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CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
SOBRE A AUTORA
Essa é uma obra de ficçã o, onde nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos sã o produtos da imaginaçã o da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.
Todos os direitos reservados.
É proibido o armazenamento e/ou a reproduçã o de qualquer parte
desta obra, através de quaisquer meios – tangíveis ou intangíveis – sem
o consentimento escrito pela autora. A violaçã o dos direitos autorais é
crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do
Có digo Penal.
Revisado de acordo com a Nova Ortografia da Língua Portuguesa.
Capa: LChagas designer
Revisão: Danielle Oliveira
Diagramação: Nikole Santos
1o ediçã o
COPYRIGHT © 2024 NIKOLE SANTOS
Eros Werneck nunca escondeu o orgulho que sentia em ser tã o bem-
sucedido aos 25 anos, tampouco o poder que nascer na família Werneck
lhe permitia ter, embora nã o se sentisse tã o amado dentro dela. Ele
também sabia que o seu sucesso incomodava, mas nã o a ponto de
armarem e o colocarem atrá s das grades.
Dois meses na prisã o, foram capazes de quebrar o jovem egocêntrico e
acabar com o seu respeito, mas fora dali, mais decepçõ es o esperavam. A
sua ex-namorada estava casada com o seu irmã o e sua empresa em
ruínas.
O que ele deveria fazer? Se acostumar ou se vingar?
Liz Stuart, a prima da ex-namorada de Eros, esperava dele o pior, já que
nos poucos encontros que tiveram, as coisas nã o foram amigáveis. Para
ela, se envolver com Eros seria uma grande burrice, pois ela o
considerava um grande erro, no entanto, o destino os coloca no mesmo
caminho, e tanto Liz quanto Eros acabam encontrando algo inesperado
um no outro, quando na verdade deveriam se evitar a todo custo.
Será que Liz e Eros conseguirã o superar suas diferenças e encontrar a
redençã o juntos, ou seus destinos estã o selados pela má goa e pelo
passado conturbado?
Sumá rio
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
SOBRE A AUTORA

Confesso que sempre tenho dificuldade de fazer os avisos do autor. O


que falar sobre o que vocês vã o ler? Eros e Liz estã o tirando o meu sono
desde novembro de 2023, mas antes disso, eu já tinha um plano, outra
histó ria, a outra foi completamente apagada e nasceram esses
protagonistas com passados traumá ticos que nã o poderiam lidar de
uma forma melhor com os seus problemas.
Poderia definir o Eros como protetor, ciumento e apaixonante, mas em
uma palavra só , eu diria que ele é carente. Carente de amor familiar, de
um relacionamento onde enxergue que nã o precisa procurar em outras
o que já tem na sua parceria.
E a Liz, ela precisa de confiança. Nã o em si mesma, mas nos outros, que
acabaram com essa capacidade nela. O primeiro aviso que trago é
contém gatilho de assédio sexual. E se você nã o se sentir bem com
esse tema, sugiro nã o prosseguir com a leitura, apesar do livro nã o
abordar afundo esse assunto, nã o ser um drama adolescente, você pode
sentir, qualquer um pode sentir na parte onde Liz toca sobre ele.
Também contém cenas de tortura, como sufocamento, e elas estã o em
itálico, entã o, se nã o se sentir bem ao iniciar a leitura das cenas, saiba
que ao passar o itálico, elas chegam ao fim e nã o interferem no
entendimento do texto.
Embora esses assuntos estejam presentes, o livro é um romance leve,
Eros e Liz sã o um casal de deixar o coraçã o quentinho.
Boa leitura, nã o esqueçam de avaliar e até o pró ximo romance.
Com carinho, Nikole Santos.
Se você gosta de ler ouvindo uma trilha sonora, aqui está a seleçã o de
mú sicas com a vibe da histó ria. Pode escanear o có digo acima ou clicar
aqui.
“Nem sempre as pessoas que dizem que nos amam são capazes de nos
proteger. E não digo dar sua vida ou se colocar em risco pela gente, digo
sobre tomar decisões que afastam o perigo de nós.”
Liz Stuart
Saio da prisã o nesta noite escura, com o meu coraçã o pesado de
ressentimento, ansiedade e raiva. Dois longos meses da minha vida
foram consumidos atrá s das grades, por algo que nã o cometi, mas
finalmente estou livre.
No entanto, a liberdade que eu ansiava trouxe consigo um peso que nã o
previa carregar: durante o período em que estava pagando por algo que
nã o cometi, descobri que o meu irmã o e a minha namorada estã o em um
relacionamento.
Os tormentos que vivi na cadeia serviram como distraçã o e me
distanciaram desse problema, mas, desde que nosso advogado me
alertou sobre a possibilidade de liberdade, ansiei pelo momento em que
iria encarar isso e, mesmo tentando nã o acreditar, a raiva já me
consumia.
Essa noite além de fria, está chuvosa, mas nem mesmo a chuva foi capaz
de afastar os curiosos que querem registrar a minha saída da cadeia. Já
nã o vejo como sorte ser um Werneck.
A minha família é bastante conhecida em Nova York e nã o tenho dú vidas
de que a minha prisã o causou um grande falató rio, já que o meu pai
apareceu enfurecido comigo em todas as visitas que me fez e neste
momento nã o é diferente.
― Senhor Werneck, pode nos conceder uma entrevista? ― Uma das
jornalistas que afunilam o corredor de corpos curiosos, aponta um
microfone para meu pai.
Estou logo atrá s, me escondendo debaixo da capa de chuva. Nunca fui
bom com entrevistas. Já até arranjei brigas em outras ocasiõ es, entã o
acredito que ela prefere perguntar a quem nã o arremessará o aparelho a
metros daqui.
― Nã o. ― responde curto e grosso.
Franqueza é o que eu e meu pai temos de mais parecido.
Nos apressamos e as perguntas sã o lançadas uma apó s a outra.
― Você se arrepende do que fez?
― Se é inocente, quem é o culpado?
― O que pretende fazer agora que perdeu a maioria dos só cios?
― O que acha da sua namorada ter se casado com o seu irmã o?
Paro de andar depois de ouvir essa ú ltima.
O meu relacionamento com Olívia nã o era lá essas coisas e um dos
motivos era que a gente nã o aparecia muito juntos. Para mim, era uma
forma de manter o que tínhamos mais reservado, longe da intromissã o
de quem nã o tinha nada a ver com a nossa vida. Para ela, parecia que eu
nã o valorizava o que tínhamos. Era o que eu ouvia sempre que aparecia
sozinho em algum evento.
Claro que as pessoas sabiam, afinal, sempre tem alguém de olho na
nossa família e nos nossos negó cios, mas nã o esperava ouvir essa
pergunta. Nicholas fez questã o de transformar esse assunto em algo
pú blico.
O que acho da minha namorada ter se casado com o meu irmão?
Aperto o punho com força ao ponto das minhas unhas quase cravarem
na pele. A minha respiraçã o fica mais intensa quando a vontade de
silenciar com um soco quem trouxe esse assunto à tona me domina. No
entanto, me contenho e me encaminho para o carro, cuja porta já está
aberta para mim. Entro e fecho-a imediatamente. Meu pai está sentado
do outro lado do banco, com um telefone no ouvido e o nosso motorista
acelera, afastando-nos daqueles que tentam tirar fotos através do para-
brisa.
― Simon, nã o quero nosso nome em mais nenhum assunto além dessa
saída ― diz meu pai ao telefone.
Simon Cole é nosso advogado e, com a sua equipe, resolve a maior parte
dos problemas que temos com as empresas e imagem. O homem tem
muitos contatos, assim como meu pai. Os dois literalmente me
mantiveram vivo a base de influência desde que perdi a minha
liberdade.
Percebo a respiraçã o pesada do homem ao meu lado e removo o capuz
da capa que antes me protegia, agora deixando o banco de couro do
carro molhado. Seus olhos fixam em mim e, ao perceber que nã o estou
no meu melhor estado, ouço um bufar dele. Em um breve olhar,
testemunho sua desaprovaçã o ao balançar a cabeça de um lado para o
outro.
― Onde foi que errei? ― Essa é uma das frases que ouvi constantemente
nas suas visitas à prisã o, seguida de “você nunca parou para me ouvir”. ―
Você nunca parou pra me ouvir, Eros. ― Completa, como imaginei.
― Deveria estar contente, já que nas vezes em que nos encontramos nos
ú ltimos meses, nã o pude fazer nada além disso ― ironizo.
― Foi muito difícil te tirar de lá e nã o farei novamente. Lembre-se disso
quando planejar mais uma burrice ― avisa ríspido.
Respiro fundo engolindo as palavras que estã o presas na minha
garganta. Dizer que planejei essa situaçã o é só mais uma prova de que
ele sempre me enxerga como o errado da família. Nã o planejei um
roubo, armaram para mim, colocaram as malditas armas no meu carro e
se eu errei em algum momento, foi quando emprestei meu automó vel
naquela corrida.
Olívia estava exausta, reclamando a cada minuto do barulho, da bagunça
e de como aquele lugar nã o era para nó s. Eu gostava de corridas. Tinha
um carro esportivo nã o à toa e apreciava a velocidade. Olívia nunca foi
assim, ela é mais reservada e cautelosa. Entã o, peguei outro carro e a
levei para casa, o que resultou em uma discussã o entre nó s.
Retornei para a festa, onde me devolveram o meu carro. No caminho de
volta para casa, fui seguido pela polícia. Nã o era coincidência, era
evidente que eles sabiam. Quem nã o sabia era eu, e sem chance de
escapar ou ao menos apresentar uma prova que me livrasse naquele
momento, fui condenado.
Relembro daquela maldita noite, mas evito mencioná -la. Já narrei essa
histó ria dezenas de vezes ao meu pai, ao Cole e até para minha mã e, no
dia que me visitou aos prantos. Os meus pais questionaram o meu
envolvimento em atividades ilícitas, focando pouco no verdadeiro
problema: a armaçã o que fizeram contra mim. Jamais traficaria armas.
Eu estava bem estabelecido com a minha holding e outros investimentos.
Apenas quem se recusava a enxergar a falta de sentido nisso tudo
acreditou nas acusaçõ es.
A prisã o está a vinte quilô metros da cidade, e poucas casas pontilham a
beira da estrada. Assim que chegamos a Nova York, uma ansiedade
crescente volta a me consumir. Encarar o mundo depois desse tempo me
traz alívio, mas também nervosismo.
Ser eu nã o está sendo tã o fá cil. O meu sobrenome e o meu rosto
possibilitaram que eu me livrasse dos problemas que eles mesmos me
trouxeram. Eu, que sempre fui sociável, fiz de tudo para nã o ser
reconhecido, para evitar mais complicaçõ es. Em resumo, neste
momento, nã o sei mais quem sou e muito menos como reagir diante dos
outros.
Nosso motorista nos conduz ao condomínio onde está localizada a
mansã o da nossa família. Passamos pela segurança e eu conto os
minutos para chegar em casa. A incerteza paira sobre se encontrarei
meu irmã o e Olívia. Aos vinte e oito anos, possuindo seu pró prio
apartamento, Nicholas parece preferir viver na casa dos nossos pais.
Nã o sendo hipó crita, eu também faço o mesmo.
Casou-se... essa palavra ressoa na minha mente.
Ao estacionar em frente à mansã o de dois andares, moderna como
minha mã e adora e que, pelo visto, nã o mudou nada nos ú ltimos meses
― ela também adora reformas ―, percebo a ausência do carro de
Nicholas, assim como o de qualquer outra pessoa.
― O meu carro ― sussurro, dando voz aos meus pensamentos.
― Isso nã o é problema meu ― responde meu pai com rispidez e entã o,
sai do carro. Faço o mesmo em seguida.
A chuva passou.
Espero que o meu carro esteja em casa.
As casas nesse condomínio ficam bem distantes umas das outras,
proporcionando privacidade, e os muros sã o afastados das construçõ es.
Toda a extensã o ao redor da casa é coberta de grama. Há algumas
á rvores e um largo caminho com degraus de concreto por onde
caminhamos até chegarmos à enorme porta de madeira.
Entramos sem aviso prévio.
Lamentavelmente encontro Nicholas e Olívia colados no sofá ,
conversando e trocando sorrisos. Paro na entrada e observo os dois
enquanto a adrenalina e a raiva se espalham pelo meu corpo, ao ponto
de causar tremores. Ambos olham na nossa direçã o, especificamente
para mim. Quando os meus olhos encontram o par de olhos pretos de
Olívia, recordo-me da ú ltima vez que vi o escuro dos seus cabelos e a
palidez da sua pele diante de mim.

Ela se sentou na minha frente, à pequena mesa da sala de visitas. Tremia e


tentava controlar os movimentos involuntários de uma mão com a outra.
Mais pálida do que o normal, a sua voz também estava irregular e o olhar
inquieto.
― Um mês depois... ― comentei admirado com a sua ausência.
― Eros, eu... fiquei assustada com o que aconteceu.
Balancei a cabeça para o que ouvi.
― Você acha que encarar essas coisas é fácil? A minha família não é menos
conhecida que a sua! Foi uma grande confusão.
― E agora?
― Agora... ― Encarou as mãos e fez uma pausa ― Eros, eu pensei bastante
sobre a gente...
― Não ouse ― alertei e ela olhou para mim com medo.
A minha vida já estava desgraçada demais para ouvir o que previa que ela
queria falar.
― Está nítido que não dá certo ― explicou como uma súplica.
― Está fazendo isso porque estou preso? É por isso que não me
cumprimentou? Não acha que já estou ferido o suficiente?
No dia eu estava com um olho roxo, o lábio cicatrizando. A encrenca havia
me encontrado.
― É isso que você sempre faz, toda vez que tento falar, você se faz de
vítima, me manipula e ficamos nesse ciclo. Esse tempo distante me
mostrou muitas coisas e por isso, eu vim aqui para dizer que devemos
continuar assim. ― Levantou-se. ― Mas espero que fique bem.
Sem entender o fim dessa conversa, permaneci sentado enquanto a
assistia indo embora. Uma semana depois tudo ficou bem claro. Ela estava
com Nicholas e quem me contou foi o meu pai, nitidamente satisfeito,
como se visse aquilo como um castigo para mim.
Eles se levantam, e eu analiso meu irmã o. Impulsivamente, avanço em
sua direçã o. Olívia se coloca na frente, implorando para que eu pare, mas
eu a afasto e empurro Nicholas contra o sofá . Desfiro um soco no seu
rosto com o punho direito e, segundos depois, outro.
A raiva me domina e tudo o que quero é descarregá -la na pessoa
responsável por isso. Como o odeio! Sempre ele! Nicholas tenta me
afastar e revidar. O nosso pai segura os meus braços, puxando-me para
trá s, mas a sede de vingança só me leva para frente.
― Olívia, você está bem? ― Ouço a minha mã e perguntar e olho em sua
direçã o.
Olívia se levanta com sangue nas mã os, e isso me preocupa, mas nã o
diminui o ó dio que sinto.
― Olha o que você fez! ― Nicholas levanta e acerta o meu olho esquerdo
com seu punho.
Levei tantos desses nos ú ltimos meses que a dor nã o me amolece.
― Parem! ― ordena o nosso pai, enquanto me segura.
De mã os atadas, ergo as pernas para acertar novamente o meu irmã o,
mas ele recua e dá atençã o a Olívia, que adora isso.
― ELA ESTÁ GRÁVIDA! ― esbraveja Nicholas odioso.
― O quê? ― indago e paro de lutar para me soltar e fito Olívia, surpreso
com a novidade.
“Grávida!”
Ela passou dois anos comigo, mas em dois meses ficou grávida de um
filho do Nicholas. Que surreal! Faria sentido se eu tivesse ficado um ano
ou mais na cadeia, mas foram só dois meses. É um absurdo. Me pergunto
o que levou essas pessoas a tomarem essas decisõ es. Será que essa
pressa toda era para aproveitar que eu estava longe?
A governanta corre com toalhas para limpá -la, e vejo que um dos
enfeites de vidro está no chã o, quebrado. Ela deve ter caído por cima
quando a afastei. Nã o pretendia machucá -la, mas ninguém me impediria
de acertar esse oportunista com o meu punho. Almejei esse momento
desde que soube dessa situaçã o e até me dá um certo alívio ouvir essa
histó ria de gravidez. Deve ser golpe.
― Você nunca vai deixar de ser assim, Eros? ― questiona Olívia com
desprezo. ― Eu nã o senti a sua falta.
― Deixa que eu limpo. ― Nicholas toma a toalha das mã os da governanta
e passa no braço de Olívia, se fazendo de alheio à conversa.
Balanço a cabeça aceitando a sua declaraçã o.
― Claro que nã o sentiu a minha falta, já que enquanto eu estava preso
por algo que nã o fiz, você estava fodendo com o meu irmã o. Ainda
bancou a sonsa indo até lá , com aquele papo de que viu que era melhor
ficarmos separados. Tentou encobrir a traiçã o terminando comigo, para
uma semana depois eu ouvir que vocês estavam juntos ― digo
ressentido.
― Eu nã o encobri nada ― afirma Olívia com os olhos marejados.
― Você é podre! Nã o é melhor do que eu, Olívia. ― Solto-me do meu pai
encarando a garota desprezível.
É difícil acreditar que um dia a amei, que a enxerguei como a pessoa de
coraçã o mais puro da terra. Bastou eu me afastar que ela mostrou sua
verdadeira face.
― Cala a boca, Eros! ― ordena Nicholas. ― Sério que você quer discutir
isso agora? Depois de machucá -la?
― Falou o santo da família ― debocho.
― Eros, filho, para! Você acabou de sair da prisã o. É sério que já quer
arrumar mais problemas? ― questiona minha mã e entristecida.
Estou perplexo com essa situaçã o. Claro que eu nã o esperava um jantar
em família, felicidade pela minha volta, tratamento de realeza, pena ou
cuidado, mas isso é pior do que abrir a porta e nã o encontrar ninguém.
― Entã o o problema é eu ter sido preso? Sério que é só esse o problema?
Nicholas comer a Olívia enquanto eu estava preso, se casar com ela e
engravidá -la nã o é um problema para vocês. É isso, né? ― Analiso
admirado e tanto o meu pai como a minha mã e abaixam a cabeça.
― Eros, já tivemos uma noite turbulenta, saímos da cadeia debaixo de
chuva e flashes, por que nã o sossega um pouco? ― pede o meu pai
impaciente. ― Será que nã o sabe passar um minuto sem brigar com
alguém?
Nos vinte e cinco anos de vida que vivi, presenciei muita safadeza, mas
como isso, nunca.
― Desculpa. ― Ergo as minhas mã os. ― Desculpa. Parece que eu tirei a
paz da família tradicional perfeita. Quem sou eu para reclamar de uma
situaçã o dessas, nã o é? Nã o tenho um porquê. Nã o devo. Que loucura!
Desculpa. Aliá s, eu vou deixar vocês em paz. Afinal, é super comum um
irmã o se deitar com a namorada de outro irmã o enquanto ele está preso.
Já está claro que mesmo no meu direito de reclamar, permanecerei
sendo visto como o errado.
Confiro se estou com o que preciso para me retirar. As ú nicas coisas que
carrego comigo sã o as chaves do apartamento e a carteira, ambas estã o
no meu bolso, entã o sigo para a saída.
― Para onde você vai, Eros? ― questiona minha mã e.
― Para onde deveria ter ido desde o início.
Saio e bato a porta.
No inverno, quase que universalmente, acreditamos que nã o há lugar
melhor do que a nossa casa para enfrentar o frio. Mas há quem prefira
desfrutar de uma bebida quente, como chocolate ou pinga, em locais
alé m das suas casas, como na renomada cafeteria Coffee & Cookie. E eu
que, durante o frio, venho para este café , nã o para saborear o delicioso
chocolate quente que oferecem, mas para atender a essas pessoas.
Já estou há um mês e meio trabalhando no café. Está sendo bom. O lugar
é bem frequentado, seguro e paga bem. Essa foi a maneira que encontrei
para ajudar a minha mã e, já que o trabalho como recepcionista nã o está
sendo suficiente para arcar com as nossas despesas, e moramos apenas
nó s duas desde que meu pai foi embora.
Somos três garçonetes: eu, Miranda, que é como a gerente, e a Paige, que
possibilitou a minha contrataçã o. Eu e Paige ficamos das duas horas da
tarde até as dez horas da noite.
Nessa noite falta pouco mais de uma hora para irmos para casa. Já
começamos a limpar tudo enquanto ouvimos o ú ltimo noticiá rio da
noite. Particularmente, nã o gosto muito de noticiá rios e dou pouca
atençã o, mas ao ouvir o nome Eros Werneck é impossível nã o olhar para
a tela pregada na parede.
“― Na noite desta quinta-feira, o empresário Eros Werneck recebeu
liberdade após dois meses detido por tráfico de armas. O jovem de
vinte e cinco anos foi solto após pagar uma fiança milionária.” ―
disse a jornalista enquanto, em um lado da tela, passavam imagens
do momento em que Eros, acompanhado de seu pai e debaixo de uma
capa de chuva, saiu da penitenciária.
Saber dessa notícia me deixa com um tremendo frio na barriga,
preocupada com o que pode acontecer com a minha prima, Olívia, que
namorava o playboy e durante esse tempo sem ele, se apegou ao
cunhado a ponto de ficarem juntos e se casarem. Ela está grávida e, pelo
que sempre ouvi nas conversas entre a minha mã e e a mã e dela, que sã o
irmã s, ela nã o está arrependida, pois o relacionamento com Eros nã o era
nada fá cil, ao contrá rio do sonho que está sendo com Nicholas.
Eros tem cara de problema. Seus olhos verdes penetrantes sã o um aviso
prévio do perigo que ele oferece. Eu, nas poucas vezes que o encontrei,
nã o consegui ficar muito tempo por perto. Tanto por saber que ele era
ruim com Olívia e nã o concordar com esse tipo de relacionamento,
quanto por nã o suportar o jeito dele.
Parece que o seu olhar atravessa a alma e descobre todas as fraquezas
que a pessoa carrega. Até o jeito que ele caminha, os ombros largos e
fortes balançando conforme seus passos, como um lutador, transmitem a
marra que ele tem. Sem contar nas tatuagens. As malditas tatuagens no
pescoço.
― Saiu? ― pergunta Paige, parando ao meu lado.
― É o que diz o noticiá rio.
― A mã e dele ficará feliz. ― Ela se afasta com um pano na mã o.
Concordo com sua opiniã o. Desde que passei a trabalhar na cafeteria,
descobri que uma das clientes mais fiéis do lugar era a mã e dele e,
apesar de ser uma socialite bem elegante, ela sempre nos trata bem. Nã o
pode ver uma de nó s parada que já vem com algum assunto. Lamentou
muito pelo filho preso, nunca falou nada tã o particular, mas vivia
esperando esse momento. Deve estar feliz esta noite.
Penso em mandar uma mensagem para Olívia, mas desisto assim que
encaro o fato de que nó s que assistimos à TV fomos os ú ltimos a saber
disso. Ela já deve ter reencontrado o ex e em breve a minha tia contará
tudo para minha mã e, que contará para mim. Volto ao trabalho e deixo
esse assunto de lado.
O sino da cafeteria toca, anunciando mais um cliente. E esse tem sido
bem frequente por aqui. Luigi, o meu colírio de cabelos loiros e olhos
azuis. Ele vem até o balcã o com um sorriso no rosto que me contagia e
se debruça charmoso sobre a madeira.
― Olá ! ― diz com sua voz doce.
― Olá ! ― falo num suspiro. Sempre fico sem fô lego quando ele aparece
desse jeito.
Desde que me elogiou há duas semanas, passei a olhá -lo com outros
olhos. Digamos que em matéria de amor eu nã o sou experiente como o
meu atrevimento à s vezes transmite. Confesso que uma paixã ozinha
nasceu pelo Luigi, porque além de lindo, ele sempre é gentil comigo.
― Já estã o fechando? ― Ele olha para Paige limpando uma das mesas
vazias.
― Ainda dá tempo de tomar alguma coisa. ― Sorrindo, aponto para o
reló gio de parede. ― Deseja alguma coisa?
― Sim. Vai rolar uma festa amanhã na minha casa. Você podia aparecer
por lá ― diz simplesmente.
É difícil respirar com um convite desses. Sem dú vidas é tudo o que eu
quero. Luigi me olha com interesse, e nã o é exagero meu, já que Paige
outro dia reparou no mesmo. Agora ele me convida para uma festa em
sua casa. SUA CASA! Se isso nã o for um “eu tenho muito interesse em
você”, eu nã o sei mais o que é.
― Uma festa? ― pergunto como uma boba.
― Sim. O meu aniversá rio. A sua presença seria um ó timo presente. ―
Ele se afasta do balcã o e dá uma piscadela para mim.
Puta merda! As minhas pernas falham, e nã o contenho a cara de
felicidade. Talvez eu esteja parecendo boba. Certamente está na cara que
tenho interesse nele, mas eu nem ligo, pois se é mú tuo, por que
esconder?
― Talvez eu apareça. ― Tento parecer difícil, mas, ir para uma festa
dessas exige um pouco de esforço da minha parte.
Olho para Paige e ela sorri. Ela será uma boa catapulta para o momento
que irei travar na frente do Luigi.
― Apareça.
― A minha amiga pode ir?
Ele logo sabe que se trata de Paige e, sorrindo, assente com a cabeça e
muda de assunto.
― Me traz um café — pede por fim.
― Claro! ― Me retiro e vou preparar o café empolgada. Na companhia da
Paige será muito mais fá cil.
Desde que comecei a trabalhar no café, nã o tinha ido a uma festa fora da
família. Apareci no casamento da Olívia, que foi um evento à parte, mas
nenhuma baladinha ou coisa parecida. Sinto que além de poder me
divertir, as coisas entre o Luigi e eu podem começar a acontecer.
Entrego o café para ele e vou ajudar Paige com a limpeza. Claro que a
minha atençã o está dividida entre limpar mesas, erguer cadeiras e
admirar o belo rapaz que toma o seu café enquanto mexe no celular, mas
nã o demora muito para vê-lo partindo. Os poucos clientes que ficam até
a hora de fechar também vã o embora e faltando cinco minutos, nó s
saímos da cafeteria.
Paige e Miranda moram na contramã o do caminho que preciso fazer
para a minha casa. Enquanto vã o a pé para casa, preciso caminhar um
pouco para pegar um ô nibus no ponto e aí sim, descer na frente de casa.
As ruas da cidade sã o bem iluminadas, mas ainda me causam certo
receio, sensaçã o de que estou sendo observada e até mesmo seguida
todas as noites quando estou no meio do caminho para o ponto de
ô nibus.
Mas sempre ando preparada para me proteger, caso precise, desde
criança.
Chego antes da hora e fico admirando o outdoor do rapaz do creme para
espinhas que tem ali na frente para me distrair, já que prefiro nã o pegar
no meu celular nesses pontos onde posso sofrer um assalto.
O ô nibus é pontual e quase vazio em comparaçã o ao que eu pego para
vir ao trabalho. Alguns minutos depois, desço em frente ao prédio onde
temos um apartamento. Quando passo pelos portõ es, sempre me sinto
segura. Entro no prédio, subo até o segundo andar pelo elevador mesmo,
já que o tempo no ô nibus nã o é suficiente para descansar as minhas
panturrilhas depois da marcha atlética que fiz da cafeteria até o ponto.
Do lado de fora do apartamento, vejo que a minha mã e nã o chegou, pois
a luz sempre passa por baixo da porta, mas desta vez está apagada e isso
me preocupa imediatamente. Ela sempre me espera e o seu trabalho nã o
se estende pela noite. Entro e acendo lâ mpada por lâ mpada enquanto
averiguo sua ausência. Ao chegar na janela do seu quarto, vejo um carro
parado em frente ao prédio e ela conversando com o motorista. Mais
estranho ainda. Nã o a espero subir.
Tomo banho e visto algo mais quente que o jeans e o suéter que usava. O
pijama de ovelhinhas que ganhei de aniversá rio serve bem para isso e
assim que apareço na sala, encontro a minha mã e debruçada na janela
sorrindo distraída, enquanto seus cabelos alisados voam com o vento
frio.
― Mã e?
Ela olha para mim.
― Liz! Que bom que chegou! Eu estava preocupada ― fala sorrindo.
Esse sorriso é de preocupaçã o? Estou em dú vida.
― Aconteceu alguma coisa no trabalho? ― pergunto desconfiada.
― Nada ― responde abobalhada e senta no sofá para tirar os seus
sapatos. Cruzo os braços analisando a aura de adolescente emanando
dela.
― Quem te trouxe, senhorita Stuart?
Ela ri do que falei.
― Um amigo ― responde sem entrar em detalhes, me deixando mais
desconfiada ainda.
― Amigo? ― questiono curiosa.
Nã o esperava ouvir isso nesse tom de voz.
― Isso. Só um amigo. ― Ela levanta e vai para o seu quarto se
espreguiçando. ― Que dia longo!
Amigo? Parece até que ela acha que eu ainda sou uma criança que
facilmente é enganada na histó ria do amigo. Só de falar assim, agindo da
forma como ela está , sei que está se envolvendo com alguém e isso me
deixa receosa, com medo de reviver coisas que prefiro nã o lembrar.
Embora já seja uma adulta de vinte anos, muita coisa continua igual
como quando aconteceu. O meu intestino estremece quando uma breve
lembrança de ver a porta do meu quarto sendo trancada por alguém que
tinha o dobro do meu tamanho e a maldade que eu nã o carregava.
Nã o aceitarei homem nenhum nessa casa.
Assim que abro a porta da minha casa, que fica em outro condomínio,
espirro. Parece que a minha faxineira me abandonou. Nã o posso julgá -
la, pois ningué m trabalha de graça e eu nã o estava aqui para pagar por
seus serviços. Ao menos tudo está arrumado.
A casa nã o é uma mansã o, mas tem uma sala espaçosa com um grande
sofá de couro caramelo, que eu particularmente sempre acho horrível, e
alguns mó veis pequenos ao lado do sofá , que serviam para apoiar os
vasos que quebrei na noite antes de ser preso.
O piso branco de porcelanato muitas vezes me irrita ao acender a luz,
pois o brilho desses porcelanatos é notável. Nas paredes, estã o quadros
arrematados em leilõ es, os dois quartos estã o de portas abertas e a
cozinha moderna, que fica no largo espaço entre eles, também está
organizada. A enorme geladeira de inox chama tanta atençã o quanto os
três lustres pendurados acima do longo balcã o de má rmore preto.
Passo o dedo sobre a superfície e arrasto a poeira. Sem dú vidas, precisa
de limpeza, mas para isso, preciso carregar meu celular e falar com ela.
Deixo o aparelho no quarto, carregando, e pela primeira vez, pretendo
ficar em casa, sem visitas ou jantares na casa de meus pais. Depois de
ver que os seus conceitos morais sã o seletivos, prefiro ficar longe.
No espelho que toma um lado ao outro de uma das paredes do banheiro,
reparo no novo machucado que ganhei. Nicholas é pior do que eu
imaginava. Sempre foi só nó s dois, mas ele era o filho planejado e eu o
acidente.
Deveria ser o contrá rio, mas quando tive idade suficiente entendi que
ele era criado para ser a có pia do nosso pai e eu recebia uma atençã o
mediana, pouco se importavam com quem eu seria no futuro. Era como
se Nicholas fosse o Príncipe William, o futuro rei, e eu o Príncipe Harry.
“Não nos importamos com o que você faz desde que não envergonhe nossa
família.”
Na infâ ncia, fiquei enciumado. Na adolescência, principalmente na época
da faculdade, festejei por nã o ter que ser o perfeito. Ele sempre teve
tudo, toda a atençã o, os elogios, as esperanças, era o legado.
A ú nica forma de eu chamar a atençã o dos nossos pais era cometendo
erros, e a ú nica vez que pude dizer que estava à frente dele foi quando
namorei Olívia. Agora ele a tem. Possui o mérito, é o orgulho da família e
tem a garota que todos os caras querem.
Ele sempre se vestiu como um bom moço, educado, gentil, atencioso,
inteligente, um cavalheiro. Mas eu era esperto e galanteador, entã o ele
nã o foi mais rá pido do que eu quando Olívia apareceu no nosso
caminho, mas o covarde esperou o momento certo, onde eu nã o poderia
fazer nada, e foi para cima dela. Também achei que Olívia fosse outro
tipo de pessoa.
Sei que errei muito no nosso relacionamento, mas ela sempre descobria,
obsessiva como era, sempre investigando cada passo que eu dava,
porém, diferente de mim, ela nem tentou esconder o que aprontou. Me
traiu com o meu pró prio irmã o.
Ela é podre, assim como seu pai e sua mã e sã o. Pouco importa para eles
se Olívia está comigo ou Nicholas, desde que seja um Werneck e que os
negó cios continuem prosperando, como aconteceu desde que comecei a
namorá -la e os aproximei da minha família.
Ela nã o sentiu minha falta e parece estar feliz com Nicholas enquanto
me envergonha dessa forma e analisando bem a situaçã o, nã o saí
perdendo, afinal, existe muitas mulheres como ela nesse meio em que
vivemos. Um bando de safadas interesseiras.
“Boa sorte para ele, para os dois.” Penso com raiva e pelo menos por um
momento, decido parar de pensar nesses dois.
Tomo um banho e deixo a bolsa de gelo no freezer para colocar no
machucado. No meio desse silêncio que pela primeira vez me faz sentir
paz e nã o impaciência, ligo o celular para saber o que se acumulou na
caixa de mensagens depois de todos esses dias. Uma confusã o de
notificaçõ es me deixa tonto, mas assim que todas as mensagens entram,
acesso ao aplicativo e nã o me surpreendo por ver que fui removido dos
grupos que participava.
Abro contato por contato. Garotas me dando fora e me bloqueando,
amigos perguntando o que houve naquela noite, só cios mais pró ximos
lamentando e avisando que nã o poderíamos trabalhar mais juntos, meu
braço direito na empresa enlouquecido de preocupaçã o e, no fim da
lista, a minha família perguntando se era verdade que eu tinha sido
preso.
Respiro fundo e tento pensar por onde recomeçar. Todos os setores da
minha vida estã o uma bagunça, talvez seja melhor eu começar a correr
atrá s do que perdi na minha empresa, já que correr atrá s de mulher nã o
está valendo a pena.
“Grávida! Que golpe!”
A minha mã e me ligou depois que saí de lá e ainda mandou SMS dizendo
que entendia o quanto eu estava chateado, mas que as coisas ficariam
bem daqui a um tempo, que me amava e se importava com os meus
sentimentos. A risada ficou presa na garganta. Nã o acreditei em sua
mensagem.
Tiro os lençó is da cama para deitar e ao pegar o aparelho, vejo uma
mensagem de Luigi que dizia que ele estava aliviado por saber que eu
estava livre e que podemos nos reencontrar na pró xima noite na sua
casa, os outros amigos estarã o lá também e acontecerá uma social.
Luigi é um amigo de faculdade e festas, assim como maioria dos amigos
que tenho, só nos encontramos para beber.
A ideia nã o é ruim, apesar de estar ciente da minha falta de paciência
para falar sobre os assuntos que cercam meu nome. Respondo que estou
bem e que talvez o visite.
O interfone toca e acredito que será assim por alguns dias. Mensagens,
ligaçõ es, visitas indesejadas... Levanto sem pressa e atendo na cozinha. O
porteiro do condomínio avisa que a minha mã e quer entrar.
Nunca dei permissã o para que me visitassem aqui, pois era o lugar onde
me isolava quando queria que o mundo inteiro explodisse. Mesmo
assim, ela sempre vem saber como estou, e ele me liga para avisar.
― Nã o autorizo a visita de ninguém, entendeu?
― Sim, Sr. Werneck. ― O porteiro já está ciente de que explicar que
alguém implora, chora, esperneia querendo entrar nã o me convence.
Volto para o quarto e desligo o telefone, decidido a voltar para o silêncio
de antes e deito na cama. Nã o quero ouvir a ladainha da minha mã e,
tentando me enganar com seu consolo quando sei de toda a realidade.
Me esparramo pelo espaço da cama e procuro relaxar. O conforto dela
nunca foi tã o notado pelo meu corpo como nessa noite. É possível que
tenha me tornado uma daquelas pessoas que agradece por tudo que tem
depois de experimentar coisas piores.

Acordo sentindo calor, a testa suada, o meu cobertor nã o está na cama,


mas me sento revigorado. Dormir sabendo que estava seguro era uma
das melhores sensaçõ es que já senti. Bem longe do que vivi quando
estava na cadeia.

"Despertei com um travesseiro sendo pressionado sobre meu rosto. Mal


conseguia respirar, não tinha como puxar o ar. O que saía quente se
prendia no tecido e espuma do travesseiro. Desesperado, segurei os
antebraços grossos da pessoa que tentava me matar com toda a sua força.
Sacudi as pernas, tentei empurrá-lo, enquanto a tontura começava a me
deixar fraco. Meus pulmões mal se movimentavam com o pouco ar que
restava. Erguendo a perna o mais próximo do meu tronco possível,
consegui chutar o homem, e ele gemeu de dor com meu golpe.
Segundos depois, prestes a perder a consciência, senti o demônio se
afastar e com ele foi o travesseiro. Meus pulmões arrastaram pela boca
todo ar que podiam, e com a visão escurecida, retomei o fôlego. Sentei com
dificuldade devido à tontura e vi um colega de cela espancando outro, que
de alguma forma conseguiu entrar.
Não tinha forças para fazer nada, mas não demorou para os guardas
notarem o barulho da luta e aparecerem para levar o intruso. Expliquei o
que ele tentou fazer, mas não se importaram comigo e sim com o fato de o
cara ter conseguido sair de sua cela no meio da noite e entrado na nossa.
O meu colega, um homem de quarenta anos que dedicava todo o tempo
livre que conseguia na cadeia para treinar seu corpo, lavou as mãos
ensanguentadas na pia que tínhamos ali. Ele também ficou com um
machucado no rosto.
― Obrigado. Você salvou a minha vida ― agradeci de corpo e alma, com o
coração ainda se recuperando do ataque.
Ele me olhou sem muita comoção.
― Se continuar arranjando inimigos, o que seu pai me deu não vai dar
para cobrir. ― Secou as mãos e voltou para sua cama."

Levanto morrendo de fome. Nã o como desde o almoço passado, e duvido


que encontrarei alguma coisa para comer na minha despensa. Comer
nã o é algo que eu faço rotineiramente em casa.
Assim que me refresco, visto um short e levo o celular para a cozinha. Os
armá rios estã o quase vazios, e o que tem neles nã o será preparado
muito bem por mim. Imediatamente, decido tomar café na cafeteria que
costumava frequentar antes de sair para o trabalho.
Nã o vou sair do meu roteiro, já que preciso mesmo aparecer no
escritó rio. Tenho cinco pessoas desorientadas para me reunir. Por isso,
antes mesmo de olhar as novas mensagens que chegaram, aviso para
Cole que preciso da sua ajuda para buscar o meu carro e ligo para Kevin,
que ficou gerenciando a empresa nesse tempo.
― Werneck? É você mesmo?
― Enquanto nã o tirarem esse sobrenome, sim. Como vã o as coisas?
Estava cansado demais para ligar ontem à noite.
― Que bom que está livre. Quando soube, ordenei que fizessem
levantamentos de tudo sobre a empresa. Eros, muitos sócios se retiraram,
a conta da empresa está quase no zero, na próxima semana temos os
pagamentos dos funcionários e outras despesas. A situação está péssima.
Encosto a testa na porta do closet e arfo. Eu já sabia que as coisas nã o
estavam boas, pois Cole sempre me conta tudo, mas ouvir isso de quem
já passou por momentos difíceis ao meu lado e nã o fraquejou me deixa
mais alerta à gravidade.
Kevin trabalha comigo desde que abri a Holding. Ele é o meu só cio, antes
disso era meu amigo. Confio no seu trabalho, tenho certeza de que ele se
esforçou ao má ximo, mas a minha situaçã o fodeu com tudo.
― Que droga!
Nã o há um minuto em que eu nã o pare para pensar sobre a minha
situaçã o e me arrependa de ter confiado naqueles desgraçados. Nã o sei
quem fez. Pode ter sido os que usaram o carro para a corrida, ou outra
pessoa que só aguardava um momento de desatençã o, mas no fim eu
errei em ter emprestado o carro. Deveria ter ido embora com a Olívia, e
nada disso teria acontecido.
― Assim que o pessoal enviar as planilhas e resumos, irei encaminhá-los
para o seu iPad para que você possa analisar, caso não queira aparecer
aqui hoje.
― Eu vou, Kevin. Liguei exatamente para pedir que avise sobre a reuniã o
com toda a equipe. Vou corrigir o meu erro.
Respiro fundo.
― Como quiser.
Jogo o celular na cama e escolho um conjunto social para vestir. Pelo
menos essa parte da casa nã o está empoeirada ou cheira a mofo. Opto
por um conjunto azul marinho com uma camisa preta, além do cinto e
sapatos.
Tirando o roxo do soco de Nicholas e outras marcas no meu rosto, estou
apresentável ao terminar de me arrumar. Sem dú vida, a gravata será
algo que demorarei a voltar a usar. Passo a mã o no meu pescoço e
percebo que a marca feita há quase dois meses ainda nã o sumiu.

"― O chefe quer falar com você ― avisou preso 1246.


― Que chefe? Não sei quem é o seu chefe. ― Ignorei o seu recado.
Estava certo de que aquela condição seria momentânea, que não ficaria
ali mais de três dias. Eu não era qualquer um e me assegurava nisso.
Apesar das minhas contas estarem bloqueadas, acreditava que meu pai
não me deixaria na cadeia.
Três outros presos se aproximaram, olhando fixamente para o meu rosto.
Eu estava sentado em um banco, tomando sol depois do péssimo café da
manhã que serviram. Eles ficaram ao lado do garoto de recados, que não
mexeu a boca para insistir que atendesse ao pedido do seu chefe. A sua
presença e postura me fizeram entender que não sairiam dali sem mim.
― Olha, estou me lixando para quem é o seu chefe. Estou aqui de
passagem, então sumam da minha frente. Estão bloqueando a luz do sol.
Bastou o mensageiro olhar para um lado e para o outro, que dois dos
homens que o cercavam avançaram sobre mim e me levantaram pelos
braços. Ordenei que me soltassem, furioso com a audácia, e avisei sobre
tudo o que poderia acontecer com eles se continuassem tocando em mim.
― Minha família tem contatos! Com uma ligação posso fazer com que suas
penas dobrem. Estão ouvindo? Vocês vão apodrecer aqui! ― ameacei.
Os dois homens eram mais altos e fortes que eu, por isso, meus pés mal
tocavam o chão enquanto era carregado até um beco. Os detentos que
estavam fora da situação pouco se importavam comigo, o que me deixou
furioso. Parecia que ninguém me conhecia, quando a minha família era
uma das mais ricas daquela cidade.
Me soltaram na frente de um magricela de cabelos desgrenhados, que
deveria ter uns cinquenta anos e não passaria muito disso pela sua
aparência infeliz e o cigarro que carregava entre os lábios. Ele não podia
me meter medo. Sozinho não tinha chances, e me perguntei como aquele
bando o servia. Ou eram sem cérebro ou, assim como eu, o cara tinha
dinheiro. Ele me analisou enquanto fumava.
― Fala logo o que você quer! Eu não tenho tempo para assistir ninguém
fumando. ― Minha paciência já tinha chegado ao fim.
O homem se levantou e deveria ter um metro e sessenta, pois era bem mais
baixo que eu. Segurei o riso na garganta quando ficamos cara a cara. O
desgraçado soprou a fumaça do maldito cigarro em mim. Me segurei para
não socar a cara dele.
― Foi você quem chegou querendo mandar aqui, frangote? ― perguntou
com a voz rouca. Dei um meio sorriso, pois acreditava que isso seria
possível se eu quisesse. Ele soprou fumaça mais uma vez na minha cara ―
Quando um playboy chega aqui falando demais, a gente ensina que
quando o vento vem para trazer besteira, é melhor não passar da
garganta.
No auge da minha arrogância, paguei para ver novamente. Com um
balançar de mãos, os homens me carregaram para o lado mais escondido
do beco e me colocaram de joelhos. O tal chefe tinha trocado o cigarro por
uma gravata e ria maliciosamente na minha frente.
― Vou te mostrar como usamos gravata nessa empresa. ― Ele deu a volta e
ficou atrás de mim.
O acompanhei com a cabeça e o vi dando um laço na gravata. Passou a
peça pelo meu pescoço e apertou o nó, o que me fez tossir em agonia.
Puxou as pontas e com elas o meu pescoço foi para trás, tornando mais
difícil respirar. Tentei me soltar, aflito, suando frio e com o coração
disparado. Os homens que não me prendiam estavam ali assistindo,
incluindo o mensageiro, impassíveis, enquanto eu via a hora da morte sem
ar.
― Está ficando roxo ― avisou um deles sem preocupação nenhuma. O dia
começou a escurecer diante dos meus olhos até que um apito afastou
todos eles, e eu me debrucei no chão tossindo.
― Espera, Miranda. Esses Donuts ficaram perfeitos. Merecem fotos. ―
Pego o meu celular do bolso e registro uma foto de cada prato que ela
carrega um Donut decorado com calda colorida e confeitos, ao lado de
um copo de café e outro de chocolate quente.
― Marque a cafeteria. Suas fotos sempre atraem muitos clientes. ― Ela
leva os pratos, e fico na cozinha publicando as fotos do jeito que pediu.
― Sério, nã o aguento mais atender o Senhor Johnson. ― resmunga Paige
ao aparecer e larga a bandeja na mesa com um copo de café.
― Reclamou da temperatura? ― pergunto já ciente das suas reclamaçõ es
mais frequentes. Esse senhor é um viú vo que marca presença
diariamente de manhã e de noite na cafeteria. Rico, porém, sempre
reclama de alguma coisa que é servida como pretexto para falar do
preço.
― Sim. Disse que estava doce demais, sendo que foi ele quem adoçou. ―
Ela se escora no balcã o à minha frente. ― Sério, estou a ponto de deixar
você viver as experiências negativas da cafeteria.
― Continue me poupando ― imploro com um sorriso desesperado.
Ouvimos o sino e guardo o celular.
― É você ― avisa e tiro o bloquinho e a caneta no bolso do avental preto
que fica amarrado na minha cintura para anotar o pedido.
Ao passar pelo balcã o, paraliso. Os meus olhos encontram quem eu
menos esperava ver neste lugar e pior, ele também me olha. As suas
sobrancelhas se aproximam conforme o tempo passa, deixando o seu
olhar penetrante mais profundo ainda.
― Vamos, Liz. Adiante. ― Miranda me dá dois tapinhas nas costas, e
conserto a postura para atender o meu ex-candidato a parente.
Isso existe? Sorrio em pensamento.
Não abaixe a cabeça, Liz. Não deixe ele te intimidar.
― Bom dia. O que deseja? ― pergunto fingindo que nã o o conheço. Se
nã o fosse a pose e os olhos, nã o reconheceria mesmo, pois ele anda um
pouco arrebentado. Com um roxo no olho e algumas cicatrizes.
― Quem te deixou trabalhar aqui? ― questiona intrigado.
― Oi? ― Estranho a sua pergunta.
― Com certeza estavam aceitando qualquer uma. ― Dispara e pega o
cardá pio da mesa.
Arfo com um riso.
“Era só o que me faltava. Ele fala comigo como se eu tivesse feito alguma
coisa contra ele.”
― Assim de graça, Eros? Pelo visto, a cadeia nã o te mudou, né? A minha
prima nã o errou quando disse que você era um babaca ― resmungo
baixinho enquanto rabisco seu nome no bloco de notas "babaca da mesa
10".
― O que disse? ― pergunta parecendo insultado, mas eu sei que só está
tentando me provocar.
― O que você ouviu. ― Controlo o volume da voz para parecer pacífica.
― Eles definitivamente erraram ao contratar alguém que insulta os
clientes.
― Você me insultou primeiro e gratuitamente.
Ele pigarreia e olha para mim.
― Tem certeza? ― questiona e balança a cabeça com um sorriso
confiante. ― Aquele showzinho desnecessá rio que você fez no
aniversá rio do seu tio, que ainda foi apoiado pela sua mã e, nã o conta?
― Que showzinho? ― Aperto os olhos alheia a tudo ao meu redor,
tentando entender o que ele está insinuando.
Ele ri.
― Claro que você vai colocar a culpa na bebida. Deixe-me clarear a sua
mente ― diz se aproximando ― Você entrou no banheiro onde eu estava,
me xingou de tudo quanto era palavreado de baixo calã o, disse que eu
nã o merecia a sua prima, que estava paquerando todas as mulheres da
festa e jogou bebida na minha camisa. A sua mã e também apareceu, me
insultou e te levou embora.
Murcho enquanto as lembranças passam diante de meus olhos. Falhas,
mas elas existem e juro, estavam bem guardadas, pois nã o me lembrava
disso. É isso que acontece quando eu bebo, esqueço de tudo no outro
dia. Parece que ele levou para o coraçã o.
― Bem, se eu falei, nã o deveria estar mentindo ― digo dando de ombros.
Ele ri dobrando a língua.
― Anote o meu pedido. Um café sem açú car e um sanduíche natural. E
seja rá pida, pois tenho compromisso ― fala enquanto olha para o seu
reló gio de pulso.
Anoto o pedido e dou meia volta, revirando os olhos. Será que foi por
causa disso que a Olívia nã o me convidou mais para fazer companhia a
ela? Aposto que ele a proibiu de falar comigo.
― Eu nã o estava errada. Ele sempre parece estar a fim de toda mulher
em quem coloca seus olhos. Isso nã o quer dizer que sou qualquer uma.
Ele só nã o sabe lidar com quem nã o abaixa a cabeça. É isso ― murmuro
sozinha enquanto preparo o café.
― Liz, o que você tá resmungando? ― Miranda encosta em mim.
― Nada, Miranda. Nada. ― Olho para trá s e vejo Eros de olho em mim.
“Como não vou pensar coisas dele com esses olhos perseguidores voltados
para mim? Ele acha que me intimida, e até poderia se não deixasse bem
claro o que seu olhar significa. Ou é interesse ou encrenca, mas nesse caso,
encrenca.”
― Achei aquele ali tã o diferente ― comenta baixinho enquanto prepara
um sanduíche.
― Prepara dois, por favor. Você fala de quem? — questiono curiosa.
Ela olha para trá s, e eu acompanho o seu olhar.
EROS.
E ele também está olhando para nó s.
Viramos para a pia do bar rapidamente quando percebemos o flagra.
― Só se for por fora, porque por dentro é podre — afirmo.
― O que isso significa, Liz? Nã o deixe ninguém te ouvir falando mal dos
clientes. Seja lá o que ele tenha feito, o nosso trabalho é servir bem todo
e qualquer cliente que vier aqui na cafeteria — repreende Miranda.
― A minha mã e me ensinou a ser sincera.
― Aqui você nã o precisa ser sincera. Só precisa anotar o pedido,
preparar e servir ― explica Miranda e eu sei que ela tem razã o.
Mas a poucos segundos ela estava o analisando. Reviro os olhos e só
concordo.
― Ok, Miranda. Ok. ― Arrumo o sanduíche no prato e coloco na bandeja,
junto à xícara de café.
“Espero que ele não venha aqui frequentemente, porque do jeito que ele
gosta de mim, não vou receber nenhuma gorjeta servindo à sua mesa.”
Paige passa na minha frente e chega à mesa dele.
― Bom dia, já foi atendido? ― pergunta enquanto eu me aproximo.
“Sério, Paige? Você deveria ter feito isso minutos atrás!”
Eros aponta o dedo na minha direçã o e eu estendo a bandeja com o seu
pedido para ele.
― Precisando de qualquer coisa, chame a Paige. ― Deixo o pedido na
mesa e dou meia volta com a bandeja na mã o.
― Preciso de guardanapos, senhorita Stuart.
“Inferno! Ele me marcou.”
Olho para a minha amiga e respiro fundo enquanto ela ri indo atender
outro cliente.
― Guardanapos? Ok. ― Busco no balcã o com um sorriso amarelo no
rosto e entrego na sua mesa. ― Mais alguma coisa?
― Sim. ― Ele me olha com cara de paisagem.
― O quê? ― pergunto sem jeito.
― Tem dedinho seu no que rolou enquanto eu estava fora?
“Como ele é aleatório.”
Essa pergunta foi inesperada e imprevisível.
― Por que teria?
― Porque alguém que me disse que eu nã o merecia a sua prima pode
muito bem ter aconselhado que a mesma merecia o meu irmã o.
“Acho que ele levou mesmo essa história para o coração.”

“― Não vou mentir, tia. Está sendo bem melhor sem o Eros. Nicholas tem
sido um bom amigo — comentou Olívia com a minha mãe.
― Com certeza ele deve estar sendo bom em tudo. ― A minha opinião
escapou.
― Liv, você não está fazendo nada de errado nessa amizade, né? ―
perguntou Minha mãe receosa.
― Não. ― Ela parecia falar a verdade, mas ficou sem graça com a
pergunta.
― Para evitar problemas, é melhor finalizar uma coisa antes de começar
outra. ― aconselhou Mamãe.
― Eu sei, tia. ― Ela balançou a cabeça.
― Mas que o Nicholas é bem melhor que o Eros, não tem como negar. ― E
mais uma vez a verdade escapou pela minha boca.”

― Nã o! Mas é claro que nã o! ― Volto a realidade e nego as suas


acusaçõ es, me sinto até um pouco ofendida. ― Com licença, eu preciso
servir. Anotar, preparar, servir. Foi isso que a minha superior falou agora
a pouco. Com licença. ― Me afasto com pressa.
Imaginei que aqueles olhares eram resultado da sua cabeça perturbada
trabalhando em insultos contra mim. Pode ser que Olívia tenha ido até
nossa casa e falado sobre como estava vivendo durante a prisã o com o
Eros e pode ser que eu tenha dito algumas coisas que pensava, mas nã o
influenciei em nada. Dava para ver que Olívia já estava apaixonada por
Nicholas naquela visita.
E sobre o Eros, bem, eu já tinha falado sobre ele para ela quando os vi
juntos pela primeira vez, mas ela é minha prima, nã o a minha melhor
amiga. Eu nã o teria esse poder de influenciá -la. Ela sozinha resolve a
pró pria vida.
Volto para trá s do balcã o, e nã o aparece nenhum novo cliente. Com
Paige, fico de olho para ver se alguma mesa precisa de assistência. Claro
que é impossível nã o olhar para a mesa do estressadinho. Me acusando
assim, de graça... Juro que nã o lembrava de tê-lo enfrentado naquele dia.
Bebo algumas coisas, mas aquelas bebidas que o meu tio comprou eram
mais fortes do que as que estou acostumada, fiquei fora de mim, e foi
isso. A minha mã e nã o comentou nada sobre isso no outro dia. Só falou
mal do Eros e concordamos uma com a outra que Olívia estava perdida
na vida.
― Ele é tã o bonito! Até arrebentado ele é bonito. Nã o é, Liz? — comenta
Paige.
― Quem? ― pergunto enquanto observo Eros comer.
― Quem? Quem, Liz? Você está olhando para ele.
― Você tem interesse nele? ― Olho para ela e a analiso.
― Nã o, mas se ele quisesse, eu queria. ― Paige cobre a boca rindo. ― Nã o
me julgue, ele está solteiro agora.
― Ele é a ú ltima pessoa com quem você deveria querer ter alguma coisa.
Acredite em mim. Agora ele deve estar pior do que antes — alerto.
― Pelo visto você o conhece bem... A sua prima falava dele para você? —
pergunta com um tom de curiosidade.
― À s vezes.
Dou de ombros.
Eros me olha e eu desvio o olhar, encarando o chã o.
― Vou para a cozinha. Qualquer coisa você me chama — aviso, pois essa
conversa está muito estranha.
― Espera, Liz. ― Paige vem atrá s de mim. ― Sobre a festa de hoje...
― Ah! Ó timo assunto. Você vai comigo, nã o é? ― pergunto esperançosa.
Sozinha eu nã o teria coragem.
― Claro! Vamos nos divertir muito! ― Ela segura as minhas mã os,
apertando-as com toda sua empolgaçã o. ― Você fisgou mesmo o Luigi.
Sortuda!
Queria mostrar que nã o estou empolgada, mas estou e, pior do que isso,
estou ansiosa, preocupada com essa festa que nem sei se, quando estiver
lá , vou conseguir me divertir.
― Eu nem sei o que vestir muito menos como vou voltar para casa.
“Jesus Cristo! Vou acabar desistindo dessa loucura.”
― Com o Luigi, né! Isso se voltar... — insinua Paige e nó s duas rimos.
― Isso nã o vai acontecer — digo por fim.
E eu tenho certeza disso, pois nã o conseguirei. Nã o consigo confiar em
um homem ao ponto de ir para cama com ele. Nem com a maior
confiança de todas. Eu tenho experiência em gostar de alguém que só
quer isso e quando vejo que é tudo, que aquela conversa de "confia em
mim, eu gosto de você" é só para me convencer a ir para cama, tudo
acaba porque a confiança vai para o ralo.
Me apaixono por eles, dou um pouco de confiança, mas sempre com um
pé atrá s, porque eu sei do que eles sã o capazes. Eles sã o guiados pelo
seu desejo e quando pensam: "quero ficar com essa pessoa", sã o capazes
de deixar a moral, o respeito e todos os limites de lado.
― Um dia isso vai acontecer. O Luigi tem cara de ser bom de cama... ―
Paige se distancia para pegar um copo d’á gua.
Quanto mais o cara é experiente, mais medo me dá , já que nã o tenho
experiência nenhuma. Mesmo se tivesse a coragem, ainda tinha esse
medo de falhar na hora por nã o saber o que fazer.
― Eu nã o faria isso de primeira — afirmo.
Paige suspira e toma a sua á gua. Ela nã o me entende, afinal, já é
experiente e muito bem resolvida quanto a sexo casual. Mas eu nã o sou
assim.
― Com um desses, eu faria de primeira, segunda, terceira... — comenta
olhando para Eros.
― Paige, você nã o tem limites. ― Sorrio dela e dou uma olhada nas
mesas. Ele já terminou e pelo dançar dos seus dedos, parece impaciente.
― Vou ver se estã o precisando de algo.
Vou em direçã o à s mesas da cafeteria.
Estou tentando me afastar do assunto do meu ex-relacionamento, mas
parece que ele me persegue. Na cafeteria encontrei a prima de Olívia.
Nã o tive muito contato com ela quando ainda era namorado da traidora,
mas o pouco que tive mostrou que, alé m de nã o gostar muito de mim,
ainda fazia campanha contra a minha pessoa.
Sim, ela me atacou no banheiro e disse vá rias coisas, jogou bebida em
mim. Aquela garota é uma surtada. Ela faz cara de santa, mas quem a
conhece, sabe que nã o é nada disso.
Foi depois dessa situaçã o desagradável que descobri que Olívia andava
reclamando de mim para os outros. Já nã o bastava ficar de mimimi o
tempo inteiro quando estávamos juntos, ela ainda levava as reclamaçõ es
para terceiros.
Nã o duvido que aquela smurf tenha influenciado Olívia a ficar com o
meu irmã o e dar um pé em mim. Ela disse que nã o, mas a sua cara
mostrava outra coisa. Discutir sobre isso com ela nã o mudaria nada, eu
sei, mas eu precisava perguntar. Agora, nã o tenho mais nenhum vínculo
com essa família. Todos sã o podres.
Daqui a pouco, Liz será demitida da cafeteria. Mal-educada como é, eles
nã o vã o querer alguém assim por muito tempo. Espero que seja em
breve, pois adoro o café de lá , e ver essa garota me faz lembrar da prima
dela. Nã o sã o parecidas fisicamente, mas as duas me deixam irritado.
Depois do café da manhã , sigo para o meu escritó rio.
Ele fica no centro empresarial da cidade. É um prédio com vá rias salas e
lojas. Tem praticamente tudo nesse lugar e é nele onde me encontro com
os só cios. Ao passar pelas portas do escritó rio, encontro Kelsey,
recepcionista e assistente.
Ela tem feito muitas coisas aqui. É uma garota empenhada e veste a
camisa pela empresa. Sempre com roupas elegantes e os cabelos loiros
arrumados. Nos três meses que trabalha conosco, nã o deu trabalho.
― Bem-vindo de volta, Sr. Werneck. ― Me recebe sorridente.
― Obrigado, Kelsey.
― Posso te ajudar? ― Ela para na minha frente e toca o meu olho,
aparentemente preocupada.
― Isso... ― Toco o local machucado. ― Tem soluçã o?
― Claro. Sempre tem ― garante.
“Ótimo.”
― Onde está o Kevin?
― Ele está na sala dele.
Acho melhor aceitar a ajuda para disfarçar o meu machucado.
― Certo. Entã o, faça alguma coisa para que eu pareça decente na
reuniã o. ― Sigo para o meu escritó rio, cumprimentando todos que
encontro.
A sala está do jeito que deixei. Me acomodo na cadeira de couro atrá s da
mesa.
“Como senti falta desse lugar...”
Kelsey traz sua bolsa e se aproxima da mesa, apoiando-se nela para fazer
o que quer que precise com meu rosto. Sou cuidadoso com a minha
aparência, mas hoje nã o tive muita escolha e saí assim.
Ela tira um estojo de maquiagem da bolsa.
― É base ― fala assim que nota a minha cara de estranheza para o
produto.
― Nã o vou ficar com cara de maquiado, certo? ― pergunto preocupado.
― Claro que nã o. ― Ela ri do meu desespero e dá uma batidinha com
uma esponja no meu olho. ― Sentimos a sua falta, Sr. Werneck.
― Me chame de senhor Eros.
“Não quero mais ninguém me chamando pelo meu sobrenome. Ele está
sendo um fardo.”
― Certo. ― Está aplicando a maquiagem quando alguém abre a porta da
sala e em seguida vejo Kevin entrando.
― Finalmente! Uma faísca de esperança! ― O grandalhã o de topete entra
animado.
― Kevin, o meu pai já veio aqui alguma vez? ― pergunto.
― Também senti a sua falta e estou bem. ― Senta na cadeira do outro
lado da mesa. ― E o seu pai me ligou algumas vezes, mas acho que o Cole
já fornece as informaçõ es que ele queria.
― Vou resolver isso. Nã o quero meu pai interferindo aqui ― comunico.
― Temos problemas maiores, como os que mencionei por telefone. Os
salá rios. A minha conta está quase zerada, nã o consigo resolver isso
sozinho ― alerta.
― Assim que o Cole confirmar que as minhas contas estã o liberadas,
programarei os pagamentos. Fique tranquilo, ninguém ficará sem
receber ― digo para o acalmar quanto a isso.
― Ó timo. Mas diga isso na reuniã o, para que todos fiquem tranquilos
também ― pede em tom de preocupaçã o, porém mais aliviado.
― Sim. Kelsey, você organizou a sala? ― Direciono a pergunta a minha
assistente, que segue fazendo algum milagre no meu rosto.
― Sim, Sr. Eros.
Guarda a maquiagem e me dá um espelho. Encaro-me e posso ver que
nã o ficou tã o mal. Até parece que nã o tenho marcas.
― Obrigado. Talvez eu precise disso por um tempo ― declaro satisfeito.
― O que houve? Presente de adeus das “férias”? ― pergunta Kevin se
referindo a marca em meu rosto.
Ele adora adocicar as coisas.
Kelsey se retira, agradeço a ela por cuidar do meu rosto e respondo:
― Presente de boas-vindas do meu irmã o. O encontrei na casa dos meus
pais ontem à noite. ― Conto com raiva só de lembrar.
Ele bufa.
Kevin é um pouco mais velho que eu, já viveu muita coisa, mas até para
alguém assim, o que aconteceu comigo foi um absurdo.
― Juro que nã o esperava algo assim vindo dele.
― Ele interpreta bem o papel de bom moço. Por isso, temos que temer os
que nã o parecem oferecer perigo, né? Quero tirar o foco disso do meu
nome, tanto a minha atençã o quanto a dos outros. Já disse o que tinha
para falar e espero que ardam no fogo do inferno. Precisamos resolver
os problemas na minha empresa. Mulher vai e vem toda hora ― digo
para mudar de assunto.
― É . Você já passou por muito para enlouquecer por ser traído.
“Mesmo assim, ser traído não é nada bom.”
― Eros, estamos perdendo os só cios...
― Vamos reverter isso ― digo com confiança.
― Eu tentei. Eros, fiz de tudo. Nã o parei um só dia. Até nos fins de
semana estava seguindo aonde esses caras iam, só para ter conversas e
convencê-los. Eles acham que ter suas empresas associadas a você é
uma péssima propaganda.
― Inferno! ― Soco a mesa com toda minha raiva e frustraçã o. ―
Armaram para mim, Kevin. Você sabe que eu nunca faria algo assim. Foi
alguém do meio comercial, alguém que sabia que me colocar na cadeia
faria com que eu perdesse tudo.
― É . O mercado é competitivo, muitos dos nossos só cios foram
conquistados na luta. Pode ser que haja alguém que nã o tenha ficado
contente. Mas quem?
Coço a cabeça e tento imaginar. Sã o tantos nomes, tanta gente que nã o
gosta de mim.
― Vamos descobrir. Enquanto isso, vamos trabalhar para que nada mais
aconteça e buscar por novos só cios. E a parceria com a universidade? ―
questiono.
― Dispensaram.
― Que merda, irmã o. Era uma boa para o nome da empresa. Nó s
oferecemos bolsas. Como recusaram? Isso deveria ser bom, nã o é?
― Os alunos desistiram ― explica desapontado.
― Certo. E como fomos dispensados das empresas? ― Nã o sei se estou
pronto para saber tudo assim de uma vez, mas pergunto assim mesmo.
― Ninguém queria suas empresas sendo controladas por uma holding
onde o diretor é um traficante de armas. Basicamente é isso, Eros. ―
Conta o ó bvio.
― Mas os contratos?
― Bom, a maioria das empresas se manifestou publicamente sobre a
desvinculaçã o, entrou com processos para quebra de contrato, e
estamos nessa. Foram dois meses, tem coisas que andam lentamente.
Por isso disse que esse é o momento. Ainda podemos reconquistar essas
pessoas, mas já constatei que nã o posso falar por você. Apenas quem
fechou o negó cio, no caso você, pode convencê-los.
Ele tem razã o.
― Irei ― asseguro. ― Estamos perdendo os só cios, processos de quebra
de contrato... de que adiantam as multas se no fim nã o terei os negó cios
duradouros, nã o é? Nã o apareceu novas empresas?
― Só uma. Bem depois que você foi preso. Fiquei até surpreso. Mas ele
disse que queria falar com você e desde entã o nã o apareceu mais.
“Interessante.”
― Você sabe se o negó cio é bom? ― inquiro.
― Ele nã o falou muito a respeito. Veio atrá s de você, agora você já pode
descobrir do que se trata.
― Ok. Entã o vamos entrar em contato com ele e ver como é. No
momento estou aceitando fazer participaçõ es até em barraca de picolé.
Vamos dar a volta por cima, Kevin. Me golpearam, mas foi porque me
pegaram desprevenido. As coisas serã o diferentes agora ― garanto a ele.
Nã o posso mais decepcionar ninguém que ficou ao meu lado.
Ele suspira.
― Que alívio por você estar aqui. Pelo amor de Deus, nã o entre mais em
problemas ou me matará do coraçã o! Tenho um filho para alimentar! —
Brinca e sorri preocupado.
― Depois desse inferno, o que menos quero sã o problemas. Vamos para
a reuniã o?
― Vamos. — Levantou, e eu também. — Você viu os documentos que
mandei?
― Tentei. Tive que tomar café da manhã fora. O meu apartamento nã o
estava preparado para a minha volta. Também busquei o carro. Nã o tive
tempo, mas farei isso no resto do dia. — Acompanhei-o para fora e
fomos até a sala de reuniõ es.
― Entã o nã o rolou ficar com a família... — Ele conclui.
― Nã o. Eu me decepcionei mais ainda quando vi a nova situaçã o. Meus
pais estã o apoiando aquele absurdo, a Olívia está grávida e o meu irmã o
adorando tudo isso. Ele sempre praguejou para que algo assim
acontecesse. Acho que sã o os dias mais felizes da vida dele.
― É uma merda. Eu nã o imaginei mesmo que Nicholas era assim.
― Verdade. Mas nã o foi só ele. Foi um trabalho em equipe. Você
precisava ver meus pais defendendo o casamento deles e me encarando
como a vergonha da família. No meu apartamento está melhor. Só vou
chamar a faxineira de volta e abastecer os armá rios.
Ele encara meu rosto e dá uma leve risada.
― Parece que nã o foram só as coisas na casa dos seus pais que
mudaram...

Depois de um longo dia no escritó rio, coisa que raramente fazia antes de
ser preso, resolvi voltar para casa e assim que cheguei nos portõ es do
condomínio, encontrei minha mã e parada na calçada.
Respiro fundo antes de apertar o freio para falar com ela.
― O que você quer, hein? ― questiono entediado.
― Como o que eu quero, Eros? Vim saber de você! ― responde indignada.
Até parece que ela se importa.
― Nã o me venha com essa de mã e preocupada depois de apoiar aquela
palhaçada. Vá cuidar da sua nora. Você deve estar bem feliz com essa
histó ria de ser avó , nã o é? ― É inevitável meu tom sarcá stico.
― Meu filho, você nem deu chance para conversarmos! Foi para cima do
seu irmã o...
― Ele merecia mais do que dei. — A interrompo.
Ela abre a boca e reprova com a cabeça.
― Vamos conversar lá dentro ― sugere.
― Quantas vezes falei para nã o vir aqui? Agora principalmente.
“Por que é tão difícil que as pessoas respeitem as minhas decisões?”
― Mas eu sou sua mã e ― diz inconformada.
― Porque nã o consegue se livrar desse papel. Vai lá , para o seu filho
querido e vê se me deixa em paz, longe dessa falsidade ― esbravejo.
― Eros! Você nã o pode falar assim com sua mã e!
“Foda-se.” Penso, mas nã o digo nada. Apenas sigo o meu caminho e a
deixo para trá s. Vejo o portã o se fechando enquanto dirijo para a minha
casa.
A minha mã e quer dizer que apoia os dois filhos, mas parece que nã o
entende que estamos de lados diferentes de uma mesma situaçã o, e no
curto período de tempo que fiquei lá na casa dela, vi que ela estava
completamente a favor do novo casal.
Que seja! Desde que nã o fique vindo atrá s de mim dizendo que me
entende.
Tenho certeza de que Olívia ficou com ele antes de me dizer que nã o
queria mais namorar.
Chego em casa e arranco as roupas para tomar um banho frio. Durante o
dia, conversei com a minha faxineira, e ela disse que viria algum dia da
semana para fazer uma faxina e colocar as coisas no lugar. Dois meses
fora e perdi meu lugar na rotina da faxineira.
Debaixo do chuveiro, deixo a á gua levar tudo o que pode. Queria que ela
levasse meus problemas também. Faz sentido os empresá rios nã o
quererem fazer negó cios comigo, mas farei com que mudem de ideia.
Vou comparecer a essa festa do Luigi. Quem sabe nã o melhora o meu
dia?
Chegando em frente ao pré dio de casa, vejo o carro que trouxe a
minha mã e na noite passada parado perto da calçada. Ele está com o
fundo virado para mim, mas o retrovisor nã o me engana quando reflete
o rosto de dona Lauren no banco do carona.
Me aproximo do carro e pigarreio, mas ela está distraída demais em um
papo que a deixa sorrindo boba. Dou uma boa pigarreada e começo a
tossir forte, mamã e dá um pulo no banco e olha para mim.
― Liz! — exclama assustada.
― É ... Liz!
― Liz? Tudo bom? — cumprimenta o estranho.
O homem se estica para ver a minha cara. É um coroa de uns quarenta
anos, camisa social, cabelos grisalhos, sem barba e com destaque para as
sobrancelhas mescladas com os brancos e castanhos.
― Oi! ― digo com um â nimo forçado. Ele balança a cabeça e ri para a
minha mã e.
― Essa é a minha filha. ― Mamã e me apresenta e tira o cinto de
segurança.
― É um prazer, Liz. Sou Demétrio. ― Estende a mã o de dentro do carro e
o cumprimento com um sorriso amarelo.
“Esse homem está paquerando a minha mãe e não teve coragem de sair de
dentro do carro para se apresentar? Arg!”
Me afasto e mamã e sai.
― Até ama... segunda, Demétrio. ― Se despede.
― Até. ― Ele sorri para ela e acena mais uma vez para mim. ― Foi um
prazer.
― Ok. ― Estou monossilá bica pois nã o me sinto confortável com um
homem aqui.
Balanço a cabeça. Nã o vou dizer que também foi um prazer para mim. A
minha mã e no carro de um estranho ― pode nã o ser um estranho para
ela, mas para mim é ― nã o é algo que me deixe tranquila.
Ele vai embora dando uma buzinada e viramos uma para outra.
― Trabalhamos no mesmo prédio ― fala rapidamente, tentando se
explicar.
― Aham. Até uma hora dessas, mã e? — ironizo.
― Tínhamos coisas para fazer. ― Ela dá de ombros e entramos no prédio
juntas. ― Escuta, Liz, a sua tia me contou que teve uma confusã o terrível
na casa dos Werneck.
Me assusto com a fofoca.
― Por causa do Eros? — pergunto, mas já sei que sim.
― Sim. Ele saiu da cadeia, sabia?
“E como sei...”
― Quem nã o ficou sabendo disso, mã e? Passou até no jornal. Hoje ele
estava na cafeteria, tomando café da manhã . Acredita?
― Soube que ele caiu no soco com o irmã o, xingou todo mundo. Sua tia
estava preocupada com Olívia, por causa da gravidez.
“Essa história é muito bizarra.”
― Essa gente rica é complicada... ― falo e nó s entramos no elevador.
― Sim, por isso que eu digo para você nã o ficar de amizade com sua
prima. Adaline é minha irmã , mas eu nã o apoio as coisas que ela faz,
nem as que Olívia faz, pior ainda o podre do pai dela.
Infelizmente nã o escolhemos a nossa família.
― Mã e, Olívia só me procura quando nã o tem ninguém. E a senhora acha
que eu vou seguir o exemplo dela? Me poupe. Eu e ela somos bem
diferentes!
― Quando ela chegou naquele dia contando que andava pró xima do
Nicholas, desconfiei que alguma coisa estava acontecendo e nã o ia dar
bom quando o Eros saísse da cadeia. Aquele rapaz tem cara de
problema. Acho que ele é o pró prio problema.
“Tenho certeza de que sim.”
― É , mas fazer o quê? Eles já se casaram e agora o Eros vai ter que se
acostumar com a realidade dos dois.
― Pois é. Sua prima gosta de problema...
― Se fosse só ela... Mã e, a senhora está de casinho com aquele cara? —
Sei que ela começou a falar da Olívia para mudar o foco dela, mas eu nã o
deixaria a cena que eu acabei de presenciar passar batido.
― Nã o. ― A sua voz afina e nã o tem firmeza alguma.
― Estou falando porque depois do que a gente passou... — Nem consigo
concluir a minha fala.
Ela segura a minha mã o.
― Liz, aquilo nã o vai se repetir. Jamais. Eu prometo — fala tentando me
passar confiança.
Balanço a cabeça, acreditando na sua palavra.
Faz um bom tempo que um homem nã o se aproxima da nossa vida e faz
parte do nosso convívio. Tenho medo de dar confiança para alguém e
tudo se repetir.
Nem sempre as pessoas que dizem que nos amam sã o capazes de nos
proteger. E nã o digo dar sua vida ou se colocar em risco pela gente, digo
sobre tomar decisõ es que afastam o perigo de nó s.
― Vamos pedir alguma coisa para comermos? ― sugere. ― É sexta, sei
que já deve ter comido um monte de besteiras na cafeteria, mas estou
morrendo de fome.
― Entã o... fui convidada pra um aniversá rio. Vou com a Paige. Acho que
vou dormir na casa dela — comento sobre meus planos para hoje.
― Sério? ― Ela ergue as sobrancelhas. ― Ok.
Minha mã e nunca me impede de sair. Sabe que sou cautelosa e nã o me
meteria em problemas facilmente.
Quando chegamos no apartamento, tomo um banho e arrumo minha
bolsa com as coisas que preciso levar para a casa da Paige. Vou me
arrumar com ela. Se ela nã o fosse, eu nã o sei se iria. Estou ansiosa com
tudo isso. Como nã o passa ô nibus uma hora dessas para ir para a casa
dela, chamo um Uber e saio de casa debaixo de muitos conselhos.
A minha mã e tem medo de que eu beba e só me lembro do Eros tirando
satisfaçã o sobre o que disse na outra festa. Sem dú vidas, o á lcool me faz
passar muita vergonha. Ele abre as torneiras da sinceridade e tanto falo
como faço tudo o que está reprimido.
― Prometi que nã o ia beber ― digo para Paige assim que chego em sua
casa.
― Um golezinho nã o faz mal. ― Ela anda de roupã o pela sala. ― Você
acha que a gente deve ir de salto? A festa é na casa dele, mas o pessoal
costuma caprichar nessas coisas. — Analisa as opçõ es em sua sapateira.
― Nã o sei e nã o trouxe nenhum salto. ― Sento na cama e ela abre a
maleta de maquiagens. ― A ú nica roupa à altura dessa festa que
encontrei no meu armá rio foi um vestido tubinho de brilhos que
comprei na liquidaçã o.
― Sei! — diz empolgada. — Amei aquele vestido. Você já usou? Senta
aqui para eu te maquiar. ― Paige puxa o banquinho para frente da
penteadeira, e eu me sento.
― Ainda nã o usei — afirmo.
― Vai ficar linda — diz para me animar. — Veja se ele postou alguma
coisa da festa. Uma hora dessas já deve ter começado.
― Vamos chegar no meio da festa ― analiso, nada animada com esse fato,
e procuro o perfil dele no Instagram para averiguar as fotos.
― Amiga, essas festas só terminam quando o sol nasce. Nem se
preocupe. — Ela tenta me acalmar com sua empolgaçã o.
― Oh meu Deus! Quanta gente começou a me seguir hoje, Paige! E tem
um monte de mensagem no direct — comento assim que abro o meu
perfil no Insta.
“De onde veio toda essa gente?”
― Aproveita o tempo e responde, porque na festa você nã o vai responder
para ninguém. Só postar os vídeos curtindo e beijar muito a boca do
Luigi — diz divertida.
Cubro a boca rindo.
― Larga de ser safada, Paige — brinco.
― Você é uma moça casta. Sou a serpente e o Luigi é a maçã . Se depender
dessa serpente aqui, hoje você morde e come o Luigi todinho.
Solto uma gargalhada.
― Credo! Você inventa cada comparativo...
― Mas é verdade! ― Ela também ri e passa alguma coisa no meu rosto.
Começo a responder à s mensagens e só depois vejo as fotos do Luigi. Ele
postou fotos da casa com iluminaçã o baixa, quase um breu se nã o
fossem as luzes coloridas piscando, mas dá para ver muitas garrafas de
bebida. O pessoal que saiu nas fotos estava muito arrumado.
― Paige, a festa é chique, mulher! Vamos ter que ir de salto — aviso
assim que analiso o pessoal pelas fotos.
― Entã o vamos! — diz animada. Ela já estava querendo ir de salto
mesmo, nã o será nenhum problema para ela.
Assim que ela conclui a maquiagem de sombra, olhã o de gato e um
batom vermelho, visto minha roupa. Estou parecendo uma profissional
do sexo, principalmente depois do salto. Mas vou assim mesmo. O
vestido, apesar de curto, nã o mostra minha bunda, e o shortinho me dá
segurança.
A minha amiga vestiu um jeans bem curtinho e um body com mangas, de
um designer diferentão, como se o pano estivesse rasgado. Paige nã o
gosta de se vestir como todo mundo. Ela é fashionista nas horas vagas.
De cabelos soltos e bem cheirosas, fomos de Uber para a festa do Luigi. A
ansiedade está me deixando com dor no corpo.
― Olha, nã o cometa nenhuma loucura. ― peço a ela depois de liberarem
nossa entrada no condomínio.
― Nã o se preocupe. ― Ela ri de mim.
O carro para no endereço e encaramos admiradas a mansã o onde o
rapaz mora. Uma casa de cor lilá s, dois andares, parece o templo de
Salomã o, tem algumas plantas podadas na frente, uma grama linda e
janelas de vidro.
― É aqui mesmo? — pergunto ao motorista.
― Sim. É o endereço que vocês colocaram no aplicativo — afirma.
― Ok... ― Saio do carro ainda admirada e Paige sai em seguida. ― Agora
acho que viemos simples demais — comento analisando nossos looks.
― Vamos, Liz. Estou ouvindo mú sica boa. ― Ela ignora o meu
comentá rio, me arrasta pelo braço e me puxa pela grama.
Sofro para me equilibrar nos saltos, mas subimos na calçada e andar fica
mais fá cil.
Rimos dos dois seguranças estã o na porta da casa. Por mais chique que
seja ter dois grandõ es de terno na porta, também é estranho e quase
brega, já que se espera de um aniversá rio as pessoas mais pró ximas e
nã o qualquer um que pode oferecer perigo.
― Pelo visto, a coisa é maior do que imaginamos ― fala Paige no meu
ouvido, e concordo.
Falamos nossos nomes mais uma vez, e um deles olha na lista, entã o
entramos. A casa está lotada! Pessoas para todo canto, mú sica alta,
fumaça de cigarro cheirando com perfume, uma loucura! Quase perco a
esperança de encontrar o aniversariante.
― Duvido que tenha algum bolo de aniversá rio aqui — analiso.
― Amiga, a ú nica coisa pra comer aqui é...
― Nã o termina ― peço rindo.
― Vamos beber alguma coisa. ― Ela nã o larga o meu braço e chegamos
em um bar em uma das paredes da sala. O rapaz caprichou na festa.
― Eu quero algo sem á lcool — peço.
― Á gua? — pergunta minha amiga com ironia.
― Eu nã o me dou bem com bebida ― explico mais uma vez para ela,
embora ela já saiba muito bem disso.
― Nã o vamos exagerar. Só um copo — sugere dando pulinhos de sú plica.
“Só um copo...”
Dou uma olhada ao redor e vejo umas meninas dançando em cima de
uma mesa. Que coragem! Nã o vejo ninguém conhecido. Talvez elas
também nã o tenham ninguém conhecido por aqui e estejam
aproveitando livremente.
Pego meu celular e gravo alguns stories. Esse povo nã o deve me
conhecer também. Sorrio para a câ mera e giro no espaço, mostrando o
má ximo possível. É quando, abruptamente, me deparo com uma cena
que me tira a capacidade de respirar. Luigi? Ele... está beijando duas
garotas ao mesmo tempo?
― Filho da puta! — xingo sem filtro.
― O que foi? ― Paige me entrega um copo com alguma bebida que
desconheço.
― O Luigi nã o está ficando nã o com uma, mas sim com duas garotas ali
no canto. ― Aponto na direçã o em que ele está .
“E eu me achando a sortuda por ser desejada por ele!”
― Acho que chegamos tarde demais. Vamos curtir, esquece esse cara. Vai
aparecer outros — diz enquanto começa a dançar.
Paige é assim. A fila dela anda igual trem-bala.
E tem razã o. Eu nã o tinha nada com ele. Só a vontade de beijar mesmo.
Dou um gole na bebida e faço careta pelo gosto forte de á lcool.
― Vamos dançar. ― Paige me puxa e saímos andando e dançando para o
lado oposto de onde vi Luigi.
― Vamos! — digo um pouco mais animada.
Já que estamos aqui, vamos curtir.
Luigi foi bem espertinho em nã o deixar ningué m estacionar em frente
à sua casa. Acabo estacionando do outro lado da rua e entro na festa.
Vesti a primeira coisa que encontrei em casa: um sué ter preto que,
durante a viagem, me deixou com calor e, por isso, subi as mangas, e um
jeans. Mas vejo que a galera da festa se vestiu para um desfile de moda.
Pego uma bebida e procuro algum conhecido. Até entã o nã o tinha visto
ninguém, mas pelos olhares, muita gente me conhece. Eu nem sabia que
essa galera assistia ao noticiá rio. Devem ter visto sobre mim em algum
perfil de fofoca no Instagram.
Luigi é sempre um exagerado com festas e chama gente que simpatizou
em uma ú nica conversa. Sei que metade desse povo nã o tem amizade
nenhuma com ele, mas onde ele está , vejo o pessoal que conhecemos.
Sentados nos sofá s, meus amigos de faculdade e festa bebem na
companhia de algumas garotas. Luigi beija duas, sendo o mulherengo de
sempre.
― Oi! ― cumprimento Paul na ponta do sofá .
― Nã o sabia que você viria ― admite enquanto me dá um rá pido abraço.
― Luigi me chamou. ― Passo para cumprimentar o pró ximo. ― Como
vai?
― Ó timo. E você? O que aconteceu com o seu rosto?
Eu nem estava me importando mais com esse machucado, mas as
pessoas fazem questã o de comentar sobre.
― Presente de boas-vindas.
Cumprimento o ú ltimo dos caras antes de chegar no aniversariante.
― Estou bem. ― Ele me dá um aperto de mã os, sem muito interesse. ― Ei,
Paul! Vamos pegar uma bebida.
― Vamos. — Ele concorda, parecendo entender o recado.
― Eu também vou. ― Cayo levanta e as garotas também.
― Cuidado, irmã o! ― aconselha Paul.
― Nã o tenho ficha suja nã o, cara ― responde e se junta aos outros rindo.
― Eu nã o acredito nisso ― murmuro, analisando o comportamento que
acabei de ver. ― Filhos da puta!
― EROS! Você veio! ― Luigi larga as garotas e vem me abraçar com uma
animaçã o além do normal devido o á lcool.
― Pelo visto, só você gostou da minha presença. Feliz aniversá rio!
― Obrigado. Vamos nos divertir. Já está com bebida na mã o. Nã o deixe
esse copo vazio. — Fala erguendo o dele.
― Pode deixar! — Concordo erguendo o meu copo também. ― Só acho
engraçado que quando estamos por cima, esses filhos da puta nos
chamam de “amigos”, até mesmo “irmã os”, e quando a gente passa por
uma fase complicada, que no meu caso eu nem tenho culpa, eles agem
desse jeito. É bom que a gente sabe quem sã o os amigos de verdade.
Soou um pouco dramá tico? Sim! Mas foda-se, isso é só uma festa, nã o é
como se eu precisasse deles para alguma coisa.
― Só por conveniência, nã o é? Mas deixa pra lá , comigo nã o tem isso nã o.
— Tenta me tranquilizar.
― É , vou tentar! — Até agora, entre tantos falsos, só ele se importou em
falar comigo desde ontem.
― Agora que você está solteiro, pode aproveitar mais. Olha o tanto de
garotas! ― Ele me cutuca e aponta para as meninas que estã o ao seu
redor.
― Aposto que mal as conhece — digo sorrindo do seu â nimo.
Ele ri, e dou um gole na bebida para molhar a garganta.
Observo a galera e no meio de tanta mulher, meus olhos pousam em
uma dançando em cima da mesa que me deixa surpreso.
― Olha aí, a garçonete. Chamei ela para vir. Achei que nã o vinha, mas
veio e parece que está se divertindo — fala Luigi rindo.
É ... dançando em cima da mesa com esse vestido curto e um copo de
bebida na mã o. Eu nã o esperava por isso, por mais que ela tenha uma
cara lisa de gente que apronta muito.
― Você a conhece? — pergunta com curiosidade.
― Nã o ― digo e aproveito o sofá que ficou vazio pra sentar e tomar
minha bebida acomodado. Ela nã o é problema meu!
Meses atrá s, tudo que eu queria sair sem mulher no meu pé, poder
encher a cara e fazer o que quiser sem hora pra voltar pra casa, nem
mulher mandando mensagens para mim. Agora me bateu um desâ nimo
enorme.
Essa Liz nã o é gente... Dando a vida em cima da mesa. Um salto enorme,
um vestido minú sculo que até nela, que é pequena, fica curto. Na certa
comprou blusa por vestido. Ela nã o se parece em nada com Olívia,
embora sejam primas. A minha ex era fresca... tudo era vergonha alheia.
Mas também nã o fazia briga. Ela enchia meu saco em particular. Liz é
exibida.
Durante todo o tempo que fico sentado, absolutamente nenhuma alma
viva se aproxima de mim. Dou um desconto para o meu amigo
aniversariante por estar aproveitando suas garotas.
Termino a bebida e já quero mijar, entã o deixo o copo no sofá e procuro
algum banheiro vazio. O primeiro estava trancado, o segundo também.
Vou para o segundo piso e encontro dois caras puxando pó na pia do
banheiro.
― Deem o fora. Preciso do banheiro. Vã o, vã o! — exijo sem paciência.
Os chapados acabam com a droga e saem sem se importar com o que
fica pra trá s. Bebidas e até mesmo uma carteira. Uso o banheiro e
aproveito o espelho para dar uma olhada na minha cara e percebo que a
maquiagem que Kelsey passou mais cedo saiu no banho.
― Nicholas, seu desgraçado... ― praguejo entredentes e como nã o posso
fazer nada para amenizar essa porra, lavo as mã os e volto para a festa.
A casa está sendo destruída. Lembro que nos meus dezessete anos,
aproveitei uma viagem dos meus pais, que estavam apresentando o
herdeiro dos negó cios aos só cios fora do país e fiz uma festa assim.
Os empregados nã o deram conta de restaurar a casa antes que eles
voltassem. Precisou até de pintura nova. Meu pai jogou os colchõ es fora,
com o argumento de que estavam contaminados. Também me deixou
sem dinheiro durante um mês inteiro. Nunca mais fiz esse tipo de
loucura.
Amanhã ou depois, Luigi vai entender que é melhor continuar fazendo
suas festas em casas alugadas.
Ao chegar no fim da escada, vejo a galera fazendo uma roda. Todos os
curiosos reunidos só me remete a briga.
― O que aconteceu? ― pergunto ao primeiro que vejo se afastar do
bando.
― Uma vadia estava dançando na mesa e caiu ― conta rindo. ― Está
fodida. Deve ter quebrado o pé.
Empurro o pessoal para ver a situaçã o da azarada e quando consigo
abrir caminho, vejo que é a Liz. Ela está deitada no chã o, paralisada,
enquanto outra pessoa pergunta se ela está bem. Ninguém faz mais além
disso e o Luigi chega para ver o que está acontecendo.
“Quando eu digo que ela é presunçosa...”
Me agacho em sua frente.
― Ei, você está bem? Levanta — peço com cuidado.
― Eu... meu pé dó i. ― diz e, pelo jeito, está mais do que bêbada.
Bebida, um salto enorme e dançando numa mesa: receita perfeita para
um acidente.
Dou uma olhada no seu pé esquerdo, que parece machucado, e Liz já
está se levantando.
― Ela está bem? ― pergunta Luigi.
― Nã o sei. Acho melhor irmos para o hospital.
― Droga. Eu nã o posso abandonar a minha festa para resolver isso. —
Luigi também está bêbado. Claro que nã o se importaria com outra
bêbada que deu um show e estragou a sua festa.
― Nã o se preocupe. Deixa que eu a levo. Pode curtir sua festa. ― Puxo Liz
pelo braço e ergo seu tronco, até que consigo pegá -la nos braços. ― Você
está sozinha?
― A minha amiga está por aí. Ela está por aí... — responde meio
desnorteada.
Ou seja, a amiga sumiu.
― Luigi, se você souber quem é a amiga, avise do que aconteceu — peço
ao meu amigo.
― Pode deixar. Mas você vai voltar?
“Óbvio que não.”
A queda da Liz é a desculpa perfeita para sair dessa festa que está um
saco para mim.
― Eu te ligo ― aviso sem me explicar muito.
Carrego Liz para fora da casa e já destranco o carro com o controle antes
de chegar nele.
Meu carro é pequeno. Dois lugares. Nunca me interessei em carregar
mais do que uma carona nele, por isso, a coloco no banco da frente e tiro
o sapato de seus pés enquanto ela choraminga de dor.
― Nã o mexa. Dó i quando coloca no chã o — choraminga.
― Reze para nã o ter quebrado. Desnaturada. ― repreendo, prendo o
cinto nela e tranco a porta.
É . Foi um bom motivo para dar o fora dessa festa.
Achei que me divertiria, mas só vi que a maioria dos que diziam ser
meus amigos nã o eram, e o resto nã o quis papo comigo.
Na minha casa está melhor, mas antes de voltar para ela, vou levar essa
garota no hospital.
― Ele estava com duas garotas. E eu me achando a sortuda. Como eu sou
burra. ― Liz conversa sozinha.
“Do que ela está falando?”
― Quanto você bebeu? — pergunto.
― Um copo ― diz cochilando no banco.
Já vi que essa nã o pode ficar perto de bebida alcoó lica. Nunca acaba
bem.
A levo para o hospital que fica mais perto e onde a minha família corre
quando precisamos de socorro. Somos atendidos com ela ainda
inconsciente e conto sobre o seu estado ao enfermeiro. No fim, recebo a
missã o de acordar aquela que teima em continuar dormindo na cadeira
de rodas para ela fazer o exame de imagem.
― Volta para a terra, minha filha. Esse pé nã o está doendo para você
dormir nessa paz toda? ― Mexo no seu rosto.
Liz é linda, nã o tem como negar. Esse nariz pontudo e os grandes olhos
verdes sã o inesquecíveis. Eu só nã o queria vê-los vesgos enquanto ela
parece morta.
― Liz! Está de sacanagem, né? Você está dormindo mesmo? Enfermeiro,
você nã o tem uma injeçã o de adrenalina para dar nela?
Pulo para trá s assustado quando ela desperta repentinamente e olha
para os cantos com os olhos bem abertos.
Uma potencial assassina.
― Onde é que eu estou? Isso é um hospital? — questiona assustada.
― É . Esqueceu que você machucou o pé? — pergunto com pouca
paciência.
Ela olha para o pé, mas parece que a lesã o do seu tornozelo nã o a
assusta mais que as paredes do hospital.
― O que vocês vã o fazer comigo? Por que você me trouxe para um
hospital? ― Ela olha para mim. ― O que você faz aqui, Eros? Ai meu
Deus... ― Cobre o rosto choramingando.
― É o á lcool. ― Tento explicar ao enfermeiro.
― Me leva para casa, por favor. Me tira desse lugar ― pede chorando.
“Ela está chorando!”
― Vamos fazer um raio-x para saber como está o seu tornozelo. Se
estiver tudo bem, você pode ir para casa. ― O enfermeiro tem mais
paciência do que eu para falar.
Eu sei que ela está bêbada, mas custa ser um pouco agradecida pelo que
fiz?
― Raio-x? ― Ela o olha com a maquiagem derretendo enquanto chora.
“Quanto drama!”
― Sim. — Acho que o enfermeiro está perdendo a paciência.
― E você vai me furar? — pergunta.
― Nã o.
― Entã o eu concordo com esse raio-x.
Meu celular toca enquanto eles se entendem.
― Oi, Luigi. ― Me afasto para atender.
— Como é que a Liz está? — O som está alto, mas o entendo bem.
— Está ... normal do jeito dela — respondo enquanto a analiso de longe.
— Mas ela quebrou alguma coisa? — Ele parece... preocupado?
— Vã o fazer o raio-x agora. O pé está com um edema enorme — explico
a situaçã o.
— Ah. Obrigado, Eros. Eu não poderia abandonar a festa para resolver
isso, mas fiquei preocupado depois de ver o vídeo.
— Fica tranquilo. Está tudo certo por aqui.
“Espera, vídeo?”
— Você a conhecia?
— Sim. Ela é pró xima da minha família. Nã o se preocupe, eu vou levá -la
para casa. — Nã o é como se eu quisesse realmente cuidar dela, mas foi
ó timo para me tirar daquela festa.
— Ok. Obrigado, irmão — agradece Luigi.
— Nã o foi nada. — Já ia desligar quando escuto sua pergunta.
― Você vai voltar para festa?
“Não mesmo!” Penso, mas respondo de outra forma.
― Acho que nã o, cara. Tenho que cuidar da bêbada. ― Assisto o
enfermeiro levando-a para fazer o exame.
“Ela conversa como um papagaio.”
― Uma pena. Mas obrigado por ter aparecido e vê se deixa os babacas pra
lá. Você sabe que eles sempre foram assim, idiotas.
“Nisso tenho que concordar.”
― Acho que você anda mais atento do que eu sobre essas coisas.
Obrigado pelo convite e aproveite o resto da noite. — Me despeço.
― Mantenha contato. ― Ele desliga antes de me deixar falar mais alguma
coisa.
Sentado numa cadeira no corredor do hospital, espero a bêbada e o
enfermeiro voltarem. É um hospital particular e este é um dos melhores
que conheço. Fomos atendidos assim que chegamos, e os corredores
estã o vazios.
Dou uma olhada no celular e checo o feed do Instagram, para ver se
encontro o tal vídeo, mas assim que abro, me deparo com o donzelo do
meu irmã o beijando a barriga da traíra da minha ex...
“Cada dia que passa, o nosso amor por você aumenta. Esperamos
ansiosamente a sua chegada, bebê.”
“E enquanto os colocam no céu, eu fico como o corno dos infernos.”
Sigo rolando o feed.
“Scott...”
Uma foto dele aparece no meu feed. Scott é um empresá rio que trabalha
da mesma forma que eu. Ele gosta de investir e dirigir outras empresas
e, por conta da concorrência, nunca foi muito com a minha cara. Quando
uma marca de roupas estava começando a ser reconhecida e cheguei
antes dele oferecendo um investimento alto para que pudessem crescer
no mercado, nossa rivalidade foi concretizada.
Pode ter sido muito bem ele quem armou pra mim, afinal, eu estava
prestes a fechar outro grande negó cio que era do seu interesse. Nã o é
difícil pensar nisso se ele sempre deixou claro que me via como um
grande rival e que sempre faria o possível para passar à minha frente. E
se ele fez, deve estar bem realizado, afinal, meus só cios estã o querendo
quebrar os contratos comigo. Ouso dizer até que Scott já deve estar
lançando propostas para eles.
Se eu tivesse provas... Vou investigar e descobrir quem foi o maldito, e se
foi ele, farei com que passe pelo mesmo inferno que eu.
Como nã o vejo mais nada de interessante ― acho que fui removido de
uma boa base de “amigos” ― desisto de me martirizar com essa rede
social e opto só por esperar sem fazer nada.
O enfermeiro traz Liz de volta e, para minha surpresa, ela vem
dormindo na cadeira.
― Daqui a pouco o resultado fica pronto e o médico irá vê-la. ― Ele deixa
a cadeira dela ao meu lado.
“Um copo de bebida? Parece que ela bebeu a garrafa toda.”
― Tudo bem. Vamos aguardar ― digo ao rapaz.
— Hum... que dor dos infernos... — resmunga Liz. — O que você faz aqui,
Eros? Cadê a Paige? — questiona confusa.
― Eu te trouxe. Nã o lembra?
“Essa garota só pode ter sido drogada!”
― Oh meu Deus... Bem o embuste ex da Olívia... — resmunga mais para si
mesma, porém eu escuto perfeitamente.
― Eu estou te ouvindo ― aviso.
“Embuste...
Será que a Olívia me chamava assim? Que cretina!”
― Está tudo bem confuso na minha cabeça. Tanto sono e tanta dor... —
fala massageando sua têmpora.
Nem com tanta dor e confusã o, ela consegue parar de me insultar.
― Você caiu da mesa. Nã o lembra? — A olho com curiosidade.
Parece que está se dando conta agora.
— Ainda bem que estou com um short debaixo do vestido. — É tudo que
ela consegue dizer.
“Olha com o que ela se preocupa!”
— Já viu a situaçã o do seu pé, nã o viu? Era com isso que você deveria se
preocupar — alerto.
― Por que você fala como se tivesse raiva de mim? — Me olha intrigada.
― Porque você me deixa estressado. Onde já se viu subir em uma mesa,
usando salto e com uma roupa dessas? — Aponto para o seu minivestido
indecente.
― Ei! Eu nã o te dei esse direito! — fala indignada.
― Se eu nã o tivesse chegado, você ainda estaria parecendo uma boneca
de pano naquele chã o imundo.
“Ela deveria me agradecer.”
Liz cheira o seu braço e faz careta.
― Estou cheirando a um monte de bebidas. — Faz cara de nojo.
― Pois é. Deveria avisar a sua mã e, nã o acha? Avisar que se machucou?
Ela arregala os olhos.
— Nã o! Ficou doido? Se a minha mã e descobre que me machuquei por
causa de bebida me mata! — explica em desespero.
— Você já é suicida e também nã o vai conseguir esconder isso dela. ―
Aponto para o seu pé. ― Você nem consegue andar!
Liz suspira.
― Ela vai me matar — diz cabisbaixa.
― Se a filha puxou para ela, possivelmente. — debocho, porque mesmo
em uma situaçã o como essa, é inevitável nã o a provocar.
Ela dá mais um suspiro, olhando para o teto.
— Eu nem sabia que você estava nessa festa.
“Impossível. Eu estava tão perto!”
— Eu também nã o te vi. Só na hora do acidente ― minto.
— Eu só estava me divertindo. — Se justifica e dá de ombros.
— Suas ideias de diversã o sã o perigosas — condeno.
— Aposto que as suas sã o bem piores. Nã o vem dar uma de bom moço
para cima de mim, Eros. Você acabou de sair da prisã o. — Despeja na
minha cara.
― Esse é o seu momento. Nã o meu.
Ela sacode a cabeça, discordando de mim.
— Eu nã o bebi tanto assim nã o. — Se defende.
— Bebeu sim, você nã o precisa fingir, eu estava lá e vi o seu estado.
— Nã o bebi nã o. — A sua teimosia é incrível. ― Foi um copo, eu juro!
— Entã o ou você se embebeda muito rá pido, ou batizaram sua bebida.
— Devo ter desmaiado de dor — comenta olhando para o pé
machucado.
Dou risada.
— Ok. Se você quer mesmo acreditar nisso, por mim tanto faz.
“Isso não é problema meu.”
— Espero que nã o tenha quebrado nada. Dó i tanto... ― Ela tenta
movimentar o pé e faz uma cara de dor.
— Uma injeçã o resolve.
― OI? NEM PENSAR! — Se exalta.
― Ei! Fala baixo! ― peço constrangido, pois sua voz ecoa por todo o
corredor.
― Ninguém vai me furar — fala mais calma.
“Parece até que tem medo de agulha.”
— Pois... O Luigi ligou pra saber como você estava. — Mudo de assunto.
Olho de relance para ela e a vejo apertando os cantos da boca.
― E deu tempo? — questiona.
― De quê? — Nã o entendi.
― Nada...
Achei que ela ficaria feliz em saber disso. Pelo visto nã o foi uma boa
notícia.
— É o mínimo, nã o é? A festa era dele e eu era uma convidada. —
Conclui.
“Será que ela é sempre grossa assim?”
O enfermeiro volta com o exame.
— O médico está esperando na sala oito. Aqui do lado. ― Ele aponta a
direçã o.
Levanto e ele entrega o exame nas mã os da paciente impaciente.
Liz olha para mim como se esperasse por algo.
― Vamos! — falo para ver se ela reage.
― Empurre a minha cadeira. Eu nã o consigo sair do lugar. ― Ela se mexe,
e a cadeira parece colada no chã o. A mulher nã o tem força nas mã os.
“Eu deveria ter deixado ela caída lá no chão. Onde eu fui me meter?”
Volto e empurro a cadeira.
A ú ltima coisa que eu esperava para essa noite era ter que cuidar da
prima da minha ex-namorada.
Entramos no consultó rio e o médico nos cumprimenta antes de pegar o
exame. Espero de pé, atrá s da cadeira de Liz.
— O raio-x nã o mostra nenhuma fratura. O edema e a dor sã o por conta
da torçã o. Assim que as enfermeiras te derem os remédios
intramusculares para dor e inflamaçã o, você pode ir para casa ficar de
repouso. — Ele faz uma receita e entrega a ela.
Liz nã o diz nada, paralisada enquanto lê a receita.
― Obrigado, doutor. ― Abro a porta e a empurro para fora.
— Eros. — Liz olha pra mim como quem viu um fantasma.
— O quê?
— O que significa remédio intramuscular?
— É quando ele nã o entra pela boca, mas sim pelo mú sculo. Nã o parece
ó bvio?
— Nã o! Eu nã o vou tomar de jeito nenhum — fala nervosa.
— Por que nã o? ― Continuo a empurrando até a sala de medicaçã o.
— Eu nã o gosto. Sabe que a dor até passou? Nã o preciso disso. Quando
chegar em casa tomo um comprimido para dor, passo algum gel e faço
compressa de gelo. Empurre a cadeira para saída, Eros — pede agitada.
— Você tem medo de agulhas? ― pergunto suspeitando.
— Em mim? Sim. Ó bvio! — Assume sem vergonha alguma.
— Vai ter que tomar, senã o vamos ficar aqui até amanhã .
— Esses remédios nã o têm em pílula? Qual a necessidade de uma
injeçã o?
Ela parece mesmo com medo.
— Acho que assim o efeito é mais rá pido.
“Ela podia ter feito essas perguntas ao médico. Que garota estranha.”
― Eu posso esperar fazer efeito. ― Ela começa a choramingar.
“Começou o drama. Ela vai me dar trabalho.”
― Se você nã o me levar para fora daqui, irei sozinha. ― Liz tenta levantar,
mas nã o consegue colocar o pé no chã o e senta novamente.
— Você nã o tem como fugir com esse pé assim. — Aponto o ó bvio e bato
na porta da sala de remédios.
A enfermeira abre com um sorriso gentil, mas Liz cobre o rosto com cara
de choro. É uma coisa que eu nã o esperava que ela tivesse: medo de
agulha.
Entrego a receita e empurro a cadeira para onde a enfermeira direciona.
Ela prepara as seringas enquanto Liz choraminga.
― Nã o precisa disso. Um saco de gelo, um remédio para dor e basta —
reclama mais uma vez.
— É rá pido. Você vai ver.
Começo a suspeitar que esse sorriso gentil da enfermeira esconde
alguém insensível.
Ela sabe que dó i pra porra.
― Vamos? Você pode se apoiar aqui no armá rio e vamos fechar as
cortinas.
— Moça, nã o faz isso comigo — pede aflita. — Vira isso para lá .
Começo a rir da situaçã o.
“Como ela é dramática!”
Empurro a cadeira de rodas, rindo e a enfermeira a ajuda a levantar.
― Nã o, Eros. ― Liz agarra o meu braço, desesperada. ― Nã o deixe ela
fazer isso comigo. Por favor! Juro que nunca mais serei bruta com você.
― Proposta tentadora, mas você precisa e mesmo que eu aceitasse,
quando o efeito do á lcool passar, você vai culpá -lo pela promessa. ―
Puxo o meu braço e ela tenta me agarrar de novo, mas a enfermeira
fecha as cortinas e eu espero fora delas.
Ouço ela chorando e falando algumas coisas que nã o entendo no meio
do choro. Parece uma criança.
“Que drama por causa de uma injeção.”
— Pronto. Agora só falta a outra — avisa a enfermeira.
“Que drama por causa de duas injeções.”
— Nã o precisa da outra nã o. — Liz está com a voz grave pelo choro. E
pelo visto foi na bunda.
Ouço mais choro e depois a enfermeira avisa que já terminou e abre a
cortina. Liz se senta na cadeira, enxugando as lá grimas.
— Dó i mais do que meu pé — reclama.
— Vamos. — A levo para fora da sala e depois de pagar a conta, saímos
do hospital. Ela se recupera do choro aos poucos.
— Consegue levantar e entrar no carro?
Ela tenta, mas pelos soluços que escapam, nã o consegue.
— Espera. Eu vou te carregar.
— Me carregar? Você? — Ela estranha.
— Nã o seria a primeira vez. — Passo os braços atrá s das suas pernas e
costas e a levanto da cadeira, colocando-a no banco do carro.
Sinto o cheiro do á lcool em sua roupa devido a nossa proximidade.
Liz me encara, de olhos bem abertos e tento puxar meus braços detrá s
das suas costas.
— O que foi? — questiono.
— Você está vendo através da minha alma?
Encolho as sobrancelhas, tentando entender que papo é esse.
Analisando bem, só vejo que ela é bem bonita de perto.
— Sim. Estou vendo que você bebeu, caiu e endoidou de vez. — Me
afasto antes de ela meter qualquer bobagem na minha cabeça. — Coloca
o cinto.
— A minha mã e vai me matar.
“E começou o drama novamente.”
Liz começa a chorar baixinho enquanto faz o que mandei.
— Ela vai me matar e eu nem sequer... aiiiiin.... aiiiiiin...
“Que choro estranho é esse?”
― Para, Liz. Para, pelo amor de Deus — peço em desespero.
― Ela vai arrancar meu outro pé — resmunga.
Fecho a porta e dou a volta.
― Aiiiiiiin...
Antes de entrar no carro, me rendo à gargalhada.
“Que situação patética!”
― Aiiiiiiin... Ela vai me matar.
“Ela não devia chorar em público nunca.”
Me debruço no teto do carro de tanto rir da sua reaçã o exagerada. É o
choro mais feio que já ouvi na vida.
― Eros? Cadê você? Nã o está planejando me levar para um matadouro,
nã o é? — Ouço o som da sua voz abafada de dentro do carro.
Quem dera os problemas da minha vida fossem os da vida dela. Seria
tudo mais fá cil.
Entro no carro tentando segurar a risada e pigarreio.
― Para onde eu te levo?
Ela pega o celular.
― Meu celular descarregou. Nã o consigo ligar para Paige, podemos
voltar na festa para eu ver se a encontro?
“Que pergunta estúpida.”
― Nã o vamos voltar para aquela festa. Outro lugar.
― A casa da Olívia — fala sem jeito.
― Nem pensar! Nã o estou interessado em ver a sua prima. Até porque se
eu te levo até lá , é bem capaz de colocarem a culpa em mim pelo seu
acidente vergonhoso.
Ela chora mais ainda.
― Entã o me deixa numa calçada qualquer. Será melhor do que topar com
a minha mã e. Ela disse para eu nã o beber. Foi um pressá gio — lamenta.
É . Levá -la para o matadouro me parece uma excelente ideia agora.
― Nunca mais vou subir numa mesa para dançar ― prometo para
mim e para Eros, que presenciou os momentos mais humilhantes da
minha vida em uma só noite.
— Todo mundo agradece.
— Se fico em pé, o pé dó i, se eu sento é a bunda. — O choro sobe pela
minha garganta. ― Aiiiiiiin.
Eros ri de mim. O meu choro é um misto de sofrimento e dor.
— Por que você está me ajudando mesmo? — pergunto curiosa.
― Nã o tenho nada melhor pra fazer... — diz com desdém.
Como ele tem pose de rico! Reló gio Rolex, carrã o cheiroso, diferentã o. A
Olívia gosta de coisas assim. Vai ver foi por isso que ficou namorando-o
por tanto tempo.
O salto de Paige está caído no assoalho do carro.
— Nunca mais usarei salto. O que eu vou contar para minha mã e? —
digo em desespero.
— Você está com tempo para inventar a mentira. ― Ele muda a direçã o e
pega uma fila de lanchonete fast food.
— O que você vai fazer?
Enxugo o rosto com o antebraço.
— Comer alguma coisa. O que você quer comer? — pergunta.
— Qualquer coisa. Estou morrendo de fome também. Onde já se viu,
festa de aniversá rio sem comida? ― Indago soluçando.
Ele pede dois combos de Whopper, acertando em cheio no lanche que
mais gosto do Burger King.
A Paige nã o vai acreditar que o Eros fez essas coisas por mim. Quer
dizer, a comida deve ser mais por ele do que por mim, mas ele me tirou
da festa e me levou no hospital.
― Será que tiraram fotos? — pergunto morrendo de medo da resposta.
― Provavelmente ― fala parecendo nã o querer entrar nesse assunto,
avança com o carro, dando uma risada com essa minha pergunta.
― Quando chegar em casa, a primeira coisa que vou fazer é colocar esse
celular para carregar.
Nã o posso voltar para a casa da Paige sem ela. Primeiro, seria esquisito
voltar sem ela para festa que fomos juntas e combinamos de voltar
juntas. Segundo, nã o tenho a chave.
― A Paige deve estar preocupada — comento.
― A Paige deve estar fodendo uma hora dessas, e eu falei para o Luigi
explicar para ela o que aconteceu.
Ele pega o cartã o de crédito e avança mais uma vez na fila.
― É bem a cara dela... fodendo...
A safada sumiu que eu nem vi! E a minha esperança era terminar a noite
com o aniversariante, mas estou na fila do Burger King com o Eros, no
carro dele. Se parar para analisar, ao menos vou terminar a noite de
barriga cheia.
Eros pega os pacotes com os lanches e deixa em meu colo.
― Vou estacionar para gente comer, aí te levo pra casa — avisa.
― Ok. — Concordo, pois nã o tenho muito o que fazer.
Que espírito de bondade foi esse que entrou no Eros? Nunca o vi fazendo
bondade para ninguém. Nas poucas vezes que o vi pessoalmente, ele
andava ao lado de Olívia, com o nariz em pé, todo metido. Só conversava
com quem lhe interessava e nã o ficava muito tempo no lugar. Será que a
experiência na cadeia o mudou?
Ele para o carro no estacionamento, liga o som em um volume razoável e
pega um dos pacotes do meu colo.
Ainda me sinto mal pela bebida. Estou tonta e com um gosto enjoado na
boca. Nã o comi nada no trabalho, como minha mã e suspeitava, e assim
que dou a primeira mordida no hambú rguer, meu corpo agradece, e
ouso dizer que já me sinto melhor. O lanche está muito bom.
Olho para o lado e vejo Eros comendo o lanche dele enquanto olha a rua.
Achei que ele era do tipo que só comia coisa chique.
― Você é amigo do Luigi? ― pergunto, abrindo o refrigerante.
― Sou — responde secamente.
― Que coincidência.
“O carinha que eu estava interessada é amigo do ex da minha prima...”
― Oi? ― Ele se vira para mim.
― Você conhecer ele.
Ele dá uma risada.
― Achei estranho o fato de você estar naquela festa. Mas Luigi é assim
mesmo. Metade daquelas garotas ele só viu uma vez, se interessou e
chamou.
Quase engasgo com a batata frita.
― Quer dizer que ele chamou todas as garotas que queria pegar? ― O
encaro atô nita.
― Basicamente.
“Oh meu Deus!”
Nã o tem um homem que preste! Eu esperava mais. Mas também, me
iludi em pensar que o playboyzinho que aparece para tomar café teria
interesse unicamente por mim, a garçonete. Prefiro nem perguntar mais
nada ao Eros para nã o me assustar com as respostas. Pelo visto, ele é
bem sincero.
Assim que terminamos, ele me leva até minha casa. Tive que dar o
endereço e sem GPS ele acertou o lugar.
― Você já andou por aqui?
― Algumas vezes. ― Tira o cinto e eu também.
Só de pensar em levantar, meu pé dó i, mas nã o tenho muita alternativa a
nã o ser fazer isso. Abro a porta e saio do automó vel com o pé sã o, que
felizmente é o direito, e o outro levantado para trá s. Parecem
marteladas.
Eros aparece e segura meu braço.
― Eu te ajudo — diz se aproximando.
― Nã o precisa. Você já fez muito.
Nã o esperava ser carregada nos braços por ele. Ainda deveria estar
bêbada para deixar. Eros me causa sentimento de fuga. Sua mã o no meu
braço liga todos os alarmes do meu corpo, avisando que nã o é uma boa
ideia. Ele me remete ao tipo de cara que corro para manter distâ ncia. Os
que me deixam com medo.
― Você nã o vai conseguir subir esses degraus sozinha. Deixa de ser
teimosa! — fala irritado.
― Se a minha mã e me vir com você, ela vai me matar por essa causa e
nã o pelo acidente — digo.
Podemos ter uma relaçã o muito boa de mã e e filha, mas aos olhos dela
eu sempre serei ingênua e tenho que seguir os seus conselhos. Vivemos
em um pique “sobrevivência” e digamos que hoje eu me expus demais ao
perigo. O maior de todos pode ser esse que insiste em segurar o meu
braço.
― Ela nem vai te ver se eu nã o te levar, porque você nã o vai conseguir ir
sozinha. Deixa de ser teimosa.
“Ele tem razão.”
Pego a minha bolsa e fecho a porta do carro, vencida pela insistência
dele, que passa meu braço por seu ombro e me dá apoio. Até os pulinhos
de um pé só sã o terríveis, mas nos degraus o braço que envolve a minha
cintura é capaz de me levantar e me colocar no alto.
“Hoje foi o dia da humilhação.”
― Aquele hospital nã o era pú blico, era? — Penso sobre isso e decido
perguntar.
― Nã o.
“Droga! Como pagarei por isso?”
― Merda. Eu vou te devolver tudo. Depois me passa o valor. — As coisas
já nã o estã o fá ceis e agora me dou conta que me manter sã também me
livra de despesas como essa.
― Esquece isso.
Ele continua me dando apoio até a entrada do elevador.
― Daqui para frente, eu me viro. ― Encosto na parede do elevador e ele
se afasta. ― Eu nã o vou esquecer.
A essa altura, o olhar profundo que sempre se destaca em seu rosto nã o
existe mais.
― Se cuida e vê se nã o bebe mais. ― Ele se vira e sai a passos lentos.
― Tá bom ― Me visto de vergonha. Tanta coisa numa noite por causa de
um copo de bebida. ― Obrigada por tudo. — Agradeço genuinamente
feliz por sua ajuda.
Aperto o botã o para o andar do apartamento e ele olha para trá s antes
das portas se fecharem.
“Que noite, Liz. Que noite...”
― Olha só ! Sobreviveu! ― diz minha mã e, debochando de mim na porta
do quarto, e quando me viro na cama, meu pé dó i.
― Uhum. Eu estou bem, tirando o fato de que tropecei na calçada e torci
o pé — minto.
― Na calçada, Liz? ― Ela repete de braços cruzados, e sinto que pelo tom
de voz, nã o acredita na minha histó ria. ― Você posta tudo que faz na
internet e acha que vai me enganar com uma histó ria dessas? Eu vi o que
você fez ontem à noite.
― Viu?
Quero chorar pela dor e por ela saber do que fiz. Eu nã o deveria ter
filmado nada.
― Seu vídeo da queda anda rodando o mundo. Parecia uma boneca de
pano, toda torcida no chã o.
“Mas que grande merda! Como assim? Foi isso que o Eros disse que eu
parecia mesmo.”
― Foi uma péssima ideia subir na mesa. — ressalto. — Como assim
fizeram um vídeo?
“O povo não respeita nada!”
― Acreditei mesmo que você nã o faria nenhuma burrada. Agora está aí,
toda arrebentada. Já pensou se perde o emprego? Minha filha, as coisas
nã o estã o fá ceis para nó s nã o! Pior ainda, imagina se alguém se
aproveita de você naquela situaçã o? — pergunta mais preocupada do
que brava.
― Mã e, nã o aconteceu nada. Eu fui a um hospital, tirei o raio-x e nã o
quebrei nada. Eles me deram injeçã o para melhorar. Nã o vou perder o
emprego. Mais tarde eu vou para lá cumprir o meu trabalho, com o pé
doendo ou nã o — digo para amenizar sua preocupaçã o.
Ela desaprova com a cabeça.
― Como voltou?
“Bom, pelo menos isso parece que isso ninguém filmou.”
― A Paige me trouxe ― minto.
Ela já está brava; se souber que foi o Eros, vai ficar mais brava ainda.
― Hum... Tomara que tenha aprendido a liçã o ― fala e sai.
“Oh, se aprendi!”
​Kevin veio tomar café comigo, trouxe até os pã es. Anda com a mesma
preocupaçã o que eu sobre trabalho, mas sei que as suas reais intençõ es
sã o saber se estou bem. Tenho meia dú zia de filhos da puta que nã o sã o
verdadeiros na minha cola, mas tenho dois verdadeiros que valem por
dez. Isso que importa.
​Coloco a cá psula de café na má quina e aguarda com ele na cozinha.
― Se for morar sozinho, vai ter que dar uma voltinha no supermercado
— fala analisando meu armá rio.
― A minha funcioná ria vai fazer isso quando voltar, já falei com ela. Eu lá
tenho cara de quem vai ao supermercado? Com certeza esqueceria
metade das coisas que preciso.
Ele ri.
― E como foi ontem? — pergunta se referindo a festa.
― Foi no mínimo esclarecedor e inesperado. Olha, Kevin, nã o existe mais
gente como nó s para chamarmos de amigos. O tanto que eu já fiz por
aqueles miseráveis, mas quando me encontraram ontem, me esnobaram,
dando indiretas. Caras de 25 anos, agindo como moleques de 15. Fiquei
decepcionado — comento sobre como me trataram na festa e sinto o
meu sangue ferver de raiva.
― Sempre te falei que esses caras nã o pareciam pessoas decentes, mas
você nã o gostava de encontros de casal...
É verdade, antes parecia o má ximo ter vá rios “amigos”.
― Você sabe que a defunta nã o se dava bem com a sua mulher. Como eu
ia sair de casal? — questiono me lembrando de que a Olívia detestava a
mulher do Kevin.
― Defunta. ― repete e gargalha.
Dou a xícara com café para ele, depois coloco o meu para fazer.
― Pois é. E por falar nisso, encontrei a prima dela na festa. Você sabe que
o Luigi bate o olho nas mulheres e já chama para aniversá rio, ceia de
Natal... E Liz estava lá , a convite dele, dançando em cima da mesa.
― Foi aquela que te bateu um tempo atrá s? — recorda sorrindo.
― Sim. A que estragou uma das minhas camisas. Ela caiu, torceu o pé e
eu tive que levá -la para o hospital. Olha, foi uma confusã o. Ela chorou
com medo de agulha, depois chorou com medo da mã e... No fim, a deixei
em casa e os sapatos estã o ali, no meu carro.
“Que fim de noite terrível.”
― Bem aleató rio mesmo. E você fez isso tudo... — Corto a sua frase antes
que ele conclua.
― Nem me pergunte o porquê. ― Me escoro na bancada. ― Ao menos saí
da festa. Aquilo estava um porre. Foi a desculpa perfeita.
― Eu nã o sinto falta dessas coisas — comenta.
― Kevin, você nã o é normal. É feliz nessa prisã o que se meteu — brinco
me referindo ao seu relacionamento.
― Nã o é uma prisã o. Aliá s, vá ver o meu filho um dia desses, se ainda
quiser ser o padrinho.
― Claro.
Pego a minha xícara e sento ao redor da mesa.
Os pã es estã o cheirando muito.
― E sobre o cara que tinha a proposta? Ontem eu nã o te vi na saída e nã o
consegui perguntar sobre. — Mudo o assunto para o trabalho.
― Sem resposta. Nem no telefone, nem no e-mail. Ao menos até agora.
“Que droga!”
― Essa semana vou me reunir com cada só cio, Kevin. E vou convencê-los
a ficar antes que o Scott os tome de nó s — falo com convicçã o.
― Ó timo. Mas... eu também vim aqui por um motivo bem suspeito.
― Oi? ― Indago rasgando o pã o com os dentes.
― Lembra que quando sofremos aquele ataque hacker, passamos a
deixar algumas coisas impressas?
― Sim. Claro. Até hoje fazemos isso. O meu escritó rio está cheio de papel.
— Nã o gostei da ideia de ter papel acumulado para todos os lados, mas
Kevin insistiu na época.
― Pois é. Ontem, antes de sair, resolvi procurar aquela pasta que tinha o
resumo de 2021/2022, de quanto investimos em cada contrato e
basicamente todos os contatos dos negó cios mais importantes que
temos. Aquilo ali sempre facilitava a nossa vida. — Começa a contar, mas
eu nã o entendo aonde ele quer chegar.
― E?
― Nã o achei em canto nenhum. Estava nas minhas mã os no início da
semana e agora, simplesmente sumiu — diz desconfiado.
― E nos computadores nã o tem o arquivo? Nã o foi o seu filho quem
comeu? — brinco com a situaçã o, mas sei que é grave.
― Claro que nã o! Você pode dizer que aquela equipe que contratou
assegura que nã o seremos hackeados de novo, mas eu nã o confio. Estava
impresso, a pasta tinha identificaçã o e tudo, Eros!
“Muito estranho mesmo.”
― E o que aconteceu, como sumiu assim? ― questiono, mas nã o paro de
comer.
― Entã o. Criei mil teorias, mas quero acreditar que nã o tem ninguém
roubando esse tipo de coisa no escritó rio e como lembrei que você tinha
uma có pia... Sã o muitos papéis, uma estante enorme, Eros. Com essa
pasta em mã os, fica mais fá cil.
Bom, a ideia de ter papéis em casa não foi tão ruim, afinal.
― Eu tenho. Vou procurar, nã o tenho muito o que fazer nesse sá bado, me
dedicarei a isso.
― Ó timo. Se cair nas mã os da nossa querida concorrência, estamos
ferrados! ― diz em desespero.
― Nã o! Lá no escritó rio todo mundo é de confiança. Relaxa. ― Penso na
melhor das hipó teses, mas nã o sou mais o homem que confia em todo
mundo.
Tomamos o café e assim que a esposa dele liga, lembrando de algum
compromisso de família, vai embora e me deixa sozinho.
Abro o escritó rio e respiro fundo, tomando coragem para vasculhar
tudo.
Espirro.
― Abgail, você tem que voltar ― digo como se a minha faxineira pudesse
me ouvir e começo a procurar.
O ruim é o cheio de mofo. O bom é que consigo organizar a pequena sala
rodeada de armá rios.
Passo a manhã toda nisso e nã o encontro a pasta que preciso na metade
do que mexi, entã o, depois de pedir um almoço e matar a fome, volto a
mexer no resto pela tarde e início da noite.
― Onde foi que deixei essa pasta, meu Deus? ― Coço meu rosto.
“Se não está em meu apartamento, só pode estar na casa dos meus pais.
Que grande merda!”

― Filho! Você veio! ― Minha mã e vem ao meu encontro alegre.


― Nã o estou aqui por você. Estou procurando uma coisa. ― Desvio dela e
subo a escada para ir até meu quarto.
Espero que o meu pai nã o tenha encontrado essa pasta nesse meio
tempo. Trabalhamos em coisas parecidas e nem todos dessa lista de
contatos tem negó cios com ele.
― Eros... meu filho, você nã o pode viver nesse rancor todo. Isso adoece o
corpo e mente — diz a minha mã e vindo atrá s de mim.
― Mã e, eu tenho coisas mais importantes agora do que discutir sobre o
que vocês apoiaram enquanto eu apanhava na cadeia. Alguém entrou no
meu quarto enquanto estive fora? — questiono preocupado.
― Nã o... Eu achei que...
― Achou errado, mã e. ― A interrompo e entro no cô modo.
Eu gostava dessa casa e mesmo tendo meu apartamento, muitas vezes
na semana dormia aqui. Tem roupas, documentos e coisas que gosto.
Procuro uma bolsa pra guardar umas roupas que quero levar e outras
coisas, mas olhando os papéis que deixei, nenhum é a pasta que procuro,
por isso, largo tudo e vou para o escritó rio do meu pai.
― O seu pai saiu. Ele viajou para Boston. ― Ela vem atrá s de mim.
― Só quero encontrar uma pasta e nã o duvido que esteja aqui. ― Dou
uma olhada nas pastas que estã o enfileiradas em uma das prateleiras do
armá rio. Contratos e mais contratos.
― Filho, você já jantou? A sua empregada ainda trabalha lá ?
“Por que ela ainda está aqui?”
― Nã o se preocupe com isso. ― Continuo olhando pasta por pasta.
― Eros, jamais fiz qualquer coisa para te magoar. Vamos ser sinceros,
aquele namoro de vocês nã o era mais algo saudável. Você era muito
arrogante com ela, vivia falando coisas desprezíveis para garota.
― Ela merecia. ― Pego mais uma pasta.
“Contrato de sociedade Werneck/Albuquerque” - Abril.
“Meu pai fez novos negócios com Michael?”
Abro a pasta e dou uma olhada por cima.
“...O presente documento decreta a união consolidada através do
matrimônio entre Nicholas Werneck e Olívia Albuquerque. [•••] Caso
o casamento seja anulado, a união também será anulada [•••] multa
de 1 milhão de dólares [•••]”
“Que porra é essa?”
― Nunca fariam nada para me magoar, mas por dinheiro foda-se o que
eu acho, nã o é? — esbravejo.
Passo as pá ginas e têm vá rias assinaturas. Da minha família, da família
dele, testemunhas...
E está assinado pelos meus pais, pelo meu irmã o, pela Olívia e os pais
dela.
— Do que está falando? — pergunta minha mã e.
— Vocês fizeram um contrato de casamento para Olívia e o Nicholas! —
exclamo perplexo — Agora faz muito sentido. Nossa, nunca fez tanto
sentido! O filho pró digo e herdeiro das empresas Werneck e a moeda de
troca da família Albuquerque. Nã o tinha combinaçã o mais perfeita. Por
isso um casamento à s pressas? Por isso vocês defendem tanto os dois!
“Que palhaçada.”
― Meu filho, eu só fiz o que me mandaram. — Se defende.
― Ah, a santa. ― Largo o contrato e volto a procurar o meu documento
que preciso.
― Desisto dessa família. Definitivamente desisto. Vocês todos se
merecem.
“Contrato de casamento... Ela se casou por amor mesmo ou forçada?
Aquele donzelo não deve servir para nada.”
― Eros...
Finalmente encontro a pasta.
― Olha aqui outra safadeza! — Balanço a pasta na mã o — Meu pai
roubou a minha pasta de contatos.
― Que pasta é essa? — pergunta confusa.
― Deveria estar no meu quarto, mas o seu querido e honesto marido a
trouxe para cá . Deveria imaginar que eu nã o ia dar falta. ― Carrego a
pasta para o meu quarto e a minha mã e nã o larga do meu pé.
Guardo tudo na bolsa e fecho.
Ela nem sabe o que dizer. Como dizer que é mentira com a prova na sua
cara? Contra fatos nã o há argumentos.
― Eu vou falar com o seu pai — diz para me acalmar.
― Eu sei que vai. ― Carrego a bolsa comigo e ela desce a escada atrá s de
mim.
― Vamos dar um jeito de acertar tudo para nossa família ficar unida de
novo — diz tentando me alcançar.
― Olha, eu nã o sei nem se fomos unidos algum dia. Quantos segredos
mais vocês nã o devem esconder? Sou mesmo filho de vocês? — Olho
para ela antes de sair da casa.
― Claro que é! — responde com a mã o no peito e um semblante de
má goa.
― Vai saber. Vai saber...
Paige ainda está chocada com tudo o que aconteceu comigo. Enquanto
isso, manco de um lado para o outro, anotando e entregando pedidos.
Até o momento, o que mais me assusta é a quantidade de pessoas me
seguindo no Instagram e dizendo que vieram à cafeteria para me ver.
O lugar está lotado, e todo mundo me conhece, sabendo o que aconteceu
com o meu pé. Eu nã o sei se devo sentir vergonha ou apenas fingir
ignorâ ncia. Meu chefe nem tenta esconder a felicidade ao ver seu
empreendimento cheio num sá bado à tarde, mesmo com tantas outras
opçõ es de entretenimento na cidade. O homem passou a tarde inteira na
entrada da cozinha, exibindo seus dentes.
― Liz, você já postou foto do café hoje? Como é o seu Instagram mesmo?
― Ele toca a tela do celular com o indicador, e sua visã o fraca faz com
que ele segure o aparelho bem pró ximo aos olhos. ― Liz de quê?
― @LizStuart ― digo.
― Liz, fique no caixa, teimosa. ― Miranda reclama. ― Senta aqui que eu
atendo.
― Você sabe que eu nã o gosto dessa parte. Eu nã o sei contar sob pressã o.
― Sr. Johnson, já que a cafeteria está lotada só porque a Liz torceu o pé,
você podia dar uns três dias de atestado para ela descansar, nã o é? ―
Paige sugere.
Concordo plenamente, mas nã o tenho coragem de pedir. Estou
morrendo de dor. Nem peguei atestado, mas nã o há atestado melhor que
esse pé inchado. Estou trabalhando de crocs.
― Se a coitada morrer por causa desse pé, ninguém vai vir aqui de novo.
― Ela completa para ser convincente, e seguro a risada.
― Falta uma hora para fechar. Senta aí, Liz. Vamos fazer um acordo. ― O
velhote se aproxima de onde estou, e me sento no banquinho que
deixamos para dias pouco movimentados. ― Se eu te der folga amanhã e
segunda, você vai na RENY do sá bado que vem?
― O que é isso? — Questiono confusa.
― É a Reuniã o de Empreendedores de Nova York. Muita gente vai, deu
muito trabalho para conseguir entrar na lista de convidados. Se você
aparecer, todo mundo vai falar da nossa cafeteria, e aí compensa os dias
fora.
“Isso que dá não trabalhar com carteira assinada.”
― Ok. Eu vou — digo em um suspiro — Acho que nã o tenho nada melhor
do que ver um monte de barrigudos de terno dando aperto de mã o no
sá bado que vem. Tudo para poder colocar esse pé pra cima e esperar
essa inflamaçã o passar.
― Combinado. ― Ele me dá um aperto de mã os.
É isso. Trocando folga por trabalho extra.
Paige se aproxima de mim, pigarreando e olhando para a entrada. Olho
na direçã o e vejo Eros vindo para o balcã o com os sapatos de Paige nas
mã os. Jesus Cristo... Ele anda em câ mera lenta, aquele olhar de ver a
alma voltou aos seus olhos e está acertando os meus, me deixando
nervosa. As lembranças de toda a vergonha que passei ontem, na frente
dele, me enchem de constrangimento.
― Boa noite ― fala colocando os sapatos no balcã o. ― Você deixou no
meu carro.
“Culpa da dor. Quem tem dor repara em alguma coisa? Claro que não!”
Olho para a minha amiga, e ela pega os saltos do balcã o.
― Esqueci ― digo, e ele se escora no balcã o com o semblante tenso.
Quem veio pela fofoca agora está de olho na gente.
― Você melhorou? — pergunta se debruçando no balcã o para ver o meu
pé.
― Nã o, mas continuo pobre, entã o estou aqui. ― Ergo os ombros.
Se ele veio aqui para me cobrar a dívida do hospital, vai sair da mesma
forma que entrou, pois seguidores e likes nã o pagam contas.
― Achei que depois de viralizar nã o ia precisar mais trabalhar aqui.
― Bem que isso podia acontecer. O pessoal só quer tirar fotos minhas e
dizer que viram a garota que meteu a cara no chã o ontem à noite. Meme
se espalha mais rá pido que coronavírus — brinco irô nica.
― Pelo menos nã o andam te chamando de corna. Me dá alguma coisa
para beber e comer. ― Ele se afasta, olhando para os lados. ― Nã o tem
um lugar vazio?
― Nã o. Aparentemente, todo mundo resolveu tomar café no mesmo
lugar hoje. — Pego um banco atrá s do balcã o e o entrego. — O que vai
querer?
― Qualquer coisa que dê para levar.
— Para depois você reclamar que nã o gostou? — analiso a sua ideia.
— Chegou mais clientes? — Paige aparece perguntando sobre o
movimento.
— Nã o, só faça qualquer coisa para ele — falo apontando para Eros.
— Qualquer coisa? — pergunta confusa.
― Qualquer coisa. — Eros confirma.
― Okay. ― Ela volta em direçã o a cozinha.
Três vezes em menos de dois dias que Eros aparece em meu caminho.
Será que anda querendo saber da minha prima agora? Eu nã o duvido. Se
for esses caras possessivos, deve estar armando uma forma de pegar a
mulher de volta.
Oh meu Deus... Luigi acaba de entrar na cafeteria, e vem direto para o
balcã o. O olhar de caçador, reparando em tudo, só olha pra mim quando
chega no balcã o, mas logo me ignora pra cumprimentar o Eros.
Eu me iludi bonito com os olhares dele.
― O que faz por aqui? ― Luigi pergunta para Eros.
— Vim da casa do meu pai. Estava resolvendo algumas coisas. ― Eros
conta nada animado. ― E você? — Presto atençã o na conversa
descaradamente.
― Deixei uma garota em casa e passei para comer alguma coisa. ― Ele se
escora no balcã o, de costas para mim. ― Obrigado por ontem.
“O infeliz nem ao menos me pergunta se estou bem e está agradecendo o
Eros por ter salvado a festa dele? Que filho da puta!”
― De boa. — Eros dá de ombros.
“Não vai nem perguntar se estou bem?”
Luigi se vira para mim.
― Traz aí um cappuccino, garçonete. — Pede com arrogâ ncia.
“Que babaca esnobe.” ― Analiso o tipo e me pergunto: ― “Como achei que
esse cara queria alguma coisa comigo? Como me interessei por um babaca
desses?”
― Vai logo! Nã o fica me olhando. ― Ele me apressa.
― A minha colega já vai te atender. ― Tento me levantar para ir para
outro lugar antes que eu diga algo que me leve para o olho da rua por
falar mal com o cliente.
Quando coloco o meu peso no pé, fecho os olhos e respiro fundo.
“A dor é subjetiva. A dor é subjetiva.” Penso.
Respiro fundo e sigo para a cozinha com cuidado. Nã o falta muito para
fechar e como nã o vou conseguir ajudar na limpeza do lugar, também
nã o vou ficar no meio, atrapalhando. Olho o celular e mais de 100
pessoas começaram a me seguir. De novo. Toda hora tem mais gente.
“Como esse povo descobriu quem eu era?”
Quem dera fosse pelos motivos certos. Compartilho imagens lindas do
que fazemos no café e das coisas que acho bonitas, mas sei que vieram
pelo tombo. Eu nã o deveria ter compartilhado os vídeos quando estava
na festa. Quem chegou antes deles sumirem, reconheceram que eu era a
garota do tombo daquele outro vídeo que viralizou.
Estã o me chamando para fazer publicidade de jogos de azar,
restaurantes e até roupas! Vou olhar com calma os de roupas, porque o
meu guarda-roupas precisa ser renovado, já esses de jogos eu descarto.
Minha família se quebrou por conta dessa porcaria.
Meu pai adorava apostas, adorava dinheiro fá cil. Aposto que ele ainda
adora. Andava com gente perigosa, trambiqueira. Ele colocou essa gente
debaixo do nosso teto! Ele confiava mais nessas pessoas do que em
minha mã e e pouco se importava com a minha segurança, por isso a
desgraça que tento esquecer e que me deixou em alerta até hoje quase
aconteceu.
Apago muitas mensagens, respondo algumas menos absurdas e me
seguro para nã o xingar meio mundo de gente que acha que sou garota
de programa.
― Vamos, dona Liz? ― Paige aparece com um paninho e um produto de
limpeza na mã o. Olho para trá s e já nã o vejo ninguém na cafeteria.
― Já está na hora de fechar? ― pergunto e olho na tela do celular.
“Sim, está.”
― Sim, graças a Deus. E você perdeu a conversa do Luigi com o Eros —
comenta com cara de quem está louca para fazer fofoca.
― Que conversa? — Temo ser sobre mim.
― Quando cheguei com o pedido do Eros, ele estava falando que o Luigi
nã o deveria ficar fazendo as garotas de palhaça, tratando bem quando
quer pegar e depois tratando com desdém.
Uma gargalhada salta pela minha garganta.
― Ele disse isso? O Eros? O Eros Werneck?
Ela assente, segura do que ouviu.
― Deve ser uma piada. Ele nã o falou sério, falou?
“Logo ele!”
― Ele parecia bem sério. O Luigi até ficou sem graça, e eu me meti na
conversa e concordei.
Eros deve estar doente. Se tem alguém com cara de quem nã o respeita
sentimento de mulher nenhuma, é ele.
― Ele chegou agradecendo ao Eros por ter me levado no hospital, mas
sequer perguntou se eu estava bem. E olha que eu estava bem ali, atrá s
do balcã o. Depois ele me chamou de garçonete e exigiu que eu fosse
buscar seu pedido.
― Garçonete você é, mas antes ele chegava chamando de gracinha,
linda...
― Pois é. Eu nã o caio mais em papo de nenhum cara. Acho que agora eu
vou aceitar o celibato.
Ela ri de mim enquanto guarda as coisas que usava para limpar o balcã o.
― Você nunca deu nem uma fodida. Você já vive o celibato, mocinha —
fala e solta outra risada.
Acabo rindo com ela.
― Estou dizendo no sentido de procurar alguém com quem ter um
relacionamento. Vou ficar sem ninguém. Aceitar essa condiçã o, sabe? É
isso. ― Me levanto para ir embora ― Vocês precisam de ajuda?
― Precisamos, mas de alguém com os dois pés saudáveis, entã o você nã o
está apta para isso. Vai para casa, garota. Aproveita que o velho já foi
embora. Um minuto a mais ou a menos nã o te fará perder o emprego.
― Você tem razã o. ― Engulo o desconforto e fico de pé.
Deixo meu avental pendurado no lugar de sempre, cruzo a alça da bolsa
e saio me despedindo.
― Na terça eu já devo estar ó tima — informo me sentindo um pouco mal
por nã o conseguir ser ú til.
― Se cuida mesmo. ― Miranda pede, passando pano no chã o. ― E vê se
nã o faz besteira com esse monte de seguidores que tem agora.
― Olha com o que você se preocupa! ― Rindo, abro a porta da saída e
sigo meu caminho.
Uma hora dessas só tem os carros e as motos de um lado para o outro na
rua. Reconheço o carro parado mais à frente e continuo o caminho,
esperando estar errada, mas o dono sai do carro e se encosta na lateral,
como se estivesse esperando por alguém.
Essa situaçã o está estranha. Eros anda aparecendo demais no meu
caminho. Dessa vez parece por pura vontade e nã o coincidência ou
acidente.
― Vamos, eu te levo. ― Ele fala como quem nã o vai aceitar um nã o como
resposta.
“Liz do céu...”
Será que está acontecendo o que seria a cara dele fazer? Eu nã o poderia
estar tã o fodida a esse ponto. Quer dizer, a Olívia só me tem de prima,
mas nã o pode me considerar como uma irmã e eu tenho certeza de que
o fato de ser eu nã o mudaria nada na cabeça dela.
― Eros, você nã o está fazendo isso pra se vingar da minha prima, nã o é?
— pergunto para tirar isso da minha cabeça, pois se for, nã o farei parte
desse plano.
Depois que saí da cadeia, sinto que nã o sã o apenas as coisas aqui fora
que mudaram, mas eu també m mudei, e nã o digo que sou uma pessoa
melhor, só estou vendo as coisas por outra ó tica. Claro que há pontos
que eu nã o via por que nã o queria. Eu já deveria esperar que meu pai
fazendo negó cios com o pai da Olívia nã o daria em nada menos do que
alguma sacanagem. Dessa vez, quem sobrou fui eu.
Michael Albuquerque é um trambiqueiro e, na certa, quando viu que
seria mais proveitoso ver a filha com o Nicholas, a jogou em seus braços.
Todo mundo aproveitou a minha ausência para fazer alguma canalhice
comigo. Mas no caso da Liz é diferente. Parece que ela nã o se deixa
enganar por nada além de caras que mostram interesse por ela.
― Eu, querendo te usar? ― Sorrio da sua suspeita.
Eu só voltei porque nã o parava de pensar em como essa criatura
chegaria no ponto de ô nibus, subiria no ô nibus e naqueles degraus da
frente do apartamento onde ela mora. Nada mais. Eu nem deveria me
importar. Ontem ela tomou a minha noite toda, chorou, esperneou e eu
nem vou lembrar do que ela já me fez no passado. Mas eu tenho um
problema quando se trata de ir contra a minha vontade.
― Sim. Faz muito sentido. Eu sou a ú nica parente da Olívia, você pode
estar querendo dar o troco na mesma moeda.
“Até que faz sentido, mas eu não tinha pensado nisso.”
― Olha, confesso que nã o seria uma má ideia. Mas a Olívia se importaria
mais com um par de Louboutin do que com você. Vamos. ― Dou a volta
para abrir a porta do carona para ela.
― Entã o, por que você está me oferecendo carona? — Me olha
desconfiada.
― Vou encarar como uma pergunta retó rica. Entra logo. — Na verdade
eu nã o sou capaz de responder.
Muita coisa que acabo fazendo nã o tem um bom motivo. Ela entra e,
dessa vez, nã o está cheirando a á lcool e sim a um perfume floral,
marcante, mas nã o doce.
Fecho a porta e dou a volta. As calçadas estã o vazias, somente nas ruas
transitam carros apressados e os motoqueiros mais apressados ainda
com suas entregas. Entro no carro e ela já está com o cinto preso.
― Você volta pra casa na companhia das outras ou sozinha? — pergunto
me referindo as suas amigas da cafeteria.
― Sozinha. — Dá de ombros.
― Nessas ruas? — Isso me parece bastante perigoso.
Ela balança a cabeça e mostra o que carrega na bolsa: spray de pimenta,
apito, arma de choque.
“ARMA DE CHOQUE!”
― Ok. Você é perigosa, mas tem gente mais perigosa, nã o acha? Por que
trabalha em um emprego tã o longe de casa? ― pergunto, dando partida e
dirijo para a casa dela.
― O que você acha? — Ela bufa.
Acredito que nã o deve ter tantas oportunidades por aí e ela responde
como se parecesse ó bvio. E na verdade é. Que estupidez a minha.
― O que o seu pai acha disso? — inquiro com curiosidade.
― Meu pai? Ele nã o mora com a gente. Pode-se dizer que nã o tenho um.
E se tivesse, ele nã o tinha que achar ruim que trabalho longe ou perto.
Preciso desse emprego para ajudar em casa.
“É. Dá pra ver, já que veio trabalhar machucada.”
― Achei que vocês viviam do mesmo jeito que a sua tia. Quer dizer, sua
mã e e ela nã o sã o irmã s? — A mã e de Olívia ostenta uma vida muito boa,
imaginei que a irmã seria assim também.
― Sã o, mas temos vidas totalmente diferentes. A minha mã e nã o
concorda com o jeito que eles levam a vida.
Minhas sobrancelhas saltam com esse detalhe. Pelo visto, nã o sou o
ú nico a enxergar os golpistas que aquela família tem. Eu só nã o sabia
que a Liz nã o era como Olívia e nã o fazia parte das falcatruas daquela
família.
― Entã o só vive você e a sua mã e?
― Sim.
― E ela nã o encontrou ninguém até hoje? — Parece grosseira a pergunta,
mas a mã e dela é jovem e bonita, apesar de brava. Ela e a filha se
parecem.
Liz demora para responder.
― Nã o queremos mais ninguém na nossa casa. Só nó s duas já está bom.
— Pelo visto toquei em seu ponto fraco.
― Entã o você vai passar a vida toda com ela? Morando naquele
apartamento?
― Claro que nã o. Um dia as coisas vã o mudar, mudaremos pra uma casa
melhor.
Mordo a bochecha para nã o rir da sua resposta.
― Nesse caso, vã o ficar as duas sozinhas para o resto da vida numa casa
melhor? — Sorrio involuntariamente.
― Nã o seria ruim. Me dou bem com a minha mã e. Sou filha ú nica, nã o
poderia dar errado.
― E se desse certo com o Luigi? ― pergunto a título de curiosidade.
Vendo suas ideias, o meu amigo seria a ú ltima pessoa com quem ela
deveria se envolver.
― Nã o ia. Nã o sei por que fui naquela festa. — Ela cora.
― Você nã o sabe? Com certeza nã o era porque queria passar o resto da
vida com sua mã e ― digo rindo e ela olha pra mim sem achar graça
nenhuma.
― Você era mais sério e falava menos, se me lembro bem.
“Sim, era mesmo.”
― Só estou tirando minhas dú vidas para saber se você vale a Louboutin
― brinco.
― É melhor você roubar a Louboutin. Nã o vai conseguir nada comigo. —
Sugere de um jeito cô mico.
“Um fora?” ― Olho para ela e sinto vontade de rir.
― Diferente do meu amigo, eu nã o dou falsas esperanças a ninguém. Se
fosse para me vingar da sua prima e do meu irmã o, faria algo melhor do
que ficar com a prima esquecida — retruco.
― Que bom — fala e se vira para olhar para as ruas de Nova York e me
ignora completamente.
Mais alguns minutos, chegamos perto do seu prédio e lá está a mã e dela,
aos carinhos com um cara, encostados em um carro. Paro um pouco
distante da cena, mas consigo ver bem seus rostos.
― Aquela ali nã o é a sua mã e? — pergunto em um tom debochado. A
cara da Liz nã o é das mais felizes, ela está paralisada com o que vê. ―
Parece que vocês nã o vã o passar o resto da vida a só s.
Ela abre a porta e, quando sai depressa, se encolhe no chã o. Parece até
que esqueceu do pé fodido.
― Está se escondendo, Liz? — pergunto rindo da cena.
― Vai se foder, Eros! ― Ela se levanta e tira o pé esquerdo do chã o.
― Nã o vai começar aquele choro de novo, nã o é? — Sorrio.
― O quê? Você achou engraçado? — Sua cara nã o é a das melhores, nã o
sei se por minha provocaçã o, ou pela cena da sua mã e com um homem.
― Aiiiiiiin. Seu choro faria sucesso na internet. ― Garanto rindo e ela
fecha a porta do carro, brava.
― Vá embora discretamente. Ninguém pode saber que vim com você —
fala baixinho.
Baixinha e brava feito um pinscher, só que manca. É engraçado ver esse
conjunto andando pela calçada.
“Jamais ficaria com essa garota para me vingar da cadela da prima dela.
Que ideia...”

Quando me afasto, Eros faz uma manobra de longe discreta com o seu
carro e vai embora com os pneus cantando no asfalto. A minha mã e vira
o rosto e ao me ver, pula para longe do homem que estava agarrada. Eu
pedi que ele saísse discretamente, mas parece que com ele discriçã o nã o
existe.
― Liz! — Minha mã e exclama assustada.
― Sou eu. ― Fico sem graça. Nã o esperava dar esse flagra.
― Oi. ― O homem balança a cabeça, com o batom vermelho borrado ao
redor de sua boca. A minha mã e está pior que ele.
― Eu vou entrar ― aviso diante desse constrangimento.
Eu quero me esconder e nã o ver mais ninguém. Como assim a minha
mã e está namorando? Colega de trabalho... era só o que faltava. Subo
cada degrau com cuidado e ouço a despedida apressada da minha mã e,
que está assustada com a minha chegada. Mais assustada estou eu,
vendo a cena mais grotesca da minha vida.
― Liz, espera, filha! Eu te ajudo. ― Ela segura meu braço.
Minha mã e num estado normal diria: "Isso, se vire, pra aprender a não ir
para festa fazer escândalos! Ô coisa bem-feita!" Ela me ama, mas isso nã o
me livra de ouvir esse tipo de coisa. Isso só prova que nã o está em seu
estado normal.
― Seu patrã o deveria te dar uns dias para sarar esse pé, nã o é? — fala
com a voz aguda.
Ela normalmente diria: "Eu vou falar com seu patrão, para ele te colocar
o dia todo no trabalho pesado, assim você vê o que é bom!" O cara com
quem ela estava se agarrando fica parado, olhando para gente até que
entramos no prédio.
― Agora ele é só amigo de trabalho? ― pergunto enquanto o elevador
nã o abre.
Ela inclina a cabeça para o lado e fica toda sem graça.
― Filha... O Demétrio é um cara legal. Quando você o conhecer, vai
entender o porquê me interessei por ele.
― O Scott também era um cara legal, superlegal e trancou a porta do
meu quarto pra tentar me molestar, mã e. ― Entro no elevador com meu
corpo começando a tremer de nervoso. ― Eu nã o quero esse homem
dentro da nossa casa.
― Liz, aquilo nunca mais vai acontecer. Eu te garanto, filha. O desgraçado
do seu pai trouxe aquele homem para a nossa casa e nos deixou à mercê
disso, mas nunca mais vai acontecer. Se o Demétrio fosse esse tipo, eu
saberia, mas nã o é.
“Ela não pode me garantir nada disso!”
― Saberia? Você nã o soube quando viu outro homem sendo bom demais
com sua filha de dez anos. Acha que saberia agora? — Esbravejo
completamente desestabilizada.
― Eu nã o deixei que nada acontecesse naquele dia. Sempre vou te
proteger, Liz. ― Ela segura meu rosto.
― Pois o deixe bem longe de mim e bem longe da nossa casa. É assim
que eu me sinto protegida — peço desapontada com a situaçã o.
Aquele nojento dizia que eu era uma princesinha, me trazia brinquedos,
visitava a nossa casa até quando nosso pai nã o estava lá e quando a
minha mã e confiou em sair para o supermercado e deixá -lo tomando
conta de mim, ele quis se aproveitar. Quando ele trancou a porta do meu
quarto, eu já imaginei que coisa boa nã o era. Mamã e nunca deixava
fechar as portas, porque se a casa pegasse fogo, seria complicado sair e
digamos que eu era terrível.
Eu deveria ter tocado fogo naquele cara. Quando ele sentou em minha
cama e pegou na minha perna com aquele olhar psicopata, eu tentei me
soltar e a sorte foi que a minha mã e voltou naquela hora, ela pegou a
bolsa, mas a carteira tinha ficado, me ouviu pedindo pra soltar minha
perna e ele falando que era uma brincadeira. Mamã e arrombou a porta e
o colocou para fora debaixo de chutes. O desgraçado mentiu, dizendo
que só estava brincando. Brincando com a porta trancada?
E vendo a afliçã o da minha mã e, entendi que aquilo ali tinha sido mais
perigoso do que imaginei naquela hora e desde entã o nã o confio nesses
caras com cara de tio bondoso. Na verdade, eu nã o confio em nenhum
cara.
Eros me deu uma carona e me garantiu que jamais iria me usar para se
vingar da Olívia. Me chamou de “a prima esquecida”. Ele me deixou
aliviada, mas me derrubou dois degraus da escadinha da autoestima.
Eu sou mais importante que uma Louboutin! Mesmo que ele tivesse esse
plano de me usar, nã o conseguiria nada, porque eu nã o quero o chifrudo
que foi trocado pelo irmã o!
Avisei ao Kevin sobre o documento que ele queria e passei o domingo
em casa. Duas coisas tiraram a minha paz desde o primeiro dia da
semana: A histó ria do contrato de casamento e a histó ria daquela
Smurfete.
Como eles decidiram isso? Será que se reuniram em casa e combinaram
o que fazer? Quem deu a ideia? Seria a família da Liz mais honesta do
que pensei? Julguei errado quando a acusei de colocar ideias na cabeça
da prima? Ela nunca vai namorar, nem casar? Eu deveria me vingar de
Olívia e Nicholas?
Na segunda, acordei cedo e agora estou me aquecendo para malhar.
― Olha só quem voltou! ― Zac, meu amigo de academia, vem me
cumprimentar e para minha surpresa, parece que nada mudou depois
do que aconteceu comigo.
― Oi, cara! Como vai? — pergunto avaliando seu porte físico.
― Tudo bem, irmã o. E você? Andou sumido ― Brinca ao falar do meu
tempo na cadeia.
O cabeça raspada, que carrega mais tatuagens do que eu e com certeza
tem uns 30kg de mú sculos a mais também, se aquece ao meu lado para
iniciar os treinos.
― Tirando meu período de “férias” e o fato de ainda nã o ter descoberto
quem armou para mim — digo e começo a me aquecer — Meus só cios
estã o em processo de quebra de contrato, minha namorada terminou
comigo, casou com o meu irmã o por contrato e está grávida e, por fim, a
maioria dos filhos da puta que eu chamava de amigo virou as costas pra
mim. É , acho que estou melhor assim.
― Faltou falar da situaçã o da sua cara. Quem te bateu? Foi na cadeia?
Ele ignora tudo que falei para reparar em uma coisa dessas?
Sorrio.
― O donzelo — digo me referindo ao meu irmã o, Zac já conhece muito
bem o apelido que dei a ele.
― Porra. Eu fiquei preocupado com toda essa situaçã o. Sei que você nã o
faz esse tipo de coisa. — Ele me encara e questiona em dú vida — Nã o
faz, né?
― Claro que nã o! — digo na defensiva.
Fico aliviado por saber que ele pensa assim. Ele, o Luigi e o Kevin, pelo
menos.
― Nã o querendo competir, mas também me fodi nesse meio tempo.
Roubaram meu celular, perdi todos os meus contatos, invadiram a minha
conta, roubaram 30 mil e ainda me largaram pelado.
― Foderam a sua bunda? — pergunto e solto uma gargalhada.
― Nã o. — Ele responde rá pido demais.
Gargalhamos aliviados.
― Ainda bem — comento em meio ao riso.
― Ainda bem!
― É gente dando golpe em todo canto ― digo pegando os alteres de 10kg
para começar os exercícios.
― Sim. Meu pai ficou louco, porque, apesar de eu me dedicar mais à s
atividades atléticas, ainda sou só cio da empresa. Eu nem sei o quanto eu
tenho em patrimô nio e meu irmã o garante que a minha capacidade
cognitiva nã o seria capaz de calcular nem se eu quisesse. E me acontece
uma coisa dessas. — Zac parece chateado.
― Pode ser que tenham achado que você era mais fá cil de ser golpeado.
― Sim. E eu sou bom de briga, mas com uma arma apontada, eu nã o sou
nem louco de fazer nada. ― Ele pega o dobro do peso que peguei para
fazer bíceps.
― É o certo. No meu caso, colocaram as coisas no porta-malas e eu nem
sabia. O difícil nem foi sair da cadeia, foi sobreviver lá dentro — conto
lembrando dos piores dias da minha vida.
― Imagino. Ainda bem que você saiu. E tentaram comer a sua bunda lá ?
― Nã o!
Rimos aliviados.
― Ainda bem.
Fazemos uma série de cada braço e paramos para descansar.
― Você quer falar sobre o seu fracassado namoro? — Zac questiona.
― Cara, eu estou tentando deixar de lado, sabe? Já fiquei em negaçã o, já
bati de frente, descobri as coisas por trá s e agora acho que é melhor
assim. Solteiro. Vida que segue.
― No fim, você até que saiu ganhando, se livrou de outro problema.
― Com certeza. ― Sorrio com ele. ― Por mais que tivéssemos problemas,
ela representava algo para mim, mas analisando tudo, eu já passei por
coisas piores, entã o nã o vou me afundar em ó dio por causa disso. Agora
eu quero saber quem me colocou na cadeia e quero resolver as coisas da
minha empresa.
― Está certo! Eu apoio, pois ia desejar o mesmo.
― E você continua apaixonado pela melhor amiga do seu irmã o? — Viro
o assunto para ele.
― Continuo. ― Ele admite com segurança. ― Vamos para mais uma série?
— Acho que nã o quer estender esse assunto.
― Vamos ― respondo rindo e fazemos mais uma série.
― Você está mais leve ― comenta quando paramos.
― É que na cadeia eu nã o conseguia malhar. Depois vou subir de peso.
― Estou falando mais leve na energia. Parece diferente. — Se corrige.
― Ah. ― Sorrio ― Sabe, Zac, acho que todo mundo anda me estranhando.
Eu fui dar uma carona pra Liz e ela estranhou. Achou que eu queria me
vingar da prima através dela.
― Quem é Liz?
― É a prima da minha ex. Sabe uma garota que viralizou no fim de
semana caindo de uma mesa de cara no chã o?
― Sim. ― Ele ri. ― Eu e minha mã e rimos muito com isso, apesar de ela
ter ficado preocupada com a garota. Vocês se conhecem?
― Fui eu quem a levou para o hospital. Nunca fomos pró ximos, mas
desde que saí da cadeia, foi a pessoa que mais vi.
Ele ergue as sobrancelhas e um sorriso.
― Nã o quero nada com aquela smurf — digo na defensiva.
― Sim, ok. Entã o você fez uma boa açã o sem interesse? — pergunta
desconfiado.
― É . Foi. Acredita? — digo dando de ombros.
― Muita gente deveria passar um tempo vendo o sol nascer quadrado
pra ver se melhora. Nã o dizendo que você era ruim, claro.
― Mas parece que foi isso que você quis dizer mesmo. — Dou um murro
em seu braço.
― Nã o. Você sempre foi legal..., mas teve uma vez que eu pedi ajuda para
consertar a má quina que eu tinha quebrado e você disse nã o. Eu levei
para o coraçã o — Ele solta uma risada.
― Isso aconteceu no início do ano. Já estamos no meio dele e você ainda
lembra disso? — Eu nã o queria ajudar mesmo. — O pessoal que trabalha
aqui é quem deveria consertar. A gente paga para quê? — questiono.
― É , você nã o mudou tanto assim. Vamos falar da Liz? Como ela é?
― Deixa a Liz pra lá . Vamos treinar que ainda tenho que ir para o
escritó rio. Essa semana eu serei um anjo com todos os meus só cios. ―
Começo mais uma série.
Depois do treino, passo em casa pra tomar banho e me vestir
adequadamente para o trabalho e encontro Kevin no escritó rio. Me
falaram que ele estava no arquivo desde que chegou e agora observo o
que ele está fazendo.
Tirando pasta por pasta da estante.
― O que é isso? Você tá passando por alguma crise de organizaçã o? —
Debocho.
​― Estou procurando aquela pasta.
― Eu trouxe a minha. Você acredita que o meu pai tinha guardado ela em
seu escritó rio, em casa?
― Acredito, mas eu quero encontrar a minha pasta, Eros. Isso nã o está
certo. Desde quando essas coisas somem assim? Aqui nada some e à s
vezes a gente acha o que nem deveria estar aqui. Olha isso. ― Ele me
entrega outra pasta. ― O raio-x do dedo do pé da nossa faxineira.
― Você procurou em sua casa?
― Procurei. Minha esposa procurou, o meu bebê procurou. Nã o está lá .
Como eu disse, nã o levo essas coisas para casa. Estava aqui e no lugar
que sempre deixo. ― Ele mostra o lugar na estante. ― Alguém pegou,
Eros. Temos um infiltrado. E nã o leve na brincadeira.
Tranco a porta e nã o acho graça disso.
― Você acha que alguém levou?
― Acho. E mais, desconfio de quem seja. Agora me chame de maluco.
― Quem?
Ele vem para perto de mim e fala baixinho.
― A empregada do mês.
― Leah? Por quê? Por ser a funcioná ria do mês?
― Eu já peguei essa mulher duas vezes na porta do meu escritó rio e já
peguei ela saindo do seu quando você nã o estava aqui.
Eu nã o esperava entrar numa investigaçã o na minha pró pria empresa,
pois acreditava fortemente que o problema estava lá fora.
― Eu já tenho que descobrir quem armou para mim e agora tem mais
uma coisa para me preocupar. — Suspiro com raiva.
― Meu amigo, estamos cercados de serpentes. Vamos ter que arrancar a
cabeça de todas. Uma por uma.
― Pois é. Eles podem até tentar me derrubar, mas nã o vai ser tã o fá cil
assim.
― E falando em tentar, o Demétrio está negociando com o Scott. Eu os vi
ontem à noite, quando fui jantar com minha esposa num restaurante.
― Com o Scott?
― Sim e sei que estavam tratando de negó cios. Eu tirei uma foto, porque
trabalho com provas. ― Ele tira o celular do bolso e procura a imagem,
depois me mostra.
Fico surpreso ao ver quem é o homem em frente ao Scott.
― Eu sei quem é esse cara! — digo surpreso.
― Quem você nã o conhece, nã o é?
― Sacanagem do Scott. Anda cheirando o nosso rabo. Mas vamos ver se
na reuniã o de comércio ele vai ficar fazendo propaganda positiva dele
para os meus só cios.
É o homem com quem a mã e da Liz estava aos amassos na noite de
sá bado.
Talvez conseguindo o contato dele, ou uma aproximaçã o fora do
trabalho, me ajude com os negó cios. Eu nã o vou perder ninguém para o
Scott.
Passei dois dias em casa, esperando meu pé ficar bem, enquanto a
minha saú de mental ia para o espaço. Depois, voltei ao trabalho. Nã o se
fala em outra coisa no café alé m de mim. Tenho 100 mil pessoas
esperando a pró xima vergonha que irei passar no Instagram, e a mulher
do meu patrã o mandou um vestido para eu usar na reuniã o de
comerciantes. Eu vou como se fosse a filha deles. A filha panfletária.
Passei a tarde desse sá bado no salã o de beleza, e quando chego para
tomar banho e me arrumar, só vejo da minha mã e os vestígios que ela
passou pela casa. Seu quarto está uma bagunça e suas maquiagens estã o
em cima da cama. Ela saiu e com certeza deve ter sido com o novo
namorado. Aquele que nã o pisa o pé aqui.
O vestido preto marcado na cintura e com decote ombro a ombro me
deixou elegante como nunca, meus cabelos estã o modelados, dei uma
caprichada na maquiagem, principalmente na cor do batom, um nude
que me deixou com um bocã o, e calcei a sandá lia de salto relativamente
alto, mas confortável. Ainda sinto um leve incô modo, mas nada que me
impeça de aparecer mais elegante na festa.
É uma festa chique. Os empresá rios dessa cidade sempre investem em
sua aparência. Meu chefe e sua esposa que o digam. Parecem o prefeito e
a primeira-dama quando chegam para me buscar, de tã o bem-vestidos
que estã o.
― Que bom que você vai! ― A esposa de Sr. Johnson me cumprimenta
alegre.
― Preciso compensar o tempo que fiquei fora. No que eu puder ajudar,
será um prazer — respondo com um sorriso falso.
“Será um prazer manter meu emprego.” Penso.
Ele dirige para o local do evento e quando passamos pela entrada, a
primeira pessoa que vejo é a minha mã e. A senhorita Lauren ao lado do
seu namorado. Ela nã o me vê, mas enquanto acompanho o casal de
patrõ es, fico de olho nela.
“Onde ela arranjou esse vestido nude de pedraria? Isso deve custar os
olhos da cara!
Parece que esse colega de trabalho tem um cargo mais alto do que eu
imaginei. Ele está conversando com outros homens e esses parecem
poderosos.
Sem contar que aquele carrão que ele anda não deve ser barato.
O que a minha mãe anda escondendo, hein?
Será que esse cara tem grana?”
― Liz! ― Olívia me chama, e vou cumprimentá -la.
Ela está num vestido vermelho, justo e cheio de detalhes. Minha prima
nunca anda bá sica.
― Oi, Liv. Como você está ? — digo fingindo interesse, mas na verdade
estou mais preocupada com minha mã e.
― Eu estava querendo falar com você. ― Ela segura a minha mã o e me
leva para cumprimentar seu marido.
Nicholas é um pouco diferente do Eros em aparência. Seus cabelos sã o
mais escuros e ele nã o parece ter tatuagens. Nã o as que consigo ver
quando a gola da camisa está desabotoada, como em Eros. Também nã o
tem cara de ser marrento feito o irmã o.
― Tudo bem, Liz? — Nicholas me cumprimenta com um beijo no rosto.
― Estou ficando. E você?
― Estou ó timo ― diz sorrindo.
“Carismático ele sempre é.”
― Você veio com a tia Lauren? ― Olívia pergunta.
― Nã o — respondo secamente. Nã o quero falar sobre minha mã e e o seu
par.
― Eu nã o sabia que ela estava namorando. Nick disse que esse cara é um
grande empresá rio. — Olívia comenta nã o percebendo meu desconforto
ou ela percebeu e quis ser inconveniente mesmo.
― Sério? Eu também nã o sabia — digo surpresa.
“Empresário? Então ele é o chefe dela. A minha mãe está saindo com o
chefe?”
― É verdade. ― Nicholas confirma.
― Você veio com quem? Nã o me diga que foi porque ficou famosa? ―
Olívia pergunta sorrindo. ― Quando vi seu vídeo nã o acreditei.
― Também nã o acredito no que aconteceu — falo revirando os olhos. —
Mas estou aqui para pagar os dias que fiquei de repouso. Aquela queda
me deixou machucada, e o meu chefe aproveitou a visibilidade para me
trazer aqui. Parece que agora eu sou o rosto do café.
O casal dá uma risada.
Olívia nã o é baixinha como eu, ela tem postura de modelo. Mesmo
estando grávida, ainda parece uma supermodelo.
― Eu vou falar com a minha mã e ― aviso e peço licença para eles.
Ela me vê chegando e como sempre, fica sem graça.
― Você veio mesmo! — Ela me abraça com uma risada tímida.
― O velhote me trouxe — conto apontando para o meu chefe.
― Liz. Tudo bem? ― O namorado dela estende a mã o para me
cumprimentar e aperto.
Assim de terno, ele parece um senador, mas muitos políticos sã o
corruptos.
― Estou bem. ― Dou um rá pido sorriso.
Eu nã o vou abaixar a guarda.
― Você ficou linda com esse vestido, meu amor! ― Minha mã e beija a
minha cabeça.
― Onde você arranjou essa roupa?
― O Demétrio me deu ― fala baixinho, perto do meu ouvido. ― Minha
filha, o preço disso aqui nos livraria das despesas por uns dois meses.
― Entã o guarda que a gente vende na internet depois ― aconselho
sussurrando e ela sorri.
Minha mã e volta sua atençã o para o seu parceiro e segura em sua mã o.
― Eu vou arranjar uma á gua ou suco para tomar ― aviso e me afasto do
casal.
“Que coisa esquisita.”
Vou para bem longe deles e me sento num banquinho. O lugar do
encontro tem balcõ es e mesas. Deve ser algum local de festas.
― Ora, ora, ora... ― Uma voz familiar soa atrá s de mim e meu coraçã o
dispara.
Ele aparece ao meu lado e me encara.
― Você por aqui? — pergunta e dou um sorriso amarelo.
― É . Eu sei que faria mais sentido se eu estivesse do outro lado do balcã o
— respondo tã o irô nica quanto ele.
Eros.
Nã o o vi durante a semana e agora ele aparece todo formal, mas sem
gravata, com essa cara de mafioso. Que ele nunca saiba que o comparei a
um desses, mas realmente se parece com um. Sorrio em pensamento.
E seu perfume eu já reconheço. Amadeirado e com aroma de perfume
caro.
― Veio com a sua mã e e seu padrasto? — pergunta curioso.
― Para, Eros. Nã o tem a menor graça — reclamo frustrada por saber que
minha mã e está acompanhada.
― Eu nã o estou zombando, só sinto que seus planos de passar o resto da
vida morando somente com a sua mã e estã o indo por á gua abaixo,
mesmo nã o fazendo sentido — explica e dá um gole na sua bebida. — Eu
conheço o seu padrasto.
― Conhece? Ele é uma pessoa confiável?
― Nã o conheço o suficiente para te responder sobre isso. Ele queria
fazer negó cios comigo, mas fui preso e agora ele nã o quer mais.
― Coitadinho... ― zombo.
― Liz, diga a ele que somos amigos. Acho que uma aproximaçã o menos
forçada pode me ajudar a convencê-lo. — Eros está mesmo pedindo a
minha ajuda? — Meu maior rival está tentando fazer negó cios com ele e
eu nã o quero que isso aconteça.
― Você tem inimigos, Eros? Sério? ― indago irô nica.
― Nã o é brincadeira. Eu posso até falar com ele, mas as chances de levar
um fora sã o enormes — explica frustrado.
― Acredite, sã o maiores ainda se você aparecer agora enquanto ele está
com a minha mã e. Eu nã o vou dizer que somos amigos, porque nã o
somos.
“E eu também não quero ter que conversar com o homem que está saindo
com minha mãe.”
― Você se lembra daquele dia?
“Então ele não quer minha ajuda e sim que eu retribua o favor.”
― Lembro e sou muito grata por isso, Eros, porém eu nã o vou pagar o
favor que você me fez te apresentando à quele homem. Se você nã o
percebeu, estou bem longe deles porque quero distâ ncia. Se você
também ficar distante de mim, eu agradeço.
Esse perfume é bom demais e posso me viciar nele. Preciso de espaço.
― Difícil... Você é bem difícil — resmunga.
― Sou ― confirmo e o ignoro chamando o rapaz para pedir minha
bebida. ― Um suco.
Eros se afasta e fico sozinha.
Eu nã o quero proximidade com o namorado da minha mã e. E se eu
contar que sou amiga do Eros a ele na frente dela, ela vai pensar a
mesma coisa que pensei com a aproximaçã o dele, que está tentando me
usar contra a Olívia.
Mas a verdade é que ele quer me usar para fechar negó cios com o
homem que está saindo com minha mã e.
O rapaz traz meu suco e dou o primeiro gole. Um ó timo suco de laranja.
― Esse lugar é de alguém? ― Outra pessoa pergunta e quando olho para
ele, quase engasgo.
― Na-nã o.
Ele sorri e se senta.
“Esse cara não é aquele cara? Aquele modelo famoso? Edward Banks?”
É o moreno de olhos sedutores que tem estampado o outdoor perto do
ponto de ô nibus. Sempre fico o admirando. À s vezes o ô nibus demora.
Eu leio toda a legenda e procuro defeitos no rosto dele, mas nã o
encontro.
― Ei, você nã o é a garota de quem todo mundo está falando essa
semana? — Me analisa.
“Ele me reconheceu! Pela minha vergonha, mas me reconheceu.
Pelo menos sabe que eu existo!”
― Sim. Sou eu. ― Sorrio um pouco sem jeito. Acho que agora todos me
conhecem como a garota que caiu da mesa.
― A festa parecia divertida ― fala rindo. ― Sou Ed Banks.
― O supermodelo. ― Completo e ele me cumprimenta com um beijo no
rosto. ― Sou Liz.
― É um prazer, Liz. Você veio porque é empresá ria ou só para
representar a cafeteria?
“Como ele sabe onde eu trabalho?”
― Para representar ― conto rindo e levanto meu copo. ― Mas dessa vez
estou tomando suco, entã o nã o vai acontecer de novo.
Ele ri.
― Essas coisas acontecem constantemente. Hoje em dia tudo cai na rede,
nã o temos como evitar.
― Mas eu nã o estou acostumada com essa exposiçã o — explico e bebo
mais um gole do meu suco.
― Você vai se acostumar. Tem lados ruins, mas tem os bons. Surgem
muitas oportunidades. — Tenta me tranquilizar.
― Eu espero mesmo.
Uma boa oportunidade foi poder conhecer esse cara. A propaganda que
ele faz é de creme para acne, mas eu sei que aquela acne é falsa. Agora
mais do que nunca, o vendo pessoalmente. Vou me lembrar de agradecer
ao meu chefe por me trazer a esse vento. Até que está sendo uma ó tima
noite.
Converso muito com Ed e nem meu patrã o, nem outras pessoas vem
falar comigo durante a festa. Essa foi a melhor parte. O velhote deve ter
esquecido que me trouxe.
Alguns minutos depois chamam o Ed e ele se despede de mim.
― Foi um prazer conversar com você, mas agora preciso ir — diz
começando a se afastar.
― O prazer foi meu ― garanto.
― A gente se fala? — pergunta antes de ir.
― Sim. Claro. — Sorrio.
Assim que ele se afasta, consigo ver o Eros sentado em outro lugar, um
pouco afastado, aparentemente bêbado. Levanto e procuro a minha mã e,
tentando ignorar o problema que é o Eros alcoolizado, mas nã o a
encontro, tudo que vejo é o casal Olívia e Nicholas no maior amor.
Será que Eros encheu a cara por causa disso ou foi pelos negó cios
falidos? É ... Eu acho que nã o conseguirei virar as costas para ele, afinal.
― Eros? Você encheu a cara? — pergunto preocupada.
Ele está cochilando no balcã o.
― Eros! ― exclamo tentando nã o chamar a atençã o de ninguém. ― Como
é que você vem para um evento desses encher a cara? Eros? — Empurro
seu ombro.
Me sinto obrigada a ajudá -lo, porque ele me encontrou em pior estado e
cuidou de mim. Levanto seu rosto e, com prazer, dou um tapa na cara
dele para ajudá -lo a ficar esperto.
― Hum? ― Ele nã o sabe para onde olhar. Funcionou!
― Vamos embora. — Passo seu braço por cima do meu ombro e ele fica
em pé.
― Eu ainda nã o terminei a minha bebida. ― Sua fala sai toda enrolada.
― Já terminou sim. Vamos antes que eu mude de ideia. — Caminho com
ele para a saída da festa.
“Espero que a minha mãe não veja isso. Como ele é pesado! E cheira a
álcool.”
― Faça um esforço pelo menos para andar, eu nã o consigo te pegar no
colo — imploro mal aguentando seu peso.
― A festa ainda nã o acabou. Eu tenho que falar com o Demétrio. — Ele
tenta voltar para festa.
― Se você for falar com ele nesse estado, a ú nica coisa que vai conseguir
é um conselho pra parar de sair de casa. — O puxo de volta.
As pessoas estã o de olho, mas nenhuma delas é o meu chefe. Vou
mandar uma mensagem me explicando. Do lado de fora, fico confusa,
sem saber se chamo um tá xi.
― Cadê o seu carro, Eros?
― Sei lá .
É óbvio que ele não saberia onde está nesse estado.
― Eros! Colabora, porra! ― Esbravejo cansada.
― Deixei estacionado ali. ― Ele aponta e uma direçã o.
― Ainda é o mesmo carro ou você trocou? ― Esses milioná rios trocam de
carro sempre que dá na telha. Pode ser que durante a semana ele tenha
feito isso.
― É o meu carro preferido ― conta como se isso fosse fazer sentido.
Vou até o estacionamento com ele pendurado no meu ombro, quase me
enforcando. Com certeza, amanhã eu ficarei com essa regiã o dolorida.
Sem contar que o meu pé está quase curado, mas ainda sinto dores
quando o forço, como nesse momento. Ele é muito pesado!
Encontro a Lamborghini. O deixo escorado no carro e meus ombros
finalmente descansam.
— Cadê a chave? — pergunto enquanto sinto o alívio tomar o meu corpo
sem o peso extra.
— Liz. — Ele segura meu braço e me puxa para perto dele. — Quem era
aquele cara?
— Que cara? — indago olhando para sua mã o no meu braço e me
incomodando com sua proximidade.
— Aquele que sentou no meu lugar — diz todo atrapalhado.
— Desde quando aquele era o seu lugar? — Arqueio a sobrancelha.
— Desde que sentei primeiro!
“Só pode estar bêbado mesmo.”
Decido ignorar.
— A chave — peço e espero que ele a deixe na palma da minha mã o.
— No meu bolso. — Coloca a minha mã o no lugar e ao olhar para sua
cara, ele dá um meio sorriso que com certeza será difícil de ser apagado
da minha mente.
Por alguns segundos, nã o consigo desviar meu olhar do seu. Seus olhos
balançando de um lado para o outro, olhando para meu decote, minha
boca. Essa proximidade está carregada de calor e do cheiro do seu
perfume. Minha boca está seca. Pisco os olhos e cheia de adrenalina,
procuro me orientar e fazer o que deveria.
— Você é mesmo um babaca, nã o é? — Enfio a mã o em seu bolso, tiro a
chave e me solto dele para abrir o carro. — Entra.
— Entra você.
— Você nã o vai dirigir bêbado desse jeito!
— E quem vai dirigir? Você? — Eros ri e tenta pegar a chave. — Eu nã o
deixo ninguém dirigir meu carro.
— Entra na porra do carro. Quem vai dirigir sou eu! — Deixo a chave
presa na minha mã o e o empurro para dentro do veículo.
— Calma! Vai machucar a minha cabeça!
— Eu acharia pouco.
Ele senta no banco do carona e eu tento prender o cinto. Do nada, seus
braços envolvem a minha cintura e ele beija o meu pescoço. Me arrepio
por inteiro e meu coraçã o dispara.
— Você vai dormir comigo?
“Eu não acredito que estou ouvindo isso. Pior. Ouvindo isso do Eros!”
— Nã o! Ó bvio que nã o! — Me afasto e tiro suas mã os de mim. — Olha, se
você nã o se comportar, eu te deixo passar a noite dentro do carro e volto
para a festa.
Eu sempre o enxerguei como esse tipo aqui. Parece que o á lcool
despertou o cafajeste.
— Eu nã o te pedi para me tirar de lá .
— Inferno de mal-agradecido! — Bato a porta.
— Nã o faça isso com o meu carro, Laísa!
“Laísa!”
— Eu deveria ter deixado você no balcã o dormindo sozinho. Pelo menos
lá estava calado.
Mesmo assim, ainda entro no carro. Só tem um motivo para levá -lo para
sua casa: dirigir esse carro, pois eu nã o sei quando terei outra chance
dessa na vida. O ronco do motor faz meu coraçã o acelerar e me empolgo.
— Uau! — exclamo alisando o volante.
— Um ú nico e pequeno risco e você vai ter que virar puta para pagar o
conserto. — Ele me avisa.
— Para de conversar merda! Eu sei dirigir. Tenho habilitaçã o, só nã o
tenho um carro.
— Essa má quina custaria seus dois rins, coraçã o e o fígado — diz ainda
me provocando.
“Burguês safado!”
— Estou te ignorando, Eros!
Tiro o carro do estacionamento e dirijo pela cidade quando vejo garrafas
de á gua mineral no carro. Precavido.
— Toma. — Entrego uma para ele. — Quem sabe assim você melhora.
Ele parece péssimo. Pega a garrafa e toma quase tudo.
Seu carro é cheiroso e limpinho. Pelo menos com o carro ele parece ter
cuidado.
— O filho da puta do garçom me deu a cachaça mais forte que tinha —
reclama.
— Vamos fingir que nã o foi você quem pediu. E ainda queria continuar
bebendo... — Pelo visto, ele não sabe se comportar nesse tipo de ambiente.
— Você pode ser um empresá rio, ainda assim, nã o serve para o meio
civilizado.
— Estou morrendo de fome ― reclama.
Será que um dia terei um carro desses? Vai entrar na minha lista de
sonhos. Penso enquanto dirijo e observo Eros tentar mexer no celular
que está de cabeça para baixo.
— O celular está de cabeça para baixo, Eros — aviso concentrada na
direçã o. — Qual o endereço da sua casa?
— Me leva para um hotel. Nã o quero que saiba onde eu moro.
― Nã o se preocupe. Nã o vou bater à sua porta no meio da noite —
asseguro rindo.
― Vai saber o que se passa na sua cabeça? Já bateu em mim sem eu ter
feito nada.
Gargalho do absurdo.
― Eu estava defendendo a minha prima.
“Ele sempre joga esse episódio na minha cara.”
― Aham. Quem te levou para o hospital foi ela? — Joga mais um feito na
minha cara.
― E aqui estou eu, retribuindo o favor.
Naquela ocasiã o ele queria que eu o abraçasse? Naquele dia, a Olívia
falou que ele estava dando em cima das convidadas da festa. Eu vi, ele
estava mesmo. Nã o foi a primeira vez que vi o seu meio sorriso cafajeste,
mas hoje foi a primeira vez que o vi aparecendo para mim. É
preocupante, porque é bonito demais.
“Socorro!”
― Peça alguma coisa para eu comer. — Ele deixa o celular em meu colo.
Parece que as coisas estã o se repetindo, mas dessa vez trocamos de
lugar.
Quando paro no sinal, entro no aplicativo de comida e seleciono uma
pizzaria, escolho uma pizza marguerita e refrigerante, o sinal abre e
continuo dirigindo até chegar ao pró ximo fechado e poder concluir o
pedido, que cobra direto no cartã o dele e eu vejo seu endereço.
― Eros, você mora perto do Luigi — comento vitoriosa.
― Aham — responde sem se dar conta que agora eu sei onde ele mora.
Dirijo para o endereço e ignoro sua ideia de ir para um hotel. Eu quero
entrar naquele condomínio e ver se é chique como o do Luigi.
É uma loucura fazer isso na companhia de um bêbado? Sim, mas me
sinto tentada demais a ponto de ter coragem de andar na companhia
dele.
Apesar desse sorriso de causar acidente.
Espero que Eros nã o sorria até que eu estacione esse carro em sua
garagem ou teremos problemas. Ele já me garantiu que nã o quer nada
comigo e que sou a prima esquecida. Quando devolvo o celular, ele
segura a minha mã o e me morde.
— Eros! — Puxo a mã o e lhe acerto um tapa. — Pode ficar um minuto
sem parecer um cachorro no cio?
— Que calor, hein... — Ele começa a desabotoar a camisa.
Tenho que me concentrar na direçã o. Nã o vou virar puta para pagar o
conserto de um arranhã o sequer pelo qual a culpa é dele, e sei que ele
nã o vai admitir.
“Custava ser um embuste burro e feio?”
Depois de abrir a camisa, ele fica quieto. Fica com a cabeça erguida para
o teto, dormindo ou refletindo e eu termino o caminho até o
condomínio. Nã o olhei para seu peitoral em nenhum momento. O
porteiro nem disse nada. Ele deve conhecer a placa do carro.
Já o condomínio é puro luxo. As casas parecem ter sido feitas pelos
irmã os à obra juntamente com "Ame-a ou Deixe-a", ou seja, perfeitas; os
nú meros sã o alternados e as casas sã o distantes uma das outras. De um
lado, a casa 1; do outro, a casa 2 e assim chegamos na frente da casa 5.
E que casa! Ela nã o tem muros, tem uma calçada inclinada para subir
com o carro, perto da parede as portas da garagem. Arbustos bem
cortados e um banquinho de madeira no lado esquerdo da fachada. Tem
dois andares, janelõ es de vidro e uma porta enorme de madeira, a
fachada é pintada de cinza escuro com detalhes brancos.
Linda demais. Até que para uma vista noturna o lugar é bem iluminado.
Subo a calçada e estaciono o carro em frente à porta da garagem.
— Você é uma intrometida. Eu disse que era para me levar para um hotel
—resmunga apó s despertar do seu cochilo.
— Mas eu vi seu endereço e te trouxe para casa. Nã o sou intrometida,
sou maravilhosa. — Tiro o cinto e saio do carro. — Consegue sair
sozinho?
— Consigo.
Dou a volta com a minha bolsa pendurada no ombro e ele sai tombando
para cima de mim.
— Consegue sair, mas ficar de pé...
Ao invés de ele se recompor, fica agarrado em mim.
— Me larga, embuste. — O empurro no carro e ele se encosta com
aquele sorriso crescendo.
Nem vou olhar. Meu rosto já está pegando fogo.
Estou indecisa entre abandoná -lo e entrar na casa para ver como é lá
dentro. Além disso, comeria a pizza que já deve estar chegando. Estou
morrendo de fome.
— A chave está aí. — Ele aponta para o chaveiro em minha mã o.
“Eu vou entrar para ver se ele sabe se virar sozinho. Ele tem cara de quem
não sabe fritar um ovo.”
Eu tenho spray de pimenta, caso ele ouse dar uma de engraçadinho para
cima de mim.
— Vamos. — Estendo o braço sem olhar para ele e ele segura a minha
mã o, depois pendura seu braço sobre o meu ombro e encosta o nariz na
minha cabeça.
— Seu cabelo é cheiroso.
“Ignora. É o álcool. Só pode ser o efeito do álcool.”
— Hoje você nã o dançou na mesa feito uma maluca — comenta
mudando completamente de assunto.
— Já aprendi a liçã o.
— Parece que o jogo virou... — ele abraça o meu pescoço.
— Pois é.
Essa é uma situaçã o que nunca imaginei viver ao lado desse cara.
Paramos em frente à porta e abro a casa. Está tudo escuro.
— Onde fica o interruptor? — Passo a mã o pela parede.
— Um pouco mais para dentro.
O encontro e, com a luz acesa, vejo a casa dos sonhos diante dos meus
olhos.
“É linda!”
Tem uma escada bem moderna, com os degraus em madeira, a parede
parece ter sido feita de pedra branca, uma coisa rú stica, tem um sofá
industrial enorme, mó veis sem nada em cima, um tapete preto bonito e
uma TV de mais de 50 polegadas presa a um painel na parede.
Indo reto pela porta de entrada, parece que tem uma cozinha.
Eros sai cambaleando, tirando a camisa e cai no sofá .
“Que ódio. Ele sabe ser gostoso.”
Fecho a porta e fico andando de um lado para o outro.
— Cadê a comida?
— Deve estar chegando, Eros.
— Que fome... ― reclama.
― Isso que dá encher a cara. Nesse tipo de evento, as pessoas conversam,
nã o ficam bêbadas.
― Igual você estava conversando com aquele cara? ― Ele me olha do
sofá .
― Sim. ― Dou de ombros.
― Quem é ele?
― Você nã o sabe? ― Me empolgo para falar. ― Ele é o Ed Banks. Aquele
supermodelo. Nem acredito que ele estava naquele evento chato e sabe
o que mais? ― me aproximo do sofá onde ele está . ― Ele me reconheceu!
― HÁ HÁ HÁ . ― Ele nã o se empolga como eu. ― Grande coisa te
reconhecer pela garota bêbada que caiu da mesa.
― Sim! É claro que é uma grande coisa! Ele é o cara do momento. Tem
um outdoor dele fazendo campanha para um creme de acne lá na frente
do ponto de ô nibus onde fico toda noite.
Ele me assiste fazendo cara de nojo.
― E sabe o que mais? Aquela acne nã o é real. Eu o vi de perto e na cara
dele nã o tem nada, absolutamente nada de errado. Como pode?
― Aham. Como pode? ― pergunta irô nico. ― Você nã o estava
trabalhando?
― Fui só para marcar presença, o meu chefe nã o me chamou para mais
nada. A minha mã e também nã o. Acho que as pessoas nã o me
reconheceram do meme. Ainda bem.
― Mas o supermodelo te reconheceu. ― Ele me analisa deitado do sofá ,
com os gominhos do peitoral e suas tatuagens de animais e flores à
mostra.
― Sim! ― digo animada. ― Ele é a pessoa mais famosa que já conheci.
Você já conheceu algum famoso? ― Me sento no outro sofá .
― Nã o — responde secamente.
― Por que nã o foi falar com ele?
Ele dá uma risada debochada.
― Esse cara e nada para mim sã o a mesma coisa. Nem sabia da
existência dele. — diz com os olhos fechados.
― Isso é porque você só deve olhar para o seu pró prio nariz. —
desdenho.
― E você é muito ingênua se acha que aquele cara estava te dando moral
porque gostou de você.
― Eu nã o disse nada disso. Ele só pediu para sentar do meu lado e
depois me reconheceu e ficou conversando comigo por um longo tempo.
Sabe o que mais ele disse?
― Nã o, nã o sei, Liz ― responde impaciente.
― “A gente se fala” — conto me achando.
Ele arfa.
― Mas é bobinha! Qualquer um te engana, nã o é? — Me olha com um ar
de tédio.
― Claro que nã o. Eu sou muito esperta!
― Muito. Só de olhar para sua cara eu já vejo maldade.
“Agora essa.”
― Eu nã o sei por que você está aí, me julgando. ― O analiso enquanto ele
se senta impaciente. ― Cadê essa pizza, hein? — pergunto para mudar
de assunto.
― Você nã o comeu?
― Nem me lembrei disso.
― Claro. Estava ocupada demais conversando com o supermodelo ―
dispara.
Dou risada.
― Sim. Era por isso. ― Admito.
― Ingênua. — me acusa.
Ele nem me conhece direito para dizer isso.
— Eu vou embora daqui a pouco. Só vou pegar um pedaço de pizza e
chamar o Uber.
Ele olha o celular.
— É mais de meia-noite. Nã o deveria pegar um Uber sozinha! — diz
parecendo um pouco mais só brio.
Que bom! Eros bêbado é um safado.
— E qual o problema? Eu sempre faço isso. É ó bvio que nã o vou ficar
aqui.
Mentira. Eu sempre pego ô nibus tarde, mas nã o tã o tarde. Porém ele nã o
precisa saber desse detalhe.
Mando mensagem para meu chefe, avisando que tive que ir embora. A
minha mã e nã o mexe no celular faz algumas horas, entã o deixo para
falar com ela em casa mesmo.
— De jeito nenhum. Eu vou te levar. — Eros diz do nada.
— Nã o! Você está bêbado. Totalmente bêbado!
“Esse rapaz é completamente fora da curva.”
— Nada que uma pizza nã o resolva. — Massageia a têmpora.
— Achei que tivéssemos pedido uma pizza, nã o o elixir da sobriedade.
— Levanto e já começo a procurar um Uber.
Eu nã o posso vacilar a ponto de dormir na casa do Eros.
Eu nunca fiz isso na minha vida. Nunca dormi na casa de um cara, ainda
mais estando só os dois sob o mesmo teto.
— Senta aqui, teimosa. ― Ele bate a mã o do seu lado.
— Nã o! — Me sento bem longe dele.
— Você tem medo de mim? — Ele se deita novamente, mas nã o tira os
olhos de mim.
“Loiro, sarcástico, caótico, gostoso e de atitudes duvidosa.
Droga! No que estou pensando?”
— Tenho sim — admito.
Aquele sorriso está dando indícios de que quer aparecer no rosto dele.
Olho para o meu celular.
Meu chefe disse apenas um “ok” e espero que fique nisso mesmo. Estive
o tempo todo lá e ele nã o quis conversa comigo.
— Você vai dormir aqui. Amanhã levo você para casa. ― Eros avisa, como
se a decisã o fosse dele.
— Nã o! ― Meu coraçã o até dispara com essa ideia.
“Dormir na casa de Eros? Eros Werneck? Isso não acontecerá!”
— Chega de dizer nã o, Liz. Nã o vou te deixar na rua uma hora dessas,
ingênua como é, ficará à mercê de algum tarado. — Ele mexeu na minha
ferida.
“Será que tudo o que carrego na bolsa não seria suficiente?”
— Vá buscar a pizza. — Aponta para entrada.
— Já estou arrependida por ter vindo. Eu deveria ter deixado você
largado naquele balcã o. — Deixo minhas coisas no sofá e vou buscar a
pizza.
A porta da casa dele deve ter mais de dois metros. Quando abro, o
entregador está esperando. Só pego tudo, agradeço e volto para a sala.
— Veio um refrigerante de brinde. — Mostro.
Ele levanta se espreguiçando e agora vejo todas as curvas que seus
mú sculos têm.
“Será que ele conseguiu isso tudo na cadeia? Ai meu pai... estou na casa de
um ex-presidiário.”
— O que foi? Parece preocupada? — Me encara intrigado.
— Nada nã o. A cozinha é por ali? — Sigo minha intuiçã o.
Pelo armá rio, deve ser a cozinha. Ele vem atrá s e quando chega, já estou
sentada, abrindo a caixa da pizza.
— Vai lavar as mã os ou nã o quer perder as digitais do supermodelo? —
pergunta com um pouco de arrogâ ncia.
— Que implicâ ncia! Eu vou lavar sim. — Levanto e saio à procura do
lavabo. Lavar as mã os nã o vai apagar a lembrança do toque dele.
— Hmm...
— E só para você saber, ele nã o tocou só na minha mã o. — Entro no
lavabo e já me olho no espelho antes de lavar as mã os.
— Nem continue. — Ele pede de longe e dou risada.
Quando volto, presencio um copo se quebrando e outro quase tendo o
mesmo fim.
— Deixa que eu pego. — Passo na sua frente e me estico para pegar.
O armá rio é mais alto do que eu imaginei de longe, nem na ponta dos
pés eu consigo alcançar os copos.
Ouço sua risada atrá s de mim e me viro, ofendida. Nã o tem graça se o
problema sã o os armá rios altos demais.
― Para, Eros!
Agora ele ri olhando para minha cara.
― É mesmo um smurf — zomba.
― Venha me botar apelido que te dou um à altura — retruco ofendida.
Ele avança em minha direçã o, com o sorriso desmanchando e os olhos
presos nos meus. Prendo o ar nos pulmõ es e nã o me movo, enquanto só
as minhas veias pulsam aceleradas. Eu tenho medo dele sim e talvez nã o
seja só o medo de ele ser maldoso como aquele cretino que um dia
tentou se aproveitar de mim.
― Ele também viu a sua alma? ― pergunta apoiando uma das mã os no
balcã o onde estou colada.
Afasto os lá bios, mas nã o consigo dizer nada no meio dessa
aproximaçã o. Parece que seu rosto está mais perto do meu a cada
segundo que passa, já estou na ponta dos sapatos e, quando solto um
pouco de ar pela boca e inspiro pelo nariz, sinto o cheiro fresco do seu
há lito misturado com o á lcool.
― Hein, Liz? — Força a minha resposta.
Até sua voz me abala nesse momento. Um sussurro levemente rouco.
― Claro que nã o. É só você que tem essa mania ― respondo de uma vez
desviando o olhar e ele abaixa o braço com um copo na mã o.
― Toma. — Me entrega e se afasta.
Pego o copo e tiro seu outro braço do meu caminho, para voltar para a
mesa. Agora respiro normalmente. Parece que ele está querendo me
provocar. Se eu perguntar, ele dirá que nã o, mas é o que parece.
Eros lava as mã os na pia da cozinha e me pergunto por que nã o tive a
mesma ideia, depois senta na minha frente.
Faço de tudo para esquecer esse momento que quase me arrancou o
fô lego, mas ele anda sem camisa, mostrando essas tatuagens.
― Esse calor ainda nã o passou? — pergunto fingindo desdém ao que
vejo.
É impossível nã o notar esses gominhos o tempo todo na minha frente.
― Nã o. Te incomoda me ver sem camisa?
― Sim. ― Pego uma fatia de pizza e abocanho.
Eu nã o posso ficar admirando o peitoral do ex-namorado da minha
prima. Eu vi que isso é errado em algum lugar.
― Estou na minha casa. Aliá s, você parece nã o se incomodar com aquele
supermodelo passando creme de acne naquela cara feia, de frente para o
seu ponto de ô nibus. Por que se incomoda comigo?
Quase engasgo com a risada que escapou enquanto engolia a pizza.
― De novo essa histó ria? — Pego um guardanapo para limpar minha
boca.
― Só estou admirado. Você fica tã o empolgada para falar dele.
― É que ele é famoso. ― Novamente me empolgo. ― Você acredita que
ele me seguiu? No Instagram!
― Ah, que legal! ― Eros responde com zero â nimo. ― Marca ele nas suas
fotos.
― Claro que nã o vou fazer isso, mas se eu tivesse uma foto com ele, acho
que todas as contas de lá de casa seriam pagas em um mesmo dia.
Eros me ignora e começa a comer de cara feia.
A pizza está muito boa. Talvez as pizzarias perto da casa dele sejam
melhores que as que tem perto da minha casa. E me lembrando de casa,
começo a pensar se é mesmo uma boa ideia ficar na casa dele. Parece tã o
péssima quanto a ideia de pedir um Uber a esse horá rio da noite,
sozinha.
A reunião estava boa. Conversei com muita gente, alguns só cios com
quem eu ainda nã o havia conversado estavam lá e batemos um papo. No
entanto, tudo estragou quando vi o meu irmã o com sua atual esposa e
reencontrei meu ex-sogro.
Chegou falando que sua filha estava bem mais feliz com meu irmã o do
que estava antes comigo. Isso me fez rir, pois sei que é sobre dinheiro.

― É claro. Tudo pela felicidade da sua filha. Mas eu não lembro se no


contrato tinha alguma coisa sobre felicidade. Lembro do milhão em multa
caso eles se divorciem. Quem sugeriu o valor?
Ele riu, mas claramente estava surpreso em descobrir que sei do contrato.
― O seu pai, é claro. Ele sabia o quão bom era fazer negócios conosco.
― Ele ainda não entendeu quem é você, não é?
― O que você está supondo, Eros?
― Você é um oportunista. Conseguiu negócios com a minha família quando
comecei a namorar a sua filha. Mas você se interessa mais pelos negócios
do meu pai, que são gerenciados pelo meu irmão, do que pelos meus
negócios.
Ele riu descaradamente.
― A minha filha merece coisa melhor do que um traficante de armas. E os
seus pais estão cientes disso.
Respirei fundo e apertei o copo na minha mão, encarando o desgraçado e
imaginando como ficaria a sua cara depois de acertei um soco de direita
em seu olho esquerdo. Talvez eu acertasse seu nariz, pra alinhar, visto que
ele já é torto, mas sabia que era isso que ele queria, que me afogasse ainda
mais nas polêmicas e assim, acabaria com os meus negócios.
Parecia até que ele não sabia que meu patrimônio vale mais do que aquela
empresa e o que me fez querer zelar por cada negócio que fechei com ela
era a estima que tinha pelo meu primeiro negócio fora do controle do meu
pai.
Me afastei e pedi uma bebida quente. Pra piorar, o que não deveria me
importar, acabou me incomodando. A Liz conversando com um cara que
nunca vi na vida, na maior intimidade e sorrindo feito uma boba.

Fiquei assistindo aquela conversa até que começou a me incomodar.


Agora, ela fica falando ainda mais boba sobre como foi conhecer aquele
cara.
― Entã o, no fundo, você é como a sua prima. Gosta de dinheiro ―
concluo ao analisar tudo o que ela disse.
― Eu nã o gosto, preciso de dinheiro.
― Hum...
Ela enrola os cabelos no topo da cabeça e pede a terceira fatia de pizza.
Eu quase a beijei agora há pouco e o pior de tudo é que ainda tenho
vontade de fazer isso. Ela definitivamente nã o é o tipo de garota com
quem costumo ficar. Mais baixa, mais descontrolada, me intriga, me
deixa contrariado.
Nã o deveria querer nada com ela já que pertence a uma família que tem
me causado bastante raiva, mas a cada momento que passo com ela, vejo
que ela é mais diferente deles do que eu julgava. Ela ainda é um
problema.
Um problema que cruza o meu caminho toda vez que ando dando
bobeira. Um problema teimoso, irresponsável e lindo. Esse problema,
especificamente essa noite, desgraçou a minha mente, porque eu a
desejo.
― Você vai dormir aqui. Eu nã o vou deixar você sair uma hora dessas ―
aviso mais uma vez.
― Quer voltar para a cadeia por cá rcere privado?
― Liz, estou falando sério.
Se ela nã o quisesse ficar perto de mim, nem teria me tirado do evento.
Me trouxe aqui e ainda entrou na minha casa.
― Nã o acho que seja uma boa ideia ― diz limpando a boca com um
guardanapo.
Nã o acho, tenho certeza disso, mas dessa vez nã o só quero que ela fique,
acho que seria mesmo perigoso deixá -la ir sozinha. Já estou recobrando
os sentidos que perdi por conta das doses de bebida que tomei essa
noite.
― Acho que já te dei provas suficientes para você nã o pensar que eu vou
te usar para alguma vingança. ― Sorrio lembrando dessa ideia.
― Antes eu nunca te via, agora você sempre está no meu caminho.
― Você está trabalhando na cafeteria que costumo frequentar. Antes nã o
era assim e, pra te provar que nã o quero proximidade com você, essa
semana eu nem fui lá .
― Mas foi falar comigo assim que me viu na festa.
― Eu só queria saber se era você mesma. De costas, com essa roupa,
parecia outra pessoa.
Ela engasga e começa a rir.
― Você quer derrubar a minha autoestima de todas as formas, nã o é? ―
Ela cobre a boca.
Eu definitivamente tenho que ficar longe dela. Seu sorriso está
começando a me agradar.
― Eu vou tomar um banho. Fique à vontade. ― Levanto e me afasto dessa
tentaçã o de 1,50 cm.
― Onde fica o quarto de hó spedes?
― Primeiro quarto à direita. ― Tento segurar o sorriso, mas como estou
de costas para ela, deixo escapar.

Nã o é só de frente que ele é gostoso. De costas também é.


Quando ele some de vista, tiro meus sapatos, pego meu celular e a bolsa
no sofá e vou para o quarto de hó spedes. É um alívio andar sem esses
saltos, subo a escada sem sentir desconforto e vou para o quarto da
direita.
“Que casa chique!”
Eros tem bom gosto e também muito dinheiro.
As portas de todos os cô modos sã o de madeira maciça. Abro a do quarto
de hó spedes e vejo uma bela e enorme cama forrada com um edredom
branco bordado e vá rios travesseiros pró ximos à cabeceira.
Se esse é o quarto de hó spedes, eu nem quero imaginar como deve ser o
quarto principal!
Deixo minhas coisas na cama e procuro um roupã o no armá rio.
Provavelmente irei dormir usando-o, já que o meu vestido nã o é muito
confortável.
Dentro do armá rio, tem lençó is, toalhas, cobertores e roupõ es.
― Que lugar organizado! Com certeza nã o foi ele quem fez isso. ― Tiro o
roupã o do cabide e jogo na cama.
O vestido sai fá cil do meu corpo, mas lembro de passar a chave na porta
antes de tirar as roupas íntimas.
Nã o vou dormir de portas abertas nessa casa, com o Eros aqui, de jeito
nenhum!
Visto o roupã o antes de entrar no banheiro e deixo todas as peças na
cama.
Assim que abro a porta, sinto o cheiro de jasmim no ar, há fumaça por
todo o banheiro, mas consigo ver o quã o grande e bonito é.
― AAAAAAAAAH, EROS! ― grito ao vê-lo atrá s do box de vidro tomando
banho nu e cubro os meus olhos. ― O QUE VOCÊ FAZ AQUI?
“Eu vi a bunda dele.”
Ouço a sua risada.
― Estou tomando banho.
― No banheiro do quarto de hó spedes?
Ele continua rindo e eu fico de costas.
― Esse é o seu quarto, nã o é?
Eu nã o ficaria surpresa se fosse.
― O que você acha? — Ele responde com uma risada engasgada.
― Que você é um cretino safado!
“Ai meu coração! Está saltando como nunca.”
Por pouco nã o vi as outras partes, aí seria infarto na certa.
― Quando digo que você é muito ingênua...
Ouço a porta do box correndo.
― Você garantiu que nã o estava tentando me usar.
― E nã o estou.
― E por que fez isso?
― Queria ver a sua cara.
― Há há há . Muito engraçado. — Ficar brincando com o coração de uma
virgem. Claro que essa parte ele nã o precisa saber.
― Foi bem engraçado mesmo. Mas sabe o que é mais interessante?
― Nã o.
Sinto o calor aumentar atrá s do meu corpo e vejo seu rosto se
aproximando do meu.
― Você ainda está aqui, no meu banheiro ― fala perto do meu ouvido e o
arrepio desce pelo meu corpo, me fazendo estremecer. O encaro de
canto de olho, com meu rosto pegando fogo e nã o ouso olhar para mais
nada dele além de seu rosto.
“Será que ele está nu?”
Ele sorri.
― Quem é a cretina safada?
“Que audácia!”
― Eu vou sair daqui agora. Você só me deixou nervosa. ― Seguro a
maçaneta e tento nã o olhar pra ele.
“Ele está de roupão ou não?
Nua com um cara no banheiro. Liz, em que ponto você chegou? Será
mesmo uma safada?”
― Deixei? ― Ele coloca a mã o por cima da minha e dessa vez fico
preocupada e com medo, mas vejo que ele está de roupã o.
― Eros, nã o tente me forçar a nada. ― O encaro com medo. Sem demora
ele avança para perto do meu rosto e sua boca alcança a minha, voraz.
Ele mergulha sua língua em minha boca e largo a maçaneta perdida com
a sensaçã o do beijo. Seus braços envolvem meu corpo com rapidez e
uma força que me tira do chã o, Eros me empurra contra a parede com
seu corpo quente e me beija com necessidade, faminto. Sua língua em
encontro com a minha me deixa excitada a ponto de sentir minha
intimidade pulsando e minha barriga estremecendo.
Me lembro que estou nua por baixo desse roupã o e minhas pernas já
estã o em volta do corpo forte de Eros. Mesmo querendo aproveitar esse
beijo bom que eu nã o imaginava que ele tinha, tento interromper. Toda
vez que afasto a boca, ele alcança e arrasta para si, seja entre os lá bios
ou os dentes, eu me rendo mais um pouco. Posso sentir sua ereçã o e a
adrenalina se espalha no meu corpo em alta quantidade.
“Eu não vou fazer nada com ele. Nem pensar. De maneira alguma!”
― Eros ― digo no meio do beijo.
“Eu estou beijando o Eros! O Eros Werneck! Que erro! O maior erro da
minha vida!
E se um dia a minha prima descobrir? A minha mãe!”
Seguro seu rosto para afastá -lo, mas fazer isso só me deixa com mais
vontade de beijar. Ele tem o trapézio bem alto, os cabelos sã o tã o bem
cortados que dá pra sentir o corte certinho na nuca, sua pele é quente e
nã o dá pra negar, ele tem muita pegada. Estou espremida entre a parede
e seu corpo, suas mã os apertam as minhas coxas com a mesma
intensidade que sua boca beija a minha.
Mas é o Eros.
“Liz, é o Eros.
Você está dentro de um banheiro, seminua com o EROS!”
Afasto seu rosto do meu e ele arrasta meus lá bios e abre os olhos me
acertando em cheio com essa cara de mau.
O problema é conseguir falar enquanto recupero o fô lego.
― A gente... nã o pode. Eu nã o vou fazer mais do que isso.
Ele nã o para de encarar a minha boca.
― Está me ouvindo, Eros?
Ele me olha nos olhos.
― A gente nã o pode ficar perto um do outro. Olha o que você fez comigo?
Nã o só vejo como também sinto a firmeza contra minha virilha.
― Foi você quem me fez entrar aqui. Eu nã o tenho culpa de nada.
― Tem muita culpa. ― Ele se aproxima para me beijar de novo, mas
encosta a testa na minha e nã o toca meus lá bios, só sussurra contra a
minha boca. ― O quarto de hó spedes fica à esquerda.
Agora ele acabou comigo. Como posso ser tã o safada a ponto de esperar
mais um beijo?
― Me solta para eu ir. ― Também sussurro.
Ele desliza suas mã os pelas minhas coxas, até os joelhos. Abro minhas
pernas, mas ele continua colado em mim, com a boca perto da minha.
― Eros... — Seu nome sai num sussurro.
Ele beija meus lá bios e se afasta bruscamente, me fazendo colocar os pés
de vez no chã o. Meu pé esquerdo dó i, mas isso nã o me abala mais do que
ver o volume empurrando o roupã o dele.
“OH MEU DEUS!”
Ele entra no box esfregando a cabeça e eu me apresso para sair do
banheiro.
“Meu Deus do céu, aquilo ali é comum? Daquele tamanho? Deve ter sido só
impressão.”
Junto minhas coisas, destranco a porta e corro para o quarto de hó spede,
onde me tranco mais uma vez.
― Ele me beijou ― digo em voz alta.
Deixo algumas coisas caírem no chã o e encosto a mã o na boca, entrando
em surto.
― Por que eu nã o saí do banheiro assim que vi aquela bunda? — Deito
de cara na cama e choramingo um pouco, arrependida do que deixei
acontecer.
Nã o vou conseguir dormir pensando nisso.
― Assim que o dia clarear, vou embora daqui.
Fujo sem aviso prévio enquanto a neblina dessa manhã fria, que
promete se transformar em um belo dia de sol, cai.
Agora, Eros está tentando conversar comigo pelo Instagram. Nem
cheguei em casa e ele já reparou que vim embora. Eros tem uma lá bia e
tanto, eu nã o esperava aquilo ontem. Ainda estou em êxtase pelo beijo.
Eu tinha certeza de que, se ele tentasse qualquer coisa comigo, resistiria,
mas ele me provou o contrá rio. É melhor manter distâ ncia.
Ignoro a notificaçã o do Eros e subo a calçada de casa, esperando
encontrar minha mã e preocupada. Nã o que eu goste de vê-la assim, mas
é o normal dela quando durmo fora de casa. O que é raro. Essa noite,
sem dú vidas, é atípica.
Dormi fora de casa e foi na casa de Eros Werneck. Eu posso nã o ter
acabado na cama dele sendo mais uma, mas, a nível de Eros, só de eu
falar com ele, dirigir seu carro e dormir na casa dele, já sinto que perdi o
juízo. Ele estava passando esses dias no noticiá rio. Eu nem tenho
coragem de perguntar o que fez para parar lá .
O carro do namorado da minha mã e está parado na frente do prédio. Eu
nã o duvido de ele ter dormido na nossa casa. Me aproximo do
automó vel para ver se nã o estã o dentro dele, mas nã o estã o. O carro está
vazio. Só podem estar lá dentro, onde a minha mã e prometeu que nã o o
levaria. Eu sabia que mesmo com essa promessa, em algum momento ele
entraria lá .
A minha mã e deve estar cansada de se sacrificar por mim. Tantos anos
sem um namorado. Talvez a culpa seja toda minha. O Eros tem razã o, eu
sou muito ingênua e qualquer alguém pode me enganar. Sempre fui
assim e, por causa disso, aquele maldito tentou se aproveitar de mim
quando criança. Eros também tem razã o quando diz que o meu sonho de
viver toda a vida com a minha mã e foi por á gua abaixo.
Entro no prédio, esperando que tudo isso nã o passe de uma impressã o,
que a minha mã e nã o aproveitou a minha ausência para levar o tal
Demétrio para a nossa casa.
Sei que esse medo já passou do prazo de validade, que nã o sou mais uma
criança, mas talvez só nã o seja uma criança por fora.
Subo de elevador até o nosso apartamento e ao abrir a porta, ouço
risadas.
Tenho que reconhecer que a minha mã e anda bem feliz nos ú ltimos dias.
Pode ser que seja por causa dele e isso tirou o foco dos problemas.
― Liz, chegou, filha?
― Cheguei ― respondo trancando a porta.
― Vem tomar café com a gente. Fizemos panquecas.
“Panquecas? Me pegou.”
Faz tanto tempo que ela nã o faz panquecas num domingo de manhã . Em
horá rio nenhum, mas costumávamos comer isso aos domingos.
“O que esse homem rico veio fazer num apartamento tão simples como o
nosso?”
Me aproximo devagar da cozinha e os vejo sentados de frente um para o
outro no balcã o, uma pilha de panquecas entre eles e um vaso com
geleia de morango. É estranho. Até quando tínhamos meu pai nã o era
assim.
― Bom dia! ― digo um pouco acuada e minha mã e entende logo o
motivo.
― Senta aqui comigo, filha. Onde você dormiu?
― Na casa da Paige ― minto e vou me sentar com ela.
― Na casa da Paige?
― Sim ― confirmo a mentira e pego uma panqueca. ― E você?
― Eu? Ah, filha, nó s ficamos por pouco tempo naquela reuniã o e
acabamos vindo para cá . Eu vi que você estava acompanhada... ― Um
sorriso brota nela.
― Mã e, você estava me vigiando? ― pergunto envergonhada e Demétrio
ri.
― A sua mã e nã o parava de falar como estava orgulhosa da filha.
― Era. ― ela admite.
― Eu só estava conversando com as pessoas. ― Passo geleia na
panqueca, adiciono mais uma fatia em cima dela e me levanto. ― Com
licença.
― Você nã o vai comer com a gente?
― Vou ficar no meu quarto. ― Entro nele e tranco a porta com a chave.
Meu celular notifica mais alguma coisa e quando sento na cama, vejo o
que é.
Eros, agora pelo WhatsApp. Abro a mensagem e vejo o que ele quer
conversar comigo.
[Eros: Liz?]
[Eros: Por que saiu sem avisar?]
“Quem deu meu contato pra esse homem?”
[Liz: Saí e pronto.]
Nã o tenho resposta melhor. Como as panquecas enquanto troco de
roupa.
Ainda tenho que trabalhar nesse domingo.
Durmo o que nã o dormi na casa de Eros e, como se nã o bastasse ele
aparecer no meu caminho pessoalmente, em todas as redes sociais,
ainda aparece nos meus sonhos, cobrando explicaçõ es por eu ter saído
da sua casa e jogado a chave por baixo da porta. Eu nã o podia ficar lá
depois do que rolou entre nó s. Eu vi a bunda dele. Uma bela bunda, mas
eu ainda sinto vergonha pelo flagra.
Sei que ele fez de propó sito e eu caí direitinho, mas foi muito baixo da
parte dele. E quando ele me beijou e me colocou contra aquela parede,
mesmo com o roupã o, eu me senti nua. Ainda bem que ele colocou seu
corpo ao meu a ponto de nã o poder ver por baixo do roupã o.
“Ainda bem...
Liz, olha pelo que você agradece!”
Se ele se esfregasse um pouco mais, aquele bastã o teria escapado
debaixo do roupã o dele!
“E que bastão! Como Olívia aguentava? Eu claramente não aguentaria.”
Me arrumo e deixo minha mã e na companhia de seu namorado para ir
trabalhar. Parece que vã o passar o dia juntos. Eu prefiro manter
distâ ncia. Acho que nunca tinha visto a minha mã e beijando alguém até
a fatídica noite que os peguei aos amassos na frente do prédio. Quer
dizer, as mã es também gostam dessas coisas! Elas beijam! Quem diria!
No ô nibus tem gente que me conhece, no caminho a pé mais gente me
conhece e chegando na cafeteria, simplesmente todo mundo me
conhece.
― Achei que nã o viria depois de ontem! ― Paige diz surpresa.
― Por causa daquela reuniã o chata? Nã o era uma festa e acredito que
quase ninguém ficou de ressaca. — Somente Eros. Esse ficou com
certeza.
― Digo que você estava muito bem acompanhada e eu vi o tanto de gente
que passou a te seguir.
― Nem olhei. ― Penduro minha bolsa e pego meu avental.
Estava fugindo de responder o Eros, entã o nem abri o aplicativo. Por fim,
o respondi pelo WhatsApp. Nã o teve jeito.
― Liz, nã o apareceu nenhuma parceria que paga melhor que isso aqui
nã o? Você já está em outro patamar.
― Apareceu sim, mas tenho medo de ser golpe.
― Me deixa ver depois. Eu posso resolver pra você. Burocracia é comigo
mesmo.
― Eu fujo dessas coisas. Mais tarde você dá uma olhada. ― Pego meu
bloquinho e caneta para anotar o pedido do cliente que chegou.
Chego na mesa e vejo que o homem está com uma caderneta maior que
a minha.
― Você é a Liz? ― O homem de ó culos pergunta.
― Sou ― respondo sem graça.
― Poderia nos conceder uma entrevista? Sou Cedric da pá gina Impactei e
todo mundo quer saber da sua vida apó s a fama repentina.
― Entã o, Cedric, a minha vida apó s a fama é igual a antes, bem corrida, e
no momento eu tenho pedidos para anotar, entã o nã o posso parar.
Desculpa. Você vai pedir alguma coisa?
― Um café.
― Adoçado? Café puro?
― Com leite e adoçado.
Anoto e volto para trá s do balcã o.
― Quem era? — Paige pergunta.
― Jornalista. ― Suspiro.
― Está vendo? Você tem que viver disso e nã o ficar carregando café.
― Eu nã o vou contar sobre a minha vida para esse povo.
― Mas me conta. ― Ela segura meu braço com um sorrisinho. ― Você
está com o Edward ou com o Eros?
― Oi?
― Amiga, todo mundo sabe. Você passou a noite ao lado do Edward
Banks e saiu acompanhada do Eros Werneck. Abraçadinhos.
“MAS QUE MERDA!”
― Péssima interpretaçã o. Eu nã o saí abraçadinha com o Eros. Ele estava
bêbado e eu só estava dando apoio para ele caminhar. E como você sabe
disso?
Ela tem um sorriso safado.
― O Instagram inteiro sabe.
“É claro, agora eu não dou mais um passo sem ser filmada?”
― Eu nã o mereço!
— Entã o vocês dois andam assim agora? Apoiando um ao outro nas
noites de bebedeira? — Paige sorri maliciosamente.
― Isso foi um pagamento. Só isso. Troca de favores. ― Deixo bem claro
para minha amiga mal-intencionada.
― Aham. Sei...
Eu nã o vou contar sobre o beijo. É melhor deixar isso só entre mim e ele.
Nem deveria ter rolado. Mas que foi gostoso, foi.
“Eros... Quero distância de você.”
Preparo o café do jornalista e entrego. Mais uma vez ele vem com
perguntas, porém, nã o consigo ser tã o doce e o abandono falando
sozinho para atender os outros clientes.
Como se nã o bastasse, ouço outras pessoas falando de mim.
"Ela estava com o Ed Banks. Será que estã o juntos?"
"Sã o só 5 minutos de fama. Daqui a pouco ninguém vai lembrar quem é
ela."
"É até bom ela continuar trabalhando aqui, porque quando a fama
passar, vai precisar de um emprego."
"Ela com certeza está com o Eros Werneck. Eles saíram juntos, no carro
dele."
"Será que ela está com o ex da prima?"
As pessoas sabem de tudo! Absolutamente tudo. E quando essas
especulaçõ es sobre mim e Eros começaram a chegar aos meus ouvidos,
minha paciência acabou.
Entro na cozinha e tiro o avental.
— Miranda, eu nã o aguento isso nã o. Será que o chefe vem hoje? Eu
preciso ficar longe desse povo. Todo mundo está falando de mim!
— Quem mandou você sair com os dois caras mais falados da cidade?
— E mais gostosos também. — Paige completa.
— Mas... Eu nã o fiz nada demais.
— Entã o volte a trabalhar e nã o se importe com o que estã o falando. —
Miranda me entrega uma bandeja com comida e a comanda.
“Como não me incomodar? Eu não sei como vou mentir para todo mundo.”
Eu e Eros nos pegamos. Foi por segundos, mas foram segundos
inesquecíveis e agora é um fato.
Sempre que eu disser que nunca tive nada com ele, será uma mentira.
Sobre o Ed, eu nã o me importo tanto. Fiquei bastante empolgada com
nossa conversa. Nã o estou pensando em nada de interesse pessoal. Foi
mais uma coisa de fã .
Eu nã o sabia muito dele, só conhecia os assuntos que mais falavam sobre
ele e a sua cara com a acne falsa naquela lona. Do Eros eu conheço um
pouco mais. Minha tia sempre falava do seu comportamento agressivo.
Ele nã o aceitava ser contrariado e sempre gritava com Olívia na sua
frente. Sem contar que dava em cima de toda mulher que o agradava. Se
chegava a trair, eu nã o sei, mas no dia que eu vi, falei o que a bebida me
liberou pra falar.
Agora tivemos um momento. Eros está sendo atualmente o meu
calcanhar de Aquiles. Ele é o tipo de homem de quem eu mantive
distâ ncia. Sempre me interessei pelos que pareciam que nã o ofereciam
mal. Os legais. Ele é o típico playboy perverso e poderia muito bem
invalidar o meu spray de pimenta e até a minha arminha de choque.
Distâ ncia é o melhor remédio pra isso.
Sigo trabalhando e engolindo todos os comentá rios, ignorando todas as
perguntas inconvenientes e rezando para que meu pecado nã o apareça
nesse estabelecimento.
Ao fim do expediente, à noite, vou para casa como de costume, de
ô nibus, vejo Ed no outdoor e bloqueio as conversas com fones de ouvido.
Na frente do prédio nã o vejo o carro de Demétrio e subo aliviada. Minha
mã e me espera no sofá , comendo pipoca em frente à TV. Sorrimos uma
para a outra. Parece até que as coisas nã o saíram dos trilhos nas ú ltimas
semanas.
— Sem compromissos no domingo à noite, Srta. Lauren?
— Meu compromisso acaba de chegar. Estava te esperando.
— Que bom! — Sigo para meu quarto animada — Qual é o filme da vez?
— Se chama "O que você estava fazendo com Eros Werneck, dona Liz?"
Deixo a bolsa na cama instantaneamente preocupada.
“Ela soube. Claro! Todo mundo sabe.”
— O que, mã e? — Finjo que nã o entendi sua pergunta.
— Nã o se faça de desentendida, Liz. Eu sei o que você fez na noite
passada. Sei que você saiu abraçada com aquele delinquente ex-
namorado de Olívia. Você perdeu o juízo, Liz? Hein?
“E se eu me trancar no quarto?”
— Liz, nã o se faça de surda! Venha cá ou eu irei aí. Precisamos ter essa
conversa.
Nã o tem como fugir. Saio do quarto sem moral alguma para falar com
ela.
— Me responda. — Ela está sentada no sofá .
Está tã o brava que uma veia na testa está saltando.
— Eu... Mã e, eu só o ajudei a ir embora. Nã o tem nada de sair abraçados
nã o. Isso é fofoca.
— Ajudou? Desde quando você se importa com esse cara, Liz? Já nã o
basta o que ele fez com a sua prima?
— Eu sei, eu nã o me importo com ele. Eu só ajudei porque ele estava
bêbado.
— Isso nã o faz sentido. Vocês sã o amigos? Ele te procurou? Ele tem te
procurado depois que saiu da cadeia, Liz?
— Ele me ajudou... Quando machuquei o pé, ele me levou no hospital e
depois me trouxe para casa... — Revelo com medo da sua resposta.
Mas eu realmente o ajudei na noite passada como uma forma de
retribuir o que ele me fez quando estava na mesma situaçã o.
— Você disse que tinha sido a Paige. Você deu para mentir pra mim
agora, Liz? Aos 20 anos, depois de tudo que passamos, você começou a
esconder as coisas de mim? — pergunta decepcionada.
— Eu sabia que você ficaria decepcionada se soubesse que foi ele quem
me ajudou. Por isso eu nã o contei. Olha só como você está agora. No
outro dia seria pior ainda.
— Imagina se esse cara se aproveita de você, Liz! Bêbada, ele poderia te
levar para onde quisesse. Ele poderia... — Ela arregala os olhos e fico
com medo mesmo nã o tendo acontecido nada.
— Ele nã o fez nada disso.
— Mas poderia ter feito! Ele, mais do que ninguém, poderia. Aquele
rapaz é abusivo, ele é agressivo, ele foi preso, Liz! Preso por trá fico de
armas. Você entende a gravidade disso?
— Eu sei.
— Eu nã o quero saber de você andando com esse cara. Nem
conversando, nem nada. Liz, ele nã o pode ter ajudado sem querer nada
em troca.
— Ele nã o quer nada comigo.
— Como você sabe? É assim que eles manipulam. Fingem desinteresse,
depois dã o o bote. Ele quer se vingar da sua prima. Vai fazer tudo que fez
com ela só para irritar Olívia por ter se casado com o seu irmã o. É assim
que esse povo faz, Liz.
— Ele me garantiu que nã o tinha essa intençã o.
— Garantiu? E você acredita na palavra de um cara daqueles? Minha
filha, me diga que você nã o tem nada com esse rapaz. Me diga. — Ela
pede preocupada.
— Nã o — minto, olhando em seus olhos.
Eu odeio mentir. Odeio mentir para a minha mã e, mas nã o posso dar
esse desgosto a ela. Nã o posso ser essa decepçã o.
O que aconteceu entre mim e Eros deve ficar somente entre nó s e nunca
se repetirá .
Me encontrei com Paige durante a manhã , quando nã o estamos
trabalhando, e ela está vendo as propostas que valem a pena, enquanto
tomamos suco na praça perto de sua casa.
— Ela ficou muito brava em saber que estive com Eros — conto sobre a
reaçã o da minha mã e.
— E você contou que foi ele quem te levou para o hospital? — Paige
questiona.
— Tive que contar, porque esse era o verdadeiro motivo de eu ter tirado
Eros da reuniã o "abraçados" e o levado para casa. Eu devia um favor e
paguei. — Tento afirmar isso mais para mim do que para Paige.
— E ela disse o que?
— Disse que o Eros só quer me usar e que bêbada como eu estava, ele
poderia até... — nã o consigo falar a palavra. — E pediu que eu nunca
mais me aproximasse dele.
— À s vezes eu acho que a sua mã e te trata como uma criança. Você já
tem 20 anos, pode ainda nã o ter experimentado um dos melhores
prazeres da vida, mas nã o é tã o ingênua.
— Talvez eu seja, Paige. Você viu como fiquei toda iludida com o Luigi?
— Me recordo com raiva desse idiota.
— Mas você nã o estava apaixonada por ele. Assim como também nã o
está pelo Eros. Ou está ? — Ela me olha de canto de olho.
— Claro que nã o! Apaixonada pelo Eros... Que viagem. Impossível — falo
rá pido demais.
— Entã o nã o tem por que se preocupar — diz por fim.
Nunca contei a ela sobre as coisas que vivi no passado, pois sã o essas
coisas que fazem com que a minha mã e aja assim. De certa maneira, me
sinto na contramã o. Pedi para que ela nã o levasse nenhum homem para
nossa casa, pedi que pensasse em mim e no que aconteceu, mas foi eu
que fiquei sozinha com Eros na casa dele, só de roupã o em seu banheiro,
juntos.
Eu nã o posso cobrar nada da minha mã e. Preciso aprender a me virar e
evitar algum problema. Se Eros me oferecesse esse tipo de problema, eu
estaria fodida agora. Depois de deixá -lo em casa, fiz tudo por livre e
espontâ nea vontade.
Nã o posso julgar a minha mã e por colocar seu namorado dentro da
nossa casa. No fim, acho que nó s duas precisamos disso. De homens. Mas
dos homens certos, é claro.
— Olha só ! Tem muita publi boa! — Paige me tira dos meus devaneios e
me mostra as conversas, mas nã o entendo do que ela está falando. —
Amiga, esses machos estã o te dando muita fama. Se você for vista mais
uma vez com o Eros ou com o Ed, vai chover publicidade. Seus
seguidores só aumentam!
— Paige, você nã o entende que nada disso é bom para mim?
— Você já tem um horá rio marcado no salã o de beleza e em um Spa.
Também já aceitei um aqui para fazer publi naquele restaurante de
frango assado.
— Como assim aceitou? — Me curvo para olhar bem para cara da minha
amiga. — Você enlouqueceu, Paige?
— Vamos comer de graça! — Solta um gritinho.
— Eu nã o tenho tempo pra isso. — Bufo.
— Você prefere ir a um SPA, receber o melhor tratamento ganhando 100
dó lares ou ir servir café enquanto perguntam se você está dando pra o
Werneck ou para o Banks?
“Que baixa! Pegou pesado.”
— E se eu deixar o trabalho e depois esses 5 minutos de fama passarem?
Como vou me sustentar?
— Nó s vamos administrar bem isso.
— Quando você diz “nó s” o que está querendo dizer?
— Que estou nessa com você. — Ela balança os ombros empolgada. —
Ele vai entender. Podemos prometer publis na cafeteria toda semana.
— Paige, você é louca. — Sorrio da sua ideia.
Nã o seria ruim ficar longe daquelas fofocas e principalmente da correria
do café, mas tenho medo dessa fama ser passageira e do nada ninguém
querer me pagar pra fazer essas coisas.
— Confia em mim, Liz. Vai dar tudo certo. — Ela garante e me devolve o
celular.
— Entã o esse será o nosso ú ltimo dia de trabalho? — pergunto
guardando o aparelho na bolsa.
— SIM! — Ela grita empolgada.
— Entã o eu vou para casa e te encontro na cafeteria.
— Combinado. — Ela vai para um canto e eu vou para o ponto de ô nibus.
Enquanto ando pela calçada, um carro me acompanha. Estranho, pois
nã o o reconheço. Um SUV Cadillac. A janela começa a descer e vejo a
sogra de Olívia dentro do carro. O automó vel para e eu também. Estou
um pouco aliviada por ser ela, mas se estava me acompanhando e parou,
deve querer alguma coisa comigo.
— Liz? Tudo bem? — Ela pergunta e o motorista abre a porta do carro.
— Estou bem. Obrigada. E a senhora? — Tento ser simpá tica, mas estou
estranhando o fato dessa mulher estar aqui. Eu nem sabia que ela
lembrava do meu nome ou do meu rosto.
— Estou bem também. Podemos conversar? Você está indo para onde?
“ Conversar? Que inusitado!”
— Estou indo para casa — respondo sem graça e ela se afasta no banco
do carro.
— Vamos. Eu te deixo em casa.
“Ok...”
Entro no carro, dou meu endereço e me sento ao seu lado. A mã e de Eros
é uma mulher loira, de cabelos lisos, olhos pequenos e sempre anda com
um sorriso carismá tico. Até fico um pouco confortável porque ela sorri.
— Sobre o que a senhora quer conversar?
— Quero falar sobre o meu filho.
Nã o pode ser. Era a ú ltima coisa que eu esperava, embora nã o seja
surpresa ela saber que o acompanhei naquela noite. Até a minha mã e já
sabia.
— O que ele tem? — Tento parecer desinformada.
— Eu sei que vocês estã o pró ximos. Ele anda afastado da família. Eu
queria saber como estã o as coisas.
“Ela veio perguntar a pessoa errada.”
— Ah... É que foi um engano. Nã o somos pró ximos. Eu só retribuí algo
que ele fez e nada mais.
— Ele falou alguma coisa sobre nó s? Sobre o casamento do irmã o? —
Me ignora completamente soltando essas perguntas aleató rias.
— Nã o — digo secamente, afinal, ele nã o falou mesmo.
— Sério? — Ela parece desapontada.
— Eu nã o passei muito tempo com ele, mas o tempo que passei, nã o
lembro de ele falar sobre isso. Ele tem outras preocupaçõ es. — Tento ser
menos seca.
Também nã o tenho nada a ver com o antigo namoro dele. E nã o quero
nem saber. Ainda bem que ele nã o fica falando toda hora no meu ouvido
e depois do que rolou entre nó s, nã o vai falar mesmo, pois nã o ficarei
mais sozinha com ele.
— Sim. Entendo. Mas você acha que ele está esquecendo essa histó ria?
Quer dizer, ele ficou muito chateado com tudo. Ele diz que eu nã o sou
verdadeira com ele. — Ela começa a chorar. — Mas ele nã o entende que
tudo o que fizemos foi pensando no bem-estar de todos.
— Com todo respeito, Sra. Werneck, mas nã o foi de bom tom casar a
Olívia com o Nicholas enquanto Eros estava na cadeia. Eu sei que ele nã o
é fá cil de lidar e o namoro deles nã o era referência de relacionamento
saudável, mas soa como sacanagem, independentemente de qualquer
coisa. — Despejo, pois achei tudo isso um absurdo mesmo.
Ela é minha prima, eu disse que Nicholas era melhor que o Eros, mas
casar assim, do nada, foi muita coragem.
— Eles se gostam. Ela se apaixonou por ele e ele também se apaixonou
por ela. Olívia disse que estava tudo bem, que nã o tinha mais nada com
Eros. Eles se amam. — ela explica.
— Me parece mais complicado do que eles deram a entender.
— Eu nã o quero ficar mal com os meus filhos. Eu quero que a minha
família fique unida.
“Essa família é mesmo maluca.”
— Eles estã o em lados opostos nessa histó ria, entã o nã o tem como ficar
dos dois lados. — Comento o ó bvio.
Ela enxuga o rosto.
— Será que você nã o pode falar com Eros? Falar que me preocupo com
ele? É o meu caçula e ando tã o preocupada depois que ele saiu da prisã o.
Tenho medo dele se envolver em mais problemas.
— Ele já é bem adulto para aprender com seus erros. Infelizmente, eu
nã o o verei mais para fazer isso. Ontem foi só um acontecimento. Eu nã o
vou encontrá -lo de novo.
— Mas se encontrar, pode falar com ele?
Eu nã o quero me meter nessa histó ria e essa mulher nã o está facilitando
para mim.
— Ok — respondo só porque vejo que ela está desesperada.
Acho que eles deveriam ter pensado antes de fazer esse casamento.
Talvez depois que o fim do namoro já estivesse bem aceito.
É uma loucura. Eu definitivamente quero ficar longe.
Ela segura a minha mã o e sorri.
— Obrigada. Olívia me falou muito de você. Espero que o meu filho nã o
cometa nenhuma bobagem. Ele só está passando por uma fase.
“E que fase...”
Tento segurar o sorriso no rosto e ela fica falando do filho e perguntando
sobre mim até chegarmos na frente da minha casa.
— Obrigada pela carona, Sra. Werneck.
— Eu que agradeço pela conversa. E se por acaso vir o Eros, lembre-se
da nossa conversa. — Pede com jeitinho.
— Sim. Se eu o vir, falarei sobre suas preocupaçõ es. — Minto, pois nã o
quero voltar a vê-lo.
— Eros? Está me ouvindo? — Kevin estala os dedos em volta do meu
rosto.
— Hum? Oi? — Levanto a cabeça.
— Estou falando, temos que investigar o sumiço da pasta — fala e
balança a cabeça indignado por eu nã o estar prestando atençã o.
— Eu acho que foi para o lixo e você está ficando paranoico — digo por
fim.
— Paranoico? Você nã o me ouviu no outro dia? Aliá s, você ouviu o que
eu estava te falando agora a pouco? Claro que nã o! Você nã o tira a cara
desse celular. Ficou vendo fofocas o dia inteiro!
— Sã o sobre mim, entã o eu tenho esse direito — falo voltando a atençã o
para o aparelho.
Metade das pessoas está supondo que eu e a Liz temos alguma coisa.
Bem, isso nã o me incomoda tanto quanto a outra metade das pessoas
que está dizendo que ela tem algo com aquele supermodelo de quem ela
falou muito empolgada.
Acontece que nã o consigo parar de pensar no que rolou com aquela
baixinha.
Eu tentei me conter, mas acabei me deixando levar e rolou um beijo.
Claro que eu queria muito mais, mas nã o sou de forçar essas coisas.
O beijo me deixou surpreso e em seguida me arrependi, porque apesar
de tudo, ela é prima da minha ex e eu nem sei como é a relaçã o delas,
mas nã o quero ser motivo de brigas ou fazer canalhice como fizeram
comigo.
Eu poderia fazer isso, mas ando cansado de me enfiar em problemas.
— Hein, Eros? — Kevin me chama novamente.
— Oi! — digo desentendido.
— Olha aí! Nã o me ouviu de novo!
Acho que ele vai desistir dessa conversa.
— Kevin, estou vendo uma coisa importante agora! — justifico.
Ele toma o celular da minha mã o.
— Quem é essa aqui e quem é esse aqui? — pergunta analisando Liz e o
modelo.
— É a Liz e um modelo qualquer de acne.
— E por que você se importa mais com essa histó ria do que com a pasta
desaparecida da nossa empresa?
— As duas coisas sã o paranoias. A pasta e esse namoro aí dos dois. —
Aponto para o aparelho. — Ela nã o estava com ele. Ela saiu comigo.
— Uma semana e você já se apaixonou por outra? — Ele pergunta
perplexo.
— Nã o! Nã o estou apaixonado. Só estou falando o que é a realidade. Me
devolve o celular e vamos falar de outra coisa que nã o seja sobre essa
pasta.
“Apaixonado...
Está difícil de aquela garota me fazer sentir isso.”
Eu só fiquei interessado. O beijo foi bom, eu queria mais, ela nã o é a
pessoa com quem eu deveria ficar, mas eu nã o sou de passar vontade.
É só um desejo carnal.
Fugir da minha casa e ficar me ignorando só me deixa mais interessado
ainda.
— Eu vou tomar um café. — Ele avisa.
— Eu também. — Saio atrá s dele, mas meus planos mudam assim que
vejo o meu pai chegando.
Estou tentando superar tudo isso por meio da distâ ncia, mas vejo que
eles nã o vã o me dar paz. Nã o sabem fazer nada que nã o seja forçado.
— Boa tarde. — Ele diz segurando sua pasta na mã o esquerda e
estendendo a mã o direita para Kevin. — Tudo bem?
— Estou ó timo. Que surpresa, Sr. Werneck!
— Estava passando por aqui e resolvi entrar. — Ele olha para mim e se
aproxima. — Podemos conversar, Eros?
— Claro. — Nã o vejo outra escolha e sigo para minha sala. Ele me
acompanha.
“Estava passando...”
— A sua mã e disse que você esteve lá em casa enquanto estive fora.
— Sim. — Confirmo e aponto para a cadeira onde ele pode se sentar. —
Aliá s, foi uma visita surpreendente.
— Esclarecendo o mal-entendido da pasta, a encontrei no quarto de
hó spedes e guardei comigo porque achei estranho essa pasta andar
rolando pela casa.
— No quarto de hó spedes? Eu nunca levei aquela pasta para o quarto de
hó spedes!
“Que história mais sem cabimento!”
― Pois estava lá . Como de vez em quando a Olivia dormia lá , achei
melhor pegar e guardar em um lugar mais apropriado. Eu nem abri.
“Até parece.”
― Pois eu nã o acredito em nenhuma palavra que diz, já que você foi
capaz de ser conivente com um contrato de casamento.
O meu pai corrige a postura.
― Eros, eu vou esclarecer essa histó ria de uma vez por todas. — Começa
a falar, mas sinceramente, pouco me interessa sobre isso.
― Acho que aquelas linhas já deixaram tudo bem claro. — Corto.
― Sim, eu sei que você ainda está chateado com o término com a Olívia e
com o casamento repentino, mas Olívia assim que se envolveu com seu
irmã o, engravidou, os pais fizeram vá rias exigências e por fim achamos
melhor um contrato. A sua mã e ficou muito comovida com a gravidez.
― Vocês sempre tomando conta da vida do Nicholas, nã o é? — digo
rancoroso.
Ele nã o dá um passo que nã o seja com o apoio dos nossos pais. Eu
sempre segui o que queria, independente do que eles achavam.
― Michael veio falar diretamente comigo sobre a gravidez da filha.
Estranhei, mas ele trata os nossos filhos como crianças — conta
conformado.
― Nã o se trata de preocupaçã o com a filha, pai, se trata de negó cios.
Você acha mesmo que o Michael faria um negó cio desses se nã o fosse
sair em vantagem? Se Nicholas se separar, ele sairá com 1 milhã o e de
toda forma, se nã o acontecer, ele tem laços de sangue por causa desse
bebê.
Olívia nunca quis ter filhos. Mas nã o estranho que tenha seguido com
essa gravidez apenas por interesse.
― Sim, eu sei, mas ele trouxe o assunto da honra, do nome da família, sua
filha ser mã e solteira, disse que o seu irmã o era como você, estava
usando Olívia e nã o admitiria isso, que na época dele isso só se resolvia
com casamento.
― É bem a cara dele dizer isso — comento sem surpresa alguma.
― Sim. O seu irmã o aceitou de imediato, mas Michael continuo dizendo
que precisava de uma segurança para a filha e para o neto, por fim,
acabamos com um contrato com essa multa e fizemos um casamento
rá pido, pois segundo ele, nã o queria que soubessem que sua filha se
casou grávida. A mulher dele também defendeu essa histó ria, mexeu
com a cabeça da sua mã e e deu nisso, meu filho.
“Um golpe da barriga perfeito.”
― Entã o nã o tem mais nada além disso?
― Claro que temos negó cios, Eros. Nã o sã o negó cios muito lucrativos,
mas continuamos.
― Tudo isso é uma grande palhaçada, mas nada que me surpreenda
vindo daquele homem. Só me responda uma coisa: Olívia já voltou a ser
a chata de sempre? Uma hora ela vai ter que fazer com que ele queira se
separar, para o pai pegar o milhã o. — Constato o ó bvio.
― Olívia mudou bastante depois que se uniu ao seu irmã o.
― Ah, nã o me diga que o problema era eu? ― Dou risada.
― Nã o sei, só sei que a sua mã e sente a sua falta, anda preocupada e você
deveria dar uma chance para ela. Ela é sua mã e. Chegou chorando uma
noite dessas, falando que você disse coisas horríveis.
Nã o vou me sensibilizar com isso.
― Eu só disse a verdade e se ela está apoiando essa palhaçada, nã o pode
dizer que está do meu lado. — Sou curto e grosso.
― Eros, você nã o pretende atrapalhar o casamento do seu irmã o, nã o é?
― pergunta sem rodeios.
― A que custo, pai? Olha no que vocês se meteram. ― Gargalho deles. ―
Eu nã o preciso fazer nada. Isso nã o vai terminar bem. No momento eu só
quero ficar em paz, nã o perder nenhum só cio, quem sabe descobrir
quem me colocou na cadeia. Estou pouco me fodendo para Olívia, que
me largou no pior momento da minha vida para ficar com o donzelo do
meu irmã o.
― Ó timo. ― Ele se levanta. ― Entã o continue assim, longe de problemas.
E sobre seus só cios, alguns deles entraram em contato comigo,
inseguros. Espero que as conversas que tivemos tenham servido para
acabar com essas inseguranças.
Mesmo nã o gostando de dar o braço a torcer quando o assunto é aceitar
ajuda do meu pai na minha empresa, fico aliviado em saber que alguns
só cios podem ter mudado de ideia através dele.
Tudo seria mais fá cil se a verdade sobre aquela noite viesse à tona, mas
tenho seguido pelo caminho de falar com cada um e os convencer.
Larguei o assunto “prisã o” nas mã os de outra pessoa e essa investigaçã o
nã o tem tomado tanto a minha atençã o.
― Entã o, obrigado. ― Levanto e o acompanho até a porta.
― Cole disse que você o proibiu de me passar informaçõ es sobre sua
empresa — comenta antes de ir.
― Sim, proibi. ― Abro a porta para ele.
― Mas você sabe que pode contar comigo para o que precisar. Essa
situaçã o nã o fez bem a sua empresa.
― No momento envolve mais a minha honra do que dinheiro. Eu vou me
recuperar.
Ele assente e dá uns tapinhas em meu ombro.
― Se cuida.
― Você também.
Suspiro.
Dinheiro para mim nã o é problema. O problema é que a minha empresa
existe por dirigir outras empresas e se nã o tiver outras empresas
querendo ser dirigidas por nó s, como a minha empresa pode continuar
existindo?
Já no caso do Michael Albuquerque – pai de Olívia –, ele precisa de
trouxas para que seus negó cios continuem de pé.
Tem gente que faz tudo por dinheiro.
Saio de casa superfeliz.
Recebi o convite de uma marca grande para fazer um trabalho no nosso
estado. Paige vem comigo, sendo minha assessora. Se nã o fosse por ela,
nada disso seria possível. A minha mã e nem sabe que larguei o emprego
para fazer esse tipo de coisa. Quando der certo, contarei, já que só nos
encontramos a noite durante a semana.
Eles devem pagar uma boa grana e dinheiro é o que preciso no
momento. Nã o quero que a minha mã e fique dependente de homem,
caso o namoro com o Demétrio siga firme, já que nã o faria sentido ela
continuar sendo sua secretá ria. Eu daria esse conforto a ela.
Eles me chamaram numa filial, no prédio onde vá rias empresas ficam
localizadas e entramos pela primeira vez nesse lugar, achando que é um
shopping.
― Depois quem sabe a gente nã o compra umas blusinhas? ― Paige
sugere e nã o escondo minha empolgaçã o.
― Ainda nã o acredito que o Sr. Smith nos deixou sair do trabalho para
voltarmos quando quisermos — digo eufó rica.
― Depois da proposta que oferecemos, nã o teria como recusar e,
querida, você sabe que somos descartáveis, né? Amanhã , quando
chegarmos lá , com certeza, já terá dois novos funcioná rios ocupando
nosso lugar.
― Nã o tenho dú vidas disso. Mas é muito bom nã o ser demitida e ainda
poder sair sem ter hora para voltar.
― Muito bom mesmo. ― Ela ri abraçada ao meu braço esquerdo.
Encontramos a filial da Marie & Marie, a atendente logo me reconhece e
nos leva até o escritó rio do gerente. Ele já estava a nossa espera.
Entramos na minú scula sala que só tem uma mesa simples, duas
cadeiras e muitas estantes entupidas de pastas. Um homem careca, de
camisa social e gravata, com certa de 50 anos, se levanta atrá s da mesa e
estende a mã o para me cumprimentar.
— Seja bem-vinda, Liz. — Aperto sua mã o sorrindo.
— Obrigada.
Ele também cumprimenta a Paige.
— Sentem-se. — Ele aponta para as poltronas a sua frente.
— Ah, claro. — Concordo sem jeito, deixando minha bolsa no colo e
Paige fica de pé, ao meu lado.
A encaro, mas acho que ela prefere ficar em pé, agindo realmente como
se fosse a minha assessora. Sorrio mentalmente.
— Bom, a diretora geral de marketing da nossa marca gostou do seu
trabalho e de como as pessoas te acompanham. — O homem começa a
falar sobre o meu “trabalho” — Você tem muitos seguidores e um bom
engajamento.
— Obrigada. — Sorrio orgulhosa.
— Você já conhece a nossa marca? — Pergunta por mera formalidade,
afinal, quem nã o conheceria a marca?
— Claro. Acho que todo mundo conhece! — digo e ele concorda.
Eu tenho uma ú nica blusa dessa marca, pois o preço é um pouco salgado
para o meu bolso, mas nã o poder comprar, nã o significa que nã o
conheço bem.
— Ó timo. Entã o sabe que nó s somos uma empresa voltada para o
pú blico jovem. Em breve iniciaremos uma campanha e queremos você e
o Ed Banks na campanha. Essa aqui é a proposta. — Ele vira o papel para
mim.
Arregalo os olhos quando vejo o valor da proposta; dez mil dó lares para
gravar alguns vídeos e tirar algumas fotos.
O má ximo que já ganhei foram 500 dó lares e foi por carisma do
contratante.
— Estou impressionada. É uma proposta muito boa ― digo mostrando a
Paige e ela também está de queixo caído.
— Sim. Que bom que gostou.
— E o Ed Banks aceitou? ― Fico curiosa para saber.
― Sim. Ele aceitou e está vindo para cá assinar o contrato.
“EU VOU FAZER PUBLICIDADE AO LADO DO ED BANKS!” ― Grito
mentalmente de alegria.
Duas semanas atrá s eu postava fotos de café!
― Isso parece incrível! ― Paige vibra com o contrato na mã o. ― Mas eu
vou ler tudinho antes de assinarmos. — Avisa.
― Fique à vontade. ― Ele assente.
― Posso sair para tomar uma á gua enquanto isso? ― pergunto.
― Claro. ― Ele permite com um sorriso gentil.
― Já volto, Paige. — Ela se acomoda na poltrona que eu estava e inicia a
leitura do contrato.
Na verdade, eu preciso tomar um ar, pois tudo isso é demais para mim. A
propaganda ao lado de Ed, o valor que vã o pagar. É surreal. Eu nã o fiquei
nada feliz por terem feito aquele vídeo da minha queda, mas depois de
tudo que consegui por causa dele, só tenho a agradecer.
Minha mã e vai ficar tã o feliz!
Saio da loja e vejo um banquinho de trá s de um vaso com planta ali na
frente, entã o me sento nele para respirar um pouco.
“Dez mil dólares, Liz!”
Claro que tem a parte da Paige, mas ainda assim, vai sobrar muito.
Poderemos ficar um tempo sem nos preocupar em pagar as despesas do
prédio e até mesmo algumas contas mensais.
― Liz? ― Alguém me chama e ao olhar para o lado, vejo Edward e outro
homem.
― Oi! ― Levanto na força da adrenalina.
É outra coisa que me deixa eufó rica, ver alguém como ele me
reconhecendo e me tratando com gentileza.
Ele está usando uma calça e blazer cinza-claro, com uma camiseta preta
por baixo e está muito perfumado.
Ed vem até mim sorrindo e beija meu rosto em cumprimento.
― Queria achar que esse encontro foi outra coincidência, mas pelo visto
iremos trabalhar juntos, nã o é? — Ele diz animado.
― Pois é. Quem diria que faríamos um trabalho juntos, nã o é? — Tento
conter a minha empolgaçã o e ele se afasta.
Pela animaçã o, acredito que ele também esteja gostando da ideia.
― Estou bem feliz com isso. Acho que aquele vídeo nã o foi tã o ruim,
afinal — brinco.
― Esse é o meu assessor, Clarke. ― Ele me apresenta o homem que
carrega uma pasta na mã o e aparenta ter alguns anos a mais que nó s.
Clarke me cumprimenta com um sorriso no rosto.
― É um prazer, senhorita Liz.
― O prazer é meu. E por favor, me chame só de Liz — digo envergonhada
e ele concorda com um aceno de cabeça.
— Vou entrar para ver a proposta, Ed. — Clarke se despede e vai até a
sala onde estava com Paige.
― Daqui a pouco, chego lá . ― Ed avisa e se senta no banco.
Faço o mesmo, porém, um pouco tímida.
― Entã o, você viu o que o pessoal estava falando sobre estarmos juntos
naquele evento? ― pergunta sorrindo.
― Uma loucura, nã o é? As pessoas inventam cada histó ria mirabolante
sobre quem nem conhecem.
― As pessoas estã o sempre procurando alguma fofoca e como estávamos
bem à vontade ali, logo inventaram ideias sobre nó s.
― Pois é.
― Confesso que o tempo que passei com você foi a ú nica parte
interessante daquela reuniã o. Depois eu só queria ir embora. — Ed me
olha intensamente.
“Interessante? Então a minha conversa é interessante!”
Lá vou eu me iludir de novo.
― Eu fui embora logo depois. Quando vi sobre esse assunto, fiquei
assustada com os comentá rios. Recebi vá rios comentá rios maldosos,
mas nã o me importei. As mensagens de apoio me deixaram mais
assustada que os hates. ― admito.
― É . Faz parte. Mas eu fiquei lisonjeado com as especulaçõ es. Você é
bonita e inteligente. Quem nã o gostaria de te namorar? ― questiona
sorrindo.
O calor aumenta em meu rosto e encaro minhas mã os, desconsertada
com sua pergunta.
― Eu nã o tenho essa autoestima toda — digo por fim. Nã o sou boa em
aceitar elogios.
― Mas deveria.
Dou uma risada pois nã o sei como me comportar diante desta conversa.
Na verdade, eu sempre me derreto com elogios, independente de quem
diga. Acredito que todo mundo deve ser um pouco assim.
O silêncio parece reconfortante até o vento me trazer um perfume
bastante conhecido, entã o levanto a cabeça.
Eros.
Ele vem em nossa direçã o, com uma mã o no bolso da calça social grafite
e a outra segurando um copo de café, a gola da camisa branca está
desabotoada, mostrando as tatuagens que alcançam seu pescoço e seus
olhos estã o fixos em mim. Ele anda com o mau-humor de sempre. O que
é esperado.
Eu achei que nã o o veria tã o cedo.
Posso ouvir as batidas do meu coraçã o e a frieza tomando conta das
palmas das minhas mã os.
Nos beijamos no banheiro do quarto dele! Eu nunca vou superar esse
acontecimento e cada célula do meu corpo reconhece isso. Por um
instante esqueço que estou com Ed ao meu lado, pois nesse momento, só
sou capaz de perceber a presença de Eros.
Saí para pegar um café e como se já nã o vivesse os ú ltimos dias
perturbado com as publicaçõ es que tenho visto no Instagram, encontro
Liz sentada em um banco, no meio do meu caminho, conversando na
maior felicidade com o supermodelo.
Automaticamente me irrito.
Eu nã o deveria me importar com essa garota ou com quem ela está
saindo, mas é isso que está acontecendo, eu me importo.
Dividimos alguns momentos constrangedores e depois daquele beijo na
minha casa, ela nã o sai da minha mente.
Talvez seja só porque eu a queira na minha cama, nua, gemendo de
prazer por minha causa e isso nã o aconteceu naquela noite.
Ela me encara surpresa. Está usando um vestidinho verde, estampado,
os cabelos soltos e os lá bios brilhando. A cara grita ingenuidade.
Nã o resisto, paro pró ximo a ela. ― Oi.
— Oi — Ela fala sem piscar os olhos.
Olho para o cara sentado bem pró ximo a ela, com o braço passado por
cima das costas do banco.
— Como vai, cara? — Ele pergunta com um sorriso.
“Um completo idiota.”
― Podemos conversar? ― O ignoro direcionando minha pergunta para
Liz.
― Sobre? — Ela questiona cruzando os braços.
― É assunto particular.
― Particular... ― Liz repete baixinho, com o olhar inquieto. ― É que eu
estou resolvendo algumas coisas, nã o percebeu?
― Aqui? — Ela devia estar trabalhando, se nã o me engano.
“Que tipo de coisa ela estaria resolvendo com esse cara?”
― Na loja. Só vim tomar um ar. — explica e se levanta.
― Entã o deveria estar na loja e nã o aqui fora. — Nã o consigo conter
minha irritaçã o. — O meu escritó rio fica no corredor à esquerda. Tem
meu nome na porta. Te espero lá quando terminar o que veio fazer. ―
Sigo meu caminho esperando que ela apareça em menos de 5 minutos.
“Nunca tinha visto esse tal modelo na minha vida, e agora ele aparece em
todo canto. E pior ainda, em todo canto que Liz está.”
Tomo um pouco de café e queimo a língua.
― Merda! ― praguejo baixinho e entro no meu escritó rio.
Nã o tem ninguém na recepçã o, porque Kevin ainda está na paranoia da
pasta e tirou a recepcionista de seu cargo para o ajudar a procurar.
Tudo ao meu redor parece estar fora do lugar. A ú nica coisa boa é que
algumas famílias e só cios concordaram em nã o sair da Holding, graças a
meu pai.
Odeio precisar da ajuda dele, mas agora ela foi muito ú til.
Tomo o café enquanto espero Liz chegar.
Bato a ponta dos dedos na mesa tentando entender como essa garota de
uma hora para outra se tornou meu maior problema.
Assim que me aproximar do padrasto dela, vou focar em outra coisa que
nã o seja na possibilidade de outra pessoa beijar aquela boca e levá -la
para a cama.
Sempre vou até o fim com as mulheres. Geralmente começava indo
direto ao ponto, pois eu era comprometido, nã o podia prolongar as
coisas.
Nã o costumo me importar com as mulheres que fico. Nã o sei por que
estou me importando com a prima da minha ex. Da pró xima vez a gente
transa e eu esqueço essa maluca.
Tenho certeza de que é isso que está me perturbando. Só o fato de nã o
termos transado.
― Que demora... será que ela ainda está conversando com aquele bola-
murcha? ― Murmuro e tomo mais um gole do meu café.
Já se passou mais de cinco minutos e nada dessa...
― Eros? ― Liz bate à porta.
― Entra ― digo me levantando.
“Maravilha.”
Liz entra e fecha a porta.
― O que você quer, hein? ― pergunta parecendo incomodada.
“Porra, como ela ficou bonita nessa roupa! De pé assim, com esse rostinho
delicado, parece um anjo.
Meu Deus... sinto o desejo de tirar essa roupa dela ao mesmo tempo em
que quero continuar admirando-a.”
― Hein? ― Ela reforça a pergunta com os lá bios carnudos brilhando.
― Sente-se. Já resolveu o que tinha que resolver? — Preciso enrolar,
afinal, nem sei o que quero com ela aqui.
― Sim — responde calmamente.
― E o bola-murcha?
― Quem? ― Liz se senta na cadeira, segurando a barra do vestido.
Preciso respirar fundo.
― Aquele modelinho de vitrine, é claro.
― O Edward? ― Ela ainda parece processar a informaçã o.
― Quem mais poderia ser, Liz?
― Por que você o chamou de bola-murcha e modelinho de vitrine?
― Porque é isso que ele parece ser. O que ele queria com você? Nã o me
diga que se iludiu com os boatos que inventaram sobre vocês?
Ela se recosta na cadeira com a testa encolhida.
― Nã o... O que você queria falar comigo? — insiste em saber.
― Sobre o seu padrasto. ― Resolvo falar disso.
“É por causa disso. Só por isso que a chamei aqui. Acabei desviando do
assunto, mas é isso.”
Embora pareça que estou mentindo para mim mesmo.
― Ah, fala sério, Eros! Eu já te disse que nã o vou te apresentar a ele. Por
que nã o o procura e resolve o que tem para resolver?
― Porque com um vínculo de amizade fica mais fá cil convencê-lo. Ele
nunca fez negó cios comigo e você sabe que meu nome está sujo no
mercado.
― Quem manda fazer bobagem? ― Dispara de braços cruzados.
― Liz, eu jamais traficaria armas. Coloca isso na sua cabecinha linda. Eu
tenho dinheiro suficiente pra viver o resto da minha vida sem fazer uma
merda dessas.
― Vem cá , por que você está preocupado com negó cios se nã o precisa
trabalhar?
― Por questã o de honra. Eu nã o vou deixar ninguém me derrubar.
Sempre me dei muito bem com isso e vou continuar me dando.
Nã o vou deixar Scott tomar os meus atuais só cios, nem conquistar os
futuros!
― Pois nã o conte comigo pra isso. ― se levanta.
― Nã o custa nada, Liz. ― Saio de trá s da mesa.
― Você nem sabe como é a minha relaçã o com ele para me pedir favores.
― Como é?
― Ela nã o existe. E a minha mã e nã o gosta de você. ― Ela anda até a
porta, mas passo na frente e seguro a maçaneta.
― Liz...
― O quê? ― Ela fala um pouco agressiva e me olha nos olhos.
― Nã o custa nada ― digo meio perdido na sua boca convidativa.
― Eu nã o vou te levar para a minha casa e acabou. Me deixe sair.
“Teimosa.
Essa é ruim de trato!”
― Ok. Já entendi que nã o vai me ajudar.
― Ó timo. Abra a porta. ― Ela tenta tirar a minha mã o da maçaneta e
observo seu rosto ruborizado.
― O que você estava fazendo com aquele cara? — Volto nesse assunto.
Eu nã o consigo me conformar com essa histó ria.
― Conversando. Nã o deu para perceber? — pergunta agressiva.
― E que diabos ele veio fazer aqui? No mesmo lugar que você? Vocês
andam se encontrando?
Ela me encara erguendo as sobrancelhas.
― Por que está interessado em saber sobre isso? Nã o é da sua conta!
― É sim, porque no sá bado passado, você estava comigo. ― Solto a
maçaneta para segurar a sua mã o e de novo o olhar dela fica inquieto. ―
Nã o se lembra?
― Eu prefiro esquecer aquele erro.
― Você nã o vai ― Me aproximo do seu corpo cheiroso e ela dá passos
para trá s, me encarando de boca entreaberta. ― Se eu nã o consigo
esquecer, também nã o vou deixar que você esqueça.
― Nã o depende de você, Eros. ― Liz olha para a minha boca e depois
para meus olhos.
Eu duvido que ela tenha esquecido do nosso beijo.
Nesse recuo dela, paramos na parede e a sua bolsa cai.
― Aham. Por que fugiu da minha casa? Ficou com medo de mim? De nã o
resistir de novo? — Aperto sua cintura e seu peito começa a subir e
descer mais forte.
— Claro que nã o ― responde com o olhar perdido no meu rosto.
Esse jeito dela me enlouquece.
Me deixa puto, porque ela facilmente pode ser enganada e isso também
me deixa excitado. Nã o que eu queira a enganar de alguma forma,
realmente nã o esqueci aquele beijo.
Seguro cada lado da sua bunda e a ergo na parede até ficar cara a cara
comigo.
― Eros... ― Ela praticamente suplica e agarra a minha camisa enquanto
pressiono meu quadril entre suas pernas.
“Essa boquinha...”
― Me deixa refrescar a sua memó ria. ― Avanço contra sua boca e sinto o
gosto doce do seu gloss e da sua saliva.
Beijá -la é como uma dose de droga. Eu nã o posso me viciar nisso, mas eu
quero provar mais uma vez.
Liz se entrega ao beijo rapidamente, me deixando ainda mais faminto
por ela.
Quando a encaro, como na primeira vez, o arrependimento me cerca,
mas a vontade de tê-la para mim é maior.
​― Queria arrancar essa sua roupa aqui mesmo. ― Deslizo minha mã o
esquerda por cima da sua coxa, por baixo do vestido florido e alcanço a
calcinha que cobre onde mais desejo enfiar a minha boca e o meu pau
nesse momento.
Mais uma vez alcanço seus lá bios e sinto seu sabor. Passo meus dedos
por debaixo da peça íntima e deslizo pela pequena fenda.
Completamente ú mida, quentinha e lisa.
Meu pau vibra de tesã o dentro da calça e imagino como seria se fosse ele
encostando nessa boceta deliciosa.
― Eros... ― Ela sussurra contra a minha boca e arfa em seguida.
Escorrego os dedos até o fim, tentando penetrá -la com dois deles, sem
muito sucesso.
Ela afasta o rosto e geme fazendo careta.
― Nã o. ― Segura meu braço e me olha com medo.
― O que foi? ― Com uma leve pressã o, arrasto os dedos para fora da sua
calcinha.
― Eu nunca fiz nada disso ― conta olhando para meu peito. ― Me solta.
A minha cabeça nã o está dando conta de processar essa ideia.
― Como assim, nunca fez nada disso?
― Nã o fiz e nã o deveria ter deixado a sua mã o boba chegar aonde nã o
pode. ― Ela me empurra e me sinto tonto tentando assimilar essa
revelaçã o.
“Liz é virgem?”
― Você nunca...? — pergunto sem graça.
― Nã o. ― Ela passa a mã o na saia rodada do vestido, pega a bolsa no
chã o e anda para saída.
A pequena sala me permite alcançá -la pelo braço.
― Liz, nã o vá agora. Me explica isso direito. Como assim?
― Eu fui bem clara, Eros. Nã o tem o que explicar. Nunca fiz sexo. Ponto.
― Por quê?
― Isso nã o é da sua conta. ― Ela puxa o braço e sai da minha sala.
“Virgem.
Como ela pode nunca ter feito sexo aos 20 anos?”
Estou perplexo, completamente surpreso, me pegou desprevenido. Me
sento sentindo o peso desse fato. Ela é virgem e meus planos com ela
foram por á gua abaixo.
Já foi um problema beijá -la. Se eu for o primeiro dela, estarei fodido.
Nã o digo só sobre essa coisa de sentimentalismo de mulher com relaçã o
a virgindade. É sobre a minha cabeça mesmo.
Tenho pensado nela só por causa de um beijo. Nã o gostei de ver aquele
cara a rodeando e as suposiçõ es que fizeram sobre eles.
Eu me conheço. Tenho que admitir, se eu a levasse para cama, virgem,
agindo do jeito que ela agiu agora a pouco... estaria perdido.
Fodidamente perdido.
Preciso esquecê-la.
― Conversarei com o padrasto dela, farei negó cios com ele sem a sua
ajuda e esquecerei que um dia tivemos alguma coisa ― digo em voz alta
para fixar na minha mente, porém, o que cerca os meus pensamentos
nã o é isso.
“Será que ela está indo embora sozinha ou aquele patife a esperou”
Levanto e saio correndo para ver isso.
Saio com a mã o na boca e sinto meu rosto pegando fogo pela vergonha.
Eu sabia que era uma péssima ideia ir ao escritó rio do Eros, mesmo
assim fui. Assinei o contrato que Paige tinha lido, me despedi de Edward
e abandonei a minha amiga para saber o que esse pervertido queria.
Eros parece um adolescente, age por impulso, parece se arrepender, mas
ao mesmo tempo nã o consegue se controlar. Com certeza ele nã o está
em seu juízo perfeito.
Aquele maluco queria arrancar minhas roupas ali mesmo. Eu jamais
deixaria isso acontecer.
Assim como jamais o deixaria enfiar sua mã o por dentro da minha
calcinha, como nenhum cara fez e passear na minha intimidade
enquanto me beijava, mas eu deixei.
MERDA!
Eu deixei. E o pior de tudo foi que eu gostei. Foi tã o bom, me senti tã o
devassa deixando que ele fizesse aquilo enquanto a porta de seu
escritó rio nem trancada estava.
Qualquer um poderia ter entrado e visto aquela cena.
Eu morreria se isso tivesse acontecido! Afinal, já ando mal falada na boca
do povo, isso era tudo que eu menos precisava no momento.
E agora ele sabe que sou virgem e deve estar rindo de mim.
Eu nã o conto isso para todo mundo. Paige sabe por que eu tive que
explicar que nã o entendia nada das baixarias que ela costumava me
perguntar, pois nã o tinha experiência e continuo nã o tendo essas tais
experiências.
Eu tenho medo. E se acontecer uma continuaçã o do que a minha mã e me
livrou naquele dia?
Nã o sei o que esperar, nã o sei se teria coragem e muito menos como
reagiria.
Se eu confiasse 100% na pessoa, talvez fosse até o fim, mas todos os
caras que beijei, assim que tentam ser mais libertinos, me lembram
aquele nojento.
Entã o, continuarei virgem até o dia que me sentir à vontade com alguém.
Os homens sempre sã o apressados, sempre falam as mesmas coisas que
ouvi naquela noite. “Vamos brincar, será bom, você vai ver.” Isso me deixa
em pâ nico. Já abandonei um deles correndo. Nunca parei no quarto de
nenhum cara, nunca sequer deixei que beijassem meus seios ou
tocassem onde o Eros me tocou.
Ele sabe como me distrair, isso é fato. Seu beijo, a forma como envolve
meu corpo, até mesmo seu cheiro de alguma maneira me faz render-me
a ele.
Já é a segunda vez que Eros consegue me seduzir.
E aquelas perguntas sobre o Edward? Modelinho de vitrine?
Soou como se ele nã o gostasse de nos ver juntos e uma pequena parte de
mim gostou de imaginar isso.
A minha parte inconsequente, é ó bvio.
― Menina, onde você estava? ― Paige me encontra na saída.
― Fui resolver uma coisa.
― No dentista? — pergunta e eu fico sem entender.
― Nã o. Por quê? — Paige as vezes faz cada pergunta estranha.
― Porque a sua boca está toda suja de batom.
Toco meu queixo e sinto a textura oleosa do gloss que eu usava.
“Que vergonha!”
― Eu borrei — digo a primeira coisa que me vem à mente, mas sou
péssima com mentiras.
― Aham. Borrou... Um passarinho me disse que você tinha recebido um
chamado em outro escritó rio. Quem era?
― Quem disse? ― fico curiosa.
― O seu suposto namorado e parceiro de publicidade.
― Suposto namorado? Paige, nã o sonhe tã o alto! Ele só foi legal comigo.
― E você foi se encontrar com quem? Para de tentar mudar de assunto ―
Ela vira de frente para mim na calçada.
― Ninguém importante.
― Sem importâ ncia, mas com vontade suficiente para te deixar toda
vermelha e de batom borrado. — Debocha.
― Era gloss. ― Continuo limpando o rosto e ela sorri mal-intencionada. ―
Quando vamos fazer esse trabalho?
― No fim de semana. Eles estã o com pressa e já têm uma equipe pronta
só para isso.
― Entã o agora eu posso ir para casa, certo?
― Claro.
― Ó timo. Mal vejo a hora de contar para minha mã e. Ela vai ficar
superfeliz. — Comemoro.
― Conte antes de dizer que saiu do emprego ― sugere.
― Esse é o meu plano. — Pisco para ela.
Paige olha para trá s de mim sem piscar e me viro para ver o que
prendeu a atençã o dessa safada.
Mas assim que vejo quem vem em nossa direçã o, sinto vontade de sair
correndo.
Eros está na porta do prédio. Sinto um sensaçã o estranha ao vê-lo.
Nã o é possível que meu estô mago vai estremecer e meu coraçã o bater
mais forte sempre que ele aparecer na minha frente.
Deve ser o medo do que ele é capaz.
― Vamos. ― Puxo minha amiga para irmos para o ponto de ô nibus.
― Agora eu sei quem é o ninguém importante com quem você se
encontrou.
― Paige! — A repreendo envergonha e nã o olho para trá s.
― Ele ficou com metade do seu gloss no rosto. Contra evidências nã o há
argumentos, Liz. — Ela gargalha.
Fico sem jeito e tento nã o rir também.
― Paige, pisei num campo minado e parece que quanto mais tento sair
dele, mais me perco.
― Eu nem vou dar a minha opiniã o...
― Nã o dê.
Eu nã o preciso de alguém me apoiando nisso. Preciso de alguém que me
arraste para longe daqueles olhos, boca e mã os que me fazem refém.
Passo o resto do dia sem fazer nada de ú til e quando a noite chega, tomo
um chá enquanto navego no Instagram olhando o que nã o devo.
― Você adora exibir essas tatuagens, nã o é? Será que você usa gravata
em reuniõ es mais formais? — Penso em voz alta e me arrependo
imediatamente.
― Liz? Está conversando com quem? ― A minha mã e pergunta.
“Com as fotos do Eros no Instagram.”
― Sozinha. Que bom que chegou! — Disfarço.
― Hum... ― Ela me analisa fazendo biquinho. ― Que felicidade é essa?
― Você nã o imagina a proposta que me fizeram. Simplesmente nã o
vamos precisar nos preocupar com as despesas da casa por um bom
tempo.
― Como assim, filha? ― Ela deixa a bolsa em um banquinho e senta em
outro, à minha frente.
― Sabe a Marie & Marie? Eles me chamaram para ser garota propaganda
em uma campanha.
― Mentira! ― Ela abre um sorriso.
― Estou falando sério! E vã o pagar dez mil dó lares, mã e! Tem a parte da
Paige, que está resolvendo tudo, mas ainda assim é muita grana. E eu
quero usar para nos aliviar dessas despesas.
― Filha, mas é muito dinheiro! O que eles querem que você faça? ― Ela
coloca chá em uma xícara e me encara intrigada.
― Nã o é nada estranho. Fotografar usando a coleçã o de roupas e ainda é
ao lado do Edward Banks.
― O gatinho que estã o falando que você namora? — pergunta com um
sorriso desconfiado.
Ela foi bem direta e continua bem-informada.
― Sim, mas nã o somos namorados.
― Mas bem que podiam. Ele é lindo e parece tã o gentil.
― Ele é bem gentil mesmo. O encontrei lá na loja. Fomos conversar sobre
isso nessa tarde. Já assinamos o contrato e as fotos serã o feitas ainda
essa semana.
― Você podia chamar o rapaz para vir aqui, depois das fotos.
― Mã e, é apenas trabalho. Para que eu o chamaria aqui?
― Para conhecê-lo. Eu, você, o Demétrio e ele. Um momento de
aproximaçã o.
Fico com o pé atrá s a respeito do Demétrio.
― Nã o sei se é uma boa ideia, afinal, o que você tem com esse Demétrio,
mã e?
― Ah... nó s estamos juntos, mas ele disse que queria algo mais formal...
ele percebeu que você nã o dá muita abertura.
― E nã o darei, mã e. Você sabe o motivo.
― Sei sim.
― Você nã o contou para ele, contou? ― pergunto receosa.
― Nã o. Demétrio também tem uma filha e ele é superprotetor com ela.
Se soubesse, acho que ficaria doente.
― Será ? ― Tenho minhas dú vidas.
― Sim. Você nã o imagina como ele é rígido com sua menina. Ela fará
aniversá rio em breve e nó s fomos convidadas. Você vai, nã o vai?
― Nã o sei. E a mã e dela? Esse homem nã o tem ex-mulher? Sei lá .
― Eles se separaram faz tempo.
― Hum. Ele cuida da filha? ― analiso sua histó ria.
― Ela vive com a mã e, mas é muito apegada ao pai também. Ele dá tudo a
ela. Como eu queria que o cretino do seu pai fosse assim com você. Sério,
Liz, eu admiro o Demétrio como pai. Sei que será difícil você se
acostumar com ele, mas eu te garanto que ele sabe o que é ter uma filha
e jamais faria o que aquele estrume tentou fazer. ― Garante e toma um
gole do seu chá .
Olhando pela ló gica, faz sentido, mas eu nã o consigo baixar a guarda tã o
facilmente para esses homens. Todo homem que tem a idade de ser meu
pai, me lembra o desgraçado do Scott.
E sobre paternidade, sinto desgosto quando ouço citar sobre meu pai.
― E como fica o seu trabalho agora que é namorada do chefe? Eu sei de
tudo, Srta. Lauren.
Ela fica sem graça.
― Eu nã o sei, filha. Sinceramente... Nã o quero viver à s custas do
Demétrio, mas as coisas estã o esquisitas no escritó rio depois que fui a
reuniã o de comerciantes como sua companhia.
― Imaginei. Por isso estou aproveitando as oportunidades que meu
tombo me trouxe. Ao menos as que valem a pena.
― E o trabalho na cafeteria?
― Entã o... eu saí ― conto olhando sua reaçã o. Ela franze a testa. ― Mã e,
depois da reuniã o que eu fui acompanhar meus chefes, as pessoas só vã o
a cafeteria para perguntarem se tenho alguma coisa com Edward ou com
o outro lá — Prefiro nem mencionar o nome do Eros — E nã o me
deixam trabalhar. Eu acho que eles estã o procurando coisas para
espalhar.
― É complicado essa coisa de fama.
― Pois é, mas nã o é algo que posso controlar. A ú nica soluçã o foi sair.
Agora tem muita gente me oferecendo dinheiro para divulgar seus
negó cios. Principalmente no que diz respeito a beleza e comida.
― Comida? ― ela se interessa.
― Aham. Daqui a pouco vou receber uma pizza. De graça. E ainda vou ser
paga para comê-la.
― Sério? ― De novo, a vejo chocada com essa histó ria.
― Nã o parece loucura?
― Sim! ― Ela ri e eu também. ― O que me preocupa, filha, é essa
exposiçã o. Você já passou por coisas no passado que refletem até hoje na
sua vida, na nossa vida. E essas pessoas, quando querem, desenterram
tudo.
― Nã o! Ninguém além de nó s sabe dessa histó ria e nã o vai chegar à boca
do povo. ― Garanto com um gosto amargo na boca.
Eu nã o saberia o que fazer se isso acontecesse, mas somente eu, a minha
mã e, o nojento e o lixo do meu pai sabem disso. Eu sei que eles nã o
contariam. Nem imagino onde andam, mas espero que seja bem longe de
nó s.
Tive que atender aos pedidos da minha mã e e, apó s a sessã o de fotos,
convidei o Ed para minha casa. A Paige també m veio. O assessor dele
tinha outro compromisso e apenas agradeceu pelo convite.
Agora estamos no nosso apartamento, reunidos ao redor do balcã o da
cozinha, saboreando os hambú rgueres preparados pela minha mã e,
acompanhados de refrigerante. É reconfortante saber que agora minha
mã e pode nos visitar durante a semana, em horá rios que nã o sejam
tarde da noite. É tã o gratificante quanto poder passar a noite em casa,
sem precisar ficar correndo de um lado para o outro com uma bandeja
na mã o.
Depois do meu encontro com Eros, ficar em casa tem sido um alívio para
mim, já que assim evito encontrá -lo. Por sorte, nã o o vi em frente à loja
hoje. Acredito que ele nã o saiba que é lá que tenho feito negó cios.
Demétrio também está aqui. A minha mã e tem feito de tudo para que eu
o aceite em nossa pequena família. Ainda nã o tenho uma opiniã o
formada sobre ele.
― Como foi a sessã o de fotos? Liz se saiu bem? ― A minha mã e pergunta,
empolgada.
― Eu nã o sou profissional ― me explico de antemã o. ― Fiquei tã o
nervosa!
― Nã o é, mas parecia ― Ed fala. ― Ela se saiu muito bem. Todos estavam
admirados, nã o foi, Paige?
― Aham ― Ela responde enquanto o admira descaradamente com a
cabeça apoiada na mã o. ― Se saiu bem demais.
― Ownt! Minha menina modelando... ― Mamã e me olha orgulhosa.
― Foram só fotos, mã e. Eu nã o sou a Gisele Bü ndchen nã o.
― Mas com certeza todos vã o gostar de te ver. Vai surgir vá rios outros
trabalhos ― Paige garante.
Eu nã o quero me iludir com isso.
― Um amigo meu tem um estú dio de fotografia ― Demétrio conta. ― Se
você quiser, eu posso falar com ele para fazer um portfó lio.
― Nã o. Vocês estã o indo longe demais com essa histó ria. ― Recuso.
― É que é empolgante ― Mamã e justifica e morde seu hambú rguer
recheado além da conta.
Ela está agindo como uma adolescente depois que arranjou esse suposto
namorado.
A minha mã e nunca foi uma mulher amargurada. Tivemos alguns anos
difíceis depois que nos mudamos, anos reflexivos, em alerta, com um
pouco de medo e falta de confiança em todos. Demoramos para confiar
no porteiro do prédio. Lembro que eu nunca passava por ali sozinha.
Depois nos adequamos ao estilo de vida em que ela saía cedo e chegava
durante a noite, fui crescendo, terminei a escola e nã o pude entrar na
faculdade. Foi um tempo tedioso, mas estudei em casa, tive um tempo
para mim e depois foi a vez de trabalhar. Alguns empregos mais ou
menos até chegar ao café e esse trabalho foi ó timo antes de começarem
a me abordar atrá s de saber da minha vida.
Eu sei que atrapalhei a vida dela. Ela só tinha trinta e poucos anos
quando tudo aconteceu e o cara que ela amava preferiu acreditar no
homem que quase molestou sua filha do que na esposa e criança. Nã o
quero continuar sendo o motivo pelo qual ela nã o faz o que deseja.
Talvez... talvez esse Demétrio a faça bem. Eles estã o no início, nessa fase
tudo sã o flores, mas pode ser que ele seja assim sempre.
Eu vou acreditar nisso. Vou apostar.
Paige conta sobre todas as propostas que recebi e rimos muito sobre a
do supermercado, que ela recusou, é claro.
― Eles queriam um comercial onde ela anda no carrinho do
supermercado, bate numa pilha e derruba a tabela de preços dos
produtos, revelando que esse estava com o preço bem mais baixo e as
pessoas correm desesperadas para pegar tudo que podem.
― Essa ideia nem faz muito sentido. Parece até que eles aumentam os
preços dos produtos mesmo! Quem criou esse roteiro nã o pensou
direito ― Analiso e ainda bem que recusamos.
― O fato é que ele queria usar o meme da Liz pra vender os produtos
deles. Recusamos. Liz tem que ser tipo as Kardashians, fazer propaganda
de beleza.
― Pirulito que emagrece, velas... ― A minha mã e completa, para o nosso
estranhamento. ― Eu assistia o programa antigo delas.
― Sem ideias mirabolantes. Só glamour ― Paige diz empolgada.
Eu nã o poderia achar pessoa melhor pra fazer isso. Acredita mais em
mim do que eu mesma.
― Você é solteiro, Ed? ― Mamã e muda o assunto repentinamente e tomo
um choque com a pergunta.
Ela nã o pode fazer parte da parcela que acha que eu e Ed temos alguma
coisa só porque ficamos conversando amigavelmente naquela noite.
E olha que eu fiquei bastante empolgada naquele dia, mas agora parece
que nã o me empolga tanto. Talvez se na mesma noite eu nã o tivesse
acabado nos braços do outro, estaria nesse momento sonhando sobre
como seria isso se tornasse verdade.
Ele responde que sim, e a minha mã e o enche de perguntas e mais
perguntas invasivas. Fico mais desconfortável do que ele.
― Mã e, menos. ― seguro a sua mã o. ― Assim vai expulsar o Ed da nossa
casa!
― Desculpa, Ed. É que a minha filha nunca traz garotos para casa.
“Nunca mesmo. O que está acontecendo comigo? Estou indo pela onda da
minha mãe!”
Ele ri e Paige, a minha amiga tem um Q de tarada que nã o se esconde
nem se ela quisesse. É assim com o Ed, com o Luigi e também com o
Eros.
― Fico contente em ser o primeiro. ― Ele fala com o celular tocando na
mã o. ― Com licença, o meu assessor está ligando.
Assim que ele se afasta para atender, aproveito para pegar mais um
pouco no pé da mulher que me colocou no mundo.
― Mã e, estou ficando envergonhada com essa conversa. Parece até que
você está dando a entender que eu o trouxe para cá com alguma
intençã o!
― Só estou conhecendo o rapaz! — Se defende.
― Tente nã o ser invasiva. ― Imploro assim que ele aparece de volta.
― Infelizmente preciso ir. Clarke me ligou falando que preciso aparecer
no pró ximo compromisso. Foi um prazer conhecer vocês. ― Ele se
despede do Demétrio e da minha mã e.
― Venha mais vezes ― Ela convida sem demora.
“Não adianta pedir nada a ela. Não adianta.”
O acompanho até a porta e Paige diz que também já vai.
― Valeu por ter vindo e perdoe o jeito da minha mã e. É uma situaçã o
atípica para ela.
Ele ri.
― Nã o me incomodei com nada. Foi um ó timo jeito de concluir a sessã o
de fotos.
Nos despedimos com um beijo no rosto e Paige me dá um rá pido abraço.
― Mais tarde conversamos sobre o compromisso de amanhã .
― Mas amanhã é sá bado! — Reclamo.
― Sim. Justamente.
Parece que nã o importa com o que eu ganhe dinheiro, os fins de semana
sempre ficam comprometidos.
Eles entram no elevador e eu fecho a porta de casa.
― Tã o gentil! Um rapaz tã o educado! ― Mamã e está admirada. ― Deve
ser de boa família.
― Com certeza. ― Demétrio concorda. ― Eu acho que já ouvi o
sobrenome dele.
― Da Azélia Banks ― brinco e volto para mesa.
Ele reconhece a minha referência e ri.
― Além dela. Só nã o me lembro bem. — Demétrio diz intrigado.
― Se você namorasse ele, Liz...
― Mã e! Vamos com calma. O rapaz veio aqui na amizade. Na verdade, só
o convidei por insistência sua.
― Quem parecia interessada era a Paige. ― Demétrio comenta abrindo
uma cerveja.
Basta olhar para perceber.
― Paige nã o tem jeito. Ainda bem que mesmo com essa amizade, Liz tem
juízo e nã o se deixa levar pelas ideias da amiga.
Já cometi erros maiores do que ela sugere sozinha.
Sem as visitas, resolvo montar um hambú rguer com tudo que tem
direito. Muito molho, salada e carne em dobro.
Alguém bate à porta e logo imagino que seja Paige que esqueceu alguma
coisa.
― Mã e, estou numa tarefa difícil agora. ― Lambo o dedo sujo de molho.
Ela levanta e vai atender.
― Deve ser a Paige ― comento colocando uma fatia de queijo na minha
obra de arte.
― Isso nã o vai cair? ― Demétrio pergunta, analisando meu feito.
― Nã o mesmo — digo dando uma bela mordida.
— Olá ! — Quase engasgo ao ouvir o som da voz que ecoa da porta.
Olho para a entrada da minha casa com meu coraçã o a beira de saltar do
peito. E pelo susto, nã o consigo nem engolir o pedaço que coloquei na
boca.
A pilha do meu hambú rguer se desfaz quando o solto para beber um
pouco do refrigerante antes de ir até ele, para saber o que faz aqui.
Me levanto apressada e vou até Eros.
― Quem disse o nú mero do meu apartamento para você? ― pergunto
surpresa demais pela apariçã o inesperada.
― Paige ― responde com seu sorriso vagabundo e uma sacolinha na
mã o. Pelas roupas sociais, deve ter saído do escritó rio e vindo direto
para cá .
A minha mã e está parada e sem reaçã o, surpresa com a situaçã o.
― O que você quer? A Olívia nã o está aqui ― fala grosseira quando sai do
choque.
― Só vim entregar algo que Liz esqueceu quando me ajudou no outro
dia. ― Ele me oferece a bolsa.
“O que ele está inventando agora?”
― Toma. É seu. Nã o lembra? — Insiste em me entregar uma bolsa.
“Claro que não lembro! Não é meu!”
Pego a bolsa pra finalizar o assunto.
― Já entregou, agora pode ir. ― Mamã e segura a porta e o vejo ficando
sem saída e sem palavras.
― Bom, eu sei que o meu namoro com sua sobrinha e como as coisas
terminaram nã o a agrada, mas convenhamos, ela também agiu errado
comigo. Aliá s, se me convidar para tomar um café, posso explicar tudo
do meu ponto de visto. Sempre existe os dois lados da histó ria, nã o é
mesmo?
“Eros é impressionante.
A cara nem treme!”
― Nã o quero você perto da Liz. Nem como amigo, nem como nada. E nã o
volte aqui. ― Minha mã e bate à porta na cara dele e o baque é tã o forte
que pulo de susto.
O jeito que ela me encara quando se vira também me deixa com medo.
Ela nã o pisca e parece possessa.
― Eu vou guardar o que esqueci no dia que o ajudei. ― Me apresso para
meu quarto.
“O Demétrio que aguente as reclamações.”
Tranco a porta e vou até a janela.
Ele ainda nã o saiu do prédio e seu carro está parado na rua.
Desfaço o laço que amarra as alças da sacola de papel e tiro a caixa de
dentro dela.
— Puta merda! Agora ele foi longe demais ― falo baixinho e cubro a boca
admirada.
É um Hypnotic Poison da Dior! Esse perfume é caríssimo! Eu sempre quis
usar um desse.
Levanto e olho pela janela novamente. Ele está andando em direçã o ao
carro, com o telefone no ouvido. Meu celular começa a tocar e o retiro do
bolso do short.
É ELE!
Atendo ainda sob o efeito da surpresa que ele me trouxe.
― Eros, você está louco? O que passa pela sua cabeça? Que ideia foi essa
de me trazer esse perfume caro, dizendo que fui eu quem esqueceu? ―
Controlo o volume da minha voz.
— Poxa. Achei que me trataria melhor depois do presente. — Ele olha
diretamente para a janela do meu quarto.
Ele é um psicopata.
— Eu nã o queria nada disso! Que ideia absurda! — Reclamo, mas no
fundo eu amei.
— Vai dizer que não gostou? Se quiser, eu dou um desses para a minha
sogra também. Quem sabe assim ela não decide me ouvir.
SOGRA!
— Você nã o presta, sabia disso?
— Não mesmo, e ainda faço um estrago.
Ele ainda vai acabar me trazendo muitos problemas.
— Sério, você nã o pensou no problema que poderia me trazer
aparecendo aqui do nada? Você sabe que minha mã e te odeia.
— Pensei em muitas coisas. Aliás, ando doido pra sentir esse perfume no
seu corpo.
Fico tonta e me encosto na parede, imaginando a cena e sentindo o que
provavelmente sentiria caso isso acontecesse.
“Que calor...”
— Hein, Liz? Imaginou a cena?
― Nã o estou imaginando nada além da minha mã o na sua cara. Você veio
até minha casa sabendo que nã o deveria fazer isso. E ainda trouxe esse
perfume! ― Reclamo entre dentes enquanto o vejo de longe, escorado no
carro e com uma mã o no bolso.
“É um folgado mesmo!”
— Eu precisei fazer isso. Você não gostou do perfume?
— Gostei e vou ficar com ele, sabe por quê? Porque o preço dele nem
paga a raiva que você me faz passar e a confusã o em que me meteu com
a minha mã e.
Ele ri.
— Eu não aceitaria de volta.
— Isso é muito caro!
— Já gastei bem mais com uma mulher.
— Hum.
“Idiota!”
— A sua mãe me tratou tão mal e você nem me defendeu...
― Ah, Eros. Me poupe! Por que nã o vai atrá s da sua mã e? Ela veio falar
comigo chorando. Vai lá levar um perfume para ela e vê se me deixa em
paz! ― Desligo na cara dele e fecho a cortina.
Jamais o ajudaria nessa histó ria de se aproximar do Demétrio. Eu nem
sou tã o pró xima dele. E para ser bem sincera, nem quero ser!
Abro a caixa do perfume e experimento no meu braço. Dou uma boa
cheirada e caio de costas na cama.
“Que perfume bom!”
Então, a minha mã e a procurou para saber de mim... Nã o esperava por
isso. Seria mais típico dela enviar Olívia para falar comigo. Nã o a vejo
desde aquela reuniã o de comerciantes, apenas a avistei de longe,
acompanhada do meu irmã o. Mesmo se estivesse sozinha, eu nã o teria
vontade de falar com ela.
Olívia é um capítulo encerrado na minha vida, conseguiu apagar
qualquer lembrança boa que eu tinha depois do que fez comigo. Por isso,
talvez seja melhor eu parar de me envolver com pessoas dessa família.
No entanto, percebi que Liz nã o é como ela, a sua mã e também nã o.
Depois da primeira vez que fiquei com Olívia e visitei sua casa, fui bem
recebido. Parecia que eles queriam que eu fizesse parte daquela família,
apesar de nã o ter uma reputaçã o exemplar na época.
Nosso relacionamento era marcado por ciú mes e brigas, o que pode ter
influenciado a impressã o que Liz e sua mã e têm de mim. Mas se fossem
interesseiras como outras pessoas que conheci, teriam me tratado como
um anjo, independentemente das brigas.
Volto para casa satisfeito. Já tinha comprado o perfume e procurava uma
oportunidade para usá -lo como desculpa quando passei pelo prédio e vi
o carro do padrasto.
Liz se recusou a me ajudar, entã o tive que me virar sozinho. Eu
apareceria com ou sem a sua ajuda, sei que ela nã o diria muito, pois
desde o primeiro beijo, anda sem muitas palavras.
O que me irritou foi encontrar aquele modelo de vitrine na saída do
prédio. O que ele estava fazendo lá na casa dela? Paige me deu o nú mero
do apartamento, mas ele só me causou raiva, existindo e cruzando o
caminho de quem nã o deve.
Eu nã o divido mulheres e, mesmo que esse cara nã o seja pá reo para
mim, nã o quero vê-lo perto de Liz. É nessas horas que percebo que perdi
o controle de algo que nem deveria existir.

[​ Mãe: Oi filho. Como você está?]


Estou sentado na cadeira da cozinha, com os pés apoiados na beirada da
porta da varanda, observando a vizinhança enquanto tomo cerveja e
mexo no celular. Parece que a senhora Werneck está de olho em mim.
Minha mã e é extremamente importante para mim e, dentro da minha
pequena família, sempre foi alguém que tentou me entender. Embora eu
tenha implicado com ela por causa do respeito excessivo que tinha pelo
Nicholas e pela vergonha que dizia sentir por mim devido ao meu
comportamento na adolescência, ela sempre esteve lá para ouvir minhas
queixas.
Por isso, estou magoado com o fato de ela apoiar Nicholas e Olívia.
Parece que ele é sua prioridade, mas conversar comigo e ouvir o que
tenho a dizer desta vez nã o fará diferença se o que aconteceu é
simplesmente inaceitável.
[Eros: Oi, mãe. Estou bem.]
​Respondo, mas só por causa das coisas que ouvi do meu pai e da Liz. Eu
disse coisas fortes para ela, mas estava extremamente magoado naquele
dia. Sentia-me traído por todos os lados: pelo meu irmã o, pela minha
namorada e pela minha mã e.
Meu pai parece nã o se importar com nada disso, nã o há reclamaçã o que
o faça se comover. No entanto, quando o assunto é a mulher dele,
sempre busca uma soluçã o. Talvez tenha sido por isso que apareceu no
meu escritó rio naquele dia.
Aproveito que nã o tenho nada para fazer nesta sexta à noite e mando
uma mensagem para a minha pinscherzinha.
[Eros: Boa noite, Liz. Me diz uma coisa, o que o modelinho de
vitrine fazia na sua casa?]
Nã o sou emocional, apenas nã o costumo fazer rodeios quando tenho a
mensagem clara em minha mente e coragem suficiente para enviá -la.
Recusei o convite do Luigi para ir a uma festa hoje e estou bebendo em
casa. Sei que ele deve estar saindo com os caras e eles se mostraram uns
desgraçados no dia em que me viram. Prefiro manter distâ ncia e evitar
brigas. Eles me encontraram em um dia de paz, mas hoje podem nã o ter
a mesma sorte.
[Liz: Eu vou te bloquear.]
“Tão carinhosa!”
Se fosse pessoalmente, ela diria isso com o rosto enrubescido, evitando
olhar nos meus olhos.
[Liz: Eu fico impressionada com a sua cara lisa. Desde quando as
visitas que recebo na minha casa são do seu interesse?]
[Eros: Desde que seja o modelinho de vitrine. Quer dizer que você
leva o cara que não tem nada com você para sua casa, mas o que
você está pegando não pode passar da porta?]
Sorrio imaginando a expressã o dela ao ler essa mensagem, mas isso
realmente me irrita. Será que a mã e dela o tratou da mesma forma que
me tratou?
[Mãe: Que bom, querido. Você não quer vir jantar conosco? Seu
irmão e cunhada não estão aqui. Só eu, você e seu pai].
[Eros: Já jantei, mãe. Não estou com vontade de sair de casa hoje].
[Liz: E quem disse que eu e ele não temos nada?].
Me desequilibro e caio para trá s com a cadeira, o celular e a garrafa de
cerveja. O líquido cai bem na minha cara, dentro das narinas, e o
aparelho bate na minha testa antes de escapar da minha mã o. Levanto
agoniado.
“Como assim? Eles têm algo juntos?”
Pego um pano na cozinha e seco meu rosto, limpando também o piso
antes de levantar a cadeira. Por pouco nã o bati a cabeça.
Limpo a tela do celular e leio novamente a mensagem. Só pode ser
brincadeira. Digito a resposta pressionando os dedos na tela de uma
forma fora do comum.
[Eros: Que coisa vocês têm, Liz?]
[Liz: Estamos trabalhando juntos].
[Eros: Desde quando? Que trabalho é esse? Trabalhando... Não me
diga que vai virar modelinho de vitrine também!]
[Liz: Você verá.]
Ando de um lado para o outro incomodado. Ficar me martirizando por
ter sido trocado pelo meu irmã o era menos estressante do que lidar com
essa garota.
“Você verá!”
[Eros: Me diga o que isso tem a ver com ele ir na sua casa? Trabalho
e vida pessoal não se misturam].
Levo a garrafa vazia para pia e pego outra cheia.
[Liz: Minha mãe fez questão que ele fosse. Ela insistiu bastante. Eu
quase não tive escolha. Ela ficou tão feliz quando ele veio!]
Gargalho alto.
Ela quer me provocar. É isso. Se irritou porque apareci de surpresa e
levei uma porta na cara, agora quer inventar essas coisas para elevar a
moral do modelinho.
[Eros: Olha, eu não vou deixar você me fazer de doido não.]
Sento-me na cadeira e desta vez nã o apoio os pés na porta.
[Liz: Eu não sei do que você está falando. Aliás, você nem precisa se
esforçar para se explicar. Não ouse me beijar de novo, nem tocar
onde não deve. Não te dei essa liberdade!].
Liz me faz rir mais do que ninguém.
[Eros: Aham. Ok! Vai lá com o modelinho. Eu quero distância de
você].
Se ficarmos longe, esse tesã o vai acabar. A culpa é toda dela por ter
aparecido no meu caminho naquele dia e por eu ter me deixado levar.
Dizer que nã o me deu liberdade... Nã o parecia, correspondendo a tudo
daquele jeito.
[Liz: Perfeito! Finalmente concordamos em alguma coisa. Adeus!].
“Adeus...”
“― O chefe mandou um presente pra você. ― Um dos presos me entregou
um prato enrolado num pano e antes de pegar, puxei o pano de cima.
Assustado, dei um passo para trás e encarei o conteúdo do prato com o
estômago revirando. Os homens que o acompanhava, riram da minha
cara.
Dentro do prato tinha genitais masculinas escurecidas, como se aquela
pele já estivesse começando a apodrecer.
― Ele disse que se continuar contando vantagens, o próximo a ser servido
será o seu.
― Eu não disse nada! ― Me defendi com a única coisa que tinha, também
era o que me complicava: A minha palavra.
― Vamos embora. ― Alguém me puxou e me afastou do grupo.”

Acordo com o telefone tocando no sá bado e uma leve dor de cabeça. Já


passa das 10h e é o Zac, meu companheiro de treino, quem liga.
― Oi, Zac. ― Atendo com a voz rouca.
― Estava dormindo?
― Mais ou menos.
Se estivesse dormindo e nã o tendo pesadelos, estaria melhor. Até
quando o que aconteceu na cadeia vai me assombrar?
Fazia alguns dias que nã o lembrava desses eventos; minha mente estava
bem ocupada, mas bastou dar uma brecha que os pesadelos voltaram.
― Levanta. Vamos participar de uma corrida.
― Uma hora dessas?
― Eu tive um imprevisto, senão, ligaria mais cedo. No parque. Eu e você,
uma corridinha tranquila.
― Você é a primeira pessoa que me chama para um encontro decente
desde que voltei para casa. ― Levanto e ao colocar os pés no chã o,
espirro.
Ele ri ao telefone.
― Então se arrume e me encontre no parque perto do shopping.
― Combinado.
Espirro mais uma vez antes de desligar e entro no banheiro. Só um
banho para espantar esse desâ nimo de mim. Demorei para dormir,
fiquei rolando de um canto para outro a noite inteira, tive vá rios
pesadelos e o á lcool ao invés de me ajudar a dormir, parece que me
atrapalhou.
Tomo o banho e me visto adequadamente para essa tal corrida. Ao sair
do quarto, encontro Abgail limpando a casa.
― Bom dia, anjo da minha vida. A minha casa nunca ficou empoeirada
tã o rá pido! ― comento indo atrá s de café na cozinha.
― Bom dia, Sr. Werneck. Nã o é só aqui nã o. Tem uma mansã o aqui perto
que está passando por uma reforma. Todo mundo está reclamando que a
poeira está entrando nas casas, nas piscinas. Uma bagunça!
“Ela fez café coado! Eu tenho a melhor secretária do lar. Ainda bem que
ela voltou para mim.”
Derramo um pouco na xícara e experimento. Uma delícia.
― E quando isso vai acabar, hein?
― Dizem que já está perto.
― Você sabe de quem é a casa?
Eu processaria facilmente. Faz semanas que a minha casa anda sendo
consumida!
― A casa da família Brixton.
― Ah, claro, tinha que ser... — O Scott mora no mesmo condomínio que
eu! Nã o basta tentar atrapalhar meus negó cios, ainda atrapalha a minha
saú de com essa poeira toda!
​Termino o café e a deixo tomando conta da casa para encontrar o Zac.
Dirijo tranquilamente até o shopping e deixo o carro no estacionamento
ao lado do parque. Zac está na sua Ducati. Ele é fã de andar de moto.
― Você veio de roupa esportiva na moto? ― pergunto durante o aperto
de mã os.
― Claro que sim. E você, por que está de ó culos escuros?
― Nã o tive uma boa noite de sono.
― Vamos caminhando e você me conta o que anda te incomodando. ―
Ele sai na frente e eu o acompanho.
― Só tive uma péssima noite de sono mesmo. — Desconverso.
― E a nova namorada? Nã o estava com você? — pergunta com
curiosidade.
― Que nova namorada, Zac? De onde você tirou isso?
― Você passou a semana toda falando dela!
― Mas ela nã o é a minha namorada! Eu só estava reclamando e falando
do quanto ela é irritante. Aliá s, já acabamos tudo.
― O namoro? — Debocha.
― Nã o! ― nego irritado.
― Acabaram o que nã o existia?
― Zac! ― O corto, ele sabe ser irritante quando quer.
Termino de atravessar o gramado e chego na pista de caminhada. O
parque é repleto de á rvores e os pá ssaros cantam bem alto, para quem
está com dor de cabeça isso nã o é nada agradável.
― Terminaram o quê? ― Zac questiona, com uma garrafa d’á gua na mã o.
― Nã o vamos mais nos pegar. É isso. Ela está lá , emocionada com o
modelinho de vitrine e eu nã o quero saber mais dessa garota na minha
cabeça. Onde já se viu, Zac! Eu só passei alguns momentos com ela, nem
foi nada prazeroso, mesmo assim ela nã o sai da minha cabeça! —
Reclamo com Zac, afinal, ele é uma das poucas pessoas que sinto
confiança de conversar abertamente.
O beijo no banheiro foi prazeroso, mas antes disso ela já estava
passeando na minha mente, no meio dos meus problemas.
― Deve ser porque ela é linda, parece muito gentil, meiga... as baixinhas
sã o irresistíveis. Sã o muitos motivos.
― Ela é fofa, mas tem o gênio de um pinscher. Eu apareci na casa dela e
você precisava ver como ela falou comigo ao telefone. A mã e dela bateu
com a porta na minha cara.
― Quando foi isso? ― Ele pergunta rindo.
― Ontem.
― O que você foi fazer na casa dela?
― Falar com o padrasto dela. Levei até um perfume para ela. Ela gostou,
mas falou isso no meio dos xingamentos. Disse que sou doido.
Ele continua rindo.
― Eu nunca te vi agindo como um bobo desse jeito. Quando você
chegava, era todo marrento, se a namorada ligava, atendia todo bruto. —
Ele fala da época em que eu namorava a Olívia.
― Eu tinha motivos! E nã o sou bobo. Foi um plano que entrou pelo cano,
mas era muito bom. Só que ela e a mã e dela nã o sã o moleza.
― Complicado. Eu te entendo mais do que ninguém. Tem uma baixinha
de olhos azuis que só sabe me maltratar quando me vê.
Dessa vez sou eu que dou risada dele.
― Pelo menos eu faço alguma coisa. Você é mais parado do que uma
tartaruga!
― Errado. Quando a encontro, de dez palavras que falo, nove sã o
cantadas. Mas ela nã o dá importâ ncia. Eu nã o sei o que fazer. Quando
domar a sua pinscher, me dê a receita para eu domar a minha.
Começamos a rir enquanto corremos.
― Ela nã o quer mais me ver. Me disse até adeus na mensagem.
― Como se isso fosse possível.
Meu telefone toca e fico para trá s para atender. Pego no bolso e o nome
que vejo na tela me agrada.
― Ora, ora, ora... entã o aquilo nã o foi um adeus? ― Atendo sorrindo.
― Sua chance de falar com meu padrasto. A minha mãe não está em casa.
Você tem uma hora. ― Ela fala e desliga.
“O que será que a fez querer me ajudar nisso?”
Eu disse adeus ao Eros e suas perguntas sem cabimento, mas agora há
pouco mandei mensagem falando sobre o Demé trio. Minha mã e acaba
de me deixar com ele, sozinha, em casa e por mais adulta que eu seja e
por maior que seja a confiança que a minha mã e deposita nesse homem,
me engatilhou aquele dia e agora estou na porta da casa, mexendo no
celular e preparada para fugir, enquanto ele prepara cachorro-quente.
Minha mã e correu pra comprar pã es e nos deixou aqui. Diz ele que é
mestre nos molhos e estou curiosa para ver isso, mas preferia que ele
tivesse ido fazer a compra. A padaria mais perto da nossa casa é um caso
à parte. Certamente ela voltará daqui uma hora com esses pã es e eu nã o
quero ficar sozinha com esse homem por uma hora, tampouco posso
deixá -lo aqui sozinho.
Chamei o Eros.
Na hora do desespero, foi no nome dele que apertei, lembrei dele e
espero que ele venha correndo.
Eu pude sentir ele falando bravo nas mensagens que me mandou ontem,
mas hoje, quando atendeu, parecia bem contente. Vai entender o que se
passa na cabeça de um ex-presidiá rio.
― O cheiro já subiu ― Demétrio comenta bem-humorado, usando o
avental da minha mã e.
― É . Cheira bem.
“Que demora... já faz 10 minutos que liguei pra ele.”
― Tá esperando a sua mã e?
― Sim.
― Outro dia, fomos nessa padaria e demorou muito para saímos de lá . O
atendimento é péssimo. Deveria ter mais padarias por perto.
― Pois é. — Concordo plenamente.
Alguém bate à porta e me afasto depressa para abrir.
É ele, de camiseta, bermuda e tênis esportivos e uma caixa de bombom
na mã o.
Nunca fiquei tã o aliviada em ver Eros na minha vida, embora esse alívio
aconteça enquanto meu coraçã o bate freneticamente. Ele está com o
sorrisinho bandido que me preocupa.
― Quem é?
― Eros! Que surpresa! ― Finjo surpresa e felicidade, mas o que sinto de
verdade é alívio.
Nã o estou mais sozinha com o Demétrio.
― Pois é! Eu estava correndo e pensei: Por que nã o levar uma caixa de
chocolates perto do meio-dia pra Liz? Aí eu trouxe. ― Ele beija meu rosto
com vontade e entrega a caixa de chocolate.
Eu fico sem ar.
― Que coisa! Eu estava pensando mesmo em comer chocolate! ―
continuo atuando.
― Conexã o neural. ― Ele entra na casa sem demora e já vai direto no
Demétrio. ― Oi, tudo bem? — Cumprimenta educado.
― Ei! Você nã o é o Eros Werneck? Você também esteve aqui ontem, nã o
foi? — Demétrio se aproxima de Eros enxugando a mã o no avental.
― Sim. Como nã o pude ficar, resolvi aparecer hoje com mais tempo. —
Mente descaradamente.
― Eu conheço a sua empresa. — Parece que a conversa vai para o rumo
que o Eros gostaria.
― E eu sei que você conhece! ― Ele fala empolgado. ― Entã o, o que estã o
fazendo?
― Um molho para acompanhar o cachorro-quente. Sei que o pessoal
prefere ketchup, mas esse molho é receita de família. — Demétrio fala
enquanto volta para a cozinha.
― Agora fiquei curioso!
― Fica mais um tempo que a Lauren já deve estar voltando com os pã es,
você come com a gente.
― Nã o sei se a Liz quer que eu fique. — O descarado me encara.
Ele só pode estar brincando.
― Pode ficar. ― Finjo desinteresse e me sento no sofá .
“Como se ele pudesse sair daqui até que eu queira.”
Nã o me importo de levar bronca da minha mã e se isso me poupar de
ficar sozinha com o Demétrio.
― Eu nã o estava pensando em recusar. ― Eros fala empolgado.
― Entã o, você e a Liz sã o amigos? — Demétrio pergunta.
― Muito amigos. ― Eros responde com orgulho e dou risadas abrindo a
caixa de chocolate.
― Lauren disse que você namorava a sobrinha dela.
“Ele anda informado!”
― Sim. ― O tom de voz de Eros muda.
Olho pra ele enquanto como meus bombons no sofá da sala. Benefícios
de casa com sala e cozinha em conceito aberto.
― Imagino que ela deva ter contado o que aconteceu. — Acrescenta.
― Ela me contou, sim. Bem complicado.
― Pois é. Você entregar seu coraçã o para alguém e de repente, no seu
momento mais difícil, essa pessoa te abandonar e se entregar a outra,
ainda mais a quem deveria ser seu cunhado. Me quebrou. — Eu nã o sei
se ele está atuando ou falando a verdade. Parece tã o exagerado.
― Eu sei como é. Já fui traído. A mã e da minha menina fez isso e eu sofri
demais.
“Uau, por essa eu não esperava.”
― Entã o você me entende. ― Eros coloca a mã o no peito, desconsolado.
― Eu cheguei a pensar que nunca mais amaria ou confiaria em outra
mulher.
“Ele está atuando.”
― Sim! Fiquei anos sem me apaixonar, até conhecer a Lauren. Foi a ú nica
mulher que me passou confiança, mas ainda foi difícil deixar esse
trauma de lado.
O Demétrio nã o parece estar mentindo. Nã o imaginava que ele tinha
passado por isso.
― O pior de tudo é encarar essas pessoas. Estou bem porque nã o os vejo,
se os visse, acho que seria pior. ― Eros diz, aparentemente chateado.
― Sim. É muito pior. Até hoje nã o gosto de ver a minha ex. Quando vou
buscar minha filhinha, tento ser o mais rá pido possível.
― Quando elas entram na nossa cabeça, tudo se torna um inferno. Elas
conseguem tomar o lugar dos maiores problemas que temos. Você nã o
concorda, Demé?
― Concordo.
“Demé?”
Como meus chocolates rindo até que o olhar de Eros me encontra.
― Aí você diz: Se eu nã o vir, eu vou esquecer. Mas elas aparecem toda
hora no seu caminho. Nos eventos, no trabalho, chamam para ir na casa
delas...
“Que cara de pau... está falando de mim!”
― Conviver nã o ajuda em nada o fato de queremos esquecer. Vem todas
as lembranças mesmo que involuntariamente. — Demétrio comenta.
― As lembranças sozinhas ainda dariam pra relevar, mas pior, meu
amigo, é quando acontece de rolar um carinho, um beijo...
Me engasgo com o bombom.
“MERDA!”
― Somos seres humanos frá geis. — Demétrio nem se dá conta que Eros
está na verdade me provocando.
― Muito frá geis, Demé — fala dramá tico e me olhando.
Que vontade de acertar uma trufa dessas na cabeça de Eros.
“Essa situação aqui surgiu na base do desespero! Eu nem queria vê-lo!
Demé...”
― Mas você vai superar, cara. É só aguentar firme. Me conta, como vai a
empresa? O que aconteceu?
Eros muda de postura, fica realmente sério.
― Armaram para mim. Eu nã o sei quem foi, mas conseguiram sujar o
meu nome. Quando saí, muita gente nem queria fazer negó cios comigo.
Inclusive, meu só cio disse que você tinha entrado em contato com ele.
“Ele sabe como conduzir uma conversa! Bom de lábia!”
― Sim! Podemos conversar sobre isso tomando uma cervejinha. ―
Demétrio abre o freezer. ― Infelizmente nã o tem. Se importa de ficar um
instante aqui com a Liz? Eu vou buscar.
― Nã o. Nã o me importo. Liz é uma grande amiga. ― Ele levanta e juntos
vêm para a sala.
“Grande amiga...”
― Entã o eu vou lá . Volto em menos de 10 minutos. ― Avisa saindo e Eros
se senta na poltrona.
Espero até nã o ouvir mais os passos de Demétrio no corredor e levanto
com uma almofada na mã o.
― Grandes amigos?! ― Arremesso em sua direçã o. ― Você é um grande
ator, sabia?
― Que mulher agressiva! Por que me chamou se nã o queria me ver aqui?
Por que nã o chamou o modelinho de vitrine entã o?
― Nã o questione e fique feliz que eu ainda lembrei de você.
― Está tentando me ajudar? ― Eros alcança meu braço e me puxa com
caixa de chocolate e tudo. ― Nã o foi você que me disse adeus ontem?
Paro em frente aos seus joelhos e tento assim ficar.
― Eu disse, porque você falou coisas absurdas naquela conversa, quase
tã o absurdas quanto agora a pouco, quando você estava falando de mim.
― Eu menti? ― Ele encara meus lá bios.
― Mentiu. Quando foi que entrei no seu caminho?
― Todas as vezes que acabamos nos beijando. No dia da reuniã o...
quando eu estava trabalhando... hoje...
― Hoje? ― Dou uma risada e ele se levanta da poltrona, me encarando de
pé.
― Agora. ― Sua mã o envolve meu queixo e ele me puxa para cima,
levando meu corpo de encontro ao seu.
Eu poderia nã o deixar, mas grande parte de mim quer que isso aconteça
e ele completa o caminho, molhando os lá bios antes de me beijar.
― Toda vez que te encontro, meu plano de te tirar da cabeça é estragado.
― Ele sussurra e se senta, me puxando para cima dele, acabo com os
joelhos ao lado do seu corpo, na poltrona.
Mordo os lá bios e olho para a porta, com medo de sermos pegos no
flagra.
Eros parece nã o ter medo de nada, nem de ninguém.
Ele está focado demais em acariciar as minhas coxas enquanto observa a
minha boca.
― Eros, o que conversamos?
― Estou falando sério, Liz. Eu deveria estar preocupado com os meus
só cios, com quem me colocou na cadeia, revivendo as memó rias que
guardo de lá , brigando com o meu irmã o, mas estou mais preocupado se
você anda na companhia daquele modelinho de vitrine, se tá ficando
com ele. ― Desabafa preocupado.
― Mas... foram só duas vezes e faz tã o pouco tempo!
Nã o posso dizer que ele também nã o tem ocupado um lugar na minha
mente e esse questionamento sobre as poucas vezes e tempo é algo que
me questiono também.
― E aí você me ligou e eu larguei meu amigo no parque para vir te ver. —
Ele fala, ignorando completamente o que eu disse antes.
― Me ver ou ver o Demétrio?
Estamos tendo uma conversa enquanto permaneço sentada de pernas
abertas em seu colo. Ele sabe me levar na conversa.
― Digamos que foi 50/50. ― Ele envolve o meu rosto com suas mã os
mais uma vez e me puxa em direçã o a sua boca.
Fecho os olhos e sinto meus lá bios sendo consumidos com paciência e
prazer pelos lá bios dele, suas mã os descem pelo meu corpo até seus
braços me envolverem e sua língua pede passagem na minha boca.
O beijo se torna envolvente, tã o gostoso que nã o dá vontade de parar.
Tanto sua boca me causa sensaçõ es viciantes e maravilhosas, quanto as
suas mã os, que apalpam os lugares mais sensíveis do meu corpo, como
se me conhecessem tã o bem quanto eu mesma me conheço.
Eu nã o consigo recusar nada até entã o, pois tudo é muito bom e, sendo
sincera, eu quero muito que isso continue e com certeza nunca
esquecerei este momento.
Esse é o beijo mais demorado que já dei em alguém e quando parece que
vai acabar, ele ou eu puxa o lá bio do outro e o beijo se intensifica de
novo.
Posso sentir o calor entre nossos corpos, a umidade da minha roupa
íntima e a rigidez do pau dele. Fico com um pouco de medo dele querer
ir até os finalmentes, já que está tã o excitado, mas até entã o ele nã o
disse uma palavra sequer sobre isso.
Nossas bocas nã o se afastam por mais de dois segundos. Ele sobe suas
mã os pela minha cintura e passa debaixo da minha blusa. Sorte que
estou de sutiã , mas nem precisa chegar nos peitos para sentir o tesã o
que é ter esses dedos tocando a minha pele. Toque forte com sua pele
macia.
Suas mã os sã o quentes e grandes. Recupero o fô lego enquanto sua boca
vagueia pelo meu pescoço e ombro.
― Eros... ― quase deixo escapar que isso é muito bom e me excita. ― A
gente tem que parar.
― Que pele cheirosa. Liz... me diga que aquela histó ria é mentira. ― Ele
pede colando sua testa na minha e mordo o lá bio.
Até ouvir a sua respiraçã o forte e sentir o ar batendo na minha pele, me
excita. É como estar nos braços de um predador e sem dú vidas eu sou a
presa.
― Eu nã o menti.
― Nã o fale isso. Meu sonho atualmente é te prender no meu quarto e te
jogar na minha cama. ― Sussurra contra meus lá bios.
Sinto cada mú sculo da minha boceta respondendo a isso com espasmos.
— Você nã o deixa de pensar maldade, nã o é? Nã o foi para isso que eu te
trouxe aqui.
Eros aperta minha bunda com força, fazendo-me esfregar contra seu
corpo e sinto sua ereçã o.
— Esse seu jeitinho me provoca demais... Até onde você já foi?
— O quê?
— Com alguém. Até onde você já foi? — Ele olha nos meus olhos e
continua espremendo cada lado da minha bunda.
Eros tocou no assunto que eu nã o sei encarar na frente dos caras. Eu
sempre fujo sem dar explicaçõ es. Ele foi o primeiro a ouvir da minha
boca.
— Só até aqui. — Sussurro com vergonha de mim mesma.
— Porra... Aquele modelinho de vitrine nã o merece ser o primeiro em
nada disso.
— E quem merece? Você? — pergunto com um pouquinho de sarcasmo.
Eu nã o vou rir disso.
Ele avança em minha boca, desta vez, vem sedento, como um selvagem,
me arrancando o fô lego em segundos e me espremendo contra seu
corpo. Empurro-o e consigo respirar longe da boca dele, mas ainda
recebo uma mordida no queixo.
― Eros!
― Dá vontade de te morder todinha quando você me olha com essa cara
de ingênua.
— Eu nã o sou ingênua. ― Tiro suas mã os de mim e pego a caixa que caiu
em cima dele. Os bombons também caíram e assim que levanto da
poltrona, recolho um por um.
― Só é teimosa feito uma mula. ― Ele pega um dos bombons e come.
― Eu nunca mais te chamo para vir aqui.
― Disse a mulher que ontem me deu adeus... ― Levanta zombando de
mim.
― O pró ximo será pra sempre. ― garanto.
― Aham.
Esse surto de bondade só pode ser uma coisa: Liz sentiu a minha falta.
E nem tenho moral para julgar, já que vim correndo vê-la. Claro que eu
queria muito conversar com o Demétrio, mas na hora da ligaçã o, o
interesse nela falou mais alto.
Ela tem razã o, foi pouco tempo, poucos beijos, nenhum momento que
diga “Ó , que tempo maravilhoso passamos juntos”, mas foi o necessá rio
para essa atraçã o desenfreada surgir.
― Onde fica o banheiro? ― pergunto preocupado com a ereçã o que ela
causou.
― Ali. ― Ela aponta, mas nã o olha para mim.
Saber que ela é virgem é outra coisa que me perturba. E nesse caso, ela
realmente parece muito ingênua. Ficou completamente sem jeito
quando toquei no assunto.
Me tranco no cubículo e tento abstrair toda essa histó ria, da visã o que
tive dela sentada em meu corpo, de como foi bom tocar no corpinho
magro dela, agarrar aquela bunda.
Nã o consigo abstrair.
Pego o celular e ligo para o Zac. Ele sobrou nessa histó ria.
― Oi! ― Ele atende ofegante.
― Ainda está correndo?
― Sim.
― Zac, tira um tempo para descansar, deixa de ser maluco!
― Onde você está?
― Na casa dela. ― Abro uma brecha na porta e vejo Liz comendo os
bombons.
“Eu sempre acerto nos presentes.”
Sorrio vitorioso.
― Você tem razã o, ela é linda e fofa. — admito.
― Eros, o que você está fazendo aí? O homem que queria fazer negócios
está aí? Se está me ligando, é porque as coisas não estão indo bem.
― Ele saiu e estou tomando um ar no banheiro.
― Ah tá. Ar no banheiro. Hum.
― Acho que nã o vai rolar de eu voltar aí. Fui convidado para ficar e
comer cachorro-quente com molho especial do meu novo amigo e futuro
só cio, o padrasto dela.
― Entendo. Sacrifícios precisam ser feitos por coisas maiores.
― Do que você está falando?
― De comer cachorro-quente, é claro. AI!
― O que foi?
― Dei uma topada e o paralelepípedo voou. Depois você me conta sobre a
conclusão de tudo isso aí.
― Ok. E cuidado por onde anda, cara.
Deve ter desligado para chorar. Molenga.
Envio uma mensagem para Kevin, falando que estou conversando com
Demétrio e que as expectativas podem ser criadas.
― Voltei. Cadê o Eros?
― Está no banheiro. ― Liz responde. ― Eros!
Agora já estou normal. Nada como meus amigos para me fazerem broxar.
― Oi! ― Saio do banheiro.
― A cerveja. ― ele mostra a sacola. ― Vamos falar de negó cios?
― Claro. ― Pego uma garrafa para o acompanhar.

Ouvir Eros falando de negó cios para mim é como estar na frente de um
estranho. Nem parece o safado que estava me agarrando agora a pouco.
A conversa deles se prolongou, nã o dei ouvidos a ela por muito tempo,
só relaxei, comendo meu chocolate.
Eros gosta de coisas caras, na tampa da caixa dos chocolates tem o nome
Pierre Marcolini, e daí eu já tiro que chocolate que leva nome de gente
nã o deve ser barato. Se as roupas que levam só o sobrenome já sã o
caras, imagina um chocolate maravilhoso desses?
Quando estou na metade, a minha mã e chega com os pã es e seu olhar
bate na caixa na minha mã o e no Eros sentado na cozinha.
― O que está acontecendo aqui?
― Demétrio e Eros estã o numa reuniã o.
― Uma reuniã o?
― Com cerveja e conversas sérias. ― Completo.
E eles conversam tã o concentrados que o coroa apaixonado nem repara
na chegada da minha mã e.
― Quem chamou ele aqui? ― Ela pergunta com os olhos semicerrados e
empurro uma trufa na boca, depois estendo o braço com a caixa de
chocolate.
― Quer? Sã o uma delícia.
― Lauren! ― Demétrio me salva e ela desmancha a cara de brava na
mesma hora, e ainda sorri.
― Oi. Voltei! — avisa, como se nã o parecesse ó bvio.
― Convidei o Eros para uma cerveja e para comer o cachorro-quente
com a gente. Tudo bem?
― Sim.
“Não parecia tudo bem até alguns segundos atrás.
Mas espera, Demétrio está me tirando do problema?”
― Convidou? — Minha mã e questiona enquanto coloca as compras no
balcã o.
― Sim. Ele estava de passagem e o convidei.
“Mentindo não está. Foi essa desculpa que Eros usou.”
― Hum. Fique à vontade entã o. ― Ela fala sem dar muita moral para o
convidado e os dois voltam a falar de negó cios.
Mamã e sacode o braço, me chamando na cozinha e deixo meus bombons
para trá s.
― Me ajuda com os pã es. — Pede parecendo incomodada e eu me seguro
para nã o rir da situaçã o.
Pego uma bacia no armá rio e separo pã o por pã o para ela cortar.
― Você falou com o Ed hoje?
“Que pergunta aleatória!”
― Nã o. — Nem tenho motivos para isso.
― Deveria ter convidado o rapaz para vir comer do molho especial do
Demétrio. Aquele rapaz é tã o gentil. Gostei tanto dele.
Olho para Eros e ele está de olho na nossa conversa.
― Nã o é assim, mã e. Nã o posso ligar e simplesmente chamar.
Eros pigarreia.
― Mas eu tenho certeza de que ele viria. E viria feliz.
Continuo separando os pã es. Ela comprou muitos.
― Depois de todas aquelas perguntas que você fez? Duvido. Ele deve ter
saído daqui achando que a senhora queria me casar com ele.
Demétrio dá risada.
― Que foi, Demétrio? — Minha mã e pergunta desentendida.
― Ela tem razã o. Você estava vendendo a sua filha — responde rindo.
― Demétrio! ― Ela reclama com ele e dou risada.
― Você já conheceu sua cunhada? ― Eros pergunta a Demétrio se
referindo a tia Adaline.
Ele nã o sabe ficar quietinho no canto dele.
― Ainda nã o. Você conhece? Ah, foi sua sogra! — Demétrio solta ainda
sorrindo.
― Sim e ela também é ó tima vendendo a filha. — Ironiza.
― Vai ver é de família ― comento rindo.
A minha mã e tem que parar. Fiquei com muita vergonha quando ela
ficou fazendo perguntas íntimas ao Ed e falando que foi o primeiro rapaz
que trouxe para cá .
― Eu só “vendo” a minha filha para quem eu acho que merece e aquele
rapaz me conquistou. — Se defende.
― Você deveria se preocupar com isso, Demétrio ― aviso depois de ouvir
o “me conquistou”.
― Pois é. Como vou competir com um rapaz de vinte e poucos anos?
― Você entendeu o que eu disse! ―Ela acerta uma bofetada nele rindo.
― As mulheres desse lado da família sã o agressivas, nã o é? ― Eros
comenta olhando para mim e reprovo seu comentá rio.
― As coisas aqui funcionam diferente do que você conhece do outro lado
da família. ― Mamã e esclarece para ele. ― Aqui cretinos nã o tem vez, nã o
é filha?
― Nã o mesmo. ― Garanto lembrando de que tipo de cretinos falamos. ―
Já temos pã es suficientes. Eu nã o vou conseguir comer nem dois!
― Mas também, depois de meia caixa de chocolate... ― Eros rebate.
Culpa da ansiedade e dele!
― Vamos ao que interessa, quero provar desse molho. ― Mamã e coloca a
bacia com os pã es em cima do balcã o e a panela com as salsinhas
também. Ela se senta ao lado de Demétrio e acabo sentando ao lado de
Eros.
Hoje é um dia tã o diferente quanto ontem, quando Ed esteve aqui.
Faço meu cachorro-quente e coloco um pouco do molho que Demétrio
fez. Realmente, a mistureba dele é muito boa. Todos aprovamos e comi
mais de um, banhado ao molho caseiro.
― Faz muito tempo que nã o como algo assim. ― Eros conta.
― Na sua casa nã o fazem? Na casa dos seus pais? ― pergunto.
― Eu moro sozinho e quando como fora nã o costumo pedir isso.
Também nunca fiz. Na casa da minha mã e pior ainda. Ela nã o costuma
consumir ultraprocessados. — Esclarece.
― Tinha esquecido que a sua mã e e a minha irmã tinham essas coisas
em comum. ― Mamã e comenta. ― Quem dera eu pudesse comer só coisa
chique e saudável.
― Quem sabe um dia, mã e. ― Sorrio pra ela.
Agora com meus trabalhos, as chances de comer coisas diferentes é
maior.
― O cachorro-quente pode nã o ser saudável, mas é delicioso. ―
Demétrio fala rindo.
― Com esse molho, mais ainda. ― Eros completa.
― A receita pode ser passada? ― Mamã e tira as palavras da minha boca.
― Infelizmente é segredo de família. — Demétrio brinca.
― Liz, você nã o ficou olhando o preparo nã o? — Mamã e pergunta
sorrindo da situaçã o.
― Nã o!
“Estava ocupada sentindo um medo descomunal de estar com ele sozinha
em casa.”
― Liz estava ao telefone na porta. Só sentiu o cheiro.
Enquanto ele preparava, eu esperava por Eros.
― Pois é, mas agora que vocês sã o namorados, você pode fazer mais
vezes desse molho para gente. — Contanto que minha mã e nã o me deixe
sozinha com ele, por mim ele pode cozinhar sempre que quiser.
Eles se encaram sorrindo.
― Entã o você aceita nosso namoro? ― Ela pergunta tentando ficar séria.
― Eu tenho outra opçã o? — Dou de ombros.
― Eu prometo que farei a sua mã e feliz. ― Demétrio diz feliz e beija o
rosto dela.
Até que sã o bonitinhos.
Eros aperta a minha coxa e paro de assistir o casal para olhar pra ele,
que sorri e larga a minha perna.
Agora quem pareceu alguém ingênuo foi ele.
Quando terminamos o lanche, ele diz que vai embora e Demétrio o
acompanha até a porta.
― Obrigado pela tarde. — Eros se despede.
― Foi um prazer! E como eu disse sobre os negó cios, vou ver como ficará
com a outra empresa e te falo.
― Espero que trabalhe conosco — diz no seu modo CEO.
“Como pode ser tão lindo e gostoso?”
― Eu vou acreditar que você nã o chamou esse rapaz aqui só para nã o
ficar sozinha com o Demétrio. ― Mamã e diz baixinho.
Me calo para que ela continue acreditando.
― Você fez alguma maldade? ― Kevin pergunta preocupado.
― Seria mais legal fazer como o Zac e perguntar se passei a noite num
spa com uma massagista andando sobre minhas costas e uma
quiroprata colocando cada osso meu no lugar.
― Você parece feliz. Só te vejo assim quando se arrisca em algo absurdo.
Aí você diz: "Foi muito bom. Você deveria fazer."
― Nã o foi bem assim. Embora, quando vi a mã e dela chegando, senti um
flashback passando diante dos meus olhos.
Ele suspira.
― Está apaixonado.
― Nã o. Estou interessado em alguém. No mais alto nível de interesse.
― Apaixonado. Totalmente apaixonado.
― Paixã o é uma palavra muito forte. O que você queria me dizer?
― Queria saber sobre o Demétrio.
― Ele nã o citou nomes, mas eu entendi o recado. Disse que passou a
administraçã o de uma das empresas, mas vai ver como as coisas vã o
ficar, se ele vai vender as açõ es da empresa dele para este outro
empresá rio ou para mim. Concluí que falava do Brixton.
― Entã o as coisas estã o mais encaminhadas para o Scott do que para
você.
― É . Basicamente isso, mas pode mudar. A empresa dele é uma
multinacional. Ele disse que teve alguns problemas nos ú ltimos tempos
e alguns só cios estã o se retirando.
― Você gosta de fazer investimentos, poderia insistir mesmo e fazer
parte disso.
― Pois é. Quando se recuperar, o retorno pode ser grande. Nã o viu a
campanha da Marie & Marie?
― Sim! Falando nisso, você viu a nova campanha? — ele pega o celular.
― Tenho medo toda vez que você pega seu celular.
― Aquela foto foi tirada pelo meu filho ― explica rindo.
― Manda exorcizar. Eu nã o precisava de uma foto sua dormindo. Tive
pesadelos com aquilo.
― Olha. — ele me mostra o verdadeiro pesadelo.
Liz e o "modelinho de vitrine" juntos em uma foto cheia de poses, com
fundo branco e muita maquiagem e luz.
― Quem postou essa atrocidade?
― A Marie & Marie. É a nova campanha. Essa menina me parece familiar.
― Claro que é familiar. É a Liz! A LIZ!
― Verdade! A Liz, novo amor da sua vida!
― A Liz! E esse... esse... ― levanto nervoso. ― Quem teve essa péssima
ideia para eles?
― Deve ter sido a diretoria de marketing junto com a equipe.
Saio do escritó rio em direçã o à loja.
― Eu deveria ter ligado os pontos. Ela estava sentada bem no banco em
frente a essa loja! Disse que tinha negó cios.
― Você nã o vai fazer nada, nã o é? ― ele vem atrá s de mim.
― Vou sim. E você volte para o escritó rio. Em breve, conto o desfecho
disso.
Era só o que me faltava, uma propaganda da Liz com esse cara bem em
uma das minhas empresas. Eu tenho 50% desse lugar e eles têm que me
ouvir.
Entro e pego as vendedoras desprevenidas. Se maquiando na hora do
trabalho.
― Cadê o gerente, ou diretor?
― Bom dia, Sr. Werneck. Ele está no escritó rio. ― uma delas fala sem
graça.
― Com licença. ― vou ao encontro dele e entro na sala sem aviso prévio.
Espremendo acne.
Eu nã o sei se eles estã o no trabalho certo ou errado.
― Senhor Werneck! Que surpresa!
― Nã o sei por que a surpresa. Meu escritó rio fica nesse prédio, no
mesmo andar.
― Mas é que o senhor nunca vem aqui. Só quando tem algo muito sério.
Sente-se. ― Ele mostra a cadeira e se ajeita em seu lugar.
― Pois é. ― Me sento. ― Eu tenho algo muito sério para falar. Quem teve
a ideia de fazer aquela campanha absurda?
― A campanha? Absurda? A atual campanha?
― Essa mesma!
― Foi a equipe. Nó s sempre procuramos jovens em evidência para
participar da campanha e vimos aquela moça e o Ed Banks. Dizem por aí
que eles namoram. Entã o, achamos uma boa ideia juntá -los e eles
concordaram.
― Péssima ideia. Ideia horrível. Horrorosa. Cancele. Só cancele.
― Mas Sr. Werneck, a campanha saiu hoje e já é um sucesso! Os tênis que
a Srta. Stuart usou nas fotos de fundo vermelho, minhas preferidas, já
estã o esgotando nas lojas de toda a cidade!
― Cancele. Nã o quero ver nada sobre isso em lugar nenhum. Vocês têm
até amanhã . ― Levanto, dando esse assunto por encerrado.
― Eu vou falar com a diretoria geral e pedir que analisem o seu pedido.
― Nã o é um pedido, é uma ordem, e sei que o Presidente irá acatar. ―
Saio da sala ainda nervoso com isso.
Está passando nas TVs da loja! Ao sair no corredor, vejo o comercial
deles se divertindo com bexigas passando nas TVs da loja de
eletrodomésticos.
― Só pode ser um castigo.
Volto para o escritó rio e encontro Kevin com a cara no celular.
― Será que tem um tênis desse aqui para criança? ― Ele vira o celular
com a foto do "modelinho" e tento me conter para nã o atirar o celular
dele no chã o.
― Procure na loja, porque essa propaganda nã o vai durar muito.
― O que você fez, Eros?
― Mandei cancelar. ― Entro na minha sala e ele vem atrá s.
― Eu nem vou perguntar por quê. Você, quando se apaixona, enlouquece.
― Ele sai e tranca a porta.
“Que seja. Quero que essa propaganda suma do mapa.”
Depois do que aconteceu em minha casa, eu e Eros nã o nos falamos
mais. Já se passaram três dias.
Nã o vou mentir dizendo que nã o gostei do que aconteceu. Na verdade,
ainda estou em êxtase com tudo. Foi algo muito inesperado, fora do meu
controle e muito bom.
Eros é imprevisível. Só porque eu nã o lhe dou atençã o, ele vem atrá s de
mim como um cachorrinho. Ter alguém com um histó rico como o dele
agindo assim comigo é satisfató rio. O jogo virou para o embuste.
O beijo é bom, a pegada também, mas isso nã o é suficiente para me fazer
cair de amores. Já me apaixonei por bem menos, só porque a pessoa me
passava uma boa impressã o.
Mesmo assim, fico eufó rica quando o vejo, e hoje corro o risco de
encontrá -lo, pois me chamaram na loja. Deve ser para falar do sucesso
que é a campanha. Eu e Paige passamos os ú ltimos dois dias
comemorando, pois ela começou a rodar na segunda-feira e já é um
sucesso.
Nunca imaginei que chegaria ao ponto de tirar fotos para lojas como a
Marie & Marie e aparecer nos comerciais de TV, estampando outdoors e
banners na loja.
Vamos juntas de Uber até a loja.
― Será que eles vã o dar um bô nus porque a campanha é um sucesso? ―
Ela pergunta empolgada.
― Seria muito bom.
Eles já pagaram e foi surreal. Me senti rica por algum tempo, pois nunca
tinha colocado as mã os em tanto dinheiro.
Eu nã o contei para ela sobre a visita do Eros à nossa casa. Sei que ela
perguntaria por que eu o chamei lá . Conheço a Paige e ela nã o cairia no
papo de "eu estava passando e resolvi comprar chocolate e te dar". Acho
que nem o meu padrasto caiu, ele fingiu, mas depois que Eros foi embora
no sá bado, ele o defendeu e parecia até que queria que a minha mã e
aceitasse o rapaz.
Quando chegamos em frente à loja, entramos e somos bem recebidas
pelas vendedoras, mas nã o vejo meus vídeos passando na TV, e sim os da
campanha antiga.
Entramos no escritó rio e encontramos nosso amigo careca com cara de
enterro.
― Tudo bem? Sentem-se.
Me sento e Paige fica atrá s de mim.
“Será que eu fiz alguma coisa de errado ou ele só não está num bom dia?”
― Eu chamei vocês aqui por um motivo nada bom. ― Ele entrelaça os
dedos e se apoia na mesa. Eu e Paige nos encaramos preocupadas. ―
Acontece que mesmo com o sucesso da campanha, um dos só cios da
empresa exigiu que ela fosse retirada de circulaçã o.
Arregalo os olhos, surpresa com a notícia.
― Um só cio? Esse cara tem todo esse poder? ― Paige pergunta, enquanto
nã o encontro sentido em retirar uma campanha de sucesso de
circulaçã o.
― Ele é dono de 50% da empresa — conta contrariado.
― E o que os outros 50% acharam disso? — questiono.
― Eles nã o discordaram.
― Mas o que eu fiz de errado? ― pergunto inconformada. ― Se foi um
sucesso, por que ele nã o gostou?
― O Sr. Werneck só disse que deveria tirar o mais rá pido possível.
― De qual Sr. Werneck estamos falando? ― pergunto curiosa.
“Não pode ser aquele cretino que sempre implica com o Ed.”
― O Sr. Werneck. Eros Werneck.
Olho para minha amiga e levanto com o sangue fervendo.
― Eu já sei o motivo. Com licença. ― Saio da sala com a intençã o de
encontrá -lo e quem sabe tirar sua vida com minhas pró prias mã os.
― Liz, espera! ― Paige vem atrá s de mim. ― Para onde você vai?
― Vou falar com aquele egoísta desgraçado. Já volto.
― Ok. Entã o... pega ele, frita ele e faz purê!
― É isso que eu quero ― murmuro furiosa.
“Ele não tinha esse direito. Não tinha!”
Chego no escritó rio e uma garota se levanta.
― Olá ! Você tem alguma reuniã o marcada?
― Eu vou marcar. Vou marcar a cara do seu chefe. ― Acerto um chute na
porta do escritó rio e ela se abre, pegando o cretino de surpresa. Ele se
assusta e levanta.
― A maçaneta ainda funciona, sabia? É o jeito civilizado... — Nã o deixo
ele nem terminar sua frase.
― EROS, VOCÊ NÃ O TINHA ESSE DIREITO! NÃ O TINHA! — Grito
enfurecida.
Ele suspira e se senta.
― Já sei, veio reclamar da campanha... — Desdenha do meu trabalho.
― Como você fala assim? Você está agindo como um burguês babaca!
Eros, era um trabalho!
― Eu nã o queria ver aquilo. Estava nas TVs, nas ruas, até na minha casa
tinha foto sua com aquele cara!
― Sim, esse era o objetivo da campanha! Aparecer em todos os lugares
para vender. Estava sendo um sucesso até você estragar, seu babaca
egoísta! ― Pego um enfeite na mesa e arremesso contra ele, que se
protege com os braços e mesmo o objeto de porcelana batendo nele, só
quebra quando cai no chã o.
― Você enlouqueceu, Liz?
― Enlouqueci! Por sua causa! Estava dando tudo certo até você se meter.
― Cinquenta por cento da empresa é minha e se eu nã o gosto de uma
coisa, eu vou falar e fazer minhas exigências. Se acostuma!
― Eu nã o vou me acostumar com isso!
― Você já pegou a grana. Nã o era disso que você precisava? Ninguém vai
tomá -la de volta.
― Nã o é somente o dinheiro. Esse trabalho me abriria muitas portas. Eu
sei que para você é besteira, mas para mim é uma oportunidade. E você...
você é todo errado e eu nã o posso ficar com você. Você sabe disso. Por
que vem atrá s de mim? Você fez isso por ciú mes! Você sabe que eu nã o
sou sua. Nã o sou uma propriedade, você nã o pode controlar a minha
vida, entã o pare de se meter!
― Eu nã o quero controlar a sua vida. ― Ele levanta e apoia as mã os na
mesa. ― Eu só odeio o fato de você dar moral para aquele cara e ainda
sair em fotos e vídeos com ele.
― Tá na cara que você só vem atrá s de mim para alimentar o seu ego.
Cismou comigo? É por que eu sou prima da Olívia?
― Você sabe que nã o.
― Entã o o que é, Eros? ― Imploro por uma resposta.
― Eu quero você, Liz. Eu já disse isso na sua casa.
Balanço a cabeça em negaçã o.
― Você passou dos limites comigo. Mexer no meu trabalho por causa de
ciú mes... ― Desabafo perplexa com o descontrole dele e o vejo baixando
a cabeça. ― Eu disse que da pró xima vez seria um adeus definitivo. Nã o
me procure mais, nem interfira na minha vida, Eros. Você nem faz parte
dela e já causou um caos. Chega! ― Me retiro do lugar.
― O que foi isso, Eros? ― Kevin chega apavorado.
― O resultado da merda que eu fiz. ― Reconheço, mas me recuso a me
arrepender.
― Que merda?
― Cancelar a propaganda. A Liz veio aqui furiosa.
― Aprendeu? Nã o se mexe em time que está ganhando. A propaganda
estava indo bem até você se meter nisso. Agora perdeu o dinheiro e a
garota.
Vejo que meus antebraços ficaram com marcas do enfeite que ela
arremessou contra mim. Estã o vermelhos.
― Some daqui, Kevin.
― Vai perder a garota por causa desse ciú me idiota.
― Eu nã o vou voltar atrá s.
Por mais que a forma como ela acabou de falar comigo tenha me pegado
desprevenido e suas palavras tenham me acertado mais forte que o
enfeite que ela jogou em mim, nã o voltarei atrá s na minha decisã o.
Ele desiste de falar e vai embora.
Eu nunca a vi tã o brava como hoje. Entrou chutando a porta, falou tã o
séria quando disse que nã o queria mais saber de mim. Nã o temos nada
sério, mas existia alguma coisa, eu sei que existia, mas agora nã o existe
mais nada entre nó s. Ela disse que era um adeus definitivo e mesmo eu
sendo um cara de pau em certas situaçõ es, reconheço que dessa vez eu
perdi e nã o adianta ir atrá s.
Ela está furiosa e eu tenho medo do que mais ela pode fazer por conta
dessa revolta.
― Você veio. ― Luigi fala animado.
― Vim, mas achei que numa quarta-feira você estaria assistindo TV, sei
lá , qualquer coisa menos com a casa cheia de gente.
― Nã o está cheia. Sã o só alguns amigos e nã o é uma festa. É uma reuniã o.
Tem um rapaz e duas garotas na cozinha, no sofá maior tem dois casais e
no tapete tem três garotas. Sem contar nas que devem estar conhecendo
a mansã o.
― Isso para mim é cheio, e de novo, você deveria rever essas coisas de
amizade, Luigi. Sempre chama desconhecidos pra sua casa.
― Eu conheço todo mundo e você também conhece ao menos alguém
aqui. Harper, vem cá . ― Ele chama uma garota e realmente, essa eu
conheço.
Harper é novinha, deve ter seus 18 anos e eu já fiquei com ela quando
ainda namorava a Olívia.
― Eros Werneck. Quanto tempo! ― Ela vem me cumprimentar.
― Pois é. ― Sorrio educadamente e beijo seu rosto.
― Diga se nã o lembra dessa? — Luigi já está alegre demais.
― Claro. — Esse rosto pequeno e longo, esses cabelos loiros enormes e
principalmente a diferença de cor de um olho para o outro, formam um
conjunto difícil de esquecer.
― Pois, fique à vontade. Mi casa é su casa.
Harper ri.
― Estamos assistindo Master Chef. Você nã o quer sentar com a gente?
― Pode ser. ― Dou de ombros e me sento numa das poltronas vazias.
Ela se senta no chã o, ao lado das outras e nã o escondem que estã o
falando de mim.
Depois do barraco que Liz fez mais cedo, fiquei o dia todo remoendo
esse assunto e quando cheguei em casa, me senti sufocado. Entre ir na
casa da minha mã e e correr o risco de me estressar mais e até encontrar
quem nã o quero ver, preferi aparecer na casa do Luigi.
Bebidas e conversas que nã o levam a lugar nenhum me parecem uma
boa distraçã o no momento.
Quero esquecer o que sinto pela Liz, quero esquecer essa histó ria de
comercial, esquecer do modelinho de vitrine. Preciso virar mais uma
pá gina.
Está na cara que por mais diferente que essas mulheres da família Stuart
sejam umas das outras, no fim, todas elas sã o complicadas e eu já
deveria ter aprendido com a primeira.
Ela me fez esquecer da prima, mas ocupou um lugar maior em mim.
― Eros, você nã o quer uma bebida? ― Harper pergunta.
― Quero.
― Whisky ou Vodka?
“Eu ia pedir café. Será que estou ficando velho?”
― Pode ser Whisky.
Ela levanta com seu conjunto laranja, de short curtinho, e vai buscar.
Nã o seria errado eu ficar com ela, já que agora estou solteiro e levei um
pé na bunda da garota que nem minha namorada era.
― Eros, você tem compromisso no pró ximo sá bado? ― Uma das meninas
que ficou no tapete pergunta. Todas elas sã o gatas. Morenas e loiras
lindas.
― Sá bado? Com certeza nã o.
― Pois temos um convite pra te fazer. Na verdade, a Harper tem.
― Hum... ― fico curioso e Harper volta com o copo de whisky.
― Convida o Eros, Harper, para o sá bado. Vai ser legal.
― O que tem no sá bado? ― pergunto e em seguida tomo um pouco da
minha bebida.

― A gente nã o devia ter deixado para comprar presente de ú ltima hora


― comento com mamã e. Estamos prontas para a festa da filhinha do
Demétrio e nã o compramos nada para levar de presente.
― Admito que desleixei nessa parte. ― Ela olha comigo a bancada de
maquiagem na loja de cosméticos.
― Ela é filha de rico, deve ter tudo. Quantos anos ela tem? — pergunto.
― Deve ter uns 12, sei lá . É o que aparenta na foto que o Demétrio deixa
na mesa dele — diz confusa.
― Mã e, você é recepcionista e assistente do escritó rio do homem.
Deveria conhecer a vida dele do avesso e ainda supõ e a idade da
menina?
“Como vamos dar um presente para alguém que nem ao menos sabemos a
idade?”
― Eu fico sem jeito para falar dessas coisas. Mas ele fala com ela como se
fosse uma criança, entã o é uma criança, com certeza.
― O que uma criança de 12 anos gosta? ― Me pergunto. ― Acho que seria
legal dar maquiagens mesmo.
― Vamos levar quais? ― Ela é mais indecisa do que eu.
― Vamos fazer um kit com as melhores que tiverem por aqui, pedimos
para embrulhar para presente e levamos.
― É . Eu gosto desse batom. ― Ela levanta um cintilante marrom.
― Isso daí estava na moda em 2001. Acho melhor escolher coisas mais
atuais. ― Sugiro rindo e ela ri comigo.
― Me chamou de ultrapassada?
― Com todo respeito.
​Escolhemos o presente e depois de pagar e embrulhar, vamos de Uber
pra o local da festa. Mamã e disse que os pais nã o concordaram em que
casa fariam, por isso, foram para um terceiro lugar. Um espaço de festas
que fica dentro de um condomínio.
​Depois de mostrar os convites aos seguranças, acessamos a á rea da festa
e eu e minha mã e nos encaramos diante da decoraçã o rosê e nem um
mísero indício de que é uma festa de pré-adolescente.
​― Como isso pode ser uma festa de 12 anos? ― murmuro para ela.
A festa tem algumas bexigas, mas até entã o só vejo adultos e jovens
maiores de dezesseis. Nenhuma criança.
Damos uma volta pelo salã o e encontramos o bolo com velas de 19 anos.
― Garotas de 19 anos também usam maquiagem. — Minha mã e ri sem
graça.
― Ela deve usar Chanel, Mac ou sei lá ... nada que encontraríamos onde
compramos essas aqui.
― Nã o temos nada a fazer agora, filha.
― Joga a sacola da loja fora e vamos entregar só o embrulho. Ela deve ter
ganhado tanta coisa que nem vai saber quem deu o quê. ― Tiro o
presente da sacola que carrega a logo da loja e ela a amassa e se afasta
para sumir com o problema.
Eu nã o conheço nenhuma dessas pessoas. Nem a filha do Demétrio eu
sei quem é.
Todo mundo está tã o bem-vestido. Ainda bem que usei um dos vestidos
que ganhei na campanha da Marie & Marie. É dourado e um pouco brega,
mas o tubinho ficou bonito no meu corpo e antes do caó tico Werneck
acabar com a circulaçã o da propaganda, esse modelo já tinha esgotado
nas lojas.
Eu nã o conheço ninguém, mas as pessoas me conhecem.
― Oi, Liz? Se importa em tirar uma foto comigo? ― Uma garota pede.
― Claro! ― Fico ao seu lado e tiramos uma selfie. ― Me marca, para eu
repostar.
― Sério? ― Ela fica surpresa com o pedido.
― Sim, claro!
― Tá bom. Você está linda. ― elogia empolgada.
― Obrigada.
Nã o me acostumo a receber elogios.
Depois dela, mais gente me reconhece, mas nem todo mundo vem falar
comigo e mamã e volta acompanhada de Demétrio.
― Que bom que veio, Liz! ― Ele me cumprimenta.
Ficar em casa e perder comida de graça nã o faz o meu perfil.
― Ela insistiu ― digo apontando para minha mã e.
― Pena que nã o chamou o Ed pra vir também.
“De novo isso.”
― Me poupe, mã e. Ele nã o é nada além de um amigo. — Corto esse
assunto de vez.
Um amigo que depois do que aconteceu com nosso trabalho, fica
puxando assunto todos os dias. Eu gosto de conversar com ele. Nã o é
nada profundo e a maior parte dos assuntos sã o sobre o mercado de
moda, publicidade e redes sociais.
Ele me chamou pra jantar na sua casa, mas eu dei uma enrolada. Ele diz
que quer retribuir a tarde que passou com a gente, mas acho que seria
demais para mim conhecer a família dele. Sei lá , se forem como a minha
mã e? Nó s nã o temos nada.
Já foi estranho demais a mã e do Eros me seguindo de carro.
― Onde está a aniversariante? ― pergunto curiosa.
― Ela disse que ia receber um amigo que foi convidado de ú ltima hora,
mas já vem.
― Ah, sim.
― Fique à vontade. Os garçons estã o servindo, tem algumas mesas ali
atrá s e se você quiser sentar em algo mais confortável, eles colocaram
sofá s em todo canto.
― Estou vendo ― digo admirada.
A festa está um luxo. Chiquíssima.
Um garçom aparece com uma bandeja de finger food e nos oferece.
― O que sã o essas bolinhas pretas? ― Aponto para a comida que mais
me atraiu.
― Caviar.
― Hum... ― Pego um desses para experimentar e outro com salmã o.
Como o de caviar primeiro e ainda bem que tem pouco disso, pois o
gosto amargo e de peixe nã o me agradou. E apesar do salmã o ser um
peixe, estou mais acostumada com o sabor, entã o o laranjinha me agrada
mais.
― Pai! ― Alguém chama e olhamos na direçã o da voz.
“Essa é a filha dele? Por que ela anda ao lado do Eros?”
Mal consigo analisar a garota porque a minha atençã o vai toda para ele e
recebo o seu olhar de volta.
Eu fiquei com tanta raiva dele na quarta passada, que se ele sumisse do
mapa, para mim estava ó timo. A raiva ainda está em mim, tanto que meu
corpo enrijece enquanto ele se aproxima.
Ele nã o parece feliz em me ver também.
― Nã o acredito que o seu amigo é o Eros! ― Demétrio comenta sorrindo
para eles.
― Vocês se conhecem? ― Ela pergunta surpresa.
― Claro. O seu pai me deixou experimentar o seu molho de cachorro-
quente delicioso outro dia. ― Eros foca neles e fala animado.
“Foi a primeira e última vez que você experimentou esse molho em meu
território.”
Eles se cumprimentam e Demétrio nos apresenta a sua filha.
Ela parece uma Barbie, mas os cabelos sã o num tom de loiro mais escuro
e ela tem heterocromia.
“O que Eros faz ao lado dela mesmo?”
― Eu nã o acredito que você veio para minha festa! ― Ela se empolga
quando me cumprimenta.
― A minha mã e namora o seu pai — digo como se parecesse ó bvio o
meu motivo de ter vindo.
― Meu Deus, isso é tã o legal! Eu te vi na TV, você estava linda. Uma pena
que o comercial nã o passou mais.
― Pois é. O abuso de poder de uma pessoa tirou a propaganda do ar, mas
eu adorei fazer — nã o consigo deixar de alfinetar Eros.
― Eu queria um vestido desses, mas já tinha acabado na loja.
Olho para minha mã e.
― Se eu soubesse, teria trazido esse de presente. ― Entrego o presente
que compramos.
Confiamos numa foto de escritó rio. Claro que poderia ser de qualquer
ano. Será que a minha mã e nã o analisou ao menos a cor do cabelo e
sobrancelhas do amado dela? Ainda nã o deveriam ter fios brancos na
foto e facilitaria supor a ideia. Ou simplesmente perguntar.
― Ah, obrigada pelo presente. Nem abri, mas já amei! ― Ela fala
empolgada. ― Fiquem à vontade. Eu vou guardar o presente e já volto.
Eros, você quer uma bebida?
― Deixa que a gente se vira. ― O pai dela fala, rindo para Eros.
“Era só o que me faltava mesmo, Eros aparecer aqui.”
― Vocês sã o só amigos? ― Demétrio faz a pergunta coringa.
― É . Digamos que sim — responde com a maior cara de pau.
“Digamos que sim... Isso é tão suspeito.”
Ele descobriu quem era meu padrasto, poderia muito bem saber quem
era a filha dele e fazer isso tudo acontecer. Eu nã o o quero por perto,
mas ela quer e o pai dela é quem ele quer ter por perto. Situaçã o bem
favorável para ele.
― Vamos tomar um whisky? Trouxe um The Macallan para embalar o
estô mago.
“Embalar com whisky? Eu embalo com comida.”
― Vamos. ― Eros o acompanha, todo vestido de social, camisa, calça,
colete e sapato, de preto dos pés à cabeça, sempre com os botõ es da
camisa abertos, mostrando essas benditas e sexy tatuagens.
“Que raiva!”
É terrível odiar gente bonita e ela nã o ficar feia por causa disso.
― Sobramos.
― Pois é. ― Concordo com a minha mã e.
― Ela parece boazinha, nã o é? — comenta sobre a sua “enteada”.
― Aham. ― Fico olhando para a filhinha junto com a minha mã e.
― Você acha que ela gostou de mim?
― Acho que quando o Eros nã o estiver no mesmo ambiente, você vai
saber se ela gosta ou nã o.
Ela deu mais atençã o a mim, mas enquanto se aproximava ao lado dele,
parecia deslumbrada com sua companhia.
― Essa menina é doida. Nã o sabe com quem está se metendo. Vai ser
igualzinho a Olívia. Você vai ver. ― Mamã e garante.
― Vamos tomar alguma coisa. Já vi que essa festa será demorada. ―
Analiso já cansada.
Aceitei o convite de Harper para seu aniversá rio. A galera toda veio, o
Luigi se atrasou, mas chegou, e me surpreendi quando cheguei e
descobri de quem ela é filha, enteada e fã .
Liz parece que ainda está brava comigo. Ela está parecendo um
embrulho de presente nesse vestido feio, que só deve ficar bonito no
corpo dela.
Nã o planejei nada disso. Desde a ú ltima quarta-feira, tenho feito de tudo
para me distrair e tirar da minha cabeça a cena dessa baixinha nervosa
comigo. A ú ltima pessoa que eu esperava encontrar nesse aniversá rio
era ela. Toda vez que Demétrio me encontra, fala “que mundo pequeno”
e sou obrigado a concordar.
― Quem diria que aquela garçonete ganharia a fama que tem hoje, hein,
Eros? ― Luigi comenta comigo e olhamos para o enfeite de Natal em
forma de gente, que toda hora é abordada por alguém.
― Pois é.
― Talvez, na pró xima festa, eu a convide. No meu aniversá rio, eu nã o lhe
dei muita atençã o.
“Péssima ideia.”
― Fique longe dela, Luigi.
― Por quê?
― Porque estou dizendo para ficar. Ela nã o é dessas garotas que você
convida para sua casa e faz o que quer com elas.
― Mas eu a convidei na outra vez e ela foi. Foi e aprontou muito ― diz
rindo.
― Ela só bebeu um copo e se descontrolou. Nã o aprontou o que você está
sugerindo.
― Você acha que ela nã o apronta? A cara nã o nega. Eu nã o sei por que
você está a defendendo. Naquele dia que você a levou embora, rolou
alguma coisa? Sim ou com certeza?
― Nã o mexa com ela, Luigi. ― Dou meu ú ltimo aviso e me afasto dele.
No momento, o que me impede de chegar até ela sã o as pessoas que a
rodeiam, dançando na pista. Eu tenho muito a agradecer a essas pessoas
por nã o me permitirem cometer essa burrice.
― Eros. ― Harper segura meu braço. ― Tudo bem se a gente tirar uma
foto juntos?
― Sem problemas.
Eu já tirei mais coisas dela na quarta passada, uma foto nã o é nada.
Vamos para trá s do bolo e tiramos uma foto abraçados de lado. Agora eu
vejo os olhos de Liz na nossa direçã o. Sempre de cara feia pra mim.
― Feliz aniversá rio. ― Beijo o rosto de Harper e sorrio para ela.
Poderia ser a Liz, se ela nã o fosse tã o teimosa e orgulhosa.
― Obrigada.
― Eu vou buscar o seu presente no carro. ― Lembro disso e me afasto
para buscar.
Comprei de ú ltima hora e quando cheguei, estava falando ao telefone
com ela, com medo de ser barrado na entrada, nem lembrei de pegar a
caixa.
Busco o presente e quando volto, encontro Liz na entrada, mexendo no
celular. Ela olha para a caixa em minha mã o e ainda de cara feia olha
para mim.
― É bem esperado de você isso, nã o é?
― O que foi, Liz? ― Paro em frente a ela.
― Quando viu que eu nã o iria fazer parte do seu jogo para se aproximar
do meu padrasto, já pulou em cima da filha dele. Você é mesmo capaz de
tudo para conseguir o que quer.
Claro que ela tinha que supor outro golpe. Primeiro eu queria usá -la
para me vingar da ex, agora estou usando a filha do padrasto dela...
― Eu nã o sabia que ela era filha do Demétrio.
― Será mesmo? ― pergunta encolhendo os olhos.
― Claro que nã o, teimosa! Mas que bom que é. Além de arranjar uma
namorada, ainda terei mais chances de fazer negó cios com o pai dela.
Pode me julgar. Eu continuo saindo no lucro.
― E ainda quer falar do meu tio, mas é igual a ele.
“Como ela sabe que reclamo disso?”
― E você é igual à s suas parentes. Todas paranoicas, estã o sempre
inventando conspiraçõ es, traiçõ es... Todas iguais.
― Aham. Fui eu quem acabou com o seu trabalho por causa de ciú mes.
Vai lá . Desejo sorte para ela.
Sorrio e me afastando dela, mas antes, alfineto:
― Ela sabe a sorte que tem.
E assim ela estraga facilmente a minha noite.
Eu queria que fosse simplesmente interesse sexual. Queria muito que
fosse só isso. Eu nem iria me importar com ela. Mas vejo que é mais. É a
presença, os traços, cada detalhe e essa personalidade que me
enlouquece.
Se ela quer distâ ncia, se quer ficar supondo essas coisas, deixarei que
assim seja.

― E depois que ela falou isso, você ainda ficou na festa? Com a tal
Harper? ― Zac pergunta no domingo, enquanto tomamos uma cerveja na
varanda da minha casa.
Kevin também está conosco, afinal, esses dois adoram fofocas e depois
que viram minha foto ao lado de Harper, querem saber de tudo.
― Eu entreguei o presente e fiquei na festa, bebendo com o pai da
Harper. Quando passou os parabéns, demorei mais um pouco e vim para
casa.
― E a mã e da Harper achou o que disso? ― Kevin questiona.
― A mulher estava afastada de todos, acompanhada de outras socialites.
Nem se importou.
― E a Liz e a mã e dela?
― Quando eu vim embora, elas ainda estavam lá , mas nã o falei mais com
elas. A Liz estava de cara feia para mim o tempo todo e eu retribuí.
― Como o homem maduro que você é. ― Zac me apoia. ― Acho que ela
estava com ciú mes.
― Eu também acho. ― Kevin concorda.
― Ciú mes... ela me odeia.
― Também, a cagada que você cometeu!
― Kevin, eu nã o me arrependo. Ela ficou com a grana, era isso que ela
queria. Acabou. Aquela campanha nunca mais irá ao ar ou eu nã o me
chamo Eros Werneck.
― Dois ciumentos. ― Zac acusa.
― Que seja. Foi uma coincidência encontrá -la lá e acho que nã o a verei
tã o cedo de novo. Acabou.
― E a Harper? ― Kevin pergunta.
― A Harper nã o é nada. Nã o significa nada. Eu só fiquei com ela e fui ao
aniversá rio porque a galera estava lá . Só isso.
― Ela sabe disso?
― Se ela tiver um pingo de bom senso, sim, Kevin ― digo com pouca
paciência.
― É que vocês tiraram fotos juntos. ― Zac analisa.
― Você nunca tirou foto com uma mulher que nã o é nada sua, nã o é
mesmo? Fui na festa como um amigo.
― Sei lá ... ― Ele se encolhe na cadeira.
― Ah... o amor. É fogo que arde sem se ver... ― Kevin recita olhando para
o nada.
― O que é isso?
― Um poema que eu vi esses dias na internet. Ainda bem que agora você
nã o tem mais mulher ocupando a mente. Pode focar no trabalho. Na
holding, nos investimentos, em quem roubou a pasta...
Olho para Kevin e me arrependo de ter aberto a porta para ele. Zac
espirra pela décima vez.
― Acho que você deveria mandar alguém lavar essas cortinas.
― A culpa nã o é minha, nem da minha empregada. É que o diabo do
Brixton anda fazendo uma reforma infinita que enche a minha casa e dos
vizinhos com esse pó maldito.
― É ... você nã o tem paz em canto nenhum. ― Kevin dá tapinhas no meu
ombro rindo.
Eu concordo. Aonde quer que eu vá , tem o Scott Brixton ou a Liz Stuart
para me atormentar.
― Seria ó timo mudar de cidade, mas como nã o dá , parece que terei que
me acostumar.
A festa melhorou consideravelmente depois que Eros foi embora. Ficou
evidente que ele estava dando atençã o à Harper apenas para me irritar,
sempre olhando na minha direçã o. Coisa de moleque. Realmente me
irritou.
Quanto à Harper, é difícil nã o gostar de alguém que te coloca num
pedestal. Ela decidiu passar o domingo conosco e, quando saímos do
aniversá rio, foi só agradecimentos. Conhecemos a mã e dela, uma mulher
bastante ostentosa. Loira platinada, cheia de joias e cercada de mulheres
parecidas com ela. Acredito que só comeram os finger foods com caviar.
Assim que soube quem era a mã e de Harper, lembrei que ela foi quem
colocou um par de chifres no Demétrio. E ele claramente nã o gosta dela.
Ficaram cada um em um canto.
No fim das contas, nã o foi uma festa ruim. Se excluirmos a presença de
Eros e Luigi, diria que foi perfeita. Luigi teve a audá cia de me convidar
para uma de suas sociais. Eu disse que iria pensar, mas estava decidida a
recusar.
Minha mã e e eu fofocamos até a hora de dormir, comentando sobre tudo
o que vimos. Dormimos juntas no meu quarto e rimos muito. As festas
que a minha tia faz em sua casa nã o chegam ao luxo que foi essa.
Ao acordar, percebo que minha mã e nã o está mais na cama e ouço a voz
de Demétrio e Harper. Eles vieram cedo! Consulto a hora no celular e já
passa das 9h. Fui eu quem dormiu demais.
Corro para o banheiro para me revigorar e, ao sair, ouço meu nome na
conversa. Vestindo um vestido decente e apresentável que adoro por ser
feito de um tecido macio e estampado com muitas flores ― tenho três
iguais ―, saio do quarto para cumprimentar os visitantes.
― Oi! ― Harper se levanta e vem me cumprimentar animada.
Mesmo usando tênis baixos, ela é cerca de 20 cm mais alta que eu. E
parece gostar de vestidos estampados. A diferença entre o meu e o dela
está nos detalhes do modelo e na cor. O dela é azul, enquanto o meu é
amarelo.
― Tudo bem? ― pergunto.
― Estou ó tima. E olha que bebi duas doses generosas de whisky. Você
bebeu?
― Eu e a bebida nã o nos damos bem.
― Ah, é mesmo! ― Ela cobre a boca rindo.
― Pois é. Acho que depois daquele vídeo, todo mundo ficou sabendo
disso ― comento, rindo com Harper.
Dou um oi para Demétrio, e minha mã e sorri enquanto está ao fogã o.
― Estou preparando um café da manhã . ― Ela informa.
― Entã o vou esperar no quarto. Preciso arrumar aquele ninho. Se quiser
conhecer o meu reino. ― Sugiro a Harper, e ela me acompanha.
― Vocês deveriam ter ficado mais tempo. Tudo acabou na piscina. ― Ela
compartilha.
― Já estávamos cansadas, mas adoramos a festa. ― esclareço enquanto
começo a arrumar minha cama e ela passeia pelo meu quarto.
Imagino que o dela seja o dobro do tamanho do meu e muito mais legal.
Assim como o de Eros.
― Olha, você tem esse perfume! ― Harper pega o perfume que ganhei de
Eros.
― Sim. Eu ganhei ― confirmo.
― Eu também ganhei um desses ontem. O Eros me deu. ― Ela revela.
Meu sorriso desaparece instantaneamente quando ela me encara.
Nã o posso acreditar que ele deu o mesmo perfume para ela. Eu,
reclamando da forma como ele me deu, achando que era especial. Que
ingênua. Ele provavelmente tem um estoque desse perfume e distribui
para todas as garotas com quem fica.
― Vocês estã o juntos? ― A pergunta escapa involuntariamente.
― Mais ou menos. Ficamos um tempo atrá s e nos encontramos na quarta
passada. No meio do whisky e com as meninas colocando fogo,
acabamos dormindo juntos. Que meu pai nã o ouça. ― Ela fecha a porta,
rindo. ― E o convidei para o meu aniversá rio. Quando ele ligou dizendo
que tinha chegado, eu nem acreditei.
Fico paralisada, ouvindo tudo.
“Eles dormiram juntos no dia em que eu pedi para ele ficar longe de mim.”
― Vocês sã o amigos, nã o é? Papai falou. ― Ela continua falando.
Meneio cabeça.
― Nem tanto ― respondo, tentando disfarçar meu desconforto.
― Parece que a sua mã e nã o gosta muito dele, ou é impressã o minha? ―
Harper pergunta, observando minha reaçã o.
― Ela nã o gosta mesmo. Problemas do passado ― respondo vagamente.
― Vocês conhecem o Eros há muito tempo? A ú nica coisa que sei é que
ele estava preso e mora com a mã e. ― Ela continua compartilhando o
que sabe sobre ele.
“E é um mentiroso e muito ciumento também, mas essa primeira
informação estou descobrindo agora.” Penso, os mantendo para mim
mesma.
― Nã o sei tanto quanto você. ― Sento na cama, agora arrumada, e ela se
junta a mim.
― É que ontem pareceu que vocês têm um passado. Ele nã o parava de
olhar para você, e parecia que você estava brava com ele ― comenta.
Achei que ela estava muito distraída para perceber isso.
― Em tã o pouco tempo? Nã o. Nada tã o íntimo quanto o que vocês têm.
Ele fez algumas coisas que me irritaram e por isso nã o suporto vê-lo ―
explico.
― Uma pena.
Eu nã o sinto o mesmo. Foi bom que evitei coisas piores.
― Pois é. Vamos tomar café? ― Sugiro.
― Vamos. ― Ela concorda.
Nos juntamos aos nossos pais e o assunto sobre as coisas que vimos na
festa dominou a conversa durante a refeiçã o. Claro que Demétrio
começou a fazer campanha para Eros e minha mã e devolveu os
comentá rios que ele fez depois de ela fazer campanha para eu ficar com
Ed.
Harper acha que formamos um belo casal.
― Somos só amigos. E nem somos tã o pró ximos assim. ― esclareço.
A campainha toca e me levanto para atender.
“Tomara que não seja o Eros com uma caixa de bombons, dizendo que
estava passando aqui e lembrou que Demétrio poderia estar aqui.”
Abro a porta e vejo o pior do pior que eu poderia esperar.
Meu pai.
― O que você faz aqui? ― pergunto para o homem de sorriso cínico no
rosto.
Meu pai é um homem alto, já deve estar perto dos 50 anos, mas ainda
tem poucos fios brancos na cabeça. Nã o deve ter muito com o que se
preocupar enquanto faz muita coisa errada ao lado dos seus parceiros.
― Como o que eu faço aqui? Vim ver a minha filha. ― Ele responde.
Mamã e vem e já vejo seus punhos cerrados.
― Vá embora daqui! Você nã o é bem-vindo nessa casa! ― Ela exclama,
visivelmente irritada.
Ele nem sabia o nosso endereço.
― Lauren, eu mereço ficar perto da minha filha. ― Ele insiste.
Sinto um bolo se formando em minha garganta, me sufocando com a
vontade de chorar. Merece?
― Você nã o merece nada. Você nem merece ser chamado de pai depois
do que fez! ― mamã e esbraveja.
― Lauren, você ainda lembra disso? Nã o aconteceu nada! Foi um mal-
entendido! ― Ele tenta se justificar.
― Um mal-entendido? ― indago já chorando. ― A minha mã e tem razã o.
Você nã o merece ser chamado de pai.
― Vocês me excluíram de suas vidas por conta de algo que nem
aconteceu. Sumiram e eu só soube da Liz porque a vi passando na TV,
num comercial. Você acha isso certo, Lauren? ― Ele continua o seu show.
― Foi pouco. Seria melhor se nunca mais tivéssemos te visto. Suma
daqui! SUMA! ― mamã e grita furiosa.
― Eu quero conversar. Eu quero saber da minha filha. ― Insiste.
Corro para o meu quarto e pego a minha bolsa. Tanto Demétrio quanto
Harper estã o paralisados com a situaçã o.
― Você nã o pode me expulsar de suas vidas. Eu nã o saio daqui sem uma
conversa. ― Ele declara.
― Você nã o está vendo que ela nã o te quer aqui? ― Demétrio
interrompe.
― Se você nã o sai, eu saio. ― Passo pela porta e entro no elevador, que
por sorte está aberto. Eu nã o posso continuar ouvindo isso.
Depois de tanto tempo, ele aparece com essa cara de pau e nã o mudou
nada. Ele nã o mudou em aparência e em burrice. Continua achando que
foi um grande mal-entendido seu amigo nos trancar num quarto e tentar
fazer maldade comigo. Eu nunca voltarei a sentir o afeto que sentia por
ele antes dessa situaçã o.
Amor de pai? Ele nã o me amou o suficiente quando preferiu
acompanhar seu amigo, tentando acalmá -lo e dizendo coisas absurdas
sobre mim e principalmente sobre a minha mã e. Saio na rua sem rumo e
mesmo que quisesse ir a um lugar específico, nã o conseguiria me
orientar com a visã o turva pelas lá grimas.
Me sinto traída. Essa é a sensaçã o. Lembro que quando criança ele falava
que me protegeria com a sua vida, enquanto brincávamos em casa.
Depois que ele se empolgou em fazer coisas ilegais do outro lado da
cidade, para que tanto ele quanto o seu grande amigo enricassem, seus
planos eram maiores, suas promessas eram maiores e a minha mã e
ainda acreditava, eu mais ainda.
Os momentos juntos nã o eram mais importantes, a minha segurança, o
amor, mesmo com pouco dinheiro. Ele e o meu tio Michael se juntaram
ao Scott e fizeram muita coisa errada. Hoje, o tio Michael é um homem
de negó cios e é capaz de jurar pela pró pria vida que nunca fez nada de
errado. Nã o ouvimos mais falar sobre o meu pai ou Scott. Meu tio nunca
foi convidado a pisar na nossa casa. Mamã e o odeia, assim como odeia o
meu pai.
Eu também nã o sinto amor por esses parentes. Um carro freia bem
pró ximo a mim e passo a mã o no rosto para arrastar as lá grimas e ver
quem certamente irá me xingar por atravessar a rua sem olhar o sinal.
― Eros.
Esse dia nã o poderia piorar.
― Liz. O que aconteceu? ― Ele sai do carro, mesmo com os motoristas
que formaram uma fila em seus carros atrá s da Lamborghini buzinando
e reclamando.
― Nada. ― Volto para a calçada.
― Nada? E por que está chorando? Quem fez isso com você?
― Me deixa, Eros. Chega de problemas por hoje.
― Nã o vou te deixar ser atropelada. Venha. Eu vou te levar pra casa. ―
Ele segura meu braço.
― Nã o. Eu nã o quero voltar pra casa. Quero ficar bem longe de lá . ― Puxo
meu braço chorando.
― Para onde você quer ir?
― Sei lá , Eros. Sumir, quem sabe. ― Passo a mã o mais uma vez no meu
rosto, olhando em outra direçã o.
Ele segura meu braço mais uma vez.
― Venha. Vamos sumir.
Olho para ele e, sem perspectiva de nada, o acompanho, entro no carro e
seguimos para esse sumiço.
"Foi um mal-entendido".
"Vocês me excluíram de suas vidas por conta de algo que nem aconteceu."
Ele deveria saber que já sou grande o suficiente para entender que nã o é
porque nã o aconteceu, que aquilo nã o foi errado, terrível, que aquele
homem nã o deve ficar perto de criança ou de mulher alguma, que ele
nã o pode acreditar na palavra de alguém como ele e chamar sua mulher
de exagerada.
Eros levanta uma garrafa d'á gua e me oferece.
― Beba.
Aceito sem espaço para pensar nas diferenças que tenho com ele nesse
momento. Tomo a á gua e o choro passa, mas o soluço fica por mais um
tempo, as narinas entupidas também. Encosto a cabeça na janela e
assisto as ruas ficando para trá s conforme o carro anda, até que nã o se
vê mais prédio ou casas e á rvores e mais á rvores aparecem.
― Para onde está me levando?
― Só estou fazendo o que você deseja.
Cruzo os braços e espero o fim dessa viagem.
“Será que a minha mãe conseguiu convencer aquele homem a nunca mais
nos procurar? Será que o Demétrio fez alguma coisa? Um soco ao menos?
Ele merece mais do que isso.”
Meu telefone toca, e é ela.
— Oi, mamã e.
— Onde você está? Ele já foi embora.
— Quero ficar um tempo longe. Nã o esperava revê-lo.
— Eu também não, filha. Entendo o seu desejo. Está na casa da Paige?
— Pela cidade.
Ou já fora dela.
— Cuidado.
— Você também.
— Liz, ele não vai voltar para nossas vidas.
Respiro fundo.
— Eu espero que nã o.

Eu nã o sei o que deu na Liz, nã o entendi direito o que aconteceu, mas ela
nã o parece bem e, por mais que nossas ú ltimas conversas tenham sido
péssimas, jamais a deixaria sozinha desse jeito.
Ela estava chorando, agora parou, mas parece ressentida com alguma
coisa. Pelo que ouvi da conversa, parece que ela encontrou alguém que
nã o queria ver. Deve ser alguém que a machucou demais para ela ter
essa reaçã o.
Eu quase a atropelei! Foi um susto e tanto. Freei bem perto dela e ela só
viu mesmo por que o carro estava a poucos centímetros das suas pernas.
Chegamos na casa de campo da minha família e estaciono o carro em
frente ao local. Tem uma família que cuida dela o ano todo e é um belo
casarã o de madeira, dois andares, com muitas janelas de vidro e flores
para todo canto.
— Que casa é essa? — Ela pergunta com a voz ainda afetada pelo choro.
Ao menos parou de soluçar.
— Da minha família. — Saio do automó vel.
— Nã o tem problema estarmos aqui? — Ela também sai do carro.
Me distraio, pois parece que ela adora esses vestidinhos estampados.
Esse amarelo ficou lindo.
“Quando é que eu vou deixar de ver graça nessa teimosa e seguir em
frente?”
— Nã o. Ninguém além dos cuidadores vem aqui.
E falando nisso, Jack, o homem que junto com a esposa mantém a casa
impecável, aparece na calçada.
— Que surpresa! — Ele vem até nó s. Pelas roupas, deveria estar
andando a cavalo.
— Pois é. Como vai? — Lhe dou um aperto de mã os.
— Com saú de. E essa moça? A namorada?
— É . Viemos tirar um tempo da cidade.
Liz já voltou ao normal, reconheço pelo jeito debochado como me olha.
— Pois vou pedir à mulher para fazer um lanche e o almoço.
— Nã o precisam se preocupar. A gente se vira.
— Você sabe cozinhar? — Liz pergunta.
— Você gosta de ovos?
Ela ri e se afasta olhando para a paisagem.
— Pode deixar que a gente cuida de tudo. Fiquem à vontade. — Jack
avisa, rindo de mim também.
— Obrigado, Jack.
Ele vive aqui desde que eu era criança. Já tem mais de cinquenta anos e
nunca abandonou esse lugar. Liz está distraída com o rio e as plantas.
— Esse sumiço é suficiente?
— Eu nem sabia que tinha um lugar tã o bonito perto de casa.
Viajamos cerca de 30 minutos sem trâ nsito depois da saída. Nã o acho
tã o perto. Porém, acredito que ela nem se deu conta do tempo que
passou até chegar aqui.
— Podemos ficar o tempo que você precisar. — Fico atrá s dela, que se
vira para mim.
— Nã o estou atrapalhando seus planos?
— Que planos?
Eu dirigia sem direçã o quando ela passou na frente do carro. Os meus
amigos já tinham ido embora e, se nã o fosse ela, possivelmente estaria
na casa dos meus pais agora.
— É melhor estar aqui. — Completo.
Ela abraça o pró prio corpo e encara as plantas. Quando está quieta,
parece inofensiva e mais uma vez constato que nã o é interesse sexual
que tenho por ela. Quero o seu bem.
— Quem te fez chorar, Liz?
Ela olha para mim com os olhos marejados. Vai chorar de novo.
— Quem fez isso com você? — Seguro seu rosto delicadamente e impeço
que ela se esquive.
— O meu pai apareceu de repente. — Ela fala baixinho, mas ouço muito
bem.
— Seu pai?
— Sim.
— E o que ele fez? — Solto seu rosto e ela encara as plantas.
— Exigiu que queria me ver. Me viu na TV e se achou no direito.
Eu tenho pais assim.
— Liz, o que ele fez antes de ir embora? Você nã o costuma falar dele.
Nunca tivemos conversas muito profundas e eu também nunca tive essa
curiosidade, mas agora estou interessado.
Ela fica calada e espero por um tempo, até entender que ela nã o vai falar.
Nã o agora.
— Ok. Quer beber ou comer alguma coisa?
— Estou sem fome.
— Quer conhecer a casa?
Ela olha para mim, os cabelos ficam bagunçados com o vento e passo a
mã o em seu rosto, debaixo do olho, onde uma gota escorre.
Ela balança a cabeça e me acompanha para dentro.
— Vocês têm mais de uma casa?
— Meus pais têm vá rias. Tem de campo com esse lago enorme, tem
outras em outros países também. Uma para cada época do ano.
Costumávamos vir aqui no verã o, uma vez no inverno. Nos divertimos
muito no lago.
— Uma casa para cada estaçã o? — Ela pergunta admirada me fazendo
sorrir.
— É isso.
— Nossa! Eu mal tenho uma. — Ela anda pela sala deslumbrada, mesmo
a decoraçã o sendo muito antiga, principalmente o papel de parede
florido que eu acho feio.
— Ninguém vem aqui faz tempo. Nas outras casas eu nem lembro a
ú ltima vez que fui.
— Que papel de parede lindo!
Dou risada.
— Você gosta de estampas, nã o é?
— Algumas sim.
— Elas ficam bonitas em você, mas esse papel de parede é horrível.
Ela olha para mim com um sorriso.
Ao menos agora parece feliz.
— Me conte suas memó rias daqui.
Guardo as mã os do bolso e dou uma volta na sala. O velho sofá , a lareira
e muito vidro. Como a minha mã e adorava enfeites de vidro! E castiçais!
— Viemos uma vez no Natal. Fizemos tudo tradicionalmente. Meias
penduradas e presentes debaixo da á rvore. Eu estava com muito frio e só
tinha trazido um par de meias, as que estavam em meus pés. — Sorrio
lembrando daquele dia e ela ouve sorrindo. — Entã o eu peguei um par
de meias do Jack, que estavam no varal. Meias longas, pretas. E as
pendurei pró ximo a lareira.
— Eu já estou até imaginando o que aconteceu. — Ela fala rindo e
balanço a cabeça.
— Nicholas mexeu na brasa, as faíscas subiram, o fogo também e as
meias começaram a queimar. Todas as meias queimaram quando o fogo
chegou no cordã o.
— Que desastre.
— Nicholas chorou como o covarde que é e ainda colocou a culpa em
mim. Nossa mã e ficou furiosa porque a casa ficou cheirando a fumaça,
mas no fim ainda sentamos em volta da mesa para comer o peru.
— Vocês pareciam bem unidos.
— É ramos. — Digo com um pouco de sarcasmo. — Mas nenhum
desastre aqui foi maior do que o que aconteceu lá em cima.
— Me conta! — O sorriso congelou em seu rosto. Pelo visto, ela gosta de
ouvir histó ria de desastre.
— Foi no quarto — digo passando ao seu lado e subindo as escadas. Liz
me acompanha.
— Eu vou ficar na porta — avisa como se tivesse medo de ficar a só s
num quarto comigo.
— Você é a primeira garota que trago aqui — comento do nada, mas de
repente senti vontade de assumir isso para ela.
Liz fica sem jeito, mas quem devia estar sem graça era eu, esse seu
jeitinho me perturba.
Essa nossa fuga veio em uma boa hora.
Eu nã o esperava conhecer uma das vá rias casas da família Werneck no
meio dessa fuga, agora no lugar das lá grimas que a volta do meu pai
causou, estou rindo das coisas que Eros está me contando sobre o que
viveu na infâ ncia.
— Aqui. Bem aí, eu perdi a cabeça do dedo com uma topada. O sangue
atravessou a madeira, a espuma expansiva e pingou lá na cozinha.
— Isso parece mentira. Vai dizer também que caiu dentro de uma
panela?
— Quase. Foi por pouco. — Ele fala como se fosse verdade.
— Eu nã o caio nessa nã o. Nã o sou como a Harper que acredita nas suas
mentiras.
— Quando eu menti para ela?
— Quando disse que morava com a sua mã e.
Ele ri.
— Você acha mesmo que eu vou contar onde moro para alguma garota?
— Eu sei onde você mora.
— Você descobriu por que é uma enxerida. ― dispara.
— Enxerida... Claro, porque você nã o é nem um pouco enxerido.
Ele abre o quarto e entra na frente.
— Aqui. Foi aqui que o desastre aconteceu naquele fatídico dia.
— Tã o dramá tico... — me escoro na porta sem tirar o sorriso do meu
rosto.
Eu queria nã o estar contente por causa dele, mas tenho que admitir que
ele é o ú nico motivo por eu estar rindo nesse momento. Eros nã o pensou
duas vezes antes de largar tudo e me levar para onde eu nem sabia que
precisava estar.
Só nã o esperava que seria pra cá . Nem imaginava que esse lugar existia.
— Tinha um beliche — conta mostrando onde era.
— Um beliche? Mas vocês nã o eram ricos?
— Isso foi antes da minha mã e comprar novos mó veis bregas. Escute.
Nicholas dormia na cama de cima, enquanto eu dormia na cama debaixo.
— Nã o me diga que a cama de cima desabou.
— Pior. Desabou em cima de mim! Está vendo isso aqui? — Ele vem até
mim e mostra uma cicatriz na testa. Um corte reto.
— Sim. — Tento me concentrar somente nisso para nã o encarar seus
olhos ou sua boca. Essa proximidade, apesar dos pesares, ainda me
deixa sem fô lego.
— Foi uma das tá buas da cama que bateu e lascou.
— Pode ser por causa disso aí que você virou um teimoso, afetou seus
neurô nios. — Analiso brincando.
— Você ri, mas eu quase fui morar no céu.
— No céu? — Dou uma gargalhada. — Você sabe que nunca iria para o
céu, nã o sabe? ― Ele balança a cabeça em negaçã o. ― Mas me conta,
como foi o fim disso?
— Nossos pais vieram correndo e tiraram a cama de cima de mim,
minha mã e fez um curativo na minha testa e eu e Nicholas dividimos a
cama debaixo por aquela noite, com ele segurando o saco de gelo na
minha testa.
— Ah, que fofo!
— Fofo? A culpa foi dele!
— Mas vocês pareciam ser bons irmã os. Deveriam fazer as pazes.
— Nã o. — Ele fica sério e se apoia na cô moda, olhando para fora através
da janela de vidro. — O que ele fez comigo foi traiçã o. Nã o se faz isso
com um irmã o.
— Vai ver ele tinha motivos. Quem manda no coraçã o? Você manda?
Ele abaixa a cabeça e olha para mim. Mordo a bochecha.
— As coisas sã o diferentes — explica desapontado.
— Nã o sã o.
— Sã o sim. Nicholas era meu irmã o. — Ele vem em minha direçã o. —
Era alguém muito importante para mim. E você para ela...
— Eu sei. Nã o valho um Louboutin.
Rimos.
— Nã o sei se o meu irmã o deu tanta sorte quanto eu. — Ele segura o
meu rosto e já perco o compasso da respiraçã o.
— Eu tenho boa memó ria, Eros.
— Entã o já entendeu que a palavra adeus para nó s dois é um até logo,
nã o é? — Ele encosta sua testa na minha e acaricia meu rosto.
Ele tem razã o. Talvez eu seja péssima em cumprir promessas.
— Mas eu nã o esqueci o que você fez e você tem a...
Ele me beija sem pressa e depois se afasta.
— Existem palavras proibidas nesse lugar — diz e sai do quarto.
— É assim que você trata as suas ficantes? — Vou atrá s dele.
— Eu nã o sei do que você está falando.
Agora vai fingir que a Harper nã o existe.
Vamos para a cozinha e encontramos uma senhora preparando
sanduíches.
— Sejam bem-vindos! — Ela fala sorridente.
— Obrigada. — Agradeço timidamente.
— Obrigado, Mariah.
— Fiz isso para vocês comerem, enquanto o principal nã o fica pronto. —
Ela coloca o prato perto de nó s e também uma jarra de suco.
Já vi que vamos comer muito nesse domingo.
Eu adorei a decoraçã o da casa dos pais do Eros. É uma casa antiga, tem
papéis de parede antigos, muitos mó veis de madeira, vá rias coisas de
vidro e passa a sensaçã o de aconchego.
Como tudo que foi colocado à mesa e depois nos sentamos no sofá da
sala. Eros sentou do meu lado no mó vel espaçoso.
Dou uma olhada no celular, mas nã o tem rede.
— Aqui nã o pega sinal de internet?
— Nã o.
— Ainda bem que falei com a minha mã e antes de chegar aqui — digo
aliviada.
— Será que o seu pai já foi embora?
— Ela disse que sim. — Nã o consigo olhar em seus olhos porque esse
assunto me deixa triste.
Ele mexe nos meus cabelos e me puxa para mais perto dele.
— Deita aqui e aproveita que hoje estou no meu modo carinhoso.
Coloco a cabeça em seu colo e ele continua mexendo nos meus cabelos.
— Você quase me atropelou.
— Pois é. Sem querer ser rude, mas você estava cega que nã o olhou por
onde andava?
— Pior que sim. — Sorrio de mim mesma. — Estava chorando.
— Dessa vez, sem querer ser insistente, mas o que houve?
Seus dedos que tocando meu couro cabeludo me deixam com sono.
Eu nunca contei isso para ninguém, mas agora que meu pai apareceu,
sinto esse assunto me sufocando.
— Promete que esse assunto vai ficar entre nó s?
— Claro.
— Ok. — Olho para a lareira apagada enquanto ele continua o carinho e
relembro o que me deixou tã o nervosa.
Conto tudo o que aconteceu naquele fatídico dia da minha infâ ncia, e ele
até para de mexer nos meus cabelos, provavelmente assustado com a
histó ria.
— ... entã o, o meu pai chegou bem na hora em que a minha mã e o
expulsou de nossa casa e perguntou o que estava acontecendo. Ela
contou tudo, o cara disse que era mentira, que ela estava louca e ainda
me incentivou a apoiá -lo. No final, meu pai olhou para minha mã e e para
mim e disse que ela só estava nervosa, que o homem que se fazia de
vítima deveria se acalmar e tudo ficaria bem.
— Ele ficou do lado do cara? ― questiona revoltado.
— Sim, ficou. A minha mã e também o expulsou de casa, depois que nos
mudamos, nunca mais vimos os dois. Até o meu pai aparecer hoje.
— Esse cara merecia apanhar até morrer — fala rancoroso. — Como
você ficou depois disso?
— Eu me guiei pela reaçã o da minha mã e. Fiquei assustada,
inconformada, isso foi crescendo a ponto de nenhum homem entrar na
nossa casa. Confesso que ainda nã o confio no Demétrio por causa disso.
— Foi por isso que você me ligou naquele dia em que estavam a só s?
— Sim. — Assumo cabisbaixa.
— Por isso anda com tanta proteçã o na bolsa?
— Sim, por causa disso também.
— Poxa, Liz! — Ele volta a fazer carinho na minha cabeça. — Eu nã o
imaginava nada disso. Que maldade! Como pode alguém tentar e até
fazer algo assim?
— Tem gente para tudo nesse mundo.
— Esse cara nem merece estar vivo. E o seu pai, pura vergonha da classe.
Você tem razã o em nã o querer nada com ele.
Ele puxa meu rosto para olhar pra ele.
— É por causa disso que você nunca...? — pergunta se referindo ao fato
de eu ainda ser virgem.
— É . 95% sim. Os outros 5% é aquele medo comum de toda mulher
mesmo. — Me sento ao seu lado e encaro minhas mã os.
— Do que você tem medo?
— Da dor, vergonha...
Nã o acredito que estou me abrindo assim para ele, mas me sinto
confortável.
— Você é linda, nã o tem que ter vergonha de nada.
— É que tem gente tã o linda por aí que teve experiências horríveis, você
sabe disso. Eu nem gosto de falar desse assunto. Vamos falar de outra
coisa. — Peço sem jeito, e ele balança a cabeça sem insistir na conversa.
— Vamos dar um passeio de barco. — Sugere do nada.
— Vocês têm barco?
— Claro. Um iatezinho antigo.
— Iatezinho antigo? — repito, encarando sua naturalidade.
— É.
Tudo que para mim é uma grande coisa, para ele é normal.
Saímos da casa com a chave do velho iate e o encontramos no cais,
coberto por uma lona. Jack ajuda Eros a descobrir a embarcaçã o, fico
aliviada em saber que esse passeio nã o tem chances de ser flagrado por
ninguém. Subo no iate e me sento na poltrona arredondada que faz par
com outra. Ambas ficam mais pró ximas das laterais em uma parte mais
alta, é possível ter uma bela visã o do lugar.
— Vem para cá . Nã o fica aí nã o. — Eros me chama da cabine, navegando
com um chapéu de comandante na cabeça.
Desço os poucos degraus que me levam até o piso de madeira e me
aproximo dele.
— Fique aqui na frente. — Ele passa para trá s de mim e coloca minhas
mã os no timã o[1].
— Eu nunca fiz isso.
— Nã o é muito diferente de dirigir um carro.
Ele está me dando a chance de pilotar tudo que nunca pilotei. Uma
Lamborghini, um iate...
— Para onde estamos indo?
— Para um lugar mais quieto ainda. — Ele beija meu rosto e o calor do
seu corpo atrá s de mim dificulta minha atençã o no timã o.
— Fica quieto. Estou navegando. Nã o está vendo?
— Estou vendo sim. — Ele aperta minha cintura e se afasta.
Nã o tem coraçã o que aguente. Já estou com a pulsaçã o lá em cima e o
calor lá embaixo.
Quando já estamos bem longe da casa, ele retoma o controle e para o
iate em um trecho que tem muitas á rvores, proporcionando sombra.
— Pronto. Agora vamos ver se essa á gua está boa para um banho.
— Você está brincando, nã o é? — Olho para suas roupas, ele usa calça
jeans. Dificilmente vai secar.
Ele tira a camiseta e eu me apoio na porta da cabine.
— Eu adorava tomar banho nesse trecho.
— Nã o tem leopar... aligá tor?[2]
Interrompo o que eu ia perguntar, pois "leopardo" está estampado em
seu peito com uma tatuagem. Melhor nã o dar margens para piadinhas.
— Nã o.
Procuro uma garrafa d'á gua para molhar a garganta. Minha boca secou.
Tomo alguns goles e cuspo o terceiro quando o pego tirando a calça.
— O que foi? Se me lembro bem, você já me viu sem nada.
— Você nã o facilita a minha vida, nã o é?
— Eu posso acabar com 50% dos seus problemas. — Ele vem para perto
de mim só de cueca preta e, para piorar, segura meu queixo. — De
graça... — Conclui com um sorriso sacana no rosto.
— 50% é uma promessa muito grande. Acho que você tem mais
facilidade em fazer o contrá rio.
Ele ri e me solta.
— Entã o pague para ver. — Eros corre pelo iate e salta no rio.
— Doidinho, doidinho — digo balançando a cabeça em negaçã o.
Dou uma olhada na á gua para ver se ele volta a superfície e ele logo
aparece.
— A á gua está uma delícia, Liz. — Diz tentando me convencer a entrar.
“Gostosa igual a você?” Penso, mas é claro que nã o em voz alta.
— Vem, Liz.
— Eu nã o sei nã o. Nã o quero ser comida por um aligá tor.
— Com certeza o que quer te comer nã o é um aligá tor. — Ele dá uma
piscadela.
— Você nã o presta.
Tomo coragem e tiro o vestido. Subo na parte alta só de sutiã e calcinha.
Mas vacilo antes de pular.
— Eu nã o sei se é uma boa ideia.
— Reformulando o convite. A á gua está uma delícia, igual a você.
Dou risadas e pulo sem pensar em nada além de prender o ar nos
pulmõ es. Afundo e em seguida subo para a superfície.
Sim, a á gua está uma delícia, igual ao Eros, que vem para perto de mim.
— Diga se nã o está gostosa? — Ele passa os braços pela minha cintura e
molha os lá bios.
— Tenho que concordar. — Seguro em seus ombros e nos beijamos.
Desisto de fazer promessas quando o assunto é Eros Werneck.
Ele chupa a minha boca com tanta vontade que me excita, me fazendo
desejar o mesmo.
Nenhum cara me deixou tã o tentada a fazer o que me afasto há anos por
medo. Ele me faz querer ficar sozinha com ele, me faz querer estar nos
seus braços totalmente entregue.
Mesmo me fazendo desejar nunca mais vê-lo por causa do seu egoísmo,
ainda assim, é o ú nico que me levaria até os finalmentes sem me deixar
com vontade de fugir e me esconder.
— Eu sou louco por você, sabia? — Admite arrastando seus lá bios pelo
meu pescoço.
— Acho que você já me deu provas disso.
— Quero provar cada pedacinho seu. — Ele morde o ló bulo da minha
orelha. — Posso? — pergunta com a voz rouca que me causa arrepios.
— Eu nã o teria coragem de falar o que você quer ouvir.
Nã o consigo ficar parada enquanto nossos corpos estã o colados. Estou
com muito tesã o.
— Entã o responda de alguma forma. — Ele pede, apertando meu quadril
contra o dele e sinto seu membro rijo.
O encaro um pouco receosa, mas meu corpo quer isso, meu baixo ventre
vibra, querendo mais do que encostar nele.
Encosto minha boca na dele e mergulho minha língua nela, sendo
correspondida de uma maneira mais necessitada.
Acho que ele entendeu o que quis dizer.
Eros me lambe, mordisca meus lá bios e os puxa para si enquanto
segura minhas pernas separadas e me faz sentir com mais definiçã o o
tamanho do seu pau em relaçã o a minha boceta.
Seus dentes espremem a regiã o do meu queixo e trilham mordidas até o
meu pescoço. Me derreto em seus braços e mordo meus lá bios salivando
com o prazer.
― Vamos sair daqui ― murmura e chupa a pele do meu pescoço com
brutalidade que estala.
― Eros! ― protesto com a pele ardendo.
Ele nada e me puxa de volta para o iate, arrasta as almofadas para o piso
da embarcaçã o e quando me aproximo, me agarra forte pela cintura e
mal toca nos meus lá bios, já mergulha a língua dentro da minha boca,
quente e gulosa.
Fico na ponta dos pés, apertando uma coxa na outra enquanto minha
intimidade pulsa.
O nervosismo me pega de jeito, mas nã o tanto quanto pensar que Eros
planeja arrancar a minha virgindade hoje e pior: eu quero que ele faça
isso.
— Você quer fazer isso aqui?
— Eu deveria fazer essa pergunta. — Ele devolve acariciando minha
bochecha e encaro seus lá bios inchados.
— Eu nunca fiquei nua para ninguém... E aqui estamos ao ar livre. —
admito a minha preocupaçã o.
Um sorriso escorrega por seus lá bios.
— O que tiver que esconder, a minha boca e meu pau farã o esse serviço.
— Ele passa o polegar pelos meus lá bios e depois de molhar os dele, me
beija.
Sinto minha calcinha, que já estava encharcada, molhar ainda mais e fico
entorpecida pelo beijo e a língua safada de Eros passeando pela minha
boca como se quisesse começar a me foder por ali.
Ele desce a mã o esquerda para dentro da minha calcinha pela bunda e
aperta antes de agarrar o tecido e arrastar para baixo.
Na moleza que fico com seu beijo gostoso, minhas mã os escorregam
pelo seu peito e a minha mã o dominante para no seu pau, que mesmo
dentro da cueca, me permite sentir o delinear da cabeça achatada,
erguida para cima e a dureza de seu membro.
Eros interrompe o beijo e sorri ao observar essa “atitude”.
— Segurando meu pau com essa cara de inocente, está querendo me
matar de tesã o?
— Quero — confesso um pouco satisfeita por ver que ele gostou e o
aperto ainda mais.
Ele arfa antes de voltar a me beijar enquanto massageio seu pau
imaginando como essa coisa grande vai entrar num lugar que nã o cabe
nem um absorvente interno.
A minha boceta continua pulsando, querendo descobrir isso o quanto
antes.
Eros é tã o gostoso. Essas tatuagens, esses olhos e sobrancelhas
expressivas, que além de alcançar a minha alma ainda me despem, sem
contar os mú sculos... Eu fico louca com toda essa sua beleza.
Agarro seu pescoço e com um rá pido pulo, fico da sua altura e Eros me
mantém no alto, abraçando minhas ná degas.
Minhas pernas abraçam seu quadril e sinto o pulsar do pau dele contra
minha calcinha. As roupas íntimas estã o molhadas, mas nã o aliviam o
calor entre minhas pernas e do sangue que ferve no pau dele, meu
clitó ris está dolorido e mais sensível do que nunca.
O beijo se torna mais guloso, mais selvagem e mais excitante. Eros se
curva para frente e me prendo a ele com mais força até sentir a madeira
fria nas minhas costas e em algumas partes a fofura de alguma almofada.
O corpo pesado e rijo de Eros pressiona o meu e sinto mais do que
nunca o volume do seu pênis. O tamanho, esse nã o me preocupa tanto
quanto a largura. Vai ser complicado, o que ficar de fora, ficou.
Ele afasta o rosto sem querer soltar meu lá bio e abre os olhos
entorpecido.
— Eu quero tanto você, que meu pau tá doendo. Pequena, até onde você
já foi para se dar prazer?
— Até onde você chegou.
— Oi?
— Você foi o mais longe que me permiti sentir.
— Nã o fala isso, que fico ainda mais louco por você. — Ele beija minha
bochecha. — Pretendia ser o melhor e você me diz que nã o tem como
comparar?
— Se você chegou até aqui, é porque já é o melhor. — Seguro seu rosto e
prendo seus lá bios entre os meus num leve selinho.
Ele vagueia os lá bios pelo meu rosto e jogo a cabeça para o lado, para
sentir sua boca gostosa em meu pescoço.
As sensaçõ es que os beijos dele me causam chegam a abalar os locais
mais inesperados por mim. Talvez eu seja uma tola virgem ou fraca
demais pra ficar molhada por causa de um chupã o no pescoço.
Eros passa as mã os por baixo do meu sutiã e mexe no regulador até
separar os lados, depois se afasta de mim tirando a peça do meu corpo.
Imediatamente cubro meus mamilos. Eros está mordendo os lá bios, com
a maior cara de safado que poderia fazer e pouco se importa para a
intimidade dele, que de tã o ereta, arrasta o tecido da cueca
escandalosamente.
Ele segura meus braços e descobre meus peitos.
— Liz... Se você puder falar mais uma vez que sou o primeiro a chupar
esses peitos, eu vou me apaixonar mais ainda.
— Mas é. — Admito e ele beija meu abdô men, ainda segurando meus
braços, chega ao mamilo esquerdo e o cobre com sua boca. Sugando e
lambendo.
Aperto uma coxa na outra, perdida na nova sensaçã o e olhando para
cima eu vejo o céu.
Estamos no meio do rio e Eros está mamando meus peitos. Me sinto uma
pessoa sem escrú pulos.
Essa exposiçã o está me deixando mais excitada ainda e Eros nã o se
delicia em meus seios até que perco a capacidade de ficar calada e
alguns gemidos me escapam.
— Que delícia ouvir isso. — Ele parece ter experimentado algo delicioso
e lambe os lá bios.
— Eu nã o quero parecer uma louca.
— Grita. Grita tudo que estiver sentindo. E grita o nome de quem está
causando isso. Eu vou adorar — avisa e desce a boca pelo meu abdô men.
Só de pensar que esse caminho termina na minha calcinha, meu corpo
fica com os alarmes ligados. O coraçã o bate forte e o sangue chega a
minha intimidade pulsando no mesmo ritmo.
Ele prende a barra da calcinha entre os dentes e desce arrastando-a.
No meio dessa obscenidade que me deixa encharcada de tesã o, ergo o
quadril e facilito a retirada da peça.
Ele puxa as laterais com os dedos e arranca com brutalidade até passar
pelos meus pés.
Com as mã os livres, cubro a outra parte nunca vista.
— Tem vergonha? Cubra os peitos, que eu cubro a sua boceta com a
minha boca. — Ele se posiciona entre minhas pernas, afastando as coxas
e as minhas mã os.
O vento do rio bate na minha intimidade, mas nã o sinto a pele secar,
sinto o frio dele e depois a pele sendo aquecida com a língua quente de
Eros, que sem cerimô nia alguma, enfia a cara entre minhas pernas e
chupa a minha boceta.
O gemido foi a forma de me aliviar em meio ao grande impacto que essa
boca causou em volta do meu clitó ris.
E como se nã o bastasse, sua língua pressiona e rodeia meu ponto
sensível. Algo que meus dedos nunca foram capazes de me proporcionar.
O meu sorriso e os barulhos seguidos que saem da minha boca traduzem
bem o que estou sentindo.
Prazer.
Eu nã o posso nem imaginar o que seu pau pode fazer em mim.
— Eros...
— Oi — responde soprando o ar quente entre os lá bios da minha boceta.
— E você? — pergunto me referindo a também o dar prazer.
— Eu? Nã o se preocupe comigo. Só de ver esse sorriso safado na sua
boca, sinto prazer. — Ele aperta as minhas coxas e depois as beija. —
Estou preparando o caminho.
Ele aperta meu clitó ris com um dos dedos e ergo a cabeça dando um
gritinho.
Até mesmo seus dedos fazem melhor do que eu.
— Preparando?
— Quero que me receba com muita vontade. — Ele desce o dedo médio
até a minha entrada e o escorrega para dentro, deixando o polegar
esfregar meu clitó ris.
— Eros! — suplico sem saber onde devo focar.
Nã o consigo pensar em seu dedo dentro de mim quando ele também
está mexendo na parte mais sensível do meu corpo.
O formigamento em meu baixo ventre é constante e sinto dificuldade em
respirar. Ele só cresce e cresce, me sufocando.
O resultado disso é seus dedos mais e mais lambuzados.
Quando mais um deles é introduzido, mordo os lá bios, pois a pressã o é
maior e sinto um leve desconforto.
— Você tem dedos grossos.
Ouço sua risada.
— Se você quiser, eu paro por aqui.
Abro os olhos e o encaro.
— O quê? Você acabou de me deixar nua no chã o do seu iate,
completamente lambuzada e cheia de tesã o, está com os dedos dentro
de mim, até a sua boca já beijou onde ninguém antes tocou! Me foda
agora! Ou nunca mais terá outra chance.
Eros arfa segurando uma risada, libera o seu pau grosso, cheio de veias e
com a achatada cabeça rosada, que aponta diretamente para mim.
— Só precisa dizer pare.
— Venha e nã o pare. — Ergo uma das pernas e passo pelo seu quadril,
depois a outra, o arrastando para cima de mim.
Evitei esse momento por anos e quando aparece o felizardo que me
deixa com coragem e muita vontade de fazer, ele acha que a minha
admiraçã o com a grossura dos seus dedos significa arrego?
Medo eu deveria ter desse pau majestoso. Em comparaçã o a galeria de
paus que Paige recebeu na DM e me mostrou, esse se enquadraria nos
mais bonitos que já vi.
— Liz, nã o brinca com essa coisa. Se for muito doloroso, é só pedir que
eu paro. Sei que pra entrar em você, vou precisar te rasgar um pouco,
mas nã o quero que isso seja uma lembrança ruim para nenhum de nó s
dois.
— Eu sei. Agora nã o me faça pensar muito. — Seguro seu rosto e beijo a
sua boca como uma forma de distraçã o e distanciamento do medo que
tenho pela possível dor.
Eros demora um pouco para encostar seu quadril e todo o resto em mim,
mas quando interrompe o beijo, vejo que estava colocando o
preservativo no puro tato, agora ele se debruça sobre mim e beija
encaixando a cabeça do pau na minha entrada molhada.
Sua língua dançando com a minha me deixa mais lubrificada ainda,
porém, na primeira pressã o vejo que seus dedos sã o finos, muito finos
comparado com o que ele tenta me penetrar desta vez.
Outra diferença, essa muito boa, é sentir o calor da sua glande contra
minha pele, e mesmo com o preservativo, isso é bom gostoso.
Ele dá golpes lentos e nã o interrompe o beijo. Inevitavelmente reajo a
dor fina e lacerantes e uma lá grima desce no meu rosto. Quando sinto
seu pau ganhando espaço, imagino que esse sufoco passará em breve.
— Nã o pare, Eros. Nã o pare. — Suplico e ele beija meu pescoço, me
dando um pouco de prazer no meio dessa situaçã o animalesca.
Ele sorri e quando um pouco mais entra em mim, urra grosso e geme.
— Nunca passei um sufoco tã o prazeroso ― admite.
Estou completamente rendida a essa cara de prazer do Eros.
“Puta merda!”
O suor descendo pela lateral da sua testa, as tatuagens brilhando,
molhadas pelo suor e algumas gotas d'á gua que restam, esse perfume
delicioso misturado com o cheiro de macho que me excita, ainda tem
essa cara safada e esses barulhos que nunca tinha ouvido antes que sã o
simplesmente excitantes.
— Faz de novo, Eros.
— O que, pequena?
— Esse gemido.
Ele continua se mexendo e entra um pouco mais, me dando o que quero
ouvir. Sinto prazer em vê-lo se deliciando enquanto me rasga, seu pau
encontra um lugar dentro de mim e ao que ele acelera, minha pele entra
em estado de anestesia.
— Ainda sente dor?
— O quê? — pergunto e sorrimos um para o outro.
— Liz... — ele geme e sua mã o vem de encontro ao meu pescoço. Ele
apressa o ritmo e cada estocada reflete na minha garganta como um
soluço.
Fico presa em seu rosto e o roçar da sua pele em meu clitó ris durante
esse vai e vem que me deixa com o coraçã o frenético.
Sinto prazer junto com ele, no esfregar de nossos corpos. Ele dentro de
mim, eu por fora em contato com ele. Nesse vai e vem, Eros geme forte e
estremece em cima do meu corpo.
Ofegantes, permanecemos deitados no chã o e faço uma rá pida aná lise
do que acabou de acontecer: Nã o sou mais virgem e o Eros acabou de
gozar enquanto transávamos.
Isso é algo muito grande, mas o ponto alto, ao menos desse dia, ainda
será a boca dele me chupando.
Olho para o céu e me sinto nele.
Ter Liz em meus braços e ser o seu primeiro foi de longe uma das
melhores coisas que aconteceram comigo desde que retomei a minha
vida. Eu nã o quero que ela seja mais uma e tampouco endeuso a sua
virgindade, mas eu sinto que nã o foi uma coisa importante só pra ela.
Nã o insisti em mais sexo depois que voltamos para a casa de campo, dei
outros tipos de carinho e pelos seus sorrisos, ela anda bem satisfeita,
mas é impossível nã o me excitar com ela.
Dormimos juntos, e é maravilhoso tê-la nos meus braços depois desse
dia cheio de descobertas.
Nesse momento, estamos sentados na cadeira do quintal e entre
carícias, fiquei de pau duro e permaneço. Seria perfeito transar com ela
nesse momento, mesmo com Jack e Mary aqui, mas um carro aparece na
entrada e corta todo o clima, é o meu irmã o.
— E agora? — Liz segura o meu braço, assustada.
— Vamos para o quarto e quando as coisas passarem, os encaramos.
— Ok. — Ela levanta e se ajeita. — Vamos.
— Espera. Fica na minha frente. Vai que eles cruzam o nosso caminho?
— Seguro seu braço e ando atrá s dela.
— Tudo bem por aqui? — Jack pergunta carregando uma escada.
— Sim, sim. Só cansamos da piscina — respondo segurando os ombros
de Liz e aposto que a cara dela nos entrega.
Ela está feliz demais, com cara de orgasmo, mesmo depois do susto que
tivemos quando o carro de Nicholas apareceu.
— Será que eles sabem que estamos aqui? — Ela questiona enquanto
passamos pela porta lateral, para subirmos a escada alternativa.
— Com certeza. O meu carro está parado ali na frente.
— Que sorte. — Ela sobe os degraus apressada e eu também. Nos
trancamos num dos quartos para esperar e eu só penso numa soluçã o.
— Vem cá . — Seguro seu rosto e beijo a sua boca.
— Eros, esse momento é de preocupaçã o. Você nã o perdeu a vontade
depois desse susto nã o?
— Deveria, mas estamos em um quarto. — Abraço seu corpo. — Uma
rapidinha resolve.
— Eros, eu mal me recuperei de ontem.
— Eu faço com carinho. Prometo. — A levo para cama e deitamos
iniciando um beijo. Só de sentir o calor entre as pernas dela, meu pau já
começa a latejar.
— Com carinho?
— Do jeito que meus dedos fizeram. — Chupo seu pescoço e ela geme
baixinho e se mexe embaixo do meu corpo. — Eu adoro seu cheiro. Me
excita tanto!
— Você anda excitado com tudo. — Ela morde os lá bios rindo.
— Com tudo que tem em você. — Seguro a barra da calcinha para tirá -la,
mas alguém bate na porta do quarto.
— Eros?
Aí nã o tem como nã o perder o tesã o.
— O que é, Nicholas? — pergunto sem paciência.
“Tantos lugares no mundo e ele vem logo para cá!”
— Pode sair? Esse é o meu quarto.
— Nã o acredito que você bateu na porta para dizer isso.
— Nã o vai contaminar a minha cama. Procure outro canto. Eu sei que
você nã o anda sozinho.
— Porra. Ninguém merece! — Levanto e Liz se levanta comigo. — Já vou
sair.
— E eu? — Liz pergunta baixinho.
— Aguardando... — diz Nicholas.
“É mesmo um insuportável.”
— Será que você pode me dar privacidade? Virou porteiro agora?
— Tenho que guardar as minhas malas.
— Mas é segunda de tarde. Por que inventou de vir para cá na segunda-
feira?
Ele demora, mas responde.
— Olívia precisa de um tempo fora da cidade.
— Pois vá tomar um ar com ela. Será o tempo que preciso para sair do
quarto.
Liz está preocupada em ser vista por eles, mas eu nã o duvido que uma
hora ou outra isso aconteça.
— E as minhas malas?
“Haja paciência...”
— Eu coloco suas malas no quarto, palerma! Já estou indo embora.
Me recuso a ficar com esses dois o resto da segunda.
— Ok.
Esperamos até vê-los andando lá fora.
— E agora? Se a Olívia me vir aqui vai achar que temos alguma coisa! —
Liz ainda está preocupada.
— Mas temos, minha querida. — Seguro sua mã o e saímos do quarto.
Duas malas enormes e uma menor estã o na porta.
— Será que vã o morar aqui?
— Parece. — Liz suspeita. — O que vamos fazer agora?
— Você fica aqui e eu vou lá fora falar com eles. Daqui a pouco a gente
vai embora.
— Ó timo.
Beijo sua testa e desço a escada.
“Bem na hora do bem bom ele me atrapalha.”
— O seu irmã o está aqui. — Mariah avisa.
— É . Eu vi. — Saio de casa e vou atrá s dos dois, que estã o lado a lado.
Eu poderia empurrar os dois dentro da á gua e aproveitar a segunda-
feira ao lado de Liz.
Nicholas me vê chegando.
— Me diga que nã o contaminou a minha cama.
— Nã o tenha dú vidas disso. — Provoco sem esconder meu desgosto por
vê-los aqui.
Olívia está num macacã o verde pastel e nã o vejo barriga de gravidez
nela. Só a cara que me estressava toda vez que ligava para mim
perguntando onde eu estava.
— Por que vieram logo pra cá , hein?
— Se eu soubesse que você estava aqui, nem teria vindo. — Nicholas diz.
— Uma pena. Eu vou deixar bem avisado da pró xima vez.
— Já tirou a fulaninha do quarto?
Rio.
— Nicholas, você brinca muito com a sorte.
— Por que vocês nã o aproveitam que já estamos aqui e conversam? —
Olívia pergunta.
— Por que nã o. — respondemos juntos.
— Você é a culpada de toda a desgraça da família Werneck. Reuniã o
concluída. Com licença. — Me afasto deles.
Era só o que me faltava, ter que conversar com alguém para chegar a
lugar nenhum. Isso continuará sendo uma sacanagem ontem, hoje,
amanhã , mês que vem e sempre.
Enquanto eles ainda estiverem juntos ou se uma nova sacanagem nã o
acontecer, o que nã o tenho dú vidas.
— Eros, eu te visitei na cadeia e nó s conversamos sobre isso. Por que
nã o se conforma?
— Porque você terminou comigo e foi para os braços do meu irmã o,
neandertal traíra!
— Mas nem estávamos mais juntos!
— Ah, conta outra, Olívia. Eu sei que você me traiu.
— Nã o. Isso nã o aconteceu. Eu jamais faria isso, Eros. — Nicholas fala
dessa vez.
— Eu também nã o, mesmo você tendo me traído diversas vezes e nem
diga que é paranoia minha, Eros. A gente nem se aguentava mais. Por
que do nada começou a se importar?
— Você me deixou no momento mais difícil da minha vida, Olívia!
— E que diferença faz o momento? Todos os momentos eram ruins,
Eros!
— Ruins porque você era uma insuportável! Eu nã o aguentava mais o
seu ciú me doentio e ficava com outra só para valer as acusaçõ es que
você disparava contra mim.
— Você quer que eu te aplauda? Quer me culpar por sempre ter sido um
filho da puta comigo? Eu deveria ter te colocado um belo par de chifres!
— Olívia fala furiosa e Nicholas segura seus braços.
— Olívia, se acalme. Isso pode fazer mal para o bebê.
— Ele nã o pode nascer com um gênio ruim como o do tio. — Ela se solta
e anda para a casa, apressada.
— Deveria... É muita cara de pau dizer isso depois de se casar com o meu
irmã o.
— Eros, vamos ter uma conversa.
— Eu já disse que nã o tô a fim de conversar.
— Mas vai me ouvir. Porque do mesmo jeito que você acusa a Olívia de
coisas que ela nã o fez e você fez, eu ando recebendo acusaçõ es.
— Ah, nã o me diga que vai me culpar por ter roubado alguma namorada
sua.
— Se ela fosse minha namorada na época, com certeza você nã o teria
ficado com ela.
— O que você quer dizer? — Cruzo os braços.
— Daquela maldita noite em que você me viu a festa toda de olho na
Olívia e foi para cima dela só para rir da minha cara.
Dou risada lembrando disso. Ele tem uma memó ria ó tima.
— Eu nã o tenho culpa se você é uma lesma quando o assunto é mulher.
Ela estava solteira, eu cheguei e peguei.
— Faço das suas palavras, as minhas. Olívia estava solteira, passeando
pela minha casa e eu nã o tinha você no meu caminho. Entã o aproveitei, e
muito. Aproveitei tanto, que me casei com ela e agora vamos ter um
filho. Posso ter sido lerdo na primeira chance, mas na segunda eu nã o
pensei duas vezes, querido irmã o.
Balanço a cabeça em negaçã o, estou perplexo com isso.
— Nã o me diga que você ficou encalhado esse tempo todo esperando a
Olívia ficar solteira?
— Uma hora ou outra vocês terminariam. Nunca vi relacionamento mais
caó tico.
Me aproximo dele.
— Foi você quem armou para eu ir para cadeia?
— Mas é claro que nã o, Eros! Por mais que eu tenha falado mil vezes que
uma surra da polícia te colocaria no lugar, eu jamais faria isso. Você é
meu irmã o!
Ele parece estar falando a verdade.
— Acho bom mesmo.
— Só para de encher o saco da Olívia. Ela está grávida e nã o pode ficar
passado por estresse.
— Eu estava feliz sem ver vocês. Se nã o cruzarem o meu caminho, eu
agradecerei. Aliá s, faça bom proveito da sua querida. Ela nã o é nada do
que parece na frente de todo mundo. Se você ainda nã o descobriu,
relaxa, em breve ela mostra as garras. — Dou um tapinha no seu ombro.

“Um tapinha no ombro significa reconciliação?”


Assisto a conversa deles da janela do quarto e já achei que eles iriam se
pegar no tapa, mas agora parece que está tudo bem.
A porta do quarto onde estou se abre e vejo Olívia parada nela.
— Liz? O que você faz aqui?
— Olívia... Que surpresa! — Finjo tranquilidade.
Ela está piscando os olhos com uma cara engraçada.
— Liz, o que você faz aqui? — pergunta novamente.
— Eu... estou de passagem. Estava fazendo uma caminhada, trilha e
parei aqui para ver o lugar...
“Eu nem sei mentir.”
— Nã o me diga que está saindo com o Eros. — Ela cruza os braços.
— Nã o. Só peguei carona no carro dele. — Tento ser engraçada e sorrio
de mim mesma.
— Liz, que histó ria é essa? Você e o Eros andam de casinho? Era você
quem estava no outro quarto trancada com ele?
“Alguém me salva, por favor!”
— Trancada? Eu? Nã o lembro.
— Para de se fazer de desentendida! Eu nã o acredito que estou te vendo
aqui.
“O que é mais pesado? Dizer que estou com o Eros fazendo umas putarias
pela primeira vez ou que o meu pai apareceu na porta da nossa casa?”
Opto pela segunda opçã o.
— O meu pai apareceu.
— O seu pai? — Ela fica de queixo caído.
— Sim. E eu saí de casa desorientada, quase fui atropelada pelo Eros e
ele me trouxe para tomar um ar.
— Tomar um ar a 20km de distâ ncia?
— Sim. — Sacudo a cabeça.
— Meu Deus, a fulaninha é a prima da Olívia? — Nicholas fala.
“Fulaninha?
Eu não sou fulaninha!
Que flagra. Eu quero chorar.”
— Fulaninha é a sua mulher. — Eros entra no quarto e vem até mim. Só
falta ele segurar na minha cintura e falar que estamos juntos. — Vamos
embora, Liz. A casa ficou pequena.
— O que vocês faziam sozinhos aqui? — Nicholas pergunta e Olívia só
mexe os olhos.
— Nada que vocês queiram ouvir. Por que nã o vã o para o tal descanso
que querem tanto?
— Porque vocês estã o aqui. — O irmã o dele justifica.
— Já estamos indo. — Eros pega minha bolsa na cama e sai na frente e
eu o acompanho sem graça.
— Bom descanso. — desejo envergonhada.
Eles vieram nos encontrar fora da cidade.
“Que sorte!”
Saímos da casa agradecendo a Mariah e Jack, o outro casal nos assiste
indo para o carro pela janela do quarto.
Entramos e finalmente nos livramos deles.
— Que sorte! Que sorte! — reclamo.
— Relaxa. Eles nã o têm nada a ver com isso. — Eros tenta acalmar a
situaçã o.
— Mas a Olívia vai contar para minha tia, que vai contar para minha
mã e.
— Sua mã e nem precisaria ser muito esperta para perceber que tem
algo acontecendo entre nó s, Liz.
— Como ela iria reparar isso?
— Nas nossas caras, Liz. É possível, sabia?
Ele tem razã o.
— Harper reparou — comento.
— A Harper nã o é ninguém. Relaxa.
— Nã o fale assim da garota. Ela é gente boa.
— Eu me importo com você. Fodam-se as outras.
Nã o sei se sinto alívio ou fico mais preocupada.
Eu ouvi um pouco da conversa e de quando ele tinha muito ciú mes da
Olívia.
— Se você fizer qualquer coisa que me prejudique por ciú mes, já deixo
avisado que o adeus, que tem sido um até logo, se tornará adeus mesmo.
— Eu sei. Nã o vou fazer nada. Eu quero você por perto. — Ele aperta a
minha coxa.
Nunca imaginei que ter algo mais íntimo com alguém me deixaria tã o
confortável com a pessoa. Parece que ele me conhece do avesso e eu
sinto como se tivesse algo grandioso com ele.
Espero nã o me arrepender do que fizemos.
Depois de um tempo viajando, ele me deixa perto de casa.
— A gente se fala? — pergunta.
— Sim. Por mensagem. — Tiro o cinto e ele me puxa para um beijo.
— Você poderia ir para a minha casa.
— Nã o! — digo rindo. — Eu tenho a minha.
— Você entendeu o que eu quis dizer.
— Sim, eu entendi. — Abro a porta do carro e saio.
— Entã o você quer que eu vá para sua? É isso?
— Claro que nã o. — Continuo rindo e fecho a porta. — Já se apegou?
— Faz tempo. — ele troca de marcha e vai embora.
“Exagerado.”
Vou para o meu prédio e subo para o apartamento. Encontro a casa vazia
e imagino que minha mã e esteja no escritó rio com o Demétrio.
Tudo que eu queria era tirar essa roupa e vestir uma limpa. Depois do
banho eu me sinto renovada, porém dolorida.
“Liz, o que foi aquilo?”
Eu simplesmente disse sim ― nã o verbalmente ― para ele e nó s
transamos do início ao fim.
Ele me rasgou inteira, mas coube dentro de mim. Isso é um absurdo. É
insano. Foi doloroso, mas acho que será melhor das pró ximas vezes.
Quando for delicioso do jeito que seus dedos fizeram, eu nã o sei como
viverei sem.
Deito na cama rindo.
Queria ficar mais tempo com ele.
“Será que Olívia vai contar? Ela não sabe de tudo.
Ainda bem que não transamos na cama deles. Com certeza ficaria
manchada.”
O Nicholas me chamou de fulaninha. Desse jeito eu vou escolher o time
do Eros. Nã o dá para defender quem desdenha de mim assim.
“Será que estou com cara de quem fez sexo?”
Eu me sinto mais leve, feliz por isso ter acontecido somente quando eu
quis e nã o forçada por ninguém.
“Ai, Eros... Você é um safado gostoso.”
Conecto meu celular na tomada e o ligo. Assim que o sinal de internet
aparece, muitas notificaçõ es entram e a Harper está me ligando.
— Alô , Harper?
— Ah, que bom que você atendeu. Eu sei que estou te incomodando
ligando várias vezes. — Ela parece estar chorando.
— O que foi?
— É que... O Eros... Eu tenho tentado falar com ele desde ontem... — Sua
voz fica grave. — Ele disse que não é para eu ficar ligando para ele.
“Ela está chorando por causa disso?”
— Harper, você está bem?
— Eu posso ir aí na sua casa?
— Pode. Claro. — Concordo sem entender a razã o de tanto choro.
— Ok. Eu vou chamar um táxi. Daqui a pouco eu chego. — Ela avisa, e a
ouço assoando o nariz.
“A coisa parece feia.
Será que ela estava apaixonada por ele?”
Apareço durante a tarde no escritó rio depois de ver milhares de
ligaçõ es perdidas do Kevin. Nã o retornei, só me arrumei e corri para
saber o que era.
Mal piso no escritó rio e já me deparo com três homens de terno que nã o
reconheço.
— Boa tarde.
— Boa tarde. — Eles respondem juntos e Kevin aparece.
— Que bom que chegou. Eu te liguei e você nã o atendeu — fala calmo,
mas por dentro eu sei que ele grita.
Sempre grita quando nã o atendo. Parece parente de uma certa pessoa.
— Eu estava viajando. Acabei de chegar, só passei em casa e vim para cá .
Quem sã o?
— Os advogados de algumas empresas que a Holding gerencia.
— E?
— E eles estã o aqui para que assinemos o documento de rescisã o dos
contratos e para fazer os trâ mites de... você sabe. Os clientes nã o
voltaram atrá s.
Cubro a boca antes que o palavrã o fuja e me vejo perdido.
— É sério isso?
— Sim. Se o senhor puder adiantar. Temos muito trabalho a fazer. — Um
dos advogados diz.
— Já faz mais de uma hora que eles estã o esperando.
“Era só o que me faltava. Depois de tantas reuniões, estou perdendo.”
— Nã o dá para conversar e suspender esses planos? — pergunto a eles.
Nem todos me respeitam por causa da minha idade e a minha mã e disse
que as tatuagens também podem tirar a minha credibilidade, mas nunca
fiz nada de errado no meu trabalho para perder essas pessoas.
— Nã o. — O mais sério de todos os advogados responde.
— Ok. — Suspiro e mostro o caminho. — Vamos até a sala de reuniõ es.
Perder três empresas. Que decepçã o. Estou decepcionado com eles.
Nos sentamos ao redor da longa mesa de oito lugares e eles colocam as
pastas na mesa.
— Sã o todos iguais?
— Sim.
— Cole leu isso? — Olho para Kevin.
Já estou com dor de cabeça na primeira linha.

[Eros: vamos nos encontrar? Sair? Não aceito um 'não' como


resposta, especialmente depois do fora de ontem.]
A semana começou com a melhor segunda-feira e terminou como a pior.
Acordei de mal humor nesta terça-feira e estou esperando que Liz me
encontre esta noite para melhorar as coisas. Ela me acalma. No meio de
todos os problemas que tenho, ela é a ú nica coisa que me faz esquecer
deles.
[Liz: Ok. É melhor conversarmos pessoalmente sobre o que
aconteceu ontem.]
Ela se preocupa demais com o que nã o importa.
[Eros: Vou te buscar naquela rua onde te deixei ontem. Chego em
alguns minutos.]
A verdade é que eu só estava esperando ouvir o sim para sair de casa.
[Liz: Ok].
Saio de casa e pego meu carro na rua para encontrar a garota. No
caminho, passo por Luigi, que está correndo no condomínio. Ele para de
correr e vem falar comigo, também paro o carro.
― Olha quem apareceu! ― Ele estende a mã o e me cumprimenta.
― Como vai?
― Estou ó timo. Planejando uma festa para o fim de semana. Nã o quer
aparecer?
― Tenho compromisso no fim de semana.
― A Harper vem. ― Ele diz com um sorrisinho safado.
― Eu nã o mantive nada com ela. Aconteceu somente naquele dia ―
explico, para evitar mal-entendidos.
― Sério? Nem depois do aniversá rio? ― Ele estranha.
― Nã o.
― Também, você acabou de sair de um namoro. Eu entendo. ― Ele se
afasta sorrindo. ― Vai lá , eu vou correr um pouco.
― Boa festa. ― Buzino e ponho o carro em movimento.
Luigi parece ser o amigo que nã o sai da adolescência. Nã o evolui.
Mantém as mesmas atitudes que tinha quando ainda estudávamos.
Espero que isso mude algum dia.
Demorei um pouco no caminho ao encontro de Liz e, quando acredito
que a encontrarei me esperando, me engano. Só vejo uma mulher de
cabelos longos e muito loiros, de costas, enrolada em um casaco longo.
Paro e pego o celular para ligar pra ela, quando alguém bate na janela do
carro e vejo ser a loira, que também usa ó culos escuros durante a noite.
Abro a janela quando ela tira os ó culos e a reconheço. Dou uma
gargalhada.
― Para onde você vai de peruca loira e ó culos escuros, Liz?
Ela abre a porta e entra no automó vel como se estivesse fugindo de
alguém.
― Te encontrar! O disfarce é para ninguém me reconhecer. ― Ela coloca
de volta os ó culos.
― Isso tudo é vergonha de mim? ― pergunto ofendido.
― Nã o! É que agora sou uma pessoa pú blica e você viu o que aconteceu
quando saímos juntos da outra vez. Vamos logo! Vamos sair daqui. ― Me
apressa, mas antes de fazer o que ela quer, mato a vontade de sentir seus
lá bios com um beijo.
― Até que você ficou bonita de Hannah Montana.
Ela ri e me beija.
― Vamos logo, seu palhaço.
Deixo o celular de lado e dirijo para a minha casa. Depois de ver a
Hannah Montana montada, meus planos de ir para outro lugar foram
por á gua abaixo, mas entendo que para ela está sendo complicado lidar
com a fama repentina, e as pessoas adoram saber tudo da vida do outro.
Nã o quero vê-la sofrendo por causa disso. Eu sei como é, já que no dia
que coloquei os pés fora da penitenciá ria, fui abordado por vá rios
jornalistas inconvenientes.
― Me deu um fora ontem à noite... ― Toco no assunto para que veja que
estou magoado. Perdi algumas empresas ontem e isso me deixou muito
desanimado. Queria tê-la comigo.
― Eros...
― Me deu um fora para ficar com a Harper.
― Vamos conversar sobre isso quando eu puder tirar essa peruca — diz
só para me deixar ansioso.
Só espero que Harper nã o tenha falado nenhuma bobagem para ela. Dei
um basta no que ela achava que tínhamos para nos poupar disso.
Seguimos viagem calados e quando chegamos na frente da minha casa,
deixo o carro na rua e entramos.
― Agora pode se considerar dona e proprietá ria ― brinco, já que ela é a
mulher que mais frequentou essa casa depois da minha secretá ria do lar.
Ela tira a peruca rindo.
― A cor do cabelo nã o mudou muito. ― Analiso e tranco a porta.
― É brincadeira, nã o é? Olha esse amarelo! ― Ela mostra a peruca. ―
Fiquei horrorosa com isso!
― Para mim, fica bonita dos dois jeitos. ― A abraço e andamos assim até
o sofá , onde me sento e a puxo para cima de mim, sentada no meu colo
ela me beija.
Liz me beijando por livre e espontâ nea vontade. Acho que ela sente o
mesmo que sinto por ela.
― Me conta, o que a Harper queria com você?
Ela torce a boca em um belo biquinho.
― Você deu um fora nela.
― Eu disse para ela nã o me ligar mais. A garota ficou me ligando o fim de
semana inteiro, sendo que nã o tenho nada com ela!
Ela nã o tinha nada que ir reclamar disso com a Liz.
― Ela ficou muito triste, apareceu na minha casa chorando.
― Ela é muito dramá tica, isso sim. ― corrijo e acaricio seu rosto. ― Nã o
se preocupe com isso, Liz.
― Mas é claro que me preocupo! Parece até que sou a culpada.
― Nã o é! ― retruco.
― Sou, porque você deu um fora nela assim que ficou comigo!
― Liz, eu só fiquei com ela porque estava na fossa depois do fora que
você me deu. Acredite, se nada daquilo tivesse acontecido, eu jamais
teria ficado com ela de novo.
― Aconteceu porque você foi um babaca! E nunca pediu desculpas.
― Nem vou! Continuo desgostando da sua amizade com aquele cara ―
digo sem medo e ela revira os olhos. ― Voltando ao problema Harper, eu
nã o prometi nada a ela, nã o me envolvi sentimentalmente com ela, eu
nã o sei por que ela levou tã o a sério o que nã o existia.
― Você foi ao aniversá rio dela!
― E daí, Liz? Fui como um amigo! Eu nã o quero aquela garota me
ligando.
Ela encara as mã os, parece culpada de algo.
― Ainda me sinto mal.
Abraço a sua cintura e nossos rostos ficam pró ximos.
― Quem tem que se sentir mal é ela. Se continuar assim, vou ligar pra ela
e reclamar por ter te chateado.
― Nã o brinque com isso, Eros. ― Liz arregala os olhos.
― Nã o estou brincando. ― Capturo seus lá bios e ponho um fim na
conversa com um beijo.
Harper nã o vai atrapalhar o que temos.
[Pai: O que acha de um jantar para conversamos?]
[Eros: Já tô em casa, pai. Estou cansado demais para sair. Desde
segunda, quando aconteceram todas aquelas rescisões que eu não
durmo um sono que preste.]
[Pai: Temos que resolver isso. Falar dos seus negócios. Aproveitar
que estou na cidade.]
Olha, se eu for abrir a boca para falar, admitirei que estou prestes a
desistir dessa coisa de Holding e admitir que Scott ganhou. Tudo que
menos preciso é do meu pai pegando no meu pé.
[Pai: Posso ir aí?]
Ele está muito prestativo. Por que será que eu acho que isso tem dedo da
minha mã e? Meu pai é um rendido. Ele faz tudo o que a minha mã e quer.
[Eros: Venha.]
Eu já sei que ele nã o vem sozinho.
Tiro a roupa do trabalho e depois de um banho, visto um short.
Liz nã o me mandou mensagem hoje. O que será que ela anda
aprontando nessa quinta? Ela anda comovida com o basta que dei nas
mensagens e ligaçõ es que Harper estava fazendo incansavelmente para
mim.
Eu só fiquei com ela uma vez e apareci no seu aniversá rio. Ela esperava
que eu passasse o resto da vida com ela?
[Eros: Boa noite, minha fulaninha.]
A campainha toca e vou atender sabendo quem é.
Ao abrir, vejo a minha mã e com um sorriso e o meu pai com as mã os
ocupadas de sacolas.
— Por que eu nã o estou surpreso?
— Filho, como você está ? — Ela me abraça.
— Estou bem.
— Nicholas disse que vocês conversaram. Fiquei tã o feliz!
— A paz chegou logo ou acabou rá pido demais? ― pergunto sobre a
viagem do casal relâ mpago.
— Eles ainda estã o lá . Levaram o aparelho de internet. — Meu pai conta
e carrega as sacolas para dentro.
— O que tem aí? — questiono olhando para as sacolas.
— O jantar. Mandei fazer tudo que você gosta. — Mamã e conta
empolgada e entra logo depois. — A Abgail ainda trabalha aqui?
— Desde quando você a conhece?
— Ela trabalhou lá em casa na semana do casamento do seu irmã o.
— Entendi. — Tranco a porta e minha mã e vai arrumar a mesa enquanto
me sento na sala com meu pai.
— Quer dizer que três dos só cios te abandonaram?
— Sim. E parece que tem mais gente querendo sair depois desses. Sabe o
que é pior, pai?
— E tem como piorar?
— Eles estã o trabalhando com o Scott Brixton. Tantos empresá rios na
cidade e as pessoas só ficam entre mim e ele. Eu queria que ficassem
somente comigo.
— Ô filho, nã o quero invalidar o seu trabalho, mas você nã o acha mais
proveitoso só investir em empresas do que ficar gerenciando o negó cio
dos outros?
— Depois da Holding, meu nome ficou bem conhecido. Nunca fiz nada de
errado.
— Mas agora está valendo essa dor de cabeça?
— Claro que nã o, só nã o quero dar o braço a torcer. ― admito.
— Deixa ir, Eros. Deixa o Scott acreditar que está ganhando. Você tem
muito dinheiro bem investido. Isso nã o vale o seu tempo. Foca no
Demétrio. — Ele aconselha.
— Como você sabe do Demétrio? — Estranho.
— A namorada dele é irmã da mã e da Olívia e uma contou para outra,
chegou na sua mã e e ela me contou.
— Que telefone sem fio mais bem feito! — Fico admirado.
— Eu soube que você atrapalhou a campanha da prima da Olívia. A sua
namorada. — Minha mã e revela. — Que coisa feia, Eros!
— Mã e! Tem como vocês serem menos fofoqueiras?
— Ao menos estamos sabendo de tudo. — Meu pai a defende. — Aposte
nele. Nã o para gerenciar nada. Invista e deixe o povo se virar. Nó s só
colocamos nosso dinheiro onde vale a pena e faça ele render. É isso,
Eros.
— Eu só nã o queria ficar nas sombras. Queria ser um empresá rio de
respeito e foi com a Holding que eu consegui.
— Eu sei, eu sei. Mas no momento você tem que limpar sua imagem e
usar o seu tempo com sabedoria. Eu mesmo, vivo viajando para reuniõ es
com empresá rios, mas logo volto para casa, meus lucros sempre estã o
entrando na conta, tem outras que recebo o dividendo...
— Todo mundo te respeita. Eu, independentemente do quanto tenha
trabalhado, nã o tenho moral alguma. Depois desse golpe, o povo
realmente acredita que eu tenho dinheiro proveniente do trá fico de
armas ― conto chateado.
— E isso é verdade?
— Claro que nã o!
— Entã o pronto. Esse assunto vai se resolver. Uma hora ou outra o
culpado irá aparecer, mas se você ficar como um louco, perseguindo esse
Scott ou outras pessoas, só vai se atrasar.
— É ele quem fica me perseguindo. Enquanto estive preso, ele procurou
cada um que trabalhava comigo.
— Deixa ele. Nossa família nã o sofre com concorrência nã o, Eros. Relaxa.
“Eu não sei não. Sou teimoso. Não gosto de perder. Não gosto de abrir mão
das minhas coisas.”
— Hum. É por isso que você faz negó cios com gente que nã o presta.
Como o pai da Olívia — constato seu alto grau de confiança.
— Eu investi no negó cio dele, está dando lucro, só isso me interessa.
Quando nã o der lucro, nã o importa se é pai da minha nora, meu irmã o,
meu melhor amigo, eu me retiro e adeus. — Meu pai fala, assumindo o
papel de CEO.
— Nã o dá para misturar amizade com negó cios. Venham comer. —
Minha mã e chama. — Assim como nã o pode misturar namoro com
trabalho.
— Mã e, isso é uma indireta? — Levanto e olho pra ela.
— Ela nã o fala em outra coisa senã o nessa menina que você levou para a
casa de campo.
— Quem te contou isso? Nicholas ou Olívia?
“Ter os dois contra mim é pior do que eu pensava!”
— Os dois. Eu acho aquela menina uma graça. — Mamã e admite. — Mas
a mã e dela nã o gosta de você.
— Vocês nã o contaram para a mã e dela sobre essa ida a casa de campo
nã o, contaram? — Vou pra cozinha preocupado.
Liz ficaria louca se isso acontecesse.
— Nã o. Mas ela falou isso quando você esteve lá . — Minha mã e parece
bem-informada. — Eu nã o gostei de saber que ela estava falando mal do
meu filho, mas ela é mã e, e mã e defende os filhos.
— Eu nã o vou fazer mal a filha dela. — Me sento numa das cadeiras.
“Quanta comida!”
Ela mandou fazer um banquete. Toda a mesa está ocupada e as comidas
estã o bem cheirosas.
— Mas o que você fez com a propaganda foi uma maldade. ― meu pai
também me julga.
— Ela estava com outro cara e eu nã o gostava dos dois juntos, entã o
acabei com isso.
— Meu filho, você nã o pode ser assim.
— Nã o me julgue, pai. Vamos comer.
Serei obrigado a fazer o sacrifício de comer de tudo um pouco.
Faz muito tempo que nã o me sento ao redor de uma mesa para comer
com meus pais. Muito tempo mesmo. E fazíamos isso frequentemente.
Eu senti falta. Com o tempo me acostumei, mas agora que estou vivendo
isso de novo, lembro de como é bom.
— Sua mã e comprou um anel de 49 mil dó lares. — Meu pai conta. Ele
sempre conta tudo o que ela faz.
— Você me deu o cartã o e disse que eu podia comprar tudo o que eu
quisesse. Eu queria o anel! — Ela se defende me fazendo rir.
— Quando você se casar, pense bem antes de entregar um cartã o na mã o
da sua mulher. — Aconselha o homem que parece arrependido.
— Tem que dar tudo que ela merece, Eros. — Minha mã e vai por outro
caminho. — Mulher gosta disso. Merecemos ser mimadas pelas noites
que passamos sozinhas enquanto vocês viajam. Já pensou se tem outra
por aí...
Agora ela foi longe.
— Jamais! JAMAIS! Nã o tenho olhos para outra mulher senã o a com
quem me casei. — Meu pai se defende rapidamente, até alterou a voz e
eu gargalho.
— Hum. — Ela sorri enquanto corta o bife.
Esses dois sã o muito apaixonados mesmo.
Meu celular começa a tocar e é a Liz, mas antes mesmo de eu atender, ela
desliga e vejo uma mensagem na notificaçã o de tela.
[Liz: Eros, me tira daqui. Estou na casa do Ed, que também é a casa
do Scott. O homem que tentou me abusar. É perto da sua casa. Tem
um carro vermelho na frente.]
Largo o garfo e levanto nervoso.
— O que foi, filho?
— Eu já volto. Me empresta o seu carro, pai.
Ele me entrega a chave e me apresso para sair de casa.
“Que diabos Liz foi fazer na casa do Scott?
E que história é essa dele morar na mesma casa que o modelinho de
vitrine?”
— Me conta isso direito, Liz. Como você está namorando o Eros e vai
jantar na casa do Ed? — Paige rola na minha cama e me encara.
— Eu nã o estou namorando o Eros. — Corrijo isso antes que a minha
cabeça comece a pensar dessa forma.
— Aham. E o Ed?
— O Ed é só um amigo. — Sento na cama e coloco o travesseiro no meu
colo.
— Amigo? O Eros sabe disso?
— Da amizade ou do jantar? — Ele nã o sabe de nenhum — Paige, ele me
chamou vá rias vezes. Diz que quer retribuir o dia que veio aqui em casa.
Disse que o pai dele quer muito me conhecer.
— Nã o sei se ele quer ser só seu amigo. Toda vez que está perto de você,
ele fica todo abobalhado. Queria que ele olhasse daquele jeito para mim.
— Ela dá uma risada que me contagia.
— Eu sei. — Deito na cama, de frente para ela. — Eu já reparei que ele
parece ter algum interesse. Juro que se nã o fosse o Eros, eu ficaria
animada com isso.
— Está apaixonada pelo bad boy complicado, nã o é? — Sua pergunta sai
acompanhada de um sorriso.
— Ele nã o é complicado, a vida dele que é. E estou aqui passando pano.
— reconheço e enfio a cara no travesseiro.
Eu sempre tive certeza de que esse tipo nã o era para mim, mas parece
que foi só o conhecer que a minha opiniã o mudou. Nã o sobre o tipo,
sobre ele... Eros é meu tipo certo de garoto errado.
— Essa cara eu nunca tinha visto. — Paige comenta me encarando.
— Paige, aconteceu com ele — conto baixinho. — No domingo passado.
— Aconteceu, aconteceu? — Ela também sussurra, mas de olhos
arregalados.
— Aconteceu. — Meu rosto queima de vergonha.
É uma coisa muito íntima e por mais que a minha amiga já tenha muita
experiência e vergonha nenhuma para falar sobre o assunto, para mim é
novo e muito pessoal.
— Liz... Estou bem surpresa. Nã o imaginei que você chegaria tã o longe
logo com ele.
— Eu sei. Acho que nem eu, embora eu já soubesse que ele sempre me
deixava sem reaçã o quando chegava perto e sempre conseguia o que
queria. Eu acabei me entregando.
— E como foi? — Ela pergunta sorrindo e me recordo do momento.
— Nã o foi nada má gico, foi bem... Como posso dizer... Carnal.
— Carnal? — Ele ri alto e mesmo com vergonha também dou risada.
— Eu nã o sei mais o que dizer. Ele foi cuidadoso e paciente. Eu senti
prazer no meio daquela coisa dolorosa. Tem algo mais carnal que isso?
— Eró tico, pecaminoso, animalesco.
— Sã o boas definiçõ es.
Rimos.
— Isso foi um grande passo. O que ele disse depois de todo esse
momento de proximidade?
— Que me quer mais perto ainda. — Conto feliz com essa ideia, já que eu
quero o mesmo.
Depois da primeira vez, eu me sinto mais pró xima e à vontade com ele
do que antes, também quero conhecê-lo melhor.
Acho que ele nã o é tudo o que eu e o resto do mundo julgava que ele era.
— E qual é a parte que a filha do seu padrasto entra?
— Essa é a parte complicada. Eles ficaram e ela se empolgou, tanto que o
convidou para o aniversá rio dela. Ela estava ligando para ele no
domingo e quando voltamos na segunda, ele deu um basta nessa histó ria
e ela ficou chorando.
— O sujeito é curto e grosso, hein!
— Sim. E o pior foi que ela procurou logo a mim para falar disso. Estava
chorando. Me senti culpada.
— Culpada por quê, Liz?
— Ele só fez isso porque ficou comigo.
— Antes dela vocês já tinham algo mal resolvido, nã o era? Você nã o tem
culpa de nada e ele fez bem em acabar com a insistência dela, já que eles
nã o tinham nada.
A mesma coisa que o Eros disse.
— Eu também nã o tenho nada com ele. Antes do domingo, ele tinha mais
intimidade com ela do que comigo.
— É , mas agora vocês estã o bem íntimos e ele é apaixonado por você e
nã o por ela. Para de ser besta, Liz!
Me sento com a culpa me consumindo. Falei para ele sobre isso e ele
também disse que era bobagem.
— Foi mais por isso que aceitei o convite do Ed. Tenho medo da Harper
descobrir que estive com ele no domingo passado e durante a semana,
ela dirá que fui eu quem separou os dois e que ainda me fiz de amiga.
Isso seria um problemã o.
— Separar o que nem estava junto? Faça-me o favor, Liz! — Paige
levanta da cama. — Você nã o vai dar uma chance pra o Ed, vai? Nã o
pergunto por interesse nele, mas por causa do Eros.
— Claro que nã o! Só vou ao jantar e depois volto para casa. O trabalho
que fizemos foi por á gua abaixo e nã o temos mais o que nos una além da
amizade.
— Vamos ver o que o Eros vai achar disso. Foi ele quem jogou á gua no
trabalho de vocês. Imagina só se descobre que você foi conhecer a
família do Ed?
Já imaginei e o final nã o foi nada bom.
— Se ele fizer mais alguma coisa por causa de ciú mes, eu nã o vou querer
ficar com ele. Eros sabe disso.
— Você nã o deveria ficar dando motivos.
— Paige, eu tenho a minha vida além do Eros. Quando ele foi atrá s da
Harper, para fazer sexo, eu nã o implique. Nã o posso comer na casa do Ed
na amizade? Me poupe e pare de ficar do lado do Eros.
— Você quer comer na casa do Ed e o Ed quer te comer. — Ela joga a alça
da bolsa no ombro. — Com licença, obrigada.
Fico na cama, desaprovando sua ideia. Se Ed tem esse interesse por mim,
que o perca.
Levanto da cama e tomo banho antes de me arrumar para o jantar e
quando estou arrumando os cabelos, mamã e chama do outro lado da
porta.
— Liz, eu e o Demétrio vamos pedir o jantar. O que você quer comer,
filha?
— Mã e, eu vou jantar na casa do Edward. Ele tem me chamado faz
tempo e disse que o pai quer me conhecer. — Abro a porta e a vejo com
um sorriso de orelha a orelha.
— O pai dele quer te conhecer? Ele deve entender das coisas como eu
entendo.
— Aham. Deve ser isso mesmo. — Finjo concordar.
Mas o Ed disse que seu pai nã o fala em mais nada que nã o seja nesse
jantar para nos conhecermos. Poderia ser a sua mã e, mas talvez na
família dele o casamenteiro seja o pai.
Eu vou por consideraçã o. Nã o era ninguém quando Ed aceitou vir na
minha humilde residência e aguentou a minha mã e e suas perguntas.
Vou me sacrificar e ouvir as perguntas do pai dele.
— Eu sinto que vai dar namoro. — Ela fala empolgada.
— Mã e! — Olho para ela perplexa.
Se ela soubesse com quem sua filha anda trocando beijos, repensaria
essa conversa.
Eu nã o sei o que vai dar entre mim e Eros, mas se for para frente, mamã e
terá que aceitá -lo.
O Demétrio já aceita.
Ela sai da porta.
— Demétrio, Liz nã o vai jantar com a gente. Ela tem um encontro com o
Edward e seus futuros sogros.
— MÃ E!
“Que vergonha!”
Termino de me arrumar e quando saio do quarto, encontro os dois rindo
na sala.
— Que vestido lindo, filha! Foi da campanha?
— Nã o. Esse já era meu. — Dou uma voltinha para mostrar meu vestido
de mangas bufantes, vermelho com flores amarelas.
Eu limpei o estoque de estampas da loja online.
Com os tênis e a bolsa pequena fiquei no mínimo "fofa".
— Edward vai comprar a propaganda que a sua mã e fez. — Demétrio
comenta e encara mamã e rindo.
— Mas é claro que vai! — Ela se anima.
— Acho melhor vocês pararem de sonhar. Digo de coraçã o. — Pego
minha chave de casa em cima de um dos mó veis e abro a porta.
— Bom jantar. — Eles desejam.
— Obrigada.
— Qualquer coisa, nos ligue. Se for dormir fora.
— Mã e! Desde quando você se tornou essa mulher? Demétrio, nã o
incentive isso! — Saio de casa envergonhada.
“Querem que eu seja como eles!”
Chamo o Uber e espero na frente do prédio. Eu nem vou olhar as
mensagens do Eros, porque se eu responder, ele vai querer encontrar
comigo e eu nã o conseguirei mentir, nem quero.
É um serviço de amizade que estou fazendo. Acredito que só me
chamaram para aquela propaganda que rendeu milhares por conta dele.
O endereço que Ed me mandou indica que ele mora no mesmo
condomínio que o meu sossegadinho. Mais perto do perigo ainda.
Só que seguimos para as casas de trá s da rua que o Eros mora, e ao
chegar na frente já vejo uma Ferrari vermelha parada na calçada.
Pelo visto eles sã o bem de situaçã o.
— Obrigada — digo ao motorista antes de sair do carro e respiro fundo
tomando coragem para bater à porta da casa.
Nã o é como se eu ele fô ssemos melhores amigos. As nossas conversas
continuam sendo sobre trabalho e mesmo quando ele tenta mudar o
assunto, me mantenho neste. Eu nem saberia o que conversar sentada
com pessoas que moram numa mansã o dessas. Parece a casa do
embuste do Luigi, porém, com cores diferentes e as janelas nã o sã o de
vidro.
Nã o demoro quando paro em frente a porta, já aperto o botã o e aguardo.
Só dá tempo de sacudir um pouco a perna direita e alguém abre a porta.
Uma mulher um pouco mais velha que a minha mã e e pela touca
acredito que seja a empregada da casa.
— Boa noite. — Ela diz gentilmente.
— Boa noite. Essa é a casa do Ed Banks?
— Brixton. Sim. Você quem é?
Brixton? Esse sobrenome nã o me é estranho.
— Liz Stuart.
— Ele está te esperando. — Ela abre passagem e entro.
— Liz! — Ed exclama descendo as escadas vestido como se fosse jogar
golfe com uma camisa gola polo.
— Oi! — Cumprimento timidamente.
— Que bom que você veio! — Ele segura minha mã o depois de beijar
meu rosto.
— Eu disse que viria. — Sorrio.
A casa dele é enorme, tem pé direito alto e o maior lustre que já vi na
vida, pendurado bem acima de onde estou parada. O sofá creme, as
paredes na mesma tonalidade e outras coisas em marrom e preto.
Quadros e mais quadros de pintura abstrata. A sala de jantar fica ao
lado, sem nenhuma parede de divisã o entre ela e a sala de estar. De
longe dá para ver que a longa mesa tem um banquete.
— Meus pais logo estã o vindo — Comenta.
— Você nã o tem irmã os? Aliá s, o seu sobrenome é Banks ou Brixton? —
Fico curiosa.
— Brixton. Banks é o sobrenome de solteira da minha mã e, só uso para
me desvincular da família Brixton. Você sabe, os créditos. Sobre irmã os,
tenho uma prima que mora conosco, que é como uma irmã . Ela também
irá descer para o jantar, mas parece que tem um encontro logo apó s.
Acho que hoje é a noite dos encontros.
Balanço a cabeça concordando, mas dentro de mim eu só vejo mais um
que anda sonhando.
— Ed, você sabe que estou aqui somente como am...
— Ed, é a sua amiga? — Uma garota pergunta descendo a escada.
Ela se parece mesmo com ele! A cor dos cabelos, os olhos e o sorriso.
— Sim. É ela. Essa é a minha prima, Kelsey.
Sorrio e espero ela se aproximar para cumprimentá -la.
Sinto que já a vi alguma vez, mas nã o lembro quando, nem onde.
— Sou Liz. É um prazer.
— O prazer é meu. Todos aqui estavam curiosos para conhecer a garota
que nã o sai de boca do meu primo.
Frase complicada. Fico sem graça.
— Nã o começa, Kelsey. Você nã o vai jantar com a gente mesmo?
— Nã o. Tenho um encontrinho. Em outra ocasiã o, quem sabe? — Ela
olha para mim sorrindo. — Fique à vontade, Liz.
— Obrigada e ó timo encontro.
— Para vocês também. — Ela dá uma piscadela e sai sorrindo.
Ed sorri igual bobo, mas quando olha para mim, se contém.
— O que você dizia mesmo?
— Dizia que eu vim aqui como uma ami...
— Finalmente! — Uma voz masculina invade o ambiente e me faz
congelar. — O dia de conhecer a famosa Liz chegou.
Engulo a saliva e pisco os olhos, sinto dificuldade para mover meus
braços, pois cada mú sculo treme e está rígido.
Nã o tenho forças.
— Sim, ela veio. — Ed segura meu braço. — Liz, esse é o meu pai, Scott.
Olho para o homem e nã o sinto nada além de pavor.
O homem de cabelos escuros, certamente pintados, desce os degraus
com um enorme sorriso no rosto e aquele olhar, o mesmo olhar que ele
disparou em minha direçã o quando tentou me fazer mal anos atrá s.
Nã o só meu coraçã o, mas todas as minhas vísceras tremem.
— Olha só ! Você é mais bonita pessoalmente! — Ele para na minha
frente e sinto vontade de vomitar vendo essa cara nojenta.
— Você... — Tento falar alguma coisa, mas nã o consigo formular uma
frase. Estou tremendo.
— Você está bem, Liz?
“Como Ed ousa perguntar isso depois de me colocar frente a frente com
meu maior pesadelo?”
— Eu...
— Você está pá lida. Quer um copo d'á gua? — Ed pergunta.
— Sim. Por favor. — O acompanho sob o olhar e o sorriso do desgraçado.
Pego o meu celular na bolsa e, tremendo, digito uma mensagem para a
ú nica pessoa que pode me tirar daqui rapidamente, pois mal tenho
forças para falar alguma coisa, ligo para ele antes de enviar, para ver que
é urgente.
“Eu não deveria ter vindo. Nunca deveria ter saído de casa.”
Ed me dá o copo com á gua na cozinha e o seguro com as duas mã os, pois
estou tremendo muito.
— O que houve?
— O que houve? ― Devolvo a pergunta.
— Sim. Você estava bem e de repente ficou assim.
Bebo a á gua e tento falar.
— Eu... Acho que é melhor... Acho que é melhor eu ir. Nã o me sinto bem.
— Você nã o faria uma desfeita dessa com a nossa família, faria? — Scott
pergunta atrá s de nó s, de braços cruzados e se divertindo com a
situaçã o.
Esse homem é um nojento.
O pior de tudo, é que eu só sinto um desespero enorme dentro de mim.
Um medo que eu nã o senti nem quando ele tentou me fazer mal, uma
afliçã o que mal me deixa respirar.
Eu só quero fugir. Só isso, mas nã o consigo me mover. Meu corpo está
doendo dos pés à cabeça, cada mú sculo, posso sentir a pressã o na minha
cabeça.
— Liz. — Ed agarra meu braço e meus olhos, que estavam perdidos na
parede, mas se voltam pra ele. — Se sente melhor?
Balanço a cabeça negando.
— Eu posso te levar para casa ou você prefere tomar um remédio?
— Mas eu estava tã o curioso para saber mais sobre ela. — Seu pai
retruca. — Estou há muito tempo curioso.
“Monstro. Monstro. Monstro!”
Um baque me faz pular e desregula mais ainda as batidas do meu
coraçã o, que estã o frenéticas.
— O que foi isso? — Ambos os homens olham na direçã o da sala.
— ABRA ESSA PORTA, SCOTT! — Eros exige aos gritos e um suspiro de
alívio sai do meu peito.
— Quem é ? — Ed pergunta indo para a sala e eu vou atrá s dele, mas o
monstro do pai dele segura meu braço e me para.
Desta vez o meu peito sobe e desce forte pela raiva.
— Me solta, seu nojento. — Puxo meu braço, mas ele segura firme e nã o
consigo me desprender.
— Quem diria que você iria acabar na minha casa, hein? Agora você tem
idade suficiente para fazer tudo, nã o é? — Scott desce seu olhar pelo
meu corpo e sinto meu estô mago embrulhar.
— Me solta! — Puxo o braço mais uma vez.
— CADÊ A LIZ? — Eros pergunta empurrando o peito de Ed e esse cai de
costas no chã o.
— EROS! — grito e puxo meu braço uma terceira vez, mas Scott aperta
ainda mais forte, dessa vez sorrindo.
— Entã o esse é o seu ponto fraco, Eros Werneck?
— Mas tinha que ser você, o filho da puta que traumatizou a garota, nã o
é? — Eros se aproxima rá pido, com olhos ferozes e empurra o peito do
Scott.
O homem dá um passo para trá s com o golpe, mas nã o recua, tampouco
desmancha o sorriso.
— Pai, solta ela. O que está acontecendo? — Ed pergunta, vindo para
perto de toda a confusã o.
— Tire as mã os dela ou você vai se arrepender de ter nascido. Você nã o
sabe com quem está mexendo, Scott. — Eros vocifera.
— Um playboy que vive de trá fico. Eu sei bem. Assisto ao jornal.
Continuo tentando me soltar, mas o homem nã o deixa. Nã o até Eros,
descontroladamente, acertar um soco com o punho esquerdo no olho de
Scott. O homem só nã o sentiu o chã o porque a mesa da cozinha estava
bem atrá s.
Vejo a empregada que está escondida, assistindo tudo isso de longe
enquanto confiro meu braço antes de me esconder atrá s de Eros.
Ficou marcado com as marcas de mã o dele. Infeliz!
Eros está cego de raiva e vai para cima do Scott, acertando mais socos
em sua cara.
— Mas o que está acontecendo aqui? — Uma mulher elegante, que deve
ser a mã e de Ed, aparece apavorada.
— Eu nã o sei. Por que ele está fazendo isso? — Ed pergunta e tenta tirar
Eros de cima do pai.
A cara do desgraçado está ensanguentada de tã o violento que Eros está
sendo e meu medo agora é que isso se transforme em algo mais grave.
— Eros, vamos embora. Eros! — Puxo seu braço esquerdo.
— Eu vou acabar com esse desgraçado.
— Liguem para a polícia! — A mulher implora.
Eros acerta uma cotovelada em Ed e esse nã o aguenta um golpe, já
cambaleia de novo.
— Eros, para, por favor, me ouça! Se você nã o parar, vai acabar na cadeia
de novo. É isso que ele quer. Nã o dê esse gostinho para ele.
Ele larga o homem imediatamente e se levanta.
Em meio ao sangue dos machucados, Scott levanta sorrindo.
— Continua, Eros Werneck. Continua — pede com a cara nojenta de
sempre.
— Vai chegar o momento em que vou acabar com você. Guarde o que
estou dizendo. — Eros o ameaça.
— Ameaças de morte? Acho que é a sua vida que está acabada, Eros
Werneck. — Scott limpa o rosto com o lenço que sua suposta esposa
entrega e nã o parece incomodado com os machucados.
— Nã o pense que vou abaixar a cabeça para você. Isso aí é só uma
amostra do que eu posso fazer se você cruzar o meu caminho ou o
caminho da minha namorada.
“Namorada?”
— Eu soube que sua passagem pela cadeia gerou muitas boas memó rias.
Se prepare para revivê-las depois de invadir a minha casa e me espancar.
— Vamos embora, Eros. — Imploro preocupada.
Se ele chamar a polícia, isso certamente irá acontecer. Ele será preso de
novo.
— Vamos, Eros! — O puxo pelo braço e ele me acompanha sem tirar os
olhos de Scott.
— Você também, modelinho de vitrine. — Eros dispara. — Nã o chegue
perto da minha garota.
“Será que foi uma boa ideia ter o chamado?”
Saímos da casa e o carro parado na rua nã o é o dele, mas ao limpar o
sangue na roupa, ele pega a chave e o abre.
Entro pelo outro lado e calados, seguimos até a sua casa.
É nesse silêncio que o nervosismo da briga passa, vejo as marcas em
meu braço e lembro do que aconteceu comigo, exclusivamente comigo.
Nunca suspeitei que Ed era filho do Scott, até porque eu nem sabia que
esse nojento estava vivo e aqui na cidade. Estava feliz em nã o o ver e
nunca mais ter ficado sabendo nada sobre ele, entã o isso me acontece.
“Meu pai quer muito te conhecer.”
Eu nã o conseguia imaginar o porquê, mas agora faz muito sentido. Na
verdade, ele mexeu com duas pessoas com um ú nico feito.
Eros está cheio de ó dio, isso é outra coisa que eu nã o esperava,
descobrir que eles se conheciam. É como se o desgraçado estivesse
sempre aqui e só eu e minha mã e nã o víssemos. Isso parece fá cil de ser
verdade por eles serem tã o ricos. Quando o conhecemos, ele nã o tinha
todo esse dinheiro. Nem ele, nem meu pai, nem meu tio. Pelo visto, só
meu pai continuou no buraco no meio de todos os golpes que deram.
Saímos do carro e andamos em direçã o a entrada. É um alívio estar onde
aquele homem nã o pode me alcançar.
― Entã o, filho, o que houve? — A presença dos pais deles me pega de
surpresa e paro atrá s de Eros sem saber o que fazer.
― Já resolvemos. ― Eros segura minha mã o e me faz sair da porta.
― Boa noite ― digo um pouco constrangida ao perceber que o tirei de
um momento em família. Logo o Eros, que está tendo dificuldades em se
acertar com os pais.
― Boa noite. Seja bem-vinda. ― A senhora Werneck diz com um sorriso
gentil que se desmancha assim que ela olha para baixo. ― O que houve
com o seu braço? Eros, que sangue é esse na sua roupa?
Eu nem consigo falar. Como explicaria o que me levou a tirá -lo de casa se
é algo tã o complicado para mim? Nã o quero que mais pessoas saibam
sobre o meu passado que me atormenta até hoje.
― Tivemos um problema, mas já foi resolvido. ― Eros nã o conta e me
deixa aliviada. Ainda bem que ele entende.
Eu me surpreendo toda vez que estou com ele. Eros nã o é o cara filho da
puta que acreditei que era. Ele pode ter sido um babaca com a minha
prima, mas comigo, ao menos até agora, ele tem se mostrado bastante
compreensivo.
Eu nã o sei se conseguiria me mover e sair daquela casa antes do jantar.
O pâ nico me paralisou.
“Será que Ed não sabia mesmo das intenções do pai?”
Eros solta a minha mã o e se afasta.
― Vou trocar de roupa e lavar minhas mã os. Mã e, dê um copo d’agua pra
Liz e coloca mais um prato à mesa para ela.
― Claro. ― Sua mã e se prontifica e o pai dele fica me observando. Isso
me deixa desconfortável. Parece que fui inconveniente.
― Eu nã o quero incomodar. Nã o se preocupe. — Tento contornar a
situaçã o.
Depois do que passei, perdi até a fome.
― Venha, querida. Coma alguma coisa. ― Ela me chama, já com o prato
na mã o.
Fico acuada, desejando que Eros volte logo. Eu nem sei o que fazer ou
como me comportar, mas os pais dele nã o se comparam aos pais do Ed.
“Que pesadelo!”
Como um momento na vida pode nos deixar com alguma sequela por
anos? Há momentos em que quero pensar como meu pai, fingindo que
nada aconteceu, porque, de fato, nã o deu tempo de acontecer. O
problema é que poderia ter acontecido, quase aconteceu, e pensar no
que poderia ter acontecido é o que me deixa mais assustada e
traumatizada.
― Fique à vontade. ― O pai de Eros diz. ― Parece que você passou por
maus bocados.
Escondo o braço marcado e assinto apertando um lá bio ao outro.
― Toma um copo d’á gua. ― A senhora Werneck oferece e vou até a
cozinha beber.
Dessa vez, minhas mã os nã o tremem tanto ao segurar o copo e tomo
toda a á gua sem pausas.
― Obrigada. — Agradeço e deixo o copo na pia.
Ela dá um pequeno sorriso, mas parece preocupada.
― O que aconteceu? Você gostaria de nos contar?
Eu nã o me sentiria bem em contar a verdade e também nã o quero
mentir.
― Sem perguntas, mã e. Deixe a Liz se acalmar. ― Eros volta usando outra
bermuda e com as mã os limpas.
― Você se machucou? ― Seguro sua mã o, que está vermelha, com alguns
hematomas.
― Nã o. Estou bem. Me sinto bem melhor agora. ― Ele agarra meus dedos
e puxa uma cadeira. ― Senta aqui e coma um pouco com a gente.
― Estou sem fome, Eros — digo sem graça pela desfeita, mas nã o
consigo comer.
Estou com vergonha por aparecer aqui quando os pais dele estã o.
― Nã o fique tímida. Meus pais sabem do seu papel na minha vida. Eles
nã o vã o ficar surpresos se você se sentar e comer um pouco. ― Ele diz,
eu arregalo os olhos.
“Que papel?”
Ainda estou assimilando a ideia de “minha namorada” que ele soltou no
meio da discussã o.
― Foi a minha mã e quem mandou fazer. Ela vai ficar desapontada se
você recusar. Nã o é, mã e?
― Sim, muito. ― Ela afirma, de braços cruzados, nos analisando
enquanto o pai dele se senta numa cadeira.
― Ok. ― Me sento, mas a timidez nã o vai embora tã o rá pido.
Eros fica ao meu lado o tempo todo. Pelo jeito, todos abandonaram seus
pratos quando Eros viu a minha mensagem.
― Você está tã o bonita. Tinha algum compromisso hoje? ― A mã e dele
tenta puxar assunto e Eros me encara.
― É . Eu ia para um jantar na casa de um colega. — Coloco um pouco de
comida tailandesa no meu prato e experimento apressada para nã o
precisar entrar em detalhes.
A comida está uma delícia.
― Que bom que veio para cá , estava ansiosa para uma apresentaçã o
formal — comenta e Eros sorri de lado.
― Pois é — digo encarando Eros.
“Por essa eu não esperava.”
Nã o queria falar com ele essa noite para nã o ter que contar sobre o
jantar na casa do Ed, mas ele acabou presenciando tudo.
Eros olha para o meu braço marcado e volta a comer de cabeça baixa. O
mau humor que essa situaçã o causou ainda está presente no rosto dele,
em seus olhos, nem quero imaginar o que ele está pensando de mim.
Deve estar repetindo em meio aos pensamentos que sou muito ingênua
e que dei ouvidos ao Edward, quando sei que ele odeia que esse rapaz
fique perto de mim. Fui com as melhores intençõ es, já ele pode ter sido
manipulado pelo pai ou tramado isso junto ao nojento. Independente da
intençã o, agora eu quero distâ ncia.
No dia em que Liz me contou o que aconteceu com ela quando criança,
fiquei enojado e horrorizado, imaginando que tipo de pessoa poderia
tentar algo assim. Scott. Ele poderia fazer isso. Ele é tã o sem escrú pulos
que poderia fazer isso. E o mundo, tã o pequeno, me colocou para ter o
mesmo inimigo que assombra Liz. Agora, só tenho mais motivos para
querer que esse cara suma do mapa, quero que ele perca tudo que
conseguiu fazendo coisas erradas. Ele nã o é santo, nã o é justo, nã o
respeita ningué m.
Nã o consigo nem culpar Liz, porque ela é só uma garota ingênua e deve
estar com a cabeça fodida depois de um encontro desses, nã o quero que
ela fique pior. Nã o sei o que seria de mim se acontecesse alguma coisa
com essa garota. Provavelmente voltaria para a cadeia, se é que nã o
voltarei hoje.
Scott fez isso pensando em me afetar. Ele só pode ter descoberto sobre
mim e Liz através do seu filho, pois nã o é possível que ele nã o tenha
percebido que contra mim nã o tem chances de ficar com Liz. Ele pode
ter feito isso para me ver preso e ver Liz livre, mas duvido que Liz seja
como a prima, que me abandonaria num momento desses.
Terminamos o jantar e Liz levanta com a bolsa na mã o.
― Eros, eu acho que vou pra casa ― avisa abatida.
― Nã o vá . Fique aqui. Nã o quero que... ― Penso bem no que falar na
frente dos meus pais. ― Quero que fique longe de perigo.
― Podemos dar uma carona. ― Mamã e sugere.
― Nã o. Liz, fica, por favor. Precisamos conversar.
Eu só quero poder consolá -la e dar o acalento que ela precisa nesse
momento.
― Tá bom. ― ela aceita o meu pedido.
Também quero saber mais sobre o que aconteceu quando Scott esteve
na vida dela. Sei que comigo ela conversa sobre essas coisas e se eu nã o
for preso essa noite, com essa conversa posso descobrir o ponto fraco
dele e destruí-lo.
― Antes de irmos, filho, quero ter só mais uma conversa com você. ―
Meu pai pede.
― Sim, vamos. — Concordo, pois ele veio aqui para isso. ― Liz, se quiser
ficar à vontade, pega alguma roupa lá no meu quarto. A conversa com
meu pai será rá pida. — Sugiro para a manter aqui por mais tempo.
Ela balança a cabeça, concordando timidamente. É por causa dos meus
pais. Ela acha que é novidade. Mal sabe ela que eles estã o por dentro de
tudo, e nem fui eu quem contou.
― Vamos lá no escritó rio ― chamo o meu pai e entramos na sala.
É a primeira reuniã o que tenho neste escritó rio. As que faço com Kevin
acontecem ao redor da mesa da cozinha, com uma garrafa de café e
xícaras.
Fecho a porta e deixo Liz na companhia da minha mã e. Parece que ela só
vai se mexer quando eles forem embora.
― O que aconteceu, meu filho? ― Ele pergunta sem rodeios.
― Scott a usou para me irritar. Agora ele está com a cara quebrada e
dizendo que vai me denunciar para polícia, por ter invadido a sua casa e
o agredido.
Meu pai bate na testa.
― Eros... meu filho, você... — O interrompo.
― Você viu que eu nã o fiz nada. Eu nã o ando me metendo em problemas,
ele provocou tudo isso.
― Eu nã o sei o que esse homem tem contra você.
― Inveja, pai. Ganâ ncia. Aquele homem nã o presta. ― Explico, me
sentando atrá s da mesa.
― E agora? Se essa histó ria acabar na polícia? ― Ele está preocupado.
― O que eu posso fazer? Nã o me arrependo dos socos que dei nele. Eu
teria feito pior se Liz nã o tivesse me implorado para parar.
Ele suspira e se senta na minha frente.
― Nunca te vi preocupado com Olívia da mesma forma que ficou com
essa menina.
― Claro que nã o. Elas têm vidas completamente diferentes e Olívia
nunca teve um problema na vida, pai. Os problemas dela eram sapatos,
bolsas...
― Mesmo assim. Você olhou o celular, largou a comida, pegou a chave e
saiu correndo atrá s dela, voltou com sangue nas mã os e com ela do seu
lado.
Ergo os ombros sem ter muitas palavras para justificar meus atos e ele
coloca sua mã o em cima da minha.
― Apesar dessa confusã o, essa menina te faz bem, posso ver isso
claramente. Espero que Scott nã o faça nada, mas se fizer, Cole e eu
faremos de tudo para resolver.
― Consegue ver do que ele é capaz, pai? Eu nã o duvido que tenha sido
ele quem me fez ir para a cadeia. Eu só queria ter provas para, assim,
fazê-lo passar por tudo que eu passei lá dentro.
― Nã o pense em vingança. Se for ele mesmo, uma hora isso virá à tona,
afinal, nenhum segredo fica escondido por muito tempo.
― Se ele pagar por tudo que fez, nã o só a mim, estarei satisfeito.
― Aquele conselho que te dei sobre deixar a Holding de lado, era para te
manter longe desse tipo de gente.
― Se amanhã eu resolver vender cuecas de porta em porta, ele vai
inventar de fazer o mesmo. Eu tenho 25 anos, ele tem uns 45 ou 50. Tem
gente que nã o aceita ver alguém tã o jovem conseguindo tantas coisas,
pai. Ele mirou em mim e nã o desvia o foco.
― E parece que ele mirou na sua namorada também. Portanto, pense
nela, mantenha-se longe de tudo que esse sujeito quer tocar e seja feliz
com ela. Se nã o foi ele quem o colocou na cadeia da ú ltima vez, pode ser
a te colocar na pró xima. ― Ele se levanta.
Eu nã o concordo com a ideia de abrir mã o das minhas coisas. Será difícil
ouvir os conselhos dele e seguir esse caminho. Mas farei de tudo para
deixar Liz segura, e Scott nã o ouse tentar outra dessa.
Saímos do escritó rio e vejo a minha mã e perguntando a Liz sobre a
propaganda que mandei cancelar.
“Será que ninguém, em algum momento, vai se conformar com essa
decisão?”
― Vamos, querida? ― Papai segura a mã o da esposa.
― Vamos. Vou deixar as bandejas com o que sobrou, filho. Se der fome
mais tarde, vocês comem. Depois você leva lá em casa.
― Hum. Espertinha. — Inventando de tudo para que eu fique por perto.
― Se cuida, filho. ― Ela beija meu rosto.
― Você também. E veja se fica longe de fofoca, principalmente sobre esta
noite ― peço um pouco mais preocupado. Se esse telefone sem fio
chegar na mã e da Liz antes dela falar o que aconteceu, pode atrapalhar o
que temos.
― Eu vou me aquietar.
― Pai. ― Olho para ele como um pedido de ajuda sobre esse assunto, já
que contei para ele parcialmente o que aconteceu.
― Ela vai manter a língua na boca e os dedos sem digitar certas
conversas. ― Ele garante e dá tapinhas em meu ombro enquanto vamos
para a saída. Trago Liz pela mã o ao meu lado.
― Liz, cuide-se. Qualquer coisa, me ligue. ― A minha mã e pede e Liz
assente e se despede dela.
― Foi um prazer revê-la. ― Meu pai também se despede dela. ― Veja se
coloca juízo na cabeça desse rapaz.
Ela sorri.
― A chave do carro. ― Entrego a ele.
― Vamos, amor. Vou limpar o volante com á lcool 70% para nã o tocar em
sangue de ninguém. ― Minha mã e sai na frente, mexendo na bolsa.
Ela tem dessas coisas.
Fecho a porta depois que o carro sai da frente da casa e olho para Liz,
que continua em choque.
― Por que nã o trocou de roupa? — questiono.
― A sua mã e queria conversar. Eros, você está bravo comigo? ― Ela
pergunta preocupada.
Sorrio e a abraço, deixando um beijo na sua cabeça.
― Claro que nã o.
Ela nã o diz nada, mas se aconchega em meu abraço.
― Amanhã eu te levo para casa. Você passa a noite aqui, comigo. Pode
ser?
― Você está se aproveitando da situaçã o, nã o é? ― Ela levanta a cabeça
sorrindo.
― Claro, mas nã o estou sugerindo nada. Só quero ter certeza de que você
ficará bem. ― Arrumo seus cabelos.
A minha mã e tinha razã o quando disse que ela estava linda. Pode
parecer exagerado da minha parte, mas essa garota já se tornou o centro
da minha vida.
― Tudo bem, eu fico.
Achei que teria que implorar muito, mas até que ela aceitou rá pido.
― Ó timo. ― Beijo a pontinha do seu nariz e quando sorrio, ela retribui. ―
Vamos para os meus aposentos.
― Seus aposentos? ― Ela ri com mais força.
― Eu sou um cavalheiro. ― Seguro sua mã o a levo para o quarto.
Assim que entramos, pego algumas peças de roupas minhas para que ela
possa se trocar e se livrar desse traje que aquele maldito encostou.
Liz deixa a bolsa na mesa de cabeceira e comenta:
― Eu fiquei com vergonha por ter tirado você do jantar. Os seus pais
estavam aqui. Me desculpe, eu nã o fazia ideia.
Entrego as roupas na mã o dela.
― Você nã o atrapalhou nada, nã o se preocupe. Eu estaria bravo se você
nã o tivesse me chamado, era uma situaçã o de emergência. ― Sento na
cama.
― Foi você quem os chamou aqui?
― Falei para o meu pai sobre alguns problemas de trabalho entã o ele
veio para cá , e claro que a minha mã e veio junto. Você precisava ver a
cara deles quando abri a porta.
― Felizes?
― Sim — conto para deixar o clima mais leve — Quer que eu te ajude a
tirar o vestido? ― pergunto sorrindo e ela balança a cabeça dizendo que
nã o, depois corre para o banheiro, sorrindo.
Esse jeitinho inocente me deixa cada vez mais apaixonado. Nã o tenho
como fugir desse sentimento, nem se eu quisesse.
Arrumo a cama para que possamos deitar, e ela logo volta, rindo com o
tamanho da minha roupa em seu corpo.
― Você é muito grande — diz analisando seu visual.
― Você que é muito pequena. ― A abraço pela cintura. ― Minha
fulaninha.
― Fulaninha? Eros! Que apelido mais feio. Nã o gostei quando o seu
irmã o se referiu a mim assim, gosto muito menos que você me chame
assim por implicâ ncia.
Mordo seu queixo e beijo o seu pescoço cheiroso, rindo do seu jeito
bravinha.
― Nã o me chame mais assim — pede.
― Minha fulaninha. — Provoco.
― Eros! ― Ela reclama rindo e beijo sua boca.
Fico cheio de tesã o quando a vejo, quando a toco, e mais ainda quando a
beijo.
― Eu gosto de te ver sorrindo. Quando te vi assustada na casa daquele
desgraçado, fiquei cego de ó dio.
​O sorriso dela se desmancha.
​― Eu nã o sei nem como te agradecer por ter ido até lá , Eros. ― Liz senta
na cama e resolvo me deitar e trazê-la para perto de mim.
Enquanto descanso a cabeça no travesseiro, ela se aninha em meu peito
e no meu abraço.
― Eu largaria tudo se você me chamasse. ― Acaricio sua cabeça e meus
olhos param nas marcas em seu braço. ― Nunca passou pela minha
cabeça que o desgraçado que tentou abusar de você era o mesmo que
me persegue. O mundo é mesmo pequeno.
― Também nunca tinha passado pela minha cabeça que você o conhecia.
Eu nem sabia que esse homem morava aqui, Eros. Foi um baque tã o
grande que eu nã o conseguia nem me mover.
― O que ele disse para você, Liz?
Ela passa a mã o pelo meu braço, alisando a minha pele.
— Ele foi mais repugnante do que eu me lembrava. Aquele sorriso
maldoso nã o saiu do rosto dele nem quando estava levando socos na
cara.
― Fiquei irritado com isso também. Nunca imaginaria que aquele
modelinho de vitrine era filho do patife.
― Eu também nã o sabia. No evento que o conheci, ele estava sozinho. ―
Ela olha para mim e vejo seus olhos marejados.
― Scott nã o costuma aparecer. Ele dá os seus golpes à s escondidas, mas
eu acreditei que o veria lá naquele dia também.
Ela está chorando mais uma vez por causa desses filhos da puta. A
vontade que tenho é de me levantar e voltar lá para acabar com eles de
uma vez por todas.
― Eu sei que você nã o gosta que eu implique com aquele cara, mas...
Ela me interrompe.
― Eu nã o quero ter mais contato algum com ele. Se ele sabia quem era
seu pai na minha vida, entã o é igual a ele.
― Acho que os dois queriam nos prejudicar. Scott te usou para me irritar
e aquele filho dele queria me ver longe para poder ficar com você.
― Eu jamais ficaria com ele.
― Se ele me colocar na cadeia...
― Ele nã o vai te colocar lá , Eros.
― Mas e se ele me colocar? Você vai fazer como a sua prima?
Ela me encara com o cenho encolhido.
― Claro que nã o, Eros.
― Doeria mais se fosse você do que quando foi ela. ― Admito inseguro,
encarando seu rosto delicado. ― Eu nunca me apaixonei por alguém
como por você.
― Eros... ― Liz parece receosa.
― Eu nã o tenho controle disso, Liz. Eu mataria por você se fosse preciso.
Ele literalmente derramou sangue por mim e agora ouvir que mataria
por mim me deixa preocupada.
― Nã o diga isso. Assim você me assusta.
― Só de pensar em alguém se aproveitando de você eu já fico louco.
― Eu sei me virar ― afirmo e deito de frente para ele.
Eros parece bem mais calmo agora. Seu semblante brando me deixa
aliviada.
― Mesmo assim. ― Ele mexe em meus cabelos. ― Eu queria ter te
conhecido antes.
― Antes quando? — Arqueio as sobrancelhas curiosa.
― Desde criança, talvez. — Sorrio entendendo aonde ele quer chegar.
― Você também era apenas criança.
― Com 13 anos eu era perverso. Com 15 pior ainda. ― Conta sorrindo.
― Entã o eu nã o gostaria de ficar perto de você.
― Eu faria você gostar de mim, como agora. ― Ele dá uma piscadela e
rimos.
― Pior que eu gosto.
Ele levanta a cabeça e me beija.
― Você é tã o linda ― sussurra contra meus lá bios e isso me amolece.
Eu já não sou mais a garota que pensa: “Eros Werneck é o último cara com
quem você deveria querer alguma coisa, porque ele é um grande erro.”
Hoje eu penso o oposto: “Eros Werneck é o último cara com quem
qualquer uma deveria querer alguma coisa, porque ele é meu.”
― Ei.
― Oi.
― Se nã o for te chatear, Liz, você poderia me contar como foi que aquele
traste se aproximou da sua família?
Me apoio nos cotovelos e puxo na memó ria como vi tudo acontecendo.
― Eu nã o lembro direito quando foi que eles se tornaram o trio de
trambiqueiros, mas lembro quando meu pai o levou para a nossa casa
pela primeira vez e principalmente na segunda, que foi quando ele me
trouxe uma boneca.
― Espera. Como assim um trio? — Se remexe incomodado — Quem mais
fazia parte disso?
― O tio Michael.
― Oi? O seu tio e o Scott sã o amigos? ― Indaga surpreso.
― Na época sim, depois que tudo aconteceu, eu e minha mã e nos
mudamos. Ela tomou ó dio do meu tio, meu pai e Scott sumiram do
mapa. Hoje eu nã o sei, mas o meu tio ficou rico pouco depois daquela
época. Deve ter sido pelas coisas que eles faziam.
― Quais coisas?
― Eu nã o entendia direito, Eros, eu era apenas uma criança, mas a minha
mã e sempre fala que nã o deve ser nada para se orgulhar. Meu pai mal
colocava comida em casa, vivia iludido com as promessas de fortuna do
Scott e pelo que vi naquela mansã o, ele prosperou.
― Eu nã o acredito que o Michael fazia parte disso.
― Sim. Eles só andavam grudados, os três.
― Agora você alugou um tríplex na minha cabeça, Liz.
― Acho melhor nã o ficar pensando nisso. A gente devia rezar para que a
polícia nã o apareça aqui depois de tudo que aconteceu na casa daquele
asqueroso.
Eu nã o quero perdê-lo para a cadeia. Diferente da Olívia, eu sentiria
tanto a sua falta. Depois da nossa primeira vez, caí de cara na paixã o. Se
é que eu já nã o estava apaixonada bem antes.
Eu faria o que fosse preciso pra livrá -lo, até contar o motivo que o fez se
revoltar daquela forma.
Scott me assediou e com certeza já cometeu muitos outros crimes. É ele
quem merece estar na cadeia.
Eros me abraça e beija meu ombro.
― Eu queria mesmo era ficar preso nessa casa com você e uma garrafa
d’agua. Só isso me bastava.
Dou risadas.
― Aí você arranjaria briga com outra pessoa.
― Nã o se preocupe, eu vou conquistar a minha sogra. ― Ele assegura.
​Tem muita confiança.
― Você conseguiu o que queria com o Demétrio?
― Ainda nã o, mas... ― ele fica perdido nos meus cabelos. ― Estava
conversando com o meu pai, estou repensando no que realmente quero
investir meu tempo. Entrei nisso para ganhar respeito, mas depois da
prisã o isso acabou e se parar pra pensar, tudo que fiz nos ú ltimos anos já
é o suficiente para continuar com a vida boa que tenho.
― Você vai se aposentar aos 25 anos e nã o é por invalidez?
Ele ri.
― Acho que vou ficar nos investimentos apenas. Em imó veis, empresas,
você... ― Ele beija meu rosto.
Eros sabe ser carinhoso quando quer!
― Eros, falando em trabalho. Você nã o vai mais atrapalhar as minhas
coisas, vai? — Junto as sobrancelhas para parecer que estou brava. E eu
estou um pouquinho mesmo.
― Se nã o envolver aquele modelinho.
― Eros... ― Olho em seus olhos, incomodada com essa sua visã o
problemá tica das coisas.
― É que me incomoda te ver com outro homem. Nenhum deles se
importa com você mais do que eu, até mesmo quando eu nã o me
importava com você.
Eu nã o entendi foi nada.
― Eu nã o sou sua propriedade. Vou trabalhar com outras pessoas e
algumas serã o homens e se você atrapalhar, isso aqui nã o vai acontecer
mais.
― Entendo o seu pedido, difícil mesmo vai ser me controlar.
― Nã o é um pedido. É uma exigência. Exijo que pare de atrapalhar os
meus negó cios. Você fica puto com os outros que atrapalham seus
negó cios. Imagina eu ficando assim com você... Agora imagina o dobro.
― Que mulher bruta. ― Ele age como se nã o me levasse a sério.
― Experimenta para ver.
― Quero outra coisa que desde que experimentei, me viciou. ― Ele me
abraça e rolamos na cama.
Eros me esmaga debaixo do seu corpo e me encara com seus olhos
verdes, em seguida ergue seu corpo e desce até meu quadril.
― Eros...
― Quero te deixa feliz de todas as formas, Liz. ― Ele segura a barra do
short e o tira do meu corpo.
― Só eu que preciso de prazer?
Ele sorri jogando o short de lado e segura minha perna.
― Sã o as consequências de dar prazer. ― Ele beija a minha coxa e o
arrepio sobe pela minha perna e alcança minha boceta, que pulsa com a
excitaçã o.
Eros trilha esses beijos e facilmente me deixa molhada.
― Nã o vou mentir, adoro sentir a sua língua aí ― declaro quando ele
aproxima o rosto da minha intimidade e ele ergue o olhar e sorri.
― Você nã o escondeu da primeira vez. ― Ele beija e puxa os lá bios da
minha boceta.
Adoro ver isso. Meu corpo fica mais molhado ainda.
― Ai, Eros... Parece que meus problemas desaparecem quando estou
com você.
― Você também faz isso comigo. ― Ele passa a língua de baixo para cima
e suspiro.
― Que língua gostosa! ― Me remexo na cama mais empolgada do que
nunca.
― Gostosa é essa sua boceta. Gostosa, apertada... ― Ele captura meu
clitó ris e suga com força. Dou um gritinho e me ergo na cama.
Parece o start para a tortura prazerosa, porque depois disso ele
mordisca, me lambe e chupa com vontade, tanto a minha intimidade
quando minhas coxas, que recebem mordidas fortes.
Parece que ele usa seus dedos somente para medir o quanto estou
molhada, pois depois disso, ele levanta e pega um preservativo na mesa
de cabeceira, com seu pau armado e a glande brilhando de pré-sêmen.
Ele veste a proteçã o com uma facilidade que me faz acreditar na grande
experiência que tem e volta para cima de mim.
― Essa cama sentiu a sua falta, sabia? ― Ele afasta as minhas pernas.
― Só a cama? ― Seguro seu rosto.
― Eu também, minha fulaninha deliciosa. ― Completa o caminho, me
beija e soca firme para dentro de mim.
― Ai, Eros...― reclamo gemendo.
Ainda nã o deu tempo de me recuperar, mas é um misto de dor e tesã o
por ter esse pau delicioso, que já encaro como se me pertencesse,
entrando em mim.
― Quer com carinho? ― pergunta com a boca no meu pescoço e o calor
do ar me deixa arrepiada.
― Quero.
Ele se move de um jeito mais cuidadoso, lento e gostoso.
― Isso... Eros... ― Espalmo suas costas musculosas e aproveito o vai e
vem delicioso bem grudada nele.
― Quero te ver de quatro, de cabeça para baixo...
Dou risadas.
― Me deixa acostumar com o normal primeiro.
― Nunca seremos normais, pequena. Sempre que entro em você, parece
que estou sentindo prazer pela primeira vez.
― Exagerado. ― Subo as mã os para sua nuca e quando pressiono ele me
beija na boca.
Enquanto nos beijamos, ele começa a me foder com mais força e volto a
me agarrar nas suas costas, gemendo contra a sua boca.
Se eu soubesse que era tã o bom..., mas talvez seja bom porque é com ele
e tudo nele me excita. Esse jeito marrento, esse corpo sexy e a confiança
que ele me passa.
Eu daria para ele em qualquer canto se ele dissesse que nã o teria perigo.
― Vou te foder a noite toda. ― Ele morde a minha bochecha.
― Você aguentaria?
Ele olha pra mim e ri, mas nã o para de rebolar com seu pau dentro de
mim.
― Liz, Liz... Com o tesã o que você me dá , eu digo, a garrafa d’á gua basta.
― Exagerado. ― Puxo seu rosto para saborear mais um pouco os seus
lá bios.
Eros troca de posiçã o comigo e sinto dificuldade de rebolar em algo com
o comprimento que seu pau tem, mas para ele é a visã o do paraíso,
depois ele volta para o jeito que gosto e termina a foda fazendo a cara
mais linda e excitante que já vi quando goza.
A noite passada parece ter sido um pesadelo que depois se tornou um
sonho. Só espero que esse pesadelo nã o volte a acontecer. Nã o quero ver
aquele homem nunca mais na minha frente.
Eros nã o está na cama quando acordo, mas seu cheiro sim, e fico mais
um minuto aproveitando o conforto antes de me levantar. É a segunda
vez que dormimos juntos e me parece que nã o existe lugar melhor para
dormir do que nos braços deles.
Há uma grande probabilidade de eu estar extremamente apaixonada por
Eros, como nunca sequer imaginei gostar de alguém. Isso me deixa com
medo. O medo me causa tristeza, mas se me perguntassem se é possível
ter medo e ao mesmo tempo ser feliz, eu diria que sim, pois é como me
sinto agora.
O que direi para minha mã e? Ela é a pessoa mais importante da minha
vida e sempre respeitei seus conselhos até o Eros chegar e eu começar a
ignorar um por um e ainda mentir para ela. Nã o posso prejudicar minha
relaçã o com minha mã e, como também nã o me vejo mais sem ele.
Preciso unir esses dois.
O quarto dele durante o dia é tã o iluminado, que faz meus olhos doerem.
Levanto ainda usando suas roupas, um short acetinado e uma camiseta
cinza-claro, e vou para o banheiro, saindo somente quando estou mais
ou menos apresentável, pois deixo para trocar de roupa depois e desço a
escada com os pés descalços, para ver o que Eros anda aprontando.
Ouço ele conversando com alguém e paro na mesma hora. Eu nã o quero
que alguém me veja usando as roupas dele e com essa cara de quem
passou a noite aprontando.
Mas antes mesmo de dar meia-volta, ouço ele citando o meu nome. Ele
fala baixo.
— … Sim. Liz veio… Aham. — Ele dá uma risadinha. Acho que está na
cozinha. — Isso nã o é da sua conta… Pior que é, Zac. Depois de ontem, se
eu já sabia, agora estou mais certo ainda. Estou fodido. Ela me pegou de
jeito.
Sorrio e continuo ouvindo.
— … Fazer o quê? Ela nã o é como as outras…, Mas é! Digo porque é
verdade. Eu nã o preciso dizer os motivos para eu ter certeza disso. Já
disse que nã o é da sua conta… — ele ri de novo. — Ela está dormindo.
Vou fazer alguma coisa para ela comer… Sim. Sim. Depois a gente
conversa. Vá procurar o que fazer. Talvez amanhã eu apareça aí na
academia… tchau.
“Ele quer me agradar.”
Assim que parece que a ligaçã o terminou, desço a escada fingindo que
acabei de chegar e ele está mesmo na cozinha, colocando uma frigideira
no fogo.
— Oi. — Chego tímida.
Esse homem sem camisa e de shortinho de seda acaba com a minha
sanidade. Suas costas sã o bem definidas e dá vontade de ficar só
admirando.
Ele olha para mim um pouco distraído, parece inofensivo, mas segundos
depois, quando um meio sorriso toma seus lá bios, eu vejo a maldade
voltar.
— Acordou, fulaninha. — Vem na minha direçã o, com um gingado típico
de homem descarado.
Pelo visto, nã o adianta reclamar do apelido.
— É o que parece. ― Ergo a cabeça para continuar o encarando, pois de
perto sou muito baixa em relaçã o a ele e Eros molha os lá bios e segura
as minhas mã os, as erguendo para beijar.
Isso mexe e nã o é pouco com o meu fraco coraçã o.
— Dormiu bem?
Balanço a cabeça afirmando e sua boca encosta na minha.
O cretino sabe o que uma mulher mais româ ntica gosta.
— Tentando me agradar, Eros? ― Me refiro ao café da manhã .
— Mas é claro! — Sem demora ele me agarra pela cintura e me puxa
para cima, depois sinto o frio da superfície do balcã o em minha bunda.
Eros invade a minha boca com a sua língua doce e o beijo com tanta
vontade quanto já beijei nas outras vezes.
Suas unhas cravam na minha lombar como garras e curvo a regiã o,
encostando mais ainda o meu corpo nele. Deslizo minhas mã os pelo seu
peito e sinto sua pele lisa e firme. Me excito ao ter certeza de que isso é
só meu. Talvez eu seja um pouco egoísta.
Seu pau está duro feito pedra e quando aperta grosseiramente contra a
minha regiã o íntima, sinto um leve desconforto.
Interrompo o beijo sem fô lego.
— Vai com calma.
Ele também está ofegante.
— Queria passar o dia com você.
Seus olhos inspecionam meu corpo escondido por suas roupas e as puxa,
colando-as em minha pele e definindo a minha silhueta.
— Porra, você é tã o gostosa! Volta aqui hoje à noite? — Pede com um
certo anseio.
— Nã o dá , Eros. Eu já dormi fora de casa e se dormir mais uma noite
seguida, a minha mã e já vai começar a pensar coisas. Vamos com calma.
Ainda nã o sei como vou contar sobre a gente e nem sobre o que
aconteceu ontem na casa do Ed.
Ele distribui beijos pelo meu pescoço, ignorando minha resposta.
Os chupõ es sã o o que acabam comigo. Solto o que estiver na mã o
sempre que sua boca toca a pele do meu pescoço.
― Eros...
— Implore — sussurra.
Ele já está pensando longe.
― A panela no fogo ― digo para desviar o foco.
― Merda. ― Ele me larga e corre para desligar. ― O que você gosta de
comer no café da manhã ? Acho melhor a gente comer em outro lugar.
Dou risadas ao vê-lo desistindo do fogã o.
― É melhor.
― Você trouxe a sua peruca loira?
― Eros! ― Fico envergonhada enquanto ele ri de mim. ― Nã o vou usar
mais aquilo.
― Eu já estava me preparando para me acostumar com a Hannah
Montana. ― Zomba segurando a minha mã o e deixamos a cozinha.
Depois de trocar de roupas, vamos no seu carro até o prédio onde fica o
seu escritó rio, mas passamos direto para uma cafeteria que tem ao lado
e pedimos café e panquecas.
― Você já avisou a sua mã e? — questiona.
― Já . Falei que estou indo para casa.
― Você vai mentir para ela? Porque tem uma grande chance de a minha
mã e ter contado para a Olívia, essa ter contado para a mã e dela e a
fofoca já ter chegado na sua mã e.
― Mas eles nã o estã o na casa de campo?
― Eles levaram uma antena. ― Ele conta admirado. ― E eu nem pensei
nisso. Nicholas é completamente viciado em internet e nã o poderia ficar
sem isso durante uma semana.
Ao contrá rio de mim, que fiquei aliviada por nã o correr risco de
aparecer na internet quando estava lá .
― A sua mã e prometeu. — Eu o lembro.
Ele meneia a cabeça sem muita confiança.
― Vai saber se ela nã o deu com a língua nos dentes?
​― Eu vou falar com a minha mã e. Mas nã o sei o que vou dizer sobre nó s.
— Liz! — Uma desconhecida me chama atrá s do banquinho onde estou
sentada.
— Oi!
— Você pode tirar uma foto comigo? É que a minha mã e te conhece e eu
queria mostrar para ela que te encontrei.
Ela parece bem empolgada comigo.
— Claro! — Levanto. — Eros, você pode tirar a foto?
— Tiro. — Ele pega o celular da moça e fico ao lado dela, com um sorriso
no rosto.
— Como você se chama? — questiono.
— Emily.
— Obrigada pelo carinho, Emily. Diz a sua mã e que mandei um beijo.
— Tá bom. Obrigada. — Ela vai embora com o celular na mã o e um
sorriso enorme no rosto.
Outra pessoa que está rindo muito é o Eros.
— O que foi? — Me sento num banquinho.
— Você falou como se fosse uma estrela de Hollywood.
— Talvez eu seja um dia. — Sorrio com a possibilidade. — Quem sabe?
Se a Kendall Jenner se tornou a modelo melhor paga do mundo, eu
também posso me tornar a atriz que ganhou um Oscar.
— Se você é capaz de atuar eu nã o sei, mas que sabe atender aos fã s
como uma verdadeira vencedora do Oscar, isso sim você faz muito bem.
— Ele ri descaradamente de mim.
— Eu nã o mereço isso. — Reviro os olhos.
— Diz a sua mãe que mandei um beijo. — Ele me imita.
— Eros! Eu vou te abandonar aqui! — Ameaço e o atendente entrega
nosso café da manhã . — Depois que eu terminar de comer, é claro.
— Aham. — Ele enxuga as lá grimas de tanto rir.
Eu só sou uma pessoa educada, principalmente com quem paga os meus
luxos. Sã o essas pessoas que ficam me dando fama e fazem com que os
lugares me chamem pra fazer propaganda.
Só essa semana eu já me arrumei toda nos lugares mais caros da cidade
e sem gastar nada, só ganhando.
Meu tombo valeu ouro e fico feliz que estou com a grana no bolso e o pé
sem dor. As pessoas já estã o me conhecendo por outras coisas além do
vídeo e por isso tenho me acostumado com essa vida de blogueira.
Faz alguns dias que ninguém me procura perguntando sobre a minha
intimidade e por isso saí com Eros sem me importar com especulaçõ es.
Eu nem sei o que somos, mas sei o que passa na cabeça dele e se eu for
contar para minha mã e, esse ponto pode ser a chave para ela aceitar ou
simplesmente mandar me internar num hospício por ainda ter o mesmo
pensamento que eu tinha antes de conhecer o Eros de verdade.
— Oi, Kevin. — Eros atende o celular.
Hoje ele nem se vestiu formal. Eu nã o entendo do trabalho dele, mas
pelo que me resumiu, envolve administraçã o e investimentos.
Quando ele me falou que estava avaliando sobre como iria usar o seu
tempo, aos 25 anos, eu senti o impacto do que é ser rico.
Ele nã o deve se preocupar com um boleto na vida. Nem hoje, nem nunca.
— Estou por perto, daqui a pouco chego aí. — Ele toma o café e eu faço o
mesmo com mais pressa, pois parece que ele tem compromisso.
Termino meu café da manhã antes dele desligar a ligaçã o.
— Eu posso ir sozinha para casa.
— Eu vou te levar. Só vamos passar no meu escritó rio rapidinho. Isso te
atrasa?
— Nã o. Estou falando que posso ir sozinha para nã o te atrapalhar.
Ele levanta rindo.
— Liz, você nunca me atrapalha.
Levanto também sorrindo e espero ele pagar a conta.
Eu gosto quando ele fala essas coisas e mesmo nã o parecendo ser as
palavras mais difíceis que já saíram da sua boca, também nã o parecem
palavras jogadas ao vento.
Eu sinto sinceridade.
— Andar de mã os dadas requer a peruca ou aposentou os fios loiros? —
Ele passa por mim e desliza a mã o pelo meu braço.
Ando rindo feito uma boba. Uma pessoa a metros de distâ ncia, se me vir
desse jeito, percebe que estou apaixonada.
— Aposentei, por enquanto. — Abro a mã o e ele entrelaça nossos dedos.
Andando de mã os dadas com Eros Werneck. O fato de andar de mã os
dadas com um cara já me deixa feliz, pois isso nunca aconteceu na minha
vida, mas ser com ele me divide entre me assustar de como o mundo
deu voltas e minha opiniã o mudou e me deixa empolgada, já que
imaginei que ele nã o era o tipo de pessoa que gostava disso.
Eu nã o o observei bem das vezes que o vi acompanhado por outra
mulher.
Entramos no escritó rio e de cara reconheço a recepcionista. Sorrio
automaticamente, por nosso primeiro e ú ltimo encontro ter sido bom,
mas quando ligo os pontos, isso me preocupa e a preocupaçã o faz meu
estô mago receber mal o delicioso café da manhã .
— Você trabalha aqui? — pergunto parando em frente à mesa onde ela
está e a garota empalidece.
— Você conhece a Kelsey? — Eros pergunta e nã o desvio meus olhos da
garota.
Ela está com os olhos tã o arregalados e a boca tã o encolhida que ouço
sua sú plica para nã o contar quem ela é sem precisar que diga uma
palavra.
— Claro. Ela é a sobrinha do Scott. Mora com ele. A vi ontem — digo sem
rodeios.
— O que você disse? — Um rapaz alto pergunta, deve ser o Kevin com
quem ele conversou a pouco.
Eros está boquiaberto.
— Me explica direito essa histó ria. — Eros pede.
— Ela é sobrinha do Scott. A conheci ontem. Por que você deixa a
sobrinha do seu rival trabalhar aqui?
Poderia acreditar que é caridade, mas pela cara dele e do outro rapaz,
essa informaçã o é novidade.
Não estava nos meus planos aparecer no escritó rio antes de levar a Liz
em casa, apesar de tê -la trazido para tomar café perto de onde trabalho.
Eu só queria levá -la para comer onde eu gosto, já que nã o sou bom no
fogã o. Agora estou de queixo caído com o que ela afirmou duas vezes
sobre Kelsey.
Encaro a garota pá lida na recepçã o e apoio a mã o na mesa.
— Você é uma espiã ?
— Eu... Nã o. Nã o. Eu só queria um emprego. — Ela fala nervosa.
— É claro que ela é uma espiã . — Kevin afirma. — Cadê a minha pasta
de contatos? Você me ajudou por dias a procurar aquela pasta enquanto
sabia que ela nã o estava aqui! — Ele vocifera.
Nunca vi meu amigo tã o furioso, mas está na razã o, ele foi feito de
trouxa.
Eu deveria ter procurado saber sobre ela antes de contratá -la. Estou
furioso com ela e comigo. Deveria ter dado importâ ncia a preocupaçã o
de Kevin.
— Nossa... Como eu fui tolo. — Analiso olhando para a infiltrada. — Foi
só você chegar aqui que tudo deu errado. Você sabia de cada passo que
eu dava. Fui preso, a pasta sumiu, nossos só cios começaram a desistir de
trabalhar conosco... TUDO POR SUA CULPA! — Agora sou eu quem está
gritando.
— Eu... Eu nã o fiz nada. Juro. Eu... Eu só ... — Ela começa a chorar
cobrindo o rosto.
— FALA LOGO! O QUE VOCÊ FEZ? O QUE TRAMOU COM SEU TIO?! —
Exijo saber em fú ria.
— Eros, ela pode ter sido obrigada. — Liz segura meu braço.
— OBRIGADA? PODE TER SIDO POR CAUSA DELA QUE EU FUI PRESO,
LIZ! — Me volto para garota que tenta me acalmar.
Parece que ela nã o entende a gravidade disso. Parece que quer defender
o inimigo. Liz recua assusta e me solta. Esse nã o é um bom momento
para ela tentar exercer alguma influência nas minhas atitudes.
Eu fui enganado. A resposta para tudo estava debaixo dos meus olhos e
eu estive cego. Tã o preocupado em manter essa empresa de pé, que
deixei de lado a procura por quem me prejudicou.
Kelsey é a chave para tudo e ela nem precisa abrir a boca porque
sabendo que ela é sobrinha de Scott, todos os pontos se ligam.
Ela continua chorando.
— Levanta! Você vai confessar tudo e será na frente do seu tio.
— Eros, o que você vai fazer? Vai procurar aquele homem? Depois do
que aconteceu ontem? — Liz ainda quer se meter nessa histó ria.
— Vá para casa, Liz. Kevin, a leve para casa. Eu vou resolver isso. —
Ordeno decidido a enfrentar e descobrir tudo de uma vez por todas.
Scott está acabado. Já basta a surpresa de ontem, ao descobrir que no
passado o meu ex-sogro foi parceiro dele, agora descubro que ele estava
a par de tudo que eu fazia no escritó rio através da minha assistente!
É por isso que ele riu tanto quando me viu. Ele sempre esteve dez passos
à frente de mim e eu achando que sabia de tudo. A ú nica coisa que
acertei foi suspeitar que ele tinha armado para que eu fosse preso.
Mas ele jogou muito bem. Foi algo premeditado.
— VAMOS! — Apresso a traidora, se é que posso acreditar que em algum
momento ela trabalhou para nó s, ela levanta com a bolsa na mã o e o
rosto banhado em lá grimas.
Liz fica para trá s com Kevin e prefiro nã o falar mais nada nesse
momento de fú ria. Saio acompanhado de Kelsey e sob os olhares
assustados de quem vê uma dupla onde um está de mau humor e a outra
chorando.
Quando eu esclarecer tudo que armaram contra mim, quem me acusou
ou acreditou que fiz aquelas coisas, irá se arrepender amargamente.
Se ela mora com o tio, sempre esteve na rua dos fundos da minha casa e
eu nunca vi isso.
“Eros, você foi cego!” ― Me condeno mentalmente.
Entramos no carro e dirijo até o prédio onde Scott mantém o seu
escritó rio. Eu sei, pois já visitei o lugar, nã o o escritó rio dele, outro
escritó rio, e também um dos cartõ es dele já parou na minha mã o.
— Eu nunca deveria ter te contratado. Você se mostrava tã o interessada
no trabalho, nã o era? Tudo para saber o que eu estava fazendo — digo
com raiva e bato no volante.
Talvez eu nã o seja tã o bom empresá rio quanto acreditei. Nem sei
selecionar uma simples e confiável assistente!
Ela passa a viagem em silêncio e de cabeça baixa. Quando chegamos, sai
apressada, já eu, sigo atrá s em meu tempo, porque como todo vilã o lento
de filme de terror, nã o importa quanto a sua vítima corra, no fim, ele
sempre a alcança.
Ela me leva bem para a sala do tio, que fica depois do primeiro lance de
escadas, pois a medrosa nã o conseguiu esperar o elevador e eu também
nã o.
Entro no escritó rio e a encontro se desculpando com o tio. Esse está
irreconhecível depois dos socos que lhe dei. Admiro a sua coragem de
sair de casa nessa situaçã o. Deve estar precisando muito trabalhar. Eu
nã o julgo, pois por bem menos quase nã o saí da minha quando levei um
soco de Nicholas, mas também precisava trabalhar.
Cerca de cinco pessoas assistem o desespero da garota, que chega até a
se ajoelhar aos pés do homem implorando piedade. Todos estã o
assustados.
O que faço é aplaudir e os olhos inchados de Scott se erguem em minha
direçã o.
— PARABÉ NS! MEUS PARABÉ NS! Você conseguiu me enganar direito
colocando a sua sobrinha para trabalhar para mim.
— E você, tã o burro, veio descobrir isso depois de meses. — O
desgraçado debocha.
— Mas descobri. E agora, você pode admitir o que fez, porque se nã o
fizer, eu vou te seguir até o inferno procurando provas. E essa garota aí, é
uma delas.
Ele puxa a garota pelo braço e ela levanta, mas sua atençã o ainda está
em mim.
— Já prestei queixa contra você pelo que fez comigo, entã o pode fazer
isso, porque a ú nica coisa que tenho a confessar, Eros Werneck, é que eu
nã o sou e nem serei a ú nica pessoa a querer te ver caindo. Apesar de eu
adorar te ver perdendo, tem gente que tem mais motivos do que eu para
querer te ver longe. Começa por aí. Porque longe de você, nã o está .
“Eles continuam juntos. Aquele desgraçado!”
"A minha filha está bem melhor com o seu irmão."
Saio do escritó rio batendo a porta, preciso ir atrá s de Michael.

Eros ficou furioso com a Kelsey e essa ficou em prantos, mas eu nã o


poderia mentir. Aquelas lá grimas podem ser de medo, de
arrependimento, porém no fim, ela pode ter feito muita coisa ruim para
ajudar o tio e prejudicar o Eros.
Nã o sei muito sobre o que tem acontecido na empresa dele, mas faz
muito sentido. Kevin, o só cio e amigo do Eros, segundo ele, me deixa na
frente de casa. Ele também está perturbado com o que aconteceu. Nã o
contei nada além de que a conheci na casa do Scott, mas ele pensa como
o Eros e como eu.
Ela aprontou muito enquanto estava ali. Por que mais uma pessoa
trabalharia para o rival de alguém que mora sob o mesmo teto? Se fosse
pra ajudar o Eros, a situaçã o estaria diferente.
Se Scott fez o Eros ser preso, esse homem é mais podre do que imaginei.
— Obrigada. Espero que tudo se resolva.
Ele balança a cabeça concordando.
— O Eros deve te procurar depois. Agora ele está de cabeça quente.
— Eu sei. — Fecho a porta e subo a calçada.
Nã o vou levar o jeito que ele falou comigo para o lado pessoal, por mais
assustada que eu tenha ficado naquele momento. Eu tentei apaziguar no
momento errado e, mais uma vez, nã o imagino o quanto eles foram
prejudicados pelas coisas que ela supostamente fez.
Subo para casa e encontro a minha mã e e Demétrio na sala de estar.
Automaticamente deixo os problemas de Eros da porta para fora e
lembro dos meus.
Assim que meus olhos encontram os da minha mã e e esses descem até a
marca do meu braço, sei que ela soube do que aconteceu e mentir está
fora de cogitaçã o.
— Liz, minha filha. — Ela levanta apressada e mal fecho a porta, pois sou
abraçada fortemente e sinto os pulmõ es dela estremecendo contra meu
corpo.
Um nó sobe pela minha garganta e choro antes mesmo de eu tentar
engolir. Meus olhos nadam em lá grimas.
— A Sra. Werneck contou? — pergunto já imaginando que sim.
— Claro que contou.
Nã o vou proferir insultos à minha suposta sogra em pensamento. A
informaçã o que ela compartilhou era algo que precisava ser discutido.
No entanto, eu gostaria de ter tido a oportunidade de iniciar a conversa.
— O que ele fez com você, minha filha?
— Aconteceu alguma coisa que eu nã o sei? — Demétrio pergunta e
quando eu e mamã e nos encaramos, ela balança a cabeça em negaçã o.
— Estávamos esperando você chegar.
E é por isso que mentir para ela acaba comigo.
A minha mã e nunca revelou detalhes sobre as coisas que passei no
passado, em respeito a mim. Ela sempre respeitou meu pedido de
manter isso entre nó s.
— Eu nã o imaginava, mã e. Sei que a versã o que você ouviu foi diferente
da que realmente aconteceu. Nó s sabemos o real motivo. Como se nã o
bastasse tudo o que ele fez no passado — digo chorando e segurando as
suas mã os.
— Me explica isso, Liz.
— É simples. Edward é filho do Scott Brixton. O pai que tanto queria me
conhecer, era ele, mã e. Só para me lembrar do quanto ele pode ser
maldoso. Ele disse que agora tenho idade para... — Nem consigo concluir
a frase, contar isso me deixa enojada e choro com a cabeça encostada em
seu ombro.
— Espera. Vocês estã o falando sobre o que acabei de entender? —
Demétrio pergunta, ainda perdido na situaçã o e olho para ele. — Liz,
Scott Brixton é pai do Edward e ele te fez mal no passado?
— Ele tentou abusar de mim, Demétrio.
— Você o conhece? — Mamã e pergunta.
— Eu fiz negó cios com esse cara.
— Que negó cios? Por que eu nã o sei disso? Nunca vi o nome dele na sua
agenda.
— Eu nã o inclui isso... Ele pediu discriçã o. Eu nã o imaginei... — Ele está
perplexo. — Quando eu marquei uma reuniã o e mencionei que te
levaria, ele pediu que eu fosse sozinho.
— Ele já deveria saber que sua assistente era a minha mã e — afirmo
sem surpresa nenhuma e seco o rosto. — Ele colocou a sobrinha para
trabalhar infiltrada na empresa do Eros. Ele acha que pode ter sido Scott
quem o colocou na prisã o.
Demétrio está em negaçã o.
— Aquele maldito! Como ele pô de tentar isso! Eu... Nã o. Eu me recuso a
aceitar isso. — Ele pega o telefone e esperamos o que ele vai fazer.
— Nã o liga para polícia, Demétrio. Eu nã o posso me expor com um
assunto desses. — Imploro, mesmo que essas marcas em meu braço
sejam boas provas do monstro que ele é, e Demétrio afasta o telefone da
orelha.
— Esse homem nã o merece ficar por aí!
— Ele nã o ficará por muito tempo. — Continuo perto da minha mã e.
Ele volta a colocar o telefone na orelha.
— Louis? Comece o processo de quebra de contrato do negó cio que fiz
com Scott Brixton. Nã o quero nada que venha desse homem... Nã o me
importo com prejuízo. Pagarei o que for preciso para nã o ter ligaçã o
nenhuma com os negó cios desse monstro.
Ouvir isso me surpreende. Demétrio nã o tem tanta proximidade comigo
e imaginei que os negó cios dele eram mais importantes que a filha da
sua namorada.
Pelo visto eu estava errada, já que ele acabou de fazer isso. Abriu mã o
dos negó cios com Scott por causa do que ele fez comigo.
Mamã e me abraça de novo.
— Se eu imaginasse que aquele rapaz fazia parte dessa família suja,
nunca teria o chamado para essa casa, ou teria deixado você aparecer
em propagandas com ele e saído daqui para o encontrar. — mamã e diz
arrependida. — Se acontecesse alguma coisa com você, eu nunca me
perdoaria, filha, por que nã o me ligou?
— Eu fiquei tã o nervosa que pensei na pessoa que estava mais perto.
Eros mora no mesmo condomínio e apareceu poucos minutos depois.
— Esse rapaz... A mã e dele falou que ele cuidou de você. Liz, minha filha,
tem alguma coisa que você nã o me contou? — Ela segura o meu rosto e
eu assinto envergonhada.
— Eu nã o quero falar sobre isso agora. — Me afasto dela e seco mais
uma vez o rosto com as mã os. — Posso ficar um instante no meu quarto?
— Claro. Eu vou te levar alguma coisa para comer daqui a pouco. — Ela
nã o insiste na conversa sobre Eros.
Entro no cô modo, deixo a porta fechada e sento na cama enquanto ouço
Demétrio conversando com a minha mã e. Ele ainda está assustado.
Parece que nunca irei superar esse assunto.
Pego o meu celular e deixo isso de lado para saber de Eros, mas a
mensagem que vejo é de Ed. Mais uma dentre as vá rias que ele mandou
para mim desde ontem.
Todas se resumem em querer saber como estou e porque eu e Eros
agimos daquela forma. Mesmo que ele nã o saiba de nada, a minha
resposta está pronta e nã o mudará .
[Liz: Não me procure mais. Por favor, fique longe de mim.]
Depois de sair do escritó rio de Scott mais furioso do que quando
cheguei, fui ao escritó rio de Michael para confrontá -lo, mas nã o o
encontrei.
Por isso, agora estou chegando na casa dele. Eu quero ouvir da boca
desse canalha toda a motivaçã o que o levou a foder com a minha vida. E
se ontem nã o voltei para cadeia, é possível que hoje eu volte.
Quando piso na calçada, como se já estivessem esperando a minha visita,
dois seguranças de terno estã o na porta da casa. Admiro eles já nã o
terem me barrado na entrada do condomínio. Ignoro os dois e toco a
campainha.
Quem abre é a empregada e dispenso cumprimentos, procuro logo pelos
golpistas e vejo Olívia e a mã e juntas na sala.
— Eros, o que você faz aqui? — A senhora Albuquerque levanta surpresa
e Olívia também parece surpresa com minha “visita”.
— Cadê o Michael?
— Estou aqui. — Ele aparece com um copo de whisky na mã o e a camisa
social com os botõ es abertos e a barriga cabeluda de fora. — Soube que
me procurou na empresa.
— Foi bom te encontrar aqui, já que a família toda está reunida. Agora
me conte. — Dou um passo para a frente e os seguranças se adiantam,
indo para perto do golpista. — O que você e o Scott fizeram? Me conte
tudo.
— Eros, Eros... Você quer mesmo saber? ― Ele ri.
— Essa semana foi um golpe atrá s de outro. E nã o digo de perdas, digo
de descobertas. Você e o Scott sã o amigos... Como nunca soube disso?
— Você é só um playboy que nã o enxerga além do seu umbigo. Um peã o
num jogo bem maior. Quer saber a verdade? Você estava nos
atrapalhando. Atrapalhando os negó cios do Scott e os meus. Só
precisamos mexer uns pauzinhos e te tirar da jogada.
— Você tem negó cios com a minha família! Fui eu quem te colocou no
nosso meio! Como eu poderia estar atrapalhando? — indago revoltado.
— Como eu disse, um peã o. Mas só serviu para dar dor de cabeça. Você
nã o merece a minha filha. O seu irmã o é bem melhor.
— Bem melhor de enganar, nã o é? Aquele casamento por contrato nã o
me engana, Michael!
— Que se acabar, ainda sairemos no lucro. — Ele diz com um sorriso nos
lá bios e toma o whisky.
Se nã o fossem os brutamontes, eu quebraria esse copo e o faria engolir o
vidro.
— VOCÊ S DESTRUÍRAM A MINHA VIDA! ACABARAM COM O MEU
NOME! — Esbravejo.
— E o que você está fazendo aqui? O que acha que vai conseguir com
esse showzinho? Deveria tomar isso como aprendizado.
— Aprendizado é o que vocês vã o ganhar quando todos souberem o que
fizeram.
— Você nã o tem provas, rapaz. Quem aqui vai testemunhar a seu favor?
Todos vã o achar que você está no mínimo louco. Um ex-presidiá rio
mimado.
— Vamos ver. Vocês estã o perdidos. — Aviso a toda a família. — Acabou.
ACABOU PARA VOCÊ S!

Eros nã o deu sinal de vida e agora estou com medo dele ter feito alguma
besteira. Já o vi em fú ria e sei que se nã o tiver quem o pare, ele é capaz
de fazer coisas terríveis.
— Liz? Vem comer alguma coisa, filha. Fizemos hambú rguer. — Mamã e
chama.
Ela está preocupada comigo desde que cheguei. Aqui em casa está um
clima de enterro depois de tudo que contei.
A mã e do Eros só sabia que alguém me machucou, o pai dele sabia mais,
já que duvido que aquele momento em que eles ficaram presos no
escritó rio nã o tenham abordado esse assunto. Minha mã e soube
encaixar muito bem as peças.
— Já vou. — Levanto.
Os olhares de compaixã o deles me fazem sentir que a situaçã o foi ainda
pior do que realmente foi, e já nã o foi boa. Nã o desejo que a situaçã o se
agrave, que o medo que carrego desde a infâ ncia se intensifique apó s
esse incidente.
Talvez haja um desfecho em vista, espero que ele chegue em breve, pois
esse assunto é definitivamente meu ponto fraco, meu calcanhar de
Aquiles.
Saio do quarto com um sorriso no rosto. Parei de chorar depois que me
controlei, mas sorrir é difícil, pois estou preocupada com Eros.
— Você está bem? ― Mamã e pergunta.
— Aham. — Minto, com um turbilhã o de perguntas na minha cabeça.
Eros disse que mataria por mim. Tenho receio de que em breve haja uma
reportagem na televisã o noticiando uma tragédia desse tipo.
Talvez este seja um dos contras de namorar alguém como ele. Seu
temperamento está evidente em seu rosto e até em seu modo de beijar.
Eros é impulsivo.
— Você está bem? — Demétrio repete a pergunta quando chego à
cozinha.
— Podem ficar tranquilos! — Asseguro. — Tive toda a noite para refletir
sobre o assunto e acredito que, agora que conversei com vocês, podemos
deixar esse assunto para trá s e focar em outras coisas. Afinal, o
importante nã o é desabafar? Já o fiz.
— Eu acredito que esse homem precisa ser responsabilizado. Ele te
machucou. Olhe para o seu braço! Mesmo que o assédio tenha ocorrido
anos atrá s, ele ainda representa um perigo para você. — Meu padrasto
está indignado. — Vou expor quem é esse sujeito para todos.
— Nã o, Demétrio, por favor. Agora que meu rosto é um pouco conhecido,
nã o posso me envolver nesse tipo de polêmica.
— Liz, você foi uma vítima.
— Mas nã o quero que as pessoas saibam disso, que falem sobre isso. Eu
nunca mais sairia de casa se isso acontecesse. Por favor, Demétrio,
respeite minha decisã o ― imploro.
Ele abaixa a cabeça, visivelmente inconformado.
— Quando falaram que eu estava namorando Edward, apareceu gente
querendo saber da minha vida de todos os cantos. Tenho receio de que
descubram isso por conta pró pria. Nã o quero dar motivo para fofocas.
— Ele vai pagar. Aquele desgraçado vai pagar. — Minha mã e fala
enquanto coloca as carnes do hambú rguer no prato que está no meio do
balcã o.
— Mesmo sem mencionar o que ele te fez, vou fazer algo sobre esse
homem. As pessoas precisam saber quem ele é. — Demétrio está
determinado. — E pensar que mostrei uma foto da minha filha para ele...
— Nada acontecerá com ela — digo convicta para acalmá -lo.
— Talvez vocês devessem considerar morar em um lugar melhor. Mais
seguro. A minha casa é enorme.
Alguém bate à porta, e minha mã e, já de pé, vai atender.
Fico observando, imaginando que poderia ser Eros, procurando por mim
para falar sobre o que aconteceu, mas quando ela abre a porta, é Olívia
quem entra, visivelmente abalada.
Me levanto, preocupada.
— Olívia, o que aconteceu?
Eros deve ter feito algo terrível. Agora ela está assustada. Meu coraçã o
dispara, com medo do pior.
— A casa caiu.
— Como assim, menina? — Mamã e pergunta, fechando a porta,
enquanto puxo Olívia para sentar no sofá . Demétrio se aproxima.
Ele deve estar reconsiderando a ideia de nos convidar para morar com
ele, com tantos problemas seguidos.
— Eros descobriu tudo e vai contar para a família dele. Nicholas nã o vai
querer continuar casado comigo. — Ela conta, enquanto chora
desesperadamente.
— Descobriu o quê? O que vocês aprontaram, Olívia? — Mamã e exige
saber e faz algo que ela me proibiu de fazer: senta na mesa de centro,
que tem uma tampa de vidro, para ficar de frente com minha prima.
Entã o Eros nã o matou ninguém. Sinto um pouco de alívio, mas eles
devem ter feito algo terrível.
Como Eros pode estar resolvendo uma coisa e, no pró ximo momento, já
estar com outro problema? E falando em problemas, Olívia só aparece
em nossa casa quando está prestes a se envolver em um. A ú ltima vez foi
antes de terminar com Eros e se envolver com Nicholas. Agora ela
aparece assim, em prantos.
— Tome. — Demétrio oferece um lenço, ela agradece enquanto chora e
seca as lá grimas.
— Se acalme e conte tudo — peço, sentando ao seu lado.
A situaçã o deve ser séria para ela estar tã o desesperada. Nã o lembro de
ela ter derramado uma lá grima quando descobriu que Eros tinha sido
preso.
— Eu... — Ela suspira e soluça. — Nicholas teve uma reuniã o de ú ltima
hora, e eu me senti mal, entã o voltamos da casa de campo antes do
combinado. Nicholas tinha acabado de sair da casa da minha mã e
quando Eros chegou procurando o meu pai. Ele... Ele descobriu.
— Descobriu o quê? — Mamã e está ficando impaciente com essa
explicaçã o que nunca chega.
— Meu pai trabalha com um cara que ele nã o gosta. E Eros logo concluiu
que eles arquitetaram tudo juntos para se beneficiarem.
— Isso é verdade? — pergunto, assustada com essa possibilidade.
— Eu nã o sei se fizeram juntos, mas... — ela soluça. — Ele sabe que o
casamento foi feito com um contrato. O homem disse que ele nã o estava
sozinho.
— Olívia, o que ele te mandou fazer? — Mamã e pergunta, tensa.
— Eu amo o Nicholas. Nã o quero me separar dele. Se ele descobrir o que
fiz pelo meu pai... Nã o quero mentir para ele, mas vocês acham que, se
eu contar a verdade, ele vai me perdoar? Eu nã o sei o que fazer. Mamã e
está à beira da loucura.
— Conta logo, Olívia! — Minha mã e perde a paciência.
— Primeiro, ele disse que eu deveria terminar com Eros, depois
conquistar Nicholas até que... tivéssemos um filho e, por causa disso, nos
casaríamos. Ele disse que era o melhor para mim.
— Isso é golpe da barriga! — exclamo, assustada.
“Como eles foram capazes?”
— Entã o, isso tudo foi um golpe, Olívia? — A minha mã e está tã o
chocada quanto eu.
— Mas ele tinha razã o quanto ao Nicholas ser melhor para mim.
Ninguém nunca me tratou como ele me trata. Eu me apaixonei por ele,
tem amor, vamos ter um filho e eu nem ligo para os planos do meu pai
mais. Eu só quero ficar em paz com o Nicholas.
— Mas você fez isso. Olívia, você sabe que seu pai é um homem
ganancioso, que vocês já têm coisas demais. Para que isso? Por que
concordou com isso, minha filha?
— Tia, o meu namoro com Eros nã o dava mais certo, foi uma
oportunidade de acabar com tudo quando ele nã o podia reclamar e
insistir para voltar. Sobre Nicholas... Era o meu pai. Por mais ganancioso
que seja, ele disse que seria o melhor para nossa família.
— E você caiu? Que anta, Olívia! — A verdade escapa pela minha boca.
— Uma hora dessas, Nicholas já sabe de tudo, meu casamento corre
risco.
— O seu pai admitiu essa safadeza?
— Papai nã o tem nada a perder. Se o Nicholas se divorciar de mim, a
minha família receberá uma multa milioná ria por quebra de contrato.
— Que canalha! Igual ao amigo dele. Ele anda com Scott — conto ao
Demétrio, que está de olhos arregalados para tudo que ouve.
— Vou perder o meu casamento. A pessoa que mais me fez feliz na vida
por causa dessa histó ria. — Olívia fala, inconformada.
— Olha, eu só nã o te dou uns tapas porque você está grávida. — Mamã e
levanta, furiosa. — Trate de procurar o rapaz e contar tudo. E reze para
que ele te perdoe, porque uma coisa dessas nã o se faz. Por isso eu digo,
Michael é podre e a minha irmã está ficando igual a ele.
Ela está poupando Olívia. Porque se ela nã o estivesse aqui em prantos, a
família toda seria chamada de podre.
Que absurdo! Nã o tenho dú vidas de que Nicholas vai acabar com esse
casamento.
Como será que Eros está depois dessa histó ria? Será que ele vai pensar
que, com o fim do casamento, pode voltar com Olívia e retomar a vida
que tinha antes? Estou apreensiva.
Reuni a minha família e contei tudo.
Por um momento, cheguei a pensar no que Michael disse, sobre ninguém
acreditar na minha palavra, mas a minha família acreditou. Pela
primeira vez, ninguém questionou a veracidade do que eu disse. Agora,
estamos todos decepcionados.
Eu disse que eles tinham caído em um golpe, sem imaginar que eu
estava incluso nisso. Mas nunca duvidei da maldade de Michael e Scott.
Nã o queria estar nessa situaçã o, contudo, é bom poder provar que nã o
era coisa da minha cabeça.
— Como pude cair nisso? Ela fingiu o tempo todo! — Nicholas está
desolado no sofá da sala.
— Falta de aviso nã o foi — comento, apoiado em uma parede.
— Eu tinha certeza de que ela me amava. Tudo o que vivemos foi uma
mentira?
— Nã o. O golpe foi real.
— Eros... — Mamã e suplica, abatida. — Nã o piore as coisas.
— Piorar? Fui preso injustamente e, a menos que eu mate alguém ou
mande matar esses dois, nã o terei justiça. Eles nem tiveram medo
quando admitiram. Sabem que nã o podemos fazer nada contra eles.
— Pai, ligue para Cole. Eu quero o divó rcio. — Nicholas fala, revoltado.
— Você nã o quer falar com Olívia? Ela pode ser apenas uma vítima.
— Duvido muito, mã e. Ouça o que estou dizendo. Eles nã o agem sem
pensar. Olívia nã o veio aqui por acaso. Parece que quer defender a
golpista! ― digo sem paciência.
— Que desgraça! — Papai pragueja, servindo-se de whisky. — Vamos
processar essa família toda.
― Seria bom se isso resolvesse tudo. ― Lamento.
Há reclamaçõ es que só eu posso fazer, dores que só eu senti e traumas
que nenhum processo pode curar. Até me bate um desâ nimo. Posso
tentar fazer justiça com as minhas pró prias mã os, mas isso só me levaria
mais fundo.
Eu poderia e teria essa coragem, mas estou dividido.
Existe esse lado meu que consideraria fazer justiça com as pró prias
mã os, mesmo que isso me colocasse de volta onde mais sofri, e há o meu
lado traumatizado, que seria capaz de abaixar a cabeça se isso me
poupasse de passar por aquele terror mais uma vez.
Mas é claro que Scott sabe de tudo. Se nã o foi ele quem mandou me
atormentar lá , eu nã o sei quem poderia ser. E raramente erro nas
minhas apostas. Até agora, acertei tudo.
A campainha toca e uma das empregadas vai atender. Só pode ser o Cole,
já que é a pessoa que precisamos neste momento. Procuro um canto
para sentar e ouvir o que, em pouco ou nada, vai me beneficiar. Se
existissem provas...
― O que você faz aqui? ― Nicholas pergunta, ríspido, e olho para a
entrada. Olívia, com o rosto inchado, está acompanhada da tia, Demétrio
e Liz.
Poxa, com tantos problemas, esqueci da minha pequena. A ú nica pessoa
que se salva no meio disso tudo.
Levanto-me com vontade de ir até ela e conversar sobre tudo, mas nã o
sei se a minha futura sogra ― que é como já a considero ― está sabendo
do que temos. Ela também olha para mim, apertando os lá bios. Já deve
saber de tudo.
― Nick, eu vim falar com você. Com todos vocês.
― Veio trazer mais mentiras? ― Ele se levanta, devastado.
Lamento por meu irmã o. Depois que ele me disse que ficou apaixonado
por ela desde aquela noite em que passei na frente caprichosamente,
relevei o contragolpe, mas eu disse que ela se mostraria em algum
momento. Agora ela chora como se fosse uma vítima.
― Me ouça. Eu vim falar tudo. Meus pais nem sabem que estou aqui.
“Agora que o estrago está feito, ela vem querendo ajudar.”
― A sua família nos traiu. É isso ― digo sem rodeios. ― Você me usou,
usou o meu irmã o, usou a nossa família e ainda vai nos arrancar
dinheiro.
― Juro que nã o tinha a intençã o de fazer mal a ninguém.
― Aham, claro. Porque você é uma santa ― digo sarcá stico.
― Acreditei mesmo que você me amava, Olívia. ― Nicholas fala,
encarando-a de frente. ― Você chegou aqui sorrateira, se aproximou de
mim, disse que estava loucamente apaixonada e tudo era só um plano.
― Me apaixonei de verdade por você e nã o me arrependo de ter me
casado. Te amo de verdade, Nick.
“Não é possível que ele será capaz de acreditar!”
― Nã o acredito em mais uma palavra sua. Pode falar para o seu pai que o
plano foi concluído. Vamos pagar o milhã o, porque nã o vou permanecer
casado com você. ― Ele fala, enojado.
Ao menos criou coragem.
Liz olha para mim, encolhida perto da porta, como sua mã e e o padrasto.
Ela certamente nã o imaginava isso, mas nossa conversa ontem foi o que
clareou a minha mente. Quando ouvi de Scott que outras pessoas
queriam me prejudicar e estavam por perto, associei imediatamente ao
maldito do Michael.
― Por favor, Nicholas. Estou tã o arrependida de ter ajudado o meu pai.
Senhor e Senhora Werneck, acreditem em mim. ― Ela implora e por
ú ltimo olha para mim, mas como já sabe que meus alarmes estã o
ativados, nã o me pede nada.
― Nó s te recebemos com tanto carinho. ― A minha mã e diz
decepcionada. ― Te tratamos como uma filha e você machucou nossos
dois filhos.
Meu pai deve estar envergonhado por ter feito dois trouxas. Sorrio
mentalmente desse pensamento inoportuno.
― Me desculpem. Vocês foram melhores comigo do que meus pró prios
pais. Sinto muito decepcionar.
Nicholas dá uma volta, esfregando o rosto.
― Escuta, se ninguém tivesse descoberto, vocês iriam ficar nos
enganando até quando? ― Ele questiona.
― Me arrependi assim que trocamos a primeira palavra, Nick. ― Ela fala,
chorando. Isso já está me irritando.
― Querem saber? Nã o tenho paciência para ficar ouvindo isso. Vou
embora ― aviso, indo em direçã o à saída, e vejo uma Liz entristecida.
No meio de tantas descobertas, dá vontade de gritar que estamos juntos
e jogar essa garota no meu ombro antes de sair daqui.
― Espera. ― Olívia pede. ― Vou consertar isso.
Me viro para ela, rindo.
― O que você fez nã o tem conserto. Já está feito e, como Nicholas disse,
seu golpe agora está completo. Só falta parir o moleque para ter o bô nus
da herança da nossa família.
― Vou contar tudo o que sei para a polícia. Tudo que o meu pai fez
contra vocês. Tudo que ele fez com Scott.
Por mais que sinta uma pontada de esperança, sei que ao primeiro olhar
do pai, ela ficará muda.
― Como se você tivesse coragem. ― Continuo o meu caminho, pois, por
mais que ela conte, nada vai mudar para mim.
― Eu sei tudo o que aconteceu quando você foi pego com as drogas.
Tudo, até mesmo o meu pedido para ir para casa fazia parte do plano.
Nã o acredito nisso.
Me viro para ela mais uma vez, desta vez com a fú ria crescendo em mim.
― VOCÊ ESTAVA ENVOLVIDA NISSO, OLÍVIA? ― Esbravejo.
― O meu pai disse que depois que pedissem o seu carro, eu deveria te
distrair, pedir que me levasse para casa, o tempo de resolverem tudo. Eu
nã o sabia que eles colocariam armas no seu carro, mas eu sabia que
estavam fazendo alguma coisa.
Balanço a cabeça em negaçã o.
― E eu achei que a pior coisa que você poderia ter feito comigo era ter
me abandonado no meu pior momento. Mas você ajudou a me
colocarem lá ! ― digo, com puro ó dio me consumindo.
É difícil engolir isso.
― Eu nã o achei que você acabaria na cadeia.
― E achou o quê? Que manipulariam meu carro e eu sofreria um
acidente? Morreria? Qual era a sua expectativa? ― indago, enojado. Eu
fui o mais trouxa de todos.
― Eros, eu só fiz o que meu pai pediu. ― Ela volta a chorar.
Balanço a cabeça e saio da casa sem ter mais o que falar.
Esse foi o xeque-mate.
Parece que quanto mais Olívia fala, mais coisas descobrimos. Essa
histó ria dela ter feito parte do plano que levou Eros para a cadeia foi
extremamente pesada. Trouxemos ela como forma de apoio para que
contasse o que fez, afinal, é o mínimo, já que se arrepende, mas nã o
podemos passar a mã o na cabeça dela. O que ela fez foi terrível, fiquei de
coraçã o partido ao ver Eros ouvindo isso e saindo desolado. Ele nã o
explodiu, nã o fez ameaças, apenas ficou extremamente decepcionado e
triste.
Quando viro para a confusã o, com um grande desejo de ir atrá s dele, o
pai de Eros conversa para ver se ela está mesmo disposta a contar. Acho
que é a pessoa menos emotiva dentre os Werneck no momento, pois a
esposa está chorando e Nicholas nitidamente nã o suporta olhar para a
cara dela.
Nã o temos nada a fazer para ajudar. A ajuda foi trazê-la aqui, agora é
com ela. E coitado desse bebê, crescendo no meio dessa confusã o. Nã o
sei o que deve estar rolando na casa da minha tia, mas se eles temem as
atitudes da filha, uma hora dessas devem estar procurando por ela. No
fim, sobrará para nó s acolhê-la, já que ela arranjou problema com a
família dela e a do marido.
Olívia está em apuros e nã o tenho pena. Tenho pena do Eros, que foi
preso injustamente só para que ela pudesse dar o golpe da barriga no
irmã o.
― Que situaçã o. ― Mamã e murmura enquanto assistimos à conversa.
― Mã e, estou pensando em ir falar com a Paige. Isso aqui está tenso
demais. — Minto, pois preciso ir atrá s do Eros.
― Mas cuidado. Já basta o que aconteceu ontem.
― Sim. Eu vou tomar cuidado.
“Uma hora dessas, aquele cretino deve estar rindo da cara do Eros por ter
demorado tanto para descobrir essas coisas.”
Chamo um Uber e vou para o condomínio onde Eros mora, na esperança
de que ele tenha ido para lá , já que anda bastante caseiro.
Aviso na portaria e eles ligam para o Eros. Ele me deixa entrar. Passou
aquele leve pensamento de ele achar que porque somos da família
fizemos parte do que Olívia e meus tios fizeram, mas felizmente ele nã o
pensou assim, já que me deixou entrar.
O Uber me deixa na porta da casa dele e me apresso para tocar a
campainha. Que dia cansativo! Eros abre a porta, com os cabelos
molhados e somente uma toalha enrolada no quadril.
― Oi ― digo baixo.
A preocupaçã o nã o deixa os belos detalhes dele me dispersarem.
― Oi. ― Ele diz suspirando. ― Vem, entra.
Entro na sala e ele fecha a porta. Está cheirando tã o bem que parece até
que usou perfume.
― Como você está ? ― Pela cara, muito abatido.
“Que pergunta estúpida.”
― Me sinto um trouxa, Liz. ― Ele passa o braço pelo meu pescoço e beija
minha cabeça. ― Que bom que você veio.
― Fiquei preocupada. Eu nã o imaginava que ela tinha feito aquilo.
― A sua prima nã o vale nada. Eu nã o sei como acreditei em tudo que ela
disse, como caí nessas coisas. Tudo armaçã o. ― Ele anda ao meu lado e
sentamos no sofá .
― O tio Michael sempre manipulou a filha para conseguir o que queria.
Penso se o meu pai tivesse permanecido na minha vida, se faria o
mesmo. Eu confiava muito nele antes de me decepcionar.
― Você é muito diferente dela, Liz. ― Ele diz olhando para a frente, e
como estou no canto do sofá , puxo sua cabeça para ele deitar a cabeça
no meu colo e o resto do corpo no sofá .
― O que você vai fazer agora? ― pergunto penteando seus cabelos com
os dedos.
― Nã o sei. Acho que qualquer coisa que eu fizer, me tornará mais trouxa
ainda no meio dessa histó ria.
― A Olívia vai contar tudo para polícia. Acho que eles vã o tirar as
acusaçõ es contra você.
― Agora isso nem importa tanto. Meu nome já foi para o lixo, Scott já
conseguiu o que queria, o seu tio também, e nada que eu faça pode
apagar o que vivi injustamente durante dois meses.
Fico de coraçã o apertado por ele.
Eros pode ter traumas piores que os meus, vai ver por isso me entende e
me protege tanto.
― Eros... ― sussurro e fico um pouco receosa em perguntar, mas
prossigo. ― O que aconteceu quando você esteve lá ?
Ele alcança a minha mã o e puxa para perto do seu peito.
Seu silêncio duradouro me faz acreditar que ele nã o se sente bem em
falar sobre isso. Ele respira tã o fundo enquanto descansa em meu colo.
― Você nã o precisa falar se nã o se sentir à vontade.
― Você é uma das pessoas com quem mais me sinto à vontade, Liz. É que
reviver essas lembranças me traz à tona as coisas que senti.
Eu vivi uma tentativa de estupro e fiquei por anos com medo do que
poderia ter acontecido, ainda vivo com medo, imagina ele, que deve ter
sentido na pele.
― Você tinha razã o de me achar um babaca, porque antes de ser preso,
eu era, quando cheguei lá , continuei sendo até aprender que ali eu nã o
era ninguém. Eles me odiavam, eu sempre falava besteira, queria me
garantir com sobrenome e dinheiro, mas o dinheiro só serviu para que
um colega de cela me protegesse. Ainda foi o meu pai quem pagou.
― Entã o eles nã o encostaram em você, encostaram? ― A minha
esperança é ouvir que nã o.
Estou me sentindo um trouxa depois de descobrir que a minha pró pria
namorada armou para mim. Fui um peã o e passei por situaçõ es
terríveis só para satisfazer os desejos de dois patifes.
Eu sei que isso contribuiu para que eu fosse menos egocêntrico, mas
nada disso foi planejado para o meu bem, eu nã o estive bem por dois
meses. Ainda nã o estou bem. Nã o penso nisso todos os dias, o tempo
todo, mas eu lembro e nunca esquecerei do que passei nas mã os
daqueles caras dentro da prisã o.
— Eles me ameaçaram vá rias vezes, tentaram me matar vá rias vezes
também. Chegou um momento em que nem dormir eu conseguia mais.
Aquela noite em que acordei sendo sufocado com um travesseiro foi,
sem sombra de dú vidas, a pior noite da minha vida, todos os outros dias
em que fiquei preso, mal dormi, com medo de acontecer de novo.
— Que crueldade. — Liz sussurra.
— Eles acabaram com o Eros Werneck. O maior arrependimento que
tive, depois de tantas ameaças, foi ter falado o meu nome. Eu nã o queria
ser mais eu. Nã o queria ser alvo de nada. Agora eu sei que eles tinham
contato com quem me odiava aqui fora, porque o Scott disse que sabia
que passei por maus bocados.
— Nem depois de te colocar lá , eles pararam!
Suspiro.
— Nã o.
— Sinto muito pelo que fizeram com você. Sinto muito mesmo. — Ela
segura meu rosto e a encaro.
No meio de tanta descoberta ruim, fiquei feliz quando ouvi que ela
estava na portaria.
Seus olhos estã o nadando em lá grimas, me sinto culpado por isso.
Sento de frente para ela.
— O que eu disse sobre chorar?
— Eu te falei dos meus problemas, coisas que nem aconteceram comigo,
e você carregava problemas bem maiores.
— Ninguém pode medir o peso que certos acontecimentos têm na vida
de outra pessoa. Cada um tem a sua forma de ver as coisas. Aposto que
para eles, o que eu vivi nã o foi nada.
— Eu sinto muito mesmo, Eros. Se antes eu já estava horrorizada com
tudo o que fizeram, agora estou mal. Você passou por algo que nem
merecia.
Suspiro concordando com isso e a abraço.
Eu nunca vou perdoar o que eles fizeram comigo. Principalmente a
Olívia.
Sinto a ponta da toalha escorregando pelo meu quadril.
— Acho que a minha toalha caiu — comento.
Ela cobre o rosto e sai do meu abraço.
— Eros! Um momento triste e você nã o perde essa mania!
Dou risada e prendo novamente a toalha.
Ela continua de costas, cobrindo os olhos com as mã os. Tã o pequena...
— Você lembra que já viu tudo que está coberto, nã o é? — brinco e ela
balança a cabeça envergonhada. — A ú nica coisa boa que essa maldade
me trouxe foi você. — Levanto e a abraça pelas costas.
— Você ainda vê um ponto positivo?
— Claro. — Beijo a sua cabeça. — Se nada disso tivesse acontecido,
ainda estaria com aquela golpista, desdenhando de todos e me achando
o dono do mundo.
— Eu nunca gostaria daquele cara. Você continuaria sendo uma das
péssimas decisõ es que a minha prima tomou.
— E você continuaria sendo a prima esquecida.
Ela se vira rindo.
— Eu nã o sei o que é pior. Ser chamada disso ou de fulaninha.
— Fulaninha é apelido carinhoso. — Beijo seus lá bios.
— Grande carinho me chamando assim.
É impressionante como ela consegue me deixar feliz até nos momentos
mais difíceis da minha vida, me afastar desses sentimentos ruins, como
se um dia nublado se tornasse ensolarado de uma hora para outra só
por tê-la por perto.
A abraço forte e a tiro do chã o.
— Eros! — Grita sufocada e quando a aperto mais em meu abraço, ouço
sua coluna estalando.
— Tá vendo? Nã o basta te dar prazer, ainda alinho a sua coluna. —
Coloco Liz no chã o.
— Um verdadeiro faz-tudo. — Zomba, movimentando os ombros. —
Você já comeu?
— Ainda nã o.
— Vamos fazer isso entã o. — Pede fazendo uma careta engraçada.

Passei a tarde com o Eros, e mesmo conseguindo fazê-lo sorrir, sei que
ele nã o está bem. Eu também nã o estou depois de saber o que ele passou
na cadeia, o que a minha prima fez. Ele era um babaca, mas nã o merecia
passar por isso.
Ser ameaçado de morte, sofrer tentativas disso... Eu nã o sei como ele
está tã o calmo depois de passar por tudo que passou. Geralmente, quem
vive esse tipo de experiência, ao menos nos livros, se torna frio,
insensível, como se nada mais pudesse abalá -lo. Mas ele nã o. Ele deixou
de ser aquela pessoa repugnante.
Agora eu sei que quando eu disse para ele parar de socar o Scott para
nã o voltar para a cadeia, ele largou por medo. Ele tem medo. Ficou
traumatizado. Ele nã o se tornou duro ou frio pelo que viveu. Só nã o quer
sentir na pele de novo.
Se antes eu achava que estava enganada com ele, agora vejo que me
enganei mais ainda. Eros foi machucado física e psicologicamente. Está
tentando voltar a ter uma vida normal, e até agora, a ú nica coisa que vi
se acertando em sua vida foi seus pais naquele jantar na casa dele.
Me pego pensando se antes de ficarmos tã o pró ximos, contribuí de
alguma forma para que ele se sentisse melhor ou pior. Quando soube
que ele tinha sido preso, nã o senti pena, achei merecido. Quando ele
saiu, me preocupei com a cabeça da minha prima, mas nã o foi uma
preocupaçã o tã o grande. Eu achava que ele sairia pior do que antes.
Entro na casa e vejo minha mã e, Demétrio e Harper na sala. Ele deve ter
a buscado para ter certeza de que Scott nã o faria nada para atingi-lo
depois de romper o contrato.
— Cadê a Olívia? — pergunto fechando a porta.
— Ela está no seu quarto. — Mamã e responde com uma expressã o nada
boa. — Liz, mais cedo você conseguiu me enrolar, agora me responda:
você está com o Eros? Estã o juntos?
Parece que esse dia nã o para de trazer confrontos. Essa pergunta faz
meu peito acelerar, continuo parada perto da porta.
Harper está perto da janela e parece brava.
— Hein, Liz?
— Nã o adianta mentir. As fotos do passeio de mã os dadas dizem tudo. —
Harper diz.
“Ela está com raiva de mim?”
O Demétrio está de cabeça baixa. Esse homem assiste todos os barracos.
— SIM! SIM! — admito sem paciência para mais discussã o.
— Liz! Eu nã o acredito que você está fazendo isso! — Mamã e fala
decepcionada.
— Mã e, eu sei que você acha que o Eros continua sendo aquele babaca
que namorava a Olívia, mas ele nã o é mais assim. Se você nã o entendeu a
confusã o, armaram para ele e ele foi preso injustamente.
— Mas, minha filha, esse rapaz nã o pode ser bom para você! Onde já se
viu namorar o ex-namorado da prima? Eles nunca tiveram um
relacionamento bom!
Ela nã o ouviu o que eu falei e nã o vou repetir.
— Nã o me diga que você saiu da conversa para ir na casa dele?
— Sim. Foi. Eu fui saber como ele estava depois de descobrir toda essa
sacanagem. E mais, eu estava com ele depois de o meu pai aparecer aqui.
E quer mais? Eu dormi na casa dele no dia da reuniã o, quando o levei
para casa bêbado. Agora eu nã o vou esconder mais nada. Dormi na casa
dele ontem também.
— Liz... — ela parece que vai chorar.
— Foi por isso que ele mandou que eu sumisse da vida dele. — Harper
me acusa. — Ainda vim chorando e você fingiu que nã o sabia de nada!
— E você queria que eu dissesse o quê? Que era por minha causa? Eu
nã o mando nele! Nã o falei para ele fazer nada.
— Você sabia que eu gostava dele.
— Harper, vocês se viram duas vezes!
Olívia aparece na porta do quarto, encolhida e com a cara inchada de
tanto chorar.
— Nã o! A gente já se conhecia faz tempo. Antes mesmo de ele ser preso,
nó s ficamos!
— Foi com você que ele me traiu? — Olívia pergunta.
— Ó timo. — Dou uma risada aflita. — Isso só piora. Olha, eu sei com
quem estou. Vocês ficaram com o Eros babaca, mas eu nã o. Eu sei o que
ele sente por mim e o que sinto por ele. Entã o nã o importa o que vocês
digam, eu vou continuar com ele.
— Como eu me enganei com você. Achei que você era minha amiga. —
Harper reclama.
— Eu nã o sou a vilã de nada. Eu só nã o sabia o que dizer. De todos os
lados têm gente falando mal do Eros e parece que só eu vejo quem ele é
de verdade. Ele se importa comigo e se ele mandou você parar, foi
porque você estava invasiva demais.
— Nã o criei a minha filha para ficar brigando por macho. — Mamã e fala
decepcionada. — Paixã o passa. Eu nã o quero você com esse rapaz!
— Mã e, eu já sou adulta. Eu sei o que é bom para mim.
— Eu te protegi a vida inteira e nã o é agora que vou te entregar nas
mã os desse cara, Liz!
— Ele também me protege. Ele se importa comigo, mã e! — Tento
convencê-la.
— Ele só quer se aproveitar de você, Liz. Eu nã o quero saber desse rapaz
na minha casa. Nã o ouse trazê-lo aqui. E se você continuar se
encontrando com ele, saiba que nã o terá meu apoio para mais nada.
— É claro que ela vai continuar. — Harper dispara e seu pai grita em
seguida.
— CALA A BOCA, HARPER, ou você vai voltar para casa. — Determina.
Acho que nã o dá pra ficar em casa no momento. Saio e dessa vez vou
atrá s de Paige de verdade.
Eu nã o vou abandonar o Eros neste momento e espero nã o ter motivos
para abandoná -lo em outro. Nã o me importo se ele namorou a minha
prima. Ela deu motivos para que eu nã o me importasse. Nã o ligo se a
Harper diz que sou culpada pelo fora que ele deu nela. Ele só foi na festa
dela como um amigo.
Dessa vez nã o farei o que a minha mã e pediu. Ela nã o entende que ele
também se preocupa comigo, que ele tem as mesmas intençõ es que ela
quando se trata da minha proteçã o.
Eros nã o está comigo por interesse sexual. Eu nã o vou ficar pensando
nisso se nã o vou acabar paranoica e vou perder uma pessoa que me
apoiou quando eu estava em momentos tensos, que nã o me julgou e que
gosta de mim.
Me afasto de casa para ir ao ponto de ô nibus, mas no caminho decido
chamar um Uber mesmo, entã o sento no banco de uma praça. Um carro
para assim que me acomodo e ouço alguém dentro dele chamando o
meu nome.
"Que não seja mais problemas" ― desejo de olhos fechados.
― Liz, por que se recusa a falar comigo?
Abro os olhos e vejo Ed aflito na minha frente.
― Porque nã o quero falar com você!
― Mas eu preciso entender o que aconteceu na minha casa. Você ficou
em pâ nico, aquele louco entrou e agrediu o meu pai.
― Você viu tudo, mas nã o ouviu as coisas que o seu pai disse, ou já sabia
de tudo? ― Observo desconfiada.
― De tudo o quê? Que o meu pai e o Eros tinham problemas? Sim, eu
sabia, mas eu te convidei para jantar na nossa casa. Nã o sabia que você
ficaria daquele jeito, muito menos que aquele cara apareceria lá !
― Eu o chamei porque mal conseguia me mover depois de descobrir
quem era o seu pai.
― Você já o conhecia? ― Ele pergunta surpreso.
― Infelizmente. ― levanto nervosa. ― O seu pai destruiu a minha família
e a carreira do Eros. Eu quero distâ ncia da família dele.
― O meu pai? O que ele fez? O meu pai é um homem de bem.
― Nã o é possível que você nunca tenha enxergado que o seu pai é tudo
menos um homem de bem.
― Liz, estou sendo sincero com você. Ficamos assustados com o que
aconteceu. Eu gosto de você e quero entender o que te fez ficar daquele
jeito, para que nã o aconteça de novo. ― Ele segura o meu braço. ― Liz,
estou apaixonado por você.
― Lamento, porque mesmo que você seja inocente, eu nunca ficarei com
o filho do homem que tentou abusar de mim ― digo com desprezo e
ó dio.
― O que você está inventando? O meu pai jamais faria isso! ― Seu tom de
voz muda.
― Inventando? Se nã o fosse a minha mã e, hoje eu faria parte da parcela
de mulheres que sofreram com esse crime. E mesmo assim, carrego esse
trauma até hoje. Se eu soubesse que você era filho dele, nunca teria me
aproximado de você ― digo em lá grimas.
― Mas o meu pai... ― ele parece perplexo. ― Eu juro que nã o sabia. Nã o
sou como ele, Liz. ― Agarra o meu braço mais uma vez. ― Me dá uma
chance de te mostrar isso.
― Estou indisponível, para qualquer cara e principalmente para você. ―
Me solto dele e enxugo o rosto com o dorso da mã o.
― Você vai me rejeitar mesmo? Prefere ficar com aquele traficante
descontrolado?
― Eros nunca foi o que acusam. O verdadeiro criminoso está na sua casa.
― Me afasto dele e verifico a placa do Uber no celular, pois um carro
parou na rua. Felizmente, é o Uber que pedi e entro me livrando da
conversa com Edward.
No caminho, penso se foi ou nã o uma boa ideia contar sobre o que o pai
dele fez comigo. Acho que ele precisava saber o tipo de monstro que ele
chama de pai e, por mais inocente que Ed seja, prefiro ficar distante dele.
Encontro Paige em casa.
— Olha quem decidiu fazer uma apariçã o! Temos muitos compromissos
nos pró ximos dias. — Ela me puxa para dentro de casa e tranca a porta.
Eu havia esquecido que agora sigo os planos da Paige. Nem entrei no
Instagram hoje. Foram tantas coisas acontecendo durante o dia que
esqueci de me comunicar com meus seguidores.
Ela se senta à mesa, onde um iPad está aberto mostrando a agenda,
junto com seu celular. Me sento perto dela para começar a contar tudo
que aconteceu.
— Paige, minha vida está um caos.
— Essa é a justificativa para ter sumido dos stories? — Balanço a cabeça
em concordâ ncia. — Entã o me empreste seu celular para que eu possa
compartilhar os vídeos que fizemos com os parceiros. Você nã o pode se
esquecer dos seus compromissos.
Entrego-lhe o aparelho e encosto minha cabeça na mesa.
— Sabe quando chega a ú ltima semana da novela e todos os segredos
começam a surgir, um apó s o outro?
— Sei sim. E nã o me diga que você se esforçou para esconder que está
com o Eros, já que vocês estavam andando de mã os dadas.
— Nã o é isso. Isso é o de menos — digo desanimada. — Quer dizer, a
minha mã e sabe e nã o aceita.
— Conte-me algo novo.
— A minha prima armou com o pai dela para que o Eros fosse preso.
— O quê? — Levanto a cabeça e confirmo. — Liz, qual é a histó ria?
— Ontem fui jantar na casa do Ed.
— Sim, e você nã o me contou nada do que aconteceu lá . Pelo visto, Eros
nã o se importou ou nã o sabe, já que vocês estavam juntos hoje cedo.
— Que dia longo! Parece que nem foi ontem. ― analiso.
— Desenrola, Liz.
— Ed é filho do cara que... — Me dou conta de que contar tudo nã o é
uma boa ideia, mas também a minha amizade com Paige se fortaleceu
nas ú ltimas semanas. Deveria contar?
— Liz?
— Paige, você pode guardar um segredo?
— Segredo? Sobre quem?
— Sobre mim — respondo, querendo corar.
Está tudo tã o caó tico que dá vontade de abandonar tudo e fugir para
uma ilha deserta. Ou para a casa de campo dos Werneck, na companhia
do Eros, de preferência.
— O que houve? Liz, o Ed te fez alguma coisa?
— Nã o. Ele nã o fez nada, mas o pai dele sim. No passado, ele... Me
assediou. Ele era amigo do meu pai e do meu tio.
— Sério, Liz? Há quanto tempo foi isso? — Ela pergunta, assustada.
— O suficiente para eu ainda ser criança. Mas nã o quero me aprofundar
muito nesse assunto. Acho que você já sabe as consequências disso na
minha vida.
— Nossa, amiga. Eu sinto muito. — Ela segura minha mã o.
— Pois é. O fato é que ele era amigo do tio Michael, ficaram ricos juntos,
e é rival de negó cios do Eros. Para tirar o Eros da jogada e conseguirem o
que queriam, armaram para ele ser preso e, enquanto o Scott mandava
infernizarem o Eros na cadeia e roubava os só cios dele, tio Michael
mandou Olívia seduzir o Nicholas, engravidar de um filho dele e se
casarem com um contrato milioná rio caso Nicholas pedisse o divó rcio.
Ela se esparrama na cadeira, atô nita, eu continuo.
— O plano deu tã o certo, Paige, que eles abriram o jogo sem se importar
com nada. Eles sabiam que nã o tinha como Eros provar nada disso.
— Que maldade!
— Mas eles nã o contavam que a Olívia iria se arrepender e estaria
disposta a colaborar com eles, só para que Nicholas nã o terminasse com
ela.
— Você acredita que ela vai expor a pró pria família? Será que ela pode
mesmo consertar tudo?
— Creio que a palavra dela seja significativa. Normalmente, as
investigaçõ es começam quando a acusaçã o vem de uma fonte confiável,
nã o é mesmo?
— Sim, geralmente é assim.
— No entanto, o Eros nã o está satisfeito. Mesmo que as acusaçõ es contra
ele sejam retiradas, o seu nome já foi prejudicado e ele passou por
momentos difíceis na cadeia. Ele me contou e fiquei bastante comovida.
— Um redemoinho de confusã o. Você está certa, isso parece um enredo
de fim de novela.
— Exatamente. Mas logo todo mundo vai saber a verdade. Só espero que
nã o descubram o que aconteceu comigo.
— É complicado falar sobre esse assunto. As pessoas têm opiniõ es
diferentes. Nã o sei o que faria no seu lugar. — Ela lamenta.
— O pior é que o Ed é filho dele. Quando cheguei para jantar, lá estava o
pai dele, reavivando as lembranças do que deixou eu e minha mã e
apavoradas e revoltadas por anos.
— Que mundo pequeno! Será que ele já sabia quem você era? Você era
criança, deve ter mudado bastante nesses anos.
— Sim, ele sabia. O Ed me disse que o pai queria me ver. A minha
aparência pode ter mudado, mas nã o cresci muito em altura, e o nome
continua o mesmo. Ele me abordou na rua, quando estava vindo para cá ,
e perguntou sobre o que aconteceu ontem. Acabei contando a verdade.
Ele precisava saber quem é o pai dele.
— Vocês poderiam se unir e denunciar esse homem. O Eros pelo golpe
que sofreu, você pelo assédio, a sua prima por estar envolvida nas
falcatruas. Mas o seu tio? Ele fugiu?
— Ele nã o se importa com nada disso. Com o divó rcio, ele vai receber
um milhã o de dó lares. Pode pagar pelos processos e ainda ficará rico.
— Ele também deveria ser preso. Ele nã o armou tudo contra o Eros? As
pessoas associadas ao trá fico de armas também podem ser presas. Eu vi
isso na TV.
— Tomara. Espero que passem o resto da vida na prisã o.
— E quanto ao Eros? A sua mã e nã o o aceita, né?
— Nã o, mas eu disse a ela que nã o vou desistir dele por causa disso. A
Harper me acusou de tê-lo afastado dela, pode acreditar? ― conto
perplexa, apesar de já esperar isso quando ela me procurou. Foi esse o
medo que senti naquele dia.
— Eu te disse para nã o se preocupar com essa garota.
— Se ela estivesse no meu lugar quando a vi chorando, teria feito o
mesmo. Tenho certeza disso.
— Isso, se ela se importasse com seus sentimentos. Ela acabou de
chegar, nem sabe o que você já passou com ele. Ela estava lá quando
você torceu o pé? Nem eu estava presente para ver. Imagine ela!
— Pois é. Eu nã o vou desistir. Mamã e disse que se eu continuar, nã o terei
mais o seu apoio. Posso ficar aqui hoje? A Olívia está lá em casa. A
família dela a rejeitou, a família do marido a rejeitou e eu... — suspiro. —
Estou na mesma situaçã o que ela.
— Claro que pode. Fique o tempo que precisar.

Paige tem ocupado meu tempo com muito trabalho, o que me afastou
dos problemas da minha família. Minha mã e apenas visualiza minhas
postagens no stories e nã o diz nada. Acredito que ela esteja me
monitorando de longe. Olívia faz o mesmo. Enquanto isso, Eros está com
os pais e o advogado, fazendo de tudo para acabar com o meu tio e o seu
comparsa. O assunto já saiu na mídia depois que viram Olívia ao lado do
Sr. Werneck e o advogado entrando na delegacia. Já têm até notas na
imprensa sobre o que eles registraram na polícia.
Ao voltarmos do salã o de beleza, ligamos a TV para ver se já estã o
falando no noticiá rio. Continuo na casa de Paige, sem coragem de
encarar minha mã e brava. Nã o gosto de brigar com ela, mas no
momento nã o conseguimos chegar a um acordo. Eros disse que vai falar
com ela. Eu nã o queria jogar esse peso sobre os ombros dele. Acredito
que, com o tempo, ela vai entender que somos bons um para o outro.
Porém, a minha mã e nã o é uma pessoa que se convence tã o
rapidamente, apenas com uma simples conversa. Mesmo que eu conte
sobre todas as coisas que Eros fez e que provam o quanto ele se importa
comigo, se ela nã o viu, ela nã o acredita.
[— Na manhã deste sá bado, o empresá rio Scott Brixton saiu do
condomínio de luxo onde reside, acompanhado pela polícia, para prestar
depoimento na delegacia. Da mesma forma, o empresá rio Michael
Albuquerque compareceu ao local para falar com o delegado. Ambos
estã o sendo acusados de armar uma situaçã o para incriminar Eros
Werneck, que foi detido e passou dois meses na cadeia por porte ilegal
de armas. Segundo testemunhas, as armas foram plantadas no carro do
rapaz. Os empresá rios acusados estã o sob investigaçã o e, até o
momento, foram encontradas armas ilegais na residência de Scott
Brixton. Eles se recusaram a falar com a imprensa.]
— Isso é só o começo. — Paige comenta sentada no outro sofá .
— Sim, espero que no final o Eros consiga provar que nã o fez nada disso.
Ela me olha e dá um pequeno sorriso.
— O que foi?
— Vocês... Como estã o? Namorando de verdade?
— Ele disse que eu era a namorada dele quando bateu no babaca lá . Mas
nã o conversamos sobre isso. — Fico emocionada ao falar.
— Se ele quer falar com a sua mã e, é porque as coisas estã o sérias.
— Pois é. Mas já consigo prever caos em uma conversa entre eles. Nã o
sei se é melhor eu estar presente ou ausente nesse momento.
Ela ri.
— A sua mã e tem os motivos dela. Como você disse, ela nã o o conhece
tã o bem.
— Ela nem quer conhecer.
— Começa assim, mas no final ela o tratará como um filho.
Dou risada.
— Isso seria estranho, mas maravilhoso. O Demétrio gosta dele. Pelo
menos antes da filha dele reclamar sobre ele ter dado um basta nas
mensagens dela.
— E você? Já se acostumou com o padrasto?
Esse assunto me faz refletir mais.
— Paige, com o que aconteceu anos atrá s, nenhum homem entrou nas
nossas vidas. Eu quase nã o acreditei que Demétrio era de confiança, que
nã o era como aquele homem que o meu pai chamou para a nossa casa,
mas agora a minha opiniã o mudou.
— Mudou? — Ela sorri.
— Sim. Ele é um homem legal, se importa com a gente, nos respeita.
Quando soube de tudo, quase ligou para a polícia, mas nã o deixei. Entã o
ele mandou acabar com qualquer negó cio que tinha com o maldito do
Scott. Ele ficou furioso, inconformado.
— Ele tem uma filha da sua idade. Faz sentido.
— Pois é. E ele quer que vamos morar na casa dele. Harper nã o mora
com ele.
— O que vocês responderam?
— Nã o deu tempo de falar muito sobre isso. Olívia chegou na hora. Mas
agora que minha mã e está brava comigo, acho que é provável que ela vá
e eu fique.
— Nã o fala assim. Vocês vã o se acertar. — Ela se aproxima e me abraça.
— Vai ficar tudo bem. Basta a sua mã e cair no charme do bonitã o do
Eros.
Dou risadas com sua ideia. Acredito que nã o funcionaria se fosse só o
charme. Mas ele conseguiu conquistar o meu padrasto, e eu presenciei a
conversa. Ele é bom de lá bia.
Fizemos todo o possível para que Scott e Michael fossem
responsabilizados por suas açõ es contra mim e a minha família. Ambos
foram conduzidos à delegacia e suas vidas estã o sob investigaçã o.
Na sexta-feira, dediquei-me a esse assunto juntamente com meu pai,
meu irmã o e o advogado da família. Neste sá bado, estamos
acompanhando a repercussã o dos eventos e, apó s meses, toda a minha
família está reunida em torno da mesa para uma refeiçã o. Estamos
jantando.
Deveríamos estar satisfeitos por testemunhar a queda do império
Brixton apó s as fraudes e descobertas que vieram à tona sobre ele. Eu
nã o fui a principal vítima desse homem, longe disso. Ele está envolvido
em coisas muito piores. No entanto, para o restante da cidade,
especialmente Michael, isso é uma novidade.
Provavelmente, ele mal conseguiu dormir na ú ltima noite. Eu mesmo
tive dificuldade para conciliar o sono. Conhecer as motivaçõ es que
levaram esses indivíduos a me colocarem na cadeia, sujeitando-me a
tantas adversidades, me deixou revoltado, e ainda me deixa. Eu pensava
que sabia identificar pessoas má s, mas depois disso percebi que estava
enganado.
— Nicholas, você dormiu em casa na noite passada? — A nossa mã e
pergunta, percebendo que nã o nos havia visto antes do jantar.
— Nã o. Saí para espairecer. Mal consigo entrar naquela casa. Só lembro
da mentirosa que coloquei lá dentro. — Ele está tã o ressentido quanto
eu quando saí da cadeia e os encontrei.
— E você, Eros?
— Fiquei em casa.
— Nick, eu sei que está chateado com ela, mas nã o deixe isso te
prejudicar. Preciso de você na empresa. — O nosso pai pede.
— Como, pai? Como? — Ele larga os talheres nervoso. — Aquela golpista
entrou na minha vida, brincou com meus sentimentos, deu o golpe da
barriga e ainda teve a cara de pau de vir chorando! Como nã o vou perder
a cabeça?
— Eu sei, eu sei, mas você...
— Por favor, nã o fale de trabalho. Eu nã o quero saber de trabalho no
momento.
“Não foi por falta de aviso.”
— Deixa ele. — Mamã e pede. — Você vai ficar bem, Nick.
— Nã o sei se vou. Sinceramente, eu nã o sei. — Ele pega os talheres e
corta o bife com raiva. — Sabe o que eu queria mesmo? Sumir dessa
cidade e nunca mais ver certas pessoas.
— Nã o diga isso, filho. Tudo por causa de uma mulher? — Mamã e está
assustada com a ideia. — Diga alguma coisa, John! Eros, diga alguma
coisa!
— Eu avisei.
“Não estou nem aí para dor dele, ele não esteve nem aí para a minha.”
— Cala a boca, Eros! — Meu pai me repreende.
— Por que nã o vai para o outro lado do mundo? Só nã o divulgue o
endereço, porque depois que o bebê nascer, eles vã o precisar mandar o
processo para pagar pensã o — sugiro com deboche.
— Nã o coloque a criança no meio disso. Ela nã o tem culpa. — Mamã e
pede.
Nicholas larga os talheres mais uma vez, rosnando.
— Perdi a fome.
Eu nã o perdi. Pego mais um bife e coloco no meu prato.
— Custa ajudar, Eros?
— Mã e, eu nã o fiz nada. Só voltamos à programaçã o normal.
— Entã o você vai dormir aqui?
— Vou.
Ela se cala. Termino o jantar e vou para meu velho quarto.
Se eu nã o estivesse tã o cansado, iria atrá s da Liz, mas vou ligar para ela.
Ela me contou sobre a situaçã o que passou em casa com sua mã e,
Harper, e até a Olívia estava lá . Ela atende a chamada de vídeo e sorrio
assim que vejo seu rostinho delicado na tela.
— Oi.
— Oi. — Ela sorri com a cabeça apoiada na mã o. — Onde você está ?
— Na casa dos meus pais.
— Que bom.
— E você?
— Na casa da Paige.
“Enquanto eu volto para a minha família, ela se afasta da dela.”
— Nã o quero que você fique mal com a sua mã e por minha causa.
— Ela está irredutível.
— Eu vou falar com ela.
— Eros, é melhor nã o. Pelo menos agora. Ela está ocupada, cuidando da
Olívia e nã o quer ouvir sobre esse assunto. Nem falou comigo desde que
soube da gente.
— Ela vai mudar de ideia.
— Mas nã o agora.
Me sinto mal. A culpa é minha, mas nã o vou me afastar dela por causa
disso.
— Você quer que eu vá aí?
— Você tá tã o cansado que consigo ver pela tela.
Sorrio.
— Vamos tomar café amanhã . Na cafeteria onde você trabalhava.
Ela inclina a cabeça.
— Vamos. Todos já sabem que estamos juntos mesmo.
Rimos.
— Te vejo amanhã entã o?
— Sim. Eu nã o estarei atrá s do balcã o.
— Ok. Vou te procurar nas mesas ― digo rindo.

Saio do quarto animado pra encontrar a minha pequena na cafeteria,


mas minha alegria acaba quando abro a porta e me assusto com a minha
mã e, de pijama, parada com um sorriso no rosto.
Meu coraçã o reiniciou.
— Mã e, que esquisitice é essa?! Quase me mata do coraçã o!
— Dormiu bem?
— Dormi, mas tira esse sorriso do rosto. Que estranho!
— Que bom que dormiu bem. Estou feliz que tenha vindo pra cá . O seu
irmã o sumiu.
— Sumiu? Que bom!
— Sumiu. Ele nã o está no quarto.
— E?
— E que ele anda revoltado com a esposa. Você é irmã o, poderia
conversar com ele.
— Mã e... — a encaro cansado das ideias ruins dela. — Você viu ontem.
Ele nã o quer ouvir os meus conselhos.
— Você nã o fala nada de bom!
— Mas eu nã o tenho nada de bom pra falar. O que posso dizer? Obrigado
por me livrar da Olívia? E na verdade, ele nem fez isso. Ela se livrou de
mim com a ajuda do pai!
— Eros, procure por ele. Deve estar no escritó rio ou na casa deles.
— Eu nem sei onde fica a casa deles. Dá licença. — Saio do quarto.
“Era só o que me faltava. Ir atrás do Nicholas. Tenho um compromisso bem
melhor.”
— E se ele sair do estado? Do país?
— Entã o que faça boa viagem. — Desço a escada rindo.
Nicholas é tã o fraco.
— E se acontecer alguma coisa ruim com ele?
— Nicholas é mais velho do que eu e se me lembro bem, vocês sempre
admiraram a responsabilidade dele.
— Mas ele está fora de si. — Ela desce atrá s de mim.
— Por que nã o vai falar sobre isso com o meu pai? Eu tenho um
compromisso agora.
— Pra onde você vai?
— Encontrar com a minha futura namorada. A que nã o vai me colocar na
cadeia para enriquecer o pai.
— A Liz?
— Isso, mã e.
— Hum. Que bom. — Ela fala, mas nã o está muito animada. — Se ver o
seu irmã o.
“Ela se preocupa mais com ele.”
— Se ver eu vou falar com ele. Direi: se for para o Brasil, leve protetor
solar, se for pra o Alasca, leve um casaco. — Abro a porta. — Tchau.
— Eros...
Eu nã o vou me preocupar com o Nicholas. Ele que cuide da vida dele.
Quando eu estive na fossa, ele nã o apareceu pra falar comigo. Estava
fodendo a traidora. Agora ela fodeu a cabeça dele. Bem-feito.
Ele tem capacidade de se recuperar sozinho, afinal, sempre foi mais
esperto do que eu.
Entro no meu carro e dirijo direto para a cafeteria. Nã o olhei meu
celular, mas acredito que Liz já deve estar me esperando. Ela acorda
cedo.
Eu só preciso me acertar com a Lauren, porque se a mã e dela aceitar nó s
dois, eu direi que a minha vida está perfeita.
O meu telefone toca no bolso e tiro pra ver se nã o é ela. É o Kevin.
— Me ligando dia de domingo?
— Bom dia, Eros! Me diga, como estão as coisas?
— As coisas estã o indo conforme o noticiá rio diz. Me diga que os só cios
estã o voltando atrá s.
— Não estão. — Balanço a cabeça inconformado e ele continua. — Esses
dias que você não apareceu, eu conversei com os outros empresários.
Estão pulando fora.
— Uma pena. Eu acho que é isso, Kevin. O Scott venceu.
— Droga. A gente tinha feito o nosso nome.
— O problema nã o é você, Kevin. O problema todo de eles estarem nos
deixando sou eu — explico conformado. — Olha, vamos fazer assim: eu
vou sair da sociedade e você segue sozinho.
— Como? Eros! Que ideia é essa? Foi você quem começou a empresa!
— Você sempre se virou melhor do que eu. A minha parte era fazer
contatos. Agora os contatos nã o querem mais saber de mim. Você tem
capacidade, Kevin. Quando souberem que nã o faço mais parte, eles vã o
permanecer e seu nome ficará forte.
— Não, cara! E você? Vamos esperar. Daqui a pouco você será inocentado.
— Isso nã o vai mudar nada. No momento estou bem financeiramente.
Diferente do Michael, eu nã o sou ganancioso. Você merece ter uma
empresa respeitada e atualmente eu nã o sou referência de respeito.
— Eros... Eu não sei. Isso é da gente.
— Nã o se preocupe. Eu te ajudo a encontrar as pastas quando você
perder. — Sorrio. — Na segunda resolveremos isso. Certo?
— Certo. Se cuida.
— Você também.
Chega de querer abraçar o mundo. Essa empresa é tã o importante para
ele quanto para mim e é o meu rosto que está atrapalhando o progresso
dela.
Kevin se sairá bem. Eu tenho certeza de que além de nã o se meter em
problemas, nã o contratará pessoas erradas para trabalhar com ele. Eu já
tenho tudo o que preciso. Já tenho meus investimentos, ele seguirá
melhor sem mim.
Chegando na cafeteria, vejo um alvoroço na porta do lugar e já acho que
foi uma péssima ideia ter vindo aqui, mas saio do carro para ver se Liz
está lá dentro.
O difícil é passar no meio de tanta gente. Fotó grafos e pessoas curiosas.
Conheço esse segundo tipo em qualquer lugar.
Empurro as pessoas e conforme ando, elas me reconhecem e começam a
fazer vá rias perguntas que eu nã o esperava ouvir.
— É o namorado dela.
― Será que ele sabia da violência que ela sofreu?
Paige está empurrando as pessoas para fora.
— SAIAM DA FRENTE! PAREM COM ESSAS PERGUNTAS!
— Paige, o que está acontecendo?
— Olha o celular. — Ela pede e fecha a porta da cafeteria.
Saio da confusã o e olho o celular. Demoro até chegar em uma mensagem
da Liz dizendo para esperá -la nos fundos da cafeteria. E é para lá que
vou.
Já entendi que essa confusã o gira em torno do que Scott fez com ela.
Quem diabos contou isso?
Chego nos fundos e espero a porta se abrir. Quando isso acontece, Liz
aparece em prantos e vem para perto de mim.
— Ele contou para todo mundo, Eros.
— Ele quem? — pergunto, abraçando-a.
— O Ed. Ele levou a pú blico o que aconteceu comigo. Tudo porque eu o
rejeitei. Ele é como o pai. — Liz fala em soluços.
— QUE FILHO DA PUTA! — Soco a parede.
— Vã o logo! — Paige apressa, olhando para trá s de mim e, quando viro,
a multidã o vem em nossa direçã o.
— Vamos, Liz. — A puxo para o meu carro, que está a alguns metros da
gente e os curiosos nos alcançam.
— Liz, o que o Sr. Brixton fez com você?
Nã o paro de andar, mantendo Liz envolta em meus braços até que
chegamos na porta do banco do carona.
— Por que você nunca denunciou?
— Quantos anos você tinha?
Essas perguntas só aumentam a minha raiva. Quando vou abrir a porta,
um cara mete a câ mera bem em frente ao rosto de Liz e a minha
paciência acaba. Tomo a câ mera de sua mã o e a arremesso no chã o,
depois empurro o desgraçado para longe da Liz e ele cai por cima dos
outros.
— Você é louco? Quer voltar para a cadeia?
— Pode me processar. Eu quebrarei todas essas câ meras se for preciso!
Liz entra no carro e dou a volta enquanto as pessoas estã o assustadas
com a minha reaçã o.
— VOCÊ S DEVEM RESPEITO A LIZ E RESPEITEM TAMBÉ M A
PRIVACIDADE DELA! NÃ O A PROCUREM MAIS! QUEREM FOFOCAS? VÃ O
ATRÁ S DE OUTRAS PESSOAS! BANDO DE ABUTRES! — Entro em meu
carro exausto dessas situaçõ es invasivas.
Quando saí da prisã o, me contive, mas ver eles agindo assim com a Liz,
me deixa transtornado.
Dou partida e dirijo para longe da confusã o. Liz está encolhida no banco,
chorando.
— Eu nunca mais vou sair de casa. — A minha pequena comenta
chorando.
Se fosse possível, pegaria todas as suas dores para mim.
Sinto que a minha intimidade foi invadida. Ed nã o tinha esse direito.
Contei em um momento de nervosismo. Eu nã o queria que mais
ningué m soubesse. Agora todo mundo sabe. Todo mundo quer saber
mais. Todo mundo quer dar a sua opiniã o. Eu só quero sumir. Eu só
queria nunca ter tido essa exposiçã o. Eu queria que ningué m soubesse
quem sou e tivesse interesse em meus problemas.
Eros para em frente ao prédio da minha casa.
— Achei que me levaria para sua casa.
— A sua mã e está aqui, eu sei que você precisa dela nesse momento. —
Ele sai e eu também.
Eu nã o sei se a minha mã e vai se importar com isso depois de dizer que
nã o me apoiava mais por conta das minhas decisõ es, mas eu quero
muito o ombro dela.
Entro no prédio e Eros vem atrá s de mim. Quando entramos no elevador,
ele me abraça e beija na minha cabeça.
— Isso vai passar.
— Mas e agora? O problema é agora — digo chorando. — Eu nã o quero
saber o que estã o falando de mim. Eu nã o quero que fiquem pensando
nisso, Eros. Nã o quero que me perguntem sobre isso.
Ele toca a minha nuca com os dedos entre os fios do meu cabelo e
suspira.
— Nó s vamos dar um jeito de parar com isso, Liz. Eu prometo.
— Liz! — Mamã e chama quando a porta do elevador abre e Eros me
solta, vou para os braços dela.
— Mã e, todo mundo está falando de mim.
— Ô minha filha. Eu vi o que aquele rapaz fez.
— Eu nã o queria contar. Escapou no meio do nervosismo.
— Ele fez isso pela fama. — Eros afirma.
— Eu nã o quero fama. Eu nã o quero nada além de ficar em casa, sem
ninguém me olhando torto.
— Pode ficar onde você quiser. — mamã e me aperta em seus braços. —
Vamos entrar.
Passo a mã o no rosto e ando ao seu lado.
— Vem, Eros. — olho para trá s e ele está parado perto do elevador, mas
com o convite, nos acompanha.
Olívia está de pé, usando um de meus pijamas, com o celular na mã o e
pelo barulho do aparelho, está vendo algum vídeo.
— Liz, eles foram atrá s de você na cafeteria? — Ela pergunta assustada.
— Sim. Eles foram.
— Eu nã o acredito. Que pessoas sã o essas? — Mamã e está horrorizada e
Olívia se aproxima com o celular na mã o.
Ela pega o aparelho e fica vendo, eu só sento no sofá e relembro da
confusã o a partir do som do vídeo.
— Filha, como você saiu de lá ?
— O Eros me tirou.
— Tem outro vídeo, tia. — Olívia mexe no celular e ouço os gritos que
Eros deu antes de sairmos de lá .
Ela balança a cabeça em negaçã o e olha pra ele. Eros está de longe, perto
da porta, de braços cruzados. Lindo com sua jaqueta e jeans. Eu também
tinha me arrumado tã o animada para o café. Nosso café da manhã foi
por á gua abaixo.
— Eles perguntaram coisas tã o absurdas — comento.
— Completamente invasivos. — Eros diz bravo. — Esse pessoal nã o tem
respeito por ninguém.
— Eu nã o quero ver nada sobre isso. Quero que vocês nã o comentem
sobre o que estã o falando. Eu nã o quero saber a opiniã o dessas pessoas.
— Liz, eu nã o imaginei que você tinha passado por isso. — Olívia senta
do meu lado.
— Claro, você sempre olhou para o seu pró prio umbigo. Que intimidade
tinha para ouvir sobre isso? — Eros dispara.
— Você já sabia? — Mamã e pergunta pra ele.
Ele diz que sim com a cabeça.
— Eu só quero finalizar esse assunto. Nã o quero falar sobre isso. Por
favor, mã o me forcem. — Peço me livrando dos sapatos e me encolho em
cima do sofá .
Tenho vergonha. Nã o quero olhares de pena, palavras de consolo,
perguntas absurdas, acusaçõ es ou conselhos. Eu só queria esquecer que
passei por isso um dia, mas agora está na internet e tudo que chega lá , é
eternizado.
Um telefone toca e Eros atende. Mamã e senta do meu lado e me abraça.
— Oi, pai... Hum... foi... Pois é...
— Onde você estava ontem? — Mamã e pergunta.
— Na casa da Paige. Ia tomar café na cafeteria, entã o eles chegaram com
essa histó ria e vimos o que Ed tinha feito. Depois o Eros chegou e me
tirou do meio dessa confusã o. Me tirou do meio, mas continuo sendo o
centro.
— Nã o! Claro que nã o! Pai, ela nã o quer esse tipo de exposiçã o. É a
decisã o dela...
Acabamos prestando atençã o na conversa de Eros.
— Sim, eu sei, mas ela nunca quis levar a pú blico. Pai! Nã o, vamos nos
virar com o que temos... Chega desse assunto. Depois conversamos... Fiz.
Claro que fiz. Eles vieram para cima dela como urubus... Eu nã o ligo. Que
me processem... Quem tem um pouco de bom senso me apoia. Tchau.
“O que será que o pai dele sugeriu que ele recusou assim?”
— Liz, você nã o precisa ficar na internet se nã o quiser. — Ele vem para
perto de nó s. — Nã o é obrigada a fazer nada.
— Eu nã o quero.
— Vamos pedir a Paige para falar com todos os seus patrocinadores e
eles terã o que entender. ― mamã e diz.
— Ela vai ficar chateada por causa das publicaçõ es. A gente saiu da
cafeteria. — me preocupo.
— Ela vai entender. ― Eros afirma.
— É , filha. Ela vai entender. — Mamã e continua do meu lado.
— Aposto que já tem um monte de gente me marcando nessa histó ria.
— Esquece isso, Liz. Foda-se esse povo. O que você quer? Paz? Você vai
ficar em paz. — Ele garante.
Ver Liz passando por isso me incomoda. Se nã o houvesse consequências,
eu mesmo mataria o Scott e ele pagaria por ser um escroto, mas como há
e como cada um decide o que quer fazer da sua vida, é a Liz quem decide
sobre isso. Se ela nã o quer falar, eu apoiarei.
Apoiarei todas as suas decisõ es, independente das consequências.
— Eu vou tirar essa roupa. — Ela levanta e vai para o quarto e a prima
vai junto.
Tinha esquecido que ela estava aqui, mas também nã o importa. O que
importa agora é o bem-estar da Liz. A mã e dela levanta, olhando para
mim, torcendo os lá bios.
— Entã o você se preocupa mesmo com a minha filha.
— Se me preocupo? — Rio dessa pergunta. — Eu seria capaz de
qualquer coisa por ela.
— E isso é amor ou uma obsessã o?
— Se eu sou obcecado por ela? Sim, mas eu a amo. — Confesso
tranquilamente e olhando nos olhos dela. — Sra. Stuart, eu quero o bem
da sua filha tanto quanto o meu pró prio. Longe de mim fazer algum mal
pra ela. E eu prometo que se um dia o sentimento bom acabar, antes
mesmo de ela derramar uma lá grima, eu acabarei com tudo, mas nã o
pretendo decepcioná -la.
— Por que a minha filha?
— Eu nã o sei. — Ergo meus ombros. — Juro que depois da sua sobrinha,
a ú ltima coisa que queria era ficar perto da sua família, mas aonde eu ia,
acabava me esbarrando com ela. Quando ela precisou, eu estava lá e
quando eu precisei, foi ela quem ficou do meu lado. Acredito que foi obra
do universo, nã o consigo explicar. Eu sei a joia que ela representa. Nã o
faria nada que pudesse afastá -la de mim.
— Eu também nã o quero ficar longe da minha filha. A protegi a vida
inteira de homens como o Scott. Eu nã o vou permitir que você faça a
minha filha sofrer. — Ela fala firme.
— Entã o precisamos entrar em um acordo. Você precisa confiar em mim,
eu já dei a minha palavra. Será que você pode ao menos tentar?
Ela me analisa.
— Eu acredito em atitudes. — Ela se afasta de mim.
“Será que isso é uma forma de ela dizer que vai me dar um voto de
confiança?”
As meninas saem do quarto e Liz vem usando um pijama.
— Fica aqui comigo. — Ela segura a minha mã o.
Olho para a mã e dela e ela balança a cabeça, concordando com a ideia.
— Fico sim.
Olívia volta para o quarto e ficamos na sala, sentados no sofá .
— Nosso café foi por á gua abaixo — comento rindo.
— A minha mã e faz uma comida muito boa. — Ela sussurra e me encara.
— O que ela te disse?
— Ela nã o me deu uma resposta clara, Liz — sussurro em resposta. —
Mas nã o me expulsou daqui. Posso criar expectativas?
— Pode. — Ela sorri.
— Entã o eu posso te considerar a minha namorada?
— Namorada? — A conversa continua em sussurros.
— Sim.
Ela sorri.
— Pode sim.
— E se eu te beijar aqui? Agora? — Sussurro olhando para a cozinha. A
mã e dela está olhando de esguelha. — Quais sã o as chances de...
Ela me interrompe com um beijo e depois finge que nada aconteceu. Dou
risadas.
— Obrigada por ficar do meu lado. — Ela sai dos sussurros.
— Eu sempre estarei do seu lado. — Beijo seu ombro.
A mã e dela vem pigarreando e afasto a cabeça do ombro de Liz. Ela
trouxe café e pegamos as xícaras na bandeja.
— Mã e, o que faremos com a...? — Liz pergunta, apontando para cima, se
referindo à que se esconde no quarto.
— A minha irmã ligou, reclamou pelo que ela fez, o pai berrou furioso, o
marido já mandou avisar que pediu o divó rcio... — Ela suspira. — O que
eu posso fazer? Abandonar uma grávida na rua?
Olívia está colhendo o que plantou. E toda vez que pensar sobre isso,
lembrarei que fui punido injustamente para que os objetivos dos
canalhas fossem alcançados.
Ser rejeitada pela família nã o chega a ser tã o ruim quanto sofrer
constantes ataques contra a sua vida. E sei disso porque sofri os dois.
Hoje eu sou bem diferente do cara que caiu nessa cilada, vejo muita
coisa diferente, mas nã o vou agradecer a eles por isso.
Se tem algo pelo que eu tenho que agradecer é pela Liz ter entrado na
minha vida. No meio desse caos, ela trouxe sorrisos e preencheu o vazio
do meu coraçã o. Ela me fez deixar de lado o ó dio, o rancor que me
corroía quando fiquei livre. Trouxe luz à escuridã o que era a minha vida.
Estamos psicologicamente fodidos, mas conseguimos levantar um ao
outro quando os demô nios nos assombram.
— Acho que todos nó s precisamos de terapia depois dessa confusã o —
comento concluindo meu pensamento.
— Nã o é uma ideia ruim. — A Srta. Stuart diz.
— Será que daqui a alguns dias, algumas semanas ou meses, isso tudo
nã o vai passar de uma lembrança ruim? — Liz se pergunta.
— Vai. — Eu garanto.
Porque eu passei dois meses preso, dois meses apanhando,
inconformado com tudo o que aconteceu comigo, quando saí isso ainda
me incomodou, mas hoje isso é uma lembrança ruim.
— Entã o que passe logo. — Ela segura a minha mã o.
Termino de me arrumar bem na hora que Olívia entra no quarto e
mesmo que ela esteja morando aqui há duas semanas e já tenha me
visto vá rias vezes com o Eros, ainda me sinto desconfortável com a
situaçã o em geral.
― Você está linda. ― Ela diz com um leve sorriso.
Olívia anda abatida depois que o seu casamento acabou. Ela nem se
importa com o pai preso e a mã e na sarjeta. Sempre fala que queria
voltar no passado para nã o cometer os erros que fez com Eros e
Nicholas. Ela diz que ama o marido e faria qualquer coisa para voltar
com ele.
Mas nã o pode fazer nada. Ao menos agora ela nã o pode, já que tem uma
semana que ele se mudou para Madrid e disse que nã o sabe quando vem
aqui de novo. Está trabalhando em uma das empresas que pertence ao
pai e segundo o Eros, ele continua puro ó dio pela Olívia.
Suspiro.
― Tanto tempo presa em casa, eu nem sei mais como é sair. Estou
ficando ansiosa com isso.
― Se acostuma. Ninguém toca nesse assunto a alguns dias. Já passou de
fofoca de rede para jornal das 9h. Relaxa. Vai ser bom. A Sra. Werneck é
uma sogra muito boa.
Ela acaba me tirando um sorriso.
― Eu nem acredito que isso está acontecendo.
― Acredite. Eu nunca vi o Eros tã o apaixonado desse jeito. Eu sou a ex...
Ele gosta muito de você e nã o digo pelo monte de buquês que ele já
trouxe toda vez que veio aqui e que me deixam muito enjoada pelo
cheiro a ponto de nã o conseguir ignorá -los. Ele te protege como a sua
mã e.
― É . Eu sei. Mas... o mundo deu muitas voltas.
― Sim, e estamos vivendo as consequências das nossas decisõ es nas
primeiras voltas. ― Ela se encosta na janela. ― Vocês vã o fazer falta
quando se mudarem.
― A minha mã e nã o vai te deixar aqui quando formos morar com o
Demétrio.
― Eu nã o vou com vocês. Nã o quero atrapalhar. Preciso aprender a me
virar, sabe? Tive os meus pais passando a mã o na minha cabeça o tempo
todo e agora nã o tenho mais eles. Nã o quero que a sua mã e tome esse
posto. Ela tem que se preocupar com o relacionamento dela. Outra que
encontrou alguém bem apaixonado.
Sorrio. É engraçado como eu e minha mã e encontramos o amor ao
mesmo tempo.
― Vamos, Liz! Demétrio chegou. ― mamã e chama.
Pego a bolsa e Olívia fica na janela. Vamos jantar na casa dos pais do
Eros. É como se fosse para formalizar o namoro, mas para a minha mã e
serve para mostrar que nã o somos como o resto da família. Acho que ela
só nã o insistiu para fazer na nossa casa por causa do clima que ficaria
com a Olívia presente.
Quando chegamos no carro, só o Demétrio nos espera. Harper se afastou
depois daquele dia. O pai dela disse que eu nã o deveria me importar
com isso, que já sabia que antes mesmo de ele aparecer ao lado dela
como um amigo, já tinha visto que nos gostamos.
Ele e o Eros nos ú ltimos encontros só falam de negó cios e Eros continua
chamando o homem de Demé, isso acaba comigo. Acho engraçado. Foi
legal da parte dele querer trabalhar com o Eros. Mesmo com as
descobertas que fizeram do Scott, isso inclui até mesmo o que ele fez
comigo, que denunciei quando inevitavelmente recebemos a visita da
polícia, Eros ainda nã o recuperou seu respeito e ele abriu mã o da
empresa que tinha com o amigo para que ela nã o acabasse por conta da
recusa dos só cios em trabalhar com ele.
Eu sei que as coisas vã o mudar. Só se passaram duas semanas. Muitas
mudanças e melhorias irã o acontecer.
Eu também abri mã o das coisas que consegui como influenciadora. A
fama traz mudanças repentinas, mas elas nem sempre sã o boas. Surgiu
da noite para o dia, me trouxe dinheiro rá pido, alívio para os apertos que
tive com a minha mã e, mas isso durou poucas semanas, quando Ed abriu
a boca, a alegria acabou. A ú nica coisa boa no fim é que bastou apertar o
botã o “desinstalar” e permanecer em casa, que tudo o que esse
problema gerou ficou longe dos meus ouvidos.
Estou bem. Nã o só por nã o ter acesso à internet e por ter o apoio da
minha família, que inclui o Eros agora, mas porque estou conversando
com uma terapeuta, toda vez que preciso ela está disponível e isso tem
me ajudado. Tem ajudado o Eros também, apesar de ele falar que seu
remédio sou eu.
Quando chegamos na casa dos pais dele, que diga-se de passagem, é um
palá cio de puro luxo, maior e mais bonita que todas as que vi nesse lado
da cidade, somos recebidos pela Sra. Werneck, que parece bem feliz com
a nossa visita.
― Sejam bem-vindos.
― Obrigada. ― mamã e a cumprimenta e eu também.
― Nã o vi o carro do Eros. Ele já está por aqui? ― pergunto procurando
vê-lo e elas riem.
― Você nã o acha que esses dois estã o muito grudados nã o? ― mamã e
pergunta a ela.
― Me diga você, já que ele vive na sua casa. Esse rapaz mal anda aqui.
Mas já chegou. Está conversando com o pai, sobre negó cios. Entrou na
mira de John.
“Ele deve estar adorando” Penso ironicamente.
― Entã o serã o um trio em breve. Outro que adora falar de negó cios. Esse
é meu nam...noivo Demétrio.
― Noivo? ― pergunto olhando para os dois. ― Isso é novidade.
― Parece que esse jantar nos reserva surpresas. ― A Sra. Werneck
comenta.
Ouvimos passos se aproximando e uma conversa.
― Entã o viaje para Madrid e dê carinho ao seu anjo salvador. ― Eros, e
deve estar falando do irmã o.
― Ele vai voltar. Quando essa raiva passar, ele vai voltar. ― O pai garante
e os vemos chegando um ao lado do outro.
Eros de camisa social com esses botõ es abertos na gola me deixa sem
fô lego. Ele esfrega embaixo do lá bio, com os olhos fixos em mim e
suspiro com o coraçã o batendo forte.
― Boa noite. ― Ele diz seguido de seu pai.
― Oi! ― falo e incontrolavelmente mordo o lá bio.
Ele passa por mim e vai direto na minha mã e.
― Boa noite, sogra.
Ela semicerra os olhos e ele beija sua mã o.
― Sogra...
Ela já está caindo nas graças. É que ele anda pegando a mania de brincar
com ela como o Demétrio faz.
― Tudo bem, Demé? ― ele cumprimenta Demétrio.
― Como vai? Tirou a mulher de casa. Você faz milagre.
― Nã o brinca comigo, Demétrio. Eu ainda nã o aceitei essa histó ria de
noivado. ― aviso.
“Mas também, estamos de mudança para a casa dele. Se casarem é o
mínimo.”
Eles ficam rindo de mim e enquanto minha mã e acompanha a Sra.
Werneck e Demétrio conhece o pai de Eros, o meu namorado me abraça
e me enche de beijos.
― Como você ficou gostosa nessa roupa! ― sussurra no meu ouvido.
― Eros!
― É verdade. E agora? Como vou prosseguir com as visitas?
― Pare de pensar nisso!
― Mas faz mais de duas semanas. Eu acordo e durmo pensando em você.
― Em mim ou...?
― Em você. ― Ele ri.
― Esse seu humor é duvidoso.
― Dú vidas eu tenho é de como convencer a sua mã e a te deixar aqui. A
minha mã e sabe acobertar noras.
― E quase nã o é fofoqueira ― falo baixinho. ― Desista.
― Jamais. Depois de tudo?!
Paro de prestar atençã o na conversa para olhar a casa. Que lugar lindo!
― Sua família é muito, muito, muito rica mesmo, nã o é? Quanto deve
custar uma casa desse tamanho nesse lugar chique?
Ele ri.
― Moramos aqui desde criança.
― E naquela época já devia ser caro.
― Vamos morar numa maior do que essa.
― Nem pense em dar uma de Demétrio e aparecer com essa histó ria de
noivado! Pensar nessas coisas me deixa ansiosa.
Ele me larga rindo.
― Ainda nã o, mas meu alvo é você.
― Coitada de mim. ― O acompanho para a sala de jantar.
Já estã o bebendo vinho e a minha mã e está fofocando sobre a Olívia para
a Sra. Werneck. O Demétrio está falando de negó cios com o pai do Eros.
Nã o poderiam dar mais certo.
― Se fugirmos, ninguém dará falta até, no mínimo, duas horas depois.
Eu nã o duvido.
Ele me tira da sala de jantar e sentamos no sofá .
― Como foi sair de casa? ― pergunta, subindo a mã o pela minha coxa.
― Foi estranho, mas e essa mã o boba? ― pergunto baixinho e o ar que
sai da sua boca bate no meu pescoço e me faz arrepiar.
― Nã o tem ninguém aqui e, se aparecer, estamos sentados no sofá . ― Ele
se vira para mim e beija meus lá bios.
― Larga de ser safado, Eros ― sussurro perto da sua boca.
Pior que a vontade só aumenta. Esses dedos deslizando pela minha pele,
entre minhas coxas, o calor e tesã o só aumentam.
― Me conta, você está bem?
Ele pergunta isso toda vez que fala comigo.
― Agora? ― respondo, focada na sua mã o, que acaba de chegar na minha
calcinha.
É por isso que ele adora me ver de vestido.
― Aham.
Meu rosto está pegando fogo e olho na direçã o da sala de jantar, para ver
se nã o vem ninguém, enquanto aperto uma coxa na outra, espremendo a
mã o dele.
― Eros... ― Olho em seus olhos verdes e esses estã o voltados para minha
boca.
― Liz... ― Ele aproxima a sua boca da minha e, pacientemente, puxa a
minha calcinha de lado.
Fico sem ar quando seus dedos mergulham entre os lá bios da minha
boceta e sua língua vem para dentro da minha boca.
― Cadê as crianças?
Ouço minha mã e perguntando e Eros se afasta rapidamente de mim.
Também arrumo a saia do vestido, de olho na direçã o que ela pode vir.
E ela vem no seu salto e vestido midi cor vinho. Já anda com cara de
mulher de empresá rio.
― Vocês adoram um cochicho, nã o é? ― Ela nos analisa.
E o Eros adora colocar essa mã o boba entre as minhas pernas quando
estamos cochichando no sofá , mas nã o achei que ele inventaria isso na
casa da mã e dele, com tanta gente para todo lado. Da outra vez, eu vi os
vá rios empregados.
― Vocês têm os assuntos de vocês e nó s temos os nossos. ― Eros explica
e dou risadas.
― Você é muito descarado, isso sim. Venham os dois, fiquem onde
possamos ver.
Ela age como se eu fosse muito inocente, mas sei que quando contei que
dormi algumas vezes com o Eros, entendeu que já temos uma
intimidade.
― Vamos. ― Levanto e Eros vem contra a vontade atrá s de mim.
― Nem adianta prender. Eles aprontam quando querem. ― A Sra.
Werneck diz. ― Deixa eles matarem a saudade.
― Você diz isso porque só teve filhos homens. ― Mamã e retruca e
sentamos um ao lado do outro na mesa, rindo.

A minha sogra já me ama, mas nã o reconhece. Ela é cabeça dura. Tem


traços muito parecidos com a Liz, mas se eu conquistei a Liz, posso
conquistar a mã e dela.
Essas duas ú ltimas semanas eu senti as coisas indo para os eixos. Mesmo
abrindo mã o da minha empresa, estou de coraçã o tranquilo por saber
que ela está em boas mã os e eu torço muito para o sucesso do meu
amigo. Ele nã o vai passar por aquele sufoco de novo, pois nosso maior
rival está pagando por seus erros na cadeia e o meu antigo parceiro de
cela está tratando muito bem dele, enquanto garanti que sua família aqui
fora ficaria bem.
No fim, descobriram a sua ligaçã o com o trá fico, as chantagens a vá rios
empresá rios e os abusos que ele cometeu nã o só com a Liz, mas com
muitas outras mulheres que foram depor. O meu ex-sogro só de ter todos
os bens confiscados e seus negó cios fraudulentos expostos, para mim
está ó timo, mas como ele estava ligado com os assuntos criminosos do
Scott, também foi preso.
Nã o tem ninguém tentando prejudicar a mim ou a minha família, Liz
está cuidando da mente dela, aprendendo a lidar com os resultados de
tanta coisa que viveu, inclusive a fama repentina e eu estou ao seu lado,
assim como ela está do meu.
Eu nã o sabia que uma namorada servia para mais do que contato físico.
Achei que era isso e aparecer comigo nas festas, me impedir de ficar com
outras pessoas ou servir de desculpa para isso. É muito mais e talvez
muita gente nunca saiba o que é isso porque sempre se envolverá com a
pessoa errada. Se é que existe a certa e a errada.
Liz para mim era a pessoa errada, assim como eu era errado para ela,
mas percebi que quando estávamos juntos tudo parecia mais certo,
completo, em paz, ela se tornou a pessoa certa. A pessoa certa, a mais
linda e apaixonante.
― Isso aqui está muito bom. ― Ela diz beliscando a comida.
― Vamos jantar antes que vocês matem a minha namorada de fome por
causa de fofoca. ― Chamo a atençã o dos outros e como a mesa já está
posta a algum tempo, fazemos nossos pratos.
― Você é exagerado, Eros. ― Liz briga comigo.
― Você já estava beliscando a comida.
― Ah, uma pena que o Nicholas nã o está aqui. ― Mamã e lamenta. ― Uma
lá stima isso tudo ter acontecido.
― Eu concordo. ― Lauren diz. ― Mesmo com tudo parcialmente
resolvido, as questõ es pessoais sã o as mais complicadas e nã o dá para
fingir que está tudo bem.
― Eu estou ó timo e nã o é fingimento ― comento, nã o querendo esse
assunto do meu irmã o e a Olívia na mesa.
― Para você ver até onde as pessoas vã o por dinheiro. ― Meu pai
comenta. ― Eu sempre fiquei atento a tudo, mas nesse caso, que era mais
sobre relacionamento e honra do que dinheiro, acabei me deixando
enganar.
Pelo menos agora ele enxerga que os relacionamentos valem mais do
que 1 milhã o de dó lares. Só nã o perderam o dinheiro, porque o Cole é
um advogado muito bom.
― Todos fomos enganados por alguém ― afirmo.
“Eu nunca me deixei enganar pelo meu ex-sogro nem pelo Scott, mas a
Olívia me enganou.” Penso, mas desisto de comentar.
― Como você está , Liz? ― A minha mã e pergunta. ― Lamentamos muito
por tudo que aconteceu.
― Estou ficando bem. Dessa vez tenho mais remédios que o tempo.
― Espero que aquele homem apodreça na cadeia. ― Lauren deseja.
― Todos nó s. ― Mamã e concorda e vejo Liz um pouco desconfortável.
― Vamos parar com esse assunto. Nos reunimos pra falar da melhor
coisa que aconteceu, nosso namoro.
Lauren ri alto e a minha mã e também.
― O seu filho tem uma cara lisa, nã o é? Eu nã o conhecia esse lado.
― Ele nã o costuma mostrar. Mas é verdade. Estou muito feliz com o
namoro de vocês. ― A minha mã e diz orgulhosa e Liz está corada. ― Você
tem uma menina linda.
A minha mã e é ó tima em puxar saco.
― Eu já dei os meus avisos. Nã o costumo fazer ameaças em vã o. ―
Lauren dispara contra mim. ― Se maltratar a minha filha, vai apanhar
das minhas pró prias mã os e será a primeira e ú ltima vez que nos
decepcionará .
― Já começa pensando no pior. Eu já disse que jamais farei mal a esse
anjo. ― Toco na minha fulaninha e ela ri, com o rosto completamente em
rubor. ― Deveria acreditar em mim.
― Eu acredito em atitudes. ― Ela repete o que me disse no outro dia.
― Pois aqui. ― Levanto e procuro no bolso a joia que tentei esconder. ―
Eu tenho um sinal para todo mundo lembrar da minha promessa.
― Eros, o que você está aprontando? ― Liz pergunta receosa e alcanço o
que procurava no fundo do bolso.
― Aqui. ― Mostro o anel e ela coloca a mã o no peito.
― Eros...
Um anel dourado com um solitá rio em cristal.
― Eu espero que caiba em seu dedo. Comprei na intuiçã o. — Ela levanta
olhando para a mã e e depois para o anel.
― Eu nã o esperava por isso.
― É , eu sei que nã o sou o cara mais româ ntico, mas entã o, você aceita se
comprometer comigo? Na alegria e na tristeza, na saú de e na doença, na
riqueza e na pobreza... tem alguma coisa mais? ― pergunto para a minha
mã e. Estou de muito bom humor hoje.
― Isso é só em casamentos. ― Ela responde toda boba.
― E você, sogrinha?
― Aceita logo e coloca isso antes que eu mude de ideia. ― Ela apressa e
Liz entrega a sua mã o.
― É só de compromisso, nã o é? ― Liz pergunta, surpresa.
― É . A nã o ser que... ― deixo no ar, brincando com a situaçã o.
― Vamos com calma. Eu sou ansiosa. ― Sua mã o está tremendo, mas o
anel cabe perfeitamente.
― Eu nunca erro! ― comento impressionado.
― Aham. Continue assim. ― Lauren pede.
Ela coloca o meu anel, que foi mais fá cil de encontrar, e ignoro os olhares
enquanto beijo a minha namorada oficial e bem comprometida comigo.
― Vocês estavam comendo agora! ― Meu pai fala enojado.
― Foi só um beijinho. Pra selar o compromisso. Nã o concorda, sogra?
― Eu já falei. ― Ela volta a comer e nos sentamos rindo.
― Como você conseguiu conquistar essa mulher, Demé? ― pergunto,
divertindo-nos na mesa.
Mesmo que a nossa família nã o esteja completa e que tenhamos passado
por poucas e boas, esse momento parece perfeito.

― A gente tinha tudo pra ser as pró ximas Kylie Jenner e Jordyn Wood! ―
Paige reclama, três meses depois de tudo ir por á gua abaixo, enquanto
tomamos sol de biquíni e ó culos escuros.
― Quem sabe um dia?
Ainda nã o voltei para internet e nem sei se voltarei.
― Se a gente tirar uma foto nesse iate, com certeza tudo voltará . A fama,
o dinheiro, as publis. Eu vou matar o Edward quando o vir na rua.
E é onde ele deve estar depois da sua carreira ir por á gua abaixo através
dos problemas do pai e de suas falas problemá ticas.
― Nã o troco a minha saú de mental por nada disso, amiga. ― Levanto e
tiro os ó culos, procurando o meu namorado, que da ú ltima vez estava no
timã o.
Ele parou no mesmo lugar da nossa primeira vez e ao olhar para a á gua,
o vejo nadando.
― Pula aqui.
Sorrio.
― Nã o tem aligá tor?
― Nã o. Só tem cobra.
Dou risada, Paige e Zac também.
― Esse seu namorado é terrível ― comenta, me observando enquanto
me divirto com a piada de Eros.
― Estou anotando tudo, Eros. ― Zac avisa.
O amigo dele é muito divertido também.
Deixo os ó culos na embarcaçã o e salto sem pensar duas vezes. Afundo e
volto à superfície, o encontrando.
Se ele é o deus do amor, eu nã o sei, mas que me faz sentir amada da
forma que sempre quis, isso ele faz.
Eu sei que virã o outras tempestades em nossas vidas, mas nã o tenho
dú vidas de que apoiaremos um ao outro, como foi desde aquela fatídica
noite em que beijei o chã o e torci o pé. Porque nos completamos à nossa
maneira e, acima de tudo, nos entendemos como ninguém.
A sua avaliaçã o é muito importante, por isso, nã o se esqueça de deixá -la!
Aproveita e comenta se você quer que Nicholas e Olívia tenham
uma segunda chance e se quer saber da saga de amor não
correspondido do Zac.
E para ficar por dentro de tudo, me siga no Instagram @autora.nikole
Antes de finalizar, quero agradecer a Deus por me dar sanidade e
paciência para fazer esse livro do início ao fim, porque nã o foi fá cil; a
minha mã e, por nunca questionar as minhas escolhas profissionais e
sempre me apoiar; as minhas irmã s, principalmente Verô nica, que
trabalha comigo; a grande amiga que conquistei quando estava iniciando
o Eros, Bá rbara Lorrany, que me ajudou muito com o ritmo da escrita,
nas nossas maratonas, sem me deixar desanimar; e a mulher que me fez
apagar todo este livro e começar do zero, que mudou todo o rumo dos
meus livros seguintes, Daniele, minha leitora crítica.
Obrigada!
SOBRE A AUTORA

Meu nome é Nikole, sou sergipana, tobiense, mas moro em Sã o Paulo há


algum tempo.
Como profissõ es tenho a costura e a fisioterapia, mas a escrita me pegou
muito tempo atrá s.
Sempre digo que foi em 2016, mas as minhas amigas lembram que já em
2014 eu contava sobre minhas histó rias.
Sou escritora nascida no Wattpad e meu forte é comédia româ ntica.
Amo piadas sutis, romances slow burn que fazem casais inseparáveis e
aquelas famílias clichês.
As comédias româ nticas da sessã o da tarde e mú sicas internacionais ―
das quais nã o entendo uma palavra ― têm influência forte na minha
escrita e desde que comecei nã o parei.
No fim de 2020 tive a chance de publicar em uma plataforma paga e em
2021 a escrita se tornou meu trabalho.
Continuo encarando como hobby, mas tenho caprichado cada vez mais
para entregar um trabalho melhor a vocês.
Sou feliz e grata por poder colocar meus sonhos no “papel” e olha, desde
pequena crio histó rias e mais histó rias.
Espero que elas cativem vocês e que continuem me acompanhando
nessa jornada de milhõ es de vidas.
​Me siga nas redes sociais: @autora.nikole
LIVROS ÚNICOS
A NAMORADA FALSA DO MILIONÁRIO

UM MILIONÁRIO PETROLEIRO ARROGANTE;


UMA JOVEM COSTUREIRA ORGULHOSA;
E ELES FORAM UNIDOS POR UM NAMORO DE MENTIRA!
Rô mulo Guimarã es é um milioná rio arrogante, que lidera negó cios em
torno do Petró leo no Brasil. Metó dico e controlador, odeia ser
atrapalhado, quando está concentrado em algo. Mas, de repente, uma
mulher surge na sua porta. Com um metro e sessenta de pura ousadia,
ela exige que ele a dê explicaçõ es sobre a morte do pai. Para ele, aquilo
nã o passava de uma tentativa de golpe. Para ela, Rô mulo era,
definitivamente, o culpado pela morte do seu pai.
Linda Fonseca é uma jovem costureira orgulhosa que faz de tudo para
proteger a sua família. Aos vinte e dois anos, é esforçada e luta
bravamente pelos seus sonhos. Mas tudo muda quando perde o seu pai.
Ao invés de ter explicaçõ es sobre a causa, recebe um contrato para que
fique em silêncio e nã o explane para a mídia. Revoltada, ela vai em busca
de respostas. Nã o esperava encontrar um homem insensível, turrã o e
arrogante.
E que ele, poucos meses depois, se transformaria no seu namorado...
... de mentira.
O detalhe é que ela o odeia. E que a vida dele, a partir desse momento,
seria um inferno.
Tudo o que eles queriam era nunca mais se verem, mas o destino juntou
os dois e, agora, a namorada falsa do milioná rio tem todos os holofotes
sobre ela. Já ele, tem a chance de se redimir pelos erros que cometeu
com a mulher no passado.
UM CONTRATO PERFEITO DE CASAMENTO
Depois de um casamento por conveniência, Danielle
Brown se tornou uma Jones, mas isso nã o a impediu de ingressar
na faculdade, perder sua aliança de casamento e se jogar nas
aventuras que as garotas da sua idade tanto querem experimentar.
No casamento, ela só tinha um dever: assinar documentos
da grande empresa do seu pai e seu sogro quando necessá rio.
Quando mais jovem, ela foi apaixonada por Mason, mas
antes mesmo de se casarem, se deu conta que aquele homem
nunca olharia para ela como uma mulher.
Mason Jones se tornou diretor da construtora Diamont
Company apó s um casamento por contrato com a filha do só cio do
seu pai.
Mesmo o casamento tendo propó sito comercial, ele sabe
que se separar de Danielle um dia significa deixar de ser o
preferido para comandar a empresa que tanto estima. Por isso, na
sua cama nenhuma mulher se deitou desde o casamento,
nenhuma mulher andou ao seu lado e ele nunca se apaixonou por
outra, direito esse da sua esposa, Danielle Jones, mesmo nã o
havendo interesse dos dois lados em tornar real o que eles têm no
papel.
Mas isso nã o significa que se manteve casto por esses anos
e nã o se distraiu com outras.
Um dia, Danielle aparece totalmente diferente do que
Mason está acostumado a ver e se oferece para ajudá -la.
Danielle cometeu um grande erro e isso enfurece Mason, o
levando a tomar uma decisã o que se arrepende de nã o ter tomado
no passado: Danielle tomará seu lugar de esposa, usando a
aliança, andando ao seu lado e dormindo na mesma cama que ele.
LIVROS SÉRIE FAMÍLIA MOLINA
1. ARTHUR: Uma segunda chance para o arrogante

Arthur Molina é um homem poderoso, muito rico e


respeitado que teve seu coraçã o quebrado quando a mulher que
amava, Petra Brandã o, o deixou para ficar com seu irmã o, Roger
Molina. Desde entã o ficou estritamente proibida a entrada de
mulheres em sua casa.
A verdade é que ele passou a odiar todas as mulheres.
Porém, sete anos depois, ele descobre que seu irmã o e sua ex-
amada morreram em um acidente, deixando a filha deles, Antonella
Molina, de cinco anos, para ele cuidar.
De todas as torturas que Arthur poderia sofrer, sem dú vida,
para ele essa será a pior.
A filha dos traidores e ainda uma mulher?
Ele se revolta com a nova realidade e vai praticar seu hobby
preferido, caçar na floresta.
Quando vê uma presa grande, ele atira e logo em seguida
descobre que machucou uma jovem e bela mulher que remete a
alguém conhecido por ele.
Lutando contra seus instintos e passando por cima de sua
maior regra, ele permite que a levem para a casinha onde ele cresceu
na floresta e que cuidem dela.
Mas o que ele nã o imagina é que a mulher de rosto tã o
recordativo, na verdade, é a irmã mais nova de Petra, Daphne
Brandão, que se perdeu enquanto procurava o lugar onde sua
sobrinha irá viver.
Ela pretende cuidar da criança como ú ltima coisa que fará por
sua irmã , nã o a deixando nas mã os do gâ ngster de péssima fama de
quem ela ouviu falar.
Agora, Arthur Molina terá que aprender a lidar com duas
mulheres sob seu teto e Daphne terá que ensiná -lo a ser o tio que sua
sobrinha precisa enquanto espera a chance de levar a criança
embora.
Mas como eles irã o lidar com tudo isso?
Será que Arthur mudará de ideia em relaçã o à s mulheres?
E Daphne, será que mudará a ideia que criou do irmã o de seu
cunhado quando o conhecê-lo melhor?
2. SANTIAGO: uma segunda chance para o viúvo amargurado

Amargurado e controlador, Santiago Molina dedica seu tempo a muitos


investimentos, mas nenhum com tanta estima quanto a financeira SM
Solutions, sua primeira empresa, a qual divide com seu irmã o, Enzo.
Aos vinte e cinco anos, ele perdeu sua esposa, Alice, apó s o parto do
primeiro filho do casal.
Joã o Miguel nasceu saudável, mas Santiago nunca deixou de culpá -lo
pela morte de sua amada.
Três anos depois, uma jovem desastrada aparece em sua vida como
secretá ria. Em muitos momentos, ela tira a sua paciência, já em outro faz
o viú vo duvidar das suas pró prias promessas.
Com quarenta cursos no currículo e uma péssima concentraçã o no que
precisa ser feito, Laura Bianchi foi chutada do seu emprego por uma
enorme lista de motivos, mas, no mesmo dia, conseguiu o que julga ser o
melhor emprego de todos. Contudo, ela nã o contava que por vezes
passaria vinte e quatro horas ao lado de um homem estressado, que mal
a deixa falar e que a faz se sentir uma imprestável. Todavia, ela nã o
desiste fá cil e trabalhará de todas as formas para conquistar o seu chefe.
Ela só nã o imaginava que poderia conseguir mais do que permanecer no
emprego.
3. VINCENZO: Domando o coração do mulherengo

Sendo um mulherengo de primeira, Vincenzo Molina nã o quer


namorar. Diferente dele, Isabella Fernandes quer encontrar o amor da
sua vida e aposta em todos os homens que aparecem na sua frente.
Quando esses dois se encontram, a atraçã o é imediata. Para Vincenzo,
ela será mais uma em sua cama, já para Isabella, ele é um forte candidato
ao amor da sua vida.
Ela foi alertada sobre o perigo de ficar com mais um cafajeste.
Ele foi alertado sobre o perigo de machucar o coraçã o de alguém que
trabalharia tã o pró ximo.
Eles ignoraram todos os alertas e agora resta saber se ela irá domar o
coraçã o do cafajeste.
CONTO: ARRAIÁ DA FAMÍLIA MOLINA

Na festa de Sã o Joã o, Arthur, Daphne, Santiago, Laura, Vincenzo, Á lvaro e


as crianças se juntam em mais uma festa da família Molina, na casa da
Tia Chica, para comemorar a data e matar a saudade.
Mas Daphne anda desconfiada que Arthur esconde algo dela e Laura
está prestes a surtar com as paranoias de Santiago.
4. O CASAMENTO DO ANO

O bilioná rio arrogante, Arthur Molina, teve uma segunda chance para
amar ao lado de Daphne Brandão, a irmã da ex-namorada dele e tia da
sua sobrinha.
O momento de consolidar o amor que nasceu entre os dois chegou e com
ele todos os membros da família Molina estarã o reunidos em mais uma
comédia româ ntica.

5. ÁLVARO: INESPERADAMENTE APAIXONADO

Quando o assunto é beleza, Álvaro Molina tem uma autoestima de


milhõ es, já Catarina Rodrigues nem tem tempo para se preocupar com
isso.
Eles sã o amigos de infâ ncia e enquanto ele busca a mulher perfeita, ela
visa manter a ordem em seu estabelecimento.
Apó s ouvir do melhor amigo que deveria se cuidar ou nã o encontraria
um namorado, Catarina resolveu tornar seu novo objetivo a busca por
um namorado e assim ir acompanhada de alguém, que nã o seja ele, ao
casamento do irmã o dele.
Á lvaro nã o imaginou nem de longe que isso lhe afetaria tanto e além de
ser extremamente arrogante, o empresá rio descobriu ser um grande
ciumento com chances de estar inesperadamente apaixonado por sua
melhor amiga.

PÁ GINA DA AUTORA NA AMAZON

[1] O timã o é a parte do sistema de direçã o que controla a direçã o de uma


embarcaçã o. [2] É uma espé cie de ré ptil. Os aligá tores sã o semelhantes aos
crocodilos, mas tê m o focinho mais curtos e largos e sã o encontrados apenas
nas Amé ricas.

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