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Ao contrário do que ocorre com a pena restritiva consistente na perda de bens; cujos valores,
conforme o Código Penal, em seu art. 45, § 3º, são revertidos ao Fundo Penitenciário
Nacional (regulamentado pela Lei Complementar n. 79/94), em relação à pena de multa o art.
49 do mesmo Código refere-se genericamente a fundo penitenciário, possibilitando que os
Estados legislem sobre o tema, criando seus próprios fundos, a fim de obterem recursos para
construção e reforma de estabelecimentos prisionais, aquisição de equipamentos destinados a
referidas unidades etc.
No Estado de São Paulo, por exemplo, existe o FUNPESP (Fundo Penitenciário do Estado de
São Paulo), criado e regulamentado pela Lei Estadual n. 9.171/95.
Espécies De Multa
■ Originária
É aquela descrita em abstrato no próprio tipo penal incriminador, em seu preceito secundário.
Pode ser prevista de forma isolada, cumulativa ou alternativa com pena privativa de
liberdade.
Exemplos:
3) No crime de furto simples (art. 155, caput, do CP), a pena prevista é de reclusão, de 1 a 4
anos, e multa; no de peculato (art. 312), é de reclusão, de 2 a 12 anos, e multa.
■ Substitutiva
É chamada de multa substitutiva ou vicariante. O art. 44 do Código Penal, com a redação que
lhe foi dada pela Lei n. 9.714/98, exige, ainda, que se trate de crime cometido sem o emprego
de violência contra pessoa ou grave ameaça.
O art. 60, § 2º, do Código Penal permite a substituição da pena privativa de liberdade por
multa quando a pena fixada na sentença não for superior a 6 meses, desde que o réu não seja
reincidente em crime doloso e que as circunstâncias do art. 59 do Código Penal lhe sejam
favoráveis. Tal dispositivo existe desde a aprovação da nova Parte Geral do Código Penal, em
1984.
Ocorre que a Lei n. 9.714/98 passou a permitir a substituição por multa quando a pena fixada
não exceder 1 ano, e, exige, ainda, que se trate de crime cometido sem o emprego de
violência contra pessoa ou grave ameaça.
O art. 17 da Lei n. 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, proíbe a substituição
da pena privativa de liberdade por pena exclusiva de multa quando o delito for praticado com
violência doméstica ou familiar contra mulher.
De acordo com o art. 49 do Código Penal, a pena deverá ser de, no mínimo, 10 e, no máximo,
360 dias-multa.
Para se estabelecer o número de dias-multa, as regras a serem observadas pelo juiz são as
mesmas estabelecidas na lei penal para a pena privativa de liberdade, ou seja, o critério
trifásico do art. 68 do Código Penal.
Assim, o juiz deve inicialmente fixar a pena-base de dias-multa com observância das
circunstâncias do art. 59 do Código Penal e, nas fases seguintes, aplicar as agravantes e
atenuantes genéricas, bem como causas de aumento e de diminuição de pena.
O valor de cada dia-multa atenderá ao critério da situação econômica do réu (art. 60 do CP),
não podendo ser inferior a 1/30 do maior salário mínimo mensal e nem superior a 5 salários
mínimos (art. 49, § 1º, do CP).
Assim, para acusados menos favorecidos, o juiz aplicará valor menor e para os mais
abastados, um valor maior. É de se lembrar, outrossim, que, mesmo sendo o valor do
dia-multa fixado no patamar máximo, pode ele se mostrar ineficaz e insuficiente diante da
imensa fortuna do réu e, em tais casos, permite o art. 60, § 1º, do Código Penal, que o juiz
triplique o valor da multa.
O objetivo buscado pelo legislador com o critério do dia-multa é punir o condenado com o
pagamento de uma multa que guarde equivalência com o valor do dia de trabalho do réu.
Quando o acusado recebe mensalmente um salário mínimo, o juiz deve fixar o valor do
dia-multa em 1/30 daquele para que haja correspondência a um dia de trabalho do acusado.
Assim, 10 dias-multa são proporcionais a 10 dias de trabalho. Por sua vez, imagine-se uma
pessoa que tenha renda mensal de 30 salários mínimos.
Significa que recebe um salário mínimo por dia de trabalho, de forma que o valor de cada
dia-multa deve ser exatamente de um salário mínimo.
Por tal razão, os juízes costumam efetuar a substituição pelo montante mínimo previsto em
lei (10 dias-multa), observando apenas a condição econômica do réu na fixação do valor de
cada um desses dias-multa.
Cumulação De Multas
Há dezenas de infrações penais em que a pena privativa de liberdade é prevista em abstrato
cumulativamente com a pena de multa, como, por exemplo, os crimes de calúnia (art. 138 do
CP), cuja pena é de detenção, de 6 meses a 2 anos, e multa, ou de furto (art. 155 do CP), em
que a pena é de reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
Suponha-se, assim, um furto simples, em que o réu seja primário e o juiz aplique pena de 1
ano de reclusão e 10 dias-multa. Discute-se, em tal caso, se o magistrado poderia substituir a
pena de reclusão por outros 10 dias-multa, e, em seguida, somá-los à outra multa
originariamente imposta, alcançando o montante de 20 dias-multa.
A maioria dos doutrinadores entende que é plenamente cabível tal procedimento por não
haver qualquer vedação à referida providência no Código Penal. Na prática, pode-se dizer
que quase todos os juízes criminais lançam mão de tal conversão.
De acordo com tal súmula, ao réu deve ser imposta a pena privativa de liberdade, ainda que
não superior a 1 ano, além da multa prevista originariamente no tipo penal.
O fundamento para a adoção desta súmula pelo mencionado Tribunal Superior é o de que as
leis especiais não preveem a possibilidade de substituição das penas privativas de liberdade
por multa. Esqueceram-se, assim, da norma contida no art. 12 do Código Penal, no sentido de
que as regras gerais do Código Penal aplicam-se às leis especiais quando não existir norma
em sentido contrário.
Pagamento Da Multa
Transitada em julgado a sentença que impôs pena de multa, os autos irão ao contador judicial
para a atualização de seu valor.
Estabelece, por sua vez, o art. 50, caput, do Código Penal que, a pedido do condenado e
conforme as circunstâncias do caso, poderá o juiz permitir que o pagamento se faça em
parcelas mensais.
Permite, ainda, o art. 50, § 1º, do Código Penal que a cobrança seja efetuada mediante
desconto no salário do condenado, se não prejudicar o seu sustento e o de sua família, se a
multa tiver sido aplicada isoladamente, cumulada com restritiva de direitos, ou caso tenha
havido aplicação de sursis em relação à pena privativa de liberdade cumulativamente
imposta. Efetuado o pagamento, o juízo decretará a extinção da pena.
Execução da multa
Pela redação originária do art. 51 do Código Penal, se o condenado não pagasse a pena de
multa, o juiz deveria convertê-la em detenção na proporção de um dia-multa por dia de
prisão.
Assim, sendo preso o sentenciado, ele poderia, de imediato, pagar a multa e livrar-se de
permanecer no cárcere ou ficar na cadeia pelos dias determinados, hipótese em que a pena
seria declarada extinta.
A Lei n. 9.268/96 alterou a redação do mencionado art. 51, estabelecendo que “transitada em
julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhe as
normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às
causas interruptivas e suspensivas da prescrição”.
Por sua vez, o art. 51 do Código Penal diz que serão observadas as normas da legislação
fazendária quanto à suspensão e à interrupção do prazo prescricional da execução da pena de
multa.
De acordo com o art. 174, parágrafo único, do Código Tributário, a prescrição se interrompe
pelo despacho do juiz que ordena a citação em execução fiscal.
Existem outras causas interruptivas, que, contudo, não guardam relação com a pena de multa,
como, por exemplo, o protesto.
Por sua vez, o juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não for localizado o devedor ou
encontrados bens penhoráveis e, nesses casos, não correrá o prazo de prescrição (art. 40 da
Lei n.6.830/80). De acordo com a Súmula n. 314 do Superior Tribunal de Justiça, “em
execução fiscal, não localizados bens penhoráveis, suspende-se o processo por um ano, findo
o qual se inicia o prazo da prescrição quinquenal intercorrente”.
Em resumo, existe um prazo de 5 anos para que seja iniciado o processo de execução da
multa no juízo das execuções criminais. Quando o juiz determina a citação do condenado,
interrompe-se referido prazo, de modo que novo período de 5 anos passa a correr. Caso o réu
não seja encontrado ou não sejam localizados bens penhoráveis, o juiz determina a suspensão
da execução por 1 ano. Findo este período, retoma-se o prazo prescricional. Se o condenado
não for mais encontrado dentro do prazo restante, decreta-se a prescrição da dívida. Se for
localizado o acusado ou bens de sua propriedade dentro do prazo de 5 anos, prossegue-se na
execução.
Nesse sentido, veja-se RE 1.159.468/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 02.07.2019. O
próprio Superior Tribunal de Justiça alterou seu entendimento não mais permitindo a extinção
da pena antes da quitação da pena de multa.
A origem da condenação à multa é penal e, por isso, não pode passar da pessoa do condenado
por força do art. 5º, XLV, da Constituição Federal.
Neste particular, não se aplica a legislação tributária que permite que a execução prossiga em
relação aos herdeiros (art. 4º, VI, da Lei n. 6.830/80). Em suma, falecendo o condenado
durante o procedimento executório, deve ser declarada extinta a pena, nos termos do art. 107,
I, do Código Penal.
De acordo com o art. 80 do Código Penal, a suspensão condicional da pena (sursis) não se
estende à pena de multa. Assim, se o réu for condenado a uma pena privativa de liberdade e
também a pena de multa, caso o juiz aplique o sursis em relação à primeira, continua o
sentenciado obrigado a pagar a multa.
De acordo com a Súmula n. 693 do Supremo Tribunal Federal, “não cabe habeas corpus
contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração
penal a que a pena pecuniária seja a única cominada”.
É que, nos termos do art. 5º, LXVIII, da Constituição Federal, o habeas corpus tutela apenas a
liberdade, o direito de ir e vir das pessoas, e a pena de multa, desde o advento da Lei
n.9.268/96 (que alterou o art. 51 do Código Penal), não pode mais ser convertida em prisão.
Assim, quanto ao crime continuado, deve ser aplicado o sistema da exasperação, mesmo no
que se refere à pena pecuniária. Nesse sentido:
O art. 42 do Código Penal é taxativo e só faz menção à detração em relação à pena privativa
de liberdade e à medida de segurança.
Dessa forma, ainda que se trate de pena de multa substitutiva (de pena inferior a 1 ano
aplicada na sentença, conforme permite o art. 44, § 2º, do Código Penal), o tempo anterior de
prisão é irrelevante.