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Em primeiro plano, faz-se necessário resumir o caso concreto oriundo do

processo nº 1833365-61.2015.8.13.0024 (TJ-MG). Conforme o julgamento, em


primeiro grau, os apelantes foram condenados por crimes tipificados nas Leis nº
11.343/2006 e nº 10.826/2013. Irresignados, interpuseram recurso de apelação. O
primeiro apelante, Pedro Henrique, pleiteou, em síntese, a aplicação de uma
minorante, o abrandamento do regime inicial da pena e a substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos. O segundo, Jonatha, alegou a
nulidade do feito e, no mérito, pugnou pela absolvição. Ultrapassadas estas linhas
iniciais, à luz da teoria das provas e seus princípios, consubstanciado, sobretudo, no
posicionamento de alguns estudiosos da seara processual penal, analisar-se-á o
referido julgado com o fito de realizar uma resenha crítica. Ainda, antes de
adentrarmos efetivamente no assunto, cabe ressaltar que o acórdão fora proferido
em 2017, ou seja, antes da existência da figura do Juiz das Garantias.
Destarte, o primeiro ponto controvertido é o que diz respeito às provas
colhidas a partir da suposta violação ao domicílio pelos policiais militares. Caso
houvesse flagrante violação ao domicílio, alicerçado no art. 157 do CPP (que versa
a respeito da teoria dos frutos da árvore envenenada) e no princípio da vedação das
provas ilícitas, as provas colhidas a partir disso seriam “descartadas”. Contudo,
cabe destacar que o crime de tráfico de drogas (art. 33, caput, Lei nº 11.343/2006) é
classificado como crime permanente (aqueles em que a consumação se prolonga
no tempo enquanto dura a vontade do agente). Desse modo, de acordo com a
doutrina de Nucci (2020, p. 887), a partir de denúncia anônima e fundada suspeita,
nos casos de crimes permanentes, não há necessidade de mandado judicial, até
porque há um flagrante delito (art. 302, I, do CPP). Assim, no tocante a este ponto,
concordamos com o voto da relatora Kárin Emmerich, que negou provimento a este
aspecto.
Outrossim, passa-se à análise da seguinte questão: a leitura, durante a
instrução processual, aos depoentes, das declarações por eles prestadas na fase
investigatória é motivo de nulidade processual? Ora, amparado pelo princípio pas de
nullité sans grief, não se vislumbra nenhuma ilegalidade no ato, haja vista que a
prova testemunhal fora repetida sob o crivo do contraditório e da ampla defesa e
não houve comprovação, por parte do réu, de efetivo prejuízo causado por este
procedimento. Portanto, aquiescemos com o voto, que rejeitou a preliminar.
Ademais, quanto ao fato de algumas testemunhas serem os policiais que
efetuaram a prisão, não há qualquer ilegalidade, devendo apenas o magistrado ter
cautela no tocante à valoração dos fatos narrados, na medida em que o testemunho
dos policiais pode sofrer influência em razão da atuação deles na prisão.
Concordam com este posicionamento Aury Lopes Jr. (2020, p. 749) e Guilherme
Nucci (2020, p. 793).
No que tange à busca feita no carro de um dos réus, conforme predileção de
Nucci (2020, p. 876), é considerada busca pessoal. Posto isso, sustentado pelo art.
244 do CPP, a busca realizada no automóvel não necessita de mandado judicial,
haja vista a situação de urgência do caso.
Por fim, ratifica-se que o sistema de avaliação de provas no Brasil é o do livre
convencimento motivado, podendo o juiz analisar e tomar como fundamento de sua
decisão as provas constantes nos autos. À vista do exposto, no que se refere aos
itens discutidos acima, não há quaisquer irregularidades no acórdão, o qual está em
consonância com os princípios que ditam o processo penal acusatório pátrio,
sobretudo, aqueles relacionados à teoria da prova.

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