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CPIII
1º PERÍODO 2022
TEMAS
Tema 13:
Rito processual relativo aos crimes eleitorais. Processo penal por crimes eleitorais.
Os artigos 355 a 364 do Código Eleitoral (Lei 4.737/65). Competência. Ação penal.
Peculiaridades do procedimento. A modificação da competência do juízo em face da
Lei 11.313/06.
1ª QUESTÃO:
Esclareça, fundamentadamente, qual é o órgão jurisdicional competente para julgamento
de vereador por crime eleitoral.
RESPOSTA:
Há divergência na doutrina.
“3.2.11. Vereadores
“Além das previsões explícitas e implícitas de autoridades que possuem foro perante a
Corte Estadual, impede registrar que a Carta Magna estabelece em seu artigo 125,
parágrafo 1º, competir às Constituições Estaduais estabelecerem as autoridades que
gozam da prerrogativa de função, devendo responder criminalmente perante o Tribunal
de Justiça do Estado, posto que “a competência dos Tribunais e juízes estaduais é matéria
da Constituição e leis de organização judiciária do Estado.”
...
A questão que se coloca é a seguinte: e se uma dessas pessoas que têm o Tribunal de
Justiça como foro privativo (estabelecido no texto da Constituição Estadual) vem a ser
acusadas de crime eleitoral, o foro competente passa a ser o do Tribunal Regional
Eleitoral?
A questão não é nova e já foi objeto de reflexão e julgamento do Supremo Tribunal
Federal que, de forma unânime, em decisão revestida de bom senso e raciocínio lógico,
concebeu que competirá ao Tribunal Regional Eleitoral processar e julgar autoridade que
no âmbito do Estado possui foro perante o Tribunal de Justiça, quando acusada da prática
de crime eleitoral.
...
Portanto, de forma escorreita tem entendido a Suprema Corte que as autoridades com foro
estabelecido em Constituição Estadual, quando acusadas de crime eleitoral, devem
responder perante o Tribunal Regional Eleitoral.”
(MOURA, Evânio. Processo Penal eleitoral: crimes eleitorais, jurisdição e
competência. Curitiba: Juruá, 2014, p. 248-250).
2ª QUESTÃO:
Durante o processo de votação, um mesário, sem justa causa, abandona a seção eleitoral,
após estar compromissado para exercer esta função. Posteriormente, com um coautor
pratica um roubo com arma de fogo no interior da seção eleitoral em que trabalhava,
subtraindo, com grave ameaça, os bens dos outros mesários e eleitores presentes.
Em fuga, o mesário e o coautor foram detidos e encaminhados para a Delegacia de Polícia
local que lavrou o auto de prisão em flagrante, indiciando os dois pela prática daqueles
crimes.
O flagrante foi distribuído para a 15ª Vara Criminal da Capital. No exercício da função
de juiz criminal, qual deve ser a decisão a ser proferida?
RESPOSTA:
O juiz criminal deve declinar de sua competência e encaminhar o flagrante para o juiz
eleitoral da zona eleitoral correspondente ao local do fato, artigo 70 do Código de
Processo Penal, aplicando o disposto no artigo 35, II, do Código Eleitoral, pois ocorrendo
conexão probatória ou instrumental entre crime comum e eleitoral (o crime eleitoral é o
do artigo 344 do Código Eleitoral), cumpre ao juiz eleitoral julgar ambos os delitos.
A Justiça Eleitoral é especial (art. 78, IV, CPP), inclusive caberia a lavratura do flagrante
delito pela Polícia Federal, e não estadual.
"Recursos criminais. Eleições 2014. Denúncia. Arts. 316 do Código Penal e 300 do
Código Eleitoral. Absolvição do crime eleitoral. PRELIMINAR. Incompetência da
Justiça Eleitoral. Alegação de que não se vislumbrou indícios de prática de crime
eleitoral, e sim de crime comum tipificado no art. 316 do Código Penal e que não caberia
a esta Especializada julgar matéria não eleitoral. A denúncia imputou-lhes condutas
descritas como crimes previstos no Código Eleitoral e no Código Penal, em conexão,
e, embora tenham sido absolvidos do crime eleitoral, havendo conexão entre os
delitos, ode competência especial atrai o de competência comum. Art. 78, IV, do
Código de Processo Penal. Princípio da perpetuatio jurisdictionis. Art. 81 do Código
de Processo Penal. Rejeitada. PRELIMINAR. Ilegitimidade passiva dos recorrentes. A
questão alegada pelos recorrentes é de mérito, uma vez que pressupõe exame do tipo
penal e análise das provas. Não conhecida. PRELIMINAR. Nulidade da sentença.
Alegação dos recorrentes de omissão e obscuridade na sentença, que não foram sanadas
nos embargos de declaração por eles opostos. TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL
DE MINAS GERAIS Eventuais omissões ou contradições da sentença exigem análise
das provas, o que deve ser realizado no exame de mérito. Não conhecida. MÉRITO.
Narração, na denúncia, decoação, exercida em conluio por Secretário Municipal e por
Presidente de partido, contra servidores comissionados, para que contribuíssem com
percentual de seus salários para partido político. Imputação do crime de concussão,
classificado como crime próprio, que deve ter como sujeito ativo um funcionário público.
Participação do Secretário IY unicipal presumida, a partir de circunstâncias que não
comprovam que ele tenha tido o desígnio de praticar o crime. Ausência de provas de
autoria. Afastada a conduta do funcionário público, não se pode imputar a prática do
crime próprio de concussão a um particular, como Único autor. Recurso provido.
Absolvição dos réus com base no art. 386, V, do CPP."
grifei
(TRE-MG. Recurso Criminal n. 31-91.2015.6.13.0335. Relator Paulo Rogério de
Souza Abrantes. Julgamento em 18/04/2018).
Tema 14:
Tribunal do Júri. Princípios regentes. Competência do júri: conexão e força
atrativa. Procedimento bifásico do Tribunal do Júri (Posição do Nucci:
procedimento trifásico). Absolvição sumária. Desclassificação. Impronúncia.
Pronúncia.
1ª QUESTÃO:
PETRÚCIO foi denunciado e pronunciado pela suposta prática da conduta descrita no
art. 121, §2º, I e IV, do Código Penal, por fato ocorrido em 10 de julho de 2020.
Inconformada, a defesa de PETRÚCIO interpôs recurso em sentido estrito, no qual
objetivou a anulação da sentença de pronúncia por violação ao artigo 93, IX, da
Constituição Federal, sob o fundamento de que a decisão de pronúncia é nula por falta de
fundamentação, pois baseada exclusivamente em elementos obtidos na fase policial, sem
afirmar a presença de qualquer indício de quem teria sido o autor/executor da empreitada
criminosa.
A partir da situação hipotética acima narrada, esclareça, com base no entendimento do
Superior Tribunal de Justiça, se o recurso defensivo deve ser provido.
RESPOSTA:
"5.1 Regra probatória: é muito comum na doutrina assertiva de que o aplicável à decisão
de pronúncia é o ‘in dubio pro societate‘, ou seja, na dúvida quanto à existência do crime
ou em relação à autoria ou participação, deve o juiz sumariante pronunciar o acusado. A
nosso juízo, tal entendimento interpreta o art. 413 do CPP de maneira equivocada.
Referido dispositivo dispõe que, para que o acusado seja pronunciado, o juiz deve estar
convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou
de participação (CPP, art. 413, caput). Ao fazer remissão ao convencimento da
materialidade do fato, depreende-se que, em relação à materialidade do delito, deve haver
prova plena de sua ocorrência, ou seja, deve o juiz ter certeza de que ocorreu um crime
doloso contra a vida. Portanto, é inadmissível a pronúncia do acusado quando o juiz tiver
dúvida em relação à existência material do crime, sendo descabida a invocação do in
dubio pro societate, na dúvida quanto à existência do crime. Por sua vez, quando a lei
impõe a presença de indícios suficientes de autoria ou de participação, de modo algum
está dizendo que o juiz deve pronunciar o acusado quando tiver dúvida acerca de sua
concorrência para prática delituosa. Na verdade, ao fazer uso da expressão indícios,
referiu-se o legislador à prova semiplena, ou seja, àquela prova de valor mais tênue, de
menor valor persuasivo. Dessa forma, conquanto não se exija certeza quanto à autoria
para a pronúncia, tal qual se exige em relação à materialidade do crime, é necessário um
conjunto de provas que autorizem um juízo de probabilidade de autoria ou de
participação.
Destarte, a nosso ver, havendo dúvidas quanto à existência do crime ou quanto à presença
de indícios suficientes, deve o juiz sumariante impronunciar o acusado, aplicando o in
dubio pro reo."
(LIMA, Renato Brasileiro de. Código de Processo Penal Comentado. Salvador:
Editora JusPodivm, 2016, p. 1.132-1.133).
2ª QUESTÃO:
Antonio foi denunciado pelo Ministério Público pela prática do crime de homicídio
qualificado pelo motivo fútil (art. 121, §2º, II, do CP).
Após o término da regular instrução da 1ª fase do procedimento do Júri, o juiz proferiu
decisão de pronúncia contra Antonio, apontando-lhe o crime de homicídio simples (art.
121, caput, do CP), decotando a qualificadora do motivo fútil, uma vez que entendeu não
demonstrada sua incidência.
Pergunta-se:
a) Qual é a natureza jurídica da pronúncia?
b) Nessa fase, vigora o princípio do in dubio pro reo ou in dubio pro societate?
c) Poderia o magistrado ter retirado a qualificadora da pronúncia?
RESPOSTA:
a)
"7.2. Natureza jurídica
A pronúncia é tratada pela doutrina como uma decisão interlocutória mista não
terminativa. Decisão interlocutória porque não julga o mérito, ou seja, não condea nem
absolve o acusado; mista, porque põe fim a uma fase procedimento; e não terminativa,
porque não encerra o processo. Sobre o assunto, a Lei n. 11.689/08, corrigiu antigo erro
técnico do CPP, que se referia à pronúncia como sentença (antiga redação do §1º do art.
408 do CPP).
Como a pronúncia encerra mero juízo de admissibilidade (juízo de prelibação), cuja
finalidade é submeter o acusado a julgamento perante o Tribunal do Júri, tem natureza
processual, não produzindo coisa julgada, e sim preclusão pro judicato, podendo o
Conselho de Sentença decidir contrariamente àquilo que restou assentado na pronúncia.
Há, por conseguinte, um equívoco na redação do art. 428 do CPP, que faz menção ao
trânsito em julgado da decisão de pronúncia."
(LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 4 ed. rev., ampl. e atual.
Bahia: Editora JusPodivm, 2016, pág. 1.337).
b)
"7.3. Regra probatória: in dubio pro societate (ou in dubio pro reo)
c)
"PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO
REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE
VIOLAÇÃO DO ART. 619 DO CPP. HOMICÍDIO QUALIFICADO. SENTENÇA DE
PRONÚNCIA. FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. MATERIALIDADE E INDÍCIOS
DA AUTORIA DELITIVA. MOTIVO TORPE. AFASTAMENTO. NECESSIDADE
DE REVOLVIMENTO DE FATOS E PROVAS. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO
REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. A Corte local examinou em detalhe todos os argumentos defensivos, apresentando
fundamentos suficientes e claros para refutar as alegações deduzidas, razão pela qual
foram rejeitados os aclaratórios. Dessarte, não se verifica omissão na prestação
jurisdicional, mas mera irresignação da parte com o entendimento apresentado na decisão,
situação que não autoriza a oposição de embargos de declaração. Nesse contexto, tem-se
que o fato de não ter sido acolhida a irresignação da parte, apresentando o Tribunal de
origem fundamentação em sentido contrário, por certo não revela violação do art. 619 do
Código de Processo Penal.
2. O Tribunal de Justiça solveu a questão com fundamentação satisfatória, expondo,
suficientemente, as razões pelas quais entendeu pela manutenção da pronúncia do
envolvido, enfrentando os pontos relevantes ao deslinde da controvérsia, adotando, no
entanto, solução jurídica contrária aos interesses do recorrente. Assim, não se verifica, no
caso concreto, ausência de fundamentação, porquanto a leitura do acórdão relativo à
apelação defensiva permite inferir o julgamento integral da lide, com o alcance de solução
amplamente fundamentada da controvérsia, pretendendo o recorrente, na verdade, a
rediscussão de matéria já apreciada, em minúcia de detalhes, nos autos.
3. Dispõe o artigo 413 do CPP que o juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado,
se convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria
ou de participação, ficando tal fundamentação limitada à indicação da materialidade do
fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, devendo o juiz
declarar o dispositivo legal em que julgar incurso o acusado e especificar as circunstâncias
qualificadoras e as causas de aumento de pena.
4. A pronúncia encerra simples juízo de admissibilidade da acusação, exigindo o
ordenamento jurídico somente o exame da ocorrência do crime e de indícios de sua
autoria, não se demandando aqueles requisitos decerteza necessários à prolação da
sentença condenatória, sendo que as dúvidas, nessa fase processual, resolvem-se pro
societate.
5. Para a admissão da denúncia, há que se sopesar as provas, indicando os indícios da
autoria e da materialidade do crime, bem como apontar os elementos em que se funda
para admitir as qualificadoras porventura capituladas na inicial, dando os motivos do
convencimento, sob pena de nulidade da decisão, por ausência de fundamentação. Nessa
linha, a exclusão de qualificadoras constantes na pronúncia somente pode ocorrer
quando manifestamente improcedentes, sob pena de usurpação da competência do
Tribunal do Júri, juiz natural para julgar os crimes dolosos contra a vida.
6. No presente caso, o Tribunal local, soberano na análise do conjunto fático-probatório,
mantendo a sentença de pronúncia, concluiu pela presença de elementos indicativos da
autoria do acusado pelo homicídio da vítima, supostamente por motivação torpe. Dessa
forma, para alterar a conclusão a que chegou a instância ordinária e decidir pela
absolvição, tendo em vista a ausência de indícios da autoria delitiva, bem como a não
ocorrência da qualificadora do motivo torpe, como requer a parte recorrente, demandaria,
necessariamente, o revolvimento do acervo fático-probatório delineado nos autos,
providência incabível em sede de recurso especial, ante o óbice contido na Súmula 7/STJ.
7. Não se desconhece que a vingança, por si só, não substantiva o motivo torpe; a sua
afirmativa, contudo, não basta para elidir a imputação de torpeza do motivo do crime, que
há de ser aferida à luz do contexto do fato (STF, HC 83.309/MS, Primeira Turma, Rel.
Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 06/02/2004) (REsp 1816313/PB, Rel. Ministro NEFI
CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 10/09/2019, Dje 16/09/2019). Ocorre que,
apresentado fato concreto, a verificação de ser ele razão abjeta ou não à prática do
homicídio é matéria afeta ao Conselho de Sentença.
8. Agravo regimental não provido."
grifei
(STJ. Quinta Turma. AgRg no AgRg no AResp 1.926.967/AM. Relator Ministro
Reynaldo Soares da Fonseca. Julgamento em 26/10/2021).