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Classificação

das
Obrigações
Profa. Ms. Priscilla Macedo Vasques
Obrigações Naturais
Difere da obrigação civil, porque esta é perfeita, uma vez que presentes os seus elementos
constitutivos: sujeitos, objeto e vínculo jurídico. O vínculo jurídico da obrigação civil representa a
garantia do credor, garantindo a exigibilidade da prestação.

A obrigação natural não possui esse poder de garantia - é uma obrigação imperfeita.

● Inexigível
● Não ilícita
● Soluti retentio (direito de retenção da prestação)

Art. 814. As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a
quantia; que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou
interdito.

Art. 822. Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita,
ou cumprir obrigação judicialmente inexigível.
Classificação
Quanto ao Objeto
Quanto às formas de prestação, a
obrigação pode ser: de dar, de
fazer ou de não fazer.
Obrigação de dar
Obligationes dandi - assumem as formas de
entrega ou restituição da coisa pelo devedor
ao credor. A coisa pode ser certa ou incerta.
É a obrigação que obriga o devedor a
promover, em benefício do credor, a tradição
da coisa, móvel ou imóvel, para outorgar um
novo direito ou para restituí-la ao seu dono.
Ex: compra e venda (entregar e pagar),
comodato (restituir).
Obrigação de dar
coisa certa
Arts. 233 a 242, CC

Coisa certa é a coisa individualizada, que se distingue das


demais por características próprias, podendo ser móvel ou
imóvel. O credor não é obrigado a receber prestação
diversa, ainda que mais valiosa (art. 313, CC).

Princípio da Acessoriedade (Art. 233, CC) - Na prestação se


incluem os seus acessórios, salvo disposição em contrário.
Acessorium sequitur principale.

Obs: Acessórios x Pertenças (art. 93 e 94, CC).


Exemplo: Larissa Manoela comprou
uma casa. Há a obrigação dela de
pagar o preço e do vendedor de
entregar a casa.

As benfeitorias realizadas
(acessórias da casa) estão incluídas,
salvo se o contrário não resultar do
contrato ou das circunstâncias.
Riscos sobre o Objeto
Perda ou Arcará com o
Perecimento prejuízo
Prejuízo total - O credor, se ocorrer após a
impossibilidade de transferência.
cumprimento. O devedor, em caso de culpa
(equivalente + perdas e danos).
Desaparecimento físico,
destituição das qualidades Sem culpa do devedor, antes da
essenciais, perda da transferência, resolve-se a
obrigação. Retorno ao status
utilidade para o fim a que quo ante.
se destinava.
Riscos sobre o Objeto
Deterioração E antes?
Prejuízo parcial. Inexistindo culpa do devedor,
cabe ao credor escolher se
Não impossibilita o resolve a obrigação ou aceita a
cumprimento da obrigação, coisa como se encontra com
mas diminui o valor ou utilidade abatimento.
da coisa para o credor.
Existindo culpa do devedor, o
Ocorrendo após a credor poderá aceitar a coisa
transferência da coisa, o ônus como se encontra ou exigir
fica com o credor. quantia equivalente, mais
perdas e danos em ambos os
casos.
Uma questão:
Larissa Manoela deu toda a sua fortuna para seus pais
em troca de sua paz. Por estar pobre, sem dinheiro
para comprar um milho, não dispõe de recursos
financeiros para comprar um vestido novo para
comparecer em premiação.

Desse modo, dirige-se a um brechó e adquire um


vestido de segunda mão, deteriorado, para a referida
finalidade.

Existe responsabilidade pela


deterioração do vestido por parte
do brechó?
Art. 237. Até a tradição pertence ao devedor a
coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos,
pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o
credor não anuir, poderá o devedor resolver a
obrigação.

Parágrafo único. Os frutos percebidos são do


devedor, cabendo ao credor os pendentes.
Princípio da Tradição
Logo, se a coisa recebe
A simples
melhoramentos (por obra
constituição da
do devedor, de terceiro ou
obrigação de dar
A transmissão do da natureza), estes se
não transfere a
domínio se dá revertem em favor do
propriedade da
apenas com a titular do domínio.
coisa.
tradição. Até a
tradição o devedor
é proprietário.
Em caso de perda, a coisa perece para o dono (credor), que
suportará o prejuízo, sem direito a indenização, caso inexista
culpa do devedor. Em caso de deterioração, inexistindo culpa, o
credor recebe a coisa como está, sem direito a indenização.
Havendo culpa, haverá a obrigação de indenizar.

Obrigação de Restituir
E os melhoramentos?
Logo, serão indenizadas as
Inexistindo benfeitorias necessárias ou
concurso de úteis, com direito de retenção
vontade ou da coisa restituível.
Existindo concurso
despesa do
de vontade ou
devedor, se E terá o devedor o direito de
despesa do
revertem em favor levantar as obras voluptuárias,
devedor,
do credor. não havendo prejuízo à coisa.
aplicam-se as
regras da posse.
Obrigação de dar
coisa incerta
Arts. 243 a 246, CC.

Coisa incerta é a coisa especificada apenas pela espécie e


quantidade. São as obrigações genéricas.

A coisa incerta deve ser indicada, ao menos, pelo gênero e


pela quantidade - critérios de identificação -
indeterminabilidade relativa (transitória).

A escolha cabe, em regra, ao devedor, salvo disposição em


contrário. Mas não pode dar coisa pior e nem pode ser
obrigado a dar coisa melhor. Aplica-se a boa-fé objetiva.
Exemplo: Larissa Manoela compra
dois cachorros de um criador.

O criador tem obrigação de


especificar a raça, no momento do
cumprimento, mas não pode ser
obrigado a dar o melhor reprodutor,
ou o pior animal da ninhada, por
exemplo. Deve escolher pela média.
Art. 244. Nas coisas determinadas
pelo gênero e pela quantidade, a
escolha pertence ao devedor, se o
contrário não resultar do título da
obrigação; mas não poderá dar a
coisa pior, nem será obrigado a
prestar a melhor.
Art. 245. Cientificado da escolha o
credor, vigorará o disposto na
Seção antecedente.

Art. 246. Antes da escolha, não


poderá o devedor alegar perda ou
deterioração da coisa, ainda que
por força maior ou caso fortuito.
A escassez do gênero derivada de
fato imprevisível e extraordinário
pode resultar em resolução por
onerosidade excessiva, a pedido
do devedor, mas não por
deterioração da coisa incerta.
Obrigação de Fazer
Fungíveis Infungíveis
● Podem ser prestadas por ● A atuação pessoal do
qualquer pessoa, sem afetar devedor se incorpora ao
o interesse do credor. objeto da obrigação.
● Inexiste restrição negocial ● Intuitu personae ou
para que o serviço seja personalíssimas.
realizado por terceiro.
● O adimplemento ocorre em
atenção às qualidades
especiais de quem foi
contratado.
Obrigação de Fazer
Descumprimento
● Prestação se torna ● Se o devedor se recusar a
impossível sem culpa do cumprir obrigação a ele só
devedor - resolve-se a imposta ou só por ele exequível
obrigação. (infungível) - incorre na
obrigação de indenizar.
● Prestação se torna
● Se puder ser executada por
impossível com culpa do
terceiro, o credor pode
devedor - indenização pelo mandar executar às custas do
prejuízo causado. devedor, sem prejuízo da
indenização.
Tutela Jurídica do Descumprimento
Culposo das Obrigações de Fazer
● Arts. 18, 19, 35 e 84, CDC
● Arts. 536 e 537, CPC
● Sendo possível o cumprimento
posterior - o credor opta pela
tutela específica ou resultado
prático equivalente + perdas e
danos ou perdas e danos.
● Sendo impossível o
cumprimento posterior - perdas
e danos.
Obrigação de Não Fazer
Tem por objeto uma prestação negativa, ou seja, um
comportamento omissivo do devedor.

Ex: não construir acima de determinada altura, não


sublocar um imóvel, não divulgar segredo comercial,
não concorrência por dois anos após desligamento etc.

Tem limites? Sim, por exemplo, violação da ordem


pública e vulneração de garantias fundamentais.

Ex: a mãe de Larissa Manoela faz ela assinar um


contrato obrigando-se a não casar até os 45 anos.
Inadimplemento
01 02 03
Sem culpa Com culpa Com culpa
Inexistindo culpa do Existindo culpa do devedor Existindo culpa do devedor
devedor, extingue-se a e sendo impossível o e sendo possível o
obrigação. desfazimento posterior: desfazimento posterior, o
credor escolherá:
O devedor responde por
perdas e danos.. Tutela específica ou
resultado prático
equivalente + perdas e
danos ou perdas e danos.

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