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I. PRELIMINARMENTE: PERDA DO OBJETO.

NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA
À INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS – ART. 188 DO CPC. COOPERAÇÃO
ENTRE AS PARTES – ART. 6º DO CPC.

O agravo de instrumento ora contrarrazoado, foi interposto


em face da decisão de ID 102738009 e tem por objetivo a
designação da audiência de justificação prévia, bem como a
determinação de proibição da realização de qualquer inovação no
estado de fato do imóvel litigioso.

A audiência de justificação prévia está prevista no art. 562


do CPC e visa municiar o juízo, que considerou que os documentos
que instruíram a demanda não foram suficientes para formar o
convencimento inicial, para decidir acerca do pedido de
antecipação dos efeitos da posse, proporcionando ao autor a
produção de prova do alegado.

Dito isso, tal ato é uma forma de construir o convencimento


preliminar do juízo, tanto que é uma medida que antecede a
citação da parte, isso porque o réu é chamado para comparecer à
audiência, mas não é o momento oportuno para ele produzir prova
ou manifestar-se sobre fato impeditivo ou modificativo do
direito do autor1.

No presente caso, tem-se que a parte ré foi devidamente


citada (ID xxx), apresentou contestação ao feito (ID ____), bem
como houve apresentação de réplica à contestação (ID ___), sendo
o procedimento seguinte a designação de audiência de instrução,
conforme determina o art. 357, V do CPC, que já suprirá toda e
qualquer prova que o autor, ora agravante, desejará produzir no
feito.

Destaque-se que os eventos acima narrados (citação,


contestação e réplica) ocorreram em obediência a sequência do
trâmite processual, dentro do regramento do CPC, e a
superveniência de tais atos caracteriza a perda do objeto do
recurso intentado. Explica-se.

O recurso é meio pelo qual a parte se insurge de uma


decisão, buscando a sua modificação e, no presente caso, o
agravante pretende a realização de um ato processual inócuo,
pois haveria de ter ocorrido antes da citação e que possuirá os
mesmos efeitos probantes de que uma audiência de instrução e
julgamento a ser designada no momento oportuno.

Além disso, nesse ponto, o CPC instituiu o princípio da


instrumentalidade das formas ou aproveitamento dos atos
processuais, que visa garantir às partes a efetividade e
celeridade da prestação jurisdicional, a saber:

Art. 188. Os atos e os termos processuais independem de


forma determinada, salvo quando a lei expressamente a

1
Nas palavras de Donizetti (2016): O STJ entende que o termo “citação” é utilizado de
forma imprópria, já que o réu, neste caso, não será chamado para se defender, mas apenas
para, querendo, comparecer e participar da audiência de justificação. INCLUIR REFERÊNCIA
exigir, considerando-se válidos os que, realizados de outro
modo, lhe preencham a finalidade essencial.

Desse modo, o art. 188 do CPC aplica-se ao caso em tela,


tendo em vista que a realização da audiência de instrução
suprirá o ato processual que o agravante pugna pela realização,
isso porque será oportunizado aos agravantes a produção da prova
oral naquela ocasião, sendo desnecessária a designação de outra
audiência que prolongará o deslinde do feito e servirá para
constatar o mesmo fato – a inexistência da posse.

Ademais, requerer a realização de audiência de justificação


sem levar em consideração o estado avançado em que o processo se
encontra, além de violar o princípio acima estampado, afronta o
dever de cooperação entre as partes, tendo vista que elas
possuem o dever de usar a máquina judiciária com efetividade,
não podendo criar obstáculos à prestação jurisdicional, nos
termos do art. 6º do CPC2.

Assim, o pedido formulado pelo agravante viola o princípio


do aproveitamento de atos processuais e da cooperação entre as
partes, estampados nos arts. 188 e 6º do CPC, não podendo ser
acolhido ante a perda do objeto recursal, tendo em vista a
sequência de atos processuais que resultam na iminência da
realização da audiência de instrução – que suprirá o pretendido
pelo agravante.

Portanto, pugna pelo não conhecimento do agravo de


instrumento ora contrarrazoado, face a prejudicialidade
existente, nos termos do art. 932, III do CPC.

2
Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo
razoável, decisão de mérito justa e efetiva.

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