclusão, pelo crime previsto no art.
relat6rio e notas taquigráficas preceden- 334, § 19 , alínea c e d, proferida pelo
tes, que ficam faz;endo parte integrante Dr. Juiz da P. Vara Federal da Seção do
do presente julgado. Custas de lei. Paraná, sob o argumento, em resumo, de
que sofre coação ilegal, emanada de sen-
Brasília, 1 de março de 1972. - Hen- tença nula, por vício de citação edita~
rique d' Ávila, Presidente; Moacir Catun- visto que residindo junto ao n 9 7.186,
da, Relator. da Av. Getúlio Vargas, em Canoas, no
Rio Grande do Sul, a certidão do Oficial
RELATÓRIO
de Justiça, sobre a inexistência daquele
O Sr. Min. Moacir Catunda (Relator): número, não é verdadeira, daí sua inva-
Sr. Presidente. Trata-se de pedido de lidade, que acarreta a dos atos subse-
-141-

qüenres, dentre os quais a citação edital Prefeitura Municipal, sobre a existência


e a sentença. do n 9 7.186, da Avenida Getúlio Var-
Instruiu o pedido com os documentos gas, de modo a desfazer a certidão do
que defluem de fls. 12 a 29. oficial de justiça, sou pela sua persis-
tência, em razão da fé pública de que
Às informações, o Dr. Juiz respondeu imbuída.
nestes termos - lê - fls. 34.
A citação por edital depende realmen-
Oficiou a douta Subprocuradoria-Ge-
te da exaustão dos meios de que dispo-
ral da República, pela denegação do pe-
nha o Oficial de Justiça, para encontrar
dido.
o acusado. No caso dos autos, a preca-
É o relatório. tória, assim como o mandado, não ofere-
VOTO cendo qualquer elemento onde o acusa-
O Sr. Min. Moacir Catunda (Rela- do pudesse ser encontrado, salvante o n Q
7.186, onde não o foi, explicam a cer-
tor): Sr. Presidente. Do atestado de re-
tidão do Oficial de Justiça, de que se
sidência fornecido pelo Delegado de Po-
achava em lugar não sabido.
lícia de Canoas tira-se ao certo residir
o paciente à rua Marquês de Barbacena, Ante a situação do processo não será
n 9 250, naquela cidade. As contas da possível decretar a nulidade da senten-
Companhia Estadual de Energia Elétri- ça, por vício de citação.
ca, do seu interesse, também registram
aquele endereço. Os demais documentos Denego o pedido.
acostados aos autos, oriundos do proces-
DECISÃO
so crime, assim como a carta precatória
citatória, não fornecem qualquer indica- Como consta da ata, a decisão foi a
ção sobre a proximidade do n 9 7.186, da seguinte: À unanimidade, denegou-se a
Avenida Getúlio Vargas com o n 9 250, ordem. Os Srs. Mins. Peçanha Martins,
da rua Marquês de Barbacena, nem de Jorge Lafayette Guimarães e Henrique
que o réu haja sido preso aí, pelo meiri- d'Ávila votaram com o Sr. Ministro Re-
nho ultimamente. Não tendo o impe- lator. Presidiu o julgamento o Sr. Min.
trante trazido para os autos certidão da Henrique á Ávila.

HABEAS CORPUS N.o 2.767 - DF


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Amarílio Benjamin
Paciente - Guilherme Ovidio Herrera Benitez
Impetrante - Edisio Gomes de Matos
EMENTA
Habeas corpus contra expulsão de estrangeiro. Exis-
tência de fiJiho brasileiro dependente da economia paterna.
Alegações improcedentes. Está SUjeito à eXJpulsão o es-
trangeiro que não se comporta de acordo com as regras
da lei específica. Impede o ato a existência de filho bra-
sileiro dependente da economia paterna. Não está, no
entanto, em condições de beneficiar-se com a exceção le-
gal, o estrangeiro que, embora pOSSuindo filho, o deixa
sem assistência, sob o exclusivo encargo materno.

Vistos, relatados e discutidos estes au- Decide o Plenário do Tribunal Federal


tos, em que são partes as acima indica- de Recursos, por maioria de votos, in-
das, deferir a ordem, na forma do relatório e
- 142-

notas taquigráficas precedentes, que fi- vez que a mãe possui parcos vencimen-
cam faz.endo parte integrante do presen- tos de comerciária, pode ficar inválida
te. julgado. Custas de lei. ou falecer. 0' espírito da lei é a prote-
ção da família brasileira. Encerra o Dr.
Brasília, 19 de maio de 1972. - Ar- Advogado as suas razões invocando ao
mando Rollemberg, Presidente; Amarílio lado da Constituição e do Decreto-lei
Benjamin, Relator. n Q 941, a Súmula n Q 1 do Supremo Tri-
bunal:
RELATÓRIO
"É vedada a expulsão de estran-
O Sr Min Amarílio Benjamin (Rela- geiro casado com brasileira, ou que
tor): 0' Dr. Edísio Gomes de Matos tenha filho brasileiro, dependendo
requer habeas corpus em favor de Gui- da economia paterna."
lherme 0'vídio HeITera Benitez, chileno
e residente no Guará, neste Distrito Fe- Tomamos informações. Respondeu-
deral, sob a alegação de estar o pa- nos o Sr. Ministro da Justiça, na base
ciente sofrendo constrangimento ilegal de parecer da Consultoria Jurídica.
resultante de processo de expulsão ins- Consta desse pronunciamento que o fi-
taurado por ordem do Sr. Ministro da lho de Guilherme 0'vídio não depende
Justiça, que, em conseqüência, determi- de sua economia. Conforme declarações
nou ainda sua prisão, na Delegacia Re- da esposa - Adriana Amando Cruz Va-
gional de Brasília, do Departamento de ras - no inquérito de expulsão, o acusa-
Polícia Federal. Em defesa do habeas do abandonou a família desde 1965, es-
corpus o impetrante expõe e sustenta: tando, desde essa data, sobre os seus
Guilherme 0'vídio HeITera Benitez foi ombros a responsabilidade do lar. Em
processado perante a lIª- Auditoria Mi- 1966, conseguiu judicialmente pensão
litar, em Brasília, por infração do art. alimentícia; entretanto, o indiciado não
38, do Decreto-lei n Q 314, de 13 de a cumpriu até hoje. 0' contrato de. finan-
março de 1967; condenado a 10 meses ciamento, para aquisição de casa pró-
de detenção, cumpriu a pena. Instaura- pria, que obteve, foi assinado pela es-
do o processo de expulsão, o Sr. Mi- posa sozinha, com alvará do juiz com-
nistro da Justiça decretou sua prisão petente, suprindo a ausência do mari-
por noventa dias, prorrogada recente- do. Registra o inquérito que a esposa
mente por igual prazo. Sucede, porém, possui renda própria, resultante de seu
que o paciente é pai de Guilherme Ale- trabalho. Argumentam, por fim, as infor-
xandre HeITera Cruz, nascido em Belo mações, que o estrangeiro em causa é
Horizonte, a 14 de outubro de 1960, passível de expulsão, por haver atentado
conforme certidão anexa. 0' fato impe- contra a segurança nacional e não pos-
de o processo de expulsão, na confor- suir filho brasileiro dependente da eco-
midade do art. 74, n Q II, do Decreto- nomia paterna. Manifestou-lse a Sub-
lei n Q 941, de 13 de outubro de 1969. procuradoria-Geral, fls. 17/20, propug-
Por certo, o Sr. Ministro da Justiça, nando:
ao determinar as providências tomadas,
levou em conta uma carta da esposa 1) Descabimento do habeas corpus,
do beneficiário, declarando que o filho por estar suspensa a garantia, nos casos
menor não dependia de economia pa- de crime contra a segurança nacional.
terna, embora posteriormente haja se-
gunda carta, contradizendo a primeira. 2) Inviabilidade da pretensão, por
De qualquer modo, não se pode presu- envolver matéria de fato controvertida,
mir que o menor, no futuro, não venha que não se deslinda no âmbito sumarís-
a depender, economicamente, do pai, simo do writ impetrado.
-143 -

3) Improcedência, no mérito, do re- Decreto-lei n 9 941, não será expulso o


querimento, por estarem de acordo com estrangeiro que tiver filho brasileiro de-
a lei as medidas impugnadas. pendente da economia paterna. A Sú-
É o relatório.
mula n 9 1 do Supremo Tribunal esta-
belece a mesma ressalva. Na espécie,
VOTO porém, o interessado, embora possua fi-
lho brasileiro, está separado da esposa
O Sr. M in. Amarílio Benjamin (Re- e não mantém o descendente. A inicial,
lator) : Preliminarmente, conhecemos fora de dúvida, admite essa situação,
do pedido. O caso não é de habeas cor- não obstante as reservas que faz às de-
pus, para discutir crimes contra a se- clarações da esposa do interessado, em-
gurança nacional, ou que envolva ma- bora sem prova contrária. Todavia, pre-
téria relativa a seu processamento, não tende que a possibilidade de vir o filho
havendo razão para que incida a regra a precisar do amparo econômico do pa-
proibitiva do Ato Institucional n 9 5. É ciente constitua elemento' basltante a
verdade que o paciente foi processado compor o requisito impeditivo de sua
pela prática de crime contra a seguran- expulsão. Data venia da inspiração li-
ça nacional, mas o processo acha-se en- beral e boa-fé do nobre advogado, a
cerrado e não está em causa qualquer lei não permite a elasticidade pretendi-
aspecto que lhe diga respeito. Indubi- da. O art. 74, n 9 11, citado, tem em
tável do mesmo modo que a expulsão vista dependência efetiva e correspon-
considerada decorre de ter havido con- dente ao momento da expulsão. Não
denação por crime de tal natureza. En- há nenhuma idéia de expectativa em
tretanto, a expulsão é processo autôno- sua linguagem. Se fosse possível cogi-
mo, sob disciplina de lei específica. De- tar-se do futuro, seria necessário, se-
pende de formalidades e condições que guramente, para se ter certa confiança
a lei não subtrai do controle jurisdicio- em que o menor receberia amparo, se
nal. A nosso ver, o impedimento do precisasse, que o paciente, ao menos,
habeas corpus somente se daria se a tivesse feito prova de que, apesar de
expulsão decorresse direta e imediata- separado da esposa, e malgrado o não
mente do processo e condenação por cumprimento da pensão alimentícia, ti-
crime contra a segurança nacional. O nha afinal interesse pelo filho e não
processo especial de expulsão compre- ajudava sua manutenção porque a mãe
enderia os outros casos a que se refere recusara ou dispensara auxílio. Dos au-
o Estatuto do Estrangeiro. No entanto, tos, no entanto, nada consta, e o retrato
essa não é a orientação da lei. que emerge do peregrino em via de
Resta acrescentar que o Sr. Mi- expulsão não dá a menor esperança de
nistro da Justiça, que examinou demo- que poderá servir ao filho, algum dia.
radamente a espécie, considerou tão só Pelos fundamentos e);:postos, denega-
o mérito da impetração. mos o habeas corpus.
A outra preliminar do parecer da VOTO
Subprocuradoria, quanto à existência de
matéria de fato controvertida, é proble- O Sr. Min. Esdras Gueiros: Sr. Pre-
ma dependente da apreciação do pe- sidente..
dido.
Inicialmente, após o relatório e a sus-
De meritis, consideramos inicialmen- tentação do nobre advogado e a con-
te que não haja dificuldade maior re- seqüente resposta do digno Subprocura-
sultante de algum exame de prova. dor, mantive-me em certa dúvida, dado
Segundo a lei - art. 74, n 9 11, do que o dispositivo constitucional, bem
- 144-

como a lei invocada, estabelecem uma mandou dizer, informei que a esposa
alternativa: não será expulso do País houvera obtido judicialmente pensão
aquele que for casado com mulher bra- alimentícia, mas o paciente até o mo-
sileira. E quanto a filhos não diz ape- mento não cumprira essa determinação.
nas: "se tiver filho brasileiro", mas sim: O Sr. Min. Peçanha MartinS: Mas po-
"ou, tendo filho brasileiro, seja esse seu derá cumprir.
dependente". Todavia, no presente ca-
so, .o habeas corpus cinge-se ao fato de Sr. Presidente, concedo o habeas cor-
o filho ser ou não dependente. Real- pus.
mente, há aí matéria de prova, quanto VOTO (VENCIDO)
a essa dependência ou não do filho do O Sr. Min. Decio Miranda: Sr. Pre-
expulsando, face à contradição entre as sidente: Parece-me que a chave do pro-
duas cartas que constam dos autos. blema está no exame da cláusula "de-
Minha dúvida, no entanto, já agora pendente da economia paterna", ins-
desapareceu, após ouvir o voto do emi- crita no art. 74, n Q 2, do Decreto-lei n 9
nente Min. Amarílio Benjamin. Assim, 94l.
não tenho dúvida em acompanhá-lo, ne- Pelas informações e de acordo com o
gando também o habeas corpus. douto voto do Sr. Ministro Relator, essa
cláusula foi examinada em relação à
VOTO (VENCIDO) pessoa do expulsando.
O Sr. Min. Peçanha Martins: Sr. Pre- Tenho para mim, entretanto, que es-
sidente: Peço um esclarecimento ao te exame há de ser feito de referência
eminente Ministro Relator. O casal es- à pessoa do filho.
tá separado?
Não se trata de saber se o pai nunca
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: É o esteve, já esteve ou está em condições
que diz o Ministro da Justiça. Pela ini- de suprir a subsistência do filho. Tra-
cial, admito que o impetrante concor- ta-se ao revés, de saber se o filho de-
da com essa situação. pende, em tese, de meios exógenos de
O Sr. Min. Peçanha Martins: Eram subsistência, sem que se precise fazer
casados? o exame de fatos da economia paterna.
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: Sim. Ora, todo filho menor, que não seja
Pelo menos é o que se depreende. herdeiro de capitais ou rendimentos, de-
pende da economia paterna.
O Sr. Min. Peçanha Martins: Quer
dizer que não consta dos autos a notí- O filho não dependerá da economia
cia sobre se ele concorre, ou não, com paterna, no meu sentir, quando, menor,
a despesa do filho ... tiver economia própria, ou, maior, for
indivíduo válido, capaz de trabalhar.
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: Há as Todo filho em condições de reclamar
informações, a que me reportei no re- alimentos do pai ou da mãe é depen-
latório. dente da economia paterna.
O Sr. Min. Peçanha Martins: Mas Por assim entender a cláusula legal,
concorrer com a despesa do filho é concedo a ordem.
obrigação legal do pai, pelo menos por
enquanto, porque não há sentença es- VOTO (VENCIDO)
tabelecendo caber à mulher prover a O Sr. Min. Jarbas Nobre: A obrigação
subsistência. de prestar alimentos é irrenunciável.
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: Na ba- No caso, há medida judicial exigindo-os.
se do que o Sr. Ministro da Justiça nos Daí decorre que, em tese, como ficou
- 145-

afirmado há pouco pelo Sr. Ministro VOTO


Decio Miranda, a prestação é devida. O Sr. Min. Godoy Ilha: Acompanho
Assim sendo, e já que a dependência o voto do Sr. Min. Jorge Lafayette Gui-
econômica do filho se oferece nítida, marães.
acompanho os votos que concedem a É certo que o pai, por imperativo le-
ordem. gal, é obrigado a prestar alimentos aos
VOTO descendentes. Na hipótese, verifica-se
que não está em condições de prestá-
O Sr. Min. Jorge Lafayette Guima,.- los. Quem dá assistência ao menor é a
rães: Entendo que a dependência eco- mãe, a progenitora, da qual ele já se
nômica da economia paterna para ex- encontrava separado há alguns anos.
cluir a expulsão deve ser efetiva e con-
creta. Não basta o dever que a lei impõe DECISÃO
a todo pai de prover a manutenção e Como consta da ata, a decisão foi a
subsistência dos filhos. Se assim fosse, seguinte: Por maioria de votos, venci-
a lei usaria a expressão que é mais co- dos os Srs. Mins. Peçanha Martins, De-
mum em situações semelhantes. Diria: cio Miranda e Jarbas Nobre, indeferiu-
"se tiver filho menor ou inválido". U san- se a ordem. Não tomaram parte no jul-
do essa outra expressão "dependência gamento os Srs. Mins. Henrique d'Ávila,
da economia paterna", visou uma de- Márcio Ribeiro e José Néri da Silveira.
pendência concreta e efetiva, não sen- Os Srs. Mins. Esdras Gueiros, Moacir
do suficiente aquela que decorre do de- Catunda, Henoch Reis, Jorge Lafayet-
ver que a lei impõe a todo e qualquer te Guimarães e Godoy Ilha votaram de
pai. Por assim entender, sou levado a acordo com o Sr. Ministro Relator. Pre-
acompanhar o voto do Sr. Ministro Re- sidiu o julgamento o Sr. Min. Armando
lator. Rollemberg.
HABEAS CORPUS N.o 2.782 - GB
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Henrique d'Avila
Paciente - Coracy Souza Cruz
Impetrante - Clóvis Ribeiro do Rego Melo
EMENTA
Delitos previstos nos arts. 288, 297 e 304 do Código
Penal, 73 e 74 da Lei n'? 4.728;65. Habeas corpus. Pedi-
do prejudicado, dado que, embora haja decorrido tempo
capaz de ensejar, em princípio, a libertação pretendida,
por possível excesso de prazo para a formação da culpa,
convém salientar que! trata-se de volumoso processo,
envolvendo inusitado número de réus. E, por isso, insus-
ceptível de deslinde dentro dos prazos exíguos da lei.
E, dado que o paciente se encontra preso por determi-
nação de autoridade judicial competente, não resta senão
haver como prejudicada a ordem.
Vistos, relatados e discutidos estes precedentes, que ficam fazendo parte
autos, em que são partes as acima in- integrante do presente julgado. Custas
dicadas, de lei.
Decide a Primeira Turma do Tribunal
Federal de Recursos, à unanimidade, Bl1asília, 18 de agosto de 1972. -
reputar prejudicado o pedido, na for- Henrique r:IÁvila, Presidente e Rela-
ma do relatório e notas taquigráficas tor.
- 146-

RELATÓRIO ra Criminal houve por bem declinar


O Sr. Min. Henrique aÁvila (Rela- de sua competência em favor da
tor): Dispenso-me de produzir relató- Justiça Federal, à qual foram re-
rio próprio, dado que a douta Subpro- metidos os autos em 29 de março
curadoria-Geral da República, na par- de 1972, sem que tivesse sido tor-
te preambular de seu parecer, histo- nada sem efeito a prisão preven-
ria o caso com a maior fidelidade e tiva por sua excelência decretada.
segurança. Distribuídos os autos ao Dr. Juiz
Ei-Io: Federal da 3ª" Vara, houve este por
bem não aceitar sua competência,
"Em favor de Coracy Souza suscitando conflito negativo de ju-
Cruz é impetrada a presente ordem risdição perante este Eg. Tribunal
de habeas corpus, sob os seguintes Federal de Recursos, por decisão
fundamentos: o paciente se aoha datada de 24 de abril deste ano.
preso, em prisão especial, em con-
seqüência de prisão preventiva con- Neste Eg. Tribunal vieram os
tra ele decretada pelo MM. Dr. Juiz autos com vista a esta Subprocura-
da 5ª" Vara Criminal da Guanabara, doria-Geral da República. Em data
no processo a que respondeu com de ontem, emitimos parecer pela
outras dez pessoas, todas denuncia- improcedência do conflito, ou seja,
das como incursas nas sanções dos competência do MM. Juiz Federal
arts. 288 (quadrilha ou bando), 297 suscitante."
(falsificação de documento públi- E, a seguir, abordando o mérito do
co), 304 (uso de documento falso), pedido, assim se manifesta:
todos do Código Penal, e, ainda "Preliminanrnente, entendemos
nas do art. 74 da Lei n 9 4.728, de que antes do julgamento do con-
14-7-1965 (colocação no mercado, flito negativo de jurisdição, não po-
de ações de sociedades anônima ou de este egrégio Tribunal Federal de
cautelas que as representem, falsos Recursos conhecer do pedido, eis
ou falsificados), com exceção de um que a coação, se existente, parte do
dos acusados, denunciado exclusi- MM. Juiz da 5. a Vara Criminal da
vamente como incurso no art. 73 Guanabara, autoridade que decre-
desta última lei ( impressão de tou a prisão preventiva do pacien-
ações ou cautelas, sem autorização te, e que não a revogou quando se
escrita do representante legal da deu por incompetente, uma vez
Sociedade), por terem, constituídos que não poderá consistir em cons-
em quadrilha, falsificado material- trangimento o simples fato da sus-
mente cautelas representativas de citação do conflito negativo de ju-
ações da Cia. Siderúrgica Belgo- risdição.
Mineira, lançando-as, após, no mer-
cado, através da Bolsa de Valores Mesmo para apreciação do pe-
do Rio de Janeiro. dido, sob o prisma do excesso de
prazo para o encerramento da ins-
A denúncia foi oferecida em 20 trução criminal, mister se faz, pre-
de julho de 1971, datando a pri- liminarmente, que a egrégia Tur-
são preventiva de 15 de junho do ma reconheça a competência da
mesmo ano. Justiça Federal, ratione rruJ,ter1ne.
Ocorre que, no curso da instru- Opinamos, assim, no sentido de
ção criminal, o MM. Juiz da 5ª" Va- que adie o julgamento do presente
- 147-

pedido, até o julgamento do Con- sua renovação após a remessa dos


flito Negativo de Jurisdição. autos do citado Conflito ao MM.
No mérito, entendemos que, em- Juiz Federal da 3ª' Vara.
bora evidente do ponto de vista Aliás, até o julgamento do Con-
objetivo o excesso de prazo, é es- flito Negativo de Jurisdição, há de
te plenamente justificável, em face se reconhecer como autoridade coa-
do grande número de réus, e das tora este Eg. Tribunal Federal de
naturais dificuldades daí decorren- Recursos, e, conseqüentemente,
tes, o que faz com que o processo competente para conhecer do pe-
já se encontre no 79 volume, justi- dido, até então, será o Colendo Su-
ficando amplamente a demora no premo Tribunal Federal."
encerramento da instrução criminal, É o relatório.
já em fase de ultimação.
RELATÓRIO
O paciente revelou grande peri-
culosidade e, enquanto esteve em O Sr. Min. Henrique d'Ávíla (Rela-
liberdade, muito contribuiu para a tor): Atendendo à solicitação contida
fuga de dois dos acusados, como se no parecer da douta Subprocuradoria-
pode ver do item VII da denún- Geral da República, no sentido de so-
cia, que descreve sua participação brestar o julgamento do presente Ha-
nos fatos criminosos. beas Corpus até que o Tribunal Pleno
Reconhecida que venha a ser, decidisse o Conflito de Jurisdição nú-
como se espera, a competência da mero 1.616, de que era Relator o emi-
Justiça Federal, nulos estariam to- nente Sr. Min. Peçanha Martins, re-
dos os atos decisórios praticados tardei-me em trazer a julgamento o ca-
pelo Dr . Juiz Criminal da 5ª' Vara, so. Contudo, a 10 do corrente mês, o
entre eles o decreto de prisão pre- Pleno, apreciando dito conflito negativo
ventiva e o despacho que recebeu de jurisdição, houve por bem dar pela
a denúncia. competência do Dr. Juiz da 5ª' Vara
Criminal do Estado da Guanabara para
Mesmo assim, entendemos que o processo e julgamento da ação penal,
não deva ser concedida a ordem de em que se encontra envolvido o pacien-
habeas corpus, que seria extensiva te. Em conseqüência, a coação de que
a todos os demais acusados, nos ter- o mesmo se queixa, decorrente da pri-
mos do art. 580 do Código de Pro- são cautelar decretada pelo aludido
cesso Penal, sem que, previamente, Juízo, tenho que é de se haver como
se manifestem o Dr. Procurador da prejudicado o pedido, dado que, embora
República, ratificando a denúncia haja decorrido tempo capaz de ensejar
ou oferecendo outra, e o Dr. Juiz em princípio sua libertação, por pos-
Federal, recebendo ou não a de- sível excesso de prazo para a formação
núncia, e, ratificando ou não, o de- da culpa; convém salientar, como o fez
creto de prisão preventiva. o parecer da douta Subprocuradoria-Ge-
ral da República, que se trata de volu-
Em conclusão, opinamos, preli- m,0so proce~so, envolvendo inusitado
minarmente, no sentido de ser so- numero de reus.
brestado o julgamento do pedido
até decisão do Conflito Negativo E, por isso, insusceptível de deslinde
de Jurisdição suscitado (n9 1.616), dentro dos prazos exíguos da lei.
e, acaso julgado improcedente, seja E dado que o paciente se encontra
denegada a ordem, sem prejuízo de preso por determinação de autoridade
-148 -

judicial competente, não nos resta se- responsabilidade venham a ser exces-
não haver como prejudicada a ordem. sivamente dilatados.
Aliás, cumpre acentuar que o pacien-
te não argúi como motivo determinante DECISÃO
de seu pedido a demora na formação Como consta da ata, a decisão foi a
da culpa. seguinte: A turma, à unanimidade,
Por isso, estou convicto que a solu- reputou prejudicado o pedido. Os Srs.
ção para o caso só pode ser a acima Mins. Moacir Catunda, Peçanha Mar-
apontada, ou seja, reputar insubsistente tins e Jorge Lafayette Guimarães vota-
o pedido, facultado ao paciente o di- ram com o Sr. Ministro Relator. Presi-
reito de renová-lo oportunamente, ca- diu o julgamento o Sr. Min. Henrique
so os prazos para a apuração de sua áÁvila.

HABEAS CORPUS N.o 2.843 - SP


Relator - O Ex.mO Sr. Min. Moacir Catunda
Paciente - Jorge Nacif Iza
Impetrante - Natal Meni dos Santos
EMENTA
Habeas corpus. O processo de rito sumano, especí-
fico ao crime de tráfico de entorpecente, disciplinado
pela Lei n.o 5.726/71, admite a aplicação subsidiária das
normas do Código de Processo Penal. Desprocede pedido
de habeas corpus, feito sob a alegação de cerceamento da
defesa, porque esta se fez, como foi possível fazê-la, e o
processo não demonstra a existência de qualquer prejuízo
aos direitos do paciente, a quem cumpria, por seu defensor,
colaborar lealmente com a Justiça, no interesse da rápida
solução do caso.

Vistos, relatados e discutidos estes au- gado Natal Meni dos Santos, com escri-
tos, em que são partes as acima in- tório em São Paulo, em favor de Jor-
dicadas, ge Nacif Iza, boliviano, casado, do co-
mércio, recolhido à casa de Detenção
Decide a Primeira Turma do Tribu- de São Paulo, no cumprimento da pena
nal Federal de Recursos, por unanimi- de 2 anos de reclusão, e multa pecuniá-
dade de votos, denegar o pedido, na ria, do valor de 50 salários-mínimos, pe-
forma do relatório e notas taquigráfi- lo crime previsto no art. 281, do Código
cas precedentes, que ficam fazendo par- Penal, com as modificações da Lei n 9
te integrante do presente julgado. Cus-
5.276, de 1971, a que foi condenado por
tas de lei.
sentença do Dr. Juiz Federal da 2ª' Va-
Brasília, 28 de agosto de 1972. - ra da Seção Judiciária de São Paulo,
Henrique áÁvíla, Presidente; Moacir sob a alegação de coação ilegal, e à
Catunda, Relator. invocação de jurisprudência, decorren-
te de sentença nula, por cerceamento
RELATÓRIO do direito de defesa, eis que o defen-
sor constituído não foi intimado para
o Sr. Min. Moacir Catunda (Rela- as audiências de apresentação do pa-
tor) : Trata-se de pedido de habeas ciente, à 17ª' Vara Criminal, de São
corpus liberatório formulado pelo advo- Paulo, e à 2ª' Vara Criminal, da Seção
-149 -

Judiciária do Estado de São Paulo, de de Processo Penal, de que: "A falta de


acordo com as normas pertinentes. comparecimento do defensor, ainda que
Instruiu o pedido com os documentos motivada, não determinará o adiamento
que defluem de fls. a fls. e, como os de ato algum do processo, devendo o
autos da ação penal já se achassem no juiz nomear substituto, ainda que pro-
Tribunal, em grau de recurso ex ofticio, visoriamente ou para o só efeito do
solicitou a requisição dos mesmos, com ató', que a Lei n Q 5.726/1961 manda
vistas à instrução do pedido, o que foi aplicar, subsidiariamente.
deferido por este Relator, que também O defensor indicado ofereceu defesa
o é da Apelação Criminal n Q 2.060, escrita e arrolou testemunhas, as quais,
mediante ordem de apensamento de um procuradas à base dos imprecisos dados
processo, ao outro. de qualificação constantes do rol, não
A douta Subprocuradoria-Geral da foram encontradas.
República, em parecer da lavra do Dr. E o réu, ora paciente, ouvido na au-
Henrique Fonseca de Araújo, opina no diência, respondeu não dispor de ele-
sentido de que seja denegada a ordem mentos para identificar suas testemu-
de habeas corpus. nhas.
É o relatório. Se o defensor indicado não foi in-
VOTO timado por motivos razoáveis e o Juiz
O Sr. Min. Moacir Catunda (Rela- nomeou defensor ad hoc, e, posterior-
tor): À audiência de apresentação dos mente, na sentença, repeliu com apoio
réus presos em flagrante, ao Juízo da nos autos a alegação de nulidade do
17'1- Vara Criminal, pelo crime de tráfi- processo, por cerceamento de defesa,
co de entorpecente, prevista na Lei n Q feita pelo defensor indicado, sou por-
5.726/71, o defensor do paciente e au- que esta não procede.
tor do pedido esteve presente, como se E não tem procedência, porque a
verifica do termo e da assinatura dele, defesa se fez, como foi possível fazê-la,
aposta ali (fls. 33). e o processo não demonstra a existên-
cia de qualquer prejuízo aos direitos
O mesmo defensor foi procurado em
do paciente, a quem cumpria, por seu
seu escritório e residência, pelo oficial
defensor, colaborar lealmente com a
de justiça, para o intimar para a au-
Justiça, no interesse da rápida solução
diência de apresentação dos réus, ao
do caso.
Juiz Federal, no dia 18 de março, sem
sucesso, porém, de vez que se achava Indefiro o pedido.
fora, deixando, porém, o meirinho, a EXTRATO DA ATA
intimação com sua secretária, cujo no-
me consta da respectiva certidão. Habeas Corpus n Q 2.843 - SP. ReI:
Sr. Min. Moacir Catunda. Impte: Na-
Tendo a audiência sido marcada no
tal Meni dos Santos. Pacte: Jorge Na-
dia 16, para ter realização no dia 17,
sou porque ao oficial de justiça não
cu.
seria possível, em 24 horas, envidar Decisão: À unanimidade, denegou-
maiores esforços do que os despendi- se o pedido (em Primeira Turma -
dos, para fazer as intimações. 28-8-72).
Como não tenha comparecido à au- Os Srs. Mins. Peçanha Martins, Jor-
diência, realizou-a o Juiz instrutor, com ge Lafayette Guimarães e Henrique
a nomeação de defensor ad hoc, obser- d'Avila votaram com o Sr. Ministro Re-
vandb-se, desse modo, o preceito do lator. Presidiu o julgamento o Sr. Min.
parágrafo único do art. 265 do Código Henrique á Ávila.
- 150-

RECURSO CRIMINAL N.o 221 - DF


Relator o Ex.mo Sr. Min. Márcio Ribeiro
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Esdras Gueiros
Recorrente - Justiça Pública
Recorrido - Manoel Carneiro de Albuquerque Filho e outros
EMENTA
Apelação. Prazo. CPP, art. 59'3. É tempestivo a ape-
lação se proferida no prazo devolvido ao MP, após sua
reclamação no sentido de que a sentença fosse publi-
cada e registrada.

Vistos, relatados e discutido.s estes au- tada a destempo, nos seguintes termos:
tos, em que são partes as acima indi- "Vistos, etc. - O Ministério. Pú-
cadas, blico tomou conhecimento da sen-
tença no dia 17-9-71 (fls. 323) e,
Decide a Terceira Turma do. Tribu- no. dia seguinte, dia 18, começou
nal Federal de Recurso.s, por maioria a COrrer o prazo para o recurso de
de votos, dar provimento ao recurso. pa- apelação. O termo de apelação só
ra determinar que o pro.cesso seja dis- foi tomado no dia 4 de outubro,
tribuído e autuado para julgamento da isto é, 16 (dezesseis) dias depois.
apelação, que nele já se encontra de- Mesmo que o prazo tivesse sido
vidamente processada, vencido o. Sr. suspenso pelo despacho de fls. 323v
Min. Esdras Gueiro.s, na forma do re- que mandou registrar a sentença,
latório. e no.tas taquigráficas preceden- começou ele a correr no.vamente
tes, que ficam fazendo parte integrante no dia 28. Do. dia 18 até 22 corre-
do. presente julgado. Custas de lei. ram 4 (quatro) dias, que somados
Brasília, 8 de março de 1972. - Már- aos seis dias do novo recebimento
cio Ribeiro, Presidente e Relator. até o termo de apelação, dariam 10
( dez) dias. Ainda que fosse con-
RELATÓRIO
siderado interrompido o prazo pe-
lo despacho que mandou registrar
O Sr. Min. Márcio Ribeiro (Relator): a sentença, ainda assim o recurso
Recurso criminal interposto às fls. do M.P. Federal seria intempesti-
343/345 pelo Dr. Procurador da Repú- vo., porque a co.ta de fls. 324, ape-
blica, de despacho que recusou, pOlI" sar de estar com a data de 19-10-71,
intempestiva, apelação da Justiça PÚ- os autos só foram devolvidos à Se-
blica contra a sentença absolutória dos cretaria no dia 4-10-71 (fls. 324).
réus Manuel Carneiro de Albuquerque Assim sendo, indefiro o recurso. do
Filho, Raimundo Girard Barros da Sil- Ministério Público por intempestivo
va, Flávio de Araújo Goulart, denuncia- e determino o arquivamento dos
dos incursos no art. 312 do CP e Ro- presentes autos, após a baixa na
naldo Roberto Alves Pereira, Mário Ca- distribuição. P.I. Brasília, 21-10-71."
valcanti Maciel, Sebastião Siqueira da
Silva e Sebastião Cavalcanti Maciel, in- O recorrente refuta os argumentos da
cursos no § 19 desse mesmo artigo. sentença, dizendo (lê às fls. 344/345).
O Juiz atendeu às razões dos apela- Contra-arrazoado o recurso, às fls.
dos, para ter a apelação como apresen- 347/348, nesta instância a Subprocura-
-151 -

doria-Geral opina pelo seu provimento Nego provimento para confirmar o


(fls. 353/354, lê). despacho pelo qual o Juiz considerou
intempestiva a apelação.
É o relatório.
VOTO
VOTO
O Sr. Min. José Néri da Silveira: Sr.
O Sr. Min. Má1'cio Ribeíl'O (Relator): Presidente. Entendo que, prevendo
O registro não é fonualidade prescrita a lei processual penal o registro da sen-
para a autenticidade, mas tão-somente tença, para o aperfeiçoamento do ato ju-
para a conservação da sentença (Ben- dicial decisório, a reclamação tinha toda
to de Faria, CRP, voI. 11, pág. 112). procedência. Em realidade, a sentença
Quanto à publicidade, tem a mesma ainda não estava em condições de ser le-
finalidade da intimação: de tornar co- vada à ciência das partes. Primeiro há
nhecido dos interessados o julgado. de registrar-se a sentença. Isso é deter-
minação da lei. O Juiz devolve os antas.
Assim, qualquer das duas formalida- O registro deve de ser feito. Dentro do
des não deveria, em tese, determinar a prazo, ele reclamou contra o não aten-
interrupção do prazo, que começara a dimento desse requisito da lei. O Juiz
fluir a partir da vista do processo ao atendeu à reclamação. Só depois de real-
represen-tante do Ministério Público. mente registrada é que se fez a intima-
ção na forma da lei.
Entretanto, como este pedira retifica-
ção das duas faltas e nova vista dos au- O Sr. Min. Esdras Gueiros: Então
tos, sem dúvida para recorrer, o despa- entende V. Exª", data venia, que a
cho de fls. 324v. concedeu-lhe a deseja- exigência da lei, quanto ao registro da
da renovação de prazo. sentença, implica no sobrestamento do
prazo?
Recebendo os autos a 28 de setembro,
ele os devolveu a 19 de outubro, com O S1'. Min. José Né1'i da Silveira: No
pedido de lavratura do competente ter- caso, houve reclamação, e esta foi tida
mo de apelação, o que foi feito a 4 de como procedente pelo Juiz, que deter-
outubro. minou se procedesse ao registro. Só de-
pois de efetivamente procedido o regis-
Mesmo que o processo só tenha sido tro e intimadas regularmente as partes é
devolvido nesse dia (o que não foi cer- que começou a fluir o prazo. De outra
tificado pelo Escrivão), o recurso estava parte, muito embora entenda que ao Juiz
dentro do prazo de 5 dias, pois o dia do não cabe dispor a respeito de prazo, que
começo não é contado (CPP, art. 798, § é fixado em lei, tratando-se, aí, outros-
19 ) e o dia 3 de outubro recaiu em do- sim, de norma cogente; havendo, entre-
mingo. tanto, como sucede na hipótese dos au-
Dou, pois, provimento ao recurso para tos, motivo enquadrável nas disposições
determinar que o processo seja distribuí- da lei processual, no que concerne ao
do e autuado para julgamento da ap~la­ registro da sentença e à procedência da-
ção, que nele já se encontra devidamen- quela reclamação feita antes de esgota-
te processada. do o prazo, tudo nos conduz a que efe-
tivamente aceitemos a escusa posta nas
VOTO (VENCIDO)
razões de recurso e, assim, determinemos
o processamento da apelação para que
O S1'. Min. Esdras Guei1'os: Sr. Presi- se possa conhecer do mérito do recur-
dente. so.
- 152-

DECISÃO nele já se encontra devidamente proces-


Como consta da ata, a decisão foi a sada, vencido o Sr. Min. Esdras Guei-
seguinte: Por maioria de votos, deram ros. Os Srs. Mins. Henoch Reis e Néri
provimento ao recurso, para determinar da Silveira votaram com o Sr. Ministro
que o processo seja distribuído e autua- Relator. Presidiu o julgamento o Sr. Min.
do para julgamento da apelação, que Márcio Ribeiro.

RECURSO ORDINÁRIO N.o 175 - CE


Relator o Ex.mo Sr. Min. Henoch Reis
Recorrente - Maria do Carmo Soares Cruz
Recorrido - Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário - INDA
EMENTA
Reclamação trabalhista. Servidora amparada pelo
art. 177, § 2.°, da Constituição Federal de 1967. De-
missão indevida. Direito à reintegração que se lhe as-
segura.

Vistos, relatados e discutidos estes au- Subindo os autos a esta instância, de-
tos, em que são partes as acima indica- les se deu vista à douta Subprocurado-
das, ria-Geral da República, que se manifes-
tou pela confirmação da sentença recor
Decide a Terceira Turma do Tribu-
nal Federal de Recursos dar provimento rida.
ao recurso, unanimemente, na forma do É o relatório.
relatório e notas taquigráficas preceden-
tes, que ficam fazendo parte integrante VOTO
do presente julgado. Custas de lei.
Brasília, 22-3-1972. - Márcio Ribeiro, O Sr. Min. H enoch Reis (Relator):
Presidente; Henoch Reis, Relator. O fundamento da douta sentença re-
corrida é não poder a reclamante:
RELATÓRIO
"ser beneficiada com seu tempo de
O Sr. Min. H enoch Reis (Relator): serviço anteriormente prestado ao
Assim resumiu o Dr. Juiz a quo a contro- Serviço Social Rural, seis anos,
vérsia de que dão notícia os presentes pois, fulminado pela argüição de
autos: (lê fls. 88/89). coisa julgada, visto que o vínculo
A reclamação foi julgada improceden- trabalhista da reclamante já se des-
te, por falta de amparo legal, condenada lindou precedemente, em decor-
a reclamante nas custas e em honorá- rência de transação judicialmente
rios de advogado. homologada" (fls. 89).
Por despacho de fls. 96 foi a ora re- Refere-se a respeitável sentença, nes-
corrente dispensada do pagamento de se passo, à reclamação ajuizada pela
honorários advocatícios, em vista do recorrente e outro, contra a Federação
atestado de fls. 13. das Associações Rurais do Estado do
Inconformada, interpôs o presente re- Ceará, julgada procedente e liqUidada
curso, deduzido às fls. 97/113, contraria- na Junta de Conciliação e Julgamento
do às fls. 132/134. de Fortaleza.
-153 -

Consta dos autos, porém, que a re- Como argumenta o ilustrado patro-
corrente foi admitida como Oficial de no da recorrente, em memorial que nos
Gabinete da mencionada Associação, no foi enviado, houve sucessão dos diver-
dia 2 de janeiro de 1953, contrato este sos empregadores nas responsabilidades
rescindido judicialmente, como ficou para com a reclamante, e esclarece:
explicado, em março de 1966 (Doc. de
fls. 50/56). «Primeiro o SSR, depois com a
passagem dos serviços deste para
Acontece, no entanto, que a recla- a SUPRA, esta ficou com os em-
mante era empregada desde o dia 6 de pregados que executavam tais ser-
agosto de 1958, do Serviço Social Ru- vIços, sem haver solução de con-
ral, na qualidade de Escrevente-Dati- tinuidade. Finalmente, o INDA in-
lógrafa, com atribuições de Tesoureira corpora a SUPRA e, com ela, os
do Conselho Regional daquela entida- seus serviços e os que os executa-
de, como faz prova a Certidão de fls. vam", entre os quais, acrescenta-
6, passada a 6 de agosto de 1964, pelo mos, se encontrava a ora recor-
responsável pelo expediente da Dele- rente."
gacia Regional da SUPRA, no Estado
do Ceará. Esta, como faz prova a Portaria n 9
332, de 15 de agosto de 1969', publica-
Os dois contratos de trabalho corriam da no Boletim de Serviço n 9 156, foi
paralelamente, na ausência de qualquer dispensada, juntamente com outros que,
vedação, visto que a Federação é enti- segundo refere a mesma Portaria, e «na
dade de direito privado. forma estabelecida em lei, foram inde-
Não vejo como confundir os dois con- nizados".
tratos de trabalho, e fundi-los como fez Verifica-se que, quando despedida, a
a douta sentença, para indeferir a pre- reclamante contava mais de 10 anos
tensão da reclamante. como empregada, pois, em data de 6
O certo é que a recorrida era empre- de agosto de 1964, quando passada a
gada, desde 6 de agosto de 1958, do Certidão de fls. 6, tinha ela a seu favor
Serviço Social Rural, que, mediante a 6 anos de serviço.
Lei Delegada n 9 11, de 1962, foi incor- Vale observar que, embora se afir-
porado à Superintendência de Política me, na Portaria que dispensou a recla-
Agrária, SUPRA, sendo ela aproveitada mante, ter esta recebido indenização,
no quadro desta autarquia. nenhuma prova foi produzida neste
«Com o advento da Lei n9 4.504, sentido pelo Instituto recorrido.
de 30-11-64 (Estatuto da Terra), Está, assim, a recorrente amparada
o INDA, depois de incorporar a pelo art. 177, parágrafo 29 , da Consti-
SUPRA, assumiu o encargo dos tuição de 1967, e art. 492 da Consoli-
empregados anteriormente perten- dação das Leis do Trabalho.
'centes a esta, e, deste modo, pas-
sou Maria do Carmo Soares Cruz N estas condições, dou provimento ao
ao quadro de empregados do recurso para reformar a douta sentença,
INDA", é o que declara o Dr. De- e, reconhecendo a estabilidade da re-
legado Regional do INDA, no Cea- clamante, como servidora regida pela
rá, nas informações prestadas ao CLT, determinar sua reintegração, com
ilustre Dr. Procurador da Repúbli- todas as vantagens desta decorrentes,
ca naquele Estado (cf. fls. 26/27 apuradas em liquidação de sentença.
dos autos). É meu voto.
- 154-

VOTO mo ano, mantivera vínculo com a enti-


O Sr. Min. José Néri da Silveira: Sr. dade pública anterior.
Presidente. Ao que ouvi do relatório e Dessa sorte, não há, ao longo do tem-
da brilhante sustentação feita da tri- po, prova nos autos de solução de con-
buna pelo ilustre Procurador da recor- timidade dessa relação empregatícia
rente, em verdade houve um período de direito público, embora sob a égide
em que simultâneamente manteve ela da CLT.
duas relações de empregos sujeitas à A circunstância da rescisão do con-
CLT. Uma, com entidade de direito trato de emprego com a Federação das
privado, a Federação das Associações Associações Rurais do Estado do Ceará
Rurais do Estado do Ceará; outra, com em março de 1966, após 13 anos por-
o Serviço Social Rural. Essa concomi- tanto de vigência dessa relação de tra-
tância de exercício, desde que contra balho, parece nenhum efeito ter, relati-
isso nada se afirma nos autos, era per- vamente à outra relação de emprego,
feitamente possível, porque uma das mantida com entidade de direito pú-
entidades é particular. Numa, exercia blico.
ela a função de Oficial de Gabinete: na Destacou-se que há nos autos esta-
outra, a de Escrevente-datilógrafo, com belecida certa confusão entre as duas
atribuição de Tesoureiro do Conselho entidades. É certo que, por executarem
Regional, onde respondia pelo setor fi- tarefas em âmbito social mais ou menos
nanceiro. comum, ou guardando certa pertinên-
cia, esta confusão seria possível. Mas
A certidão, que foi lida da tribuna
não é menos verdade que nem provado
pelo ilustre advogado, merecedora de
está fosse ela, naquele período, servido-
fé, por isso que expedida por órgão
ra do SSR, posta à disposição da Fe-
público, torna claro que, desde 6 de
deração, ou servidora da Federação das
agosto de 1958, se estabeleceu entre a
Associações Rurais do Estado do Cea-
recorrente e a entidade de direito pú-
rá, posta a serviço do SSR, em virtude
blico um vínculo empregatício regido
de convênio. O que parece decorrer da
pela CLT.
certidão é a coexistência das duas re-
O Serviço Social Rural foi sucedido lações de emprego.
pela SUPRA, e esta, com o advento do Dessa maneira, provado está que
Estatuto da Terra, criados que foram desde 1958 mantinha relação de em-
o IBRA e o INDA, teve, conforme ° prego, segundo a CLT, com esses ór-
caso concreto, seu pessoal absorvido por gãos que, sem solução de continuidade,
essas entidades. um ao outro sucedeu, no que respeita
A certidão predita refere apenas um à ação do poder público, no setor so-
novo contrato de trabalho em 19 de fe- cial rural, no setor agrário. Parece, de
vereiro de 1962, em que a recorrente fato, que a dispensa da recorrente,
passou à condição de Oficial Adminis- acontecida em virtude da Portaria de
trativo. Mas, até 31 de janeiro do mes- 15 de agosto de 1969, após, portanto,
- 155-

11 anos de exerclClO nos órgãos públi- tempo de serviço anotado na carteira


cos antes referidos, não se poderia dar profissional, que dataria do ano de
sem respeito às disposições contidas na 1965, contando em 1969 somente qua-
CLT, no que concerne aos empregados tro anos de serviços prestados ao
estáveis. Essa estabilidade, como bem INDA.
destacou também da tribuna o ilustre
advogado, decorreria de dois funda- De exposto, estou de inteiro acordo
mentos de ordem jurídica igualmente com o eminente Ministro Relator. Dou
idôneo, sendo de enfatizar o oriundo provimento ao recurso da reclamante
do art. 177, § 29, da Constituição Fe- para julgar procedente a reclamação, e
deral. Temos aplicado este dispositivo, porque não afirmada nos autos a in-
em se tratando de relação de emprego
regida pela CLT. De outra parte, pos- compatibilidade da reclamante com o
suindo ela mais de 10 anos de serviço, reclamado, assegurar-lhe a reintegração
caberia invocada a Lei n 9 4.069, art. em suas funções, mantido o regime da
23, parágrafo único. Sobre qualquer dos CLT.
aspectos, certo é que gozava de esta- DECISÃO
bilidade. Assim, não se poderia dispen-
sar a reclamante, tal como aconteceu. Como consta da ata, a decisão foi a
Dir-se-á que recebeu ela indenização
seguinte: Por decisão unânime, deram
do SSR, conforme ouvi do relatório, e
que essa indenização teria o efeito de provimento ao recurso. Usou da pala-
legitimar o desfazimento da relação de vra pela recorrente o DI. José Martins
emprego. Mas, ao que também depre- Rodrigues. Os Srs. Mins. Néri da Sil-
endi do relatório, a indenização não veka e Márcio Ribeiro votaram com o
atentou para a condição de estável da Sr. Ministro Relator. Presidiu o julga-
recorrente, mas apenas considerou ° mento o Sr. Min. Márcio Ribeiro.

RECURSO ORDINÁRIO N.o 218 - GB


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Jorge Lafayette Guimarães
Recorrentes - Juiz Federal 5" Vara e Caixa Econômica Federal
Recorridos - Amélia do Rêgo Barros Fontes Avelino e Outros
EMENTA
Caixa Econômica. Servidores aproveitados. Quadros
de Pessoal CLT. Os empregados da "A Equitativa dos
Estados Unidos do Brasil", aproveitados na autarquia
Caixa Econômica Federal, de acordo com o Dec. n.o '"
5,s. 359/66, sob regime da C. L. T., devem ser incluídos nos
quadros organizados pela Caixa Econômica Federal.
Empresa Pública, na forma do Dec.-lei n.O 943/69, junta-
mente com os demais servidores que, por efeito de opção,
estão sujeitos à legislação trabalhista.
Por força, porém, do art. 29, do Dec.-lei nO 943/69,
os qÜinqüênios estão congelados, inclusive para o pessoal
estatutário.

Vistos, relatados e discutidos estes Acordam os Ministros que compõem


autos, em que são partes as acima in- a Primeira Turma do Tribunal Federal
dicadas, de Recursos, por unanimidade, em dar
- 156-

provimento em parte a ambos os recur- nandes e N adyr Anacleto da Sil-


sos, na forma do relatório e notas ta- va a gratificação de ascensorista,
qui gráficas precedentes que integram que não vêm recebendo pelo de-
este julgado. Custas de lei. sempenho da função; 69 - que to-
Brasília, 4 de setembro de 1972. - das as decisões sejam devidamente
Henrique aÁvila, Presidente; Jorge La- anotadas nas carteiras profissionais
fayette Pinto Guimarães, Relator. respectivas. Alegam os reclamantes,
em resumo: A - que foram apro-
RELATÓRIO veitados, no início de 1967, pela
reclamada, que os contratou sob o
O Sr. Min. Jorge Lafayette Guima- regime da Consolidação das Leis
rães (Relator): A decisão recorrida as- do Trabalho, conforme autorização
sim expôs a controvérsia (fls. 150/153): contida no Decreto n 9 58.859, de
"Amélia do Rêgo Barros Fontes 15-7-66, com os salários iguais aos
Avelino e outros mencionados às que recebiam na empresa donde
fls. 2, empregados da Caixa Eco- vinham, ficando-lhes asegurada a
nômica Federal do Rio de Janeiro, contagem do tempo de serviço que
qualificados nos instrumentos de traziam para os efeitos legais; B --
procuração de fls. 13 usque 59, que a reclamada, no entanto, além
ajuizaram contra a referida entida- de negar-lhes outras vantagens,
de a presente reclamação trabalhis- pretendeu excluí-los do aumento
ta, na qual postulam: 19 - o enqua- geral de salários outorgado ao seu
dramento na Classe cujo salário pessoal antigo, sob a alegação de
corresponda ao salário real de cada que somente poderiam ter majo-
um dos reclamantes, isto é, aquele rações salariais quando o venci-
salário que foi fixado na Justiça do mento do cargo inicial do Quadro
Trabalho ou em consonância com atingisse a quantia do salário de
suas decisões, para prevalecer a admissão dos reclamantes (que já
partir de 19 de janeiro de 1969; era bem maior), medida que resul-
29 - depois de feito o enquadramen- taria no congelamento duradouro
to solicitado no item anterior, que de sua remuneração; C - que ga-
sejam os reclamante promovidos na nharam na Justiça contra o proce-
forma do art. 79 da "Ordem Geral dimento discriminatório da recla-
de Serviço" n 9 337, de 30-12-68, mada, sendo em todas as instân-
promoções que, também, deverão cias reconhecido o seu direito e,
vigorar a partir de 19 de janeiro em conseqüência, foram reajustados
de 1969; 39 - que os qüinqüênios os seus salários, pagos os qüinqüê-
continuem a ser pagos com as va- nios e o salário-família, com base
riações decorrentes do tempo e do na Lei n 9 1.711/52 e leis poste-
salário de cada um dos reclaman- riores, que este era o único regime
tes, em obediência à Lei n 9 1. 711, jurídico vigorante na reclamada,
de 28-10-52, e legislação posterior, quando lá ingressaram; D - que a
como decidiu a Justiça Trabalhis- Caixa lhes concedeu, assim, os
ta; 49 - que o salário-família conti- aumentos salariais de 1969 e 1970,
nue a ser pago de acordo com a estendendo-se a outros servidores
citada Lei n 9 1. 711, de 28-10-52, em situação igual à dos reclaman-
e legislação posterior, ainda em tes, que não haviam ingressado em
cumprimento a sentenças da Justi- Juízo, mas, quando da implantação
ça especializada; 59 - que sejam pa- do regime da C.L. T. a todo o seu
gas aos reclamantes Ananias Fer- pessoal, ex vi do Decreto-lei n 9 266,
- 157-

de 28-2-67, a reclamada, ao esta- tes ser julgados carecedores de


belecer o Quadro Geral de Pessoal, ação, pois a inicial contraria os
excluiu os reclamantes, alegando artigos 153 e 158, lU, do CÓ·
que tinham sido admitidos em da- digo de Processo Civil; B
ta posterior ao mencionado diplo- que, no mérito, nem o Decreto n 9
ma legal; E - que a data do adven- 58.859/66, nem outra lei posterior,
to do aludido Decreto-lei é, porém, lhes garantiu o enquadramento,
irrelevante, pois os reclamantes, que porquanto o ingresso nos Quadros
trabalharam na "A Equitativa dos da Caixa Econômica só pode ser
Estados Unidos do Brásil", têm as- feito através de concurso público;
segurado pelo Decreto autorizativo C - que as normas legais, invoca-
de seu aproveitamento a contagem das pelos reclamantes para justifi-
do tempo de serviço anterior para carem o seu enquadramento, só se
os efeitos legais, inclusive para a aplicam aos servidores estatutários
estabilidade. Além disto, o Decreto- que desejassem a transformação de
lei n 9 266 só foi aplicado, na re- seu regime jurídico de trabalho, ina-
clamada, a partir de 5 de dezembro plicáveis, portanto, àqueles que já
de 1968, quando de sua aprovação fossem regidos pela GL.T. ou aos
pelo Ministro da Fazenda, do Qua- que permanecessem no regime da
dro Geral de Pessoal; F - que os Lei n 9 1.711/52; D - que pelas Or-
reclamantes têm direito ao enqua- dens Gerais de Serviço n 9 225, de
dramento, de acordo com a Ordem 16-8-68 e 377/68, verifica-se que a
de Serviço n 9 225, de 16-8-68, e as adaptação do pessoal da Caixa
instruções por ela aprovadas. A pe- Econômica ao sistema trabalhista
ça vestibular, instruída com os só poderia se referir aos que a ele
documentos de fls. 60 a 84, tece ou- ainda não pertenciam, excluídos os
tras considerações sobre o direito reclamantes que, não estando su-
objetivado na reclamatória, susten- bordinados ao Estatuto dos Funcio-
tando o procedimento adotado pela nários, não poderiam optar pela sua
reclamada com relação a servido- permanência, sendo de ressaltar-se
res aproveitados do IPASE e pela a inexistência de qualquer prejuízo
"Caixa Econômica Federal do Es- salarial para eles; E - que não são
tado do Rio de Janeiro", que tam- paradigmas dos reclamantes os ser-
bém ~proveitou antigos emprega- vidores aproveitados do IPASE e
dos da "A Equitativa", nos termos de outros órgãos da Administração
do Decreto n 9 58.859, de 15-7-66 Federal, enquadrados por força do
e sempre mencionando as decisões Decreto n 9 65.497, de 21-10-69,
da Justiça do Trabalho, em tudo fa- cuja especificidade é indiscutível,
voráveis à tese que defendem. Após bem como a solução dada pela
a instauração da audiência conci- "Caixa Econômica Federal do Es-
liatória e de julgamento (ata de tado do Rio de Janeiro" não obriga
fls. 89/90), os reclamantes trouxe- à reclamada; F - que os qüinqüê-
ram os documentos de fls. 93/9'5, nios assegurados aos reclamantes
desdobrando-se aquele ato proces- ficaram mantidos em seu valores
sual, como se lê às fls. 100. A con- absolutos, como vantagem pessoal,
testação da Reclamada encontra-se nominalmente identificável, em de-
às fls. 101/104, acompanhada dos corrência do Decreto-lei n 9 943, de
documentos de fls. 105 usque 138 13-10-69, do mesmo modo que o
e assim se sintetiza: A - que, pre- salário-família, resultante da modi-
liminarmente, devem os reclaman- ficação do regime jurídico de tra-
- 158-

balho - Lei n 9 1. 711 para a C.L.T. veitamento fosse feito, também, pe-
- o seu pagamento sofreu, também, lo regime estatutário, consoante a
alterações legais, desde o advento natureza jurídica da nova entidade
da Lei n 9 4.266, de 3-10-63, e res- empregadora. E o art. 19 arrolou,
pectivo Regulamento baixado pelo para acolher os ex-empregados de
Decreto n 9 53.153, de 10-12-63. A "A Equitativa", o "Banco Nacional
esse critério já estavam subordina- de Habitação', o "Banco Central
dos os reclamantes, antes mesmo de da República" e as sociedades de
ingressarem na reclamada; G - que capital misto do qual a União par-
os servidores Ananias Fernandes e ticipa, bem como as entidades au-
Nadyr Anacleto da Silva não figu- tárquicas, vinculadas à administra-
ram nos registros da Divisão de ção-pública federal. Logo, o Decre-
Pessoal da Reclamada como desig- to deixou a critério dos órgãos au-
nados para o exercício da função torizados a aproveitar os servidores
de Ascensorista." de "A Equitativa" e nos quais hou-
O Juiz Federal, Dr. Américo Luz, jul- vesse a aplicação ao seu pessoal da
gou a Reclamação procedente, depois Lei n 9 1.711, de 1952, abrigá-los
de rejeitar a preliminar de carência, no regime estatutário ou no regi-
afirmando que a inicial está redigida em me da C.L.T. O Decreto n 9 '"
termos claros, podendo ainda ser objeto 58.859/66 não determinou, e nem
de liquidação as prestações pretendidas, podia fazê-lo, a criação de novos
eventualmente ilíquidas ou incertas. cargos nas entidades destinadas a
aproveitar os ex-servidores de "A
N o mérito, para concluir pela proce- Equitativa". Apenas aduziu em seu
dência, dentre outras considerações, artigo 29:
afirmou a sentença:
"Na época desse aproveitamento, "O aproveitamento será feito de
a reclamada era uma autarquia fe- acordo com as necesidades do ser-
deral e o regime de seu pessoal o viço de cada empresa, nas vagas
estatutário (Lei n 9 1.711/52), de existentes em seus quadros de fun-
modo que os reclamantes, em face ções e salários iguais ou equivalen-
da interpretação dada ao § único tes".
do art. 29 do aludido Decreto n 9
58.859, foram contratados pelo sis- "Necessário se torna o reconheci-
tema da C. L. T ., em situação es- mento de que os reclamantes foram
pecial, portanto. E tal interpreta- aproveitados na reclamada, por de-
ção diz respeito às expressões da- terminação do Poder Executivo, de
quele parágrafo, assim redigido: modo definitivo, não para forma-
"Os empregados admitidos na rem uma classe extraordinária de
forma da Consolidação das Leis do eternos ex-empregados de "A Equi-
Trabalho pela empresa em liqui- tativa", porém, para serem assimi-
dação poderão ser aproveitados lados aos quadros da mesma, "nas
sob o mesmo regime." vagas existentes", com "funções e
Não vejo obrigatoriedade legal salários iguais ou equivalentes",
para o aproveitamento dos servido- assegurando-se-lhes "a contagem,
res beneficiados no Decreto, sob o para os efeitos legais, do tempo de
mesmo regime da C . L. T ., por- serviço prestado à sociedade em li-
quanto o vocábulo "poderão" in- quidação. Se tivessem sido aprovei-
dica a feição meramente permissi- tados sob o regime autárquico es-
va da norma, a ensejar que o apro- tatutário, vigente à época, o apro-
- 159-

veitamento corresponderia a uma diram oferecimento de exceção de li-


forma de provimento. Como foram tispendência em relação a alguns dos
contratados pela C. L. T ., contudo, reclamantes, que já litigavam sobre o
surgiu-lhes o direito à igualdade de mesmo objeto, como faz prova a certi-
tratamento, equiparação e enqua- dão de fls. 105/11I.
dramento, na oportunidade em que
o regime trabalhista ficou erigido Com as contra-razões de fls. 168/171,
em sistema prioritário das relações com as quais foi anexado o contrato de
empregatfcia entre a Caixia e os trabalho do reclamante Ananias Fernan-
seus servidores optantes. Ainda fal- des (fls. 172), como ascensorista (fls.
sa - e pelos mesmos motivos aci- 172), pediram os recorridos a confirma-
ma aduzidos - é a afirmação da ção da sentença.
peça contestatória, de que aos re- Neste Tribunal, a douta Subprocura-
clamantes não se aplica o art. 79 doria-Geral da República, pelo parecer
da O. G. S. n 9 337/68 (fls. 130)". de fls. 179, adotando as razões da Caixa
Econômica Federal, pediu o provimento
dos recursos.
"Quanto aos reclamantes N adyr
Anacleto da Silva e Ananias Fer- É o relatório.
nandes, que pretendem auferir a
gratificação de Ascensorista, o pri- VOTO
meiro foi contratado exatamente
para essa função (ut fls. 64) e, o Sr. Min. Jorge Lafayette Guimarães
quanto ao segundo, não existe pro- (Relator): A preliminar de inépcia da
va nos autos de que a venha exer- inicial foi bem rejeitada pela sentença,
cendo. Assim, a reclamação deste não havendo deficiências que prejudi-
último, para ser acolhida, depende cassem a defesa da reclamada.
da apresentação de prova documen-
tal na fase executória." Quanto à litispendência, resultante do
documento de fls. 105/111, sentença em
E concluiu a decisão (fls. 157): Reclamação anterior, oferecida por um
"Julgo procedente o pedido, de dos ora recorridos, Nilo Aurnheimer, que
acordo com os itens 19 a 69 da ini- foi julgado carecedor de ação, sendo res-
cial (fls. 11/12), mandando que se trito o seu pedido ao salário família, pe-
apure em execução a situação per- lo que seria a mesma parcial, não há
tinente ao reclamante Ananias Fer- prova de que continue pendente dita re-
nandes, assim como as parcelas ilí- clamação, sendo certo que decorrendo a
quidas. Em conseqüência, condeno carência de não haver se habilitado o
a reclamada no principal, juros de empregado à percepção desta vantagem,
mora a contar do ajuizamento do poderia ser renovada ulteriormente a re-
feito e correção monetária a ser clamação.
calculada na forma do Decreto-lei
n 9 75, de 21-11-66". No mérito, confirmo a sentença, no
que diz respeito à aplicação do Decreto-
Recorreu o Dr. Juiz de ofício, e a lei n 9 266, de 1967, aos reclamantes.
Caixa Econômica Federal interpôs re-
curso voluntário (fls. 161/165), desen- Aproveitados na Caixa Econômica Fe-
volvendo suas alegações e afirmando deral, como facultou o Decreto n 9 ...•
que deixando os reclamantes de indi- 58.859, de 1966, embora sob regime da
vidualizar os pedidos, na inicial, impe- C . L . T . , ficou assegurada a inclusão dos
-160 -

reclamantes em quadro pr6prio, pois os terior, vedada a percepção cumula-


demais servidores estavam regidos pelo tiva de vantagens da mesma nature-
regime estatutário. za, previstas em ambos os regimes."
É o que dispôs o art. 29, do citado Ora, se assim acontece com os servi-
Decreto, verbis: dores estatutários, que optaram, não po-
derá ser assegurada maior vantagem ao
"O aproveitamento será feito, de pessoal C. L. T ., que percebia algumas
acordo com as necessidades do ser- vantagens, concedidas àqueles servido-
viço de cada empresa, nas vagas res, por extensão.
existentes em seus quadros de fun- Por outro lado, como resulta do item
ções e salários iguais ou equivalen- 11 da contestação (fls. 103/104), e não
tes". foi impugnado pelos ora r'ecorridos, fo-
Sobrevindo os Decretos-lei n 9 266, de ram assegurados os qüinqüênios, na for-
1967, e 943, de 1969, com a submissão ma do citado Decreto-lei n 9 943, de ...
do pessoal das Caixas Econômicas Fe- 1969.
derais, e depois da Caixa Econômica N o que diz respeito ao salário-família,
Federal - Empresa Pública, ao regime a situação é semelhante (fls. 104, item
trabalhista, foi determinada a organiza- 12), e vem sendo pago segundo a nova
ção dos quadros correspondentes. legislação geral (Lei n 9 4266, de 1963).
Se aos ora recorridos, já regidos pela Quanto às gratificações de ascensoris-
C. L. T ., não se aplicava a opção pre- tas, pleiteadas por Nadyr Anacleto da
vista, restrita aos funcionários estatutá- Silva e por Ananias Fernandes, em rela-
rios, nem por isso justificável será a sua ção ao primeiro, bem reconheceu a s~n­
exclusão dos quadros organizados em tença, com apoio no contrato (fls. 64),
virtude dos citados diplomas, que deve o seu direito, contratado que foi exata-
rão abranger todos os servidores sujei- mente para a aludida função; com refe-
tos à C. L. T ., por efeito de opção, ou rência a Ananias Fernandes, a prova foi
porque assim já prestavam seus servi- junta com as razões de recorrido (fls.
ços, como é o caso dos reclamantes, 172), sendo idêntica a sua situação.
admitidos por força do Decreto n 9 •.•• Diante do exposto, o meu voto é dan-
58.859, de 1966. do provimento, em parte, aos recursos,
de ofício e voluntário, apenas para ex-
Improcede, porém, a pretensão dos re-
cluir da condenação os itens 39 e 49 , do
clamantes aos qüinqüênios e que estão
pedido da inicial ( fls. 11), referentes
congelados, para todos, inclusive para o
aos qüinqüênios e salário-família, man-
pessoal estatutário, por força do art. 29,
tida no mais a sentença.
do Decreto-lei n 9 943, de 1969, verbis:
DECISÃO
"Aos servidores das Caixas Eco-
nômicas Federais e do Conselho Su- Como consta da ata, a decisão foi a
perior, sujeitos ao regime estatutá- seguinte: A unanimidade, deu-se provi-
rio, que exeroerem o direito de op- mento em parte a ambos os recursos, nos
ção pelo regime da legislação tra- termos 'e para os efeitos consignados no
balhista, serão asseguradas, como voto do Sr. Min. Relator. Os Srs. Mins.
vantagem pessoal, nominalmente Henrique d'Avila e Peçanha Martins vo-
identificável, e somente nos valores taram com o Sr. Ministro Relator. Presi-
absolutos à data em que se efetivar diu o julgamento o Sr. Min. Henrique
a opção, as vantagens do regime an- aÁvila.
- 161-

RECURSO ORDINARIO N.o 334 - MG


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Moacir Catunda
Recorrente de Oficio - Juiz Federal da 2" Vara
Recorrentes - EdeIzuíta Santos Lima e Universidade Federa,l de Minas Gerais
Recorridos - Os mesmos
EMENTA
A presunção emanada do § 3.°, do art. 499', da
CLT, de que a despedida do empregado que tenha al-
cançado nove (9) anos de serviço considera-se obstativa
da aquisição da estabilidade, não é absoluta, admitindo
prova em ('.I)utráJ:io.

Vistos, relatados e discutidos estes au- fls. 84/6, pretendendo a indenização em


tos, em que são partes as acima indica- dobro, prevista na Consolidação das Leis
das, do Trabalho, art. 499, § 39 •
Decide a Primeira Turma do Tribunal Contra-razões às fls. 88/9. A reclama-
Federal de Recursos, por unanimidade da, também, não conformada, recorreu
de votos, negar provimento, na forma do às fls. 91/3, para o fim de ser absolvida
relatório e notas taquigráficas preceden- de toda e qualquer condenação.
tes, que ficam fazendo parte integrante A douta Subprocuradoria-Geral da
do presente julgado. Custas de lei. República opina pela reforma da sen-
Brasília, 19 de abril de 1972. - Hen- tença.
rique tlÁvila, Presidente; Moacir Catun- É o relatório.
da, Relator. VOTO
RELATÓRIO
O Sr. Min. Moacir Catunda (Rela-
O Sr. Min. Moacir Catunda (Rela- tor): Sr. Presidente.
tor): Sr. Presidente. Edelzuíta Santos
Lima propôs ação reclamatória contra a Nego provimento a todos os recursos,
Universidade Federal de Minas Gerais, confirmando a sentença recorrida, que
pleiteando, alternativamente, a readmis- bem decidiu a espécie, de acordo com a
são no cargo de servente ou o pagamen- prova dos autos e o direito aplicável.
to das reparações que entende ter direi- Em relação ao recurso da reclamante
to, alegando a inexistência da prática de entendo que desprocede porque as cir-
falta grave. cunstâncias e demais particularidades do
O Dr. Juiz julgou procedente, em par- caso, tão bem expostas e examinadas
te, a ação, para condenar a Universidade pela decisão recorrida, demonstram que
Federal de Minas Gerais a pagar a in- a dispensa do seu emprego de atendente,
denização legal, simples, em função do em 18-3-1971, quando já contava 9 anos,
tempo de serviço, aviso prévio, 139 sa- 9 meses e 18 dias de serviço, foi mera
lário à base de 3/12, inclusive o inciden- coincidência, e não para obstar-lhe a
te sobre a indenização e férias proporcio- aquisição do direito à estabilidade.
nais, autorizando, ainda, a compensação A exagerada suscetibilidade da recla-
do salário de março de 1971, e mais ju- mante às traquinagens e motejos das me-
ros de mora e correção monetária. A re- ninas internas na clínica, aguardando
clamante, inconformada, em parte, com tratamento, explicam os incidentes em
a sentença, interpôs recurso ordinário a que se viu envolvida, os quais, posto
- 162-

que não caracterizando falta grave, con- tabilidade, admite prova em contrário, e
duziram a sua dispensa com vistas a boa esta, no caso, desautoriza a proclamação
ordem e continuidade dos serviços d~ da indicada suspeita legal.
clínica, assuntos de que o empregador é
juiz. DECISÃO

A regra emanada dú § 39 , do art. 499, Como consta da ata, a decisão foi a


da CLT, inspiradora da Súmula do Tri- seguinte: Negou-se provimento. Decisão
bunal Superior do Trabalho, de que a unânime. Os Srs. Mins. Peçanha Martins
despedida do empregado que ahmça e Jorge Lafayette Guimarães votaram
nove anos na empresa sem justo motivo, com o Sr. Ministro Relator. Presidiu o
presume-se obstativa da aquisição da es- julgamento o Sr. Min. Henrique d'Ávila.

RECURSO ORDINÁRIO N.o 369 - GB


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Esdras Gueiros
Recorrente - Juiz Federal da 3~ Vara, ex-ollício
Recorrente - Caixa Econômica Federal
Recorrido - Antonio Baptista da Silva e Outros
EMENTA
Reclamação Trabalhista. Antonio Baptista da Silva
e outros versus Caixa Econômica Federal do Rio de Ja-
neiro. Pretensão a serem enquadrados na classe própria,
conforme o salário correspondente ao salário real de
cada um dos Reclamantes, isto é, conforme o que foi
fixado na Justiça Trabalhista em pleito vitorioso, e tam-
bém a serem promovidos, após tal enquadramento, se-
gundo o disposto no art. 7.° da Ordem Geral de Serviço
n 9 3137, de 30-12-68, com diferenças de qüinqüênios e
salário-família. Procedência da ReclamaçãO' na pri-
meira instância. Recursos de ofício, e da Caixa Recla-
mada desprovidos, para confirmação da sentença.

Vistos, relatados e discutidos estes au- rio da Caixa Econômica Federal de de-
tos, em que são partes as acima indica- cisão pela qual o digno Juiz Federal Dr.
das, Americo Luz julgou procedente Recla-
Decide a Terceira Turma do Tribu- mação Trabalhista formulada por An-
nal Federal de Recursos, prosseguindo tonio Baptista da Silva e outros funcio-
o julgamento, à unanimidade, negar nários da Caixa Econômica Federal, fi-
provimento aos recursos, na forma do lial do Rio de Janeiro, na qual pleitea-
relatório e notas taquigráficas preceden- ram o seguinte, conforme se lê do re-
tes, que ficam fazendo parte integrante latório da sentença:
do presente julgado. Custas de lei.
"19 - o enquadramento na clas··
Brasília, 11 de setembro de 1972. - se cujo salário corresponde ao salá-
Márcio Ribeiro, Presidente; Esdras Guei- rio real de cada um dos reclaman-
ros, Relator. tes, isto é, aquele que foi fixado na
RELATÓRIO Justiça ou em consonância com suas
O Sr. Min. Esdras Gueiros (Relator): decisões, para prevalecer a partir
Trata-se de recurso de ofício e ordiná- de 19 de janeiro de 1969;
- 163-

29 - depois de feito o enquadra- majorações salariais quando o ven-


mento solicitado no item anterior, cimento do cargo inicial do Quadro
que sejam os Reclamantes promovi- atingisse a quantia de salário de ad-
dos na forma do art. 79 da "Ordem missão dos Reclamantes (que já era
Geral de Serviço" n 9 337, de .... bem maior), medida que resultaria
30-12-68, promoções que, também, no congelamento duradouro de sua
deverão vigorar a partir de 19 de remuneração;
janeiro de 1969; c) que ganharam na Justiça contra
39 - que os qüinqüênios conti- o procedimento administrativo da
nuem a a ser pagos com as varia- Reclamada, sendo em todas as ins-
ções decorrentes do tempo e do sa- tâncias reajustados os seus salários,
lário de cada um dos Reclamantes, pagos os qüinqüênios e o salário-
em obediência à Lei n 9 1. 711, de família, com base na Lei n 9 ..... .
28-10-52, e legislação posterior, 1.711/52 e leis posteriores, que es-
como decidiu a Justiça do Traba- te era o único regime jurídico vi-
lho; gorante na Reclamada, quando lá
49 - que o salário-família conti- ingressaram;
nue a ser pago de acordo com a d) que a Caixa lhes concedeu,
citada Lei n 9 1.711, de 28-10-52, e assim, o aumento salarial de 1969,
legislação posterior, ainda em cum- espontaneamente e sem restrições,
primento à sentença da Justiça es- parecendo que, finalmente, se con-
pecializada; vencera de que andara errada, tanto
59 - que todas as decisões sejam mais que estendeu o procedimento
devidamente anotadas nas carteiras àqueles que não tinham ido a Juízo,
profissionais respectivas". mas que se encontravam em idên-
ticas condições;
Sobre essas pretensões alegaram ain-
da, em resumo, os Reclamantes o se- e) que por ocasião do aumento sa-
guinte, tal como consta do citado Re- larial concedido a partir de janeiro
latório: de 1970, voltou a Reclamada a re-
petir, inexplicavelmente, a sua frus-
"a) que foram aproveitados, no trada tentativa e congelou novamen-
decorrer dos anos de 1966 e 1967, te o salário dos Reclamantes, des-
pela Reclamada, que os contratou respeitando as decisões judiciais;
sob o regime da Consolidação das
Leis do Trabalho, conforme auto- f) que, ao ter de confeccionar o
rização contida no Decreto n 9 .... Quadro Geral de Pessoal, previsto
58.859, de 15-7-66, com salários pelo Decreto-lei n 9 266, de 28-2-67,
iguais ao que recebiam na empresa posteriormente regulamentado pelo
donde vinham, ficando-lhes assegu- Decreto n9 60.660, de 28-4-67 e pe-
rada a contagem do tempo de ser- la Portaria do Ministro da Fazenda
viço que traziam para os efeitos le- n 9 GB-369, de 14-8-68, resolveu a
gais; Caixa Econômica enquadrar os Re-
clamantes na Classe A da carreira
b) que a Reclamada, no entanto, contábil-administrativa, que corres-
além de negar-lhes outras vanta- ponde ao primeiro posto, onde se
gens, pretendeu excluí-los do au- ingressa no serviço;
mento geral de salários outorgado
ao seu pessoal antigo, sob a alega- g) que assegurou, como vanta-
ção de que somente poderiam ter gem pessoal, em favor dos que per-
-164 -

cebiam salário superior, a diferen- reito objetivado na Reclamatória, con-


ça entre o valor do salário da clas- frontando o procedimento adotado pe-
se inicial e a remuneração contra- la Reclamante em relação a servidores
tual que vinham percebendo; aproveitados do IPASE pela Caixa Eco-
h) que a Reclamada, por intermé- nômica Federal do Estado do Rio de
dio da sua "Ordem Geral de Ser- Janeiro, que também aproveitou antigos
viço n 9 225", de 16-8-68, baixou empregados da "A Equitativa" nos
"Instruções" para implantação do termos do Decreto n 9 58.859, de 15-7-66,
Trabalho em seus serviços, determi- e sempre mencionando as decisões da
nando que o enquadramento fosse Justiça do Trabalho, em tudo favoráveis
feito de acordo com a Tabela I das à tese que defendem".
referidas "Instruções" e que leva em Afinal, após bem examinar os funda-
conta o salário dos Reclamantes fi- mentos do direito alegado pelos Recla-
xados na Justiça ou em consonân- mantes em cotejo com a fraca defesa
cia com suas decisões; apresentada pela Caixa reclamada, o
i) que, em cumprimento a instru- douto Juiz a quo, desprezando inicial-
ções da Reclamada, deverá ser apli- mente a preliminar de carência do direi-
cada aos Reclamantes a seguinte to de ação levantada pela Ré, concluiu
disposição: "Decorrido o prazo de por julgar procedente o pedido, nos ter-
opção, serão promovidos a duas mos dos itens 19 e 59 da inicial (fls. 10
classes imediatamente superiores os e 11), condenando a Reclamada no prin-
servidores enquadrados, sob o regi- cipal, juros de mora a contar do ajuiza-
me da C. L. T ., até a Classe H ou mento do feito e correção monetária a
referência 7, inclusive, e à Classe ser calculada na forma do Decreto n 9
subseqüente os enquadrados em 75, de 21-11-66.
classe superior a H, ou referência Nesta instância pronunciou-se a ilus-
7, excluídos os de final de carrei- trada Subprocuradoria-Geral da Repú-
ra". Já tendo sido aplicada pela blica, com o sucinto parecer de fls. 224,
Caixa Econômica Federal, filial do declarando apenas subscrever as razões
Estado do Rio de Janeiro, com re- da Caixa reclamada, no sentido da re-
lação a antigos empregados da "A forma da sentença, julgando-se improce-
Equitativa", colegas dos Reclaman- dente a ação.
tes; É o relatório.
j) que a data do Decreto-lei n 9
266, de 28-2-67, não pode atingir VOTO
os Reclamantes, porque o regime O Sr. Min. Esdras Gueiros (Relator):
por ele instruído só passou a vigo- Sr. Presidente.
rar na Caixa a partir de 5 de de-
zembro de 1968, data da aprova- Apesar da aparente complexidade do
ção, pelo Sr. Ministro da Fazenda, caso trazido à apreciação deste Tribu-
do Quadro Geral do Pessoal. Foi o nal, verifica-se que, na realidade, difí-
que se resolveu na "Ordem Geral cil não foi ao douto Juiz a quo decidir
de Serviço" n 9 131, de 24-6-69, e os a demanda, tal a clareza do direito dos
Reclamantes foram admitidos mui- Reclamantes.
to antes". Note-se que o digno Juiz fez refe-
Ainda consta do relatório da senten- rência a caso anterior, em condições
ça que os Reclamantes teceram em sua idênticas, por ele já julgado favoravel-
inicial "outras considerações sobre o di- mente a outros Reclamantes, também
-165 -

empregados da mesma Caixa. Disse S. os eminentes colegas suas conclusões,


Exª" assim expostas:
"Espécie semelhante foi por mim "11 - De meritis:
decidida no Juízo da 5ª" Vara Fe- O principal aspectos do proble-
deral, nos autos da Reclamação ma jurídico discutido nos autos é
Trabalhista feita por Amélia do Re- o que se refere à possibilidade ou
go Barros Fontes Avelino e outros não de se integrar os Reclamantes
contra a mesma Caixa Econômica no Quadro Geral de Pessoal da Re-
Federal, filial do Rio de Janeiro. clamada, considerando que eles ne-
la ingressaram por aproveitamento,
Não tenho motivos para modifi- como antigos servidores de "A
car o critério seguido naquele jul- Eguitativa dos Estados Unidos do
gamento, razão pela qual repito Brasil", por determinação contida
aqui as mesmas considerações no Decreto n 9 58.859, de 15-7-66,
constantes da anterior sentença por com salários iguais aos que aufe-
mim proferida". riam na empresa originariamente
empregadora, garantida a contagem
Decidindo preliminarmente sobre a de seu tempo de serviço, para os
argüição feita pela Caixa Reclamada, efeitos legais.
de que os Reclamantes seriam carentes Na época desse aproveitamento,
do direito de ação, assim se pronunci- a Reclamada era uma autarquia fe-
ou S. Exª": deral e o regime de seu pessoal o
"I - Rejeito a preliminar de ca- estatutário (Lei n 9 1.711/52), de
rência do direito de ação, argüida modo que os Reclamantes, em face
pela Reclamada com fulcro nos ar- da interpretação dada ao § único
'tigos 153 e 158, 111, do Código de do art. 29 do aludido Decreto n 9
Processo Civil, porque a peça ves- 58.859, foram contratados pelo sis-
tibular está concebida em termos tema da C.L.T., em situação espe-
corretos, claros e explícitos, sem cial, portanto. E tal interpretação
qualquer defeito que pudesse difi- diz respeito às expressões daquele
cultar a defesa, a qual, aliás, foi parágrafo, assim redigido:
produzida também com esmero, "Os empregados admitidos na
brilhante e detaIhadamente. Ade- forma da Consolidação das Leis
mais, as sentenças trabalhistas fa- do Trabalho pela empresa em li-
voráveis aos Reclamantes vinham qüidação, poderão ser ap~'ovei­
sendo cumpridas pela Reclamada, tados sob o mesmo regime".
cujos arquivos e registros haverão
de conter todos os elementos per- Não vejo obrigatoriedade legal
tinentes à questão - e a matéria para o aproveitamento dos servi-
objeto deste procedimento, se afi- dores beneficiados no Decreto, sob
nal reconhecido o direito dos de- o mesmo regime da C. L. T., por
mandantes, poderá ser liquidada na quanto o vocábulo "poderão" indi-
fase executória, quanto às presta- ca a feição meramente permissiva
ções eventualmente ilíquidas ou in- da norma, a ensejar que o aprovei-
certas." tamento fosse feito, também, pelo
regime estatutário, consoante a na-
Quanto ao mérito, estou em que a tureza jurídica da nova entidade
respeitável sentença recorrida decidiu empregadora. E o art. 19 arrolou,
com inteiro acerto a causa. Leio para para acolher os ex-empregados de
-166 -

"A Equitativa": o Banco Nacional Consolidação das Leis do Trabalho


de Habitação, o Banco Central da e a adaptação só se poderia referir
República e as sociedades de capi- aos Que a ele ainda não perten-
tal misto do qual a União participe, ciam'~ Ora, a prevalecer tal argu-
bem como as entidades autárquicas, mento, os Reclamantes, que até
vinculadas a administração públi- mesmo sob o regime estatutário po-
ca federal. Logo, o Decreto dei- diam ter sido aproveitados na Re-
xou a critério dos órgãos autoriza- clamada, ante a implícita autoriza-
dos a aproveitar os servidores de ção do Decreto n 9 -58.859, perma-
"A Equitativa" e nos quais houves- neceriam em situação excepcional,
se a aplicação ao seu pessoal da extra-quadro, indefinidamente, a
Lei n 9 1.711/52, abrigá-los no re- partir do exato momento em que
gime estatutário ou no regime da na Caixa se criava um novo Qua-
C.L.T. dro de Pessoal sob a égide das leis
O Decreto n 9 58.859/66 não de- trabalhistas.
terminou e nem podia fazê-lo - a Necessário se torna o reconheci-
criação de novos cargos nas enti- mento de que os Reclamantes fo-
dades destinadas a aproveitar os ex- ram aproveitados na Reclamada,
servidores de "A Equitativa". Ape- por determinação do Poder Execu-
nas aduziu em seu artigo 29 : tivo, de modo definitivo, não para
"O aproveitamento será feito, formarem uma classe extraordiná-
de acordo com as necessidades ria de eternos ex-empregados de
do serviço de cada empresa, nas "A Equitativa", porém para serem
vagas existentes em seus quadros assimilados aos quadros da mesma,
de funções e salários iguais ou "nas vagas existentes", com "fun-
equivalentes." ções e salários iguais ou equivalen-
"Se natural e legal era o apro- tes", assegurando-se-lhes "a conta-
veitamento dos Reclamantes, na gem, para os efeitos legais, do tem-
ocasião em que ocorreu, sob o mes- po de serviço prestado à sociedade
mo regime que os regia no antigo em liqüidação~'. Se tivessem sido
emprego ("A Equitativa"), tendo aproveitados sob o regime autár-
em vista a norma facultativa "pode- quico-estatutário, vigente à época,
rão ser aproveitados sob o mesmo o aproveitamento corresponderia a
tregime", passando eles a constituir uma forma de provimento. Como
uma categoria especial de emprega- foram contratados pela C . L. T . ,
dos da "Caixa Econômica", desna- contudo, surgiu para eles o direi-
turado e ilegal foi, no entanto, o to à igualdade de tratamento, equi-
seu alijamento do Quadro Geral de paração e enquadramento, na opor-
Pessoal desta última, quando or- tunidade em que o regime traba-
ganizado com a adaptação dos ser- lhista ficou erigido em sistema prio-
vidores das "Caixas Econômicas Fe- ritário das relações empregatícias
derais" ao regime instituído pelo entre a Caixa e os seus servidores
Decreto-lei n 9 266, de 28-2-67 e De- optantes.
creto n 9 60.660, de 28-4-67 (O.G.S.
n 9 225, de 16-8-68, que divulgou a Ainda falsa - e pelos mesmos
Portaria Ministerial n 9 369, de " motivos acima aduzidos - é a afir-
14-8-68 fls. 119 usque 134 dos au- mação da peça contestatória - de
tos). Isto, porque é falso o argu- que aos Reclamantes não se aplica
mento da contestação ao dizer que: o artigo 79 da O.C.S. n 9 337/68
"o reg:ime então instituído foi o da (fls. 136).
- 167 -

Como se vê, os Reclamantes têm vra pelo Recte, o Dr. Francisco Boselli
razão de clamar contra o descum- e pelos Recdos o Dr. Abílio Baptista da
priJ.-nento pela Reclamada do que Silva. (Em 13-3-72 3'l- Turma).
resultou decidido na Justiça do Presidiu o julgamento o Sr. Min. Már-
Trabalho (fls. 50/58), sendo de cio Ribeiro.
ressaltar-se que o Decreto-lei n 9
266/67 só foi aplicado na Caixa VOTO (VISTA)
Econômica a partir de 5-12-68, da- O Sr. Min. Henoch Reis: Sr. Presiden-
ta em que o Exmo. Sr. Ministro da te, pedi vista dos presentes autos, após
Fazendã aprovou o seu Quadro Ge- o voto do eminente Min. Esdras
ral de Pessoal, o que faz descipien- Gueiros, negando provimento a ambos
da a increpação de que os Recla- os recursos, para um exame mais deta-
mantes tinham sido admitidos em lhado da matéria e confesso que não en-
data posterior a do mencionado di- contrei motivo para reformar a sentença,
ploma, ou seja, 28-2-67. pois entendo que desatou com acerto a
Os pareceres trazidos pelos Re- demanda.
clamantes (fls. 77 e 86) adaptam-
se perfeitamente à posição de que Os reclamantes foram aproveitados
desfrutam na Reclamada, eviden- pela reclamada, que os contratou pelo
ciando o direito por que pugnam, regime da CLT, nos termos do Decreto
assim como os contratos de traba- n 9 58.859/66, com os salários iguais aos
lho de fls. 59/76 não deixam dú- que percebiam na empresa a que per-
vida sobre a existência do mesmo tenciam, assegurando-se-Ihes a contagem
direito. do tempo de serviço anterior para os
Por estes fundamentos: efeitos legais. Pleiteiam, agora, por via
Julgo Procedente o pedido, de da presente ação trabalhista, o seguinte:
acordo com os ítens 19 a 59 da Lê fls. 10/11.
inicial (fls. 10/11) e condeno a A sentença, que lhes deferiu o pedido,
Reclamada no principal, juros de está assim deduzida:
mora a contar do ajuizamento do Lê fls. 176/178.
feito e correção monetária a ser Nego provimento a ambos os recur-
calculada na forma do Decreto-lei sos, para confirmar a sentença recorrida,
n 9 75, de 21-11-66. por seus próprios fundamentos, pondo-
Recorro ex officio. me, assim, de inteiro acordo com o ilus-
Considero jurídicamente certa esta trado Ministro Relator.
sentença, razão pela qual a confirmo, É meu voto.
negando provimento aos recursos. EXTRATO DA ATA

EXTRATO DA ATA RO. n 9 369-DF. ReI: Sr. Min. Esdras


RO. n 9 369 - GB. ReI. Sr. Min. Esdras Gueiros. Rectes: Juiz Federal da 3'l- Vara
Gueiros. Recte ex officio: Juiz Federal e Caixa Econômica Federal. Recdos:
da 3'l- Vara. Recte: Caixa Econômica Fe- Antonio Baptista da Silva e outros.
deral. Recdos: Antonio Baptista da Sil- Decisão: Prosseguindo o julgamento,
va e outros. à unanimidade, negaram provimento aos
Decisão: Depois de ter votado o Sr. recursos (Em 11-9-72 - 3'l- Turma).
Ministro Relator negando provimento Os Srs. Mins. Henoch Reis e Néri da
aos recursos pediu vista dos autos o Sr. Silveira votaram com o Sr. Ministro Re-
Min. Henoch Reis, aguardando o Sr. lator. Presidiu o julgamento o Sr. Min.
Min. Néri da Silveira. Usaram da pala- Márcio Ribeiro.
- 168-

RECURSO ORDINÁRIO N.o 388 - GB


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Esdras Gueiros
Recorrente de Ofício - Juiz Federal da 3». Vara
Recorrentes - Mary Nazaré Vieira Motta e INPS
Recorridos - Os mesmos
EMENTA
Reclamação Trabalhista. Mary Nazaré Vieira Motta
versus INPS. Contrato sob regime da CLT, para pres-
tação de serviços como Técnico de Administração-Auxi-
liar, com salário equivalente aos vencimentos iniciais da
classe de Técnico de Administração. Transferência da
reclamante para outra carreira (Assistente de Admi-
nistração). Descumprimento do contrato de trabalho.
Direito ã. percepção das diferenças salariais ocorrentes.
Sentença confirmada. Decisão unânime.

Vistos, relatados e discutidos estes au- "Isto posto, julgo procedente, em


tos, em que são partes as acima indica- parte, a reclamação, e condeno o
das, Instituto reclamado a pagar as di-
Decide a Terceira Turma do Tribunal ferenças salariais que vierem a ser
Federal de Recursos, por unanimidade, apuradas em execução, no período
negar provimento aos recursos, na forma em que a reclamante lhe prestou
do relatório e notas ta qui gráficas prece- serviços sob o regime do contrato
dentes, que ficam fazendo parte inte- de fls. 6, até a data em que foi trans-
grante do presente julgado. Custas de ferida para o cargo de Assistente de
lei. Administração. Condeno mais o Re-
clamado em juros de mora e corre-
Brasília, 15 de maio de 1972. - Márcio ção monetária sobre o montante da
Ribeiro, Presidente; Esdras Gueiros, Re- condenação. Custas ex lege".
lator. Nesta Instância pronunciou-se a dou-
RELATÓRIO
ta Subprocuradoria-Geral da República,
às fls. 52/54, pela reforma da sentença,
o Sr. M in. Esdras Gueiros (Relator): no sentido de ser julgada improcedente
Trata-se de recursos ex officio e neces- a reclamação.
sários, interpostos por Mary Nazaré Vi- É o relatório.
eira Motta e o INPS, da decisão de fls.
24/26 pela qual o digno Juiz Federal Dr. VOTO
Euclydes Reis Aguiar julgou proceden- O Sr. Min. Esdras Gueiros (Relator):
te, em parte, Reclamação Trabalhista Sr. Presidente.
que a citada Mary Nazaré Vieira Motta
propôs contra aquele Instituto, pela qual Antes de passar à leitura do meu voto
pleiteava o seguinte: (lê fls. 2 e 3 da ini- escrito, cumpre-me comentar, de algum
cial) . modo, parte da exposição feita pelo dou-
to advogado do INPS, principalmente
Contestada a Reclamatória pelo INPS no que tange ao fato de ter chamado de
(fls. 15), realizou-se a audiência de ins- "ato nulo" o contrato anteriormente fir-
i:rução e julgamento, tendo o douto ma- mado entre o IAPB (hoje absorvido pelo
gistrado federal julgado procedente, em INPS ), e a reclamante. O que houve,
parte, a Reclamação, assim concluindo: segundo ficou claramente demonstrado,
- 169-

foi que o Instituto entendeu de modifi- O reclamado não nega os ter-


car aquele seu ato, considerando-o ina- mos do contrato supra.
dequado. Mas, continuou vigente no
contrato que ela, a reclamante, fora de- O documento de fls. 4 dá notícia
signada como Técnica de Administra- de que a reclamante requereu pro-
ção. visionamento como Técnica de Ad-
ministração, porém os autos não dão
Daí não há fugir. Estando ela designa- notícia do resultado, tendo o pro-
da como Técnica de Administração-Au- cesso sido protocolado para ser le-
xiliar, e não Técnica de Administração, vado a plenário do Conselho (fls.
tout court, mas fazendo jus ao mesmo 8).
salário que cabia ao Técnico de Admi-
nistração, assim ficou percebendo, sob O Reclamado não logrou provar
a égida da CLT, durante algum tempo. a alegação de que os salários da
Posteriormente é que o Instituto veio a reclamante foram mantidos, e com
modificar o critério adotado naquele os respectivos reajustamentos. Se
contrato de trabalho. Não se insurge ela fez com a reclamante um contrato,
quanto ao fato de ter sido depois clas- instrumento que faz lei entre as
sificada como Assistente de Administra- partes, conquanto o Instituto não
ção, aliás do Nível-l4 e com salário me- esteja obrigado a cumpri-lo inde-
nor. Alega que isso será matéria para terminadamente, não pode-se pre-
discutir depois com o mesmo Instituto. valecer da falha do dito contrato
para se eximir do pagamento pelo
Isto esclarecido, meu voto é o seguin- período de serviços prestados. O
te: Reclamado não fica obrigado a con-
tinuar sustentando um contrato de
Do exame detido que fiz destes autos trabalho em que o outro contra-
cheguei à conclusão de que merece con- tante não preenche as condições
firmação a respeitável sentença de fls. exigidas em lei para o exercício das
24/26, proferida pelo douto Juiz Federal tarefas nele inseridas, mas desde o
Euclydes Reis Aguiar, ao deferir apenas momento em que admitiu a anor-
em parte a reclamação em causa. malidade, deve responder pelos en-
cargos dela decorrentes.
A referida decisão, que é concisa mas
convincente, está assim concebida: Por outro lado, no momento em
que a reclamante foi mudada de
"O documento de fls. 6, trazido à seção e de categoria, mesmo com
colação pela reclamante, ratifica 2S a diminuição dos vencimentos, ces-
suas alegações no que tange à con- sou para o reclamado a obrigação
tratação para a prestação de serviços de cumprir o contrato, eis que a
ao Reclamado, por prazo indetermi- reclamante não goza de irredutibi-
nado. lidade de vencimento e o empre-
gador, em tese, tem o direito de
Reza também dito documento que: aproveitar o funcionário de acordo
com as necessidades do trabalho.
"Como retribuição pelos servi-
ços prestados o Locador percebe- Isto posto, julgo procedente, em
rá quantia equivalente ao venci- parte, a reclamação, e condeno o
mento inicial da classe de Técnico o Instituto reclamado a pagar as
de Administração". diferenças salariais que vierem a
- 170-

ser apuradas na execução, no perío- EXTRATO DA ATA


do em que a reclamante lhe pres-
tou serviços sob o regime do con- RO. n 9 388-GB. ReI: Sr. Min. Es-
trato de fls. 6, até a data em que dras Gueiros. Rec.: Juiz Federal da 3:)-
foi transferida para o cargo de As- Vara e Mary Nazaré Vieira Motta e
sistente de Administração. Conde- INPS. Recdos.: Os mesmos.
no mais o reclamado em juros de
mora e correção monetária sobre o Decisão: À unanimidade, negaram
montante da condenação. provimento aos recursos (em 15-5-72 -
Terceira Turma).
Custas ex lege.
Os Srs. Mins. Henoch Reis e Néri
Confirmo esta sentença, pelos seus da Silveira votaram com o Sr. Ministro
próprios fundamentos. Relator. Presidiu o julgamento o Sr. Min.
Nego provimento a todos os recursos. Márcio Ribeiro.

RECURSO ORDINÁRIO N.o 394 - GB


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Amarílio Benjamin
Recorrente - Dominium S.A - Indústria e Comércio
Recorrido - José Fernandes
EMENTA
Reclamação Trabalhista. Pedido contra empresa in-
dustrial sob o regímen de intervenção do Banco Central.
Incompetência da Justiça Federal. Somente compete à
Justiça Federal processar e julgar feitos trabalhistas em
que é parte alguma das entidades enumeradas no art.
110 da Constituição. Tal dispositivo, por outro lado, não
autoriza a interferência da União, nos termos do art.
125, § 2.° da Lei Máxima. Por fím, na espécie, mesmo
que, em principio, o processo fosse da competência da
Justiça Federal, à vista do novo critério da Carta Magna,
a competência da Justiça do Trabalho estaria fixada, na
conformidade da Lei n.O 5.638, art. 3.°, vez que houve
instrução e sentença antes de 30 de outubro de 1969.

Vistos, relatados e discutidos estes RELATÓRIO


autos, em que são partes as acima in-
dicadas,
o Sr. Min. Amarílio Benjamin (Re-
lator): Propôs José Fernandes, em julho
Decide a Segunda Turma do Tribu- de 1968, reclamação trabalhista contra
,nal Federal de Recursos, por unani- Dominium S.A. - Indústria e Comércio,
midade, não conhecer do recurso e sus- perante a 6:)- Junta de Conciliação e Jul-
citar conflito negativo de jurisdição, an- gamento, São Paulo, alegando despedida
te ao Egrégio Supremo Tribunal Fe- indireta e pleiteando as vantagens le-
deral, na forma do relatório e notas ta- gais, a que se julgava com direito. Pro-
qui gráficas anexas, que ficam fazendo cessado o feito, com a defesa da recla-
parte integrante do presente julgado. mada, proferiu a Junta decisão, julgan-
Custas de lei. do em parte procedente o pedido, fls.
Brasília, 31 de maio de 1972. - Go- 33/37, com a declaração de rescisão do
doy Ilha, Presidente; Amarílio Benja- contrato de trabalho a partir de 22-7-68
min, Relator. e a condenação da empregadora ao pa-
-171

gamento de indenização, décimo tercei- co importa esteja ela em regímen


ro salário, férias proporcionais, equipa- de intervenção federal ou liquida-
ração salarial, juros da mora, custas e ção extrajudicial, fato este que não
correção monetária. Ordenou ainda o tem o condão de deslocar o pro-
levantamento dos depósitos relativos ao cesso para a competência da Jus-
FGTS. Recorreu a vencida - fls. 40/43 tiça Federal. Somente gozam do
- havendo o recurso sido processado. foro privilegiado, segundo o art. no
Estavam os autos no Tribunal Regio- da vigente Carta Magna "os lití-
nal, quando a recorrente, invocando o gios decorrentes das relações de
art. 29, § 19 do Decreto-lei n 9 685, de trabalho dos servidores com a
17 de julho de 1969 e declarando en- União, inclusive as autarquias e as
contrar-se sob regímen de liquidação, empresas públicas federais".
consoante ato do Banco Central, de 25 Assim o entendimento remansado
do mesmo mês, solicitou a notificação desse Colendo Tribunal em inúme-
da União, para se manifestar no pro- ros julgados.
cesso, fls. 55. Logo a seguir, o Dr. Pro-
curador da República dirigiu-se ao Juiz Além do mais, ad argumentan-
Relator e, na base de alegações seme- dum apenas já havia sido a instru-
lhantes, requereu a remessa dos autos ção do processo iniciada antes de
ao Tribunal Federal de Recursos, por 30 de outubro de 1969 e segundo
achar que a competência, no caso, era o disposto no § 19 do art. 29 da
da Justiça Federal, fls. 56. Julgando o Lei n 9 5.638, de 3 de dezembro
recurso, O Tribunal Regional do Traba- de 1970, estaria firmada a compe-
lho negou-lhe provimento, fls. 59/61. Já tência da Justiça do Trabalho para
haviam os autos baixados à origem, o processamento e julgamento da
quando a empregadora, argüindo em causa.
seu favor prazo em dobro concedido Em face do exposto, estamos em
pelo § 19 do art. 29 do Decreto-lei nú- que esse Egrégio Tribunal se dê
mero 685 mencionado, opôs recurso de por incompetente, com a devolução
revista, para o Tribunal Superior - fls. dos autos à Egrégia Justiça do Tra-
67/75 - insistindo na incompetência da balho".
Justiça do Trabalho e pugnando pela
É o relatório.
improcedência da reclamação. Nessa
Corte, então, foi acolhida a preliminar VOTO
de incompetência e declarado nulo o O Sr. Min. Amarílio Ben;amin (Re-
acórdão do Tribunal Regional do Tra- lator): O Tribunal Federal de Recursos,
balho, pela decisão de fls. 90/92. O pro- em dezenas de conflitos de jurisdição,
cesso passou ainda pela Justiça Federal
vem assentando que a competência da
de FI- instância, para depois subir a este
Justiça Federal é a que decorre do art.
Tribunal - fls. 97/102. O Dr. Subpro- 125, n 9 I, da Constituição, não com-
curador da República, em seu parecer portando esse dispositivo que entidades
de fls. 108/109, opinou do seguinte mo- fora das que estão enumeradas gozem
do - (fls. 109):
do foro federal. Temos repelido assim
Preliminarmente a interpretação que compara a empresa
Não é esse Egrégio Tribunal pública certas sociedades de economia
competente para o processamento e mista, sob o controle da União. Do mes-
julgamento da matéria. mo modo, não estamos aceitando que
O litígio fere-se entre empregado a lei ordinária atribua competência à
e empresa de direito privado. Pou- Justiça Federal, em desacordo com a
- 172-

indicação da Carta Magna. No fundo, recurso, antes do julgamento do Tri-


o nosso pensamento é o mesmo que le- bunal Regional do Trabalho, fls. 56.
vou o Supremo Tribunal a decretar a Entretanto, tal intervenção não produ-
inconstitucionalidade do art. 16 da Lei ziu efeito algum:
n9 5.316, de 14 de setembro de 1967, a) O Procurador da República nada
ao atribuir aos juízes federais o julga- requereu. A intervenção foi de menor
,mento das questões de acidentes do alcance que a chamada intervenção
Itrabalho - (C.J. n 9 3.893, Relator Mi- formal, em que, habitualmente, a União
:nistro Aliomar Baleeiro, R.T.J. 84/360). sobscreve as razões da entidade a que
\Ao lado disso, também vimos procla- resolve assistir.
Ímando que a intervenção da União, por
b) Tratando-se de causa trabalhista,
lintermédio do Procurador da Repúbli-
da competência da Justiça do Trabalho,
!'ca, nos termos do § 29 do art. 125 ci-
ainda que não estivesse processada e
Itado, somente desloca a competência do julgada, não caberia a intervenção da
juízo comum, quando há demonstração União, para o fim de levar o feito à
de interesse concreto na causa, não bas- Justiça Federal. O Estatuto Básico con-
tando a interferência puramente formal. cede essa intervenção - art. 125, § 29
O Pretório Excelso, a esse respeito, nos - apenas nas causas aforadas na Jus-
deu o rumo a seguir, decidindo igual- tiça Comum e tendo em conta a com-
mente em várias oportunidades - (Con- petência da Justiça Federal, na forma
flito de Jurisdição n 9 4.021, R.T.J. do art. 125, item I.
51/238; Conflito de Jurisdição n 9 3.970,
R.T.J. 43/54 ou Conflito de Jurisdição O art. 110, que concede competên-
n 9 5.448, R.T.J. 58/705). cia especialíssima à Justiça Federal,
para apreciar e julgar litígios trabalhis-
No caso sub iudice, trata-se de recla- tas da União, autarquias e empresas
mação trabalhista contra empresa espe- públicas federais, não faz qualquer re-
cializada na indústria do café. Tal qua- missão ao art. 125, § 29, nem, no seu
lificação não enseja o foro federal, de contexto, se refere a alguma forma de
acordo com a redação constante do art. intervenção. Até mesmo a Lei n 9 5.638,
110 da Constituição. Por outro lado, o de 3 de dezembro de 1970, que se preo-
Decreto-lei n 9 685 trata de instituições cupou com a aplicação do art. 110 da
financeiras e seja como for não pode al- Lei Maior, consigna no art. 39 a inter-
terar a enumeração constitucional. venção da União, embora tal interfe-
Ocorre mais que na espécie a ação foi rência seja discutível, apenas nas cau-
proposta em julho de 1968 e julgada sas das sociedades de economia mista e
pela Junta de Conciliação em 24 de das fundações. Instituição financeira
março de 1969 - fls. 33 - tudo muito ou empresa industrial nos moldes ou na
anterior ao Decreto-lei n 9 685, que é situação da que, nos autos, é interes-
de 17 de julho de 1969. O Tribunal Fe- sada, não foram incluídas na permissão,
deral de Recursos, pelas regras comuns não sendo mesmo necessário que se
de direito, não seria nunca o órgão de examine a constitucionalidade do dis-
Segunda Instância, para o apelo que positivo.
foi interposto, vez que suas atribuições Por fim, deve ser dito que a própria
são exercidas à vista de causas julgadas Lei n 9 5.638170 contém dispositivo que
pelos juízes federais, Constituição, art. serve ao acontecimento. Dispõe clara-
122, item II. mente:
Dir-se-á que, de qualquer forma, hou- "Art. 2.9 - Os processos de dis-
ve intervenção da União, na fase do sídios individuais em que forem
-173 -

partes a União, autarquias e em- . Fica, portanto, manifesto que a re-


presas públicas federais, em trami- 'clamação trabalhista considerada, ins-
tação na Justiça do Trabalho a 30 'truída e decidida a 24 de março de 1969
de outubro de 1969, serão remeti- - fls. 33/37 - fixou-se definitivamente
dos ao Juiz Federal competente sal- na competência da Justiça do Trabalho,
vo os que já tiverem a instrução data venia do Egrégio Tribunal Supe-
iniciada. 'rior.
§ 1. 9 Serão processadas e julga- Todavia, em face do que sustenta-
das pela Justiça do Trabalho as 'mos e do que foi assentado pelo Tri-
ações trabalhistas em que forem 'bunal Superior do Trabalho, fls. 91/92
partes a União, autarquias e em- .:...- está definido um conflito negativo
presas públicas federais cuja ins- 'de jurisdição.
trução teve início antes de 30 de Diante disso, o nosso voto é para que
outubro de 1969, assim como as não se conheça do recurso e seja sus-
execuções das sentenças que, nelas, citado conflito perante o Supremo Tri-
haja proferido ou venha a proferir, bunal Federal.
e as ações rescisórias de seus jul-
gados." DECISÃO

Ora, se de referência a União, autar- Como consta da ata, a decisão foi a


quias e empresas públicas federais, pa- seguinte: À unanimidade, não se conhe-
Ira determinar a persistência do foro ceu do recurso e suscitou-se Conflito
;trabalhista, a orientação da lei é de Negativo de Jurisdição, ante ao Egré-
:fazer prevalecer a instrução do proces- gio Supremo Tribunal Federal. Os Srs.
Iso até 30 de outubro de 1969, torna-se Mins. Decio Miranda e Godoy Ilha vo-
"evidente que a ação de que participa taram com o Sr. Ministro Relator. Não
'simples financeira ou empresa indus- compareceu o Sr. Min. Jarbas Nobre,
'trial, sob intervenção, não pode ter tra- por motivo justificado. Presidiu o jul-
'tamento diferente. gamento o Sr. Min. Godoy Ilha.
RECURSO ORDINÁRIO N.o 508 - GB
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Amarílio Benjamin
Recorrente - Instituto Brasileiro do Café
Recorridos - Antônio Affonso Melin Filho e outro
EMENTA
Direito Trabalhista. Inquérito contra empregado
estável, para prova de falta grave. Inviabilidade do
processo. Segundo a Lei n.O 5.638170, nas relações entre
empregador, que seja órgão público, e empregado está-
vel, a falta grave deve ser provada por meio de inqué-
rito jUdicial trabalhista, estando superada a Lei n.o ...
1.890/53. Entretanto, havendo em andamento reclama-
ção dos empregados a indiciar e também mandado de
sentença, com liminar, contra o ato de suspensão dos
requeridos, é evidente que o inquérito carece de viabili-
dade ~evendo, portanto, terem desfecho preferencial os
processos ajuizados anteriormente.
Vistos, relatados e discutidos estes au- Decide a Segunda Turma do Tribu-
tos, em que são partes as acima indi- nal Federal de Recurso, à unanimidade,
cadas, negar provimento, na forma do relató-
- 174-

rio e notas ta qui gráficas precedentes, N esta Superior Instância, emitiu pare-
que ficam fazendo parte integrante do cer o Df. Subprocurador-Geral, fls. 152.
presente julgado. Custas de lei.
É o relatório.
Brasília, 7 de iunho de 1972. - Go-
VOTO
doy Ilha, Presid"ente; Ama1'ílio Benja-
min, Relator. O Sr. Min. Amarílio Benjamin (Rela-
tor): Equivoca-se a decisão agravada,
RELATÓRIO de 28 de julho de 1971, fls. 18/19,
quando indefere o inquérito judicial,
o Sr. Min. Amarílio Benjamin (Rela- com a finalidade de propiciar a rescisão
tor): Perante o Df. Juiz Federal da 5~ de contrato de trabalho, relativamente
Vara, no Rio, Guanabara, propôs o a empregados estáveis, de acordo com
!BC inquérito contra Antônio Affonso art. 853 da CLT, por admitir o Dr. Juiz
Melin Filho e Murilo Frederico da Cos- que, sendo aplicável ao caso a Lei n 9
ta Prado, com o fim de provar falta 1.890, de 13 de iunho de 1953, somente
grave que teriam os mesmos cometidos teria cabimento inquérito administrati-
e, em conseqüência, rescindir o contra- vo, na conformidade do § 19 do art. 19
to de trabalho que mantinha com os da lei mencionada. É verdade que o
suplicados. O Dl'. Juiz Federal Substi- Conselho da Justiça Federal, pelo Pro-
tuto, no exercício pleno, indeferiu, des- vimento n 9 33 de 18 de novembro de
de logo, a inicial. Considerou que o in- 1959, recomendou a aplicação da Lei
quérito carecia de viabilidade pelo fa- n9 1.890 aos litígios trabalhista decor-
to de tramitar em juízo reclamação tra- rentes do art. no da Constituicão. Tal
balhista dos requeridos, sob argüição recomendação, porém, teve caráter tran-
de despedida injusta. Levou em conta sitório e cessou, evidentemente, quan-
ainda que, para o fim pretendido, era do a Lei n 9 5.638, de 3 de dezembro de
apropriado inquérito administrativo, de 1970, mandou observar naquelas ações
acordo com a Lei n 9 1.890/53, discipli- a CLT, capítulo X, no que coubesse,
nadora do processo trabalhista na Jus- e o Decreto-lei n 9 779, de 12 de agosto
tiça Federal. Agravou de petição o IBC, de 1969. Em iulho de 1971, data do
defendendo a propriedade da medida despacho recorrido, a lembrança da Lei
que solicitou, nos termos da Lei n 9 .. n 9 1.890 não tem pois justificativa. Fo-
5.638/70 e do art. 853 da CLT, e expli- ra disso, a observância da lei comum
cando que, não obstante a reclamação do trabalho, harmoniza melhor o pro-
trabalhista, havendo apurado no seu blema com a Constituição:
curso que os reclamantes eram estáveis,
desfez -os atos de dispensa e, suspen- "Art. 170. Às empresas priva-
dendo-os, deliberou a propositura do das compete, preferencialmente,
inquérito judicial. Os interessados, em com o estímulo e o anoio do Esta-
sua contraminuta, além de sustentarem do, organizar e explõTar as ativi-
o ato impugnado, argüiram o descabi- dades econômicas.
mento do agravo interposto, fls. 63/79.
Falou o Dr. Procurador da República.
O Dr. Juiz Federal, titular, então, após
extensas considerações, admitiu o agra- § 29 Na exploração, pelo Esta-
vo como recurso ordinário aplicando do, da atividade econômica, as
subsidiariamente o art. 910 do Código empresas públicas e as sociedades
de Processo Civil. Pronunciaram-se no- de economia mista reger-se-ão pe-
vamente os recorridos, fls. 125/147. las normas aplicáveis às empresas
- 175 -

privadas, inclusive quanto ao direi- preliminar do inquérito requerido. Con-


to do trabalho e ao das obrigações. cedeu-lhes o Dr. Juiz medida liminar,
sustando a suspensão, e o Sr. Ministro
Presidente deste Tribunal manteve o
ato - fls. 140/145.
Não obstante, aceitamos a recusa de Pelas razões expostas, achamos que
inquérito, pelo outro fundamento. De se deve negar provimento ao recurso,
fato, se reclamação trabalhista corre de que, preliminarmente, conhecemos,
em Juízo, em torno da despedida dos aceitando o ponto de vista do Dr. Juiz
recorridos, que teria sido levada a efei- Federal.
to muito antes, é lógico e conforme à DECISÃO
compreensão normal do processo que
se aguarde o desfecho da demanda que Como consta da ata, a decisão foi
primeiro foi ajuizada, tanto mais quan- a seguinte: Negou-se provimento. De-
to os interessados, pelos esclarecimentos ciS:lO unânime. OS 51'S. Mins. Decio
constantes das razões de fls. 125/147, Miranda e Tarbas Nobre votaram de
se acham sob a proteção de mandado acordo com; S1'. Ministro Relator. Pre-
de segurança qu-e requereram contrd sidiu o julgamento o S1'. Min. Godo!]
a suspensão decretada pelo lBC, como Ilha.
MANDADO DE SEGURANÇA N.o 67.858 - DF
Recurso Extraordinário

Recorrente - Francisco Alves Duarte


Recorrida - União Federal

Francisco Alves Duarte, juiz em dis- lei n 9 6.887, de 14-9-44, pelo qual a
ponibilidade da Comarca de Sena Madu- carreira se constituía de Juiz Subs-
reira, do antigo Território do Acre, re- tituto e Juiz de Direito, tão-somen-
quereu ao Presidente do Tribunal de te. A extinção do antigo Tribunal
Justiça do Distrito Federal o encaminha- de Apelação do Acre nenhum pre-
mento do seu nome ao Ex. mo Sr. Presi- juízo acarretou para o impetrante,
dente da República, para promoção ao dado que, a quando de sua inves-
extinto Tribunal de Apelação do Terri- tidura no cargo de Juiz (1957), já
tório referido, por antiguidade. aquele Tribunal deixara de existir
O expediente foi encaminhado ao Sr. há 17 anos. Alegação de simi-
Ministro da Justiça que, entretanto, de- litude de sua pretensão com caso
terminou o arquivamento do pedido, julgado anterior, na Apelação Cível
fundado em pareceres nos quais se sus- n'? 2.659, de 1934, em favor do Juiz
tentou que não seria possível fazer-se Jaime Mendonça. Inexistência dessa
promoção para cargo inexistente, e, ain- similitude ou de qualquer legislação
da, que de acordo com o Dec.-Iei núme- que possa amparar a pretensão do
ro 6.887, de 1944, que dispunha sobre a impetrante. Não há direito líquido
organização judiciária dos territórios, a e certo a ser protegido, na espécie.
carreira de Juiz se resumia a Juiz Subs- Segurança denegada."
tituto e Juiz de Direito e fora reduzida Inconformado, o interessado interpôs
pelo Dec.-Iei n9 113, de 1967, tão-somen- recurso extraordinário argüindo a in-
te a Juiz efetivo. constitucionalidade do Dec.-Iei n 9 6.887,
Contra esse ato o interessado requereu de 1944, vulneração dos arts. 133, I e lU,
mandado de segurança que veio a ser 144, I, e 153, §§ 19 e 36, da Emenda
denegado por decisão cujos fundamentos Constitucional n 9 1, de 1969. Alega ain-
foram assim resumidos na ementa do da dissídio entre o aresto impugnado e
acórdão: acórdão proferido no R.E. 30.041, em
que foi parte o Juiz Jaime Mendonça.
"Magistrado. Juiz de Direito de
Comarca do antigo Território do 2. Arrima-se a argüição de incons-
Acre, posto em disponibilidade. titucionalidade do Dec.-Iei n 9 6.887/44,
Pretensão, por mandado de segu- no fato de, tendo sido editado na vi-
rança, a obter sua promoção a De- gência da Constituição de 1937, que fixa-
sembargador. Ao tempo do ingres- ra normas comuns para a Justiça dos
so do impetrante na magistratura do Territórios, do Distrito Federal e dos
citado (1957), vigorava o Decreto- Estados, entre elas a de promoção de
- 180-

Juízes ao cargo de Desembargador, não rente, que ingressou na magistratura em


haver o mesmo Dec.-Iei previsto tal aces- 1957, assistia apenas, então, e até 1961,
so para os Juízes dos Territórios. mera expectativa de direito, que se des-
A alegação é procedente, pois o esta- fez com a edição da Emenda Constitu-
belecimento da carreira dos Juízes dos cional n 9 3.
Territórios restrito a Juízes Substitutos e A essa conclusão o recorrente opõe o
Juízes Efetivos, desatendeu, sem dúvida, argumento de que estaria implícito nas
ao disposto no art. 103 da Carta Consti- regras constitucionais por último referi-
tucional referida. das, nas quais se deferiu à lei a organi-
Mesmo que assim não fosse, o Dec.-Iei zação judiciária dos Territórios, o prin-
n 9 6.887/44 teria sido revogado, quanto cípio de que a magistratura teria que ser
a tal ponto, pelo art. 25 da Constituição estruturada em graus e incluir o acesso
de 1946, porque com ele incompatível. a Desembargador. Esse entendimento,
porém, mesmo que procedente, levaria à
Tenho, porém, que do fato de ser in- admissão de promoção ao Tribunal de
constitucional o Dec.-Iei n 9 6.887/44, Justiça do Distrito Federa~ e não ao
não resulta para o recorrente o direito à Tribunal de Apelação do Território do
promoção pretendida. Acre, como requereu, porque extinto
este muitos anos antes.
Nenhuma outra lei foi editada asse-
gurando o acesso aos Juízes dos Territó- Inaceitável é, assim, a alegação de
rios ao cargo de Desembargador e, se o ofensa pelo julgado recorrido às normas
fosse, teria que prever tal acesso ao Tri- constitucionais invocadas no apelo.
bunal de Justiça do Distrito Federal, Também inaceitável é a afirmação de
extinto que havia sido o Tribunal de dissídio de interpretação, pois a situação
Apelação do Território do Acre. de fato apreciada no processo em que
De outro lado, a Emenda Constitucio- foi parte o Juiz Jaime Mendonça era
nal n 9 3, de 1961, bem como a Consti- diversa da examinada no acórdão recor-
tuição de 1967 e a Emenda Constitucio- rido, como acentuou o Relator deste.
nal n 9 1, de 1969, já não repetiram a Indefiro.
norma que mandava aplicar à Justiça
dos Territórios as regras previstas para ,Publique-se.
as Justiças dos Estados, e se inexistia lei Brasília, 11 de outubro de 1972.
prevendo a promoção dos Juízes dos Armando Rollemberg, Ministro-Presi-
Territórios a Desembargador, ao recor- dente.

AGRAVO EM MANDADO DE SEGURANÇA N.o 69.523-DF


Recurso Extraordinário

Recorrentes - 1)Instituto Nacional da Propriedade Industrial - 1. N. P. 1.


2) Pirelli S. A. - Companhia Industrial Brasileira
3') Sindicato Nacional da Indústria de Tratores, Caminhões, Au-
tomóveis e Veículos similares e outros
Recorrida - Apex Industrial Ltda. - ImportaçM e Exportação

Pirelli S.A. Cia. Industrial Brasileira, Importação e Exportação, em cujos au-


propôs, em 1960, ação de nuHdade de tos, em 13 de maio de 1962, o MM. Juiz
patente contra Apex Industrial Ltda. - que presidia o processo proferiu des-
-181-

pacho suspendendo os efeitos da patente priedade Industrial, que acrescesse, no


impugnada, despacho que veio a recon- prazo de validade da patente, seis anos,
siderar em 22 de novembro do mesmo oito meses e doze dias a partir de 8 de
ano de 1962. setembro de 1970.
Em 30 de setembro de 1964 foi profe- Essa decisão foi confirmada pela
rida sentença julgando procedente a Egrégia 3<J. Turma deste Tribunal e é
ação para o fim de anular a patente, e, atacada por recursos extraordinários in-
a seguir, os autos vieram a este Tribunal terpostos pelo I.N.P.I., por Pirelli S.A. e
em atenção a recurso de ofício e apela- por diversas firmas que se afirmam pre-
ções interpostas por ambas as partes, judicadas pela decisão, sustentando os
sendo que a da autora atacando a sen- recorrentes que a decisão recorrida ne-
tença no ponto em que negara perdas e gou vigência ao art. 85 do Cód. da Pro-
danos pleiteados. priedade Industrial (Dec.-lei número
7.903/45) e aos arts. 808, § 1Q, e 820,
A Egrégia Terceira Turma, por maio-
do Código de Processo Civil.
ria, deu provimento ao recurso da Apex
Industrial Ltda. "para o efeito de refor- Os apelos foram impugnados pela re-
mar a sentença apelada, restaurando em corrida, que argüiu, preliminarmente,
sua plenitude o registro da patente da faltar legítimo interesse às firmas que
Ré, de nQ 3.796, no I.N.P.I., ressalvada, não integraram a ação anterior, e, no
evidentemente, a tramitação administra- mérito, que a decisão recorrida estaria
tiva que naquele Departamento ficara ao abrigo das Súmulas 279, 400, 282,
sustada, julgando-se, assim, improceden- 283 e 356.
te a ação intentada pela Autora PireIli 2. Negada que fora, pela autoridade
S.A., com a conseqüente condenação nas administrativa, a prorrogação do privilé-
custas e honorários de advogado, que gio da patente, as firmas em condições
arbitrou em dez por cento sobre o valor de fabricarem o produto patenteado têm
dado à causa, ficando prejudicada a ape- interesse na reforma da decisão judicial
lação da autora". que concedeu tal prorrogação, com o
À tal decisão foram opostos embargos que não procede a alegação preliminar
de nulidade e infringentes do julgado, da impugnação.
rejeitados pelo Tribunal Pleno. Seguiu-se ,De pouca relevância é, de resto, tal
recurso extraordinário que não obteve questão, pois a recorrida não nega ao
êxito. I.N.P.I. e à Pirelli S.A., também recor-
Em 8 de setembro de 1970, data em rentes, condições para recorrerem.
que terminaria o prazo de privilégio do Quanto ao mérito, se é de clara impro-
uso da patente, se não houvesse sido cedência a alegação contida no recurso
interrompido, Apex Industrial requereu do I.N.P.I. de que fora negada vigência
ao Presidente do Conselho de Recursos ao art. 85, parágrafo único, do Dec.-Iei
da Propriedade Industrial a devolução n Q 7.903/45, ao entender-se prorrogável
do período em que a patente estivera privilégio extinto, pois, no caso, a extin-
suspensa, e, indeferido tal pedido sob o ção não se teria dado porque conse-
fundamento de que não seria possível qüente o decurso do prazo de inexecução
tal devolução após extinto o privilégio, de decisão judicial, teria razão de ser a
buscou apoio para a sua pretensão na argüição de negativa de vigência da mes-
via judicial, obtendo segurança concedi- ma disposição legal feita por todos os
da pelo MM. Juiz Federal Substituto da recorrentes, ao entenderem que foi de-
2. a Vara do Distrito Federal, o qual de- volvido à recorrida prazo maior que o
terminou ao Instituto Nacional da Pro- ali permitido.
- 182-

Reza a norma referida: quais foi atacada teriam que ser recebi-
"Art. 85. A requerimento do in- dos nos efeitos devolutivo e suspensivo.
teressado, ou do procurador da Re- Proferida a decisão por este Tribunal
pública, o Juiz, motivando o seu ato, reformando a sentença, o recurso extra-
poderá suspender, até decisão final, ordinário interposto, mesmo que o privi-
os efeitos da concessão do privilégio légio estivesse suspenso enquanto pen-
e o uso da invenção, quando contrá- diam de julgamento as apelações, não
rios à Lei, à moral, à saúde, ou à teria o efeito de mantê-las em tal situa-
segurança pública (Cód. de Proc. ção, frente ao disposto no art. 808, § 19,
Civil, art. 333). do Cód. de Processo Civil, com o que o
prazo restaurado, de qualquer sorte, te-
Parágrafo único. Se a ação for jul- ria sido maior que o permitido pelo art.
gada improcedente, subsistindo o 8.5 do Dec.-Iei n 9 7.903/45.
privilégio, o prazo da patente será
acrescido na proporção do tempo da Essas questões, contudo, não foram
suspensão." discutidas no julgamento recorrido e,
não tendo sido apresentados pelos re-
O que aí se autoriza é a devolução do
correntes embargos de declaração, os
tempo de que o privilégio de patente
recursos encontram obstáculo à sua
tenha estado suspenso, e, no caso dos
admissão na Súmula 356, do Egrégio Su-
autos, tal somente se deu de 13 de maio
premo Tribunal Federal.
a 22 de novembro de 1962, pois, recon-
siderado nesta última data o despacho Indefiro.
que determinara a suspensão, a recorri-
da voltou a usufruir do privilégio, e tal Publique-se.
situação não foi modificada pela senten- Brasília, 19 de setembro de 1972. -
ça que anulou a patente, posteriormente Armando Rollemberg, Ministro-Presi-
reformada, desde que os recursos pelos dente.

AGRAVO EM MANDADO DE SEGURANÇA N.o 70.004 - GB


Recurso Extraordinário

Recorrente - Cia. Produtora de Vidro - Pro vidro


Recorrido - Banco Central do Brasil

A Companhia Produtora de Vidro Banco Central do Brasil, que o deferiu


"Providro", entre dezembro de 1 9 6 2 em cruzeiros e não em dólares como pre-
e agosto de 1963, obteve da SOCEF - tendia a requerente.
Société Commérciale de Céréales & Fi-
nanciere S.A., com sede na Suíça, em- Contra esse ato requereu mandado de
préstimos em dólares destinados à COns- segurança, indeferido em ambas as ins-
trução de fábrica de vidro plano em tâncias por fundamentos assim resumi-
Caçapava, no Estado de São Paulo. dos na ementa do acórdão prolatado nes-
te Tribunal.
Por sua conveniência, desde que obti-
nha melhor taxa, fez a conversão dos dó- "Capitais estrangeiros. Lei núme-
lares em cruzeiros na Agência do Banco ro 4.131/62. Decreto n 9 55.762/65.
do Brasil em Montevidéu, e, a seguir, re- O registro do capital estrangeiro fi-
quereu o registro dos empréstimos ao ca condicionado à efetividade da
- 183-

transferência do mesmo, para o Bra- cação em atividades econômicas,


sil, na moeda do país de origem. desde que ambas as hipóteses per-
No atinente à conversão dos dóla- tençam a pessoas físicas ou jurídicas
res em cruzeiro, pela Agência do residentes, domiciliadas ou com
Banco do Brasil S.A., em Montevi- sede no exterior.
déu, e o posterior depósito dos
mesmos na conta corrente do últi- Art. 3 9 Fica instituído, na Su-
mo, na filial do Swiss Bank Cor- perintendência da Moeda e do Cré-
poration, em Nova Iorque, também dito, um serviço especial de regis-
não realiza o desígnio da Lei núme- tro de capitais estrangeiros, qual-
ro 4.131/62, eis que esta exige, quer que seja a forma de seu ingres-
para o registro, a trazida das divi- so no país, bem como de operações
sas, na moeda do país de origem, e, financeiras com o exterior, no qual
neste caso, as divisas do mútuo per- serão registrados:
maneceram no exterior, entre Mon- a) os capitais estrangeiros que in-
tevidéu e Nova Iorque. Segurança gressarem no país sob a forma de
denegada." investimento direto ou de emprés-
Veio a interessada a seguir com re- timo, quer em moeda quer em bens.
curso extraordinário, fundado nas alí-
neas a e d da permissão constitucional,
no qual alega: Art. 49 O registro de capitais es-
trangeiros será efetuado na moeda
a) negativa de vigência à Lei n 9 do país de onde forem originários
4.131/62, desde que nesta não se e o do reinvestimento de lucros em
exige, para o efeito de registro de moeda nacional."
capitais estrangeiros, o ingresso efe- Apega-se a recorrente ao fato de o
tivo de moeda estrangeira no País; art. 49 acima transcrito determinar que
b) ser impossível a aplicação, à o registro seria efetuado na moeda do
hipótese, do Decreto n 9 55.762/65, País de origem dos capitais, para sus-
porque posterior à contratação do tentar que, no caso concreto, se deveria
empréstimo e ao pedido de registro; efetivar o registro em dólares, por ter
c) conflito entre a decisão recor- sido essa a moeda considerada no con-
rida e julgados do Egrégio Supremo trato de empréstimo. A interpretação da
Tribunal Federal nos quais se admi- disposição, porém, deve ser a de que o
tiu que o débito feito em moeda registro será feito na moeda efetivamen-
estrangeira poderá ser resgatado na te remetida para o Brasil pois se adotada
mesma moeda. a interpretação literal pretendida pela
recorrente ter-se-ia que, no caso, o re-
A decisão contra a qual se recorre deu gistro deveria ser feito em francos suí-
à espécie exata interpretação. ços desde que o empréstimo foi conce-
Dispunha a Lei n 9 4.131, de 1962: dido por estabelecimento suíço, com o
"Art. 19 Consideram-se capitais que, de qualquer sorte não lhe assistiria
estrangeiros para os efeitos desta lei, direito à obtenção do registro em dó-
os bens, máquinas e equipamentos lares.
entrados no Brasil, sem dispêndio Esse entendimento veio a ser explici-
inicial de divisas, destinados à pro- tado pelo Decreto n 9 55.762/65 ao dis-
dução de bens e serviços, bem como por:
os recursos financeiros ou monetá- "Art. 49 O registro de capitais
rios introduzidos no país para apli- será na moeda estrangeira efetiva-
- 184-

mente ingressada no país e, nos ca- a interessada fugir a essa objeção, com a
sos de importação financiada e de alegação de que a conversão de dólares
investimentos sob a forma de bens, em cruzeiros se fizera em Agência do
na moeda do domicílio ou da sede Banco do Brasil no exterior, mas, como
do credor, ou investidor, respectiva- bem esclareceu a autoridade impetrada,
mente, ou, ainda em casos especiais, o Banco do Brasil em Montevidéu opera
na moeda de procedência dos bens, de forma autônoma, como os demais
Ou do financiamento, desde que bancos, não importando o depósito de
obtida a prévia anuência da qualquer importância ali feito em trans-
SUMO c." ferência dela para o Brasil.
Insurge-se a recorrente contra a apli- Tenho, assim, como indemonstrada a
cação de tal norma legal à hipótese dos negativa de vigência de lei argüida no
autos porque posterior ao pedido de recurso. Quanto à divergência de juris-
registro. prudência é impossível admiti-la por não
Vale ela, porém, para o julgador, como se referirem os acórdãos trazidos a con-
esclarecimento do significado exato da fronto à matéria examinada no acórdão
regra do art. 49 da Lei n 9 4.131/62. impugnado.
Efetivamente seria inaceitável admi- Indefiro.
tir-se que empresa estrangeira trouxesse
para o Brasil cruzeiros e obtivesse re- Publique-se.
gistro para pagamento considerando Brasília, 14 de dezembro de 1972.
outra moeda, com prejuízo evidente para Armando Rollemberg, Ministro-Presi-
o nosso balanço de pagamentos. Procura dente.

MANDADO DE SEGURANÇA N.o 70.851 - DF


Recurso Extraordinário

Recorrente - União Federal


Recorrido - Padre Sérgio Felix Leonardelli

Com base nas conclusões da Comissão ampla defesa, e pedindo a anulação da


de Sindicância Reservada, o Sr. Minis- pena imposta.
tro da Educação e Cultura determinou Em julgamento proferido à unanimi-
fosse apostilado nos títulos do Professor dade a segurança foi deferida, porque
Padre Sérgio Felix Leonardelli ser ele reconhecido pelo Tribunal que não se
inidôneo para o exercício do magistério assegurara ao professor acusado a ampla
em qualquer estabelecimento do País e, defesa prevista na Constituição. Em
a seguir, foi baixada l'ortaria pelo titu- alguns dos votos considerou-se, também,
lar da Pasta de Educação declarando a inexistir base legal para a aplicação da
inidoneidade referida e determinando o pena imposta.
apostilamento respectivo no registro de Veio a União então com recurso extra-
diploma do professor e nOs seus assenta- ordinário no qual alega que o acórdão
mentos funcionais. recorrido negou vigência aos arts. 49 e
Contra tais atos foi impetrada segu- 118, do Código de Processo Civil, contra-
rança, sob o fundamento de que na sin- riou o art. 153, § 21, da Constituição, e
dicância reservada em que se lastrea- dissentiu de julgado do Egrégio Supre-
ram não fôra assegurada ao impetrante mo Tribunal Federal onde se as'sentou:
- 185-

"Sentença que ultrapassa os limi- Código de Processo Civil, como afastado


tes do pedido. Nulidade absoluta. está o dissídio de interpretação com o
Recurso extraordinário conhecido e julgado trazido a confronto.
provido." (Ac. de 10-8-19'71. D J. de Quanto à argüição de inaplicação do
3-9-1971, pág. 4.607. Relator: Mi- art. 118 do Código de Processo Civil,
nistro Barros Monteiro.) firma-se a recorrente na afirmação de
2. A recorrente pretende ter havido que não se teria atendido a fato cons-
decisão extra petita pelo fato de, no jul- tante do processo, e, assim, pretende, no
gamento, além de concluir-se pela falta particular, o reexame de prova, impossí-
de garantia de plena defesa ao acusado, vel no recurso extraordinário.
ter sido considerado inexistir suporte Finalmente, não há como aceitar-se a
legal para a aplicação da pena, quando afirmação de haver sido contrariado,
este último ponto não constituira objeto pelo aresto recorrido, o art. 153, § 21, da
do pedido. Constituição, ao entender existir o direi-
Ora, se o que se pediu foi a anulação to de defesa que o recorrente nega afir-
da pena porque aplicada sem que ao mando que há tão-somente poder jurí-
apenado houvesse sido assegurada ampla dico de defesa.
defesa, do fato de o Tribunal ter con- Indefiro o recurso.
cedido a segurança para o fim pedido,
por esse fundamento, e haver acrescen- Publique-se.
tado outro, não decorre decisão ultra Brasília, 14 de dezembro de 1972.
petíta. Mastada, está, assim, a alegação Armando Rollemberg, Ministro-Presi-
de negativa de vigência ao art. 49 do dente.

APELAÇÃO CÍVEL N.o 23.656 - PE


Recurso Extraordinário

Recorrentes - Ana Cavalcanti Fiúza e Outros


Recorrido - Instituto Nacional de Pr·evidência Social- INPS

1. Ação de nulidade de escritura de da União, Estados e Municípios e


compra e venda e cancelamento de suas autarquias, nas ações reais,
transcrição de bem imóvel gravado com como assentado na doutrina e na ju-
a cláusula de inalienabilidade foi julga- risprudência dos tribunais. A ação
da procedente na instância inicial, mas de reivindicação é tipicamente real,
em julgamento de Turma deste Tribunal que só prescreve em dez anOs entre
foi declarada extinta pela aplicação da presentes e, entre ausentes, em quin-
prescrição qüinqüenal. Opostos embar- ze, nOs termos do art. 177 do Cód.
gos, o Egrégio Tribunal Pleno ratificou Civil, alterado pela Lei n 9 2.437/55.
a decisão, alterando-lhe, porém, o fun- Verificados, entretanto, os requi-
damento, para considerar inaplicável a sitos da prescrição aquisitiva do
prescrição qüingüenária e reconhecer ca- usucapião ordinário, previsto no art.
bível a prescrição aquisitva, conforme 551 do aludido Cód., lapso de tem-
resumido na ementa, verbÍ8: po, justo título e boa-fé, rejeitam-se
"Ação de reivindicação e nulidade os embargos ao acórdão que a re-
de escritura. Não incide a prescrição conheceu, para prover a apelação do
qüinqüenária estabelecida em favor réu e haver como prescrita a ação."
-186 -

Inconformados, os interessados recor- "O prazo da prescnçao da ação


rem extraordinariamente, com base nas de declaração de nulidade absoluta
alíneas a e d do permissivo constitucio- de escritura de venda e compra de
nal, alegando negativa de vigência aos bens gravados com a cláusula de
arts. 1.676, 1.677, 145, 11, 146, parágra- inalienabilidade é de trinta anos."
fo único, 551 e 169, I, todos do Código (AC 66.268, dec. unânime, acór-
Civil, e aos arts. 108 e 629 a 632, do dão do Trib. de Justiça de São
Código de Processo Civil, e trazendo à Paulo, de 20-8-54, in Rev. dos Tribu-
colação, para caracterizar o dissídio, nais, v. 231, pág. 167.)
arestos dos Tribunais de Justiça de São
Paulo e Pernambuco versando sobre for- Como se vê, aí se admitiu como prazo
malidades necessárias para a modifica- de prescrição da ação para declaração
ção da cláusula de inalienabilidade, e de nulidade de escritura de compra e
prazo de prescrição de ação de nulidade venda de bens gravados com a cláusula
de escritura de compra e venda de bens de inalienabilidade o do usucapião extra-
gravados com a mesma cláusula. ordinário, enquanto o julgado recorrido
entendeu ser o do ordinário.
2. O julgado recorrido, pelo exame
da prova dos autos, considerou verifica- Há, portanto, dissídio capaz de auto-
dos os requisitos essenciais ao usucapião rizar o recurso pela letra d.
ordinário - lapso de tempo - justo tí-
tulo e boa-fé, e assim, ao discutir a ocor- Admito.
rência de tais requisitos no caso dos
autos o recorrente pretende obter o re- Brossiga-se.
exame de prova, impossível no apelo Publique-se.
excepcional (Súmula 279).
Entre os julgados trazidos a confronto, Brasília, 5 de outubro de 1972. -
contudo, um deles, do Tribunal de São Armando Rollemberg, Ministro-Presi-
Paulo, assentou: dente.

APELAÇÃO CÍVEL N.o 28.358 - DF


Recurso Extraordinário

Recorrente - União Federal


Recorridos - Ivo Wilson de Sant'Anna e Outros

Ação proposta contra a União por ofi- do cálculo realizado por árbitro indicado
ciais da Reserva Remunerada das For- pelos exeqüentes no qual os honoráJrios
ças Armadas, para obterem a incorpo- de advogado foram fixados tendo em
ração em seus proventos de inatividade conta o valor atribuído à causa na ini-
das parcelas absorvidas das diárias de cial.
Brasília, foi julgada procedente nos ter-
mos do pedido, salvo quanto a um dos Os autos vieram ao Tribunal em aten-
autores que não servia nesta Capital ção a recurso neoessário e apelação dos
quando de sua transferência para a ina- autores, esta última insurgindo-se contra
tividade. a forma de cálculo dos honorários de
A execução da decisão processou-se advogado que, sustentava, deveria ser
por arbitramento vindo a ser homologa- feito considerando o valor da causa veri-
- 187-

ficado na liquidação e não o apontado constitucional de respeito à coisa jul-


na inicial. gada.
Distribuído o processo à Segunda Tur- O outro recurso tem como fundamen-
ma foi a decisão recorrida confirmada, tos a argüição de negativa de vigência
por maioria, quanto ao cálculo das diá- aos arts. 257, 280, 909 e 913 do Código
rias a serem incorporadas e, reformada, de Processo Civil e conflito com julga-
por unanimidade, de relação aos hono- dos interpretativos dessas disposições.
rários de advogado, com o provimento Resume-se, afinal, a argumentação da
do recurso dos autores. recorrente, às alegações de que a liqui-
A União interpôs recurso extraordiná- dação da sentença que a decisão enten-
rio da parte em que fora unânime a deu boa deveria ter sido feita por arti-
decisão e opôs embargos de nulidade e gos e não por arbitramento, como ocor-
infringentes do julgado quanto ao prin- reu, por existir fato novo a ser provado,
cipal da execução, embargos que foram e de que a sentença homologatória do
rejeitados e ensejaram novo apelo cons-. cálculo não fora devidamente funda-
titucional. mentada.
2. No primeiro recurso, em que se A primeira das questões refoge ao âm-
insurge contra a fixação de honorários bito do recurso extraordinário, pois, se
considerando-se valor da causa o corres- a decisão recorrida entendeu que os fa-
pondente ao montante da condenação, a tos se achavam esclarecidos, chegou a
recorrente alega negativa de vigência ao tal conclusão com o exame da prova que
art. 916 do Código de Processo Civil, não é possível reapreciar no apelo ex-
combinado ocm o art. 64, § 19, do mes- tremo.
mo Código, e contrariedade ao art. 153, Já o óbice da falta de fundamentação
§ 39 , da Constituição. da sentença que homologou o cálculo
Não lhe assiste razão, porém. foi afastado pelo aresto atacado com a
A decisão exeqüenda não foi alterada. aplicação da regra do art. 273, I, do
pelo julgado recorrido. Nela se estabe- Código de Processo Civil, por entende-
leceram honorários de advogado sobre o rem os julgadores que mínimas como
valor da causa e o aresto impugnado, eram as diferenças de valores questio-
acertadamente, considerou que o valor nados, atingira a sentença afinal o seu
da causa, no caso, era o alcançado pela fim não se justificando a repetição do
liquidação e não o atribuído na inicial, ato, com o que deu solução inegavel-
pois, se a este pretendesse a sentença. mente razoável à hipótese.
referir-se, o teria feito, como é comum, Indefiro ambos os recursos.
expressamente. Publique-se.
Não há como aceitar-se, assim, quer a Brasília, 16 de outubro de 1972. -
alegação de negativa de vigência de lei, Armando Rollemberg, Ministro-Presi-
quer a de contrariedade ao princípio dente.

APELAÇÃO CíVEL N.o 30.940 - GB


Recurso Extraordinário
Recorrente - Juracy de Oliveira Pereira
Recorrida - União Federal

Juracy de Oliveira Pereira, funcionária blica, de 22-12-64, a servir na Delegacia


do Ministério da Fazenda, foi autorizada do Tesouro Brasileiro no Exterior, sem
por despacho do Presidente da Repú- ônus para o Tesouro, e, portanto, rece-
- 188-

bendo seus vencimentos em cruzeiros Dessa decisão recorreu a interessada


como se no Brasil estivesse. argüindo:
Em 1966, atendendo proposta do De- a) que, ao lhe deixar de reconhe-
legado, o Ministro da Fazenda autorizou cer direito ao recebimento dos esti-
que a funcionária passasse a perceber, pêndios e vantagens previstos no
além de seus vencimentos em cruzeiros, Decreto-lei n 9 310/67 para os fun-
a representação paga aos demais funcio- cionários lotados na Delegacia do
nários no valor de 1.000 dólares mensais. Tesouro Brasileiro no Exterior, a
decisão recorrida negara vigência ao
Era essa a situação, quando, em 1968, art. 99, d, do mesmo diploma legal,
requereu o pagamento de remuneração e ao art. 115, § 19, da Lei número
na forma estabelecida no Dec.-Iei núme- 1.711/52;
ro 310/67, onde se fixara que os funcio- b) que ao admitir dever a reCOr-
nários lotados na Delegacia do Tesouro rente repor a diferença entre a gra-
Brasileiro no Exterior, perderiam os esti- tificação que vinha recebendo e a
pêndios de seus cargos no Brasil e rece- prevista no Dec.-Iei n 9 310/67, O
beriam a retribuição fixa de 1.000 dóla- aresto impugnado negara vigência
res, e mais a metade da gratificação ao art. 20, § 29, da Lei n 9 4.863/65
palSa a 19-5ecretário em Embaixada, isto e dissentira de acórdão proferido
é, 700 dólares. pelo Egrégio Supremo Tribunal Fe-
Essa sua pretensão foi indeferida pelo deral, no julgamento do R.E. núme-
TO 69.178.
Ministro da Fazenda que, além disso,
à consideração de que não seria pos- 2. A alegação de negativa de vigên-
sível à autora perceber 1.000 dólares de cia ao art. 115, § 19, da Lei n 9 1. 711/52
representação após a data do referido e ao art. 99, d, do Dec.-Iei n 9 310/67,
Dec.-Iei n 9 310, determinou a devolução não é hábil para possibilitar o recurso
da diferença percebida a partir de tal porque a aplicação de tais disposições
momento, no total de 4.800 dólares. legais tinha como pressuposto a lotação
da recorrente na Delegacia do Tesouro,
Veio a funcionária então com ação o que a decisão recorrida não admitiu
ordinária, julgada improcedente na pri- como provado, entendendo, ao contrário,
meira instância quanto à pretensão prin-:, que a designação para ali servir fora
cipal, isto é, a percepção da retribuição, solução acomodatícia dada pela Admi-
de 1.000 dólares mensais como estipên-, nistração face à inexistência de vaga.
dio e de 700 dólares como representação.' Neste ponto, portanto, o que se pretende
Assegurou a sentença, porém, à auto- com o recurso é o reexame de prova, ob-
ra, o direito de não restituir o que re- jetivo para o qual não se presta (Súmula
cebera a mais. 279).
Neste Tribunal Turma Julgadora re- Tenho o apelo como admissível, entre-
formou a decisão de primeiro grau e tanto, na parte em que alega negativa de
determinou a reposição das quantias vigência ao art. 20, § 2 9, da Lei núme-
percebidas a maior sob o fundamento de ro 4. 8f)3/65.
que, no caso, não ocorrera alteração de A recorrente percebera a representa-
critério jurídico pelo órgão competente, ção de 1. 000 dólares, de boa-fé, em
hipótese prevista para a não restituição ;ltenção a autorização do Ministro da
de vantagem no § 29 do art. 40 da Lei Fazenda. Se esta mesma autoridade, pos-
n 9 4.863/65, e sim "dois momentos na teriormente, entendeu que esta represen-
quantificação legal na vantagem". tação deveria ser diminuída para 700
- 189-

dólares, sob o fundamento de que tal Defiro o recurso quanto ao último


quantia passara a ser o máximo admissÍ- ponto.
vel em face do Dec.-Iei n 9 310/67, que, Prossiga-se.
por sinal considerou inaplicável à recor-
rente no seu todo, houve alteração de Publique-se.
critério jurídico do órgão competente, e Brasília, 26 de setembro de 1972.
caberia aplicar-se ao caso a nonna apon- Armando Rollemberg, Ministro-Presi-
tada como omitida. dente.

HABEAS CORPUS N.O 2.771 - SP


ReclUSO Extraordinário

Recorrente - Ministério Público


Recorrido - Antenor Lepri

1. Contra empregador que anotara uso, pelo empregador, dos meios


nas carteiras profissionais de emprega- fraudulentos que o legislador teve
dos datas de admissão no emprego di- em mira coibir.
versas das verdadeiras, foi proposta ação
penal que Juiz Federal julgou proceden- Recurso extraordinário dos acusa-
te condenando-o à pena de 1 ano e 2 dos, conhecido mas não provido."
meses de reclusão. (Rev. Trim. Jur., voI. 56, pág. 597.)
Requereu o réu então habeas corpus 2. O dissídio de interpretação não
que lhe foi concedido por Turma deste está configurado desde que no acórdão
Tribunal ao fundamento de que cuidan- apontado como paradigma não se exa-
do-se de crime no qual o bem jurídico minou a mesma hipótese analisada no
lesado fora o interesse pessoal dos em- julgado recorrido.
pregados e não a organÍ2Jação do traba- Não foi comprovada também a nega-
lho, a Justiça Federal era incompetente tiva de vigência ao art. 125, VI, da Cons-
para processar e julgar a ação. tituição.
Dessa decisão recorre o Ministério Reza tal dispositivo:
Público, com fundamento nas alíneas a "Art. 125. Aos JUIzes federais
e d, da permissão constitucional, argüin- compete processar e julgar em pri-
do negativa de vigência ao art. 125, VI, meira instância:
da Constituição, e conflito com julgado
do Egrégio Supremo Tribunal Federal
no qual se estabeleceu: VI - os crimes contra a organiza-
"Crime de frustração de direito ção do trabalho ou decorrente de
assegurado por lei trabalhista (art. greve;
203 do C. Penal).
A lei não distingue entre direitos Sustenta o recorrente que a anotação
renunciáveis. E a estes sobretudo de data falsa na carteira profissional do
terá ela visado proteger, pois, tra- empregado estaria abrangida pela nonna
tando-se de direitos renunciáveis, o do art. 203 do Código Penal, onde se
empregado poderia legalmente abrir define como crime contra a organização
mão deles, e desnecessário seria o do trabalho, "frustrar, mediante fraude
- 190-

ou violência, direito assegurado pela le- são em emprego diversa da verda-


gislação do trabalho". deira."
O fato delituoso referido, porém, é Na última disposição legal, como se
objeto de norma específica da Consoli- depreende de seus termos e considerou a
dação das Leis do Trabalho que, em seu decisão recorrida, o que se protege é o
art. 49 dispõe: interesse individual do empregado, en-
quanto na regra do art. 203 do Código
"Art. 49. Para os efeitos da emis- Penal se incrimina procedimento que
são, substituição ou anotação de perturbe a ordem social do País, isto é,
Carteiras Profissionais, considerar- tutela-se principalmente o bem comum.
:se-á crime de falsidade, com as pe-
nalidades previstas no art. 299 do O recurso, assim, não se mostra admis-
Código Penal: sível.
Indefiro.
v - Anotar dolosamente em Car- Publique-se.
teira Profissional ou registro de em- Brasília, 17 de outubro de 1972.
pregado, ou confessar ou declarar Armando Rollemberg, Ministro-Presi-
em juízo ou fora dele data de admis- dente.
PROVIMENTO N.o 83

o Conselho da Justiça Federal, de gerá, além dos habeas corpus, os manda-


acordo com o disposto nos arts. 69, 11, dos de segurança preventivos e outras
e 12, da Lei n 9 5.010, de 30 de maio medidas expressamente indicadas na
de 1966, Portaria n 9 511, de 11 do mês em curso.
Resolve expedir o presente Provimen- U - Em qualquer dos casos, caberá
to no sentido de fixar as normas que ao Juiz de plantão, durante os feriados
devem ser observada pela Seção Judiciá- no item I, tomar as providências iniciais
ria do Estado de São Paulo, sobre a que couberem e, se for o caso, processar
competência dos Juízes Federais e Juízes os feitos mesmo que não sejam da sua
Federais Substitutos para o recebimento competência privativa.
dos pedidos de Habeas corpus, manda-
dos de segurança preventivos e medidas 111 - O plantão nos dias feriados
de natureza urgente durante os feriados assim como nos demais em que não hou-
previstos no art. 62, I, da Lei n Q 5.010, ver expediente no Fôro, ressalvado o
de 1966, e para os plantões referidos no período dos feriados a que se referem os
item 4 do Provimento n 9 3, de 3 de ju- itens I e 11, competirá, exclusivamente,
'ho de 1967: aos Juízes criminais, de acordo com a
escala que for organizada, mensalmente,
I - A competência do Juiz Federal ou pelo Diretor do Fôro, para conhecerem
do Juiz Federal Substituto de vara espe- dos pedidos de habeas corpus urgentes.
cializada ou não, designado pelo Diretor Cumpra-se e Publique-se.
do Fôro para o plantão nos feriados
compreendidos entre os dias 20 de de- Brasília, 14 de dezembro de 1972. -
zembro do corrente ano a 6 de janeiro do Armando Rollemberg, Ministro-Presi-
ano próximo vindouro, inclusive, abran- dente.
JURISPRUDÊNCIA

Pág. Pág.
Apelação Cível 32.578 - GB (ReI. Min. Moa-
28.388 - GB (ReI. Min. Néri cir Catunda) ............... 99
da Silveim) ............... . 3 32.668 - SP ('ReI. Min. Peça-
nha Martins) 10,2
28.464 - PR (ReI. Min. Ar-
mando Rollemberg) ....... . 27 Apelação CliminaI
28.515 - GB (ReI. Min. Ar- 1.744 - GB (ReI. Min. H'e-
mando Rollemberg) ....... . 31 noch Reis) .............. .'.. 10,6
28.530, - GB (ReI. Min. Moa- 1.925 - MG (ReI. Min. Es-
cir Catunda) .............. . 54 dras Gueiros) .............. 10,9
28.8313 - MG (RieI. Min. Jar- 1.960, - PI (ReI. Min. Peça-
bas Nobre) 58 nha Martins) .............. 111
29.224 - SP (ReI. Min. Decio 1.962 - PB (ReI. Min. Ama-
Miranda) ................. . 60, rílio Benjamin) ............ 114
29.269 - GB (ReI. Min. Decio 1.966 - l\IT (ReI. Min. Es-
Miranda) .................. . 63 dras Gueiros) .............. 115
29.416 - GB (ReI. Min. Dedo 1 .984 - OE (ReI. Min. Ama-
Miranda) 66 ríUo Benjamin) ............ 120,
2.0,0,4 - ISP (ReI. Min. Esdras
29.574 - MG (ReI. Min. Ar-
mando Roll1emberg) ....... . Gueiros) ................... 122
68
2.0,62, - RJ (ReI. Min. Esdras
29.827 - ES (ReI. Min. Márcio
Gueiros) ................... 125
Ribeiro) ................... . 71
30,.,69'5 - GB (ReI. Min. Már- Conflito Negativo de Jurisdição
cio Ribeiro) ................ 73 '90,4 - PR (ReI. Min. Ama-
30,.964 - RS (ReI. Min. Moa- rilio Benjamin) ............ 127
cir Catunda) .............. . 75 1.276 - PR (ReI. Min. Peça-
31.199 - ISP (ReI. Min. Hen- nha Martins) ............... 131
rique d'Avi1a) ............. . 81 1.286 - DF (ReI. Min. Go-
31.40,1 - PiE (ReI. Min. Már- doy Ilha) .................. 133
cio Ribeiro) ............... . 85 "Habeas Corpus", Petição de "Ha-
31.618 - RiS (ReI. Min. He- beas Corpus" e R e c u r s o de
noch Reis) ................ . 88 "Habeas Corpus"
31.989 - SP (ReI. Min. Jorge 2.619 - DF (ReI. Min. Peça-
Lafayette) ................ . 94 nha Martins) ............... 137
3,2.268 - GB mel. Min. Jar- 2.689 - :SP (ReI. Min. Henri-
bas Nobre) 97 que d'Avila) ............... . 138
-198 -
Pág. Pág.
2.690 - PR (ReI. Min. Moa- 508 - GB (ReI. Min. Ama-
cir Catunda) ............... 140 rílio Benjamin) ............ 173
2.767 - DF (ReI. Min. Ama-
rílio Benjamin) ............ 141 DESPACHOS DO MINliSTRO
PRESIDENTE DO TRIBUNAL
2.782 - GB (ReI. Min. Hen- FEDERAL DE ,RECURSOS
rique d'Avila) .............. 145
Agravo em Mandado de Segurança
2.843 - SP (ReI. Min. Moacir e Mandado ,de ,Segurança
Catunda) . . . . . . . . . . . . . . . . .. 148
67.858 - DF 179
Recurso Criminal
69.523 - DF 180
221 - DF (ReI. Min. Márcio
Ribeiro) ................... . 150 70.004 - GB 182
70.851 - DF 184
Recurso Ordinário
175 - OE (ReI. Min. He-
Apelação Cível
noch Reis) 152 23.656 - PE 185
~18 - GB (ReI. Min. Jorge 28.358 - DF 186
Lafayette) .................. 155 30.940 - GB 187
334 - MG (ReI. Min. Moa-
cir Catunda) ............... 161 "Habeas Corpus"
3'69 - GB (ReI. Min. Es- 2.771 - SP 189
dras Gueiros) .............. 162
ATO DO CONSELHO DA
388 - GB (ReI. Min. Es- JUSTIÇA FEDERAL
dras Gueiros) .............. 168
394 - GB (ReI. Min. Ama-
Provimento
rílio Benjamin) ............ 170 83/72 ........................ 193
JURISPRUDÊNCIA

Pág. Pág.
A Alienação de Imóvel
Abono de Emergência Ver Imóvel Público
Ver Ferroviário Apartamento
Abono de Permanência Ver Imóvel Público
Ver Previdência Social Apelação da Justiça Pública

Abono Militar Ver Prazo de Apelação

Militares. Oficiais transferidos Aposentado


para a reserva remunerada. Ver Ferroviário
Gratificação de abono militar.
Substituída pela Lei n.o 4.328, Aposentadoria
de 30-4-64. Não há ofensa ao Aposentadoria previdenciária.
direito adquirido quando a lei Cancelamento posterior sem
nova, com propósito simplifica- motivo plausível. Recursos una-
dor, substitui certas prestações nimemente improvidos.
por uma outra, embora de maior Apelação Cível n.O 32.668 - SP 102
generalidade, com visível pro-
veito do titular daquelas. Aposentadoria-Invalidez
Apelação Cível n.o 29.416 - GB 66
Ver Auxílio-Doença
Ação de Depósito
Apropriação de Café
Ver Café
Ver Café
Ação Executiva Hipotecária
Apropriação Indébita
Ver Contrato de Mútuo
Apropriação indébita. Funcio-
Ação Popular nário público (art. 312, § l.0, do
Código Penal). Justiça Pública
Ver Imóvel Público
versus Bruno Iglésias Simal.
Ação Possessória Ação penal baseada em processo
administrativo regularmente
Ver Terras de Fronteira realizado e em inquérito policial
legalmente feito. Comprovação
Ações de Sociedade Anônima
do delito através da instrução
Ver Quadrilha ou Bando criminaL Confissão do réu. Ine-
xistência da alegada nulidade
Agente Fiscal do processo administrativo, fei-
Ver Readaptação ta pelo réu em seu apelo. Ino-
- 202

Pág. Pág.
corrência, por outro lado, da C
alegada extinção da punibilida- Café
de, pois a prescrição pela pena Controle exercido pelo mc.
concretizada na sentenca não
Acusação de Apropriação de Ca-
retro age à data do crime: mas à
data da denúncia (jurisprudên- fé distribuído à empresa indus-
trial dos Indiciados. Improce-
cia do Supremo Tribunal Fe-
deral, in Rec. de Habeas Corpus dência da Denúncia. I - O cri-
n.o 48.287, D.J. de 25-9-70, pág. me previsto no art. 2.0, do De-
creto-lei nP 47/66 consiste em
4.412). Desprovimento do apelo
despachar por rodovia, ferrovia
para confirmação da sentença
ou fazer transitar, por qualquer
condenatória. Decisão unânime.
Apelação Criminal n.o 1.925 - meio, café de comercializacão
proibida. Não havendo, nos ~u­
MG ........................... 109
tos, prova de todos os seus ele-
- Ver Parlamentar e Peculato lementos constitutivos, dá-se
Aproveitamento de Servidores pelo indeferimento da acusação.
II - Somente comete o crime
Ver Servidores Aproveitados
de apropriação indébita aquele
Autarquia que se assenhoreia de coisa
Ver Imposto de Indústrias e alheia móvel, não o proprietá-
Profissões e Previdência Social rio. Improcedência da ação
(Sentença de fls. 185).
Autônomo Apelação Criminal n.o 1.962 -
Ver Previdência Social PB ........................... 114
Auxilio-Doença - Instituto Brasileiro do Café.
Previdência Social. Detentor de Contrato de depósito de café.
doença cardíaca grave, que o Mercadoria não devolvida. In-
acometeu antes de se ter filiado denização devida. Valor a ser
ao INPS. Auxílio-doença devido, apurado na execução da senten-
visto como, nestes casos, o que ça, tendo em conta o preço pelo
importa é a data da incapaci- qual o Instituto adquiriria o
dade laborativa, decorrente da produto na data do término do
moléstia e de sua evolução. In- contrato.
terpretação do art. 64, da LOPS, Apelação Cível n.O 28.464 - PR 27
que foi indevidamente alterado
pelo regulamento. Direito do Cancelamento de Aposentadoria
segurado à aposentadoria-in- Ver Aposentadoria
validez. Falecido que é, as van-
tagens pecuniárias devem ser Certidão Oficial
atribuídas aos seus beneficiá-
Ver Fé Pública
rios, herdeiros ou sucessores.
Recurso denegado.
Citação por Edital
Apelação Cível n.O 28.833 - MG 58
Ver Fé Pública
B
Bons Antecedentes C.L.T.
Ver Contrabando Ver Despedida de Empregado
- 203

Pág. Pág.
Coação negaI Constrangimento negaI
Ver Fé Pública Ver Expulsão de Estrangeiro
Código Comercial Contrabando
Ver Empreitada
Crime do art. 334, § 1.0, alínea
Competência c, do Código Penal. Ocultação
Reclamação Trabalhista. Pedi- dolosa de mercadorias estran-
do contra Empresa Industrial geiras destinadas ao comércio.
sob o regímen de intervenção do Deu-se provimento parcial ao
Banco Central. Incompetência recurso para reduzir a pena ao
da Justiça FederaL Somente grau mínimo. Decisão unânime.
compete à Justiça Federal pro- Apelação Criminal n.O 1.960 -
cessar e julgar feitos trabalhis- PI ............................ 111
tas em que é parte alguma das COlntrato de Mútuo
entidades enumeradas no art.
110 da Constituição. Tal dispo- Caixa Econômica Federal. Con-
sitivo, por outro lado, não au- trato de mútuo. Débito subordi-
toriza a interferência da União, nado a termo incerto; hipótese
nos termos do art. 125, § 2.°, da em que se torna exeqüível.
Lei Máxima. Por fim, na espé- Apelação Cível n.O 29.574 - MG 68
cie, mesmo que, em princípio, o
processo fosse da competência Contrato de Trabalho
da Justiça Federal, à vista do Reclamação Trabalhista. Mary
novo critério da Carta Magna, a Nazaré Vieira Motta versus
competência da Justiça do Tra- INPS. Contrato sob regime da
balho estaria fixada, na con- CLT, para prestação de serviços
formidade da Lei n.O 5.638, art. como Técnico de Administra-
3.°, vez que houve instrução e ção-Auxiliar, com salário equi-
sentença antes de 30 de outubro valente aos vencimentos iniciais
de 1969. da classe de Técnico de Admi-
Recurso Ordinário n.O 394 - GB 170 nistração. Transferência da re-
- Ver Parlamentar, Previdência clamante para outra carreira
Social, Segurança Nacional e (Assistente de Administração).
Terras de Fronteira. Descumprimento do contrato de
trabalho. Direito à percepção
Cancorrência Pública das diferenças salariais ocorren-
Ver Imóvel Público tes. Sentença confirmada. Deci-
são unânime.
Condenação no Estrangeiro Recurso Ordinário n.o 388 - GH 163
Prisão sob simples suspeita de Correção Monetária
sentença condenatória no es-
trangeiro. Inexistência de or- Ver Seguros Marítimos
dem escrita de autoridade com-
petente que autorize a custódia. Corrupção Ativa
Habeas Corpus. Sua concessão. Recurso provido para o fim de
Recurso de Habeas Corpus n.o reduzir de um terço a pena im-
2.689 - SP .................. 138 posta ao réu, pelo reconheci-
J- 204 -

Pág. Pág.
mento de tentativa, fixando-a, Decreto-lei n.o 314/67
assim, em oito meses de deten-
Ver Segurança Nacional
ção, e, suprindo a proibição de
fornecimento aos órgãos da Decreto-lei n. O 898/69
administração direta e indireta,
Ver Segurança Nacional
para que, a propósito, prevaleça
o que determinar o Poder Exe- Decreto-lei n.O 941/69
cutivo.
Ver Expulsão de Estrangeiro
Apelação Criminal n.O 1.744 -
GB ........................... 106 Decreto-lei n.O 943/69
Corrupção Passiva Ver Servidores Aproveitados
Ver Falsificação Ideológica Decreto-lei n.O 1. 920/62
Ver Readaptação
Crime Contra a Segurança Nacional
Ver Segurança Nacional Decreto-lei n.O 2.063/40
Ver Seguros Marítimos
Crime Praticado por Parlamentar
Demissão negaI
Ver Parlamentar
Ver Reclamação Trabalhista
Curso Especial de Saúde
Dentista
Ver Militar
Ver Militar
D Depósito de Café
Decreto n. O 32.250/55 Ver Café
Ver Readaptação
Descaminho
Decreto n.O 34.828/53 Ver Contrabando
Ver Imóvel Público Despedi.da de EmpregadO
Decreto n.o 40.702156 A presunção emanada do § 3.°,
Ver Readaptação do art. 499, da CLT, de que a
despedida do empregado que te-
Decreto n.O 42.959-A/60 nha alcançado nove (9) anos de
Ver Tratamento Médico serviço considera-se obstativa
da aquisição da estabilidade,
Decreto n.o 47.373/59 não é absoluta, admitindo pro-
Ver Readaptação va em contrário.
Recurso Ordinário n.O 334 -
Decreto n.o 58.859/66 MG ........................... 161
Ver Servidores Aproveitados Documento Falso
Decreto-lei n. O 47/66 Ver Falsificação Ideológica e
Ver Café Quadrilha ou Bando

Decreto-lei n.O 73/66 Doença Cardíaca


Ver Seguros Marítimos Ver Auxílio-Doença
- 205

Pág. Pág.
E Epilepsia
. Empregado Estável Ver Reforma
Direito Trabalhista. Inquérito
contra empregado estável, para Eqüitativa do Brasil
prova de falta grave. Inviabili- Ver Servidores Aproveitados
dade do processo. Segundo a Lei
n. ° 5.638/70, nas relações entre Estabilidade
empregador, que seja órgão pú- Ver Despedida de Empregado e
blico, e empregado estável, a Reclamação Trabalhista
falta grave deve ser provada por
meio de inquérito judicial tra- Estatística
balhista, estando superada a Lei
n.O 1.890/53. Entretanto, haven- Ver Readaptação
do em andamento reclamação Estelionato
dos empregados a indiciar e
também mandado de sentença, Ver Parlamentar
com liminar, contra o ato de
suspensão dos requeridos, é Estrangeiros
evidente que o inquérito carece Ver Falsificação Ideológica
de viabilidade, devendo, portan-
to, ter desfecho preferencial Excesso de Prazo
os processos ajuizados ante- Ver Quadrilha ou Bando
riormente.
Recursos Ordinário n.D 508 - Ex-Combatente
GB .......................... . 173 Ver Previdência Social
Empreitado Expulsão de Estrangeiro
O prazo de um ano para a pres-
Habeas Corpus contra expulsão
tacão da acão do empreiteiro
de estrangeiro. Existência de
co~tra o co~erciante, previsto
filho brasileiro dependente da
no art. 445 do Código Comercial
economia paterna. Alegações
de 1850, não incide sobre as em-
improcedentes. Está sujeito à
presas públicas ou sociedades de
expulsão o estrangeiro que não
economia mista governamen-
se comporta de acordo com as
tais, sem fins especulativos e
regras da lei específica. Impede
organizadas com vistas a regu-
o ato a existência de filho bra-
lar o abastecimento das popula-
sileiro dependente da economia
ções nacionais. Empreitada.
paterna. Não está, no entanto,
Imunizacão. Expurgo. Distri-
em condições de beneficiar-se
buicão. Õ credor de coisa certa
com a exceção legal, o estran-
nã~ pode ser obrigado a receber
geiro que, embora possuindo
outra, ainda que mais valiosa.
filho, o deixa sem assistência,
Apelação Cível n.O 30.964 - RS 75
sob o exclusivo encargo ma-
Enquadramento terno.
Ver Despedida de Empregado Habeas Corpus n. o 2.767 - DF 141

Entorpecente Expurgo
Ver Tráfico de Entorpecente Ver Empreitada
- 206-

Pág. Pág.
Extinção da Punibilidade ria, assim como o mandato, não
Ver Apropriação Indébita e Pe- oferecendo qualquer elemento
culato onde o acusado pudesse ser en-
contrado' salvante o n.O 7.186,
F onde não o foi, explicam a cer-
Falta Grave tidão do Oficial de Justiça, de
Ver Empregado Estável que se achava em lugar não sa-
bido.
Falsificação de Documento Público Habeas Corpus n.o 2.690 - PR 140
Ver Quadrilha ou Bando FeJl"roviário
Falsificação ideológica Ferroviário. Desde que aposen-
Apelação criminal. Denúncia tado após a encampação da
pelos crimes de falsificação Ferrovia pelo Estado, tem di-
ideológica (art. 229 do Cód. Pe- reito aos benefícios do regímen
nal), fraude da lei sobre estran- estatutário, tais como o reajus-
geiros (art. 310), corrupção tamento da Lei n.O 4.242/63,
passiva (art. 317), corrupção aumento da Lei n. O 4.069/62,
ativa (art. 333) e uso de do- abono da Lei n.O 3.531/59 e abo-
cumento falso (art. 304). Sen- no de emergência da Lei núme-
tença condenatória contra um ro 1.765/52, além do acréscimo
dos réus (Idio Nemésio de Bar- de salário-família. Prescrição.
ros e absolutória quanto aos Não revogada a lei concessiva,
outros dois (Said Sirani e Cha- nem negado, na via à sua remu-
leb Nohamad Birani). Apelo da neração, atinge apenas as pres-
Justiça Pública quanto à parte tações mensais que datarem de
absolutória da sentença. Pare- mais de 5 anos.
cer da Subprocuradoria-Geral Apelação Cível n.O 31.401 - PE 85
da República pelo provimento Filho no Brasil
da apelação. Reforma, em par- Ver Expulsão de Estrangeiro
te, da sentença, para condenar
também os dois réus antes ab- Furto
solvidos à pena total de dois Crime de furto (art. 155, § 1.0,
anos e quatro meses para cada do Código Penal). Condenação
um, como incursos nos arts. 304 do réu, na primeira instância,
e 333 do Código Penal. Decisão à pena de 2 anos de reclusão, e,
unânime. face à periculosidade do acusa-
Apelação Criminal n.O 1.966 - do, a mais 2 anos de medida
MT ........................... 115 de segurança. Apelo do réu ale-
gando suposta nulidade do pro-
Fé Pública cesso e não caracterização do
Habeas Corpus. Certidão de Ofi- furto apenas por portar o obje-
cial de Justiça. Fé Pública. A to. Improcedência das alega-
citação por edital depende real- ções. Apelo desprovido para
mente da exaustão dos meios de confirmação da sentença. De-
que disponha o Oficial de Jus- cisão unânime.
tiça, para encontrar o acusado. Apelação Criminal n.O 2.004 -
No caso dos autos, a precató- SP ............................ 122
- 207

Pág. Pág.
I Indenização
Imóvel da União Ver Café e Seguros Marítimos
Ver Contrato de Mútuo Inquérito Trabalhista
Imóvel Público Ver Empregado Estável
Alienação de imóvel do ex- .J
IAPB, na vigência do Decreto JrllUOS de Mora
n.o 34.828/53. O direito do segu-
rado classificado em concorrên- Ver Seguros Marítimos
cia pública a ver ultimada a
transação, pelo preço e nas con-
dições fixadas no edital, não Lei de Segtuoança Nacional
podia ser prejudicado por pro- Ver Segurança Nacional
crastinação da Administração e
nem pela legislação superve- Lei n.O 1.316/51
niente. Inadmissível, de outro
V:er Abono Militar
lado, anular-se a venda de um
só apartamento, por isso que a Lei noO 1.765/52
licitação só poderia ser anulada,
toda ela, se interesse público o Ver Ferroviário
justificasse. Ação popular im- Lei n.o 1.802/53
procedente.
Apelação Cível n.O 28.515 - GB 31 V:er íSegurança NaCional

Imposto de Indústrias e Profissões Lei n.O 2.180/54


Imposto de Indústrias e Pro- Ver Seguros Marítimos
fissões. Imunidade. CF/4ô, art.
31, V. A imunidade constitucio- Lei. n.O 2.370/54
nal das autarquias não permite Ver Reforma
que sobre elas incidam impos-
tos diretos, como o de indús- Lei n.o 3.íl67/56
triase prüfissões. Ação de co- Ver Reforma
brança ajuizada pela Prefeitu-
ra Mun1cipal de Vitória contra Lei n.o 3.531/59
o IBC.
Ver Ferroviálio
'Apelação Cível n.o 29.827 - ES 71
Lei n.o 41,.069/62
Imunidade Tributária
Velr Flerroviário
Ver Impostü de Indústrias e
Profissões Lei. noo 4.242/63
Ver Ferroviário
Imunização
Lei n.o 4.297/63
Ver Empreitada
Ver Previdência Social
Incapacidade Física Lei noO 4.328/64
Ver Auxílio-Doença e Reforma Ver Abono Militar
-208-
Pág. Pág.
Lei n.o 4.728/65 N
Ver Quadrilha ou Bando Naufrágio
Ver Seguros Marítimos
Lei n.o 4.902/65
Ver Reforma Nulidade de Sentença
Habeas Corpus. Sentença nula
Lei n.o 5.488/68 por falta,r o relatório -e não es-
Ver Seg.uros Marítimos tabelecer relação com a defes,a
dos acusados. Ordem >concedida
Lei n.o 5.638/70 sem pllejuízo da ação penal.
Ver Competência e EmpJ:1eg,ado Decisão unânime.
Estável PetiçãoO de Habeas Corpus n.O
2.619 - DF .................. 137
Lei n.O 5.726/71
P
Ver Tráfico de Entorpecente
Paralisação
Lei Orgânica da Previdência Social Ver Segurança Nacional
Ver Auxílio-Doença
Parlamentar
Licitação de Imóvel Alpelação Criminal. Conheci-
Ver Imóvel Público mento. Incompetência da Jus-
tiça Federal. Crime atribuído a
Lucros Cessantes parlamentar. Não constando
Ver Seguros Marítimos dos autos, notificação pessoal
ao ReiPresentante do Ministé,rio
M Público, da sentença, art. 390
Marca de Indústria do Código de Processo Penal, a
apelação deve ser conhecida,
Ver Propriedade Industrial tomando-se a sua data coOmo a
da notícia da decisão. De me-
Marinha Mercante ritis, deve proclamar-se a in-
Ver Previdência Social competência da Justiça Fe-
deral, pois havendoO o fato cri-
Militar minoso sido praticado quandoO 00
Militar. Cmso EspeCial de Saú- requerido ,exercia o mandato
de. Tendo em vista a documen- de deputado federal, a compe-
tação oferecida e a satisfação tência, para 00 processo, é do
das condições estabelecidas em 'Supremo Tribunal, de acordoO
lei para a obtenção do benefí- com a CoOnstituição.
cio requestado, é de se negar Apelação Oriminal n.o 1.984
provimento ao recurso necessá- - CE ........................ 120
rio, confirmando-se a decisão
concessiva do pedido. Peculato
Apelação Cível n.O 32.578 - Peculato (art. 312 do Código
GB ........................... 99 Penal). ,Apelação do réu, pre-
- V;er Abono Militar e Re- tendendo desclassificação. para
forma a modalidade de p e c u I a ,t o
- 209

Pág. Pág.
culposo. Inexistência da extin- Previdência Social
ção da punibilidade, tal como Previdência social. 1) A com-
pretendia, sob a alegação de ter Ipetência atribuída a Juiz esta-
havido ressarcimento do dano. dual, art. 125, § 3.°, da Cons-
1

No ,caso dos autos o réu é res- tituição, para as causas que têm
Iponsável direto ,pela apropria- por objeto beneficio de nature-
ção, não cabendo em seu fa- za pecuniária da previdência
vor a figura do peculato culpo- social, não exige a presença
so, eis que para tanto teria de obrigatória, no feito da União
ocorrer apenas sua atitude de- Federal como assistente da au-
sidiosa, ensej ando que terceira tarquia. 2) Abono de perma-
pessoa loglrass'e causar o pre- nência do segurado, ex-comba-
juízo pecuniário à Administra- tente, ex-assalariado da Mari-
ção, e, na hipótese, não se pro- nha Mercante, hoje contribuin-
vou a existência de qualquer te da categoria de trabalhador
terceiro. Parecer da ISubpro- autônomo, como Prático da
curadoria-Geral da República Barra do Porto de Santos. In-
pela confirmação da sentença. terpretação da Lei n.O 4.297, de
Apelaç.ão desprovida. Decisão 23-12-63, que assegura, aos ex-
unânime. combatentes, aposentadoria na
Apelação Criminal n.o 2.0.62 ·previdência social, após 25 anos
- RJ ........................ 125 de serviço, na base do salário
- Ve:r Prazo de Apelação integral realmente percebido. A
regra vale também para os se-
Perfumaria gurados autônomos, que não
Ver Propriedade Industrial percebem saláJrios, mas esti-
pêndiOS de outra natureza. Va-
Prático de Barra le tanto para a aposentadoria
quanto para o abono de perma-
Ver Previdência Social
nência. O estipêndio do autô-
Prazo de Operação nomo beneficiado pela Lei não
está adstrito ao limite do sa-
Apelação. Prazo. CPP, art. 593. lário-base, de que trata o art.
É tempestiva a apelação se 77 da LOPS. Mas, por isso mes-
prof:erida no prazo devolvido mo que não encontra limites
ao MP, após sua reelama'ção na lei, o esttpêndio do autôno-
no sentido de que a sentença mo, nesse caso, há de ficar
fosse publicada e registrada. submetido a uma instância de
Recurso Criminal n.O 221 - DF 150 prova da sua normalidade,
através de informações das
Precatória
fontes pagadoras, comparação
Ver Fé Pública com os rendimentos declarados
para efeito de imposto de ren-
Prescrição
da, e outras, a fim de que se
Ver Apropriação Indébita e não cometam abusos contr:a a
Ferroviário previdência social. Casos dos
autos: declaração de estipên-
Prescrição de Ação
dio, como Prático de Barra,
Ver Empreitada igual a mais de 45 vezes o
- 210

Pág. Pág.
maior salári.o-mínimo do País, trata-se de volumoso processo,
e mais de 4,3 vez'es o vencimen- envolvend.o inusitado número
t.o de um Juiz Fedeml substi- de réus. E, por isso, insus1ceptí-
tuto. Remessa, à fase da exe- vel de deslinde dentr.o dos pra-
cuçã.o, da fixação d.o montante zos exíguos da lei. E, dad.o que
verdadeiro, para as restituições .o paCiente se encontra pres.o
ou compensações devidas. por dete,rminação de aut.orida-
Apelação Cível n.o 29.224 - SP 60 de judiCial competente, não
- Ver ,Aposentadoria, Auxílio- resta senão haver como preju-
Doença e Tratamento Médieo dicadaa ordem.
Habeas Corpus n.o 2.782 - GB 145
Prisão Injustificada Qüinqüênios
Ver Condenação n.o Estrangeiro Ver Servidores Aproveitados

Processo Administrativo R
Readaptação
Ver Apropriação Indébita
Readaptação. Provado o de-
Promoção sempenho ininterrupto, p.o r
mais de dois anos de atribui-
Ver Reforma ções estranhas ao carg.o de que
o funcionário é titular, e pró-
Propriedade Industrial priasao que vem exercitando,
Pr.opriedade industrial. Marca e satisfeit.os os demais requisi-
de indústria e c.omérci.o. Mar- t.os legais, procede o pedido de
cas "Gibbs" e "Gibi", para ar- readaptação. A lei posterior,
tigos de perfumaria e t.ou.cad.or. que regulamenta .o exercício
Ainda c.olocand.o-se o examina- pmfissi.onal de estatístico, nã.o
d.or na p.osição do consumid.or se aplica às situações indivi-
ingênu.o ou despreocupado, o duais c o n s t i t u í das ant,e-
cotej.o não revela colidência das ri.ormente.
marcas, bem distint.os .os carac- Apelaçã.o Cível n.O 28.530 - GB 54
teres gráficos e fônicos de uma - Servidor público. Readapta-
e .outra. çáJo com.o Agente Fiscal d.o Im-
Apelação Cível n.O 29.2,69 - GB 63 p.osto de Renda. Satisfeitas as
exigências legais, faz jus .o ser-
Q vid.or à pretendida readapta-
Quadrilha ou Eando çã.o. Sentença que se c.onfirma,
,em parte.
Delitos previstos n.os arts. 233, Apelação Cível n.O 31.618 - RS 83
297 e 304 do Códig.o Penal, 73
e 74 da Lei n.o 4.723/65. Habeas Reclamação Trabalhista
corpus. Pedid.o prejudicado, da- Reclamação trabalhista. 8ervi-
do que, embora haj a decorrido dora amparada pelo art. 177,
tempo capaz de ensejar, em § 2.°, da Constituiçã.o Federal
prinCÍipio, a libertaçã.o preten- de 1967. Demissão indevida.
dida, p.or 'p.ossível excesso de Direito à reintegração que se
prazo para a f.ormulação da lhe assegura.
culpa, c.onvém salientar que Recurso Ordinário n.O 175 - OE 152
- 211

Pág. Pág.
- Ver Contrato de Trabalho e Procedência do conflito e com-
Despedida de Empregado petênCia ao Dr. Juiz de Direito
suscitado.
Reforma Conflito Negativo de Jurisdi-
Milita,r. Reforma com promo- ção n.O 1.276 - PR ........... 13,1
ção. Lei n.o 2.370!54, arts. 27,
30, d, 31 e 33, b. A paralisia fa-
1
- ,Conflito Negativo de Juris-
cial, incapacitante para o ser- dição. Fatos ditos subversivos
viço militar, inclui-se 'entre as cont,ra as autoridades e a edi-
moléstias que dão direito à re- lidade municipais, não confi-
forma da praça com qualquer gurados como atentatórios à
tempo de serviço e promoção ao Lei de Segurança Nacional. Re-
posto subseqüente. síduos de crimes comuns da
Apelação Cível D.O 30.695 - GB 73
competência da justiça local.
Procedência do conflito susci-
- Reforma de militar,porta- tado pelo Conselho Permanente
dor de epilepsia temporal, in- da !l.a Circunscrição Militar,
capacitado definitivamente pa- nesta capital.
ra o serviço, sem poder prover Conflito Negativo de Jurisdi-
os meios de subsistência. Devi- ção n.o 1. 286 - DF .......... 133
dos os proventos de 3. 0 -Sargen-
,to, visto como sua incapacidade
decorreu de acidente sofrido Seguros Marítimos
quando incorporado, embora Seguros Marítimos. Tribunal
fora de instrução. ApUcação do Marítimo: natureza e atribui-
disposto no § 3.°, art. 28 e sua ções. Exegese do art. 18, da Lei
letra d, tudo da Lei n.o 4.902/65. n.O 2.180, de 5-2-19M, em face
ISentença confirmada. do a,rt. 153, § 4.°, da Emenda
Apelação Cível n.O 32.268 - GB 97
Constitucional n.O 1, de 1969.
Livre é, em princíp10, ao Poder
Ressarcimento do Dano Judiciário conhecer da matéria
Ver Peculato decidida pelo Tribunal Marí-
timo; suas decisões não têm
Reserva Remunerada efeito de coisa julgada. As con-
clusões, de natureza técnica,
Ver Abono Militar
do Tribunal Marítimo, inscre-
vem-se, entretanto, no parti-
Réu Primário
cular, entre as provas de maior
Ver Contrabando valia, devendo merecer a mais
destacada consideração, de juí-
s zes e tribunais, por tratar-se de
órgão oficial e especializado.
Segurança Nacional
Sem prova mais convincente em
Conflito de Jurisdição. Não contrárío, nada autoriza se des-
tendo havido incitamento àpa- prezarem as conclusões técni-
ralisação de serviços públiCOS cas do Tribunal Marítimo. Ação
por parte dos acusados, não se de cobrança de seguro maríti-
configura o crime do art. 33, mo procedente. NaufrágiO jul-
V, do Dec.-lei n.o 314, de 1967. gado pelo Tribunal Ma;rítimo
- 212
Pág. Pág.
como decorrente de fortuna do a utarquia Caixa Econômica Fe-
mar, não convencendo as ale- deral, de acordo com o Decreto
gações em contrário das segu- n.o58.859/66, sob regime da
radoras, no sentido de tratar- CLT, devem ser incluídos nos
se de "naufrágio fraudulento". quadros organizados pela Cai-
Os juros moratórios devem ser xa Econômica Federal. Empresa
contados a partir do décimo pública, na forma do Decreto-
sexto dia da e n t r e g a da lei n.o 943/69, juntamente com
documentação do sinistro (Cód. os demais servidores que, por
Com., art. 730). Improcedente efeito de opção, estão sujeitos
pedido de lucros cessantes, em à legislação trabalhista. Por
face do disposto no art. 16,2, do força, porém, do art. 2.°, do De-
Decreto-lei n.O 2.063, de 7 de creto-lei n.o 943/69, os qüin-
março de 1940. Correção mone- qüêniosestão congelados, in-
tária do valor do seguro con- clusive para o pessoal estatutá-
tratado; sua inadmissão no rio.
caso concreto. No regime ante- R e c u r S o Ordinário n.o 218
rior à Lei n.o 5.488, de 27-3-1968, - GB ........................ 155
operava o art. 182 do Decreto-
lei n.o 2.0163 de 7-3-1940, como Servidor Público
norma prefixadora da indeni-
zação maxlma, estabelecendo Ver Aipropriação Indébita e
limite à responsabilidade de Readaptação
segurador, embora estivesse ve-
dada a estipulação de cláusula Subversão
de c o r r e ç ã o monetária, no Ver Segurança Nacional
contrato de seguro. Natureza do
art. 14 do Decreto-lei n.o 73 T
de 21-11-1966. Sem cláusula ex-
pressa no contrato de seguro, Técnico de Administração
somente é cabível correção mo- Ver Contrato de Trabalho
netária nesta matéria, na vi-
gência da Lei n.o 5.488, de Tentativa
27-8-1968, a qual não incid1rá,
em se tratando de contrato que Ver Corrupção Ativa
lhe for anterior.
Terras de l"J:1onteira
Apelação Cível n.o 28.3188 - GB 3
Ação envolvendo Terras de
Sentença Nula Fronteira. Juízo competente.
Conflito de jurisdição. Julga-
Ver Nulidade de Sentença mento prejudicado. Em princí-
pio, a Justiça Federal é com-
Servidores Aproveitados petente para julgar ação entre
particulares envolvendo terras
C a i x a Econômica. Servidores de fronteira, que são do domí-
aproveitadOS. Quadros de pes- nio da União. Entretanto, acór-
soal OLT. Os empregados da dão do Supremo Tribunal, que
"A E:quitativa dos Estados Uni- recusa a possibilidade da União
dos do Brasil", aproveitados na intervir, já em grau de recurso
- 213-
Pág. Pág.
extraordinário, prejudica o in- DESPACHOS EThI RECURSOS
cidente de incompetência le- EXTRAORDINARIOS
vantado no processo.
Ação de Reivindicação
Conflito Negativo de Jurisdição
n.o 904 - PR ................. 127 Nulidade de Escritura. Prazo,
da prescrição da ação de decla-
Trabalhador Autônomo ração de nulidade absoluta de
Ver Previdência Social escritura de venda e compra de
bens gravados com a cláusula
Tráfico de Entorpecente de inalienabilidade é de trinta
Habeas Corpus. O processo de anos.
rito sumá:rio, específico ao cri- Apelação Cível n.O 23.656 - PE 185
me de tráfico de entorpecente,
d i sc i P I i n a d o pela Lei n.o Capitais Estrangeiros
5.726/71, admite a aplicação Lei n.O 4.131/62. Decreto n.O
subsidiária das normas do Có- 55.762/65. O registro do capital
digo de Processo Penal. Des- estrangeiro fica condicionado à
procede p e d i d o de habeas efetividade da transfe:rência do
corpus, feito sob a a alegação mesmo, para o Brasil, na moeda
de cerceamento da defesa, por- do País de origem.
que esta se fez, como foi pos-
sível fazê-la, e o processo não Agravo em Mandado de Segu-
demonstra a existência de qual- rança n.o 7.0.004 - GB 182
quer prejuízo aos direitos do
paciente, a quem cumpria, por Diárias de Brasília
seu defensor, colaborar leal- Oficiais da Reserva Remunera-
mente com a Justiça, no inte- da. Ação julgada procedente
resse da rápida solução do em parte.
caso.
Apelação Cível n.O 28.358 - DF 186
Habeas Corpus n.o 2.843 - SP 148
Incompetência
Transporte de Café
Ver Café Registro de dados em carteiras
profissionais diversos dos velr-
Tratamento Thlédico dadeiros. I n c o m p e t ê n c i a
da Justiça Federal para julgar
Previdência Social. Despesas o feito.
com Tratamento Médico. O re- Habeas Corpus n.o 2.771 - S? 189
embolso das despesas de trata-
mento depende de comprovada
Thlagistrado
urgência (art. 121, VIII, De-
creto n.o 42. 959-A/60) ; negada Juiz de Direito de Comarca do
esta urgência,pelo INPS, im- antigo Território do Acre, pos-
procedente é a ação. to em disponibilidade. Preten-
Apelação Cível n.o 31.989 - S? 94 são a obter promoção a Desem-
bargador. Negado provimento.
Tribunal Thlaritímo M a n d a d o de Segurança n.o
Ver Seguros Ma:rítimos 67.858 - DF ................. 179
- 214-

Patente Servidor Lotado no Exterior


Registlro de marca mantido. Numerário recebido a mais.
Agravo em Mandado de Segu- I>esnecessidade de reposição,
rança n.O 69.523 - DF ...... 180 quando calracterizada a boa-fé.
Apelação Cível n.O 30.940 - GB 187
Professor
Pena de apostilamento no seu PROVIMENTO DO CONSEW,O
registro de professor da sua DA JUSTIÇA FEDERAL
incapacidade moral para le- Pedidos de "Habeas Corpus"
cionar em qualquer estabeleci-
mento do País. Seu cancela- Feriados e Plantões. Fixa nor-
mento. mas para a Seção Judiciária
Mandado de 8egurança n.o do Estado de São Paulo.
70.851 - I>F ................. 184 Provimento n.o 83/72 ......... 193

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