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Violação positiva do contrato:

Nesse ponto, verifique-se que a entrega dos


apartamentos era a obrigação principal da permuta e tinha
como dever acessório a quitação dos débitos relacionados à
obra. Contudo, em clara violação à boa-fé contratual –
disciplinada no art. 422 do CC, a construtora entregou os
imóveis sem adimplir as dívidas de contribuição
previdenciária da obra, mesmo assim deu a obrigação como
satisfeita.

Apesar de ter sido alcançado o cumprimento do dever da


prestação (entrega das unidades permutadas), sobejaram os
débitos oriundos dos imóveis entregues, frustrando,
portanto, o exercício da boa-fé contratual .
1

Ressalte-se que o princípio da boa-fé impõe a


observância dos deveres anexos ou secundários da relação
contratual, devendo ser considerados os deveres de cuidado,
informação, colaboração, probidade, lealdade, confiança
etc. E, para além da obrigação principal do tipo
contratual, a não observância dos deveres anexos acarreta
inadimplemento denominado "violação positiva do contrato"2,
nos termos do Enunciado 24 da I Jornada do Direito Civil3.

Julgados:

DIREITO CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR. VIOLAÇÃO POSITIVA DO


CONTRATO. ALTERAÇÃO UNILATERAL DAS BASES NEGOCIAIS.
RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. RESTRIÇÃO DE CRÉDITO. 1 -
Na forma do art. 46 da Lei 9.099/1995, a ementa serve de
acórdão. Recurso próprio, regular e tempestivo. Pretensão
constitutiva negativa para resolver o contrato por violação
positiva, e condenatória em reparação por dano moral decorrente
de apontamento indevido em serviço de proteção ao crédito.
Recurso do réu visa reformar a sentença que julgou procedente o
pedido. 2 - Preliminar. Incompetência. Complexidade. Dispensa
da prova pericial. Descaracterização. Não há necessidade de
perícia quando os fatos controvertidos podem ser esclarecidos à
luz de outras provas, especialmente pelo exame da prova
documental. Precedente: (Acórdão n.1099604,
07007108420178070010, Relator: SONÍRIA ROCHA CAMPOS D'ASSUNÇÃO
1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do

1
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil. 12.ed.
Salvador: JusPodivm, 2018, v.2, p. 597.
2
TJ-DF 20140111297478 0031384-21.2014.8.07.0001, Relator: FLAVIO RENATO JAQUET
ROSTIROLA, Data de Julgamento: 01/06/2016, 3ª TURMA CÍVEL, Data de Publicação: Publicado
no DJE : 10/06/2016 . Pág.: 272/287.
3
Art. 422: em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código
Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento,
independentemente de culpa.
DF, Data de Julgamento: 25/05/2018, Publicado no DJE:
06/06/2018. Pág.: Sem Página Cadastrada.). Não há discussão
sobre a celebração do contrato, mas quanto a alteração das
bases inicialmente ajustadas com a ré, de modo que se mostra
desnecessária a perícia grafotécnica para o deslinde da causa.
Preliminar que se rejeita. 3 - Resolução de contrato. Mútuo
feneratício. Alteração unilateral das bases do contrato.
Violação positiva do contrato. O princípio da boa-fé objetiva
deve nortear as relações jurídicas, exigindo um comportamento
ético, leal e probo entre os contraentes (art. 422, Código
Civil). Dessa regra de comportamento extraem-se os deveres
anexos, que se expressam no dever de colaboração, informação e
cooperação entre as partes, como proteção das relações
negociais. A inobservância desses deveres importa na violação
positiva do contrato, espécie de inadimplemento que pode atrair
o rompimento da avença com a responsabilização por perdas e
danos (art. 475, Código Civil; Enunciado 24, I Jornada de
Direito Civil). No caso, restou demonstrado que o réu alterou
unilateralmente as bases negociais. Os contatos havidos entre
as partes (ID 9476442 a 9476447, 9476454, 9476456, 9476457,
9476460, 9476466, 9476468 PAG 1 a 35) evidenciam que o número
de prestações foi ampliado de 30 para 96 sem a expressa
anuência do autor, afrontando o princípio da boa-fé, orientador
das relações jurídicas. Ademais, o empréstimo não se deu de
acordo com os procedimentos relativos à portabilidade, como
pretendia o autor, pois o crédito foi depositado diretamente em
sua conta corrente, contrariando o artigo 7º, da Resolução do
Banco Central nº 4.292/2013, que regula a portabilidade das
operações de crédito. Por conseguinte, é cabível a resolução do
contrato, com o retorno das partes ao estado anterior, devendo
o autor restituir ao réu o valor do empréstimo, depositado em
sua contracorrente, com o abatimento das prestações que já
foram lançadas no seu contracheque, bem como a declaração de
inexigibilidade do débito decorrente. 4 - Responsabilidade
civil. Danos morais. Cadastro de Proteção ao Crédito. Inscrição
indevida. É devida indenização por danos morais em razão de
inscrição indevida em cadastro de proteção ao crédito,
independentemente de demonstração de dano. Precedentes no STJ
(REsp n. 1.059.663/MS, Relatora Ministra NANCY ANDRIGHI). No
caso, o réu promoveu o registro perante os serviços de proteção
ao crédito (ID 9476518) mesmo diante da discussão acerca da
alteração unilateral do contrato. Tal conduta importa em abuso
de direito, configurando ato ilícito. A restrição imotivada
importa em violação dos direitos de personalidade, dando ensejo
ao dever de reparação por dano moral. 5 - Danos morais. Valor
da condenação. Para melhor adequar-se às circunstâncias do caso
concreto, em que não restou evidenciado que a restrição de
crédito gerou maiores repercussões na esfera íntima do autor,
senão as usuais, o valor da condenação deve ser reduzido de R$
7.000,00 para R$ 3.500,00, mostrando-se suficiente para servir
à finalidade compensatória para o autor e de desestímulo para o
réu. Recurso a que se dá provimento, em parte, para reduzir o
valor da condenação por danos morais, para R$ 3.500,00,
mantendo-se os demais provimentos da sentença. 6 - Recurso
conhecido e provido em parte. Sem custas e sem honorários
advocatícios. E (TJ-DF 07099328720198070016 DF 0709932-
87.2019.8.07.0016, Relator: AISTON HENRIQUE DE SOUSA, Data de
Julgamento: 25/07/2019, Primeira Turma Recursal, Data de
Publicação: Publicado no DJE : 07/08/2019 . Pág.: Sem Página
Cadastrada.)

APELAÇÃO – DECLARATÓRIA COM PEDIDO DE INDENIZAÇÃO –


INADIMPLEMENTO CONTRATUAL – CAUSA DE PEDIR – VIOLAÇÃO POSITIVA
DO CONTRATO – DANOS MORAIS – DECLARAÇÃO DE INEXIGIBILIDADE. -
Notável inadimplemento contratual – violação positiva do
contrato com o fornecimento de material falsificado (artigos
422 e 476, do Código Civil) – inexigibilidade do débito e
retorno ao 'status quo ante' – procedência do pedido
declaratório; - Cobrança indevida e fornecimento de produtos
falsificados – violação da imagem indenização por danos morais
(artigos 186 e 927, do Código Civil). 'Quantum' fixado de
acordo com a extensão do dano (art. 944, do Código Civil) –
R$10.000,00. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (TJ-SP - APL:
10012320320158260132 SP 1001232-03.2015.8.26.0132, Relator:
Maria Lúcia Pizzotti, Data de Julgamento: 05/04/2017, 30ª
Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 07/04/2017)

APELAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE COISA JULGADA. INTERESSE PROCESSUAL


DE AGIR NA RESCISÃO DO CONTRATO POR VIOLAÇÃO POSITIVA DO
CONTRATO. COMPATIBILIDADE DOS PEDIDOS. De início cumpre afastar
a arguição de coisa julgada, pois, entre a pretensão de
rescisão de contrato e ação de obrigação de fazer cumulada com
indenizatória, as causas de pedir são distintas, sendo a
indenização e a falha na prestação do serviço insuficientes
para configurá-la. (CPC/15, art. 337, VII, §§ 1 º, 2º e 4º). No
que diz respeito à extinção do processo sem resolução do
mérito, por carecer de interesse de agir, procede a pretensão
do apelante. Embora não se possa reconhecer a conexão em
virtude do julgamento da demanda anterior, a indenização é
ponto comum entre as ações propostas. O dever de diligenciar os
meios para a regular transferência do veículo em nome do
adquirente, para que dele pudesse usufruir, foi assegurado em
provimento judicial, ocasião que passa incidir a multa, sem
prejuízo de vir a ser convertido em perdas e danos em caso de
impossibilidade de cumprimento. Se tal descumprimento tem fonte
em contrato, a inexecução deste pode gerar o direito subjetivo
a perdas e danos a ser veiculada em ação de rescisão, uma vez
que implica a análise de existência de culpa a ser imputada ao
credor (na condição de devedor de sua obrigação), pois a
inobservância dos deveres laterais decorrentes da cláusula
geral da boa-fé é fato gerador dessa pretensão, como se
depreende dos arts. 475 e 476 do Código Civil em vigor. A
questão ora debatida depende da aplicação da teoria da
asserção, segundo a qual a análise das "condições da ação"
devem ser feitas in statu assertionis, ou seja, à luz das
informações contidas na petição inicial. Visto a necessidade de
densificar semelhante direito abstrato, não se verifica o
exercício abusivo dele, tendo em mente, como visto, que a
pretensão indenizatória, seja em ação anterior, seja nesta ação
originária, deve ser compensada, sob pena de ensejar
enriquecimento sem causa da parte recorrente, se restar
configurada a culpa do credor, a ser resolvida no mérito, por
violação do dever anexo a ponto de legitimar o pedido de
rescisão contratual, cujo efeito permite o retorno ao status
quo ante. Provimento do recurso. (TJ-RJ - APL:
00145725820168190207, Relator: Des(a). MARCOS ALCINO DE AZEVEDO
TORRES, Data de Julgamento: 11/12/2019, VIGÉSIMA SÉTIMA CÂMARA
CÍVEL)

CONTRATO DE MARKETPLACE. AUSÊNCIA DE VÍCIO DE NULIDADE. LAUDO


AFASTADO. VIOLAÇÃO POSITIVA DO CONTRATO. RETENÇÃO E COMPENSAÇÃO
DE VALORES AUTORIZADA NO CONTRATO. SENTENÇA MANTIDA. Apelação
Cível. Contrato de marketplace. Pretensão de devolução de
valores retidos sob o argumento de irregularidade em nota
fiscal, pagamento de dano material a título de perdas e danos e
dano imaterial. Sentença de improcedência. Apela a autora. Pede
acolhimento de preliminar de nulidade por violação aos artigos
93, inciso IX da Constituição Federal, bem como do artigo 489,
§ 1º, IV do CPC. Subsidiariamente, pede a procedência do pedido
com base no laudo e valores ali apontados, fixação de verba
reparatória a título de dano moral, condenação em perdas e
danos e inversão da sucumbência. Vício de nulidade por falta de
fundamentação, rechaçado. Laudo Pericial corretamente afastado
de forma fundamentada e com base no art. 479 do CPC. Dinâmica
da relação entre a autora e a SLX que caracteriza a formação de
grupo econômico. Comprovada a emissão de nota fiscal em nome de
terceira empresa "Parceira" não pactuante do contrato - SLX -
com a qual a autora comunga interesse comum. Demonstração
inequívoca de que as empresas efetivavam vendas de mercadorias
via on line utilizando a plataforma da ré. Réplica que não
impugna as notas fiscais ou a existência do débito. Criação de
código de rastreio vinculado a entrega de brindes. Má-fé.
Conduta que se amolda a violação positiva do contrato. Legítima
retenção decorrente da violação das cláusulas contratuais.
Compensação cabível. Sentença mantida. Recurso desprovido. (TJ-
RJ - APL: 01280974920198190001, Relator: Des(a). NATACHA
NASCIMENTO GOMES TOSTES GONÇALVES DE OLIVEIRA, Data de
Julgamento: 27/05/2021, VIGÉSIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL, Data de
Publicação: 28/05/2021)

CONTRATO DE MARKETPLACE. AUSÊNCIA DE VÍCIO DE NULIDADE. LAUDO


AFASTADO. VIOLAÇÃO POSITIVA DO CONTRATO. RETENÇÃO E COMPENSAÇÃO
DE VALORES AUTORIZADA NO CONTRATO. SENTENÇA MANTIDA. Apelação
Cível. Contrato de marketplace. Pretensão de devolução de
valores retidos sob o argumento de irregularidade em nota
fiscal, pagamento de dano material a título de perdas e danos e
dano imaterial. Sentença de improcedência. Apela a autora. Pede
acolhimento de preliminar de nulidade por violação aos artigos
93, inciso IX da Constituição Federal, bem como do artigo 489,
§ 1º, IV do CPC. Subsidiariamente, pede a procedência do pedido
com base no laudo e valores ali apontados, fixação de verba
reparatória a título de dano moral, condenação em perdas e
danos e inversão da sucumbência. Vício de nulidade por falta de
fundamentação, rechaçado. Laudo Pericial corretamente afastado
de forma fundamentada e com base no art. 479 do CPC. Dinâmica
da relação entre a autora e a SLX que caracteriza a formação de
grupo econômico. Comprovada a emissão de nota fiscal em nome de
terceira empresa "Parceira" não pactuante do contrato - SLX -
com a qual a autora comunga interesse comum. Demonstração
inequívoca de que as empresas efetivavam vendas de mercadorias
via on line utilizando a plataforma da ré. Réplica que não
impugna as notas fiscais ou a existência do débito. Criação de
código de rastreio vinculado a entrega de brindes. Má-fé.
Conduta que se amolda a violação positiva do contrato. Legítima
retenção decorrente da violação das cláusulas contratuais.
Compensação cabível. Sentença mantida. Recurso desprovido. (TJ-
RJ - APL: 01280974920198190001, Relator: Des(a). NATACHA
NASCIMENTO GOMES TOSTES GONÇALVES DE OLIVEIRA, Data de
Julgamento: 27/05/2021, VIGÉSIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL, Data de
Publicação: 28/05/2021)

PROCESSUAL CIVIL. EMPRESARIAL. CIVIL. DIALETICIDADE RECURSAL.


PREENCHIMENTO DE REQUISITOS. CONHECIMENTO DO RECURSO. CONTRATO
DE LICENCIAMENTO DE MARCA. CESSÃO DE DIREITO DE USO. QUEBRA DO
CONTRATO. VIOLAÇÃO DA BOA-FÉ OBJETIVA. DEVERES ANEXOS. VIOLAÇÃO
POSITIVA DO CONTRATO. RESCISÃO CONTRATUAL. VIABILIDADE. ADOÇÃO
DE EXCERTOS DA SENTENÇA. POSSIBILIDADE. 1.O mandamento legal
pátrio dispõe que o recurso, para ser conhecido, deve preencher
determinados requisitos formais, bem como que seja observada a
forma segundo a qual o recurso deve revestir-se. Vale dizer:
determina que o inconformismo recursal deva preencher os
fundamentos de fato e de direito, nos quais se embasam as
razões do recorrente, apontando os equívocos existentes na
decisão vergastada, bem como os pontos que se pretende reformá-
la. A ausência desse elemento configura a inexistência de um
requisito extrínseco de admissibilidade do recurso, qual seja,
a regularidade formal, impondo a inadmissão do recurso. 2.Uma
vez constatado que o apelo interposto encontra-se em
consonância com os ditames do artigo 514 do Código de Processo
Civil, repele-se assertiva de não conhecimento do recurso. 3.O
contrato de licenciamento de marca constitui modalidade de
contrato por meio do qual o titular do direito cede o direito
de uso de marca de produto ou serviço ou, ainda, propaganda
figurativa. O uso da marca poderá estar atrelado a
estabelecimentos, propagandas e produtos e em função desse uso
gera remuneração ao licenciante, por meio de royalties. 4. O
princípio da boa-fé objetiva, previsto no art. 422 do CC,
preconiza que os contratantes são obrigados a guardar, tanto na
conclusão do contrato como na execução, os princípios de
probidade e boa-fé. O princípio da boa-fé objetiva não só
limita a conduta dos contratantes, com vistas a extirpar
condutas desleais e abusivas, como também amplia as suas
obrigações. 5. O princípio da boa-fé impõe a observância dos
deveres anexos ou secundários da relação contratual. Os
contratantes devem considerar deveres de cuidado, informação,
colaboração, probidade, lealdade, confiança, entre outros. Além
da obrigação principal do tipo contratual, a não observância
dos deveres anexos acarreta inadimplemento denominado "violação
positiva do contrato". 6. Uma vez identificada a violação
positiva do contrato, com a constatação de inadimplemento, o
deferimento do pedido de rescisão da avença de licenciamento de
marca é medida que se impõe. 7. A agregação de excertos da
sentença ao voto condutor de julgado não lhe enseja vício.
Precedentes jurisprudenciais. 8. Preliminar de não conhecimento
do apelo dos réus rejeitada. Recursos não providos. (TJ-DF
20140111297478 0031384-21.2014.8.07.0001, Relator: FLAVIO
RENATO JAQUET ROSTIROLA, Data de Julgamento: 01/06/2016, 3ª
TURMA CÍVEL, Data de Publicação: Publicado no DJE: 10/06/2016.
Pág.: 272/287)

https://www.tjdft.jus.br/consultas/jurisprudencia/
jurisprudencia-em-temas/jurisprudencia-em-detalhes/contratos/
violacao-positiva-do-contrato-2013-responsabilidade-admissivel

https://www.migalhas.com.br/depeso/306808/a-instituicao-da-
teoria-da-violacao-positiva-do-contrato-no-brasil

http://www.publicadireito.com.br/artigos/?
cod=2f58929950c0c51f#:~:text=A%20viola%C3%A7%C3%A3o%20positiva
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