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JURISPRUDENCIA

AGRAVO DE INSTRUMENTO N? 42.887 - SP


Relator: O Sr. Ministro Armando Rollemberg
Agravante: Empresas Nucleares Brasileiras SI A - Nuclebrás
Agravado: Melhoramentos Juréia Sociedade Civil Ltda
EMENTA
«Desapropriação - Valor do depósito para o
efeito de imissão provisória na posse do bem. Confir-
mação de despacho que determinou a sua comple-
mentação, em cwp.primento ao disposto no art. 15, §
1?, c, do Decreto-Lei n? 3.365/41, cuja finalidade é im-
pedir que seja éonsiderado outro valor que não o
atual do imóvel, harmonizando-se, por isso mesmo,
essa norma legal ordinária com o preceito constitu-
cional que exige prévia e justa indenização (art. 153,
§ 22).»

ACORDA0 RELATORIO
VÍstos e relatados os autos em que O Sr. Ministro Armando
são partes as acima indicadas: Rollemberg: De decisão que, em
ação de desapropriação proposta por
Decide a 4~ Turma do Tribunal Fe- Empresas Nucleares Brasileiras SI A
deral de Recursos. negar provimento - NUCLEBRÁS, contra Melhora-
ao agravo, unanimemente, na forma mentos Juréia Sociedade Civil Ltda.,
do relatório e notas taquigráficas deferiu, em janeiro de 1981, imissão
constantes dos autos que ficam fa- liminar na posse de imóvel mediante
zendo parte integrante do presente o depósito de importância calculada,
julgado. tendo em conta informação do IN-
eRA sobre o valor mínimo da terra
nua no Município de Iguape, no ano-
Custas como de lei. base de 1979, foi apresentado agravo
de instrumento que, regularmente
processado, deu causa à prolação de
Brasília, 29 de setembro de 1982 despacho assim formulado:
(data do julgamento) - Ministro
Armando Rollemberg, Presidente e «Acolho o agravo, para determi-
Relator. nar seja complementado o depósito
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prévio a fim de perfazer o total de de com o art. 685 do CPC, o JUIZ


Cr$ 1.122.360,00. mandará imiti-Io provisoriamen-
te na posse dos bens.
Contudo, a correção monetária e
os juros somente serão calculados § I? A imissão provisória po-
por ocasião da indenização do imó- derá ser feita, independentemen-
vel, não havendo razão para que, te da citação do réu, mediante o
desde já, seja a expropriante com- depósito:
pelida a esses acréscimos.
Á expropriada, por seu turno, es-
tá garantido o cálculo do preço jus-
to, ou seja, devidamente atualiza- c) do valor cadastral do imó-
do quando efetivado o pagamento. vel, para fins de lançamento do
imposto territorial, urbano ou ru-
ral caso o referido valor tenha
Atendido o disposto no artigo 527, Sid~ atualizado no ano fiscal ime-
§ 5? do CPC, publique-se e intime- diatamente anterior».
se».
Empresas Nucleares Brasileiras A ratio legis é a seguinte: deverá
SI A requereram a remessa dos au- ser observado o valor cadastral do
tos a este Tribunal, e, deferido tal imóvel, caso esse valor cadastral
seguimento, Melhoramentos Juréi,a tenha sido atualizado no ano fiscal
SIC Ltda. trouxe aos autos, por co- imediatamente anterior. Não exige
pia, julgado desta Turma sobre a lei, está-se a ver, que seja adota-
questão idêntica. do o valor cadastral do ano ante-
rior à desapropriação; exige, sim,
o valor cadastral do imóvel, vale
É o relatório. dizer, o valor cadastral do imóvel,
para fins de lançamento do impos-
to territorial, urbano ou rural, no
VOTO ano fiscal do ajuizamento da desa-
propriação, desde que tal valor ca-
dastral tenha sido atualizado no
O Sr. Ministro Armando ano fiscal imediatamente anterior.
Rollemberg (Relator): Apreciando o
AI 42.574, interposto de decisão que Essa exigência, aliás, é feita em
igualmente deferira imissão de pos- proveito do desapropriado, porque
se em ação de desapropriação pro- pode haver caso em que a atualiza-
posta por Empresas Nucleares Bra- ção do cadastro tenha ocorrido em
sileiras - NUCLEBRÁS, em que a exercícios bem anteriores ao que é
hipótese era idêntica à presente, foi efetivada a desapropriação. Se isso
acolhido, unanimemente, o voto se- acontecer, aplicar-se-á, então, a re-
guinte do relator, Ministro Carlos gra do art. 15, § I?, d». O que a lei
Mário Velloso: deseja, pois, é o valor atual do
imóvel, mesmo porque, em tem~
«Dispõe o art. 15, § I?, c do de desapropriação, exige a ConstI-
Decreto-Lei n? 3.365/41: tuição indenização prévia e justa
(CF, art.153, §22).
«Art. 15. Se o expropriante
alegar urgência e depositar No caso, a desapropriação foi
quantia arbitrada de conformida- ajuizada em dezembro de 1980 (fls.
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9/13), deferida a imissão provisó- Destarte, o depósito inicial da


ria na posse em 16-1-81 (fI. 27), terra nua deve ser feito pelo preço
efetivando-se esta em 19-3-81 (fls. unitário de Cr$ 4.700,00/ha (quatro
30/32). mil e setecentos cruzeiros por hec-
tare), ou 59,4303ha X Cr$
Segundo consta do ofício de fI. 4.700,00/ha.
46, oriundo do INCRA, o valor do
hectare, para o exercício de 1979, A expropriante, ora agravada,
foi de Cr$ 463,00, certo que tal va- deverá, pois, complementar o de-
lor foi atualizado, em relação ao pósito, com correção monetária so-
que vigorava em 1978, com a cor- bre a diferença entre o que deposi-
reção de 36,2%. Para o exercício tou/ em 12-2-81 (fI. 28), contando-se
de 1980, esse valor da terra nua essa correção monetária a partir
«foi fixado em Cr$ 4.700,00 (quatro de 12-2-81 e até que o depósito da
mil e setecentos cruzeiros) », escla- complementação se faça».
recendo o INCRA «que esse valor
não foi corrigido em relação ao Com apOio em tais razões confir-
exercício de 1979, e sim, fixado pe- mo o despacho recorrido negando
la Instrução Especial INCRA n? 21; provimento ao recurso.
nos termos da Portaria n? 144/80,
publicada pelo DOU de 28-5-80.
Então, o valor cadastral do imó- EXTRATO DA MINUTA
vel, no ano fiscal em que ocorreu a
desapropriação - o Decreto n?
84.771, que declarou a utilidade pú- Ag. 42.887-SP - ReI.: Sr. Min. Ar-
blica, é de 4-6-80, a ação ajuizada mando Rollemberg. Agrte.: Empre-
em dezembro de 1980 - era, em sas Nucleares Brasileira S/ A - NU-
realidade, Cr$ 4.700,00/hectare, e CLEBRAs. Agrdo.: Melhoramentos
não Cr$ 463,OO/hectare. Juréia Sociedade Civil Ltda.
Esse, em termos de interpreta- Decisão: A Turma negou provi-
ção teleológica do art. 15, § I? c, do mento ao agravo, unanimemente.
Decreto-Lei n? 3.365/41, presente a CEm 29-9-82 - 4~ Turma).
norma inscrita no art. 153, § 22, dá
Constituição, que determina inde-
nização prévia e justa, o valor que Os Srs. Mins. Carlos Mário Velloso
devia ter sido observado para o de- e Antônio de Pádua Ribeiro votaram
ferimento da imissão liminar na com o Relator. Presidiu o julgamen-
posse. to o Sr. Min. Armando ROllemberg.

EMBARGOS INFRINGENTES NA APELAÇÃO CtVEL N? 41.031 - SP


Relator: O Sr. Ministro Carlos Madeira
Embargantes: Antônio Ganme e outro
Embargados: Conselho de Medicina e outro
EMENTA
Conselho de Medicina. Falta do serviço hospita-
lar. Responsabilidade dos diretores.
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Não se tratando de negligência de médico, mas


falta dos serviços hospitalares, consistente no insufi-
ciente atendimento a paciente internado em estado
grave, configura-se o mau funcionamento sancioná-
vel com a censura prevista no Código de Ética.
Não há distinguir entre o médico e o profissional
que se torna empresário dirigente de estabelecimen-
to hospitalar, pois neste o dever de prestar serviços
médicos supera o intuito de lucro, que é da índole do
negócio puramente comercial. Cumprindo ao médico
a obrigação de meios, a Administração destes, por
aquele, nos hospitais, não desnatura as responsabili-
dades e os compromissos éticos inerentes à
profissão.

ACORDÃO quadro clínico de enfarte de miocár-


dio, que veio a falecer no mesmo dia
Vistos e relatados os autos, em que do internamento.
são partes as acima indicadas:
Houve representação do filho ado-
Decide a Primeira Seção do Tribu- tivo do paciente e o Conselho, após
nal Federal de Recursos, por unani- instrução do processo disciplinar,
midade, rejeitar os embargos, na absolveu os dois médicos que presta-
forma do relatório e notas taquigrá- ram os primeiros atendimentos e
ficas constantes dos autos que ficam responsabilizou os diretores do Hos-
fazendo parte integrante do presente pital.
julgado.
A decisão foi confirmada em grau
Custas como de lei. de recurso pelo Conselho Federal de
Medicina.
Brasília, 31 de março de 1982 (data
do julgamento). - Ministro Aldir G. Para verem declaradas insubsis-
Passarinho, Presidente - Ministro tentes as penalidades impostas ou,
Carlos Madeira, Relator. alternativamente, declarado nulo o
procedimento disciplinar de que re-
sultou a aplicação delas, e ainda pa-
ra haver perdas e danos, os apena-
RELATORIO dos moveram ação contra o Conse-
lho Federal de Medicina, alegando
nulidades e impropriedade da san-
o Sr. Ministro Carlos Madeira ção aplicada a empresários que ex-
(Relator): O Conselho Regional de' ploram o Hospital, subtraídos à dis-
Medicina de São Paulo aplicou aos ciplina do exercício da medicina.
médicos Antônio Gama e João Gan- Além disso, houve ampliação da pe-
me, Diretores do Hospital 9 de Julho, nalidade, ao ser a censura publicada
a pena de censura pública, nos ter- em imprensa não oficial.
mos do art. 30 do Código de Ética
Médica, em virtude de falha no A ação foi contestada e abundante-
atendimento médico a um paciente mente instruída e o Juiz Federal Pé-
internado naquele nosocômio, com ricles Luiz Medeiros Prade, da 9~
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Vara de São Paulo, julgou-a proce- Sustentam os embargantes que o


dente, em parte, para decretar a in- Dr. João Ganme, na época dos fatos,
subsistência das penalidades disci- sequer era Diretor do Hospital. E
plinares aplicadas aos autores. Afas- quanto à sanção, salientam que a
tou S. Exa. as alegações de inaplica- sua aplicação foi aos Diretores do
bilidade do art. 30 do Código de Éti- Hospital, embora os médicos que
ca Médica, à espécie, e a de ausên- atenderam o paciente tenham sido
cia de defesa ,no procedimento disci- absolvidos. Reconheceu-se negligên-
plinar, desprezando também o pedi- cia imputável aos diretores, disso re-
do de perdas' e danos. Mas conside- sultando que os embargantes foram
rou que o Conselho Regional de Me- punidos não como médicos, mas co-
dicina, ao punir a diretoria do Hospi- mo dirigentes de uma sociedade anô-
tal pela desatenção médica a um pa- nima mantenedora de um hospital.
ciente, consagrou responsabilidade Se negligência houve, indissociável
disciplinar solidária, não se preocu- seria a responsabilidade dos médicos
pando com a necessária individua- que atenderam o doente. Além disso,
ção. a censura publicada na imprensa co-
mum é pena imprevista, pOis o art.
22, letra d, da Lei n? 3.268, de 30 de
Apelaram os autores, insistindo na setembro de 1957, alude à censura
indenização de perdas e danos e plei- pública em publicação oficial.
teando a condenação do Conselho pe-
lo total das custas processuais. O Conselho Federal impugnou os
embargos, e a SUbprocuradoria-Geral
da República opinou pela rejeição
Apelou também o Conselho Fede- dos embargos.
ral de Medicina, postulando a impro-
cedência da ação.
É o relatório.
A E. 2~ Turma, por maioria, negou
provimento à apelação dos autores,
vencido o Ministro Jarbas Nobre que VOTO
negou provimento a todos os recur-
sos.
O Sr. Ministro Carlos Madeira
(Relator): O voto vencido, do Minis-
o acórdão foi assim ementado: tro Jarbas Nobre, adota a conclusão
a que chegou o Juiz, na sentença, in
verbis:
«Trabalho. Medicina. Disciplina.
«A contradição do Conselho Regio-
A decisão do órgão disciplinar nal (mantida pelo órgão superior)
não é contrária à prova nem infrin- é flagrante: absolveu os médicos
ge normas legais. Manutenção do que atenderam o paciente, sob a
ato.». (fI. 571). alegação de que não houve CUlpa,
mas aplicou pena disciplinar aos
facultativos tidos como em cargos
Opõem os autores embargos infrin- diretivos.
gentes do julgado, limitando o thema
decidendum à subsistência ou não da Se reconhecida a ausência de
pena disciplinar, afastado o pedido culpa do corpo médico, é porque
alternativo referente à nulidade do não houve desatenção ao paciente;
procedimento. se não houve desatenção, é porque
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os preceitos éticos foram fielmente da gravidade do caso, recomendou


observados; se foram observados, a internação, sendo o doente remo-
é porque a direção não deixou de vido para o hospital Nove de Julho,
exigir a observância (pelo menos de que era associado. O médico
não há nos autos, prova alguma que o atendera no pr<~nto-socorro
em contrário).» não mais se interessara pelo pa-
ciente que, indo para outro hospi-
No seu voto, o Ministro Décio Miran- tal, deixara de ser «seu doente».
da rememora os fatos, da forma se- (fl. 50, proc. apenso).
guinte:
O médico interno do Hospital No-
«No processo administrativo ve de Julho foi quem atendeu o pa-
comprovou-se que o paciente, asso- ciente ao chegar ao hospital, onde
ciado do hospital, chegou a este, se estaria internando, para fazer
para receber atendimento de um exame eletrocardiográfico. Ve-
emergência, por volta das 6,30 h. rificou a sintomatologia própria de
da manhã. enfarte e que, «no seu ponto de vis-
ta clínico», a terapêutica adotada
Ãs 10 horas o paciente foi exami- pelo pronto-socorro estava correta.
nado pela Dra. Marina Bacchi de Estando no fim de seu plantão e in-
Araújo, que não é empregada do ternado o paciente, que deveria
hospital e que ali atende um caso submeter-se a exame eletrocardio-
ou outro de clínica médica, que fo- gráfico no Hospital, o que seria fei-
ra chamada ao hospital. Examina- to por especialista, retirou-se o mé-
do o doente e tendo notícia de que dico interno, que não ficou sabendo
um cardiologista fora chamado, o que sucedeu ao doente em sua
retirou-se. (fl. 33, proc. apenso). ausência (fI. 51, proc. apenso).

Um dos autores, o Dr. Antônio


Por volta das 12,00 h. o paciente Ganme, depõe perante o Conselho
foi examinado pelo Dr. Geraldo Regional qualificado como Diretor-
Merlino que, a chamado do hospi- Presidente do Hospital. Diz que
tal, fez um eletrocardiograma, o não havendo médico indicado pelo
qual revelou enfarte; prescreveu paciente, foi, por iniciativa do mé-
medicamento para o caso de sentir dico interno, chamado o Dr. Man-
dor, avisou o filho da gravidade do sur Gebara no Hospital São Paulo,
estado do doente e pediu exames onde se deixara recado. Esclarece
complementares. Por volta das 3 o depoente «que o Dr. Gebara, até
ou 4 horas, procurou saber do re- o momento em que o filho do pa-
sultado dos exames que ainda não ciente procurara o Diretor-
estavam prontos. Mais tarde tele- Administrativo do Hospital, irmão
fonou e ditos exames ainda não es- do depoente, não tendo compareci-
tavam prontos. Não comparecera do, nem dado qualquer notícia so-
novamente ao hospital porque des- bre se iria ou não ver o paciente
te não recebera telefonema. Depois internado, por chamado do irmão
das 18,30 h. soube do falecimento. do depoente já referido, Diretor-
(fl. 34 do proc. apenso). Administrativo, foi então chamado
o Dr. Geraldo Merlino, ·pertencente
o paciente fora inicialmente ao quadro clínico do Hospital 9 de
atendido às 6,05h pelo Pronto-So- Julho, onde desempenha as fun-
corro Nossa Senhora de Pompéia e ções de cardiologista». (fl. 23
o médico que o examinou, diante medio, proc. apenso).
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o outro autor, Dr. João Ganme, va, no atendimento concreto de


depõe também perante o Conselho que se cuida nestes autos.
Regional, sendo qualificado como
Diretor-Administrativo do Hospital Não se trata no caso da contro-
no exercício de suas funções, quali- vertida «responsabilidade discipli-
dade reconhecida, como se viu. no nar solidária»: o Conselho enten-
depoimento do Diretor-Presidente. deu existir culpa específica de um
Diz que foi procurado pelo filho do e de outro dos diretores, com apoio
paciente, que lhe comunicara que o na prova.
Dr. Gebara não havia aparecido
para atender seu pai: o Dr. Gebara
fora chamado pelo médico interno Os componentes do Conselho Re-
de plantão: determinara que fosse gional,. pela maioria de nove dos
chamado o Dr. Geraldo Merlino, seus doze membros que aprecia-
cardiologista; depois disto. somen- ram o processo, verificaram falhas
te veio a tomar conhecimento do do hospital, que tinha sistema de
fato «em virtude do falecimento do angariação de associados, mas ao
paciente». (n. 25, proc. apenso.).» qual faltava organização interna
para atendimento suficiente.
Adiante. diz o eminente Relator:
o Hospital recebia. como o fez
«Ressalta dos autos o esforço do com o cliente de que tratam os au-
filho do paciente, dentro do hospi- tos. associados, inclusive para in-
tal de que era associado seu pai ternação de emergência com ne-
adotivo, apelando por todos os cessidade de pronto atendimento
meios para uma assistência médi- em crise cardíaca. Apesar disso, a
ca ao paciente e que foi prestada direção do hospital não sabia que o
com visível negligência. ou. ao me- médico indicado para tal atendi-
nos. com indesculpável demora. mento se encontrava de férias. co-
por falta de médico especializado mo o afirma o Diretor-Presidente.
disponível. ainda em seu depoimento em
Juízo. (fI. 433, terço final).
A absolvição do médico interno
que se retirou após o seu plantão, Outro médico fora convocado,
da médica clínica que se retirou mas a falha referida determinou
quando fora chamado um cardiolo- atraso de horas que seriam. ou po-
gista e a do cardiologista. este cha- deriam ser. de vital importância).»
mado com atraso de horas. que pe-
dira exames complementares de Quanto à responsabilidade do au-
que não se tem notícia até hoje e tor João Ganme, assim versou o voto
que fora para outro hospital. onde condutor do acórdão:
nenhum outro chamado recebera.
não afasta a imputabilidade dos di-
retores do hospital, cuja adminis- «Pretendem os apelantes que seria
tração desidiosa ou omissa propi- indevida a condenação administra-
ciou o quadro de probreza de assis- tiva do Dr. João Ganme como
tência adequada, e cuja falta de Diretor-Administrativo. quando já
providências efetivas. no momento não exercia tal encargo, do qual se
considerado. apesar de alertados licenciara, sendo substituído por
pelo filho adotivo do paciente, Nagibe Ganme, seu pai, que não
acarretou a demora. talvez decisi- era médico.
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A verdade, entretanto, é que dito direção do estabelecimento respon-


Diretor, durante todo o processo sável pelo serviço Il)édico. E isto re-
administrativo, apresentava-se em sulta, como diz o Juiz na sentença,
tal qualidade. Isto se vê da qualifi- da conjugação das disposições dos
cação feita perante o Conselho Re- arts. 30 e 77 do Código de Ética Pro-
gional, ainda no início das sindi- fissional.
câncias. (fI. 25, proc. apenso). Dizem os dispositivos citados:
Depondo em Juízo, diz o Dr. «Art. 30. O alvo de toda a atenção
João Ganme: «que nessa ocasião do médico é o doente, em benefício
foi informado por uma pessoa que do qual deverá agir com o máximo
o Dr. Mansur Gebara, cardiologis- de zelo e o melhor de sua capaci-
ta, não se encontrava no hospital, o dade profissional.»
que preocupava, pois havia suspei- Art. 77. Quando investido em
ta de enfarte do'pai adotivo do Ma- função de direção ou chefia, as re-
jor Mero Ferreira que, naquela lações do médico com seus colegas
oportunidade, acentuou não, haver e demais auxiliares deverão ser as
problema maior, pois outro médico reguladas no presente Código, não
poderia ser localizado, indicando o sendo lícito ao diretor ou chefe dei-
Dr. Geralpo Merlino». xar de exigir de todos fiel obser-
Confirma-se, assim, a atuação do vância dos preceitos da ética, co-
médico indicado, a providenciar o mo não o é negar-lhes o apreço, a
cardiologista para substituir o que solidariedade e seus legítimos inte-
estava de férias (seria médico de resses.»
outro nosocõmio) sem que o hospi- Não há que distinguir se a função
tal disso soubesse». de direção ou chefia, a que se
Não resta dúvida, portanto, quanto refere o Código, é de empresário
ao cabimento da sanção disciplinar ou de simples funcionário nela
aplicada, desde que o que ficou apu- investido. Nem mesmo é
rado não foi a negligência de um apropriado falar-se em empresário,
médico determinado, mas dos servi- ao se tratar de médico proprietário
ços hospitalares, em relação a um ou sócio de hospital, porque, na rea-
paciente de cujo estado de gravidade lidade, o estabelecimento hospitalar
estavam todos cientes. tem mais a natureza de instituição,
Não há, no caso, a responsabilida- em que o dever de prestar o serviço
de solidária, mas o' que Jean Pen- médico é primordial, superando o
neau denomina de «faute d'organiza- mero intuito de lucro, ínsito ao negó-
tion du service», e que pode ser iden- cio de índole puramente comercial.
tificado pelo retardamento de um Com efeito, a obrigação médica é
exame médico, pelo insuficiente aten- obrigação de meios, segundo a velha
dimento nas salas operatórias, ou classificação de Demogue, e se con-
pela carência dos cuidados médicos substancia na prestação de serviços.
ou de enferma,gem em geral. E a administração dessa prestação
o autor francês alude a que o Con- de serviços, a nível hospitalar, não
selho de Estado prefere, em tais ca- desnatura a condição do médico,
sos, responsabilizar o mau funciona- com as responsabilidades e os com-
mento do serviço, para assegurar o promissos éticos inerentes à profis-
direito de reparação da vítima. são.
(<<Responsabilité medicale», Paris, Se os serviços do hospital dirigidos
1977, pág. 264), Mas, no sistema bra- pelos embargantes falharam no
sileiro, de controle institucional do atendimento do seu associado, clara
exercício da medicina, pOde a san- é a responsabilidade deles e não dos
ção consistir também na censura à médicos que, na verdade, não aten-
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deram o doente porque competia à Ganme e outro. Embgdos.: Conselho


administração providenciar o cardio- de Medicina e outro.
logista que o caso requeria. Decisão: A Seção, por unanimida-
No que. respeita à publicação da de, rejeitou os embargos. (Em 31-3-
censura na imprensa comum, tenho 82 - 1~ Seção).
que foi devida à errônea interpreta- Os Srs. Ministros Gueiros Leite,
ção da lei. Entendo que só na im- Otto Rocha, William Patterson, Adhe-
prensa oficial pode ser feita a publi- mar Raymundo Pereira de Paiva,
cação. Mas dela, realmente, não re- Flaquer Scartezzini, Costa Lima e
sultou dano maior aos autores. Lauro Leitão votaram de acordo
Rejeito os embargos. com o Relator. Não participaram do
julgamento os Srs. Ministros Tor-
EXTRATO DA MINUTA reão Braz e José Cândido. Presidiu o
EAC 41.031 - SP - ReI.: Sr. Min. jUlgamento o Sr. Ministro Aldir G.
Carlos Madeira. Embgtes.: Antônio Passarinho.
APELAÇAO CtVEL N? 42.683 - CE
Relator: O Sr. Ministro Carlos Madeira
Remetente Ex Officio: Juiz Federal da Segunda Vara
Apelantes: União Federal
Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis (DNPVN)
Apelado: Francisco Veras Fontenele
EMENTA
Funcionalismo público. Ato de aposentadoria
com base em tempo de serviço inexistente. Prescri-
ção. Inquérito Administrativo. Lesão aos cofres pú-
blicos.
I. Apurada a falsidade da certidão de tempo de
serviço municipal que serviu de base à aposentado-
ria de servidor de autarquia federal, tem a Adminis-
tração o poder-dever de anular o ato. A anulação
não é simples ato disciplinar, pois se fundamenta na
tutela da legitimidade dos atos administrativos.
n. A prescrição, no caso de nulidade do ato por
vício de origem, começa a fluir do conhecimento
deste. pela Administração. Tendo havido violação ao
dever de fornecimento de elementos verdadeiros pa-
ra a obtenção de direito, da data em que essa viola-
ção é conhecida é que nasce a ação administrativa
para a anulação do ato.
In. O inquérito administrativo não obedece às
formas do processo penal, tendo suas fases delinea-
das na Lei n? 1.711 de 1952. O art. 232 do Projeto que
se transformou nessa lei, e que previa a adoção de
normas de processo civil e penal no procedimento
administrativo, foi vetado.
IV. A invalidade do ato praticado com vício insa-
nável retroage às suas origens e alcança todos os
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seus efeitos. Se o servidor público obteve o ato de


aposentadoria, mediante o uso de certidão de tempo
de serviço fictício, torna-se responsável pelos efeitos
desse ato, inclusive pela percepção de proventos in-
devidos, que configura lesão aos cofres públicos, en-
sejadora da pena de demissão.
ACORDA0 Em face da denúncia, o livro ou
pasta de assentamento dos funcioná-
Vistos e relatados os autos em que rios da Prefeitura de Camocim foi
são partes as retro indicadas. apreendido pela Polícia Federal e o
Decide a 3~ Turma do Tribunal Fe- Diretor-Geral do Departamento Na-
deral de Recursos, por unanimidade, cionaI de Portos e Vias Navegáveis
dar provimento à apelação para re- determinou a instauração de inquéri-
formar a sentença e julgar improce- to administrativo que culminou com
dente a ação, nos termos do voto do a cassação da aposentadoria do ser-
Sr. Ministro-Relator, na forma do re- vidor e sua demissão do serviço pú-
latório e notas taquigráficas constan- blico.
tes dos autos que ficam fazendo par- O servidor propôs, então, ação
te integrante do presente julgado. contra a União Federal e o Departa-
mento Nacional de Portos e Vias Ne-
Custas como de lei. vagáveis, alegando que a certidão de
Brasília, 27 de abril de 1982 (data tempo de serviço fornecida pela Pre-
do julgamento) Min. Carlos feitura Municipal de Camocim é do-
Madeira, Presidente e Relator. cumento hábil, porquanto louvado
em Livro de Assentamentos dos fun-
RELATORIO cionários da municipalidade. Nenhu-
ma validade tem a certidão que se
o Sr. Ministro Carlos Madeira limita a afirmar não haver sido en-
(Relator): Servidor do Departamen- contrada a assinatura do autor ou
to Nacional de Portos e Vias Nave- referência ao seu nome nos docu-
gáveis obteve sua aposentadoria vo- mentos da Prefeitura. Além disso, a
luntária, mediante a averbação de denúncia formulada pelO ex-Prefeito
tempo de serviço prestado à Prefei- é fruto de rancor político-partidário.
tura Municipal de Camocim, de 3 de Quanto ao ato de cassação da apo-
novembro de 1934, a 31 de agosto de sentadoria, sustenta o autor que já
1950. O ato de aposentação é datado ocorrera a prescrição, sendo nulo o
de 29 de março de 1968. processo administrativo.
Eleito Vice-Prefeito de Camocim 2. Contestou a União, sustentando
em novembro de 1972, o Prefeito Mu- a legalidade do inquérito e do ato
nicipal, de corrente partidária opos- impugnado, por isso que, apurada a
ta e ainda em exercício, em sucessi- falsidade da certidão da Prefeitura
vos expedientes dirigidos à Inspeto- de Camocim, ficou evidenciada a le-
ria Fiscal de Porto de Mucuripe, in- são aos cofres públicos praticada pe-
formou que «no período entre os lo autor. A lesão é falta impres-
anos de 1934 a 1950, quer nas folhas critível, e ainda que se cogitasse de
de pagamento dos funcionários da prescrição, ela só poderia se referir
Prefeitura, quer nos Livros de Pon- à penalidade, fluindo da data em que
to, não foi encontrada nenhuma assi- a Administração teve conhecimento
natura do Senhor Francisco Veras do fato.
Fontenele e nem referência ao seu O Juiz saneou o feito, desprezando
nome como servidor da Prefeitura.» a alegação de impedimento de um
TFR - 100 45

dos patronos do autor e deferindo tatuto dos Funcionários. A prescri-


provas. ção começa a fluir da data da apo-
O autor peticionou, insistindo na sentadoria. No caso concreto, o ato
argüição de prescrição e desistindo de aposentadoria foi publicado no
da prova deferida. dia 9 de abril de 1968, e a Comissão
I
A ,União insistiu na prova. de Inquérito para apurar a falsida-
de da certidão de tempo de serviço
O Juiz Federal Hugo Brito Macha- foi designada em 24 de abril de
do, do Ceará, por sentença, acolheu 1973. Os atos de cassação e de de-
a desistência da prova e, no mérito, missão foram publicados no dia 24
julgou procedente a ação, para de- de setembro de 1973, muito além
cretar a nulidade do procedimento do prazo prescricional.
administrativo bem como dos atos
de cassação de aposentadoria do au- b) nulo é o processo administra-
tor e sua demissão do serviço públi- tivo, por isso que, instaurado para
co, determinando a sua reintegração apurar possível falsidade ideológi-
e conseqüente reposição na situação ca praticada pelo autor, não obser-
de aposentado. A sentença condenou vou o princípio da ampla defesa.
a União ao pagamento dos proventos Ademais, nula é a Portaria que de-
do autor, acrescidos de juros de mo- terminou a abertura do inquérito,
ra, sem correção monetária, bem co- carente de formalidades essenciais
mo dos honorários de 10% sobre o à sua validade, j á que não qualifi-
que for apurado na execução. cou o indiciado, não expôs em to-
das as circunstâncias a infração
Considerou S. Exa. prescrita a fal- disciplinar cometida, não indicou
ta consistente na utilização de certi- os dispositivos legais violados e
dão falsa de tempo de serviço, a teor nem mencionou as provas conheci-
do parágrafo único do art. 213 da Lei das.
n? 1.711/52, combinado com os arts.
304, 301 e 109, V, do Código Penal. E c) aliás, o processo correu à re-
teve como nulo o processo adminis- velia, porque o autor não foi cita-
trativo, por haver sido indeferida a do, tendo a prova sido produzida
inquirição de testemunhas arroladas sem a sua assistência. Só após a
pelo defendente. inquirição das testemunhas e a
realização das vistorias, foi o autor
Apelaram o Departamento Nacio- chamado a apresentar defesa;
nal de Portos e Vias Navegáveis e a
União. d) as provas requeridas foram
indeferidas, num flagrante cercea-
Contra-arrazoou o autor. mento de defesa;
A Subprocuradoria-Geral da Repú- e) por fim, o inquérito foi instau-
blica opinou pela reforma da senten- rado para apurar falsidade ideoló-
ça. gica de certidão de tempo de servi-
É o relatório. ço, e o autor foi demitido por lesão
aos cofres públicos.
VOTO O autor analisa ainda a prova tes-
O Sr. Ministro Carlos Madeira temunhal, para concluir não haver
(Relator): Funda o autor sua ação justa causa para o ato demissõrio.
nos seguintes argumentos: Examinemos os argumentos.
a) a cassação da aposentadoria Concluído o inquérito que apurou a
é pena imposta, tão-somente, nos falsidade da certidão de tempo de
casos enumerados no art. 212, serviço municipal do autor, o
prescrevendo a falta em quatro Diretor-Geral do DNPVN (Departa-
anos, segundo o art. 213, II, do Es- mento Nacional de Portos e Vias Na-
46 TFR - 100

vegáveis) baixou duas portarias: a «se se subordina o ponto de partida


de n? 280, anulando a portaria que o da prescrição ao fato da violação
aposentou, e a de n? 281, demitindo-o que a ação é chamada a combater,
a bem do serviço, de acordo com o este início tem uma natureza pura-'
art. 207, VIII, da Lei n? 1.711/52. mente objetiva, pouco importando
O que o inquérito realmente apu- que o titular tenha, ou não, conheci-
rou, segundo os dados colhidos nos mento dela». Essa teoria é aplicável
autos, foi que o autor utilizou certi- às ações nascidas de relações obri-
dão graciosa de tempo de serviço gacionais, em que o titular do direito
prestado à Prefeitura Municipal de não pOde ignorar a violação pratica-
Camocim, a fim de obter tempo de da por parte do sujeito passivo.
serviço suficiente para aposentar-se. «Mas, nas ações que nascem da
transgressão da obrigação geral-
Apurada a falsidade da certidão de negativa de respeito ao direito do ti-
tempo de serviço que serviu de su- tular a que todos estão sujeitos - diz
porte ao ato, a conseqüência lógica é Câmara Leal - pode dar-se a viola-
a anulação deste. E a Administração ção de direito, sem que dela o titular
podia fazê-lo, pois, como salienta tenha imediato conhecimento, pOden-
Themistocles Cavalcanti, «a nulida- do, mesmo, sua ignorância pro-
de tem de se operar de pleno direito, longar-se por muito tempo».
pela própria força do vício que atin-
ge o ato administrativo e que, por si «Todavia, a ignorância não se pre-
só, dispensa a intervenção do Poder sume - prossegue o mesmo autor -
Judiciário para a sua deClaração» pelo que ao titular incumbe provar o
(Direito e Processo Disciplinar, momento em que teve ciência da
pág.52). violação, para que possa beneficiar-
A responsabilidade penal do autor se por essa circunstância, a fim de
pelo uso de certidão falsa, é secun- ser o prazo prescricional contado do
dária ou, pelo menos, não foi consi- momento da ciência, e não da viola-
derada' no caso. O que ganhou rele- ção». (<<Da Prescrição e da Decadên-
vo, no inquérito administrativo, foi o cia», pág. 38).
vício de falsidade que atingiu o pró- A autenticidade, a veracidade dos
prio ato de aposentação que a Admi- dados fornecidos à Administração
nistração anulou no exercício da tu- para que seja reconhecido o tempo
tela da legitimidade de seus atos. de serviço como direito formativo,
O argumento de que a prescrição, gerador da aposentadoria, é um de-
no caso, seria de quatro anos, por se ver de todos os servidores. O ato de
tratar de cassação de aposentadoria, aposentadoria tem base na boa-fé
é apenas especioso. Na verdade, a que merecem os documentos que a
anulação do ato de aposentadoria do instruem e pela qual responde o ser-
autor não tem fundamento discipli- vidor. Se, anos mais tarde, verifica-
nar, pois se funda na tutela da legiti- se a falsidade do tempo de serviço
midade dos atos administrativos. O apresentado como prova daquele di-
que invalida o ato é o vício original reito, o vício atinge o ato desde a sua
de que o tempo de serviço munici- origem.
pal, apresentado como seu pressu- Ainda que se admita que contra os
posto, é falso. aposentados só se possa proceder até
Ora, a prescrição, no caso, corre o prazo de quatro anos - o que é
do conhecimento do fato da falsifica- uma garantia de direito disciplinar
ção, pela Administração. Não tem - tem-se que esse prazo, no caso
lugar, na hipótese, a teoria objetiva, concreto começou a correr, para o
segundo a qual, como dizia Savigny, Departamento Nacional de Portos e
TFR - 100 47

Vias Navegáveis (DNPVN) a partir com base na ausência de citação ini-


da comunicação feita pelo Prefeito cial do servidor responsável. A cita-
de Camocim, quanto à inautenticida- ção é para a defesa (art. 222 da Lei
de do tempo de serviço do autor. n~ 1.711/52).

A certidão da Prefeitura Municipal O inquérito administrativo tem


de Camocim, de que nas folhas de como finalidade apurar preliminar-
pagamento da municipalidade não mente, irregularidade ocorrida no
foi encontrada a assinatura do autor, âmbito do serviço público. (art. 217
nem referência ao seu nome, no da Lei citada>. Essa é a fase inquisi-
período de 1934 a 1950, é datada de 15 tiva por excelência, em que são fei-
de janeiro de 1972. A partir de então, tas as verificações, as perícias, a co-
começaria a fluir o prazo prescricio- lheita de documentos e da prova tes-
nal da anulação do ato administrati- temunhal, ouvido também o funcio-
vo baixado com base no tempo de nário sobre o qual recai a responsa-
serviço fictício fornecido pelo autor. bilidade pela irregularidade aponta-
da. Nessa fase o responsável pOde
Os atos de anulação da portaria de requerer provas, indicar testemu-
aposentação do autor e de sua de- nhas, reinquirir testemunhas.
missão, foram publicados em 24 de
setembro de 1973, menos de dois Encerrada a instrução, lavra-se o
anos da data em que a Administra- respectivo termo que há de conter o
ção tomou conhecimento do vício resumo dos fatos e a individualiza-
que tornou nulo o ato. ção do responsável.
Não há cuidar, portanto, de pres- Citado, o responsável produzirá
crição. sua defesa, e a Comissão, a seguir,
fará seu Relatório, submetendo o in-
No que respeita à nulidade do pro- quérito a julgamento da autoridade
cesso administrativo, cabe dizer, que o instaurou.
desde logo, que o art. 232 do Projeto
que se transformou na Lei n~ No caso concreto, o autor foi ouvi-
1.711/52, no qual se previa a adoção, do pela Comissão na fase de instru-
no inquérito administrativo, das nor- ção do processo, mas não indicou,
mas do processo civil e penal, foi ve- nessa oportunidade, nenhuma prova.
tado pelo Presidente da República, e Só veio a fazê-lo quando foi citado
o veto foi aprovado pelO Congresso para apresentar defesa. Sucede que
Nacional em sessão de 12 de dezem- essa defesa, no sistema adotado no
bro de 1952. Não há, assim, que cui- Estatuto, já é sobre o que foi apura-
dar da forma processual penal, para do na instrução. A produção de pro-
regular o inquérito administrativo. A vas se faz na primeira fase, e não na
forma é a prevista no Estatuto dos oportunidade da defesa escrita.
Funcionários Civis, não tendo proce-
dência as alegações de falta, na Por-
taria de instauração do inquérito, de Nem se diga que o autor não tinha
qualificação do indiciado e demais conhecimento da acusação que lhe
especificações peculiares à denún- faziam, pois foi inquirido sobre os fa-
cia. Não se instaurou um processo tos e nessa oportunidade, podia re-
penal, mas um procedimento admi- querer a prova que desejasse.
nistrativo para apuração de irregu-
laridades. De igual modo, são incon- A recusa da Comissão em ouvir
sistentes as argüições de nulidade testemunhas indicadas pelO autor,
48 TFR - 100

depois da instrução, não contém ne- importa na nulidade de seus efeitos.


nhuma ilegalidade. Já não havia Se esses efeitos são auferidos pelo
oportunidade processual para tanto. funcionário que deu causa à nulida-
de, configurada está a infração gra-
ve, à qual é aplicada a pena de de-
No que respeita ao argumento de missão a bem do serviço público.
que o inquérito foi instaurado para
apurar a falsidade da certidão de
tempo de serviço municipal e con- Cabe dizer ainda que em momento
cluiu pela lesão aos cofres públicos, algum o autor conseguiu desmerecer
é de salientar que, sendo nulo o ato a certidão da Prefeitura Municipal
que aposentou o autor, por haver de Camocim, a propósito da inexis-
nascido afetado de vício insanáveL tência do seu tempo de serviço. A
cabia à Administração invalidá-lo. E prova documental, portanto, aliada
essa invalidação tem eficácia ex ao que foi apurado na vistoria proce-
tunc, isto é, como diz Hely Lopes dida nos livros da Prefeitura, é so-
Meirelles, «retroage às suas origens branceira à simples prova testemu-
e alcança todos os seus efeitos pas- nhal.
sados, presentes e futuros em rala-
ção às partes, só se admitindo exce- Com estas considerações. e des-
ção para com os terceiros de boa-fé, prezando as preliminares suscitadas
sujeitos às suas conseqüências refle- pelos apelantes, dou provimento às
xas» (Direito Administrativo Brasi- apelações, para reformar a sentença
leiro, 3~' edição, pág. 149). e julgar improcedente a ação. Con-
deno o autor ao pagamento das cus-
tas e honorários de 10% sobre o va-
Ora, da verificação da nulidade do lor atribuído à causa.
ato de aposentadoria resultou sua in-
validação, desde a origem, bem co-
mo dos efeitos por ele causados, co- EXTRATO DA MINUTA
mo a percepção de proventos pelo
autor. AC 42.683-CE - ReI.: Min. Carlos
Madeira. Remte. Ex Officio: Juiz
O uso da certidão falsa pelo autor Federal da Segunda Vara - Aptes.:
para obter a imerecida aposentado- União Federal - Departamento Na-
ria, ensejou-lhe perceber proventos cional de Portos e Vias Navegáveis
indevidos, configurando a lesão aos (DNPVN) - Apdo.: Francisco Veras
cofres públicos, isto é, dano efetivo Fontenele.
ao erário. Houve, assim, o intuito de
criar situação jurídica propíciadora Decisão: A Turma, por unanimida-
de ganho indevido. de, deu provimento à apelação para
reformar a sentença e julgar impro-
cedente a ação, nos termos do voto
A causa de nulidade da aposenta- do Sr. Ministro-Relator. (Em 27-4-32
doria está íntímamente ligada ao - :3:' Turma').
propósito do autor de perceber pro-
ventos em decorrência de uma sítua-
ção ilegítima. Votaram de acordo com o Relator
os Srs. Ministros Adhemar Raymun-
do e Flaquer Scartezzini. ImpedidO,
A conclusão da autoridade admi- o Sr. Ministro Torreão Braz. Presi-
nistrativa, portanto, é baseada no diu o julgamento o Sr. Ministro
princípio de que a nulidade do ato Carlos Madeira.
TFR - 100 49

APELAÇAO CIVEL N? 43.966 - MG


Relator: Ministro Américo Luz
Apelantes: Companhia Siderúrgica Nacional
Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência So-
cial - lAPAS.
Apelados: Os mesmos
EMENTA
Ação anulatória de débito fiscal.
Contribuições Previdenciárias.
Decadência (art. 173, I, parágrafo único do CTN.
e parágrafo único do art. 143 da CLPS - Decreto n?
77.077/66).
Quotas de salário-família e prêmios de assidui-
dade pagos aos empregados, com habitualidade, pe-
la empresa, por liberalidade, constituem gratifica-
ções integrantes da remuneração, sujeitando-se à in-
cidência da contribuição previdenciária (art. 69, §
I?, da Lei Orgânica da Previdência Social, Lei n?
3.807/60).
Sentença confirmada.
Apelação improvida.

ACORDA0 va a antiga 1? Turma desta egrégia


Corte, como Juiz Federal convocado.
Vistos e relatados os autos em que Leio.
são partes as acima indicadas: Por unanimidade, ficou a apelação
Decide a Sexta Turma do Tribunal decidida conforme acórdão de n. 246,
Federal de Recursos, por unanimi- assim ementado:
dade, negar provimento às apela-
ções, na forma do relatório e notas «Previdência Social - Contribui-
taquigráficas constantes dos autos ções - Litígio Administrativo Do-
que ficam fazendo parte integrante méstico. SOCiedade de economia
do presente julgado. mista de criação Federal contra
autarquia da União. Impossibilida-
Custas como de lei. de jurídica da ação, consoante o
Brasília, 2 de dezembro de 1981 art. 205 da Constituição, introduzi-
(data do julgamento) - Ministro do pela Emenda n? 7, de 15-4-77.
José Fernandes Dantas, Presidente. Aplicação da ação, suportando ca-
- Ministro Américo Luz, Relator. da uma das partes as despesas
processuais e honorários de advo-
RELATORIO gado que haja despendido.»
O Sr. Ministro Américo Luz: Em Em grau de recurso extraordiná-
23-9-1977, o eminente Ministro Décio rio interposto pelo lAPAS, a 1? Tur-
Miranda explicitou a espécie às fls. ma do Colendo Supremo Tribunal
236/237, relatório por mim adotado Federal, sufragando voto do relator,
em 25-9-1978, época em que integra- Ministro Cunha Peixoto, resolveu
50 TFR - 100

dar-lhe provimento, consoante a Por questão de técnica, enfrento,


ementa que transcrevo (fl. 274): preferencialmente, a preliminar
«Ação Judicial movida por socie- contra a qual se insurge o INPS nas
dade de economia mista sob con- razões apelatórias desenvolvidàs às
trole acionário da União contra au- fls. 224/226.
tarquia também federal. Cumpre acentuar que não é de
A jurisprudência do Supremo Tri- prescrição que se trata, mas de de-
bunal Federal firmou-se no sentido cadência, porquanto as NRDVs de
de que o art. 205 da Constituição fls. 11 a 24 abrangem parcelas do dé-
Federal, na redação dada pela EC bito a partir de setembro de 1962 até
n~ 7/77, não é auto-aplicável, de- agosto de 1969, conquanto somente
pendendo ainda de lei que estaoele- em 17 de dezembro de 1969 a autora
ça a autoridade administrativa tenha sido notificada para recolhê-lo
competente para julgar os litigios (fls. 25 a 33).
e o procedimento. O parágrafo único do artigo 143 da
Recurso extraordinário conheci- Consolidação das Leis da Previdên-
do e provido.» cia Social (Decreto n? 77.077, de 24-1-
Depois de passarem pelo Juízo de 1976), dispõe que os comprovantes
origem, os autos voltaram a este discriminativos dos lançamentos de-
Tribunal e foram a mim distri- verão ficar arquivados na empresa
buídos. durante 5( cinco) anos, para fiscali-
E o relatório, em aditamento ao de zação, o que permite a ilação de que
fls. 236/237. tal é o prazo legal para a constitui-
ção do crédito previdênciário.
VOTO Já fiz conhecida minha opinião so-
bre a natureza tributária das contri-
O Sr. Ministro Américo Luz (Rela- buições para a Previdência Social,
tor): I - Na sentença recorrida, o de modo que combino com a norma
seu douto prolator assim concluiu supracitada a do art. 173 do Código
(fls. 218/219): Tributário Nacional.
«... Julgo a ação improcedente, Assim, tenho por precluso o direito
em parte, porque, ao entendimento do INPS de constituir crédito sobre
de haverem parcelas prescritas, as parcelas anteriores em mais de 5
por não constituídas em época pró- (cinco) anos a 17-12-1969, data da no-
pria, na forma do art. 173, do Códi- tificação feita à autora.
go Tributário Nacional (Lei n? Duas objeções pOderiam ser opos-
5.172, de 25 de outubro de 1966) e tas a essa solução:
da Constituição Federal (art. 21, § a) que aludindo o decisum expres-
2?, I), liberado o INPS - réu a co- samente a prescrição, tornar-se-ia
brar o que lhe for devido, consoan- defeso ao tribunal proclamar a deca-
te o aqui decidido, em ação pró- dência;
pria.
b) que, em se tratando de direito
Arque a autora com as custas patrimonial, não se pOderia reputar
processuais e com os honorários de decadente a pretensão do INPS à co-
advogado da autarquia-ré, que ar- brança, se a autora não argüiu a
bitro em 10% (dez por cento) do preliminar em causa.
valor correspondente a 80% (oiten- A primeira, respondo, como em
ta por cento), do valor dado à outras oportunidades, que prescrição
ação. Custas na mesma propor- e decadência são institutos jurídicos
ção.» tão afins em sua natureza, que as
TFR - 100 51

próprias leis por vezes lhes transmu- do Direito, cuja autonomia os seus
dam os conceitos como sói aconte- cultores insistem em proclamar,
cer no Código Civil (art. 178, § 10, in- mas que resulta, na realidade, mais
cisos I a IV e VIII), entre outras nor- da necessidade didática, não interfe-
mas de diplomas legais diversos (ver rindo na substância da Ciência
Carlos Maximiliano - Hermenêutica Jurídica como um todo, que os intér-
e Aplicação do Direito). Portanto, o pretes e aplicadores dos textos le-
emprego da boa técnica judicante gais se socorram, costumeiramente,
para separar os conceitos não impor- da fonte geradora que é o Código Ci-
ta em dar solução extra ou ultra viL A experiência dos povos, social,
petita à res in judicio deducta. econômica e política, fez estreitar
A segunda objeção, retruco com a progressivamente o espaço concei-
afirmação de não constituir direito tual entre Direito Público e Direito
patrimonial, mas obrigacional, o que Privado. O próprio Código Tributário
concerne ao recolhimento de contri- Nacional, eminentemente publicista,
buições previdenciárias. In casu, a dispõe no artigo 109:
autora, notificada a recolher o débito «Art. 109. Os princípios gerais
contra ela levantado pelo réu, a este de direito privado utilizam-se para
se antecipou, visando a evitar o ajui- pesquisa da definição, do conteúdo
zamento da execução fiscal, e inten- e do alcance de seus intitutos, con-
tou a ação anulatória. ceitos e formas, mas não para defi-
nição dos respectivos efeitos tribu-
Muitos confundem direito patrimo- tários.»
nial com efeito patrimonial. Assim é O art. 110, reciprocamente, diz
que do exercício de um direito pes- que «a lei tributária não pode alterar
soal ou obrigacional quase sempre a definição, o conteúdo e o alcance
surgem conseqüências patrimoniais de institutos, conceitos e formas de
para a parte sucumbente na ação. direito privado»,. etc.
Contudo, tomar o efeito pela causa
levaria o intérprete a restringir o Natural que assim seja, tendo em
âmbito da atuação do juiz à quase vista o inter-relacionamento pro te-
impossibilidade de pronunciar ex cional às entidades pÚblicas e priva-
officio a prescrição, aplicando as re- das a que cada ramo do Direito se
gras dos artigos 219, § 5?, e 295, inci- dirige, no afâ de compor, equanime-
so IV, do Código de Processo CiviL mente, os conflitos de interesses pa-
Encontraria o julgador óbice no art. ra o alcance do bem comum.
166 da lei substantiva, porque o A decadência, de que trata o arti-
exercício do direito de ação, na go 173 do CTN, é instituto pré-
grande maioria dos casos, objetivas processual, de ordem pública, e, no
conseqüências patrimoniais. que respeita à ação judicial, esta
Na sua acepção estrita, direito pa- não poderá vingar se decadente o di-
trimonial é o que se relaciona a bens reito à constituição do crédito. Ao
e coisas (direitos a eles relativos). juiz é dado pronunciá-la, sempre que
Daí a criteriosa divisão sistemática ocorrente, pois que ela opera ex
estabelecida pelo legislador no Códi- tunc, independentemente de provo-
go Civil Brasileiro: Parte Geral: Das cação da parte.
Pessoas - Dos Bens, etc.; Parte Com essas considerações, passo ao
Especial: Direito de Família - Di- exame do mérito propriamente dito.
reito das Coisas - Direito das Obri- II - Estou em que a sentença de-
gações - Direito das Sucessões. cidiu com acerto a controvérsia, co-
Não é de se estranhar que no trato mo se verifica da sua fundamenta-
de questões ligadas a outros ramos ção (fls. 216/218):
52 TFR - 100

«Realmente, a doutrina e a me- RGPS, porque manda integrar a


lhor jurisprudência se decidiram remuneração todas as importân-
pela aprovação da tese do cias recebidas a qualquer título»,
réu/INPS. (fl. 60),
Encontrei curioso e bem traba- «Qualquer outra gratificação ou
lhado Acórdão do egrégio Tribunal percepção, sob qualquer denomina-
Federal de Recursos que, bem ção, sejam «salário-esposa», «com-
apreciando espécie idêntica, con- plementação do salário-filho», ou
cluiu no sentido da tese do réu. salário-chuva, salário-insalubre,
Trata-se de decisão proferida na perigoso, vexaminoso, desde que
Apelação Cível n? 29.364 - SC - vem sendo pago com habitualida-
Relator o eminente Ministro José de, o que caracteriza o ajuste, é
Néri da Silveira e Revisor o ilustre tributável à previdência, é remu-
Min. Márcio Ribeiro, encontrado neração». (fl. 61).
na Revista do Tribunal Federal de «No julgamento do AMS n?
Recursos, n? 35, (abril a junho de 31.425, de Pernambuco, o eminente
1972), págs. 59 a 67, assim Ementa- Ministro Márcio Ribeiro anotou,
do: Previdência Social - Valores acerca de qua.qtias entregues aos
pagos, com habitualidade, aos em- empregados, semestralmente, ver-
pregados, mês a mês, sob a deno- bis: «Meu "voto é dando provi-
minação de «salário-esposa» e mento aos recursos, para cassar a
«complementação do salário-filho». segurança. A própria sentença re-
Não se podem compreender essas conhece que as contribuições inci-
quantias como «salário-família», diram sobre as gratificações con-
conforme definido na Lei n? 4.266, cedidas em junho e dezembro, gra-
de 8-10-63, e no Decreto n? 53.153, tificações que, embora não consti-
de 1963. Integram essas importân- tuam, propriamente, salário dos
cias o «salário de contribuição», empregados, são pagas habitual-
nos termos do art. 69, § 1?, da Lei mente. Além disso, o § 1? do art. 69
Orgânica da Previdência Social, e da Lei n? 3.807/1960, a meu ver,
art. 173, inciso I, do Regulamento compreende quaisquer gratifica-
Geral da Previdência Social baixa- ções, inclusive as eventuais,» (pág.
do com o Decreto n? 60.501, de 14-3- 64).
1967. Distinção entre as noções de
«remuneração e salário», para os «A sua vez, no julgamento do
efeitos do Direito do Trabalho, e de AMS n? 42. 627-PE , a respeito de
«salário de contribuição», no regi- contribuições da Previdência So-
me da previdência social.» cial sobre as chamadas «gratifica-
ções de balanço» e gratificações de
Os seguintes tópicos do Acórdão Natal», o ilustre Min. Esdras Guei-
referido, endossam meu ponto de ros, na condição de relator, regis-
vista, pelo que os adoto como ra- trou: «A matéria de que cogitam
zões de decidir: «A lei não prevê estes autos já constitui jurispru-
«salário-esposa» ou «complementa- dência tranqüila neste Tribunal
ção do salário-filho». Prevê tão- Federal, no sentido de que incidem
somente salário-filho e estabelece os descontos previdenciários sobre
que sobre ele não há incidência de o total do salário percebido pelos
contribuição. Logo, qualquer outro empregados, integrados no mesmo
ganho, seja qual for o título que os quaisquer gratificações habituais,
aa. derem, seja qual a rubrica que inclusive a de Natal, consideradas
denominam, é remuneração, na tacitamente convencionadas» (fl.
forma do art. 173, item I, do 64).
TFR - 100 53

A fI. 63, O acórdão faz referência aa. seu sentido social; estando, de
a três Súmulas do Supremo Tribu- outra parte, compreendidas essas
nal Federal, concernentes à maté- parcelas mensais no âmbito do art.
ria em exame: «207 - As gratifica- 69, § 1?, da LOPS, e art. 173, I, do
ções habituais, inclusive a de Natal,' RGPS, inclusive, por sua natureza
consideram-se' tacitamente conven':: e em face da habitualidade de seu
cionadas, integrando o salário.» pagamento, em que pese o brilho do
«209 - O salário-produção, como trabalho trazido aos autos pelas
outras modalidades de salário- aa., força é concluir pela improce-
prêmio, é devido, desde que verifi- dência integral da ação proposta
cada a condição a que estiver su- contra o INPS».
bordinado, e não pOde ser suprimi- A remição de dívidas fiscais, con-
do, unilateralmente, pelo emprega- cedida à apelante, decorreu de ato
dor, quandO pago com habitualida- do Min. da Fazenda, só abrangendo,
de.» portanto, impostos e taxas federais,
«459 - No cálculo da indenização não se estendendo a contribuições
por despedida injusta, incluem-se previdênciárias, cuja natereza tribu-
os adicionais, ou gratificações, tária é de outra índole e sob controle
que, pela habitualidade, se tenham adminitrativo independente.
incorporado ao salário.» (pág. 63). Concluo, finalmente, o meu voto:
Não vale, data venia, na espéCie, Mantenho, por sua conclusão, a de-
que os valores em exame, pagos cisão de primeira instância e, em
aos empregados, com habitualida- conseqüência, nego provimento às
de, mês a mês, não o sejam em pa- apelações.
gamento dos serviços que prestam
às empresas. Não se trata, aí, se- EXTRATO DA MINUTA
quer, de abonos eventuais ou grati-
ficações semestrais, ambos de AC. 43.966-MG. ReI.: Sr. Min. Amé-
qualquer forma também sujeitos à rico Luz. Aptes.: Cia. Siderúrgica
incidência do art. 69, § 1?, da Nacional e lAPAS. Apdos.: os mes-
LOPS.» (fls. 63/64). mos.
E trecho ainda do voto do emi- Decisão: A Turma, por unanimida-
nente Ministro Néri da Silveira (fI. de, negou provimento às apelações.
66): «De todo o exposto, não se po- (Em 2-12-81. 6~ Turma).
dendo, por força de lei, considerar Participaram do julgamento os
os quantitativos em exame Exmos. Srs. Mins. José Dantas e
«salário-família, para os efeitos de Wilson Gonçalves. Presidiu o julga-
isenção de contribuição previden- mento o Exmo. Sr. Min. José Fer-
ciária, muito embora anotem as nandes Dantas.
APELAÇAO CtVEL N? 45.256 - SP
Relator: Ministro José Cândido
Apelante: João Elias Sobrinho
Apelado: Instituto Nacional de Previdência Social
EMENTA
Previdenciário Aposentadoria de Ex-
c,ombatente - Proventos integrais - Art. 197, letra
«C», da Emenda Constitucional n? 1.
54 TFR - 100

A expressão proventos integrais, do texto da


Emenda Constitucional n? 1, de 1969, art. 197, letra
<~C», não pode ser entendida isoladamente, porém, à
luz da lei ordinária da previdência social que dispõe
expressamente sobre a forma de composição do
salário-de-benefício (Lei n? 5.698, de 31-8-71).
No caso dos autos, foi aplicada a legislação em
vigor, à época da aposentadoria do postulante.
Precedentes do STF e do TFR.
Sentença reformada.

ACORDÃO ção que o autor percebeu no mês


anterior, usou de critérios outros,
Vistos e relatados os autos, em que com prejuízo do requerente. O cri-
são partes as acima indicadas: tério do Instituto Nacional de Pre-
Decide a 2~ Turma do Tribunal Fe- vidência Social contraria a regra
deral de Recursos, por unanimidade, jurídica constitucional do artigo
negar provimento ao recurso do au- 197 da Constituição Brasileira, se-
tor, para confirmar a sentença e jul- gunda a qual o ex-combatente da
gar improcedente a ação, na {orma FEB (Força ExpediCionária Brasi-
do relatório e notas taquigráficas leira), tem direito a aposentadoria
constantes dos autos I que ficam fa- integral, depois de 25 anos de ser-
zendo parte integrante do presente viço. Juntou documentos e o réu
julgado. respondeu: não há direito ao venci-
mento integral, tal como entende o
Custas como de lei. autor. O que já se lhe paga é o que
Brasília, 15 de maio de 1981 (data de direito se tem de pagar: apurar-
do julgamento) - Ministro Evandro se o salário dos últimos 36 meses, e
Gueiros Leite, Presidente - Minis- fixá-lo como sendo a base para a
tro José Cãndido, Relator. aposentadoria. A não se .' proceder
assim, o Instituto é vítima de frau-
RELATORIO des, como aconteceu no presente
caso: para atingir o salário dito co-
o Sr. Ministro José Cãndido: O mo o último do mês de trabalho, a
MM. Juiz de Direito da Comarca de fiscalização do réu apurou que o
Santos expôs a controvérsia nos se- autor teria trabalhado, simultanea-
guinte termos: mente, em até três lugares diferen-
tes, o 'que é impossível. Juntaram-
«João Elias Sobrinho aciona o se documentos. Na audiência final,
Instituto Nacional de Previdência sem mais instrução probatória, de-
Social I para haver revisão do cál- bateram a causa».
culo do salário I para pagamento de
sua aposentad.oria por tempo de Sentenciando, julgou improcedente
serviço, com retroação a 17-5-73, a ação, condenando o autor em hono-
condenando-se o réu à diferença rários e custas.
que se apurar, com mais comina- Inconformado, apelou o autor com
ções processuais. Alega que se as razões de fls. 34/38, sustentando o
aposentou na data supra, mas o seu direito à aposentadoria especial.
Instituto Nacional de Previdência Contra-razões às fls. 41/48.
Social, ao invés de adotar como va- Nesta instância, a douta Sub-
lor da aposentadoria a remunera- procuradoria-Geral da República
TFR - 100 55

opinou pela confirmação da sentença da decisão proferida na Apelação


de I? grau. Cível n? 36.905-RJ sendo Relator o
E o relatório. Ministro Jorge Lafayette (fI. 501.
Dessa forma, a decisão de 1~ ins-
VOTO tância está correta.
Nego provimento ao apelo do au-
o Sr. Ministro José Cãndido: (Re- tor. Mantenho a sentença recorrida.
lator) O apelante quer a revisão da
sentença que lhe negou o suposto di- E o meu voto.
reito de «perceber a sua aposentado-
ria ou salário- benefício do Instituto EXTRATO DA MINUTA
NacionaI de Previdência Social, inte-
gralmente, com base no seu último AC 45.256-SP (3058700) - ReI.:
vencimento ou salário». '(fI. 3). Min. José Cândido. Apelante: João
O Instituto Nacional de Previdên- Elias Sobrinho. Apelado: INPS.
cia Social demonstrou que o cálculo Decisão: A Turma, por unanimida-
da sua aposentadoria foi procedido de, negou provimento ao recurso do
com um percentual de 100% sobre os autor, para confirmar a sentença e
seus salários, atendidas as variações julgar improcedente a ação. (Em 15-
do período básico. Daí foi levantado 5-81 - 2~ Turma).
o total a que tem direito, de acordo
com o artigo 197, letra c, da Consti- O Srs. Ministros Evandro Gueiros
tuição Federal. Cumpriu-se assim a Leite e William Patterson votaram
Lei Orgânica da Previdência Social. com o Sr. Ministro Relator. Presidiu
Esta é a orientação da jurisprudên- o julgamento o Sr. Ministro Evandro
cia dessa egrégia Corte, como se vê Gueiros Leite.

APELAÇAO CIVEL N? 49.338 - RJ


Relator: O Sr. Ministro Carlos Mário Velloso
Apelante: Sociedade Técnica e Industrial de Lubrificantes Solutec S/ A
Apelada: União Federal.
EMENTA
Tributário. Imposto Único Sobre Energia Elétri-
ca. Repetição do indébito. Consumidor industrial.
Lei n? 2.308/54, art. 4?, § 5?, I, com a redação da Lei
n? 5.665/71, art. 5?, parágrafo único. Decreto n?
68.415/71, art. 6?, CTN, arts. 121, 165 e 166.
I - Sujeito passivo da obrigação principal é
aquele que, por lei, está obrigado a pagar o tributo
ou penalidade pecuniária, que tanto pode ser o con-
tribuinte propriamente dito, quanto o responsável
(CTN, art. 121, parág. único, I e lI).
II - Tem legitimação para a ação de repetição
do indébito o sujeito passivo e não só o contribuinte.
Se a legitimação é do sujeito passivo, tem-na, evi-
dentemente, o responsável, que é, também, sujeito
passivo (CTN art. 165; CTN, art. 121, parágrafo Úlli-
co, IelI).
56 TFR - 100

IH - Consumidor industrial. Energia elétrica.


Isenção. Lei n? 2.308/54, art. 4?, § 5?, I, com a reda-
ção da Lei n? 5.665/71, art. 5?, parág. único. Imposto
único Sobre Energia Elétrica. O Consumidor indus-
trial está isento do imposto único sobre energia elé-
trica. O consumidor é o responsável pelo pagamento
do tributo (Decreto n? 68.415/71, art. 6?). Tem o con-
sumidor industrial legitimidade para a ação de repe-
tição de imposto único sobre energia elétrica, impos-
to pelo mesmo pago, indevidamente, já que goza de
isenção.
IV - Recurso provido.

ACORDA0 lhe restituir o montante da conde-


nação no prazo de 60 dias, a partir
Vistos, relatados e discutidos estes da data que reconhecer a proce-
autos em que são partes as acima in- dência do pedido.
dicadas: Sustenta que, recentemente, ve-
Decide a :~:' Turma do Tribunal Fe- rificou que vinha pagando o Impos-
deral de Recursos, por unanimidade, to Unico sobre Energia Elétrica co-
dar provimento ao apelo, nos termos brado juntamente com a conta de
do relatório e notas taquigráficas energia de sua fábrica.
anexas que ficam fazendo parte in- Face à sua condição de estabele-
tegrante do presente julgado. cimento industriaL a sede da auto-
Custas como de lei. ra está isenta do pagamento do
Brasília, :30 de abril de 1980. (data aludido tributo, de acordo com o
do julgamento) - Ministro Carlos que preceitua o artigo 4:', $i :J:', item
Mário VeUoso, Presidente e Relator. i, da Lei n~) 2.308/54, com a redação
dada pela Lei n~ 5.655/71.
RELATORIO A autora enviou carta à Light -
Serviços de Eletricidade S.A., a
O Sr. Ministro Carlos Mário quem a União delegou competên-
VeUoso: A sentença recorrida, às fls. cia para arrecadar o imposto, soli-
80/8:':>, lavrada pela Juiza Federal citando a suspensão da cobrança,
Tânia Heine, assim relata a espécie: no que foi atendida a partir de
«A Sociedade Técnica e Indus- abril de 1976.
trial de Lubrificantes Solutec S.A., A autora requereu administrati-
devidamente representada, propõe vamente, através da 5~ Inspetoria
Ação Ordinária contra a União Fe- da Receita Federal, a restituição
deral pleiteando restituição de im- do imposto em questão, pago inde-
portâncias pagas indevidamente, vidamente nos exercícios de 1972 a
nos exercícios de 1972 a 1~75, a 1975, que originou os processos n?s
titulo de Imposto Unico sobre Ener- 715-01.162/76, 715-01.163/76, 715-
gia Elétrica, no total de Cr$ 01.164/76 e 715-01.165/76 respectiva-
2.327.266,20 (dois milhões, trezentos mente.
e vinte e sete mil, duzentos e ses- O Sr. Delegado da Receita Fede-
senta e seis cruzeiros e vinte cen- ral do Rio d.e Janeiro, apesar de
tavos), acrescido de juros de mo- admitir que «os estabelecimentos
ra, custas, honorários advocatícios industriais foram incluídos entre
e correção monetária, se a ré não os que estão isentos do Imposto
TFR - 100 57

Único sobre Energia Elétrica, por Apelou a vencida (fls. 87/93). Sus-
efeito do Parágrafo Único do art. 5? tenta que, nos anos de 1972, ,1973,
da Lei n? 5.655 de 20-5-71, que 1974 e 1975, pagou o Imposto Umco
acrescentou o inciso «i» ao § 5? da sobre Energia Elétrica, destacado
Lei n? 2.308, de 31-8-54», indeferiu nas respectivas contas de energia.
os pedidos, alegando que «se houve Todavia, estava isenta, por ser esta-
pagamento indevido de tributo, a belecimento industrial (art. 4?, § 5?,
omissão é de sua exclusiva respon- I, da Lei n? 2.308, de 31-8-54, com a
sabilidade». redação da Lei n'? 5.655, de 20-5-71).
Junta procuração e documentos. Sustenta que ela, apelante, é o sujei-
to passivo da obrigação principal, já
Citada, a União Federal contes- que a distribuidora de energia elé-
tou, argüindo, preliminarmente, trica é mera arrecadadora do impos-
não ser a autora parte legítima no to. Invoca os artigos 6? e 7? do De-
feito, pois o fato gerador é a distri- creto n? 68.419, de 25-3-71. Por outro
buição de energia, sendo o contri- lado, em momento nenhum foi nega-
buinte do imposto a empresa dis- do que a autora suportou o ônus do
tribuidora de energia e não o con- tributo. Menciona o Decreto 68.419,
sumidor. A parte legítima para pe- de 25-3-71, art. 21, o RIPI, a Lei n'?
dir a restituição seria a distribui- 4.502/64, art. 32, Parágrafo único e
dora de energia, sujeito passivo da atos normativos dos Fisco. Conclui
obrigação tributária, nos termos por pedir a reforma da sentença, pa-
do art. 121 do CTN. ra o fim de ser a ação julgada proce-
No mérito, trata-se de imposto dente.
indireto, não passível de restitui- Respondeu a apelada (fls. 95/96).
ção, conforme as Súmulas n? 71 e Diz, em resumo, que a apelante é ca-
546, do STF. recedora da ação por não ser parte
Pede a improcedência do pedido, legítima no feito, pois o fato gerador
juntando as informações da Procu- do imposto único em questão é a dis-
radoria da Fazenda Nacional deste tribuição de energia elétrica, sendo o
Estado. contribuinte do imposto a empresa
A autora falou sobre a contesta- diStribuidora de energia e não o con-
ção à fI. 65 e seguintes.» (fls. sumidor.
80/82). Nesta egrégia Corte, oficiou a ilus-
A sentença, ao cabo, julgou a auto- trada Subprocuradoria-Geral da Re-
ra carecedora do direito de ação, pública, às fls. 100/103. Preliminar-
condenando-a no pagamento da ver- mente, pediu a reforma da sentença,
ba honorária de Cr$ 1.000,00. face ao duplo grau de jurisdição, na
parte em que arbitrou a verba hono-
O argumento fundamental da sen- rária, para o fim de ser referido ar-
tença é este: a autora, consumidora bitramento retificado, observando-se
de energia elétrica, não é o sujeito a regra do § 3? do art. 20, CPC. No
passivo da obrigação tributária. mérito, opina no sentido do desprovi-
Trata-se de um imposto indireto - o mento do apelo.
Imposto. Único sobre Energia Elétri-
ca - figurando a autora como con- E o relatório.
tribuinte de fato. O CTN prevê a pos-
sibilidade da repetição do indébito VOTO
pelo sujeito passivo (art. 165). Toda- O Sr. Ministro Carlos Mário
via, por não ser a autora o sujeito Velloso: (Relator): Em verdade, dis-
passivo da obrigação tributária, é põe o art. 4?, parágrafo 5?, i, da Lei
ela carecedora da ação. n? 2.308/54, com a redação dada pela
58 TFR - 100

Lei n? 5.655, de 20-5-71, art. 5?, pará- energia elétrica, o certo é que a le-
grafo único, que os consumidores in- gislação pertinente ao imposto único
dustriais estão isentos do pagamento em debate deixa expresso que o seu
do imposto único sobre energia elé- pagamento corre por conta do consu-
trica. midor <Decreto n? 68.415/71, art. 6?).
O Decreto n? 68.415, de 24-3-71, art. In casu, repete-se, a União Fede-
6?, dispõe, outrossim: ral não nega que a autora suportou o
«Art. 6? O Imposto Único será seu ônus, vale dizer, pagou o
arrecadado nas contas de forneci- quantum que deseja seja restituído.
mento expedidas obrigatoriamente A autora, entretanto, dele estava
pelos distribuidores de energia elé- isento.
trica, devendo delas constar, des- A sentença, no particular, isto re-
tacadamente das demais, a quan- conhece, ao escrever:
tia do imposto devido, calculado
este, de acordo com a tarifa fiscal «Não se discute, na hipótese, sub
vigente na data do faturamento. judice se o autor deve ou não pa-
gar o Imposto Único sobre Energia
Parágrafo único: ............... » Elétrica. No âmbito administrativo
O art. 7? do referido Decreto foi reconhecida sua condição de es-
68.415/71, estabelece, em seguida, tabelecimento industrial, isento,
que «o produto da arrecadação do pois, deste tributo, conforme pare-
Imposto Único, verificada durante ceres de fls. 27 a 32:
cada mês de calendário, será reco- «Com efeito, os consumidores in-
lhido pelos distribuidores de energia dustriais foram incluídos entre os
elétrica, dentro dos 20 (vinte) pri- que estão isentos do Imposto Único
meiros dias do mês subseqüente, sobre Energia Elétrica, por efeito
mediante guia própria ... » do parágrafo único do art. 5? da
In casu, a União Federal não ne- Lei n? 5.655, de 20-5-71, que acres-
gou que a autora, ora apelante, su- centou o inciso i ao § 5? da Lei n?
portou o ônus do tributo. A sua ale- 2.308, de 31-8-54». (FI. 82).
gação resume-se no dizer que o fato
gerador do tributo é a distribuição III
da energia, sendo contribuinte do
imposto a empresa distribuidora e O CTN, art. 121, estabelece que o
não o consumidor. Assim, seria a au- «sujeito passivo da obrigação princi-
tora carecedora da ação, porque não pal é a pessoa obrigada ao pagamen-
é sujeito passivo da obrigação tribu- to de tributo ou penalidade pecuniá-
tária (CTN, art. 121). Por tratar-se ria». Sujeito passivo, portanto, é
de imposto indireto, não seria aquele que, por lei, está obrigado a
passível de restituição (STF, Súmu- pagar o tributo ou penalidade pecu-
las 71 e 546). niária.
Nos incisos I e II do parágrafo úni-
II co, do mesmo art. 121, o CTN distin-
gue, dentre os sujeitos passivos da
A questão, todavia, não pode ser obrigação principal, o contribuinte,
posta simplesmente assim. propriamente dito, e o responsável.
Ambos, todavia, são sujeitos passi-
Aceita-se que o imposto em debate vos da obrigação tributária princi-
é indireto, mesmo porque a questão, pal. O contribuinte é o que tem rela-
sob tal aspecto, é irrelevante. ção pessoal e direta com a situação
Mesmo aceitando-se que o contri- que constitua o respectivo fato gera-
buinte, no caso, é o distribuidor de dor (art. 121, I); responsável, quan-
TFR - 100 59

do, sem revestir a condição de con- A autora é, sim, sujeito passivo,


tribuinte, tem obrigação de pagar na modalidade responsável (CTN,
por efeito de disposição expressa da art. 121, 11). E o sujeito passivo, na
lei (121, lI). forma do art. 165, seja eíe contri-
buinte ou responsável, tem legitimi-
Ambos, repete-se, são sujeitos pas- dade para pedir a restituição:
sivos da obrigação principal.
IV Mas, mesmo que assim não fosse,
certo é que, in casu, por ter sido a
In casu, não há dúvida que foi a autora quem suportou o encargo, es-
autora quem suportou o encargo. A taria ela coberta pela regra do art.
União não o nega, nem poderia fazê- 166, CTN.
lo, porque, por força da lei, o art. 6?
do Decreto n? 68.415/71, a ela corria
a obrigação de pagá-lo. De um modo ou de outro, portanto,
a autora poderia pedir a restituição.
Por outro lado, interpretando-se o
art. 166 em consonância com O art.
165, força é convir que cuida aquele, V
apenas, de uma categoria de sujeito
passivo, o contribuinte, nas suas mo- Diante do exposto, dou provimento
dalidades - contribuinte de jure e ao apelo, para julgar procedente a
contribuinte de facto. ação, condenada a vencida na verba
honorária de 5% (CPC, art. 20, § 4?)
Não há, entretanto, que se falar, do valor da causa, correndo-lhe, ain-
no caso, seja a autora contribuinte da, a obrigação de restituir as custas
de facto. pagas pela vencedora.

APELAÇAO CíVEL N? 49.342 - RJ


Relator: O Sr. Ministro Moacir Catunda
Remetente Ex Offício: Juiz Federal da 8~ Vara
Apelante: Departamento Nacional de Estradas de Rodagem-DNER.
Apelados: Jacinto Almeida Monteiro e s/mulher
EMENTA
Desapropriação.
Oferta. A ausência de contestação não importa
em anuência tácita à oferta, por isso que a lei espe-
cial, regedora das desapropriações por utilidade pú-
blica, impõe a formalidade da avaliação, para fixa-
ção do preço justo.
Justa indenização. A simples atualização do va-
lor do laudo administrativo não caracteriza a figura
jurídica da avaliação, çom vistas a fixar a justa in-
denização prevista na Con~tituição.
Recurso desprovido.
60 TFR - 100

ACORDA0 com o obtido pelo seu assistente-


técnico (fls. 94/95).
Vistos e relatados os autos em que Não houve contra-razões.
são partes as acima indicadas:
Subindo os autos, opina a
Decide a 5~ Turma do Tribunal Fe- Subprocuradoria-Geral da República
deral de Recursos, por unanimidade, pelo provimento do recurso.
negar provimento ao recurso volun-
tário e não tomar conhecimento da l!:: o relatório. A pauta, sem revi-
remessa oficial, na forma do relató- são.
rio e notas taquigráficas constantes
dos autos que ficam fazendo parte VOTO
integrante do presente julgado.
Custas como de lei. O Sr. Ministro Moacir Catunda:
Sem nenhuma procedência a alega-
Brasília, 29 de outubro de 1980, ção preliminar da apelação de que,
(data do julgamento) - Ministro por não ter a ação sido contestada,
Moacir Catunda, Presidente e Rela- devesse a oferta constante da inicial
tor. ser tida como aceita, de acordo com
o art. 319 do CPC, por isso que a lei
RELATORIO especial regedora das desapropria-
ções por utilidade pública dispõe
o Sr. Ministro Moacir Catunda: que, feita a citação, a ação tomará o
Ação de desapropriação proposta em curso ordinário, daí se seguindo pela
1974 pelo Departamento Nacional de indeclinabilidade da perícia I para
Estradas de Rodagem contra J acin- apurar o preço justo, tal cómo se
to Almeida Monteiro, visando a uma praticou no caso vertente.
área de 1.042,25 metros quadrados,
composta pelos lotes 4, 5, 6 e 7 da No atinente ao mérito do recurso,
quadra 16 do loteamento Bairro do tendente a obter a substituição da
Engenho, em Itaguaí, Estado do Rio quantia fixada a título de indeniza-
de Janeiro, necessária à construção ção, com base nos seguros elementos
da Rodovia Rio-Santos, BR-10l, tre- informativos relacionados no laudo
cho Santa Cruz-Angra dos Reis. oficial sobre o valor atual do terre-
Ofereceu o expropriante a quantia no, por aquela outra/ registrada no
de Cr$ 3.804,21 ( que foi depositada, laudo do assistente-técnico do desa-
tendo sido imiÚdo na posse provisó- propriante, mediante a simples atua-
ria da área. lização do valor do laudo administra-
tivo, fI. 82 - resposta ao IX quesito
Não houve contestação. - não merece provimento, por isso
O perito do Juízo avaliou as terras que tal operação não reúne requisi-
desapropriadas em Cr$ 31.421,10 (fI. tos mínimos para ser considerada
i

76) e o assistente-técnico do expro- como laudo' avaliatório, dentre os


priante em Cr$ 7.608,42 (fI. 82). quais cumpre realçar a pesquisa de
A sentença, na sua decisão, adotou fatos (atuais e diversos, para fins de
os termos do laudo do perito oficial, comparação.
condenando o expropriante no paga- A jurisprudência do Tribunal é
mento indenizatório de Cr$ 31.421,10, pacífica, no sentido de que a simples
acrescidos de juros e correção mone- atualização do laudo administrativo
tária. Custas e honorários do perito não pode ser considerada como ava-
fixados em Cr$ 3.000,00 (fls. 86/91). liação, para determinação do justo
Apelou o DNER para que o preço valor do bem perdido, de que trata a
da indenização seja fixado de acordo promessa constitucional.
TFR - 100 61

Por estes motivos, e considerando Federal da 8~ Vara. Apelante: De-


também aqueles outros I da douta partamento Nacional de Estradas de
sentença, nego provimen'to ao recur- Rodagem - DNER. Apelados: Ja-
so voluntário, ao passo que desco- cinto Almeida Monteiro e s/mulher.
nheço da remessa ex officio, porque a Decisão: Por unanimidade, negou-
condenação não atingiu a alçada de se provimento ao recurso voluntário
30 vezes o valor da oferta, prevista e não se tomou conhecimento da re-
no § 2? do art. I? da Lei n? 6.825, de messa oficial (em 29-10-80 - 5~ Tur-
22-9-80, combinada com a Resolução ma).
n? 25, de 30-9-80, do TFR.
Os Srs. Ministros Justino Ribeiro e
EXTRATO DA MINUTA Sebastião Reis votaram com o rela-
AC 49.342 - RJ. ReI.: Min. Moacir tor. Presidiu o julgamento o Sr. Mi-
Catunda. Remetente ex officio. Juiz nistro Moacir Catunda.

APELAÇÃO CíVEL N? 51.509 - SP .


Relator: O Sr. Ministro WaShington Bolívar de Brito
Apelante: Zoraide Antunes de Miranda
Apelados: Instituto Nacional de Previdência Social e outro
EMENTA
Previdenciário - Pensão por morte - Disposi-
ção de última vontade - Acatamento - Divisão da
pensão entre a companheira e a irmã inválida do
segurado.
1) A vontade do testador, instituindo sua irmã e
sua companheira como beneficiárias perante o IAP-
FESP, em partes iguais, manifestada em testamen-
to formalmente perfeito, merece obediência.
2) Embora o art. 11 e seus incisos da Lei n?
3.807/60 (LOPS), em sua redação original, não men-
cionasse a companheira, a evolução do direito previ-
denciário, quanto a esta, culminou por incluí-la no
item I do art. 13 da CLPS, em completa igualdade
com as pessoas ali indicadas, pois a exclusão não se
faz na mesma categoria, mas por itens (Precedente
do TFR, AC n? 70.025-RJ). Desse modo, a compa-
nheira agora figura em primeiro lugar e as irmãs
solteiras, ainda quando inválidas, em quarto lugar.
3) Tendo a companheira direito próprio e im-
prescritível, a qualquer tempo poderia ela pleiteá-lo
com exclusão da irmã do segurado, ainda que inváli-
da (CLPS, arts. 13, § I?, e 109). A autora não preten-
deu isso, mas apenas receber a metade da pensão,
como permitiria a legislação do IAPFESP, segundo o
entendimento do seguradO falecido, sem desamparar
a irmã deste, aliás já quinhoada por ele com outros
bens, o que não sucedera a ela própria.
4) Apelo provido.
62 TFR - 100

ACORDÃO O INPS, em sua contestação (fls.


13/14) preliminarmente pediu a cita-
Vistos e relatados os autos em que ção de Maria de Lourdes de Oliveira
são partes as acima indicadas: Dias. No mérito, sustentou não assis-
Decide a 1~ Turma do Tribunal Fe- tir razão à autora, nos termos' do
deral de Recursos, por unanimidade, art. 11, lU, § I?, da Lei n? 3.807/60
dar provimento ao recurso, na forma que só permite a inscrição de uma
do relatório e notas taquigráficas só pessoa que viva sob dependência
constantes dos autos que ficam fa- econômica do segurado. Argumen-
zendo parte integrante do presente tou, ainda, que no testamento, o no-
julgado. me da irmã do de cujus figura em
primeiro lugar.
Custas como de lei.
Brasília, 24 de março de 1981 (data Citada, Maria de Lourdes de Oli-
do julgamento) - Ministro Peçanha veira Dias apresentou contestação
Martins, Presidente Ministro (fls. 24/26), requerendo, preliminar-
Washington Bolívar de Brito, Rela- mente, absolvição de instância por
faltar à autora legitimidade para
tor. propor a ação, em razâo da ocorrên-
cia da prescrição qüinqüenal. No
RELATORIO mérito, alegou que a autora, sendo
o Sr. Ministro Washington Bolívar viúva, já vinha recebendo uma pen-
são p6r morte de seu marido. Trans-
de Brito: Zoralde Antunes de Miran- creveu, em seu favor, o § I? do art.
da, beneficiária da Justiça Gratuita, 11 da Lei n? 3.807/60. Disse, ainda,
propôs ação ordinária de cobrança que o legislador considerou os depen-
de benefício previdenciário contra o dentes nos termos do art. 11 do De-
Instituto Nacional de Previdência creto n? 60.501/67, não cogitando da
Social, alegando, em resumo, que sua divisão. Por isso, a Previdência
depois de enviuvar, passou a viver Social ao receber o pedido, tomando
maritalmente com Albertino de Oli- por base o testamento público, consi-
veira Dias, situação que perdurou derou a pessoa que estava em pri-
por 14 (quatorze) anos consecutivos, meiro lugar.
até 24-5-63, ocasião em que seu com-
panheiro veio a falecer, sem descen- Na réplica, a autora (fI. 30) após
dentes, já viúvo, deixando, apenas, alegar a inocorrência da prescrição,
irmãos todos maiores e sua genitora. destacou não ser verdade que perce-
ba qualquer pensão, muito menos
Sendo segurado da previdência, o por falecimento de seu marido, por-
de cujus instituiu, por testamento, quanto ele não era segurado da pre-
sua irmã Maria de Lourdes de Oli- vidência.
veira e a autora, como beneficiárias
das prestações asseguradas pelO réu, Oitiva das testemunhas, às fls.
distribuindo-as em partes iguais, 99/104.
metade por metade, às duas contem- Na audiência de instrução e julga-
pladas. mento (fls. 120 e 125), a autora e o
Pleiteou as seguintes parcelas, na INPS ofereceram mémoriais (fls.
proporção de 50% (cinqüenta por 126/128 e 129/132).
cento) : prestações vencidas e vin- O MM. Juiz Federal Dr. Mário An-
cendas da pensão por morte, pecúlio tônio Ferreira Milano (fls. 136/140)
especial; juros de mora, honorários julgou improcedente a ação, a fim
advocatícios e demais comissões de de asegurar à co-ré Maria de Lour-
direito, inclusive correção monetá- des Dias, também conhecida como
ria. Maria de Lourdes de Oliveira Dias, o
TFR - 100 63

direito de receber a pensão na sua de qualquer condição, quando invá-


totalidade do instituto-réu. lidas ou menores de 21 (vinte e
Apelou a autora (fls. 142/146) sus- um) anos:
tentando que o ex-segurado, ao assi- n - o pai inválido e a mãe;
nar o testamento, não pensou no In - os irmãos inválidos ou me-
INPS, mas, no IAPFESP que lhe nores de 18 (dezoito) anos e as ir-
possibilitava conceder a pensão em mãs solteiras, quando inválidas ou
partes iguais para mais de um de- menores de 21 (vinte e um) anos».
pendente. Assim, ao interpretar a lei
os atos de cada um, se há de ter em No tocante à companheira, a evo-
frente o disposto no art. 85 do Código lução do direito previdenciário se fez
Civil que reza: de forma notável, tanto que culmi-
nou por inclUÍ-la no item I do art. 13,
«N as declarações de vontade se que cuida da presunção de depen-
atenderá mais à sua intenção que dência, em completa igualdade com
ao sentido literal da linguagem». as demais pessoas ali indicadas, pois
Contra-razões do INPS (fls. a exclusão não se faz na mesma ca-
148/149), pedindo a confirmação da tegoria, mas por itens, segundo o en-
sentença, uma vez que a pretensão sinamento da doutrina e aqui mesmo
da apelante esbarra no contido no o temos proclamado, como se vê na
art. 11, item IV, § I?, da Lei n? AC n? '10.025-RJ, de que fui relator.
3.807/60. Também não pode prevale- Com efeito, hoje a companheira
cer o argumento segundo o qual o figura em primeiro lugar e as irmas
ex-segurado, ao testar, «teria levado solteiras, ainda quando inválidas,
em conta a Lei Estadual n? 4.832/58 em quarto e último lugar (CLPS,
(arts. 16 e 14, § 3?) pois o que interes- art. 13, itens I e VI).
sa, no caso, é a lei vigente na época Quando o segurado fez seu testa-
e no momento da aplicação das nor- mento (fI. 7), -instituiu sua irmã e Be-
mas previdenciárias. nedito Fernandes Barros seus her-
A ilustrada Subprocuradoria-Geral deiros universais, dando, a cada um,
da República (fls. 153), em parecer a metade dos seus bens; e instituiu
do Dr. Geraldo Andrade Fonteles, «como suas beneficiárias perante o
opinou de acordo com os pronuncia- IAP dos Ferroviários e Empregados
mentos da autarquia assistida. em Serviços Públicos, a mesma sua
Sem revisão, nos termos do art. 33, irmã Maria de Lourdes Oliveira
inciso IX, do Regimento Interno. Dias e Zoraide Antunes de Miranda,
em partes iguais».
É o relatório.
A autora da presente ação, benefi-
VOTO ciária da Justiça Gratuita, agora
empregada doméstica para prover
O Sr. Ministro Washington Bolívar sua subsistência, conviveu por mais
de Brito (Relator): Dispunham o art. de quatorze anos com o falecido se-
11 e seus incisos da Lei n? 3.807, de gurado, more uxorio.
26-8-60 (LO PS ) : O MM. Juiz Federal não conside-
«Art. 11. Consideram-se depen- rou a dispOSição testamentária por
dentes do segurado, para os efeitos entendê-la contrária à lei. Tenho que
desta lei: esse enfoque está equivocado, segun-
do bem o demonstrou a autora em
I - a esposa, o marido inválido, sua apelação e a transcrição acima
os filhos de qualquer condição, claramente o comprovou - isto é,
quando inválidos ou menores de 18 que o testador se baseou na legisla-
(dezoito) anos, as filhas solteiras, ção referente ao IAPFESP que per-
64 TFR - 100

mitiria essa distribuição da pensão a do segurado, sem desamparar a ir-


seus dependentes. Ademais, o testa- mã, aliás já quinhoada com outros
mento está formalmente perfeito e bens, o que não lhe sucedeu, a ela
não se lhe declarou, também formal- própria.
mente, a nulidade, motivo pelo qual Assim, dou provimento ao apelo.
deve a última vontande do testador,
que não aberra da lei, ser obedecida. EXTRATO DA MINUTA
Por outro lado, tendo a companhei-
ra direito próprio oponível erga AC 51.509-SP - ReI.: Min. Was-
omnes, desde que cumpridos os re- hington Bolívar de Brito. Apte.: Zo-
quisitos legais, como no caso, e tam- raide Antunes de Miranda. Apdos.:
bém sendo certo que o direito ao be- INPS e outro.
nefício é imprescritível, a qualquer Decisão: A Turma, por unanimida-
tempo, pOderia ela pleiteá-lo e com de, deu provimento ao recurso (em
exclusão da irmã, ainda que inváli- 24-3-81 - 1~ Turma).
da, nos termos da legislação vigente. Os Srs. Ministros Otto Rocha e Pe-
Não pretendeu tal, com a sua ação, reira de Paiva votaram com o Rela-
mas apenas o recebimento da meta- tor. Presidiu o julgamento o Sr. Min.
de da pensão, respeitando a vontade Peçanha Martins.

APELAÇAO ClVEL N? 51.888 - SE


Relator: O Sr. Ministro Carlos Mário Velloso
Apelante: Liz SI A - Comércio e Beneficiamento de Calcário
Apelada: União Federal
EMENTA
Processual civil. Tributário. Ação anulatória de
débito. Execução fiscal. Conexão. Depósito prévio.
CPC, artigos 103, 105, 106, 585, § I?; Decreto-Lei n?
147, de 1967, art. 20, § 3?; CTN, art. 151, 11.
I. Ajuizada a ação anulatória de débito, ou a de-
claratória negativa de débito fiscal, sem o depósito
do montante integral do crédito tributário, não está
o Fisco inibido de promover a execução fiscal para
cobrança do débito (CPC, art. 585, § I?). Se isto ocor-
rer, far-se-á a penhora. Todavia, dada a ocorrência
de conexão, devem as ações ser reunidas, a fim de
serem julgadas juntamente (CPC, arts. 103, 105 e
106).
11. Se a ação anulatória de débito, ou a declara-
tória negativa de débito fiscal foi precedida do depó-
sito integral do crédito tributário, inibida está a Fa-
zenda de ajuizar a execução fiscal, por isso que sus-
pensa está a exigibilidade daquele, ex vi do disposto
no art. 151, 11, CTN. Por outro lado, a regra do § I?
do artigo 585, CPC, deve ser interpretada em conso-
nância com a norma inscrita no § 3? do art. 20 do
Decreto-Lei n? 147, de 1967.
TFR - 100 65

lII. Ação anulatória de débito fiscal precedida


de depósito da importância total do débito. Execução
fiscal ajuizada posteriormente. Nulidade desta, por-
que inexigível o título da exeqüente (CPC, art. 586 e
art. 618, I).
IV. Recurso provido.

ACORDÃO do exame de fls. 2 e 3 do executivo


fiscal.
Vistos e relatados os autos em que A fls. 32, despachei, verbis:
são partes as acima indicadas:
«Segundo o disposto no § 1? do
Decide a 4~ Turma do Tribunal Fe- art. 585 do Código de Processo Ci-
deral de Recursos, por unanimidade, vil, a propositura de açâo anulató-
dar provimento à apelação, na for- ria de débito fiscal não inibe a Fa-
ma do relatório e notas taquigráficas zenda Pública de promover-lhe a
constantes dos autos que ficam fa- cobrança.
zendo parte integrante do presente
julgado. Em nosso modo de ver, se o de-
pósito for feito (como na espécie),
Custas como de lei. em sendo movida execução por
Brasília, 27 de outubro de 1980 - quantia certa, deverá ser penhora-
Ministro Armando Rollemberg, Pre- do e, então, o Poder Público
sidente - Ministro Carlos Mario encontrar-se-á garantido, sendo
Velloso, Relator. unidos o executivo fiscal e a ação
anulatória, por conexão. Se a ação
RELATORIO anulatória for procedente, está
prejudicando (sic) a execução por
o Sr. Ministro Carlos Mário quantia certa, fundada em crédito
Velloso: A sentença recorrida, a fls. tributário; se improcedente (o que
22-25, assim relata a espécie: ocorreu, crf. fls. 17/20), a execu-
ção por quantia certa prosseguira,
«Liz S.A. - Comércio e Benefi- independentemente de sentença,
ciamento de Calcário, estabelecida como é em face do novo sistema.
nesta cidade, propôs ação anulató- (Apud J. M. de Arruda Alvim Ne-
ria de débito Fiscal contra a União to, in Processo Tributário, Rev. de
Federal, vindo a açâo a ser julga- Inf. Legislativa, out/dez. 1975, pág.
da improcedente pela sentença de 166).
fls. 17 a 20 dos autos em apenso da
execuçâo fiscal n? 4.610/77. Assim sendo, ordeno a penhora
do depósito judicial e, conseqüente-
A ação foi acompanhada de de- mente, o prosseguimento normal
pósito da importância total lança- da execução».
da pelo Fisco (item 2 das informa-
ções de fls. 16 dos autos da referi- Feita a penhora (fls. 36), a deve-
da execução fiscal). dora embargou a execução, ao ar-
gumento de que o despacho referi-
Vencida, a autora apelou tem- do, que ordenou a penhora, incor-
pestivamente Citem 4 das mesmas reu em engano quando considerou
informações de fls. 16). improcedente a ação anulatória, já
A Fazenda Nacional, ignorando o que «está ela submetida à aprecia-
depósito judicial, promoveu a exe- ção e julgamento do Colendo TFR.,
cução de parte do crédito tributá- não tendo, portanto, transitado em
rio - Cr$ 64.020,73, conforme se vê julgado. Assim - continua a em-
66 TFR - 100

bargante - jamais poderá a ação acolher as razões dos embargos»


ser julgada improcedente, por isso (fls. 24/25).
mesmo que submetida à aprecia- Apelou a vencida (fls. 29-36 - lê).
ção judicial ... Destarte, nos pare-
ceu um tanto infeliz o respeitável RAspondeu a apelada <fls. 38-40).
despacho determinando a continua- Nesta Egrégia Corte, pficiou a
ção da execução por ter sido a anu- ilustrada Subprocuradoria-Geral da
latória julgada improcedente quan- República, a fls. 47-49, no sentido do
do, concretamente, sequer foi jul- desprovimento do apelo, assim
gada, ainda, submetida que está à ementado o parecer:
apreciação do Poder JudiciárIo» «EMENTA: Embargos à execu-
(fls. 22/23). ção. Impõe-se a sua improcedên-
A sentença, ao cabo, julgou impro- cia quando a matéria em discussão
cedentes os embargos, ao seguinte ê a mesma j á apreciada em ação
dispositivo: anulatória do débito fiscal, a qual
«Por isso é que, reportando-me foi tida como improcedente.
aos fundamentos da sentença de - Correção monetária da multa.
fls. 17/20, julgo improcedentes os Jurisprudência do augusto Supre-
embargos e, em conseqüência, con- mo Tribunal Federal».
deno a embargante nas custas pro- Cumprida a diligência ordenada a
cessuais e verba do art. I? do fls. 51 (conf. fls. 52/62), vieram-me
Decreto-Lei n? 1.025/69, esta última os autos conclusos.
já pedida na inicial da execução.
É o relatório.
A conversão do depósito em ren-
da, para pagamento da Fazenda VOTO
(art. 708, I, CPC), fica condiciona- O Sr. Ministro Carlos Mário
da ao trânsito em julgado desta de- Velloso (Relator): Ajuizada a ação
cisão» (fls. 25).
anulatória de débito fiscal, ou a de-
O argumento da sentença é que a clariltória negativa .de débito fiscal,
execução deveria ser reunida à ação não está o Fisco inimbido de promo-
anulatória. Em 1~ instância, todavia, ver a execução fiscal para cobrança
essa reunião não seria possível, por do débito (CPC, art. 585, § 1?).
isso que já julgada a anulatória, Se isto ocorrer, não há falar em li-
encontram-se os autos no Egrégio tispendência. Far-se-á a penhora, en-
Tribunal Federal de Recursos. Con- tão. Inegável, todavia, a ocorrência
cluiu a sentença: de conexão, motivo por que deverão
«Em decidindo a ação anulatória ser reunidas (CPC, arts. 103, 105,
de débito fiscal, julguei improce- 106), a fim de serem julgadas junta-
dente o pedido formulado pela au- mente (Celso Barbi, «Comentários
tora ora embargante (v. sentença ao CPC», Forense, 1975, V. I, T. I,
de fls. 17 a 20 dos autos da execu- pág. 80; «A Declaratória no Proc. Ci-
ção fiscal), entendo, no decisório, vil Brasileiro» pág. 97).
que o lançamento levado a efeito A não-reunião das ações poderia
pelo Fisco estava formal e ...mate- ocasionar decisões colidentes, com
rialmente perfeito, não merecendo, desprestígio para o Poder Judiciário,
por conseguinte, qualquer reparo o que cumpre a todo modo evitar.
ou retificação.
Não posso agora, adstrito que II
me encontro àquele pronunciamen- Se é certo que a propositura da
to, decidir diferentemente, para ação anulatória de débito fiscal, ou
TFR - 100 67

da declaratória negativa, não inibe a está totalmente resguardado e sa-


Fazenda Pública de promover a co- tisfeito, de forma que não tem sen-
brança do débito (CPC, art. 585, § tido algum mover o executivo fis-
I?), de se indagar, entretanto, se es- cal» (<<Proc. Judicial Tributário»,
sa regra deve prevalecer quando o in «Novo Proc. Tribut.», Resenha
e
ajuizamento, dessas ações, precedi- Trib., São Paulo, 1975, pág. 168).
do do depósito do quantum que a Fa- Confira-se, no passo, Rui Barbosa
zenda afirma devido. Nogueira, in «Estudos sobre o novo
No regime anterior ao CPC de CPC», Resenha Trib., São Paulo,
1973, a resposta negativa seria indu- pág.241).
vidosa, tendo em vista a Lei 2.642, de Também penso que, em tal hipóte-
1955, e o Decreto-Lei n? 147, de 1967, se, não teria sentido a execução fis-
dispondo este, no art. 20, § 3?: cal. Mas isto só não seria capaz de
«§ 3? Sempre que se tratar de descaracterizar o direito de ação da
ação anulatória de dívida fiscal, e, Fazenda, ou que não seria, isto só,
pelo exame do processo adminis- causa elidente da regra inscrita no §
trativo verificar o Procurador da I? do art. 585, CPC.
Fazenda Nacional que a propositu- O que há, pensamos, é coexistên-
ra da ação não foi precedida do de- cia da regra prevista no § 3? do art.
pósito, na repartição arrecadado- 20 do Decreto-Lei n? 147, de 1967, com
ra, da totalidade do crédito fiscal, a norma inscrita no § I? do art. 585,
promoverá a imediata inscrição da CPC, ou que esta não revogou aque-
dívida ativa, preparando e reme- la. Ajuizada a ação anulatória, nem
tendo ao p,rocurador da República por isso estaria o Fisco inibido de
a respectiva certidão para inÍCio promover a execução fiscal. Não po-
do executivo fiscal, que prossegui- derá isto fazer, entretanto, se houve
rá até o final, independentemente depósito integral do quantum que a
da ação proposta pelo contribuinte, Fazenda afirma devido, porque ou-
a qual não induzirá litispendên- tra norma, o Decreto-Lei n? 147/67,
cia.» art. 20, § 3?, isto proíbe.
O CPC de 1973, todavia, não fez Em suma: a regra do § I? do art.
ressalva nenhuma. Simplesmente 585, CPC, deve ser interpretada em
deixou expresso que a propositura consonância com a norma inscrita
da anulatória não impedirá a co- no § 3? do art. 20 do Decreto-Lei n?
brança do débito. Então, pode pare- 147/67.
cer que, mesmo tendo a anulatória, Numa outra perspectiva, e este me
ou a declaratória, sido precedidas do parece o argumento definitivo, o
depósito, poderá a Fazenda ajuizar a CTN estabelece, como causa suspen-
execução fiscal. Opinião em sentido siva do crédito tributário, o depósito
contrário é sustentada, dentre ou- do seu montante integral (CTN, art.
tros, por Arruda Alvim, que escreve: 151, II). Assim, se o depósito do cré-
«no caso da esfera federal dito tributário se fez, integralmente,
parece-nos que o Poder Público, se precedendo a ação anulatória, ou a
for feito o depósito, não pode pro- declaratória, inibida está a Fazenda
por a execução. Isto por que o de- de ajuizar a execução fiscal, por isso
pósito é feito na repartição públi- que suspensa está, ex vi do disposto
ca. Isto é, junto e no órgão credor, no art. 151, n, CTN, a sua exigibili-
e, uma vez julgada improcedente dade.
a ação anulatória, o depósito con- Nesse sentido, aliás, a conclusão a
verte-se em renda. Nesta hipó- que chegou o Simpósio de Processo
tese, realmente o Poder Público Civil, realizado em Curitiba, em ou-
68 TFR - 100

tubro de 1975, com a participação art. 586), é nula a execução (CPC,


de eminentes juristas do país, con- art. 618, 1>.
forme dá notícia o exímio processua- IV
lista e magistrado mineiro, Sálvio de
Figueiredo Teixeira. A conclusão em Diante do exposto, dou provimento
apreço está assim redigida: ao apelo, para o fim de declarar nu-
«38 - Coexistem os arts. 581, § 1?, la a presente execução. A vencida
do Código de Processo Civil, e 151, deverá ressarcir a vencedora pelas
lI. do Código Tributário Nacional». custas por esta pagas e arcará com
(Sálvio de Figueiredo Teixeira, a verba honorária de 10% do valor
«Inovações e Estudos do Cód. de do pedido.
Proc. Civil», Saraiva, 1976, págs.
128 e 131). EXTRATO DA MINUTA
III AC 51.888-SE - ReI.: Min. Carlos
In casu, ficou esclarecido que a Mário Velloso. Apte.: Liz SI A -
ação anulatória «foi acompanhada Com. e Beneficiamento de Calcário.
de depósito da importância totallan- Apda.: União Federal.
çada pelo Fisco». Decisão: A Turma, por, unanimi-
Sendo assim, não pOderia a Fazen- dade, deu provimento à apelação. 27-
da ajuizar a execução fiscal, porque 10-80 - 4:' Turma.
a exigibilidade do crédito ficara sus- Os Srs. Ministros Antônio de Pá-
pensa. dua Ribeiro e Armando Rollemberg,
Segue-se, daí, a conclusão no senti- votaram com o Relator. Presidiu o
do de que, por não ser exigível o títu- julgamento o Exmo. Sr. Ministro
lo que a ,exeqüente apresenta (CPC, Armando Rollemberg.
EMBARGOS INFRINGENTES NA APELAÇÃO ClVEL N? 57.783 - SP
Relator: O Sr. Ministro Justino Ribeiro
Relator para o Acórdão: O Sr. Ministro Wilson Gonçalves
Embargante: Lia Myrian Levy Ruffalo
EmbargadO: D.N.E.R.
EMENTA
Desapropriação. Indenização. Area Non Aedifi-
candi.
Não refutada de forma inconteste a circunstãn-
cia de que se trata, no caso, de terreno rural, confor-
me assinalado no laudo do perito oficial, é de ser
aplicado o entendimento jurisprudencial que exclui
da indenização a faixa non aedificandi.
Improvimento dos embargos.
ACORDÃO ria, rejeitar os embargos, na forma
do relatório e notas taquigráficas
Vistos e relatados estes autos em constantes dos autos que ficam fa-
que são partes as acima indicadas: zendo parte integrante do presente
Decide a Segunda Seção do Tribu- julgado.
nal Federal de Recursos, por maio- Custas como de lei.
TFR - 100 69

Brasília, 5 de outubro de 1982 - mentos de fato ou circunstanciais.


Ministro Washington BoIívar de Assim não basta a norma adminis-
Brito, Presidente - Ministro Wilson trativa que fixa perímetros (rural
Gonçalves, Relator do acórdão. e urbano).
A área de que se trata é situada
RELATORIO na região das praias mais atraen-
tes, procuradas e valorizadas do li-
o Sr. Ministro Justino Ribeiro: Ao toral norte paulista; são certamen-
v. acórdão de fI. 204 destes autos de te estas as melhores praias ainda
expropriatória, em que a egrégia 4~ hoje disponíveis naquela importan-
Turma acolheu em parte apelo do te região (a de maior densidade
DNER para excluir a indenização populacional do país), levando-se
alusiva à faixa non aedificandi e re- em conta as possibilidades de aces-
duzir a 5% a taxa de honorários advo- so, a infra-estrutura de serviços, a
catícios, opõe embargos infringentes beleza natural, a proximidade dos
à apelada vencida, limitada a incon- centros mais populosos, etc.
formidade à primeira questão. Pede Quando se fez a desapropriação,
o prevalecimento do voto do Relator,
eminente Ministro Romildo Bueno de tendo em vista a construção da ro-
Souza, que a respeito provia o apelo dovia litorânea (Rio - .Santos), a
em menor extensão, isto é, como a área tinha j á sua vocação urbana
sentença de I? grau, também enten- perfeitamente caracterizada: o pla-
dia indenizável a aludida faixa, mas no de loteamento estava já aprova-
apenas em 50% do valor atribuído à do, pelo que os autos demonstram;
terra nua. as ruas, abertas. Loteamentos ou-
tros existiam na região. :€ ver, a
2. No julgamento da Turma, a propósito, o laudo do perito judicial
controvérsia se estabeleceu, essen- (lê, fls. 56/57).
cialmente, em torno de dois pontos,
a saber: Certas obras do loteamento esta-
vam já executadas, eis que as qua-
a) o da conceituação do imóvel dras estavam demarcadas, os lotes
desapropriando como rural ou ur- locados, etc.
bano, visto que neste caso o colen-
do Supremo Tribunal Federal já Em outras palavras, estou a su-
assentara a indenizabilidade; e gerir que a conceituação de uma
b) o da largura da faixa subme- área corrio rural ou urbana deva
tida à restritiva non aedificandi, se refletir prudência e moderação do
de 3 ou 15m. julgador, bem como atenta consi-
deração da situação de fato.
3. O eminente Ministro-Relator
entendeu que, embora ainda não re- :€ bem verdade que o Decreto-
gistrado como urbano, assim deve Lei n? 271, de 28-3-67 dispõe:
ser entendido o imóvel em questão, «Art. 5? Nas desapropriações,
em face de dados pericialmente apu- não se indenizarão as benfeito-
rados. E fixou-se na largura de 15m. rias ou construções realizadas
Transcrevo, para maior clareza, o em lotes ou loteamentos irregula-
aditamento ao voto feito por S. Exa.: res, nem se considerarão como
«Procurei mostrar em meu voto terrenos loteados ou loteáveis,
que a conceituação de área urbana para fins de indenização, as gle-
não deve restringir-se a aspectos bas não inscritas ou irregular-
estritamente formais, pois, para se mente inscritas como loteamen-
obter conceituação adequada, é tos urbanos ou para fins urba-
preciso atentar para outros ele- nos».
70 TFR 100

No RE-93.665-3-MG, em 20-10-81, E, em verdade, o Decreto-Lei n?


a 2~ Turma do Supremo Tribunal, 271/68 teve em vista evitar que se
Relator o Senhor Ministro Décio indenizassem como loteados ou lo-
Miranda, fixou este entendimento: teáveis imóveis que não se encon-
«Também não surte efeito o trassem fracionados pelo modo re-
aceno dos recorrentes ao art. 1?, gulado em lei.
§ 3?, do Decreto-Lei n? 271, que Disso, contudo, não se cogita
define o que se deve considerar aqui; ou seja, não está em causa se
zona urbana, conceito que, se- a área é ou não regularmente re-
gundo os recorrentes, calha para gistrada como loteamento: tão-
o terreno a que se referem os somente se trata de reconhecer
presentes autos. que é urbana, ou de vocação urba-
Primeiro, porque a inclusão na.
dos terrenos em causa no referi- Ora, quandO a rodovia que ense-
do conceito legal seria matéria jou a expropriação começou a ser
dependente da prova pericial. construída, ja encontrou a região
Segundo, porque a sentença, com diversos loteamentos em
que veio a ser confirmada pelo avançado andamento, não somente
acórdão recorrido, embora pro- de obras de implantação como
clamasse rural o terreno, não também de vendas. Como quase
deixou de considerar, para fixa- sempre aconteceu no Brasil (ao
ção do valor, sua peculiar situa- contrário do que se passou em cer-
ção em relação à área urbana, tas regiões dos Estados Unidos da
pois disse levar em conta que «o América), a estrada de ferro (e de-
terreno desapropriado está por pois a de rodagem) veio depois da
assim dizer dentro do perímetro iniciativa privada desbravadora.
urbano e seu valor não poderá, Esta realidade de nossa história
portanto, ser equiparado ao de não deve ser negligenciada, porque
terras rurais mais afastadas.» depois que o loteador comprou,
efetuou planos e projetos e come-
No caso dos autos, o laudo do pe- çou a abertura de ruas e a venda
rito judicial atesta a existência de de lotes, não é razoável venha o
loteamento, embora primário. Governo, ao iniciar a construção
Depois, é preciso ter em conta o da estrada, determinar que a re-
que a propósito j á estabelecia o or- gião seja urbana ou rural: isto,
denamento jurídico vigente. aliás, o Decreto-Lei n? 271 não fez,
Assim, desde logo, a Lei n? 4.504, como se mostrou; nem o fez a Lei
de 30-11-69 (Estatuto da Terra): n? 6.676, de 19-12-79, em seu art. 42
(norma, aliás, posterior à expro-
«Art. 4? Para os efeitos desta priação discutida).
lei, definem-se: Acresce ainda que não é da atri-
I - «Imóvel Rural», o prédio buição do Poder Legislativo da
rústico, de área contínua, qual- União estabelecer, nos limites de
quer que seja a sua localização, cada município, a parte que se de-
que se destine à exploração ex- va considerar rural e discriminá-la
trativa agrícola, pecuária ou (ou para tanto fixar critérios) da
agroindustrial, quer através de zona urbana, suburbana ou de ex-
planos públicos de valorização, tensão urbana.
quer através de iniciativa priva- Concluo estas ponderações em
da; aditamento a meu voto, assinalan-
do que, na conformidade da me-
TFR - 100 71

lho r tradição do nosso Direito, a «Essa gleba, que não contém ter-
começar pelo Romano, o conceito renos de marinha, fica situada na
de imóvel rural não é estritamente zona rural da Subprefeitura de
jurídico, mas econômico e social; Bertioga, Município de Santos, e
sem embargo de que haja funda- está localizada entre as Praias da
mentos jurídicos a levar ao mesmo Enseada, da Bertioga e de São
entendimento, cabendo acentuar Lourenço e Rio Itapanhaú, na Fa-
que a própria conceituação jurídi- zenda Itapanhaú, ... »
ca não é somente administrativa, De tal conceituação, não discre-
pois também reflete os aspectos pam os outros laudos, assim, diz o
próprios do Direito CiviL do Assistente-Técnico do Expro-
Veja V. Exa., Sr. Ministro Antô- priante (fls. 94):
nio de Pádua Ribeiro, que a emen- «A área em questão situa-se na
ta do Supremo Tribunal Federal se zona rural de Bertioga entre as
reporta a Direito Civil. Praias da Enseada e São Lourenço
Pois bem, no Direito Civil Brasi- e o Rio Itapanhaú, no município de
leiro a qualificação do imóvel (!o- Santos.»
mo urbano ou rural não se faz uni- E, ao analisar o laudo do Perito
camente pelo ângulo que predomi- Oficial, o Assistente-Técnico do ex-
na no Direito Administrativo. propriado não opõe, nesse ponto,
No Direito Civil Brasileiro, asse- qualquer Objeção, aduzindo que
guro que V. Exa. não encontrará (fls. 78):
precedentes jurisprudenciais signi- «O signatário concorda com a
ficativos a considerar rural a casa vistoria efetuada pelo digno Perito
de residência ou de recreio, situa- Judicial bem como com a descri-
da embora em zona rural; é, no en- ção pormenorizada da localização
tanto, imóvel situado em zona ru- do imóvel avaliado».
ral.
Rural, embora, sob o aspecto do IV
Direito Administrativo, qualifica-
se urbano o imóvel, no entanto, se- Por último, cabe aduzir que, ain-
gundo o Direito Civil, por sua des- da que se admita seja indenizável
tinação, vocação, finalidade ou ca- a área em discussão, jamais o se-
racterísticas, aliadas a inúmeras ria com a extensão preconizada na
circunstâncias. sentença e no voto do ilustre Relator,
Eis aí algumas razões que acres- isto é, na consideração de ser a
cento às inicialmente expostas, pa- sua profundidade de 15m em cada
ra entender indenizável o dano pa- uma das margens da rodovia. Com
trimonial decorrente da prOibição efeito, o art. 572 do Código Civil, ao
de ampla utilização (edificação) tratar das limitações ao direito de
da área marginal ao leito da rodo- construir, permite que as estabele-
via, embora reduza a indenização çam os regulamentos administrati-
à metade do valor das terras, ape- vos. Na espéCie, em se tratando de
nas» (195/199). ródovia federal, aquela regulamen-
tação fixou o referido recuo em 3
4. O eminente Ministro Antônio metros na zona urbana e 5 metros
de Pádua Ribeiro assim se posicio- na zona rural. Nesse sentido, assi-
nou: nala este trecho da ementa que en-
«De assinalar que, no caso, cima o acórdão proferido pela anti-
trata-se de imóvel rural, assim ex- ga 3~ Turma na AC 57.391-SP, da
pressamente qualificado no laudo qual foi Relator o ilustre Ministro
oficial (fls. 55-56): Carlos Mário Velloso:
72 TFR - 100

«As construções limítrofes às fai- ta área, absorvida pela obra ro-


xas de domínio das rodovias fede- doviária, e a sujeição de outra,
rais devem obedecer um recuo de que permanece no domínio do ex-
3 (três) metros para a zona urbana propriado, à proibição de edifi-
ou proximamente urbana, e 5 (cin- car. Se se cuidasse de área rural,
co) metros para a zona rural, em o õnus decorrente da restrição non
razão de disposiÇão contida em re- aedificandi não seria indenizável.
gulamento administrativo» (fls. Tratando-se de zona urbana, as-
192/193). sim classificada antes da obra
5. Em voto de vista, o eminente rodoviária, a indenização com-
Ministro Armando Rollemberg acom- patível com o deficit de uso, con-
panhou o Sr. Ministro Antõnio de Pá- cedida ao proprietário não desa-
dua Ribeiro, asseverando: tende à parte final do art. 272 do
Código Civil, nem ao art. 29 da
«Com a inicial o DNER trouxe Lei de Desapropriações».
aos autos laudo do seu Serviço de
Engenharia, onde vem consignado (RE 92.643-Rel.: Min. Décio Mi-
que a área objeto da ação era ru- randa - 2~ Turma).
ral (fI. 6). «Área non aedificandi à mar-
De sua vez a fls. 20 e seguintes es- gem das rodovias públicas:
tão escritura de· compra e venda e Tratando-se de uma limitação
transcrição respectiva no Registro administrativa, não autoriza, em
de Imóveis, datados, é verdade, de regra, indenização ao proprietá-
doze anos antes da desapropriação, rio do imóvel rural, que continua
onde a faixa desapropriada é apon- no domínio do bem.»
tada como situada na «zona rural (RE 93.553-SP ReI.: Min. Cunha
da Subprefeitura de Bertioga» Peixoto, 1~ Turma).
A fls. 27, está o Certificado do Excluo, assim, a indenização pe-
Cadastro do imóvel que compreen- la restrição imposta à área situada
dia o terreno desapropriado, expe- à margem da estrada, e, no mais,
dido pelo INCRA em 1976, contendo acompanho o Sr. Ministro-
o imposto territorial rural a ser pa- Relator.» (fls. 201/202).
go, o que ocorreu no dia 10 de de- 6. Os embargos, em longa e eru-
zembro de tal ano, vindo a ação de dita petição de 40 laudas (fls.
desapropriação a ser ajuizada em 208/248), esquadrinham a conceitua-
23-6-76. ção de imóvel urbano desde seu as-
Como rural a qualificou o Perito pecto físico ou geográfico, partindo
do Juízo em seu laudo (fls. 55) e o da urbs romana, até sua conotação
assistente do expropriante (fls. 94), social e política, historicamente liga-
tendo silenciado a propósito o da à civitas. No tocante à largura da
Assistente-Técnico da expropriada. faixa, invocam a Lei n? 6.766/79,
Ora, sendo rural a faixa desapro- que, embora posterior à presente ex-
priada não cabe indenização em propriatória, dispõe:
relação à área non aedificandi, co- «Art. 4? Os loteamentos deve-
mo decidiu o egrégio Supremo Tri- rão atender, pelo menos, aos se-
bunal Federal nos julgamentos ci- gUintes requisitos:
tados pelos Srs. Ministros que já
votaram, assim ementados: In - ao longo das águas corren-
«CiviL Desapropriação indire- tes e dormentes e das faixas de
ta. Apossamento administrativo, domínio público das rodovias, fer-
do qual resultou a tomada de cer- rovias e dutos, será obrigatória a
TFR - 100 73

reserva de uma faixa non bui nas ações comuns, de limitar o


aedificandi de 15 (quinze) metros poder do Juiz. Em outras palavras,
de cada lado, salvo maiores exi- nas expropriatórias a res in iudicium
gências da legislação específica» deducta é o próprio poder de expro-
(fls. 247l. priar que não pode sofrer contesta-
7. Os embargos foram devida- ção, e a contrapartida da justa inde-
mente impugnados (fls. 253/258), nização, constitucionalmente assegu-
indicando-se precedentes contrários rada, e que a jurisprudência já as-
à pretensão. sentou ser a mais adequada a re-
compor o patrimônio do expropria-
8. Pelo despacho de fls. 283, pedi do. Bem a propósito, este Tribunal
o pronunciamento da douta tem entendido que nem a revelia do
Suprocuradoria-Geral da República, expropriado exime o Juiz da correta
que se manifestou a fls. 284/287. Em avaliação do bem através de perícia.
síntese, o douto orgão lembra pro- Como exemplo, AC 71.181-RJ, in DJ
nunciamento desta Seção em caso de 28-5-81, pág. 5008, tendo como Re-
semelhante, por sinal trazido em xe- lator o eminente Ministro Carlos Má-
rocópia com a impugnação do rio Velloso.
DNER, e em que se decidiu contra a
tese dos embargos, então ensejados Demais disto, a contestação rele-
por idêntico voto do Ministro Romil- gou à pericia a fixação do
do Bueno de Souza (EAC 57.391). As- «... real valor e eventual prejuízo
sinala, ainda, a Subprocuradoria- de benfeitorias e áreas remanes-
Geral da República, uma particula- centes.» (fl. 16) o que espanca
ridade do presente caso: é que nem a qualquer dúvida.
inicial nem a contestação cogitaram
da indenização ora pretendida. 2. Outra questão que me parece
superada pela própria lei é a da lar-
E o relatório, sem revisão. gura ou profundidade a ser observa-
VOTO da para a aludida faixa. A Lei n?
6.766, de 19-12-79, veio espancar qual-
O Sr. Ministro Justino Ribeiro (Re- quer dúvida a este respeito, ao dis-
lator) - Cumpre, em primeiro lu- por que
gar, apreciar a objeção l~vantada «ao longo das águas correntes e
pela douta Subprocuradoria-Geral da dormentes e das faixas de domínio
República a respeito da falta de in- público das rodovias, ferrovias e
clusão da perlenga na res in iudi- dutos, será obrigatória a reserva
cium deducta. De fato, nem a inicial de uma faixa non aedificandi de
do DNER nem a contestação da ora 15 (quinze) metros de cada lado,
embargante abordaram espeCifica- salvo maiores exigências da legis-
mente o problema da indenização da lação específica» (art. 4?, item
área ou faixa non aedificandi. A lII).
questão surgiu na perícia. Mas, -em
tema de desapropriação, onde preva- O fato, alegado aqui e alhures, de
lece, de um lado, a manifestação do se tratar de lei superveniente ao
poder com seu propósito de expro- início da ação é despiciendo, a meu
priar, e, doutro, o mandamento cons- ver, porque a restrição é oriunda do
titucional da justa indenização as mesmo poder federal expropriante.
manifestações das partes têm função E a embargante a sofrerá em decor-
meramente explicitadora de interes- rência da abertura da estrada. Inci-
se, no sentido de melhor aclarar o de, pois, o preceito constante do art.
caminho a ser trilhado pelo julgador. 462 do CPC (redação da Lei n?
Não têm o condão, que se lhes atri- 5.925/73):
74 TFR - 100

«Art. 462. Se, depois da proposi- triais, imóveis COmerCIaIS, são


tura da ação, algum fato constituti- proibidas. Razões de segurança,
vo, modificativo ou extintivo do di- por outro lado, podem determinar
reito influir no julgamento da lide, regulamentos administrativos que
caberá ao juiz tomá-lo em conside- proíbem, por exemplo, a constru-
ração, de ofício ou a requerimento ção nas imediações de aeroportos,
da parte, no momento de proferir a etc.
sentença.» Ninguém, ao que se sabe, vai
Este preceito está em perfeita har- pleitear indenização porque não
monia com o do artigo 303, I, que pode construir um prédio de 10 an-
permite aduzir novas alegações de- dares numa região onde o gabarito
pois da litiscontestação, se relativas fixado nas posturas municipais is-
a direito superveniente. so não permita. De outro lado, se
3. Resta, portanto, a questão da regulamentos administrativos esta-
indenizabilidade da área. Neste pon- belecem que as casas, os prédios
to, a primeira tese que se põe em li- devem ser construídos com obe-
ça refere-se à natureza jurídica da diência a um recuo, por exemplo,
restrição imposta aos proprietários de 3 (três) metros, das ruas, ao
de imóvel, de não poderem edificar proprietário não assiste o direito
a certa distância das vias públicas, de pedir indenização ao Poder PÚ-
sejam elas vias urbanas ou estradas, blico por esses três (3) metros.
estas de âmbito municipal, estadual Evidentemente, que, se o regula-
ou federal. Põe-se como suporte le- mento administrativo em nome do
gal do exercício desse veto, pelo po- urbanismo, ou da segurança, che-
der público, ao direito de construir, o ga a impedir o uso total ou quase
art. 572 do C. Civil, in verbis: total do imóvel, ao proprietário as-
siste o direito de buscar a tutela
«Art. 572. O proprietário pode jurisdicional, se, em concreto,
levantar em seu terreno as cons- ocorre a prática de lesão ao direito
truções que lhe aprouver, salvo o do proprietário.
direito dos vizinhos e os regula-
mentos administrativos.» No caso, em nome da segurança
do tráfego, o regulamento adminis-
4. A respeito, o eminente Ministro trativo, impede que se construa
Carlos Mário Velloso proferiu, no já junto à faixa de domínio das rodo-
referido acórdão desta Seção (EAC vias.
57.39l-SPl, voto magistral, de que
destaco o seguinte trecho: O regulamento, no particular, ao
que me parece, não causa lesão ao
«Em princípio, portanto o pro- direito do proprietário. É que, em
prietário pode construir, no seu caso assim, cuida-se da segurança,
terreno, as construções que dese- não só do tráfego, como, também,
j ar. Essa liberdade, todavia, sofre do proprietário da ár~a limítrofe à
limitações no direito dos vizinhos e rodovia.» (fls. 261/263).
nos regulamentos administrativos.
E o eminente Ministro José Dan-
Razões urbanísticas, por exem- tas, após relembrar decisões do Pre-
plo, fundadas em posturas munici- tório excelso e escólios doutrinários,
pais, pOdem impedir que, em de- sobretudo de Hely Lopes Meirellles,
terminados locais, sejam cons- a cuja definição de limitação admi-
truídos prédios de apartamentos; nistrativa procura filiar a vedação
noutras regiões, fixa-se um gabari- em comento, asseverou, com igual
to dos prédios; noutras, ainda, as elegância no dizer e mesma seguran-
construções dos prédios indus- ça no percutir as questões:
TFR - 100 75

«Daí, que, reencontrando-me ções, pois que levantadas muito


com a questão, vejo que os novos próximas do leito carroçável fica-
escólios, como enriqueceram o seu riam expostas aos perigos do trân-
debate nos autos, convencem-me a sito, à poeira 'e à fumaça dos
permanecer na mesma posição veiculos, além de prejudicar a visi-
manifestada naquele sucinto pare- bilidade e a estética, não des-
cer, inicialmente referido, firme prezíveis nas modernas rodovias.»
na asseveração de que as chama- (fI. 273/274).
das áreas rodoviárias, non ae- E, também, a seguinte decisão do
dificandi se posicionam no igual Supremo Tribunal Federal no RE
nível de legalidade da chamada 91.690:
área de recuo, regra encontradiça
nas regulamentações urbanas; tan- «Por último, a faixa non ae-
to assim é, que a nova Lei n? 6.766, dificandi permanece no domínio
de 19-12-79, ao tratá-las no art. 4?, do expropriado, apenas sujeita a
lU, fê-lo nos mesmos plano e ense- restrições de ordem administrati-
jo da imposição de limitações ad- va. Restrições edílicas não susci-
ministrativas relativas ao parcela- tam indenização. Omissos. . ..... .
mento do solo urbano; v. q., o tra-
tamento dispensado pelo art. 5? a Nesses pontos, não contrariou o
reserva de faixa non aedificandi acórdão o artigo 153, § 2?, da Cons-
destinada a equipamentos urbanos, tituição.» (fI. 276),
isto é, redes de esgoto, coleta de
águas pluviais, abastecimento de 6. Sem ousar discrepar dessas
água, energia elétrica, telefone e doutas lições, penso, todavia, e com
gás canalizado. a devida vênia, que algumas obser-
Fico, pois, em que, sem embargo vações podem ser feitas. E as farei.
da excelência do voto vencido, os Em primeiro lugar, entendo que li-
infringentes não devem prosperar; mitação ao direito de construir, sem
pelo que, com a devida vênia, os dúvida autorizada aos regulamentos
rejeito.» (fI. 277). e posturas municipais pelo vetusto
art. 572 do C. Civil, não se pode sino-
5. Ainda no mesmo acórdão é nimizar com vedação, proibição, ou
lembrada a seguinte lição daquele exclusão do referido direito, que re-
publicista, contida na página 519 da sulta inegavelmente da expressão
7'; edição de seu «Direito Adminis- non aedificandi (se é que entendo es-
trativo Brasileiro»: se latim). Uma coisa é limitar um
«A legislação rodoviária geral- direito ou, melhor, limitar o exer-
mente impõe uma limitação admi- cício de um direito - porque di-
nistrativa aos terrenos marginais, reito não se limita - e outra, muito
das estradas de rodagem, consis- diversa, é excluir, extinguir ou muti-
tente na proibição de construções a lar esse mesmo direito. Quando se
menos de 15 metros de rodovia, diz ao proprietário de um terreno
contado o recuo da divisa do que ele não pode construir em certa
domínio público com o particular. faixa desse terreno, como soa na teo-
Como simples limitação adminis- ria e na prática a expressão non
trativa, tal restrição não obriga a a edifican di, o que se está fazendo é
qualquer indenização, nem impede extinguir, matar, desconstituir, seu
o proprietário de utilizar essa faixa direito. Limitar o exercício do direi-
para fins agrícolas e pastoris; o to de construir, que o vetusto precei-
que não pode é nela construir. A li- to do Código Civil autoriza ao regula-
mitação se justifica como medida mento, não é recuo da construção,
de segurança e higiene das edifica- eufemismo com que os municípios
76 TFR - 100

tomam aos proprietários 3m de rio Nacional quando, em 25-8-1950,


seus terrenos ~ ajnda os obrigam a determinou a observância da dita
calçá-los e enfeitá-los para trân- faixa non aedificandi. Há nisto ver-
sito de pedestres. Limitar o exer- dadeira desapropriação - desapro-
cício do direito de construir é priação do direito de construir -
dizer como construir, isto é, com que não pode ser feita sem a indeni-
respeito a certo gabarito, com ob- zação prevista na Lei Maior.
servância de certo pé-direito, de 8. Em segundo lugar, peço licen-
certa área, abertura para luz, ven- ça para observar, outrossim, que se
tilaçâo etc. Isto foi que o Código está invertendo a questão. O que se
permitiu aos Municípios regulamen- discute, em tais casos, não é se o po-
tar, do mesmo modo como ele pró- der público, pode, ou não, restringir
prio (Código), no tocante às limita- o direito de propriedade, dele ex-
ções do direito de vizinhança, impe- traindo ou excluindo o direito de
de que se abra j anela a menos de ,construir, que lhe é interior se-
metro e meio da divisa, ou se faça gundo o referido preceito do Có-
eirado, terraço ou varanda (art. digo Civil. O que está em discus-
573). Vej a-se, que obedecidas essas são é outra coisa. Bem analisado
limitações, a construção pode o fato-jurídico vindo a exame do Ju-
erguer-se até parede-meia. Isto é diciário, o que se tem de perguntar é
que é limitar. O recuo, que nâo é re- se o poder público (via Prefeitura
cuo, mas impedimento de construir, abrindo rua, ou via DNER abrindo
porque construção não recua, resulta estrada), quando se insinua pela pro-
em extinção de direito, que o Código priedade particular, por ela abrindo
não autorizou a regulamentos nem a estrada que além da tomada física
governos locais. Nem podia fazê-lo, de certa área lhe toma parte do di-
porque criar e extinguir direito é reito inerente à área contígua, isto é,
obra de direito material ou substan- lhe toma o direito de construir, nâo
tivo, já ao tempo do Código como está obrigado, segundo a Lei Magna,
agora reservada à lei federal pelas a indenizar esse particular.
Constituições. Figuremos a hipótese da estrada
7. Bem por isto, quando o Gover- que venha a ser aberta a menos de
no do Estado de São Paulo entendeu 15 metros de construção pré-
de estabelecer faixa non aedificandi existente. Pela norma da Lei n?
à margem de suas estradas, não ou- 6.766/79, hoje em vigor, essa constru-
sou fazê-lo por regulamento. Serviu- ção terá de ser demolida. Não se in-
se, ainda que de igual modo sem po- denizará o proprietário? Claro que
deres constitucionais, de decreto-lei. sim. Mas qual a diferença, do ponto
É o Decreto-Lei n? 13.626/43, aponta- de vista da mutilação do direito de
do nestes autos. Ouso dizer que se propriedade, entre impedir a cons-
trata de norma inconstitucional, sem trução e fazer remover a existente?
embargo do respeito à decisão, tam- Apenas de grau. Varia apenas a ex-
bém referida nestes autos, do colen- pressão econômica do direito atingi-
do Supremo Tribunal Federal. In- do.
constitucional porque extingue ou 9. Portanto - permita-se-me in-
mutila direito e só quem pode fazê-lo sistir - uma coisa é existir em certo
é a lei federal. Neste sentido, Pontes local uma estrada ou um aeroporto e
de Miranda ( «Tratado de Direito alguém ir adquirir um terreno nas
Privado», 3~ ed., XI-22J. imediações, caso em que o adquiren-
Desnecessário dizer que da mesma te já sabe que vai adquirir um direi-
tisna de inconstitucionalidade pade- to mutilado e põe em consideração
cia a resoluçâo do Conselho Rodoviá- esse dado para ultimar o negócio, e
TFR - 100 77

outra, muito adiversa, é o poder pú- do proprietário, e lhe estende uma


blico vir rasgar a estrada ou cons- estrada cortando ou mesmo beirando
truir o aeroporto, onde já existe a imóvel e trazendo por força do pre-
propriedade com a plenitude dos di- ceito legal a restrição. Pergunta-se:
reitos a ela inerentes, e por esse ato não há dano? Há. E de quem partiu:
de desapropriação ou pelo ato-fato da lei que estabelece a faixa non
da construção impor a essa proprie- aedificandi ou do ato fato do DNER?
dade a restrição de que se cogita. No Claro que deste. E como não indeni-
primeiro caso, não há dano a repa- zar?
rar; no segundo, sim. E onde há da- Então o problema não é jurídico,
no, exsurge o direito e o correspecti- mas econômico. É de saber o grau
vo dever de indenizar. Indenizar é do dano e o valor da correspondente
verbo da mesma raiz de dano. indenização.
10. Por isto, não faço qualquer 10. Bem a propósito, vale lem-
distinção, do ponto de vista jurídico, brar que o eminente Ministro Carlos
para o efeito da indenização dessa Mário Velloso, cuja acuidade jurídi-
área non aedificandi, entre o imóvel ca todos nós éstamos acostumados a
rural ou urbano. A diferença existe admirar, mesmo votando no sentido
no plano econômico. O direito de oposto à indenização, não deixou de
construir na zona urbana tem, evi- perceber essas nuanças. Foi quando
dentemente, maior expressão econô- S. Exa., na passagem já transcrita
mica. Mas é apenas uma questão de de seu voto, admitiu:
grau, que se resolve aritmeticamen-
te pela própria indenização em for- «Evidentemente que, se o regula-
ma de percentual sobre o valor da mento administrativo, em nome do
terra nua. Dizer-se que ao proprietá- urbanismo, ou da segurança, che-
rio rural não caberia indenização ga a impedir o uso total ou quase
porque poderá continuar servindo-se total do imóvel, ao proprietário as-
da área para pastagem e quejando siste o direito de buscar a tutela
não soa juridicamente, data venia. jurisdicionaL.» (fl. 262).
Seria negar-lhe o direito de construir 11. E é exatamente a esse ponto
onde lhe aprouver, dentro de seu que chego, pois retirar 15 metros em
imóvel, ou dar ao poder público o po- profundidade a um terreno loteável é
der de lhe impor certo tipo de uso da retirar-lhe, praticamente, quantos
propriedade. lotes de tamanho residencial com-
O proprietário rural tem, com efei- porte sua testada. Sabe-se, com efei-
to, o direito de escolher onde cons- to, que tais lotes costumam ir de 10
truir, na sua propriedade, sua resi- a 30 metros de profundidade. Retira-
dência, a residência de seus colonos, dos 15, retirado está o lote.
o estábulo ou curral para seus ani- E volto a dizer: quando a lei esta-
mais. Essa escolha ele a fará em belece tal restrição de faixa ao lotea-
função da proximidade das águas, mento a se constituir, ela não está
da existência de colina de onde al- atingindo o direito subjetivo, porque
cance melhor vista, da conformação deixa ao proprietáriO a opção entre
topográfica, do terreno visando à lotear seu terreno ou dar-lhe outra
quebra das correntes de ar etc. En- destinação. Mas não é isto que acon-
fim, cabe-lhe escolher, no livre uso tece quando o DNER decide abrir
de seu direito, apenas limitado pelos uma estrada. Ele não deixa opção ao
direitos de seus vizinhos. Mas vem o proprietário. Ao contrário, impõe-lhe
DNER, obedecendo a planos formu- a perda da faixa como objeto de
lados segundo suas próprias conve- construção. Obriga-o a usá-la, em
niências, sem qualquer interferência outro mister.
78 TFR - 100

12. Estou, ~ois, em que o fato de 14. Assim sendo, com a devida
ser rural o imóvel atingido não ex- vênia das respeitáveis opiniões em
clui a obrigação de indenizar a per- contrário, fico com o citado voto
da do direito de construir. vencido e recebo os embargos.
13. Mas, quando assim não fosse,
no caso concreto eu ainda ficaria VOTO
com o voto vencido do eminente Mi-
nistro Romildo Bueno de Souza. Em O Sr. Ministro Wilson Gonçalves:
primeiro lugar, em voto que proferi Sr. Presidente, ante o magnífiCO voto
como Relator na AC 61.1l8-MG, tive que acaba de proferir o eminente
oportunidade de sustentar, com base Relator, Ministro Justino Ribeiro, a
na Lei n? 5.863/72, que não é a locali- matéria assume um aspecto de
zação, mas a destinação, que carac- maior relevância ainda, vez que S.
teriza o imóvel como rural ou urba- Exa., no desenvolvimento da tese,
no. Tive a honra de ser acompanha- chegou às culminâncias. No· entanto,
do nesse entender pela egrégia 5~ não podendo alcançar tamanha altitu-
Turma, em julgamento de 19-8-81. E de, continuo na planície, para ater-me
é exatamente o que S. Exa. sustenta aos elementos constantes do processo,
no caso presente, conforme li no Re- que são sem dúvida a visualidade para
latório. E que o imóvel em questão o julgador.
contém loteamento, ainda que pri- Entre as definições de terreno ur-
mário, e está compreendido em área bano e terreno rural, que a própria
vocacionada para tal - no dizer de lei pode indicar, e nós podemos defi-
S. Exa. - é fácil extrair-se dessa nir de maneira diversa, sinto-me in-
simples passagem do laudo: clinado a aceitar a informação, que
me parece tecnicamente adequada,
«O perito pÔde constatar, percor- manifestada através da perícia. Se a
rendo a região, que as terras são distinção entre terreno urbano e ru-
destinadas, todas elas, a loteamen- ral tivesse, ao tempo da propositura
tos em pequenos terrenos ........ . da ação de desapropriação, a impor-
tância e o relevo que se está dando
nos embargos, seria surpreendente,
Assim, o que pÔde obter foram senão admirável, o silêncio, a omis-
valores pelos quais se realizam são ou a c,Oncordância implíCita do
transações em lotes de terrenos Assistente Técnico dos expropriados,
pertencentes a loteamentos exis- não focalizando a particularidade,
tentes há j á algum tempo e de não com o brilho do eminente Rela-
cujos valores organizamos tabela tor, mas pelo menos com a singeleza
para os situados nas Praias da En- de uma informação que pudesse pa-
'seada e São Lourenço, uma vez recer uma divergência em relação
que a área objeto desta avaliação ao Perito Oficial.
se situa entre esses loteamentos Dentro das coordenadas com que
que se encontram bem ativados. temos julgado, sinto-me inclinado a
Revela notar que eles não pos- ater-me, como disse, a esse elemen-
suem qualquer infra-estrutura, es- to primordial numa ação de desapro-
tão tão-somente demarcados os lo- priação, que é a perícia. De acordo
tes e quadras e abertas as vias de com a orientação do Supremo Tribu-
acesso aos vários lotes, porém sem nal Federal, que é sem dúvida o
qualquer tipo de pavimentação. mais elevado arauto do Direito em
Pode-se dizer serem tais loteamen- nosso País, ouso divergir do voto do
tos absolutamente primários.» (fls. eminente Relator e, por isso,
56/57) . manifesto-me no sentido da rejeição
TFR - 100 79

dos embargos. Através principal- solução de questões como estas: a


mente dos votos dos ilustres mem- quem incumbe definir certa área co-
bros da Turma julgadora, ficou sa- mo rural, urbana ou de extensão ur-
lientada a circunstância de que se bana? A União, ao Estado-Membro
tratava de terreno rural. Mesmo que ou ao Município? E quanto ao Distri-
se aplique a jurisprudência recente to Federal?
do Supremo Tribunal Federal, nâo Eis aí importante indagação que
há hipótese de indenizaçâo. conclama as luzes do Direito Consti-
Assim, não recebo os embargos. tucional.
Outra: definida que seja certa área
VOTO como rural ou urbana, resulta, por-
ventura, que todos os imóveis nela
O Sr. Ministro Bueno de Souza: Se- situados devam ser tidos, necessa-
nhor Presidente, no tocante à ques- riamente, como rurais ou urbanos,
tão preliminar suscitada pelo douto em estrita coerência com tal classifi-
Subprocurador-Geral da República, cação? Ou poderá dar-se que em
de não se ter pedido ressarcimento área definida por quem de direito co-
pela restrição imposta às faixas mo urbana, exista imóvel rural? Ou,
marginais, estou de acordo com o ainda que, ao contrário, em área de-
Senhor Ministro-Relator, ao entender finida por quem de direito como ru-
que esta questão j á não pende de de- ral, exista imóvel urbano?
cisão, pois não se contém no âmbito Esta questão desafiou os tribunais
da divergência que circunscreve a ad- do país, a propósito da aplicação das
missibilidade destes embargos in- normas de amparo ao inqUilinato
fringentes. contidas na excelente Lei n? 1.300, de
Doutra parte, atento ao que acaba 28-12-1950.
de expor o Senhor Ministro Wilson Limito-me a referir a acórdão da
Gonçalves, acentuo, à vista dos au- Segunda Câmara do Tribunal de Al-
tos, que foi o perito do juízo (tal co- çada de São Paulo, unânime, em
mo consta, aliás, na parte final do 1?-4-63, ReI.: Evaristo dos Santos
voto do senhor Ministro-Relator), CRT 348/321), do qual colho o tópico
que, em seu laudo (fls. 56 e seguin- seguinte:
tes), tomou a iniciativa de assinalar
a existência de loteamento embora «Efetivamente, os réus qualifica-
em fase primária. Pode até ser que, dos como agricultores são locatá-
diante da notícia deste fato trazida rios de uma chácara, onde plan-
para os autos através de pronuncia- tam verduras e flores.
mento assim insuspeito, a expropria- Isto resultou provado na instru-
da não tivesse dado a ênfase que o ção, inexistindo prova contrária.
assunto mereceria. Como essa gleba fica na cidade
Passando ao fulcro da divergência, de Guarulhos, entendeu o magis-
desejo primeiramente assinalar que trado ser o imóvel urbano.
esta causa suscita aspectos jurídiCOS Mas essa decisão não pOde pre-
e socialmente muito relevantes, no- valecer.
tadamente no âmbito da ordem
jurídica vigente, interessando ao Não se distingue a natureza do
mesmo tempo ao Direito Constitucio- imóvel pela sua localização.
nal, ao Civil e ao Administrativo. Outro é o critério adotado pelo
De fato, a verificação do direito ao Código Civil. Considera-se rústico o
ressarcimento por proibição de cons- prédiO que é destinado à lavoura,
truir envolve, necessariamente, a re- em qualquer de suas dalidades,
80 TFR - 100

dentro ou fora do perímetro das derá emergir, em determinados ca-


habitações (Alvim, «Aspectos da sos, direito de indenização?
l,ocação Predial», pág. 14, § 10, ed. Estas questões reclamam respos-
1\140; José de Arruda, «Questões tas, pena de se poder averbar de
Prediais», pág. 12, ed. 1924; Hélio omissa a decisão da causa.
Rodrigues, «Locação, Despejo e
Renovatória», pago 12, ed. 1957). Passo a outra ordem de considera-
ções.
Não discrepa a jurisprudência:
«O critério distintivo entre prédio II
rústico e urbano não é o de sua si-
tuação, mas, como se deduz dos A história de nossas cidades de-
arts. 1.212, 1.214, e 1.215 do Código monstra que o poder público, a não
Civil, é o de sua destinação, pouco ser muito rara e excepcionalmente
importandO esteja ele situado den- (como, certamente, é do conhecimen-
tro ou fora do perímetro das po- to do Senhor Ministro Velloso, dedi-
voações» (<<Rev. dos Tribs.», vols. cado a estudos da História Constitu-
247/477,229/533,208/363 e 195/2781. cional do Brasil), não teve a iniciati-
Por esse motivo, Andrade-Mar- va de planejá-las. Foram as próprias
ques Filho escrevem: «As chá- populações que estabeleceram as ci-
caras e quintais destinados à cultu- dades, os proprietários rurais des-
ra e comércio de flores, plantas de membrando de suas terras (sesma-
ornamentação, hortaliças ou árvo- rias) os núcleos então chamados pa-
res frutíferas, os estábulos, as co- trimônios e ali erguendo pequenas
cheiras, etc. embora situados den- capelas sob invocação dos santos de
tro das cidades, são prédios rústi- maior estima. Assim nasceram as
cos» (<<Locação Predial Urbana», aglomerações urbanas no Brasil,
pág. 12, ed. 1952). sem plano diretor, sem separação
nítida entre zonas urbanas ou rurais.
Ora, se a prova, sem divergên-
cia, reconhece que o imóvel objeto Brasília é, como se sabe, um dos
da ação é uma chácara, não tendo casos excepcionais, ao lado de Goiâ-
havido desvio de uso da gleba reto- nia e de pequenas cidades ultima-
manda, impossível se torna a ca- mente implantadas à margem de
racterização do imóvel como urba- barragens de grandes usinas hidroe-
no». létricas.
Ainda mais: se é certo gue o art. Quase todo o litoral norte de São
572 do Código Civil (ao qual reitera- Paulo, como aliás está evidenciado
damente se reportam os doutos votos nos autos, tem revelado, há decadas,
majoritários) limita o direito do pro- sua clara e inequívoca destinação
prietário ao sujeitar a construção à urbana: quando as vias de acesso
observância dos regulamentos admi- eram as mais precárias, j á numero-
nistrativos, não pode a própria lei sas famílias ali procuravam cons-
estabelecer restrições? E se a lei o truir suas casas de férias.
fizer (porque, como é óbvio, pode Por isso, aquelas terras próximas
fazê-lo), não prepondera, porventu- das praias, impróprias para cultura
ra, sobre o regulamento? ou pastoreio, começaram a ser divi-
Outra questão diz com as conse- didas em lotes, implantando-se ali
qüências de qualquer providência, muitos loteamentos.
legítima que seja, quando a proprie- Quando, enfim, o pOder público
dade resultar atingida ou afetada: veio a expropriar faixas de terras
serão tais conseqüências, sempre in- para a construção da rodovia Rio-
variavelmente, as mesmas? Ou po- Santos, encontrou muitos desses 10-
TFR - 100 81

teamentos em fase adiantada; deral, legislando sobre Direito Civil; e


encontraram-se verdadeiros núcleos assim o fez recentemente, pela lei
urbanos. que disciplinou o fracionamento do
Qualificar toda essa região como solo, depois de haver legislado sobre
rural, sem admitir distinções, é, loteamentos. Fê-lo, de fato, ao esta-
data venia, ignorar a realidade, por- belecer as faixas de qUinze metros
que ali não há culturas extensivas ou de largura, de cada lado das rodo-
intensivas; ali não há exploração vias, como áreas em que a constru-
agropastoril. ção fica proibida ...
Nossa história encontra, portanto, Por conseguinte, a douta opinião
perfeita confirmação nos autos: a segundo a qual a restrição se refere
iniciativa particular no tocante à ur- à faixa de apenas três metros carece
banização tem tido a primazia e é dar resposta plausível a esta Obje-
por isso mesmo que muitas das ção.
grandes cidades do Brasil apresen- Quanto ao mais, esclareço apenas
tam problemas quase insolúveis de que, como mostrei em meu voto de
urbanização, de transporte, de im- Relator da apelação, o memorial
plantação de serviços públicos de descritivo trazido pelo expropriante
infra-estrutura (isto é, precisamente não foi minucioso: não descreveu a
porque a iniciativa particular foi área expropriada: reportou-se a
vanguardeira, fracionou o solo, plantas. No manuseio destas, mos-
dividiu-o, vendeu-o, loteou-o com a trei que a área atingida pela expro-
aprovação dos municípios, mas sem priação foi, em certo trecho, de ses-
verdadeiros planos de urbanização). senta metros de largura e, em outro
E é bem de ver que, quando o po- trecho, de setenta metros. Esta foi a
der público, afinal vem realizar as área objeto da expropriação.
obras públicas que alteram situações Pode-se (e cabe perfeitamente)
juridicamente já consolidadas, po- presumir que, dentro dessa faixa (a-
dem resultar danos patrimoniais me- té certo ponto, de sessenta metros de
recedores de ressarcimento. largura, e deste ponto além, de se-
E bem verdade, como acaba de tenta) o DNER reservou ou afetou a
lembrar o Senhor Ministro Carlos faixa central para o leito da rodovia
Mário Velloso, que o município pode, e a área remanescente, para faixa
através de posturas, limitar o de segurança. Toda essa área, como
exercício do direito de construir. disse, foi extirpada da propriedade
dos réus, expropriada.
Tenho como certo, aliás, que os A indenização por restrição de di-
estados-membros também podem reitos diz respeito, somente, às fai-
fazê-lo, porque está entre suas atri- xas de quinze metros de largura, de
buições constitucionais fazê-lo atra- cada lado: porque, ao ser traçada a
vés das lei orgânicas dos municípios rodovia, ao ser feito o respectivo
(e isto o Estado de São Paulo fez), projeto (atesta o laudo do perito-
fixando critérios a que devam desempatador), já estava em curso
sujeitar-se os municípios, ao definir o loteamento; e este sofreu a restri-
as respectivas áreas urbanas de ex- ção.
tensão urbana e rural.
A luz destas considerações, não ve-
Portanto, até certo ponto, o estado- jo como reformular meu voto, no
membro também concorre nesta ati- qual reduzi a indenização pela área
vidade. objeto da restrição apenas à metade
Pode também dispor sobre o as- do seu valor. Neste ponto, respondo
sunto, como se sabe, a União Fe- à objeção do Senhor Ministro Justino
82 TFR - 100

Ribeiro, por entender (como aliás, EXTRATO DA MINUTA


vêm entendendo o Tribunal de São
Paulo e o Supremo Tribunal Federal) EAC 57.783-SP - ReI.: Sr. Min.
que, embora alcançadas pelas Justino Ribeiro. Embargante: Lia
restrições, estas áreas pOdém, no en- Myrian Levy ·'Ruffalo. Embargado:
tanto, prestar-se para certos fins DNER.
úteis ao loteamento (como logradou- Decisão: A Segunda Seção, após os
ros públicos e parques de estaciona- votos dos Srs. Ministros Justino Ri-
mento). beiro e Bueno de Souza recebendo os
Por estas razões é que, mandando embargos, e dos Srs. Ministros Wil-
indenizar a restrição de direito quan- son Gonçalves e Sebastião Reis,
to a estas faixas de terras laterais, rejeitando-os, pediu vista o Sr. Min.
reduzo, contudo, o respectivo valor, Miguel Ferrante; aguardando, os
à metade do da área restante, prin- Srs. Ministros Pedro Acioli, Américo
cipal, objeto da expropriação pro- Luz, Antônio de Pádua Ribeiro, Ar-
priamente. mando Rollemberg, Moacir Catunda,
Mantenho meu voto; recebo os em- Torreão Braz e Carlos Mário Vello-
bargos, com a devida vênia. 50. CEm 28-9-1982 - 2~ Seção).
Sustentaram, oralmente, os Srs.
Advs.: Dra. Beatriz Nunes, pela em-
VOTO bargante; Dr. Galileu Bonifácio da
Costa, pelo embargado e, pela União
O Sr. Ministro Sebastião Alves dos Federal, o Dr. José Arnaldo Gonçal-
Reis: Sr. Presidente. maxima data ves de Oliveira.
venia, rejeito os embargos; e, ao
fazê-lo reporto-me aos votos majori- VOTO VISTA
tários proferidos no juízo apelatório,
bem como aos subsídios agora acres- . O Senhor Ministro Miguel Jerôny-
cidos pelo Sr. Ministro Wilson Gon- mo Ferrante: No julgamento dos
çalves. A todo modo, entendo que a Embargos Infringentes à Apelação
cláusula non aedificandi é simples li- Cível n? 57.391 - São Paulo, que ver-
mitação adminstrativa e, não servi- sa matéria idêntica à debatida nes-
dão, assim, inindenizável, como é o tes autos, acompanhei o voto do
pensamento dominante na doutrina ilustre relator, Ministro José Dantas,
do Direito Administrativo Brasileiro; forte em sustentar a tese da não in-
de outra parte, não há nos autos su- denização da chamada área non
portes objetivos que autorizem tra- aedificandi, lateral às rodovias fe-
tar área exproprianda como de natu- derais.
reza urbana. Dessa posição não me arredei, ao
reexame da questão, na espécie, não
VOTO VENCIDO obstante a excelência dos argumen-
tos expendidos pelo douto Relator,
O Sr. Ministro Américo Luz: Sr. Ministro Justino Ribeiro.
Presidente, dadas as peculiaridades E que me parece procedente, data
do caso, embora reconhecendo legiti- venia, o entendimento de que a proi-
midade aos argumentos expedidos bição de não edificar às margens
aqui pelo eminente Ministro Miguel das estradas, na zona rural, se tra-
Ferrante, peço vênia a S. Exa. para duz em mera limitação administrati-
acompanhar o voto do eminente va, sem afetar o domínio do pro-
Ministro-Relator. prietário. Aduz, a propósito, Hely Lo-
Recebo os embargos. pes Meirelles:
TFR - 100 83

«A legislação rodoviária geral- o Assistente-Técnico da expro-


mente impõe uma «limitação ad- priante manifesta-se no mesmo sen-
ministrativa» aos terrenos margi- tido (fi. 94), e o louvado da expro-
nais das estradas de rodagem, con- priada ratifica a informação, ao afir-
sistente na proibição de construção mar: «O signatário concorda com a
a menos de 15 metros da rodovia, vistoria efetuada pelo digno perito
contado o recuo da divisa do judicial bem como com a descrição
domínio público com o particular. pormenorizada da localização do
Como simples «limitação adminis- imóvel avaliando» (fI. 78).
trativa», tal restrição não obriga a
qualquer indenização, nem impede Com essas breves considerações,
o proprietário de utilizar essa faixa com a devida vênia, rejeito os em-
para fins agricolas ou pastoris; o bargos.
que não pode é construir» (<<Direito
Administrativo Brasileiro», 8~ edi- VOTO
ção, 1981, página 523).
Mais ainda: O Sr. Ministro Antônio de Pádua
Ribeiro: Rejeito os embargos, na
«A limitação se justifica como consonância do voto que proferi na
medida de segurança e higiene das Turma.
edificações, pois que se levantadas
muito próximas do leito carroçável VOTO
ficariam expostas aos perigos do
trãnsito, à poeira, à fumaça dos O Sr. Ministro Armando Rol-
veículos, além de prejudicar a vi- lemberg: Sr. Presidente, fui voto
sibilidade e a estética, não des- vencedor na Turma. Rejeito os em-
prezíveis nas modernas rodovias». bargos.
(ibidem, obro citada).
E, após, ressaltar o equívoco dos VOTO
que confundem essa «limitação ad-
ministrativa» com a servidão admi- O Sr. Ministro Antônio Torreão
nistrativa e, até mesmo, como a de- Braz (vogal): Senhor Presidente,
sapropriação, enfatiza o festejado ju- a lei define o que sej a terreno urba-
rista não se reservar a faixa margi- no e terreno rural, mas o faz abs-
nal em tela para qualquer utilização tratamente. À períCia é que cabe in-
pública. A restrição não a retira da dicar, de modo concreto, a natureza
propriedade particular mas, apenas, de um e de outro. Acho que o juiz de
atinge o seu uso (obr. cit. pág. 524l. primeiro grau pode discordar dos
laudos se ele comparecer pessoal-
Perseverando, portanto, nesse en- mente ao local e verificar de visu
tendimento, resta saber se, na hipó- que os dados oferecidos pelos exper-
tese, cuida-se de propriedade rural tos não correspondem à realidade.
ou urbana. A resposta à indagação, Todavia, tem de fundamentar a sua
parece-me evidente, há de ser dada discordância. Na segunda instância,
pela perícia técnica, e esta é unãni- tal verificação é impossível, de sor-
me em afirmar que a gleba se situa te, que, afirmando a perícia que o
na zona rural. Confira-se o laudo do terreno é rural, não dispõe o órgão
perito do juízo, à fI. 55: colegiado de meios para divergir.
«Essa gleba, que não contém ter-
renos de marinha, fica situada na Acompanho o voto do Ministro Wil-
zona rural da Subprefeitura de son Gonçalves, rejeitando os embar-
Bertioga, Município de Santos, ... » gos.
84 TFR - 100

VOTO «Por primeiro, convém ressaltar


que essa área não se compreende
O Sr. Ministro Carlos Mário no domínio do expropriante. Não
Velloso: Senhor Presidente, na AC n? se trata da faixa de domínio do
78.034-SP, de que fui relator, e em DNER, que margeia o asfalto da
que se discutiu matéria idêntica, as- estrada. Trata-se, em verdade, de
sim votei: domínio do particular, área na
«A) Área «non aedificandi» qual não se pode construir, em ra-
zão de resolução administrativa.
Na AC 57.391-SP, de que fui rela- Noutras palavras, as construções
tor, decidiu a Egrégia 3~ Turma, limítrofes às faixas de domínio
na sua composição antiga: das rodovias federais devem obe-
«Desapropriação. Área non ae- decer um recuo de 3 metros para a
dificanc\i juros compensatórios. zona urbana ou proximamente ur-
Salário do Assistente-Técnico. bana, e de 5 metros para a zona
Honorários advocatícios. rural (fI. 202/203).
I - Área non aedificandi. As De início, por conseguinte, já se
construções limítrofes às faixas aponta um equívoco no laudo de
de domínio das rodovias federais fls. 74/114, exatamente às fls. 84,
devem obedecer um recuo de 3 quando indica a soma das áreas
(três) metros para a zona urbana non aedificandi em 30 metros, vale
ou proximamente urbana, e de 5 dizer, 15 metros de largura de ca-
(cinco) metros para a zona rural, da lado, ou para dentro do terreno,
em razão de disposição contida a partir da cerca da rodovia, ou da
em regulamento administrati- faixa de domínio da rodovia.
vo. Trata-se de área incluída no Com a vênia devida, estou em
domínio do particular, non ae- que essas áreas non aedificandi
dificandi. Essas faixas laterais são inindenizáveis.
à rodovia não são indenizáveis,
porque delas os expropriados não E que a questão, no particular,
perdem a propriedade, sofrendo, não diz respeito ao domínio, já vi-
apenas limitação da utilização. mos de expor, acima.
Cód. Civil, art. 572. Ela se coloca na área do direito
de construir, que o direito material
II - Juros compensatórios são regula (Cod. Civil, arts. 572 e
devidos, a partir da imissão na segs.).
posse. STF, Súmula n? 164.
O art. 572, do Cód. Civil, dispõe:
III - Salário do Assistente- «Art. 572. O proprietário pode
Técnico do expropriado a cargo levantar em seu terreno as cons-
do expropriante. RE n? 63.318- truções que lhe aprouver, salvo o
MG, RTJ 46/205; RE 85.705-RS, direito dos vizinhos e os regula-
RTJ 79/665. mentos administrativos.»
IV - Honorários advocatícios Em princípio, portanto, o pro-
arbitrados na forma do disposto prietário pode construir, no seu
no art. 20, § 4?, CPC. terreno, as construções que dese-
V - Recurso provido, em par- jar. Essa liberdade, todavia, sofre
te.» limitações no direito dos vizinhos e
nos regulamentos administrativos.
Razões urbanísticas, por exem-
plo, fundadas em posturas munici-
Proferi, então o seguinte voto: pais, pOdem impedir que, em de-
TFR - 100 85

terminados locais, sej am cons- belecer a metragem: 3 (três) me-


truídos prédios de apartamentos; tros para a zona urbana ou proxi-
noutras regiões, fixa-se um gabari- mamente urbana, e de 5 (cinco)
to dos prédios; noutras, ainda as metros para a zona rural (fls.
construções de prédios industriais, 202/203).
imóveis comerciais, são proibidas. O regulamento, no ponto
Razões de segurança, por outro la- embasa-se em lei, o direito mate-
do, podem determinar regulamen- rial, Cód. Civil, art. 572, já fala-
tos administrativos que proíbem, mos.
por exemplo, a construção nas
imediações de aeroportos, etc. É verdade que a Suprema Corte,
no RE n? 80.733-SP, Relator o Sr.
Ninguém, ao que se sabe, vai Ministro Thompson Flores, decidiu
pleitear indenização porque não no sentido de mandar indenizar as
pode construir um prédio de 10 an- faixas laterais non aedificandi, de
dares numa região onde o gabarito ambos os lados das estradas fe-
fixado nas posturas municipais is- derais, porque «insuscetíveis de
so não permita. De outro lado, se aproveitamento, industrial ou resi-
regulamentos administrativos es- dencial, imposto pelo Poder Públi-
tabelecem que as casas, os pré- co, justo será receba o proprietá-
dios, devem ser construídos com rio a respectiva reparação». (RTJ
obediência a um recuo, por exem- 79/215).
plo, de 3 (três) metros, das r~a~,
ao proprietário, não assiste o dIreI- Isto não quer dizer, data venia,
to de pedir indenização ao Poder que o entendimento que ora susten-
Público por esses 3 (três) metros. to seria afrontoso à Corte Supre-
Evidentemente que, se o regula- ma.
mento administrativo, em nome do É que o eminente Ministro
urbanismo, ou da segurança, che- Thompson Flores, Relator, no seu
ga a impedir o uso total ou quase respeitável voto, deixou expresso
total do imóvel, ao proprietário as- que se reservava «para oportuni-
siste o direito de buscar a tutela dade outra, quando, melhor inter-
jurisdicional, se, em concreto, posta a irresignação última, pro-
ocorre a prática de lesão ao direito porcione melhor exame da ques-
do proprietário. tão que é verdadeiramente, rele-
va~te, máxime que os Tribunais
No cai?o, em nome da Segurança paulistas vêm decidindo diversa-
do tráfego, o regulamento adminis- mente (RT, 328/358, 334/127;
trativo impede que se construa 384/171; 434/70.» (RTJ 79/215).
junto à faixa de domínio das rodo-
vias. A questão, também penso eu, es-
taria a merecer reexame por parte
O regulamento, no particular, ao da Egrégia Suprema Corte.
que me parece, não causa lesão ao
direito do proprietário. E que, em Estou, portanto, em que o ape-
caso assim, cuida-se da segurança, lante, no particular, tem razão.»
não só do tráfego, como, também,
do proprietário da área limítrofe à Ficou vencido, na oportunidade,
rodovia. . o eminente Ministro Bueno de Sou-
Destarte, ao que penso, não há za. Opostos embargos infringentes,
que se falar, no caso, em indeniza- a egrégia 2~ Seção os solucionou
ção pela área non aedificandi. Por- assim:
que, em verdade, é razoável o re- «Desapropriatória. Rodovias.
gulamento, no particular, ao esta- Regulamento Administrativo.
86 TFR - 100

Àrea non aedificandi. As faixas


laterais das rodovias federais, Nos termos do voto suso transcri-
«reservadas» a modo de simples to, com a vênia devida ao eminente
«limitação administrativa», con- Ministro Justino Ribeiro, Relator,
sentânea com o poder de polícia que tanto honrou e dignificou esta
autorizado no art. 572 do Código Corte, acompanho o Sr. Ministro Wil-
Civil, não são indenizáveis.» son Gonçalves, rejeitando os embar-
(EAC n? 57.391-SP, Relator o Sr. gos.
Ministro José Dantas, julgo em
24-3-1981) . EXTRATO DA MINUTA
No seu voto, o eminente Ministro
José Dantas menciona, em favor EAC. 57.783-SP - ReI.: Sr. Min.
da tese que sustentou, o decidido Justino Ribeiro. Embargante: Lia
pela Corte Suprema nos RR.EE. Myrian Levy Ruffalo. Embargado:
n?s 87.920, Relator o Sr. Ministro DNER.
Cordeiro Guerra (RTJ, 91/691), Decisão: A Segunda Seção, após os
91.690, Relator o Sr. Ministro Décio votos dos Srs. Ministros Justino Ri-
Miranda (RTJ, 93/906). beiro e Bueno de Souza recebendo os
embargos, e dos Srs. Ministros Wil-
Em fundamentado acordão, a son Gonçalves e Sebastião Reis,
Corte Suprema ratificou o entendi- rejeitando-os, pediu vista o Sr. Min.
mento de que a área non Miguel Ferrante, aguardando os Srs.
aedificandi à margem das rodovias Ministros Pedro Acioli, Américo
públicas, por se tratar de uma li- Luz, Antônio de Pádua Ribeiro, Ar-
mitação administrativa, «não auto- mando Rollemberg, Moacir Catunda,
riza, em regra, indenização ao pro- Torreão Braz e Carlos Mário Vello-
prietário do imóvel rural, que con- so. (Em 28-9-82 - 2~ Seção).
tinua no domínio do bem.» (RE n?
93.553-3-SP, Relator o Sr. Ministro Sustentaram, oralmente, os Srs.
Cunha Peixoto, DJ de 8-9-81). Advs. Dra. Beatriz Nunes, pela em-
bargante; Dr. Galileu Bonifácio da
Diante do exposto, dou provi- Costa, pelo embargado e, pela União
mento ao recurso do DNER no Federal, o Dr. José Arnaldo Gonçal-
ponto).» ves de Oliveira.

APELAÇAO CtVEL N? 58.220 - RS


Relator: O Sr. Ministro Adhemar Raymundo
Apelante: União Federal
ApeladO: Guilherme João Koch
Remetente: Juiz Federal da 2~ Vara
EMENTA
Responsabilidade Civil.
Projeto de construção de pavilhão de alvenaria.
Assistência técnica do profissional, nos termos do
contrato. Se a obra foi realizada pela Unidade Mili-
tar, sob o regime de administração direta, a ela a
responsabilidade pela solidez e segurança do traba-
lho. Ao projetista, a resultante de erro de cálculo e
TFR - 100 87

ausência de assistência técnica. Se o desmorona-


mento da obra se dera em virtude de substituição de
forro leve por um mais pesado, determinada pelo
administrador direto da obra, não se há de falar em
responsabilidade do engenheiro que não autorizou
essa substituição.

ACORDÃO Por questões de estética, em deter-


minado momento, entendeu-se de
Vistos e relatados estes autos em efetivar algumas modificações no
que são partes as acima indicadas: projeto original. Para tanto, foi con-
Decide a 3~ Turma do Tribunal Fe- sultado o réu, que tratou de projetar
deral de Recursos, por unanimidade, e, posteriormente, autorizou a reali-
negar provimento à apelação, na for- zação das citadas alterações.
ma do relatório e notas taquigráficas Consistiram estas na retirada das
constantes dos autos que ficam fa- «mãos» de estuque no forro e substi-
zendo parte integrante do presente tuição de treliça por uma cinta de ci-
julgado. mento armado. Porém, a obra resul-
tou concluída defeituosamente. O te-
Custas como de lei. lhado - que já havia cedido uma
Brasília, 4-2-83 (data do julgamen- vez antes do término da construção
to) - Ministro Carlos Madeira, Pre- - cedeu, disso resuitando avaria
sidente - Ministro Adhemar Ray- do forro do pavilhão e rachadura nas
mundo, Relator. paredes do prédio.
A vista do exposto, pleiteou fosse o
RELATORIO réu condenado a indenizar os pre-
juízos causados à autora, no total de
o Sr. Ministro Adhemar Raymun- Cr$ 63.200,00 acrescida de juros e
do da Silva: A União Federal promo- correção monetária ou, não sendo
veu ação de indenização contra Gui- julgados suficientemente provadOS
lherme João Koch, engenheiro civil, os prejuízos, a pagar o valor da inde-
alegando que, em meados de 1971, o nização a ser apurado em liquidação
Exército Nacional contratou o réu de sentença, e mais, custas proces-
para a execução do projeto, inclusi- suais e honorários advocatícios.
ve realização dos cálculos de estru- Contestou Guilherme João Koch,
tura, assistência técnica e fiscaliza- sustentando que a pretensão não po-
ção das obras de construção de um de ser acolhida, por falta da neces-
pavilhão de alvenaria, destinado a sária vistoria prévia, por ser a obra
servir à 2~ Cia. Fzo. da referida uni- clandestina, por faltar o pagamento
dade militar. do INPS, não haver diário de obra
p réu apresentou o projeto, reali- registrada no CREA e outras irregu-
zou os cálculos, recebeu os paga- laridades.
mentos preliminares combinados e, Negou que tenha existido o contra-
assim, iniciou-se a construção. to alegado, só tendo havido entre as
partes uma proposta, uma tentativa
~a execução da obra seguiu-se re- inicial de ajuste, não tendo sido con-
ligiosamente o proj eto apresentado firmada a carta proposta do enge-
pelO réu, que, aliás, cumprindo com nheiro.
suas obrigações contratuais, fiscali- Sentenciou o Dr. Juiz, julgando im-
zava pessoalmente a realização dos procedente a ação, condenando a au-
trabalhos. tora em honorários de Cr$ 6.300,00.
88 TFR - 100

Inconformada, apelou a União Fe- ção de estuque não estava prevista


deral, nas razões de fls. 290/296, no projeto original. E, a partir da in-
contra-arrazoando o apelante, nas trodução dessas mOdificações, a
razões de fls. 299/302. obra teve um supervisor, o Sr. Zab-
Subiram os autos e, nesta Instân- ka, empreitado pela unidade cons-
cia, a douta Subprocuradoria-Geral trutora, para a fiscalização da obra.
da República, opinou pelo provimen- Para o cumprimento dessa tarefa, a
to do recurso da União Federal. ela comparecia diariamente.
É o relatório. A responsabilidade do engenheiro
existiria, se provado estivesse que
VOTO ele autorizou, expressamente, com a
modificação da planta, a colocação
O Sr. Ministro Adhemar Ray- do estuque. E ele afirmara, no seu
mundo (Relator): A sentença bem depoimento, perante a Comissão de
colocou a matéria em discussão, Sindicância, que essa colocação não
razão por que adoto a sua fun- estava na planta original (V. fI. 22).
damentação e respectiva conclusão. Destarte, o ponto medular da ques-
Para definir-se a responsabilidade tão está em saber se houve ou não a
do engenheiro projetista, necessário determinação do engenheiro-réu pa-
que se examinem as tarefas que lhe ra a substituição de um forro leve
foram cometidas. Não há nos autos o por um mais pesado, já que as modi-
teor do contrato, pactuado entre ele, ficações anteriores, autorizadas pela
a Unidade e 19? Batalhão de Infanta- administração da obra, a ela não se
ria Motorizado, com sede na cidade referiam. A União Federal, na ape-
de São Leopoldo. Apenas, pelo depoi- lação subscrita pelo seu órgão, insis-
mento do próprio técnico, prestado te no argumento de que o réu anuiu
na Sindicância feita pelo Exército, à colocação do estuque, louvando-se,
se conclui que ao réu foi cometida a para assim concluir, que a prova
tarefa de: a) elaborar projeto de testemunhal existente nos autos, é
construção de determinada obra; b) indicativa dessa autorização. Estou
realizar cálculos de estrutura; C) dar com o Juiz, no particular, por enten-
assistência técnica. Ao prestar esse der que a prova carreada não positi-
depoimento, ressaltado no Parecer va essa autorização. O destaque da-
da douta Subprocuradoria, assinalou do pelo julgador ao depoimento do
o réu que foram feitas alterações na Engenheiro militar, Orlando Hee-
planta original. Mas, registre-se que mann (fI. 227) deve ser ressaltado.
essas alterações não deram causa à Afirmou a testemunha que a estrutu-
avaria total do forro e rachadura ra foi calculada para forro leve e
nas paredes do prédio. Como prova- não estuque. E acrescentou que toda
do, a avaria decorreu da sobrecarga obra militar deveria passar pelO
causada pela colocação do estuque. exame e aprovação da Comissão. Fi-
Jamais, em decorrência das altera- nalmente, afirmou, categoricamen-
ções feitas no projeto, feitas com o te, que o Comandante tivera a idéia
objetivo de dar ao prédio melhor as- de empregar o estuque na obra.
pecto estético. E isso, a pedido do Veja-se a coerência do seu depOi-
Comando Militar. Daí ter sido elimi- mento, pois, dissera, inicialmente,
nada a escora, e aumentado o ponta- que a estrutura fora calculada para
lete das tesouras, para compensar a um forro leve. Insista-se, portanto,
retirada daquela. É o que está no no detalhe de que as alterações fei-
seu depoimento, prestado na Sindi- tas no projeto primitivo tiveram a
cância (V. fI. 22). Mas nesse depOi- autorização da unidade militar cons-
mento, o réu assinalou que a coloca- trutora.
TFR - 100 89

Aduz a apelante que o Cel. Orlan- lando, as acusações de testemunhas,


do, encarregado que fora da vistoria visando dar ao réu responsabilidade
na obra avariada, conclui pela res- no evento, são descabidas. Veja-se, a
ponsabilidade do engenheiro. Re- propósito, a declaração do carpintei-
porta-se à fl. 46, onde estão as ro, quando afirmara que a determi-
suas conclusões. Mas, data venia, nação de colocar o estuque foi do
entendo que a assertiva ali inserida Major (fl. 230). Da lei, existe a res-
não autoriza a admissão da respon- ponsabilidade civil, nos casos de em-
sabilidade do réu. É que registrado preitada. E, como a hipótese dos au-
está o fato, de alta importância, de tos disso nâo cuida, perdem o seu
que o engenheiro não calculou a es- valor as citações feitas no Parecer
trutura para forro de estuque, mas da douta Subprocuradoria, de lições
para um forro leve. Ademais, afir- de mestres, como Aguiar Dias, que
mara o Engenheiro militar, naquela se ajustam aos casos de empreitada,
oportunidade, que o réu não tivera e não de obra realizada, sob o regi-
energia necessária para não permi- me da administração direta, que é a
tir a modificação. Logo, a modifica- hipótese dos autos.
ção não foi autorizada pelo réu. Este Nego provimento à apelação.
não tivera coragem de enfrentar o
administrador da obra, que era a É o meu voto.
própria Unidade Militar. E, no dizer
da testemunha, a substituição do for- EXTRATO DA MINUTA
ro leve pelo estuque fora feito pelo
Comandante (fl. 22). AC. 58.220 - Relator: Sr. Ministro
Adhemar Raymundo. Apelante:
Não se há de falar em responsabi- União Federal. Apelado: Guilherme
lidade de alguém pelo silêncio, como João Koch. Remetente: Juiz Federal
quer a apelante. Ela dimana da lei da 2~ Vara.
ou do contrato. Deste, a responsabili-
dade do projetista pela execução do Decisão: A Turma, por unanimida-
projeto e respectiva assistência. Se a de, negou provimento à apelação. (3~
obra foi realizada pela Unidade Mili- Turma, em 4-2-83) .
tar, com a supervisão de terceiro, a
alteração feita, à revelia do autor do Os Srs. Ministros Fláquer Scartez-
projeto original, há de ser de ou- zini e Carlos Madeira votaram de
trem, e não do engenheiro. Ademais, acordo com o Sr. Ministro-Relator.
se a alteração foi determinada pelo Presidiu o julgamento o Sr. Ministro
Comandante, como dito pelo Cel. Or- Carlos Madeira.

APELAÇAO C1VEL N? 62.561 - RJ


Relator: O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro
Remetente: Juiz Federal da 2~ Vara
Apelante: Instituto de Administração Financeira da Previdência e As-
sistência Social - lAPAS
Apelado: Sindicato dos Empregados no Comércio do Município do Rio
de Janeiro .
EMENTA
Salário-educação. Aspectos constitucionais. Na-
tureza jurídica. Sindicatos. Isenção.
90 TFR - 100

I - O salário-educação constitui contribuição es-


pecial com caráter tributário, dele não estando imu-
nes os Sindicatos, pelo fato de não serem empresas
industriais, comerciais ou agrícolas (Constituição,
art. 178).
H - Contudo, os Sindicatos podem beneficiar-se
da isenção prevista no art. 5?, letra b, da Lei n?
4.440, de 27-10-64, que o instituiu, desde que exerçam
atividades assistenciais sem fins lucrativos. Para es-
se fim, não é necessário que comprovem o seu en-
quadramento na Lei n? 3.577/59, como entidade filan-
trópica, bastando que ofereçam prova das suas ativi-
dades assistenciais, pois o art. 12, § 2?, do regula-
mento baixado pelo Decreto n? 55.551, de 12-1-65, ao
estabelecer aquela exigência, inovou o texto legal
concessivo da isenção em tal caso e, portanto, não
pode prevalecer.
IH - Apelação desprovida.

ACORDA0 minada «salário educação» que


deixou de ser recolhida pelo em-
Vistos, relatados e discutidos estes bargante, no período de março a
autos, em que são partes as acima agosto de 1974.
indicadas:
Alega o embargante que tal exi-
Decide a 4~ Turma do Tribunal Fe- gência é indevida, eis que:
deral de Recursos, por unanimidade,
negar provimento ao apelo, na for- a) O Sindicato não se conceitua
ma do relatório e notas taquigráficas como empresa sujeita à contribui-
anexas que ficam fazendo parte inte- ção do salário-educação, na forma
grante do presente julgado. prevista no art. 178 da Emenda
Custas, como de lei. Constitucional n? 1/69, precedido
pela Lei n? 4.440, de 27-10-1964, que
Brasília, 31 de maio de 1982 (data considera contribuinte toda empre-
de julgamento) - Ministro Carlos sa vinculada à Previdência Social;
Mário Velloso, Presidente - Minis-
tro Antônio de Pádua Ribeiro, Rela- b) O Sindicato não é empresa,
tor. do ponto de vista econômico, nem
juridicamente;
RELATORIO c) incluindo-se a contribuição do
salário-educação no gênero das im-
o Sr. Ministro Antônio de Pádua posições tributárias, dela goza o
Ribeiro: Leio na sentença (fls. 144- Sindicato de imunidade, por não
147): ser empresa comercial, industrial
«O Sindicato dos Empregados do ou agrícola;
Comércio do Município do Rio de
Janeiro opõe Embargos de Deve- d) não se encontrasse ao amparo
dor à Execução Fiscal (Processo da imunidade constitucional, des-
n? 16.283), que lhe move o Institu- frutaria o Sindicato da isenção ou-
to Nacional de Previdência Social torgada pela Lei número 4.440, de
para a cobrança de dívida ativa 1964, às organizações de assistên-
proveniente da contribuição deno- cia que não tenham fins lucrativos;
TFR - 100 91

e) tal isenção deve ser reconhe- Espera a improcedênci q da exe-


cida ao Sindicato embargante que cução, condenando o )exeqüente
é, por diplomas emitidos pelos Po- nas custas e honorários de advoga-
deres Legislativos federal e local, do na taxa de 20%.
entidade considerada como de uti- Impugnando os embargos do de-
lidade pública. vedor (fls. 20/22), alega que o em-
Conclui o embargante que a exi- bargante, como empregador que é,
gência do «salário-educação» é in- vinculado ao sistema geral da Pre-
devida: vidência Social, é contribuinte do
salário-educação, de acordo com a
I?) porque a entidade executa- definição contida no art. I? da Lei
da não é empregador, nos termos n? 4.440, de 27-10-1964, que instituiu
da legislação do trabalho e, mui- a referida contribuição.
to menos, empresa comercial, in-
dustrial e agrícola, consoante os Não houve especificação de pro-
princípios econômicos e a legisla- vas, por ser a questão, a decidir,
ção civil ou comercial; exclusivamente de direito (fls. 25),
Em cumprimento à diligência or-
2?) porque, ao revés disso, o denada pelo Juízo, trouxe o embar-
Sindicato em questão, nos termos gante para os autos os respectivos
da Constituição Federal e de nor- estatutos sociais (fls. 29/39), acom-
mas legais comuns e, até, espe- panhados de outros documentos
ciais, é órgão que complementa a (fls. 40/139),
ação do Estado na prestação de
assistência social, a ponto de se De tudo, teve vista o Instituto-
haver tornado destinatário da embargado, que se manifestou às
qualificação legal de utilidade fls. 141/142.
pública, nos planos federal e 10- A União Federal interveio no
cal;,' processo, na qualidade de assisten-
te da autarquia-embargada, pro-
3?) porque a contribuição de testando pela improcedência dos
salário-educação foi instituída embargos (fls. 143).»
pela Carta Federal como imposi-
ção a ser paga por empresas co- Apreciando a controvérsia, o Dr.
merciais, industriais e agrícolas, Ney Magno Valadares, MM. Juiz Fe-
o que definitivamente, o embar- deral no Rio de Janeiro, após repelir
gante não é; a preliminar de inconstitucionalida-
de, reconheceu ao executado a isen-
4?) porque, ainda que o sambe- ção concedida pelo art. 5?, letra b da
nito da inconstitucionalidade não Lei n? 4.440/64, e, em conseqüência,
elidisse os preceitos legais invo- recebeu os embargos, condenando o
cados na presente execução, o exeqüente no reembolso das custas e
embargante se acha amparado na verba advocatícia, que fixou em
pela isenção que os mesmos ex- 10% (dez por cento) do valor da dívi-
pressamente deferem às entida- da; e, afinal, remeteu os autos a es-
des de assistência, constituídas ta Corte (CPC, art. 475, IIl).
sem objetivo de natureza econô-
mica; Apelou a autarquia-previdenciária
(fls. 152/157). Argumenta, em sínte-
5?) porque, assim, sob o duplo se, ejue não é possível reconhecer a
páliO da imunidade e da isenção, isenção prevista na letra «b» do art.
descabe a iníqua pretensão em 5? da Lei número 4.440, de 27-4-64,
tela formulada pelo exeqüente, o a que se refere a sentença, sem que,
INPS.» antes, o embargante tenha compro-
92 TFR - 100

vado achar-se na situação contem- «Insurge-se o embargante contra


plada naquele preceito legal, o que a exigência da contribuição deno-
teria de fazer trazendo para os autos minada «salário-educação», o que
a prova do seu enquadramento na não seria devida pelos Sindicatos,
Lei n? 3.577/59. os quais não exercem atividades
Contra-arrazoando o recurso (fls. econômicas nem se conceituam co-
159/166), o executado insiste em que mo empresas comerciais, indus-
está imune da cobrança do salário- triais e agrícolas para que sejam
educação, ex vi do art. 178 da Consti- considerados contribuintes.
tuição, eis que não é empresa co- Data "Venia, a prejudicial de in-
mercial, industrial ou agrícOla, e ar- constitucionalidade não tem consis-
gumenta que, de qualquer forma, es- tência jurídica, porque a hipótese
tá ao amparo da isenção proclamada figurada seria de não-incidência da
pela sentença recorrida por cuj a contribuição do salário de educa-
confirmação propugna. ção sobre a atividade de outras
Neste Tribunal, oficiou a douta empresas ou entidades não com-
Subprocuradoria-Geral da República preendidas no elenco do art. 178 da
pelo provimento do recurso, com a Constituição Fedéral, e não de
reforma da decisão hostilizada (fls. imunidade tributária propriamente
179/181). dita.
Redistribuídos, os autos vieram- A imunidade consiste na supres-
me conclusos em 1-10-8l. são do poder tributário do legisla-
dor ordinário, o que não ocorre
Dispensada a revisão. com a não incidência, cujo campo
E o relatório. pode ser preenChido pela lei.
VOTO Sobre o alcance dos dois institu-
tos, assim se pronuncia Ruy Bar-
O Sr. Ministro Antônio de Pádua bosa Nogueira (Direito Financeiro
Ribeiro (Relator): Em execução fis- - Curso de Direito Tributário):
cal, que lhe move o Instituto Nacio- «O campo de incidência poderá
nal da Previdência Social, objetivan- ser ampliado pela lei ordinária e
do a cobrança da contribuição deno- dentro da competência de modo
minada «salário-educação», no pe- a abranger mais fatos do campo
ríodo compreendido entre março e da não incidência, entretanto
agosto de 1974, o Sindicato dos Em- nunca poderá transpor a barreira
pregados do Comércio do Município da imunidade, pois lhe falta po-
do Rio de Janeiro opôs embargos, der, competência, para tributar o
argumentando, em síntese, que, à campo imune.
vista do art. 178 da Constituição (EC
n? 1/69), está imune daquela contri- Não se pode negar à União Fe-
buição, eis que não é empresa co- deral competência para instituir o
mercial, industrial ou agríCOla, ou, salário-educação, ampliando-lhe o
quando não, dela estaria isenta ex vi campo de incidência a outras pes-
do art. 5?, letra «b» da Lei n? 4.440, soas, tendo em vista a sua nature-
de 1965, vigente à época a que se re- za de contribuição parafiscal.
fere o crédito executado. Parece-me, assim, isento de
ApreCiando a controvérsia, a sen- qualquer eiva de inconstitucionali-
tença repeliu a prejudicial de incons- d1'\de o art. I? da Lei n? 4.440, de
titucionalidade, mas reconheceu a 27 de outubro de 1964, que instituiu
alegada isenção, argumentandO (fls. o' salário-educação, nos seguintes
147/150): termos:
TFR - 100 93

«Art. I? É instituído o salário- de claEsc, exerce também ativida-


educação devido pelas empresas des paralelas de assistência a seus
vinculadas à Previdência Social, associados sem fins lucrativos, no
representado pela importância campo da educação, saúde, recrea-
correspondente ao ensino primá- ção, alimentação e previdência
rio dos filhos de seus empregados (fls. 27/139). Inclui-se, assim, entre
em idade de escolarização obri- as organizações de assistência que
gatória e destinado a suplemen- gozam de isenção da referida con-
tar as despesas públicas com a tribuição, como já fora reconheci-
educação elementar.» do pela Comissão Estadual de
No dispositivo legal, em foco, o Salário-Educação, da Secretaria de
termo empresa não foi usado em Educação do Estado da Guanaba-
sua acepção técl}iCa ou econômica, ra, nos termos do parecer transcri-
mas como sinônimo ou equivalente to na petição de embargos.
de empregador, como tal definido O reconhecimento da isenção,
na Consolidação das Leis do Tra- em tela, não está condicionado à
balho. Nesse sentido genérico, a apresentação do certificado expe-
empresa é abrangente de qualquer dido pelo Conselho NacionaI de
forma de atividade, individual ou Serviço Social do Ministério da
coletiva, institucionalizada ou não Educação e Cultura, e que se desti-
e deve ser considerada, sem restri- na a fazer prova da qualidade de
ções, para fins da qualificação de entidade de fins filantrópicos, para
empregador. Aqui, o conceito de concessão da isenção prevista na
empresa se confunde com o de ati- Lei n? 3.557, de 4-7-1959. Se o
vidade, em que se utiliza o traba- Sindicato-embargante gozasse da
lho de outrem, compreendendo os isenção outorgada a entidades de
clubes, sindicatos e outras associa- fins filantrópicos pela Lei n?
ções não lucrativas (Paulo Emílio 3.557/59, não estaria vinculado ao
Ribeiro de Vilhena - Relação de sistema geral de Previdência So-
Emprego - Ed. Saraiva). cial, de modo que ficaria, automa-
Equiparado ao empregador e, ticamente, excluído da incidência
nessa condição, vinculado ao siste- da Lei n? 4.440/64 que instituiu o
ma geral de Previdência Social, salário-educação. Nesse ponto, o
encontra-se o Sindicato- embargan- Dr. Procurador do Instituto-
te no campo de incidência do art. embargado confundiu a isenção ge-
I? da Lei n? 4.440, de 27-10-1964, nérica de que trata a Lei n?
que instituiu o salário-educação. 3.557/59, com a específica, a que se
refere o art. 5?, letra «b», da Lei n?
A incidência da contribuição, no 4.440/64, criando para esta uma
caso de Sindicato-embargante, foi, condição inexistente, como se pre-
porém, afastada pela isenção con- sume da petição de fls. 141/142.
cedida pelo art. 5?, letra «b» da ci- Sendo o Sindicato-embargante
tada Lei n? 4.440/64, «às institui- um órgão de defesa e assistência à
ções de ensino e educação, de qual- categoria profissional que repre-
quer tipo ou grau, bem assim os senta, prestando a seus associados,
hospitais e demais organizações de sem finalidade lucrativa, vários
assistência que não tenham fins lu- serviços, preenche os requisitos le-
crativos.» gais p~ra a isenção da contribui-
O Sindicato-embargante, que foi ção denominada «salário-edu-
declarado de utilidade pública (fls. cacão)?, que lhe foi exigida in-
16/17), além de sua principal fina- devidamente pelo Instituto embar-
lidade de órgão de representação gado.»
94 TFR - 100

Daí o recurso apelatório em que a ria, 1976, pág. 44; outros que se cuida
autarquia exeqüente alega que, co- de tributo não vinculado (imposto)
mo o executado não fez a prova do (Geraldo Ataliba, Salário-Educação
seu enquadramento na Lei n? - Natureza Tributária, Revista de
3.557/59, não se lhe pOde reconhecer Direito Público, voI. 21, pág. 271);
a isenção, insistindo o embargante, terceiros, que se trata de contribui-
nas suas contra-razões, no acolhi- ção especial de natureza tributária
mento da argüida inconstitucionali- (Ruy Barbosa Nogueira, Curso de
dade de se lhe exigir a contribuição Direito Tributário, Ed. Saraiva, 1980,
questionada. págs. 118, 131, 157).
Conforme se depreende da leitura
II dos citados precedentes jurispruden-
ciais e dos escólios apresentados pe-
A solução da questão constitucio- la doutrina, não constitui tarefa fácil
nal envolve o conceito acerca da na- situar-se em torno da matéria, tendo
tureza jurídica .do salário-educação, em conta especialmente os reflexos
tema dos mais controvertidos e que, jurídicos oriundos da opção concei-
a meu ver, ainda por muito tempo, tual, tornando-se, por isso, árduas as
deverá ensejar prolongados debates soluções das multifárias questões
jurisprudenciais e doutrinários. concretas, cujo deslinde vem sendo
No Excelso Pretório, or9- se tem pleiteado junto ao Judiciário.
entendido que o : salário-educação
constitui preço público (v"er votos III
dos eminentes Ministros Cunha Pei-
xoto e Xavier de Albuquerque no RE Após meditar sobre o tema, afi-
83.662-RS, RTJ 83, págs. 445 e 450); gurou-se-me que o salário-edu-
ora contribuição parafiscal com na- cação consubstancia, na verdade,
tureza de imposto (RE 82.483, 2~ T. contribuição especial com índole tri-
julgo 24-10-75, Relator o Sr. Ministro butária.
Moreira Alves, que, posteriormente, Eis o texto do art. 178 da Constitui-
passou a conceituá-lo como contri- ção (redação da E.C. n? 1/69):
buição especial - RÉ 83.662-RS, RTJ
83, pág. 454); ora cómo contribuição «As empresas comerciais, indus-
sui generis, sem carátér tributário triais e agrícolas são obrigadas a
CRE 82.480-RS, RTJ 80/173, Relator o manter o ensino primário gratuito
eminente Ministro Xavier de Albu- de seus empregados e o ensino dos
querque, que esclarece ter sido este filhos destes, entre os sete e os
o entendimento que prevaleceu no quatorze anos, ou a concorrer para
Pleno, ao julgar o RE 83.662-RS). aquele fim, mediante a contribui-
Esta última, pois, é a orientação do- ção do salário-educação, na forma
minante naquela Co lenda Suprema que a lei estabelecer».
Corte. A meu ver, o transcrito preceito
Na doutrina, embora não haj a, previu a instituição do salário-
também, uniformidade de ponto de educação, através de lei, e, ao mes-
vista no tO'cante à sua conceituação, mo tempo, um caso de não incidên-
prevalece orientação diversa, ou se- cia: empresas comerciais, indus-
ja, no sentido de que o salário- triais ou agrícolas que mantiverem o
educação tem a natureza tributária. ensino primário para seus emprega-
Assim, uns entendem que constitui dos e filhos.
tributo, embora com destinação es- Tenha-se em conta que a Constitui-
peCífica (Ari Kardek de Melo, Salá- ção apenas dispõe sobre o poder de
rio Educação, Ed. Resenha Tributá- tributar, cabendo às leis instituir os
TFR - 100 95

tributos, por serem elas os atos espe- tar cer~os fatos, situações ou pes-
cificamente criadores das obriga- soas, por disposição constitucional».
ções tributárias (Rui Barbosa Morei-
ra, opus cit., págs. 56 e 58). No caso. <to salário-educação, se
imunidade - caso especial de não inci-
Foi dentro dessa sistemática que dência - há é no tocante às empre-
as leis que criaram o salário- sas comerciais, industriais e agríco-
educação (Lei n? 4.440, de 27-10-64, e las que cumprirem a obrigação de
Decreto-Lei n? 1.422, de 23-10-75) lhe fazer prevista no texto constitucio-
definiram o fato gerador, bem como nal, o que é muito diverso do que
as alíquotas ou bases de cálculo, e sustenta o apelado, ao pretender
mais ainda: estabeleceram que as que, pela circunstância de o sindica-
empresas comerciais, industriais ou to não constituir empresa comercial,
agrícolas que mantiverem o ensino industrial ou agrícola, ipso facto es-
primário para seus empregados e fi- taria fora da abrangência do texto
lhos deles estão isentas. constitucional.
Por isso mesmo, não me parece Nessa linha de raciocínio, é que é
correta a afirmação de que o pertinente o ensinamento de Ruy
salário-educação não seria tributo, Barbosa Nogueira (Opus cit, pág.
porque a Constituição prevê dupla 172), ao dizer que:
obrigação de dar e de fazer, ficando «... 0 campo da incidência poderá
ao alvedrio da empresa optar pela ser ampliado pelo legislador ordi-
prestação que mais lhe convier, cir- nário competente, de modo a
cunstância que afastaria a compul- abranger mais fatos do campo da
soriedade inerente àquele instituto não incidência. Mas este nunca po-
(C.T.N., art. 3?). derá transpor a barreira da imuni-
Com efeito, segundo disse anterior- dade, por que o legislador ordiná-
mente - e repito - o que a Consti- rio não tem competência para imu-
tuição contemplou foi a instituição nizar, ao contrário lhe é proibido
de um tributo (ensejador de obriga- invadir o campo da imunidade por
ção de dar) e um caso de sua não in- que este é reservado ao poder
cidência (decorrente de obrigação de constitucional, é precisamente li-
fazer). No tocante ao tributo, não há mitação de competência, mais ge-
como negar-lhe a compulsoriedade, nericamente, é exclusão do próprio
que, aliás, decorre dos expressos ter- poder de tributar».
mos da lei que o instituiu, ou seja, do
art. 3? da Lei n? 4.440, de 27-10-64, IV
<Decreto-Lei n? 1.422, de 23-10-75, art. Afastada, pois, a prejudicial de in-
1~, § 1?J.
constitucionalidade, argüida pelo
Diante disso, parece-me que proce- apelado, remanesce, apenas, a ques-
deu com acerto a sentença impugna- tão de saber se, na qualidade de sin-
da, ao situar a questão versada nes- dicato, está, ou não, isento do sa-
tes autos, concernente à exigência lário-educação.
do salário-educação quanto aos sin- Refutando a sentença que lhe reco-
dicatos, não sob o aspecto da incons- nheceu a isenção prevista no art. 5?,
titucionalidade, mas no plano da letra b, da Lei n? 4.440, de 27-4-64, diz
não-incidência. a autarquia-previdenciária que o
Na verdade, a imunidade, segundo embargante não comprovou achar-se
Amilcar Falcão, é «uma forma de enquadrado na Lei n? 3.577/59.
não incidência pela supressão da A meu ver, não lhe assiste razão.
competência impositiva para tribu- Nesse ponto, a decisão monocrática
96 TFR - 100

cometeu ligeiro equívoco. ao argu- «É fora de dúvida que mantém a


mentar que «se o Sindicato-em- recorrente, na capital de São Pau-
bargante gozasse da isenção ou- lo, sete estabelecimentos de benefi-
torgada a entidades de fins filantró- ciência, tendo exibido, com a ini-
picos pela Lei n? 3.557/59, não esta- cial, atestado de registro do Servi-
ria vinculado ao sistema geral de ço Social do Estado, de que preen-
Previdência Social, de modo que fi- che ela, cabalmente, suas finalida-
caria, automaticamente, excluído da des, nos têrmos do art. 12 parágra-
incidência da Lei n? 4.440/64, que fos do Decreto-Lei n? 9.486, de 13-9-
instituiu o salário-educação». Com 38 (fôlha 18). E, mais: exibiu certi-
efeito, a isenção, a que se refere a dão do despacho do Sr. Ministro da
citada lei, quanto às entidades filan- Fazenda, declarando-a isenta do
trópicas, di,z respeito apenas à quota recolhimento do imposto de renda
patronal (ver AC 56.684 RJ, 4~ T, Ac. (fI. 19).
DJ 13-11-80, pág. 9.453, de que fui Re- Bem de ver, em tais condições,
lator). Portanto, a circunstância de que se acha ela isenta do tributo
ser, ou não, a entidade beneficiária denominado «salário-educação» ins-
da isenção não a exclui, por si só, do tituído pela Lei número 4.440, de
sistema da previdência social. 27-10-64, cujo artigo 5?, alínea b,
Contudo, tal equívoco da sentença em obediência ao art. 31, V, b, da
não é suficiente para afastar a sua Constituição de 1946, isentou, in-
acertada conclusão. Na verdade, no condicionalmente, do referido tri-
caso, o que ocorreu foi o seguinte: o buto «as instituições de ensino de
Decreto n? 55.551, de 12-1-65, que re- qualquer tipo ou grau, bem assim
gulou a Lei n? 4.440, de 27 de outubro os hospitais e demais organizações
de 1964, ao exigir das entidades be- de assistência que não tenham fins
neficiárias da isenção contemplada lucrativos». De evidência assim,
no art. 5?, letra h, desse diploma le- que se veio o Dec. 55.551, de 12-1-
gal, a comprovação de se acharem 65, que regulamentou aquele diplo-
«enquadradas na Lei número 3.577, ma, a estabelecer uma condição
de 4-7-59», estabeleceu inovação ao nova para a obtenção do tributo,
texto legal conferido r da isenção e, aquela de ser a instituição reco-
portanto, extravasou os limites do nhecida como de utilidade pública,
poder regulamentar. não pode o mesmo decreto preva-
Sobre o tema, aliás, j á se pronun- lecer contra o texto expresso da
ciou o Excelso Pretório no RE lei.
70.396/SP, de que foi Relator o sau- Ora, é elementar o princípio de
doso Ministro Barros Monteiro, em que o regulamento deve ficar ads-
acórdãoassimementado (RT J55/214): trito à lei».
V
I?) Salário-educação. Isenção Na espécie, o apelado trouxe para
concedida às sociedades de benefi- os autos os seus Estatutos Sociais,
ciência; onde se lê, no seu art. 5? e letra o,
2?) Não pode o decreto que regu- que foi «constituído para fins de es-
lamentou o diploma que instituiu tudo, defesa, coordenação, proteção,
aquela isenção criar uma condição assistência e legítima representação
nova para a sua concessão. dos comerciários prepostos do co-
mércio», incumbindo-lhe, dentre ou-
3?) Recurso extraordinário co- tras tarefas: «organizar, contratar,
nhecido e provido». promover e executar serviços de be-
No corpo do seu voto, argumentou neficiência, assistência, de previdên-
<RTJ 55/216): cia ... ». Veio, também, para o proces-
TFR - 100 97

so o «Regimento Escolar do Colégio instituições de assistência social: te-


do Comerciário» por ele mantido, nho para mim que sindicato é enti-
bem como «Relatório e Contas da dade muito mais complexa e de fina-
Diretoria» de «Parecer do Conselho lidades muito mais relevantes, abso-
Fiscal», onde estão discriminadas as lutamente inconfundíveis com as de
várias atividades assistenciais que natureza meramente assistencial.
desempenha (fls. 29 a 139). De fato, os sindicatos não se desti-
nam apenas a cuidar de aspectos
VI meramente marginais da vida social
ou econômico, tal ocorre com as en-
Por tais fundamentos, em conclu- tidades de assistência social inspira-
são, confirmo a sentença: nego pro- das na noção e na prática da carida-
vimento à apelação. de.
VOTO Ao contrário, os sindicatos se des-
tinam a participar significativa e re-
O Sr. Ministro Bueno de Souza: Se- levantemente no livre jogo das for-
nhor Presidente, na conclusão, estou ças da produção, no âmbito da eco-
de acordo com o douto voto que aca- nomia de mercado, apanágio do es-
ba de proferir o Senhor Ministro- tado liberal, em sentido político (es-
Relator. tado de direito ou estado constitucio-
nal).
No entanto, sempre com o devido
respeito, divirjo de S. Exa. no que O caso, para mim, configura-se,
toca aos fundamentos da decisão. como hipótese concreta, inteiramen-
te alheio ao pressuposto típico e abs-
Primeiramente, acentuo a desne- trato previsto na ConstitUição, art.
cessidade, no momento (tal como re- 178.
conheceu, em sustentação oral e
com o brilho de sempre, o douto pa- E é assim que simplesmente enca-
trono do apelado), do debate sobre a ro a hipótese: o art. 178 refere-se a
natureza jurídica do salário-edu- empresas comerciais, industriais e
cação. agrícolas; como tais, não me parece
possam conceituar-se os sindicatos,
Quanto ao fulcro da questão, coe- porque não consistem naquilo que
rentemente com os meus pronuncia- Valdemar Ferreira, ao conceituar a
mentos anteriores (e com o maior empresa, indicou como «coordena-
respeito pelas doutas opiniões con- ção de recursos econômicos, finan-
trárias, aqui já resumidé:1s ou referi- ceiros e de aptidão técnica, geren-
das), repilo a afirmação de imunida- cial e de trabalho na realização da
de dos sindicatos. atividade profissional da mercan-
E isto, por duas razões: a primei- cia».
ra, porque imunidade é instituto de Assim, não sendo os sindicatos em-
Direito Tributário em sentido estrito, presas; e tendo a Constituição, como
como, entre nós, se recolhe em Ru- muito bem exprimiu o Senhor Minis-
bens Gomes de Souza; a segunda tro Relator, autorizado a lei a insti-
porque, de qualquer modo, ela há de tuir o salário-educação (seja ele o
ser expressamente outorgada pela que for) a ser recolhido por empre-
Constituição, a qual, a propósito, não sas, vê-se que não há a mais mínima
se referiu a sindicatos. adequação entre o fato típico concre-
Recuso-me, ademais, e mui espe- to (a existência de um sindicato) e o
cialmente· (com todas as vênias), a desempenho, por este, de atividade
enquadrar os sindicatos na regra do própria de empresa (industrial,
art. 19 da Constituição, ao cogitar de agrícola ou mercantil).
98 TFR - 100

Feitas estas respeitosas ressalvas via, no caso, não ocorre, por isso,
no ponto concernente à razão jurídi- não há prova no sentido da existên-
ca pela qual a contribuição se me cia de tal ensino gratuito aos empre-
afigura inexigível, fico, entretanto, gados e filhos destes. A melhor solu-
de inteiro acordo com a conclusão, ção é mesmo a da isenção inscrita
para também manter a sentença e no art. 5?, letra d, da Lei n? 4.440, de
negar provimento ao recurso da au- 1964, exatamente como fez o eminen-
tarquia. te Ministro-Relator, cujo voto endos-
so.
VOTO
EXTRATO DA MINUTA
O Sr. Ministro Carlos Mário Vel-
loso: Estou de acordo com o notá- AC n? 62.561-RJ - ReI.: Sr. Minis-
vel voto proferido pelo Sr. Ministro tro Antônio de Pádua Ribeiro. Reme-
Pádua Ribeiro. Em verdade, não há tente: Juiz Federal da 2~ Vara. Ape-
que se falar em imunidade, por isso lante: Instituto de Administração Fi-
que se tem, no caso, contribuição es- nanceira da Previdência e Assistên-
pecial, com natureza tributária, cia Social - lAPAS. Apelado: Sindi-
tertium genus tributário - e não im- cato dos Empregados no Comércio
posto. Fosse imposto, poderia ocor- do Município do Rio de Janeiro.
rer a imunidade do art. 19, UI, c, da Decisão: A Turma, por unanimida-
Constituição Federal. Também não de, negou prOVimento ao apelO. (Em
ocorre, no caso, a imunidade inscrita 31-05-82 - 4~ Turma).
no próprio art. 178, da Constituição,
que o eminente Ministro-Relator res- Os Srs. Ministros Carlos Mário
saltou: as empresas que mantêm en- Velloso e Romildo Bueno de Souza
sino gratuito para seus empregados votaram com o Relator. Presidiu o
e os filhos destes estão imunes dessa julgamento o Exmo. Sr. Ministro
contribuição. Essa imunidade, toda- Carlos Mário Velloso.

APELAÇAO CtVEL N? 63.528 - SP


Relator: O Sr. Ministro Washington Bolívar de Brito
Remetente Ex Officio: Juiz de Direito da Vara Privativa dos Feitos da
Fazenda Pública e de Acidentes de Trabalho da Comarca de Santos
Apelante: Instituto Nacional de Previdência Social - INPS
Apelado: João de Freitas Guimarães
EMENTA
Previdenciário - Aposentadoria por velhice-
Contagem de tempo de serviço não utilizado para a
aposentadoria ~statutária.
1) O que se proíbe é a aposentadoria dupla sob o
mesmo regime de previdênCia - geral ou especial,
não aquelas que decorrem de pressupostos diferen-
ciados: a aposentadoria previdenciária (regime ge-
ral) decorre do tempo de serviço e das contribuições
pagas pelo segurado; a aposentadoria estatutária
(regime especial) é concedida pro labore facto. De-
monstrado que determinado período de tempo e con-
TFR - 100 99

tribuições não foi computado na aposentadoria do


autor, no serviço público, porquanto concomitante
com a função pública (CLPS, art. 82, II), inexiste o
excesso alegado pelo réu, mediante equivocada invo-
cação do disposto no parágrafo único do art. 5? da
Lei n? 6.226, de 14-7-75.
2) A correção monetária, mera atualização do
valor, é devida no pagamento de benefícios previ-
denciários, conforme entendimento pacificado na ju-
risprudência do Tribunal Federal de Recursos.
3) O reembolso das custas pagas pelo autor, co-
mo de quaisquer outras despesas, decorre do
princípio da sucumbência (CPC, art. 20, caput, pri-
meira parte, e § 2? do mesmo artigo), nada tendo a
ver com a isenção de custas de que goza a autar-
quia.
4) Remessa oficial não conhecida (Súmula 34,
TFR). Apelo denegado.

ACORDA0 sentado por tempo de serviço, em 28-


6-77 na qualidade de Juiz do Traba-
Vistos e relatados os autos em que lho.' Como não tinha, na oportunida-
são partes as acima indicadas: de o tempo exigido para a conces-
sãb do benefício pelo serviço público,
Decide a 1~ Turma do Tribunal Fe- valeu-se do tempo trabalhado na ati-
deral de Recursos, por unanimidade, vidade privada; como Catedrático da
preliminarmente, não conhecer do Faculdade de Direito de Santos,
recurso oficial e, no mérito, negar beneficiando-se, assim, da Lei n?
provimento ao apelo, na forma do 6.226, de 14 de julho de 1975; entre-
relatório e notas taquigráficas cons- tanto não faz jus ao que pleiteia, em
tantes dos autos que ficam fazendo razã~ do disposto no parágrafo único
parte integrante do presente julgado. do artigo 5? da referida lei.
Custas como de lei. Réplica, às fls. 14/20.
Brasília, 12 de dezembro de 1980 O MM. Juiz de Direito Dr. Farid
(data do julgamento) - Ministro Chahad (fls. 44/46) julgou proceden-
Washington Boltvar de Brito, Presi-. te a ação, para condenar a autarquia
dente e Relator: e conceder ao autor a aposentadoria
por velhice, a partir de 12-6-78, corri-
RELATORIO gidos monetariamente os pagamen-
tos atrasados, juros de mora, reposi-
o Sr. Ministro WaShington Bolívar ção das custas e honorários advo-
de Brito: João de Freitas Guimarães catícios na base de 15% (quinze por
propôs ação ordinária contra o Insti- cento) dos atrasados e mais doze
tuto Nacional de Previdência Social, parcelas mensais vincendas.
pleiteando a aposentadoria por velhi-
ce, alegando haver integralizado Além da remessa oficial, apelOU o
mais de 60 contribuições mensais à INPS (fls. 47/50), repisando os argu-
autarquia e completado 65 anos de mentos apresentados na contestação.
idade. Insurgiu-se, ainda, quanto à corre-
Em sua contestação (fI. 8/11), o ção monetária, bem assim à reposi-
INPS, sustentou que o autor foi apo- ção das custas.
100 TFR - 100

Contra-razões, às fls. 51/55, pedin- CLPS emerge como impedimento


do a confirmação da sentença. . de ordem legal para que o fosse.
A ilustrada Subprocuradoria-Geral Razão integral assiste, na con-
da República (fI. 58), em parecer do clusão, ao autor. E que, efetiva-
Dr. Hélio Pinheiro da Silva, opinou mente, o referido dispositivo legal
pelo prosseguimento do feito, sem proíbe a contagem, por um siste-
prejuízo de manifestação posterior, ma, do tempo de serviço que haj a
se necessária. servido de base para a concessão
Sem revisão, nos termos do art. 33, de aposentadoria por outro siste-
inc. IX, do RI. ma. Mas, o período em causa não
E o relatório. foi levado em conta na aposentado-
ria do postulante, no serviço públi-
VOTO co.
Ora, se tal ocorreu, como prova-
O Sr. Ministro Washington Bolívar do nos autos, não há que se falar
de Brito (Relator): Preliminarmen- no excesso pela autarquia aponta-
te, não conheço da remessa, por in- do. E o autor não reclama o côm-
cabível, na espécie, segundo o enun- puto do tempo visando dupla apo-
ciado da Súmula n? 34, do TFR. sentadoria pelo mesmo sistema.
No mérito, eis como a r. sentença Assim, desassiste razão ao réu,
argumentou, no caso sob exame (fls. quando se recusa a atender ao pe-
45/46): dido do postulante, sobejamente
provado nos autos».
«Provam os documentos dos au- A aposentadoria previdenciária,
tos que o autor, durante anos se- como se sabe, deflui das contribui-
guidos, a partir de 10 de abril de
1932, passou a trabalhar em entida- ções e a estatutária, pro labore fac-
des privadas. Posteriormente, se- to.
gundo documentado à fI. 12, veio a Se o tempo de serviço e de contri-
exercer a função pública de Juiz buições não fora computado, como o
do Trabalho, na qual veio a se apo- demonstrou o juiz, não há negar o di-
sentar. Viu o postulante deferido reito do autor de vê-lo reconhecido,
seu pedido de aposentadoria na para os fins previdenciários. Não se
função pública, mas na contagem trata de excesso.
de seu tempo de serviço, a ativida- Por outro lado, a correção monetá-
de exercida no âmbito particular ria é devida, como mera atualização
veio computada, no total de 1.602 do valor, tal como decidido este Tri-
dias, e até o dia 12-7-1953. bunal, já agora inteiramente pacifi-
O documento de fI. 30 demonstra cada a sua jurisprudência.
que o autor ainda mantém seu A reposição de custas despendidas
vínculo empregatício junto à Fa- pelo autor decorre do princípio da
culdade Católica de Direito de San- sucumbência e nada tem a ver com
tos. a isenção de custas de que goza a
Ora, o postulante demonstrou, autarquia.
cabalmente, que o período de tra- Por essas considerações, nego pro-
balho compreendido pelo período vimento ao apelo.
de 1953 a 1977 restou em aberto,
não havendo sido levado à conta EXTRATO DA MINUTA
para qualquer efeito, de vez que,
realmente foi concomitante com a AC 63.528 - SP - ReI.: Min. Was-
função pública, e o art. 82, II, da hington Bolívar de Brito. Rem. Ex
TFR - 100 101

Officio: Juiz de Direito da Vara Pri- negou-se provimento ao apelo. CEm


vativa dos Feitos da Fazenda Públi- 12-12-80 - 1~ Turma).
ca e de Acidentes de Trabalho da Co- Os Srs. Ministros Otto Rocha e Pe-
marca de Santos. Apte.: INPS. Ap- reira de Paiva, votaram com o Rela-
do.: João de Freitas Guimarães. tor. Não compareceu por motivo jus-
Decisão: A Turma, por unanimida- tificado o Sr. Min. Peçanha Martins.
de, preliminarmente, não se conhe- Presidiu o julgamento o Exmo. Sr.
ceu do recurso oficial e, no mérito, Min. Washington Bolívar de Brito.

EMBARGOS INFRINGENTES NA APELAÇAO CíVEL N? 65.688 - BA


Relator: O Sr. Ministro Jesus Costa Lima
Embargante: União Federal
Embargado: Salvador Lauro
EMENTA
Funcionário público. Dupla aposentadoria. Desli-
gamento do funcionário como decorrência da apo-
sentadoria previdenciária. Ilegalidade.
:8 ilegal o desligamento do funcionário público
como simples decorrência da aposentadoria previ-
denciária. Contagem para aposentadoria estatutária
(pelo Tesouro) do tempo de afastamento assim im-
posto ao funcionário.
Embargos rejeitados.

ACORDA0 ao v. acórdão de fls. 55 em que a


União Federal pretende prevaleça o
Vistos e relatados estes autos, em voto vencido do eminente Ministro
que são partes as acima indicadas: José Cândido (fls. 51). Sustenta a
Decide a Primeira Seção do Tribu- embargante que a matéria em exa-
nal Federal de Recursos, por maio- me encontra-se sumulada pelo Su-
ria, rejeitar os embargos, vencidos premo Tribunal Federal e não se
os Srs. Ministros Carlos Madeira e justifica a modificação de um enten-
José Cândido, na forma do relatório dimento já consolidado pelo tempo,
e notas taquigráficas constantes dos através de reiterada jurisprudência
autos que ficam fazendo parte inte- de nossa mais alta Corte.
grante do presente julgado.
2. Em sua manifestação de fls.
Custas como de lei. 70/71, o embargado sustenta a manu-
Brasília, 15 de dezembro de 1982 tenção do acórdão impugnado por
(data do julgamento) - Ministro entender que este ateve-se ao co-
José Dantas, Presidente - Ministro mando jurídico do art. 102, inciso II,
Jesus Costa Lima, Relator. da Constituição, que não tem qual-
quer pertinência a espécie dos autos,
RELATORIO pois nestes não se discute situação
especial ou excepcional determinan-
O Sr. Ministro Jesus Costa Lima: te do reduzido tempo de serviço
Trata-se de embargos infringentes prestado pelo servidor, ou a nature-
102 TFR - 100

za do serviço prestado por este, de «Tenho sustentado, porém, que a


forma a excepcionar o critério de aposentadoria pelo Tesouro pode
aposentadoria proporcional. Se o fos- ser alcançada ao servidor que ain-
se, prossegue o embargado, não se- da não haja completado os trinta e
ria para aplicar à aposentadoria pro- cinco anos de serviço, desde que
porcional, já atendido pelo art. 102, não seja com proventos integrais,
inciso lI, da Constituição, mas sim mas proporcionais. Assim faço
para excepcionar a aposentadoria in- com base no art. 102, inciso lI, da
tegral, aquém do limite de 35 anos CF, onde se lê que os proventos da
de serviço, exatamente porque o aposentadoria serão proporcionais
pressuposto do tempo e natureza do ao tempo de serviço, quando o fun-
serviço prestado autorizariam a ex- cionário contar menos de trinta e
ceção. cinco anos. Não há dúvida que o le-
gislador quis, efetivamente, criar
3. A hipótese é de funcionário fer- esse jus novum, tanto mais que,
roviário que, em tese, faria jus à pela ressalva do texto, arreda
chamada dupla aposentadoria. Suce- qualquer outro tipo de aposentado-
deu, porém, que, ao requerer os dos ria, para fixar-se apenas naquela
benefícios, não completara ainda os autorizada com base, exclusiva-
35 anos de serviço exigidos pelo Es- mente, no tempo de serviço.
tatuto dos Funcionários. Em vista
disso, teve deferida apenas a aposen- Em face da norma constitucio-
tadoria previdenciária e, como con- nal, perde valor, em parte, a exi-
seqüência, foi desligado do serviço. gência contida no art. 176, lI, da
Lei n? 1.711/52, tanto mais que o
4. No julgamento da Turma, próprio Estatuto admite a exceção
colocaram-se em posições eqüidis- no seu art. 181, verbis:
tantes em relação ao pedido os emi-
nentes Ministros William Patterson, «Art. 181. Fora dos casos do
que o acolhia integralmente pela art. 178, o..provento será proporcio-
consideração de que o desligamento nal ao tempo de serviço, na razão
do funcionário como decorrência da de um trinta avos por ano.» Anote-
aposentadoria previdenciária foi ile- se, portanto, que a permissão é es-
gal e, assim, lhe reconhecia o direito tritamente legal, agora mais clara-
de ver computado o tempo de afasta- mente prevista no art. 101, inciso
mento até preencher a exigência do lI, da CF/67, de tal modo que, após
Estatuto (fls. 50) e José Cândido, o mesmo (e sem falar-se nos pre-
repelindo-o na íntegra. O autor deve- cedentes revolucionários, excepcio-
ria, segundo S. Exa., opor-se ao ato nais) j á se editou a Lei Comple-
da administração, procurando mentar n? 29, de 5-7-1976 (art. I?)
manter-se no cargo. Não o fazendo, que permite a aposentadoria volun-
deixou de completar o tempo e per- tária com proventos proporcionais,
deu o direito (fls. 51). ao funcionário pÚblico federal que,
em decorrência da implantação do
Prevaleceu, destarte, como voto novo PCC, ocupar cargo integrante
médio, o do Relator, eminente Minis- de quadro suplementar, desde que
tro Evandro Gueiros Leite, no senti- conte, ou venha a contar, dez anos,
do do provimento, em parte, do ape- no mínimo, de serviço público. O
lo para deferir ao autor aposentado- benefício estende-se aos servidores
ria com proventos proporcionais ao postos em disponibilidade em de-
tempo que então possuía. Eis os fun- corrência da extinção ou desneces-
damentos desse voto e, portanto, do sidade dos cargos que ocupavam
acórdão embargado: (art. 1?, § único) .
TFR - 100 103

Além desses fundamentos, que em nenhuma das hipóteses previstas


são de natureza estritamente legal, na referida lei, nem em nenhuma
observe-se que, sob o aspecto ético, das outras situações em que a Carta
a matéria teria ampla acolhida, Magna admite aposentadoria volun-
também, como inspiração legislati- tária sem a implementação dos 35
va, porque não deve ser a troco de anos de serviço exigidos pelo seu
nada a prestação de serviço públi- art. 101, inciso lII.
co durante certo tempo, acima da Por outro lado, também não me
estabilidade, mas abaixo do teto, parece justo objetar que o autor não
quando pode ser possível (como é) se opôs ao ato de seu afastamento
uma solução intermediária, pelo compulsório do serviço. As maiores
recebimento do prêmio proporcio- vítimas das diversas formas pelas
nal ao tempo de serviço, sem nada quais a Administração, com razão
obrigar o servidor a permanecer, ou não, vem ao longo dos anos pro-
muitas vezes contra os seus inte- curando limitar os efeitos da dupla
resses pessoais ou da própria re- aposentadoria, são sempre os servi-
partição.» (fls. 47/49). dores mais humildes, sem recursos
E: o relatório. intelectuais ou mesmo financeiros
para reagir pronta e adequadamente
VOTO a esses atos. O autor, beneficiário da
Justiça Gratuita, está precisamente
o Sr. Ministro Jesus Costa Lima neste caso.
(Relator): Delimitado o âmbito dos 3. A meu ver, o eminente Ministro
embargos pelo decisum e não pelas William Patterson situou muito bem
razões de cada voto CEAC 39.964- a questão em seus aspectos fáticos e
MG, in DJ de 29-10-79) está o presen- jurídicos, ao dizer, sobre o desliga-
te recurso balizado entre a improce- mento do autor de sua repartição, ex
dência do pedido, pleiteada pela officio (fls. 50):
União, e a procedência parcial, esta-
belecida no acórdão embargado, já «Entendo que este desligamento
que o autor não embargou. Quanto é ilegal, uma vez que impede o be-
às razões de decidir, lícito é a esta nefício da dupla aposentadoria, au-
Seção, segundo o entendimento juris- torizada por expressa disposição
prudencial apontado, adotar as de legal. A minha divergência em re-
qualquer dos votos proferidos na lação ao voto do eminente Ministro
Turma ou mesmo outras que resul- Gueiros está em que eu admito
tem dos fatos e circunstâncias da considerar o tempo posterior ao
causa e das normas legais atinentes.' deSligamento para efeito da apo-
2. Isto posto, com a devida vênia e sentadoria. S. Exa. manda aposen-
consideração ao eminente Ministro- tar a partir do desligamento, com
Relator na Turma, não me convenci os proventos proporcionais. E: uma
da justeza das razões que o levaram tese que venho sustentando, embo-
a inclinar-se pela aposentadoria com ra vencido quase sempre, com ade-
proventos proporcionais da Lei Com- são de poucos colegas, mas persis-
plementar n? 29, de 5-7-76, conforme to com o intuito de submeter o as-
seu minuncioso voto transcrito no sunto à nova composição do Tribu-
Relatório dos presentes embargos. nal.
Como bem acentuou o eminente Mi- Sendo assim, dou provimento ao
nistro José Cândido, a tese seria a apelo, para considerar o tempo de
melhor do ponto de vista humanitá- serviço após o desligamento, até
rio, mas não se ajusta ao direito po- completar o tempo necessário à
sitivo, por isto que não se enquadra aposentadoria estatutária.»
104 TFR - 100

4. Com efeito, o autor era ou é fun- indeferir-lhe, simplesmente, esse pe-


cionário público, sujeito ao regime dido, sem qualquer preocupação pa-
da Lei n? 1.711/52 (Estatuto dos Fun- ra com suas relações junto ao INPS,
cionários) e não há, nesse diploma regidas por outras normas.
ou em normas correlatas, qualquer Aliás, esta egrégia Seção já rejei-
disposição pela qual a concessão de tou idênticos embargos da União Fe-
aposentadoria pelo INPS implique no deral na AC 42.371-BA, tendo o res-
afastamento do funcionário público pectivo acórdão recebido a seguinte
de seu cargo. A douta ementa:
Subprocuradoria-Geral da Repúbli-
ca, pela voz sempre muito atilada do «Administrativo. Dupla aposen-
ilustre Dr. Paulo A. F. SOllberger, tadoria. Ferroviário.
bem que percebeu o ponto nevrálgi- Tem direito à aposentadoria es-
co da questão e procurou, depois do tatutária o ferroviário que, ao se
julgamento da Turma, defender o aposentar pelo sistema previden-
desligamento em questão, dizendo ciário, foi desligado do cargo, por
(fls. 59): ato unilateral da Administração.
Contagem do período que se seguiu
«Esclareça-se que o ato de desli- ao ato censurado, visto que o servi-
gamento do embargado do serviço dor se viu impedido de completar o
ativo, em razão da aposentadoria tempo de serviço necessário à apo-
previdenciária, nada tem de ilegal sentadoria, no serviço público.
ou abusivo, uma vez que a autori-
dade administrativa, ao expedi-lo, Embargos rejeitados.» (EAC
limitou-se a dar cumprimento ao 42.371-BA, in DJ de 18-2-82. ReI. pa-
art. 55 do Regulamento da Previ- ra o acórdão, Min. José Pereira de
dência Social então vigente (Dec. Paiva) .
60.501/67), verbis: 6. Assim sendo, entendo, com o Mi-
nistro
«A aposentadoria por tempo de ligamento William Patterson, que o des-
serviço será devida a contar da da- nhum efeito, do autor foi ilegal e de ne-
ta do desligamento do emprego ou tempo devendo-se-Ihe contar o
correspondente
efetivo afastamento da atividade, aposentadoria pretendida. para efeito da
que só poderá ocorrer após a con- não posso modificar o acórdão Apenas,
cessão do benefício.» para
lhe dar proventos integrais porque
5. Mas, para logo se vê, com a de- ele não embargou. Com base, po-
vida vênia, que o preceito regula- rém, nesses fundamentos, tenho co-
mentar invocado tem que ver, ape- mo improcedentes os embargos da
nas, com o empregado sujeito à CLT União, e os rejeito.
e à aposentadoria do âmbito da pró- É o voto.
pria Previdência, tanto que fala em
emprego e não impõe o desligamen- VOTO VENCIDO
to, antes o condicionando à préVia
concessão do benefício. Assim, o ato
de deSligamento do funcionário não O Sr. Ministro Carlos Madeira: Da-
encontra aí qualquer suporte. Antes, ta venia do Senhor Ministro-Relator,
pelo contrário, soa diante do Estatu- recebo os embargos.
to como espécie de imotivada exone-
ração ex officio. Se o funcionário re- VOTO VOGAL
quereu aposentadoria, mesmo que a
tenha feito concomitantemente em O Sr. Ministro Evandro Gueiros
relação ao Estatuto, e a ela não fa- Leite: Sr. Presidente, o que nós ouvi-
zia jus, cabia à Administração mos do voto do eminente Ministro-
TFR - 100 105

Relator é que há duas poslçoes na mentar n? 29, que se aplica mesmo


Turma. A minha posição situa-se em àqueles funcionários situados em
face do art. 102, inciso lI, da Consti- quadros extintos, indiscutivelmente
tuição, e da Lei Complementar n? 29. corri o benepláCito constitucional.
Muitas vezes acompanhei, porém, os Acho que a Lei Complementar n? 29,
Ministros William Patterson e Costa embora excepcional para certos e
Lima, por achar que, se o funcioná- determinados funcionários, não refo-
rio é desligado, ex officio, por efeito ge ao princípio geral editado pela
de aposentadoria previdenciária, Constituição.
poder-se-ia contar o tempo posterior
a esse desligamento. Confesso que sePor isso, mantenho o meu voto que
soma, aliás, com o voto do Sr. Mi-
me considero numa posição, diga- nistro William Patterson, na sua fi-
mos assim, mais condizente com a nalidade.
realidade jurídica, porque não estou
contrariando a lei nem a Constitui-
ção, mas coerente com a possibilida- VOTO
de da contagem do tempo posterior
ao desligamento, proporcionando-se O Sr. Ministro Otto Rocha: Sr. Pre-
uma aposentadoria àquele que tra- sidente, ouvi com atenção o voto do
balhou, digamos, trinta anos. E, por- eminente Ministro Gueiros Leite,
que não atingiu os trinta e cinco mas, nos comentários da Súmula do
anos, não tem direito à aposentado- Supremo Tribunal Federal, de José
ria. Nunes Ferreira, há uma nota acerca
Atento às ponderações do eminen- da Súmula n? 37. E esta nota diz:
te Dr. Subprocurador-Geral sobre o - «O princípio contido na Súmu-
assunto, vejo que citou a Súmula n? la <dupla aposentadoria) parece
37, onde está dito o seguinte: encontrar obstáculo na regra do §
«N ão tem direito de se aposentar 2?, do art. 102, da Emenda Consti-
pelo Tesouro N acionaI o servidor tucional n? 1/69», que diz:
que não satisfizer as condições es- - «Ressalvado o disposto no
tabelecidas na legislção do serviço parágrafo anterior, em caso ne-
públiCO federal, ainda que aposen- nhum os proventos de inatividade
tado pela respectiva instituição poderão exceder à remuneração
previdenciária com direito, em te- percebida na atividade».
se, a duas aposentadorias».
Eu chamaria a atenção dos Senho- Não é esse o ponto de vista de V.
res Ministros para a época em que Exa.?
foi redigida essa Súmula, que é de O Sr. Ministro Gueiros Leite: Não
1963 e, portanto, anterior à Constitui- é esse. Porque aí nós não temos uma
ção de 1967. A Constituição diz no aposentadoria, e sim duas aposenta-
seu art. 102, inciso n, o seguinte: dorias. Uma decorrente de um prê-
«Os proventos da aposentadoria mio, que seria a aposentadoria pelo
serão: II - Proporcionais ao tem- Tesouro, e a outra decorrente de
po de serviço quando o funcionário uma contraprestação que seria a
contar menos de trinta e cinco previdenciária. Então, nós não pode-
anos de serviço, salvo disposto no remos unir as duas aposentadorias e
Parágrafo Único do art. 101.». colocá-las no mesmo plano, para di-
zer que o somatório dos dois be-
Acho que essa norma do inciso II nefícios afrontaria o disposto no § 2?
independe de regUlamentação es-
pecífica, porque ela auto se aplica. O Sr. Ministro Otto Rocha: Mas, de
Registramos, ainda, a Lei Comple- qualquer sorte, com a explicação da-
106 TFR - 100

da pelo eminente Ministro Gueiros Continuo a divergir da tese susten-


Leite, acompanho o Sr. Ministro- tada pelos eminentes Ministros
Relator, rejeitando os embargos. Evandro Gueiros Leite e William
Patterson.
VOTO VOGAL O afastamento do funcionário an-
tes de completar 35 anos de serviço
O Sr. Ministro William Patterson: público, na forma da Constituição
Sr. Presidente, a tese que defendo é Federal, art. 101, lII, não lhe assegu-
simples. Entendo que o desligamento ra o direito à aposentadoria estatutá-
compulsório, sem permitir o direito, ria.
pelo menos, de opção pela continui-
dade da prestação laboral, equivale É o meu entendimento.
a uma exoneração ex officio, institu-
to este admitido no serviço público
por uma construção jurídica da ilus- VOTO
trada Consultoria-Geral da Repúbli-
ca e já consagrada em acórdão do
Egrégio Supremo Tribunal Federal, O Sr. Ministro Fláquer Scartezzini:
apenas e tão-somente quando, ha- Sr. Presidente, acompanho o emi-
vendo abandono de cargo, está pres- nente Ministro-Relator, mas com as
crito o direito de punir, como uma razões e justificações apresentadas
decorrência da necessidade de decla- no voto do eminente Ministro Wil-
rar a vacância do cargo. liam Patterson.

Em nenhuma outra hipótese exis- É o meu voto.


te, na legislação pertinente a pes-
soal, a figura da exoneração ex
officio. Portanto, esse desligamento EXTRATO DA MINUTA
é ilegal, razão pela qual deve ser
considerado, para efeito da aposen-
tadoria, o tempo em que o servidor EAC 65.688-BA - ReI.: Sr. Min. Je-
esteve afastado de modo irregular. sus Costa Lima. Embargante: União
Federal. Embargado: Salvador Lau-
Por isso, ao contar o tempo, estou ro.
admitindo a inativação com os 35
anos exigidos pelo Estatuto. Decisão: A Seção, por maioria, re-
jeftou os.embargos, vencidos os Srs.
Todavia, inexistindo embargos do Ministros Carlos Madeira e José
autor, minha posição doutrinária Cândido. (Em 15-12-82 - Primeira
aproxima-se da colocação do Minis- Seção) .
tro Gueiros Leite, o que me leva a
acompanhá-lo, no particular. Não participou do julgamento o Sr.
Ministro Adhemar Raymundo. Os
Rejeito os embargos. Srs. Ministros Leitão Krieger, :Lauro
Leitão, Gueiros Leite, Otto Rocha,
VOTO VENCIDO William Patterson, Pereira de Paiva
e Fláquer Scartezzini votaram de
acordo com o Sr. Ministro-Relator.
O Sr. Ministro José Cândido: Sr. Pres.idiu o julgamento o Sr. Ministro
Presidente, mantenho o meu voto. José Dantas.
TFR - 100 107

APELACÃO C1VEL N? 67.135 - RJ


Relator: O Sr. Ministro William Patterson
Apelante: Instituto Brasileiro do Café - !BC
Apelado: Aury de Azeredo
EMENTA
Administrativo. Funcionário. Enquadramento.
Procurador. Servidor do Extinto DNC.
A lei que extinguiu o Departamento N acionaI do
Café e criou o Instituto Brasileiro do Café não asse-
gurou privilégios para enquadramento na categoria
de Procurador. O aproveitamento foi feito !ie acordo
com as funções de cada um. Os atos posteriores que
disciplinaram a organização e estrutura da carreira
não autorizaram, igualmente, esse compromisso.
Os aspectos fáticos e jurídicos carreados aos au-
tos não favorecem o autor.
Recurso provido. Ação improcedente.
ACORDÃO «Aury de Azevedo, devidamente
representado, propõe Ação Ordiná-
Vistos e relatados os autos em que ria contra o Instituo Brasileiro do
são partes as acima indicadas: Café, pleiteando enquadramento no
Decide a 2~ Turma do Tribunal Fe- cargo de Procurador de terceira
deral de Recursos, por unanimidade, céltegoria, inicial de carreira, es-
dar provimento à apelação, para jul- truturado pela Resolução 459, de 28
gar a ação improcedente, com con- de agosto de 1964.
denação do autor nas custas e em Sustenta que, desde 30-9-60 é fun-
honorários de advogado, na forma cionário do !BC, por força de Lei
do relatório e notas taquigráficas n? 164/47, oriundo do antigo De-
constantes dos autos que ficam fa- partamento Nacional do Café.
zendo parte integrante do presente
julgado. Esta lei assegurou aos servido-
res aproveitados a prioridade no
Custas como de lei. aproveitamento para acesso a no-
Brasília, 8 de maio de 1981 (data vos cargos, independentemente de
do julgamento) - Ministro Aldir G. concurso.
Passarinho, Presidente - Ministro
William Patterson, Relator. Atendendo à convocação do Co-
municado n? 53/41, de 19-11-53, pa-
ra atualizar sua ficha cadastral,
RELATORIO apresentou sua inscrição na OAB e
o diploma de Bacharel em Ciências
O Sr. Ministro William Patterson: Jurídicas, ficando classificado em
21? lugar.
A Dra. Tânia de Melo Bastos Reine,
eminente Juíza Federal da 1~ Vara Com a Lei n? 2.123/52 tornou-se
da Seção Judiciária do Estado do incontestável o seu direito ao en-
Rio de Janeiro, assim relatou a espé- quadramento e efetivação na Pro-
cie: curadoria do IBC.
108 TFR - 100

Várias pessoas passaram a inte- Sentença à fls. 168/175, julgando


grar o quadro de Procuradores do prescrita a ação.
IBC, inclusive algumas que não Apreciando a apelação do autor,
eram servidores do orgão, cujos o Tribunal Federal de Recursos
nomes cita. deu provimento ao recurso, deter-
Pela ReSOlução n? 459/64, da minando que o processo retornasse
Junta Administrativa do IBC, que à Vara de origem para julgamento
reestruturou o seu quadro de Pro- do mérito (fls. 203 e 231).
curadores, cabia à Diretoria do Or- O autor falou a fls. 235, juntando
gão, por indicação do Procurador- o documento de fls. 232 e o réu se
Geral, o enquadramento dos que manifestou à fI. 239.»
vinham prestando serviços jurídi-
cos. Sentenciando, julgou procedente a
ação, para condenar o IBC a enqua-
Foi, portanto, preterido por fun- drar o autor no cargo de Procurador
cionários novos e advogados poste- de 3~ Categoria com o pagamento de
riormente contratados. atrasados, juros e honorários advo-
Citado, o réu contestou alegando catícios de 10% sobre a execução
que o aproveitamento do autor no (fI. 246).
IBC não foi como Procurador, pois Recorreu o IBC, com as razões de
jamais prestara serviços de natu- fls. 249/250, assinalando que houve
reza jurídica ao DNC. equívoco quanto ao acolhido argu-
O atendimento ao Comunicado n? mento de preterição, uma vez que a
53/41 não lhe criou o direito de ser ordem cronológica de fI. 12 diz res-
enquadrado como Procurador, já peito ao tempo de serviço na Autar-
que a escolha ficou a critério da quia e não nas funções próprias de
Administração. Vários, realmente, titular de diploma de Bacharel em
chegaram a ser lotados nos setores Ciências Jurídicas e Sociais.
especializados, inclusive o jurídico. Contra-razões às fls. 253/254.
Lotado na Procuradoria Jurídica Neste Tribunal, após distribuição,
em 5-9-63, em 1-10-63 foi afastado vieram-me os autos conclusos (fI.
para processar inquérito adminis- 255).
trativo, o que não é privativo de
bacharel em Direito. E o relatório, dispensada a revi-
Esclarece as nomeações, aponta- são, nos termos do art. 33, item IX,
das pelo autor C6mo violadoras do do Regimento Interno.
seu direito e pede a improcedência
da ação. VOTO
Junta documentos.
O autor falou sobre a contesta- O Sr. Ministro William Patterson:
ção às fls. 43/5l. A r. sentença fundamentou-se, essen-
A União Federal se manifestou à cialmente, na preterição que enten-
fI. 53. deu ter havido, com o aproveitamen-
to de outros servidores, colocados
O autor juntou novos documen- abaixo do autor, na relação de que
tos. trata o documento de fI. 12. Conside-
Requisitou-se o processo admi- ra, ainda, como ponto de reforço de
nistrativo com cópias trasladadas suas conclusões, os seguintes ele-
às fls. 72/139. mentos:
Audiência realizada conforme a) lotação na Procuradoria
termo de fI. 166. Jurídica;
TFR - 100 109

b) autorização legislativa para o ções referenciadas, habilitados à


procedimento; passagem para os quadros dessa En-
c) exercício de atividades jurídi- tidade, o que, de fato, veio a ocorrer,
cas, por parte do apelado. em 30-9-60, em cargo de natureza ad-
ministrativa, que era, na verdade, a
O enquadramento pleiteado resulta função do autor.
da extinção do Departamento Nacio-
nal do Café, transformado no atual O autor baseia-se em duas resolu-
Instituto, por força da Lei n? 164, de ções internas, como respaldo da pre-
5-12-47, através da qual se asseguTou tensão ajuizada. A primeira é o Co-
o direito de integração dos servIdo- municado n? 53/41, que nada diz
res nos novos quadros. além de convocar os servidores para
atualizarem, nas suas fichas, os da-
Na verdade, inexiste dispositivo le- dos relativos à capacidade funcional,
gal que ordene o aproveitamento, de com a apresentação de títulos, diplo-
modo obrigatório, na categoria dese- mas, etc, visando o preenchimento
jada. As regras legislativas que au- das vagas existentes, especificamen-
torizaram a transferência não esta- te destinadas aos servidores do ex-
belecem normas de prioridade, nem DNC. Não estabelece requisitos, nem
disciplina o modus de fazer a inser- disciplina o aproveitamento, mesmo
ção de cada um na estrutura criada. porque este teria de ser feito, co~
Garante, tão-somente, os direitos observância dos limites da garantIa
que tinham no extinto órgão. E o que legal, quais sej am as posiçõe~ f~n­
se lê dos arts. I? e 2?, da Lei n? 164, cionais anteriores. Atento a taIs cIr-
de 5-12-47, verbis: cunstâncias, descabia aproveitar em
«Art. I? São assegurados aos função jurídica, quem estranho era à
servidores do Departamento N a- carreira.
cionaI do Café, dispensados por A segunda resolução é a de n? 459,
força do Decreto-Lei n? 9.272, de 22 de 1964, que estrutura a cate~oria de
de maio de 1946, os direitos que por Procurador, dividida em tres clas-
lei já gozavam ao tempo de extin- ses, com 13 cargos cada uma, deter-
ção daquela autarquia. minando, ainda:
Art. 2? Nos órgãos existentes «Art. 2? Ficará a critério da Di-
ou que venham a ser criados em retoria e por indicação do
relação à economia cafeeira, inclu- Procurador-Geral o enquadramen-
sive os estabelecimentos de crédi- to nas vagas da categoria inicial
to fundados com o patrimônio ou da carreira, dos que vêm prestan-
a~ervo do extinto DNC, no todo ou do serviços jurídicos a esta autar-
em parte, os servidores referidos quia, observadas as formalidades
no artigo anterior terão direito à legais.»
prioridade de aproveitamento, in-
dependente de novos concursos, ob- É fácil depreender que esse ato
servado o disposto no § 4? do art. nada tem a ver com o aproveitamen-
8?, do Decreto n? 17.401 de 20 de to decorrente da extinção do primiti-
dezembro de 1944.» vo órgão, posto que atendia à or~~mi­
zação do órgão criado, quando Ja se
Como se vê, não há compromisso efetivara a transferência. Acentua-
de conceder vantagens ou privilé- se também, que vinculou o enqua-
gios, senão, e apenas, aqueles decor- dramento à prestação de serviços
rentes da situação pretérita. jurídicos na autarquia, vale dizer, no
Ao ser criado o IBC, pela Lei n? IBC, requisito que não restou cum-
L 779, de 22-12-52, aqueles funcioná- prido pelo autor. E, ainda que preen-
rios estavam, em face das dispo si- chido fosse, a discricionariedade na
no TFR - 100

escolha, consoante declarado de mo- deste. Só mesmo o autor é quem


do expresso, impedia vindicações da tem interesse em ver abuso nos
espécie. aproveitamentos de colegas, que se
Com respeito ao documento de fI. revelaram merecedores de figurar
12, é óbvio que não pode o mesmo naquela carreira.
gerar qualquer direito, em termos Os exemplos trazidos à colação
de enquadramento funcional. Trata- na inicial não socorrem o pedido. O
se da relação dos servidores que que ocorreu com o Dr. Waldemar
apresentaram títulos de Bacharel dos Santos Barros, isto é, a compo-
em Ciências Jurídicas e Sociais, em sição de que dá notícia a certidão
atenção ao comunicado n? 53, de de fls. 13/14 chegou a efetivar-se
1953, que, como já se viu, objetivava porque o Dr. Barros, na realidade,
atualizar as fichas. A classificação pertencera à seção jurídica do ex-
estampada não representa colocação tinto DNC, que na estrutura da ve-
preferencial mas critério de ordena- lha Autarquia se denominava Con-
mento administrativo, pelo tempo de tencioso. O referido Dr. Barros era
serviço, como poderia ser pela data s'olicitador, tendo inclusive substi-
de nascimento, ordem alfabética ou 'tuído, em determinadas ocasiões,
outro qualquer. Demais disso, não se advogados do quadro do DNC. Me-
pOderá vislumbrar pontos de contac- recedor, portanto, de classificar-se
tos entre aquela providência, ocorri- entre os Procuradores do IBC.
da em 1961, para os fins indicados,
com a Resolução n? 459, que definiu Como visto, o fato em nada pode-
a estrutura da carreira de Procura- rá aproveitar ao autor.
dor. São medidas distintas no con- Por outro lado, despropositado e
teúdo e distantes no tempo. A falta deselegante o que se diz na inicial,
de relacionamento entre ambas é relativamente ao Dr. Juiz L. Perei-
manifesta. ra das Neves, que ocupou, com ra-
A atuação jurídica do suplicante, a ro brilho, o cargo de Procurador-
serviço do réu, não restou provado, Geral da Autarquia.
igualmente. A lotação na Procurado- Alega o autor que o Dr. Neves
ria não significa exercício da advo- não figurou na relação dos que, em
cacia. O documento de fI. 21, sem a atendimento ao citado Comunicado
menor autenticidade, e por isso mes- 53/41, apresentaram diploma.
mo impugnado, revela pálida decla-
ração de algumas e esporádicas pro- Ora, o referido Procurador não
vidências de caráter profissional. É poderia constar da mencionada re-
evidente que não se pode prestar pa- lação, eis que não necessitava fa-
ra os objetivos colimados. zer a tal atualização de ficha fun-
cional, pelo fato desta já consig-
Sobre a preterição, além do que já nar, desde os tempos do DNC, sua
foi dito, a demonstrar a sua inexis- condição de bacharel. E, conforme
tência e mesmo impossibilidade, me- se poderá ver da inclusa publica-
rece ser destacado o seguinte trecho ção oficial do Comunicado n? 54/7,
da peça contestatória: o Dr. Luiz L. Pereira das Neves foi
«MM Dr. Juiz: nenhuma das no- convocado para o IBC, já na car-
meações para a carreira de Procu- reira de Procurador, em 9·3-54 (da-
rador, feitas pela Administração ta do Comunicado), muito antes,
do réu, pode ser inquinada de vio- portanto, do aproveitamento do au-
ladora do direito, não apenas do tor, o que ocorreu em 30-9-60, em
autor, mas de qualquer outro fun- virtude da ordem cronológica das
cion4rio em idênticas condições convocações.
TFR - 100 111

Aliás, o aproveitamento do Dr. dência da República, só se deu por


Neves, já como Procurador, foi uma questão de obediência hierár-
porque, na época, já vigorava a quica e porque a autoridade supe-
Lei n? 2.123, de 1-12-53, que trans- rior havia sido mal informada. Pa-
formou em Porcuradores os que ra que não paire a menor dúvida
prestavam serviços como advoga- sobre a legitimidade daquela Por-
dos, assessores jurídicos, ou exer- taria, o réu apresenta a publicação
ciam outras funções equivalentes da sentença proferida no Mandado
nas entidades de direito público, si- de Segurança n? 34.794, pelo MM.
tuação essa inteiramente diversa Dr. Juiz de Direito da 2~ Vara da
da do autor, que pertence à carrei- Fazenda Pública, restabelecendo
ra de oficial de administração. os efeitos do ato, que, evidente-
De sorte que, ao ingressar nos mente, não podiam ter sido susta-
serviços do réu, em 1960, o autor já dos.,
encontrou em plena atividade, co- Como visto, nada do que se alega
mo Procurador, o Dr. Neves, não na inicial será capaz de socorrer o
cabendo falar em preterição. autor. Nem sequer a sentença de
Quanto às nomeações de que tra- que dá notícia a publicação de fl.
ta a Portaria n? 1.129, de 22-11-65, 23, a qual versou matéria diversa
foram baixadas para preenchimen- da que é objeto desta demanda,
to de vagas na lotação correspon- pois, enquanto aqui se discute uma
dente à carreira inicial do cargo de suposta preterição no enquadra-
Procurador, vagas essas decorren- mento do autor como Procurador,
tes de promoções e que se preen- na mencionada sentença se decidia
cheram por quatro advogados con- quanto à preterição no aproveita-
tratados, valendo-se a Administra- mento de ex-servidores do extinto
ção do réu da norma estabelecida DNC no novo órgão que então se
pelo Sr. Consultor-Geral da Repú- criara, o IBC.
blica em parecer publicado no Diá- O assunto de fl. 23 há muito se
rio Oficial de 19-8-65, Seção l, apro- acha superado e nada tem que ver
vado pelo Exmo. Sr. Presidente da com o hipotético direito ventilado
República e segundo o qual, advo- na inicial. Ali, tratava-se de apro-
gado contratado pode ser enqua- veitamento de pessoal ainda não
drado como Procurador de 3~ Cate- convocado para o lBC; aqui, se
goria. Os demais servidores assim pretende o indevido, isto é, o en-
enquadrados foram os que fize- quadramento, de quem já pertence
ram, por largo tempo, um estágio a determinada carreira no quadro,
probatório e puderam demonstrar em outra carreira, sem que para
sua suficiência profissional. tanto haja a necessária condição.»
Tanto os contratados, quanto os Ante o exposto, dou provimento ao
que já pertenciam ao quadro de recurso, para julgar a ação improce-
pessoal da Autarquia, é bom que dente, condenando o autor nas cus-
se saliente, vinham realizando ser- tas e·honorários advocatícios que fi-
viços de natureza jurídica, justa- xo em Cr$ 1.000,00 (um mil cruzei-
mente para suprir a insuficiência ros), aplicável à hipótese o art. 20, §
de Procuradores no quadro do réu. 4?, do CPC, por não se ter dado valor
à causa.
A repercussão dessa Portaria n?
1.129 não teve o caráter que o au- EXTRATO DA MINUTA
tor lhe quer emprestar. Sua susta-
ção, por força do Ofício n? 77, de AC 67.135-RJ - ReI.: Sr. Ministro
23-2-66, do Gabinete Civil da Presi- William Patterson. Apte.: Instituto
112 TFR - 100

Brasileiro do Café - IBC. Apdo.: honorários de advogado. (Em 8-5-81


Aury de Azeredo. - 2~ Turma).
Decisão: A Turma, por unanimida- Os Srs. Ministros José Cândido e
de, deu provimento à apelação, para Aldir G. Passarinho votaram com o
julgar a ação improcedente, com Relator. Presidiu o julgamento o Sr.
condenação do autor nas custas e em Ministro Aldir G. Passarinho.

APELAÇAO CIVEL N? 67.874 - ES


Relator: O Sr. Ministro Geraldo Sobral
Apelante: lAPAS
Apelado: CrCOM - Construções Indústrias e Comércio Ltda
EMENTA
Processual Civil. Execução Fiscal. Parcelamen-
to do Débito. Suspensão do Feito.
r - «Convindo às partes, o juiz declaràrá sus-
pensa a execução durante o prazo concedido pelo
credor, para que o devedor cumpra voluntariamente
a obrigação.» (CPC, art. 792).
II - Nos pedidos de suspensão da execução, nos
termos do artigo 792 do Código de Processo Civil, em
virtude de parcelamentos concedidos administrati-
vamente e.liquidação de débitos através de recolhi-
mentos efetivados na mesma esfera, deverão ser ob-
servadas as indicações constantes do Provimento n?
8, de 10 de novembro de 1977, da Corregedoria-Geral
da Justiça Federal de Primeira Instância.
III - Apelação provida, para que o processo fi-
que suspenso até que se cumpra o parcelamento.
ACORDÃO RELATORIO
Vistos e relatados estes autos, em O Sr. Ministro Geraldo Sobral (Re-
que são partes as acima indicadas: lator): O Instituto de Administração
Decide a 5~ Turma do Tribunal Fe- Financeira da Previdência e Assis-
deral de Recursos, por unanimidade, tência Social - rAPAS, nos autos da
dar provimento ao recurso, para que execução fiscal proposta contra
o processo fique suspenso, até o CrCOM - Construções Indústria e
cumprimento do parcelamento, na Comércio Ltda., apela da sentença
forma do relatório e notas taquigrá- ,que, homologando acordo sobre par-
ficas constantes dos autos que ficam celamento do Débito exeqüendo, jul-
fazendo parte integrante do presente gou extinto o processo, nos termos
julgado. do art. 794, I, do CPC.
Custas como de lei. Alega a Autarquia apelante que,
Brasília, 16 de março de 1983 (data na verdade, caberia ao ilustre prola-
do julgamento) - Ministro Moacir tor da sentença recorrida homologar
Catunda, Presidente Ministro o acordo e declarar suspensa a exe-
Geraldo Sobral, Relator. cução durante o prazo concedido pa-
TFR - 100 113

ra que a devedora cumprisse, volun- 3. No caso de extinção do dé-


tariamente, sua obrigação, sem to- bito, deverá a Seção Judiciária
davia, extinguir o feito (fL 34). promover a baixa ria Distribui-
Sem contra-razões, os autos subi- ção, não mais constándo referên-
ram a este TribunaL cia sobre o ajuizamento nas cer-
tidões expedidas de acordo com o
E o relatório, sem revisão, na for- modelo 007, aprovado pelo Provi-
ma regimental desta Corte (art. 33, mento n? 125/75.
IX).
VOTO 4. Durante o período de vigên-
cia da suspensão, o processo po-
O Sr. Ministro Geraldo Sobral (Re- derá ser arquivado, devendo, en-
lator): O Saudoso Ministro desta tretanto, a anotação de andamen-
Corte, Amarílio Benjamin, na quali- to registrá-lo como «sobrestado».
dade de Corregedor-Geral da Justiça
Federal de Primeira Instãncia, bai- O artigo 792 do CPC, por seu turno,
xou o Provimento n? 8, de 10 de no- estabelece:
vembro de 1977, que estabeleceu ins-
truções normativas com relação às «Art. 792. Convindo às partes, o
amortizações de débitos ajuizados na juiz declarará suspensa a execução
Justiça Federal, objeto de pedidos durante o prazo concedido pelo
de suspensão da execução, nos ter- credor, para que o devedor cum-
mos do artigo 792 do Código de Pro- pra voluntariamente a obrigação.»
cesso Civil, em virtude de parcela-
mentos concedidos pelas entidades Do acima exposto, infere-se que só
exeqüentes na esfera administrativa. é possível extinguir-se o feito, após
integral cumprimento da obrigação.
O item I do referido Provimento
dispõe nestes termos:. Merece reforma a sentença mono-
«Nos pedidos de suspensão da crática.
execução, nos termos do artigo 792
do Código de Processo Civil, em Isto posto, dou provimento ao re-
virtude de parcelamento concedi- curso, para que o processo fique sus-
dos administrativamente e liquida- penso até ser cumprido o acordo.
ção de débitos através de recolhi- E o meu voto.
mentos efetivados na mesma esfe-
ra, deverão ser observadas as se-
gUintes indicações: EXTRATO DA MINUTA
«L O pedido mencionará o
período da suspensão, em decor- AC 67.874-ES - ReI.: Sr. Min. Ge-
rência do prazo concedido pelo r51ldo SobraL Apte.: lAPAS. Apdo.:
credor, e deverá estar acompa- .CICOM - Construções Indústrias e
nhado de cópia do termo firma- Comércio Ltda.
do conjuntamente pelo credor e
devedor. Decisão: A Turma, por unanimida-
de, deu _provimento ao recurso, pa-
2. Esgotado o prazo da sus- ra que o processo fique suspenso, até
pensão requerida, sem a mani- o cumprimento do parcelamento
festação do exeqüente, o mesmo (Em 16-3-83 - 5~ Turma).
será intimado para que se pro-
nuncie no prazo de 30 (trinta) Os Srs. Ministros Moacir Catunda
dias, sob pena de aplicação do e Sebastião Reis votaram com o Re-
disposto no inciso In do artigo lator. Presidiu o julgamento o Ex-
267 do CPC. mo. Sr. Ministro Moacir Catunda.
114 TFR - 100

APELAÇÃO CIVEL N? 68.525 - RJ


Relator: O Sr. Ministro Armando Rollemberg
Apelantes: Amândio Domingues e outros
Apelada: União Federal
EMENTA
«Tributário - Responsabilidade de ex-diretores
de sociedade por ações, conseqüente de não-recolhi-
mento de Imposto de Renda. Nos termos do
art. 135, inciso III, do CTN, para tornar efetiva a
responsabilidade das pessoas físicas ali referidas
por débitos sociais das pessoas jurídicas de direito
privado em geral, e, entre elas, as sociedades de ca-
pital, ao contrário do que ocorre em relação às so-
ciedades de pessoas (artigo 134), é necessário que
tenham agido com excesso de poderes, ou infração
de lei, contrato social ou estatu!os, hipóteses que
não se podem ter como configuradas pelo não recolhi-
mento de 'tributo para cuja incidência não hajam
contribuído, sendo simples decorrência da atividade
normal da sociedade - Sentença reformada para
julgarem-se procedentes embargos do devedor».
ACORDÃO ção fiscal promovida pela União con-
tra Cia. Aliança Brasileira de Má-
Vistos e relatados os autos, em que quinas e Produtos Industrializados.
são partes as acima indicadas: Afirmaram não lhes caber respon-
Decide a 4~ Turma do Tribunal Fe- sabilidade pelo débito cobrado na
deral de Recursos, por unanimidade, execução referida, relativo a impos-
dar provimento à apelação, na for- to de renda dos exercícios de 1971 e
ma do relatório e notas taquigráficas 1973, anos-base de 1970 e 1972, por te-
constantes dos autos que ficam fa- rem se afastado da direção da exe-
zendo parte integrante do presente cutada em I? de abril de 1974, 30 de
julgado. abril de 1971 e 30 de junho de 1973
Custas como de lei. respectivamente, afastamento que
se dera por decisões da Assembléia
Brasília, 22 de setembro de 1982 Geral cujas atas haviam sido devi-
(data do julgamento) - Ministro damente arquivadas.
Armando Rollemberg, Presidente e
Relator. Esclareceram depois que foram ci-
tados para a execução como repre-
RELATORIO sentantes da executada, quando, não
mais pertencendo à sua direção, não
detinham condições para tal.
O Sr. Ministro Armando Apresentada impugnação foi profe-
Rollemberg: Amândio Domingues, rida sentença cuja parte decisória é
João Correia Gomes e Marlene Cor- do teor seguinte:
rea Gomes, opuseram embargos de
terceiro à penhora procedida em «Pretende-se cobrar imposto de
bens de sua propriedade em execu- renda dos exercícios de 1971 e 1973,
TFR - 100 115

anos-base de 1970 e 1972, conforme bre o valor da causa. Em conse-


certidões de dívida ativa n?s 205-B qüencia, julgo a execução fiscal
e 206-B, série IR/77, quando os em- procedente, nos termos da Inicial,
bargantes ainda participavam da e subsistente as penhoras efetua-
firma devedora na qualidade de di- das.»
retores. Os embargantes apelaram ale-
A dissolução de fato da socieda- gando:
de tornou seus diretores responsá- a) que a execução fiscal somente
veis solidária e ilimitadamente pe- pode ter lugar em relação às pes-
las obrigações sociais. soas, jurídicas ou físicas, menciona-
O Código Tributário Nacional de- das na certidão de inscrição da dívi-
termina que: da, e, portanto, no caso concreto,
«Art. 153. São pessoalmente res- contra a Cia. Aliança Brasileira de
ponsáveis pelos créditos correspon- Máquinas e Produtos Industrializa-
dentes a obrigações tributárias re- dos;
sultantes de atos praticados com b) que eles, apelantes, afastados
excesso de poderes ou infração de da sociedade desde mais de seis
Lei, contrato ou estatutos: anos, não poderiam responder pelas
1 - ........................... . dívidas desta, tanto mais quanto não
11 - ......................... . haviam sido penhorados bens de seu
Presidente e acionista majoritário,
III - Os diretores, gerentes ou Manoel Domingues.
representantes de pessoas jurídi- O recurso não foi respondido.
cas de direito privado.
É o relatório.
Ora, deixar de recolher tributos
ou desobedecer aos preceitos da le-
gislação fiscal significa infringir a VOTO
lei. Assim, lícita a execução contra
os embargantes que respondem pe- O Sr. Ministro Armando
las obrigações sociais em substitui- Rollemberg (Relator): A questão
ção à sociedade extinta irregular- posta nos autos, a responsabilidade
mente. A obrigação, no caso, é le- dos dirigentes de sociedade de capi-
gal. tal, no caso a anônima, pelos débitos
Não havendo, os embargantes; conseqüentes do não recolhimento de
indicado bens da sociedade, e tributo, há de ser resolvida aprecian-
legítima a desapropriação de seus do o que dispõem os arts. 134 e 135,
bens particulares como garantia do CTN.
da execução. Reza a primeira de tais disposi-
Não ilidida a presunção de liqui- ções:
dez e certeza de que gozam as dívi- «Art. 134. Nos casos de impos-
das regularmente inscritas, até sibilidade da exigência do cumpri-
porque a obrigação não foi contes- mento da obrigação principal pelo
tada em seu mérito, é de se prosse- contribuinte, respondem solidaria-
guir na execução. mente com este nos atos em que
intervieram ou pelas omissões de
Por tais fundamentos, e pelo que foram responsáveis:
mais que dos autos consta, julgo os
embargos improcedentes, conde- VII - os sócios, no caso de li-
nando os embargantes nas custas quidação de sociedades de pes-
do processo e nos honorários de ad- soas.»
vogado, estes fixados em 20% so- E o art. 135:
116 TFR - 100

«São pessoalmente responsáveis recolhimento de tributo no momento


pelos créditos correspondentes a próprio, pode ser entendido como
obrigações tributárias resultantes contrário à lei, para o efeito de apli-
de atos praticados com excesso de cação do art. 135.
poderes ou infração de lei, contrato Já tive oportunidade de sustentar
social ou estatutos: que sim.
UI - os diretores, gerentes ou Melhor examinando a questão, po-
representantes de pessoas jurídi- rém, cheguei à conclusão diversa
cas de direito privado.» desde que, nos termos expressos do
Cotejando-se as duas normas art. 135 do CTN os diretores, geren-
verifica-se que, enquanto no art. 134, tes ou representantes de pessoas
em relação às sociedades de pes- jurídicas de direito privado são res-
soas, basta que o sócio haja partici- ponsáveis pelas obrigações resultan-
pado do ato que deu origem à obri- tes de atos que pratiquem com infra-
gação, ou se tenha omitido no cum- ção de lei, o que não se ajusta a hi-
primento de providência que impedi- pótese do não recolhimento de tribu-
ria o seu surgimento, para responder to para cuja incidência não hajam
solidariamente com a mesma socie- contribuído, sendo simples decorrên-
dade pela dívida, no art. 135 exige-se cia da atividade normal da socieda-
mais para tornar as pessoas físicas de.
responsáveis por débitos sociais das Assim considerando, voto proven-
pessoas jurídicas de direito privado do a apelação para reformar a sen-
em geral, e, entre elas, as socieda- tença e julgar procedentes os embar-
des de capital, pois dita responsabili- gos, invertidos os õnus da sucumbên-
dade será somente dos diretores, ge- cia.
rentes ou representantes, e não se
estende a qualquer obrigação mes- EXTRATO DA MINUTA
mo que de sua origem hajam partici-
pado, sendo necessário que tenham AC 68.525 - RJ - ReI.: Sr. Min. Ar-
agido com excesso de poderes, ou in- mando Rollemberg. Aptes.: Amândio
fração de lei, contrato social ou esta- Domingues e Outros. Apda.: União
tutos. Federal.
No caso dos autos o que se discute Decisão: A Turma, por unanimida-
é a responsabilidade de ex-direto- de, deu provimento à apelação, nos
res de sociedade por ações, conse- termos do voto do Sr. Min.-Relator.
qüente do não recolhimento de im- (Em 22-9-82 - 4~ Turma).
posto de renda em períodos nos . Os Srs. Mins. Carlos Mário Velloso
quais ocupavam tais funções. e Bueno de Souza votaram com o
Assim sendo, reduz-se a questão, Relator. Presidiu o julgamento o Sr.
ao final, em saber-se se o ato de não Min. Armando Rollemberg.
EMBARGOS INFRINGENTES EM APELAÇAO CíVEL N? 69.881 - MG
Relator: O Sr. Ministro Pedro da Rocha Acioli
Embargante: Departamento Nacional de Estradas de Rodagem
DNER
Embargados: Américo Vinícius Lucas de Carvalho e cônjuge
EMENTA
Administrativo. Desapropriação direta. Corre-
ção monetária.
TFR - 100 117

1. A correção monetária, como instrumento de


identidade da moeda através do tempo, incide, na
desapropriação, a partir da feitura do laudo. A subs-
tância da justa medida de valor é expressa pela re-
lação valor/tempo. Dai, o momento da apuração do
preço é o termo inicial a levar-se em conta para o
real dimensionamento da indenização.
2. Composta a indenização de parcelas distintas
(terreno e benfeitorias), apuradas em laudos dife-
rentes, com distãncia de tempo entre um e outro, a
correção de cada parcela deve atender às datas dos
respectivos laudos que fixaram os preços acolhidos.
3. É certo que a correção monetária compõe ma-
terialmente a indenização. Entretanto, se o expro-
priante apela da sentença para discutir tão-somente
a redução do preço arbitrado, não pode o Tribunal
atender ao apelo mediante o deslocamento do termo
inicial de contagem da correção, quando a apelação,
neste ponto, é omissa. A parcela da correção mone-
tária é um componente que, pela sua índole, merece
um tratamento distinto, sendo objeto de discussão à
parte.
4. Embargos rejeitados.
ACORDÃO abrigo do voto vencido, o DNER
opõe embargos infringentes, preten-
Vistos, relatados e discutidos estes dendo que a correção do preço atri-
autos em que são partes as acima in- buído ao terreno seja contada a par-
dicadas: tir da sentença que, desprezando o
Decide a 2~ Seção do Tribunal Fe- laudo oficial quanto àquele item, te-
deral de Recursos, por maioria, re- ria atribuído valor atual ao terreno,
jeitar os embargos, na forma do re- embora com base em laudo adotado
latório e notas taquigráficas constan- em julgado anterior.
tes dos autos que ficam fazendo par- O Dr. Juiz «fixou a indenização
te integrante do presente julgado. correspondente a uma área de 7.884
Custas como de lei. metros quadrados e respectiva cons-
Brasília, 17 de agosto de 1982 (data trução residencial em Cr$
do julgamento) Ministro 7.424.575,82», assim discriminada:
Washington Bolívar de Brito, Presi- - Cr$ 5.518.800,00 pelo terreno;
dente - Ministro Pedro da Rocha - Cr$ 1.894.485,82 pela constru-
Acioli, Relator. ção, e
RELATORIO - Cr$ 11.290,00 por benfeitorias
reprodutivas.
o Sr. Ministro Pedro da Rocha Adotando conclusão própria, o Juiz
ACioli: No julgamento da apelação Federal arbitrou valor ao terreno
em que figuraram como apelantes com fundamento em decisão pretéri-
expropriante e expropriados, a ego ta, em face da semelhança das con-
Quarta Turma divergiu quanto ao dições das áreas expropriadas; neste
termo inicial da correção monetária particular, afastou as conclusões do
de parcela da indenização. Daí, ao laudo oficial - que orçava preço in-
118 TFR - 100

ferior -, adotando-as, porém, quan- O expropriante, à vista da discre-


to ao mais. Entretanto, na determi- pânCia no julgamento, pleiteia a pre-
nação da correção monetária, man- valência do voto vencido, louvando-
dou corrigir o montante da indeniza- se nos seus próprios fundamentos,
ção tomando como marco inicial o intento devidamente impugnado pe-
laudo do perito do Juízo, somente los expropriados (fls. 175/177).
adotado em menor parte. E o relatório, sem revisão (RI,
art. 33, IX l.
Apelaram DNER e expropriados.
O primeiro «ao fito de obter a redu- VOTO
ção da indenização ao valor proposto
na inicial, acrescido da respectiva O Sr. Ministro Pedro da Rocha
correção monetária e, bem assim, a Acioli (Relator): A divergência está
exclusão dos honorários do assisten- suficientemente caracterizada, como
te-técnico dos expropriados» (fI. demonstrado no relatório, de modo a
151). Estes, de sua parte, em apelo assegurar a admissão dos embargos.
adesivo, pediram a correção retroa- Apreciando o apelo dos expropria-
tiva do valor atribuído ao terreno, dos, assentou o eminente Ministro-
avaliado com base em preço unitário Relator:
extraído de laudo anterior, em que «Querem estes se considere co-
se havia louvado o julgador em outro mo termo incial da incidência da
processo de expropriação. correção monetária a data do lau-
do do assistente-técnico indicado
O eminente Relator, Ministro Ro- por outros expropriados, em autos
mildo Bueno de Souza, após tecer de desapropriação relativa a terre-
considerações acerca da natureza da no contíguo ao que é objeto do pro-
correção monetária aplicada às re- cesso de que ora se cuida.
parações por desapropriação, Justificam sua aspiração no fato
qualificando-a como «manifestação de que, ao fixar a indenização, a
da eqüidade», integrante da própria sentença apelada incorporou ra-
indenização, entendeu que, no caso, zões de decidir do julgado anterior;
a correção do valor do terreno deve- e, depois de efetuar a crítica dos
ria ser feita a partir da própria sen- vários laudos, acolheu em parte as
tença que arbitrou o preço, já que a considerações do laudo do
aludida decisão teria atribuído valor assistente-técnico para, afinal,
atual àquele item. Com tal argumen- adotar, aqui como lá, o valor de
to, provia, em parte, o apelO do Cr$ 700,00 por metro quadrado de
DNER e negava provimento ao re- terreno (valor que traduz a conclu-
curso dos expropriados. Mas o ilus- são do próprio Magistrado sobre o
tre Ministro Antônio de Pádua Ribei- assunto)). (fls. 154l.
ro discordou, na conta de que o es-
propriante não agitou, em seu apelo, Após ler tópico da sentença recor-
a suscitada questão da contagem da rida, para esclarecimento à Turma,
correção monetária do valor do ter- acrescentou:
reno e que a reforma da sentença, «razão não havia, em verdade,
nesse ponto, e na dimensão do voto para que a sentença se prendesse à
do Sr. Relator, resultaria em data do laudo do perito oficial, no
reformatio in pejus, reformando pa- que diz respeito ao terreno: de fa-
ra pior a sentença, em desproveito -to, o valor do metro quadrado do
dos expropriados, que pleiteavam a terreno (que afinal prevaleceu)
aplicação da correção retroativa não foi o recomendado por aquele
(fI. 160). laudo.
TFR - 100 119

Se (por um lado) assim é, tam- Temos decidido que é lícito ao


bém não vejo razão para (por ou- Juiz proceder por este modo.
tro lado) fazer retroceder a inci- Assim votei como Relator, com a
dência da correção monetária so- aprovação de meus ilustres pares»:
bre o valor do terreno, tal como (Aponta vários julgados da egrégia
querem os expropriados, à data do 4~ Turma, no sentido indicado).
laudo do assistente-técnico (apre-
sentado, aliás, em outros autos),
desde que nele, por igual, não se «Entretanto» - continua o Mi-
recomendou o valor que veio a pre- nistro Romildo - «razão não exis-
valecer, pois que este resultou da te para que a correção monetária
crítica do próprio Magistrado às a incidir sobre a quantia de Cr$
proposições técnicas constantes 5.518.800,00 (valor do terreno) inci-
dos vários laudos. da desde a data do laudo oficial.
Impõe-se concluir, por conse- De uma parte, estou convicto de
guinte, que, se de fato não deve que o teor da apelação do expro-
prevaler o termo inicial apontado priante comporta pronunciamento
pela sentença (laudo Oficial), tam- sobre o tema, maxime em se tra-
bém não há por que preponderar o tando de aplicação de regra emi-
propugnado pelos expropriados, nentemente pretoriana, tanto como
pois o valor que a sentença fixou aquela que concerne aos juros
não se vincula a qualquer deles ubi compensatórios, pois começou a
cadem ratio, ibi eadem dispositio ... ser admitida em desapropriações
sem que lei alguma tivesse previa-
Logo, não têm razão, no ponto, mente explicitado que assim se de-
os expropriados». (fls. 154/155l. vesse fazer.
Noutra parte, analisando a apela- Por outra parte, tenho como jus-
ção do expropriante, argumentou: to que a correção monetária do va-
lor do terreno somente deva incidir
«A autarquia não merece ser a partir da data da própria senten-
atendida, portanto, nos capítulos ça, eis que não se compreende que
que expressamente suscitou, nas o Magistrado se referisse a valor
razões do recurso que interpôs. já ultrapassado.
Observo, não obstante, que a Ainda acresce que o tempo
sentença mandou incidir correção transcorrido entre ambas as sen-
monetária sobre o valor total da tenças não atingiu seis meses.
indenização (que envolve, como já
esclarecido, o do terreno, de Cr$ Ao desenvolver estas considera-
5.518.800,00, e o das construções e ções, não deixo de ter em vista os
benfeitorias, de Cr$ 1.894.485,82), limites objetivos da apelação. Con-
sempre a contar da data do laudo sidero, com efeito, que a correção
do perito oficial. monetária traduz manifestação da
eqüidade (tal como se dá com a in-
Certo é, contudo, que o laudo ofi- cidência de juros compensatórios).
cial somente foi adotado em suas E, se assim não entendesse, para
conclusões pela sentença no que os que pensam doutro modo convi-
concerne ao valor das construções ria ter em mente a jurisprudência
e benfeitorias; relativamente ao do Supremo Tribunal, que engloba
terreno, o próprio Magistrado (a- todas as verbas devidas ao e~pro­
pós a crítica dos laudos) chegou ao priado (mesmo a de honorários ad-
valor de Cr$ 700,00 por metro qua- vocatícios) sob a deSignação gené-
drado. rica de indenização.
120 TFR.,- 100

Vejam-se, a propósito. RE 86.607, Na espécie, o DNER não ventilou,


de 2-9-77, RTJU de 11/77, ReI.: Sr. na sua apelação, a questão relacio-
Min. Bilac Pinto e ERE 73.400, de nada com a correção do valor do ter-
18-4-74, RTJU de 10/75, ReI.: Sr. reno. E nesse particular, querer-se
Min. Aliomar Baleeiro. contar a correção a partir da senten-
Pois bem, se até os honorários ça - embora resulte em redução
advocatícios são parte da indeniza- material da indenização -, aprovei-
ção, a fortiori assim se há de quali- tando à autarquia expropriante, sig-
ficar a correção monetária respec- nifica decidir, data venia, fora dos li-
tiva. E se a correção monetária mites objetivos da apelação.
em desapropriações não consti- Só por isso não merece prosperar
tuísse, de fato, mero adminículo da o voto vencido e, igualmente, os em-
indenização, como se justificaria bargos.
nossa jurisprudência, ao admitir
seja ela incorporada ao débito por
simples cálculo do contador, na li- III
quidação para execução do julga-
do, ainda mesmo quando não foi Apreciando o recurso sob outro ân-
objeto de pedido. gulo, outra sorte não merecem os
Eis por que me parece com- embargos.
patível com os limites objetivos do
recurso prover em parte a apela- A correção monetária, na desapro-
ção do expropriante, para excluir priação, incide sobre o valor consig-
correção monetária do valor do nado no laudo, a partir da feitura
terreno no período anterior à data deste, isto é, da avaliação prevalen-
da sentença (que atribuiu valor te. O momento da sua apuração é
atual ao terreno)>> (fls. 156/159). elemento substancial. expresso pela
relação valor/tempo; é o termo ini-
São estas as razões do voto venci- cial a levar-se em conta para o real
do, no que concerne ao termo a quo dimensionamento da indenização. Se
de contagem da correção monetária esta é composta de parcelas distin-
do valor do terreno. tas, apuradas em laudos diferentes,
com distância de tempo entre um e
II outro, cada parcela ou rubrica há de
ser corrigida a partir da data do res-
Num ponto, concordo com o Sr. pectivo laudo, tudo em obséquio ao
Ministro Romildo: ditame constitucional do justo preço.
- a correção monetária, na de- Assim decidiu o Supremo Tribunal:
sapropriação, substancialmente
compõe a indenização. «Desapropriação Correção
Monetária de parcelas distintas
Trata-se, porém, de um componen- (terreno e benfeitorias) deve aten-
te móvel desta, merecendo, por isso der às datas dos laudos que fixa-
mesmo, tratamento distinto, es- ram os preços acolhidos». (RE
pecífico. Assim sendo, a correção é 80.477 - SP, 1~ Turma. ReI.: Min.
objeto destacável (e tal se justifica Rodrigues Alckmin in RTJ
por sua índole) para efeito de discus- 77 /543).
são à parte. Disso resulta que quem
apela para discutir a redução do pre- No mesmo diapasão, em caso em
ço arbitrado não pode ver atendido o que se discutiu a aplicação de corre-
seu apelo, mediante o deslocamento ção de indenização arbitrada com
do termo inicial de contagem de cor- apOio em laudos elaborados em épo-
reção monetária. cas diferentes, embora unânimes,
TFR - 100 121

pronunciou-se o eminente Ministro oficial, estarei a reformar, para


Moreira Alves, em voto proferido no pior, a sentença, em desproveito
RE 86.022 - SP, no sentido de que: dos apelantes.
«Se a correção monetária se des- Diante disso, sendo vedada pela
tina à observância do princípio nossa lei a reformatio in pejus,
constitucional do justo valor, é evi- neste ponto, nego provimento à
dente que a avaliaçâo a que se re- apelação dos desapropriados».
fere o § 2? do art. 26 acima aludido (fl. 160).
é a da época em que foi fixado o No mesmo particular, menciona-
valor do imóvel pelo perito ofi- ram os expropriados que:
ciaL.» (in RTJ 81/952). «Se a correção monetária for
Com tal argumento, o relator man- computada a partir da sentença
dou corrigir o valor do imóvel a par- (16-4-80), obviamente (e o cálculo
tir da data em que foi elaporado o pOde ser feito para confirmar) que
laudo oficial, contemporâneo à época haverá prejuízo para os embarga-
em que eram válidõs os dados mate- dos». (fl. 177l.
riais, sobre os quais se apoiou o peri- Seria, assim, inverter-se o sentido
to. Aliás, «... a correçâo monetária do recurso apelatório dos ora embar-
nada mais é que um instrumento de gados, em prol de cujo apelo se pro-
identidade da moeda através do tem- jeta a jurisprudência do Pretório Ex-
po» (Min. Cordeiro Guerra, RE celso.
93.496 - RJ, Segunda Turma, RTJ
100/845).
IV
A entender assim, seria caso de
ter sido dado provimento ao apelo Finalmente, devo dizer, data
dos expropriados. E eu o faria, ago- venia, que a sentença não atualizou
ra, de ofício, se a tal não se opusesse o valor do imóvel. Atribuiu-se-Ihe
o princípio dispositivo (aqui tomado um preço, que ao Juiz parecia mais
na sua extensão), que, a meu ver, justo, embora apurado há pouco
não permite, nesta fase processual, mais de seis meses.
transmudar-se a fisionomia da causa
em proveito dos expropriados, ora Rejeito, deste modo, os embargos.
embargados. E como voto.
Essa circunstância, porém, bem
revela que o acolhimento dos embar- VOTO
gos implicaria em reformatio in
pejus, desautorizado pelo estatuto O Sr. Ministro Américo Luz: Sr.
processual, em boa hora assinalado Presidente, a Súmula n? 75 deste
pelo Ministro Antõnio de Pádua Ri- Egrégio Tribunal tem o seguinte ver-
beiro, in verbis: bete:
«Atento, assim, aos limites do re- «Na desapropriação, a correção
curso apelatório, peço vênia ao monetária prevista no § 2? do art.
eminente Relator para, nesse pon- 26 do Decreto-Lei n? 3.365, de 1941,
to, dele discordar, vez que se fizes- incide a partir da data do laudo de
se a distinção preconizada por S. avaliação, observando-se a Lei n?
Exa., ou seja, no sentido de deter- 5.670, de 1971.»
minar que a incidência da corre-
ção monetária atinente ao terreno Por sua vez, a norma da lei desa-
se dê a partir da sentença, e a re- propriatória retro citada dispõe:
lativa às construções desde o laudo Art. 26. parágrafo 2?
122 TFR - 100

«Decorrido prazo superior a A jurisprudência desta Corte já en-


um ano a partir da avaliação, o tendeu que a correção monetária co-
Juiz ou Tribunal, antes da deci- meça a incidir desde a data do lau-
são final, determinará a correção do, cuja conclusão quanto ao valor
monetária do valor apurado, con- da coisa o juiz tenha adotado.
forme índice que será fixado, tri- Ora, pode também dar-se que o
mestralmente, pela Secretaria do juiz, mediante crítica objetiva e ra-
Planejamento da Presidência da cional, venha a rejeitar as três con-
República» . clusões (tanto a do perito oficial co-
Ora, no caso, pelo que entendi, o mo as dos aSSistentes), para, funda-
MM. Juiz de 1~ Instância não ficou damente, apontar ele próprio o valor
adstrito a nenhum dos laudos peri- da indenização devida.
ciais, usando da faculdade que lhe
confere o art. 436 do Código de Pro- Tenho por aplicável a tal hipótese
cesso Civil. a mesma regra, feitas as adaptações
(mutatis mutandis): o termo inicial
Ora, a meu ver, neste caso em que da incidência da correção monetária
o juiz adota um valor, independente- será, neste caso, a data da sentença
mente dos laudos produzidos nos au- que fixou o valor da coisa, segundo o
tos, há que se aplicar o § 2? do art. critério do próprio juiz, a menos que
26 do Decreto-Lei n? 3.365, isto é, fa- este vincule o enunciado do valor à
zendo com que a correção monetária época anterior (o que, no caso, não
incida a partir do laudo de avalia- se verifica).
ção, mesmo que esse valor, apurado
no laudo, não tenha sido adotado pe- O Sr. Ministro Américo Luz: A nor-
lo julgador. ma que dispõe sobre a incidência da
correção monetária na lei das desa-
Acompanho, em todos os seus ter- propriações não faz essa ressalva.
mos, data venia do Ministro Romildo Onde a lei não distingue, ao intérpre-
Bueno de Souza, o voto do eminente te não é lícito distinguir, data venia.
Ministro-Relator.
O Sr. Ministro Bueno de Souza:
VOTO VENCIDO Realmente se diz que, onde a lei não
distingue, não é dado ao intérprete
O Sr. Ministro Bueno de Souza: Se- distinguir; penso, no entanto, que es-
nhor Presidente, na desapropriação, ta regra de interpretação, ao se refe-
entre outras hipóteses, pode aconte- rir à lei, não a isola do contexto do
cer que o perito avaliador oficial in- ordenamento. Nem poderia assim fa-
dique um valor; e, ainda, que cada zer.
um dos assistentes, por sua vez, Assim, o que diz a regra recorda-
aponte valores diversos. E mais: que da por V. Exa., Senhor Ministro
cada parecer seja elaborado em da- Américo Luz, é que o intérprete não
tas diversas. pode distinguir onde o ordenamento,
Se ocorrer tal (e tão acentuada) como um todo, não distingue.
divergência, tanto pode acontecer Não negaremos, estou certo, que,
que o juiz venha a adotar o laudo do ao dizer a lei de desapropriações que
perito oficial como, também, que se o valor da coisa há de se reportar à
incline pelo laudo de algum dos as- data da avaliação, a regra se há de
sistentes. aplicar ao caso em que a avaliação
Em verdade, o juiz, como temos preponderante seja de um ou de ou-
várias vezes decidido, não está jun- tro perito; e neste caso, diversas po-
gido aos laudos dos peritos; ele é que dendo ser as respectivas datas, a
julga a causa, não o perito. distinção está na lei. .. e, como disse,
TFR - 100 123

na jurisprudência desta corte... As- oficial, de janeiro de 1975, este é o


sim, ubi eadem ratio, ibi eadem termo inicial para a correção da in-
dispositio. denização, consoante o entendimento
Se, portanto, o princípio é o de que do Tribunal; mas, se adotar o laudo
o juiz não está adstrito às conclusões do assistente (de agosto de 1975,
do laudo, logo se vê que o valor fixa- suponha-se), este é o termo inicial,
do pelo próprio juiz não pode ser também segundo nossa jurisprudên-
submetido ao mesmo tratamento cia, que acabo de referir.
aplicável ao valor apontado pelo pe- No caso dos autos o juiz não ado-
rito; desde que a data é relevante tou, nem o laudo do perito avaliador
para um, há de ser também para o oficial, nem o do assistente: S. Exa.
outro. adotou terceiro valor, que não está
O Sr. Ministro Antônio de Pádua
em nenhum laudo, que extraiu da
Ribeiro: O ponto nuclear dos embar- comparação, do cotejo dos elemen-
gos é muito simples. Não houve re- tos constantes de ambos os laudos e
curso quanto à correção monetária. formou valor diverso, que espelha o
Se não houve recurso, não poderia convencimento racional do magistra-
julgar a apelação contra o recorren- do.
te. Devo presumir que o valor aponta-
do pelo juiz quando rejeita os laudos
O Sr. Ministro Bueno de Souza: se reporta à data em que julga a
Permita-me V. Exa. ressalvar que causa.
não cheguei a este ponto: detenho-
me no relativo ao termo iniciál da E hipótese que talvez não tenha si-
incidência da correção monetária do do ainda contemplada em nossos
valor da coisa. Sobre isto, resta precedentes de modo explícito e di-
acentuar que são numerosos os pre- reto, à qual (penso), se aplicam, no
cedentes deste Tribunal no sentido entanto, por suas características, os
de que, se o juiz adotar o laudo do mesmos princípios.
assistente-técnico, a correção mone- Portanto, adotei em meu voto a re-
tária correrá a partir da data deste. gra de que o valor resultante da pró-
Assim vimos decidindo reiterada- pria sentença está sujeito à correção
mente neste Tribunal, merecendo monetária a partir da data de sua
menção, inter plures, as AACC n? prolação.
63.720-RS, ReI.: Senhor Ministro Ar- Quanto à questão concernente aos
mando Rollemberg (DJ de 2-4-81); n? limites da apelação, suscitada pelo
50.374-RJ, ReI.: Senhor Ministro Pá- Senhor Ministro Pádua Ribeiro, tão-
dua Ribeiro (DJ de 26-2-81); e, ainda, somente assinado que ambas as par-
no mesmo sentido n? 64.074-SP, em tes apelaram, tanto a expropriante
que votei como Relator, com a apro- como o expropriado; e que ambos os
vação unãnime de meus ilustres Pa- apelantes abordaram o tema da cor-
res (DJ de 1-10-81). reção monetária, impugnando, em
O Sr. Ministro Pedro da Rocha suas razões, o critério que, a propó-
Acioli: Esclareço que o Dr. Juiz sito, a sentença perfilhou.
valeu-se de dois laudos para fixar a Não sei se o Senhor Ministro Pá-
indenizàção. dua Ribeiro contrariaria esta minha
O Sr. Ministro Bueno de Souza: afirmação ... Ambas as partes ...
Mas S. Exa. não adotou o valor O Sr. Ministro Antônio de Pádua
apontado por qualquer desses lau- Ribeiro: O que posso assinalar é o
dos. Quero tornar bem claro meu seguinte: quanto ao termo inicial da
pensamento: se o juiz adota o laudo correção monetária, a matéria não
124 TFR - 100

foi versada pelo expropriante em seu maior razão fica excluída tal possibi-
recurso. Sendo assim, não seria lidade.
possível que o acórdão desse mais do Portanto, quanto à correção mone-
que o próprio expropriante pediu. tária, o termo inicial que adotei foi o
O Sr. Ministro Bueno de Souza: da sentença, porque foi ela que en-
Neste ponto, divirjo respeitosamente controu o valor.
de v. Exa. porque, desde que, como E quanto ao poder do Tribunal de
dizia, ambas as partes recorreram e reformular a incidência, está basea-
impugnaram a decisão, no tocante a do em que ambas as partes impug-
custas, honorários e qualquer outra naram a decisão da sentença, razão
partida da sentença, excluída fica a pela qual estou certo de que o Tribu-
possibilidade de reformatio in pejus. nal estava livre para estabelecer o
Se a parte é condenada a 15% de termo inicial da correção monetária,
honorários e apela para pedir redu- conforme lhe parecesse de direito.
ção a 10%, desde que a parte contrá- Por isso, recebo os embargos, data
ria também tenha apelado, para ob- venia.
ter elevação, o juiz pode elevar para
20%, sem que resulte reformatio in
pejus. EXTRATO DA MINUTA
Assim também, se ambas as par- Embargos Infringentes em Apela-
tes apelaram, insurgindo-se contra o ção Cível n? 69.881-MG - ReI.: O Sr.
modo como foi determinada a corre- Ministro Pedro da Rocha Acioli. Em-
ção monetária, o Tribunal está livre
para estabelecer a correção que lhe bargante: Departamento Nacional de
parecer conforme a lei, sem que se Estradas de Rodagem - DNER.
possa vislumbrar reformatio in Embargados: Américo Vinícius Lu-
pejus. Isto é o que pretendo deixar cas de Carvalho e cônjuge.
bem claro; este é o meu pensamento. Decisão: A Seção, por maioria, re-
E este é o pensamento da lei. jeitou os embargos, vencido o Sr. Mi-
nistro Bueno de Souza. (2~ Seção, em
De fato, qual a razão de o CPC em 17-8-82) .
vigor ter introduzido o recurso adesi-
vo? Votaram com o Relator os Srs. Mi-
nistros Américo Luz, Antônio de Pá-
Outra não é, senão a de permitir dua Ribeiro, Armando Rollemberg,
que o Tribunal possa resolver a im- Moacir Catunda, José Dantas, Car-
pugnação num ou noutro sentido, los Mário Velloso, Justino Ribeiro,
sem que incorra em reformatio in Wilson Gonçalves, Sebastião Alves
pejus. dos Reis e Miguel J. Ferrante. Presi-
Ora, se, no caso, ambas as partes diu o julgamento o Sr. Ministro
recorreram originariamente, por Washington Bolívar de Brito.
APELAÇAO ClVEL N? 69.886 - SP
Relator: O Sr. Ministro Geraldo Sobral
Apelante: Companhia de Viação São Paulo Mato Grosso
Apelado: INCRA
EMENTA
Processual Civil e Tributário. Execução Fiscal.
Título executivo fazendário. Requisitos legais. Cons-
tituição e Validade.
TFR - 100 125

I - «Constitui dívida ativa tributâria a prove-


niente de crédito dessa natureza, regularmente ins-
crita na repartição administrativa competente, de-
pois de esgotado o prazo fixado, para pagamento,
pela lei ou por decisão final proferida em processo
regular» (CTN, art. 201).
11 - «A Dívida Ativa regularmente inscrita goza
de presunção de certeza e liquidez.» (Lei n? 6.830, de
22-9-80, art. 3?).
111 - A Fazenda Pública tem o poder-dever de
criar seu próprio título executivo com os requisitos
estabelecidos em lei. O simples termo de confissão
de dívida não pode substituir a Certidão de Dívida
Ativa, na cobrança judicial dos créditos fazendârios,
porque lhe faltam os elementos necessârios que
atestam a liquidez e certeza da dívida.
IV - Apelação provida, para julgar procedentes
os embargos e nula a execução, reembolsando-se a
executada das despesas processuais.
ACORDÃO dão de substituir a certidão da ins-
crição de divída ativa que hâ de ser
Vistos e relatados estes autos, em feita de acordo c9m o art. 202 do Có-
que são partes as acima indicadas: digo Tributârio Nacional. Alegou,
Decide a Quinta Turma do Tribu- ainda, que o índice da correção foi
nal Federal de Recursos, por unani- aplicado indevidamente, entendendo,
midade, dar provimento ao recurso, por outro lado, estar prescrita a dívi-
para julgar procedentes os embar- da.
gos, na forma do relatório e notas ta- O embargo, em sua impugnação,
quigrâficas constantes dos autos que alegou ser a cobrança líquida e cer-
ficam fazendo parte integrante do ta, calcada no Decreto-Lei n? 1.128/70
presente julgado. e que a confissão de dívida é causa
Custas como de lei. interruptiva da prescrição.
Brasília, 23 de março de 1983 (data O Dr. juiz de Direito da Comarca
do julgamento) - Ministro Moacir de Martinópolis, no Estado de São
Catunda, Presidente Ministro Paulo, às fls. 33/37, julgou improce-
Geraldo Sobral, Relator. dente os embargos.
Irresignada, apelou a embargante
RELATORIO repetindo a tese inicial.
O Sr. Ministro Geraldo Sobral (Re- Sem contra-razões, subiram os au-
lator): Companhia de Viação São tos a esta egrégia corte.
Paulo Mato Grosso, ingressou com É o relatório, sem revisão, nos ter-
embargos à execução que lhe move mos regimentais (art. 33, IX).
o Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrâria ONCRA), alegan- VOTO
do que a execução utiliza como título
a confissão de dívida de fl. 7 dos au- O Sr. Ministro Geraldo Sobral
tos principais, fundamentada no art. (Relator): O Título executivo pró-
585, III, do CPC. Entretanto, o men- prio como instrumento de cobran-
cionado documento não tem o con- ça dos créditos da Fazenda Pública
126 TFR - 100

é a Certidão de Dívida Ativa regu- tado, Distrito Federal, Território e


larmente inscrita na forma da lei. Município, correspondente aos cré-
Assim tem sido desde as ordenações ditos inscritos na forma da Lei.»
do Reino, consoante se lê no pará- Por último, legem )1abemus de n?
grafo 95 do texto de Perdigão Ma- 6.830, de 22-9-80, que dispõe sobre
lheiro, in verbis: a cobrança judicial da Dívida Ativa
«Com a certidão de dívida com- da Fazenda Pública. O parágrafo
petentemente liquidada requer-se 3? do artigo 2? da referida Lei es-
ao Juiz mandado executivo; pelo tabelece:
qual é o devedor ou quem de direi- «A inscrição, que se constitui no
to seja requerido para pagar em 24 ato de controle administrativo da
horas sob pena de se proceder à legalidade, será feita pelo órgão
penhora.» competente para apurar a liquidez
O Decreto-Lei n? 960, de 17-12-38 e certeza do crédito e suspenderá a
dispondo sobre a cobrança judiCial prescrição, para todos os efeitos de
da Dívida Ativa da Fazenda Pública, direito, por 180 dias ou até a distri-
em todo o Território Nacional, esta- buição da execução fiscal, se esta
belecia em seu artigo 2?, litteram: ocorrer antes de findo aquele pra-
zo.»
«Considera-se líquida e certa,
quando consistir em quantia fixa e O artigo 3? da Lei em comento
determinada, a dívida regularmen- conclui, nestes termos:
te inscrita em livro próprio, na re- «A Dívida Ativa regularmente
partição fiscal.» inscrita goza da presunção de cer-
A Lei n? 5.172, de 25-10-66, que pas- teza e liquidez.»
sou a denominar-se «Código Tributá- Creio que a simples confissão de
rio Nacional», em decorrência do dívida, ainda que assinada pelo de-
art. 7? do Ato Complementar n? 36, vedor e subscrita por duas testemu-
de 13-3-67, prescreve, em seu art. nhas, não tem condão de substituir a
201. ad litteram: Certidão de Dívida Ativa, na cobran-
«Constitui dívida ativa tributá- ça judicial dos créditos fazendários,
ria a proveniente de crédito dessa posto que a inscrição da Dívida de
natureza, regularmente inscrita, que resulta a prefalada Certidão" jl
na repartição administrativa com- teor do lançamento fiscal, constitui-
petente, depois de esgotado o prazo se ato administrativo vinculado, Que
fixado, para pagamento, pela lei deverá ser praticado, somente, pelo
ou por decisão final proferida em órgão competente para apurar a li-
processo regular.» quidez e certeza da dívida.
O Código de Processo Civil vigen- O termo de inscrição é obrigatório
te, dispõe: e acha-se subordinado a requisitos
legais.
«Art. 585 São títulos executivos
extrajudiciais: O próprio Decreto-Lei n? 1.128/70,
que autoriza o parcelamento do ITR,
I - omissis ................... . quando diz, em seu artigo 3? § único,
H - omissis .................. . que «o atraso do pagamento de duas
IH - omissis prestações implicará na perda do
IV - omissis ................. . parcelamento, ficando o débito sujei-
to à cobrança executiva», não está,
V - omissis ... , ............. . dessa forma, dispensando a inscri-
VI - a certidão de dívida ativa ção da dívida, nem contrariando os
da Fazenda Pública -da União, Es- textos legais supramenciados.
TFR - 100 127

Ademais, a confissão tanto pode mo o termo inicial e a forma de cal-


ser expressa quanto tácita. Mesmo cular os juros de mora e demais en-
assim, a Fazenda Pública terá que cargos previstos em lei ou contrato.»
inscrever o debito para executá-lo, Nada disso contém o precáriO ter-
através de título próprio. Seu privilé- mo de confissão de dívida acostado
gio reside em pOder formar o título aos autos do processo de execução
executivo que a Lei lhe permitiu fiscal, em exame.
que criasse. Não qualquer títu-
lo. evidentemente, mas aque- Com estas considerações, dou pro-
le que se' encontra especificado na vimento à apelação, para declarar
Lei. Por isso que a inscrição da dívi- procedentes os embargos e nula a
da, que se constitui no ato de contro- execução, devendo a exeqüente
le administrativo da legalidade, é reembolsar a executada das despe-
garantia para ambas as partes que sas precessuais.
compõem a relação credor-devedor E o meu voto.
público. A Administração, nesse mo-
mento, acha-se no exercício de um EXTRATO DA MINUTA
poder-dever.
In casu, tanta falta faz a ins-
crição da dívida, com as formalida- AC 69.886-SP - ReI.: O Exmo. Sr.
des legais, que o Dr. Juiz a quo jul- Min. Geraldo Sobral. Apte.: Compa-
gou improcedentes os embargos nhia de Viação São Paulo Mato Gros-
«com a ressalva de que a quantia de- so. Apdo.: INCRA.
vida, no valor de Cr$ 12.262,00 (doze Decisão: A Turma, por unanimida-
mil, duzentos e sessenta e dois cru- de, deu provimento ao recurso, para
zeiros) será submetida à liquidação julgar procedentes os embargos.
por cálculo do contador ... » (fI. 37). (Em 23-3-83 - 5~ Turma).
Ora, o Termo de Inscrição de Dívi- Os Srs. Ministros Moacir Catunda e
da Ativa deverá conter, sob pena de Pedro Acioli votaram com o Rela-
nulidade, entre outros requisitos, «o tor. Presidiu o julgamento o Exmo.
valor originário da dívida, bem co- Sr. Ministro Moacir Catunda.
APELAÇAO CtVEL N? 70.948 - AM
Relator: O Sr. Ministro Hélio Pinheiro
Apelante: Maria das Graças Nogueira de Souza
Apelado: DNER.
EMENTA
Processual Civil - Exc::cução de Sentença.
Cálculo que, no tocante à verba honorária, inci-
diu, nos termos da sentença, sobre o valor das pres-
tações mensais vencidas. Pretensão da apelante de
fazer incidir o cálculo sobre as prestações vincen-
das. Descabimento. Apelação a que se nega
provimento.
ACORDA0 Decide a Terceira Turma do Tri-
bunal Federal de Recursos, por una-
Vistos e relatados estes autos em nimidade, negar provimento à apela-
que são partes as acima indicadas: ção, na forma do relatório e notas
128 TFR - 100

taquigráficas constantes dos autos cedente a ação, foi o DNER conde-


que ficam fazendo parte integrante nado ao pagamento de honorários fi-
do presente julgado. xados em 20% do quantum apurado
Custas como de lei. em execução.
Brasília, 15 de abril de 1983 (data Dispôs, outrossim, a decisão em
do julgamento) - Ministro Carlos apreço sobre uma parte líquida, per-
Madeira, Presidente Ministro tinente ao pagamento de pensão
Hélio Pinheiro, Relator. mensal à autora, e de outra ilíquida,
a incidir sobre o total das prestações
RELATORIO mensais vencidas desde a data da
O Sr. Ministro Hélio Pinheiro: Na morte da vítima, quando se tornou
sentença que, confirmada por este devida a pensão que a ré, executada,
Egrégio Tribunal, julgou procedente foi compelida a pagar.
em parte a ação movida por Maria O cálculo do contador, contra o
das Graças Nogueira de Souza con- qual investe a apelante, diz com a
tra o Departamento Nacional de Es- execução da parte ilíquida da sen-
tradas de Rodagem (DNER), conde- tença, ou seja, com a apuração das
nado foi este a pagar pensão mensal prestações vencidas e que consti-
à autora, equivalente a um salário tuem o quantum apurado na execu-
mínimo regional, vigente ao tempo, ção, sobre o qual incide, nos termos
reajustável às variações posteriores, da sentença, o pagamento da verba
a partir de 2-7-77, acrescidas as par- honorária a que condenada a ré.
celas atrasadas dos juros legais. Como bem realçado na respeitável
Condenado foi ainda o DNER ao pa- decisão apelada, relativamente à
gamento de honorários advocatícios pensão «nada existe a liquidar, pois
de 20% sobre o quantum apurado em está claro que o seu valor é de um
execução Cfl. 29). salário mínimo regional.»
Feitos os cáJculos de liquidação da
sentença, a exeqüente os impugnou, De todo injustificável, pois, a pre-
no tocante à parcela relativa aos ho- tensão da apelante no sentido de que
norários advocatícios, por entender o cálculo, relativamente à verba ho-
que estes deveriam ser calculados norária, recaia sobre o montante das
com base nas prestações vincendas e prestações vincendas, pois tanto não
não somente nas vencidas, como fei- consta da sentença.
to. Nego, assim, provimento à apela-
A impugnação foi tida por impro- ção.
cedente, homologando o ilustre Juiz É o meu voto.
Federal da Seção Judiciária do Esta-
do do Amazonas o cálculo, para que EXTRATO DA MINUTA
surtisse os seus jurídicos e legais
efeitos Cfl. 81). Dessa decisão, por in- AC 70.948-AM - ReI.: Min. Hélio
conformada, apelou a exeqüente. Pinheiro - Apte.: Maria das Graças
Contra-arrazoou o apelo o Depar- Nogueira de Souza - Apdo.: DNER.
tamento NacionaI de Estradas de Decisão: A Turma, por unanimida-
Rodagem. de, negou provimento à apelação.
É o relatório, dispensada a revi- CEm 15-4-83 - 3~ Turma).
são. Votaram com o Relator os Srs.
Mins. Carlos Madeira e Adhemar
VOTO Raymundo.
O Sr. Ministro Hélio Pinheiro CRe- Presidiu o julgamento o Exmo. Sr.
lator): Pela sentença que julgou pro- Ministro Carlos Madeira.
TFR - 100 129

APELAÇAO C1VEL N~ 72.850 - RS


Relator: O Sr. Ministro Miguel Jerônymo Ferrante
Apelante: União Federal
Apelada: Atualidades Livros Revistas Ltda.
EMENTA
Execução Fiscal - Devedor não localizado -
Ausência de bens penhorávéis - Decorrido o prazo
de um ano sem que sej a localizado o devedor, ou en-
contrados bens penhoráveis, os autos serão arquiva-
dos, não implicando a providência na baixa do regis-
tro do feito. Encontrados que sejam, a qUalquer tem-
po, o devedor ou os bens, os autos serão desarquiva-
dos para prosseguimento da execução. Aplicação da
Lei n? 6.830 de 1980, art. 40, §§ 2? e 3? Apelação par-
cialmente provida.
ACORDÃO Não tendo sido localizada a execu-
tada, pediu a exeqüente a suspensão
Vistos e relatados os autos em que da execução, enquanto aguardava
são partes as acima indicadas: informações da Junta Comercial so-
Decide a 6? Turma do Tribunal Fe- bre o endereço atual da devedora,
deral de Recursos, por unanimidade, mas o MM. Juiz a quo, pela decisão
dar parcial provimento à apelação, de fls. 13, considerando o disposto no
para reformar, em parte, a senten- art. 40, § 2?, determinou o «arquiva-
ça, excluindo a cláusula de baixa dos mento dos autos, após as baixas e
autos por ela determinada, na forma anotações de praxe, sem prejuízo do
do relatório e notas taquigráficas re- disposto no § 3? do j á citado art. 40
tro que ficam fazendo parte inte- da Lei n? 6.830/80».
grante do presente julgado. Apelou a exeqüente, com as razões
Custas como de lei. de fls. 14/17 (lê ).
Brasília. 3 de março de 1982 (data Sem contra-razões, subiram os au-
do julgamento) - Ministro' José tos, opinando a Subprocuradoria-Ge-
Fernandes Dantas, Presidente - Mi- ral da República, a fls. 23/24. '
nistro Miguel Jerônymo Ferrante, Pauta sem revisão (art. 33, item
Relator. IX do RI).
E o relatório.
RELATORIO
VOTO
O Sr. Ministro Miguel Jerônymo
Ferrante: Trata-se de execução fis- O Sr. Ministro Miguel Jerônymo
cal movida pela Fazenda Nacional Ferrante: O artigo 40 e seus §§ 2? e
contra Atualidades Livros Revistas 3? da Lei n? 6.830, de 22 de setembro
Ltda., no Juízo Federal da 5~ Vara de 1980, que cuida da cobrança judi-
da Seção Judiciária do Estado do cial da Dívida Ativa da Fazenda PÚ-
Rio Grande do Sul, para cobrança de blica e dá outras providências, dis-
dívida relativa a imposto de renda, põem, in verbis:
do exercício de 1974, e mais os con- «Art. 40. O Juiz suspenderá o
sectários de direito. curso da execução, enquanto não
130 TFR - 100

for localizado o devedor ou encon- cumprimento de atos e diligências


trados bens sobre os quais possam que lhes competiam ou de abandono
recair a penhora, e, nesses casos, da causa. Cuida-se da não localiza-
não correrá o prazo de prescri- ção do devedor ou de bens sobre os
ção». quais possa recair a penhora, fato
que mereceu tratamento específico
do legislador, através da citada Lei
n? 6.830, de 1980, traduzida na provi-
§ 2? Decorrido o prazo máximo dência da suspensão do processo e
de 1 (um) ano, sem que seja locali- interrupção do prazo prescricional.
zado o devedor ou encontrados
bens penhoráveis, o Juiz ordenará
o arquivamento dos autos. Por último, saliente-se que, ante-
riormente ao diploma legal em foco,
já se pacificara, nesta Corte, o en-
§ 3? Encontrados que sejam, a tendimento de que não sendo locali-
qualquer tempo, o devedor ou os zado o devedor, assim como seus
bens, serão desarquivados os autos bens, deveria o processo ficar sus-
para prosseguimento da execu- penso, com base no artigo 791, item
ção». IH, do Código de Processo Civil.
Nesse sentido, ad exemplum, a AC
Ora, a decisão recorrida, ao deter- 67.176 - PE, da qual fui relator.
minar o arquivamento dos autos, «a-
pós as baixas e anotações de praxe», Em conseqüência, dou parcial pro-
à evidência extrapolou o comando le- vimento à apelação para que o ar-
gal transcrito. Com efeito, razão as- quivamento destes autos se faça sem
siste à apelante quando sustenta que as providências de «baixa e anota-
tais providências resultam, afinal, ções de praxe», determinadas pela
na extinção do processo, quando na decisão recorrida.
realidade a lei apenas prevê, na hi- 1t o voto.
pótese, a suspensão de seu curso,
com seu arquivamento, enquanto
não for localizado o devedor ou en- EXTRATO DA MINUTA
contrados bens sobre os quais possa
recair a penhora. A «baixa» ordena-
da, com «as anotações de praxe» im- AC 72.850-RS - ReI.: Min. Miguel
plicaria, implicitamente, em apagar Jerônymo Ferrante. Apte.: União
os registros do feito, com exclusão Federal - Apda.: Atualidades Livros
do contribuinte inadimplente do rol Revistas Ltda.
dos réus, e a tornar até mesmo ine-
xeqüível a previsão legal e desarqui- Decisão: A Turma, por unanimida-
vamento dos autos, a qualquer tem- de, deu parcial provimento à apela-
po, para prosseguimento da execu- ção, para reformar, em parte, a sen-
ção, quando encontrados forem o de- tença, excluindo a cláusula de baixa
vedor ou os bens. dos autos por ela determinada (6~
Turma - Em 3-3-81).
Vale notar que na hipótese verten-
te não cabe a aplicação alternativa Participaram do julgamento os
do § 1? do art. 267, da lei adjetiva, Srs. Ministros: José Dantas e Wilson
também pretendida pela apelante. 1t Gonçalves, na ausência justificada
que aqui não se trata de processo pa- do Sr. Ministro Américo Luz. Presi-
rado durante mais de ano por negli- diu o julgamento o Sr. Ministro José
gência das partes, nem de falta de Fernandes Dantas.
TFR - 100 131

APELAÇAO CtVEL N~ 73.512 - MG


Relator: O Sr. Ministro Antônio Torreão Braz
Remetente: Juízo Federal da 3~ Vara
Apelantes: Abel de Oliveira e..outros e União Federal
Apelados: Os mesmos
EMENTA
Ferroviário.
Dupla aposentadoria (Lei n~ 2.752/56).
A ela não tem direito o servidor da antiga Rede
Mineira de Viação que não optou pela condição de
funcionário da Administração Direta.
~ irrelevante o fato de figurar em Quadro de
Pessoal Extinto do antigo Ministério da Viação e
Obras Públicas, por isso que tal quadro também
abrangia autárquicos de órgãos extintos.
Sentença reformada.
ACORDÃO pelo Decreto n? 19.602, de 19-1-1931 e
improcedente quanto àqueles admiti-
Vistos e relatados os autos em que dos após o aludido contrato.
são partes as acima indicadas: Apelaram os acionantes, com o fi-
Decide a 3~ Turma do Tribunal Fe- to de obterem a procedência do pedi-
deral de Recursos, por unanimidade, do, também em relação aos admiti-
dar provimento à apelação da Uniao dos após o ano de 1931 (fls. 707/719),
Federal para reformar a sentença e Apelou, por igual, a União Federal,
julgar a ação totalmente improce- pleiteando a total improcedência da
dente, prejudicados os apelOS dos au- ação (fls. 720/725).
tores, na forma do relatório e notas Contra-razões às fls. 729/731 e
taquigráficas constantes dos autos 736v./738.
que ficam fazendo parte integrante
do presente julgado. A Subprocuradoria·Geral da Repú-
blica, em parecer do Dr. Paulo Soll-
Custas como de lei. berger, opinou pelo provimento do
Brasília, 30 de abril de 1982 (data recurso da ré (fls. 742/745).
do julgamento) - Ministro Carlos Sem revisão (RI, art. 33, IX).
Madeira, Presidente - Ministro An-
tônio Torreão Braz, Relator. ~ o relatório.

RELATO RIO VOTO


O Sr. Ministro Antônio Torreão O Sr. Ministro Antônio Torreão
Braz: O Dr. Juiz Federal da 3~ Vara Braz (Relator): Senhor Presidente,
de Minas Gerais assim expôs a con- a r. sentença apelada assentou basi-
trovérsia (fls. 690/701): (lê). camente a sua conclusão na cláusula
A sentença julgou a ação proce- XIII do contrato de arrendamento
dente em relação aos autores admiti- aprovado pelo Decreto n? 19.602, de
dos antes do arrendamento aprovado 19-1-1931, que reza:
132 TFR - 100

«Os funcionários pÚblicos atual- Rede Mineira de Viação em autar-


mente existentes na Estrada de quia, passaram à qualidade de servi-
Ferro Oeste de Minas, contribuin- dores autárquicos.
tes do Montepio Federal, serão Foi com fulcro no prefalado de-
considerados à disposição do Go- creto-lei que se formou a jurispru-
verno do Estado de Minas Gerais, dência desta Eg. Corte, placitada pe-
sem nenhum vencimento pelos co- lo Supremo Tribunal Federal, segun-
fres da União, continuando, porém, do a qual só podem aspirar à dupla
a contar tempo de serviço fede- aposentadoria os ferroviários da an-
ral.» tiga Rede Mineira de Viação que op-
Consoante o ilustre Dr. Juiz a quo, taram no sentido de permanecerem
no atinente a tais serVidores, «não como servidores da União Federal.
há que se cogitar de opção, pelo ilógi- Vejam-se, entre muitos outros, os
co que constitui optar-se por uma si- acórdãos colacionados no parecer da
tuação em que j á se encontra». ilustrada Subprocuradoria·Geral da
República (Apelações Cíveis 16.487,
Acontece "que a opção adveio com 35.043, 35.951 e 13.713, relatados, res-
o Decreto-Lei n? 3.858, de 21-11-1941, pectivamente, pelos Ministros Henri-
estando o seu art. 5? vazado nestes que D'Ãvila, Lafayette Guimarães,
termos: Armando Rollemberg e Amarílio
«Art. 5? Os demais funcionários Benjamin. No Excelso Pretório, li-
pertencentes ao quadro da antiga mitando a pesquisa ao ano de 1981,
Estrada de Ferro Oeste de Minas, confiram-se os arestos nos RE
para os quais não foram criados 93.772, 93.773 e 93.774. Relatores os
cargos nos quadros do funcionalis- Ministros Décio Miranda, Firmino
mo federal, por terem optado pela Paz e Rafael Mayer.
continuação do exercício na Rede No caso vertente, os autores admi-
Mineira de Viação, ficam, a partir tidos antes do arrendamento, con-
da vigência deste decreto-lei, per- soante se extrai dos autos, continua-
tencendo, definitivamente, ao qua- ram em ~~ercício na ferrovia após o
dro da mesma Estrada» Decreto-Lei n? 3.858/41, perdendo, em
Promulgado o aludido diploma le- conseqüência, o vínculo com a Admi-
gal, como bem acentuou o Dr. Hélio nistração Direta. No respeitante aos
Doyle em seu trabalho «Notas sobre promoventes que ingressaram na
a Dupla Aposentadoria do Ferroviá- Rede Mineira após o arrendamento,
rio», invocado no apelo da ré, «o re- é óbvio que jamais pertenceram a
duzido grupo de antigos funcionários essa mesma Administração.
da ex-Oeste de Minas, considerados É irrelevante o fato de figurarem
até certa época funcionários civis da no Quadro Extinto do Pessoal -
União postos à disposição do Gover- Parte III - do Ministério de Viação
no de Minas (cláusula 13~ do contra- e Obras Públicas, eis que, como res-
to firmado em 24 de janeiro de 1927) saltou o Ministro Décio Miranda no
a partir de 1941, tiveram que optar RE 93.772, acima mencionado, tal
pela volta à administração federal quadro também englobava autárqui-
ou pela continuação no serviço da cos de órgãos extintos.
Rede.» A propósito, nota Hélio Doyle no
Os que não optaram perderam o trabalho antes invocado: «Em Qua-
status de servidor público federal. dros Extintos do Ministério ficam to-
Estes e os admitidos após o arrenda- dos os servidores cujos órgãos dei-
mento, em decorrência da Lei n? xam de existir, sejam eles da Admi-
1.812, de 4-2-1953, que transformou a nistração centralizada ou não. Mi-
TFR - 100 133

lhares e milhares de autárquicos es- reformar a sentença e julgar a ação


tão nos diversos Quadros Extintos, totalmente e improcedente, condena-
sem que isso yenha mug.ar-Ihes o dos os autores nas custas e nos hono-
status de servidores autárquicos. Por rários advocatícios de Cr$ 500,00
exemplo, noiDiário Oficial da União, (quinhentos cruzeiros) para cada
Seção I, Parte I, de 19-7-73, página um, prejudicada a apelação destes
de rosto, publica-se o Decreto n~ últimos.
72.486, de 18-7-73, que «Redistribuiu
cargos, com os respectivos ocupan-
tes, constando, por exemplo: «lI - EXTRATO DA MINUTA
Do Quadro de Pessoal - Parte Su-
plementar do Ministério dos Trans- AC 73.512-MG - ReI: O. Min. Tor-
portes para idênticos Quadro e Parte reão Braz. Remte.: Juízo Federal da
do Ministério do Trabalho e Previ- 3~ Vara. Aptes: Abel de Oliveira e
dência Social, um cargo de Taifeiro- outros e União Federal. Apdos.: Os
Mercante (Cr$ 554,00) ocupado por mesmos.
Alyrio Francisco dos Santos, oriundo
do extinto Serviço da Bacia do Pra- Decisão: A Turma, por unanimida-
ta, mantido o regime jurídico e pre- de, deu provimento à apelação da
videnciário do servidor. X - Do União Federal para reformar a sen-
Quadro de pessoal - Parte Suple- tença e julgar a ação totalmente im-
mentar do Ministério dos Transpor- procedente, prejudicados os apelos
tes para o Quadro de Pessoal Parte dos autores. (Em 30-4-82 - 3? Tur-
Permanente do Ministério do Exérci- mal.
to, mantido o regime jurídico e pre-
videnciário dos servidores.» Os Srs. Ministros Adhemar Ray-
mundo e Fláquer Scartezzini vota-
A vista do exposto, dou provimento ram com o Relator. Presidiu o jUlga-
à apelação da União Federal para mento o Sr. Min. Carlos Madeira.

APELACAO C1VEL N? 73.690 - RJ


Relator: O Sr. Ministro Américo Luz
Apelante: Super Roscas Helibrás Indústria e Comércio Ltda.
Apelados: Mite Corporation e outro.
EMENTA
Propriedade Industrial.
Ação de Nulidade de Patente (C.P.I., artigos 56
e 57).
A prescrição do direito de ação, na espécie, não
é a regulada pelo Decreto n? 20.910/32 e pelo
Decreto-Lei n? 4.597/42, de vez que o pleito se fere en-
tre autora e ré, figurando o I.N.P.1. na relação pro-
cessual como assistentel ex vi legis.
Sentença reformada.
Apelação provida, para afastar a preliminar e
determinar o julgamento do mérito da causa.
134 TFR - 100

ACORDÃO que se cogita da nulidade de atos


da Administração Pública Federal
Vistos e relatados os autos, em que praticados cerca de 7 anos antes
são partes as acima indicadas: do ajuizamento da ação, a saber:
Decide a 6~ Turma do Tribunal Fe- a) Patente n? 83.979, expedida
deral de Recursos, por unanimidade, em 18-8-70;
dar provimento à apelação, para re-
formar a sentença, em ordem a que b) Patente n? 83.980, expedida
outra seja proferida, afastada a em 18-8-70;
prescrição em causa, na forma do c) Patente n? 83.981, expedida
relatório e notas taquigráficas cons- em 10-8-70.»
tantes dos autos que ficam fazendo
parte integrante do presente julgado.
Custas como de lei. «Citado, interveio o Instituto Na-
Brasília, 16 de agosto de 1982 (data cional da Propriedade Industrial
do julgamento) - Min. José Fernan- no feito, (fls. 109/110), protestando
des Dantas, Presidente - Min. pela procedência, em parte, da
Américo Luz, Relator. ação, quanto à nulidade da patente
n? 83.980, face à ausência de novi-
RELATORIO dade do objeto privilegiado.
Cientificada da propositura da
o Senhor Ministro Américo Luz: ação, a União Federal nada aditou
Seritença do MM. Juiz Federal, Dou- às alegações da autarquia federal
tor Ney Magno Valadares, em que a por ela assistida. Como parte autô-
espécie ficou assim sumariada (fls. noma, intervei.o no processo o ór-
272/273): gão do Ministério Público Federal
«Super Roscas Helibrás Indústria (fls. 137/138), «para adotar e subs-
e Comércio Ltda., estabelecida crever os aludidos pronunciamen-
nesta Cidade, ajuizou a presente tos do INPI».
Ação Ordinária de Nulidade de Pa- S. Exa. assim decidiu (fI. 275):
tentes contra a sociedade norte-
americana Mite Corporation, na «... pronuncio a prescnçao de
qualidade de sucessora de Heli-Coil ação, declarando extinto o proces-
Corporation, em litisconsórcio pas- so, com julgamento do mérito (art.
sivo com o Instituto Nacional da 269, IV, do CPC), condenando a au-
Propriedade Industrial, objetivan- tora no pagamento das custas e da
do anular as patentes expedidas verba advocatícia ora arbitrada
sob os números 83.980 e 83.979 e em 10% (dez por cento) do valor
83.981, sob a alegação de que os dado à causa.»
produtos patenteados já eram co-
nhecidos publicamente, desde 1957, ApelOU a vencida, com as razões
não preenchendo, assim, o requisi- de fls. 279/282, pleiteando o julga-
to concernente à novidade. mento do mérito na ação proposta.
Em sua contestação (fls. 46/48), Contra-arrazoou a apelada (fls.
a primeira ré, que conta com a as- 286/288).
sistência de Boellhoff Indústria e Nesta instância, não se pronunciou
Comércio S.A., esta na qualidade a ilustrada Subprocuradoria-Geral da
de licenciada das patentes anulan- República.
das, além da preliminar de ilegiti-
midade ativa, alega a ocorrência E o relatório, dispensada a revi-
de prescrição qüinqüenal, desde são.
TFR - 100 135

VOTO exaurido o qüinqüênio legal para a


decretação da nulidade de patentes
O Senhor Ministro Américo Luz expedidas em agosto de 1970.
(Relator): Para pronunciar a pres-
crição do direito de ação, o MM. Juiz Como a alegação de prescrição
a quo assim se fundamentou (fls. pode ser feita a qualquer tempo,
274/275), em síntese: independendo de iniciativa da par-
te a quem .aproveita, salvo se se
«Com relação à argüição de tratar de direito patrimonial, pa-
prescrição qüinqüenal, a autora rece-me irrelevante a controvér-
limitou-se, em sua réplica, ao ar- sia suscitada em torno da tempes-
gumento de que a mesma exigiria tividade da contestação. Também
a presença da União Federal como não empresto maior relevância ao
litisconsorte necessário, o que lhe silêncio do Instituto Nacional da
parece um absurdo jurídico (fls. Propriedade Industrial, porque a
83/89). renúncia da prescrição, que pode
ser expressa ou tácita, somente é
Ocorre que a própria autora re- válida quandO não causar prejuízo
quereu a citação do Instituto Na- a terceiros (art. 161 do Código Ci-
cional da Propriedade Industrial, vil).»
que é unia autarquia federal, «pa-
ra integrar a lide ~a qualidade de Data maxima venia, estou em dis-
assistente e/ou litisconsorte». Ali- crepânCia com tal entendimento,
ás, não há dúvida quanto à posi- porquanto, como bem demonstra a
ção da referida autarquia federal apelante em suas razões (fls.
como litisconsorte necessário, visto 279/281), o INPI integra a relação
ter expedidO, em favor da ré, as processual como assistente obrigató-
patentes cuja anulação a autora rio da autora e não como parte dire-
pleiteía. ta na causa. Para melhor clareza
Em se tratando de nulidade de leio, das aludidas razões, os seguin-
ato administrativo, emanado de tes tópicos:
uma autarquia federal, aplica-se, «O art. I? do Decreto Federal n?
quanto à prescrição, a regra do 20.910, em consonância com o
art. 2? do Decreto-Lei n? 4.547, de 19 Decreto-Lei n? 4.597, abrange toda e
de agosto de 1942, verbis: qualquer pretensão· e ação deduzi-
«Art. 2? O Decreto n? 20.910, da e proposta contra o ente autár-
de 6 de janeiro de 1932, que regu- quico, ou seja, quando se estabele-
la a prescrição qüinqüenal, ce um litígio, ou seja, o conflito de
abrange as dívidas passivas das interesses que se deve compor me-
autarquias, ou entidades e órgãos diante o processo.
paraestatais, criados por lei e
mantidos mediante impostos, ta- Entende a recorrente, ao contrá-
xas ou quaisquer contribuições rio do pensamento sentencial, que
exigidas em virtude de lei fede- inocorreu litígio entre si e o Insti-
ral, estadual ou municipal, bem tuto Nacional da Propriedade In-
como todo e qualquer direito e dustrial, pois este não figura no
ação contra os mesmos». feito como parte e sim como mero
assistente ativo. Não defende inte-
Não há, assim, dúvida quanto ao resse jurídico próprio, pois está em
fato de que, na data do ajuizamen- lide pretensão deduzida pela ape-
to da ação, em 31 de outubro de lante, em favor de quem a autar-
1977, já se encontrava, há muito, quia pede seja prolatada a senten-
136 TFR - 100

ça de mérito (fls. 109/110; 120/121; parecido com mais freqüência pe-


142; 197/199; 213; 220/22"1; 245/246; rante o Poder Judiciário ... » (José
248/249 e 265/266). Carlos Tinoco Soares - «Código de
Como assistente - esta a inter- Propriedade Industrial», Editora
venção procedimental escolhida Resenha Tributária Ltda., São
pelo INPI -, sua atuação ocorreu, Paulo - 1974, pág. 110),
apenas para ajudar a assistida (a No mesmo sentido, a observação
autora): atuação meramente ad de Newton Silveira (<<Curso de Pro-
adjuvandum, não podendo, à evi- priedade Industrial», Editora Re-
dência, ser considerado como par- vista dos Tribunais, São Paulo
te. Contra ele não se firmou uma 1977, pág. 33), para quem «a ação
causa. E para que haja causa é ne- é promOVida contra o titular do re-
cessária a existência de pretensão gistro ou da patente».
de um contra outro a ser exigida
por força da vontade concreta da A respeito da pOSição do INPI e
lei. da União em face da ação de nuli-
Na hipótese dos autos, como fa- dade e de seu processo, com as
cilmente se constata, a autarquia atualizações interpretativas cabí-
não exerce direito em nome pró- veis em razão dos ordenamentos
prio, senão assiste a uma das par- jurídicos que se lhe seguiram
tes: a autora-recorrente, por cujo (Código de Processo Civil de 1973 e
sucesso propugna. o novo Código de Propriedade In-
Há de ser notado que o chama- dustrial), ainda é decisiva a lição
mento do INPI ao processo, atra- do nosso maior tratadista da maté-
vés do ato intima tório certificado ria, o insigne Gama Cerqueira, en-
às fls. 107/108, cumpridor do r. des- contrada no seu «Tratado da Pro-
pacho de fI. 95, foi exatamente, pa- priedade Industrial», Edição Re-
ra possibilitar sua intervenção as- vista Forense, 1952 - volume lI,
sistencial adjuvante a qualquer Tomo I, Parte lI, pág. 296 ut 323,
das partes litigantes, optando ele onde se encontra o destaque de que
pela associação à autora, ora re- «a ação de nulidade, não seria ne-
corrente. cessário dizê-lo, só pode ser inten-
A participação da União deve-se tada contra o titular do privilé-
unicamente ao fato de o Instituto gio ... ».
NacionaI da Propriedade Industrial
intervir no processo, tendo-lhe, a ConseqüênCia do que ficou expos-
Procuradoria Geral da República, to é a in subsistência da invocação
emprestado o prestígio dos ofícios sentencial do art. 2? do Decreto-Lei
de fls. 133 V?, 137/138; 143, 201; 252 n? 4.597/42, por isso que o Código
e 267. de Propriedade Industrial não atri-
bui ao INPI a pOSição de parte ne-
Relativamente aos legitimados cessária, ativa ou passiva, nas
para ação de nulidade, bastante ações em tela, pois, repita-se, ela
claro o art. 57 da Lei n? 5.772, de não se dirige contra o ente autár-
21-12-71, ao reconhecer ao INPI quico, nem contra a União, mas
tão-somente legitimação ativa, ja- exclusivamente contra o titular da
mais passiva, cabendo o destaque patente.
de que, «embora tenha tal faculda-
de, até o momento, quer nos pare- Se não for pelos motivos acima
cer, não se valeu dela em nenhuma expostos, a r. decisão recorrida
oportunidade», pois «terceiros com não resiste à mais leve crítica em
legítimo interesse é que têm com- face da lei.
TFR - 100 137

«Lei n? 5.772, de 21-12-1971 - EXTRATO DA MINUTA


Código de Propriedade Indus-
trial. AC 73.690-RJ - ReI.: Exmo. Sr.
Min. Américo Luz. Apte.: Super Ros-
CAPÍTULO XVII cas Helibrás Indústria e Comércio
Ltda. Apdos.: Mite Corporation e ou-
Da Nulidade e do Cancelamento tro.
do Privilégio
Decisão: A Turma, por unanimida-
Art. 56. Ressalvado o disposto de, deu provimento à apelação para
no artigo 58, a argüição de nuli- reformar a sentença, em ordem a
dade só será apreciada judicial- que outra seja proferida, afastada a
mente, podendo a competente prescrição em causa (Em 16-8-82 -
ação ser proposta em qualquer 6~ Turma). Sustentou, oralmente, o
tempo de vigência da mesma.» Dr. Gert Egon Dannemann, pelos
Dai que, acolhendo integralmente Apdos.
os argumentos supra transcritos, re-
formo a sentença. Provejo a apela- Participaram do julgamento os
ção, para, afastada a preliminar de Exmos. Srs. Mins. José Dantas e
prescrição, determinar que outra de- Wilson Gonçalves. Presidiu a sessão
cisão seja prolatada, como pede a o Exmo. Sr. Min. José Fernandes
apelante. Dantas.

APELAÇAO CíVEL N? 73.865 - PI


Relator: O Sr. Ministro Leitão Krieger
Remetente: Juízo Federal no Piauí
Apelante: Yedda de Carvalho Nunes e União Federal
Apelados: Os mesmos
EMENTA
Administrativo. Responsabilidade Civil. Dano es-
tético.
1. Responde a Un~ão pelo dano causado ao pe-
destre, atingido por lâmina de vidro que se despren-
deu de edifício, onde tem sede repartição federal.
2. Indenização do dano estético por cegueira em
um dos olhos a vítima-mulher.
Precedentes do Supremo Tribunal: RTJ-83/172 e
RTJ-97/463.
ACORDA0 quigráficas constantes dos autos que
ficam fazendo parte integrante do
Vistos e relatados estes autos, em presente julgado.
que são partes as acima indicadas: Custas como de lei.
Decide a 1~ Turma do Tribunal Fe- Brasília, 12 de abril de 1983 (data
deral de Recursos, por unanimidade, do julgamento) - Ministro Lauro
negar provimento a todos os recur- Leitão, Presidente. Ministro
sos, na forma do relatório e notas ta- Leitão Krieger, Relator.
138 TFR - 100

RELATORIO e à falta de amparo prObatório de


nexo causal entre o dano e a admi-
o Sr. Ministro Leitão Krieger: nistração pública, ausente está a sua
Yedda de Carvalho Nunes propôs responsabilidade. Pleiteou a denun-
ação ordinária de indenização contra ciação da lide, indeferida pelo sanea-
a União Federal para se ressarcir de dor de fl. 104; por fim, sustenta o
despesas médico-hospitalares pelos descabimento da correção monetá-
fatos que, em síntese, descreve: ria, na hipótese, por ausência de lei
«A peticionária, quando palmi- determinando tal incidência.
lhava as calçadas do prédio onde Replicou a autora a fls. 97/100.
funciona a Delegacia do Ministério A douta Sentença de fI. 112, assim
da Fazenda, no Estado do Piauí, fundamentou a procedência da ação:
por volta das 17 horas e 45 minutos
do dia vinte e sete (27) de dezem- ... «com supedâneo no art. 107 da
bro de 1980, foi violentamente atin- Lei Maior, e, em conseqüência,
gida por uma lâmina de vidro condeno a ré:
caída de uma das janelas do 1. a pagar à autora a importân-
edifício em que se acha sediada a cia comprovadamente desembolsa-
ré. O fato causou danos irrepará- da com seu tratamento médico-
veis à autora que em conseqüência hospitalar, ou seja, a importânCia
deles, teve de ser levada, às pres- de Cr$ 314.671,76 (trezentos e qua-
sas, a um hospital da cidade - a torze mil, seiscentos e setenta e
Casa Mater, ali se submetendo a um cruzeiros e setenta e seis cen-
duas delicadas cirurgias: tavos), acrescida de juros de mo-
ortopédica-traumatológica (docs. 2 ra, contados a partir da citação, e
e 2-A) e a outra torácica (docs. 3 e de correção monetária, desde o
3-A). Sofreu, ainda, por força da efetivo desembolso da quantia (Lei
mesma causa, atrofia do nervo óti- 6.899, de 8 de abril de 1981);
co e cegueira do olho esquerdo 2. a pagar à autora, à guisa de
(docs. 4 e 4-A). Diz a suplicante, indenização pelO dano estético so-
que pleiteou junto à ré, a corres- frido, importância que, módica e
pondente indenização (doc. n? 9l. simbolicamente, fixo, desde já, em
Contudo, a suplicada cuidou de ili- valor equivalente a 20 (vinte)
dir a sua culpa. Defende, in casu, a ORTNs vigentes à época do paga-
ocorrência de responsabilidade ob- mento;
jetiva, a teor do art. 1.529 do Códi- 3. a reembolsar a autora das cus-
go Civil, com a conseqüente indeni- tas processuais antecipadas, tam-
zação do dano, art. 159, na impor- bém corrigidas monetariamente,
tância de Cr$ 314.671,76, acrescida nos termos da referida Lei 6.899,
de juros de mora, correção mone- de 8 de abril de 1981;
tária, mais a indenização de dano
estético, a ser apurada em execu- 4. a pagar ao advogado da auto-
ção». ra, a título de honorários profissio-
nais, a importânCia de 10% (dez
A resposta veio a fls. 35/37. Argu- por cento) do valor total da liqui-
menta a contestante que, na espéCie, dação da sentença, verba esta
a causa determinante do evento foi também suj eita à correção mone-
fato da natureza, representado por tária da Lei 6.899/81.»
ventos anormais que assolaram a ci-
dade. Para o reconhecimento da res- Apelaram a autora e a União Fe-
ponsabilidade da pessoa jurídica de deral.
direito público, a demonstração da A primeira, com razões de fls.
concausa administrativa é de rigor, 123/124, objetivando elevar o
TFR - 100 139

quantum arbitrado pelo Dr. Juiz no ral, ao caso em julgamento, não será
pertinente à indenização pelo dano demais ligeira perlustração pela lei
estético. civil.
A segunda apelante, União Fede- A matéria em causa é magistral-
ral, com razões de fls. 126/127, reedi- mente tratada por José de Aguiar
ta as alegações contidas na contesta- Dias, em «Da Responsabilidade Ci-
ção. Pondera mais: o dia do evento, vil», págs. 466 a 468, quandO comenta
27 de novembro de 1980, recaiu num o art. 1.529 do Código Civil:
sábado, dia que não houve expedien- «Aquele que habitar uma casa,
te na repartição; inexistência de ne- ou parte dela, responde pelo dano
xo causal para demonstrar a ocor- proveniente das coisas que dela
rência de dano estético; e por final, caírem ou forem lançadas em lu-
pede a reforma da sentença e o pro- gar indevido».
vimento total do recurso ora inter-
posto. Essa responsabilidade é de cará-
ter irredutivelmente objetivo, co-
Contra-razões da apelada Yedda mo já sucedia no direito romano,
de Carvalho Nunes a fls. 130 e 132. correspondendo a exigências de se-
Nesta Instância, a douta gurança da via pública, ubi vul,go
Subprocuradoria-Geral da Repúbli- iter fit, mal resguardada na Lei
ca, em parecer da Dra. Maria da Aquília, pela dificuldade em se fa-
Glória Ferreira Tamer, com aprova- zer a prova da autoria do fato da-
ção do ilustre Subprocurador Dr. A. noso.
G. Valim Teixeira, destaca que na Referindo-se a «aquele que habi-
fundamentação da v. decisão recor- tar uma casa», o Código reforça a
rida, no art. 107 da Constituição Fe- convicção proporcionada pelo art.
deral, adotou-se a «teoria do risco 1.529, no sentido do caráter objeti-
administrativo». Nesse entendimen- vo da responsabilidade. Com efei-
to, segundo doutrinadores, são requi- to, por essas expressões, mostr~-se
sitos para configurar a responsabili- que o título a que o responsavel
dade civil do Estado: a) agente fun- ocupa a casa não é objeto de cogi-
cionário público; b) ato funcional; c) tação: proprietário, locatário, usu-
dano patrimonial efetivo; d) nexo frutuário, comodatário, pouco im-
causal entre o dano e o ato funcio- porta. É como habitante principal
nal, inocorrente in casu. E, mais que responde, o que sugere o pro-
adiante, diz a ilustre Procuradora: blema da responsabilidade em re-
mesmo considerando a «responsabi- lação às coisas e líquidos lançados
lidade objetiva», esta cede diante de ou caídos dos apartamentos. A so-
determinados fatos inimputáveis ao lução não pode ser outra senão a
agente, tais como força maior, ca- que já oferecia o edito: responsabi-
racterizada pela inevitabilidade do lidade solidária de todos os mora-
evento. Pede, assim, que a União se- dores.
j a liberada da responsabilidade que
lhe é imputada, com o provimento Ainda que não seja aqui o lugar
do seu recurso. mais próprio para tratarmos da
defesa do responsável, visto como
É o relatório.
reservamos espaço à parte para
particularizar o estudo dos casos
VOTO de isenção de responsabilidade, va-
le recordar que, na hipótese, ela só
o Sr. Ministro Leitão Krieger (Re- se elide mediante a prova, por par-
lator): Para interpretação e aplica- te do indigitado responsável, de al-
ção do art. 107 da Constituição Fede- gum destes fatos: a) ausência de
140 TFR - 100

dano; b) falta de qualidade de ha- no estético e a autora porque o en-


bitante da casa; c) falsidade da tende fixado em valor mesquinho.
alegação da vítima; d) lançamento
da coisa em lugar destinado a esse Vem o Pretório Maior admitindo o
fim (depósito de lixo, terreno inter- ressarcimento do dano estético, ao
no, não sujeito a servidão, etc.); e) que se vê em R.T.J., n?s 83/172 a
culpa exlusiva da vítima, supri- 176; e 97/463 a 465, entre outros jul-
mindo a relação de causalidade gados.
cuja presunção pesa sobre o pro-
prietário, como se daria, por A autora perdeu a visão do olho es-
exemplO, no caso de haver a víti- querdo. Entretanto, os autos não for-
ma provocando a queda do objeto necem elementos outros, que permi-
ou coisa que veio a atingi-la.» tam medir a extensão dessa lesão
sob o critério estético. E o MM. Juiz
Acentue-se ainda que o vocábulo deu azo a que a autora trouxesse ele-
«casa» tem um sentido amplo, con- mentos para tal fim, ao que resulta
forme o mesmo autor em nota de n? da parte final do saneador:
834:
«Com tais considerações, dou co-
mo saneado o feito, determinando
«Casa é expressão ampla, que a volta dos autos para julgamento
abrange: a) prédio de habitação antecipado (art. 330, I, CPC), se as
doméstica; b) o edifício destinado partes, em cinco dias, não indica-
ao exercício de profissão ou indús- rem outras provas.»
tria; c) as coisas (carros, barra-
cas, etc.) utilizadas como habita- 3. Por tal motivo, também no to-
ção ambulante ou imobilizadas e cante a este ponto, dou referendo à
adaptadas a esse fim; d) as partes erudita e criteriosa sentença.
separadas ou anexos das mora-
dias; e) os navios e aeronaves
(Pontes de Miranda e Carvalho Pelos motivos dados, com funda-
Santos, ob. e loco cits.).» mento na lei civil e dispositivo cons-
titucional (art. 107), nego provimen-
to a todos os recursos.
Dúvida não há, assim, sobre a res- É o meu voto.
ponsabilidade da ré pelos danos cau-
sados à autora, como acertadamente EXTRATO DA MINUTA
concluiu o eminente Juiz Federal
Hércules Quasímodo da Mota Dias.
AC 73.865 - PI - ReI.: Min. Lei-
tão Krieger. Remte.: Juízo Federal
2. O MM. Juiz a quo condenou a ré no Piauí. Aptes.: Yedda de Carvalho
ainda «a pagar à autora, à guisa de Nunes e União Federal. Apdos.: Os
indenização pelo dano estético sofri- mesmos.
do, importância que, módica e sim-
bolicamente, fixou, desde então, em
valor equivalente a 20 (vinte) Decisão: A Turma, por unanimida-
ORTNs vigentes à época do paga- de, negou provimento a todos os re-
mento»; cursos. (Em 12-4-83 -1~ Turma).
Os Srs. Ministros Lauro Leitão e
Ambos os recursos censuram espe- Otto Rocha votaram com o Relator.
cialmente este passo da sentença, a Presidiu o julgamento o Sr. Ministro
ré porque entende não provado o da- Lauro Leitão.
TFR - 100 141

APELAÇAO C1VEL N? 74.388 - SP


Relator: O Sr. Ministro Sebastião Alves dos Reis
Apelantes: Homero Severo Lins e cônjuge
Apelada: Cia. Energética de São Paulo - CESP
EMENTA
Administrativo - Desapropriatória indireta -
Composição amigável prévia.
Como se vê das cláusulas apontadas, a ressalva
expressa quanto à dimensão da área dada como re-
servada, o que é repetido na transcrição processada
no registro imobiliário, autoriza concluir-se que no
preço convencionado não se incluiu a área cogitada,
o que, aliás, não é negado pela ré.
Dita ressalva tem efeito meramente enunciativo,
e não o de dispor de direitos relativos à mesma; a
transação, de interpretação restritiva, in casu só
atinge a área efetivamente vencida e contrapresta-
cionada, não alcançando a área reservada, medida
na linha de orientação hoje vitoriosa neste Tribunal.
Anulada a sentença de primeiro grau,' para que
se processe a prova pericial, decidindo, por fim, o
MM. Juiz como entender de direito.
Deu-se provimento ao recurso voluntário.
ACORDA0 lher ajuizam a presente ação de in-
denização, a título de desapropria-
Vistos e relatados os autos em que ção indireta, contra a Companhia
são partes as acima indicadas: Energética de São Paulo -..:. CESP, na
Decide a 5': Turma do Tribunal Fe- qual pretende seja a ré condenada a
deral de Recursos, por unanimidade, pagar-lhe a reparação decorrente do
dar provimento ao recurso para anu- apossamento pela ré da área de
lar o processo a partir da sentença 233,12ha, de propriedade dos supli-
e determinar o prosseguimento da cantes, mais juros compensatórios e
ação até seus termos fÍnais, na for- de mora, correção e demais comina-
ma do relatório e notas taquigráficas ções de direito.
constantes dos autos que ficam fa-
zendo parte integrante do presente Consoante o historiado e susten-
jugado. tado na inicial, antes da ocupação
das terras necessárias à formação
Custas como de lei. da Bacia de Acumulação da Usina
Brasília, 12 de maio de 1982 - Mi- Hidroelétrica de Capivara, autores e
nistro Moacir Catunda, Presidente - ré acertaram a compra e venda de
Ministro Sebastião Alves dos Reis, lote de terras, através de escritura
Relator. pública; ora especificada, em que se
RELATORIO descreveu a área de 1.112,36ha, si-
tuada na Fazenda de Santa Isabel,
O Sr. Ministro Sebastião Alves dos antiga Anhumas e Barra do Capivari,
Reis: Homero Severo Lins e sua mu· no Município de Maracaí, de proprie-
142 TFR - 100

dade dos suplicantes, adquirido, em compreendida a área indicada, deli-


maior p'orção, pela transcrição ora mitada entre a faixa de 15 metros, a
referida, do 2? CRI de Paraguaçu partir da margem histórica e as ter-
Paulista; ocorre, no entanto, que a ras vendidas pelos. suplicantes à su-
transação com a suplicada não abar- plicada.
cou a área de 242,30ha, encravada Respondeu a ré às fls. 24/41, opon-
nas linhas delimitadoras da área do sua ilegitimidade passiva ad
maior de 1.112,36ha, aludida, tanto causam, porquanto a área cuja inde-
assim que a requerida não pagou o nização pretendem os autores per-
preço respectivo, ao fundamento de tence à União, sendo a suplicada me-
tratar-se de terreno reservado, de ra detentora e, assim, requer a cita-
propriedade de União e fora do co- ção desta, para que venha assumir
mércio; não havendo os demandan- sua defesa; outrossim, a ação pró-
tes vendido a mencionada área, pria, in casu seria a de anulação da
constante do seu título dominial, escritura respectiva; no mérito, sus-
mesmo porque não foi fixado o preço tenta a legalidade do seu levanta-
correspondente, nem esse lhe foi pa- mento, da área em causa a sua ho-
go, fazem jus ao ressarcimento da mologação pelo DAEE, a exclusão
área indevidamente tida como reser- dela, no decreto expropriatório, a
vada e indevidamente ocupada, a es- sua aceitação expressá pelos autores
se título, pela ré, pois não se pode fa- na escritura respectiva.
lar em área reservada da União, na
extensão fixada unilateralmente pela A r. sentença de fls. 125/7, da la-
demandada, tendo ocorrido, in casu, vra do culto magistrado Dr. Clóvis
a figura do desapossamento adminis- de Melo, desacolheu a preliminar de
trativo, invocando, ao propósito, en- ilegitimidade ad causam, mas rece-
sinamento de Eurico Sodré (A Desa- beu a de carênca de ação.
propriação, n? 215, pág. 95 e n? 217); Apela a vencida e com a resposta
na espécie, a ilicitude decorreu da da apelada, neste Tribunal, dispen-
ilegalidade que presidiu à demar- sei parecer da ilustrada Subprocura-
cação unilateral processada pela doria Geral da República.
CESP, com excessiva e exorbitante É o relatório, sem revisão.
área reservada apurada, e, assim,
quer a título de indenização por de- VOTO
sapossamento aaministrativo, que à
conta de indenização emergente do O Sr. Ministro Sebastião Alves dos
direito de propriedade, têm os auto- Reis (Relator): A r. sentença recor-
res legitimidade, para a presente rida, ao acolher a argüição de carên-
ação de ressarcimento; a área, tida cia de ação, fê-lo sob essas conside-
pela ré como reservada, não apre- rações:
senta a dimensão que lhe foi dada e «Efetivamente, os autores firma-
destoa do critério demarcatório que ram a escritura pÚblica de venda e
vem sendo adotado neste Tribunal; o compra que se vê às fls. 10/12, de-
título dominial dos suplicantes, devi- clarando expressamente que o
damente transcrito no registro pró- imóvel objeto da venda abrange
prio, sempre fez referência ao rio uma área de 1.112,36ha dos quais
Paranapanema, como limite extre- 242,30ha são constituídos de área re-
mo de súa propriedade, abrangendo servada de propriedade da União.
transcrições de mais de 20 anos; a
justa indenização deverá ser fixada, Não há qualquer dúvida quanto
ao preço contemporâneo da avalia- ao fato de que o ato jurídico con-
ção a ser processada nesta ação, substanciado no contrato público
TFR - 100 143

de compra e venda, lavrado em 6- da área dita reservada, sem embar-


9-1974, abrangeu uma área de ter- go da ampla controvérsia que a ma-
ras com 1.112,36 hectares, consoli- téria enseja, a jurisprudência desta
dando o termo de compromisso por Corte vem-se orientando no sentido
instrumento particular lavrado de que a delimitação da área reser-
nesta Capital a 15-8-1974. vada é definitiva, em cada caso con-
Estamos frente a um ato jurídico creto, pela perícia judicial e não por
perfeito e acabado, contra o qual levantamento unilateral da expro-
não se alega qualquer vício, salvo priante e que a área em apreço deve
um discutível erro de direito. ser medida de modo a abranger os
terrenos ribeirinhos, numa faixa de
Acontece, porém, que tal even- 15m de largura, ao longo da mar-
tual erro de direito não pOde ser gem do rio.
percutido na presente ação de In-
denização por Desapropriação In- No caso concreto, a r. sentença de
direta. Não ocorreu o desapossa- primeiro grau deu à espécie um en-
mento administrativo, mas, sim, foque jurídico diferente, centrando
houve a lavratura de uma escritu- suas cogitações no enunciado da es-
ra pública de compra e venda, que critura pública correspondente, fir-
não é objeto da ação. mada pelas partes, concluindo que o
instrumento em causa abrange uma
Os autores na escritura pública área de terras de 1.112,36 ha, na qual
já assinalada venderam à Ré a se compreende a porção de 242,30
área total de 1. 112,36ha, recebendo ha, dada pela própria autora, ali ou-
o respectivo preço e dando à mes- torgante, como reservada e perten-
ma Ré, plena, rasa, geral e irrevo- cente à União, e, assim, não há
gável quitação de pagos e satisfei- falar-se em desapossamento admi-
tos para não mais repetir e desde nistrativo - fundamento do pe-
já cederam e transferiram toda dido - e que éontra o ato jurídico
a posse, jus, domínio, direitos e perfeito e acabado, instrumentado
ações que exerciam sobre o imóvel em escritura pública, não se irroga
vendido, tudo em caráter irretratá- qualquer vício, o que o afasta do de-
vel e irrevogável, respondendo pe- bate, na lide.
la evicção.
Fixados tais pressupostos, posi-
Dita escritura está devidamente cionando-me no debate, devo as-
registrada no Cartório Imobiliário sentar que, no contexto do pedido,
(fI. 51)). inicialmente, se impõe o exame da
Os apelantes em suas razões, legitimidade do. título de ocupação
renovam as suas alegações anterio- da ré, quanto à área de 242,30ha ora
res, insistindo na tese .central de que enfocada, vale élizer, se a mesma se
a área tida como reservada de operou lícita ou ilicitamente, no todo
242,30ha não foi objeto de compra e ou em parte.
venda, e, se não foi vendida, cabe-
lhes discutir seu direito sobre a mes- Nesse particular, a divergência
ma, com fundamento no direito de posta nos autos tem sede na cláusula
propriedade, assegurado constitucio- pertinente de escritura de composi-
nalmente, é que a transação só en- ção amigável, celebrada entre as
volveu a área tida como não reser- partes, de que se extrai (fI. 10v):
vada e que a transação não compor- «E, perante essas mesmas teste-
ta interpretação ampliativa. munhas, pelos outorgantes me foi
Encaminhando o debate, inicial- dito, a justo título são senhores e
mente, é de assentar-se que no con- legítimos possuidores inteiramente
texto expropriatório, no particular livre e desembaraçada de todas e
144 TFR - 100

quaisquer dúvidas, encargos, dívi- 157.913,00 (cento e cinqüenta e sete


das, mesmos fiscais e de quaisquer mil, novecentos e treze cruzeiros) a
ônus, inclusive bipotecas legais ou título de melhorias das terras, cujo
convencionais, bem como de ações pagamento é feito da seguinte for-
reais e pessoais, com posse mansa, ma: Cr$ 1.150.207,00 pelo cheque n?
pacífica e continuada há mais de 013299, visado contra o Banco do Es-
vinte (20) anos, de uma área rural tado de São Paulo, e o restante pelas
de terras, com 1.112,36ha, de terra, cinco notas promissórias sob n?s
denominada Fazenda Santa Isabel, 441,442,443,444,445/74, vencíveis a 3-
antiga Anhumas e Barra do Capi- 10; 3-11, 3-12-74; 3-1 e 3-2-75, no valor
vari, situada no distrito e Mu- de Cr$ 1.130.000,00 cada, tudo emi-
nicípio de Maracaí, neste Estado, tido pela compradora em nome do
havida em maior porção, pela devedor, e de cuja importância
transcrição de n? 12.920, fl. 15, li- os outorgantes - vendedores dão
vro 3M, do Segundo Cartório de à outorgada - compradora ple-
Registro de Imóveis da Comarca na, raza, geral e irrevogável qui-
de Paraguaçu Paulista, deste Esta- tação de pagos e satisfeitos para
do, e que assim se descreve, carac- não mais repetir e desde já ce-
teriza e confronta: CAP-PD-246, dem e transferem, como cedido e
com 1.112,36ha, dos quais 242,30ha transferido tem à mesma outorgada,
são constituídos de área reservada toda a posse, jus, domínio, direitos e
de propriedade da União». ações que tinham e exerciam sobre o
imóvel ora vendido, para que dele a
mesma compradora use, goze e dis-
«Área: O perímetro descrito englo- ponha livremente como seu, que fica
ba a área de l1.123,600m 2 ou sendo por força desta escritura,
1. 112,36ha, dos quais 2.423,000m 2 ou obrigando-se os vendedores por si,
242,30ha são constituídos de área por seus herdeiros e sucessores a fa-
reservada da União. Que sendo a zer esta venda sempre boa, firme e
a área supra descrita necessária valiosa, em caráter irretratável e ir-
à formação da Bacia de Acumu- revogável, respondendo pela evicção
lação da Usina Hodroelétrica de de direito, quando chamados à auto-
Capivara, cuja execução está a ria». (fI. l1/v).
cargo da outorgada compradora, Como se induz das cláusulas repro-
eles, contratantes, decidiram- duzidas, a ressalva expressa quanto
se compor pela presente escritura e à dimensão da área dada como re-
na melhor forma de direito, fazendo- servada, o que é repetido na tanscri-
se mediante as cláusulas e condições ção processada no registro imobiliá-
seguintes: I?) O preço total, certo e rio (fl. 51), autoriza concluir-se que
de comum acordo ajustado para a no preço convencionado não se in-
presente venda é de Cr$ 6.800.207,00 cluiu a área cogitada, o que, aliás,
(seis milhões, oitocentos mil e du- não é negado pela ré.
zentos e sete cruzeiros) que com-
preende Cr$ 5.459.090,00 (cinco mi- Por outro lado, não há dúvida d~
que, na linha de orientação deste
lhões, quatrocentos e Cinqüenta e no- Tribunal, nos casos em litígio a por-
ve mil e noventa cruzeiros), pelo ter- ção de terras
reno, Cr$ 701.433,00 (setecentos e um indica, não seria discutida, ao que tudo
mil, quatrocentos e trinta e três vada, inteiramente reser-
cruzeiros) pelas culturas e Cr$ ricial. na dependência de fixação pe-
481. 771,00 (quatrocentos e oitenta e
um mil, setecentos e setenta e um Ocorre, todavia, que a jurispru-
cruzeiros) pelas benfeitorias e Cr$ dência deste Tribunal no sentido in-
TFR - 100 145

dicado, ao, desconsiderar o levanta- quitação dada no instrumento públi-


mento unilateral promovido pelo ex- co só opera quanto à área efetiva-
propriante; foi construída sobre as mente transacionada mediante paga-
impugnações em Juízo suscitadas mento, de preço.
pelo proprietário contra tal critério,
o que não exclui, a meu juízo, a com- Ã luz das premissas assentadas, é
posição amigável, no particular, re- de concluir-se que a área enunciada
sidindo aqui, a meu ver, o fulcro da no instrumento de fI. 10 como reser-
controvérsia. vada só o é parcialmente, em face
do critério adotado por esta Corte,
Nesse ponto, sustenta a ré que a ao propósito.
menção da área reservada, na escri-
tura de fI. 10, representa adesão dos Nessa ordem de considerações, a
proprietários ao levantamento unila- ré, ao ocupar a porção de terra que
teral por ela processado, no que é excede a área qualificável como re-
contrariado pelos autores, ao negar servada, fê-lo ilicitamente, configu-
tal alcance e que a quitação plena rando-se, assim, apossamento admi-
dada pertine somente à área efetiva- nistrativo, sem o devido procedimen-
mente vendida. to legal, ou desapossamento dos au-
tores, sem título jurídi.co, para tanto.
Meditei muito sobre a hipótese dos
autos e ponderei, de um lado, os da- Nesse contexto, os autores têm di-
nos emergentes para os autores, se reito ao ressarcimento pretendido,
afastada a orientação vitoriosa neste não excluído pela escritura de fI. 10,
Tribunal, e, de outro, o conjunto das valor a ser apurado pericialmente,
disposições de vontade constantes da pelo que anulo ar. sentença retro
escritura pública de fI. 10 e a conclu- para que se processe a prova peri-
são que me restou dessa reflexão é a cial própria, presseguindo-se na ins-
de que a ressalva da área reservada trução, decidindo o MM. Juízo, por
tem efeito meramente enunciativo, fim, como entender de direito.
quanto à exclusão da mesma, da ven-
da respectiva ou de preço correspon- Dou provimento ao recurso dos au-
dente, e não o de dispor de direitos tores, nos termos enunciados.
relativos à mesma, poiS estamos
diante de uma transação que de- EXTRATO DA ATA
ve ser interpretada restritivamente
art. 1.027 do C. Civil), assim como AC 74.388-SP -ReI.: Min. Sebas-
a renúncia de direitos, sobretudo, tião Alves dos Reis. Aptes.: Homero
quando de valor patrimónial signifi- Severo Lins e cônjuge. Apda.: Cia.
cativo; ou em outras palavras, a Energética de São Paulo - CESP.
transação que pode versar sobre
mais de um direito contestado (pará- Decisão: A Turma, por unanimida-
grafo único do art. 1.026 do C. Civil) de, deu provimento ao recurso, para
in casu só atinge a área efetivamen- anular o processo, a partir da sen-
te vendida e contraprestacionada, tença e determinar o prosseguimen-
não alcançando a área dita reserva- to da ação até seus termQs finais. (5~
da. Turma - Julgado em 12-5-82).
Em síntese: aqUi, não há falar-se Votaram com o Relator os Srs. Mi-
em adesão dos autores ao levan- nistros Pedro Acioli e Moacir Catun-
tamento unilateral do expropriante, da.
por falta de cláusula expressa a esse
respeito, que é de exigir-se, por im- Presidiu o julgamento o Sr. Minis-
portar em renúncia de direito, e a tro Moacir Catunda.
146 TFR - 100

APELAÇAO C1VEL N? 74.972 - CE


Relator: O Sr. Ministro José Dantas
Apelante: Indústria de Pesca do Ceará S.A. - IPECEA
Apelado: Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assis-
tência Social/Banco Nacional da Habitação
EMENTA
Previdenciário. FGTS.
- Pescadores remunerados por parte ou qui-
nhão. Relação empregatícia detectada à luz da dou-
trina e da jurisprudência, concebidas sobre que tal
ajuste é de natureza salarial e não constitui parceria
marítima.
ACORDA0 ma associativo da participação nos
lucros ou prejuízos da Viagem
Vistos e relatados os autos em que marítima.
são partes as acima indicadas:
Decide a 6? Turma do Tribunal Fe- Entretanto, a sentença do Juiz Fe-
deral de Recursos, por unanimidade, deral Orlando de Souza acolheu a
negar provimento à apelação, na for- contestação e julgou improcedente a
ma do relatório e notas taquigráficas ação, pelo fundamento-mor da natu-
constantes dos autos que ficam fa- reza empregatícia da examinada re-
zendo parte integrante do presente lação de trabalho; seria incrível a
julgado. caracterização de uma sociedade
entre um rico armador e um pobre
Custas como de lei. pescador do litoral nordestino «o
Brasília, 15 de março de 1982 (data qual tem de seu apenas a vida e a
do julgamento) - Ministro José Fer- fé»; tanto mais porque, segundo
nandes Dantas, Presidente e Rela- Sampaio de Lacerda, a parceria
tor. marítima só se realiza entre co-
proprietários ou compartes de um
navio (Direito Marítimo, vol. I/111)
RELATORIO e segundo acórdão deste Tribunal, o
trabalhador do mar, remunerado por
partes, não é autônomo, carac-
O Sr. Ministro José Dantas: Trata- terizando-se o emprego pela subordi-
se de anulatória de débito relativo ao nação jurídica - fls. 109/112.
FGTS, fundada em que seriam inde-
vidas as prestações exigidas corres- A apelante insiste em escusar-se
pondentemente aos pescadores inte- ao discutido vínculo empregatício,
grantes das tripulações das embar- escudando-se num pronunciamento
caçôes pesqueiras. Com ditos obrei- do próprio Conselho Curador do
ros a autora não manteria relação FGTS, em resposta à consulta do
de emprego, senão que verdadeiro Sindicato dos Armadores de Pesca
contrato de parceria ou de «parte ou do Rio de Janeiro, e assim como no
quinhão» como admitido no Regula- acórdão da 3? Turma do TRT da 1~
mento para o Tráfego Marítimo (De- Região; nega adequação àquele pre-
creto n? 5.798/40, art. 413, e e art. cedente da 5~ Turma, deste Tribu-
428) e disciplinado a modo do siste- nal, sobre contribUições previdenciá-
TFR - 100 147

rias e não sobre depósitos do FGTS, da atividade pesqueira, hão de ser


e nesse ponto conclui que então seria explicadas pelo fim maior da prote-
o caso de, também para o FGTS, ção devida ao trabalhador. Por isso
recorrer-se ao salário-de-contri- que, para as distinções cabíveis, in-
buição estipulado na ODS n? SAF teressa ao chamado contrato de
299-50-72, e não ao valor das «par- «parte ou quinhão» a verificação de
tes» que couberam aos pescado- sua alegada equivalência à parceria,
res-tripulantes. Ler-se a fI. 117. associação que, no caso, se concei-
Sem contra-razões, a apelação tra- tuaria como empreendimento econõ-
mitou na forma do RI, arts. 33, IX e mico por natureza, em vista dos re-
63, § 2? sultados a partilhar - tanto os lu-
Relatei. cros, como os prejuízos.
Afirme-se, pois, desde logo, que a
VOTO solidariedade nos riscos de tal em-
presa implica, certamente, uma ne-
O Sr. Ministro José Dantas (Rela- cessária idoneidade dos parceiros,
tor): Senhores Ministros, vê-se que a ponderável a nível dos õnus a supor-
tar, já como requer o desempenho
contravérsia reside em saber-se da igualitário das partes, no plano da
relação empregatícia dos tripulantes autonomia das ações, desenvolvidas
de embarcações pesqueiras, cuja re- à distância de qualquer subordina-
muneração foge às pagas comuns, ção de um parceiro ao outro.
para manter-se sujeita ao sistema de
«parte ou quinhão», ajuste muito en- Identificados esses pontos marcan-
contradiço na contratação dos traba- tes da parceria, configurativos, em
lhos marítimos (art. 413 do Decreto linhas gerais, da relação entre o par-
n? 5.798/40 - Regulamento para o ceiro industrial e o parceiro proprie-
Tráfego Marítimo); mesmo porque, tário do bem a explorar, parece con-
no concernente aos serviços a bordo vincente a doutrina construída sobre
de embarcações pesqueiras, a mais que a parceria marítima seria
recente disciplina estabelecida pelo própria, exclusivamente, dos co-
Decreto n? 64.618/69, art. 12, remete proprietários e armadores, a estilo
àquele vetusto regulamento os con- da denominada «sociedade de na-
tratos de trabalho e o sistema de pa- vios»; tal contrato não condiz iria
gamento do pessoal, ao lado das nor- com a simples convenção laboral de
mas respectivas da CLT e da legisla- paga «por parte ou quinhão», tam-
ção subseqüente. bém chamada de «navegação a par-
tes».
Há pois que se conciliar a indicada
duplicidade de regência legal, apro- Na verdade, o focalizado ajuste da
ximando as normas de aparente in- equipagem, máxime quando se trate
compatibilidade, para conjugá-las e de barcos pesqueiros, desinforma-se,
aplicá-las na consonãncia dos fins às claras, das conotações associati-
sociais a que necessariamente se vas inerentes à parceria. Constitui,
propõem, segundo o processo reco- decerto, verdadeiro contrato de tra-
mendado ao juiz pelo art. 5? da Lei balho, conforme o respeitável ma-
de Introdução - CC. gistério de J.C. Sampaio de Lacerda
A guiar-se por tão excelente - louvado em Riper, Lyon e Re-
exercício de hermenêutica jurídica, nauld (Dir. Marítimo, Vol. I/l11) e o
parta-se de que, quer a disciplina do de Amaro Barreto (Tutela Especial
Regulamento do Tráfego Marítimo, do Trabalho, Vol. I/120).
como a da CLT, nos pontos que se Daí a ratificação dessa doutrina
prestem aos contratos de trabalho pelos padrões jurisprudenciais cola-
148 TFR - 100

cionados, oriundos da Justiça Traba- alimentação durante a viagem;


lhista e posicionados no bem-dizer de que não decide quanto ao início e
que o marítimo contratado a modo ao término desta, não é autônomo.
de «quota-parte ou quinhão» é tare- Caracteriza-se o emprego pela
feiro do mar, da maneira como esse subordinação jurídica.
ajuste é usual no trabalho marítimo,
desde tempos imemoriais, sem que, Contribuições previdenciárias
no entanto, o pacto laboratício fir- devidas pela empresa» - AC
mado com humildes pescadores ve- 34.998-CE, Rel. Min. Romildo Bue-
nha a se transformar em contrato de no, 13-10-80.
sociedade ou parceria marítima - Tais asseverações não perdem for-
TRT - 1~ Reg. 945/76, LTR/1976, ça na sua transposição para o ãmbi-
pág. 40/1038; e TRT - 4~ Reg., to do FGTS, no qual, do mesmo mo-
LTR/1975, pág. 39/1055. do que na área previdenciária, o que
Com ouvidos para tão prestigiosos cabe pesquisar-se é o vínculo empre-
escólios, anote-se que este Tribunal, gatício.
também, já se manifestou pela vin- Portanto, sem embargo das opi-
culação empregatícia, ínsita na dis- niões discordantes, fico em que, à
cutida forma de remuneração labo- luz da doutrina e da jurisprudência
ral. trazidas à colação, sobradas razões
aconselham a interpretação esposa-
Deveras, até onde pude verificar, da pela sentença. A sua exegese tem
fê-lo pela primeira vez a antiga 2~ vistas para os fins sociais da prote-
Turma, na proposição de que, no tra- ção ao trabalho, a exemplO do que,
balho avulso, ligado às atividades da no campo da navegação pesqueira,
pesca e caracterizado pela remune- foi explicitado no Decreto-Lei n?
ração «por parte», não é incom- 221/67, art. 25, ao remeter à legisla-
patível com o sistema legal da Pre- ção específica o dever de o armador
vidência Social a Tabela de Estima- filiar a tripulação à Previdência So-
tiva de Salários aprovada pela cial; fins a cujo propósito também
Orientação de Serviço n? SAF-299- merece referência o suporte legal da
50/72, do INPS; mas que dita estima- contribuição para o FGTS, a qual se
tiva cede ante a prova de maior dispensa a maiores indagações do
salário-de-contribuição, fornecida que a da realidade do vínculo empre-
pelas empresas a que o contribuinte gatício - como se demonstra pre-
tenha prestado serviços - AC 42.814- sente no sui generis ajuste salarial
SP, Rel.. Min. Justino Ribeiro, 24-8- por «parte ou quinhão».
79. De igual subordinação empre-
gatícia tratou, mais recentemente, a Doutra parte, quanto ao apelo ad
Egrégia 4~ Turma, para explicita- argumentandum de que, se devidos
ções desta ordem: fossem, os discutidos depósitos do
FGTS deveriam ter por base de cál-
«Ementa: Previdenciário. culo apenas os salários-de-
Prestação de Serviço mediante contribuição estimados para fins
emprego. Pescadores remunera- previdenciários pela ODS n? SAF
dos por partes. Contribuição de- 299-50/72, veja-se que disso não tem
vida pela empresa pesqueira. o que se queixar a apelante. De fato,
a peça trasladada à fl. 88 - Relató-
O trabalhador do mar que não rio Fiscal - consigna que o levanta-
possui barco ou canoa, nem petre- mento da dívida se deu de acordo
chos de pesca; que é admitido em com a mencionada Orientação de
barco de empresa, desta recebendo Serviço.
TFR - 100 149

Finalmente, é de anotar-se que, se Daí que nego provimento à apela-


acaso pudesse a apelante favorecer- ção.
se de consulta respondida pelo Con-
selho Curador do FGTS a terceiro - EXTRATO DA MINUTA
o Sindicato dos Armadores de Pesca
do Rio de Janeiro (fI. 26) - ou AC 74.972-CE - ReI.: O Sr. Min.
beneficiar-se de parecer normativo José Dantas. Apte.: IPECEA. Apdo.:
emitido por órgãos do Imposto de IAPAS/BNH.
Renda (fI. 291) a tais padrões não se Decisão: A Turma, por unanimida-
obrigaria o Judiciário, em tema do de, negou provimento à apelação.
provocado juízo anulatório do lança- (Em 15-3-82 - 6~ Turma).
mento em tela.
Participaram do julgamento os
Concluindo, penso que a sentença Srs. Mins. Wilson Gonçalves e Mi-
não reclama reparos, impondo-se a guel Ferrante. Presidiu o julgamen-
teor de sua fundamentação própria. to o Sr. Min. José Dantas.

APELAÇÃO C1VEL N? 74.987 - PR


Relator: O Sr. Ministro José Cândido
Remetente: Juízo Federal da 2~ Vara - PR
Apelante: União Federal
Apelado: Dorico Anjos de Lima
EMENTA
Responsabilidade Civil. Dano produzido por ex-
plosão de granada perdida em campo de prova mili-
tar.
E indiscutível a responsabilidade civil da União
Federal pelo dano sofrido pelo postulante que, inad-
vertidamente, puxou o gancho de segurança de uma
granada que encontrou em campo de prova militar,
fazendo-a explodir.
Não há como se pretender dividir a culpa do aci-
dente com a vítima, trabalhador rural, sem qual-
quer experiência, quando o certo é que aos responsá-
veis pelos exercícios militares competia o máximo
cuidado para evitar acidentes dessa natureza.
Sentença confirmada.
ACORDÃO -ofício, na forma do relatório e notas
Vistos e relatados os autos, em que taquigráficas constantes dos autos
são partes as acima indicadas: que ficam fazendo parte integrante
do presente julgado.
Decide a 2~ Turma do Tribunal Fe-
deral de Recursos, por unanimidade, Custas como de lei.
negar provimento ao recurso da Brasília, 7 de dezembro de 1982
União Federal, para confirmar a (data do julgamento) - Ministro
sentença que julgou procedente a Evandro Gueiros Leite, (Presidente)
ação, prejudicada a remessa de - Ministro José Cândido, (Relator).
150 TFR - 100

RELATORIO à., nas mesmas bases utilizadas na


fixação da pensão mensal instituída
o Sr. Ministro José Cândido: pela Lei n? 6.761/79, desde a data do
Trata-se de açâo ordinária movida evento denunciado nos autos, 3-12-71,
por Dorico Anjos de Lima contra a até o advento daquele diploma le-
União Federal. gal, que outorgou o benefício ex-
Relata o a. haver sofrido a perda traordinário, acrescido dos juros de
da sua mão esquerda, em conse- mora legais e da correção monetá-
qüência da explosão de uma grana- ria aplicável, na forma da legislação
da, em 3-12-71, a qual fora deixada, em vigor. Condenada, ainda, a ré ao
por evidente descuido, por ocasião pagamento da verba honoráriã de
das manobras militares realizadas 10% sobre o valor da condenação.
pelo Centro de Preparação de Ofi- Sentença sujeita ao duplo grau de
ciais da Reserva (CPOR) de Curiti- jurisdição.
ba, na região. Apelando, a União Federal (fls.
Alega, também, que após o aci- 116/118), renova a argüição de pres-
dente requereu em data' de 1-5-75 crição, sustentando que para ter
amparo do Estado, culminando na efeito interruptivo a reclamação ad-
concessão de pensão especial vi- ministrativa deve ocorrer dentro de
talícia equivalente a dois salários 1 ano do fato (art. 6?, do Decreto n?
mínimos, através da Lei n? 6.761/79. 20.910/32). E isso não ocorreu. Perti-
Essa lei, específica em seu favor, nente ao mérito, alega a concorrên-
dispõe no art. 4? que o benefício vi- cia de culpa da vítima na causação
goraria a partir de sua publicação, do evento.
isto é, 19-12-79, sem mencionar os Contra-razões às fls. 119/121.
anos antecedentes.
Nesta instância a d. Subprocurado-
Em decorrência, pleiteia, o a. o ria Geral da República opinou pelo
pagamento da mesma pensão que provimento do apelo.
lhe foi concedida em caráter espe-
cial nos moldes da Lei n? 6.761/79, E: o relatório.
durante os oito anos que medeiam
entre o evento danoso (3-12-71) e a VOTO
publicação da referida lei concessiva
da pensão 07-12-79), tudo acrescido O Sr. Ministro José Cândido. (Re-
de juros, correção monetária e de- lator): Inconformada, a União Fede-
mais cominações legais. ral insiste na preliminar de prescri-
Devidamente citada, a União Fe- ção do direito do a. No mérito, en-
deral contestou às fls. 78/83, alegan- tende que não cabe ao Estado «a res-
do, preliminarmente, a prescrição ponsabilidade total pela ocorrência»
do direito do a. consoante prevê o (fls. 118), porque teria havido culpa
Decreto n? 20.910/32, em seu art. I?, concorrente por parte da vítima. As-
além dos preceitos contidos no art. sinala que «a indenização que lhe ca-
178, § I?, incisos I e VI, do Código beria já está atendida, com a con-
Civil. No mérito, entende inocorrente cessão de pensão especial» (fls. 118)
a responsabilidade da União, eis que que já lhe foi reconhecida.
a vítima concorreu para o evento. Não tem razão a apelante quanto à
O MM. Juiz Federal da 2~ Vara, preliminar. Ocorrendo o acidente,
Dr. Heraldo Vidal Correia, senten- em 3-12-71, já em 1972, instaurava-se
ciando às fls. 113/115, julgou proce- o IPM n? 120/72, através do qual se
dente a ação, condenando a União ao haveria de chegar ao direito à pen-
pagamento da indenização devida ao são especial, em favor do postulante,
TFR - 100 151

e em quantia correspondente a dois Em face disso, admito a responsa-


salários mínimos (Lei n? 6.761, de 17- bilidade exclusiva da União Federal,
12-79l. por ato dos seus prepostos. Não seria
Evidente que esse inquérito inter- justo, já iniciada a reparação do da-
rompeu a prescrição, tal como reco- no através das prestações mensais
nheceu a r. sentença, no que vale ser que se iniciaram em 17-12-79, ficasse
confirmada. Também pelas alega- a vítima sem qualquer auxílio no
ções do apelado não teria ocorrido a período anterior.
perda de seu direito.
Por isso, rejeito a preliminar. Com essas razões, nego provimen-
to à apelação. Mantenho a r. senten-
No mérito, não é outra a sorte da ça.
União FederaL O fato de haver sido
abandonada, no campo de prova mi- E o meu voto.
litar, uma granada, já, por si só, re-
vela a culpa dos responsáveis pelas EXTRATO DA MINUTA
manobras realizadas pelo Centro de
Preparação de Oficiais da Reserva
(CPOR), em Curitiba.
AC 74.987-PR - ReI.: Sr. Min. José
Para rp.im, a circunstância de ha- Cândido. Remte.: Juízo Federal da
ver a vítima feito explodir a granada 2~ Vara. Apte.: União Federal. Ap-
não pode ser tomado como negligen- do.: Dorico Anjos de Lima.
te, e com força capaz de eliminar a
culpa da União, ou de identificar a Decisão: A Turma, por unanimida-
sua culpa concorrente. de, negou provimento ao recurso da
Aceito, no particular, as razões da União Federal, para confirmar a
sentença. Não vejo nenhuma impru- sentença que julgou procedente a
dência no ato da vítima, desde quan- ação, prejudicada a remessa de
do se há de entender que em se tra- ofício. (Em 7-12-82 - 2~ Turma).
tando de explosivo, com alta capaci-
dade ofensiva, toda precaução teria Os Srs. Mins. Jesus Costa Lima e
que ser tomada pelo Exército, sobre- Evandro Gueiros Leite votaram com
tudo quando realizava prova em lo- o Sr. Min. Relator. Presidiu o jUlga-
cal de fácil e permanente acesso ao mento o Sr. Min. Evandro Gueiros
público. LEiite.

APELAÇAO CtVEL N? 75.123 - SP


Relator: O Sr. Ministro Bueno de Souza
Apelante: Serviços Gerais Petrex S/C Ltda.
Apelado: Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assis-
tência Social - lAPAS.
EMENTA
Processual Civil, Previdenclario e Adminis-
trativo-fiscal.
Execução fiscal. Crédito por contribuições previ-
denciárias.
152 TFR - 100

Embargos do executado: requisitos legais es-


pecíficos da respectiva inicial; inconvenientes de sua
inobservância.
Natureza jurídica das contribuições previdenciá-
rias: ressalva do entendimento pessoal do Relator, a
excluir a possibilidade de decadência, sem embar-
gos da Súmula 108 do TFR.
Decadência que, de qualquer modo, se afasta, na
conformidade da orientaçâo jurisprudencial predo-
minante: levantamento e notificação do crédito ao
contribuinte: equivalência a lançamento.
Precedentes deste Tribunal e do Supremo Tribu-
nal Federal.
Prescrição: inocorrência, nem mesmo à luz do
art. 174 do CTN (que o Relator, aliás, teve por ina-
plicável ao caso).
Nulidade da certidão de inscrição de dívida. Ar-
güição rejeitada: desde que o levantamento do débi-
to instrui a certidão e nele são indicados os funda-
mentos legais e critérios observados para o cálculo
dos acessórios, não há objetar com deficiência for-
mal do título executivo.
Redução, por eqüidade, do valor da multa mora-
tória. Impossibilidade, por se achar prefixada em
normas de caráter genérico a proporcionalidade, . de
resto observada pelo fisco no caso concreto.
Precedentes.
Limitação dos acréscimos a 30% do principal.
Pretensão improcedente: inaplicabilidade do art. 16
da Lei n? 4.862/65 ao crédíto por contribuições previ-
denciárias; revogação do preceito, ademais, pelos
arts. I? e 2? da Lei n? 5.421/68.
Precedentes.
ACORDÃO RELATORIO
Vistos e relatados os autos em que O Sr. Ministro Bueno de Souza:
são partes as acima indicadas: Serviços Gerais Petrex S/C Ltda.
Decide a 4~ Turma do Tribunal Fe- opôs embargos à execução fiscal que
deral de Recursos, por unanimidade, lhe move o INPS por falta de reco-
negar provimento à apelação, na for- lhimento de contribuições, juros,
ma do relatório e notas taquigráficas multa, correção monetária e seguro
constantes dos autos que ficam fa- acidentário, no valor total de Cr$
zendo parte integrante do presente 57:773,72.
julgado.
Em preliminar, alegou prescrição,
Custas como de lei. «pois o fato gerador é de 1968, con-
Brasília, 13 de outubro de 1982 forme se lê na certidão de inscrição
(data do julgamento). - Ministro da dívida que instrui a inicial; e a ci-
Armando Rollemberg, Presidente - tação só se deu em 1977, decorrido,
Ministro Bueno de Souza, Relator. portanto, lapso superior a cinco
TFR - 100 153

anos» ... (fls. 1/3). Invocou em seu inscrito na presunção de liquidez e


prol o art. 174 do CTN. certeza, que, por ser relativa, pode
Ademais, impugnou a certidão por ser elidida por prova robusta a
omissão de referência à base legal cargo do interessado. Assim, para
da exigência; qualificou de excessiva atacar tal presunção, necessária
a multa moratória, que, a s~u ver, era a prova de que não ocorreu
deve ser reduzida com fundamento qualquer das situações interrupti-
na eqüidade e sustentou ainda a ine- vas da prescrição, o que aqui não
xigibilidade de multa, juros e corre- foi feito. Permanece, pois, intacta
ção monetária de valor superior a a mencionada presunção de liqui-
30% do débito, em face do art. 16 da dez e certeza».
Lei n? 4.357, de 16-7-64. A seguir, considerou que a explici-
Concluiu por pedir a redução da tação das quantias acessórias não
multa a 10%, somente, do principal, compromete a validade da certidão
bem como a limitação dos acrésci- de dívida; entendeu corretamente
mos moratórios a 30% daquele valor. contida a multa nos limites legais e
insuscetível, ademais, de redução
Ao impugnar os embargos, o pelo juiz; e deu como inaplicável à
exeqüente-embargado exaltou a pre- contribuição previdenciária a limita-
sunção de certeza e liquidez que fa- ção fixada pelo art. 16 da Lei n?
vorece o título de dívida, para negar 4.357, de 16-7-74, relativa apenas a
a prescrição. imposto, certo que como tal não se
A sentença do MM. Juiz Federal conceitua a contribuição previden-
da 6~ Vara de São Paulo, Dr. Sebas- ciária, muito embora caracterizada
tião de Oliveira Lima, primeiramen- como tributo.
te afastou a alegação de prescrição. Afinal, julgou improcedentes os
A propósito, expôs (fls. 34/35): embargos e condenou a embargante
«A primeira alegação feita pela a custas e honorários advocatícios
embargante é a de que j á ocorreu de 10% do valor da execução.
a prescrição do crédito ora impug- Apelou a embargante, insistindo
nado. Não se discute mais a natu- em sua pretensão e repudiando o ar-
reza jurídica das chamadas contri- gumento principal da sentença, para
buições prev.idenciárias. Tanto a repelir a preliminar, pois «não cabe
doutrina quanto a moderna juris- a quem alega fato negativo provar a
prudência de nóssos tribunais su- sua não existência» (sic).
periores as entendem como espécie
do gênero tributo e, por isso, sujei- Processou-se regularmente o re-
tas à disciplina do Código Tributá- curso; contra-razoado, subiram os
rio Nacional. A dívida previdenciá- autos.
ria ora exigida, di-lo a certidão de É o relatório, sem revisão.
dívida ativa, é do período de se-
tembro de 1968 a abril de 1970. A VOTO
execução correspondente foi distri-
buída em 24-11-75, o que leva à pre- O Sr. Ministro Bueno de Souza
sunção de que todo o crédito j á foi (Relator): Impõe-se assinalar que os
atingido pela prescrição qüinqüe- embargos do executado constituem
nal. Entretanto, admite o art. 174 demanda de conhecimento (CPC,
do Código Tributário Nacional qua- art. 736) relativamente autônoma
tro modalidades de interrupção da (porque incidente na ação de execu-
prescrição. Por outro lado, face ao ção), destinada a proporcionar sen-
artigo 204 da mesma lei, goza o tença desconstitutiva do título em
crédito tributário regularmente que a execução se baseia.
154 TFR - 100

Eis porque reclamam petição ini- n


cial devidamente instruída (como se
observa em qualquer demanda), o E, sem dúvida, respeitabilíssima a
que esclarece a remissão expressa orientação doutrinária eleita pelo
ao art. 295, contida no art. 739, In do ilustre prolator da sentença apelada,
CPC. ao qualificar como espécie do gênero
tributo a contribuição previdenciá-
Cumpre, por conseguinte, exigir ria, dispensando, aliás, qualquer das
da inicial (e da impugnação dos em- distinções que a própria conceitua-
bargos) todos os requisitos indicados ção legal dessa complexa entidade
em lei para qualqqer inicial (e para evidentemente reclama.
qualquer contestação), além de ou-
tros específicos, éômo a certidão da E bem verdade que a jurisprudên-
citação e da penhora, a certidão do cia tem prestigiado essa orientação.
título extrajudicial exeqüendo etc., Constitui, porém, manifesta' de-
facultando-se o suprimento das defi- masia a afirmação de que «não' mais
ciências em tempo oportuno. se discute a natureza jurídica das
chamadas contribuições previdenciá-
A não se proceder por este modo, rias» (fI. 34).
em caso de recurso o Tribunal não De fato, nesta Corte, tal entendi-
terá elementos, nos próprios autos mento tem prevalecido, muito embo-
de embargos, para o adequado julga- ra por escassa maioria; assim, não
mento da causa, uma vez que a ape- se pode dizer tranqüilO.
lação interposta da sentença que jul-
ga improcedentes embargos à execu- Não é, sem propósito, portanto, re-
ção não se reveste de efeito suspen- cordar, tão-somente a título de
sivo (CPC, art. 520, V). exemplos, entre tantas outras, as
discrepâncias (também respeitáveis,
Bem se vê que, ao receber a apela- por certo) de Amarílio Benjamin
ção no único efeito que a lei lhe con- (AC 45.581 - SP, Segunda Turma,
fere, importa que o Magistrado de- vencido, 16-2-77, DJ de 24-3-77) e de
termine a desapensação dos autos da Márcio Ribeiro (AC 44.174 - SP,
ação de execução, providência sem a Terceira Turma, vencido, 24-3-79, DJ
qual esta não poderá prosseguir, ca- de 26-9-79).
so em que resultará meramente teó- Não se objete tratar-se de diver-
rica a restrição do efeito do recurso, gências definitivamente superadas: o
segundo a lei, tudo se passando, na que a sentença deu por indiscutível,
prática, como se a apelação fosse recentemente a Egrégia Segunda Se-
também suspenSiva da execução. ção desta Corte, pela palavra do Se-
nhor Ministro Pedro Aciolli, Relator,
Veja-se, na linha do que venho a teve como «tormentosa questão do
expor, que, não obstante julgados prazo prescricional das contribui-
improcedentes os presentes embar- ções previdenciárias» (EAC 44.174 -
gos, a execução, de fato, ficou sus- SP, 26-5-81, RTFR 83/57). Nessa oca-
pensa, o que não deveria ter ocorri- sião, votei vencido, solidário com a
do. corrente jurisprudencial que repudia
Ficam nos autos estas observa- o pretendido caráter tributário dessa
ções, voltadas a contribuir para o especialíssima e complexa contribui-
aprimoramento e maior eficiência ção, sustentada entre nós pelos Mi-
da prestação jurisdicional e maior nistros Armando Rollemberg, Moa-
garantia dos direitos das partes. cir Catunda, José Dantas, Justino
Ribeiro, Torreão Braz (entre ou-
Passo, pois, ao exame da causa. tros).
TFR - 100 155

Valho-me do ensejo para transcre- Taxas, por sua vez, as contribui-


ver resumida exposição dos funda- ções previdenciárias não são, por-
mentos da minha opinião sobre o que não há lei que, cogitando de ta-
atualíssimo tema, a qual não se con- xa, institua contraprestação de
cilià com aquela defendida pela sen- serviços e de benefícios garantidos
tença em exame. Disse: pela específica exigibilidade, de
forma concreta, através de ação
«As contribuições previdenciá- judicial. Por isso, sua definição
rias são contraprestações cuj a rea- não se comporta no âmbito do art.
lização gera direito SUbjetivo a be- 77 do Código Tributário.
nefícios previstos em lei e minucio- Acrescente-se que tais contribui-
samente regulamentados em favor ções se destinam a custear servi-
de pessoas perfeitamente indivi- ços e benefícios que se prolongam
duadas. Estes benefícios são tradi- no tempo e não se sujeitam à pre-
.cionalmente prestados (e mesmo visão orçamentária, mesmo por-
contemporaneamente) mediante que não comportam prefixação do
contratos de serviços, feitos com termo final.
entidades de Direito Privado.
Acresce que a dúvida que assal-
Só recentemente o Estado passou tou ilustres intérpretes do Código
a intervir na área dessas relações Tributário, ao ver no seu art. 174
jurídicas e a assumir a responsabi- norma revogadora do art. 144 da
lidade pela prestação desses servi- Lei orgânica da Previdência So-
ços, com o escopo específíco de tu- cial, não se compadece com o ca-
telar interesses de ordem predomi- ráter especial da norma sobre
nantemente social, a refletir a evo- prescrição contida na citada lei or-
lução das idéias predominantes. gânica.
O caráter eminentemente sina- De fato, tínhamos já no Código
lagmático da relação jurídica ma- Civil a norm'a geral de que a pres-
terial em cujo contexto emerge o crição das obrigações pessoais se
débito por contribuições é por de- verifica ao fim de trinta anos.
mais manifesto para admitir as Não era necessário, portanto,
controvérsias tão vivazes que se que a lei orgânica dispusesse sobre
testemunham, ainda hoje, ao se prescrição trintenária do crédito
pretender inculcar a tais contribui- por contribuições. Ela o fez, por
ções a natureza de tributos. conseguinte, para instituir norma
A contraprestação do benefício é especial (se cuidasse apenas de re-
concretamente exigível pelo contri- ferendar norma geral, teríamos o
buinte ou benefiário, sej a por pre- legislador a empregar expressões
tensão direta e imediata, perante a desnecessárias) .
própria autarquia previdenciária, Acresce que as dúvidas que
seja por pretensão indireta e me- emergiram após a promulgação do
diata, através de ação judicial. Código Tributário estão agora
Estas características da contri- afastadas pelo pronunciamento do
buição previdenciária bastam, a legislador, ao dizer que não teve
meu ver (e com a devida vênia das ela o efeito de revogar o art. 144 da
doutas opiniões contrárias) para lei orgânica.
evidenciar que elas não constituem Insisto: a norma do art. 174 do
imposto, instituto que repele, de Código Tributário está ali enxerta-
qualquer modo, todo traço de sina- da por questão de conveniência e
lagmaticidade. . de utilidade; não se trata de norma
156 TFR - 100

geral de direito tributário, senão tiva do crédito tributário), atendida,


de regra versante simplesmente assim, a disposição do art. 174 do
com prescrição, que não constitui CTN.
tema de direito tributário, mas de .E o que recomenda, para a resolu-
disposições genéricas da ordem ção de questões sobre decadência e
jurídica como um todo». (RTFR prescrição em tema de tributos, o v.
83, págs. 87/88), acórdão unãnime da Egrégia Segun-
da Turma do Pretório Excelso, no
UI RE 95.365-MG, em 13-11-81, Relator o
Senhor Ministro Décio Miranda, cuja
ementa explicita (RTJ 100/945):
Como quer que seja, no caso pre- «Tributário. Crédito tributário.
sente, as divergências doutrinárias e Extinção. Decadência e prescri-
jurisprudenciais, ora reavivadas so- ção. O Código Tributário Nacional
mente em razão do relevo da maté- estabelece três fases incon-
ria, não se revelam decisivas, no que fundíveis: a que vai até a notifica-
diz com a preliminar de prescrição ção do lançamento ao sujeito passi-
em boa hora repelida pelo D. Juiz. vo, em que corre prazo de deca-
De fato, mesmo à luz do critério em dência (art. 173, I e II); a que se
que se esforça a apelante, a prescri- estende da notificação do lança-
ção não se evidencia. mento até a solução do processo
Os autos demonstram que o crédi- administrativo, em que não cor-
to objeto da certidão em que se ba- rem nem prazo de decadência,
seia a execução fiscal (fI. 3 dos nem de prescrição, por estar sus-
apensos) tem sua origem mais re- pensa a exigibilidade do crédito
mota no mês de setembro de 1968. E (art. 151, lU); a que começa na da-
a notificação do levantamento do dé- ta da solução final do processo ad-
bito para cobrança (que correspon- ministrativo, quando corre prazo
deria, segundo a orientação predo- de prescrição da ação judicial da
minante, ao lançamento do tributo) Fazenda (art. 174)).
foi emitida em agosto de 1973 (fI. 4 Note-se, aliás, que não é outra a
dos apensos), antes, portanto, de orientação que esta Corte vem há
transcorridos cinco anos, prazo de tempo preconizando relativamente
decadência do direito de lançar o tri- ao crédito tributário (e que o Supre-
buto, sempre segundo a respeitável mo Tribunal, ultimamente, tem se
opinião que não subscrevo, fundada fraga do) , como esclarece o Senhor
no art. 173, I do CTN, vigente j á na Ministro Carlos Mário Velloso, Rela-
época do fato. tor (vencido, embora, na preliminar
Assim se afasta a decadência por mim suscitado), em seu brilhan-
(que, mesmo não tendo sido alegada, te voto (como sempre), no Incidente
não pode, contudo, confundir-se com de Uniformização de Jurisprudência
a prescrição e mereceria declarar- suscitado por S. Exa. na AC 58.664-
se, mesmo de ofício), certo que a SP, na assentada de 24-2-81 da E. Se-
apelante nunca pôs em dúvida o re- gunda Seção, verbis:
cebimento, que aliás se presume, da «Vindo a lume o Código Tributá-
notificação referida. rio Nacional, Lei n? 5.172, de 25-10-
Acresce que a execução se instau- 66, com vigência a partir de I? de
rou em 24-11-75 (fI. 2 dos apensos) janeiro de 1967, que estabeleceu
e, portanto, muito antes de transcor- prazos de extinção dos direitos,
ridos cinco anos a contar da notifica- substantivos ou de ação (CTN, art.
ção (lançamento, constituição defini- 173 e art. 174), fixou-se a doutrina,
TFR - 100 157

de forma praticamente unânime, IV


no sentido de que tais prazos, de
decadência e de prescrição, atin- Em outra ordem de idéias, nem
giam, também, as contribuições mesmo procede, já se vê, a objeção
previdenciárias, tendo em vista a da apelante à exigência de compro-
natureza tributária destas; noutras vação de inocorrência de fato incerto
palavras, o art. 144, da LOPS, «ce- (ou seja, do que os antigos chama-
deu o passo ao CTN, inclusive ram de prova diabólica), em que a
quanto aos sujeitos passivos não sentença ter-se-ia inspirado.
estatais, ante a configuração tribu-
tária das obrigações a que se refe- Na verdade, ao alegar a exceção
re a LOPS» (Rubens Gomes de de prescrição, a apelante (embar-
Souza, ob. cit., RDA 115/101), revo- gante) afirmou fato extintivo do di-
gado, assim pelo CTN, artigos 173 reito do apelado (exeqüente-
e 174, o artigo 144 da LOPS. embargado), direito este que em ne-
nhum momento negou de modo dire-
to. Tem-se, então, que à apelante
Esta sempre foi minha opinião, (enquanto embargante) é que in-
manifestada em votos no Tribunal cumbia o õnus da prova do fato ex-
Federal de Recursos, como, por tintivo por ela alegado (CPC, art.
exemplo nas AACC 41.990-SP, 333, lI).
50. 134-SP, 42.410-MG, 45.591-RS,
37.674-CE, 49.059-DF e AMS 79.964- Convém acentuar que nada obsta a
SP, que contaram com a anuência regra de que este ônus é do réu: na
dos meus eminentes pares. Nas execução, tal alegação é privativa
AACC 40.694-SP, Relator Ministro do embargante.
Décio Miranda, e 47.631-RS, Rela- A prova, aliás, não seria im-
tor Ministro Jarbas Nobre, não foi possível, pois os autos do procedi-
outro o entendimento da 2~ Turma mento administrativo bem poderiam
(Ap. Jorge Franklin Alves Felipe, esclarecer em definitivo a ocorrên-
«Previdência Social», 1979, nota 28, cia de decadência ou de prescrição,
págs. 138/139). pela falta de notificação oportuna do
levantamento do débito (como se
Nos EAC 40.694-SP, de que fui re- vem decidindo) ou pela demora da
lator, o Plenário da 2~ Seção ratifi- propositura da execução fiscal, tudo
cou o entendimento (julg. de 9-9- consoante os registros neles certa-
80), Também nos EAC 50.134-SP, mente existentes.
Relator Ministro Miguel Ferrante,
o Plenário da 2~ Seção reiterou tal Desse meio de prova, no entanto,
modo de entender». desinteressou-se a apelante: muito
embora por ele tenha protestado (fI.
Insisto em que, no tocante à deca- 6), nada afinal, requereu (fls. 29/32),
dência, a ela me refiro tão-somente a despeito de negada a prescrição
por apreço à orientação, no momen- pelo apelado, ao impugnar os embar-
to, predominante nesta Casa, uma gos.
vez que, a despeito mesmo da Súmu- Bem se vê, por conseguinte, que
la n? 108, ainda penso que não há fa- não há cogitar nem de decadência,
lar em decadência a propósito de nem de prescrição, ainda mesmo na
contribuições previdenciárias. Este conformidade da orientação mais
meu entendimento se acha mais am- adversa aos interesses da autarquia
plamente esclarecido em meu voto previdenc·iária (exeqüente-embar-
na AC 59.438, julgada em 13-10-82, 4~ gada), no momento, vitoriosa na ju-
Turma, do qual faço incluir cópia. risprudência.
158 TFR - 100

v paI. Neste sentido, vale mencionar,


entre outros precedentes, o julgado
No que toca às impugnações dirigi- do AP 30.979-GB, Terceira Turma,
das à certidão de inscrição da dívi- unânime, 4-11-70, ReI. o Senhor Mi-
da, são elas improcedentes. nistro Márcio Ribeiro.
De fato, o que se verifica à fI. 3 Acresce tratar-se de norma legal
dos apensos é que a certidão, além já revogada pelos arts. I? e 2? da Lei
de explicitar os valores (não somen- n? 5.421, de 1968, como vem decidin-
te do principal como, ainda, dos do este Tribunal (AG 38.538-SP, Ter-
acessórios), não deixa também de ceira Turma, ReI. Ministro Armando
apontar o fundamento legal e a base Rollemberg, DJ, 22-3-77; AC 69.859-
para o cálculo da correção monetá- SP, Quarta Turma, de que fui Rela-
ria (Lei n? 4.357, de 16-7-64); e, bem tor em 5-8-81, DJ, de 3-9-81l.
assim, de esclarecer que os juros fo- Aliás, tal revogação provinha j á do
ram calculados à taxa de 1% ao art. 23 do Decreto-Lei n? 66/66, como
mês, em razão da mora, tudo confor- se vê pelo julgado nos Agravos de
me a demonstração minuciosa cons- Petição n?s 29.829-GB <19-5-71),
tante do levantamento do débito que 32.644-GB (7-2-72), 32.479-GB (7-8-72)
integra a certidão. E é certo que a e 30.740-GB <19-9-72).
apelante não impugnou fundadamen-
te qualquer desses elementos forma- Na REO 56.236-SP, ReI.: Ministro
dores do crédito. Pádua Ribeiro, esta Eg. Quarta Tur-
ma decidiu na conformidade da se-
A Objeção se configura, em verda- guinte ementa:
de, meramente protelatória.
«Contribuições previdenciárias
- Atraso superior a 360 dias ense-
VI ja a multa de 50% sobre o valor do
débito, de acordo com o art. 239,
Relativamente à multa, é bem de inciso V, do Regulamento do Regi-
ver que a própria lei estabeleceu' os me da Previdência Social, baixado
limites para a respectiva imposição, pelo Decreto n? 72.771, de 6-9-73.
a título de sanção administrativo- Remessa oficial conhecida. Senten-
penal: LOPS (Lei n? 3.807/60), art. ça reformada». (DJ, de 2-4-81).
82; CLPS <Decreto n? 77.077, de 24-1- No mesmo sentido a Egrégia Sexta
76, art. 146); Regulamento-Geral Turma, na AC 78.240-SP. ReI.: Minis-
<Decreto n? 72.771, 6-9-73, art. 4?). tro Sebastião Reis, em 29-9-82.
Não cabe, por conseguinte, a pre- Ante o exposto, e em conclusão,
tendida redução das multas pelo ór- nego provimento à apelação.
gão jurisdicional, a título de eqüida-
de; somente a infringência dos limi-
tes fixados na própria norma geral VOTO
poderia ser reconhecida e coibida.
O Sr. Ministro Bueno de Souza: Se-
VII nhor Presidente, na verdade, a des-
peito da Súmula 108 da Jurisprudên-
Por derradeiro, é, de fato, invariá- cia desta Corte (com cujos dizeres,
vel a jurisprudência desta Corte, ao aliás, não tenho compromisso pes-
entender inaplicável ao crédito por soal) , não me parece apropriado fa-
contribuições previdenciárias a limi- lar em lançamento, relativamente
tação determinada pelo art. 16 da ao crédito por contribuições previ-
Lei n? 4.862, de 1965, que se reporta denciárias, razão pela qual a data da
ao máximo de 30% do débito princi- notificação do levantamento do débi-
TFR - 100 159

to não determina a meu ver, as pre- buições; autuar os devedores inadim-


tendidas conseqüências no tocante plentes; especificar nos autos de in-
à configuração da-prescrição (que se fração as multas aplicáveis, a corre-
diz qüinqüenal). ção monetária correspondente, os ju-
O caso me anima a resumir meu ros de mora incidentes e demais
pensamento. acréscimos.

II Por outro lado, nada impede (an-


tes, tudo recomenda) que a autar-
No sistema da legislação previden- quia notifique os devedores para o
ciária, o recolhimento das contribui- recolhimento de seus débitos, por ser
ções devidas se faz por iniciativa da este o modo normal de exercício de
empresa, na forma do disposto nos direitos de crédito. De fato, as pre-
artigos 79 e seguintes da LOPS (Lei tensões podem ser livremente exer-
n? 3.807, de 26-8-601. cidas: qui suo jure utitur, neminem
laedit.
A falta de recolhimento espontâ-
neo de contribuições, verificada pela Toda esta atividade administrati-
fiscalização (art. 81), dará ensejo à va, no entanto, encontrava já seu
inscrição do débito (art. 81, citado, § fundamento legal suficientemente
3?) e sujeitará o devedor às sanções estabelecido em normas inteiramen-
ali previstas no art. 82. O procedi- te alheias ao CTN, como disse; aliás,
mento administrativo a ser observa- a ele anteriores.
do é o do art. 84 do referido diploma.
Nada tendo sido disposto por lei a Assim, não há porque afastar a in-
respeito de decadência, ou seja, da cidência dessas normas para, em
necessidade imperiosa de dar essas seu lugar, aplicar disposições do
providências administrativas e de CTN, relativas à decadência ali ins-
delas dar conhecimento formal ao tituída (note-se bem) a propósito de
devedor dentro de certo prazo, findo tributos.
o qual o crédito se reputaria extinto,
de decadência não há cogitar, já se Convém acentuar que a sujeição
vê, posto que decadência não se pre- do direito de lançar o crédito tributá-
sume. rio à decadência provém do disposto
no CTN, art. 173; e que este preceito
A propósito, escreveu Andrea Tor- legal se expõe, do ponto de vista da
rente: técnica jurídica, a relevantes e fun-
«A decadência legal constitui dadas críticas, por se valer de con-
sempre um instituto excepcional, a ceitos já consolidados na doutrina e
derrogar a regra geral segundo a na lei, sem, contudo, levar em conta
qual o exercício dos direitos subje- suas específicas conotações, con-
tivos não é limitado, podendo o res- soante a tradição da ciência e do di-
pectivo titular exercê-lo como e reito brasileiro.
quandO entenda oportuno». C-Ma-
nuale de Diritto Privato, 9~ ed., III
Guiffré Ed., Milão, 1975 § 82, pág.
150, trad. minha). No caso concreto, no entanto, o
É claro que, investida do poder de que se vê é que a causa extintiva
fiscalização, a administração previ- que o D. Juiz reconheceu é a prescri-
denciária pode e deve verificar dili- ção qüinqüenal; causa que, como
gentemente a existência de débito quase sempre, é aqui suscitada, co-
por falta de recolhimento de contri- mo se de decadência fosse.
160 TFR - 100

Por isso, na conclusão, com a devi- Decisão: A Turma, por unanimida-


da vênia, acompanho o Senhor Mi- de, negou provimento à apelação (4~
nistro Armando Rollemberg. Turma. Em 13-10-82l.
Participaram do julgamento os
EXTRATO DA MINUTA Srs. Ministros Antônio de Pádua Ri-
AC 75.123-SP - ReI.: Ministro Bue- beiro e Armando Rollemberg.
no de Souza. Apte.: Serviços Gerais Presidiu o julgamento o Sr. Minis-
Petrex S/C Ltda. Apdo.: lapas. tro Armando Rollemberg.

APELAÇAO C1VEL N? 77.002 - BA


Relator: O Sr. Ministro Evandro Gueiros Leite
Apelante: Elza de Magalhães Lima
Apelado: lAPAS
EMENTA
Administrativo. Revisão de Enquadramento Fun-
cional. Enfermeira-Obstetra.
1. Nos termos do Decreto n? 50.387/61, art. 3?,
alínea d, o portador de diploma de grau universitá-
rio, obtido em Faculdade de Medicina, no Curso de
Enfermagem Obstétrica, diferencia-se da Enfermei-
ra Prática ou Parteira (Lei n? 2.604/55) e poderá
denominar-se Enfermeira-Obstetra, quando registra-
da nos termos dos arts. 2? e 5? do Decreto n?
20.931/32 e até a promulgação da Lei n? 775/49.
2. Retificação de enquadramento de Parteira pa-
ra Enfermeira, com adequação ao sistema atual.
3. Recurso provido no essencial. Reforma da
sentença. Procedência da ação.

ACORDA0 Custas como de lei.


Vistos e relatados os autos em que Brasília, 30 de novembro de 1982
(data do julgamento) - Ministro
são partes as acima indicadas: Evandro Gueiros Leite, Presidente-
Decide a 2~ Turma do Tribunal Fe- Relator.
deral de Recursos, por unanimidade,
dar parcial provimento ao recurso RELATORIO
da autora, para julgar, também par-
cialmente, procedente a ação, ex- O Sr. Ministro Evandro Gueiros
cluídas as parcelas atingidas pela Leite (Relator): JUlgando a presente
prescrição e as custas, estas porque apelação, esta 2~ Turma houve por
a Autarquia é isenta; reduzir a verba bem dar provimento ao recurso da
de honorários advocatícios de 20% autora, a fim de afastar a incidência
para 10%, tudo nos termos do voto da prescrição, que havia sido reco-
do Relator e de acordo com as notas nhecida na sentença. E determinou a
taquigráficas precedentes que inte- volta dos autos à Vara de origem, a
gram o presente julgado. fim de ser julgado o mérito (fI. 158).
TFR - 100 161

Votaram os Senhores Ministros « ... fornecido por Faculdade de


Gueiros Leite, William Patterson e Medicina. Portanto, sendo a autora
Aldir G. Passarinho, impedido o Mi- enfermeira-parteira, não poderia
nistro José Cândido. A decisâo na ser enquadrada no Código TC n?
Turma, segundo a ementa do julga- 1.201, que se refere exclusivamente
do, foi a de que a sucessividade dos a enfermeiras». (Sentença, fI. 166).
atos administrativos, que alteraram,
no tempo, O feito foi saneado à fI. 30. Houve
parecer da Procuradoria Regional
« ... a situaçâo funcional da auto- da República, contrariamente ao pe-
ra, possibilitou, formalmente, o pe- dido da autora, argüindo também a
dido de revisâo na via administra- prescrição das parcelas vencidas há
tiva e também na judicial, não in- mais de cinco anos. Procedeu-se à
cidindo as normas que regulam a instrução oral e foram apresentadas
prescrição do fundo do direito (De- razões finais.
creto n? 20.910/32; Decreto-Lei n?
4.597/42; Lei 1.711/52, art. 169, I/lI; Proferiu sentença o Dr. José Cân-
CC, art. 178, § 10, VI). (Omissis)>> dido de Carvalho Filho, hoje Minis-
(fl. 159). tro nesta Casa de Justiça. Acolheu a
prescrição argüida pela Procurado-
O relatório, que inexplicavelmente ria. Conforme se viu, a Turma, dan-
deixou de ser junto aos autos, é o se- do provimento ao recurso da autora,
guinte. Elza de Magalhães Lima pro- mandou que se decidisse o mérito.
pôs a ação contra o INPS, pedindo a
revisão do seu enquadramento como Assim foi feito, com a sentença do
enfermeira e não parteira, porque é Dr. Fernando da Costa Tourinho Ne-
diplomada, desde 1946, em to, que julgou improcedente a ação e
enfermagem-obstétrica. condenou a autora nas custas e nos
A autora foi admitida em 1957, co- honorários advocatícios, fixados em
mo parteira, vindo a ser, depois de um valor de referência (fI. 169). Dis-
vários enquadramentos, posicionada se o Dr. Juiz que a autora não pode-
pelo Decreto n? 65.680/69 também co- ria,
mo parteira nível 13-B. De acordo « ... ser enquadrada como enfer-
com a Lei n? 3.780/60 deveria ser en- meira se não exercia aquela profis-
quadrada no Grupo Ocupacional En- são, mas sim a de obstetriz. Além
fermagem, Código TC-1.200, nível 22. do mais não tem ela o diploma de
Argumenta, ainda, que a Lei n? enfermeira e sim o certificado de
2.604/55 equiparou a enfermeira- enfermeira-obstétrica. Não há
obstetra à enfermeira, diferençando- confundir-se enquadramento com
a da enfermeira prática ou parteira. readaptação. Nesta o funcionário
O pedido foi denegado administrati- exerce atribuições pertinente a que
vamente, de modo que agora, em foi enquadrado. Frise-se que a au-
juízo, a autora pretende a revisão, tora foi admitida como parteira,
com todos os consectários a que faz não tendo ela o diploma de curso
jus. superior. O certificado lhe foi con-
O INPS contestou, dizendo que não ferido pela Faculdade de Medicina,
assiste razão à autora, porque a Lei mas isso não implica que tenha ela
n? 3.780/60, ao relacionar os inte- nível superior. (Omissis)>>. (FI.
grantes do grupo ocupacional - Me- 169).
dicina, Farmácia e Odontologia - Apelou a autora em críticas à sen-
Código P-l. 708, esclareceu que a au- tença e com pedido de nova decisão
tora é portadora de título de (fls. 171/177). Não apresentou novos
enfermeira-obstetra, argumentos. Certificou-se, à fI. 184,
162 TFR 100

a existência de agravo de instrumen- habilitadas para a assistência obsté-


to, já julgado pela Turma (fI. 185). trica, poderão denominar-se En-
Contra-razões às fls. 187/191). fermeira-Obstétrica.
Pauta sem revisão. A sentença observa, porém, outra
E o relatório. orientação, partindo dos seguintes
fatos.
VOTO A autora fez o Curso de Enferma-
gem Obstétrica na Faculdade de Me-
O Sr. Ministro Evandro Gueiros dicina da Bahia, em 1946. Foi admi-
Leite (Relator). A autora, foi, ini- tida no antigo IAPI como parteira e
cialmente, enquadrada como Par- sempre exerceu essa profissão, se-
teira-Prática, pelo Decreto n? gundo a prova feita pela própria au-
51.576/62. Anos depois teve essa si- tora (fls. 59v./60). Segundo o Dr.
tuação retificada, passando à cate- Carlos Alberto Oliveira Lopes, que é
goria de Obstetriz, pelo Decreto n? médico do INPS e foi ouvido nos au-
59.254/66. Novamente foi alterado o tos, a autora é obstetra, apesar de
seu enquadramento, passando ela a haver feito alguns serviços de enfer-
Parteira nível 13-B, com o Decreto magem (fI. 79v.).
n? 65.680/67, assim permanecendo A partir desses fatos, anota o ilus-
até o momento. tre Dr. Juiz, que o Decreto n?
A partir desse último ato, a autora 50.387/61 - que regulamentou o ser-
pediu fosse retificada a sua situação viço de enfermagem fez distinção
para o cargo de Enfermeira nível 22, entre enfermeiro, obstetriz e partei-
pois é portadora de diploma de grau ra. Todos exercem a enfermagem,
universitário, obtido na Faculdade compreendendo a execução de atos
de Medicina, em 1946, no Curso de comuns às três funções e de atos que
Enfermagem Obstétrica, pois não são peculiares a cada um. A Lei n?
havia, no Estado, o curso isolado de 3.780/60 relacionou na classe de obs-
Enfermagem. tetriz os portadores de títulos de
Sobreveio, porém, a Lei n? enfermeira-obstetra fornecidos por
2.604/55, que regulou o exercício des- Faculdade de Medicina.
sas atividades e equiparou a Dúvida não há, segundo a senten-
Enfermeira-Obstétrica ou Obstetriz ça, que a autora é enfermeira-
à Enfermeira, diferençando-a da obstetra, com certificado obtido an-
Enfermeira-Prática ou Parteira. Ou- tes da Lei n? 755/49, encontrando-se
tra não foi a orientação que norteou na situação prevista no art. 4?,
a regulamentação da Enfermagem, alínea c, do Decreto n? 50.387/61, on-
consubstanciada no Decreto n? de se lê que «ao título de obstetriz
50.387/61, possibilitando aos portado- têm direito as enfermeiras obste-
res de títulos de Enfermeiro, Obste- tras, portadoras do certificado de
triz, Auxiliar de Enfermagem e habilitação, conferido de acordo com
Parteira-Prática devidamente regis- os arts. 211 e 214, do Decreto n?
trada no Serviço Nacional de Fiscali- 20.865/31» .
zação da Medicina e Farmácia. . Mas, nos termos do art. 3?, alínea
Aplica-se à autora - conforme as- d, do mesmo Decreto, «ao título de
segura - a disposição constante des- enfermeira têm direito as pessoas
se Decreto n? 50.387/61, art. 3?, registradas como tal, nos termos dos
alínea d. As pessoas registradas co- arts. 2? e 5? do Decreto n? 20.931/32
mo tal, nos termos dos arts. 2? e 5?, e, até a promulgação da Lei n?
do Decreto n? 20.931/32, e até a pro- 775/49, aquelas a que se refere o art.
mUlgação da Lei n? 775/49, quando 33, § 2?, do Decreto n? 21.141132».
TFR - 100 163

Observe-se - diz a sentença - naI, entre elas citando-se a proferida


que o dispositivo determina que têm na AC n? 37.773-BA, transcrita à fI.
direito ao título de enfermeiro as 182. Faço transcrever, a título de
pessoas registradas como tal, isto é, fundamentação deste voto, os argu-
como enfermeiro, nos termos do De- mentos referidos às fls. 179/181, a sa-
creto n? 20.931/32, arts. 2? e 5? Este ber:
art. 5? reza que é obrigatório o regis-
tro do diploma de profissional, no «No particular, vê-se dos assen-
Departamento Nacional de Saúde tamentos pessoais de fl. 14 que a a.
Pública e na repartição sanitária es- foi admitida no IAPI, em 1958, co-
tadual competente. Ora, a autora mo Parteira-Prática e, de outro la-
não dispunha desse diploma, pois do, que à época, apresentou o cer-
conforme ela própria admite, tificado reproduzido à fI. 16, relati-
diplomou-se, em 1946, como vo à conclusão do curso de
Enfermeira-Obstétrica, na Faculda- Enfermagem-Obstétrica, expedido
de de Medicina da Universidade da em 1946 pela Faculdade de Medici-
Bahia. na da Bahia, registrado na Direto-
ria do Ensino Superior do Ministé-
Não há confundir-se, outrossim, en- rio da Educação e Cultura, no Ser-
quadramento com readaptação, viço Nacional de Fiscalização do
quando a autora afirma o seu ti- Ministério da Saúde e Secretaria
rocínio profissional no desempenho da Saúde daquele Estado. De outra
das atividades próprias de Enfer- parte a Lei n? 3.780/60, no seu Ane-
meira. Ademais de não haver sido xo I, classifica a série de Classes
concludente a prova feita nesse sen- de Enfermeiro, pretensão da a. na
tido, o que teria levado a bom termo área do Serviço-Técnico-Científico,
a postulante seriam atribuições de Grupo Ocupacional Enfermagem e
enfermeiro-prático, limitadas de a de Parteira, em que a mesma se
acordo com os arts. 3? e 5?, da Lei n? acha enquadrada, no Serviço Pro-
2.604, de 17 de setembro de 1955. fissional, Grupo Ocupacional Medi-
E conclui a respeitável sentença: cina, Farmácia e Odontologia; pa-
«Frise-se que a autora foi admi- ralelamente, para a primeira si-
tida como parteira. Não tinha ela, tuação é reclamado diploma de en-
por outro lado, o diploma de curso fermeiro registrado na Diretoria
superior. O certificado lhe foi con- do Ensino Superior, e. para a se-
ferido pela Faculdade de Medicina gunda, certificado de conclusão do
da Bahia, mas tal não implica que curso, com duração mínima de um
tenha ela nível superior». (FI. 169). ano, de Parteira, Parteira-Prática
ou outro que comprove formação
Acho, data venia, que a postulante profissional equivalente (art. 4?, do
tem direito ao que pede, pois de Dec.-Lei n? 299/). Consoante se in-
acordo com a prova dos autos e o di- fere do cotejo feito, realmente o
reito aplicável na espécie, o diploma debate se insere no plano da
por ela exibido, de Enfermeira- quaestio juris qualificação do cur-
Obstétrica, expedido pela Faculdade so de que é portadora a suplicante
de Medicina da Bahia, lhe dá oportu- e titularidade do cargo de enfer-
nidade à retificação do seu enqua- meira, à época entrada em vigor
dramento de Parteira nível 13-B (fi. da Lei n? 3.780/60, situações de-
3) para Enfermeira nível 22, com a monstráveis documentalmente, à
necessária adequação ao sistema luz da prova trazida aos autos. É
atual. certo que a a. alega pretender pro-
A matéria dos autos tem sido alvo var testemunhalmente, o exercício
de iterativas decisões deste Tribu- das atribuições de enfermeiro, mas
164 TFR - 100

trata-se de aspecto interferente e, na sua área, exerce todos os en-


com a readaptação, estranha à ini- cargos da enfermagem, inclusive
cial. Por essas considerações, inde- administração, participação de
firo o agravo interposto. Desaco- bancas examinadoras e atividades
lho, também, a preliminar de pres- de ensino e que o certificado res-
crição, por ter havido interrupção pectivo não é resultado de um cur-
válida da mesma, como decidido so precário e sumário, como pre-
na sentença. Afastadas essas ques- tende o INPS, não sendo de exigir-
tões prévias, cabe agora examinar- se o curso de 4 anos previsto na le-
se a qualificação técnico-jurírica gislação posterior. Outrossim, co-
do título apresentado pela autora. mo se vê das provas oferecidas na
Como já foi dito, cuida-se de certi- contestação, restou provado que
ficado de conclusão de curso de outras colegas, portadoras do mes-
Enfermeira-Obstétrica, expedido mo certificado foram enquadradas
pela Faculdade de Medicina da Ba- como enfermeiras. Meditei muito
hia em 1946, devidamente registra- sobre a hipótese dos autos e sobre
do na Diretoria do Ensino Superior as peculiaridades do caso concreto.
do Ministério de Educação, no Mi- A alegação depreciativa do INPS
nistério da Saúde e na Secretaria de que o curso realizado pela supli-
de Saúde do Estado; outrossim, cante quando muito a habilitaria
consigna a certidão de fl. 49 que o ao enquadramento como parteira-
curso foi de 2 anos, após prestação prática é uma demasia data venia,
de exame vestibular. Este egrégio pois cuida-se de ensino ministrado
Tribunal, por mais de uma vez, já por 2 anos, perante tradicional Fa-
apreciou a qualificação de certifi- culdade de Medicina; de outro la-
cados de enfermagem-obstétrica, do, a distinção entre diploma e cer-
expedidos pela Faculdade Nacional tificado me parece irrelevante,
de Medicina do Rio de Janeiro e da tendo em vista que a especializa-
Bahia, expedidos antes da legisla- ção desses termos só se fez poste-
ção hoje vigente sobre a matéria, riormente. O ponto duvidoso da
dando-os como hábeis, para o en- pretensão da suplicante reside no
quadramento na série de classes fato de a série de classes de enfer-
de Enfermeiro, como se vê nas meiro estar compreendida no Ser-
Apelações Cíveis n? 23.905, sessão viço Técnico-Científico, sugestivo
de 15-9-67, Relator o Ministro Moa- da exigência de diploma de curso
cir Catunda, e 26.259, sessão de 23- superior, pressuposto que não está
5-69, Relator o Ministro Amarílio demonstrado nos autos" sendo de
Benjamin, mantida em grau de registrar-se que o Decreto n?
embargos pelo Pleno, em sessão de 20.865/31, nos seus artigos 211 e 212
2-3-72, Relator o Ministro Jorge La- não exigir curso secundário para a
fayette; ainda, a de n? 28.717, ses- matrícula respectiva. Mas como já
são de 11-12-70, Relator o Ministro fora proclamado pelo Ministro
Décio Miranda. Na própria Apela- Moacir Catunda, e repetido, em
ção Cível n? 32.853, invocada pelo plenário, pelo Ministro Jorge Lafa-
INPS, foi declarada a carência da yette, nos embargos referidos, a
ação, por prescrição, embora o Re- Lei n? 3.780/60 não cogita para o
lator, Ministro Décio Miranda te- enfermeiro de diploma de curso su-
nha proclamado a existência do perior, mas de diploma registrado
fundo de direito. A tese nuclear dos na Diretoria do Ensino Superior,
arestos trazidos à colação é a de requisito satisfeito pela autora.
que a enfermagem-obstétrica é es- Em face dos precedentes deste Tri-
pecialização da enfermagem-geral bunal referidos, em particular, da
TFR - 100 165

decisão tomada em plenário, e con- EXTRATO DA MINUTA


siderando que o certificado em
causa foi admitido como hábil pelo AC 77.002-BA. ReI.: O Sr. Min.
próprio réu, para outras colegas da Evandro Gueiros Leite. Apte.: Elza
autora, dou provimento à sua ape- de Magalhães Lima. Apdo.: lAPAS.
lação, para julgar procedente a Decisão: A Turma, por unanimida-
ação intentada. (Omissis)>>. de, deu parcial provimento ao recur-
Dou parcial provimento ao recurso so da autora, para julgar, também
do INPS, tão-somente para os se- parcialmente, procedente a ação, es-
guintes fins: cluídas as parcelas atingidas pela
prescrição e as custas, estas porque
a) exclusão das parcelas atingidas a Autarquia é isenta; reduzir a verba
pela prescrição qüinqüenal; de honorários advocatícios de 20%
para 10%, tudo nos termos do voto
b) exclusão das custas, porque a do Relator. (Em 30-11-82 - 2? Tur-
autarquia é isenta; ma).
c) redução da verba de honorários Impedido o Sr. Ministro José Cân-
advocatícios, de 20% para 10%. dido. Os Srs. Ministros William Pat-
Reformo a sentença. Julgo proce- terson e Costa Lima votaram com o
dente, em parte, a ação. Sr. Ministro-Relator. Presidiu o jul-
gamento o Exmo. Sr. Ministro
É como voto. Evandro Gueiros Leite.

APELAÇAO C1VEL N? 77.005 - RJ


Relator: O Sr. Ministro Bueno de Souza
Apelante: Milton Monte Rodrigues dos Santos e cônjuge
Apelada: Caixa Econômica Federal - CEF
EMENTA
Processual Civil e Civil.
Execução hipotecária.
Embargos dos executados: requisitos da petição
inicial; procedimento a ser observado; inconvenien-
tes que convém evitar.
Onus dos embargantes, no que diz com as alega-
ções.
Despesas de seguro e administração do imóvel
hipotecado: termo final de sua incidência.
1. A petição inicial dos embargos do executado,
devendo instaurar processo relativamente autôno-
mo, sujeita-se à observãncia dos requisitos legais ge-
néricos, além daqueles que lhe são específicos; in-
convenientes resultantes da inobservância dessas
exigênéias.
2. Ao embargante não basta alegar vagamente a
incerteza e iliquidez do débito, sob fundamento de
ser excessiva a correção monetária reclamada.
166 TFR - 100

Cumpre-lhe, a título de indicar o fundamento jurídi-


co do pedido, evidenciar o excesso indevidamente
exigido.
3. As despesas de seguro e administração do
imóvel hipotecado não podem ser imputadas aos em-
bargantes, senão até a data da alienação do bem.
ACORDÃO os dos embargantes resultou do fa-
to de não ter sido acrescida ao to-
Vistos e relatados os autos em que tal apurado a parcela de Cr$
são partes as acima indicadas: 168.953,65, referente ao saldo deve-
Decide a Quarta Turma do Tribu- dor teórico do capital mutuado. Es-
nal Federal de Recursos, por unani- ta é a única divergência remanes-
midade, dar provimento parcial à cente, uma vez que a Embargada
apelação, nos termos do voto do Se- concordou com o laudo apresenta-
nhor Ministro-Relator, na forma do do pelos Embargantes até o total
relatório e notas taquigráficas cons- de Cr$ 267.441,85, referente às 56
tantes dos autos que ficàm fazendo prestações em atraso e demais en-
parte integrante do presente julgado. cargos. A inclusão da referida par-
cela, bem como da multa contra-
Custas como de lei. tual, decorreu da falta de paga-
Brasília, II de outubro de 1982 (da- mento das prestações vencidas,
ta do julgamento.) Ministro desde a primeira, fato não negadO
Carlos Mário Velloso, Presidente pelos Embargantes, e que acarre-
Ministro Bueno de Souza, Relator. tou o vencimento antecipado da
dívida, em conformidade com o
RELATORIO contrato. Nos cálculos dos embar-
gantes (fI. 22), foi acrescido ao va-
o Sr. Ministro Bueno de Souza: lor das prestações vencidas o índi-
Milton Monte Rodrigues dos Santos e ce de 1,187076, indevidamente, eis
sua mulher opuseram embargos à que, segundo esclareceu a embar-
execução hipotecária que lhes move gada (fI. 26), ao elaborar o seu de-
a Caixa Econõmica Federal, alegan- monstrativo do débito, já aplicara
do exorbitância do cálculo da corre- a correção devida no valor daque-
ção monetária e dos juros incidentes las prestações. Além de proceder a
sobre o débito principal e pedindo a esse acréscimo indevido, o cálculo
elaboração de «cálculos exatos». dos embargantes omitiu o saldo do
A sentença do MM. Juiz Federal capital mutuado, devido em conse-
da 5~ Vara do Rio de Janeiro julgou qüência do vencimento total da
improcedente os embargos (fls. dívida».
33/36) e condenou os embargantes
nas custas, deixando de condená-los Apelaram em tempo os embargan-
a honorários advocatícios, «dada a tes (fls. 37/39) para insistir na proce-
incidência, na espécie, da multa con- dência dos embargos.
tratual que atende ao ônus da su-
cumbência» . Sustentam que, com as explica-
ções trazidas pela exeqüente ao im-
A título de motivação, escreveu o pugnar os embargos, ficou esclareci-
d. magistrado fI. 35): do que a execução abrange também
«Segundo demonstrado pela em- o «saldo devedor teórico» do capital
bargada, à fI. 26, a diferença entre mutuado. Este se refere a presta-
os cálculos por ela apresentados e ções vincendas. No entanto, relativa-
TFR - 100 167

mente a estas, não é possível recla- termine a desapensação dos autos da


mar juros nem taxa de administra- ação de execução, providência sem a
ção e seguro. qual esta não poderá prosseguir, ca-
Pedem, também, que se afaste a so em que resultará meramente teó-
incidência de juros e de correção rica a restrição do efeito do recurso,
monetária em relação ao período du- segundo a lei, tudo s.e passando, na
rante o qual os autos permaneceram prática, como se a apelação fosse
conclusos para sentença. também suspensiva aa execução.
Processado regularmente e contra- Ficam nos autos estas observa-
razoado o recurso, subiram os autos. ções, voltadas a contribuir para o
aprimoramente e maior eficiência
É o relatório. da prestação jurisdicional e maior
garantia dos direitos das partes.
VOTO
Passo, pois, ao exame da causa.
O Sr. Ministro Bueno de Souza
(Relator): Impõe-se assinalar que os II
embargos do executado constituem
demanda de conhecimento (CPC, Passando ao exame da espeCle,
art. 736) relativamente autônoma assinale-se que os apelantes, ao em-
(porque incidente na ação de execu- bargar a execução, deixaram de
ção), destinada a proporcionar sen- desincumbir-se do ônus de expor,
tença desconstitutiva do título em com clareza e precisão, os fatos e
que a execução se baseia. fundamentos jurídicos de seu pedido,
Eis por que reclamam petição ini- razão pela qual a petição inicial bem
cial devidamente instruída (como se poderia ter sido dada por inepta.
observa em qualquer demanda), o De fato, os apelantes se limitaram
que esclarece a remissão expressa a alegar, comodamente, que os cál-
ao art. 295, contida no art. 739, III, culos referentes à correção monetá-
do CPC. ria «são em muito superiores aos
Cumpre, por conseguinte, exigir reais», quando era indispensável que
da inicial (e da impugnação dos em- demonstrassem, justificadamente, o
bargos) todos os requisitos indicados excesso de cobrança.
em lei para qualquer inicial, além de Voltando aos autos mais de dois
outros específicos, como a certidão meses depois de ajuizados os embar-
da citação e da penhora, a certidão gos, vêm os apelantes referindo-se à
do título extrajudicial exeqüendo auditoria que mandaram efetuar; e
etc., facultando-se o suprimento das somente após reiterada determina-
deficiências em tempo oportuno. ção judicial lograram trazer o de-
A não se proceder por este modo, monstrativo efetuado quase seis me-
em caso de recurso o Tribunal não ses depois (fls. 2 e 22) e que, afinal,
terá elementos, nos próprios autos não abalou em nada o cálculo inicial
de embargos, para o adequado julga- do débito.
mento da causa, uma vez que a ape- É que as contas ofertadas pelos
lação interposta da sentença que jul- apelantes emitiram as prestações
ga improcedentes embargos à execu- vincendas ...
ção não se reveste de efeito suspen- Como se vê, a conduta processual
sivo da execução (CPC, art. 520, V). dos apelantes é manifestamente
Bem se vê que, ao receber a apela- protelatória, eis que (como acentua
ção no único efeito que a lei lhe con- a apelada, sem contestação) vêm
fere, importa que o Magistrado de- ocupando o imóvel objeto da hipote-
168 TFR - 100

ca ao longo de nove anos sem efe- cias patrimoniais, nestes autos; nem
tuar o pagamento de qualquer pres- semelhante alegação guarda coerên-
tação (fI. 46). cia com os esforços dos apelantes
A escritura, efetivamente, prevê o em retardar o desfecho da causa.
vencimento de todas as prestações Ante o exposto, dou provimento
pendentes, evidenciada a mora do parcial à apelação, somente para ex-
mutuário. cluir da execução a taxa de adminis-
tração e o seguro, em tudo quanto
Tão-somente assiste razão aos ape- exceder a data da alienação do bem
lantes, quando pleiteiam a exclusão penhorado.
de despesas de seguro e taxa de ad-
ministração, relativamente ao valor EXTRATO DA MINUTA
das prestações vincendas; é que tais
acessórios devem incidir somente AC 77.005 - RJ - ReI.: Ministro
até a data da alienação judicial do Bueno de Souza. Apte.: Milton Monte
bem objeto da garantia; pois, além Rodrigues dos Santos e Cônjuge.
dessa data, não haverá título jurídi- Apelada: Caixa Econômica Federal.
co pelo qual os apelantes respondam
por esses acréscimos. Decisão: A Turma, por unanimida-
de, deu provimento parcial à apela-
Tendo havido expressa denegação ção, nos termos do voto do Senhor
de honorários advocatícios sob o Ministro-Relator (em 11-10-82 - 4~
fundamento de j á se acharem asse- Turma).
gurados pela multa; e não tendo ape-
lado a exeqüente, a matéria não po- Os Srs. Ministros Antônio de Pá-
de ser reapreciada. dua Ribeiro e Carlos Mário Velloso
participaram do-julgamento. ·Presi-
A demora em sentenciar não pOde diu o julgamento o Exmo. Sr. Minis-
ser conhecida, por suas conseqüên- tro Carlos Mário Velloso.
APELAÇAO C1VEL N? 77.147 - SP
Relator: O Sr. Ministro Sebastião Alves dos Reis
Apelantes: IAP AS/BNH
Apelado: Indústria de Roupas Billi-Bel Ltda
EMENTA
Tributário - Contribuição do FGTS - Prescri-
ção.
Os recolhimentos para o Fundo de Garantia,
constituindo-se de prestação pecuniária compulsória,
instituída em lei sem configurar sanção indenizató-
ria ou punitiva por ato ilícito, são tributos (CTN,
arts. 3? e 217, IV).
A prescrição da ação de cobrança é de cinco
anos (CTN, art. 174).
Negou-se provimento aos recursos.
ACORDA0 Decide a 5~ Turma do Tribunal Fe-
deral de Recursos, por unanimidade,
Vistos e relatados os autos em que negar provimento aos recursos, na
são partes as acima indicadas: forma do relatório e notas taquigrá-
TFR - 100 169 .

ficas constantes dos autos que ficam dente Moacir Catunda e Pedro da
fazendo parte integrante do presente Rocha Acioli, exarado nesses ter-
julgado. mos:
Custas como de lei. «A Constituição de 1967 (art. 158,
Brasília, 8 de setembro de 1982 XIII) e a Emenda de 1969 (art. 165,
(data do julgamento.) Min. XIII) estabeleceram o fundo de ga-
Moacir Catunda, Presidente - Min. rantia em alternância à estabilida-
Sebastião Alves dos Reis, Relator. de do trabalhador. Os recolhimen-
tos para o FGTS constituem pres-
tação pecuniária compulsória, ins-
RELATORIO tituída em lei sem configurar san-
ção indenizatória ou punitiva por
o Sr. Min. Sebastião Alves dos ato ilícito. Subsumem-se, de conse-
Reis: O Instituto Nacional de Previ- guinte, no conceito de tributo do
dência Social, hoje lAPAS, moveu art. 3? do Código Fiscal.
execução por título extrajudicial No mesmo ano da criação do
contra Indústrias de Roupas Billi-Bel FGTS, o Decreto-Lei n? 27, de 1966,
Ltda., para receber a quantia de Cr$ nominou, expressamente, esses re-
599.284,55, correspondente a depósi- colhimentos de contribuição, ao
tos de FGTS e acessórios legais, do acrescer o art. 217 do Código Tri-
que decorreram os presentes embar- butário (inciso IV), para ressal-
gos oferecidos pela executada, onde var sua subsistência em face do
opôs, preliminarmente, a prescrição art. 5?, que relacionara como tribu-
do crédito, e, no mérito, insurgiu-se tos apenas a «contribuição de me-
contrá a multa aplicada e correção lhoria» além dos impostos e taxas.
sobre a mesma.
A circunstância de a Constitui-
Respondeu o embargado à fI. 51 ção de 1967 não ter contemplado as
contrapondo que os depósitos em contribuições no capítulo do siste-
causa têm autonomia conceitual, não ma tributário não significava que
se identificando com a noção de tri- lhes recus'ásse Índole fiscal. Tradu-
buto, e, assim, fora da incidência do zia simplesmente uma posição,
art. 174 do CTN. muito arraigada na doutrina impo-
A MM. Juíza Federal a quo Ana sitiva, que reduzia as contribui-
Maria Scartezzini, à fI. 68, acolheu a ções, substancialmente, 6u a um
preliminar julgando procedentes os imposto ou a uma taxa, conforme
embargos, condenando o embargado a natureza da incidência, não lhes
na honorária de Cr$ 5.000,00. reconhecendo, assim, autonomia ti-
Apela o vencido e, instruído o re- pológica.
curso, neste Tribunal, dispensei pa- A emenda de 1969 outorgou, po-
recer e revisão. rém, foros de categoria tributária
É o relatório.
às contribuições (art. 21, § 2?, 1).
Como seu próprio nome indica, é
uma exação para determinado fim
VOTO constitucional, sem as vedações vi-
gentes para os impostos (art. 19,
O Sr. Min. Sebastião Alves dos III) nem os condicionamentos pró-
Reis (Relator): Sobre a índole tribu- prios das taxas (art. 18, I).
tária dos depósitos em apreço tive Como tributo que é, e sempre foi,
oportunidade de manifestar-me em a contribuição para o FGTS
voto que proferi na AC 56.540, presti- sujeita-se às «normas gerais do Di-
giado pelos eminentes Mins. Presi- reito Tributário» que a Constitui-
170 TFR - 100

ção de 1967 (art. 19, § 1?) e a Emen- logação. Inexistência do paga-


da de 1969 (art. 18, § I?) fizeram mento da contribuição, por ante-
privativa de lei complementar. Es- cipação. Instauração do lança-
sas «normas gerais de Direito Tri- mento de ofício. (CTN, art. 145,
butário» constituem o Livro Segun- lU, c.c. art. 149, V). Contagem
do, do CTN, contemplando a pres- de prazo da decadência; lU -
crição e a decadência como moda- Recurso desprovido».
lidades de extinção do crédito fis- No caso, o decurso de prazo pres-
cal (art. 156, V). O prazo de 5 anos cricional superior a 5 anos não é ne-
ali marcado impõe-se, dessarte, a gadO pelO lAPAS, que se restringiu
todos tributos federais, estaduais e acastelar-se na tese da prescrição
municipais e não poderia ser afas- trintenária, e, assim, na linha de
tado por disposição de lei ordiná- idéias acima deduzida, é de manter-
ria nem, especificamente, pela Lei se a sentença de I? grau.
do FGTS, por ser esta ainda, ante-
rior, à Lei n? 5.162, de 1966, que Nego provimento ao recurso volun-
dispôs sobre o Sistema Tributário tário.
Nacional, depois chamado de Códi-
go Tributário Nacional (Ato Com- EXTRATO DA MINUTA
plementar n? 36, de 13 de março de
1967, art. 7?). Nesse sentido, deci-
diu a E. 4~ Turma, na AC 63.729, AC 77.147-SP - ReI.: Sr. Min. Se-
Relator Min. Carlos Mário Veloso: bastião Alves dos Reis. Aptes.: IA-
P AS e BNH - Apda.: Indústria de
Roupas Billi-Bel Ltda.
Tributário - FGTS - Deca-
dência - CTN, art. 173, I - Na- Decisão: A Turma, por unanimida-
tureza da contribuição do FGTS, de, negou provimento aos recursos
(5~ Turma em 8-9-82).
sujeita, como tal, às regras le-
gaiS do regime tributário, inclusi- Os Srs. Mins. Pedro Acioli e Moa-
ve quanto aos prazos de decadên- cir Catunda votaram de acordo com
cia e prescrição do CTN: II - o Relator. Presidiu o julgamento o
Lançamento, no caso, por homo- SI'. Min. Moacir Catunda.

APELAÇAO CtVEL N? 78.317 - SC


Relator: O SI'. Ministro Moacir Catunda
Apelante: lAPAS
Apelada: Cia/lJLTRAGAZ S/A
EMENTA
Execução Fiscal - Protesto por preferência fei-
to por autarquia.
Os arts. 711 e 713, do CPC, sobre privilégio ou
preferência do pagamento de débito, com dinheiro
apurado em leilão, pressupõem penhora anterior so-
bre o bem leiloado, falecendo ao requerente que não
demonstra tal pressuposto, aptidão processual para
disputar a satisfação do crédito que alega possuir
contra o executado.
TFR - 100 171

ACORDÃO CLPS, expedida pelo Decreto n?


77.077/76, arts. 152, § 3? e 154; Le-
Vistos e relatados estes autos, em gislação posterior pertinente, ite-
que são partes as acima indicadas: rativa jurisprudência do TFR e
Decide a 5~ Turma do Tribunal Fe- na forma determinada no art. 13,
deral de Recursos, por unanimidade. do Provimento 13/76 da E. Corre-
negar provimento ao recurso, na for- gedoria Geral da Justiça.»
ma do relatório e notas ta qui gráficas Juntou à Inicial a certidão de fI.
constantes dos autos que ficam fa- "41.
zendo parte integrante do presente
julgado. Sustada a entrega do dinheiro ao
credor exeqüente, este manifestou-
Custas como de lei. se sobre o pedido, alegando:
Brasília, . 24 de novembro de 1982 «Que somente agora vem o IA-
(data do julgamento) - Min. Moacir P AS alegar sua preferência, na
Catunda, Presidente e Relator. antevéspera do leilão, após um
ingente trabalho executório; que
RELATORIO em assim sendo não aceita a pre-
ferência argüida, porque o IA-
o Sr. Min. Moacir Catunda: Assim P AS sequer procurou ver se o
a sentença relatou e decidiu a ques- executado tinha outros bens; que
tão (fls. 59/60): os créditos do requerente dista
«O Instituto de Administração Fi- dos anos de 72 e 74, e como se ob-
nanceira da Previdência e Assis- serva, com os acréscimos resul-
tência Social (IAP AS) ingressou tantes, praticamente lhe ficará
neste Juízo com o presente protes- reservado todo o numerário; que
to por preferência, no Processo de o crédito do lAPAS não é prefe-
Execução n? 2.023/80, em que é rencial.»
credor-exeqüente a Companhia Ul- É o relatório. Decido.
tragas S/ A, alegando o seguinte:
«Que é credor do executado, Discute-se nos presentes autos o
direito de preferência no recebi-
nos autos das execuções fiscais mento do produto da arrematação,
n?s 2.581/72, 156/74 e 155/74, que hipótese prevista nos arts. 709 a
promove perante o Juízo da 3~ 713, do Cód. Proc. Civil.
Vara Cível e Feitos da Fazenda
desta Comarca; que tem direito De um lado temos o credor-
de preferência do preço da arre- exeqüente, dizendo-se detentor ex-
matação dos ditos bens, nos pre- clusivo do crédito, que promoveu a
cisos termos dos arts. 1.571 do execução. De outro o lAPAS,
Código Civil, 60, parágrafo único afirmando-se credor preferencial.
do Decreto-Lei n? 960/38, 2? do O concurso singular de credores
Decreto-Lei n? 72/66, 184, lII, do é procedimento incidental, consti-
Decreto n? 77.077/76 (CLPS), e 26 tuído na fase final da execução por
da Lei n? 6.439/77. Sustenta que quantia certa, contra devedor sol-
tem preferência no preço da ar- vente, cumprindo ao juiz fixar a
rematação, bem como para que ordem das preferências.
não sej a expedida carta de arre-
matação ou adjudicação sem a É inegável que, pela penhora,
devida apresentação do CQ do adquire o credor um direito real
lAPAS, a teor da Lei n? 3.807/60, sobre os bens penhorados, e em ca-
art. 141, § 3? e 142; Decreto n? so de haver outras penhoras sobre
60.501/67, arts. 184, III e 185; o mesmo bem, recebe em primeiro
172 TFR - 100

lugar o credor que promoveu a pe- mais encargos, dando-se ciência da


nhora, de acordo com a regra prior sobra que eventualmente exista ao
tempore, patior iure. lAPAS para eventual penhora.
Ocorre que tal regra, não preva- ApelOU o lAPAS reportando-se aos
lece sobre os bens alienados qual- termos do protesto de fls. 38/39 (fls.
quer privilégio ou preferência, ins- 62/67) .
tituído anteriormente à penhora Contra-razões às fls. 77/78.
(art. 709, do CPP). Indo os autos ao Tribunal de Justi-
Amílcar de Castro, em seus co- ça do Estado de Santa Catarina, este
declinou da competência, reme-
mentários ao Código de Processo tendo-os a esta Instância.
Civil, acentua: «Se houver sobre os
bens alienados qualquer outro pri- E o relatório.
vilégio, ou preferência, instituído
anteriormente à penhora, o juiz VOTO
não pode autorizar que o credor le-
vante o dinheiro depositado, a não
ser através do processo estabeleci- O Sr. Min. Moacir Catunda: Posto
do pelos artigos 711 e 713» (VoI. que o protesto de preferência da au-
VIII, pág. 345). tarquia tenha sido formalizado dois
dias antes do leilão do bem, entendo
In casu, verifica-se que o lAPAS desmerecer atendimento, porque o
não penhorou os bens levados à ar- recorrente não formalizara penhora
rematação, portanto não pode con- sobre o bem leiloado, em data ante-
correr ao concurso de preferência. rior.
Dir-se-á que o lAPAS, como a Os artigos 711 e 713, do CPC, sobre
Fazenda Pública, na cobrança de privilégio, ou preferência no paga-
sua dívida não concorre com os mento com o dinheiro apurado no
credores particulares, tendo prefe- leilão, pressupõe penhora anterior
rência absoluta sobre qualquer ou- sobre o mesmo bem, seguindo-se pe-
tro tipo de crédito, salvo os decor- lo acerto da sentença quando asseve-
rentes da legislacão trabalhista. rava falta de aptidão processual do
apelante, para disputar a satisfação
Contudo, o que deveria ter feito, do crédito que alega possuir, contra
ao invés de ingressar com o con- o executado.
curso, era penhorar a importância
apurada, dando margem inclusive Nego provimento.
a que o executado pudesse embar-
gar. Entendo que a penhora no res- EXTRATO DA MINUTA
to destes autos seria a única medi-
da de modo a ensejar a cobrança AC 78.317 - SC - ReI.: Min. Moa-
de sua dívida. cir Catunda. Apte.: lAPAS. Apda.:
O lAPAS não pode concorrer, e Cia./Ultragaz S.A.
nem perceber a quantia apurada,
porque não está processualmente Decisão: «Por unanimidade,
apto para tanto. negou-se provimento ao recurso.»
(Em 24-11-82 - 5~ Turma).
Por isso, transitada em julgadO a
presente decisão, levante a Votaram com o Relator, os Srs.
credora-exeqüente Companhia UI- Mins. Sebastião Reis e Pedro Acioli.
tragas SI A, calculadas e pagas as Presidiu o julgamento o Sr. Min.
custas, bem como satisfeitos os de- Moacir Catunda.
TFR - 100 173

APELAÇAO C1VEL N? 79.076 - RJ


Relator: O Sr. Ministro Pedro da Rocha Acioli
Apelante: CONSULTE C SI A - Planejamento, Consultas e Serviços Téc-
nicos.
Apelados: BNH e lAPAS
EMENTA
Processual Civil. Ação Anulatória de Débito Fis-
cal. Depósito Preparatório. FGTS. BNH.
1. O depósito prévio cogitado no art. 38 da Lei n?
6.830, de 1980, constitui condição de procedibilidade
da ação anulatória.
2. O BNH não é parte legitima para responder
ação anulatória de débito levantado pelo INPS. que
emitiu as respectivas notificações.
3. Apelo conhecido em parte, e, nesta, negado
provimento.

ACORDA0 ços Técnicos contra o Banco Nacio-


nal da Habitação, pelo fato de não
Vistos, relatados e discutidos estes ter o a. efetuado o depósito de Cr$
autos em que são partes as acima in- 49.733,11 levantado pelo INPS, no
dicadas: período de janeiro de 1967 a junho de
Decide a 5~ Turma do Tribunal Fe- 1969 e de agosto de 1969 a outubro de
deral de Recursos, por unanimidade, 1971, concernentes: a) às contribui-
negar provimento ao apelo da autora ções não recolhidas sobre pagamen-
no referente ao primeiro (l?) item. tos a trabalhadores autônomos; b)
Quanto ao segundo (2?), dele não co- contribuições não recolhidas sobre o
nhecer, na forma do relatório e no- salário e 13? do pessoal do quadro da
tas taquigráficas constantes dos au- empresa e c) contribuições não reco-
tos que ficam fazendo parte inte- lhidas sobre gratificação paga a pes-
grante do presente julgado. soal do quadro da empresa.
Custas como de lei. Instruiu o pedido com os documen-
tos de fI. 9 usque 35.
Brasília, 24 de novembro de 1982
(data do julgamento.) - Ministro Citado o BNH, este contestou a
Moacir Catunda, Presidente - Mi- ação, alegando, em preliminar, a ca-
nistro Pedro da Rocha ACioli, Rela- rência do direito de ação, sob o fun-
tor. damento de que foi a Previdência
Social, por seus órgãos competentes,
RELATORIO quem promoveu a fiscalização, le-
vantou o débito e notificou a autora
O Sr. Ministro Pedro da Rocha para o depósito do imposto de Cr$
Acioli: Trata-se de ação ordinária de 49.733,11 ao FGTS, conseqüentemen-
anulação de débito relativo a depósi- te, na forma dos incisos IV e VI, do
to do Fundo de Garantia por Tempo art. 267 do CPC, impõe-se a extinção
de Serviço movida pela Consultec do processo, sem julgamento do mé-
SI A Planejamento Consultas e Servi- rito; e, no mérito, que a ação seja
174 TFR - 100

julgada improcedente, com a conde- ordinariamente e o MM. Juiz a quo


nacão da a. nas custas e honorários faculte às partes a prOdução de pro-
advocatícios sobre o valor do débito. vas.
Juntou os documentos de fls. 52/60. O IAP AS e o BNH apresentaram
Ouvido o ilustre Procurador da Re- embargos de declaração, para o fim
pública alegou que nada tinha a adi- de se aplicar ao vencido o pagamen-
tar à contestação (fl. 61). to das custas e honorários advo-
catícios, na forma do art. 20 do CPC,
Ordenou-se á especificação de pro- que foram acolhidos para incluir-se
vas, sendo que o réu pediu que se na sentença de fls. 107, a condenação
apreciasse a preliminar sobre o de- da sucumbência, referente a custas
pósito preparatório do valor do débi- e honorários advocatícios, estes arbi-
to, a fim de se julgar extinto o pro- trados em 10% sobre o valor da cau-
cesso, sem julgamento do mérito sa (fls. 124).
(fls. 63), enquanto a autora requereu
prova pericial e depoimento de teste- Contra-arrazoou o BNH às fls. 126
munhas (fi. 65). a 130, reforçando os argumentos já
expendidos, esperando seja negado
Replicou a autora às fls. 69 a 82, provimento à apelação, com a con-
refutando as preliminares argüidas, firmação do julgado.
bem assim a matéria de mérito.
Também juntou contra-razões o
Reforçou o BNH, às fls. 85/91, os INPS, pedindO a confirmação da sen-
argumentos da contestação. tença, afastando, assim, a apelação
A União Federal manifestou às fls. da autora (fls. 132/134l.
92v. e 93. Da decisão que julgou os embar-
Citou-se o INPS, na qualidade de gos de declaração apelOU a autora,
litisconsorte do réu, que contestou alegando invalidade da sentença que
argüindo, em preliminar, a carência julgou os embargos, por serem in-
da ação, pelo fato de não haver sido tempestivos (fls. 136/140).
efetuado o depósito, na forma do art. O BNH apresentou suas razões
38 da Lei n? 6.830/80, e, via de conse- (fls. 144/147), onde alega, em preli-
qüência, pediu a extinção do proces- minar, que o advogado que assinou a
so, sem julgamento do mérito, e, ca- apelação de fls. 136 não tem poderes
so ultrapassada a preliminar, no mé- para representar a a., conforme se
rito, seja a ação julgada improce- vê da procuração de fI. 9 e, no mé-
dente, com a condenação da autora rito, que seja confirmada a senten-
nas custas e honorários advocatícios ça.
(fls. 98/101).
Subiram os autos ao egrégio Tribu-
Ouvidas as partes, pronunciou-se a nal Federal de Recursos; dispensa-
autora, reforçando os argumentos da nesta Instância, a vista à douta
anteriores, confiando na procedência SGR, de conformidade com o Regi-
do pedido (fls. 104/106). mento.
Sobreveio a sentença, dando pela E o relatório; sem revisão.
carência da ação, decretando-se a
extinção do processo, nos precisos VOTO
termos do art. 267, IV, do CPC:
Dessa decisão recorreu a autora, O Sr. Ministro Pedro da Rocha
valendo-se dos mesmos argumentos Acioli (Relator):
expostos na inicial e na réplica, para Sem embargos das bem elabora-
efeito de ser reformada a sentença, das e fundamentadas razões de ape-
para que o processo volte a tramitar lação da autora, estou em que o di-
TFR - 100 175

reito está com as entidades recorri- Entendo, pois, que com a superve-
das, levando em consideração que a niência da Lei n? 6.830, de 1980, art.
ação anulatória deve ser precedida 38, não é mais possível ajuizar ação
do depósito preparatório do valor do anulatória de débito sem a respecti-
débito, ou de garantia equivalente, va garantia do juízo. Essa garantia
ante os termos do artigo 38 da Lei n? não tem que ser necessariamente o
6.830, de 23 de setembro de 1980, in depósito em dinheiro da quantia co-
verbis: brada. Pode ser garantida por bem
de outra natureza. Assim, torna
«A discussão judicial da Dívida possível a compatibilidade do precei-
Ativa da Fazenda Pública só é ad- to do artigo 38 da Lei n? 6.830 com a
missível em execução, na forma regra constitucional do art. 153, § 4?,
desta Lei, salvo as hipóteses de da Carta vigente. Neste sentido e pa-
mandado de segurança, ação de ra maior fundamentação, junto o vo-
repetição do indébito ou ação anu- to que proferi no precedente acima
latória do ato declarativo da dívi- indicado.
da, esta precedida do depósito pre-
paratório do valor do débito, mone- II
tariamente corrigido e acrescido
dos juros e multa de mora e de- No caso, não houve garantia do
mais encargos.» juízo. Poderia cogitar-se de, em face
Nesse sentido, perfilou-se a v. sen- da regra do art. 284 do CPC, prover
tença de primeiro grau, a reconhe- parcialmente o recurso da autora
cer o pressuposto obrigatório de tão-somente para que ela pUdesse
constituição do processo o prévio de- oferecer a garantia necessária.
pósito do débito da ação anulatória, Entretanto, tal não é possível, da-
decidindo nos termos de fI. 107, as- do que a ação não prospera por ou-
sim: (lê) Opostos embargos, decidiu tro fundamento.
a dra. Juíza, verbis: E que o BNH, contra quem é diri-
«Acolho ambos os embargos de gida a ação, não é parte legítima pa-
declaração opostos, para incluir na ra respondê-la. Na espécie, foi a pre-
sentença de fl. 107, a condenação vidência social, como entidade res-
da sucumbente em custas e hono- ponsável pela fiscalização e cobran-
rários advocatícios, que são arbi- ça dos depósitos para o FGTS,
trados em 10% sobre o valor da quem, através do INPS, levantou o
causa». (fI. 124). débito cobrado e emitiu as respecti-
Em caso semelhante, decidiu à vas notificações (fls. 16/19).
unanimidade de votos a egrégia 5~ Destarte é manifesta a carência
Turma, no AI n? 42.736-RJ, DJ de 25- da ação.
6-82, de que fui Relator: No que toca ao segundo apelo da
EMENTA-Processual Civil. Ação autora, interposto em tempo hábil
anulatória de Débito Fiscal. Depó- após o julgamento dos embargos de
sito Preparatório. Lei n? 6.830, de declaração, dele não conheço por
1980, art. 38. inexistente, eis porque está subscrito
O depósito prévio cogitado no por advogado sem poderes, como
art. 38 da Lei n? 6.830, de 1980, evidencia o intrumento de fI. 9.
constitui condição de procedibilida- Pelo exposto, nego provimento ao
de da ação anulatória. apelo relativamente ao primeiro
Provimento do agravo a fim de item e no que concerne ao segundo
permitir à autora complementar o dele não tomo conhecimento.
depósito preparatório. E o voto.
176 TFR - 100

COPIA ANEXA A AC N? 79.076-RJ cutiva. Assim, muitas vezes enseja-


va a existência de uma ação ordiná-
AGRAVO DE INSTRUMENTO N? ria e de uma execução fiscal, e desta
42. 736-RJ resultava oposição de embargos,
com pluralidade de procedimentos
VOTO onde se discutiam as mesmas ques-
tões (Cf. AC n? 51.888-SE, 4~ Turma
O Sr. Ministro Pedro da Rocha do TFR, ReI.: Min. Carlos Mário
ACioli (Relator): Velloso, in DJ de 4-12-80).
Nenhuma das partes argüiu a in- Como bem está colocada na nova
constituCÍonalidade do art. 38 da Lei lei, o contribuinte ou devedor tem a
n? 6.830/80, que diz do depósito pré- via administrativa para discutir o
vjo, preparatório da ação anulatória. débito. Se prefere deslocar, de logo,
O que acontece é que a autora reque- a discussão para via judicial,
reu expedição de guia para comple- presume-se que renunciou à admi-
mentar o depósito; não vejo porque nistrativa. Provocada a via jurisdi-
deixar de atender a vontade da par- cional, mediante propositura de ação
te. O despacho atacado revela, no anulatória de débito fiscal, a dis-
particular, uma posição da respeitá- cussão se encaminha em termos de
vel juíza pouco técnica, posto que en- procedimento único. E pretendendo
sejou uma questão não suscitada pe- evitar um outro processo - o de exe-
las partes. cução fiscal - a Lei n? 6.830 cuidou
Ademais, devo dizer que não vejo de impor, como condição de procedi-
inconstitucionalidde no mencionado bilidade, o depósito prévio. Não vejo
dispositivo, data venia dos entendi- nisso inconstitucionalidade. Se assim
mentos contrários de Umberto Theo- fosse. seria inconstitucional, tam-
doro Júnior e de Hugo Machado (in bém, a exigência de garantia de
Ajuris n? 22, pág. 79 e Revista Lemi jÚízocomo condição para opOSição
n? 166, págs. 16/17). Penso que o de- de embargos à execução, hoje consi-
pósito constitui uma condição de pro- derado pacificamente - ao menos
cedibilidade, como o é nos embargos no plano jurisprudencial de
à execução. contra-ação, dotado de autonomia
processual.
A Lei n? 6.830, de 1980, contém vá-
rias regras de economia processual, O «depósito preparatório» a que
uma delas é a inscrita no art. 38. O alude o art. 38 representa uma ga-
que se pretendeu foi evitar «a exis- rantia do juízo. Essa garantia não
tência paralela de duas iniciativas, tem que ser necessariamente o depó-
dois procedimentos, com idêntico ob- sito integral do montante do crédito.
jetivo,» tal como assinalado no item Pode ser dada por qualquer uma das
95 da Mensagem Presidencial n? 232, modalidades assinadas no art. 9? da
encaminhada ao Congresso Nacional mesma lei. Essa é a minha interpre-
sobre o projeto que, aprovado, tação, que resulta da tentativa de
converteu-se na lei acima indicada. conciliar a teleologia que reside na
Como se sabe, a jurisprudência lei com a norma inscrita no § 4?, art.
paCificou-se no sentido de admitir a 153 da CF.
ação anulatória ou declaratória ne- Desse entendimento, decorre que
gativa de débito fiscal sem o depósi- se a garantia é feita por depósito,
to do montante integral do crédito procedente a ação, a quantia deposi-
tributário. Neste caso, isto é, na au- tada será devolvida, com os acrésci-
sência de depósito, a Fazenda não mos legais devidos; se improcedente,
estava inibida de ajuizar a ação ex e- será convertida em pagamento do
TFR - 100 177

débito. Tratando-se, porém, de ga- Dou, pois, provimento ao agravo a


rantia por outra modalidade, impro- fim de permitir que a autora com-
cedente a ação, a Fazenda requere- plemente o depósito, atendendo a
rá, nos mesmos autos a alienação ju- sua própria manifestação.
dicial do bem dado em garantia, pa-
ra satisfação do débito, aplicando-se, É o voto.
neste caso, as regras dos artigos 22 e
seguintes. EXTRATO DA MINUTA
Esse é o meu entendimento sobre
a discussão que o art. 38 tem enseja- Apelação Cível n? 79.076-RJ - Re-
do. Embora tenha eu preferido ex- lator: Ministro Pedro da Rocha Acio-
por, de logo, o meu pensamento, ele li. Apelante: Consultec SI A - Plane-
não é diretamente indispensável pa- jamento, Consultas e Serviços Técni-
ra a solução do recurso. cos. Apelados: BNH e lAPAS.
No caso, a autora quer comple-
mentar o depósito à vista da argüi- Decisão: Por unanimidade, negou-
ção levantada pelo BNH, ora agra- se provimento ao apelo da autora no
vante, de insuficiência da quantia referente ao primeiro item. Quanto
depositada. Ora, permitamos que se- ao segundo, dele não se conheceu.
jam satisfeitas as vontades das par- (5~ Turma, em 24-11-82).
tes, que conferem com a vontade da Os Senhores Ministros Moacir Ca-
lei. tunda e Sebastião Reis votaram com
Se a lei impõe o depósito prévio, o relator. Presidiu o julgamento o
este terá que ser integral. Sr. Ministro Moacir Catunda.

APELAÇÃO CRIMINAL N? 4.978 - RJ


Relator: O Sr. Ministro Otto Rocha
Apelante: Walter Sylvio Fontoura
Apelada: Justiça Pública
EMENTA
Criminal - DiVulgação de Fato considerado cri-
me contra a honra - Responsabilidade do jornal.
Indiciamento nos arts. 21 e 22, ele o 23, lII, da
Lei n? 5.250/67 e 51, do CP, de edito~ de jornal que
publicou declarações de deputado federal proferidas
em público' e consideradas ofensivas à honra de um
dos mais altos órgãos do Poder Judiciário.
O jornalista, no exercício legal das suas funções
de bem informar, não contribuiu para a prática de
crime algum, não havendo que se faÜu em respon-
sabilidade sucessiva, nem em onfensa à Lei de Im-
prensa, cometidos que foram crimes comuns,
puníveis pelo Código Penal.
Acolhida a argüição de desrespeito ao princípio
da indivisibilidade da ação penal e repelida a de cer-
ceamento de defesa.
178 TFR - 100

Apelo provido para julgar improcedente a


denúncia.

ACORDÃO sentação ao Sr. Procurador-Geral da


República no sentido de que fosse
Vistos e relatados estes autos, em proposta ação penal contra o aludido
que são partes as acima indicadas: parlamentar e, prevendo a hipótese
Decide a 1~ Turma do Tribunal Fe- de ser negada a licença para tal pela
deral de Recursos, por unanimidade, Câmara dos Deputados, representou,
dar provimento à apelação, para re- desde logo, contra os responsáveis
formar a sentença, julgando impro- sucessivos pelos crimes já descritos,
cedente a denúncia e em conseqüên- solicitando o encaminhamento da re-
cia absolver o acusado, na forma do presentação aos Ministérios Públicos
relatório e notas taquigráficas cons- locais competentes.
tantes dos autos que ficam fazendo De fato, continua a denúncia, ocor-
parte integrante do pres~nte julgado. reu o arquivamento da ação penal
Custas como de lei. contra o deputado, em virtude da ne-
gativa da licença necessária, resul-
Brasília, 31 de agosto de 1982 (data tando, como conseqüência, a imputa-
do julgamento) - Ministro Lauro bilidade do responsável sucessivo, no
Leitão, Presidente - Ministro Otto caso, o ora denunciado.
Rocha, Relator.
Acompanhou a denúncia cópia da
RELATORIO ação penal arquivada pelO E. STF
(fls. 7/31).
o Sr. Ministro OUo Rocha: O Mi- Intimado, Walter Fontoura ofere-
nistério Público Federal ofereceu de- ceu a defesa prévia de fls. 43/49, ar-
núncia contra Walter Fontoura, edi- güindo, em preliminar, falta de justa
tor do Jornal do Brasil, como incur- causa e ilegitimidade ad causam do
so nas sanções dos arts. 21 e 22, com- réu, por inexistência da responsabili-
binados com o art. 23, In, da Lei n? dade sucessiva, com apoio no art. 37,
5.250/67, e com o art. 51, § I? do Có- da Lei de Imprensa. Sustenta que a
digo Penal, por ter publicado no jor- imunidade gozada pelO parlamentar
nal acima referido, por cuja redação não o torna pessoa inidônea e que
é responsável, declarações do depu- ressalvada ficou no voto do eminente
tado federal Getúlio Pereira Dias, Min. Relator do E. STF, a possibili-
proferidas ao final da sessão do Tri- dade de futura e eventual ação pe-
bunal Superior Eleitoral que julgou o nal, uma vez cessada a causa impe-
pedido de registro do PTB, nos se- ditiva que o favoreceu. Que desta
guintes termos: forma, não reeleito o Deputado,
teríamos duas ações penais, com
«Isto aqui é uma latrina do Exe- dois réus diferentes, por um único
cutivo. Assalariados. Simples e fato.
meros assalariados. Quem nasceu
para capacho nunca vai chegar se- No mérito, argúi a inexistência de
quer a ser tapete. Conchavo hipó- ânimo de difamar do Jornal, que se
crita que dá bem a dimensão da limitou a publicar, sem endossar, as
abertura política.)} afirmativas do deputado, cumprindo
seu único dever de informar. Desse
Narra a denúncia que o E. Tribu- modo, e de acordo com a lei de im-
nal ofendido, tão logo tomou conheci- prensa atual, inexistindo o ânimo,
mento de tais declarações, através excluído está o elemento subjetivo
de seu Presidente, ofereceu repre- específico do crime contra a honra.
TFR - 100 179

Recebida a denúncia (fI. 51), o Mi- no art. 12, da Lei n? 5.250/67, que su-
nistério Público ofereceu as alega- jeita às penas nele cominadas aque-
ções finais de fls. 58/63, e o r. as de les que abusivamente se utilizam do
fls. 65/71, acompanhadas estas de exercício de liberdade de informa-
Parecer do Professor Hélio Tornag- ção.
hi, juntado às fls. 73/84 e dos docu-
mentos de fls. 85/93. Entende caracterizada a responsa-
Sustentou o Ministério Público es- bilidade direta do acusado, por ele
tar provado o elemento material, a expressamente admitida, tendo em
ofensa à honra de um dos mais altos vista sua condição de responsável
e respeitáveis órgãos do Poder Judi- pela edição do Jornal do Brasil; con-
ciário, a autoria da matéria divulga- sidera, ainda, inocorrer o interesse
da e o propósito de aviltar a honra público pela pUblicação em causa, o
do Tribunal, com a repetição insis- que só justificaria o cumprimento do
tente das vis expressões. dever do ofício, do ius informandi;
assinala preponderar sobre o direito
E o r. argüiu em suas alegações de liberdade de manifestação de
inexistência de crime de imprensa, pensamento, o dever de respeito à
conforme definido no art. 12 da lei dignidade e ao decoro de quantos
específica, porque o Deputado, ao exerçam a manifestação da sobera-
proferir a malsinada declaração, nia estatal, e mesmo de qualquer ci-
não estava dando entrevista à im- dadão; quanto ao princípio da indivi-
prensa, tendo os repórteres anotado sibilidade da ação penal, esclarece
e redigido a notícia, como qualquer ser o mesmo somente radical nos
outra ocorrência. Não teve, ainda, crimes de ação penal privada.
qualquer participação na notícia,
não faz parte da redação do jornal e A ação foi julgada procedente e o
não tomou qualquer iniciativa para a acusado incurso nas penas dos arti-
publicação, não fazendo, portanto, gos 21 e 22, c/c o art. 23, inciso IH,
parte do elenco de pessoas enumera- da Lei n? 5.250/67, c/c, ainda, o § I?,
das no art. 28, daquele dispositivo le- do art. 51, do CP. Por ser réu primá-
gal. Argúi, ainda, inexistência de rio, mas considerada a intensidade
responsabilidade sucessiva, de dolosa do fato. condenou-o a MM.
animus injuriandi ou difamandi, e Julgadora, pela infração ao art. 21, à
desrespeito ao princípio da indivisi- pena de 9 (nove) meses de detenção
bilidade da ação penal, eis que, noti- e multa de 6 (seis) salários mínimos,
ciado o fato por vários jornais, não elevada de um terco em razão da
foram os demais abrangidos pela de- agravante específica do inciso lU, do
núncia, o que a torna inepta, e inca- art. 23, da referida lei, para fixar-se
paz de produzir qualquer efeito em um ano de detenção e oito
jurídico. salários mínimos. E por ter-se dado
A MM. Juíza Federal Dra. Julieta a infração do art. 21, em concurso
Lídia Machado Cunha Lunz proferiu, formal com o art. 22, da Lei de infor-
então a r. sentença de fls. 95/105. mação, aumentou ainda de um terço
Considerou preliminarmente im- ditas penas (§ I?, art. 51, do CP)
próprio o dispositivo legal contido na fixando-as definitivamente em um
representação do TSE e na denúncia ano e quatro meses de detenção e
que cuida da responsabilidade suces- dez salários mínimos e meio.
siva, inaplicável ao caso. Entende, Concedeu, entretanto, o benefício
porém, que tal fato não compromete da suspensão condicional da pena, fi-
a eficácia da representação e classi- xando em 4 (quatro) anos o período
fica a responsabilidade do acusado de provação.
180 TFR - 100

O Ministério Público requereu (fls. VOTO


106v.) fosse determinada a requisi-
ção da folha de antecedentes penais O Sr. Ministro Otto Rocha (Rela-
do r., antes de designada audiência tor): Sr. Presidente: Esclarece a de-
admonitória, o que fez a MM. Dra. núncia de fls. 2/4:
Juíza à fI. 109; à fI. 115 foi ordenada
a subida dos autos e a designação de «Tendo, pois, sido declarada pelo
nova audiência que ficou marcada Excelso Pretório a existência de
para o dia 9 de março, depois da re- causa impeditiva para que o res-
messa do processo. ponsável pelas ofensas fosse sub-
Walter Fontoura inconformado metido à ação penal, resultou, co-
apelou (fI. 108), protestando pela mo conseqüência, a imputabilidade
apresentação de suas razões nesta do responsável sucessivo, que é, no
Superior Instância, na forma do art. caso, o denunciado Walter Fontou-
600, do CPP. ra, o qual, na data de publicação
da matéria incriminada era o edi-
Neste Tribunal, atendendo solicita- tor do jornal (moderna denomina-
ção do Juízo a quo (ofício de fI. 119) ção da antiga função de «redator-
fez-se juntada dos antecedentes cri- chefe», a que se refere a represen-
minais do r. (fI. 120) e abriu-se vista tação do E. Tribunal Superior Elei-
às partes para oferecimento de ra- toral), tudo na forma do art. 37, §
zões (fI. 121). 4?, combinado com o art. 28, I, da
Lei de Imprensa, tendo-se em con-
O apelante as apresentou às fls. ta que o nome do denunciado é o
123/137. Concorda com a possibilida- único que figura permanentemente
de do Juiz dar ao crime definição di- como responsável pela edição do
versa da contida na queixa ou na de- jornal.»
núncia (CPP, arts. 383 e 384), mas
não aceita ter sido pego de surpresa
com a nova classificação, da qual A seguir, conclui:
não se defendeu, sustentando não
servir o dispositivo, então utilizado, «Assim, por haver praticado
de base a responsabilidade nenhu- abuso no exercício da liberdade de
ma, por se tratar de norma de natu- informação, através de órgão de
reza programática, tornando a con- divulgação de cuj a redação é o res-
denação desprovida de apoio legal, ponsável, está o denunciado Walter
passando a inexistir ilícito a ser pu- Fontoura incurso nas sanções dos
nido. Reitera, a seguir, as questões artigos 21 e 22, combinado com o
já apontadas nas alegações finais. art. 23, lII, da Lei n? 5.250/67, com-
binado com o art. 51, § I?, do Códi-
A seguir, oficiou no feito a d. go Penal, por se tratar de concurso
Subprocuradoria Geral da Repúbli- formal de delitos.»
ca, após assinalar a inobservância
da parte final do disposto no § 4?, do
art. 600, do CPP. Reforça, em todos A seu turno, salienta a r. sentença
os seus termos, os fundamentos da r. recorrida:
sentença recorrida e opina pelo im-
provimento do recurso. «A responsabilidade do acusado
tem por base legal o art. 12, da Lei
Dispensada a revisão, nos termos n? 5.250/67 que sujeita às penas ne-
do item IX, do art. 33, do RI. la cominadas aqueles que abusiva-
mente se utilizam do exercício de
É o relatório. liberdade de informação.»
TFR - 100 181

Tendo em vista a aparente discre- nal, pelos seguintes motivos que ali-
pância entre a capitulação constante nhou:
da denúncia e a apontada no supra-
transcrito trecho da sentença, enten- «L Inexistência de crime de im-
deu o ora apelante, em suas razões prensa, na hipótese;
que, embora seja certo que o juiz po-
de dar ao crime definiçâo diversa da
contida na queixa ou na denúncia, 2. Inexistência de responsabilida-
conforme a autorização constante de sucessiva se admitida, ad
dos arts. 383 e 384 e seu parágrafo, a absurdem a existência de crime de
defesa foi surpreendida, uma vez imprensa;
que a denúncia buscou a responsabi-
lidade no artigo 12, da Lei de Im- 3. Inexistência do animus lllJU-
prensa, «quando a denúncia afunda- riandi vel difamandi, se admitidas
va no art. 37, § 4?, da mesma leL» as hipóteses dos itens anteriores;

Estou em que a discussão seria ir- 4. Inépcia absoluta da denúncia


relevante, pois como apropriada- por ofensa frontal ao princípio da
mente destacou o apelante, em suas indivisibilidade da ação penal».
razões, «o artigo 12 é genérico, é um
dispositivo de natureza programáti- Como se viu, não foi a defesa sur-
ca, e por isso mesmo, ao empregar a preendida; não sofreu ela qualquer
expressão «Aqueles que ... » quer se prejuízo que pUdesse ser argüido,
referir àqueles cuja responsabilida- com sucesso.
de vem estatuída no Capítulo V sob a
epígrafe «Da responsabilidade pe-
nal». Inexiste a apontada nulidade, uma
vez que a sentença aplicou, exata-
mente, os dispositivos indicados na
denúncia.
Tanto assim, que em perfeita con-
sonância com a capitulação feita na De outra parte, insurge-se, com
denúncia, concluiu a sentença pela razão o apelante quanto ao desaten-
procedência da ação, condenando o dimento, pela sentença, da regra da
apelante como infrator dos artigos indivisibilidade da ação penal.
21, 22 c/c o 23, inciso IlI, da Lei n?
5.250/67 e, ainda, com o § I?, do art.
51, do Código Penal. Ao propósito, ensina Frederico
Marques:

Ademais, com a devida vênia, não «Temos para nós que a indivisi-
se vislumbra nestes autos, em qual- bilidade da ação penal pública é
quer fase de sua tramitação, a exis- princípio absoluto; se na ação pri-
tência de fato ou ato que possa ter vada, sob o signo do ius
surpreeendido a defesa. dispositivum do querelante, ele vi-
gora de modo indeclinável, com
maior razão deve ser aplicado
Assim é que, em suas alegações fi- aquele princípio, no que tange à
nais (fls. 65/71), a defesa, abordando ação penal pública que, de regra, é
tudo aquilo que fora narrado na peça indisponível» (Tratado de Direito
acusatória, bateu-se pela absoluta Processual Penal, ed. 1980, vol. lI,
inviabilidade da presente ação pe- pág. 144).
182 TFR - 100

Neste diapasão leciona Hélio Tor- ciamentos considerados ofensivos,


naghi, asseverando que este não faz incidir a Lei n? 5.250-67 -
princípio abrange também a ação Recurso de habeas corpus não pro-
penal pública, pois, quanto a esta, vido.»
«não havia necessidade de preceito De qualquer sorte, a r. sentença
expresso, já que o Ministério Público apelada acabou por agasalhar a tese
não pode renunciar ao exercício da da responsabilidade sucessiva.
ação» (<<Instituições de Processo Pe- No particular, vale transcrever
nal», 2~ ed. 1977, 2? voI., pág. 157). trechos do Parecer da lavra do ilus-
Em verdade, no caso concreto, a trado advogado DL Evandro Lins e
denúncia não arrolou todos os acusa- Silva, ex-Ministro do Excelso Pretó-
dos, em flagrante desobediência ao rio,' onde ali pontificou por vários
princípio da indivisibilidade da ação anos, demonstrando seu elevado sa-
penaL ber jurídico, através lições de alto
Entretanto, entendo que o ponto cunho doutrinário e sempre apoiadas
principal a ser dirimido é o que res- na jurisprudência daquela mais Alta
peita à prática de crime previsto na Corte de Justiça.
Lei n? 5.270/67. Cuidando da constitucionalidade
O apelado, pelo simples fato do da responsabilidade sucessiva, diz
jornal do qual era o seu editor, ter Evandro Lins e Silva.
publicado, ter noticiado um fato cri- «Responsabilidade suceSSlva
minoso praticado por outrem, não Sua constitucionalidade, quandO se
praticou crime algum, respeitada a trata de sucessão de autor ignora-
exceção constante do art. 20, pará- do, ausente ou inidôneo; inconstitu-
grafo único, da Lei n? 5.270/67 (Lei cionalidade de norma que autoriza
de Imprensa). a substituição de a. conhecido, pre-
Com efeito, o a. da injúria e da di- sente e idôneo.
famação, ou seja, o deputado, come- A Constituição consagra, de mo-
teu crimes comuns: os previstos nos do expresso, entre as garantias dos
arts. 139 e 140 do Código Penal, de- cidadãos, o princípio fundamental
vendo por eles responder, uma vez da responsabilidade penal pessoal
que o jornalista, no exercício legal (artigo 153, § 13). O sujeito do cri-
das suas funções de bem informar, me só pode ser quem tenha violado
para os mesmos não concorreu. preceito enquadradO em norma an-
Destarte, sem aplicação, à espé- terior ligando a sua conduta ao re-
cie, a Lei de Imprensa, pois o parla- sultado por um nexCi causal físico e
mentar, como já disse, cometeu cri- psicológico. A pessoa do delinqüen-
me comum, punível pelo código Pe- te é a do a. da infração.
naL O direito penal, nas suas raízes
Neste sentido foi o decidido pelo E. constitucionais, repele qualquer
Supremo Tribunal Federal, ao jul- idéia de responsabilidade mera-
gar, por 1~ Turma, o RHC n? 56.165- mente objetiva. Daí a controvérsia
9, de São Paulo, Relator, o Sr. Minis- sobre o problema da responsabili-
tro Xavier de Albuquerque, em acór- dade sucessiva, além da pessoa do
dão cuja ementa proclama: a. nos delitos cometidos através da
«Ementa - Crimes contra a hon- imprensa.
ra praticados por vereador, me- As características peculiares da
diante discursos proferidos na Câ- atividade dos jornais levaram à
mara a que pertence. A circuns- adoção do critério que responsabi-
tância de ter havido ampla divul- liza, incialmente, o a. da infração,
gação, pela imprensa, dos pronun- segUindo-se, na cadeia de sucesso-
TFR - 100 183

res, isto é, na chamada responsabi- A tese da responsabilidade obje-


lidade par cascades, o diretor ou tiva apresenta-se falha sob diver-
redator responsável. Esse' sistema sos aspectos e oferece tropeços ao
foi instituído no Brasil em 1822, e intérprete. Figure-se um diretor de
«tem, portanto, tradição sesquicen- jornal atacado de doença mental,
tenária, em nosso ordenamento», ou que sej a coagido a publicar es-
como assinalou o eminente Min. crito aleivoso. Continuará respon-
Xavier de Albuquerque, em voto sável pelo só fato de ser diretor?
proferido no Recurso Extraordiná- E nos casos de omissão decor-
rio Criminal n? 75.329 (RTJ., voI. rente de erro de outrem? E no caso
77, p. 220). fortuito? .
Malgrado a ancianidade da exce- Todos esses problemas, aqui su-
ção assim criada para a imprensa cintamente levantados, evidenciam
periódica, o tema persistiu polêmi- que a responsabilidade objetiva do
co e questionado. Segundo as opi- diretor de jornal conduz à perplexi-
niões mais destacadas, há os que dade do ponto de vista constitucio-
afirmam tratar-se de responsabili- nal e da própria legislação penal,
dade por fato próprio e há os que fundada no dolo, ou seja, na res-
sustentam tratar-se de responsabi- ponsabilidade oriunda de uma von-
lidade por fato de outrem. tade livremente exercida no sentido
Para a primeira corrente, o di- do resultado antijurídico.
retor ou o redator responsável tem Para vencer os naturais escrúpu-
o dever de fiscalizar o andamento los de consciência de inúmeros ju-
regular do jornal e, se crime se ristas que não se conformavam
praticou através dele, há culpa do com esse tipo de responsabilidade
diretor ou redator por uma omis- objetiva, a legislação italiana,
são de que derivou o crime. fonte mais próxima da nossa, foi
Os partidários da segunda cor- alterada, para considerar o diretor
rente sustentam que a responsabi- como responsável, não dolosamen-
lidade decorr~ do só fato de ser di- te, mas a título de culpa (vide
retor, independentemente de um atual art. 57, do Cód. Penal Italia-
nexo de causalidade material e de no).
um vínculo de causalidade psíqui- Entre nós, Roberto Lyra, profes-
ca, cuidando-se de uma «responsa- sor eminentíssimo e único sobrevi-
bilidade objetiva anômala por fato vente da comissão elaboradora do
de outrem que como tal derroga in- Código Penal vigente, sempre foi
teiramente as normas que discipli- intransigente adversário do «siste-
nam a co-participação criminosa» ma de responsabilidade sucessiva,
(li dirito penale della stampa, Pie- flagrantemente inconstitucional,
tro Nuvolone, 1971, p. 105). por atentar contra o princípio de
O objetivo do legislador foi asse- que a pena não pode passar da pes-
gurar, em todos os casos, a exis- soa do delinqüente» (<<Direito Pe-
tência de um responsável por tudo nal», Parte Geral, 1938, pp. 60 a
o que é publicado na imprensa pe- 61).
riódica, quase sempre sem assina- Apesar dessas reservas, de or-
tura de seu autor. Dentro desse dem doutrinária, a matéria pare-
critério, o cargo de diretor ou ce-nos superada, na sua exegese e
redator-chefe traz, com a simples na sua aplicação, pelo STF. O dou-
aceitação, a conseqüência automá- to Min. Xavier de Albuquerque, no
tica da responsabilidade objetiva; voto citado acima, chamou a aten-
mesmo por fato de terceiro. ção para a longa convivência entre
184 TFR - 100

o sistema da responsabilidade su- diretor e o redator-chefe passaram


cessiva e a regra da responsabili- a responder por culpa, strictu
dade penal pessoal de nossas Cons- sensu, isto é,se agirem com negli-
tituições, desde o Império, o que gência, imprudência ou imperícia.
«constitui bom indício de que o pri- O acórdão, em última análise, eli-
meiro não agride a segunda». E minou a responsabilidade penal ob-
lembrou pronunciamentos explíci- jetiva anômala da legislação que
tos da Corte, inclusive no famoso reprime os abusos da liberdade de
processo do «Correio da Manhã», manifestação do pensamento atra-
instaurado pelo presidente Epitá- vés da imprensa. Punindo o jorna-
cio Pessoa contra o jornalista Má- lista, na sucessão, a título de cul-
rio Rodrigues, onde foi reconheci- pa, deixa de haver antagonismo ou
da a constitucionalidade do siste- antítese entre a lei e a Constitui-
ma da responsabilidade sucessiva ção, no que toca ao princípio de
nos delitos de imprensa. que a· pena não pode passar da pes-
O que se contém de sumamente soa do delinqüente.
relevante nesse acórdão do Supre- A Corte Suprema, ao pronunciar-
mo é a observação de que a refor- se dessa forma, firmou, de modo
ma italiana «constitui na explicita- implícito, o conceito de que a su-
ção de que as pessoas sucessiva- cessividade jamais pode significar
mente chamadas a responder pelo substituIção. E o § 4?, do art. 37, da
crime o fariam a título de culpa, Lei de Imprensa, não transfere a
pela omissão em que teriam incor- punição do a. do crime a um suces-
rido no exercício, sobre o conteúdo sor, mas a um substituto.
do periódico, do controle necessá- Essa a questão jurídica funda-
rio a impedi-lo». E, mais importan- mental que está em causa. Podia o
te, ainda, é que: legislador, havendo um a. conheci-
«... a Lei n? 5.250-67 não adotou do, presente e idôneo, criar a figu-
a responsabilidade objetiva. Diz ra de um substituto para responder
ela, ao invés, que a responsabili- ao processo por delito de impren-
dade sucessiva constitui, nos ca· sa?
sos em que é prevista, responsa- Em primeiro lugar, a imunidade
bilidade por culpa (art. 37 § 5?), do deputado não lhe retira a ido-
tanto que a elide, na sucessão neidade para ser réu da ação pe-
fundada em falta de idoneidade nal e tanto isso é certo que foi ele
do sucedido, a prova de não ha- de~unciado pelo Dr. Procurador-
ver o responsável sucessivo con- Geral da República. Por outro la-
corrido para o crime com negli- do a recusa da licença, pela Câ-
gência, imperícia ou imprudên- m~ra dos Deputados, para o pro-
cia (art. 39, § 4?).» cesso contra o parlamentar, não
O saudoso Min. Rodrigues Alck- apaga o crime, nem isenta o seu a.
min sufragou esse entendimento: a de responsabilidade. Impede o pro-
responsabilidade sucessiva, no re- cesso, apenas, enquanto persistir o
gime da Lei n? 5.250-67, é a título mandato. Se este se extinguir, por
de culpa. decurso de prazo, ou por perda, na
forma do art. 35, da Constituição, o
Essa decisão do ~upremo Tribu- deputado não fica isento do proces-
nal Federal, embora apoiando a so. Houve uma causa impeditiva,
antiga orientação, quanto à consti- que pode cessar a qualquer mo-
tucionalidade do sistema de res- mento. É o que ensina Pontes de
ponsabilidade sucessiva, fixou que, Miranda, nos seus «Comentários à
agora, em face da Lei n? 5.250, o Constituição de 1967» (Tomo II, pp
TFR - 100 185

15 e segs.) . O processo contra O que se vê dos autos é a publica-


o deputado está suspenso, por ção do editorial sob o título «Fenõ-
imunidade de ordem processu- meno Inquietante», publicado pelo
al. Acima de quaisquer opiniões, mesmo jornal, dois dias após à pu-
há, no caso, a decisão do STF, de- blicação do noticiário contendo a
cretada com base no voto do emi- malsinada frase do deputado, e onde
nente Min. Soares Muiioz que de- se destaca o seguinte trecho:
terminou « o arquivamento dos au- «Há, em suma, um clima geral
tos, com ressalva de futura e even- de insubmissão ao Direito de rebel-
tual ação penal, uma vez cessada a dia à palavra da Justiça, de au-
causa impeditiva». sência absoluta de respeito às ins-
O procedimento contra o jorna- tituições e às suas figuras mais re-
lista poderá ensejar, no futuro, presentativas, e de desprezo com-
uma duplicidade de ações penais, pleto às normas éticas, naquele
contra réus diferentes, por um úni- mínimo garantidor de boa convi-
co fato delituoso, o que violaria vência social».
não apenas preceito expresso da Aí está a ausência do animus inju-
Constituição, mas o próprio bom riandi vel difamandi.
senso.
Com estas considerações, não ve-
Não há que discutir: o princípio jo, da análise dos autos, como deixar
da responsabilidade sucessiva é de prover o apelo.
mais que centenário, é constitucio-
nal, mesmo que se admita uma Ante o exposto, dou provimento à
anõmala responsabilidade objeti- apelação de Walter Sylvio Fontoura,
va, ou se aceite a responsabilidade para o fim de reformar a r. decisão
como derivada de negligência, im- recorrida, absolvendo-o da imputa-
perícia ou imprudência do diretor ção que lhe fora feita e, conseqüente-
ou redator-chefe do jornal. Essa a mente, julgando improcedente a de-
orientação da jurisprudência do núncia.
STF, como vimos. É o meu voto.
Essa responsabilidade ~ucessiva, VOTO
porém, só pode ocorrer e atingir os O Sr. Ministro Pereira de
sucessores, na ordem legal, quan- Paiva: Pelo que li do memorial,
do b autor for desconhecido, esti- dos pareceres que recebi antes do
ver ausente ou não tiver idoneida- julgamento, pelo que ouvi do ilustre
de para arcar com a responsabili- advogado, da tribuna, do Relatório
dade. do eminente Min.- Relator e da fala
Após fazer um retrospecto históri- do eminente Sr. Subprocurador-
co, desde o Império até os nossos Geral da República, cheguei à con-
dias, conclui o douto parecefista que clusão de que toda controvérsia resi-
na hipótese dos autos não se aplica o de na questão do dolo e da responsa-
sistema da responsabilidade sucessi- bilidade.
va, «porque o jornal noticiou um fato
realmente ocorrido, e, se crime hou- Ora, noticiado o fato que teria sido
vesse, ele já estava consumado e ha- de responsabilidade de um Sr. Depu-
via sido cometido por terceiro.» tado, no recinto do Superior Tribunal
Eleitoral, dois ou três dias após as
Por sua vez, não se recolhe dos au- mesmas palavras por ele proferidas
tos, como entendeu a sentença, que e, verificado por outro lado, que o
houve, por parte do «Jornal do Bra- noticiário não só foi fiel na reprodu-
sil», o animus injuriandi vel ção daquilo que foi dito pelo Deputa-
difamandi. do, como ainda até criticou as pala-
186 TFR - 100

vras ofensivas às autoridades do Ju- não temos as duas principais figuras


diciário, entendi, desde logo, não se que regem quase toda a doutrina pe-
tratar, primeiro, de dolo, porque não nal, isto é, o dolo e a responsabilida-
há crime sem dolo e nem há dolo de.
sem vontade do infrator da lei. O voto do eminente Min. Otto Ro-
Noticiado o fato, dois dias depois cha apreciou adequadamente, em to-
do acontecido no recinto do E. Supe- das as suas nuanças, não só os fatos
rior Tribunal Eleitoral, de modo fiel, como o Direito propriamente dito
sem demonstração de má fé, não se que rege a espécie. E outra não po-
pode falar em dolo do recorrente. O deria ser a decisão absolvendo, co-
próprio noticiarista, como acabou de mo também absolvo, o apelante do
ler o eminente Min. Otto Rocha, cri- crime pelo qual foi acusado e conde-
ticou, ao final da notícia, as palavras nado.
proferidas pelo Deputado.
É o meu voto.
Se não há dolo e se o apelante não
é o responsável pelo crime, como en- EXTRATO DA MINUTA
tãocoridená-Io? Amimrepugnaacons-
ciência de saber que num País que ACr. 4.978-RJ - ReI.: O Sr. Min.
tem o Estatuto Pólítico em que todos otto Rocha. Apte.: Walter Sylvio
são iguais perante a lei, poupa-se o Fontoura. Apds.: Justiça Pública.
Deputado responsável pelo evento,
mas que não foi processado, por este Decisão: A Turma, por unanimida-
ou por aquele motivo - cujas pala- de, deu provimento à apelação, para
vras ditas fora da tribuna, mas sim reformar a sentença, julgando im-
no recinto do E. Superior Tribunal procedente a denúncia e em conse-
Eleitoral - seja esse Deputado isen- qüência absolver o acusado (l~ Tur-
to ou poupado do crime, enquanto ma: 31-8-82).
que se quer dar uma feição de um Os Srs. Ministros Pereira de Paiva
crime autônomo para um noticiaris- e Lauro Leitão votaram com o Rela-
ta que foi fiel às palavras transcritas tor. Presidiu o julgamento o Sr. Min.
no seu jornal. Então, evidentemente, Lauro Leitão.

APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA N? 84.438 - RJ


Relator: O Sr. Ministro Antônio Torreão Braz
Remetente: Juiz Federal da 9~ Vara
Apelante: Departamento Nacional de Estradas de Rodagem
Apelado: Expresso São Luiz Ltda.
EMENTA
Concorrência pública para exploração de serviço
de transporte coletivo rodoviário intermunicipal.
Mandado de segurança contra parecer de órgão
do DNER, que entendeu interestadual a linha a ser
explorada.
Ilegitimidade passiva ad causam da autoridade
impetrada, visto como o parecer não possui exe_cuto-
riedade própria, dele não podendo resultar lesa0 ou
ameaça de lesão a direito subjetivo de terceiro.
Apelação provida.
TFR - 100 187

ACORDÃO que faleceria competência ao órgão


estadual para pôr em'licitação o ser-
Vistos e relatados. os autos em que viço, ficando seriamente ameaçada
são partes as acima indicadas: a realização da concorrência marca-
Decide a 3~ Turma do Tribunal Fe- da para o já mencionado dia 10-3-78.
deral de Recursos, por unanimidade, Terminou pedindO a concessão do
dar provimento à apelação para re- writ para assegurar a efetivação do
formar a sentença e julgar a impe- processo seletivo, ao qual 'está habi-
trante carecedora de ação, na forma litada, e declarar o caráter intermu-
do relatório e notas taquigráficas nicipal da linha rodoviária em dis-
constantes dos autos que ficam fa- cussão.
zendo parte integrante do presente A autoridade indigitada coatora
julgado. prestou informações, argüindo a sua
Custas,' como de lei. ilegitimidade passiva ad causam,
Brasília, 11 de maio de 1982 (data visto como nenhum ato praticou em
do julgamento) - Ministro Carlos relação à impetrante; apenas, con-
Madeira, Presidente Ministro sultado pela SUTEG, respondeu que,
Antônio Torreão Braz, Relator. a seu ver, a matéria se incluía nas
atribUições federais (fls. 63/66).
RELATORIO O Dr. Silvério Luiz Nery Cabral,
Juiz Federal da 9~ Vara do Rio de
o Sr. Ministro Antônio Torreão Janeiro, concedeu a segurança nos
Braz: Expresso São Luiz Ltda., fir- termos do pedidO (fls. 75/85),
ma estabelecida em Goiânia, impe-
trou mandado de segurança contra o Houve remessa de ofício e apela-
Diretor de Transportes Rodoviários ção do DNER, com as razões de fls.
do Departamento Nacional de Estra- 91/95.
das de Rodagem, alegando: Contra-razões às fls. 98/103.
A Superintendência de Transportes
e Terminais do Estado de Goiás, A ilustrada Subprocuradoria Geral
competente, na esfera estadual, para da República opinou pela confirma-
conceder, permitir e fiscalizar os ção da sentença (fls. 114/118).
serviços de transporte de passagei-
ros entre municípios, abriu concor- E o relatório.
rência para a exploração da linha in-
termunicipal «Goiânia-Posse», a VOTO
realizar-se em 10-3-78, na sede da-
quele órgão. O Sr. Ministro Antônio Torreão
Braz (Relator): Senhor Presidente, o
Ocorre que, em virtude de requeri- mandado de segurança sob exame
mento de terceira empresa, o órgão ataca parecer de órgão do Departa-
estadual entendeu de consultar o mento Nacional de Estradas de Ro-
DNER acerca da possibilidade de dagem que considerou interestadual
ser a ligação «Goiânia-Posse» consi- a ligação «Goiânia-Posse».
derada interestadual pela peculiari-
dade de o seu percurso rodoviário No meu sentir, é manifesta a ilegi-
ser efetivado com trânsito pela área timidade passiva ad causam da au-
territorial do Distrito Federal. toridade impetrada, por isso que ne-
Contrariando as expectativas, a nhum ato comissivo ou omissivo se
autoridade impetrada houve por lhe atribui do qual pudesse resultar
bem de considerar interestadual a li- lesão ou ameaça de lesão a direito
nha rodoviária em exame, com o subjetivo da impetrante.
188 TFR - 100

Ó parecer não possui executorieda- questão que alega existir, e impe-


de própria, dependendo, para tanto, dir a Administração Pública esta-
de aprovação por quem de direito. dual de expressar as razões por
«O parecer - ensina Hely Lopes que pretenderia, ou não licitar.
Meirelles, «Direito Administrativo Com efeito, pode, realmente,
Brasileiro», 8':' ed., pág. 169 - tem ocorrer que a licitação estivesse
caráter meramente opinativo, não suspensa por outro fundamento
vinculando a Administração ou os que não o invocado pela impetran-
particulares à sua motivação ou con- te, e não se viria a saber disso nes-
clusões, salvo se aprovado por ato ses autos, porque o órgão estadual
subseqüente. Já então, o que subsis- não é parte.»
te, como ato administrativo, não é o
parecer, mas sim o ato de sua apro- Com estas considerações, dou pro-
vação que poderá revestir a modali- vimento à apelação para reformar a
dade normativa, ordinatória, nego- sentença e julgar a impetrante care-
ciaI ou punitiva.» cedora da ação de segurança, pagas
por ela as custas do processo.
Coator, portanto, para os efeitos
jurídicos, não é o órgão que emite o EXTRATO DA MINUTA
parecer, mas o que o aprova, tenha
ele cunho normativo, ordinatório ou AMS 84.438-RJ - ReI.: O Sr. Min.
punitivo. Antônio Torreão Braz. Remte.: Juiz
Não é só. Além de intentar a ação Federal da 9':' Vara. Apte.: Departa-
mandamental contra quem não tinha mento Nacional de Estradas de Ro-
legitimação, pretende a impetrante dagem. Apdo.: Expresso São Luiz
- e obteve êxito na inferior instân- Ltda.
cia - obrigar a Superintendência de
Transportes e Terminais do Estado Decisão: A Turma, por unanimida-
de Goiás, que não integrava a lide, a de, deu provimento à apelação para
efetivar a concorrência para a ex- reformar a sentença e julgar a impe-
ploração da linha, numa incon- trante carecedora de ação, nos ter-
cebível anomalia processual. mos do voto do Min.-Relator. (Em
Própria e adequada, por isso, a ad- 11-5-82 - 3':' Turma).
vertência da autoridade impetrada Os Srs. Mins. Carlos Madeira e
neste tópico das informações (fI. 65): Flaquer Scartezzini votaram com o
«De outra parte, a impetração relator. Ausente, justificadamente, o
da segurança, contra o DNER, re- Sr. Min. Adhemar Raymundo. Presi-
sulta, de certo, do intento de a im- diu o julgamento o Sr. Min. Carlos
petrante enfocar um aspecto da Madeira.
APELAÇAO EM MANDADO DE SEGURANÇA N? 85.488 - RJ
Relator para o Acórdão: O Sr. Ministro Evandro Gueiros Leite
Relator Originário: O Sr. Ministro Aldir Guimarães Passarinho
Apelante: Anthony French Colson
Apelado: INPS
EMENTA
Previdência Social. Ex-combatente. Abono de
Permanência. Benefício da Lei n? 4.297, de 1983, Bra-
TFR - 100 189

sileiro ex-combatente junto à Royal Air Force. Acor-


do sobre serviço militar Brasil - Grã-Bretanha, ao
tempo da 2~ Grande Guerra.
Tendo sido reconhecido pelo INPS que o impe-
trante era, segundo o critério então existente, ex-
combatente para os fins de amparo da Lei n?
4.297/63, sendo-lhe deferido o recolhimento de contri-
buições em tal condição, não se torna possível
negar-lhe o abono de permanência, nas bases refe-
rentes àquela qualidade, por posterior modificação
de critério. Ademais, justifica-se plenamente o reco-
nhecimento da condição de ex-combatente daquele
que voluntariamente participou de operações bélicas
na 2~ Guerra Mundial, como integrante da RAF, ao
amparo do acordo sobre serviço militar entre a Grã-
Bretanha e o Brasil. Segurança que se concede.
(Min. Aldir G. Passarinho. Relator designado, Minis-
tro Evandro Gueiros Leite, RI, art. 89, § I?).

ACORDÃO por ocasião da Segunda Guerra Mun-


dial, o qual foi reconhecido pelo
Vistos e relatados os autos em que' Exército Brasileiro que lhe concedeu
são partes as acima indicadas: o certificado de reservista, nos ter-
mos do protocolo celebrado pelos go-
Decide a 2~ Turma do Tribunal Fe- vernos
deral de Recursos, por unanimidade, mado em do Brasil e da Inglaterra, fir-
dar provimento à apelação, nos ter- 27 de maio de 1944. Com
mos do voto do relator e de acordo fundamento em tal deliberação, pos-
com as notas taquigráficas prece- tulou junto à autarquia previdenciá-
dentes que integram o presente jul- ria contribuir nos termos da Lei n?
gado. 4.297/63, sendo a sua pretensão aten-
dida, efetuando sua empregadora os
Custas como de lei. descontos sobre a sua remuneração
Brasília, 18 de dezembro de 1981 a contar de 1? de agosto de 1966.
(data do julgamento) - Min. Aldir Afirma que, depois de ter contri-
G. Passarinho, Presidente - Min. buído por mais de cinco anos para a
Evandro Gueiros Leite, Relator. Previdência Social e j á poder
aposentar-se, requereu o pagamento
RELATORIO do abono de permanência o qual lhe
foi negado sob a consideração de não
o Sr. Ministro Aldir G. Passarinho ser considerado ex-combatente. Sa-
(Relator): Trata-se de apelação em lienta que tem direito adquirido, pois
mandado de segurança interposta as suas contribuições foram recolhi-
por Anthony French Colson, incon- das em tal qualidade.
formado que se encontra com a r.
sentença do MM. Juiz da 3~ Vara da Em suas informações, sustenta a
Seção Judiciária do Estado do Rio digna autoridade dita coatora que o
de Janeiro, que negou a segurança impetrante não provou a sua condi-
impetrada com vistas ao deferimento ção de ex-combatente, e sim o tempo
do abono de permanência que lhe fo- de serviço que é irrelevante. Procla-
ra negado pela Previdência Social. ma que a matéria é complexa e refo-
Diz o autor em resumido que pres- ge ao âmbito estreito do remédio he-
tou serviço militar na Inglaterra, róico.
190 TFR - 100

o Ministério Público Federal junto «No requerimento em que An-


à Seção Judiciária do Rio de Janeiro thony French Colson, filho de Er-
opinou pela denegação da seguran- nest Percival Colson e de Marjurio
ça. Colson, nascido em 21 de dezembro
de 1920, natural de São Paulo - SP
o MM. Juiz a quo negou a segu- e residente no Estado da Guanaba-
rança. ra, solicita seja reconhecido o seu
tempo de serviço militar «prestado
Subindo os autos, manifestou-se a nas Forças Armadas Britânicas
douta SUbprocuradoria Geral da Re- (Força Aérea Real) no período de
pública pela confirmação da senten- 28 de abril de 1941 a I? de setembro
ça. • de 1945», quando realizou opera-
ções militares de patrulhamento
E o relatório. em zonas de ataques submarinos,
dei o seguinte despacho: Deferido,
VOTO de acordo com o Aviso n? 12-D/5-F,
de 19 de janeiro de 1961. 2) Seja-lhe
o Sr. Ministro Aldir G. Passarinho reconhecido o tempo de serviço mi-
(Relator): Não há controvérsia sobre litar prestado nas Forças Armadas
os fatos, posto que tudo se encontra Britânicas (Força Aérea Real) du-
bem esclarecido pela documentação rante o período de «28 de abril de
constante do processo, não havendo, 1941 a I? de setembro de 1945», em
assim, razão para que não seja a decorrência do Acordo Militar fir-
matéria em lide decidida pela via do mado entre o nosso País e a Grã-
mandado de segurança. Bretanha. 3) Publique-se e
encaminhe-se à 1~ CR, a fim de ser
apostilado o certificado de Anthony
O impetrante, quando do último French Colson, na forma prescrita
conflito mundial em que se envolveu pelo BIIDSM n? 164, de 14 de julho'
o Brasil, mas antes que este figuras- de 1961. (Nota n? 62-S/2-Rer).»
se entre os beligerantes, alistou-se
na Força Aérea do Reino Unido da
Grã-Bretanha (RAF) como voluntá- O Acordo sobre Serviço Militar
rio. Tal situação ficou devidamente pactuado entre o Brasil e a Grã-
comprovada nos autos e não é posta Bretanha, publicado no Diário Ofi-
em dúvida pela autarquia previden- cial da União de 9 de junho de 1944,
ciária que, antes a reconhece, ex- dispõe, no seu item 2.1, que, verbis
pressamente, conforme se vê do do- (fI. 50):
cumento de fI. 41 (doc. 25), item 4, in
fine, e fI. 42 (doc. 26). A fI. 53 (doc. «Os cidadãos brasileiros no Rei-
37) se encontra cópia autenticada da no Unido, nas colônias britânicas,
folha de serviços do postulante. protetorados, Estados protegidos
britânicos, no Brasil, ficam autori-
zados a prestar aos governos do
O então Ministro da Guerra, atra- Reino Unido e do Brasil, respecti-
vés da autoridade competente, se- vamente, serviço militar ou qual-
gundo publicado no BoI. lnt. n? 208, quer outro serviço público ligado a
de 8-11-65, de DSM (doc. n? 41, fI. 57) seu esforço de guerra.))
veio a exarar despacho, em pedido
do impetratante de contagem de
tempo de serviço militar, tudo con- O item 2.11 declara que a autoriza-
forme a Nota n? 62-S/2-Rer, do se- ção acima tinha efeito retroativo, be-
guinte teor: neficiando a todos os brasileiros que,
TFR - 100 191

a partir de 3 de setembro de 1939, es- Alemanha nazista, deveriam criar-se


tivessem ou tivessem estado engaja- facilidades para a prestação de ser-
àos nas forças armadas do Reino viço militar por brasileiros, junto às
Unido. O item 2.111 assegura aos Forças da Grã-Bretanha, e por britâ-
brasileiros na situação aludida o cer- nicos junto às Forças brasileiras, no
tificado de qUitação com o serviço esforço que era de todos no combate
militar. ao inimigo.
Ora, em face do acordo fixado, é Assim, vinham sendo considerados
exatamente que veio a ser conside- como verdadeiros ex-combatentes
rado como tempo de serviço militar, nossos aqueles brasileiros que pres-
pelo então Ministério da Guerra, taram serviço militar junto às For-
aquele prestado pelo impetrante à ças britânicas. E compreende-se que
gloriosa RAF que traçou nos céus da merecessem até maior reconheci-
Europa páginas de glória que leva- mento, por se terem antecipado - e
ram Churchill a deixar insculpida na como voluntários - na participação
história da 2~ Guerra Mundial frase em uma guerra da qual não poderia
célebre de homenagem e gratidão estar alheio o Brasil.
aos pilotos daquela Força. Parece
não poder subsistir dúvida de que a
contagem de tempo de serviço mili- E é por isso mesmo que pelo docu-
tar pelo Ministério do Exército signi- mento de fl. 32 (doc. n? 16) se vê que
ficava, exatamente, que tal tempo outro ex-combatente, Jorge Stewart
havia de ser considerado como se London, que também prestara servi-
prestado fosse ao próprio Brasil. E a ço militar às Forças Armadas Britâ-
razão disso se encontra no próprio nicas durante o 2? Conflito Mundial,
preãmbulo da Nota do Governo Bra- veio a ter reconhecido o seu direito
sileiro à Embaixada Britânica, para aposentadoria, nos termos da
transmitindo-lhe os termos daquele Lei n? 4.297/63, não tendo sido altera-
referido Acordo, quando foi dito: da sua situação em decorrência de
modificação dos critérios anteriores,
à consideração de que já lhe fora
«... considerando, ainda, a identi- concedido o benefício, antes da expe-
dade de propósitos e dos objetivos dição do Aviso n? 90-DIF, de 5-12-68,
que animam ambos os países na do Ministério do Exército, «segundo
luta em que se tenham empenha- o qual não se aplica a esses segura-
do, na qual não se encontram ape- dos a condição de ex-combatente,
nas em jogo os interesses particu- para efeito de amparo nas leis espe-
lares do Brasil e do Reino Unido, ciais do País.»
senão também, e principalmente,
os princípios em que se assentam a
civilização dos dois povos e os No referente ao ora impetrante,
ideais que são seu patrimônio co- verifica-se, à vista do documento de
mum, julga o Governo Brasileiro fl. 41 (doc. 25) que foi ele «autoriza-
de toda conveniência e oportunida- do a contribuir sobre o total dos sa-
de a celebraçâo de um Acordo nas lários efetivamente percebidos em 3-
seguintes bases: ... » 1-67, antes, portanto, da expedição
do Aviso n? 90-DIF - Brasília, de 5-
12-68, do Ministério do Exército que,
Na verdade, houve o reconheci- ao disciplinar a validade do reconhe-
mento de que, sendo a causa co- cimento do Serviço Militar prestado
mum, na defesa da civilização oci- por brasileiro durante a 2~ Guerra
dental, ameaçada militarmente pela Mundial nas Forças Armadas Britâ-
192 TFR - 100

nicas, determinou não fosse aplicada via um convem o cuj a existência foi
a essa classe a condição de ex- comprovada. Havia, também, docu-
combatente, para efeito de amparo mentos de autoridades militares
em leis especiais em nosso País.» comprovando a qualidade de ex-
combatente, inclusive um aviso mi-
Realmente, à fI. 27 se encontra co- nisterial.
municação do então IAPEC, dirigida
ao ora impetrante, sobre ter sido Por isso é que, no caso anterior, a
de~erido seu requerimento, au- Previdência Social não reconheceu o
tOrizando-o a contribuir sobre o to- direito do postulante.
tal do salário realmente percebido,
«sem ~s limitações impostas pela No caso presente, o interessado re-
lei, face a sua condição de ex- quereu ainda na vigência da Lei de
combatente.» 1963 que mandava contribuir sobre o
salário real, sendo preciso requerer
É de se ter, assim, o impetrante o benefício. Houve requerimento e o
como ex-combatente, equiparado em pedido foi deferido. A partir de 1966,
tudo a integrante de nossas próprias ele começou a contribuir. Somente
Forças Armadas, empenhadas na depois dessa lei, talvez aí pelo ano
Guerra, em operações bélicas para de 1971, é que a lei nova alterou a si-
os fins de percepção dos benefícios tuação. Quem havia pedido para
previdenciários. O reconhecimento contribuir antes teria, não um direi-
de seu direito foi expresso por ato da to adquirido, mas pelo menos expec-
autoridade previdenciária competen- tativa de direito a ser reconhecido,
te, e não há base legal para altera- como o está sendo agora.
ção do ato administrativo, em face
de novo critério de interpretação do De modo que voto com V. Exa.,
Ministério da Guerra. porque acho que está provada a vin-
culação.

Pelo exposto, dou provimento à


apelação, para conceder a seguran- EXTRATO DA MINUTA
ça, devendo o impetrante ser reem-
bolsado nas custas que houver pago. AMS 85.488-RJ - ReI.: p/o acór-
dão: O Sr. Ministro Evandro Gueiros
Leite. ReI. originário: O Sr. Ministro
É o meu voto. Aldir Guimarães Passarinho. Apte.:
Anthony French Colson. Apdo.: INPS.
VOTO
Decisão: A Turma, por unanimida-
O Sr. Ministro Evandro Gueiros de, deu provimento à apelação, nos
Leite: Sr. Presidente, já votei de ma- termos do voto do Sr. Ministro-
neira diversa em outro caso seme- Relator. CEm 18-12-81 - 2~ Turma).
lhante a este: um estrangeiro que
havia combatido na última grande Os Srs. Ministros Evandro Gueiros
guerra. Achei que ele não tinha di- Leite e William Patterson votaram
reito à vinculação previdenciária co- com o Sr. Ministro-Relator. Lavrará
mo ex-combatente, porque não per- o acórdão o Sr. Min. Evandro Guei-
tencia às nossas Forças Armadas. ros Leite CRI, art. 89, § I?). Presidiu
Vejo, na espécie ora em julgamento, o julgamento o Sr. Min. Aldir Gui-
que a matéria é diferente. Aqui ha- marães Passarinho.
TFR - 100 193

APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA N~ 87.231 - SP


Relator: O Sr. Ministro Lauro Leitão
Remetente Ex Offício: Juiz Federal da 9~ Vara
Apelantes: Superintendência Nacional da Marinha Mercante, Compa-
nhia Docas de Santos e União Federal
Apelada: Constanta Eletrotécnica SI A
Autoridades Requeridas: Delegado Regional da Superintendência Na-
cional da Marinha Mercante e outro
EMENTA
Tributário. Importação em regime de draw
back. Adicional ao frete para renovação da Marinha
Mercante. Taxa de Melhoramentos de Portos.
E legítima a exigência de Adicional ao Frete pa-
ra Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) em
importação sob o regime aduaneiro de Drawback,
realizada antes da vigência do Decreto-Lei n? 1.626,
de 1? de junho de 1978. (Súmula n? 27; do egrégio
TFR). E reconhecida, porém, a isenção da taxa de
Melhoramentos dos Portos.

ACORDÃO Armando Rollemberg, Presidente -


Ministro Lauro Leitão, Relator.
Vistos e relatados estes autos em
que são partes as acima indicadàs: RELATORIO
Decide a Terceira Turma do Tri-
bunal Federal de Recursos, por una- O Sr. Ministro Lauro Leitão: Cons-
nimidade, dar provimento integral à tanta Eletrotécnica SI A, qualificada
apelação da Superintendência Nacio- na inicial, impetrou mandado de se-
nal da Marinha Mercante e parcial à gurança, com pedido de liminar, pe-
da União Federal, para modificar a rante o MM. Dr. Juiz Federal da 9~
r. sentença de 1? grau e cassar a se- Vara, Seção Judiciária do Estado de
gurança no que tange ao reconheci- São Paulo, contra atos do Delegado
mento da isenção do Adicional ao Regional da Superintendência Nacio-
Frete para Renovação da Marinha nal da Marinha Mercante - SUNA-
Mercante; e negar provimento à ape- MAN, e do Superintendente de Trá-
lação da Cia. Docas de Santos, man- fego da Companhia Docas de Santos,
tendo a r. sentença na parte em que pelos quais exigiram da impetrante
reconheceu a isenção da Taxa de o pagamento da Taxa de Melhora-
Melhoramentos dos Portos, na forma mentos dos Portos e do Adicional ao
do relatório e notas taquigráficas Frete para Renovação da Marinha
constantes dos autos que ficam fa- Mercante, na importação de merca-
zendo parte integrante do presente dorias sob regime drawback.
julgado. Alegou, pois, a impetrante, em re-
Custas como de lei. sumo:
Brasília, 17 de dezembro de 1979 «que chegada a mercadoria, foi-
(data do julgamento). - Ministro lhe deferida a liberação com sus-
194 TFR - 100

pensão do recolhimento do O Dr. Procurador da República,


AFRMM e da TMP, mediante assi- com vista dos autos, opinou pela con-
natura de termo de responsabilida- firmação da r. sentença.
de das quantias correspondentes, A União Federal, também, irresig-
cUjo pagamento vem a ser exigido nada com a r. sentença, dela apelou
pelos impetrados, em decorrência para esta colenda Corte, fazendo
de decisão do Sr. Ministro dos suas as razões da apelação de fls.
Transportes; que o favor fiscal é
regulado pelo art. 55 da Lei Nesta instância a douta Sub-
5.025/66 com a redação que lhe foi procuradoria Geral da República,
dada pelo art. 4~ do Decreto-Lei n~ oficiando no feito, pede a cassação
24/66; que o Decreto n~ 68.904/71 do writ.
que regulou o instituto do draw Colocados em pauta, a 1~ Turma
back, é específico ao estabelecer a deste egrégio Tribunal, por unanimi-
aplicação do disposto no art. 55 da dade, determinou o sobrestamento
Lei n~ 5.025/66 às hipóteses que re- do julgamento do processo, até a
gula; que o drawback é, por força apreciação, pelo Tribunal Pleno, de
de legislação tribUtária, considera- incidente de uniformização de juris-
do como estímulo à exportação; prudência suscitado a propósito da
que a Lei n~ 6.418/77 nada alterou matéria.
em relação à taxa de Melhoramen- Em 20-11-1979, foram incluídos, no-
tos dos Portos, e do AFRMM; que vamente, em pauta.
tem direito à suspensão mediante
a manutenção dos termos de res- É o relatório.
ponsabilidade assinados perante os
impetrados». VOTO
O MM. Magistrado concedeu a li- O Sr. Ministro Lauro Leitão: A
minar, mediante garantia dos ter- sentença de 1~ grau, em sua parte
mos de responsabilidade existentes e decisória, assentou:
solicitou informações. «Está firmada pela Suprema
Prestaram-nas as autoridades im- Corte o caráter de taxa do tributo
petradas como coatoras, reportando- cobrado sob a denominação de Ta-
se ao Parecer da Consultoria Jurídi- xa de Melhoramento dos Portos,
ca do Ministério dos Transportes, no instituída pela Lei n~ 3.421/58, con-
sentido da impossibilidade da dis- forme se pode conferir pelo julga-
pensa do AFRMM e da TMP, nas mento do Plenário do Supremo Tri-
importações sob o regime draw- bunal Federal, no ERE n~
-back, sustentando a improcedência 80.025/SC (Rev. Trimestral de Ju-
do mandado e juntando documentos. risprudência, voI. 78 - pág. 851).
O Dr. Procurador da República, Tratando-se de taxa, sua isenção
com vista dos autos, opinou pela de- depende de lei expressa.
negação da segurança. Na espécie, a questão a ser diri-
mida diz respeito a saber se há
O MM. Dr. Juiz, finalmente, deci- isenção ou suspensão da Taxa de
dindo a espécie, confirmou a liminar Melhoramento dos Portos, e do
e concedeu a segurança. adicional ao Frete para Renovação
As impetradas, todavia, não se da Marinha Mercante, nas impor-
conformando com ar. sentença, dela tações efetuadas sob o Regime de
apelaram para este egrégio Tribu- draw back.
nal, juntando, desde logo, suas ra- O instituto do draw back, impor-
zões. tação vinculada à exportação, pre-
TFR - 100 195

visto no Decreto-Lei n? 37/66 foi re- dos pelas autoridades impetradas,


gulamentado pelo Decreto n? não se referem ao regime draw
68.904/71. back, por isso que a lei nova que
A questão, obj eto da controvér- estabelece disposições gerais ou
sia, deve ser examinada levando- especiais e a par das já existentes,
se em conta sua disciplina inicial não revoga e nem modifica a lei
pela Lei n? 5.025/66, art. 55, com a anterior (§ 2? do art. 2? da Lei de
redação que lhe foi dada pelo Introdução ao Código Civil Brasi-
Decreto-Lei n? 24 de 19-10-66. leiro) .
Ao Conselho de Política Aduanei- A questão, a nosso ver, está su-
ra foi conferida competência para perada, tanto em face de numero-
conceder incentivos à exportação, sos Acórdãos do TFR (AMS n?
entre os quais benefícios a serem 77.713-RS; AMS 75.499-RS; AMS n?
concedidos nas importações pelo 81.807-SP - DJ de 18-11-78 pág.
Regime draw back nos termos do 8.132), como também em face da
art. 55 da Lei n? 5.025/66, já citada. edição do recente Decreto-Lei n?
1.626, de 1-6-78 (DOU de 2-6-78) que
O Conselho de Política Aduanei- pôs fim às divergências.
ra, pela Decisão n? 1.226, de 17-4-73
(DOU de 15-5-73), garantiu «<1 to- Pelo exposto, e o mais que dos
das as empresas que importam autos consta, confirmo a Liminar e
bens sob quaisquer das modalida- concedo a segurança impetrada.
des de draw back, previstas do De- Sentença sujeita ao duplo grau
creto n? 68:904/71, a suspensão, de jurisdição.
isenção ou restituição da Taxa de Custas de lei.
Melhoramento dos Portos, bem co-
mo de qualquer outro tributo ou P.R.LO.
contribuição que não corresponda São Paulo, 21 de fevereiro de
à efetiva contraprestação de servi- 1979. - Clóvis de Mello - Juiz Fe-
ços incidentes na importação. deraI.»
Pelo que se contém na legislação A r. sentença apelada, a meu ver,
invocada, deve-se entender que as merece ser reformada na parte em
importações sob o regime de draw ~ que concedeu a segurança, para re-
back foram dispensadas do paga- conhecer à impetrante o direito à
mento de impostos, taxas e contri- isenção do Adicional ao Frete para
buições, expressamente incluída a Renovação da Marinha Mercante, na
Taxa de Melhoramento dos Portos, importação sobre o regime de draw
bem como o Adicional ao Frete pa- back.
ra Renovação da Marinha Mercan-
te. Com efeito, o AFRMM não pode
ser considerado como tributo, pois
Neste sentido, vem decidindo o não constitui taxa e nem imposto
E. Tribunal Federal de Recursos, com destinação especial. Mas é, isto
como se vê do AMS n? 75.499-RS; sim, uma contribuição parafiscal,
ReI.: Ministro Décio Miranda (DJ que a União Federal cobra, usando
de 20-5-75 - pág. 3.383) e AMS n? de sua faculdade de intervir no
77.656-RS, ReI.: Ministro José Dan- domínio econômico, nos termos do
tas, (julg. em 28-2-77 - 3? Turmq, artigo 21, § 2?, I, combinado com o
por maioria, DJ de 4-11-77 - pág. artigo 163 e seu parágrafo único, da
7.736l. Emenda Constitucional n? 1/69.
O Decreto-Lei n? 1.016 de 21-10-69 Aliás, a Súmula n~ 553, do Pretório
e a Lei n? 6.418 de 30-5-77, invoca- Excelso, considera o referido adicio-
196 TFR - 100

nal como contribuição parafiscal, decidiu com acerto, ao reconhecer a


quando diz: sua isenção, no caso de importação
«O adicional ao Frete para Reno- de mercadoria, sob o regime de
vação da Marinha Mercante dra\\óback.
(AFRMM) é contribuição parafis- Com efeito, a Taxa de Melhora-
cal, não sendo abrangido pela imu- mento dos Portos foi instituída pela
nidade prevista na letra d, inciso Lei n? 3.421, de 10-7-1958, que criou o
lU, do art. 19, da Constituição Fe- Fundo Portuário Nacional.
deral». Como uma das fontes da constitui-
A isenção, pois, concedida para as ção do referido Fundo incide sobre
importações sob o regime de draw todas as mercadorias movimentadas
back, pelo artigo 55 da Lei n? 5.025, nos portos organizados, sendo cobra-
de 1966, no que tange à aludida Ta- da pela administração do porto onde
xa, não subsiste na vigência da Lei a carga for movimentada, não é, em
n? 1.142, de 1970, que altera e conso- verdade, um adicional ao imposto,
lida a legislação referente ao Fundo mas uma taxa destinada a cobrir
da Marinha Mercante. despesas portuárias correspondente,
O adicional em causa, em verda- pois, a uma contraprestação de ser-
de, não se confunde com taxa ou im- viços.
posto, mas é uma contribuição para- Aliás, a Lei n? 5.025, de 10-6-1966,
fiscal, çomo se disse, tendo em vista com a redação dada pelo Decreto-
a intervenção da União Federal no Lei n? 24, de 19-10-19H6, dispõe:
domínio econômico. «Art. 55 - A isenção do imposto
A isenção de qualquer tributo só de importação nas operações sob o
pode decorrer de lei. regime «draw back» ou equivalen-
te, implicará igualmente, na isen-
Ademais, a propósito da matéria, ção do Imposto de Consumo, da
já se pacificou a jurisprudência des- Taxa de Despacho Aduaneiro, da
te egrégio Tribunal, mediante a edi- Taxa de Renovação da Marinha
ção da Súmula n? 27, assim enuncia- Mercante, da Taxa de Melhora-
da: mento dos Portos e daquelas que
«:8 legítima a exigência do Adi- não correspondam à efetiva con-
cional ao Frete para Renovação da traprestação de serviços realiza-
Marinha Mercante (AFRMM), em dos».
importação sob o regime aduanei- A importação sob o regime de
ro de drawiback, realizada antes drawback, prevista no capítulo IH
da vigência do Decreto-Lei n? do Decreto-Lei n? 37, de 18-11-1966,
1.626, de 1? de junho de 1978». vem regulamentado pelo Decreto n?
A importação em referência, como 68.904, de 12-7-1971.
demonstrado nestes autos, se proces- Com base nessa disposição legal, o
sou antes da vigência do Decreto-Lei Conselho de Política Aduaneira po-
n? 1.626, de 1?-6-1978. derá conceder incentivos fiscais tra-
Assim, merece provida a apelação duzidos na restituição, total ou par-
da Superintendência Nacional da cial, suspensão de pagamento e is~n­
Marinha Mercante, para reformar- ção de tributos incidentes sobre Im-
se a r. sentença apelada, na parte portação de mercadoria a ser expor-
em que reconheceu a isenção do Adi- tada.
cional ao Frete para Renovação da O Regulamento dispõe, no artigo
Marinha Mercante. 1?, § 1?, que os incentivos «com-
Quanto à Taxa de Melhoramentos preendem aqueles definidos no arti-
dos Portos, a r. sentença de 1? grau go 55 da Lei n? 5.025, de 10-7-1966,
TFR - 100 197
--------------------------~------------------------------

com a redação dada pelo artigo 4? do Taxa de Renovação de Portos, nas


Decreto-Lei n? 24, de 19-10-1966. importações, foi promulgado o De-
Por outro lado, o Decreto-Lei n? creto-Lei n? 1.626, de 1?-6-1978, que,
1.016, de 21-10-69, em seu artigo 3?, em seu artigo I?, dispõe:
preceitua:
«Art. 3? As isenções previstas «Art. I? Ficam isentas do Adi-
no artigo anterior, abrangem, tam- cional ao Frete para a Renovação
bém, as taxas portuárias, inclusive da Marinha Mercante e da Taxa de
as de Melhoramentos de Portos e Melhoramentos dos Portos as car-
Renovação da Marinha Mercante.» gas objeto de operações previstas
Cumpre que se frise, ainda, que o nos regimes estatuídos no artigo 78
Decreto-Lei n? 1.142, de 20-12-1970, do Decreto-Lei n? 37, de 18 de no-
explicitou, no artigo I?, § I?, que se vembro de 1966.»
compreendem entre os incentivos
aqueles definidos no artigo 55 da Lei Em face do exposto, dou provi-
n? 5.025, de 1966, na redação do art. mento integral à apelação da Supe-
4? do Decreto-Lei n? 24, de 1966. rintendência Nacional da Marinh.a
Aliás, a não incidência da taxa em Mercante e parcial à da União Fede-
questão, sobre a importação em re- ral, para modificar a r. sentença de
gime de drawback, já tem sido re- I? grau e cassar a segurança no que
conhecida por este egrégio Tribunal tange ao reconhecimento da isenção
Federal, inclusive no seguinte julga- do Adicional ao Frete para Renova-
do: ção da Marinha Mercante; e nego
«Ementa: - Taxa de Melhora- provimento à apelação da Cia. Do-
mentos de Portos. Não incide sobre cas de Santos, mantendo a r. senten-
importação de mercadorias desti- ça na parte em que reconheceu a
nadas a compor produtos de expor- isenção da Taxa de Melhoramentos
tação, em regime de drawback dos Portos.
(art. 55 da Lei n? 5.025, de 10-6-
1966, com a redação dada pelo art. É o meu voto.
4? do Decreto-Lei n? 24, de 19-10-
1966), (AMS n? 75.499 - RS, ReI.: EXTRATO DA ATA
Ministro Décio Miranda, in DJ de
20-5-75). AMS n? 87.231-SP - ReI.: Sr. Min.
Lauro Leitão. Remte.: ex officio:
Não é de aceitar-se a alegação de Juiz Federal da 9~ Vara. Aptes.: Su-
que, após a vigência da Lei n? 6.418, perintendência NaCional da Marinha
de 30-5-77, que deu nova redação aos Mercante - SUNAMAM, Cia. Docas
artigos 2? e 3? do Decreto-Lei n? de Santos e União Federal. Apda.:
1.016, de 21-10-1969, não mais existe Constanta Eletrotécnica S/A.
fundamento legal para a dispensa de
pagamento da Taxa de Melhoramen- Decisão: A Turma, por unanimida-
tos dos Portos. de, deu provimento integral à apela-
A Lei n? 6.418, em verdade, não te- ção da Superintendência Nacional da
ve o alcance de revogar o art. 55 da Marinha Mercante e, parcial, à da
Lei n? 5.025/66, com a redação dada União Federal, para considerar devi-
pelo artigo 4? do Decreto-Lei n? do o Adicional ao Frete para Reno-
24/66. vação da Marinha Mercante, e, tam-
bém por unanimidade, negou provi-
Pondo fim a toda a controvérsia mento aos recursos da Cia. Docas de
sobre a isenção ou a incidência da Santos e da União Federal, este últi-
198 TFR - 100

mo em parte, para considerar devi- Os Srs. Ministros Carlos Mário


da a taxa de melhoramento dos por- Velloso e Adhemar Raymundo vota-
tos, e, assim, cassar a segurança ram de acordo com o Relator. Presi-
concedida a propósito (em 17-12-79 - diu o julgamento o Exmo. Sr. Minis-
3~ Turma). tro Armando ROllemberg.

APELAÇAO EM MANDADO DE SEGURANÇA N? 88.611 - BA


Relator: O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini
Apelantes: José Augusto da Silva e outros
Apelado: INAMPS
EMENTA
Administrativo. Militar. Acumulação. Proventos.
- Médico integrante do Quadro de Saúde do
Exército, exercendo igualmente emprego de médico
regido pela CLT.
- Não existe autoriZação constitucional para
acumulação remunerada, em se tratando de dois car-
gos privativos de médico (CF, art. 99, IV). A citada
disposição constitucional refere-se aos servidores ci-
vis;' em se tratando de médico militar da ativa,
aplica-se o mandamento previsto no § 4? do art. 93
da vigente lei magna.
- Sentença reformada.

ACORDA0 médicos do INAMPS, impetram


Mandado de Segurança contra esta
Vistos e relatados esêes autos, em Autarquia que lhes vedou o exercício
que são partes as acima indicadas; cumulativo de ambos os cargos e
Decide a 3~ Turma do Tribunal Fe- que deveriam, se no caso optassem
deral de Recursos, por unanimidade, pela permanênCia como médicos do
negar provimento à apelação, na for- Instituto trazer comprovação de
ma do relatório e notas taquigráfica.s transferência para a reserva, fato
anexas que ficam fazendo parte inte- este que tem o direito dos postulan-
grante do presente julgado .. tes e fora dos preceitos constitucio-
Custas como de lei. nais, que permite a cumulação de
dois cargos de médico.
Brasília, 19 de março de 1982 (data
do julgamento.) Ministro Carlos Deferida a liminar e prestadas as
Madeira, Presidente Ministro informações, levanta a autoridade
Flaquer Scartezzini, Relator. coatora preliminares, de ilegitimida-
de de parte porque agiu o Inamps
RELATORIO em obediência à determinação do
Dasp e de impropriedade da via elei-
O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini: ta.
José Augusto da Silva e outros, ofi-
ciais Médicos· da Polícia Militar No mérito, defende a prOibição da
e, concomitantemente, profissionais acumulação para o exercício sim ul-
TFR - 100 199

tãneo de mais de um cargo por inte- princípio de que as Polícias Milita-


grantes da Polícia Militar. res são consideradas forças auxi-
O Ministério Público Federal opina liares, como reserva do Exército
pela denegação da segurança. (art. 13, 4?).
Sentença de fls. 78/85. Nela o Dr. Dos dispositivos citados vê-se
Juiz Federal, tecendo comentários a que, desde 1934, as polícias milita-
respeito da impossibilidade de acu- res têm status constitucional: são
mulação de dois cargos de médicos forças armadas auxiliares, como
para os integrantes das Polícias Mi- reserva do Exército Nacional, e
litares, eis que o Decreto-Lei n? seu regime jurídico é definido pela
667/69 os considera, não comó servi- legislação federal.
dores civis, mas militares, julgou Objetar-se-á, entretanto, que elas
improcedente o mandado. não integram as Forças Armadas
Apelo dos autores às fls. 87/92. federais, e isto é certo.
Contra-razões às fls. 94/100.
A douta SubprocuradoriaGeral da «Mas, não é menos certo que
República, opina pela manutenção são corporações militares de ãmbi-
da r. sentença recorrida. to estadual, forças auxiliares das
Forças Armadas da União e, de
É o relatório. modo particular, reservas do Exér-
VOTO cito Nacional.
O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini: Note-se que a Constituição de
O presente mandado foi impetrado 1946 dizia que as Forças Armadas
por médicos da ativa da Polícia Mili- eram constituídas essencialmente,
tar, que inquestionavelmente exer- porém não exclusivamente pelO
cem função de natureza militar se- Exército, Marinha e Aeronáutica.
melhante a de seus colegas das For- E no mesmo título dedicado às For-
ças Armadas. ças Armadas, definia explicita-
As Polícias Militares são conside- mente as políCias militares como
radas forças auxiliares, como reser- forças auxiliares da União e reser-
va do Exército, portanto seus inte- va do Exército.
grantes não podem ser havidos como
servidores civis, são militares sujei- De tudo isso resulta, obviamente,
tos à hierarquia, à disciplina e à ju- que os integrantes das Polícias Mi-
risdição militar. litares dos Estados não são servi-
dores civis: são militares, integra-
A respeito da situação dos policiais dos no regime militar, subordina-
militares, precioso foi o entendimen- dos à hierarquia, à disciplina e à
to do culto Ministro Oswaldo Triguei- jurisdição de caráter militar, ao
ro, no voto que proferiu no RE n? mesmo tempo que protegidos pelas
69.596-GB, 1~ Turma, publicado nas garantias específicas da carreira
páginas 127/128v, no Volume 61 da militar» (grifamos) Rec: Extr. n?
Revista dos Tribunais de Jurispru- 69.596-GB. 1~ Turma - Relator:
dência, transcrito na r. e perfeita de- Ministro Oswaldo Trigueiro, STF,
cisão prolatada pelO culto Juiz mono- RTJ. Vol. 61, págs. 127/128).»
crático, que merece ser repetida:
«A Constituição atual reproduz, Outrossim, como disse o Dr. Juiz
quase literalmente, o preceito rela- Federal: (f. 83):
tivo à competência da União para
legislar sobre as polícias militares «Para dirimir qualquer dúvida
(art. 8?, XVIII, v), e mantém o sobre a natureza militar dessa cor-
200 TFR - 100

poração, o Decreto-Lei n? 667, de 2- VOTO


7-1969, que reorganizou, pelos Esta- O Sr. Ministro Carlos Madeira:
dos, as Polícias Militares, precei- Nego provimento ao apelo, para con-
tua aplicação ao pessoal das firmar a sentença, com ressalva de
Polícias Militares das disposições meu ponto de vista.
constitucionais relativas ao alista-
mento eleitoral e condições de ele- EXTRATO DA MINUTA
gibilidade dos militares, bem como
as pertinentes às garantias, vanta- AMS 88.611-BA - ReI.: Sr. Min.
gens, prerrogativas, deveres e to- Flaquer S<!artezzini. Aptes.: José Au-
das as restrições ali expressas» gusto da Silva e Outros. Apdo.
INAMPS.
Neste sentido, e também entendi-
do, que os autores são militares, co- Decisão: A Turma, por unanimida-
mo estatui o Decreto-Lei n? 667/69, de, negou provimento à apelação.
nego provimento ao apelO para con- (Em 19-3-82 - 3~ Turma.)
firmar integralmente a r. decisão Os Srs. Mins. Carlos Madeira e
atacada. Torreão Braz votaram com o Rela-
tor. Presidiu o julgamento o Sr. Min.
É o meu voto. Carlos Madeira.
APELAÇAO EM MANDADO DE SEGURANÇA N? 90.700 - DF
Relator: O Sr. Ministro William Patterson
Apelante: Cláudio Lemos Fontelles
Apelada: União Federal
EMENTA
Administrativo. Funcionário. Ministério Público.
Gratificação de Produtividade. Cálculo do Adicional
por tempo de serviço.
O adicional por tempo de serviço (Lei n? 4.345,
de 1964 - art. 10) não incide sobre a gratificação de
produtividade. A natureza dos benefícios, as restri-
ções legais e a composição dos regimes conduzem à
convicçã9 dessa impossibilidade. O fato de o
Decreto-Lei n? 1.709/79 não estabelecer, de modo ex-
presso, a limitação contida no art. 10, do Decreto-Lei
n? 1.445/76, não significa que há autorização parà o
Ministério Público. O postulado da legalidade, perti-
nente ao direito público, impede que a Administra-
ção resolva situações sem respaldo legislativo. De-
mais disso, o sistema a que estão vinculadas as
duas vantagens não recomenda a providência, prin-
cipalmente em nome de um privilégio que inexiste
no ordenamento específico.
Sentença confirmada.
ACORDA0 Decide a 2~ Turma do Tribunal Fe-
Vistos e relatados os autos em que deral de Recursos, por unanimidade,
são partes as acima indicadas: negar provimento à apelação, confir-
TFR - 100 201

mando a sentença, na forma do rela- Recentemente, o Tribunal de


tório e notas taquigráficas constan- Contas da União, por seu plenário,
tes dos autos que ficam fazendo par- mandou agregar, para efeito de
te integrante do presente julgado. gratificação adicional, a de repre-
Custas como de lei. sentação que percebem os mem-
bros do Ministério Público e Audi-
Brasília, 20 de fevereiro de 1981 tores, ao argumento de que não há
(data do jUlgamento) - Ministro norma proibitiva.
Aldir G. Passarinho, Presidente -
Ministro William Patterson, Relator. Pedido instruído documental-
mente.
RELATORIO A ilustre autoridade informa que
o requerimento do impetrante teve
o Sr. Ministro William Patterson: parecer contrário da CP-21, sendo
A matéria foi assim relatada pelo submetido ao DASP que manteve
eminente Juiz Federal da 3~ Vara da o ponto de vista do órgão da
Seção Judicária do Distrito Federal, Procuradoria-Geral.
Dr. Jesus Costa Lima: Conclui:
«O Professor Cláudio Lemos « .............................. .
Fontelles, brasileiro, casado, Pro- d) ao retornar o processo a es-
curador da República de 1~ Catego- ta Procuradoria, foi proferido
ria, por procurador devidamente pelo Subprqcurador-Geral da Re-
habilitado, impetra mandado de pública, José Francisco Rezek,
segurança contra ato do Dr. João despacho mandando cientificar o
Boabaid de Oliveira Itapary que, ora impetrante do teor da mani-
«em decisão administrativa festação do DASP e, posterior-
PGR - n? 013922/80 - (indeferiu- mente, proferi despacho mandan-
lhe pretensão que objetivava fixar do que, após a ciência do reque-
o critério legal ao cálculo do adi- rente, fosse o processo arquiva-
cional por tempo de serviço». do. De quanto vem de ser expos-
O impetrante sustenta que a gra- to, evidencia-se que o despacho
tificação de produtividade, Objeto que contém, implícito, o indeferi-
do Decreto-Lei n? 1.709, de 1979, de- mento do pedidO não é, data
ve ser incorporada ao vencimento venia, aquele por mim proferido,
do cargo respectivo para efeito de mas sim, o da lavra do
cálculo da gratificação adicionaL Suprocurador-Geral da Repúbli-
Acentua que o Decreto n? 84.052/79, ca, José Francisco Rezek. Em
que regulamentou a concessão da conseqüência, inafastável é a
mesma gratificação, para os fis- conclusão de estar configurada
cais de tributos federais, teve o ilegitimidade passiva ad causam,
art. 2? revogado pelo Decreto n? do signatário deste». (fL 24)
84.700, de 13-5-80, exatamente o que Vieram, por cópias, os pronun-
proibia fosse considerada a referi- ciamentos administrativos.
da gratificação para efeito do côm- O Dr. Representante do Ministé-
puto do adicionaL De tal sorte, «tu- rio Público junto a este Juízo emi-
do o que não está juridicamente tiu parecer que, por sua clareza e
proibido, está juridicamente per- argumentos jurídicos apresenta-
mitido» (fI. 05). dos, convém transcrito:
O argumento gramatical que faz «Parece-nos, com toda vênia,
recair na palavra vencimento, não que o fato de haver o Subprocu-
convalesce. rador Dr. José Francisco Rezek
202 TFR - 100

dado ciência à impetrada da ma- exatidão ao legislador do que ao


nifestação do DASP não o torna Poder Judiciário. Assim,
responsável pela decisão admi- manifesta-se o Ministério Público
nistrativa que só pela impetrada Federal preliminarmente pelo
poderia ser adotada, como o foi, conhecimento da impetração e,
no âmbito de competência admi- no mérito, pela denegação». (fls.
nistrativa delegada por S. Exce- 38/40).
lência o Procurador da Repúbli- Sentenciando, denegou a seguran-
ca. A máxima jurídica em que se ça (fl. 51).
arrima a impetração e qualifica-
da na mesma como de acerto in- Inconformado, apelou o impetran-
conteste não encontra guarida na te, com as razões de fls. 54/58, reno-
ação administrativa, toda ela do- vando os argumentos da inicial, in-
minada pelo princípio da legali- sistindo em que a norma do art. 10, §
dade. Ensina o douto administra- I?, da Lei n? 4.345, de 1964, não se
tivista Celso Antônio Bandeira de aplica ao Ministério Público, face à
Mello, arrimando-se em Hely Lo- posição de seus membros na estrutu-
pes Meirelles: «Tanto isto é ver- ra orgânica da Administração (Lei
dade que o mesmo doutrinador n? 1.341 de 1951). Arremata dizendo
com precisão assinalou: «A eficá- que o Decreto-Lei n? 1.709, de 1979,
cia e a validade de toda ativida- que instituiu a gratificação de produ-
de administrativa estão condicio- tividade não proíbe que sobre a van-
nadas ao atendimento da lei. Na tagem incida o adicional.
Administração Pública, não há li- Contra-razões às fls. 61/63.
berdade pessoal. Enquanto na Neste Tribunal, a douta
administração particular é lícito Subprocuradoria-Geral da República
fazer tudo que a lei não proíbe, opinou pelo desprovimento do recur-
na Administração Pública só é so (fls. 68/69).
permitido fazer o que a lei auto-
riza». Esta última frase sinteti- Jt o relatório.
za, excelentemente, o conteúdo
do princípio da legalidade». (Ele- VOTO
mentos de Direito Administrati-
vo, RT. 1980). Hely Lopes Meirel- O Sr. Ministro William Patterson
les, em aplicação ao princípio da (Relator): A pretensão, objeto do
legalidade, esclarece em lição presente «writ», resume-se em fazer
que enfrenta especificamente o incidir o adicional por tempo de ser-
assunto: «Desde que o salário- viço sobre o valor da gratificação de
família não integra o vencimen- produtividade. Dois são os argumen-
to, sobre esta gratificação não tos nucleares da impetração, a sa-
devem incidir os adicionais de ber:
tempo de serviço ou de função, a) O critério da Lei n? 4.345, de
nem as gratificações de serviço, 1964, não se aplica aos membros do
os quaiS terão para base de cál- Ministério Público; e
culo o padrão do cargo, se de ou- b) Inexiste no Decreto-Lei n?
tra forma não dispuser a lei» 1. 709, de 1979, a restrição contida
(Direito Administrativo Brasilei- no art. 10, do Decreto-Lei n? 1.445,
ro, 1975, pág. 446). de 1976.
Embora do maior realce os ar- A fundamentação, não obstante o
gumentos trazidos pelo impetran- brilho do arrazoado, carece de su-
te, conquanto justas suas razões, porte jurídico. Com efeito, seria e é
endereçar-se-iam com maior inconseqüente descartar a aplicabili-
TFR - 100 203

dade do art. 10, § I?, da Lei n? cálculo da vantagem, restrita ao


4.345/64, em todas as suas conse- vencimento do cargo efetivo, não se
qüências, aos integrantes do Ministé- há de acolher a sua incidência sobre
rio Público. Como se sabe, a gratifi- acréscimos remuneratórios, ao argu-
cação adicional, a partir da citada mento de privilégios e prerrogativas
lei, tomou conotação diversa do sis- da carreira, porquanto, para a espé-
tema revogado, concentrando e uni- cie, estes não prosperam. A jurispru-
formizando, para todo o funciona- dência é torrencial acerca do assun-
lismo público, o regime sob os aspec- to, recusando-se sempre avanços es-
tos, expressamente, declarados, co- tranhos ao conceito legislativo (cfr.
mo, por exemplo, o percentual por AMS. 67.591 e AMS 68.231, Relator
qüinqüênio, bem assim a fórmula de Ministro Jarbas Nobre; AMS. 79.910-
cálculo, limita aos vencimentos do RJ, Relator Ministro Carlos Mário
cargo efetivo. Tem-se, portanto, que Velloso; AMS 82.728, Relator Minis-
o art. 10, da Lei n? 4.345/64 é o único tro Otto Rocha; AMS 69.312, Relator
e exclusivo apoio jurídico da vanta- Ministro Décio Miranda; AMS 77.437-
gem. Fora desse ordenamento não RJ, Relator Ministro Peçanha Mar-
se encontrará motivação legal para tins; AMS 69.463-RJ, Relator Minis-
o seu auferimento. tro Paulo Távora; AMS 77.891-RJ,
É certo que já se tentou afastar o Relator Ministro José Dantas e, no
critério, em pleito perante a Admi- STF, RE 73.172-GB, Relator Ministro
nistração Pública, não tendo êxito, Antônio Néder.
contudo, por força do lúcido pronun- No que tange ao segundo argumen-
ciamento da lavra do eminente Mi- to, ou sej a, o da inexistência da limi-
nistro Rafael Mayer, quando titular tação no decreto-lei que criou, para
da Consultoria-Geral da República o Ministério Público, a gratificação
(Parecer n? L-065) de cuja ementa de produtividade, o princípio doutri-
se lê: nário invocado pelo ilustre impetran-
«Assunto: Gratificação adicional te . não condiz com os postulados que
(art. 2? da Lei n? 4.439, de 1964). regem o direito público. Ao contrário
Ementa: A referência ao art. 10 do que alega, a Administração está
e parágrafos da Lei n? 4.345, de jungida ao princípio da legalidade,
1964, contida no art. 2? da Lei n? isto é, só pode fazer o que a lei lhe
4.439, de 1964, in fine, autoriza autoriza, ao inverso do que ocorre no
aplicar-se ao pessoal regido por es- direito privado onde prevalece o en-
ta última, as regras disciplinado- tendimento segundo o qual o que a
ras do regime da gratificação adi- lei não prOíbe é permitido fazer.
cional, naquela instituído. O cálcu- Hely Lopes Meirelles (<<Direito Ad-
lo da vantagem deve ser feito so- ministrativo Brasileiro», pág. 70, 7~
bre o vencimento do cargo efetivo, Edição) ~ adverte:
excluída a possibilidade de incidên-
cia sobre o cargo em comissão». «A eficácia de toda atividade ad-
ministrativa está condicionada ao
Advirta-se, por oportuno, que a Lei atendimento da lei.
n? 4.439, de 1964, disciplinava a re-
muneração da Magistratura e Minis- Na Administração Pública, não
tério Público, de sorte que foi taxati- há liberdade nem vontade pessoal.
vo o legislador em adotar, para os Enquanto na Administração parti-
membros dessas Instituições, o mes- cular é lícito fazer tudo que a lei
mo regime de qüinqüêniOs. Assim, não proíbe, na Administração Pú-
se para os demais servidores preva- blica só é permitido fazer o que a
lece o sentido da regra, quanto ao lei autoriza. A lei para o parti cu-
204 TFR - 100

lar, significa «pode fazer assim», constitui, na realidade, vencimento,


para o administrador pÚblico signi- porquanto não se há conceber uma
fica «deve fazer assim». gratificação de atividade, sem en-
cargos outros que não o próprio
exercício do cargo, ou, ainda, de re-
Evidentemente não se pode extrair presentação, igualmente, nessa linha
de um raciocínio baseado no contrá- de condicionante, e, até mesmo, a de
rio senso, a permissibilidade da con- produtividade, cuja sistemática re-
cessão de um benefício. O fato de o vela um forte desejo de remunerar
Decreto-Lei n? 1.709, de 1979, que melhor as classes abrangidas, do
adotou o regime da gratificação por que, propriamente, exigir maior de-
produtividade, na carreira do Minis- senvolvimento dos serviços.
tério Público, não conter a restrição
assinalada no art. 10 do Decreto-Lei
n? 1.445, de 1976, não importa em Todavia, a crítica não conduz a re-
presumir liberada a Administração sultados práticos, porquanto o julga-
para calcular o adicional sobre tal dor deverá atender ao preceituado,
gratificação. interpretando as disposições, em seu
texto ou na sua colocação no siste-
Demais disso, releva acentuar que ma. In casu,quer se analise a espé-
a produtividade é criação do citado cie sob o enfoque da exegese literal,
Decreto-Lei n? 1.445/76, que, de mo- quer se examine dentro da lógica
do claro, recusou a sua consideração sistemática, a conclusão inevitável
para fins de cálculo de qualquer ou- será a de que não há possibilidade
tra vantagem. A aplicação do siste- de se efetuar o cálculo do adicional
ma ao Ministério Público, por outro por tempo de serviço sobre a gratifi-
diploma, sem a indicação expressa cação de produtividade.
dessa restrição, não pode induzir a
privilégios incompatíveis com o ins- Ante o exposto, nego provimento
tituto. A produtividade é vantagem ao recurso, para confirmar a senten-
vinculada à prestação de serviço ça de primeiro grau.
(propter laborem),' conferida preca-
riamente ao funcionalismo, em ra-
zão de um trabalho executado e não
em função do cargo ou situações in- EXTRATO DA MINUTA
dividuais. O conteúdo fático e a mo-
tivação jurídica do benefício coinci-
dem, não importando que as carrei- AMS 90.700-DF - ReI.: Sr. Min.
ras sejam diversas. William Patterson. Apte.: Cláudio
Lemos Fontelles. Apda.: União Fede-
ral.
A única censura que se pode fazer
ao ordenamento ressai da vontade
deliberada de rotular vencimentos Decisão: A Turma, por unanimida-
com denominações estranhas. No de, negou provimento à apelação,
fundo, as gratificações de atividade, confirmando a sentença. (Em 20-2-81
produtividade, ou representação, são - 2~ Turma).
vantagens que compõem uma reali-
dade remuneratória. O legislador é
cáustico quando conhecendo os fatos Os Srs. Mins'. José Cândido e Aldir
distorce o sentido, com a finalidade Passarinho votaram com o Relator.
precípua de restringir o alcance. Se- Presidiu o julgamento o Sr. Min. AI-
ria mais nobre admitir que tudo isso dir Passarinho.
TFR - 100 205

REMESSA EX-OFFICIO N? 91.482 - RJ


Relator: Sr. Ministro Miguel Jerõnymo Ferrante
Remetente: Juizo Federal da 9~ Vara
Partes: Cinematográfica F. J. Lucas Netto Ltda. e outros e Conselho
NacionaI de Cinema
EMENTA
Mandado de Segurança - Concine - Sala Espe-
cial - Lei 5.536, de 1968. Poderá ser exibido, em sala
especial, filme de reconhecido valor artístico, educa-
tivo ou cultural, em sua versão integral, com censu-
ra apenas classificatória de idade, observada a pro-
porCionalidade de filmes nacionais, de acordo com
as normas legais em vigor (art. 6? da Lei 5.536/68).
A sala de que se cuida não é a sala comum registra-
da como especial para a exibição de determinado fil-
me, mas aquela que, dentro de uma cadeia de cine-
mas, é destinada, exclusivamente, à exibição de fil-
mes de valor artístico, cultural ou educativo. Senten-
ça que se reforma para cassar a segurança. Apela-
ção provida.
ACORDÃO de Cinema, alegando, em síntese: o
CONCINE é órgão da administração
Vistos e relatados os autos, em que pública indireta, de âmbito federal;
são partes as acima indicadas: que o Conselho Superior de Censura
Decide a 6~ Turma do Tribunal Fe- considerou o filme «O ImpériO dos
deral de Recursos, por unanimidade, Sentidos», liberado, sem cortes, para
reformar a sentença remetida e cas- maiores de 18 anos, nos termos dos
sar a segurança, na forma do relató- artigos 5?, 6? e 7? da Lei 5.536, de
rio e notas taquigráficas retro que fi- 1968; que o referido diploma legal é
cam fazendo parte integrante do pre- auto-aplicável, não se lhe podendO
sente julgado. acrescentar outras exígências, além
das constantes de seu texto; que,
Custas como de lei. destarte, liberado o filme como o foi,
Brasília, 2 de setembro de 1981 bastava o registro das salas no CON-
<data do julgamento) - Ministro CINE, com observância das condi-
José Fernandes Dantas, Presidente ções do art. 6? da mencionada Lei
Ministro Miguel Jerõnymo 5.536, para que ficasse assegurada a
Ferrante, Relator. sua exibição; que o CONCINE, toda-
via, em vez de dar cumprimento à
RELATORIO Lei, formulou exigências outras, à
margem da previsão legal, com
o Senhor Ministro Miguel Jerõny- afronta a direitos líquidos e certos
mo Ferrante: Cinematográfica F. J. das impetrantes, pelas razões que
Lucas Netto Ltda., Companhia Cine- expendem.
matográfica Serrador e Artenova
Filmes Ltda., qualificadas nos autos, Processada com liminar, após os
impetram Mandado de Segurança trâmites legais foi a segurança con-
contra decisão do Conselho Nacional cedida, pela sentença de fls. 74/76,
206 TFR - 100

condenado o impetrado nas custas e jetivo precípuo que é o de permitir a


em honorários advocatícios arbitra- existência, em determinado circuito
dos em Cr$ 20.000,00. de cinemas, de uma sala especial,
Sem recurso voluntário, mas tão- destinada, permanente e exclusiva-
só por força do duplo grau de jurisdi- mente, à exibição de filmes de artes
ção, subiram os autos, e, nesta Ins- ou de valor educativo. A circunstân-
tância, a Subprocuradoria-Geral da cia de o filme ter sido liberado, sem
República, a fls. 82, pede se faça a cortes, não basta, penso, para auto-
costumeira justiça. rizar sua exibição em sala comum,
registrada tão-só para o efeito, como
Relatei. sala especial, que para assim ser
considerada há de atender, antes, à
VOTO finalidade da lei.
O Senhor Ministro Miguel Jerôny- Daí, ainda que se considere auto-
mo Ferrante: A Lei n? 5.536, de 1968, aplicável a norma em tela, o certo é
estabelece, no seu artigo 5?, caput, que a situação posta na inicial a ela
que a obra cinematográfica poderá não se ajusta. A sala de que se cuida
ser exibida, em versão integral, ape- não é a sala comum que, para exibi-
nas com censura classificatória de ção de determinado filme, se regis-
idade, nas cinematecas e nos cine- tra como sala especial. Mas aquela
clubes, de finalidades culturais. E, que, dentro de uma cadeia de cine-
no seu artigo 6? dispõe, que «A sala mas, é destinada, exclusivamente, à
de exibição que haja sido registrada exibição de filmes de valor artístico,
no Instituto Nacional do Cinema, pa- cultural ou educativo. E disso a im-
ra explorar, exclusivamente, filmes petração não faz prova, nem consta
de reconhecido valor artístico, edu- que o registro perseguido vise, real-
cativo ou cultural, poderá exibi-los mente, uma sala especial, nos ter-
em versão integral, com censura mos da lei, sem a perspectiva de re-
apenas classificatória de idade, ob- versibilidade de sua destinação. Ao
servada a proporcionalidade de fil- invés, o que ressuma, é o caráter
mes nacionais, de acordo com as episódico dessa destinação, ao arre-
normas legais em vigor». pio da letra e do espírito da lei.
No caso, não se cuida de cinemate- Em conseqüência, dou provimento
ca ou cineclube, mas de exibidoras à remessa, para reformar a senten-
cinematográficas que pretendem re- ça e cassar a segurança.
gistrar sala para proj eção de filme
liberado com certificado especial, ao VOTO VISTA
amparo do transcrito artigo 6? do
mencionado diploma legal. O objeti- O Senhor Ministro Américo Luz:
vo do registro é, como se deduz da Não vislumbro nos autos a eiva de
inicial, lograr a exibição da película, ilegalidade apontada na peça vesti-
em versão integral, em sala comum, bular e proclamada na sentença re-
admitida como especial para esse metida.
fim. Conforme ressaltou o eminente Mi-
Ora, se assim é, tenho como im- nistro Relator em seu douto voto:
procedente a impetração. «N o caso, não se cuida de cine-
Com efeito, a questão relativa à mateca o cineclube, mas de exibi-
regulamentação da lei carece de doras cinematográficas que pre-
maior relevo, quando se verifica que tendem registrar sala para proje-
a eXigência impugnada se respalda ção de filme leberado com certifi-
no texto legal, em atenção ao seu ob- cado especial, ao amparo do trans-
TFR - 100 207

crito artigo 6? do mencionado di- «Ao contrário do que pretendem


ploma legal. O objetivo do registro os impetrantes, não existe direito
é, como se deduz da inicial, lograr líquido e certo a exibição de filme
a exibição da película, em versão em apreço. Isto por que o registro
integral, em sala comum, admitida no Conselho NacionaI de Cinema
como especial para esse fim. (que assumiu atribuições do antigo
INC) não é automático, ficando na
Ora, se assim é, tenho como im- dependência do preenchimento de
procedente a impetração. requisitos cuj a exigência se impõe
Com efeito, a questão relativa à em virtude do poder de polícia
regulamentação da lei carece de exercido pelo CONCINE.
maior relevo, quando se verifica O registro das referidas salas,
que a exigência impugnada se res- por ser condição indispensável à
palda no texto legal, em atenção exibição de determinados filmes
ao seu objetivo precípuo que é o de constitue-se em autêntica autoriza-
permitir a existência, em determi- ção para funcionamento.
nado circuito de cinemas, de uma
sala especial, destinada, perma- SegundO Hely Lopes Meirelles, a
nente e exclusivamente, à exibição autorização «é o ato administrativo
de filmes de artes ou de valor edu- discricionário e precáriO pelo qual
cativo. A circunstãncia de o filme o Poder Público torna possível ao
ter sido liberado, sem' 'cortes, não interessado a realização de certa
basta, penso, para autorizar sua atividade, serviço, ou a utilização
exibição em sala comum, registra- de determinados bens particulares
da tão-só para o efeito, como sala ou públicos que a lei condiciona à
especial, que para assim ser consi- aquiescência préVia da Adminis-
derada há de atender, antes, à fi- tração». Prossegue o mestre afir-
nalidade da lei. mado que «na autorização, embora
o pretendente satisfaça às exigên-
Daí, ainda que se considere auto- cias administrativas, o Poder PÚ-
aplicável a norma em tela, o certo blico decide discricionariamente
é que a situação posta na inicial a sobre a conveniência ou não do
ela não se ajusta. A sala de que se atendimento da pretensão do inte-
cuida não é a sala comum que, pa- ressado.»
ra exibição de determinado filme,
se registra como sala especial. Por se tratar de ato discricioná-
Mas aquela que, dentro de uma ca- rio e precário, fica ao talante da
deia de cinemas, é destinada, ex- administração negar ou conceder a
clusivamente, à exibição de filmes autorização. Disso resulta, remata
de valor artístico, cultural ou edu- o insigne jurista, que «não há qual-
cativo. E disso a impetração, não quer direito subjetivo à obtenção
faz prova, nem consta que o regis- ou à continuidade da autorização,
tro perseguido vise, realmente, daí por que a Administração pode
uma sala especial, nos termos da negá-la ao seu talante, como pode
lei, sem a perspectiva de reversibi- cassar o alvará a qualquer mo-
lidade de sua destinação. Ao invés, mento sem indenização alguma.»
o que ressuma, é o caráter episódi- (Direito Administrativo Brasileiro,
co dessa destinação, ao arrepio da 4? edição, págs. 158 e 159).»
letra e do espírito da lei.»
AcompanhO, portanto, o voto do
Daí, a meu ver, o acerto destas as- ilustre Ministro-Relator, dando pro-
severações, constantes da peça in- vimento à remessa, para reformar a
formativa (fls. 69): sentença e cassar a segurança.
208 TFR - 100

EXTRATO DA MINUTA Decisão: A Turma, por unanimida-


de, reformou a sentença remetida e
cassou a segurança (6? Turma, Em
REO 91.482-RJ - ReI.: Min. Mi- 2-9-81) .
guel Jerõnymo Ferrante. Remte.:
Juízo Federal da 9? Vara-RJ. Partes: Participaram do julgamento os
Cinematográficas F. J. Lucas Netto Srs. Mins. Américo Luz e José Dan-
Ltda e outros e Conselho Nacional de tas. Presidiu o julgamento o Sr. Mi-
Cinema. nistro José Fernandes Dantàs

MANDADO DE SEGURANÇA N? 96.826 - MG


Relator: O Sr. Ministro Wilson Gonçalves
Requerentes: Paulo Nacife e sua mulher
Requerido: Juízo Federal da 3? Vara da Seção Judiciária do Estado de
Minas Gerais
EMENTA
Mandado de Segurança. Ato Judicial. Arremata-
ção de imóvel penhorado. Imissão de posse.
Não tendo os impetrantes figurado como partes
na ação principal, não estavam obrigados a recorrer
da decisão nela proferida, o que afasta a discussão
sobre a admissibilidade da impetração, à mingua da
interposição do recurso ordinário cabível.
No mérito, não têm consistência jurídica os ar-
gumentos dos requerentes, vez que invocam disposi-
tivos legais que não se aplicam ao caso e indicam
outros que são exatamente contrários à sua postula-
ção.
Ao arrematante, como terceiro de boa-fé, não
competiria promover a mencionada ação de despejo
que nasce exclusivamente do contrato de locação do
~~cl. •
Por sua vez, não cabe invocar o art. 698 da Lei
Processual Civil, a pretexto da intimação da praça
aos impetrantes, pois estes não se encontravam,
nem se encontram, na posição de credor hipotecário
ou de senhorio direto.
Por outro lado, o art. 4?, § I?, da Lei n?
5.741/1971 e o art. 37, § 2?, do Decreto-Lei n? 70/1966,
não amparam a pretensão dos suplicantes.
Por fim, a condição de inquilino, aduzida pelos
impetrantes, não poderia prevalecer perante o arre-
matante," que não está vinculado à relação locatícia,
constante já ficou demonstrado.
Indeferimento da segurança.
TFR - 100 209

ACORDÃO gir o ato a Lei n? 6.649/79, que prevê


a ação de despejo como via legal
Vistos e relatados estes autos em única, para que seja reavido o pré-
que são partes as acima indicadas: dio alugado.
Decide a Segunda Seção do Tribu- Fazem, por derradeiro, considera-
nal Federal de Recursos, por unani- ções a respeito do cabimento do
midade, denegar a segurança e cas- mandamus para casos que tais, e re-
sar a liminar, na forma do relatório querem a sua concessão para o fim
e notas taquigráficas constantes dos de ser anulado o despacho atacado,
autos que ficam fazendo parte inte- e, em decorrência, os seus efeitos,
grante do presente julgado. quais sejam, o mandado de imissão
Custas como de lei. de posse.
Brasília, 15 de março de 1981. (da- Requerida, foi concedida a medida
ta do julgamento) Ministro liminar.
Washington Bolívar de Brito, Presi- Requisitadas as informações, fo-
dente - Ministro Wilson Gonçalves, ram elas prestadas, no sentido de
Relator. que a alegada nulidade já teria sido
repelida em despacho fundamenta-
RELATORIO do, sendo certo que a praça foi pre-
cedida da necessária publicidade,
através da pUblicação de editais,
o Sr. Ministro Wilson Gonçalves: dandó ciência a terceiros interessa-
Paulo Nacife e sua mulher requerem dos; além disso, o imóvel estava sob
mandado de segurança contra ato do a guarda do executado' que ficou co-
Exmo. Sr. Dr. Juiz Federal da 3~ Va- mo depositário. Assim, nada pode
ra, consubstanciado no r. despacho ser argüido em desfavor do trâmite
proferido nos autos da execução hi- regular da execução.
potecária promovida pela Caixa De outro lado, a Carta de Arrema-
Econômica Federal contra José La- tação já se encontra devidamente re-
martini de Godoy e sua mulher, o gistrada, sendo intempestivas e in-
qual autorizou a imissão de posse cabíveis as alegações dos impetran-
dos arrematantes João Medrado Fi- tes, mormente no que se refere à
lho e Lídia Bensi Barcellos no imó- aplicação da Lei do Inquilinato (Lei
vel ocupado pelos impetrantes. n? 6.649/79l.
Sustentam os impetrantes a ilega- Ouvida, pronunciou-se a ilustrada
lidade do ato impugnado, porquanto, Subprocuradoria-Geral da RepÚbli-
como detentores da posse do aparta- ca, preliminarmente, pela impro-
mento arrematado, decorrente de priedade da via eleita, para, no mé-
contrato de locação celebrado em rito, concluir pela denegação do pe-
1975, com o executado José Lamarti- dido. Lê, fls 115/116.
ni de Godoy, ainda em vigor, não fo-
ram citados ou intimados para de- É o relatório.
fenderem os seus legítimos interes-
ses em nenhuma fase do processo VOTO
executório e, especialmente, quando
da realização de hasta pública, o que O Sr. Ministro Wilson Gonçalves:
torna a arrematação viciada e, con- Preliminarmente, devo ressaltar que
seqüentemente, nula. se trata de mandado de segurança
Argumentam, mais, que, no caso, contra ato judicial, em cuja aprecia-
não caberia a deferida imissão na ção tenho-me colocado concordante
posse aos arrematantes, por infrin- com a jurisprudência prevalente so-
210 TFR - 100

bre sua admissibilidade, segundo a manifesta, não só invocando disposi-


qual devem convergir necessaria- tivos legais que não se aplicam ao
mente dois requisitos: a interposição caso, como indicando outros que são
do recurso ordinário cabível e a exatamente contrários à sua postula-
possível irreparabilidade do dano ção.
emergente do ato impugnado. Ao arrematante, é claro e intuiti-
A hipótese, nesse particular, é se- vo, como terceiro de boa-fé, não
melhante à com que me defrontei no competiria jamais promover a dese-
Mandado de Segurança n? 95.061 - jada ação de despejo que nasce ex-
Rio de Janeiro, julgado por esta clusivamente do contrato de locação
egrégia Seção em 22 de junho de do imóvel.
1982. Por isto, penso que a exigência E o que acentua o Professor Sylvio
dos aludidos requisitos não se aplica Capanema de Souza:
à espécie. E que os impetrantes não
foram partes no processo de execu- «A ação de despejo é o meio le-
ção hipotecária relativa ao imóvel gal de que lança mão o locador pa-
de que são apenas inquilinos. ra obter a restituição do imóvel lo-
cado, com a desocupação do mes-
Como então salientei, a razão de- mo.
terminante da exigência de manifes-
tação, em tempo hábil, do recurso «Trata-se de ação específica, fa-
ordinário cabível é a de evitar que cultada unicamente ao locador, ou
se consuma a preclusão da matéria a quem seja a ele equiparado, pro-
contida na decisão impugnada no prietário ou não do imóvel, contra
mandamus, o que somente poderá o locatário, ou quem seja a ele
ocorrer entre as partes jungidas ao equiparado, quandO configurada a
litígio. Estando, como estão os impe- relação ex locato (Digesto de Pro-
trantes na posição de terceiros que cesso, vol. 1. Forense, 1980, pág.
se dizem prejudicados, evidente que 336).
os efeitos da preclusão não poderiam Além disto, o contrato de locação,
alcançá-los, vez que não estavam a que se apegam os requerentes (fls.
obrigados a recorrer na execução. 10/12) , não está revestido das forma-
Este é o entendimento lógico e racio- lidades legais, não foi levado a regis-
nal, visto como a decisão judicial tro públiCO e está vencido desde o
não obriga a quem não se vinculou, dia 21 de abril de 1976.
a qualquer título, à relação proces-
sual da demanda. De sua vez, não cabe invocar o
art. 698 da Lei Processual Civil, a
No mérito, a questão se resume na pretexto da intimação da praça aos
pretensão dos suplicantes de se opo- impetrantes, pois estes não se encon-
rem à entrega do imóvel ao arrema- travam, nem se encontram, na posi-
tante, através da correspondente ção de credor hipotecário ou de se-
imissão de posse, sob a alegação de nhorio direto.
que, como inquilinos, somente por
meio de ação de despejo, estariam A respeito esclarece o digno Dr.
obrigados a devolver o prédio, sob a Juiz impetradO:
invocação do art. 698 do Código de 1. «Ao contrário do que afirmam
Processo Civil. Alegam mais que, na os impetrantes, a Execução movi-
qualidade de possuidores diretos, de- da pela Caixa Econômica Federal
veriam ter sido intimados da realiza- - Filial de Minas Gerais - a José
ção da hasta pública. Lamartini Godoy e sua mulher, pe-
A argumentação jurídica dos im- rante este juízo, seguiu os trãmites
petrantes é de uma inconsistência legais e chegou à fase de arrema-
TFR - 100 211

tação, tendo a alegada nulidade si- cutado não pagar a dívida ou não
do repelida por mim em despacho efetuar o depósito do saldo devedor e
fundamentado (Doc. 1). se não estiver na posse do imóvel, o
2. Quanto ao imóvel e ao desco- juiz ordenará a expedição de manda-
nhecimento da Execução por parte do de desocupação contra a pessoa
dos impetrantes, na ocasião da pe- que o estiver ocupando, para
nhora, o próprio executado ficou entregá-lo ao exeqüente no prazo de
como depositário (Doc. 2) e a pra- dez dias.
ça foi precedida da necessária pu- Ora, no caso, ao invés de ordenar
blicidade, através da pUblicação de essa desocupação no ínicio da execu-
editais, dando ciência a terceiros, ção hipotecária, o ilustre magistra-
e entre estes os impetrantes, por- do, tolerantemente, só o fez no final,
ventura, interessados (Docs. 3, 4, 5 após o registro da carta de arrema-
e 6). tação em favor do arrematante. O
3. Assim, nada pOde ser alegado Decreto-Lei n? 70, de 21 de novembro
contra o trâmite, aliás normal, da de 1966, invocado pelos suplicantes,
Execução. se aplicável à hipótese, não ampara-
ria a sua infundada pretensão (art.
4. Realizada a praça (Doc. 7) 37, § 2?).
arrematado o imóvel (Doc. 7) I as-
sinado o Auto de Arrematação A condição de inquilino, aduzida
(Doc. 8) expedida (Doc. 9) e regis- pelos impetrantes, não poderia pre-
trada (Doc. 10) a Carta de Arre- valecer perante o arrematante I que
matação, a pedido dos arrematan- não está vinculado à relação lo-
tes (Doc. 11) determinei a expedi- catícia, consoante já ficou demons-
ção de mandado para imissão na trado.
posse (Doc. 1) / quando, só então, É evidente que, assim, não têm
com alegaçôes que me pareceram eles direito líquido e certo ao que
infundadas, intempestivas e in- pretendem.
cabíveis na espécie, os impetrantes Isto posto, denego a segurança e
requereram, a este Juízo, a susta- casso a liminar.
ção do cumprimento da medida
(Doc. 12): o que fiz, não em decor- VOTO VISTA
rência do pedido, mas por estar a
Secretaria em fase de inspeção O Sr. Ministro Bueno de Souza: Se-
(Doc. 12) / mesmo porque, não es- nhor Presidente, os impetrantes,
tamos diante de relação de loca- Paulo Nacife e sua mulher, dizendo-
ção, pelo que, no caso, inaplicável se locatários de imóvel residencial
mostra-se a Lei do Inquilinato (Lei em virtude de contrato ajustado em
n? 6.649/79) e, em especial, o seu 22 de abril de 1975, consideram-se in-
art. 4?, § I?, transcrito na inicial. justamente molestados no exercício
5. Verifica-se, portanto, que o do direito que lhes compete, como
ato foi praticado com observância possuidores diretos, por terem sido
estrita das normas legais pertinen- surpreendidos, em 22 de março de
tes à espécie e, por isso, a Segu- 1982, por oficial de justiça munido de
rança improcede» (fls. 98/99). mandado de imissão de terceiros na
Por outro lado, o art. 4?·, § 1?, da posse direta do mesmo imóvel, dela
Lei n? 5.741, de I? de dezembro de demitidos, por conseguinte, os impe-
1971, citado pelos impetrantes, asse- trantes.
gura medida mais urgente do que a Os terceiros que assim pretendem
adotada na mencionada execuçâo, investir-se na posse direta em que se
porquanto determina que, se o exe- acham os impetrantes outros não
212 TFR - 100

são, como se colhe nos autos, senão proprietário ou não do imóvel,


os arrematantes do imóvel, Lídia contra o locatário, ou a quem se-
Bensi Barcellos e João Medrado Fi- ja a ele equiparado, quandO con-
lho (fls. 47 e 88). figurada a relação ex locato (Di-
O presente mandado de segurança gesto de Processo, Vol. 1, Foren-
visa obter a sustação do mandado de se, 1980, pág. 336).
imissão dos arrematantes na posse Além disto, o contrato de loca-
direta do imóvel arrematado, uma ção, a que se apegam os requeren-
vez que essa mesma posse pertence, tes (fls. 10/12)1 não está revestidô
de direito, aos impetrantes. das formalidades legais, não foi le-
O Senhor Ministro Wilson Gonçal- vado a registro pÚblico e está ven-
ves, Relator, assim se pronunciou, cido desde o dia 21 de abril de 1976.
em seu d. voto: De sua vez, não cabe invocar o
«No mérito, a questão se resume art. 698 da Lei Processual Civil, a
na pretensão dos suplicantes de se pretexto da intimação da praça
oporem à entrega do imóvel ao ar- aos impetrantes, pois estes não se
rematante, através da correspon- encontravam, nem se encontram,
dente imissão de posse, sob a ale- na posição de credor hipotecário
gação de que, como inqUilinos, so- ou de senhorio direto».
mente por meio de ação de despejo Pedi vista destes autos para mais
estariam obrigados a devolver o detida consideração do tema e trago
prédio, sob a invocação do art. 698 agora meu voto para que o julga-
do Código de Processo Civil, ale- mento possa prosseguir.
gam mais que, na qaalidade de
possuidores diretos, deveriam ter H
sido intimados da realização da
hasta pública. Na verdade, cuida-se dé execução
A argumentação jurídica dos im- hipotecária movida pela Caixa Eco-
petrantes é de uma inconsistência nômica Federal, fundada em crédito
manifesta, não só invocando dispo- decorrente de financiamento contra-
sitivos legais que não se aplicam tado na conformidade das normas do
ao caso, como indicando outros que sistema financeiro da habitação.
são exatamente contrários à sua Assim, a infração do contrato se
postulação. evidencia, não somente em face da
Ao arrematante, é claro e intuiti- falta de pagamento das prestações
vo, como terceiro de boa-fé, não mas, assim também, pela locação do
competiria jamais promover a de- imóvel, que os executados não po-
sejada ação de despejo/que nasce diam licitamente ajustar.
exclusivamente do contrato de lo- Vê-se, então, que o contrato de lo-
cação do imóvel. cação se apresenta como verdadeiro
E o que acentua o Professor ato ilícito, qualificação que nem
Sylvio de Souza: mesmo os locatários poderiam efi-
cazmente ignorar.
«A ação de despejo é o meio le-
gal de que lança mão o locador IH
para obter a restituição do imó-
vel locado, com a desocupação Ajuizada a demanda na consonân-
do mesmo. cia da Lei n? 5.741, de 1-12-71, como
Trata-se de ação específica, fa- foi bem salientado pelo Senhor
cultada unicamente ao locador, Ministro-Relator, os impetrantes fo-
ou a quem seja a ele equiparado, ram poupados da sanção prevista no
TFR - 100 213

art. 4?, § I?, ou sej a, da imediata do: Juízo Federal da 3~ Vara da Se-
evacuação do imóvel; somente após ção Judiciária do Estado de Minas
a arrematação foi expedido o man- Gerais.
dado de imissão dos arrematantes Decisão: Prosseguindo no julga-
na respectiva posse direta. mento, a Seção, por unanimidade,
denegou a segurança e cassou a li-
Como se vê, não há direito subjeti- minar (Em 15-3-83 - 2~ Seção).
vo certo e líquido a ser amparado Participaram do julgamento os
através do mandado de segurança. Srs. Ministros Bueno de Souza, Se-
bastião Reis, Miguel Ferrante, Pe-
Fico de acordo com o Senhor dro Acioli, Américo Luz, Antônio de
Ministro-Relator, para denegar a se- de Pádua Ribeiro, Moacir Catunda,
gurança e cassar o decreto liminar. Torreão Braz e Carlos Mário Vello-
so.
EXTRATO DA MINUTA Ausentes, por motivo justificado,
os Srs. Ministros Armando Rollem-
MS 96.826-MG - ReI.: O Sr. Min. berg e Geraldo Sobral. Presidiu o
Wilson Gonçalves. Requerentes: julgamento o Exmo. Sr. Ministro
Paulo Nacife e sua mulher. Requeri- Washington Bolívar de Brito.

MANDADO DE SEGURANÇA N? 97.089 - MG


Relator: O Sr. Ministro José Dantas
Requerente: Telecomunicações de Minas Gerais SI A
Requerido: Juízo Federal da 2~ Vara-MG
EMENTA
Processual Civil. Execução. Penhora. Depósito.
- Telefone. As diligências de ordem burocrática
e técnica (desligamento e vedação de transferência
da linha) determinadas no sentido de preservar o
valor econômico do direito ao uso do telefone penho-
rado ao respectivo assinante e deixado sob depósito
da própria concessionária, não ofendem ao principio
constitucional da legalidade, invocado pela depositá-
ria para se eximir do munus.

ACORDA0 Custas I como de lei.


Brasília, 29 de junho de 1982 (data
Vistos e relatados os autos em que do julgamento) Ministro
são parte as acima indicadas: Washington Bolívar de Brito, Presi-
dente - Ministro José Fernandes
Decide a Segunda Seção do Tribu- Dantas, Relator.
nal Federal de Recursos, por unani-
midade, indeferir o pedido de segu-
rança, na forma do relatório e notas RELATORIO
taquigráficas constantes dos autos
que ficam fazendo parte integrante O Sr. Ministro José Dantas: A im-
do presente julgado. petrante se diz portadora de direito
214 TFR - 100

líquido e certo contra ato do Juiz im- prestação daquele serviço. Ordem
petrado, Dr. Porto de Menezes, de que, ainda, gera o comprometi-
sua nomeação como depositária da mento da receita da impetrante: -
linha telefônica e do correspondente mesmo que, ad argumentandum,
aparelho, cujos direitos foram pe- se admitisse que, no caso, a impe-
nhorados ao respectivo assinante, trante não houvesse sido obrigada
em execução movida pela União Fe- a suportar o ônus do pagamento
deral. das «contas», como forma de ga-
rantia da subsistência do bem pe-
Começa por censurar a terminolo- nhorado, resta claro que, de qual-
gia usada na cota lançada pelo Pro- quer modo, o «desligamento» de-
curador da República, atendida pelo terminado implica na cessação da
juiz para determinar o depósito do sua única fonte de captação de re-
bem penhorado, com desligamento ceita. Se vingar, a v. decisão ata-
provisório do aparelho telefônico, pa- cada será, naturalmente (por ra-
ra evitar acréscimo de despesas com zões óbvias)' a precursora de uma
novas contas; em síntese, o Procura- série, da qual resultará insuportá-
dor confundira serviço telefônico vel comprometimento da receita
público com direito de uso do apare- da impetrante, do qual advirá, co-
lho telefônico particular, ignorando mo forma de evitar a insolvência,
que o terminal é simples aparelho e o «repasse», para os demais usuá-
pode ser adquirido sem qualquer in- rios, do custo desses telefones que
terveniência da concessionária. não gerem receita, com o conse-
Corrigida a terminologia I do seu qüente e inevitável aumento do
desagrado, a impetrante prossegue preço público - tarifa telefônica
para sustentar que, penhorado o di- (como enfatizado na petição anexa
reito de uso, não teria a concessioná- como «doc. n? 5» e ignorado, sem
ria como descumprir o pacto da con- justificativa, tanto pelO E. Pro-
tinuação do serviço, se porventura curador como pelo MM. Juízo coa-
forem quitadas as contas em atraso; tor).
ou não teria como a penhora impedir
o perecimento do referido direito do De se ressaltar, finalmente, que
assinante, conforme a cláusula sobre a presente impetração é inspirada
o não pagamento das contas telefôni- no desejo de auxiliar a perfeita ad-
cas vencidas há mais de 120 dias, ministração da Justiça, na pugna
mesmo porque o desligamento, no pela melhor aplicação da lei: -
caso, não implicaria na cessação de quem vivencia, diariamente, as
emissão de contas, já que o «assi- conseqüências de interpretações
nante» continuará a dever tarifa re- eqUivocadas das normas regentes
ferente à «assinatura». Daí a seguin- da espécie, no custo administrativo
te conclusão: que há de ser pago pelo público
usuário, ou suportado pelo Poder
«Assim, patente fica a lesão ao concedente ou pela concessionária,
direito líquido e certo da impetran- tem todas as condições para aqui-
te, garantido pelo § 2?, do art. 153 latar a melhor forma de auxílio na'
da Constituição Federal, de não boa aplicação da norma respecti-
ser compelida a fazer coisa que va. É o que tem feito, sistematica-
não lhe determina a lei, consubs- mente, a impetrante, arcando com
tanciada na ordem de assunção da os ônus decorrentes das anotações
condição de depositária do direito da penhora sobre o direito de uso
de uso do serviço público de que é de milhares de terminais telefôni-
concessionária, obrigada a pagar a cos. Anotações que, aliadas à per-
si mesma o crédito decorrente da manente vigília exercida pela con-
TFR - 100 215

cessionária, impedem a transfe- Por ordem judicial, face à exis-


rência do direito de uso do sempre tência da penhora, não pode o bem
crescente número de telefones pe- perecer por falta de pagamento da
nhorados, procedimento provoca- assinatura, pagamento que será
dor de pesado encargo para a im- feito quando do leilão. Um telefone
petrante, que o suporta como cola- que fique desligado por ordem ju-
boradora ad hoc do Poder Judiciá- dicial, não levará à falência a con-
rio. cessionária. O importante é que o
Diante do exposto, não sendo bem penhorado não pereça, para
parte na demanda, não tendo pois, assegurar a realização da execu-
remédio processual cabível nos au- ção, para que seja feita justiça à
tos respectivos, vem socorrer-se do exeqüente. Ninguém determinou à
recurso heróico do mandado de se- impetrante que pague contas tele-
gurança, que pede e espera lhe se- fônicas do executado.
ja concedido, como forma de revo-
gar a v. decisão que lhe é prejudi- Acreditamos que, a atender às
ciaL.»). - fls. 5/6. ponderações da impetrante, es-
taríamos impossibilitando a penho-
Denegada a liminar, à míngua dos ra de uso de terminal telefônico. A
pressupostos, vieram aos autos as impetrante foi muitas vezes venci-
informações do juiz impetrado, pos- da em decisões de primeira instân-
tas, em resumo, na asseveração da cia e desse Egrégio Tribunal nos
legalidade do ato impugnado, tanto agravos que interpôs contra a pe-
mais porque não procederiam as nhora de telefones, e agora tenta
ponderações da impetrante, refuta- impedir de novo, pelo processo que
das a teor do que se segue: ora desenvolve» - fls. 26/27.
«O direito de uso é mantido pelo
pagamento da conta mensal, é ver- Finalmente, opinou a
dade. Para evitar que esta suba Subprocuradoria-Geral da Repúbli-
em valor pelo uso do aparelho, e ca, via do seguinte parecer do
não seja paga no tempo devido, foi Subprocurador-Geral José Arnaldo:
autorizado o desligamento do apa-
relho, como também autorizada a «Telecomunicações de Minas Ge-
concessionária a debitar mês a rais S.A. - TELEMIG, reservando
mês o valor da assinatura, para para si cômoda posição,
cobrança quando do leilão do bem esquecendo-se do seu caráter pú-
penhorado, o terminal telefônico. A blico, de concessionária de serviço
se raciocinar de outro modo, a con- público, mais uma vez, rebela-se
cessionária pretende fazer extin- contra ato do Doutor Juiz Federal
guir a meio da execução o bem pe- da Segunda Vara de Minas Gerais
nhorado, o que evidentemente é le- que lhe nomeou depositária de bem
sivo ao interesse da exeqüente e penhorado, em execução da Fazen-
provoca a frustração da ação judi- da NacionaL
ciaL
Diz bem a impetrante que, como 2. A Subprocuradoria-Geral da
depositária, fica obrigada a não República, reportando-se às doutas
permitir o perecimento do bem pe- informações de fls. 25/7, confia não
nhorado. Por sua pOSição de con- seja conhecida a impetração por
cessionária e por sua fidedignida- não terem sido preenchidos os
de, foi vista pelo Juiz como a enti- pressupostos que autorizam, excep-
dade capaz de assegurar o não pe- cionalmente, o «writ» e, no mérito,
recimento do bem. que se lhe negue provimento por
216 TFR - 100

falta de direito, muito menos certo e, no resto, as determinações com-


e líquido, amparável por mandado plementares da nomeação vêem-se
de segurança». - fls. 29. Relatei. autorizadas pelo mais elementar de-
ver do depositário judicial - o de
conservar, diligentemente, o objeto
VOTO da penhora.
No caso, as malsinadas diligências
O Sr. Ministro José Dantas (Rela- recomendadas à depositária
tor): - Senhor Presidente, no que revelam-se, por si mesmas, necessá-
pareça sugerir a ilegitimidade da pe- rias e úteis à preservação do valor
nhora, da qual decorreria empeços a econômico da constrição; e, sobre
seus direitos de concessionária do transtornarem ou não as rotinas de
serviço telefônico, contra os assinan- serviço, burocráticas ou técnicas,
tes remissos, deixo ao olvido o cla- postas a direito da concessionária,
mor da impetrante. Não lhe pOderia por isso não descompromissam a de-
prestar socorro a via do mandado de positária, cujos deveres, a serviço
segurança, cabíveis que seriam para da Justiça, preponderam sobre as
tal clamor os embargos de terceiros prerrogativas da concessão.
contra a penhora em si mesma.
Concluo, pois, que não há violação
De igual modo, olvido os irônicos de direito a reparar; pelo que indefi-
reparos feitos aos termos da cota ro o pedido.
que inspirou a nomeação da deposi-
tária porquanto, se tecnicamente
equívoca aquela terminologia, como EXTRATO DA MINUTA
acusada pela impetrante, substan-
cial e objetivamente se prestou ao
cometimento visado; isto é, o de, MS 97.089 - MG - ReI.: O Sr. Mi-
com as diligências sugeridas, asse- nistro José Dantas. Reqte.: Teleco-
gurar o não perecimento do bem pe- municações de Minas Gerais S.A.
nhorado, munus, que, no caso de di- Reqdo.: Juízo Federal da 2~ Vara -
reito dos usuários de telefone, me- MG.
lhor não poderá ser desempenhado
do que pela concessionária do res- Decisão: A Seção, por unanimida-
pectivo serviço. de, indeferiu o pedido de segurança.
Votaram com o relator os Srs. Mins.
Carlos Mário Velloso, Justino Ribei-
Por derradeiro, conhecendo do mé- ro, Wilson Gonçalves, Romildo Bue-
rito da impetração, no quanto a re- no de Souza, Pedro Acioli, Américo
querente se diga coagida a fazer o Luz e Antônio de Pádua Ribeiro.
que não lhe determina a lei, início Sustentou, oralmente, o Dr. Antônio
por parafrasear as informações, ao Roberto Pires de Lima, pela impe-
dizer que «a lei a que está subordi- trante (Em 29-6-82 - 6~ Turma).
nada a concessionária é a mesma
que autoriza o juiz a nomeá-la depo- Ausentes, por motivo justificado,
sitária.» os Srs. Mins. Armando Rollemberg,
Moacir Catunda e Miguel Ferrante.
Na verdade, em nenhum passo da Não participou do julgamento o Sr.
inicial demonstrou-se incompatibili- Min. Sebastião Alves dos Reis, por
dade legal oponível ao poder de o não haver assistido ao relatório. Pre-
juiz nomear depositário a qualquer sidiu o julgamento o Sr. Ministro
que lhe pareça habilitado para tanto; Washington Bolívar de Brito.
TFR - 100 217

MANDADO DE SEGURANÇA N? 98.419 - RJ


Relator: O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro
Requerente: Robert Alexander Lipton Júnior
Requerido: Juízo Federal da 4~ Vara - RJ
EMENTA
Mandado de segurança. Ato .judicial criminal.
Pressupostos. Sustação ilegal da restituição da coisa
apreendida.
I - O ato judicial irrecorrível, nem passível de
medida correicional de eficácia antecipada, enseja-
dor de dano irreparável ou de difícil reparação, de-
vidamente demonstrado, pOde ser impugnado atra-
vés da via mandamental.
H - No caso, é ilegal o ato do magistrado, con-
sistente em sustar a restituição de US$ 27.470 dóla-
res, apreendidos em feito criminal, em favor do seu
titular, ao argumento de que este teria doado o nu-
merário a terceiro, vez que apoiado em contrato de
doação nulo. Com efeito, não equivale à doação a
simples manifestação de desejo de realizar a libera-
lidade e, ademais, não pode o Juiz, a pretexto de
complementar a vontade do doador, indicar o benefi-
ciário da doação.
IH - Aplicação do art. 5?, H, da Lei n? 1.533, de
31-12-1951; dos arts: 1.165 e 1.166 do Código Civil;_e do
art. 1? do Decreto-Lei n? 857, de 11-9-69.
IV - Mandado de segurança conhecido e
concedido.
ACORDÃO RELATORIO
Vistos, relatados e discutidos estes O Sr. Ministro Antônio de Pádua
autos, em que são partes as acima Ribeiro - A controvérsia acha-se
indicadas: bem resumida neste trecho do pare-
Decide a 2~ Seção do Tribunal Fe- cer da d. Subprocuradoria-Geral da
deral de Recursos, por unanimidade, República, de lavra do Dr. Wagner
conhecer do pedido de segurança e o Gonçalves, aprovado pelo Dr. Geral-
deferir, na forma do relatório e no- do Fonteles (fls. 75/76):
tas taquigráficas anexas J que ficam «Trata-se de mandado de segu-
fazendo parte integrante do presente rança contra ato judicial, de fI. 37,
julgado. no qual ã Exma. Sra. Juíza Fede-
ral da 4~ Vara da cidade do Rio de
Custas t como de lei. Janeiro-RJ, revogando despachO
Brasília, 1 de março de 1983 (data anterior, sustou o levantamento de
do julgamento) Ministro US$ 27.400 (vinte e sete mil e qua-
Washington BolÍvar de Brito, Presi- trocentos dólares) de propriedade
dente - Ministro Antônio de Pádua do impetrante e que haviam sido
Ribeiro, Relator. apreendidos pela Polícia Federal.
218 TFR - 100

o despacho de fI. 37 reconheceu mo, a segurança se dirige contra ato


que, pelo documento de fI. 36, 'te- judicial criminal, consistente em re-
ria o impetrante, que fora expulso vogar despacho anterior que sustou
do país - doc. de fls. 15, doado a o levantamento da quantia de
quantia em dólares para a Comuni- US$ 27.470 de propriedade do impe-
dade dos Emaús, de recuperação trante, apreendidos pela Polícia Fe-
de viciados em drogas. deral, sob o fundamento de que o seu
Contra tal decisum, o Sr. Robert titular teria doado aquele numerário
Alexander Júnior apresenta o para a Comunidade de Emaús, de
«writ» alegando ofensa a direito recuperação de viciados em droga.
líquido e certo, uma vez que a doa- Este é o teor do ato impugnado (fI.
ção inexiste, sej a porque não per- 72):
feito o ato, seja porque obtida sob
coação. Pede, enfim, a concessão «Em razão de requerimentos pa-
da liminar, para que os dólares ra a liberação de vinte e sete mil e
não sejam entregues à Comunida- quatrocentos dólares, apreendidos
de de Emaús, e a cassação do des- (fI. 8) em poder do indiciado Ro-
pacho, com a liberação da impor- bert Alexander Lipton Júnior, vis-
tância de propriedade do impetran- tos às fls. 80/83, 101/104 e 114/116,
te. com os quais o Ministério Público
Junta documentos de fls. 12 a 56. manifesta o seu repetido acordo,
A fI. 60, levanta ainda a nulidade consoante fls. 85, 105, 117 e 120 ver-
da doação -doc. de fI. 36 -/forte so, foi proferido o despacho de fls.
no art. I?, do Decreto-Lei n? 857, de 107, oficiando-se à Autoridade Poli-
11-9-69. cial que trouxe aos autos o docu-
mento visto à fI. 124.
Prestadas as informações, fls.
65/69, a autoridade dita coatora sa- Verifico, pois, que o valor que se
lienta que, com apoio nos artigos pretendeu liberar foi «doado a uma
1.166 e seguintes do Código Civil, Instituição de Caridade, de prefe-
indiscutível é a doação feita pelo rência que trata da recupera-
impetrante; que a revogação por ção de viciados em droga», desti-
correspondência não poderia, como nação a se concretizar na hipótese
não pode, surtir efeitos, já que de liberação, tudo como se infere
quando se teve conhecimento da de seus exatos termos à fI. 124, e
mesma o ato estava perfeito e aca- para que se concretize a manifes-
bado; que a manifestação de von- tação da vontade ali contida:
tade não foi viciosa e que houve
imprecisão da Inicial não indican- «Revogo, em parte, o despacho
do o ato contra o qual se insurge o de fI. 107, determinando seja o va-
requerente. lor de vinte e sete mil e quatro-
Junta documentos de fls. 70/73.» centos dólares recolhido pelo Ban-
co da Providência que o destinará
Acrescento que, ao manifestar-se à recuperação de viciados em dro-
sobre o mérito da questão objeto da ga na Comunidade dos Emaús ou
lide, o referido parecer concluiu pela outra instituição de idêntica finali-
concessão do' «writ». dade.
E o relatório.
Intime-se o representante legal
VOTO do Banco da Providência, na pes-
soa de um de seus Diretores -
O Sr. Ministro Antõnio de Pá- Rua dos Arcos 54 - para dizer, no
dua Ribeiro (Relator): «Em resu- prazo de cinco dias, se aceita ou
TFR - 100 219

não a liberalidade, devendo o seu «Em suma, condições para a ad-


silêncio importar aceitação (artigo missibilidade do mandado de segu-
1.166 C. Civil).» rança contra ato judicial são, para
Sustenta o impetrante ofensa a di- mim, a não suspensividade do re-
reito líquido e certo, ao argumento curso acaso cabível, ou a falta de
de que a doação inexiste, seja por- antecipação de eficácia da medida
que não perfeito o ato, seja porque de correição a que também alude a
obtida sob coação. lei, uma e outra somadas ao dano
ameaçado por ilegalidade patente
II e manifesta do ato impugnado, e,
com menor exigência relativamen-
A primeira questão a ser examina- te a tal ilegalidade, àquele efetiva
da concerne ao cabimento do man- e objetivamente irreparável».
dado de segurança, desde que visa a
atacar ato jurisdicional criminal. Dentro de tal contexto, afigura-se-
me que, ao decidir mandado de se-
Em.tema de mandado de seguran- gurança contra ato judicial, o magis-
ça contra ato judicial, é conhecida a trado deve ter em conta os seguintes
grande dificuldade com que se depa- princípios:
ram os magistrados para solucionar
os multifários casos concretos que a) constitui exceção e não regra;
lhe são submetidos à apreciação. b) só cabe contra decisão impug-
Nesse sentido, num dos mais profun- nável através de recurso não suspen-
dos e pesquisados estudos sobre a sivo ou medida correicional sem efi-
matéria, o insigne Min. Xavier de Al- cácia antecipada;
buquerque assinalou no lapidar voto
que proferiu sobre o tema, ao julgar c) não cabe contra decisão transi-
oRE 76.909-RS <RTJ 70/507): tada em julgado (Súmula n? 268 do
STF);
«Há mais de 20 anos, quando a
primeira disciplinação do instituto, d) impõe-se a comprovação de que
contida na Lei n? 191, de 16-1-36, já o recurso não suspensivo ou o pedido
estava substituída pela dos arts. correicional de eficácia antecipada
319 e segs. do CPC, o d. Víctor Nu- tenha sido manifestado;
nes Leal reclamou, em estudo dou- e) em qualquer caso, é imperioso
trinário, contra o inveterado, pre- que se demonstre a ocorrência de
judicial e lastimável casuísmo com dano irreparável ou de difícil repa-
que o assunto vinha sendo tratado ração, resultante de ilegalidade fla-
pela jurisprudência dos nossos Tri- grante <dano ex jure) ou de dano ob-
bunais. Sobreveio a Lei n? 1.533, de jetivo e real.
13-12-51, ainda vigente, em cujo
art. 4?, inc. lI, alguns otimistas vi- Tais regras, aliás, vêm sendo, de
ram solução satisfatória para a modo geral, observadas em reitera-
questão. Ledo engano, poré'm, por- dos acórdãos desta Corte. Nesse sen-
que a tormenta persevera e o cen- tido, o decidido nos MS n?s 89.685-
surado casuísmo continua a reger, RJ, 89.867-DF e 90.124-RJ, de que fui
fragmentariamente e sem sistema, Relator; no MS 86.979-PR, Relator o
o comportamento dos Tribunais.» eminente Min. Aldir Passarinho; no
MS n? 89.418-SP, Relator o eminen-
No d. 'voto, após examinar, minu- te Min. William Patterson; no MS
ciosamente, as várias facetas do te- 89.774, Relator o eminente Min. Se-
ma, especialmente tendo em conta a bastião Reis.
Súmula n? 267 do Excelso Pret~'io,
concluiu aquele insigne Min. <RTJ Nessa linha de entendimento, os
70/515) : seguintes precedentes do Excelso
220 TFR - 100

Pretório: RE 76.909, RTJ 70/504; RE «8. A leitura da Inicial e docu-


69.974, RTJ 72/743; RE 84.181, RTJ mentos por si só evidenciam, de
81/879; RE 68.793, RTJ 85/120. imediato, os inúmeros óbices pos-
tos diante do impetrante para evi-
tar que lhe fossem entregues os dó-
III lares.
~m face dessa orientação, penso
9. Em 22-1-82 (fI. 3) lo dinheiro
que, no caso, é de se conhecer da se- foi enviado a «exame pericial»; em
gurança. 12-8-82, foi enviado ofício ao Dele-
gado Chefe da Delegacia de Polícia
Com efeito, o ato impugnado, pra- Fazendária determinando a entre-
ticado em feito criminal, concernen- ga do numerário - essa autorida-
te à restituição da coisa apreendida, de informa aos patronos do impe-
não é passível de recurso ordinário. trante que o dinheiro estava sob
De outra parte, trata-se de ato co- custódia da Caixa Econômica Fe-
missivo: o magistrado liberou a coi- deral, mas que seria liberado; e, fi-
sa apreendida em favor de terceiro e nalmente, a CEF se opõe à libera-
não do seu proprietário, procurando, ção, diante da ordem de sustação
nesse sentido, interpretar documento da medida liberatória, partida do
que lhe pareceu consubstanciar doa- Ilmo. Sr. Delegado de Polícia
ção. Marítima e de Fronteiras - nessa
Ao dispor sobre o pedido de correi- oportunidade já com o documento
ção parcial, diz o art. 6?, inciso I, da de liberalidade datado de 12-2-82
Lei n? 5.010, de 30-5-66, ser ele (fI. 36).
cabível: 10. Em face desse documento,
«... contra ato ou despacho do conseqüentemente, é exarado o
juiz de que não caiba recurso, ou despacho de fI. 37, reformando ato
omissão que importe erro de ofício judicial anterior (fls. 70/107, do
ou abuso de poder». processo originário) para conside-
rar doada a quantia em dólares
Por isso, ou seja, por se tratar de americanos.
ato comissivo e não omissivo, não di-
viso o cabimento, na espécie, da via 11. A questão é deslindável, por-
correicional e, ademais, se cabível tanto, a partir da análise do docu-
fosse, não se me afigura inerente mento de fI. 36.
àquela medida, em tal hipótese, a a) Da doação.
eficácia antecipada.
12. A palavra doação vem do la-
Finalmente, o dano real irrepará- tim donatio,de donore (dar, brin-
velou de difícil reparação, resultan- car, presentear) 1 bem exprime o
te da liberação da significativa vocábulo, por sua etiologia, o ato
quantia questionada em favor de ter- de liberalidade, pelo qual a pessoa
ceiro, aflora em concreto, a meu dispõe de bens ou vantagens inte-
ver, de forma clara e inconteste. gradas em seu patrimônio em be-
Conheço, pois, da impetração. nefício de outrem, que os aceita»
me Plácido e Silva, in Vocabulário
IV Jurídico, Ed. Forense, 1982, vol.II-
D-I, pág. 116).
Quanto ao mérito, o parecer da d.
Subprocuradoria-Geral da Repúbli- 13. Bem se vê, portanto, que con-
ca, ao opinar pela concessão do trato de doação, apesar de ato uni-
«writ», bem dilucidou a controvér- lateral, só se aperfeiçoa, passa a
sia, nestes termos (fls. 76/79): existir, com a aceitação do donatá-
TFR - 100 221

rio - (parte final do art. 1.165, do não pode ser indicado por terceiro,
Código Civil). Antes, sem a aceita- como pretende o d. Juízo impetra-
ção, o ato é mera manifestação de do.
vontade, não susceptível de surtir 18. Ainda, manifestar um desejo,
efeitos. uma pretensão, não é realizá-lo, ou
Daí, a pOSição de inúmeros dou- efetivá-lo, já que a doação requer
trina dores no sentido de que doa- manifestação formal e expressa da
ção é contrato (art. 1.165, C. Civil) vontade.
e, portanto, ato bilateral, já que só 19. Aliás, desejo quer dizer: «l.
manifestação de duas vontades o Ato ou efeito de desej ar. 2 - Von-
aperfeiçoa. tade de possuir ou de gozar. 3 -
14. São três os requisitos ou ele- Anseio, aspiração. 4. Cobiça ... »
mentos fundamentais que caracte- etc. (in Dicionário Aurélio (mé-
rizam a doação: I? - é um contra- dio) , Ed. Nova Fronteira, 1980,
to - ato bilateral; 2? - envolve a pág.561).
transferência de bens ou vantagens 20. Assim, o documento de fI. 36
do patrimônio de uma pessoa (doa- representa muito mais uma aspira-
dor) para de outra (donatário); 3? ção íntima que não pode ter 10
- o espírito de liberalidade. condão de efetivar ato expresso de
15. Ora, a partir desses elemen- doação. Falta-lhe também, como
tos nos é fácil verificar se houve assinalado, o destinatário, o benefi-
doação, com o documento de fI. 36. ciário' que não pode ser indicado
Esse assim está redigido: por terceiro.
«Declaração 21. Entendemos também que o
«ato de liberalidade», só para ar-
Eu, Robert Alexander Lipton gumentar, foi revogado pelas cor-
Júnior, natural de Ohio/EUA, respondências de fls. 45 e 53/56.
nascido' em 24 de fevereiro de
1947, filho de Robert James Lip- 22. Mesmo que assim não se en-
ton e Ann Bill Lipton, residente tendesse, é de se observar que a
em Ruta 125 - 1/2, Carrasco - aceitação do donatário só pode ser
Montevidéo - Uruguai, declaro dirigida ao doador (art. 1.166 do C.
ser o meu desejo que a quantia Civil) e não a terceira pessoa, co-
de US$ 27.400 (vinte e sete mil e mo no caso da manifestação de fI.
quatrocentos dólares) a qual se 73. Não pode a autoridade impetra-
encontra em poder da Justiça da substituir o doador, complemen-
Brasileira, deverá ser, caso libe- tando a vontade desse. Seria, além
rada, doada a uma Instituição de disso, subverter os elementos e re-
Caridade, de preferência que tra- quisitos do contrato de doação.
te de recuperação de viciados em 23. Transpostas todas as ques-
drogas». tões antes aduzidas, não há como
16. Como se vê, tal declaração- deixar de reconhecer a nulidade,
doação é condicional e exprime, de pleno direito, do documento de
quandO muito, um desejo, mas fI. 36, forte no art. 145 e seguintes
nunca doação nos precisos termos do C. Civil, combinado com o art.
do artigo 1.165, do C. Civil. I? do Decreto-Lei n? 857, de 11-9-69.
17. Saliente-se que não se pode 24. Por último, convém assinalar
chamar doação documento que não que o representante do Ministério
indica o beneficiário - donatário. Público, nas oportunidades em que
E, não havendo esse, o contrato teve vista dos autos, manifestou-se
ressente-se do destinatário, que pela liberação dos dólares».
222 TFR - 100

v Decisão: A 2~ Seção, por unanimi-


dade, conheceu do pedido de segu-
Endossando o transcrito pronun- rança e o deferiu (em 1-3-83 - 2~ Se-
ciamento, em conclusão, concedo a ção).
ordem. Os Srs. Mins. Geraldo Sobral, Ar-
mando ROllemberg, Torreão Braz,
EXTRATO DA MINUTA Carlos Mário Velloso, Wilson Gonçal-
ves, Bueno de Souza, Sebastião Reis,
Miguel Ferrante e Pedro Acioli vota-
MS 98.419 1 RJ - ReI.: Sr. Min. ram com o Relator. Ausentes, por
Antônio de Pádua Ribeiro. Reque- motivo justificado, os Srs. Mins.
rente: Robert Alexander Lipton Jú- Moacir Catunda e Américo Luz. Pre-
nior. Requerido: Juízo Federal da 4~ sidiu o julgamento o Sr. Min.
Vara-RJ. Washington Bolívar de Brito.

CONFLITO DE COMPETENCIA N? 4.833 - SP


Relator: O Sr. Ministro Otto Rocha
Parte A: Maria da Silva Borges de Matos
Partes R: Fazenda do Estado de São Paulo e outros
Suscitante: Juízo de Direito da 7~ Vara da Fazenda Estadual/SP
Suscitado: Juízo Presidente da 3~ Junta de Conciliação e Julgamento de
São Paulo
EMENTA
Competência - Reclamação trabalhista - Ser-
vidor admitido em caráter temporário.
O servidor admitido por estado-membro em ca-
ráter temporário, ou contratado para funções de na-
tureza técnica especializada, tem o seu regime
jurídico estabelecido por lei especial estadual (CF,
art. 106).
Competência da Justiça comum para decidir as
questões judiciais decorrentes.
Jurisprudência firmada pelo E. STF.
Conflito improcedente.

ACORDA0 Ministro Gueiros Leite, na forma do


relatório e notas taquigráficas cons-
Vistos e relatados estes autos em tantes que ficam fazendo parte inte-
que são partes as acima indicadas: grante do presente julgado.
Decide a Primeira Seção do Tribu- Custas como de lei.
nal Federal de Recursos, por maio-
ria, julgar improcedente o conflito, Brasília, 23 de fevereiro de 1983
para declarar competente o susci- (data do julgamento), - Ministro
tante, Juiz de Direito da 7~ Vara da José Dantas, Presidente - Ministro
Fazenda Estadual-SP, vencido o Sr. Otto Rocha, Relator.
TFR - 100 223

RELATORIO «Art. 1? Além dos funcioná-


rios públicos poderá haver na ad-
o Sr. Ministro Otto Rocha: O MM. ministração estadual, servidores
Dr. Juiz de Direito da 7? Vara dos admitidos em caráter temporá-
Feitos da Fazenda Estadual de São rio.
Paulo suscitou conflito negativo de I - para o exercício de fun-
competência perante este Egrégio ções de natureza permanente,
Tribunal, por não concordar com de- em atendimento a necessidade
cisão da 3? Junta de Conciliação e inadiável, até a criação e provi-
Julgamento da Capital que, por se mento dos cargos corresponden-
julgar incompetente, remeteu-lhe os tes» .
autos de ação trabalhista em que
Maria da Silva Borges de Matos, con- Art. 6? As admissões serão
tra a Fazenda do Estado, pretende a sempre precedidas de processo,
definição· da relação Jurídica de iniciado por proposta devidamen-
seu contrato de trabalho. te justificada, e serão feitas:
É o relatório. I - as relativas às funções de
que tratam os incisos I e II do
art. 1?, pelo Secretário de Esta-
VOTO do, com autorização do Chefe do
Executivo, e, no caso do inciso I
daquele artigo, após seleção, nos
O Sr. Ministro Otto Rocha (Rela- termos desta lei».
tor): Sr. Presidente: A reclamante,
ao ajuizar a sua reclamação perante Há, ainda, que se transcrever,
a 3? Junta de Conciliação e Julga- para uma melhor sustentação do
mento de São Paulo, esclareceu, aqui pretendido, o § 1?, do art. I?,
verbis: supramencionado, que assim dis-
põe:
«A recte. foi admitida para os
serviços da Secretaria da Saúde -«§ 1? Bienalmente, a partir
em 5-7-76. Após ser demitida desta, da vigência desta lei, as Secreta-
imediatamente, isto é, em 27-6-77, rias de Estado procederão ao le-
ingressou para os serviços da Se- vantamento do pessoal admitido
cretaria da Cultura, Ciência e Tec- nos termos do inciso I deste arti-
nologia, sem, no entanto, ter havi- go, para a criação e o provimen-
do solução de continuidade na to dos cargos correspondentes».
prestação de serviços ao Estado. Atentando-se para o texto legal,
Ambas as admissões, que não verificamos que a admissão da
podem ser consideradas apartada- recte. se deu:
mente, uma vez que apenas houve «a) em caráter temporário
mudança de funções e de local de (art. I?);
trabalho, continuando, porém, o b) em atendimento a necessi-
empregador sendo o mesmo, qual dade inadiável, até a criação e
seja, o Estado, foram efetuadas provimento dos cargos corres-
com base no art. I? - I c/c o art. pondentes (inciso I do art. 1?).
6? - I, da Lei n? 500, de 13 de no- Ainda, dentro do que dispõe a lei,
vembro de 1974, que instituiu o re- a Secretaria da Cultura, Ciência e
gime jurídico dos servidores admi- Tecnologia deveria, após dois anos,
tidos em caráter temporário. proceder ao levantamento do pes-
Os supramencionados arts. 1? e soal admitido nos termos da mes-
6? e seus incisos I, preceituam ma, para criação e provimento dos
que: cargos correspondentes.
224 TFR - 100

Traduz o texto da lei, que o con- nha os servidores preexistentes, fa-


trato celebrado com a recte. teria zendo cessar sua regência pelo re-
um prazo determinado, ou seja, o gime trabalhista».
de dois anos. A seu turno, eis as razões do con-
Tal afirmativa encontra respaldo flito, apresentadas pelo ilustre susci-
no estatuído n() § I? do art. I?, pois tante, o MM. Juiz de Direito da 7~
ali vem inserto que «bienalmente a Vara da Fazenda Est~dual de São
partir da vigência desta lei...». Paulo:
Acontece que, ultrapassado o pra- «Nos termos dos artigos 115, n,
zo de dois anos lestipulado no con- 116 e 118, I, do CPC, suscito confli-
trato, sem que o Estado cumprisse o to negativo de competência, por
determinado no supratranscrito § I?, não concordar com o V. julgado da
3~ Junta de Conciliação e Julga-
do art. 1~, da Lei n~ 500, de 1974, en- mento de São Paulo, por tratar-se
tendeu a reclamante, verbis: o pedido de matéria eminentemen-
«Ora, se a cada dois anos, as Se- te trabalhista, como restou de-
cretarias deverão proceder ao le- monstrado às fls. 75/76, devendo o
vantamento do pessoal admitido processo ser devolvido até final
nos moldes como a recte. foi ad- julgamento, pela Junta menciona-
mitida, lógico está que ultrapassa- da, fugindo da competência deste
do este prazo e, não ocorrendo, co- Juízo privativo» (fI. 2).
mo não ocorreu, tal levantamento Estou em que a razão encontra-se
e, tampouco, houve a criação e o com o Juízo Suscitado.
provimento dos cargos, o contrato
de trabalho tornou-se por tempo in- Em primeiro lugar, porque a cita-
determinado. da Lei n~ 500, de 13 de novembro de
1974, que instituiu o regime jurídico
Como decorrência principal des- dos servidores admitidos em caráter
te fato, a relação empregatícia en- temporáriO, assim dispõe em seu ar-
tre a recte. e o Estado passou a tigo 1~:
ser regida pelas normas da CLT» «Art. 1~ Além dos funcionários
(fls. 3/4). públicos poderá haver na adminis-
A Fazenda do Estado de São Pau- tração estadual servidores admiti-
lo, notificada para defender-se da dos em caráter temporáriO:
ação trabalhista então proposta, I - para o exercício de funções
opôs exceção de incompetência em de natureza permanente, em aten-
razão da matéria, acolhida pela ora dimento a necessidade inadiável,
suscitada (3~ JCJ de São .:Paulo) até a criação e provimento dos
com a segUinte argumentação: cargos correspondentes;
«Os vv. acórdãos em que se es- n - para o desempenho de fun-
triba o excipiente constituem-se ção reconhecidamente espeCializa-
em decisões uniformes: sustentando da, de natureza técnica, mediante
o entendimento que em se tratando contrato bilateral por prazo certo e
de servidor admitido por Estado- determinado;
membro, em serviços de caráter In - para a execução de deter-
temporáriO, ou por ele contratado minada obra, serviços de campo
para funções de natureza técnica ou trabalhos rurais, todos de natu-
especializada, a lei especial que es- reza transitória».
tabelece seu regime jurídico (art.
106 da Constituição Federal) é es- De outra parte, reza o art. 3~ do
tadual, que, uma vez editada, apa- mesmo diploma legal:
TFR - 100 225

«Art. 3? Os servidores de que cia da Justiça do Trabalho, adstri-


tratam os incisos I e U do artigo I? ta ao âmbito traçado no art. 143 da
reger-se-ão pelas normas desta lei, Constituição Federal, mas sim da
aplicando-se aos de que trata o in- Justiça Comum do Estado.
ciso lU, as normas da legislação
trabalhista» . Recurso Extraordinário conheci-
do e provido» Cac. pub. no DJ de 7-
Trata-se, como se vê, de um regi- 12-79).
me especial que se harmoniza com o
art. 106 da Constituição Federal que Mais recentemente, ainda o Tribu-
estabelece: nal Pleno, julgando os autos do RE
«Art. 106. O regime jurídico dos n? 92.899-5, de São Paulo, Relator, o
servidores admitidos em serviços Exmo. Sr. Ministro Moreira Alves,
de caráter temporário ou contrata- decidiu:
dos para funções de natureza técni- «Ementa: Competência. Contra-
ca especializada será estabelecido tado como locador de serviços es-
em lei especial». pecializados. Superveniência da
E, verdadeiramente, a hipótese Lei n? 7.747, de 20-6-72, da Prefeitu-
destes autos. A Lei n? 500, do Estado ra Municipal de São Paulo CSP),
de São Paulo, estabeleceu o regime art. 106 da Constituição Federal.
jurídico dos seus servidores, admiti- Inexistência de direito adquirido a
dos em caráter temporário. continuar sob o regime da CLT.
Aliás, o E. Supremo Tribunal Fe- Incompetência da Justiça do
deral tem jurisprudência firme e co- Trabalho, competente que é a Jus-
piosa, no sentido de que «para que o tiça Comum Estadual.
servidor da administração pública
esteja afastado da órbita da Justiça Recurso Extraordinário conheci-
Trabalhista, é indispensável que do e provido». CAco pub. no DJ de
exista lei, estabelecendo regime es- 5-12-80 e no Ementário n? 1.195-3).
pecial previsto na norma constitucio-
nal» CCfr. RE n? 93.961-0 - São Pau- Aliás, em obediência à jurispru-
lo, Relator, o Exmo. Sr. Ministro Cu- dência firmada pelo Pretório Excel-
nha Peixoto). so, o E. Tribunal Superior do Traba-
lho, por proposta de um de seus
Ainda a Suprema Corte, em sessão membros, o eminente Ministro Mar-
plenária, reformando decisão do E. celo Pimentel, alterou sua jurispru-
Tribunal Superior do Trabalho, ao dência, fazendo editar a Súmula n?
julgar os autos do RE n? 91.722-5, 123, com a seguinte redação:
Relator, também, o Exmo. Sr. Mi-
nistro Cunha Peixoto, entendeu: «Em se tratando de Estado ou
Município, a lei que estabelece o
«Ementa: Servidor municipal ad- regime jurídico Cart. 106, da Cons-
mitido em serviço de caráter tem- tituição) do servidor temporário ou
porário Cart. 106 da Constituição de contratado é a estadual ou munici-
1969), pal, a qual, uma vez editada, apa-
Existindo lei municipal que disci- nha as situações preexistentes, fa-
plina o regime dos servidores con- zendo cessar sua regência pelo re-
tratados em caráter temporário, o gime trabalhista. Incompetente é a
regime jurídico existente entre o Justiça do Trabalho para julgar as
Município e o servidor é de nature- reclamações ajuizadas posterior-
za administrativa, e não trabalhis- mente à vigência da Lei especial))
ta, razão por que os litígios dela CCfr. José Alberto Couto Maciel,
decorrentes não são da competên- em seus «Comentários às Decisões
226 TFR - 100

do Supremo Tribunal Federal em VOTO


Matéria Trabalhista», ed. 1982, voI.
I, pág. 176). O Sr. Ministro Carlos Madeira: Se-
nhor Presidente, naquela monogra-
Com estas considerações, o meu fia de Celso Antônio sobre agentes e
voto é no sentido de julgar improce- servidores públicos, dizia ele que era
dente o conflito, para declarar com- da competência federal a lei especial
petente o Juízo de Direito da 7~ Vara prevista no art. 106 da Constituição.
da Fazenda Estadual de São Paulo, Tenho em mãos o voto do Ministro
ou seja, o nobre suscitante. Moreira Alves proferido no julga-
mento do Recurso Extraordinário n~
VOTO VOGAL 92.899, o qual leio, pedindo licença ao
Ministro Otto Rocha, porque o mate-
rial é dele.
O Sr. Ministro William Patterson:
Sr. Presidente, devo esclarecer que Diz o Ministro:
a hipótese ora relatada pelo eminen- «Firmou-se nesta Corte o enten-
te Ministro Otto Rocha não se identi- dimento de que, em face do artigo
fica com aquelas por mim trazidas à 106 da Constituição Federal (que
Egrégia Primeira Seção, na assenta- diz respeito a serviço de caráter
da anterior, por isso que, no Conflito temporário e a contratos para fun-
de Competência n~ 4.883, discutia-se ções de natureza técnica especiali-
um caso em que o servidor teria sido zada) e de lei especial ali autoriza-
admitido sob regime consolidado e, da, esta se aplica de imediato aos
com a superveniência da Lei Esta- servidores contratados pelo regime
dual n~ 5.692, pretendia ele demons- da CLT, uma vez que não há direi-
trar, perante a justiça especializada, to adquirido contra a Constituição
que não estava alcançado pela legis- mE n~ 90.391).
lação específica do Estado. No outro Na espécie, o ora recorrido -
caso, no Conflito de Competência n~ contratado por períodos determi-
4.847, nada se discutiu ou se alegou nados (um ano) como locador de
em relação à existência de uma lei serviços espeCializados - plei-
estadual regendo esses servidores. teia, em face dos termos do seu
Parece-me que as hipóteses por mim contrato anterior, alteração de
relatadas não se identificam com o enquadramento com base no De-
caso ora trazido a debate pelo emi- creto Municipal n? 12.061, de
nente Ministro Otto Rocha. 27 de junho de 1975, que dispôs
In casu, há uma vinculação ex- sobre o enquadramento previs-
pressa, ou seja, a servidora foi ad- to na Lei Municipal n? 8.138/74,
mitida sob o regime específico da lei e que é posterior à referida Lei
estadual, editada por força do art. Municipal n? 7.747, de 27-6-72, que
106, da Constituição Federal. A juris- se aplica também, aos contratados
prudência do Pretório Excelso, nes- para serviços especializados».
sa hipótese, recomenda a competên-
cia da justiça estadual. Como se vê, Senhor Presidente, o
Ministro Moreira Alves concluiu pela
Diante dessas circunstâncias, real- incompetência da Justiça do Traba-
mente, temos que considerar que a lho. Competente a Justiça Estadual
competência é do juízo local. Por is- porque a lei que rege esse contrato é
so, Senhor Presidente, neste caso, estadual. Nesse sentido já proferi vo-
acompanho o eminente Ministro- tos nesta Seção.
Relator. AcompanhO o Ministro-Relator.
TFR - 100 227

VOTO VENCIDO cal, ficam indiscutivelmente vincula-


dos ao regime contratual celetista,
O Sr. Ministro Evandro Gueiros por prazo indeterminado.
Leite: Senhor Presidente, lamento Dir-se-á que dessa lei estadual, re-
divergir do eminente relator pelos ferida pelo eminente relator, consta
motivos que passo a dar. texto onde se cuida de competência
A Constituição Federal prevê que para julgar as questões daí resultan-
o regime jurídico dos servidores ad- tes, competência atribuída às Varas
mitidos em serviços de caráter tem- da Fazenda Pública Estadual. Dis-
porário, ou contratados para funções cordo dessa orientação porque o tex-
de natureza técnica especializada, to extrapolaria da atribuição legisla-
será estabelecido em lei especial. tiva processual, que é da União e es-
Está no art. 106 e pode ser aplicado tá prevista no art. 8?, inciso XVII,
aos Estados e Municípios. alínea b, da Constituição Federal,
conflitando-se com o art. 142, onde se
Todavia, pelo que ouvi do eminen- lê competir à Justiça do Trabalho
te relator, a lei estadual fixou em conciliar e julgar os dissídios indivi-
dois anos o prazo de duração daque- duais e coletivos entre empregados e
le regime especial, após o que a Ad- empregadores e, mediante lei (mas
ministração teria o encargo de en- lei federal) outras controvérsias
quadrar ou retirar de tal regime os oriundas de relação de trabalho.
servidores, para outro, estatutário, o Ante o exposto, dou pela procedên-
que não fez.
cia do conflito e declaro competente
Para mim perdeu. pois, qualquer o Juízo de Direito da 3~ Junta de
efeito ou finalidade e caiu em desuso Conciliação e Julgamento de São
essa lei estadual, reguladora de um Paulo.
regime a que se chamou de temporá- É como voto.
rio, quando na verdade, ultrapassara
mais de dois anos, refugindo a maté- EXTRATO DA MINUTA
ria ao âmbito da legalidade estadual
ou especial e passando a situação do CC 4.833-SP - Relator: O Sr. Mi-
servidor a ser regida pela CLT, com nistro Otto Rocha. Suscitante: Juiz
aplicação dos arts. 3? e 9? de Direito da 7~ Vara da Fazenda
É lerem-se: Estadual-SP Suscitado: Juiz-
«Art. 3? Cons'idera-se emprega- Presidente da 3~ Junta de Concilia-
do toda pessoa física que prestar ção e Julgamento de São Paulo.
serviços de natureza não eventual Decisão: A Seção, por maioria, jul-
a empregador, sob a dependência gou improcedente o conflito, para
deste e mediante salário».' declarar competente o suscitante,
Juiz de Direito da 7~ Vara da Fazen-
«Art. 9? Serão nulos de pleno da Estadual-SP, vencido o Sr. Minis-
direito os atos praticados com o tro Gueiros Leite. (Em 23-2-83 - 1~
objetivo de desvirtuar, impedir ou Seção).
fraudar a aplicação dos preceitos
contidos na presente Consolida- Os Srs. Ministros William Patter-
ção». son, Adhemar Raymundo, Pereira
de Paiva, José Cândido, Fláquer
Ora, saindo o servidor de um regi- Scartezzini, Costa Lima, Leitão Krie-
me especial atípico, que se prolon- ger, Lauro Leitão e Carlos Madeira
gou por mais de dois anos, para se votaram de acordo com o relator.
tornar empregado do Estado, os seus Presidiu o julgamento o Sr. Ministro
serviços, alheios ao Estatuto Civil 10- José Dantas.
228 TFR - 100

RECURSO DE HABEAS CORPUS N? 5.278 - RJ


Relator: O Sr. Ministro Fláquer Scartezzini
Recte: Edmundo de Carvalho Almeida
Recda: Justiça Pública
EMENTA
Processo Penal. Habeas Corpus. Identificação
criminal. Tomada Fotográfica. Justa causa.
A fotografia tem cabimento, como elemento útil
e recomendável à identificação do indiciado, previs-
to no item VIII do art. 6~ do estatuto processual pe-
nal e sua determinação não constitui constrangimen-
to ilegal, ainda que já tenha sido civilmente identifi-
cado o indiciado, ante o entendimento jurispruden-
cial consagrado e consubstanciado na Súmula n? 568,
da Alta Corte. Sentença mantida.
ACORDÃO fotográfica perante o Delegado de
Polícia Federal, alegando ser tal
Vistos, relatados e discutidos estes exigência destituída de amparo le-
autos, em que são partes as acima gal e constrangedora de sua liber-
indicadas: dade.
Decide a 3~ Turma do Tribunal Fe- 2. Requisitadas, vieram as infor-
deral de Recursos, por maioria, ne- mações de fls. 25/28, acostadas às
gar prOVimento ao recurso, vencido peças de fls. 29/35, manifestando-
o Sr. Min. Carlos Madeira que o pro- se o representante do Ministério
via para conceder a ordem, nos ter- Público em parecer às fls. 36/36v.,
mos do relatório e notas taquigráfi- no sentido de ser cassada a liminar
cas anexas que ficam fazendo parte e denegada a ordem impetrada».
integrante do presente julgado.
Custas como de lei. O Dr. Juiz Federal, ao decidir por
entender ser a fotografia meio dire-
Brasília, 6 de abril de 1982 (data to, imediato e mais objetivo de iden-
do julgamento). - Ministro Carlos tificação)
Madeira, Presidente Ministro
Fláquer Scartezzini, Relator. concluiu ser legítima sua exigên-
cia, que mais se torna necessária
RELATORIO quando da indiciação em procedi-
mento criminal, onde a identificação
visa afastar pOSSibilidade de erro
O Sr. Ministro Fláquer Scartezzini: quanto à pessoa indiciada e even-
Trata-se de Recurso de Habeas tualmente submetida a processo cri-
Curpus, assim relatado pelo MM. minal.
Dr. Juiz da 4~ Vara Federal do Rio
de Janeiro: Recorreu o impetrante, repisando
«L O advogado Dr. Lino Macha- suas considerações iniciais pedindo a
do Filho impetra Habeas Corpus reforma da r. sentença.
em favor de seu colega Dr. Ed- Contra-razões foram oferecidas pe-
mundo de Carvalho Almeida, obje- lo Ministério Público que opinou pelo
tivando isentá-lo da identificação não provimento do recurso.
TFR - 100 229

Subiram os autos, nesta Superior aplicado, com segurança. Portan-


Instância manifestou-se a douta Sub- to, já em 1941, quandO era baixado
procuradoria pedindo a confirmação o Código de Processo Penal, o le-
da sentença. gislador determinava que, se
:8 o relatório. possível, se realizasse a identifica-
ção pelo processo datiloscópico,
VOTO que exige maior sofisticação técni-
ca. A identificação era algo inci-
O Sr. Ministro Flãquer Scartezzini: piente nos idos de 1940. Provavel-
O fulcro da questão reside em saber mente nem em todas as capitais do
se a exigência da fotografia constitui País era pOSSível fazê-lo. Mas, o le-
ou não meio hâbil ~ identificação cri- gislador preocupava-se com que fos-
minal e, portanto, abrangido pelo dis- se realizada. Hoje, diferentemente,
posto no artigo 6? do Código de Pro- com o progresso e a difusão dos co-
cesso Penal. nhecimentos, em muitas cidades
do interior já é possível realizar
A meu ver o legislador procurou com perfeição, tal identificação.
abranger todos os meios de identifi- Então, como se pretender que o le-
cação, na disposição do item VIII do gislador não tenha autorizado a
art. 6? do referido Código e não co- identificação fotográfica que é al-
mo se pretende, tão-somente, deter- go simplíssimo e bastante difundi-
minar a identificação datiloscópica. do há muitas décadas».
Ao contrário, esta maneira de Sendo a fotografia, portanto, um
identificação, face às suas carac- dos meios cabíveis, como elemento
terísticas técnicas mais sofisticadas, útil e recomendável à identificação
necessita de aparelhagem especial, o do indiciado, preVisto no item VIII
que às vezes não se encontra, aind~ do artigo 6? da nossa lei processual
nos dias de hoje, em todas as locall- penal, sua determinação não consti-
dades de nosso continental território, tui constrangimento ilegal, ainda
por isso, foi determinado dentro das que já tenha sido civilmente identifi-
possibilidades, que é o que se pode cado o indiciado, conforme entendi-
deduzir da expressão «se possível» mento jurisprudencial já consagrado
empregada no dispositivo legal men- e consubstanciado na Súmula n? 568,
cionado. do Excelso Pretório.
Vários são os meios empregados Com estas considerações nego pro-
na identificação e entre eles, logica- vimento ao recurso, para manter a
mente, se salienta a fotografia, tal- decisão monocrática.
vez a mais simples e eficiente por :8 o meu voto.
força do progresso científico nesta
área específica.
EXTRATO DA MINUTA
A respeito, destaco o Parecer refe-
rido pela douta Subprocuradoria, nos RHC n? 5.278-RJ - ReI.: Sr.
autos do Habeas Corpus n? 4.736, Min. Fláquer Scartezzini. Recte.:
ilustrado e reproduzido à fl. 57 que Edmundo de Carvalho Almeida.
diz, verbis: Recda.: Justiça Pública.
«Ora, o legislador determinou a Decisão: A Turma, por maioria,
identificação do indiciado. A identi- negou provimento ao recurso, venci-
ficação há de ser, evidentemente, do o Sr. Min. Carlos Madeira que o
ampla, em obediência ao próprio provia para conceder a ,ordem. (Em
princípio da individualização da 6-4-82 - 3~ Turma) - Sustentaram
responsabilidade, que deve ser oralmente os Drs.:· Nélio Roberto
230 TFR - 100

Seidl Machado (reete.l e Dr. Hélio O Sr. Min. Torreão Braz votou
P. da Silva pelO MPF. com o Relator.

HABEAS CORPUS N? 5.536 - RJ


Relator: O Sr. Ministro Jesus Costa Lima
Impetrantes: Humberto Teles e outros
Paciente: Sérgio de Barros Godinho
Aut. Coatora: Juiz Federal da 4~ Vara - RJ
EMENTA
Constitucional e Processual Penal. Fiança. Di-
reito. Requisitos e condições.
1. Todo homem tem direito a receber dos tribu-
nais nacionais competentes, remédio efetivo para os
atos que violem os direitos fundamentais que lhe se-
jam reconhecidos pela Constituição ou pela lei. (De-
claração Universal dos Direitos Humanos, art.
VIII).
2. A Constituição assegura a todos os acusados
ampla defesa, com os recursos a ela inerentes. Cabe
à lei dispor sobre a prestação de fiança (Constitui-
ção, art. 153, §§ 12 e 15).
3. Paciente que, embora preso em flagrante, sa-
tisfaz os requisitos legais à concessão de fiança, não
a pode ter recusada a pretexto de aplicação analógi-
ca de legislação' que trata especificamente da nega-
tiva do «sursis» a estrangeiro.
4. Fiança concedida mediante as condições espe-
cificadas no termo.
ACORDÃO processante,· lavrando-se o respecti-
vo termo, na forma do relatório e no-
Vistos e relatados estes autos em tas taquigráficas constantes dos au-
que são partes as acima indicadas: tos que ficam fazendo parte inte-
Decide a Segunda Turma do Tribu- grante do presente julgado.
nal Federal de Recursos, por unani- Custas como de lei.
midade, conceder a Ordem de Brasília, 17 de dezembro de 1982
Habeas Corpus, mediante fiança, (data do julgamento) - Ministro
com valor arbitrado em Cr$ 80.000,00 Evandro Gueiros Leite, Presidente
(oitenta mil cruzeiros) ! vencido nes- - Ministro Jesus Costa Lima, Rela-
sa parte (o Sr. Ministro William Pat- tor.
terson i que a fixava em Cr$ 40.000,00
(quarenta mil cruzeiros) i devendo o
acusado estabelecer residência na RELATORIO
cidade do Rio de Janeiro, não poden-
do ausentar-se do País! sem o compe- O Sr. Ministro Jesus Costa Lima:
tente visto, nem mudar de residên- Senhor Presidente: 1. Os advogados
cia sem prévia autorização da Juíza Humberto Teles e João Mendes im-
TFR - 100 231

petram ordem de Habeas Corpus em ra de Deus. Porém, no campo dos di-


favor de Sérgio de Barros Godinho reitos fundamentais do homem,
(lê fls. 2/5). considera-se ilícita a posição de
2. Solicitei informações e a ilustre quem, mesmo na qualidade de titu-
Juíza Federal apontada como autori- lar de um direito, abusa do exercício
dade coatora as prestou assim: (lê de tal direito.
fl. 14). Donde, o binômio direito-dever,
3. O Ministério Público, em pare- tanto do ponto de vista filosófico
cer da lavra do ilustre Sub- quanto jurídico, constitui unidade in-
procurador-Geral, Dr. Valim Tei- divisível e representa para o homem
xeira, opina nestes termos: (lê de meio eficaz, a fim de obter seguran-
fls. 20/21). ça e, na paz, realizar os valores
maiores da humanidade.
4. Relatei.
4. Atento a tais princípios
VOTO reuniram-se os povos e prepararam
a «Declaração Universal dos Direi-
O Sr. Ministro Jesus Costa Lima tos Humanos» aprovada a 10 de de-
(Relator): O caso que o relatório zembro de 1948 pela Assembléia-Ge-
procurou traduzir, com plena fideli- ral das Nações Unidas.
dade, é simples. A esse propósito, escreveu Austre-
A ilustre Juíza Federal da 4~ Vara gésilo de AthaYde, Presidente da
do Rio de Janeiro, abeberando-se no Academia Brasileira de Letras, no
Decreto-Lei n? 4.865, de 23-10-42 e no «Correio Braziliense», edição de 11
seu livre convencimento, entende do mês e ano em curso:
sem direito à fiança quem, como o «Coube-me, designado que fui pe-
paciente, encontra-se em situação lo Presidente da Comissão, o filóso-
semelhante à do estrangeiro que se fo e diplomata libanês Charles Ma-
acha no território nacional em cará- lik, por Madame Roosevelt, que. re-
ter temporário e, apenado, carece do presentava os Estados Unidos, e
direito à respectiva suspensão condi- pelo famoso jurista Renê Cassin,
cional da pena. delegado da França, pronunciar o
2. É ensinamento antigo que pro- discurso perante a Assembléia-Ge-
mana de Paulo na carta aos roma- ral, encaminhando a votação do
nos: texto íntegro, como o havíamos re-
digido. Em trinta artigos, fizemos
«Todo homem se submeta às au- a síntese não só dos direitos esta-
toridades constituídas. Os que go- belecidos em declarações nacio-
vernam metem medo, quando se nais, como as da Inglaterra, a dos
pratica o mal, não quando se faz o Estados Unidos e a da França, no
bem. Queres então não ter medo próprio ano de 1789, logo após o
da autoridade? Pratica o bem e de- início da grande Revolução contra
la receberás elogios, pois ela é ins- o absolutismo monárquico, como
trumento de Deus para te conduzir dos demais que resultavam da evo-
ao bem. Se, porém, praticares o lução econômica e social. As lições
mal, teme (Romanos 13, 1/4)>>. terríveis da guerra do nazi-
3. Portanto, não há por que temer fascismo levaram os países vitorio-
os magistrados. É que, os 'direitos in- sos a uma revisão dos Direitos Hu-
dividuais são direitos naturais, pri- manos, com o fim de dar-lhes ca-
mitivos, absolutos, primordiais e ráter universal, e isso foi feito com
pessoais conferidos ao homem como a colaboração de civilizações, cul-
atributos próprios, desde que cria tu- turas jurídicas e 'sociais diversas,
282 TFR - 100

alcançando-se um consenso que as- das hipótese previstas nos incisos II


segura sua durabilidade, por estar e V desse mesmo artigo ou II e III
em correspondência com as aspi- do art. 324. Considerada a espécie
rações e ideais da grande maioria sobre o prisma subjetivo, isto é,
dos povos». tendo em vista as condições pes-
Está, precisamente, na aludida soais do Paciente, outra não seria a
Declaração, dito que (art. 8?): conclusão, de vez que até o momen-
to, já decorridos vários dias da re-
«Art. 8? Todo homem tem direi- qUisição de sua folha penal, como
to a receber, dos tribunais nacio- noticiam os autos, contra ele não pe-
nais competentes, remédio efetivo sa qualquer condenação, acusação
para os atos que violem os direitos de vadiagem ou de quebra de fiança
fundamentais que lhes sej am reco- anterior (incisos III e IV do art. 323
nhecidos pela Constituição ou pela e I do 324).
lei».
Restariam, por conseguinte, os as-
Assim, o direito do estrangeiro de pectos, por assim dizer subjetivo-
entrar, permanecer e sair de um objetivos, referidos pela ilustre Juíza
país está delineado em princípios co- impetrada no despacho denegatório
muns a muitos países e particulares da fiança e nas informações, e que
de outros. são:
De modo que, o direito à ampla de- a) o fato de o Paciente ser es-
fesa, com os recursos a ela ineren- trangeiro e se encontrar no País
tes, bem assim o direito à prestação em caráter temporário, o que, por
da fiança, que a nossa Constituição aplicação analógica do Decreto-Lei
assegura (art. 153, §§ 12 e 15),' su- n? 4.865, de 23-10-42, . impediria se
põem o estabelecimento de conse- lhe concedesse fiança, visto que es-
qüentes garantias da aplicação da se diploma proíbe a concessão de
lei, quebrado que foi o binômio refe- «sursis» ao estrangeiro nas referi-
rido: direito-dever. das condições;
5. Como se viu pelas informações, b) a inafiançabilidade excepcio-
o Paciente foi preso em flagrante ao nal, ainda ligada à condição do es-
tentar embarcar de volta a Portugal, trangeiro, do crime previsto no
sob acusação de haver infringido o art. 338 do Código Penal, porque a
art. 338 do Código Penal (reingresso hipótese seria de prisão preventiva
no País de estrangeiro expulso) e o (arts. 324, IV, e 312 do CPP).
art. 16 da Lei n? 6.368, de 21-10~76 6. Sucede, contudo, que a Consti-
(trazer consigo, para uso próprio, tuição Federal, filiada como é aos
substância entorpecente ou que de- acima referidos princípios consagra-
termine dependência física ou dos na Declaração Universal dos Di-
psíquica) mas precisamente, por te- reitos Humanos, não faz distinção
rem sido encontrados, em sua baga- entre brasileiros e estrangeiros ao
gem de mão, 15 gramas de maco- dizer (art. 153, §§ 12 e 15) que a lei
nha. disporá sobre a prestação de fiança
Do ponto de vista objetivo, ambos e assegurará aos acusados ampla
esses crimes são afiançáveis, visto defesa, com os recursos a ela ineren-
que ao primeiro a lei comina a pena tes. Por esses preceitos máximos,
de reclusão de um (1) a quatro (4) sou naturalmente levado a pensar,
anos e, ao segundo, a de detenção. em primeiro lugar, que a liberdade
Dessarte, não incidindo a proibição do acusado, um dos principais recur-
do inciso I do art. 323 do CPP e, de sos inerentes à sua defesa, somente
igual modo, inocorrente qualquer lhe deve ser retirada nos casos ex-
TFR - 100 233

pressamente previstos em lei; em se- Não tem, dessarte, aplicação ao


gundo, que a fiança, direito que é de caso, o Decreto-Lei n? 4.865/42.
manutenção ou recuperação dessa 8. Igualmente, não se pode dizer
mesma liberdade, ainda quando sur- inafiançável o crime do art. 338 do
preendido I o· cidadão em flagrante Código Penal, por aplicação extensi-
delito e, enquanto não sobrevém con- va do art. 324, IV, combinado com o
denação, só deve ser negada nos ca- art. 312 do Código de Processo Pe-
sos, também, estritamente previstos nal. Pelo primeiro desses preceitos,
em lei. Liberdade e fiança, enquanto a fiança não pode ser concedida,
não sobrevém condenação, são ex- quando presentes os motivos que au-
pressões quase sinôminas, porque a torizam a decretação da prisão pre-
segunda. conduz à primeira. Não é ventiva. E o segundo comanda:
outra a razão pela qual o próprio
CPP, no Capítulo VI do Título IX, fa- «Art. 312. A prisão preventiva
la em liberdade provisória, com ou pOderá ser decretada como garan-
sem fiança. tia da ordem pública, por conve-
niência da instrução criminal ou
Como direitos que são do acusado para assegurar a aplicação da lei
ainda não convicto, elas sofrem res- penal, quando houver prova de
trições. Mas, essas restrições têm de existência do crime e indícios sufi-
estar expressas na lei, não apenas cientes de autoria.»
em virtude dos citados preceitos da
Carta Magna, mas, de igual modo, 9. Note-se, em primeiro lugar, a
em homenagem ao princípio de que abolição da obrigatoriedade da pri-
toda restrição a direito há de rece- são preventiva. Teve-a o Brasil, nis-
ber interpretação estrita. to fazendo companhia a outros dois
7. Daqui, extraio que não se pode, ou três países no mundo. Mas, a Lei
por analogia, aplicar à fiança que é n? 5.349/67 a aboliu, deixando ao Juiz
direito de o acusado assegurar sua apreciar, em cada caso e tendo em
liberdade enquanto não convencido vista que por aqueles princípios uni-
de se achar em débito para com a versais a prisão antes da condena-
sociedade, isto é, enquanto não con- ção não é o fim da lei, mas, apenas,
denado, a restrição que o Decreto- meio de assegurar sua aplicação, a
Lei n? 4.865/42 impõe à concessão do conveniência dela.
«sursis» que não é direito e, sim, mero Em segundo lugar, vê-se que não
benefício, mero favor ligado à políti- há, na lei, qualquer referência à na-
ca penal, e que o Juiz (art. 696 do tureza, permanente ou não, do cri-
CPP) poderá conceder ao réu já con- me, o que, desde logo, dispensa dis-
victo e condenado. Uma coisa é o cussão nesse terreno. Então, o que
acusado que ainda responde a pro- cumpre examinar, já que esse crime
cesso, portanto em pleno gozo de seu é cometido exclusivamente por es-
direito à liberdade, direito somente trangeiro, é se essa circunstância,
sujeito às restrições expressas em por si só, levaria àquelas antevistas
lei. Outra, muito diferente, é o réu já no figurino legal.
condenado, já sem esse direito, e 10. Para Hélio Tornaghi, temos
que apenas pode ficar solto se rece- que as circunstâncias antevistas no
ber um benefício, um favor, como a art. 312 ocorreriam:
suspensão condicional da pena ou o
livramento condicional. O fato de, a) garantia da ordem pública: a
em ambos os casos, haver condições prisão se justificaria» ... nos casos
não deve impressionar o intérprete. em que o réu ameaça consumar o
Direito condicionado é uma coisa e crime apenas tentado ou cometer
benefício condicionado é outra. outros»;
234 TFR - 100

b) convemencia (que melhor se tucionalmente assegurados, somente


diria necessidade) da instrução sujeito às restrições expressamente
criminal: só se decre.taria a prisão previstas em lei.
quando «... sem ela a instrução não Isto posto, defiro o pedido e conce-
se faria ou se deturparia. Assim, do a fiança, cujo valor, nos termos
como exemplo, se o acusado livre do art. 325, e seu parágrafo, atentas
está destruindo provas, corrom- ainda às dispOSições do art. 326, do
pendo testemunhas, influenciando CPP, arbitro em Cr$ 40.000,00 (qua-
peritos, etc.», não bastando o sim- renta mil cruzeiros) '. E} elevo de 3
ples desejo de ter o acusado sem- (três) vezes, fixando-o em definitivo
pre à mão; no 'montante de Cr$ 120.000,00 (cento
c) segurança da aplicação da lei e vinte mil cruzeiros).
penal: seria a hipótese do perito de Para os efeitos dos arts. 327 e 328
fuga do réu. do CPP, deverá o acusado estabele-
cer residência na cidade do Rio de
A respeito, veja-se, do autor citado, Janeiro, não podendo ausentar-se do
«Instituições de Processo Penal», 3? País sem o competente visto (art. 50,
vol., 2~ ed., págs. 336/7. § I?, da Lei n? 6.815, de 19-8-80). Ou-
11. Ora, as duas primeiras hipóte- tro tanto, não poderá mudar de resi-
ses estão, desde logo, excluídas, des- dência sem préVia autorização da
de que não são determináveis a MMa. Juíza processante. Lavre-se o
priori, nem nada se argüiu a respei- competente termo no Juízo a quo.
to. Restaria, portanto, a do perigo de É o voto.
fuga. Pergunta-se: o estrangeiro, só
por ser estrangeiro, ofereceria VOTO VOGAL
maior perigo a essa respeito? Evi-
dentemente, não. Ao contrário, tem
o brasileiro maior pOSSibilidade de O Sr. Ministro Evandro Gueiros
fuga dentro do território nacional. Leite: AcompanhO o eminente
Quanto à fuga para o território es- Ministro-Relator, sem nada ter que
trangeiro, a capacidade nesse senti- acrescentar ao seu fundamentado e
do se mede, em primeiro lugar, pe- jurídico voto. Devo dizer que já tra-
las condições financeiras de cada zia comigo o Decreto n? 70.436/72, re-
um, e não por sua nacionalidade e, gulamentador da aquisição pelOS
em segundo, pela maior ou menor portugueses, no Brasil, dos direitos e
vigilância policial, o que j á não é obrigações previstas no estatuto da
problema da Justiça. Penso que, em igualdade, obstáculo à decisão da
face das normas constitucionais e le- digna Juíza Julieta Lídia Machado
gais que, para efeito de prisão pre- Cunha Lunz. Esse decreto cuida, ain-
ventiva ou fiança, não distinguem da, no seu art. I?, da igualdade de
entre brasileiros e estrangeiros, ao tratamento entre brasileiros e portu-
Juiz não caberia fazer tal distinção, gueses, concernente mente aos direi-
sobretudo à base de fatores ligados à tos e obrigações civis e ao gozo dos
vigilância de fronteiras, afeto às au- direitos políticos. Os portugueses não
toridades policiais. são estrangeiros na nossa terra, se-
não por motivo de nascimento. Não
12. Em remate, estou em que a es- seria lugar comum dizer (e aqui fa-
péCie não se enquadra em qualquer ço a ressalva em homenagem ao
dos óbices legais à concessão da criador do Conselheiro Acácio) que
fiança, que - insisto - não é favor, os portugueses são nossos irmãos.
mas direito ligado ao de liberdade e Na sua terra somos bem tratados e
aos recursos de ampla defesa consti- aqui também os acolhemos sem dis-
TFR - 100 235

criminação, em que pesem as ame- parte, aderindo a V. Exa. e lamen-


nidades do trato que lhes dispensam tando discordar do eminente Minis-
alguns dos nossos irreverentes tro William Patterson.
patrícios.
VOTO
Além desse único adendo, que tra-
go ao voto do eminente relator, devo O Sr. Ministro William Patterson:
dizer que conferi a matéria pertinen- O tecnicismo jurídico é um método
te à fiança e gostaria de questionar procedimental que, muitas vezes,
a sua aplicação pelo Tribunal e não impede o julgador de penetrar na
pela Dra. Juíza de primeiro grau. análise do direito questionado. Sua
Estou satisfeito com os esclareci- relevância e absolutismo cedem
mentos prestados por Vossa Exce- diante de matéria sensível, qual seja
lência, Sr. Ministro Costa Lima, e aquela que diz respeito à liberdade
não discuto que devamos aplicar a humana.
fiança, pois a estamos concedendo No particular, nem mesmo esse
(CPP, art. 325). Acho, porém, que apego às solenidades e ao texto legal
devemos atentar para o parágrafo poderá conduzir à manutenção da
único desse artigo, o qual fala da si- medida impugnada.
tuação econômica do réu. Tal signifi-
ca que, em se tratando de Habeas Examinei, atentamente, as regras
Corpus originário, os membros do disciplinadoras do caso, sem conse-
. Colegiado devem acautelar os direi- guir vislumbrar o apoio impeditivo
tos do paciente que não conhecem da concessão da fiança.
pessoalmente. Assim, para compati- Com efeito, segundo consta, o pa-
bilizar o caput do art. 325 com o seu ciente está indiciado nos arts. 338, do
parágrafo único, fico com V. Exa. Código Penal e 16, da Lei n? 6.368, de
quanto à aplicação da fiança aqui 1976. O grau mínimo das penalidades
mesmo, mas lamento discordar relativas aos preceitos referenciados
quanto à importância arbitrada no determina o inalcance da disposição
triplo, para reduzi-la ao dobro. As- contida no art. 323, do Código de
sim, de cento e vinte mil, passaría- Processo Penal, que repele o deferi-
mos a apenas oitenta mil cruzeiros. mento da finança somente nos cri-
Acrescento que não podemos partir mes punidos com reclusão em que a
de suposições, para dizer se o pa- pena mínima cominada for superior
ciente é ou não bem dotado economi- a dois anos, hipótese inocorrente, na
camente. espécie.
Assim voto, Sr. Ministro Costa Li- A busca, na Lei n? 4.865, de 1942,
ma. Mas gostaria de ouvir V. Exa. O de preceito restritivo à concessão
que tem a dizer a respeito deste as- de suspensão condicional da pena im-
sunto, bem como a opinião do Minis- ' posta ao estrangeiro, não pode servir
tro William Patterson. de esteio analógico à providência
atacada, porquanto ausente, aqui, o
pressuposto básico daquele, isto é, a
VOTO RETIFICAÇÃO existência de um decreto condenató-
rio.
O Sr. Ministro Jesus Costa Lima Mesmo que essa técnica não pu-
(Relator): Considerando as pondera- desse ser tranqüilamente superada,
ções finais do voto de V. Exa., Sr. ainda assim seria de se meditar so-
Ministro Gueiros Leite, reduzo tam- bre os fatos, porque o clamor públi-
bém a fiança para Cr$ 80.000,00 (oi- co, representado pela solidariedade
tenta mil cruzeiros). Assim, nesta de classes dignas e respeitáveis co-
236 TFR - 100

mo a dos artistas, intelectuais e Permitam-me, porém, discordar,


políticos, está a exigir reflexão de to- tão-somente, quanto ao valor da
dos e uma posição sóbria, mas cora- fiança. Não vejo razões para o
josa do Judiciário, que não se pode acréscimo I que só se justifica quan-
omitir diante de ocorrências da natu- do a situação financeira do paciente
reza das de que se tem tido notícia. o permite. Desconhecemos esses as-
Vieira, em seu Sermão do Primei- pectos. Sabemos, apenas, que se cui-
ro Domingo do Advento, pregado na da de renomado artista. Isso, toda-
Capela Real, em 1650, fez as seguin- via, não é indicativo de ser um afor-
tes advertências sobre a passividade tunado.
dos que têm o poder e o dever de
agir: EXTRATO DA MINUTA
«A omissão é um pecado que se
faz não fazendo». Habeas Corpus n? 5.536-RJ - Re-
«São as omissões os mais perigo- lator: O Sr. Ministro Jesus Costa Li-
sos de todos os pecados.» ma. Impetrantes: Humberto Teles e
Os acontecimentos noticiados não outros. Paciente: Sérgio de Barros
nos permitem ficar insensíveis ser- Godinho. Aut. Coatora: Juiz Federal
mos omissos. Não estamos julgando da 4~ Vara - RJ.
a questão. Não estamos absolvendo Decisão: A Turma, por unanimida-
culpados ou condenando inocentes. de, concedeu a Ordem de, Habeas-
Estamos liberando alguém dos rigo- Corpus, mediante fiança, com valor
res de uma custódia provisória, mas arbitrado em Cr$ 80.000,00 (oitenta
com as garantias de que as leis se- mil cruzeiros) I vencido, nesta parte,
rão observadas. o Sr. Ministro William Patterson que
O realismo jurídico de Leon Du- a fixava em Cr$ 40.000,00 (quarenta
guit, quando adotado em casos que mil cruzeiros), devendo o acusado
tais, leva ao reprovável extremismo, estabelecer residência na cidade do
retratado no brocardo latino Rio de Janeiro, não podendo
summum jus summa injuria. ausentar-se do País sem o competen-
Finalizo com estas verdades ditas te visto, nem mudar de residência
pelo mesmo Vieira, no Sermão dedi- sem prévia autorização da Juíza pro-
cado ao Juízo Final»: cessante, lavrando-se o respectivo
«Todos imos embarcados na termo. Quanto ao arbitramento da
mesma nau, que é a vida, e todos fiança, o Sr. Ministro Gueiros Leite
navegamos com o mesmo vento, votou com o Sr. Ministro-Relator, e,
que é o tempo». no mais, os Srs. Ministros Gueiros
Leite e William Patterson votaram
com o Sr. Ministro-Relator. (Em 17-
Assim, Sr. Presidente, concedo or- 12-82 - 2~ Turma).
dem nos termos e condições dos vo-
tos proferidos pelo eminente Relator Presidiu o julgamento o Sr. Minis-
e V. Exa. tro Evandro Gueiros Leite.
RECURSO DE HABEAS CORPUS N? 5.606 - RN
Relator: O Sr. Ministro Hélio Pinheiro
Partes: Jorge Carlos Meira Silva
Justiça Pública
Paciente: Yhonny Percy Terceros Escalante
Recorrente: Juízo Federal no Rio Grande do Norte
TFR - 100 237

EMENTA
Administrativo - Estudante Estrangeiro.
I - Estudante estrangeiro, amparado por convê-
nio entre Brasil-Bolívia, para intercâmbio cultural.
n - Esgotado o prazo de permanência no Pais,
deve-se-lhe conceder oportunidade para regularizar
sua situação.
In - Interpretação do art. 98, do Decreto n~
86.715/80, diante da existência de convênio firmado
por países soberanos.
IV - Recurso improvido.
ACORDÃO paCiente não tomou providências
neste sentido, sendo, em conseqüên-
Vistos e relatados estes autos em cia, autuado por excesso de prazo,
que são partes as acima indicadas: nos termos do art. 25, inciso n, da
Decide a Terceira Turma do Tri- Lei n? 6.825/80, a recolher determi-
bunal Federal de Recursos, por una- nada importância, a título de multa,
nimidade, negar provimento ao re- além de notificado a deixar o País,
curso, na forma do relatório e notas no prazo de 8 (oito) dias, sob pena
taquigráficas constantes dos autos· de deportação (fls. 02/,03).
que ficam fazendo parte integrante Solicitadas as informações,
do presente julgado. prestou-as a autoridade apontada co-
Custas como de lei. mo coatora, confirmando a notifica-
ção do paciente, em face da sua si-
Brasília, 26 de abril de 1983 (data tuação irregular como estrangeiro
do julgamento) - Ministro Carlos (fls. 12/13).
Madeira, Presidente Ministro
Hélio Pinheiro, Relator. O MM. Juiz Federal concedeu o
habeas corpus preventivo, para que
RELATORIO o paciente não fosse deportado, sem
prejuízo de providenciar a regulari-
o Sr. Ministro Hélio Pinheiro: José zação de sua estada no País, dentro
Carlos Meira Silva, bacharel em Di- de 30 dias, além do pagamento da
reito, requereu habeas corpus pre- multa que lhe foi imposta (fls.
ventivo a favor de Yhonny Percy 14/16).
Terceros Escalante, boliviano, estu- Sem recurso das partes, subiram
dante mediante convênio Brasil- os autos a este E. Tribunal, por for-
Bolívia, a fim de evitar fosse este ça do recurso de oficio.
deportado do País. A douta Subprocuradoria-Geral da
Alegou ter o paciente ingressado República manifestou-se pelo não
no Brasil, em data de 2-3-80, como provimento do presente recurso (fls.
estudante do Curso de Engenharia 22/23).
Química, com duração de 5 (cinco) É o relatório.
anos, embora no seu passaporte, fi-
casse a sua permanência no País até VOTO
o dia 26-2-83. O Sr. Ministro Hélio Pinheiro (Re-
Entendendo não ser necessário o lator): Pelas peculiaridades do caso,
pedido de prorrogação de sua estada verifico que teve solução adequada
no Brasil, face à duração do curso, o no Juízo a quo.
238 TFR - 100

A interpretação, rigorosamente li- Ante o exposto, tenho como incen-


teral do art. 98 do Decreto n? surável a decisão recorrida! que con-
86.715/80, acarretaria na espécie firmo por seus próprios fundamen-
conseqüência não desej ada, tal como tos.
a interrupção do curso de Engenha- Nego, pois, provimento ao recurso.
ria Química iniciado pelo paciente,
mediante convênio firmado entre o É o meu voto.
Brasil e a Bolívia, para recíproca as-
sistência educacional a estudantes
de níve~ superior. EXTRATO DA MINUTA
O fato de estar o paciente ampara-
do pelo referido convênio, já tendo RHC 5.606-RN - ReI.: Min. Hélio
concluído o 6? período do curso cita- Pinheiro - Partes: JOTge Carlos
do, enseja outorgar-lhe oportunidade Meira Silva e Justiça Pública - Pa-
para regularizar sua situação no. ciente: Yhonny Percy Terceros Es-
País e ultimar o curso iniciado. calante - Recte.: Juízo Federal no
Ademais, ficou ressaltado, na sen- Rio Grande do Norte.
tença em revisão, que «o paciente Decisão: A Turma, por unanimida-
não está desobrigado do cumprimen- de, negou provimento ao recurso.
to das obrigações impostas aos es- (Em 26-4-83 - 3~ Turma).
trangeiros, pelo Estatuto a estes des-
tinado, pelo que necessita, urgente- Votaram com o Relator os Srs.
mente, providenciar a renovação do Mins. Carlos Madeira e Adhemar
visto em seu passaporte, para que Raymundo.
torne-se regular a sua estada no Presidiu o julgamento o Exmo. Sr.
Brasil». (fI. 16). Min. Carlos Madeira.

RECURSO CRIMINAL N? 844 - PE


Relator Designado para o acórdão: O Sr. Ministro Leitão Krieger
Relator Originário: O Sr. Ministro Pereira de paiva
Recorrentes: Justiça Pública e Juarez Guimarães Ferreira
Recorridos: Os mesmos
EMENTA
Processo Penal - Sentença de Pronúncia que se
anula.
1. Competência da Justiça Federal para crime
cometido contra funcionário público no exercício das
funções.
2. A denúncia imputou ao réu uma tentativa de
homicídio. A sentença de pronúncia não poderia atri-
buir ao denunciado duas tentativas, retificando a de-
núncia que em parte alguma, cogitou desse concur-
so.
3. Baixa dos autos para novo pronunciamento
judicial.
TFR - 100 239

ACORDA0 C0m efeito, no dia 13 de março


de 1981, cerca das dezesseis (16)
Vistos e relatados estes autos em horas, realizou-se a mencionada
que são partes as acima indicadas: reunião que teve lugar na Sala do
Decide a 1~ Turma do Tribunal Fe- Superintendente-Adjunto de Opera-
deral de Recursos, prosseguindo no ções da SUDENE, no 13? Andar do
jUlgamento, por maioria, dar provi- Edifício Sede da SUDENE, no
mento ao recurso do réu, para anu- bairro do Engenho do Meio, nesta
lar a sentença de pronúncia' e deter- Capital.
minar o retorno dos autos à Vara de Na conferência em comento esti-
origem, para que outra seja proferi- veram presentes, o Superintenden-
da, restando prejudicado o recurso te-Adjunto de Operações da SU-
do Ministério Público, vencido o Sr. DENE, Dr. Marlos Jacob Tenório
Ministro-Relator, na forma do rela- de Melo, o denunciado, Juarez Gui-
tório e notas taquigráficas constan- marães Ferreira, seu procurador
tes dos autos que ficam fazendo par- neste Estado, Sr. José Stepple de
te integrante do presente julgado. Lima, o representante do Governo
Custas como de lei. do Estado de Minas Gerais, Dr.
Brasília, 28 de setembro de 1982 Roberto de Moraes Coutinho, além
(data do julgamento) - Ministro do técnico da autarquia, Dr. Paul
Lauro Leitão, Rresidente - Ministro Jubert.
Leitão Kriegr, Relator.
Iniciada a reunião, que visava
examinar a situação da empresa
RELATORIO TOK S.A Manufaturas de Roupas,
fez o Dr. Marlos Jacob uma expo-
sição esclarecendo as razões pelas
o Sr. Ministro José Pereira de quais haviam sido suspensas as li-
Paiva: O Representante do Ministé- berações em favor da mencionada
rio Público Federal ofereceu denún- empresa, acrescentando que esta
cia contra Juarez Guimarães Ferrei- se apresentava com um déficit
ra, imputando-lhe a prática dos deli- pouco superior a Cr$ 120.000.000,00
tos previstos no art. 121, combinado (cento e vinte milhões de cruzei-
com o art. 12, II, e art. 129, todos do ros) I quantia essa que deveria ser
Código Penal Brasileiro, e assim coberta com recursos próprios do
descrevendo os fatos (fls. 2/4): grupo, a fim de que, sanado o
«O denunciado, na qualidade de déficit, pudesse a SUDENE voltar
diretor-presidente da empresa a liberar os incentivos financeiros
Tok SA - Manufaturas de Rou- do FINOR.
pas, sediada em Montes Claros,
Estado de Minas Gerais, com pro- O denunciado procurou, então,
jeto de financiamento junto à Supe- nessa ocasião, contra-argumentar,
rintendência do Desenvolvimento inclusive invocando um acordo
do Nordeste (SUDENE).' foi convo- verbal que fizera com o Dr. Walfri-
cado pará comparecer a uma reu- do Salmito, chegando a adiantar
mao, que seria presidida pelo que diante da recusa da SUDENE
Superintendente-Adjunto de Opera- em liberar os recursos, importaria
ções da autarquia, Dr. Marlos Ja- em uma decretação de falência da
cob Tenório de Melo, reunião essa sua empresa, no que não pOderia
que fora d,eterminada pelo próprio concordar, posto que tinha sob a
Superintendente da SUDENE, Dr. sua responsabilidade quase oito-
Walfrido Salmito Filho. centos funcionários.
240 TFR - 100

Nessa oportunidade, o acusado do Sr. José Stepple de Lima' que


solicitou aos seus acompanhantes, dificultou a execução do disparo
José Stepple e Roberto Coutinho, pelo ora denunciado».
que se retirassem da sala, pois Recebida a denúncia, o réu foi in-
queria ter uma conversa particular terrogado (fls. 58/60) e ofereceu de-
com o Dr. Marlos Jacob TenÓrio. fesa prévia (fI. 61).
Este, entretanto, fez ver que no
seu gabinete só ele poderia deter- Foram ouvidas as testemunhas ar-
minar quem deveria permanecer roladas na denúncia (fls. 74/86), bem
ou sair, devendo, ao contrário, to- assim, as vítimas, tendó a defesa de-
dos continuarem naquele local. sistido de ouvir as que indicara (fI.
87).
Diante das palavras do Dr. Mar-
los Jacob, o denunciado, le- Na oportunidade prevista no art.
vantando-se, procurou sacar de 406 do Cód. de Processo Penal, as
uma arma que portava, gesto que partes apresentaram as suas alega-
foi observado pelo Sr. José Stepple. ções finais (fls. 93/6 e 98/102).
Este, no mesmo instante, agarrou- O MM. Juiz Federal, Dl:". Petrúcio
se com o denunciado, procurando, Ferreira da· Silva, pronunciou o réu
a todo custo, tomar-lhe a arma, o por dupla tentativa de homicídio,
que só veio a conseguir, após o dis- contra as vítimas Dr. Marlos Jacob
paro feito, havendo o projétil vara- Tenório de Melo e Dr. Paul Jubert e
do a parede divisória da sala. pela prática do crime de lesões cor-
Acresce, ainda, que o Sr. José porais contra José Stepple de Lima,
Stepple, no esforço que fez para to- reconhecendo o concurso formal
mar a arma do denunciado, veio a (art. 121, caput, c.c. o art. 12, II, por
ferir-se, sofrendo escoriações na 2~ duas vezes, e art. 129, caput, todos os
falange do 1? quirodáctilo esquer- dispositivos do Código Penal Brasi-
do, como consta da períCia trau- leiro, combinados com o art. 51, § 1?,
matológica. do mesmo Estatuto Penal). Tendo si-
O denunciado compareceu à do concedida â fiança ao réu, foi de-
reunião da SUDENE, portando, terminado que aguardasse o julga-
ocultamente, uma pistola, marca mento pelo Tribunal do Júri, em li-
Walter, número 108.217 LR, calibre berdade (fls. 103/113).
22, de fabricação alemã, de que se Recorreram em sentido estrito o
utilizou para fazer o disparo. réu (fI. 114) e o Ministério Público
Não era possuidor de porte de Federal (fI. 116).
arma, desde que o conseguido an- O recurso da defesa visa à im-
teriormente se encontrava vencido, pronúncia do réu, afirmando a ine-
e o certificado anexado à fI. 18 do xistência dos crimes de tentativas de
inquérito autorizava o seu uso ex- homicídio e lesões corporais, reco-
clusivamente em residência parti- nhecidos na sentença de pronúncia
cular ou estabelecimento comer- (fls. 122/8).
cial.
O Ministério Público Federal, nas
Desta forma, o denunciado, Jua- suas razões de recurso, reafirma a
rez Guimarães Ferreira, procurou incompetência da Justiça Federal
eliminar o Dr. Marlos Jacob Tenó- para processar e julgar o feito (fls.
rio, Superintendente-Adjunto de 117/9>'
Operações da SUDENE, só não o
conseguindo em face de circuns- Contra-razões, às fls. 121 e 130/2.
tância alheia à sua vontade, vale A douta Subprocuradoria-Geral da
dizer, à interferência providencial República ofereceu parecer,
TFR - 100 241

manifestando-se contrariamente à O conceito de bens, serviços ou in-


tese da incompetência da Justiça Fe- teresses da União é amplo e, induvi-
deral e opinando pela confirmação dosamente, os crimes descritos na
da pronúncia para que seja o acusa- denúncia atingiram serviços e inte-
do julgado pelo Tribunal do Júri (fls. resses da entidade autárquica, já
136/141). que a ação do réu foi dirigida contra
É o relatório. servidores da autarquia, no
exercício das suas funções.
VOTO Hoje, a matéria já dispensa maio-
res considerações, face à Súmula n?
O Sr. Ministro José Pereira de 98, do TFR, com o seguinte enuncia-
Paiva (Relator): Dois são os recur- do:
sos em sentido estrito, interpostos «Compete à Justiça Federal pro-
pelo réu (fI. 114) e pelo Ministério cessar e julgar os crimes pratica-
Público Federal (fI. 116); aquele vi- dos contra servidor público fede-
sando à impronúncia e, este, à decla- ral, no exercício de suas funções e
ração de incompetência da Justiça com estas relacionadas».
Federal para processar e julgar o
feito. Assim, correta a sentença recorri-
da que, com fundamentação adequa-
A tese da incompetência merece da, rejeitou a tese argüida pela acu-
tratamento preferencial. sação, quanto à incompetência da
O argumento contido no recurso de
Justiça Federal.
fls. 116/119, do representante do Mi- Igualmente, não pode ser aceito o
nistério Público Federal, todavia, pedido de impronúncia, contido no
não encontrou apOio no parecer de recurso do réu.
fls. 136/141, da douta Subprocura- A sentença recorrida, na aprecia-
doria-Geral da República. ção dos fatos, acertadamente acen-
Logo, fácil tornou-se a solução da tuou:
questão, já que o órgão superior do Lê fl. 112.
Ministério Público Federal.·· não acei-
tou a tese da incompetência, obj eto Da leitura feita, vê-se ser inaceitá-
do recurso de fI. 116. vel a tese do recorrente, diante dos
fatos que lhe são imputados e das
Correto o entendimento expendido circunstâncias que os antecederam.
no referido parecer, pois, de fato, os
crimes praticados contra funcioná- De inteira procedência os argu-
rios autárquicos, no exercício das mentos expendidos pelo Dr. Procura-
suas funções, ofendem serviços e in- dor da República, no curso da ação
teresses da entidade autárquica. penal. e transcritos no parecer da
douta Subprocuradoria Geral da Re-
Trata-se de matéria regulada pela pública, às fls. 140/1:
Lei Maior que, de modo expresso, dá
competência à Justiça Federal para «Por outro lado, não deve esse
processar e julgar os crimes pratica- Juízo esquecer que as circunstân-
dos em detrimento de bens, serviços cias em que foi o fato cometido são
ou interesses da União ou de suas de moldes, até, a autorizar a pri-
entidades autárquicas ou empresas são preventiva, além de revelar
públicas. uma certa premeditação do acusa-
do. Veja-se: compareceu à reunião
A única ressalva, a propósito, armado, pediu que o representante
refere-se aos delitos de natureza mi- do Estado de l\;!:inas Gerais e o seu
litar ou eleitoral. procurador se retirassem da sala,
242 TFR - 100

porque queria ficar a sós com o NE, pois queria ter uma conversa
Superintendente-Adjunto da SUDE- particular com a mesma, que não
NE, Dr. Marlos Jacob, e com o concordando com as exigências do
Técnico Paul Jubert, da SUDENE. réu, acabou por ser ameaçado de
Provavelmente, duas seriam as morte, no momento em que o réu
vítimas. Não discuto, não nego a levantou-se e sacou da arma que
possibilidade de um posterior portava, no que foi impedido pelo Sr.
suicídio do acusado. Não. Mas se- José Stepple, tendo, porém, sido dis-
ria uma tragédia, bem ao estilo parado o tiro que atingiu e varou a
trágico de romances de folhetins: parede divisória da sala.
matou e suicidou-se (autos, fI. 6 Ora, se para a pronúncia basta-
v)).
vam a prova do crime e os indícios
Tenho, pois, como configuradas, de autoria, o que sobejamente com-
na espécie, as tentativas de ho- provados nos autos, caberá ao Tribu-
micídio reconhecidas na sentença de nal do Júri, soberano nas suas deli-
pronúncia, vez que presentes todos berações, apreciar e aceitar, ou não,
os elementos do crime tentado, tais as alegações do réu.
sejam: início de execução; interrup- A tese da tentativa do suicídio, fa-
ção da execução por circunstâncias ce aos antecedentes dos fatos, é ina-
alheias à vontade do agente e o ele- ceitável para a impronúncia do re-
mento sUbjetivo. corrente. Ademais, a pronúncia é
A prova dos autos autoriza, sem uma sentença provisória, cabendo ao
maiores dificuldades, a verificaçâo Tribunal do Júri a apreciação, em
deste último elemento, preponderan- definitivo, da espécie.
te na conceituação da tentativa. Face ao exposto, conheço dos re-
O recorrente, sem ter licença para cursos, porém, nego-lhes provimen-
porte de arma, compareceu à reu- to.
niâo da SUDENE, portando, oculta- E o meu voto.
mente, a arma do crime e com ela,
inequivocamente, tentou eliminar as VOTO VISTA
vidas do Dr. Marlos Jacob Tenório
de Melo e do Dr. Paul Jubert, só não O Sr. Ministro Leitão Krieger: Do
o fazendo por motivos alheios à sua minucioso relatório do eminente Re-
vontade, pois foi obstado pelo Sr. Jo- lator, chamou-me a atenção uma
sé Stepple f que ficou ferido naquele particularidade: a denúncia imputa-
esforço de evitar fossem consuma- va ao réu uma tentativa de ho-
dos os delitos pretendidos pelo réu. micídio, ao passo que a sentença o
Ora, dadas as circunstâncias em pronunciava por duas tentativas. Pa-
que se deram os fatos, inverossímeis ra mais detidamente apreciar o ca-
são as alegações do réu e caracteri- so, pedi vista, após ter o eminente
zadas se acham as tentativas de ho- Ministro Paiva emitido seu voto, em
micídio, pois, para a prática dos cri- que negava provimento a ambos os
mes, usou dos meios idôneos aos fins recursos.
que tinha em vista, e só não os Efetivamente. A denúncia remata:
conseguiu por circunstâncias alheias «Desta forma, o denunciado, Juarez
à sua vontade. Guimarães Ferreira, procurou elimi-
Para assim proceder, muniu-se da nar o Dr. Marlos Jacob Tenório,
arma, discutiu com a vítima Marlos SUPl:lrintendente-Adjunto de Opera-
Jacob Tenório de Melo, solicitou aos ções da SUDENE, só não o conse-
seus acompanhantes que se retiras- guindo, em face de circunstância
sem da sala de reuniões da SUDE- alheia à sua vontade, vale dizer, a
TFR - 100 243

interferência providencial do Sr. Jo- O ilustrado advogado que fez a


sé Stepple de Lima que dificultou a sustentação oral do recurso invocou
execução do disparo pelo ora denun- princípio do sistema acusatório que
ciado. jamais pode ser deixado ao olvido:
ne procedat judex ex officio. Mas a
Assim procedendo, cometeu o de- respeitável sentença de pronúncia,
nunciado o crime previsto no artigo distraída dos lindes que lhe são tra-
121, combinado com o artigo 12, inci- çados, foi muito além, remetendo o
so II e artigo 129 do Código Penal acusado ao tribunal popular, já en-
Brasileiro, pelo que se espera venha tão por duas infrações.
a presente denúncia a ser recebida, Ora, tal decisão é nula. A pronún-
citando-se o denunciado para se ver cia, em última análise, significa si-
processar, sob pena de revelia, e nal livre para a acusação, a qual de-
até condenação final». Já a sentença ve prosseguir, mas a acusação a
de pronúncia vai além: «Os autos cargo do Ministério Público que tem
não autorizam a ver-se, na conduta atribuições para tal. Não poderá
do r'éu, qualquer excludente de cri- nunca o juiz, substituindo-se àquele,
minalidade ou dirimente de culpa, desencadear acusação por conta pró-
daí por' que inicialmente retifico a de- pria, como no caso, em que a deci-
núncia' para, atendendo inclusive ao são importou em imputação de outra
que de modo explícito já consta de infração, de que não cogitou o autor
sua narrativa, não se apresentou a da denúncia.
hipótese de desclassificação, fica o Desnecessário maior exame da
réu denunciado, doravante, em rela- matéria que não provoca dissensões.
ção à sua conduta quanto ao Dr. Permito-me apenas lembrar a con-
Marlos Jacob Tenório de Melo, no clusão de julgado do Tribunal de São
art. 121, c.c art. 12, II do CPB, e Paulo, publicado na Revista dos Tri-
igualmente nas penas do art. 121, bunais, vol. 456, pág. 390: «N a senten-
caput, c.c. art. 12, II do CPB; vê-lo ça de pronúncia o juiz verificará,
denunciado igualmente em relação apenas, o inciso legal em que estiver
ao Dr. Paul Jubert, e finalmente vê- incurso o réu, omitindo referências
lo denunciado nas penas do art. 129, outras (crime privilegiado, circuns-
caput do CPB, pela lesão corporal tâncias atenuantes ou agravantes,
provocada na pessoa de José Stepple concurso formal, crime continuado
de Lima, tudo combinado ao final etc.)' consoante o mandamento do
com o art. 51, I? do CPB, pois na art. '408, § I?, do CPP. Maiores di-
prática de tais crimes, tanto quanto gressões invalidam formalmente a
aos homicídios tentados, como quan- sentença, pelo que, com base no art.
to à lesão corporal, houve o 564, n. IV, do CPP, deliberaram jul-
concursus delicti formal, vez que, gar nula a sentença proferida, deter-
mediante uma única ação, o réu pra- minando a baixa dos autos à instân-
ticou mais de um crime, dois tenta- cia de origem, para que outra sej a
dos e um consumado. Para que o proferida, em consonância com os
mesmo réu seja submetido a julga- ditames legais».
mento pelo Tribunal do Júri desta
Seção Judiciária, o pronuncio, como Ora, se assim é em tais casos, que
incurso nas penas do art. 121, caput, dizer quando a decisão imputa ao
c.c art. 12, II do CPB, isto por duas réu concurso material de que jamais
vezes, e ainda como incurso nas pe- cogitQu a acusação?
nas do art. 129, caput, tudo ao final Pelos motivos dados, entendo nula
combinado com o art. 51, I?, concur- a decisão recorrida, razão por que
so formal do CPBl>. me abstenho do exame de outros as-
244 TFR - 100

pectos suscitados no recurso do de- disposição que comine pena mais


nunciado, já que novo pronuncia- grave, deve dar nova oportunidade à
mento judicial deverá ser emitido. defesa de falar, de produzir outros
Improcedente o recurso do Minis- elementos de prova.
tério Público que sustenta a incom- Assim, peço vênia ao eminente
petência da Justiça Federal, recurso Ministro-Relator para acompanhar o
aquele, aliás, que ficou ao desampa- Sr. Ministro Leitão Krieger.
ro da douta SUbprocuradoria-Geral E o meu voto.
da República, pois o réu praticou a
infração contra funcionário federal,
no exercício de suas funções, e em EXTRATO DA MINUTA
razão mesmo de suas atribuições
funcionais. RcCr 844 - PE - ReI. designado
Baixem os autos. para o acórdão: o Sr. Ministro Leitão
Krieger. ReI. originário: o Sr. Minis-
tro Pereira de Paiva. Rectes.: Justi-
VOTO VOGAL ça Pública e Juarez Guimarães Fer-
O Sr. Ministro Lauro Leitão: Na reira. Recdos.: os mesmos.
Sessão anterior, chamou-me a aten- Decisão: Prosseguindo" no julga-
ção também o fato de o Juiz, no des- mento, por maioria, a Turma deu
pacho de pronúncia, haver enqua- provimento ao recurso do réu, para
drado o réu duas vezes no crime de anular a sentença de pronúncia, e
tentativa de homicídio, sem que o determinar o retorno dos autos à Va-
réu houvesse se manifestado. A não ra de origem, para que outra seja
ser em casos excepcionais, como no proferida, restando prejudicado o re-
caso de contravenção, o processo se curso do Ministério Público, vencido
inicia por portaria da autoridade poli- o Sr. Ministro-Relator. Lavrará o
cial ou do próprio Juiz. Normalmente, acórdão o Sr. Ministro Leitão Krie-
este não pode assumir a pOSição de gero (Em 28-9-82 - 1~ Turma).
acusador. O Sr. Ministro Lauro Leitão votou
Na sistemática da Lei Processual. de acordo com o Sr. Ministro Leitão
o Juiz pode dar nova definição Krieger, vencido o Relator. Presidiu
jurídica ao fato. Em tal caso, toda- o julgamento o Sr. Ministro Lauro
via, para enquadrar o acusado numa Leitão

RECURSO CRIMINAL N? 948 - PI


Relator: O Sr. Ministro Lauro Leitão
Recorrente: Justiça Pública
Recorridos: Luiz Benevides Carneiro, Jailson Monteiro da Silva, Antônio
Benevides Carneiro e Wantuil Carneiro (Réus presos)
EMENTA
Processual Penal. Recurso em sentido estrito.
Competência. Conexão.
Correta a r. decisão do MM. Dr. Juiz Federal da
Seção Judiciária do Estado do Piauí, no sentido da
competência do Tribunal do Júri Federal, da Seção
Judiciária do Rio Grande do Norte,' para o julgamen-
TFR - 100 245

to de todos os ilícitos, inclusive o praticado naquele


Estado, por configurar a conexão com os outros cri-
mes praticados no Estado do Rio Grande do Norte.
Sentença confirmada. Recurso desprovido.
ACORDÃO Cr$ 94.000.000,00 (noventa e quatro
milhões de cruzeiros) e teve lugar
Vistos e relatados estes autos em em Umarizal-RN, em 18 de maio
que são partes as acima indicadas: do corrente ano» (fI. 5).
Decide a Primeira Turma do Tri- Após o assalto, por dissensões in-
bunal Federal de Recursos, por una- ternas, provocadas pela' partilha
nimidade, negar provimento ao re- do dinheiro roubado, membros do
curso, na forma do relatório e notas bando Branquinho e Dedé - assas-
taquigráficas constantes dos autos sinaram mais quatro pessoas, vale
que ficam fazendo parte integrante dizer, um comparsa (Sidnei) , dois
do presente julgado. amigos deste último, e «uma crian-
C'ustas como de lei. ça de quatro a cinco anos, do sexo
Brasília, 4 de março de 1983 (data masculino, filho de um dos amigos
do julgamento). - Ministro Lauro de Sidnei» (confissão de Luiz Bene-
Leitão, Presidente e Relator. vides Carneiro, às fls. 9 do auto de
sua prisão em flagrante).
RELATORIO «Este denunciado informa que
um dos seus asseclas, Sidnei Fer-
o Sr. Ministro Lauro Leitão: reira da Silva, vulgo Negão, pro-
Trata-se de recurso em sentido estri- testou contra o rateio do produto
to interposto pela Justiça Pública do assalto, sendo por este motivo
contra a r. decisão do MM. Dr. Juiz morto por seus comparsas
Federal do Piauí, a qual está vazada Branquinho e Dedé, com tiros na
nestes termos: cabeça, sendo seu corpo queimado
totalmente, numa macabra opera-
«Vistos, etc. ção que durou todo o dia. Dois ou-
Denúncia do Ministério Público tros companheiros de Sidnei e uma
Federal imputa a Luiz Benevides criança de 4 anos tiveram o mes-
Carneiro, Jaílson Monteiro da Sil- mo fim, e numa prova de frieza e
va, Antônio Benevides Carneiro e insensibilidade, Dedé decidiu ma-
Wantuil Carneiro, qualificados nos tar a criança que presenciara o as-
autos, a prática, em território des- sassinato de seu pai e do amigo e,
ta jurisdição, dos crimes definidos para tanto, deu-lhe uma rasteira,
nos artigos 121, § 2?, inciso V, 329 e pondo o pé no pescoço da criança e
288 do Código Penal, cometidos em atirando em sua «cabeça». (De-
co-autoria e concurso material. núncia, fl. 5).
Segundo o MPF, «os denuncia- Estes assassinatos ocorreram na
dos, em co-autoria, cometeram ho- «propriedade do acusado Luiz Be-
micídio contra a vítima José Cadi- nevides Carneiro - localizada no
lhe de Assis, para assegurar a im- Município de Caraúbas/RN, deno-
punidade e vantagem de outro cri- minada - aquela propriedade -
me, ou seja, assalto ao veículo que Sítio Recanto» (fl. 5).
transportava a verba do Plano de
Emergência do Governo Federal a Ora, os crimes praticados nesta
ser aplicada no Estado do Rio jurisdição - inclusive o homicídio
Grande do Norte, o qual rendeu do agente José Cadilhe de Assis -
246 TfR - 100

são conexos com os cometidos no deral da Seção Judiciária do Piauí,


Rio Grande do Norte (art. 76, I, II contra Luiz Benevides Carneiro,
e III, CPP>. Jaílson Monteiro da Silva, Antônio
Como tenha ocorrido também Benevides Carneiro e Wantuil Car-
prática de homicídio (em número neiro, como incursos nas sanções dos
de quatro) naquela jurisdição, a artigos 121, § 2?, inciso V, 324 e 288
competência para o processo e jul- do Código Penal.
gamento de todos os ilícitos - ne- Consoante a peça vestibular, «os
les incluído o homicídio do agente denunciados, em co-autoria, comete-
José Cadilhe de Assis - é do Tri- ram homicídio contra a vítima José
bunal do Júri Federal da Seção Ju- Cadilhe de Assis, para assegurar a
diciária do Estado do Rio Grande impunidade e vantagem de outro cri-
do Norte, tanto pela conexão (art. me, ou seja, assalto ao veículo que
76, I, II e IH, CPP) I como por for-transportava a verba do Plano de
ça da regra inserta no art. 78, I e Emergência do Governo Federal a
lI, letra B, do Estatuto Processual ser aplicada no Estado do Rio Gran-
Penal. de do Norte, o qual rendeu Cr$
Em sendo assim, com apoio no 94.000.000,00 (noventa e quatro mi-
disposto no art. 109 do CPP, ordeno lhões de cruzeiros) e teve lugar em
a remessa dos presentes autos Umarizal-RN, em 18 de maio do cor-
àquele douto Juízo, para os fins de rente ano» (1982).
direito. O MM. Dr. Juiz Federal, Dr. Hér-
Intime-se o MPF e remetam-se cules Quasímodo da Mota Dias, en-
os autos, decorrido o prazo de re- tretanto, ao argumento de que tam-
curso (art. 581, lI, CPP).» bém ocorrera a prática de quatro (4)
homicídios no Estado do Rio Grande
O Dr. Procurador da República, do Norte, relacionados com o dinhei-
todavia, não se conformando com a ro roubado, sustentou que a compe-
r. decisão de fls., dela recorreu, em tência para o julgamento de todos os
sentido estrito, para este egrégio ilícitos seria do Tribunal do Júri Fe-
Tribunal, sustentando que o fato deral, da Seção Judiciária do Rio
punível (homicídio) ocorreu na juris- Grande do Norte, e, por isso, orde-
dição do Estado do Piauí, quando nou a remessa dos autos àquele
um agente policial, cumprindo mis- Juízo.
são policial, na cidade de Canto do
Buriti-PI, foi assassinado, e, por is- O Ministério Público Federal, po-
so, deve prevalecer a determinação rém, não se conformando com a r.
da competência ratione loci. decisão do Dr. Juiz Federal no
Piauí, dela recorreu, em sentido es-
O MM. Magistrado manteve a sua trito, nos termos do art. 581, II, do
decisão. Código de Processo Penal.
Nesta instância, a douta Correta, a meu ver, a r. decisão
Subprocuradoria-Geral da Repúbli- recorrida, que, por força da conexão
ca, oficiando no feito, opina pelo im-ou continência, sustentou a compe-
provimento do recurso. tência do Tribunal do Júri Federal
E o relatório. da Seção JudiCiária do Estado do
Rio Grande do Norte. E o fez com
VOTO fundamento nos arts. 76, I, H e IlI, e
78, I e lI, alínea b, do Código de Pro-
O Sr. Ministro Lauro Leitão: O Mi- cesso Penal.
nistério Público Federal ofereceu de- E que os crimes praticados no
núncia, perante o MM. Dr. Juiz Fe- Piauí, inclusive o homicídio do agen-
TFR - 100 247

te José Cadilhe de Assis, são conexos para o roubo, nem é resultado da


com os 4 homicídios perpetrados no violência empregada para efetuar
Rio Grande do Norte. a subtração.»
A propósito, cumpre invocar as re- (Jurisprudência Criminal, vol.
gras constantes dos artigos 76, I, II e lI, Borsoi, 1973, Rio, pág. 319).
III e 78, I e lI, alínea b, do CPP, que «O segundo crime - fala agora
dispõem: Magalhães Noronha, explicando a
«Art. 76. A competência será situação jurídica do sujeito ativo
determinada pela conexão: que, «após o crime praticado, eli-
I - se, ocorrendo duas ou mais mina a testemunha que o viu
infrações, houverem sido pratica- cometê-lo» - não forma com o ho-
das, ao mesmo tempo, por várias micídio um delito complexo, isto é,
pessoas reunidas, ou por várias um tipo resultante da fusão de dois
pessoas em concurso, embora di- ou mais tipos. O que há é a conexi-
verso o tempo e o lugar, ou por vá- dade ou conexão entre eles. São de-
rias pessoas, umas contra as ou- litos autônomos, presos por uma
tras; relação de causa e efeito ou de
meio e fim. Guarda cada um deles
II - se, no mesmo caso, houve- sua individualidade, havendo um
rem sido umas praticadas para fa- concurso material. Não se fundem
cilitar ou ocultar as outras, ou pa- ou dissolvem para formar outro;
ra conseguir impunidade ou vanta- não há um terceiro tipo. Conse-
gem em relação a qualquer delas; qüentemente, é o que há de in-
III - quando a prova de uma in- cabível dizer-se que esta alínea -
fração ou de qualquer de suas cir- art. 121, § 2?, V - contém o delito
cunstâncias elementares influir na de latrocínio, que o legislador, ao
prova de outra infração. contrário, considerou roubo, em
Art. 78. Na determinação da que a violência é a morte,
competência por conexão ou conti- definindo-o no art. 157, § 3? Este,
nência, serão observadas as se- sim, é um delito complexo. Trata-
guintes regras: se, aliás, de questão já superada,
depois de repetidas decisões do Su-
I - no concurso entre a compe- premo Tribunal Federal, afirman-
tência do Júri e a de outro órgão do que tal delito não se enquadra
da jurisdição comum, prevalecerá no inciso V do § 2? do art. 121.»
a competência do Júri;
(Direito Penal, 2? volume, Sarai-
II - no concurso de jurisdições va, 1976, São Paulo, pág. 27).
da mes~a categoria:
Por todas estas razões, mante-
b) prevalecerá a do lugar em nho a decisão recorrida, entenden-
que houver ocorrido o maior núme- do que o homicídio praticado nesta
ro de infrações, se as respectivas jurisdição é crime conexo (art. 76,
penas forem de igual gravidade.» I, II e lII, CPP) com o roubo e os
Neste passo, vale transcrever o quatro outros homicídios (e não
que escreveu o MM. Dr. Juiz a quo, latrocínio) ocorridos no Rio Gran-
quando manteve a r. decisão recorri- de do Norte.
da, a saber: Assim, insisto, a competência
«Como frisa Heleno Fragoso, não para o processo e julgamento de
pode ser considerada como la- todos os ilícitos - neles incluído o
trocínio (caso dos quatro assassi- homicídio do agente policial que,
natos ocorridos no Rio Grande do nesta jurisdição, tombou tentando
Norte) a morte que «nem é meio cumprir mandado de prisão expe-
248 TFR - 100

di do pelo Juízo Federal do Rio Assim, em razão da conexão deve


Grande do Norte - é do Tribunal prevalecer a competência do Tribu-
do Júri Federal daquela Seção Ju- nal do Júri Federal do Rio Grande
diciária, seja pela conexão (art. 76, do Norte, para o julgamento de todos
I, II e IH, CPP) , seja por força da os crimes praticados, cujo processo
regra inserta no art. 78, I e II, le- será presidido pelo MM. Dr. Juiz Fe-
tra b, do Estatuto Processual Pe- deral.
nal.
Remetam-se os autos da ação ao Em face do exposto, nego provi-
douto Juízo dado como competen- mento ao recurso, para confirmar a
te, subindo o recurso à apreciação r. decisão recorrida, por seus pró-
do Egrégio Tribunal Federal de prios fundamentos.
Recursos.
Intime-se o MPF.» E o meu voto.
Como se vê, no Estado do Piauí,
uma equipe de Policiais se dirigiu à EXTRATO DA MINUTA
cidade de Canto do Buriti, com a fi-
nalidade de prender Luiz Benevides RcCr. 948 - PI - Relator: Sr. Mi-
Carneiro, com prisão preventiva de- nistro Lauro Leitão. Recorrente:
cretada pelo Juiz Federal do Rio Justiça Pública. Recorridos: Luiz
Grande do Norte. Ao executarem a Benevides Carneiro, Jaílson Montei-
diligência, foi travado tiroteio entre ro da Silva, Antônio Benevides Car-
os policiais e a quadrilha formada neiro e Wantuil Carneiro (Réus pre-
por Luiz Benevides Carneiro, Jaílson sos).
Monteiro da Silva, Antônio Benevi-
des Carneiro e Wantuil Carneiro, do Decisão: A Turma, por unanimida-
que resultou a morte de José Cadilhe de, negou provimento ao recurso.
de Assis. (Em 4-3-83 - 1~ Turma).
Entretanto, no Estado do Rio
Grande do Norte foi praticado maior Os Srs. Ministros Otto Rocha e
número de infraçôes, isto é, quatro Leitão Krieger votaram com o Rela-
homicídios, todos relacionados com o tor. Presidiu o julgamento o Sr. Mi-
roubo ali ocorrido. nistro Lauro Leitão.

RECURSO ORDINARIO N? 6.115 - DF


Relator: O Sr. Ministro Adhemar Raymundo
Recorrentes: Marco Antônio Cardoso Araújo e outros.
Recorrido: Banco Central do Brasil
EMENTA
Trabalhista.
Execução de serviços pelo SERPRO a órgãos do
Ministério da Fazenda, relacionados com as ativida-
des de sua especialização, a teor do disposto na Lei
n? 5.615/70. Se, em decorrência dessa estatuição le-
gal, o Banco Central firmara convênio com o SER-
PRO, visando à prestação de serviços técnicos espe-
cializados, prestados por obreiros contratados pelo
TFR - 100 249

SERPRO, não têm estes qualquer vínculo com o


Banco Central. Descaracterização da hipótese de
trabalho temporário, porque presente a de execução,
mediante convênio, de tarefas executivas (Decreto-
Lei 200/67).

ACORDÃO A vista do exposto, pleiteiam a


procedência da Reclamação para
Vistos e relatados estes autos em que seja decretada a nulidade dos
que são partes as acima indicadas: contratos de trabalho firmados com
Decide a 3~ Turma do Tribunal Fe- o SERPRO e declarado que o pacto
deral de Recursos, por unanimidade, laboral ficou ajustado exclusivamen-
negar provimento ao recurso, na for- te com o reclamado por tempo inde-
ma do relatório e notas taquigráficas terminado.
constantes dos autos que ficam fa- Pedem também a condenação do
zendo parte integrante do presente reclamado ao pagamento, a partir
julgado. da admissão de cada reclamante, de
Gratificações Semestrais, Horas Adi-
Custas como de lei. cionais, Qüinqüênio, Abono de Assi-
Brasília, 11 de fevereiro de 1983 duidade e PGBS, de acordo com o
(data do julgamento) - Ministro Estatuto e Normas do Banco e au-
Carlos Madeira, Presidente - Minis- mentos decorrentes de Dissídios Co-
tro Adhemar Raymundo, Relator. letivos, bem como as diferenças que
essas verbas causarem com relação
RELATORIO ao 13? salário, férias e FGTS, confor-
me for apurado em liquidação de
sentença.
° Sr. Ministro Adhemar Raymun-
do da Silva: Marco Antônio Cardoso
Contestou o reclamado, sustentan-
do, em síntese, que inexistiu o alega-
Araújo e outros apresentaram recla- do vínculo laboral dos reclamantes
mação trabalhista contra o Banco com a autarquia reclamada, pois
Central do Brasil, alegando que, em- não os contratou; que não existiu
bora contratados pelo SERPRO, tra- qualquer subordinação hierárquica
balharam para o Banco Central, la- dos reclamantes para com o Banco;
do a lado com seus empregados, que a autarquia reclamada não pu-
dedicando-se aos mesmos misteres, niu qualquer dos reclamantes, sendo
em absoluta igualdade de obrigaçôes os mesmos subordinados ao SER-
e deveres, mas em flagrante discri- PRO e, finalmente, que o Banco não
minação em relação ao salário e lhes pagou qualquer salário.
vantagens de natureza assistencial, Sentenciou o Dr. Juiz, julgando os
em total afronta à Lei n?6.019/74 reclamantes carecedores da Recla-
que protege os interesses dos empre- mação.
gados. Inconformados, recorreram Marco
Aduzem que o reclamado paga a Antônio Cardoso Araújo e outros,
seus empregados Gratificações Se- nas razões de fls. 222/227.
mestrais, Horas Adicionais, Licença- Razões do recorrido às fls. 258/261.
Prêmio, Qüinqüênio, Abono-
Assiduidade e PGBS (Programação Subiram os autos e, nesta Instân-
Geral de Benefício de Saúde) e que cia, a douta Subprocuradoria-Geral
os funcionários deste têm seus salá- da República opinou pela confirma-
rios reajustados por força de ção da sentença.
dissídios coletivos. É o relatório.
250 TFR - 100

VOTO dos serviços não terá com o Banco


qualquer vínculo empregatíCiO (fI.
O Sr. Ministro Adhemar Raymun- 210). A estatuição do ajuste visou a
do da Silva (Relator): Lê-se no con- ressalvar a reclamada da responsa-
trato de trabalho, pactuado entre um bilidade quanto à prestação dos ser-
dos reclamantes e o SERPRO, o se- viços, porque a cargo do SERPRO
guinte: que os realizou por seus emprega-
Cláusula segunda - o empregado dos, devidamente contratados. A
prestará serviços ao empregador orientação técnico-administrativa a
com as atribuições cometidas aos que se refere a cláusula do ajuste,
ocupantes do cargo de Operador de não elimina o poder disciplinar do
Computador junto ao BCB. l. SERPRO sobre seus empregados, os
reclamantes. Daí a exata observa-
Não se trata, a meu ver, data ção do julgador monocrático, ao
venia, de prestação de serviço tem- acentuar:
porário, mas da efetivação de tare-
fas especializadas, as quais, por for- «O vínculo dos reclamantes, no ca-
ça de Lei (5.615/70) são cometidas so vertente, constituiu-se com a em-
ao SERPRO que aplica a sua dispo- presa que os contratou, os remunera
nibilidade técnica e operacional na e que sobre eles exerce o poder dis-
execução de serviços que vierem a ciplinar.»
ser objeto de convênio com órgão do Nem se argumente que os recla-
Ministério da Fazenda. mantes foram postos à disposição do
Do exposto, evidente a existência Banco Central. Mas, como acentua-
de vínculo empregatício entre os re- do na sentença, essa situação não
clamantes e o SERPRO, à vista dos desnatura o vínculo laboral.
contratos celebrados. Impossível, a Nem similitude existe entre a hipó-
meu ver, lobrigar-se subordinação tese dos autos e a decidida pela 2~
entre aqueles e o Banco Central, por- Turma, como afirmado pelo douto
que, como diz o digno a quo, «se o advogado dos recorrentes. Naqueles
SERPRO prestou serviços dentro autos, o eminente Ministro-Relator,
dos objetivos que lhe impôs a Lei n? Gueiros Leite, enfatizou a inexistên-
5.615, não se pode sustentar que a cia de autonomia profissional, quando
contratação, pactuada com os recla- uma Cooperativa cede seus filiados
mantes, constitui fraude ao direito ao Instituto Brasileiro do Café, sem
consolidado. » que, portanto, existisse qualquer
Executou o SERPRO tarefa, nos vínculo empregatício, ante a situa-
exatos limites da permissão legal, ção reconhecida no julgado, de que
contratando pessoas para a presta- esse órgão associativo exerce a cor-
ção de serviços de sua especialidade retagem ou agenciamento que se dis-
para, dessa forma, contribuir para tingue da prestação de serviços. E o
que o Banco Central se desobrigue SERPRO, como exposto linhas aci-
de empreendimentos executivos, já ma, presta serviços, devidamente
que, por força da sua finalidade, o autorizados por lei, para o que cele-
SERPRO, por lei, pode formar con- brou contratos com os reclamantes.
vênio com órgãos públicos, para a Nego provimento ao recurso.
execução de serviços da sua especia- É o meu voto.
lidade.
Registre-se, por fim, que, nos ter- EXTRATO DA MINUTA
mos do Convênio entre o SERPRO e
o Banco Central, ficou estipulado RO 6.115. Relator: Sr. Ministro
que o pessoal utilizado na execução Adhemar Raymundo. Rectes.: Mar-
TFR - 100 251

co Antônio Cardoso Araújo e outro. Votaram de acordo com o Relator


Recdo.: Banco Central do Brasil. os Srs. Ministros Flâquer Scartezzini
Decisão: A Turma, por unanimida- e Carlos Madeira. Presidiu o julga-
de, negou provimento ao recurso. (3~ mento o Sr. Ministro Carlos
Turma, em 11-2-83). Madeira.

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