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Pena de Multa

É uma modalidade de sanção de caráter patrimonial consistente na entrega de dinheiro ao


fundo penitenciário.

Ao contrário do que ocorre com a pena restritiva consistente na perda de bens; cujos valores,
conforme o Código Penal, em seu art. 45, § 3º, são revertidos ao Fundo Penitenciário
Nacional (regulamentado pela Lei Complementar n. 79/94), em relação à pena de multa o art.
49 do mesmo Código refere-se genericamente a fundo penitenciário, possibilitando que os
Estados legislem sobre o tema, criando seus próprios fundos, a fim de obterem recursos para
construção e reforma de estabelecimentos prisionais, aquisição de equipamentos destinados a
referidas unidades etc.

No Estado de São Paulo, por exemplo, existe o FUNPESP (Fundo Penitenciário do Estado de
São Paulo), criado e regulamentado pela Lei Estadual n. 9.171/95.

Espécies De Multa
■ Originária

É aquela descrita em abstrato no próprio tipo penal incriminador, em seu preceito secundário.
Pode ser prevista de forma isolada, cumulativa ou alternativa com pena privativa de
liberdade.

Exemplos:

1) Nas contravenções penais de anúncio de meio abortivo (art. 20 da LCP) ou de perigo de


desabamento (art. 30 da LCP), a pena prevista em abstrato é única e exclusivamente a de
multa.

Observação: A previsão de pena de multa isoladamente em abstrato só existe em


contravenções penais.

2) No crime de ameaça (art. 147 do CP), a pena é de detenção, de 1 a 6 meses, ou multa; no


de desacato (art. 331 do CP), é de detenção, de 6 meses a 2 anos, ou multa.

3) No crime de furto simples (art. 155, caput, do CP), a pena prevista é de reclusão, de 1 a 4
anos, e multa; no de peculato (art. 312), é de reclusão, de 2 a 12 anos, e multa.

■ Substitutiva

É aquela aplicada em substituição a uma pena privativa de liberdade fixada na sentença em


montante não superior a 1 ano, e desde que o réu não seja reincidente em crime doloso e as
circunstâncias do art. 59 do Código Penal indiquem que a substituição é suficiente (art. 44, §
2º, do CP).

É chamada de multa substitutiva ou vicariante. O art. 44 do Código Penal, com a redação que
lhe foi dada pela Lei n. 9.714/98, exige, ainda, que se trate de crime cometido sem o emprego
de violência contra pessoa ou grave ameaça.

■ Consequências do inadimplemento no pagamento da multa

O inadimplemento no pagamento da multa não gera a possibilidade de reconversão em pena


privativa de liberdade. Por isso, se o juiz havia aplicado uma pena de 8 meses de detenção e a
substituiu por multa, caso o condenado deixe de pagá-la, a consequência será a execução da
multa (com penhora de bens do condenado que serão levados a leilão), e nunca a reconversão
na pena originária de 8 meses de detenção.

■ Vigência ou revogação tácita do art. 60, § 2º, do Código Penal

O art. 60, § 2º, do Código Penal permite a substituição da pena privativa de liberdade por
multa quando a pena fixada na sentença não for superior a 6 meses, desde que o réu não seja
reincidente em crime doloso e que as circunstâncias do art. 59 do Código Penal lhe sejam
favoráveis. Tal dispositivo existe desde a aprovação da nova Parte Geral do Código Penal, em
1984.

Ocorre que a Lei n. 9.714/98 passou a permitir a substituição por multa quando a pena fixada
não exceder 1 ano, e, exige, ainda, que se trate de crime cometido sem o emprego de
violência contra pessoa ou grave ameaça.

■ Violência doméstica ou familiar contra a mulher e proibição de conversão em pena


exclusiva de multa

O art. 17 da Lei n. 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, proíbe a substituição
da pena privativa de liberdade por pena exclusiva de multa quando o delito for praticado com
violência doméstica ou familiar contra mulher.

Cálculo Do Valor Da Multa


Quando se tratar de multa prevista em abstrato no próprio tipo penal (originária), o juiz
observará duas fases. Primeiro fixará o número de dias-multa e depois o valor de cada um
deles.

■ Regras para a fixação no número de dias-multa

De acordo com o art. 49 do Código Penal, a pena deverá ser de, no mínimo, 10 e, no máximo,
360 dias-multa.
Para se estabelecer o número de dias-multa, as regras a serem observadas pelo juiz são as
mesmas estabelecidas na lei penal para a pena privativa de liberdade, ou seja, o critério
trifásico do art. 68 do Código Penal.

Assim, o juiz deve inicialmente fixar a pena-base de dias-multa com observância das
circunstâncias do art. 59 do Código Penal e, nas fases seguintes, aplicar as agravantes e
atenuantes genéricas, bem como causas de aumento e de diminuição de pena.

Em suma, é a gravidade do delito e aspectos pessoais do sentenciado (antecedentes,


reincidência, conduta social etc.) que permitem estabelecer o número de dias-multa e, ao
término das operações mencionadas (critério trifásico), tal montante estará determinado.

■ Fixação do valor de cada dia-multa

O valor de cada dia-multa atenderá ao critério da situação econômica do réu (art. 60 do CP),
não podendo ser inferior a 1/30 do maior salário mínimo mensal e nem superior a 5 salários
mínimos (art. 49, § 1º, do CP).

Assim, para acusados menos favorecidos, o juiz aplicará valor menor e para os mais
abastados, um valor maior. É de se lembrar, outrossim, que, mesmo sendo o valor do
dia-multa fixado no patamar máximo, pode ele se mostrar ineficaz e insuficiente diante da
imensa fortuna do réu e, em tais casos, permite o art. 60, § 1º, do Código Penal, que o juiz
triplique o valor da multa.

Em suma, o valor final da multa resulta de um simples cálculo aritmético, ou seja, da


multiplicação do número de dias-multa pelo índice do salário mínimo fixado.

O objetivo buscado pelo legislador com o critério do dia-multa é punir o condenado com o
pagamento de uma multa que guarde equivalência com o valor do dia de trabalho do réu.

Quando o acusado recebe mensalmente um salário mínimo, o juiz deve fixar o valor do
dia-multa em 1/30 daquele para que haja correspondência a um dia de trabalho do acusado.

Assim, 10 dias-multa são proporcionais a 10 dias de trabalho. Por sua vez, imagine-se uma
pessoa que tenha renda mensal de 30 salários mínimos.

Significa que recebe um salário mínimo por dia de trabalho, de forma que o valor de cada
dia-multa deve ser exatamente de um salário mínimo.

Observação: No que se refere à multa substitutiva (vicariante), não existe absolutamente


nenhuma regra expressa na legislação. Ao contrário do que ocorre com as penas restritivas de
direitos, não pode o juiz, por falta de amparo legal, substituir cada dia de prisão por um
dia-multa (ex.: pena de 10 meses de detenção por 300 dias-multa), mesmo porque, se a
substituição ocorresse deste modo, resultaria em multas altíssimas, pois equivaleriam, em
regra, a 10 meses de salário do condenado.

Por tal razão, os juízes costumam efetuar a substituição pelo montante mínimo previsto em
lei (10 dias-multa), observando apenas a condição econômica do réu na fixação do valor de
cada um desses dias-multa.

Cumulação De Multas
Há dezenas de infrações penais em que a pena privativa de liberdade é prevista em abstrato
cumulativamente com a pena de multa, como, por exemplo, os crimes de calúnia (art. 138 do
CP), cuja pena é de detenção, de 6 meses a 2 anos, e multa, ou de furto (art. 155 do CP), em
que a pena é de reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.

Suponha-se, assim, um furto simples, em que o réu seja primário e o juiz aplique pena de 1
ano de reclusão e 10 dias-multa. Discute-se, em tal caso, se o magistrado poderia substituir a
pena de reclusão por outros 10 dias-multa, e, em seguida, somá-los à outra multa
originariamente imposta, alcançando o montante de 20 dias-multa.

A maioria dos doutrinadores entende que é plenamente cabível tal procedimento por não
haver qualquer vedação à referida providência no Código Penal. Na prática, pode-se dizer
que quase todos os juízes criminais lançam mão de tal conversão.

Observação: As referidas substituição e cumulação de penas pecuniárias não têm sido


admitidas pelo Superior Tribunal de Justiça quando se trata de crime previsto em lei especial.

Súmula n. 171: “cominadas cumulativamente, em lei especial, penas privativas de liberdade e


pecuniária, é defeso a substituição da prisão por multa”.

De acordo com tal súmula, ao réu deve ser imposta a pena privativa de liberdade, ainda que
não superior a 1 ano, além da multa prevista originariamente no tipo penal.

O fundamento para a adoção desta súmula pelo mencionado Tribunal Superior é o de que as
leis especiais não preveem a possibilidade de substituição das penas privativas de liberdade
por multa. Esqueceram-se, assim, da norma contida no art. 12 do Código Penal, no sentido de
que as regras gerais do Código Penal aplicam-se às leis especiais quando não existir norma
em sentido contrário.

Atualização Do Valor Da Multa


O art. 149, § 2º, do Código Penal dispõe que, por ocasião da execução, o valor da multa deve
ser atualizado de acordo com os índices de correção monetária.
Súmula n. 43, decidindo que “a correção monetária decorrente de dívida de ato ilícito deve
incidir da data do efetivo prejuízo”, ou seja, a correção monetária deve correr a partir do dia
em que foi cometido o delito.

Pagamento Da Multa
Transitada em julgado a sentença que impôs pena de multa, os autos irão ao contador judicial
para a atualização de seu valor.

Em seguida, após ouvir o Ministério Público, o juiz homologará o valor e determinará a


notificação do condenado para que, no prazo de 10 dias, efetue o pagamento.

Estabelece, por sua vez, o art. 50, caput, do Código Penal que, a pedido do condenado e
conforme as circunstâncias do caso, poderá o juiz permitir que o pagamento se faça em
parcelas mensais.

Permite, ainda, o art. 50, § 1º, do Código Penal que a cobrança seja efetuada mediante
desconto no salário do condenado, se não prejudicar o seu sustento e o de sua família, se a
multa tiver sido aplicada isoladamente, cumulada com restritiva de direitos, ou caso tenha
havido aplicação de sursis em relação à pena privativa de liberdade cumulativamente
imposta. Efetuado o pagamento, o juízo decretará a extinção da pena.

Execução da multa
Pela redação originária do art. 51 do Código Penal, se o condenado não pagasse a pena de
multa, o juiz deveria convertê-la em detenção na proporção de um dia-multa por dia de
prisão.

Assim, sendo preso o sentenciado, ele poderia, de imediato, pagar a multa e livrar-se de
permanecer no cárcere ou ficar na cadeia pelos dias determinados, hipótese em que a pena
seria declarada extinta.

A Lei n. 9.268/96 alterou a redação do mencionado art. 51, estabelecendo que “transitada em
julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhe as
normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às
causas interruptivas e suspensivas da prescrição”.

Então surgiu o questionamento: a execução da multa inadimplida ficaria a cargo da Fazenda


Pública ou do Ministério Público?

Em 13 de dezembro de 2018, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI


3150, firmou entendimento que a atribuição para a execução da pena de multa é do Ministério
Público — perante a Vara das Execuções Criminais, pois a multa é de caráter penal. Ainda de
acordo com tal decisão, a Fazenda Pública pode, supletivamente, promover a execução da
pena de multa — mas apenas em caso de eventual inércia por parte do Ministério Público. A
Lei n. 13.964/2019, modificou novamente a redação do art. 51 do Código Penal para
consagrar em definitivo este último entendimento, ou seja, a nova redação deixa expresso que
a execução da multa deve ser feita no juízo das execuções penais. Tem, portanto, caráter
penal e só pode ser executada pelo Ministério Público.

Prazo Prescricional, Interrupção E Suspensão Da Prescrição


Nos termos do art. 174 do Código Tributário Nacional (Lei n. 5.172/66), a prescrição da ação
para a cobrança do crédito tributário e, por conseguinte, da pena de multa dá-se em 5 anos.

Por sua vez, o art. 51 do Código Penal diz que serão observadas as normas da legislação
fazendária quanto à suspensão e à interrupção do prazo prescricional da execução da pena de
multa.

De acordo com o art. 174, parágrafo único, do Código Tributário, a prescrição se interrompe
pelo despacho do juiz que ordena a citação em execução fiscal.

Existem outras causas interruptivas, que, contudo, não guardam relação com a pena de multa,
como, por exemplo, o protesto.

Por sua vez, o juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não for localizado o devedor ou
encontrados bens penhoráveis e, nesses casos, não correrá o prazo de prescrição (art. 40 da
Lei n.6.830/80). De acordo com a Súmula n. 314 do Superior Tribunal de Justiça, “em
execução fiscal, não localizados bens penhoráveis, suspende-se o processo por um ano, findo
o qual se inicia o prazo da prescrição quinquenal intercorrente”.

Em resumo, existe um prazo de 5 anos para que seja iniciado o processo de execução da
multa no juízo das execuções criminais. Quando o juiz determina a citação do condenado,
interrompe-se referido prazo, de modo que novo período de 5 anos passa a correr. Caso o réu
não seja encontrado ou não sejam localizados bens penhoráveis, o juiz determina a suspensão
da execução por 1 ano. Findo este período, retoma-se o prazo prescricional. Se o condenado
não for mais encontrado dentro do prazo restante, decreta-se a prescrição da dívida. Se for
localizado o acusado ou bens de sua propriedade dentro do prazo de 5 anos, prossegue-se na
execução.

O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI 3150 (em 18 de dezembro


de 2018), decidiu que a multa continua tendo natureza penal. Em razão disso, o juiz não pode
declarar a extinção da pena antes do adimplemento da multa.

Nesse sentido, veja-se RE 1.159.468/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 02.07.2019. O
próprio Superior Tribunal de Justiça alterou seu entendimento não mais permitindo a extinção
da pena antes da quitação da pena de multa.

■ Suspensão da execução da multa


Estabelece o art. 52 do Código Penal que é suspensa a execução da multa se sobrevém
doença mental ao acusado. O curso do prazo prescricional, entretanto, não se suspende em tal
hipótese por falta de previsão legal.

■ Morte do condenado à pena de multa e execução contra os herdeiros

A origem da condenação à multa é penal e, por isso, não pode passar da pessoa do condenado
por força do art. 5º, XLV, da Constituição Federal.

Neste particular, não se aplica a legislação tributária que permite que a execução prossiga em
relação aos herdeiros (art. 4º, VI, da Lei n. 6.830/80). Em suma, falecendo o condenado
durante o procedimento executório, deve ser declarada extinta a pena, nos termos do art. 107,
I, do Código Penal.

■ Suspensão condicional da pena e multa

De acordo com o art. 80 do Código Penal, a suspensão condicional da pena (sursis) não se
estende à pena de multa. Assim, se o réu for condenado a uma pena privativa de liberdade e
também a pena de multa, caso o juiz aplique o sursis em relação à primeira, continua o
sentenciado obrigado a pagar a multa.

■ Habeas corpus e pena de multa

De acordo com a Súmula n. 693 do Supremo Tribunal Federal, “não cabe habeas corpus
contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração
penal a que a pena pecuniária seja a única cominada”.

É que, nos termos do art. 5º, LXVIII, da Constituição Federal, o habeas corpus tutela apenas a
liberdade, o direito de ir e vir das pessoas, e a pena de multa, desde o advento da Lei
n.9.268/96 (que alterou o art. 51 do Código Penal), não pode mais ser convertida em prisão.

Pena De Multa E Concurso De Crimes


Nas hipóteses de concurso formal perfeito e crime continuado, o juiz aplica somente uma
pena privativa de liberdade aumentada, de um sexto até metade em caso de concurso formal
(art. 70 do CP), ou de um sexto a dois terços, em hipótese de continuação delitiva (art. 71 do
Código Penal).

O art. 72 do Código, entretanto, ressalva que as penas de multa previstas cumulativamente


em abstrato com a pena privativa de liberdade não se submetem a tal sistema, devendo haver
soma das penas pecuniárias.
Por isso, se o acusado, por exemplo, tiver praticado cinco crimes em continuação, o juiz deve
aplicar, no mínimo, pena de 50 dias-multa (10 para cada delito), ainda que, em relação à pena
privativa de liberdade, tenha aplicado uma só aumentada de um sexto a dois terços.

O Superior Tribunal de Justiça, todavia, firmou entendimento de que a regra do art. 72 é


inaplicável quando se tratar de crime continuado com o argumento de que, por ficção, a lei
determina que seja o fato interpretado como crime único (e não como concurso de crimes).

Assim, quanto ao crime continuado, deve ser aplicado o sistema da exasperação, mesmo no
que se refere à pena pecuniária. Nesse sentido:

“A jurisprudência desta Corte assentou compreensão no sentido de que o art. 72 do Código


Penal é restrito às hipóteses de concursos formal ou material, não sendo aplicável aos casos
em que há reconhecimento da continuidade delitiva. Desse modo, a pena pecuniária deve ser
aplicada conforme o regramento estabelecido para o crime continuado, e não
cumulativamente, como procedeu a Corte de origem” (STJ, AgRg no AREsp 484.057/SP,
Rel. Min. Jorge Mussi, 5ª Turma, julgado em 27.02.2018, DJe 09.03.2018).

■ Detração E Pena De Multa

O art. 42 do Código Penal é taxativo e só faz menção à detração em relação à pena privativa
de liberdade e à medida de segurança.

Dessa forma, ainda que se trate de pena de multa substitutiva (de pena inferior a 1 ano
aplicada na sentença, conforme permite o art. 44, § 2º, do Código Penal), o tempo anterior de
prisão é irrelevante.

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