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INSPERTAX
BRENO VASCONCELOS
JOÃO VICTOR EMILE ANDRADE SAFIEH
Crédito: Pixabay
Introdução
No artigo que escrevemos, publicado em abril deste ano, intitulado “O papel dos recursos
repetitivos na racionalização do contencioso tributário”, expusemos três hipóteses que
pudessem explicar os gargalos da sistemática dos recursos repetitivos no Brasil[1].
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Contexto atual
Antes de abordarmos as alterações contidas nos projetos, fazemos uma breve digressão
sobre o atual quadro normativo. Nos termos dos artigos 102, § 2º e 103-A da Constituição
Federal, os julgamentos do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de
Justiça (STJ) em ações de controle concentrado de constitucionalidade e súmulas
vinculantes possuem efeito erga omnes. Esse efeito, porém, não é estendido aos
julgamentos em recursos repetitivos.
Os recursos repetitivos, de acordo com o CPC, têm efeito vinculante imediato apenas aos
juízes e tribunais, mas dependem de resolução do Senado Federal (art. 52, X, da CF) ou de
ato normativo (na esfera federal, a Lei 10.522/2002) para vincular os demais poderes e
seus órgãos.
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sobretudo em virtude das diferenças que serão analisadas abaixo. Torna complexo, ainda,
o processo de revisão normativa, pois a alteração de um dos diplomas legislativos
potencializaria o risco de conflito entre as leis que dispõem sobre o mesmo assunto.
Do ponto de vista formal, é acertada a opção pela lei complementar em dois projetos (de
alteração do CTN e de criação do Código de Defesa do Contribuinte), garantindo a sua
observância por todos os entes federativos, como verdadeira norma geral em matéria
tributária (art. 146, III, da Constituição Federal). Além disso, nos termos do artigo 22, I, da
Constituição Federal, compete privativamente à União legislar sobre direito processual.
No âmbito da administração pública federal, foi proposta a inclusão do artigo 49-L na Lei
9.784/99, para prever que a administração tributária federal observará não apenas os
julgamentos em controle concentrado, de recursos repetitivos e as súmulas vinculantes,
mas também “incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas
repetitivas” e “enunciados das súmulas” dos tribunais superiores.
O texto definiu, ainda, que a eficácia vinculante dos recursos repetitivos se dará quando do
“trânsito em julgado de controvérsia tributária decidida”. Assim, não há dúvida quanto à
necessidade de se aguardar o julgamento de eventuais embargos de declaração opostos
contra o acórdão paradigma.
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A opção pelo trânsito em julgado é acertada, pois garante que o precedente vinculante seja
aplicado aos processos individuais apenas após a eventual definição, pelos tribunais
superiores, quanto à necessidade de modulação de seus efeitos. Evitam-se, assim,
decisões proferidas sem uniformidade e que favoreçam apenas um grupo de
contribuintes, em desrespeito à isonomia, à segurança jurídica e à livre concorrência.
É o caso da insegurança jurídica causada, por exemplo, pelo tema 985[12] de repercussão
geral, cuja aplicação é atualmente realizada indiscriminadamente pelos tribunais, a
despeito de estar pendente de julgamento os embargos de declaração opostos para
discutir a modulação dos efeitos[13].
O efeito vinculante dos recursos repetitivos à Fazenda Pública, a partir do seu trânsito em
julgado, também foi previsto na proposta de uma nova lei ordinária do processo
administrativo tributário da União, em seu artigo 40.
Se por um lado a suspensão garante maior segurança jurídica para o contribuinte, que
aguardará o julgamento definitivo do repetitivo com a exigibilidade suspensa do crédito
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tributário (artigo 151 do CTN), de outro tem-se a pressão exercida pelos entes federativos
para que os tribunais superiores julguem com celeridade os temas repetitivos, sob pena de
postergar a arrecadação dos valores efetivamente devidos.
Além disso, esse artigo 40 prevê uma sistemática de suspensão parcial do processo
administrativo, permitindo que as matérias não submetidas a temas repetitivos possam
ser julgadas de imediato.
Pode ser conveniente ajustar a redação do dispositivo[15] para evitar dúvidas na sua
interpretação. Como atualmente redigido, não fica claro se a suspensão se aplica somente
aos recursos administrativos e se a determinação de sobrestamento deve partir do relator
do precedente repetitivo ou do relator do processo administrativo a ser sobrestado.
Conclusão
Os projetos de lei que expressamente vinculam a administração tributária aos
entendimentos dos tribunais superiores, portanto, convergem para a racionalização do
sistema de precedentes e para a concretização dos princípios da segurança jurídica, da
celeridade e da efetividade dos provimentos jurisdicionais.
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Para fins de clareza, os dispositivos analisados neste artigo estão sintetizados no quadro
abaixo:
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Código de Defesa Art. 16. Não será lavrado auto de infração ou notificação de
dos Contribuintes lançamento, negada impugnação, pedido de restituição ou
recurso, nem serão inscritos em dívida ativa os créditos cuja
constituição esteja fundada em matéria decidida de modo
favorável ao contribuinte: (…)
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Lei de execução Art. 11. Não serão inscritos em dívida ativa os créditos cuja
fiscal constituição esteja fundada em matéria decidida de modo
favorável ao contribuinte: (…)
constitucionalidade:
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[1] São elas: (i) a demora no julgamento dos recursos repetitivos pelos tribunais superiores, a
[2] No STJ a redução foi de 37% entre os anos de 2016 e 2021. No STF essa redução foi de 49,1% entre
[3] Os estoques dos tribunais de segunda instância se mantiveram estáveis durante o período de 2017 a
2021.
[4] A equipe de pesquisa foi composta por Luciana Yeung Luk Tai, Breno Ferreira Martins Vasconcelos,
Daniel Souza Santiago da Silva, Danilo Panzeri Nogueira Carlotti, Leonardo de Andrade Rezende Alvim,
Larissa Luzia Longo, Carla Mendes Novo, Maria Raphaela Dadona Matthiesen e João Victor Emile
Andrade Safieh.
[5] A equipe do CNJ foi coordenada pelo Secretário Especial de Programas, Pesquisas e Gestão
Estratégica, Marcus Livio Gomes, composta por diversos profissionais qualificados, como Doris Canen
(Chefe de Gabinete), Gabriela Moreira de Azevedo Soares (Diretora Executiva), e Wilfredo Enrique Pires
Pacheco (Diretor de Projetos), e contou com a contribuição de muitas entidades, como PGFN, CARF e
BID.
[6] Instaurada pelo Ato Conjunto dos Presidentes do Senado Federal e do Supremo Tribunal Federal nº
01/2022.
[8] Não confundir com o Código de Defesa do Contribuinte objeto do PLP 17/2022.
[9] Dentre as administrações tributárias (Secretarias de Fazenda e Receita Federal) que atenderam aos
pedidos de acesso à informação, 59% informaram observar os entendimentos judiciais, ainda que
parcialmente. Dentre as que responderam positivamente, contudo, apenas 41% o fazem além do que já
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[11]“O papel dos recursos repetitivos na racionalização do contencioso tributário”, publicado no Jota em
[12] “É legítima a incidência de contribuição social sobre o valor satisfeito a título de terço constitucional
de férias.”
VINCULANTE. TEMA 985 DA REPERCUSSÃO GERAL DA SUPREMA CORTE. (…) 2. Por outro lado, é
orientação jurisprudencial assente no Tribunal, seguindo a diretriz enunciada pela Suprema Corte, a de
ser desnecessário o aguardo do trânsito em julgado de acórdão paradigma, no âmbito de recursos
repetitivos ou repercussão geral, para fins de imediata aplicação da tese jurídica nele enunciada, não se
justificando, assim, o pleito de suspensão do processo no aguardo de decisão a ser proferida pelo
Supremo Tribunal Federal em sede de embargos declaratórios, tanto mais que, se houver eventual
alteração do decidido ou modulação de seus efeitos, poderá ser feita, posteriormente, nova adequação
para aplicação do que ao final vier a ser deliberado. 3. Embargos declaratórios acolhidos, sem
atribuição de efeitos modificativos quanto ao julgamento anterior.” (EDAC 0021772-96.2010.4.01.3300,
DESEMBARGADOR FEDERAL CARLOS MOREIRA ALVES, TRF1 – OITAVA TURMA, PJe 20/07/2022 PAG.)
opostos contra decisões de mérito proferidas nos julgamentos repetitivos, evitando-se a proliferação de
processos e de discussões entre a data do julgamento do mérito e dos embargos. Recomenda-se a
observância dos prazos previstos no CPC.”
(…)
“Criação de ato infralegal para regulamentar o julgamento célere dos recursos repetitivos, em
observância ao art. 1.037, § 4º, do CPC, por representarem uma forma eficiente de redução da
litigiosidade. Paralelamente, seja investigado o porquê de a redução do acervo nos Tribunais Superiores
não ter se refletido no estoque das instâncias inferiores. Nesse contexto, recomendasse a criação e o
aprimoramento de mecanismos de gestão e de integração de dados da sistemática de recursos
repetitivos nos Tribunais de segunda instância para que processos não permaneçam
desnecessariamente sobrestados e julgados com maior celeridade.”
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14/07/2023, 11:23 Ainda sobre a racionalização do sistema de precedentes vinculantes
[15] § 1º Após a afetação do tema repetitivo ou de repercussão geral, determinado expressamente pelo
relator o sobrestamento dos processos judiciais e enquanto não houver decisão definitiva de mérito, a
questão jurídica não será julgada no âmbito administrativo, permanecendo pendente o julgamento do
recurso.
[16] Art. 18. Após a afetação do tema ao rito dos recursos repetitivos ou ao regime da repercussão geral,
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