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Capa: Lysa Moura Designer

Revisão de Textos: Noely Pacheco do Amaral


Diagramação E-book: Hylanna Lima
Assessoria: HL Assessoria @hlassessorialiteraria

Copyright © – 2023 por Yole Quaglio

Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer
meio, sem a autorização expressa da autora que possui os direitos exclusivos sobre a versão da
obra.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98, punido pelo artigo
184 do Código Penal.

Esta é uma obra de ficção, seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares
e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Quaisquer semelhanças com
nomes, datas e acontecimentos reais são mera coincidência.
1ª Edição Dezembro 2023
Publicado no Brasil
Sumário
NOTA DE REVISÃO
NOTA DA AUTORA
SINOPSE
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
EPÍLOGO
AGRADECIMENTO
OUTRA OBRA DA AUTORA
AVALIAÇÃO
O texto aqui apresentado foi corrigido de acordo com o novo acordo ortográfico da norma
culta, porém por se tratar de uma história fictícia, o texto apresenta em determinados trechos a
linguagem informal.
O Natal dos Moretti – Entre Lealdades e Amor, é um conto da série Família Moretti, e
contará a história de Tommaso, destinado a liderar a máfia, que se vê preso em um casamento
por contrato com Aurora, uma moça inocente e isolada, que desconhece o amor e a intimidade.
Ambos já conhecidos e pais de nosso querido Vitor, protagonista do primeiro livro da série
Família Moretti – A Escolhida do Don.
Enquanto eu escrevia A Escolhida do Don, senti muita vontade de contar a linda história
de amor entre Tommaso e Aurora.
Embora ambos os livros façam parte de uma série, cada livro será protagonizado por um
casal diferente, e podem ser lidos individualmente, contudo, este livro poderá conter spoilers do
livro anterior.
Me apaixonei por este casal e amei escrever sua história. Espero que também gostem!
Boa leitura!
Yole Quaglio
Em um mundo de lealdades cruzadas e segredos sombrios, Tommaso, destinado a liderar
a máfia, se vê preso em um casamento por contrato com Aurora, filha de uma família rival.
Aurora, inocente e isolada, desconhece o amor e a intimidade. Confrontados com a
brutalidade, segredos familiares e tentativa de sequestro, eles são forçados a enfrentar a verdade
sobre suas origens.
Tommaso, entre a impaciência e o desejo por uma conexão profunda, e Aurora, lutando
contra sua timidez, embarcam em uma jornada de autodescoberta.
Será que o amor florescerá em meio ao caos, ou serão perdidos nos desafios que a máfia
impõe?
Será Aurora capaz de superar sua timidez, e Tommaso, capaz de encontrar redenção nas
sombras de sua própria natureza?
Tommaso
Ah, o Natal, uma época tão especial para celebrar com aqueles que amamos, trocar
presentes repletos de significado e honrar o amor e a vida que nos envolvem. Pode parecer
surpreendente que um homem que por tantos anos foi o Don da Cosa Nostra possa falar sobre
sentimentos tão profundos, mas após o ano que enfrentamos, torna-se inevitável.
A vitória sobre o câncer trouxe um sabor único de triunfo, mas, mais do que isso, reunir
minha família e amigos tornou-se um deleite. Ver meu primogênito assumir meu lugar, casar-se
e em breve tornar-se pai, é como saborear o doce fruto de uma missão cumprida.
O retorno de Enrico ao meu lado foi mais do que benéfico, e a estreita relação que
estamos construindo com Franco tem sido uma fonte de gratificação e alegria. Reconquistar um
amigo perdido e ganhar outro é algo que aquece meu coração.
Apesar dos inúmeros planos para o futuro, as preocupações com o cartel ainda pairam
sobre nós. No entanto, assim que conseguirmos derrubar o filho de Brunno, ansiamos por uma
viagem especial. Enrico, Milena, Steffano, Valentina, Franco, Stella, Aurora e eu planejamos um
cruzeiro pelas pitorescas ilhas gregas. Com nossos filhos adultos e independentes, pretendemos
desfrutar de momentos agradáveis entre amigos, selando a união que construímos ao longo dos
anos.
A proximidade crescente entre nossas mulheres é uma fonte de extrema felicidade para
mim. Elas se tornaram amigas inseparáveis, se reúnem regularmente para compartilhar um chá,
um lanche, ou simplesmente se perderem em suas próprias aventuras. Esses momentos não
apenas as aproximam, mas também nos proporcionam, a nós homens, preciosos momentos
juntos.
Embora tenha sido eu o único a me aposentar, o próximo mês marcará a transição de
Steffano para Pietro, que está mais do que preparado para assumir seu lugar. A mudança de
funções entre meus filhos[1] trouxe uma leveza e felicidade palpáveis.
Dante, verdadeiramente, tem se destacado de maneira excepcional no seu trabalho com
Romeo. Sua competência é inegável, e agora, está prestes a assumir o papel de subchefe ao lado
de Matteo.
Matteo, meu sobrinho, é uma figura reservada, introspectiva, mas um homem de uma
integridade inabalável. Ele tem sido um suporte crucial para Vitor em todos os momentos.
Nina, por sua vez, tem se destacado liderando as empresas legais da família. É como se
ela tivesse nascido para esse papel. A parceria estratégica com Violetta foi fundamental,
refletindo em lucros sem precedentes este ano. A contribuição valiosa de Manoella também foi
vital para esse sucesso.
Quanto a Lucca, meu sobrinho, encontrou seu lugar ao lado de Dante e Manoella, seu
destaque diário é notável. Recordo-me das preocupações que Steffano compartilhou comigo
sobre seu filho, que se sentia perdido após a faculdade. Apesar de ter sido treinado, nunca
demonstrou interesse em desempenhar um papel dentro da família. No entanto, ao unir-se a
Dante, sua luz brilhou intensamente, e seu caminho tornou-se nítido.
Vitor, de fato, tem se destacado de maneira excepcional na liderança da Cosa Nostra. O
respeito que conquistou entre nossos capos e no conselho em tão pouco tempo é uma clara
manifestação de sua dedicação e treinamento incansáveis. Desde que ele cruzou o caminho de
Violetta, tenho testemunhado um amadurecimento notável em sua personalidade. Hoje, quando
olho em seus olhos, enxergo a mesma chama de amor que vejo refletida nos meus próprios olhos
cada vez que penso em minha Aurora, a mulher que ilumina a minha vida.
Contemplar Aurora é um bálsamo para minha alma. Até hoje, não me considero digno de
seu amor, mas compreendo que este sentimento é o resultado de uma dedicação mútua.
Construímos nosso casamento sobre os alicerces sólidos do respeito, cumplicidade e amor. Após
superarmos os desafios iniciais em nosso relacionamento, o fato de estarmos onde estamos hoje é
motivo de imenso orgulho para ambos.
Ao perder-me no olhar dela, meus pensamentos voam de volta ao passado, àquela
inesquecível festa de Natal onde a vi pela primeira vez...
Tommaso
Passado
Ao completar vinte e quatro anos, eu estava no auge da minha juventude. Embora papai
fosse um homem austero, ele nunca se preocupou com minhas atividades nos momentos de
folga. Desde que eu estivesse pronto quando convocado, ele me permitia a liberdade de fazer o
que quisesse.
Obviamente, sempre fui bastante discreto, afinal, em breve assumirei o papel de Don.
Nunca fui inclinado a excessos e festas extravagantes, não que tenha vivido uma vida imaculada.
Tive minha cota de mulheres e farras, mas todas elas muito discretas. Especialmente dado o
momento no qual nos encontrávamos.
Na metade do meu treinamento, uma das maiores guerras entre máfias rivais explodiu. Os
russos, audaciosos, decidiram invadir nossos territórios na América, aproveitando-se da guerra
que a Cosa Nostra enfrentava na Itália. Acreditaram que deixaríamos nossas fronteiras
desprotegidas.
Essa guerra perdurou alguns anos e foi o estopim para que rompêssemos com a liderança
italiana e consolidássemos nossa presença em território próprio. Papai se uniu aos capos de
maior prestígio, e juntos, deram origem ao conselho, uma aliança que perdura mesmo após o
término da guerra.
Foram anos de luta, uma jornada que nos custou muitos homens. Contudo, no final,
conseguimos libertar nosso território dos russos. Hoje, erguemo-nos mais fortes do que nunca.
Papai lidera não só a Cosa Nostra na América, mas também preside o conselho.
Era final de tarde, enquanto encerrávamos o dia, papai me chama de lado com uma
seriedade em seu olhar:
— Tommaso, você se recorda que hoje é o dia de nossa festa de Natal. Você virá
conosco. É hora de se familiarizar com as responsabilidades que assumirá. Prepare-se; sairemos
em duas horas. Após o retorno, venha diretamente para o escritório, pois precisamos conversar.
— Pode me adiantar o assunto, papai?
— Não, meu filho. Depende da reunião que terei durante a festa. Vá e aproveite. Faça
contatos, mas não se esqueça de sua posição.
— Entendido! Com sua licença, vou me arrumar.
Encaminho-me para o quarto em busca de um banho e troca de roupa. Embora soubesse
da festa, preferia passar o tempo em uma de nossas boates com meus amigos. No entanto, a
responsabilidade sempre fala mais alto. Se tiver energia depois da reunião com papai, posso
considerar uma visita a boate.
Ao chegarmos na igreja onde uma missa será celebrada, todos interrompem suas
conversas, curvando-se respeitosamente a papai. Ele acena a todos e se encaminha para a frente
da igreja, onde um banco está reservado para nossa família. Eu tento parecer o mais
compenetrado possível, evitando desrespeitar qualquer pessoa.
Após a missa, reunimo-nos em um dos hotéis da família para a festa. É nesse momento
que meus olhos capturam a imagem de uma jovem deslumbrante, cabelos castanhos claros, olhos
verdes, corpo curvilíneo, a mulher mais bela que já vi. Não a reconheço das festas anteriores, o
que desperta meu lado investigador.
Junto-me a Enrico, meu melhor amigo, que está acompanhado de sua esposa. Enrico
precisou casar-se às pressas pouco depois que o avião de seus pais caiu. Papai e eu o ajudamos
em todas as formas possíveis. Mesmo após nos separarmos da Cosa Nostra italiana, algumas
regras permanecem inalteradas, como a necessidade de casamento antes de assumir o papel de
capo, e no meu caso, de Don.
Enrico sofreu muito com a morte dos pais, uma carga emocional difícil de suportar. No
entanto, não teve como fugir do casamento, e por sorte, Milena se tornou sua companheira. Ela,
uma jovem doce e sofisticada, desempenha um papel notável em acalmar a tempestade
emocional que assola Enrico.
Quando os pais de Enrico faleceram, papai e eu o ajudamos a superar a tragédia. No
entanto, ele precisou se casar às pressas para assumir o cargo de Capo. Papai o apresentou a
Milena, filha de Giacomo e Francesca Colombo, uma família proeminente e bem conceituada,
embora não pertencente ao Conselho.
— Boa noite Enrico, Milena, como estão? — Cumprimento.
— Boa noite Tommaso. — Respondem em uníssono.
— Com licença, vou me juntar às mulheres — diz Milena, afastando-se.
— Enrico, como vai a vida de casado?
— Vai muito bem Tommaso, Milena é excepcional. Ela preencheu um pouco do vazio
que eu sentia. Você sabe como é, nunca pude contar com meu irmão Brunno. Ele não é muito
afetivo.
— Sinto falta de nossas noitadas, mas se está feliz, isso me deixa contente, meu amigo.
Precisamos organizar um almoço em família. Papai sente falta da sua presença.
— Claro, Tom. É só chamar. Mas me conte, como vão as coisas?
— O mesmo de sempre. Trabalhando, treinando e me divertindo nos clubes. Não sei por
quanto tempo ainda terei essa liberdade, então pretendo aproveitar.
Faço uma pequena pausa, procurando com os olhos a linda mulher que vi há alguns
momentos e pergunto à Enrico:
— Falando em aproveitar, você conhece aquela linda jovem ali? — Aponto para a moça
que vi antes. — Nunca a vi nas festas da famiglia.[2]
— Tommaso, sinceramente, não faço a menor ideia. Também nunca a vi antes. Mas,
mudando de assunto, você está ciente de que Don Gambino está em uma reunião com seu pai?
— Porra cara, o que a Camorra está fazendo numa festa de Natal da Cosa Nostra?
— A presença do Don foi um convite especial, feito pelo seu pai.
— Agora as coisas começam a fazer sentido. Papai me convocou para uma reunião
extraordinária após voltarmos da festa. Mas não faço ideia do que possa vir a ser. Ele apenas
disse que tem algo relacionado à reunião que teria hoje.
— Pena não poder te ajudar, Tom. Seu pai não mencionou nada sobre a Camorra na
última reunião do conselho. Aliás, quando você assumirá como Don?
— Nem me fale sobre isso. Não pretendo me casar tão cedo, e você sabe como são as
regras. Não se assume antes de se enforcar.
— Não fale assim, Tom. O casamento não é tão ruim como você imagina. Veja eu e
Milena, estou muito feliz ao seu lado. Não sei como estaria se não fosse por ela.
— Está apaixonado, Enrico?
— Muito, meu amigo. Foi a melhor coisa que me aconteceu desde a morte dos meus pais.
Milena tem feito um trabalho excepcional em me acalmar.
— Perdi meu melhor amigo e companheiro de farras para uma chave de pernas.
— Mais respeito, Tom. Ela não é qualquer pessoa. Ela é minha mulher, minha família.
— Tem razão Enrico, não quis desrespeitá-la. Nem a você.
Conversamos sobre diversos assuntos, o que me distraiu por alguns momentos. Quando
olhei novamente pelo salão, em busca da linda jovem, não a encontrei mais. Pouco depois, papai
me chama para voltarmos para casa. Me despeço de Enrico e sigo com papai e mamãe de volta
para casa.
Ao chegarmos em casa, seguimos direto para o escritório.
Tommaso
— Vamos conversar, Tom. Sente-se — diz papai, com um semblante sério.
— Como você deve saber, estava em reunião com Don Gambino. Vou te contar um
pouco de nossa história para que você compreenda o caminho que estamos prestes a trilhar.
— No desfecho da nossa guerra contra a Bratva, eles se refugiaram no território da
Camorra. Necessitei contatar Riccardo para adentrar o seu território e erradicar de vez os
dissidentes. No entanto, ele próprio estava sofrendo ataques por parte da Bratva.
— Unimos forças e conseguimos eliminar todo o contingente que restava. Até aqui, você
conhece a história. Mas o que todos desconhecem é que, em um dos ataques, ficamos face a face
com o filho de um dos chefes da Bratva, Andrey Ivankov. Riccardo, para salvar minha vida,
acabou tirando a vida dele.
— Estava tudo bem até que, algumas semanas atrás, Riccardo começou a receber
ameaças dos russos, bem como alguns ataques às suas mercadorias. Eles querem vingar a morte
do filho de Ivankov.
— Riccardo entrou em contato comigo em busca de ajuda, e marcamos esta reunião hoje.
Meu filho, serei direto e objetivo, como sempre fui. — Nós vamos apoiar a Camorra nessa luta
contra os russos. Devo minha vida a Riccardo, e há mais uma coisa...
Papai se levanta e senta-se a meu lado. Com aquele olhar que diz, não tente me
desobedecer, diz:
— Você vai se casar com a filha dele, Aurora. No sábado, faremos o jantar de noivado, e
o casamento acontecerá daqui a um mês. Esta é a nossa decisão, Tommaso, sei que é uma carga
pesada, mas confio que você saberá lidar com isso.
— Como é que é? Não entendi. — Minha perplexidade transparece na voz.
— Entendeu sim, Tom. Você se casará com Aurora Gambino dentro de um mês, e nós
vamos apoiar a Camorra contra os russos.
— Porra pai, tudo bem em apoiá-los, mas me casar? Nem sei quem é a moça. Não estou
preparado para dar esse passo. Acabei de completar vinte e três anos, estou no auge da minha
juventude, tenho muito a aproveitar.
— Está feito, Tom. Não voltarei atrás na minha palavra. Trate de encontrar um lindo anel
para sábado. Agora, vou descansar. — Diz papai, me deixando sozinho no escritório.
A notícia do casamento desce sobre mim como uma sentença, um fardo que me é imposto
sem chance de resistência. A raiva fervilha dentro de mim, mas não posso ir contra uma decisão
do meu próprio pai, o Don.
O peso da decisão se instala, deixando-me sufocado entre deveres para com a máfia e
desejos pessoais. O futuro, o casamento, que parecia tão longínquo, agora se estreita em um
caminho predestinado, e as emoções se misturam em um turbilhão de descontentamento,
resignação e uma pontada de tristeza por ver minhas escolhas serem atropeladas pelos desígnios
da famiglia.
Saio do escritório muito puto, tentado a descontar minha frustração no primeiro que
cruzar meu caminho. Com essa notícia sufocante, a vontade de ir à boate se desfaz em questão de
segundos. Subo ao meu quarto e visto uma roupa de treino. Ao me encaminhar para a academia,
encontro dois soldados e os chamo para me acompanharem.
Ao adentrar a academia, peço que ambos se desarmem e se preparem para uma luta.
Inicialmente, eles permanecem paralisados até que um deles, reunindo coragem, questiona se
fizeram algo errado. Explico que preciso treinar minhas habilidades de combate e que eles devem
usar todo o conhecimento que possuem para tentar me derrubar.
No centro do tatame, ambos hesitam enquanto avanço para atacá-los. No entanto, não
reagem, aumentando minha irritação, levando-me a gritar:
— É assim que se comportam contra os inimigos? Venham, me mostrem do que são
capazes.
Com algum temor, ambos avançam, mas minha destreza e treinamento superior me
conferem uma vantagem evidente. O primeiro soldado tenta um soco rápido em direção ao meu
rosto, mas consigo desviar habilmente e contra-atacar com um golpe preciso em sua barriga. Ele
recua, momentaneamente atordoado.
O segundo soldado, vendo o colega vacilar, parte para cima com um chute lateral. Ágil,
eu bloqueio o golpe com os antebraços e respondo com uma série rápida de golpes, tirando-lhe o
equilíbrio. Ele cai de joelhos, momentaneamente vulnerável.
Em questão de minutos, vejo os dois caídos no chão, ofegantes e derrotados. Decido
avançar sobre o primeiro, pronto para finalizar com um golpe decisivo, quando sou surpreendido.
Uma mão forte segura meu pulso, interrompendo meu ataque, e uma voz calma ressoa no
ambiente tenso da academia.
— Basta, Tommaso.
Volto-me para encarar meu irmão, a expressão firme indicando que a lição foi dada.
Mesmo em meio à frustração e raiva, é impossível ignorar a força da autoridade de Ste.
— O que está fazendo Tom? — Steffano questiona, sua voz carregada de preocupação.
— Não se envolva, Ste. Preciso lutar. — Digo, rangendo os dentes, minha frustração
palpável.
— Se acalme, irmão. Vamos conversar.
— Eu adoro conversar contigo, mas nesse momento, preciso de sangue em minhas mãos.
Steffano faz um sinal aos soldados que saem rapidamente, nos deixando a sós.
— O que aconteceu para você ficar desta forma, irmão? Papai ficou preocupado e me
ligou para vir te encontrar.
— Ele te contou o que fez, irmão?
— Não, Tom, ele apenas me pediu para ser rápido. Mas me diga você, qual o problema?
— Porra, irmão, daqui a um mês, vou me casar com a filha de Don Gambino. Sábado será
o noivado. — Expresso desanimado.
— E qual o problema, Tom? Casamentos na máfia são feitos por acordos, desde sempre.
Acha que conosco seria diferente? Cabe aos noivos optar por serem felizes ou viverem brigando.
— Eu sei disso, irmão. Mas o papai poderia ter falado comigo antes, ter ao menos me
apresentado à moça. E se ela for feia, desequilibrada ou coisa pior.
— Você acha que papai faria uma coisa dessas, Tom? Papai pode ser austero, bravo,
intransigente, mas uma coisa, não podemos negar. Ele nos ama à sua maneira. Jamais faria algo
que nos prejudicasse.
— Você tem razão, Ste. Confio em nosso pai, só não confio em mim. Caralho irmão,
casamento é coisa séria e é para sempre. Essa ideia de ser "felizes para sempre" é uma ilusão que
eu nem sei se estou pronto para enfrentar.
— Eu sei, irmão, e como sei. Gostaria que o "para sempre" nunca acabasse. — Steffano
comenta, soltando um suspiro carregado de nostalgia.
— Me desculpa, Ste. Não era minha intenção trazer à tona lembranças dolorosas.
— Tudo bem, Tom. Já faz quase quatro anos que ela se foi. Mas eu ainda sinto, aqui
dentro, ela viva e alegre como sempre foi. — Steffano responde, esfregando o peito, na região do
coração, suas palavras carregadas de saudade e amor.
— Por falar nisso, como está Matteo?
— Daquele jeito dele. Introvertido como sempre, mas presta atenção em tudo. — Steffano
responde, e ao mencionar a peculiaridade do filho, uma sombra de preocupação paira sobre seus
olhos. — Não sei o que seria de nós sem a mamãe.
— Mamãe é realmente formidável. Devemos muito a ela.
— E a papai também, Tom, nunca se esqueça disso. Se ele te entregou uma noiva, pense
pelo lado positivo. Ela pode ser uma mulher incrível. Apenas aproveite, faça o seu melhor e
desfrute do casamento. Estarei ao seu lado, sempre que precisar.
— Porra, cara, você é o cara mais fenomenal que já conheci, Ste. Agradeço. Mas agora,
volte para sua casa e vá cuidar do meu sobrinho. Já estou mais calmo. Vou tentar dormir um
pouco.
Nos abraçamos e cada um vai para seu lado. Steffano é um jovem extraordinário. Perder a
mulher no parto aos dezessete anos e ainda cuidar praticamente sozinho do filho não é para
qualquer um. Ele poderia se perder, se revoltar, mas por mais louco que seja, meu sobrinho o
salvou dele mesmo.
Hoje vejo o Steffano de antes, centrado, observador, amoroso e perspicaz. Será meu
conselheiro, assim que eu assumir. Ele merece o lugar, e sei que poderei contar com seu apoio
incondicional.

Ao atravessar os limiares da boate, as luzes intermitentes não apenas iluminam o


ambiente festivo, mas também projetam a turbulência do meu estado de espírito. Essas incursões
no local têm se tornado mais frequentes do que o habitual, representando uma busca incessante
por companhia capaz de momentaneamente dissipar da minha mente o compromisso de
casamento iminente. No entanto, mesmo imerso nessa tentativa de fuga, a revolta interna persiste
como uma tempestade emocional que parece não ter fim. Rostos desconhecidos proporcionam
uma breve distração da iminente sombra do casamento; no entanto, a figura enigmática da
mulher misteriosa continua a ser uma presença que se entrelaça com meus pensamentos mais
profundos.
Entre minhas idas às boates e ao clube de luta, em meu tempo livre, desabo em busca de
consolo no único confidente que tenho, meu amigo Enrico. Vou à casa dele e nos refugiamos em
seu escritório. Começo a despejar toda minha frustração contida, a raiva que me consome e a
sensação de ser um peão em um jogo que não escolhi jogar. Até que chego ao ponto principal, a
mulher misteriosa. Ela mexeu comigo de uma forma que jamais imaginei, uma inquietação
emocional que desafia a lógica e deixa-me vulnerável diante de algo que foge ao meu controle.
— Porra Enrico, o problema é que não consigo tirar a mulher misteriosa de meus
pensamentos. Você acha que pode ser loucura eu achar que a estou traindo?
— Cara, para de pirar, você nem sabe quem é ela, e se ela for casada, ou já esteja
comprometida. Na minha opinião, você está usando isso como forma de fugir do compromisso
que seu pai te impôs.
— Pode até ser, mas a mulher misteriosa... ela mexe comigo de uma forma que eu não
esperava. Estou confuso, Enrico. Como posso ter certeza sobre meu futuro?
Enrico me olha, com seu olhar perspicaz refletindo uma compreensão profunda.
— Tommaso, o coração tem suas razões, e às vezes, seguir os sentimentos mais
profundos é a única maneira de encontrar a verdade. Sua noiva pode ser um mistério a ser
desvendado, você ainda não a conhece, e se ela for muito melhor que essa mulher misteriosa?
— Você tem razão Enrico, acho que no fundo, estou ansioso com a perspectiva do
casamento e estou arrumando desculpas para não enfrentá-lo.
Deixamos de lado o tema casamento e conversamos mais algum tempo, até que deixo sua
casa. A caminho de casa, absorvo as palavras de Enrico, cada conselho penetrando no cerne das
minhas incertezas. Enrico sempre oferece conselhos sábios em meio ao turbilhão de emoções.
Já era sexta-feira, véspera do meu noivado. Estava mergulhado em uma ansiedade fora do
comum, os pensamentos conflitantes e a revolta que me assolavam pareciam crescer a cada
segundo. Após finalizarmos o dia, decido buscar alívio na casa do meu irmão, na esperança de
encontrar conforto.
Ao desabafar e compartilhar com ele todas as minhas dúvidas e conflitos, meu irmão,
com sua sabedoria nata, me envolve em um abraço de compreensão. Suas palavras, carregadas
de empatia, ecoam como um bálsamo para minha alma inquieta.
— Tommaso, será que a mulher misteriosa não é uma muleta que você está usando para
evitar encarar o casamento de frente? Cada detalhe pode parecer sedutor quando é envolto em
mistério, mas será que ela não é apenas uma fuga, uma sombra na qual você se esconde das
responsabilidades iminentes?
— Steffano, pode até ser, mas ela é incrivelmente atraente. Não consigo esquecê-la, é
como se sua presença fosse uma constante na minha mente, uma força magnética que me arrasta
para longe do destino.
— Irmão, meu melhor conselho para você é: Conheça sua futura noiva, dê uma chance
para que vocês sejam felizes. Você sabe que a palavra de papai não tem volta. Às vezes, nos
confins do desconhecido, encontramos surpresas que iluminam nosso caminho.
— Não tenho outra opção, Ste. Você tem razão. Acho que estou sofrendo por
antecipação. Obrigado pelo conselho.
Conversamos por mais alguns momentos, e depois saio em busca de aplacar toda minha
revolta. Vou ao clube de lutas, na esperança de encontrar uma válvula de escape para as emoções
tumultuadas que me consomem.
A névoa noturna abraça o clube clandestino, um lugar onde as sombras dançam ao ritmo
dos punhos cerrados e das multidões sedentas por adrenalina. Ao entrar no ringue, sinto a energia
eletrizante da plateia, ansiosa por testemunhar a dança brutal que está prestes a se desenrolar.
Meus punhos, envoltos em bandagens ásperas, estão prontos para a batalha. Encaro meu
oponente, uma figura imponente com olhos calculistas que refletem a promessa de dor e glória.
O sino ressoa, marcando o início da dança sangrenta.
O primeiro golpe corta o ar, um cruzado de esquerda que busca marcar território. Meu
oponente responde com um gancho preciso, um aviso de que esta não será uma luta fácil. A
multidão ruge, os gritos eufóricos alimentando a atmosfera carregada do tatame.
Cada movimento é calculado, cada esquiva uma dança fugaz entre a agressão e a defesa.
Meus punhos tornam-se extensões da minha vontade, desferindo golpes rápidos e precisos. Um
chute atinge o abdômen do oponente, mas ele revida com uma sequência veloz, testando minha
resistência.
No calor da batalha, sinto o gosto metálico do sangue enquanto um soco direto atinge
meu lábio, dividindo-o. A dor é um eco distante, uma lembrança de que nesta dança brutal, cada
movimento tem seu preço. Mesmo ferido, mantenho a determinação, um guerreiro decidido a
resistir.
O tatame se transforma em um campo de batalha, os espectadores se tornam sombras em
meio à intensidade da luta. Meu oponente avança com ferocidade, mas contra-ataco com um
uppercut devastador. A plateia vibrante se torna minha trilha sonora, um coro de aprovação
diante da coreografia sangrenta que se desenha.
No ápice da luta, desfiro o golpe final, um cruzado de direita que reverbera pelo ringue.
Meu oponente cai derrotado, um troféu conquistado em uma dança brutal de força e estratégia. A
plateia explode em aplausos, uma sinfonia caótica de reconhecimento.
Enquanto saio do ringue, o sangue escorrendo e os músculos latejando, sinto-me vivo. O
clube de lutas clandestino é meu refúgio momentâneo, um lugar onde as complexidades da máfia
se dissipam na brutalidade física. A noite testemunhou minha resiliência, uma prova de que,
mesmo nas sombras, posso emergir como um vitorioso.
E assim, entre me embriagar, sair com mulheres aleatoriamente e entrar nas lutas no
clube, minha semana passa e o fatídico dia de meu noivado chega.
Aurora
Minha vida foi, de certa forma, formada na solidão, um isolamento rigoroso imposto por
pais austeros. Sem a permissão de explorar além dos muros da mansão, eu estudava com tutores,
minha única companhia. Amigos eram uma ideia distante e proibida, e até mesmo os jardins da
casa eram um território inexplorado.
Essa vida de poucos contatos sociais me transformou numa completa estranha no meu
próprio universo. Para mim, qualquer par de olhos desconhecidos representa uma ameaça em
potencial, e a simples presença de estranhos acende uma ansiedade que só cresce com o tempo.
Nunca soube me comportar na frente de estranhos. Nem sei como é isso, porque nunca
precisei encarar essa situação. Sair de casa é uma missão impossível segundo os planos dos meus
pais.
Não entendo por que me tratam desse jeito. Afinal, meu irmão mais velho, o Carlo,
sempre tem a liberdade e atenção total do papai.
Desde cedo, Carlo foi seu inseparável companheiro. Atualmente, trabalham juntos, e sei
que papai está treinando meu irmão para assumir o seu lugar. Conheço bem os desafios desse
caminho; já testemunhei meu irmão retornando, diversas vezes, ferido e ensanguentado. No
entanto, no dia seguinte, lá estava ele, ao lado de papai.
Mamãe, por outro lado, nunca teve voz em nossa casa. Seu olhar sempre baixo e sua fala
restrita ao permitido. Assim como eu, somos duas mulheres submissas a papai, criadas sob o
rigor da máfia napolitana. Se me questionarem sobre a história de nossa família, poderia resumir
em uma única linha, pois os assuntos da máfia são proibidos na presença de mulheres.
Nós somos a família mais poderosa da Camorra na América e mesmo assim, nunca
desfrutei da liberdade para expressar qualquer opinião, apenas concordar com as imposições.
Aurora, estude! Aurora coma! Aurora, não olhe as pessoas nos olhos. Mantenha seus
olhos baixos e não fale com ninguém sem a minha autorização. E assim prossegue.
Lembro-me de minha infância, quando adorava conversar. No entanto, à medida que
crescia, meus pais moldavam-me para controlar meus modos. Passei a evitar falar se não fosse
chamada e a não me intrometer em conversas alheias.
Minha verdadeira paixão é tocar piano e ler. Pelo menos nessas duas atividades, posso
encontrar refúgio sem ser incomodada. Aos dezoito anos, ao concluir o High School,[3] fui
obrigada a interromper meus estudos, já que não é permitido às mulheres da máfia frequentar a
faculdade.
Essas imposições moldaram não apenas minha educação, mas também minhas escolhas e
aspirações.
Era um sábado após o almoço, imersa em minha leitura, quando mamãe irrompe meu
quarto com um vestido elegante e um par de sapatos em mãos. Ao me entregar as peças, ela diz:
— Aurora, hoje haverá uma festa de Natal e seu pai exige sua presença. Vista este vestido
e calce esses sapatos. Voltarei para buscá-la em duas horas, esteja pronta.
— Sim, senhora. — Respondo, sem compreender totalmente por que fui convocada para
acompanhá-los. Contudo, ciente de que respostas não serão dadas, decido não questionar. Sigo
meu ritual habitual, tomo um banho rápido, visto a roupa e arrumo meus cabelos.
Estou finalizando o penteado quando mamãe entra, impecável e elegante, trazendo uma
caixa em suas mãos:
— Aurora, nem preciso fazer recomendações, certo? Mantenha-se ao meu lado, evite
encarar as pessoas e não abra a boca.
— Sim, mamãe, pode confiar em mim.
— Venha, use este meu colar. Quando voltarmos, me devolva.
— Sim, senhora.
Nunca antes havia deixado a casa, e ao chegar em um local cheio de gente, com vozes
sobrepostas e música alta, sinto-me completamente perdida. Tenho uma vontade imensa de
observar cada canto e cada pessoa, mas sigo à risca as orientações de meus pais.
Através dos meus cílios, consigo vislumbrar discretamente as pessoas movimentando-se
ao redor, conversando entre si. Por alguns instantes, uma pontada de inveja pelas suas liberdades
perpassa meu pensamento, embora nunca pudesse admitir isso a alguém.
Num dado momento, experimentei um arrepio na nuca, uma sensação inédita que me
deixou bastante assustada. Contive-me para que ninguém percebesse meu desconforto,
especialmente mamãe, cujos olhos permaneciam fixos em mim. Entretanto, ela é chamada por
alguém, proporcionando-me alguns preciosos momentos de liberdade do seu olhar vigilante.
Aproveitei para observar o ambiente ao meu redor, mantendo minha cabeça baixa para não atrair
atenção. Foi então que reparei nas pessoas à minha volta e, ao fundo, vislumbrei o homem mais
lindo que já cruzara o meu olhar.
Nesse instante, meu coração acelera de uma forma que nunca havia experimentado antes.
Uma mistura de nervosismo, curiosidade e um toque de encantamento tomam conta de mim.
Mesmo diante das restrições impostas, uma pequena faísca de desejo por mais liberdade e uma
vontade intensa de saber mais sobre aquele homem surgem em meu peito, criando uma agitação
emocional que, até então, me era desconhecida.
De forma discreta, noto que ele mantém os olhos fixos em mim. Muito encabulada,
desvio o olhar rapidamente para que ele não perceba minha observação, focando agora no
guardanapo que tenho em mãos. A presença dele provoca uma mistura de emoções, uma
combinação de nervosismo e fascínio. Enquanto tento esconder minhas emoções, papai retorna,
chamando-nos de volta para casa.
Ao adentrar a casa, percebo que algo está diferente. Papai me chama para acompanhá-lo
até o escritório, algo que nunca aconteceu antes. Uma sensação de apreensão toma conta de mim,
e meu coração começa a bater mais rápido.
Ao sentar-me diante dele, o olhar sério de papai aumenta ainda mais minha inquietação.
Ele solta as palavras como um decreto, revelando um destino que não escolhi. O anúncio do
casamento com Tommaso Moretti, herdeiro dos Moretti, ecoa em meus ouvidos como uma
sentença. O futuro Don da Cosa Nostra será meu marido, e um jantar será realizado para
oficializar essa união indesejada. A notícia é avassaladora, e mamãe, já ciente, está ocupada
organizando os preparativos, incluindo meu enxoval. A data do casamento está marcada daqui a
um mês.
A mistura de choque, medo e desamparo me paralisa. Sinto que não tenho voz, que
minhas vontades são ignoradas. Meu coração, antes tranquilo, agora pulsa em descompasso
diante do inesperado que se desenrola diante de mim.
A surpresa e o desconcerto tomam conta de mim, deixando-me sem palavras diante das
determinações de meu pai. Enquanto encaro-o, baixo meus olhos rapidamente em sinal de
respeito, especialmente quando ele intensifica seu tom:
— Fui claro, Aurora?
— Sim, senhor, — respondo quase sem voz.
— Pode se retirar. — Diz papai, visivelmente irritado.
Deixo o escritório, segurando as lágrimas que ameaçam escapar, mas não demoro a ser
abordada por mamãe. Ela anuncia que providenciará todos os itens necessários para meu
enxoval, inclusive a roupa que usarei no jantar de noivado. A tristeza se apossa de mim, pois
percebo que, em momento algum, fui consultada sobre esse assunto tão crucial em minha vida.
Sinto-me incrivelmente sozinha e desamparada diante das decisões que moldam meu destino.
Mesmo assim, não questiono nada. Aprendi, de maneira dolorosa, que mendigar atenção ou
carinho dentro desta família é inútil. Esses são meus pais, e sei que não vão mudar. A única
esperança que me resta é que meu futuro marido seja menos austero e compreensivo com o que
sinto.
Tommaso
Sábado chega, carregando consigo uma ansiedade palpável. Durante a manhã, mantenho-
me imerso no trabalho, tentando encontrar alguma distração, mas à medida que a tarde se
desenrola, as incertezas e questionamentos voltam com força total.
Na academia, busco alívio através da exaustão física, mas a angústia persiste. Ao subir
para meu quarto para me arrumar, uma batida na porta interrompe meus pensamentos. Já
reconhecendo o som como sendo de meu pai, convido-o a entrar, sabendo que a conversa que se
seguirá só aumentará a tensão que me consome.
— Tom, preparado?
— Papai, não, mas não tenho opção, não é mesmo? Pode ficar tranquilo, sei das minhas
obrigações e farei o meu melhor. — Digo, um tanto irritado.
Internamente, admito que não estou preparado para isso. Esta situação toda é complicada,
e farei o meu melhor, embora tudo isso me cause uma mistura de desconforto e resignação. Não
posso ignorar o fato de que não tenho controle sobre as decisões que moldam meu futuro.
— Não me culpe, Tommaso. Fiz o melhor por você. Sei que vai gostar de Aurora. — Diz
papai, buscando transmitir uma segurança que, no fundo, também carrega um leve toque de
apreensão
— Como pode ter tanta certeza? Nem a conheço. E se, por acaso, ela não for do meu
gosto, papai? E se ela for desorganizada, com pensamentos caóticos? — A incerteza me
consome, e a ideia de entrar nesse compromisso às cegas gera um desconforto que mal consigo
expressar.
— Ei, se acalme meu filho. Eu conheci a moça e posso te dizer que é muito bonita e
educada. Pouco falou, mas não tem problemas mentais, pode ficar tranquilo quanto a isso.
— Como assim, o senhor a conheceu e nem nos apresentou? — Penso, com uma pontada
de frustração se infiltrando em seus pensamentos.
A ideia de que papai, mesmo tendo tido a oportunidade, não me apresentou àquela que
agora será minha noiva, gera um desconforto sutil, uma sensação de ser deixado de fora de algo
crucial. Internamente, questiono-me sobre o motivo de tal decisão, enquanto uma sombra de
insegurança paira sobre meus sentimentos.
— Ela estava na festa de natal na semana passada. E só não te apresentei pois Riccardo
não permitiu. Mas eu sei que você gostou muito do que viu. Soube que não tirou os olhos dela.
— Como assim, papai? Como ela é? — Pergunto, a dúvida e a ansiedade misturam-se em
minhas palavras.
Penso ansioso: será que minha noiva é a moça que povoou meus pensamentos durante a
semana inteira? A incerteza paira no ar, e a expectativa de finalmente conhecer o rosto por trás
dos meus devaneios se mistura a um nervosismo crescente.
— Ei, se acalme, logo vai saber. Comprou o anel?
— Sim, papai. Um lindo, por sinal. Espero que caiba. — Orgulhoso, exibo o belo anel. O
brilho na expressão de papai é palpável.
— Uau, meu filho! É magnífico e vai combinar perfeitamente com ela. Venha, vamos
descer; eles já devem estar chegando.
Tão logo adentramos a sala, somos alertados sobre a chegada dos Gambino. Papai
apressa-se para abrir a porta, enquanto eu me uno a Steffano e Enrico, apoiados no bar, com um
copo de whisky na mão. O ambiente exala uma mistura de expectativa e tensão, aguardando o
encontro que definirá meu destino.
— Ansioso Tom? — Pergunta Enrico.
— Sim, mas papai me falou uma coisa estranha. Disse que minha noiva estava na festa de
Natal e que não tirei os olhos dela. Será que é a mulher misteriosa? — Confesso, sentindo um
misto de curiosidade e apreensão.
As palavras de meu pai ecoam, criando uma conexão entre a presença da mulher
misteriosa e os pensamentos que ocuparam minha mente durante toda a semana.
— Vamos saber agora, meu amigo. Veja com seus próprios olhos. — Diz Enrico, com um
sorriso nos lábios, tentando aliviar a tensão que permeia o momento.
Quando me viro, meus olhos não podem acreditar. A mulher misteriosa que povoou meus
pensamentos durante toda a semana é ninguém menos que minha noiva. Avanço cautelosamente
em sua direção, meu coração batendo mais rápido do que nunca, aguardando que as
apresentações sejam feitas. Neste instante, as obrigações impostas pela tradição se mesclam aos
sentimentos inesperados que começam a florescer diante da descoberta surpreendente.
Quando chega a vez dela, percebo que mal olha nos meus olhos. Apenas levanta a cabeça
rapidamente e abaixa o olhar. O comportamento dela me parece estranho, e uma sensação de
desconforto se instala.
Todos nos sentamos na sala para uma conversa, mas logo papai nos chama para o
escritório, deixando as mulheres conversando na sala.
Adentramos o escritório e papai indaga o Don Gambino.
— Como foi a semana Riccardo? Alguma novidade? Algum ataque?
— Até que foi tranquila. Como não tive remessas, não houve ataques, e para vocês?
— Como conversamos semana passada, não fomos atacados, e recebemos duas remessas
nestes dias. Você sabe que o alvo é sua famiglia não é?
— Sim, Lorenzo, mas a partir da semana que vem, fiquem atentos. O anúncio do
casamento de nossos filhos pode mudar o foco deles.
— Estou ciente Riccardo. Mas tenho algo preparado. Os Ivankov terão uma bela surpresa.
Fico surpreso ao ouvir isso, papai não compartilhou nada comigo. Olho para Steffano que
faz cara de paisagem e com isso, sei que meu irmão está ciente dos planos de papai. Apenas olho
para papai que entende meu desconforto, mas não diz nada. A cumplicidade silenciosa entre nós
é palpável, carregada de obrigações e segredos que moldam o curso da nossa realidade.
Conversamos sobre mais alguns pontos do acordo e voltamos para a sala.
Mamãe nos convida para o jantar, e depois de todos servidos, peço a palavra, levantando-
me. Me dirijo ao Don Gambino e, educadamente, expresso:
— Don Gambino, estamos reunidos hoje para o jantar de noivado entre mim e sua filha
Aurora. Me concede a honra de desposá-la?
— Sim, Tommaso, é de minha vontade que minha filha se case com você.
Fico de frente para Aurora, e ajoelhando, digo:
— Aurora, aceita se casar comigo? Prometo proteger a você e aos nossos futuros filhos
com minha vida, se for preciso.
Enquanto aguardo sua resposta, não tiro os olhos dela, mas em momento algum ela os
dirige para mim, e sim ao seu pai, que com um leve aceno de cabeça concorda com a filha.
Ela me olha rapidamente, concorda com a cabeça. Mesmo sendo teimoso, continuo
ajoelhado, aguardando suas palavras, que não vêm. Já sem paciência, digo baixinho:
— Ainda não ouvi seu consentimento.
Ela me olha assustada e totalmente corada, pigarreia e diz com uma linda voz, porém
muito baixa:
— Sim, eu aceito senhor.
Essa resposta me atinge de mil maneiras. O que será que ela pensa que eu sou? Um
carrasco? Para manter as aparências, peço sua mão e coloco o anel em seu dedo, ao mesmo
tempo em que faço um leve carinho em sua palma. Sinto-a se retrair, mas é bem educada e não
deixa que ninguém perceba. O fio tênue entre o protocolo e as emoções começa a se esticar,
deixando-me intrigado sobre o que se esconde por trás do véu de cortesia e formalidade.
Sento-me ao seu lado, e a refeição tem início. Contudo, em nenhum momento, ela ou a
mãe proferem uma palavra. Mantêm a cabeça baixa durante todo o tempo, e suas porções de
comida são mínimas. Este comportamento peculiar me deixa desconfortável, mas diante da
situação, sinto-me impotente para intervir.
Mamãe, percebendo o constrangimento, pergunta à senhora Gambino como serão os
preparativos do casamento, se colocando à disposição para ajudá-la. Ela responde o mínimo, em
uma voz tão baixa que mal ouço do outro lado da mesa.
Ao término do jantar, nos dirigimos à sala, onde um café é servido às damas e um licor a
nós. Aproveito que papai está conversando com Don Gambino e seu filho, e chamo Enrico para
um canto.
— Você percebeu as atitudes estranhas das mulheres Gambino?
— Percebi Tom, e me assustei. Elas parecem submissas demais.
— Exatamente, isso não é normal. Preciso entender o que está acontecendo, mas parece
que minha noiva tem medo de mim. Não falou uma palavra se não a que exigi pelo
consentimento. Muito estranho isso, meu amigo.
— O jeito é tentar conversar com ela durante o mês e entender o que está acontecendo.
Aproveite que o Don está sozinho e peça permissão para visitar sua noiva.
— Você tem razão, Enrico. — Falo já me encaminhando para meu futuro sogro.
— Senhor, gostaria de sua permissão para visitar minha noiva enquanto nosso casamento
não acontece.
— Se acalme rapaz, vocês terão a vida inteira para se conhecer. Aguarde o casamento,
sim. — O tom do Don Gambino é firme, mas há algo sutil em seu olhar que sugere que há mais a
ser descoberto. O véu de mistério que envolve minha noiva parece se estender à própria família,
deixando-me com uma intriga crescente sobre os segredos que espreitam por trás das aparências.
A negativa de Don Gambino dispara alertas em minha mente. "Não posso visitar minha
noiva?", questiono-me. Respeitar sua decisão é essencial; afinal, é o pai dela. Sinto meu peito
apertar, mesclando a ansiedade por conhecer Aurora à frustração e à sensação de impotência
diante da recusa. Faço uma nota mental para abordar o tema com papai quando possível,
desviando minha atenção para evitar que a frustração tome conta do momento.
Logo papai se junta a nós e para meu alívio, engata em uma conversa com meu sogro, me
deixando de lado. Avisto Steffano caminhando em direção aos jardins e me aproximo dele,
dizendo:
— Já vai fugir para casa, irmão?
— Sim, Tom, não quero deixar Matteo sozinho por muito tempo; ele está um pouco
adoentado. Mas posso ver as engrenagens se movendo dentro de sua cabeça. Posso te ajudar de
alguma forma.
— Ste, vá ficar com Matteo. Amanhã vou até sua casa pela manhã, e conversamos. Não
se preocupe com nada. E me chame se precisar de ajuda com meu sobrinho.
Aurora
Assim que chegamos na casa dos Moretti, meu coração acelera, minhas mãos suam. Sinto
minha boca completamente seca, sei que estou muito nervosa, mas tento me acalmar o máximo
que posso diante da grandiosidade do que vai acontecer.
Assim que somos apresentados, levanto levemente minha cabeça, afim de saber quem
será meu marido e para minha surpresa, meu noivo é o rapaz que não tirava os olhos de mim
durante a festa de natal da semana passada. Fico mais encabulada do que já estava, mas logo o
mal estar passa e somos direcionados a uma sala. Assim que nos sentamos, os homens nos
deixam e vão se reunir provavelmente no escritório, deixando-nos na sala com nossa anfitriã.
Minha futura sogra parece ser uma pessoa muito agradável, puxa conversa comigo e com
mamãe o tempo todo, mas como fui ordenada, me mantenho calada com os olhos para baixo.
Em um dado momento, uma moça que foi apresentada como Milena, senta-se ao meu
lado e começa conversar comigo. Olho rapidamente para mamãe que acena me instigando a
conversar com a moça.
Ela é muito agradável e simpatizo imediatamente com ela, contudo, tento refrear ao
máximo nossas interações, antes que mamãe me chame a atenção. Logo os homens voltam e
somos direcionados à sala de jantar. A cada passo que dou, meus batimentos cardíacos aceleram
mais. A ansiedade me corrói pois sei que, em alguns minutos passarei a ser a noiva de Tommaso
Moretti, o futuro Don da Cosa Nostra. Não sabendo como me comportar, mantenho meus olhos
baixos e o silêncio, que já são meus companheiros desde sempre.
Tommaso pede minha mão a papai que consente, mas para minha surpresa, ele se vira
para mim e ajoelhado, diz:
— Aurora, aceita se casar comigo? Prometo proteger a você e aos nossos futuros filhos
com minha vida, se for preciso.
Fico sem reação, assustada, olho para papai que acena com a cabeça, como se dizendo
para que eu aceite o pedido. Eu aceno em concordância, mas o senhor Tommaso não aceita isso
como resposta e depois de um tempo, que para mim parece ser longo demais, diz:
— Ainda não ouvi seu consentimento.
Assustada, olho para ele e sei que estou totalmente corada, pigarreio e digo:
— Sim, eu aceito senhor.
Ele me olha com uma cara confusa, mas logo pede minha mão para colocar o anel de
noivado, quando nossas mãos se tocam, sinto como se um choque elétrico percorresse por todo
meu corpo, meu coração acelera um pouco mais e como se não fosse constrangedor como está
sendo, minhas mãos começam a suar. Ele mantém sua mão na minha e faz uma leve carícia em
minha palma, soltando-a logo depois e sentando-se ao meu lado.
Completamente encabulada, baixo minha cabeça e foco meu olhar no guardanapo em
meu colo. O jantar segue com os homens conversando abertamente, assim como senhora Bianca
e Milena. O tempo se arrasta, mal toco na comida, com medo de engasgar tamanha minha
aflição, mas mantenho minha mente vazia, os olhos baixos e o silêncio, até que o jantar finaliza e
vamos para a sala para um café, que mal toco.
Depois de um tempo, nos despedimos cordialmente e seguimos para casa. Durante o
caminho, seguimos mudas enquanto papai e Carlo conversam entre si. Já me acostumei com seu
jeito. Mamãe nem olha em minha direção, mantendo sua cabeça baixa e olhar perdido como
sempre.
Tenho tantas dúvidas, tanto medo que não sei como expressar, mas como sempre, não
posso abrir minha boca. Fecho os olhos por alguns momentos, me lembrando do rosto lindo de
meu noivo, pelo pouco que pude observar, ele é um homem muito alto, deve ter por volta de um
metro e noventa, cabelos negros, olhos azuis, nariz adunco, constituição forte e cílios longos
como os do pai. Um homem muito bonito por sinal.
Penso no que senti quando ele tocou minhas mãos e sinto o sangue subir para meu rosto,
tentando disfarçar, olho pela janela do carro, tentando imaginar diversas coisas para tirar essa
sensação que o olhar de meu noivo me despertou.
Ao chegarmos em casa, papai e Carlo vão para o escritório e mamãe segue para qualquer
lugar, sem ao menos falar comigo. Sigo para o silêncio do meu quarto, me sentindo livre para
poder pensar em tudo que tem acontecido durante a última semana.
As semanas que antecedem meu casamento, se arrastam, mamãe não compartilha comigo
absolutamente nada. Eu, também não me atrevo a perguntar, por mais ansiosa e curiosa que
esteja.
Em uma tarde, estava sentada na biblioteca, com um livro no colo, quando mamãe entra,
me chamando para segui-la ao meu quarto para experimentar meu vestido de noiva. Tiro
coragem de não sei onde e pergunto:
— Mamãe, ao menos o vestido eu gostaria de escolher, será que a senhora pode fazer isso
para mim?
— Não seja insolente menina, desde quando você conhece de moda? O vestido foi
escolhido e está quase pronto, basta você experimentá-lo.
— Tudo bem, mamãe, vamos lá. — Digo magoada.
Ao chegarmos no quarto, uma costureira nos aguarda, com um belo vestido nas mãos, ela
pede que eu o vista para que ela verifique se há necessidade de ajustes.
Vou até meu closet e me visto. Quando olho no espelho, fico encantada. É um vestido
muito lindo, eu não teria escolhido um melhor, mas não darei meu braço a torcer. Vou manter
meu silêncio costumeiro, pois sei que já irritei mamãe.
Depois da costureira marcar os ajustes necessários, em silêncio, vou ao closet para tirá-lo,
e me vestir novamente. Fico pensando qual penteado combinaria com o modelo, se vou poder
usar maquiagem, haverá véu. Será que meu noivo vai gostar?
Mamãe, com um pigarreio interrompe meus pensamentos dizendo:
— Aurora, não temos o tempo todo. Troque-se, sim.
Vira-se de costas e me deixa sozinha novamente. Rapidamente me troco e volto ao
quarto, entregando o vestido à costureira. Assim que o faço, ela e mamãe saem me deixando
sozinha.
Os dias vão passando e minha ansiedade vai se elevando. Medo e insegurança são meus
companheiros. Sempre me indago “o que o futuro me reserva?”. Meu noivo jamais me visitou,
me deixando mais apreensiva e preocupada.
No início da semana que antecede meu casamento, mamãe me pede que eu arrume todas
as minhas coisas, pois depois do casamento, passarei a morar com os Moretti. Eu já imaginava
que isso viesse a acontecer, afinal, eu serei uma mulher casada e minha obrigação é estar onde
meu marido mandar.
Tento imaginar como será minha vida a partir da próxima semana, mas nada me vem à
cabeça, também, o que conheço da vida? O que conheço do casamento? Será que me
comportarei de acordo com o esperado? São tantas dúvidas, que não sei como vou suportar.
Numa manhã, logo depois do café da manhã, mamãe me chama na cozinha e me faz
diversas perguntas sobre a organização da casa, as quais respondo pronta e corretamente. Desde
que entrei na adolescência, mamãe vem me ensinando em como organizar a casa, lidar com os
empregados, fazer lista de compras e montar os cardápios. Além disso, me ensinou a bordar e
costurar, dizendo que uma verdadeira dona de casa deve saber fazer tudo para prover o seu lar.
Passei muitas e muitas tardes na cozinha, aprendendo a cozinhar. Mamãe sempre me
disse que só sabe mandar, aquele que sabe fazer.
Na véspera do casamento. Mamãe me chama para uma conversa, que não durou cinco
minutos. Ela queria me explicar como me comportar com meu marido.
Disse-me que eu deveria obedecer a ele sem questionamentos e sempre fazer o que ele
ordenasse. Se eu cumprisse essa parte, meu casamento seria completo. Confesso que não entendi
muito bem o que ela quis dizer com isso, mas como sempre, ela não me deu oportunidade de
questionar nada.
No dia do casamento, duas moças chegam cedo em casa para me preparar. Minhas unhas
e cabelos foram tratados e arrumados. Uma leve maquiagem foi feita e assim que a costureira
chega com meu vestido, sou ordenada a me trocar e aguardar para seguirmos para a igreja.
Sem conversa, meus pais e irmão me acompanham até a igreja, enquanto por dentro de
mim milhares de perguntas se formam. As dúvidas e inseguranças palpitam dentro de mim, mas
me contenho, não quero uma briga com meus familiares em nossos últimos momentos juntos.
Ao chegarmos na igreja, eu e papai aguardamos um momento em completo silêncio, até
que somos informados que já podemos entrar.
Quando a porta se abre, vejo dezena de rostos desconhecidos voltados para mim. O
nervoso e a ansiedade me tomam, deixando-me paralisada por alguns momentos, mas
bruscamente, papai me ínsita a caminhar.
Não consigo prestar atenção nas palavras do padre, tamanho é meu nervosismo, quando
ele fala que o noivo pode beijar a noiva, minha ansiedade aumenta exponencialmente, assim
como meu nervosismo. Entretanto, meu marido beija minha testa e delicadamente, me conduz
até a saída da igreja.
A recepção foi uma tortura para mim, principalmente por ter que cumprimentar todos os
presentes. Mantive meus olhos baixos e o silêncio o máximo que pude, pois por onde eu ia, os
olhares de papai e mamãe não me deixaram.
Meu marido, parece ter entendido meu jeito e não me exigiu qualquer tipo de
comportamento diferente. Apenas pediu que eu me alimentasse melhor, mas o fez com tanta
educação e delicadeza que até me senti confortável para comer um pouco mais.
Todos os ritos foram feitos, inclusive a dança do casal. O que me deixou com os
sentimentos completamente bagunçados. Ao mesmo tempo que a timidez me tomava, o toque
das mãos de Tommaso me despertavam sensações as quais nunca senti.
Para meu alívio, a recepção foi curta e logo partimos para minha nova casa, minha nova
vida. Só não sei, ainda, o que esperar dela.
Tommaso
Como prevíamos, após o anúncio de nosso noivado, os russos começaram a atacar nossos
carregamentos, mas por sorte, todos foram frustrados, principalmente o último ataque, em que no
lugar das armas, enchemos o caminhão de soldados. Quando as portas foram abertas, os russos
foram exterminados. Poucos homens ficaram feridos, mas infelizmente, não conseguimos extrair
muita coisa.
O grande dia chega e a cerimônia foi na St. Paul the Apostle Church, igreja onde todos os
membros da Cosa Nostra, ao menos os do primeiro escalão se casam, já a recepção, foi realizada
num dos hotéis da família Gambino.
Por respeito à inocência de Aurora, no momento do beijo, beijei sua testa. Ela manteve
seus olhos baixos a todo momento, inclusive na recepção. No final da noite, voltamos todos para
a casa de papai.
Após mamãe acompanhar Aurora até nosso quarto, vou à cozinha pegar água e dar um
tempo para que Aurora se prepare para nossa noite de núpcias. Quem diria, eu Tommaso Moretti
casado, com uma linda mulher, que me encantou desde o primeiro momento em que coloquei
meus olhos nela. Quem diria que a mulher misteriosa é minha mulher!
Chego no quarto e Aurora já está deitada, totalmente coberta. A cumprimento e vou para
o banheiro me arrumar. Quando volto, ela continua na mesma posição. Então eu digo:
— Aurora, podemos conversar?
— Sim senhor.
— Primeiro, não me chame de senhor, por favor. Me chame de Tommaso ou Tom. Veja,
sou seu marido, não seu dono. Quero ser seu amigo antes de sermos marido e mulher. O que
acha desse acordo?
— Tommaso, acho que gosto disto. Mas não sei como é ser amigo de uma pessoa. Nunca
tive amigos.
Ouvir meu nome na voz de Aurora, me leva às nuvens. Ela é linda, educada e muito
atraente. Mas quando ouço ela dizer que nunca teve amigos, algo grita em minha cabeça, me
mandando vários sinais de alerta.
— Como assim? Você nunca teve amigos?
— Eu fui criada num ambiente muito restrito, estudei em casa e meus pais nunca me
permitiram sair, nem aos jardins eu tinha autorização de ir. Conversava com minha babá quando
criança, esta me explicou muitas coisas, e conversava bastante comigo. Foi minha única fonte de
carinho na vida. Depois que cresci, não tive mais a companhia de minha babá e me fechei em
minha solidão.
— Tudo bem, então vamos começar nos conhecendo, e nos tornando amigos, antes de
tudo. O que acha?
— Sim, vou adorar.
— Então podemos começar com você me contando como era em sua casa, como era seu
relacionamento com seus pais e irmão.
Aurora ajusta sua posição, sentando-se cuidadosamente na cama. Ela se certifica de que o
lençol que a envolve permanece no lugar, solta um suspiro carregado de lembranças e começa a
compartilhar:
— Para ser sincera, não era um relacionamento; apenas coabitávamos. Papai nunca
conversava comigo ou com mamãe, apenas com Carlo. Mamãe sempre foi muito ausente,
preocupada com a casa e com papai. Nunca fomos amigas ou confidentes. Ele conversou comigo
pouquíssimas vezes.
— Como assim, Aurora? Ela não conversava com você? Não te explicou como é ser uma
adulta? Como é um casamento?
— Não, apenas me disse que deveria tratá-lo com respeito e educação, acatar todas as
suas ordens e fazer todas as suas vontades.
— Ela te explicou como as coisas acontecem na intimidade do casal?
— O que é isso, Tommaso? Eu realmente não entendo onde quer chegar.
— Como era o relacionamento entre seus pais?
— Relacionamento? Papai falava, mamãe acatava de cabeça baixa e pronto. Este era o
relacionamento entre eles.
— Tudo bem, minha querida. Vamos com calma, e com o tempo você irá entender tudo.
Vamos começar em mudar suas atitudes.
Paro de falar por alguns minutos, tentando achar palavras que não a deixe constrangida.
— Aurora, agora você é minha mulher e em breve, será a primeira dama da Cosa Nostra,
com isso você terá liberdade de conversar com todos, olhar para todos os lugares e ir onde
quiser. Apenas, me avise antes de sair, apenas para que eu possa organizar sua segurança.
Dou nova pausa, com receio de tratar o próximo assunto, e falo:
— Reparei que você está sempre de cabeça baixa e não olha para as pessoas, gostaria de
te perguntar o motivo disso. É apenas seu jeito ou alguma imposição dos seus pais?
— Acho que imposição dos meus pais, mas como te falei antes, nunca tive oportunidade
de me relacionar com outras pessoas que não meus pais e irmão. Assim, me sinto confortável no
silêncio.
Penso um pouco e com uma ideia em mente, sugiro:
— Acho que tenho uma ideia Aurora. O que acha de mudar esse comportamento imposto
por seus pais aqui em casa? Deixe eu explicar melhor. Converse com mamãe, com Milena,
comigo, papai e Steffano. E conforme for se sentido mais segura, vamos inserindo outras
pessoas.
— Tommaso, acho uma boa ideia. Eu gostei muito da sua mãe e de Milena. Quanto ao
seu pai e irmão, farei o meu melhor para me sentir à vontade com eles.
— Perfeito. Então podemos começar amanhã. E se você sentir-se desconfortável com
alguma coisa, pode me chamar a qualquer momento. Resolveremos juntos. Sabe Aurora, na
minha família, as mulheres são valorizadas, protegidas e amadas. Nunca se sinta inferior por ser
uma mulher.
— Talvez eu me acostume com isso rapidamente. Sempre foi meu sonho poder conversar
livremente, ter a liberdade de ir ao jardim ou até mesmo dar uma volta na rua.
— Então está resolvido! Faremos tudo isso, mas precisaremos ser práticos. O que você
sabe sobre a consumação do casamento?
— Consu... o quê?
— Está certo, Aurora. Vou te explicar com o tempo e com calma, mas antes, vamos
precisar fazer uma coisa. Peço que não se espante ou se assuste, está certo?
— Sim, se..., desculpe, Tommaso.
— Venha, preciso que você se levante e se sente ali.
Pego uma faca no criado mudo ao meu lado e Aurora se assusta. Peço a ela que fique
calma e faço um pequeno corte em meu braço, deixando com que o sangue escorra, caindo no
lençol. Depois de achar que já tem o suficiente. Tiro o lençol da cama, deixando-o de lado e
pegando um novo.
Faço um sinal para que ela se deite novamente, mas ela me olha assustada. É quando
percebo que não guardei a faca. Guardo-a e a chamo novamente. Ruborizada, me pergunta.
— Tommaso, por que se cortou e deixou o lençol sujo?
— Por que a lei da máfia exige que eu prove sua inocência.
— Inocência? De fato, acho que sou muito inocente, mas o que o sangue no lençol muda?
Com muito cuidado, explico a ela como acontece e ela totalmente ruborizada, me
pergunta se vou machucá-la. Explico a ela que não é machucar, mas que ela sentirá um pouco de
incômodo, contudo o prazer será muito maior.
— Eu não entendo. O que é prazer? Aurora me pergunta.
— Se acalme, Aurora. Você vai saber quando for o momento. Não sei como explicar o
prazer, apenas sentir. Você quer experimentar uma amostra? É muito bom, posso te adiantar.
— Se não me machucar, eu quero sim.
— Vou te beijar Aurora. Repita os movimentos que eu fizer, está bem?
Ela assente com um movimento de cabeça e eu me aproximo dela dizendo para que não
se assuste e que se for demais, que ela me avise, pois não a forçarei a nada.
Toco sua boca com a minha e meu corpo entra em combustão. Repito o movimento, mas
agora abrindo minha boca, ela repete o movimento e quando alcanço sua língua com a minha,
gemo. Com uma de minhas mãos, toco sua nuca, trazendo-a para mais perto de mim, enquanto
aprofundo o beijo, e desta vez é ela a gemer. Pouco depois, interrompo nosso beijo e junto minha
testa à dela, respirando seu cheiro delicioso.
— O que achou Aurora?
— Muito gostoso. Isso que senti é prazer? Diz acanhada.
— Sim Aurora. Beijar é uma das formas de sentir prazer, mas tem muito mais e mais
intensos. Vamos aos poucos.
— Está certo, diz Aurora bocejando.
— Vamos dormir Aurora. Venha, deite no meu peito.
Abraço-a e fecho os olhos, imaginando como seria tê-la completamente, mas pressinto
que será um trabalho lento.
Aurora
No dia seguinte, pela manhã, nos juntamos à família para o café da manhã. O ambiente na
casa dos Moretti é completamente diferente do que eu estava acostumada. A todo momento, me
chamam para falar alguma coisa, fazem de tudo para me deixar à vontade e sinceramente, me
sinto acolhida por eles, de uma forma que jamais fui na casa onde nasci. Tento ser o mais
simpática possível, e a todo momento, me policio para não me entregar ao silêncio costumeiro.
Após o desjejum, meu marido chama a mãe para uma conversa. Enquanto isso, meu
cunhado me chama, dizendo que gostaria que eu conhecesse seu filho Matteo. Um lindo menino
que me olha com intensidade.
Me abaixo na altura dele e digo:
— Oi, Matteo, muito prazer, eu sou Aurora, sua tia. Como vai?
— Bom dia, eu vou bem, e a senhora?
— Vou bem também, mas podemos combinar de você me chamar de tia, no lugar de
senhora?
— Posso, papai?
— Claro, meu filho. Se ela quer ser chamada de tia, chame-a. O que acha de mostrar a ela
seu novo carrinho?
— Eu quero ver, Matteo, você me mostra?
— Sim, ganhei ontem do tio Tom.
— Me mostre como brincar com ele? Eu vou te contar um segredo! Eu nunca brinquei de
carrinho. — Sigo com meu cunhado e sobrinho para a sala e nos sentamos no chão, enquanto ele
me mostra como brincar.
O garotinho é a coisa mais linda que já vi na vida, cabelos escuros, olhos castanho-
esverdeados, os cílios iguais ao do pai, tio e avô. Mas seu olhar compenetrado e frio, me chama a
atenção. Quando tento me aproximar dele, percebo que ele se retrai. Faço uma nota mental para
perguntar a Tommaso o que acontece com o garotinho.
Brincamos por um bom tempo, até que percebo que o pai nos deixou sozinhos e minha
sogra se juntou a nós. Estava tão compenetrada com nossa brincadeira, que nem percebi a
mudança. Ela me dá um sorriso sincero e pede ao neto se pode se juntar à brincadeira.
Ficamos um bom tempo brincando com Matteo até que uma moça, uniformizada, que
suspeito ser uma babá, o chama para se arrumar para a escola. Muito formalmente Matteo se
despede de nós com aceno agradecendo pela brincadeira e segue a babá.
— Aurora, acho que Matteo gostou de você. Ele nunca agiu assim com uma pessoa
desconhecida. Ele sempre foi muito distante.
— Dona Bianca, eu percebi que ele se retraiu em alguns momentos que nossas mãos se
aproximaram, também percebi que é bastante observador e quieto.
— Aurora, por favor, chame-me apenas de Bianca, e sim quanto a suas observações a
respeito de Matteo. Ele sempre foi assim, desde muito novinho. Não gosta de ser tocado por
nenhum de nós. Nunca nos permitiu abraça-lo ou beijá-lo. Já o levamos a diversos profissionais,
mas todos disseram que este é o jeito dele. Ele é, em todos os outros aspectos, completamente
normal. Devemos dar espaço a ele e agir conforme ele nos conduzir. E é isso que estamos
fazendo
— Agora, minha filha, precisamos conversar. Gostaria de te apresentar nossa equipe de
apoio, quero se sinta à vontade, afinal, em breve, você será a dona da casa. Quanto antes se
ambientar, melhor.
— Como assim, eu serei a dona da casa? E a senhora e o meu sogro?
— Assim que Tom assumir, eu e Lorenzo pretendemos nos mudar. Não estaremos longe,
mas esta casa pertence ao Don, e por consequência a você também.
— Mas antes disso tudo, Aurora, eu gostaria de conversar com você sobre o casamento, a
intimidade do casal, essas coisas. Quero pedir desculpas por ser invasiva, mas preciso te explicar
como funciona a vida de um casal.
Depois que minha sogra me explica tudo que acontece em um casamento, o corte que
Tommaso fez no braço, começa a fazer sentido. Eu tirei muitas dúvidas com ela e garanti a ela
que iria me esforçar para ser a mulher que Tommaso precisa ao lado dele.
Quando conto sobre a faca, ela me pede que eu não comente sobre isso com mais
ninguém, principalmente com meus pais. Pois pode vir a anular nosso casamento e causar
vergonha para as famílias.
Entendo seu ponto de vista e me comprometo a guardar isso como um segredo.
O restante do dia passa rapidamente e depois do jantar, nos recolhemos a nosso quarto.
Depois de um banho relaxante, me deito em nossa cama e aguardo Tommaso tomar seu banho e
se juntar a mim.
Quando ele retorna, deita-se ao meu lado e pergunta como foi meu dia. Conto a ele minha
experiência com nosso sobrinho e também a conversa com minha sogra. Falo por cima,
envergonhada sem entrar em detalhes, e assim ele me pergunta:
— Você ainda tem dúvidas sobre nossa intimidade Aurora?
— Não, sua mãe foi bastante específica, só fico acanhada, não sei como agir ou reagir.
— Não se preocupe com isso. Faremos tudo no seu tempo. Se sentir desconfortável, basta
me falar que paramos. Mas quero deixar claro que te desejo muito, Aurora, desde que a vi
naquela festa de Natal. Quase fiquei maluco, achando que ao ficar noivo da filha do Don
Gambino estaria traindo a mulher misteriosa. Mal sabia eu que eram a mesma pessoa.
— Mulher misteriosa? Eu? Até que gostei do apelido.
— Você é linda Aurora, e fiquei muito feliz quando descobri se tratar da mesma pessoa.
Passei um inferno durante a semana que antecedeu nosso noivado, mas depois de saber que era
você, consegui me acalmar e passei a te desejar mais ardentemente.
— Não sei o que te falar a esse respeito, mas fico feliz que tenha se interessado por mim.
Vou te confessar que te achei muito bonito naquela noite.
— Você me viu na festa de natal?
— Sim, eu desobedeci às ordens de papai e olhei rapidamente ao redor, foi quando te vi.
Você me olhava com intensidade. Logo desviei o olhar e não me atrevi a olhar novamente.
— Ah! Mulher, o que faço com você hein!
— Não sei. Mas aceito o que me oferecer.
Seu olhar penetra o meu, carregado de uma intensidade avassaladora, e consigo decifrar
as chamas dançando em seus olhos. Sua mão firme se aninha em minha nuca, aproximando
nossos rostos até que sua boca toque a minha. Um arrepio percorre todo o meu corpo, reavivando
a mesma eletricidade que senti quando, durante nosso noivado, ele tocou suavemente a minha
mão. Desta vez, a sensação é ainda mais poderosa, um frio na barriga que se eleva, agitando
todos os meus órgãos internos.
Seu gemido ecoa em meus ouvidos, desencadeando uma pulsação íntima dentro de mim.
Apesar de ser uma experiência incrivelmente prazerosa, não posso deixar de achar peculiar o
turbilhão de emoções que se desencadeiam em mim.
Sem parar de beijar, Tommaso move sua mão de minha nuca, descendo por minhas costas
e as sensações aumentam exponencialmente. Quando ele me aperta e gruda seu corpo ao meu,
ouço um gemido que nunca imaginei vir de mim.
A temperatura parece esquentar muito e sinto uma umidade se espalhar por minha
intimidade. Fico assustada e intimidada, mas a sensação é boa demais para ser desperdiçada. Em
um movimento rápido, uma de suas mãos sobe por minha cintura chegando ao meu seio, que já
está totalmente enrijecido. Ouço Tommaso gemendo e me apertando um pouco mais.
Por mais gostoso que seja, peço a Tommaso para parar, ainda não estou pronta para o
próximo passo. Embora ele me fale que compreende, sinto que ele gostaria de avançar um pouco
mais. Contudo, isso é demais para mim. Sei que preciso romper estas barreiras que foram
construídas durante minha vida, mas quando o momento chega, eu simplesmente congelo.
Tive muita sorte, pois meu marido me respeita demais, nunca me forçou além dos meus
limites, e isso faz com que meu afeto por ele só cresça.

Conforme o tempo vai passando, percebo que vou melhorando, já faz mais de um mês
que nos casamos, minhas interações com a família tem melhorado bastante, minha sogra é a
pessoa mais maravilhosa que conheço, sinto que ela é mais minha mãe que a minha genitora.
Conversamos sobre todos os assuntos, e a delicadeza dela em abordar assuntos mais íntimos me
deixa muito a vontade.
Nas refeições, à princípio, eu ficava cabisbaixa, comia pouco e não conversava, mas com
o apoio de Tommaso e dona Bianca, aos poucos fui conseguindo melhorar, e hoje, já consigo até
conversar com meu cunhado e sogro.
Dona Bianca me mostrou a sala de música e me apaixonei completamente pelo local.
Quando vi o piano, meus olhos brilharam. Minha sogra vendo meu contentamento, pediu que eu
tocasse para ela. Desde então, toco todos os dias, algumas vezes Tommaso e Steffano me
acompanham.
A música, as brincadeiras com Matteo e o amor de minha sogra fizeram com que eu
conseguisse romper as barreiras impostas por minha criação e hoje, me sinto capaz de interagir
com minha família naturalmente.
Minha intimidade com Tommaso, também tem avançado, e fico grata ao meu marido por
me permitir esse tempo de adaptação. Sinto que já estou pronta para tudo que ele puder me dar e
tomo a decisão de que hoje, serei de Tommaso completamente.
Tommaso
Após nossa primeira noite de casados, logo após o café da manhã, pedi a mamãe que lhe
explicasse como agir na intimidade do casal. Eu sei que poderia ter lhe explicado tudo, ou até
consumado nosso casamento, mas não quis assustar minha mulher. Ela já sofreu muito com a
ignorância de seus pais. Planejo construir um lar harmonioso e respeitoso entre nós.
Ao longo dos dias, tenho percebido seu esforço em se adaptar à sua nova vida. Já faz mais
de um mês que nos casamos e ainda não consumamos nossa união. Nunca fiquei tanto tempo
sem sexo. Mas não posso desrespeitar a vontade dela.
Temos avançado, isso é fato, nos beijamos, nos tocamos, mas quando a coisa começa a
esquentar, ela se retrai. Porém, não sei quanto tempo vou conseguir me controlar.
Nestes dois meses entre o noivado, o casamento, e no primeiro mês de nossa união, não
estive com mulher alguma, pois quando vi que minha noiva era a mulher misteriosa, não
conseguia mais me prender aos instintos carnais. Minha fome por minha mulher só aumentou à
medida que os dias passavam.
Isso tem atrapalhado um pouco meu trabalho, ando mais irritado, até um pouco disperso.
Papai e Steffano, sabem como andam as coisas. Eles são meus melhores amigos e dada a
situação de Aurora, precisei compartilhar com eles toda minha frustração.
Mas esta noite, depois de beijá-la, não pude me controlar mais, eu vou até onde ela
deixar. Se tiver sorte, hoje mesmo consumaremos nossa união, e daremos início a uma vida
conjugal completa. Para ser sincero, não veja a hora de prova-la, toma-la de todas as formas.
Depois de nos deitarmos e começarmos a nos beijar, não consigo me conter, junto nossos
corpos e isso é minha perdição, meu desejo por Aurora cresce a cada segundo que passo ao lado
dela.
Movo minha mão até seus seios e a sinto arrepiar, seu mamilo completamente enrijecido
é um convite para meu desejo. Levanto sua blusa e ao sentir sua pele em minhas mãos vou à
loucura. Aurora é responsiva e seus gemidinhos de prazer são o combustível que faltava para eu
continuar minha incursão em seu corpo.
Desço minha mão alcançando sua intimidade e ao senti-la totalmente melada, meu tesão
alcança o último degrau do meu controle. Toco-a por cima da calcinha e ela geme de prazer.
Separo nossas bocas por um momento e sussurro em seu ouvido:

— Toda molhada para mim, cuore mio[4]? Preciso te provar Aurora, não sei se sou capaz
de me controlar com você assim.
— Não se controle Tommaso, tudo que fez comigo é muito bom. Quero ser sua.
Ela não precisou repetir, com uma calma que não sei de onde veio, tiro sua blusa,
deixando-a parcialmente nua. Olho com desejo e percebo seu peito subindo e descendo
rapidamente. Seus mamilos enrugados e a pele arrepiada ao toque sutil de minhas mãos. Ainda
sem tirar os olhos dela, me abaixo novamente beijando sua boca.
Vou descendo os beijos por seu queixo, pescoço e colo e quando abocanho seu mamilo,
Aurora não se controla, gemendo mais forte. Enquanto levo um de seus seios na boca, com a
outra mão, toco o outro, apertando suavemente. Solto um gemido longo e digo:
— Você é linda e muito gostosa, mas preciso de mais.
Não dou tempo a resposta, sigo por sua barriga e quando chego em sua calça, tiro-a junto
a sua calcinha. Ela se retesa um pouco, mas continuo beijando-a, sem tirar meus olhos dos seus.
— Relaxe Aurora, você vai gostar, me permita, por favor.
Ela concorda com um aceno e desço minha cabeça e quando toco com a ponta da minha
língua sua intimidade, ela geme forte. Separo suas pernas e com a boca aberta, sigo meu caminho
desde os lábios até seu clítoris. Quando sinto a dureza de seu ponto, dou uma leve mordidinha
para depois chupar com intensidade. Ela responde com palavras ininteligíveis.
Sinto seu liquido aumentar e sem me conter insiro um de meus dedos dentro dela,
iniciando movimentos de vai e vem. Como resposta, ela começa a mover sua pelve enquanto
aumento a sucção, acrescentando mais um dedo dentro dela. Em poucos segundos, sinto sua
boceta apertar meus dedos e ela goza intensamente. Não paro até que ela cesse seus movimentos.
Me levanto, sem tirar meus olhos dela, e com calma, tiro minha camisa. Deixo que ela
percorra seu olhar por meu corpo, o que ela faz sem pudor. Lentamente, vou abaixando minha
calça, e quando meu membro fica livre, percebo o olhar de espanto de Aurora.
Subo por seu corpo beijando-lhe, compartilhando seu gosto em minha boca e digo:
— Minha! Aurora você é minha e vou te comer agora.
Embora ela ainda me olhe com espanto, dou um leve sorriso e digo:
— Se doer me fale, tentarei ser o mais suave possível, mas não quero me controlar. Te
quero cuore mio, vamos consumar nosso casamento.
Digo isso pincelando a ponta de meu pau em sua boceta totalmente molhada depois de
seu gozo. Começo a penetrá-la, sem deixar de olhar em seus olhos. Entro um pouquinho e tiro
para que ela vá se acostumando com meu tamanho. Conforme ela vai acostumando, vou
ganhando espaço, até encontrar sua barreira. Saio de dentro dela e entro novamente, agora sem
tanta dificuldade.
Aurora é apertada e isso me deixa louco, estou tão excitado que posso gozar agora como
se fosse um adolescente. Nunca senti tanto prazer na vida, nunca estive com uma virgem antes,
mas não acredito que este seja o motivo para tanto prazer. Me encantei por Aurora desde o
momento em que pus meus olhos nela e agora, tendo-a em meus braços, me perco de tanta
intensidade.
Saio novamente e entro devagar, quando encontro sua barreira, empurro mais um pouco,
percebo que Aurora fica tensa, com um de meus dedos, toco seu clítoris, fazendo movimentos
circulares até que a sinto relaxar. Forço mais um pouquinho e quando percebo, já estou
totalmente enterrado nela.
Abaixo minha cabeça e lambo a lágrima que escorre por seu rosto. Beijo sua boca com a
intenção de fazê-la relaxar e funciona, pois pouco depois, sinto Aurora começar a se movimentar
e me junto a ela. Entro, saio, entro saio, hora com suavidade, hora mais intensamente e Aurora
me acompanha entre gemidos e respirações até que sinto-a me apertar. Estoco mais algumas
vezes até que ela goza chamando meu nome, estou tão perto que mais duas estocadas gozo
também, gemendo seu nome.
Abraço-a forte e nos giro, deixando-a por cima de mim. Faço carinho em suas costas e a
beijo intensamente. Já estou duro novamente, mas imagino que ela esteja dolorida, então, com
muito custo, interrompo nosso beijo.
— Está muito dolorida?
— Estou nas nuvens Tommaso. Ainda não consegui voltar para a terra.
— Gostou, cuore mio?
— Muito Tommaso. Doeu um pouquinho, mas depois foi maravilhoso. Vai doer todas as
vezes?
— Não Aurora, só até você se acostumar ao meu tamanho, depois será só prazer.
Conforme nossa intimidade for aumentando, vamos experimentando outras coisas tão gostosas
quanto e as vezes até melhores.
— Sério! Se o que tivemos foi bom, não imagino algo ser melhor.
— Faremos tudo que quiser Aurora, tudo no seu tempo. Agora venha, preciso cuidar de
você. O que acha de um banho naquela banheira? Vai acalmar seu desconforto.
— Tudo bem, vamos lá!
Depois de preparar um banho quentinho, entramos juntos na banheira e ficamos
conversando por um tempo, mas um beijo levou a outro que levou a outro e eu não consegui me
controlar. Minha intenção era coloca-la de quatro e fodê-la sem me conter, mas ela está dolorida,
melhor ir com calma. Com isso em mente, peço:
— Aurora, vire de frente para mim e coloque minhas pernas entre seus joelhos.
Continuamos a nos beijar e Aurora começa a se esfregar na minha ereção, buscando seu
prazer. Isso é o combustível que faltava para me tirar todo controle que tinha.
Pego meu pau e esfrego em sua abertura, com a uma das mãos, levantando-a pela cintura,
peço para que ela desça em mim. Ela vai descendo lentamente e depois de que me asseguro que
está encaixada, seguro sua cintura com as duas mãos a guiando para baixo. Depois que ela me
enterra completamente, ajudo-a a se mover, e isso mexe como um inferno dentro de mim.
Estou tão excitado que tenho certeza que não aguentarei por muito tempo. Aumento aos
poucos nosso ritmo e entre respirações entrecortadas e gemido agudos, sinto Aurora me apertar,
meu pau engrossa mais um pouco e meu saco enrijece, sei que não vou aguentar por muito tempo
e levo meu dedão ao seu clítoris, assim que o toco, ela começa a gozar me levando junto.
Gozamos profundamente chamando nossos nomes.
Nos abraçamos forte e Aurora descansa sua cabeça em meu peito, enquanto faço um
carinho em suas costas.
— Você é gostosa pra caralho Aurora, nunca vou me cansar de ter você.
Ela me aperta em resposta, deixando um beijo no meu pescoço. Percebo sua respiração
serenar e pela cadência, imagino que ela tenha dormido. Aproveito que a água está quase fria e
levanto, trazendo seu corpo junto ao meu. Pego uma toalha no caminho e a envolvo, sem deixar
que ela acorde. Levo-a até a cama e após terminar de enxugá-la, a cubro e volto ao banheiro para
me secar. Logo me junto a ela, apagando o abajur e dormindo em seguida.
Acordo com calor, levo poucos segundos para perceber que estou abraçado em Aurora,
sua bunda esfregando em meu pau ajuda em minha ereção matinal. Me esfrego nela, sentindo
ainda mais tesão. Toco sua boceta encontrando-a toda meladinha. Começo a penetrá-la devagar
mas não consigo me conter.
Aurora acorda preguiçosa, se movimentando junto comigo e me desejando bom dia!
Adoro como ela é responsiva ao meu toque. Intensifico meus movimentos ao mesmo tempo em
que toco seu clítoris que já está durinho de tesão. Beijo atras de sua orelha e Aurora geme em
resposta. Sussurro em seu ouvido.
— Ainda está dolorida cuore mio?
— Um pouquinho, mas não pare, está gostoso.
— Então aproveite e tire tudo do seu homem!
Sem mais palavras, nos entregamos ao prazer. Logo Aurora começa a me apertar e
gozamos intensamente. Ficamos mais um pouco abraçados, sem que nenhum de nós queira se
mover, então pergunto:
— Aurora, assim que a situação com os russos se resolver, eu gostaria de fazer uma
viagem com você, tem algum lugar que você queira conhecer? Se for possível, quero te
proporcionar isso.
— Tommaso, nunca viajei, meu conhecimento de lugares foi apenas pelos livros quando
ainda estudava. Escolha um lugar que você queira ir e ficarei feliz em te acompanhar.
— Vamos fazer melhor, vou te mostrar alguns lugares interessantes em que podemos
organizar uma viagem e te mostro, assim você escolhe. Você já foi à praia?
— Nunca, acho que seria interessante conhecer.
— Então está combinado. Vou procurar algumas praias interessantes e escolhemos juntos.
Assim que possível, passaremos alguns dias sozinhos, comemorando nosso casamento. Mas
agora, precisamos levantar, tenho compromissos pela manhã.
Depois de nos arrumarmos, descemos para o café da manhã e encontramos nossa família
reunida.
Aurora
Minha noite com Tommaso, não poderia ter sido melhor. Bem que minha sogra falou que
eu iria gostar. Ele foi carinhoso e atencioso. Senti dor, muita, mas preferi guardar para mim, mas
logo a dor se transformou em prazer, como ele diz, e foi maravilhoso. Acho que eu vou ficar
viciada em sentir prazer com meu marido. Foi a experiência mais interessante que tive em toda
minha vida.
Se ficar melhor como ele mesmo falou, será maravilhoso. Nunca tive relações
interpessoais, por causa de minha criação, mas estes dias com minha nova família tem me
mostrado que a vida é muito boa para ser desperdiçada com reclusão.
Tanto Tommaso como dona Bianca, me disseram que sou livre para andar por todos os
cantos da casa, inclusive os jardins, e estou louca para aproveitar isso.
Depois do café da manhã, convido minha sogra para me acompanhar ao jardim, quero
muito conhecer. Assim que saímos pelas portas, meu coração até acelera. É muito bonito. Solto
um suspiro de emoção por causa do momento.
— Bonito, não é Aurora? Deixe-me leva-la ao lago. Lá temos uma vista maravilhosa, e se
você quiser, podemos passar a tomar nosso lanche da tarde naquela área ali. — Diz dona Bianca,
apontando para a varanda da casa, onde estão dispostas algumas cadeiras de balanço e também
uma mesa com quatro cadeiras.
— Sogra! Isso é magnífico. — Digo ao chegarmos ao lago.
— Sim Aurora. Lorenzo mandou arrumar esta parte para mim, pois adoro passear ao ar
livre. Como sabe, nossas saídas precisam ser calculadas, então, para que eu pudesse ter um
espaço agradável, ele chamou uma equipe de paisagistas que organizou tudo. Você é livre para
explorar qualquer parte do terreno, mas lembre-se, está cheio de soldados espalhados.
— Não me incomodo com os soldados, na minha casa também era assim, a única
diferença é que eu não tinha autorização para sair. Até hoje não entendo o motivo. Nunca tive
coragem de perguntar. Papai sempre foi muito rigoroso.
— Não se preocupe agora, Aurora. Lembre-se que agora aqui é sua casa. Nossa família
ama e protege as mulheres. Temos uma liberdade controlada, mesmo assim, isso não faz com
que deixemos de usufruir dela.
As semanas que seguiram foram maravilhosas, viver com os Moretti é uma experiência
incrível e a cada dia que passa, me sinto mais à vontade com todos. Minha sogra é maravilhosa,
se tornou uma mãe para mim.
Milena sempre vem nos visitar e passamos tardes muito agradáveis com conversas
intermináveis. Matteo é uma criança encantadora e a cada dia que passa me apaixono mais por
ele. Sinto que ele também gosta bastante de mim, pois sempre me chama para brincarmos juntos.
Em uma de nossas noites, Tommaso me contou a triste história de Steffano e Matteo e
isso fez com que meu carinho por aquele garotinho especial só aumentasse.
Quando a noite chega e me junto ao meu marido, toda a emoção do dia desaba, abraço
Tommaso emocionada e ele me agradece pelo carinho que tenho com nosso sobrinho.
— Aurora, você é muito especial, nunca vi meu sobrinho se abrir como tem se aberto com
você. Hoje foi a primeira vez que ele beijou uma pessoa e a primeira vez que perguntou pela
mãe. Ele te ama muito.
— Ah! Tommaso, aquele lindo menino me conquistou na primeira vez que o vi. Também
o amo muito e se Steffano permitir, darei todo amor e carinho que ele precisa.
— Cuore mio, você é incrível, cada dia que passa me apaixono mais por você.
— Também me apaixono por você a cada dia que passa, Tommaso, nunca acreditei que
pudesse sentir tantas coisas como venho sentindo desde o dia de nosso casamento. Sou muito
feliz ao seu lado meu marido.
Conversamos por mais um momento, até que Tommaso fala:
— Aurora, eu gostaria de experimentar uma coisa. Será que você faria algo por mim?
— Se estiver ao meu alcance, claro que farei.
— Você gosta quando chupo sua boceta?
— Sim, gosto muito.
— Eu gostaria que você chupasse meu pau. Você pode fazer isso por mim? Desde o dia
que te vi a primeira vez, sonho em ver meu pau entre seus lábios.
— Não sei como fazer, mas se você me ensinar, farei o meu melhor.
Tommaso se levanta, ficando em uma posição confortável e pede que eu coloque minha
língua pra fora. Assim que o faço, traz seu membro até minha boca e me pede para lamber sua
glande. Faço o que ele pede, lambendo toda sua extensão.
Um líquido esbranquiçado começa a sair e curiosa, lambo tudo, deixando Tommaso mais
excitado, até que ele me pergunta:
— Sabe tomar sorvete Aurora? Imagine que meu pau é seu sabor favorito, agora abra a
boca e proteja os dentes.
Assim que abro minha boca, Tommaso empurra seu membro boca a dentro, em
movimentos leves e superficiais, chupo seu membro conforme ele me orientou até que o sinto
encostar na garganta, sinto alguns espasmos mas ele logo se afasta e volto a suga-lo.
Ele pega uma de minhas mãos e contorna seu membro com ela, fazendo movimentos de
vai e vem, quando percebe que peguei o ritmo, me solta, segurando meus cabelos e gemendo.
Continuo os movimentos até que ele fala.
— Cuore mio, eu vou gozar, engula tudo.
Assim que termina de falar se despeja em minha boca, chamando meu nome. Se retira e
me abraça agradecendo. Estou toda molhada, pingando de desejo, mas Tommaso nunca foi
egoísta e percebendo meu estado, me coloca deitada na cama e me leva ao céu com seus dedos e
língua.
De repente, ele me vira de costas e suspende minha bunda, segura minhas costas,
deixando minha cabeça encostada no colchão. E começa a me chupar. Embora a posição me
deixe um pouco encabulada, o prazer que proporciona é fantástico.
Ele continua fazendo sua mágica com a língua até que sinto seu dedo se introduzindo na
minha intimidade. Inebriada de prazer, começo a gozar profundamente.
Assim que me acalmo, Tommaso diz, com uma voz rouca, carregada de prazer:
— Sinto muito Aurora, serei duro, estou morto de tesão.
Sem tempo de processar as palavras, sinto Tommaso me penetrar de uma vez, com
movimentos rápidos e profundos, me deixando mais excitada do que já estava. De repente, sinto
um tapa forte da minha bunda, que me esquenta de maneira absurda, em resposta, solto um
gemido alto.
Meu prazer vai aumentando até que sinto a ponta de seu dedo tocando meu lugar
inexplorado, Tommaso, me penetra com a ponta do dedo, e sinto uma pontadinha de dor, ao
mesmo tempo que sinto um calor me tomar e meu prazer aumentar. Delicadamente, ele vai se
inserindo, até que me diz:
— Eu ainda vou te comer aqui Aurora, e você vai enlouquecer de prazer.
Tommaso continua sua incursão em meu corpo, e a dor que a pouco sentia se transforma
em um prazer mais intenso do que os demais que já senti. Sinto minhas paredes contraírem e em
resposta, Tommaso intensifica suas investidas, até que não consigo mais me conter e acabo
gozando profundamente.
Tommaso estoca mais algumas vezes até que também goza, caindo por cima de mim, mas
logo, inverte nossas posições, deixando-me por cima dele. Beijando minha boca em seguida.
— Cuore mio, você me deixa louco. Ao seu lado, não consigo me controlar. Quero tudo
com você!
Eu não tenho forças para responder, então beijo suavemente sua boca e me enrosco em
seu corpo.
Não sei quanto tempo passa, até que Tommaso me acompanha até o banheiro. Em meio a
beijos e toques, ele pega uma esponja e espalha sabonete pelo meu corpo. Não me faço de
rogada, depois que ele termina, faço o mesmo com ele. Me sinto mole e satisfeita, mas parece
que meu marido ainda me quer, pois vejo seu membro inchar novamente assim que aproximo
minhas mãos dele.
— Aurora, Aurora, o que faço com você? Não consigo me controlar quando está perto de
mim! Vem aqui, vem? Quero te comer debaixo d’água.
Sem tempo para responder, Tommaso toma minha boca com a sua, num beijo
arrebatador. Me suspende e o enlaço com minhas pernas. Ele encosta minhas costas na parede, e
de uma vez só, me penetra, sem separar nossas bocas.
Os movimentos de seu corpo junto ao meu são os únicos sons que podemos ouvir. Eles se
sobrepõem ao barulho da água caindo sobre nossos corpos.
As sensações que me despertam são tão fortes que não percebo o tempo passar. Me
entrego totalmente ao prazer que Tommaso me proporciona e quanto mais forte ele me toma,
mais prazer eu sinto, até que minha intimidade começa a pulsar e gozamos juntos inebriados de
prazer.
Encosto minha cabeça no ombro de Tommaso enquanto ele me leva para nossa cama,
sem nos preocuparmos em nos enxugar.
— Mulher, você acaba comigo! Você é gostosa pra caralho.
Enquanto ouço as palavras de Tommaso, o sono me embala.
Tommaso
Algumas semanas se passam e nosso problema com a Bratva aumenta proporcionalmente.
Sem conseguirmos prever os próximos passos, nos reunimos com meu sogro afim de traçarmos
alguns planos.
Durante a reunião, Carlo, irmão de Aurora, diz, furioso:
— Recebemos um recado da Bratva. E não estou feliz com ele. Deixe-me mostrar a
vocês.
Ele nos entrega um bilhete que ao lê-lo, sinto um misto de raiva, ódio, medo, preocupação
e desespero. Cada palavra ali escrita dilacera meu coração.
“Olho por olho, dente por dente.”
O bilhete foi assinado por Ivankov, cujo filho foi morto por meu sogro, isso quer dizer
que meu cunhado e minha mulher são seu alvo. Uma sensação de desespero me domina. Não
posso pensar que minha doce e linda mulher esteja correndo riscos.
— Carlo, quando recebeu isso, meu cunhado?
— Estávamos saindo de casa para vir para cá. Não faz nem trinta minutos.
— Tommaso, onde está Aurora? Presumo que em casa, certo? – Diz meu sogro.
— Infelizmente não meu sogro, saiu com mamãe para compras. Vou agora mesmo
chama-las de volta e enviar um destacamento para melhorar a segurança delas.
— Faça isso. Não estou gostando desta história. Não imaginei que vocês permitissem as
mulheres de sair de casa, se soubesse, teria alertado antes de vir.
Nem me dou ao trabalho de responder ao meu sogro, a preocupação que sinto, se junta ao
ódio que nutro por ele, por causa da forma como trata as mulheres da família, mas não me deixo
dominar por este sentimento, preciso agir rápido e proteger minha mulher.
Rapidamente, chamo um dos meus guardas que informa que estão em uma das lojas de
um shopping center. Peço que ele fique ao lado de Aurora e mamãe e ordeno que voltem assim
que os demais soldados cheguem.
— Me desculpem senhores, mas não vou conseguir ficar sentado enquanto minha mulher
pode estar correndo riscos, estou indo encontra-las.
— Vamos todos, diz meu sogro, que pela primeira vez parece de fato preocupado com a
filha.
Saímos cercados de soldados, sendo que um destacamento já havia saído anteriormente
para encontra-las.
No meio do caminho, somos avisados que o carro onde estão mamãe e Aurora está sendo
perseguido. Peço ao motorista que acelere em direção ao endereço que me foi fornecido pelo
soldado que cuida da segurança de Aurora.
Ao chegarmos ao local, meu coração bate acelerado. Muitos homens correndo e atirando.
Uma verdadeira guerra. Tento, em meio àquele caos, encontrar o carro onde elas estão, mas a
tarefa parece impossível. Desesperado, saio do carro atirando, completamente enlouquecido.
Depois de alguns momentos. As coisas se acalmam e consigo encontrar o carro onde elas
deveriam estar, quando me aproximo, minhas pernas bambeiam.
— NÃO! NÃO PODE SER!
Aurora
Passados alguns dias, minha sogra me chama, dizendo:
— Aurora, eu vou precisar ir ao SPA, o que acha de me acompanhar? Vamos aproveitar
para fazer umas compras, já que o SPA que frequento fica dentro de um shopping.
— Eu nunca fui a um SPA, nem ao shopping. Adoraria conhecer. Eu aceito te
acompanhar. Nem acredito que poderei sair de casa. Estou muito feliz.
— Que bom que aceitou, pois já marquei horários para você. Hoje vamos tirar um dia de
meninas. Milena vai nos encontrar por lá. Diz minha sogra toda animada.
Saímos em direção ao shopping e meu coração não cabe dentro de mim. Alegria que sinto
é contagiante, essa liberdade de poder sair, poder conversar abertamente tem sido maravilhosa.
Olho por todos os lados, maravilhada com as imagens que só agora tive possibilidade de olhar.
Faço um acordo comigo mesma de que nunca mais vou abaixar minha cabeça para nada e
para ninguém, a partir de hoje, vou aproveitar todas as oportunidades que a vida me der.
No caminho, minha sogra me explica o que faremos no SPA, unhas, hidratação nos
cabelos, corte, massagem e depilação.
Passamos horas sendo mimadas e cuidadas, ao terminar, sinto-me mais leve e bonita,
espero que Tommaso goste do corte que fiz no cabelo. Nunca pude experimentar estes cuidados
e eu adorei cada momento.
Ao sairmos para as compras, Milena se despede de nós, dizendo que precisa tomar
algumas providências em casa, nos deseja boas compras e parte com seus soldados a escoltando.
Chegamos à primeira loja, uma loja de lingerie, fico maravilhada com as possibilidades, é
tanta variedade, que nem sei por onde começar, mas por sorte, minha sogra chama uma das
atendentes que nos auxilia nas buscas.
Estava com uma boa quantidade de peças separadas, quando um dos soldados conversa
com dona Bianca, que pelo olhar, julgo se tratar de algo sério.
— Aurora, precisaremos voltar, mas assim que possível, voltaremos para as compras. Diz
dona Bianca com um olhar culpado e preocupado.
Minha sogra, percebendo minha reação, chama novamente a atendente e pede que ela
embrulhe todas as peças que eu havia separado. Ela nem espera que a moça faça as contas,
entrega seu cartão e depois de uma conversa, a qual não pude ouvir, a atendente sai com um
sorriso grande no rosto, agradecendo a dona Bianca, logo em seguida, ela volta com uma sacola
e devolve o cartão, agradecendo dona Bianca.
Somos escoltadas até os carros e partimos de volta a nossa casa. Vamos conversando,
rindo e fazendo planos, até que dona Bianca me confidencia que é cliente assídua da loja em que
estávamos e que deu uma generosa quantia para que a vendedora nos vendesse as peças com
urgência. Até que de repente, nosso carro começa a acelerar.
Minha sogra pergunta ao soldado o que está acontecendo, mas não obtém resposta.
Olho para trás e vejo alguns carros atrás de nosso carro de escolta, Fico apavorada e
seguro firmemente as mãos de minha sogra. Ela segue meu olhar e prende minha mão à dela
dizendo:
— Fique calma Aurora, nossos homens são bem treinados e vão nos proteger.
— O que está acontecendo dona Bianca? Estou apavorada.
— Se acalme, parece que estamos sendo seguidas. Confie em nossos maridos, eles
destacaram bons homens para nos acompanhar.
Em seguida, nosso carro é arremessado para frente e para abruptamente. Um dos soldados
fala para não abrirmos a porta que ficaremos seguras, em seguida, sai do carro.
Ficamos ali, em meio ao fogo cruzado, acompanhada de um dos soldados, os demais
estão lutando do lado de fora, até que nossas portas são abertas.
As coisas acontecem rapidamente, minha mente mal pode acompanhar. O homem que
abre a porta, atira no soldado que nos acompanhava e insere uma seringa em minha sogra depois,
bate com a arma em sua cabeça, enquanto dou um grito alto. Em seguida, outro homem, abre a
porta ao meu lado e tenta inserir uma seringa em meu braço, mas é alvejado, contudo, ao cair, ele
bate com sua cabeça na minha e a escuridão me domina.
Tommaso
Papai se junta a mim e corremos até o local, mas a cena com a qual nos deparamos é mais
assustadora do que esperávamos. Mamãe e Aurora caídas no banco de trás, cobertas de sangue.
Corro em direção a Aurora, enquanto meu pai se apressa na direção da minha mãe. No
entanto, o tempo parece distorcido, como se estivesse fora de foco. A cada passo que dou, o
tempo estica, tornando cada momento uma eternidade que relutantemente se desloca.
Chego ao lado dela e logo verifico seus sinais vitais, e para meu alívio, ela está viva. Olho
papai que também parece aliviado, falamos em uníssono:
— Viva!
Ao lado de Aurora, encontro uma seringa, completamente cheia, mas ao lado de mamãe, a
seringa está vazia. Olho para papai em desespero, para nossa segurança, tiro a agulha e guardo a
seringa com o liquido em um dos meus bolsos.
Logo a ambulância chega e as leva para o hospital, destacamos alguns soldados para
ficarem no local para fazer a limpeza. Steffano e Carlo ficam no local para acompanhar os
homens presos até um de nossos galpões. Enquanto eu e papai seguimos a ambulância.
Ao chegarmos no hospital de nossa família, logo elas são dirigidas a emergência. Eu
seguro o braço do médico responsável e entrego a seringa, contando sobre a cena.
Ele me olha e diz que foi muito positivo ter trazido, pois assim será mais fácil verificar o
teor. Nos pede licença para atende-las, chamando um dos enfermeiros. Entrega-lhe a seringa e
pede que a mesma seja analisada.
Os minutos se transformaram em horas que mais se parecem dias. Eu e papai não
conseguimos ficar parados, andando de um lado a outro, de tanta ansiedade e nervoso diante da
situação.
Após um tempo que não sei precisar, o mesmo médico retorna, eu e papai corremos ao
seu encontro e os demais se juntam a nós.
Dirigindo-se a papai, médico diz:
— Don, já sabemos o conteúdo da seringa, e constatamos que trata-se do veneno
conhecido como CMEP[5], o qual vínhamos estudando desde que tomamos conhecimento de sua
existência. Por sorte, temos seu antídoto, desenvolvido pelos cientistas do hospital.
— A senhora Bianca foi exposta a uma grande quantidade de CMEP, mas com o antídoto,
acreditamos que não lhe cause danos. Ela está em coma induzido, pois além de ter sido
envenenada, sofreu uma lesão cerebral. Vamos precisar de tempo para que se recupere, ficará em
observação e assim que possível, faremos o desmame dos medicamentos. Só então poderemos
dizer com certeza se haverão danos.
— A senhora Aurora, não foi submetida ao veneno, também sofreu uma pequena lesão,
mas ficará em observação esta noite. Não pudemos entrar com muitos medicamentos por causa
de seu estado, mas acompanharemos de perto sua recuperação.
— Como assim, não puderam entrar com medicamentos? Qual o estado da minha
mulher? Pergunto aflito e desesperado.
— Me desculpe senhor, pensei que soubesse. Sua esposa está grávida, ainda é muito
inicial e por este motivo precisamos tomar todo cuidado possível.
— Grávida? Você está querendo me dizer que serei pai? Mas ela corre algum risco? E o
bebê?
— Sim, senhor Tommaso, ela está grávida, meus parabéns. Ela não corre riscos, mas
como a gravidez é muito inicial e todo o trauma pelo qual passou hoje, pode ser que ela não
consiga levar a gravidez a diante.
— Eu quero ficar ao lado dela.
— Senhor, ela está na UTI, posso permitir sua visita por alguns minutos, mas ela precisa
descansar, ainda esta noite, a moveremos para um quarto.
— Não me importo, não irei a lugar algum sem ela. Dê seu jeito, estou indo ficar com ela.
— Se acalme Tommaso, deixe-a descansar.
— Não posso papai, ela precisa de mim.
— Sim, e você vai visita-la, mas deixe-a descansar também. Fique no hospital se isso te
deixar mais tranquilo. Mas dê a ela o tempo que precisa.
— Está bem. Desde que eu seja comunicado de sua recuperação a cada trinta minutos.
Não estou saindo deste hospital sem ela. Agora podemos ir, por favor.
— Sim, me acompanhe senhor.
— Espere, eu também quero ver minha mulher. Diz papai aflito.
— Sim Don, nos acompanhe por favor.
Somos direcionados a uma sala, onde trocamos nossas roupas por roupas esterilizadas e
aguardamos nos permitirem entrar. Logo que encontro Aurora, corro para seu lado. Ela me dá o
sorriso mais lindo e diz:
— Tommaso, nós teremos um filho, isso não é maravilhoso?
— Sim, meu amor, estou muito feliz. Como está se sentido?
— Um pouco dolorida e muito assustada, mas ao mesmo tempo, muito feliz. Como está
sua mãe, ela bateu forte a cabeça, estou preocupada.
— Ela vai ficar bem, Aurora. Logo estaremos todos juntos em casa. Você precisa focar na
sua recuperação e em nosso bebê. Estou muito feliz Aurora, nem acredito que serei pai. Você me
faz o homem mais feliz do mundo.
— E você me faz a mulher mais feliz do mundo. Nem acredito que tem um pedacinho
nosso dentro de mim. Mas e se for uma menina Tommaso?
— Ei, se for uma menina, vamos amá-la e fazê-la a mulher mais feliz do mundo. Eu não
me importo com o sexo do bebê Aurora, me importo com você. Fique bem rapidamente, pois não
vejo a hora de voltarmos para casa e celebrarmos nosso presente. Agora preciso ir. Não fui
autorizado a permanecer aqui hoje, mas não sairei do hospital.
— Tommaso, eu quero te falar uma coisa. Eu amo você.
— Aurora, você é uma pessoa maravilhosa, que me encanta diariamente, também amo
você cuore mio.
Depois de algumas horas, Aurora foi para o quarto e pude ficar ao seu lado. Mas mamãe
ainda estava na UTI e nossa preocupação só aumentava. Os médicos informaram que o inchaço
em seu cérebro diminuiu mais rápido que o esperado e que pela manhã, começarão o desmame.
O antídoto aplicado fez o efeito esperado, agora nos resta esperar que ela acorde para sabermos
como ela se recuperará.
Meu sogro e cunhado se comprometeram a cuidar dos homens que foram presos no
ataque a nossas mulheres e ainda não retornaram com resposta.
Até agora, minha sogra não procurou pela filha, para ser sincero, nem sei se ela sabe
sobre o ocorrido, mas não serei eu a procura-la. Se Aurora perguntar sobre seus pais, contarei a
verdade, meu compromisso com ela foi real, nossa relação sempre será baseada na verdade e no
amor e não abro mão disso.
Já era tarde quando papai entrou no quarto, dizendo que mamãe ainda não acordou, eu
aproveito que Aurora está dormindo e compartilho com ele a estranheza da ausência de minha
sogra. Ele me diz que Don Gambino também não o procurou e que amanhã logo na primeira
hora, entrará em contato com ele para saber das notícias sobre os homens apreendidos. Mas me
alerta que não perguntará sobre a ausência de ambos. Não se acha no direito de interferir na
família dele.
Peço a papai que ele vá em casa para descansar um pouco, mas ele nega, dizendo que
precisa saber do estado de mamãe e que descansará um pouco no sofá. Eu insisto que ele
descanse na cama que foi colocada no quarto, no princípio nega, mas não me dou por vencido e
ele acaba dormindo um pouco.
No dia seguinte, Aurora recebe alta, mas antes de leva-la para casa, vamos visitar mamãe.
Ela foi removida para um quarto durante a tarde, embora ainda não tenha despertado do coma, já
respira sem a ajuda dos aparelhos.
Encontramos papai sentado ao seu lado, com expressão preocupada, mas mais leve que
ontem. Assim que nos aproximamos, ele nos dá um breve sorriso e diz:
— Meus filhos, vocês podem fazer companhia para a mamãe enquanto resolvo alguns
assuntos? Volto logo, não posso ficar muito longe dela.
Me ofereço para ir em seu lugar, mas ele nega, dizendo que precisa fazer isso sozinho.
Entendo sua posição e penso que se um dos homens ainda estiver vivo, quero tirar um tempo
com ele. Não me conformo que chegaram tão perto de nossas mulheres.
Aurora ainda está em repouso, então a coloco na cama que foi instalada próxima à cama
de mamãe e me sento entre elas. Aurora dorme novamente enquanto fico velando o sono das
duas mulheres mais importantes de minha vida.
Sou retirado dos meus pensamentos quando papai volta, com um olhar preocupado,
perguntando logo pelo estado de mamãe. Explico que não houveram avanços e ele suspira
resignado, me chamando para um canto do quarto, para uma conversa sussurrada.
— Filho, Ivankov foi eliminado, assim como todos os seus homens. Acredito que
estejamos livres. Ele estava lutando sozinho, ou seja, sem o apoio da Bratva.
— Conversou com o Don Gambino sobre o estado de Aurora?
— Não, meu filho, ele não estava no galpão, apenas Carlo que não perguntou pela irmã.
— Ela vai ficar triste, papai. Mas não vou falar nenhuma mentira para ela. Se me
perguntar, contarei a verdade.
— Você está certo, Tommaso. Aurora agora é uma Moretti e tem uma família que a ama.
Ela vai superar a ausência. Esteja ao lado dela sempre.
— Com certeza que estarei, eu a amo intensamente. E agora, com o bebê, nossa família
estará completa. Temo apenas por Matteo, que se apegou a ela. Espero que ele não sinta ciúme
do meu filho.
— Parabéns meu filho, com tudo que aconteceu, não fui capaz de parabenizar você. Eu
serei avô, isso é incrível. Por falar nisso. Chegou a hora Tommaso. Assim que sua mãe tiver alta,
faremos sua ascensão. Passei minha vida me dedicando à famiglia, agora, quero dar toda atenção
à sua mãe. Quase perdê-la me fez ver quanto tempo perdi.
— Não se preocupe, papai. Mamãe estará conosco por muitos anos ainda. — Assim que
falo ouvimos uma voz bem baixinha dizendo:
— Podem apostar nisso.
Corremos ao encontro de mamãe já chamando um dos médicos para verifica-la. Com o
barulho da chegada da equipe, Aurora acorda assustada, mas assim que compreende o que está
acontecendo, abre um sorriso sincero, se juntando a mim, que fiquei sem reação ao ver a equipe
trabalhando com mamãe.
Assim que a equipe constata que mamãe está bem, nos aproximamos dela, com sorrisos
sinceros, dando-lhe as boas vindas. Ligamos para Steffano para avisar, mas ele já estava a
caminho do hospital com Matteo, que não parou de perguntar sobre a vó e a tia.
Mamãe pergunta à Aurora como ela está se sentindo e com uma expressão feliz diz:
— Minha sogra, estou muito bem e feliz. Não via a hora de te ver acordada para te contar
uma novidade! A senhora será avó novamente. Estou grávida.
— Ah! Minha filha, que notícia maravilhosa, como está se sentindo? — Fala com
lágrimas de emoção nos olhos.
— Estou me sentindo a mulher mais feliz do mundo agora que a senhora acordou. Estava
muito preocupada, não queria perder minha mãe.
— Não vai perder minha filha, estarei ao seu lado sempre que precisar. Quero segurar e
mimar meu mais novo netinho.
A conversa morre com a chegada de Steffano e Matteo que corre e para ao lado de
Aurora, perguntando se ela e a avó estão bem. Mas a emoção momentânea se apaga com a
chegada de meus sogros que chegam para visitar a filha.
Friamente, Don Gambino pergunta a papai como as mulheres estão e as cumprimenta de
longe. Minha sogra fica muda ao seu lado, esperando a resposta.
Papai responde que agora ambas passam bem, mas não comenta sobre a gravidez de
Aurora, dada a presença de Matteo que ainda está abraçado à tia, desde que chegou.
Eles ficam por poucos minutos até que Don Gambino pede para que papai o acompanhe
até o corredor, para uma conversa rápida. Me aproximo de Aurora e abraço calorosamente. Ela
me retribui com um lindo sorriso e beija minha boca suavemente. Ouvimos sua mãe bufar, mas
não nos importamos, nossa felicidade jamais será ofuscada pela falta de empatia de seus pais.
Logo, papai e meu sogro voltam para o quarto. Meus sogros se despedem e saem em
seguida. Eu os acompanho até o corredor e sem me conter, comunico sobre a gravidez de
Aurora, explicando que não devemos comentar na frente de meu sobrinho.
Meu sogro me parabeniza dizendo secamente:
— Que venha um menino para perpetuar a linhagem.
Minha sogra não diz uma palavra e saem em seguida. Neste momento, tomo a decisão de
que não os quero próximos à minha família. Aurora já sofreu demais com sua frieza, temos amor
de sobra para a ela e a nosso bebê.
Tommaso
Poucos dias depois, mamãe deixa o hospital sem qualquer tipo de sequela, o que nos
deixa muito felizes. Papai, como prometido, me entrega o cargo de Don em uma cerimônia
fechada e cheia de rituais.
Meu primeiro ato como Don é nomear meu irmão como meu conselheiro e segundo ato é
abolir a cerimônia do lençol, a qual foi rechaçada a princípio, mas com os argumentos certos,
consegui convencer os demais membros do conselho.
Nos primeiros meses, Aurora ficou em observação, teve muitos enjoos, mas o restante de
sua gravidez correu tranquila, até que uma tarde, estava no escritório despachando alguns
documentos quando Matteo entra correndo dizendo:
— Tio, tem alguma coisa errada com a tia Aurora. Acho que ela fez xixi na calça e me
pediu para te chamar.
— Matteo, agradeço meu querido, mas eu preciso correr aqui, prometo que quando eu
voltar, vou te explicar direitinho por que sua tia fez xixi na calça. Por favor, vá procurar seu pai e
diga a ele que chegou a hora.
Corro para encontrar minha mulher que está branca, segurando fortemente no sofá. A
abraço forte e digo que já estamos indo para o hospital.
Um dos soldados corre para pegar as bolsas da maternidade que já havíamos deixado
preparadas enquanto outro traz um carro. A caminho do hospital e a cada contração, Aurora
segura minha mão mais forte.
Ao chegarmos no hospital, uma equipe já nos espera e assim que coloco Aurora deitada
na maca, corremos para a sala de emergência. A obstetra a examina e diz que ainda teremos
algum tempo antes de nosso bebê nascer.
Algumas horas se passam, e o sofrimento de Aurora me deixa mais nervoso e ansioso.
Até que a obstetra nos diz que está na hora e que se eu quiser acompanhar o parto, devo seguir
com um dos enfermeiros para me trocar. Dou um beijo rápido em Aurora e saio no encalço do
enfermeiro.
Assim que chego na sala de parto, Aurora ainda tem algumas contrações dolorosas, até
que a obstetra fala para que ela empurre com força. Segundos depois, ouvimos um choro forte e
alto. Com lágrimas nos olhos me aproximo da médica que me chama para cortar o cordão
umbilical. Emocionado, faço o corte exatamente no local indicado e meu filho é colocado em
meu colo.
Emocionado, levo nosso menino até a mãe que chora emocionada ao ter nosso filho em
seus braços. Decidimos dar a ele o nome de Vitor, que significa vencedor. Depois de tudo que
Aurora passou no início da gravidez e o risco de perder nosso bebê, o nome foi muito oportuno.
Matteo aceitou muito bem a presença do primo e sempre que pode, ajuda Aurora nos
cuidados do bebê.
Como uma escadinha, a cada dois anos, vieram nossos outros filhos. Primeiro Pietro,
depois Dante. Aurora era louca para ter uma menina, então fizemos nossa última tentativa, antes
de “fecharmos nossa fábrica”, e assim, dois anos depois, nasceu nossa Nina.
A viagem de lua de mel que prometi à Aurora, só foi realizada, depois que Nina
completou quatro anos.
Meus pais viajaram diversas vezes, por diversos lugares, até que decidiram fixar
residência numa casa próxima à mansão que moramos, na verdade, no terreno localizado ao lado
do nosso. A princípio, não aceitamos bem sua mudança, mas depois de uma conversa sincera,
entendemos que a mudança não era sobre nós, mas sim sobre eles quererem um espaço só deles.
Aurora só aceitou depois que meus pais e irmão se comprometeram a vir almoçar todos
os domingos em casa. E passar todos os natais juntos.
Meus sogros e cunhado continuam sendo ausentes, comparecendo aos aniversários das
crianças, mas sem se aproximarem demais.
Meu cunhado se casou com uma moça, filha de um dos capos da Camorra e assumiu o
posto do pai, que agora passa seus dias no clube de golf, deixando a mulher em casa e sozinha.
Para a alegria do meu amigo Enrico, Rafaelli, seu primeiro filho nasceu poucos meses
depois de Vitor, e para completar sua família, na mesma época em que Aurora engravidou de
Nina, Milena também engravidou de Violetta.
Steffano casou-se com Valentina, dando a Matteo sua tão sonhada mãe, mas essa, é uma
outra história...

Fim
Espero que tenham gostado da história de Tommaso e Aurora, tanto quanto amei escrevê-
la.
Enquanto escrevia A Escolhida do Don, a história de Tommaso e Aurora foi se formando
em minha mente, e não pude deixar de compartilha-la com vocês.
Dizem que os livros tem vida própria e eu concordo com isso. Assim como tenho certeza
que os personagens também esperam por seu momento de brilhar.
E chegou a vez desse casal lindo contar suas aventuras a todos. Esta história me encantou
do começo ao fim.
Nada do que fazemos, fazemos sozinhos e para que este conto tenha chegado ao fim, tive
ajuda dos meus anjinhos. Sem eles, eu não teria conseguido.
Começo agradecendo a Deus, por me dar saúde, força, inspiração e meios para que esse
momento pudesse chegar.
Minha família que esteve a todo momento ao meu lado, me incentivando e apoiando em
tudo. Principalmente à minha mãe, com suas sugestões relevantes.
À minha querida assessora, Hylanna Lima, minhas mãos, pernas, braços e mente, sem ela,
não teria conseguido. Grata pela betagem, pela paciência, conselhos, ajuda e todo suporte.
Minha prima Noely Pacheco do Amaral pela revisão e muito além disso, com seu apoio e
orientação.
Minha amiga Silvia Torralbo pela betagem, por me apoiar incondicionalmente e me
colocar no foco, sem falar no incentivo.
A Autora Lysa Moura, pelas artes maravilhosas e a capa, além de me dar várias dicas
valiosas.
Meus amigos que me apoiaram e me tiraram muitas dúvidas, em especial Lucas Julien,
Fabio Calil, Ronivon Carriello, Luiz Montez, Luciana Valente da Costa e Emilia Fernandez
Gayo.
Mas meu agradecimento maior é a você meu leitor. Espero que continue comigo em
outras aventuras.
Para mais informações sobre meu trabalho, sigam-me nas redes sociais.
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Até breve
Yole Quaglio
A ESCOLHIDA DO DON
Vitor Moretti é o filho destinado a suceder seu pai como Don da Cosa Nostra.
Ele é um "bad boy" que foge do compromisso do casamento, mas uma tradição
inquebrável da família o força a encontrar uma esposa antes de assumir como Don.
Violetta Romano, uma mulher doce e estudiosa, criada sob a proteção zelosa de seu pai, o
capo Enrico Romano, é a CEO das empresas legais da família. No entanto, ela se torna um alvo
constante para sequestradores implacáveis.
Um antigo acordo de casamento deve ser respeitado por ambos.
Será Vitor capaz de proteger sua prometida?
Violetta será capaz de conquistar o coração de Vitor?
Venha conhecer suas histórias em "A Escolhida do Don", onde você encontrará um
passado turbulento, muita ação e uma história de amor.
LEIA AGORA
Por favor, deixe sua avaliação ela é muito importante e irá me ajudar a melhorar como
autora. Muito obrigada!
Yole Quaglio

[1]
Essa troca de funções está descrita no Livro 1 da Série Família Moretti – A Escolhida do Don
[2]
Refere-se à Cosa Nostra
[3]
Equivalente ao Ensino Médio no Brasil
[4]
Cuore Mio – Meu coração em italiano
[5]
Nome Fictício, criado pela autora

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