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CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
SOBRE A AUTORA
Essa é uma obra de ficçã o, onde nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos sã o produtos da imaginaçã o da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.
Todos os direitos reservados.
É proibido o armazenamento e/ou a reproduçã o de qualquer parte
desta obra, através de quaisquer meios – tangíveis ou intangíveis – sem
o consentimento escrito pela autora. A violaçã o dos direitos autorais é
crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do
Có digo Penal.
Revisado de acordo com a Nova Ortografia da Língua Portuguesa.
Capa: LChagas designer
Revisão: Danielle Oliveira
Diagramação: Nikole Santos
1o ediçã o
COPYRIGHT © 2024 NIKOLE SANTOS
Eros Werneck nunca escondeu o orgulho que sentia em ser tã o bem-
sucedido aos 25 anos, tampouco o poder que nascer na família Werneck
lhe permitia ter, embora nã o se sentisse tã o amado dentro dela. Ele
também sabia que o seu sucesso incomodava, mas nã o a ponto de
armarem e o colocarem atrá s das grades.
Dois meses na prisã o, foram capazes de quebrar o jovem egocêntrico e
acabar com o seu respeito, mas fora dali, mais decepçõ es o esperavam. A
sua ex-namorada estava casada com o seu irmã o e sua empresa em
ruínas.
O que ele deveria fazer? Se acostumar ou se vingar?
Liz Stuart, a prima da ex-namorada de Eros, esperava dele o pior, já que
nos poucos encontros que tiveram, as coisas nã o foram amigáveis. Para
ela, se envolver com Eros seria uma grande burrice, pois ela o
considerava um grande erro, no entanto, o destino os coloca no mesmo
caminho, e tanto Liz quanto Eros acabam encontrando algo inesperado
um no outro, quando na verdade deveriam se evitar a todo custo.
Será que Liz e Eros conseguirã o superar suas diferenças e encontrar a
redençã o juntos, ou seus destinos estã o selados pela má goa e pelo
passado conturbado?
Sumá rio
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
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CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
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CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
SOBRE A AUTORA
“― Não vou mentir, tia. Está sendo bem melhor sem o Eros. Nicholas tem
sido um bom amigo — comentou Olívia com a minha mãe.
― Com certeza ele deve estar sendo bom em tudo. ― A minha opinião
escapou.
― Liv, você não está fazendo nada de errado nessa amizade, né? ―
perguntou Minha mãe receosa.
― Não. ― Ela parecia falar a verdade, mas ficou sem graça com a
pergunta.
― Para evitar problemas, é melhor finalizar uma coisa antes de começar
outra. ― aconselhou Mamãe.
― Eu sei, tia. ― Ela balançou a cabeça.
― Mas que o Nicholas é bem melhor que o Eros, não tem como negar. ― E
mais uma vez a verdade escapou pela minha boca.”
Depois de um longo dia no escritó rio, coisa que raramente fazia antes de
ser preso, resolvi voltar para casa e assim que cheguei nos portõ es do
condomínio, encontrei minha mã e parada na calçada.
Respiro fundo antes de apertar o freio para falar com ela.
― O que você quer, hein? ― questiono entediado.
― Como o que eu quero, Eros? Vim saber de você! ― responde indignada.
Até parece que ela se importa.
― Nã o me venha com essa de mã e preocupada depois de apoiar aquela
palhaçada. Vá cuidar da sua nora. Você deve estar bem feliz com essa
histó ria de ser avó , nã o é? ― É inevitável meu tom sarcá stico.
― Meu filho, você nem deu chance para conversarmos! Foi para cima do
seu irmã o...
― Ele merecia mais do que dei. — A interrompo.
Ela abre a boca e reprova com a cabeça.
― Vamos conversar lá dentro ― sugere.
― Quantas vezes falei para nã o vir aqui? Agora principalmente.
“Por que é tão difícil que as pessoas respeitem as minhas decisões?”
― Mas eu sou sua mã e ― diz inconformada.
― Porque nã o consegue se livrar desse papel. Vai lá , para o seu filho
querido e vê se me deixa em paz, longe dessa falsidade ― esbravejo.
― Eros! Você nã o pode falar assim com sua mã e!
“Foda-se.” Penso, mas nã o digo nada. Apenas sigo o meu caminho e a
deixo para trá s. Vejo o portã o se fechando enquanto dirijo para a minha
casa.
A minha mã e quer dizer que apoia os dois filhos, mas parece que nã o
entende que estamos de lados diferentes de uma mesma situaçã o, e no
curto período de tempo que fiquei lá na casa dela, vi que ela estava
completamente a favor do novo casal.
Que seja! Desde que nã o fique vindo atrá s de mim dizendo que me
entende.
Tenho certeza de que Olívia ficou com ele antes de me dizer que nã o
queria mais namorar.
Chego em casa e arranco as roupas para tomar um banho frio. Durante o
dia, conversei com a minha faxineira, e ela disse que viria algum dia da
semana para fazer uma faxina e colocar as coisas no lugar. Dois meses
fora e perdi meu lugar na rotina da faxineira.
Debaixo do chuveiro, deixo a á gua levar tudo o que pode. Queria que ela
levasse meus problemas também. Faz sentido os empresá rios nã o
quererem fazer negó cios comigo, mas farei com que mudem de ideia.
Vou comparecer a essa festa do Luigi. Quem sabe nã o melhora o meu
dia?
Chegando em frente ao pré dio de casa, vejo o carro que trouxe a
minha mã e na noite passada parado perto da calçada. Ele está com o
fundo virado para mim, mas o retrovisor nã o me engana quando reflete
o rosto de dona Lauren no banco do carona.
Me aproximo do carro e pigarreio, mas ela está distraída demais em um
papo que a deixa sorrindo boba. Dou uma boa pigarreada e começo a
tossir forte, mamã e dá um pulo no banco e olha para mim.
― Liz! — exclama assustada.
― É ... Liz!
― Liz? Tudo bom? — cumprimenta o estranho.
O homem se estica para ver a minha cara. É um coroa de uns quarenta
anos, camisa social, cabelos grisalhos, sem barba e com destaque para as
sobrancelhas mescladas com os brancos e castanhos.
― Oi! ― digo com um â nimo forçado. Ele balança a cabeça e ri para a
minha mã e.
― Essa é a minha filha. ― Mamã e me apresenta e tira o cinto de
segurança.
― É um prazer, Liz. Sou Demétrio. ― Estende a mã o de dentro do carro e
o cumprimento com um sorriso amarelo.
“Esse homem está paquerando a minha mãe e não teve coragem de sair de
dentro do carro para se apresentar? Arg!”
Me afasto e mamã e sai.
― Até ama... segunda, Demétrio. ― Se despede.
― Até. ― Ele sorri para ela e acena mais uma vez para mim. ― Foi um
prazer.
― Ok. ― Estou monossilá bica pois nã o me sinto confortável com um
homem aqui.
Balanço a cabeça. Nã o vou dizer que também foi um prazer para mim. A
minha mã e no carro de um estranho ― pode nã o ser um estranho para
ela, mas para mim é ― nã o é algo que me deixe tranquila.
Ele vai embora dando uma buzinada e viramos uma para outra.
― Trabalhamos no mesmo prédio ― fala rapidamente, tentando se
explicar.
― Aham. Até uma hora dessas, mã e? — ironizo.
― Tínhamos coisas para fazer. ― Ela dá de ombros e entramos no prédio
juntas. ― Escuta, Liz, a sua tia me contou que teve uma confusã o terrível
na casa dos Werneck.
Me assusto com a fofoca.
― Por causa do Eros? — pergunto, mas já sei que sim.
― Sim. Ele saiu da cadeia, sabia?
“E como sei...”
― Quem nã o ficou sabendo disso, mã e? Passou até no jornal. Hoje ele
estava na cafeteria, tomando café da manhã . Acredita?
― Soube que ele caiu no soco com o irmã o, xingou todo mundo. Sua tia
estava preocupada com Olívia, por causa da gravidez.
“Essa história é muito bizarra.”
― Essa gente rica é complicada... ― falo e nó s entramos no elevador.
― Sim, por isso que eu digo para você nã o ficar de amizade com sua
prima. Adaline é minha irmã , mas eu nã o apoio as coisas que ela faz,
nem as que Olívia faz, pior ainda o podre do pai dela.
Infelizmente nã o escolhemos a nossa família.
― Mã e, Olívia só me procura quando nã o tem ninguém. E a senhora acha
que eu vou seguir o exemplo dela? Me poupe. Eu e ela somos bem
diferentes!
― Quando ela chegou naquele dia contando que andava pró xima do
Nicholas, desconfiei que alguma coisa estava acontecendo e nã o ia dar
bom quando o Eros saísse da cadeia. Aquele rapaz tem cara de
problema. Acho que ele é o pró prio problema.
“Tenho certeza de que sim.”
― É , mas fazer o quê? Eles já se casaram e agora o Eros vai ter que se
acostumar com a realidade dos dois.
― Pois é. Sua prima gosta de problema...
― Se fosse só ela... Mã e, a senhora está de casinho com aquele cara? —
Sei que ela começou a falar da Olívia para mudar o foco dela, mas eu nã o
deixaria a cena que eu acabei de presenciar passar batido.
― Nã o. ― A sua voz afina e nã o tem firmeza alguma.
― Estou falando porque depois do que a gente passou... — Nem consigo
concluir a minha fala.
Ela segura a minha mã o.
― Liz, aquilo nã o vai se repetir. Jamais. Eu prometo — fala tentando me
passar confiança.
Balanço a cabeça, acreditando na sua palavra.
Faz um bom tempo que um homem nã o se aproxima da nossa vida e faz
parte do nosso convívio. Tenho medo de dar confiança para alguém e
tudo se repetir.
Nem sempre as pessoas que dizem que nos amam sã o capazes de nos
proteger. E nã o digo dar sua vida ou se colocar em risco pela gente, digo
sobre tomar decisõ es que afastam o perigo de nó s.
― Vamos pedir alguma coisa para comermos? ― sugere. ― É sexta, sei
que já deve ter comido um monte de besteiras na cafeteria, mas estou
morrendo de fome.
― Entã o... fui convidada pra um aniversá rio. Vou com a Paige. Acho que
vou dormir na casa dela — comento sobre meus planos para hoje.
― Sério? ― Ela ergue as sobrancelhas. ― Ok.
Minha mã e nunca me impede de sair. Sabe que sou cautelosa e nã o me
meteria em problemas facilmente.
Quando chegamos no apartamento, tomo um banho e arrumo minha
bolsa com as coisas que preciso levar para a casa da Paige. Vou me
arrumar com ela. Se ela nã o fosse, eu nã o sei se iria. Estou ansiosa com
tudo isso. Como nã o passa ô nibus uma hora dessas para ir para a casa
dela, chamo um Uber e saio de casa debaixo de muitos conselhos.
A minha mã e tem medo de que eu beba e só me lembro do Eros tirando
satisfaçã o sobre o que disse na outra festa. Sem dú vidas, o á lcool me faz
passar muita vergonha. Ele abre as torneiras da sinceridade e tanto falo
como faço tudo o que está reprimido.
― Prometi que nã o ia beber ― digo para Paige assim que chego em sua
casa.
― Um golezinho nã o faz mal. ― Ela anda de roupã o pela sala. ― Você
acha que a gente deve ir de salto? A festa é na casa dele, mas o pessoal
costuma caprichar nessas coisas. — Analisa as opçõ es em sua sapateira.
― Nã o sei e nã o trouxe nenhum salto. ― Sento na cama e ela abre a
maleta de maquiagens. ― A ú nica roupa à altura dessa festa que
encontrei no meu armá rio foi um vestido tubinho de brilhos que
comprei na liquidaçã o.
― Sei! — diz empolgada. — Amei aquele vestido. Você já usou? Senta
aqui para eu te maquiar. ― Paige puxa o banquinho para frente da
penteadeira, e eu me sento.
― Ainda nã o usei — afirmo.
― Vai ficar linda — diz para me animar. — Veja se ele postou alguma
coisa da festa. Uma hora dessas já deve ter começado.
― Vamos chegar no meio da festa ― analiso, nada animada com esse fato,
e procuro o perfil dele no Instagram para averiguar as fotos.
― Amiga, essas festas só terminam quando o sol nasce. Nem se
preocupe. — Ela tenta me acalmar com sua empolgaçã o.
― Oh meu Deus! Quanta gente começou a me seguir hoje, Paige! E tem
um monte de mensagem no direct — comento assim que abro o meu
perfil no Insta.
“De onde veio toda essa gente?”
― Aproveita o tempo e responde, porque na festa você nã o vai responder
para ninguém. Só postar os vídeos curtindo e beijar muito a boca do
Luigi — diz divertida.
Cubro a boca rindo.
― Larga de ser safada, Paige — brinco.
― Você é uma moça casta. Sou a serpente e o Luigi é a maçã . Se depender
dessa serpente aqui, hoje você morde e come o Luigi todinho.
Solto uma gargalhada.
― Credo! Você inventa cada comparativo...
― Mas é verdade! ― Ela também ri e passa alguma coisa no meu rosto.
Começo a responder à s mensagens e só depois vejo as fotos do Luigi. Ele
postou fotos da casa com iluminaçã o baixa, quase um breu se nã o
fossem as luzes coloridas piscando, mas dá para ver muitas garrafas de
bebida. O pessoal que saiu nas fotos estava muito arrumado.
― Paige, a festa é chique, mulher! Vamos ter que ir de salto — aviso
assim que analiso o pessoal pelas fotos.
― Entã o vamos! — diz animada. Ela já estava querendo ir de salto
mesmo, nã o será nenhum problema para ela.
Assim que ela conclui a maquiagem de sombra, olhã o de gato e um
batom vermelho, visto minha roupa. Estou parecendo uma profissional
do sexo, principalmente depois do salto. Mas vou assim mesmo. O
vestido, apesar de curto, nã o mostra minha bunda, e o shortinho me dá
segurança.
A minha amiga vestiu um jeans bem curtinho e um body com mangas, de
um designer diferentão, como se o pano estivesse rasgado. Paige nã o
gosta de se vestir como todo mundo. Ela é fashionista nas horas vagas.
De cabelos soltos e bem cheirosas, fomos de Uber para a festa do Luigi. A
ansiedade está me deixando com dor no corpo.
― Olha, nã o cometa nenhuma loucura. ― peço a ela depois de liberarem
nossa entrada no condomínio.
― Nã o se preocupe. ― Ela ri de mim.
O carro para no endereço e encaramos admiradas a mansã o onde o
rapaz mora. Uma casa de cor lilá s, dois andares, parece o templo de
Salomã o, tem algumas plantas podadas na frente, uma grama linda e
janelas de vidro.
― É aqui mesmo? — pergunto ao motorista.
― Sim. É o endereço que vocês colocaram no aplicativo — afirma.
― Ok... ― Saio do carro ainda admirada e Paige sai em seguida. ― Agora
acho que viemos simples demais — comento analisando nossos looks.
― Vamos, Liz. Estou ouvindo mú sica boa. ― Ela ignora o meu
comentá rio, me arrasta pelo braço e me puxa pela grama.
Sofro para me equilibrar nos saltos, mas subimos na calçada e andar fica
mais fá cil.
Rimos dos dois seguranças estã o na porta da casa. Por mais chique que
seja ter dois grandõ es de terno na porta, também é estranho e quase
brega, já que se espera de um aniversá rio as pessoas mais pró ximas e
nã o qualquer um que pode oferecer perigo.
― Pelo visto, a coisa é maior do que imaginamos ― fala Paige no meu
ouvido, e concordo.
Falamos nossos nomes mais uma vez, e um deles olha na lista, entã o
entramos. A casa está lotada! Pessoas para todo canto, mú sica alta,
fumaça de cigarro cheirando com perfume, uma loucura! Quase perco a
esperança de encontrar o aniversariante.
― Duvido que tenha algum bolo de aniversá rio aqui — analiso.
― Amiga, a ú nica coisa pra comer aqui é...
― Nã o termina ― peço rindo.
― Vamos beber alguma coisa. ― Ela nã o larga o meu braço e chegamos
em um bar em uma das paredes da sala. O rapaz caprichou na festa.
― Eu quero algo sem á lcool — peço.
― Á gua? — pergunta minha amiga com ironia.
― Eu nã o me dou bem com bebida ― explico mais uma vez para ela,
embora ela já saiba muito bem disso.
― Nã o vamos exagerar. Só um copo — sugere dando pulinhos de sú plica.
“Só um copo...”
Dou uma olhada ao redor e vejo umas meninas dançando em cima de
uma mesa. Que coragem! Nã o vejo ninguém conhecido. Talvez elas
também nã o tenham ninguém conhecido por aqui e estejam
aproveitando livremente.
Pego meu celular e gravo alguns stories. Esse povo nã o deve me
conhecer também. Sorrio para a câ mera e giro no espaço, mostrando o
má ximo possível. É quando, abruptamente, me deparo com uma cena
que me tira a capacidade de respirar. Luigi? Ele... está beijando duas
garotas ao mesmo tempo?
― Filho da puta! — xingo sem filtro.
― O que foi? ― Paige me entrega um copo com alguma bebida que
desconheço.
― O Luigi nã o está ficando nã o com uma, mas sim com duas garotas ali
no canto. ― Aponto na direçã o em que ele está .
“E eu me achando a sortuda por ser desejada por ele!”
― Acho que chegamos tarde demais. Vamos curtir, esquece esse cara. Vai
aparecer outros — diz enquanto começa a dançar.
Paige é assim. A fila dela anda igual trem-bala.
E tem razã o. Eu nã o tinha nada com ele. Só a vontade de beijar mesmo.
Dou um gole na bebida e faço careta pelo gosto forte de á lcool.
― Vamos dançar. ― Paige me puxa e saímos andando e dançando para o
lado oposto de onde vi Luigi.
― Vamos! — digo um pouco mais animada.
Já que estamos aqui, vamos curtir.
Luigi foi bem espertinho em nã o deixar ningué m estacionar em frente
à sua casa. Acabo estacionando do outro lado da rua e entro na festa.
Vesti a primeira coisa que encontrei em casa: um sué ter preto que,
durante a viagem, me deixou com calor e, por isso, subi as mangas, e um
jeans. Mas vejo que a galera da festa se vestiu para um desfile de moda.
Pego uma bebida e procuro algum conhecido. Até entã o nã o tinha visto
ninguém, mas pelos olhares, muita gente me conhece. Eu nem sabia que
essa galera assistia ao noticiá rio. Devem ter visto sobre mim em algum
perfil de fofoca no Instagram.
Luigi é sempre um exagerado com festas e chama gente que simpatizou
em uma ú nica conversa. Sei que metade desse povo nã o tem amizade
nenhuma com ele, mas onde ele está , vejo o pessoal que conhecemos.
Sentados nos sofá s, meus amigos de faculdade e festa bebem na
companhia de algumas garotas. Luigi beija duas, sendo o mulherengo de
sempre.
― Oi! ― cumprimento Paul na ponta do sofá .
― Nã o sabia que você viria ― admite enquanto me dá um rá pido abraço.
― Luigi me chamou. ― Passo para cumprimentar o pró ximo. ― Como
vai?
― Ó timo. E você? O que aconteceu com o seu rosto?
Eu nem estava me importando mais com esse machucado, mas as
pessoas fazem questã o de comentar sobre.
― Presente de boas-vindas.
Cumprimento o ú ltimo dos caras antes de chegar no aniversariante.
― Estou bem. ― Ele me dá um aperto de mã os, sem muito interesse. ― Ei,
Paul! Vamos pegar uma bebida.
― Vamos. — Ele concorda, parecendo entender o recado.
― Eu também vou. ― Cayo levanta e as garotas também.
― Cuidado, irmã o! ― aconselha Paul.
― Nã o tenho ficha suja nã o, cara ― responde e se junta aos outros rindo.
― Eu nã o acredito nisso ― murmuro, analisando o comportamento que
acabei de ver. ― Filhos da puta!
― EROS! Você veio! ― Luigi larga as garotas e vem me abraçar com uma
animaçã o além do normal devido o á lcool.
― Pelo visto, só você gostou da minha presença. Feliz aniversá rio!
― Obrigado. Vamos nos divertir. Já está com bebida na mã o. Nã o deixe
esse copo vazio. — Fala erguendo o dele.
― Pode deixar! — Concordo erguendo o meu copo também. ― Só acho
engraçado que quando estamos por cima, esses filhos da puta nos
chamam de “amigos”, até mesmo “irmã os”, e quando a gente passa por
uma fase complicada, que no meu caso eu nem tenho culpa, eles agem
desse jeito. É bom que a gente sabe quem sã o os amigos de verdade.
Soou um pouco dramá tico? Sim! Mas foda-se, isso é só uma festa, nã o é
como se eu precisasse deles para alguma coisa.
― Só por conveniência, nã o é? Mas deixa pra lá , comigo nã o tem isso nã o.
— Tenta me tranquilizar.
― É , vou tentar! — Até agora, entre tantos falsos, só ele se importou em
falar comigo desde ontem.
― Agora que você está solteiro, pode aproveitar mais. Olha o tanto de
garotas! ― Ele me cutuca e aponta para as meninas que estã o ao seu
redor.
― Aposto que mal as conhece — digo sorrindo do seu â nimo.
Ele ri, e dou um gole na bebida para molhar a garganta.
Observo a galera e no meio de tanta mulher, meus olhos pousam em
uma dançando em cima da mesa que me deixa surpreso.
― Olha aí, a garçonete. Chamei ela para vir. Achei que nã o vinha, mas
veio e parece que está se divertindo — fala Luigi rindo.
É ... dançando em cima da mesa com esse vestido curto e um copo de
bebida na mã o. Eu nã o esperava por isso, por mais que ela tenha uma
cara lisa de gente que apronta muito.
― Você a conhece? — pergunta com curiosidade.
― Nã o ― digo e aproveito o sofá que ficou vazio pra sentar e tomar
minha bebida acomodado. Ela nã o é problema meu!
Meses atrá s, tudo que eu queria sair sem mulher no meu pé, poder
encher a cara e fazer o que quiser sem hora pra voltar pra casa, nem
mulher mandando mensagens para mim. Agora me bateu um desâ nimo
enorme.
Essa Liz nã o é gente... Dando a vida em cima da mesa. Um salto enorme,
um vestido minú sculo que até nela, que é pequena, fica curto. Na certa
comprou blusa por vestido. Ela nã o se parece em nada com Olívia,
embora sejam primas. A minha ex era fresca... tudo era vergonha alheia.
Mas também nã o fazia briga. Ela enchia meu saco em particular. Liz é
exibida.
Durante todo o tempo que fico sentado, absolutamente nenhuma alma
viva se aproxima de mim. Dou um desconto para o meu amigo
aniversariante por estar aproveitando suas garotas.
Termino a bebida e já quero mijar, entã o deixo o copo no sofá e procuro
algum banheiro vazio. O primeiro estava trancado, o segundo também.
Vou para o segundo piso e encontro dois caras puxando pó na pia do
banheiro.
― Deem o fora. Preciso do banheiro. Vã o, vã o! — exijo sem paciência.
Os chapados acabam com a droga e saem sem se importar com o que
fica pra trá s. Bebidas e até mesmo uma carteira. Uso o banheiro e
aproveito o espelho para dar uma olhada na minha cara e percebo que a
maquiagem que Kelsey passou mais cedo saiu no banho.
― Nicholas, seu desgraçado... ― praguejo entredentes e como nã o posso
fazer nada para amenizar essa porra, lavo as mã os e volto para a festa.
A casa está sendo destruída. Lembro que nos meus dezessete anos,
aproveitei uma viagem dos meus pais, que estavam apresentando o
herdeiro dos negó cios aos só cios fora do país e fiz uma festa assim.
Os empregados nã o deram conta de restaurar a casa antes que eles
voltassem. Precisou até de pintura nova. Meu pai jogou os colchõ es fora,
com o argumento de que estavam contaminados. Também me deixou
sem dinheiro durante um mês inteiro. Nunca mais fiz esse tipo de
loucura.
Amanhã ou depois, Luigi vai entender que é melhor continuar fazendo
suas festas em casas alugadas.
Ao chegar no fim da escada, vejo a galera fazendo uma roda. Todos os
curiosos reunidos só me remete a briga.
― O que aconteceu? ― pergunto ao primeiro que vejo se afastar do
bando.
― Uma vadia estava dançando na mesa e caiu ― conta rindo. ― Está
fodida. Deve ter quebrado o pé.
Empurro o pessoal para ver a situaçã o da azarada e quando consigo
abrir caminho, vejo que é a Liz. Ela está deitada no chã o, paralisada,
enquanto outra pessoa pergunta se ela está bem. Ninguém faz mais além
disso e o Luigi chega para ver o que está acontecendo.
“Quando eu digo que ela é presunçosa...”
Me agacho em sua frente.
― Ei, você está bem? Levanta — peço com cuidado.
― Eu... meu pé dó i. ― diz e, pelo jeito, está mais do que bêbada.
Bebida, um salto enorme e dançando numa mesa: receita perfeita para
um acidente.
Dou uma olhada no seu pé esquerdo, que parece machucado, e Liz já
está se levantando.
― Ela está bem? ― pergunta Luigi.
― Nã o sei. Acho melhor irmos para o hospital.
― Droga. Eu nã o posso abandonar a minha festa para resolver isso. —
Luigi também está bêbado. Claro que nã o se importaria com outra
bêbada que deu um show e estragou a sua festa.
― Nã o se preocupe. Deixa que eu a levo. Pode curtir sua festa. ― Puxo Liz
pelo braço e ergo seu tronco, até que consigo pegá -la nos braços. ― Você
está sozinha?
― A minha amiga está por aí. Ela está por aí... — responde meio
desnorteada.
Ou seja, a amiga sumiu.
― Luigi, se você souber quem é a amiga, avise do que aconteceu — peço
ao meu amigo.
― Pode deixar. Mas você vai voltar?
“Óbvio que não.”
A queda da Liz é a desculpa perfeita para sair dessa festa que está um
saco para mim.
― Eu te ligo ― aviso sem me explicar muito.
Carrego Liz para fora da casa e já destranco o carro com o controle antes
de chegar nele.
Meu carro é pequeno. Dois lugares. Nunca me interessei em carregar
mais do que uma carona nele, por isso, a coloco no banco da frente e tiro
o sapato de seus pés enquanto ela choraminga de dor.
― Nã o mexa. Dó i quando coloca no chã o — choraminga.
― Reze para nã o ter quebrado. Desnaturada. ― repreendo, prendo o
cinto nela e tranco a porta.
É . Foi um bom motivo para dar o fora dessa festa.
Achei que me divertiria, mas só vi que a maioria dos que diziam ser
meus amigos nã o eram, e o resto nã o quis papo comigo.
Na minha casa está melhor, mas antes de voltar para ela, vou levar essa
garota no hospital.
― Ele estava com duas garotas. E eu me achando a sortuda. Como eu sou
burra. ― Liz conversa sozinha.
“Do que ela está falando?”
― Quanto você bebeu? — pergunto.
― Um copo ― diz cochilando no banco.
Já vi que essa nã o pode ficar perto de bebida alcoó lica. Nunca acaba
bem.
A levo para o hospital que fica mais perto e onde a minha família corre
quando precisamos de socorro. Somos atendidos com ela ainda
inconsciente e conto sobre o seu estado ao enfermeiro. No fim, recebo a
missã o de acordar aquela que teima em continuar dormindo na cadeira
de rodas para ela fazer o exame de imagem.
― Volta para a terra, minha filha. Esse pé nã o está doendo para você
dormir nessa paz toda? ― Mexo no seu rosto.
Liz é linda, nã o tem como negar. Esse nariz pontudo e os grandes olhos
verdes sã o inesquecíveis. Eu só nã o queria vê-los vesgos enquanto ela
parece morta.
― Liz! Está de sacanagem, né? Você está dormindo mesmo? Enfermeiro,
você nã o tem uma injeçã o de adrenalina para dar nela?
Pulo para trá s assustado quando ela desperta repentinamente e olha
para os cantos com os olhos bem abertos.
Uma potencial assassina.
― Onde é que eu estou? Isso é um hospital? — questiona assustada.
― É . Esqueceu que você machucou o pé? — pergunto com pouca
paciência.
Ela olha para o pé, mas parece que a lesã o do seu tornozelo nã o a
assusta mais que as paredes do hospital.
― O que vocês vã o fazer comigo? Por que você me trouxe para um
hospital? ― Ela olha para mim. ― O que você faz aqui, Eros? Ai meu
Deus... ― Cobre o rosto choramingando.
― É o á lcool. ― Tento explicar ao enfermeiro.
― Me leva para casa, por favor. Me tira desse lugar ― pede chorando.
“Ela está chorando!”
― Vamos fazer um raio-x para saber como está o seu tornozelo. Se
estiver tudo bem, você pode ir para casa. ― O enfermeiro tem mais
paciência do que eu para falar.
Eu sei que ela está bêbada, mas custa ser um pouco agradecida pelo que
fiz?
― Raio-x? ― Ela o olha com a maquiagem derretendo enquanto chora.
“Quanto drama!”
― Sim. — Acho que o enfermeiro está perdendo a paciência.
― E você vai me furar? — pergunta.
― Nã o.
― Entã o eu concordo com esse raio-x.
Meu celular toca enquanto eles se entendem.
― Oi, Luigi. ― Me afasto para atender.
— Como é que a Liz está? — O som está alto, mas o entendo bem.
— Está ... normal do jeito dela — respondo enquanto a analiso de longe.
— Mas ela quebrou alguma coisa? — Ele parece... preocupado?
— Vã o fazer o raio-x agora. O pé está com um edema enorme — explico
a situaçã o.
— Ah. Obrigado, Eros. Eu não poderia abandonar a festa para resolver
isso, mas fiquei preocupado depois de ver o vídeo.
— Fica tranquilo. Está tudo certo por aqui.
“Espera, vídeo?”
— Você a conhecia?
— Sim. Ela é pró xima da minha família. Nã o se preocupe, eu vou levá -la
para casa. — Nã o é como se eu quisesse realmente cuidar dela, mas foi
ó timo para me tirar daquela festa.
— Ok. Obrigado, irmão — agradece Luigi.
— Nã o foi nada. — Já ia desligar quando escuto sua pergunta.
― Você vai voltar para festa?
“Não mesmo!” Penso, mas respondo de outra forma.
― Acho que nã o, cara. Tenho que cuidar da bêbada. ― Assisto o
enfermeiro levando-a para fazer o exame.
“Ela conversa como um papagaio.”
― Uma pena. Mas obrigado por ter aparecido e vê se deixa os babacas pra
lá. Você sabe que eles sempre foram assim, idiotas.
“Nisso tenho que concordar.”
― Acho que você anda mais atento do que eu sobre essas coisas.
Obrigado pelo convite e aproveite o resto da noite. — Me despeço.
― Mantenha contato. ― Ele desliga antes de me deixar falar mais alguma
coisa.
Sentado numa cadeira no corredor do hospital, espero a bêbada e o
enfermeiro voltarem. É um hospital particular e este é um dos melhores
que conheço. Fomos atendidos assim que chegamos, e os corredores
estã o vazios.
Dou uma olhada no celular e checo o feed do Instagram, para ver se
encontro o tal vídeo, mas assim que abro, me deparo com o donzelo do
meu irmã o beijando a barriga da traíra da minha ex...
“Cada dia que passa, o nosso amor por você aumenta. Esperamos
ansiosamente a sua chegada, bebê.”
“E enquanto os colocam no céu, eu fico como o corno dos infernos.”
Sigo rolando o feed.
“Scott...”
Uma foto dele aparece no meu feed. Scott é um empresá rio que trabalha
da mesma forma que eu. Ele gosta de investir e dirigir outras empresas
e, por conta da concorrência, nunca foi muito com a minha cara. Quando
uma marca de roupas estava começando a ser reconhecida e cheguei
antes dele oferecendo um investimento alto para que pudessem crescer
no mercado, nossa rivalidade foi concretizada.
Pode ter sido muito bem ele quem armou pra mim, afinal, eu estava
prestes a fechar outro grande negó cio que era do seu interesse. Nã o é
difícil pensar nisso se ele sempre deixou claro que me via como um
grande rival e que sempre faria o possível para passar à minha frente. E
se ele fez, deve estar bem realizado, afinal, meus só cios estã o querendo
quebrar os contratos comigo. Ouso dizer até que Scott já deve estar
lançando propostas para eles.
Se eu tivesse provas... Vou investigar e descobrir quem foi o maldito, e se
foi ele, farei com que passe pelo mesmo inferno que eu.
Como nã o vejo mais nada de interessante ― acho que fui removido de
uma boa base de “amigos” ― desisto de me martirizar com essa rede
social e opto só por esperar sem fazer nada.
O enfermeiro traz Liz de volta e, para minha surpresa, ela vem
dormindo na cadeira.
― Daqui a pouco o resultado fica pronto e o médico irá vê-la. ― Ele deixa
a cadeira dela ao meu lado.
“Um copo de bebida? Parece que ela bebeu a garrafa toda.”
― Tudo bem. Vamos aguardar ― digo ao rapaz.
— Hum... que dor dos infernos... — resmunga Liz. — O que você faz aqui,
Eros? Cadê a Paige? — questiona confusa.
― Eu te trouxe. Nã o lembra?
“Essa garota só pode ter sido drogada!”
― Oh meu Deus... Bem o embuste ex da Olívia... — resmunga mais para si
mesma, porém eu escuto perfeitamente.
― Eu estou te ouvindo ― aviso.
“Embuste...
Será que a Olívia me chamava assim? Que cretina!”
― Está tudo bem confuso na minha cabeça. Tanto sono e tanta dor... —
fala massageando sua têmpora.
Nem com tanta dor e confusã o, ela consegue parar de me insultar.
― Você caiu da mesa. Nã o lembra? — A olho com curiosidade.
Parece que está se dando conta agora.
— Ainda bem que estou com um short debaixo do vestido. — É tudo que
ela consegue dizer.
“Olha com o que ela se preocupa!”
— Já viu a situaçã o do seu pé, nã o viu? Era com isso que você deveria se
preocupar — alerto.
― Por que você fala como se tivesse raiva de mim? — Me olha intrigada.
― Porque você me deixa estressado. Onde já se viu subir em uma mesa,
usando salto e com uma roupa dessas? — Aponto para o seu minivestido
indecente.
― Ei! Eu nã o te dei esse direito! — fala indignada.
― Se eu nã o tivesse chegado, você ainda estaria parecendo uma boneca
de pano naquele chã o imundo.
“Ela deveria me agradecer.”
Liz cheira o seu braço e faz careta.
― Estou cheirando a um monte de bebidas. — Faz cara de nojo.
― Pois é. Deveria avisar a sua mã e, nã o acha? Avisar que se machucou?
Ela arregala os olhos.
— Nã o! Ficou doido? Se a minha mã e descobre que me machuquei por
causa de bebida me mata! — explica em desespero.
— Você já é suicida e também nã o vai conseguir esconder isso dela. ―
Aponto para o seu pé. ― Você nem consegue andar!
Liz suspira.
― Ela vai me matar — diz cabisbaixa.
― Se a filha puxou para ela, possivelmente. — debocho, porque mesmo
em uma situaçã o como essa, é inevitável nã o a provocar.
Ela dá mais um suspiro, olhando para o teto.
— Eu nem sabia que você estava nessa festa.
“Impossível. Eu estava tão perto!”
— Eu também nã o te vi. Só na hora do acidente ― minto.
— Eu só estava me divertindo. — Se justifica e dá de ombros.
— Suas ideias de diversã o sã o perigosas — condeno.
— Aposto que as suas sã o bem piores. Nã o vem dar uma de bom moço
para cima de mim, Eros. Você acabou de sair da prisã o. — Despeja na
minha cara.
― Esse é o seu momento. Nã o meu.
Ela sacode a cabeça, discordando de mim.
— Eu nã o bebi tanto assim nã o. — Se defende.
— Bebeu sim, você nã o precisa fingir, eu estava lá e vi o seu estado.
— Nã o bebi nã o. — A sua teimosia é incrível. ― Foi um copo, eu juro!
— Entã o ou você se embebeda muito rá pido, ou batizaram sua bebida.
— Devo ter desmaiado de dor — comenta olhando para o pé
machucado.
Dou risada.
— Ok. Se você quer mesmo acreditar nisso, por mim tanto faz.
“Isso não é problema meu.”
— Espero que nã o tenha quebrado nada. Dó i tanto... ― Ela tenta
movimentar o pé e faz uma cara de dor.
— Uma injeçã o resolve.
― OI? NEM PENSAR! — Se exalta.
― Ei! Fala baixo! ― peço constrangido, pois sua voz ecoa por todo o
corredor.
― Ninguém vai me furar — fala mais calma.
“Parece até que tem medo de agulha.”
— Pois... O Luigi ligou pra saber como você estava. — Mudo de assunto.
Olho de relance para ela e a vejo apertando os cantos da boca.
― E deu tempo? — questiona.
― De quê? — Nã o entendi.
― Nada...
Achei que ela ficaria feliz em saber disso. Pelo visto nã o foi uma boa
notícia.
— É o mínimo, nã o é? A festa era dele e eu era uma convidada. —
Conclui.
“Será que ela é sempre grossa assim?”
O enfermeiro volta com o exame.
— O médico está esperando na sala oito. Aqui do lado. ― Ele aponta a
direçã o.
Levanto e ele entrega o exame nas mã os da paciente impaciente.
Liz olha para mim como se esperasse por algo.
― Vamos! — falo para ver se ela reage.
― Empurre a minha cadeira. Eu nã o consigo sair do lugar. ― Ela se mexe,
e a cadeira parece colada no chã o. A mulher nã o tem força nas mã os.
“Eu deveria ter deixado ela caída lá no chão. Onde eu fui me meter?”
Volto e empurro a cadeira.
A ú ltima coisa que eu esperava para essa noite era ter que cuidar da
prima da minha ex-namorada.
Entramos no consultó rio e o médico nos cumprimenta antes de pegar o
exame. Espero de pé, atrá s da cadeira de Liz.
— O raio-x nã o mostra nenhuma fratura. O edema e a dor sã o por conta
da torçã o. Assim que as enfermeiras te derem os remédios
intramusculares para dor e inflamaçã o, você pode ir para casa ficar de
repouso. — Ele faz uma receita e entrega a ela.
Liz nã o diz nada, paralisada enquanto lê a receita.
― Obrigado, doutor. ― Abro a porta e a empurro para fora.
— Eros. — Liz olha pra mim como quem viu um fantasma.
— O quê?
— O que significa remédio intramuscular?
— É quando ele nã o entra pela boca, mas sim pelo mú sculo. Nã o parece
ó bvio?
— Nã o! Eu nã o vou tomar de jeito nenhum — fala nervosa.
— Por que nã o? ― Continuo a empurrando até a sala de medicaçã o.
— Eu nã o gosto. Sabe que a dor até passou? Nã o preciso disso. Quando
chegar em casa tomo um comprimido para dor, passo algum gel e faço
compressa de gelo. Empurre a cadeira para saída, Eros — pede agitada.
— Você tem medo de agulhas? ― pergunto suspeitando.
— Em mim? Sim. Ó bvio! — Assume sem vergonha alguma.
— Vai ter que tomar, senã o vamos ficar aqui até amanhã .
— Esses remédios nã o têm em pílula? Qual a necessidade de uma
injeçã o?
Ela parece mesmo com medo.
— Acho que assim o efeito é mais rá pido.
“Ela podia ter feito essas perguntas ao médico. Que garota estranha.”
― Eu posso esperar fazer efeito. ― Ela começa a choramingar.
“Começou o drama. Ela vai me dar trabalho.”
― Se você nã o me levar para fora daqui, irei sozinha. ― Liz tenta levantar,
mas nã o consegue colocar o pé no chã o e senta novamente.
— Você nã o tem como fugir com esse pé assim. — Aponto o ó bvio e bato
na porta da sala de remédios.
A enfermeira abre com um sorriso gentil, mas Liz cobre o rosto com cara
de choro. É uma coisa que eu nã o esperava que ela tivesse: medo de
agulha.
Entrego a receita e empurro a cadeira para onde a enfermeira direciona.
Ela prepara as seringas enquanto Liz choraminga.
― Nã o precisa disso. Um saco de gelo, um remédio para dor e basta —
reclama mais uma vez.
— É rá pido. Você vai ver.
Começo a suspeitar que esse sorriso gentil da enfermeira esconde
alguém insensível.
Ela sabe que dó i pra porra.
― Vamos? Você pode se apoiar aqui no armá rio e vamos fechar as
cortinas.
— Moça, nã o faz isso comigo — pede aflita. — Vira isso para lá .
Começo a rir da situaçã o.
“Como ela é dramática!”
Empurro a cadeira de rodas, rindo e a enfermeira a ajuda a levantar.
― Nã o, Eros. ― Liz agarra o meu braço, desesperada. ― Nã o deixe ela
fazer isso comigo. Por favor! Juro que nunca mais serei bruta com você.
― Proposta tentadora, mas você precisa e mesmo que eu aceitasse,
quando o efeito do á lcool passar, você vai culpá -lo pela promessa. ―
Puxo o meu braço e ela tenta me agarrar de novo, mas a enfermeira
fecha as cortinas e eu espero fora delas.
Ouço ela chorando e falando algumas coisas que nã o entendo no meio
do choro. Parece uma criança.
“Que drama por causa de uma injeção.”
— Pronto. Agora só falta a outra — avisa a enfermeira.
“Que drama por causa de duas injeções.”
— Nã o precisa da outra nã o. — Liz está com a voz grave pelo choro. E
pelo visto foi na bunda.
Ouço mais choro e depois a enfermeira avisa que já terminou e abre a
cortina. Liz se senta na cadeira, enxugando as lá grimas.
— Dó i mais do que meu pé — reclama.
— Vamos. — A levo para fora da sala e depois de pagar a conta, saímos
do hospital. Ela se recupera do choro aos poucos.
— Consegue levantar e entrar no carro?
Ela tenta, mas pelos soluços que escapam, nã o consegue.
— Espera. Eu vou te carregar.
— Me carregar? Você? — Ela estranha.
— Nã o seria a primeira vez. — Passo os braços atrá s das suas pernas e
costas e a levanto da cadeira, colocando-a no banco do carro.
Sinto o cheiro do á lcool em sua roupa devido a nossa proximidade.
Liz me encara, de olhos bem abertos e tento puxar meus braços detrá s
das suas costas.
— O que foi? — questiono.
— Você está vendo através da minha alma?
Encolho as sobrancelhas, tentando entender que papo é esse.
Analisando bem, só vejo que ela é bem bonita de perto.
— Sim. Estou vendo que você bebeu, caiu e endoidou de vez. — Me
afasto antes de ela meter qualquer bobagem na minha cabeça. — Coloca
o cinto.
— A minha mã e vai me matar.
“E começou o drama novamente.”
Liz começa a chorar baixinho enquanto faz o que mandei.
— Ela vai me matar e eu nem sequer... aiiiiin.... aiiiiiin...
“Que choro estranho é esse?”
― Para, Liz. Para, pelo amor de Deus — peço em desespero.
― Ela vai arrancar meu outro pé — resmunga.
Fecho a porta e dou a volta.
― Aiiiiiiin...
Antes de entrar no carro, me rendo à gargalhada.
“Que situação patética!”
― Aiiiiiiin... Ela vai me matar.
“Ela não devia chorar em público nunca.”
Me debruço no teto do carro de tanto rir da sua reaçã o exagerada. É o
choro mais feio que já ouvi na vida.
― Eros? Cadê você? Nã o está planejando me levar para um matadouro,
nã o é? — Ouço o som da sua voz abafada de dentro do carro.
Quem dera os problemas da minha vida fossem os da vida dela. Seria
tudo mais fá cil.
Entro no carro tentando segurar a risada e pigarreio.
― Para onde eu te levo?
Ela pega o celular.
― Meu celular descarregou. Nã o consigo ligar para Paige, podemos
voltar na festa para eu ver se a encontro?
“Que pergunta estúpida.”
― Nã o vamos voltar para aquela festa. Outro lugar.
― A casa da Olívia — fala sem jeito.
― Nem pensar! Nã o estou interessado em ver a sua prima. Até porque se
eu te levo até lá , é bem capaz de colocarem a culpa em mim pelo seu
acidente vergonhoso.
Ela chora mais ainda.
― Entã o me deixa numa calçada qualquer. Será melhor do que topar com
a minha mã e. Ela disse para eu nã o beber. Foi um pressá gio — lamenta.
É . Levá -la para o matadouro me parece uma excelente ideia agora.
― Nunca mais vou subir numa mesa para dançar ― prometo para
mim e para Eros, que presenciou os momentos mais humilhantes da
minha vida em uma só noite.
— Todo mundo agradece.
— Se fico em pé, o pé dó i, se eu sento é a bunda. — O choro sobe pela
minha garganta. ― Aiiiiiiin.
Eros ri de mim. O meu choro é um misto de sofrimento e dor.
— Por que você está me ajudando mesmo? — pergunto curiosa.
― Nã o tenho nada melhor pra fazer... — diz com desdém.
Como ele tem pose de rico! Reló gio Rolex, carrã o cheiroso, diferentã o. A
Olívia gosta de coisas assim. Vai ver foi por isso que ficou namorando-o
por tanto tempo.
O salto de Paige está caído no assoalho do carro.
— Nunca mais usarei salto. O que eu vou contar para minha mã e? —
digo em desespero.
— Você está com tempo para inventar a mentira. ― Ele muda a direçã o e
pega uma fila de lanchonete fast food.
— O que você vai fazer?
Enxugo o rosto com o antebraço.
— Comer alguma coisa. O que você quer comer? — pergunta.
— Qualquer coisa. Estou morrendo de fome também. Onde já se viu,
festa de aniversá rio sem comida? ― Indago soluçando.
Ele pede dois combos de Whopper, acertando em cheio no lanche que
mais gosto do Burger King.
A Paige nã o vai acreditar que o Eros fez essas coisas por mim. Quer
dizer, a comida deve ser mais por ele do que por mim, mas ele me tirou
da festa e me levou no hospital.
― Será que tiraram fotos? — pergunto morrendo de medo da resposta.
― Provavelmente ― fala parecendo nã o querer entrar nesse assunto,
avança com o carro, dando uma risada com essa minha pergunta.
― Quando chegar em casa, a primeira coisa que vou fazer é colocar esse
celular para carregar.
Nã o posso voltar para a casa da Paige sem ela. Primeiro, seria esquisito
voltar sem ela para festa que fomos juntas e combinamos de voltar
juntas. Segundo, nã o tenho a chave.
― A Paige deve estar preocupada — comento.
― A Paige deve estar fodendo uma hora dessas, e eu falei para o Luigi
explicar para ela o que aconteceu.
Ele pega o cartã o de crédito e avança mais uma vez na fila.
― É bem a cara dela... fodendo...
A safada sumiu que eu nem vi! E a minha esperança era terminar a noite
com o aniversariante, mas estou na fila do Burger King com o Eros, no
carro dele. Se parar para analisar, ao menos vou terminar a noite de
barriga cheia.
Eros pega os pacotes com os lanches e deixa em meu colo.
― Vou estacionar para gente comer, aí te levo pra casa — avisa.
― Ok. — Concordo, pois nã o tenho muito o que fazer.
Que espírito de bondade foi esse que entrou no Eros? Nunca o vi fazendo
bondade para ninguém. Nas poucas vezes que o vi pessoalmente, ele
andava ao lado de Olívia, com o nariz em pé, todo metido. Só conversava
com quem lhe interessava e nã o ficava muito tempo no lugar. Será que a
experiência na cadeia o mudou?
Ele para o carro no estacionamento, liga o som em um volume razoável e
pega um dos pacotes do meu colo.
Ainda me sinto mal pela bebida. Estou tonta e com um gosto enjoado na
boca. Nã o comi nada no trabalho, como minha mã e suspeitava, e assim
que dou a primeira mordida no hambú rguer, meu corpo agradece, e
ouso dizer que já me sinto melhor. O lanche está muito bom.
Olho para o lado e vejo Eros comendo o lanche dele enquanto olha a rua.
Achei que ele era do tipo que só comia coisa chique.
― Você é amigo do Luigi? ― pergunto, abrindo o refrigerante.
― Sou — responde secamente.
― Que coincidência.
“O carinha que eu estava interessada é amigo do ex da minha prima...”
― Oi? ― Ele se vira para mim.
― Você conhecer ele.
Ele dá uma risada.
― Achei estranho o fato de você estar naquela festa. Mas Luigi é assim
mesmo. Metade daquelas garotas ele só viu uma vez, se interessou e
chamou.
Quase engasgo com a batata frita.
― Quer dizer que ele chamou todas as garotas que queria pegar? ― O
encaro atô nita.
― Basicamente.
“Oh meu Deus!”
Nã o tem um homem que preste! Eu esperava mais. Mas também, me
iludi em pensar que o playboyzinho que aparece para tomar café teria
interesse unicamente por mim, a garçonete. Prefiro nem perguntar mais
nada ao Eros para nã o me assustar com as respostas. Pelo visto, ele é
bem sincero.
Assim que terminamos, ele me leva até minha casa. Tive que dar o
endereço e sem GPS ele acertou o lugar.
― Você já andou por aqui?
― Algumas vezes. ― Tira o cinto e eu também.
Só de pensar em levantar, meu pé dó i, mas nã o tenho muita alternativa a
nã o ser fazer isso. Abro a porta e saio do automó vel com o pé sã o, que
felizmente é o direito, e o outro levantado para trá s. Parecem
marteladas.
Eros aparece e segura meu braço.
― Eu te ajudo — diz se aproximando.
― Nã o precisa. Você já fez muito.
Nã o esperava ser carregada nos braços por ele. Ainda deveria estar
bêbada para deixar. Eros me causa sentimento de fuga. Sua mã o no meu
braço liga todos os alarmes do meu corpo, avisando que nã o é uma boa
ideia. Ele me remete ao tipo de cara que corro para manter distâ ncia. Os
que me deixam com medo.
― Você nã o vai conseguir subir esses degraus sozinha. Deixa de ser
teimosa! — fala irritado.
― Se a minha mã e me vir com você, ela vai me matar por essa causa e
nã o pelo acidente — digo.
Podemos ter uma relaçã o muito boa de mã e e filha, mas aos olhos dela
eu sempre serei ingênua e tenho que seguir os seus conselhos. Vivemos
em um pique “sobrevivência” e digamos que hoje eu me expus demais ao
perigo. O maior de todos pode ser esse que insiste em segurar o meu
braço.
― Ela nem vai te ver se eu nã o te levar, porque você nã o vai conseguir ir
sozinha. Deixa de ser teimosa.
“Ele tem razão.”
Pego a minha bolsa e fecho a porta do carro, vencida pela insistência
dele, que passa meu braço por seu ombro e me dá apoio. Até os pulinhos
de um pé só sã o terríveis, mas nos degraus o braço que envolve a minha
cintura é capaz de me levantar e me colocar no alto.
“Hoje foi o dia da humilhação.”
― Aquele hospital nã o era pú blico, era? — Penso sobre isso e decido
perguntar.
― Nã o.
“Droga! Como pagarei por isso?”
― Merda. Eu vou te devolver tudo. Depois me passa o valor. — As coisas
já nã o estã o fá ceis e agora me dou conta que me manter sã também me
livra de despesas como essa.
― Esquece isso.
Ele continua me dando apoio até a entrada do elevador.
― Daqui para frente, eu me viro. ― Encosto na parede do elevador e ele
se afasta. ― Eu nã o vou esquecer.
A essa altura, o olhar profundo que sempre se destaca em seu rosto nã o
existe mais.
― Se cuida e vê se nã o bebe mais. ― Ele se vira e sai a passos lentos.
― Tá bom ― Me visto de vergonha. Tanta coisa numa noite por causa de
um copo de bebida. ― Obrigada por tudo. — Agradeço genuinamente
feliz por sua ajuda.
Aperto o botã o para o andar do apartamento e ele olha para trá s antes
das portas se fecharem.
“Que noite, Liz. Que noite...”
― Olha só ! Sobreviveu! ― diz minha mã e, debochando de mim na porta
do quarto, e quando me viro na cama, meu pé dó i.
― Uhum. Eu estou bem, tirando o fato de que tropecei na calçada e torci
o pé — minto.
― Na calçada, Liz? ― Ela repete de braços cruzados, e sinto que pelo tom
de voz, nã o acredita na minha histó ria. ― Você posta tudo que faz na
internet e acha que vai me enganar com uma histó ria dessas? Eu vi o que
você fez ontem à noite.
― Viu?
Quero chorar pela dor e por ela saber do que fiz. Eu nã o deveria ter
filmado nada.
― Seu vídeo da queda anda rodando o mundo. Parecia uma boneca de
pano, toda torcida no chã o.
“Mas que grande merda! Como assim? Foi isso que o Eros disse que eu
parecia mesmo.”
― Foi uma péssima ideia subir na mesa. — ressalto. — Como assim
fizeram um vídeo?
“O povo não respeita nada!”
― Acreditei mesmo que você nã o faria nenhuma burrada. Agora está aí,
toda arrebentada. Já pensou se perde o emprego? Minha filha, as coisas
nã o estã o fá ceis para nó s nã o! Pior ainda, imagina se alguém se
aproveita de você naquela situaçã o? — pergunta mais preocupada do
que brava.
― Mã e, nã o aconteceu nada. Eu fui a um hospital, tirei o raio-x e nã o
quebrei nada. Eles me deram injeçã o para melhorar. Nã o vou perder o
emprego. Mais tarde eu vou para lá cumprir o meu trabalho, com o pé
doendo ou nã o — digo para amenizar sua preocupaçã o.
Ela desaprova com a cabeça.
― Como voltou?
“Bom, pelo menos isso parece que isso ninguém filmou.”
― A Paige me trouxe ― minto.
Ela já está brava; se souber que foi o Eros, vai ficar mais brava ainda.
― Hum... Tomara que tenha aprendido a liçã o ― fala e sai.
“Oh, se aprendi!”
Kevin veio tomar café comigo, trouxe até os pã es. Anda com a mesma
preocupaçã o que eu sobre trabalho, mas sei que as suas reais intençõ es
sã o saber se estou bem. Tenho meia dú zia de filhos da puta que nã o sã o
verdadeiros na minha cola, mas tenho dois verdadeiros que valem por
dez. Isso que importa.
Coloco a cá psula de café na má quina e aguarda com ele na cozinha.
― Se for morar sozinho, vai ter que dar uma voltinha no supermercado
— fala analisando meu armá rio.
― A minha funcioná ria vai fazer isso quando voltar, já falei com ela. Eu lá
tenho cara de quem vai ao supermercado? Com certeza esqueceria
metade das coisas que preciso.
Ele ri.
― E como foi ontem? — pergunta se referindo a festa.
― Foi no mínimo esclarecedor e inesperado. Olha, Kevin, nã o existe mais
gente como nó s para chamarmos de amigos. O tanto que eu já fiz por
aqueles miseráveis, mas quando me encontraram ontem, me esnobaram,
dando indiretas. Caras de 25 anos, agindo como moleques de 15. Fiquei
decepcionado — comento sobre como me trataram na festa e sinto o
meu sangue ferver de raiva.
― Sempre te falei que esses caras nã o pareciam pessoas decentes, mas
você nã o gostava de encontros de casal...
É verdade, antes parecia o má ximo ter vá rios “amigos”.
― Você sabe que a defunta nã o se dava bem com a sua mulher. Como eu
ia sair de casal? — questiono me lembrando de que a Olívia detestava a
mulher do Kevin.
― Defunta. ― repete e gargalha.
Dou a xícara com café para ele, depois coloco o meu para fazer.
― Pois é. E por falar nisso, encontrei a prima dela na festa. Você sabe que
o Luigi bate o olho nas mulheres e já chama para aniversá rio, ceia de
Natal... E Liz estava lá , a convite dele, dançando em cima da mesa.
― Foi aquela que te bateu um tempo atrá s? — recorda sorrindo.
― Sim. A que estragou uma das minhas camisas. Ela caiu, torceu o pé e
eu tive que levá -la para o hospital. Olha, foi uma confusã o. Ela chorou
com medo de agulha, depois chorou com medo da mã e... No fim, a deixei
em casa e os sapatos estã o ali, no meu carro.
“Que fim de noite terrível.”
― Bem aleató rio mesmo. E você fez isso tudo... — Corto a sua frase antes
que ele conclua.
― Nem me pergunte o porquê. ― Me escoro na bancada. ― Ao menos saí
da festa. Aquilo estava um porre. Foi a desculpa perfeita.
― Eu nã o sinto falta dessas coisas — comenta.
― Kevin, você nã o é normal. É feliz nessa prisã o que se meteu — brinco
me referindo ao seu relacionamento.
― Nã o é uma prisã o. Aliá s, vá ver o meu filho um dia desses, se ainda
quiser ser o padrinho.
― Claro.
Pego a minha xícara e sento ao redor da mesa.
Os pã es estã o cheirando muito.
― E sobre o cara que tinha a proposta? Ontem eu nã o te vi na saída e nã o
consegui perguntar sobre. — Mudo o assunto para o trabalho.
― Sem resposta. Nem no telefone, nem no e-mail. Ao menos até agora.
“Que droga!”
― Essa semana vou me reunir com cada só cio, Kevin. E vou convencê-los
a ficar antes que o Scott os tome de nó s — falo com convicçã o.
― Ó timo. Mas... eu também vim aqui por um motivo bem suspeito.
― Oi? ― Indago rasgando o pã o com os dentes.
― Lembra que quando sofremos aquele ataque hacker, passamos a
deixar algumas coisas impressas?
― Sim. Claro. Até hoje fazemos isso. O meu escritó rio está cheio de papel.
— Nã o gostei da ideia de ter papel acumulado para todos os lados, mas
Kevin insistiu na época.
― Pois é. Ontem, antes de sair, resolvi procurar aquela pasta que tinha o
resumo de 2021/2022, de quanto investimos em cada contrato e
basicamente todos os contatos dos negó cios mais importantes que
temos. Aquilo ali sempre facilitava a nossa vida. — Começa a contar, mas
eu nã o entendo aonde ele quer chegar.
― E?
― Nã o achei em canto nenhum. Estava nas minhas mã os no início da
semana e agora, simplesmente sumiu — diz desconfiado.
― E nos computadores nã o tem o arquivo? Nã o foi o seu filho quem
comeu? — brinco com a situaçã o, mas sei que é grave.
― Claro que nã o! Você pode dizer que aquela equipe que contratou
assegura que nã o seremos hackeados de novo, mas eu nã o confio. Estava
impresso, a pasta tinha identificaçã o e tudo, Eros!
“Muito estranho mesmo.”
― E o que aconteceu, como sumiu assim? ― questiono, mas nã o paro de
comer.
― Entã o. Criei mil teorias, mas quero acreditar que nã o tem ninguém
roubando esse tipo de coisa no escritó rio e como lembrei que você tinha
uma có pia... Sã o muitos papéis, uma estante enorme, Eros. Com essa
pasta em mã os, fica mais fá cil.
Bom, a ideia de ter papéis em casa não foi tão ruim, afinal.
― Eu tenho. Vou procurar, nã o tenho muito o que fazer nesse sá bado, me
dedicarei a isso.
― Ó timo. Se cair nas mã os da nossa querida concorrência, estamos
ferrados! ― diz em desespero.
― Nã o! Lá no escritó rio todo mundo é de confiança. Relaxa. ― Penso na
melhor das hipó teses, mas nã o sou mais o homem que confia em todo
mundo.
Tomamos o café e assim que a esposa dele liga, lembrando de algum
compromisso de família, vai embora e me deixa sozinho.
Abro o escritó rio e respiro fundo, tomando coragem para vasculhar
tudo.
Espirro.
― Abgail, você tem que voltar ― digo como se a minha faxineira pudesse
me ouvir e começo a procurar.
O ruim é o cheio de mofo. O bom é que consigo organizar a pequena sala
rodeada de armá rios.
Passo a manhã toda nisso e nã o encontro a pasta que preciso na metade
do que mexi, entã o, depois de pedir um almoço e matar a fome, volto a
mexer no resto pela tarde e início da noite.
― Onde foi que deixei essa pasta, meu Deus? ― Coço meu rosto.
“Se não está em meu apartamento, só pode estar na casa dos meus pais.
Que grande merda!”
Quando me afasto, Eros faz uma manobra de longe discreta com o seu
carro e vai embora com os pneus cantando no asfalto. A minha mã e vira
o rosto e ao me ver, pula para longe do homem que estava agarrada. Eu
pedi que ele saísse discretamente, mas parece que com ele discriçã o nã o
existe.
― Liz! — Minha mã e exclama assustada.
― Sou eu. ― Fico sem graça. Nã o esperava dar esse flagra.
― Oi. ― O homem balança a cabeça, com o batom vermelho borrado ao
redor de sua boca. A minha mã e está pior que ele.
― Eu vou entrar ― aviso diante desse constrangimento.
Eu quero me esconder e nã o ver mais ninguém. Como assim a minha
mã e está namorando? Colega de trabalho... era só o que faltava. Subo
cada degrau com cuidado e ouço a despedida apressada da minha mã e,
que está assustada com a minha chegada. Mais assustada estou eu,
vendo a cena mais grotesca da minha vida.
― Liz, espera, filha! Eu te ajudo. ― Ela segura meu braço.
Minha mã e num estado normal diria: "Isso, se vire, pra aprender a não ir
para festa fazer escândalos! Ô coisa bem-feita!" Ela me ama, mas isso nã o
me livra de ouvir esse tipo de coisa. Isso só prova que nã o está em seu
estado normal.
― Seu patrã o deveria te dar uns dias para sarar esse pé, nã o é? — fala
com a voz aguda.
Ela normalmente diria: "Eu vou falar com seu patrão, para ele te colocar
o dia todo no trabalho pesado, assim você vê o que é bom!" O cara com
quem ela estava se agarrando fica parado, olhando para gente até que
entramos no prédio.
― Agora ele é só amigo de trabalho? ― pergunto enquanto o elevador
nã o abre.
Ela inclina a cabeça para o lado e fica toda sem graça.
― Filha... O Demétrio é um cara legal. Quando você o conhecer, vai
entender o porquê me interessei por ele.
― O Scott também era um cara legal, superlegal e trancou a porta do
meu quarto pra tentar me molestar, mã e. ― Entro no elevador com meu
corpo começando a tremer de nervoso. ― Eu nã o quero esse homem
dentro da nossa casa.
― Liz, aquilo nunca mais vai acontecer. Eu te garanto, filha. O desgraçado
do seu pai trouxe aquele homem para a nossa casa e nos deixou à mercê
disso, mas nunca mais vai acontecer. Se o Demétrio fosse esse tipo, eu
saberia, mas nã o é.
“Ela não pode me garantir nada disso!”
― Saberia? Você nã o soube quando viu outro homem sendo bom demais
com sua filha de dez anos. Acha que saberia agora? — Esbravejo
completamente desestabilizada.
― Eu nã o deixei que nada acontecesse naquele dia. Sempre vou te
proteger, Liz. ― Ela segura meu rosto.
― Pois o deixe bem longe de mim e bem longe da nossa casa. É assim
que eu me sinto protegida — peço desapontada com a situaçã o.
Aquele nojento dizia que eu era uma princesinha, me trazia brinquedos,
visitava a nossa casa até quando nosso pai nã o estava lá e quando a
minha mã e confiou em sair para o supermercado e deixá -lo tomando
conta de mim, ele quis se aproveitar. Quando ele trancou a porta do meu
quarto, eu já imaginei que coisa boa nã o era. Mamã e nunca deixava
fechar as portas, porque se a casa pegasse fogo, seria complicado sair e
digamos que eu era terrível.
Eu deveria ter tocado fogo naquele cara. Quando ele sentou em minha
cama e pegou na minha perna com aquele olhar psicopata, eu tentei me
soltar e a sorte foi que a minha mã e voltou naquela hora, ela pegou a
bolsa, mas a carteira tinha ficado, me ouviu pedindo pra soltar minha
perna e ele falando que era uma brincadeira. Mamã e arrombou a porta e
o colocou para fora debaixo de chutes. O desgraçado mentiu, dizendo
que só estava brincando. Brincando com a porta trancada?
E vendo a afliçã o da minha mã e, entendi que aquilo ali tinha sido mais
perigoso do que imaginei naquela hora e desde entã o nã o confio nesses
caras com cara de tio bondoso. Na verdade, eu nã o confio em nenhum
cara.
Eros me deu uma carona e me garantiu que jamais iria me usar para se
vingar da Olívia. Me chamou de “a prima esquecida”. Ele me deixou
aliviada, mas me derrubou dois degraus da escadinha da autoestima.
Eu sou mais importante que uma Louboutin! Mesmo que ele tivesse esse
plano de me usar, nã o conseguiria nada, porque eu nã o quero o chifrudo
que foi trocado pelo irmã o!
Avisei ao Kevin sobre o documento que ele queria e passei o domingo
em casa. Duas coisas tiraram a minha paz desde o primeiro dia da
semana: A histó ria do contrato de casamento e a histó ria daquela
Smurfete.
Como eles decidiram isso? Será que se reuniram em casa e combinaram
o que fazer? Quem deu a ideia? Seria a família da Liz mais honesta do
que pensei? Julguei errado quando a acusei de colocar ideias na cabeça
da prima? Ela nunca vai namorar, nem casar? Eu deveria me vingar de
Olívia e Nicholas?
Na segunda, acordei cedo e agora estou me aquecendo para malhar.
― Olha só quem voltou! ― Zac, meu amigo de academia, vem me
cumprimentar e para minha surpresa, parece que nada mudou depois
do que aconteceu comigo.
― Oi, cara! Como vai? — pergunto avaliando seu porte físico.
― Tudo bem, irmã o. E você? Andou sumido ― Brinca ao falar do meu
tempo na cadeia.
O cabeça raspada, que carrega mais tatuagens do que eu e com certeza
tem uns 30kg de mú sculos a mais também, se aquece ao meu lado para
iniciar os treinos.
― Tirando meu período de “férias” e o fato de ainda nã o ter descoberto
quem armou para mim — digo e começo a me aquecer — Meus só cios
estã o em processo de quebra de contrato, minha namorada terminou
comigo, casou com o meu irmã o por contrato e está grávida e, por fim, a
maioria dos filhos da puta que eu chamava de amigo virou as costas pra
mim. É , acho que estou melhor assim.
― Faltou falar da situaçã o da sua cara. Quem te bateu? Foi na cadeia?
Ele ignora tudo que falei para reparar em uma coisa dessas?
Sorrio.
― O donzelo — digo me referindo ao meu irmã o, Zac já conhece muito
bem o apelido que dei a ele.
― Porra. Eu fiquei preocupado com toda essa situaçã o. Sei que você nã o
faz esse tipo de coisa. — Ele me encara e questiona em dú vida — Nã o
faz, né?
― Claro que nã o! — digo na defensiva.
Fico aliviado por saber que ele pensa assim. Ele, o Luigi e o Kevin, pelo
menos.
― Nã o querendo competir, mas também me fodi nesse meio tempo.
Roubaram meu celular, perdi todos os meus contatos, invadiram a minha
conta, roubaram 30 mil e ainda me largaram pelado.
― Foderam a sua bunda? — pergunto e solto uma gargalhada.
― Nã o. — Ele responde rá pido demais.
Gargalhamos aliviados.
― Ainda bem — comento em meio ao riso.
― Ainda bem!
― É gente dando golpe em todo canto ― digo pegando os alteres de 10kg
para começar os exercícios.
― Sim. Meu pai ficou louco, porque, apesar de eu me dedicar mais à s
atividades atléticas, ainda sou só cio da empresa. Eu nem sei o quanto eu
tenho em patrimô nio e meu irmã o garante que a minha capacidade
cognitiva nã o seria capaz de calcular nem se eu quisesse. E me acontece
uma coisa dessas. — Zac parece chateado.
― Pode ser que tenham achado que você era mais fá cil de ser golpeado.
― Sim. E eu sou bom de briga, mas com uma arma apontada, eu nã o sou
nem louco de fazer nada. ― Ele pega o dobro do peso que peguei para
fazer bíceps.
― É o certo. No meu caso, colocaram as coisas no porta-malas e eu nem
sabia. O difícil nem foi sair da cadeia, foi sobreviver lá dentro — conto
lembrando dos piores dias da minha vida.
― Imagino. Ainda bem que você saiu. E tentaram comer a sua bunda lá ?
― Nã o!
Rimos aliviados.
― Ainda bem.
Fazemos uma série de cada braço e paramos para descansar.
― Você quer falar sobre o seu fracassado namoro? — Zac questiona.
― Cara, eu estou tentando deixar de lado, sabe? Já fiquei em negaçã o, já
bati de frente, descobri as coisas por trá s e agora acho que é melhor
assim. Solteiro. Vida que segue.
― No fim, você até que saiu ganhando, se livrou de outro problema.
― Com certeza. ― Sorrio com ele. ― Por mais que tivéssemos problemas,
ela representava algo para mim, mas analisando tudo, eu já passei por
coisas piores, entã o nã o vou me afundar em ó dio por causa disso. Agora
eu quero saber quem me colocou na cadeia e quero resolver as coisas da
minha empresa.
― Está certo! Eu apoio, pois ia desejar o mesmo.
― E você continua apaixonado pela melhor amiga do seu irmã o? — Viro
o assunto para ele.
― Continuo. ― Ele admite com segurança. ― Vamos para mais uma série?
— Acho que nã o quer estender esse assunto.
― Vamos ― respondo rindo e fazemos mais uma série.
― Você está mais leve ― comenta quando paramos.
― É que na cadeia eu nã o conseguia malhar. Depois vou subir de peso.
― Estou falando mais leve na energia. Parece diferente. — Se corrige.
― Ah. ― Sorrio ― Sabe, Zac, acho que todo mundo anda me estranhando.
Eu fui dar uma carona pra Liz e ela estranhou. Achou que eu queria me
vingar da prima através dela.
― Quem é Liz?
― É a prima da minha ex. Sabe uma garota que viralizou no fim de
semana caindo de uma mesa de cara no chã o?
― Sim. ― Ele ri. ― Eu e minha mã e rimos muito com isso, apesar de ela
ter ficado preocupada com a garota. Vocês se conhecem?
― Fui eu quem a levou para o hospital. Nunca fomos pró ximos, mas
desde que saí da cadeia, foi a pessoa que mais vi.
Ele ergue as sobrancelhas e um sorriso.
― Nã o quero nada com aquela smurf — digo na defensiva.
― Sim, ok. Entã o você fez uma boa açã o sem interesse? — pergunta
desconfiado.
― É . Foi. Acredita? — digo dando de ombros.
― Muita gente deveria passar um tempo vendo o sol nascer quadrado
pra ver se melhora. Nã o dizendo que você era ruim, claro.
― Mas parece que foi isso que você quis dizer mesmo. — Dou um murro
em seu braço.
― Nã o. Você sempre foi legal..., mas teve uma vez que eu pedi ajuda para
consertar a má quina que eu tinha quebrado e você disse nã o. Eu levei
para o coraçã o — Ele solta uma risada.
― Isso aconteceu no início do ano. Já estamos no meio dele e você ainda
lembra disso? — Eu nã o queria ajudar mesmo. — O pessoal que trabalha
aqui é quem deveria consertar. A gente paga para quê? — questiono.
― É , você nã o mudou tanto assim. Vamos falar da Liz? Como ela é?
― Deixa a Liz pra lá . Vamos treinar que ainda tenho que ir para o
escritó rio. Essa semana eu serei um anjo com todos os meus só cios. ―
Começo mais uma série.
Depois do treino, passo em casa pra tomar banho e me vestir
adequadamente para o trabalho e encontro Kevin no escritó rio. Me
falaram que ele estava no arquivo desde que chegou e agora observo o
que ele está fazendo.
Tirando pasta por pasta da estante.
― O que é isso? Você tá passando por alguma crise de organizaçã o? —
Debocho.
― Estou procurando aquela pasta.
― Eu trouxe a minha. Você acredita que o meu pai tinha guardado ela em
seu escritó rio, em casa?
― Acredito, mas eu quero encontrar a minha pasta, Eros. Isso nã o está
certo. Desde quando essas coisas somem assim? Aqui nada some e à s
vezes a gente acha o que nem deveria estar aqui. Olha isso. ― Ele me
entrega outra pasta. ― O raio-x do dedo do pé da nossa faxineira.
― Você procurou em sua casa?
― Procurei. Minha esposa procurou, o meu bebê procurou. Nã o está lá .
Como eu disse, nã o levo essas coisas para casa. Estava aqui e no lugar
que sempre deixo. ― Ele mostra o lugar na estante. ― Alguém pegou,
Eros. Temos um infiltrado. E nã o leve na brincadeira.
Tranco a porta e nã o acho graça disso.
― Você acha que alguém levou?
― Acho. E mais, desconfio de quem seja. Agora me chame de maluco.
― Quem?
Ele vem para perto de mim e fala baixinho.
― A empregada do mês.
― Leah? Por quê? Por ser a funcioná ria do mês?
― Eu já peguei essa mulher duas vezes na porta do meu escritó rio e já
peguei ela saindo do seu quando você nã o estava aqui.
Eu nã o esperava entrar numa investigaçã o na minha pró pria empresa,
pois acreditava fortemente que o problema estava lá fora.
― Eu já tenho que descobrir quem armou para mim e agora tem mais
uma coisa para me preocupar. — Suspiro com raiva.
― Meu amigo, estamos cercados de serpentes. Vamos ter que arrancar a
cabeça de todas. Uma por uma.
― Pois é. Eles podem até tentar me derrubar, mas nã o vai ser tã o fá cil
assim.
― E falando em tentar, o Demétrio está negociando com o Scott. Eu os vi
ontem à noite, quando fui jantar com minha esposa num restaurante.
― Com o Scott?
― Sim e sei que estavam tratando de negó cios. Eu tirei uma foto, porque
trabalho com provas. ― Ele tira o celular do bolso e procura a imagem,
depois me mostra.
Fico surpreso ao ver quem é o homem em frente ao Scott.
― Eu sei quem é esse cara! — digo surpreso.
― Quem você nã o conhece, nã o é?
― Sacanagem do Scott. Anda cheirando o nosso rabo. Mas vamos ver se
na reuniã o de comércio ele vai ficar fazendo propaganda positiva dele
para os meus só cios.
É o homem com quem a mã e da Liz estava aos amassos na noite de
sá bado.
Talvez conseguindo o contato dele, ou uma aproximaçã o fora do
trabalho, me ajude com os negó cios. Eu nã o vou perder ninguém para o
Scott.
Passei dois dias em casa, esperando meu pé ficar bem, enquanto a
minha saú de mental ia para o espaço. Depois, voltei ao trabalho. Nã o se
fala em outra coisa no café alé m de mim. Tenho 100 mil pessoas
esperando a pró xima vergonha que irei passar no Instagram, e a mulher
do meu patrã o mandou um vestido para eu usar na reuniã o de
comerciantes. Eu vou como se fosse a filha deles. A filha panfletária.
Passei a tarde desse sá bado no salã o de beleza, e quando chego para
tomar banho e me arrumar, só vejo da minha mã e os vestígios que ela
passou pela casa. Seu quarto está uma bagunça e suas maquiagens estã o
em cima da cama. Ela saiu e com certeza deve ter sido com o novo
namorado. Aquele que nã o pisa o pé aqui.
O vestido preto marcado na cintura e com decote ombro a ombro me
deixou elegante como nunca, meus cabelos estã o modelados, dei uma
caprichada na maquiagem, principalmente na cor do batom, um nude
que me deixou com um bocã o, e calcei a sandá lia de salto relativamente
alto, mas confortável. Ainda sinto um leve incô modo, mas nada que me
impeça de aparecer mais elegante na festa.
É uma festa chique. Os empresá rios dessa cidade sempre investem em
sua aparência. Meu chefe e sua esposa que o digam. Parecem o prefeito e
a primeira-dama quando chegam para me buscar, de tã o bem-vestidos
que estã o.
― Que bom que você vai! ― A esposa de Sr. Johnson me cumprimenta
alegre.
― Preciso compensar o tempo que fiquei fora. No que eu puder ajudar,
será um prazer — respondo com um sorriso falso.
“Será um prazer manter meu emprego.” Penso.
Ele dirige para o local do evento e quando passamos pela entrada, a
primeira pessoa que vejo é a minha mã e. A senhorita Lauren ao lado do
seu namorado. Ela nã o me vê, mas enquanto acompanho o casal de
patrõ es, fico de olho nela.
“Onde ela arranjou esse vestido nude de pedraria? Isso deve custar os
olhos da cara!
Parece que esse colega de trabalho tem um cargo mais alto do que eu
imaginei. Ele está conversando com outros homens e esses parecem
poderosos.
Sem contar que aquele carrão que ele anda não deve ser barato.
O que a minha mãe anda escondendo, hein?
Será que esse cara tem grana?”
― Liz! ― Olívia me chama, e vou cumprimentá -la.
Ela está num vestido vermelho, justo e cheio de detalhes. Minha prima
nunca anda bá sica.
― Oi, Liv. Como você está ? — digo fingindo interesse, mas na verdade
estou mais preocupada com minha mã e.
― Eu estava querendo falar com você. ― Ela segura a minha mã o e me
leva para cumprimentar seu marido.
Nicholas é um pouco diferente do Eros em aparência. Seus cabelos sã o
mais escuros e ele nã o parece ter tatuagens. Nã o as que consigo ver
quando a gola da camisa está desabotoada, como em Eros. Também nã o
tem cara de ser marrento feito o irmã o.
― Tudo bem, Liz? — Nicholas me cumprimenta com um beijo no rosto.
― Estou ficando. E você?
― Estou ó timo ― diz sorrindo.
“Carismático ele sempre é.”
― Você veio com a tia Lauren? ― Olívia pergunta.
― Nã o — respondo secamente. Nã o quero falar sobre minha mã e e o seu
par.
― Eu nã o sabia que ela estava namorando. Nick disse que esse cara é um
grande empresá rio. — Olívia comenta nã o percebendo meu desconforto
ou ela percebeu e quis ser inconveniente mesmo.
― Sério? Eu também nã o sabia — digo surpresa.
“Empresário? Então ele é o chefe dela. A minha mãe está saindo com o
chefe?”
― É verdade. ― Nicholas confirma.
― Você veio com quem? Nã o me diga que foi porque ficou famosa? ―
Olívia pergunta sorrindo. ― Quando vi seu vídeo nã o acreditei.
― Também nã o acredito no que aconteceu — falo revirando os olhos. —
Mas estou aqui para pagar os dias que fiquei de repouso. Aquela queda
me deixou machucada, e o meu chefe aproveitou a visibilidade para me
trazer aqui. Parece que agora eu sou o rosto do café.
O casal dá uma risada.
Olívia nã o é baixinha como eu, ela tem postura de modelo. Mesmo
estando grávida, ainda parece uma supermodelo.
― Eu vou falar com a minha mã e ― aviso e peço licença para eles.
Ela me vê chegando e como sempre, fica sem graça.
― Você veio mesmo! — Ela me abraça com uma risada tímida.
― O velhote me trouxe — conto apontando para o meu chefe.
― Liz. Tudo bem? ― O namorado dela estende a mã o para me
cumprimentar e aperto.
Assim de terno, ele parece um senador, mas muitos políticos sã o
corruptos.
― Estou bem. ― Dou um rá pido sorriso.
Eu nã o vou abaixar a guarda.
― Você ficou linda com esse vestido, meu amor! ― Minha mã e beija a
minha cabeça.
― Onde você arranjou essa roupa?
― O Demétrio me deu ― fala baixinho, perto do meu ouvido. ― Minha
filha, o preço disso aqui nos livraria das despesas por uns dois meses.
― Entã o guarda que a gente vende na internet depois ― aconselho
sussurrando e ela sorri.
Minha mã e volta sua atençã o para o seu parceiro e segura em sua mã o.
― Eu vou arranjar uma á gua ou suco para tomar ― aviso e me afasto do
casal.
“Que coisa esquisita.”
Vou para bem longe deles e me sento num banquinho. O lugar do
encontro tem balcõ es e mesas. Deve ser algum local de festas.
― Ora, ora, ora... ― Uma voz familiar soa atrá s de mim e meu coraçã o
dispara.
Ele aparece ao meu lado e me encara.
― Você por aqui? — pergunta e dou um sorriso amarelo.
― É . Eu sei que faria mais sentido se eu estivesse do outro lado do balcã o
— respondo tã o irô nica quanto ele.
Eros.
Nã o o vi durante a semana e agora ele aparece todo formal, mas sem
gravata, com essa cara de mafioso. Que ele nunca saiba que o comparei a
um desses, mas realmente se parece com um. Sorrio em pensamento.
E seu perfume eu já reconheço. Amadeirado e com aroma de perfume
caro.
― Veio com a sua mã e e seu padrasto? — pergunta curioso.
― Para, Eros. Nã o tem a menor graça — reclamo frustrada por saber que
minha mã e está acompanhada.
― Eu nã o estou zombando, só sinto que seus planos de passar o resto da
vida morando somente com a sua mã e estã o indo por á gua abaixo,
mesmo nã o fazendo sentido — explica e dá um gole na sua bebida. — Eu
conheço o seu padrasto.
― Conhece? Ele é uma pessoa confiável?
― Nã o conheço o suficiente para te responder sobre isso. Ele queria
fazer negó cios comigo, mas fui preso e agora ele nã o quer mais.
― Coitadinho... ― zombo.
― Liz, diga a ele que somos amigos. Acho que uma aproximaçã o menos
forçada pode me ajudar a convencê-lo. — Eros está mesmo pedindo a
minha ajuda? — Meu maior rival está tentando fazer negó cios com ele e
eu nã o quero que isso aconteça.
― Você tem inimigos, Eros? Sério? ― indago irô nica.
― Nã o é brincadeira. Eu posso até falar com ele, mas as chances de levar
um fora sã o enormes — explica frustrado.
― Acredite, sã o maiores ainda se você aparecer agora enquanto ele está
com a minha mã e. Eu nã o vou dizer que somos amigos, porque nã o
somos.
“E eu também não quero ter que conversar com o homem que está saindo
com minha mãe.”
― Você se lembra daquele dia?
“Então ele não quer minha ajuda e sim que eu retribua o favor.”
― Lembro e sou muito grata por isso, Eros, porém eu nã o vou pagar o
favor que você me fez te apresentando à quele homem. Se você nã o
percebeu, estou bem longe deles porque quero distâ ncia. Se você
também ficar distante de mim, eu agradeço.
Esse perfume é bom demais e posso me viciar nele. Preciso de espaço.
― Difícil... Você é bem difícil — resmunga.
― Sou ― confirmo e o ignoro chamando o rapaz para pedir minha
bebida. ― Um suco.
Eros se afasta e fico sozinha.
Eu nã o quero proximidade com o namorado da minha mã e. E se eu
contar que sou amiga do Eros a ele na frente dela, ela vai pensar a
mesma coisa que pensei com a aproximaçã o dele, que está tentando me
usar contra a Olívia.
Mas a verdade é que ele quer me usar para fechar negó cios com o
homem que está saindo com minha mã e.
O rapaz traz meu suco e dou o primeiro gole. Um ó timo suco de laranja.
― Esse lugar é de alguém? ― Outra pessoa pergunta e quando olho para
ele, quase engasgo.
― Na-nã o.
Ele sorri e se senta.
“Esse cara não é aquele cara? Aquele modelo famoso? Edward Banks?”
É o moreno de olhos sedutores que tem estampado o outdoor perto do
ponto de ô nibus. Sempre fico o admirando. À s vezes o ô nibus demora.
Eu leio toda a legenda e procuro defeitos no rosto dele, mas nã o
encontro.
― Ei, você nã o é a garota de quem todo mundo está falando essa
semana? — Me analisa.
“Ele me reconheceu! Pela minha vergonha, mas me reconheceu.
Pelo menos sabe que eu existo!”
― Sim. Sou eu. ― Sorrio um pouco sem jeito. Acho que agora todos me
conhecem como a garota que caiu da mesa.
― A festa parecia divertida ― fala rindo. ― Sou Ed Banks.
― O supermodelo. ― Completo e ele me cumprimenta com um beijo no
rosto. ― Sou Liz.
― É um prazer, Liz. Você veio porque é empresá ria ou só para
representar a cafeteria?
“Como ele sabe onde eu trabalho?”
― Para representar ― conto rindo e levanto meu copo. ― Mas dessa vez
estou tomando suco, entã o nã o vai acontecer de novo.
Ele ri.
― Essas coisas acontecem constantemente. Hoje em dia tudo cai na rede,
nã o temos como evitar.
― Mas eu nã o estou acostumada com essa exposiçã o — explico e bebo
mais um gole do meu suco.
― Você vai se acostumar. Tem lados ruins, mas tem os bons. Surgem
muitas oportunidades. — Tenta me tranquilizar.
― Eu espero mesmo.
Uma boa oportunidade foi poder conhecer esse cara. A propaganda que
ele faz é de creme para acne, mas eu sei que aquela acne é falsa. Agora
mais do que nunca, o vendo pessoalmente. Vou me lembrar de agradecer
ao meu chefe por me trazer a esse vento. Até que está sendo uma ó tima
noite.
Converso muito com Ed e nem meu patrã o, nem outras pessoas vem
falar comigo durante a festa. Essa foi a melhor parte. O velhote deve ter
esquecido que me trouxe.
Alguns minutos depois chamam o Ed e ele se despede de mim.
― Foi um prazer conversar com você, mas agora preciso ir — diz
começando a se afastar.
― O prazer foi meu ― garanto.
― A gente se fala? — pergunta antes de ir.
― Sim. Claro. — Sorrio.
Assim que ele se afasta, consigo ver o Eros sentado em outro lugar, um
pouco afastado, aparentemente bêbado. Levanto e procuro a minha mã e,
tentando ignorar o problema que é o Eros alcoolizado, mas nã o a
encontro, tudo que vejo é o casal Olívia e Nicholas no maior amor.
Será que Eros encheu a cara por causa disso ou foi pelos negó cios
falidos? É ... Eu acho que nã o conseguirei virar as costas para ele, afinal.
― Eros? Você encheu a cara? — pergunto preocupada.
Ele está cochilando no balcã o.
― Eros! ― exclamo tentando nã o chamar a atençã o de ninguém. ― Como
é que você vem para um evento desses encher a cara? Eros? — Empurro
seu ombro.
Me sinto obrigada a ajudá -lo, porque ele me encontrou em pior estado e
cuidou de mim. Levanto seu rosto e, com prazer, dou um tapa na cara
dele para ajudá -lo a ficar esperto.
― Hum? ― Ele nã o sabe para onde olhar. Funcionou!
― Vamos embora. — Passo seu braço por cima do meu ombro e ele fica
em pé.
― Eu ainda nã o terminei a minha bebida. ― Sua fala sai toda enrolada.
― Já terminou sim. Vamos antes que eu mude de ideia. — Caminho com
ele para a saída da festa.
“Espero que a minha mãe não veja isso. Como ele é pesado! E cheira a
álcool.”
― Faça um esforço pelo menos para andar, eu nã o consigo te pegar no
colo — imploro mal aguentando seu peso.
― A festa ainda nã o acabou. Eu tenho que falar com o Demétrio. — Ele
tenta voltar para festa.
― Se você for falar com ele nesse estado, a ú nica coisa que vai conseguir
é um conselho pra parar de sair de casa. — O puxo de volta.
As pessoas estã o de olho, mas nenhuma delas é o meu chefe. Vou
mandar uma mensagem me explicando. Do lado de fora, fico confusa,
sem saber se chamo um tá xi.
― Cadê o seu carro, Eros?
― Sei lá .
É óbvio que ele não saberia onde está nesse estado.
― Eros! Colabora, porra! ― Esbravejo cansada.
― Deixei estacionado ali. ― Ele aponta e uma direçã o.
― Ainda é o mesmo carro ou você trocou? ― Esses milioná rios trocam de
carro sempre que dá na telha. Pode ser que durante a semana ele tenha
feito isso.
― É o meu carro preferido ― conta como se isso fosse fazer sentido.
Vou até o estacionamento com ele pendurado no meu ombro, quase me
enforcando. Com certeza, amanhã eu ficarei com essa regiã o dolorida.
Sem contar que o meu pé está quase curado, mas ainda sinto dores
quando o forço, como nesse momento. Ele é muito pesado!
Encontro a Lamborghini. O deixo escorado no carro e meus ombros
finalmente descansam.
— Cadê a chave? — pergunto enquanto sinto o alívio tomar o meu corpo
sem o peso extra.
— Liz. — Ele segura meu braço e me puxa para perto dele. — Quem era
aquele cara?
— Que cara? — indago olhando para sua mã o no meu braço e me
incomodando com sua proximidade.
— Aquele que sentou no meu lugar — diz todo atrapalhado.
— Desde quando aquele era o seu lugar? — Arqueio a sobrancelha.
— Desde que sentei primeiro!
“Só pode estar bêbado mesmo.”
Decido ignorar.
— A chave — peço e espero que ele a deixe na palma da minha mã o.
— No meu bolso. — Coloca a minha mã o no lugar e ao olhar para sua
cara, ele dá um meio sorriso que com certeza será difícil de ser apagado
da minha mente.
Por alguns segundos, nã o consigo desviar meu olhar do seu. Seus olhos
balançando de um lado para o outro, olhando para meu decote, minha
boca. Essa proximidade está carregada de calor e do cheiro do seu
perfume. Minha boca está seca. Pisco os olhos e cheia de adrenalina,
procuro me orientar e fazer o que deveria.
— Você é mesmo um babaca, nã o é? — Enfio a mã o em seu bolso, tiro a
chave e me solto dele para abrir o carro. — Entra.
— Entra você.
— Você nã o vai dirigir bêbado desse jeito!
— E quem vai dirigir? Você? — Eros ri e tenta pegar a chave. — Eu nã o
deixo ninguém dirigir meu carro.
— Entra na porra do carro. Quem vai dirigir sou eu! — Deixo a chave
presa na minha mã o e o empurro para dentro do veículo.
— Calma! Vai machucar a minha cabeça!
— Eu acharia pouco.
Ele senta no banco do carona e eu tento prender o cinto. Do nada, seus
braços envolvem a minha cintura e ele beija o meu pescoço. Me arrepio
por inteiro e meu coraçã o dispara.
— Você vai dormir comigo?
“Eu não acredito que estou ouvindo isso. Pior. Ouvindo isso do Eros!”
— Nã o! Ó bvio que nã o! — Me afasto e tiro suas mã os de mim. — Olha, se
você nã o se comportar, eu te deixo passar a noite dentro do carro e volto
para a festa.
Eu sempre o enxerguei como esse tipo aqui. Parece que o á lcool
despertou o cafajeste.
— Eu nã o te pedi para me tirar de lá .
— Inferno de mal-agradecido! — Bato a porta.
— Nã o faça isso com o meu carro, Laísa!
“Laísa!”
— Eu deveria ter deixado você no balcã o dormindo sozinho. Pelo menos
lá estava calado.
Mesmo assim, ainda entro no carro. Só tem um motivo para levá -lo para
sua casa: dirigir esse carro, pois eu nã o sei quando terei outra chance
dessa na vida. O ronco do motor faz meu coraçã o acelerar e me empolgo.
— Uau! — exclamo alisando o volante.
— Um ú nico e pequeno risco e você vai ter que virar puta para pagar o
conserto. — Ele me avisa.
— Para de conversar merda! Eu sei dirigir. Tenho habilitaçã o, só nã o
tenho um carro.
— Essa má quina custaria seus dois rins, coraçã o e o fígado — diz ainda
me provocando.
“Burguês safado!”
— Estou te ignorando, Eros!
Tiro o carro do estacionamento e dirijo pela cidade quando vejo garrafas
de á gua mineral no carro. Precavido.
— Toma. — Entrego uma para ele. — Quem sabe assim você melhora.
Ele parece péssimo. Pega a garrafa e toma quase tudo.
Seu carro é cheiroso e limpinho. Pelo menos com o carro ele parece ter
cuidado.
— O filho da puta do garçom me deu a cachaça mais forte que tinha —
reclama.
— Vamos fingir que nã o foi você quem pediu. E ainda queria continuar
bebendo... — Pelo visto, ele não sabe se comportar nesse tipo de ambiente.
— Você pode ser um empresá rio, ainda assim, nã o serve para o meio
civilizado.
— Estou morrendo de fome ― reclama.
Será que um dia terei um carro desses? Vai entrar na minha lista de
sonhos. Penso enquanto dirijo e observo Eros tentar mexer no celular
que está de cabeça para baixo.
— O celular está de cabeça para baixo, Eros — aviso concentrada na
direçã o. — Qual o endereço da sua casa?
— Me leva para um hotel. Nã o quero que saiba onde eu moro.
― Nã o se preocupe. Nã o vou bater à sua porta no meio da noite —
asseguro rindo.
― Vai saber o que se passa na sua cabeça? Já bateu em mim sem eu ter
feito nada.
Gargalho do absurdo.
― Eu estava defendendo a minha prima.
“Ele sempre joga esse episódio na minha cara.”
― Aham. Quem te levou para o hospital foi ela? — Joga mais um feito na
minha cara.
― E aqui estou eu, retribuindo o favor.
Naquela ocasiã o ele queria que eu o abraçasse? Naquele dia, a Olívia
falou que ele estava dando em cima das convidadas da festa. Eu vi, ele
estava mesmo. Nã o foi a primeira vez que vi o seu meio sorriso cafajeste,
mas hoje foi a primeira vez que o vi aparecendo para mim. É
preocupante, porque é bonito demais.
“Socorro!”
― Peça alguma coisa para eu comer. — Ele deixa o celular em meu colo.
Parece que as coisas estã o se repetindo, mas dessa vez trocamos de
lugar.
Quando paro no sinal, entro no aplicativo de comida e seleciono uma
pizzaria, escolho uma pizza marguerita e refrigerante, o sinal abre e
continuo dirigindo até chegar ao pró ximo fechado e poder concluir o
pedido, que cobra direto no cartã o dele e eu vejo seu endereço.
― Eros, você mora perto do Luigi — comento vitoriosa.
― Aham — responde sem se dar conta que agora eu sei onde ele mora.
Dirijo para o endereço e ignoro sua ideia de ir para um hotel. Eu quero
entrar naquele condomínio e ver se é chique como o do Luigi.
É uma loucura fazer isso na companhia de um bêbado? Sim, mas me
sinto tentada demais a ponto de ter coragem de andar na companhia
dele.
Apesar desse sorriso de causar acidente.
Espero que Eros nã o sorria até que eu estacione esse carro em sua
garagem ou teremos problemas. Ele já me garantiu que nã o quer nada
comigo e que sou a prima esquecida. Quando devolvo o celular, ele
segura a minha mã o e me morde.
— Eros! — Puxo a mã o e lhe acerto um tapa. — Pode ficar um minuto
sem parecer um cachorro no cio?
— Que calor, hein... — Ele começa a desabotoar a camisa.
Tenho que me concentrar na direçã o. Nã o vou virar puta para pagar o
conserto de um arranhã o sequer pelo qual a culpa é dele, e sei que ele
nã o vai admitir.
“Custava ser um embuste burro e feio?”
Depois de abrir a camisa, ele fica quieto. Fica com a cabeça erguida para
o teto, dormindo ou refletindo e eu termino o caminho até o
condomínio. Nã o olhei para seu peitoral em nenhum momento. O
porteiro nem disse nada. Ele deve conhecer a placa do carro.
Já o condomínio é puro luxo. As casas parecem ter sido feitas pelos
irmã os à obra juntamente com "Ame-a ou Deixe-a", ou seja, perfeitas; os
nú meros sã o alternados e as casas sã o distantes uma das outras. De um
lado, a casa 1; do outro, a casa 2 e assim chegamos na frente da casa 5.
E que casa! Ela nã o tem muros, tem uma calçada inclinada para subir
com o carro, perto da parede as portas da garagem. Arbustos bem
cortados e um banquinho de madeira no lado esquerdo da fachada. Tem
dois andares, janelõ es de vidro e uma porta enorme de madeira, a
fachada é pintada de cinza escuro com detalhes brancos.
Linda demais. Até que para uma vista noturna o lugar é bem iluminado.
Subo a calçada e estaciono o carro em frente à porta da garagem.
— Você é uma intrometida. Eu disse que era para me levar para um hotel
—resmunga apó s despertar do seu cochilo.
— Mas eu vi seu endereço e te trouxe para casa. Nã o sou intrometida,
sou maravilhosa. — Tiro o cinto e saio do carro. — Consegue sair
sozinho?
— Consigo.
Dou a volta com a minha bolsa pendurada no ombro e ele sai tombando
para cima de mim.
— Consegue sair, mas ficar de pé...
Ao invés de ele se recompor, fica agarrado em mim.
— Me larga, embuste. — O empurro no carro e ele se encosta com
aquele sorriso crescendo.
Nem vou olhar. Meu rosto já está pegando fogo.
Estou indecisa entre abandoná -lo e entrar na casa para ver como é lá
dentro. Além disso, comeria a pizza que já deve estar chegando. Estou
morrendo de fome.
— A chave está aí. — Ele aponta para o chaveiro em minha mã o.
“Eu vou entrar para ver se ele sabe se virar sozinho. Ele tem cara de quem
não sabe fritar um ovo.”
Eu tenho spray de pimenta, caso ele ouse dar uma de engraçadinho para
cima de mim.
— Vamos. — Estendo o braço sem olhar para ele e ele segura a minha
mã o, depois pendura seu braço sobre o meu ombro e encosta o nariz na
minha cabeça.
— Seu cabelo é cheiroso.
“Ignora. É o álcool. Só pode ser o efeito do álcool.”
— Hoje você nã o dançou na mesa feito uma maluca — comenta
mudando completamente de assunto.
— Já aprendi a liçã o.
— Parece que o jogo virou... — ele abraça o meu pescoço.
— Pois é.
Essa é uma situaçã o que nunca imaginei viver ao lado desse cara.
Paramos em frente à porta e abro a casa. Está tudo escuro.
— Onde fica o interruptor? — Passo a mã o pela parede.
— Um pouco mais para dentro.
O encontro e, com a luz acesa, vejo a casa dos sonhos diante dos meus
olhos.
“É linda!”
Tem uma escada bem moderna, com os degraus em madeira, a parede
parece ter sido feita de pedra branca, uma coisa rú stica, tem um sofá
industrial enorme, mó veis sem nada em cima, um tapete preto bonito e
uma TV de mais de 50 polegadas presa a um painel na parede.
Indo reto pela porta de entrada, parece que tem uma cozinha.
Eros sai cambaleando, tirando a camisa e cai no sofá .
“Que ódio. Ele sabe ser gostoso.”
Fecho a porta e fico andando de um lado para o outro.
— Cadê a comida?
— Deve estar chegando, Eros.
— Que fome... ― reclama.
― Isso que dá encher a cara. Nesse tipo de evento, as pessoas conversam,
nã o ficam bêbadas.
― Igual você estava conversando com aquele cara? ― Ele me olha do
sofá .
― Sim. ― Dou de ombros.
― Quem é ele?
― Você nã o sabe? ― Me empolgo para falar. ― Ele é o Ed Banks. Aquele
supermodelo. Nem acredito que ele estava naquele evento chato e sabe
o que mais? ― me aproximo do sofá onde ele está . ― Ele me reconheceu!
― HÁ HÁ HÁ . ― Ele nã o se empolga como eu. ― Grande coisa te
reconhecer pela garota bêbada que caiu da mesa.
― Sim! É claro que é uma grande coisa! Ele é o cara do momento. Tem
um outdoor dele fazendo campanha para um creme de acne lá na frente
do ponto de ô nibus onde fico toda noite.
Ele me assiste fazendo cara de nojo.
― E sabe o que mais? Aquela acne nã o é real. Eu o vi de perto e na cara
dele nã o tem nada, absolutamente nada de errado. Como pode?
― Aham. Como pode? ― pergunta irô nico. ― Você nã o estava
trabalhando?
― Fui só para marcar presença, o meu chefe nã o me chamou para mais
nada. A minha mã e também nã o. Acho que as pessoas nã o me
reconheceram do meme. Ainda bem.
― Mas o supermodelo te reconheceu. ― Ele me analisa deitado do sofá ,
com os gominhos do peitoral e suas tatuagens de animais e flores à
mostra.
― Sim! ― digo animada. ― Ele é a pessoa mais famosa que já conheci.
Você já conheceu algum famoso? ― Me sento no outro sofá .
― Nã o — responde secamente.
― Por que nã o foi falar com ele?
Ele dá uma risada debochada.
― Esse cara e nada para mim sã o a mesma coisa. Nem sabia da
existência dele. — diz com os olhos fechados.
― Isso é porque você só deve olhar para o seu pró prio nariz. —
desdenho.
― E você é muito ingênua se acha que aquele cara estava te dando moral
porque gostou de você.
― Eu nã o disse nada disso. Ele só pediu para sentar do meu lado e
depois me reconheceu e ficou conversando comigo por um longo tempo.
Sabe o que mais ele disse?
― Nã o, nã o sei, Liz ― responde impaciente.
― “A gente se fala” — conto me achando.
Ele arfa.
― Mas é bobinha! Qualquer um te engana, nã o é? — Me olha com um ar
de tédio.
― Claro que nã o. Eu sou muito esperta!
― Muito. Só de olhar para sua cara eu já vejo maldade.
“Agora essa.”
― Eu nã o sei por que você está aí, me julgando. ― O analiso enquanto ele
se senta impaciente. ― Cadê essa pizza, hein? — pergunto para mudar
de assunto.
― Você nã o comeu?
― Nem me lembrei disso.
― Claro. Estava ocupada demais conversando com o supermodelo ―
dispara.
Dou risada.
― Sim. Era por isso. ― Admito.
― Ingênua. — me acusa.
Ele nem me conhece direito para dizer isso.
— Eu vou embora daqui a pouco. Só vou pegar um pedaço de pizza e
chamar o Uber.
Ele olha o celular.
— É mais de meia-noite. Nã o deveria pegar um Uber sozinha! — diz
parecendo um pouco mais só brio.
Que bom! Eros bêbado é um safado.
— E qual o problema? Eu sempre faço isso. É ó bvio que nã o vou ficar
aqui.
Mentira. Eu sempre pego ô nibus tarde, mas nã o tã o tarde. Porém ele nã o
precisa saber desse detalhe.
Mando mensagem para meu chefe, avisando que tive que ir embora. A
minha mã e nã o mexe no celular faz algumas horas, entã o deixo para
falar com ela em casa mesmo.
— De jeito nenhum. Eu vou te levar. — Eros diz do nada.
— Nã o! Você está bêbado. Totalmente bêbado!
“Esse rapaz é completamente fora da curva.”
— Nada que uma pizza nã o resolva. — Massageia a têmpora.
— Achei que tivéssemos pedido uma pizza, nã o o elixir da sobriedade.
— Levanto e já começo a procurar um Uber.
Eu nã o posso vacilar a ponto de dormir na casa do Eros.
Eu nunca fiz isso na minha vida. Nunca dormi na casa de um cara, ainda
mais estando só os dois sob o mesmo teto.
— Senta aqui, teimosa. ― Ele bate a mã o do seu lado.
— Nã o! — Me sento bem longe dele.
— Você tem medo de mim? — Ele se deita novamente, mas nã o tira os
olhos de mim.
“Loiro, sarcástico, caótico, gostoso e de atitudes duvidosa.
Droga! No que estou pensando?”
— Tenho sim — admito.
Aquele sorriso está dando indícios de que quer aparecer no rosto dele.
Olho para o meu celular.
Meu chefe disse apenas um “ok” e espero que fique nisso mesmo. Estive
o tempo todo lá e ele nã o quis conversa comigo.
— Você vai dormir aqui. Amanhã levo você para casa. ― Eros avisa, como
se a decisã o fosse dele.
— Nã o! ― Meu coraçã o até dispara com essa ideia.
“Dormir na casa de Eros? Eros Werneck? Isso não acontecerá!”
— Chega de dizer nã o, Liz. Nã o vou te deixar na rua uma hora dessas,
ingênua como é, ficará à mercê de algum tarado. — Ele mexeu na minha
ferida.
“Será que tudo o que carrego na bolsa não seria suficiente?”
— Vá buscar a pizza. — Aponta para entrada.
— Já estou arrependida por ter vindo. Eu deveria ter deixado você
largado naquele balcã o. — Deixo minhas coisas no sofá e vou buscar a
pizza.
A porta da casa dele deve ter mais de dois metros. Quando abro, o
entregador está esperando. Só pego tudo, agradeço e volto para a sala.
— Veio um refrigerante de brinde. — Mostro.
Ele levanta se espreguiçando e agora vejo todas as curvas que seus
mú sculos têm.
“Será que ele conseguiu isso tudo na cadeia? Ai meu pai... estou na casa de
um ex-presidiário.”
— O que foi? Parece preocupada? — Me encara intrigado.
— Nada nã o. A cozinha é por ali? — Sigo minha intuiçã o.
Pelo armá rio, deve ser a cozinha. Ele vem atrá s e quando chega, já estou
sentada, abrindo a caixa da pizza.
— Vai lavar as mã os ou nã o quer perder as digitais do supermodelo? —
pergunta com um pouco de arrogâ ncia.
— Que implicâ ncia! Eu vou lavar sim. — Levanto e saio à procura do
lavabo. Lavar as mã os nã o vai apagar a lembrança do toque dele.
— Hmm...
— E só para você saber, ele nã o tocou só na minha mã o. — Entro no
lavabo e já me olho no espelho antes de lavar as mã os.
— Nem continue. — Ele pede de longe e dou risada.
Quando volto, presencio um copo se quebrando e outro quase tendo o
mesmo fim.
— Deixa que eu pego. — Passo na sua frente e me estico para pegar.
O armá rio é mais alto do que eu imaginei de longe, nem na ponta dos
pés eu consigo alcançar os copos.
Ouço sua risada atrá s de mim e me viro, ofendida. Nã o tem graça se o
problema sã o os armá rios altos demais.
― Para, Eros!
Agora ele ri olhando para minha cara.
― É mesmo um smurf — zomba.
― Venha me botar apelido que te dou um à altura — retruco ofendida.
Ele avança em minha direçã o, com o sorriso desmanchando e os olhos
presos nos meus. Prendo o ar nos pulmõ es e nã o me movo, enquanto só
as minhas veias pulsam aceleradas. Eu tenho medo dele sim e talvez nã o
seja só o medo de ele ser maldoso como aquele cretino que um dia
tentou se aproveitar de mim.
― Ele também viu a sua alma? ― pergunta apoiando uma das mã os no
balcã o onde estou colada.
Afasto os lá bios, mas nã o consigo dizer nada no meio dessa
aproximaçã o. Parece que seu rosto está mais perto do meu a cada
segundo que passa, já estou na ponta dos sapatos e, quando solto um
pouco de ar pela boca e inspiro pelo nariz, sinto o cheiro fresco do seu
há lito misturado com o á lcool.
― Hein, Liz? — Força a minha resposta.
Até sua voz me abala nesse momento. Um sussurro levemente rouco.
― Claro que nã o. É só você que tem essa mania ― respondo de uma vez
desviando o olhar e ele abaixa o braço com um copo na mã o.
― Toma. — Me entrega e se afasta.
Pego o copo e tiro seu outro braço do meu caminho, para voltar para a
mesa. Agora respiro normalmente. Parece que ele está querendo me
provocar. Se eu perguntar, ele dirá que nã o, mas é o que parece.
Eros lava as mã os na pia da cozinha e me pergunto por que nã o tive a
mesma ideia, depois senta na minha frente.
Faço de tudo para esquecer esse momento que quase me arrancou o
fô lego, mas ele anda sem camisa, mostrando essas tatuagens.
― Esse calor ainda nã o passou? — pergunto fingindo desdém ao que
vejo.
É impossível nã o notar esses gominhos o tempo todo na minha frente.
― Nã o. Te incomoda me ver sem camisa?
― Sim. ― Pego uma fatia de pizza e abocanho.
Eu nã o posso ficar admirando o peitoral do ex-namorado da minha
prima. Eu vi que isso é errado em algum lugar.
― Estou na minha casa. Aliá s, você parece nã o se incomodar com aquele
supermodelo passando creme de acne naquela cara feia, de frente para o
seu ponto de ô nibus. Por que se incomoda comigo?
Quase engasgo com a risada que escapou enquanto engolia a pizza.
― De novo essa histó ria? — Pego um guardanapo para limpar minha
boca.
― Só estou admirado. Você fica tã o empolgada para falar dele.
― É que ele é famoso. ― Novamente me empolgo. ― Você acredita que
ele me seguiu? No Instagram!
― Ah, que legal! ― Eros responde com zero â nimo. ― Marca ele nas suas
fotos.
― Claro que nã o vou fazer isso, mas se eu tivesse uma foto com ele, acho
que todas as contas de lá de casa seriam pagas em um mesmo dia.
Eros me ignora e começa a comer de cara feia.
A pizza está muito boa. Talvez as pizzarias perto da casa dele sejam
melhores que as que tem perto da minha casa. E me lembrando de casa,
começo a pensar se é mesmo uma boa ideia ficar na casa dele. Parece tã o
péssima quanto a ideia de pedir um Uber a esse horá rio da noite,
sozinha.
A reunião estava boa. Conversei com muita gente, alguns só cios com
quem eu ainda nã o havia conversado estavam lá e batemos um papo. No
entanto, tudo estragou quando vi o meu irmã o com sua atual esposa e
reencontrei meu ex-sogro.
Chegou falando que sua filha estava bem mais feliz com meu irmã o do
que estava antes comigo. Isso me fez rir, pois sei que é sobre dinheiro.
Ouvir Eros falando de negó cios para mim é como estar na frente de um
estranho. Nem parece o safado que estava me agarrando agora a pouco.
A conversa deles se prolongou, nã o dei ouvidos a ela por muito tempo,
só relaxei, comendo meu chocolate.
Eros gosta de coisas caras, na tampa da caixa dos chocolates tem o nome
Pierre Marcolini, e daí eu já tiro que chocolate que leva nome de gente
nã o deve ser barato. Se as roupas que levam só o sobrenome já sã o
caras, imagina um chocolate maravilhoso desses?
Quando estou na metade, a minha mã e chega com os pã es e seu olhar
bate na caixa na minha mã o e no Eros sentado na cozinha.
― O que está acontecendo aqui?
― Demétrio e Eros estã o numa reuniã o.
― Uma reuniã o?
― Com cerveja e conversas sérias. ― Completo.
E eles conversam tã o concentrados que o coroa apaixonado nem repara
na chegada da minha mã e.
― Quem chamou ele aqui? ― Ela pergunta com os olhos semicerrados e
empurro uma trufa na boca, depois estendo o braço com a caixa de
chocolate.
― Quer? Sã o uma delícia.
― Lauren! ― Demétrio me salva e ela desmancha a cara de brava na
mesma hora, e ainda sorri.
― Oi. Voltei! — avisa, como se nã o parecesse ó bvio.
― Convidei o Eros para uma cerveja e para comer o cachorro-quente
com a gente. Tudo bem?
― Sim.
“Não parecia tudo bem até alguns segundos atrás.
Mas espera, Demétrio está me tirando do problema?”
― Convidou? — Minha mã e questiona enquanto coloca as compras no
balcã o.
― Sim. Ele estava de passagem e o convidei.
“Mentindo não está. Foi essa desculpa que Eros usou.”
― Hum. Fique à vontade entã o. ― Ela fala sem dar muita moral para o
convidado e os dois voltam a falar de negó cios.
Mamã e sacode o braço, me chamando na cozinha e deixo meus bombons
para trá s.
― Me ajuda com os pã es. — Pede parecendo incomodada e eu me seguro
para nã o rir da situaçã o.
Pego uma bacia no armá rio e separo pã o por pã o para ela cortar.
― Você falou com o Ed hoje?
“Que pergunta aleatória!”
― Nã o. — Nem tenho motivos para isso.
― Deveria ter convidado o rapaz para vir comer do molho especial do
Demétrio. Aquele rapaz é tã o gentil. Gostei tanto dele.
Olho para Eros e ele está de olho na nossa conversa.
― Nã o é assim, mã e. Nã o posso ligar e simplesmente chamar.
Eros pigarreia.
― Mas eu tenho certeza de que ele viria. E viria feliz.
Continuo separando os pã es. Ela comprou muitos.
― Depois de todas aquelas perguntas que você fez? Duvido. Ele deve ter
saído daqui achando que a senhora queria me casar com ele.
Demétrio dá risada.
― Que foi, Demétrio? — Minha mã e pergunta desentendida.
― Ela tem razã o. Você estava vendendo a sua filha — responde rindo.
― Demétrio! ― Ela reclama com ele e dou risada.
― Você já conheceu sua cunhada? ― Eros pergunta a Demétrio se
referindo a tia Adaline.
Ele nã o sabe ficar quietinho no canto dele.
― Ainda nã o. Você conhece? Ah, foi sua sogra! — Demétrio solta ainda
sorrindo.
― Sim e ela também é ó tima vendendo a filha. — Ironiza.
― Vai ver é de família ― comento rindo.
A minha mã e tem que parar. Fiquei com muita vergonha quando ela
ficou fazendo perguntas íntimas ao Ed e falando que foi o primeiro rapaz
que trouxe para cá .
― Eu só “vendo” a minha filha para quem eu acho que merece e aquele
rapaz me conquistou. — Se defende.
― Você deveria se preocupar com isso, Demétrio ― aviso depois de ouvir
o “me conquistou”.
― Pois é. Como vou competir com um rapaz de vinte e poucos anos?
― Você entendeu o que eu disse! ―Ela acerta uma bofetada nele rindo.
― As mulheres desse lado da família sã o agressivas, nã o é? ― Eros
comenta olhando para mim e reprovo seu comentá rio.
― As coisas aqui funcionam diferente do que você conhece do outro lado
da família. ― Mamã e esclarece para ele. ― Aqui cretinos nã o tem vez, nã o
é filha?
― Nã o mesmo. ― Garanto lembrando de que tipo de cretinos falamos. ―
Já temos pã es suficientes. Eu nã o vou conseguir comer nem dois!
― Mas também, depois de meia caixa de chocolate... ― Eros rebate.
Culpa da ansiedade e dele!
― Vamos ao que interessa, quero provar desse molho. ― Mamã e coloca a
bacia com os pã es em cima do balcã o e a panela com as salsinhas
também. Ela se senta ao lado de Demétrio e acabo sentando ao lado de
Eros.
Hoje é um dia tã o diferente quanto ontem, quando Ed esteve aqui.
Faço meu cachorro-quente e coloco um pouco do molho que Demétrio
fez. Realmente, a mistureba dele é muito boa. Todos aprovamos e comi
mais de um, banhado ao molho caseiro.
― Faz muito tempo que nã o como algo assim. ― Eros conta.
― Na sua casa nã o fazem? Na casa dos seus pais? ― pergunto.
― Eu moro sozinho e quando como fora nã o costumo pedir isso.
Também nunca fiz. Na casa da minha mã e pior ainda. Ela nã o costuma
consumir ultraprocessados. — Esclarece.
― Tinha esquecido que a sua mã e e a minha irmã tinham essas coisas
em comum. ― Mamã e comenta. ― Quem dera eu pudesse comer só coisa
chique e saudável.
― Quem sabe um dia, mã e. ― Sorrio pra ela.
Agora com meus trabalhos, as chances de comer coisas diferentes é
maior.
― O cachorro-quente pode nã o ser saudável, mas é delicioso. ―
Demétrio fala rindo.
― Com esse molho, mais ainda. ― Eros completa.
― A receita pode ser passada? ― Mamã e tira as palavras da minha boca.
― Infelizmente é segredo de família. — Demétrio brinca.
― Liz, você nã o ficou olhando o preparo nã o? — Mamã e pergunta
sorrindo da situaçã o.
― Nã o!
“Estava ocupada sentindo um medo descomunal de estar com ele sozinha
em casa.”
― Liz estava ao telefone na porta. Só sentiu o cheiro.
Enquanto ele preparava, eu esperava por Eros.
― Pois é, mas agora que vocês sã o namorados, você pode fazer mais
vezes desse molho para gente. — Contanto que minha mã e nã o me deixe
sozinha com ele, por mim ele pode cozinhar sempre que quiser.
Eles se encaram sorrindo.
― Entã o você aceita nosso namoro? ― Ela pergunta tentando ficar séria.
― Eu tenho outra opçã o? — Dou de ombros.
― Eu prometo que farei a sua mã e feliz. ― Demétrio diz feliz e beija o
rosto dela.
Até que sã o bonitinhos.
Eros aperta a minha coxa e paro de assistir o casal para olhar pra ele,
que sorri e larga a minha perna.
Agora quem pareceu alguém ingênuo foi ele.
Quando terminamos o lanche, ele diz que vai embora e Demétrio o
acompanha até a porta.
― Obrigado pela tarde. — Eros se despede.
― Foi um prazer! E como eu disse sobre os negó cios, vou ver como ficará
com a outra empresa e te falo.
― Espero que trabalhe conosco — diz no seu modo CEO.
“Como pode ser tão lindo e gostoso?”
― Eu vou acreditar que você nã o chamou esse rapaz aqui só para nã o
ficar sozinha com o Demétrio. ― Mamã e diz baixinho.
Me calo para que ela continue acreditando.
― Você fez alguma maldade? ― Kevin pergunta preocupado.
― Seria mais legal fazer como o Zac e perguntar se passei a noite num
spa com uma massagista andando sobre minhas costas e uma
quiroprata colocando cada osso meu no lugar.
― Você parece feliz. Só te vejo assim quando se arrisca em algo absurdo.
Aí você diz: "Foi muito bom. Você deveria fazer."
― Nã o foi bem assim. Embora, quando vi a mã e dela chegando, senti um
flashback passando diante dos meus olhos.
Ele suspira.
― Está apaixonado.
― Nã o. Estou interessado em alguém. No mais alto nível de interesse.
― Apaixonado. Totalmente apaixonado.
― Paixã o é uma palavra muito forte. O que você queria me dizer?
― Queria saber sobre o Demétrio.
― Ele nã o citou nomes, mas eu entendi o recado. Disse que passou a
administraçã o de uma das empresas, mas vai ver como as coisas vã o
ficar, se ele vai vender as açõ es da empresa dele para este outro
empresá rio ou para mim. Concluí que falava do Brixton.
― Entã o as coisas estã o mais encaminhadas para o Scott do que para
você.
― É . Basicamente isso, mas pode mudar. A empresa dele é uma
multinacional. Ele disse que teve alguns problemas nos ú ltimos tempos
e alguns só cios estã o se retirando.
― Você gosta de fazer investimentos, poderia insistir mesmo e fazer
parte disso.
― Pois é. Quando se recuperar, o retorno pode ser grande. Nã o viu a
campanha da Marie & Marie?
― Sim! Falando nisso, você viu a nova campanha? — ele pega o celular.
― Tenho medo toda vez que você pega seu celular.
― Aquela foto foi tirada pelo meu filho ― explica rindo.
― Manda exorcizar. Eu nã o precisava de uma foto sua dormindo. Tive
pesadelos com aquilo.
― Olha. — ele me mostra o verdadeiro pesadelo.
Liz e o "modelinho de vitrine" juntos em uma foto cheia de poses, com
fundo branco e muita maquiagem e luz.
― Quem postou essa atrocidade?
― A Marie & Marie. É a nova campanha. Essa menina me parece familiar.
― Claro que é familiar. É a Liz! A LIZ!
― Verdade! A Liz, novo amor da sua vida!
― A Liz! E esse... esse... ― levanto nervoso. ― Quem teve essa péssima
ideia para eles?
― Deve ter sido a diretoria de marketing junto com a equipe.
Saio do escritó rio em direçã o à loja.
― Eu deveria ter ligado os pontos. Ela estava sentada bem no banco em
frente a essa loja! Disse que tinha negó cios.
― Você nã o vai fazer nada, nã o é? ― ele vem atrá s de mim.
― Vou sim. E você volte para o escritó rio. Em breve, conto o desfecho
disso.
Era só o que me faltava, uma propaganda da Liz com esse cara bem em
uma das minhas empresas. Eu tenho 50% desse lugar e eles têm que me
ouvir.
Entro e pego as vendedoras desprevenidas. Se maquiando na hora do
trabalho.
― Cadê o gerente, ou diretor?
― Bom dia, Sr. Werneck. Ele está no escritó rio. ― uma delas fala sem
graça.
― Com licença. ― vou ao encontro dele e entro na sala sem aviso prévio.
Espremendo acne.
Eu nã o sei se eles estã o no trabalho certo ou errado.
― Senhor Werneck! Que surpresa!
― Nã o sei por que a surpresa. Meu escritó rio fica nesse prédio, no
mesmo andar.
― Mas é que o senhor nunca vem aqui. Só quando tem algo muito sério.
Sente-se. ― Ele mostra a cadeira e se ajeita em seu lugar.
― Pois é. ― Me sento. ― Eu tenho algo muito sério para falar. Quem teve
a ideia de fazer aquela campanha absurda?
― A campanha? Absurda? A atual campanha?
― Essa mesma!
― Foi a equipe. Nó s sempre procuramos jovens em evidência para
participar da campanha e vimos aquela moça e o Ed Banks. Dizem por aí
que eles namoram. Entã o, achamos uma boa ideia juntá -los e eles
concordaram.
― Péssima ideia. Ideia horrível. Horrorosa. Cancele. Só cancele.
― Mas Sr. Werneck, a campanha saiu hoje e já é um sucesso! Os tênis que
a Srta. Stuart usou nas fotos de fundo vermelho, minhas preferidas, já
estã o esgotando nas lojas de toda a cidade!
― Cancele. Nã o quero ver nada sobre isso em lugar nenhum. Vocês têm
até amanhã . ― Levanto, dando esse assunto por encerrado.
― Eu vou falar com a diretoria geral e pedir que analisem o seu pedido.
― Nã o é um pedido, é uma ordem, e sei que o Presidente irá acatar. ―
Saio da sala ainda nervoso com isso.
Está passando nas TVs da loja! Ao sair no corredor, vejo o comercial
deles se divertindo com bexigas passando nas TVs da loja de
eletrodomésticos.
― Só pode ser um castigo.
Volto para o escritó rio e encontro Kevin com a cara no celular.
― Será que tem um tênis desse aqui para criança? ― Ele vira o celular
com a foto do "modelinho" e tento me conter para nã o atirar o celular
dele no chã o.
― Procure na loja, porque essa propaganda nã o vai durar muito.
― O que você fez, Eros?
― Mandei cancelar. ― Entro na minha sala e ele vem atrá s.
― Eu nem vou perguntar por quê. Você, quando se apaixona, enlouquece.
― Ele sai e tranca a porta.
“Que seja. Quero que essa propaganda suma do mapa.”
Depois do que aconteceu em minha casa, eu e Eros nã o nos falamos
mais. Já se passaram três dias.
Nã o vou mentir dizendo que nã o gostei do que aconteceu. Na verdade,
ainda estou em êxtase com tudo. Foi algo muito inesperado, fora do meu
controle e muito bom.
Eros é imprevisível. Só porque eu nã o lhe dou atençã o, ele vem atrá s de
mim como um cachorrinho. Ter alguém com um histó rico como o dele
agindo assim comigo é satisfató rio. O jogo virou para o embuste.
O beijo é bom, a pegada também, mas isso nã o é suficiente para me fazer
cair de amores. Já me apaixonei por bem menos, só porque a pessoa me
passava uma boa impressã o.
Mesmo assim, fico eufó rica quando o vejo, e hoje corro o risco de
encontrá -lo, pois me chamaram na loja. Deve ser para falar do sucesso
que é a campanha. Eu e Paige passamos os ú ltimos dois dias
comemorando, pois ela começou a rodar na segunda-feira e já é um
sucesso.
Nunca imaginei que chegaria ao ponto de tirar fotos para lojas como a
Marie & Marie e aparecer nos comerciais de TV, estampando outdoors e
banners na loja.
Vamos juntas de Uber até a loja.
― Será que eles vã o dar um bô nus porque a campanha é um sucesso? ―
Ela pergunta empolgada.
― Seria muito bom.
Eles já pagaram e foi surreal. Me senti rica por algum tempo, pois nunca
tinha colocado as mã os em tanto dinheiro.
Eu nã o contei para ela sobre a visita do Eros à nossa casa. Sei que ela
perguntaria por que eu o chamei lá . Conheço a Paige e ela nã o cairia no
papo de "eu estava passando e resolvi comprar chocolate e te dar". Acho
que nem o meu padrasto caiu, ele fingiu, mas depois que Eros foi embora
no sá bado, ele o defendeu e parecia até que queria que a minha mã e
aceitasse o rapaz.
Quando chegamos em frente à loja, entramos e somos bem recebidas
pelas vendedoras, mas nã o vejo meus vídeos passando na TV, e sim os da
campanha antiga.
Entramos no escritó rio e encontramos nosso amigo careca com cara de
enterro.
― Tudo bem? Sentem-se.
Me sento e Paige fica atrá s de mim.
“Será que eu fiz alguma coisa de errado ou ele só não está num bom dia?”
― Eu chamei vocês aqui por um motivo nada bom. ― Ele entrelaça os
dedos e se apoia na mesa. Eu e Paige nos encaramos preocupadas. ―
Acontece que mesmo com o sucesso da campanha, um dos só cios da
empresa exigiu que ela fosse retirada de circulaçã o.
Arregalo os olhos, surpresa com a notícia.
― Um só cio? Esse cara tem todo esse poder? ― Paige pergunta, enquanto
nã o encontro sentido em retirar uma campanha de sucesso de
circulaçã o.
― Ele é dono de 50% da empresa — conta contrariado.
― E o que os outros 50% acharam disso? — questiono.
― Eles nã o discordaram.
― Mas o que eu fiz de errado? ― pergunto inconformada. ― Se foi um
sucesso, por que ele nã o gostou?
― O Sr. Werneck só disse que deveria tirar o mais rá pido possível.
― De qual Sr. Werneck estamos falando? ― pergunto curiosa.
“Não pode ser aquele cretino que sempre implica com o Ed.”
― O Sr. Werneck. Eros Werneck.
Olho para minha amiga e levanto com o sangue fervendo.
― Eu já sei o motivo. Com licença. ― Saio da sala com a intençã o de
encontrá -lo e quem sabe tirar sua vida com minhas pró prias mã os.
― Liz, espera! ― Paige vem atrá s de mim. ― Para onde você vai?
― Vou falar com aquele egoísta desgraçado. Já volto.
― Ok. Entã o... pega ele, frita ele e faz purê!
― É isso que eu quero ― murmuro furiosa.
“Ele não tinha esse direito. Não tinha!”
Chego no escritó rio e uma garota se levanta.
― Olá ! Você tem alguma reuniã o marcada?
― Eu vou marcar. Vou marcar a cara do seu chefe. ― Acerto um chute na
porta do escritó rio e ela se abre, pegando o cretino de surpresa. Ele se
assusta e levanta.
― A maçaneta ainda funciona, sabia? É o jeito civilizado... — Nã o deixo
ele nem terminar sua frase.
― EROS, VOCÊ NÃ O TINHA ESSE DIREITO! NÃ O TINHA! — Grito
enfurecida.
Ele suspira e se senta.
― Já sei, veio reclamar da campanha... — Desdenha do meu trabalho.
― Como você fala assim? Você está agindo como um burguês babaca!
Eros, era um trabalho!
― Eu nã o queria ver aquilo. Estava nas TVs, nas ruas, até na minha casa
tinha foto sua com aquele cara!
― Sim, esse era o objetivo da campanha! Aparecer em todos os lugares
para vender. Estava sendo um sucesso até você estragar, seu babaca
egoísta! ― Pego um enfeite na mesa e arremesso contra ele, que se
protege com os braços e mesmo o objeto de porcelana batendo nele, só
quebra quando cai no chã o.
― Você enlouqueceu, Liz?
― Enlouqueci! Por sua causa! Estava dando tudo certo até você se meter.
― Cinquenta por cento da empresa é minha e se eu nã o gosto de uma
coisa, eu vou falar e fazer minhas exigências. Se acostuma!
― Eu nã o vou me acostumar com isso!
― Você já pegou a grana. Nã o era disso que você precisava? Ninguém vai
tomá -la de volta.
― Nã o é somente o dinheiro. Esse trabalho me abriria muitas portas. Eu
sei que para você é besteira, mas para mim é uma oportunidade. E você...
você é todo errado e eu nã o posso ficar com você. Você sabe disso. Por
que vem atrá s de mim? Você fez isso por ciú mes! Você sabe que eu nã o
sou sua. Nã o sou uma propriedade, você nã o pode controlar a minha
vida, entã o pare de se meter!
― Eu nã o quero controlar a sua vida. ― Ele levanta e apoia as mã os na
mesa. ― Eu só odeio o fato de você dar moral para aquele cara e ainda
sair em fotos e vídeos com ele.
― Tá na cara que você só vem atrá s de mim para alimentar o seu ego.
Cismou comigo? É por que eu sou prima da Olívia?
― Você sabe que nã o.
― Entã o o que é, Eros? ― Imploro por uma resposta.
― Eu quero você, Liz. Eu já disse isso na sua casa.
Balanço a cabeça em negaçã o.
― Você passou dos limites comigo. Mexer no meu trabalho por causa de
ciú mes... ― Desabafo perplexa com o descontrole dele e o vejo baixando
a cabeça. ― Eu disse que da pró xima vez seria um adeus definitivo. Nã o
me procure mais, nem interfira na minha vida, Eros. Você nem faz parte
dela e já causou um caos. Chega! ― Me retiro do lugar.
― O que foi isso, Eros? ― Kevin chega apavorado.
― O resultado da merda que eu fiz. ― Reconheço, mas me recuso a me
arrepender.
― Que merda?
― Cancelar a propaganda. A Liz veio aqui furiosa.
― Aprendeu? Nã o se mexe em time que está ganhando. A propaganda
estava indo bem até você se meter nisso. Agora perdeu o dinheiro e a
garota.
Vejo que meus antebraços ficaram com marcas do enfeite que ela
arremessou contra mim. Estã o vermelhos.
― Some daqui, Kevin.
― Vai perder a garota por causa desse ciú me idiota.
― Eu nã o vou voltar atrá s.
Por mais que a forma como ela acabou de falar comigo tenha me pegado
desprevenido e suas palavras tenham me acertado mais forte que o
enfeite que ela jogou em mim, nã o voltarei atrá s na minha decisã o.
Ele desiste de falar e vai embora.
Eu nunca a vi tã o brava como hoje. Entrou chutando a porta, falou tã o
séria quando disse que nã o queria mais saber de mim. Nã o temos nada
sério, mas existia alguma coisa, eu sei que existia, mas agora nã o existe
mais nada entre nó s. Ela disse que era um adeus definitivo e mesmo eu
sendo um cara de pau em certas situaçõ es, reconheço que dessa vez eu
perdi e nã o adianta ir atrá s.
Ela está furiosa e eu tenho medo do que mais ela pode fazer por conta
dessa revolta.
― Você veio. ― Luigi fala animado.
― Vim, mas achei que numa quarta-feira você estaria assistindo TV, sei
lá , qualquer coisa menos com a casa cheia de gente.
― Nã o está cheia. Sã o só alguns amigos e nã o é uma festa. É uma reuniã o.
Tem um rapaz e duas garotas na cozinha, no sofá maior tem dois casais e
no tapete tem três garotas. Sem contar nas que devem estar conhecendo
a mansã o.
― Isso para mim é cheio, e de novo, você deveria rever essas coisas de
amizade, Luigi. Sempre chama desconhecidos pra sua casa.
― Eu conheço todo mundo e você também conhece ao menos alguém
aqui. Harper, vem cá . ― Ele chama uma garota e realmente, essa eu
conheço.
Harper é novinha, deve ter seus 18 anos e eu já fiquei com ela quando
ainda namorava a Olívia.
― Eros Werneck. Quanto tempo! ― Ela vem me cumprimentar.
― Pois é. ― Sorrio educadamente e beijo seu rosto.
― Diga se nã o lembra dessa? — Luigi já está alegre demais.
― Claro. — Esse rosto pequeno e longo, esses cabelos loiros enormes e
principalmente a diferença de cor de um olho para o outro, formam um
conjunto difícil de esquecer.
― Pois, fique à vontade. Mi casa é su casa.
Harper ri.
― Estamos assistindo Master Chef. Você nã o quer sentar com a gente?
― Pode ser. ― Dou de ombros e me sento numa das poltronas vazias.
Ela se senta no chã o, ao lado das outras e nã o escondem que estã o
falando de mim.
Depois do barraco que Liz fez mais cedo, fiquei o dia todo remoendo
esse assunto e quando cheguei em casa, me senti sufocado. Entre ir na
casa da minha mã e e correr o risco de me estressar mais e até encontrar
quem nã o quero ver, preferi aparecer na casa do Luigi.
Bebidas e conversas que nã o levam a lugar nenhum me parecem uma
boa distraçã o no momento.
Quero esquecer o que sinto pela Liz, quero esquecer essa histó ria de
comercial, esquecer do modelinho de vitrine. Preciso virar mais uma
pá gina.
Está na cara que por mais diferente que essas mulheres da família Stuart
sejam umas das outras, no fim, todas elas sã o complicadas e eu já
deveria ter aprendido com a primeira.
Ela me fez esquecer da prima, mas ocupou um lugar maior em mim.
― Eros, você nã o quer uma bebida? ― Harper pergunta.
― Quero.
― Whisky ou Vodka?
“Eu ia pedir café. Será que estou ficando velho?”
― Pode ser Whisky.
Ela levanta com seu conjunto laranja, de short curtinho, e vai buscar.
Nã o seria errado eu ficar com ela, já que agora estou solteiro e levei um
pé na bunda da garota que nem minha namorada era.
― Eros, você tem compromisso no pró ximo sá bado? ― Uma das meninas
que ficou no tapete pergunta. Todas elas sã o gatas. Morenas e loiras
lindas.
― Sá bado? Com certeza nã o.
― Pois temos um convite pra te fazer. Na verdade, a Harper tem.
― Hum... ― fico curioso e Harper volta com o copo de whisky.
― Convida o Eros, Harper, para o sá bado. Vai ser legal.
― O que tem no sá bado? ― pergunto e em seguida tomo um pouco da
minha bebida.
― E depois que ela falou isso, você ainda ficou na festa? Com a tal
Harper? ― Zac pergunta no domingo, enquanto tomamos uma cerveja na
varanda da minha casa.
Kevin também está conosco, afinal, esses dois adoram fofocas e depois
que viram minha foto ao lado de Harper, querem saber de tudo.
― Eu entreguei o presente e fiquei na festa, bebendo com o pai da
Harper. Quando passou os parabéns, demorei mais um pouco e vim para
casa.
― E a mã e da Harper achou o que disso? ― Kevin questiona.
― A mulher estava afastada de todos, acompanhada de outras socialites.
Nem se importou.
― E a Liz e a mã e dela?
― Quando eu vim embora, elas ainda estavam lá , mas nã o falei mais com
elas. A Liz estava de cara feia para mim o tempo todo e eu retribuí.
― Como o homem maduro que você é. ― Zac me apoia. ― Acho que ela
estava com ciú mes.
― Eu também acho. ― Kevin concorda.
― Ciú mes... ela me odeia.
― Também, a cagada que você cometeu!
― Kevin, eu nã o me arrependo. Ela ficou com a grana, era isso que ela
queria. Acabou. Aquela campanha nunca mais irá ao ar ou eu nã o me
chamo Eros Werneck.
― Dois ciumentos. ― Zac acusa.
― Que seja. Foi uma coincidência encontrá -la lá e acho que nã o a verei
tã o cedo de novo. Acabou.
― E a Harper? ― Kevin pergunta.
― A Harper nã o é nada. Nã o significa nada. Eu só fiquei com ela e fui ao
aniversá rio porque a galera estava lá . Só isso.
― Ela sabe disso?
― Se ela tiver um pingo de bom senso, sim, Kevin ― digo com pouca
paciência.
― É que vocês tiraram fotos juntos. ― Zac analisa.
― Você nunca tirou foto com uma mulher que nã o é nada sua, nã o é
mesmo? Fui na festa como um amigo.
― Sei lá ... ― Ele se encolhe na cadeira.
― Ah... o amor. É fogo que arde sem se ver... ― Kevin recita olhando para
o nada.
― O que é isso?
― Um poema que eu vi esses dias na internet. Ainda bem que agora você
nã o tem mais mulher ocupando a mente. Pode focar no trabalho. Na
holding, nos investimentos, em quem roubou a pasta...
Olho para Kevin e me arrependo de ter aberto a porta para ele. Zac
espirra pela décima vez.
― Acho que você deveria mandar alguém lavar essas cortinas.
― A culpa nã o é minha, nem da minha empregada. É que o diabo do
Brixton anda fazendo uma reforma infinita que enche a minha casa e dos
vizinhos com esse pó maldito.
― É ... você nã o tem paz em canto nenhum. ― Kevin dá tapinhas no meu
ombro rindo.
Eu concordo. Aonde quer que eu vá , tem o Scott Brixton ou a Liz Stuart
para me atormentar.
― Seria ó timo mudar de cidade, mas como nã o dá , parece que terei que
me acostumar.
A festa melhorou consideravelmente depois que Eros foi embora. Ficou
evidente que ele estava dando atençã o à Harper apenas para me irritar,
sempre olhando na minha direçã o. Coisa de moleque. Realmente me
irritou.
Quanto à Harper, é difícil nã o gostar de alguém que te coloca num
pedestal. Ela decidiu passar o domingo conosco e, quando saímos do
aniversá rio, foi só agradecimentos. Conhecemos a mã e dela, uma mulher
bastante ostentosa. Loira platinada, cheia de joias e cercada de mulheres
parecidas com ela. Acredito que só comeram os finger foods com caviar.
Assim que soube quem era a mã e de Harper, lembrei que ela foi quem
colocou um par de chifres no Demétrio. E ele claramente nã o gosta dela.
Ficaram cada um em um canto.
No fim das contas, nã o foi uma festa ruim. Se excluirmos a presença de
Eros e Luigi, diria que foi perfeita. Luigi teve a audá cia de me convidar
para uma de suas sociais. Eu disse que iria pensar, mas estava decidida a
recusar.
Minha mã e e eu fofocamos até a hora de dormir, comentando sobre tudo
o que vimos. Dormimos juntas no meu quarto e rimos muito. As festas
que a minha tia faz em sua casa nã o chegam ao luxo que foi essa.
Ao acordar, percebo que minha mã e nã o está mais na cama e ouço a voz
de Demétrio e Harper. Eles vieram cedo! Consulto a hora no celular e já
passa das 9h. Fui eu quem dormiu demais.
Corro para o banheiro para me revigorar e, ao sair, ouço meu nome na
conversa. Vestindo um vestido decente e apresentável que adoro por ser
feito de um tecido macio e estampado com muitas flores ― tenho três
iguais ―, saio do quarto para cumprimentar os visitantes.
― Oi! ― Harper se levanta e vem me cumprimentar animada.
Mesmo usando tênis baixos, ela é cerca de 20 cm mais alta que eu. E
parece gostar de vestidos estampados. A diferença entre o meu e o dela
está nos detalhes do modelo e na cor. O dela é azul, enquanto o meu é
amarelo.
― Tudo bem? ― pergunto.
― Estou ó tima. E olha que bebi duas doses generosas de whisky. Você
bebeu?
― Eu e a bebida nã o nos damos bem.
― Ah, é mesmo! ― Ela cobre a boca rindo.
― Pois é. Acho que depois daquele vídeo, todo mundo ficou sabendo
disso ― comento, rindo com Harper.
Dou um oi para Demétrio, e minha mã e sorri enquanto está ao fogã o.
― Estou preparando um café da manhã . ― Ela informa.
― Entã o vou esperar no quarto. Preciso arrumar aquele ninho. Se quiser
conhecer o meu reino. ― Sugiro a Harper, e ela me acompanha.
― Vocês deveriam ter ficado mais tempo. Tudo acabou na piscina. ― Ela
compartilha.
― Já estávamos cansadas, mas adoramos a festa. ― esclareço enquanto
começo a arrumar minha cama e ela passeia pelo meu quarto.
Imagino que o dela seja o dobro do tamanho do meu e muito mais legal.
Assim como o de Eros.
― Olha, você tem esse perfume! ― Harper pega o perfume que ganhei de
Eros.
― Sim. Eu ganhei ― confirmo.
― Eu também ganhei um desses ontem. O Eros me deu. ― Ela revela.
Meu sorriso desaparece instantaneamente quando ela me encara.
Nã o posso acreditar que ele deu o mesmo perfume para ela. Eu,
reclamando da forma como ele me deu, achando que era especial. Que
ingênua. Ele provavelmente tem um estoque desse perfume e distribui
para todas as garotas com quem fica.
― Vocês estã o juntos? ― A pergunta escapa involuntariamente.
― Mais ou menos. Ficamos um tempo atrá s e nos encontramos na quarta
passada. No meio do whisky e com as meninas colocando fogo,
acabamos dormindo juntos. Que meu pai nã o ouça. ― Ela fecha a porta,
rindo. ― E o convidei para o meu aniversá rio. Quando ele ligou dizendo
que tinha chegado, eu nem acreditei.
Fico paralisada, ouvindo tudo.
“Eles dormiram juntos no dia em que eu pedi para ele ficar longe de mim.”
― Vocês sã o amigos, nã o é? Papai falou. ― Ela continua falando.
Meneio cabeça.
― Nem tanto ― respondo, tentando disfarçar meu desconforto.
― Parece que a sua mã e nã o gosta muito dele, ou é impressã o minha? ―
Harper pergunta, observando minha reaçã o.
― Ela nã o gosta mesmo. Problemas do passado ― respondo vagamente.
― Vocês conhecem o Eros há muito tempo? A ú nica coisa que sei é que
ele estava preso e mora com a mã e. ― Ela continua compartilhando o
que sabe sobre ele.
“E é um mentiroso e muito ciumento também, mas essa primeira
informação estou descobrindo agora.” Penso, os mantendo para mim
mesma.
― Nã o sei tanto quanto você. ― Sento na cama, agora arrumada, e ela se
junta a mim.
― É que ontem pareceu que vocês têm um passado. Ele nã o parava de
olhar para você, e parecia que você estava brava com ele ― comenta.
Achei que ela estava muito distraída para perceber isso.
― Em tã o pouco tempo? Nã o. Nada tã o íntimo quanto o que vocês têm.
Ele fez algumas coisas que me irritaram e por isso nã o suporto vê-lo ―
explico.
― Uma pena.
Eu nã o sinto o mesmo. Foi bom que evitei coisas piores.
― Pois é. Vamos tomar café? ― Sugiro.
― Vamos. ― Ela concorda.
Nos juntamos aos nossos pais e o assunto sobre as coisas que vimos na
festa dominou a conversa durante a refeiçã o. Claro que Demétrio
começou a fazer campanha para Eros e minha mã e devolveu os
comentá rios que ele fez depois de ela fazer campanha para eu ficar com
Ed.
Harper acha que formamos um belo casal.
― Somos só amigos. E nem somos tã o pró ximos assim. ― esclareço.
A campainha toca e me levanto para atender.
“Tomara que não seja o Eros com uma caixa de bombons, dizendo que
estava passando aqui e lembrou que Demétrio poderia estar aqui.”
Abro a porta e vejo o pior do pior que eu poderia esperar.
Meu pai.
― O que você faz aqui? ― pergunto para o homem de sorriso cínico no
rosto.
Meu pai é um homem alto, já deve estar perto dos 50 anos, mas ainda
tem poucos fios brancos na cabeça. Nã o deve ter muito com o que se
preocupar enquanto faz muita coisa errada ao lado dos seus parceiros.
― Como o que eu faço aqui? Vim ver a minha filha. ― Ele responde.
Mamã e vem e já vejo seus punhos cerrados.
― Vá embora daqui! Você nã o é bem-vindo nessa casa! ― Ela exclama,
visivelmente irritada.
Ele nem sabia o nosso endereço.
― Lauren, eu mereço ficar perto da minha filha. ― Ele insiste.
Sinto um bolo se formando em minha garganta, me sufocando com a
vontade de chorar. Merece?
― Você nã o merece nada. Você nem merece ser chamado de pai depois
do que fez! ― mamã e esbraveja.
― Lauren, você ainda lembra disso? Nã o aconteceu nada! Foi um mal-
entendido! ― Ele tenta se justificar.
― Um mal-entendido? ― indago já chorando. ― A minha mã e tem razã o.
Você nã o merece ser chamado de pai.
― Vocês me excluíram de suas vidas por conta de algo que nem
aconteceu. Sumiram e eu só soube da Liz porque a vi passando na TV,
num comercial. Você acha isso certo, Lauren? ― Ele continua o seu show.
― Foi pouco. Seria melhor se nunca mais tivéssemos te visto. Suma
daqui! SUMA! ― mamã e grita furiosa.
― Eu quero conversar. Eu quero saber da minha filha. ― Insiste.
Corro para o meu quarto e pego a minha bolsa. Tanto Demétrio quanto
Harper estã o paralisados com a situaçã o.
― Você nã o pode me expulsar de suas vidas. Eu nã o saio daqui sem uma
conversa. ― Ele declara.
― Você nã o está vendo que ela nã o te quer aqui? ― Demétrio
interrompe.
― Se você nã o sai, eu saio. ― Passo pela porta e entro no elevador, que
por sorte está aberto. Eu nã o posso continuar ouvindo isso.
Depois de tanto tempo, ele aparece com essa cara de pau e nã o mudou
nada. Ele nã o mudou em aparência e em burrice. Continua achando que
foi um grande mal-entendido seu amigo nos trancar num quarto e tentar
fazer maldade comigo. Eu nunca voltarei a sentir o afeto que sentia por
ele antes dessa situaçã o.
Amor de pai? Ele nã o me amou o suficiente quando preferiu
acompanhar seu amigo, tentando acalmá -lo e dizendo coisas absurdas
sobre mim e principalmente sobre a minha mã e. Saio na rua sem rumo e
mesmo que quisesse ir a um lugar específico, nã o conseguiria me
orientar com a visã o turva pelas lá grimas.
Me sinto traída. Essa é a sensaçã o. Lembro que quando criança ele falava
que me protegeria com a sua vida, enquanto brincávamos em casa.
Depois que ele se empolgou em fazer coisas ilegais do outro lado da
cidade, para que tanto ele quanto o seu grande amigo enricassem, seus
planos eram maiores, suas promessas eram maiores e a minha mã e
ainda acreditava, eu mais ainda.
Os momentos juntos nã o eram mais importantes, a minha segurança, o
amor, mesmo com pouco dinheiro. Ele e o meu tio Michael se juntaram
ao Scott e fizeram muita coisa errada. Hoje, o tio Michael é um homem
de negó cios e é capaz de jurar pela pró pria vida que nunca fez nada de
errado. Nã o ouvimos mais falar sobre o meu pai ou Scott. Meu tio nunca
foi convidado a pisar na nossa casa. Mamã e o odeia, assim como odeia o
meu pai.
Eu também nã o sinto amor por esses parentes. Um carro freia bem
pró ximo a mim e passo a mã o no rosto para arrastar as lá grimas e ver
quem certamente irá me xingar por atravessar a rua sem olhar o sinal.
― Eros.
Esse dia nã o poderia piorar.
― Liz. O que aconteceu? ― Ele sai do carro, mesmo com os motoristas
que formaram uma fila em seus carros atrá s da Lamborghini buzinando
e reclamando.
― Nada. ― Volto para a calçada.
― Nada? E por que está chorando? Quem fez isso com você?
― Me deixa, Eros. Chega de problemas por hoje.
― Nã o vou te deixar ser atropelada. Venha. Eu vou te levar pra casa. ―
Ele segura meu braço.
― Nã o. Eu nã o quero voltar pra casa. Quero ficar bem longe de lá . ― Puxo
meu braço chorando.
― Para onde você quer ir?
― Sei lá , Eros. Sumir, quem sabe. ― Passo a mã o mais uma vez no meu
rosto, olhando em outra direçã o.
Ele segura meu braço mais uma vez.
― Venha. Vamos sumir.
Olho para ele e, sem perspectiva de nada, o acompanho, entro no carro e
seguimos para esse sumiço.
"Foi um mal-entendido".
"Vocês me excluíram de suas vidas por conta de algo que nem aconteceu."
Ele deveria saber que já sou grande o suficiente para entender que nã o é
porque nã o aconteceu, que aquilo nã o foi errado, terrível, que aquele
homem nã o deve ficar perto de criança ou de mulher alguma, que ele
nã o pode acreditar na palavra de alguém como ele e chamar sua mulher
de exagerada.
Eros levanta uma garrafa d'á gua e me oferece.
― Beba.
Aceito sem espaço para pensar nas diferenças que tenho com ele nesse
momento. Tomo a á gua e o choro passa, mas o soluço fica por mais um
tempo, as narinas entupidas também. Encosto a cabeça na janela e
assisto as ruas ficando para trá s conforme o carro anda, até que nã o se
vê mais prédio ou casas e á rvores e mais á rvores aparecem.
― Para onde está me levando?
― Só estou fazendo o que você deseja.
Cruzo os braços e espero o fim dessa viagem.
“Será que a minha mãe conseguiu convencer aquele homem a nunca mais
nos procurar? Será que o Demétrio fez alguma coisa? Um soco ao menos?
Ele merece mais do que isso.”
Meu telefone toca, e é ela.
— Oi, mamã e.
— Onde você está? Ele já foi embora.
— Quero ficar um tempo longe. Nã o esperava revê-lo.
— Eu também não, filha. Entendo o seu desejo. Está na casa da Paige?
— Pela cidade.
Ou já fora dela.
— Cuidado.
— Você também.
— Liz, ele não vai voltar para nossas vidas.
Respiro fundo.
— Eu espero que nã o.
Eu nã o sei o que deu na Liz, nã o entendi direito o que aconteceu, mas ela
nã o parece bem e, por mais que nossas ú ltimas conversas tenham sido
péssimas, jamais a deixaria sozinha desse jeito.
Ela estava chorando, agora parou, mas parece ressentida com alguma
coisa. Pelo que ouvi da conversa, parece que ela encontrou alguém que
nã o queria ver. Deve ser alguém que a machucou demais para ela ter
essa reaçã o.
Eu quase a atropelei! Foi um susto e tanto. Freei bem perto dela e ela só
viu mesmo por que o carro estava a poucos centímetros das suas pernas.
Chegamos na casa de campo da minha família e estaciono o carro em
frente ao local. Tem uma família que cuida dela o ano todo e é um belo
casarã o de madeira, dois andares, com muitas janelas de vidro e flores
para todo canto.
— Que casa é essa? — Ela pergunta com a voz ainda afetada pelo choro.
Ao menos parou de soluçar.
— Da minha família. — Saio do automó vel.
— Nã o tem problema estarmos aqui? — Ela também sai do carro.
Me distraio, pois parece que ela adora esses vestidinhos estampados.
Esse amarelo ficou lindo.
“Quando é que eu vou deixar de ver graça nessa teimosa e seguir em
frente?”
— Nã o. Ninguém além dos cuidadores vem aqui.
E falando nisso, Jack, o homem que junto com a esposa mantém a casa
impecável, aparece na calçada.
— Que surpresa! — Ele vem até nó s. Pelas roupas, deveria estar
andando a cavalo.
— Pois é. Como vai? — Lhe dou um aperto de mã os.
— Com saú de. E essa moça? A namorada?
— É . Viemos tirar um tempo da cidade.
Liz já voltou ao normal, reconheço pelo jeito debochado como me olha.
— Pois vou pedir à mulher para fazer um lanche e o almoço.
— Nã o precisam se preocupar. A gente se vira.
— Você sabe cozinhar? — Liz pergunta.
— Você gosta de ovos?
Ela ri e se afasta olhando para a paisagem.
— Pode deixar que a gente cuida de tudo. Fiquem à vontade. — Jack
avisa, rindo de mim também.
— Obrigado, Jack.
Ele vive aqui desde que eu era criança. Já tem mais de cinquenta anos e
nunca abandonou esse lugar. Liz está distraída com o rio e as plantas.
— Esse sumiço é suficiente?
— Eu nem sabia que tinha um lugar tã o bonito perto de casa.
Viajamos cerca de 30 minutos sem trâ nsito depois da saída. Nã o acho
tã o perto. Porém, acredito que ela nem se deu conta do tempo que
passou até chegar aqui.
— Podemos ficar o tempo que você precisar. — Fico atrá s dela, que se
vira para mim.
— Nã o estou atrapalhando seus planos?
— Que planos?
Eu dirigia sem direçã o quando ela passou na frente do carro. Os meus
amigos já tinham ido embora e, se nã o fosse ela, possivelmente estaria
na casa dos meus pais agora.
— É melhor estar aqui. — Completo.
Ela abraça o pró prio corpo e encara as plantas. Quando está quieta,
parece inofensiva e mais uma vez constato que nã o é interesse sexual
que tenho por ela. Quero o seu bem.
— Quem te fez chorar, Liz?
Ela olha para mim com os olhos marejados. Vai chorar de novo.
— Quem fez isso com você? — Seguro seu rosto delicadamente e impeço
que ela se esquive.
— O meu pai apareceu de repente. — Ela fala baixinho, mas ouço muito
bem.
— Seu pai?
— Sim.
— E o que ele fez? — Solto seu rosto e ela encara as plantas.
— Exigiu que queria me ver. Me viu na TV e se achou no direito.
Eu tenho pais assim.
— Liz, o que ele fez antes de ir embora? Você nã o costuma falar dele.
Nunca tivemos conversas muito profundas e eu também nunca tive essa
curiosidade, mas agora estou interessado.
Ela fica calada e espero por um tempo, até entender que ela nã o vai falar.
Nã o agora.
— Ok. Quer beber ou comer alguma coisa?
— Estou sem fome.
— Quer conhecer a casa?
Ela olha para mim, os cabelos ficam bagunçados com o vento e passo a
mã o em seu rosto, debaixo do olho, onde uma gota escorre.
Ela balança a cabeça e me acompanha para dentro.
— Vocês têm mais de uma casa?
— Meus pais têm vá rias. Tem de campo com esse lago enorme, tem
outras em outros países também. Uma para cada época do ano.
Costumávamos vir aqui no verã o, uma vez no inverno. Nos divertimos
muito no lago.
— Uma casa para cada estaçã o? — Ela pergunta admirada me fazendo
sorrir.
— É isso.
— Nossa! Eu mal tenho uma. — Ela anda pela sala deslumbrada, mesmo
a decoraçã o sendo muito antiga, principalmente o papel de parede
florido que eu acho feio.
— Ninguém vem aqui faz tempo. Nas outras casas eu nem lembro a
ú ltima vez que fui.
— Que papel de parede lindo!
Dou risada.
— Você gosta de estampas, nã o é?
— Algumas sim.
— Elas ficam bonitas em você, mas esse papel de parede é horrível.
Ela olha para mim com um sorriso.
Ao menos agora parece feliz.
— Me conte suas memó rias daqui.
Guardo as mã os do bolso e dou uma volta na sala. O velho sofá , a lareira
e muito vidro. Como a minha mã e adorava enfeites de vidro! E castiçais!
— Viemos uma vez no Natal. Fizemos tudo tradicionalmente. Meias
penduradas e presentes debaixo da á rvore. Eu estava com muito frio e só
tinha trazido um par de meias, as que estavam em meus pés. — Sorrio
lembrando daquele dia e ela ouve sorrindo. — Entã o eu peguei um par
de meias do Jack, que estavam no varal. Meias longas, pretas. E as
pendurei pró ximo a lareira.
— Eu já estou até imaginando o que aconteceu. — Ela fala rindo e
balanço a cabeça.
— Nicholas mexeu na brasa, as faíscas subiram, o fogo também e as
meias começaram a queimar. Todas as meias queimaram quando o fogo
chegou no cordã o.
— Que desastre.
— Nicholas chorou como o covarde que é e ainda colocou a culpa em
mim. Nossa mã e ficou furiosa porque a casa ficou cheirando a fumaça,
mas no fim ainda sentamos em volta da mesa para comer o peru.
— Vocês pareciam bem unidos.
— É ramos. — Digo com um pouco de sarcasmo. — Mas nenhum
desastre aqui foi maior do que o que aconteceu lá em cima.
— Me conta! — O sorriso congelou em seu rosto. Pelo visto, ela gosta de
ouvir histó ria de desastre.
— Foi no quarto — digo passando ao seu lado e subindo as escadas. Liz
me acompanha.
— Eu vou ficar na porta — avisa como se tivesse medo de ficar a só s
num quarto comigo.
— Você é a primeira garota que trago aqui — comento do nada, mas de
repente senti vontade de assumir isso para ela.
Liz fica sem jeito, mas quem devia estar sem graça era eu, esse seu
jeitinho me perturba.
Essa nossa fuga veio em uma boa hora.
Eu nã o esperava conhecer uma das vá rias casas da família Werneck no
meio dessa fuga, agora no lugar das lá grimas que a volta do meu pai
causou, estou rindo das coisas que Eros está me contando sobre o que
viveu na infâ ncia.
— Aqui. Bem aí, eu perdi a cabeça do dedo com uma topada. O sangue
atravessou a madeira, a espuma expansiva e pingou lá na cozinha.
— Isso parece mentira. Vai dizer também que caiu dentro de uma
panela?
— Quase. Foi por pouco. — Ele fala como se fosse verdade.
— Eu nã o caio nessa nã o. Nã o sou como a Harper que acredita nas suas
mentiras.
— Quando eu menti para ela?
— Quando disse que morava com a sua mã e.
Ele ri.
— Você acha mesmo que eu vou contar onde moro para alguma garota?
— Eu sei onde você mora.
— Você descobriu por que é uma enxerida. ― dispara.
— Enxerida... Claro, porque você nã o é nem um pouco enxerido.
Ele abre o quarto e entra na frente.
— Aqui. Foi aqui que o desastre aconteceu naquele fatídico dia.
— Tã o dramá tico... — me escoro na porta sem tirar o sorriso do meu
rosto.
Eu queria nã o estar contente por causa dele, mas tenho que admitir que
ele é o ú nico motivo por eu estar rindo nesse momento. Eros nã o pensou
duas vezes antes de largar tudo e me levar para onde eu nem sabia que
precisava estar.
Só nã o esperava que seria pra cá . Nem imaginava que esse lugar existia.
— Tinha um beliche — conta mostrando onde era.
— Um beliche? Mas vocês nã o eram ricos?
— Isso foi antes da minha mã e comprar novos mó veis bregas. Escute.
Nicholas dormia na cama de cima, enquanto eu dormia na cama debaixo.
— Nã o me diga que a cama de cima desabou.
— Pior. Desabou em cima de mim! Está vendo isso aqui? — Ele vem até
mim e mostra uma cicatriz na testa. Um corte reto.
— Sim. — Tento me concentrar somente nisso para nã o encarar seus
olhos ou sua boca. Essa proximidade, apesar dos pesares, ainda me
deixa sem fô lego.
— Foi uma das tá buas da cama que bateu e lascou.
— Pode ser por causa disso aí que você virou um teimoso, afetou seus
neurô nios. — Analiso brincando.
— Você ri, mas eu quase fui morar no céu.
— No céu? — Dou uma gargalhada. — Você sabe que nunca iria para o
céu, nã o sabe? ― Ele balança a cabeça em negaçã o. ― Mas me conta,
como foi o fim disso?
— Nossos pais vieram correndo e tiraram a cama de cima de mim,
minha mã e fez um curativo na minha testa e eu e Nicholas dividimos a
cama debaixo por aquela noite, com ele segurando o saco de gelo na
minha testa.
— Ah, que fofo!
— Fofo? A culpa foi dele!
— Mas vocês pareciam ser bons irmã os. Deveriam fazer as pazes.
— Nã o. — Ele fica sério e se apoia na cô moda, olhando para fora através
da janela de vidro. — O que ele fez comigo foi traiçã o. Nã o se faz isso
com um irmã o.
— Vai ver ele tinha motivos. Quem manda no coraçã o? Você manda?
Ele abaixa a cabeça e olha para mim. Mordo a bochecha.
— As coisas sã o diferentes — explica desapontado.
— Nã o sã o.
— Sã o sim. Nicholas era meu irmã o. — Ele vem em minha direçã o. —
Era alguém muito importante para mim. E você para ela...
— Eu sei. Nã o valho um Louboutin.
Rimos.
— Nã o sei se o meu irmã o deu tanta sorte quanto eu. — Ele segura o
meu rosto e já perco o compasso da respiraçã o.
— Eu tenho boa memó ria, Eros.
— Entã o já entendeu que a palavra adeus para nó s dois é um até logo,
nã o é? — Ele encosta sua testa na minha e acaricia meu rosto.
Ele tem razã o. Talvez eu seja péssima em cumprir promessas.
— Mas eu nã o esqueci o que você fez e você tem a...
Ele me beija sem pressa e depois se afasta.
— Existem palavras proibidas nesse lugar — diz e sai do quarto.
— É assim que você trata as suas ficantes? — Vou atrá s dele.
— Eu nã o sei do que você está falando.
Agora vai fingir que a Harper nã o existe.
Vamos para a cozinha e encontramos uma senhora preparando
sanduíches.
— Sejam bem-vindos! — Ela fala sorridente.
— Obrigada. — Agradeço timidamente.
— Obrigado, Mariah.
— Fiz isso para vocês comerem, enquanto o principal nã o fica pronto. —
Ela coloca o prato perto de nó s e também uma jarra de suco.
Já vi que vamos comer muito nesse domingo.
Eu adorei a decoraçã o da casa dos pais do Eros. É uma casa antiga, tem
papéis de parede antigos, muitos mó veis de madeira, vá rias coisas de
vidro e passa a sensaçã o de aconchego.
Como tudo que foi colocado à mesa e depois nos sentamos no sofá da
sala. Eros sentou do meu lado no mó vel espaçoso.
Dou uma olhada no celular, mas nã o tem rede.
— Aqui nã o pega sinal de internet?
— Nã o.
— Ainda bem que falei com a minha mã e antes de chegar aqui — digo
aliviada.
— Será que o seu pai já foi embora?
— Ela disse que sim. — Nã o consigo olhar em seus olhos porque esse
assunto me deixa triste.
Ele mexe nos meus cabelos e me puxa para mais perto dele.
— Deita aqui e aproveita que hoje estou no meu modo carinhoso.
Coloco a cabeça em seu colo e ele continua mexendo nos meus cabelos.
— Você quase me atropelou.
— Pois é. Sem querer ser rude, mas você estava cega que nã o olhou por
onde andava?
— Pior que sim. — Sorrio de mim mesma. — Estava chorando.
— Dessa vez, sem querer ser insistente, mas o que houve?
Seus dedos que tocando meu couro cabeludo me deixam com sono.
Eu nunca contei isso para ninguém, mas agora que meu pai apareceu,
sinto esse assunto me sufocando.
— Promete que esse assunto vai ficar entre nó s?
— Claro.
— Ok. — Olho para a lareira apagada enquanto ele continua o carinho e
relembro o que me deixou tã o nervosa.
Conto tudo o que aconteceu naquele fatídico dia da minha infâ ncia, e ele
até para de mexer nos meus cabelos, provavelmente assustado com a
histó ria.
— ... entã o, o meu pai chegou bem na hora em que a minha mã e o
expulsou de nossa casa e perguntou o que estava acontecendo. Ela
contou tudo, o cara disse que era mentira, que ela estava louca e ainda
me incentivou a apoiá -lo. No final, meu pai olhou para minha mã e e para
mim e disse que ela só estava nervosa, que o homem que se fazia de
vítima deveria se acalmar e tudo ficaria bem.
— Ele ficou do lado do cara? ― questiona revoltado.
— Sim, ficou. A minha mã e também o expulsou de casa, depois que nos
mudamos, nunca mais vimos os dois. Até o meu pai aparecer hoje.
— Esse cara merecia apanhar até morrer — fala rancoroso. — Como
você ficou depois disso?
— Eu me guiei pela reaçã o da minha mã e. Fiquei assustada,
inconformada, isso foi crescendo a ponto de nenhum homem entrar na
nossa casa. Confesso que ainda nã o confio no Demétrio por causa disso.
— Foi por isso que você me ligou naquele dia em que estavam a só s?
— Sim. — Assumo cabisbaixa.
— Por isso anda com tanta proteçã o na bolsa?
— Sim, por causa disso também.
— Poxa, Liz! — Ele volta a fazer carinho na minha cabeça. — Eu nã o
imaginava nada disso. Que maldade! Como pode alguém tentar e até
fazer algo assim?
— Tem gente para tudo nesse mundo.
— Esse cara nem merece estar vivo. E o seu pai, pura vergonha da classe.
Você tem razã o em nã o querer nada com ele.
Ele puxa meu rosto para olhar pra ele.
— É por causa disso que você nunca...? — pergunta se referindo ao fato
de eu ainda ser virgem.
— É . 95% sim. Os outros 5% é aquele medo comum de toda mulher
mesmo. — Me sento ao seu lado e encaro minhas mã os.
— Do que você tem medo?
— Da dor, vergonha...
Nã o acredito que estou me abrindo assim para ele, mas me sinto
confortável.
— Você é linda, nã o tem que ter vergonha de nada.
— É que tem gente tã o linda por aí que teve experiências horríveis, você
sabe disso. Eu nem gosto de falar desse assunto. Vamos falar de outra
coisa. — Peço sem jeito, e ele balança a cabeça sem insistir na conversa.
— Vamos dar um passeio de barco. — Sugere do nada.
— Vocês têm barco?
— Claro. Um iatezinho antigo.
— Iatezinho antigo? — repito, encarando sua naturalidade.
— É.
Tudo que para mim é uma grande coisa, para ele é normal.
Saímos da casa com a chave do velho iate e o encontramos no cais,
coberto por uma lona. Jack ajuda Eros a descobrir a embarcaçã o, fico
aliviada em saber que esse passeio nã o tem chances de ser flagrado por
ninguém. Subo no iate e me sento na poltrona arredondada que faz par
com outra. Ambas ficam mais pró ximas das laterais em uma parte mais
alta, é possível ter uma bela visã o do lugar.
— Vem para cá . Nã o fica aí nã o. — Eros me chama da cabine, navegando
com um chapéu de comandante na cabeça.
Desço os poucos degraus que me levam até o piso de madeira e me
aproximo dele.
— Fique aqui na frente. — Ele passa para trá s de mim e coloca minhas
mã os no timã o[1].
— Eu nunca fiz isso.
— Nã o é muito diferente de dirigir um carro.
Ele está me dando a chance de pilotar tudo que nunca pilotei. Uma
Lamborghini, um iate...
— Para onde estamos indo?
— Para um lugar mais quieto ainda. — Ele beija meu rosto e o calor do
seu corpo atrá s de mim dificulta minha atençã o no timã o.
— Fica quieto. Estou navegando. Nã o está vendo?
— Estou vendo sim. — Ele aperta minha cintura e se afasta.
Nã o tem coraçã o que aguente. Já estou com a pulsaçã o lá em cima e o
calor lá embaixo.
Quando já estamos bem longe da casa, ele retoma o controle e para o
iate em um trecho que tem muitas á rvores, proporcionando sombra.
— Pronto. Agora vamos ver se essa á gua está boa para um banho.
— Você está brincando, nã o é? — Olho para suas roupas, ele usa calça
jeans. Dificilmente vai secar.
Ele tira a camiseta e eu me apoio na porta da cabine.
— Eu adorava tomar banho nesse trecho.
— Nã o tem leopar... aligá tor?[2]
Interrompo o que eu ia perguntar, pois "leopardo" está estampado em
seu peito com uma tatuagem. Melhor nã o dar margens para piadinhas.
— Nã o.
Procuro uma garrafa d'á gua para molhar a garganta. Minha boca secou.
Tomo alguns goles e cuspo o terceiro quando o pego tirando a calça.
— O que foi? Se me lembro bem, você já me viu sem nada.
— Você nã o facilita a minha vida, nã o é?
— Eu posso acabar com 50% dos seus problemas. — Ele vem para perto
de mim só de cueca preta e, para piorar, segura meu queixo. — De
graça... — Conclui com um sorriso sacana no rosto.
— 50% é uma promessa muito grande. Acho que você tem mais
facilidade em fazer o contrá rio.
Ele ri e me solta.
— Entã o pague para ver. — Eros corre pelo iate e salta no rio.
— Doidinho, doidinho — digo balançando a cabeça em negaçã o.
Dou uma olhada na á gua para ver se ele volta a superfície e ele logo
aparece.
— A á gua está uma delícia, Liz. — Diz tentando me convencer a entrar.
“Gostosa igual a você?” Penso, mas é claro que nã o em voz alta.
— Vem, Liz.
— Eu nã o sei nã o. Nã o quero ser comida por um aligá tor.
— Com certeza o que quer te comer nã o é um aligá tor. — Ele dá uma
piscadela.
— Você nã o presta.
Tomo coragem e tiro o vestido. Subo na parte alta só de sutiã e calcinha.
Mas vacilo antes de pular.
— Eu nã o sei se é uma boa ideia.
— Reformulando o convite. A á gua está uma delícia, igual a você.
Dou risadas e pulo sem pensar em nada além de prender o ar nos
pulmõ es. Afundo e em seguida subo para a superfície.
Sim, a á gua está uma delícia, igual ao Eros, que vem para perto de mim.
— Diga se nã o está gostosa? — Ele passa os braços pela minha cintura e
molha os lá bios.
— Tenho que concordar. — Seguro em seus ombros e nos beijamos.
Desisto de fazer promessas quando o assunto é Eros Werneck.
Ele chupa a minha boca com tanta vontade que me excita, me fazendo
desejar o mesmo.
Nenhum cara me deixou tã o tentada a fazer o que me afasto há anos por
medo. Ele me faz querer ficar sozinha com ele, me faz querer estar nos
seus braços totalmente entregue.
Mesmo me fazendo desejar nunca mais vê-lo por causa do seu egoísmo,
ainda assim, é o ú nico que me levaria até os finalmentes sem me deixar
com vontade de fugir e me esconder.
— Eu sou louco por você, sabia? — Admite arrastando seus lá bios pelo
meu pescoço.
— Acho que você já me deu provas disso.
— Quero provar cada pedacinho seu. — Ele morde o ló bulo da minha
orelha. — Posso? — pergunta com a voz rouca que me causa arrepios.
— Eu nã o teria coragem de falar o que você quer ouvir.
Nã o consigo ficar parada enquanto nossos corpos estã o colados. Estou
com muito tesã o.
— Entã o responda de alguma forma. — Ele pede, apertando meu quadril
contra o dele e sinto seu membro rijo.
O encaro um pouco receosa, mas meu corpo quer isso, meu baixo ventre
vibra, querendo mais do que encostar nele.
Encosto minha boca na dele e mergulho minha língua nela, sendo
correspondida de uma maneira mais necessitada.
Acho que ele entendeu o que quis dizer.
Eros me lambe, mordisca meus lá bios e os puxa para si enquanto
segura minhas pernas separadas e me faz sentir com mais definiçã o o
tamanho do seu pau em relaçã o a minha boceta.
Seus dentes espremem a regiã o do meu queixo e trilham mordidas até o
meu pescoço. Me derreto em seus braços e mordo meus lá bios salivando
com o prazer.
― Vamos sair daqui ― murmura e chupa a pele do meu pescoço com
brutalidade que estala.
― Eros! ― protesto com a pele ardendo.
Ele nada e me puxa de volta para o iate, arrasta as almofadas para o piso
da embarcaçã o e quando me aproximo, me agarra forte pela cintura e
mal toca nos meus lá bios, já mergulha a língua dentro da minha boca,
quente e gulosa.
Fico na ponta dos pés, apertando uma coxa na outra enquanto minha
intimidade pulsa.
O nervosismo me pega de jeito, mas nã o tanto quanto pensar que Eros
planeja arrancar a minha virgindade hoje e pior: eu quero que ele faça
isso.
— Você quer fazer isso aqui?
— Eu deveria fazer essa pergunta. — Ele devolve acariciando minha
bochecha e encaro seus lá bios inchados.
— Eu nunca fiquei nua para ninguém... E aqui estamos ao ar livre. —
admito a minha preocupaçã o.
Um sorriso escorrega por seus lá bios.
— O que tiver que esconder, a minha boca e meu pau farã o esse serviço.
— Ele passa o polegar pelos meus lá bios e depois de molhar os dele, me
beija.
Sinto minha calcinha, que já estava encharcada, molhar ainda mais e fico
entorpecida pelo beijo e a língua safada de Eros passeando pela minha
boca como se quisesse começar a me foder por ali.
Ele desce a mã o esquerda para dentro da minha calcinha pela bunda e
aperta antes de agarrar o tecido e arrastar para baixo.
Na moleza que fico com seu beijo gostoso, minhas mã os escorregam
pelo seu peito e a minha mã o dominante para no seu pau, que mesmo
dentro da cueca, me permite sentir o delinear da cabeça achatada,
erguida para cima e a dureza de seu membro.
Eros interrompe o beijo e sorri ao observar essa “atitude”.
— Segurando meu pau com essa cara de inocente, está querendo me
matar de tesã o?
— Quero — confesso um pouco satisfeita por ver que ele gostou e o
aperto ainda mais.
Ele arfa antes de voltar a me beijar enquanto massageio seu pau
imaginando como essa coisa grande vai entrar num lugar que nã o cabe
nem um absorvente interno.
A minha boceta continua pulsando, querendo descobrir isso o quanto
antes.
Eros é tã o gostoso. Essas tatuagens, esses olhos e sobrancelhas
expressivas, que além de alcançar a minha alma ainda me despem, sem
contar os mú sculos... Eu fico louca com toda essa sua beleza.
Agarro seu pescoço e com um rá pido pulo, fico da sua altura e Eros me
mantém no alto, abraçando minhas ná degas.
Minhas pernas abraçam seu quadril e sinto o pulsar do pau dele contra
minha calcinha. As roupas íntimas estã o molhadas, mas nã o aliviam o
calor entre minhas pernas e do sangue que ferve no pau dele, meu
clitó ris está dolorido e mais sensível do que nunca.
O beijo se torna mais guloso, mais selvagem e mais excitante. Eros se
curva para frente e me prendo a ele com mais força até sentir a madeira
fria nas minhas costas e em algumas partes a fofura de alguma almofada.
O corpo pesado e rijo de Eros pressiona o meu e sinto mais do que
nunca o volume do seu pênis. O tamanho, esse nã o me preocupa tanto
quanto a largura. Vai ser complicado, o que ficar de fora, ficou.
Ele afasta o rosto sem querer soltar meu lá bio e abre os olhos
entorpecido.
— Eu quero tanto você, que meu pau tá doendo. Pequena, até onde você
já foi para se dar prazer?
— Até onde você chegou.
— Oi?
— Você foi o mais longe que me permiti sentir.
— Nã o fala isso, que fico ainda mais louco por você. — Ele beija minha
bochecha. — Pretendia ser o melhor e você me diz que nã o tem como
comparar?
— Se você chegou até aqui, é porque já é o melhor. — Seguro seu rosto e
prendo seus lá bios entre os meus num leve selinho.
Ele vagueia os lá bios pelo meu rosto e jogo a cabeça para o lado, para
sentir sua boca gostosa em meu pescoço.
As sensaçõ es que os beijos dele me causam chegam a abalar os locais
mais inesperados por mim. Talvez eu seja uma tola virgem ou fraca
demais pra ficar molhada por causa de um chupã o no pescoço.
Eros passa as mã os por baixo do meu sutiã e mexe no regulador até
separar os lados, depois se afasta de mim tirando a peça do meu corpo.
Imediatamente cubro meus mamilos. Eros está mordendo os lá bios, com
a maior cara de safado que poderia fazer e pouco se importa para a
intimidade dele, que de tã o ereta, arrasta o tecido da cueca
escandalosamente.
Ele segura meus braços e descobre meus peitos.
— Liz... Se você puder falar mais uma vez que sou o primeiro a chupar
esses peitos, eu vou me apaixonar mais ainda.
— Mas é. — Admito e ele beija meu abdô men, ainda segurando meus
braços, chega ao mamilo esquerdo e o cobre com sua boca. Sugando e
lambendo.
Aperto uma coxa na outra, perdida na nova sensaçã o e olhando para
cima eu vejo o céu.
Estamos no meio do rio e Eros está mamando meus peitos. Me sinto uma
pessoa sem escrú pulos.
Essa exposiçã o está me deixando mais excitada ainda e Eros nã o se
delicia em meus seios até que perco a capacidade de ficar calada e
alguns gemidos me escapam.
— Que delícia ouvir isso. — Ele parece ter experimentado algo delicioso
e lambe os lá bios.
— Eu nã o quero parecer uma louca.
— Grita. Grita tudo que estiver sentindo. E grita o nome de quem está
causando isso. Eu vou adorar — avisa e desce a boca pelo meu abdô men.
Só de pensar que esse caminho termina na minha calcinha, meu corpo
fica com os alarmes ligados. O coraçã o bate forte e o sangue chega a
minha intimidade pulsando no mesmo ritmo.
Ele prende a barra da calcinha entre os dentes e desce arrastando-a.
No meio dessa obscenidade que me deixa encharcada de tesã o, ergo o
quadril e facilito a retirada da peça.
Ele puxa as laterais com os dedos e arranca com brutalidade até passar
pelos meus pés.
Com as mã os livres, cubro a outra parte nunca vista.
— Tem vergonha? Cubra os peitos, que eu cubro a sua boceta com a
minha boca. — Ele se posiciona entre minhas pernas, afastando as coxas
e as minhas mã os.
O vento do rio bate na minha intimidade, mas nã o sinto a pele secar,
sinto o frio dele e depois a pele sendo aquecida com a língua quente de
Eros, que sem cerimô nia alguma, enfia a cara entre minhas pernas e
chupa a minha boceta.
O gemido foi a forma de me aliviar em meio ao grande impacto que essa
boca causou em volta do meu clitó ris.
E como se nã o bastasse, sua língua pressiona e rodeia meu ponto
sensível. Algo que meus dedos nunca foram capazes de me proporcionar.
O meu sorriso e os barulhos seguidos que saem da minha boca traduzem
bem o que estou sentindo.
Prazer.
Eu nã o posso nem imaginar o que seu pau pode fazer em mim.
— Eros...
— Oi — responde soprando o ar quente entre os lá bios da minha boceta.
— E você? — pergunto me referindo a também o dar prazer.
— Eu? Nã o se preocupe comigo. Só de ver esse sorriso safado na sua
boca, sinto prazer. — Ele aperta as minhas coxas e depois as beija. —
Estou preparando o caminho.
Ele aperta meu clitó ris com um dos dedos e ergo a cabeça dando um
gritinho.
Até mesmo seus dedos fazem melhor do que eu.
— Preparando?
— Quero que me receba com muita vontade. — Ele desce o dedo médio
até a minha entrada e o escorrega para dentro, deixando o polegar
esfregar meu clitó ris.
— Eros! — suplico sem saber onde devo focar.
Nã o consigo pensar em seu dedo dentro de mim quando ele também
está mexendo na parte mais sensível do meu corpo.
O formigamento em meu baixo ventre é constante e sinto dificuldade em
respirar. Ele só cresce e cresce, me sufocando.
O resultado disso é seus dedos mais e mais lambuzados.
Quando mais um deles é introduzido, mordo os lá bios, pois a pressã o é
maior e sinto um leve desconforto.
— Você tem dedos grossos.
Ouço sua risada.
— Se você quiser, eu paro por aqui.
Abro os olhos e o encaro.
— O quê? Você acabou de me deixar nua no chã o do seu iate,
completamente lambuzada e cheia de tesã o, está com os dedos dentro
de mim, até a sua boca já beijou onde ninguém antes tocou! Me foda
agora! Ou nunca mais terá outra chance.
Eros arfa segurando uma risada, libera o seu pau grosso, cheio de veias e
com a achatada cabeça rosada, que aponta diretamente para mim.
— Só precisa dizer pare.
— Venha e nã o pare. — Ergo uma das pernas e passo pelo seu quadril,
depois a outra, o arrastando para cima de mim.
Evitei esse momento por anos e quando aparece o felizardo que me
deixa com coragem e muita vontade de fazer, ele acha que a minha
admiraçã o com a grossura dos seus dedos significa arrego?
Medo eu deveria ter desse pau majestoso. Em comparaçã o a galeria de
paus que Paige recebeu na DM e me mostrou, esse se enquadraria nos
mais bonitos que já vi.
— Liz, nã o brinca com essa coisa. Se for muito doloroso, é só pedir que
eu paro. Sei que pra entrar em você, vou precisar te rasgar um pouco,
mas nã o quero que isso seja uma lembrança ruim para nenhum de nó s
dois.
— Eu sei. Agora nã o me faça pensar muito. — Seguro seu rosto e beijo a
sua boca como uma forma de distraçã o e distanciamento do medo que
tenho pela possível dor.
Eros demora um pouco para encostar seu quadril e todo o resto em mim,
mas quando interrompe o beijo, vejo que estava colocando o
preservativo no puro tato, agora ele se debruça sobre mim e beija
encaixando a cabeça do pau na minha entrada molhada.
Sua língua dançando com a minha me deixa mais lubrificada ainda,
porém, na primeira pressã o vejo que seus dedos sã o finos, muito finos
comparado com o que ele tenta me penetrar desta vez.
Outra diferença, essa muito boa, é sentir o calor da sua glande contra
minha pele, e mesmo com o preservativo, isso é bom gostoso.
Ele dá golpes lentos e nã o interrompe o beijo. Inevitavelmente reajo a
dor fina e lacerantes e uma lá grima desce no meu rosto. Quando sinto
seu pau ganhando espaço, imagino que esse sufoco passará em breve.
— Nã o pare, Eros. Nã o pare. — Suplico e ele beija meu pescoço, me
dando um pouco de prazer no meio dessa situaçã o animalesca.
Ele sorri e quando um pouco mais entra em mim, urra grosso e geme.
— Nunca passei um sufoco tã o prazeroso ― admite.
Estou completamente rendida a essa cara de prazer do Eros.
“Puta merda!”
O suor descendo pela lateral da sua testa, as tatuagens brilhando,
molhadas pelo suor e algumas gotas d'á gua que restam, esse perfume
delicioso misturado com o cheiro de macho que me excita, ainda tem
essa cara safada e esses barulhos que nunca tinha ouvido antes que sã o
simplesmente excitantes.
— Faz de novo, Eros.
— O que, pequena?
— Esse gemido.
Ele continua se mexendo e entra um pouco mais, me dando o que quero
ouvir. Sinto prazer em vê-lo se deliciando enquanto me rasga, seu pau
encontra um lugar dentro de mim e ao que ele acelera, minha pele entra
em estado de anestesia.
— Ainda sente dor?
— O quê? — pergunto e sorrimos um para o outro.
— Liz... — ele geme e sua mã o vem de encontro ao meu pescoço. Ele
apressa o ritmo e cada estocada reflete na minha garganta como um
soluço.
Fico presa em seu rosto e o roçar da sua pele em meu clitó ris durante
esse vai e vem que me deixa com o coraçã o frenético.
Sinto prazer junto com ele, no esfregar de nossos corpos. Ele dentro de
mim, eu por fora em contato com ele. Nesse vai e vem, Eros geme forte e
estremece em cima do meu corpo.
Ofegantes, permanecemos deitados no chã o e faço uma rá pida aná lise
do que acabou de acontecer: Nã o sou mais virgem e o Eros acabou de
gozar enquanto transávamos.
Isso é algo muito grande, mas o ponto alto, ao menos desse dia, ainda
será a boca dele me chupando.
Olho para o céu e me sinto nele.
Ter Liz em meus braços e ser o seu primeiro foi de longe uma das
melhores coisas que aconteceram comigo desde que retomei a minha
vida. Eu nã o quero que ela seja mais uma e tampouco endeuso a sua
virgindade, mas eu sinto que nã o foi uma coisa importante só pra ela.
Nã o insisti em mais sexo depois que voltamos para a casa de campo, dei
outros tipos de carinho e pelos seus sorrisos, ela anda bem satisfeita,
mas é impossível nã o me excitar com ela.
Dormimos juntos, e é maravilhoso tê-la nos meus braços depois desse
dia cheio de descobertas.
Nesse momento, estamos sentados na cadeira do quintal e entre
carícias, fiquei de pau duro e permaneço. Seria perfeito transar com ela
nesse momento, mesmo com Jack e Mary aqui, mas um carro aparece na
entrada e corta todo o clima, é o meu irmã o.
— E agora? — Liz segura o meu braço, assustada.
— Vamos para o quarto e quando as coisas passarem, os encaramos.
— Ok. — Ela levanta e se ajeita. — Vamos.
— Espera. Fica na minha frente. Vai que eles cruzam o nosso caminho?
— Seguro seu braço e ando atrá s dela.
— Tudo bem por aqui? — Jack pergunta carregando uma escada.
— Sim, sim. Só cansamos da piscina — respondo segurando os ombros
de Liz e aposto que a cara dela nos entrega.
Ela está feliz demais, com cara de orgasmo, mesmo depois do susto que
tivemos quando o carro de Nicholas apareceu.
— Será que eles sabem que estamos aqui? — Ela questiona enquanto
passamos pela porta lateral, para subirmos a escada alternativa.
— Com certeza. O meu carro está parado ali na frente.
— Que sorte. — Ela sobe os degraus apressada e eu também. Nos
trancamos num dos quartos para esperar e eu só penso numa soluçã o.
— Vem cá . — Seguro seu rosto e beijo a sua boca.
— Eros, esse momento é de preocupaçã o. Você nã o perdeu a vontade
depois desse susto nã o?
— Deveria, mas estamos em um quarto. — Abraço seu corpo. — Uma
rapidinha resolve.
— Eros, eu mal me recuperei de ontem.
— Eu faço com carinho. Prometo. — A levo para cama e deitamos
iniciando um beijo. Só de sentir o calor entre as pernas dela, meu pau já
começa a latejar.
— Com carinho?
— Do jeito que meus dedos fizeram. — Chupo seu pescoço e ela geme
baixinho e se mexe embaixo do meu corpo. — Eu adoro seu cheiro. Me
excita tanto!
— Você anda excitado com tudo. — Ela morde os lá bios rindo.
— Com tudo que tem em você. — Seguro a barra da calcinha para tirá -la,
mas alguém bate na porta do quarto.
— Eros?
Aí nã o tem como nã o perder o tesã o.
— O que é, Nicholas? — pergunto sem paciência.
“Tantos lugares no mundo e ele vem logo para cá!”
— Pode sair? Esse é o meu quarto.
— Nã o acredito que você bateu na porta para dizer isso.
— Nã o vai contaminar a minha cama. Procure outro canto. Eu sei que
você nã o anda sozinho.
— Porra. Ninguém merece! — Levanto e Liz se levanta comigo. — Já vou
sair.
— E eu? — Liz pergunta baixinho.
— Aguardando... — diz Nicholas.
“É mesmo um insuportável.”
— Será que você pode me dar privacidade? Virou porteiro agora?
— Tenho que guardar as minhas malas.
— Mas é segunda de tarde. Por que inventou de vir para cá na segunda-
feira?
Ele demora, mas responde.
— Olívia precisa de um tempo fora da cidade.
— Pois vá tomar um ar com ela. Será o tempo que preciso para sair do
quarto.
Liz está preocupada em ser vista por eles, mas eu nã o duvido que uma
hora ou outra isso aconteça.
— E as minhas malas?
“Haja paciência...”
— Eu coloco suas malas no quarto, palerma! Já estou indo embora.
Me recuso a ficar com esses dois o resto da segunda.
— Ok.
Esperamos até vê-los andando lá fora.
— E agora? Se a Olívia me vir aqui vai achar que temos alguma coisa! —
Liz ainda está preocupada.
— Mas temos, minha querida. — Seguro sua mã o e saímos do quarto.
Duas malas enormes e uma menor estã o na porta.
— Será que vã o morar aqui?
— Parece. — Liz suspeita. — O que vamos fazer agora?
— Você fica aqui e eu vou lá fora falar com eles. Daqui a pouco a gente
vai embora.
— Ó timo.
Beijo sua testa e desço a escada.
“Bem na hora do bem bom ele me atrapalha.”
— O seu irmã o está aqui. — Mariah avisa.
— É . Eu vi. — Saio de casa e vou atrá s dos dois, que estã o lado a lado.
Eu poderia empurrar os dois dentro da á gua e aproveitar a segunda-
feira ao lado de Liz.
Nicholas me vê chegando.
— Me diga que nã o contaminou a minha cama.
— Nã o tenha dú vidas disso. — Provoco sem esconder meu desgosto por
vê-los aqui.
Olívia está num macacã o verde pastel e nã o vejo barriga de gravidez
nela. Só a cara que me estressava toda vez que ligava para mim
perguntando onde eu estava.
— Por que vieram logo pra cá , hein?
— Se eu soubesse que você estava aqui, nem teria vindo. — Nicholas diz.
— Uma pena. Eu vou deixar bem avisado da pró xima vez.
— Já tirou a fulaninha do quarto?
Rio.
— Nicholas, você brinca muito com a sorte.
— Por que vocês nã o aproveitam que já estamos aqui e conversam? —
Olívia pergunta.
— Por que nã o. — respondemos juntos.
— Você é a culpada de toda a desgraça da família Werneck. Reuniã o
concluída. Com licença. — Me afasto deles.
Era só o que me faltava, ter que conversar com alguém para chegar a
lugar nenhum. Isso continuará sendo uma sacanagem ontem, hoje,
amanhã , mês que vem e sempre.
Enquanto eles ainda estiverem juntos ou se uma nova sacanagem nã o
acontecer, o que nã o tenho dú vidas.
— Eros, eu te visitei na cadeia e nó s conversamos sobre isso. Por que
nã o se conforma?
— Porque você terminou comigo e foi para os braços do meu irmã o,
neandertal traíra!
— Mas nem estávamos mais juntos!
— Ah, conta outra, Olívia. Eu sei que você me traiu.
— Nã o. Isso nã o aconteceu. Eu jamais faria isso, Eros. — Nicholas fala
dessa vez.
— Eu também nã o, mesmo você tendo me traído diversas vezes e nem
diga que é paranoia minha, Eros. A gente nem se aguentava mais. Por
que do nada começou a se importar?
— Você me deixou no momento mais difícil da minha vida, Olívia!
— E que diferença faz o momento? Todos os momentos eram ruins,
Eros!
— Ruins porque você era uma insuportável! Eu nã o aguentava mais o
seu ciú me doentio e ficava com outra só para valer as acusaçõ es que
você disparava contra mim.
— Você quer que eu te aplauda? Quer me culpar por sempre ter sido um
filho da puta comigo? Eu deveria ter te colocado um belo par de chifres!
— Olívia fala furiosa e Nicholas segura seus braços.
— Olívia, se acalme. Isso pode fazer mal para o bebê.
— Ele nã o pode nascer com um gênio ruim como o do tio. — Ela se solta
e anda para a casa, apressada.
— Deveria... É muita cara de pau dizer isso depois de se casar com o meu
irmã o.
— Eros, vamos ter uma conversa.
— Eu já disse que nã o tô a fim de conversar.
— Mas vai me ouvir. Porque do mesmo jeito que você acusa a Olívia de
coisas que ela nã o fez e você fez, eu ando recebendo acusaçõ es.
— Ah, nã o me diga que vai me culpar por ter roubado alguma namorada
sua.
— Se ela fosse minha namorada na época, com certeza você nã o teria
ficado com ela.
— O que você quer dizer? — Cruzo os braços.
— Daquela maldita noite em que você me viu a festa toda de olho na
Olívia e foi para cima dela só para rir da minha cara.
Dou risada lembrando disso. Ele tem uma memó ria ó tima.
— Eu nã o tenho culpa se você é uma lesma quando o assunto é mulher.
Ela estava solteira, eu cheguei e peguei.
— Faço das suas palavras, as minhas. Olívia estava solteira, passeando
pela minha casa e eu nã o tinha você no meu caminho. Entã o aproveitei, e
muito. Aproveitei tanto, que me casei com ela e agora vamos ter um
filho. Posso ter sido lerdo na primeira chance, mas na segunda eu nã o
pensei duas vezes, querido irmã o.
Balanço a cabeça em negaçã o, estou perplexo com isso.
— Nã o me diga que você ficou encalhado esse tempo todo esperando a
Olívia ficar solteira?
— Uma hora ou outra vocês terminariam. Nunca vi relacionamento mais
caó tico.
Me aproximo dele.
— Foi você quem armou para eu ir para cadeia?
— Mas é claro que nã o, Eros! Por mais que eu tenha falado mil vezes que
uma surra da polícia te colocaria no lugar, eu jamais faria isso. Você é
meu irmã o!
Ele parece estar falando a verdade.
— Acho bom mesmo.
— Só para de encher o saco da Olívia. Ela está grávida e nã o pode ficar
passado por estresse.
— Eu estava feliz sem ver vocês. Se nã o cruzarem o meu caminho, eu
agradecerei. Aliá s, faça bom proveito da sua querida. Ela nã o é nada do
que parece na frente de todo mundo. Se você ainda nã o descobriu,
relaxa, em breve ela mostra as garras. — Dou um tapinha no seu ombro.
Eros nã o deu sinal de vida e agora estou com medo dele ter feito alguma
besteira. Já o vi em fú ria e sei que se nã o tiver quem o pare, ele é capaz
de fazer coisas terríveis.
— Liz? Vem comer alguma coisa, filha. Fizemos hambú rguer. — Mamã e
chama.
Ela está preocupada comigo desde que cheguei. Aqui em casa está um
clima de enterro depois de tudo que contei.
A mã e do Eros só sabia que alguém me machucou, o pai dele sabia mais,
já que duvido que aquele momento em que eles ficaram presos no
escritó rio nã o tenham abordado esse assunto. Minha mã e soube
encaixar muito bem as peças.
— Já vou. — Levanto.
Os olhares de compaixã o deles me fazem sentir que a situaçã o foi ainda
pior do que realmente foi, e já nã o foi boa. Nã o desejo que a situaçã o se
agrave, que o medo que carrego desde a infâ ncia se intensifique apó s
esse incidente.
Talvez haja um desfecho em vista, espero que ele chegue em breve, pois
esse assunto é definitivamente meu ponto fraco, meu calcanhar de
Aquiles.
Saio do quarto com um sorriso no rosto. Parei de chorar depois que me
controlei, mas sorrir é difícil, pois estou preocupada com Eros.
— Você está bem? ― Mamã e pergunta.
— Aham. — Minto, com um turbilhã o de perguntas na minha cabeça.
Eros disse que mataria por mim. Tenho receio de que em breve haja uma
reportagem na televisã o noticiando uma tragédia desse tipo.
Talvez este seja um dos contras de namorar alguém como ele. Seu
temperamento está evidente em seu rosto e até em seu modo de beijar.
Eros é impulsivo.
— Você está bem? — Demétrio repete a pergunta quando chego à
cozinha.
— Podem ficar tranquilos! — Asseguro. — Tive toda a noite para refletir
sobre o assunto e acredito que, agora que conversei com vocês, podemos
deixar esse assunto para trá s e focar em outras coisas. Afinal, o
importante nã o é desabafar? Já o fiz.
— Eu acredito que esse homem precisa ser responsabilizado. Ele te
machucou. Olhe para o seu braço! Mesmo que o assédio tenha ocorrido
anos atrá s, ele ainda representa um perigo para você. — Meu padrasto
está indignado. — Vou expor quem é esse sujeito para todos.
— Nã o, Demétrio, por favor. Agora que meu rosto é um pouco conhecido,
nã o posso me envolver nesse tipo de polêmica.
— Liz, você foi uma vítima.
— Mas nã o quero que as pessoas saibam disso, que falem sobre isso. Eu
nunca mais sairia de casa se isso acontecesse. Por favor, Demétrio,
respeite minha decisã o ― imploro.
Ele abaixa a cabeça, visivelmente inconformado.
— Quando falaram que eu estava namorando Edward, apareceu gente
querendo saber da minha vida de todos os cantos. Tenho receio de que
descubram isso por conta pró pria. Nã o quero dar motivo para fofocas.
— Ele vai pagar. Aquele desgraçado vai pagar. — Minha mã e fala
enquanto coloca as carnes do hambú rguer no prato que está no meio do
balcã o.
— Mesmo sem mencionar o que ele te fez, vou fazer algo sobre esse
homem. As pessoas precisam saber quem ele é. — Demétrio está
determinado. — E pensar que mostrei uma foto da minha filha para ele...
— Nada acontecerá com ela — digo convicta para acalmá -lo.
— Talvez vocês devessem considerar morar em um lugar melhor. Mais
seguro. A minha casa é enorme.
Alguém bate à porta, e minha mã e, já de pé, vai atender.
Fico observando, imaginando que poderia ser Eros, procurando por mim
para falar sobre o que aconteceu, mas quando ela abre a porta, é Olívia
quem entra, visivelmente abalada.
Me levanto, preocupada.
— Olívia, o que aconteceu?
Eros deve ter feito algo terrível. Agora ela está assustada. Meu coraçã o
dispara, com medo do pior.
— A casa caiu.
— Como assim, menina? — Mamã e pergunta, fechando a porta,
enquanto puxo Olívia para sentar no sofá . Demétrio se aproxima.
Ele deve estar reconsiderando a ideia de nos convidar para morar com
ele, com tantos problemas seguidos.
— Eros descobriu tudo e vai contar para a família dele. Nicholas nã o vai
querer continuar casado comigo. — Ela conta, enquanto chora
desesperadamente.
— Descobriu o quê? O que vocês aprontaram, Olívia? — Mamã e exige
saber e faz algo que ela me proibiu de fazer: senta na mesa de centro,
que tem uma tampa de vidro, para ficar de frente com minha prima.
Entã o Eros nã o matou ninguém. Sinto um pouco de alívio, mas eles
devem ter feito algo terrível.
Como Eros pode estar resolvendo uma coisa e, no pró ximo momento, já
estar com outro problema? E falando em problemas, Olívia só aparece
em nossa casa quando está prestes a se envolver em um. A ú ltima vez foi
antes de terminar com Eros e se envolver com Nicholas. Agora ela
aparece assim, em prantos.
— Tome. — Demétrio oferece um lenço, ela agradece enquanto chora e
seca as lá grimas.
— Se acalme e conte tudo — peço, sentando ao seu lado.
A situaçã o deve ser séria para ela estar tã o desesperada. Nã o lembro de
ela ter derramado uma lá grima quando descobriu que Eros tinha sido
preso.
— Eu... — Ela suspira e soluça. — Nicholas teve uma reuniã o de ú ltima
hora, e eu me senti mal, entã o voltamos da casa de campo antes do
combinado. Nicholas tinha acabado de sair da casa da minha mã e
quando Eros chegou procurando o meu pai. Ele... Ele descobriu.
— Descobriu o quê? — Mamã e está ficando impaciente com essa
explicaçã o que nunca chega.
— Meu pai trabalha com um cara que ele nã o gosta. E Eros logo concluiu
que eles arquitetaram tudo juntos para se beneficiarem.
— Isso é verdade? — pergunto, assustada com essa possibilidade.
— Eu nã o sei se fizeram juntos, mas... — ela soluça. — Ele sabe que o
casamento foi feito com um contrato. O homem disse que ele nã o estava
sozinho.
— Olívia, o que ele te mandou fazer? — Mamã e pergunta, tensa.
— Eu amo o Nicholas. Nã o quero me separar dele. Se ele descobrir o que
fiz pelo meu pai... Nã o quero mentir para ele, mas vocês acham que, se
eu contar a verdade, ele vai me perdoar? Eu nã o sei o que fazer. Mamã e
está à beira da loucura.
— Conta logo, Olívia! — Minha mã e perde a paciência.
— Primeiro, ele disse que eu deveria terminar com Eros, depois
conquistar Nicholas até que... tivéssemos um filho e, por causa disso, nos
casaríamos. Ele disse que era o melhor para mim.
— Isso é golpe da barriga! — exclamo, assustada.
“Como eles foram capazes?”
— Entã o, isso tudo foi um golpe, Olívia? — A minha mã e está tã o
chocada quanto eu.
— Mas ele tinha razã o quanto ao Nicholas ser melhor para mim.
Ninguém nunca me tratou como ele me trata. Eu me apaixonei por ele,
tem amor, vamos ter um filho e eu nem ligo para os planos do meu pai
mais. Eu só quero ficar em paz com o Nicholas.
— Mas você fez isso. Olívia, você sabe que seu pai é um homem
ganancioso, que vocês já têm coisas demais. Para que isso? Por que
concordou com isso, minha filha?
— Tia, o meu namoro com Eros nã o dava mais certo, foi uma
oportunidade de acabar com tudo quando ele nã o podia reclamar e
insistir para voltar. Sobre Nicholas... Era o meu pai. Por mais ganancioso
que seja, ele disse que seria o melhor para nossa família.
— E você caiu? Que anta, Olívia! — A verdade escapa pela minha boca.
— Uma hora dessas, Nicholas já sabe de tudo, meu casamento corre
risco.
— O seu pai admitiu essa safadeza?
— Papai nã o tem nada a perder. Se o Nicholas se divorciar de mim, a
minha família receberá uma multa milioná ria por quebra de contrato.
— Que canalha! Igual ao amigo dele. Ele anda com Scott — conto ao
Demétrio, que está de olhos arregalados para tudo que ouve.
— Vou perder o meu casamento. A pessoa que mais me fez feliz na vida
por causa dessa histó ria. — Olívia fala, inconformada.
— Olha, eu só nã o te dou uns tapas porque você está grávida. — Mamã e
levanta, furiosa. — Trate de procurar o rapaz e contar tudo. E reze para
que ele te perdoe, porque uma coisa dessas nã o se faz. Por isso eu digo,
Michael é podre e a minha irmã está ficando igual a ele.
Ela está poupando Olívia. Porque se ela nã o estivesse aqui em prantos, a
família toda seria chamada de podre.
Que absurdo! Nã o tenho dú vidas de que Nicholas vai acabar com esse
casamento.
Como será que Eros está depois dessa histó ria? Será que ele vai pensar
que, com o fim do casamento, pode voltar com Olívia e retomar a vida
que tinha antes? Estou apreensiva.
Reuni a minha família e contei tudo.
Por um momento, cheguei a pensar no que Michael disse, sobre ninguém
acreditar na minha palavra, mas a minha família acreditou. Pela
primeira vez, ninguém questionou a veracidade do que eu disse. Agora,
estamos todos decepcionados.
Eu disse que eles tinham caído em um golpe, sem imaginar que eu
estava incluso nisso. Mas nunca duvidei da maldade de Michael e Scott.
Nã o queria estar nessa situaçã o, contudo, é bom poder provar que nã o
era coisa da minha cabeça.
— Como pude cair nisso? Ela fingiu o tempo todo! — Nicholas está
desolado no sofá da sala.
— Falta de aviso nã o foi — comento, apoiado em uma parede.
— Eu tinha certeza de que ela me amava. Tudo o que vivemos foi uma
mentira?
— Nã o. O golpe foi real.
— Eros... — Mamã e suplica, abatida. — Nã o piore as coisas.
— Piorar? Fui preso injustamente e, a menos que eu mate alguém ou
mande matar esses dois, nã o terei justiça. Eles nem tiveram medo
quando admitiram. Sabem que nã o podemos fazer nada contra eles.
— Pai, ligue para Cole. Eu quero o divó rcio. — Nicholas fala, revoltado.
— Você nã o quer falar com Olívia? Ela pode ser apenas uma vítima.
— Duvido muito, mã e. Ouça o que estou dizendo. Eles nã o agem sem
pensar. Olívia nã o veio aqui por acaso. Parece que quer defender a
golpista! ― digo sem paciência.
— Que desgraça! — Papai pragueja, servindo-se de whisky. — Vamos
processar essa família toda.
― Seria bom se isso resolvesse tudo. ― Lamento.
Há reclamaçõ es que só eu posso fazer, dores que só eu senti e traumas
que nenhum processo pode curar. Até me bate um desâ nimo. Posso
tentar fazer justiça com as minhas pró prias mã os, mas isso só me levaria
mais fundo.
Eu poderia e teria essa coragem, mas estou dividido.
Existe esse lado meu que consideraria fazer justiça com as pró prias
mã os, mesmo que isso me colocasse de volta onde mais sofri, e há o meu
lado traumatizado, que seria capaz de abaixar a cabeça se isso me
poupasse de passar por aquele terror mais uma vez.
Mas é claro que Scott sabe de tudo. Se nã o foi ele quem mandou me
atormentar lá , eu nã o sei quem poderia ser. E raramente erro nas
minhas apostas. Até agora, acertei tudo.
A campainha toca e uma das empregadas vai atender. Só pode ser o Cole,
já que é a pessoa que precisamos neste momento. Procuro um canto
para sentar e ouvir o que, em pouco ou nada, vai me beneficiar. Se
existissem provas...
― O que você faz aqui? ― Nicholas pergunta, ríspido, e olho para a
entrada. Olívia, com o rosto inchado, está acompanhada da tia, Demétrio
e Liz.
Poxa, com tantos problemas, esqueci da minha pequena. A ú nica pessoa
que se salva no meio disso tudo.
Levanto-me com vontade de ir até ela e conversar sobre tudo, mas nã o
sei se a minha futura sogra ― que é como já a considero ― está sabendo
do que temos. Ela também olha para mim, apertando os lá bios. Já deve
saber de tudo.
― Nick, eu vim falar com você. Com todos vocês.
― Veio trazer mais mentiras? ― Ele se levanta, devastado.
Lamento por meu irmã o. Depois que ele me disse que ficou apaixonado
por ela desde aquela noite em que passei na frente caprichosamente,
relevei o contragolpe, mas eu disse que ela se mostraria em algum
momento. Agora ela chora como se fosse uma vítima.
― Me ouça. Eu vim falar tudo. Meus pais nem sabem que estou aqui.
“Agora que o estrago está feito, ela vem querendo ajudar.”
― A sua família nos traiu. É isso ― digo sem rodeios. ― Você me usou,
usou o meu irmã o, usou a nossa família e ainda vai nos arrancar
dinheiro.
― Juro que nã o tinha a intençã o de fazer mal a ninguém.
― Aham, claro. Porque você é uma santa ― digo sarcá stico.
― Acreditei mesmo que você me amava, Olívia. ― Nicholas fala,
encarando-a de frente. ― Você chegou aqui sorrateira, se aproximou de
mim, disse que estava loucamente apaixonada e tudo era só um plano.
― Me apaixonei de verdade por você e nã o me arrependo de ter me
casado. Te amo de verdade, Nick.
“Não é possível que ele será capaz de acreditar!”
― Nã o acredito em mais uma palavra sua. Pode falar para o seu pai que o
plano foi concluído. Vamos pagar o milhã o, porque nã o vou permanecer
casado com você. ― Ele fala, enojado.
Ao menos criou coragem.
Liz olha para mim, encolhida perto da porta, como sua mã e e o padrasto.
Ela certamente nã o imaginava isso, mas nossa conversa ontem foi o que
clareou a minha mente. Quando ouvi de Scott que outras pessoas
queriam me prejudicar e estavam por perto, associei imediatamente ao
maldito do Michael.
― Por favor, Nicholas. Estou tã o arrependida de ter ajudado o meu pai.
Senhor e Senhora Werneck, acreditem em mim. ― Ela implora e por
ú ltimo olha para mim, mas como já sabe que meus alarmes estã o
ativados, nã o me pede nada.
― Nó s te recebemos com tanto carinho. ― A minha mã e diz
decepcionada. ― Te tratamos como uma filha e você machucou nossos
dois filhos.
Meu pai deve estar envergonhado por ter feito dois trouxas. Sorrio
mentalmente desse pensamento inoportuno.
― Me desculpem. Vocês foram melhores comigo do que meus pró prios
pais. Sinto muito decepcionar.
Nicholas dá uma volta, esfregando o rosto.
― Escuta, se ninguém tivesse descoberto, vocês iriam ficar nos
enganando até quando? ― Ele questiona.
― Me arrependi assim que trocamos a primeira palavra, Nick. ― Ela fala,
chorando. Isso já está me irritando.
― Querem saber? Nã o tenho paciência para ficar ouvindo isso. Vou
embora ― aviso, indo em direçã o à saída, e vejo uma Liz entristecida.
No meio de tantas descobertas, dá vontade de gritar que estamos juntos
e jogar essa garota no meu ombro antes de sair daqui.
― Espera. ― Olívia pede. ― Vou consertar isso.
Me viro para ela, rindo.
― O que você fez nã o tem conserto. Já está feito e, como Nicholas disse,
seu golpe agora está completo. Só falta parir o moleque para ter o bô nus
da herança da nossa família.
― Vou contar tudo o que sei para a polícia. Tudo que o meu pai fez
contra vocês. Tudo que ele fez com Scott.
Por mais que sinta uma pontada de esperança, sei que ao primeiro olhar
do pai, ela ficará muda.
― Como se você tivesse coragem. ― Continuo o meu caminho, pois, por
mais que ela conte, nada vai mudar para mim.
― Eu sei tudo o que aconteceu quando você foi pego com as drogas.
Tudo, até mesmo o meu pedido para ir para casa fazia parte do plano.
Nã o acredito nisso.
Me viro para ela mais uma vez, desta vez com a fú ria crescendo em mim.
― VOCÊ ESTAVA ENVOLVIDA NISSO, OLÍVIA? ― Esbravejo.
― O meu pai disse que depois que pedissem o seu carro, eu deveria te
distrair, pedir que me levasse para casa, o tempo de resolverem tudo. Eu
nã o sabia que eles colocariam armas no seu carro, mas eu sabia que
estavam fazendo alguma coisa.
Balanço a cabeça em negaçã o.
― E eu achei que a pior coisa que você poderia ter feito comigo era ter
me abandonado no meu pior momento. Mas você ajudou a me
colocarem lá ! ― digo, com puro ó dio me consumindo.
É difícil engolir isso.
― Eu nã o achei que você acabaria na cadeia.
― E achou o quê? Que manipulariam meu carro e eu sofreria um
acidente? Morreria? Qual era a sua expectativa? ― indago, enojado. Eu
fui o mais trouxa de todos.
― Eros, eu só fiz o que meu pai pediu. ― Ela volta a chorar.
Balanço a cabeça e saio da casa sem ter mais o que falar.
Esse foi o xeque-mate.
Parece que quanto mais Olívia fala, mais coisas descobrimos. Essa
histó ria dela ter feito parte do plano que levou Eros para a cadeia foi
extremamente pesada. Trouxemos ela como forma de apoio para que
contasse o que fez, afinal, é o mínimo, já que se arrepende, mas nã o
podemos passar a mã o na cabeça dela. O que ela fez foi terrível, fiquei de
coraçã o partido ao ver Eros ouvindo isso e saindo desolado. Ele nã o
explodiu, nã o fez ameaças, apenas ficou extremamente decepcionado e
triste.
Quando viro para a confusã o, com um grande desejo de ir atrá s dele, o
pai de Eros conversa para ver se ela está mesmo disposta a contar. Acho
que é a pessoa menos emotiva dentre os Werneck no momento, pois a
esposa está chorando e Nicholas nitidamente nã o suporta olhar para a
cara dela.
Nã o temos nada a fazer para ajudar. A ajuda foi trazê-la aqui, agora é
com ela. E coitado desse bebê, crescendo no meio dessa confusã o. Nã o
sei o que deve estar rolando na casa da minha tia, mas se eles temem as
atitudes da filha, uma hora dessas devem estar procurando por ela. No
fim, sobrará para nó s acolhê-la, já que ela arranjou problema com a
família dela e a do marido.
Olívia está em apuros e nã o tenho pena. Tenho pena do Eros, que foi
preso injustamente só para que ela pudesse dar o golpe da barriga no
irmã o.
― Que situaçã o. ― Mamã e murmura enquanto assistimos à conversa.
― Mã e, estou pensando em ir falar com a Paige. Isso aqui está tenso
demais. — Minto, pois preciso ir atrá s do Eros.
― Mas cuidado. Já basta o que aconteceu ontem.
― Sim. Eu vou tomar cuidado.
“Uma hora dessas, aquele cretino deve estar rindo da cara do Eros por ter
demorado tanto para descobrir essas coisas.”
Chamo um Uber e vou para o condomínio onde Eros mora, na esperança
de que ele tenha ido para lá , já que anda bastante caseiro.
Aviso na portaria e eles ligam para o Eros. Ele me deixa entrar. Passou
aquele leve pensamento de ele achar que porque somos da família
fizemos parte do que Olívia e meus tios fizeram, mas felizmente ele nã o
pensou assim, já que me deixou entrar.
O Uber me deixa na porta da casa dele e me apresso para tocar a
campainha. Que dia cansativo! Eros abre a porta, com os cabelos
molhados e somente uma toalha enrolada no quadril.
― Oi ― digo baixo.
A preocupaçã o nã o deixa os belos detalhes dele me dispersarem.
― Oi. ― Ele diz suspirando. ― Vem, entra.
Entro na sala e ele fecha a porta. Está cheirando tã o bem que parece até
que usou perfume.
― Como você está ? ― Pela cara, muito abatido.
“Que pergunta estúpida.”
― Me sinto um trouxa, Liz. ― Ele passa o braço pelo meu pescoço e beija
minha cabeça. ― Que bom que você veio.
― Fiquei preocupada. Eu nã o imaginava que ela tinha feito aquilo.
― A sua prima nã o vale nada. Eu nã o sei como acreditei em tudo que ela
disse, como caí nessas coisas. Tudo armaçã o. ― Ele anda ao meu lado e
sentamos no sofá .
― O tio Michael sempre manipulou a filha para conseguir o que queria.
Penso se o meu pai tivesse permanecido na minha vida, se faria o
mesmo. Eu confiava muito nele antes de me decepcionar.
― Você é muito diferente dela, Liz. ― Ele diz olhando para a frente, e
como estou no canto do sofá , puxo sua cabeça para ele deitar a cabeça
no meu colo e o resto do corpo no sofá .
― O que você vai fazer agora? ― pergunto penteando seus cabelos com
os dedos.
― Nã o sei. Acho que qualquer coisa que eu fizer, me tornará mais trouxa
ainda no meio dessa histó ria.
― A Olívia vai contar tudo para polícia. Acho que eles vã o tirar as
acusaçõ es contra você.
― Agora isso nem importa tanto. Meu nome já foi para o lixo, Scott já
conseguiu o que queria, o seu tio também, e nada que eu faça pode
apagar o que vivi injustamente durante dois meses.
Fico de coraçã o apertado por ele.
Eros pode ter traumas piores que os meus, vai ver por isso me entende e
me protege tanto.
― Eros... ― sussurro e fico um pouco receosa em perguntar, mas
prossigo. ― O que aconteceu quando você esteve lá ?
Ele alcança a minha mã o e puxa para perto do seu peito.
Seu silêncio duradouro me faz acreditar que ele nã o se sente bem em
falar sobre isso. Ele respira tã o fundo enquanto descansa em meu colo.
― Você nã o precisa falar se nã o se sentir à vontade.
― Você é uma das pessoas com quem mais me sinto à vontade, Liz. É que
reviver essas lembranças me traz à tona as coisas que senti.
Eu vivi uma tentativa de estupro e fiquei por anos com medo do que
poderia ter acontecido, ainda vivo com medo, imagina ele, que deve ter
sentido na pele.
― Você tinha razã o de me achar um babaca, porque antes de ser preso,
eu era, quando cheguei lá , continuei sendo até aprender que ali eu nã o
era ninguém. Eles me odiavam, eu sempre falava besteira, queria me
garantir com sobrenome e dinheiro, mas o dinheiro só serviu para que
um colega de cela me protegesse. Ainda foi o meu pai quem pagou.
― Entã o eles nã o encostaram em você, encostaram? ― A minha
esperança é ouvir que nã o.
Estou me sentindo um trouxa depois de descobrir que a minha pró pria
namorada armou para mim. Fui um peã o e passei por situaçõ es
terríveis só para satisfazer os desejos de dois patifes.
Eu sei que isso contribuiu para que eu fosse menos egocêntrico, mas
nada disso foi planejado para o meu bem, eu nã o estive bem por dois
meses. Ainda nã o estou bem. Nã o penso nisso todos os dias, o tempo
todo, mas eu lembro e nunca esquecerei do que passei nas mã os
daqueles caras dentro da prisã o.
— Eles me ameaçaram vá rias vezes, tentaram me matar vá rias vezes
também. Chegou um momento em que nem dormir eu conseguia mais.
Aquela noite em que acordei sendo sufocado com um travesseiro foi,
sem sombra de dú vidas, a pior noite da minha vida, todos os outros dias
em que fiquei preso, mal dormi, com medo de acontecer de novo.
— Que crueldade. — Liz sussurra.
— Eles acabaram com o Eros Werneck. O maior arrependimento que
tive, depois de tantas ameaças, foi ter falado o meu nome. Eu nã o queria
ser mais eu. Nã o queria ser alvo de nada. Agora eu sei que eles tinham
contato com quem me odiava aqui fora, porque o Scott disse que sabia
que passei por maus bocados.
— Nem depois de te colocar lá , eles pararam!
Suspiro.
— Nã o.
— Sinto muito pelo que fizeram com você. Sinto muito mesmo. — Ela
segura meu rosto e a encaro.
No meio de tanta descoberta ruim, fiquei feliz quando ouvi que ela
estava na portaria.
Seus olhos estã o nadando em lá grimas, me sinto culpado por isso.
Sento de frente para ela.
— O que eu disse sobre chorar?
— Eu te falei dos meus problemas, coisas que nem aconteceram comigo,
e você carregava problemas bem maiores.
— Ninguém pode medir o peso que certos acontecimentos têm na vida
de outra pessoa. Cada um tem a sua forma de ver as coisas. Aposto que
para eles, o que eu vivi nã o foi nada.
— Eu sinto muito mesmo, Eros. Se antes eu já estava horrorizada com
tudo o que fizeram, agora estou mal. Você passou por algo que nem
merecia.
Suspiro concordando com isso e a abraço.
Eu nunca vou perdoar o que eles fizeram comigo. Principalmente a
Olívia.
Sinto a ponta da toalha escorregando pelo meu quadril.
— Acho que a minha toalha caiu — comento.
Ela cobre o rosto e sai do meu abraço.
— Eros! Um momento triste e você nã o perde essa mania!
Dou risada e prendo novamente a toalha.
Ela continua de costas, cobrindo os olhos com as mã os. Tã o pequena...
— Você lembra que já viu tudo que está coberto, nã o é? — brinco e ela
balança a cabeça envergonhada. — A ú nica coisa boa que essa maldade
me trouxe foi você. — Levanto e a abraça pelas costas.
— Você ainda vê um ponto positivo?
— Claro. — Beijo a sua cabeça. — Se nada disso tivesse acontecido,
ainda estaria com aquela golpista, desdenhando de todos e me achando
o dono do mundo.
— Eu nunca gostaria daquele cara. Você continuaria sendo uma das
péssimas decisõ es que a minha prima tomou.
— E você continuaria sendo a prima esquecida.
Ela se vira rindo.
— Eu nã o sei o que é pior. Ser chamada disso ou de fulaninha.
— Fulaninha é apelido carinhoso. — Beijo seus lá bios.
— Grande carinho me chamando assim.
É impressionante como ela consegue me deixar feliz até nos momentos
mais difíceis da minha vida, me afastar desses sentimentos ruins, como
se um dia nublado se tornasse ensolarado de uma hora para outra só
por tê-la por perto.
A abraço forte e a tiro do chã o.
— Eros! — Grita sufocada e quando a aperto mais em meu abraço, ouço
sua coluna estalando.
— Tá vendo? Nã o basta te dar prazer, ainda alinho a sua coluna. —
Coloco Liz no chã o.
— Um verdadeiro faz-tudo. — Zomba, movimentando os ombros. —
Você já comeu?
— Ainda nã o.
— Vamos fazer isso entã o. — Pede fazendo uma careta engraçada.
Passei a tarde com o Eros, e mesmo conseguindo fazê-lo sorrir, sei que
ele nã o está bem. Eu também nã o estou depois de saber o que ele passou
na cadeia, o que a minha prima fez. Ele era um babaca, mas nã o merecia
passar por isso.
Ser ameaçado de morte, sofrer tentativas disso... Eu nã o sei como ele
está tã o calmo depois de passar por tudo que passou. Geralmente, quem
vive esse tipo de experiência, ao menos nos livros, se torna frio,
insensível, como se nada mais pudesse abalá -lo. Mas ele nã o. Ele deixou
de ser aquela pessoa repugnante.
Agora eu sei que quando eu disse para ele parar de socar o Scott para
nã o voltar para a cadeia, ele largou por medo. Ele tem medo. Ficou
traumatizado. Ele nã o se tornou duro ou frio pelo que viveu. Só nã o quer
sentir na pele de novo.
Se antes eu achava que estava enganada com ele, agora vejo que me
enganei mais ainda. Eros foi machucado física e psicologicamente. Está
tentando voltar a ter uma vida normal, e até agora, a ú nica coisa que vi
se acertando em sua vida foi seus pais naquele jantar na casa dele.
Me pego pensando se antes de ficarmos tã o pró ximos, contribuí de
alguma forma para que ele se sentisse melhor ou pior. Quando soube
que ele tinha sido preso, nã o senti pena, achei merecido. Quando ele
saiu, me preocupei com a cabeça da minha prima, mas nã o foi uma
preocupaçã o tã o grande. Eu achava que ele sairia pior do que antes.
Entro na casa e vejo minha mã e, Demétrio e Harper na sala. Ele deve ter
a buscado para ter certeza de que Scott nã o faria nada para atingi-lo
depois de romper o contrato.
— Cadê a Olívia? — pergunto fechando a porta.
— Ela está no seu quarto. — Mamã e responde com uma expressã o nada
boa. — Liz, mais cedo você conseguiu me enrolar, agora me responda:
você está com o Eros? Estã o juntos?
Parece que esse dia nã o para de trazer confrontos. Essa pergunta faz
meu peito acelerar, continuo parada perto da porta.
Harper está perto da janela e parece brava.
— Hein, Liz?
— Nã o adianta mentir. As fotos do passeio de mã os dadas dizem tudo. —
Harper diz.
“Ela está com raiva de mim?”
O Demétrio está de cabeça baixa. Esse homem assiste todos os barracos.
— SIM! SIM! — admito sem paciência para mais discussã o.
— Liz! Eu nã o acredito que você está fazendo isso! — Mamã e fala
decepcionada.
— Mã e, eu sei que você acha que o Eros continua sendo aquele babaca
que namorava a Olívia, mas ele nã o é mais assim. Se você nã o entendeu a
confusã o, armaram para ele e ele foi preso injustamente.
— Mas, minha filha, esse rapaz nã o pode ser bom para você! Onde já se
viu namorar o ex-namorado da prima? Eles nunca tiveram um
relacionamento bom!
Ela nã o ouviu o que eu falei e nã o vou repetir.
— Nã o me diga que você saiu da conversa para ir na casa dele?
— Sim. Foi. Eu fui saber como ele estava depois de descobrir toda essa
sacanagem. E mais, eu estava com ele depois de o meu pai aparecer aqui.
E quer mais? Eu dormi na casa dele no dia da reuniã o, quando o levei
para casa bêbado. Agora eu nã o vou esconder mais nada. Dormi na casa
dele ontem também.
— Liz... — ela parece que vai chorar.
— Foi por isso que ele mandou que eu sumisse da vida dele. — Harper
me acusa. — Ainda vim chorando e você fingiu que nã o sabia de nada!
— E você queria que eu dissesse o quê? Que era por minha causa? Eu
nã o mando nele! Nã o falei para ele fazer nada.
— Você sabia que eu gostava dele.
— Harper, vocês se viram duas vezes!
Olívia aparece na porta do quarto, encolhida e com a cara inchada de
tanto chorar.
— Nã o! A gente já se conhecia faz tempo. Antes mesmo de ele ser preso,
nó s ficamos!
— Foi com você que ele me traiu? — Olívia pergunta.
— Ó timo. — Dou uma risada aflita. — Isso só piora. Olha, eu sei com
quem estou. Vocês ficaram com o Eros babaca, mas eu nã o. Eu sei o que
ele sente por mim e o que sinto por ele. Entã o nã o importa o que vocês
digam, eu vou continuar com ele.
— Como eu me enganei com você. Achei que você era minha amiga. —
Harper reclama.
— Eu nã o sou a vilã de nada. Eu só nã o sabia o que dizer. De todos os
lados têm gente falando mal do Eros e parece que só eu vejo quem ele é
de verdade. Ele se importa comigo e se ele mandou você parar, foi
porque você estava invasiva demais.
— Nã o criei a minha filha para ficar brigando por macho. — Mamã e fala
decepcionada. — Paixã o passa. Eu nã o quero você com esse rapaz!
— Mã e, eu já sou adulta. Eu sei o que é bom para mim.
— Eu te protegi a vida inteira e nã o é agora que vou te entregar nas
mã os desse cara, Liz!
— Ele também me protege. Ele se importa comigo, mã e! — Tento
convencê-la.
— Ele só quer se aproveitar de você, Liz. Eu nã o quero saber desse rapaz
na minha casa. Nã o ouse trazê-lo aqui. E se você continuar se
encontrando com ele, saiba que nã o terá meu apoio para mais nada.
— É claro que ela vai continuar. — Harper dispara e seu pai grita em
seguida.
— CALA A BOCA, HARPER, ou você vai voltar para casa. — Determina.
Acho que nã o dá pra ficar em casa no momento. Saio e dessa vez vou
atrá s de Paige de verdade.
Eu nã o vou abandonar o Eros neste momento e espero nã o ter motivos
para abandoná -lo em outro. Nã o me importo se ele namorou a minha
prima. Ela deu motivos para que eu nã o me importasse. Nã o ligo se a
Harper diz que sou culpada pelo fora que ele deu nela. Ele só foi na festa
dela como um amigo.
Dessa vez nã o farei o que a minha mã e pediu. Ela nã o entende que ele
também se preocupa comigo, que ele tem as mesmas intençõ es que ela
quando se trata da minha proteçã o.
Eros nã o está comigo por interesse sexual. Eu nã o vou ficar pensando
nisso se nã o vou acabar paranoica e vou perder uma pessoa que me
apoiou quando eu estava em momentos tensos, que nã o me julgou e que
gosta de mim.
Me afasto de casa para ir ao ponto de ô nibus, mas no caminho decido
chamar um Uber mesmo, entã o sento no banco de uma praça. Um carro
para assim que me acomodo e ouço alguém dentro dele chamando o
meu nome.
"Que não seja mais problemas" ― desejo de olhos fechados.
― Liz, por que se recusa a falar comigo?
Abro os olhos e vejo Ed aflito na minha frente.
― Porque nã o quero falar com você!
― Mas eu preciso entender o que aconteceu na minha casa. Você ficou
em pâ nico, aquele louco entrou e agrediu o meu pai.
― Você viu tudo, mas nã o ouviu as coisas que o seu pai disse, ou já sabia
de tudo? ― Observo desconfiada.
― De tudo o quê? Que o meu pai e o Eros tinham problemas? Sim, eu
sabia, mas eu te convidei para jantar na nossa casa. Nã o sabia que você
ficaria daquele jeito, muito menos que aquele cara apareceria lá !
― Eu o chamei porque mal conseguia me mover depois de descobrir
quem era o seu pai.
― Você já o conhecia? ― Ele pergunta surpreso.
― Infelizmente. ― levanto nervosa. ― O seu pai destruiu a minha família
e a carreira do Eros. Eu quero distâ ncia da família dele.
― O meu pai? O que ele fez? O meu pai é um homem de bem.
― Nã o é possível que você nunca tenha enxergado que o seu pai é tudo
menos um homem de bem.
― Liz, estou sendo sincero com você. Ficamos assustados com o que
aconteceu. Eu gosto de você e quero entender o que te fez ficar daquele
jeito, para que nã o aconteça de novo. ― Ele segura o meu braço. ― Liz,
estou apaixonado por você.
― Lamento, porque mesmo que você seja inocente, eu nunca ficarei com
o filho do homem que tentou abusar de mim ― digo com desprezo e
ó dio.
― O que você está inventando? O meu pai jamais faria isso! ― Seu tom de
voz muda.
― Inventando? Se nã o fosse a minha mã e, hoje eu faria parte da parcela
de mulheres que sofreram com esse crime. E mesmo assim, carrego esse
trauma até hoje. Se eu soubesse que você era filho dele, nunca teria me
aproximado de você ― digo em lá grimas.
― Mas o meu pai... ― ele parece perplexo. ― Eu juro que nã o sabia. Nã o
sou como ele, Liz. ― Agarra o meu braço mais uma vez. ― Me dá uma
chance de te mostrar isso.
― Estou indisponível, para qualquer cara e principalmente para você. ―
Me solto dele e enxugo o rosto com o dorso da mã o.
― Você vai me rejeitar mesmo? Prefere ficar com aquele traficante
descontrolado?
― Eros nunca foi o que acusam. O verdadeiro criminoso está na sua casa.
― Me afasto dele e verifico a placa do Uber no celular, pois um carro
parou na rua. Felizmente, é o Uber que pedi e entro me livrando da
conversa com Edward.
No caminho, penso se foi ou nã o uma boa ideia contar sobre o que o pai
dele fez comigo. Acho que ele precisava saber o tipo de monstro que ele
chama de pai e, por mais inocente que Ed seja, prefiro ficar distante dele.
Encontro Paige em casa.
— Olha quem decidiu fazer uma apariçã o! Temos muitos compromissos
nos pró ximos dias. — Ela me puxa para dentro de casa e tranca a porta.
Eu havia esquecido que agora sigo os planos da Paige. Nem entrei no
Instagram hoje. Foram tantas coisas acontecendo durante o dia que
esqueci de me comunicar com meus seguidores.
Ela se senta à mesa, onde um iPad está aberto mostrando a agenda,
junto com seu celular. Me sento perto dela para começar a contar tudo
que aconteceu.
— Paige, minha vida está um caos.
— Essa é a justificativa para ter sumido dos stories? — Balanço a cabeça
em concordâ ncia. — Entã o me empreste seu celular para que eu possa
compartilhar os vídeos que fizemos com os parceiros. Você nã o pode se
esquecer dos seus compromissos.
Entrego-lhe o aparelho e encosto minha cabeça na mesa.
— Sabe quando chega a ú ltima semana da novela e todos os segredos
começam a surgir, um apó s o outro?
— Sei sim. E nã o me diga que você se esforçou para esconder que está
com o Eros, já que vocês estavam andando de mã os dadas.
— Nã o é isso. Isso é o de menos — digo desanimada. — Quer dizer, a
minha mã e sabe e nã o aceita.
— Conte-me algo novo.
— A minha prima armou com o pai dela para que o Eros fosse preso.
— O quê? — Levanto a cabeça e confirmo. — Liz, qual é a histó ria?
— Ontem fui jantar na casa do Ed.
— Sim, e você nã o me contou nada do que aconteceu lá . Pelo visto, Eros
nã o se importou ou nã o sabe, já que vocês estavam juntos hoje cedo.
— Que dia longo! Parece que nem foi ontem. ― analiso.
— Desenrola, Liz.
— Ed é filho do cara que... — Me dou conta de que contar tudo nã o é
uma boa ideia, mas também a minha amizade com Paige se fortaleceu
nas ú ltimas semanas. Deveria contar?
— Liz?
— Paige, você pode guardar um segredo?
— Segredo? Sobre quem?
— Sobre mim — respondo, querendo corar.
Está tudo tã o caó tico que dá vontade de abandonar tudo e fugir para
uma ilha deserta. Ou para a casa de campo dos Werneck, na companhia
do Eros, de preferência.
— O que houve? Liz, o Ed te fez alguma coisa?
— Nã o. Ele nã o fez nada, mas o pai dele sim. No passado, ele... Me
assediou. Ele era amigo do meu pai e do meu tio.
— Sério, Liz? Há quanto tempo foi isso? — Ela pergunta, assustada.
— O suficiente para eu ainda ser criança. Mas nã o quero me aprofundar
muito nesse assunto. Acho que você já sabe as consequências disso na
minha vida.
— Nossa, amiga. Eu sinto muito. — Ela segura minha mã o.
— Pois é. O fato é que ele era amigo do tio Michael, ficaram ricos juntos,
e é rival de negó cios do Eros. Para tirar o Eros da jogada e conseguirem o
que queriam, armaram para ele ser preso e, enquanto o Scott mandava
infernizarem o Eros na cadeia e roubava os só cios dele, tio Michael
mandou Olívia seduzir o Nicholas, engravidar de um filho dele e se
casarem com um contrato milioná rio caso Nicholas pedisse o divó rcio.
Ela se esparrama na cadeira, atô nita, eu continuo.
— O plano deu tã o certo, Paige, que eles abriram o jogo sem se importar
com nada. Eles sabiam que nã o tinha como Eros provar nada disso.
— Que maldade!
— Mas eles nã o contavam que a Olívia iria se arrepender e estaria
disposta a colaborar com eles, só para que Nicholas nã o terminasse com
ela.
— Você acredita que ela vai expor a pró pria família? Será que ela pode
mesmo consertar tudo?
— Creio que a palavra dela seja significativa. Normalmente, as
investigaçõ es começam quando a acusaçã o vem de uma fonte confiável,
nã o é mesmo?
— Sim, geralmente é assim.
— No entanto, o Eros nã o está satisfeito. Mesmo que as acusaçõ es contra
ele sejam retiradas, o seu nome já foi prejudicado e ele passou por
momentos difíceis na cadeia. Ele me contou e fiquei bastante comovida.
— Um redemoinho de confusã o. Você está certa, isso parece um enredo
de fim de novela.
— Exatamente. Mas logo todo mundo vai saber a verdade. Só espero que
nã o descubram o que aconteceu comigo.
— É complicado falar sobre esse assunto. As pessoas têm opiniõ es
diferentes. Nã o sei o que faria no seu lugar. — Ela lamenta.
— O pior é que o Ed é filho dele. Quando cheguei para jantar, lá estava o
pai dele, reavivando as lembranças do que deixou eu e minha mã e
apavoradas e revoltadas por anos.
— Que mundo pequeno! Será que ele já sabia quem você era? Você era
criança, deve ter mudado bastante nesses anos.
— Sim, ele sabia. O Ed me disse que o pai queria me ver. A minha
aparência pode ter mudado, mas nã o cresci muito em altura, e o nome
continua o mesmo. Ele me abordou na rua, quando estava vindo para cá ,
e perguntou sobre o que aconteceu ontem. Acabei contando a verdade.
Ele precisava saber quem é o pai dele.
— Vocês poderiam se unir e denunciar esse homem. O Eros pelo golpe
que sofreu, você pelo assédio, a sua prima por estar envolvida nas
falcatruas. Mas o seu tio? Ele fugiu?
— Ele nã o se importa com nada disso. Com o divó rcio, ele vai receber
um milhã o de dó lares. Pode pagar pelos processos e ainda ficará rico.
— Ele também deveria ser preso. Ele nã o armou tudo contra o Eros? As
pessoas associadas ao trá fico de armas também podem ser presas. Eu vi
isso na TV.
— Tomara. Espero que passem o resto da vida na prisã o.
— E quanto ao Eros? A sua mã e nã o o aceita, né?
— Nã o, mas eu disse a ela que nã o vou desistir dele por causa disso. A
Harper me acusou de tê-lo afastado dela, pode acreditar? ― conto
perplexa, apesar de já esperar isso quando ela me procurou. Foi esse o
medo que senti naquele dia.
— Eu te disse para nã o se preocupar com essa garota.
— Se ela estivesse no meu lugar quando a vi chorando, teria feito o
mesmo. Tenho certeza disso.
— Isso, se ela se importasse com seus sentimentos. Ela acabou de
chegar, nem sabe o que você já passou com ele. Ela estava lá quando
você torceu o pé? Nem eu estava presente para ver. Imagine ela!
— Pois é. Eu nã o vou desistir. Mamã e disse que se eu continuar, nã o terei
mais o seu apoio. Posso ficar aqui hoje? A Olívia está lá em casa. A
família dela a rejeitou, a família do marido a rejeitou e eu... — suspiro. —
Estou na mesma situaçã o que ela.
— Claro que pode. Fique o tempo que precisar.
Paige tem ocupado meu tempo com muito trabalho, o que me afastou
dos problemas da minha família. Minha mã e apenas visualiza minhas
postagens no stories e nã o diz nada. Acredito que ela esteja me
monitorando de longe. Olívia faz o mesmo. Enquanto isso, Eros está com
os pais e o advogado, fazendo de tudo para acabar com o meu tio e o seu
comparsa. O assunto já saiu na mídia depois que viram Olívia ao lado do
Sr. Werneck e o advogado entrando na delegacia. Já têm até notas na
imprensa sobre o que eles registraram na polícia.
Ao voltarmos do salã o de beleza, ligamos a TV para ver se já estã o
falando no noticiá rio. Continuo na casa de Paige, sem coragem de
encarar minha mã e brava. Nã o gosto de brigar com ela, mas no
momento nã o conseguimos chegar a um acordo. Eros disse que vai falar
com ela. Eu nã o queria jogar esse peso sobre os ombros dele. Acredito
que, com o tempo, ela vai entender que somos bons um para o outro.
Porém, a minha mã e nã o é uma pessoa que se convence tã o
rapidamente, apenas com uma simples conversa. Mesmo que eu conte
sobre todas as coisas que Eros fez e que provam o quanto ele se importa
comigo, se ela nã o viu, ela nã o acredita.
[— Na manhã deste sá bado, o empresá rio Scott Brixton saiu do
condomínio de luxo onde reside, acompanhado pela polícia, para prestar
depoimento na delegacia. Da mesma forma, o empresá rio Michael
Albuquerque compareceu ao local para falar com o delegado. Ambos
estã o sendo acusados de armar uma situaçã o para incriminar Eros
Werneck, que foi detido e passou dois meses na cadeia por porte ilegal
de armas. Segundo testemunhas, as armas foram plantadas no carro do
rapaz. Os empresá rios acusados estã o sob investigaçã o e, até o
momento, foram encontradas armas ilegais na residência de Scott
Brixton. Eles se recusaram a falar com a imprensa.]
— Isso é só o começo. — Paige comenta sentada no outro sofá .
— Sim, espero que no final o Eros consiga provar que nã o fez nada disso.
Ela me olha e dá um pequeno sorriso.
— O que foi?
— Vocês... Como estã o? Namorando de verdade?
— Ele disse que eu era a namorada dele quando bateu no babaca lá . Mas
nã o conversamos sobre isso. — Fico emocionada ao falar.
— Se ele quer falar com a sua mã e, é porque as coisas estã o sérias.
— Pois é. Mas já consigo prever caos em uma conversa entre eles. Nã o
sei se é melhor eu estar presente ou ausente nesse momento.
Ela ri.
— A sua mã e tem os motivos dela. Como você disse, ela nã o o conhece
tã o bem.
— Ela nem quer conhecer.
— Começa assim, mas no final ela o tratará como um filho.
Dou risada.
— Isso seria estranho, mas maravilhoso. O Demétrio gosta dele. Pelo
menos antes da filha dele reclamar sobre ele ter dado um basta nas
mensagens dela.
— E você? Já se acostumou com o padrasto?
Esse assunto me faz refletir mais.
— Paige, com o que aconteceu anos atrá s, nenhum homem entrou nas
nossas vidas. Eu quase nã o acreditei que Demétrio era de confiança, que
nã o era como aquele homem que o meu pai chamou para a nossa casa,
mas agora a minha opiniã o mudou.
— Mudou? — Ela sorri.
— Sim. Ele é um homem legal, se importa com a gente, nos respeita.
Quando soube de tudo, quase ligou para a polícia, mas nã o deixei. Entã o
ele mandou acabar com qualquer negó cio que tinha com o maldito do
Scott. Ele ficou furioso, inconformado.
— Ele tem uma filha da sua idade. Faz sentido.
— Pois é. E ele quer que vamos morar na casa dele. Harper nã o mora
com ele.
— O que vocês responderam?
— Nã o deu tempo de falar muito sobre isso. Olívia chegou na hora. Mas
agora que minha mã e está brava comigo, acho que é provável que ela vá
e eu fique.
— Nã o fala assim. Vocês vã o se acertar. — Ela se aproxima e me abraça.
— Vai ficar tudo bem. Basta a sua mã e cair no charme do bonitã o do
Eros.
Dou risadas com sua ideia. Acredito que nã o funcionaria se fosse só o
charme. Mas ele conseguiu conquistar o meu padrasto, e eu presenciei a
conversa. Ele é bom de lá bia.
Fizemos todo o possível para que Scott e Michael fossem
responsabilizados por suas açõ es contra mim e a minha família. Ambos
foram conduzidos à delegacia e suas vidas estã o sob investigaçã o.
Na sexta-feira, dediquei-me a esse assunto juntamente com meu pai,
meu irmã o e o advogado da família. Neste sá bado, estamos
acompanhando a repercussã o dos eventos e, apó s meses, toda a minha
família está reunida em torno da mesa para uma refeiçã o. Estamos
jantando.
Deveríamos estar satisfeitos por testemunhar a queda do império
Brixton apó s as fraudes e descobertas que vieram à tona sobre ele. Eu
nã o fui a principal vítima desse homem, longe disso. Ele está envolvido
em coisas muito piores. No entanto, para o restante da cidade,
especialmente Michael, isso é uma novidade.
Provavelmente, ele mal conseguiu dormir na ú ltima noite. Eu mesmo
tive dificuldade para conciliar o sono. Conhecer as motivaçõ es que
levaram esses indivíduos a me colocarem na cadeia, sujeitando-me a
tantas adversidades, me deixou revoltado, e ainda me deixa. Eu pensava
que sabia identificar pessoas má s, mas depois disso percebi que estava
enganado.
— Nicholas, você dormiu em casa na noite passada? — A nossa mã e
pergunta, percebendo que nã o nos havia visto antes do jantar.
— Nã o. Saí para espairecer. Mal consigo entrar naquela casa. Só lembro
da mentirosa que coloquei lá dentro. — Ele está tã o ressentido quanto
eu quando saí da cadeia e os encontrei.
— E você, Eros?
— Fiquei em casa.
— Nick, eu sei que está chateado com ela, mas nã o deixe isso te
prejudicar. Preciso de você na empresa. — O nosso pai pede.
— Como, pai? Como? — Ele larga os talheres nervoso. — Aquela golpista
entrou na minha vida, brincou com meus sentimentos, deu o golpe da
barriga e ainda teve a cara de pau de vir chorando! Como nã o vou perder
a cabeça?
— Eu sei, eu sei, mas você...
— Por favor, nã o fale de trabalho. Eu nã o quero saber de trabalho no
momento.
“Não foi por falta de aviso.”
— Deixa ele. — Mamã e pede. — Você vai ficar bem, Nick.
— Nã o sei se vou. Sinceramente, eu nã o sei. — Ele pega os talheres e
corta o bife com raiva. — Sabe o que eu queria mesmo? Sumir dessa
cidade e nunca mais ver certas pessoas.
— Nã o diga isso, filho. Tudo por causa de uma mulher? — Mamã e está
assustada com a ideia. — Diga alguma coisa, John! Eros, diga alguma
coisa!
— Eu avisei.
“Não estou nem aí para dor dele, ele não esteve nem aí para a minha.”
— Cala a boca, Eros! — Meu pai me repreende.
— Por que nã o vai para o outro lado do mundo? Só nã o divulgue o
endereço, porque depois que o bebê nascer, eles vã o precisar mandar o
processo para pagar pensã o — sugiro com deboche.
— Nã o coloque a criança no meio disso. Ela nã o tem culpa. — Mamã e
pede.
Nicholas larga os talheres mais uma vez, rosnando.
— Perdi a fome.
Eu nã o perdi. Pego mais um bife e coloco no meu prato.
— Custa ajudar, Eros?
— Mã e, eu nã o fiz nada. Só voltamos à programaçã o normal.
— Entã o você vai dormir aqui?
— Vou.
Ela se cala. Termino o jantar e vou para meu velho quarto.
Se eu nã o estivesse tã o cansado, iria atrá s da Liz, mas vou ligar para ela.
Ela me contou sobre a situaçã o que passou em casa com sua mã e,
Harper, e até a Olívia estava lá . Ela atende a chamada de vídeo e sorrio
assim que vejo seu rostinho delicado na tela.
— Oi.
— Oi. — Ela sorri com a cabeça apoiada na mã o. — Onde você está ?
— Na casa dos meus pais.
— Que bom.
— E você?
— Na casa da Paige.
“Enquanto eu volto para a minha família, ela se afasta da dela.”
— Nã o quero que você fique mal com a sua mã e por minha causa.
— Ela está irredutível.
— Eu vou falar com ela.
— Eros, é melhor nã o. Pelo menos agora. Ela está ocupada, cuidando da
Olívia e nã o quer ouvir sobre esse assunto. Nem falou comigo desde que
soube da gente.
— Ela vai mudar de ideia.
— Mas nã o agora.
Me sinto mal. A culpa é minha, mas nã o vou me afastar dela por causa
disso.
— Você quer que eu vá aí?
— Você tá tã o cansado que consigo ver pela tela.
Sorrio.
— Vamos tomar café amanhã . Na cafeteria onde você trabalhava.
Ela inclina a cabeça.
— Vamos. Todos já sabem que estamos juntos mesmo.
Rimos.
— Te vejo amanhã entã o?
— Sim. Eu nã o estarei atrá s do balcã o.
— Ok. Vou te procurar nas mesas ― digo rindo.
― A gente tinha tudo pra ser as pró ximas Kylie Jenner e Jordyn Wood! ―
Paige reclama, três meses depois de tudo ir por á gua abaixo, enquanto
tomamos sol de biquíni e ó culos escuros.
― Quem sabe um dia?
Ainda nã o voltei para internet e nem sei se voltarei.
― Se a gente tirar uma foto nesse iate, com certeza tudo voltará . A fama,
o dinheiro, as publis. Eu vou matar o Edward quando o vir na rua.
E é onde ele deve estar depois da sua carreira ir por á gua abaixo através
dos problemas do pai e de suas falas problemá ticas.
― Nã o troco a minha saú de mental por nada disso, amiga. ― Levanto e
tiro os ó culos, procurando o meu namorado, que da ú ltima vez estava no
timã o.
Ele parou no mesmo lugar da nossa primeira vez e ao olhar para a á gua,
o vejo nadando.
― Pula aqui.
Sorrio.
― Nã o tem aligá tor?
― Nã o. Só tem cobra.
Dou risada, Paige e Zac também.
― Esse seu namorado é terrível ― comenta, me observando enquanto
me divirto com a piada de Eros.
― Estou anotando tudo, Eros. ― Zac avisa.
O amigo dele é muito divertido também.
Deixo os ó culos na embarcaçã o e salto sem pensar duas vezes. Afundo e
volto à superfície, o encontrando.
Se ele é o deus do amor, eu nã o sei, mas que me faz sentir amada da
forma que sempre quis, isso ele faz.
Eu sei que virã o outras tempestades em nossas vidas, mas nã o tenho
dú vidas de que apoiaremos um ao outro, como foi desde aquela fatídica
noite em que beijei o chã o e torci o pé. Porque nos completamos à nossa
maneira e, acima de tudo, nos entendemos como ninguém.
A sua avaliaçã o é muito importante, por isso, nã o se esqueça de deixá -la!
Aproveita e comenta se você quer que Nicholas e Olívia tenham
uma segunda chance e se quer saber da saga de amor não
correspondido do Zac.
E para ficar por dentro de tudo, me siga no Instagram @autora.nikole
Antes de finalizar, quero agradecer a Deus por me dar sanidade e
paciência para fazer esse livro do início ao fim, porque nã o foi fá cil; a
minha mã e, por nunca questionar as minhas escolhas profissionais e
sempre me apoiar; as minhas irmã s, principalmente Verô nica, que
trabalha comigo; a grande amiga que conquistei quando estava iniciando
o Eros, Bá rbara Lorrany, que me ajudou muito com o ritmo da escrita,
nas nossas maratonas, sem me deixar desanimar; e a mulher que me fez
apagar todo este livro e começar do zero, que mudou todo o rumo dos
meus livros seguintes, Daniele, minha leitora crítica.
Obrigada!
SOBRE A AUTORA
O bilioná rio arrogante, Arthur Molina, teve uma segunda chance para
amar ao lado de Daphne Brandão, a irmã da ex-namorada dele e tia da
sua sobrinha.
O momento de consolidar o amor que nasceu entre os dois chegou e com
ele todos os membros da família Molina estarã o reunidos em mais uma
comédia româ ntica.