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AUTOS N.
LUIZ, já devidamente qualificado nos autos em epígrafe, vem respeitosamente, por meio de
seu advogado infra-assinado, apresentar ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS com fulcro no
art. 403, §3º, pelos fatos e fundamentos que passa a expor:
Na madrugada do dia 1º de janeiro de 2020, o réu, Luiz (72), estava em sua residência na
companhia de seus três filhos e do ofendido, seu irmão Igor (55). Em determinado momento,
um dos filhos do acusado acionou fogos de artifício no quintal do imóvel, para comemorar a
chegada do novo ano. Ocorre que as faíscas atingiram o telhado da casa, que começou a pegar
fogo. Todos correram para sair pela única e pequena porta da casa, mas o acusado, em razão
de sua idade e pela dificuldade de locomoção, acabou ficando por último na fila para saída da
residência.
Percebendo que o fogo estava dele se aproximando e que iria atingi-lo em segundos, desferiu
um forte soco na cabeça do ofendido, que estava em sua frente, conseguindo deixar o imóvel.
Entretanto, verificando as consequências de seus atos, imediatamente levou o irmão para
unidade de saúde e pagou pelo tratamento médico necessário.
O réu foi citado em 19 de janeiro de 2021, sendo denunciado injustamente pela prática do
crime do Art. 129, § 9º, do CP, em ação penal pública condicionada a representação da vítima,
que não demonstrou interesse. O Ministério Público apresentou manifestação, após a
instrução probatória ser encerrada, pugnando pela condenação nos termos da denúncia,
deixando de oferecer sursis pela vedação dos institutos da Lei 9.099/89.
2. DO DIREITO
2.1. DA NULIDADE DO PROCESSO DEVIDO A AUSÊNCIA DE REPRESENTAÇÃO DA VÍTIMA
O crime de lesão corporal leve é de ação pública condicionada à representação, nos termos do
art. 88 da Lei 9.099/95, sendo fundamental a manifestação do OFENDIDO para a condenação
do ACUSADO.
Entretanto, nota-se nos autos que o Ministério Público move a presente denúncia de forma
contrária ao devido processo legal, agindo sem a prévia representação da vítima, retirando o
réu, o direito a uma garantia constitucional (CRFB/88, art. 5, inc. LIV), pois é incabível o
prosseguimento desta ação, ainda que tenha elementos informativos suficientes sobre a
autoria e a materialidade do suposto crime.
Ora, desde o princípio o ofendido expressa o seu desinteresse em prosseguir com a ação
penal, tampouco gostaria que o acusado sofresse de tais sanções penais. Conclui-se a
desvirtuação do devido processo legal convalida a nulidade, no caso em tela, devido a ausência
de representação da vítima, conforme disposto no art. 564, inciso III, alínea “a”, do CPP.
Seguindo a linha de raciocínio do tópico anterior, declarada nula a ação penal desde o
recebimento da denúncia, o prazo decadencial para a juntada de representação também já foi
ultrapassado, devendo, por isso, ser declarada extinta a punibilidade do réu, nos termos do
art. 107, inciso IV, CP.
Considerando que o crime imputado ao acusado tem pena mínima igual ou inferior a um ano,
caberia o oferecimento de suspensão condicional do processo, como preconiza o art. 89 da Lei
9.099/89. Todavia, esta oportunidade não foi concebida ao réu, pois, a denúncia foi oferecida
de forma equivocada, nos parâmetros do art. 129, §9º do CP, que trata da Lei Maria da Penha,
como justificativa, a parte afirma que o art. 41 da Lei n. 11.340 veda a aplicação da sursis.
Vejamos, o crime em questão não envolve violência doméstica e familiar contra a mulher, por
óbvio, visto que se tratam de dois irmãos, não sendo aplicável as vedações dos dispositivos
destacados. Frisa-se que a condenação anterior por contravenção não impede o benefício.
Desta forma, tendo o exposto nos tópicos preliminares, para que o devido processo legal seja
respeitado, faz-se necessário a nulidade em razão do não oferecimento de proposta de
suspensão condicional do processo ou a representação da vítima e aplicação dos institutos
previstos na Lei 9.099/89, considerando a natureza leve da lesão.
Na forma dos arts. 24 e 23, inc. I, trata-se de situação especial (incêndio) em que há o sacrifício
de um direito juridicamente protegido (integridade física da vítima), para salvar de perigo atual
e inevitável o direito do próprio (resguardar a sua vida), sendo que outra conduta, nas
circunstâncias concretas, não fosse razoavelmente exigível.
Ou seja, perigo atual no caso em tela é verificado no local do incidente, pois devido ao
incêndio provocado pelo descuido de um terceiro, o fogo se aproximava do acusado que não
conseguia deixar o local, em razão da sua dificuldade em locomoção aos 72 anos, opta por
resguardar a sua própria vida em um momento de desespero. Considerando o exposto, não há
o que se falar em ilicitude da conduta, devendo o réu ser absolvido nos termos do art. 386,
inciso VI, do CPP.
Caso o magistrado entenda pelo prosseguimento da ação, ressalta-se que a pena base deve ser
mantida no mínimo legal, nos termos do art. 59 do CP, visto que o réu é primário. Neste
sentido, não há o que se falar em reincidência como agravante de pena, pois como
demonstram os autos, a condenação por contravenção não é considerada crime.
Por fim, requer-se a fixação de regime aberto para cumprimento de pena, em sendo o caso,
em consonância com o art. 33, §2º, "c" do CP. Frisa-se novamente a aplicação da sursis
previsto no art. 77, diante do cumprimento dos requisitos para o seu oferecimento.
3. DOS PEDIDOS
PEÇA 08
AO JUÍZO DA (...) VARA CRIMINAL DE (...)
AUTOS N. (...)
JUCA, já devidamente qualificado nos autos em epígrafe, vem respeitosamente, por meio de
seu advogado infra-assinado, apresentar ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS com fulcro no
art. 403, §3º, pelos fatos e fundamentos que passa a expor:
O réu foi denunciado injustamente por conduta tipificada no art. 155, §6º do CP: furto
qualificado por subtração de semovente, onde, devidamente citado e intimado apresentou
resposta através de advogado constituído, onde não foram acatadas as hipóteses de
absolvição sumária.
Em posterior audiência de instrução e julgamento o réu compareceu sem a presença de
advogado e nenhum lhe foi nomeado, pois MM. Juiz entendeu que a instrução poderia ser
realizada apenas com o auxílio do MP.
Vale ressaltar que durante a instrução que apenas as testemunhas da acusação foram
ouvidas, ainda que presentes as da defesa, pois de acordo com a interpretação do
magistrado, apesar do interesse do réu em ouvir as testemunhas arroladas para
esclarecimento dos fatos, seria necessário um advogado constituído para formular as
perguntas.
Desta forma, os fatos não foram devidamente esclarecidos para ambas as partes de forma
igualitária e apenas consta nos autos a confissão do réu a seu “favor”, alegando que a
subtração do bem para saciar a fome dos filhos em caráter de urgência.
Encerrada a instrução dar-se-á intimação para devida apresentação de alegações finais que
lhe passa a expor.
2. PRELIMINARES DE NULIDADE
Na forma do artigo 24 e 23, inc. I, não há crime quando o agente pratica fato em estado de
necessidade. Conforme interpreta Nucci, é o sacrifício de um interesse juridicamente
protegido, para salvar de perigo atual e inevitável o direito do próprio agente ou de
terceiro, desde que outra conduta, nas circunstâncias concretas, não fosse razoavelmente
exigível.
No caso em tela, observamos que trata-se de furto famélico (CP, art. 155), onde o acusado
subtrai a vaca, bem jurídico em questão, apenas para retirar o leite, no intuito de saciar a
fome de seus três filhos, todos com menos de 5 anos de idade. O perigo atual é
consequência do desemprego e desespero do réu, que admite a sua ação, bem como, que
devolveria o bem assim que não contornasse a emergência.
Vale ressaltar que risco de vida aos terceiros que este protegia e cumpria o seu dever de
cuidar dos filhos, conforme enfatiza a constituição.
Considerando o exposto, não há o que se falar em ilicitude da conduta, devendo o réu ser
absolvido nos termos do art. 386, inciso VI, do CPP.
Em consonância com o art. 564, inc. III, "c", a não nomeação de defensor para o ato
importa nulidade absoluta.
Nota-se nos autos que durante a audiência de instrução e julgamento o denunciado
compareceu sem a presença de advogado e o magistrado deu continuidade ao feito da
mesma forma. Sendo assim, caracteriza-se o cerceamento de defesa ao privá-lo da
nomeação de defensor público, visto que, trata-se de garantia constitucional na forma dos
incisos LV e LXXIV do art. 5º da CRFB/88.
Tem-se no inciso IV do art. 564 do CPP, a nulidade por omissão de formalidade que
constitua elemento essencial do ato.
Consta nos autos que durante a instrução que apenas as testemunhas da acusação foram
ouvidas, ainda que presentes as da defesa, pois de acordo com a interpretação do
magistrado, apesar do interesse do réu em ouvir as testemunhas arroladas para
esclarecimento dos fatos, seria necessário um advogado constituído para formular as
perguntas, desta forma, os fatos não foram devidamente esclarecidos para ambas as
partes de forma igualitária.
Neste sentido, trata-se de instituto indispensável para garantias das normas fundamentas
do processo penal para o devido processo legal e efetividade do contraditório. Ora, a
testemunha não pode se eximir da obrigação de depor (CPP, art. 206), por óbvio, o juiz
deve fazes jus a estrutura judiciária, atuando imparcialmente acima das partes, fazendo
atuar a lei e compondo os interesses do acusador e do acusado.
3. DO MÉRITO
Os autos deixam claro que o ato fora cometido para saciar a fome dos três filhos do réu,
atualmente desempregado, e como se tratava de crianças com menos de 5 anos, buscava-
se satisfazer uma inevitável necessidade vital. O réu inclusive confessa o ato, mas entende
que esta era a única forma no momento de contornar a necessidade urgente e relevante,
pois como pai, utilizou os meios necessários para cumprir o seu dever de cuidar e assistir
seus filhos, que em tese está "protegido" pela Constituição Federal (CF, 229), mas como no
caso em tela, vê-se marcado pelo abismo social.
Ora, a ato teve como fim sanar a vulnerabilidade causada pela fome de seus dependentes,
sendo amparado pela excludente de ilicitude do estado de necessidade, ou seja, tornando
o fato atípico. Apesar disso, no fim, a conduta foi cessada pelos policiais militares que
abordaram o acusado.
Tendo em vista o exposto, requer-se a absolvição do denunciado em razão da atipicidade
da conduta, nos termos do art. 386, III do CPP.
Por todo o exposto, em caso de condenação do acusado, a conduta deverá ser tipificada
nos termos do art. 155 do CP, considerando a interpretação doutrinária e jurisprudencial
conceituando o ato praticado como furto famélico.
Por fim, ressaltamos o cometimento do crime por motivo de relevante valor moral (CP, art.
65, III, "a"), sendo confessado espontaneamente perante a autoridade durante o
interrogatório do réu (CP, art. 65, III, "d"). Caso o magistrado não entenda o furto do bem
para saciar a fome dos filhos como um relevante valor moral, utilizamos do art. 66 do CP,
por se tratar de circunstância no mínimo, relevante anterior ao crime.
4. DOS PEDIDOS
Advogado (...)
OAB (...)