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1ª QUESTÃO:
No dia 09 de fevereiro de 2018, JOACIR foi condenado pela prática do crime tipificado
no 33, caput, da Lei n. 11.343/2006, porque no dia 08 de junho de 2017, foi preso em
flagrante por trazer consigo, para fins de difusão ilícita, 22 gramas de cocaína.
Na folha de antecedentes criminais de JOACIR, consta uma condenação transitada em
julgado em 26/08/91, com imputação do crime previsto no art. 16 da Lei n.º 6.368/76,
com pena de 06 meses de detenção.
Com base nos princípios constitucionais penais, diga, de forma fundamentada, se essa
anotação deverá ser considerada para fixação da pena de JOACIR.
RESPOSTA:
O tema dos maus antecedentes, no momento da aplicação da pena, estava suscitando
inúmeras discussões quanto a sua aplicação em caráter perpétuo.
Dito de outro modo, vencido o prazo de prescrição da reincidência, discutia-se se uma
condenação poderia continuar a ser ponderada para fins de aplicação da pena.
O STJ chegou a afirmar a impossibilidade de tal ponderação com base no direito ao
esquecimento (HC 402752).
No entanto, o STF, ao decidir a repercussão geral 150, entendeu que mesmo superado
prazo da prescrição da reincidência, a condenação pode ser computada como maus
antecedentes, pelo juiz, na dosimetria da pena.
O réu havia sido condenado em 1991 a seis meses de detenção por posse de drogas para
uso próprio, ainda sob a antiga Lei das Drogas. Em 2015, foi preso novamente com 22
gramas de cocaína e acabou condenado no ano seguinte a sete anos de reclusão. O juízo
de primeiro grau utilizou a condenação ocorrida 25 anos antes como motivo para não
conceder a redução de pena prevista no artigo 33, parágrafo 4º, da atual Lei de Drogas.
"Com efeito, não se pode tornar perpétua a valoração negativa dos antecedentes, nem
perenizar o estigma de criminoso para fins de aplicação da reprimenda, sob pena de
violação da regra geral que permeia o sistema. Afinal, a transitoriedade é consectário
natural da ordem das coisas. Se o transcurso do tempo impede que condenações anteriores
configurem reincidência, esse mesmo fundamento - o lapso temporal - deve ser sopesado
na análise das condenações geradoras, em tese, de maus antecedentes", declarou o
ministro.
Precedentes
Rogerio Schietti salientou que sua decisão não implica dizer que o mero decurso de tempo
baste para impedir que fatos pretéritos sejam considerados na avaliação de antecedentes.
No entanto - esclareceu -, "eternizar a valoração negativa dos antecedentes sem nenhuma
ponderação sobre as circunstâncias do caso concreto não se coaduna com o direito penal
do fato".
O relator lembrou que o STJ possui entendimento de que as condenações prévias, com
trânsito em julgado há mais de cinco anos, apesar de não ensejarem reincidência, podem
servir de alicerce para valoração desfavorável dos antecedentes. Entretanto, decisões no
STJ e também no Supremo Tribunal Federal (STF) relativizam a existência desses maus
antecedentes para fins de dosimetria da pena em casos excepcionais.
Schietti lembrou que está em pauta no STF o julgamento, sob o rito da repercussão geral,
de um recurso que decidirá se deve haver ou não prazo limite para se sopesar uma
condenação anterior como maus antecedentes.
Na decisão, o ministro reduziu a pena-base para o mínimo legal (cinco anos), já que todas
as outras circunstâncias judiciais do réu, exceto os antecedentes, foram consideradas
favoráveis no processo, e determinou o retorno dos autos ao juízo responsável para a
análise do eventual preenchimento dos demais requisitos necessários ao benefício do
artigo 33, parágrafo 4º, da Lei das Drogas: não se dedicar a atividades delituosas nem
integrar organização criminosa.
2ª QUESTÃO:
No dia 11 de maio de 2013, o funcionário da sociedade empresária ENERGISA dirigiu-
se até o imóvel onde reside LUIZA com o intuito de realizar uma inspeção de rotina.
Ao vistoriar o citado imóvel, o funcionário constatou que havia uma inversão de fase, a
qual estava causando desvio de energia, já que não passava pelo leitor do medidor,
sendo acionado o Instituto de Criminalística para que fosse realizada perícia.
Consoante o laudo pericial, foi constatado que no imóvel "havia alimentação de energia
sem a devida medição".
Tais fatos foram devidamente informados A LUIZA, a qual compareceu na ENERGISA
e fez um acordo de parcelamento dos valores devidos.
Após isso, o Ministério Público denunciou LUIZA como incurso nas sanções do artigo
155, § 3º, do Código Penal.
Em sua defesa preliminar, LUIZA pretende o reconhecimento da extinção da
punibilidade, assim como ocorre nos crimes contra a ordem tributária, conforme as
disposições contidas na Lei 9.249/1995 e na Lei 10.684/2003.
Você, na qualidade de juiz, acolheria a alegação defensiva? Indique o princípio
constitucional penal a ser aplicado.
Resposta objetivamente fundamentada em, no máximo, 15 linhas.
RESPOSTA:
STJ
Processo HC 412208 / SP
HABEAS CORPUS 2017/0201751-2
Relator(a) Ministro FELIX FISCHER (1109)
Órgão Julgador T5 - QUINTA TURMA
Data do Julgamento 20/03/2018
Data da Publicação/Fonte DJe 23/03/2018
RMDPPP vol. 83 p. 111
Ementa
HABEAS CORPUS. SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. NÃO CABIMENTO.
FURTO DE ENERGIA ELÉTRICA. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELO
PAGAMENTO DO DÉBITO ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA.
IMPOSSIBILIDADE. NOVO ENTENDIMENTO. PREVISÃO DO INSTITUTO DO
ARREPENDIMENTO POSTERIOR. PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO PENAL.
HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO.
I - A Terceira Seção desta Corte, nos termos do entendimento firmado pela Primeira
Turma do col. Pretório Excelso, sedimentou orientação no sentido de não admitir habeas
corpus em substituição ao recurso adequado, situação que implica o não conhecimento da
impetração, ressalvados casos excepcionais em que, configurada flagrante ilegalidade
apta a gerar constrangimento ilegal, seja possível a concessão da ordem de ofício.
II - Este Superior Tribunal de Justiça se posicionava no sentido de que o pagamento
do débito oriundo do furto de energia elétrica, antes do oferecimento da denúncia,
configurava causa de extinção da punibilidade, pela aplicação analógica do disposto
no art. 34 da Lei n. 9.249/95 e do art. 9º da Lei n. 10.684/03.
III - A Quinta Turma desta Corte, entretanto, no julgamento do AgRg no REsp n.
1.427.350/RJ, modificou a posição anterior, passando a entender que o furto de
energia elétrica não pode receber o mesmo tratamento dado aos crimes tributários,
considerando serem diversos os bens jurídicos tutelados e, ainda, tendo em vista que
a natureza jurídica da remuneração pela prestação de serviço público, no caso de
fornecimento de energia elétrica, é de tarifa ou preço público,não possui caráter
tributário, em relação ao qual a legislação é expressa e taxativa.
IV - "Nos crimes patrimoniais existe previsão legal específica de causa de diminuição da
pena para os casos de pagamento da "dívida" antes do recebimento da denúncia. Em tais
hipóteses, o Código Penal, em seu art. 16, prevê o instituto do arrependimento posterior,
que em nada afeta a pretensão punitiva, apenas constitui causa de diminuição da pena."
(REsp 1427350/RJ, Quinta Turma, Rel. Min. Jorge Mussi, Rel. p/Acórdão Min. Joel Ilan
Paciornik, DJe 13/03/2018) Habeas corpus não conhecido.
Tema 03:
Normas Penais.
1) Definição e importância do tema.
2) Teoria de Binding.
3) Classificação.
4) Estrutura da norma penal.
5) Norma penal em branco: espécies.
6) Concurso (ou conflito) aparente de normas penais.
1ª QUESTÃO:
Item A: Disserte sobre a lei penal incompleta e diga se a norma penal em branco fere o
princípio da legalidade.
Item B: Como aplicar a retroatividade da lei penal quando se trata da lei penal em branco?
Fundamente.
RESPOSTA:
Item A:
O que é lei penal em branco? A lei penal pode ser completa e incompleta.
1. Lei penal completa - dispensa complemento normativo (dado pela norma) ou
valorativo (dado pelo direito). O homicídio é um exemplo: "matar alguém".
2. Lei penal incompleta - ela depende de complemento normativo ou valorativo.
Aqui a coisa pega porque a lei penal incompleta se divide em:
a) Norma penal em branco - depende de complemento normativo, ou seja, depende
de complemento dado por outra norma. E a norma penal em branco pode ser:
Própria (ou heterogênea) - ou em sentido estrito. Quando o complemento normativo não
emana do legislador. Por isso é também chamada de heterogênea. Exemplo: Lei de
Drogas. Porque o que vem a ser drogas é um complemento dado pelo Executivo.
Imprópria (ou homogênea) - ou em sentido amplo. Aqui o complemento normativo
emana do legislador. Por isso é também chamada de homogênea. Pode ser:
o Homóloga (ou homovitelina): complemento emana da mesma instância
legislativa: Lei penal complementada pela própria lei penal. Exemplo: Conceito de
funcionário público no crime funcional.
o Heteróloga (ou heterovitelina): complemento emana de instância legislativa
diversa. É a lei penal sendo complementada, por exemplo, pela lei civil. Exemplo: Art.
236, do Código Penal (fala em impedimento e preciso do Código Civil para saber o que
é impedimento):
"Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou
ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior: Pena - detenção, de seis
meses a dois anos."
Norma Penal em Branco ao Revés - O complemento normativo diz respeito à sua sanção.
Não diz respeito ao crime. O complemento não é do tipo principal e sim da sua
consequência jurídica. Exemplo: Art. 1º, da Lei 2.889/56 (Genocídio):
"Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico,
racial ou religioso, como tal: a) matar membros do grupo;b) causar lesão grave à
integridade física ou mental de membros do grupo; (...)"
"Será punido: Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra a; Com
as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b; Com as penas do art. 270, no caso da letra
c; Com as penas do art. 125, no caso da letra d; Com as penas do art. 148, nocaso da
letra e;"
Já vimos todas as espécies de norma penal em branco que depende de complemento
normativo. Está faltando falar do complemento valorativo, chamada tipo aberto.