Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SuperiorTribunal de Justiça
Notícias
ESPECIAL
10/04/2022 06:50
Muitas dessas dúvidas, relativas aos efeitos que outros processos criminais –
anteriores ou atuais – podem ter sobre a situação do réu denunciado por crimes
relacionados à Lei de Drogas, são decididas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Para tanto, o colegiado definiu que é necessária decisão fundamentada que aponte a
existência de circunstâncias reveladoras da gravidade dos atos anteriores e da
proximidade temporal entre essas condutas e o crime em julgamento.
O debate desse tema foi marcado pela divisão da Terceira Seção entre três posições.
Para alguns ministros, os atos praticados pelo acusado, antes de atingir a maioridade
penal, não poderiam influir negativamente na aplicação da pena pela prática de crime
quando alcançada a maioridade. Para outros, poderiam. Afinal, prevaleceu a posição
intermediária defendida por uma terceira corrente.
Por outro lado, o colegiado entendeu que é possível haver prova de que o agente
venha se dedicando a atividades ilícitas desde a adolescência, sem interrupção
relevante até os fatos da denúncia. "Em tais circunstâncias excepcionais, a prova da
dedicação às atividades criminosas pode estar lastreada em eventos situados em
momento anterior ao advento da maioridade penal, sem que isso importe em violação
às disposições do Estatuto da Criança e do Adolescente" – afirmou o acórdão.
Em dezembro de 2019, a Sexta Turma reviu sua posição e concluiu que o aumento de
pena no crime de posse de drogas para consumo próprio deve ocorrer apenas quando
a reincidência for específica. O colegiado negou provimento ao REsp 1.771.304, no
qual o Ministério Público sustentava que bastaria a reincidência genérica. No caso, o
réu já havia sido condenado pelo crime de roubo.
Para o relator, ministro Nefi Cordeiro (aposentado), a melhor interpretação a ser dada
ao parágrafo 4º do artigo 28 da Lei 11.343/2006 deve levar em conta que ele se
refere ao caput do dispositivo e, portanto, a reincidência diz respeito à prática do
mesmo crime – posse de drogas para uso pessoal.
"Na falta de parâmetros legais para se fixar o quantum dessa redução, os tribunais
superiores têm decidido que a quantidade e a natureza da droga apreendida, além
das demais circunstâncias do delito, podem servir para a modulação de tal índice ou
até mesmo para impedir a sua aplicação, quando evidenciarem o envolvimento
habitual do agente com o narcotráfico", afirmou.
Ribeiro Dantas observou que, a partir dessa posição, o STF "vem decidindo ser
inadmissível a utilização de ação penal em curso para afastar a causa de diminuição
do artigo 33, parágrafo 4º, da Lei de Drogas". Ele observou que a Sexta Turma do STJ
já tinha adotado esse entendimento.
Ao examinar a única ação penal que constava na vida pregressa do paciente, e que foi
utilizada para a constatação da reincidência, o ministro observou que, no momento da
sentença, o juiz desclassificou a imputação pelo crime de tráfico – processo a que o
paciente respondia em prisão cautelar – para a conduta de porte para consumo
próprio. Dessa forma, o juízo de primeiro grau considerou o tempo de prisão
provisória mais do que suficiente para compensar eventual medida a ser imposta ao
acusado e extinguiu a punibilidade.
Segundo o relator, não há como desprezar que o tempo considerado para a extinção
da punibilidade se deu no âmbito exclusivo da prisão preventiva. "É inconcebível
compreender, em nítida interpretação prejudicial ao réu, que o tempo de prisão
provisória seja o mesmo que o tempo de prisão no cumprimento de pena, haja vista
tratar-se de institutos absolutamente distintos em todos os seus aspectos e
objetivos", disse.
Além disso, Schietti ponderou que, se o paciente não houvesse ficado preso
preventivamente – prisão que, posteriormente, se mostrou ilegal, dada a
impossibilidade de se aplicar tal medida aos acusados da prática do crime de porte
para consumo próprio –, ele teria feito jus à transação penal, benefício que não
configura nem maus antecedentes nem reincidência. Por tais razões, o relator
entendeu que o único processo anterior existente em desfavor do réu não poderia ser
considerado para fins de reincidência.
EREsp 1916596
REsp 1771304
HC 664284
HC 453437
HC 390038
imprensa@stj.jus.br
informa.processual@stj.jus.br
+55 61 3319.8000