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REVISÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS

Prof. Andressa Jarletti Gonçalves de Oliveira


andressajarletti@hotmail.com
(41) 8862 1609
6. OS RECURSOS NO NOVO
SISTEMA DE PRECEDENTES

6.1 Fundamentos e benefícios do sistema de precedentes

Origem no common law

Igualdade, segurança jurídica e previsibilidade

Certeza jurídica depende da interpretaçã da norma

Aproximação com o civil law a partir do constitucionalismo: juiz que


controla a constitucionalidade da lei não é vinculado norma
Benefícios do sistema de precedentes

Redução da litigiosidade pela previsibilidade da solução do reclamo

Padronização e previsibilidade no preenchimento do sentido das


cláusulas abertas

Igualdade de tratamento perante os casos (treat like cases alike)

Norma geral que orienta cidadãos e permite segurança jurídica

Previsibilidade: conhecimento da norma e de como ser interpretada


judicalmente.
6.2 Racionalidade e técnica
processual específica
Formação do precedente
Precedente: decisão que tem como característica a potencialidade de se
firmar como paradigma, para a orientção dos jurisdicionados e dos
magistrados.

O precedente é a primeira decisão que elabora a tese jurídica, ou a decisão


que definitivamente a delineia, elucida.

A parte da decisão que constitui o precedente é a que trata da questão de


direito, ou seja, a ratio decidendi.

O precedente tem eficácia também horizontal, vincula não apenas as Cortes


inferiores, mas também a que o proferiu.
Aplicação, modificação e
revogação dos precedentes
Respeito ao precedente não significa aplicação automática da solução fixada. Para
se aplicar o precedente, deve-se previamente identificar a ratio decidendi do
precedente, em que contexto foi proferido, qual a questão tratada e quais os
motivos determinantes adotados como razão de decidir.

O precedente pode deixar de ser aplicado no caso concreto, pela técnica do


dintinguished, quando for invocado fundamento fático ou jurídico que diferencia o
caso concreto da situação tratada no precedente.
Estabilidade gerada pelo precedente não significa imutabilidade.

A possibilidade de modificação do precedente fundamental para o


desenvolvimento do direito, porque a decisão que o fixou pode não ter esgotado
todas as questões que poderiam ser apreciadas. Por isso, a apresentação de novos
argumentos, inclusive jurídicos, pode levar revisão, complementação, modificação
e até mesmo revogação do precedente.
Aplicação, modificação e
revogação dos precedentes
O precedente pode ser revogado (overruling) em situações excepcionais,
especialmente quando:
(i) se tratar de precedente controverso, que apresenta inconsistência
sistêmica;
(ii) quando o precedente resultar de flagrante erro no julgamento ou se
mostrar causador de grande injustiça, recebendo forte crítica doutrinária;
(iii) ou quando apresentar incongruência social, deixando de representar a
melhor solução para a controvérsia, em razão dos novos valores da
sociedade, ou da transformação da realidade pelo avanço tecnológico.
A revogação de um precedente medida excepcional, por isso deve ser
procedida através de elevado ônus argumentativo, em que se justifique de
forma clara porque a solução que serviu de critério para inúmeros casos, e
orientou os cidadãos, deixou de ser adequada solução da controvérsia.
6.3 O Stare decisis à brasileira
Recentes alterações que introduziram os recursos especiais e
extraordinários repetitivos, cujas decisões geram efeitos erga omnes.
Atribui a duas Cortes distintas a formação de precedentes em suas
respectivas competências, por isso cabe a cada uma firmar e rever os seus
prórios precedentes.
Entretanto, as Cortes brasileiras não parecem preparadas para operar
segundo a racionalidade específica do sistema de precedentes.
Corte inferiores não se aprofundam na identificação da ratio decidendi do
precedente (usam apenas a ementa como critério de fundamentação) e não
observam o distinguished.
STJ não está respeitando as garantias necessárias para a formaçaão do
precedente, como o contraditório adequado, o amadurecimento da questão
e o ônus argumentativo elevado, além de desrespeitar seus prórios
precedentes.
6.4 A jurisprudência do STJ
sobre contratos bancários
Análise da jurisprudência do STJ sobre contratos bancários permite
identificar uma ratio decidendi comum na maioria dos julgamentos em recursos
repetitivos, que consolidaram as orientações vigentes na Corte, agregando alguns
esclarecimentos.

- Limitação dos juros: Resp. 1.061.530/RS confirmou orientações de que não


se aplicam aos juros bancários os limites legais. Resps. 1.112.879/PR e
1.112.880/PR reafirmaram orientações da Súmula 296/STJ e agregaram
esclarecimentos, sobre as duas hipóteses que ensejam a limitação dos juros
(ausência de contratação da taxa, ou taxa fixada em patamar abusivo).

- Configuração da mora e encargos moratórios: Resp 1.061.530/RS também


confirmou orientação pacífica, de que os abusos da normalidade afastam a mora.
Resp. 1058114/RS aplicou solução que conjuga Súmula 30/STJ, 294/STJ e 296/STJ,
além de estabelecer um limite máximo para a comissão de permanência.
6.4 A jurisprudência do STJ
sobre contratos bancários
- Capitalização: inicialmente expressamente vedada, ante Lei de usura e Súmula
121/STF. Alterou a partir da MP 2170, admitindo quando expressamente contratada
e exigindo ainda clareza na pactuação. Esta era orientação vigente, até então.

Ratio decidendi comum na jurisprudência, estabelecem duas modalidades de


abusos, que justificam a revisão dos contratos bancários: (i) a ausência de
pactuação clara dos encargos, em desrespeito ao direito de informação do
consumidor (art. 6ー, III, CDC) e ao princípio da boa-f objetiva (art. 4ー, III, e 51, IV,
CDC); e (ii) a onerosidade na estipulação dos encargos, em valor muito superior
média de mercado, ferindo o equilíbrio do contrato e ensejando a revisão da
condição excessivamente onerosa (art. 6ー, V, CDC).

O julgamento do Resp. 973.827/RS, entretanto, consiste em uma quebra abrupta da


jurisprudência da Corte, o que permite inclusive identificá-lo como sistemicamente
inconsistente e controverso.
6.5 As incoerências nos repetitivos do STJ sobre
contratos bancários

RESp. 973.827/RS

TESE FIXADA:Teses para os efeitos do art. 543-C do CPC:


"É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior a um
ano em contratos celebrados após 31.3.2000, data da publicação da Medida
Provisória n. 1.963-17/2000 (em vigor como MP 2.170-36/2001), desde que
expressamente pactuada."
"A capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual deve vir
pactuada de forma expressa e clara. A previsão no contrato bancário de taxa
de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir
a cobrança da taxa efetiva anual contratada"
Diferença entre custo efetivo e taxa anual
informada no contrato

c
As falhas do RESp 973.827/RS

As falhas procedimentais
- Julgamento surpresa e extra petita
- Ausência de contraditóio e atuação polarizada de amici curiae
- Omissão quanto ao direito desenvolvido pelos tribunais e pela prória Corte

As falhas na fundamentação
- A interpretação da cláusula contrária ao consumidor
- O erro grosseiro na solução fixada
- A interpretação restritiva da lei e a incongrucia social

A importância do voto vencido


Ratificação do voto vencido pelo Relator original do Resp., Min. Luis Felipe
Salomão, deixou a questão suscetível de novo questionamento na Corte Superior.
O RESP 1.124.552/RS

Relator também era Ministro Luis Felipe Salomão

Afetou à Corte Especial matéria processual: capitalização na Tabela


Price depende ou não de prova

Conclusão: não cabe ao julgador definir em abstrato se capitaliza ou não.


Afasta portanto conclusão do RESP 973827/RS

Obs: nem sempre a perícia será necessária, depende da capitalização ser


fato controvertido.
Ausência de coerência nas Cortes

Revogação pelo Resp Repetitivo n. 1.124.552/RS


Julgamento em dezembro de 2014, publicação em março de 2015

Súmula 541: A previsão em contrato bancário de taxa de juros anual


superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a
cobrança da taxa efetiva anual contratada. 15/6/2015, Segunda Seção

A aplicação inadequada pelo TJPR: previsão de taxa anual distinta da


mensal e suficiente para contratação expressa da capitalização de
juros.
RESP 951894/DF

Mesmo após a decisão da Corte Especial ter afastado do STJ a apreciação do


tema, a Ministra Isabel Gallotti afetou novamente a matéria para ser
analisada, no REsp 951894/DF, também da Corte Especial.

Sob o pretexto de se definir qual é o "conceito jurídico de capitalização de


juros", o que se pretende novamente neste recurso é definir se há ou não
capitalização de juros na Tabela Price.

Audiência pública realizada em 29/2/2016.


DESAFIOS PARA CUMPRIMENTO DOS CONTRATOS

Lei 10.931/2004: alterou o texto do art. 3º, parágrafos 1º e 2º, do Decreto-


Lei n. 911/1969, que trata da busca e apreensão em contratos com
alienação fiduciária.

Redação atual afirma que, para purgar a mora, o devedor, réu na busca e
apreensão, deve pagar a integralidade da dívida pendente.

Duas interpretações:

(i) Integralidade da dívida pendente corresponde às parcelas em aberto,


acrescidas
dos encargos de mora, custas e honorários fixados no processo;

(ii) Integralidade da dívida corresponde ao saldo integral do contrato,


após o vencimento antecipado.
RESP REPETITIVO 1418593/MG

“O texto atual do art. 3º, parágrafos 1º e 2º, do Decreto-Lei n.


911/1969 é de clareza solar no tocante à necessidade de quitação de
todo o débito, inclusive as prestações vincendas.
Realizando o cotejo entre a redação originária e a atual, fica límpido
que a Lei não faculta mais ao devedor a purgação de mora, expressão
inclusive suprimida das disposições atuais, não se extraindo do texto
legal a interpretação de que é possível o pagamento apenas da dívida
vencida.
Dessarte, a redação vigente do art. 3º, parágrafos 1º e 2º, do Decreto-
Lei n. 911/1969, segundo entendo, não apenas estabelece que o
devedor fiduciante poderá pagar a integralidade da dívida pendente,
como dispõe que, nessa hipótese, o bem será restituído
livre do ônus - não havendo, pois, margem à dúvida
acerca de se tratar de pagamento de toda a dívida, isto é, de
extinção da obrigação, relativa à relação jurídica”.
RESP REPETITIVO 1418593/MG

“O texto atual do art. 3º, parágrafos 1º e 2º, do Decreto-Lei n.


911/1969 é de clareza solar no tocante à necessidade de quitação de
todo o débito, inclusive as prestações vincendas.
Realizando o cotejo entre a redação originária e a atual, fica límpido
que a Lei não faculta mais ao devedor a purgação de mora, expressão
inclusive suprimida das disposições atuais, não se extraindo do texto
legal a interpretação de que é possível o pagamento apenas da dívida
vencida.
Dessarte, a redação vigente do art. 3º, parágrafos 1º e 2º, do Decreto-
Lei n. 911/1969, segundo entendo, não apenas estabelece que o
devedor fiduciante poderá pagar a integralidade da dívida pendente,
como dispõe que, nessa hipótese, o bem será restituído
livre do ônus - não havendo, pois, margem à dúvida
acerca de se tratar de pagamento de toda a dívida, isto é, de
extinção da obrigação, relativa à relação jurídica”.
RESP REPETITIVO 1418593/MG

“(…) Dessarte, não se pode presumir a imprevidência do legislador


que, democraticamente eleito, em matéria de competência do Poder
Legislativo, presumivelmente sopesando as implicações sociais,
jurídicas e econômicas da modificação do ordenamento jurídico,
vedou, para alienação fiduciária de bem móvel, a purga da mora,
sendo, pois, matéria insuscetível ao controle jurisdicional
(infraconstitucional).
(…) Dessarte, é inegável que, com a vigência da Lei n. 10.931/2004, o
art. 3º, parágrafos 1º e 2º, do Decreto-Lei 911/1969, para os casos de
alienação fiduciária envolvendo bem móvel, é mitigado o princípio da
conservação dos contratos consagrado pelo ordenamento jurídico
brasileiro, notadamente pelo afastamento, para esta relação
contratual, do art. 401 do CC.”
VOTO VENCIDO RESP REPETITIVO 1418593/MG

“(…) tanto o teor do artigo 2º, § 3º, do Decreto-Lei 911/69, que faculta ao
credor fiduciário considerar antecipadamente vencida a totalidade da dívida
em caso de mora, quanto o prescrito no artigo 3º, §§ 1º e 2º, que possui
previsão no sentido de que o devedor fiduciante poderá pagar a
integralidade da dívida pendente, deve ser interpretado a bem da
preservação do contrato de adesão firmado pelas partes, já que a norma
não veda expressamente a purgação da mora, ou se preferir, o resgate do
débito pendente.
Tal ponderação milita em dar ênfase aos direitos do consumidor (art. 5º,
XXXII, da CF), mormente no caso sob análise, em que o devedor (parte
vulnerável) se dispõe ao pagamento do débito vencido e não pago, a fim de
preservar a avença, restando, portanto, resgatadas a função social do
contrato e a boa-fé objetiva que devem respaldar tais negócios jurídicos.”
VOTO VENCIDO RESP REPETITIVO 1418593/MG

“Frise-se que procede de interpretação normativa e não de disposição expressa de


lei, o entendimento que obriga o devedor fiduciante ao pagamento da
integralidade do saldo devedor por força do vencimento antecipado decorrente da
mora, vez que o texto legal estabelece uma faculdade ao credor fiduciário em
considerar antecipadamente vencido o contrato, o que não impede ou afasta a
interpretação dos dispositivos legais já mencionados em favor da parte vulnerável
da relação, como exige o estatuto consumerista, no sentido de possibilitar e
preservar a continuidade da relação contratual, nos casos em que evidenciado o
pagamento das parcelas em atraso no prazo estabelecido no §1º do art. 3º do
Decreto-Lei 911/69.
Com o devido e máximo respeito, sufraga-se que o entendimento ora esposado por
esta Corte, acerca do tema em foco, não se mostra compatível com a principiologia
exergética que orienta nosso sistema, porquanto confere interpretação extensiva
ao artigo 3º, §§ 1º e 2º, do Decreto-lei nº 911/69, com a redação dada pela Lei nº
10.931, de 2 de agosto de 2004, fazendo presumir que, para a purgação
da mora exigir-se-ia o pagamento integral do saldo devedor do mútuo,
e não o resgate da integralidade da dívida pendente, até então.”
VOTO VENCIDO RESP REPETITIVO 1418593/MG

“Pela simples leitura do dispositivo acima transcrito, tem-se que o DL


nº 911/69 consagra um direito potestativo ao credor fiduciário,
facultando-lhe, segundo a sua conveniência, considerar vencidas
todas as parcelas alusivas a obrigação contratual.
Sem embargo, essa faculdade não pode ser levada a termos
absolutos, pois que não só ela, como qualquer outra obrigação ou
direito contratual, encontra limites e deve ser exercida nos termos da
boa-fé objetiva, prevista implicitamente no artigo 4º, inciso III, do
Código de Defesa do Consumidor, e de forma explícita no artigo 422
do Código Civil de 2002.
Como é cediço, a função social do contrato, conforme está no art. 421
do Código Civil constitui cláusula geral, que reforça o princípio da
conservação do contrato, assegurando trocas justas e úteis às
partes.
VOTO VENCIDO RESP REPETITIVO 1418593/MG

Ora, é de sabença que um dos deveres anexos, oriundo do princípio


da boa-fé objetiva, consagra aos participantes do negócio jurídico,
precisamente, o dever de cooperação e de lealdade.

Afinal, não é outro o interesse consagrado na contratação, que não o


da plena realização exitosa do ajustado, a bem de todos os
integrantes do pactuado.”
VOTO VENCIDO RESP REPETITIVO 1418593/MG

“Ademais, em se caracterizando como de adesão o contrato de mútuo com


garantia de alienação fiduciária, no qual incidente os pressupostos da
legislação consumerista (súmula nº 297/STJ), cabível a aplicação do
comando legal inserto no art. 54, §2º, do Código de Defesa do Consumidor,
que confere ao consumidor a escolha sobre a resolução do contrato ou o
cumprimento da avença, de modo a se reconhecer como abusiva qualquer
norma que dite solução contrária, a exemplo de vencimento antecipado do
contrato. Ainda que o §2º, do art. 3º, do DL 911/69, com a nova redação
dada pela Lei 10.931/04, aparente estar em conflito com o §2º, do art. 54,
do CDC, este último dispositivo, embora aquele seja considerado lei
específica, se sobrepõe, em face da regra principiológica presente no CDC,
de que não se aplica o princípio da especialidade.
VOTO VENCIDO RESP REPETITIVO 1418593/MG

“Outrossim, é necessário ressaltar que o vencimento antecipado do


contrato mostra-se cabalmente prejudicial ao próprio credor,
porquanto, face ao disposto no artigo 1.426 do Código Civil, vencida
antecipadamente a dívida, não se incluirão os juros correspondentes
ao tempo ainda não decorrido. Tal entendimento é inclusive
corroborado pelo que dispõe o artigo 52, §2º, da Lei n° 8.078/90, que
assegura ao consumidor a liquidação antecipada do total do débito,
mediante redução proporcional dos juros.
VOTO VENCIDO RESP REPETITIVO 1418593/MG

Desta forma, desde que o devedor arque com o pagamento das


prestações vencidas, acrescidas dos acessórios contratuais, nos
termos do que estabelece também o art. 401, I, do Código Civil, falece
razão plausível para dele se exigir ainda mais, mesmo porque cobrar a
integralidade do valor contratado, de forma insofismável, torna
impossível o cumprimento da obrigação. Ressalte-se que, do
contrário, o mutuário não haveria contraído um financiamento com o
objetivo de adquirir determinado produto, comprando-o à vista, para
não ter de arcar com os elevados juros cobrados em nosso país.”
VOTO VENCIDO RESP REPETITIVO 1418593/MG

“Não bastasse isso, convém gizar que toda a sistemática de nosso


ordenamento jurídico é voltada à conservação do contrato, de modo a
fomentar a economia e proporcionar segurança jurídica às partes, valendo
mencionar como exemplo claro desse intuito, os artigos 144, 150, 157, §2º,
167, caput, 170, 172, 184 e 401 do Código Civil de 2002 e 51, §2º do Código
de Defesa do Consumidor.
Logo, convém muito mais aos anseios de nosso sistema jurídico a
subsistência do contrato do que a sua extinção anormal, até porque só
assim estará ele atingindo sua finalidade social, nos termos do preceituado
no artigo 421 do Código Civil.
Assim, seja pela incidência do dever de cooperação e lealdade entre as
partes, seja pelo direito do devedor purgar a mora, ou, ainda, pelo princípio
da conservação dos contratos, deve ser procedida interpretação sistemática
dos artigos 3º, §2º e 2º, §3º, do DL nº 911/69, entendendo-se
que a faculdade da credora dar por vencida a integralidade da
dívida fica condicionada ao exame do caso concreto.
VOTO VENCIDO RESP REPETITIVO 1418593/MG

“E, para tanto, caberá à instituição financeira apontar motivo plausível ao


pronto encerramento do contrato, indicando razões, por exemplo, que
alcancem risco à integridade do próprio bem ou lesão latente parte,
hipóteses não contempladas no caso. Do contrário, deve ser admitido o
pagamento das parcelas vencidas até a respectiva data, de modo a
possibilitar a continuidade do contrato.

Outrossim, é necessário ressaltar que o vencimento antecipado do contrato


mostra-se cabalmente prejudicial ao próprio credor, porquanto, face ao
disposto no artigo 1.426 do Código Civil, vencida antecipadamente a dívida,
não se incluirão os juros correspondentes ao tempo ainda não decorrido. Tal
entendimento é inclusive corroborado pelo que dispõe o artigo 52, §2º, da
Lei n° 8.078/90, que assegura ao consumidor a liquidação antecipada do
total do débito, mediante redução proporcional dos juros.”
VOTO ISABEL GALLOTTI

“Penso que não se pode deixar de aplicar uma regra legal expressa, editada
em 2004 porque ela seria contra um princípio do CDC e penso que a
circunstância do CDC ser aplicável a contratos bancários não impede que leis
ordinárias posteriores sejam editadas estabelecendo um tipo de contrato
que visa a dar maior garantia às instituições financeiras do resgate da dívida
exatamente para que elas possam oferecer mais crédito com taxas de juros
que deveriam ser mais acessíveis. Mas, se não são, se os juros são altos
mesmo assim, é uma questão de mercado e de política econômica que não
pode ser resolvida por meio de iniciativas tópicas do Poder Judiciário em
casos concretos submetidos à sua apreciação.”
VOTO ISABEL GALLOTTI

“Penso que não se pode deixar de aplicar uma regra legal expressa, editada
em 2004 porque ela seria contra um princípio do CDC e penso que a
circunstância do CDC ser aplicável a contratos bancários não impede que leis
ordinárias posteriores sejam editadas estabelecendo um tipo de contrato
que visa a dar maior garantia às instituições financeiras do resgate da dívida
exatamente para que elas possam oferecer mais crédito com taxas de juros
que deveriam ser mais acessíveis. Mas, se não são, se os juros são altos
mesmo assim, é uma questão de mercado e de política econômica que não
pode ser resolvida por meio de iniciativas tópicas do Poder Judiciário em
casos concretos submetidos à sua apreciação.”
6.6 COMO LIDAR COM RECURSOS REPETITIVOS E
SEUS REFLEXOS NO NCPC
NCPC: Valorização dos recursos repetitivos.

Tendência de adotar mecanismos para redução de número de processos e


recursos.

Repetitivos como fundamento para:

(i) decisão judicial de mérito e em tutela provisória,


(ii) indeferimento de petição inicial,
(iii) negar seguimento a recursos.
METODOLOGIA DOS REPETITIVOS

1. Estudar os acórdãos de recursos repetitivos e produção doutrinária


sobre eles, para compreender qual a ratio decidendi;

2. Compreender que a orientação do repetitivo não se limita à tese final


enunciada;

3. Identificar os fundamentos jurídicos e de fato do caso concreto que


divergem do repetitivo;

4. Identificar outras orientações de recursos repetitivos, súmulas, etc, que


divergem da solução indevidamente aplicada;

5. Diferenciar quando um julgado pode ser usado como precedente ou


não.

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