Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ACORDA0 RELATORIO
VÍstos e relatados os autos em que O Sr. Ministro Armando
são partes as acima indicadas: Rollemberg: De decisão que, em
ação de desapropriação proposta por
Decide a 4~ Turma do Tribunal Fe- Empresas Nucleares Brasileiras SI A
deral de Recursos. negar provimento - NUCLEBRÁS, contra Melhora-
ao agravo, unanimemente, na forma mentos Juréia Sociedade Civil Ltda.,
do relatório e notas taquigráficas deferiu, em janeiro de 1981, imissão
constantes dos autos que ficam fa- liminar na posse de imóvel mediante
zendo parte integrante do presente o depósito de importância calculada,
julgado. tendo em conta informação do IN-
eRA sobre o valor mínimo da terra
nua no Município de Iguape, no ano-
Custas como de lei. base de 1979, foi apresentado agravo
de instrumento que, regularmente
processado, deu causa à prolação de
Brasília, 29 de setembro de 1982 despacho assim formulado:
(data do julgamento) - Ministro
Armando Rollemberg, Presidente e «Acolho o agravo, para determi-
Relator. nar seja complementado o depósito
36 TFR - 100
próprias leis por vezes lhes transmu- do Direito, cuja autonomia os seus
dam os conceitos como sói aconte- cultores insistem em proclamar,
cer no Código Civil (art. 178, § 10, in- mas que resulta, na realidade, mais
cisos I a IV e VIII), entre outras nor- da necessidade didática, não interfe-
mas de diplomas legais diversos (ver rindo na substância da Ciência
Carlos Maximiliano - Hermenêutica Jurídica como um todo, que os intér-
e Aplicação do Direito). Portanto, o pretes e aplicadores dos textos le-
emprego da boa técnica judicante gais se socorram, costumeiramente,
para separar os conceitos não impor- da fonte geradora que é o Código Ci-
ta em dar solução extra ou ultra viL A experiência dos povos, social,
petita à res in judicio deducta. econômica e política, fez estreitar
A segunda objeção, retruco com a progressivamente o espaço concei-
afirmação de não constituir direito tual entre Direito Público e Direito
patrimonial, mas obrigacional, o que Privado. O próprio Código Tributário
concerne ao recolhimento de contri- Nacional, eminentemente publicista,
buições previdenciárias. In casu, a dispõe no artigo 109:
autora, notificada a recolher o débito «Art. 109. Os princípios gerais
contra ela levantado pelo réu, a este de direito privado utilizam-se para
se antecipou, visando a evitar o ajui- pesquisa da definição, do conteúdo
zamento da execução fiscal, e inten- e do alcance de seus intitutos, con-
tou a ação anulatória. ceitos e formas, mas não para defi-
nição dos respectivos efeitos tribu-
Muitos confundem direito patrimo- tários.»
nial com efeito patrimonial. Assim é O art. 110, reciprocamente, diz
que do exercício de um direito pes- que «a lei tributária não pode alterar
soal ou obrigacional quase sempre a definição, o conteúdo e o alcance
surgem conseqüências patrimoniais de institutos, conceitos e formas de
para a parte sucumbente na ação. direito privado»,. etc.
Contudo, tomar o efeito pela causa
levaria o intérprete a restringir o Natural que assim seja, tendo em
âmbito da atuação do juiz à quase vista o inter-relacionamento pro te-
impossibilidade de pronunciar ex cional às entidades pÚblicas e priva-
officio a prescrição, aplicando as re- das a que cada ramo do Direito se
gras dos artigos 219, § 5?, e 295, inci- dirige, no afâ de compor, equanime-
so IV, do Código de Processo CiviL mente, os conflitos de interesses pa-
Encontraria o julgador óbice no art. ra o alcance do bem comum.
166 da lei substantiva, porque o A decadência, de que trata o arti-
exercício do direito de ação, na go 173 do CTN, é instituto pré-
grande maioria dos casos, objetivas processual, de ordem pública, e, no
conseqüências patrimoniais. que respeita à ação judicial, esta
Na sua acepção estrita, direito pa- não poderá vingar se decadente o di-
trimonial é o que se relaciona a bens reito à constituição do crédito. Ao
e coisas (direitos a eles relativos). juiz é dado pronunciá-la, sempre que
Daí a criteriosa divisão sistemática ocorrente, pois que ela opera ex
estabelecida pelo legislador no Códi- tunc, independentemente de provo-
go Civil Brasileiro: Parte Geral: Das cação da parte.
Pessoas - Dos Bens, etc.; Parte Com essas considerações, passo ao
Especial: Direito de Família - Di- exame do mérito propriamente dito.
reito das Coisas - Direito das Obri- II - Estou em que a sentença de-
gações - Direito das Sucessões. cidiu com acerto a controvérsia, co-
Não é de se estranhar que no trato mo se verifica da sua fundamenta-
de questões ligadas a outros ramos ção (fls. 216/218):
52 TFR - 100
A fI. 63, O acórdão faz referência aa. seu sentido social; estando, de
a três Súmulas do Supremo Tribu- outra parte, compreendidas essas
nal Federal, concernentes à maté- parcelas mensais no âmbito do art.
ria em exame: «207 - As gratifica- 69, § 1?, da LOPS, e art. 173, I, do
ções habituais, inclusive a de Natal,' RGPS, inclusive, por sua natureza
consideram-se' tacitamente conven':: e em face da habitualidade de seu
cionadas, integrando o salário.» pagamento, em que pese o brilho do
«209 - O salário-produção, como trabalho trazido aos autos pelas
outras modalidades de salário- aa., força é concluir pela improce-
prêmio, é devido, desde que verifi- dência integral da ação proposta
cada a condição a que estiver su- contra o INPS».
bordinado, e não pOde ser suprimi- A remição de dívidas fiscais, con-
do, unilateralmente, pelo emprega- cedida à apelante, decorreu de ato
dor, quandO pago com habitualida- do Min. da Fazenda, só abrangendo,
de.» portanto, impostos e taxas federais,
«459 - No cálculo da indenização não se estendendo a contribuições
por despedida injusta, incluem-se previdênciárias, cuja natereza tribu-
os adicionais, ou gratificações, tária é de outra índole e sob controle
que, pela habitualidade, se tenham adminitrativo independente.
incorporado ao salário.» (pág. 63). Concluo, finalmente, o meu voto:
Não vale, data venia, na espéCie, Mantenho, por sua conclusão, a de-
que os valores em exame, pagos cisão de primeira instância e, em
aos empregados, com habitualida- conseqüência, nego provimento às
de, mês a mês, não o sejam em pa- apelações.
gamento dos serviços que prestam
às empresas. Não se trata, aí, se- EXTRATO DA MINUTA
quer, de abonos eventuais ou grati-
ficações semestrais, ambos de AC. 43.966-MG. ReI.: Sr. Min. Amé-
qualquer forma também sujeitos à rico Luz. Aptes.: Cia. Siderúrgica
incidência do art. 69, § 1?, da Nacional e lAPAS. Apdos.: os mes-
LOPS.» (fls. 63/64). mos.
E trecho ainda do voto do emi- Decisão: A Turma, por unanimida-
nente Ministro Néri da Silveira (fI. de, negou provimento às apelações.
66): «De todo o exposto, não se po- (Em 2-12-81. 6~ Turma).
dendo, por força de lei, considerar Participaram do julgamento os
os quantitativos em exame Exmos. Srs. Mins. José Dantas e
«salário-família, para os efeitos de Wilson Gonçalves. Presidiu o julga-
isenção de contribuição previden- mento o Exmo. Sr. Min. José Fer-
ciária, muito embora anotem as nandes Dantas.
APELAÇAO CtVEL N? 45.256 - SP
Relator: Ministro José Cândido
Apelante: João Elias Sobrinho
Apelado: Instituto Nacional de Previdência Social
EMENTA
Previdenciário Aposentadoria de Ex-
c,ombatente - Proventos integrais - Art. 197, letra
«C», da Emenda Constitucional n? 1.
54 TFR - 100
Único sobre Energia Elétrica, por Apelou a vencida (fls. 87/93). Sus-
efeito do Parágrafo Único do art. 5? tenta que, nos anos de 1972, ,1973,
da Lei n? 5.655 de 20-5-71, que 1974 e 1975, pagou o Imposto Umco
acrescentou o inciso «i» ao § 5? da sobre Energia Elétrica, destacado
Lei n? 2.308, de 31-8-54», indeferiu nas respectivas contas de energia.
os pedidos, alegando que «se houve Todavia, estava isenta, por ser esta-
pagamento indevido de tributo, a belecimento industrial (art. 4?, § 5?,
omissão é de sua exclusiva respon- I, da Lei n? 2.308, de 31-8-54, com a
sabilidade». redação da Lei n'? 5.655, de 20-5-71).
Junta procuração e documentos. Sustenta que ela, apelante, é o sujei-
to passivo da obrigação principal, já
Citada, a União Federal contes- que a distribuidora de energia elé-
tou, argüindo, preliminarmente, trica é mera arrecadadora do impos-
não ser a autora parte legítima no to. Invoca os artigos 6? e 7? do De-
feito, pois o fato gerador é a distri- creto n? 68.419, de 25-3-71. Por outro
buição de energia, sendo o contri- lado, em momento nenhum foi nega-
buinte do imposto a empresa dis- do que a autora suportou o ônus do
tribuidora de energia e não o con- tributo. Menciona o Decreto 68.419,
sumidor. A parte legítima para pe- de 25-3-71, art. 21, o RIPI, a Lei n'?
dir a restituição seria a distribui- 4.502/64, art. 32, Parágrafo único e
dora de energia, sujeito passivo da atos normativos dos Fisco. Conclui
obrigação tributária, nos termos por pedir a reforma da sentença, pa-
do art. 121 do CTN. ra o fim de ser a ação julgada proce-
No mérito, trata-se de imposto dente.
indireto, não passível de restitui- Respondeu a apelada (fls. 95/96).
ção, conforme as Súmulas n? 71 e Diz, em resumo, que a apelante é ca-
546, do STF. recedora da ação por não ser parte
Pede a improcedência do pedido, legítima no feito, pois o fato gerador
juntando as informações da Procu- do imposto único em questão é a dis-
radoria da Fazenda Nacional deste tribuição de energia elétrica, sendo o
Estado. contribuinte do imposto a empresa
A autora falou sobre a contesta- diStribuidora de energia e não o con-
ção à fI. 65 e seguintes.» (fls. sumidor.
80/82). Nesta egrégia Corte, oficiou a ilus-
A sentença, ao cabo, julgou a auto- trada Subprocuradoria-Geral da Re-
ra carecedora do direito de ação, pública, às fls. 100/103. Preliminar-
condenando-a no pagamento da ver- mente, pediu a reforma da sentença,
ba honorária de Cr$ 1.000,00. face ao duplo grau de jurisdição, na
parte em que arbitrou a verba hono-
O argumento fundamental da sen- rária, para o fim de ser referido ar-
tença é este: a autora, consumidora bitramento retificado, observando-se
de energia elétrica, não é o sujeito a regra do § 3? do art. 20, CPC. No
passivo da obrigação tributária. mérito, opina no sentido do desprovi-
Trata-se de um imposto indireto - o mento do apelo.
Imposto. Único sobre Energia Elétri-
ca - figurando a autora como con- E o relatório.
tribuinte de fato. O CTN prevê a pos-
sibilidade da repetição do indébito VOTO
pelo sujeito passivo (art. 165). Toda- O Sr. Ministro Carlos Mário
via, por não ser a autora o sujeito Velloso: (Relator): Em verdade, dis-
passivo da obrigação tributária, é põe o art. 4?, parágrafo 5?, i, da Lei
ela carecedora da ação. n? 2.308/54, com a redação dada pela
58 TFR - 100
Lei n? 5.655, de 20-5-71, art. 5?, pará- energia elétrica, o certo é que a le-
grafo único, que os consumidores in- gislação pertinente ao imposto único
dustriais estão isentos do pagamento em debate deixa expresso que o seu
do imposto único sobre energia elé- pagamento corre por conta do consu-
trica. midor <Decreto n? 68.415/71, art. 6?).
O Decreto n? 68.415, de 24-3-71, art. In casu, repete-se, a União Fede-
6?, dispõe, outrossim: ral não nega que a autora suportou o
«Art. 6? O Imposto Único será seu ônus, vale dizer, pagou o
arrecadado nas contas de forneci- quantum que deseja seja restituído.
mento expedidas obrigatoriamente A autora, entretanto, dele estava
pelos distribuidores de energia elé- isento.
trica, devendo delas constar, des- A sentença, no particular, isto re-
tacadamente das demais, a quan- conhece, ao escrever:
tia do imposto devido, calculado
este, de acordo com a tarifa fiscal «Não se discute, na hipótese, sub
vigente na data do faturamento. judice se o autor deve ou não pa-
gar o Imposto Único sobre Energia
Parágrafo único: ............... » Elétrica. No âmbito administrativo
O art. 7? do referido Decreto foi reconhecida sua condição de es-
68.415/71, estabelece, em seguida, tabelecimento industrial, isento,
que «o produto da arrecadação do pois, deste tributo, conforme pare-
Imposto Único, verificada durante ceres de fls. 27 a 32:
cada mês de calendário, será reco- «Com efeito, os consumidores in-
lhido pelos distribuidores de energia dustriais foram incluídos entre os
elétrica, dentro dos 20 (vinte) pri- que estão isentos do Imposto Único
meiros dias do mês subseqüente, sobre Energia Elétrica, por efeito
mediante guia própria ... » do parágrafo único do art. 5? da
In casu, a União Federal não ne- Lei n? 5.655, de 20-5-71, que acres-
gou que a autora, ora apelante, su- centou o inciso i ao § 5? da Lei n?
portou o ônus do tributo. A sua ale- 2.308, de 31-8-54». (FI. 82).
gação resume-se no dizer que o fato
gerador do tributo é a distribuição III
da energia, sendo contribuinte do
imposto a empresa distribuidora e O CTN, art. 121, estabelece que o
não o consumidor. Assim, seria a au- «sujeito passivo da obrigação princi-
tora carecedora da ação, porque não pal é a pessoa obrigada ao pagamen-
é sujeito passivo da obrigação tribu- to de tributo ou penalidade pecuniá-
tária (CTN, art. 121). Por tratar-se ria». Sujeito passivo, portanto, é
de imposto indireto, não seria aquele que, por lei, está obrigado a
passível de restituição (STF, Súmu- pagar o tributo ou penalidade pecu-
las 71 e 546). niária.
Nos incisos I e II do parágrafo úni-
II co, do mesmo art. 121, o CTN distin-
gue, dentre os sujeitos passivos da
A questão, todavia, não pode ser obrigação principal, o contribuinte,
posta simplesmente assim. propriamente dito, e o responsável.
Ambos, todavia, são sujeitos passi-
Aceita-se que o imposto em debate vos da obrigação tributária princi-
é indireto, mesmo porque a questão, pal. O contribuinte é o que tem rela-
sob tal aspecto, é irrelevante. ção pessoal e direta com a situação
Mesmo aceitando-se que o contri- que constitua o respectivo fato gera-
buinte, no caso, é o distribuidor de dor (art. 121, I); responsável, quan-
TFR - 100 59
lho r tradição do nosso Direito, a «Essa gleba, que não contém ter-
começar pelo Romano, o conceito renos de marinha, fica situada na
de imóvel rural não é estritamente zona rural da Subprefeitura de
jurídico, mas econômico e social; Bertioga, Município de Santos, e
sem embargo de que haja funda- está localizada entre as Praias da
mentos jurídicos a levar ao mesmo Enseada, da Bertioga e de São
entendimento, cabendo acentuar Lourenço e Rio Itapanhaú, na Fa-
que a própria conceituação jurídi- zenda Itapanhaú, ... »
ca não é somente administrativa, De tal conceituação, não discre-
pois também reflete os aspectos pam os outros laudos, assim, diz o
próprios do Direito CiviL do Assistente-Técnico do Expro-
Veja V. Exa., Sr. Ministro Antô- priante (fls. 94):
nio de Pádua Ribeiro, que a emen- «A área em questão situa-se na
ta do Supremo Tribunal Federal se zona rural de Bertioga entre as
reporta a Direito Civil. Praias da Enseada e São Lourenço
Pois bem, no Direito Civil Brasi- e o Rio Itapanhaú, no município de
leiro a qualificação do imóvel (!o- Santos.»
mo urbano ou rural não se faz uni- E, ao analisar o laudo do Perito
camente pelo ângulo que predomi- Oficial, o Assistente-Técnico do ex-
na no Direito Administrativo. propriado não opõe, nesse ponto,
No Direito Civil Brasileiro, asse- qualquer Objeção, aduzindo que
guro que V. Exa. não encontrará (fls. 78):
precedentes jurisprudenciais signi- «O signatário concorda com a
ficativos a considerar rural a casa vistoria efetuada pelo digno Perito
de residência ou de recreio, situa- Judicial bem como com a descri-
da embora em zona rural; é, no en- ção pormenorizada da localização
tanto, imóvel situado em zona ru- do imóvel avaliado».
ral.
Rural, embora, sob o aspecto do IV
Direito Administrativo, qualifica-
se urbano o imóvel, no entanto, se- Por último, cabe aduzir que, ain-
gundo o Direito Civil, por sua des- da que se admita seja indenizável
tinação, vocação, finalidade ou ca- a área em discussão, jamais o se-
racterísticas, aliadas a inúmeras ria com a extensão preconizada na
circunstâncias. sentença e no voto do ilustre Relator,
Eis aí algumas razões que acres- isto é, na consideração de ser a
cento às inicialmente expostas, pa- sua profundidade de 15m em cada
ra entender indenizável o dano pa- uma das margens da rodovia. Com
trimonial decorrente da prOibição efeito, o art. 572 do Código Civil, ao
de ampla utilização (edificação) tratar das limitações ao direito de
da área marginal ao leito da rodo- construir, permite que as estabele-
via, embora reduza a indenização çam os regulamentos administrati-
à metade do valor das terras, ape- vos. Na espéCie, em se tratando de
nas» (195/199). ródovia federal, aquela regulamen-
tação fixou o referido recuo em 3
4. O eminente Ministro Antônio metros na zona urbana e 5 metros
de Pádua Ribeiro assim se posicio- na zona rural. Nesse sentido, assi-
nou: nala este trecho da ementa que en-
«De assinalar que, no caso, cima o acórdão proferido pela anti-
trata-se de imóvel rural, assim ex- ga 3~ Turma na AC 57.391-SP, da
pressamente qualificado no laudo qual foi Relator o ilustre Ministro
oficial (fls. 55-56): Carlos Mário Velloso:
72 TFR - 100
12. Estou, ~ois, em que o fato de 14. Assim sendo, com a devida
ser rural o imóvel atingido não ex- vênia das respeitáveis opiniões em
clui a obrigação de indenizar a per- contrário, fico com o citado voto
da do direito de construir. vencido e recebo os embargos.
13. Mas, quando assim não fosse,
no caso concreto eu ainda ficaria VOTO
com o voto vencido do eminente Mi-
nistro Romildo Bueno de Souza. Em O Sr. Ministro Wilson Gonçalves:
primeiro lugar, em voto que proferi Sr. Presidente, ante o magnífiCO voto
como Relator na AC 61.1l8-MG, tive que acaba de proferir o eminente
oportunidade de sustentar, com base Relator, Ministro Justino Ribeiro, a
na Lei n? 5.863/72, que não é a locali- matéria assume um aspecto de
zação, mas a destinação, que carac- maior relevância ainda, vez que S.
teriza o imóvel como rural ou urba- Exa., no desenvolvimento da tese,
no. Tive a honra de ser acompanha- chegou às culminâncias. No· entanto,
do nesse entender pela egrégia 5~ não podendo alcançar tamanha altitu-
Turma, em julgamento de 19-8-81. E de, continuo na planície, para ater-me
é exatamente o que S. Exa. sustenta aos elementos constantes do processo,
no caso presente, conforme li no Re- que são sem dúvida a visualidade para
latório. E que o imóvel em questão o julgador.
contém loteamento, ainda que pri- Entre as definições de terreno ur-
mário, e está compreendido em área bano e terreno rural, que a própria
vocacionada para tal - no dizer de lei pode indicar, e nós podemos defi-
S. Exa. - é fácil extrair-se dessa nir de maneira diversa, sinto-me in-
simples passagem do laudo: clinado a aceitar a informação, que
me parece tecnicamente adequada,
«O perito pÔde constatar, percor- manifestada através da perícia. Se a
rendo a região, que as terras são distinção entre terreno urbano e ru-
destinadas, todas elas, a loteamen- ral tivesse, ao tempo da propositura
tos em pequenos terrenos ........ . da ação de desapropriação, a impor-
tância e o relevo que se está dando
nos embargos, seria surpreendente,
Assim, o que pÔde obter foram senão admirável, o silêncio, a omis-
valores pelos quais se realizam são ou a c,Oncordância implíCita do
transações em lotes de terrenos Assistente Técnico dos expropriados,
pertencentes a loteamentos exis- não focalizando a particularidade,
tentes há j á algum tempo e de não com o brilho do eminente Rela-
cujos valores organizamos tabela tor, mas pelo menos com a singeleza
para os situados nas Praias da En- de uma informação que pudesse pa-
'seada e São Lourenço, uma vez recer uma divergência em relação
que a área objeto desta avaliação ao Perito Oficial.
se situa entre esses loteamentos Dentro das coordenadas com que
que se encontram bem ativados. temos julgado, sinto-me inclinado a
Revela notar que eles não pos- ater-me, como disse, a esse elemen-
suem qualquer infra-estrutura, es- to primordial numa ação de desapro-
tão tão-somente demarcados os lo- priação, que é a perícia. De acordo
tes e quadras e abertas as vias de com a orientação do Supremo Tribu-
acesso aos vários lotes, porém sem nal Federal, que é sem dúvida o
qualquer tipo de pavimentação. mais elevado arauto do Direito em
Pode-se dizer serem tais loteamen- nosso País, ouso divergir do voto do
tos absolutamente primários.» (fls. eminente Relator e, por isso,
56/57) . manifesto-me no sentido da rejeição
TFR - 100 79
Daí o recurso apelatório em que a ria, 1976, pág. 44; outros que se cuida
autarquia exeqüente alega que, co- de tributo não vinculado (imposto)
mo o executado não fez a prova do (Geraldo Ataliba, Salário-Educação
seu enquadramento na Lei n? - Natureza Tributária, Revista de
3.557/59, não se lhe pOde reconhecer Direito Público, voI. 21, pág. 271);
a isenção, insistindo o embargante, terceiros, que se trata de contribui-
nas suas contra-razões, no acolhi- ção especial de natureza tributária
mento da argüida inconstitucionali- (Ruy Barbosa Nogueira, Curso de
dade de se lhe exigir a contribuição Direito Tributário, Ed. Saraiva, 1980,
questionada. págs. 118, 131, 157).
Conforme se depreende da leitura
II dos citados precedentes jurispruden-
ciais e dos escólios apresentados pe-
A solução da questão constitucio- la doutrina, não constitui tarefa fácil
nal envolve o conceito acerca da na- situar-se em torno da matéria, tendo
tureza jurídica .do salário-educação, em conta especialmente os reflexos
tema dos mais controvertidos e que, jurídicos oriundos da opção concei-
a meu ver, ainda por muito tempo, tual, tornando-se, por isso, árduas as
deverá ensejar prolongados debates soluções das multifárias questões
jurisprudenciais e doutrinários. concretas, cujo deslinde vem sendo
No Excelso Pretório, or9- se tem pleiteado junto ao Judiciário.
entendido que o : salário-educação
constitui preço público (v"er votos III
dos eminentes Ministros Cunha Pei-
xoto e Xavier de Albuquerque no RE Após meditar sobre o tema, afi-
83.662-RS, RTJ 83, págs. 445 e 450); gurou-se-me que o salário-edu-
ora contribuição parafiscal com na- cação consubstancia, na verdade,
tureza de imposto (RE 82.483, 2~ T. contribuição especial com índole tri-
julgo 24-10-75, Relator o Sr. Ministro butária.
Moreira Alves, que, posteriormente, Eis o texto do art. 178 da Constitui-
passou a conceituá-lo como contri- ção (redação da E.C. n? 1/69):
buição especial - RÉ 83.662-RS, RTJ
83, pág. 454); ora cómo contribuição «As empresas comerciais, indus-
sui generis, sem carátér tributário triais e agrícolas são obrigadas a
CRE 82.480-RS, RTJ 80/173, Relator o manter o ensino primário gratuito
eminente Ministro Xavier de Albu- de seus empregados e o ensino dos
querque, que esclarece ter sido este filhos destes, entre os sete e os
o entendimento que prevaleceu no quatorze anos, ou a concorrer para
Pleno, ao julgar o RE 83.662-RS). aquele fim, mediante a contribui-
Esta última, pois, é a orientação do- ção do salário-educação, na forma
minante naquela Co lenda Suprema que a lei estabelecer».
Corte. A meu ver, o transcrito preceito
Na doutrina, embora não haj a, previu a instituição do salário-
também, uniformidade de ponto de educação, através de lei, e, ao mes-
vista no tO'cante à sua conceituação, mo tempo, um caso de não incidên-
prevalece orientação diversa, ou se- cia: empresas comerciais, indus-
ja, no sentido de que o salário- triais ou agrícolas que mantiverem o
educação tem a natureza tributária. ensino primário para seus emprega-
Assim, uns entendem que constitui dos e filhos.
tributo, embora com destinação es- Tenha-se em conta que a Constitui-
peCífica (Ari Kardek de Melo, Salá- ção apenas dispõe sobre o poder de
rio Educação, Ed. Resenha Tributá- tributar, cabendo às leis instituir os
TFR - 100 95
tributos, por serem elas os atos espe- tar cer~os fatos, situações ou pes-
cificamente criadores das obriga- soas, por disposição constitucional».
ções tributárias (Rui Barbosa Morei-
ra, opus cit., págs. 56 e 58). No caso. <to salário-educação, se
imunidade - caso especial de não inci-
Foi dentro dessa sistemática que dência - há é no tocante às empre-
as leis que criaram o salário- sas comerciais, industriais e agríco-
educação (Lei n? 4.440, de 27-10-64, e las que cumprirem a obrigação de
Decreto-Lei n? 1.422, de 23-10-75) lhe fazer prevista no texto constitucio-
definiram o fato gerador, bem como nal, o que é muito diverso do que
as alíquotas ou bases de cálculo, e sustenta o apelado, ao pretender
mais ainda: estabeleceram que as que, pela circunstância de o sindica-
empresas comerciais, industriais ou to não constituir empresa comercial,
agrícolas que mantiverem o ensino industrial ou agrícola, ipso facto es-
primário para seus empregados e fi- taria fora da abrangência do texto
lhos deles estão isentas. constitucional.
Por isso mesmo, não me parece Nessa linha de raciocínio, é que é
correta a afirmação de que o pertinente o ensinamento de Ruy
salário-educação não seria tributo, Barbosa Nogueira (Opus cit, pág.
porque a Constituição prevê dupla 172), ao dizer que:
obrigação de dar e de fazer, ficando «... 0 campo da incidência poderá
ao alvedrio da empresa optar pela ser ampliado pelo legislador ordi-
prestação que mais lhe convier, cir- nário competente, de modo a
cunstância que afastaria a compul- abranger mais fatos do campo da
soriedade inerente àquele instituto não incidência. Mas este nunca po-
(C.T.N., art. 3?). derá transpor a barreira da imuni-
Com efeito, segundo disse anterior- dade, por que o legislador ordiná-
mente - e repito - o que a Consti- rio não tem competência para imu-
tuição contemplou foi a instituição nizar, ao contrário lhe é proibido
de um tributo (ensejador de obriga- invadir o campo da imunidade por
ção de dar) e um caso de sua não in- que este é reservado ao poder
cidência (decorrente de obrigação de constitucional, é precisamente li-
fazer). No tocante ao tributo, não há mitação de competência, mais ge-
como negar-lhe a compulsoriedade, nericamente, é exclusão do próprio
que, aliás, decorre dos expressos ter- poder de tributar».
mos da lei que o instituiu, ou seja, do
art. 3? da Lei n? 4.440, de 27-10-64, IV
<Decreto-Lei n? 1.422, de 23-10-75, art. Afastada, pois, a prejudicial de in-
1~, § 1?J.
constitucionalidade, argüida pelo
Diante disso, parece-me que proce- apelado, remanesce, apenas, a ques-
deu com acerto a sentença impugna- tão de saber se, na qualidade de sin-
da, ao situar a questão versada nes- dicato, está, ou não, isento do sa-
tes autos, concernente à exigência lário-educação.
do salário-educação quanto aos sin- Refutando a sentença que lhe reco-
dicatos, não sob o aspecto da incons- nheceu a isenção prevista no art. 5?,
titucionalidade, mas no plano da letra b, da Lei n? 4.440, de 27-4-64, diz
não-incidência. a autarquia-previdenciária que o
Na verdade, a imunidade, segundo embargante não comprovou achar-se
Amilcar Falcão, é «uma forma de enquadrado na Lei n? 3.577/59.
não incidência pela supressão da A meu ver, não lhe assiste razão.
competência impositiva para tribu- Nesse ponto, a decisão monocrática
96 TFR - 100
Feitas estas respeitosas ressalvas via, no caso, não ocorre, por isso,
no ponto concernente à razão jurídi- não há prova no sentido da existên-
ca pela qual a contribuição se me cia de tal ensino gratuito aos empre-
afigura inexigível, fico, entretanto, gados e filhos destes. A melhor solu-
de inteiro acordo com a conclusão, ção é mesmo a da isenção inscrita
para também manter a sentença e no art. 5?, letra d, da Lei n? 4.440, de
negar provimento ao recurso da au- 1964, exatamente como fez o eminen-
tarquia. te Ministro-Relator, cujo voto endos-
so.
VOTO
EXTRATO DA MINUTA
O Sr. Ministro Carlos Mário Vel-
loso: Estou de acordo com o notá- AC n? 62.561-RJ - ReI.: Sr. Minis-
vel voto proferido pelo Sr. Ministro tro Antônio de Pádua Ribeiro. Reme-
Pádua Ribeiro. Em verdade, não há tente: Juiz Federal da 2~ Vara. Ape-
que se falar em imunidade, por isso lante: Instituto de Administração Fi-
que se tem, no caso, contribuição es- nanceira da Previdência e Assistên-
pecial, com natureza tributária, cia Social - lAPAS. Apelado: Sindi-
tertium genus tributário - e não im- cato dos Empregados no Comércio
posto. Fosse imposto, poderia ocor- do Município do Rio de Janeiro.
rer a imunidade do art. 19, UI, c, da Decisão: A Turma, por unanimida-
Constituição Federal. Também não de, negou prOVimento ao apelO. (Em
ocorre, no caso, a imunidade inscrita 31-05-82 - 4~ Turma).
no próprio art. 178, da Constituição,
que o eminente Ministro-Relator res- Os Srs. Ministros Carlos Mário
saltou: as empresas que mantêm en- Velloso e Romildo Bueno de Souza
sino gratuito para seus empregados votaram com o Relator. Presidiu o
e os filhos destes estão imunes dessa julgamento o Exmo. Sr. Ministro
contribuição. Essa imunidade, toda- Carlos Mário Velloso.
foi versada pelo expropriante em seu maior razão fica excluída tal possibi-
recurso. Sendo assim, não seria lidade.
possível que o acórdão desse mais do Portanto, quanto à correção mone-
que o próprio expropriante pediu. tária, o termo inicial que adotei foi o
O Sr. Ministro Bueno de Souza: da sentença, porque foi ela que en-
Neste ponto, divirjo respeitosamente controu o valor.
de v. Exa. porque, desde que, como E quanto ao poder do Tribunal de
dizia, ambas as partes recorreram e reformular a incidência, está basea-
impugnaram a decisão, no tocante a do em que ambas as partes impug-
custas, honorários e qualquer outra naram a decisão da sentença, razão
partida da sentença, excluída fica a pela qual estou certo de que o Tribu-
possibilidade de reformatio in pejus. nal estava livre para estabelecer o
Se a parte é condenada a 15% de termo inicial da correção monetária,
honorários e apela para pedir redu- conforme lhe parecesse de direito.
ção a 10%, desde que a parte contrá- Por isso, recebo os embargos, data
ria também tenha apelado, para ob- venia.
ter elevação, o juiz pode elevar para
20%, sem que resulte reformatio in
pejus. EXTRATO DA MINUTA
Assim também, se ambas as par- Embargos Infringentes em Apela-
tes apelaram, insurgindo-se contra o ção Cível n? 69.881-MG - ReI.: O Sr.
modo como foi determinada a corre- Ministro Pedro da Rocha Acioli. Em-
ção monetária, o Tribunal está livre
para estabelecer a correção que lhe bargante: Departamento Nacional de
parecer conforme a lei, sem que se Estradas de Rodagem - DNER.
possa vislumbrar reformatio in Embargados: Américo Vinícius Lu-
pejus. Isto é o que pretendo deixar cas de Carvalho e cônjuge.
bem claro; este é o meu pensamento. Decisão: A Seção, por maioria, re-
E este é o pensamento da lei. jeitou os embargos, vencido o Sr. Mi-
nistro Bueno de Souza. (2~ Seção, em
De fato, qual a razão de o CPC em 17-8-82) .
vigor ter introduzido o recurso adesi-
vo? Votaram com o Relator os Srs. Mi-
nistros Américo Luz, Antônio de Pá-
Outra não é, senão a de permitir dua Ribeiro, Armando Rollemberg,
que o Tribunal possa resolver a im- Moacir Catunda, José Dantas, Car-
pugnação num ou noutro sentido, los Mário Velloso, Justino Ribeiro,
sem que incorra em reformatio in Wilson Gonçalves, Sebastião Alves
pejus. dos Reis e Miguel J. Ferrante. Presi-
Ora, se, no caso, ambas as partes diu o julgamento o Sr. Ministro
recorreram originariamente, por Washington Bolívar de Brito.
APELAÇAO ClVEL N? 69.886 - SP
Relator: O Sr. Ministro Geraldo Sobral
Apelante: Companhia de Viação São Paulo Mato Grosso
Apelado: INCRA
EMENTA
Processual Civil e Tributário. Execução Fiscal.
Título executivo fazendário. Requisitos legais. Cons-
tituição e Validade.
TFR - 100 125
quantum arbitrado pelo Dr. Juiz no ral, ao caso em julgamento, não será
pertinente à indenização pelo dano demais ligeira perlustração pela lei
estético. civil.
A segunda apelante, União Fede- A matéria em causa é magistral-
ral, com razões de fls. 126/127, reedi- mente tratada por José de Aguiar
ta as alegações contidas na contesta- Dias, em «Da Responsabilidade Ci-
ção. Pondera mais: o dia do evento, vil», págs. 466 a 468, quandO comenta
27 de novembro de 1980, recaiu num o art. 1.529 do Código Civil:
sábado, dia que não houve expedien- «Aquele que habitar uma casa,
te na repartição; inexistência de ne- ou parte dela, responde pelo dano
xo causal para demonstrar a ocor- proveniente das coisas que dela
rência de dano estético; e por final, caírem ou forem lançadas em lu-
pede a reforma da sentença e o pro- gar indevido».
vimento total do recurso ora inter-
posto. Essa responsabilidade é de cará-
ter irredutivelmente objetivo, co-
Contra-razões da apelada Yedda mo já sucedia no direito romano,
de Carvalho Nunes a fls. 130 e 132. correspondendo a exigências de se-
Nesta Instância, a douta gurança da via pública, ubi vul,go
Subprocuradoria-Geral da Repúbli- iter fit, mal resguardada na Lei
ca, em parecer da Dra. Maria da Aquília, pela dificuldade em se fa-
Glória Ferreira Tamer, com aprova- zer a prova da autoria do fato da-
ção do ilustre Subprocurador Dr. A. noso.
G. Valim Teixeira, destaca que na Referindo-se a «aquele que habi-
fundamentação da v. decisão recor- tar uma casa», o Código reforça a
rida, no art. 107 da Constituição Fe- convicção proporcionada pelo art.
deral, adotou-se a «teoria do risco 1.529, no sentido do caráter objeti-
administrativo». Nesse entendimen- vo da responsabilidade. Com efei-
to, segundo doutrinadores, são requi- to, por essas expressões, mostr~-se
sitos para configurar a responsabili- que o título a que o responsavel
dade civil do Estado: a) agente fun- ocupa a casa não é objeto de cogi-
cionário público; b) ato funcional; c) tação: proprietário, locatário, usu-
dano patrimonial efetivo; d) nexo frutuário, comodatário, pouco im-
causal entre o dano e o ato funcio- porta. É como habitante principal
nal, inocorrente in casu. E, mais que responde, o que sugere o pro-
adiante, diz a ilustre Procuradora: blema da responsabilidade em re-
mesmo considerando a «responsabi- lação às coisas e líquidos lançados
lidade objetiva», esta cede diante de ou caídos dos apartamentos. A so-
determinados fatos inimputáveis ao lução não pode ser outra senão a
agente, tais como força maior, ca- que já oferecia o edito: responsabi-
racterizada pela inevitabilidade do lidade solidária de todos os mora-
evento. Pede, assim, que a União se- dores.
j a liberada da responsabilidade que
lhe é imputada, com o provimento Ainda que não seja aqui o lugar
do seu recurso. mais próprio para tratarmos da
defesa do responsável, visto como
É o relatório.
reservamos espaço à parte para
particularizar o estudo dos casos
VOTO de isenção de responsabilidade, va-
le recordar que, na hipótese, ela só
o Sr. Ministro Leitão Krieger (Re- se elide mediante a prova, por par-
lator): Para interpretação e aplica- te do indigitado responsável, de al-
ção do art. 107 da Constituição Fede- gum destes fatos: a) ausência de
140 TFR - 100
ca ao longo de nove anos sem efe- cias patrimoniais, nestes autos; nem
tuar o pagamento de qualquer pres- semelhante alegação guarda coerên-
tação (fI. 46). cia com os esforços dos apelantes
A escritura, efetivamente, prevê o em retardar o desfecho da causa.
vencimento de todas as prestações Ante o exposto, dou provimento
pendentes, evidenciada a mora do parcial à apelação, somente para ex-
mutuário. cluir da execução a taxa de adminis-
tração e o seguro, em tudo quanto
Tão-somente assiste razão aos ape- exceder a data da alienação do bem
lantes, quando pleiteiam a exclusão penhorado.
de despesas de seguro e taxa de ad-
ministração, relativamente ao valor EXTRATO DA MINUTA
das prestações vincendas; é que tais
acessórios devem incidir somente AC 77.005 - RJ - ReI.: Ministro
até a data da alienação judicial do Bueno de Souza. Apte.: Milton Monte
bem objeto da garantia; pois, além Rodrigues dos Santos e Cônjuge.
dessa data, não haverá título jurídi- Apelada: Caixa Econômica Federal.
co pelo qual os apelantes respondam
por esses acréscimos. Decisão: A Turma, por unanimida-
de, deu provimento parcial à apela-
Tendo havido expressa denegação ção, nos termos do voto do Senhor
de honorários advocatícios sob o Ministro-Relator (em 11-10-82 - 4~
fundamento de j á se acharem asse- Turma).
gurados pela multa; e não tendo ape-
lado a exeqüente, a matéria não po- Os Srs. Ministros Antônio de Pá-
de ser reapreciada. dua Ribeiro e Carlos Mário Velloso
participaram do-julgamento. ·Presi-
A demora em sentenciar não pOde diu o julgamento o Exmo. Sr. Minis-
ser conhecida, por suas conseqüên- tro Carlos Mário Velloso.
APELAÇAO C1VEL N? 77.147 - SP
Relator: O Sr. Ministro Sebastião Alves dos Reis
Apelantes: IAP AS/BNH
Apelado: Indústria de Roupas Billi-Bel Ltda
EMENTA
Tributário - Contribuição do FGTS - Prescri-
ção.
Os recolhimentos para o Fundo de Garantia,
constituindo-se de prestação pecuniária compulsória,
instituída em lei sem configurar sanção indenizató-
ria ou punitiva por ato ilícito, são tributos (CTN,
arts. 3? e 217, IV).
A prescrição da ação de cobrança é de cinco
anos (CTN, art. 174).
Negou-se provimento aos recursos.
ACORDA0 Decide a 5~ Turma do Tribunal Fe-
deral de Recursos, por unanimidade,
Vistos e relatados os autos em que negar provimento aos recursos, na
são partes as acima indicadas: forma do relatório e notas taquigrá-
TFR - 100 169 .
ficas constantes dos autos que ficam dente Moacir Catunda e Pedro da
fazendo parte integrante do presente Rocha Acioli, exarado nesses ter-
julgado. mos:
Custas como de lei. «A Constituição de 1967 (art. 158,
Brasília, 8 de setembro de 1982 XIII) e a Emenda de 1969 (art. 165,
(data do julgamento.) Min. XIII) estabeleceram o fundo de ga-
Moacir Catunda, Presidente - Min. rantia em alternância à estabilida-
Sebastião Alves dos Reis, Relator. de do trabalhador. Os recolhimen-
tos para o FGTS constituem pres-
tação pecuniária compulsória, ins-
RELATORIO tituída em lei sem configurar san-
ção indenizatória ou punitiva por
o Sr. Min. Sebastião Alves dos ato ilícito. Subsumem-se, de conse-
Reis: O Instituto Nacional de Previ- guinte, no conceito de tributo do
dência Social, hoje lAPAS, moveu art. 3? do Código Fiscal.
execução por título extrajudicial No mesmo ano da criação do
contra Indústrias de Roupas Billi-Bel FGTS, o Decreto-Lei n? 27, de 1966,
Ltda., para receber a quantia de Cr$ nominou, expressamente, esses re-
599.284,55, correspondente a depósi- colhimentos de contribuição, ao
tos de FGTS e acessórios legais, do acrescer o art. 217 do Código Tri-
que decorreram os presentes embar- butário (inciso IV), para ressal-
gos oferecidos pela executada, onde var sua subsistência em face do
opôs, preliminarmente, a prescrição art. 5?, que relacionara como tribu-
do crédito, e, no mérito, insurgiu-se tos apenas a «contribuição de me-
contrá a multa aplicada e correção lhoria» além dos impostos e taxas.
sobre a mesma.
A circunstância de a Constitui-
Respondeu o embargado à fI. 51 ção de 1967 não ter contemplado as
contrapondo que os depósitos em contribuições no capítulo do siste-
causa têm autonomia conceitual, não ma tributário não significava que
se identificando com a noção de tri- lhes recus'ásse Índole fiscal. Tradu-
buto, e, assim, fora da incidência do zia simplesmente uma posição,
art. 174 do CTN. muito arraigada na doutrina impo-
A MM. Juíza Federal a quo Ana sitiva, que reduzia as contribui-
Maria Scartezzini, à fI. 68, acolheu a ções, substancialmente, 6u a um
preliminar julgando procedentes os imposto ou a uma taxa, conforme
embargos, condenando o embargado a natureza da incidência, não lhes
na honorária de Cr$ 5.000,00. reconhecendo, assim, autonomia ti-
Apela o vencido e, instruído o re- pológica.
curso, neste Tribunal, dispensei pa- A emenda de 1969 outorgou, po-
recer e revisão. rém, foros de categoria tributária
É o relatório.
às contribuições (art. 21, § 2?, 1).
Como seu próprio nome indica, é
uma exação para determinado fim
VOTO constitucional, sem as vedações vi-
gentes para os impostos (art. 19,
O Sr. Min. Sebastião Alves dos III) nem os condicionamentos pró-
Reis (Relator): Sobre a índole tribu- prios das taxas (art. 18, I).
tária dos depósitos em apreço tive Como tributo que é, e sempre foi,
oportunidade de manifestar-me em a contribuição para o FGTS
voto que proferi na AC 56.540, presti- sujeita-se às «normas gerais do Di-
giado pelos eminentes Mins. Presi- reito Tributário» que a Constitui-
170 TFR - 100
reito está com as entidades recorri- Entendo, pois, que com a superve-
das, levando em consideração que a niência da Lei n? 6.830, de 1980, art.
ação anulatória deve ser precedida 38, não é mais possível ajuizar ação
do depósito preparatório do valor do anulatória de débito sem a respecti-
débito, ou de garantia equivalente, va garantia do juízo. Essa garantia
ante os termos do artigo 38 da Lei n? não tem que ser necessariamente o
6.830, de 23 de setembro de 1980, in depósito em dinheiro da quantia co-
verbis: brada. Pode ser garantida por bem
de outra natureza. Assim, torna
«A discussão judicial da Dívida possível a compatibilidade do precei-
Ativa da Fazenda Pública só é ad- to do artigo 38 da Lei n? 6.830 com a
missível em execução, na forma regra constitucional do art. 153, § 4?,
desta Lei, salvo as hipóteses de da Carta vigente. Neste sentido e pa-
mandado de segurança, ação de ra maior fundamentação, junto o vo-
repetição do indébito ou ação anu- to que proferi no precedente acima
latória do ato declarativo da dívi- indicado.
da, esta precedida do depósito pre-
paratório do valor do débito, mone- II
tariamente corrigido e acrescido
dos juros e multa de mora e de- No caso, não houve garantia do
mais encargos.» juízo. Poderia cogitar-se de, em face
Nesse sentido, perfilou-se a v. sen- da regra do art. 284 do CPC, prover
tença de primeiro grau, a reconhe- parcialmente o recurso da autora
cer o pressuposto obrigatório de tão-somente para que ela pUdesse
constituição do processo o prévio de- oferecer a garantia necessária.
pósito do débito da ação anulatória, Entretanto, tal não é possível, da-
decidindo nos termos de fI. 107, as- do que a ação não prospera por ou-
sim: (lê) Opostos embargos, decidiu tro fundamento.
a dra. Juíza, verbis: E que o BNH, contra quem é diri-
«Acolho ambos os embargos de gida a ação, não é parte legítima pa-
declaração opostos, para incluir na ra respondê-la. Na espécie, foi a pre-
sentença de fl. 107, a condenação vidência social, como entidade res-
da sucumbente em custas e hono- ponsável pela fiscalização e cobran-
rários advocatícios, que são arbi- ça dos depósitos para o FGTS,
trados em 10% sobre o valor da quem, através do INPS, levantou o
causa». (fI. 124). débito cobrado e emitiu as respecti-
Em caso semelhante, decidiu à vas notificações (fls. 16/19).
unanimidade de votos a egrégia 5~ Destarte é manifesta a carência
Turma, no AI n? 42.736-RJ, DJ de 25- da ação.
6-82, de que fui Relator: No que toca ao segundo apelo da
EMENTA-Processual Civil. Ação autora, interposto em tempo hábil
anulatória de Débito Fiscal. Depó- após o julgamento dos embargos de
sito Preparatório. Lei n? 6.830, de declaração, dele não conheço por
1980, art. 38. inexistente, eis porque está subscrito
O depósito prévio cogitado no por advogado sem poderes, como
art. 38 da Lei n? 6.830, de 1980, evidencia o intrumento de fI. 9.
constitui condição de procedibilida- Pelo exposto, nego provimento ao
de da ação anulatória. apelo relativamente ao primeiro
Provimento do agravo a fim de item e no que concerne ao segundo
permitir à autora complementar o dele não tomo conhecimento.
depósito preparatório. E o voto.
176 TFR - 100
Recebida a denúncia (fI. 51), o Mi- no art. 12, da Lei n? 5.250/67, que su-
nistério Público ofereceu as alega- jeita às penas nele cominadas aque-
ções finais de fls. 58/63, e o r. as de les que abusivamente se utilizam do
fls. 65/71, acompanhadas estas de exercício de liberdade de informa-
Parecer do Professor Hélio Tornag- ção.
hi, juntado às fls. 73/84 e dos docu-
mentos de fls. 85/93. Entende caracterizada a responsa-
Sustentou o Ministério Público es- bilidade direta do acusado, por ele
tar provado o elemento material, a expressamente admitida, tendo em
ofensa à honra de um dos mais altos vista sua condição de responsável
e respeitáveis órgãos do Poder Judi- pela edição do Jornal do Brasil; con-
ciário, a autoria da matéria divulga- sidera, ainda, inocorrer o interesse
da e o propósito de aviltar a honra público pela pUblicação em causa, o
do Tribunal, com a repetição insis- que só justificaria o cumprimento do
tente das vis expressões. dever do ofício, do ius informandi;
assinala preponderar sobre o direito
E o r. argüiu em suas alegações de liberdade de manifestação de
inexistência de crime de imprensa, pensamento, o dever de respeito à
conforme definido no art. 12 da lei dignidade e ao decoro de quantos
específica, porque o Deputado, ao exerçam a manifestação da sobera-
proferir a malsinada declaração, nia estatal, e mesmo de qualquer ci-
não estava dando entrevista à im- dadão; quanto ao princípio da indivi-
prensa, tendo os repórteres anotado sibilidade da ação penal, esclarece
e redigido a notícia, como qualquer ser o mesmo somente radical nos
outra ocorrência. Não teve, ainda, crimes de ação penal privada.
qualquer participação na notícia,
não faz parte da redação do jornal e A ação foi julgada procedente e o
não tomou qualquer iniciativa para a acusado incurso nas penas dos arti-
publicação, não fazendo, portanto, gos 21 e 22, c/c o art. 23, inciso IH,
parte do elenco de pessoas enumera- da Lei n? 5.250/67, c/c, ainda, o § I?,
das no art. 28, daquele dispositivo le- do art. 51, do CP. Por ser réu primá-
gal. Argúi, ainda, inexistência de rio, mas considerada a intensidade
responsabilidade sucessiva, de dolosa do fato. condenou-o a MM.
animus injuriandi ou difamandi, e Julgadora, pela infração ao art. 21, à
desrespeito ao princípio da indivisi- pena de 9 (nove) meses de detenção
bilidade da ação penal, eis que, noti- e multa de 6 (seis) salários mínimos,
ciado o fato por vários jornais, não elevada de um terco em razão da
foram os demais abrangidos pela de- agravante específica do inciso lU, do
núncia, o que a torna inepta, e inca- art. 23, da referida lei, para fixar-se
paz de produzir qualquer efeito em um ano de detenção e oito
jurídico. salários mínimos. E por ter-se dado
A MM. Juíza Federal Dra. Julieta a infração do art. 21, em concurso
Lídia Machado Cunha Lunz proferiu, formal com o art. 22, da Lei de infor-
então a r. sentença de fls. 95/105. mação, aumentou ainda de um terço
Considerou preliminarmente im- ditas penas (§ I?, art. 51, do CP)
próprio o dispositivo legal contido na fixando-as definitivamente em um
representação do TSE e na denúncia ano e quatro meses de detenção e
que cuida da responsabilidade suces- dez salários mínimos e meio.
siva, inaplicável ao caso. Entende, Concedeu, entretanto, o benefício
porém, que tal fato não compromete da suspensão condicional da pena, fi-
a eficácia da representação e classi- xando em 4 (quatro) anos o período
fica a responsabilidade do acusado de provação.
180 TFR - 100
Tendo em vista a aparente discre- nal, pelos seguintes motivos que ali-
pância entre a capitulação constante nhou:
da denúncia e a apontada no supra-
transcrito trecho da sentença, enten- «L Inexistência de crime de im-
deu o ora apelante, em suas razões prensa, na hipótese;
que, embora seja certo que o juiz po-
de dar ao crime definiçâo diversa da
contida na queixa ou na denúncia, 2. Inexistência de responsabilida-
conforme a autorização constante de sucessiva se admitida, ad
dos arts. 383 e 384 e seu parágrafo, a absurdem a existência de crime de
defesa foi surpreendida, uma vez imprensa;
que a denúncia buscou a responsabi-
lidade no artigo 12, da Lei de Im- 3. Inexistência do animus lllJU-
prensa, «quando a denúncia afunda- riandi vel difamandi, se admitidas
va no art. 37, § 4?, da mesma leL» as hipóteses dos itens anteriores;
Ademais, com a devida vênia, não «Temos para nós que a indivisi-
se vislumbra nestes autos, em qual- bilidade da ação penal pública é
quer fase de sua tramitação, a exis- princípio absoluto; se na ação pri-
tência de fato ou ato que possa ter vada, sob o signo do ius
surpreeendido a defesa. dispositivum do querelante, ele vi-
gora de modo indeclinável, com
maior razão deve ser aplicado
Assim é que, em suas alegações fi- aquele princípio, no que tange à
nais (fls. 65/71), a defesa, abordando ação penal pública que, de regra, é
tudo aquilo que fora narrado na peça indisponível» (Tratado de Direito
acusatória, bateu-se pela absoluta Processual Penal, ed. 1980, vol. lI,
inviabilidade da presente ação pe- pág. 144).
182 TFR - 100
nicas, determinou não fosse aplicada via um convem o cuj a existência foi
a essa classe a condição de ex- comprovada. Havia, também, docu-
combatente, para efeito de amparo mentos de autoridades militares
em leis especiais em nosso País.» comprovando a qualidade de ex-
combatente, inclusive um aviso mi-
Realmente, à fI. 27 se encontra co- nisterial.
municação do então IAPEC, dirigida
ao ora impetrante, sobre ter sido Por isso é que, no caso anterior, a
de~erido seu requerimento, au- Previdência Social não reconheceu o
tOrizando-o a contribuir sobre o to- direito do postulante.
tal do salário realmente percebido,
«sem ~s limitações impostas pela No caso presente, o interessado re-
lei, face a sua condição de ex- quereu ainda na vigência da Lei de
combatente.» 1963 que mandava contribuir sobre o
salário real, sendo preciso requerer
É de se ter, assim, o impetrante o benefício. Houve requerimento e o
como ex-combatente, equiparado em pedido foi deferido. A partir de 1966,
tudo a integrante de nossas próprias ele começou a contribuir. Somente
Forças Armadas, empenhadas na depois dessa lei, talvez aí pelo ano
Guerra, em operações bélicas para de 1971, é que a lei nova alterou a si-
os fins de percepção dos benefícios tuação. Quem havia pedido para
previdenciários. O reconhecimento contribuir antes teria, não um direi-
de seu direito foi expresso por ato da to adquirido, mas pelo menos expec-
autoridade previdenciária competen- tativa de direito a ser reconhecido,
te, e não há base legal para altera- como o está sendo agora.
ção do ato administrativo, em face
de novo critério de interpretação do De modo que voto com V. Exa.,
Ministério da Guerra. porque acho que está provada a vin-
culação.
tação, tendo a alegada nulidade si- cutado não pagar a dívida ou não
do repelida por mim em despacho efetuar o depósito do saldo devedor e
fundamentado (Doc. 1). se não estiver na posse do imóvel, o
2. Quanto ao imóvel e ao desco- juiz ordenará a expedição de manda-
nhecimento da Execução por parte do de desocupação contra a pessoa
dos impetrantes, na ocasião da pe- que o estiver ocupando, para
nhora, o próprio executado ficou entregá-lo ao exeqüente no prazo de
como depositário (Doc. 2) e a pra- dez dias.
ça foi precedida da necessária pu- Ora, no caso, ao invés de ordenar
blicidade, através da pUblicação de essa desocupação no ínicio da execu-
editais, dando ciência a terceiros, ção hipotecária, o ilustre magistra-
e entre estes os impetrantes, por- do, tolerantemente, só o fez no final,
ventura, interessados (Docs. 3, 4, 5 após o registro da carta de arrema-
e 6). tação em favor do arrematante. O
3. Assim, nada pOde ser alegado Decreto-Lei n? 70, de 21 de novembro
contra o trâmite, aliás normal, da de 1966, invocado pelos suplicantes,
Execução. se aplicável à hipótese, não ampara-
ria a sua infundada pretensão (art.
4. Realizada a praça (Doc. 7) 37, § 2?).
arrematado o imóvel (Doc. 7) I as-
sinado o Auto de Arrematação A condição de inquilino, aduzida
(Doc. 8) expedida (Doc. 9) e regis- pelos impetrantes, não poderia pre-
trada (Doc. 10) a Carta de Arre- valecer perante o arrematante I que
matação, a pedido dos arrematan- não está vinculado à relação lo-
tes (Doc. 11) determinei a expedi- catícia, consoante já ficou demons-
ção de mandado para imissão na trado.
posse (Doc. 1) / quando, só então, É evidente que, assim, não têm
com alegaçôes que me pareceram eles direito líquido e certo ao que
infundadas, intempestivas e in- pretendem.
cabíveis na espécie, os impetrantes Isto posto, denego a segurança e
requereram, a este Juízo, a susta- casso a liminar.
ção do cumprimento da medida
(Doc. 12): o que fiz, não em decor- VOTO VISTA
rência do pedido, mas por estar a
Secretaria em fase de inspeção O Sr. Ministro Bueno de Souza: Se-
(Doc. 12) / mesmo porque, não es- nhor Presidente, os impetrantes,
tamos diante de relação de loca- Paulo Nacife e sua mulher, dizendo-
ção, pelo que, no caso, inaplicável se locatários de imóvel residencial
mostra-se a Lei do Inquilinato (Lei em virtude de contrato ajustado em
n? 6.649/79) e, em especial, o seu 22 de abril de 1975, consideram-se in-
art. 4?, § I?, transcrito na inicial. justamente molestados no exercício
5. Verifica-se, portanto, que o do direito que lhes compete, como
ato foi praticado com observância possuidores diretos, por terem sido
estrita das normas legais pertinen- surpreendidos, em 22 de março de
tes à espécie e, por isso, a Segu- 1982, por oficial de justiça munido de
rança improcede» (fls. 98/99). mandado de imissão de terceiros na
Por outro lado, o art. 4?·, § 1?, da posse direta do mesmo imóvel, dela
Lei n? 5.741, de I? de dezembro de demitidos, por conseguinte, os impe-
1971, citado pelos impetrantes, asse- trantes.
gura medida mais urgente do que a Os terceiros que assim pretendem
adotada na mencionada execuçâo, investir-se na posse direta em que se
porquanto determina que, se o exe- acham os impetrantes outros não
212 TFR - 100
art. 4?, § I?, ou sej a, da imediata do: Juízo Federal da 3~ Vara da Se-
evacuação do imóvel; somente após ção Judiciária do Estado de Minas
a arrematação foi expedido o man- Gerais.
dado de imissão dos arrematantes Decisão: Prosseguindo no julga-
na respectiva posse direta. mento, a Seção, por unanimidade,
denegou a segurança e cassou a li-
Como se vê, não há direito subjeti- minar (Em 15-3-83 - 2~ Seção).
vo certo e líquido a ser amparado Participaram do julgamento os
através do mandado de segurança. Srs. Ministros Bueno de Souza, Se-
bastião Reis, Miguel Ferrante, Pe-
Fico de acordo com o Senhor dro Acioli, Américo Luz, Antônio de
Ministro-Relator, para denegar a se- de Pádua Ribeiro, Moacir Catunda,
gurança e cassar o decreto liminar. Torreão Braz e Carlos Mário Vello-
so.
EXTRATO DA MINUTA Ausentes, por motivo justificado,
os Srs. Ministros Armando Rollem-
MS 96.826-MG - ReI.: O Sr. Min. berg e Geraldo Sobral. Presidiu o
Wilson Gonçalves. Requerentes: julgamento o Exmo. Sr. Ministro
Paulo Nacife e sua mulher. Requeri- Washington Bolívar de Brito.
líquido e certo contra ato do Juiz im- prestação daquele serviço. Ordem
petrado, Dr. Porto de Menezes, de que, ainda, gera o comprometi-
sua nomeação como depositária da mento da receita da impetrante: -
linha telefônica e do correspondente mesmo que, ad argumentandum,
aparelho, cujos direitos foram pe- se admitisse que, no caso, a impe-
nhorados ao respectivo assinante, trante não houvesse sido obrigada
em execução movida pela União Fe- a suportar o ônus do pagamento
deral. das «contas», como forma de ga-
rantia da subsistência do bem pe-
Começa por censurar a terminolo- nhorado, resta claro que, de qual-
gia usada na cota lançada pelo Pro- quer modo, o «desligamento» de-
curador da República, atendida pelo terminado implica na cessação da
juiz para determinar o depósito do sua única fonte de captação de re-
bem penhorado, com desligamento ceita. Se vingar, a v. decisão ata-
provisório do aparelho telefônico, pa- cada será, naturalmente (por ra-
ra evitar acréscimo de despesas com zões óbvias)' a precursora de uma
novas contas; em síntese, o Procura- série, da qual resultará insuportá-
dor confundira serviço telefônico vel comprometimento da receita
público com direito de uso do apare- da impetrante, do qual advirá, co-
lho telefônico particular, ignorando mo forma de evitar a insolvência,
que o terminal é simples aparelho e o «repasse», para os demais usuá-
pode ser adquirido sem qualquer in- rios, do custo desses telefones que
terveniência da concessionária. não gerem receita, com o conse-
Corrigida a terminologia I do seu qüente e inevitável aumento do
desagrado, a impetrante prossegue preço público - tarifa telefônica
para sustentar que, penhorado o di- (como enfatizado na petição anexa
reito de uso, não teria a concessioná- como «doc. n? 5» e ignorado, sem
ria como descumprir o pacto da con- justificativa, tanto pelO E. Pro-
tinuação do serviço, se porventura curador como pelo MM. Juízo coa-
forem quitadas as contas em atraso; tor).
ou não teria como a penhora impedir
o perecimento do referido direito do De se ressaltar, finalmente, que
assinante, conforme a cláusula sobre a presente impetração é inspirada
o não pagamento das contas telefôni- no desejo de auxiliar a perfeita ad-
cas vencidas há mais de 120 dias, ministração da Justiça, na pugna
mesmo porque o desligamento, no pela melhor aplicação da lei: -
caso, não implicaria na cessação de quem vivencia, diariamente, as
emissão de contas, já que o «assi- conseqüências de interpretações
nante» continuará a dever tarifa re- eqUivocadas das normas regentes
ferente à «assinatura». Daí a seguin- da espécie, no custo administrativo
te conclusão: que há de ser pago pelo público
usuário, ou suportado pelo Poder
«Assim, patente fica a lesão ao concedente ou pela concessionária,
direito líquido e certo da impetran- tem todas as condições para aqui-
te, garantido pelo § 2?, do art. 153 latar a melhor forma de auxílio na'
da Constituição Federal, de não boa aplicação da norma respecti-
ser compelida a fazer coisa que va. É o que tem feito, sistematica-
não lhe determina a lei, consubs- mente, a impetrante, arcando com
tanciada na ordem de assunção da os ônus decorrentes das anotações
condição de depositária do direito da penhora sobre o direito de uso
de uso do serviço público de que é de milhares de terminais telefôni-
concessionária, obrigada a pagar a cos. Anotações que, aliadas à per-
si mesma o crédito decorrente da manente vigília exercida pela con-
TFR - 100 215
rio - (parte final do art. 1.165, do não pode ser indicado por terceiro,
Código Civil). Antes, sem a aceita- como pretende o d. Juízo impetra-
ção, o ato é mera manifestação de do.
vontade, não susceptível de surtir 18. Ainda, manifestar um desejo,
efeitos. uma pretensão, não é realizá-lo, ou
Daí, a pOSição de inúmeros dou- efetivá-lo, já que a doação requer
trina dores no sentido de que doa- manifestação formal e expressa da
ção é contrato (art. 1.165, C. Civil) vontade.
e, portanto, ato bilateral, já que só 19. Aliás, desejo quer dizer: «l.
manifestação de duas vontades o Ato ou efeito de desej ar. 2 - Von-
aperfeiçoa. tade de possuir ou de gozar. 3 -
14. São três os requisitos ou ele- Anseio, aspiração. 4. Cobiça ... »
mentos fundamentais que caracte- etc. (in Dicionário Aurélio (mé-
rizam a doação: I? - é um contra- dio) , Ed. Nova Fronteira, 1980,
to - ato bilateral; 2? - envolve a pág.561).
transferência de bens ou vantagens 20. Assim, o documento de fI. 36
do patrimônio de uma pessoa (doa- representa muito mais uma aspira-
dor) para de outra (donatário); 3? ção íntima que não pode ter 10
- o espírito de liberalidade. condão de efetivar ato expresso de
15. Ora, a partir desses elemen- doação. Falta-lhe também, como
tos nos é fácil verificar se houve assinalado, o destinatário, o benefi-
doação, com o documento de fI. 36. ciário' que não pode ser indicado
Esse assim está redigido: por terceiro.
«Declaração 21. Entendemos também que o
«ato de liberalidade», só para ar-
Eu, Robert Alexander Lipton gumentar, foi revogado pelas cor-
Júnior, natural de Ohio/EUA, respondências de fls. 45 e 53/56.
nascido' em 24 de fevereiro de
1947, filho de Robert James Lip- 22. Mesmo que assim não se en-
ton e Ann Bill Lipton, residente tendesse, é de se observar que a
em Ruta 125 - 1/2, Carrasco - aceitação do donatário só pode ser
Montevidéo - Uruguai, declaro dirigida ao doador (art. 1.166 do C.
ser o meu desejo que a quantia Civil) e não a terceira pessoa, co-
de US$ 27.400 (vinte e sete mil e mo no caso da manifestação de fI.
quatrocentos dólares) a qual se 73. Não pode a autoridade impetra-
encontra em poder da Justiça da substituir o doador, complemen-
Brasileira, deverá ser, caso libe- tando a vontade desse. Seria, além
rada, doada a uma Instituição de disso, subverter os elementos e re-
Caridade, de preferência que tra- quisitos do contrato de doação.
te de recuperação de viciados em 23. Transpostas todas as ques-
drogas». tões antes aduzidas, não há como
16. Como se vê, tal declaração- deixar de reconhecer a nulidade,
doação é condicional e exprime, de pleno direito, do documento de
quandO muito, um desejo, mas fI. 36, forte no art. 145 e seguintes
nunca doação nos precisos termos do C. Civil, combinado com o art.
do artigo 1.165, do C. Civil. I? do Decreto-Lei n? 857, de 11-9-69.
17. Saliente-se que não se pode 24. Por último, convém assinalar
chamar doação documento que não que o representante do Ministério
indica o beneficiário - donatário. Público, nas oportunidades em que
E, não havendo esse, o contrato teve vista dos autos, manifestou-se
ressente-se do destinatário, que pela liberação dos dólares».
222 TFR - 100
Seidl Machado (reete.l e Dr. Hélio O Sr. Min. Torreão Braz votou
P. da Silva pelO MPF. com o Relator.
EMENTA
Administrativo - Estudante Estrangeiro.
I - Estudante estrangeiro, amparado por convê-
nio entre Brasil-Bolívia, para intercâmbio cultural.
n - Esgotado o prazo de permanência no Pais,
deve-se-lhe conceder oportunidade para regularizar
sua situação.
In - Interpretação do art. 98, do Decreto n~
86.715/80, diante da existência de convênio firmado
por países soberanos.
IV - Recurso improvido.
ACORDÃO paCiente não tomou providências
neste sentido, sendo, em conseqüên-
Vistos e relatados estes autos em cia, autuado por excesso de prazo,
que são partes as acima indicadas: nos termos do art. 25, inciso n, da
Decide a Terceira Turma do Tri- Lei n? 6.825/80, a recolher determi-
bunal Federal de Recursos, por una- nada importância, a título de multa,
nimidade, negar provimento ao re- além de notificado a deixar o País,
curso, na forma do relatório e notas no prazo de 8 (oito) dias, sob pena
taquigráficas constantes dos autos· de deportação (fls. 02/,03).
que ficam fazendo parte integrante Solicitadas as informações,
do presente julgado. prestou-as a autoridade apontada co-
Custas como de lei. mo coatora, confirmando a notifica-
ção do paciente, em face da sua si-
Brasília, 26 de abril de 1983 (data tuação irregular como estrangeiro
do julgamento) - Ministro Carlos (fls. 12/13).
Madeira, Presidente Ministro
Hélio Pinheiro, Relator. O MM. Juiz Federal concedeu o
habeas corpus preventivo, para que
RELATORIO o paciente não fosse deportado, sem
prejuízo de providenciar a regulari-
o Sr. Ministro Hélio Pinheiro: José zação de sua estada no País, dentro
Carlos Meira Silva, bacharel em Di- de 30 dias, além do pagamento da
reito, requereu habeas corpus pre- multa que lhe foi imposta (fls.
ventivo a favor de Yhonny Percy 14/16).
Terceros Escalante, boliviano, estu- Sem recurso das partes, subiram
dante mediante convênio Brasil- os autos a este E. Tribunal, por for-
Bolívia, a fim de evitar fosse este ça do recurso de oficio.
deportado do País. A douta Subprocuradoria-Geral da
Alegou ter o paciente ingressado República manifestou-se pelo não
no Brasil, em data de 2-3-80, como provimento do presente recurso (fls.
estudante do Curso de Engenharia 22/23).
Química, com duração de 5 (cinco) É o relatório.
anos, embora no seu passaporte, fi-
casse a sua permanência no País até VOTO
o dia 26-2-83. O Sr. Ministro Hélio Pinheiro (Re-
Entendendo não ser necessário o lator): Pelas peculiaridades do caso,
pedido de prorrogação de sua estada verifico que teve solução adequada
no Brasil, face à duração do curso, o no Juízo a quo.
238 TFR - 100
porque queria ficar a sós com o NE, pois queria ter uma conversa
Superintendente-Adjunto da SUDE- particular com a mesma, que não
NE, Dr. Marlos Jacob, e com o concordando com as exigências do
Técnico Paul Jubert, da SUDENE. réu, acabou por ser ameaçado de
Provavelmente, duas seriam as morte, no momento em que o réu
vítimas. Não discuto, não nego a levantou-se e sacou da arma que
possibilidade de um posterior portava, no que foi impedido pelo Sr.
suicídio do acusado. Não. Mas se- José Stepple, tendo, porém, sido dis-
ria uma tragédia, bem ao estilo parado o tiro que atingiu e varou a
trágico de romances de folhetins: parede divisória da sala.
matou e suicidou-se (autos, fI. 6 Ora, se para a pronúncia basta-
v)).
vam a prova do crime e os indícios
Tenho, pois, como configuradas, de autoria, o que sobejamente com-
na espécie, as tentativas de ho- provados nos autos, caberá ao Tribu-
micídio reconhecidas na sentença de nal do Júri, soberano nas suas deli-
pronúncia, vez que presentes todos berações, apreciar e aceitar, ou não,
os elementos do crime tentado, tais as alegações do réu.
sejam: início de execução; interrup- A tese da tentativa do suicídio, fa-
ção da execução por circunstâncias ce aos antecedentes dos fatos, é ina-
alheias à vontade do agente e o ele- ceitável para a impronúncia do re-
mento sUbjetivo. corrente. Ademais, a pronúncia é
A prova dos autos autoriza, sem uma sentença provisória, cabendo ao
maiores dificuldades, a verificaçâo Tribunal do Júri a apreciação, em
deste último elemento, preponderan- definitivo, da espécie.
te na conceituação da tentativa. Face ao exposto, conheço dos re-
O recorrente, sem ter licença para cursos, porém, nego-lhes provimen-
porte de arma, compareceu à reu- to.
niâo da SUDENE, portando, oculta- E o meu voto.
mente, a arma do crime e com ela,
inequivocamente, tentou eliminar as VOTO VISTA
vidas do Dr. Marlos Jacob Tenório
de Melo e do Dr. Paul Jubert, só não O Sr. Ministro Leitão Krieger: Do
o fazendo por motivos alheios à sua minucioso relatório do eminente Re-
vontade, pois foi obstado pelo Sr. Jo- lator, chamou-me a atenção uma
sé Stepple f que ficou ferido naquele particularidade: a denúncia imputa-
esforço de evitar fossem consuma- va ao réu uma tentativa de ho-
dos os delitos pretendidos pelo réu. micídio, ao passo que a sentença o
Ora, dadas as circunstâncias em pronunciava por duas tentativas. Pa-
que se deram os fatos, inverossímeis ra mais detidamente apreciar o ca-
são as alegações do réu e caracteri- so, pedi vista, após ter o eminente
zadas se acham as tentativas de ho- Ministro Paiva emitido seu voto, em
micídio, pois, para a prática dos cri- que negava provimento a ambos os
mes, usou dos meios idôneos aos fins recursos.
que tinha em vista, e só não os Efetivamente. A denúncia remata:
conseguiu por circunstâncias alheias «Desta forma, o denunciado, Juarez
à sua vontade. Guimarães Ferreira, procurou elimi-
Para assim proceder, muniu-se da nar o Dr. Marlos Jacob Tenório,
arma, discutiu com a vítima Marlos SUPl:lrintendente-Adjunto de Opera-
Jacob Tenório de Melo, solicitou aos ções da SUDENE, só não o conse-
seus acompanhantes que se retiras- guindo, em face de circunstância
sem da sala de reuniões da SUDE- alheia à sua vontade, vale dizer, a
TFR - 100 243