Nessa obra de Beth O’Leary somos apresentados à Tiffy, nossa protagonista, que se encontra em uma situação alarmante. O fim de seu relacionamento com Justin a deixou sem um lugar onde pudesse morar. Em uma busca desesperada e sem muito dinheiro a jovem descobre uma inusitada solução. Um apartamento agradável por um preço aceitável pronto para morar. Há apenas um detalhe: um colega de quarto e de cama! Bom, ao menos eles não a dividem ao mesmo tempo (a princípio, claro). Leon, um enfermeiro especializado em cuidados paliativos que passa as noites inteiras trabalhando e os finais de semana na casa de sua ciumenta namorada, precisa desesperadamente de dinheiro. Seus motivos são os mais nobres possíveis, cuidar da situação do irmão que fora preso por um crime que não cometeu. O acordo é então selado, de dia o lugar pertence a ele, de noite a ela. Mesmo quarto, mesma cama.... Parece um clichê literário por excelência: só tem uma cama! O diferencial está no fato dos protagonistas não se encontrarem até quase metade do livro! O acordo de aluguel foi intermediado pela namorada, seus horários não permitem um encontro acidental, então surge um modo exótico e bem peculiar de ambos estabelecerem uma relação: post-its. Sim, os papeis adesivos coloridos. Uma mensagem aqui, um bilhete apressado ali. Avisos práticos primeiro, sutis gentilezas no interlúdio e finalmente conversas profundas e verdadeiras que geram uma conexão elementar entre duas pessoas que dividem a mesma casa, mas nunca se viram face a face. Surge conexão, suas conversas cada vez mais substanciais abordam as nuances mais elementares desses dois personagens: o relacionamento de Tiffy que aos poucos ela vai percebendo ter sido de fato tóxico, bem como o trauma de Leon com a prisão do irmão, além é claro do evidente comodismo ao qual o rapaz se aprisionou em seu relacionamento não tão amoroso. É envolvente e intrigante o modo como eles se conhecem sem se conhecer. Leon é apresentado ao estilo peculiar de Tiffy pelas roupas espalhadas que encontra na casa, sabe também de seus dotes culinários ao receber bolos como prova, e entende sua essência através de mensagens curtas rabiscadas ao acaso. A premissa é de fato intrigante. Subverter um clichê costuma ser genial. Eu não usaria essa palavra aqui. Cativante sim, fofo também, até profundo, mas não genial. Os primeiros 30% desse livro são vividos arduamente, a história demora a engatar o que se coloca como uma barreira para grande parte do público leitor. Aos determinados e fortes de espírito que passam dessa fase, resta uma boa história, com bons personagens, algo que foge a enxurrada massificada que perpassa o mundo literário contemporâneo. Há algo a mais nesse livro, algo que o faz se destacar, a alguns pode soar diferente demais, a mim, bom. Não ótimo, nem excepcional, mas sem dúvida bom. Aos que tiverem coragem e força de vontade, bem como algumas doses de determinação fica minha recomendação de um bom livro.